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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ JULIANA ALVES DA FONSECA NOGUEIRA O ANATOCISMO NOS CONTRATOS BANCÁRIOS: Uma análise da evolução legislativa e jurisprudencial Tijucas 2009

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

JULIANA ALVES DA FONSECA NOGUEIRA

O ANATOCISMO NOS CONTRATOS BANCÁRIOS:

Uma análise da evolução legislativa e jurisprudencial

Tijucas

2009

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JULIANA ALVES DA FONSECA NOGUEIRA

O ANATOCISMO NOS CONTRATOS BANCÁRIOS:

Uma análise da evolução legislativa e jurisprudencial

Monografia apresentada como requisito parcial para a

obtenção do título de Bacharel em Direito, pela

Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências

Sociais e Jurídicas, campus Tijucas.

Orientador: Prof. MsC. Everaldo Medeiros Dias

Tijucas

2009

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JULIANA ALVES DA FONSECA NOGUEIRA

O ANATOCISMO NOS CONTRATOS BANCÁRIOS:

Uma análise da evolução legislativa e jurisprudencial

Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e

aprovada pelo Curso de Direito do Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, campus Tijucas.

Área de Concentração/Linha de Pesquisa:

Tijucas, 29 de novembro de 2009.

Prof. MSc. Everaldo Dias Medeiros

Orientador

Prof. MSc. Marcos Alberto Carvalho de Freitas

Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica

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Ao meu marido Adriano, e minha filha Theodora, pela compreensão

das horas de estudo furtadas do precioso convívio familiar.

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Agradeço a Deus pelo dom da vida e do discernimento;

aos meus pais – Dione e Catão – pela incasável dedicação e instrução;

ao meu irmão Pablo – pelo empenho em me ajudar da melhor forma possível;

ao esposo Adriano – companheiro de todos os momentos;

à minha filha Theodora – razão do meu viver;

a todos os professores que contribuíram para a minha formação, em especial ao professor

Everaldo, meu orientador;

e a todos os meus amigos que direta ou indiretamente contribuíram para a conclusão desta

jornada.

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O degrau de uma escada não serve simplesmente para que alguém

permaneça em cima dele, destina-se a sustentar o pé de um homem

pelo tempo suficiente para que ele coloque o outro um pouco mais

alto.

Thomas Huxley

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca

do mesmo.

Tijucas, 29 de novembro de 2009.

Juliana Alves da Fonseca Nogueira

Graduanda

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RESUMO

O Anatocismo nos Contratos bancários é um dos temas que continua gerando polêmica no

seio da comunidade jurídica, tendo em vista que é cobrar duas vezes o mesmo objeto. A

questão dos Juros remonta a uma história polêmica e repleta de discussões econômicas,

religiosas e jurídicas, seja quanto a sua aplicação, seja em razão das taxas cobradas. No que

tange à capitalização, os Juros se classificam em simples e compostos. Na capitalização

simples ou linear, a taxa de Juros se aplica somente sobre o capital inicial, não incidindo

sobre os valores acumulados. Por outro lado, na capitalização composta, também chamada de

exponencial, a taxa de Juros incide sobre o capital inicial, acrescido dos Juros acumulados até

o período anterior. Em outras palavras, os Juros simples incidem apenas sobre o capital, ao

passo que os Juros compostos incidem sobre o capital, acrescido dos Juros, acumuladamente,

isto é, são os Juros sobre Juros, o conhecido Anatocismo. Importante dizer ainda que todas

essas espécies de Juros podem interagir. Assim, por exemplo, os Juros legais podem ser

moratórios ou compensatórios, o mesmo ocorrendo com os Juros convencionais. Dessa

forma, não pode a Lei enquanto possuir regular vigência, ser flexibilizada, para consertar

desacertos da economia ou ser responsável pela estabilidade de um sistema financeiro

baseado em alta lucratividade em detrimento ao setor produtivo e ao bem estar social. O

funcionamento da economia é que deve adequar-se aos ditames legais e não o contrário. As

normas legais em vigência como o Código Civil, o Código de Defesa do Consumidor, a Lei

da Usura e os Princípios implícitos na Constituição Federal, bem como a competência

legislativa para regular a questão dos Juros conferida ao Congresso Nacional e não mais ao

Conselho Monetário Nacional devem ser estipuladas com razoabilidade e proporcionalidade,

de forma que não atinjam a moral e a dignidade de nenhuma das partes, assegurando que

quando necessário a intervenção do Estado no domínio econômico seja para garantir a paz

social.

Palavras-chave: Anatocismo; Juros de mora legais-contratuais; Capitalização

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ABSTRACT

The Anatocism in banking contracts is one of the subjects that continue generating

controversial in the seio of the legal community, in view of that is to charge two times the

same object. The question of the interests retraces to an controversial history and repleta of

economic, religious and legal quarrels, either how much its application, either in reason of

the charged taxes. In what it refers to to the capitalizaton, the interests if classify in simple

and composites. In the simple or linear capitalizaton, the tax of interests if only applies on the

initial capital, not happening on the accumulated values. On the other hand, in the composed

capitalizaton, also call of exponential, the tax of interests happens on the initial capital,

increased of the interests accumulated until the previous period. In other words, the simple

interests happen only on the capital, to the step that the interests composites happen on the

capital, increased of the interests, accumulatedly, that is, are the interests on interests, the

known anatocism. Important to say despite all these species of interests can interact. Thus,

for example, the legal interests can be delaying or compensatory, the same occurring with the

conventional interests. Of this form, the Law cannot while to possess to regulate validity,

flexibilizada being, to fix mistakes of the economy or to be responsible for the stability of a

financial system based in high profitability in detriment to the productive sector and the

welfare state. The functioning of the economy is that it must be adjusted the legal ditames

and not contrary it. The rules of law in validity as the Civil Code, the Code of Defense of the

Consumer, the implicit Law of Usury and Principles in the Federal Constitution, as well as

the legislative ability to regulate the question of the interests conferred to the National

Congress and more the National Monetary Advice do not have to be stipulated with

razoabilidade and proportionality, of form that do not reach the moral and the dignity of none

of the parts, assuring that when necessary the intervention of the State in the economic

domain either for guaranteeing the social peace.

Word-key: Anatocism; Legal-contractual interests of deferred payment; Capitalizaton

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

a.a. ao ano

ADCT Ato das Disposições Constitucionais Transitórias

ADIn Ação Direta de Inconstitucionalidade

art. Artigo

arts. Artigos

BACEN Banco Central do Brasil

CC Código Civil

CDC Código de Defesa do Consumidor

Cf. Conforme

CF Constituição da República Federativa do Brasil

CMN Conselho Monetário Nacional

COPOM Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil

DJ Diário de Justiça

DJU Diário de Justiça da União

DL Decreto-Lei

EC Emenda Constitucional

ed. Edição

ESp. Especialista

Etc. et Cetera

fl. Folha

fls. Folhas

inc. Inciso

LC Lei Complementar

MSc. Mestre

nº Número

n. Número

p. Página

Prof. Professor

Rec. Recurso

Rel. Relator

SELIC Sistema Especial de Liquidação e de Custódia

STJ Superior Tribunal de Justiça

STF Supremo Tribunal Federal

TRF Tribunal Regional Federal

v. Volume

§ Parágrafo

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LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS

Lista de categorias1 que o Autor considera estratégicas à compreensão do seu trabalho, com

seus respectivos conceitos operacionais2.

Anatocismo

É a incidência de Juros sobre os Juros acrescidos ao saldo devedor por não terem sido pagos.

Assim, essa prática consiste em somar os Juros obtidos ao capital, para que sirva esse

resultado de base de cálculo a nova contabilização de Juros3.

Bancos

Expressão de Direito Comercial, significa e designa, em geral, todo estabelecimento de

crédito, isto é, comercial e financeiro, que tem por finalidade o comércio de dinheiro e de

crédito privado4.

Capitalização de Juros

Gênero do qual são as são espécies: capitalização simples (ou linear) e capitalização

composta (exponencial ou Juros sobre Juros)5.

Comissão de Permanência

Denomina-se Comissão de Permanência o encargo cobrado, em adição aos Juros de mora,

por dia de atraso no pagamento de débitos junto a instituições do sistema financeiro nacional.

1 Denomina-se “categoria” a palavra ou expressão estratégica à elaboração e/ou expressão de uma idéia. Cf.

PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito. 8.

ed. Florianópolis: OAB Editora, 2003, p. 31. 2 Denomina-se “Conceito Operacional” a definição ou sentindo estabelecido para uma palavra ou expressão,

com o desejo de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas ao longo do presente trabalho.

Cf. PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito,

p. 43. 3 DE PAIVA, Ana Paula Casagrande e, FIOR, Mirella Cristina. Disponível em: <

http://www.geocities.com/osmarlopes/anatocismo.html> , acessado em 23/09/2009, às 15h e 03 min. 4 SILVA, De Plácido e. Vocabulário Jurídico. 18ͣ ed. Florence: Rio de Janeiro, 2001, p. 113.

5 SCAVONE JUNIOR, Luiz Antônio. Juros no Direito Brasileiro. São Paul: Ed. Revista dos Tribunais, p. 148.

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Sua exigibilidade baseia-se, atualmente, na Resolução 1.129 tomada pelo Conselho

Monetário Nacional (CMN) em 19866.

Contrato

Um acordo entre as partes para constituir um vínculo de direito, e quer dizer um acordo ao

qual aqueles que o assumirem estão vinculados sob pena de se verem constrangidos a

observá-lo7.

Contrato Bancário

Contratos bancários referem-se a um grupo de Contratos em que uma das partes é banco ou

instituição financeira similar, em regra constituem prestação de Serviços e, tipificam

Contrato de consumo8.

Consumidor

Consumidor é todo indivíduo que se faz destinatário da produção de bens, seja ele ou não

adquirente, e seja ou não, a seu turno, também produtor de outros bens9.

Correção Monetária

Representa a atualização monetária da moeda, em virtude de sua desvalorização pelo

processo inflacionário10

.

Direito do Consumidor

[...] o ramo do Direito que estuda as relações jurídicas entre fornecedor e Consumidor final,

em que este adquire produto daquele ou utiliza Serviços por ele prestados mediante

remuneração e sem caráter trabalhista11

.

6 SILVA, Rafael Rama e. A NATUREZA JURÍDICA DA COMISSÃO DE PERMANÊNCIA E A

CUMULATIVIDADE COM OS ENCARGOS DE MORA NO AMBITO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS

BANCÁRIOS. Apud. BARBOSA, Edgard Fernando. Disponível em:

http://www.pucrs.br/direito/graduacao/tc/tccII/trabalhos2007_1/rafael_rama.pdf, acessado em 24/09/09,

ás 16h. e 30min. 7 CARNELUTTI, Francesco. Como nasce o direito. Tradutor: Ricardo Rodrigues Gama. 3.ed. Campinas:

Russel Editores, 2006. p. 39. 8 LEITE, Gisele. HEUSELER, Denise. Apreciações doutrinárias e jurisprudenciais sobre os contratos

bancários. São Paulo, 2008. Disponível em: <http://www.webartigos.com/articles/4736/1/apreciacoes-

doutrinarias-e-jurisprudencias-sobre-os-contratos-bancarios/pagina1.html>. Acesso em: 24 set. 2008. p. 01. 9 FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor. 8. ed. São Paulo : Atlas, 2005. p. 227.

10 SILVA, De Plácido e. Op. Cit., 2001, p. 225.

11 LEITE, Roberto Basilone. Introdução ao Direito do Consumidor. São Paulo: LTr, 2002. p. 62-63.

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Juros

Rendimento de capital, os frutos produzidos pelo dinheiro. Assim como o aluguel constitui o

preço correspondente ao uso da coisa no Contrato de locação, representam os Juros a renda

de determinado capital12

.

Juros Compensatórios

Se entende dos frutos naturais do capital empregado. Representam, pois, a justa

compensação, que se deve tirar dos dinheiros aplicados em negócios, notadamente de

empréstimos13

.

Juros Moratórios

Convencionais ou legais, são aqueles que decorrem do descumprimento das obrigações e,

mais frequentemente, do retardamento na restituição do capital ou do pagamento em

dinheiro14

.

Serviço

Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração,

inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das

relações de caráter trabalhista15

.

Usura

É o mútuo real ou pecuniário remunerado com Juros eivados de fins ilícitos, imorais ou

ambos, por seu montante abusivo16

.

12

PARIZATTO, João Roberto. Multas e Juros no direito brasileiro. Ed. de Direito. Leme, SP: 1996, p. 57.

Apud. MONTEIRO, Washington de Barros, in “Curso de Direito Civil”, Direito das Obrigações, Ed. Saraiva,

1962, p. 369. 13

SILVA, De Plácido e. Op. Cit., 2001, p. 469. 14

SCAVONE JUNIOR, Luiz Antônio. Op. Cit.. p. 96. 15

BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de 1990. Dispõe sobre a

proteção do consumidor e dá outras providências. Brasília, 1990. Disponível em: <www.senado.gov.br>.

Acesso em: 15 set. 2008. 16

WEDY, Gabriel. O Limite Constitucional dos Juros Reais. Porto Alegre: Síntese, 1997, p. 21.

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SUMÁRIO

RESUMO .................................................................................................................................. 9

ABSTRACT ........................................................................................................................... 10

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .......................................................................... 11

LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS ........................... 12

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 16

2 JUROS ................................................................................................................................. 19

2.1 HISTÓRIA DOS JUROS ...................................................................................................... 19

2.2 OS JUROS NA BÍBLIA ................................................................................................. 20

2.3 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS JUROS NO BRASIL ............................................ 22

2.4 O CONCEITO E A NATUREZA JURÍDICA DOS JUROS ......................................... 24

2.5 DISTINÇÃO DOS JUROS COM RELAÇÃO ÀS MULTAS E CORREÇÃO

MONETÁRIA ..................................................................................................................... 26

2.6 ESPÉCIES DE JUROS .................................................................................................. 27

2.7 COMISSÃO DE PERMANÊNCIA ............................................................................... 31

3 CONTRATOS ..................................................................................................................... 33

3.1. PRINCÍPIOS QUE REGEM OS CONTRATOS .......................................................... 34

3.2. AS OPERAÇÕES BANCÁRIAS ................................................................................. 36

3.3 CONTRATOS BANCÁRIOS........................................................................................ 38

3.3.1 ELEMENTOS DOS CONTRATOS BANCÁRIOS ................................................... 38

3.3.2 CARACTERÍSTICAS DOS CONTRATOS BANCÁRIOS ........................................ 39

3.4 TIPOS DE CONTRATOS BANCÁRIOS ..................................................................... 41

3.4.1 ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE .......................................... 41

3.4.2 CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO .................................................................... 43

3.4.3 ARRENDAMENTO MERCANTIL – LEASING ...................................................... 45

3.4.4 CARTÃO DE CRÉDITO ......................................................................................... 46

4 ANATOCISMO .................................................................................................................. 48

4.1 ANATOCISMO NO MUNDO ...................................................................................... 49

4.2 ANATOCISMO E JUROS COMPOSTOS: UMA MERA QUESTÃO SEMÂNTICA . 50

4.3 ANATOCISMO NO BRASIL: EVOLUÇÃO LEGAL E JURISPRUDENCIAL ......... 51

4.3.1 BREVE RELATO SOBRE A ADI Nº 2316/2000 E SEU JULGAMENTO NO STF 55

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................. 58

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS ................................................................................ 60

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objeto o estudo da incidência do Anatocismo nos

Contratos bancários vigentes no sistema financeiro nacional sob a égide do Código Civil,

Código de Defesa do Consumidor, Lei da Usura e Constituição Federal.

