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2 UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA CONDIÇÃO FEMININA PROTESTANTE: UM ESTUDO DE CASO NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL. ELISABETH DO AMARAL ECKER ORIENTADOR: Prof. Dr. MARTIN NORBERTO DREH ER SÃO LEOPOLDO 2002

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UNIVERSIDADE DO VALE DO RIO DOS SINOS – UNISINOS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA

CONDIÇÃO FEMININA PROTESTANTE: UM ESTUDO DE CASO NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL.

ELISABETH DO AMARAL ECKER

ORIENTADOR: Prof. Dr. MARTIN NORBERTO DREH ER

SÃO LEOPOLDO

2002

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ELISABETH DO AMARAL ECKER

CONDIÇÃO FEMININA PROTESTANTE: UM ESTUDO DE CASO NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em História, Centro de Ciências Humanas da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre Orientador: Prof. Dr. Martin Norberto Dreher

SÃO LEOPOLDO 2002

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ELISABETH DO AMARAL ECKER

CONDIÇÃO FEMININA PROTESTANTE: UM ESTUDO DE CASO NA IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

Dissertação aprovada como requisito

para a obtenção do grau de mestre no Curso de pós-graduação em História ibero-americana da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, pela Comissão formada pelos professores.

Prof. Dr. Martin Norberto Dreher UNISINOS Profº Drº. Eliane Cristina Deckmann Fleck UNISINOS Profº Drº Wanda Deifelt

EST

SÃO LEOPOLDO, OUTUBRO DE 2002.

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AGRADECIMENTOS

A Conclusão deste trabalho me permite refletir sobre cada momento

vivido e cada etapa superada que viabilizou o feito. Isto me faz reconhecer a

essência das pessoas que marcaram o processo e me sentir extremamente grata.

Inicialmente lembro-me do Prof. Dr. Martin Norberto Dreher, cuja

orientação, além de permitir minha caminhada, proporcionou, através de seu saber

e competência, o ânimo indispensável para persistir na execução do projeto.

Sou grata a Profª. Drª. Eliane Cristina Deckmann Fleck que, após leitura

criteriosa da pesquisa, me propôs sugestões coerentes e indispensáveis à melhoria

da mesma.

Minha gratidão aos demais professores do Curso de Pós-Graduação em

História da UNISINOS, que de forma direta contribuíram significativamente

durante o período de realização dos créditos, partilhando suas experiências e

conhecimentos, fazendo-me reconhecer a importância da pesquisa além de me

oportunizar o acesso ao embasamento teórico indispensável à execução do

trabalho.

Agradeço ainda o pessoal que atua em diversos setores da UNISINOS e

que me atendeu sempre que busquei auxílio.

Não posso deixar de lembrar entre aqueles à quem sou grata, das pessoas

que possibilitaram meu acesso a fontes indispensáveis a execução desta pesquisa.

Entre elas estão amigos, familiares, professores, autoridades religiosas, mulheres

membros da IPB, sócias de SAFs, bibliotecárias e auxiliares. Seria imprudente

nominá-las pois, correria o risco de ser injusta ao deixar de citar algum nome,

dado que consideramos de grande valia a contribuição de todos.

Minha profunda gratidão e reconhecimento ao Arney, que além de

incentivar-me, sempre acompanhou cada etapa, cada dificuldade e cada conquista

alegrando-se e/ou entristecendo-se a cada momento que isto era vivenciado por

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mim. À ele, aos meus filhos e aos meus amados netos, razão concreta de um ideal,

dedico esta pesquisa.

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SUMÁRIO

RESUMO...........................................................................

ABSTRACT.......................................................................

INTRODUÇÃO..................................................................01 1. Protestantismo Aspectos Dominantes..........................13

1.1 Mulheres Protestantes e Questão Cultural...............................14

1.2 Mulheres Protestantes e Questão de Gênero............................32

1.3 A Instalação do Protestantismo no Brasil................................44

1.3.1 Protestantismo de Imigração..........................................48

1.3.2 Protestantismo de Missão...............................................53

1.4 A Igreja Presbiteriana do Brasil...............................................62

1.5 Os Puritanos.............................................................................68

2. A Evolução Organizacional da IPB no Brasil...............77

2.1 Limites Establecidos na Hierarquia do Poder Presbiteriano....82

2.2 Estrutura Organizacional da IPB.............................................90

2.3 O Poder na Igreja.....................................................................97

2.4 Sociedades Internas do Modelo IPB......................................103

3 . Mulher e Presbiterianismo........................................112

3.1 Mulher e Pioneirismo Presbiteriano......................................114 3.2 O Perfíl da Mulher no início do século XX...........................118

3. 3 Mulher e Sistema Educacional Presbiteriano........................127

3.4 Mulher e Poder Instituído......................................................145

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4. SAF em Revista Veículo de Informação e Formação..............................158 4.1 SAF Sociedade de Embaixatrizes e/ou

Sociedades de Auxiliadoras...................................................162

4.2 SAF em Revista Identidade com a

Realidade Social.....................................................................167

4.2.1 SAF e Temas Conflitantes....................................170

4.2.2 SAF e o Momento Político...................................174

4.3 A SAF e Movimento Dissidente da IPB................................183 4.4 A Virtude da Submissão em Revista....................................188

4.4.1 – SAF Um Veículo de Instrução Doméstico........198

CONCLUSÃO......................................................................204

BIBLIOGRAFIA..................................................................209

ANEXOS................................................................................225

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RESUMO

A história do presbiterianismo no Brasil tem revelado aspectos

discriminatórios em seu contexto. O exclusivismo masculino no oficialato

presbiteriano é objeto de estudo desta dissertação. A análise sobre a estrutura de

poder em vigor faz reconhecer a permanência da sujeição feminina no sistema.

Possibilita, também, detectar inúmeras causas, entre as quais a presença de

nuances ideológicas deixadas pelos que implantaram a religião no país e a própria

herança cultural brasileira. Porém, fica evidenciado que as causas atuais decorrem

do aceite do modelo instituído pelos seus membros, da interpretação

andocêntrica e fundamentalista da Bíblia e da presença que um discurso cuja

pretensão é garantir o status quo vigente. O próprio instrumento de informação,

produzido, em sua essência, por mulheres e para elas, garante o exposto. Portanto,

muitas delas que se organizam em SAFs e que têm como leitura diária a “SAF em

Revista”, vêm perpetuando e transmitindo saberes que impedem a transmutação

do sistema. Outras, igualmente membros da IPB, mas que cultivam opiniões

desiguais, omitem-se, revela ndo desinteresse pelos espaços que sempre lhes

foram negados. As várias alocuções presentes na revista são suplantadas pelo

discurso mantenedor do sistema instituído. Porém, a participação ativa de

mulheres como Rute See, Miss Esther Cummings, Mary Cooke Lane, Cecília

Siqueira, Marina Magalhães Santos Silva e outras citadas, pode significar um

“abrir caminho” a avanços já legitimados em outras instituições que tiveram sua

origem na própria IPB.

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ABSTRACT

The history of Presbyterianism in Brazil has revealed discriminatory

aspects in its context. The male exclusivism in the Presbyterian charge is the

object of studies of this dissertation. The analysis about the structures of the

power in validity, makes one to recognize the permanence of the female

submission in the septem. Also, enables to detect countless causes, among the

presence of ideological nuances left for those who implated the religion on parents

and the own cultural brazilian heritage. However, it is evident that the actual

causes happen due to the accepted pattern established by its members, from the

made interpretation and fundamentalist of the bible and the presence of a

discourse whose pretension is to guarantee the status quo established. The

instrument of information, produced, in its essence, by women and to them,

guarantees the exposed. Consequently, many of them, that organize themselves in

SAFs and that have as daily reading the “SAF magazine are pepetuating and

transmiting knowledge that imped the transmutation of the system. Othe rs,

equaly members of “IPB”, but cultivate different opinions, omit themselves,

reavaling disinterest for the space that were always denied. The several discourses

in question in the magazines are supplanted by the discourse sustained by the

established system. Nevertheless, the active participation of women as Rute See,

Miss Esther Cummings, Mary Cooke Lane, Cecília Siqueira, Marina Magalhães

Santos Silva and others who were mentioned, may mean an “opening course” to

the already legitimized progress in other instituons that had its origin at the IPB

itself.

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INTRODUÇÃO

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INTRODUÇÃO

Este trabalho nasceu de uma profunda curiosidade em compreender os

porquês que asseguraram à IPB1 o “Status”2 de conservadora. No decurso da

pesquisa foi possível reconhecer que a Instituição em questão mantém uma

estrutura organizacional patriarcalista.

A afirmativa acima decorre do fato de termos constatado que ao homem

é garantida exclusividade quanto ao direito de acesso às posições mais

significativas da hierarquia de poder da Igreja, mas à mulher é negada qualquer

representatividade no sistema instituído.

O fato exposto é legitimado não apenas através do discurso instituído

mas, também de instrumentos legitimadores do poder, tais como o Manual

Presbiteriano3 e Manual Unificado das Sociedades Internas4 que ditam os

regulamentos relativos à posição de todos os membros, comungantes5 ou não,

pertencentes ao meio presbiteriano.

Com base nos manuais citados, foi possível elaborar um parâmetro entre

a publicação inédita de 1951, respeitada como a Constituição da IPB, e o Manual

Unificado das Sociedades Internas com sua 7ª impressão no ano 2000. Isto

viabilizou o conhecimento das diretrizes estabelecidas, servindo de suporte ao

estudo de nossa problemática.

1 IPB – Igreja Presbiteriana do Brasil. 2 Status , segundo Lakatos é o lugar ou posição que a pessoa ocupa na estrutura social de acordo com o julgamento coletivo ou um consenso de opinião do grupo. É a posição ocupada pelo indivíduo respeitando os valores sociais estabelecidos pela sociedade. 3 Manual Presbiteriano – considerado e reconhecido pelos membros da instituição como a constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil. 4 Manual Unificado das Sociedades Internas – além de apresentar breve histórico sobre cada sociedade interna da IPB, estabelece as normas específicas para os componentes das mesmas. 5 Comungantes – membros que aceitaram a doutrina da Igreja, professaram a fé (publicamente) e assumiram direitos e deveres instituídos pela Igreja e são admitidos à celebração eucarística, à santa ceia.

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Para desenvolver esta dissertação optamos, metodologicamente, por um

estudo de caso, baseando-nos em pesquisa bibliográfica. Como se poderá

perceber, recorremos ao exame de dispositivos legais que regem a Instituição e à

análise de diversos documentos disponíveis como: atas, boletins, jornais, fotos,

etc., sobre os quais trataremos no decorrer da dissertação.

As publicações gerais, representadas por fontes inéditas e primárias, além

de algumas dissertações de mestrado e produções empíricas serviram como

embasamento teórico ao trabalho aqui proposto.

A possibilidade de observação livre na comunidade religiosa de Campo

Mourão – Pr, local onde residimos, e também em outras localidades onde tivemos

acesso, viabilizou a constatação de alguns aspectos descritos neste trabalho.

É mister deixar claro que o objetivo central da pesquisa é explicitar a

condição feminina na IPB considerando que a mulher, membro desta organização,

além de ter assimilado valores, princípios e ideologias, permanecer cotejando e

transferindo um pensar similar ao que foi instituído no período da criação da

Igreja no Brasil.

O período delimitado para este estudo priorizou a época de organização

do trabalho feminino na instituição, que data de 1884, e seu desenvolvimento até

aproximadamente 1970. Isto não impediu as buscas sobre a origem e evolução

histórica da IPB, cujos primórdios remontam aos idos de 1859.

Na constante busca por maiores esclarecimentos e no amealhar das fontes

existentes, constatamos que muitos autores se preocupam, em demasia, com o

aspecto doutrinário e institucional. Outros, reproduzem apenas relatos ditos

históricos que omitem a participação da mulher como agente da história da Igreja.

Com base nas fontes disponíveis, procuramos, inicialmente, esclarecer a

origem da Igreja e o modo como se processou sua implantação e expansão no

país.

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Serviram, como fonte primária, alguns números da Imprensa Evangélica6

além do Diário de Ashbel Green Simonton7, escrito entre 1852-1867.

Entre outras obras escritas, destacamos a de Émile G. Léonard sobre o

“Protestantismo Brasileiro”, pioneira no tema, e publicada em 1951.

Observamos, igualmente, algumas publicações de historiadores

presbiterianos constatando modelos de narrativas sectárias 8 onde a figura feminina

não apresenta um caráter participativo na construção da história da Igreja. Ela é

citada, aqui e acolá, como mera auxiliar, como esposa de pastor e/ou missionário

e, às vezes, como alguém de destaque em determinada localidade ou família.

Isto pode ser exemplificado através da “História da Igreja Presbiteriana

do Brasil” em comemoração ao seu Primeiro Centenário9, de Júlio de Andrade

Ferreira que oferece um relato factual do período compreendido entre 1839 e

1950.

A obra citada menciona figuras de missionários norte-americanos,

privilegiando homens e, em raros momentos, deixando transparecer uma ou outra

figura feminina.

Sua produção não prima pelo aspecto crítico, mas descreve, com riqueza

6 Imprensa Evangélica – primeiro jornal evangélico, impresso no Brasil a partir de 1864 e criado por Simonton. 7 Ashbel Green Simonton – Primeiro missionário presbiteriano , oriundo dos Estados Unidos, do Seminário de Princeton; pioneiro que chegou ao Rio de Janeiro em 12-08-1859, onde fundou a 1ª IPB. 8 Sectárias – o termo utilizado traz o sentido da intolerância e intransigência presentes no discurso de historiadores presbiterianos que se colocam contrários a qualquer tipo de avanço que implique em transformação do modelo institucional presbiteriano. Essa mentalidade sectária impede a igualdade feminina de direitos em algumas funções da Igreja. João Dias de Araujo, em um breve artigo entitulado “Inquisição, fundamento e sectarismo, a prática teológica da Igreja Presbiteriana do Brasil”, in: Teologia no Brasil: teoria e prática, publicado pela ASTE 1985 afirma que em decorrência das tendências Inquisitorial e Fundamentalista, a partir de 1966 “a IPB foi se tornando cada vez mais sectária, deixando de ser igreja”. 9 Primeiro Centenário da IPB – comemora o ano da chegada do 1º Pastor Pres biteriano Ashbel Green Simonton em 1859 e as ações desenvolvidas até 1959. Neste ano, um projeto da Comissão Presbiteriana Unida do Centenário publicou um documento ilustrado sobre o Centenário da Igreja.

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de detalhes, a origem, organização e expansão da IPB, destacando heróis,

utilizando um discurso de época, cuja metodologia coincide com outras obras que

citaremos.

Boanerges Ribeiro, pastor presbiteriano, desenvolveu escrito similar,

intitulado “A Igreja Presbiteriana no Brasil, da Autonomia ao Cisma”. Em sua

narrativa, a mulher permanece ocupando papel simbólico na história da

Instituição.

Também Carl Joseph Hahn, através de “História do Culto Protestante

no Brasil” , pouco subsídio oferece sobre a presença feminina em seu livro.

Outros estudiosos da ciência da religião desenvolveram pesquisas mais

elaboradas, cujos temas contribuíram sobremaneira para o alcance de nossa meta.

É possível citar, de Antônio Gouvêa Mendonça “O Celeste Porvir, a Inserção do

Protestantismo no Brasil” e, deste com Velasques Filho “Introdução do

Protestantismo no Brasil”.

Igualmente, obras de Martin N. Dreher e Rubem Alves foram relevantes,

considerando o esmero na apresentação de dados e detalhes muito bem

fundamentados. Suas pesquisas contêm um caráter crítico, viabilizando a análise

racional e coerente e, ao mesmo tempo, oportunizando uma visão diferenciada dos

aspectos formadores da História da Igreja. Entre as obras de Dreher, podemos

citar “A Coleção História da Igreja”, em 4 volumes; além de inúmeros artigos

publicados. De Rubem Alves, entre diversas obras publicadas podemos citar

“Protestantismo e Repressão”, “ O que é Religião”; O Enigma da Religião”.

Os autores mencionados e outros constantes de nossa bibliografia

serviram de suporte aos questionamentos surgidos no desenrolar da pesquisa.

Dentre as hipóteses levantadas, consideramos as seguintes: a) a questão

do predomínio do homem como detentor do poder de mando e liderança da Igreja;

b) o porquê da acomodação feminina frente à ideologia andocêntrica, transmitida

por um discurso que persiste; c) a influência da herança ibérica, cultural e

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religiosa, no cotidiano brasileiro, dificultando o avanço, e mesmo um repensar,

voltado a possíveis mudanças.

Nossas indagações buscaram respostas também em estudiosas que se

dedicam ao aspecto cultural como, Mary Del Priori, Leila Mezan Algranti e Maria

Luiza Marcílio, entre outras.

A exemplo disto destacamos parte do estudo de Mary Del Priori que

salienta a importância da Igreja no período colonial, cuja função primordial era a

de servir de instrumento mantenedor da moral, garantindo ao homem o direito de

dominação e à mulher, o consentir com tal fato , como segue:

“Sermões e pastorais exaltando o sacramento do matrimônio serviam tanto para justificar a instalação de uma aparelho burocrático e afirmar o poder da Igreja no Novo Mundo, como exatamente para difundir as benesses desta falsa relação igualitária, no interior da qual o equilíbrio residia na dominação masculina e na consentida submissão feminina”. 10

Além do reconhecimento da influência patriarcal herdada da cultura

ibérica e transmitida às várias gerações brasileiras, procuramos mostrar também

uma outra presença étnica responsável pela definição dos padrões presbiterianos

adotados no Brasil.

O tema produzido pela historiadora Nancy F. Cott em referência “A

Mulher Moderna. O Estilo Americano de Vida”, in: “História das Mulheres no

Ocidente. O Século XIX” , clássico dirigido por Georges Duby e Michelle Perrot,

explicita com detalhes o estudo de vida da mulher nos Estados Unidos. Este fato

foi relevante em nossa pesquisa dada a presença da mulher americana no ambiente

presbiteriano brasileiro

10 PRIORI, Mary Del. As atitudes da Igreja em face da mulher no Brasil Colônia. São Paulo: Loyola, 1993, p. 171.

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Analisar a organização das mulheres na Igreja significou estudar o papel

da imigrante vinda dos Estados Unidos, presente em todos os momentos

vivenciados pela história da IPB. O fato é amplamente divulgado pela SAF em

Revista11, órgão informativo e formativo das Sociedades Auxiliadoras Femininas,

com distribuição a nível nacional e escolhida como nossa principal fonte de

pesquisa.

A coletânea da SAF em Revista abrangendo o período de 1955 à 1970,

além de algumas obras sobre a história da Igreja, possibilitou o reconhecimento de

que mulheres norte -americanas se destacaram no meio presbiteriano brasileiro

como líderes, missionárias, professoras, administradoras de escolas, instrutoras de

arte e música. Nem todas se apresentavam como “esposas de pastor”. Muitas

vieram solteiras, outras, mesmo casadas, eram apenas visitantes, participantes de

congressos, encontros e passeios que lhes oportunizava difundir um discurso

aceito pelas Igrejas. Algumas vieram com função definida na organização, em

especial, para atuarem na área educacional.

Jether Pereira Ramalho em “Prática Educativa e Sociedade”, João

Paulo R. R. Aço com “A Voz Missionária (1930-1949) como Veículo Para

Educação Informal da Mulher Metodista” e Marlise Regina Meyrer em

“Evangelisches Stift: Uma Escola para “Moças das Melhores Famílias””,

estudaram o assunto. É verdade que o trabalho de Marlise R. Meyrer foi dedicado

a um modelo educacional de origem alemã e não norte -americana, serviu, porém,

de base comparativa em nossa pesquisa.

A educação sempre foi fator relevante entre os presbiterianos, bem como

entre outros grupos religiosos de diferentes denominações12 evangélicas tendo em

11 SAF – A Sigla tem como significado ser uma Sociedade Auxiliadora Feminina. É uma das Sociedades Internas da IPB, e é composta apenas por mulheres. Serviu como denominação à revista que é produzida e publicada no Brasil desde 1955 e destinada a todas as mulheres presbiterianas. 12 Denominações – O protestantismo norte-americano representado por missões no Brasil, foi de caráter denominacional. Vieram congregacionalistas, metodistas, batistas , presbiterianos...

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vista que a leitura bíblica sempre foi imprescindível ao crente 13, cujo dever era a

busca do conhecimento dos fundamentos cristãos.

Nossa pesquisa mostra que, além do aspecto intelectual e instrutivo

promovido pela ação educacional, esta serviu, igualmente, como uma nova opção

de atuação para a mulher fora do espaço doméstico. Isto lhe valia como um

trabalho digno e apropriado, já que existiam reservas quanto às atividades a serem

desenvolvidas por ela. Neste aspecto, a presença norte -americana se destaca.

Mesquida, ao tratar sobre o assunto, pondera:

“A educação formal sem discriminação racial, nem ideológica, destinada a todos que queriam (e podiam) aprender, foi sempre um instrumento privilegiado de penetração e de difusão do protestantismo, bem como de propagação de valores morais e de idéias às quais os protestantes se achavam ligados.14

A ação feminina em um campo alheio ao doméstico está fundamentada

na história cultural e de gênero. Quanto à história cultural é possível comprovar o

predomínio do cristianismo europeu trazido pelos colonizadores e,

posteriormente, pelos imigrantes sobre as etnias dominadas e representadas

inicialmente por negros e índios. Igualmente, é possível detectar a influência do

modelo patriarcal fundamentador das distinções de gêneros e que estabeleceu

funções e posições hierárquicas distintas para homens e mulheres não só na

família, como também na sociedade.

A exemplo disto, Fernando Novais, em sua “História da Vida Privada no

Brasil”, oferece-nos subsídios através da produção de Marina Maluf e Maria

Lúcia Mott, que tratam do “Recôndito Mundo Feminino”, dando mostras da

realidade vivenciada por homens e mulheres, com funções definidas e

13 Crente – uma das identificações destinadas aos não-católicos no Brasil, originalmente, porém, tem sentido similar ao conceito “católico praticante”. 14 “MESQUIDA, Peri. Hegemonia Norte-Americana e Educação Protestante no Brasil. São Paulo: EDITEO, 1994, p. 116.

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diferenciáveis em família. A responsabilidade do homem em garantir o sustento

da prole, bem como a da mulher, de ser a “rainha do lar”, apresentam algumas

distorções na sociedade.

Marina Maluf e Maria Lúcia Mott afirmam que o ser “rainha do lar”

tornou a atividade de muitas delas, mantenedoras da economia familiar, ignorada

e,

“Além disso, ocultou a importância social e econômica do trabalho prestado pelas mulheres dentro de casa; tornou invisível não apenas o trabalho produtivo realizado pelas mulheres como também o das crianças; camuflou a dureza e a dificuldade do serviço doméstico, o cansaço e o desgaste físico; limitou as atividades consideradas legítimas exercidas pelas mulheres; levou o trabalho feminino a ser visto como acessório, temporário; justificou o ganho diferenciado entre homens e mulheres, e abafou o grito doloroso daquelas que ousaram denunciar as iniquidade que sofriam”15

A Igreja Presbiteriana do Brasil, como espaço público reforça a condição

excludente do gênero feminino ao garantir ao homem a exclusividade de acesso

ao oficialato e ao poder de mando na sua hierarquia interna.

A mulher permanece excluída da estrutura de governo da Igreja e a

organização de poder da instituição conserva -se nos moldes implantados no Brasil

desde o século passado.

O discurso institucionalizado coloca o mundo doméstico como um

espaço privado onde a mulher deve ter papel prioritário. Porém, é importante

ressaltar que a ação feminina exterior a este espaço resultou em conquistas

15 MALUF, Marina e MOTT, Maria Lucia. Recôndito do Mundo Feminino, in: História da Vida Privada no Brasil. Vol 3. São Paulo: Schwarcz Ltda, 1998, p. 421.

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notáveis em diferentes áreas, a saber, no social, econômico, político, intelectual e

profissional.

Tendo privilegiado a SAF em Revista como fonte primordial desta

investigação, foi possível detectar a presença de um discurso androcêntrico apesar

de dirigido à mulher.

Muitos dos artigos são produzidos por homens. Porém, quando escrito

por mulheres, percebe-se a marca do pensar masculinizante. Assim, a revista aqui

estudada espelha uma Igreja marcada pelo pensar masculino, sendo instrumento

da preservação de valores que remontam ao século XIX, quando a IPB foi

implantada no Brasil.

Nossa dissertação foi desenvolvida em quatro capítulos. No primeiro

deles, tratamos sobre os fatores que caracterizaram a presença do protestantismo

no Brasil, em especial do presbiterianismo, evidenciando o papel da mulher no

processo evolutivo da instituição.

Inicialmente, analisamos a mulher relacionada ao aspecto cultural e de

gênero procurando salientar a influência étnica na construção dos valores

perpetuados pela religiosidade.

Com referência ao item gênero, apresentamos dados comprobatórios da

permanente submissão feminina, embasados num referencial apresentado por

Marlene Neves Strey, organizadora da obra “Mulher Estudos de Gênero”, que

inclui temas alusivos à problemática feminina, elaborados por autoras como

Marilene Marodin, Áurea Tomatis Petersen, Marilene Silveira Guimarães,

Jussara Reis Prá, Marta Julia Marques Lopes, a própria organizadora do trabalho

entre outras. Também a Revista Brasileira de História nº18, produzida através da

ANPUH16, organizada por Maria Stella Martins Bresciani com diversos artigos

alusivos à questão como o de Eleni Varikas, “Pária – uma metáfora da Exclusão

das Mulheres”; de Esmeralda Blanco B. de Moura, “Além da História Têxtil: o

16 ANPUH – Associação Nacional dos Professores de História.

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Trabalho Feminino em atividades Masculinas”, e outros de Elizabeth Souza-

Lobo, Marisa Corrêa, e Luiz Marques. Igualmente, as autoras Guacira Lopes

Lauro e Ana Maria Bidegain apresentam análise sobre gênero, algumas delas já

citadas.

O terceiro item trata de uma síntese histórica sobre a instalação do

protestantismo no Brasil e está subdividido em dois sub-itens que descrevem os

tipos que adentraram o país.

Ainda no primeiro capítulo discorremos sobre a Igreja Presbiteriana do

Brasil dada sua relevância para uma análise sobre o modo de ser da mulher neste

contexto. Igualmente, fazemos referência ao puritanismo, fator influente no

processo de estruturação da instituição, bem como na seleção dos valores

instituídos.

O Segundo Capítulo da pesquisa traz esclarecimentos sobre o aspecto

organizacional da Igreja, considerando sua evolução e o estabelecimento de

limites inseridos na hierarquia de poder da organização. Além da estrutura política

da instituição, o trabalho contempla as sociedades internas que compõem o

sistema, esclarecendo as respectivas funcionalidades.

O Terceiro capítulo está calcado na figura feminina. Prioriza seu papel

como contributo fundamental na construção e preservação da religião estudada.

Destaca sua presença desde a origem do movimento missionário no Brasil e sua

atuação na implantação e desenvolvimento do presbiterianismo em nosso

território. O capítulo reflete sobre o poder instituído e a manutenção da mulher em

uma posição de exclusão das funções consideradas relevantes na hierarquia

instituída.

O Quarto capítulo é, na verdade, a análise do discurso da SAF em

Revista, tida como veículo de formação e informação de mulheres presbiterianas.

Nossa pesquisa coloca e confronta o discurso da SAF em Revista e a

ação de mulheres que compõem a sociedade feminina presbiteriana.

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Consideramos os aspectos políticos, sociais, econômicos, morais, principalmente,

a questão do modo de ser e pensar da mulher presbiteriana e da sua relação com a

preservação dos valores instituídos.

Com este trabalho, pretendemos apresentar subsídios de reflexão ao

elemento feminino envolvido no processo para que este possa reconhecer, mais

claramente, o porquê de sua limitada participação na instituição e, em especial,

nos espaços hierarquicamente destacáveis.

Considerando que este assunto também diz respeito à IPB, como um

todo, queremos que sirva de subsídio a uma análise mais criteriosa por parte dos

interessados e, em especial, daqueles a quem forem oportunizadas proposições em

prol de avanços no modelo em questão.

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1. PROTESTANTISMO – ASPECTOS DOMINANTES

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1. PROTESTANTISMO – ASPECTOS DOMINANTES

Ao procedermos a análise do protestantismo17 presente no Brasil,

privilegiamos a denominação presbiteriana para um exame mais detalhado.

Consideramos os aspectos mais relevantes que marcaram a história da Igreja

refletindo numa postura peculiar de seus membros em termos modo de pensar e

agir. Tais aspectos serão explicitados na seqüência do trabalho.

1.1 . MULHERES PROTESTANTES E QUESTÃO CULTURAL.

Os valores e concepções assimiladas no meio presbiteriano, bem como

sua ideologia18 ,não foram criados aleatoriamente a partir da introdução da Igreja

no Brasil. Mas, sim, foram sendo construídos e adotados através da hegemonia de

culturas que se fizeram presentes no decorrer da formação da sociedade.

Nossos antecedentes, colonizadores portugueses, através de uma

conquista ordenada, garantiram o estabelecimento do poder político da Igreja

Católica no Brasil. Esta implantou a religiosidade que ocupou um espaço

considerável no cotidiano, servindo de instrumento regulador dos bons costumes

entre os indivíduos.

Léonard afirmava que

17 Protestantismo, conforme afirma Weber, esteve inicialmente representado pelo calvinismo no século XVI, pelo Pietismo, Metodismo e pelas seitas que se derivaram do movimento Batista. Sua evolução ocorreu na Europa. Porém, segundo relato de Dreher, entre 1880 e 1914, com o fenômeno do Imperialismo a expansão protestante atinge também o Brasil. O protestantismo foi, na realidade, um processo religioso que englobou um significado social e político. 18 Para Antônio G. de Mendonça o “protestantismo brasileiro” é representado por diversos protestantismos. Esses se inseriram no Brasil, inicialmente com os movimentos migratórios, e, posteriormente, através da entrada de missionários no Brasil. O início se deu nos primórdios do século XIX.

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“O catolicismo brasileiro do fim do século passado assemelhava-se ao europeu do século XVI. Ainda hoje, em muitos pontos do Brasil, se vivem e se reproduzem os choques, as polêmicas, as reações, as perseguições religiosas, da segunda metade do século passado. Esse ambiente seria muito parecido com aquele em que se operou a Reforma do século XVI.19

É importante considerar que os valores e dogmas instituídos pela religião

no Brasil têm um legado patriarcal que se manifesta através de um discurso

discriminatório, impondo condições diferentes a homens e mulheres quanto às

posições a serem ocupadas no contexto social.

Uma análise elaborada pela historiadora Miriam Lifchitz M. Leite sobre

o assunto traz a seguinte afirmativa.

“... A eficácia dos métodos da Igreja Católica que manipulam sentimentos de culpa e estabelecem tabus demonstra-se pela profunda incorporação da tradição cristã no estabelecimento do que é vicio e virtude, da diferenciação de papéis entre o homem e a mulher, mesmo em populações desligadas ou indiferentes à religião”.20

Também deve ficar explícita a presença, no período colonial, de

diferentes tipos femininos, incluindo índias, negras, mestiças e brancas, sendo

que, entre as últimas, mulheres de diferentes níveis sociais e origens. A população

feminina era constituída por livres e escravas, pobres e ricas, solteiras e casadas,

órfãs ou com família, filhas legítimas e/ou bastardas, etc., todas sob o estigma da

inferioridade biológica e da determinação cristã da subserviência.

A religiosidade serviu para fundamentar a construção da imagem

feminina como santa e/ou demoníaca. Em decorrência da associação com a

19 LÉONARD, Émile G. O Protestantismo brasileiro. São Paulo: ASTE, 1951, p 7. 20 LEITE, Miriam Lifchitz Moreira. Outra Face do Feminismo: Maria Lacerda de Moura. São Paulo: Ática, 1984, p. 9.

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Imagem de Maria, mãe de Jesus, e com Eva, que tentou Adão, a mulher é

personificada como modelo de mãe, e/ou como pecadora.

Priore afirma que:

“Sendo a mulher naturalmente um “agente de Satã”, toda sexualidade feminina podia prestar-se à feitiçaria como se seu corpo, ungido pelo mal, se tornasse o território de intenções malignas...” 21

Nesta mesma linha, Carlos Roberto Nogueira apresenta a relação entre o

Cristianismo e o Paganismo, justificando sua visão sobre o Diabo presente na

sociedade, e escreve:

“Assim, o Diabo, incorporado aos dogmas do Cristianismo, representa as dificuldades do mundo material e espiritual, válvula de escape de uma nova fé, que busca conquistar o seu espaço no meio de crenças mais antigas e arraigadas no seio da população e que necessita de uniformidade das consciências para triunfar.” 22

A multiplicidade que caracterizava a sociedade da época garantia status

diferenciado aos dominantes e dominados. A Igreja permanecia, buscando meios

que garantissem o aportuguesamento social e a adoção dos dogmas católicos por

todos.

Para garantir o equilíbrio social e a preservação dos “bons costumes”, o

casamento era apresentado como solução. Isto visava promover o crescimento

populacional sem pecado, trazendo uma idéia de segurança à mulher e satisfação

ao homem.

Não só a religiosidade, mas também a economia exercia papel

fundamental no cotidiano brasileiro.

21 PRIORE, Mary del. op. cit, p. 240/241 22 NOGUEIRA, Carlos Roberto F. O Diabo no Imaginário Cristão. São Paulo: Ática, 1986, p.23.

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O período colonial foi marcado por um modelo econômico monocultor

agro-exportador, baseado no regime latifundiário escravista que garantia a

manutenção da riqueza e do exclusivismo metropolitano.

Segundo Fernando A. Novais, a ascendência da Inglaterra sobre as

demais potências metropolitanas da Europa fez eclodir crises no século XVIII,

impondo alterações no sistema colonial. A evolução do industrialismo inglês

determinou reajustes no comércio internacional e, conforme afirma:

“Assim, na segunda metade do século XVIII, convergem duas tendências no comércio internacional e colonial, e essa convergência era de molde a pôr cada vez mais em xeque o sistema colonial como um todo. De um lado, o desenvolvimento irreversível da revolução industrial inglesa exigia cada vez mais a abertura dos mercados ultramarinos consumidores de produtos manufaturados; por outro lado, a política de autonomização e desenvolvimento econômico dos países ibéricos ia cada vez mais dificultando a penetração dos produtos ingleses nos mercados do ultramar pelas vias metropolitanas. O resultado dessa coincidência de tendências divergentes tinha necessariamente de fazer com que os interesses do industrialismo inglês se orientassem no sentido da ruptura do pacto colonial, removendo-se o intermediário das metrópoles”. (grifo nosso)23

Se o sistema colonial como um todo estava em xeque, as relações sociais

e de trabalho também estavam. O escravismo se faz questionável frente ao

capitalismo nascente em decorrência do industrialismo inglês.

O Brasil, que no século XVIII tem na Inglaterra sua principal fonte de

mercado, sofre pressões e opta por medidas ajustáveis à nova política mercantil.

23 NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do Antigo Sistema Colonial (1777 – 1808). São Paulo:. Hucitec, 1989, p. 123.

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O mercado é aberto à imigração visando inovar a força de trabalho e a produção.

Imigrantes eram tidos como representantes de uma cultura mais avançada que

poderiam propiciar benefícios à realidade brasileira. Esta presença migratória no

Brasil não ocorreu de forma homogênea. Regiões foram se diferenciando de

acordo com grupos étnicos que se fixavam de época em época. Não apenas

europeus, mas também, “norte-americanos”, se instalam no país, concorrendo para

sensíveis transformações no contexto nacional.

A presença das diversas etnias traz reflexos manifestados através de

ideologias que geram conseqüentes transformações sociais, econômicas e

políticas. Concepções ligadas as protestantismo e ao liberalismo, entre outras

chegaram com o movimento migratório.

Nossa atenção estará voltada, em especial, à presença norte-americana,

considerando que foi determinante para o surgimento do presbiterianismo no país.

É importante lembrar que a base filosófica do protestantismo implantado

teve relação com os padrões do catolicismo em vigor. A abordagem sobre a

autoridade masculina se identificava plenamente com a instituída na sociedade da

época.

Os valores advindos da Reforma Protestante reforçavam e legitimavam a

discriminação da mulher.

Priore focaliza a questão do poder masculinizante, bem como da

influência da religião quanto ao estabelecimento de limites ao que é permitido ou

não à mulher. Para ela, em se tratando de costumes,

“A Reforma Protestante e a Contra Reforma Católica, introduzindo mais austeridade nos costumes, dão o tom severo dos discursos, e a mulher torna-se o alvo dos pregadores que subiam ao púlpito para acusá-la de luxúria.

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A necessidade de recato é uma regra.”24

A autora citada faz uma abordagem sobre a dificuldade em romper com

a negação dos papéis históricos representados pela mulher, salientando a

importância da “Nouvelle Historie” que proporcionou, a partir de 1970,

oportunidade de debate sobre o papel da família e da sexualidade. Observou ainda

que, através da História das Mentalidades oportunizou-se mais estudos sobre a

figura feminina.

Sua pesquisa viabilizou o reconhecimento do transplante cultural da

Metrópole, fonte geradora de valores para a família brasileira dentro dos moldes

cristãos em que homem e mulher permanecem ocupando papéis distintos.

A presença imigratória a partir do século XIX deveria viabilizar a

transformação social, garantindo aos indivíduos o acesso à igualdade de direitos

no conjunto da sociedade.

A mulher permanecia como parte excludente, sendo-lhe dificultado ter

qualquer representatividade no processo produtivo, político e econômico, mesmo

sendo elemento indispensável no processo. Porém, a economia do pós guerra, já

no século XIX, transformou-a em mão-de-obra abundante e barata estimulando-a

a organizar-se em prol de conquistas mais significativas no processo produtivo do

país.

O momento foi marcado pela ocorrência de movimentos feministas nos

anos 30, conflitos ideológicos e o surgimento de discursos que propunham um

novo modelo de sociedade com um tipo diferente de mulher.

A escolarização fazia, então, parte do cotidiano de muitas, oportunizando

não apenas um avanço intelectual como também o acesso a uma maior criticidade

frente aos problemas da época.

24 PRIORI, Mary Del. A mulher na História do Brasil. Raízes Histórica do Machismo Brasileiro. São Paulo: Loyola, 1955, p. 16.

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Porém, isto não adentrou as fronteiras presbiterianas. A figura feminina

componente deste espaço a tudo assiste, sem deixar -se influenciar totalmente.

Mesmo buscando beneficiar -se do conhecimento, do saber, do dir eito de trabalhar

fora do espaço doméstico, não deixa que isto interfira na sua posição de mulher

submissa, esposa perfeita e boa mãe. Enfim, o que lhe é oportunizado serve como

suporte para uma vida tida como mais perfeita na Igreja. Ela não se fez presente

em movimentos feministas. Só os presenciou.

É necessário lembrar que a imigração norte -americana ocorreu em dois

momentos e, portanto, marcou duas fases da história da Igreja e de suas mulheres.

O primeiro momento da missão presbiteriana acontece em 1859 com a

presença de missionários que vinham espontaneamente, objetivando implantar a

nova doutrina. A mulher que os acompanha não traz uma fala de liderança ou

modernização. Apesar de advir de uma sociedade em transformação, não difunde

as ideologias desta. Ela incorpora os objetivos religiosos da organização

missionária e se adapta ao sistema em vigor no país que adota para viver. Se

coloca simplesmente como esposa de pastor e/ou missionário.

O segundo momento acontece após a guerra da secessão nos Estados

Unidos. Entre muitas mulheres que chegam, inúmeras se destacam pela

competência profissional e intelectual que apresentam. Ocupam posições

diferenciadas na comunidade, desempenhando funções de professoras, líderes

comunitárias e, até mesmo, esposas participativas nas atividades de seus

respectivos maridos.

Muitas destas mulheres emigraram dos Estados Unidos, juntamente com

sua família, após a Guerra Civil e a conseqüente derrota do sul, em 1865,

carregando um conjunto de sentimentos e experiências que embasaram suas ações

no Brasil.

A exemplo disto Léonard escreve:

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“Estes missionários sulistas conservaram-se por muito tempo fiéis à lembrança de sua causa nacional. Diz-se de uma missionária da missão de Nashville, fundadora de um grande colégio, Miss Charlotte Kemper, que ela se inspirava no exemplo de Stonewall Jackson, um dos heróis dos confederados”. (grifo nosso) 25

O mesmo autor faz referência a outras personagens norte-americanas

apesar de omitir seus nomes. Isto pode ser observado quando se refere à Escola

Americana de São Paulo.

“Começaram modestamente em 1870, com aulas particulares que a esposa do missionário Chamberlain ministrava em sua própria casa, uma hora por dia, e onde recebia as crianças que a intolerância religiosa impedia de freqüentar as demais escolas.” (grifo nosso) 26

Léonard cita ainda a professora que acompanhara os primeiros

missionários metodistas e que abriu uma escola em Piracicaba (SP).

Sobre esta professora, Mendonça diz ser como Miss Watts e destaca sua

experiência no magistério e a origem cristã burguesa. Ainda enumera outras,

citando Miss Kuht, Miss Effie Lenington, ambas atuantes na Escola Americana de

Curitiba – Paraná.

O papel desempenhado por estas e outras mulheres, apresentado nesta

dissertação, procura evidenciar que as presbiterianas puderam conviver com

personagens diferentes. Conviveram com um modelo de mulher, cuja autonomia e

liderança era possível. Porém isto não foi suficiente para garantir a mudança de

postura das mesmas.

Ao analisarmos a SAF em Revista, no período de 1955 a 1970, não

25 Léonard, Émile G. O Protestantismo Brasileiro, Estudo de Eclesiologia e História Social. Trad. Linneu de Camrago Schutzer, São Paulo: ASTE, 1963, p. 76 26 Ibid, p. 134.

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encontramos qualquer relato sobre liderança feminista inserida na organização

das mulheres da Igreja, pelo contrário, deparamo-nos com artigos de alerta sobre

os riscos de idéias novas. Inúmeras manifestações demonstram preocupação e

interesse em priorizar a questão religiosa frente a qualquer outro fator. O primeiro

Boletim da SAF, publicado em 1955, traz algumas indagações sobre o papel da

mulher.

“O que faremos para que os elementos de preparo e de cultura não sejam absorvidos por outras organizações, não cristãs, perdendo o seu valioso concurso para o trabalho da Igreja? (grifo nosso)27

As mudanças no modo de vida da família presbiteriana aconteceram em

decorrência da evolução natural da sociedade e não pela manifestação concreta de

vontades. Ocorre, portanto, uma transformação silenciosa e que muitas vezes é

dificultada pelo espírito reacionário presente no interior da instituição.

