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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
GABRIELA SIEVERT
MULHERES COM FIBROMIALGIA E SUAS HISTÓRIAS DE VIDA
ITAJAÍ 2007
GABRIELA SIEVERT
MULHERES COM FIBROMIALGIA E SUAS HISTÓRIAS DE VIDA
Monografia apresentada como requisito parcial
para obtenção do título de Psicólogo pela
Universidade do Vale do Itajaí, Centro de
Ciências da Saúde.
Orientadora: Prof. Msc. Giovana Delvan Stuhler
ITAJAÍ 2007
“Foi o tempo que perdeste com a tua rosa, que fez a tua rosa tão importante” ( Antoine Sant Exupéry – “O pequeno príncipe”)
Dedico esta pesquisa à minha mãe Marilde, meu pai Sérgio e meu irmão Gustavo pelo apoio e incentivo no decorrer deste
percurso, transformando meu trabalho em melodia.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer à minha família e amigos por entenderem a minha
ausência neste período de trabalho e por compartilhar alegrias e angústias.
À minha professora e orientadora Giovana Delvan Stuhler que me ensinou
e me inspirou para a arte da pesquisa.
À minha querida amiga Iana Carla Pinto por sua dedicação e amizade
comigo que se solidifica cada vez mais.
Às professoras que aceitaram participar da banca, Profª. Maria Celina R.
Lenzi e Profª. Márcia A. M. Oliveira, por suas contribuições e disponibilidade para
o término deste estudo.
Agradeço também a Professora Ana Lígia Oliveira, responsável pelo grupo
de mulheres diagnosticadas com fibromialgia do curso de Fisioterapia, que
possibilitou a realização desta pesquisa.
E por fim, agradeço principalmente essas mulheres que, prontamente,
participaram deste trabalho.
Muito obrigada!
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO....................................................................................................................................... 7 2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ....................................................................................................... 10
2.1. FIBROMIALGIA ............................................................................................................................... 10 2.2. ANÁLISE DO COMPORTAMENTO E FIBROMIALGIA ......................................................................... 11
3. ASPECTOS METODOLÓGICOS...................................................................................................... 15 3.1. SUJEITOS DA PESQUISA................................................................................................................... 15 3.2. INSTRUMENTO................................................................................................................................ 16 3.3. COLETA DOS DADOS ...................................................................................................................... 17 3.4 ANÁLISE DOS DADOS ..................................................................................................................... 17 3.4. PROCEDIMENTOS ÉTICOS................................................................................................................ 19
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS............................................................... 20 4.1. 1ª CATEGORIA: OS ANTECEDENTES DA DOENÇA............................................................................. 20
4.1.1. A infância.................................................................................................................................. 21 4.1.2. A adolescência.......................................................................................................................... 23 4.1.3. A Fase adulta............................................................................................................................ 26 4.1.4. Minhas dores antes da doença ................................................................................................. 27
4.2. 2ª CATEGORIA: DE FRENTE COM A FIBROMIALGIA (“A DOENÇA QUE NÃO TEM CURA”)................... 29 4.2.1. A descoberta e minha reação ................................................................................................... 29 4.2.2. O conhecimento sobre fibromialgia ......................................................................................... 31
4.3. 3ª CATEGORIA: AS CONSEQÜÊNCIAS DA DOENÇA. “MINHA VIDA COM A FIBROMIALGIA” ................. 32 4.3.1. O sofrimento inevitável............................................................................................................. 32 4.3.2. As derrotas e conseqüências..................................................................................................... 34 4.3.3. Meu enfrentamento ................................................................................................................... 39 4.3.4. Minhas expectativas para o futuro ........................................................................................... 42
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................... 45 6. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS................................................................................................. 48 7. APÊNDICES ......................................................................................................................................... 54
7.1. APÊNDICE 01................................................................................................................................. 54 7.2. APÊNDICE 02................................................................................................................................. 55 7.3. APÊNDICE 03................................................................................................................................. 56
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MULHERES COM FIBROMIALGIA E SUAS HISTÓRIAS DE VIDA Acadêmica: Gabriela Sievert
Orientadora: Giovana Delvan Stühler
Defesa: novembro de 2007
RESUMO A fibromialgia é uma síndrome associada à dor crônica e abrange um grande segmento de sintomas na população moderna. As causas desta síndrome referem-se a várias hipóteses prováveis, dentre elas, a má qualidade do sono, falta de condicionamento físico, a vida sedentária, o estresse físico e emocional, como também algumas doenças crônicas e, principalmente a depressão. O presente estudo teve como objetivo principal identificar fatores psicossociais desencadeantes de um diagnóstico de fibromialgia e as repercussões nas diversas áreas da vida das pacientes portadoras desta síndrome. Participaram do estudo cinco mulheres com fibromialgia que encontram-se em tratamento fisioterápico e utilizou-se como instrumento para coleta de dados, a entrevista semi estruturada. Foram selecionadas 128 unidades de registro, classificadas em 03 categorias: “Os antecedentes da doença”, “De frente com a fibromialgia” e “As conseqüências da doença”. A primeira refere-se a história vivida pela paciente antes do surgimento da doença, identificando variáveis comportamentais significantes a partir da infância, adolescência, fase adulta, como também as dores sentidas antes do diagnóstico. A segunda categoria identifica os sentimentos e conhecimento que as pacientes têm em relação à fibromialgia. Por fim, a terceira categoria identifica o sofrimento e a vida dessas mulheres em questão, como também todo o processo de enfrentamento e expectativas que as mesmas vivenciam. Pode-se constatar a partir das informações coletadas e comparadas com a literatura que pessoas que possuem uma história de vida com eventos punitivos bem como experiências consideradas negativas têm uma maior probabilidade para desencadear uma patologia, tal como a fibromialgia. Palavras-chave: Fatores psicossociais; Fibromialgia; História de vida
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Área de conhecimento: 7.07.00.00-1 - Psicologia Sub-Área de conhecimento (CNPq): 7.07.02.04–7 – Estados Subjetivos e Emoção. Membros da Banca
______________________________________ Professor convidado: Márcia A. M. Olivera
______________________________________ Professor convidado: Maria Celina R. Lenzi
Giovana Delvan Stühler_________________________________ Professor Orientador
1. INTRODUÇÃO
A dor é algo que todo indivíduo já vivenciou em algum momento da sua vida
ou vivencia. É muito difícil saber a intensidade desse fenômeno, bem como é difícil
imaginar como o outro sente a experiência dolorosa. A fibromialgia é um exemplo
de dor crônica, mais comum em mulheres entre os 40 e 60 anos, porém existem
relatos de casos dessa síndrome em homens e crianças (CAVALCANTE, 2006).
Caracteriza-se por dores difusas e constantes do aparelho músculo esquelético,
acompanhado por tensão matinal, insônia, indisposição para atividades físicas, e
consequentemente, fraqueza muscular. É comum os pacientes passarem por
vários médicos e exames e não terem sucesso nas respostas dos mesmos para a
intensa dor, uma vez que é alegado estar no nível de normalidade.
Para diagnosticar a fibromialgia, observa-se a presença de pontos sensíveis
à dor, conhecidos como tender points, analisados de uma forma quantitativa. Os
critérios de diagnóstico estão baseados na dor de longa duração envolvendo três
ou mais pontos anatômicos durante pelo menos três meses, sendo importante
descartar qualquer hipótese de lesão traumática, doença reumática estrutural,
exames anormais, entre outros (CAILLIET, 1999).
De acordo com Castro (2003) existe um componente psicológico, o qual a
partir de experiências de vida do sujeito pode ocorrer a produção de um novo
comportamento, uma nova atitude e um novo modo de ser. A análise funcional do
comportamento, Fontaine e Ylieff (1981 apud Vandenberghe, 2002) é uma análise
do valor adaptativo do paciente e seu comportamento em relação ao ambiente,
por isso torna-se importante examinar como as interações entre terceiros podem
influenciar o comportamento desses pacientes, e como o comportamento deste
pode influenciar o comportamento dos outros.
Cada indivíduo aprende a identificar suas experiências traumáticas, as
quais são sentidas a partir de sua história de vida, criação, etnia, personalidade,
contexto e momento. Assim, até que ponto essas experiências podem mudar ou
influenciar o comportamento do sujeito, podendo até desencadear uma doença
crônica? E a partir dessa doença, qual a intensidade de mudança do
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comportamento desses sujeitos e as conseqüências destes? Dentro deste foco do
paciente indicado, as ações do outros envolvidos no sistema são definidas como
produtoras de antecedentes e conseqüências. As técnicas cognitivas
comportamentais objetivam trazer mais dados de realidade à tona e testar a
veracidade das interpretações que o paciente faz da sua realidade. Nestas são
utilizadas as tarefas e os experimentos comportamentais, acompanhado sempre
por um componente cognitivo (KNAPP, 2004).
Em estudo publicado pela Revista Brasileira de Reumatologia em 2005, foi
feito um levantamento bibliográfico sobre a fibromialgia, no qual concluiu-se, a
partir da literatura, que a prevalência da síndrome atinge com valores entre 0,66 e
4,4% da população total do Brasil sendo mais comum em mulheres entre 35 e 60
anos, e a prevalência de dor crônica difusa na população em geral possui também
pouco estudo, pensando assim na relevância da abertura de mais discussões
sobre o assunto.
Acredita-se que a fibromialgia trata-se de uma desordem funcional causada
por respostas biológicas e ocorre em sujeitos que foram submetidos a um
estresse, uma história de vida que retrata alguma passagem negativa, ou até
mesmo fatores genéticos (GOLDENBERG; MARTINEZ; YUNUS apud
SALVADOR; SILVA; ZIRBES, 2002).
