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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS–UEA FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR HEITOR VIEIRA DOURADO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL DOUTORADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA TRANSMISSÃO VERTICAL DE SÍFILIS E HIV NO AMAZONAS CLAUDIA MARQUES DE OLIVEIRA SOEIRO MANAUS 2011

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS–UEA

FUNDAÇÃO DE MEDICINA TROPICAL DR HEITOR VIEIRA DOURADO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEDICINA TROPICAL

DOUTORADO EM DOENÇAS TROPICAIS E INFECCIOSAS

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA TRANSMISSÃO VERTICAL DE SÍFILIS E HIV NO AMAZONAS

CLAUDIA MARQUES DE OLIVEIRA SOEIRO

MANAUS 2011

i

CLAUDIA MARQUES DE OLIVEIRA SOEIRO

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA TRANSMISSÃO VERTICAL DE SÍFILIS E HIV NO AMAZONAS

Tese apresentada ao Programa de Pós Graduação de Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas, em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado, para obtenção do titulo de Doutor em Doenças Tropicais e Infecciosas.

Orientador: Prof. Luiz Carlos de Lima Ferreira

Co-orientadora: Profª Angélica Espinosa Miranda

MANAUS 2011

Ficha Catalográfica

S681e Soeiro, Cláudia Marques de Oliveira. Estudo epidemiológico da Transmissão Vertical de Sífilis e

HIV no Amazonas / Cláudia Marques de Oliveira Soeiro. -- Manaus : Universidade do Estado do Amazonas, Fundação de Medicina Tropical, 2012.

82 f. : il.

Tese de Doutorado do Programa de Pós-Graduação em Doenças Tropicais e Infecciosas – UEA/FMT, 2012.

Orientador: Profº. Dr. Luiz Carlos de Lima Ferreira. Co-orientador: Profª. Angélica Espinosa Miranda. 1. Transmissão Vertical. 2. HIV - Infecção. 3. Sífilis.

I. Título. CDU: 616.98

Ficha Catalográfica elaborada pela Bibliotecária Suziane Batista Marinho.

ii

FOLHA DE JULGAMENTO

ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO DA TRANSMISSÃO VERTICAL DE SÍFILIS E HIV NO AMAZONAS.

CLAUDIA MARQUES DE OLIVEIRA SOEIRO

“Esta Tese foi julgada adequada para obtenção do Título de Doutor em Doenças Tropicais e Infecciosas, aprovada em sua forma final pelo Programa de Pós-Graduação em Medicina Tropical da Universidade do Estado do Amazonas em convênio com a Fundação de Medicina Tropical Dr. Heitor Vieira Dourado”.

Banca Julgadora:

_______________________________ Prof. Luiz Carlos de Lima Ferreira, Dr.

Presidente

_____________________ Prof. Sinesio Talhari, Dr.

Membro

_______________________ Prof. Reinaldo Ditze, Dr.

Membro

____________________________________________ Profª. Angelica Espinosa Barbosa Miranda, Drª.

Membro

______________________________________ Profª. Maria Jacirema Ferreira Gonçalves, Dra.

Membro

iii

DEDICATÓRIA

A minha familia, pelo investimento em

mim, tornando possível a realização, desta

tese, dedico-lhes essa conquista como

gratidão.

iv

AGRADECIMENTOS

Agradeço a ajuda de meu orientador, Prof. Luiz Carlos de Lima Ferreira,

pela paciência e disponibilidade, colaboração sem a qual não seria possível a

realização deste trabalho.

À Profª Maria das Graças do Vale Barbosa pelo apoio e dedicação, mas

principalmente pelo incentivo em prosseguir mesmo após as derrotas.

A Diretora da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Profª Graça

Alecrim, que nos permitiu a realização deste trabalho.

Ao Prof. Sinésio Talhari que colaborou decisivamente para a realização

deste trabalho, orientando todas as etapas de sua execução. Mas, especialmente

por seu incentivo e apoio, ensinando-nos a verdadeira essência do Ensino e da

Pesquisa.

A minha co-orientadora Profª Angélica Espinosa Miranda, que depositando

confiança profissional em mim, alem do apoio técnico, cientifico e emocional

possibilitou a realização desta tese.

Aos funcionários do ambulatório de DST/AIDS da Fundação de Medicina

Tropical do Amazonas, que colaboraram de forma grandiosa para a realização do

trabalho de pesquisa.

Ao Coordenador do Programa de DST/AIDS do Amazonas, Dr. Noaldo

Oliveira de Lucena, permitindo a realização de pesquisa nos dados de notificação

do SINAN Amazonas.

Ao Dr. Marcelo Cordeiro por permitir a realização de pesquisa de dados de

notificação de sífilis no Sistema de Informação sobre Mortalidade do Amazonas

(SIM), assim como sua importante contribuição na elaboração do trabalho.

v

Aos funcionários da Coordenação do Programa de pós-graduação que nos

ajudaram e escutaram muitos desabafos.

Aos meus pais, que de forma especial cada um, contribuíram com seus

valiosos ensinamentos e apoio nos momentos de dúvidas, influenciando de forma

decisiva a minha formação.

Aos meus três filhos, Álvaro, André e Arthur, motivação maior pela qual

sigo buscando crescimento profissional e pessoal.

Ao meu marido Álvaro que com o seu amor tem sido meu maior

incentivador, priorizando sempre os meus sonhos antes mesmo dos seus.

Aos professores do curso de Doutorado, que nos ensinaram a aprender

novamente.

Aos colegas da turma do curso de doutorado, terei boas recordações e um

elo de amizade que apenas se iniciou neste curso.

A todos aqueles que talvez não tenha mencionado, mas foram

fundamentais na elaboração desta pesquisa.

A todas as pacientes que participaram deste estudo, através das

informações colhidas nos bancos de dados, possibilitando aquisição de

conhecimentos que contribuirão para a melhoria da assistência as mulheres

através deste trabalho.

A Fundação de Medicina Tropical do Dr. Heitor Vieira Dourado/FMT-HVD e

Superintendência da Zona Franca de Manaus através do convênio nº 035/2002

com recursos parcialmente providos.

Agradeço finalmente a Deus, pela saúde e o privilégio de estar aqui e ter

alcançado meu objetivo.

vi

RESUMO

A transmissão vertical é a principal via de infecção pelo HIV em crianças, sendo responsável no Brasil, por 95,1% dos casos de AIDS em menores de 14 anos. No Brasil estima-se 13 mil parturientes infectadas pelo HIV no momento do parto e foram detectados, de 2000 a junho de 2010, 54.141 casos de sífilis congênita em menores de um ano de idade. O Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) é a fonte de dados disponível para se conhecer aspectos importantes da transmissão vertical, de interesse para a Vigilância Epidemiológica de sífilis e do vírus HIV. O objetivo do estudo foi descrever o perf i l epidemiológico da transmissão vertical de síf i l is e do vírus HIV no Amazonas. Foi realizado levantamento de dados do SINAN e resgate de dados incompletos nos prontuários de paciente; com subsequente análise descritiva, incluindo distribuição de freqüência para variáveis qualitativas e cálculo de média e desvio-padrão para variáveis quantitativas . A taxa de transmissão vertical do HIV em Manaus no período de 2007 a 2009 foi de 9,4%. Cento e trinta e oito crianças com AIDS foram notificadas de 1991 a 2009 e a taxa de incidencia de SC no Amazonas no período de 2007 e 2009 variou entre 2,0 a 2,6 casos por mil nascidos vivos. O diagnostico das possíveis falhas no atendimento destas mulheres na tentativa de reverter as estatísticas alarmantes no Amazonas permitirá adequadas ações e investimentos nas políticas de saúde do Estado Palavras-chave : Transmissão vertical, Infecção pelo HIV, síf i l is.

vii

ABSTRACT

Mother to child HIV transmission is the main way of AIDS infection in children under 14 years old in Brazil with 95,1% of the cases. The prevalence of HIV infection is almost 13 thousand parturientes at childbirth, and 54.141 cases of congenital syphilis were notified in Brazil from 2000 to 2010. The Notification system program has the information’s to understand important facts of the mother to child HIV and syphilis transmition. The objective of this study was describe epidemiological aspects of mother to child syphilis and HIV transmition in Amazonas. Syphilis and HIV infect ion data notif ied on STD/SIDA program of FMTAM, patient’s archives studies from 2005 and 2009, and incomplete information on the notification data were inquired. Statistics analyses were done with descriptive analyses including frequency distribution to quality variables and average count and standard desviation from quantity variables. Mother to child HIV transmission rate in Manaus from 2007 to 2009 was 9,4%. A hundred thirty eigth children with AIDS were notif ied from 1991 to 2009 and congenital syphilis incidence in Amazonas from 2007 to 2009 was from 2,0 to 2,6 cases in thousand childbirth. The diagnostic of prenatal care deficiencies will be important to adequate the measures already established as being effective in guaranteeing a reduction in HIV transmission to the maternal and infant population.

Key words: Syphilis, HIV infection, Mother to child transmition

viii

LISTA DE ABREVIATURAS

AIDS Adquired Imnudeficiency Sindrome DST Doenças Sexualmente Transmissíveis HIV Human Immunodeficiency Vírus UDI Usuárias de Drogas Injetáveis ARC Assintomatic Retroviral Clinic CDC Centers for Disease Control OMS Organização Mundial de Saúde HAART Highly Active Antiretroviral Therapy FMTAM Fundação de Medicina Tropical do Amazonas

ix

SUMARIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 1 1.1 Histórico...................................................................................................... 1 1.2 Sífilis............................................................................................................ 1 1.3 O Agente etiológico da sífilis e sua transmissão......................................... 3 1.4 Os testes sorológicos para a sífilis.............................................................. 4 1.5 A evolução do tratamento da sífilis............................................................. 5 1.6 Sífilis e gravidez.......................................................................................... 5 1.7 Sífilis congênita........................................................................................... 6 1.8 Síndrome de Imunodeficiência adquirida.................................................... 7 1.9 Vírus HIV..................................................................................................... 8 1.10 Fisiopatologia da infecção pelo HIV............................................................ 9 1.11 Epidemiologia da AIDS............................................................................... 10 1.12 Transmissão Vertical................................................................................... 11 1.13 Antiretrovirais............................................................................................... 12 1.14 Diagnóstico da transmissão Vertical do HIV............................................... 13 1.15 AIDS, Gestante HIV positiva e Sífilis Congênita no Amazonas.................. 14 2 OBJETIVOS......................................................................................................... 16 2.1 Geral..................................................................................................................... 16 2.2 Específicos........................................................................................................... 16 3 METODOLOGIA................................................................................................... 17 3.1 Modelo de Estudo....................................................................................... 17 3.2 Universo de Estudo..................................................................................... 17 3.3 População de Estudo.................................................................................. 17 3.4 Critérios de Inclusão.................................................................................... 17 3.5 Critérios de Exclusão................................................................................... 18 3.6 Procedimentos............................................................................................. 18 3.7 Análise dos Resultados.............................................................................. 18 4. RESULTADOS..................................................................................................... 19 4.1 Artigo 1 - Mother-to-child HIV transmission in Manaus, Amazonas, Brazil:

a cross-sectional study 19 4.2 Artigo 2 - Aspectos Clínicos dos Casos de AIDS em Crianças Notificados

no Amazonas, 1991-2009 35 4.3 Artigo 3 – Relato de dados de sífilis Congênita no Amazonas de 2007 a

2009 40

x

5. DISCUSSÃO........................................................................................................ 53 6 CONCLUSÃO...................................................................................................... 55 7 REFERÊNCIAS.................................................................................................... 56 8 ANEXOS............................................................................................................... 63 8.1 Anexo 1 – Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa.............................................. 63 8.2 Anexo 2- Fichas de Notificação do Sinan.............................................................. 64

1

1. INTRODUÇÃO

Os padrões de disseminação da infecção pelo vírus da imunodeficiência

adquirida (HIV) mudaram, devido ao predomínio da forma de transmissão

heterossexual. O crescimento de casos de AIDS entre mulheres teve como

consequência, o aumento da transmissão vertical da infecção pelo HIV, com

elevação do número de casos de AIDS em crianças, em todo o mundo. No Brasil,

cerca de 84% dos casos de AIDS pediátrica, em crianças com até 13 anos de

idade, é decorrente de transmissão vertical¹.