Nossa afirmação decorre da constatação de que muitas mulheres deste

meio não optaram pela própria profissionalização, nem mesmo manifestaram

intenção em conquistar sua realização pessoal fora do espaço doméstico. Isto se

vincula à realidade social em que estavam inseridas.

A IPB não foi organizada por comunidades homogêneas no que se refere

ao poder aquisitivo de seus adeptos. A realidade econômica das regiões onde se

instalaram congregações e igrejas refletia a maneira humilde dos habitantes e, por

conseguinte, da mulher.

Mendonça, ao relatar uma cena religiosa sertaneja, deixa transparecer a

presença de indivíduos pertencentes às variadas camadas sociais e que estão

presentes na Instituição.

“... O bairro começava com o sítio do Nhonho Terra, espécie de patriarca do bairro

27 WERNER, Nady. Estudos Bíblicos. Boletim nº 1 da Secretaria Geral do Trabalho Feminino. São Paulo: Presbiteriana, março/1955.

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e o mais abastado. Seguiam-se os de Arlindo Terra, filho de Nhonhô, o do dito Neném Coutinho, genro de Nhonhô, e de Osório Balduino, a tal ovelha negra, e o de Osório Monteiro, o último sítio ruim, quase só campos e sapezais. Neném Coutinho e Osório Monteiro eram os subpatriarcas da congregação presbiteriana, composta pelas quatro famílias de sitiantes e mais as dos agregados, também ligados a eles por laços de parentesco. Toda a congregação, quarenta ou cinqüenta pessoas, compunha uma família extensa,”28

O autor traz um relato minucioso sobre homens pobres e livres, presentes

na sociedade da época e que adentraram o meio presbiteriano. O fato reporta-se ao

período de implantação do presbiterianismo a partir de 1859.

É sabido que os primeiros missionários e pastores encontraram no Brasil

uma realidade marcada pelo estigma do escravismo e do analfabetismo. Isto

perdurará por algum tempo e deixará marcas indeléveis por todo século XIX,

adentrando ao XX. A organização missionária, a partir de 1870, preocupou-se em

criar colégios, visando atender demanda de interesse da elit e, e escolas paroquiais

para os mais humildes.

Nosso estudo pretende deixar claro que tanto no meio rural, como no

urbano, proprietários e pessoas mais abastadas aderiram à nova religião e eram

acompanhadas por seus agregados e empregados.

Não é de estranhar que, pelas diferentes posições ocupadas pelos

presbiterianos na sociedade, as mulheres também apresentassem posturas

diferenciáveis.

A organização destas em sociedade interna da Igreja só teve início em

1884, quando surgiu, em Pernambuco, a Primeira Associação Evangélica de

Senhoras. Porém, apesar deste dado em relação à organização feminina, não há

28 MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O Celeste Porvir – A Inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1984, p. 159.

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estudos sobre a razão desta organização e, no meio presbiteriano se comemora

apenas a organização da SAF considerando o ano de 1928 quando foi eleito pelo

Supremo Concílio um Secretário Geral para coordenar as atividades da SAF a

nível nacional. A veiculação da SAF em Revista só se deu a partir de 1955,

portanto quase um século após a implantação da Igreja no Brasil.

O discurso deste instrumento traz raras abordagens sobre a categoria

pobre e simples, presente na frente pioneira rural da instituição. Pelo contrário,

evidencia valores e influência urbano-burguesa, em razão das lideranças da

organização como um todo.

Constatamos que, desde o primeiro boletim, o aspecto citado já está

evidenciado. Alguns relatos sobre ilustres visitantes norte-americanos descrevem:

“Henry L. Mc Corkle, um dos redatôres da revista “Presbyterian Life”. Um mês esteve no Brasil em contacto com os líderes da Igreja Presbiteriana visitando S. Paulo e outros centros importantes para seu trabalho.

... O casal Moomaw. A Snra Mayo Moomaw é Vice-presidentte da organização Feminina da Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos. Representando a nossa Secretaria D. Bárbara J. da Silva e a Secretária fizeram-lhe uma visita”. 29

Como a informação acima, inúmeras outras notícias apresentam

rotineiramente anúncios sobre reuniões de Federações30, contatos com diretorias

de SAFs, visitas a diversas cidades e estados, etc.

Ao afirmarmos sobre a influência burguesa da revista, podemos oferecer

29 WERNER, Nady B. Boletim Informativo da Secretaria Geral do Trabalho Feminino nº1 S.Paulo: Presbiteriana, Março/1955, p. 4. 30 Federação – Conjunto de SAF de Igrejas e Congregações de diversas cidades, pertencentes a uma região e que tem uma cidade como sede e uma diretoria para coordenar e servir de elo de ligação entre as mesmas.

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exemplos. Blanche Lício, líder presbiteriana e membro da Secretaria Geral do

Trabalho Feminino no Brasil, em um artigo sobre um modelo de Lar Cristão,

estabelece as seguintes normas:

“1º Deixar a casa limpa a roupa preparada, e a comida adiantada, no dia anterior.

2º Fazer todas as compras no sábado.

3º Deitar-se cêdo no sábado a noite.

4º Levantar-se a uma hora que permita ir a Igreja, sem pressa, e sem atraso.

5º Assistência aos cultos de toda a família, incluindo empregados.

6º Não inventar comidas trabalhosas, para que todos possam descansar.

7º Não tomar parte em diversões mundanas.

8º Dedicar tempo a boa leitura, a passear no campo com as crianças, e que também seja um dia para a família.

9º Visitar os abatidos, infermos, tristes, os indiferentes, encarcerados, etc.

10º Que seja um dia guardado de tal modo que tenhas novas forças espirituais e físicas para as tarefas da semana.”31

Neste estatuto reconhecemos itens que destoam da realidade rural pobre.

Uma família que vivencia o dia a dia na roça não sentiria prazer em um

passeio no campo ao domingo, seu local de labuta constante. Igualmente, não

parece coerente esperar uma boa leitura em um ambiente humilde, onde o

analfabetismo ainda pode ser realidade.

O item que se refere às compras do sábado também não condiz com o

31 LICIO, Blanche. O Lar Cristão. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1956, p. 15.

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espaço rural e com o “modus vivendi” do trabalhador urbano pobre.

Um outro artigo da mesma autora, num outro momento, reflete sua

consciência quanto aos limites e carência cultural presentes na sociedade. Neste,

ela estabelece alguns objetivos do trabalho feminino em prol da superação de

problemas, como segue.

“Para instrução e informação contamos com a “SAF em Revista”, o “Brasil Presbiteriano”, órgão da nossa Igreja que deve se colocado em cada lar, livros evangélicos e outros recomendáveis e , finalmente, os cursos de Treinamento. Devemos melhorar o nosso intelecto e instruir-nos nas coisas do Reino, a fim de melhor servirmos à Causa...

2) Cada SAF mantenha pelo menos uma escola de alfabetização para adultos, na qual sejam também ministradas noções de higiene.”32

Estes dois momentos apresentados pela líder comprovam que a IPB não

era composta apenas por indivíduos advindos dos setores médios da sociedade,

mas também por outros advindos dos setores mais humildes.

Dadas as dificuldades que afetavam as diferentes categorias sociais,

muitos temas estão voltados ao estímulo espiritual. As tristezas, incertezas,

conflitos familiares, angústias são colocados como provas a serem superadas

através da fé como nos mostra um dos modelos.

“Irmãs, quando vierem as angústias, as incertezas, quando a nossa jornada for difícil a ponto de se assemelhar ao Vale da Sombra da Morte, não devemos temer mal algum; Ele estará conosco; a Sua vara e Seu cajado nos consolarão.

32 LICIO, Blanche. Organização do trabalho Feminino. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana. jul/1959, p.

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Cristo disse: No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo: eu venci o mundo!” 33

O artigo citado foi embasado no texto bíblico de Salmos 23.

Apesar da constante utilização de discursos similares, detectamos

vestígios de rebeldia interna . Muitos jovens, filhos de famílias presbiterianas, ao

conquistar relativa autonomia, abandonavam os princípios e costumes,

aparentemente assimilados, deixando de freqüentar a Igreja.

A relativa autonomia, à qual nos referimos, está vinculada ao trabalho e

sua conseqüente remuneração, possibilitando ao jovem participar dos problemas

econômicos da família. Um artigo do Rev. Benjamim Moraes traz a questão da

“moderna colaboração da esposa e dos filhos no sustento do lar”34 quando afirma

que “nosso regime econômico, no Brasil, é de transição (caótico).” Tal referência

é de junho/1964. Este momento de participação coincide com as crises da

mocidade, relacionadas ao momento de amadurecimento e de busca de liberdade

pelos jovens.

Azenath de Moraes Coelho, que produziu muitos artigos para o

Departamento de Educação da Revista SAF, afirmava que:

“Em geral os pais desconhecem os fenômenos que se passam com os filhos, esquecidos das suas dificuldades já passadas e então, a guerra estabelece-se em casa: pais não entendem os filhos e os conflitos vão se tornando cada dia mais terríveis. Se em casa não se harmonizam, não querem saber da Igreja também e assistimos o triste quadro dos jovens deixarem as suas congregações.”35

33 SAF em Revista. Boletim 3. O Cristão em Face ao Sofrimento. Autor desconhecido. São Paulo: Presbiteriana, Out/1955, p. 12. 34 MORAES, Benjamim. Problemas Econômicos do Lar. As várias Soluções. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, jun/1964, p. 7 35 COELHO, Azenath de Moraes. Mãe e Filho. In SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, jul/1965, p.11

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O fato apresentado era mais comum entre rapazes, considerando que as

moças estavam mais subjugadas à autoridade paterna e, posteriormente, à do

marido, garantindo a preservação dos valores institucionalizados.

Enquanto ao homem era permitido maior liberdade e tolerância,

decorrente da ideologia patria rcal, a mulher permanecia privada da liberdade sob

vários aspectos. Desde jovem era preparada e educada, com base em um ideário

ético que propunha o desenvolvimento de virtudes tidas por fundamentais, tais

como, delicadeza, singeleza, temperança, humildade , cultura geral, beleza interior,

etc.

Muitos temas produzidos e divulgados pela revista visam legitimar tais

princípios.

Lydia Leitão, líder feminina da Igreja , com base em um relato histórico e

sua interpretação dos Salmos 143:10, apresenta o seguinte modelo de mulher:

“Foi dócil, foi bondosa para com o esposo espalhando felicidade no lar. E procurou melhor desenvolver o talento da oração. Orou com perseverança vivendo em comunhão perfeita com Deus. Viveu dentro do lar uma vida de oração e poder.”36

Quando o assunto é trabalho, o que conta para a mulher não é sua

independência econômica, nem sua realização pessoal e/ou profissional, nem

habilidades e/ou competência técnica, mas sim, a missão de colaborar.

O Rev. Dr. Laudelino de Oliveira Lima faz referência a um sermão por

ele ouvido e descreve:

“Mostrou o Dr. Benjamin Moraes que a mulher, dentre outras funções nobres que exerce, tem a missão de educar e instruir as crianças, tem a responsabilidade de agir também fora do lar em funções de colaboração e não de competição com o

36 LEITÃO, Lydia. Submissão. In: SAF em Revista nº3 São Paulo: Presbiteriana, Out/1955, p. 13.

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homem, e como elemento de amálgama para desenvolver e fortalecer o amor no seio da humanidade, especialmente nos dias que correm, atribulados pelos fatores de perturbação de uma época de transição social” (grifo nosso) 37

Em vários momentos encontramos discursos que desestimulam a busca

pela realização pessoal.

Em um dos artigos escritos por Otília M. Teixeira Braga e destinado a

servir de estudo em reuniões departamentais38, a autora afirma

“O conforto, a prosperidade e o sentimento de segurança e independência são os melhores ardis que Satanás tem para fazer repousar e adormecer o nosso espírito, cegando, ensurdecendo e insensibilizando-nos na vida moral e espiritual.” 39

Ao expor a questão, a preocupação predominante é estimular a mulher ao

serviço da Igreja. Ela é questionada quanto à sua responsabilidade de atuar nas

necessidades dos que a cercam.

Pode-se extrair da SAF mais do que uma leitura. É possível constatar que

apesar do discurso patriarcal proeminente, muitas moças buscam por formação e

trabalho nos centros urbanos.

Alguns artigos informativos confirmam o fato. Eis um modelo sob o

título: “Você sabia?”

“... 4º - que a Igreja de Copacabana, que tem como pastor Rev. Benjamim Moraes, mantém um lar presbiteriano para moças do interior que estudam ou exercem atividades no

37 LIMA, Laudelino de Oliveira. A Missão da Mulher nos Dias que Correm in: SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, Jun/1966, p. 23 38 Departamentais – reuniões de subgrupos da Sociedade Auxiliadora Feminina, para estudos variados e que ocorrem semanalmente obedecendo norma do Manuel das Sociedades Internas Presbiterianas. 39 BRAGA, Otilia M. Teixeira. Vigilância e Trabalho. In SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, Nov/1963, p. 6.

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Rio, oferecendo-lhes ambiente cristão e doméstico pela mínima contribuição financeira.”40

O exposto não se limita ao Rio de Janeiro. Também o Instituto José

Maria da Conceição em Jandira - SP, fundado em 1928, oferecia cursos para

turmas mistas, recebendo moças de diversas partes do Brasil. Isto é descrito no

fascículo de julho de 1957.

As mutações que ocorrem na sociedade estão retratadas na SAF em

Revista através de artigos reveladores do momento que está sendo vivenciado.

Ainda que se privilegiem temas que tratam a mulher como mantenedora da moral

e dos bons costumes, ocorrem outros que destacam o mérito de sua presença no

processo de transformação social como participante. Já se admite que a mulher

deva desenvolver-se para estar mais preparada e poder resolver os problemas de

família.

Altiva Alt dos Santos ao escrever sobre a infância afirma que “educar é

um processo que requer do educador eficiência, perseverança e fibra” e comenta:

“Diante do avanço vertiginoso da civilização moderna, que voa a jato, a escola vem tentando acompanha-la de trem, e a família a cavalo... Daí o sentirem-se alarmados e frustrados em seus métodos educativos: estão sempre aquém do adiantamento de seus alunos e filhos. E é bem verdade, confessemos, que por meio comodismo pernicioso, muita vez, cruzamos os braços ante a invasão do mal. A hora que vivemos é uma hora de ação. Há muito que fazer! Aquela irmã que se sentir desajustada em suas atividades, seja no lar, na Igreja ou na sociedade procure reajustar-se. É urgente e inadiável que nos “reeduquemos para educar”. (grifo nosso).41

40 WERNER, Nady. Você Sabia? In: SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1957, p. 14. 41 SANTOS, Altiva Alt dos. Secretaria Geral do Trabalho da Infância in: SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, mar/1967, p.7.

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Ao mesmo tempo que a autora procura responsabilizar apenas a mulher

pela educação dos filhos, permite um vislumbrar de crescimento através de um

discurso voltado à reeducação pessoal. Porém, se o discurso de Altiva Santos

vislumbra um repensar, a ideologia conservadora da Igreja o impede. Reeducar

exigiria uma reconstrução de valores e idéias, o que não ocorre.

A Igreja reforça as diferenças ao responsabilizar a mulher pela garantia

de satisfação e sucesso do chefe da família e dos filhos, no lar e fora dele. Como

também em atribuir a ela a função de propiciar o desenvolvimento moral,

educacional e espiritual da prole, de acordo com os padrões estabelecidos por ela.

Raramente se atribui ao homem a responsabilidade da educação dos filhos, ou

mesmo da satisfação e realização feminina.

O discurso se torna claro ao observarmos um modelo escrito por Laura

de Souza Lupo sobre os problemas dos adolescentes. Apesar de afirmar “que os

pais são o espelho dos filhos” estabelece à mulher maior responsabilidade. Para

ela,

“A mãe verdadeiramente cristã, encontrará a resolução para êsses problemas à luz da Palavra de Deus, preparando seus filhos para viverem uma vida cristã na sociedade, preparando-os moralmente e não só religiosamente, para viverem no mundo e serem cristãos em toda parte.”42

A preservação de valores tidos como patriarcal têm servido como tema

de pesquisa para aqueles que se dedicam ao estudo de gênero, como é possível

comprovar.

42 LUPO, Laura de Souza. A Fuga dos Adolescentes da Igreja. In: SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana , Jun/1967, p.7.

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1.2. MULHERES PROTESTANTES – QUESTÕES DE GÊNERO.

Pensar na herança patriarcal implica reconhecer a invisibilidade da

mulher nas decisões que configuram as definições da vida política, econômica e

cultural de um povo.

O entendimento deste fenômeno é possível através do estudo de gênero.

Para isto, é necessário lembrar que a origem da desigualdade institucionalizada

está vinculada à própria origem da ciência como o é entendida no hodierno.

Ao explicitar sobre a origem e consolidação da ciência, Bidegain afirma:

“A ideologia da ciência, por um lado, sancionou o saque contra a natureza e, por outro, legitimou a dependência da mulher da autoridade do homem e o domínio de umas nações sobre outras; desse modo justificou-se a sua invisibilidade, assim como a dos marginalizados pelo processo de desenvolvimento capitalista, chegando ao ponto de considerá-los “povos sem história”.

A ciência e a masculinidade associaram-se no domínio da natureza e da mulher, a ideologia científica e a discriminação sexual sustentaram-se mutuamente”.43

A ciência que surgiu na Europa graças à Revolução Científica dos

séculos XV, XVI e XVII fundamentou ideologicamente as conquistas européias

no mundo todo. Daí a realidade vivenciada no Brasil e a justificativa da

construção cultural de sua sociedade.

A IPB não ficou ilesa aos valores implantados através das conquistas

européias. O indivíduo evangelizado já estava imbuído da ideologia que garantia

as diferenciações genéricas. Isto estará presente na elaboração de um

43 BIDEGAIN, Ana Maria. Gênero como Categoria de Análise na História das Religiões in: Mulheres: Autonomia e Controle Religioso na América Latina. Petrópolis: Vozes, 1996.

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organograma que determina papéis distintos para homens e mulheres em seu

interior.

As justificativas apresentadas podem ser identificadas com o resultado do

estudo de Guacira Lopes Louro que conclui:

“Relacionada, a princípio às distinções biológicas, a diferença entre os gêneros serviu para explicar e justificar as mais variadas distinções entre mulheres e homens. Teorias foram construídas e utilizadas para “provar” distinções físicas, psíquicas, comportamentais; para indicar diferentes habilidades sociais, talentos ou aptidões; para justificar os lugares sociais, as possibilidades e os destinos “próprios” de cada gênero.”44

Ao avaliarmos a influência cultural presente no âmbito presbiteriano, foi

possível detectar a assimilação de valores existentes antes da inserção da Igreja.

Homens e mulheres que adotaram o presbiterianismo a partir de 1859 já

estavam de posse de um discurso garantidor das distinções genéricas.

Esses indivíduos, formadores de famílias, eram os responsáveis pela

transmissão de normas e valores e, consequentemente, pela definição dos

significados de masculinidade e feminilidade.

Marodin afirma que:

“A estrutura social é que prescreve uma série de funções para o homem e para a mulher, como próprias ou “naturais” de seus respectivos gêneros. Essas diferem de acordo com as culturas, as classes sociais e os períodos da história.

A maioria dessas categorizações, estabelecidas pela sociedade, é transmitida via família, pois essa é a fonte fundamental de

44 LOURO, Guacira Lopes. Gênero, Sexualidade e Educação. Uma Perspectiva Pós- estruturatista. Petrópolis: Vozes, 1997, p. 45.

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transmissão de normas e valores da cultura, ensinando aos indivíduos o que significa ser masculino ou feminino a partir do nascimento.”45

Ao observar a mulher no contexto presbiteriano no início da organização

da Igreja, fica claro a presença de um modelo patriarcal de família. O fato fica

mais evidenciado em congregações de áreas rurais e em regiões caracterizadas

pela economia agrária onde é priorizada à ela a responsabilidade pelos afazeres

domésticos. Este fato decorre da expectativa que se tem quanto ao papel feminino

no âmbito familiar e na sociedade. A família permanece sendo um foco de atenção

da instituição.

Rosalina M. de Lima, em um comentário destinado à reflexão feminina,

faz uma análise sobre Provérbios 31:10 a 31 e descreve:

“A mulher virtuosa apresentada por Salomão, olha pelo governo de sua casa. Geralmente temos alguém que nos ajude nos serviços de casa. Mas o nosso trabalho é organizar tudo de maneira que tudo tenha seu tempo próprio. Às vezes eu me pergunto e todas nós devemos fazer essa indagação: Temos olhado pelo governo de nossa casa? Nosso marido é conhecido pelas roupas bem cuidadas, pelo trajar?... Já paramos para pensar na responsabilidade de um botão?...46

Outra característica presente no modelo patriarcal é a tarefa procriadora.

Nas regiões pioneiras do presbiterianismo, muitas mulheres se destacaram devido

ao seu papel de valorosas mães. Podemos citar a Srª Francisca Barreto da Silva,

membro da IPB de Miguel Couto no Rio de Janeiro que ao falecer, em maio de

1961, deixou 19 filhos, 37 netos e 3 bisnetos. Este aspecto também fica

evidenciado no catolicismo.

45 MARODIN, Marilene. As relações entre o homem e a mulher na atualidade. In: Mulher Estudo de Gênero, Marlene Neves Strey. São Leopoldo: UNISINOS, 1997, p. 10. 46 LIMA, Rosalina M. de Comentando. In SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, Jun/1961, p.7.

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Outra mulher citada pela SAF em Revista foi D. Orminda Cesar, uma das

fundadoras da Sociedade Feminina em Jetiquibá MG, com 10 filhos, 44 netos, 17

bisnetos e 2 tetranetos. Algumas outras são aludidas em documentos da Igreja.

Porém, encontramos, na mesma revista citada, um discurso que busca o

desenvolvimento da mulher e sua melhor participação no meio em que está

inserida.

Isto mostra uma aparente dicotomia interna. Se num momento a mulher

foi colocada apenas como a rainha do lar, num outro, ela surge sob uma visão

mais consciente. As transformações sociais justificam as colocações de

Guaraciaba S. de Abreu ao perguntar:

O que é lar no século XX? Onde começa e onde acaba? O lar estende-se a todas as modalidade de trabalho, sejam oficinas, fábricas, escritórios, campos, enfim em toda parte onde há atividade humana...

Precisamos aceitar novos costumes e não ter a tendência de querer preservar aquele mesmo ambiente em que fomos criados”47

O advento de inovações tecnológicas e a inserção da mulher no espaço

produtivo afetam a definição de funções generalizadas culturalmente. Os valores

que estabelecem para o gênero feminino a obrigação de garantir o bem estar da

família implicam num ideário complexo.

Guaraciaba considera que “quando toda mulher compreender que a

mansidão e a doçura são alavancas capazes de levantar o mundo então teremos

lares e não apenas casa”. Ao mesmo tempo coloca a responsabilidade mútua, isto

é, homem e mulher responsáveis pela família.

Na seqüência do discurso abordado, continuamos com um modelo de

47 ABREU, Guaraciaba Silveira de. A Mulher no Lar in: SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1963, p. 8/9.

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mulher que foge aos padrões da normalidade. É a exposição de um modelo de

perfeição e, portanto, como afirma a autora:

“Olha pelo governo de sua casa e não come o pão da preguiça.

Levantam-se seus filhos e chamam-na bem-aventurada como também seu marido...

Não é preguiçosa, não desperdiça seu tempo lendo novelas, explorando escândalos, deitando e levantando tarde, suas horas preciosas são gastas em trabalho útil em proveito dos que dela dependem.”48

Apesar da infinidade de obrigações atribuídas ao feminino desde a

Reforma Protestante49, o protestantismo abriu-lhe espaço a um possível saber. A

alfabetização foi-lhe facultada dada a necessidade do estudo e aprendizado bíblico

e sua transmissão aos filhos.

Jean Baubérot, em estudo que desenvolveu sobre a mulher protestante,

fala da ocorrência de conseqüências referentes à ambivalência inerente à condição

feminina, assim como suas contradições diante das repartições de papéis

masculino e feminino. Argumenta o autor que:

Em muitos casos esta contradição resolve-se concretamente, confiando à mulher protestante a missão de secundar activamente o marido e de ser para ele realmente um parceiro. Ela aparece, em grande parte, como corresponsável pelo bem estar afectivo e simultaneamente pela ascensão cultural e social do casal e da família...”50

É possível reconhecer que o modelo de mulher protestante, que embasa

nosso estudo, traz como herança a influência cultural estrangeira, incluindo uma

48 Ibid, p.11 49 Reforma Protestante – foi um movimento reformatório deflagrado pelo monge agostiniano –Martin Lutero (1483-1546), na Alemanha, que resultou no processo divisionário da Igreja Ocidental. 50 BAUBÉROT, Jean. Da Mulher Protestante. In: História das Mulheres no Ocidente. O século XIX. São Paulo: EBRADIL, 1991, p. 240.

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gama de valores que serviram de sustentáculo ao movimento missionário, em

especial, o norte-americano. Além da influência ideológica inserida no contexto

nacional é mister considerar os costumes vivenciados na época em que o fato

ocorreu.

Os costumes vigentes na sociedade da época impunham diferentes papéis

para homens e mulheres. Se ao homem estava reservado o acesso ao público com

direitos e liberdades que a natureza lhe conferia, à mulher era limitado o âmbito

privado do lar e, certamente, todos os deveres que este espaço lhe reservava.

O homem, representava a autoridade, o poder, o dever de ser o chefe e o

direito de ser respeitado e obedecido.

À mulher estava facultada a submissão, o dever de obedecer, atender,

servir e satisfazer.

Marconi, ao expor sobre diferentes tipos de família, cita a patriarcal,

matriarcal e a paternal ou igualitária. Para melhor compreensão da influência

patriarcal no meio presbiteriano, apresentamos seu conceito:

“a) Patriarcal – se a figura central é o pai, que possui autoridade de chefe sobre a mulher e os filhos (senhores de engenho no nordeste brasileiro). 51

A realidade brasileira do século XIX refletia discriminações não apenas

de sexo, mas igualmente a étnica e a social.

O escravismo ainda era gerador da produção, garantindo às oligarquias o

poder político e econômico de então. A religião oficial do Estado estava adaptada

a esta realidade, impregnada de um discurso voltado à manutenção do “status

quo”.

Priorizamos a mulher presbiteriana visando elucidar as distinções entre o

51 MARCONI, Marina de Andrade. Instituição Família e Parentesco. In: LAKATOS, Eva Maria, Sociologia Geral.. São Paulo: Atlas, 1992, p. 171

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modelo feminino que adentrou no Brasil em finais do século XIX e a figura

brasileira participante do espaço instituído. A primeira, oriunda dos Estados

Unidos, além de sufragista já vivenciara movimentos feministas de repercussão

nacional e vinha como líder profissional cuja competência e ideal tinha real

significação.

Baubérot descreve o fato, mostrando a participação feminina nos

movimentos de Dispertamento52 do século XIX, na luta contra a escravatura, na

organização do diaconato e, em especial na busca pelo acesso ao ministério

pastoral. Este movimento que incluía a luta pelo direito de pregação em púlpito já

se fazia presente na Igreja Presbiteriana norte -americana.

“O problema da pregação do alto de um púlpito começou a ser seriamente colocado a partir da década de 1870. Entre os quacres existem tradicionalmente mulheres pregadoras. Uma delas, Sarah Smiley, foi convidada nessa altura a pregar em algumas igrejas presbiterianas, em Brooklyn por exemplo.”53

No segundo caso, ao nos referirmos às presbiterianas brasileiras, os

movimentos feministas não se fizeram presentes na Igreja.

O ritmo de adesão às novas formas de comportamento, isto é, à

participação em organizações instituídas na sociedade, não eram tão significativas

quanto a das mulheres norte-americanas.

As presbiterianas brasileiras assimilaram o regime conservador que a

Igreja incorporou.

Este regime é legitimado através de normas estabelecidas por estatuto

52 Dispertamento – Movimento revivalista do final do século XIX que legitimava às mulheres lugar de maior importância, com base nas epístolas de Paulo. BAUBÉROT, Jean. Da Mulher Protestante. In: História das Mulheres no Ocidente. O Século XIX. São Paulo: EBRADIL, 1991. 53 BAUBÉROT – op. cit., p. 253

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próprio que garante apenas aos homens acesso às funções de governo e de

ministério.

Deste modo, as funções mais respeitadas e tidas como de maior

representatividade na estrutura organizacional da Igreja são ocupadas

exclusivamente pelo gênero masculino. Estes garantem o poder de governar e

tomar decisões em nome da Igreja. Para que isto ocorra, a organização da

instituição possui um Conselho, formado por presbíteros eleitos e cuja presidência

é de competência do pastor. Todos os elementos que compõem o Conselho devem

ser homens, membros comungantes e que apresentem idoneidade comprovada. O

Manual Presbiteriano expõe:

“Art. 50 – O presbítero regente é o representante imediato do povo, por este eleito e ordenado pelo Conselho, para, juntamente com o Pastor, exercer o govêrno e a disciplina e zelar pelos interêsses da igreja a que pertencer, bem como de tôda a comunidade, quando para isso eleito ou designado.”54

Como vemos, além do poder de governo, o presbítero tem o poder de

disciplina.

O Código de Disciplina estabelece os propósitos da mesma como: “Tôda

disciplina visa edificar o povo de Deus, corrigir escândalos, êrros ou faltas,

promover a honra de Deus e o próprio bem dos culpados.”55

Rubem Alves analisa este poder, reconhecendo a ação de uns sobre a

definição da vida de outros no ambiente religioso e afirma:

“Interessa –nos indicar que a disciplina é um ato comunitário -jurídico, pelo qual se interdita ao pecador a participação nos sacramentos. Ele poderá estar presente fisicamente, no local onde se celebram os cultos. Mas a Igreja lhe nega o direito de

54 Manual Presbiteriano – IPB, São Paulo: Presbiteriana, 1951. 55 Código de Disciplina. Manual Presbiteriano. São Paulo: Presbiteriana, 1951, p.65.

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participar naquilo que é a sua própria essência: o sacramento.” 56

O fato diz respeito ao nosso estudo, por constatarmos que a punição parte

do Conselho e este é formado apenas por homens. Porém, é visto como um ato

comunitário, considerando que a escolha dos componentes do mesmo pela

comunidade legitima o poder a eles concedido.

Portanto no Brasil, o poder lhes foi outorgado no momento da escolha

destes. A mulher brasileira presbiteriana assimila e repassa, através da educação,

as diferenciações pertinentes à instituição.

É necessário considerar que o presbiterianismo, vindo dos EUA, se

desenvolveu no país a partir da segunda metade do século XIX. Inúmeras

mulheres americanas que aqui chegaram no final deste século e início do século

XX, já vivenciara movimentos feministas peculiares em seu país de origem, não

só no espaço religioso como na sociedade em geral.

O mundo todo presenciava movimentos que repercutiam em toda

sociedade européia. Em Versalhes, em dois “Congressos Internacionais das

Obras e Instituições Femininas”, ocorridos em 1889 e 1890 respectivamente,

prevalece a presença de protestantes. Segundo Baubérot.

“Neles se constata que a “questão da mulher” está “infinitamente mais avançada” na América, na Dinamarca e na Suécia do que em França (Mme Legrand – Priestley). Esses congressos são inteiramente representativos, daquilo que é possível chamar o movimento protestante feminino...”(grifo nosso).57

A mulher protestante norte-americana já participara de questões sociais

relevantes, tais como a luta contra a escravatura e a busca de direitos no ambiente

religioso.

56 ALVES, Ruben A. Protestantismo e Repressão. São Paulo: Ática, 1982, p. 209. 57 BAUBÉROT. op. cit., p. 252.

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Baubérot descreve a atuação de mulheres afirmando, inclusive, que

algumas discursavam em igrejas para considerável platéia mista. Isto estimulava

reações questionadoras por parte daqueles que discordavam do conteúdo dos

discursos feitos por estas mulheres.

Este fato possibilita a prática de atitudes machistas por parte do próprio

clero protestante que reage frente ao apoio dado a elas pela Igreja. O autor citado

dá o exemplo da Igreja congregacionalista, o que não significa que outras

denominações tenham estado fora do problema, visto que a abrangência atingia a

sociedade num todo.

“... A cumplicidade das Igrejas na manutenção de uma situação de inferioridade dos negros, mesmo quando livres, foi denunciada. A extensão desta tomada de consciência feminina, o conteúdo dos discursos feitos, não podiam deixar de desagradar a uma grande parte do clero protestante. Por essa razão, a associação dos pastores congregacionalistas publicou uma carta pastoral que afirmava, com o apoio de citação do novo te stamento que o papel das mulheres não consistia em tratar dos assuntos públicos.”58

O que se pode extrair do texto é que para os líderes religiosos protestante

não é a questão social que importa, mas, sim, a própria caracterização de gêneros

e a definição dos papéis a serem desempenhados pelo homem e/ou pela mulher. O

objetivo foi coibir o avanço feminino em assunto que, evidentemente, não

interessava aos líderes religiosos.

A atitude dos pastores nos EUA, já em 1837, traz em seu bojo uma clara

discriminação relacionada à figura feminina. Fica explícita a diferenciação que

faziam dos indivíduos frente à sociedade, garantindo a manutenção de uma

ideologia discriminatória.

58 Ibid, p. 248

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No contexto da ação pastoral, a distinção de direitos não se limita à

questão étnica e/ou econômica, mas assume uma maior abrangência atingindo a

questão de gênero, quando define que “homens podem” e “mulheres não

podem” tratar de assuntos públicos.

Não importa tratar aqui o que podem uns e outros não. É necessário

reconhecer a presença de um discurso unilateral. Este é produzido apenas por

pastores homens, que se utilizam da interpretação bíblica para conquistar

credibilidade e legitimar suas verdades.

O pesquisador francês Baubérot, ao desenvolver pesquisa sobre

“Protestantes contra a escravatura”, descreve o pensamento dos homens aos

quais fazemos referência, esclarecendo que a interpretação dada aos problemas da

época e aos textos bíblicos utilizados era deles mesmos.

O exposto não limitou a ação feminina nos Estados Unidos. A busca da

mulher por conquistas no campo social e religioso continuou. A questão da

escravatura neste país passava a partilhar com uma nova polêmica, ou seja, estava

presente também a questão feminina e as diferenças existentes no âmbito social.

Isto serviu de estímulo ao feminismo protestante do século XIX não só nos EUA

como também na Europa.

Do mesmo modo que o elemento masculino se utilizou da Bíblia como

instrumento justificador de sua posição de domínio e poder, as mulheres

apresentam uma interpretação peculiar sobre o discurso bíblico o que as coloca

em igualdade de condições perante Deus.

Há momentos em que o discurso se torna conflitante pelo fato de

apresentar um radicalismo, onde uma parte das protestantes não se mostra

interessada em lutas reivindicatória s, mas apenas busca a igualdade nas relações

entre os sexos, visando o respeito e a integração entre os mesmos.

Mesmo considerando que a figura da protestante norte-americana

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ocupava posição de destaque na construção de uma história de conquistas no

âmbito do direito ao acesso na hierarquia da Igreja instituída em seu país, no

Brasil a mesma não propagou mudanças. Este modelo de mulher consciente e

participativo, no espaço brasileiro se fez líder como mera colaboradora.

O momento vivenciado posteriormente à Guerra da Secessão (1861-

1865) promoveu a vinda de uma leva de imigrantes e missionários norte-

americanos ao mesmo tempo em que garantia, nos Estados Unidos, a afirmação e

credibilidade das organizações femininas. É bom lembrar que este fator contribuiu

para a expansão presbiteriana no Brasil.

Mendonça relata que, em 1868, ocorreu o estabelecimento da missão da

Igreja Presbiteriana do Sul dos Estados Unidos em Campinas, considerando o fato

como favorável à expansão presbiteriana.

Lembra ainda que:

“Em 1868, o Sínodo Presbiteriano da Carolina do Sul enviou os missionários Edward Lane e G. Nash Morton, que se estabeleceram em Campinas. No entanto, o atendimento religioso aos confederados de Santa Barbara não parece ter sido o objetivo exclusivo da Igreja do Sul, porque logo mais, em 1873, os missionários William Leconte e J. Rockwell Smilh foram enviados para o Recife...”59

Neste momento, a organização missionária foi fundamental no

desenvolvimento do protestantismo brasileiro. Também contou com a influência

na construção de um modelo de mulher que procurava imitar os padrões e valores,

apresentados pelas professoras, missionárias e esposas de pastores que agiam

ativamente no espaço onde chegava.

Como a mulher que chegava já havia presenciado a luta pelo acesso ao

59 MENDONÇA, Antonio Govêa. O Celeste Porvir A Inserção do Protestantismo no Brasil, São Paulo: Paulinas, 1984, p. 25.

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ministério e também convivera com conflitos até o momento da guerra, isto

concorreu para que ela se afirmasse nas ações organizacionais da Igreja, como

afirma Baubérot.:

“... No entanto, depois da Guerra da Secessão, o poder das organizações controladas pelas mulheres afirmou-se no seio de várias denominações (baptistas, metodistas, episcopalianos, etc.) nomeadamente no que se refere às actividades missionárias. As suas finanças (geridas, no norte, pelas próprias mulheres) e a sua influência permitiram-lhes ampliar a sua pressão.”60

Para conhecer a extensão da ação de homens e mulheres no processo de

implantação do presbiterianismo no Brasil, é necessário avaliar como isto ocorreu.

1.3. A INSTALAÇÃO DO PROTESTANTISMO NO

BRASIL.

A presença do protestantismo no Brasil não significou um acontecimento

isolado da história do país. Pelo contrário, foi resultado de um conjunto de fatores

decorrentes da evolução sócio-econômica e política que tornou necessária a

abertura no campo religioso.

O Brasil, em sua evolução política, vivenciou a transferência da família

real portuguesa, em 1808, transformando-se, somente em 1815, de Colônia em

Reino Unido de Portugal e Algarves. A partir deste fato, o país não seria mais o

mesmo, pois como sede do Governo Real, melhorias deveriam ser efetivadas. E

este é um momento de importância para nossa investigação.

60 BAUBÉROT, Jean. op. cit., p. 253.

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Entre as conseqüências da presença Real no Brasil, chegam também

reflexos da política liberal que crescia no Estado Moderno Europeu.

Este fato teve sua origem já no século XVI, com a decadência da

autoridade eclesiástica na esfera econômica.

Ramalho afirma que:

“O Estado nacional solidifica sua função de responsável pelo bem-estar social (ou seja pelo funcionamento pleno da economia de mercado) em detrimento da posição ocupada anteriormente pela Igreja. O mercantilismo é o primeiro passo dado pelo crescente Estado secular no caminho da plena realização do liberalismo. Ele simplesmente transfere, na sua primeira fase, da Igreja para o Estado, a idéia de controle social”. 61

Conflitos entre a França e Inglaterra em busca da hegemonia política e

econômica na Europa resultaram na transferência da Corte Portuguesa para sua

Colônia Brasil. Os países beligerantes seguiam uma política liberal, voltada para o

deseã>ËX…×ê"H

61 RAMALHO, Jether Pereira. Prática Educativa e Sociedade Um estudo de Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: Zahar, 1976, p. 32/33.

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62 NOVAIS, op. cit., p. 302

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63 DREHER, Martin N. A Igreja Latino-Americana no Contexto Mundial. São Leopoldo: Sinodal, 1999, p. 203.

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64 Ibid, p.223

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65 RAMALHO, Jether Pereira: Prática Educativa e Sociedade. Um Estudo de Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: Zahar , 1976, p. 35

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66 WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. 1999, São Paulo: Pioneira, p.56-57.

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67 Muito instrutivo para compreensão do termo pseudo-pastores é a obra de Martin N. Dreher “Igreja e Germanidade. Estudo crítico da história da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil”. Informa que a designação é referente aos leigos nomeados pelas comunidades luterana do Rio Grande do Sul, na falta de Teólogos, desde o estabelecimento da imigração alemã.

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68 Diaconisas - mulheres que fazem parte da hierarquia de algumas Igrejas evangélicas e que desempenham funções ligadas ao ministério pastoral. A dissertação de mestrado em Teologia de Ruthild Brakemeier sob o título “O Surgimento de um Modelo de Diaconato Feminino, Sua Implantação no Brasil e Perspectiva para o Futuro” apresentado em 1998 na Escola Superior de Teologia, S. Leopoldo, é bastante elucidativa sobre o tema.

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69 DREHER, op. cit., p. 225.

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70 DREHER, Martin N. A Igreja Latino – Americana no Contexto Mundial. 1999, São Leopoldo: Sinodal, p. 89-90. 71 KREUTZ, Lúcio. Modelo de Uma Igreja imigrante: Educação e Escola. In: Populações Rio Grandenses e Modelos de Igreja. Org. Martin N. Dreher. São Leopoldo: UNISINOS, 1998, p. 208.

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72 DREHER, op. cit., p. 145.

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73 MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O Celeste Porvir. A Inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1984, p.55.

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74 MENDONÇA, Antônio Gouvêa; VELASQUES Filho, Prócopo. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1990, p. 32.

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75 Justin R. Spaulding – Foi um dos representantes da Sociedade Bíblica Americana, fundada em 1816, que veio para o Brasil. Era metodista e dividia seu tempo como colportor e proselitesta. VELASQUES Filho, Prócoro faz referência à sua pessoa na obra Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1990, p. 101.

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76 Kidder – “Pastor metodista norte-americano que percorreu o Brasil durante a minoridade de D. Pedro II. Manteve excelente relação diplomática com Padre Diogo Antonio Feijó, Regente Imperial, sugerindo a adoção do chamado “catecismo de Montpellier” de autoria de Colbert, para ser usado juntamente com a Bíblia como texto de leitura nas escolas públicas de São Paulo.” David Gueiros Vieira, em sua obra “O Protestantismo, a maçonaria e a Questão Religiosa no Brasil”publicada em Brasília pela Editora UNB, 1980, relata sobre Kidder.(p. 31).

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77 DREHER, Martin N. Op. Cit. p. 226.

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78 Jansenismo – movimento que teve início em meados do século XVII e trouxe como objetivo principal a luta em prol da Reforma e o reavivamento interno da Igreja Católica na Europa. Seu líder foi Fleming Cornelius Otto Jansen. 79 VIEIRA, op. Cit., p. 29.

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80 KLEIN, Carlos Jeremias – Presbiterianismo Brasileiro e Rebatismo. Barueri: Simpósio, 2000, p. 62.

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81 LEONARD, op cit p. 32.