A importância deste tema reside no fato de que desde a idade média até hoje em dia o

Anatocismo vem sendo praticado pelas instituições financeiras em seus Contratos, gerando a

cobrança exorbitante que coloca em perigo o patrimônio pessoal, a estabilidade econômica e

a sobrevivência pessoal do tomador de empréstimo.

Ressalte-se que, além de ser requisito imprescindível à conclusão do curso de Direito

na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, o presente relatório monográfico também

vem colaborar para o conhecimento de um tema que, apesar de não poder ser tratado como

novidade no campo jurídico, na dimensão social-prática ainda pode ser tratado como

elemento novo e repleto de nuances a serem destacadas pelos intérpretes jurídicos uma vez

que ainda não está pacificado.

O presente tema, na atualidade, encontra-se em julgamento perante Supremo Tribunal

Federal na ADI n.º 2316, a qual no momento possui 4 (quatro) votos que deferiram a medida

cautelar no sentido de suspender a eficácia do artigo 5º, cabeça e parágrafo único da Medida

Provisória n.º 2170-36, de 23 de agosto de 2001 que admitia a Capitalização de Juros com

periodicidade inferior a um ano nas operações realizadas por instituições integrantes do

sistema financeiro nacional, e dois votos no sentido de indeferir a medida cautelar, sem

alteração até a data de entrega desta monografia.

A escolha do tema é fruto do interesse pessoal do pesquisador em acompanhar o

julgamento do STF e dos demais Tribunais sobre um tema de grande relevância para a

sociedade brasileira, assim como para instigar novas contribuições para estes direitos na

compreensão dos fenômenos jurídicos-políticos, especialmente no âmbito de atuação do

Direito Bancário e Direito Civil.

Em vista do parâmetro delineado, constitui-se como objetivo geral deste trabalho

estudar a aplicação do Anatocismo nos Contratos bancários.

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O objetivo institucional da presente Monografia é a obtenção do Título de Bacharel

em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências Sociais e Jurídicas,

campus de Tijucas.

Como objetivo específico, pretende-se verificar qual o posicionamento legal deve ser

adotado nos julgamentos de nossos tribunais antes da decisão final do Supremo Tribunal

Federal sobre a admissão ou não da capitalização dos Juros em periodicidade inferior a um

ano por instituições integrantes do sistema financeiro nacional.

A análise do objeto do presente estudo incidirá sobre as diretrizes teóricas propostas

pelo Código Civil, pelo Código de defesa do Consumidor, Lei de Usura, Constituição Federal

e decisão proferida na ADI n.º 2316 em julgamento no STF. Estes serão, pois, os marcos

teóricos que nortearão a reflexão a ser realizada sobre o tema escolhido.

Não é o propósito deste trabalho adentrar em outras questões referentes ao Direito

Bancário. Por certo não se estabelecerá um ponto final em referida discussão. Pretende-se,

tão-somente, aclarar o pensamento existente sobre o tema, circunscrevendo-o ao Anatocismo

nos Contratos bancários.

Para o desenvolvimento da presente pesquisa foi formulado o seguinte

questionamento:

a) É admissível a capitalização dos Juros em periodicidade inferior a um ano nas

operações realizadas pelas instituições financeiras integrantes do sistema financeiro nacional

por meio de Medida Provisória?

Já a hipótese considerada foi a seguinte:

a) Não, pois a Constituição Federal em seu art. 62, § 1º, III, diz que é vedada a edição

de Medidas Provisórias sobre matéria reservada a lei complementar. Ainda, em seu art. 192,

afirma que o sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o

desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as

partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis

complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas

instituições que o integram.

O relatório final da pesquisa foi estruturado em três capítulos, podendo-se, inclusive,

delineá-los como três molduras distintas, mas conexas: a primeira, atinente aos Juros,

verificando primeiramente a sua origem e depois conceituando; a segunda, buscou-se

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apresentar noções sobre a teoria geral dos Contratos, e em especial, os Contratos bancários e

suas espécies; e, por derradeiro, ao estudo do Anatocismo propriamente dito, frente ao

Código Civil, Código de Defesa do Consumidor, Constituição Federal e ADIn n.º 2316 para

enfim verificar se as decisões de nossos tribunais estão em consonância com o entendimento

jurisprudencial majoritário do presente momento.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que, na fase de investigação foi

utilizado o método dedutivo, e, o relatório dos resultados expresso na presente monografia é

composto na base lógica dedutiva17

, já que se parte de uma formulação geral do problema,

buscando-se posições científicas que os sustentem ou neguem, para que, ao final, seja

apontada a prevalência, ou não, das hipóteses elencadas.

Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as técnicas do referente, da categoria,

do conceito operacional e da pesquisa bibliográfica18

.

Os acordos semânticos que procuram resguardar a linha lógica do relatório da

pesquisa e respectivas categorias, por opção metodológica, estão apresentados na Lista de

Categorias e seus Conceitos Operacionais, muito embora algumas delas tenham seus

conceitos mais aprofundados no corpo da pesquisa.

A estrutura metodológica e as técnicas aplicadas nesta monografia estão em

conformidade com o padrão normativo da Associação Brasileira de Normas Técnicas

(ABNT) e com as regras apresentadas no Caderno de Ensino: formação continuada, Ano 2,

número 4; assim como nas obras de Cezar Luiz Pasold, Prática da pesquisa jurídica: idéias e

ferramentas úteis ao pesquisador do Direito e Valdir Francisco Colzani, Guia para redação do

trabalho científico.

A presente monografia se encerra com as Considerações Finais, nas quais são

apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos

estudos e das reflexões sobre a legalidade da admissibilidade da Capitalização de Juros com

periodicidade inferior a um ano nos Contratos bancários.

Com este itinerário, espera-se alcançar o intuito que ensejou a preferência por este

estudo: Anatocismo nos Contratos Bancários.

17

Sobre os “Métodos” e “Técnicas” nas diversas fases da pesquisa científica, vide PASOLD, Cesar Luiz.

Prática da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 99-125. 18

Quanto às “Técnicas” mencionadas, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática da pesquisa jurídica: idéias e

ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 61-71, 31- 41, 45- 58, e 99-125, nesta ordem.

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2 JUROS

Conceituar Juros em nosso país, não é tarefa fácil, uma vez que se verifica uma nítida

contradição entre normas e decisões judiciais. Para melhor entendimento do tema, faz-se

necessário definir conceitos e preceitos para a análise de idéias debatidas neste estudo.

Fica a cargo da doutrina, portanto, definir o seu real sentido. Como se trata de matéria

ligada ao direito civil, é nela que se encontram os melhores ensinamentos a seu respeito.

Assim, Sílvio Rodrigues19

, sobre o assunto, pontifica que:

"Juro é o preço do uso do capital. Vale dizer, é o fruto produzido pelo dinheiro, pois

é como fruto civil que a doutrina o define. Ele há um tempo remunera o credor por

ficar privado de seu capital e paga-lhe o risco em que incorre de o não receber de

volta."

De Plácido e Silva20

, por sua vez, explicita:

"Juros, no sentido atual, são tecnicamente os frutos do capital, ou seja, os justos

proventos ou recompensas que deles se tiram, consoante permissão e determinação

da própria lei, sejam resultantes de uma convenção ou exigíveis por faculdade

inscrita em lei."

João Roberto Parizatto21

é enfático ao prelecionar que:

"Juros pode ser conceituado como sendo o rendimento auferido pelo uso do

dinheiro durante um determinado período, privando-se o credor de seu uso em tal

período."

Portanto, o Juro é a remuneração obtida pelo preço cobrado para concessão de crédito.

A partir desse evento foi criado o mercado de crédito, pois o crédito passou a ter valor

econômico. Com o passar do tempo os emprestadores de dinheiro passaram a ser banqueiros

e foram criados o mercado monetário, o mercado de câmbio e o mercado financeiro.

2.1 História dos Juros

Quando ainda não existia a moeda, as mercadorias e Serviços eram trocados entre

seus donos: a comida era trocada por agasalhos, sal por materiais de construção ou por

19

RODRIGUES, Sílvio. Direito civil – parte geral das obrigações. Saraiva, 1986. p. 317. 20 SILVA, De Plácido e. Op. Cit., p. 35. 21

PARIZATTO, João Roberto. Multas e juros. 4. ed. Edipa, 2001. p. 105.

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20

Serviço prestado, etc., essa prática denominava-se escambo. Segundo Ramos e Ramos (2002,

p.17): “A prática dos Juros já era do conhecimento dos egípcios e dos comerciantes fenícios,

ressaltando-se que os primeiros não admitiam que os Juros pudessem ser cobrados em

quantidade superior ao capital emprestado”.22

Os hebreus, por exemplo, só toleravam a cobrança de Juros em face de estrangeiros.23

No direito romano, por sua vez, sempre existiu a cobrança de Juros sem, no entanto, a fixação

da taxa, observando-se que a primeira regulamentação pode ser observada na Duellius e

Menenius no ano 398.24

Segundo Ebert Chamoun, “o devedor em mora de obrigações que

envolviam boa-fé, devia prestar contas ao credor dos frutos que percebeu a partir da

interpelação e, em se tratando de dinheiro, devia pagar Juros (Juros moratórios), os quais se

determinavam consoante o costume do lugar do pagamento.”25

2.2 OS JUROS NA BÍBLIA

Durante a Idade Média, a Igreja Católica, a partir das idéias constantes da Bíblia

Sagrada, adotou posição manifestamente contrária à cobrança dos Juros. São Tomás de

Aquino condenou a cobrança de Juros, alegando que pelos Juros se vende duas vezes o

mesmo objeto. Dizia ele: “Como é possível, na verdade, transferir-se ao mutuário a

propriedade do dinheiro mutuado e, sem embargo, cobrar-lhe o preço pelo uso desse dinheiro

que já é propriedade sua26

?”

Apesar da rígida condenação da Igreja Católica à cobrança de Juros, certo é que a

realidade medieval foi outra, com numerosas transações usurárias em toda a Idade Média. Já

no final do século XIII, com o desenvolvimento comercial, a Igreja foi, aos poucos,

modificando o seu entendimento, o que culminou, em 1745, na Encíclica Vix Prevenit, que

admitia a cobrança de Juros como forma de permitir a justa reparação de devedor de dívida

por demais gravosa. A doutrina protestante, a partir do século XVI, admitia a cobrança de

22

RAMOS, Paulo Angelin; RAMOS, Mirian Montenegro Angelin. Juros nos contratos bancários. Curitiba:

Juruá, 2002, p. 17. 23

ALTAVILA, Jaymes de. Origem dos direitos dos povos. 2ª ed. São Paulo: Melhoramentos, 1987, p. 105. 24

Apud RAMOS, Paulo Angelin; RAMOS, Mirian Montenegro Angelin. Juros nos contratos bancários.

Curitiba: Juruá, 2002, p. 17. 25

CHAMOUN, Ebert. Instituições de direito romano. Rio de Janeiro: Forense, 1951, p. 371. 26

Sancti Thomae Aquinatis. Summa theologiae.3.ed. Matriti: Biblioteca de Autores Cristinianos, 1961, n. 78,

art. I.

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21

Juros, apegando-se em valores como o amor ao trabalho, o desenvolvimento da economia e a

riqueza material.

O novo testamento não traz expressamente, a vedação da cobrança, mas recomenda,

genericamente, a prática desinteressada da caridade, em Lucas capítulo 6, versículos 34 e 35

está escrito o seguinte, senão vejamos:

“Se emprestados àqueles de quem esperais tornar a receber, que recompensa

tereis? Até os pecadores emprestam aos pecadores, para tornarem a receber outro

tanto. Ao contrário, amai os vossos inimigos, fazei o bem, emprestai, sem nada

esperardes”27

.

Com base nos fundamentos de que dinheiro não gera dinheiro, se existe excedente que

venha a se somar à quantia emprestada, deriva-se este do trabalho e não do próprio dinheiro.

O dinheiro, na qualidade de bem consumível, que desaparece pelo uso somente possui

utilidade se consumido, não se podendo separar a coisa e o uso desta coisa, uma vez que são

inseparáveis. A Usura, nesta concepção, prevê pagamento por um bem que é comum a todos:

o tempo, mas como o tempo pertence a Deus, e a mais ninguém, não se poderia cobrar pelo

tempo decorrido.

Com o passar do tempo, ocorreram mudanças nessa percepção e, da condenação

passou-se à permissão para que os Juros ou indenizações fossem cobrados se o emprestador

comprovasse que ao emprestar seu dinheiro teria se privado de algum ganho, tal como lucro

cessante, ou que tivera uma perda decorrente da própria operação de empréstimo ou por ter

corrido o risco de não ser reembolsado.

Na França liberaram-se as taxas de Juros em 1793, apesar de o seu limite máximo

ficar entre 5% e 6% a.a., respectivamente, nas matérias civis e mercantis. Esse exemplo se

espalhou por toda a Europa, tendo a Inglaterra liberado a cobrança de Juros em 1854, seguida

da Espanha em 1856 e da Holanda no ano seguinte. A partir do século XIX, passou-se a

reconhecer explicitamente a possibilidade de cobrança de Juros moderados.28

27

BÍBLIA, N. T. Lucas, cap. 6: 34-35. 28

Apud SCAVONE JÚNIOR, Luiz Antônio. Juros no direito brasileiro. São Paulo: RT, 2003, p. 33.

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22

2.3 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DOS JUROS NO BRASIL

No início da colonização o Brasil foi fortemente influenciado pelas idéias da Igreja

Católica. Já em 1810, com o Alvará expedido pelo Príncipe Regente, começou-se a ter uma

nova conformação da matéria, permitindo-se a cobrança de “prêmio” pelo empréstimo de

dinheiro para o comércio marítimo29

.

