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SER UM PRESBITERIANO - TRADUÇÃO DO LIVRO

To Be a Presbyterian

De

LOUIS B. WEEKS

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TRADUÇÃO : MAURICIO SANTOS SOUZA

Membro da Igreja Presbiteriana Unida do Salvador-BAIgreja Presbiteriana Unida do SalvadorPraça Alexandre Fernandes, 3 – Garcia, Salvador – Bahia Fone: (71) 3235-0624Ao irmão tradutor, os mais sinceros e calorosos agradecimentos da Igreja Presbiteriana Unida do Brasil por seu Conselho Coordenador (Triênio 2005-2008)

ADAPTAÇÃO: Manoel de Souza Miranda Obs. Os nomes de pessoas que aparecem no livro pertencem à experiência pastoral do au-tor; por isso foram mantidos para dar um caráter de pessoalidade ao texto. Por outro lado, considerando que não houve tradução rigorosamente literal, algumas poucas situações foram omitidas por não trazerem efetiva contribuição ao tema para nós, brasileiros.

FORMATAÇÃO E REDESENHO DA CAPA: André Aimberê Moraes e Silva

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

Este livro é importante para os Pastores e Pastoras, Presbíteros e Presbíteras, Professores da Escola Dominical e para os demais membros da Igreja. Na Escola Dominical, serve à Classe de Preparação para a Profi ssão de Fé; serve às classes de adultos para melhor compreensão do “ser presbiteriano”. Seu conteúdo pode e deve ser trabalhado capítulo por capítulo, com os seus temas internos, sempre com a leitura constante da Bíblia. O CD pode ser reproduzido, respeitando-se, prioritariamente, o nome do au-tor e do tradutor.

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ParaCarolyn, Lou e Sid,Que também contribuem paraA vida da igreja,E para a vitalidade da IgrejaPresbiteriana de Ancoragem

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CONTEÚDO

Introdução ..............................................................................................................................7A peregrinação da Fé ...............................................................................................................7Questões para Estudo ..............................................................................................................8Resumo Final .........................................................................................................................10

Capítulo 1 .............................................................................................................................12Ser um Cristão .......................................................................................................................12Uma Olhada na Árvore da Família .......................................................................................12Reforma e Reformados ..........................................................................................................14Todos Cristãos........................................................................................................................15Todos Evangélicos .................................................................................................................16

Capítulo 2 .............................................................................................................................18Confi ar em Deus ....................................................................................................................18Deus Trino .............................................................................................................................18Criador de Tudo .....................................................................................................................20Deus Cuida de Tudo ..............................................................................................................21

Capítulo 3 .............................................................................................................................23Seguir a Jesus ........................................................................................................................23O Ministério de Jesus ............................................................................................................23A Expiação ............................................................................................................................25O Pecado Humano ................................................................................................................26O Chamamento Efetivo .........................................................................................................26

Capítulo 4 .............................................................................................................................28Viver no Espírito ...................................................................................................................28Conduta do Pai e do Filho .....................................................................................................28Agente de Santifi cação ..........................................................................................................29Doador de Dons .....................................................................................................................31

Capítulo 5 .............................................................................................................................33Andar no Caminho ................................................................................................................33O Caminho Presbiteriano ......................................................................................................34

Capítulo 6 .............................................................................................................................37Amar Seu Vizinho .................................................................................................................37O Cuidado Cristão .................................................................................................................38Bíblia e Cuidado ....................................................................................................................39

Capítulo 7 .............................................................................................................................41Receber Batismo ...................................................................................................................41Batismo, Um Sacramento .....................................................................................................41

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Batismo Infantil .....................................................................................................................42Membro ativo ........................................................................................................................43Educação na Fé .....................................................................................................................44

Capítulo 8 .............................................................................................................................46Tomar a Comunhão ...............................................................................................................46Comunhão, um Sacramento ..................................................................................................46Prática Presbiteriana .............................................................................................................47Comunhão para Crianças ......................................................................................................48Refeição Ágape e Outras Celebrações ..................................................................................49

Capítulo 9 .............................................................................................................................50Pertencer à Igreja ...................................................................................................................50Membro de toda a igreja ..................................................................................................50Membro da Igreja Local ........................................................................................................52Tempo, Talentos, Dinheiro ....................................................................................................53Oração ...................................................................................................................................54

Capítulo 10 ...........................................................................................................................55Obedecer à Lei ......................................................................................................................55Dar a César ............................................................................................................................55Terceiro Uso da Lei ...............................................................................................................57A Lei Mais Alta .....................................................................................................................58

Capítulo 11 ...........................................................................................................................60Antecipar o Reino .................................................................................................................60Vida Eterna na Bíblia ............................................................................................................60A Ressurreição dos Mortos ...................................................................................................62Predestinação ........................................................................................................................63

Capítulo 12 ...........................................................................................................................65Crescer em Graça ..................................................................................................................65Santifi cação ...........................................................................................................................65Piedade ..................................................................................................................................67

leitura Adicional ..................................................................................................................69Fonte Adicional .....................................................................................................................70

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INTRODUÇÃO

“O que signifi ca ser um Presbiteriano?” Peggy Cunnigham fez uma pergunta direta. Eu tentei dar uma resposta direta a ela e aos outros membros da classe de debates que compartilháva-mos sobre parte da teologia das Igrejas Reformadas e sobre estilos presbiterianos de governo. Na verdade a compreensão dela era muito boa sobre o conjunto de crenças dos presbiterianos; mas ela não tinha crescido como tal e não confi ava no seu conhecimento. Após a classe, ela e seu marido disseram que ambos certamente apreciariam um estudo que ensinasse mais sobre a igreja à qual se juntaram em sua idade adulta.

A PEREGRINAÇÃO DA FÉ

Muitos presbiterianos, à semelhança de Peggy, não cresceram em famílias cristãs. Muitos out-ros de nós, talvez a maioria dos presbiterianos hoje, tenham pertencido a outras denominações cristãs. Há vários motivos: nós nos tornamos presbiterianos por um amontoado de razões. Nós gostamos do ministro. Bons amigos pertenciam a uma Igreja Presbiteriana local. Alguém da igreja nos ajudou em tempos de crise. Queremos ajudar outras pessoas e descobrimos que a igreja local é um lugar apropriado para tanto. Também encontramos muitas pessoas que pensam como nós, freqüentemente ignorantes da história específi ca e da natureza da Igreja Presbiteriana, mas desejosos, como nós, de serem bons cristãos.

Enquanto ensino e prego em diferentes congregações pelo país gosto de indagar qual a per-egrinação religiosa dos presbiterianos. Um jovem rapaz em uma determinada Igreja, expres-sou-se com franqueza: “Eu uni-me a esta igreja pelo fato de minha esposa ter começado a freqüentá-la. Eu quero que nossos fi lhos sejam criados com bons valores.” Nós divaga-mos em voz alta se algum livro poderia ajudar a explicar as crenças dos presbiterianos. Eu sugeri a Bíblia e nós rimos juntos. Embora ele tenha sido excessivamente modesto quanto à sua fé, muitos presbiterianos partilham destas mesmas razões para estarem na igreja.

Uma das perguntas que gosto de fazer em um grupo presbiteriano tem a ver com a sua peregri-nação. “Você pode nos falar sobre o seu passado religioso?”. Os resultados são geralmente fascinantes e na maioria das vezes alguém me agradece por ter perguntado. Uma pessoa disse: “Os presbiterianos parecem supor que todos nós sempre fomos presbiterianos.” Enquanto os membros da maioria dos grupos falam sua história pessoal, muitos confessam (e muitos se gabam!) “Eu cresci metodista”; “Meus pais eram católicos”; “Bem, eu nasci de novo na As-sembléia de Deus, depois me tornei Batista”; “Nós éramos Luteranos, mas esta Igreja Presbi-teriana existia na comunidade e era mais próxima do estilo daquilo que aprendemos na igreja da nossa cidade de origem”. Não é de admirar que em muitas congregações e mesmo em mui-tas sessões (assembléias) seja difícil admitir que o conhecimento da Tradição Reformada seja uma perspectiva compartilhada. Durante um seminário, um dos pastores mais idosos disse com humor e alguma tristeza: “Eu sempre preguei o Calvinismo, e após muitos anos, alguém, um dia após a adoração, teve a coragem de perguntar: “Quem foi este homem Calvino?” Uma outra pastora acrescentou ter descoberto que muitas pessoas não podiam acompanhá-la quando ela falava palavras como “regeneração” e “santifi cação”.

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Pode ser rapidamente notado que os presbiterianos já não gozam dos “bons velhos tempos”, quando todos conheciam a tradição e viviam por ela, embora hoje possa haver mais leitura da Bíblia do que em qualquer época anterior.

Muitos seminários presbiterianos atualmente, pela primeira vez na história exigem a leitura de “As Institutas da Religião Cristã” (Bases, Fundação, Origens da Religião Cristã), a obra de Calvino na qual se baseou muito da teologia Reformada. Umas poucas gerações antes, seminaristas presbiterianos vinham de famílias presbiterianas e tinham sido forçados a apre-nder uma interpretação do Calvinismo vinda do “Westminster Standard”, o mais importante currículo para a educação Cristã nas igrejas. Na América do Norte isto signifi cava uma visão global muito bem construída e era parte da experiência da maioria dos presbiterianos; e estes podiam ler a Bíblia centrados nisto. (O presbiterianismo brasileiro pertence a esta mesma origem. Nota do adaptador).

Hoje muitos e diferentes tipos de leitura e pontos de vista estão disponíveis para o povo. Jor-nais e televisão apresentam visões globais que diferem grandemente das perspectivas tradi-cionais presbiterianas. O movimento ecumênico também ajuda a que variadas outras crenças cristãs infl uenciem a vida dos presbiterianos. Trabalhos de fi cção, fi lmes de muitos tipos, resultados (conclusões) das ciências sociais e naturais, tudo bombardeia nossos sentidos com aprendizados importantes e consideráveis. O próprio aprendizado que pode ajudar na com-preensão mútua e no ganho de conhecimentos pode também interferir com a transmissão da tradição.

Questões para estudo

Neste contexto, pessoas e líderes nas igrejas estão pedindo, com freqüência crescente uma apresentação honesta e útil de crenças básicas do Presbiterianismo. “Em que as pessoas “tem de crer” para ser Presbiterianas? Quais são as crenças necessárias para que se possa ser um líder na igreja, um presbítero ou um pastor? Que outras crenças são importantes, mas não es-senciais nas comunidades Reformadas?”

E, talvez mais profundamente as pessoas indagam qual o signifi cado das crenças presbiteri-anas para a vida do Cristão. Quais as crenças e práticas que os presbiterianos partilham com todo resto do Corpo de Cristo? Como a teologia da igreja se relaciona com a salvação das pessoas? Qual a autoridade da Bíblia e da tradição diante das situações sofridas pela comuni-dade? Como as crenças sobre Deus, Jesus Cristo, o Espírito Santo e a igreja afetam valores e tomadas de decisões?

Estas questões e outras semelhantes às vezes são colocadas em termos de comparação: “Qual a diferença entre Batistas e Presbiterianos?”, e várias outras comparações, buscando diferen-ças e semelhanças. Algumas vezes nem são perguntadas e sim meramente subentendidas: “Eu acho que esta congregação devia ter mais encontros e decidir por maioria de votos as coisas importantes para a igreja!”

Muitos presbiterianos parecem querer honestamente ser fi éis em suas alianças com Jesus Cristo e com seus compromissos com a igreja. Eles desejam saber as implicações de suas

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fi liações presbiterianas.

Este estudo é escrito em resposta a questões e colocações como estas, feitas por pessoas em igrejas locais. Eu escrevo para pessoas que não cresceram aprendendo o “Catecismo para Cri-anças”, aquelas que ainda não abriram seu caminho por meio do “Westminster Standards ou das “Institutas” de Calvino, e para aquelas que ainda não estudaram completamente os outros credos que formam a Tradição Reformada. O trabalho é dirigido especifi camente aos adultos; mas professores criativos podem usá-lo facilmente com cristãos jovens, a partir dos 10, 12 anos, antes da Profi ssão de Fé.

Eu creio profundamente e quero partilhar minha crença em que os presbiterianos têm tido uma presença especial no mundo e que temos contribuições particulares para fazer à nossa sociedade. Eu asseguro estas mesmas contribuições vindas dos Católicos, Luteranos, Batis-tas, Ortodoxos Gregos e outros. Como um presbiteriano, estou totalmente engajado em uma tradição que me oferece comida e bebida que me nutrem e apetecem. Eu fi co deleitado sempre que tenho a oportunidade de partilhar esta dieta com outras pessoas. Justamente por isto re-conheço e me agrada o fato de que nem todos os cristãos participam da dieta Reformada. Eu, impetuosamente, escuto e adoro ao Senhor com aqueles de outras tradições.

A fé mais ampla, além e acima da nossa fé particular mantém-se primária (principal). Nenhum estudo do Presbiterianismo pode ignorar as vastas áreas de fé e ação comuns. Nesta época de mobilidade denominacional e de cooperação ecumênica nós, certamente, assumimos a participação na responsabilidade cristã de “alimentar os famintos, vestir os nus, cuidar dos necessitados”. Assumimos também o chamado participativo para “fazer discípulos de todas as nações”. Nós escutamos juntos as promessas de Jesus, e juntos oramos pela vinda do Reino de Deus “assim na terra como no céu”.

Justamente por isto, eu vejo problemas reais para as pessoas que não fazem de parte da fé cristã e de sua tradição. Afi nal de contas a herança inclui toda a história passada da humani-dade, e para os Cristãos, também toda a história da igreja. Entre os elementos misturados desta herança cada um de nós clama por uma parte da tradição, ativamente informando vida e fé. Há hoje em alguns de nós a tentação de simplesmente não clamar por uma tradição em particular, como se toda a herança meramente se derramasse sobre nós. Nós nos defi nimos vagamente como “Cristãos Protestantes”. Creio que a melhor defi nição deveria ser “Religio-sos Não Diferenciados”. Mas seria melhor se os que querem ser cristãos mantivessem a saúde e a vitalidade de uma tradição particular.

Pessoalmente, creio que a “tradição reformada é um bom lugar no qual fi car”. Desta perspec-tiva outras tradições fazem sentido e eu posso ver méritos em cada uma. Assim, este estudo é escrito de um ponto de vista ecumênico, mas também especialmente do ponto de vista da Reforma.

Quando a tragédia aproximou-se de mim a Tradição Presbiteriana me ofereceu uma avenida de solidariedade cristã. Quando os acontecimentos mundiais parecem fora de controle ou quando estou propenso a duvidar vejo sua promessa para o crente, para a igreja universal e para toda a criação. Mas, sempre, sua promessa vem como parte de toda a fé cristã que supera

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todas as tradições cristãs particulares.

Resumo Final

O estudo começa com as crenças bem básicas dos presbiterianos – Aquelas requeridas para ser membro da denominação. Presbiterianos são Cristãos, princípio e fi m. Nós acreditamos, como Simão Pedro, que Jesus é “o Cristo, o fi lho de Deus vivo” (Mateus 16.16).

Nós confi amos em Deus, o Criador e provedor de todas as coisas boas. Nós cremos, como o apóstolo Paulo, que Deus estava em Cristo, reconciliando o mundo consigo mesmo” (2ª Coríntios 5.19). E nós cremos que o Espírito de Cristo, o Espírito Santo, está sustentando a nós todos na vida Cristã, dando-nos as dádivas de Deus por toda a nossa vida. Os primeiros quatro capítulos tratam destas crenças básicas e das maneiras pelas quais as recebemos.

Os capítulos 5 a 8 descrevem os caminhos nos quais os presbiterianos dirigem de modo par-ticular as suas vidas religiosas. Piedade e ética tradicionais têm sido os símbolos (marcos) principais da vida reformada, envolvendo toda a pessoa (a pessoa toda) no serviço a Deus e aos vizinhos. “O que o SENHOR espera (exige) de você”, o profeta Miquéias perguntou, “senão que pratiques a justiça e ames a misericórdia e andes humildemente com o teu Deus? (Miquéias 6.8). Ao mesmo tempo, os presbiterianos têm celebrado os sacramentos da Santa Ceia e do Batismo como uma parte da resposta cristã ao trabalho de Deus em Cristo. Nova-mente, o entendimento do trabalho (valor) destes sacramentos tem mantido um sabor distinto (particular) nas Igrejas Presbiterianas.

Os quatro capítulos fi nais falam sobre a cidadania na família da Igreja Reformada. O que sig-nifi ca participar responsavelmente da igreja? E da sociedade da qual a igreja é parte? Como os presbiterianos são membros da comunhão dos santos?

As divisões neste estudo, ainda que tradicionais, são mesmo assim, arbitrárias. A característica mais importante da fé reformada tem sido que tudo se junta em um todo. (Tudo se completa). A fé cristã, na perspectiva reformada, não pega um grupo de idéias e experiências diferentes e tenta juntá-las num todo. Pelo contrário, os presbiterianos celebram o trabalho de Deus, cria-tivo e cheio de propósito, como nós temos aprendido em Jesus Cristo, pela graça do Espírito. Nós, em troca, vivemos criativamente e cheios de propósitos, em tudo que somos e em tudo que fazemos, tanto na igreja quanto no trabalho, na diversão quanto na oração. Nas palavras de Paulo, “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Romanos 8.28). Em muitos pontos este tema importante será tratado de novo, pois no mundo completamente fragmentado, as forças demoníacas nos afastam deste centro da unidade (do todo) de Deus.

Uma nota introdutória fi nal: as ilustrações neste livro virão de pessoas e igrejas reais (verda-deiras). A maioria dos exemplos, como um no início, vem da congregação da qual eu e minha família participamos. Minha escolha por pessoas reais e eventos históricos é, parcialmente por hábito, por eu ensinar história da Igreja. Mas eu gosto de pensar que ela vem, principal-mente, da teologia reformada. Em nossa afi rmação de “pastorado dos crentes”, dizemos de fato que nós intercedemos um pelo outro perante Deus. Nós ensinamos a cada um acerca do

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cuidado e do perdão de Deus, acerca de como viver no mundo e antecipando o Reino de Deus. Nós todos aprendemos com as vidas e trabalhos dos outros e buscamos voltar nossa atenção para estes processos sempre que possível.

Minha escolha de ilustrações também se relaciona com os modos pelos quais este estudo será muito útil para grupos, classes e indivíduos. Por favor, tente pensar na sua situação enquanto você lê ou discute os vários tópicos. Assim como eu cito pessoas conhecidas em locais e situações as mais diferentes, você pode pensar em outras pessoas suas conhecidas, vivas ou já falecidas e diferentes entre si. Enquanto eu falo sobre o ministro em sua congregação local, eu espero que você faça uma tradução (transferência) defi nitiva para as suas próprias circunstân-cias. Enquanto eu cito exemplos de decisões que outros tomaram e de orações que oraram, eu espero que você pense em você próprio. Quanto mais estes assuntos diversos puderem ser relacionados com a sua própria fé e vida cristã, mais útil este estudo será.

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Capítulo 1

Ser um Cristão

“Irmã Carmelita, seja bem-vinda!” Wayne Perkey, que liderava a classe de debates na escola da nossa igreja apresentou a freira que encabeça um programa de ‘visitador de vizinho’ no qual participamos. “Nós estamos gratos pela presença da senhora aqui”, disse ele, “Sua ajuda nos faz lembrar que nós presbiterianos somos apenas uma parte do corpo total de Cristo.”

Nós, presbiterianos, devemos nos lembrar de quão vasta e variada a igreja cristã realmente é. Nós afi rmamos ser membros da única, santa Igreja católica – a igreja universal. Nossa comu-nidade cristã inclui pessoas espalhadas por todo o mundo, cuja fé algumas vezes parece bem diferente da nossa própria. Wayne Perkey, um membro da nossa igreja, sabe por experiência o quão variada a igreja pode ser mesmo numa cidade de porte médio. Quando ele atua como mestre de cerimônia todos os anos na Cruzada para Crianças, patrocinada pelas estações de rádio e televisão, ele trabalha para todas as espécies de congregações e grupos das igrejas que dão dinheiro e tempo para ajudar. A Irmã carmelita também sabe o quão variadas e diferen-tes as igrejas podem ser. Ela pertence à ordem religiosa católica romana e é responsável por ajudar os pobres. O programa Visitador de Vizinho dá cestas básicas e dinheiro para aluguel e utilidades, e pastores enviam pessoas para lá para serem atendidas.

Católicos, Batistas, Cristãos (Discípulos de Cristo), Luteranos, Episcopais, Metodistas e Pres-biterianos cooperam por meio de suas igrejas. Todos nós, protestantes, deveríamos saber desta diversidade e ainda que todos nós participamos da herança católica. A palavra “Católico” em um certo nível apenas signifi ca “universal”. Todos os Cristãos chamam Jesus de o Cristo.

Uma Olhada na Árvore da Família

Enquanto Jesus andava, ensinava, curava pessoas, chamava discípulos, vivia, morria e “er-guia-se de novo de entre os mortos” Ele acabou sendo recebido pelos que acreditavam nele como “o Cristo”, o Filho do Deus Vivo”. Pessoas que vinham para acreditar naquele credo, que “Jesus (é) o Cristo”, saíram do judaísmo para uma nova identidade religiosa com o qual (o judaísmo) se relacionava. Em Antioquia (Atos 11.26) foram chamados “Cristãos” pela primeira vez. Cedo, no seu processo de formação, e seguindo o evangelho que tinham ou-vido e acreditado, os cristãos decidiram que os novos membros da comunidade não tinham que, primeiro, se tornar judeus, nem tinham de fazer coisa alguma para poderem ser cristãos. Todo o a fazer da vontade de Deus tinha sido feito em Cristo. As promessas de Deus também revelavam aquela vontade. Jesus, o Cristo, chamava pessoas para a fé. Da vida do Espírito fl uíam novas maneiras de viver.

Os Atos dos Apóstolos falam de um tempo no qual a igreja cristã era só uma. “E era um o co-ração e a alma da multidão dos que criam” (Atos 4.32). Um importante episódio em Atos trata da conferência em Jerusalém, quando diversas opiniões ameaçaram dividir a igreja. Então Paulo, Barnabé e Pedro se fi zeram prevalecer na liderança da igreja, fazendo valer seus argu-mentos quanto ao que se requeria para se tornar membro. A igreja, segundo aquela narrativa, chegou a um acordo e permaneceu única (não dividida) (Atos 15.25).

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Rapidamente, entretanto, as organizações religiosas de pessoas que seguiam Jesus Cristo começaram a se desenvolver por caminhos diferentes. Quando ocorreu a perseguição alguns cristãos buscaram as cavernas (sub-solo) e adoravam secretamente; outros se tornaram mis-sionários destemidos e buscaram converter seus perseguidores. Alguns, buscando o surgi-mento do Reino de Deus, encontraram no martírio um passo em direção a este fi m. Outros, ainda, em áreas de perseguição menos declarada, tentaram explicar sua nova fé na linguagem de outras culturas e fi losofi as.

A igreja cristã dividiu-se em muitas partes ou tendências. As mais importantes e signifi cati-vas ocorreram quando líderes consideraram a natureza do Cristo que buscavam seguir. Cada concílio afi rmava uma posição “ortodoxa” (a opinião certa) e cada concílio bloqueava outras maneiras de se falar e crer em Cristo. Através de quase toda a história cristã, diferentes ramos da igreja têm pronunciado “anátema” (praga) sobre “heresias” (escolhas) e freqüentemente punido heréticos. Mesmo em nossos dias muitos cristãos ainda guardam ciumentamente a sua própria maneira ou interpretação da fé como se ela fosse a única verdadeira. Historica-mente as igrejas reformadas têm reconhecido que outras comunhões também trazem parte da verdade de Deus para o mundo. Freqüentemente, porém, quando presbiterianos falam de “a Igreja” estão se referindo apenas às suas pequenas comunidades ou denominações. Nós fazemos bem em nos lembrar que nós presbiterianos somos apenas um ramo do tronco oci-dental da árvore da família cristã. Sendo específi co, cristãos nas Igrejas Presbiterianas estão na tradição evangélica reformada ocidental. Nós seguimos muitas coisas (modelos) da Igreja Católica Romana. Nós surgimos da tradição média no protestantismo ou reformada. Nós co-locamos o evangelho no centro da nossa fé. Algumas palavras a mais sobre cada um destes termos (temas, assuntos) podem ser úteis.

A Igreja Ocidental cresceu a partir de comunidades cristãs de fala Latina quando Roma se tor-nou seu centro natural por um largo período de tempo. A Igreja Romana tornou-se distinta da Oriental, formada por comunidades cristãs de fala grega, não apenas pelas diferenças de idi-omas, mas pelo fato de que a Igreja Ocidental reconhecia o bispo romano como mais poderoso que os outros. A Igreja oriental, ou Ortodoxa, tendeu gradualmente a reconhecer o primado do bispo de Constantinopla, mas cada uma das auto-governadas em Alexandria, Jerusalém, An-tioquia, ou mais recentemente na Rússia, Bulgária etc, possuem grande independência uma das outras (com relação ao resto). Um outro grupo de igrejas “Ortodoxas” separou-se ainda mais dos ramos tanto do Oriente quanto do Ocidente quando ocorreram desacordos quanto à natureza da Trindade. Aquelas comunidades religiosas tais como a síria e a armena, também são cristãs. Mas as comunidades presbiterianas cresceram a partir do ocidente, ou da Igreja Católica Romana, que se separou da Igreja Ortodoxa Oriental, fi nalmente, em 1054.

