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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO UnC PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL - PMDR ALMIR TUCHINSKI AGRICULTURA FAMILIAR: GESTÃO SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO TERRITÓRIO DA CIDADANIA DO PLANALTO NORTE CANOINHAS (SC) 2017

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UNIVERSIDADE DO CONTESTADO – UnC

PROGRAMA DE MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL - PMDR

ALMIR TUCHINSKI

AGRICULTURA FAMILIAR: GESTÃO SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL EM

PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO TERRITÓRIO DA CIDADANIA DO

PLANALTO NORTE

CANOINHAS (SC)

2017

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ALMIR TUCHINSKI

AGRICULTURA FAMILIAR: GESTÃO SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL EM

PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO TERRITÓRIO DA CIDADANIA DO

PLANALTO NORTE

Dissertação apresentada como requisito para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional do Curso Mestrado em Desenvolvimento Regional pela Universidade do Contestado – UnC, Campus Canoinhas, sob a orientação do professor Dr. Jairo Marchesan. Coorientação: Dr. Reinaldo Knorek.

CANOINHAS (SC)

2017

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AGRICULTURA FAMILIAR: GESTÃO SOCIOECONÔMICA E AMBIENTAL EM

PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO TERRITÓRIO DA CIDADANIA DO

PLANALTO NORTE

Almir Tuchinski

Esta Dissertação foi submetida ao processo de avaliação pela Banca Examinadora

como requisito parcial para a obtenção do Título de:

MESTRE EM DESENVOLVIMENTO REGIONAL

E aprovado na sua versão final em 27 de maio de 2017, atendendo às normas da

legislação vigente da Universidade do Contestado – UnC e Coordenação do Curso

do Programa de Desenvolvimento Regional.

Argos Gumbowsky

Coordenador do Curso

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________________

Presidente da banca: Prof. Dr. Jairo Marchesan (Orientador)

_______________________________________________________

Membro: Prof. Dr. Reinaldo Knorek (Coorientador)

_______________________________________________________

Membro externo: Prof. Dr. Claudio Machado Maia (Unochapecó)

_______________________________________________________

Membro: Prof. Dra. Daniela Pedrassani

_______________________________________________________

Suplente: Prof. Dra. Maria Luiza Milani

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T887 Tuchinski, Almir 2017 Agricultura familiar: gestão socioeconômica e ambiental em pequenas propriedades rurais no território da cidadania do Planalto Norte Orientador : Dr. Jairo Marchesan; Co-orientador: Dr. Reinaldo Knorek 106 f. , il; 30 cm Dissertação (Mestrado em Desenvolvimento Regional) – Universidade do Contestado, Canoinhas, 2017 Bibliografia: f. 98- 102

1. Agricultura familiar 2 . Desenvolvimento regional 3. Administração rural

4. Sustentabilidade I. Marchesan, Jairo II. Knorek, Reinaldo III. Universidade do Contestado. Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional IV. Título

CDD 21.ed. 338.9

Elaboração: Rogério Carvalho (CRB – 14 - 393)

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar a Deus por ser a base de minhas conquistas.

Também agradeço de todo coração a todos que participaram de forma direta ou

indireta na elaboração deste trabalho. A minha família linda por ter me apoiado e

incentivado a continuar a cursar o mestrado.

Em especial, quero agradecer a professor Dr. Jairo Marchesan, com muita

paciência e sinceridade nos seus comentários, me ensinou muita coisa. Agradeço

por ter me aceito como seu orientando e por disponibilizar alguns fins de semana

para me auxiliar. Levo comigo seu exemplo, pois, o admiro muito e fica meu imenso

respeito e carinho.

Aos Professores do Programa de Mestrado em Desenvolvimento Regional

sou eternamente grato pela ajuda, existe pessoas que entram na nossa vida no

momento certo e na hora certa. Vocês foram uma dessas pessoas que jamais

esquecerei pela simplicidade, saber e dedicação profissional. Obrigado por me

atender até mesmo nos feriados e finais de semana. Vocês colaboraram muito com

meu aprendizado. Enfim, agradeço imensamente a oportunidade de ter participado

desse Programa de Mestrado.

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Enquanto estivermos tentando, estaremos felizes. Lutando pela definição do

indefinido, pela conquista do impossível, pelo limite do ilimitado, pela ilusão de viver.

Quando o impossível torna-se apenas um desafio, a satisfação está no esforço, e

não apenas na realização final. A força não provém da capacidade física e sim de

uma vontade indomável.