O Código Civil de 191630

, influenciado pelas idéias do individualismo e liberalismo

econômico, disciplinou a questão dos Juros em seus artigos 1062 e 1063, nos quais a taxa de

juro legal era de 6% ao ano, tanto para os Juros de mora, quando não convencionada a taxa,

como para os Juros convencionais, quando não haja taxa pactuada.

Em 07.04.1933 é editado o Decreto 22.626/3331

, também denominado “Lei da Usura”,

que, no seu art. 1º, limitou os Juros a 1% ao mês e, no seu art. 4º, vedou o Anatocismo com

periodicidade inferior à anual. Verificando-se assim, com a edição desse Decreto, um retorno

ao intervencionismo e à regulação dos Juros. A sociedade brasileira respeitou as limitações

impostas por essa lei, sem maiores problemas, até 1964.

O golpe militar de 1964 teve o apoio das forças econômicas vinculadas às instituições

financeiras. Inevitável que o poderio militar aliado ao poderio econômico excluíssem a

restrição imposta pelo Decreto nº 22.623/33. Adveio a Lei nº 4.595/6432

, conhecida como a

Lei de Reforma Bancária, que, em resumo, autorizou as instituições financeiras a cobrarem

Juros acima do limite legal.

Para reforçar a autonomia dos Bancos, o STF editou a Súmula 59633

, em 1977,

excluindo expressamente as instituições públicas ou privadas que integram o sistema

financeiro nacional das disposições da Lei da Usura. A justificativa dessa exclusão deu-se

29

ESTRELA, Ernani. 1969. 30

Código Civil de 1916, Lei nº. 3.071, vigente de 01 de janeiro de 1917 à 09 de janeiro de 2003. 31

Decreto-Lei nº. 22.626 de 07 de abril de 1933, chamado de Lei da Usura, não foi revogado pela Lei 4595/64

(RTJ 108/277, 82/919) a capitalização de juros (juros de juros) é vedada pelo nosso direito, mesmo quando

expressamente convencionada, não tendo sido revogada a regra do Decreto – Lei nº. 22626, art. 4º, pela Lei

4595/64. O anatocismo, repudiado pelo STF 121, não guarda relação com o STF 596 (RSTJ 22/197). 32

Lei 4595/64 de 31 de dezembro de 1964, também conhecida como a Lei do Sistema Financeiro Nacional

dispôs sobre a política e as instituições monetárias, bancárias e creditícias e criou o Conselho Monetário

Nacional e deu outras providências. 33

Súmula 596 do STF, as disposições do Decreto 22626 de 1933 não se aplicam às taxas de juros e aoutros

encargos cobrados nas operações realizadas por instituições públicas ou privadas que integram o Sistema

Financeiro Nacional.

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23

pelo fato da necessidade dos Bancos terem uma compensação quando a lei proibia a correção

de dívida de dinheiro. Segundo Santin (2001, p.241), “a súmula 596 permitiu, então, a

taxação dos Juros, pelo SFN, acima do limite legal, quando a atualização dos empréstimos

bancários seria feita por Juros complessivos, que abrangiam na taxa de Juros a inflação da

época”.34

Em 1988, nova tentativa de limitar as taxas de Juros praticadas pelas instituições

financeiras ocorreu na promulgação da Constituição Federal de 1988, que em seu § 3º do

artigo 192, reafirmou o percentual de 12% (doze por cento) ao ano contido no decreto nº

22.626/33:

“Art. 192, § 3º - As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e

quaisquer outras remunerações direta ou indiretamente referidas à concessão

de crédito, não poderão ser superiores a doze por cento ao ano; a cobrança

acima deste limite será considerada como crime de usura, punido, em todas

as suas modalidades, nos termos que a lei determinar.35

Sendo juros complessivos os praticados pelos Bancos, a limitação constitucional fez

com que os poderosos da área econômica reagissem de imediato. Até a presente data, essa

limitação não está sendo aplicada pelos motivos que serão esmiuçados no decorrer deste

trabalho.

Em 29 de maio de 2003 é promulgada a Emenda Constitucional n.º 40 que revogou

todos os incisos e parágrafos do art. 192, dando ao caput a seguinte redação:

“Art. 192 – O Sistema Financeiro Nacional, estruturado de forma a

promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir ao interesses da

coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas

de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive,

sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram.”

Por fim, em janeiro de 2003 entra em vigor o novo Código Civil36

estabelecendo, em

seu art. 406, “quando os Juros Moratórios não forem convencionados, ou o forem sem taxa

34

SANTIN, Janaína Rigo. A questão das taxas de juros praticadas pelas instituições financeiras. Justiça de

Direito, Passo Fundo: UPF, v. 15, 2001, p. 241. 35

Constituição Federal Brasileira, 1988. 36

Código Civil de 2002, Lei nº. 10406 de 10 de janeiro de 2002, vigente a partir de 10 de janeiro de 2003

revogando o Código Civil de 1916, Lei nº. 3071.

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estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão fixados segundo a taxa que

estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional”37

.

2.4 O CONCEITO E A NATUREZA JURÍDICA DOS JUROS

Segundo Lupinacci (1999, p.21), “juro corresponde ao preço do aluguel do dinheiro

por determinado período de tempo, nele encontrando-se embutido também o risco”.38

O instituto dos Juros, em tempo de globalização, deve ser analisado sob prismas

econômicos, políticos e jurídicos. Essas três áreas interagidas deveriam trazer a paz e a

justiça almejadas, evitando-se as infindáveis discussões.

Conforme Celso Ribeiro Bastos e Ives Gandra Martins (2000) defendem a tese de

que as imposições taxativas na área financeira exigem um estudo, no mínimo superficial, da

área econômica. A taxa de Juros praticada em um país age como regulador do crescimento

econômico, da estabilidade ou da instabilidade desse crescimento, da inflação e das causas de

desemprego.39

Uma vez que os economistas divergem sobre o grau de importância da taxa de Juros

sobre as questões acima expostas, veremos os pontos mais importantes de duas visões

econômicas: neoclássica e keynesiana.

Na visão dos economistas neoclássicos40

, se o mercado de fundos de empréstimos for

deixado livre, a instabilidade é passageira. A oscilação das taxas de Juros incentiva ora a

poupança, ora o investimento. Esse é função decrescente da taxa de Juros e aquela é função

crescente da taxa de Juros. O desemprego é voluntário ou friccional, dependendo unicamente

daqueles que desistem de trabalhar porque o salário não cobre a desutilidade do trabalho ou o

ócio perdido.

37

Código Civil, 2002. 38

LUPINACCI, Ronaldo Ausone. Limite da taxa de juros no Brasil. São Paulo. Editora Direito. 1999, p. 21. 39

BASTOS, Celso Ribeiro; MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil: promulgada em 5

de outubro de 1988, São Paulo: Saraiva, 2000. 40

A Economia Neoclássica é uma corrente de pensamento econômico, para qual o Estado não deveria se

intrometer nos assuntos do mercado, deixando que ele fluísse livremente, ou seja, liberalismo econômico.

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25

A Teoria Geral de Keynes41

conferiu completude ao conceito econômico de juro,

apresentando-o como instrumento de políticas de desenvolvimento econômico com

manipulação da oferta monetária disponível.

Na teoria keynesiana, a moeda e o crédito bancário são importantes para estimular a

atividade econômica. O investimento depende da rentabilidade esperada que deverá ser

superior ao custo. Quanto menor a taxa de Juros em concessão de crédito bancário, maior a

possibilidade de haver interessados em investir.

A natureza jurídica do juro é de coisa acessória do capital. De acordo com Orlando

Gomes, os Juros possuem três características: a) acessoriedade em relação ao capital; b)

nascimento contemporâneo à constituição da obrigação e c) equivalência a um percentual do

capital devido.42

Assim, o capital sobre o qual incide o juro é coisa principal, ao passo que o juro é

acessório, ou seja, não pode ser concebido sem a existência do primeiro. Conforme o art. 92

do Código Civil de 2002. “Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente;

acessório, aquele cuja existência supõe a do principal.”43

Como coisa acessória que é, os Juros podem ser classificados como frutos, produtos

ou rendimentos. O Código Civil de 1916, em seu art. 60, trazia essa distinção. O novo

Código Civil, apesar de não conter dispositivo semelhante, continua a conter a mesma idéia

no seu art. 92. Com efeito, os Juros são frutos civis, isto é, utilidades retiradas da coisa e que

são por ela periodicamente produzidos. São chamados de frutos civis, pois representam os

rendimentos extraídos do uso da coisa frugífera por outrem que não o seu titular.44

Segundo Luiz Antônio Scavone Júnior45

, acrescenta:

Em consonância com o acatado, é possível afirmar que os juros pertencem à

subespécie dos acessórios denominada por Vicente Ráo de simples pertences que,

agora encontram fundamento nos arts. 93 e 94 do Código Civil de 2002. Sendo

41

KEYNES, John Maynard. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (General theory of employment,

interest and money). Tradutor: CRUZ, Mário Ribeiro da. São Paulo: Editora Atlas, 1992. 42

Gomes, Orlando. Obrigações. Rio de Janeiro: Forense, 1995, p. 52. 43

Código Civil 2002. 44

RODRIGUES, Sílvio. Direito civil. 32 ͣ ed. v. 1, São Paulo: Saraiva, 2002, .p.140. 45

SCAVONE JÚNIOR, Luiz Antônio. Juros no direito brasileiro. São Paulo: RT, p.43.

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assim, os juros não estão ligados de forma indelével ao principal, ou seja, não

seguem necessariamente o principal, como acontece, em regra com as partes

integrantes.

Dessa forma, os Juros podem ser classificados como coisa acessória, na subespécie

denominada pertença, na modalidade de frutos civis.

2.5 DISTINÇÃO DOS JUROS COM RELAÇÃO ÀS MULTAS E CORREÇÃO

MONETÁRIA

A expressão Juros exprime os interesses, ganhos ou lucros que o detentor do capital

aufere pelo uso por alguém que não possui o capital. É o preço do uso do capital. De acordo

com De Plácido e Silva:

Juros, no sentido atual, são tecnicamente os frutos do capital, ou seja, os justos

proventos ou recompensas que deles se tiram, consoante permissão e determinação

da própria lei, sejam resultantes de uma convenção ou exigíveis por faculdade

inscrita em lei.46

Washington de Barros Monteiro, sobre esse mesmo assunto, leciona que:

Juros são o rendimento do capital, os frutos produzidos pelo dinheiro. Assim como

o aluguel constitui o preço correspondente ao uso da coisa infungível no contrato

de locação, representam os juros a renda de determinado capital. De acordo com o

art. 60 do Código Civil de 1916, entram eles na classe das coisas acessórias.” 47

Ressalta-se que os Juros não se limitam ao dinheiro. São coisas fungíveis, embora

ordinariamente dinheiro. Para Caio Mário da Silva Pereira, os Juros são as coisas fungíveis

que o devedor paga ao credor, pela utilização de coisas da mesma espécie a este devidas.

Pode, portanto, consistir em qualquer coisa fungível, embora, freqüentemente, a palavra juro

venha ligada mais ao débito em dinheiro, como acessório de uma obrigação principal

pecuniária.48

É de relevante importância diferenciar os Juros das multas e da Correção Monetária.

Os Juros, conforme já mencionado, são o preço pago pelo uso do dinheiro de outrem. A

46

SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. Rio de Janeiro: Forense, 1987, p. 35. 47

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil. 36ª ed. v. 4, São Paulo: Saraiva, 1999, p. 345. 48

PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil. 19ª ed. v. II, Rio de Janeiro: Forense, 1999, p.

80.

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27

multa é a penalidade que se impõe em decorrência do descumprimento de alguma obrigação.

Para João Roberto Parizzato: “Multa significa a pena pecuniária a alguém em virtude de

infringência de determinada obrigação legal ou contratual. (...) É a violação do ajustado que

dá ensejo ao direito de uma pena pecuniária, ou seja, de multa.”49

A Correção Monetária, por sua vez, representa a atualização do capital com base na

inflação. Não se trata, assim, do preço pelo uso do dinheiro (Juros), ou de penalidade pelo

descumprimento de obrigações (multa). A Correção Monetária não é, nem mesmo, um mero

plus ao dinheiro, mas sim uma forma de se deixar o poder da moeda intacto, atualizando-o na

exata proporção da inflação.

Pelo princípio da equidade, não é justo que, em uma mesma relação obrigacional, o

bem que apresenta hoje um valor, amanhã, apresente outro. Adotando esse ponto de vista, o

princípio do nominalismo vem cedendo à Correção Monetária que permite assegurar o valor

real da prestação quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre

o valor da prestação devida e o do momento da sua execução, conforme artigo 317 do Código

Civil50

:

“Art. 317. Quando, por motivos, imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta

entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz

corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real

da prestação.”

2.6 ESPÉCIES DE JUROS

Nos dizeres de Azevedo (2001, p.68), “os Juros nada mais são do que um pagamento,

que se faz ao titular do capital pela utilização de seu dinheiro, com ou sem a sua

concordância”.51

49

PARIZZATO, João Roberto. Multas e juros. 4ª ed. Rio de Janeiro: Edipa, 2001, p. 105. 50

Código Civil 2002. 51

AZEVEDO, Álvaro Villaça. Teoria Geral das Obrigações. 9 ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001, p.

68.

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A concordância se aperfeiçoa nos Juros compensatórios, quando o emprestador

esclarece ao tomador o quantum de acréscimo aquele receberá pelo prazo do Contrato. Este

quantum, se especificado, é chamado de Juros convencionais, por nascerem do Contrato, da

convenção.

Juros Moratórios são aqueles oriundos do inadimplemento do tomador, são contados

depois do vencimento da obrigação até o efetivo pagamento. Caso os contratantes não

convencionem a taxa de Juros, esta será a que consta da lei. Aqui temos os Juros legais, que

podem ser compensatórios (art. 1.063 do CC de 1916) ou moratórios (art. 1.062 CC de 1916).

A lei de 191652

, dizia que quando não estipulada, a taxa de Juros compensatórios seria

de 6% (seis por cento) ao ano ou 0,5% (meio por cento) ao mês. Embora os Juros Moratórios

tenham natureza punitiva, por estar ausente o consentimento do dono do capital, ou natureza

indenizatória, pelos danos sofridos pelo credor em conseqüência da mora do devedor, a taxa

era a mesma, ou seja, 6% (seis por cento) ao ano ou 0,5% (meio por cento) ao mês.