A igreja ocidental tem, de um modo geral, se chamado de “católica”. Durante a idade média, líderes no ocidente, tenderam a conceder (garantir) cada vez mais poder ao Papa, o Bispo de Roma, mesmo que muitos entre eles argumentassem a favor de concílios ecumênicos como o maior poder. Proponentes do poder papal citavam as palavras de Jesus: “tu és Pedro e sobre esta pedra construirei a minha igreja” (Mateus 16.18). Simão Pedro recebeu a autoridade es-pecial de Cristo para “juntar o que está separado” (unir os que estão soltos) na terra segundo esta interpretação e Pedro tornou-se o primeiro Bispo de Roma. Na Igreja Católica Ocidental

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(bem como na Igreja Ortodoxa Oriental) os crentes se ligavam a Deus e aos outros da mesma fé principalmente pelos sacramentos.

Dentro da Igreja Católica Ocidental críticos como John Wycliffe na Inglaterra e John Huss na Boêmia (Checoslováquia) argumentavam que o povo estava sendo ignorado. Os líderes da igreja concentraram-se em ganhar poder político e terras sob as bandeiras de Roma, enquanto nem mesmo permitiam que as pessoas comuns participassem dos elementos da missa. Como, se o povo nem ao menos entendia o latim dos padres e nem podia ler a Bíblia na sua própria língua!? Tais críticas nunca foram levadas em consideração pelos cabeças papais da igreja e a reformulação do século dezesseis separou a comunidade da Igreja Ocidental. Os presbiteria-nos freqüentemente se esquecem que todos nós, Católicos e Protestantes, pertencemos a este ramo ocidental da Cristandade. Irmã Carmelita, a freira Católica Romana que participa do nosso ministério da vizinhança, também participa da nossa herança de família na Cristandade do Ocidente.

Reforma e Reformados

Quando Martim Lutero na Alemanha e Ulrich Zwínglio na Suíça lideraram os protestantes contra a Igreja Católica à qual pertenciam, vários diferentes ramos do Cristianismo Ocidental passaram a ter identidade própria. Ao mesmo tempo, no princípio do século dezesseis, Hen-rique VIII, rei da Inglaterra, liderou uma disputa política com Roma que resultou em uma di-visão da igreja. Enquanto a Bíblia se tornava disponível em várias línguas para o povo ler por si mesmo, outras interpretações radicais de alguns resultaram em mais um movimento “Ana-batista” entre os cristãos ocidentais. De Lutero vieram as Igrejas Luteranas, normalmente na Europa em associação com governos políticos. De Henrique VIII e de seus sucessores no trono inglês veio a Igreja da Inglaterra (ou Anglicana) e suas derivadas em diversas colônias – uma das quais tornou-se eventualmente a Igreja Episcopal, nos Estados Unidos. As Igrejas Metodistas também surgiram dos princípios da Anglicana. Dos Anabatistas surgiram os Me-nonitas, Amish, Huteritas e alguma infl uência para os que vieram a ser as Igrejas Batistas na América. Muito mais importante na formação das comunidades batistas e indispensáveis para o que hoje são os presbiterianos, foram as igrejas reformadas que tinham Zwínglio como um dos primeiros líderes.

Líderes reformados como Zwínglio, João Calvino, John Knox, Martin Bucer e outros tenta-ram purifi car a moralidade da igreja e restaurar seus antigos padrões de adoração e trabalho. Eles, junto com outros protestantes, consideravam a fé mais importante que os laços sacra-mentais. Lutero já tinha chamado a atenção para a promessa de Paulo na Carta aos Romanos: “Mas o justo viverá da fé” (Romanos 1.17). Paulo tinha citado Habacuque (2.4), e Lutero viu em todos os profetas, leis, e evangelhos este tema como o centro (o núcleo) da proclamação da Bíblia. Se a Bíblia oferecia uma revelação Verdadeira (real, legítima) da verdade de Deus para o povo, então ela deveria ser seguida onde fosse possível. Apesar dos protestantes con-servarem muitas crenças em comum, o ramo reformado veio a se dividir em muitas áreas de interpretação bíblica e governo da igreja.

Seu nome “Reformada” apareceu primeiro, evidentemente, na França. Pelo meado do século

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dezesseis já era de uso corriqueiro em toda a Europa.

A família de igrejas reformadas incluía algumas que tinham o seu foco na passagem na qual Jesus prometia estar “onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome” (Mateus 18.20). Alguns desses Cristãos Reformados tentaram separar-se dos governos dos estados nos quais viviam, outros tentaram fazer que sua denominação da igreja se tornasse a denominação do povo do reino (país). Ambos estes tipos de cristãos reformados pertenciam ao ramo “Con-gregacionalista” da família.

Os presbiterianos, por sua vez, buscavam incluir todos os cristãos batizados no seio da igreja. Os presbiterianos prestavam muita atenção na oração de Jesus que dizia “que sejam um” como ele era com Deus (João 17.11). Os presbiterianos defendiam um governo representativo para a igreja, e viam o total (o todo) da Igreja como menos propenso a sair do (bom) caminho (certo) do que qualquer cristão em particular (por si, isoladamente). O tipo presbiteriano de igrejas tornou-se a religião ofi cial na Escócia e em partes do continente europeu.

Enquanto os dois ramos de comunidades reformadas cresciam e se diferenciavam, elas con-tinuavam a cooperar estritamente em muitos terrenos (assuntos). A obra de João Calvino: “Instituição da Religião Cristã” (1536-1559) por exemplo, tornou-se uma clássica declaração ou afi rmação para os cristãos reformados, sendo eles Congregacionalistas ou Presbiterianos.

Mesmo com este trabalho introdutório enfatizando características que distinguem ou dife-renciam as igrejas reformadas, é importante lembrar que todos os protestantes partilham do que divergem em doutrina e perspectiva. Desde o Concílio Vaticano Segundo me parece que também os católicos muito se parecem presbiterianos em teologia e visão do mundo. De fato a substância do movimento ecumênico hoje afi rma que todos juntos constituímos o Corpo de Cristo, todos somos verdadeiramente Cristãos.

Todos Cristãos

Os seguidores de Jesus Cristo sempre foram chamados de Cristãos, pelo menos desde que aqueles crentes em Antioquia receberam este nome. O rótulo colou em todo o corpo de cren-tes durante toda a história e tornou-se a designação mais inclusiva para toda a igreja. Ser um cristão signifi cava, desde o princípio, que a pessoa pertencia a uma comunidade de fé. O cris-tianismo começou e continua para muitas pessoas uma religião corporativa.

A tradição daquela primeira comunidade descrita nos Atos dos Apóstolos parte da vida de fé envolvia ouvir os discípulos, companheirismo, no partir do pão e nas orações (Atos 2.42). Outra parte consistia na divisão de tudo que possuíam com os outros companheiros da fé bem como com aqueles que necessitavam. (Atos 2.45). O governo da igreja primitiva consistia em se honrar cada crente e na seleção de líderes entre aqueles com dons especiais. (Atos 6. 1-7). Buscando restaurar o espírito da igreja primitiva que recebeu o Espírito Santo em Pentecostes, os presbiterianos e todas as igrejas cristãs reformadas não consideram que os cristãos que vi-eram depois conservaram-se no caminho certo. Os cristãos reformados admitiram que, como todos os seres humano cometem erros, também concílios da igreja erram. Mesmo assim eles aceitam (como legítimos) a história da Igreja e seus concílios, pelo menos aqueles que forma-

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ram a doutrina básica sobre a natureza trina de Deus. João Calvino e os outros apressaram-se em afi rmar a Trindade como uma verdade importante sobre Deus.

Ainda no século dezesseis, entretanto, alguns outros protestantes que liam suas Bíblias con-sideraram a linguagem dos concílios de Nicéa e de Calcedônia como não estando de acordo com as palavras da Escritura. Mais tarde, no princípio do século dezenove, Thomas Camp-bell, seu fi lho Alexander Campbell, junto com seguidores de um ex-presbiteriano, chamado Barton Stone e alguns grupos Metodistas e Batistas, anunciaram que não havia necessidade de linguagem da fi losofi a grega para confundir as palavras simples da Bíblia. Os seguidores de Barton Stone e outros começaram um movimento a que chamaram “Cristãos”. Desde aquela época um número de denominações ao redor do mundo cresceu se chamando “Cristãos” e “Igreja de Cristo”. O mais conhecido resultado disto foi a fusão dos Campelistas e dos Stoni-stas – A Igreja (Discípulos de Cristo) Cristã. Para confundir ainda mais o assunto, quando a Igreja Congregacionalista na América fundiu-se com a Igreja Evangélica Reformada em 1957, chamaram sua nova denominação reformada “Igreja Unida de Cristo”. Hoje, quando nós os presbiterianos nos identifi camos como “Cristãos”, muitos nos confundem como membros dos Discípulos, Igreja Unida de Cristo ou outras das denominações que usam a palavra em seus nomes. O mesmo permanece verdade para Católicos, Metodistas e Batistas. Não é pelo fato da palavra poder ser mal entendida (poder causar confusão) que deva ser abandonada. Na verdade todos somos Cristãos, antes e acima de tudo; nossas denominação particulares são apenas identidades secundárias.

Todos Evangélicos

Nós, presbiterianos, que pertencemos ao ramo ocidental protestante da igreja cristã, somos também, quase todos evangélicos. Nós cremos que a essência da fé é a boa nova que Jesus Cristo viveu, morreu e ressuscitou por nós. “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. (João 3.16). Este evangelho é a mensagem que buscamos viver e proclamar, como Je-sus ordenou aos discípulos: “Ide por todo o mundo ensinando e fazendo discípulos” (Mateus 28.19). Nós nos regozijamos com tal tarefa, bem como fazem muitos outros tipos de cristãos. No nosso Livro de Ordem formal nós dizemos: A igreja é chamada para espalhar a boa nova da salvação pela graça de Deus através da fé em Jesus Cristo como único Salvador e Senhor... (que) a igreja é chamada para ser o evangelista cheio de fé... (e que) a igreja é chamada para encarregar-se desta missão mesmo com o risco de perder a vida”. (Livro de Ordem G-3, 03-3.04). O Livro de Ordem é publicado como a Parte 11 da Constituição da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos PC(USA), 1983-85 pelos Escritórios da Assembléia Geral. As referên-cias subseqüentes ao Livro de Ordem referem-se (à edição citada). Este centro evangélico de fé é comum entre as comunidades protestantes históricas e caracterizada de modo crescente também por ramos católicos ocidentais.

Na América, os presbiterianos têm quase sempre considerado igrejas reformadas como evan-gélicas em sua natureza. Durante o século dezenove quando as sociedades voluntárias tais como a Sociedade Bíblica Americana, a Sociedade Americana para Missões Estrangeiras e a Sociedade Americana de Panfl etos se formaram, os presbiterianos se uniram com os Con-gregacionalistas, Metodistas e Batistas para formar o que chamaram de “Frente Evangélica

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Unida”. Mais recentemente, como veremos, os presbiterianos têm, repetidas vezes, liderado movimentos de reavivamento. Resumindo, os presbiterianos sempre foram e continuam sen-do evangélicos.

Este ponto tem de fi car bem claro em vista de algumas pessoas nos Estados Unidos, atu-almente, não considerarem os presbiterianos como evangélicos. Do mesmo modo que no princípio do século dezenove alguns cristãos proclamavam que apenas eles mereciam o ter-mo, assim também no século vinte outros têm dito que apenas eles seriam “evangélicos”. Do mesmo modo muitos presbiterianos têm sido críticos das táticas da venda selvagem da fé, da forma de captação de recursos e de ensinamentos vazios de algumas igrejas, assim chamadas “evangélicas”. Mas histórica e confessionalmente os presbiterianos têm se mantido evangéli-cos tão certamente quanto nós temos nos mantido cristãos, protestantes e membros da família reformada. Nós temos confi ado no evangelho de Jesus Cristo para nos ensinar (falar) sobre a natureza do Deus que nós louvamos e glorifi camos.

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Capítulo 2

Confi ar em Deus

... Ele tomou (tem) o mundo todo em suas mãosEle tomou todo o vasto mundo em suas mãos.

A congregação tinha se reunido para uma ceia familiar num frio fi m de tarde. Esta ceia seguiu os moldes das da páscoa judaica. Os jovens nos levaram a ler a Bíblia e a comermos de dife-rentes comidas simbólicas. Agora, enquanto sentávamos nas várias mesas espalhadas pelo pavimento, eles nos levaram a cantar hinos e canções cristãs. Nos entusiasmantes “spirituals”, começamos a bater palmas e levantar nossas vozes. “Ele tomou o mundo todo em suas mãos”. Elsie Robinson, uma corajosa mulher, das mais antigas da igreja, cujo marido tinha falecido poucos meses antes, curvou-se em minha direção, sorriu e disse: “Agora eu sei que é verdade. O mundo todo está nas mãos de Deus”.

Ser um cristão, e Elsie Robinson é uma boa cristã, signifi ca confi ar em Deus. Os presbiteria-nos enfatizam o fato de que Deus dá até a fé para se crer em Deus. Em momentos especiais nós sabemos, como Elsie Robinson sabia, que Deus tem o mundo todo em suas mãos. “Eu busquei o Senhor e logo soube que ele moveu minha alma para buscá-lo enquanto Ele me buscava”, é o poema do cristão. Descreve o processo da fé em profunda verdade. Crer em Jesus Cristo é confi ar em Deus, mas nós sabemos que Cristo sozinho não representa tudo o que é Deus.

Historicamente os cristãos têm falado de Deus como o Pai, o Filho e o Espírito Santo – um Deus. Quase toda expressão do que a Trindade signifi ca foi considerada herética em algum ponto da história da igreja. Mas todos concordam que Deus é o Criador e Provedor de todos os povos. Breves palavras sobre a Trindade, criação e providência são, então, muito importantes na consideração das crenças básicas dos presbiterianos.

Deus -Trino

Os cristãos desde o princípio reconheceram que a relação de Cristo com Deus era um misté-rio. Jesus falou de Deus, algumas vezes, como um Ser diferente dele próprio. Quando o jovem rico chamou Jesus de “Bom mestre”, Jesus respondeu, “Porque me chamas de bom? Ninguém é bom além do próprio Deus” (Lucas 18.18 e 19). Em outras ocasiões, Jesus falou que Ele e Deus eram quase o mesmo (João 12.44-50).

Quando Jesus apareceu a seus discípulos como o Ressuscitado, Ele disse que iria estar com Deus e também estaria com os crentes na terra. Em Atos dos Apóstolos, o escritor diz que Je-sus falou para seus discípulos “para não saírem de Jerusalém, mas para esperar pela promessa do Pai... antes de muitos dias vocês serão batizados com o Espírito Santo (Atos 1.4-5) O Evangelho segundo São Mateus termina com o comando (com a ordem) de Jesus a seus dis-cípulos: Portanto ide, ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Mateus 28.19).

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Rapidamente a Igreja desenvolveu uma doutrina que Deus era “três em um”. Esta crença de que Deus era trino, tornou-se, como já vimos, o maior ponto de discórdia durante a maior parte da história cristã. A maioria dos líderes tentava explicar o signifi cado deste mistério; especialmente por ele estar relacionado com a natureza de Cristo, as mais diferentes tradições emergiram. Muito do problema surgia do fato das palavras terem signifi cados diferentes em várias partes do mundo mediterrâneo. Diferenças entre lealdades políticas e classes sociais também entraram neste quadro. Enquanto que as Bíblias de quase todos tinham a passagem de Mateus, a palavra “Trindade” não aparecia (ocorria). E, mais importante, muitas das pa-lavras fi losófi cas usadas para explicar a doutrina eram estranhas (desconhecidas) da maioria dos cristãos.

De qualquer modo, quando os líderes reformados tentaram retomar o espírito e as formas da igreja primitiva, não discordaram quanto aos credos que interpretavam o signifi cado da Trindade. João Calvino, que ajudou a dar forma a muito da fé reformada, preveniu os cristãos para não se desfazerem muito rapidamente dos termos referentes à Trindade. Nós devíamos reconhecer que as doutrinas não foram inventadas de repente (da noite para o dia). Da mesma maneira, declarava Calvino, deveríamos ver quão moderados os grandes teólogos foram em relação a este assunto. A “moderação dos homens santifi cados tem o sentido de nos prevenir contra sermos precipitadamente donos da verdade, como censores, daqueles que não desejam jurar pelas palavras concebidas por nós, desde que não estejam fazendo isto nem por arrogân-cia ou petulância ou malícia. (Institutas 1.13,5).

Subseqüentemente, todos os principais credos reformados incluíram a “Trindade”, mas mui-tos foram bastante cuidadosos e moderados quanto a explicar ou dar uma forma defi nitiva ao signifi cado do mistério. Uma clássica defi nição de Trindade pode ser encontrada no Westmin-ster Shorter Catechism (Catecismo Resumido de Westminster) (Q. A. 6)

Quantas pessoas há na Divindade? (Natureza Divina)Há três Pessoas na Divindade: o Pai, o Filho e oEspírito Santo; e estes três são um Deus, o mesmoem substância, iguais em poder e glória.

O credo (crença) recentemente mais adotado, a Confi ssões de 1967, diz meramente que a Trindade é “reconhecida e reafi rmada como formando a base e determinando a estrutura da fé cristã”. Ela fala do trabalho do “Pai, Filho e Espírito Santo”. Confi ssão de 1967 – 9.07. No-venta e nove por cento dos presbiterianos não têm difi culdades em afi rmar as antigas crenças da igreja na Trindade. As crenças como a igreja tem sido através do tempo. Na verdade muitos presbiterianos podem até mesmo encontrar na doutrina da Trindade um modo de medita-ção (uma maneira de meditar) no mistério de Deus, como Santo Agostinho advertiu muitos séculos atrás. Eu, pessoalmente, considero bonitos os credos históricos, englobando e incor-porando a fé de outras gerações e nos lembrando de nossa obrigação de partilhar a fé com os povos mundo afora que falam línguas diferentes e enfrentam desafi os além dos nossos e maiores que os nossos.

O que dizer dos presbiterianos que vieram de passado “batista” ou “discípulos” onde os cre-dos e a doutrina da Trindade eram chamados de obstáculos para a fé cristã? Afi nal a palavra

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“Trindade” não está na Bíblia. Tais tradições, bem como a igreja Unitariana, ensinam que há uma diferença entre se proclamar Deus Pai, Filho e Espírito Santo por um lado e por outro seguir as doutrinas extra-escrituras da Trindade.

Podem tais pessoas ser bons presbiterianos? A resposta parece ser “Sim”. O novo Livro de Ordem para a Igreja Presbiteriana (dos Estados Unidos) diz, “A congregação receberá toda a pessoa que responda em confi ança e obediência à graça de Deus em Jesus Cristo e deseje tornar-se parte do corpo (dos membros) e do ministério de sua Igreja” (Livro de Ordem, G-5.0103). Repetindo: membros ativos da igreja são aqueles que fazem uma Profi ssão de Fé em Cristo, que são batizados, que se submetem ao governo da Igreja e que participam da vida da Igreja. No Batismo, certamente, usam as palavras de Mateus: “em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo”. Os presbíteros e diáconos na Igreja Presbiteriana afi rmam que nós iremos “receber e adotar os princípios da fé reformada como expressadas nas Confi ssões de nossa Igreja”. Mas o membro regular tem uma grande liberdade (extensão de tolerância) para acreditar nesta e em outras matérias. Afi nal de contas, se nós verdadeiramente buscamos aprender a respeito de Deus, Jesus Cristo, e sobre nossas responsabilidades neste mundo, nós já andamos uma grande distância na verdade, ou no caminho da fé. Nós, trinitarianos, temos o desejo de aprender que é o trabalho do Espírito e o trabalho de Deus, o Pai, que vemos na criação e na providência.

Criador de Todos

No alicerce da fé reformada afi rmamos que Deus criou o universo. Deus o fez todo. Os presbi-terianos, que por gerações cantaram apenas versões métricas dos Salmos, encontraram grande alegria em hinos tais como estes:

Vinde, cantemos ao Senhor;Cantemos com júbilo a rocha da nossa salvação!Apresentemo-nos ante a sua face com louvoresE celebremos com salmos.Porque o Senhor é Deus grandeE um Rei grande acima de todos os deuses.Nas suas mãos estão as profundezas da terraE as alturas das montanhas são suasSeu é o mar, pois ele o fezE as suas mãos formaram a terra seca.(Salmo 95.1-5)

Desde o Gênesis, desde os profetas, desde os escritos de Sabedoria, bem como desde os Sal-mos, nós vemos o poder e o amor de Deus expressados na criação. Deus não apenas fez o mundo, as terras, os mares, as estrelas, os animais e os seres humanos, Deus os chamou de “muito bons” segundo o Gênesis 1.31. É amplamente apropriado afi rmar e declarar solen-emente a criação por Deus do universo enquanto nosso conhecimento se expande quanto à sua vasta extensão e seus trabalhos diminutos (macro e micro). A fé que Deus fez o mundo e todo o resto nos habilita a louvar e glorifi car a Deus, como fez o antigo salmista. Alguns presbiterianos acreditam honestamente que Deus criou todo o universo em apenas seis dias de

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vinte e quatro horas. Alguns presbiterianos, incluindo eu mesmo, acreditam que o processo da criação do universo por Deus começou muito antes da criação da Vida na terra e da feitura dos seres humanos. Eu pessoalmente não vejo contradição alguma entre minha crença na criação e as teorias da evolução que são ensinadas atualmente em disciplinas científi cas. Eu estou certo, entretanto, que os presbiterianos não têm de concordar comigo em tais matérias. Nem eu tenho de concordar com os criacionistas dos seis dias de vinte e quatro horas, que dizem que os ossos de dinossauros foram colocados na terra para testar nossa fé. De fato, podemos ver quão magnifi cente é a criação e do mesmo modo Louvar a Deus por fazer tudo isto (e todos nós).

Os criacionistas de seis dias citam palavras das confi ssões para dar apoio a seu pondo de vista. Podem também citar o Catecismo Resumido de Westminster, por exemplo: “o trabalho da criação é Deus fazer todas as coisas do nada, pela palavra do seu poder, em um espaço de seis dias, e tudo muito bom” (Westminster Shorter Catechism, A.9). Há alguns anos, presbiteria-nos como eu, argumentávamos que a palavra “dia” signifi cava um longo período de tempo. Hoje me parece melhor dizer que a mensagem essencial daquela confi ssão – e todo o resto – não são os seis dias. E sim, que Deus é Criador e que a criação foi muito boa. Isso é muito mais que dizer seis dias de 24 horas.

Em outras gerações, tanto na Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos da América quanto na Igreja Presbiteriana em outros países, alguém que acreditava como eu era julgado por here-sia. Agora, entretanto, parece que os presbiterianos estão querendo curar, acabar com estas divisões e permitir diferenças no modo de se crer sobre a criação em função da variação de várias práticas, passados e interesses. O Livro de Ordem, por exemplo, diz simplesmente que “Deus criou o céu e terra e fez os seres humanos, a sua imagem, encarregando-os de cuidar de todos os seres viventes”. (Livro de Ordem, G-3.101).

O mais importante, Deus Criador não “deu o empurrão inicial” no mundo no princípio de sua existência e apenas o deixou seguir. Os presbiterianos têm ligado consistentemente a criação do universo e o cuidado providencial com ele. Novamente do Livro de Ordem vem a afi rma-ção quanto a “providência de Deus que criou, sustenta, rege e redime o mundo”. Sempre que um presbiteriano fala de criação, nós o fazemos seguir naturalmente com uma palavra sobre providência.

Deus cuida de todos

Jesus, para mostrar o cuidado de Deus, citava as coisas mais comuns: “Olhai para as aves do céu que nem semeiam, nem segam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta... Olhai para os lírios do campo... Pois, se Deus assim veste a erva do campo... Não vos vestirá muito mais a vós?” (Mateus 6.26-30). Frequentemente Jesus falava do cuidado de Deus com as pessoas e com toda a criação. Jesus e seus discípulos dependiam e confi avam contavam no cuidado amoroso de Deus. A afi rmação geral do cuidado amoroso de Deus é chamada “Providência”.

Providência fala do cuidado de Deus com a criação. Assim, disse Calvino, a fé cristã não tem lugar para “sorte” (fortuna) ou azar (fatalidade): Fortuna (sorte) é a crença que o acaso rege

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algumas vezes o mundo, e dizemos então: “é assim que as coisas são e é assim que nós temos de aceitá-las.” Fatalidade (azar) é uma crença mais cruel, pois considera que todo mundo perde no fi nal. Se a fortuna (sorte) é a rolagem de algum dado cósmico, a fatalidade (azar) é a rolagem de um dado sempre viciado contra nós. Ambos, azar e sorte, indicam um modo de vida independente ou contrário à regra de Deus. A fé reformada, no seu núcleo, na sua essên-cia, diz não haver outra maneira (modo) de viver sem a proteção e o amor de Deus. As assim chamadas “ocorrências naturais” continuam a receber a atenção de Deus. A direção da vida humana vem do chamado de Deus a cada pessoa em direção ao futuro.