(Mahatma Gandhi)

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RESUMO

A presente dissertação tem por objetivo avaliar a gestão econômica, social e ambiental das pequenas propriedades rurais vinculadas à Agricultura Familiar inseridas no Território da Cidadania do Planalto Norte. Devido a situação político-econômica brasileira e mundial é importante a gestão das propriedades rurais, especialmente com relação às responsabilidades ambiental, social e econômica. Assim, a gestão ou a administração rural pode ser uma das possibilidades para a viabilidade socioeconômica e ambiental das propriedades rurais. Para tanto, este estudo foi realizado por metodologia indutiva, filiando-se à corrente positivista e utilizando-se, ainda, de informações obtidas pela aplicação de questionário por amostragem aos agricultores das pequenas propriedades rurais de mão-de-obra familiar desse Território. Outras consultas e informações foram obtidas em sites de instituições como a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI), Ministério da Agricultura (MAPA) e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), entre outros. Buscou-se estudar e conhecer o tema pela literatura contextualizando-o ao cenário mundial e brasileiro na perspectiva dos estudiosos da questão, considerando o que sugerem para o planejamento no espaço rural. Além disso, o estudo buscou saber as percepções dos agricultores sobre a gestão nas pequenas propriedades. Como parte das informações obtidas, entendeu-se que a sustentabilidade ambiental, social e econômica das pequenas propriedades pode tornar-se possível por meio da gestão, bem como viabilizar a reprodução social na agricultura familiar. Como tema fundamental para a questão, buscou-se, também, compreender o planejamento como possibilidade a contribuir com a sustentabilidade na produção de alimentos e continuidade das atividades agrícolas gerando resultados financeiros satisfatórios, elevando a qualidade de vida dos agricultores e, consequentemente, promovendo o desenvolvimento regional do Território da Cidadania do Planalto Norte. Palavras-chave: Desenvolvimento Regional, Espaço Rural, Sustentabilidade, Político-econômico, Território.

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ABSTRACT

The aim of this dissertation is to evaluate the economic, social and environmental management of small rural properties linked to family farming in the ‘Território da Cidadania Planalto Norte’. Due to both the Brazilian and global political-economic situation, the management of rural properties is very important, especially in relation to environmental, social and economic responsibilities. Thus, the management or administration of rural properties may be one of the best possibilities for their socioeconomic and environmental viability. In order to meet this goal, this study was carried out through an inductive methodology, aligned with the positivist current and using information obtained by means of a questionnaire the sample for which was the farmers of the small rural properties of this territory. Other consultations and information were obtained from institutional sites such as the ‘Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina’ (EPAGRI), the ‘Ministério da Agricultura’ (MAPA) and the ‘Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística’ (IBGE), among others. This dissertation also seeks to study and come to know the subject by means of the scholarly literature contextualizing it at both the global and Brazilian levels , taking into account what these authors suggest for planning in rural areas. In addition, the study sought to understand the farmers' perceptions of smallholder management. As part of the insights obtained, it became clear that the environmental, social and economic sustainability of small farms can be realized through management. This was also true with respect to the viable social reproduction in family agriculture. As a fundamental theme for this issue, we also sought to understand planning as contributing to the sustainability of food production and the continuity of agricultural activities such as to generate satisfactory financial results, raise farmers' quality of life and, consequently, promote the development of the ‘Território da Cidadania Planalto Norte’.

Keywords: Regional Development, Rural Area, Sustainability, Political-Economic, Territory

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ABCAR - Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural

ACAR - Associação de Crédito e Assistência Rural

ACARESC - Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa Catarina

ACARPESC - Associação de Crédito e Assistência Pesqueira de Santa Catarina

ANATER – Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural

APP - Áreas de Preservação Permanente

CAI - Complexo Agroindustrial

CAR – Cadastro Ambiental Rural

CEP - Conselho de Ética em Pesquisa

CEPEA - Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada

CIDASC - Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina

CNATER - Conferência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural

CONTAGRI – Programa de Contabilidade Agrícola

EMBRAPA – Empresa de Pesquisa Agropecuária

EMBRATER – Empresa Brasileira de Extensão Rural

EMPASC – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EPAGRI - Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina

FAO - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

FATMA – Fundação de Proteção ao Meio Ambiente

GNSS - Global Navigation Satelite System

IASC - Instituto de Apicultura de Santa Catarina

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

INCRA – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

LAI - Licença Ambiental de Instalação

LAO - Licença Ambiental de Operação

LAP - Licença Ambiental Prévia

MAPA - Ministério da Agricultura

MMA – Ministério do Meio Ambiente

ONU – Organização das Nações Unidas

PIB – Produto Interno Bruto

PLANAGRI – Programa de Planejamento Agrícola

PNAD – Pesquisa Nacional de Domicílios

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PNATER - A Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural

PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar

PRONATER - Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a

Agricultura Familiar e na Reforma Agrária

PTR - Programa Territórios Rurais

SCRURAL – Programa Santa Catarina Rural

SDT - Secretaria de Desenvolvimento Territorial

SIG - Sistema de Informações Geográficas

TCPN – Território da Cidadania Planalto Norte

UnC – Universidade do Contestado

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1: Localização do Território da Cidadania do Planalto Norte ......................... 17

Figura 2: Distribuição geográfica dos 120 Territórios da Cidadania no contexto

brasileiro .................................................................................................................... 38

Figura 3: Área de ocorrência da Guerra do Contestado (1912-1916) ....................... 41

Figura 4: Território da Cidadania Planalto Norte ....................................................... 45

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1- Percentual de participação por produto .................................................... 22

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Demografia urbana e rural TCPN em 2010 ............................................... 44

Tabela 2: Estratificação do Território da Cidadania do Planalto Norte ...................... 49

Tabela 3: Estratificações da amostragem dentre os municípios Território da

Cidadania do Planalto Norte (TCPN) ........................................................................ 50

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Média de idade dos agricultores e cônjuges do TCPN ............................. 51