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82 Destino Manifesto – implica na ideologia que defendia a supremacia norte-americana e seu dever de transmitir a religião e cultura protestante a povos tidos como culturalmente mais atrasados por estes.

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×××××××××V V¬×××××××××ficava com a dos missionários, porém, isto não

impedia a ação dos mesmos.

O fato é explicitado por Mendonça e Velasques da seguinte forma:

“... É por isso que há um visível descompasso com a sociedade, descompasso que é historicamente explicável: no momento em que o protestantismo foi inserido na

83 DREHER, op cit p. 226

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sociedade brasileira, esta se achava num estágio de desenvolvimento anterior à sociedade norte -americana, por isso o protestantismo foi recebido como vanguarda do progresso e da modernidade...” 84

O protestantismo de missão que veio para o Brasil não foi oriundo da

Europa, mas dos Estados Unidos, onde já havia sofrido transformações e

adequações relacionadas à vivência do povo norte-americano. Isto significa que os

valores apregoados no Brasil já estavam modificados em função da ideologia que

embasava a ação das organizações criadas para este fim.

Inúmeras organizações missionárias foram criadas nos Estados Unidos

para atender os projetos das diversas denominações instituídas no país. Todas

enviavam representantes para divulgar a religião e, igualmente, a cultura pré-

idealizada. Estes representantes, muitos dos quais pastores e/ou missionários,

vinham acompanhados de suas respectivas esposas, sobre as quais há pouca

referência. Porém, é possível reconhecer que o elemento feminino serviu de apoio

no processo de implantação do protestantismo no país.

À exemplo do que foi afirmado, mencionou-se a obra “A Introdução do

Protestantismo no Brasil”, de Mendonça e Velasques Filho, que apresenta uma

diminuta referência à Srª Sara P. Kalley como autora de hinos, cantados por

muitas igrejas até o hodierno.

Outra ação de importância na implantação do protestantismo brasileiro

foi a viabilização de funcionamento da Escola Dominical pela Srª Kalley. Esta

característica, própria do protestantismo, possibilita a participação ativa de

adultos, jovens e crianças, respeitadas quaisquer que sejam as diferenças, no

estudo doutrinário de inúmeras denominações espalhadas pelo território

brasileiro.

84 MENDONÇA e VELASQUES, op cit, p. 13

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A Igreja que se instalava pela ação missionária se fez sustentar por

discurso patriarcal. Sua implantação foi liderada pelo gênero masculino tido

como mais capaz, desenvolvido e culto da espécie humana, oriundo de uma

sociedade que se mostrava mais moderna e avançada. Eram eles os representantes

de uma cultura superior frente à nascente sociedade brasileira que concordava em

pertencer a uma situação inferior.

Mesmo tendo permanecido escravocrata e com acentuados sinais

discriminatórios em seu conjunto de valores, nada ofuscava o brilho que

caracterizava a realidade norte -americana. Havia credibilidade quanto ao regime

econômico implantado na América do Norte, considerado mais moderno e

profícuo. Tudo concorria favoravelmente para a divulgação da nova religião uma

vez que, para o Brasil, o momento era de busca de alternativas em prol da

construção de uma melhor realidade social.

Ramalho explicita sobre o momento da chegada do protestantismo no

Brasil e afirma:

“A chegada do protestantismo está, portanto, muito ligada às condições favoráveis do contexto histórico. É de se notar, entretanto, que não somente se abrem possibilidades para esse sistema religioso, outras correntes de pensamento encontram campo também para se estabelecerem.”85

Analisando o projeto de missões, Mendonça procura mostrar que o

mesmo não se limitava à fé, concluído que: “A expansão missionária das igrejas

americanas no último terço do século XIX, foi produto do sentimento nacional

expansionista combinado com motivos teológicos”. 86

No transcurso dos anos, a atividade missionária voltava-se cada vez mais

para a educação, sendo esta uma das fórmulas utilizadas para a transmissão de

85 RAMALHO, Jether Pereira, Pratica Educativa e Sociedade. Um Estudo Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: Zahar , 1976, p. 53. 86 MENDONÇA, op. cit., p. 57

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uma ideologia–padrão, tida como ideal e progressista. Não apenas seminários

eram criados, mas também escolas voltadas para a elite, nos principais centros do

país.

Dreher, ao enumerar algumas características do denominado

“protestantismo de missão” escreve:

Dentre todas essas características, uma sobressai: a educação. Os colégios do protestantismo de missão não pretendiam apenas educar para a fé, mas dar expressão aos “valores da vida cristã”. Esses valores da vida cristã eram identificados com os valores-padrão da cultura dos Estados Unidos: liberdade, democracia e êxito...”87

Ao final da República Velha o protestantismo de missão estava instalado

no Brasil não só através da implantação de igrejas como, igualmente, por

intermédio da criação de escolas e seminários.

Entre as Igrejas de missões implantadas, selecionamos a Igreja

Presbiteriana do Brasil como foco de nossa pesquisa.

1.4. - A IGREJA PRESBITERIANA DO BRASIL

O presbiterianismo brasileiro também foi resultante do processo

desencadeado pela ação missionária norte-americana.

Para conhecer a origem da Igreja Presbiteriana do Brasil é necessário

compreender o processo de instalação do protestantismo de missão já exposto.

87 DREHER, op. cit., p.230

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A evolução da denominação presbiteriana em território brasileiro

implicou numa seqüência de etapas dada a peculiaridade do povo, em seu

primeiro momento, vivenciado por missionários norte-americanos.

Apesar do advento do protestantismo de missão ao Brasil ter iniciado em

1835, o presbiterianismo só se fez presente em 1859 com a chegada do primeiro

missionário, Asbhel G. Simonton.

Desde o princípio, a presença de missionários no Brasil deixava claro o

interesse em criar e organizar igrejas.

O primeiro missionário presbiteriano Ashebel Green Simonton foi

exemplo disto, pois apesar de ter chegado em 1859, já em 1862 havia fundado a

Igreja Presbiteriana do Rio de Janeiro.

No transcurso do tempo, como ele, também outros pastores e

missionários procuraram organizar Igrejas onde quer que se instalavam. Podemos

citar o Rev. Alexander l. Blackford e o Rev. F. J. C. Schneider que chegaram ao

Brasil em 1860 e 1861 respectivamente.

A fase de divulgação do presbiterianismo no Brasil não foi

monopolizada apenas por norte -americanos. Brasileiros convertidos

desenvolveram importante papel para expansão da doutrina em estudo.

Podemos citar José Manuel da Conceição como um destacável

proselitista a partir de 1865. O mesmo não limitou seu trabalho a Brotas SP, onde

havia ensinado como padre que fora mas, após tornar-se pastor presbiteriano,

desenvolveu considerável campanha evangelística nas províncias de São Paulo e

Minas Gerais, contribuindo para a expansão presbiteriana.

Como resultado inicial da atuação dos missionários norte-americanos,

além da Igreja do Rio de Janeiro, outras foram criadas dando origem, inclusive, à

organização do Primeiro Presbitério brasileiro e a implantação do primeiro jornal

protestante, intitulado Imprensa Evangélica, no ano de 1864.

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Klein nos permite conhecer o momento em que os fatos ocorreram ao

explicar que:

“Em 5 de novembro de 1864, Simonton fundou a Imprensa Evangélica. Em 5 de março de 1865, Blackford organizou a Igreja Presbiteriana de São Paulo e, em 13 de novembro de 1865, a Igreja de Brotas, no interior paulista.

Em 16 de dezembro de 1865, estando presentes Simonton, Blackford e Schneider, foi fundado o Presbitério do Rio de Janeiro, em São Paulo, sob a jurisdição do Sinodo de Baltimore, da Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos da América(PCUSA)”88

Os missionários que aqui chegaram, além de Igrejas, criavam também

colégios porque viam na educação uma excelente estratégia para a transformação

da sociedade. É neste espaço que a mulher desempenhará um papel fundamenta l

de ação expansionista, não apenas do modelo educacional, mas em especial de

novos valores ligados à realidade feminina. A mulher deixa de ter como única

opção o “ser” doméstica e mãe, podendo almejar a busca pela autonomia

econômica e realização pessoal. É possível enumerar uma gama de mulheres que

se destacaram como professoras e missionárias no Brasil entre as quais, Miss

France Hessar e Mary Cook Lane no Instituto Bíblico de Patrocínio (MG), Clara

Gamon e Genovera Marchant em Lavras (MG), Hilda Bergo Duarte, missionária

brasileira e Miss Rute See.

Este tipo de mulher é exemplificado por Mendonça e Velasques Filho na

pesquisa que trata da inserção do protestantismo no Brasil, como segue:

“A educação, como estratégia missionária, nunca deixou de acompanhar os missionários norte-americanos. Os

88 KLEIN, Carlos Geremias. Presbiterianismo Brasileiro e Rebatismo. Barueri: Simpósio, 2000, p.67. 89 MENDONÇA, Antonio Gouvea. O Celeste Porvir. A Inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1990, p.93.

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missionários desempenhavam sempre o duplo papel de evangelistas e professores, não se esquecendo, porém, as empresas missionárias, de incluir no seu papel especialistas em educação, principalmente mulheres. Algumas destas conquistaram reconhecimento na educação brasileira, como Carlota Kemper, Marcia Brown e Martha Watts.” 89

Sabendo-se que a base doutrinária do presbiterianismo era versada nos

ensinamentos bíblicos e que o conhecimento da Bíblia era exigência fundamental,

sua leitura implicava na necessidade de alfabetização de toda a sociedade.

A educação estava inicialmente relacionada aos ideais de difusão da

religião. Este fato “justifica um aparente desinteresse inicial das missões por

cursos superiores”, segundo Mendonça, porém não impediu que, no Brasil

Universidades e Faculdades, bem como, inúmeros colégios surgissem, oriundos

das primeiras escolas criadas.

Inúmeras igrejas foram organizadas na zona rural, considerando-se que

a urbanização só acontecerá em início do século XX, com o movimento

imigratório e as transformações econômicas e sociais daí advindas.

Importante aspecto a ser considerado foi a expansão cafeeira que

concorreu para que a evangelização seguisse a trilha do café. Este fato resultou na

conseqüente criação de muitas Igrejas no Estado de São Paulo, atingindo os

estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo e Paraná.

Mendonça e Velasques Filho afirmam que o Presbiterianismo

“... foi a denominação que mais se expandiu no século XIX, principalmente na província de São Paulo, na qual, seguindo a trilha de expansão do café, foi favorecida pela pregação de José Manuel da Conceição,

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ex-padre convertido ao presbiterianismo e primeiro pastor protestante brasileiro”. 90

A expansão presbiteriana foi resultado da aplicação de diferentes

métodos de trabalho. Não se limitou apenas ao proselitismo, mas os colportores

desempenharam um destacável papel na divulgação de literatura, venda e

distribuição de Bíblias, favorecendo o surgimento de muitas congregações e

igrejas locais. Também pastores itinerantes e líderes locais colaboravam para a

fixação e desenvolvimento doutrinário.

Com base na ideologia norte-americana de que o cristão teria uma

maneira “própria” de ser, houve excessivo interesse pela criação de escolas,

voltadas não apenas para o atendimento a alunos, como também à família destes.

Além das instituições escolares foram criadas outras organizações como,

creches, orfanatos, ambulatórios médicos, hospitais e abrigos destinados a suprir

as carências sociais da época e, inclusive, cativar adeptos à nova religião.

Ainda fazendo referência a Mendonça e Velasques Filho:

“A educação paroquial e as campanhas de alfabetização enquadraram-se noutra técnica de evangelização. Elas se alinham com a chamada ação social das Igrejas: criação de creches, orfanatos, asilos, ambulatórios médicos e hospitais. Trata -se de uma forma bastante deturpada de evangelho social, apropriada pelos evangelicais e transformada em “agência de evangelização.””91

A organização das Igrejas se fazia embasada na tradição patriarcal,

respeitando o caráter calvinista adotado pelas Igrejas-mães dos EUA, de onde

vieram os primeiros missionários. Deste modo, inexiste espaço para a mulher na

hierarquia de governo instituído. Mesmo com a presença de missionárias no

Brasil, estas não ocupavam funções na hierarquia de governo da Igreja.

90 VELASQUES FILHO e MENDONÇA, op. cit., p. 35. 91 VELASQUES FILHO E MENDONÇA, op. cit., p. 106.

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Apesar da realidade existente em inúmeras outras denominações que

permitiam o diaconato feminino, o presbiterianismo impunha reservas ao

desempenho da função por mulheres, mantendo a ideologia sobre as

consideráveis diferenças que acreditavam existir entre homem e mulher,

mantendo algumas alegações de que a inferioridade intelectual era inerente ao

gênero feminino. Porém, diante de uma ou outra justificativa, visando impedir o

acesso da mulher a funções prioritárias dentro da estrutura governamental da

Igreja, lhe é concedido o privilégio de ser uma “auxiliadora” em diversas

atividades a ela destinadas, desde que com a devida autorização dos respectivos

Conselhos e órgãos competentes.

A SAF92 em Revista do trimestre Out. Dez/1964, em um de seus artigos

intitulado “Conversando com as mulheres”, expõe os vários tipos de trabalhos,

classificando-os em próprios para homens e, outros, adequados às mulheres.

Segundo afirmação de Nady Werner “... há, porém, trabalho aparentemente

pequeno que exige... coração e mentalidade feminina para resolve-lo, cousas que

só as mulheres sabem e podem faze-lo.”93

O exposto vem demonstrar que líderes femininas, inseridas no contexto

presbiteriano, assimilam passivamente a discriminação apresentada pela estrutura

de governo instituído.

No trabalho de É. G. Léonard sobre o Protestantismo Brasileiro

encontramos a afirmativa:

“ A nomeação de uma diaconisa pareceu perigosa às Igrejas Presbiterianas do Norte, e a única estudante de teologia diplomada por um seminário (da Igreja Presbiteriana Independente), da. Cesarina Xavier Pinto, perturba os meios protestantes

92 SAF – A sigla dada como nome à Revista Feminina da Igreja Presbiteriana do Brasil tem como significado Sociedade Auxiliadora Feminina identificando, portanto, a quem se destina na sua essência. 93 WERNER, Nady. Conversando com Mulheres. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1964, p. 6.

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habituais pelo caráter místico de sua piedade, que ela reduzia a uma atividade absolutamente pessoal” 94

Outro aspecto perceptível é o grau de burocracia presente na organização

das sociedades internas da Igreja. As referidas sociedades adotam um modelo

onde cada componente do quadro de funções assume atividades restritivas com

responsabilidade delimitada à respectiva função. É. G. Léonard confirma o fato

exposto ao lembrar “o presbiterianismo de cujo governo se encarregam

delegados das comunidades, unidas todos, pelo laço federal de conselhos

superpostos, Presbitérios e Sínodos.” 95

Considerando que a Igreja Presbiteriana tem origem na missão

estrangeira, sua organização institucional também foi herdada, pois os

missionários não se limitavam a evangelizar, mas estenderam suas atividades

criando e estruturando inúmeras instituições. Pelo exposto, não só Igrejas, mas

igualmente, escolas, asilos e creches iam surgindo e sendo institucionalizados à

maneira de quem liderava.

Essa maneira refletia um sincretismo religioso e cultural no qual o

puritanismo exerceu forte influência. Tal fato se fez representar pela fusão de

elementos presentes na herança cultural e religiosa patriarcal e na sua relação

com o que foi trazido pelos missionários americanos. Esta fusão não elimina os

valores anteriormente assimilados.

1.5. – O PURITANISMO

Ao observarmos os fatores que serviram de contributo ao

desenvolvimento da IPB, o puritanismo aflora na sua forma mais original e pura.

94 LÉONARD, op. cit., .p. 239. 95 Ibid p. 265

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Resquícios do modo de ser, do regime eclesiástico e dos valores

defendidos desde sua origem, na Europa do século XVI, se fazem notar ainda no

hodierno.

Compreender o modo de ser protestante e/ou presbiteriano implica em

conhecer, igualmente, a origem e os costumes dos puritanos norte-americanos.

Mendonça esclarece que,

“... o puritanismo foi mais um modo de ser da vida religiosa que se foi ajustando, nem sempre passivamente, às várias correntes de pensamento que vão desembocar na América e se prolonga pela história do protestantismo daquele país e pelas suas áreas de influência missionária.96

A presença de puritanos na América foi resultado da evolução política e

religiosa da Inglaterra que vivenciou verdadeiros embates, a partir do século

XVII, conseqüência da busca de definição de poder e religião.

Sendo a Inglaterra uma poderosa nação colonialista na época, um

contingente de adeptos do puritanismo pode emigrar para a América em 1620, no

navio Mayflower, aportando em Massachussets, no dia 4 de dezembro, onde

fundam uma colônia.

Dreher relata que,

“No outono inglês de 1620, partiu de Plymouth o navio que ficou famoso sob o nome de Mayflower, 122 emigrantes deixaram a Inglaterra para obter liberdade e poder viver a obediência da fé. Foi a primeira viagem do Mayflower através do oceano. Só 30 de seus passageiros eram “pais peregrinos”. Entre os demais passageiros havia outras pessoas, que não eram muito confiáveis. Os “pais peregrinos” elaboraram

96 MENDONÇA. op. cit. p.42

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um documento, no qual esboçavam as bases de sua futura comunidade...”97

A chegada dos puritanos no Novo Mundo oportunizou estabelecerem-se

política e eclesiasticamente de acordo com os seus ideais.

É interessante lembrar que a liberdade de expressão religiosa e a

convicção em ter na Bíblia a única norma de fé e prática era inerente ao

puritanismo.

Ver a Bíblia de tal modo implicava no hábito de sua leitura diária e na

conseqüente aceitação e aplicação à vida.

Dreher esclarece sobre aspectos relevantes da doutrina puritana

mencionando a importância da santificação da vida toda; da piedade pessoal; da

oração como base de vida; do senso pragmático da realidade; do moralismo

utilitarista e de outras questões como segue:

“... Do puritanismo vem um senso pragmático da realidade, uma aceitação simplória, irrefletida da palavra bíblica e de sua aplicação à vida; um moralismo utilitarista; a rejeição de qualquer especulação teórica. Destaque merece a difusão da doutrina da predestinação calvinista, acontecida no puritanismo e através dele e popularizado pelo estudo de Max Weber: o espírito do capitalismo é a criação da ética profissional proveniente da doutrina calvinista da predestinação.”98

Algo que marcou de forma definitiva o protestantismo puritano foi a

questão da predestinação que permitia ao povo inglês o privilégio de poder

acreditar ser ele o escolhido por Deus com direito de conquistar o mundo. Tal

97 DREHER, Martin N. A. Igreja Latino – Americana no Contexto Mundial. São Leopoldo: Sinodal, 1999, p. 113. 98 Ibid. p.117 99 Cromwell – De acordo com DREHER, Martin N. no seu livro A Igreja Lati no – Americana no Contexto Mundial, Oliver Cromwell foi membro do Parlamento inglês em 1620. Era originário dos

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ideologia alcançou o território americano, embasando o projeto de missão

operacionalizando pelos Estados Unidos no século XIX.

O mesmo puritanismo que com o fim do período Cromwell99 havia

determinado o modo de ser inglês caracterizaria o espírito do protestantismo

norte-americano e, consequentemente, o transplantado para o Brasil.

É importante ainda lembrar a figura de George Fox que deu origem ao

movimento dos quacres entre os puritanos congregacionalistas e batistas. Ao

realizar peregrinações pela Europa, em 1643, já questionava pontos da

fundamentação religiosa como as confissões e os credos. Sua reação ao pregar

deu origem ao termo “quaker, quacre=tremedor”100

Sua influência não se limitou à Europa. Na América, surge a figura de

William Penn, criador do Estado da Pensilvânia e de sua capital Filadélfia, onde

os princípios quacres se fizeram presentes. Esses princípios nortearam a

existência de um estado democrático onde se defendia o aspecto humanista

cristão.

Missionários norte -americanos, oriundos de várias denominações,

trazem esta influência ao Brasil. Entre eles estão os presbiterianos, razão desta

pesquisa.

É interessante destacar que o puritanismo impunha a seus adeptos uma

disciplina rígida que primava por um modo de ser fundamentado nos preceitos

bíblicos.

Comprovando o fato, Roberto H. Nichols ao escrever sobre a história

dos puritanos no Parlamento inglês, afirmou:

setores médios que juntamente com a aristocracia formava o grupo do qual o puritanismo recrutava seus seguidores. Promoveu um golpe de Estado em 1653. Em 1654 foi designado Lord Protector e chefe do executivo. Instalava-se a ditadura militar com Bíblia embasando todo o processo. 100 DREHER, op. cit. p. 118. 101 NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo: Presbiteriana, 1990, p.209.

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“As leis aprovadas exigiam alto padrão de moralidade pessoal. A severidade do espírito puritano manifestou-se no ataque às diversões populares. Fecharam-se os teatros, foram proibidos os esportes brutais e alguns divertimentos inocentes muito do gosto popular, tais como o festejo do Natal e as danças populares do mês de maio.” 101

Ainda hoje é possível constatar a mesma severidade e rigidez quanto à

moralidade difundida no ambiente presbiteriano. Alguns tipos de divertimentos

comuns à sociedade em geral são tidos como impróprios aos membros da Igreja.

Isto inclui danças, freqüência a determinados ambientes como “barzinhos”, casa

de “shows” ou mesmo festas populares que oportunizem espetáculos

considerados nocivos aos bons costumes.

Apesar das transformações no cotidiano brasileiro decorrentes dos

avanços sociais, tecnológicos, econômicos, políticos, entre outros, o discurso

presbiteriano ainda reflete a presença da moralidade puritana, que busca respaldo

no conteúdo bíblico.

Comprovando o fato e relacionando-o à questão de gênero, citamos um

artigo de Otília M. Teixeira Braga apresentado em 1963 e destinado a estudo em

reuniões departamentais da SAF no qual alertava,

“Vós também filhas, que estais tão seguras nos vossos divertimentos, nas vossas “toiletes” custosas e caras, dai ouvidos às advertências bíblicas que visam o nosso bem.”102

A autora desenvolve seu tema tomando como base Efésios 6:10 a 18,

destacando que “ao iniciarmos a grandiosa obra, tomemos “toda a armadura de

Deus” dizendo, com o apóstolo: “Senhor que queres tu que eu faça?””.103

102 BRAGA, Otília M. Teixeira. Vigilância e Trabalho. SAF. São Paulo: Presbiteriana, 1963, p. 8 103 Ibid., p.8

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Há uma preocupação eminente com o modo de ser da mulher

presbiteriana, o que leva a autora a realçar a necessidade de vigiar sempre as

próprias atitudes.

Outro artigo, cujo autor é omitido, intitulado “O vestir do crente” afirma,

“o que é visto por fora deve ser um índice do que há por dentro. A modéstia feminina é um encanto cristão. Um vestido berrante ou provocante será evitado pelas mulheres que desejam agradar a Deus.”104

Além dos valores morais apregoados, o modelo de ritual adotado nos

cultos presbiterianos conserva a simplicidade herdada do utilizado pelos

puritanos.

Mendonça afirma que,

Sem muita dificuldade, ainda hoje se podem identificar formas e áreas de influência do pensamento religioso puritano. O importante é a influência do puritanismo na vida civil e social, e parece ter sido uma feliz tradução do calvinismo no sentido de sua viabilidade eclesiástica e política.”105

O sistema de governo da Igreja que vigora na atualidade é o mesmo

desde sua origem.

A noção de democracia e o regime que define a presença das Igrejas

locais, Presbitérios, Sínodos e Assembléias Nacionais é fruto do puritanismo que

tem sua história ligada à Revolução Gloriosa (1688-89) 106 na Inglaterra.

Também, a disciplina da Igreja, cuja manutenção é de competência do

Conselho107 instituído, traz muito da ideologia puritana.

104 SAF em Revista. O Vestir do Crente. Adap. Haroldo Cook. São Paulo: Presbiteriana, 1965, p.6. 105 MENDONÇA, op. cit., p.37.

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Tal fato pode ser confirmado pela observação de Mendonça ao afirmar

que, “A congregação é que determina quem são os santos, estabelece a

disciplina e exclui seus membros quando julga necessário.”108

As sanções e punições apresentadas pelo Conselho são resultado de

julgamento deste órgão em relação aos membros da Igreja, definindo quem pode e

quem não pode participar da comunhão interna.

Outro aspecto relevante do puritanismo presente no presbiterianismo é a

idéia da aceitabilidade da doutrina pelo indivíduo. Sob este aspecto prevalece o

voluntarismo e o individualismo. Igualmente, merece destaque a visão de mundo,

o ascetismo109 austero e a piedade bíblica que acompanha o modo de ser dos

membros presbiterianos.

Como instrumento mantenedor do sistema e da doutrina, tem-se a

Confissão de Fé e Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana do Brasil, publicado

em 1957 e que ainda hoje é aceito e assimilado pelos presbiterianos no país.

Nesta obra está contido que,

“A Igreja Presbiteriana sustenta que a Escritura é a suprema e infalível regra de fé e prática; e também que a Confissão de Fé e os Catecismos contém o sistema de doutrina

106 Revolução Gloriosa (1688-89) resultou na deposição de Carlos I, rei da Inglaterra e deu início ao período republicano possibilitando, posteriormente, a ditadura de Crowell. Foi, marcadamente, uma revolução puritana. 107 Conselho – segundo afirmativa de Ruth da Silva Faria, assessora de Espiritualidade da Confederação Nacional SAF em 1965, é formado pelos presbíteros e pastor da Igreja local. O número de presbíteros varia em cada Igreja de acordo com o número de seus membros. Deste modo, presbíteros regentes e docentes orientam os membros das Igrejas e procuram solucionar os seus problemas, tudo fazendo para que haja a maior harmonia possível, a fim de que o evangelho possa progredir. 108 Ibid, p.38 109 Ascetismo – Doutrina que considera a ascese (exercício espiritual), como o essencial da vida moral. Moral que desvaloriza os aspectos corpóreos e perceptível humanos. 110 CONFISSÃO DE FÉ e CATECISMO MAIOR da Igreja Presbiteriana. São Paulo: Presbiteriana, 1957, p. XI.

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ensinado na Escritura, e dela deriva toda a sua autoridade e a ela tudo se subordina.”110

É mister lembrar que a Confissão de Fé e Catecismo Maior da IPB tem

estreita vinculação com a Confissão de Fé e Catecismos formulados pela

Assembléia de Westminter (1643-1649), cujo objetivo era a base da Reforma da

Igreja Nacional da Inglaterra.

A evolução da sociedade garantiu mudanças como a que ocorreu em

1788, ao formar-se a Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos da América do

Norte que tornou a Igreja livre da União com o Estado. Ao chegar em território

brasileiro, a denominação em pauta já continha definida a diferença de funções

para a Igreja e para o Estado. Porém, a fundamentação doutrinária e o sistema de

governo da Igreja estavam resguardados.

Encontramos na Confissão de Fé o seguinte,

“A utilidade de uma Confissão de Fé evidencia-se na História das Igrejas Reformadas ou Presbiterianas. Sendo a Confissão de Westminster a mais perfeita que elas têm podido formular, serve de laço de união e estreita as relações entre os presbiterianos de todo o mundo. Os Catecismos especialmente têm servido para doutrinar a mocidade nas puras verdades do evangelho.”111

Considerando que a Confissão de Fé e Catecismos formulados na

Assembléia de Westminster com a participação de puritanos e, sendo a Confissão

de Fé e o Catecismo Maior da IPB um protótipo do anterior, fica explícita a

relação entre o presbiterianismo brasileiro e o puritanismo em sua essência.

111 Ibid, p.IV e V.

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2. - A EVOLUÇÃO ORGANIZACIONAL DA IPB NO BRASIL

2. – A EVOLUÇÃO ORGANIZACIONAL DA IPB NO BRASIL.

O fato de o presbiterianismo se fazer presente no Brasil já em 1859 não

significou que sua organização administrativa estava sediada no país.

Ashbel G. Simonton, primeiro missionário presbiteriano que chegou ao

Brasil, foi enviado pela Junta de Missões de Nova Iorque e, durante alguns anos,

toda atividade desenvolvida por ele, além de outros missionários enviados

posteriormente, respeitava orientações da entidade mantenedora do trabalho

destes.

Simonton deu início à organização da estrutura presbiteriana,

estabelecendo a Primeira Igreja e, em seguida, contribuindo para a formação do

Primeiro Presbitério com sede no Rio de Janeiro. O local foi escolhido

considerando que, além de ser capital do Império já estava sediando as Sociedades

Bíblicas Inglesa e Americana. A relação política e comercial favorecia a escolha.

Apesar da dificuldade com o idioma português, tanto Simonton como

outros missionários que vêm ao Brasil procuram aprender a língua com apoio dos

que já estavam radicados há mais tempo no país.

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Um projeto desenvolvido pela Comissão Presbiteriana Unida do

Centenário publicou um trabalho intitulado “Presbiterianismo no Brasil 1859-

1959” e, ao referir-se a Ashbel G. Simonton, afirma que:

“Sendo o primeiro missionário presbiteriano no Brasil, estabeleceu a primeira igreja presbiteriana (1862), redigiu o primeiro jornal evangélico “Imprensa Evangélica” (1864) ajudou na formação do primeiro presbitério (1865), e fundou o primeiro seminário teológico (1867).” 112

A criação do primeiro presbitério no Brasil não representava a conquista

da autonomia da Igreja brasileira em termos de governo. Apenas simbolizava a

adoção de um sistema já instituído nos Estados Unidos como modelo

organizacional. O Presbitério implantado no Rio de Janeiro estaria vinculado à

tutela da Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América

do Norte, fazendo parte do Sínodo de Baltimore.

O exposto serve para apontar para a influência norte-americana nos

padrões de vida dos presbiterianos como já foi aludido no 1º capítulo.

Julio de Andrade Ferreira, proeminente historiador presbiteriano,

transcreve o ato constitutivo do primeiro presbitério113 no Bras il como segue:

“Nós, Ashbel G. Simonton, do Presbitério de Charlisle; Alexandre L. Blackford, do Presbitério de Washington; e Francisco J. C. Schneider, do Presbitério de Ohio, querendo melhor promover a glória e o reino de Nosso Senhor Jesus Cristo no

112 CPUC. Presbiterianismo no Brasil 1859-1959. São Paulo: Presbiteriana, 1959, p. 4. 113 No sistema presbiteriano, o Presbitério é o órgão que representa diversas Igrejas abrangendo determinada região. Tem por finalidade promover o entrosamento entre elas através de reuniões, encontros e outros eventos. Para que tal ocorra, são escolhidos representantes das Igrejas componentes do mesmo para estarem presentes em todas atividade que se proponha realizar. Num plano superior vem a organização dos sínodos. Estes implicam na participação de alguns presbitérios, ou melhor explicando, a união de Igrejas forma e Presbitério e a união dos Presbitérios resulta na organização dos sínodos. (Estatuto da IPB). 114 FERREIRA, J. A. História da Igreja Presbiteriana do Brasil Vol I. São Paulo: Presbiteriana, 1959, p. 42.

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Império do Brasil, julgamos útil e conveniente exercer o direito que nos confere a Constituição de nossa Igreja, constituindo um Presbitério sob o governo e direção da Assembléia Geral da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América do Norte. Portanto, de conformidade com a forma da referida Igreja, de fato nos constituímos em um presbitério que será chamado pelo título de Presbitério do Rio de Janeiro, o qual deverá estar anexo ao Sínodo de Baltimore”.

114

No território brasileiro, a presença dos Sínodos Presbiterianos

permaneceu inviável durante anos, uma vez que toda administração do sistema

advinha da entidade mantenedora, representada por órgão de missão norte-

americana que enviava e mantinha considerável número de missionários no país.

A dependência da Igreja Presbiteriana do Brasil permitia à Junta de

Missões Mundiais da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos liderar todo o

processo de desenvolvimento da Igreja. Verbas para construção de seminários,

Igrejas, escolas, hospitais e outros organismos eram garantidas pela instituição

citada, além do envio de mão-de-obra qualificada, representada por pastores e

professores que traziam conhecimentos não só da doutrina, como também da

música, arte e técnicas tão valorizadas na sociedade da época.

A assistência decorrente do vínculo com a entidade norte americana

parecia desestimular a busca de autonomia à organização governamental da Igreja.

Na década de 1860 um fato importante viria estimular a expansão do

protestantismo no Brasil e, por conseqüência, do presbiterianismo. Nos referimos

à Guerra Civil Americana que causou a derrota sulista, concorrendo para um

considerável movimento emigratório daqueles que não se sentiam seguros e

satisfeitos com a crise instalada.

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O Brasil foi um dos países tido como preferênciais aos que buscavam

uma nova oportunidade de vida.

É importante considerar que os primeiros missionários, ou seja,

Simonton, Blackford e Schneider vieram ao Brasil, representando a Junta de

Missão Presbiteriana de Nova Iorque. Portanto, eram elementos advindos do

norte, região que saíra vitoriosa na Guerra da Secessão.

Já entre os sulistas, destacam-se os presbiterianos enviados pelo Comitê

de Nashville.

O momento caracterizado pela emigração norte-americana, em especial,

a vinda de indivíduos dos estados do sul, resultou no crescimento demográfico de

regiões como Campinas, Santa Bárbara e Americana, garantindo, inclusive, a

escolha de Campinas – SP, para ser a sede da Missão no Sul do Brasil.

O aumento populacional representado pelos imigrantes sulistas em

regiões paulistas redundaria na fundação de novas igrejas presbiterianas e,

consequentemente, em novos presbitérios.

Outros estados do país também contaram com a presença de novos

imigrantes, mas de forma transitória, como foi o caso do Espírito Santo, de

Paranaguá (Paraná) e de Santarém (Pará).

Porém, em São Paulo esta presença foi decisiva na estruturação e

organização da Igreja brasileira, garantindo o surgimento do Primeiro Sínodo em

1888.

Além da organização do Primeiro Sínodo, ficava determinada a criação

de um seminário teológico, considerando que os primeiros existentes no Brasil já

haviam deixado de funcionar.

É importante ressaltar que o momento da reestruturação da Igreja

Presbiteriana no Brasil se insere num contexto da história em que ocorreram

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mudanças fundamentais na sociedade. É o ano da abolição da escravatura,

advindo logo após o momento em que a República substituía o Império como

sistema de governo.

Além das transformações da época, também a Igreja Presbiteriana estava

se organizando em Sínodo, almejando ampliar sua liderança internamente. A meta

de criação de seminários era preparar pastores da terra para atender a crescente

demanda, resultante da expansão da Igreja no território brasileiro.

Já haviam transcorrido três décadas desde a chegada dos primeiros

missionários e a Igreja permanecia sob a tutela norte -americana. Porém, era

visível sua evolução, considerando-se que os órgãos de estruturação

administrativa desta já estavam definidos. Faltava apenas a criação do Supremo

Concílio no país, órgão de poder máximo da Igreja Presbiteriana, o que veio a

ocorrer em janeiro de 1910, quando houve a divisão em três regiões, isto é, o

Sínodo do Norte, o Sínodo do Sul e o Sínodo Central.

Tal fato é de grande relevância, mostrando que, apesar do país apresentar

uma dimensão geográfica continental, a missão tinha atingido pontos

extremamente distantes.

De Norte a Sul havia a presença de Igrejas e missionários norte -

americanos, o que garantia a homogeneidade do padrão presbiteriano nas dist intas

regiões brasileiras.

Ao fazermos referência à homogeneidade do padrão presbiteriano,

estamos aquilatando as normas de conduta instituídas, a estrutura governamental

do sistema, a disciplina estabelecida, o discurso trabalhado, a forma de reuniões e

cultos.

A Comissão Presbiteriana Unida do Centenário, em seu trabalho

publicado sobre “Presbiterianismo no Brasil” 1859-1959, afirma o seguinte:

“O Supremo Concílio foi organizado em janeiro de 1910, dividindo a Igreja brasileira

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em três regiões: o Sínodo do Norte (Bahia até Amazonas), o Sínodo do Sul (São Paulo até Santa Catarina) e o Sínodo Central (Rio de Janeiro e Espirito Santo, estendendo -se ao interior). Foi um passo que mostrou o amadurecimento da organização e da obra presbiteriana, a maior obra evangélica no Brasil, naquela época.” 115

Estava, portanto, concluída, em 1910, a estrutura organizacional

administrativa da Igreja Presbiteriana no Brasil, com o estabelecimento

hierárquico de todos os departamentos e organismos inerentes ao sistema. (Ver

anexo I, pág. 228).

2.1. – LIMITES ESTABELECIDOS NA HIERARQUIA DO PODER

PRESBITERIANO.

A Igreja Presbiteriana do Brasil tem Constituição própria que estabelece

suas regras de funcionamento e os princípios que devem ser respeitados e

acatados por todos os seus membros

Deve ficar claro que há duas categorias de membros: os comungantes e

os não comungantes. São membros comungantes todos aqueles que fizeram a

“pública profissão de fé”, comprometendo-se, portanto, a respeitar a doutrina da

Igreja e as leis estabelecidas pela sua Constituição. São os denominados

“membros professos”, os que participam da ceia, que podem participar nas

eleições, os que podem ser advertidos pelo Conselho da Igreja, quando deixarem

de cumprir alguma norma instituída. Os membros não comungantes são todos os

que freqüentam a Igreja e participam das atividades, que foram batizados, mas que

ainda não fizeram a “pública profissão de fé”.

115 CPUC , op. cit., p. 11.

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A IPB segue um manual criado em 1950, embasado na Constituição da

Igreja de 1946. “Sua última edição data de 1999 e contém inserções das emendas

aprovadas ao longo dos anos pelo Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do

Brasil.” 116

Mesmo diante das alterações contidas no manual é possível constatar

que a estrutura organizacional da Igreja não sofreu mudanças e o sistema

permanece igual, em sua essência, desde sua fundação no país.

Apesar de todos os membros comungantes e em plena comunhão com a

Igreja gozarem do privilégio de participação nas Assembléias, com direito a

sufrágio nem todos podem ser votados. A mulher não pode ser votada para ocupar

funções no Conselho da Igreja pelas regras instituídas na Constituição da IPB o

que delineia uma discriminação patente no sistema de governo em vigor.

O capítulo IV do manual que se refere aos oficiais apresenta o seguinte:

“Art. 25 – A Igreja exerce suas funções na esfera da doutrina, governo e beneficência, mediante oficiais que se classificam em:

a) ministros do evangelho ou presbíteros docentes;

b) presbíteros regentes;

c) diáconos.

§ 1º - Estes ofícios são permanentes, mas o seu exercício é temporário.

§ 2º - Para o oficialato só poderão ser votados homens maiores de 18 anos e civilmente capazes. (grifo nosso) 117

O artigo apresentado nos parece contraditório uma vez que no capítulo 1º

da Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil consta:

116 CONSTITUIÇÃO da IPB. Manual Presbiteriano. São Paulo: Presbiteriana, 1951, p. 5. 117 CONSTITUIÇÃO da IPB, op. cit, p. 18.

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“Art. 1º - A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de igrejas locais, que adota como única regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do Velho e Novo Testamento e como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve; rege -se pela presente Constituição; é pessoa jurídica, de acordo com as leis do Brasil, sempre representada civilmente pela sua Comissão Executiva e exerce o seu governo por meio de concílios e indivíduos, regularmente instalados.”118

A Constituição Brasileira de 1988 garante a todos a igualdade perante a

Lei tornando punível qualquer tipo de discriminação. Deste modo, é possível

constatar certa dicotomia entre o sistema organizacional interno instituído pela

IPB frente à Constituição Federal já que esta entidade se apresenta como pessoa

jurídica que afirma respeitar as leis do país.

Parece óbvio que esta Lei Maior foi consideravelmente melhorada no que

tange aos direitos humanos, se a compararmos com a Carta Constitucional

existente na época da inserção do presbiterianismo no Brasil. Porém, o fato pode

ser justificado ao considerarmos sua fundamentação bíblica legitimada pela

Confissão de Fé e Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana, cuja origem remonta

ao período da Reforma. Apesar de algumas adaptações, o instrumento preserva

sua essência e afirma:

“A Igreja Presbiteriana sustenta que a Escritura é a suprema e infalível regra de fé e prática; e também que a Confissão de Fé contém o sistema de doutrina ensinado na Escritura e, dela deriva toda sua autoridade e a ela tudo se subordina.” 119

A mesma obra traz um conteúdo sobre o governo da Igreja, citando

sínodos e concílios.

118 Ibid, p.8.

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“I – Para melhor govêrno e maior edificação da Igreja, deverá haver as assembléias comumente chamadas sínodos ou concílios. Em virtude do seu cargo e do poder que Cristo lhes deu para edificações e não para destruição, pertence aos pastores e outros presbíteros das igrejas particulares criar tais assembléias e reunir-se nelas quantas vezes julgaremútil para o bem da Igreja.”120

A organização de governo da IPB, por ocasião de sua implantação,

combinava perfeitamente com os valores e costumes da época. Garantir aos

homens a supremacia de poder não representava nenhum desrespeito às normas

sociais instituídas considerando-se que, no momento em questão, as mulheres não

tinham sequer direito ao voto e o ranço da escravidão ainda se fazia presente.

Porém, a evolução da sociedade ocorreu e pode ser notada através de sua

transformação cultural que resultou em fatos inerentes à própria legislação atual.

Entendemos que não atingiu a perfeição, pois somos forçados a

reconhecer que a mesma Constituição, que afirma garantir a igualdade de todos

perante a lei, traz em seu bojo aspectos que concorrem para a legitimação de uma

desigualdade camuflada.

Além de assegurar a igualdade de direitos entre os indivíduos

independente de gênero, classe, etnia e cor, a Carta Magna prevê ainda a liberdade

de religião e dá autonomia para que cada Igreja elabore o próprio esta tuto. A não

intromissão do Estado no espaço religioso viabiliza a existência de preceitos que

privilegiam o gênero masculino no monopólio de certos direitos como o que

ocorre no caso da IPB.

No art. 5º, VI da Constituição brasileira, encontramos:

119 Confissão de Fé e Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana. São Paulo: Presbiteriana, 1951, p.11. 120 Ibid, p. 70

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“ ...é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias”. 121

É possível constatar que o modelo de governo adotado pela Igreja em

questão está inserida no contexto da liberdade de consciência e de crença ficando,

portanto, em situação de inviolabilidade. Nos parece que ao estado não convém

interferir numa entidade cujos membros demonstram aceitar o “status quo”

vigente.

Podemos considerar que a lei possibilita interpretações diferenciadas o

que concorre para a presença de distorções em sua aplicabilidade.