De acordo com o professor Sílvio Rodrigues53

:

Entre nós, o Código Civil, produto de uma época de exacerbamento do

individualismo, deu às partes liberdade de fixarem as taxas de juros que quisessem.

Todavia, tal regime teve limitada duração, pois alguns anos depois a Lei da Usura

(Decreto nº 22.626, de 07.04.1933) fixou em 12% a taxa máxima de juros a serem

avençados em quaisquer contratos, fulminando, outrossim, de nulidade, todos os

ajustes conflitantes com seus dispositivos.

Asssim, percebe-se que, na antiga sistemática, os Juros legais, tanto os moratórios

como os compensatórios, estavam limitados a 6% ao ano, nos termos do art. 1062 do Código

Civil de 1916, podendo chegar a 12% ao ano, quando se tratasse de Juros convencionais, a

teor do que dispõe a “Lei da Usura”.

A Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - novo Código Civil, em seu artigo 406 -

alterou a sistemática dos Juros, dispondo: “Quando os Juros Moratórios não forem

convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da

52

Código Civil 1916, Lei 3071. 53

RODRIGUES, Sílvio. Direito civil. 25 ͣ ed. v. 2, São Paulo: Saraiva, 1997, .p.285.

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lei, serão fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos

devidos à Fazenda Nacional.”

A Emenda Constitucional nº 40/2003, revogou todos os incisos e parágrafos do art.

192 da CF, que fixava um limite para a taxa de Juros na casa de doze por cento ao ano, dando

a esse dispositivo nova redação:

“Art. 192 - O Sistema Financeiro Nacional, estruturado de forma a promover o

desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em

todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será

regulado por eis complementares, que disporão, inclusive, sobre a participação do

capital estrangeiro nas instituições que o integram.”

Com a edição da novel lei civil e com a revogação pela Emenda nº 40, do art . 192, §

3º, da Carta Política, infindáveis discussões surgiram sobre qual o limite aplicável à taxa de

Juros, discussão esta acirrada. Parte da doutrina defende que a taxa a que se refere o art. 406

do Código Civil vigente é a denominada SELIC – Sistema Especial de Liquidação e de

Custódia54

, enquanto grande parte dos estudiosos da matéria sustenta que a taxa de Juros

Moratórios a que se refere o art. 406 é a do art. 161, § 1º, do Código Tributário Nacional, ou

seja, 1% (um por cento) ao mês. Assim dispõe o mencionado dispositivo:

“Art. 161, § 1º - O crédito não integralmente pago no vencimento é acrescido de

juros de mora, seja qual for o motivo determinante da falta, sem prejuízo da

imposição das penalidades cabíveis e da aplicação de quaisquer medidas de garantia

previstas nesta Lei ou em lei tributária.

54

O Sistema Especial de Liquidação e de Custódia - SELIC - foi criado em 14 de novembro de 1979 com o fim

de dar maior segurança, agilidade e transparência aos negócios efetuados com títulos. Esse sistema foi instituído

com o fim de garantir ao Governo Federal o registro e custódia dos papéis securitizados da União, sendo que o

SELIC foi destinado às letras do Tesouro Nacional. O SELIC destina-se ao registro de títulos e depósitos

interfinanceiros por meio de equipamento eletrônico de teleprocessamento, em contas gráficas abertas em nome

de seus participantes, bem como ao processamento, utilizando-se o mesmo mecanismo de operações de

movimentação, resgates, ofertas públicas e respectivas liquidações financeiras. No SELIC são registrados os

Títulos do Tesouro Nacional e do Banco Central, como, por exemplo, as Letras do Tesouro Nacional (LTN), as

Letras Financeiras do Tesouro (LFT), as Letras do Banco Central do Brasil, etc. De acordo com a Circular nº

2.900/99, do Banco Central do Brasil, a taxa SELIC é definida como a taxa média ajustada dos financiamentos

diários apurados no Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC), para títulos federais, sendo

estimada pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central do Brasil (COPOM), que fixa o seu percentual.

Aqueles que se manifestam favoravelmente à adoção da taxa SELIC como parâmetro para limitação da taxa de

juros alegam, em síntese, que o § 1º do art. 161 do CTN dispõe que “salvo se a lei não dispuser de modo

contrário, os juros de mora serão calculados à taxa de um por cento ao mês”, abrindo espaço para a adoção da

taxa SELIC para fins tributários. Além disso, se o atraso fosse cobrado com índice menor que o utilizado para

remunerar o mercado, haveria ganho de capital em detrimento do Estado. Acrescentam ainda que a Lei nº

9.065/95determina que a SELIC será utilizada como taxa de juros e que os juros são frutos civis e não tributos.

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30

§ 1º - Se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de mora são calculados à taxa

de 1% (um por cento) ao mês.”

O entendimento que predomina na doutrina, entretanto, é pela impossibilidade de se

aplicar a taxa SELIC como limite máximo da taxa de Juros, devendo-se aplicar o § 1º do art.

161 do CTN, isto é, 1% (um por cento) ao mês. De acordo com Luiz Antônio Scavone

Júnior55

:

[...] De fato, tratando-se de matéria tributária, a doutrina dominante aponta a

inconstitucionalidade da aplicação da taxa SELIC, vez que: a) não há definição

legal da taxa SELIC e inexiste gênese legal da taxa SELIC para fins tributários, ou

seja, „não há lei instituindo, definindo e dizendo como deve ser calculada a taxa

SELIC‟ e deve o contribuinte, de antemão, saber como será apurado o quantum

debeatur ; b) a taxa SELIC é direcionada; c) é impossível aferir o percentual de

correção monetária ante acta, mesmo considerando alguma função de neutralização

dos efeitos inflacionários contidos na taxa SELIC; d) ocorre bis in idem na

cobrança de taxa SELIC e correção monetária; e) há aplicação de juros de natureza

remuneratória em matéria tributária, mormente que os títulos podem gerar renda, os

tributos não (tributo não é título e a taxa SELIC foi criada para remunerar títulos

públicos); f) além da ofensa do princípio da legalidade (art. 150, I, da CF),

afrontam-se os princípios da anterioridade (art. 150, III, da CF), segurança jurídica

e indelegabilidade de competência tributária, esta na exata medida em que a taxa

SELIC é determinada por ato unilateral e potestativo do órgão do Poder Executivo

em matéria exclusiva do Congresso Nacional (art. 48, I, da CF); g) como o art. 161,

§ 1º, do CTN (materialmente lei complementar, a teor do que dispõe o art. 34 do

ADCT), estipula juros máximos de 1% ao mês contados desde o vencimento, lei

ordinária jamais poderia estipular aplicação de juros superiores, como tem ocorrido

com a taxa SELIC. [...]

Para André Elali56

, os argumentos contrários à adoção da taxa SELIC como limite

para a taxa de Juros são:

[...] a) não foi criada para fins tributários; b) não foi criada por lei; c) há uma

discrepância quando sua aplicação é comparada com outros índices oficiais de

correção monetária acrescidos dos juros legais de 1%; d) impossibilidade de sua

utilização como juros moratórios, já que possui natureza remuneratória [...]

Assim, A orientação dominante na doutrina é pela impossibilidade de se aplicar a taxa

SELIC ao art. 406 do Código Civil de 2002, que determina a aplicação da taxa devida em

razão da mora no pagamento de impostos à Fazenda Nacional como taxa legal de Juros

Moratórios no direito privado. Portanto, aplica-se a taxa de 1% ao mês , segundo estabelece o

art. 161, § 1º, do Código Tributário Nacional. Dessa forma, mesmo admitida como taxa de

Juros, a taxa SELIC, ante a legislação ordinária infraconstitucional que a instituiu, resta

55

SCAVONE JÚNIOR. Luiz Antônio. Op. Cit., p. 315 – 316. 56

ELALI, André. A taxa de juros à luz da nova lei civil. São Paulo, disponível em

http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=3913. Acesso em 21.07.09 às 20 h e 13 min.

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31

inconstitucional na exata medida em que esta taxa, com natureza de juro, suplanta o limite

imposto pelo CTN.

2.7 COMISSÃO DE PERMANÊNCIA

Muitas vezes chamada, de forma errônea, de Juros de mora ou remuneratórios,

Comissão de Permanência é o nome dado aos Juros cobrados sobre o valor em atraso, além

das taxas e multas, já previstas para este tipo de situação, nos Contratos com instituições

financeiras.

O Banco Central do Brasil, com poderes conferidos pelo Conselho Monetário

Nacional (CMN), através da Resolução n.º 1.129/86, na forma do artigo 9º da Lei 4.595, de

31/12/64, facultou aos Bancos e sociedades de arrendamento mercantil a cobrança da

Comissão de Permanência, assim sendo, é legítima a sua exigência, pois instituída por órgão

competente.

A Resolução n.º 1.129 de 15 de maio de 1986, do Banco Central do Brasil,

determinou57

:

"O BANCO CENTRAL DO BRASIL, na forma do artigo 9º da Lei n.º 4.595/64, de

31/12/64, torna público que o CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL, em sessão

realizada nesta data, tendo em vista o disposto no artigo 4º, inc. VI e XI, da referida

Lei.

RESOLVEU:

I – Facultar aos Bancos comerciais, Bancos de desenvolvimento, Bancos de

investimento, caixas econômicas, cooperativas de crédito, sociedade de crédito,

financiamento e investimento e sociedades de arrendamento mercantil cobrar de

seus devedores por dia de atraso no pagamento ou na liquidação de seus débitos,

além de juros de mora na forma da legislação em vigor, "comissão de

permanência", que será calculada às mesmas taxas pactuadas no contrato original

ou à taxa de mercado do dia do pagamento.

57

BRASIL. Resolução BACEN, nº. 1129 de 15 de maio de 1986. Disponível em: <

http://www.felsberg.com.br/AreaAtuacao/Pdf/Arrendamento/RESOLU%C7%C3O%201129.pdf>. Acesso em

03 de outubro de 2009, às 23 h e 32 min.

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32

II – Além dos encargos previstos no item anterior, não será permitida a cobrança de

quaisquer outras quantias compensatória pelo atraso no pagamento dos débitos

vencidos".

A Comissão de Permanência não se constitui em Juros remuneratórios ou

compensatórios e jamais poderá ser de livre convenção, vale dizer, o limite é a exata

atualização do débito por índices oficiais, atualmente o INPC58

. Porém esses índices oficiais

serão a base da atualização, devendo constar, no ato da contratação, a fixação de seu

percentual, não podendo haver referência genérica.

O Tribunal de Alçada de Minas Gerais59

, ao proceder o exame da matéria, entendeu

que a Correção Monetária sobrepõe-se à Comissão de Permanência. Por oportuno e

conveniente, transcrevemos abaixo parte do acórdão exarado por aquela Corte, o qual é

vazado nos seguintes termos:

A correção monetária tem berço legislativo – foi instituída por lei – e, por isso –

embora destinada também a manter atualizado o quantum devido e a preservar o

valor aquisitivo da moeda – deve prevalecer sobre a comissão de permanência, que

tem origem administrativa (TAMG – AC 0284656-6 – 3ª C.Cív. Rel. Juiz Wander

Marotta – J. 11.08.1999).

Assim Comissão de Permanência tem a finalidade de remunerar o capital e atualizar o

seu valor em caso de inadimplência por parte do devedor, não sendo possível a cumulação

desse encargo com os Juros remuneratórios e com a Correção Monetária, sob pena de se ter a

cobrança de mais de uma parcela para se atingir o mesmo objetivo.

A interpretação mais acertada é aquela que diz que a Comissão de Permanência e a

Correção Monetária se equivalem, inibindo assim, o lucro sobre o lucro.

58

O INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) é medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística) desde setembro de 1979. Ele é obtido a partir dos Índices de Preços ao Consumidor regionais e tem

como objetivo oferecer a variação dos preços no mercado varejista, mostrando, assim, o aumento do custo de

vida da população. Disponível em < http://economia.uol.com.br/ultnot/2007/09/14/ult5365u6.jhtm> , acessado

em 03 de outubro de 2009, às 23h e 57 min. 59

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33

3 CONTRATOS

A origem etimológica da palavra Contrato conduz ao vínculo jurídico das vontades

com vista a um objetivo específico. O verbo contraere conduz a contractus, que traz o

sentido de ajuste, convenção ou pacto, sendo um acordo de vontades criador de direitos e

obrigações.

Segundo Kümpel, (2008, p. 05)60

, esse acordo de vontades criador de direitos e

obrigações, envolve três idéias, a saber:

1 ͣ ) a idéia de superconceito aplicável em todos os campos jurídicos, isto é, em todos

os ramos do direito, como, por exemplo, a licitação;

2 ͣ) a idéia mais limitada de contrato, adstrita ao ramo do direito privado, desde uma

doação civil até uma alienação fiduciária em garantia de natureza mercantil;

3 ͣ) a idéia ainda mais restrita de contrato, abrangendo apenas os fenômenos

submetidos a um regime jurídico de caráter unitário.

Também, conforme Maria Helena Diniz, (2006, p. 57)61

, conceitua-se Contrato como:

Contrato é o acordo de duas ou mais vontades, na conformidade da ordem jurídica,

destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as partes, com o

escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza

patrimonial.

Sílvio Rodrigues (2000, p. 97) define Contrato como “um ato bilateral que se

aperfeiçoa pela coincidência de dois ou mais consentimentos”62

. Ainda, Contrato é todo

negócio jurídico entre sujeitos capazes que após estipularem o objeto lícito, que será a

prestação obrigacional de conteúdo patrimonial, e as formas de adimplemento previstas em

lei, dão o seu consentimento para que ele se realize.

60

KÜMPEL, Vitor Frederico. Direito civil, direito dos contratos, 3. 2 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2008. 61

DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. 1º v. 6ͣ ed. rev. e ampl . e atual. de acordo com

o novo Código Civil,. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 57. 62

RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil: dos contratos e das declarações unilaterais da vontade. 27 ed. São Paulo:

Saraiva, 2000, p. 97.

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Assim, o principal efeito do Contrato segundo Orlando Gomes63

, consiste em criar

obrigações, estabelecendo um vínculo jurídico entre as partes contratantes. Por ser fonte de

obrigações, todos os seus efeitos são meramente obrigacionais, mesmo quando o Contrato

serve de título à transferência de direitos reais. Tais efeitos se manifestam não só na força

obrigatória, mas também na relatividade do Contrato.

3.1. PRINCÍPIOS QUE REGEM OS CONTRATOS

Os Princípios Gerais são uma das fontes do direito. Em todas às áreas do direito

existem os princípios reguladores, e no ramo das obrigações contratuais não é diferente. O

princípio pacta sunt servanda64

foi até meados do século XX o mais difundido, o mais

discutido, sendo à base do cumprimento dos Contratos.