Observa-se tendência mundial no reaparecimento da sífilis entre a

população em geral e, particularmente, da sífilis congênita (SC), tornando-a um

desafio para a Saúde Pública .2

Entretanto, somente o acesso ao diagnóstico não é suficiente para garantir a

melhoria da qualidade da atenção à gestante portadora de HIV, AIDS e/ou sífilis.

Indissociável à testagem é a conformação de uma rede organizada a partir da

definição de atribuições entre os níveis de atenção à saúde no âmbito do SUS,

que garanta o acesso das gestantes, parturientes e recém nascidos às mais

recentes tecnologias de diagnóstico, controle e manejo da infecção pelo HIV e

sífilis3.

1.1 Sífilis

Conhecida há mais de 500 anos, a sífilis é uma doença causada pelo

Treponema pallidum. É, na maioria das vezes, de transmissão sexual, embora

possa ser transmitida por transfusão de sangue contaminado, por contato com

lesões mucocutâneas ricas em treponemas e por via transplacentária para o feto

ou pelo canal do parto, o que configura a sífilis congênita 4.

A sífilis primária caracteriza-se pelo aparecimento do cancro no local de

inoculação do treponema, com aumento dos linfonodos locais após 15 a 20 dias.

Pode, ainda, ocorrer lesão primária de localização extragenital. As lesões

secundárias aparecem em média oito semanas após o desaparecimento do

2

cancro, sendo a apresentação mais comum da fase secundária as máculas. Os

sintomas das fases primária e secundária regridem espontaneamente, mesmo

sem tratamento, e as lesões da fase terciária, que surgem após décadas são, na

atualidade, raramente descritas5.

Existe também a sífilis que ocorre sem as manifestações clínicas da doença,

denominada sífilis latente, a qual se subdivide em precoce e tardia. O diagnóstico

da sífilis na ausência de manifestações clínicas é realizado por exames

sorológicos. O Venereal Disease Research Laboratory (VDRL) e o Rapid Plasma

Reagin (RPR) são testes não treponêmicos, quantitativos e de alta sensibilidade4.

Os testes treponêmicos Fluorescent treponemal antibody absorption -

absorption (FTA-ABS), Microhemaglutination-Treponema pallidum (MHA-TP),

Treponema pallidum hemaglutination (TPHA) e Enzyme-Linked ImmunoSorbent

Assay (ELISA) são qualitativos e detectam anticorpos antitreponêmicos com

elevada especificidade; portanto, úteis na exclusão de resultados falsos-positivos.

Porém, a sorologia treponêmica tem menor sensibilidade , podendo resultar em

exames falsos-negativos e, uma vez positivos, tendem a não se negativarem

mesmo após a cura da infecção.6

O advento da penicilina, na década de 1940 e a melhoria dos cuidados de

saúde levaram à diminuição abrupta da incidência de sífilis tanto adquirida quanto

congênita, chegando-se a prever a erradicação total da doença até o final do

século 207.

Entretanto, os números voltaram a crescer a partir da década de 1960 e mais

acentuadamente na década de 1980, concomitantemente à popularização do uso

de crack e cocaína e à maior liberação sexual. Observa-se tendência mundial no

reaparecimento da sífilis entre a população em geral e, particularmente, da sífilis

congênita (SC), tornando-a um desafio para a Saúde Pública8 .

A prevalência de sífilis em parturientes encontra-se em 1,6%, cerca de 4

vezes maior que a infecção pelo HIV, representando cerca de 50 mil gestantes

infectadas no ano de 2005, com estimativa de 12 mil casos de sífilis congênita.

3

Foram notificados de 2005 a 2010 no Sistema de Informação de Agravos de

Notificação (SINAN), 29.544 casos sífilis em gestantes no país, sendo que a

maioria destes ocorreu nas Regiões Sudeste e Nordeste, com 9.340 (31,6%) e

8.054 (27,3%) casos, respectivamente. A taxa de detecção para o país, no ano de

2009, foi de 3,0 casos por 1.000 nascidos vivos, taxa esta superada apenas pelas

Regiões Centro-Oeste, com 5,2 e Norte, com 4,5. 9

Recomenda-se o tratamento com 2.400.000 UI de penicilina benzatina para

a sífilis primária, 2.400.000 UI por duas semanas consecutivas para a sífilis

secundária ou latente recente e 2.400.000 UI a cada semana, por três semanas,

para a sífilis tardia ou de duração indeterminada. Para as gestantes com alergia a

penicilina, evento muito raro, a recomendação é dessensibilizar e utilizar

penicilina, única droga que trata o feto. Portanto, tanto o tratamento quanto o

diagnóstico são bastante acessíveis10.

1.3 O agente etiológico da sífilis e a sua transmissão

A descoberta do Treponema pallidum por Schaudinn & Hoffmann em 3 de

março de 1905 foi o passo inicial para o desenvolvimento dos procedimentos

diagnósticos e terapêuticos nos anos subseqüentes11.

A penetração do treponema é realizada por pequenas abrasões decorrentes

da relação sexual. Logo após, o treponema atinge o sistema linfático regional e,

por disseminação hematogênica, outras partes do corpo. A resposta da defesa

local resulta em erosão no ponto de inoculação, enquanto a disseminação

sistêmica resulta na produção de complexos imunes circulantes que podem

depositar-se em qualquer órgão. Entretanto, a imunidade humoral não tem

capacidade de proteção. A imunidade celular é mais tardia, permitindo ao T.

pallidum multiplicar e sobreviver por longos períodos. 12

A transmissão do agente se dá de pessoa a pessoa, durante o contato

sexual, na maior parte dos casos. A transmissão por contato com lesões

mucocutâneas ricas em treponemas pode ocorrer, sendo particularmente

importante nos recém-nascidos que necessitam de manipulação freqüente. A

4

transmissão pode ocorrer, também, através da transfusão de sangue

contaminado, pela via transplacentária para o feto e pela contaminação do último

no canal de parto. A transmissão ocupacional é rara, e o risco de transmissão por

parceiro sexual foi estimado em 60%. Todos os seres humanos são susceptíveis

ao T.pallidum, porém apenas cerca de 30% das exposições terminam em

doença13.

1.4 Os testes sorológicos para a sífilis

O diagnóstico laboratorial da sífilis deverá considerar a fase evolutiva da

doença. Na sífilis primária e em algumas lesões da fase secundária, o diagnóstico

poderá ser direto, isto é, feito pela demonstração do treponema. A utilização da

sorologia poderá ser feita a partir da segunda ou terceira semana após o

aparecimento do cancro, quando os anticorpos começam a ser detectados12.

O diagnóstico da sífilis na ausência de manifestações clínicas é feito por

exames sorológicos. A triagem é feita por métodos ditos não treponêmicos, por

utilizarem antígenos não derivados do agente causal. Os testes, que são de

floculação, utilizam antígenos como a reagina, formado da cardiolipina, a lecitina e

o colesterol, baseados na suposição da formação de anticorpos anti-lipídicos

durante a reação imune entre agressor e hospedeiro. O mais utilizado no nosso

meio é o teste do VDRL, que tem como antígeno a cardiolipinade bovinos, com

métodos qualitativo (positivo ou negativo) e quantitativo (titulação)14.

O VDRL é um exame de baixo custo, de fácil execução, mas suscetível a

resultados falso-positivos. Os anticorpos antilipídicos detectados por esses testes

podem aumentar de maneira inespecífica no curso da gravidez e em outras

situações, como idade avançada, uso de drogas ilícitas, neoplasias, desordens

auto-imunes e doenças causadas por vírus (como o Epstein-Baar e as hepatites

virais), por protozoários e por Mycoplasma spp. Os testes treponêmicos tendem a

se manter positivos por toda a vida do indivíduo, não permitindo sua utilização em

controle de cura,14 tornando-se positivos antes dos seus equivalentes não-

treponêmicos16.

5

1.5 A evolução do tratamento da sífilis

A evolução do tratamento da sífilis foi mais lenta do que o desenvolvimento

dos testes diagnósticos. Mercúrio, arsênico, bismuto e iodetos foram inicialmente

usados na tentativa de tratar à sífilis, mas mostraram baixa eficácia, toxidade e

dificuldades operacionais. A penicilina age interferindo na síntese do

peptidoglicano, componente da parede celular do T. pallidum.12

Apesar da penicilina ser o tratamento recomendado para a sífilis desde

1947, até hoje não existem relatos concretos de emergência de resistência à

penicilina pelo T.pallidum. Este agente não é passível de cultura in vitro, o que

impede, até o momento, estudos de sensibilidade aos antibióticos. Por sua

capacidade de penetração no sistema nervoso central, a penicilina é bastante

eficaz no tratamento da sífilis. A baixa biodisponibilidade da penicilina por via oral

impede seu uso nos casos de sífilis, principalmente nos casos da doença em

mulheres grávidas16.

Outras drogas que são eficazes para tratar a sífilis adquirida, como a

eritromicina, não conseguem atravessar a barreira hematoencefálica e, assim,

não são eficazes no caso da transmissão transplacentária, pois não penetram no

sistema nervoso central dos fetos5.

1.6 Sífilis e gravidez

A sífilis na grávida pode causar abortamento, morte intrauterina, óbito

neonatal ou deixar sequelas graves nos recém-natos. A transmissão do T.

pallidum para o concepto pode ocorrer em qualquer momento da gestação, por

via transplacentária. 17 Quanto mais avançada à doença materna, menor o risco

de transmissão para o feto, conforme postulado por Kassowitz em 1876.18

Em 2007, foram notificados ao Ministério da Saúde (MS) do Brasil, 6.143

casos de sífilis em gestantes e 1.004 casos de sífilis congênita. No ano de 2006,

entre os casos notificados de crianças com sífilis congênita, 78,7% das mães

6

tinham história de ter feito pré-natal e destas 43,6% detectaram a sífilis na

ocasião e em somente 23,6% dos casos o parceiro sexual foi tratado 19.

O Ministério da Saúde recomenda a triagem sorológica pré-natal para a

sífilis, com realização do VDRL na primeira consulta e, em sendo a mulher

negativa no primeiro teste, a repetição do mesmo no início do terceiro trimestre.

Para as gestantes positivas, o controle do tratamento e da cura deve ser realizado

através de exames mensais até o parto. O tratamento durante o pré-natal pode

resultar em falha em até 14% dos casos. Além disso, uma gestante, identificada

como portadora de sífilis e tratada durante o pré-natal, pode sofrer re-infecção por

contágio sexual com seu parceiro no curso da gravidez, se o parceiro não for

tratado também16.

1.7 Sífilis congênita

Todo ano, pelo menos meio milhão de crianças nascem com sífilis congênita

(SC) no mundo e a sífilis materna causa outro meio milhão de natimortos e

abortos. A implementação de um programa eficiente para eliminar a sífilis

congênita como problema de saúde pública também poderia contribuir para a

redução da mortalidade infantil, melhorar a saúde materna e combater HIV/ AIDS

e outras doenças20.

As manifestações clínicas da sífilis congênita se dividem em precoces,

quando ocorrem até os dois anos de idade, e tardias, quando aparecem após os

dois anos. Na sífilis congênita precoce, os sinais e sintomas mais comuns

incluem: febre, anemia, retardo no desenvolvimento, irritabilidade, lesões

mucocutâneas (rash maculopapular no tronco, palmas das mãos e plantas dos

pés; condilomata lata; erupções bolhosas), rinite sero-sanguinolenta,

hepatoesplenomegalia, icterícia, linfadenopatia, dactilite, e pseudoparalisia devido

à osteocondrite.6

A sífilis congênita tardia se caracteriza por manifestações ósseas variadas,

como fronte olímpica e tíbia em lâmina de sabre, pelos chamados dentes de

Hutchinson, nariz em sela, rágades (cicatrizes lineares periorais), paresia juvenil,

7

ceratite intersticial, surdez por lesão do 8º nervo craniano e articulações de

Clutton (derrames articulares indolores). Estas manifestações de sífilis congênita

tornaram-se raras, na época, após o uso da penicilina para o controle da

doença21.

A doença nos recém-nascidos evoluiu para um quadro clínico menos

agressivo na era pós-penicilina. O diagnóstico clínico no recém-nascido se baseia

na ocorrência de sinais e sintomas descritos na sífilis congênita recente e na

investigação de todas as crianças cujas mães apresentaram sífilis na gravidez,

detectada durante o pré-natal ou no parto20.