Gráfico 2: Médias de filhos nas propriedades dos entrevistados .............................. 52

Gráfico 3: Números de localidades ou comunidades rurais percorridas ................... 53

Gráfico 4: Distâncias da localidade até a sede do Município .................................... 55

Gráfico 5: Tamanhos médio das propriedades (há) .................................................. 56

Gráfico 6: Áreas da sede da propriedade rural (%) ................................................... 57

Gráfico 7: Áreas de Preservação Permanente (%) ................................................... 58

Gráfico 8: Áreas com reflorestamento (%) ................................................................ 60

Gráfico 9: Áreas com mata nativa (%) ....................................................................... 61

Gráfico 10: Áreas com lavoura em (%) ..................................................................... 62

Gráfico 11: Áreas com pastagem (%) ....................................................................... 63

Gráfico 12: Produtividades da cultura do milho (sacas de 60 Kg) ............................. 64

Gráfico 13: Produtividades da cultura do feijão (sacas 60Kg) ................................... 65

Gráfico 14: Produtividades da cultura de soja (sacas de 60 kg) ................................ 66

Gráfico 15: Áreas cultivada com tabaco (ha)............................................................. 68

Gráfico 16: Produtividades média da cultura de tabaco (kg) ..................................... 70

Gráfico 17: Áreas utilizada com a produção de leite (há) .......................................... 71

Gráfico 18: Áreas utilizada com criações (há) ........................................................... 73

Gráfico 19: Produtividades média com criações (Unidade) ....................................... 74

Gráfico 20: Áreas utilizada para cultivo de hortaliças (há) ........................................ 75

Gráfico 21: Finalidades das outras culturas .............................................................. 76

Gráfico 22: Importâncias do planejamento na propriedade ....................................... 77

Gráfico 23 Tipos de planejamento ............................................................................. 80

Gráfico 24:7 Intenções dos filhos em permanecer nas propriedades ........................ 82

Gráfico 25 Interesses dos pais que os filhos permaneçam nas propriedades .......... 84

Gráfico 26 Na sua opinião como o senhor vê a permanência dos jovens nas

propriedades ............................................................................................................. 85

Gráfico 27: Vinculações com sindicatos .................................................................... 87

Gráfico 28: Existe animais bovinos, suínos, equinos e caprinos nas propriedades .. 88

Gráfico 29: Coletas de lixo na propriedade ............................................................... 90

Gráfico 30: Fazem separação de lixo reciclável na propriedade ............................... 91

Gráfico 31: Esgotamentos sanitário na propriedade ................................................. 92

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Gráfico 32: Devoluções de embalagens de agrotóxicos ........................................... 94

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 16

2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 20

2.1 A AGRICULTURA NO MUNDO .......................................................................... 20

2.2 AGRICULTURA NO BRASIL ............................................................................... 21

2.3 EXTENSÃO RURAL NO BRASIL ........................................................................ 27

2.4 EXTENSÃO RURAL EM SANTA CATARINA ..................................................... 29

2.5 CONCEPÇÕES TERRITÓRIO ............................................................................ 31

2.6 TERRITÓRIOS DA CIDADANIA ......................................................................... 34

2.7 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO TERRITÓRIO DA CIDADANIA DO

PLANALTO NORTE .................................................................................................. 39

2.8 O TERRITÓRIO DA CIDADANIA NO PLANALTO NORTE ................................. 43

2.9 GESTÃO ECONÔMICA, SOCIAL E AMBIENTAL DA AGRICULTURA FAMILIAR

NO TCPN .................................................................................................................. 46

3 MATERIAL E MÉTODO ......................................................................................... 48

3.1 LOCAL DA PESQUISA ....................................................................................... 48

3.2 DEFINIÇÃO DA AMOSTRA ................................................................................ 48

3.3 COLETA DOS DADOS........................................................................................ 49

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................. 51

4.1 INFORMAÇÕES RELATIVAS À APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO ................. 51

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 96

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 98

ANEXO I - QUESTIONÁRIO ................................................................................... 103

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1 INTRODUÇÃO

A Agricultura Familiar é de fundamental importância social e econômica no

Mundo. Afinal, sustenta parte significativa das economias nacionais, além de

promover a geração de trabalho, distribuir renda e produzir alimentos.

Embora a agricultura familiar possua características diferenciadas de uma

região para outra no Brasil, de maneira geral caracteriza-se pela pequena

propriedade (minifúndio), trabalho familiar e diversidade produtiva (policultura). Além

disso, muitos agricultores percebem tal atividade como de sua reprodução social,

política e econômica.

A agricultura familiar brasileira, primeiramente, produzia para a subsistência e

reprodução social. Posteriormente, após as décadas de 1950/1960, com o

aprofundamento de relações capitalistas no campo, o excedente da produção

agrícola familiar passou, também, a atender as demandas do crescente mercado

urbano.

De acordo com IBGE (2006), a estrutura produtiva familiar brasileira compõe-

se de 4.367.902 estabelecimentos, representando 84,4% dos estabelecimentos.

Este contingente de agricultores familiares ocupa uma área de 80,25 milhões de

hectares, ou seja, 24,3% da área ocupada pelos estabelecimentos agropecuários

rurais brasileiros IBGE (2006).