A idéia central do princípio da força obrigatória (pacta sunt servanda) era de que cada

indivíduo, por livre e espontânea vontade, escolhesse com quem iria contratar, qual seria o

objeto, que cláusulas seriam estipuladas e quais as formas de adimplemento. Dessa forma, o

Contrato jamais poderia deixar de ser cumprido sob a alegação de diferenças econômicas e

sociais entre os contratantes. Visava preservar a autonomia da vontade, a liberdade de

contratar e a segurança jurídica de que os instrumentos previstos no nosso ordenamento são

confiáveis.

Com a Revolução Industrial65

, verificou-se uma massificação dos Contratos, não

sendo mais possível estipularem-se cláusulas individuais como outrora acontecia. O

capitalismo liberal trouxe os Contratos de adesão, aqueles em que as cláusulas são

previamente estipuladas por uma das partes (economicamente mais fortes), cabendo a outra

63

DINIZ, Maria Helena. Op. Cit. Aput. GOMES, Orlando, p. 193. 64

O princípio clássico pacta sunt servanda passou a ser entendido como o contrato que obriga as partes

contratantes a se manterem nos limites dos direitos e deveres entre elas. (Disponível em:

http://<http://www.1.jus.com.br/doutrina...> Acesso em: 02 de agosto de 2009.

65 A Revolução Industrial teve início no século XVIII, na Inglaterra, com a mecanização dos sistemas de

produção. Enquanto na Idade Média o artesanato era a forma de produzir mais utilizada, na Idade Moderna tudo

mudou. A burguesia industrial, ávida por maiores lucros, menores custos e produção acelerada, buscou

alternativas para melhorar a produção de mercadorias. Também podemos apontar o crescimento populacional,

que trouxe maior demanda de produtos e mercadorias. Disponível em:

<http://www.suapesquisa.com/industrial> Acesso em 19 de out. de 2009, às 22h.

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parte que tem necessidade de contratar (em geral, menos afortunada), simplesmente

submeter-se a elas.

Com o intuito de reter os abusos dos poderes econômicos e sociais provados e

equilibrar a relação contratual, nasce um novo ramo de direito, o Direito do Consumidor que

tem, como núcleo fundamental, os Contratos de consumo. Reconhece a condição de

vulnerabilidade dos Consumidores no mercado e, em função disso, visa ao consentimento

mais esclarecido por parte do Consumidor, à realização de melhor justiça contratual e a mais

efetiva garantia de reparação de danos eventualmente sofridos pelos Consumidores.

O Estado Social66

faz suscitar novos princípios contratuais que, de um modo ou de

outro, comparecem nos Código Civil de 2002 e Código de Defesa do Consumidor (CDC),

constituindo ferramentas hermenêuticas indispensáveis e imprescindíveis.

São eles, segundo Paulo Luiz Netto Lôbo67

:

a) Princípio da função social – a prevalência da realização individual perde espaço para o

social. Mesmo os Contratos que não são protegidos pelo Direito do Consumidor serão

interpretados no sentido que melhor contemple o interesse social, que inclui a tutela da partes

mais fraca no Contrato, ainda que não configure Contrato de adesão;

b) Princípio da boa-fé - a boa-fé objetiva importa em conduta honesta, leal e correra de todos

os contratantes, porém caberá ao fornecedor o dever de incluir na oferta toda informação ou

publicidade suficientemente precisa, assegurando ao Consumidor cognoscibilidade e

compreensibilidade prévias do conteúdo do Contrato;

c) Princípio da equivalência material – visa realizar e preservar o equilíbrio real de direitos e

deveres no Contrato, antes, durante e após a execução. Há presunção absoluta de

66

O Estado social, sob o ponto de vista do direito, deve ser entendido como aquele que acrescentou à dimensão

política do Estado liberal (limitação e controle do poderes políticos e garantias aos direitos individuais, que

atingiu seu apogeu no século XIX) a dimensão econômica e social, mediante a limitação e controle dos poderes

econômicos e sociais privados e a tutela dos mais fracos. LÔBO, Paulo Luiz Netto. Princípios sociais dos

contratos no CDC e no novo Código Civil . Jus Navigandi, Teresina, ano 6, n. 55, mar. 2002. Disponível em:

<http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2796>. Acesso em: 19 out. 2009.

67

LÔBO, Paulo Luiz Netto. Princípios sociais dos contratos no CDC e no novo Código Civil. Jus Navigandi,

Teresina, ano 6, n. 55, mar. 2002. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2796>. Acesso

em: 19 out. 2009.

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vulnerabilidade do trabalhador, do inquilino, do Consumidor e do aderente de Contrato de

adesão. Este princípio rompe a barreira de concentração da igualdade jurídica e formal que

caracterizou a concepção liberal do Contrato, quando este fazia lei entre as partes.

Os princípios sociais do Contrato não eliminam os princípios liberais (ou que

predominaram no Estado liberal), a saber, o princípio da autonomia privada (ou da liberdade

contratual em seu tríplice aspecto, como liberdades de escolher o tipo contratual, de escolher

o outro contratante e de escolher o conteúdo do Contrato), o princípio de pacta sunt servanda

(ou da obrigatoriedade gerada por manifestações de vontades livres, reconhecida e atribuída

pelo direito) e o princípio da eficácia relativa apenas às partes do Contrato (ou da relativa

subjetiva); mas limitaram, profundamente, seu alcance e seu conteúdo.

Considerando que os Contratos bancários são a maior expressão das relações

negociais massificadas, sendo os mais típicos Contratos de adesão, os mesmos foram

considerados passíveis de discussão sob a égide do Código de Defesa do Consumidor (objeto

da ADI 2.591), por entender os serviços bancários como relações de consumo.

3.2. AS OPERAÇÕES BANCÁRIAS

As operações bancárias possuem características que lhes são peculiares e diferem de

outras atividades econômicas. A doutrina costuma apontar como características a

pecuniariedade, a homogeniedade, a complexidade, a profissionalidade e a comercialidade.

Sucintamente, pode-se afirmar que são pecuniárias porque, via de regra, envolvem

dinheiro, uma vez que o objetivo é o crédito. Quanto à homogeneidade, elas o são em razão

de serem operações massificadas, via Contrato na forma de adesão. São complexas, porque a

cada dia surgem novas e sofisticadas operações em razão da rápida evolução e diferentes

necessidades do mercado. A profissionalização é uma das principais características, uma vez

que para a prática dos atos relacionados às operações bancárias existe sempre a figura de uma

instituição financeira, devidamente autorizada pelo Estado e que exerce a função de maneira

profissional. Quanto à comercialidade, deve-se salientar que tanto no Brasil como em outros

países, essas operações são consideradas atos de comércio porque envolvem a intermediação,

a habitualidade e o lucro, elementos que caracterizam a atividade mercantil. Tanto é assim

que o banqueiro é chamado “comerciante de crédito”.

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A doutrina costuma utilizar diversos critérios para classificar as operações bancárias.

Entretanto, um traço comum entre os doutrinadores e que reflete a mais importante

classificação, está em dividir as operações bancárias em típicas e acessórias, sendo que as

típicas subdividem-se em ativas e passivas.

As operações bancárias típicas são as que implicam na intermediação do crédito,

função principal dos Bancos, subdividindo-se em passivas e ativas. As operações bancárias

típicas passivas são aquelas em que o Banco torna-se devedor em relação aos clientes, porque

importam em ônus e obrigações para o estabelecimento bancário como, por exemplo, no

recebimento de um depósito. As operações bancárias típicas ativas são as que o Banco torna-

se credor do cliente, porque visam à colocação e ao emprego de fundos como, por exemplo,

os empréstimos e financiamentos.

Assim, nesse mesmo sentindo, a doutrina de Ferri68

definiu:

“A atividade atual dos Bancos resulta de uma dúplice categoria de operações:

àquelas essenciais à função que é próprias dos Bancos (exercício do crédito), e que

consistem, de um lado, na coleta dos capitais junto aos poupadores (operações

passivas) e, de outro lado, na distribuição dos capitais (operações ativas); aquelas

que consistem na prestação de determinado serviços (chamados serviços bancários)

a favor do público e que, não obstante a notabilíssima relevância assumida na

prática econômica e juridicamente desempenham uma função apenas acessória e

complementar”.

São operações acessórias segundo (Abrão, 2000)69

: a custódia de valores, o Serviço de

cofres de segurança, a cobrança de títulos, a prestação de informações e etc.

Assim, as operações acessórias são aquelas que não implicam nem a concessão e

nem o recebimento do crédito e, normalmente, servem apenas para atrair a clientela, ou para

a cobrança de alguma tarifa.

68

ABRÃO, Nelson. Direito Bancário. 6ͣ ed. rev. atual. e ampl. Pelo Dr. Carlos Henrique Abrão. – São Paulo:

Saraiva, 2000, p. 45. Aput. FERRI, Giuseppe. Manuale didiritto commerciale, Turim, 1971, p. 680. 69

ABRÃO, Nelson. Op. Cit. p. 46.

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3.3 CONTRATOS BANCÁRIOS

As operações bancárias são realizadas através de Contratos. A doutrina assim define o

Contrato: “o acordo entre o Banco e o cliente para criar, regular ou extinguir uma relação que

tenha por objeto a intermediação do crédito”70

.

Mediante a celebração de inúmeros Contratos, os Bancos incentivam a produção

comercial, industrial e agrícola do País, desenvolvem operações com pessoas físicas e

jurídicas, tornam possível a execução de Serviços e obras públicas, tornam produtivos

capitais disponíveis, fazem circular a riqueza e a moeda, ajudando no desenvolvimento do

País.

Os Contratos bancários repercutem e têm grande importância na economia nacional,

desempenhando função de alto interesse público, razão pela qual estão sujeitos a normas

restritivas e fiscalização por parte do Estado.

A doutrina71

entende que existem três tipos de Contratos Bancários:

Os contratos em moeda e crédito, os quais dizem respeito à administração direta da

moeda e do crédito, como depósitos, financiamentos etc. Os contratos mistos de

crédito e serviços que são aqueles que lidam com créditos de terceiros ou abertos

por terceiros, representando fonte de alimentação de recursos em massa à

globalidade das operações da espécie e prestação de serviços. Por fim, os contratos

de prestação de serviços, os quais representam simplesmente operações de mero

serviço, como prestação de garantias, aluguel de cofre e serviços de custódia.

3.3.1 ELEMENTOS DOS CONTRATOS BANCÁRIOS

Os elementos do Contrato bancário são o sujeito, o objeto e a causa. Os sujeitos são,

de um lado, o banco, e de outro, o cliente. O objeto do Contrato bancário é o crédito, que vem

a ser a disposição efetiva e imediata de um bem econômico em vista de uma contraprestação

futura.

Deve-se salientar que a confiança é o elemento intrínseco e fundamental do crédito e

opera-se tanto na confiança do estabelecimento bancário no cliente, como também na

confiança do cliente em relação ao Banco. Justifica-se, por essa razão, o rígido controle e

70

COVELLO, Sérgio Carlos. Contratos Bancário. São Paulo: Liv. E Ed. Universitária de Direto, 2001, p. 47 71

DA LUZ, Aramy Dornelles. Negócios Jurídicos Bancários: o banco múltiplo e seus contratos. São Paulo: ed.

Revista dos Tribunais, 1996, p. 37.

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fiscalização estatal que os Bancos sofrem, uma vez que a atividade interessa a toda a

coletividade e ao desenvolvimento do País.

Ainda em relação ao crédito, o prazo é outra característica, porque a contraprestação

não é imediata, mas diferida no tempo. O juro também é parte do crédito e significa o preço

pago pela dilatação do pagamento da contraprestação. Outra característica que do crédito é o

risco inerente em cada operação e que é praticamente inseparável do crédito a ponto de se

afirmar que, em princípio, não existe crédito sem risco.

O risco pode se apresentar de maneira particular em determinada operação ou em

relação à pessoa, ou ele pode ser geral, proveniente de acontecimentos que envolvem toda a

nação ou várias nações, em especial atualmente em face da globalização, ou pode ser risco

profissional, relativo a um setor ou a uma classe profissional qualquer.

O último elemento do Contrato é a causa. A causa do Contrato é a mobilização do

crédito, uma vez que em uma sociedade normal, algumas pessoas têm dinheiro em excesso

enquanto que outras pessoas o necessitam. O banco, na condição de intermediador, efetua

essa distribuição através de suas mais diversas operações.

3.3.2 CARACTERÍSTICAS DOS CONTRATOS BANCÁRIOS

As principais características dos Contratos Bancários são: contabilização, Contrato de

adesão, dirigismo contratual e caráter sigiloso. Via de regra, os Contratos Bancários têm por

características envolver valores pecuniários. Por isso, exigem a realização de certos atos que

permitam a comprovação da operação realizada, precisando de rigoroso assentamentos de

contabilidade em razão da complexidade das operações, dos altos valores registrados e para

possibilitar o controle da atividade bancária.

Outra característica marcante dos Contratos Bancários é que se realizam de maneira

massificada. Diariamente os Bancos contratam com um grande número de pessoas,

realizando inúmeras operações. Dessa forma, a única maneira de contratar é na forma de

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40

adesão72

, ou seja, por meio de Contratos com cláusulas gerais e uniformes para todos os

Contratos da espécie.

Além disso, outra razão para que os Contratos sejam na forma de adesão, é que o

Estado, através do Banco Central, intervém na vida dos Bancos através de circulares e

resoluções, chegando muitas vezes até determinar a própria minuta do Contrato, como ocorre

com frequência nas operações cambiais, por exemplo.

Em regra, o Contrato pressupõe autonomia e igualdade entre as partes contratantes, as

quais, ao menos em tese, são livres para contratar o que quiserem. Todavia, na seara bancária

a autonomia da vontade é apenas teórica e às vezes pode levar à espoliação do mais fraco

pelo mais forte. Para evitar ou ao menos minorar essa desigualdade, surge à intervenção

estatal a amparar os menos favorecidos, o que se costuma denominar de dirigismo contratual.

No Brasil, o dirigismo contratual é efetuado pela legislação, como, por exemplo, o

Código de Defesa do Consumidor, e também pelo Conselho Monetário Nacional, através do

Banco Central pelas suas circulares e resoluções, como a resolução 2878, a qual trata do

Código de Defesa do Consumidor Bancário.

Por sua vez, o caráter sigiloso é de natureza dos Contratos Bancários e tem inclusive

garantia constitucional73

. No trato com seus clientes, o banco torna-se detentor de

informações confidenciais que lhe impõe o dever de discrição.