O tratamento do recém-nascido com sífilis congênita deve ser realizado com

penicilina procaína ou cristalina, por 10 dias, na dependência do acometimento ou

não do sistema nervoso central. A sífilis congênita é uma doença de notificação

compulsória no Brasil, existindo uma definição de caso própria, revisada

periodicamente, e uma ficha que deve ser preenchida para cada caso. Cabe à

Vigilância Epidemiológica de cada serviço de saúde estabelecer o melhor fluxo de

notificação dentro de cada unidade básica, hospital ou maternidade22.

1.8 Síndrome de imunodeficiência adquirida (AIDS)

A AIDS, identificada em 1981 nos Estados Unidos em homossexuais

masculinos, expandiu-se rapidamente tornando-se um dos maiores problemas de

saúde do século e tem crescido principalmente nas populações marginalizadas e

empobrecidas23.

Em 1993, foi recomendado por Comitê Internacional de taxonomia o termo

HIV (Human Immunodeficiency Vírus) para o agente etiológico da doença, assim

como a sua classificação em dois tipos (1 e 2).24 O HIV – 1 foi isolado em 1983

de pacientes com AIDS por Luc Montaignier na França, recebendo o nome de

Lymphadenophaty Associated Vírus (LAV). Foi identificado em 1986, um segundo

retrovírus com características semelhantes ao HIV – 1, tendo sido designado HIV

– 2.25

8

Em média, 16.000 pessoas são infectadas a cada dia pelo vírus da AIDS, e

mais de 90% das pessoas contaminadas vivem em países da Ásia, África,

América Latina e Caribe.26 Segundo relatório da ONU, 38,6 milhões de pessoas

viviam com HIV/Aids no mundo em 2005 e o número absoluto de infectados

continua a aumentar pelo simples crescimento populacional e pelo prolongamento

da vida dos soropositivos por meio de terapias à base de anti-retrovirais. Com

cerca de 620 mil infectados, o Brasil concentra a maior população de

soropositivos na América Latina, pelo tamanho da população27.

A heterossexualização é uma das características mais marcantes da

epidemia do HIV e o número de mulheres infectadas continua a crescer

principalmente entre aquelas com relação estável. 28 O Brasil encontra-se hoje

entre os dezenove países da Organização Pan-Americana de Saúde com alta

prevalência da retrovirose29.

1.9 Vírus HIV

O HIV pertence à subfamília lentivírus dos retrovírus humanos.30 Contém a

enzima Transcriptase Reversa que permite a transcrição do RNA viral em DNA, e

possui um envelope genético altamente variável31. Apresenta em sua superfície,

uma membrana lipídica oriunda da membrana externa do hospedeiro e de duas

glicoproteínas, a gp 41 e gp 120. Internamente a essa membrana se encontra a

matriz protéica formada pela proteína p 17 e o capsídeo viral, composto pela

proteína p 2432. Foi isolado no sangue, sêmen, secreções vaginais, saliva, lágrima

e no leite materno33.

O HIV apresenta tropismo específico para células com o antígeno de

superfície CD4, cujos principais representantes são linfócitos T auxiliares e

células do sistema macrofágico-monocitário. As moléculas CXCR4 e CCR5

também são receptores do vírus e a ligação do HIV com a célula hospedeira

ocorre por interação entre a glicoproteína do envelope viral, a gp120 e a molécula

CD4 das células hospedeiras, propiciando a internalização da partícula viral. Uma

vez no interior da célula hospedeira, o vírus é descoberto e seu RNA é convertido

9

em DNA por ação da enzima Transcriptase Reversa. O DNA viral será então,

incorporado ao DNA do hospedeiro por uma enzima (integrasse), possibilitando o

início da sua replicação34 quando a célula é ativada.

O vírus da AIDS é bastante lábil no meio externo, sendo inativado pelo calor,

hipoclorito de sódio e glutaraldeído. Em condições experimentais, verificou-se

que as partículas virais intracelulares sobrevivem no meio externo por até no

máximo um dia, enquanto partículas virais livres podem sobreviver por 15 dias à

temperatura ambiente, ou até 11 dias à 37ºC32.

A transmissão do HIV ocorre predominantemente através da relação sexual,

sendo o risco de infecção num único contato dependente de práticas sexuais

desprotegidas, infectividade do parceiro ativo e suscetibilidade do parceiro

passivo35.

O papel desempenhado pelos usuários de drogas injetáveis (UDI) tornou-se

marcante nos anos de 1987 a 1989.36 A presença de úlceras genitais no momento

da relação, o uso de contraceptivos hormonais orais e história de doenças

sexualmente transmissíveis; como herpes genital, gonorréia e infecção por

clamídia principalmente, contribuem para o aumento do risco de infecção.

Favorece a transmissão viral, atividade sexual durante o período menstrual e as

ectopias cervicais, responsáveis por sangramentos na cérvice friável37.

Como conseqüência do contexto da epidemia e do controle da transmissão

por meio de transfusões de sangue no Brasil, ao longo dos anos, a transmissão

vertical, de mãe para filho, vem assumindo grande importância.

Aproximadamente 85% dos casos de AIDS em menores de treze anos no Brasil

têm como modalidade a transmissão vertical do HIV, tornando-se grande desafio

para a saúde pública38.

1.10 Fisiopatologia da infecção pelo HIV

10

A infecção pelo HIV, afeta o sistema imune do organismo e causa disfunções

humorais e celulares, porém, o comprometimento celular tem sido apontado como

de maior importância imunopatogênica. Com o surgimento do HIV, os estudos

mostraram que o vírus ativa o sistema complemento humano, mas esta ativação

não é eficaz na neutralização e na lise viral39 .

Na evolução da infecção até o desenvolvimento da AIDS, inicialmente o

indivíduo apresenta infecção retroviral aguda com alta viremia, podendo durar de

uma a quatro semanas. A soroconversão ocorre entre duas a doze semanas

após a transmissão do HIV, e mais de 95% das pacientes apresentam

soropositividade nos seis meses seguintes à exposição.40

1.11 Epidemiologia da AIDS

A distribuição da AIDS nos continentes mostra-se desigual, com 46,97% dos

casos concentrados nas Américas, na África 36,24%, na Europa 10,98%, na Ásia

5,35% e por último, a Oceania com 0,46% das notificações. 25

Indicadores epidemiológicos mostram que a dinâmica da epidemia da AIDS

vem mudando. Com o crescente aumento da transmissão entre os

heterossexuais, houve também elevação do número de casos de mulheres

contaminadas, constatada na tendência de uma paridade de gênero na

proporção de 1:1 a partir de 1996.41

A tendência à estabilização da incidência da doença é observada apenas

entre os homens, que registrou em 2003 22,6 casos por 100 mil homens, menor

do que a observada em 1998, de 26,3 por 100 mil. Observa-se o crescimento da

incidência em mulheres, com maior taxa de incidência em 2003: 14,0 casos por

100 mil mulheres42.

As mulheres portadoras do vírus somam hoje 17,6 milhões, de um total de

37,2 milhões de adultos43. A AIDS é a 5ª causa principal de morte em mulheres e

a 1ª causa de óbito em mulheres em idade fértil em várias capitais americanas.

11

Estima-se que a cada dia aproximadamente 3.000 mulheres são infectadas pelo

vírus HIV em todo o mundo, sendo a maioria jovens em idade reprodutiva40.

No Amazonas foram notificados no SINAN 5.341 casos de AIDS no período

entre 1980 a junho de 2010, de um total de 592.914 casos notificados no Brasil no

mesmo período.9

1.12 Transmissão Vertical

A via de transmissão de mãe para filho é um dos aspectos mais dramáticos

vividos pela mulher infectada pelo HIV. E é particularmente importante devido à

característica de feminização que a epidemia tem assumido em nosso país. A

taxa de transmissão do vírus da mãe infectada para o filho está em torno de 25%,

chegando até 40% na África, sem qualquer tipo de intervenção44.

Anualmente 3 milhões de mulheres dão à luz no Brasil. Segundo estudo

realizado em 2004, numa amostra representativa de parturientes de 15 a 49 anos

de idade, de todas as regiões do país, a taxa de prevalência de mulheres

portadoras do HIV no momento do parto é de 0,42%, o que corresponde a uma

estimativa de cerca de 13 mil parturientes infectadas.45 Diante desta situação

epidemiológica e da existência de esquema profilático altamente eficaz contra a

transmissão materno-infantil do HIV, torna-se de grande importância o

conhecimento, o mais cedo possível, do estado sorológico das gestantes, a fim de

iniciar a terapêutica da doença e profilaxia adequada da transmissão vertical do

vírus22.

Dentre os fatores associados à transmissão materno-infantil, destacam-se: a

alta carga viral materna, a ruptura prolongada das membranas amnióticas, a

presença de infecção sexualmente transmissível, o tipo de parto, a prematuridade

e o uso de drogas.46 O uso da zidovudina (AZT) pela gestante infectada e pelo

recém-nascido, durante as primeiras semanas de vida, pode reduzir em cerca de

70% o risco de a criança ser infectada. Além disso, o uso de terapia anti-retroviral

combinada, é capaz de reduzir significativamente a carga viral plasmática da mãe

para níveis não detectáveis, reduzindo, assim, o risco de transmissão do HIV para

o recém-nascido.47

12

1.13 Antiretrovirais

O primeiro ensaio clínico no qual se administrou um agente anti-retroviral a

gestantes para avaliação de sua segurança, tolerância e eficácia na redução da

transmissão vertical do vírus da imunodeficiência tipo 1 (HIV-1) concluiu que a

utilização de azidotimidina (AZT) durante o período gestacional e durante o

trabalho de parto, além do uso dessa medicação pelo recém-nascido, pôde

reduzir a transmissão do vírus em 67,5%48.

Para o tratamento da infecção pelo HIV são usadas correntemente três

classes de antiretrovirais: análogos nucleosídeos e nucleotídeos, inibidores não-

nucleosídeos da transcriptase reversa e inibidores da protease. Há cerca de 20

produtos licenciados, incluindo formulações isoladas ou combinadas de

antiretrovirais. Os inibidores da transcriptase reversa são administrados para

impedir que o vírus consiga transformar o seu código genético de RNA em DNA.

Já os inibidores da protease têm como função, bloquear a protease, um dos

componentes do HIV, impedindo que as novas cópias do vírus infectem novas

células49 .

A combinação de três ou mais agentes anti-retrovirais está recomendada

durante a gestação quando o tratamento da mãe é necessário em função da

carga viral elevada ou do comprometimento orgânico decorrente da infecção.

Dentre esses possíveis para-efeitos destacam-se as alterações sobre o

metabolismo lipídico, notadamente com o uso dos inibidores de proteases50.

Dentre os efeitos maternos, são reconhecidos a anemia, elevação de

transaminases, náuseas e vômitos, intolerância à glicose, nefrolitíase, diarréia e

diabete melito. Dentre os efeitos colaterais fetais e neonatais, destacam-se a

prematuridade, anemia, anasarca, anoftalmia, angioma cutâneo, criptorquidismo,

costela supranumerária e hepatite transitória 51.

No Brasil, a partir de 1995, o uso profilático de AZT tem sido recomendado e

divulgado pelo Ministério da Saúde, que o preconiza a partir da 14ª semana de

gestação, durante o parto e no recém-nascido (RN) por seis semanas52 .

13

1.14 Diagnóstico da Transmissão Vertical do HIV

O diagnóstico precoce da infecção pelo vírus HIV no recém-nato é

necessário para identificar crianças que possam beneficiar-se do uso de terapia

antiviral precoce. Dos testes usados, um dos mais comuns é o ELISA com

especificidade e sensibilidade maior que 98,8%. Identifica única e exclusivamente

anticorpos, não fazendo diferenciação entre os anticorpos produzidos pela mãe e

transferidos por via placentária para o feto e os anticorpos da classe lgG

produzidos pelo feto. Quando o acompanhamento do recém-nato se faz única e

exclusivamente por teste tipo ELISA deve-se repeti-lo até o segundo ano de vida,

quando é possível dizer-se que os anticorpos específicos detectados são

produzidos pela própria criança, e não anticorpos maternos transferidos por via

placentária53.