O exposto deixa evidenciado que, se houve evolução e melhoria nas

relações interpessoais contribuindo para uma real busca pela igualdade entre os

gêneros humanos formadores da sociedade, o mesmo não atingiu o espaço

presbiteriano. Tal fato se mostra incoerente ao considerarmos que a estrutura de

governo atual das Igrejas Presbiterianas do Brasil permanece similar à implantada

na época da organização do Primeiro Sínodo Presbiteriano no país.

O curioso é que, algumas igrejas evangélicas conquistaram avanços e

abriram espaço à participação feminina. Entre estas podemos citar a própria

Igreja Presbiteriana Independente, oriunda do modelo em estudo.

A pesquisadora Leciane Goulart Duque Estrada em seu trabalho

intitulado “Acontece no Brasil” publicado em 1999 na Revista Mundo

Reformado122 explicita o desenvolvimento histórico da ordenação de mulheres ao

ministério entre as Igrejas Presbiterianas do Brasil. No artigo citado, a autora

apresenta argumento “favorável” e “contrário” à ordenação feminina e lembra

que mulheres têm buscado o conhecimento teológico através do Bacharelado,

121 CONSTITUIÇÃO da República Federativa do Brasil. Edição Especial. São Paulo: Encyclopaedia Britannica do Brasil, 1988, p. 7. 122 A Revista “Mundo Reformado” é uma publicação da Aliança Reformada Mundial sediada em Genebra – Suíça, distribuídas internacionalmente.

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ficando impedidas de desenvolver seus dons pela legislação da Igreja. A mesma

afirma que:

“A mulher, no entanto, mesmo depois de receber o diploma de Bacharel em Teologia, não pode ser apresentada a um presbitério (que ela mesma ajudou a eleger) para prosseguir sua formação e preparação através da licenciatura. Impedida de obter essa licenciatura fica também impedida de se apresentar à Igreja a fim de ser ordenada, embora esteja preparada, o que é contrário ao princípio do direito de votar e ser votada.”123

A questão da ordenação feminina no meio presbiteriano tem sido tema

conflitante, considerando o caráter conservador mantido por seus membros. É

curioso observar que as próprias mulheres estão envolvidas por um discurso

extremamente situacionista e convincente, e se mostram apáticas diante do

processo de transformação social que ocorre na atualidade. Detectamos o fato pela

análise da literatura disponível e pelo contato com mulheres da IPB.

Porém, outras igrejas que tiveram origem de movimentos dissidentes da

própria Igreja Presbiteriana do Brasil construíram uma realidade diferente. A

exemplo disto podemos citar a Igreja Presbiteriana Unida que permite a ordenação

de mulheres como também, a Igreja Presbiteriana Independente que a partir de

1999, com a aprovação de uma reforma constitucional, passou a permitir à mulher

o acesso ao oficialato.

Um artigo publicado na revista “Alvorada”124 , órgão de divulgação da

IPIB125 , apesar de omitir o autor, esclarece nosso comentário sobre a ordenação

feminina. O mesmo traz o título “conquista de mais um sonho” e informa:

123 ESTRADA, Leciane Goulart Duque. Acontece no Brasil, in: Mundo Reformado Vol. 49. Genebra: Alianza Reformada Mundial, 1999, p. 11. 124 ALVORADA – denominação do Órgão Oficial da Secretaria Nacional das Forças Leigas da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB). Fundada em 1968, sua publicação se destina à família com uma tiragem de aproximadamente 3000 exemplares é distribuída pelo território nacional através das IPIB.

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“Desde o último dia 3 de fevereiro, a Constituição da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil dá direitos às mulheres de exercerem o ministério ordenando, presbíteras e pastoras. Foram muitos anos de reflexão e debates até que esse tema fosse aprovado. Nesse processo que já dura várias gerações, mulheres e homens deram sua contribuição a fim de que as mulheres pudessem ter mais esse direito respeitado” 126

Se Igrejas Presbiterianas, “Independentes” ou não, após detalhados

estudos e embasados na Bíblia, puderam concluir sobre o direito da mulher ao

oficialato, paira no ar a questão da discriminação que parece perdurar no interior

da Igreja Presbiteriana do Brasil.

Sobre esta questão, Edilene Aureliano França127 publica um artigo no “O

Estandarte”128 intitulado, “Ordenação Feminina”, e indaga: “há dons apenas

para o sexo masculino? Não podemos ser pastoras aos olhos de Deus ou aos

olhos dos homens?”129

O artigo citado é extremamente questionador e analisa diversos textos

bíblicos que colocam a personagem em questão em evidência. Esclarece sobre o

companheirismo feminino no momento das crises econômicas, considerando que

a mulher buscou o trabalho fora do ambiente doméstico para contribuir com o

atendimento dos compromissos econômicos da família. Portanto, conquistou sua

emancipação, forçada pela necessidade econômica, cumprindo o papel de auxiliar

125 IPIB – Igreja Presbiteriana Independente do Brasil cuja origem ocorreu após um movimento dissidente da IPB sob a liderança do Rev Eduardo Carlos Pereira, que iniciou em 1900 na 1ª IPB de São Paulo. O movimento teve por motivo a questão maçônica e o problema da tutela norte-americana em relação à direção da IPB. Boanerges Ribeiro nos instrui através da obra “A Igreja Presbiteriana no Brasil, Da autonomia ao Cisma”. São Paulo: 1987. 126 ALVORADA. Conquista de Mais um Sonho. São Paulo: 1999, p. 19 127 Edilene Aureliano França – Secretária da Secretaria de Missões da IPIB. 128 O Estandarte – Órgão Oficial da Igreja Presbiteirana Independente do Brasil. Publicado em S.Paulo e com abrangência nacional, foi criado em 1898. 129 FRANÇA, Edilene Aureliano. Ordenação Feminina. Jornal O Estandarte. São Paulo: 1998, p.17.

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como traz Gênesis 2:18: “Disse mais o Senhor Deus: Não é bom que o homem

esteja só: far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea”.

Edilene A. França a apresenta ainda como corretora e agrônoma

embasada em Provérbios 31:16 e continua a discorrer sobre vários modelos

femininos que marcaram a realidade de uma época e/ou de um povo. Questiona

sobremodo a culpabilidade atribuída à mulher quando do desequilíbrio familiar,

salientando a responsabilidade do homem em relação ao problema em referência.

Portanto, expõe:

“Quando acusam na nova sociedade: “a mãe deixou o lar, e as crianças se tornaram delinqüentes? Prostitutas? Drogados?”, “A pergunta é: será que não foi a falta do homem, que só prega ser o cabeça da casa e na verdade não o é? Homens tão ocupados com o poder sem tempo para a família? Homens falando tantas línguas e sem ter diálogo com filhos e esposa?”130

O exposto comprova a existência de um discurso questionador frente às

diferenças instituídas. Homens e mulheres são membros de uma única Igreja que

apresenta uma filosofia doutrinária embasada na Bíblia e que defende a justiça, a

igualdade, a humildade, o amor, o respeito e a busca pelo cultivar dos dons.

Porém, o estabelecimento das regras advém do domínio masculino, sendo

resultante de valores firmados por tradição cultural, mas também por leitura

fundamentalista da Bíblia, na qual se encontra a formulação de S. Paulo, conforme

I Cor. 14:34-35:

“Conservem-se as mulheres cladas nas igrejas, porque não lhes é permitido falar; mas estejam submissas como também a Lei o determina.

Se, porém, querem aprender alguma coisa, interroguem, em casa, a seu próprio

130 Ibid p. 17 131 BÍBLIA SAGRADA. I Cor. 14:34-35

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marido; porque para a mulher é vergonhoso falar na Igreja.”131

O discurso apresentado por Paulo não encontra similaridade nos

exemplos de Jesus. Nenhuma alocução ou ensinamento de Jesus, constante na

Bíblia, coloca a mulher em posição tão irrelevante. Deste modo se estabelece um

impasse quanto às interpretações existentes. Quando a leitura bíblica se faz de

modo fundamentalista, tende a prevalecer que a “mulher deve calar a boca”. E,

apesar de diminutos avanços, este discurso ainda existe.

A Igreja Presbiteriana do Brasil tem se mostrado extremamente

conservadora, dificultando o avanço de qualquer medida que altere o sistema

organizacional como um todo. Isto justifica a lentidão das mudanças o que tem

garantido a manutenção do “status quo” da organização política secularmente

instituída na entidade.

A realidade vigente traduz um modelo discriminatório de poder e, para

sanar o problema, necessário se faz a conscientização dos elementos que

compõem a liderança vigente.

O processo não é simples, se considerarmos que a cultura brasileira traz

em seu âmago valores patriarcais bem arraigados e o presbiterianismo acentua

esses mesmos valores em razão de um discurso que também premia o elemento

masculino como o escolhido.

2.2 – ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DA IPB

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De acordo com a Constituição Presbiteriana, a comunidade local poderá

organizar-se em Igreja quando puder tornar-se auto suficiente e tiver elementos

que possam compor seu Conselho. Caso isto não ocorra, as mesmas estarão sob a

responsabilidade dos Presbitérios, juntas missionárias ou Conselhos e recebendo a

denominação de “pontos de pregação” ou “congregação”132

Além dos recursos materiais para manutenção da Igreja, há necessidade

da existência de membros que estejam aptos a serem eleitos. Portanto, se uma

Congregação contar com um bom número de membros, mas insuficiência

numérica de homens disponíveis ao oficialato, esta não poderá tornar-se Igreja.

“Art. 5 – Uma comunidade de cristãos poderá ser organizada em Igreja, somente quando oferecer garantias de estabilidade, não só quanto ao número de crentes professos, mas também quanto aos recursos pecuniários indispensáveis à manutenção regular de seus encargos, inclusive as causas gerais e disponha de pessoas aptas para os cargos eletivos. 133

A Igreja, desde que instituída, deverá tornar-se pessoa jurídica. A partir

desta nova situação estará se tornando um organismo submetido à Constituição

do país, portanto, devendo pautar-se de acordo com as normas do governo civil

instituído.

Internamente, a Igreja possui um Manual, redigido pelos representantes

do Supremo Concílio e que define sobre sua natureza, governo e fins.

132 “Pontos de Pregação”- são locais escolhidos pelo Conselho da Igreja, para o desenvolvimento periódico de atividades de evangelização, considerando a inexistência de Igreja no local. Normalmente se localizam em bairros e/ou casas de membros da IPB, organizados em localidade onde há falta de condições para manter o pastor e o grupo não consegue os requisitos necessários para compor o Conselho. 133 MANUAL PRESBITERIANO. São Paulo: Presbiteriana, 1998, p. 9. 134 IPB de Campo Mourão – Pr, fundada em 1954, conta com 441 membros comungantes e 369 não comungantes num total de 810 membros. E estão vinculadas à instituição 2 Congregações e 2 Pontos de Pregação. Entre os comungantes somam 187 homens e 262 mulheres e, entre os não comungantes, 199 homens e 170 mulheres.

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De acordo com as normas estatutária, a Igreja local é composta pelos

membros, com governo próprio representado por Conselho. Este é escolhido em

Assembléia Geral através de processo eletivo no qual participam apenas os

membros comungantes. Apesar de homens e mulheres terem direito ao sufrágio,

com base no Estatuto interno, apenas homens podem ser eleitos.

Para melhor compreensão da estrutura organizacional da IPB,

apresentamos um cronograma tendo como modelo, a Igreja Presbiteriana de

Campo Mourão134 no Paraná. (Ver anexo II, pág. 229)

O Conselho, órgão de governo da Igreja, é formado pelo pastor e/ou

pastores e Presbíteros.

Também são eleitos os Diáconos, sempre homens, igualmente oficiais,

mas hierarquicamente submetidos ao Conselho.

O Presbítero tem autoridade equivalente ao do ministro, o que torna seu

papel extremamente respeitável.

Para o acesso ao oficialato os membros são orientados a votar em

indivíduos que apresentem qualidades pessoais substanciais, traduzidas por um

modelo de vida exemplar sob todos os aspectos, quer em família, como

profissional, como cidadão e como cristão. Evidentemente, nem sempre é

possível aos eleitores o conhecimento profundo de seus candidatos. Porém, uma

vez eleitos, são ordenados na função e aceitos como autoridade na comunidade.

Tal fato não impede a exoneração de algum dos eleitos, quando apresentarem um

comportamento incoerente com sua posição.

De acordo com o Manual Presbiteriano constatamos que:

“Art. 52 – O presbítero tem nos

Concílios da Igreja autoridade igual a dos ministros.

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Art. 53 – O diácono é o oficial eleito pela Igreja e ordenado pelo Conselho, para, sob a supervisão deste, dedicar-se especialmente:

a) à arrecadação de ofertas para fins piedosos;

b) ao cuidado dos pobres, doentes e inválidos;

c) à manutenção da ordem e reverência nos lugares reservados ao serviço divino;

d) exercer a fiscalização para que haja boa ordem na casa de Deus e suas dependências”.135

Analisando as funções a serem desempenhadas por presbíteros e

diáconos, é possível considerar que inúmeras obrigações destes podem vir a ser

desempenhadas por mulheres vinculadas à Igreja. O fato demonstra a aptidão e

interesse destas pela causa, mas não faculta a elas o direito de reconhecimento por

rea lizarem essencialmente esta prática. São vistas como pessoas no cumprimento

de seus deveres como cristãs.

Além do Conselho e da Junta Diaconal constituídos como órgãos de

governo e administração da Igreja, existem também as Sociedades Internas que

estão subordinadas ao Conselho.

São estas: a UPH – União Presbiteriana de Homens; a SAF – Sociedade

Auxiliadora Feminina; a UMP – União de Moços Presbiterianos (grifo nosso);

UPA – União Presbiteriana de Adolescentes; UCP – União de Crianças

Presbiterianas.

As referidas sociedades são regidas sob o critério de um Manual

Unificado que, além de um breve histórico das sociedades, orienta quanto à

organização e funcionamento das mesmas.

135 Manual Presbiteriano. São Paulo: Presbiteriana, 1998, p. 25.

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A finalidade destas organizações é de apoio à Igreja e promoção de

inúmeras atividades tais como, lazer, devocionais, sociais, etc., que contribuam

para a integração e desenvolvimento de seus membros.

O art. 2º do capítulo I do Manual esclarece que:

“São objetivos específicos das sociedades Internas:

a) cooperar com a Igreja, como parte integrante da mesma, nos seus objetivos de servir a Deus e ao próximo em todas as suas atividades, promovendo a plena integração de seus membros;

b) incentivar o cultivo sadio de atividades espirituais, evangelísticas, missionárias, culturais, artísticas, sociais e desportivas;

c) promover uma salutar convivência com os outros Departamentos e Organizações da IPB e também com denominações evangélicas fraternas.”136

Todas as sociedades internas são organizadas sob a tutela do Conselho,

dependendo, portanto, da aprovação deste órgão. Seu funcionamento depende da

constituição de uma Diretoria, sendo que, no caso da UPH, SAF e UMP, seus

componentes devem ser membros comungantes da Igreja local. Esta exigência só

inexiste quando se tratar da Diretoria da UPA e UCP. Tudo deverá ser registrado

em livros próprios e a reunião para organização exige a presença de um

representante do Conselho.

Visando garantir a perfeita funcionalidade das sociedades, é mister a

escolha de um conselheiro pelo Conselho, que servirá de elo de ligação entre este

órgão e a sociedade organizada.

136 MANUAL UNIFICADO. São Paulo: Presbiteriana, 1998, p. 23.

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O Manual Unificado esclarece sobre a situação dos sócios, define faixa

etária para adentrar nas respectivas sociedades e estabelece, igualmente, os

deveres e direitos dos mesmos.

Tais sociedades são administradas por uma Diretoria eleita, formada por

Presidente, Vice-Presidente, Primeiro e Segundo Secretário e Tesoureiro.

Existem, também, diversos departamentos e/ou secretarias que visam o

desenvolvimento de atividades específicas. Tudo depende do número de sócios e

dos recursos da entidade para definir a quantidade de secretarias.

A nível regional, todas as sociedades são federadas, o que explica o Art.

53 do Manual Unificado, como segue:

“A Federação é a entidade que congrega cada um dos tipos de Sociedades Internas das igrejas jurisdicionada a um Presbitério da IPB, ao qual se subordina e que funciona sob a supervisão de um Secretário Presbiterial.”137

As Federações fazem parte da Confederação Sinodal138. Portanto, servem

de elo entre as sociedades internas e os Sínodos, por isso devem promover

encontros periódicos e são responsáveis pela organização do Congresso Anual.

A Federação também conta com uma Diretoria eleita na qual poderão

participar representantes de sociedades internas, escolhidos como delegados, para

fazerem parte dos encontros promovidos pela Federação.

Em referência à participação masculina e feminina, é possível detectar

diretorias mistas no caso da Federação da UMP, UPA e UCP. As demais se

apresentam como organismos de representação específica, isto é, a UPH por

137 Ibid, p. 54 138 Confederação Sinodal – é o conjunto das várias Federações, sendo estas de abrangência regional, a Confederação Sinodal tem caráter nacional.

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homens e a SAF, por mulheres, contando, porém, com a presença de autoridades

masculinas, uma vez que dependem da anuência dos Conselhos.

Além das sociedades internas, as Igrejas locais contam com

departamentos responsáveis por atividades variadas, como por exemplo, a música,

grupos corais, conjuntos, bandas, grupos teatrais que desenvolvem atividades sob

observação do Conselho.

Também a atividade da Escola Dominical apresenta uma divisão interna

com base na faixa etária e sexo, para garantir ensino doutrinário adequado aos

interesses dos participantes. Isto pode ser constatado ainda hoje em inúmeras

Igrejas visitadas.

É importante lembrar que essas escolas haviam chegado à América do

Norte nas primeiras décadas do século XIX, destinadas ao ensino religioso para

crianças. Segundo Mendonça:

“A Escola Dominical, como instituição paralela à Igreja, passou a desempenhar função importante no desenvolvimento e consolidação das igrejas. A sede de aprender construiu pouco a pouco, uma epistemologia cristã -protestante, desenvolveu métodos próprios e, nas áreas missionárias, foi servindo de atração para futuros convertidos, principalmente por intermédio das crianças que aderiam às reuniões conduzidas por habilidosas missionárias-professoras. Por outro lado, exerceu também o papel de fixar as doutrinas e a ética nos recém – convertidos.” 139

A estrutura, sobre a qual fizemos referência anteriormente, pode ser

melhor compreendida através de Organograma que segue.

Dentre os organogramas elaborados, destacamos um representativo da

SAF, considerando que a mulher é o foco da atenção desta pesquisa.

139 MENDONÇA, op. cit., p. 61

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A organização de mulheres na IPB é identificada como Ministério SAF e

está assim constituída. A nível nacional existe a Confederação Nacional,

representada por uma Secretaria Nacional, composta por mulheres ligadas a

diversas Confederações Sinodais. Estas são escolhidas através de eleições

realizadas quadrienalmente em Congressos de nível nacional.

O evento acontece supervisionado por um Secretário Geral eleito pelo

Supremo Concílio140 , e que serve de elo entre este órgão e a Secretaria Nacional

da SAF.

O mesmo critério serve para todas as Sociedades internas da IPB.

De acordo com o Manual Unificado das Sociedades Internas, o fato fica

assim esclarecido:

Art. 116. A Confederação Nacional é a entidade que congrega as Sociedades Internas, as Federações e Confederações Sinodais da Igreja Presbiteriana do Brasil, sob a supervisão de um Secretário Geral, eleito pelo Supremo Concílio”.141

As Confederações Sinodais, por sua vez, representam o conjunto das

Federações organizadas nos respectivos Presbitérios142. Igualmente, neste caso,

existe a figura do Secretário Sinodal como elemento de ligação entre o órgão

superior e a entidade que ele representa.

Entre as várias funções do escolhido, também é responsável pela posse

da diretoria eleita.

Além do Conselheiro, a SAF é organizada através de uma diretoria eleita

e está dividida em departamentos, cuja quantidade varia de acordo com o número

140 Supremo Concílio. Órgão máximo de poder da IPB que coordena, dirige e decide sob as normas e regimentos da IPB. 141 Manual Unificado das Sociedades Internas. Das Confederações Nacionais. Art. 116. 1999. 142 Presbitérios – Art. 85 do Manual Presbiterianos – O Presbitério é o Concílio constituído de todos os ministros e presbíteros representantes de igrejas de uma região determinada pelo Sínodo.

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de associadas. Estes de partamentos têm funções diversas, que podem ser

identificadas pela própria denominação que trazem, tais como: departamento de

ação social, de música, de missões, de cultura, de comunicação e marketing, de

esporte e recreação, de evangelização e de espiritualidade.

A organização descrita, dependente da subordinação a um Conselheiro,

que garante a supremacia determinante de um Conselho frente à iniciativa de uma

das sociedades internas da Igreja, confirma que o poder permanece com aqueles

que ocupam funções dirigentes, isto é, pastores e presbíteros.

2.3. O PODER NA IGREJA

A estrutura de poder na IPB só pode ser compreendida com base na

análise de sua origem.

A ideologia transmitida pelos missionários estrangeiros, representantes

da política de Monroe e que se embasava no Destino Manifesto, justificava a

superioridade cultural destes frente à nação e população brasileira.

Mendonça nos relata sobre a importância do puritanismo na evolução e

organização do protestantismo na América do Norte e sobre a influência da

ideologia do “Destino Manifesto” na sua expansão afirmando que,

“Pelo menos no século XIX, o melhor e mais eficiente condutor da ideologia do “Destino Manifesto” foi a religião americana, ou melhor dizendo, o protestantismo americano, com a sua vasta empresa educacional e religiosa, que preparou e abriu caminho para o seu expansionismo político e econômico. No caso do Brasil, se no campo religioso seu sucesso foi quase nulo, na

Parágrafo Único - cada igreja será representada por um presbítero, eleito pelo respectivo Conselho, 1951, p. 32

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educação e na cultura em geral, para não dizer no político e econômico, a influência americana não pode deixar de ser sentida, embora não logo após a implantação do protestantismo, mas ao longo dos cento e tantos anos de sua chegada.”143

As Igrejas Presbiterianas nascentes eram organizadas de forma a retratar,

em sua estrutura, valores autoritários que garantiam poder àqueles que ocupavam

as funções dirigentes da mesma. Por conseguinte, estas eram de exclusividade

masculina, restando às mulheres a tarefa de auxiliadoras quando, para isto, fossem

requisitadas. Isto decorre da fundamentação doutrinária que justifica a legitimação

das diferenças instituídas.

É possível constatar que havia um excesso de burocracia caracterizando

a estrutura governamental da referida entidade.

Podemos demonstrar o exposto através do Estatuto da Igreja

Presbiteriana do Brasil de S. Paulo, divulgado através da Imprensa Evangélica,

em dezembro de 1883, como segue:

“Artigo 1º A Egreja Presbyteriana de S. Paulo, organizada segundo o exposto na Forma de Governo da Egreja Presbyteriana no Brazil, e que adopta os Symbolos da dita Egreja (Confissão de Fé, Breve e Grande Cathecismos, Forma de Governo e as Regras de Disciplina) encorpora-se em sociedade para adquirir, possuir e administrar os estabelecimentos necessários ao culto e instrução da mesma comunidade e residência do Pastor...

Art. 4º A direcção dos negócios econômicos desta sociedade fica a cargo de mais uma comissão composta de cinco ou mais membros, à qual os Diáconos pertencerão ex officio e os mais membros serão eleitos annualmente na sessão ordinaria da Assembléia Geral, compondo-se

143 MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O Celeste Porvir. A Inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: IMS, 1995, p. 62.

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a referida commissão de um presidente, primeiro e segundo secretários, um thesoureiro e um procurador” 144.

O documento citado, do qual procuramos expor pequena parte, segue

mostrando as determinações de cada função e especificando, inclusive, o papel da

Assembléia Geral representada por todos os membros em comunhão com a

Igreja, na escolha (eleição) dos cargos.

A definição de cargos com delimitações de funções regidas por uma

Constituição própria vai, pouco a pouco, estabelecendo uma burocracia em nome

da ordem e funcionamento da Instituição.

De acordo com o crescimento numérico das Igrejas, a burocracia se

aprimora.

São criadas sociedades internas, departamentos, subdepartamentos. Tudo

com representantes eleitos e/ou nomeados pelo Conselho, que devem garantir o

registro e documentação de todos os atos.

Todos os membros estão subordinados às normas reguladoras da

organização institucional como um todo presentes no Estatuto da Igreja.

Quando se faz referência à questão dos membros em comunhão com a

Igreja, é importante considerar que o sistema Presbiteriano dá ao seu Conselho o

poder de deliberar sobre penalidades aos membros que se “desviam” da disciplina

estabelecida pela Igreja podendo, inclusive, eliminá-los do rol de membros

comungantes.

O exposto demonstra a existência de clara dicotomia interna, visto que

inclui ações democráticas e anti-democráticas simultaneamente, à exemplo de sua

funcionalidade. É democrática, ao permitir à Assembléia instituída o direito de

escolha de um Conselho através do voto. Porém, é extremamente autoritária ao

conceder ao Conselho escolhido o poder de decidir sobre a vida íntima dos

144 Imprensa Evangélica. São Paulo: 1883., Vol. XIX, nº23.

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próprios membros. Compete ao mesmo julgar e punir qualquer conduta

interpretada como desviante o que garante a submissão dos membros aos

preceitos instituídos.

O termo desviante reflete atitude divergente do padrão estabelecido pela

moral normativa da igreja. Quanto às penalidade, variam da advertência oral à

suspensão da comunhão.

Apesar das transformações que ocorreram na sociedade, modificando

valores e costumes, a estrutura governamental presbiteriana permaneceu

garantindo a observância do mesmo “status quo” dos seus primórdios. Se evoluiu

no tratamento das questões ideológicas, não permitiu que isto transformasse a

estrutura de poder instituída. Passou-se a admitir o gênero feminino como útil e

capaz, responsável pela educação e manutenção dos valores morais instituídos

pela doutrina, mas o processo não viabilizou a participação deste na estrutura de

poder da Igreja.

É possível constatar que o conservadorismo presente nesta instituição

contribuiu para movimentos dissidentes internos e resultou no surgimento de

outras inúmeras denominações presbiterianas, como nos afirmam Mendonça e

Velasques Filho. Estes autores descrevem com admirável perícia a organização

do sistema institucional da IPB, como segue.

“ Os presbiterianos brasileiros são fiéis a João Calvino quanto ao governo eclesiástico. Organizam-se a partir da relativa autonomia da congregação local, num sistema federativo e piramidal de concílios. Cada congregação local tem um conselho de presbíteros leigos eleitos por ela; um grupo de congregações locais forma um presbitério; um grupo de presbitérios forma um sínodo, e todos os presbitérios formam o supremo concílio ou assembléia geral.” 145

145 MENDONÇA, Antônio Gouvêa; VELASQUES FILHO, Prócoro. Introdução ao Protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1990, p. 36.

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Como citamos no parágrafo anterior, crises internas levaram ao

surgimento de outras Igrejas Presbiterianas que defendem noções diferentes não

apenas em relação à doutrinária, como também, na própria estrutura

governamental, permitindo o acesso da mulher em seu Conselho, seja como

diaconisa, presbítera e até no ministério pastoral, como é o caso da Igreja

Presbiteriana Independente, a primeira oriunda de dissidência, já em 1892.

Velasques Filho e Mendonça relacionam os seis diferentes grupos de

presbiterianos brasileiros, destacando-os por características básicas, como segue:

“Igreja Presbiteriana do Brasil – IPB (muito conservadora)

Igreja Presbiteriana Independente do Brasil – IPI (moderadamente conservadora)

Igreja Presbiteriana Unida do Brasil – IPU (aberta e ecumênica)

Igreja Presbiteriana Conservadora – IPC (conservadora radical)

Igreja Presbiteriana Fundamentalista – IPF (conservadora radical)

Igreja Presbiteriana Renovada – IPR (pentecostal).” 146

Outras denominações, presentes em território brasileiro, possuem um

modelo estrutural que permite a presença feminina em seus Conselhos, podendo

esta exercer qualquer ministério para o qual tenha se sentido chamada. A

exemplo do que foi afirmado, pode -se fazer referência à IECLB, Igreja

Evangélica da Confissão Luterana no Brasil, na qual a mulher vem

desempenhando papel de considerável importância desde o século XIX.147

146 Ibid. p. 36 147 Em referência ao papel desempenhado pela mulher a partir do século XIX, diversos autores se destacam. BRAKEMEIER, Ruthild em sua dissertação de mestrado intitulada “O Surgimento de um Modelo de Diaconato Feminino, sua Implantação no Brasil e Perspectivas para o Futuro” (1998), apresenta na Escola Superior de Teologia em São Leopoldo – RS, trata da ação feminina na IECLB. Igualmente, a pesquisadora ESTRADA, Leciane G. Duque em seu artigo “Acontece no Brasil” editado no periódico Mundo Reformado in: “Las mujeres el ministério ordenado”, de

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É possível citar ainda o modelo metodista, cujo surgimento foi similar

ao do presbiterianismo, mas que demonstrou ter evoluído mais em relação à

superação da questão homem/mulher em sua organização hierárquica de poder.

Na obra “O protestantismo Brasileiro” de Émile G. Léonard fica

explícita a posição da Igreja Metodista frente ao ministério feminino ao relatar

sobre a decisão do Concílio Geral de 1946 que viabilizou a publicação dos

“Estatutos da Ordem das Diaconisas da Igreja Metodista do Brasil” 148.

O autor mencionado apresenta uma transcrição afirmando que “... a

mesma denominação acaba de aumentar seu corpo de auxiliares, apelando para

o ministério feminino...” 149

Outro texto que enfoca a questão assinalada é apresentado por Jean

Baubérot , sob o tema “Para o acesso ao ministério.”

Porém, limitamos nosso estudo ao modelo presbiteriano.

2.4. SOCIEDADES INTERNAS DO MODELO IPB.

Além dos organismos instituídos que garantem a funcionalidade

administrativa, política, econômica, social e moral da IPB, existem inúmeros

departamentos que têm por função garantir atividades que envolvam seus

membros, respeitando os diferentes níveis de interesse.

Tais departamentos, e/ou, sociedades internas, como também são

chamadas, são organizadas com base em padrões preestabelecidos, com diretorias

marzo – junho de 1999. Também DREHER, Martin N. explicita sobre o tema em suas publicações “Imigrações e História da Igreja no Brasil” e “Igreja e Germanidade” editada em 1984. 148 LEONARD, op. cit., p. 238 149 Ibid, p. 238

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representadas por indivíduos escolhidos democraticamente pelo grupo através de

processo eleitoral e que devem exercer funções definidas antecipadamente pelo

próprio sistema. Os departamentos citados, existentes nas Igrejas locais, se

articulam a níveis regionais e nacional. Há uma unidade que permite a relação de

representantes nos vários níveis e concorre para o conservadorismo do sistema

instituído.

Os grupos a que fazemos referência são os seguintes:

UPH – União Presbiteriana de Homens

SAF – Sociedade Auxiliadora Feminina

UMP – União de Mocidade Presbiteriana

UPA - Uniã o Presbiteriana de Adolescentes

UCP – União de Crianças Presbiterianas.

“Art.1º - A UPH (União Presbiteriana de Homens); a SAF (Sociedade Auxiliadora Feminina); a UMP (União de Mocidade Presbiteriana); a UPA (União Presbiterinada de Adolescentes) e a UCP (União de Crianças Presbiterianas) são Sociedades Internas da Igreja Presbiteriana do Brasil, que congregam seus sócios sob critério de sexo e idade, sob a orientação, supervisão e superintendência do Conselho da Igreja, com o qual se relacionam por meio de um Conselheiro.”150

UPH – UNIÃO PRESBITERIANA DE HOMENS.

É uma organização relativamente recente no Brasil. Porém, os homens

sempre representaram figura de destaque na história do Cristianismo e,

igualmente, do presbiterianismo.

150 MANUAL UNIFICADO DAS SOCIEDADES INTERNAS. São Paulo: Cristã, 1999, p. 23.

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Quanto à organização deste departamento interno da IPB, o Manual

Unificado das Sociedades Internas apresenta breve relato onde dispõe que “em

1951 foi eleito Secretário Geral do Trabalho Masculino o Rev. Israel

Gueiros.”151 Na seqüência, apresenta a evolução da organização departamental,

bem como as publicações ligadas ao órgão.

Esta sociedade tem características próprias que definem uma maior

autonomia considerando-se que, entre seus sócios, figuram presbíteros e

diáconos.

Em suas reuniões se discutem questões que não estão vinculadas apenas

à questão doutrinária, mas também relacionadas com a administração da Igreja.

A sociedade promove atividades devocionais e evangelísticas tais como

cultos de evangelização em bairros, na zona rural, em residências de membros da

Igreja e participa de Congressos e outros eventos promovidos regularmente pela

Sociedade.

SAF – SOCIEDADE AUXILIADORA FEMININA.

É composta por mulheres que, geralmente, não desempenham profissões

fora do âmbito doméstico. Isto significa que nem todos os membros femininos da

IPB estão associadas à SAF, em função do razoável número de atividades que

este departamento desenvolve semanalmente.

Ao nos referirmos à SAF devemos nos reportar à sua origem.

Mendonça faz referência às atividades desenvolvidas por sociedades

auxiliadoras femininas antes mesmo de sua existência no Brasil. Escreve que:

“Após a Guerra Civil Americana surgiram as sociedades auxiliadoras femininas. Essas associações leigas exercem poderoso papel na empresa missionária, seja entusiasmando jovens para as missões, seja

151 Ibid. p. 7

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sustentando-os com suas contribuições, ao lado das agências missionárias oficiais...”152

No Brasil, as sociedades auxiliadoras femininas não se organizaram no

início da criação da Igreja. Porém, sua organização contou com a influência

norte-americana, uma vez que a presença de missionárias e missionários dos

EUA é que viabilizou a presença da Igreja no Brasil. (Ver anexo III, pág.230)

O Manual Unificado contém um breve histórico com o relato do

surgimento da primeira SAF em território brasileiro e que data de 1884, como

segue:

“As senhoras, membros da Igreja Presbiteriana de Pernambuco, reuniram-se em uma Associação Evangélica, com o fim de estudos bíblicos e arrecadação de fundos para auxílio aos necessitados e à Igreja e, no dia 11 de novembro de 1884, houve a reunião de instalação desta Associação, tendo sida eleita Presidente a Sra. Carolina Smith. Temos aí a primeira SAF.”153

O mesmo documento apresenta dados decorrentes da expansão da

referida organização, que conta atualmente com mais de 50.000 sócias,

representadas por 54 Confederações Sinodais154.

A SAF desenvolve atividades devocionais e também sociais.

Normalmente se relaciona com todas as sociedades internas da igreja por seu

caráter de auxiliar.

Nos eventos organizados pelas demais sociedades, tais como encontros,

congressos e acampamentos, auxilia na organização, na cozinha e demais funções

destinadas às mulheres.

152 MENDONÇA, op. cit., p. 61. 153 MANUAL UNIFICADO. São Paulo: Presbiteriana, 1998, p. 9 154 Confederações Sinodais – Áreas de abrangência de Igrejas, Congregações onde existe a organização da SAF, englobando vários municípios, distritos e bairros.

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Na área social atua em campanhas e visitação a hospitais, cadeias, asilos

e favelas.

Também contribui apoiando jovens e crianças nas atividades

programadas por estes.

UMP – UNIÃO DE MOCIDADE PRESBITERIANA

Reúne moças e rapazes a partir de 16/17 anos. Estes podem participar da

sociedade enquanto se entenderem jovens. Em razão disto, muitos continuam a

fazer parte do grupo mesmo após o casamento. É comum, ao chegarem os filhos,

o casal mudar para a UPH e SAF, onde continuarão a desempenhar funções

participativas na Igreja.

O surgimento da organização de jovens presbiterianos remonta à década

de 30, quando se apresentavam sob diversas nomenclaturas.

Segundo o Manual Unificado,

“Em 1936 os jovens das centenas de igrejas presbiterianas do Brasil já estavam se organizando sob vários nomes, como por exemplo: Sociedade de Jovens, Sociedade Heróis da Fé, Sociedade Esforço Cristão, etc. O Supremo Concílio então recomendou que os pastores dessem todo o apoio para que os jovens se organizassem em cada igreja sob o nome de União da Mocidade Presbiteriana (UMP).” 155

Normalmente, a UMP desenvolve ações culturais sempre presentes nas

atividades da Igreja. Formam grupos teatrais, bandas, grupos de coreografia

religiosa, quartetos, conjuntos instrumentais e vocais, o que contribui para a

característica “animada” dos eventos religiosos.

São comuns entre os jovens a participação em encontros

interdenominacionais, congressos, retiros, acampamentos e viagens.

155 MANUAL UNIFICADO DAS SOCIEDADES INTERNAS; op. cit., p. 13.

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Todas as atividades devem estar respaldadas pelo Conselho.

UPA – UNIÃO PRESBITERIANA DE ADOLESCENTES.

Teve sua origem em 1967, através do trabalho da Sra. Dorcas

Araújo Machado, na IPB do Rio de Janeiro,

A preocupação com adolescentes e o interesse em orientá-los e abrir-lhes

mais espaço à participação interna da Igreja, idéia de sua fundadora, estimulou

outras igrejas a oportunizar a organização de UPAS.

Rapidamente houve expansão do modelo resultando no surgimento de

UPAs locais, federações e confederações.

Atualmente estas organizações estão espalhadas pelo país, presentes em

todas as IPBs, possibilitando aos adolescentes organizarem-se e participarem de

atividades religiosas, de lazer e cultura.

UCP – UNIÃO DE CRIANÇAS P RESBITERIANAS

O Departamento infantil teve início com a denominação de liga-juvenil.

Durante anos ficou sob a responsabilidade da SAF.

Somente em 1980 o Departamento assumiu a sigla UCP, conforme

relato do Manual Unificado que transcrevemos:

“E por que UCP? No ano de 1980, numa reunião realizada em São Paulo com a Secretária Nacional do Trabalho Feminino, com a presença da Sra. Edna Costa, o pastor Loria (não me lembro o nome todo) e eu, como assessora da Sra. Edna Costa no trabalho da Liga Juvenil, foi proposto trocar o nome deste departamento para União de Crianças Presbiterianas – UCP.” 156

156 Ibid p. 20

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Até 1982, o trabalho com crianças estava vinculado à Secretaria

Nacional das SAFs. Só a partir desta data foi criada a Primeira Secretaria

Nacional de Crianças, com a incumbência de dirigir e orientar o trabalho.

Nas Igrejas locais a UCP é, normalmente, liderada por jovens senhoras e

senhoritas que planejam e operacionalizam atividades, com o apoio dos pais e

aprovação do Conselho.

Essas responsáveis são eleitas em Assembléia com a anuência do

Conselho da Igreja.

São oportunizadas às crianças a participação em atividades devocionais,

recreativas e culturais, sempre respeitando uma metodologia própria para a idade .

Assim como as demais sociedades internas da Igreja, a UCP participa de

ações paraeclesiásticas 157 como gincanas, torneios, acampamentos e passeios.

Os diversos grupos abordados apresentam organização semelhante, isto

é, elegem Presidente, Vice-presidente , Secretário(a) e Vice, Tesoureiro(a)

primeiro e segundo e representantes de Departamentos. Estes variam conforme o

número de sócios e o interesse dos mesmos. Mas, é comum a existência de

Departamento Cultural, Esportivo, Devocional, Conselho Deliberativo e outros.

Enfim, inúmeras pessoas podem exercer distintos papéis e, neste caso,

independente de sexo, cor e poder aquisitivo. É aí que se delineia um dos aspecto

da democracia.

No cerne deste modelo, entretanto, se pode perceber a separação

existente entre UPH e SAF, colocando homens e mulheres em sociedades

distintas, enquanto as três últimas UCP, UPA e UMP reúnem os dois gêneros que

atuam juntos e desenvolvem atividades inerentes às respectivas idades.

157 Paraeclesiásticas – atividades diversificadas, com finalidade evangelística, representada por acampamentos, retiros, intercâmbios e torneios esportivos.

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Os grupos citados promovem, respectivamente, reuniões, seminários

com uma parte devocional e desenvolvem, além de atividades evangelísticas,

também o lazer.

Todos esses departamentos estão sob a autoridade do Conselho que tem

poder para deliberar sobre a escolha da diretoria eleita e, igualmente, sobre as

atividades programadas.

É interessante observar até que ponto existe a presença patriarcal,

legitimando a realidade institucionalizada pela IPB. Esta afirmação decorre da

observação que se pode fazer ao se considerar a sigla representativa da

organização feminina da Igreja. Enquanto as quatro, que representam as crianças,

os adolescentes, os jovens e os homens são designadas “por união de”, as

mulheres encabeçam uma SAF, isto é, uma Sociedade Auxiliadora Feminina. O

termo Auxiliadora demonstra claramente à qual função a mulher foi destinada,

fato que merece especial atenção.

Além dos organismos citados, a Igreja desenvolve seus trabalhos

teológicos com base em duas metodologias internas distintas: cultos e escolas

dominicais. Os cultos mantêm a simplicidade herdada da Reforma, em ambiente

próprio, oriundo da política religiosa adotada desde sua chegada no país.

Como nos expõem Mendonça e Velasques Filho:

“Nos templos dessas Igrejas o altar ganhou sintomaticamente o nome de “púlpito”. A pregação conquista assim o lugar mais privilegiado da celebração, o que faz com que freqüentemente o atendimento ao serviço religioso seja determinado pela eloquência do pregador, por sua ortodoxia doutrinária, ou por ambas. As orações devem ser espontâneas, nunca preparadas previamente nem escritas. Numa mesma oração podem estar reunidos todos os diferentes momentos do culto. A seleção dos hinos utilizados no culto não recorre a

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critério específico, a não ser o efeito psicológico causado pelos ritmos...” 158

As escolas dominicais são coordenadas por uma diretoria eleita e

aprovada pelo Conselho. O mesmo acontece com os professores que lidam com

as diversa classes componentes da atividade.

As diferenças de funcionamento destas Escolas Dominicais podem

ocorrer em função da realidade vivenciada por pequenos e/ou grandes centros.

Porém, a essência do sistema é garantida pela própria estrutura da Igreja que

possui uma abrangência nacional.

Os grupos citados são elementares. Existem outros organismos internos

que variam de acordo com a realidade que permeia as Igrejas locais. Estes,

sempre sob tutela do Conselho, agem de modo organizado, escolhendo

lideranças e contando com a adesão de seus componentes. A exemplo disto

existem os grupos musicais, os de missão, entre outros.

Em tudo está explícita a autoridade do Conselho.

Com base nesta autoridade, literalmente masculina, decorrente da

própria normatização contida no Estatuto Presbiteriano, buscamos analisar a

figura feminina no contexto da Igreja.

