ano 58 nº 755 – outubro de 2017 presbiteriano

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Página 3 Página 14 Prelúdio do avivamento Página 15 Páginas 10 e 11 Nabeel Qureshi Conheça o homem que procurou Alá mas encontrou Jesus. A crise nunca foi impedimento para a ação soberana de Deus. Entenda como as filosofias dirigem os fatos da ciência e como isso nos afeta. B rasil Presbiteriano O Jornal Brasil Presbiteriano é órgão oficial da Igreja Presbiteriana do Brasil Ano 58 nº 755 – Outubro de 2017 500 1517 - 2017 REFORMA anos Enfrentamento da cultura secular Culto de Gratidão a Deus pelos 500 anos da Reforma

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Page 1: Ano 58 nº 755 – Outubro de 2017 Presbiteriano

Página 3Página 14

Prelúdio do avivamento

Página 15

Páginas 10 e 11

Nabeel Qureshi

Conheça o homem que procurou Alá mas encontrou Jesus.

A crise nunca foi impedimento para a ação soberana de Deus.

Entenda como as fi losofi as dirigem os fatos da ciência e como isso nos afeta.

Brasil Presbiteriano

O Jornal Brasil Presbiteriano é órgão oficialda Igreja Presbiteriana do Brasil

Ano 58 nº 755 – Outubro de 2017500

1517 - 2017REFORMA

anos

Enfrentamento da cultura secular

Culto de Gratidão a Deus pelos 500 anos da Reforma

Page 2: Ano 58 nº 755 – Outubro de 2017 Presbiteriano

Outubro de 20172BrasilPresbiteriano

herança da Reforma de que ouvi falar na

infância e adolescência não ia muito além do Castelo Forte. Pouco se falava sobre a Aliança. Nas referências à Teologia Reformada não se incluía muito mais do que a doutrina da Predestinação ou a Perseverança dos Santos. É verdade, havia a memo-rização do catecismo, mas normalmente era só isso mesmo, memorização. Não havia debates para aprofundar o entendimento ou propor a aplicação das verdades apren-didas.

Com o tempo, novos mes-tres passaram a dar palestras sobre os assim chamados Cinco Pontos do Calvinismo. Era como se a Teologia Reformada inteira se limitas-se aos cinco pontos. A essa altura, porém, eu já havia lido Calvinismo, de Abraham

Kuyper, e os Símbolos de Fé da Reforma, adquirindo uma visão mais consistente da nossa teologia, que não se pode reduzir aos cinco pontos, ainda que estes sejam, como são, bíblicos, e devam por isso ser subscritos, o que faço alegremente.

Esse apanhado histórico não fará justiça à situação em cada canto da IPB, mas refere-se ao que ocorria na maioria deles.

Importante para a divulga-ção da Teologia Reformada na IPB foi a chegada dos irmãos estadunidenses que contribuíram para o início dos trabalhos do que veio a ser o Centro de Pós-graduação Andrew Jumper. Era um piedoso e erudito grupo de mestres, entre os quais se destacava o Dr. Gerard van Groningen. Homens de Deus. Reformados.

O conhecimento da Teologia da Reforma aumentou muito na IPB desde então. Uma das contribuições mais decisivas nesse sentido foi a da Casa Editora Presbiteriana, com a publicação de uma impres-sionante coleção de textos Reformados. A Teologia da Aliança pode agora ser ensi-nada com o apoio de diversos bons livros e vasto material de Escola Dominical. Calvino, Turretini, Kuyper, Bavinck, Berkhof, van Groningen, Packer, Sproul, Horton, Augustus Nicodemus, Heber Campos, Hermisten Maia e outros vão sendo reimpressos.

O efeito positivo dessa agressividade editorial se viu na IPB e fora dela.

Mas, o quão Reformados somos? Podemos falar de Cosmovisão Reformada, mas vivermos como evangéli-cos fundamentalistas, cren-

do numa dicotomia sagra-do-religiosa, em um gueto religioso. Podemos falar da Aliança, mas não possuírmos uma compreensão bíblica de povo de Deus. Podemos falar em Soberania de Deus, mas, como neo-pentecostais, fazermos orações que, como cordéis, manipulam um deus-marionete-que-obedece-nos-sas-determinações, em vez de oferecê-las ao Senhor que tudo tem em suas mãos.

Por outro lado, quais doutri-nas e práticas escamoteamos para não nos parecermos com católicos, com espíritas, com marxistas, ou defensores de quaisquer outras teologias e ideologias?

Sola Scriptura, bradaram os reformadores. Cristãos Reformados não têm outro referencial para sua fé e prá-tica. Esse é o caminho para o cristianismo autêntico.

EDITORIAL

Uma publicação do Conselho de Educação Cristã e

Publicações

Ano 58, nº 755Outubro de 2017

Rua Miguel Teles Junior, 394Cambuci, São Paulo – SP

CEP: 01540-040

Telefone:(11) 3207-7099

E-mail: [email protected]

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Conselho de Educação Cristã e Publicações (CECEP)Clodoaldo Waldemar Furlan (Presidente)Domingos da Silva Dias (Vice-presidente)André Luiz Ramos (Secretário)Alexandre Henrique Moraes de AlmeidaAnízio Alves BorgesJosé Romeu da SilvaMauro Fernando MeisterMisael Batista do Nascimento

Conselho Editorial da CEPfevereiro 2016 a fevereiro 2018

Antônio CoineCláudio Marra (Presidente)Heber Carlos de Campos Jr.Marcos André MarquesMisael Batista do NascimentoTarcízio José de Freitas Carvalho

Conselho Editorial do BPfevereiro 2016 a fevereiro 2018

Alexandre Henrique Moraes de Almeida

Anízio Alves Borges

Clodoaldo Waldemar Furlan

Hermisten Maia Pereira da Costa

Márcio Roberto Alonso

Edição e textos

Gabriela Cesário

E-mail: [email protected]

Diagramação

Aristides Neto

Impressão

Reformados, nós?

A

Page 3: Ano 58 nº 755 – Outubro de 2017 Presbiteriano

Outubro de 2017 3BrasilPresbiteriano

GOTAS DE ESPERANÇA

s grandes avivamentos da História acontece-

ram em tempos de crise. Não nasceram do útero da bonança, mas foram gesta-dos com dores e lágrimas em tempos de sequidão. A crise nunca foi impedi-mento para a ação sobe-rana de Deus. É quando os recursos dos homens se esgotam que Deus mais visivelmente manifes-ta o seu poder. É quando todas as portas da terra se fecham é que Deus abre as janelas do céu. É quando o homem decreta sua falên-cia, que o braço do onipo-tente mais se manifesta.

O Brasil está vivendo, possivelmente, a sua mais aguda e agônica crise desde o seu descobrimen-to. A nação está rubra de vergonha, diante da desfa-çatez de políticos e empre-sários que domesticaram os poderes constituídos, para assaltarem a nação e sonegarem ao povo o direito de viver dignamen-te. O profeta Miquéias, já no seu tempo, identifi-cou essa associação para o crime, quando escre-veu: “As suas mãos estão sobre o mal e o fazem diligentemente; o príncipe exige condenação, o juiz aceita suborno, o grande fala dos maus desejos de sua alma, e, assim, todos

eles juntamente urdem a trama” (Mq 7.3). A cor-rupção chegou ao palácio, ao parlamento, às cortes e em setores importantes do empresariado. Um ter-remoto devastador atingiu as instituições, abalou a economia e enfraqueceu a indústria e o comércio. A carranca da crise é vista

na desesperança dos mais de quatorze milhões de desempregados em nosso país. A morte se apressa para aqueles que não têm direito a uma assistência digna nos hospitais, sem-pre lotados e desprovidos de recursos. Os acidentes trágicos se multiplicam porque nossas estradas estão sucateadas. A edu-cação se enfraquece por-que as escolas públicas,

em muitos lugares, estão entregues ao descaso. Líderes com muito poder e apequenado caráter, favorecem os poderosos e tiram o pão da boca dos famintos, fazendo amar-gar a vida de um povo já combalido pela pobreza e desesperança.

Nesse cenário cinzento,

muitas igrejas, por terem se afastado da sã doutrina e por terem hesitado com a ética, perderam a capa-cidade de exercer voz pro-fética. Não confrontam os pecados da nação, como consciência do Estado, porque primeiro precisam embocar a trombeta para dentro de seus próprios muros. Há um silêncio gelado, um conformismo covarde, um torpor anes-

tésico. Há igrejas cheias de pessoas vazias de Deus. Há igrejas onde os púlpi-tos já baniram a pregação fiel da palavra de Deus. Há igrejas onde o antro-pocentrismo idolátrico substituiu a centralidade de Cristo. Há igrejas mor-nas, apáticas, amando o mundo, sendo amigas do

mundo e conformando-se com o mundo. Há igre-jas que parecem um vale de ossos secos. Perdeu-se a vitalidade. Perdeu-se o vigor. Falta um sopro de vida!

É nesse momento de prognósticos sombrios, que devemos nos humi-lhar sob a poderosa mão de Deus. É imperativo converter-nos dos nossos maus caminhos e orar-

mos, buscando a face do Senhor, a fim de que ele perdoe nossos pecados, restaure a nossa sorte e sare a nossa terra. O avi-vamento começa com a igreja e partir dela rever-bera para o mundo. O avivamento é uma obra soberana do Espírito Santo que vem como torrentes do céu sobre a terra seca. O Espírito Santo é der-ramado sobre um povo que anseia por Deus mais do que pelas bênçãos de Deus. É quando decreta-mos nossa falência, nos convertemos dos nossos maus caminhos e nos pros-tramos diante de Deus, para desejarmos ardente-mente sua presença mani-festa, é que ele traz sobre nós o seu renovo. Então, a igreja florescerá como salgueiros junto às cor-rentes das águas. Então, os crentes se levantarão para dizer: “Eu sou do Senhor”. Então, não have-rá mais abismo entre o que se prega e o que se vive, porque os crentes escre-verão na própria mão: “Eu sou do Senhor”. Que Deus levante sua igreja e res-taure a nossa nação! Que neste tempo de crise e sequidão caiam sobre nós as torrentes abundantes do Espírito Santo!

Hernandes Dias Lopes

O

O Rev. Hernandes Dias Lopes é o Diretor Executivo de Luz para o

Caminho e colunista regular do Brasil Presbiteriano.

Crise, um prelúdio do avivamentoESPIRITUALIDADE DA REFORMA

Page 4: Ano 58 nº 755 – Outubro de 2017 Presbiteriano

Outubro de 20174BrasilPresbiteriano

m seu período de con-solidação teológica, a

Reforma viu a necessidade de sistematizar a sua fé, distinguindo-se da igreja católica romana e também de outros grupos protestan-tes. Considerando a auto-nomia individual procla-mada, esses ensinamentos deveriam ser inteligíveis ao cristão mais simples, para que ele pudesse filiar-se à igreja, conhecendo o que ela cria e ensinava.

Calvino (1509-1564) já combatera a “fé implícita” (fides implicita) – paten-te na teologia católica –, declarando que a nossa fé deve ser “explícita” (fides explicita). Ou seja: o fiel deve conhecer aquilo em que crê. No entanto, nem tudo foi revelado por Deus, e também devido à nossa ignorância e pequenez, muito do que cremos per-manecerá de forma implí-cita.

Depois de um extenso comentário, Calvino nos diz: “(...) não nego (...) que muitas coisas nos sejam agora implícitas, e ainda o hajam de ser, até que (...) tenhamos chegado mais à presença de Deus (...). Com esse pretexto, porém, adornar com o nome de fé à ignorância temperada com humildade, é o cúmulo do absurdo. Ora, a fé jaz no conhecimento de Deus e de Cristo (Jo 17.3), não

na reverência à Igreja” (As Institutas, III.2.3).

Em outro lugar: “Que cos-tume é esse de professar o evangelho sem saber o que ele significa? Para os papis-tas, que se deixam dominar pela fé implícita, tal coisa pode ser suficiente. Mas para os cristãos não existe fé onde não haja conhecimen-to” (Gálatas, São Paulo: Paracletos, 1998, p. 25).

Pelas palavras de Calvino, podemos observar a neces-sidade latente do ensino e estudo constante da Palavra, a fim de que cada homem, sendo como é, um ser res-ponsável, tenha condições de se posicionar diante de Deus de forma consciente. A fé explícita é patenteada pela igreja através do ensino da Palavra.

Entende que a prática de afastar o povo da Palavra, mantendo-o na ignorância, é uma atitude anticristã e alta-mente prejudicial: “Daqui se faz evidente que espécie

de cristianismo existe den-tro do papado, onde não só é a crassa ignorância exal-tada em nome da simplici-dade, mas também o povo é rigidamente proibido de buscar o real discernimen-to” (Hebreus, São Paulo: Paracletos, 1997, p. 143).

Tillich (1886-1965), a despeito de muitos desvios teológicos, interpreta corre-tamente que: “Cada indiví-duo deve ser capaz de con-fessar os próprios pecados, experimentar o significado do arrependimento, e se tor-nar certo de sua salvação em Cristo. Essa exigência gerava um problema no pro-testantismo. Significava que todas as pessoas precisavam ter o mesmo conhecimen-to básico das doutrinas fundamentais da fé cristã (Paul Tillich, Perspectivas da Teologia Protestante nos Séculos XIX e XX, São Paulo: ASTE, 1986, p. 41).