Diante disso, o presente trabalho está direcionado ao tema história de vida
de mulheres que possuem fibromialgia, com objetivo de identificar fatores
psicossociais presentes, que podem ter contribuído para o desencadeamento da
síndrome.
A presente pesquisa mostra-se relevante para a área da Psicologia, pois se
acredita que através de suas teorias é possível fazer um tratamento psicológico
com essas pacientes em questão. Ao identificar quando as dores iniciaram, seus
antecedentes e suas experiências vividas, como também identificar a maneira
como convivem com a síndrome são fatores importantes que podem contribuir
para a tomada de decisão de profissionais envolvidos no tratamento desta doença.
Este estudo será apresentado da seguinte forma: num primeiro momento
serão abordados os antecedentes da doença em pacientes com fibromialgia, o
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conhecimento de suas histórias de vida, desde a infância, adolescência, até a fase
adulta, como também as doenças manifestadas antes da síndrome. Num segundo
momento será explorado o convívio das pacientes em questão com a fibromialgia,
ou seja, sentimentos, pensamentos e características relacionadas à síndrome. Por
fim, num terceiro momento, será apresentada uma categoria que será
caracterizada pelas conseqüências da síndrome da fibromialgia, bem como o
enfrentamento das pacientes e suas expectativas de vida.
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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1. Fibromialgia
A fibromialgia está relacionada à dor crônica. Segundo Chaitow (2002), as
pessoas que possuem a síndrome apresentam como sintoma a dor e na maioria
das vezes sentem-na espalhada pelo corpo todo. Essa forma de dor generalizada
traz dificuldades para o paciente expressar ao médico o que realmente está
sentindo, consequentemente fica difícil para o profissional realizar o diagnóstico. A
dor é a principal causa que leva o sujeito a procurar cuidados. As queixas dos
pacientes com fibromialgia, em relação às dores são caracterizadas por
afirmações do tipo: pontada, queimação, sensação de peso, anestesia, entre
outras. Mesmo havendo muitos sintomas dolorosos o paciente com a síndrome
apresenta dificuldades na localização precisa dessa dor.
Ainda de acordo com o autor, a síndrome da fibromialgia tem muito em
comum com a síndrome da fadiga crônica, e também se assemelha
superficialmente a aspectos da síndrome da dor miofascial 1. A definição de
fibromialgia indica tratar-se de dor crônica, mal-estar, desequilíbrio de parte
neurológica causados por fatores herdados e adquiridos.
Não há uma causa única, a etiologia da fibromialgia não é conhecida e
vários mecanismos podem estar envolvidos (ANG & WILK,1999 apud PRIDMORE
& ROSA, 2002). A maioria dos pacientes com fibromialgia identificam tanto fatores
físicos como psicológicos (NEERINCKX, 2000 apud PRIDMORE & ROSA, 2002)
que ainda, comparado com indivíduos saudáveis, pode-se observar que aqueles
com fibromialgia sofreram eventos mais estressantes em sua vida (ANDERBERG,
2000 apud PRIDMORE & ROSA, 2002).
Na década de 70 foi demonstrado que os sintomas de dor muscular, rigidez
e cansaço estavam relacionados a nódulos musculares palpáveis e sensíveis, que
não apresentavam alterações inflamatórias em seus estudos de biópsia muscular.
Assim a fibromialgia, como atualmente é conhecida, foi primeiramente
1 Dor Miofascial: é uma classificação da fibromialgia, na qual a dor tem localização apenas de uma forma regional, e não gerneralizada.
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diagnosticada e caracterizada através dos chamados tender points2; ao
descreverem a presença de pontos anatômicos específicos que apresentavam um
aumento de sensibilidade dolorosa (CHAITOW, 2002).
De acordo com Martinez (2006) o diagnóstico da fibromialgia deve ser mais
explorado, visto que para tal, se reconhece o critério para a classificação da
síndrome do Colégio Americano de Reumatologia (a identificação de pontos
dolorosos manifestados por todo o corpo do sujeito por mais de três meses),
porém é visto como um avanço propriamente científico, de uso individual,
acreditando o autor deixar muito a desejar em relação à identificação de
diagnóstico. Os chamados tender points, por mais que tenham sua utilidade, não
são determinantes para o diagnóstico de fibromialgia. O autor ainda afirma que
para fazer um diagnóstico individual mais completo, deve-se levar em conta o
conjunto total de sinais e sintomas do paciente, e ainda, para compreendermos a
síndrome, é necessário ter acesso à teoria fisiopatológica uma vez que se está
diante de uma disfunção no processamento da dor, mesmo que provavelmente
essa explicação não alcance todas as características de desencadeamento da
fibromialgia, mas é um ponto de partida importante para a compreensão mais
aprofundada desta síndrome.
Freqüentemente a fibromialgia vem acompanhada, além da dor, por
sintomas de depressão e ansiedade (CHAITOW, 2002). Um estudo publicado em
2005 pela Revista Brasileira de Reumatologia mostrou que 32,9% das 70
pacientes pesquisadas que possuem fibromialgia sofrem de depressão,
concluindo que esta pode influenciar negativamente a vida dessas mulheres por
aumentar a sensação de dor, tornar a qualidade do tratamento mais difícil e obter
deficiência na questão das relações sociais do sujeito.
2.2. Análise do Comportamento e Fibromialgia
De forma geral, a noção de saúde, segundo a Organização Mundial da
Saúde, citado por Lewis (1986 apud PALMA, 2000) é caracterizada como um 2 Tender Points: Pontos dolorosos distribuidos no paciente, que a partir de três meses de dor, poderá receber diagnóstico de fibromialgia.
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estado de completo bem-estar físico, mental e social, e não apenas a ausência da
doença. Contudo, essa definição é considerada ultrapassada por visar a perfeição
do homem, sendo que este processo não se dá de forma tão simples, é uma
integração funcional, que o indivíduo alcança por diversas alternativas (BUSS,
2004) . A complexidade que acompanha tal questão obriga a repensar tanto o
conceito de saúde, como as intervenções que se dão nesse campo,sendo aqui
consideradas as noções da análise do comportamento (PALMA, 2000).
Os fatores que colaboram com a saúde do homem já vêm sendo discutidos
por correntes filosóficas, considerando ser uma unidade total integrada,
relacionada ao meio ambiente (SCOPEL & BARTILOTTI, 2006). O processo
saúde-doença é entendido como um complexo de fatores biológicos, sociais e
psicológicos nos quais ocorrem em pequenos níveis que incluem as variáveis
orgânicas e biológicas, e grandes níveis, incluindo as variáveis psicológicas e
sociais, como por exemplo, a ansiedade e a estrutura familiar nas quais podem
influenciar em mudanças de mente e corpo (ENGEL, 1980; MARTIN E COLS.,
1995; TAYLOR, 1995 apud KERBAUY, et al, 1999).
Segundo Chaitow (2002), o aspecto psicológico do indivíduo pode
influenciar tanto no surgimento da doença, como também colaborar para a
recuperação da mesma, e ainda ser um agravante de disfunções previamente
estabelecidas por outros fatores. Os pacientes que estão envolvidos com as
condições crônicas e com as adversidades neles implícitos podem ter grande
influência para afetar o funcionamento das pessoas em diversos níveis, como o
emocional, vocacional, social e sexual (KERBAUY, 1999).
De acordo com Dougher e Hackbert (1994 apud CAVALCANTI, 1997), a
partir do referencial teórico da análise comportamental, a depressão, que é muito
comum em pessoas que sofrem de dor crônica, deve ser encarada como um todo,
um conjunto de comportamentos, entendida a partir de uma interação com o
ambiente. Por isso, para uma melhor compreensão da depressão é necessário
recorrer a uma análise funcional da mesma em relação ao contexto privado na
qual ocorre. É necessário identificar o comportamento do sujeito e logo, a
conseqüência desse comportamento.
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Para Moreira & Medeiros (2007), a análise funcional é a identificação das
relações entre o indivíduo e seu mundo, é observar um comportamento e saber
que tipo de conseqüência ele produz, como reforço positivo ou negativo, punição
positiva ou negativa, etc. Esses autores ainda apontam que uma vez que
encontremos os determinantes do comportamento, podemos prever sua
ocorrência e controlá-los, como aumentar ou diminuir a probabilidade do
acontecimento, porém, não significando necessariamente obrigar alguém a fazer
algo contra sua vontade.
Segundo Atkinson (2000), a exposição a eventos estressantes pode causar
uma variedade de problemas físicos e psicológicos. Através de experiências
desagradáveis, nosso sistema imunológico responde de acordo com a experiência
vivida, assim, se a situação traumática persiste, um diferente conjunto de
respostas internas ocorre, podendo desencadear uma patologia.
Para a pessoa que sofre de dor crônica, a perda de papéis sociais,
familiares e profissionais pode levar a uma crise de significado da vida. Quando
eventos estão mais ou menos sob controle, nós não prestamos muita atenção ao
sentido que eles têm. Sentir dor na presença de um ferimento é algo esperado,
porém, dor que ocorre na ausência de um dado que pode justificá-la, e que
continua depois do ferimento ter sido curado, é difícil de aceitar, desta forma
ocorre com pacientes com fibromialgia (CAILLIET, 1999).
A fibromialgia é uma síndrome clínica, que acompanha conseqüências
negativas para a vida dos pacientes, uma vez que ocasiona limites nos fazeres do
dia a dia devido à fadiga acarretada pela dor. Para os especialistas da Análise do
Comportamento é recomendável utilizar também as terapias não
medicamentosas, cuja base conceitual de abordagem está caracterizada no
modelo “bio-psico-social” da doença. Os tratamentos não medicamentosos
incluem exercícios físicos, terapia psicológica, educação ao paciente entre outros.