158 MENDONÇA e VELASQUES FILHO, op. cit., p. 156

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3. MULHER E PREBITERIANISMO

3. MULHER E PRESBITERIANISMO

O estudo do Presbiterianismo no Brasil por pesquisadores respeitáveis

como Antonio G. Mendonça, David G. Vieira, Boanerges Ribeiro, Julio Andrade

Ferreira, Rubem Alves, entre outros, tem deixado considerável lacuna quanto à

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analise da presença da mulher no processo de origem e desenvolvimento do

mesmo.

Incontáveis subsídios justificam a presença do presbiterianismo no

Brasil, como também a metodologia utilizada, as áreas alcançadas, o tipo de

elemento humano envolvido, os efeitos nas regiões atingidas, o controle

organizacional das Igrejas, enfim, estudos que fazem entender a presença desta

denominação e o modo de ser de seus seguidores. Porém, pouco há sobre a

participação da mulher. Há momentos em que ela aparece sem nome, sem função,

sem expressão. É a esposa do pastor X, ou do presbítero Y ou a filha do

importante fulano, não é a Maria, a Benedita, a Antonia ou, muito menos, a

professora Joana, a lavadeira Joaquina, a lavradora Clara. Ela parece não fazer

parte do contexto de produção onde trabalha, mas apenas representa parte de uma

sociedade em formação, cujo papel essencial é ser filha, esposa e mãe. O exposto

coloca sempre a mulher no espaço doméstico, excluindo-a como elemento

participativo no espaço que ocupa.

Marlene Neves Strey em sua pesquisa sobre “a mulher, seu trabalho,

sua família e os conflitos” expõe o seguinte:

“O trabalho doméstico se situa dentro da cadeia produtiva do sistema capitalista com a mesma contribuição que outros componentes óbvios, tais como a sanidade, o ensino, a publicidade, etc., porém com uma conotação de marginalidade, que tem provavelmente muito a ver com sua escassa produtividade social e seu caráter familiar, nuclear, isolado da textura social. O fato de que a ideologia familiar tradicional (patriarcal) facilite a mobilização gratuita do trabalho feminino para a produção e reprodução social não muda em nada sua situação subordinada no sistema.” 159

159 STREY, Marlene Neves. A Mulher, seu trabalho, sua família e Conflitos. São Leopoldo: UNISINOS, 1997, p. 60

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A questão apresentada coloca o trabalho doméstico como algo marginal

à cadeia produtiva do sistema capitalista, o que resulta no obscurantismo da

figura feminina no processo histórico.

Porém, numa análise minuciosa é possível detectar fatos que envolveram

sua figura, e que possibilitaram efeitos favoráveis ao desenvolvimento e

expansão do presbiterianismo.

A própria preservação dos valores e das características patriarcais

existentes no âmbito da religião presbiteriana torna imprescindível o

reconhecimento da influência feminina nesta realidade, uma vez que seu papel se

inser ia sempre no contexto familiar e era de sua responsabilidade o zelo pelos

bons costumes, moral e religião.

No estudo de gênero elaborado por Marilene Marodin, a autora destaca o

papel da mulher na preservação das características patriarcais, declarando:

“Nessas, os papéis de gênero colocam os homens em uma posição dominante e as mulheres em uma posição subordinada. As tarefas dos homens são, então, de maior status, maior reconhecimento. A mulher, na posição subordinada, desempenha tarefas de menor status e menor valor.”160

Estando a mulher relegada a um “espaço de menor valor”, é

compreensível abstrair a limitação imposta por longo período apesar de ser ela

um elemento que, igualmente, constrói a história e participa desta.

3.1. MULHER E PIONEIRISMO PRESBITERIANO.

Alguns autores relatam sobre o pioneirismo presbiteriano destacando a

figura de Ashbel Green Simonton, primeiro missionário norte-americano enviado

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pela Junta das Missões Estrangeiras e que aportou no Rio de Janeiro em

12/08/1859. Na seqüência apresentam os personagens Rev. Alexander L.

Blackford (1860) e o Rev. F. J. C. Schneider (1861).

Antonio Gouveia de Mendonça em sua obra “O Celeste Porvir – A

Inserção do Protestantismo no Brasil” (1995) apresenta a seqüência da chegada

dos inúmeros missionários desde o século XIX, mas omite se vinham

acompanhados, se traziam esposas e filhos. Isto pode ser atribuído à época e

tradição literária em vigor. O autor relata sobre o paradigma da criação de

Igrejas, mas não específica a representação dos conversos. Em sua alusão à vinda

de evangelistas e educadores, nada diz sobre a presença de mulheres.

“Entre 1859 e 1889, as duas missões presbiterianas, entre evangelistas e educadores, enviaram para o Brasil 45 missionários... A relação entre o vulto da empresa missionária e os adeptos em 1891 mostra cerca de 50 convertidos para cada agente empregado...” 161

Outro fator importante a considerar no momento pioneiro do

presbiterianismo é a presença do leigo como elemento de divulgação. O papel

itinerante, não só dos colportores na distribuição e venda de Bíblias, como

também do pregador, inviabilizava à mulher da época o desempenho da mesma

função tendo em vista os valores característicos da mentalidade vigente. O

caráter itinerante do trabalho, por si só, era obstáculo à ação feminina.

Considerando isto, Mendonça torna justificável a afirmação de que:

“Além do pregador itinerante, a peça mais importante desse protestantismo incipiente era o líder leigo local. Esse leigo era em geral uma pessoa de meia-idade, homem, capaz de ler e liderar a congregação. Devia, além disso, ser pessoa de reputação

160 MARODIN, Marilene. As relações entre o homem e a mulher na Atualidade in: Mulher, Estudos de Gênero. São Leopoldo: UNISINOS, 1997, p. 11. 161 MENDONÇA, op. cit., p. 27.

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exemplar. Cumpria, assim, tarefas de pastor, médico, conselheiro e irmão mais velho dos demais fiéis”162

O êxito da presença pioneira de missionários presbiterianos se faz

condizente com o papel desempenhado por outros indivíduos, que desde a

independência estiveram presentes no país divulgando e distribuindo Bíblias.

Émile-G. Léonard escreve sobre isto e aborda sobre a presença da mulher que

acompanhou o trabalho e, certamente, fez parte dele.

“Com relação ao Brasil as providências se limitaram à vinda do Rev. Sapulding e à pequena escola para crianças brasileiras e estrangeiras que ele fundou além de seu ministério nas colônias inglesa e norte -americana, e entre os marinheiros desses países. Em 1847 recebeu o auxílio de um grupo de professores e do Rev. Daniel Parish Kidder, acompanhado de sua esposa” (grifo nosso)163

Neste caso também encontramos o tratamento “esposa”, que significa

companhia. Isto se justifica considerando que, na época citada, inúmeras

mulheres que adentraram nosso país não ocupavam posição de liderança. Elas se

limitavam a assumir o papel de “esposa de missionário e/ou pastor”, cuja

função era apoiar e estimular o projeto evangelístico do marido.

Outra figura interessante do momento pioneiro presbiteriano foi o Dr.

Robert Reid Kalley, médico escocês que, oriundo de uma perseguição na Ilha da

Madeira, concedeu essencial apoio a Simonton. Sua esposa, Sara Kalley

desempenhou destacável papel no desenvolvimento protestante brasileiro,

contribuindo literalmente com quase todas igrejas que foram criadas no Brasil,

considerando-se que, como compositora musical e poetisa, criou muitos hinos

162 VELASQUES FILHO e MENDONÇA, op. cit., p. 166 163 LÉONARD, op. cit., p. 42

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que passaram a fazer parte do ritual de cultos evangélicos, inclusive da Igreja

Presbiteriana.

Tal fato mostra que seus limites não estavam singularmente atrelados à

questão doméstica. Além do “ser mulher”, a competência artística legitimou-a

como agente da história.

Nos relatos sobre as adesões à Igreja é possível reinterpretar o papel de

mulheres que puderam influenciar outras pessoas contribuindo para a expansão

da Igreja. Porém, as mesmas não pareciam perceber a importância deste papel,

agiam apenas no intuíto de cumprir o papel cristão.

Émile-G Léonard nos demonstra este aspecto, ao relatar sobre a

conversão de uma das irmãs do Pe. Conceição, citando-a apenas pelo apelido de

“Tudica” e afirmando que: “Esta atraiu seu marido, sua sogra D. Cândida

Cerqueira Leite, a mais respeitada e influente fundadora do povoado, e todos os

filhos desta.” 164

O fato apresenta também uma outra mulher que, além de sogra e mãe, é

respeitada como influente fundadora de um povoado, o que demonstra claramente

a influência política e social de uma mulher fora do espaço doméstico e a

importância da mesma nesta organização.

O desenrolar da atividade missionária em áreas rurais e a carência de

espaços adequados ao desenvolvimento da mesma resultava numa real

dependência da cooperação de famílias simpatizantes com a causa. A reunião de

vizinhos, amigos, e parentes, impunha à mulher a preocupação com a alteração

de toda rotina cotidiana a que estava habituada.

Era fundamental receber e servir bem, hospedar o pregador, adequar o

espaço, enfim, corroborar para que a imagem de perfeição doméstica fosse

mantida. Além do que, era imprescindível apresentar filhos bem tratados,

arrumados e, acima de tudo, visivelmente educados.

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Tal desvelo também possibilitou a divulgação do presbiterianismo e

crescimento do número de adeptos, bem como a própria transmissão dos

ensinamentos que as famílias convertidas garantiam aos seus.

A cada evento onde ocorriam batizados e profissão de fé, muitas

mulheres se faziam presentes. Era, na maioria das vezes, um ato de família,

independente do poder aquisitivo das mesmas.

O crescimento da Igreja não ocorria apenas no meio rural. A urbanização

trazia em seu bojo o desenvolvimento protestante, incluindo o presbiterianismo.

Famílias de destaque na sociedade tornavam-se protestantes e passavam a

propagar a nova religião. Isto é mostrado por Émile-G. Léonard, quando escreve

em referência a figuras importantes que:

“...houve outra família, da mesma classe, que pelo número de adeptos à nova fé e pelo zelo religioso se tornou o centro da Igreja Presbiteriana de São Paulo: foram os Souza Barros, a quem os genealogistas fazem descender, através dos soberanos de Portugal, dos Imperadores de Leão e Carlos Magno, não esquecendo contudo, esses caciques Piquerobí e Tibiriça, de quem todas as antigas famílias de São Paulo se orgulham de descender.” 165

O período de introdução do protestantismo no Brasil é marcado por um

momento em que a figura feminina ocupa um espaço consideravelmente limitado

na política, economia e sociedade. Isto se reflete no processo em análise,

tornando-a quase incógnita na história da Igreja, apesar do indispensável papel

que exerceu garantindo boa parte do resultado almejado.

164 Ibid, p. 59 165 Ibid, p. 96

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3.2. – O PERFIL DA MULHER NO INÍCIO DO SÉCULO XX.

Para entender a exclusão da mulher no processo histórico de

desenvolvimento e expansão do presbiterianismo, necessário se faz conhecer o

período e a realidade envolvente que interferiu no seu desenrolar.

A sociedade brasileira da época, herdeira da miscigenação cultural

ibérica, negra e índia, assimilava basicamente os valores patriarcais transmitidos

pelo cristianismo oriundo de Portugal. A influência tridentina 166 decorrente da

presença, imigratória européia desde meados do século XIX não alterava em nada

o cotidiano aprovado para a mulher e aceito pelas famílias na época.

No contexto da sociedade brasileira da época podem ser detectadas

algumas manifestações de rebeldia decorrentes das discriminações e

desigualdades de direitos vigentes.

O início do século já vivenciava movimentos resultantes da insatisfação

de determinados grupos de mulheres, dada a situação de dependência e submissão

retratada pela realidade da maioria.

Marina Maluf e M. Lucia Mott desenvolveram pesquisa não sobre a

mulher presbiteriana, mas sobre a realidade feminina no Brasil dos anos 20. Para

isto, valeram-se de uma Revista Feminina publicada na época, retratando

aspectos da sociedade mineira como segue:

“Sejamos mulheres” proclamava de Minas Gerais uma colaboradora da Revista Feminina, em 1920. Reivindicando igualdade de formação para ambos os sexos, chamava a atenção das leitoras para as mulheres “vítimas do preconceito”, que viviam fechadas no lar, arrastando uma “existência

166 Tridentina – denominação dada ao novo modelo de catolicismo trazido pelos imigrantes do século XIX, com base nas normas instituídas pelo Concílio de Trento em fins do século XVI.

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monótona, insípida, despida de ideais”, monetariamente algemadas aos maridos.” 167

O meio urbano propiciava as manifestações feministas do início do

século, o que não atingia o meio rural, em função da dificuldade de comunicação

e do acesso restrito que as mulheres deste ambiente tinham em relação às

informações.

A moral da época impunha à mulher a responsabilidade da manutenção

familiar, da integridade moral, especialmente, das filhas. Os usos e costumes

estavam impregnados da ideologia patriarcal, que estabelecia a diferenciação

substancial de direitos aos respectivos gêneros humanos formadores da

sociedade. O próprio Estado mostrava interesse na preservação do “status quo”,

uma vez que a disciplina familiar contribuía para a preservação da disciplina

social e, consequentemente, para a manutenção do poder político instituído.

Pesquisadoras afirmam que:

“... Conjugaram-se esforços para disciplinar toda e qualquer iniciativa que pudesse ser interpretada como ameaçadora à ordem familiar, tida como o mais importante “suporte do Estado” e única instituição social capaz de represar as intimidadoras vagas da “modernidade”.”168

É interessante lembrar que, apesar de Maluf e Mott limitarem o estudo a

Minas Gerais, isto nos interessa, já que o presbiterianismo teve considerável

expansão neste estado.

As instituições religiosas, bem como as educacionais e outras, primavam

pelo repasse da ideologia que reafirmava as diferenças inerentes ao homem e à

mulher, perpetuando a supremacia masculina no âmbito público e a excelência

primordial da mulher no âmbito privado. Era a essência feminina, a única capaz

167 MALUF, Marina; MOTT, Maria Lucia. Recônditos do Mundo Feminino. In: História da Vida Privada no Brasil República: Da Belle Époque à Era do Rádio. São Paulo: Schwarcz , 1998, p.371. 168 Ibid p. 371 e 372.

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de desenvolver os atributos domésticos e sua felicidade estava condiciona da à

realização como esposa, mãe e dona-de-casa. Além do “dever ser” eficiente

doméstica, também era de sua competência a questão do “gerar” filhos perfeitos,

e, em boa quantidade. Estes deveriam ser saudáveis, bem cuidados e educados,

pois isto fazia parte do rol de obrigações atribuídas à “rainha do lar”. Era

inviável pensar em realização pessoal da mulher fora do âmbito familiar. Sua

perspectiva de vida se fazia implícita aos deveres domésticos.

Comprovadamente, suas tarefas não se limitavam ao cumprimento dos

afazeres domésticos rotineiros. Implicavam ainda no aspecto afetivo, uma vez

que dela se esperava a satisfação e orgulho de todos. A ela competia contribuir

para a conquista da prosperidade econômica, garantir a honra e o respeito pelo

nome que traziam, enfim, era o sustentáculo da integridade do grupo familiar.

Seus ideais e sonhos fora deste ambiente não deveriam nem mesmo ser

manifestados. Eram tidos como frivolidades descabíveis e mesmo ilegais, já que a

legislação existente estabelecia limites definidos para homem e mulher,

respectivamente, como pode ser encontrado no Código Civil de 1916.

Sob o tema “Recônditos do mundo Feminino”, Maluf e Mott afirmam que:

“... a nova ordem jurídica incorporava e legalizava o modelo que concebia a mulher como dependente e subordinada ao homem, e este como senhor da ação. A esposa foi, ainda, declarada relativamente inabilitada para o exercício de determinados atos civis, limitações só comparáveis às que eram impostas aos pródigos, aos menores de idade e aos índios.”169

O exposto não impedia a mulher de desempenhar atividades extras para

contribuir com a manutenção familiar desde que com a permissão do chefe da

família e jamais negligenciando seus deveres de esposa, mãe e dona -de-casa. A

169 Ibid, p. 375

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própria legislação previa tal possibilidade dado o grande número de famílias que

compunham a classe proletária.

Sobre isto Suzana Albornoz afirma:

“Nas classes de renda insuficiente, a mulher é muitas vezes impelida a trabalhar fora de casa por absoluta necessidade de sobrevivência, dela e de sua família. O mercado de trabalho abre-lhe as portas do serviço doméstico, e de alguns setores menos remunerados da indústria...” 170

Como se pode ver, a sociedade apresenta em seu bojo não apenas

diferenças entre homens e mulheres, mas também entre as categorias sociais às

quais estas mulheres pertenciam. Além da questão apresentada envolver apenas

representantes da classe pobre, seus salários eram inferiores aos destinados aos

homens.

Nas diferentes classes sociais, a postura de submissão feminina deveria

estar garantida, porém, nem todas poderiam e/ou deveriam desenvolver

atividades extras, visando contribuir para o sustento da família.

O trabalho feminino, quando necessário, era motivo de desprestígio para

o homem, tendo em consideração que a ideologia dominante da época implicava

na responsabilidade deste em suprir as necessidades da família, gerir os negócios

e ser realmente o chefe.

Interessante se faz conhecer a gama de qualidades impostas à mulher em

prol da manutenção da família e da sociedade, sem com isto implicar em qualquer

acesso a compensações de qualquer espécie. Para ser tida como uma esposa

virtuosa, estudos relatam que:

“Prescrevem-se para ela complacência e bondade, para prever e satisfazer os desejos

170 ALBORNOZ, Suzana. O Trabalho Invisível. In: Na Condição de Mul her. Santa Cruz: APESC, 1985, p. 26.

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do marido sequer expres sos: dedicação, para compartilhar abnegadamente com o cônjugue os deveres que o casamento encerra: paciência para aceitar as fraquezas de caráter do cônjuge... O perfil traçado para a esposa conveniente contava ainda com indefiníveis qualidades tais como, simplicidade, justiça, modéstia e humor”” 171

Evidentemente, uma atitude contrária aos moldes estabelecidos era tida

como resultado de leviandade e incompetência do “ser mulher”.

Alguns ideais pertinentes ao movimento missionário norte-americano,

decorrentes da filosofia liberal, influenciaram criteriosamente o paradigma do

trabalho. Porém, o aspecto familiar continuava mantendo os mesmos princípios

que impunha à mulher a mesma condição de subserviência, mesmo entre os

membros da Igreja nascente.

A realidade apresentada não impediu o surgimento de contradições

detectadas pela pesquisadora Maria Valéria Rezende em seu estudo “O

Feminismo do Movimento Missionário na América Latina” . Ela analisa o

feminismo protestante na América Latina, no período de 1910 a 1940, e entre

suas afirmações mostra que: “Foi um feminismo impulsionado sobretudo por

valores externos ao campo religioso e às condições próprias da América

Latina”172

Rezende comenta ainda sobre o caráter feminista presente em três

Congressos Missionár ios Protestantes , ou seja, o do Panamá em 1916, o de

Montevidéu em 1925 e o de Havana em 1929, como segue:

“Tanto os três congressos mencionados, como também a revista do Comitê de Cooperação, mostram não somente um

171 MALUF E MOTT, op. cit., p. 390 172 REZENDE, Maria Valéria. O Feminismo do Movimento Missionário na América Latina. In: A Mulher Pobre na História da Igreja Latino Americana. Org. MARCILIO, Maria Luiza. São Paulo: Paulinas, 1984, p.37.

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grande interesse pelo tema da mulher, mas assumem uma posição francamente feminista, propondo como tarefas importantes a educação da mulher, a luta para alcançar a igualdade de direitos civis e políticos, o direito da mulher ao trabalho produtivo fora do lar, à proteção à mulher trabalhadora, defendendo a igualdade da mulher com o homem quanto ao seu valor, importância social e capacidade moral e intelectual.” 173

Rezende expõe a influência norte-americana no feminismo presente na

América Latina e reconhece que o mesmo não se limitou à questão imperialista e

capitalista. Considera a importância do movimento missionário protestante dada

sua característica de relativa autonomia, e afirma:

“Integram-se ao tema, de maneira muito acentuada, valores típicos do protestantismo que as juntas missionárias representam: a ética do trabalho e da austeridade quando condena, mesmo para a mulher das elites econômicas, a ociosidade, a vaidade, a frivolidade, e propõe o trabalho constante e sem descanso, como modelo de vida e meio de desenvolvimento da personalidade feminina; a necessidade da reforma moral e religiosa do indivíduo, da conservação pessoal como única esperança de progresso para a humanidade.”174

Rezende constatou que havia interesse das Igrejas protestantes norte-

americanas em acompanhar os movimentos de penetração política e econômica

dos Estados Unidos no espaço latino americano. O apoio dos governantes,

interessados em limitar o poder da Igreja Católica nos países da América Latina,

facilitou a presença missionária.

O feminismo apresentado pela presença do protestantismo se

harmonizava com as propostas do capitalismo industrial incipiente, no início do

173 Ibid p. 41 174 Ibid, p. 44

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século XX. Porém, não foi suficiente para modificar os valores vigentes na

sociedade brasileira.

Pode-se observar a existência de grupos que sugerem um ideal de

mulher submissa, recatada, possuidora de qualidades voltadas à família, casa-lar e

cuja competência intelectual deva estar centrada especialmente na educação dos

filhos. O modelo citado ainda se faz presente na ideologia presbiteriana, podendo

ser comprovado não apenas em seu discurso mas, igualmente, na prática da

maioria das famílias. Isto porque a educação que é repassada aos filhos traz em

seu bojo os mesmos valores e princípios instituídos socialmente.

Analisando o órgão de divulgação da sociedade de mulheres da IPB, ou

seja, a SAF em Revista, desde o início de sua publicação até os meados de 1970,

foi possível detectar vários expressões que demonstram o fato. Temos, como

exemplo um artigo de Blanche Lício na Revista que, apesar de ter sido escrito em

1972, refletia a ideologia citada, como segue:

“Para as meninas, cultivo e arranjo de flôres, rudimentos de corte e costura, bordados, pinturas, bichinhos, culinária, etc.. Para os garotos, jardinagem, horticultura, rudimentos de carpintaria, confecção de brinquedos de madeira, arame, etc..” 175

Mas, apesar de ainda poder ser constatada a presença dos que almejam a

permanência do “status quo” da mulher dócil, submissa, mãe capaz de educar

verdadeiros cidadãos, que saibam calar e que, além de excelentes esposas sejam

“auxiliares” nas atividades da Igreja, ocorrem também manifestações de buscas

por transformações no meio em questão. Isto pode ser percebido visto que

inúmeras mulheres presbiterianas estão cursando Teologia em seminários, outrora

destinado apenas a homens, mesmo sabendo estarem impedidas à ordenação.

175 LÍCIO, Blanche. Assessoria Cultural e Artística. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, jan -mar/72, pág. 9

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A participação ativa da mulher no espaço profissional, intelectual,

político entre outros, antes reservado apenas ao homem, estimulou o

desenvolvimento de um espírito mais crítico e uma reflexão voltada a ideais mais

compensadores que o simples fato de ser apenas dona de casa e mãe.

Tal fato pode ter servido de subsídio à investigação feita pela

pesquisadora Maria Valéria Rezende sobre “O Feminismo do Movimento

Missionário Protestante na América Latina”, integrando uma das obras do

CEHILA176. Outras inúmeras pesquisadoras, também mulheres, tais como: Ana

Maria Bidegain; Gerdi Nuetzel; Maria José F. R. Nunes; Elisabeth S. Fiorenza

investigam sobre a questão de gênero e também demonstram interesse pelo

problema em questão.

Durante longo período foi inviável a participação ativa feminina nos

setores representativos da sociedade, o que pode ser constatado na ideologia que

impregnava a realidade vivencial dos membros da IPB em todo país

O exposto garante dar mostras de uma realidade “sui generis” que

envolve a mulher, criando uma imagem deturpada de feminilidade.

Além das qualidades relacionadas e exigidas da esposa, continuam

outras como cabíveis e indispensáveis. Podemos lembrar algumas como o limite à

vaidade, a importância do falar pouco, o vestir-se com elegância e sobriedade.

Disto o presbiterianismo impregnou-se, ditando e estabelecendo normas através

de uma disciplina regulamentada e expressamente controlada.

À mulher presbiteriana não era permitido aderir à modernidade, ao corte

de cabelo, às pinturas usuais da época, às roupas curtas e chamativas. Não era de

bom tom falar, rir e/ou cantar de modo a chamar a atenção das pessoas. Não

176 CEHILA, Centro de Estudos de História da Igreja na América Latina. É membro da Co missão Internacional de História da Igreja Comparada (CIHEC), filiada à Comissão Internacional de Filosofia e Ciências Humanas (CIPSH), à Associação Internacional de Estudos Missionários (IAMS) é à Federação Internacional de Institutos de Investigação Social e Sócio-Religiosa (FERES).

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deviam sair de casa desnecessariamente, a não ser para reuniões evangelísticas

e/ou, acompanhadas por alguém da família. A elas competia o papel de boas

filhas, excelentes esposas e mães, fiéis como membros da Igreja e, acima de tudo,

simples, submissas e verdadeiras auxiliares no desempenho da obra evangélica .

A Imprensa Evangélica, primeiro jornal Presbiteriano, já em sua edição

de novembro de 1883 discorria sobre a questão da educação da mulher,

estabelecendo limites à sua maneira de ser. Um dos artigos relata que:

“Duas escriptoras norte -americanas, que teem debatido largamente a questão da educação da mulher, recommendam o seguinte: Ensinae à mulher a confiar em si mesma e a viver independente.”177

O “viver independente” apresentado no artigo não deve ser interpretado

com base nos moldes atuais, já que impunha limitações incomuns à mulher de

nossos dias. O mesmo artigo inclui uma extensa relação de tarefas e obrigações,

tais como: especialidades no cozinhar, no desempenho de variadas atribuições

domésticas, no controle do “como” vestir-se e/ou comportar-se, limitações a

relacionamentos com outras pessoas, aos gasto e às manifestações de alegria.

O “como poder ser“ mulher no modelo Presbiteriano foi garantido por

legislação interna própria, embasada no consuetudinário e com garantia de

controle de órgão de governo da instituição que fiscaliza a vida de todos os

membros.

É fundamental considerar que as décadas após 1920 foram

marcadamente de transformações. Foi a era de utilização dos modernos

equipamentos eletrodomésticos, tais como o ferro elétrico, a boa iluminação, pia

com água encanada, o fogão a gás e/ou elétrico. Porém, nem todas as famílias

tiveram rápido acesso a estas conquistas, o que diferenciava signitivamente a

rotina vivenciada pelas mulheres inseridas em espaços diferentes.

177 IMPRENSA EVANGÉLICA. VOLUME XIX. São Paulo: 1883, N 19.

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Suzana Albornoz, ao escrever sobre os diferentes tipos de participação

feminina no espaço produtivo capitalista, faz uma ligeira referência sobre a

existência de eletrodomésticos. Mostra a diferença de oportunidade de acesso a

estes instrumentos, procurando retratar a posição de mulheres nas diferentes

classes sociais existentes.

Afirma que:

“A mulher burguesa conta atualmente com a colaboração de outras mulheres – empregadas domésticas. Elas ajudam em tarefas determinadas mas não lhes cabe substituir a mãe no apoio psicológico dos filhos. Para tanto, os modernos eletrodomésticos também não tem serventia... (grifo nosso) 178

Tais circunstâncias envolvem, igualmente, as presbiterianas. A realidade

da vida urbana difere da realidade rural. A dicotomia presente no espaço

doméstico também se faz real no contexto religioso.

3.3. MULHER E SISTEMA EDUCACIONAL PRESBITERIANO

O espaço educacional oportunizou à mulher sua inclusão no processo

produtivo como elemento capaz e inerente à sociedade, como ser produtivo a

quem, em dado momento, era facultado o direito de optar entre o âmbito da

“casa” e o âmbito do “trabalho”; o zelo à família e a dedicação a uma profissão.

Durante considerável período, a sociedade brasileira manteve como

verdade absoluta a incapacidade feminina relativa ao desempenho de qualquer

atividade alheia ao âmbito doméstico. Toda educação estava baseada nesta

178 ALBORNOZ, Suzana. O Trabalho Invisível. In: Na Condição de Mulher. Santa Cruz: APESC, 1985, p.30.

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premissa, o que impossibilitava a conquista de ideais diferentes e, quando isto

ocorria, surgiam os conflitos.

Inicialmente a mulher buscou conquistar espaços onde poderia exercer

atividades condizentes com as relacionadas à feminilidade, aceita pelo meio em

questão.

Este fato não foi exclusivo de mulheres presbiterianas. Podemos citar

exemplo de mulheres católicas que, almejando um tipo diferente de vida,

buscavam na religião sua liberdade de ação. Foi o caso das “Irmãzinhas da

Imaculada Conceição”, uma congregação religiosa criada em Nova Trento – SC,

numa colônia de imigrantes italianos, orientada por jesuítas e tendo como líder

religiosa a jovem Amábile Wisintainer.

Segundo Riolando Azzi, a Congregação citada foi idealizada em fins do

período imperial, tendo sido organizada apenas no primeiro decênio da

República. Porém, o que chama nossa atenção não é o relato histórico sobre a

entidade, mas a constatação de opção feminina em buscar na atividade caritativa

uma alternativa de ação e atuação.

O autor esclarece que:

“Sob esse aspecto, a vida religiosa feminina no Brasil fora fecunda em exemplos análogos. Quer no período colonial, como na época imperial, são inúmeros os casos de beatas e penitentes, que vivem uma vida de consagração religiosa, ou em suas próprias casa, ou em recolhimentos, especialmente construídos para tal finalidade... Diante das classes populares, essas mulheres consagradas eram tão admiradas e respeitadas como as próprias religiosas oficialmente reconhecidas pela hierarquia eclesiástica”.179

179 AZZI, Riolando. As Irmãzinhas da Imaculada Conceição. In: Os Religiosos no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1986, p. 29.

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Não só Riolando Azzi, como também Maria V. Rezende apresenta a

opção à vida religiosa católica como libertação feminina ainda no período

colonial brasileiro, afirmando que, na condição de religiosas, lhes era facultada a

participação em diferentes atividades:

“... como a administração de propriedades e capitais, a organização interna da instituição, a instrução das educandas e o contato um pouco mais livre com mulheres e mesmo homens de sua própria classe, nos parlatórios dos mosteiros”180

Também M. José F. Rosado Nunes, em um artigo, faz referência às

mulheres como agentes religiosas e políticas, no início do período republicano e

afirma:

Elas trazem também uma significativa contribuição no sentido da conquista de certa autonomia pela mulher, através de seu trabalho educativo. O alargamento dos horizontes culturais da mulher brasileira, pela elevação de seu grau de instrução, é tarefa realizada pelas escolas católicas femininas espalhadas por esse interior de Brasil afora.”181

A autora considera que “à elevação do nível cultural corresponde o

crescimento das possibilidades de auto-afirmação e de redefinição da posição

social da mulher”182

Nunes analisa o modelo de vida religiosa feminina no Brasil,

considerando o papel das instituições de caridade e dos colégios católicos,

reconhecendo nas freiras a verdadeira função de agentes sociais.

180 AZZI e REZENDE, A vida Religiosa Feminina no Brasil Colonial, In: A Vida Religiosa no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1983, p. 48. 181 NUNES, M José F. Rosado. Prática político religiosa das Congregações Femininas no Brasil – uma abordagem histórico social. In: Os Religiosos no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1986, p.200. 182 Ibid, p. 200.

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A criação de escolas, desde fins do período imperial, oportunizou o

acesso da mulher a atividades não só pedagógicas como, também, administrativas

da entidade instituída.

Velasques Filho e Mendonça descrevem a importância do sistema

educacional trazido por norte-americanos e o que represe ntava à elite brasileira.

Neste trabalho, fica patente a participação feminina como elemento de construção

e transmissão de um saber.

“O sistema educacional que os missionários norte-americanos trouxeram obteve grande êxito junto à elite brasileira. É lugar comum nos relatórios dos missionários educadores a expressão “filhos das melhores famílias” como referência às novas matrículas anuais em seus colégios... Estava ansiosa pelo progresso, e os colégios protestantes constituíam boa alternativa, pois sem descuidar dos aspectos humanísticos, ofereciam aos alunos instrução científica, técnica e física (educação física) em proporção muito acima da educação tradicional, tanto em intensidade como em qualidade... No estado de São Paulo, por exemplo, missionárias educadoras protestantes foram chamadas a colaborar na reforma do ensino empreendida em princípios deste século.”(grifo nosso).183

Constatamos que missionárias serviram de mola propulsora na criação

de escolas, renovação de metodologias de ensino, reorganização de currículos

enfim, propiciaram avanços no modelo de ensino existente no Brasil. Além delas,

esposas de pastores e outras mulheres de destaque da época são mencionadas

como atuantes em várias instituições educacionais das diversas unidades da

federação brasileira. Entre os nomes apresentados foi possível reconhecer que, a

priori a oportunidade de atuar como docente decorria de privilégio relacionado

ao “status quo” no qual estava inserida a referida pessoa. Nas obras consultadas

183 VELASQUES FILHO e MENDONÇA, op. cit., 1990, p. 74.

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não vislumbramos alusão sobre a forma como era pleiteada, pelas mulheres, o

acesso à educação.

É possível considerar que, não apenas a mulher presbiteriana estava

presente no processo educacional mas, igualmente, representantes de outras

denominações desempenhavam atividades junto a instituições educacionais

nascentes, bem como atuavam na assistência social e em outros setores que lhes

eram permitidos.

Contemporâneos aos missionários presbiterianos e metodistas, atuaram

outros religiosos. Assim afirma José Oscar Beozzo, no tocante à questão

educacional em relação à burguesia nascente dos primórdios do século XX:

“Religiosos e religiosas educam os filhos dessa burguesia nos seus internatos e colégios e recebem, de outro lado, ajuda para a ereção e manutenção de suas obras. A vida religiosa, até então desacreditada, justifica -se, a partir de então, pela sua alta e insubstituível função social”184

Ao falar sobre as escolas protestantes é mister considerar que, as norte-

americanas traziam objetivos intimamente relacionados à questão religiosa,

almejando “difundir a cultura protestante através de métodos educacionais

modernos”, como afirmam Velasques Filho e Mendonça na obra “Introdução ao

Protestantismo no Brasil”.

Além dos objetivos de caráter religioso, inúmeras escolas foram criadas,

visando atender a elite brasileira que se firmava.

O interesse em implantar escolas que atendessem aos “filhos das

melhores famílias” não se limitou ao presbiterianismo e nem a mulheres ligadas a

esta denominação. Representantes de outras instituições religiosas manifestaram

184 BEOZZO, José Oscar. Decadência e Morte, Restauração e Multiplicação da Ordens e Congregações Religiosas no Brasil. 1870-1930. In: A Vida Religiosa no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1983, p. 104.

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igual interesse, como mostra a dissertação de mestrado de Marlise Meyrer

intitulada “Evangelisches Stift: uma Escola para “Moças das melhores

famílias”” (1895-1927):

“A emergente burguesia brasileira do período moldou o comportamento de suas mulheres de acordo com estes valores, definindo “estilos de vida” distintos, próprios à sua posição social. Para que tais comportamentos fossem apreendidos, tornou -se necessário as moças das classes abastadas freqüentarem uma escola, ou em alguns casos terem professoras particulares, comumente estrangeiras que lhes ensinassem a exercer o seu papel nesta nova sociedade”185

Ao referir-se às escolas protestantes, Marlise Meyrer relata que:

“As escolas protestantes, por sua vez, através de uma educação mais pragmática, racional e voltada à atuação do homem na sociedade urbano industrial, atuavam também no sentido de atender os interesses e os anseios de uma classe média urbana.” 186

É importante considerar que o estudo de Meyrer se limitou a um modelo

de escola protestante, vinculado ao protestantismo de imigração. Isto não impede

o reconhecimento de pontos que se identificam com a filosofia educacional do

protestantismo de missão, foco deste estudo.

Os missionários norte-americanos vinham imbuídos da convicção de que

o Brasil necessitava assimilar a cultura protestante dos EUA para atingir o

progresso. Acreditavam que contribuiriam para o fato, evangelizando alunos e

suas respectivas famílias.

A criação de inúmeros internatos femininos e masculinos e o cotidiano

vivenciado nestes organismos possibilitou a adesão ao presbiterianismo por parte 185 MEYRER, Marlise. Evangelisches Stift: Uma Escola para “Moças das Melhores Famílias”. 1997. 160 fls. Dissertação de Mestrado da UNISINOS. São Leopoldo: f.33. 186 Ibid f. 62

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de muitos alunos e familiares, confirmando a prática pré-determinada dos

missionários e educadores. Nestes ambientes surgiam, ainda, os interessados em

tornar-se religiosos.

Com base na investigação de Velasques Filho e Mendonça, há referência

à questão, como segue:

“... a criação dos internatos favoreceu o contato cotidiano entre mestres e educandos. Fazia parte das atividades do internato a freqüência aos cultos da Igreja local e, principalmente, à escola dominical. Muitos alunos ou seus familiares tornaram-se protestantes, bem como muitas “vocações pastorais” nasceram através das atividades evangelísticas das escolas...” 187

Dada a importância do papel feminino no contexto educacional, se faz

necessário destacar alguns exemplos que deixaram consideráveis resultados. É

mister apresentar sucintamente a existência de algumas escolas que fizeram parte

da origem do sistema educacional presbiteriano no Brasil.

Para Mesquida, a viabilização da criação de algumas escolas protestantes

decorre de autorizações do governo, entre 1861 e 1869: “... outorgadas aos

protestantes Horace Manley Lane, George Chamberlaim, Thomaz Bruce, John

King (capital), Guilherme Krugner (Piracicaba) e Francisco Way (Campinas e

Piracicaba).” 188

O anseio por escola visava atender, inicialmente, na região de Campinas

imigrantes norte-americanos sulistas que haviam deixado os EUA devido aos

transtornos decorrentes da Guerra da Secessão.

“... É assim que, em 1869, a Igreja Presbiteriana fundou, em Campinas, o Colégio Internacional. Em 1867, foi criada

187 VELASQUES FILHO e MENDONÇA, op. cit., p. 105 188 MESQUIDA, Peri. Hegemonia Norte Americana e Educação Protestante no Brasil. São Bernardo do Campo: EDITEO, 1994, p. 66.

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em Santa Bárbara, a primeira escola elementar para as crianças dos imigrantes, cuja professora, Joanna Browm Grady, era filha de um dos líderes maçons da comunidade.

Em 1872, a Igreja Presbiteriana norte-americana fundou, em São Paulo, a Escola Americana, embrião da Universidade Mackenzie”. 189

Paulatinamente, outras escolas iam sendo criadas nos diversos Estados

brasileiros, sempre em função da demanda, observando-se, contudo, a realidade

demográfica e sócio-econômica local.

Portanto, além do Colégio Internacional criado em Campinas (SP) e da

Escola Americana a que fizemos referência, outras instituições surgiram,

implementando a atividade educacional e religiosa inerente ao projeto de missão

norte-americano no Brasil.

Considerando que a existência da Igreja Presbiteriana no país esteve

intimamente vinculada à presença norte-americana, também a implantação de

escolas presbiterianas foi marcada pela ação de homens e mulheres oriundos dos

Estados Unidos da América.

O pesquisador Jether P. Ramalho, em 1986, desenvolveu investigação

que inclui os colégios presbiterianos e afirma em suas notas históricas que a

Escola Americana foi oriunda da iniciativa da “esposa” de um missionário

presbiteriano norte-americano Dr. George W. Chamberlain que usou a própria

residência, transformando-a em escola primária para atender alunos. Tal

iniciativa contou com o apoio da Igreja Presbiteriana e posteriormente ficou

jurisdicionada à “Board of Foreign Missions of the Presbyterian Church” de

Nova Iorque, de onde se originou todo plano educacional e mesmo o apoio

material e envio de professoras em outro momento.

189 Ibid, p. 66.

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“Os anos de 1873 e 1874 são de grande prosperidade para a Escola Americana e lotam-se todas as suas dependências. As carteiras escolares compradas em Boston (EUA), tornam-se insuficientes para os alunos. Resolve-se ampliar as instalações da Escola construindo-se edifícios apropriados... A planta do edifício, o madeiramento e as esquadrias vêm dos Estados Unidos”190

A evolução da Escola Americana resultou na implantação de novos

cursos, sendo que a criação de uma Escola Normal significou uma considerável

conquista para a mulher brasileira, visto que podia optar por profissionalizar-se

como professora.

Intelectuais americanas, enviadas ao Brasil pela Board of Foreign

Missions de Nova Iorque, desempenharam destacado papel no campo

educacional de São Paulo, a convite do governo do Estado, transformando-se em

modelos diante da sociedade da época.

Ramalho esclarece que a prática educacional desenvolvida na Escola

Americana servia de modelo aos moldes da educação da época e afirma que:

“Miss Marcia Brown e mais quatro professoras, além do Dr. Horácio Lane, são nomeados para o serviço público do Estado de São Paulo por lei especial, para orientar o seu ensino primário e normal, sendo o Dr. Lane considerado o Consultor Educacional do Governo. É o modelo da Escola Americana que dá origem ao conhecido “Grupo Escolar.” 191

Novas escolas exigiam novos profissionais. Isto privilegiava a figura

feminina que era vista na comunidade como capaz de exercer o magistério dado

seu instinto maternal.

190 RAMALHO, op. cit., p. 83/84. 191 Ibid , p. 87

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Verificando o órgão de divulgação feminino das IPB, referente ao

período de 1955 a 1980 “SAF em Revista”, sobre o qual discorreremos num

segundo momento, foi possível detectar o quanto esteve presente o modelo

feminino americano, estimulando que a mulher brasileira buscasse um novo

espaço profissional, além do já desgastado espaço doméstico. Entre o período de

1955 a 1968 são apresentadas inúmeras referências a mulheres norte americanas

que atuavam no Brasil como líderes femininas em diversas áreas, especialmente

no setor educacional. Entre elas há o relato biográfico sobre Ruth See que iniciou

seu trabalho no Instituto Gammon, em Lavras, (MG) participando,

posteriormente, do trabalho em outras escolas e localidades.

Margarida Sydenstricker, em artigo sobre a vida de Rute See, conta que:

“Cêdo Deus pôs a Mãe sobre sua vida, chamando-a ao Brasil em 1900, quando veio ajudar D. Margarida Yewll com as meninas na escola hoje denominada INSTITUTO GAMMON da Missão Leste Brasil. Durante doze anos Miss See fez diversos serviços desde lecionar, cuidar dos alunos no trabalho doméstico. Quando ela saiu havia 75 meninas internas.”192

Maria Sovereign através da Secretaria do Trabalho Feminino, faz

referência à Miss Esther Cummings, idealizadora de método para o ensino do

português, e a Clara Gammon, que atuou no Instituto Gammon, em Lavras MG.