O Western Blot é usado na prática diária como teste suplementar ou

confirmatório do ELISA. Detecta exclusivamente anticorpos da classe IgG. Pode

ser usado no acompanhamento de recém-natos comparando as bandas

identificadas inicialmente com aquelas que surgem posteriormente, desta forma o

diagnóstico pode ser firmado ainda no primeiro ano de vida52.

Anticorpos IgA e IgM anti-HIV não atravessarem a placenta, sua presença

no soro da criança indica infecção. As dificuldades com tais anticorpos se devem,

sobretudo à possibilidade de negatividade até três meses e positividade após seis

meses, fato que não possibilita o uso da pesquisa destes para diagnóstico

precoce. Isto ocorre porque o anticorpo IgA não é produzido em quantidade

suficiente para ser detectado durante os primeiros meses de vida, o mesmo

ocorrendo nos anticorpos da classe IgM. Anticorpos das classes IgA e IgM podem

ser detectados pelas técnicas de ELISA ou de IMUNOBLOT. Esta técnica requer

que a IgG materna seja removida previamente, e a falha nesta remoção

determina dificuldade na utilização deste método diagnóstico53.

A detecção de antígeno p24 pode auxiliar no diagnóstico, porém nos

primeiros seis meses de vida geralmente resulta negativa devido ao excesso de

anticorpos matemos, que concorrem para a formação de imunocomplexos com

partículas p24 produzidas pelo recém-nato, tornando o teste falso-negativo. O

14

PCR (polimerase-chain-reaction), reação baseada na detecção de genoma viral

amplificado em sangue periférico é a técnica mais sensível no diagnóstico de

infecção pelo HIV. Detecta o DNA-proviral eliminando o problema da persistência

de anticorpos matemos. Exibe 30% a 60% de positividade ao nascimento e

próximo a 100% aos três meses nas crianças infectadas. Muito específica, porém

de alto custo, está indicada para o diagnóstico da infecção em crianças, filhas de

mães HIV positivas, pois, com 2 resultados positivos em lactentes menores de 6

meses, comprova-se a infecção. 53

1.15 AIDS, Gestante HIV soropositiva e Sífilis Congênita no Amazonas

A partir de 2000, observa-se tendência de aumento da taxa de incidência de

casos notificados de sífilis congênita em menores de um ano, no Amazonas. Em

2006, a mesma ultrapassou as taxas encontradas na Região Norte e no Brasil. 54

Desde 2000, até junho de 2010, no Amazonas foram notificados 914 casos

de gestantes infectadas pelo HIV no SINAN e 165 casos de AIDS em menores de

cinco anos de idade. No mesmo período foram notificados 969 casos de

gestantes com sífilis no Amazonas e 1075 casos de sífilis congênita em menores

de um ano de idade.9

Uma parcela considerável dos diagnósticos de casos de infecção retroviral e

da sífilis na população feminina se dá durante o período gestacional, refletindo a

adequação da política de saúde na atenção pré-natal. Um importante marcador

para a adequada aplicação das ações de profilaxia da TV do HIV é a utilização do

AZT injetável nas parturientes. Este indicador tem-se mantido estável nos últimos

3 anos, apontando para a necessidade de ampliação do uso dos testes rápidos

em maternidades e durante o pré-natal.

Contribuem como fatores limitantes para que as taxas nacionais de

transmissão vertical do HIV e de sífilis sejam mais baixas, o diagnóstico tardio da

infecção na gestação, a baixa adesão dos serviços de saúde às recomendações

técnicas e a qualidade da assistência.

15

O tratamento hospitalar de pacientes com AIDS e da sifilis congênita no

Brasil, assim como tratamento com antiretrovirais e das doenças oportunistas em

pacientes com AIDS, gera gastos públicos, sendo compensatório o investimento

em assistência à gestante e prevenção da doença congênita no País. O

diagnostico das possíveis falhas no atendimento destas mulheres na tentativa de

reverter às estatísticas desfavoráveis no Amazonas permitirá instituição de

adequadas ações e investimentos nas políticas de saúde do Estado.

16

2. OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Descrever o perfil epidemiológico da transmissão vertical da infecção pelo

vírus HIV e sífilis no Estado do Amazonas.

2.2 Objetivos Específicos:

1. Descrever o perfil epidemiológico de gestantes HIV positivas notificadas no

Município de Manaus no período de 2007 a 2009.

2. Descrever o perfil epidemiológico das crianças expostas à infecção pelo vírus HIV

notificadas no Estado do Amazonas no período de 1991 a 2009 e a taxa de

transmissão do HIV.

3. Descrever o perfil epidemiológico das crianças notificadas com sífilis congênita no

Estado do Amazonas no período de 2007 a 2009.

17

3. METODOLOGIA 3.1 Modelo de Estudo

Estudo descritivo retrospectivo de dados das fichas de notificação de

gestantes portadoras do vírus HIV, gestantes com sífilis, crianças com AIDS e

com sífilis congênita.

3.2 UNIVERSO DE ESTUDO

Gestantes e crianças notificadas como HIV positivas e com sífilis no Estado

do Amazonas.

3.3 População de estudo

Para o levantamento de dados epidemiológicos de transmissão vertical do

HIV e sífilis, foram realizadas análises dos dados de notificação no Sistema de

Informação de Agravos de Notificação (SINAN) do Amazonas com autorização da

Coordenação de DST/AIDS do Amazonas e do Sistema de Informações de

Mortalidade (SIM) da Secretaria de Vigilância Epidemiológica do Amazonas.

Foram estudados casos de transmissão vertical do HIV no Município de

Manaus e sífilis no Estado do Amazonas notificados no período entre 2007 e

2009, e de crianças com AIDS no período de 1991 a 2009.

3.4 Critérios de Inclusão

Dados epidemiológicos de transmissão vertical do HIV e sífilis notificados no

Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) Amazonas e do

Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) da Secretaria de Vigilância

Epidemiológica do Amazonas, com autorização da Coordenação de DST/AIDS da

FMTAM, Amazonas.

18

Este estudo foi submetido à aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa da

Universidade do Estado do Amazonas/FMTAM, aprovação nº 1993.

3.5 Critérios de Exclusão

Dados de notificação com variáveis apresentando mais de 20% de dados

incompletos e que não se tenha obtido as informações através dos registros das

Maternidades.

3.6 Procedimentos

A análise estatística foi realizada utilizando-se o Statistical Package for the

Social Sciences (SPSS) versão 16.0 para Windows. Foi realizada uma análise

descritiva, incluindo distribuição de frequência para variáveis qualitativas e cálculo

de média e desvio-padrão para variáveis quantitativas.

4.7 Análise dos dados

A prevalência de sífilis, de sífilis congênita e da transmissão vertical do HIV

foi estimada pela freqüência do diagnóstico em questão, sendo calculado o

correspondente intervalo de confiança de 95%. As possíveis associações entre a

variável de desfecho e comportamentos de risco ou variáveis demográficas e

clínicas foram testadas por meio de testes de qui-quadrado. Odds Ratio e

intervalos de confiança foram calculados para estimar o grau de associação entre

a infecção e os potenciais fatores de risco. Análise multivariada de regressão

logística foi utilizada para estimar o efeito de ter o resultado positivo para o

desfecho ao mesmo tempo em que se controla o efeito das demais variáveis

preditoras.

19

4. RESULTADOS

Os resultados estão apresentados na forma de artigos originais.

20

Artigo 1

ARTICLE (on line) 1075-55918

Mother-to-child transmission of HIV infection in Manaus, Sate of Amazonas, Brazil

Transmissão materno-infantil da infecção pelo HIV em Manaus, Estado do

Amazonas, Brasil

Running title: Oliveira CM et al - Mother-to-child HIV transmission in Manaus

Claudia Marques de Oliveira Soeiro1, Angélica Espinosa Miranda1,2, Valeria Saraceni3, Noaldo Oliveira de Lucena1, Sinésio Talhari1 and Luiz Carlos de Lima

Ferreira1

ABSTRACT Introduction: Reduction in the vertical transmission of HIV is possible when prophylactic measures are implemented.. Our objective was to determine demographic characteristics of HIV-infected pregnant women and the rate of mother-to-child transmission of HIV in Manaus, Amazonas, Brazil. Methods: A descriptive study was conducted using notification and investigating data from the Notifiable Diseases Data System (SINAN) in the Brazilian State of Amazonas were used to analyze data from Manaus and medical charts in the municipal maternity hospitals related to HIV-positive pregnant women, between 2007 and 2009. Results: During the study period, notification was received of 509 HIV-positive pregnant women. The vertical transmission was 9.9% (95%CI: 7.2 - 12.6%). The mean age of women was 27 years (SD: 5.7) and the majority (54.8%) had not completed elementary school (eighth grade). Diagnosis of HIV seropositivity was made prior to pregnancy in 115 (22.6%) women, during prenatal care in 302(59.3%), during delivery in 70(13.8%) and following delivery in 22(4.3%). Four hundred and four of these women (79.4%) had had prenatal care, with (79.4%) of patients receiving antiretroviral during pregnancy and 61.9% of the newborn infants receiving prophylaxis. In the final multivariate logistic regression model, living in urban area [OR=0.7 (95%CI: 0.35-0.89)] and having had prenatal care [OR=0.1 (95%CI: 0.04-0.24)] remained as protective factors against vertical HIV transmission in this population. Conclusions: The relevance of adequate compliance with the measures already established as being effective in guaranteeing a reduction in HIV transmission within the maternal and infant population should be emphasized. Keywords: Vertical transmission. HIV. AIDS. Pregnancy. Prophylaxis. _____________________ 1. Fundação Amazonas de Medicina Tropical, Universidade Estadual do Amazonas, Manaus, AM. 2. Unidade de Doenças Infecciosas, Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória, ES. 3. Vigilância Epidemiológica, Secretaria Municipal de Saúde do

21

Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ. Address to: Drª Claudia Marques de Oliveira Soeiro. Av. Constantino Nery 2.789/802, Chapada, CEP 69 040-000 Manaus, AM, Brasil. Phone: 55 92 2127-3455 e-mail: [email protected] RESUMO Introdução: A redução da transmissão vertical do HIV é possível quando medidas profiláticas são implementadas. Nosso objetivo foi determinar as características demográficas de gestantes soropositivas e a taxa de transmissão vertical do HIV em Manaus, Amazonas, Brasil. Métodos: Estudo descritivo foi realizado usando dados de notificação e investigação do Sistema de Informações de Agravos de Notificações (SINAN) do Estado do Amazonas e pesquisa de informações em prontuários das gestantes nas Maternidades do Município de Manaus, entre 2007 e 2009. Resultados: No período do estudo, foram notificadas 509 gestantes HIV positivas. A taxa de transmissão vertical foi de 9,9% (95%CI: 7.2 - 12.6%). A idade media das pacientes era de 27 anos (SD: 5,7) e a maioria (54,8%) não completou o ensino fundamental. O diagnóstico da infecção pelo HIV foi realizado antes da gravidez em 115 (22,6%) pacientes, durante o pré-natal em 302 (59,3%), no momento do parto em 70 (13,8%) e no puerpério em 22 (4,3%). Quatrocentos e quatro (79,4%) gestantes tiveram acompanhamento pré-natal, com (79,4%) das pacientes recebendo drogas antirretrovirais na gestação e 61,9% dos recém-nascidos recebeu profilaxia antirretroviral. No modelo final de regressão logística multivariada, residir em área urbana [OR=0,7 (95%CI: 0,35-0,89)] e ter realizado pré-natal [OR=0,1 (95%CI: 0,04-0,24)] demonstraram ser fatores protetores da transmissão vertical nesta população. Conclusões: A relevância de acompanhamento adequado e instituição de medidas já estabelecidas como efetivas em garantir a redução da transmissão vertical do HIV em gestantes e seus recém-nascidos deve ser enfatizada. Palavras-chaves: Transmissão vertical. HIV. AIDS. Gravidez. Profilaxia.

22

INTRODUCTION The majority of HIV-positive women are young and of reproductive age1. The

increase in the heterosexual form of transmission was an important factor in

increasing the incidence of AIDS cases in women and, consequently, in increasing

the number of AIDS cases in children as a result of vertical HIV transmission2.