Essa necessidade deter-mina o uso cada vez mais evidente da razão a fim de apresentar de forma mais razoável e mais simples possível a doutrina. Eis dois marcos do ensino ortodoxo: amplitude e simplicidade. O ser humano é respon-sável diante de Deus; ele dará contas de si mesmo ao seu Criador; portanto, tendo oportunidade, ele pre-cisa conhecer devidamente a Palavra.

Nesse período (sécu-los 16 e 17) são compos-tas diversas Confissões e

Catecismos que, além de visar preservar a sã dou-trina, objetivavam tornar clara a fé dos crentes. Essas declarações precisavam ser, até certo ponto, completas. Entretanto, precisavam ao mesmo tempo ser simples, para que o crente comum (não iniciado nas questões teológicas) pudesse enten-dê-las. Confrontando esse ensinamento com a Palavra de Deus, o crente teria, assim, uma compreensão bíblica da sua fé.

Lutero (1483-1546) exer-ceu influência por meio de seus catecismos: O Catecismo Maior (abril de 1529) e principalmente, O Catecismo Menor (maio de 1529). No prefácio do Catecismo Menor, Lutero declara os motivos que o levaram a redigi-lo, e apre-senta também sugestões de como ensiná-lo à congre-gação. No decorrer dos sete capítulos, ele quase sem-pre inicia dizendo: “Como

o chefe de família deve ensiná-lo à sua casa” ou: “Como o chefe de família deve ensiná-lo com toda a simplicidade à sua casa” e expressões similares.

Transcreverei apenas o que Lutero disse a res-peito das suas motivações: “A lamentável e mísera necessidade experimenta-da recentemente, quando também eu fui visitador, é que me obrigou e impul-sionou a preparar este cate-cismo ou doutrina cristã nesta forma breve, simples e singela (...). O homem comum simplesmente não sabe nada da doutrina cristã, especialmente nas aldeias. E (...) muitos pastores são de todo incompetentes e incapazes para a obra do ensino (...). Não sabem nem o Pai-Nosso, nem o Credo, nem os Dez Mandamentos” (M. Lutero, Catecismo Menor: In: Os Catecismos,São Leopoldo, RS.; Porto Alegre, RS.: Concórdia; Sinodal, 1983, p. 363)

Em síntese, podemos dizer que o princípio da fé explícita foi um dos fermen-tos poderosos na tradução das Escrituras para diver-sos idiomas, a elaboração de Confissões, a criação de escolas, o progresso nas ciências e, a sistematicidade do ensino cristão em nossas igrejas.

Hermisten Costa

E

O Rev. Hermisten Maia Pereira da Costa integra a equipe de pastores

da 1ª IP de São Bernardo do Campo, SP, e é Pastor-Efetivo da IP do Jardim

Marilene, Diadema, SP.

TEOLOGIA E VIDA

A necessidade de uma fé consistente

Bíblia de Lutero

Catecismo Maior de Lutero

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Outubro de 2017 5BrasilPresbiteriano

HISTÓRIAS DO PODER DE DEUS

Tora! Tora! Tora!“Os impossíveis dos homens são possíveis para Deus” (Lc 18.27).

este sábado (2/9) comecei a pre-

parar minha mala para a Convenção Nacional dos Gideões, e como de costume, “carreguei a minha arma” com Novos Testamentos para serem distribuídos durante a viagem.

Foi então que me lembrei de que, nessa data (2/9), mas de 1945, outras “armas foram descarregadas” com as forças imperiais do Japão se rendendo oficialmente a bordo do USS Missouri, ancorado na Baía de Tóquio.

Segurando um desses pequenos “livretos”, lem-brei-me do poder milagro-so das Escrituras.

Peço a sua atenção e leia a história abaixo.

Jacob DeShazer foi selecionado para pilotar bombardeiros modifica-dos B-25 Mitchell, lançados a partir de porta-aviões para atacar o Japão no início da II Guerra Mundial e acabou fazendo parte o “Doolittle’s Raiders”, o primeiro esquadrão ameri-cano a lançar bombas em terras japonesas.

Em um desses ataques o seu avião ficou sem combus-tível por causa da distância extra que foi forçado a voar no início da operação, o que o levou a queda e posterior captura pelos japoneses.

DeShazer foi enviado a

Tóquio com os sobrevi-ventes de outra equipe do Doolittle, e foi mantido em uma série de campos de prisi oneiros de guerra no Japão e na China por 40 meses – 34 deles em confinamento solitário. Ele foi severamente espancado e malnutrido, enquanto três da equipe foram executados por um esquadrão de tiro, e outro morreu de fome.

Mas durante esse tempo ele ficou de posse de uma Bíblia entregue por um dos guardas por apenas três semanas, mas o suficiente para ele entender que aque-las mensagens eram o motivo da sua sobrevi-vência e resolveu, com o coração aquecido, se tornar um cristão devoto.

Terminado o conflito, mesmo sendo um herói de guerra com várias condeco-rações militares e a Medalha Presidencial da Liberdade, o prêmio civil mais pres-tigiado da nação, resolveu aprender japonês, tornou-se missionário e mudou-se para Nagoya para esta-belecer uma igreja cristã na cidade em que ele antes havia bombardeado.

Um verdadeiro milagre, não?

Mas leia o restante da história.

Mitsuo Fuchida, um jovem e ambicioso avia-dor da Marinha Imperial do Japão, se especializou

em bombardeios aéreos horizontais, se destacan-do a ponto de se tornar instrutor da academia. Considerado um dos mais hábeis aviadores japoneses, Fuchida ganhou experiên-cia em combates aéreos na China, na segunda meta-de dos anos 30, durante a Segunda Guerra Sino-Japonesa.

Com essas credenciais, foi escolhido para liderar o ataque a Pearl Harbor.

Na madrugada da data escolhida, Mitsuo Fuchida liderou mais de quatro-centos aviões japoneses na operação. Decolando de porta-aviões e entrando em formação no céu ainda escuro, guiados apenas pelas luzes de sinalização dos aviões-guias, às 07:53h, o seu rádio-operador, a seu comando, enviou as palavras em código que assombraram o mundo:“Tora ! Tora! Tora!”

Mas posteriormente, depois de muitos combates durante a guerra, sofre um ferimento grave e retorna ao Japão para tratamento.

Nas suas palavras, “eu estava em Hiroshima no dia anterior à queda da bomba atômica. ... Felizmente, recebi uma chamada de longa distância da sede da Marinha, pedindo-me que voltasse para Tóquio.”

Isso salvou Fuchida da hecatombe e, mais tarde, o

General MacArthur, com a derrota do Japão, o convoca para testemunhar em um tribunal militar.

Após o depoimento, ao sair de um trem na Estação de Shibuya de Tóquio, ele recebe um folheto cristão intitulado “Eu era um pri-sioneiro do Japão” entre-gue pelas mãos de... Jacob DeShazer!

O próprio Fuchida conta que “o que eu li foi o epi-sódio fascinante que acabou por mudar minha vida... “.

“Foi impactante e resolvi comprar uma Bíblia para mim. Aquilo me fez me tornar um cristão, evange-lista pelo resto de minha vida” e sua história foi contada no livro “From Pearl Harbor to Calvary”

e “Samurai’s God”.E mais, em 1960, torna-se

cidadão americano. Sim, cidadão do próprio país que antes ele havia bom-bardeado!

Relembrando isso, segurei com mais força um dos NTs da mala.Tão pequeno, mas tão pode-roso.

Qual outro livro tem o poder de transformar vidas como as desses pilotos em lados diferentes da guerra?

Resultado: “dobrei a carga de minha arma” e vou para essa Convenção com o meu grito de guerra:

Hosana! Hosana! Hosana!

Antônio Cabrera

N

Antônio Cabrera é membro do Conselho de Curadores do Mackenzie

Pearl Harbor - 1941

Hiroshima - 1945

Page 6: Ano 58 nº 755 – Outubro de 2017 Presbiteriano

Outubro de 20176BrasilPresbiteriano

EDUCAÇÃO CRISTÃ

Perigo à vistaA Educação dos Tempos Atuais

Muitos pais cristãos abdicaram do direito e do dever de educar seus fi lhos, deixando isso para o estado. Estamos colhendo as consequências dessa atitude, mas ainda há tempo de fazer algo em favor de nossas crianças.

essoas mal intencio-nadas querem mudar

a mentalidade do povo e implantar a decadência moral e religiosa em nosso país. A malignidade chega ao ponto de buscarem alcan-çar seus propósitos através daquelas que são mais vul-neráveis e indefesas: nossas crianças.

O Ministério da Educação e Cultura (MEC), descum-prindo as leis de um estado laico e as leis que garantem a educação moral e religiosa “dos pais aos filhos”, tem enviado às nossas escolas públicas e indicado às demais escolas, materiais que visam

ensinar religião (candomblé e umbanda), educação sexu-al precoce e a tão falada Ide-ologia de Gênero. Os mate-riais são tão dissimulados, que muitos professores nem percebem suas verdadeiras intenções. Esse material é utilizado em sala de aula, em todas as disciplinas, e não vai para casa, portanto, muitos pais ignoram o que está sendo ensinado aos seus filhos. O objetivo é utilizar o preceito de que uma mentira, repetida por várias pessoas e por muitas vezes, se torna-rá uma verdade. Apesar de muitos professores não uti-lizarem os livros paradidá-ticos que ensinam os assun-tos acima, todavia, esses

ensinamentos se encontram nos livros didáticos de esco-las públicas e particulares. Ouve-se muito, atualmente, a expressão “desconstrução da heteronormatividade”, o que em outras palavras quer dizer: “desconstrução do conceito de família” como o aceitamos, baseados na Palavra de Deus. Os meios de comunicação também não fazem por menos e utili-zam-se de teorias que sequer têm comprovação científica, para inserir de forma grada-tiva conceitos contrários aos princípios cristãos. As esco-las particulares não estão isentas dessas influências, já que essas ideologias também estão inseridas em vários sis-temas de ensino apostilados.

Nossas crianças estão em perigo! Embora respeitemos outras religiões e educação que famílias deem aos seus filhos, não podemos concor-dar que esses ensinos sejam dados aos nossos filhos! E

ainda mais, que isso seja feito sem o nosso conhe-cimento ou consentimento. Corremos o risco de nossas famílias serem desmantela-das, pois esses ensinos já estão sendo incutidos nas mentes de nossas crianças. Temos conhecimento de casos em que a filha, de quatro anos, ao chegar da escola disse à mãe: “Mamãe, quando eu crescer não vou mais ser menina, vou ser um menino”. Perguntada sobre onde aprendeu isso, a crian-ça respondeu que aprendeu na escola.

Sugere-se aos pastores, líderes, pais e comunidades que consultem os links abai-xo, para melhor se infor-marem sobre o assunto. A Dra. Damares Alves, advo-gada e assessora parlamentar em Brasília faz circular a seguinte mensagem: “E aí, famílias brasileiras? E aí, Igreja Brasileira? Perdemos mesmo essa guerra? Vamos

nos curvar? Vamos admitir que fomos omissos e não acreditávamos que eles iriam tão longe? Vamos reconhe-cer que colocamos nossas crianças sob risco? E agora, vamos lamentar, chorar, per-guntar onde erramos? Vamos nos entregar ou vamos rea-gir, nos unir em defesa de nossas crianças?”.

Como cristãos não pode-mos nos omitir! É momento urgente e grave! Se não unir-mos nossas forças, o inimigo nos terá vencido.

Para maiores informa-ções:

Site e youtube: Guilherme Chelb, Procurador da Repú-blica

Site e youtube: Damares Alves – Advogada e Asses-sora parlamentar

Blog do Prof. Orley Silva – De olho no livro didático

Mary Hebling de Lima

P

Mary Hebling de Lima ([email protected]), Mestre em

Educação, Arte e História da Cultura é professora universitária e

psicopedagoga.

Na abertura o Rev. Milton Jr., da igreja local, falou sobre “O aconselhamento e o livro dos Salmos”, enfatizando a sufi ciên-cia das Escrituras para o cuidado da alma. Paulo Sant´Ana falou em suas palestras sobre a cen-

tralidade do coração nos dilemas humanos, da relação entre os sen-timentos e o coração, além de fa-lar especifi camente a respeito da ira. Na última palestra ele tratou dos confl itos de relacionamen-to instruindo os ouvintes sobre como resolver biblicamente os seus problemas.

O resultado da conferência foi excelente e a expectativa é que a cada ano o número de interessa-dos no aconselhamento bíblico cresça na região da Grande Vitó-ria.

Milton Júnior

O Rev. Milton Coutinho Jesus Júnior é o pastor da IP Praia do Canto, ES.

O coração à luz das EscriturasNos dias 7 e 8 de julho a IP em Praia do Canto realizou a sua 4a Conferência de Aconselhamento Bíblico, sob o tema “O coração à luz das Escrituras”. O preletor foi Paulo Sant´Ana, mestre em aconselhamento bíblico pelo Southeastern Baptist Theological Seminary e professor do Seminário Bíblico Palavra da Vida.

Page 7: Ano 58 nº 755 – Outubro de 2017 Presbiteriano

Outubro de 2017 7BrasilPresbiteriano

A IP de Campo Grande, RN, através da Sociedade Auxilia-dora Feminina (SAF) e do Con-selho de Ação Social (CAS) vi-sitou dia 19/08/2017 a Associa-ção Filantrópica Jorge Gurgel Fernandes do Amaral, na cidade de Caraúbas/RN, onde foi rea-lizado um culto. Os visitantes

viram de perto o dia a dia dos idosos que ali moram e o quanto são bem cuidados e vivem um ambiente saudável e limpo. O Rev. Márcio Brito, Maria do Rosário (SAF) e Angélica Viana (CAS) entregaram donativos à direção e em seguida houve um momento de confraternização.