Segundo Castro (2003), esta questão multidisciplinar tem apresentado
crescimento considerável nos últimos anos. O tratamento psicológico tem sua
importância no tratamento da fibromialgia.
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De acordo com Vanderbergue (2002) a doença pode alterar o
comportamento do sujeito, influenciando o comportamento do outro, causando
prejuízos funcionais. Assim, mesmo que ainda não haja cura absoluta, a síndrome
pode certamente ser tratada, permitindo que essas pessoas adquiram uma vida
útil e funcional apesar desta condição.
Existem justificativas importantes para uma abordagem cognitiva da dor
crônica. A literatura empírica indica que a atribuição externa e o pensamento
catastrófico contribuem para o desencadeamento da dor (CAMACHO & AARTE,
2001 apud VANDERBERGHE, 2002). As experiências de história de vida do
paciente no contexto interpessoal e a espontaneidade do relacionamento
terapêutico são aspectos importantes no processo de abordagem e busca de
estratégias de enfrentamento. A abordagem cognitiva procura estabelecer a
possibilidade de vivenciar alternativas. Com a exploração de metáforas e a
introdução de paradoxos, procura-se promover a tolerância das ambigüidades e
das contradições da realidade, desenvolvimento de novos padrões interpessoais e
descoberta e explicitação de valores (HAYES, 2002; HAYES, PANKEY & GREGG,
2002; KOHLENBERG, TSAI & DOUGHER, 1993 apud VANDERBERGHE, 2005).
O psicólogo e os profissionais da saúde em geral, necessitam ter uma visão
ampla e abrangente da doença crônica como uma condição geral, permitindo
estabelecer relações adequadas entre variáveis envolvidas na situação saúde-
doença, evitando a limitação do conhecimento, nos moldes da especialização
médica (KERBAUY, 1999).
Assim, para entender o comportamento de mulheres com fibromialgia, que
acompanham vários fatores negativos (depressão e confusão do eu perante os
papéis que desempenham no dia a dia) dentro de um foco psicossocial, avaliar a
história de vida, a qual por alguma vivência desagradável poderia ter
desencadeado a doença, é necessário verificar os padrões de interação que se
estabelecem com o ambiente social em sua vida.
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3. ASPECTOS METODOLÓGICOS
Esta pesquisa está baseada em uma perspectiva qualitativa, a qual possibilita
a busca de particularidades, bem como questões para a pesquisa, utilizando a
observação e comunicação. De acordo com Turato (2003) os elementos básicos
da análise qualitativa são palavras e idéias que visam à descoberta, descrição,
compreensão e interpretação partilhada, na qual o pesquisador participa do
processo e o todo é mais que as partes, ou seja, identifica o que as pacientes têm
a dizer sobre determinado assunto, no caso, a fibromialgia, e o significado que dão
ao mesmo.
3.1. Sujeitos da pesquisa
Os sujeitos da presente pesquisa foram 05 (cinco) pacientes do sexo feminino
diagnosticadas com fibromialgia, submetidas ao tratamento fisioterápico
(hidroterapia, iso streching e exercícios aeróbicos na piscina) na Clínica de
Fisioterapia da Universidade do Vale do Itajaí (UNIVALI). Estes sujeitos também
participam do Programa “Atendimento psicológico a mulheres portadoras da
síndrome da fibromialgia” desenvolvido pelo Curso de Psicologia. A faixa etária é
de 53 a 61 anos.
O quadro abaixo contém informações em relação aos dados de identificação
das pacientes, tais como: idade, profissão, estado civil, grau de instrução, com
quem as mesmas residem e o tempo que possuem diagnóstico de fibromialgia.
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3.2. Instrumento Para a coleta de dados foi utilizada uma entrevista semi-estruturada
(Apêndice 01), na qual é guiada por relação de pontos de interesse que o
entrevistador vai explorando ao longo da aplicação do instrumento. Assim, o
entrevistado segue de uma forma espontânea sua linha de pensamento e
experiências a partir do foco principal colocado pelo entrevistador, participando da
elaboração do conteúdo da pesquisa (MAZZOTTI, 1998; PÁDIA, 2000; TURATO,
2003; TRIVINOS, 1987).
O roteiro procurou explorar a fibromialgia a partir da descrição de sua
história clínica, com questões sobre o conhecimento da doença e formas de
tratamento, mudanças observadas após o diagnóstico e suas expectativas para o
futuro. Também proporcionou a exploração de dados sobre a história de vida
Sujeitos
Idade
Profissão
Estado civil
Grau de
instrução
Reside com
quem
Tempo de
diagnóstico
Entrevistada 01 57 anos Dona de casa casada Ensino
fundamental marido Um ano
Entrevistada 02 53 anos aposentada solteira
Ensino
fundamental
incompleto
um filho e
um neto Quatro anos
Entrevistada 03 61 anos
Auxiliar de
enfermagem
(afastada)
divorciada Segundo grau
completo três netas Um ano
Entrevistada 04 57 anos Professora
voluntária casada
Segundo grau
incompleto marido Um ano
Entrevistada 05 55 anos Dona de casa divorciada Ensino
fundamental noivo Dois anos
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dessas mulheres, tais como lembranças da infância e adolescência,
relacionamento familiar e a identificação de possíveis eventos punitivos que
poderiam ter auxiliado no desencadeamento da doença.
3.3. Coleta dos Dados Inicialmente o projeto foi apresentado à coordenação do Curso de Fisioterapia
que autorizou a realização do mesmo junto às pacientes (Apêndice 02). Em
seguida a pesquisadora participou de uma reunião com todas as pacientes, com a
professora responsável pelo atendimento destas na Clínica de Fisioterapia, a
professora responsável pelo programa no Curso de Psicologia, estagiários de
Fisioterapia e de Psicologia.
Neste dia a pesquisadora teve acesso às pacientes diagnosticadas com
fibromialgia e iniciou um contato esclarecendo a intenção de tê-las como sujeitos
deste estudo e os objetivos do mesmo. Posteriormente entrava em contato com a
secretaria da Clínica de Fisioterapia para obter os horários em que as pacientes
encontravam-se na Clínica. Foi então agendado um encontro e após a assinatura
do termo de consentimento livre e esclarecido (Apêndice 03) iniciava-se a
entrevista. Esta foi realizada de forma individual, em ambientes reservados, sendo
estes salas de aula vazias, localizadas no bloco de Fisioterapia da UNIVALI, para
que as mesmas ficassem mais à vontade. As entrevistas tiveram uma duração
média de 30 minutos, as quais foram gravadas e transcritas posteriormente para a
análise de dados.
3.4 Análise dos Dados
Depois das entrevistas realizadas e transcritas, foi dado inicio a
categorização do material coletado buscando analisá-lo pelo método de análise de
conteúdo proposto por Bardin (1977) e discutido à luz de pressupostos da Teoria
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Cognitivo-Comportamental, tais como crenças, contingências, sendo estas os
antecedentes, os comportamentos atuais, bem como as conseqüências.
A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise das
comunicações, com finalidade de descrever o conteúdo dessa comunicação. Para
isso, podem ser utilizadas técnicas como análise do discurso, análise categorial,
entre outras, nas quais se encaixam nesse estudo. Essas técnicas auxiliam o
pesquisador a detalhar e organizar as informações passadas pelo mesmo
(BARDIN, 1977).
Na análise de conteúdo desta pesquisa foram seguidas as operações:
- Codificação: processo no qual os dados são transformados em categorias,
possibilitando uma descrição das características gerais do material.
Pode ser realizada a partir de recorte referente à escolha das unidades,
enumeração de acordo às regras de contagem, classificação e agregação em
relação à escolha das categorias (FRANCO, 1986; RODRIGUES e LEOPARDI,
1999).
- Unidade de Registro: seleciona-se o elemento correspondente ao
segmento de conteúdo a ser considerado como unidade de base. Pode ser um
tema, uma palavra ou uma frase desde que exprima pensamento completo
(FRANCO, 1986; RODRIGUES e LEOPARDI, 1999).
- Categorização: refere-se à classificação, agrupamento de dados por
semelhança ou analogia previamente estabelecidos ou definidos. Compreende o
inventário, que consiste em isolar os elementos e a classificação que é a divisão
dos elementos (FRANCO, 1986; RODRIGUES e LEOPARDI, 1999).
Neste sentido, a relação do organismo com o ambiente será levada em
conta na determinação do comportamento, como também será considerado a
estrutura genética e a história de vida do referido organismo. Bardin (1977) ainda
contribui afirmando que para fazer uma análise temática é preciso descobrir os
núcleos de sentido que compõem uma comunicação cuja presença pode significar
alguma coisa para o objetivo analítico escolhido.
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3.4. Procedimentos éticos
A presente pesquisa está de acordo com a resolução 196/96 do conselho
nacional de saúde, pois exigiu a anuência por escrito dos sujeitos da pesquisa ou
seu representante legal, mediante explicação completa e pormenorizada sobre a
natureza da pesquisa, bem como benefícios previstos, potenciais riscos e
incômodos que podem ocorrer em decorrência do estudo. Tal anuência é o termo
de consentimento livre e esclarecido.
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4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
Neste capítulo, serão apresentadas as categorias e subcategorias
resultantes da análise do material coletado, que seguem no quadro abaixo,
buscando discutir estes dados à luz de alguns pressupostos teóricos de diversos
autores.
1ª Categoria - Os
antecedentes da
doença:
2ª Categoria – De frente
com a fibromialgia “A
doença que não tem
cura”
3ª Categoria – As
conseqüências da
doença “Minha vida
com a fibromialgia”.