A considerable percentage of the cases of HIV infection in the female population are

diagnosed during pregnancy, reflecting the appropriateness of prenatal healthcare

policies requiring serological screening for HIV3. The estimated prevalence of HIV

infection in pregnant women in Brazil is 0.4%4. Between 2000 and 2009, notification

was received for a total of 47,705 HIV-positive pregnant women, with 2,095 of these

cases situated in the north of the country3. Reducing vertical HIV transmission

becomes viable when seropositive pregnant women are identified and treated

prophylactically with antiretroviral drugs during pregnancy and delivery and the

newborn infant is also treated at birth5. Important prerequisites for the implementation

of these measures include access to and the factual use of healthcare services

during pregnancy, delivery and in the postpartum, which must include adequately

trained healthcare professionals, pre and post-screening counselling, available and

reliable free-of-charge HIV-testing and a well-equipped and adequate laboratory in

which to monitor HIV-related blood parameters6.

The Paediatric AIDS Clinical Trial Group protocol 076 (ACTG 076) has been

recommended by the Brazilian Ministry of Health since 1996, and antiretroviral

therapy has been made available in antenatal services and maternity clinics. Brazil

adopts the policy of voluntary HIV counseling and testing for all pregnant women3.

Notification of HIV-positive pregnant women cases and infants exposed to the risk of

HIV transmission is compulsory (Decree #933 of September 4, 2000). In addition to

the epidemiological aspects, the objective of implementing this measure concerns

the important operational nature of evaluating the interventions7. Cases of vertical

transmission represent 95.1% of AIDS cases in individuals under 14 years of age in

Brazil. Between 1996 and June 2009, 10,739 cases of AIDS were identified in

children under five years of age in the country, representing 2% of all cases3.

23

Of the various forms of HIV transmission, mother-to-child transmission is the form

that has the greatest impact on control of the infection. The Ministry of Health has

prioritized a program to control vertical HIV-1 transmission in an attempt to reduce

transmission rates to the levels found in the United States and Europe. In fact, the

vertical transmission of HIV could be considered to be the macroeconomic result of

the equation between the frequency of risk factors and the investments made to

avoid it8.

To increase the access of pregnant women to diagnostic tests of HIV-infection,

different initiatives have to be implemented to progressively decentralize HIV-testing

and the availability of CD4 cell counts and viral load tests9. Data on the number of

infected pregnant women in the country as a whole remain sparse and monitoring of

the stages of prophylaxis to reduce vertical HIV transmission is deficient. Studies

published in Brazil report a prevalence rate of vertical HIV transmission that ranges

from 2.5% to 8.6% (Table 1)10-20.

The objective of the present study was to determine sociodemographic

characteristics of HIV-infected pregnant women and the rate of mother-to-child

transmission of HIV in Manaus, Amazonas, Brazil.

METHODS This study was submitted to and approved by the Internal Review Board of the

Amazonas Tropical Medicine Foundation (FMTAM). Written consent was given by

the patients for their information to be stored in the hospital database and used for

research.

A cross-sectional descriptive study based on data from notification records and

patient charts (complementing data) for the period ranging from 2007 to 2009 was

conducted with HIV-positive pregnant women living in Manaus. The data were

provided by the Amazonas State Coordination for Sexually Transmitted

Diseases/AIDS.

24

To collect epidemiological data on vertical HIV transmission, an analysis was made

of the data contained in the Notifiable Diseases Database (SINAN) of the state of

Amazonas and a search was made in the municipal maternity hospitals.

The following data was extracted from the database of HIV-positive pregnant women:

age, race, education level, time at which HIV was diagnosed, whether the patient had

had prenatal care, type of delivery, prophylaxis with antiretrovirals during pregnancy

and delivery, prophylaxis for the newborn infant, length of time and starting date of

antiretroviral use by the newborn infant and diagnosis of HIV infection in the child.

Notification data that were incomplete were updated with information from the

patient’s medical charts or from the birth registries of the municipal maternity

hospitals.

Statistical analysis was performed using a database in Excel spreadsheet format

(Microsoft® Office, Excel 2003) and the Minitab software program, version 14. First,

a descriptive analysis was performed that included the frequency distribution of

qualitative variables and measures of central tendency for quantitative variables. The

frequency of the diagnosis in question was estimated, together with the respective

95% confidence intervals.

Bivariate analysis was then performed to check for the presence of association

between the variables. Chi-square (χ2) tests were used for proportion differences and

Student’s-t tests and variance analysis were used for testing differences between

mean values. In order to estimate associations with vertical HIV transmission, the

odds ratio was used as a measure of association, estimated with a 95% confidence

interval. Multivariate analysis was performed to estimate joint effects of independent

variables, through the use of logistic regression models.

RESULTS Notification of HIV infection was received for 509 pregnant women in Manaus

between 2007 and 2009. In 2007, 152 cases were notified, with an incidence rate of

4.1 cases per 1,000 pregnant women. In 2008, there were 186 notified cases (4.9

cases per 1,000 pregnant women) and in 2009, 171 cases (4.5 cases per 1,000

25

pregnant women). The mean age of the women was 27 years (SD: ± 5.7 years;

range: 13-45 years). The majority (478 women; 94%) lived in urban areas, while 21

(4%) lived in rural areas and only 3 women resided in suburban areas.

The vertical transmission rate in this period was 9.9% (95%CI: 7.2-12.6%).

Calculation of the vertical transmission rate was based on 48 cases of HIV-positive

infants in the 487 pregnant women delivered and the remaining 22 cases, the

pregnancy resulted in miscarriage.

The demographic data of the pregnant women in this study are described in Table 2.

The majority of women were in the 20-29 year age-group (60.6%; n = 308). Most of

the women (54.8%) had not completed elementary school (eighth grade), while 128

had completed high school and only 13 women had graduated from university. In 115

(22.6%) women, the diagnosis of HIV infection was made prior to pregnancy, while in

302 (59.3%) diagnosis was made during prenatal care, in 70 (13.8%) cases during

delivery and in 22 (4.3%) cases following delivery. Of the 509 women, 404 (79.4%)

had attended prenatal care.

A total of 298 (58.6%) women initiated prophylactic HIV treatment during pregnancy.

In 198 (38.9%) cases, delivery was vaginal, while in 228 (44.8%) an elective

Cesarean section was performed and in 61 (12%) cases, the women were submitted

to an emergency Cesarean section. Of the liveborn infants, 317 (62.3%) initiated

treatment with antiretrovirals in the first 24h after birth and 32 (6.3%) after the first

24h, while 138 (27.1%) were not submitted to prophylactic antiretroviral treatment

(Table 3).

When the HIV-positive infants were compared with the HIV-negative babies in the

bivariate analysis, residing in a rural area (8.3% versus 3.7; p = 0.002) was found to

be a risk factor for vertical transmission, whereas having a diagnosis of HIV infection

prior to or during pregnancy (41.7% versus 61.2%; p = 0.001), prophylactic

antiretroviral therapy for the infant (31.3% versus 54.7%; p=0.001) and delivery by

elective Cesarean section (27.1% versus 46.9%; p=0.010) constituted protective

factors.

26

In the final multivariate logistic regression model, living in an urban area [OR=0.7

(95%CI: 0.35-0.89)] and having had prenatal care [OR=0.1 (95%CI: 0.04-0.24)]

remained as protective factors against vertical HIV transmission in this population

(Table 4). DISCUSSION The rate of vertical HIV transmission in Manaus between 2007 and 2009 was 9.4%.

In a multicenter study conducted in Brazil, Menezes Succi reported a rate of vertical

transmission of 7.1% (95%CI: 5.8% - 8.6%) in 2001 for Brazil as a whole, ranging

from 4.9% in the midwest to 17.6% in the north19. The prevalence in the present

study, although still high, was lower than the value calculated for the northern region

in the multicenter study19. This may be explained by the fact that Manaus is not

representative of the entire region, since it is the largest city in terms of urban area

and probably has better healthcare facilities compared to the other municipalities in

the region. Furthermore, the health conditions in the region improved after the

previously conducted 2001 study.

The rate of vertical transmission in Manaus identified in the present study is in

agreement with that found in other studies carried out in Brazil, which range from

2.5% to 8.6%10-20. These rates found in Brazil are higher than those reported in

studies published in Europe, where prophylactic measures are implemented early in

pregnancy, resulting in mother-to-child transmission rates of around 1%21-25.

The mean age of the HIV-positive pregnant women in the present study was 27

years. In Brazil, 55% of notified cases of pregnant women with AIDS fall within the

20-29 year age group3. The majority of seropositive pregnant women in Manaus

(54.8%) had at most some elementary education. Approximately 50% of the HIV-

positive women in Brazil have between one and seven years of schooling3. The poor

education level of these women hampers their access to information on HIV, placing

the woman and her family at an even greater risk of HIV transmission18.

Delayed diagnosis of HIV infection may have been the reason in the present study

for the fact that less than seventy percent of the seropositive women used

27

antiretrovirals during pregnancy to prevent vertical transmission. The fact that 79.4%

of the patients stated that they had undergone prenatal care is relevant. The Sentinel

Childbirth Study conducted in 2004 reported that only 62.5% of the women giving

birth had undergone HIV testing during pregnancy and were aware of the result of

their test prior to being admitted to hospital for delivery4. Other studies conducted in

Brazil have also reported the difficulty of access to prenatal care and problems in

blood sampling and in receiving the results of HIV screening tests during pregnancy

and delivery14,26,27. These data show that prophylactic actions related to vertical HIV

transmission remain deficient with respect to prevention and care. This situation is

aggravated when it is taken into consideration that the act of providing a blood

sample for testing does not guarantee that the woman will receive the results of her

test, which would permit awareness of her HIV serological status and consequently

enable preventive measures to be implemented.

The situation also differs from country to country. In 2008, 45% of HIV-positive

pregnant women in Sub-Saharan Africa were receiving antiretrovirals1. In Botswana,

37% had begun highly active antiretroviral therapy (HAART) during pregnancy, while

42% were using only zidovudine prophylactically and 21% received no medication at

all during pregnancy28. In Asia, only 25% of pregnant women had access to

antiretrovirals1. In Western Europe and in the United States, vertical transmission is

considered to be under control29.

In the present study, 54.6% of the women received zidovudine in the maternity

hospital, while 30.5% were not treated prophylactically at the time of delivery in

Manaus and the remaining women miscarried prior to initiating prophylaxis. In a

study carried out in the Brazilian state of Maranhão, 78.5% of seropositive pregnant

women failed to receive adequate prophylaxis to prevent vertical transmission and

55% of the babies were delivered vaginally30. This high rate of vaginal delivery, which

was also found in the present study, has been reported by other authors31,32. Of the

deliveries carried out in HIV-positive pregnant women in Manaus during the study

period, 38.9% were vaginal, whereas 56.8% of the women were submitted to

Cesarean section. Nevertheless, Cesarean sections were elective in only 44.8% of

these patients, while in the remaining 12%, they occurred as the result of an obstetric

emergency in which labor had already begun and amniotic membrane rupture may

28

already have occurred, a situation that may incur a risk of transmission at the

moment of delivery.

In Manaus, 62.3% of the infants were treated with antiretrovirals within 24h of birth,

while almost 30% were not submitted to prophylaxis. The data found in the present

study are disquieting and reveal a severe shortcoming in maternal and child

healthcare, particularly with respect to the prevention of vertical HIV transmission

during pregnancy. In other states in Brazil, antiretroviral use was much higher15,18.

The low use of antiretrovirals as prophylaxis during pregnancy in Manaus is probably

the result of the delayed diagnosis of HIV infection in pregnant women. These

findings raise other questions such as: Was there a delay in initiating prenatal care?

When the tests were performed, were the results provided in time? Was prenatal

care being provided by a multidisciplinary team in a complete and satisfactory

manner as appropriate for the care of an HIV-positive pregnant woman?

The present study is unable to provide answers to these questions in view of the

limited data available in the databases, patient charts and registries of the maternity

hospitals; however, it is important to highlight the role of prenatal care in adopting

strategies for reducing vertical HIV transmission.

Although antiretroviral therapy is offered universally in Brazil, the proportion of HIV-

positive pregnant women who do not have access to the prophylactic measures

recommended by the National Department of Sexually Transmitted Diseases/AIDS

and Viral Hepatitis, and who ultimately fail to be HIV-tested, remains high, either as a

function of the women’s social condition or due to inadequacies in the healthcare

system. Late detection of HIV infection during prenatal care represents an

opportunity to intervene in the case of the HIV-infected patient that is lost, thus

limiting the possibilities of reducing the number of pediatric cases caused by vertical

transmission4.