Essa associação tem grandes custos mas, mesmo em meio a

difi culdades mantém suas por-tas abertas com ajuda de várias fontes. A IP de Campo Grande/RN, louva a Deus pelo privilé-gio de estar fazendo a obra de Deus.

Fone para contato e doações: (84) 99898-9246 (Iraneide).

m dos princípios elementares da

Hermenêutica Reformada diz que toda pregação fiel é cristocêntrica. Em 1Coríntios 2.2 Paulo escre-veu: “(...) decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este cruci-ficado”. O apóstolo Paulo apresentava Cristo em todas as suas pregações. Ele não forçava nem adul-terava o texto para pregar Cristo, mas o fazia por-que o Senhor é encontrado, direta ou indiretamente, em todas as perícopes bíblicas. O centro das Escrituras é Cristo. Todo o desenvolvi-mento da revelação se deu mediante este cerne, Jesus.

O princípio da Pregação Cristocêntrica foi resgata-

do na Reforma Protestante e teve como um de seus defensores João Calvino. E a essência dessa Prega-ção Cristocêntrica pode ser extraída das próprias pala-vras de Cristo: “ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11.27).

Pregação Cristocêntri-ca não diz respeito a um método, meramente, mas a uma interpretação cor-reta, centrada em Deus, e não no homem. E para se interpretar corretamente o texto inspirado, cristocen-tricamente, é necessário que se recorra ao Espírito de Deus, naturalmente.

A ausência desse tipo de pregação em boa parte dos púlpitos de nossos dias

se dá porque muitos pre-gadores não assumem o compromisso de confron-tar o pecado através das Escrituras. Ao contrário, se preocupam mais com os resultados visíveis, com o

que agrada às pessoas, a se pregar o que é necessário para uma genuína transfor-mação de conduta.

Diante da violência, injustiças sociais e imo-ralidade, fica evidente a

grande necessidade de que os púlpitos estejam repletos de exposições e cristocêntricas. O púlpito não é uma plataforma de relações públicas, mas um trono a partir do qual todo o conselho de Deus deve ser proclamado fielmente na autoridade do Espírito Santo (At 20.27).

É impossível se inter-pretar corretamente as Escrituras a não ser pelo entendimento de que a Bíblia é uma unidade cristocêntrica. Toda prega-ção fiel mostra o contex-to redentor das Escrituras. Por isso, todo sermão deve ser cristocêntrico.

Jubal Gonçalves

Márcio Antônio de Brito

U

O Rev. Jubal Gonçalves é Mestre em Pregação pelo Centro Presbiteriano de Pós-Graduação

Andrew Jumper e pastor da 4ª IP Carapicuíba – SP.

O Rev. Márcio Antônio Gomes de Brito é pastor da IP de Campo Grande

(RN).

REFORMA 500 ANOS

O princípio da pregação cristocêntricaresgatado pela reforma protestante

IP Campo Grande – um privilégio

Calvino pregando em Genebra

Page 8: Ano 58 nº 755 – Outubro de 2017 Presbiteriano

Outubro de 20178BrasilPresbiteriano

MEMÓRIA

A História no Jornaljornal Brasil Presbiteriano nasceu em setembro de

1958, em Recife. As imagens ao lado são das duas pri-meiras capas do BP, edições de grande importante para a his-tória não apenas de nosso jornal, mas também da IPB que, com a publicação do jornal iniciava os trabalhos do Departa-mento Administrativo Presbiteriano de Imprensa e Literatu-ra (DAPIL) que, ao unir temporariamente os periódicos O Puritano e Norte Evangélico deu início à história do Brasil Presbiteriano.

Desde o ínicio, o BP busca informar seus leitores sobre os acontecimentos e marcos importante da IPB – as notas sobre resoluções estabelecidas durante a 23º Reunião do Supremo Concílio (1958) nas capas das primeiras edições da publica-ção revelam isso.

Durante as próximos meses, publicaremos outras capas das primeiras edições do BP, como um modo de mantermos viva e relembrarmos a história de nosso jornal e da IPB.

O

FALECIMENTOS

Edna Vasconcelos Aquoti

“Enganosa é a graça e vã a for-mosura, mas a mulher que teme ao Senhor, essa será louvada” (Pv 31.30).

Edna Vasconcelos Aquoti, co-nhecida como Dona Diná, faleceu no dia 24 de agosto, aos 93 anos.

Natural de Grama de Macabu, vilarejo chamado Pedra Branca, atual município de Trajano de Mo-raes (RJ), Edna foi batizada aos seis meses. Em 1940, a família Vasconcelos mudou-se para o distrito de Teçaindá, município de Martinópolis.

Casou-se em 1942 com Gui-do Aquoti, com quem teve sete fi lhos (Moacir, Edmar, Edegar, Natal, Leda, Eldo, Marta e Mar-tinho), dezesseis netos e dezoito bisnetos. Edna era costureira e bordadeira, mas em tempos tra-balhosos também atendia aos enfermos e necessitados. Lecio-nava corte e costura e alfabetizou aproximadamente 21 pessoas, dentre crianças e adultos.

Apreciadora da leitura e escri-ta, lançou em 2010 o livro Minha Vida, Uma História. Dona Diná era membro da IP de Martinópo-lis (SP) e sócia ativa da Socieda-de Auxiliadora Feminina (SAF). Também atuou como organista, professora da Escola Dominical e regente de corais.

Somos gratos a Deus pela vida dessa mulher virtuosa, temente a Deus, corajosa, conselheira, amorosa e muito feliz. Que Deus console nossos corações, atra-vés do Espirito Santo.

Família Aquoti

“Cremos na ressurreição do corpo e na vida eterna”, reafi rma-ram Iracílio Marques Hermsdorff (IP Ebenézer, Santana, SP); Er-lindo Hevandir Biral Hermsdorff e Helenice Hermsdorff (IP de Osas-co, SP) e Devanir Hermsdorff (IP de Natal, RN), por ocasião do fa-lecimento de seu pai, Guilherme Hermsdorff, aos 101 anos, em 24 de março de 2017.

Primeiro de oito irmãos, nas-ceu em Conceição de Grama de Macabu, estado do Rio de Janeiro, em 21/09/1915, fi lho de Guilherme Eduardo Hermsdorff e Amélia Marques da Fonseca Her-msdorff. Com quarenta dias foi apresentado à IP de Pedra Bran-ca, no estado do Rio de Janeiro, onde também foi batizado aos 2 anos pelo Rev. Matatias Gomes dos Santos, autor do hino 27 do Novo Cântico. Fez sua pública profi ssão de fé, aos 17 anos na IP do Sana, RJ, com o Rev. Ben-

jamin César, e logo após mudou-se para Martinópolis, antigo José Teodoro, no estado de São Pau-lo. Foi membro fundador da IP de Martinópolis e da IP da Figueira (SP), onde foi eleito presbítero e conheceu sua esposa Helena Biral Hermsdorff, iniciando um casamento de vinte e oito anos. Foi membro fundador da IP de Vila Escócia (SP). Em 1948, mu-dou-se para Rolândia, Paraná e lá atuou como presbítero de 1948 a 1952. Voltou a residir em Mar-tinópolis e em 1961 mudou-se para Osasco (SP).

Exerceu o presbiterato por duas vezes na IP de Osasco. Foi membro fundador da IP Ebene-zer (Osasco-SP), lá permane-cendo até sua entrada na morada celestial.

Exemplo de zelo pelo evange-lho, pregava desde sua juventu-de o zelo pela IPB, atuava nas sociedades internas e privile-

giava as publicações da Editora Cultura Cristã, em especial as revistas da Escola Dominical; também foi agente e divulgador do Jornal Brasil Presbiteriano, bem como da Associação Evan-gélica Benefi cente. Deixou além dos fi lhos, oito netos e seis bisne-tos. No culto por ocasião do seu sepultamento estavam presentes os reverendos Josafá Vasconce-los, João Marcos Vasconcelos, Ananias Feitosa de Souza, Edi-naldo Fernandes de Almeida e José Antônio.

Guilherme Hermsdorff

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B-1

BrasilPresbiteriano

O Jornal Brasil Presbiteriano é órgão oficialda Igreja Presbiteriana do Brasil

Ano 58 nº 755 - Outubro de 2017

Entrevista com Martinho Lutero

Lutero e a Reforma

Uma livre criação do saudoso Rev. Elben Magalhães Lenz César (1930—1916),publicada em seu livro Conversas com Lutero – História e Pernsamento (Ed. Ultimato)

Repórter – O que o doutor chama de reforma?

Lutero – Simplificando ao máximo, eu diria que é o movimento permanente na Igreja para restaurar a energia e a espiritualidade nas suas instituições, sempre necessário devido à fragilidade dos seus membros. Acrescentaria ainda que reforma é uma oportunidade ímpar para se rever qualquer desvio não só de comportamento, mas tam-bém de ordem dogmática.

Repórter – O doutor quer dizer que em nenhum momento de sua história a Igreja pode declarar que não precisa de reforma?

Lutero – Minha tese é ecclesia reformata semper reformanda est, isto é, igreja reformada tem de ser constantemente reformada. É preciso levar a sério o drama da fraqueza humana. Qualquer pessoa que leia a história de Israel, especialmente no período com-preendido entre a posse da terra e a monarquia, encontrará seis vezes as expressões que revelam os desvios do povo eleito (Jz 3.12; 4.1; 6.1; 8.33; 10.6; 13.1).

Repórter – Acho que só tenho mais uma pergunta. É algo que me intriga. Talvez nem seja pergunta, mas uma observação...

Lutero – Não precisa rodear. Abra a boca e fale logo!

Repórter – Estranho certas expressões suas. Vou citar alguns exemplos. Em 1521, o doutor se vangloriou: “Fiz cinco vezes mais que o reformador João Huss”; em 1522, o senhor escreveu ao príncipe-eleitor: “Ninguém pode negar que as coisas começaram por mim”; em 1527, afirmou ter “trazido à luz a Sagrada Escritura e a Palavra de Deus, como já não ocorria mais desde há mil anos”; em 1534, o doutor relatou: “Muita gente no mundo aceitou o evangelho por mim e agora me considero doutor da verdade, apesar da excomunhão pelo papa e da cólera de imperadores, de reis e príncipes, sacerdotes e de todos os diabos”; e, em data que não consegui encontrar, o doutor resume o seu trabalho com, pelo menos aparente, falsa modéstia: “Penso que fiz uma reforma... Cacei o pagão Aristóteles... Enfraqueci a grande magnificência e o sucesso das sedutoras indulgências... Consegui realizar muitas outras coisas que os papistas tiveram de deixar acontecer... Pude efetuar tanto, pela graça de Deus, que um menino ou uma menina de 7 anos sabem mais da doutrina cristã do que sabiam em outro tempo as universidades e os doutores”...

Lutero – Fora do contexto, você tem toda a razão. Mas, posso garantir a todos que lerem esta conversa que eu sou e me considero um “saco de esterco”. Não quero me defender, mas devo lembrar que alguns autores bíblicos também usaram abundantemente o verbo na primeira pessoa do singular. Em seu critério, Davi seria soberbo quando escreveu: “Tenho mais discernimento que todos os meus mestres, pois medito nos teus testemunhos” (Sl 119.99). Veja Salomão: “Tornei-me mais famoso e poderoso do que todos os que viveram em Jerusalém antes de mim” (Ec 2.9). Poderia citar o próprio Paulo: “Eles são servos de Cristo? Mas eu sou um servo melhor do que eles, embora, ao dizer isso, eu esteja falando como se fosse louco” (2Co 11.23). Na leitura cuidadosa do contexto de cada citação acima, percebe-se claramente que não havia soberba nesses homens. Precisamos fazer diferença entre a necessária e própria consciência da vocação, da direção e da aprovação de Deus e entre a autoatribuição de posições carnais. Sem essa consciên-cia, eu não teria a menor possibilidade de me colocar nas mãos de Deus para cobrar a supremacia da Sagrada Escritura em matéria de fé e obras, e muito menos para colocar Jesus Cristo no lugar do Anticristo! Tudo quanto faço, faço-o de alguma maneira sob coerção. Confesso livremente que o empreendimento da Reforma não o comecei de modo deliberado. Ora, tudo aconteceu pelo desígnio de Deus, tenho certeza!

5001517 - 2017

REFORMA

anos

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Outubro de 201710BrasilPresbiteriano Outubro de 2017B-2BrasilPresbiteriano

Linha do tempo da Reforma Protestante1483Martinho Lutero nasce em Eisleben, na Saxônia, leste da Alemanha.

1484Ulrico Zuínglio nasce em Wildhaus, no cantão suíço de St. Gall.

1505Lutero ingressa na Ordem dos Eremitas Agostinianos, em Erfurt.

1509João Calvino nasce em Noyon, na Picardia, norte da França. Henrique VIII torna-se rei da Inglaterra aos 18 anos.

1511Lutero é transferido para a casa agostiniana de Wittenberg.

1512Lutero torna-se doutor em teo-logia e no ano seguinte começa a lecionar sobre os Salmos na Universidade de Wittenberg.

1514Provável ano do nascimento de John Knox, o reformador escocês.

1515Zuínglio conhece Erasmo, o humanista holandês, e no ano seguinte lê sua tradução do Novo Testamento (Novum instrumentum).