A SAF em Revista de Dez/57 em um de seus artigos informativos, cujo

autor é omitido, comenta sobre uma “ Escola de Português e Orientação” dirigida

pelo casal Rev. Milton e Carrie Daugheity e esclarece:

“A escola adota o método de Miss Esther Cummings, professôra do Seminário Bíblico de New York que pessoalmente orientou os professores para o curso (fonética)...

192 SYDENSTRICKER, Margarida. Vida Inspiradora. Dona Rute See. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1960, p.5

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É uma organização dos “Boards” americanos para missionários estrangeiros que vêm trabalhar no Brasil nas igrejas, com tempo integral e recomendados pelos “Boards”. 193

O mesmo artigo esclarece sobre a existência deste curso em outros

estados brasileiros.

Com referência às mulheres, além do magistério, há alusões a

participações na arte e na saúde. Vilhelmine Lens Cesar Mota é citada como

organista, regente de coral, criadora de curso de teoria musical, além de

professora e dona de casa exemplar no fascículo da SAF de set/64. A mesma

revista fornece os dados biográficos de Mary Cooke Lane, professora que veio

para o Brasil com Eduardo Lane, fundando com este o Instituto Bíblico de

Patrocínio (MG).

Outros modelos de mulheres norte-americanas são citados e, apesar de

não terem atuado no Brasil, serviram de estímulo a mulheres brasileiras por novas

verdades.

A SAF em Revista divulga o nome de Elizabeth Harriet com sua obra

prima “A cabana do Pai Tomás”, tendo considerável influência na questão

abolicionista. Igualmente, Miss Rowena Dikey MacCutchen, que contribuiu para

a manutenção do trabalho de missão no Brasil, graças a viagens de propagandas

que realizou nos Estados Unidos, conseguindo levantar considerável quantia para

seu objetivo missionário.

Uma nota informativa de junho de 1959, cujo autor é omitido, traz um

relato biográfico de Miss MacCutchen e, ao citá-la como Secretária do Trabalho

Feminino em 1956, esclarece:

“Sua contribuição para o trabalho entre as mulheres foi altamente expressivo apesar do pequeno período que ocupou o

193 SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1957, p. 7 e 8.

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cargo. Tendo uma visão do trabalho em conjunto e da capacidade de realização do elemento feminino, sentiu que “as mulheres de sua terra poderiam unidas realizar alguma coisa tão importante que pudesse determinar uma diferença real para o futuro” na História da Igreja no Brasil, sugerindo que fosse realizada uma campanha para que se oferecesse à nossa Igreja, pela celebração do seu Centenário , um Instituto de Leigos, que ora já é uma realidade gloriosa.”194

Entre outras figuras divulgadas pela revista citada constam Miss

Elizabeth Turner, missionária no Oriente, professora, supervisora de um hospital

de mulheres e Miss Virgínia Justus, diaconisa por 16 anos e que serviu na

Comissão Executiva do Conselho Nacional da Organização das Mulheres

Presbiterianas em 1846, sediada nos EUA, cujos dados constam no fascículo do

trimestre jun-ago/58.

Ainda como exemplo das divulgações podemos citar o artigo “Fraternal

“TIME” cuja autoria a revista omite e que, além de fotos, traz breves relatos

sobre os nomes citados, esclarecendo que:

“O “Board” de Missões estrangeiras da Ig. Presb. Do Norte dos EE. Unidos, pela sua Secretária Geral, Miss Margaret Shannon enviou-nos por ocasião do Congresso Nacional um grupo de líderes do T. F. da I. P. em diversas partes do mundo. Esta visita representou uma preciosa contribuição não só no Congresso, como também para a Igreja Presbiteriana...”195

O fato mostra que algumas das norte-americanas citadas estiveram no

Brasil. Apesar do não contato com a maioria das mulheres presbiterianas

brasileiras, puderam deixar seus discursos por onde passaram. A divulgação dos

mesmos ocorreu através de líderes das SAFs e, principalmente, através da

Revista, instrumento impresso da organização.

194 SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1956, p.1.

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Inúmeros outros nomes são citados e, entre as americanas cujas alusões

se apresentam acompanhadas de qualificações convincentes, surgem líderes

femininas brasileiras que são enaltecidas, em especial, pelo trabalho que

conseguem desempenhar não apenas no plano pedagógico e intelectual externo à

Igreja, como também na atuação ativa dos trabalhos femininos desta. Podemos

encontrar os nomes de Dra. Euzi Morais, professora em dois dos melhores

colégios de Vitória (ES): Faculdade de Filosofia e no Instituto Brasil- Estados

Unidos. Igualmente D. Virginia Newmann e Dra. Abigail Braga, que organizaram

o Orfanato Evangélico de Recife(PE).

É possível destacar ainda a liderança de Cecília Siqueira, ilustre

educadora de origem paraibana que conquistou o título de cidadã honorária em

Minas Gerais, no ano de 1967.

Em seu discurso pessoal, ela mostra a discriminação que vivenciou

como professora onde viveu.

“... A professora Maria Nair personifica tudo aquilo que desejei para a mulher em minha terra, quando eu me esforçava, nas cidades de Pernambuco, principalmente em Garanhuns, ensinando homens analfabetos a assinarem o nome, para que pudessem votar. Eu, porém, não tinha o direito de votar...”196

Além de Cecília Siqueira, também D. Marina Magalhães Santos Silva

conquistou o “status” de cidadã honorária, porém, na cidade de Santos, SP. Um

artigo da SAF “Ilustre Dama Presbiteriana” e que omite o autor, apresenta

extensa biografia com a relação das inúmeras atividades desenvolvidas por D.

Marina, não só na Igreja Presbiteriana como também no âmbito municipal.

“Sua liderança se faz presente em todos os setores das atividades evangélicas, onde sua atuação é marcante, quer como secretária

195 SAF em Revista – Fraternal “Time”. Boletim 10 RJ. São Paulo: Presbiteriana, 1958, p.20. 196 SAF em Revista. Cícero Siqueira é Cidadão do Mundo. São Paulo: Presbiteriana, 1967, p. 27. 197 SAF em Revista. Ilustre Dama Presbiteriana. São Paulo: Presbiteriana, 1967, p. 13.

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de espiritualidade da SAF, quer como a dinâmica e piedosa dirigente das reuniões matinais de oração, mantidas semanalmente pela Igreja, como pregadora nos cultos de evangelização, como fundadora e presidente do Hospital Evangélico de Santos, como vice -presidente do Lar Evangélico da Velhice Desamparada de Santos. Na sociedade, foi a primeira mulher a receber o título de Cidadã Santista, que lhe foi conferido por unanimidade absoluta com a edilidade tôda em pé, como fato inédito no legislativo local...” (grifo nosso) 197

Esta citação nos revela que apesar do fato de a IPB estruturar-se sob uma

organização hierárquica que nega à mulher o direito de acesso à função

ministerial, isto não a impede de agir como uma “pastora” que prega. Apesar do

não reconhecimento da ação pastoral, muitas atuaram como tal em inúmeros

momentos.

Ao fazermos referência à diaconisas e pregadoras presentes no espaço

presbiteriano, não nos limitamos a tratar de presbiterianas brasileiras. A

uniformidade demonstrada está vinculada à existência de normas instituídas a

nível nacional que privilegia uma estrutura organizacional da Igreja como única

no país. Mesmo que a SAF em Revista tenha propiciado uma abertura e

reconhecimento pelas personagens (diaconisas e pregadoras) que estiveram no

país, a revista não apresenta questionamentos, seja a favor ou contra, que faça

refletir sobre a função e atribuição dessas mulheres. Apresenta apenas relatos

biográficos. Quanto aquelas que se destacaram no espaço público, inclusive como

cidadãs honorárias, não há relatos que dê mostra de produções críticas, feministas

ou questionadoras.

Pode estar ocorrendo a subversão dos espaços públicos e privados

porém, o espaço religioso permanece igual. Alguns dos modelos femininos

198 MARTINS, Francisco. Prezadas Irmãs: SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1967, p. 3.

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citados parecem preferir calar-se. Vivenciam, na sociedade, uma maneira de ser

diferente da vivenciada na igreja, mas não defendem o discurso que conhecem.

É viável citar outros exemplos lembrando que ao fazermos referência à

norte-americana procuramos evidenciar que esta trazia um discurso diferente e,

através de reuniões, seminários e palestras expunham suas idéias e eram ouvidas.

Ao expor um discurso, pregavam. O fato ocorria não apenas em igrejas dos

grandes centros urbanos, como também em localidades interioranas.

Francisco Martins relaciona várias mulheres evangelizador as e

pregadoras que se destacaram nos Estados Unidos, Europa e Brasil. Entre elas

cita as americanas Lucrécia Mott, Ana Howard Shaw, eloqüente pregadora que se

destacou na Europa, Mary Lyon e Clara Barton, presbiteriana fundadora da Cruz

Vermelha Americana. Ao referir-se a este modelo de mulher, Francisco Martins

lembrou que no Brasil também ela esteve presente:

“E aqui mesmo, neste país em que o Evangelho penetrou a pouco mais de 100 anos: uma Carlota Kemper, pregando, ensinando, sofrendo. Uma Eunice Weaver, conquistando todos os prêmios do govêrno e de particulares pelo que tem feito pelos Lázaros e seus filhos...”(grifo nosso)198

É interessante destacar que não apenas mulheres norte americanas

discursaram e pregaram em vários países, incluindo o Brasil como ponto de sua

ação.

A SAF em Revista publicou um discurso proferido em 1966 por Dr.

Batista Miranda que, na ocasião, homenageava a Srª Cecilia R. Siqueira a quem

fora outorgado o título de “Cidadã Honorária do Estado de Minas Gerais”, pela

Assembléia Es tadual. O discurso do referido Deputado salientava os predicados

da mesma como uma dama esclarecida, crítica, politizada e que, como

progressista, lutara pelos direitos da mulher.

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Batista Miranda afirmou ainda que:

“A homenageada, sem embargo de seus afazeres, já correu mundo. Em 1945 e 1946 visitou dos Estados Unidos da América do Norte, onde proferiu conferências sobre o Brasil em 36 Estados da União Americana, tornando-se segundo a voz da imprensa local, “A Sul americana mais conhecida na América do Norte”199

Podemos constatar, portanto, que a figura de Cecilia R. Siqueira foge aos

padrões de mulher apenas do lar. O texto ressalta ainda a preocupação dela com a

educação e a necessidade de criar escolas.

Na seqüência, podemos lembrar ainda a figura de D. Branche Eunice

Gomes Lício, professora cuja formação é oriunda de um período de estudos no

Instituto Mackenzie (SP) e sua conclusão no Instituto Gammon em Lavras (MG).

Casando-se, fundou o Instituto Caxambuense em Caxambu (MG), depois de ter

ministrado aulas em Lavras e Varginha.

Outras destacadas líderes femininas foram as professoras Celly Moraes

Garcia, professora atuante no Estado de São Paulo e Edith Maia, natural do Rio

de Janeiro, onde trabalhou como costureira dos dezoito aos sessenta anos.

Também Nady Werner, idealizadora e criadora do informativo da SAF, é

tida como modelo de liderança, dado o importante papel que teve na história da

organização feminina presbiteriana e o seu desempenho internacional durante o

período em que ocupou o cargo de Secretária Geral do Trabalho Feminino da

IPB, cargo este que só foi possível ocupar graças à indicação advinda do I

Congresso Nacional no Rio de Janeiro e à devida aprovação pelo Supremo

Concílio, órgão máximo de autoridade da Igreja.

As líderes citadas estiveram sempre, direta ou indiretamente, aliadas à

questão da educação. Atuando ativamente em suas respectivas igrejas, na

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ausência de escolas de ensino regular, como professoras das Escolas Dominicais,

onde era possível promover o ensino religioso para crianças, jovens e adultos,

bem como exercer sua liderança, relata que,

“A Escola Dominical, como instituição paralela à Igreja, passou a desempenhar função importante no desenvolvimento e consolidação das igrejas. A sede de aprender construiu, pouco a pouco, uma epistemologia cristã, protestante, desenvolveu métodos próprios e, nas áreas missionárias, foi servindo de atração para futuros convertidos, principalmente por intermédio das crianças que aderiram às reuniões conduzidas por habilidosas missionárias-professoras”. 200

A vinculação dessas mulheres à educação oportunizou um tipo de

questionamento mais ligado ao sistema educacional vigente e não propriamente a

outro tipo de desempenho feminino, apesar de servirem como modelo para a

sociedade da época.

É considerável a transformação do sistema educacional brasileiro,

representado pela presença de um ambiente escolar mais aberto, cativante e

menos autoritário. Isto foi resultado da introdução de planos norte -americanos e

do magistério feminino nas instituições escolares. A co-educação torna-se

comum, o que contribui na reestruturação do espaço onde se vivenciava o ensino.

Novas práticas educacionais foram inseridas e algumas já existentes foram

modificadas.

A preocupação das instituições protestantes com a formação adequada

de seus professores contribuiu para a valorização e respeito pelo ensino oferecido

por suas escolas. A mulher que aí atuava passou a ser entendida e respeitada

como capaz. Inúmeras instituições educacionais tornam-se modelos frente ao

ensino público existente.

199 MIRANDA, Batista. Dia da Mulher Presbiteriana. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1968, p. 2. 200 MENDONÇA, op. cit., p. 61.

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Ramalho compara a prática educativa presente no Brasil com a

importada dos americanos. O mesmo afirma que, conforme a herança educacional

portuguesa:

“... f) não se dá a necessária importância ao preparo profissional do professor...

g) a co-educação não é comum. A tradição portuguesa implantada no Brasil encara o relacionamento entre alunos de sexos diferentes com muita rigidez...” 201

Outros aspectos apresentados têm relevância na organização curricular e

na prática educativa das escolas.

As mulheres, atuantes no modelo educacional protestante, foram

formadas pelo mesmo molde, implantado por escolas que só foram viáveis graças

à vinda de missionárias professoras enviadas pelas Organizações Norte -

americanas.

Isto foi o princípio da formação de profissionais femininas que, além do

magistério, puderam se desenvolver para trabalhar em diversas outras áreas, tais

como: enfermagem, auxiliar de contabilidade, costura e decoração.

3.4 MULHER E PODER INSTITUÍDO.

Ficou demonstrado, através de levantamento realizado por esta

investigação, que a criação da Igreja Presbiteriana no território brasileiro não

implicou inicialmente na organização da trabalho feminino. As mulheres se

fizeram presentes e atuantes apenas exercendo papéis inerentes à sua formação

cultural. Cumpriam suas responsabilidades domésticas, como mães e esposas.

201 RAMALHO, op. cit., p. 80.

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Eram elas que preparavam as casas para receber pessoas por ocasião das reuniões

religiosas, hospedavam pastores e missionários e se responsabilizavam em

transmitir a doutrina aos filhos.

Somente em 11 de novembro de 1884, as senhoras da IPB de

Pernambuco, em Recife, organizaram a primeira associação evangélica feminina,

objetivando a realização de estudos bíblicos e arrecadação de coletas para ajuda a

necessitados.

Mesmo diante da iniciativa das Senhoras em formar uma associação, sua

Primeira Ata – Relatório 15/06/1885 demonstra que nem todas freqüentavam suas

reuniões, como coloca o texto:

“Longe de aventuras sensuras a Associação limita-se a notar que, sendo tão crescido o número das Srª que pertencem à Igreja e Congregações, tão poucas assistem às sessões das terça feiras!” 202

O artigo não esclarece o motivo da pouca participação feminina às

reuniões. Porém, é possível avaliar que as inúmeras obrigações domésticas e a

presença de numerosa prole representavam obstáculo a muitas mulheres.

Outro fator a ser mencionado é a questão da não conversão do chefe da

casa ao protestantismo. O sistema patriarcal presente na sociedade da época

dificultava à mulher liberdade de ação, mesmo quando isto se referia à questão

religiosa.

Também a precariedade dos meios de transporte impedia que mulheres

do meio rural pudessem estar se locomovendo para participar de atividades extras

na Igreja.

Apesar de comprovada a existência da organização feminina desde 1885,

o jornal Brasil Presbiteriano de 1962 traz um histórico transcrito pela Revista SAF

202 SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1962, p. 12.

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no trimestre out/dez-62, que apresenta como marco inicial do Trabalho Feminino

a data 24 de maio de 1921. Tal fato está embasado na criação da Federação Sul de

Minas e na escolha de sua primeira Presidente, a norte-americana D. Genoveva

Marchant.

O mesmo artigo relata sobre o posterior surgimento das Federações de

Pernambuco e sul de Pernambuco, em 1924 e 1929 respectivamente.

Porém, é interessante cons iderar a presença masculina na definição da

organização, sendo que o mesmo histórico salienta que o trabalho foi

propriamente organizado em 1928 com a eleição de um Secretário Geral pelo

Supremo Concílio, como segue: “Em 1828 foi propriamente organizado o

Trabalho Feminino. Foi eleito pelo Supremo Concílio, Secretário Geral desse

Trabalho, o Rev. Jorge Goulart” .203

Na seqüência, o texto enumera a criação de outras Federações,

abrangendo as demais regiões brasileiras e esclarece que a autora em pauta faz

referência ao trabalho feminino como uma organização complexa e abrangente e

não apenas como SAF, justificando, portanto, a omissão do documento quanto à

origem da associação de mulheres em Recife, datada de novembro de 1884.

Não é nossa pretensão fixar-nos apenas na questão da organização de

SAFs e federações, porém analisar o discurso da revista SAF, no período de 1955

a 1970 aproximadamente, considerando a posição ocupada pelo elemento

feminino no contexto organizacional da Igreja.

Os estatutos e manuais vigentes dão conta que, politicamente, a IPB

permanece estruturada em bases extremamente patriarcais, definindo papéis que

priorizam a importância do homem como elemento representativo de poder, isto é,

a quem compete governar, administrar e definir o sistema a ser seguido.

203 Ibid, 1962, p. 19.

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O manual que atualmente rege a estrutura governamental da IPB está

embasado na Constituição de 1946 e repete o que já estava definido em 1951. Em

seu artigo 3º, propõe o seguinte:

“Art. 3º - O poder da Igreja já é espiritual e administrativo, residindo na corporação, isto é, nos que governam e nos que são governados.

§ 1º- A autoridade dos que são governados é exercida pelo povo reunido em assembléia, para:

a) eleger pastores e oficiais da Igreja ou pedir a

sua exoneração;

b) pronunciar-se a respeito dos mesmos, bem como sobre questões orçamentárias e administrativas, quando o Conselho o solicitar;

c) deliberar sobre a aquisição ou alienação de imóveis e propriedades, tudo de acordo com a presente Constituição e as regras estabelecidas pelos concílios competentes.

§ 2º- A autoridade dos que governam é de ordem e de jurisdição. É de ordem, quando exercida por oficiais, individualmente, na administração de sacramentos e na impetração da benção pelos ministros e na integração de concílios por ministros e presbíteros. É de jurisdição, quando exercida coletivamente por oficiais, em concílios, para legislar, julgar, admitir, excluir ou transferir membros e administrar as comunidades)” 204

É importante lembrar que, quando se faz referência aos que governam e

aos que são governados, somente homens podem ser escolhidos para compor os

organismos de governo da IPB.

204 MANUAL PRESBITERIANO. São Paulo: Presbiteriana, 1998, p. 8.

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Todos os membros professos fazem parte da Assembléia da Igreja, com

direito de participar em eleições para escolha do oficialato. Porém, de acordo com

a Constituição Presbiteriana, somente homens, maiores de 18 anos, que

apresentem um comportamento exemplar e que manifestem dom para exercer a

função, podem ocupar a nobre posição de oficial e compor o órgão mais

respeitado da Igreja, o Conselho.

As normas inclusas no Estatuto da Igreja e que colocam a mulher entre

os considerados não idôneos e não possuidores do Dom divino para a função,

sendo portanto inelegíveis, são questionáveis. Se a elas fica o encargo da

educação, da formação do cidadão e, consequentemente, do cristão, nos parece

óbvio que a exclusão delas do âmbito de poder da Igreja é resultante apenas da

discriminação da mulher na Instituição. Isto não é teorizado tão claramente,

porém, sua prática é tida com aceite e óbvia e os questionamentos são pouco

divulgados.

Ao priorizarmos pela existência de uma mulher capaz de exercer o

oficialato, pensamos estar propondo um repensar da questão normativa e mesmo

doutrinária, uma reconstrução do que está superado, considerando que isto já foi

viabilizado em outras denominações.

Analisando os vários temas desenvolvidos pela SAF em Revista, é

possível detectar que nos primeiros fascículos há plena aceitação da estrutura e

governo instituído. Inúmeros artigos defendem um modelo de mulher submissa e

auxiliadora, cuja importância é representada pela ação voltada à fé, ao amor e

zelo pela família.

Uma nota na SAF de 1957 traz:“... Nunca devemos perder de vista que a

Sociedade Feminina é auxiliadora da Igreja em todas as suas atividades e não, a

Igreja a auxiliadora da Sociedade.”205

205 SAF em Revista. Secretaria de Causas Gerais. São Paulo: Presbiteria, 1956, p.11.

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Alguns artigos enaltecem seu importante papel na busca do equilíbrio

familiar e afirmam que o bem estar da Igreja, como também da humanidade, só é

possível através da educação religiosa na família.

O Primeiro Boletim Informativo da SAF, publicado em março de 1955,

apresenta um artigo da Srª Nady B. Werner, onde ela afirma que mais da metade

dos membros das Congregações Presbiterianas são mulheres. Nesta publicação

salienta a existência de problemas na Igreja e afirma ser indispe nsável a

cooperação feminina, colocando como preocupação inerente à sua incumbência o

seguinte:

“1º - O que faremos pelas mães que se vêm, privadas de assistir aos cultos (e por se instruírem religiosamente, presas aos afazeres comuns a sua vocação de mãe) para que elas possam desenvolver a sua vida espiritual?

2º - O que faremos para estreitar mais os laços entre a Igreja e os lares visto que ambos se necessitam mutuamente?

3º - O que faremos para nos sentirmos mais unidas, para sermos mais fortes, e sobretudo, para estreitar os vínculos de cooperação e ajuda mútua entre todas as mulheres?...” 206

Muitos textos impelem a mulher no sentido de uma atuação de modo a

corresponder aos objetivos dos projetos propostos pela instituição, porém sua

responsabilidade como mãe e esposa permanecem, assim como as obrigações

inerentes a este papel.

Poder servir é visto como um privilégio e faz parte da posição ocupada

pela mulher no contexto religioso em que se insere.

206 Ibid, 1955, p. 2

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A revista publicada em abril de 1956 apresenta um tema para estudo

intitulado “o Valor e Necessidade de Cooperação”. Waldete D. Cunha, autora do

mesmo, afirma que:

“Cooperar é compartilhar, repartir as responsabilidades, o uso dos talentos, os privilégios e também o serviço que é a prova mais concreta de fraternidade e amor.” 207

Ainda salienta a importância da mulher como cooperadora,

exemplificando a relação que Jesus teve com as mulheres e os privilégios que lhes

concedeu sem, no entanto, propor qualquer possibilidade de participação em

funções prioritárias da instituição.

É interessante constatar que, mesmo depois de um século de criação, a

Igreja Presbiteriana no Brasil, através de suas lideranças, permanece cultivando

um discurso que prima pela submissão feminina e esperando dela uma postura de

plena aceitação.

O fascículo da revista do trimestre set/dez de 1958 traz um artigo

interessante intitulado “O perigo de ser Tropeço.” Neste, Juracy Fialho Viana

afirma que, despertar um comportamento contrário às autoridades eclesiásticas,

mesmo entre os crentes, significa ser tropeço. Portanto, podemos concluir que

além de acatar a autoridade e governo da igreja, deve haver colaboração para que

os demais membros também o façam.

Para a autora, conceitos e opiniões são coisas sérias e afirma:

“... Basta que, emitindo conceitos e opiniões inteiramente pessoais, despertemos, entre os crentes, um espírito de rebeldia contra as autoridades eclesiásticas e de insubmissão contra o govêrno da Igreja. Basta que, diante de descrentes, teçamos comentários desagradáveis sobre assuntos privados ou pessoais da igreja, levando-os

207 CUNHA, Waldete. O Valor e necessidade de Cooperação. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1956, p. 4

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talvez, por isso, a desprezarem o Evangelho”. 208

Como se pode notar, respeitar a organização da Igreja, evitando

questionamentos, é justificado como ato benéfico que visa garantir a divulgação

de um evangelho de paz, harmonia e humildade.

O texto impõe limites ao direito de manifestar opiniões. Considera que

expor idéias pessoais contrárias às autoridades eclesiásticas e apresentar postura

de insubmissão ao poder instituído contribui para afastar os não membros do

Evangelho.

Somente na conclusão do tema, a autora cita Mateus 18:67 fato que

demonstra ter a autora procurado relacionar o espírito de rebeldia e insubmissão

às autoridades eclesiásticas e governo da igreja, constatado neste ano com a noção

de escândalo apresentado pelo versículo.

“Mas qualquer que escandalizar um desses pequeninos, que crêm em mim, melhor lhe fôra que se lhe pendurasse no pescoço uma mó de azenda, e se submergisse na profundeza do mar. Ai do mundo por causa dos escândalos; porque é mister que venham escândalos, mas ai daquele homem por quem o escândalo vem”. Disse Jesus ( Mateus 18:67)209

Apesar da discriminação detectada na organização política da IPB, é

possível perceber que muitos artigos, presentes no órgão de divulgação da SAF,

estão voltados para uma ação feminina consideravelmente ampla e complexa em

sua prática. Tais artigos destacam a importância das atividades evangelísticas, de

ações sociais, educacionais e beneficentes. Descrevem a importância de se

cultivar os talentos, salientando a importância feminina nos trabalhos da igreja.

Expõem seu papel na sociedade e a importância da sua influência como modelo

de mulher.

208 VIANA, Juracy Fialho. O Perigo de Ser Tropeço. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1958, p. 4.

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Podemos destacar uma certa dicotomia discursiva. Em alguns momentos,

na referência de sua figura, há o despertar de valores de igualdade. É vista como

indispensável colaboradora nas atividades internas da igreja, desempenhando

papéis que estão descritos no Manual Presbiteriano, inerentes ao oficialato. Pode

promover campanhas financeiras, cuidar da ordem da igreja, visitar doentes,

orientar jovens e crianças e desenvolver trabalhos missionários. Porém, não pode

colocar-se como candidata à função. Deve fazê -lo como mera colaboradora,

mesmo que não esteja simplesmente colaborando, mas executando.

Apesar dos limites impostos à mulher no reduto da Igreja, fora ela já

conquistou bem mais espaços. Pode trabalhar fora do ambiente familiar,

desempenhar papéis outrora atribuídos apenas aos homens, mas na Igreja

Presbiteriana, permanece auxiliadora. A única alteração permitida é que, como

profissional assalariada, pode ser dizimista. O dízimo, representado por dez por

cento da renda do trabalhador é considerado fundamental no cumprimento de

uma das obrigações com a igreja. Ser fiel em seu pagamento faz parte dos

preceitos estatuídos. A mulher que trabalha e recebe, obviamente conquistou a

responsabilidade de ser dizimista. Não mais dependendo só de campanhas para

auxiliar financeiramente a instituição porém, torna -se colaboradora permanente se

cumpridora desse compromisso.

É interessante constatar que a participação da mulher, no campo sócio-

econômico, profissional e político da sociedade, é aceita e até incentivada,

enquanto que sua participação na vida política da igreja é restringida.

Maria Kudzielicz em um artigo publicado pela SAF afirma:

“Cada vez mais, a mulher toma parte ativa em todos os setores da comunidade e sua atuação é sentida nos elevados campos profissionais.

Dentro do ramo técnico científico do mundo hodierno, podemos ressaltar a

209 BÍBLIA SAGRADA, Mateus, 18:67.

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importância da mulher através da figura de “Valentina”. Primeira astronauta feminina que sobe ao espaço sideral.”210

A participação feminina em diversas áreas da atividade humana,

independente do âmbito familiar, propiciou um crescimento pessoal mais

globalizado, envolvendo o acesso ao saber laico, resultando no desabrochar de

uma postura mais crítica. Esse fato pode ser notado mediante uma posição de

questionamento frente às ações da Igreja, às quais estão indiretamente ligadas.

Um relatório apresentado à Comissão Executiva do Supremo Concílio da

IPB, em Brasília, no período de 9 a 11/02/82, destaca a preocupação em relação à

participação feminina mais ampla em determinadas situações. A Secretária Geral

do Trabalho Feminino no Brasil, Srª Edna Costa afirmou, por ocasião deste

Concílio, que:

“Sentimos que as mulheres, instruídas a acatarem sempre a autoridade dos conselhos de suas igrejas, têm, por vezes, enfrentado grandes dificuldades, principalmente no campo financeiro. Tentamos dirimir algumas dúvidas mas encontramos algumas dificuldades em alguns pontos.” 211

O artigo citado revela a presença de conflitos internos. É real a busca por

uma participação mais justa e igualitária nas atividades religiosas, onde a mulher

se faz presente.

O período que envolve a organização da sociedade de mulheres e sua

evolução na IPB foi acompanhado paralelamente pela transformação da sociedade

num todo. Mudanças ideológicas oportunizaram à mulher repensar os valores

herdados do patriarcalismo.

210 KUDZIELICZ, Maria. A Mulher Cristã a Serviço da Comunidade Moderna. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 25. 211 COSTA, Edna. Relatório SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1982, p.37.

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A manutenção de um discurso patriarcal e conservador na instituição

ficou garantido pela constituição vigente.

A exemplo disto, podemos citar a transcrição do discurso de posse do

Presidente do Supremo Concílio da IPB, Rev Boanerges Ribeiro que, em 1970,

afirmava:

“Não há, na Igreja Presbiteriana do Brasil, lugar para insubordinação que desborde daqueles planos de lei que nós aceitamos com liberdade. Ninguém nos obriga a ser Presbiterianos. Mas, se queremos sê-lo, sejamo-lo honradamente. Ninguém nos obriga a aceitar a Constituição da Igreja. Mas se prometemos aceitá-la, sejamos honrados e cumpramos esses votos da ordenação. Ninguém nos obriga a aceitar êsses Símbolos da Fé. Mas, se o aceitamos; se, ao ser ordenado declaramos aceitá -lo, sejamos honestos.”212

Na seqüência do discurso fica claro que os indivíduos têm liberdade na

escolha da denominação em pauta. Porém, ao escolher, deverão ter consciência da

responsabilidade de acatar a lei da Igreja. Essa fala evidencia a influência do

regime militar213 em vigor na época.

A analogia entre o discurso de Boaneges Ribeiro em sua posse no

Supremo Concílio em 1970 com a influência militar, decorre da expressão usada

ao fazer referência àqueles que aceitam ser presbiterianos. Para ele, a igreja não

tem espaço para rebeldes. Também o Brasil dos anos 70 coibia rebeldias. Basta

lembrar os slogam “Brasil, ame -o ou deixe-o” tão expressivo do regime militar

instituído no país.

212 RIBEIRO, Boanerges. Discurso de Posse. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p.4. 213 Regime Militar – instalou-se no Brasil com a deposição do Presidente João Goulart em 1964. O Controle político do país ficou subjugado ao Alto Comando Militar que colocou no poder Humberto de Alencar Castelo Branco. Outros militares governaram em períodos seguintes, perfazendo 20 anos de autoritarismo no país e cujo fim só aconteceu no governo do Presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo (1979-1985)

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Podemos afirmar que a IPB, desenvolve uma filosofia política

situacionista. Não prega dissenções, nem rebeldia, nem contravenções. Pelo

contrário, estimula o respeito às leis, as autoridade constituídas e a ordem

estabelecida. A busca de qualquer transformação implicaria uma mudança de

postura e, por conseguinte, atingiria valores fortemente arraigados, dificultando

possíveis alterações na estrutura da instituição.

Mesmo que alguns discursos, contidos na SAF em Revista, revelem um

caráter que implique mudanças, a Igreja convive com uma postura de

acomodação.

Foi possível detectar que este instrumento de leitura utilizado pelas

mulheres da IPB traz diferentes falácias. Há momentos em que a submissão,

humildade e a acomodação são apresentadas como essência de um modelo de

vida.

A transcrição de uma oração cujo autor aparece como “soldado

desconhecido”, apresenta o seguinte:

“Eu pedi a Deus forças para que pudesse realizar-me... Fui feito fraco para que aprendesse humildemente a obedecer... Pedi saúde para fazer as maiores coisas... Foi me dada enfermidade para que eu fizesse coisas ainda melhores.

Eu pedi riquezas, para que pudesse ser feliz... Foi-me dada pobreza, para que eu fosse sábio... Eu pedi poder, para que fôsse louvado pelos homens... Foi me dada fraqueza para que sentisse a necessidade de Deus.” (grifo nosso)214

Ao mesmo tempo em que os artigos procuram legitimar a importância da

humildade e submissão da mulher, deixam claro também a importância de seu

papel na sociedade. Isto não impede vislumbrar a discriminação presente no

ambiente presbiteriano e a tendência latente de uma busca pela conciliação.

214 SAF em Revista,. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 26.

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Elzi de Almeida Ferreira, em um artigo, relaciona inúmeros modelos de

mulheres, tanto americanas como brasileiras, que atuaram na Igreja e fora dela.

Apesar de citar exemplos de lideranças femininas, deixa transparecer a dificuldade

de participação ao afirmar:

“No mundo em que vivemos tem se tornado cada dia mais difícil o papel que se espera da mulher, principalmente a mulher cristã.

Cada uma poderá fazer algo de útil no seu cantinho, como tantas outras que estão em seus postos, sem esmorecer apesar dos dias difíceis que atravessamos, anônimas como aquelas mulheres que aparecem no Novo Testamento, mas cumprindo o seu dever.”(grifo nosso)215

Um artigo de Maria Kudzielicz, autora já mencionada, contém um

discurso que dá à mulher um papel mais distinto. A mesma entende a presença da

igualdade em relação ao homem ao afirmar:

“Também o papel da mulher está sofrendo transformação, e é grande a modificação que tem experimentado através dos últimos séculos. Nos tempos do paganismo a mulher era objeto, era mercadoria, sem direito algum. Foi o cristianismo que a honrou, conferindo-lhe a posição de igualdade com homem.”216

A dicotomia presente nos discursos, incluindo expressões que estimulam

ao mesmo tempo busca e acomodação, propicia por parte das leitoras identificar-

se com o artigo de sua preferência. Isto faz com que a revista venha de encontro

aos diferentes modos de pensar. Porém, não há espaços destinados a criticas ou

opiniões das leitoras.

215 FERREIRA, Elzi de Almeida. Influência da Mulher Cristã, SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1969, p. 9. 216 KUDZIELICZ, Maria. A Mulher Cristã a Serviço da Comunidade Moderna. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 25.

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4. – SAF EM REVISTA – Veículo de Informação e

Formação

4. – SAF EM REVISTA – VEÍCULO DE INFORMAÇÃO E

FORMAÇÃO

Visando analisar o comportamento da mulher presbiteriana, que

apresenta posturas diferentes, isto é, um modo de ser como membro da IPB e

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outro, como indivíduo de determinado grupo social, coletamos alguns dados

contidos na SAF em Revista, órgão de divulgação da Sociedade Auxiliadora

Feminina de alcance nacional.

A revista mencionada surgiu como um simples boletim informativo da

Secretaria Geral do Trabalho Feminino, em março de 1955, idealizado por sua

secretária e líder feminina da época, Sra. Nady B. Werner e, em outubro do

mesmo ano, quando da edição do 3º boletim, este se transformava na primeira

SAF em Revista.

O referido órgão de informação e divulgação é distribuído

trimestralmente, possuindo assinantes em todas as SAFs existentes no território

nacional brasileiro e é impressa pela Casa Editora Prebiteriana.

Apesar de sua origem como simples boletim informativo, ao tornar-se

revista procurou desenvolver temas variados, porém sempre destinados à mulher e

seu comprometimento com a família e a Igreja.

O momento da criação da Revista já estava marcado pela ditadura de

Vargas e trazia em seu cerne a história do final da 2ª Grande Guerra. Já se faziam

presentes os primeiros momentos da industrialização e da evolução tecnológica

que iriam repercutir nas mudanças do cotidiano familiar. Não só os meios de

comunicação se aprimoravam como também os recursos do espaço doméstico,

representados por novos equipamentos de uso na casa, pouco a pouco, se faziam

presentes. As inovações tecnológicas estimulam novos interesses e a presença de

novos valores.

A sociedade brasileira fazia parte do mundo capitalista e a política de

dependência agro-exportadora vivenciada pela economia nacional resultava, cada

vez mais, no distanciamento entre os elementos das várias classes sociais. Pouco a

pouco, foi possível perceber a considerável diferença do poder aquisitivo vigente

entre as categorias representadas, culminado com a premente necessidade da

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participação da mulher no campo de trabalho e na busca da manutenção

econômica da família.

O golpe militar de 64, igualmente, é retratado nos artigos da revista,

considerando que os vários temas, de cunho político e religioso, apresentam

velada manifestação ideológica em favor do sistema, através de conteúdos

voltados à busca da democracia ideal, do modelo de cidadão que a mulher pode

formar, da luta contra o comunismo e seus malefícios, da importância do respeito

e honra às autoridades.

Um dos artigos do Rev. José Borges dos Santos Junior destinado à estudo

em reuniões da SAF alertava:

“Quando as ideologias terrenas apresentam algumas verdades em matéria de conduta ou de vida religiosa, essa verdade já estava contida em tôda a sua plenitude no ensino de Cristo. O fato de haver em ideologias terrenas doses maiores ou menores de verdade, não quer dizer que Jesus Cristo tivesse sido adepto de qualquer dessas ideologias. As ideologias terrenas, quando apresentam alguma verdade acêrca dos direitos do homem, estão longe de esgotar ou expressar completamente o que Jesus Cristo ensinou. Não devemos confundir, pois, Cristo com comunista, nem cristianismo com comunismo”. (SAF, 1964 p. 9)217

Mesmo diante da velada preocupação presente no ambiente

presbiteriano, dada a instabilidade política resultante do “golpe militar” de 1964, é

interessante considerar que os títulos, contidos na revista, permanecem os

mesmos. Porém, em seu contexto, refletem a realidade e a época. Estão voltados a

objetivos que afirmam garantir a paz, a harmonia e, principalmente, a manutenção

do “status quo” na família, Igreja e sociedade.

217 SANTOS Jr, José Borges. Sal da terra. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1964, p. 9.

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Além de informações sobre atividades desenvolvidas pela Secretaria

Nacional do Trabalho Feminino, o órgão traz orientações para o desenvolvimento

de ações destinadas às SAFs em nível local e departamental, fornece estatísticas,

programas para reuniões, congressos e eventos variados. Divulga artes e lições de

culinária e outros conhecimentos tidos como interessantes no espaço doméstico.

Engloba sugestões e assuntos de psicologia, nutrição e saúde; noções de bom

relacionamento; como bem servir ao marido e aos filhos. Desenvolve campanhas

financeiras e de apoio ao sistema vigente e às autoridades instituídas, seja na

Igreja ou fora desta.

Parte do exposto pode ser exemplificado através do plano de trabalho

proposto por Aracy Alves, assessora do Departamento de Assistência Social da

Secretaria Nacional do Trabalho Feminino, publicado em 1967 e que contém:

“PARA TRABALHO LOCAL – Durante um trimestre de JANEIRO A MARÇO cada SAF deve verificar qual dos domésticos na fé em sua igreja está mais necessitado. Felizmente, em nossas igrejas são poucos realmente que necessitam de ajuda. Sendo assim a SAF deve destacar uma ou duas famílias, de acordo com a possibilidade, para ajudar condignamente até a total recuperação de tudo.”218

Além do aspecto social, alguns artigos colocam a mulher como co-

responsável pelos vários problemas que afetam a sociedade. Ruth S. Faria,

Assessora de Espiritualidade da Confederação Nacional, afirma:

“Temos que apresentar a Deus pela oração: os pastores, os evangelistas, os oficiais da igreja, os líderes das diversas organizações, os doentes, os necessitados, os órfãos, as viúvas, a velhice desamparada, as missões nacionais e estrangeiras, os serviços de evangelização e de avivamento espiritual; temos as autoridades constituídas em nossa Pátria, os nossos patrícios que vivem na

218 ALVES, ARACY. Assistência Social. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1967, p. 10.

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idolatria, nos vícios na maldade, nos crimes... Seria um nunca acabar, mencionarmos aqui todas as causas e pessoas por quem precisamos orar, suplicando ao bondoso Deus as ricas e abundantes bênçãos provindas de Sua infinita misericórdia. No entanto poucas pessoas encontram assunto para tomarem parte nas reuniões de oração.”219

As assessorias, componentes da Secretaria Nacional do Trabalho

Feminino, através das respectivas representantes, apresentam artigos destinados à

mulher, objetivando estimulá -las à maior participação nas atividades da Igreja.

Estes artigos apresentam uma linguagem característica do departamento, ou seja,

o de assistência social, o espiritual, o de educação, o financeiro, entre outros.

A Revista, em seu todo, esclarece sobre a funcionalidade da SAF como

órgão de atuação e colaboração da IPB, como pretendemos explicitar.

4.1. SAF – SOCIEDADE DE EMBAIXATRIZES E/OU SOCIEDADE

DE AUXILIADORAS.

Considerando o crescimento demográfico das Igrejas, surgiram vários

departamentos incluindo-se, no caso, a SAF – Sociedade Auxiliadora Feminina.

Nas regiões onde as Igrejas cresciam ia sendo viabilizado o surgimento

de Federações, isto é, a união de várias SAF de localidades próximas e que

promoviam reuniões com a participação de “delegadas”220. O conjunto das

Federações formava os sínodos que, assim como as SAF e Federações, também

eram organizados por Diretorias eleitas.

219 FARIA, RUTH S. Dificuldades Relacionadas com a Oração. SAF Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1968, p. 25. 220 Representantes de Sociedades Locais, escolhidas pelas sócias para representá-las em eventos e reuniões regionais .

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As referidas organizações surgiram inicialmente nos Estados brasileiros

onde o presbiterianismo evoluiu, atingindo inicialmente a área em que a economia

cafeeira se desenvolvera. Deste modo, os Estados de Rio de Janeiro, São Paulo,

Minas Gerais e Espírito Santo foram os primeiros a serem atingidos pelas

organizações citadas.