A agricultura familiar é importante fornecedora de alimentos para o mercado

interno, produzindo 87% da produção nacional de mandioca, 70% da de feijão, 46%

da de milho, 38% de café e 34% da de arroz. A pecuária responde por 58% do leite

produzido, além de deter 59% do plantel de suínos e 50% do plantel de aves (IBGE,

2006).

No Brasil, o Governo Federal, destinou ao Plano Safra de 2013/2014, a

quantia de R$ 21 bilhões de crédito, através do Programa Nacional de Agricultura

Familiar (PRONAF), ante R$ 18,6 bilhões contratados na safra anterior (IBGE,

2015). As ações do Governo Federal para o desenvolvimento da agricultura familiar

vão desde o financiamento de crédito e assistência técnica até possibilidades e

viabilização da comercialização dos produtos pelos Programas de Aquisição de

Alimentos (PAA) e Alimentação Escolar (PNAD). Esta última tem se mostrado como

possibilidade para a comercialização da produção agrícola.

Devido a agricultura familiar ser uma das principais características do Estado

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de Santa Catarina, optou-se como recorte socioambiental o Território da Cidadania

do Planalto Norte (TCPN).

Figura 1: Mapa de localização do Território da Cidadania do Planalto Norte

Fonte: Waskievic, (2017).

Ele é forma de recorte territorial utilizado pelo Governo Federal para executar

políticas públicas. Caracteriza-se nesta região a policultura, sendo executadas,

quase na sua totalidade, pela mão-de-obra familiar.

Este território (TCPN) possui uma área de aproximadamente 10.466,70 Km²,

e é composto por 14 municípios: Campo Alegre, Canoinhas, Irineópolis, Itaiópolis,

Mafra, Major Vieira, Matos Costa, Monte Castelo, Papanduva, Três Barras, Bela

Vista do Toldo, Porto União, Rio Negrinho e São Bento do Sul.

A população total é de 357.039 habitantes, dos quais 84.436 vivem na área

rural, o que corresponde a 23,65% do total. Possui 12.909 agricultores familiares,

460 famílias assentadas e duas terras indígenas (Kaingang, Guaranis e Xoklengs1).

Seu IDH médio é 0,719 (IBGE, 2016 apud KNOREK, 2016, p. 31).

No Brasil a condição de agricultor familiar está amparada pela Lei n° 11.326

1 No Território da Cidadania Planalto Norte se encontram os índios das etnias Kaingang, Guarani e

Xokleng na Terra Indígena Ibirama-La Klãnõ, localizada no Alto Vale do Itajaí, e em Porto União, na Terra Indígena Rio dos Pardos com a etnia Xokleng.

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de 24 de Julho de 2006, que estabelece as diretrizes para a formulação da Política

Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais.

No ano de 2014 a Organização das Nações Unidas (ONU) estabeleceu o Ano

Internacional da Agricultura Familiar. Esse tema foi escolhido pelos 193 países

membros da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO).

O objetivo foi reconhecer a importância de tal atividade socioeconômica e fortalecer

o setor que produz mais de 70% dos alimentos consumidos pela população do

mundo.

Com tal iniciativa a FAO pretendeu sensibilizar sociedades e governos

mundiais sobre a importância do setor na produção de alimentos para segurança

alimentar, além de mobilizar a atenção da população mundial para erradicação da

fome e da pobreza2.

Assim, como no contexto brasileiro observa-se no TCPN ocorrem problemas

de êxodo rural, crescente concentração de terras rurais, desvalorização das

atividades agrícolas, utilização intensiva de agroquímicos nas produções agrícolas,

dentre outros.

A produção orgânica aparece como experiência emergente da agricultura

familiar brasileira e no TCPN. A presença de atividades vinculadas à agricultura

familiar, ao agronegócio e às novas demandas de proteção ambiental, bem como o

presente discurso da necessidade de desenvolvimento para a região, faz com que

seja útil e necessária a busca da avaliação das políticas desenvolvidas nesse

espaço. Por isso, levanta-se o seguinte problema: Pequenas propriedades rurais

inseridas no Território da Cidadania Planalto Norte possuem adequada gestão

socioeconômica e ambiental?

A pesquisa justifica-se pelo interesse em compreender como se estabelecem

as relações entre gestão e produção agrícola rural para enfrentar os desafios da

atualidade, visando o desenvolvimento sustentável. Além disso, se no contexto

político e econômico regional as pequenas propriedades rurais do TCPN se

sustentam ou são viáveis sob o ponto de vista econômico, social e ambiental.

2 De acordo com o artigo 3

o da Lei de Segurança Alimentar e Nutricional (Lei 11.346/ 2006) a

Segurança Alimentar e Nutricional é a realização do direito de todos ao acesso regular e permanente a alimentos de qualidade, em quantidade suficiente, sem comprometer o acesso a outras necessidades essenciais tendo como base práticas alimentares promotoras da saúde, que respeitam a diversidade cultural e, de forma social, econômica e ambientalmente sustentáveis.