Adequate prenatal care implemented early in pregnancy and accesses to HIV testing

are measures that are crucial to achieving a reduction in vertical transmission rates.

Based on the findings of the present study, the relevance of adequately complying

with measures that have proven effective in reducing HIV transmission in the

29

maternal and pediatric populations should be emphasized. These actions should be

carried out by a trained multidisciplinary team. The social and economical impact of

these measures on the country is potentially significant.

CONFLICT OF INTEREST

The funders had no role in study design, data collection and analysis, decision to

publish, or preparation of the manuscript. The authors declare that they have no

competing interests.

ACKNOWLEDGEMENTS

Authors thank the Coordenação Estadual de AIDS do Amazonas for the technical

support and donation of the AIDS databases and also to Public Maternity Hospitals of

Manaus for allowed us to review medical records.

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33

TABLE 1 - Studies on mother-child HIV transmission conducted in Brazil and published in the literature.

Author Year Location (city, state)

Number % (95%CI)

Tess et al 1998 São Paulo, SP 434 16.0 (13.0-

20.0)

Nogueira et al 2001 Rio de Janeiro, RJ 145 2.8 (0.1-5.4)

João et al 2003 Rio de Janeiro, RJ 297 3.6 (1.5-5.7)

Mussi-Pinhata et

al

2003 Ribeirão Preto, SP 239 8.6 (5.0-13.0)

Fernandes et al 2005 Campos, RJ 44 6.8 (1.4-18.7)

Miranda et al 2005 Vitória, ES 208 3.1 (0.8-5.5)

Kakehasi 2005 Belo Horizonte, MG 900 6.2 (4.8-8.1)

Dal Fabbro et al 2005 Campo Grande, MS 76 2.5 (-1.0-6.0)

Torres et al 2007 Porto Alegre, RS 389 2.8 (1.2-4.4)

Succi Menezes 2007 Brazil 2,924 8.6 (7.2-10.2)*

7.1 (5.8-8.6)**

Tornatore et al 2010 Rio Grande, RS 144 4.9 (1.4-8.4)

HIV: human immunodeficiency virus, % (95%CI): 95% confidence interval, SP: São Paulo, RJ: Rio de Janeiro, ES: Espírito Santo, MG: Minas Gerais, MS: Mato Grosso do Sul, RS: Rio Grande do Sul. *related to year 2000. **year 2001

34

TABLE 2 - Characteristics of the HIV-positive pregnant women notified between 2007 and 2009.

HIV: human immunodeficiency virus, N: number, %: percentage, 95%CI: 95% confidence interval of frequency in the population.

Variables N % 95%CI*

Year of notification 2007

2008

2009

152 29.9

186 36.6

171 33.5

25.9-33.8

39.7-39.7

38.5-38.5

Age-group 13-19 years

20-29 years

30-39 years

> 40 years

34 6.5

308 60.6

154 30.3

13 2.6

5.4-11.9

53.6-62.1

26.1-34.0

1.9-5.1

Education level illiterate

elementary school

high school

university

data missing

2 0.4

279 54.8

128 25.1

13 2.6

87 17.1

0.1-1.4

40.4-55.9

21.9-28.9

1.2-6.7

13.7-19.8

Prenatal care yes

no

miscarriage

404 79.4

83 16.3

22 4.3

76.3-83.4

12.8-19.3

2.6-6.4

Diagnosis of HIV prior to pregnancy

during prenatal care

during delivery

following delivery

115 22.6

302 59.3

70 13.8

22 4.3

19.2-26.6

54.9-63.7

10.8-17.0

2.8-6.6

35

TABLE 3 - Vertical HIV transmission prophylaxis in pregnant women notified between 2007 and 2009.

Variable N % 95%CI**

Use of antiretroviral during pregnancy yes

no

data missing

not applicable*

298 58.6

135 26.5

54 10.6

22 4.3

49.1-68.2

19.7-31.1

4.0-12.2

2.5-6.1

Type of delivery vaginal

elective cesarean

emergency cesarean

not applicable*

198 38.9

228 44.8

61 12.0

22 4.3

23.6-48.0

38.1-59.2

7.1-19.5

2.5-6.1

Use of antiretroviral during delivery yes

no

data missing

not applicable*

278 54.6

155 30.5

54 10.6

22 4.3

45.8-64.5

26.8-44.5

6.2-13.6

2.5-6.1

Outcome of pregnancy live born infant

stillborn infant

miscarriage

481 94.5

6 1.2

22 4.3

87.4-99.8

0.5-3.4

2.5-6.1

Initiation of antiretroviral therapy in the newborn

in the first 24h more than 24h after delivery

not applicable*

not used

317 62.3

32 6.3

22 4.3

138 27.1

52.7-72.4

3.5-7.9

2.5-6.1

17.9-43.1

HIV-positive newborn infant yes

no

48 9.9

439 90.1

7.2-12.6

87.4-92.7

HIV: human immunodeficiency virus, N: number, %: percentage, 95%CI: 95% confidence interval of frequency in the population *not applicable: patients excluded due to miscarriage, **95%C: 95% confidence interval of frequency in the population.

36

TABLE 4 - Multivariate analysis of factors associated with HIV vertical transmission among pregnant women notified in Manaus between 2007 and 2009.

Factors Adjusted Odds ratio 95% CI P value

Living in an urban area (yes versus no) 0.71 0.35-0.89 0.018

Atending prenatal care (yes versus no) 0.13 0.04-0,24 0.009

HIV diagnostic during pregnancy or delivery versus HIV diagnostic before pregnancy

1.48 0.79-2.73 0.215

HIV prophylaxis during pregnancy (yes versus no) 0.81 0.63-1.10 0.119

HIV prophylaxis during delivery (yes versus no) 0.75 0.36-1.54 0.434

HIV prophylaxis in the first 6h after delivery (yes

versus no)

0.50 0.11-2.24 0.366

Delivery (vaginal versus cesarean section) 1.22 0.76-1.97 0.415

Pregnancy outcome (stillborn/miscarriage versus

alive)

1.48 0.87-2.51 0.149

HIV: human immunodeficiency virus, 95%CI: 95% confidence interval

37

Artigo 2

ASPECTOS CLÍNICOS DOS CASOS DE AIDS EM CRIANCAS NOTIFICADOS NO AMAZONAS, 1991-2009

CLINICAL ASPECTS OF AIDS CASES NOTIFIED AMONG CHILDREN IN AMAZONAS, 1991-2009

Titulo abreviado: AIDS em crianças no Amazonas

Short title: AIDS in children in Amazonas

Autores

Claudia Marques de Oliveira Soeiro1, Angélica Espinosa Miranda1,2, Valeria

Saraceni3, Sinésio Talhari1, Luiz Carlos de Lima Ferreira1

1 Fundação de Medicina Tropical do Amazonas, Universidade Estadual do

Amazonas

2 Núcleo de Doenças Infecciosas, Universidade Federal do Espírito Santo

3 Superintendência de Vigilância em Saúde, Secretaria Municipal de Saúde e

Defesa Civil do Rio de Janeiro

Palavras chaves: AIDS, crianças, aspectos clínicos, notificação

38

Carta ao Editor

O curso clínico da AIDS é mais rápido na criança em relação ao adulto

devido à imaturidade imunológica.1 O diagnóstico em crianças é um desafio,

já que as apresentações clínicas são semelhantes às outras doenças

comuns da infância.2 O diagnóstico precoce da infecção pelo HIV, tanto nas

crianças identificadas como expostas, como naquelas que apresentam

sintomas constitucionais inespecíficos demandando atenção médica

recorrente, irá determinar o prognóstico dessas crianças.3

Realizamos um estudo descritivo a partir dos dados de crianças com

AIDS no Sistema de Informação Nacional de Agravos de Notificação

(SINAN) do Amazonas, no período de 1991 a 2009. A análise estatística foi

realizada com o software MINITAB 14. O estudo foi aprovado pelo Comitê de

Ética em Pesquisa da Fundação de Medicina Tropical do

Amazonas/FMTAM.

Cento e trinta e oito crianças com AIDS foram notificadas neste

período, sendo 58% do sexo masculino, com mediana de idade de 3 anos.

Apenas em 23 casos (17%) a evidência laboratorial do HIV ocorreu antes

dos 18 meses de vida. Os outros casos foram diagnosticados tardiamente,

pelo quadro clínico compatível, contrariando as recomendações para

identificação de HIV na gestação para evitar o caso de AIDS pediátrica.4

Em relação ao número de casos de AIDS pediátrica informados ao

SINAN-AM, de 1991 a 2002 foram notificados menos de 10 casos por ano,

com um súbito aumento para 30 casos em 2003, redução para uma média

de 8 por ano de 2004 a 2007, para novamente subir para 32 em 2008. No

ano de 2009 foram notificadas apenas 6 crianças, mostrando uma

instabilidade local no quadro de prevenção da transmissão materno-infantil

do HIV.

Na Tabela 1 observa-se que, dentre os critérios clínicos de gravidade

leve para diagnóstico de AIDS em crianças, os mais freqüentes foram a

presença de linfoadenopatia >=0,5 cm em mais de 2 sítios em 55% dos

39

casos e a dermatite persistente em 46%. Outros estudos realizados no Brasil

obtiveram resultados semelhantes.5, 6, 7

Entre os critérios clínicos de gravidade moderada/grave, diarréia

recorrente ou crônica ocorreu em 44%, seguida por infecções bacterianas de

repetição em 43% e anemia em 41% dos casos. Estas são as manifestações

mais comuns de AIDS e foram as principais doenças definidoras neste

estudo. As manifestações pulmonares foram causa comum de internação

em outros estudos. 8, 9

A avaliação de crianças expostas ao HIV deve ser realizada garantindo

rigorosa investigação clinica e laboratorial, visando o diagnóstico precoce e

tratamento adequado de eventuais doenças, diminuindo assim a morbidade

relacionada.

Cabe aos pediatras valorizarem os sintomas clínicos, quase sempre

pouco específicos, da infecção pelo HIV, para realizar o diagnóstico precoce

de crianças infectadas, não subestimando sinais e sintomas tão comuns.

Crianças que retornam frequentemente aos serviços de saúde com febre,

diarréia e infecções de repetição, além de linfoadenopatia inespecífica e

aumento da parótida, devem ter sua história clínica, familiar e epidemiológica

cuidadosamente colhidas, para que não se perca a chance do diagnóstico

do HIV, uma vez que já se perdeu a chance da prevenção da transmissão

através do diagnóstico da gestante.

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41

Tabela 1: Distribuição de crianças notificadas com AIDS no Estado do Amazonas de acordo com critérios clínicos de caráter de gravidade leve e moderado/grave, 1991 a 2009.

Gravidade leve N %

Aumento crônico de parotid 9 6,5

Dermatite persistente 63 45,7

Esplenomegalia 16 11,6

Hepatomegalia 62 44,9

Gravidade moderado/grave

Anemia por mais de 30 dias 57 41,3

Candidose de esôfago 4 2,9

Candidose oral resistente ao tratamento 25 18,1

Diarréia recorrente ou crônica 60 43,5

Encefalopatia pelo HIV 3 2,2

Febre persistente > 1 mês 40 28,9

Herpes simples em brônquios, pulmões ou trato gastrointestinal

9 6,5

Infecções bacterianas de repetição/múltiplas (pneumonia, abscessos em órgãos internos, infecções osteo-articulares)

59 42,8

Linfopenia por mais de 30 dias 3 2,2

Meningite bacteriana, pneumonia ou sepse (único episodio)

4 2,9

Pneumonia por P. carini 9 6,5

Síndrome de emaciação (AIDS Wasting Syndrome) 7 5,1

Toxoplasmose cerebral em crianças com mais de 1 mês de idade

4 2,9

Tuberculose pulmonary 8 5,8

Fonte: SINAN – AM, Dados sujeitos à revisão.