1517No dia 31 de outubro, Lutero publica as Noventa e Cinco Teses sobre as indulgências. Começa a Reforma Protestante.

1518Lutero defende sua teologia em Heidelberg e comparece diante do cardeal Cajetano em Augsburgo. Zuínglio é nomeado sacerdote da catedral de Zurique; começa a pregar uma série de sermões sobre o Novo Testamento.

1519Lutero entende a “justiça de Deus” como uma “justiça passiva com a qual Deusnos justifica pela fé”. Debate com o dominicano João Eck em Leipzig; defende João Hus e nega a autoridade suprema de papas e concílios. Carlos V é eleito sacro imperador germânico.

1520A bula papal Exsurge Domine dá a Lutero 60 dias para retra-tar-se ou ser excomungado. Ele queima a bula e um exemplar da lei canônica. Escreve três textos fundamentais: À nobreza cristã da nação alemã, O cativeiro babilônico da igreja e A liberdade do cristão. A

Reforma alastra-se na Alemanha e na Europa.

1521Lutero é excomungado pela bula Decet romanum pontificem, de Leão X. Na Dieta de Worms, recu-sa-se a renegar seus escritos e é condenado como herético e pros-crito. É sequestrado e ocultado no Castelo de Wartburg, onde começa a traduzir o Novo Testamento.

1521Calvino recebe um cargo eclesiás-tico que lhe serve como bolsa de estudos. Henrique VIII escreve um folheto contra Lutero e recebe do papa Leão X o título de “defensor da fé”.

1522Lutero deixa o seu esconderijo e retorna para Wittenberg. No ano seguinte, é publicado o Novo Testamento em alemão. A primeira geração de anabatistas suíços começa a estudar a Bíblia. Zuínglio se opõe ao jejum da quaresma e ao celibato clerical. Escreve seu testemunho de fé e renuncia ao sacerdócio, sendo contratado pelo Conselho Municipal como pastor evangélico.

1523Sob os auspícios do Conselho de Zurique, Zuínglio promove um debate público de 67 teses (Sessenta e sete artigos): salvação somente pela graça, autoridade das Escrituras, sacerdócio dos fiéis, ataque ao primado do papa e à missa. Realiza um segundo debate público sobre as imagens e a missa. O movimento reformado difunde-se na Suíça alemã e no sul da Alemanha.

1523Calvino vai para Paris a fim de estudar humanidades e teologia. Primeiros mártires protestantes nos Países Baixos. No segundo debate de Zurique, os seguidores radicais de Zuínglio rompem com ele (Conrado Grebel, Félix Mantz, Jorge Blaurock e outros).

1524Lutero debate com Andreas Karlstadt sobre a Ceia do Senhor. Explode a Revolta dos Camponeses. Mantz leva para Zurique folhetos de Karlstadt sobre o batismo infantil e a Ceia do Senhor. Os radicais entram em choque com Zuínglio e as autoridades, e sofrem as primeiras punições.

1525Lutero escreve Contra os profetas celestiais, questionando Karlstadt,

e Contra as hordas roubadoras e assassinas, criticando a Revolta dos Camponeses. Casa-se com a ex-freira Catarina de Bora. Escreve O cativeiro da vontade, contra Erasmo de Roterdã. Morte de Frederico, o Sábio.

1525Debate público sobre o batismo infantil marca o início do movi-mento anabatista (Irmãos Suíços). Primeiro batismo de adultos ocorre em Zurique. Primeira igreja ana-batista é fundada em Zollikon. Bolt Eberle é executado no cantão de Schwyz, tornando-se o primeiro mártir protestante e anabatista. Depois que o conselho ordena a suspensão das missas, Zuínglio institui a Ceia do Senhor.

1526Lutero escreve a Missa Alemã. Na Dieta de Spira, os príncipes recu-sam-se a aplicar o Edito de Worms. No ano seguinte, Lutero luta contra enfermidades e intensa depressão; escreve “Castelo Forte”. Publicação do Novo Testamento de William Tyndale em Worms.

1527União Fraternal de Schleitheim aprova a Confissão de Fé anaba-tista redigida por Miguel Sattler. Sattler e a esposa são mortos em Rotemburgo; Mantz é afogado em Zurique. Henrique VIII procura anu-lar o seu casamento com Catarina de Aragão, tia do imperador Carlos V.

1528Zuínglio aceita o convite de Berna para um debate público que resulta na eliminação da missa, das ima-gens e dos altares naquela cidade. Calvino estuda direito em Orléans e Bourges.

1529Dieta de Spira: intolerância con-tra os luteranos. Surge o nome “protestantes”. Lutero e Zuínglio se encontram no Colóquio de Marburgo, mas não alcançam acordo sobre a Ceia do Senhor. Lutero publica o Grande Catecismo e o Pequeno Catecismo. Zuínglio acompanha as tropas de Zurique na Primeira Guerra de Kappel.

1530Sendo um proscrito, Lutero não comparece à Dieta de Augsburgo, realizada na tentativa de pôr fim à divisão religiosa do império. Filipe Melanchton apresenta a Confissão de Augsburgo, uma declaração das convicções luteranas.

1531Envergando sua armadura, Zuínglio

une-se às tropas protestantes no dia 11 de outubro e é morto em combate. É sucedido por Henrique Bullinger. Calvino regressa a Paris e reinicia estudos humanísticos. Publica comentário do tratado De clementia, de Sêneca.

1532Lutero recebe o mosteiro agos-tiniano de Wittenberg como sua residência.

1533Calvino experimenta repentina con-versão; foge para Angoulême no final do ano e começa a escrever as Institutas. Jacó Hutter une-se ao grupo de morávios que tornam-se conhecidos como huteritas. O padeiro Jan Matthys reivindica a liderança anabatista em Amsterdã e envia 12 discípulos aos pares.

1533Thomas Cranmer torna-se Arcebispo de Cantuária. Tribunal eclesiástico declara nulo o casa-mento de Henrique com Catarina de Aragão. Henrique é excomunga-do pelo papa Clemente VII.

1534Lutero publica a Bíblia Alemã completa. Anabatistas vencem uma eleição local em Münster, Alemanha, e tentam implantar o reino de Deus à força. Ato de Supremacia reconhece Henrique VIII como “chefe supremo” da Igreja da Inglaterra. Inácio de Loiola funda a ordem jesuíta a fim de renovar a Igreja Católica.

1535Cerco e queda de Münster. No início do ano seguinte, Jan van Leiden e outros são executados; seus restos, colocados em gaiolas na torre da igreja, servem de adver-tência até o século 20.

1536Na tentativa de sanar as diferenças com outros reformadores, Lutero aceita a Concórdia de Wittenberg sobre a Ceia do Senhor, mas os zuinglianos a rejeitam.

1536É publicada em Basileia a primeira edição da Instituição da Religião Cristã, de Calvino; o prefácio contém um apelo em favor da tole-rância religiosa. O autor pretende fixar-se em Estrasburgo. Ao passar por Genebra, Guilherme Farel o convence a ficar na cidade, que havia abraçado a Reforma recen-temente.

1536João Knox se forma na Universidade de St. Andrews e

é ordenado sacerdote. Menno Simons rompe com Roma e torna-se o líder anabatista da Holanda. Hutter é torturado e morto na fogueira. Início da dissolução dos mosteiros na Inglaterra. William Tyndale é executado na Bélgica.

1537Lutero redige os Artigos de Schmalkald como seu “testamento teológico”. No ano seguinte, ataca os judeus em Contra os sabata-rianos.

1538Calvino é expulso de Genebra, indo para Estrasburgo, onde passa três anos proveitosos. Casa-se com Idelette de Bure, publica nova edição das Institutas e escreve o Comentário da Carta aos Romanos.

1539Lutero escreve Sobre os concílios e a igreja. Em 1539-40, Menno Simons publica Fundamento da doutrina cristã, obra básica da fé anabatista. Na Inglaterra são publi-cados os Seis Artigos; perseguição aos protestantes.

1540Kaspar Schwenkfeld publica sua Grande confissão e é condenado pelos luteranos em uma con-venção liderada por Melanchton. Perseguidos em várias partes da Europa, seus seguidores foram para a Pensilvânia no século 18. A Sociedade de Jesus é formalmente reconhecida pelo papa Paulo III.

1541Calvino retorna a Genebra e escre-ve as Ordenanças eclesiásticas. Lutero escreve Exortação à oração contra os turcos.

1542Papa Paulo III cria a Congregação do Santo Ofício da Inquisição (Inquisição romana), que tem como um de seus alvos os protestantes.

1543John Knox se converte ao protes-tantismo.

1545Morre o arcebispo Alberto de Mogúncia. Tem início o Concílio de Trento, que aprova dogmas contra as doutrinas protestantes e refor-mas práticas.

1545Knox se torna companheiro e guarda-costas de George Wishart, o introdutor da fé reformada na Escócia. No ano seguinte, Wishart é martirizado e o cardeal Beaton é assassinado. O papa Paulo III apóia a guerra contra os protestan-

tes alemães proposta pelo impera-dor Carlos V.

1546Lutero morre no dia 18 de fevereiro em Eisleben. Sua esposa irá morrer em 1552.

1547Henrique II sobe ao trono da França; é mais severo que o seu pai contra os huguenotes. É suce-dido por Francisco II em 1559; o governo é controlado pela família católica Guise-Lorraine.

1547John Knox foge para o Castelo de St. Andrews e prega seu primeiro sermão protestante. O castelo é tomado e Knox é aprisionado na França por 19 meses. Henrique VIII morre segurando a mão do arcebis-po Thomas Cranmer. Eduardo VI, filho de Jane Seymour, torna-se rei aos 9 anos. Seus tutores implantam a Reforma na Inglaterra.

1549Knox começa a pastorear em Berwick, Inglaterra; torna-se afamado como pregador. No ano seguinte, conhece sua futura esposa, Marjory Bowes. Ato do Parlamento inglês ordena o uso do Livro de Oração Comum, de Cranmer.

1552Knox muda-se para Londres; questiona a prática de ajoelhar-se na comunhão; recusa-se a assumir o bispado de Rochester. Cranmer revisa o Livro de Oração Comum e escreve os Quarenta e Dois Artigos, que prescrevem uma doutrina calvinista para a Igreja da Inglaterra.

1553Miguel Serveto é queimado em Genebra por heresia quanto à trindade. Eduardo VI morre e Maria, a filha de Catarina de Aragão, tor-na-se rainha da Inglaterra. As per-seguições levam muitos ao martírio ou ao exílio.

1554Knox foge para a França e depois para Zurique e Genebra; pastoreia uma congregação inglesa em Frankfurt.

1555Paz de Augsburgo: a legalidade do luteranismo é assegurada pelo princípio “Cuius regio, eius religio”. Carlos V abdica em favor do seu filho Filipe II, que intensifica a repressão contra os reformados nos Países Baixos.

Alderi Souza de Matos

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Outubro de 2017 11BrasilPresbiterianoOutubro de 2017 B-3BrasilPresbiteriano

1555Uma discussão sobre a liturgia força Knox a ir para Genebra, onde pastoreia uma igreja inglesa. Morte na fogueira de Hugh Latimer e Thomas Ridley, os mais famosos mártires marianos na Inglaterra. No ano seguinte, Thomas Cranmer, o arcebispo de Cantuária, também é executado na fogueira.

1557Grupo de calvinistas chega à França Antártica, no Rio de Janeiro; no ano seguinte, escrevem a Confissão de Fé da Guanabara.

1558Knox escreve o Primeiro toque da trombeta contra o monstruoso regi-mento de mulheres, defendendo a rebelião contra governantes ímpios. Maria Tudor morre e é sucedida por sua meia-irmã Elizabete, filha de Ana Bolena.

1559Calvino torna-se cidadão de Genebra e inaugura a Academia. Publica a última edição das Institutas. Primeiro sínodo nacional da Igreja Reformada da França

aprova a Confissão Galicana. Knox volta para a Escócia. Papa Paulo IV publica o Índice dos Livros Proibidos.

1560Carlos IX torna-se rei da França, sendo regente sua mãe Catarina de Médicis, inicialmente tolerante com os huguenotes. Na Escócia, o Parlamento Reformador adota a Confissão Escocesa. Primeira assembléia geral da Igreja da Escócia.

1561Colóquio de Poissy entre católicos e protestantes. Segue-se um longo período de guerras religiosas na França (1562-1598). Guido de Brès escreve a Confissão Belga.

1563Ato de Uniformidade na Inglaterra aprova os Trinta e Nove Artigos. É publicado o Livro dos márti-res, de George Fox. Surgem os puritanos – Thomas Cartwright, Thomas Goodwin, Richard Baxter, John Owen, John Bunyan e outros. É publicado na Alemanha o Catecismo de Heidelberg.

1564João Calvino morre em Genebra no dia 27 de maio. É sucedido por Teodoro Beza. É publicada a Confissão de Fé Tridentina.

1566Knox escreve a maior parte da História da reforma da religião na Escócia. No ano seguinte, Maria Stuart abdica em favor do seu filho Tiago VI, que será também o sucessor da rainha Elizabete na Inglaterra.

1567O Duque de Alba torna-se regente da Holanda e inaugura um reino de terror. A oposição contra os espanhóis passa a ser liderada pelo príncipe Guilherme de Orange, o Taciturno.

1569Papa Pio V incita Catarina de Médicis ao extermínio completo dos hereges na França.

1570Excomunhão da rainha Elizabete pelo papa Pio V.