O sigilo bancário segundo ABRÃO, (2000, p.51)74

:

O sigilo bancário se caracteriza como sendo a obrigação do banqueiro – a benefício

do cliente – de não revelar certos fatos, atos, cifras ou outras informações de que

teve conhecimento por ocasião do exercício de sua atividade bancária e

notadamente aqueles que concernem ao seu cliente, sob pena de sanções muito

rigorosas, civis, penais ou disciplinais.

Significa, ainda, verdadeira obrigação de sigilo profissional, de sorte que as operações

bancárias assumem o caráter sigiloso e recebem proteção legal, atualmente além da

72

Dispõe o artigo 54 da Lei 8078/90: contrato de adesão é aquele cuja as cláusulas tenham sido aprova das pela

autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de produtos ou serviços, sem que o

consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu conteúdo. 73

Dispõe o artigo 5º, inciso XII da Constituição Federal de 1988: É inviolável o sigilo da correspondência e das

comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo no último caso por ordem judicial,

nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal. 74

ABRÃO, Nelson. Op. Cit., p.51.

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41

Constituição Federal, através de Lei Complementar 105/2001, sujeitando os responsáveis

pela quebra do sigilo fora dos casos legalmente permitidos às sanções administrativa, civil e

penal.

3.4 TIPOS DE CONTRATOS BANCÁRIOS

O Contrato expressa, entre outras atribuições, a organização de toda uma atividade

necessária às transações das modernas economias, impondo ao seu meio de relacionamento

condições padronizadas através de cláusulas contratuais uniformes e de adesão, o que permite

que se atinja maior amplitude de mercado, refletindo economia de custos e eficiência da

administração dos recursos.

Segundo Ruy Orlando Mereniuk75

:

Em uma visão simplista, o contrato é um pacto de vontades entre duas ou mais

partes, determinando, em sua natureza de operação, direitos e obrigações. Mas o

contrato bancário é, em sua natureza, um mecanismo de consumo para um

instrumento de consumo, ou seja, o objetivo básico do contrato de bancário é o

crédito e conseqüente intermediação de recursos monetários a serem

disponibilizados para o consumo.

Assim, todas as operações bancárias poderão ser consideradas como Contratos, por

haver acordo entre as partes, criando obrigações. Contudo, a padronização de tais Contratos,

se deu por intervenção do Estado, por meio do Banco Central, cujas circulares e resoluções

fazem com que as operações bancárias sejam praticadas de modo uniforme, chegando até

mesmo a determinar a minuta do Contrato.

3.4.1 ABERTURA DE CRÉDITO EM CONTA CORRENTE

Conforme a doutrina de DINIZ, (2006)76

:

A abertura de crédito bancário é o contrato pelo qual o banco (creditador) obriga-se

a colocar à disposição do cliente (creditado) ou de terceiro, por prazo certo ou

indeterminado, sob cláusulas convencionadas, uma importância até um limite

estipulado, facultando-se a sua utilização no todo ou parceladamente, porém a

quantia deverá ser restituída, nos termos ajustados, acrescida de juros e comissões,

ao se extinguir o contrato.

Pela abertura de crédito o banco fará determinada provisão de fundos em favor do

cliente, para sacar, durante certo período de tempo, valores e ter as suas ordens de

pagamento satisfeitas. O creditado obrigar-se-a ao reembolso do valor de que

75

MERENIUK, Ruy Orlando. Contratos bancários e o impacto das taxas de juros – a usura na velocidade do

tempo. Curitiba: Juruá, 2002. p. 103.

76

DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. 4º v. 6ͣ ed. rev. e ampl . e atual. de acordo com

o novo Código Civil,. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 701 - 702.

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42

utilizou, com o acréscimo de seus acessórios. Os juros serão pagos sobre as

importâncias sacadas pelo creditado e atendidas pelo creditador, contados desde a

data do pagamento.

Assim sendo, não há prévia entrega de dinheiro, pois o banco não transfere a quantia

que empresta, mas somente a põe a disposição de cliente ou de terceiro, que, como não a

retira imediatamente, a mantém no banco, a título de depósito, utilizando-a como lhe

convém, e o creditado tem o direito de efetuar o reembolso, utilizando novamente o crédito

reintegrado.

Já para Orlando Gomes77

, o conceito consiste em: “trata-se de Contrato típico. Sua

essência consiste na atribuição ao creditado do poder de pretender do banco a prestação de

certa soma.

Ainda, nesta mesma seara, é justamente a atribuição ao creditado de um tal poder,

assinala Giacomo Molle78

, “que constitui a conotação essencial da abertura de crédito e a

distingue dos outros Contratos de crédito”.

A abertura de crédito poderá ser ainda, a descoberto ou garantida. Será a descoberto

se o banco, pela confiança que lhe inspira o cliente, a conceder baseado no crédito pessoal do

devedor, considerando suficiente, como garantia, o seu patrimônio. Será garantida se o banco

exigir penhor, hipoteca, retenção de valores, caução, fiador ou avalista.

O crédito permanecerá aberto durante todo o tempo ajustado e poderá ser revogado se

houver fato que indique redução do patrimônio do creditado, como por exemplo: protesto

cambial, ação em juízo, falta de substituição ou reforço de garantia etc. Se for por tempo

indeterminado, o banco só poderá rescindir o Contrato mediante aviso prévio.

O banco debitará ao creditado todas as despesas e os Juros avençados, que são a

remuneração pelo uso do capital retirado, e lhe cobrará uma comissão a título de

imobilização de capital, incidente sobre o limite do crédito aberto. A comissão será cobrada

mesmo que o cliente não utilize o crédito aberto, porque é devida ao banco pelo fato de ter

ele separado do seu giro uma certa quantia, que poderá ou não ser levada pelo cliente, mas

que permanecerá, durante todo o Contrato, à sua disposição.

77

GOMES, Orlando. Op. Cit., p. 391. 78

ABRÃO, Nelson. Op. Cit., p. 116. Aput. MOLLE, Giacomo, I Contratti Bancari, p.153.

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43

3.4.2 CÉDULA DE CRÉDITO BANCÁRIO

A cédula de crédito bancário, Lei n. 10.931/2004, arts. 26 a 45, segundo (Diniz,

2006)79

:

[...] é título de crédito emitido, por pessoa física ou jurídica, em favor de

instituição financeira ou de entidade a esta equiparada, representando promessa de

pagamento em dinheiro, decorrente operação de crédito, de qualquer modalidade

econômica que necessitam de capital de giro para sua consecução. Permite ao

credor sua circulação por meio de endosso e possibilita a pactuação de juros

capitalizados, mas obriga o credor a apresentar extrato bancário e planilha de

débito, indicando eventuais pagamentos parcelados.[...]

A instituição credora deve integrar o Sistema Financeiro Nacional, sendo admitida a

emissão das cédulas de crédito bancário em favor de instituição domiciliada no exterior,

desde que a obrigação esteja sujeita exclusivamente à lei e ao foro brasileiros.

A cédula de crédito bancário poderá ser emitida, com ou sem garantia, real ou

fidejussória, cedularmente constituída, bem como, é um título executivo extrajudicial e

representa dívida em dinheiro, certa, líquida e exigível, seja pela soma nela indicada, seja

pelo saldo devedor demonstrado em planilha de cálculo, ou nos extratos da conta corrente.

Nestas cédulas, poderão ser pactuados os Juros sobre a dívida, capitalizados ou não,

os critérios de sua incidência e, se for o caso, a periodicidade de sua capitalização, bem como

as despesas e os demais encargos decorrentes da obrigação. Ainda, poderão conter os

critérios de atualização monetária, como permitido em lei, ou os critérios de atualização

cambial da dívida, na forma do § 2º do art. 28 da Lei n. 10.931/2004 e nos demais casos

permitidos em lei. Os casos de ocorrência de mora e de incidência das multas e das

penalidades contratuais, bem como as hipóteses de vencimento antecipado da dívida. Os

critérios de apuração de ressarcimento, pelo emitente ou por terceiro garantidor, das despesas

de cobrança da dívida e de honorários advocatícios, judiciais ou extrajudiciais.

Quando for o caso, a modalidade de garantia da dívida, sua extensão e as hipóteses de

substituição de tal garantia, as obrigações a serem cumpridas pelo credor, a obrigação do

credor de emitir extratos da conta corrente ou planilhas de cálculo da divida ou de seu saldo

devedor e ainda, outras condições de concessão do crédito, suas garantias ou liquidação,

79

DINIZ, Maria Helena. Op. Cit., p. 718.

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obrigações adicionais do emitente ou do terceiro garantidor da obrigação, desde que não

contrariem as disposições anteriormente citadas.

As cédulas de crédito bancário, dividem-se conforme a operação que esta sendo

contratada, e podem ser classificadas da seguinte forma, segundo Antônio Carlos Efing80

:

[...] Cédula e nota de crédito comercial. Na concessão de

empréstimos a pessoas físicas ou jurídicas que se dediquem à

atividade comercial para instrumentalizar essas operações, assim a

cédula de crédito comercial corresponde a uma promessa de

pagamento em dinheiro, com garantia real, cedularmente formada. Já

a nota de crédito comercial vem a ser uma promessa de pagamento

em dinheiro, sem garantia real.

[...] Cédula e nota de crédito industrial: a cédula de crédito industrial

é a promessa de pagamento em dinheiro, com garantia real,

constituída por via da cártula. Trata-se de título líquido e certo,

exigível pela soma dele constante ou de endosso, além dos juros da

comissão de fiscalização, se houver, e demais despesas que o credor

fizer para a segurança, regularização e realização do seu direito

creditório. As garantias da cédula de crédito industrial podem

constituir em: penhor cedular, alienação fiduciária ou hipoteca

cedular, bem como podem existir garantias pessoais, como o aval. Já

a nota de crédito industrial difere da cédula de crédito industrial,

tendo em vista a falta de garantia real, uma vez que é conceituada

como promessa de pagamento em dinheiro sem garantia real.[...]

[...] Cédula de crédito rural. Três são as cédulas de crédito rural: a

cédula de crédito rural pignoratícia, a cédula rural hipotecária e a

cédula rural pignoratícia e hipotecária. A cédula de crédito rural

pignoratícia decorre da existência de penhor rural, sendo título de

crédito que se vincula a um penhor já firmado e sua finalidade é

80

EFING, Antônio Carlos. Contratos e Procedimentos Bancários à Luz do Código de Defesa do Consumidor.

1.ed., 3.tir. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. p. 139-145. Apud. MARTINS, Fran. Títulos de

Crédito, 3ª Ed.. , Rio de Janeiro, Forense, 1986, v. 2, p. 289.

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representar o valor do crédito garantido pelo penhor registrado. A

cédula rural hipotecária nada mais é que uma hipoteca convencional,

instrumentalizada por uma cédula, na qual se inserem, de modo

simples, em espaços reservados para o preenchimento, o acordo de

criação e reconhecimento de uma dívida de natureza pessoal e

representada pelo valor do financiamento, concedido para fins rurais,

a constituição do título de crédito e a especialização dos bens dados

em garantia. Por fim, a cédula rural pignoratícia e hipotecaria

constitui uma garantia real no empréstimo, envolvendo bens móveis

e bens imóveis.[...]

3.4.3 ARRENDAMENTO MERCANTIL – LEASING

Leasing, segundo (EFING, 2000), surge no contexto contratual como uma modalidade

de financiamento, visando a facilitação do uso e do gozo por parte de uma pessoa, quer seja

ela jurídica ou física, sem que a mesma tenha que desembolsar imediatamente o valor do bem

arrendado.

Assim, entende-se por leasing, ou Contrato de arrendamento mercantil, o acordo entre

arrendatário e arrendador, através do qual o arrendatário indica um bem a ser adquirido pelo

arrendador, num primeiro instante.

Portanto, para o completo entendimento do conceito de leasnig, é imprescindível citar

Maria Helena Diniz81

, que leciona:

Leasing financeiro ou tradicional (operating lease), traduzido por arrendamento

mercantil, é o contrato pelo qual uma pessoa jurídica ou física (art. 12 da Res. n.

2309/96), pretendendo utilizar determinado equipamento, comercial ou industrial,

ou um certo imóvel, consegue que uma instituição financeira o adquira, arrendando-

o ao interessado por tempo determinado, possibilitando-se ao arrendatário, findo tal

prazo, optar entre a devolução do bem, a renovação do arrendamento, ou a

aquisição do bem arrendado mediante um preço residual previamente fixado no

contrato, isto é, o que fica após a dedução das prestações até então pagas (Lei n.

6099/74, arts. 1º, 2º, § 1º, 6º, 7º, 8º, 9º, § 2º, 10, 16 e 23, com alterações da Lei n.

7132/83; Res. n. 2659/99, 2309/96 e 1649/89 do Banco Central; Circulares n. 2153,

2323/92 e 2442/ do Banco Central). Pode ser celebrado por instrumento particular,

pois a lei lhe atribui o caráter de escritura pública para os fins de direito (art. 38 da

Lei n. 9514/97, com a redação da Lei n. 10.931/2004).

81

DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos. 4º v. 6ͣ ed. rev. e ampl . e atual. de acordo com

o novo Código Civil,. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 542.

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46

3.4.4 CARTÃO DE CRÉDITO

Amplamente utilizado como uma forma de facilitar o funcionamento de operações de

natureza comercial atualmente, o cartão de crédito encerra em seu conteúdo a articulação de

três peças fundamentais concernentes às relações levadas a efeito em sua dinâmica funcional.

As partes integrantes do sistema de cartões de crédito recebem, cada qual, sua

respectiva denominação: emissor, titular do cartão e fornecedor.

Nesse sentido, (EFING, 2000)82

, caracteriza a cada um dos integrantes do sistema de

cartões de crédito da seguinte forma:

O emissor, cumprindo com a promessa de intermediar a relação de compra e venda

entre o titular do cartão de crédito e o fornecedor, comumente aparece como uma

pessoa jurídica dedicada a atividade financeira. No âmbito do cartão de crédito, o

emissor facilita a venda ao usuário do cartão, através da emissão do mesmo. Esse

ato, portanto, credencia o portador (titular do cartão de crédito) à aquisição de

mercadorias e serviços junto ao fornecedor.

Do contrário do que se pode imaginar, ainda, ensina Antônio Carlos Efing83

:

O beneficiário do cartão de crédito, quando fazendo uso do mesmo, realizando

despesas junto a fornecedores, não se responsabiliza frente aos mesmos, pois é ao

emissor atribuída a responsabilidade de pagar aos fornecedores o montante

deliberado pelo usuário do cartão.