42

Artigo 3

Congenital Syphilis: linkage of databases in Amazonas State, Brazil

Sífilis Congênita: relacionamento de bases de dados no estado do Amazonas, Brasil

Sífilis congênita no Amazonas

Autores: Claudia Marques de Oliveira Soeiro1, Angélica Espinosa Miranda1,2, Valeria

Saraceni3, Marcelo Cordeiro dos Santos1,4, Sinésio Talhari1, Luiz Carlos de

Lima Ferreira1

Instituto de Medicina Tropical do Amazonas1, Universidade Federal do Espírito

Santo2, Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro3, Fundação de

Vigilância em Saúde do Amazonas4

Correspondência: Claudia Marques de Oliveira Soeiro.

Av. Constantino Nery 2.789/802, Chapada, CEP 69 040-000 Manaus, AM,

Brasil.

Phone: 55 92 2127-3455

e-mail: [email protected]

43

RESUMO A sífilis não tratada durante a gestação resulta em considerável proporção de mortes fetais e neonatais precoces. Nosso objetivo foi descrever os casos notificados de sífilis em gestantes e sífilis congênita (SC) no Estado do Amazonas de 2007-2009. Foi realizado estudo com dados contidos nas fichas de notificação e investigação de crianças com SC e de sífilis em gestantes contidos no Sistema de Informação de Agravos Notificáveis (SINAN). Os casos de perdas fetais e neonatais precoces relacionados à SC foram identificados na busca ativa no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). Após a seleção dos casos foi conduzido relacionamento das bases de dados. Um total de 57% foram classificadas como casos de sífilis primária; 83% apresentavam VDRL positivo na notificação e 59% foram tratadas com uma única dose de Penicilina. Nos casos de SC, o diagnóstico da sífilis materna ocorreu no parto ou curetagem em 51,9% e no pré-natal em 29,6%. Apenas 17% das mulheres foram tratadas adequadamente. O tratamento do parceiro foi realizado em 25% dos casos. No relacionamento do SIM com o SINAN foram encontrados 10 casos onde o nome da mãe constava na Declaração de Óbito e na ficha de sífilis congênita. Todos os casos foram óbitos fetais (natimortos), e em nenhum desses casos havia menção a SC entre as causas que levaram ao óbito. Ações de vigilância epidemiológica são ferramentas importantes para a monitoração dos casos e da qualidade da assistência oferecida as gestantes e seus conceptos. O relacionamento de bases de dados pode ajudar a prover informações mais consistentes.

Palavras-chaves: Sífilis, gestação, sífilis congênita, bases dados, relacionamento

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ABSTRACT Syphilis cases that are not treated during pregnancy cause in many cases of fetal and newborns deaths. Our goal was to describe notified cases of syphilis in pregnancy and congenital syphilis (CS) in the State of Amazonas from 2007 to 2009. The study was performed using data present in the notification and investigation charts of children with CS and and syphilis in pregnant women from Brazilian National Health Information System (SINAN). Cases of miscarriage and early newborn deaths related to CS were identified by active search in the Brazilian National Mortality (SIM). After selecting cases, database linkage was performed. A total of 57% were classified as primary syphilis; 83% had positive VDRL and 59% were treated with only one doses of penicillin. In SC cases, diagnosis of syphilis in mother had happened in delivery or abortion procedure curettage in 51,9% and during antennal care in 29,6%. Only 17% of women were adequately treated das mulheres. Partner treatment was performed in 25% of cases. In the SIM and SINAN linkage were found 10 cases where mothers’ name were in the Death declaration and in the congenital syphilis data. All cases were newborns deaths and no cases mentioned CS as a cause of death. Surveillance is an important tool for monitoring cases and to improving care among pregnant women and their babies. Database linkage can help providing more consistent information.

Key-words: Syphilis, pregnancy, congenital syphilis, database, linkage.

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INTRODUÇÃO

A sífilis não tratada durante a gestação resulta em considerável proporção de mortes fetais e neonatais precoces.1 A Sífilis materna e a sífilis congênita (SC) representam ameaça persistente para as gestantes, recém-nascidos e crianças, principalmente com o aumento do número de casos notificados, onde considerando-se 3.059.402 parturientes ao ano no país, estima-se 48.950 casos de gestantes com sífilis anualmente.2 A SC pode ser prevenida com o diagnostico e tratamento adequados realizado durante o período gestacional.3

A SC é uma doença de notificação compulsória no Brasil desde 1986,

existindo definição de caso própria, revisada periodicamente, e uma ficha de notificação/investigação que deve ser preenchida para cada caso e inserida no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Sua utilização efetiva permitirá a realização do diagnóstico dinâmico da ocorrência de SC na população; podendo fornecer subsídios para explicações causais, além indicar riscos aos quais as pessoas estão sujeitas, contribuindo assim, para a identificação da realidade epidemiológica local.4

O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) foi criado pelo

Ministério da Saúde em 1975 para a obtenção regular de dados sobre mortalidade no País. Ele é uma das mais importantes fontes de informação para o planejamento e avaliação das ações de saúde.5 A sífilis congênita se insere no quadro de causa perinatal evitável, pois é possível fazer o diagnóstico e proceder ao tratamento efetivo na gestação.6

A integração das diversas bases de dados ocorre de forma descontínua e desarticulada entre os vários níveis governamentais. Isso ocorre em parte porque a produção e a utilização de informações em saúde no País também se processam em um complexo contexto de relações institucionais.7 O relacionamento de bases de dados é uma ferramenta muito importante para a integração das diversas bases de dados uma vez que ele realiza a busca de pares ou registros duplicados dentro de um mesmo arquivo ou entre arquivos.8

O relacionamento de registros de diferentes bases de dados tem sido amplamente utilizado na saúde pública nos últimos 50 anos, desde a publicação do trabalho de Newcombe e colaboradores.9 Ao longo das últimas décadas, o reconhecimento da importância de avaliar os resultados obtidos por meio dos métodos de relacionamento nominal de variáveis tem crescido.

O objetivo deste estudo foi descrever o perfil epidemiológico dos

casos notificados de sífilis em gestantes e SC no Estado do Amazonas no período de 2007 a 2009, usando o relacionamento das bases de dados disponíveis, a fim de orientar a implementação das medidas de controle para a SC no Amazonas.

METODOLOGIA

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Trata-se estudo descritivo dos dados contidos nas fichas de notificação e investigação de crianças com SC e de sífilis em gestantes no SINAN (versão SINANNET) no período de 2007 a 2009 no estado do Amazonas. Casos de perdas fetais e neonatais precoces relacionados à SC (CID-10 de A50 a A52) foram identificados através de busca ativa no SIM, através de causas múltiplas de óbito.

Após a seleção dos casos notificados no período, foi realizado o relacionamento das bases de sífilis em gestantes e de SC e, posteriormente, da base do SINAN-SC com o SIM, utilizando a variável nome da gestante como “NOME DA MÃE” para identificação dos casos, através do programa Reclink (versão 3), com o suporte do Programa Stata (versão 9) para trabalhar os casos presentes nas 3 bases.

Durante a investigação dos casos foi verificado que no SINAN-SC o registro dos casos de aborto era precedido da palavra “ABORTO DE” antes do nome da mãe na ficha de notificação. Utilizou-se esta denominação para identificar os casos de aborto por SC no SINAN. A busca no SIM identificou um destes casos como natimorto e não aborto. Para o caso dos natimortos, buscou-se as palavras “NATIMORTO DE” ou “FETO MORTO DE” antes do nome da mãe nas bases de dados do SIM e do SINAN-SC, na variável nome do paciente.

Após o relacionamento das bases de dados, foi construída uma base

final, onde as variáveis relacionadas à gestante (ou mãe do caso de SC) analisadas foram ano de diagnóstico, idade, raça, escolaridade, realização de pré-natal, momento do diagnóstico de sífilis, classificação clinica da doença materna e tratamento da gestante e do parceiro. Em relação aos casos de SC, foram analisadas as variáveis sexo, idade no diagnóstico de SC, presença de sintomas ao diagnóstico de SC na criança, realização de exame radiológico de ossos longo e de líquor e classificação final do caso.

A análise descritiva foi realizada utilizando-se o software TABWIN para

o SINAN e para a análise estatística o software MINITAB 14, a partir de dados planilhados em MICROSOFT® OFFICE Excel 2003. Inicialmente foi realizada uma análise descritiva, incluindo distribuição de freqüência para variáveis qualitativas e medidas de tendência central para variáveis quantitativas.

Os dados foram cedidos pela Coordenação Estadual de DST/AIDS do Amazonas e pela Fundação de Vigilância em Saúde (FVS). Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação de Medicina Tropical do Amazonas/ FMTAM.

RESULTADOS Casos de sífilis em gestante

Em relação à notificação de sífilis em gestantes no SINAN, ocorreram 666 notificações no período, sendo 224 em 2007, com o coeficiente de incidência 3,8/1.000 gestantes; 244 (4,5/1.000 gestantes) em 2008 e 198 (4,0/1.000 gestantes) em 2009. Os dados demográficos e clínicos destas gestantes estão na Tabela 1. A maioria delas era de cor parda (75%), com

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menos de 30 anos (81%) e com escolaridade baixa (66%). Sessenta e quatro por cento das notificações foram de mulheres residentes em Manaus, a capital do estado. Quanto ao estadiamento da doença, 57% foram classificadas como casos de sífilis primária (57%), 83% apresentavam VDRL positivo na notificação e 59% delas foram tratadas com uma única dose de Penicilina G Benzatina 2.400.000 UI. Casos de sífilis congênita

Um total de 486 casos de SC foi notificado no SINAN de 2007 a 2009 no estado do Amazonas, sendo 153 casos em 2007, com o coeficiente de incidência 2,1/1.000 nascidos vivos (NV); 193 (2,6/1.000 NV) em 2008 e 140 (2,0/1.000 NV) em 2009. Setenta e oito por cento das notificações foram de mães residentes na capital. Em 252 (51,9%) notificações de SC, o diagnóstico da sífilis materna ocorreu tardiamente no parto ou curetagem, e em 144 (29,6%) no pré-natal. Apenas 17% das mulheres foram tratadas adequadamente. O tratamento do parceiro foi realizado em menos de um quarto dos casos (Tabela 2).

Apenas 25 crianças foram informadas como sintomáticas na notificação,

56,6% apresentaram VDRL reagente no sangue periférico, 20,6% realizaram radiografia de ossos longos e 6% realizaram exame do líquor (Tabela 2). Relacionamento das bases de dados

Após o relacionamento entre as bases de dados de sífilis em gestantes e SC, foram encontradas 237 gestantes com resultantes casos de SC notificados em que houve uma relação temporal no período, sendo que 3 mulheres estavam representadas duas vezes, em anos distintos, sendo então considerados 2 casos de diagnóstico de sífilis na gestação, resultando em casos de SC em períodos distintos.

No relacionamento do SIM com o SINAN-SC foram encontrados 10 casos onde o nome da mãe constava na Declaração de Óbito e na ficha de sífilis congênita. Todos os casos foram óbitos fetais (natimortos), e em nenhum desses casos havia menção a sífilis congênita (A50 pelo código internacional de doenças – CID-10) entre as causas que levaram ao óbito. Dos 20 casos que constam como natimortos no SINAN-SC, apenas dois foram encontrados no SIM. Apesar do diagnóstico final de natimorto, a evolução de 15 casos foi para “VIVO”, 2 como natimortos, 1 como óbito por SC, 1 por óbito por outra causa e 1 como ignorado.