1571Sínodo nacional holandês realizado em Emden adota a forma presbi-teriana de governo eclesiástico. É adotada a Confissão Belga. Essa confissão e o Catecismo de Heidelberg tornam-se os padrões teológicos da igreja reformada holandesa.

1572Massacre do Dia de São Bartolomeu (24 de agosto); almiran-te Gaspar de Coligny e milhares de reformados são mortos à traição. Knox morre em Edimburgo e é sepultado na catedral de St. Giles. Andrew Melville, outro ex-exilado em Genebra, torna-se o principal defensor da fé reformada na Escócia.

1575Fundação da Universidade de Leiden, na Holanda, centro de estu-do da teologia calvinista.

1587Maria Stuart, rainha da Escócia, é executada na Inglaterra.

1588A Inglaterra destrói a “Invencível Armada” espanhola.

1589O calvinista Henrique IV torna-se rei da França.

1593Publicação de As Leis de política eclesiástica, de Richard Hooker.

1598Henrique IV promulga o Edito de Nantes, concedendo tolerância aos huguenotes. O edito seria revogado em 1685 por Luís XIV.

1603Com a morte da rainha Elizabete, Tiago I sobe ao trono da Inglaterra (Tiago VI da Escócia).

1610Os seguidores de Tiago Armínio reúnem suas idéias na Remonstrância.

1618O Sínodo de Dort, na Holanda, aprova os “cinco pontos do calvi-nismo” (Cânones de Dort), conde-

nando a Remonstrância. A Guerra dos Trinta Anos envolve o Sacro Império Germânico, Dinamarca, Suécia, França e Espanha.

1620Chegada dos puritanos ingleses ao Novo Mundo (América do Norte).

1625Carlos I torna-se rei e tenta impor o anglicanismo aos puritanos ingleses e aos presbiterianos escoceses.

1636A Igreja Reformada da Holanda organiza um presbitério em Pernambuco.

1643Parlamento puritano em guerra contra o rei Carlos I convoca a Assembléia de Westminster.

1648Parlamento inglês aprova a Confissão de Fé e os Catecismos de Westminster. A Guerra dos Trinta anos termina com a Paz de Westfália, que fixa as fronteiras políticas e religiosas da Europa.

Encontramos muitos que (...) condu-zem uma boa vida perante os homens e, no entanto, se você lhes perguntar se eles têm certeza de que agradam a Deus, eles dizem: “Não”; eles não sabem, ou duvidam. E há alguns homens muito sábios, que os enganam e dizem que não é necessário ter certeza disso; e, no entanto, por outro lado, esses mesmos homens não fazem mais nada do que ensinar boas obras. Agora, todas essas obras são feitas fora da fé, portanto não são nada e completamente mortas. (...) Daí que, quando exalto a fé e rejeito tais obras feitas sem fé, me acusam de proi-bir boas obras, quando na verdade estou tentando ensinar verdadeiras boas obras de fé (Um tratado sobre boas obras).

O sacerdote não é feito. Ele deve nascer um sacerdote; deve herdar seu ofício. Refiro-me ao novo nascimento: o nascimento da água e do Espírito.

Assim, todos os cristãos devem se tor-nar sacerdotes, filhos de Deus e co-her-deiros com Cristo, o Sumo Sacerdote. (...) O sacerdócio cristão custa vida, propriedade, honra, amigos e todas as coisas mundanas (Sermões completos de Martinho Lutero, vol. IV, “Primeiro domingo após Epifania”, pág. 9).

Só essa fé, quando baseada nas pro-messas seguras de Deus, deve nos sal-var (...). E à luz de tudo, eles devem se tornar tolos que nos ensinaram outros modos de se tornar piedosos. (...) O homem pode sempre fazer o que qui-ser, ele nunca consegue entrar no céu, a menos que Deus dê o primeiro passo com a Palavra, o que lhe oferece graça divina e ilumina seu coração para che-gar no caminho certo (Na fé e Vindo a Cristo).

http://www.christian-history.org/martin-lu-ther-sola-fide-quotes.html

Martinho Lutero sobre a salvacão pela fé somente

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Outubro de 201712BrasilPresbiteriano Outubro de 2017B-4BrasilPresbiteriano

As 95 teses de Martinho Lutero1. Ao dizer: “Arrependei-vos”2, etc. (Mt 4.17), o nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo quis que toda a vida dos fiéis fosse de arrependimento.

2. Essa penitência não pode ser enten-dida como penitência sacramental (isto é, da confissão e satisfação celebrada pelo ministério dos sacerdotes).

3. No entanto, ela não se refere ape-nas a uma penitência interior; peni-tência interior seria nula se não pro-duzisse externamente todo tipo de mortificação da carne.

4. Consequentemente, a pena perdura enquanto persiste o ódio de si mesmo (isto é a verdadeira penitência interior), ou seja, até a entrada do reino dos céus.

5. O papa não quer nem pode dispen-sar de quaisquer penas senão daque-las que impôs por decisão própria ou dos cânones.

6. O papa não tem o poder de per-doar culpa a não ser declarando ou confirmando que ela foi perdoada por Deus; ou, certamente, perdoados os casos que lhe são reservados.3 Se ele deixasse de observar essas limitações, a culpa permaneceria.

7. Deus não perdoa a culpa de qual-quer pessoa sem, ao mesmo tempo, sujeitá-la, em tudo humilhada, ao sacerdote, seu vigário.

8. Os cânones penitenciais são impos-tos apenas aos vivos; segundo os mesmos cânones, nada deve ser imposto aos moribundos.

9. Por isso, o Espírito Santo nos bene-ficia por meio do papa quando este, em seus decretos, sempre exclui a circuns-tância da morte e da necessidade.4

10. Agem mal e sem conhecimen-to de causa aqueles sacerdotes que reservam aos moribundos penitências canônicas para o purgatório.

11. Essa disputa de transformar a pena canônica em pena do purgatório parece ter sido semeada enquanto os bispos certamente dormiam.

12. Antigamente se impunham as penas canônicas não depois, mas antes da absolvição, como verificação da verdadeira contrição.

13. Pela morte, os moribundos pagam tudo e já estão mortos para as leis canônicas, tendo, por direito, isenção das mesmas.

14. Saúde ou amor imperfeito no mori-bundo necessariamente traz consigo grande temor, e tanto mais quanto menor for o amor.

15. Este temor e horror por si sós já bastam (para não falar de outras coisas) para produzir a pena do purga-tório, uma vez que estão próximos do horror do desespero. 5

16. Inferno, purgatório e céu parecem diferir da mesma forma que o deses-pero, o semidesespero e a segurança.

17. Parece desnecessário, para as almas no purgatório, que o horror dimi-nua na medida em que cresce o amor.

18. Parece não ter sido provado, nem por meio de argumentos racionais nem da Escritura, que elas se encontrem

fora do estado de mérito ou de cresci-mento no amor.

19. Também parece não ter sido prova-do que as almas no purgatório estejam certas de sua bem-aventurança, ao menos não todas, mesmo que nós, de nossa parte, tenhamos plena certeza disso.

20. Portanto, por remissão plena de todas as penas, o papa não entende simplesmente todas, mas somente aquelas que ele mesmo impôs.

21. Erram, portanto, os pregadores de indulgências que afirmam que a pes-soa é absolvida de toda pena e salva pelas indulgências do papa.

22. Com efeito, ele não dispensa as almas no purgatório de uma única pena que, segundo os cânones, elas deveriam ter pago nesta vida.

23. Se é que se pode dar algum perdão de todas as penas a alguém, ele, certamente, só é dado aos mais perfeitos, isto é, pouquíssimos.6

24. Por isso, a maior parte do povo está sendo necessariamente ludibriada por essa magnífica e indistinta promes-sa de absolvição da pena.

25. O mesmo poder que o papa tem sobre o purgatório de modo geral, qualquer bispo e cura tem em sua diocese e paróquia em particular.

26. O papa faz muito bem ao dar remissão às almas não pelo poder das chaves (que ele não tem), mas por meio de intercessão.

27. Pregam doutrina humana os que dizem que, tão logo tilintar a moeda lançada na caixa, a alma sairá voando (do purgatório para o céu).

28. Certo é que, ao tilintar a moeda na caixa, pode aumentar o lucro e a cobiça; a intercessão da Igreja, porém, depende apenas da vontade de Deus.

29. E quem é que sabe se todas as almas no purgatório querem ser resga-tadas, como na história contada a res-peito de São Severino e São Pascoal?

30. Ninguém tem certeza da veraci-dade de sua contrição, muito menos de haver conseguido plena remissão.

31. Tão raro como quem é penitente de verdade é quem adquire autenti-camente as indulgências, ou seja, é raríssimo.

32. Serão condenados eternamente, juntamente com seus mestres, aqueles que se julgam seguros de sua salva-ção por meio de carta de indulgência.

33. Deve-se ter muita cautela com aqueles que dizem serem as indul-gências do papa aquela inestimável dádiva de Deus pela qual a pessoa é reconciliada com ele.

34. Pois aquelas graças das indulgên-cias se referem somente às penas de satisfação sacramental, determinadas por seres humanos.

35. Os que ensinam que a contrição não é necessária para obter redenção ou indulgência, estão pregando doutri-nas incompatíveis com o cristão.

36. Qualquer cristão que está ver-dadeiramente contrito tem remissão

plena tanto da pena como da culpa, que são suas dívidas, mesmo sem uma carta de indulgência.

37. Qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, participa de todos os bene-fícios de Cristo e da Igreja, que são dons de Deus, mesmo sem carta de indulgência.

38. Contudo, o perdão distribuído pelo papa não deve ser desprezado, pois – como disse – é uma declaração da remissão divina.

39. Até mesmo para os mais doutos teólogos é dificílimo exaltar simulta-neamente perante o povo a liberali-dade de indulgências e a verdadeira contrição.

40. A verdadeira contrição procura e ama as penas, ao passo que a abun-dância das indulgências as afrouxa e faz odiá-las, ou pelo menos dá ocasião para tanto.

41. Deve-se pregar com muita caute-la sobre as indulgências apostólicas, para que o povo não as julgue erro-neamente como preferíveis às demais boas obras do amor.

42. Deve-se ensinar aos cristãos que não é pensamento do papa que a com-pra de indulgências possa, de alguma forma, ser comparada com as obras de misericórdia.7

43. Deve-se ensinar aos cristãos que, dando ao pobre ou emprestando ao necessitado, procedem melhor do que se comprassem indulgências.

44. Ocorre que por meio da obra de amor cresce o amor e a pessoa se torna melhor, ao passo que com as indulgências ela não se torna melhor, mas apenas mais livre da pena.

45. Deve-se ensinar aos cristãos que quem vê um carente e o negligencia para gastar com indulgências obtém para si não as indulgências do papa, mas a ira de Deus.

46. Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem bens em abundância, devem conservar o que é necessário para sua casa e de forma alguma desperdiçar dinheiro com indulgência.

47. Deve-se ensinar aos cristãos que a compra de indulgências é livre e não constitui obrigação.

48. Deve ensinar-se aos cristãos que, ao conceder perdões, o papa tem mais desejo (assim como tem mais necessidade) de oração devota em seu favor do que do dinheiro que se está pronto a pagar.

49. Deve-se ensinar aos cristãos que as indulgências do papa são úteis se não depositam sua confiança nelas, porém, extremamente prejudiciais se perdem o temor de Deus por causa delas.

50. Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa soubesse das exigências descabidas dos pregadores de indul-gências, preferiria reduzir a cinzas a Basílica de S. Pedro a edificá-la com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

51. Deve-se ensinar aos cristãos que o papa estaria disposto – como é seu dever – a dar do seu dinheiro àqueles

muitos de quem alguns pregadores de indulgências extorquem ardilosamente o dinheiro, mesmo que para isto fosse necessário vender a Basílica de S. Pedro.

52. Vã é a confiança na salvação por meio de cartas de indulgências, mesmo que o comissário ou até mesmo o próprio papa desse sua alma como garantia pelas mesmas.

53. São inimigos de Cristo e do papa aqueles que, por causa da pregação de indulgências, fazem calar por inteiro a Palavra de Deus nas demais igrejas.

54. Ofende-se a Palavra de Deus quando, em um mesmo sermão, se dedica tanto ou mais tempo às indul-gências do que a ela.

55. A atitude do papa necessariamen-te é: se as indulgências (que são o menos importante) são celebradas com um toque de sino, uma procissão e uma cerimônia, o evangelho (que é o mais importante) deve ser anunciado com uma centena de sinos, procissões e cerimônias.

56. Os tesouros da Igreja, a partir dos quais o papa concede as indulgências, não são suficientemente menciona-dos nem conhecidos entre o povo de Cristo.

57. É evidente que eles, certamente, não são de natureza temporal, visto que muitos pregadores não os distri-buem tão facilmente, mas apenas os ajuntam.

58. Eles tampouco são os méritos de Cristo e dos santos, pois estes sempre operam, sem o papa, a graça do ser humano interior e a cruz, a morte e o inferno do ser humano exterior.

59. São Lourenço disse que os pobres da Igreja são os tesouros da mesma, empregando, no entanto, a palavra como era usada em sua época.

60. É sem temeridade que dizemos que as chaves da Igreja, que foram proporcionadas pelo mérito de Cristo, constituem esses tesouros.