A infância A descoberta e minha
reação
O sofrimento inevitável
A adolescência O conhecimento sobre
fibromialgia
As derrotas e
conseqüências
A fase adulta Minhas expectativas para
o futuro
Minhas dores antes da
doença
4.1. 1ª Categoria: Os antecedentes da doença.
Por antecedentes da doença entende-se toda a história e experiência vivida
pelo sujeito antes do surgimento da doença. Ou seja, variáveis comportamentais
significantes que poderiam ter contribuído para a manifestação da fibromialgia a
partir das lembranças das pacientes de acordo com sua infância, adolescência e
fase adulta, como também as dores sentidas antes do diagnóstico.
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4.1.1. A infância
Nesta subcategoria pode-se observar, de acordo com o relato de algumas
pacientes, que viveram uma infância sofrida, passando por alguns eventos
punitivos, percebendo assim pouca ludicidade nesta fase da vida. Podemos
identificar nestas unidades transcritas abaixo a ausência desta questão:
“... mesmo na hora que eu ia apanhar ela falava assim: eu não queria te
bater, mas vou ter que bater! Olha o que você faz, porque você faz essas coisas?
Eu só falava que não era eu” (Entrevistada 03)
É comum constatar, diante da Análise do Comportamento, histórias de
infância que incluem abuso e maus tratos em sujeitos que sofrem de dor crônica,
as alterações fisiológicas relacionadas em conflitos e frustrações do dia a dia
podem aumentar o nível de cortisol, o qual é responsável pelo estresse
(VANDENBERGHE & FERRO, 2005).
“Por causa do meu pai, farra, bagunça, jogo, mulher... Farra foi gastando,
gastando e gastando daí perdeu tudo, então quer dizer, foi endividando,
endividando, não dava satisfação de nada para minha mãe, até que perdeu tudo”
(Entrevistada 05)
“Um dia meu pai chegou em casa, e nós perdemos tudo de uma noite para
o dia, ficamos sem nada, fomos morar em uma casa no meio do mato com luz de
lamparina” (Entrevistada 05)
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“Desde criança já sentia dores de cabeça, mas não podia falar que eu tinha
dor, porque eu era uma criança que não vivia relaxada, porque eu vivia tensa,
esperando qualquer momento o que a empregada iria fazer” (Entrevistada 03)
Segundo Amorim, Oliveira e Mariotto (1997, apud POLLETO, 2005) a
questão do brinquedo e o ato de brincar, em uma perspectiva cognitiva, formam
vínculos importantes na construção do desenvolvimento da criança uma vez que
internaliza a sua realidade através desta simbolização. Pode-se aqui observar a
partir das entrevistas que parte das mulheres passaram por uma infância marcada
de sentimentos de tristeza, obtendo poucos prazeres e reforçadores positivos para
seu desenvolvimento, uma vez que, a partir desses reforçadores positivos é
possível a criança acessar informações importantes relativas às contingências às
quais é exposta (VASCONCELOS et al, 2004).
“Eu vivia sempre assim, esperando para ver o que ela (a empregada) iria
fazer contra mim, às vezes eu chegava a ver elas fazer as coisas e botar a culpa
em mim, e eu ficava assim, sem saber o que fazer, porque eu não podia contar, se
não eu apanhava” (Entrevistada 03).
“Eu sofri muito porque ela (empregada) tinha muito ciúme, mentia todas as coisas para eu apanhar, me judiou muito, muito mesmo” (Entrevistada 03)
Ainda, podemos observar na fala de algumas pacientes o relato sobre a
ausência dos pais no decorrer da infância, a qual pode ter gerado conflitos e até
mesmo ter contribuído mais tarde para o desencadeamento da doença. De acordo
com Vasconcelos, et al (2004) a forma como os pais ou cuidadores interagem com
a criança, incluindo um ambiente protetor, cuidado carinhoso e o respeito pelas
diferenças individuais poderão alterar padrões de comportamentos, que, de outra
forma desencadeariam, problemas de saúde.
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“A minha mãe morreu de câncer na coluna e tinha a fibromialgia”
(Entrevistada 02)
“... foram momentos difícil, porque eu fui criada sem mãe, né, sem pai”
(Entrevistada 03)
“Quando eu tinha quatro anos minha mãe me deu para uma família, fui
criada por essa família, então sofri muito” (Entrevistada 03)
“Eu tive uma infância muito boa, por parte da minha mãe porque o meu pai
até os meus sete anos ele era um bom pai, mas depois eu comecei a entender
porque a minha mãe sofria, muito” (Entrevistada 05)
Souza, et al (2004) contribuem descrevendo que se estabelece uma maior
ou menor probabilidade de ocorrência de uma resposta através da análise da
história de exposição a um dado arranjo de contingências. O padrão de
comportamento mais provável de ocorrer é fruto de uma história de seleção por
conseqüências reforçadoras positivas ou negativas, como talvez seja o caso
dessas pacientes que possuem fibromialgia, as quais vivenciaram eventos
punitivos e ausência de seus pais.
4.1.2. A adolescência
Nesta subcategoria pode-se observar a partir das entrevistas realizadas
com as pacientes que parte da fase da adolescência é caracterizada por perdas e
sentimentos de tristeza. A adolescência é uma fase de mudanças, de crises e de
novas atitudes frente à vida.
O jovem começa a se preocupar com seu futuro e com a formação e
visualização de si, passando por experimentações. Diante disso, podemos
compreender que sujeitos que passaram por eventos difíceis e marcantes, tais
como perdas, ausência dos pais, e poucos momentos de prazer nesta etapa de
24
vida, poderão obter maiores dificuldades para o entendimento desses desafios
vividos, podendo até mesmo manifestar alguma conseqüência dolorosa para si.
“Olha... eu acho que não tive adolescência porque eu casei com 16 anos,
casei cedo”. (Entrevistada 01)
“Eu não saia muito porque morava no sítio, e para ir no baile ou em uma festinha ficava ruim”. (Entrevistada 01)
“Minha adolescência foi boa também, apesar de não ter tido mãe, né” (Entrevistada 02)
“Eu perdi meu pai tinha 15 anos, a mãe na verdade eu não conheci” (Entrevistada
02)
“Era bom quando meu pai estava vivo, gostava dele” (Entrevistada 02)
“Então eu casei (com 16 anos), tive um pouco de felicidade, mas fiquei
viúva logo, tive dois filhos e a minha filha caçula com 13 anos sofreu muito com a perda do pai” (Entrevistada 03)
“Vi nossa casa com uma tarja preta na frente, trancada pelo exército” (Entrevistada 04)
“Tudo da nossa casa ficou lá, sem a gente pegar nada, foi uma parte muito significativa da minha vida, marcou muito” (Entrevistada 04)
De acordo com a Terapia Comportamental, acredita-se que um conflito
esteja no ambiente onde o sujeito participa. Segundo Banaco (1995), os
adolescentes que apresentam comportamentos problemáticos, ou
comportamentos de esquiva, deve haver algum agente punidor no ambiente,
podendo gerar conflitos e até mesmo contribuir para uma futura patologia,
causada por esses eventos agressivos.
“Quando eu tinha já uns 14 anos para 15 anos eu fugi” (Entrevistada 03)
25
“... até os meus 14 anos eu tive uma infância maravilhosa, um começo de puberdade muito bom, estudei em colégio particular, tive muita coisa boa, aí veio a revolução de 1964, o meu pai era funcionário público federal, o meu pai foi preso” (Entrevistada 04) “... eu tive que ser empregada das minhas amigas e professores, porque simplesmente quando cheguei na escola em 64 estava assim, meu pai era considerado da quinta coluna por causa da descendência dele, nós não podíamos mais entrar no colégio” (Entrevistada 04) “Minha mãe depois teve outro companheiro que era até nosso parente né, e foi o pai que eu não tive. Ele foi muito bom, mas morreu também, morreu de câncer do pulmão” (Entrevistada 05) “... a nossa casa estava lacrada pelo exército brasileiro e minha mãe estava presa no DOPS com o resto dos meus irmãos, e foi muito difícil para mim, e eu com 14 anos” (Entrevistada 04) “Depois a gente foi morar em uma casa no meio do mato, eu não esqueço, era cheio de mato, tinha uma mangueira, aquilo me deixou muito triste, eu já tinha dez anos” (Entrevistada 05) “... eu sabia fazer de tudo dentro de casa (com dez anos), então eu cuidava de casa e minha mãe costurando naquelas máquinas antigas, sabe? Manual.” (Entrevistada 05) “De uma noite para o dia, o meu pai era muito cheio de mulher, minha mãe sofreu muito com isso, ficou tão desgostosa que ela ficou com problema de pulmão” (Entrevistada 05) “Então sofri muito, muito mesmo, então perguntaram o que eu queria e eu respondi que eu queria voltar para onde meus familiares estavam, e eu queria encontrar minha mãe, porque minha mãe me entregou para eles muito novinha” (Entrevistada 03) “A amante do meu pai chegava em casa, batia na porta e minha mãe lá costurando, e ele chegava, pegava o dinheiro de costura da minha mãe e dava para a amante, minha mãe sofreu muito e eu sofria junto com ela, porque era muito triste” (Entrevista 05) “Eu não sabia trabalhar e precisei trabalhar, então tive que enfrentar tudo isso” (Entrevistada 04) “Com doze anos eu já trabalhava em casa de família para poder ajudar a minha
mãe” (Entrevistada 05)
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Como relatado nas entrevistas acima, o ambiente onde essas mulheres
estavam inseridas na sua adolescência foi marcado por características sócio
econômica precária, bem como culturalmente e psicologicamente falando. Assim,
com a análise funcional do comportamento é possível identificar esses fatores
ambientais fazendo um levantamento do repertório comportamental para melhor
administração de seus conflitos (BANACO, 1995).