A fé reformada declara a providência de Deus tanto do testemunho poderoso das Escrituras quanto do mais simples argumento de lógica. Ambos, Bíblia e razão gritam “Providência”. Abraão, Moisés, Débora, Saul, Davi, Israelenses exilados, Neemias, Isabel, Maria, Pedro, Paulo, Cornélio, Eunice e Timóteo todos testifi caram quanto ao poder divino em suas vidas, de acordo com a Bíblia. Estes são apenas alguns dos personagens nos quais o trabalho de Deus pôde ser visto.

Do mesmo modo, a própria defi nição de Deus em termos clássicos, signifi ca que Deus tudo sabe, é todo-poderoso e está em toda parte (onisciente, onipotente e onipresente). Se Deus sabe tudo, e tem todo o poder, segue-se então que o conhecimento de Deus de alguma coisa é o mesmo que a sua ocorrência. Tudo isto é verdade tanto pela defi nição das palavras como também pode ser visto de fato.

A fé reformada, entretanto, falou rapidamente do mistério neste processo. Os seres humanos não sabem, nem podem pretender manipular, o segredo e a majestosa providência de Deus. Porque Deus escolheu o povo de Israel como partícipe de um pacto especial? Porque Deus es-colheu mandar Jesus Cristo como redentor, o Espírito Santo como sustentador e confortador? Nós não sabemos como age a providência divina a não ser pelo que Deus revela dela e de suas amorosas conseqüências por meio das Escrituras e da criação que avança, que continua. Nós sabemos que a providência de Deus continua, com uma certeza que também não é perfeita, como nada é perfeito entre os seres humanos. É mais a certeza da fé, especialmente em oca-sião de grande necessidade de consolo e conforto. Elsie Robinson, que sabia naquele vento congregacional que “(Deus) tomou o mundo todo em suas mãos”, recebeu sua fé como um presente. É apenas pela fé, apenas pela graça e apenas pela Escritura que ela pôde acreditar (crer) na criação de Deus e na providência de Deus.

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Capítulo 3

Seguir Jesus

No meio da tarde o telefone tocou. “Alô, aqui é Mary Bell”, ela disse. Mary, há bastante tempo membro da Igreja Presbiteriana de Ancoragem, explicou que necessitava de ajuda. “Haverá uma reunião relativa à localização do conjunto de casas na próxima semana e um dos locais propostos não é longe da igreja. Temos de apoiar este conjunto se ele parece ser bom para os pobres”, ela disse. “Você poderia comunicar isto ao Comitê? Estaremos fora da cidade amanhã à noite; Herb e eu estaremos em condição de comparecer à audiência na próxima semana.”

Mary Bell, seu marido e o resto de nós da Igreja Presbiteriana de Ancoragem buscamos seguir Jesus em nossas vidas (em nosso viver). Nós assumimos compromisso com nossas crenças; também o assumimos com nossas ações. Cristãos reformados entenderam que Cristianismo tanto é um sistema de crença quanto um modo de vida. Seguir a Jesus não signifi ca, neces-sariamente, que tenhamos de favorecer a localização de reuniões ou audiências na nossa viz-inhança. Na verdade tivemos grandes desacordos nesse assunto. Mas, presbiterianos desde o início da nossa tradição, têm lutado para que ações e fé sejam resultado de uma combinação mútua.

Pessoalmente, eu acho que algumas vezes eu tento seguir Jesus hoje com mais força do que em outros tempos. Mary diz que ela também. Eu suspeitaria que todos os presbiterianos têm épocas mais capazes e épocas menos capazes e que alguns são mais disciplinados que outros na tentativa de seguir Jesus. Além do mais, os tempos mudam. Seguir Jesus signifi cou coisas diferentes para os presbiterianos em diferentes ocasiões. Ainda hoje perguntamos: que tipo de guia nós temos enquanto tentamos seguir Jesus? Nós olhamos para o mistério da natureza do próprio Jesus, do trabalho de Jesus por nós e do processo de apropriação da confi ança em Deus.

O Ministério de Jesus

Logo que Jesus começou seu ministério Ele chamou Pedro, André, Tiago, João e outros, di-zendo-lhes. “venham e sigam-me”. Então Jesus saiu pelos arredores fazendo o bem e instruiu seus discípulos: “vão e façam o mesmo”. Ele ainda ensinou aos seus seguidores muitas coisas que os ajudariam enquanto tentavam segui-Lo. Seguir a Cristo fez os cristãos, como também o fez a crença em certas coisas a respeito de Jesus, Deus e o Espírito.

Jesus curava pessoas, por exemplo. Ele buscava o bem estar das pessoas. Quando amigos desceram um paralítico pelo teto, Jesus o curou e lhe disse que os seus pecados estavam perdoados. (Lucas 5.18-24). Jesus curou uma mulher com hemorragia, a fi lha de Jairo, um leproso antigo, um louco e muitos outros. Quando uma mulher siro-fenícia pediu a Jesus para curar sua fi lha. Ele o fez e mostrou que o seu cuidado e zelo iam além das fronteiras éticas e raciais (Marcos 7.24-30). Ele se importava com todos e buscava o bem estar de todos.

Jesus se importava com as necessidades comuns do ser humano – especialmente com as ne-

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cessidades dos pobres. Quando as multidões se ajuntavam e vinham para vê-lo e para serem curadas, fi cavam tão cativadas por Ele que nem saíam para comer. “E Jesus, chamando seus discípulos disse: Tenho compaixão da multidão, porque já está comigo há três dias e não têm nada para comer”. (Mateus 15.32). Ele produziu comida para suas necessidades. Quando o jovem rico perguntou a Jesus o que tinha de fazer para ganhar a vida eterna, Jesus disse a ele para primeiro obedecer a Lei. Então Jesus, que amava o jovem, disse: “Vai, vende tudo quanto tens e dá-o aos pobres e terás um tesouro no céu; e vem e segue-me”. (Marcos 10.17-23).

Jesus mostrou também a seus discípulos o que deveriam fazer para segui-lo. Eles tinham de se tornar confi áveis como as criancinhas o são. Eles tinham também de curar pessoas onde fosse possível. Tinham de dar generosamente aos pobres. Tinham de se importar com os discriminados e excluídos. Uma ocasião Jesus chegou a dizer que ao cuidarem dos pobres, os seus seguidores estariam cuidando do próprio Jesus “Então os justos lhe responderão, di-zendo: Senhor quando te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos estrangeiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou na prisão e fomos ver-te? E respondendo, o Rei lhes dirá: Em verdade vos digo que quando o fi zestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fi zestes”. (Mateus 25.37-40).

Em seu ministério Jesus cumpriu a lei de Deus. O Evangelho de Mateus, em particular, en-fatiza que Jesus curou e ensinou “de modo a se cumprir o que foi dito pelos profetas” (Mateus 11.14, 13.35). Sua interpretação da lei diferia da que era geralmente aceita em seus dias. Ele até mesmo curou no sábado em violação das rígidas leis. Em suas ações, Jesus mostrava que Deus esperava obediência enquanto justiça e misericórdia e não em meramente seguindo os rituais prescritos da religião; o ministério de Jesus era uma junção de serviço e compaixão, obediente ao propósito de Deus para o povo. Os presbiterianos, bem como outros cristãos, consideram que até na sua morte Jesus continuou seu ministério. Em sua morte fez cumprir a lei segundo a providência de Deus. Jesus orou, “Pai, se queres, passa de mim este cálice, todavia não se faça a minha vontade, mas a tua. (Lucas 22.42). Quando foi crucifi cado, Jesus “tornou-se obediente até à morte, e morte na cruz.” (Filipenses 2.8). O centurião encarregado da execução e todo o resto do povo viram no terremoto e na escuridão que se seguiram à morte de Jesus que “Na verdade este era um Filho de Deus”. (Mateus 27.54).

Jesus foi perfeitamente obediente na vida e na morte, o que nenhum outro ser humano tinha sido capaz de ser. Paulo e outros pregadores entre os primitivos cristãos mostraram o con-traste entre a vida de Jesus e as vidas de outros como Abraão e Davi (Romanos 4). Mais que tudo eles contrastavam a obediência de Adão (e Eva) com a obediência de Jesus Cristo. Desde o princípio da existência dos seres humanos o pecado foi parte da experiência humana. Agora, em Cristo Jesus, pela fé as pessoas podiam ser libertadas do domínio do pecado. O ministério de Jesus incluiu morrer pelos “ímpios”. Ele superou (dominou, conquistou) o poder da morte para os crentes (ímpios).

“Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que pecaram. Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado não havendo lei. No entanto a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de

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Adão, o qual é a fi gura daquele que havia de vir” (Romanos 5.12-14)

Líderes reformados viam o ministério de Cristo como o início de uma nova era na história. Eles seguiam uma tradição que falava do tempo anterior a Jesus Cristo como sob “um com-promisso (acordo, contrato) de trabalho” e o tempo depois de Cristo como “compromisso de graça”. Note que em seu próprio ministério Jesus disse aos seus seguidores de que modo deveriam viver. Ele não só disse isso, como também lhes mostrou; Ele disse que a lei tradicio-nal do povo religioso não ia muito longe em exigir que se andasse de maneira correta. “Ou-viste o que foi dito... ‘Não matarás’... Eu, porém vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão será réu de juízo”. (Mateus 5.21-22). Jesus reinterpretou outros dos dez mandamentos e outras das leis para que o povo pudesse ver que Deus esperava obe-diência de todo o coração, tanto em mente e em espírito quanto em ações e comportamento.

Quando o jovem rico veio a Jesus lhe foi dito primeiro para obedecer a lei vigente. Então Jesus o exortou na direção de uma obediência maior, mais profunda. Quando Jesus ensinava sobre justiça, Ele exortava os crentes a irem além de meramente pagarem débitos ou cumpri-rem suas obrigações. “Vocês ouviram que foi dito”, “Um olho por um olho e um dente por um dente”. Mas Eu lhes digo: Não resistam a alguém que seja mau. Mas se alguém lhe bater na face direita, oferece-lhe também a outra face. (Mateus 5.38-39). “Ande a outra milha”. Ore por aqueles que perseguem você”. Sempre e sempre os mandamentos de Jesus Cristo exorta-vam os seguidores a serem mais, como o próprio Jesus.

A Expiação

Mesmo que Mary Bell e todos nós outros estejamos tentando seguir a Jesus, nós sabemos que não podemos obedecer perfeitamente (completamente, corretamente) a Lei de Deus. Só através da vida e da morte de Jesus Cristo nós participamos em total obediência. Mesmo com algumas tradições cristãs enfatizando atualmente apenas o exemplo de Jesus em vida, muitos, incluindo os presbiterianos, ainda consideram a morte de Jesus como o centro daquele minis-tério para nós.

Tem sido assunto de muitos debates grandiosos, o modo como fomos reconciliados com Deus por meio do trabalho de Jesus Cristo. Todas as diversas imagens ou teorias sobre o que fez Jesus para a reconciliação e a “redenção” vieram da Bíblia. Foi Jesus o exemplo moral, vi-vendo e morrendo para que outros pudessem ver como viver e morrer? Foi Jesus o pagamento por Deus de um tipo de resgate para os poderes do pecado e da morte, de modo que os cren-tes pudessem ser libertados desses poderes? Foi Jesus o vencedor cósmico sobre o maligno, cujos exércitos tinham controlado o mundo desde o início da história, submissos apenas aos inigualáveis e incomparáveis poderes de Deus? Foi Jesus a substituição, como uma vítima sem culpa em lugar dos pecadores, a satisfação da justiça do próprio Deus? Novamente to-das estas teorias são baseadas na Escritura. Os teólogos reformados não têm, normalmente, negado a verdade de nenhuma delas. Os cristãos reformados, entretanto, têm, geralmente, se baseado na imagem de Jesus Cristo como o substituto dos seres humanos, considerando-se a natureza da expiação ou redenção, ou reparação. Nas Institutas de Calvino, a pergunta feita é: “o que... Cristo faria por nós se a penalidade pelos nossos pecados ainda fosse requerida?. A resposta, de acordo com 1ª Pedro 2.24 e outras partes da Escritura, está que “Você vê plena-

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mente que Cristo carregou ou sofreu a penalidade dos pecados para livrar deles o seu próprio povo.” (Institutas 111: 4, 30). Nas palavras da Confi ssão Escocesa” (Nós cremos) que o nosso Senhor Jesus ofereceu-se em sacrifício voluntário perante seu Pai por nós, que Ele sofreu contestação de pecadores, que Ele foi ferido e fl agelado pelas nossas transgressões, que Ele, o puro inocente Cordeiro de Deus, foi condenado, e absolvido ante o julgamento (Trono) de nosso Deus” (Scots Confession, 3.09).

O Pecado Humano

O ministério de Cristo e sua redenção nos mostram o quanto necessitamos de ambos. Os presbiterianos historicamente têm dado grande atenção ao ensinamento bíblico que diz: “to-dos pecaram e destituídos estão da glória de Deus” (Romanos 3.23). A doutrina foi chamada “total depravação” (perversão). Com isto, presbiterianos e outros calvinistas querem dizer que todas as partes do ser humano estão afetados pelo pecado. Cada ato continua marcado (manchado, tingido) pelo pecado. Nenhuma pessoa, nenhuma ação pode estar inteiramente livre de pecado. Só Jesus Cristo viveu, morreu e se elevou (dos mortos) como uma exceção nesta torrente universal de pecado.

Presbiterianos em séculos passados aceitaram com prazer esta doutrina da total depravação, temos de admitir. Entretanto, mais recentemente, as várias igrejas presbiterianas têm substi-tuído ou modifi cado os termos, as afi rmações mais duras, ou desagradáveis do calvinismo tradicional. Mas mesmo assim nada feito neste mundo é perfeito, segundo as confi ssões pres-biterianas.

Tomemos o exemplo da construção de um conjunto habitacional que se apresentou recente-mente à nossa comunidade. Toda ação, incluindo a de “decidir” por não fazer coisa alguma quanto a prover moradia adequada para os pobres, contém inevitável pecado. Mesmo uma solução criativa e viável para uma situação humana atrai auto-retidão ou algum outro senti-mento de orgulho. O interesse próprio dos construtores, especuladores, burocratas, do pessoal da igreja, e de muitos outros estará envolvido na situação. Em resumo, Mary Bell e eu, que seremos favoráveis à proposta, as pessoas contrárias e aqueles que não querem se envolver (que não querem fazer coisa alguma) estarão envolvidos em pecado humano. Também estarão nossas comunidades, nossos sistemas sociais e nossa igreja que possui a propriedade. Esta é a condição de depravação humana que confi ssões dizem tem existido desde que o primeiro ser humano surgiu.Na seqüência do estudo, voltaremos ao assunto do pecado humano. Agora é importante ver isto como uma crença relativa às nossas tentativas de seguir Jesus. Ela nos ajuda a nos trazer para a comunhão de santos. Ajuda a pôr em perspectiva o que queremos dizer quando prom-etemos seguir Jesus e depender apenas dele. Aquele processo de salvação, em palavras tradi-cionais “a economia da redenção” também tem relação a seguir Jesus.

Chamada Efetiva (Efi caz, Efi ciente)

Os presbiterianos gastaram considerável energia produzindo um vocabulário para descrever o processo de apropriação da redenção (expiação). “Chamamento efetivo” foi apenas um de seus termos. Outros foram incluídos: “justifi cação”, “arrependimento”, “adoção” e “santifi ca-

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ção”. É signifi cativo que todas estas palavras vieram originalmente da Bíblia e representaram uma progressão lógica também. Todo o processo começou e permaneceu em Deus, e os seres humanos nada podiam fazer fora dos dons de Deus para começar o processo ou para apressá-lo. Estes são termos tradicionais usados para descrever o processo pelo qual nos tornamos seguidores de Jesus, sabendo que não podemos fazer o que Jesus fez.

“Chamada efetiva” signifi ca que Deus faz o trabalho de nos permitir crer e seguir a Jesus. Nas palavras do catecismo Simplifi cado de Westminster, “Chamado efetivo é o trabalho do Es-pírito de Deus, onde quer que seja, convencendo-nos de nosso pecado e miséria, iluminando nossas mentes no conhecimento de Cristo, e renovando nossos desejos. Ele de fato nos per-suade e capacita para abraçar Jesus Cristo, livremente oferecido a nós no evangelho”. (WSC, ª31) Nas palavras de Paulo é o “espírito de sabedoria e de revelação” que ilumina “os olhos de seus corações” de modo que “você possa saber o que é a esperança para a qual Ele o tem chamado” (Efésios 1.18).

Na seqüência de tentativas de seguir a Jesus nós, primeiro, nos habilitamos ao arrependi-mento, a reconhecer a condição de pecado na qual existimos e chamarmos por Deus para nos perdoar. Então nos é permitido sentir que Deus não leva em conta nosso pecado contra nós, porque Jesus intercede por nós. Então experimentamos a queda (derrota) do pecado, a restauração de nosso relacionamento como crianças de Deus. Finalmente nos movemos num processo de seguir Jesus.

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Capítulo 4

Viver no Espírito

Quando Dick Hays aproximou-se de mim na hora do café, eu pude ver que ele tinha uma pergunta em sua mente. “Antes de subirmos para a adoração, você poderia me falar sobre os carismáticos?”.“Bem, Dick, eu respondi, o que você quer saber?”.“Nós lemos Atos na Escola Dominical. O que aconteceu quando o Espírito desceu? Estamos nós os presbiterianos tão capacitados a ter os dons do Espírito quanto aquelas pessoas das igrejas primitivas? E os carismáticos os têm?”

Dick Hays sempre fez boas perguntas, normalmente muito mais profundas do que uma res-posta de intervalo do café pode responder completamente. As questões atuais sobre a natureza e os ensinamentos do Espírito Santo remontam aos antigos presbiterianos como ele. Elas partem até mais rapidamente de cristãos que já foram membros de igrejas da Santidade, ou Pentecostais e Neo-pentecostais e também pertencem ao corpo presbiteriano da atualidade.

Há muitas maneiras de se falar sobre o trabalho do Espírito Santo. Líderes reformados têm considerado a Bíblia falando do Espírito como “procedendo do Pai e do Filho”, como o agente de santifi cação, como o doador de autoridades e como o poder de Deus para a reconciliação. Os dons ou frutos do Espírito também são importantes e devem ser sempre mencionados. Efésios 5.22-26.

Conduta do Pai e do Filho

Os Evangelhos estão repletos de referências ao Espírito como vindo de Deus. Nos registros do nascimento de Jesus Cristo, por exemplo, as declarações sobre a concepção de Maria se referem ao Espírito Santo (Mateus 1.18 e Lucas 1.35). Nos registros de Jesus sendo batizado por João, o Espírito de Deus desceu “como uma pomba”, e uma voz vinda do céu, disse: “Este é meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mateus 3.16). Quando Jesus enviou seus discípulos pela primeira vez disse-lhes para não se preocuparem, porque “O Espírito de vosso Pai falará por vós”. (Mateus 10.20). Palavras dos profetas cumpridas pelas ações de Jesus incluindo aquelas de Isaías sobre o servo com o Espírito de Deus “sobre ele” (Mateus 12.18.

Repito, são muitas as passagens ditas pelo Espírito vindas do próprio Jesus Cristo. Jesus era reconhecido pelos circunstantes como “cheio do Espírito Santo” (Lucas 4.1). Após sua res-surreição, Jesus apareceu a seus discípulos e disse “A paz seja convosco”. Então Ele soprou sobre eles e disse “Recebam o Espírito Santo” (João 20.22). Ele prometeu que seu Espírito, o Confortador, o Consolador estaria com os discípulos, e os primeiros (mais antigos) líderes consideram que o Espírito tanto procedia de Jesus, quanto de Deus, o Pai.

Durante grande parte da história cristã os estudiosos trabalharam muito mais no desenvolvi-mento de doutrinas sobre Jesus Cristo do que sobre o Espírito Santo. Em grande parte apenas confi rmaram os credos aceitos. O credo de Constantinopla (381 AD) estabelecia que a igreja acreditava no “Espírito Santo, o Senhor e Doador da vida... que procede do Pai e do Filho...

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que é adorado e glorifi cado junto com o Pai e o Filho, (e) que falou através dos profetas”.

Até mesmo esta doutrina causou divisão entre os cristãos. Alguns diziam que o Espírito não poderia proceder do Filho tanto quanto do Pai. Para muitos cristãos foi simples aceitar Deus como Criador Transcendental por um lado e por outro como Redentor Encarnado. Esta ter-ceira pessoa da Trindade não poderia ser colocada num numa posição lógica, mesmo que muitos protestantes tenham conservado a doutrina da Trindade em algum lugar em suas men-tes. Tanto os Discípulos de Cristo quanto os presbiterianos em algumas ocasiões tenderam a diminuir a divindade do Espírito Santo como sendo uma entidade distinta (separada) na Natureza Divina.

No século XX, tanto a Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos PC(USA), como outras igrejas reformadas tiveram o trabalho de corrigir a “Confi ssão de Fé de Westminster” (ver Livro das Confi ssões) de modo a incluir capítulos sobre o Espírito Santo.

Revisando o credo, os presbiterianos enfatizaram esta antiga palavra que o Espírito Santo procede do Pai e Filho. Disseram também como os líderes da igreja primitiva, que o Espírito Santo deveria receber fé, amor, obediência e louvor com as outras pessoas da Trindade. No entanto, presbiterianos contemporâneos enfatizam ainda que o Espírito Santo também atua no trabalho de redenção. Do mesmo modo os presbiterianos falam que o Espírito Santo trabalha na união dos crentes de todos os tempos e lugares.

Agente de Santifi cação

No trabalho de redenção o Espírito Santo é a graça de Deus chamando as pessoas a deixarem a vida de pecado e egoísmo para a vida de adoração e louvor a Deus. Paulo falou do Espírito anunciando novas relações de Deus com os homens:

“Porque a lei do Espírito de vida, em Jesus Cristo, me livrou da lei do pecado e da morte... Porque os que são segundo a carne inclinam-se para as coisas da carne; mas os que são se-gundo o Espírito, para as coisas do Espírito. Porque a inclinação da carne é morte; mas a inclinação do Espírito é vida e paz.” (Romanos 8.2, 5 e 6)

Pelo Espírito vem regeneração, arrependimento, adoção e libertação em Cristo. Do Espírito vem o desejo de “ser perfeito como o Pai celestial é perfeito” (Mateus 5.48). Pelo Espírito vem até mesmo a oração, intercessão com Deus em nosso benefício próprio e no de outros.

Se o pecado persiste nas vidas dos crentes como é que o Espírito promete ou produz liberdade, santidade e oração? Os presbiterianos têm afi rmado que Deus transforma os crentes em pes-soas melhores do que eram. (Em melhores pessoas do que tinham sido antes de passarem a crer). Só porque não podemos ser perfeitos nesta vida, isto não é desculpa para não fazermos o melhor que pudermos para seguir Jesus e viver no Espírito.

O que for iniciado nesta vida Deus completa para os que têm fé. Nós prestamos muita atenção aos exemplos de Simão Pedro, do Apóstolo Paulo e de outros na Igreja primitiva. Nenhum deles se tornou perfeito, nós dizemos, embora alguns tenham sido heróicos cristãos.

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Paulo escreveu quase constantemente do trabalho do Espírito em seu próprio processo de “le-var Cristo adiante”, seu processo de santifi cação. Mesmo assim Paulo reconhecia que contin-uava em pecado. Foi neste contexto que Paulo disse aos primeiros cristãos que eles estavam sendo “santifi cados pelo Espírito Santo”. (Romanos 15.16).

Tanto católicos quanto os do ramo Santidade do movimento Metodista têm pontos de vista diferentes quanto ao trabalho de santifi cação do Espírito Santo. A Igreja Católica ensina tradi-cionalmente que Deus concede dons especiais a alguns cristãos pelo Espírito. Quando os crentes cooperam com estes dons, mais mérito do que o necessário é criado (agregado) para a salvação destes crentes em particular. O mérito extra se torna disponível para outros cristãos que precisam dele. Todo o bem vem de Deus com os santos especiais participando, eles inter-cedem por nós. Esta doutrina bastante complexa, desenvolvida durante séculos de teologia, contrasta de algum modo da esperança ou confi ança depositada apenas no Espírito de Deus (graça). Ambos os pontos de vista baseiam-se na Escritura e atualmente nós vemos mais pon-tos comuns do que diferenças quanto à intercessão do Espírito em favor da santifi cação.