Assim, o Contrato de cartão de crédito autoriza ao Consumidor titular do cartão

efetuar pagamentos com o limite de crédito aberto pelo fornecedor emissor, podendo o

Consumidor restituir ao emissor a importância paga a determinada data aprazada ou

parceladamente, mediante, neste caso, o pagamento de Juros decorrentes do crédito cedido.

As empresas de cartão de crédito que não sejam instituições financeiras, Bancos, não

estão autorizadas a cobrança indiscriminada desta taxa de Juros, devendo obedecer os limites

legais, sob pena de caracterizar-se crime de Usura.

Constam nos Contratos dos cartões de crédito, as seguintes cláusulas, entre outras:

outorga de poderes para, junto à instituição financeira de escolha do emissor fornecedor, por

82

EFING, Antônio Carlos. Contratos e Procedimentos Bancários à Luz do Código de Defesa do Consumidor.

1.ed., 3.tir. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000. p. 132. 83

EFING, Antônio Carlos. Op. Cit., p. 132.

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47

conta do Consumidor, negociar e obter crédito, bem como poderes para assinar o aludido

Contrato de financiamento, abrir conta corrente em banco, assinar títulos representativos do

débito do Consumidor, inclusive notas promissórias, acertar prazos, Juros, comissões e

encargos; em caso de perda, furto ou roubo do cartão de crédito, mesmo que este tenha sido

cancelado automaticamente, responderá o Consumidor por débitos oriundos do mau uso do

cartão decorrentes destes.

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4 ANATOCISMO

Primeiramente, é oportuno sinalar as definições atribuídas aos vocábulos

“Anatocismo” e “Usura”, segundo os dicionários Houaiss e Michaelis:

Dicionário eletrônico HOUAISS (2002)84

:

Anatocismo: “É a cobrança de juros sobre juros”, e tem a sua etimologia do

“latim anatocismus, do gr. anatokismós 'usura, prêmio capitalizado'.”

Usura: “Empréstimo de dinheiro a juros superiores à taxa legal; agiotagem;

juro exagerado, extorsivo; lucro excessivo.”

Dicionário eletrônico MICHAELIS (2008)85

:

Anatocismo: “Juro cobrado sobre juros vencidos não pagos e que são tidos por

incorporados ao capital desde o dia do vencimento. sm (gr. anatokismós)”

Usura: “Especulação ilícita que consiste em cobrar juros, comissões ou descontos

sobre empréstimos de dinheiro, por taxas acima das estabelecidas pela lei; cobrança

de juros excessivos; lucro exagerado.”

Antiga é a aversão à cobrança imoderada de Juros. O Sistema Financeiro

Nacional, cobra em suas atividades o spread86

, sendo um dos mais altos do planeta, a

despeito da atual conjuntura mundial, sem embargo da responsabilidade social.

84

HOUAISS. Dicionário Eletrônico. Versão 2.0. CD. Melhoramentos. 2002. 85

MICHAELIS. Dicionário Eletrônico. Disponível em: <http://dicionario.caixa>. Acesso em: 05 outubro 2009. 86

Diferença entre a taxa que remunera o depositante e a taxa que define o custo do empréstimo para o tomador

de recursos. COSTA, Ana Carla Abrão; NAKANE, Márcio I. Revisitando a metodologia de decomposição do

spread bancário no Brasil. Disponível em:

<http://www.econ.fea.usp.br/bacen/Artigos/SpreadRevFinalset04.PDF>. Acessado em 23 de setembro de 2009,

às 17 h e 36 min.

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49

4.1 ANATOCISMO NO MUNDO

A legislação brasileira que dispõe sobre o assunto, foi inspirada nas leis dos países

europeus, tais como a França, Portugal, Alemanha, Itália, Espanha e Holanda, entendendo-se

importante transcrever o conceito de Anatocismo contido nos Códigos destes países,

segundo o estudo de José Dutra Vieira Sobrinho (2004)87

, que começou demonstrando o que

determina o Código Civil português, que endossa plenamente o nosso entendimento:

Art. 560 - Para que os juros vencidos produzam juros é necessária convenção

posterior ao vencimento; pode haver também juros de juros, a partir da notificação

judicial feita ao devedor para capitalizar os juros vencidos ou proceder ao seu

pagamento sob pena de capitalização. Só podem ser capitalizados os juros

correspondentes ao período mínimo de um ano

No Código Civil italiano encontramos entendimento semelhante:

Art. 1282 – Na falta de uso contrário, os juros vencidos só podem produzir juros do

dia do pedido judicial, ou por efeito de convenção posterior ao seu vencimento, e

sempre que trate de juros devidos pelo menos por 6 meses.

E no Código Civil francês, conhecido também por Código de Napoleão,

considerado pela maioria dos grandes juristas como o pai de todos os códigos, o

entendimento não é diferente:

Art. 1154 - Os juros vencidos dos capitais podem produzir juros, quer por um

pedido judicial, quer por uma convenção especial, contando que, seja no pedido,

seja na convenção, se trate de juros devidos, pelo menos, por um ano inteiro.

Em contraposição aos estudos de José Dutra Vieira Sobrinho, MEASCHIATTI

(2006)88

, cita que o discurso em que o professor de matemática financeira apresenta a

legislação brasileira como uma doutrina traduzida das legislações francesa, portuguesa, alemã

e italiana, apresenta neste aspecto incoerências das afirmativas textuais do autor citado,

conforme segue:

“O Código Civil em Portugal é posterior ao nosso. Nosso Código Comercial, que

estabelecia essa proibição de juros sobre juros em conta corrente é de 1853. O

Código Civil Português, como vocês podem ver nos slides, é de 1867, reformado

em 1966, e o Código Civil italiano é mais recente, de 1942. Então nós não podemos

ter traduzido qualquer coisa dessas leis.”

87

VIEIRA SOBRINHO, José Dutra. A Capitalização de Juros e o Conceito de Anatocismo. Disponível em:

<www.sindecon-esp.org.br/artigos/anatocismo020904.pdf.Acesso em 30 de setembro de 2009. 88

NOGUEIRA, José Jorge Meschiatti. Seminários Sistema Financeiro de Habitação – SFH: Problemas e

propostas de solução em debate. Disponível em: <

http://www.procon.sp.gov.br/pdf/JOSE%20JORGE%20MESCHIATTI%20NOGUEIRA.PDF>Acesso em 20 de

outubro de 2009.

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50

4.2 ANATOCISMO E JUROS COMPOSTOS: UMA MERA QUESTÃO SEMÂNTICA

Anatocismo ou juro composto é uma discussão meramente semântica, sendo na

verdade sinônimos. Assim, para melhor compreensão da matéria é importante definirmos os

conceitos de juros simples e compostos, sendo eles universais e dizem respeito ao processo

de formação dos Juros.

Segundo VIEIRA SOBRINHO (2004)89

:

No cálculo dos juros simples, a taxa de juros incide sobre o capital inicial, e

somente sobre o capital inicial; no caso dos juros compostos, a taxa de juros incide

sobre o capital inicial e também sobre os juros que vão se acumulando

periodicamente (dia, mês, trimestre ou ano). Os juros resultantes da aplicação de

qualquer um desse dois critérios é o valor devido no final do período contratado, o

qual pode ser pago ou incorporado ao capital inicial para a formação de novos

juros, conforme vontade firmada entre as partes. Para melhor entendimento dessa

questão, vamos admitir o seguinte exemplo:

Calcular o montante de um empréstimo (ou de uma aplicação) de R$ 1.000,00 .

contratado a uma taxa de juros de 5% ao mês para ser quitado de uma só vez

no final de 4 meses.

O montante ou valor de resgate será de R$ 1.200,00 se o critério de cálculo

estabelecido entre as partes for o de juros simples, e R$ 1.215,51, se o critério

firmado for o de juros compostos. Este modelo é chamado de pagamento único, em

contrapartida aos modelos que envolvem dois ou mais pagamentos.

O critério de Juros simples tem aplicação extremamente limitada no mundo, utilizado

somente para operações financeiras de curto prazo, de até 12 meses, em que o capital inicial e

os Juros são pagos de uma só vez no vencimento. A grande maioria dos países do mundo –

toda Europa, o continente asiático, os Estados Unidos e a maior parte da América do Sul -

adota esse critério por costume ou tradição. Nesses países, a taxa de Juros é sempre

informada para o período de um ano; e como essa taxa deve estar escrita no contrato, é

chamada de taxa nominal.

Porém, ainda nos ensinamentos de VIEIRA SOBRINHO (2004)90

:

Em se tratando de empréstimos (ou financiamentos) para quitação em duas ou mais

prestações, iguais ou diferentes, o mundo inteiro utiliza o critério de juros

compostos ou de capitalização composta; idêntico procedimento é adotado para

todas as modalidades de aplicações periódicas de recursos, como cadernetas de

poupança, fundos de investimentos em renda fixa, fundos de previdência e outros.

89

VIEIRA SOBRINHO, José Dutra. Op Cit. 90

Ibidem.

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Nos casos de empréstimos ou financiamentos para pagamento em parcelas iguais,

cujo sistema de cálculo apenas no Brasil é conhecido por “Sistema Price” ou

simplesmente “Tabela Price”, o valor das prestações é obtido com base no critério

de juros compostos.

Esses fatos podem ser facilmente comprovados, visto que a fórmula utilizada para o

cálculo das prestações está demonstrada na maioria dos livros de matemática financeira.

.

4.3 ANATOCISMO NO BRASIL: EVOLUÇÃO LEGAL E JURISPRUDENCIAL

No Brasil, faz muito, a lei fixou em 6% ao ano na ausência de convenção e

estabeleceu a nulidade do que fosse convencionado além do dobro da taxa legal, através do

Decreto 22.626 de 1933, conhecido como a Lei da Usura, artigos 1º, 2º e 1191

, conforme

segue:

Art. 1º. É vedado, e será punido nos termos desta lei, estipular em quaisquer

contratos taxas de juros superiores ao dobro da taxa legal (Código Civil, art. 1062).

Art. 2º. E vedado, a pretexto de comissão; receber taxas maiores do que as

permitidas por esta lei.

...

Art. 11. O contrato celebrado com infração desta lei é nulo de pleno direito, ficando

assegurado ao devedor a repetição do que houver pago a mais.

Além o mesmo cordex, decretou que o Anatocismo financeiro – cômputo de juros

sobre juros – ficou permitido em periodicidade anual, conforme art. 4º do Decreto nº

22.626/33:

Art. 4º. E proibido contar juros dos juros: esta proibição não compreende a

acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta corrente de ano a ano.

Porém, é sabido que as instituições bancárias, conforme à linha de crédito

concedido fixam uma forma de remuneração de capital emprestado, e impõem determinadas

condições, inclusive com a capitalização mensal e até diária, mesmo sabendo das disposições

proibitivas do presente Decreto nº 22.626/33 (art. 4º), infringindo assim lei

infraconstitucional, desobediência essa praticada unilateralmente pelas instituições bancárias.

As Instituições financeiras ao aplicarem os Juros capitalizados ou compostos apóiam-

se na Lei 4.595/64 que defendem ter revogado a Lei da Usura ou na Súmula 596 do STF,

editada em 1977, que as excluem das disposições do Decreto nº 22.626/33.

91

BRASIL, Decreto 22.626 de 1933. Op. Cit.

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52

A Lei 4.595/64, também chamada Lei dos Bancos, foi editada em 31 de dezembro de

1964, dispondo sobre a política e as instituições monetárias bancárias e creditícias, criando o

Conselho Monetário Nacional, determinou em seu artigo 4º, inciso IX92

, que:

Art. 4º Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas

pelo Presidente da República:

...

IX - Limitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos comissões e

qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços bancários ou

financeiros, inclusive os prestados pelo Banco Central da República do Brasil,

assegurando taxas favorecidas aos financiamentos que se destinem a promover:

....

Contudo, a referida Lei (4595/64), foi editada sob o império da Constituição de 1946,

que proibia a Usura em todas as suas modalidades e vedava explicitamente a delegação de

poderes, conforme seu artigo 36, §2º 93

, a seguir:

Art 36 - São Poderes da União o Legislativo, o Executivo e o Judiciário,

independentes e harmônicos entre si.

...

§ 2º - É vedado a qualquer dos Poderes delegar atribuições.

Neste mesmo contexto, o Ministro aposentado do STF, Paulo Brossard de Souza

Pinto94

, leciona:

Não obstante, ao artigo 4º da Lei 4595, inciso IX, em vez de entender-se que o

Conselho Monetário Nacional podia limitar, sempre que necessário, as taxas de

juros nos limites da lei, da lei que vedava a cobrança de juros além de 12% ao ano,

sob pena de nulidade, por sua ilicitude, e que considerava ilícito penal convenção

nesse sentido, Lei 1.521, art. 4º, “a” e §3º, foi entendido no sentido de que o

Conselho Monetário Nacional poderia revogar a lei, quando se tratasse de

instituições financeiras, públicas ou privadas; desse modo um minúsculo

seguimento da administração podia fazer o que ao Presidente da República não era

permitido. E revogá-la em benefício de instituições financeiras, infinitamente mais

poderosas que seus mutuários, de maneira tal que entre as partes, tão desiguais

economicamente, a mutualidade soava como mera ficção.

Sempre me pareceu que essa interpretação era incompatível com o art. 4º,

IX, da Lei 4595, e inconciliável com o sistema constitucional que o embasava.

Além disso, nunca me pareceu razoável que fosse ilícito o negocio feneratício

celebrado pelo onzenário particular e lícito se consertado pela grande finança, que

abre as portas com a autorização do poder público.

O certo é que a exegesse escancarou as portas à usura mais desenfreada;

oficializou-a, desde que praticada por instituições financeiras, públicas ou privadas,

92

BRASIL. Lei BRASIL. Lei 4.595/64. Op. Cit. 93

BRASIL. Constituição dos Estados Unidos do Brasil, de 18 de setembro de 1946. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Constitui%C3%A7ao46.htm>, acessado em 17 de outubro

de 2009, as 20 h e 15 min. 94

WEDY, Gabriel. O Limite Cosntitucional dos Juros Reais. Porto Alegre: Síntese, 1997. Aput. PINTO,

Paulo Brossard de Souza, p. 13.

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exatamente as mais poderosas e cuja superioridade em relação à sua clientela,

industriais, comerciantes, empresários em geral, profissionais liberais, agricultores,

é inquestionável.

Por este motivo, tramita no STF a ADI nº. 2316/2000, embasamento que ensejou o

presente estudo, ajuizada por um partido político, tendo como objeto a declaração de

inconstitucionalidade da Medida Provisória nº. 2170/01, a qual autorizou a capitalização

mensal de Juros nos Contratos Bancários e de financiamentos congêneres.