4.1.3. A Fase adulta
Nesta subcategoria é possível identificar passagens punitivas, perdas e
muito sofrimento em todas as entrevistadas, como por exemplo, morte, maus
tratos, perdas significativas e outras doenças, como se observa nas falas a seguir:
“... então com 13 anos ela (filha) entrou nas drogas” (Entrevistada 03)
“Tomava banho de cachoeira muito frio, lá no morro, sentia dor”
(Entrevistada 01)
“Em 1996, quando eu perdi meu filho de acidente, muito trágico e é horrível tu ter um filho só e perder ele com 25 anos de idade, na flor da vida, ele ia ser pai, então foi assim muito trágico” (Entrevistada 04)
“Em maio ele (filho) me anunciou que eu iria ser avó, foi o melhor presente que eu também ganhei do meu filho, e depois de seis meses o meu filho morreu assim naquele estado lamentável” (Entrevistada 04)
“A minha sogra, a mãe dele, então ela veio morar lá em casa, uma pessoa muito, muito ruim para mim, então eu sofri muito por causa dela” (Entrevistada 01)
“É a coisa mais triste uma pessoa ficar falando de ti uma coisa que você não fez, eu sofri muito” (Entrevistada 01)
“Quando eu estava na minha época de tristeza, que era a época que eu estava casada” (Entrevistada 02)
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Estes fatores marcantes possivelmente poderiam ter contribuído para o
desencadeamento da fibromialgia uma vez que existem várias hipóteses prováveis
para a justificativa do aparecimento desta síndrome, e entre elas está o estresse
físico e emocional, como também a depressão (CALLIET, 1999).
De acordo com Atkinson (2000), exposição a eventos estressantes pode
causar alguns problemas físicos e psicológicos. Através de experiências punitivas
e desagradáveis, nosso sistema imunológico responde de acordo com a situação
vivida, assim, caso este fato traumático persista, um diferente aglomerado de
respostas internas ocorre, podendo desencadear uma doença.
4.1.4. Minhas dores antes da doença
Nesta subcategoria enfatizam-se as dores presentes nestas pacientes
antes do diagnóstico de síndrome de fibromialgia.
Sokolov (1963 apud VANDENBERGHE, 2005) a dor faz parte de um
sistema de comunicação com o corpo que serve para esquivar de eventos
danosos, preparando o organismo e exigindo maiores cuidados a partir desta
comunicação, entre a parte cognitiva e a parte física do sujeito.
“Eu já tinha problema de coluna, né, aí depois conforme doía tudo”
(Entrevistada 02)
“Há muito tempo atrás eu já sentia dores horríveis, eu ficava internada, quem descobriu a minha coluna, porque eu estava com a coluna toda torta, foi um médico de pulmão” (Entrevistada 02)
“Eu já tinha reumatismo, eu já sentia as dores, vivia inchada, ai depois piorou”
(Entrevistada 04)
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“Eu me lembro que eu achava que era problema de coluna, eu cai de uma escada muito alta, e fiquei com a dor na coluna, na lombar, aí essa dor começou muito quando eu estava trabalhando nessa família, fui ajudar o menino a levantar e senti um estalo nas costas, aí a partir daí começou as dores, as dores...” (Entrevistada 05)
É possível observar na entrevistada 05 tanto na fala acima, como também
na fala a seguir que de algum modo esta paciente denota sentimentos de dor e
sofrimento por causa do esforço físico, ou por surgimento de outras doenças antes
do diagnóstico da síndrome.
“Depois eu fui trabalhar na fábrica de papel, era muito peso que eu pegava, aí eu
comecei a ficar com problema de estômago” (Entrevistada 05)
De acordo com Lipp e Malagris (1995) o estudo do desencadeamento de
patologias tem demonstrado que não se pode atribuir a um só fator a
responsabilidade pelo desenvolvimento das mesmas. Acredita-se que muitas
doenças sejam resultados entre fatores genéticos, ambientais, patofisiológico e
psicológico.
Pode-se analisar que a entrevistada 04 possuía as dores há mais ou menos
oito a dez anos atrás, a qual nesta época passou por um evento muito significativo
em sua vida quando perdeu seu filho, podendo assim, sugerir uma relação entre a
perda e o desencadeamento da fibromialgia. De acordo com o ano da perda do
filho da entrevistada, podemos observar nas duas falas abaixo, essa relação entre
a perda e o início da doença, conforme as datas relatadas:
“Em 1996, quando eu perdi meu filho de acidente, muito trágico e é horrível
tu ter um filho só e perder ele com 25 anos de idade, na flor da vida, ele ia ser pai, então foi assim muito trágico” (Entrevistada 04)
“Eu já estou doente há dez anos, ai esse ano que o bendito resolveu abrir o
livro, esse ano que ele (médico) me disse que tinha (fibromialgia) e que me deu
um encaminhamento.” (Entrevistada 04)
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Com essa passagem fica sugestivo que os aspectos emocionais estão
envolvidos no desencadeamento da patologia.
Segundo Oliveira (2006) o corpo formado, já desenvolvido traz consigo toda
a história de vida do sujeito: passado e presente são um só momento. Assim,
tratar do corpo doente, no momento presente, é também observar o passado que
marcou esse presente.
4.2. 2ª Categoria: de frente com a fibromialgia (“a doença que não tem cura”)
Esta categoria identifica o conhecimento, as reações e sentimentos das
pacientes em relação à fibromialgia depois do diagnóstico.
4.2.1. A descoberta e minha reação
Esta subcategoria refere-se ao processo de descoberta das pacientes bem
como sua reação em relação à fibromialgia.
“Para ser bem sincera, ele não me disse bem o que era, não me explicou,
só me disse que eu tinha fibromialgia.” (Entrevistada 01)
“Falei para meu marido para comprar um livro para saber o que é”
(Entrevistada 01)
De acordo com Castro (2003) existe um componente psicológico, no qual
a partir de experiências vividas pelo indivíduo, pode ocorrer a produção de um
novo comportamento, uma nova atitude e um novo modo de ser. Em algumas
falas das entrevistadas podemos identificar sentimentos de tristeza, curiosidade e
até mesmo uma certa passividade em relação à descoberta da fibromilagia.
30
“O jeito que eu reajo todos os dias... com dor aqui, com dor ali”
(Entrevistada 02)
Esta síndrome está relacionada à dor crônica. Segundo Chaitow (2002), as
pessoas que possuem a fibromilagia apresentam como sintoma a dor, na qual são
muitas vezes espalhadas por todo o corpo. Com essas questões, pode-se
perceber nos relatos abaixo uma certa dificuldade na compreensão de algumas
pacientes em relação ao conhecimento e sentimentos, porém, da mesma forma
podemos identificar uma certa aceitação por parte de outras.
“Tranqüila né, porque eu já sabia o que era fibromialgia” (Entrevistada 03)
“Falei para ele (médico) para dar um jeito para eu sair dessa, com um
tratamento adequado porque é impossível a gente viver assim” (Entrevistada 04)
“Ai, eu não sei dizer o nome do exame que eu fiz... Óssea... Alguma coisa,
aí ele disse que eu estava com a fibromialgia” (Entrevistada 02)
“... minha doutora descobriu, porque a principio ela achava que eu era muito
nervosa com tudo... nada aliviava as dores que eu estava sentido, e eu
continuando sempre com muita dor mesmo, em lugares diferentes, nas juntas, nos
músculos, então ela disse que eu realmente tinha fibromialgia” (Entrevistada 03)
“Quando ele (médico) disse que não tinha cura, fiquei bem triste”
(Entrevistada 05)
“O médico falou o que eu tinha, mas ele não explicou, aí depois eu fui em
outro médico que daí ele me disse, foi um ortopedista que me disse, aí ele me
falou que não tinha cura” (Entrevistada 05)
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O corpo humano responde com sensações, as quais se forem positivas o
mesmo relaxará, porém se for uma sensação com uma resposta punitiva ele irá se
contrair, e com essas manifestações, muitas alterações orgânicas poderão se
desenvolver. Os sujeitos que conseguem proporcionar mais prazeres e serem
mais felizes em suas vidas têm a uma menor probabilidade em adoecer, e esta
questão é provada cientificamente (OLIVEIRA, 2006).
4.2.2. O conhecimento sobre fibromialgia
Segundo Klimes et al (1992) conhecimento é o modo como a mente
procede à análise de um objeto, de uma realidade e de si, definindo sua natureza.
O objetivo desta subcategoria é identificar o nível de conhecimento que as
pacientes de fibromialgia possuem em relação à doença.
“Não conheço nada” (Entrevistada 01)
“É, na realidade eu não conheço, eu to tendo agora aqui na Univali”
(Entrevistada 02)
“Na realidade o que eu sei dela que realmente eu sinto em mim, né”
(Entrevistada 02)
“Eu sei que essas coisas vão depender muito do meu humor, do meu psicológico”
(Entrevistada 03)
“Eu bem que pensava que essas coisas que apareciam na TV eram os
sintomas que eu tenho” (Entrevistada 04)
É possível observar que a maioria das entrevistadas não tinha o
conhecimento total da síndrome, porém algumas se mostraram interessadas nesta
questão.
32
“Eu tinha assim, pesquisa e eu vejo muito canal Futura” (Entrevistada 04)
“Nunca tinha ouvido falar, agora que estou sabendo porque vim para cá
fazer os exercícios, na psicóloga e tudo, aí que eu estou sabendo”
(Entrevistada 05)
Parte das pacientes deseja fazer uma busca de informações sobre a
fibromialgia para conhecer melhor sua situação, sendo aparentemente necessário
para determinar um melhor ajustamento e alterações de seu estilo de vida.