61. Pois está claro que, para a remis-são das penas e dos casos especiais, o poder do papa por si só é suficiente.

62. O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo evangelho da glória e da graça de Deus.

63. Mas esse tesouro é certamente o mais odiado, pois faz com que os primeiros sejam os últimos.

64. Em contrapartida, o tesouro das indulgências é certamente o mais benquisto, pois faz dos últimos os primeiros.

65. Portanto, os tesouros do evan-gelho são as redes com que outrora se pescavam homens possuidores de riquezas.

66. Os tesouros das indulgências, por sua vez, são as redes com que hoje se pesca a riqueza dos homens.

67. As indulgências apregoadas pelos seus vendedores como as maiores graças realmente podem ser entendi-das como tais, na medida em que dão boa renda.

68. Entretanto, na verdade, elas são as

graças mais ínfimas em comparação com a graça de Deus e a piedade da cruz.

69. Os bispos e curas têm a obrigação de admitir com toda a reverência os comissários de indulgências apostó-licas.

70. Têm, porém, a obrigação ainda maior de observar com os dois olhos e atentar com ambos os ouvidos para que esses comissários não preguem os seus próprios sonhos em lugar do que lhes foi incumbidos pelo papa.

71. Seja excomungado e amaldiçoado quem falar contra a verdade das indul-gências apostólicas.

72. Seja bendito, porém, quem ficar alerta contra a devassidão e licenciosi-dade das palavras de um pregador de indulgências.

73. Assim como o papa, com razão, ful-mina aqueles que, de qualquer forma, procuram defraudar o comércio de indulgências,

74. muito mais deseja fulminar aque-les que, a pretexto das indulgências, procuram fraudar a santa caridade e verdade.

75. A opinião de que as indulgências papais são tão eficazes a ponto de poderem absolver um homem mesmo que tivesse violentado a mãe de Deus, caso isso fosse possível, é loucura.

76. Afirmamos, pelo contrário, que as indulgências papais não podem anular sequer o menor dos pecados venais no que se refere à sua culpa.

77. A afirmação de que nem mesmo São Pedro, caso fosse o papa atu-almente, poderia conceder maiores graças é blasfêmia contra São Pedro e o papa.

78. Dizemos contra isto que qual-quer papa, mesmo São Pedro, tem maiores graças que essas, a saber, o evangelho, as virtudes, as graças da administração (ou da cura), etc., como está escrito em 1 Coríntios 12.

79. É blasfêmia dizer que a cruz com as armas do papa, erguida como ban-deira, eqüivale à cruz de Cristo.

80. Terão que prestar contas os bispos, curas e teólogos que permitem que semelhantes sermões sejam difundi-dos entre o povo.

81. Essa licenciosa pregação de indul-gências faz com que não seja fácil nem para os homens doutos defender a dignidade do papa contra calúnias ou questões, sem dúvida argutas, dos leigos.

82. Por exemplo: Por que o papa não esvazia o purgatório por causa do santíssimo amor e da extrema neces-sidade das almas – o que seria a mais justa de todas as causas –, se redime um número infinito de almas por causa do mortal dinheiro para a construção da basílica – que é uma causa tão insignificante?

83. Do mesmo modo: Por que se mantêm os funerais e os aniversários dos falecidos e por que ele não restitui ou permite que se recebam de volta as doações efetuadas em favor deles, visto que já não é justo orar pelos

redimidos?

84. Do mesmo modo: Que nova pieda-de de Deus e do papa é essa que, por causa do dinheiro, permite ao ímpio e inimigo redimir uma alma piedosa e amiga de Deus, mas não a redime por causa da necessidade da mesma alma piedosa e dileta por amor gratuito?

85. Do mesmo modo: Por que os câno-nes penitenciais – de fato e por desuso já há muito revogados e mortos – ainda assim são redimidos com dinheiro, pela concessão de indulgências, como se ainda estivessem em pleno vigor?

86. Do mesmo modo: Por que o papa, cuja fortuna hoje é maior do que a dos mais ricos, não constrói com seu pró-prio dinheiro ao menos uma basílica de São Pedro, em vez de fazê-lo com o dinheiro dos pobres fiéis?

87. Do mesmo modo: O que é que o papa perdoa e concede àqueles que, pela contrição perfeita, têm direito à plena remissão e participação?

88. Do mesmo modo: Que benefício maior se poderia proporcionar à Igreja do que se o papa, assim como agora o faz uma vez, da mesma forma conce-desse essas remissões e participações cem vezes ao dia a qualquer dos fiéis?

89. Já que, com as indulgências, o papa procura mais a salvação das almas do que o dinheiro, por que suspende as cartas e indulgências, outrora já concedidas, se são igual-mente eficazes?

90. Reprimir esses argumentos muito perspicazes dos leigos somente pela força, sem refutá-los apresentando razões, significa expor a Igreja e o papa à zombaria dos inimigos e fazer os cristãos infelizes.

91. Se, portanto, as indulgências fos-sem pregadas em conformidade com o espírito e a opinião do papa, todas essas objeções poderiam ser facilmen-te respondidas e nem mesmo teriam surgido.8

92. Portanto, fora com todos esses profetas que dizem ao povo de Cristo “Paz, paz!” sem que haja paz!

93. Que prosperem todos os profetas que dizem ao povo de Cristo “Cruz! Cruz!” sem que haja cruz!

94. Devem-se exortar os cristãos a que se esforcem por seguir a Cristo, seu cabeça, através das penas, da morte e do inferno.

95. E que confiem entrar no céu pas-sando por muitas tribulações, e não por meio da confiança da paz.

Wittenberg, 31 de outubro de 1517

1 Para Lutero, “penitência”.2 Lutero não rejeitava ainda o papado, com se verá em outras teses.3 Ver nota 2.4 A doutrina reformada, posteriormente desenvolvida, haveria de rejeitar como anti-bíblica a doutrina do purgatório.5 Mesmo o benefício da dúvida, aqui encon-trado, não seria admitido posteriormente.6 Lutero ainda tinha nessa época a ilusão de poder poupar o papado.7 De novo, a tentativa de preservar o papa.

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Outubro de 2017 9BrasilPresbiteriano

MEDITAÇÕES

Cântico de romagem

elo pecado perdemos o Paraíso, mas pela gra-

ça podemos reavê-lo! Para isso devemos nos tornar peregrinos espiritualmen-te. É possível começar nas últimas horas da vida como fez o ladrão na cruz a quem Jesus disse: “Hoje estarás comigo no Paraíso”. Mas tornar-se peregrino cedo é muito melhor para poder

servir a outros e evitar pro-blemas. Sigamos cantando!

Os “cânticos de roma-gem” se ouviam quando o povo subia para Jerusalém. São quinze salmos, curtos e lindos (Sl 120—134). O salmista começa lem-brando que é difícil morar no meio de incrédulos (Sl 120), mas confessa que o Guarda de Israel é também seu guarda (Sl 121). Na hora de receber o convite

Extraído de Meditações de um Peregrino, de Frans Leonard

Schalkwijk, Cultura Cristã, 2014.

“Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso estamos alegres” (Sl 126.3).

Frans Leonard Schalkwijk

de ir à casa do FIEL (Sl 122), aparecem também os zombadores (Sl 123). Às vezes é quase insuportável, mas o nosso socorro está em o Nome do SENHOR (Sl 124)!

Por isso, peregrinos sa-bem que sua fi rmeza está somente em Deus (Sl 125). Apesar dos problemas pe-los quais passaram e ain-da passam, cantam, pois grandes coisas fez e faz o SENHOR por eles (Sl 126). É interessante que quanto mais anos se passam, tan-to mais os peregrinos re-

conhecem que é tudo pela graça, embora nem todos os fi lhos entendam isso ain-da (Sl 127). A família sem-pre será base da sociedade e é uma bênção poder edu-car sua prole no temor do SENHOR, orando para que cada um deles seja um ins-trumento da Paz (Sl 128).

Finalmente, olhando para trás, percebemos que Deus nos livrou de muitos males (Sl 129) e por isso confi a-mos nEle também agora, reconhecendo mais do que nunca que somos pecado-res remidos pela graça (Sl

130). Isto faz com que nos sintamos como crianças (Sl 131), fi lhos da Aliança por amor do Filho de Davi (Sl 132).

Chegando mais perto da casa de Deus, nos alegra-mos com os outros sobre a Paz que enche nossos cora-ções (Sl 133) e nos faz can-tar com os coros terrestres e celestiais (Sl 134):“Com efeito, grandes coisas fez o SENHOR por nós; por isso estamos alegres!”

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EDUCAÇÃO CRISTÃ

Professor que é professor

sta editoria continuará em uma série durante vários meses. A

primeira parte foi publicada na edi-ção anterior (setembro 2017) dis-cutindo a manutenção da forma espiritual do professor. Vimos que o professor alimenta-se bem, medi-ta na Palavra, relaciona-se com o Senhor pela oração e valoriza a companhia dos irmãos.

Nesta edição veremos que o bom professor...

Tem preparo físicoPreocupação com boa forma nem

sempre esteve na moda. Eu me lem-bro de ver há muito tempo uma foto do ator Tony Curtis (1925–2010) – grande sucesso nos anos 50 e 60 – muito fraquinho fazendo flexões em

seu quarto, ao lado da cama. Coisa mais acanhada, mas não havia uma academia em cada esquina. Alguns atores eram musculosos, como Kirk Douglas (1916–) ao lado de quem Curtis atuou em Spartacus (1960). Coisa rara, então. Mesmo os joga-dores de futebol não malhavam como os de agora. Com ou sem téc-nica e habilidade, os atletas atuais correm 90 minutos, batem e apa-nham e ainda dão entrevistas cheias de gás ao fim do jogo.

A ideia de que o obreiro cris-tão deve se exercitar, porém, não é de hoje. Verdade que, segundo a Escritura, o exercício físico é pouco proveitoso (1Tm 4.8), mas isso comparado aos exercícios espi-rituais, que produzem efeito agora e na eternidade. No dia a dia ainda

precisaremos estar em forma física.Mais ainda o professor, um obrei-

ro que trabalha a semana toda e, quando encerra cada dia o expe-diente, ainda tem leituras para fazer, pesquisas em uma pilha de livros e na internet, visitas aos seus alu-nos, períodos de oração sozinho e em grupo, sem nunca se esquecer do primordial cuidado de sua vida espiritual (veja edição anterior do BP) e de sua família. Mal vai dar tempo para incluir academia e... cama.

Sim, cama, e o tempo que for preciso. “Vinde repousar um pouco, à parte” (Mc 6.31), foi o convite de Jesus a seus discípulos depois que retornaram de uma missão e lhe deram seu relatório. Parar e desa-parecer planejadamente com a fre-

quência necessária não é mundanis-mo nem acomodação. Ao contrário. O próprio dia do Senhor – surpresa para alguns – é dia de descanso.

O professor precisará de boa forma como testemunho de ser bom mordomo do pedaço da criação limitado por seu próprio corpo. Precisará de boa forma para uma agenda semanal digna de um pro-fessor, e ainda para seus dinâmicos momentos de aula, mesmo que a sua seja a classe da terceira idade.

Os alunos não devem se preocu-par se o professor tem ou não pique para chegar ao segundo sinal!

Na sequência, O professor que é professor trata de conhecer seus alunos.

Cláudio Marra

O Rev. Cláudio Marra é o Editor do Currículo Cultura Cristã e autor do livro A Igreja

Discipuladora.

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Outubro de 201710BrasilPresbiteriano

Culto de Gratidão a Deus pelos 500 anos da Reformalanejado e conduzi-do pelos Sínodos do

Estado de SP, aconteceu no dia 16 de setembro o Culto de Gratidão a Deus pelos 500 anos da Reforma Protestante. A celebração, realizada no auditório Ruy Barbosa da Universidade Presbiteria-na Mackenzie, campus Higienópolis (SP), con-tou com a participação do Coral Intersinodal – for-mado pelos membros de IP dos Sínodos Leste de São Paulo, Norte de São Paulo, Paulistano, Unido, Grande ABC, Sorocaba e Piratininga; com regên-cia de Hozéa B. Strop-pa, Fábio Maciel e San-dra Regina B. Vargas -, dos líderes do Supremo Concílio e do Rev. Dr. Samuel Logan, Presidente Emérito do Westminster Seminary.

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O Rev. Roberto Brasi-leiro, Presidente do SC/IPB, saudou a todos que estavam presentes no culto que teve início às 16 horas. Membros de diversas igre-jas dos Sínodos do Esta-do de São Paulo compa-receram e acompanharam o Coral Intersinodal na

execução dos hinos Qui-nhentos Anos da Reforma (Letra e Música de Stenius Marcius e Edilson Bote-lho; Arranjo de Cláudio Roberto Cardozo), Mara-vilhosa Graça (Haldor Linares) e Castelo Forte (Martinho Lutero; Arranjo de Mark Hayes).

Com programa de culto preparado pelo Rev. Wal-domiro Nunes da Fonse-ca Júnior, o evento contou com a exposição bíblica do Rev. Dr. Samuel Logan – interpretado pelo Rev. Davi Charles Gomes, Chanceler da Universidade Presbi-teriana Mackenzie – que

abordou os valores da Reforma e a soberania de nosso Senhor.

As palavras finais e a Benção Apostólica foram ministradas pelo Rev. Roberto Brasileiro e o Coral Intersinodal encerrou com o hino Aleluia (Geor-ge Friedrich Haendel).