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Tem-se como objetivo geral desta pesquisa, avaliar a gestão econômica,

social e ambiental das pequenas propriedades rurais vinculadas à agricultura familiar

inseridas no Território da Cidadania do Planalto Norte. Para que seja possível

alcançar esse objetivo será necessário: a) caracterizar a agricultura familiar nos

municípios inseridos no referido território; b) investigar se ocorre gestão nas

pequenas propriedades rurais da agricultura familiar, c) verificar se existe sucessão

rural, e êxodo rural; d) identificar as políticas públicas e suas influências no

desenvolvimento das pequenas propriedades rurais do referido território e, e)

identificar a preocupação dos agricultores na gestão ambiental das propriedades.

Sobre essas questões trabalhou-se com a hipótese de que. Diante dos

desafios da atualidade, se os proprietários rurais aplicam critérios de planejamento e

gestão em suas atividades, então é possível contribuir com o desenvolvimento do

TCPN.

Esta pesquisa pode contribuir para compreender os processos que interferem

sobre as atividades rurais, melhor conhecer a realidade social, econômica e, quiçá,

propor eventuais alternativas para o TCPN.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A AGRICULTURA NO MUNDO

A agricultura constitui-se e consiste em uma atividade social e econômica de

uso dos solos para o cultivo de vegetais a fim de produzir alimentos para a

segurança alimentar do ser humano, bem como produzir matérias-primas que são

transformadas em produtos secundários para outras atividades econômicas.

A partir da modernidade e principalmente na contemporaneidade as práticas

agrícolas foram mecanizadas e passaram a depender das indústrias. Assim, com o

passar do tempo e, principalmente, após a Revolução Industrial (por volta de 1750),

a prática da agricultura fundamentou-se em procedimentos avançados

tecnicamente, e alterando significativamente as do espaço geográfico (PENA, 2016).

Já, na contemporaneidade a agricultura é crescentemente influenciada por

mecanismos técnicos-científicos na perspectiva de aumentar a produtividade de

produtos agrícolas. Nas últimas três décadas principalmente a atividade agrícola

utiliza-se de ferramentas, como, por exemplo, satélites, computadores e outros e

passa a ser denominada agricultura de precisão3.

Atualmente, existem técnicas avançadas em manejo dos solos, plantação,

colheita, armazenamento e processamento dos produtos. Desta forma, observam-se

máquinas que substituem trabalhadores, crescentes níveis de produtividade

agrícola, concentração de terras e grandes corporações que controlam o setor

agrícola. Isso significa que as práticas agrícolas cada vez mais se subordinam à

ciência, à técnica e à indústria (PENA, 2016).

3 Segundo a EMBRAPA, “Agricultura de Precisão é um tema abrangente, sistêmico e multidisciplinar.

Não se limita a algumas culturas nem a algumas regiões. Trata-se de um sistema de manejo integrado de informações e tecnologias, fundamentado nos conceitos de que as variabilidades de espaço e tempo influenciam nos rendimentos dos cultivos. A agricultura de precisão visa o gerenciamento mais detalhado do sistema de produção agrícola como um todo, não somente das aplicações de insumos ou de mapeamentos diversos, mas de todo os processos envolvidos na produção. Esse conjunto de ferramentas para a agricultura pode fazer uso do GNSS (Global Navigation Satelite System), do SIG (Sistema de Informações Geográficas), de instrumentos e de sensores para medidas ou detecção de parâmetros ou de alvos de interesse no agroecossistema (solo, planta, insetos e doenças), de geoestatística e da mecatrônica. Mas a Agricultura de Precisão não está relacionada somente ao uso de ferramentas de alta tecnologia, pois os seus fundamentos podem ser empregados no dia-a-dia das propriedades pela maior organização e controle das atividades, dos gastos e produtividade em cada área. O emprego da diferenciação já ocorre na divisão e localização das lavouras dentro das propriedades, na divisão dos talhões ou piquetes, ou simplesmente, na identificação de “manchas” que diferem do padrão geral. A partir dessa divisão, o tratamento diferenciado de cada área é a aplicação do conceito de Agricultura de Precisão” (EMBRAPA, 2016).

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Nos países centrais, as tecnologias aplicadas no campo utilizam-se de

maquinários e implementos agrícolas de alta performance e de precisão,

acarretando redução significativa da população rural, principalmente ancorados na

monocultura. Em contrapartida, países periféricos, normalmente, ainda tendem a

utilizar métodos tradicionais de produção com o uso intensivo de mão de obra,

principalmente pelo preço alto e acesso restrito a tecnologias (PENA, 2016).

Portanto, na contemporaneidade, a importância da agricultura familiar é

indiscutível, pois é a partir dela que se produzem os alimentos e os produtos

primários, tornando-se a base para a manutenção das economias regionais. Essa

diversidade não trata apenas de produtos agrícolas, engloba também as mais

variadas formas existentes de produção (PENA, 2016). Afinal, a população mundial

tende a aumentar, e assim, a pressão sobre o Planeta para produção de alimentos

também deve ser incrementada4.

2.2 AGRICULTURA NO BRASIL

Primeiramente é importante apresentar que a agricultura era desenvolvida

pelos povos originários (indígenas). Com a vinda dos portugueses a partir de 1500 o

cultivo agrícola passou a ser organizado para atender aos interesses metropolitanos.

Assim, a produção agrícola (cana de açúcar, café e outros) era voltada à

exportação, e foi denominada de sistema plantation5.