O ramo Santidade, do Metodismo, desenvolvido durante o século XIX entre diferentes de-nominações protestantes, ensina que qualquer crente pode ser perfeito nesta vida. Enquanto a Igreja Metodista Unida e outras denominações importantes não fariam uma declaração tão arrojada, o fundador do metodismo, John Wesley, declarou que os cristãos necessitavam ouvir o comando, a exortação de Cristo: “Seja perfeito”. Wesley e a tradição metodista certamente ajudaram os presbiterianos do século dezoito e, mais recentemente, abriram discussão quanto à natureza do Espírito Santo. Mas comunidades Santidade acusaram Católicos, Presbiterianos e outros Metodistas de serem preguiçosos ou lentos e apenas meio crentes no poder do Es-pírito Santo de fazer pessoas perfeitas.

Os presbiterianos, em diálogo com outros (corpos, entidades, denominações), visando re-formar nossa própria maneira de pensar, aprendemos a ir mais longe quanto ao Espírito nas décadas recentes. Alguns presbiterianos podem até acreditar que pessoas possam ser perfeitas nesta vida, mas uma vasta maioria de nós crê que a vida no Espírito não elimina o fato de con-tinuarmos a pecar durante esta vida. Nós vemos Deus nos dando condição para crescermos na fé, a tomarmos decisões mais maduras e vivermos mais fi elmente (mais fi rmes em nossa fé). Vemos o Espírito Santo provendo liberdade cristã na qual podemos viver, mas não vemos a nós próprios como perfeitos. Pessoalmente, tiro consolo e energia desta crença. Eu espero ardentemente que outros presbiterianos, incluindo Dick Hays, também o façam.

Os presbiterianos acreditam também que o Espírito Santo provê autoridade para o crente. O Espírito, por exemplo, habilita os escribas (escritores) das Escrituras a narrar de modo com-pletamente verdadeiro sobre Deus, Jesus Cristo e todo o resto das coisas que necessitamos saber. Dizemos que os escritores da Bíblia foram inspirados pelo Espírito. Acreditamos que o mesmo Espírito nos habilita a ler e interpretar a Bíblia para nós mesmos em comunidade, nas famosas palavras de João Calvino, “é o testemunho íntimo do Espírito Santo” que sela (ratifi ca) a autoridade bíblica para nós.

Apesar de uns poucos poderem ter dito crer nisto, nenhum presbiteriano que eu conheça

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jamais argumentou que a Bíblia, por mágica, poderia responder todas as coisas com certeza total para o crente. Por outro lado, nenhum presbiteriano que eu conheça jamais disse que a Bíblia é “apenas mais um livro”. Os presbiterianos querem enfatizar que o Espírito de Deus da à Bíblia seu poder de nos ajudar e nos ensinar. A igreja não dá poder à Bíblia, mas a Bíblia, entretanto, se interpretada através do Espírito, dá poder à igreja.

Do mesmo modo que o Espírito dá autoridade na escrita e na leitura da Escritura, ele também dá autoridade à igreja. Os presbiterianos acreditam que concílios de Igreja, confi ssões e as-sembléias podem errar. Mas ainda têm mais autoridade do que um cristão isolado (sozinho). Mesmo sendo apenas Deus o Senhor da consciência, os cristãos têm de entender e aceitar o poder do Espírito trabalhando a vida da igreja. Esse trabalho do Espírito traz moderação para os crentes. E o cristão precisa ser capaz de aprender, de ser educado pelo Espírito, pronto a crescer em graça, com humildade e desejo de servir e escutar a igreja de Jesus Cristo.

Na verdade, o Espírito Santo dá autoridade a todos os poderes reconhecidos na terra graciosa-mente. Nas palavras da Confi ssão de Fé de Westminster, após emendas e correções feitas no princípio do século:“Pela onipresença do Espírito Santo todos os crentes, sendo vitalmente unidos a Cristo, que é a cabeça, estão assim unidos uns aos outros na igreja, que é o corpo. Ele chama e unge minis-tros para o seu santo ofício, qualifi ca todos os outros ofi ciais na igreja para seu trabalho espe-cial (específi co) e concede vários dons e graças aos seus membros. Ele dá efi cácia à palavra e às ordenações (rituais) do evangelho. Por ele a igreja será preservada, aumentada, purifi cada e fi nalmente tornada perfeitamente santa na presença de Deus” (WCF, 6.171).

Esta declaração junta de maneira agradável o entendimento reformado do Espírito Santo provendo autoridade com a natureza corporativa da igreja. Também afi rma que o Espírito Santo dá vários dons, uma resposta à pergunta de Dick Hays.

Doador de Dons

O Apóstolo Paulo falou eloqüentemente sobre os dons do Espírito: “Porque a um pelo Es-pírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra da ciência; e a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; e a outro, a operação de maravilhas; e a outro, a profecia; e a outro, o dom de discernir os espíritos; e a outro, a variedade de línguas; e a outro, a interpretação das línguas. (1 Coríntios 12.8-10).

Cada um dos dons foi dado para o bem comum, como cada parte do corpo ajuda o todo (o conjunto).

Em vários pontos Paulo fez listas que chamou “os frutos do Espírito”. Em um lugar ele disse, “mas o fruto do Espírito é caridade, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança”. (Gálatas 5.22). Os presbiterianos têm visto isto tudo como dons do Espírito Santo. O Espírito Santo dá também a cada pessoa um sentido de “chamamento” para uma função especial no mundo em combinação com a providência de Deus e o chamado de Cristo para “segui-lo”. Desta maneira, os presbiterianos têm, consistentemente, sido “ca-rismáticos”. Temos sido conscientemente dependentes do “carisma”, (o carismata) vindo de

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Deus – os dons do Espírito de Deus.

Em anos recentes, como em várias outras ocasiões anteriores da história cristã, falar em lín-guas tornou-se importante para muitos cristãos. Este fenômeno ocorreu durante os grandes despertamentos religiosos (revifi cação, renovação, renascimento) no princípio do século XIX, por exemplo, junto com (paralelamente a) sintomas físicos de experiência religiosa. Os pres-biterianos, naqueles dias, geralmente desencorajavam os crentes quanto a falar em línguas e quanto a outros “exercícios espirituais”, como eram chamados. Neste movimento no século XX os presbiterianos têm reagido de maneira mais positiva. Agora vários milhares de presbi-terianos que falam em línguas sentem ter um importante lugar na igreja. Os presbiterianos que falam em línguas consideram que o Espírito Santo dá o dom, como outros dons. Em algumas congregações grupos se distinguiram entre aqueles que falam em línguas e aqueles com out-ros dons (desempenhos). Em outras congregações, no entanto, pessoas com dons diferentes criaram objetivos comuns e adoram juntos.

Um presbiteriano pode falar em línguas, mas, certamente, nenhum tem de fazê-lo (É obrigado a fazê-lo). Do mesmo modo, um presbiteriano pode se sentir desconfortável com companhei-ros adoradores (irmãos na fé) falando em línguas. De fato, a mesma coisa pode ser verdadeira em muitos outros aspectos da adoração e da vida eclesial. Enquanto os outros dons do Es-pírito estiveram presentes – expressão de sabedoria, expressão de conhecimento, fé e coisas assim – os presbiterianos podem fazer uma boa avaliação dos dons de línguas e interpretação de línguas. E a coisa importante é o fruto do Espírito – amor, alegria, paz, paciência e todo o resto.

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Capítulo 5

Andar no Caminho

Manhã de domingo. Fim do verão. Nosso ministro, John Ames, levantou-se para fi car no púl-pito enquanto dirigia o culto. Naquela manhã nós já tínhamos participado do batismo de Priya Anne Alexander, fi lhinha de Suraj e Rachel que pertenciam à Igreja Presbiteriana de Ancora-gem, e eram de origem Ortodoxa Síria, na Índia. John chamou nossa atenção para a história deles enquanto lia as Escrituras e pregava. “Ele Sabe Nosso Nome, Também.”

Uma lição da Escritura veio de Êxodo3, na passagem na qual Moisés recebe o chamado de Deus para tirar o povo de Israel da opressão.

“Então disse Moisés a Deus: Eis que quando vier aos fi lhos de Israel e lhes disser: O Deus de vossos pais me enviou a vós e eles me disseram: Qual o seu nome? Que lhes direi? E disse Deus a Moisés: Eu Sou O Que Sou. Disse mais: EU SOU me enviou a vós”.Êxodo 3.13 a 14

A outra lição veio do Evangelho de João, capítulo 17, no qual Jesus orou por seus discípulos e pela igreja: “Pai Santo, guarda em teu nome aqueles que me deste, para que sejam um, as-sim como nós. Estando eu com eles no mundo, guardava-os em teu nome. Tenho guardado aqueles que Tu me deste”. (João 17.11-12). Então John Ames começou a pregar. Seu sermão, como sempre, tratou das passagens da Escritura. Explicou como o povo de Israel usava as le-tras (ou símbolos) secretas para representarem Deus; como Deus se manteve fi el a eles e como Jesus se referia a Deus como “Papai” em termos íntimos. Ele relacionou isto com o batismo de Priya Anne e com a educação das crianças para crescerem na fé. Também falou-nos de pertencermos à família de Deus – o quanto nós estamos incumbidos (encarregados) de criar as crianças de modo que elas conheçam Deus também.

O sermão, as lições da Escritura, o batismo, e toda a adoração, eram, juntos, uma parte do nosso “Andar (caminhar) no caminho (certo)” da fé cristã como presbiterianos. Nós con-sideramos que a adoração (o culto), os sacramentos, a proclamação da Palavra de Deus, e a reunião da congregação, todos, são importantes para nós. Importante para os presbiterianos é a pregação e a audição da palavra (difusão e audição), uma parte necessária para (nossa for-mação) e para sermos discípulos. Mas a experiência toda se junta em uma única peça com a vida que levamos como parte de nossa obediência.

A igreja primitiva chamou algumas vezes suas novas vidas como “o Caminho”. Os primeiros cristãos seguiam a Bíblia que entendiam como sendo livros do Antigo Testamento. Estes, juntamente com as mudanças e a nova instrução de “o Caminho” (escritos que se tornaram para nós o Novo Testamento) guiaram os cristãos em disciplina (para serem disciplinados). Nós já demos uma olhada rápida na autoridade da Escritura, vamos notar agora a autoridade da tradição reformada e a liderança da Igreja para ensinar-nos “O Caminho” para sermos dis-cípulos. O que signifi ca sermos discípulos na igreja?

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O Caminho Presbiteriano

Gradualmente, um ramo dos protestantes, no século XVI, veio a praticar governo represen-tativo. Membros deste ramo reformado, com ênfase especial em teologia, já haviam mencio-nado crenças especiais quanto aos sacramentos e à natureza da lei ainda por ser discutida e também concordavam que certas formas de governo da igreja seguiam as Escrituras. Eles se viram como herdeiros dos modelos bíblicos de governo e viram tais modelos como auxiliares para aqueles que buscavam ser discípulos nos seus próprios dias.

Os presbiterianos têm considerado o governo representativo, a seleção preferencialmente dos mais idosos, como um processo confi ável tanto para a organização do Israel antigo quanto para a organização da nova igreja. O Antigo Testamento falou freqüentemente de idosos (anciãos) e as comunidades judaicas tinham anciãos do tempo de Jesus Cristo. Os presbiterianos notam (percebem) a indicação de anciãos nas congregações locais (Atos 14.23), sua seleção por Paulo e Barnabé e a função (posição, papel) dos anciãos no conselho em Jerusalém. Porque as epístolas pastorais falam até que tipo de pessoa deveria ser um ancião! Um líder não podia ser “soberbo”, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganân-cia; Mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante”. (Tito 1.7-8). Da palavra grega equivalente a “ancião” (idoso, mais velho) PRESBÍTEROS, veio o nome para os presbiterianos, “aqueles dirigidos (governados) por anciãos”; Os pioneiros presbite-rianos consideravam a palavra “Idoso” (ancião) um sinônimo no Novo Testamento da palavra “Bispo”, uma palavra de importância para Católicos, Anglicanos e Metodistas Cristãos, entre outros. Os presbiterianos desde a época de Calvino, consideram que alguns anciãos precisam ser bem treinados para a proclamação da Palavra, enquanto outros (presbíteros e diáconos?) precisam sê-lo em todos os tipos de vocações cristãs. Os anciãos instrutores (pastores?) ou ministros, e os outros presbíteros, ou diáconos, devem compartilhar o poder na igreja.

Mesmo que as denominações presbiterianas tenham se desenvolvido de maneiras diferentes em vários países, esta marca (característica) de liderança compartilhada se manteve notavel-mente consistente.

Líderes escolhidos da congregação local como anciãos governantes (presbíteros regentes) junto com o ancião instrutor (pastor ou presbítero docente ou ministro), governam a igreja local ou “particular”. Anciãos de ambos os tipos, regentes e docentes, formam uma cúpula dirigindo a vida de congregações (Presbitérios) em uma área local. Representantes de vários presbitérios formam um sínodo, uma corte regional. E representantes de todos os presbitérios de uma mesma denominação se unem numa Assembléia. Como as congregações e as cúpulas das igrejas tornaram-se mais complexas em nosso próprio país, outras pessoas foram selecio-nadas por várias cúpulas para serem responsáveis por programas particulares (específi cos) ou para fazerem face a certas necessidades – em missões, por exemplo, ou em evangelização. Além disto, como as igrejas locais cresceram, muitas recrutaram (chamaram) mais de um ministro (pastor) para atendê-las e servi-las. O tamanho e a complexidade do presbiterianismo demandou a adoção de muitas regras para congregações, cúpulas das igrejas, ministros, e lí-deres. O Livro de Ordem cita (faz referência) de modo bastante amplo ao “Caminho (maneira, meio) Presbiteriano” de governo representativo em nossa denominação.

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Nós, presbiterianos, cremos que as lideranças das igrejas não são perfeitas, do mesmo modo que cremos que os cristãos não são perfeitos nesta vida. Mas entendemos e aceitamos que as lideranças podem, algumas vezes, coibir (controlar, reprimir) os erros individuais (de cada um). Como toda igreja de Deus é uma comunidade – um Corpo de Cristo – assim os repre-sentantes de uma igreja mais ampla usualmente incorporam a sabedoria de Cristo melhor do que pode fazê-lo um crente solitário (isolado). Quando selecionados para representantes em cúpulas da igreja, devemos servir com cuidado e diligência. Quando nosso presbitério fala, ou nossa Assembléia Geral, devemos escutar. E sabemos que o Livro de Ordem pode ser alterado de acordo com os desejos de Assembléias e de presbitérios.

Alguns anos atrás, por exemplo, lideres presbiterianos de todas as mais importantes denomi-nações nos Estados Unidos concluíram que mulheres deveriam participar do governo formal da Igreja e da proclamação da palavra. Gradualmente edições do Livro de Ordem foram mudadas, primeiro para permitir que as mulheres organizassem suas próprias áreas de lider-ança e trabalho nas igrejas locais e depois para permitir-lhes falar (discursar, ter voz) nos corpos da igreja, depois para permitir a ordenação de mulheres como pastoras (ministras) e atualmente para persuadir (induzir, argumentar a favor) as cúpulas da igreja a escolherem, de modo justo, mulheres de acordo com os membros femininos da igreja. Pessoalmente, pareceu que as várias mudanças ocorreram muito vagarosamente. Mas, eu conheço outros na igreja que pensam que as mudanças ocorreram muito rapidamente. Ainda assim todos nós perman-ecemos comprometidos com a forma representativa de governo, a qual se move de maneira orgânica para responder ao desejo de Deus de mudar situações.

Nós, presbiterianos, seguimos o “Caminho Presbiteriano” em nossas tentativas de ser fi éis discípulos de Jesus Cristo. Seguindo Jesus, nós realmente nos tornamos discípulos de nosso Mestre.

A vida na igreja primitiva era preenchida com adoração, serviço e educação. Chama atenção o quanto a igreja primitiva destacava (dava realce, importância) à adoração e o poder (a força) dos sermões na adoração. Pedro pregou em Pentecostes, quando o Espírito Santo deu poder aos discípulos. No decurso da adoração e do jejum, os anciãos cristãos em Antioquia decidi-ram enviar Paulo e Barnabé como missionários (Atos 13.2). Êutico até caiu da mais alta janela quando dormiu durante a adoração e recebeu cura pelos Apóstolos. (Atos 20.9).

Naturalmente um dos elementos para se ser discípulo envolve um compromisso (uma obriga-ção, uma responsabilidade) de assistir aos cultos de adoração. Se pessoas falham em mostrar algum comprometimento, então os dirigentes (líderes) da congregação presbiteriana têm a responsabilidade de colocar seus nomes numa relação de inativos. Mas ninguém é obrigado a comparecer aos cultos. Por outro lado, o centro da adoração é o louvor a Deus e transmitir instruções quanto ao “Caminho”. Que outro meio é dado ao presbiteriano para aprender sobre Deus e sobre a fé, que a adoração?

Talvez mais signifi cante do que meramente estar presente na adoração é a atenção (escutar em vez de simplesmente ouvir) e a participação ativa esperada de cada membro nas igrejas presbiterianas. Ser discípulo envolve manter os ouvidos atentos (abertos) especialmente na leitura das Escrituras, na proclamação da palavra e na celebração dos sacramentos. Creio ser

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mais apropriado colocar assim “manter-se abertos o coração e a mente de alguém”. No ser-mão por John Ames nós pudemos aprender muito sobre a natureza de Deus, a transmissão da fé e sobre nossas próprias responsabilidades. Estes ensinamentos me parecem estar implícitos na própria Escritura, mas John os trouxe até nós para ouvi-los e entendê-los.

Há um padrão (modo) de adoração presbiteriana, baseada em parte na liturgia ocidental da Igreja Católica Romana da qual nos originamos. É também parte da nossa tradição a leitura das Escrituras na linguagem do povo, a pregação do sermão que explica as Escrituras e as aplica em nossas vidas e o fato de cantarmos hinos de louvor. Também utilizamos a oração pública com palavras pelo ministro e outros líderes. Modelos de adoração mudam, mas se mantêm ao mesmo tempo, bastante consistentes. Estes modelos são descritos no “Diretório para o Serviço de Deus” que como o “Livro de Ordem” possui autoridade para nós. Ele descreve os modos pelos quais a Igreja Presbiteriana de Ancoragem e todas as outras congregações devem render adoração. John Ames, nosso ministro, Mary Morgan, nossa pastora auxiliar, a sessão e todo o resto de nós usamos o “Diretório para o Serviço de Deus” como um guia para a nossa adoração comunitária.

Obviamente, ser discípulo envolve adoração e muito mais. Para os Cristãos Reformados, serviço em adoração (tarefas no culto) é preparação para serviço no mundo (serviço mis-sionário). Nossa preparação de discípulos envolve proclamação do evangelho tão bem quanto possamos em tudo que fi zermos. Agora isto é um trabalho em tempo integral! Ser um membro d’ “O Caminho” signifi ca que escutamos as palavras de Jesus:

“Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder uma cidade edifi cada sobre um monte; Nem se acende a candeia e se coloca debaixo do alqueire, mas no velador, e dá luz a todos que es-tão na casa. Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifi quem a vosso Pai que está nos céus.” – Mateus 5.14-16.

Ser discípulo, então, signifi ca que nós presbiterianos temos de deixar “nossa luz brilhar”. Algumas vezes isto signifi ca convidarmos a outras pessoas para unirem-se a nós na adoração (no culto). Outras vezes signifi ca nós, de fato, irmos para outras comunidades e outras terras para servirmos a Jesus ajudando o povo de lá a aprender sobre Deus. Algumas vezes signifi ca termos de ocupar uma posição impopular no trabalho, na escola ou em grupos sociais. Outras vezes signifi ca ajudarmos pessoas simplesmente pelo fato destas pessoas estarem precisando de ajuda – estão famintas, sedentas, na prisão ou são estranhos.

Ser discípulo tem todos os tipos de signifi cado para nós. Como podemos saber o que fazer ou dizer? Em muitos casos recorremos à Bíblia para obtermos instrução. Também recorremos à tradição da igreja, não exatamente para fazer o que era feito antes, mas para aprendermos, em nossos dias, o que signifi ca ser obediente. Seguimos a liderança daqueles que nos preced-eram. Buscamos os líderes da Igreja Presbiteriana, que falam pela Assembléia Geral e outras cortes (cúpulas). Mesmo assim nós sabemos que nossa maneira de sermos discípulos não será perfeita. Deus nos salva pela graça, através da fé – não pelo julgamento da vida que vivemos. Mesmo assim nós tentamos “deixar nossa luz brilhar” de modo que as pessoas nos vendo “dêem graças a Deus”.

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Capítulo 6

Amar Seu Vizinho

“Tem lugar para mim também?” Jean Elliot perguntou no ônibus. Louis Coleman, Diretor do Centro Comunitário Presbiteriano, começou a explicar-nos suas funções enquanto rodávamos para vê-lo. Nossa classe da Escola Dominical, com a senhora Elliot e vário outros membros interessados da congregação mais ampla, tiramos uma tarde de domingo para aprendermos sobre as necessidades do centro, coisas que poderíamos fazer para ajudar. A família Rademak-er, os Gillises, os Milwoods, Os Cunninghams, os Perkeys, os Troys, Bob Hawkes e muitos outros lanchamos juntos, embarcamos no ônibus escolar e visitamos o centro.

“Este centro de cuidado com a criança é a jóia do nosso programa, agora”. Louis nos mostrou os arredores e então nos apresentou à senhora Davis, que dirige o programa. “Com o corte (a diminuição) do dinheiro do governo, a contribuição da igreja será mais crucial”. Disse-nos a senhora Davis. Ela falou que muitas famílias simplesmente deixam suas criancinhas com os residentes despreparados e desinteressados no projeto de alojamento público existente na vizinhança. “Nós realmente necessitamos de suporte (apoio) para dar condições às famílias para trazerem suas criancinhas para cá”, Louis Coleman explicou.

Quando nos reunimos depois nossa classe decidiu ajudar a dar apoio ao Centro Comunitário Presbiteriano como um projeto especial em complemento (além) do que doamos através do presbitério para o centro. “Temos de ser capazes de doar pelo menos trinta e cinco dólares por semana para isto.” Bruce Rademaker declarou. Nós concordamos. Demos busca em nossos bolsos. Também falamos com outros membros da classe e eles também contribuíram.

A Igreja Presbiteriana de Ancoragem não é muito grande, mas nós damos jeito de apoiar mui-tas causas como nosso tempo, nossa habilidade e dinheiro. Alguns membros comandam um programa: “Estúdio para os Defi cientes (Pessoas com necessidades especiais), que fornece materiais bem construídos para crianças de escolas públicas que não podem ler textos regu-lares, cassetes de artigos e de livros que não podem ser encontrados em outros locais para os cegos (defi cientes visuais) e uma estação FM com programação especial. Alguns membros estão especialmente interessados em uma missão interdenominacional que dá abrigo a pes-soas de rua, outros em um projeto do Exército da Salvação, e ainda outros em um colégio no leste do Kentucky para jovens da área de montanha. Alguns membros dirigem vans para en-tregar comida (refeições) para os encarcerados. Um número de mulheres ajuda moradoras em um ministério na prisão. Pelo menos dois membros da Ancoragem atuam em um programa de jovens advogados, que busca fazer face a necessidades especiais de jovens ofensores. Uma idosa (presbítera) no verão passado passou suas férias trabalhando como enfermeira na área de Havaí. Mais e mais cresce a lista de membros da nossa igreja local cuidando, se preocu-pando e ajudando, de maneiras pessoais e em apoio de instituições merecedoras.

Exatamente ao lado da igreja fi ca a Casa para Crianças Bellewood Presbiteriana, sustentada de modo cooperativo para famílias receberem ajuda e para crianças morarem quando ne-cessário. Muitas outras igrejas em nossa área ajudam de outras maneiras. Através do nosso presbitério, sínodo, e Assembléia Geral estamos conectados em um trabalho em rede de cui-

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dado (de nos importarmos, nos preocuparmos) que atinge quase todos os lugares da terra. Isto não é peculiar aos presbiterianos, mas parte essencial de como um presbiteriano deve ser. Individualmente e em grupo nós, presbiterianos, tentamos amar nossos próximos como Jesus nos ensinou.

O Cuidado Cristão

Quando um doutor da lei perguntou a Jesus, “mestre que devo fazer para herdar a vida eter-na?” Jesus respondeu que aquela pessoa deveria amar a Deus acima de tudo e “ao próximo como a si mesmo”. Então o doutor replicou com questão séria: “Quem é o meu próximo?”

Jesus respondeu com uma história de compaixão e carinho (cuidado). Ele falou ao doutor de um viajante assaltado e abandonado meio morto na estrada. Um pregador (rabino) passou por ele, também um membro da classe de elite da sociedade, mas um Samaritano, membro de uma classe desprezada na palestina daquele tempo, parou e deu-lhe cuidado pessoal. Car-regou a vítima para uma hospedaria e pagou por sua estadia. Jesus perguntou: Qual desses três, você acha, provou ser o próximo?” Lucas 10.25 a 37).