De acordo com Cerqueira (2000, p.280)
“Durante a vida, as pessoas têm que se confrontar com acontecimentos de maior ou menor importância, que trazem consigo a exigência de se responder a eles, enfrentando-os de forma que podem ser mais ou menos ansiogênicas”
4.3. 3ª Categoria: As conseqüências da doença. “Minha vida com a fibromialgia”
Esta categoria identifica as conseqüências que a fibromialgia causa nessas
mulheres com o diagnóstico, o sofrimento, as derrotas e todo um processo de
aceitação e enfrentamento que as mesmas vivenciam.
4.3.1. O sofrimento inevitável
Como sofrimento, segundo Klimes et al (1992) diz respeito à ação de sofrer;
de dor física ou moral. Esta subcategoria identifica falas das pacientes que
vivenciam experiências dolorosas constantes e com essas dores acompanham
sentimentos de tristeza e angústia.
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“Um dia dói aqui, o outro dia dói ali... e assim vai” (Entrevistada 02)
“Eu fico bem chateada” (Entrevistada 02)
“Eu tinha crises horríveis, eu gritava de dor, chegava lá (hospital) gritando”
(Entrevistada 02)
“... como se estivesse enfiando e rasgando com um punhal nos meus
músculos. São essas dores horríveis” (Entrevistada 03)
“Há mais ou menos 8 a 10 anos que eu sinto as dores” (Entrevistada 03)
É relatado pelas entrevistadas que percebem que a dor se intensifica a
partir de uma preocupação, ou por surgimento de algum problema, o que nos
indica que a questão psicológica e a tensão contribuem para a dor.
De acordo com Vandenberghe e Ferro (2005) o estresse prolongado
diminui o sistema imunológico contribuindo para novos sinais de dor, uma vez que
o nível de cortisol nesse processo é alterado, produzindo estresse psicológico,
bem como uma ativação cognitiva e emocional.
“A gente sente mais dor quando tem problema, quando precisa se
preocupar com alguma coisa” (Entrevistada 01)
“Eu sempre tive muitas dores” (Entrevistada 03)
“Ninguém acreditava em mim, aí eu me recolhi, então eu vi que esse meu
recolhimento estava me acabando” (Entrevistada 04)
“Olha, eu me sinto muito triste, tem dias que eu choro muito” (Entrevistada
05)
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“Eu acho muito humilhante” (Entrevistada 05)
“É muito difícil, é muito triste, é muita dor” (Entrevistada 05)
“Sinto as dores” (Entrevistada 05)
Identifica-se nas entrevistadas que a dor é uma sensação desagradável e
constante em suas vidas, que muitas vezes se intensifica a partir de vivências
negativas e desfavoráveis que nem sempre são identificadas pelas pacientes,
ocorrendo a necessidade de obter autoconhecimento bem como respeitar suas
limitações.
Quando as estratégias de luta ou de esquiva as quais o sujeito enfrenta as
ameaças do seu dia a dia não possuem sucesso em tirar ou diminuir as fontes de
estresse, as opções de respostas são perpetuadas, por essas questões é
importante exercitar a discriminação de eventos que não contribuem para o bem
estar do sujeito (VANDENBERGHE & FERRO, 2005).
De acordo com Turk, Meichenbaum & Genest (1983 apud
VANDENBERGHE, 2005) o paciente pode aprender através de exercícios,
identificar emoções negativas que estão vinculadas com a dor como também
situações que causam estresse, e reconhecer esses pensamentos disfuncionais
associados a essas questões. Com exercícios e conhecimento pode-se adquirir
um controle mais eficaz sobre os processos simbólicos relacionados com a
experiência e o manejo da dor.
4.3.2. As derrotas e conseqüências
Esta subcategoria identifica as conseqüências, bem como os resultados e
derrotas que a fibromialgia impõe a estas pacientes.
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“Eu fico mais em casa, a gente mora em um sítio, eu queria ajudar mais o
meu marido, mas não posso carregar peso, fazer esforço, eu sinto muita dor, dói a
cabeça.” (Entrevistada 01)
“Parei de trabalhar na costura porque me dava uma dor de cabeça muito
forte” (Entrevistada 01)
“Não pego vassoura, eu não dá né” (Entrevistada 02).
“Em casa eu não faço nada!” (Entrevistada 02).
“Eu não posso fazer tudo o que eu tenho vontade” (Entrevistada 02)
Percebemos que viver com uma doença crônica como a fibromialgia, a
partir dos relatos das mulheres que possuem essa síndrome passa por um
processo de reformulação e formação de novos conceitos de suas vidas. A partir
do diagnóstico percebem-se atitudes e sentimentos de tristeza e humilhação, bem
como impotência para realizar suas atividades cotidianas.
Mudanças comportamentais são exigidas pela doença crônica, as
dimensões interpessoal e social têm grande presença quando se trata da
manutenção da dor. O desequilíbrio nessas dimensões em questão exige do
sujeito novos comportamentos, bem como adaptação que muitas vezes são
frustradas resultando dessas mudanças novas reações de estresse, levando o
aumento da dor (VANDENBERGHE & FERRO, 2005).
“Me deixa muito triste, e é muito humilhante chegar para mim e ir ao
médico, voltando de três em três meses, e ele dizer que eu estou apta para
trabalhar, sabe, para mim isso é humilhação, INSS, receber um dinheirinho de
nada” (Entrevistada 05)
“Ninguém acreditava em mim, aí eu me recolhi” (Entrevistada 04)
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“Meu Deus... Quando eu fico agitada então... Eu chego a inchar” (Entrevistada 02)
“O dia que dói eu vou para o hospital, tenho que tomar morfina... Ah quando
eu tenho crise de dor, sabe?” (Entrevistada 02)
“Eu me incomodei, tipo assim, minha mão incha” (Entrevistada 02)
A fibromialgia é uma síndrome clínica, na qual acompanha conseqüências
negativas para a vida dos pacientes, uma vez que ocasiona limites nos fazeres do
dia a dia por causa da fadiga acarretada pela dor, Pode-se observar esta questão
nos relatos abaixo:
“Praticamente não trabalhava... pegar pesado para quem tem esse tipo de
problema que eu tenho não pode, né?” (Entrevistada 05)
“Eu fui criada com trabalho, né, trabalhando, trabalhando, sempre fui de
trabalhar, mas eu não consigo trabalhar mais, mesmo na minha casa”
(Entrevistada 05)
“Estou encostada e estou vendo até se eu me aposento porque é muito
difícil” (Entrevistada 05)
Para a pessoa que sofre algum tipo de dor, a perda de papéis sociais,
familiares e profissionais pode levar a uma crise de significado da vida (CAILLIET,
1999) podendo desenvolver baixa auto-estima, como outros sentimentos
negativos do sujeito.
As perdas de reforçadores sociais, afetivos, pessoais manifestam
distorções cognitivas no sujeito que dificultam o senso de controle que o mesmo
tem sobre suas respostas comportamentais, nesta questão, o modelo cognitivo-
comportamental auxilia para a melhora dessas implicações uma vez que seu
objetivo é modificar o significado da experiência vivida e atribuir senso de controle
sobre os efeitos da dor. O sucesso e os eventos positivos em geral devem ser
37
somados no controle interno do sujeito para melhorar suas respostas de
comportamento (VANDENBERGHE & FERRO, 2005).
“Para trabalhar fora, eu não tenho condições” (Entrevistada 05)
“Às vezes eu estou muito tensa, ou preocupada com alguma coisa, se eu
estou nervosa, ou meio agitada aí geralmente eu sinto realmente dor”
(Entrevistada 03)
“Eu nunca tive alivio de dor, de dores musculares, dores na cervical”
(Entrevistada 03)
“Eu começo a ficar tensa, sinto a cabeça meio doendo, começo a sentir dor,
fica mais sensível, minha musculatura fica toda tensa” (Entrevistada 03)
“Quando eu vejo que não estou agüentando de dor, daí eu tomo
medicamento, todos os dias tomo um, ou é para dor no corpo, ou é para dor de
cabeça, todo dia eu tomo” (Entrevistada 03)
“Conclusão eu me arrebentava a boca toda, com afta sabe? Mesmo tendo
higiene estava sempre com mau hálito, fazer xixi era horrível, xixi de velho então
já não presta, e cheio de remédio... Imagina” (Entrevistada 04)
“No verão eu sinto muita dor, mais dor do que no inverno, para mim é”
(Entrevistada 04)
. ”Ai meu Deus, eu fico cheia de dor” (Entrevistada 04)
A fibromialgia possui um difícil diagnóstico, uma vez que não aparece em
exames a sua existência, apenas é possível acompanhar as reclamações das
pacientes em relação à dor, com afirmações de “pontadas”, “queimação”,
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“choque”, observando os pontos dolorosos, bem como o tempo de permanência
dos mesmos.
“A minha dor é principalmente no pé, olha ali como está inchado, nessa
junta aqui da mão também, os meus braços” (Entrevistada 04)
“Se eu fico dez minutos lavando uma louça na beirada da pia eu tenho que
correr e deitar” (Entrevistada 05)
“Já vai para oito meses que eu não sei o que é deitar reto” (Entrevistada 05)
“Desse lado eu não posso deitar que dói, desse outro eu não posso deitar que dói também e o ombro” (Entrevistada 05)
“Eu não consigo varrer embaixo de um móvel” (Entrevistada 05)
“Parecia que estava abrindo tudo e vem puxando até aqui atrás, e quando chega aqui, me dá um choque, é horrível, então eu não posso andar depressa, eu tenho que andar muito devagar entendeu?” (Entrevistada 05)
Pode-se observar que grande parte das pacientes sentem-se derrotadas
pelo insucesso de realizações de tarefas e objetivos, aumentando ainda mais os
sentimentos de tristeza e dor.