A obra de Mendonça sobre “A Inserção do Protestantismo no Brasil”

explicita a afirmação acima e considera que:

“Aí encontraram as condições favoráveis para expandir-se e fixar-se definitivamente. Pretendo explorar a hipótese sugestiva de que os presbiterianos aproveitaram o momento da expansão cafeeira e acompanharam o domínio rural na trilha do café, quando as frentes pioneiras apresentavam uma população móvel e em estado de crescimento...” 221

O envolvimento feminino na igreja e a funcionalidade de seu

despertamento concorreu para que lideranças religiosas priorizassem como meta

a conquista da estruturação da SAF em todos os níveis culminando com a

conquista de seu mais alto posto, a organização da Confederação Nacional das

Sociedades Auxiliadoras Femininas.

Um artigo da SAF em Revista do trimestre jan-mar/68 traz um “ligeiro

histórico e algumas considerações sobre o moto 222 do trabalho feminino

presbiteriano”. 223

O relato apresenta dados sobre a organização da Confederação Nacional

do Trabalho Feminino no país, comprovando sua total dependência da estrutura de

221 MENDONÇA, Antônio Gouvêa. O Celeste Porvir. A Inserção do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1984, p. 118. 222 Designação dada ao lema escolhido pela organização e que é recitado em cada reunião ou evento onde se fazem presentes as sócias da SAF 223 ALVES, Maria J. P. Ligeiro Histórico. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1968, p.30. 224 Ata do Congresso Nacional das Sociedades Auxiliadoras Femininas referente período de 02 à 09/07/1958 realizado em Salvador - BA

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governo ligada ao órgão máximo da Igreja, representado pelo Supremo Concílio

que decide pela aprovação ou negação do projeto de organização das mulheres.

A ata datada de 02/07/1958 possibilita perceber o obscuro papel da

mulher na criação de sua mais importante organização, como segue:

“No Congresso Nacional das Sociedades Auxiliadoras Femininas, reunido no Colégio Dois de Julho, em Salvador, Bahia, de dois a nove de fevereiro de mil novecentos e cinquenta e oito, o Reverendo José Borges dos Santos Junior, M. D. Presidente do Supremo Concílio, usando das atribuições que lhes são facilitadas no cargo que ocupa, expôs a necessidade da organização da Confederação Nacional e sugeriu que a mesma fosse organizada ad-referendum do Supremo Concílio modificando o Manual das Sociedades Auxiliadoras Femininas,...”.224

A ata estabelece todas as normas de funcionamento e organização da

Confederação com base na proposta do citado Presidente do Supremo Concílio,

omitindo qualquer alusão à sugestão, ou mesmo, aceitação das propostas por parte

das representantes femininas. Apresenta em sua essência, os itens a serem

considerados na organização e encerra do seguinte modo:

“No dia nove, as vinte horas, por ocasião do culto de encerramento do Congresso, foi instalada solenemente a Confederação Nacional, ficando constituída a sua diretoria dos seguintes membros: Presidente – Blanche Lício, Vice-Presidente – Acidália Gripp, Secretária - Ana Monteiro, e Tesoureira – Eurídice Lima.” 225

225 Ibid. 226 ALVES, Maria J.P. Ligeiro Histórico e Algumas Considerações sobre o moto do Trabalho Feminino Presbiteriano. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1968, p. 30.

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O fato documentado pela ata citada é relatado através do artigo da SAF

em Revista no trimestre jan-mar/68, quando se faz menção à figura de Maria

Pereira Alves, idealizadora do lema que ainda permanece em vigor na SAF.

“Corria o ano de 1949. O Sínodo Central se encontrava reunido, no dia 1º de julho, na Igreja Presbiteriana de Botafogo. Naquela mesma data achavam-se em reunião nas dependências do templo mencionado, quatro presidentes das Federações dos Presbitérios Oeste Fluminense, Sul de Minas, Oeste de Minas e Rio de Janeiro, vinte e sete visitantes e representante do Sínodo Central, Rev. Francisco Alves, que ali fôra levara a notícia alviçareira, desejada e esperada por todas, que o Sínodo consentia que se organizasse a Confederação das Sociedades Auxiliadoras Femininas e nomeava como sua presidente d. Nady Werner.” 226

Além do destaque à informação, o artigo se faz interessante pela tese

apresentada no transcurso da reunião do referido Sínodo, garantindo a escolha e

manutenção de um moto, ou seja, um mesmo lema, por mais de meio século. O

trabalho de Maria Pereira Alves intitulado “A mulher presbiteriana como

embaixatriz do Reino de Deus” discorre sobre a importância do papel da mulher

na sociedade e na família, como embaixatrizes em nome de Cristo e que deve

intermediar sua vontade. Relaciona o termo com ensinamentos bíblicos e com a

função política do papel.

De acordo com a autora citada,

“O ideal é que a embaixatriz conheça tão bem os planos do seu chefe de estado, ou do seu rei, e esteja a ele tão ligada, que sua própria vida seja uma expressão da vontade daquele que a enviou. Não basta que ela saiba de cór as leis que recebeu, mas que possa transmiti-las com absoluta fidelidade. No livro de Provérbios, cap. 13, verso 17, encontramos

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estas palavras: “Um mau mensageiro cai no mal, mas o embaixador fiel é medicina.” O mundo precisa deste remédio.” 227

O trabalho prossegue numa linguagem teológica e conclui com o

seguinte moto: “Sejamos verdadeiras embaixatrizes, irrepreensíveis na conduta,

incansáveis na luta, firmes na fé, vitoriosas por Cristo Jesus.” 228

Apresentado, o lema foi escolhido para ser o oficial da Confederação de

Sociedades Auxiliadoras Femininas recém-criada. Posteriormente, tornou-se o

oficial do trabalho feminino presbiteriano no Brasil com a modificação de

embaixatrizes para auxiliadoras.

É praxe a recitação do moto em reuniões de SAF, sejam locais, regionais

ou nacionais, pelas presentes. Este fato mostra a preservação da ideologia da

entidade em termos filosóficos, uma vez que não se tem conhecimento de nenhum

grupo que tenha questionado o significado da frase.

O exposto retrata a presença de mulheres perfeitamente sincronizadas

com o sistema, o que não impede que estas e outras, que não estejam em perfeita

sincronia devam evitar reflexões sobre a realidade que as envolve. A ausência de

questionamentos tem justificado a existência de avanços no sentido de propiciar

maior igualdade entre seus membros .

4.2. SAF EM REVISTA – IDENTIDADE COM REALIDADE

SOCIAL

227 Ibid. p. 31 228 Ibid. p. 31

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O final do século XIX foi marcado por consideráveis mudanças e

coincindiu com o movimento missionário no Brasil. O início do século XX

conviveu com questionamentos ligados às mudanças do comportamento feminino

resultantes das transformações urbanas.

Suzana Albornoz, ao escrever sobre as transformações que afetaram o

mundo e o Brasil, afirma que:

“A industrialização cria novas chances de emprego; o desenvolvimento dos serviços oferece oportunidades novas ao trabalho feminino; a urbanização moderniza atitudes e põe em contato com os meios de comunicação, veiculando informações de inspiração científica; os progressos da medicina possibilitam o controle da natalidade e a maternidade sem tanto custo pessoal; novos modos de trabalho modificam as formas de vida familiais e criam relações conjugais mais aproximadas da igualdade; a mulher é chamada a integrar -se no mercado de trabalho que a necessita... E assim, num processo nada simples e claro, muito conflituado e às vezes contraditório, as mulheres brasileiras vão mudando sua consciência de ser-inferior -e-tutelado para o de companheira-ativa-corresponsável. Muitos avanços foram feitos, mas têm seus limites bastantes visíveis.”229

Para os mais conservadores, havia riscos consideráveis para a sociedade,

visto que a família, célula mater desta, se mostrava em crise.

Pensava-se que a nova linguagem e costumes adotados, assim como o

novo tipo de relacionamento entre homens e mulheres da época, estariam

corroendo os valores morais vigentes e contribuindo para a decadência da ordem

social e costumes. As inovações nas rotinas das mulheres chocavam.

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No momento em que as mudanças ocorriam nos centros urbanos, o

presbiterianismo se expandia, principalmente na área rural, implantando valores

identificados com os pré existentes. As mulheres que viviam no meio urbano

conviviam com as mudanças porém, mantinham-se como meras espectadoras.

As primeiras décadas do século XX apresentam, portanto, contrastes

consideráveis em relação aos usos e costumes, ocupando o gênero feminino papel

de destaque nos conflitos da época.

O primeiro Boletim da SAF, editado em 1955, apresenta um artigo sobre

o “Feminismo Cristão” no qual a autora, Nady B. Werner afirma:

“... Mister é que reconheçamos, que as condições com respeito a mulher se transformaram radicalmente em nossos dias e, portanto, pretender permanecer encerrado dentro dos velhos sistemas é absurdo; por isso é que como Igreja Cristã, temos que ir até onde ela se encontra, para cumprir com a nossa missão, para despertar em cada um a noção da própria responsabilidade afim de que cheguem a “desejam ardentemente os melhores dons”. 230

Entendendo que a Igreja tem como prática o cultivo de valores, e a

família, através da disciplina, a manutenção e assimilação dos mesmos; é

primordial ao Estado instituído a preservação de suas instituições plenamente

estruturadas. Para atender a este princípio existe a legalidade.

Se observarmos que os meios de comunicação do início do século não

apresentavam a potencialidade atual, é compreensível entender a morosidade das

mudanças do meio rural frente à realidade urbana.

229 ALBORNOZ, Suzana. A Conscientização da Mulheres Brasileiras. In: Na Condição de Mulher. Santa Cruz: APESC, 1985, pág. 74. 230 WERNER, Nady B. Feminismo Cristão, in: Estudos Bíblicos. Boletim 1, SAF. São Paulo: Presbiteriana, 1955, p. 2.

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O modo de ser da mulher presbiteriana contou também com este

elemento, pois parte considerável do contingente das famílias que adotaram o

presbiterianismo como religião viviam no ambiente rural.

O temor pelas mudanças nos usos e costumes pode ser percebido através

de artigos da SAF em Revista como o que segue.

“O bem estar do lar, da pátria, da comunidade está nas mãos de suas mulheres.” Quando elas são ativas, bem informadas, interessadas e integradas nas necessidades da comunidde e estão prontas a dar de mãos cheias de seu tempo, talentos e títulos, tudo vai bem. Aonde elas são vexadas, furiosas, impetuosas, dominantes, intransigentes, intole rantes, lançando-se para alcançar posições de importância, poder e prestígio, toda instituição humana vai enfraquecendo e termina morrendo de morte natural.” (grifo nosso)231

É sabido que no Brasil, nas regiões de imigração estrangeira,

especialmente nas áreas cafeicultoras que abrangiam os Estados de São Paulo,

Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro e, posteriormente, parte do Paraná,

trabalhavam famílias inteiras. Homens, mulheres e mesmo crianças labutavam nas

roças garantindo a produção e, consequentemente, a manutenção de todos,

considerando-se que muitos dependiam disto para saldar os compromissos

decorrentes de contratos tendo em vista que nem sempre eram proprietários da

terra.

Quando surgiu a SAF em Revista, como órgão de informação e

divulgação das Sociedades de Trabalho Feminino, o discurso da Igreja já estava

concluído. Sua identificação com a realidade social se justifica, uma vez que a

mesma se originou decorrente de um organismo implantado em um espaço

religioso onde os valores já vinham sendo cultivados por uma cultura assimilada.

231 MEYER, Farida, Amor Maravilhoso. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1968, p. 27.

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Verdades pré-estabelecidas através da religião e que sempre conseguiu ditar as

normas dos usos e costumes concorreram para a viabilização da Revista.

A mesma nunca apresentou proposta de questionamento dos valores ou

princípios instituídos, porém, em todo período de sua história, apresentou um

discurso voltado à manutenção da instituição como tal e como órgão de

divulgação dos trabalhos desenvolvidos por todos os departamentos e organismos

ligados aos objetivos do trabalho feminino presbiteriano.

4.2.1 – SAF E TEMAS CONFLITANTES

Na realidade, a Revista analisada não se mostra como um instrumento

próprio de reflexão e crítica em sua essência, dadas a sua origem e finalidade. É

muito mais um órgão de informação e divulgação, além de ser objeto de

orientação para a efetivação de ações práticas no âmbito social e religioso.

Apresenta um discurso nitidamente voltado para a manutenção do “status quo” da

Igreja, em relação à sua estrutura governamental e também a princípios

doutrinários.

Politicamente é possível perceber a constância de um posicionamento a

favor da situação, tendo em vista a noção de submissão e respeito à autoridade que

desenvolve.

Pode-se exemplificar o fato através de um dos muitos artigos

apresentados. O Rev. José Borges dos Santos Junior desenvolveu tema sobre

“Governo e Autoridade” onde afirma: “a ninguém assiste o direito de criticar, a

não ser senão depois de ter cumprido o seu dever e de estar procurando prestar

ajuda.” 232

232 SANTOS JR, JOSÉ BORGES. Governo e Autoridade. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1964, p. 7.

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Igualmente, em texto destinado a estudo em Reuniões Plenárias, na

Revista do trimestre jan-mar/65, Ruth da Silva Faria solicita das mulheres “o

respeito e acatamento às leis do país e às autoridades da Igreja” 233

Um artigo de Beny Sandoval Oliveira que responde à questão “Qual a

responsabilidade do cristão evangélico?”, relaciona algumas afirmativas como:

“ O verdadeiro cidadão do Reino deve ser o melhor cidadão da Pátria” “... É da vontade de Deus que obedeçamos as autoridades constituídas”.

“Respeitar ao Rei”- “ Este respeito significa, acatamento à sua pessoa, obediência à leis, pagamentos dos impostos, serviços prestados à Pátria.” 234

No decurso da análise feita, é possível constatar que tanto artigos escritos

por homens quanto por mulheres apresentam discursos semelhantes.

Líderes masculinos defendem a manutenção da estrutura de poder da

Igreja, embasados no papel fundamental do homem como pessoa capaz e

escolhida por Deus para exercer sua função. As líderes femininas defendem a

importância de uma postura como auxiliares destes na manutenção da organização

e preservação dos costumes.

Apesar da diversidade de itens desenvolvidos e do interesse demonstrado

em informar mães sobre problemas sociais, educação dos filhos, noção de saúde e

higiene, também de trabalho, é possível perceber, claramente, que temas

conflitantes são evitados.

Em nenhum momento detectamos qualquer tipo de esclarecimento sobre

controle da natalidade, fosse artigo favorável ou contrário. Igualmente, sobre o

233 FARIA, Ruth da Silva. Estudo para as Reuniões Plenárias. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1965, p. 3. 234 OLIVEIRA, Beny Sandoval. Estudos Bíblicos para Reuniões Departamentais. SAF em Revista, São Paulo: Presbiteriana, 1972, p. 9.

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trabalho da mulher fora do lar, no âmbito rural, ou sobre os movimentos

feministas vivenciados no início do século.

O acesso da mulher às transformações tecnológicas e à modernidade nos

usos e costumes é sempre apresentado como risco que merece ser cuidadosamente

observado e, mesmo, evitado.

A influência da televisão, os programas fora do âmbito familiar e os

ideais feministas são firmemente questionados através de artigos que

responsabilizam a mulher pela felicidade de todos os membros da família e pela

manutenção dos bons costumes.

Inúmeros artigos trabalham a questão da insatisfação da juventude e

conseqüente a indução ao “transvio do bom caminho”, decorrendo daí o termo

juventude transviada, como sendo de total responsabilidade da mãe, cujo papel

não estaria sendo cumprido a contento. Igualmente, a referência à pessoa do

cônjuge que deve sentir satisfação em voltar para sua casa após seu considerável

dia de trabalho.

É possível referendar tais afirmações, citando o periódico do trimestre

jul-set/66, onde Azenath de Moraes Coelho, em seu tema “Mãe e Filho”, traz uma

história de família modelo onde, em determinado momento, se vivencia uma crise,

perdendo sua referência de organizada, disciplinada e feliz. Seqüencialmente

expõe, que : “A esposa, talvez a maior responsável pela situação caótica do lar,

continua na sua irresponsabilidade e tudo se desmorona”. 235

A autora não esclarece sobre o motivo do conflito familiar apresentado.

Apenas coloca como dedução pessoal que todo o insucesso vivenciado pelo

conjunto familiar é conduzido como decorrente de alguma ação da mulher.

Cristina de Barcellos Vieira, líder feminina da SAF, em Fortaleza (CE),

escreve o artigo “Mulheres Presbiterianas Salvai o Brasil” afirmando:

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“Quantas mulheres, nesta época de correria para o pecado, vivem despreocupadamente, esquecendo os deveres sagrados para com Deus e para os seus lares, e com hipocrisia, vaidade e ostencismo, perdem preciosas horas nos gabinetes de beleza, nos clubes, nas praias e nos cinemas.”

Pobres criaturas, de mente e corações vazios, de perucas e sombras, de garras postiças e colos desnudos, com álito de Royal Label e de biquines como terão dignidade, caráter e moral para cuidarem de seus próprios filhos.”236

Outros inúmeros trabalhos são divulgados pela revista. Muitas vezes

deixam de mencionar o autor, porém, conservam sempre a mesma linha de

pensamento nos temas desenvolvidos. É o caso do artigo intitulado “A Família e a

Mocidade” que apresenta a seguinte afirmativa : “... Uma espôsa cristã não

aborrecerá o espôso ou tentará faze-lo um submisso a ela porque sabe que Deus

o fêz e ela pode amá -lo como ele é...”237

Entendemos que o discurso do periódico em questão não oportuniza a

crítica, ou melhor, impede a análise do comportamento do gênero humano frente

às transformações de época e aos fenômenos sócio-políticos e econômicos

inerentes ao espaço e à sociedade na qual se faz presente. Traduz apenas o modo

de pensar legitimado pela igreja.

Todo discurso está voltado unicamente ao espaço que, supostamente,

é ocupado pela mulher presbiteriana e cuja meta principal é a permanência neste.

Os termos empregados estão voltados a um modelo de mulher que tem

“feições” e “funções” claramente definidas e que já foram largamente descritas.

235 COELHO, Azenath de Moraes. Mãe e Filho. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1966, p. 7. 236 VIEIRA, Cristina de Barcellos. Mulheres Presbiterianas Salvai o Brasil. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1968, p. 31. 237 SAF em Revista – A Família e a Mocidade. São Paulo: Presbiteriana, 1967, p.5.

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4.2.2 .SAF E O MOMENTO POLÍTICO

O período delimitado para a análise do objeto desta pesquisa contou com

uma sucessão de fatos que marcaram a história do Brasil e deixaram cicatrizes

indeléveis na realidade do cotidiano social brasileiro.

Ocorreram momentos em que movimentos populares refletiam crises,

buscas, uso e abuso do poder. O espaço presbiteriano não estava incólume às

informações sobre os anseios e conflitos populares, fato que, de certa forma,

influenciava a construção de um discurso que almejava tornar a Igreja menos

vulnerável aos mesmos. Enquanto uma história brasileira se construía através

destes embates, a Igreja procurava firmar suas convicções já estabelecidas.

É importante considerar o momento de criação da revista SAF para

melhor compreensão de alguns posicionamentos diante de seu discurso.

Os conflitos decorrentes da Grande Guerra não poderiam ser esquecidos.

O país vivenciava uma política que ficou conhecida como “Desenvolvimentismo”

dado o grau de otimismo espalhado através dos meios de comunicação já bem

desenvolvidos na época. Era o momento em que Juscelino Kubitschek apresentava

um discurso voltado à industrialização e criação de empresas sem verificar a

origem do capital. Brasília era construída, representando um aspecto de forte

credibilidade na evolução da região central do Brasil.

O discurso político da época apresentava uma aproximação ilusória da

capital com outras regiões brasileiras. O Norte do Brasil já não parecia tão

distante e sua exploração já representava esperança de riquezas e progresso.

O trimestre abr-jun/64 apresenta na capa da revista um mapa do Brasil

com a região Norte em destaque e o tema “Visita ao Norte”. Internamente, contém

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uma descrição de viagem com fotos apresentadas por Nimpha Protasio de

Almeida que relata o roteiro feito, no qual esteve acompanhada da Senhora Na dy

Werner, no período de 29/08 a 08/10/63. O relato descreve visitas às capitais do

Nordeste e inclui o Norte do país, onde se pode constatar também a presença

norte-americana na região.

O fato pode ser comprovado através da afirmação de Nimpha Protásio de

Oliveira:

“Foi para nós um prazer conhecer os casais missionários Crow e Dinkins que se dedicam ao trabalho naquela região. Os Crow estavam de mudança para Imperatriz, situada na estrada Belém- Brasília, onde iriam iniciar uma grande obra assistencial, educacional e de evangelização... Desenvolve-se bem o trabalho evangelístico no Pará, apesar das grandes distâncias, dos transportes difíceis e também da relutância na aceitação do evangelho.”

“Em Manaus nos sentimos no coração do Brasil. Uma vez mais dizemos, precisamos conhecer a nossa Pátria e avaliar as possibilidades que ela nos dá não apenas nas suas riquezas e belezas naturais mas também nas oportunidades que estão abertas à pregação da Palavra de Deus.” 238

A influência política e o apoio ao governo é inegável. Tal fato foi mesmo

capa da Revista da SAF no trimestre jul-ago/59, quando traz a foto do presidente

JK, “proferindo seu discurso no Culto Solene do Centenário Presbiteriano na

Catedral Presbiteriana do Rio de Janeiro, no dia 12 de agosto de 1959”.239

A credibilidade ao governo brasileiro da época no meio presbiteriano era

tão proeminente que justificou, inclusive, a aquisição de um terreno no local

238 ALMEIDA, Nimpha Protasio de. Visita do Norte. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1964, p. 19-20.

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destinado à nova capital. O objetivo era a construção do futuro Instituto Nacional

de Leigos e contou com o apoio de mulheres e, em especial, com dinheiro

advindo de Organização Feminina Americana, haja visto que o discurso político

ultrapassara as fronteiras do país.

Um artigo sobre o referido instituto, cujo autor foi omitido pela SAF em

Revista, descreve um evento ocorrido em 18 de agosto de 1959, representado por

um “Culto de Dedicação, simbólica, do terreno adquirido para a construção da

entidade. Além de fotos, o artigo contém algumas falas de líderes presbiterianos,

tanto brasileiros quanto norte-americanos. Entre estes podemos citar o Rev.

Boanerges Ribeiro, presidente do Supremo Concílio240 na época, e a Senhora

Morreli de Reing, representante das mulheres das Igrejas do Sul dos EUA, que,

em suas respectivas manifestações deixaram clara a importância do investimento.

O artigo afirma que:

“A Igreja Presbiteriana do Brasil adquiriu 200.000 pés quadrados de terreno em uma futura área residencial que dará vista para o lago artificial que irá circundar a nova capital... Espera-se, segundo palavras do Rev. Boanerges Ribeiro, que ele sirva o continente, com estudantes e corpo docente de todos os países da América...”

“Anteriormente, no Rio de Janeiro, no dia 12 de agosto, a Senhora Morreli de Reign, presidente da Assembléia Geral da junta do trabalho Feminino da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos comunicara que o total de ofertas atingira a Cr$ 72.000.000,00.” 241

O artigo apresentado na Revista deixa claro, através da fala da Srª Reign,

que havia interesse quanto ao retorno do investimento representado pelo alto custo

da manutenção da entidade. O mesmo artigo especifica a origem de parte do

montante como segue:

239 SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1969. 240 Supremo Concílio – órgão máximo de organização Política da Igreja Presbiteriana do Brasil. 241 SAF em Revista. Instituto Nacional de Leigos. São Paulo: Presbiteriana, 1959, p.11.

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“As mulheres do sul já levantaram aproximadamente US$ 200.000,00 e ainda que os planos específicos para o uso da oferta estejam para serem completados em consultas com ambos os grupos femininos e respectivas juntas missionárias e a Igreja Presbiteriana do Brasil, a senhora De Reign proclamou a esperança de que alguma parte dos fundos deveria ser investida de maneira a prever uma renda anual que possa garantir a manutenção da escola proposta”. 242

A política desenvolvimentista de J. K., voltada para a criação de

indústria, investimento em estradas e a construção da capital, redundaram no

endividamento do país e no conseqüente crescimento inflacionário, concorrendo

para a presença de séria crise econômica.

A viabilização da expansão tecnológica não era acessível a todos os

elementos que compunham a sociedade da época. A modernidade já não era tão

sonhada. Tal fato resulta em um ambiente de inquietação social face à miséria e à

fome, o que caracterizava o fim do governo e a chegada de um novo momento

político.

A Igreja, inserida no contexto social, é composta por indivíduos

pertencentes às diferentes camadas sociais, o que sugere a prese nça dos reflexos

da crise instaurada no país. O fato incita o estabelecimento de medidas paleativas

pela organização, nos diversos pontos do país, onde a IPB se faz presente. O

objetivo não se restringia a atender apenas aos membros da instituição mas,

também, as comunidades de sua abrangência.

Ações voltadas aos problemas sócio-econômicos são descritas através de

relatórios e campanhas apresentados pela Revista.

Uma das Revistas de 1959 traz um pequeno parágrafo em destaque, não

assinado, e que comprova o que afirmamos no seguinte:

242 Ibid, p. 11

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“CONSOLIDAÇÃO... Cremos que esta palavra continua sendo uma das que mais nos têm preocupado ultimamente. No Brasil sentimos o desequilíbrio financeiro em todos os sêtores de atividades, nada está verdadeiramente seguro e consolid ado. Mas a “Consolidação” que nos está interessando no momento é o do Plano Financeiro de nossa Igreja e é por isto que líderes das Federações dos Presbitérios da Guanabara, Rio, Niterói e Nova-Iguaçu, se reuniram, na Secretaria do Trabalho Feminino (Rio) onde receberam informações sobre os resultados da Campanha em 1959 e planos para 1960, pelo seu Secretário, Rev. Amilton Michalski, autoridade portanto no assunto. Graças ao Rev. Amilton pela inspiração que nos trouxe; desejamos que ele possa falar a tôdas as Federações e que muitos sejam os frutos do seu trabalho, são os desejos da SAF em Revista.”243

Além da promoção de auxílio material, é estimulada a luta pela

alfabetização de adultos, uma vez que a própria filosofia da Igreja entende que é

inviável a evangelização sem acesso à leitura e estudo da Bíblia.

A SAF em Revista propõe temas para serem trabalahdos em cursos de

orientação a mulheres, mães, jovens, adolescentes e crianças. Há uma vasta

programação que inclui noções de saúde, higiene, relacionamento familiar, como

também, orientações para execução de trabalhos manuais, hortas caseiras e outras

práticas.

Ruth S. Faria, em um pequeno artigo sobre “Curso de Treinamento”

relaciona as várias unidades e matérias a serem trabalhadas. Segundo a autora:

“São elas: Govêrno e Doutrina da Igreja Presbiteriana – Organização do Trabalho Feminino – Psicologia da Evangelização – Mordomia Cristã – Esfôrço missionário no lar – Trabalho educacional no

243 SAF em Revista. Consolidação. São Paulo: Presbiteriana, 1959, p. 16.

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lar – Higiene mental – Higiene física – Educação sexual – Alimentação e nutrição – Economia doméstica – Puericultura e outros temas, visando a necessidade da época atual.”244

Ao mesmo tempo em que a Igreja convivia com as crises sócio-

econômicas presentes na sociedade brasileira, as ideologias proliferavam e

também se tornavam conhecidas no espaço presbiteriano.

As notícias da Revolução Cubana chegavam ao Brasil, impregnadas pela

influência norte -americana, defensora de uma fala anti-socialista. O temor pelo

comunismo infectou todos os ambientes e a Igreja, pois através de suas lideranças

e meios de comunicação passou a condenar o sistema sem mesmo explicá-lo.

Entre os instrumentos de comunicação, a SAF em Revista apresenta

artigos que fazem alusão ao perigo que o comunismo representa, porém, sem

nenhuma análise sobre qualquer sistema político existente ou forma de governo.

Há considerável interesse em embasar fatos numa linguagem bíblica e

voltada à questão doutrinária.

Em estudo publicado e indicado para ser analisado pelas SAFs, no

trimestre jan-mar/64, o Rev. José Borges Santos Jr produziu vários temas sobre

política, sempre numa linguagem teológica, entre os quais, um sobre o

comunismo. A introdução do mesmo é: “Jesus era comunista?” E, entre suas

conclusões, mostrando a influência norte-americana, afirma:

“Como disse Stanley Jones, o comunismo glorifica a sociedade, a sociedade sem classes, como o facismo glorifica a nação, o nazismo glorifica a raça, e o capitalismo glorifica o êxito financeiro encarnado no indivíduo multimilionário.”

244 FARIA, Ruth S. Você sabe o que é o “Curso de Treinamento”? SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1960, p. 13.

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“Não existe qualquer identidade entre a sociedade dos primeiros cristãos e a sociedade comunista”. 245

Segundo o autor do artigo citado, a confusão feita entre Cristo e

Comunismo é decorrente do pouco conhecimento que muitos têm da Bíblia.

A senhora Ruth da Silva Faria, Assessora de Espir itualidade da

Confederação Nacional, apresentou alguns subsídios para estudo das SAF, entre

os quais destacamos o de jan/65 que expõe o seguinte:

“Como brasileiras temos que acatar e respeitar as leis do país, como presbiterianos obedecer às determinações de nosso “Livro de Ordem”, atendendo às admoestações e à orientação daqueles que se acham como autoridade perante o supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil, de acordo com a Palavra de Deus.” 246

Temas como “As Obrigações Recíprocas da Liberdade”, “Liberdade e

Legalismo”, “Privilégio e Responsabilidade” “Mulheres Presbiterianas salvai o

Brasil”, apesar de serem apresentados como meramente doutrinários, camuflam

considerável conteúdo de estímulo à submissão e acatamento às autoridades

instituídas, seja na Igreja ou fora dela.

Os assuntos aos quais nos referimos foram percebidos em inúmeras

revistas durante todo o transcurso compreendido pelo regime militar instituído no

governo brasileiro.

Outro conjunto de estudos que merece destaque está inserido no

periódico trimestral da SAF, tendo sido produzido por Beny Sandoval Oliveira, e

que apresenta uma explanação coincidente com o mesmo discurso apresentado

pelo sistema instituído.

245 SANTOS JR, José Borges. Sal da Terra. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1964, p. 8/9. 246 FARIA, Ruth da Silva, Estudo para as Reuniões Plenárias. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1965, p. 8.

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“... O profissional de qualquer natureza deve ter perfeita conduta. Como operário, empregado ou patrão, ser cumpridor do dever, respeitoso, honesto, verdadeiro, humano e justo...” 247

O texto salienta a importância das várias profissões para a sociedade e

conclui que, se todos agirem da melhor forma “Estarão dando o devido a César,

aqueles que mantidos pelos cofres públicos, ocupando postos no legislativo,

judiciário ou executivo, cumprem realmente o seu dever”. 248

A série de estudos elaborada por Beny Sandoval Oliveira procura

apresentar um modelo ideal de cidadão. O autor busca embasar-se em preceitos

bíblicos e, entre estes, utiliza-se de I Pedro 2:11-17, salientando o seguinte:

“Sujeitai-vos pois a toda ordenação humana por amor do Senhor; quer ao rei, como superior;

Quer aos governadores como por ele enviados para castigo dos malfeitores, e para louvor dos que fazem o bem.

Porque assim é a vontade de Deus que, fazendo bem, tapeis a boca à ignorância dos homens loucos.”249

O autor citado afirmava que:

“... Se a religião de Cristo é boa como anunciamos, ela deve produzir cidadãos exemplares tanto na Igreja como no comércio, no lar como na repartição, honrados no pagamento do armazém como nos compromissos dos impostos com o governo, e, no respeito às autoridades constituídas.”250

247 OLIVEIRA, Beny Sandoval. Estudos Bíblicos para Reuniões Departamentais. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1972, p. 8. 248 Ibid, p. 8 249 Bíblia Sagrada - I Pedro. 2: 13 -15. 250 OLIVEIRA, op. cit., p. 9.

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A influência do período político não esteve limitada apenas à questão

moral e ideológica, mas trouxe, igualmente, reflexos nas práticas instituídas.

As campanhas de alfabetização e a existência do MOBRAL, como órgão

de viabilização do projeto, se fizeram conhecidas através de várias ações internas

da “Sociedade de Mulheres”, o que pode ser detectado através de um destaque da

Revista em junho/71 que diz:

“Você conhece o MOBRAL? Lute para que a sua SAF este ano mantenha um estudante dando-lhe uma bolsa de estudos.

Alfabetizando alguém você estará ajudando o Brasil!” 251

A política expansionista adotada no período contribuiu para que a Junta

de Missões Nacionais, igualmente, desenvolvesse projetos de trabalhos

abrangentes, incluindo sua presença na Transamazônica e em locais distantes de

Rondônia, Acre e outros estados. O fato em questão pode ser comprovado pelo

relato de Edna Costa sobre sua viagem “À longínqua Rondônia ” no periódico

nov-dez/77. Em dado momento, se expressa com satisfação: “Viagem excelente! –

oportunidade de ver de cima e mais perto, a floresta cortada pela estrada de

terra e pelos rios, levando-nos à “missão da Sorria” 252

O documento a que fazemos referência é resultante de várias outras

presenças no espaço geográfico, previamente conquistado e que, através de muitas

campanhas das Sociedades Femininas, viabilizou a presença de missionários e

grupos de pessoas no meio antes considerado hostil da região norte.

4.3 – A SAF e o Movimento Dissidente da IPB

251 HERINGER, Barjout Mirray. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1971, p. 7. 252 COSTA, Edna. A longínqua Rondônia. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1977, p.14.

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Apesar do sistema militar instituído coibir manifestações públicas e até

mesmo limitar a liberdade de expressão, justificando uma aparente apatia no meio

social, isto não ocorria no ambiente presbiteriano. Internamente eram vivenciados

movimentos que redundavam em sérios conflitos e na formação de grupos

discordantes das novas doutrinas que iam sendo, pouco a pouco, divulgadas.

As circunstâncias favorecedoras da presença de grupos diferenciados

tornavam-se cada vez mais abrangentes, alcançando as diversas regiões

brasileiras, de norte ao sul e de leste a oeste.

Entre os membros das Igrejas surgiam grupos defensores de um modo de

ser cristão diferente. Estes almejavam uma maior espiritualidade, que deveria

manifestar-se por uma postura mais animada no ambiente religioso. Tornava-se

comum entre estes um excesso de rigidez quanto às exigências de boa conduta

dos religiosos. Havia grande preocupação em controlar a vida de todos e zelar

pelos “bons costumes.” Questionam-se desde a vestimenta de jovens e mulheres

até o ambiente freqüentado fora do âmbito religioso. Tudo passava a ser visto

como pecaminoso e desagradável aos olhos de Deus. O indivíduo deveria buscar

vivenciar cada vez mais a religião, o que tornava indispensável que sua

participação nas atividades da Igreja fosse mais visível. Tal fato só era possível

através de uma manifestação “ardente” de sua espiritualidade, característica

comum aos denominados “avivados”. Pastores e presbíteros adeptos da inovação

lideravam o movimento procurando impor aos membros uma nova postura, o que

gerava conflitos.

Na revista do trimestre abr -jun/69, o Rev. Eny Luz de Moura do Estado

de Santa Catarina faz referência ao movimento, afirmando que:

“ Os arraiais presbiterianos, e evangélicos em geral, andam sendo visitados por um movimento estranho, atordoante e pertubador.

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O movimento “avivarenovacionismo – pentecostalizante”, cujas origens e resultados desagregadores não vai ao caso analisar aqui neste curto espaço (o que faremos oportunamente).” 253

O autor citado acima apresenta novo artigo intitulado “Alerta”, no

trimestre out-dez/69, no qual manifesta novamente sua preocupação com os

“excessos da Renovação.”

Como descreve o autor, o movimento “aviva-renovacionismo-

pentecostalizante” avançou por todo país, afetando consideravelmente a unidade

das Igrejas. Algumas sociedades internas da Igreja apresentam problemas, o que

pode ser confirmado pela mensagem escrita por Martha Pinto de Oliveira –

Secretária de Espiritualidade da Confederação Sinodal do Sínodo de Belo

Horizonte, em agosto de 1969, e publicada no trimestre jan-mar/70, como segue:

“Tenho sofrido muito por saber de problemas que estão perturbando e paralisando mesmo trabalhos de nossa amada Igreja Presbiteriana. Creio que igualmente a irmã tem sofrido demais com isso.

Parece-nos que Pastôres e líderes do trabalho estão necessitando da graça salvadora de Cristo para livrá -los do poder de Satanaz que os está usando para a dissenção na Igreja do Senhor; esta Igreja que Êle quer ‘sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito.’”254

O movimento evoluiu consideravelmente, culminando com o surgimento

de uma nova Igreja, isto é, a divisão da instituição em estudo. Isto mostra que

trouxe sérios transtornos à Igreja, culminando com a separação entre seus

membros e a criação de uma nova denominação, à Igreja Presbiteriana Renovada.

253 MOURA, Eny Luz de. Alerta! SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1969, p. 11. 254 OLIVEIRA, Martha Pinto de. Mensagem. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 3-4. 255 LIVRO ATA Nº 4 CONSELHO DA IPB de Campo Mourão. 1970, p. 1.

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Entre os diversos movimentos dissidentes que se sucederam na Igreja

Presbiteriana do Brasil limitamo-nos ao último, ocorrido em 1970, considerando

sua origem no noroeste do Paraná e o fato de terem alcançado a cidade de Campo

Mourão cujo o pastor em exercício Rev. Jonathan Ferreira dos Santos foi o líder

da questão e era, na época, presidente do Presbitério Regional sediado em

Cianorte.

O relato do conflito consta em livros de Atas do Conselho da Igreja

Presbiteriana de Campo Mourão, através de registro do Rev. Jofre Botão, em

1971 que afirmava:

“Nota - Esta Igreja sofreu a crise da divisão proveniente das doutrinas “pentecostistas” implantadas pelo ex pastor Presbiteriano Rev. Jonathan Ferreira dos Santos, então o Conselho foi dissolvido, e por este motivo até que seja constituído o novo Conselho, registraremos – Atos Pastoraes -, que continuamos o 3º livro...”255

Toda documentação e livros de registros existentes, anterior ao

movimento, estão desaparecidos. Isto foi informado verbalmente por membros

mais antigos e pelo atual pastor Rev. João dos Anjos.

Nos registros escritos, apenas um dos livros faz alusão ao fato. A nota

aparece na abertura de um dos livros de Atas da Junta Diaconal256 em agosto de

1971, escrito por seu Secretário Sr. Itamar Alves como segue:

“Como o livro anterior havia desaparecido comprou-se o presente livro, com 50 folhas numeradas tipograficamente, para passar as atas concernentes as reuniões da Junta Diaconal, que seguirá a ordem

256 Junta Diaconal – Conjunto de Diáconos eleitos pela Igreja com atividades definidas em estatuto próprio e que, na IPB são representados

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numérica crescente a começar pelo número Um (1)”.257

O alcance do movimento também pode ser percebido através do registro

no Livro de Atas da Junta Diaconal da IPB de Campo Mourão, cujo histórico

apresenta:

“ Em virtude da crise doutrinária, que atingiu a região, a Igreja Presbiteriana de Campo Mourão – PR., teve seu Conselho e Junta Diaconal dissolvidas, passando a existir como congregação, até o dia 22 de agosto de 1971, precisamente as 14:00 horas quando reuniu-se em Assembléia para reorganizar-se, elegendo-se na oportunidade o Conselho e a Junta Diaconal.” 258

Do mesmo modo como foram reorganizados os órgãos básicos da Igreja,

as sociedades internas, afetadas pelo problema, foram sendo reestruturadas.

É importante considerar que apesar do conflito vivenciado por muitas

igrejas e a extinção de inúmeras SAFs, a SAF em Revista não deixou de ser

impressa e distribuída em nenhum momento.

Apenas foi possível detectar que o assunto sobre a crise interna da Igreja

era, esporadicamente, manifestado através de seus artigos, objetivando estimular

as mulheres a permanecerem como apoio nas atividades religiosas, ou procurando

conscientizá-las do problema presente. Algumas vezes transparecia certo

questionamento sobre a postura dos membros em relação ao grau de

espiritualidade.

Podemos exemplificar, através do artigo do Rev. Eny Luz de Moura, que

contrapõe a apatia religiosa aos excessos presentes e lembra: “... não

emocionalismos e gritarias, que são condenados pela palavra de Deus. Mas

257 Livro de Ata organizado a partir de 22/08/1971, nº 1. IPB Campo Mourão: Registro na p. 1. 258 Ibid., p. 1.

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ordem e decência que são recomendados pela mesma Palavra ao povo do

Senhor”. 259

O autor demonstra preocupação com as reuniões, “avivadas”260 que

surgiam no período em algumas igrejas.

As revistas publicadas no último trimestre de 1970 e durante todo ano de

1971 não fizeram alusão ao movimento. Porém, no período jan-mar/72, um artigo

do Rev. Osvaldo Henrique Hack mostra que o problema estava presente.

“Em nossos dias o têrmo “reavivamento” deve ser reestudado. O uso demasiado e inconveniente por igrejas extremistas trouxe uma atitude de auto-defesa, chegando mesmo a uma reação negativa, no ambiente presbiteriano.

O movimento revivacionista penetrou em todas as igrejas e por isso a Igreja Presbiteriana também foi alvo, chegando ao extremo, da separação definitiva da ala pentecostalizada”.261

É importante lembrar que a separação a que se refere o autor fez surgir a

Igreja Presbiteriana Renovada, sendo hoje uma entidade que congrega muitos

adeptos e que está presente por todo país.

4.4. A VIRTUDE DA SUBMISSÃO EM REVISTA.

259 MOURA, Eny Luz. Renovação ou Inovação. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 27 260 Avivadas – termo utilizado e que indica cultos e outras cerimônias, com manifestações ruidosas objetivando indicar um certo ânimo espiritual presente. 261 HACK, Osvaldo Henrique. Aspectos do Reavivamento. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1972, p. 13.

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A submissão é apresentada como uma ação de acatamento a valores e

princípios instituídos, bem como de respeito e aceitação das autoridades e

instituições vigentes.

Sendo a SAF em Revista, um veículo dedicado essencialmente ao gênero

feminino, a elaboração de seu discurso privilegia determinados aspectos

perpetuadores de uma ideologia que deixa transparecer as diferenças de direitos

quanto às posições ocupadas na hierarquia organizacional presbiteriana.