Em outro lugar dos Evangelhos Jesus teve muitas coisas para falar sobre a responsabilidade dos que crêem pelo cuidado com os necessitados. Disse que os abençoados seriam separados dos amaldiçoados baseando-se no cuidado que tiveram com os pequeninos (humildes, neces-sitados) no mundo (aqui na terra). Ele disse que não se esqueceria nem mesmo de alguém que apenas tivesse dado um copo de água fresca. Ele próprio ajudou pessoas a torto e a direito (em todo e qualquer lugar).

Obviamente os crentes devem “ir e fazer igual” como Jesus disse em diversas ocasiões. Os cristãos imediatamente começaram a cuidar uns dos outros e de outros necessitados. O regis-tro (a história) da igreja pode conter muitos momentos inglórios, mas, informalmente mostra os cuidados dos cristãos com os necessitados. Na formação do ramo presbiteriano da igreja, os pioneiros sofreram para proverem cuidados para os pobres. Cada ramo da tradição refor-mada manteve o cuidado com os pobres entre suas prioridades.

O cuidado (apoio, ajuda, assistência) tanto é individual quanto estrutural. Pessoas famintas necessitam de comida? Os presbiterianos, em muitas comunidades, incluindo a nossa, partici-pam de despensas (depósitos, armazéns) de secos e molhados (mantimentos) esforços de al-cance metropolitano para enfrentar emergência, e tentativas legislativas de ampliar o sistema para as pessoas encontrarem empregos e comida.

Ao mesmo tempo, nós, presbiterianos, pelos nossos canais denominacionais e ecumênicos fornecemos comida (alimento) vital para pessoas na África, Ásia e América Latina. Damos assistência a fazendas de demonstração em áreas pobres as quais mostram (ensinam) aos fa-zendeiros como aumentar a produção por eles mesmos. Esta ênfase tanto no simples como no complexo tipifi ca o cuidado presbiteriano.

Mesmo assim (com tudo isto) muitos presbiterianos diferem nas maneiras que escolhem para prestar ajuda. Alguns são contrários ao apoio legislativo aos pobres, por exemplo. Uns pou-

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cos consideram que ajudar nas necessidades individuais em alguns países mais agravam que solucionam o problema. Todos os presbiterianos não concordam quanto aos métodos mais próprios (apropriados, certos) de ajuda aos pobres. Ainda assim, não se pode ser um pres-biteriano praticante típico cristão sem se preocupar e sem tentar algum método de “amar ao próximo como a si mesmo”. Este mandamento (comando, esta ordem) de Jesus afeta profun-damente nossa responsabilidade com as necessidades humanas. O que é verdade no que diz respeito à fome e comida, também é verdade em outras matérias. O que dizer das posições presbiterianas no tocante a conceitos éticos tais como proteção ambiental, aborto, e promoção da paz? Os presbiterianos crêem que devem agir sobre assuntos assim, como outras comuni-dades querem?

O cuidado (zelo) cristão, no estilo presbiteriano, não demanda certos pontos de vista em al-guns problemas (debates) éticos. Alguns presbiterianos apóiam organizações “Direito à Vida” enquanto outros apóiam alternativas “Liberdade de Escolha”. Alguns presbiterianos servem nas forças armadas enquanto outros tomam uma instância (posição) pacifi sta radical quanto às guerras e as armas militares. Alguns consideram as necessidades do povo mais importantes que considerações ambientais; outros sentem que a proteção do ar, da água e recursos (min-erais) têm prioridade em benefício das futuras gerações.

Movermo-nos na exploração profunda de tudo isto e dos estilos presbiterianos de ações éticas demandaria outro livro inteiro. Nós nos embaraçamos quanto à natureza complexa de tais ma-térias e isto impede a maioria dos presbiterianos de tomar uma posição intransigente quanto a elas. Do mesmo modo, todas as decisões e posições são, da nossa perspectiva, igualmente cristãs. Nossas confi ssões falam de sermos capazes de executar “bons trabalhos”, não inteira-mente puros e livres de egoísmo, mas de qualquer modo “aceitáveis”. Certamente linhas de conduta óbvias nos ajudam em algumas respostas ao próximo e assembléias da igreja ajudam a nos dirigir a outros nos nossos questionamentos.

A Bíblia e os Cuidados

Logo no primeiro capítulo eu prometi trabalhar com o relacionamento entre a crença e a práti-ca: como as crenças acerca de Deus, Jesus Cristo, o Espírito Santo e a igreja afetam valores e tomadas de decisão? Bem, alguns princípios gerais se tornaram claros. Jesus explicou quem são os próximos, por exemplo. A Bíblia indica claramente e nós presbiterianos acreditamos, que “próximo” inclui todas as pessoas.

Mesmo aqueles que possam ser considerados inimigos para nós que buscamos seguir a Cristo. “Ame teus inimigos”, disse Jesus. Ore por aqueles que te perseguem” (Mateus 5.44). Podem-os, em nossa fé imatura, não agir segundo esta clara recomendação (ordem) de Jesus Cristo. De fato algumas vezes toda a igreja presbiteriana falhou em seguir o preceito e o signifi cado universal de “próximo”. Estas falhas no passado não signifi cam que Deus pretenda que con-tinuemos na desobediência. Temos fé em Deus, buscamos seguir a Cristo e confi amos na vida do Espírito Santo. Então nos movemos em direção a mais cuidado universal com o próximo, mais orações fervorosas em favor de todos os povos. Um amigo sugeriu que nosso programa como presbiterianos fosse para “alargar o N.T.P.” Ele disse que isto signifi ca alargar nossas idéias quanto a Nosso Tipo de Pessoa”. A Bíblia diz que este processo continua até incluirmos

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todas as pessoas.

Novamente a Bíblia é extremamente clara acerca de alguns valores – justiça, por exemplo. Deus foi reconhecido muito antes da vinda de Cristo como um “Deus justo”, interessado em que o povo de Israel mantivesse justiça ante si mesmo. Exercer a justiça era honrar a Deus. “O Senhor dos Exércitos é exaltado em justiça”, disse Isaías, e o Santo Deus se mostra em retidão” (Isaías 5.17). Isaías preveniu contra se trocar as frases para subverter o valor: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem chamam mal; que fazem da escuridão, luz e da luz, escuridão e fazem do amargo, doce e do doce, amargo” (Isaías 5.20). Não, a justiça em mui-tos casos é plana (clara, sincera, verdadeira). Jeremias, Ezequiel, Miquéias e todos os outros concordaram. Os problemas em perceber do que deveria ser vieram principalmente daqueles, no meio do povo, que eram “duros de coração”.

Muito do que deveríamos considerar como mercê (clemência, compaixão) o Antigo Testa-mento traz como uma parte de justiça. Segundo Isaías, Deus disse ao povo de Israel: “cessai de fazer o mal; aprendei a fazer o bem; praticai o que é reto; ajudai os oprimidos; fazei justiça ao órfão; tratai da causa das viúvas” (Isaías 1.16 e 17). Era para o povo ceifar os campos com justiça, ou seja, deveriam deixar os talos de pé para que os pobres tivessem alguma coisa para comer.

Tudo isto e mais estava no ambiente da justiça. Mas Miquéias disse que Deus requeria que os fi éis “fi zessem justiça e amassem a misericórdia”. Ele externou isto, talvez, para o caso de haver alguma dúvida sobre os limites da justiça.

Jesus, como todos sabemos, ampliou os limites da justiça. Os cristãos tinham de percorrer a milha extra, dar o capote (a capa) e o paletó (dar o colete e o paletó – cama e cobertor = casa e comida). Os cristãos deveriam exercer o perdão. Justiça tinha de ser estendida para todos, com misericórdia (clemência, piedade, compaixão, perdão) para todas as pessoas.

Em nossos próprios dias, nos Estados Unidos, pedidos de aplicação de justiça e misericórdia são facilmente (rapidamente) aparentes para os presbiterianos que se derem ao trabalho de observar. Discriminação baseada na cor da pele, sexo e idade não podem ser justas. Alguns assuntos éticos podem ser penosos (espinhosos), mas um dos mais penosos é justiça básica para os negros, hispânicos, refugiados asiáticos, mulheres, idosos, crianças e outros grupos. Como os presbiterianos podem ignorar a óbvia necessidade de se buscar justiça para todo este povo? Na verdade a grande maioria de nós, que somos presbiterianos, já provamos (na própria pele) discriminação como membros de um ou mais desses grupos. A verdade honesta para nós, entretanto, é que os americanos que mais sofrem discriminação não são os presbite-rianos. Nós podemos amar a justiça e buscar misericórdia em seu benefício (Para eles os mais discriminados).

Novamente nós, presbiterianos, afi rmamos nosso crescimento no corpo de Jesus Cristo. Se a Bíblia fala claramente em matérias de justiça e misericórdia e se nós buscamos fazer justiça e amar a misericórdia, permitamos que possamos ser levados pelo Espírito de Deus desde as mais claras matérias até as mais complexas. João Calvino e outros teólogos reformados repe-tiram este princípio várias vezes, especialmente.

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Capítulo 7

Receber Batismo

Ela não chorou quando seus pais fi caram na frente da congregação. Sara Kelton, aos dois meses de idade, simplesmente olhou ao seu redor e fi cou sossegada (N. T.: “To take in” pode ter diversos signifi cados para coisas diferentes). Bunnie e David, seus pais, responderam di-versas questões sobre sua fé e seu desejo de fazer Sarah crescer na cultura (nutrindo-se das coisas divinas) e no amor a Deus. Então nós da congregação afi rmamos que também cuidaría-mos dela enquanto ela amadurecia (crescia, tornava-se adulta). Finalmente John Ames tomou Sarah em seus braços e a batizou. A criancinha pareceu um pouco assustada enquanto John a carregava pela nave do templo: “quero que você conheça a todos”, disse ele. Enquanto isso os avós sorriam alegres ali, no banco da frente.

Cerca de uma vez por mês batizamos crianças em nossa própria igreja e seis vezes por ano adolescentes e adultos. Em cada uma destas ocasiões pessoas fazem votos (juramentos, promessas solenes, assumem compromisso) e nós normalmente nos sentimos especialmente bem enquanto tem lugar o sacramento. Sabemos que o batismo foi importante para a igreja através dos séculos, como também tem sido a Ceia do Senhor. Sabemos que os ensinamentos reformados diferem quanto a isto em relação aos ensinamentos de outras igrejas, mas o que estamos fazendo exatamente em um batismo e como o nosso entendimento nos relaciona com aquele de outras tradições?

Batismo, um Sacramento

Na sua prática, a igreja primitiva começou a desenvolver doutrina sobre as experiências que Jesus partilhou com seus discípulos. O próprio Jesus foi batizado por João. Ele ordenou a seus discípulos que batizassem os crentes. Desde os tempos de Pentecostes, apóstolos e discípulos batizavam as pessoas. Filipe até moveu-se rapidamente para converter e batizar um etíope, ministro da corte da rainha de uma nação (Atos 8.26 a 40).

Signifi cado especial também sucedeu quando Pedro teve um sonho em Jope. Ele viu todos os tipos de animais e ouviu uma voz dizendo: “Não faças tu comum o que Deus purifi cou”. Pedro atendeu um chamado de Cornélio, um centurião da corte italiana, para ir a Cesaréia. Lá Pedro batizou Cornélio, um soldado romano, e os demais que com ele estavam, ao notar que também os gentios receberam o Espírito Santo (Atos 10).

Com o batismo, bem como com outras práticas especiais, os cristãos afi rmam sua continui-dade com os apóstolos e os discípulos de Jesus. No batismo, uma pessoa era iniciada na fé. Nas igrejas ortodoxas orientais, foi dado ênfase à preparação para a ressurreição. No ocidente, os líderes da igreja católica enfatizaram o novo e indelével caráter do crente e a sua iniciação na vereda sacramental. O batismo foi visto como o primeiro dos sete sacramentos dos quais o fi el dependia para se nutrir (alimentar) da graça.

Líderes reformistas no século dezesseis, tais como Zwínglio e Calvino, tentaram recuperar uma perspectiva bíblica da fé e se desfazer da dependência do sistema de sacramentos, mas

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adotaram visões diferentes quanto ao signifi cado do batismo. Zwínglio considerou que é tão trabalhoso quanto é meritório (vale tanto quanto o trabalho que dá). Calvino observou o quão importante tinha sido nas narrativas do Evangelho sobre Jesus, o quanto Jesus recomendou a seus discípulos que batizassem as pessoas, e o quanto, nos Atos, a igreja, dava importân-cia ao batismo que, como sacramento, nada tinha de mágico, ou poderia acontecer de modo mecânico. Mas o batismo não poderia substituir a fé, que vem de Deus.

Alguns daqueles que liam suas bíblias achavam que algo, sagrado ou não, subverteu a natureza da prática da igreja primitiva e as ordens dadas por Cristo. Esses reformadores argumentavam que Zwínglio, Calvino (e Lutero do mesmo modo) andaram apenas parte do caminho de uma reformulação necessária. Eles advogavam a celebração de ordenações (rituais), coisas que Cristo falou ao povo que fi zesse, mas diziam que sacramento era um erro. Os presbiterianos, desde aquela época, tomaram uma posição intermediária quanto aos sacramentos Batismo e a Ceia do Senhor (Santa Ceia). Continuamos a ver o batismo como um sacramento, mas dizemos que os sacramentos por si mesmo não salvam as pessoas e nem mesmo as ajudam a terem mais fé. Nas palavras do “Diretório para o Serviço de Deus” o batismo leva adiante a graça de Deus em Jesus Cristo e afi rma que os crentes e suas crianças são herdeiros do pacto da graça (Diretório para o Serviço de Deus, S-3.02); o Diretório é publicado como uma parte do “Livro de Ordem”, preparado pelo Comitê Coligado para a União Presbiteriana. (As refer-enciais subseqüentes do Diretório para o Serviço de Deus referem-se à edição citada).

Batismo Infantil (de Crianças)

Os presbiterianos batizam as crianças, fi lhos e fi lhas dos crentes, bem como os católicos, os ortodoxos orientais, os anglicanos, luteranos e várias outras variantes de comunhões cristãs. De acordo com Calvino, do mesmo modo que os meninos em Israel recebiam a circuncisão, também assim os fi lhos dos cristãos recebiam o batismo (Institutas 1V:14, 24). Não o preocu-pava o fato da Bíblia não registrar qualquer batismo de criança especifi camente. Ele apontava (citava) o batismo de todos os ocupantes da casa de Cornélio, mas não argumentava que isto signifi casse que Deus pretendeu (intentou) que a igreja batizasse todas as crianças. Nós, pres-biterianos, dizemos que o batismo de crianças é um sinal e um selo da promessa de Deus de que eles são os herdeiros do pacto” , da promessa.

Ao apresentarem uma criança para o batismo, os pais afi rmam em público seu dever de criar a criança para amar e servir a Deus. A congregação, também, promete cercar a criança com seu amor e relação com Cristo, para que a criança continue na comunidade da igreja, confesse Jesus Cristo como Salvador e Senhor, e viva no eterno reino de Deus.(Diretório para o Serviço de Deus, S-3.03)

Assim, para os presbiterianos, o batismo de crianças é um sinal e um selo do cuidado de Deus por estas crianças particulares (específi cas). É também uma promessa feita pelos pais cristãos e pelos membros da igreja, que as crianças serão educadas na fé, com a esperança de receber o conhecimento da salvação pessoal de Deus em alguma ocasião no futuro. Os presbiterianos gostam também de citar Jesus, pois em várias ocasiões Ele disse que todos devem se tornar como criancinhas para receberem o Reino de Deus.

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Nem todos os cristãos concordam com o batismo de crianças. Obviamente, os batistas são os mais francos e ferrenhos críticos desta prática: Eles citam João Batista, Jesus recebendo o batismo como um adulto e o batismo dos primeiros cristãos como Cornélio. Eles dizem que a pessoa tem que primeiro se arrepender, tais como os Discípulos de Cristo e as várias denomi-nações Menonitas, que também praticam “o batismo do crente”. Eles se queixam dizendo que o batismo infantil fez surgir as igrejas de estado (do governo) nas quais todos tinham de ser cristãos, acreditassem (tivessem fé) ou não.

Faz pouco sentido argumentar desde quando ambas as práticas têm base bíblica e longas tradições. Além disso, é fácil para nós, presbiterianos, reconhecer outras maneiras de interpre-tação da história como válidas, mesmo que difi ram das nossas. Quando Batistas ou Discípu-los de Cristo se juntam à nossa denominação não vemos qualquer empecilho reconhecer seu batismo como válido. Algumas vezes o inverso ocorre e tivemos a necessidade de entender a relutância de muitos em aceitarem nosso batismo como válido. Deveríamos considerar tam-bém os pais presbiterianos não são obrigados a de submeter seus fi lhos ao batismo (embora sejam estimulados a essa prática).

David e Bunnie Kelton eram presbiterianos mesmo antes de se casarem. Não tiveram qualquer hesitação em apresentar Sarah para o batismo. Por outro lado, muitas famílias na Presbiteri-ana de Ancoragem até então, não tinham solicitado que seus fi lhos fossem batizados. A Igreja Presbiteriana tem muito lugar para eles também, sejam as crianças ou não batizadas, temos a responsabilidade de fazê-las crescer conhecendo e amando a Deus (no conhecimento e no amor de Deus).

Membro ativo e Batismo de Adultos (Ser ativo no conjunto de membros)

No que é tradicionalmente chamada de “idade de discernimento” as crianças têm a oportuni-dade de fazer a sua própria confi ssão de fé pessoal. Sarah Kelton, quando tiver cerca de doze anos de idade será convidada a unir-se ao grupo de crianças da sua própria idade e receber instrução intensiva de John Ames, Mary Morgan e muitos outros do resto de nós. Ela pode escolher juntar-se a um grupo mais adiantado se assim quiser e pode se recusar a ir de modo geral para um grupo de preparo para ser um membro ativo. Mas na preparação ela pode apre-nder muito sobre nossa igreja e sobre seu lugar nela. Em nossa congregação aquele grupo planejará e liderará a adoração do Domingo ao fi m dos seus estudos (aprendizado) tanto quanto fará sua Profi ssões de Fé. Daqui a onze anos, Sarah Kelton pode muito bem estar em uma congregação diferente. Seu pai é graduado numa escola de Matemática e é professor, e sua mãe está cursando escola de comércio. Existe a possibilidade, em nossa sociedade móvel (que se modifi ca), de Sarah vir fazer sua profi ssão de fé em outra igreja, e de outras crianças que foram batizadas em outros locais fazerem sua profi ssão de fé em nossa igreja local. Isto é uma coisa boa entre os presbiterianos. Nós acreditamos que a igreja universal é um corpo de cristãos na terra do qual nós somos uma pequena parte.

Mobilidade denominacional é outra parte de nossa moderna sociedade, como indicado na introdução. Nós temos muitas pessoas que se juntam à igreja presbiteriana em nossa con-gregação por carta de transferência e por reafi rmação da fé. As pessoas oriundas de outras denominações reformadas e aquelas de igrejas que reconhecem a igreja presbiteriana como

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parte da família de Deus, recebem uma carta de transferência se foram ativas em suas igrejas anteriores. As que não foram ativas em outras igrejas, mesmo sendo membros e batizadas na fé cristã, simplesmente fazem uma reafi rmação de fé. Aquelas que foram ativas em outras igrejas, mas em uma que não fornece carta de transferência para igrejas presbiterianas, tam-bém reafi rmam sua fé.

Atualmente nos Estados Unidos, como em tempos passados, muitas pessoas nunca foram ba-tizadas. Quando uma pessoa se une à Igreja Presbiteriana como adolescente ou como adulta, esta pessoa recebe o “batismo do crente” entre nós. Ele ou ela professa lealdade pessoal a Jesus Cristo com Senhor e Salvador e o desejo de participar da vida da igreja, corpo de Cristo. Pessoalmente, descobri muitas pessoas relutantes em se unir à Igreja Presbiteriana, embaraça-das por nunca terem sido batizadas. Parece que nenhum evento sacramental traz mais alegria do que o batismo de um neófi to (recente, novo) se professando cristão. E nós, presbiterianos, temos sido bastante lentos (vagarosos, preguiçosos) quanto a chamar (convidar) pessoas para virem à igreja conosco, fazer uma profi ssão de fé em Jesus Cristo e se tornarem membros do corpo.

Todos nós podemos crescer em conhecimento e amor de Deus. A educação é ligada vital-mente com o batismo, tanto de crianças e de adultos.

Educação na Fé

Sarah Kelton vai começar a freqüentar logo a escola dominical. Na Igreja Presbiteriana de Ancoragem nós temos uma classe pré-escola na qual as crianças ouvem histórias bíblicas e brincam junto com as maiores. Em classes sucessivas, aprendem mais sobre a fé, ensinadas por membros da congregação. Grupos de jovens fazem viagens juntos e partilham (partici-pam) de outras atividades. Todas estas coisas estão conectadas (têm ligação) com as promes-sas que fi zemos no batismo.

Desde a primeira tradição reformada até os nossos dias, a educação cristã tem se mantido extremamente importante. A lógica do seu signifi cado é muito simples. Se Deus esperava que cada pessoa afi rmasse ou negasse o evangelho e se o conhecimento da salvação foi dado pelo Espírito Santo a alguns povos, então cada pessoa tinha de entender o evangelho – tinha de escutá-lo. Se ninguém podia mediar (servir de árbitro, intervir, interferir) o evangelho, mesmo que pregadores pudessem interpretá-lo, e se a Bíblia oferecia todo o necessário para o conhe-cimento da salvação, então todos tinham de ler a Bíblia. Uma parte da tarefa era a tradução da Bíblia para as línguas das pessoas. Mas outra parte era ensinar a todos a ler as Escrituras.

Em lugares onde a fé reformada fl oresceu, aprender a ler (aptidão para a leitura) tornou-se a regra entre os homens e as mulheres, mesmo que elas tivessem de aprender, na sua maioria, de maneira menos formal; isso até o século XX). Outras comunidades reformadas também en-fatizavam a educação e os católicos chegaram a estendê -la aos leigos também, mas nenhuma outra o fez tanto quanto os cristãos reformados.

Quando surgiram as escolas com classes aos sábados, há mais de dois séculos, destinavam-se aos fi lhos dos pobres. Os pobres não recebiam qualquer educação e assim não podiam ler a

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Bíblia por si mesmos. Então realmente ainda não haviam ouvido o evangelho. Os presbiteria-nos cooperaram com outros protestantes para a criação das escolas do sábado para os neces-sitados como um serviço de evangelismo e missão.

Gradualmente, durante o século XIX, os presbiterianos passaram a usar as escolas do sábado para as suas próprias crianças tanto quanto para as atingidos pela pobreza. O mesmo aconte-ceu em outras comunidades. As escolas Dominicais e as escolas da igreja como as conhec-emos são organizações bem mais recentes, existindo a partir da última parte do século XIX.

O zelo presbiteriano pela educação estendeu-se para todos os campos (setores). Se, como vimos, a criação é boa, então conhecê-la também é bom. Nas escolas e nos colégios reforma-dos consideravam-se importantes todos os tipos de aprendizado. O ministro, especialmente, deveria ter conhecimento todos os tipos de disciplinas. Assim, Harvard, Yale, Princeton e numerosas outras universidades começaram como seminários reformados nos quais clérigos e outros líderes da igreja poderiam receber educação. Quando os presbiterianos e os congrega-cionalistas se separaram, cada grupo fundou numerosos colégios e seminários. Os ministros presbiterianos treinados nessas escolas abriram academias em seus presbitérios por todo o país, nas quais as crianças puderam aprender sobre Deus e sobre o mundo.

Os presbiterianos cooperaram no movimento pelas escolas públicas no século XIX a despeito do fato de terem desenvolvido já um número expressivo de escolas paroquiais. Parte deste interesse veio do compromisso de ensinar as pessoas a ler. De que outro modo poderia cada pessoa ser responsável (se justifi car) perante Deus? De que outro modo os presbiterianos poderiam manter sua promessa que as crianças cresceriam em nutrição (fi sicamente?) e em amor a Deus?

Escolas dominicais, ou escolas da igreja, tornaram-se uma parte vital de grande parte da vida corporativa das congregações. Alguns presbiterianos já tinham aprendido antes do século XIX que em diferentes estágios do crescimento e da vida, as pessoas têm diferentes necessi-dades e habilidades de aprender sobre Deus e sobre elas próprias. Hoje, a maioria das Escolas Dominicais têm lições e atividades diferentes para as criancinhas, para as crianças maiores, para aquelas em fase de confi rmação na igreja e para adultos. Alguns presbiterianos estão ex-perimentando também atividades que ajudam gerações diferentes a aprenderem umas com as outras. A larga variedade de tipos de educação para a fé pode oferecer crescimento para todos. Todos os presbiterianos têm de ir, ensinar e sustentar a educação cristã? (freqüentar, fazer-se presente, dar aula e sustentar). Não, há alguns que não o fazem, mas ao mesmo tempo, sim, é parte e parcela das promessas que fi zemos no batismo de crianças e de adultos.

As escolas da igreja e todas as outras oportunidades de educação são ocasiões para aprender-mos acerca de Deus, de nós próprios e da missão da igreja.