De acordo com Loduca (1999) o sujeito passa a sentir-se sem esperanças,
angustiado, muitas vezes desencadeando uma depressão. A dor passa a ser o
ponto central de sua vida, referindo-se a crescente incapacidade física e
apresentando reações emocionais negativas, que acabam provocando retraimento
sobre si e distanciamento da execução de atividades que anteriormente
representava um papel importante no seu cotidiano.
“Eu não consigo deitar, ás vezes até me dá uma tonteira, porque dói muito”
(Entrevistada 05)
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“A minha família às vezes pensa que faço corpo mole, mas não é”
(Entrevistada 05)
“Quando eu fico muita agitada né, quando pego muito peso, se eu forço
demais... Sinto as dores” (Entrevistada 05)
Considerando as dores dessas mulheres, são visíveis as conseqüências
físicas e emocionais que a fibromialgia acarreta. Uma grande mudança
biopsicossocial. Sendo assim, é necessário que as mesmas passem por um
processo de adaptação para o melhor convívio com a síndrome dolorosa.
4.3.3. Meu enfrentamento
Esta subcategoria mostra as estratégias de enfrentamento, bem como a
melhor forma para conviver com a síndrome dolorosa que estas pacientes
possuem.
“Gosto de sair, gosto de ir no baile com meu marido, escutar música. Eu
queria um DVD, minha filha me deu, fiquei contente, eu coloco o DVD bem alto, é
tão bom, escuto, canto junto, eu gosto tanto.” (Entrevistada 01)
“Eu adoro sair de casa, gosto de andar, eu não sou de ficar em casa, gosto
de sair” (Entrevistada 01)
“Tenho condições, mesmo que eu tenho fibromialgia continuo fazendo
minhas tarefas” (Entrevistada 03)
De acordo com Lazarus e Folkman (1984) o enfrentamento diz respeito aos
esforços cognitivos e comportamentais focado nas exigências internas ou externas
que são avaliadas como sobrecarga aos recursos pessoais do indivíduo.
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“Estou fazendo Fisioterapia, tem aquela Psicologia que a gente esta
fazendo também, né e tomando remédio” (Entrevistada 01)
“Eu fico bem chateada, mas não posso viver em função dela, né... Não!
Assim, eu tenho ajuda, da Psicologia, da Fisio, eu vou para a igreja, ah... Eu
procuro viver! Até quando dá, eu vou no pagode” (Entrevistada 02)
“Eu sou ficante, eu fico né nega. Ah, a vida continua” (Entrevistada 02)
“Eu tento melhorar o meu humor o melhor possível, né, tento conversar com
as pessoas, aliviar a dor com compressa de gelo, às vezes eu saio” (Entrevistada
03)
É possível identificar nos relatos das entrevistadas que utilizam desafios no
dia a dia, visando controlar o estressor da doença, na maioria dos casos com
estratégias ativas, na tentativa de conviver da melhor forma possível com a dor.
“Eu tenho que conviver, então vou tentar conviver da melhor forma
possível” (Entrevistada 03)
...“Chego cansada? Chego, sinto dor? Sinto, mas vou fazendo, eu falo que
a fibromialgia não me leva para cama não!” (Entrevistada 03)
“Eu enfrento, enfrento de frente a fibromialgia” (Entrevistada 03)
“Eu gosto de” trocar um óleo “que só” (Entrevistada 04)
“Eu ligo o som, saio para rua, vou bordar, porque eu não deixo nada me
pegar” (Entrevistada 04)
41
“Agora estou nessa batalha, eu encarei mesmo, to manipulando a doença,
eu não vou deixar ela me pegar” (Entrevistada 04)
Elementos estressores, tais como a dor e inabilidade física, pacientes de
dor crônica vivenciam, ocorrendo mudanças significativas em seus
comportamentos que são exigidas por esses fatores, nesta questão, existe a
necessidade do paciente mobilizar um conjunto de estratégias de enfrentamento
para manter seu equilíbrio emocional, bem como a auto-estima e relacionamento
com família e amigos (LODUCA, 1999).
“Eu parei de chorar, eu já chorei muito na minha vida, agora chega”
(Entrevistada 04)
“Não me desanimo, então eu to lutando, faço tudo, me esforço para fazer os
exercícios em casa também, me esforço, mesmo que está doendo eu tento andar
um pouquinho dentro de casa, não sou pessoa de fazer corpo mole” (Entrevistada
05)
“Às vezes acontece de eu acordar sentido nada, então eu aproveito, faço
tudo, faço faxina, faço tudo, aí no dia seguinte já estou meio mole, aí eu fico mais
tranqüila, deito um pouco, faço um pouco, deito novamente, aprendi a me
respeitar, entendeu?” (Entrevistada 05)
Existem vários tipos de construção pessoal após uma certa aceitação em
relação a alguma mudança que ocorreu em pacientes, como o surgimento de uma
patologia, como a fibromialgia, tais como a maneira que o sujeito se redefine em
termos de significados sociais, familiares, espirituais, profissionais que precisam
ser considerados. Um tratamento feito pela análise do comportamento focaria na
modificação de contingências desses pacientes, com o objetivo de aumentar a
freqüência de comportamentos adaptativos às situações apresentadas, bem como
42
a ampliação de repertórios comportamentais, estimulando assim novas respostas
(VANDENBERGHE, 2005).
Em todas as entrevistadas é possível identificar estratégias de
enfrentamento. Existe aparentemente uma aceitação da doença, na qual essas
mulheres a cada dia aprendem a conviver com ela, respeitando seus próprios
limites.
4.3.4. Minhas expectativas para o futuro
Nesta subcategoria identificam-se as expectativas dessas mulheres com
fibromialgia, ou seja, os sentimentos de esperança que as mesmas reconhecem a
partir de seus direitos, tais como algumas compreensões, planos e sonhos.
“Ah, para o futuro eu queria me aposentar e cuidar dos meus netos, ficar
mais perto dos meus filhos, e ter saúde” (Entrevistada 01)
“Ter a velhice da gente em um quintalzinho maior, com as nossas
plantinhas, é assim, a nossa velhice a gente esta programando assim”
(Entrevistada 05)
“Ah... Esperança” (Entrevistada 04)
“Planos eu tenho, né, eu tenho vários” (Entrevistada 03)
Os sentimentos são conseqüências de contingências que não temos como
evitar, por essa questão, o processo de adaptação é de extrema importância para
os sujeitos que vivenciam mudanças em sua estrutura biopsicossocial, para mudar
algumas opções fundamentais na vida, superando certas limitações e enfrentando
43
de maneira criativa os desafios que ocorrem em seu meio (VANDENBERGHE,
2005).
É possível identificar em uma das entrevistadas uma visão negativa em
relação ao seu futuro, sem expectativas positivas em relação a si:
“Acho que o meu futuro a tendência é piorar. É... Não tem... Eu faço tudo
para ter uma vida normal, sabe? Sem dor... Mas o dia que dói eu vou para o
hospital, tenho que tomar morfina” (Entrevistada 02)
Segundo Dougher e Hackbert (1994, apud CAVALCANTI, 1997) pessoas
com escassez de reforçamento positivo, bem como experiências vividas por um
repertório social inadequado têm sido apontadas como relevantes para o início e
manutenção da depressão. A depressão passa a existir a partir de uma interação
com o ambiente social e à sua volta (CAVALVANTI, 1997). Assim a análise
funcional parece ser um caminho coerente para que se possa planejar uma
intervenção, uma vez que várias pesquisas apontam que pessoas que sofrem de
dor crônica, geralmente estão acompanhadas da depressão.
É possível observar também que parte das entrevistadas tem suas
expectativas focadas na doença, e não em uma visão de realização pessoal, como
descritas anteriormente. Procuram saber mais sobre a fibromialgia e desejam lutar
cada vez mais contra as dores.
“O meu objetivo é ficar melhor de 50 a 90 por cento” (Entrevistada 05)
“Eu pelo menos livre de pelo menos maior parte de dor, e batalhar, viver
bem, levar alegria, ser otimista, porque assim, eu vejo no nosso grupo muito
choro, muita coisa, mas não adianta, ai, não adianta, não adianta” (Entrevistada
04)
44
“Eu escutei falar da minha doença, mas eu quero me aprofundar mais e
tenho esperança que eu vou melhorar, mesmo que eu não melhore cem por cento,
mas cinqüenta por cento eu vou melhorar porque eu estou me esforçando muito
para isso, eu quero isso” (Entrevistada 05)
Diante de todas estas categorias e subcategorias relatadas acima, foi
possível identificar uma interação entre os eventos tanto ambientais como
comportamentais, bem como a modificação cognitiva, tais como as crenças das
mesmas em relação à doença.
Segundo Riechelmann (2000) a questão corporal está integrada no fato
psíquico, que por sua vez integra-se no ambiente, nomeando esta integração
biopsicossocial em ciência psicossomática. Ainda de acordo com o autor, a
psicossomática trata-se de somar conhecimentos que possibilitam uma maior
investigação, bem como a probabilidade de sucesso da intervenção profissional
em relação ao sujeito doente.