Tradicionalmente, a agricultura se destinava à subsistência de cada grupo

indígena. As técnicas de plantio desenvolvidas pelos indígenas ainda são utilizadas

por pequenos grupos e é conhecida como coivara6. O cultivo para exportação,

organizado no formato de plantation, conjuntamente com o extrativismo do pau-

4 Para Collomb (1999) “Em 2050, nosso Planeta contará com aproximadamente 9 bilhões de seres

humanos (entre 8 e 11 bilhões) segundo as últimas estimativas das Nações Unidas publicadas em 2001. Apenas para alimentar corretamente uma determinada população, sem subnutrição nem carência, a quantidade de produtos vegetais destinados à alimentação dos homens e dos animais terá que dobrar no mundo inteiro. Ela deverá quase triplicar nos países em desenvolvimento, mais que quintuplicar na África e mesmo aumentar dez vezes mais em muitos países desse continente”. 5 O sistema plantation foi um sistema de exploração colonial utilizado entre os séculos XV e XIX

principalmente nas colônias europeias da América, tanto portuguesas e espanholas quanto em alguns locais das colônias inglesas britânicas. Consistia em quatro características básicas: grandes latifúndios, monocultura, trabalho escravo e exportação para a metrópole (PINTO, 2015). 6 A Coivara é uma técnica agrícola tradicional utilizada em comunidades quilombolas, indígenas e

ribeirinhas no Brasil. Inicia-se a plantação através da derrubada da mata nativa, seguida pela queima da vegetação. Há, então, a plantação intercalada de várias culturas (rotação de culturas), como o arroz, o milho e o feijão. (DICIONARIOPORTUGUES.ORG, 2017).

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brasil foi a primeira atividade econômica organizada e um dos motivos para a posse

das terras por Portugal no Brasil Colônia.

Ao término do denominado período colonial, o cultivo de café foi introduzido

para fins comerciais e de exportações em algumas regiões do Brasil, principalmente

no Estado de São Paulo.

Já no começo do século XIX a produção destinada ao mercado externo era

de 3.178 mil sacas de 60 kg, passando a 51.361 mil sacas nas décadas de 1880 e

1890 (BAUER, 2003).

Várias culturas agrícolas no Brasil tiveram seu ápice e também sua derrocada

no século XX. Assim, pode-se citar o tabaco e o cacau na Bahia e a borracha na

Amazônia em 1910. Destaca-se que a borracha representava em torno de 40% das

exportações brasileiras da época (BAUER, 2003).

Entende-se por agricultura familiar o cultivo da terra realizado por pequenos

proprietários rurais, tendo como mão de obra, essencialmente a família, em

contraste com a agricultura patronal que utiliza trabalhadores contratados, fixos ou

temporários em propriedades médias ou grandes.

A agricultura familiar no Brasil, ininterruptamente, foi representativa na

produção de alimentos e, com isso, melhorou significativamente sob o ponto de vista

da diversificação, tecnologias e produtividade (MARION, 2004 p. 35).

Quanto à produção da agricultura familiar brasileira o Censo Agropecuário

2006 (IBGE, 2006) identificou o que se apresenta no quadro 1.

Quadro 1- Percentual de participação por produto

Produto Participação

Mandioca 87,0%

Feijão 70,0%

Milho 46,0%

Café 38,0%

Arroz 34,0%

Leite 58,0%

Suínos 59,0%

Aves 50,0%

Bovinos 30,0%

Trigo 21,0%

Fonte: IBGE, Censo Agropecuário. 2006

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Ainda o Censo Agropecuário 2006 (IBGE, 2006) registrou 12,3 milhões de

pessoas vinculadas à agricultura familiar (74,4% do pessoal ocupado) com uma

média de 2,6 pessoas, de 14 anos ou mais, ocupadas. Os estabelecimentos não

familiares ocupavam 4,2 milhões de pessoas, o que corresponde a 25,6% da mão

de obra ocupada (IBGE, 2006).

Entre as pessoas vinculadas à agricultura familiar, a maioria eram homens.

Em média, um estabelecimento familiar possuía 1,75 homens e 0,86 mulheres

ocupadas de 14 anos ou mais (IBGE, 2006).

Ainda os dados do Censo Agropecuário de 2006 do IBGE, apontam a

existência de 5.175.489 estabelecimentos agropecuários no Brasil, ocupando uma

área total de 329.941.393 hectares, correspondente a 38,7% do território nacional7.

Os dados demonstram que os pequenos estabelecimentos (menos de 10 hectares)

contabilizam 47,9% do total, ocupando 2,4% do total. Por outro lado, os

estabelecimentos com mais de 1.000 hectares (que são apenas 46.911), ocupam

44,4% da área total.

O índice Gini8 (concentração da terra), em 2006 era de 0,854, o que

corrobora com os dados apresentados no parágrafo anterior. Ao observar outro

recorte no que tange a dimensão da propriedade da terra no Brasil encontra-se os

seguintes dados: Estabelecimentos com menos de 100 hectares são cerca de 90%

do total, mas ocupam apenas 20% da área, enquanto imóveis com mais de 100

hectares são menos de 10% do total, mas ocupam 80% da área (ALENTEJANO,

2012).