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Capítulo 8

Tomar a Comunhão

Em nossa congregação, George James quase sempre assa o pão para a comunhão. Algumas vezes ele assa pão francês com casca, outras, pão de centeio bem alto e outras, pãezinhos doces individuais. George tem sido presbítero (idoso) na igreja por um número de anos e diz gostar de se preparar para a Ceia do Senhor, preparando-a. Diz que o faz pensar e orar.

George sabe que a preparação da Ceia do Senhor é extremamente importante na tradição reformada. Muitos presbiterianos não fazem preparação especial para o sacramento, mesmo assim todos eles são bem-vindos à mesa também. De fato, em décadas recentes muitos corpos (entidades) reformadas têm dado ênfase ao convite aberto (pleno) “para todos os crentes ba-tizados e suas crianças” participarem na Ceia do Senhor. Ser presbiteriano signifi ca que tomar a comunhão; mas o que isto signifi ca em nossa fé?

Comunhão, um Sacramento

Assim como o batismo permanece um sacramento para os presbiterianos, assim também acon-tece com a comunhão. Cremos que Jesus disse que os membros da igreja a celebrassem, que ele prometia presença especial enquanto a comunhão estivesse sendo partilhada (tendo a par-ticipação de todos) e que os cristãos continuassem através dos tempos a celebrá-la fi elmente. Três palavras para nós são sinônimas: “comunhão”, “Ceia do Senhor” e “eucaristia” (da pa-lavra grega “gratidão”). Jesus partilhou a comida da Páscoa com seus discípulos. Segundo todos os evangelhos esta páscoa se diferenciava um pouco da festa judaica regular (normal). Jesus abençoou o pão e o cálice depois da refeição e disse aos participantes para distribuírem entre si os dois elementos (veja Mateus 26. 17 a 35; Marcos 14. 12 a 31; Lucas 22.1 a 38 e João 13.1 a 16 e 33). A eucaristia é essencial também na missa católica romana e na liturgia das igrejas ortodoxas orientais. Quase todos os tipos de protestantes celebram a comunhão da mesma maneira.

Mesmo antes do século XVI, quando ocorreu a Reforma e o início da tradição reformada, John Huss, onde é agora a Checoslováquia e John Wycliffe, na Inglaterra, argumentaram que a igreja devia seguir a Bíblia mais fi elmente em seus ensinamentos sobre a comunhão. Mar-tinho Lutero, João Calvino e outros reformadores geralmente concordavam, mas discordavam quanto ao que acontecia na celebração. Este desacordo, mais que qualquer outra coisa, não deixou que os protestantes se unifi cassem nos primeiros anos do movimento.

Calvino e os presbiterianos que seguem seus ensinamentos quanto à Ceia do Senhor, tentaram estabelecer um meio termo entre a “alta” teologia da comunhão de católicos e Luteranos por um lado e os protestantes que a consideravam como apenas um ato de “recordação” e “espe-rança”, pelo outro. Os credos reformados estabeleceram que ela permanece um sacramento, um evento santo. Entretanto não possui qualquer mágica e os presbiterianos não se salvam por tomá-la.

Os presbiterianos entenderam que a igreja é universal, e na junção (união, agregação) de todos

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os cristãos quer creiam ou não nos ensinamentos reformados. Fez sentido para os presbiteria-nos reconhecer o trabalho de Deus em todos os atos da celebração da comunhão.

Enquanto os católicos romanos algumas vezes consideram que o serviço da comunhão não tinha qualquer poder especial para o fi el, os presbiterianos usualmente não tinham duvidado do trabalho de Deus na missa contanto que os que acreditam não esperem mágica nela. Do mesmo modo os batistas têm alegado (demandado) que os cristãos devem pertencer a uma igreja particular para participar da comunhão, expressando assim dúvida quanto à comunhão ser um sacramento. Os presbiterianos não têm hesitado em considerar a comunhão batista como verdadeira e os crentes batistas são bem-vindos à comunhão presbiteriana.

Na comunhão, o pão e o vinho são sinais que, de acordo com Calvino, “representam para nós um alimento invisível que recebemos da carne e do sangue de Cristo”. Deus continua a ali-mentar-nos para que cresçamos em nosso compromisso com Cristo”. Obtemos tanto garantia quanto deleite no sacramento – Garantia de nossa vida eterna e deleite em saber que Deus se importa conosco agora e para sempre. (Institutas 1V:17,1).

Hoje, estudantes sérios da tradição presbiteriana discutem (debatem) sobre a extensão da “pre-sença real” (verdadeira) de Cristo no sacramento. Católicos e muitos luteranos consideram que Jesus está presente substancialmente no próprio sacramento. Os presbiterianos foram geralmente ensinados a crer que Cristo estava meramente “representado” no sacramento, mas a leitura cuidadosa das “Institutas” de Calvino e de outros teológicos antigos mostra que para muitos a “Presença Espiritual” da qual falavam era considerada substancial. Eles queriam se guardar (se proteger, se preservar) de qualquer entendimento mecânico, mas acreditavam que ocorria uma comunicação real da presença de Cristo.

A Prática Presbiteriana

Durante muitas gerações os presbiterianos e outros calvinistas “cercaram a mesa” da Ceia do Senhor. O ministro ou outra autoridade (presbítero) ia de casa em casa durante a semana que antecedia o serviço da comunhão. O líder da igreja examinava todos os membros da família que fossem membros da igreja. Eles conheciam doutrina importante? Tinham obedecido à lei tanto quanto possível? Tinham sido fi éis na adoração e no trabalho? Se os membros fossem aprovados recebiam marcas (sinais, identifi cações) para a comunhão. No dia do serviço, após a leitura das Escrituras e da pregação de um “Sermão de Ação” sobre a natureza da Ceia do Senhor, o pastor lia as palavras de Paulo em Coríntios 11.23 a 34. Então ele convidava todos aqueles com os sinais para virem para a frente e sentarem-se à mesa. Aqueles que apresen-tavam a marca (crachá), muitas vezes apenas uma pequena porção da congregação, eram servidos da comunhão. Todos os outros podiam ou olhar de fora da área cercada ou então ir para casa.

Os presbiterianos estavam dando atenção especial à prevenção de 1º Coríntios 11.28 que se uma pessoa não discernisse o corpo (não entendesse o que estava acontecendo) aquela pessoa incorreria no julgamento de Deus. As igrejas reformadas tinham (entendiam que) a Ceia do Senhor era, primeiramente, um “selo de ordenação”, uma ocasião para se selar a fé dos crentes na comunhão com Deus através do Espírito de Cristo.

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Durante o século XIX, os presbiterianos passaram a enfatizar a comunhão também como um “ensino de ordenação”, uma oportunidade para aprender em ação o trabalho de Cristo através do Espírito.

Tipicamente os presbiterianos celebravam o sacramento da comunhão quatro vezes por ano, apesar de algumas igrejas o fazerem seis vezes por ano como prática comum. Os presbite-rianos tomariam o pão e o vinho sempre em um contexto de adoração. Após o senhor Welch inventar um processo para evitar a ocorrência da fermentação e quando o movimento pela temperança tornou-se mais poderoso, passando por cima das objeções dos conservadores em muitas congregações, o suco de uva passou a ser “a fruta do vinho” para a maioria dos pres-biterianos.

Atualmente, as igrejas presbiterianas celebram a Ceia do Senhor de diferentes modos, com freqüência variada. Em alguns locais, especialmente nas áreas rurais, quatro vezes por ano ainda é o hábito. Muitas igrejas das cidades tomam a comunhão no primeiro domingo de cada mês. Algumas congregações oferecem também semanalmente os serviços eucarísticos, talvez em uma pequena capela domingo cedo, pela manhã antes do serviço regular. Em conferências de jovens e retiros, algumas vezes, a Ceia do Senhor também é servida. Os diferentes costumes refl etem as variedades de teologia reformada hoje e o impacto do movimento ecumênico.

Recentemente, os presbiterianos começaram a permitir que as crianças tomem a comunhão mesmo não sendo elas ainda membros ativos da igreja. Complementando, muitas congrega-ções começaram a celebrar refeições Ágape, ocasiões baseadas em refeições na igreja primi-tiva similares à comunhão. Uma palavra sobre cada uma destas novas práticas se faz ne-cessária.

Comunhão para Crianças

João Calvino disse há muito tempo que a Ceia do Senhor é “por Natureza incompreensível” pois continua um mistério como Cristo é unido com o fi el. Enquanto isso os presbiterianos se tornaram mais interessados de novo em sua teologia e fi zeram contato com outras tradições cristãs mais profundamente, em anos recentes. Alguém pode dizer que nos tornamos mais modestos em nossas reivindicações acerca de nosso conhecimento do que tem lugar (acon-tece) na comunhão. Poder-se-ia dizer também que começamos a prestar mais atenção a algu-mas outras passagens da Bíblia, particularmente nas palavras de Jesus: “Deixai vir a mim as criancinhas e não as impeçais, pois das tais é o reino dos céus.” (Mateus 19.14). Em comple-mento a estas razões uma outra é provavelmente a que faz com que o mesmo movimento está indo adiante na maioria das igrejas protestantes que batizam crianças.

O “Diretório para o Serviço de Deus” diz que o convite para participar da Ceia do Senhor” incluirá as crianças batizadas que estejam sendo nutridas (criadas, educadas) e instruídas para participarem com um entendimento do signifi cado do convite para a “Mesa do Senhor” e de sua resposta na fé” (DSG, S-3.05). Toda a congregação coopera em prover esta instrução e en-tendimento para as criancinhas – e não apenas os seus pais. Noto que na Igreja Presbiteriana de Ancoragem algumas crianças não tomam comunhão. De fato, noto que alguns adultos de tempos em tempos também não tomam. Suponho que a hesitação vem da tradição, quando era

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considerada uma “seleção de ordenação” e menos uma “ordenação de ensinamento”. Penso que aqueles de nós que buscaram as mudanças e têm prazer com a liberdade para crianças batizadas tomarem a comunhão, necessitam entender os sentimentos de outros com suas per-spectivas. Afi nal de contas, admitimos que a comunhão não oferece poder mágico aos crentes para ajudá-los na sua salvação. Por outro lado, pessoas hesitantes quanto a tomar a comunhão em tempos de sentimento de culpa ou de remorso e aqueles que não permitem que tomem a comunhão crianças batizadas na caminhada cristã para depois serem membros ativos da co-munidade, podem também estar necessitando de nossa compreensão e ajuda..

Refeições Ágape e Outras Celebrações

Um número de congregações presbiterianas celebram agora refeições Ágape de tempos em tempos. (NT: “Ágape: refeição que os primitivos cristãos tomavam em comum”) Pode ser numa refeição conjunta da família, uma ceia familiar, ocasião muito propícia e inspiradora para a adoração. Um Ágape, como as refeições de amor dos primitivos cristãos, envolve um grupo de cristãos repartindo o pão e outros alimentos também. Algumas vezes o uso de comi-das simbólicas e de números ajuda a nos lembrarmos de certos eventos do ministério de Jesus – o uso de pãezinhos e de três peixes, por exemplo. Quando nos juntamos para um Ágape, nós cantamos e oramos. Também podemos aprender acerca uns dos outros de maneira informal.

Menciono Ágape neste ponto por não ser para nós um sacramento. Nós, presbiterianos, par-tilhamos vários tipos de celebrações que são extremamente importantes, cheias de signifi cado para a fé, mas que não são sacramentos. Historicamente, os encontros de oração (cultos) das noites de quarta-feira, têm sido parte da vida congregacional de muitas igrejas locais. Ceias familiares também têm sido ocasiões especiais para nós em Ancoragem e para presbiterianos em todas as partes do país. Casamentos e funerais são ocasiões signifi cativas de adoração, de signifi cado especial para as famílias da igreja tanto quanto para a totalidade da congregação e serão discutidos no Capítulo 11. Em Memphis, no Tennessee e aqui em Louisville e provavelmente em outras cidades através do país, os presbiterianos de muitas congregações estão se encontrando (reunindo) semanal-mente em um lugar central para excelentes períodos de estudo da Bíblia. Esses encontros desfrutam da Graça de Deus tão certamente quanto se fossem de natureza sacramental (sac-ramentais em sua natureza). O batismo e a Ceia do Senhor apenas se diferenciam pelo fato de Cristo ter prometido estar presente enquanto os sacramentos tivessem lugar (estivessem acontecendo).

Em nossa tradição reformada, especialmente entre os Puritanos, tratava-se o Dia do Senhor, todos os Domingos, como uma Páscoa. Muitos presbiterianos continuam a partilhar este es-pírito de que todos os dias são ocasião para a presença especial de Deus. Alguns presbiterianos de boa base ética, costumam evitar celebrações muito festivas. Outros de passado (histórico) variável (de diversas origens) e também com boas razões, aproveitam (se alegram) com as ép-ocas do Natal, com as celebrações especiais tais como o Ágape e outros eventos semelhantes. Pessoalmente, fi co maravilhado de que nesta área da vida da igreja nós, presbiterianos, temos muitos estilos diferentes e diferentes expectativas. Há abertura, e dos presbiterianos se requer apenas que prestem atenção especial aos dois sacramentos, sejam quais forem nossas prefer-ências e hábitos.

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Capítulo 9

Pertencer à Igreja

Há poucos anos, Harriet Hilley, na época terminando o segundo grau, foi da Igreja Presbiteri-ana Ancoragem até o Zaire (Congo) fazer a entrega de um avião. Ela e um outro membro da Igreja Presbiteriana aqui nos Estados Unidos da América representavam os jovens da igreja que contribuíram para a compra do avião. Ofereceram-no à igreja protestante do Zaire para que seus evangelistas e pessoal médico pudessem alcançar as pessoas em áreas de difícil aces-so do país, onde as estradas eram particularmente ruins. Este pessoal médico e evangelístico poderia levar o evangelho e atender às necessidades do povo de outras maneiras também pelo fato de Harriet e uma grande quantidade de adolescentes terem ajudado.

Nós, presbiterianos, somos membros de uma igreja(católica) universal. Já ouvimos isto antes? Os exemplos de nossa solidariedade cristã estão por toda parte; se quisermos vê-los é só parar e observá-los. No último outono, por exemplo, eu levei Joong Eun Kim, sua esposa Gwi Yub e o fi lho deles Hyong Woo para uma celebração de aniversário na Igreja Presbiteriana Monte Sterling. Dr. Kim é professor de Velho Testamento no Seminário Presbiteriano de Seul, Coréia e Gwi Yub é uma especialista em educação cristã.

Numa classe de Escola Dominical, o professor começou a explorar alguns registros e citações nos livros de Samuel sobre a monarquia primitiva. Dr. Kim explicou-lhes acerca das várias maneiras pelas quais o povo de Israel via o rei: uma esperança, uma ameaça (um perigo), uma promessa de Deus, um prenúncio do Messias verdadeiro e assim por diante. Aqui estava um professor e ministro coreano, educado tanto na Coréia quanto na Suíça, partilhando com cris-tãos americanos palavras do Velho Testamento pelas quais todos nós nos importamos.

Mesmo não sendo muito aparente o tempo todo, nossa vida na Igreja Cristã Universal é uma parte real (verdadeira) do fato de sermos presbiterianos. Capítulos anteriores mencionaram alguns aspectos formais desta vida. Considere, então, a crença que declaramos na “comunhão dos santos”, no Credo Apostólico. Mais que um vínculo formal com outras igrejas presbiteri-anas espalhadas pelo mundo e com todos os outros cristãos, temos um vínculo espiritual. Não é de admirar que um dos nossos hinos favoritos é: “Abençoado seja o laço que une nossos corações no amor cristão”; a camaradagem de mentes irmanadas é semelhante a “É gostar do que está acima”. Não é de admirar que o serviço da comunhão com companheiros cristãos de toda uma região ou de uma nação parece particularmente poderoso e comovente.

Membro de toda a Igreja

Crença e prática formam realmente uma indústria singular. No século XIX e no início do XX, quando o movimento missionário entre os presbiterianos tinha começado para valer, as congregações vibravam com os relatórios (relatos) vindos das pessoas mandadas por estas congregações para servirem em outras terras. Penso honestamente que a vitalidade para os cristãos americanos veio em grande parte da alegria que partilhavam por ajudar a levar o Evangelho para outras terras. Obs. A Igreja Presbiteriana no Brasil é fruto do trabalho mis-sionário da Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos da América. Ashbel Green Simonton

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chegou ao Brasil em agosto de 1859, dando início ao trabalho presbiteriano em nossa pátria. Registro do adaptador).

Uma das minhas histórias favoritas refere-se ao trabalho de William Sheppard e William Mc-Cutchen Morrison na África. Sheppard, um dos primeiros ministros negros da igreja presbi-teriana, U.S. e Morrison, que se graduou no seminário no qual agora sirvo, juntos traduziram o evangelho para as línguas de diversos grupos tribais diferentes ao longo do rio Congo. Enquanto evangelizavam encontraram a opressão do rei Leopoldo da Bélgica, que cobrava impostos exorbitantes do povo e cujos representantes no governo colonial permitiam a tortura de tribos que não quisessem ou não pudessem pagar. Sheppard e Morrison escreveram para cristãos americanos e para outros, especialmente para presbiterianos; os dois missionários foram processados por calúnia e difamação pelo rei. Seu julgamento numa recém criada Corte Mundial permitiu que as atrocidades fossem documentadas para a mídia. Como resultado a grande opressão foi diminuída, ainda enquanto as tribos aprendiam sobre Jesus Cristo, seu Messias.

Eu tenho de acreditar que Harriet Hilley, Sheppard, Morrison e todo o resto, de várias ma-neiras, estão ajudando os cristãos da América a cooperar com os cristãos da África Central. Estamos ligados aos cristãos de lá de um modo especial. Pessoalmente tenho grande interesse pelo Zaire e suas igrejas, em parte pelo fato de outros membros da igreja mais ampla terem estado e estarão materializando (dando forma) o meu interesse e minhas orações lá.

Pense hoje nos cristãos na Coréia, muitos dos quais são presbiterianos, que estão trazendo o evangelho para colegas daqui de maneiras de algum modo diferentes das nossas próprias. Eles enfatizam um pequeno grupo de estudo da Bíblia, o que deveria ser uma ênfase que nós, americanos, melhor faríamos se usássemos. Eles se levantam quando necessário para procla-mar os direitos do povo cristão e de outros cidadãos de se reunirem para falar livremente. Al-guns líderes cristãos passaram recentemente algum tempo na prisão. Entidades internacionais que investigam rigorosamente os relatórios sobre a opressão dizem que recentemente cristãos foram torturados lá. Nós, cristãos americanos, estamos ligados fortemente a eles enquanto evangelizarem e testemunharem.

Nós, presbiterianos americanos estamos ligados, através do trabalho do Espírito de Cristo, aos fi éis do mundo todo. Esta identifi cação nos causa tristeza quando outros sofrem, e alegria quando outros a experimentam. Naturalmente não podemos saber acerca de todas as outras comunidades cristãs e trabalhos de caridade. Por meio de missões internacionais e organiza-ções de serviço nós ajudamos os outros e eles nos ajudam. Não é de admirar que os presbite-rianos tenham sido os patrocinadores do Conselho Mundial de Igrejas e do Serviço Mundial de Igrejas, que é uma de suas organizações de ajuda. Também não é de admirar que sejamos os patrocinadores da Aliança Mundial de Igrejas Reformadas, uma organização de todos os presbiterianos, congregacionalistas e outros assim chamados corpos “Calvinistas”.

Algumas vezes, quando cristãos em outras terras têm perspectivas diferentes quanto a neces-sidades e maneiras de ajudar, cristãos americanos têm sido rápidos na crítica a tais organiza-ções. Sem dúvida que o Conselho de Igrejas comete erros, do mesmo modo que cremos que a nossa própria Assembléia Geral é passível de erro, do mesmo modo que acreditamos que nós

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próprios não somos perfeitos nesta vida. Pessoalmente, encontro algum consolo em saber que o Conselho Mundial das Igrejas, pelo Serviço Mundial da Igreja com seu serviço (trabalho) enfrenta as necessidades das pessoas famintas no Chade, Somália ou onde quer que existam pessoas famintas. Fico radiante porque uma parte do dinheiro que eu contribuo para a igreja presbiteriana, pequena como possa ser a minha contribuição, é usada pelo Serviço Mundial da Igreja. De fato, sinto que nossa própria família deveria estar fazendo uma contribuição maior para o trabalho. A recomendação de Jesus para nós cristãos para sermos “testemunhas” no mundo foi muito clara. “Vocês serão minhas testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confi ns da terra” (Atos 1.8). Algumas vezes penso estar em Jerusalém, outras na Judéia, outras na Samaria e outras ainda nas partes mais distantes da terra. Onde quer que eu esteja sei que em todos estes lugares é para ser testemunha. Pessoas da Igreja Presbiteriana Ancoragem, como outras através de toda a América, estão, agora, via-jando por todo o mundo.

Alguns, tais como John Fishbach em nossa congregação, viajarão de fato freqüentemente para a Arábia Saudita, Israel e outras nações do oriente próximo. Muitos outros de nós se encon-tram em outros países a trabalho, por diversão (passeio) ou por ambos os motivos. Parece que todos nós, quer viajemos de fato pessoalmente para vários países ou mantenhamos lá pessoas que nos representem, partilhamos deste testemunho de alcance mundial – numa escala nunca antes alcançada na história humana.

Pense em nossas responsabilidades como cristãos, tanto indo para várias regiões (países) quanto participando em missão mundial e em atividade de serviço. Ainda assim nem todos os presbiterianos concordam quanto às maneiras pelas quais podemos testemunhar. Estou lembrando de uma ocasião em que eu e minha esposa estávamos ajudando uma enfermeira em uma clínica infantil (clínica para o bem estar de criancinhas) no Zaire. Atendíamos a duas fi las de pessoas quando as mães traziam seus bebês para tomar pílulas contra malária. Minha mulher e eu apenas dávamos as pílulas às mães e aos bebês. A enfermeira, na outra fi la, dizia a cada mãe: “isto vem da igreja para você e seu fi lhinho. Vá em nome de Jesus Cristo”. Aquele dia pareceu um tipo de microcosmo de testemunho cristão, alguns de nós explicitamente ci-tando Cristo e falando às pessoas acerca da fé enquanto outros de nós testemunhávamos pela ação sem necessariamente dizer palavras sobre Jesus Cristo. Nós, presbiterianos, temos uma história de testemunho em ambos os casos. Alguns de nós são mais inclinados para um ou outro estilo de testemunho cristão. Eu realmente espero que o fato de pertencermos à igreja mundial inclua ambas as áreas de testemunho (e muitas outras mais) quando viajarmos a tra-balho ou por diversão para vários países e quando participarmos com aqueles que participam (cooperam, comungam) de missões aqui e além fronteiras.

Membro da Igreja Local

Nossa comunidade cristã local não é mundial (não está espalhada pelo mundo). Em verdade ela está perto e à mão. Devemos ter cuidado para não agirmos como um personagem de uma das peças de George Bernard Shaw que sempre comparecia a encontros em favor de pessoas do outro lado do mundo, enquanto a sua família caía aos pedaços. Nossa própria família e as famílias de nossa igreja merecem atenção, quando consideramos o que signifi ca ser presbi-teriano. Como pudemos ver nas ilustrações da Igreja Presbiteriana de Ancoragem, muitos de

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nós têm diferentes interesses e dons.

Elsie Robinson, que fala com profundidade sobre confi ar em Deus, diz ser relutante quanto a falar em público, mesmo assim é de real ajuda para mim e, sem dúvida, para muitos outros membros. Wayne Perkey, que lidera nossa Classe de Debates, não hesita em falar em pú-blico.

John Fishbach, que representa Jesus em muitas nações e entre muitas pessoas, não é capaz de ser membro regular de um comitê (comissão). Cada um de nós tem habilidades diferentes, Lan Arendson e Herb Bell são bons em matérias fi nanceiras, como também o são Ruth Ann Boklage e David Haney. Kay Von Deylen assumiu uma grande parcela de responsabilidade ajudando as famílias de refugiados do Laos, que acolhemos e damos proteção. E Jamie Meyer pode ser “apenas um estudante de segundo grau” mas tem a melhor voz para leitura (e de baixo, no coro) que a de qualquer um de nós. A organização das mulheres faz coisas que out-ros de nós não podem fazer. Também é assim a liderança do “Leituras para os Incapacitados”. E assim, juntos, formamos uma congregação.