DISCUSSÃO

No presente estudo encontramos uma taxa de incidência de SC que variou de 2,0 a 2,6 casos por mil nascidos vivos. No Brasil, a SC permanece como um evento de alta magnitude e ainda apresenta indicadores desfavoráveis em termos do seu controle, gerando a necessidade de uma prioridade política para sua abordagem. Em 1986 a SC tornou-se de notificação compulsória no Brasil10 e, embora a notificação dos casos não se aproxime ainda do número real de casos, entre os anos de 1998 e 2009 foram notificados 55.124 casos de SC no Brasil.11

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No relacionamento das bases de dados foram encontradas 237 mulheres com sífilis na gestação cujos produtos da gestação também estavam notificados no SINAN-SC no mesmo período. Isto corresponde a 35,6% das mulheres notificadas. Entretanto, verificamos que a maioria dessas mulheres foi erroneamente classificada como sífilis primária e tratadas inadequadamente. A lesão primária (cancro duro) em mulheres, quase sempre apresenta localização interna (parede vaginal ou fundo de saco)12 o que gera dúvidas na notificação desses casos como como sífilis primária. As informações contidas nas bases de dados precisam ser mais consistentes e confiáveis para contribuir com as estratégias de prevenção e assistência. Na clínica, a maioria dos casos de sífilis é diagnosticado em fase latente, pela triagem sorológica com teste não treponêmico (VDRL).13 Além disso, a maioria das mulheres foram tratadas inadequadamente, não sendo possível avaliar o tratamento dos parceiros. Hildebrand (2010), em sua dissertação de mestrado, mostra que o tratamento inadequado das gestantes leva necessariamente ao tratamento inadequado do parceiro.14

Em relação à natimortalidade, dos 20 casos que constavam como

natimortos no SINAN-SC, apenas 2 foram encontrados no SIM. Apesar do diagnóstico final de natimorto, a evolução de 15 casos foi para “VIVO” na base de dados. Por termos encontrado informações de evolução tão discordantes, só a busca no Sistema de Informação sobre Nascidos Vivos (SINASC) poderia dimensionar o real número de natimortos. Muitos óbitos fetais não são resgatados para sepultamento pelas famílias nas maternidades e podem não receber uma Declaração de Óbito. Entretanto, com a instituição dos Comitês de Investigação de Mortalidade Infantil e Fetal, todos esses casos deveriam ser investigados, e quando necessário, uma declaração de óbito epidemiológica ser feita.15

O relacionamento de registros realizado neste estudo em diferentes bases de dados contendo dados de SC foi uma ferramenta de muita utilidade para melhorar a qualidade de informação obtida nessas grandes bases de dados informatizadas. Em geral o relacionamento das bases é importante para monitorar a ocorrência de evento de interesse16,17,18,19 ou para ampliar a quantidade de informação a ser obtida por cada unidade de estudo a partir da combinação de bases qualitativamente distintas9,20

Outros dados chamam a atenção neste estudo. Um total de 67,3% dos casos de mulheres tinham relato de consultas de pré-natal, porém o maior percentual de diagnóstico de SC foi realizado no momento do parto ou curetagem (51,9%). Apenas em 29,6% dos casos o diagnóstico de sífilis foi realizado no decorrer do pré-natal. Entre os casos notificados no Brasil em 2005, 79,8% das mães realizaram pré-natal. Entretanto, na maioria das vezes as oportunidades do diagnóstico e tratamento adequado dessas mulheres foram perdidas durante a gestação. Destas, 53,8% tiveram o diagnóstico de sífilis durante a gravidez e apenas 13,2 % tiveram os seus parceiros tratados.21

Os resultados observados neste estudo suscitam que sejam levantados alguns questionamentos sobre a qualidade da assistência pré-natal prestada às gestantes e sobre a qualidade e a cobertura das notificações ao SINAN, tanto

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de SC como de sífilis em gestantes. O presente estudo não permite responder a estes questionamentos, dado o limite das informações constantes nos bases de dados secundárias que foram utilizadas.

A ação mais consistente para controle da SC está na garantia de

assistência pré-natal ampla e de qualidade, garantindo-se o diagnóstico precoce e tratamento da sífilis materna em tempo hábil22. Entretanto, considerando que as ações de vigilância e assistência à sífilis são conduzidas a partir das análises de bancos de dados distintos e, ainda, essas ações não são integradas entre si, nosso estudo indica que o relacionamento de bancos de dados pode revelar informações mais consistentes.

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Tabela 1 – Distribuição dos casos de sífilis em gestante notificados ao SINANNET em relação a variáveis sócio-demográficas e clínicas, estado do Amazonas, 2007 a 2009 (n=666).

Variável Número de casos % Faixa etária Até 19 anos 170 25,5% 20 a 29 anos 366 54,9% 30 a 39 anos 119 17,8% 40 anos e mais 11 1,6% Raça / cor Branca Preta Amarela Parda Indígena Ignorado

87 37 10

500 17 15

13,0% 5,5% 1,5% 75% 2,5% 2,2%

Escolaridade Analfabeta 13 1,9% Ensino fundamental 428 64,2% Ensino médio 122 18,3% Ignorada/Em branco 103 15,4% Classificação clínica Sífilis primária 378 56,7% Sífilis secundária 51 7,6% Sífilis latente 83 12,4% Sífilis terciária 15 2,2% Ignorada/Em branco 139 20,8% Teste não treponêmico (VDRL) Reativo 552 82,8% Não reativo 32 4,8% Não realizado 58 8,7% Ignorado/Em branco 24 3,6% Teste treponêmico Reativo 181 27,1% Não reativo 34 5,1% Não realizado 384 57,6% Ignorado/Em branco 67 10,0% Esquema de tratamento Penicilina G benzantina 2.400.000 UI 391 58,7% Penicilina G benzantina 4.800.000 UI 77 11,5% Penicilina G benzantina 7.200.000 UI 97 14,5% Outro esquema 17 2,5% Não realizado 53 7,9% Ignorado/Branco 31 4,6%

Fonte: SINANNET – AM, Dados sujeitos à revisão.

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Tabela 2 – Distribuição dos casos de SC notificados ao SINANNET em relação a variáveis das crianças e maternas, estado do Amazonas, 2007 a 2009 (n=486). Variável Número de casos % Realização de pré-natal Sim 327 67,3 Não 149 30,7 Ignorado / Em branco 10 2,0 Tratamento materno adequado Sim 81 16,7 Não 338 69,5 Ignorado / Em branco 67 13,8 Tratamento do parceiro Sim 117 24,1 Não 326 67,1 Ignorado / Em branco 43 8,8 Sintomático ao diagnóstico Sim 25 5,1 Não 101 20,8 Ignorado / Em branco 360 73,1 VDRL no sangue periférico Reativo 275 56,6 Não Reativo 104 21,4 Não realizado / Ignorado 107 22,0 Realização de Raios-X ossos longos Sim 100 20,6 Não 325 66,9 Ignorado / Em branco 61 12,5 Realização de Exame de Líquor Sim 29 6,0 Não 422 86,8 Ignorado / Em branco 35 6,2 Classificação final do caso SC precoce 405 83,3 SC tardia 13 2,7 Aborto 7 1,4 Natimorto 20 4,2 Descartado 41 8,4 Evolução Vivo 429 88,3 Óbito por SC 17 3,5 Óbito por outra causa 15 3,4 Ignorado / Em branco 25 4,8

Fonte: SINANNET – AM, Dados sujeitos à revisão

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5. DISCUSSÃO

A taxa de transmissão vertical do HIV em Manaus esta em concordância com a encontrada em outros estudos brasileiros. Os dados nacionais são maiores que os verificados em estudos publicados na Europa onde a taxa de transmissão materno-fetal do HIV esta em torno de 1,0% (Madri, Holanda, Reino Unido, Bélgica e Inglaterra).55 56 57 58

A maioria das gestantes soropositivas em Manaus estudou ate o ensino

fundamental (49,6%). Aproximadamente 50% das gestantes portadoras do HIV no Brasil têm entre um e sete anos de estudos concluídos.22 A baixa escolaridade dificulta o acesso à informação sobre o HIV, expondo, mais ainda, a mulher e sua família à disseminação da doença.

O diagnóstico tardio da infecção pelo HIV pode ter sido o motivo para que somente 52,5% das gestantes soropositivas, tenham usado antiretrovirais durante o pré-natal para prevenção de transmissão vertical em nosso estudo. É relevante o fato de que 80,9% das pacientes informaram ter realizado consultas de pré-natal. No Estudo Sentinela Parturiente em 2004, foi demonstrado que apenas 62,5% das parturientes no Brasil tinham realizado o teste anti-HIV na gestação e conheciam o resultado do teste antes da internação para o parto.59

Cento e trinta e oito crianças com AIDS foram notificadas no período deste estudo, sendo 58% do sexo masculino, com mediana de idade de 3 anos. Apenas em 23 casos (17%) a evidência laboratorial do HIV ocorreu antes dos 18 meses de vida. Os outros casos foram diagnosticados tardiamente, pelo quadro clínico compatível, contrariando as recomendações para identificação de HIV na gestação para evitar o caso de AIDS pediátrica.60

No presente estudo encontramos uma taxa de incidência de SC que variou de 2,0 a 2,6 casos por mil nascidos vivos. No Brasil, a SC permanece como um evento de alta magnitude e ainda apresenta indicadores desfavoráveis em termos do seu controle, gerando a necessidade de uma prioridade política para sua abordagem. Em 1986 a Sífilis Congênita tornou-se de notificação compulsória no Brasil e, embora a notificação dos casos não se aproxime ainda do número real de casos, entre os anos de 1998 e 2009 foram notificados 55.124 casos de SC no Brasil.61

Os resultados observados neste estudo suscitam que sejam levantados

alguns questionamentos sobre a qualidade da assistência pré-natal prestada às gestantes e sobre a qualidade e a cobertura das notificações ao SINAN. O presente estudo não permite responder a estes questionamentos, dado o limite

54

das informações constantes nos bases de dados secundárias que foram utilizadas.

A ação mais consistente para controle da infecção pelo HIV e da Sífilis

Congênita está na assistência pré-natal ampla e de qualidade, garantindo-se o diagnóstico precoce, tratamento e instituição de medidas profiláticas em tempo hábil.

55

6. CONCLUSÃO

1. A taxa de transmissão vertical do HIV em Manaus no período de 2007 a

2009 foi de 9,9% e esta em concordância com a que se observou em outros

estudos brasileiros, variando de 2,5 a 8,6%.

2. A maioria das gestantes soropositivas em Manaus tem escolaridade até o

ensino fundamental (54,8%). A baixa escolaridade dificulta o acesso à

informação sobre o HIV, expondo, ainda mais, a mulher e sua família à

transmissão do HIV.

3. O diagnóstico tardio da infecção pelo HIV pode ter sido o motivo para que

somente 66,3% das gestantes soropositivas tenham usado antirretrovirais

durante a gravidez, sendo relevante o fato de 79,4% das pacientes

informarem ter realizado consultas de pré-natal.

4. Cento e trinta e oito crianças com AIDS foram notificadas de 1991 a 2009,

sendo 58% do sexo masculino, com mediana de idade de 3 anos. Apenas

em 23 casos (17%) a evidência laboratorial do HIV ocorreu antes dos 18

meses de vida. Os outros casos foram diagnosticados tardiamente, pelo

quadro clínico compatível, contrariando as recomendações para

identificação de HIV na gestação para evitar o caso de AIDS pediátrica.

5. Dentre os critérios clínicos de gravidade leve para diagnóstico de AIDS em

crianças, os mais freqüentes foram a presença de linfoadenopatia e a

dermatite persistente. Entre os critérios clínicos de gravidade

moderada/grave, diarréia recorrente ou crônica ocorreu em 44%, seguida

por infecções bacterianas de repetição em 43% e anemia em 41% dos

casos. Estas são as manifestações mais comuns de AIDS e foram as

principais doenças definidoras neste estudo.

6. A taxa de incidência de SC no Amazonas no período de 2007 e 2009 variou

entre 2,0 a 2,6 casos por mil nascidos vivos. Apenas 29,62% dos

diagnósticos de sífilis foi realizado no decorrer do pré-natal.

7. O diagnóstico das possíveis falhas no atendimento destas mulheres na

tentativa de reverter às estatísticas desfavoráveis no Amazonas, permitirá a

instituição de adequadas ações e investimentos nas políticas de saúde do

Estado.

56

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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63

8. ANEXOS

8.1 Parecer do Comitê de Ética e Pesquisa

Andamento do projeto - CAAE - 0008.0.114.000-10

Título do Projeto de Pesquisa

Estudo Epidemiológico da Transmissão vertical do HIV e sífilis no Amazonas

Situação Data Inicial no CEP Data Final no CEP Data Inicial na CONEP Data Final na CONEP

Aprovado no CEP 06/04/2010 12:06:36 14/05/2010 10:47:30

Descrição Data Documento Nº do Doc Origem

1 - Envio da Folha de Rosto pela Internet 24/03/2010 18:28:35 Folha de Rosto FR326770 Pesquisador

2 - Recebimento de Protocolo pelo CEP (Check-List) 06/04/2010 12:06:36 Folha de Rosto 0008.0.114.000-10 CEP

3 - Protocolo Aprovado no CEP 14/05/2010 10:47:30 Folha de Rosto 1993 CEP

64 8.2 Anexo 2

8.2 Fichas de Notificação SINAN

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