Segundo Caldart (2012), quando se consideram os dados do Instituto

Nacional de Colonização e Reforma Agrária - INCRA (2003) em vez dos dados do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2006), ou seja, o imóvel rural

em vez dos estabelecimentos agropecuários verifica-se que o panorama não é muito

diferente. Os imóveis com menos de 10 hectares são 31,6% do total, mas ocupam

apenas 1,8% da área. Por outro lado, os imóveis com mais de 5 mil hectares

7 Aponta-se ainda a existência de 125.545.870 hectares de terras indígenas, 72.099.864 hectares de

unidades de conservação e 30 milhões de hectares de águas internas, rodovias e áreas urbanas. Sobram, assim, praticamente 300 milhões de hectares de terras devolutas que têm sido sistematicamente objeto de grilagem, isto é, da apropriação ilegal de terras públicas por parte de especuladores. Segundo Delgado (2010), são cerca de 170 milhões de hectares grilados (DICIONÁRIO DE EDUCAÇÃO DO CAMPO, 2012). 8 O índice de Gini se destina a medir desigualdades (de terra, de renda, de riqueza, de acesso a bens

etc.) e varia de 0 a 1, sendo que, quanto mais igualitária a distribuição, mais próximo de 0 fica o índice, e quanto maior a desigualdade, recebe pontuação mais próxima de 1.

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representam apenas 0,2% do total de imóveis, mas controlam 13,4% da área.

Somados os imóveis com menos de 100 hectares, eles correspondem a 85,2% do

total e possuem menos de 20% da área já, os que possuem mais de 100 hectares

representam menos de 15% dos imóveis e concentram mais de 80% da área. Dos

4,375 milhões de imóveis, apenas 70 mil (1,6% do total) totalizam 183 milhões de

hectares.

Seja qual for a base estatística, a concentração fundiária é uma marca

inegável da estrutura fundiária brasileira, geradora de profundas desigualdades e

conflitos agrários e socioambientais. O problema é ainda mais grave, pois as

categorias utilizadas pelo IBGE (estabelecimentos agropecuários) e pelo INCRA

(imóveis rurais) não dão conta da complexidade das formas de acesso à terra

existente no Brasil9. As dimensões econômicas (IBGE) e jurídicas (INCRA) tornam

invisíveis várias modalidades de acesso à terra que têm sido a apropriação-

ocupação, mas que não são evidenciadas pelas estatísticas.

A atividade agrícola é uma das mais importantes para a economia brasileira,

pois, embora componha pouco mais de 5% do PIB brasileiro na atualidade, é

responsável por quase R$100 bilhões em volume de exportações. A produção

agrícola no Brasil, portanto, é basilar para a balança comercial do país10 (IBGE,

2015).

A agricultura familiar responde por 38% da produção agrícola no Brasil; 30%

no Uruguai; 25% no Chile; 20% no Paraguai e 19% na Argentina. Em 2015,

respondeu por 38% do Valor Bruto da Produção Agropecuária e por 74,4% da

ocupação de pessoal no meio rural (cerca de 12,3 milhões de pessoas) (IBGE,

2015).

Por outro lado, a concentração de terras e da riqueza e a formação de

latifúndios não permitem desenvolvimento da agricultura familiar. Ainda quando da

implantação da monocultura da cana de açúcar, geraram o sistema social brasileiro

9 O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) utiliza a categoria “estabelecimentos agropecuários”, que considera a unidade produtiva, enquanto o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) utiliza a categoria “imóvel rural”, que tem como base a propriedade da terra. Assim, por exemplo, se uma fazenda é arrendada para quatro diferentes agricultores, o INCRA contabiliza um imóvel rural, e o IBGE, quatro estabelecimentos agropecuários. Por outro lado, se três diferentes fazendas são administradas como uma unidade produtiva contínua, o INCRA contabiliza três imóveis rurais, e o IBGE, apenas um estabelecimento agropecuário. 10

A balança comercial refere-se à diferença entre o que o país vende e quanto compra no mercado externo. A importância da balança comercial é garantir o pagamento da dívida pública (superávit), que é a dívida externa e principalmente interna.

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com características feudais, bem diferente da América do Norte, onde as

distribuições das terras ocorreram com divisões em propriedades menores.

Economicamente o Brasil era em sua maior parte dependente da

exportação do açúcar, que a despeito de ser trinta por cento mais barato

que o produzido noutras partes, não possuía acesso aos mercados, vindo a

declinar na segunda metade do século XVII. Muitas regiões produtoras,

então, passaram a diversificar a produção, passando ao plantio do algodão

ou, no recôncavo baiano, do tabaco ou do cacau - embora o legado

negativo desse período tenha permanecido: a estrutura social arcaica e a

baixa tecnologia agrícola [...] o Brasil Império tinha o domínio do café, e a

plantação brasileira predominava, no começo do Século XX (BAUER, 2003,

p. 25)

A agricultura orgânica é uma iniciativa emergente da agricultura familiar

brasileira e também no Estado de Santa Catarina e é apoiada pelo Governo. Além

de ser uma alternativa de renda aos pequenos agricultores, oferece numerosas

vantagens ambientais, comparativamente à agricultura convencional, na qual a

grande quantidade de agroquímicos utilizados pode contaminar as águas, interferir

negativamente nos processos ecológicos, prejudicar microrganismos benéficos e

causar problemas de saúde aos produtores e consumidores.