A fibromialgia, como uma dor crônica não possui uma etiologia definida
ainda, considerando ser possivelmente multifatorial e secundária a causas
genéticas, imunológicas e ambientais. No entanto percebe-se haver, com
freqüência, influência do estado emocional das pacientes, na evolução da
patologia (DAMIÃO, 2000). As experiências negativas vividas pelas pacientes
podem ter sido antecedentes fortes que, a partir das repercussões emocionais
adquiridas poderiam ter contribuído para o desencadeamento da síndrome.
45
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta pesquisa, o intuito de abordar a contribuição da Psicologia, como
uma área que dá suporte através de suas teorias para o tratamento psicológico a
essas pacientes, junto com outros profissionais da saúde, foi o ponto de partida
para a investigação das seguintes situações: quando a fibromialgia começou a
fazer parte da vida dessas pacientes? Como a síndrome afeta o dia-a-dia das
pessoas acometidas? As constantes crises interferem na vida social, profissional,
afetiva? Em que sentindo? Quais fatores estão presentes? Foi possível observar
que os resultados encontrados neste estudo contribuíram para uma maior
compreensão acerca da etiologia, bem como, um direcionamento ao tratamento
dispensado a essas mulheres, priorizando um atendimento interdisciplinar.
Foi constatado na pesquisa que a síndrome da fibromialgia possivelmente é
desencadeada em sujeitos que vivenciaram eventos punitivos em suas histórias
de vida, bem como experiências de perdas dolorosas. Foi possível identificar
também que as repercussões emocionais podem influenciar o quadro clínico das
pacientes com fibromialgia. A maioria das falas demonstrou limitações nas
atividades diárias, porém, foi possível identificar que existe por outro lado, uma
forte estratégia de enfrentamento dessas mulheres. As mesmas procuram viver
suas vidas da melhor forma possível, nas quais, a maioria tem planos e
expectativas em relação a elas próprias e à doença. É válido destacar que uma
das pacientes (entrevistada 02) demonstra que suas expectativas em relação à
doença são de piorar, comparando com as outras pacientes, que acreditam
melhorar e obter um melhor convívio com a doença.
Os fatores emocionais podem ser considerados precipitadores da doença
quando negativos, mas devem ser vistos também como fortes elementos
contribuidores de melhora, quando positivos. Observando as unidades de registro,
notou-se que as pacientes quando se incomodam com algo, ou magoam-se, as
crises de dores aumentam, e quando estão se sentindo melhor procuram sair de
casa, ou até mesmo ir ao baile, como descrito por uma delas.
Cada indivíduo percebe e reage de diferentes maneiras, confirmando que
46
pensamentos influenciam comportamentos e sentimentos das pessoas e, embora
essas patologias provoquem muitas restrições na vida de seus portadores, é
possível haver adaptação à nova vida.
Foi possível identificar nas pacientes sintomas depressivos. A ansiedade,
angústia, dor e medo podem-se perceber em algumas unidades de registro, uma
vez que há uma diversidade de emoções que acometem as pacientes da patologia
em questão. Mulheres diagnosticadas de fibromialgia apresentam fortes
repercussões emocionais por seus aspectos limitantes e caráter incurável da
síndrome, afetando o indivíduo no âmbito social.
Considera-se que a fibromialgia não possui uma etiologia fixa, obtendo,
segundo literaturas, um caráter multifatorial. Porém, a análise dos dados
demonstrou que os eventos trágicos podem influenciar no desencadeamento da
doença, pois a época da vida em que uma pessoa adoece tem muito a ver com a
sua história. Um exemplo está no caso de uma das pacientes (entrevistada 04) a
qual perdeu seu filho em um acidente de carro e juntando com a tensão
emocional, é sugestiva a eclosão da doença, pois o sujeito passou por um
estresse e na mesma época as dores começaram a surgir.
O indivíduo quando ciente de como manejar o tratamento conseguirá maiores
chances de sucesso em seu quadro clínico, pois finaliza a angústia de falta de
informação em relação às dores, uma vez que a fibromialgia é de difícil
diagnóstico. Pacientes que não possuem as informações corretas demonstram
certa insegurança diante a imprevisibilidade do seu problema bem como a falta de
compreensão de seus familiares e cuidadores, como foi possível identificar nos
relatos acima.
Com essas questões, acredita-se na importância do trabalho interdisciplinar
junto as pacientes de fibromialgia. No caso da Psicologia, um trabalho
psicoterapêutico tem como função básica a promoção de mudanças
comportamentais que levam a diminuição do sofrimento, e ao aumento de
contingências reforçadoras (VERMES e MEYER, 2001).
De acordo com Dattilio e Freeman (1994 apud MYIAZAKI, et al ,1998), a
intervenção psicológica da Terapia Cognitiva Comportamental é útil para casos
47
como a dor crônica. Envolvem contexto de apoio, informações sobre a doença, e o
tratamento, desenvolvimento de estratégias de enfrentamento e relaxamento.
Desta maneira é necessário compreender o impacto da doença, neste caso a
fibromialgia, sobre a paciente, desenvolvendo estratégias que procurem aumentar
o bem estar em seu dia-a dia, bem como auxiliá-la a identificar seus pensamentos,
atitudes, crenças e comportamentos pouco adaptativos.
Existem muitos caminhos a serem percorridos e, a partir das questões
referentes a este tema, a necessidade de outros estudos torna-se importante
como forma de aumentar ainda mais o conhecimento que a Psicologia dispõe
como também promover a troca de experiências juntamente às demais áreas
envolvidas. Tais estudos podem ser direcionados à pesquisa da fibromialgia em
homens, uma vez que há constatação de casos, mesmo que mínimos, também
neste sexo. Sugere-se também um estudo sobre a incidência da síndrome em
crianças e possíveis fatores desencadeantes. Por fim, propõem-se pesquisas
como o levantamento das estratégias em relação ao diagnóstico da fibromialgia; e
a importância dos grupos interdisciplinares de intervenção às pessoas com a
síndrome.
48
6. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
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54
7. Apêndices 7.1. Apêndice 01
Entrevista
1) Dados de identificação Idade:
Profissão:
Estado civil:
Nacionalidade:
Grau de instrução:
Reside com quem:
2) Fibromialgia - Há quanto tempo você recebeu o diagnóstico de fibromialgia?
- Como você reagiu quando recebeu o diagnóstico de fibromialgia?
- Qual seu conhecimento sobre fibromialgia?
- Possui mais alguém na família com o diagnóstico?
-Quais as mudanças observadas por você em relação a sua vida após a
descoberta da fibromialgia?
- Quando ocorrem as maiores crises de dor?
-Como você tem agido em relação a sua doença?
-Como você encara seu futuro, qual expectativa possui?
- Você submete-se a algum outro método de tratamento?
3) História de vida -Fale sobre sua infância e adolescência
- Existe alguma lembrança de sua infância e adolescência significativa para
você?
- Fale sobre o relacionamento familiar (pais, cônjuge, filhos)
- Como é sua rotina do dia a dia?
- Qual é sua atividade em casa? Possui alguma atividade fora de casa?
55
7.2. Apêndice 02
Termo de autorização
A Clínica de Fisioterapia da Universidade do Vale do Itajaí, situada no campus de
Itajaí, está ciente que será realizada uma entrevista com as pacientes portadoras
de Fibromialgia, a fim de analisar a história de vida das mesmas, os fatores
psicossociais e o conhecimento da doença. Os dados coletados poderão ser
utilizados tanto para fins acadêmicos, como para publicação em eventos e/ou
revistas científicas por professores idôneos no ensino de seus alunos do Curso de
Psicologia da UNIVALI. Por serem voluntários não terão direito a nenhuma
remuneração, e os dados referentes a estes participantes serão mantidos em
sigilo.
Local:______________________________Data:____________
Assinatura:___________________________
56
7.3. Apêndice 03
Termo de consentimento livre e esclarecido
Gostaria de convidá-la para participar de uma pesquisa cujo título é “História de
vida e desencadeamento da fibromialgia em mulheres afetadas” e tem como
objetivo Identificar fatores psicossosociais desencadeantes de um diagnóstico de
Fibromialgia em mulheres que freqüentam a Clínica de Fisioterapia da
Universidade do Vale do Itajaí (Univali), e as repercussões deste quadro nas
diversas áreas de vida.
Sua tarefa consistirá na participação em uma entrevista com questões
relacionadas ao foco deste estudo. Quanto aos aspectos éticos, gostaria de lhe
informar que seus dados pessoais serão mantidos em sigilo, no qual os resultados
da pesquisa serão utilizados somente com a finalidade acadêmica podendo vir a
ser publicado em revistas especializadas. Nesta pesquisa não há respostas certas
ou erradas, o que importa é sua opinião. A aceitação não implica que você estará
obrigada a participar, podendo interromper sua participação a qualquer momento,
mesmo que já tenha iniciado, bastando, para tanto, comunicar a pesquisadora,
lembrando ainda que tal participação seja voluntária. Durante a participação, se
você tiver alguma reclamação do ponto de vista ético, poderá contar com a
pesquisadora. Os resultados da pesquisa serão repassados para a coordenação
do Curso de Fisioterapia e para a professora responsável pelo atendimento das
pacientes com fibromialgia da Clínica de Fisioterapia de Universidade do Vale do
Itajaí.
57
Identificação e Consentimento
Eu,________________________________________________________________________________declaro estar ciente dos propósitos da pesquisa, da maneira como será realizada e no que consiste minha participação. Diante dessas informações, aceito participar da pesquisa.
Assinatura:_________________________________
RG:____________________
Pesquisadora responsável: Professora Giovana Delvan Stühler, MSc
UNIVALI – CCS – Curso de Psicologia
Rua Uruguai, 438 – Bloco 25B – sala 202 – 5
Telefone: (47) 9928-4041
E-mail: [email protected]