Há uma infinidade de artigos, objetivando dar mostras à mulher da sua

responsabilidade como cristã, colocando-a como elemento fundamental na

solução e/ou razão dos conflitos, na conquista da felicidade dos membros da

família e, também, instrumento de harmonia e de força de trabalho na Igreja.

Ao lhe ser atribuída tal importância não se atribui que ela deva ocupar

posição de destaque adquirindo, deste modo, qualquer espécie de “poder” e/ou

“direitos”. Pelo contrário, sua função implica em uma infindável lista de

obrigações que vai desde o modo de falar e vestir, até a competência psicológica

de bem compreender o comportamento daqueles que dela dependem.

Um exemplo apresentado por Lydia Leitão sobre “submissão”, na

Revista de out/55, mostra como determinada senhora conquistou a felicidade.

“Foi dócil, foi bondosa para com o esposo espalhando felicidade no seu lar. E procurou melhor desenvolver o talento da Oração. Orou com perseverança vivendo em comunhão perfeita com Deus. Viveu dentro do lar uma vida de oração e de poder.

Deus abençoou tamanha submissão. Seu espôso começou a interessar-se pelas reuniões na Igreja...” 262

Nossa investigação não tem por objeto questionar a espiritualidade

apresentada, mas refletir sobre o discurso que é dirigido ao gênero feminino,

262 LEITÃO, Lydia. Submissão. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1955, p. 13.

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determinando o papel de mera submissão ao homem, independentemente de

qualquer outro papel que a mulher possa ocupar ou mesmo de seu modo de

pensar.

No hodierno é inviável medir o grau de felicidade de alguém impedido

de manifestar-se inteiramente. A submissão imposta a mulher nos primórdios do

presbiterianismo no Brasil negava-lhe o direito de manifestação autentica.

Entre as muitas manifestações sobre a importância do calar, um dos

pontos conclusivos sobre o tema é apresentado no periódico de dez/59, intitulado

“As Lições da Girafa”. É mostrada como ilustração e conclui:

“Elas são mudas. Saibamos silenciar nos momentos precisos, usando o provérbio: “Ver, ouvir e calar”. Lembremos-nos que: “Quem muito fala pouco acerta”. As girafas vivem em bandos. Sejamos unidas e estaremos preparadas para enfrentar as hostes inimigas e vencê-las.” (grifo nosso). 263

O direito de falar e o dever de calar ocupa espaço de destaque na relação

de poder entre o homem e a mulher.

O discurso que garante ao homem a primazia do falar é embasado em

textos bíblicos escolhidos e interpretados por eles.

Nina Luz, ao escrever sobre o lar e a essência da submissão feminina,

utiliza I Pedro – 3:1.

“Mulheres, sede vós, igualmente submissas a vosso próprio marido, para que, se ele ainda não obedece à palavra seja ganho sem palavra alguma, por meio do procedimento de sua esposa. ( grifo nosso)264

263 Revista SAF, As Lições da Girafa. São Paulo: Presbiteriana, 1959, p. 25. 264 Bíblia Sagrada. I Pedro 3:1

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Percebemos que a autora citada coloca o calar como procedimento

correto de uma esposa submissa.

Há momentos em que a referência à fala se identifica com uma crítica

dirigida especificamente às mulheres. Isto pode ser percebido através do relatório

escrito por Edith Maia sobre o Congresso Nacional do Trabalho Feminino da

Igreja Presbiteriana dos EUA. O evento ocorreu no período de 22 a 29/06/1964,

na Universidade de Purdue em Lafayette, no estado de Indiana.

Apesar da presença de homens e mulheres, Edith Maia salienta o

seguinte:

“Ficamos impressionados com a ordem e a disciplina das delegadas. Nas reuniões em conjunto, realizadas no auditório, (capacidade de 6 mil pessoas sentadas) antes do início dos trabalhos, era uma verdadeira Babel. Podem imaginar mais de 5 mil mulheres falando ao mesmo tempo? (elas são todas iguais em toda parte). Bastava uma levantar a mão, outras mãos faziam o mesmo, era a ordem de fazer silêncio, que num minuto era completa. Para os grupos de estudos, não havia necessidade de fiscalização, cada delegada se dirigia para o grupo que fazia. Os horários também foram obedecidos rigidamente. Nunca ouvimos ninguém reclamar nem passar à frente de outro grupo...”265

O relatório deixa claro a crítica ao afirmar que as mulheres “são iguais

em toda parte” pelo simples fato de conversarem ao estarem reunidas. Ao ler o

relatório fica a imagem de um grande “falatório” feminino enquanto aos homens

presentes não é feita nenhuma referência. A autora não rotula os homens como

iguais em toda parte, sejam eles falantes ou não.

Os termos utilizados pela autora demonstram a presença de um controle

bastante autoritário, considerando que a mesma demonstra certa admiração ao

265 MAIA, Edith. Relatório do Congresso Nacional do Trabalho Feminino nos EUA. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1965, p. 12.

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tratar da não necessidade de fiscalização no decorrer de alguns trabalhos. Seu

comentário sobre o comportamento das mulheres no evento mostra a excelência

da organização já que, dentre as 5 mil mulheres presentes, ninguém reclamou

nada e nem desrespeitou a ordem instituída.

Num outro artigo que trata da questão do falar, podemos detectar a

presença de um aspecto diferente relacionado à mulher.

Ivany Escobar Becker, em colaboração com o Rev. Charles Carpenter,

publicou um artigo onde destaca as qualidades da modéstia e humildade. No

mesmo, o falar deve fazer parte da humildade. Com base nos primeiros 16 livros

do Velho Testamento, os autores citados elaboraram um estudo sobre algumas

mulheres e afirmavam:

“Modéstia – Nós lemos em Genesis 24 a modéstia de Rebeca quando se encontra com Isaque pela primeira vez. Há algo bonito nas palavras dos vs 64 “Tomou ela o véu e se cobriu”. Ela possui as qualidade de humildade e modéstia que nunca são absolutas mas sempre são bonitas e em dia. Humildade no falar, humildade em se vestir, se comportar e em toda maneira de viver. Deus já se declarou inimigo do orgulho e amigo da humildade. Vamos permitir que cresça e cultivar sempre esta virtude em nossas vidas.”(grifo nosso)266.

É possível perceber que a produção dos artigos procura garantir aceitação

e credibilidade não só do discurso, como também, de seus autores. A essência dos

escritos é de cunho teológico e apresenta modelos bíblicos de mulheres através de

estudos convincentes com o princípio doutrinário desenvolvido pela IPB. Entre

elas, há vários textos sobre: Marta e Maria, Ester, Débora, Lídia entre outras

mulheres consideradas exemplares para o meio cristão.

266 CARPENTER, Charles, BECKER, Cacilda Escobar. O Plano de Deus Para as Nossas Vidas . SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1965, p. 19.

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Nos artigos que comentam sobre o papel de Marta e Maria, há sempre o

destaque especial para Maria que demonstrou interesse em ouvir e aprender. Não

deu importância apenas às coisas “terrenas” como Marta, mas sentou-se para

ouvir Jesus.

Os artigos não interpretam a fala de Jesus para demérito da prática

doméstica, da boa hospedagem, mas sim, enaltecem a importância da preocupação

pelo conhecimento das verdades cristãs. Isto pode ser lido na revista do trimestre

jul-set/69 sob o título “A Melhor Escolha”, como segue:

“Jesus não impugnou as coisas que preocuparam Marta, mas classificou-as até de desnecessárias. Ele não viera para ser servido, mas para servir, nem reclamava atenção para o aspecto material de sua vida, que Marta tão bem queria cuidar; chamava ao contrário a atenção dos seus ouvintes para seus ensinos e por isso elogiou a escolha de Maria que não escolheu apenas alguma coisa boa, mas a boa parte, o lado bom por excelência da vida, seu aprofundamento nas coisas eternas, “pois as coisas terrenas são passageiras mas as que são de cima são eternas”.267

Apesar de encontrarmos diversos textos que aludem à beleza, como

exemplo a imagem da rainha Ester, amplamente utilizada como modelo de

sabedoria e beleza, na referência ao meio em questão, o discurso se modifica. Fica

exposta grave preocupação com a frivolidade feminina, tida como própria da

vaidade e que, se presente no meio cristão, é condenável.

O fascículo da SAF em Revista de abr/jun-70 apresenta um estudo sobre

o livro de Ester no qual omite qualquer análise sobre a ação de Vasthi. Apenas

descreve o comportamento do rei da Pérsia e a recusa de obediência por parte da

rainha.

267 SAF em Revista. A Melhor Escolha. São Paulo: Presbiteriana, 1969, p. 7.

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Ao expor sobre os costumes no palácio, descreve:

“... Ali bebia-se sem constrangimento e o rei, movido pela excitação do vinho, ordenou que a rainha se apresentasse, exibindo a sua beleza perante os convidados. Vasthi, indignada, recusou-se a obedecer, desrespeitando assim a etiqueta oriental.

Naquela época a mulher era considerada como uma escrava simples joguete nas mãos de seus senhores; não podia ter vontade própria, porém obedecer cegamente às ordens. Onde os vícios e a orgia predominavam, a situação da mulher era ainda mais deplorável mais humilhante.”268

A descrição apresentada denota coragem na atitude de Vasthi. É

fundamental reconhecer que, na época em que ocorreu o fato, a mulher estava

destinada à submissão legalizada. Portanto, negar-se a servir aos caprichos de um

rei ou a qualquer senhor era muito mais difícil do que colocar -se humildemente

diante dos mesmos.

Porém, o texto deixa de lado a atitude de Vasthi e desenvolve ampla

análise sobre a postura comportamental de Ester.

No contexto fica aparente que o modelo escolhido enaltece virtudes

representadas pela humildade, submissão e simplicidade que devem estar

imbutidos no modo de ser feminino. A referência aos termos humildade e

simplicidade abrange a postura e conduta da mulher, exigindo dela sobriedade nos

usos e costumes.

O artigo “Em te mpos de Tentação” aludindo à questão da vaidade,

publicado pela SAF como transcrição de um Boletim da UMP de Copacabana, RJ

268 FARIA, Ruth da Silva. Ester O Livro de Ester e a sua mensagem. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p.1.

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omitindo autor e dados, afirma: “Salva-nos de nos tornarmos escravos da luxúria

e paixões, ou vítimas de desmedido apetite e gluton eria.”269

A constante preocupação com o cultivo das virtudes e uma adequação do

indivíduo a um modo de ser exemplar revela a influência do puritanismo herdado

dos missionários norte americanos, precursores do presbiterianismo no Brasil.

Mendonça afirma que:

“ O puritanismo foi mais um modo de ser da vida religiosa que se foi ajustando, nem sempre passivamente, às várias correntes de pensamento que, vão desembocar na América e se prolonga pela história do protestantismo naquele país e pelas suas áreas de influência missionária.

... É essencialmente um modo de viver”270

Um dos estudos produzidos para o VII Congresso Nacional, em 1970,

sobre “o livro de Ester e sua mensagem” faz referência à questão da humildade,

gratidão e outros aspectos necessários à figura feminina. Ruth da Silva Faria,

autora do estudo, ao referir-se à rainha Ester, afirma:

“Ela era obediente, meiga e sabia respeitar e estimar àquele que dela cuidara- Mardoqueu, seu parente. Ester foi uma verdadeira heroína, hábil, enérgica, corajosa, temente a Deus”. 271

O mesmo tema trás referências sobre o porquê da escolha de Ester como

rainha. Mostra a figura da rainha Vasthi que negou-se obedecer ao rei, servindo-o

apenas como modelo de formosura e, por isso, perdeu sua posição.

Não há uma discussão mais crítica sobre o caso, mas apenas um relato

demonstrativo da questão.

269 SAF em Revista. “Em tempos de Tentação. São Paulo, Presbiteriana, 1967, p. 1. 270 MENDONÇA, op. cit., p. 42/43. 271 FARIA, Ruth da Silva, Ester – A Rainha Heróica. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 2.

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É possível constatar que o momento político brasileiro, vivenciado pelo

regime militar nos anos 70 e legalmente instituído, justifica a postura de

acomodação percebida através do discurso apresentado.

Retomando o estudo de Ruth da Silva Faria, destacamos a seguinte

afirmação:

“O rei ficou furioso com a recusa de Vasthi e reunindo os conselheiros procurou uma solução para o caso. Eles opinaram pela destituição de sua posição de rainha, alegando que esta falta tão grave serviria de mau exemplo para as outras mulheres que passariam assim, a desobedecer a seus maridos. Foi por isso baixado um decreto, que cada homem se considerasse a pessoa mais importante em sua casa, devendo ser obedecidas suas ordens sem discutir.” 272

É possível observar que no caso apresentado, Vasthi é a representante da

desigualdade feminina. Ao negar-se a servir aos caprichos do homem (Rei),

colocou-se como diferente. É uma mulher que pensa e age contrariando os

ditames da época. Ignora os valores impostos socialmente e que determinam para

a mulher uma posição de declarada inferioridade e subserviência.

Entendemos que, ao colocar-se como senhora de sua própria vontade

garantiu para si o direito de optar e impor seus próprios desejos, mesmo que isto

tenha representado a perda do privilégio de ser a rainha.

Ester porém, diferentemente, é o modelo de submissão, o único aceito

pela sociedade da época retratada. Ela foi escolhida também como modelo a ser

observado no meio presbiteriano.

O livro de Ester, cap. 1: 10 a 22 traz a descrição do fato. Também o

estudo, organizado para o VII Congresso Nacional em Vitória (ES), limitou esta

parte do livro apenas a uma descrição. Ficou evidenciado que o objetivo do

272 Ibid, 1970, p. 1.

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discurso era a exaltação dos dotes de Ester e sua relação com os deveres das

mulheres da época.

Continuando o relato histórico, e as lições tidas como exemplares, Ruth

da Silva Faria trabalha o tema sob outro título, isto é, “A missão de Ester e a

nossa na Época Atual”.

Fica evidenciada a problemática social vivenciada pela mulher dos anos

70, que passa a contribuir com o trabalho fora do lar.

O enfoque da Revista SAF, através de alguns artigos, deixa transparecer

a consciência de algumas mulheres sobre as transformações que estão ocorrendo.

É o caso de Maria Kudzielicz ao afirmar:

“Os atuais meios de comunicação permitem acompanhar de perto todos os acontecimentos mundiais, especialmente, nos setores de atividades profissionais e assistenciais.

As mudanças constantes nas condições e modo de vida moderna trouxeram problemas de trabalho, habitação, saúde pública, convívio e ajustamentos sociais.

Também o papel da mulher está sofrendo transformações, e é grande a modificação que tem experimentado através dos últimos séculos.”273

A autora citada descreve o acesso à educação e à profissão, salientando a

importância da mulher em servir a comunidade.

O desenvolvimento sócio-econômico da época impelia à busca de

crescimento intelectual e profissional. Os meios de comunicação, já bem

desenvolvidos, concorriam para a mudança de hábitos e valores, fazendo surgir

273 KUDZIELICZ, Maria. A Mulher Cristã a Serviço da Comunidade Moderna. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 25.

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consideráveis conflitos familiares que se refletiam nos meios religiosos. A

exemplo disto, A. H. V. Ferreira escreve:

“Se, por um lado esses meios poderosos de comunicação constituem grande conquista da vida contemporânea, por outro lado, trazem problemas graves, quando se considera o seu aspecto de influência negativa. Exemplo: muitos programas maléficos que a televisão atira, por assim dizer, aos lares, não passam pelo crivo de uma censura cuja formação ética seja irrefutável.”274

Ao mesmo tempo em que a comunicação está enchendo os lares, a

mulher está se ausentando em busca do trabalho.

O acesso ao saber, à profissão e, ao conseqüente ganho salarial, colocava

em decadência velhos padrões ligados à noção de submissão e responsabilidades

domésticas feminina.

4.4.1. SAF- UM VEÍCULO DE INSTRUÇÃO DOMÉSTICA

274 FERREIRA, A.H.V. – A Mulher Cristã e o Desafio do Mundo de Hoje. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 1.

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A função e educação dos filhos estão sensivelmente expostas na SAF em

Revista, garantindo constância e variedade de temas sempre dedicados ao gênero

feminino.

Através da revista é possível reconhecer que a sociedade destina à

mulher a responsabilidade da formação de homens capazes, trabalhadores,

responsáveis e dignos. O governo espera que estes mesmos homens, educados por

Ela , sejam verdadeiros cidadãos, cumpridores das leis, fiéis no recolhimento dos

impostos, acatadores e respeitadores das autoridades instituídas além de,

evidentemente, serem igualmente preparados para se transformar em políticos

quando advirem de famílias ligadas aos interesses do sistema.

Também a Igreja espera que todos os filhos sejam educados por suas

respectivas mães no sentido de preservarem a doutrina e o princípio vigente, bem

como auxiliarem na manutenção da estrutura organizacional existente. Para isto,

Deus as destinou e a Igreja lhes dá total apoio. Seu papel de “auxiliadora” é

muito importante para a Instituição e é defendido inclusive pelo órgão máximo, o

“Supremo Concílio”, que acompanha o desenvolvimento de suas efetivas

realizações.

Beny Sandoval de Oliveira, em um artigo destinado aos estudos em

reuniões plenárias da SAF , salienta a importância da mulher no lar e na educação

ao escrever:

“O lar é a Universidade de Deus, e os pais são os Mestres dessa Universidade.

A mãe representa influência poderosa na educação da criança. Ela tem em suas mãos todos os elementos necessários para moldar o coração e a mente dos seus filhos. “Ensina um homem e estarás escrevendo na água, ensina uma criança e estarás escrevendo no mármore”. É no lar que a criancinha bebe os

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ensinamentos e onde tem sempre diante dos olhos o exemplo ao qual copiará.”275

Ao ser trabalhado o tema sobre o lar, a figura masculina aparece, às

vezes, no papel de autoridade.

É possível perceber claramente as diferentes funções determinadas ao pai

e à mãe, visando um modelo ideal de lar.

Zélia Maranhão afirmou que o pai é uma fonte de autoridade e a mãe

uma fonte de afeto, como segue:

“Em um lar bem formado e normal está presente uma fonte de autoridade, o pai, o liame, o contacto com a realidade, quem dá sentido na vida doméstica, (Esta função precípua do pai não lhe exclui outras. Também é sua função amar, ser companheiro, etc.)

Está presente também uma fonte de afeto, amor devocional, sacrificial na pessoa da mãe. (Note-se que afeto não é sinal de pieguice e não exclui autoridade e nem afirmação pessoal).” (grifo nosso)276

É interessante observar o que a autora citada deixa entre parênteses,

quando trata do sentimento do pai relacionado com o amor, e, do mesmo modo,

quando faz referência à autoridade e afirmação pessoal da mãe.

Na essência, o pai é o centro, o elo, o “liame” da vida doméstica e a mãe

a fonte do amor devocional, sacrificial, etc.

Entre os vários artigos analisados, é possível detectar que seu discurso

procura destacar um modelo de mulher ideal. Há mesmo preocupação com a

formação da mulher, visando prepará-la para melhor responder às necessidades do

lar e da família.

275 OLIVEIRA, Beny Sandoval de. A Influência da Educação Religiosa no Lar. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1971, p. 19.

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Sob este aspecto Beny S. de Oliveira escreve:

“A mulher precisa ter cultura, capacidade pedagógica, e, principalmente a sã doutrina. A sã doutrina trará a sabedoria. Sabedoria bíblica: juízo, justiça, pureza, verdade e dons espirituais. A mulher precisa possuir conceito de justiça, senso de honestidade.”277

A seriedade com que é tratada a importânc ia do papel de “dona de casa”

possibilitou a manutenção, na Revista, de uma seção de receitas como também de

sugestões sobre utilidades domésticas dirigidas às mulheres

Um dos fascículos da SAF apresentam um teste interessante, com

inúmeras perguntas que refletem o grau de expectativa sobre o papel da “dona de

casa”. O autor foi omitido, mas seguem algumas das indagações:

“Proporciona à sua família alimentos nutritivos, saborosos, sem dispêndio de muito dinheiro?

Desenvolve aptidões nas crianças para a vida no lar e na sociedade?

Veste sua família com bom gosto e economia?

Compreende a divergência de temperamento dos componentes da família e procura orientá -los?

Domina os seus próprios problemas para resolver os de sua família?” 278

O interessante é que, após a avaliação, consta a representação dos pontos

em que o conjunto dos SIM garante a excelência da “dona de casa” e os NÃO

implica na necessidade de esforço para a superação das consideráveis falhas.

O Congresso Nacional de 1970, ocorrido em Vitória (ES), que garantiu a

presença de representantes dos diversos estados brasileiros, contando com

276 MARANHÃO, Zélia Fávaro. O Lar como Base da Educação Cristã. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1971, p. 1. 277 OLIVEIRA, Beny Sandoval de. A Responsabilidade da Mulher Moderna na Educação Religiosa. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1971, p. 24.

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mulheres de níveis e interesses diversificados, oportunizou à liderança da época

apresentar temas que questionavam as transformações presentes na sociedade da

época.

Rute da Silva Faria, em 1970, ao apresentar o trabalho sobre “A missão

de Ester e a nossa na época atual”, mesmo admitindo o alto custo de vida, os

problemas de ordem material enfrentados pela dona de casa, questiona a busca da

mulher pela superação das carências, considerando:

“O modernismo com o seu cortejo de luxo, de vaidade, de mil e uma atrações, a preocupação de se exibir, têm levado o elemento feminino a ausentar-se do lar, a perder ótimas oportunidades de cuidar com dedicação do seu espôso, de educar convenientemente os filhos, proporcionando-lhes o zêlo que só uma mãe pode dispensar, deixando-os entregues a estranhas, a empregadas desumanas, a parentes que os estragam com mimos excessivos ou não sabem educá-los como seria necessário...” (grifo nosso) 279

Pelo exposto, pode-se entender que as empregadas tidas como

desumanas, e os parentes que “estragam os filhos” não teriam acesso ao

conhecimento inerente da mãe, ou então, o artigo estaria deixando transparecer

um discurso discriminatório motivado pela distinção de posição: mãe x

empregada.

Na realidade, há considerável insistência quanto ao insubstituível papel

da mãe como educadora e orientadora dos filhos. A maternidade implica não só na

busca pela formação e preparo intelectual dos filhos, como também no

encaminhamento religioso.

278 SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1964, p. 19. 279 FARIA, Ruth da Silva. A Missão de Ester e a nossa na Época Atual. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p.5.

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Além do auxílio e acompanhamento nas atividades escolares, é mister

transmitir os primeiros ensinamentos da religião através do culto doméstico diário

e do exemplo de vida vivenciado por ela diante da família e da sociedade.

O apoio dado pelos organismos de poder da Igreja servem como suporte

à ação feminina que busca estar sempre em perfeita comunhão com os ditames

dos usos e costumes da entidade.

As habilidades esperadas delas não são poucas. A revista apresenta

modelos que visam motivá-las na busca da perfeição da imagem. Além do

exemplo de vida esperado da mulher, no aspecto da conduta moral, há também a

preocupação de salientar a importância do trabalho como virtude.

Guaraciaba S. de Abreu, em seu artigo sobre “a mulher na Igreja”,

exemplifica a competência de Dorcas como costureira. “Ela foi a pioneira do

trabalho de agulha posto em benefício, do próximo”.280

O artigo intitulado “Dorcas, uma Discípula”, de 1972, cujo autor é

omitido, apresenta Dorcas como uma discípula281 de Jesus.

Dorcas é uma personagem bíblica cuja descrição está contida em Atos

dos Apóstolos, como segue: “E havia em Jope uma discípula chamada Tabita,

que traduzido se diz Dorcas. Esta estava cheia de boas obras e esmolas que

fazia.”282

O artigo descreve o relato da morte de Dorcas e a ação de Pedro,

responsável pelo milagre de sua volta à vida. Neste contexto fica demonstrada a

importância desta mulher na comunidade em que se inseria, bem como sua

competência como costureira.

280 SAF em Revista. Estudos para Reuniões Plenárias. São Paulo: Presbiteriana, 1972, p. 16. 281 O artigo “Dorcas, uma Discípula” da SAF em Revista de 1972 conceitua discípulo, como aquele que aprende com outro. Coloca que no caso bíblico é aquele que segue a Jesus e procura aprender dele. 282 Bíblia Sagrada. At. 9:36.

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A história conta que foram enviados dois varões a busca de Pedro em

Lida, local próximo a Jope para que viesse salvar a discípula.

“E levantando-se Pedro, foi com eles: e quando chegou o levaram ao quarto alto, e todas as viúvas o rodearam, chorando e mostrando as túnic as e vestidos que Dorcas fizera quando estava com elas. (grifo nosso)283

A citação não teria considerável destaque se apresentada apenas como

um fato histórico. Porém, seu poder de persuasão no sentido de pressionar o

gênero feminino em prol de assimilação de habilidades indispensáveis à sua

dignidade de mulher perfeita e capaz, chama nossa atenção.

Outros modelos de mulheres são exemplificados através da revista.

Haroldo Cock ao relacionar “Mulheres da Bíblia” não privilegiou apenas aquelas

se identificavam com o ideal feminino presbiteriano. O autor relacionou,

“Ana, a mãe ideal – I Samuel 1:20 Abigail, a mulher “sensata” – I Samuel

25:3 Débora, a mulher patriótica – Juizes

4:4. Dorcas, a mulher costureira – Atos 9:39. Eva, a mulher curiosa – Gênesis 3:6 Ester, a mulher que se sacrificou – Ester

4:16. Eunice, a mãe de Timóteo – II Timóteo

1:5. Febe, a mulher “protetora”- Romanos

16:12. Isabel, a mulher humilde – Lucas

1:43....”284

Porém, é interessante observar que na escolha dos versículos bíblicos

citados pelo autor há evidente preocupação em salientar as virtudes destas

mulheres.

283 Bíblia Sagrada. At. 9:39 284 COCK, Haroldo. Mulheres da Bíblia. SAF em Revista. São Paulo: Presbiteriana, 1970, p. 30.

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CONCLUSÃO

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CONCLUSÃO

O advento do protestantismo no Brasil, a partir do século XIX, causou

impacto diante do que existia no país em termos de religião cristã.

Dois fatores concorreram para o fato, ou seja, a presença de imigrantes

europeus não católicos num dado momento e a vinda de missionários norte -

americanos em outro.

Decorrente disto, o país contou com dois tipos de protestantismo. Um, o

de imigração, destinado a atender os imigrantes aqui instalados, possibilitando aos

mesmos a manutenção de sua cultura. O outro, o de missões, aberto ao projeto

norte-americano que, embasado na ideologia de “povo escolhido” trazia ao

território brasileiro a idéia de progresso e desenvolvimento.

Analisando o contexto social da “era missionária”, podemos constatar

que a figura feminina vivenciava aspectos discriminatórios comuns, decorrentes

do sistema vigente e dos valores embutidos na mentalidade do povo brasile iro.

O protestantismo de missão que adentrou no país carregava influências

do puritanismo, advindo dos Estados Unidos, onde chegara com os imigrantes

ingleses.

Isto influenciou a definição do “modo de ser” dos protestantes, porém

não contribuiu em nada para a eliminação dos aspectos discriminatórios

existentes relacionados a gênero, origem étnica, religião e classe social.

A condição feminina na sociedade em formação, no século XIX e início

do século XX, se identificava com sua condição como mulher protestante,

pertencente à uma sociedade onde a cultura patriarcal ainda se fazia presente.

As Igrejas Presbiterianas iam sendo criadas e organizadas estabelecendo

limites de poder para homens e mulheres no que se refere as funções a serem

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desempenhadas no espaço religioso. Embasado em estatuto interno, somente aos

homens era concedido o direito de acesso ao oficialato, o que deixava clara a

discriminação da mulher.

Porém, fora do espaço religioso, a presença de missionárias e

professoras norte-americanas repercutiu no espaço brasileiro.

A criação de escolas e a presença da mulher americana no sistema

educacional instituído, especialmente a partir de 1865, abriu espaço à figura

feminina brasileira possibilitando-lhe, a partir daquele momento, apossar-se de

uma nova alternativa. A organização da Escola Normal foi relevante no sentido de

viabilizar à mulher o acesso à uma profissão respeitável ensejando-lhe a

alternativa de superar as barreiras da intelectualidade.

A evolução política e econômica do século XX trouxe ao gênero

feminino novas opções. Com o desenvolvimento da urbanização e o avanço do

processo industrial a partir dos anos 30, ela passou a compor o mercado

produtivo. Posteriormente, tornou-se mão-de-obra especializada granjeando

espaços anteriormente monopolizados profissionalmente por homens.

A manutenção do sistema instituído é garantida através de um discurso

embasado em preceitos bíblicos. Mas, é interessante lembrar que, com base neste

mesmo instrumento, a Bíblia, outras igrejas conquistaram consideráveis avanços,

permitindo à mulher o acesso ao oficialato e até mesmo ao ministério pastoral.

Como exemplo, podemos citar a Igreja Presbiteriana Independente.

A mulher presbiteriana, ainda conserva parte do discurso

tradicionalmente instituído e tem contribuído para a preservação do “status quo”

da igreja. Este fato ocorre, considerando que a ela tem competido a educação e

formação religiosa dos filhos e, neste papel, ela continua repassando os valores já

instituídos.

Estudando a SAF em Revista, veículo de informação e formação

feminina, constatamos que seus artigos retratam a despreocupação com a questão

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organizacional da Igreja e priorizam temas voltados a questões do cumprimento

de obrigações como mães, esposas, auxiliares, etc..

Analisando as edições de 1955 a 1975, foi possível constatar que a

variedade dos assuntos não incluiu nunca um posicionamento crítico em relação

à mulher, nem mesmo relacionado a qualquer aspecto discriminatório presente na

sociedade, uma vez que isto não é prioridade da organização presbiteriana e

mesmo as mulheres ligadas à instituição não têm se preocupado com esta

problemática.

Homens e mulheres apresentaram sempre questões atinentes à

espiritualidade, à educação de filhos, à criatividade utilitária, às qualidades e

virtudes indispensáveis à figura feminina cristã, ao patriotismo e ao acatamento

das leis e autoridades, etc., enfim, temas sempre dirigidos à “política da paz”.

Concluindo, percebemos clara dicotomia do ser mulher.

Entendemos que esta personagem, enquanto cidadã, conquistou

considerável espaço na sociedade. Foi capaz de galgar degraus superiores na

hierarquia profissional e política. Porém, esta mesma pessoa, no espaço

presbiteriano, continua uma mera auxiliadora.

No espaço social, de dona de casa submissa transformou-se em

administradora, comerciante e comerciária, escritora e leitora, diplomata, política

e uma infinidade de outras funções e profissões. Mesmo no espaço doméstico,

decide, administra e opina. Porém, na Igreja, permanece no mesmo degrau.

Para que ocorra uma mudança no modelo de governo presbiteriano,

necessária se faz uma reflexão sobre a questão de gênero e da condição feminina.

Isto deve resultar numa mudança de mentalidade de todos que compõem a igreja.

Somente através da conscientização poderá ocorrer um posicionamento mais

crítico frente ao discurso instituído.

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Se a ação feminina serviu ao sistema, firmando-o como tal, sua influência

poderá determinar, mesmo que lentamente, o aprimoramento do mesmo,

oportunizando aos membros, independentemente do gênero a que pertençam, o

direito de acesso às diferentes funções na Igreja.

Este fato pode ser considerado viável uma vez que outras instituições

(igrejas), que tiveram origem na IPB, já alcançaram este grau de democratização e

suas mulheres já têm aces so a funções que antes eram privilégio masculino.

Portanto, a reestruturação do sistema não é uma utopia e, sim, algo

perfeitamente viável e que depende apenas do avanço conseqüente de um repensar

de seus membros.

O processo é lento. Estudos como este e outros que se produzem devem

servir de mola propulsora para uma séria reflexão.

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BIBLIOGRAFIA

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393

BIBLIOGRAFIA

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2 - Atas do 1º Congresso Nacional de Sociedades Auxiliadoras Femininas da

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Confederação Nacional de Mulheres Presbiterianas.

3 - Ata da Organização da Confederação Nacional do Trabalho Feminino da

Igreja Presbiteriana do Brasil de 22/02/1958. Xerox da Secretaria

Executiva da Confederação Nacional.

4 - Boletim Informativo da Secretaria Geral do Trabalho Feminino . Boletim

1 março de 1955 Red. Responsável Nady B. Werner. S. Paulo. Casa

Editora Presbiteriana.

5 - Boletim 2 – Informativo da Secretaria do Trabalho Feminino. São Paulo,

Casa Editora Presbiteriana junho/1955.

6 - Constituição da Igreja Presbiteriana do Brasil. Manual Presbiteriano. São

Paulo, Casa Editora Presbiteriana, 1951

7 - Confissão de Fé e Catecismo Maior da Igreja Presbiteriana. S. Paulo.

Casa Editora Presbiteriana:1957

8 - EXCELSIOR, Órgão Oficial da Mocidade Presbiteriana de Campo Mourão.

Coleção pertencente a José Carlos Santos (1969 a 1970). Produzido

pela mocidade da época.

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publicações de fevereiro/1883 a dezembro/1885. São Paulo.

10 - Livro de Atas do Conselho da IPB de Campo Mourão – PR. 1975

11 - Livro de Atas da UMP da Congregação Betel – Distrito de Campo

Mourão PR 1969

12 - Livro de Atas da Congregação Presbiterial de Campo Mourão – PR

.1968

13 - Livro de Atas da Junta Diaconal da IPB de Campo Mourão – PR .1971

14 - Livro de Ata da UPH da IPB de Campo Mourão – PR. 1976

15 - Livro de rol de chamadas revisado, de Campo Mourão, da Igreja Central,

congregações e pontos de pregação. 1971

16 - SAF em Revista. Coletânea completa de março/1955 a dezembro/1975.

Publicação Trimestral. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana.

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Petrópolis. Vozes: 1984

2 ARIES, Philippe. O Tempo da História. Rio de Janeiro, Francisco Alves

Editora, 1986

3 ARRUDA , José Jobson de. O Brasil no Comércio Colonial. São Paulo: Ática,

1980.

4 ARNOLD, David. A Época dos Descobrimentos 1400/1600. Lisboa, Gradiva,

s/d.

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5 AZEVEDO , João Lucio de. Épocas de Portugal Econômico. 4 ed. Lisboa,

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7 ALVES, Rubem . A. Dogmatismo e Tolerância. São Paulo: Paulinas, 1982.

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9 ALBORNOZ, Suzana. O Trabalho Invisível, in: Na Condição de Mulher.

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11 AVELAR, Lúcia. Mulheres na Elite Política Brasileira. São Paulo: UNESP,

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19 BAUBÉROT, Jean. Da Mulher Protestante. In: História das Mulheres no

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47 DUBY, Georges. Idade Média. Idade dos Homens. Do Amor e Outros

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65 LAPA, José Roberto do Amaral, O Antigo Sistema Colonial. São Paulo:

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67 LE GOFF, Jacques e NORA, Pierre. História: Novos Problemas. Trad. Theo

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68 História: Novas Abordagens. Trad. Henrique Mesquita. Rio de

Janeiro: Francisco Alves, 1988.

69 História: Novos Objetos. Trad. Terezinha Marinho. Rio de

Janeiro: Francisco Alves, 1988.

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71 LEITE, Miriam Lifchitz Moreira. Outra Face do Feminismo: Maria Lacerda

de Moura. São Paulo: Ática, 1984.

72 LÉONARD, Émile – G . O Protestantismo Brasileiro. São Paulo: ASTE,

1950.

73 LOURO, Guacira Lopes. Gênero, Sexualidade e Educação. Uma Perspectiva

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74 Gênero, História e Educação: Construção e Desconstrução. In:

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75 MAGALHÃES FILHO, Francisco de B. B. História Econômica. São Paulo:

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76 MANOEL, Ivan A. Igreja e Educação Feminina, 1859-1919. Uma Face do

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77 MAURO , Frederic. Origens da Desigualdade Entre os Povos da América. São

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78 MARODIN, Marilene. As Relações entre o Homem e a Mulher na

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79 MARCILIO, Maria Luiza. A Mulher Pobre na História da Igreja Latino-

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80 , Org. Família, Mulher, Sexualidade e Igreja na História do

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81 MARCONI , Marina de Andrade. Instituição, Família e Parentesco, in:

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82 MARTINS, F. O Ofício de Presbitero (origens, história, evolução e funções).

São Paulo: Presbiteriana, 1958.

83 MANUAL UNIFICADO DAS SOCIEADES INTERNAS. São Paulo:

Cultura Cristã, 1999.

84 MENDONÇA, Antonio Gouvêa. O Celeste Porvir – A Inserção do

Protestantismo no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1984.

85 MENDONÇA, Antonio Gouvêa, VELASQUES FILHO, Prócoro.

Introdução do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Loyola, 1990.

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90 NOVA, Sebastião Vila. Introdução à Sociologia. São Paulo: Atlas S/A, 1989.

91 NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial

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92 NOGUEIRA, Carlos Roberto F. O Diabo no Imaginário Cristão. São Paulo:

Ática, 1986.

93 NUNES, M. José F. Rosado. Prática Político-Religiosa das Congregações

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Religiosos no Brasil. São Paulo: Paulinas, 1986.

94 OLIVEIRA, Martins. História de Portugal. Lisboa, Europa – América s/d.

95 OTTO , Rudolf. O Sagrado. Trad. Prócoro Velasques Filho. São Bernardo do

Campo: Imprensa Metodista, 1985.

96 PEREGALLI, Enrique. A América que os Europeus Encontraram. São

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100 PRIORE, Mary Del. Ao Sul do Corpo. Condição Feminina, maternidade e

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1995.

101 As Atitudes da Igreja em Face da Mulher no Brasil

Colônia. In: Família, Mulher, Sexualidade e Igreja na História do

Brasil. São Paulo: Loyola, 1993.

102 A Mulher na História do Brasil. Raízes Histórica do

Machismo Brasileiro. São Paulo: Loyola, 1955.

103 PROST, Antoine. Fronteiras e Espaço Privado. In: História da Vida Privada.

Da Primeira Guerra aos Nossos Dias. Trad. BOTTMANN, Denise.

São Paulo: Cia das Letras, 5ª ed., 1997.

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Religiosa Vida Nova, 1989.

105 RAMA, Carlos M. História de las Relaciones Culturales entre España y la

América Latina. Siglo XIX, México, Fondo de Cultura Econômica,

1982.

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Sociologia da Educação. Rio de Janeiro: Zahar, 1976.

107 REZENDE, Maria Valéria. O Feminismo do Movimento Missionário na

América Latina. In: A Mulher Pobre na História da Igreja Latino

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109 A Igreja Presbiteriana no Brasil. Da Autonomia ao Cisma.

São Paulo: Livraria o Semeador Ltda, 1987.

110 Protestantismo e Cultura Brasileira. Aspectos Culturais da

Implantação do Protestantismo no Brasil. São Paulo: Presbiteriana,

1981.

111 Protestantismo no Brasil Monárquico. São Paulo: Livraria

Pioneira , 1973.

112 RIBEIRO, Darcy. O Dilema da América Latina. Pe trópolis: Vozes, 1983.

113 ROLDÁN, Alberto Fernando. Para que serve a Teologia? Curitiba:

Descoberta, 1988.

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ASTE, 1970.

115 SIMONTON, Ashbel Green. Diário, 1852/1867 trad. D.R. de Moraes

Barros. São Paulo: Presbiteriana, 1982.

116 SIQUEIRA. Sonia. A Inquisição Portuguesa e a Sociedade Colonial. São

Paulo: Ática, 1978.

117 SOUZA, Jessé de. Org. O Malandro e o Protestante. A Tese Weberiana e a

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Educação e Realidade, vol 15 nº 2 jul/dez. 1990. Trad. Guacira Lopes

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121 STACCONE, Guiseppe. Fiolosofia da Religião. O Pensamento do Homem

Ocidental e o Problema de Deus. Petrópolis: Vozes, 1991.

122 TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à Pesquisa em Ciências

Sociais. A Pesquisa Qualitativa em Educação. São Paulo: Atlas S.A,

1990.

123 TUCKER, Ruth A. “...Até aos Confins da Terra”. Uma História Biográfica

das Missões Cristãs. Trad. Neyd Siqueira. São Paulo: Sociedade

Religiosa, Vida Nova, 1989.

124 WALKER, Williston. História da Igreja Cristã. Vol I e II. Trad. D. Glênio

Vergara dos Santos e N. Durval da Silva. São Paulo: ASTE, 1967.

125 WEBER, Max. A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo. Ed.4 Trad.

M. Irene de Q. F. Szmerecsanyie Tomás J. M. Szmerecsánye, São

Paulo: Livraria Pioneira, 1985.

126 VAINFAS, Ronaldo. Economia e Sociedade na América Espanhola. Rio de

Janeiro: s/ed, 1984.

127 VEYNE, Paul. Como se Escreve a História . Lisboa, 1973.

128 VIEIRA, David Gueiros. O Protestantismo, a Maçonaria e a Questão

Religiosa no Brasil. Brasília: UNB, 1980.

129 VIEZZER, Moema. O Problema não está na Mulher. São Paulo: Cortez,

1989.

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406

III - JORNAIS E REVISTAS

1 – O Estandarte Ano 105, nº 6. São Paulo, Igreja Presbiteriana Independente do

Brasil, 1998.

2 - Ano 104, nº 1. São Paulo, IPIB, 1997.

3 - ALVORADA, Revista. Ano XXXI nº 20 São Paulo, IPI, jan/mar de 1999.

4 - BRASIL Presbiteriano. Diversos número de 1985 a 1987.

5 -Voz Missionária. Fev/Abr. 1973 a out/dez. 1984. São Paulo. Imprensa

Metodista.

6 - SAF em Revista. São Paulo, Casa Editora Presbiteriana. 1976 a 1982.

IV - DISSERTAÇÕES

1 - AÇO, João Paulo Rito Rodrigues. A Revista “A Voz Missionária (1930-

1949) como Veículo Para Educação Informal da Mulher Metodista.

Porto Alegre, UFRGS/RS, 1999. Dissertação (Mestrado em

Sociologia.) Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

2 -BRAKEMEIER, Ruthild. O Surgimento de Um Modelo de Diaconato

Feminino, sua Implantação no Brasil e Perspectiva para O Futuro.

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São Leopoldo, Escola Superior de Teologia, 1998. Dissertação

(Mestrado em Teologia). Escola Superior de Teologia.

3 - MEYRER, Marlise Regina. Evangelisches Stift: Uma Escola Para “Moças

das Melhores Famílias”. São Leopoldo, UNISINOS, 1997.

Dissertação (Mestrado em História ) Universidade Do Vale do Rio

de Sinos.

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ANEXOS

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