Rev. Davi Charles Gomes, Presbs. José Inácio e Benedito Guimarães e Revs. Mauro Meister e Ageu Magalhães

Rev. Juarez Marcondes, SE do SC da IPB, discursa na Câmara Municipal de SP

Pres. Clodoaldo Furlan, Presidente do CECEP, discursa na Assembleia Legislativa

Rev. Ageu de Magalhães, Diretor do JMC, discursa na Assembleia Legislativa

Rev. Roberto Brasileiro, Presidente do SC da IPB

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Outubro de 2017 11BrasilPresbiteriano

O culto fez parte de uma série de celebrações organizada pelos Sínodos do Estado de São Paulo. A programação começou no dia 15 de setembro com Sessões Solenes no Auditório Juscelino Kubitschek e no Palácio Anchieta, ambos na cida-de de São Paulo; e com

a realização de Oficinas Teológicas no sábado na Universidade Presbiteria-na Mackenzie.

Toda a programação foi realizada tendo em mente os pilares da Reforma: Somente a graça, Somente a fé, Somente a Escritura, Somente Cristo e Somente a Deus a glória. Coral na Câmara Municipal

Rev. Davi Charles Gomes, Chanceler do Mackenzie, in-terpreta mensagem do orador, Rev. Samuel Logan Jr.

Presb. José Inácio, Presidente do Mackenzie, discursa na Assembleia Legislativa

Participação musical de Stenius Marcius e Diego Venâncio

Lançamento do livro Calvino e a Vida Cristãconteceu no auditório Ruy Barbosa da Universidade

Presbiteriana Mackenzie a Conferência Andrew Jumper e Mackenzie – 500 anos da Reforma, uma conferência teoló-gica comemorativa que ocorreu de 30 de agosto a 01 de setembro.

Com o tema A Relevância da Reforma para o século 21, o evento contou com participa-ção dos reverendos e professores brasileiros Augustus Nicodemus Gomes Lopes, Davi Charles Gomes, Jonas Madureira, Mauro Fernando Meister, Roberto Brasileiro, e do palestrante inter-nacional Michael S. Horton

(PhD, University of Coventry e Wycliffe Hall, Oxford), que é Professor de Teologia Sistemática e de Apologética no Westminster Seminary, Califórnia, e pastor auxiliar da Christ United Reformed Church, em Santee, Califórnia. Horton é autor ou organizador de mais de vinte livros, entre outros A Grande Comissão, A Lei da Perfeita Liberdade, As Doutrinas da Maravilhosa Graça, A Vida segundo o Evangelho, Creio, Cristianismo sem Cristo, Cristo o Senhor, Doutrinas da Fé Cristã, O Cristão e a Cultura, O Deus da Promessa, Um Caminho

Melhor, publicados pela Cultura Cristã.

Após a última palestra do pri-meiro dia da conferência o Rev. Cláudio Marra, editor da Cultura Cristã, autor de inúmeros artigos e do livro A Igreja Discipuladora, fez com Michael S. Horton o lançamento do livro Calvino e a Vida Cristã. Escrita por Horton e publicado pela Editora Cultura Cristã, a obra nos leva a uma grande jornada por toda a teo-logia calvinista, revelando que a visão reformadora genebrina da vida cristã é inigualável.

A obra está disponível em www.editoraculturacrista.com.br.

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Outubro de 201712BrasilPresbiteriano

m fato conhecido é o grande número de

presbiterianos na Coreia do Sul. Dentre a população de 51.446.201 pessoas, pelo menos 7.5 milhões partici-pam em alguma das mais de cem denominações pres-biterianas no país. Esse con-tingente faz com que o pres-biterianismo seja o principal grupo protestante nacional e concede à Coreia do Sul o status de país com o maior número de presbiterianos no mundo.

Diversos fatores contri-buíram para esse fenômeno. Alguns deles, contudo, são frequentemente citados por estudiosos. Antes de comen-tá-los, é necessário ter em conta que a introdução da fé reformada no país acon-teceu por meio de coreanos convertidos em Manchúria, China, por volta de 1879. Devido à ação de missio-nários escoceses, a Bíblia começou a ser traduzida do chinês para o coreano e porções dela circularam entre os nativos. Quando os missionários estaduni-denses, canadenses e aus-tralianos desembarcaram na Coreia, a partir de 1884, encontraram convertidos à espera de doutrinamento e parte da Bíblia já traduzida. Vê-se, assim, que a origem da Igreja Presbiteriana na Coreia antecede à chegada dos missionários. O missio-nário pioneiro, Horace N.

Allen, era médico. A pri-meira igreja foi estabelecida em Seul, em 1887. Por sua vez, a base da missão fica-va em Pyongyang, cidade que foi tão impactada pelo evangelho que passou a ser chamada pelos missionários de “Jerusalém do Oriente”.

Plano Nevius. Em 1890, o experiente Rev. John Livingstone Nevius, norte-americano que servia como missionário na China desde 1854, viajou pela Coreia e durante duas semanas apre-sentou os princípios que ele defendia para a plan-tação e o desenvolvimen-to de novas igrejas. Seu método propunha os three-selves (três autos): auto-sustento, auto-propagação e auto-governo. Nevius criti-cava o pagamento de obrei-ros nativos pela missão. A igreja deveria ser ensinada a sustentar seus próprios líde-res e a construir seus tem-plos. Os missionários deve-riam, o quanto antes, treinar e colocar os nacionais em

posições de autoridade. As nascentes igrejas coreanas abraçaram essa filosofia. A aplicação desses princípios aconteceu concomitante-mente às reuniões de estudo da Bíblia e à observância das “semanas de oração”, a “oração regular da madru-gada” e a “oração do meio-dia”, práticas que vinham sendo estimuladas pelos missionários. Ainda em 1890, em Seul, através de classes de instrução bíblica mantidas pelo Rev. Horace G. Underwood, iniciou-se o treinamento em Bíblia para homens e mulheres. No transcurso dos anos, esse modelo foi implantado em outras regiões do país. A combinação desses três ele-mentos – instrução bíblica para os crentes, ênfase em oração e o plano Nevius – mostrou-se muito bem sucedida na Coreia.

O avivamento no

começo do século 20

O período entre 1903 e 1910 foi marcado pela ênfa-se na oração, tanto indivi-dual como coletiva. Relatos do avivamento no País de Gales fomentaram orações para que o mesmo sucedes-se no país. Consolidou-se o que ficou conhecido como “encontros de avivamento”, isto é, semanas dedicadas ao estudo bíblico e oração que aconteciam uma ou duas vezes por ano. Essa época coincidiu com o domínio japonês sobre a Coreia. O ódio para com os japoneses era notório. Missionários e crentes coreanos passaram a interceder pela situação política e a clamar por um quebrantamento espiritual. As primeiras manifestações de avivamento se deram em Wonsan, entre os metodis-tas, e alcançaram seu clímax em Pyongyang, em janeiro de 1907, durante a confe-rência bíblica realizada por metodistas e presbiterianos. Registros dão conta de que Deus usou grandemente o

médico missionário Robert A. Hardie (metodista) e o Rev. William N. Blair (presbiteriano), que reitera-damente pregava sobre a necessidade de arrependi-mento do ódio para com os japoneses. O próprio Blair deixou seu testemu-nho registrado no livro O pentecoste coreano (Editora Cultura Cristã, 1998). Uma das características desse avivamento foi que ele manifestou-se não somente entre os adultos, mas tam-bém entre os jovens e ado-lescentes.

1907 foi um ano aben-çoadíssimo para o pres-biterianismo na Coreia. A igreja teve um crescimento de 34% em sua membre-sia (de 54.987, em 1906, para 73.844, em 1907), o Seminário em Pyongyang formou sua primeira turma e se organizou o primei-ro presbitério com 38 mis-sionários e 40 presbíteros coreanos. Algumas deci-sões tomadas nesse concí-lio revelam o progresso da obra: aprovou-se a disso-lução do comitê missioná-rio, passo essencial para a nacionalização eclesiástica; aprovou-se a ordenação dos sete primeiros pastores coreanos; criou-se a Junta de Missões Estrangeiras, que aprovou o envio do pri-meiro missionário, Rev. Ki Poong-Lee, à Ilha de Jeju.

Marcone Bezerra

U

O Rev. Marcone Bezerra Carvalho é pastor da 1ª IP de Santiago,

Chile, e colunista regular do Brasil Presbiteriano.

PRESBITERIANISMO EM FOCO

Presbiterianismo na Coreia do Sul (1a parte)

Templo da Igreja Presbiteriana SaRang, em Seul

Page 17: Ano 58 nº 755 – Outubro de 2017 Presbiteriano

Outubro de 2017 13BrasilPresbiteriano

o início do século passado, no sertão

do Ceará, Joaquim Cândi-do de Sena, encontrou uma Bíblia entre livros do páro-co local, seu amigo, mas o padre não a emprestou. Condoída, a irmã dele lhe emprestou a que possuía.

A condenação da idola-tria, logo no segundo livro, o impressionou muito e quanto mais lia a Bíblia mais desgostoso ficava com a Igreja Romana.

Alguns anos mais tarde conheceu o Sr. Antônio Leão, colportor e membro da IP de Fortaleza. Com-prou dele uma Bíblia e com ele – muito versado nas Escritura – conversou durante três dias sobre a salvação em Jesus.

Não demorou muito e viajou 200km a cavalo até a cidade de Quixadá, onde tomou o trem e viajou outro tanto até Fortaleza à procura da Igreja Presbi-teriana. Foi recebido por pública profissão de fé em 11 de janeiro de 1905, pelo Rev. Reynold Baird.

Em 1911, Joaquim Cân-dido faleceu e seus fami-liares foram impedidos de sepultá-lo no cemitério local e nos cemitérios das cidades vizinhas, que eram administrados pela Igre-ja Católica. Trouxeram o corpo para o Sítio Ven-cedor, e o sepultaram em um local que se transfor-

mou no cemitério daque-la comunidade, onde hoje descansam os corpos de mais de 47 membros de sua família.

Em 1917, o Rev. Nata-nael Cortez, novo pastor da IP de Fortaleza, ficou sabendo de “uns crentes no Sítio Vencedor”. Era a família de Joaquim Cân-dido. O Rev. Natanael os procurou a custo de 70km a cavalo. Então, em 9 de agosto de 1917, após o jantar, celebrou, com 37 presentes, o primeiro culto no Sítio Vencedor. O ser-mão do Rev. Natanael foi sobre João 1.29: “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo”. Can-taram os hinos “Junto ao trono de Deus preparado”, “Meu pecado resgatado” e “É franca a porta divinal”.

Em 1918, o Rev. Nata-nael Cortez recebeu por pública profissão de fé, Francisco Xavier Nogueira de Souza, João Evange-lista Nogueira de Souza, Ana Nogueira, Raimundo

Nogueira, Maria Firmina Nogueira de Souza, Beli-zário Nogueira de Queiroz, Leonília Nogueira, Coleta Nogueira Queiroz e Cândi-da Nogueira Queiroz.

Desde seu início até sua organização em Igreja, o Rev. Natanael Cortez a acompanhou, vindo perio-dicamente de Fortaleza (mais de 300km).

Em 1921 foi formalizada a Congregação da IP de Fortaleza no Sítio Vence-dor. Após oito anos, em 8 de dezembro de 1929, com 114 membros comungan-tes e 89 membros meno-

res, foi organizada Igreja, jurisdicionada ao Presbi-tério Ceará-Amazônia. Seus primeiros presbíteros foram: Laudelino Noguei-ra de Souza, João Evange-lista de Souza e Antônio Joaquim de Lima Rola. Seus primeiros diáconos foram: Belizário Noguei-ra de Queiroz e Joaquim Ferreira de Lima. E seu primeiro pastor foi o Rev. Alcides Nogueira.

O evangelho chegou às fazendas ao redor: Manga-beira, Santa Luzia, Massa-pê, Riacho Verde, Suçuara-

na, Olival e outras. O Con-selho decidiu construir um templo maior em um lugar mais central para todos. A pedra fundamental foi assentada em 12 de outu-bro de 1925 e a construção foi concluída em 1928: é hoje a IP Ebenézer. O tem-plo menor, no Sítio Vence-dor, onde tudo começou, é hoje congregação dela.

Comemoramos esse cen-tenário no Sítio Vencedor, de 21 a 23 de julho de 2017 (da fundação dos trabalhos pelo Rev. Natanael Cor-tez). Os cultos vespertinos foram realizados na Con-gregação (onde tudo come-çou) e os estudos bíblicos ocorreram na IP Ebenézer, dirigidos por Ageu Maga-lhães, Edson Márcio do Carmo, Fôlton Nogueira e Stênio Marcius.

Ebenezer: até aqui nos ajudou o Senhor!

Folton Nogueira

N

O Rev. Fôlton Nogueira é Capelão e Professor do Seminário Presbiteriano Rev. José Manoel da

Conceição.

HISTÓRIA

O Centenário no Sertão do CearáA Fundação da Igreja Presbiteriana Ebenézer

Joaquim Cândido de Sena Rev. Natanael Cortez Membros da Congregação em 1920. Rev. Natanael é o primeiro assentado na cadeira à esquerda.

IP Ebenézer

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Outubro de 201714BrasilPresbiteriano

RESENHA

Enfrentamento da cultura secular

riacionismo, Deus, identidade sexual, liber-

dade de expressão e educa-ção são alguns dos temas abordados por Phillip E. Johnson em seu livro As perguntas certas, da Cul-tura Cristã. A obra mostra como as filosofias dirigem os fatos da ciência e como isso afeta o pensamento e o comportamento humano. Ou seja, se questionarmos corretamente os ensina-mentos e valores que nos são transmitidos ao longo da vida, chegaremos às conclusões corretas sobre eles.