Nós, presbiterianos, pertencemos à igreja universal e a congregações locais. Complementan-do as crenças que partilhamos sobre este fato (discutido no capítulo 4), partilhamos também uma dependência mútua. Algumas vezes eu pessoalmente sou movido emocionalmente pela sensação de que todos cooperamos para estarmos juntos naquilo em que nenhum de nós pode-ria estar individualmente. Quando um membro da congregação necessita de ajuda, as pessoas tomam conhecimento e ajudam. Pode não ser as mesmas pessoas todas as vezes, pois muitos de nós somos mais próximos de algumas famílias e indivíduos do que outros. Parece haver alguns “que jogam em todas as posições” em nosso time congregacional, tais como Loetta Hopkins e Nancy Durham, que parecem escolher aquelas pessoas das quais ninguém está cuidando; e elas vão e cuidam delas. (Exemplos podem multiplicar-se em cada comunidade. Obs. do adaptador)

Agora, novamente como em todos os pontos, nós, presbiterianos, lembramos que as igrejas se compõem de pessoas pecadoras, mesmo enquanto servimos a Deus e à criação de Deus. Em Ancoragem, como em todas as congregações, muitos parecem não suportar sua parte da carga. Muitos outros poderiam fazer mais do que fazemos. “Nenhum de nós é certo (correto) exceto Cristo, nosso Senhor”. Mesmo que os presbiterianos não sejam obrigados (forçados) a executarem uma certa quantidade de trabalho numa igreja local, as necessidades da con-gregação e os dons próprios de cada membro logo se tornam aparentes. É responsabilidade dos presbiterianos participar da vida de uma congregação local tanto quanto participamos da igreja universal.

Tempo, Talento e Dinheiro

De forma tradicional nós, presbiterianos, temos expressado nossa responsabilidade em termos de tempo, talentos e dinheiro. Como nós reconhecemos que toda a vida, fé, amor e outros dons são dádivas de Deus, assim também reconhecemos nossa responsabilidade de retribuir com uma parte do que nos foi dado nestas áreas.

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Os cristãos reformados se lembram de que o dízimo foi extremamente importante na vida do povo de Israel. Ainda que Jesus tenha vivido, morrido e ressuscitado cumprindo uma lei que nós não podíamos cumprir, vemos a devolução de um décimo daquilo que Deus nos dá como um bom ponto de partida para a vida cristã. Presbiterianos de outras gerações e hoje, em out-ras culturas, usam o dízimo como uma medida natural (coisa normal e corriqueira).

Outros apontam para diferentes necessidades do povo durante estágios variados da vida e argumentam que é melhor uma medida mais fl exível. Uma pessoa poderia destinar uma parte de seu patrimônio para o trabalho da igreja, por exemplo. De qualquer maneira que nos seja possível os presbiterianos devem participar do trabalho da igreja com a doação de partes sig-nifi cativas de seu dinheiro (ou do seu rendimento).

Talvez a doação de tempo e de talentos seja até mais importante. Quase toda congregação pos-sui muitas pessoas de imenso talento e habilidade. Pense no que a igreja local poderia ser se cada um desse de acordo com sua habilidade, interesse e rendimento, tanto para a igreja local quanto para a igreja universal (mundial)! Igrejas presbiterianas em outras terras podem estar, agora mesmo, como muitas usualmente estão, procurando por homens e mulheres desejosos de ser impressor, fazendeiro, consultor de negócios, arquiteto, médico, professor, enfermeira ou ministro por um período de tempo. Um homem, mulher, casal ou família pode servir a um outro corpo cristão ou um ministério ecumênico por um período determinado de tempo, hoje. Algumas igrejas querem especialmente aquele tipo de serviço. Novamente, nossa congrega-ção e todas as outras que conheço amariam ter mais ajuda de membros hábeis (habilitados) em áreas particulares do ministério. Ser presbiteriano é considerar com a igreja quais as áreas de talentos e compromisso de tempo podem ser usados para as necessidades do trabalho da igreja.

Oração

Nossa vida de oração é outra parte do fato de pertencermos à igreja, quando isto ocorre na adoração corporativa. Nossas ligações espirituais com outros cristãos em nossa localidade e por toda a terra são compartilhadas em nossas orações. Como presbiterianos temos uma tradição de orarmos juntos, mas não deixamos qualquer pregador ou ministro fazer todas as nossas orações por nós. A oração corporativa é suplementada pela oração pessoal, particular.Jesus tinha muitas coisas para dizer acerca da oração, tais como o fato de devermos ser modes-tos com nossas palavras e frases (Mateus 6.5-6). Ele deu também um exemplo de oração, o qual nós, protestantes, seguimos em versão diferente da dos católicos. Mas, para explorar as possibilidades da oração seria necessário um outro livro, e devemos considerar rapidamente outras coisas mais típicas do mundo no nosso compromisso presbiteriano – cidadania, por exemplo.

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Capítulo 10

Obedecer à Lei

“Sim, estamos trabalhando bastante na linha de costura”. Peyton Hoge, o prefeito de Ancora-gem estava falando para a nossa classe de Debates na Escola Dominical. Ele é um membro da igreja e periodicamente é convidado para nos falar acerca dos problemas mais importantes da comunidade, o propósito de reorganizar o governo municipal e outras matérias políticas. Muitos dos membros da congregação vivem na pequena cidade de Ancoragem, mas mesmo aqueles de nós que não vivem propriamente na comunidade sabem a importância de sua pre-sença conosco. A polícia precisa de um aumento de salários? A ponte sobre um dos riachos da cidade é insegura? Quais problemas ou demandas o estado vai enfrentar no próximo ano? Peyton é entendido de todas estas coisas. Peyton Hoge é o único político que fala conosco na igreja. De tempos em tempos o deputado estadual que nos representa comparece a um jantar da igreja, ou os candidatos a cargos políticos são convidados a debater em um fórum da igreja. Muitos de nós vemos a cidadania responsável na nação e na comunidade como uma parte do nosso compromisso cristão. Muito freqüentemente voam faíscas quando alguns de nós argumentam a necessidade de melhores escolas, enquanto outros combatem novos impostos. Novamente, não estamos todos de acordo quanto ao preço de alimentos, ajuda aos estudantes do colégio, a estrutura de bem-estar, critérios para as eleição ofi ciais, e em outras áreas sig-nifi cativas de tomada de decisões políticas. Ainda assim estamos desejosos de ouvir pessoas conhecedoras (peritas) para descreverem seus pontos de vista.

Eu me aventuraria a dizer que todos nós da Igreja Presbiteriana de Ancoragem queremos obedecer à lei. Mais que isto, procuramos pertencer a uma sociedade civil como cidadãos maduros e ativos. O que existe na fé reformada que alimenta (encoraja) tal compromisso? É uma postura diferente das de outras entidades cristãs na nossa cidade, estado ou país?

Dar a César

Historicamente, os cristãos têm sido “bons cidadãos” na maioria dos lugares (terras, países) desde o tempo de Constantino. Jesus referia-se freqüentemente ao assunto, dizendo: “Daí pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22.21). Ele falou do paga-mento a um governante colonial das moedas cunhadas pelo governo colonial. Desde cedo, no século IV, os cristãos do ocidente foram o povo favorecido pelo Estado quase o tempo todo. Quando os bárbaros devastaram Roma, podem ter destruído uma parte da civilização, mas eram tão cristãos quanto o foi o povo que derrotaram. Quando ocorreu a Reforma, vários partidos podem ter chamado cada outro de “Pagãos”, mas, de fato, protestantes de vários tipos estavam combatendo os católicos – todos, pelo menos nominalmente, cristãos.

Líderes da Reforma na Suíça, França, Alemanha, Inglaterra, Escócia e Holanda e em outros lugares desejavam que a sua fé fosse a fé estabelecida do país. Mesmo nas colônias america-nas, os Puritanos zelosamente guardavam “a cidade estabelecida sobre a colina”, com status privilegiado em muitas das colônias da Nova Inglaterra. Quando os primitivos presbiteria-nos vieram para a América procedentes da Escócia e da Irlanda do Norte, esperavam obter condição privilegiada no novo mundo devido à sua fé.

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Desde a Guerra Revolucionária e a formação de denominações religiosas voluntárias – Prot-estantes, Católicos, Judeus e outros – os Estados Unidos têm experimentado um novo modelo de relacionamento com as Igrejas (com a comunidade das Igrejas). Nós, presbiterianos, hoje, nos Estados Unidos, somos herdeiros de toda esta história e ela tem uma ligação com o nosso pensamento quanto à política e responsabilidade social. Muitos estudiosos argumentam que o nosso Calvinismo tem um efeito também em nosso senso de economia (fi nanças).

Desde pelo menos o século V, os cristãos temos percebido pertencer a duas “cidades” mutua-mente dependentes, ainda que não idênticas. Uma cidade é a dos “seres humanos” na qual nada é perfeito. Ainda assim na cidade humana a vida pode ser mais justa algumas vezes que em outras. A outra cidade é a cidade de Deus, à qual nós pertencemos, mas ainda não habitamos nela. Assim o reino de “César” foi interpretado como alguma coisa na qual temos cidadania, bem diferente da situação na qual Jesus e os discípulos falaram sobre política. O “Reino de Deus” teve seu início na igreja universal apesar dos crentes na terra não serem a mesma coisa que a “comunhão dos santos” no céu.

Na América, onde Thomas Jefferson cunhou a frase, “uma parede de separação” tem existido parcialmente entre igreja e estado e os reinos têm sido vistos algumas vezes como mutua-mente excludentes.

Ocasionalmente mesmo os presbiterianos têm visto o espiritual como não tendo qualquer relação com o político, especialmente enquanto a doutrina da “espiritualidade da igreja” se desenvolvia no sul. Essa frase “uma parede de separação” veio a ser largamente usada no sé-culo XIX. Alguns presbiterianos foram até mais longe, argüindo como os Menonitas e alguns batistas que os cristãos deveriam se afastar do mundo, que é “vale de lágrimas”. Houve quem se recusasse a votar em eleições políticas pelo fato da América não ter reconhecido Jesus Cristo como Senhor da terra.

Na maioria, entretanto, os presbiterianos estiveram vitalmente envolvidos como os deveres da cidadania. A maioria uniu-se às fi leiras dos revolucionários no tempo da independência e ainda assim alguns bons presbiterianos se colocaram ao lado da Grã-Bretanha e até mesmo lutaram para a América continuar colônia. Um presbiteriano, John Witherspoon, foi o único membro do clero a assinar a Declaração de Independência. Um membro do Parlamento Britânico es-creveu para casa durante a guerra para dizer que “era uma rebelião presbiteriana”.

Após a formação dos Estados Unidos, os presbiterianos serviram em quase todas as funções eletivas do país. Vários presidentes, incluindo Woodrow Wilson, foram ativos presbiterianos. Numerosos membros da Suprema Corte, membros do Congresso em maior proporção que outras denominações) e vintenas de governadores foram presbiterianos.

Os presbiterianos, na sua maioria, viram o governo civil como um reino (poder) separado da igreja. Entretanto, temos geralmente visto a lei como uma boa infl uência na vida civil. Temos considerado que os governos deveriam proteger a liberdade das pessoas de se reunirem para expressarem suas crenças religiosas. Também consideramos que as igrejas não devem contro-lar os governos. Antes, pelo fato de todas as instituições conservarem um grau de pecaminosi-

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dade humana, sistemas de checagem e balanços tanto na igreja quanto no estado e entre igreja e estado, são saudáveis.

Em décadas anteriores, os católicos romanos usualmente não sustentavam uma tal posição quanto à igreja e o estado, tendo freqüentemente vindo para a América provenientes de nações nas quais existia uma igreja do estado. Quando os católicos americanos clamaram por liber-dade religiosa receberam bastante abertura quanto ao pensamento acerca da independência legítima da igreja e do estado. Luteranos, Metodistas e Episcopais também têm comungado de posição similar à dos presbiterianos.

Alguns batistas, especialmente os membros de associações mais fechadas, parecem achar que a igreja deveria dominar assuntos políticos. Os membros da Convenção Batista Americana, em sua maioria batistas do sul e quase todos os Batistas Nacionais, conservam a tradição de desejar a separação entre a igreja e o estado, com mais força ainda que os Presbiterianos.

O Terceiro Uso da Lei

A igreja reformada, por seus membros, tem partilhado um ponto de vista particular quanto à utilidade da lei para os cristãos e para a sociedade. João Calvino, cuja interpretação dos usos da lei diferia da de outros reformadores, disse que Deus deu lei por três razões: 1ª - Trazer o eleito para a salvação pelo arrependimento, pelo trabalho do Espírito Santo; 2ª - Para conter (controlar) aqueles que buscam fazer o mal e pouco se importam ou nem ao menos se impor-tam com justiça e misericórdia e 3ª - Para ensinar aos devotos (pios, religiosos) “a natureza da vontade de Deus”. (Institutas 11:7 a 12).

Martin Lutero, e outros líderes da facção radical (Anabatista) da reforma e muitos que se tor-naram protestantes fora da infl uência de Calvino, meramente contrastavam lei e evangelho. Deus deu a lei que foi quebrada pelo povo de Israel e pelo resto da humanidade. Então Deus deu Jesus Cristo para salvar aqueles que dependessem mais dEle que de sua própria habili-dade para manter a lei. Lutero colocou lei contra evangelho. Calvino dizia que a lei continua a funcionar positivamente para os crentes, como um mestre (instrutor, professor) para todos nós. Esta ênfase no “terceiro uso da lei” tradicionalmente distingue os presbiterianos e outros cristãos reformados do resto do protestantismo.

Calvino seguiu os ensinamentos do Apóstolo Paulo enfatizando o “terceiro uso” como Lutero seguiu Paulo contrastando lei e evangelho. Em Gálatas, para citar apenas um exemplo do uso por Calvino da Bíblia, Paulo disse, “Porque toda a lei se cumpre numa só palavra, nesta: Ama-rás ao teu próximo como a ti mesmo. Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não vos consumais também uns aos outros” (Gálatas 5.13 a 15). Novamente, Paulo disse um pouco depois, “Levai as cargas uns dos outros e assim cumprireis a lei de Cristo”. (Gálatas 6.2). Calvino seguia também a declaração de Jesus que Ele tinha vindo mais para cumprir do que para abolir a lei.

Assim, não é de admirar que João Calvino e outros depois dele tenham dispensado tanta aten-ção aos Dez Mandamentos. As confi ssões clássicas das igrejas reformadas, como o Catecismo de Heidelberg, a Confi ssão de Westminster e o Catecismo Ampliado e Condensado esmiúçam

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cada um dos mandamentos e o Westminster Standards diz o que cada mandamento signifi ca isoladamente. As primitivas congregações reformadas em cada serviço (culto, cerimônia) do Dia do Senhor destinavam algum tempo para recitarem os dez mandamentos. Afi nal de contas, quando o jovem rico perguntou a Jesus acerca de ser salvo o que Jesus respondeu primeiro? Ser cristão entre os primeiros presbiterianos signifi cava estar livre da dependência da lei para a salvação. O trabalho do Espírito Santo na vida dos crentes habilitava os seguidores a chegar mais perto da obediência.

Os presbiterianos e a maioria dos outros protestantes dividem os Dez Mandamentos em dois blocos de quatro e seis, os primeiros quatro tratando da obediência a Deus e os seis últimos do amor ao próximo. Católicos, em contraste, os dividem em blocos de cinco e cinco, incluindo obediência ao pai e à mãe entre os que tratam de Deus. Quase todos os cristãos entenderam que a lei moral permanece para as pessoas após a vinda de Jesus Cristo; apenas a lei cerimo-nial deixou de ser aplicada no novo tempo.

Esta atenção com a lei como um guia (professor) para os corretos e os redimidos tinha, natu-ralmente, relação com certas leis civis para os presbiterianos. Os cristãos reformados, por exemplo, ouviram o mandamento para “Lembra-te do dia de Sábado para o santifi car” (Êxodo 20.8).

No século XVI, cristãos reformados começaram a punir com alguma severidade “os que que-brassem o dia de sábado”. Esta idéia de um sábado Puritano, no qual o governo civil fi zesse regras mantendo o “Dia do Senhor” foi muito importante também na América. Ainda hoje muitos estados proíbem a venda de álcool durante algumas horas nos Domingos e muitos governos locais têm regras mais severas sobre atividades nos domingos. Todas estas “leis azuis” mais importantes há alguns poucos anos mais do que o são hoje, se originaram do sentimento do poder da lei moral sobre na sociedade. Especialistas estão estudando o impacto da “visão do mundo, de Calvino” (calvinista) na formação do caráter americano. Alguns di-zem que nenhuma outra idéia foi mais signifi cante do que esta visão do mundo, mesmo que a maioria das pessoas não reconheçam a sua fonte (origem).

A Lei Mais Alta

Como quase todos os outros povos religiosos, os presbiterianos reconhecem que a lei humana tem limitações. Mesmo uma lei bem elaborada e bem cumprida, como lei humana não propor-cionará justiça perfeita. Nem pode injetar misericórdia num sistema social. Freqüentemente, as leis humanas não chegam a ser elaboradas e são aplicadas injustamente. Os cristãos re-conhecem que a lei de Deus transcende a lei humana. Os presbiterianos estão mais desejosos que a maioria dos cristãos obedeça a “Lei Mais Alta” devido às nossas crenças acerca da pecaminosidade das pessoas e o dever da fé.

Paulo falou da “Lei Mais Alta” como a lei do amor, “um caminho ainda mais excelente”. (1 Coríntios 12.31). Ele estava disposto a ser preso em conseqüência do seu trabalho mission-ário que ia de encontro à lei como era interpretada pelos magistrados locais. De fato, toda a tradição cristã está repleta de pessoas que defendem a lei mais alta, contra as leis humanas opressivas, do mesmo modo que a tradição está cheia de cristãos protestando contra seus co-

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legas que proclamavam a “Lei Mais Alta” como uma base para ação.

Note-se que todo cristão que trabalhou em favor da revolução, incluindo os presbiterianos que lutavam por um Estados Unidos da América independente, reivindicava submissão “ À mais alta lei de Deus”. Com o passar dos anos, diferentes pontos de debate tornaram-se parte da reivindicação presbiteriana pela autoridade da “Lei Mais Alta”. Durante a luta pela Proibição (não vender bebidas alcoólicas) presbiterianos abstêmios algumas vezes fecharam ilegalmente bares em nome da lei mais alta. Durante a luta pelos direitos civis alguns pres-biterianos desobedeceram leis favoráveis à segregação. Hoje muitos presbiterianos invocam a “lei mais alta” para sonegarem impostos destinados a apoiar o desenvolvimento de armas nucleares. Em cada caso, outros presbiterianos têm acusado estas pessoas de serem “desobe-dientes”.

Enquanto que por causa da nossa tradição reformada podemos ver claramente nossa respon-sabilidade de obedecer à lei, vemos também a tradição da desobediência civil como uma parte de nosso dever, algumas vezes. Perceber a natureza da obediência não é simples para os presbiterianos, nem para qualquer cristão que entenda nossa dupla cidadania – na cidade de Deus e na cidade humana. Freqüentemente, os presbiterianos de diferentes experiências passadas variadas foram intolerantes uns com os outros. Alguns de nós se irritam com a im-paciência de justiça e misericórdia. Haverá espaço, tanto quanto seja possível, para nossas diferenças enquanto buscamos obedecer a lei?

Todos os presbiterianos reconhecem que nenhum de nós possui retidão perfeita. Nós todos “vemos por um vidro enfumaçado” quando tentamos ser obedientes.

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Capítulo 11

Antecipar o Reino

O serviço em memória de Helen Sherrill foi uma ocasião especial. Reunimo-nos, idosos e jo-vens, liderados por John e um antigo (ex) ministro da Igreja Presbiteriana de Ancoragem para agradecer pela sua vida e compartilhar lembranças dela com os membros de sua família. A senhora Sherrill foi membro da Presbiteriana de Ancoragem por várias décadas, e seu marido freqüentava fi elmente com ela por anos antes de sua morte. Ela era uma especialista em de-senvolvimento de criancinhas (pré-escola, jardim de infância) e doou energia incontável nos esforços da congregação pela educação cristã. Foi uma trabalhadora incansável em favor da Casa para Crianças Bellewood, também. Quando as mulheres se tornaram elegíveis para serem ordenadas como presbíteras, ela foi uma das primeiras. A maior parte do seu tempo ela, fi elmente, estava cuidando das crianças com amor e alimentação e cuidando dos necessitados e acolhendo os estranhos calorosamente.

Helen Sherrill viveu uma antecipação do Reino de Deus, ao qual ela esperava pertencer en-quanto estava entre nós. Quando morreu, sentimos profundamente sua falta entre nós, pois mesmo numa enfermaria ela conservou seu humor e buscou ajudar os que estavam com ela. Sem dúvida que sentiríamos a sua falta! Entretanto, sabíamos na segurança da nossa fé ga-rantida pelo Espírito Santo, que Helen Sherrill juntara-se fi rmemente ao Reino ao qual ela já pertencia. Nosso serviço de adoração era um “Testemunho da Ressurreição”. Reunimos suas crianças, outra família e amigos de longas datas para afi rmarmos o poder da ressurreição em Cristo, de Helen e de nós próprios.

Em nossa afi rmação da autoridade da Bíblia e seguindo as confi ssões das comunidades cristãs reformadas nós, presbiterianos, cremos que Deus cuidará de nós após a morte como Deus tem suprido nossas necessidades durante a vida. Jesus Cristo disse muitas coisas sobre a natureza da vida eterna e os credos da igreja têm também mencionado a ressurreição. Afi rmação de salvação, segundo João Calvino, foi um dos benefícios de Cristo em nosso favor. A predes-tinação divina dos eleitos foi outra.(Consideramos que Deus a todos predestinou para a vida eterna - obs. Do adaptador). Todas estas crenças juntas buscam descrever nossas visões da re-alidade além da vida terrestre, humana. Tudo isso é muito importante para os presbiterianos.

Vida Eterna na Bíblia

“O Senhor é meu pastor, nada me faltará ... Ainda que eu andasse pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque Tu estás comigo” (Salmo 23:1 e 4). Muito antes da vinda de Jesus, o povo de Israel considerava eterna a providência de Deus. Salmos de perío-dos diferentes na história de Israel atestam a continuidade da sua fé.

Jesus, de fato, ensinou mais acerca da vida eterna e disse especifi camente aos discípulos que a providenciaria para eles. “Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim tem a vida eterna” (João 6:47). Outra vez Jesus falou para Marta, “Eu sou a ressurreição e a vida, aquele que crê em mim ainda que esteja morto viverá”. (João 11:25). As narrativas nas quais cada uma destas citações ocorreu falam de vida eterna e da ressurreição como parte dela.

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Jesus também falou freqüentemente acerca do “reino dos céus”. Muitas das parábolas falam acerca de como é o reino – Um semeador de boas sementes que separa, na colheita, o trigo do joio após um inimigo semear sementes daninhas (Mateus 13:24 a 30); um grão de semente de mostarda (Mateus) 13:31 e32); fermento no pão (Mateus 13:33) e um mercador de pérolas fi nas encontrando uma de grande valor (Mateus 13:45 e 46).

O reino do céu, como Jesus o descreveu, não seria inteiramente de outro mundo. Ele disse que começava nos corações das pessoas e a vida na terra tinha muito a ver com ele (o reino do céu). Por outro lado, o reino do céu não era apenas uma parte deste mundo. Tinha a ver com a eternidade, com a vida eterna e com a ressurreição.

Jesus dirigiu-se a seus discípulos com uma promessa: “Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim. Na casa do meu Pai há muitas moradas; se assim não fosse eu vo-lo teria dito: Vou preparar-vos lugar. E se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez e vos levarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também”. (João 14:1 a 3).

A igreja primitiva ouviu a promessa e alguns pensaram que Jesus voltaria dentro do período de suas vidas, trazendo seu reino do céu. Isto causou muita hesitação e incertezas quando crentes morreram. Paulo escreveu muitas de suas epístolas para, pelo menos em parte, enfren-tar esta situação. Aos Coríntios, por exemplo, Paulo disse que o evangelho dependia (estava sujeito) da ressurreição de Jesus. “Porque primeiramente vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as escrituras e que foi sepultado e que res-suscitou ao terceiro dia, segundo as escrituras”. (Coríntios 15:3). Se cristo ressuscitou, Paulo argumentava, como podiam as pessoas pretender que não houve ressurreição alguma? Caso Cristo não houvesse ressuscitado, então o evangelho estaria errado (seria falso) em seu âmago (em sua essência). ”Mas agora Cristo ressuscitou dos mortos e foi feito as primícias do que dormem.” (1 Coríntios 15:20).

Algumas vezes a Bíblia fala um pouco sobre a natureza da vida eterna. Não haveria casamento, Jesus disse a uma pessoa que tentava confundi-Lo (Marcos 12:25). Haveria um julgamento, de acordo com muitos escritos que trazem a palavra de Jesus. A vida seria bem diferente. Liv-ros apocalípticos, tais como o Livro da Revelação, nos dão um quadro resplandecente: (Livro da Revelação = Apocalipse)

“E vi um novo céu e uma nova terra. Porque já o primeiro céu e a primeira terra passaram e o mar já não existe. E eu vi a santa cidade, a nova Jerusalém, que de Deus descia do céu, adereçada como uma esposa ataviada para o seu marido. E ouvi uma grande voz do céu, que dizia: Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, pois com eles habitará e eles serão o seu povo e o mesmo Deus estará com eles e será o seu Deus.” (Apocalipse 21:1 a 4)

O Apocalipse, como outros livros apocalípticos, fala por símbolos mais vagos que aqueles em outras partes da Bíblia, fala de um céu com portões e pérolas e rua de ouro, de corais de anjos e da queda do mal cósmico. Mas toda a linguagem é simbólica, até um certo ponto, e os leitores reformados da Bíblia têm sido, usualmente, hesitantes para falarem muito sobre a

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natureza da ressurreição, vida eterna ou do restante dos resultados da salvação. Na verdade a maioria dos cristãos tem se mantido modesta (retraída) quanto a tais matérias e com boa razão.