Segundo, Jansen Fialho de Almeida95

,

A relevância do assunto incita maior profundidade sob o aspecto processual, haja

vista que milhares de consumidores, cidadãos, têm na via da ação revisional de

contratos bancários buscando a máquina judiciária, sem, contudo, obter um

posicionamento definitivo sobre o tema, qual seja a possibilidade de se capitalizar

os juros (cobrar juros sobre juros), sejam na via do puro anatocismo ou na

interpretação e aplicação da denominada Tabela Price. O mesmo se diga nos

contratos regidos pelo Sistema Financeiro da Habitação. Reclamam uma decisão

final da Justiça.

Neste pedido de inconstitucionalidade discute-se a possibilidade ou não de se editar

tal tipo de norma (MP), em se tratando de matéria afeta ao direito financeiro, reservada à lei

complementar, em face da expressa vedação constitucional, artigos 62, §1º, III e 192 da CF96

,

senão vejamos:

Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar

medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao

Congresso Nacional.

§ 1º É vedada a edição de medidas provisórias sobre matéria:

...

III - reservada a lei complementar;

...

Art. 192. O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o

desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em

todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será

regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do

capital estrangeiro nas instituições que o integram.

A jurisprudência atual do STJ, consolidou-se na admissão da capitalização mensal dos

Juros considerando válida e eficaz a citada medida provisória enquanto não for declarada

inconstitucional pelo STF, eis que fora de seu controle, limitado às normas

95

DE ALMEIDA, Jansen Fialho. A capitalização dos juros e o STF. Espaço Vital. 23 de fevereiro de 2009.

Disponível em: < http://www.espacovital.com.br/noticia_ler.php?id=14071> Acessado em 15 de outubro de

2009, às 18 h e 29 min. 96

BRASIL, Constituição Federal de 1988. Op. Cit.

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infraconstitucionais (AgRg no Resp nº. 887876), entendo esta corte de não se pronunciar

acerca do tema, optando por abdicar de exercer o controle difuso de constitucionalidade

adotado no sistema jurídico brasileiro.

Assim, as decisões do Egrégio Superior Tribunal de Justiça de autorizar a

capitalização dos Juros com base na MP 2170, em sede de recurso especial, antes do

julgamento da ADI no STF, são inúmeras, conforme demonstram algumas ementas97

:

Ação de revisão. Contrato bancário. Art. 535 do Código de Processo Civil.

Julgamento extra petita. Código de Defesa do Consumidor. Juros. Capitalização dos

juros. Comissão de permanência. Precedentes da Corte. 1. O acórdão recorrido está

devidamente fundamentado, enfrentando as questões postas a julgamento, afastada

a violação do artigo 535 do Código de Processo Civil. 2. Não pode o Juiz

monocrático enfrentar matéria que não foi suscitada na petição iniciaI, assim, os

juros e a multa, se o autor não se insurgiu contra estas cobranças. 3. O Código de

Defesa do Consumidor se aplica às instituições financeiras como assentado na

Súmula nº 297 da Corte.4. Nos contratos feitos com instituições financeiras, fora de

legislação especial de regência, não existe a limitação dos juros em 12% ao ano,

salvo demonstração de efetiva abusividade, o que não ocorreu no caso presente.5.

Possível a cobrança da comissão de permanência calculada nos termos da Súmula

nº 294 da Corte, não cumulada com a correção monetária, os juros remuneratórios,

os juros moratórios e a multa contratual. 6. Prevaleceu o entendimento da maioria

sobre a exigibilidade da capitalização mensal de juros, vencido nesta parte o

Relator. 7. A jurisprudência da Corte admite a repetição do indébito, independente

da prova do erro, sob pena de enriquecimento indevido. 8. Recurso especial

conhecido e provido, em parte. (REsp 821357/RS, Rel. Ministro CARLOS

ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/08/2007,

DJ 01/02/2008 p. 478).

Ainda, neste mesmo contexto, encontramos:

Ação de revisão. Contrato bancário. Art. 535 do Código de Processo Civil.

Julgamento extra petita. Código de Defesa do Consumidor. Juros. Capitalização dos

juros. Comissão de permanência. Precedentes da Corte. 1. O acórdão recorrido está

devidamente fundamentado, enfrentando as questões postas a julgamento, afastada

a violação do artigo 535 do Código de Processo Civil. 2. Não pode o Juiz

monocrático enfrentar matéria que não foi suscitada na petição iniciaI, assim, os

juros e a multa, se o autor não se insurgiu contra estas cobranças. 3. O Código de

Defesa do Consumidor se aplica às instituições financeiras como assentado na

Súmula nº 297 da Corte. 4. Nos contratos feitos com instituições financeiras, fora

de legislação especial de regência, não existe a limitação dos juros em 12% ao ano,

salvo demonstração de efetiva abusividade, o que não ocorreu no caso presente. 5.

Possível a cobrança da comissão de permanência calculada nos termos da Súmula

nº 294 da Corte, não cumulada com a correção monetária, os juros remuneratórios,

os juros moratórios e a multa contratual. 6. Prevaleceu o entendimento da maioria

sobre a exigibilidade da capitalização mensal de juros, vencido nesta parte o

Relator. 7. A jurisprudência da Corte admite a repetição do indébito, independente

da prova do erro, sob pena de enriquecimento indevido. 8. Recurso especial

97

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Jurisprudência. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/>.

Acesso em: 29 de setembro de 2009.

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conhecido e provido, em parte. (REsp 821357/RS, Rel. Ministro CARLOS

ALBERTO MENEZES DIREITO, TERCEIRA TURMA, julgado em 23/08/2007,

DJ 01/02/2008 p. 478).

Porém, existe o receio fundado entre alguns juristas, sugerindo que enquanto aguarda-

se o julgamento da ADI nº. 2316/2000, sejam suspensos, tendo em vista que a decisão gerará

efeito vinculante e erga omnes, efeito esse que, segundo ainda o raciocínio de Jansen Fialho

de Almeida (2009), se for declarada inconstitucional a MP pelo STF, é ilegal a Capitalização

de Juros desde a sua edição, resultando que as instituições financeiras deverão restituir aos

consumidores as quantias pagas, ou abater do débito, compensando, com Juros, correções e,

em alguns casos em dobro, conforme as regras de do Código de Defesa do Consumidor, em

sue parágrafo único do art. 4298

, senão vejamos:

Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a

ridículo, nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça.

Parágrafo único. O consumidor cobrado em quantia indevida tem direito à repetição

do indébito, por valor igual ao dobro do que pagou em excesso, acrescido de

correção monetária e juros legais, salvo hipótese de engano justificável.

Porém, ao reverso, se declarada constitucional, milhares de ações serão julgadas

rapidamente, encerrando-se o assunto, bem como se evitarão novas demandas com o mesmo

objeto.

4.3.1 BREVE RELATO SOBRE A ADI Nº 2316/2000 E SEU JULGAMENTO NO STF

A Ação direta de inconstitucionalidade 2316, impetrada pelo então Partido Liberal,

hoje Partido da República, alega inconstitucionalidade deste dispositivo (Medida Provisória

2170/01) por ofensa ao ordenamento jurídico, bem como por inconstitucionalidade formal,

uma vez que a matéria deveria ser regulada por lei complementar, nos termos dos artigos 62,

§1°, III e 192 da CF.

Assim, o PR alega que a Capitalização de Juros, além de gerar encarecimento do

crédito e onerosidade excessiva, gerando imensa injustiça, exemplificando99

:

[...] utilizando-se uma máquina financeira ou resolvendo-se complexas fórmulas

matemáticas tem -se que a mesma taxa de Juros de 10 % ao mês, quando

capitalizada mensalmente, corresponde a 213, 84% ao ano", além do que "cobrar

juros de juros representa cobrar juros de um montante que a instituição financeira

não emprestou […]

98

BRASIL. Código de Defesa do Consumidor. Op. Cit. 99

BRASIL, Superior Tribunal Federal. Op. Cit.

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A Min. Cármen Lúcia, em voto-vista, abriu divergência e indeferiu a cautelar.

Considerou o fato de essa medida provisória ter sido expedida junto com outras medidas

adotadas pelo Ministério da Fazenda, na época, exatamente na tentativa de recompor o

sistema no que concernia especificamente à captação de Juros. Levou em conta, ainda, o

alongado prazo, desde a expedição dessa medida até hoje, com sua aplicação. Citando trechos

da exposição de motivos apresentada pelo então Ministro da Fazenda, destacou a afirmação

de ser pública a intenção do governo federal de buscar diminuição do spread e sua

convergência com os padrões mundiais, de forma a incentivar o decréscimo do valor total da

taxa de Juros suportado pelas pessoas físicas e jurídicas, a fim de criar um panorama mais

propício ao desenvolvimento econômico do Brasil. Acrescentou que, de acordo com essa

exposição de motivos, a Capitalização de Juros, sob o ponto de vista econômico, seria

benéfica ao devedor que, não podendo pagar ao credor na data originalmente pactuada,

poderia renegociar sua dívida junto à mesma instituição financeira, o que não se daria se

vedada a capitalização, pois o montante de Juros devidos teria de ser imediatamente

liquidado, forçando o devedor a captar recursos perante diversa instituição para adimplir com

a primeira, situação que permitiria a ocorrência do chamado "Anatocismo indireto". E, ainda,

que o parágrafo único do art. 5º da MP tornaria obrigatória a transparência do negócio em

favor do devedor, garantindo a lisura das operações e minimizando as dificuldades dos

cidadãos na compreensão dos cálculos aplicáveis aos Contratos.

Por sua vez, o Min. Marco Aurélio acompanhou o voto do relator para deferir a

cautelar. Esclareceu, inicialmente, que a medida provisória sob análise teria sido apanhada

com várias outras pela nova regência da matéria decorrente da EC 32/2001, a qual prevê, em

seu art. 2º, que as medidas provisórias editadas em data anterior a da sua publicação

continuam em vigor até que medida provisória ulterior as revogue explicitamente ou até

deliberação definitiva do Congresso Nacional. Asseverou ser necessário interpretar

teleologicamente esse dispositivo, presente a regência pretérita? Em que as medidas

provisórias estavam sujeitas à vigência de 30 dias? E a atual? Em que as medidas provisórias

vigem por 60 dias, podendo ser prorrogadas por igual período.

Diante disso, entendeu, além da problemática alusiva à falta de urgência, ante o tema

tratado, não ser possível haver uma interpretação que agasalhe a vigência indeterminada de

uma medida provisória, e conceber que um ato precário e efêmero? Que antes era editado

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para vigorar por apenas 30 dias, e, agora, por 60 dias, com prorrogação de prazo igual?

Persista no cenário normativo, sem a suspensão pelo Supremo, passados 8 anos.

Por fim, após o voto do Min. Menezes Direito, que acompanhou o voto da Min.

Cármen Lúcia, e do voto do Min. Carlos Britto, que acompanhou o voto do Min. Marco

Aurélio, o julgamento foi suspenso para retomada com quorum completo, e até apresente

data (entrega deste trabalho), não previsão para retomada de tal julgamento.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante da pesquisa realizada e exposta em linhas pretéritas, pode-se afirmar que se

buscou explanar da melhor forma possível o tema sobre o Anatocismo nos Contratos

Bancários.

Foram abordados alguns aspectos jurídicos relevantes ao Anatocismo, especialmente

aqueles relativos à sua incidência nos Contratos Bancários.

Inicialmente, no primeiro capítulo, foi apresentado os aspectos históricos dos Juros e

como este surgiu no contexto mundial e bem como foi institucionalizado no Brasil. Por

conseguinte buscou-se apresentar o conceito e a natureza jurídica dos Juros, para

posteriormente distinguir os Juros com relação às multas e Correção Monetária e, por fim as

espécies de Juros, que podem ser: Juros compensatórios e Juros Moratórios, encerrando este

capítulo com a explicação sobre a Comissão de Permanência, instituto aplicado e aceito pela

nossa legislação atual.

No segundo capítulo tratou-se dos Contratos, inicialmente demonstrando seu

conceito, para em seguida falar sobre as operações bancárias, assim, permitindo entrarmos

nos tipos de Contratos Bancários mais utilizados atualmente em nosso sistema financeiro

nacional.

No terceiro capítulo finalmente, abordou-se o Anatocismo, sua legislação atual

aplicabilidade nos Contratos Bancários. Inicialmente conceituou-se o mesmo, passando pelo

seu conceito em outros países, bem como se faz o cálculo para identificação do mesmos.

Finalmente analisou-se a legislação e jurisprudência que vem sendo utilizada nos julgados

acerca da matéria em nossos tribunais em relação aos Contratos Bancários.

O tema central da presente monografia foi discutido no item 4.3 do 3º capítulo. O

Anatocismo no Brasil sua evolução legal e jurisprudencial, algo de grande discussão entre os

juristas e doutrinadores, com o impasse diante da espera do julgamento da ADI n. 2316/2000,

por parte do STF, que determinará a legalidade ou não da MP 2170 de 2000 .

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Oportuno consignar que com base no que foi pesquisado e analisado, verificou-se que

foi possível responder ao questionamento formulado para a realização desta pesquisa,

restando evidenciado o acatamento da hipótese formulada na introdução.

Em relação ao conteúdo desenvolvido no presente estudo monográfico, e tendo em

vista o que foi abordado no desenvolvimento da pesquisa, espera-se de alguma forma, ter

contribuindo para o desenvolvimento do Direito, uma vez que o tema abordado, sempre foi

presente no âmbito jurídico pátrio, no entanto, começaram infinitas discussões e grandes

avanços em relação a legislação, a doutrina e a jurisprudência.

De outro vértice, pôde-se verificar que ainda esta em vigor o Decreto n. 22.626/33 –

Lei da Usura – e que a mesma tem sido aceita pela maioria maciça dos magistrados,

declarando a ilegalidade da capitalização dos juros, tendo em vista que a cobrança de Juros

como tem sido feita pelas instituições financeiras, em patamares elevadíssimos, revela-se

desproporcional à realidade do mercado.

Pôde-se constatar ainda que, que a liberação da capitalização dos Juros, defendida

pelas instituições financeiras, não encontra amparo em nossa Constituição, que estabelece

que a competência legislativa para regular a questão dos Juros é conferida ao Congresso

Nacional e não ao Conselho Monetário Nacional.

Evidente que a presente monografia não esgota o estudo sobre a aplicabilidade do

Decreto 22636/33 e demais legislação pertinente ao assunto Anatocismo, pois são inúmeras

as inclinações e modificações, até que seja julgada definitivamente a ação declaratória de

inconstitucionalidade proposta pelo PR (Partido Republicano, em face da legalidade da

medida provisória 2170 de 2000.

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