A filosofia naturalista que há séculos vem ganhando espaço na sociedade, afir-ma que somente as leis e as forças da natureza atuam no mundo. “A ciência tem sido atraída para o campo dos naturalistas e apresenta um pouco mais do que o natu-ralismo aplicado”, deixan-do os fatos serem influen-ciados por essa perspectiva. Se aceitarmos que tudo no mundo se desenvolveu de um processo natural, sem a necessidade de um criador, então as demais áreas da vida humana como a ética e a religião também se desen-volveram da mesma forma, e ao longo do tempo foram produzidas naturalmente pela mente humana.

Diante disso, o autor se propõe a esclarecer a busca pela verdade e devolver à

religião a sua moralidade, ao perguntar “por que deve-mos admitir que os natura-listas deem as regras?” ou “por que não desafiarmos as regras e insistir que a ciência siga os dados aonde quer que eles a conduzam?” e então, o autor mostra que perguntar corretamente é “agrupar as questões peri-féricas com a finalidade de se concentrar em um ponto crucial”. De maneira inteli-gente, ele não parte de per-guntas sobre “o que a Bíblia ensina, mas de perguntas sobre o que se pode conhe-cer através dos meios cien-tíficos: os sinais podem ser verificados empiricamen-te?”, elevando a teologia de um patamar de crença para o de uma proposta de conhecimento autêntico.

Para exemplificar, Phillip mostra que debater ques-tões sobre a origem da vida baseadas somente no relato de Gênesis pode ser frus-trante, uma vez que, para a comunidade científica e acadêmica, ele não passa de um mito. Portanto, o autor estabelece um ponto de contato com a ciência, a partir do texto de João 1, em que lemos “ No princí-pio era o Verbo”, em con-traste com o “No princípio eram as partículas”, dos cientistas naturalistas.

Uma vez revelada a relação da ciência com as demais áreas da vida huma-na e a influência da filo-sofia naturalista, é possí-

vel entender as origens da nossa sociedade pluralista e seu relativismo, ao obser-varmos que “o que é certo ou errado depende da pre-ferência de quem quer que possua o poder para impor sua vontade”. Também é ressaltado pelo autor que

negar o Criacionismo de Gênesis é negar a origem da sexualidade e do casa-mento, mostrando o quanto a sociedade está perdida e seguindo pela direção erra-da.

Porém, o motivo que levou Johnson a assumir a posição de sobrenatura-

Cínthia Vasconcellos

C

Cínthia Vasconcellos é membro da 4ª IP de SBC, São Paulo, é

colaboradora da Cultura Cristã.

lista, foi resultado de uma experiência com Deus em um momento de crise espi-ritual. O autor revela seus momentos de revolta e de conflitos internos ocasiona-dos por um derrame que quase o tornou inválido. Tal experiência resultou na apuração e no fortalecimen-to de sua fé e o entendimen-to de que mesmo possuin-do uma mente brilhante, apoiar-se e confiar em sua autossuficiência e conheci-mento eram sinais de um cristianismo superficial.

Para Phillip, quando o caos se instala em nossa vida é praticamente impos-sível perceber de imediato os benefícios que podem ser obtidos dele. De certa forma, a crise nos leva a avaliar os caminhos pelos quais percorremos e que nos levaram a tal situação. O autor ainda afirma que “todas as vezes que as per-guntas certas são feitas, em vez das erradas, podemos ter uma experiência bené-fica do caos, mesmo que dolorosa”.

Phillip E. Johnson apre-senta temas bastante atu-ais e relevantes, e a cada página são evidenciados seu vasto conhecimento e autoridade.

Formado pela Harvard University e pela Universi-ty of Chicago Law School, e tendo trabalhado com Earl Warren, Juiz da Suprema Corte dos Estados Unidos, e ensinado lei por mais de

trinta anos na University of Califórnia, sua escrita é densa, o que requer uma leitura bastante atenta e a companhia de um bom dicionário.

O autor traz dados, artigos científicos, além de várias fontes de estudos realizados anteriormente, bem como citações de outras obras de sua autoria e também de autores, enriquecendo os debates propostos.

Durante o desenvolvi-mento do livro, o casamen-to homoafetivo ainda não havia sido aprovado. Para efeito ilustrativo, Phillip compara a legalização do divórcio com um trem que está sendo conduzido por trilhos que o levarão muito em breve à aprovação de uma lei que permita o casa-mento entre pessoas do mesmo sexo. O que de fato aconteceu.

Muitos outros trens têm ganhado velocidade para atingir destinos que nos causam preocupação, com respeito a nossa futura gera-ção, a menos que nos empe-nhemos em mudar os trilhos de direção, e que resulte em um enfrentamento da cul-tura secular. As ferramen-tas dadas por Phillip são bastante encorajadoras para nos esforçarmos em mudar não só os trilhos do trem da nossa vida, mas por que não da nossa sociedade?

“As fi losofi as dirigem os fatos da ciência e isso afeta o pensamento e o comportamento humano”.

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Outubro de 2017 15BrasilPresbiteriano

REPOUSO DOS SANTOS

Nabeel procurou Alá, mas encontrou Jesus, agora face a face

abeel A. Qureshi (1983–2017) nas-

ceu na Califórnia, filho de pais paquistaneses que fugiram da perseguição religiosas para os EUA. Foi criado seguindo os preceitos da seita Ahmadi do Islã – que difere do islamismo ortodoxo em algumas doutrinas meno-res, mas compartilha com ela uma crença nos seis artigos de fé: crença em tawheed [monoteísmo absoluto], nos profetas, nos livros, no invisível, no dia do julgamento, no decreto de Deus, e detém os cinco pilares da fé reci-tando a Shahada (testemu-nha de fé), orando o Salaat (oração ritual), pagando o Zakaat (esmola), jejum realizando o Hajj (pere-grinação a Meca).

Seus pais também o trei-naram em apologética para que ele não só acreditasse no Islã, mas pudesse defen-dê-lo perante outras religi-ões, como o cristianismo. E foi dessa maneira que Nabeel conheceu Jesus.

Em agosto de 2001, iniciando seus estudos na Universidade Old Dominion, em Norfolk, Virgínia, Nabeel conheceu David Wood, um jovem cristão que em seu tempo livre lia a Bíblia. Nabeel lia regularmente o Corão, mas ver um cristão lendo

a Bíblia tinha um ar de estranheza para ela.

Nabeel e David se torna-ram amigos e tiveram lon-gas discussões e reflexões sobre suas religiões. David apresentava o evangelho de Cristo a seu amigo que cada vez mais questionava o islamismo.

Em grande parte de sua vida, Nabeel procurou Alá, mas acabou encon-trando Jesus. Um encontro que transformou sua vida, que o fez ver sua famí-lia o abandonando e que o inspirou a escrever o livro Procurei Alá, encon-trei Jesus – publicado no Brasil pela Cultura Cristã,

– que o colocou na lista dos mais vendidos do New York Times e rendeu-lhe o prêmio Christian Book por “Best New Author” e “Melhor livro não-ficção” de 2015.

Nabeel experimentou em diversos momentos da sua vida a presença e grandeza de Deus: quan-do estudou apologética cristã na Universidade de Biola, com um mestrado em 2008; ao completar seu curso de Medicina na Eastern Virginia Medical School, em 2009. Em 2012, quando completou uma mestrado em reli-gião na Duke University e

entrou um programa MPhil e PhD na Universidade de Oxford em estudos do Novo Testamento; e em 2015, quando sua esposa Michelle deu à luz a filha do casal, Ayah Fatima Qureshi.

Nabeel pode contar sua história e cultura não ape-nas no seu livro que se tornou best-seller, mas também em obras como Answering Jihad: A Better Way Forward e No God But One: Allah ou Jesus?.

E foi no dia do lança-mento de No God But One: Allah ou Jesus?, que em sua página no Facebook, Nabeel anunciou que esta-va com câncer no estô-mago. Ele e sua família lutaram bravamente con-tra sua doença, passaram

por inúmeras tempestades – como um aborto espon-tâneo de Michelle –, mas sempre descansaram na vontade de Deus.

Não pudemos ver a glória de Deus por meio da cura de Nabeel, mas cremos que ele viu face a face a glória do Pai. Nabeel faleceu no dia 16 de setembro, deixando um grande legado: uma nova visão e compreensão do mundo muçulmano e do poder do nosso Criador.

Um fundo foi criado com o intuito de ajudar Michelle e Ayah Qureshi, disponível em <https://www.go fundme .com/NabeelQureshi>.

Nabeel lutou o bom combate, terminou a cor-rida e guardou a fé.

N

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Outubro de 201716BrasilPresbiteriano

Calvino e a Cultura – David W. Hall e Marvin Padgett (Org.)

Um livro que busca mostrar como a cosmovisão reformada afeta todas as áreas do estudo e da atividade humana. O Dr. David W. Hall ataca, por meio da teologia Reformada, qualquer ideia de que o cristianis-mo representa uma fé anticultural e fechada.

O legado da Reforma não abran-ge apenas o campo da Teologia, mas vai além, sendo aplicado na História, Direito, Artes, Economia, Literatura, Filosofia, Política, Ciência, Negócios, Medicina e Jornalismo.

Dr. David W. Hell também é autor ou organizador de mais de 20 livros, entre eles Calvino e o Comércio e Calvino em Praça Pública, da Cultura Cristã.

A Fé e os Credos – Cristianismo para todos – Livro 1

Alister McGrath

A obra de Alister McGrath trata

da natureza da fé cristã e relevância dos Credos. Com um abordagem diferente, o autor procura enfatizar a importância de ver o todo em con-junto, ou seja, ver o panorama geral das crenças – como, por exemplo, a encarnação, a redenção ou os credos – para entendermos as apre-sentações tradicionais da fé cristã.

A Fé e os Credos nos leva a refletir sobre o que realmente que-remos dizer quando declaramos “eu creio”, e a compreendermos como essa afirmação traz sentido a todas as áreas de nossas vidas – desde como enxergamos o mundo ao nosso redor até a o que experimen-tamos dentro de nós.

Apologética Além da Razão – James W. Sire

“Há um milhão de sinalizadores apontando para a verdade especí-fica de Deus em Cristo”, e muitos deles estão presentes na literatura, a qual Jim Sire usa para nos ajudar a perceber e testemunhas a reali-dade de Deus de um modo que o argumento racional por si só não consegue.

Com reflexões sábias e espiritu-osas, Sire apresenta em sua obra uma apologética mais holística, que inclui não apenas a verdade, mas também a bondade e beleza de Deus. Mostrando como uma boa literatura – sendo escrita a partir do ponto de vista cristão ou não – exibe exemplos e sinais de Deus, de modo que seja um testemunho da existên-cia de uma esfera transcendente e da verdade da fé cristã.

Sobre esses e outros títulos acessewww.editoraculturacrista.com.br

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Planeta dos Macacos: A Guerra (2017)

O último filme da trilogia Pla-neta dos Macacos (iniciada em 2011) não é simplesmente uma superprodução hollywoodiana. Com muitos efeitos, cenas de ação e a famosa saga do herói, o filme recém-saído dos cine-mas nos leva a uma reflexão sobre a humanidade.

O longa nos apresenta uma mistura bíblica de conflito e recomeço, nos levando a rever valores, prioridades e a refle-tir sobre assuntos atuais e de imensa relevância: saber lidar com as diferenças entre os povos.

Vivemos em um cenário de intolerância, em que cons-tantemente nos deparamos com notícias sobre casos de xenofobia – principalmente por conta da questão da imigração. O filme de Matt Reeves é um ótimo ponto de partida para dis-cussões sobre como o cristão deve ser portar a frente desses assuntos contemporâneos, e mais ainda, sobre o caminho ascendente ou descendente da sociedade humana.

Pastoral Americana (2009)

Com grande elenco, Ewan McGregor, Jennifer Connelly e Dakota Fanning, Pastoral Americana não critica apenas o “Sonho Americano”, mas tam-bém bate de frente com o fun-damentalismo.

O filme conta a história do casal “perfeito” Seymour e Dawn Levov que precisa lidar com a rebeldia de sua filha Merry Levov. A jovem vivida por Dakota Fanning acaba se envolvendo com grupo extre-mista durante a Guerra do Viet-nã e desaparece de casa.

Durante o longa, assuntos relevantes e provocativos nos são apresentados, como o fun-damentalismo – seja ele reli-gioso, econômico ou político –, sobre problemas familiares e, principalmente, sobre o amor de um pai que não mede esfor-ços para ajudar e acolher sua filha “perdida”.

O filme, que está disponível em serviços de streaming, é excelente para fomentar discus-sões acerca de assuntos que fazem parte do nosso dia a dia.

Presságio (2009)

Com Nicolas Cage como um dos personagens principais, o filme de 2009 é claramente apocalíptico.

Na década de 50, uma cáp-sula do tempo é enterrada por alunos de uma escola ameri-cana. Cinquenta anos depois, a cápsula é aberta pelos alu-nos atuais e Caleb Koestler (Chandler Canterbury), filho do astrofísico John Koestler (Nico-las Cage) recebe uma carta com números supostamente sem sentido. John descobre que os números são pressá-gios sobre acontecimentos catastróficos que estão para acontecer no planeta.

O filme serve de pano de fundo para discussões interes-santíssimas sobre o sentido do universo, o fim do mundo e o Paraíso – o longa conta com muitas cenas inspiradas em passagens bíblicas –, e sobre as ligações de acontecimen-tos da humanidade. Afinal, o filme nos deixa uma mensa-gem bem clara: nada ocorre por acaso.