A Ressurreição dos Mortos

Em um dos seus credos mais antigos, o Credo de Nicéia, ou Niceno, a igreja dizia simples-mente que Jesus “Levantou-se de novo de acordo com as escrituras, e subiu ao céu e se sen-tou à direita do Pai”. Jesus virá novamente com glória para julgar tanto os vivos quanto os mortos, cujo reino não terá fi m”. O Credo de Nicéia termina com uma simples sentença: “E nós buscamos a ressurreição dos mortos e a vida do mundo por vir”. Credos subseqüentes (posteriores) não têm acrescentado muito para o entendimento da natureza da ressurreição ou da vida no reino do céu.

Desde bem lá na sua origem, o cristianismo se movimentou em uma sociedade na qual as idé-ias gregas dominavam o pensamento e a língua grega partilhava com o latim o palco central da comunicação.Tanto no caso dos debates da igreja quanto à natureza de Jesus Cristo como divino e humano, quanto no caso da vida após a morte, culturas diferentes usavam variadas expressões para descrevê-los.O pensamento grego geralmente enfocava a imortalidade da alma.Tal vida eterna havia sido ensinada por fi lósofos séculos antes da vinda dos missionários cristãos. Logo e pela maior parte da história cristã, a ressurreição do corpo e a imortalidade da alma eram vistas como sendo a mesma coisa. Recentemente, com o estudo de línguas e com a moderna fi losofi a, muitos tem contrastado estas duas expressões. Dizem que o cristianismo ensina a ressurreição dos corpos e não a imortalidade da alma. Pessoalmente eu posso ver uma pequena diferença nas expressões, uma vez que a ressurreição do corpo de fato torna mais compreensível que a pessoa toda está envolvida na vida eterna.

Os presbiterianos, sem dúvida, usam muitas e variadas expressões, incluindo “atravessar o Jordão”, “estar com Deus” e ver “face a face”. Todas estas e muitas outras, são boas metáforas bíblicas para falar acerca da vida ainda por vir. Fico feliz que nossa comunidade não se torne preocupada com especulação sobre a natureza da vida eterna e tal atitude parece estar em harmonia com a de João Calvino.

Calvino usou a imagem de Deus falando com um tipo de fala de criancinha conosco, não ap-enas no que se refere à ressurreição, mas em toda a Bíblia.

A variedade de imagens na Bíblia, dizia Calvino, não provava que Deus houvesse mudado. Mostra mais que Deus se acomodou à nossa limitada capacidade de sabedoria e de fé. (Insti-tutas 11:11,13). Em outras palavras, quando o povo considerava o mundo plano, com o céu sobre ele, a adaptação de Deus envolveu o uso de imagens que mostravam a verdade divina na visão limitada daquela época.

Nessa visão do mundo de um sistema solar em uma galáxia entre outros aglomerados de esferas signifi ca que a verdade de Deus vem até nós em uma linguagem que podemos com-preender, também. Do mesmo modo, os presbiterianos possuem muitas concepções diferentes quanto à natureza da vida eterna, ressurreição e até mesmo da salvação. Nós podemos aceitá-

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las sem ter de as impor aos outros. Nossa moderação é proveniente da nossa situação como uma pequena porção da população humana, num dos planetas médios, em um sistema solar bem pequeno. Tanto podemos afi rmar os ensinamentos da Bíblia quanto a tradição da qual partilhamos.

Predestinação

Mesmo com os presbiterianos hoje em dia, em qualquer lugar que eu vá, não fazendo alarde da “nossa doutrina”, ainda parece necessário, mesmo com a menção de Calvino, da vida eterna e dos ensinamentos da Bíblia, dizer alguma coisa sobre predestinação. Afi nal de contas esta é a primeira das idiossincrasias presbiterianas, ou não é?

• A primeira coisa sobre predestinação é que ela não se originou com João Calvino, com a “Confi ssão de Westminster” ou com os ministros grandiloqüentes. Ela vem da Bíblia. Paulo, bem no meio da epístola aos Romanos, diz sabermos que “todas as coisas contribuem junta-mente para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto”. Então Paulo continua usando a palavra: Porque os que dantes conheceu para serem conforme à imagem de seu Filho ... E aqueles que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a estes também justifi cou; e aos que justifi cou a estes também glorifi cou” (Romanos 8:28 a 30). Novamente, na epístola aos Efésios, Paulo disse que Deus nos abençoou, “Como também nos elegeu nEle antes da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreen-síveis diante dEle em caridade”.(Efésios 1:4).Paulo não pensou que estava dizendo alguma coisa fora do comum, pois ele e o resto dos primitivos cristãos acreditavam que tinham sido predestinados a seguir Jesus Cristo.

Além disso, através da história da igreja, até, no mínimo, o século XVIII, poucos líderes, se é que algum, deixaram de mencionar esta doutrina importante, muito menos que a tenham negado abertamente. São Tomás de Aquino, que infl uenciou e teologia católica mais, talvez, que qualquer outro, disse as mesmas coisas que Calvino sobre a predestinação. Assim, não foi novidade entre os cristãos reformados.

• Segundo, isto era considerado por Calvino como apenas um dos “benefícios de Jesus Cristo para nós”, lado a lado com oração, ressurreição e várias outras coisas. Calvino recon-hecia a armadilha que era lidar com a predestinação, mas dizia sentir-se compelido a seguir a Bíblia. O que Calvino evidentemente tinha como uma palavra de conforto, uma compensação quando as coisas eram particularmente difíceis, alguns pensadores reformados depois dele davam muita ênfase.

Calvino falou modestamente (com menos ênfase) sobre predestinação do que seus sucessores. Ele dizia que Jesus havia falado sobre carneiros e bodes no último julgamento, portanto Deus deve saber, desde antes de todo tempo, quais os salvos e quais os condenados. O que Deus sa-bia permanecia assunto de Deus; Calvino dizia que deveríamos tratar a todos como membros dos eleitos para a salvação.

• Terceiro, entretanto, pensadores reformados tinham orgulho da doutrina e algumas vezes diziam que a “predestinação se mostrava nas pessoas”. Parece-me exatamente ser isto o

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oposto do ponto (do que Jesus quis dizer) sobre carneiros e bodes, quando ambos os grupos e pessoas parecem surpresos! De qualquer sorte, diziam que as pessoas algumas vezes podiam julgar se uma pessoa estava predestinada à glória ou à destruição, apenas observando o cui-dado de Deus com esta pessoa na Terra.

Algumas passagens dos Salmos, por exemplo, dão suporte a tal pretensão. De qualquer modo, estes teólogos infl aram a doutrina da predestinação exageradamente e diziam que a crença na doutrina era essencial entre eles. Eles também descreviam Deus como juiz impassível, um re-trato rude que levou John Wesley a refutá-lo (a discordar, desaprovar). Wesley, que começou o movimento metodista na Inglaterra e na América, dizia que, antes de tudo, Deus é amor. Ele enfatizava os ensinamentos da Bíblia sobre graça preveniente (que nos leva à prática do bem – falando-se da graça divina), sobre a liberdade cristã e sobre o zelo de Deus na misericórdia. Os presbiterianos se contrastam frequentemente com os Armênios, que dizem depender mais do amor do que das leis divinas (eternas) no trabalho de providência (no serviço da providên-cia).

No princípio do século XX, os maiores corpos presbiterianos nos Estados Unidos, deram al-guns passos no sentido de tornar claro que a doutrina não era exagerada. Mudaram os padrões sob os quais existiam e o modo a falar de amor e da misericórdia de Deus. Hoje os presbite-rianos podem afi rmar (declarar solenemente) a liberdade cristã, um Deus de compaixão e se fazer ouvir por todo o mundo como os metodistas, se desejarmos.

Nós, presbiterianos, temos caracteristicamente continuado a fazer a leitura de toda a Bíblia. Nossas doutrinas e nossos estilos de vida devem supostamente refl etir esse fato. E alguns dos ensinamentos de Jesus, algumas das leis e profetas, epístolas e outros escritos na Bíblia proclamam coisas difíceis de ouvir. Nós, portanto, temos uma boa reputação entre os cristãos como um povo desejoso de ainda ouvir as “doutrinações”, aquelas acerca da pecaminosidade humana, do julgamento divino e do poder de Deus de realizar tal julgamento. Uma parte da origem do nosso esforço contínuo para ouvir “todo o evangelho” vem da atenção à predesti-nação.

Estes tópicos facilmente se tornaram mais complicados. Eu descobri isso mais uma vez, en-quanto tentava, recentemente, escrever sobre o Calvinismo, o Arminianismo e outros, em artigos de enciclopédia. Presbiterianos interessados podem procurar alguns dos bons recursos citados na seção “Para Estudo Mais Adiantado” (Avançado) para continuar a aprender sobre nossos entendimentos da ressurreição, predestinação e semelhantes. Agora precisamos olhar uma vez mais, juntos, para toda a indústria da fé.

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Capítulo 12

Crescer em Graça

Novamente, madrugadas (o raiar) das manhãs de domingo. Encontramo-nos no banco da igreja atrás dos Hilleys, pais de Harriet e também de John, que é formando no colégio. Atrás de nós sentam-se os James. A senhora Elliott está lá, bem como a maior parte das pessoas das quais eu tenho falado. Nossa pastora associada (auxiliar), Mary Morgan, se levanta para ler o evangelho e pregar. Ela lê do Evangelho e então nos faz lembrar de nossas tarefas (obriga-ções) para com as gerações mais jovens. “Caso nossas crianças freqüentem a igreja e ouçam uma coisa ensinada na Escola Dominical, mas vejam a instituição funcionando de modo bem diferente”, ela alertava; “existem chances que vejam o Cristianismo como um ideal ultrapas-sado” (consumido, gasto).

De um modo mais agradável, mais suave ela declara valorizar as tentativas feitas pelas pes-soas na Igreja Presbiteriana de Ancoragem no sentido de integrar fé e vida cristã. Vamos nos concentrar em educação cristã verdadeira? (real)? Ela nos desafi a. Com o trabalho do Espírito Santo, uma nova geração pode nos deixar um dia para servir a Cristo, partindo desta igreja.

Congregamo-nos também no estacionamento após a adoração, trocando novidades e per-guntando pela família. Também nos congregamos num passeio, numa carroça carregada de feno, juntos num lanche, num velório, numa reunião do comitê. Essa igreja particular (a igreja à qual pertencemos) busca, de muitas maneiras, aprender e fazer a vontade de Deus. O prédio de nossa igreja pode ter cupins, nosso velho órgão pode estar desafi nado e até nosso testemunho pode não ser o melhor. Ainda assim, somos uma Igreja Presbiteriana cuidando de suas obrigações. (seus negócios, assuntos). Algumas pessoas nos representam na assembléia da Igreja e também são nossos representantes no presbitério, junto com John e Mary, nossos ministros. Pelas nossas ofertas benevolentes, estamos ligados e unidos aos presbiterianos e a outros cristãos por todo o mundo – pessoas que buscam levar o evangelho a todas as nações. Pelas nossas orações e por nos importarmos, estamos unidos a muitas outras pessoas e a toda a criação de Deus.

Não é fácil manter a fé, não é fácil ver uma parte da nossa igreja se esforçando para alimentar pessoas famintas na Etiópia, ou ver um ministro no Lesoto batizando novos cristãos; não é fácil participar do compromisso de que ajudaremos a nutrir os convertidos, ver cristãos en-sinando no Japão, ver cristãos britânicos construindo um ministério televisivo (uma emissora de televisão para o serviço do ministério). Não é fácil abrir mão (desistir) de nossos próprios luxos para que outras das crianças de Deus possam ter o necessário para viverem. Também não é uma coisa simples tentar seguir Jesus no trabalho diário, ensinando às crianças a espe-rança da vinda do Reino de Deus, assim na terra como no céu. Ainda assim, nós, Cristãos da família Presbiteriana, buscamos fazer exatamente estas coisas. Almejamos crescer na graça, adorar a Deus amplamente e “caminhar o caminho enquanto falamos e falamos.”

Santifi cação

Observadores objetivos dos cristãos reformados que não têm experimentado a fé (não têm

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experiência, vivência) comentam freqüentemente o que chamam de “ironia” a nosso respeito. Como é que pode Presbiterianos e outros cristãos reformados afi rmarem crer em predestina-ção, providência divina, no Espírito Santo dando todas as coisas boas e não serem as boas obras de nenhuma ajuda na salvação? Ainda assim, e ao mesmo tempo, os cristãos reformados estavam e continuam a estar entre os mais intensos trabalhadores na proclamação do evan-gelho e na execução de boas obras. Como podem coisas serem tão diferentes e ambas serem verdade?

Nós, presbiterianos, podemos responder rapidamente que estamos apenas cumprindo nossa obrigação. (fazendo o que nos compete fazer). A fé reformada não tem lugar para o “Cristão perfeito” nesta vida, como tem o movimento de Santidade. Ainda assim, deveríamos trabal-har fervorosamente em favor da lei de Deus e do mandamento de Cristo. Jesus disse, “Se me amardes, guardareis meus mandamentos” (João 14:15). Pode qualquer cristão fazer menos que isto? Do mesmo modo, nós afi rmamos a “comunhão dos santos” tão fi rmemente quanto os católicos, apesar de não pensarmos que qualquer outro, exceto Jesus, possa ser mediador entre nós próprios e Deus. Ninguém, a não ser Jesus, tem todo este mérito. Os presbiterianos têm se referido à crença em que o Espírito de Deus habilita-nos para o bom trabalho como “santifi cação”. O catecismo Ampliado tem uma clássica declaração de doutrina, que diz:

“Santifi cação é um trabalho (uma obra) da graça de Deus, pela qual aqueles, a quem Deus, antes da fundação do mundo, escolheu para serem santos, estão no tempo, pela poderosa op-eração de seu Espírito, aplicando a morte e a ressurreição de Cristo em si próprios, renovando em seu corpo de homem a imagem de Deus; tendo as sementes do arrependimento em suas vidas, e todas as outras graças da salvação, colocadas em seus corações, e aquelas graças são ampliadas e fortalecidas, como se morressem mais e mais em pecado, e se erguessem na renovação da vida”. (Westminster Larger Catechism, A. 75)

Tem-se aí uma declaração compacta do signifi cado de santifi cação, a qual se relaciona com predestinação, justifi cação e o poder do Espírito. Santifi cação é um processo pelo qual os cris-tãos integramos, de fato, fé e trabalho (obras), mas nossa forma de viver (de vida) vem cada vez mais do Espírito de Deus.

O que signifi ca santifi cação? Signifi ca que crescemos em graça. Gradualmente enquanto praticamos disciplina e fé, estamos nos habilitando para ser cristãos melhores. Este é o tipo de vida cristã que Paulo orou para que os Colossenses fossem capazes de viver. Ele pediu “que sejais cheios do conhecimento de sua vontade, em toda sabedoria e inteligência espiritual, para que possais andar dignamente diante do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutifi cando em toda a boa obra e crescendo no conhecimento de Deus”. (Colossenses 1.9 e 10) Santifi cação signifi ca que nós “nos revestimos do Senhor Jesus Cristo” (Romanos 13.14).

Santifi cação signifi ca que “nossa luz brilha”, como está descrito no capítulo IV. Mas o propósi-to de tudo isto, segundo a fé reformada, não é fazer-nos bons e perfeitos. O ponto ou propósito é glorifi car a Deus, retribuir com uma vida tão boa quanto possível os dons do Espírito, a nova vida em Cristo, que nos foi concedida.

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Piedade

Entre os presbiterianos, a apalavra quase não é mais usada; mas a palavra “piedade” descreve bem a atitude da fé reformada. Signifi ca “reverência” e “devoção” a Deus. Historicamente, os presbiterianos buscaram fazer da vida toda um ato de piedade. Talvez façamos bem em relembrar alguns dos elementos deste estilo de vida. As tarefas próprias de cada um de nós, hoje em dia, podem diferir, e nossos estilos de adoração podem não ser iguais, mas podemos aprender recordando a piedade de outros tempos.

Há cem anos, em lares presbiterianos, por exemplo, toda a família se reunia todas as noites para a leitura da Bíblia e para orar. Algumas famílias ainda são capazes de se engajar num tal tempo especial de devoção diariamente, e outros de nós o fazem quando esquemas complexos o permitem. Dar “graças” regularmente às refeições e a leitura de versículos da Bíblia são uma parte desta tradição; atos de piedade, mas também uma parte da piedade presbiteriana têm sido historicamente o compromisso de uma família inteira na ajuda a pessoas ou grupos necessitados. Uma outra parte era a discussão regular e constante de teologia ou valores que os mais jovens pudessem aprender “porque” os cristãos maduros (mais velhos) faziam – ou deixavam de fazer – certas atividades.

Na passagem do século, denominações presbiterianas tentaram fazer cada família de mem-bros da igreja se engajar em devoções familiares. A instituição do programa “Altar da Famí-lia” no qual a pessoa tinha de relatar qual era a sua prática em família, pode ter servido para matar a sua vitalidade para muitos, como em muitas outras coisas a piedade presbiteriana tem diferido entre indivíduos, congregações e denominações. Muitos presbiterianos não vi-vem em núcleos familiares e a piedade toma uma variedade de formas segundo as necessi-dades e as oportunidades. Nota-se, entretanto, que tais atos de devoção raramente focalizam uma reverência e uma devoção mais profundas. Muitos outros aspectos da maneira cristã de viver, para os presbiterianos tornam-se atos de piedade, não apenas as coisas óbvias como as devoções familiares, devoções pessoais, evitar fazer negócios no domingo quando isto for permitido, freqüentando a igreja regularmente e “sendo constante na oração”. Eu recordo a piedade de um carpinteiro que disse fazer o melhor trabalho possível como um ato de louvor. Na Igreja Presbiteriana de Ancoragem, quando os jovens se reuniram num sábado para ajudar uma mulher mais velha a limpar o seu quintal, foi um ato de piedade. Quando Nancy Durham, Mary Bell, ou outros dos motoristas do “Refeições sobre Rodas” levam comida quente para os pobres ou presos, eles estão realizando atos de devoção. Quando um comerciante busca ser justo com todos os clientes, aí há piedade. Quando um médico da nossa congregação fi ca com um membro da igreja que esteja doente para uma conversa visando aliviar sua ansiedade, aí há reverência a Deus na bondade humana. Todas estas ações numa tecitura de vida para louvar a Deus, juntas, fazem sentido.

Entretanto, piedade não é apenas ação. Envolve também vida íntima privada, interna, particu-lar, profunda do cristão. Piedade é o amor a Deus em parceria com o amor por outras pessoas e por toda a criação. A graça de Cristo, que capacita oração e devoção, forma a expressão espiritual apropriada para o indivíduo. A piedade presbiteriana neste setor é quase impossível de discutir, mesmo fazendo uma parte signifi cativa de como ser presbiteriano.

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Um jeito de mencionar a natureza distinta (diferente) da piedade reformada é usar as pala-vras dos Salmos. Na busca de depender da autoridade da Bíblia, os presbiterianos confi am nos Salmos como expressões especiais de devoção úteis para piedade. Assim na disciplina, como um presbiteriano engajado no propósito de louvar a Deus, algumas vezes, num dia resplendente, vai sugerir “Os céus manifestam a glória de Deus e o fi rmamento anuncia a obra de suas mãos” (Salmos 19.1). Quando os tempos estão duros (difíceis) o presbiteriano diz “Elevo os meus olhos para os montes; de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor que fez o céu e a terra. Não deixará vacilar o meu pé” (Salmo 121. 1-3). O serviço de adoração (o culto) vai fazer o presbiteriano lembrar de “Celebrai com júbilo ao Senhor, todos os moradores da terra”. O encontro com um bom amigo nos traz: “Bendize ó minha alma ao Senhor e tudo o que há em mim” (Salmos 103.1). Em uma ocasião como desafi o ou para se dizer coisas não verdadeiras: “Senhor, tu me sondas e me conheces. Tu conheces o meu assentar e o meu levantar; de longe entendes o meu pensamento” (Salmos 139. 1 e 2). Gradualmente, imperceptivelmente, o cristão se move para uma “vida nos Salmos” como uma parte da piedade. Reparemos que a disciplina do aprendizado dos Salmos apropriados a certas ocasiões, vai se tornar uma costume bem pobre de se praticar a piedade, embora haja um esforço para esta disciplina. Mas há um modo típico pelo qual a piedade presbiteriana tem sido vivida (praticada).

Creio que o medo hoje em dia é de que nós, presbiterianos, ao exercitarmos nossa piedade possamos estar substituindo maneiras simples de orar e pensar na vida real, substancial. Como deveríamos chamar a maneira vazia (oca, sem conteúdo) de dizer orações curtas, ou a ênfase nas partes formais da oração? “Ser pio?” Disse Jesus: Quando orares, entra no teu aposento, e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em oculto” (Mateus 6.6). A piedade presbiteri-ana, na sua pior situação, faz orações de fantasia, para impressionar os outros, para mostrar erudição; mas na sua melhor situação a piedade presbiteriana e reformada tem sido bastante cheia de substância, de conteúdo verdadeiro.

Essa piedade tem sido um meio, um caminho, um roteiro de vida; e apesar de alguns aspectos poderem diferir entre nós com nossas muitas e variadas necessidades e dons, pode ser um modo de vida para nós também hoje.

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Para Leitura Adicional

Este livro ofereceu apenas uma breve introdução para a Igreja Presbiteriana. Tenho esperança que queiram ler e pensar bastante sobre a fé cristã e sobre nossa experiência nela, como pres-biterianos. Aqui estão uns poucos dos muitos livros que podem oferecer os próximos passos no aprendizado de nós mesmos, nessa história e nosso testemunho.

Na Introduction to the Reformed Faith: A Way of Being the Christian Community – John Leith fala numa linguagem acurada e interessante da história dos presbiterianos e de muitas das crenças das quais partilhamos.

Uma Breve História dos Presbiterianos – Lefferts Loetscher – Oferece uma outra história cronológica das Igrejas Reformadas, especialmente nos Estados Unidos.

Nossa Crença Presbiteriana – Felix Gear – Fala sobre doutrina básica de um modo bastante simples.

Presbiterianos, Sua História e Crenças – Walter Lingle e John Kuy Kendall – É um livro de estudo particularmente bom para quem encara teologia e história em grupos e classes de es-cola da igreja.

Puritanos e Predestinação: Graça na Teologia Protestante Inglesa - Dewey Wallace – Pode ser uma leitura muito pesada, mas trata daquele peso da predestinação ainda melhor que quais-quer outros estudos que eu tenha lido.

A História e o Caráter do Calvinismo – John T. McNeill – Continua a ser o melhor de todos os livros para o ensino sobre os Presbiterianos (e sobre os nossos primos) mundo a fora.

Agora devo seguir meu próprio conselho e fi nalmente recomendar profundo conhecimento de três livros: A Bíblia Sagrada. A Constituição da Igreja Presbiteriana, (U. S. A.) a qual inclui Parte 1: Livro de Confi ssões e Parte 2: Livro de Ordem e Institutas da Religião Cristã, de João Calvino, a melhor edição: Filadélfi a: Westminster, 1960.

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“Contra Capa”

História, tradição, crenças e fé

Além de sua experiência como um missionário presbiteriano, pastor, professor e administra-dor e além de dar cursos sobre o que signifi ca ser um presbiteriano, Louis Weeks escreveu uma introdução clara, concisa e informativa sobre o que signifi ca ser um membro da Igreja Presbiteriana. Fundamentado em situações reais da vida congregacional de uma igreja real, Weeks explica a teologia e a vida na comunidade da Igreja Presbiteriana.

Na última década muitas pessoas cruzaram as linhas denominacionais. Um número cada vez maior de membros da Igreja Presbiteriana não cresceu presbiteriano. Este livro é um recurso ideal para um conhecimento inicial da Igreja Presbiteriana e da tradição reformada da qual ela se origina.

Pessoas reais, igreja reais, experiências reais e comunidades reais constituem o pano de fundo para esta introdução. Quer você seja novo na fé ou um presbiteriano de “quatro costados”, você vai achar útil este livro. Weeks explica o que os presbiterianos crêem. Este é um presente excelente para novos membros e para membros em perspectiva e funcionará também como um recurso para as classes de informações. Um “must” para as bibliotecas das igrejas.

Fontes adicionais:

Kentucky Presbyterians (Louis Weeks)Presbyterians, Their History and Beliefs (Walter Lingle / John W. Kuykendall)Presbyterian Heritage (A. Mervyn Davies)Becoming a Member of the Presbyterian Church (Stuart R. Oglesby)Presbyterian Worship (Donald Macleod)

LOUIS WEEKS é Professor de Teologia Histórica e Decano do Seminário de Louisville. É autor de vários livros inclusive Casebook For Christian Living e Kentucky Presbyterians (ambos da John Knox Press)

JOHN KNOX PRESS – ATLANTA – GEÓRGIA – USA

Capa desenhada por Robert A. Stratton