Outra modalidade de agricultura que é representativa no Brasil é o

agronegócio. É um setor que se profissionalizou e utiliza técnicas avançadas de

produção.

O agronegócio é uma grande rede que engloba e/ou vincula vários segmentos

da cadeia produtiva. Envolve vários processos: desde fornecedores de insumos e

sementes, maquinários, serviços, beneficiamento de produtos até a industrialização

e a comercialização da produção.

O termo agronegócio foi utilizado primeiramente em 1957 e traduz no

conjunto de todas as atividades de produção, processamento, distribuição e

comercialização dos produtos agrícolas. Sua popularização ocorreu a partir da

década de 1970 (FRANCISCO, 2016).

Segundo Francisco (2016) o agronegócio pode ser dividido em três etapas ou

setores:

1° Produtores rurais: detentores de pequenas, médias ou grandes propriedades onde há a produção rural. 2° Fornecedores de insumos rurais: fabricantes de máquinas rurais, fornecedores de pesticidas, sementes, equipamentos, etc.

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3° Processamento, distribuição e comercialização: frigoríficos, distribuidoras de alimentos, indústrias, supermercados, entre outros.

Este setor é definido como um segmento de expressão e de importante

representatividade econômica para o Brasil. Conforme o Centro de Estudos

Avançados em Economia Aplicada (CEPEA, 2008), o agronegócio é responsável por

aproximadamente 27% do Produto Interno Bruto (PIB) nacional e 36,3% das

exportações brasileiras. O país é um dos líderes mundiais nesse setor, exportando

para mais de 180 nações (FRANCISCO, 2016). Portanto, mostra-se inegável a

importância do agronegócio para a economia nacional.

Com esse desenvolvimento, acresce também a combinação de fatores de

produção inseridos no agronegócio tais como, o mercado de insumos, mão-de-obra,

energia, maquinários, medicamentos e outros produtos que compõem essa cadeia

produtiva. A distribuição ou transporte de mercadorias produzidas e insumos

também movimenta outros setores.

Uma observação fundamental para este estudo, sobretudo nos aspectos

social e ambiental, convém ressaltar que, o agronegócio utiliza em seus processos

produtivos, grande quantidade de agrotóxicos, o que justifica a crescente

produtividade. Portanto, não obstante ao incremento de produção gerado, há

implicações negativas sobre os ecossistemas e a saúde humana.

O agronegócio brasileiro é o resultado do processo de modernização da

agricultura propagado no Brasil desde a metade do século XX com o intuito de

aumentar a produção e a produtividade de culturas mediante a inserção de

inovações tecnológicas.

Este processo só foi possível no contexto de uma conjuntura política em que

o Estado foi o condutor, por meio de investimentos em pesquisas científicas, através

da criação de órgãos como a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

(EMBRAPA), programas e créditos agrícolas, dentre outros.

Portanto desconcentração da terra e da produção no Brasil poderiam ser

medidas que possibilitariam gerar desenvolvimento socioeconômico.

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2.3 EXTENSÃO RURAL NO BRASIL

Entre 1859 e 1860 foram criados 4 Institutos Imperiais de Agricultura no Brasil

possuindo atribuições de pesquisa e ensino agropecuário além da difusão de

informações tais como:

a) Decreto nº 2.500 de 01/11/1859 - criou o Imperial Instituto Baiano de Agricultura; b) Decreto nº 2.516 de 22/12/1859 - criou o Imperial Instituto Pernambucano e Agricultura; c) Decreto nº 2.521 de 20/01/1860 – criou o Imperial Instituto de Agricultura Sergipano; d) Decreto nº 2.607 de 30/06/1860 - criou o Imperial Instituto Fluminense de Agricultura (PEIXOTO, 2008, p.12)

Já no século XX, para difundir tecnologias para o agricultor que não estava

integrado ao mercado, o Estado brasileiro criou as associações de apoio à

agricultura, o que ocorreu nos fins dos anos de 1940.

Essas associações de apoio à agricultura constituíam entidades autônomas

de extensão rural ao longo de vários anos, sendo as de maior destaque:

a) 1948: Associação de Crédito e Assistência Rural (ACAR), em Minas

Gerais;

b) 1954: ANCAR Ceará, Pernambuco, Bahia;

c) 1955: ASCAR Rio Grande do Sul, ANCAR Rio Grande do Norte, Paraíba;

d) 1956: ACARESC Associação de Crédito e Assistência Rural de Santa

Catarina;

e) Associação Brasileira de Crédito e Assistência Rural (ABCAR) Coordenava

as diversas associações estaduais (PEIXOTO, 2008).

Pode-se perceber, ainda naquela época a influência das Agências

Americanas sobre o governo brasileiro. Já, o trabalho “extra muros” das

Universidades dão origem ao termo extensão. Para Glauco Olinger, que foi um dos

responsáveis pela implantação da extensão rural no Brasil,

o serviço cooperativo de extensão rural dos Estados Unidos vem exercendo influência na determinação dos objetivos, estrutura, metodologia e meios de comunicação no extensionismo brasileiro (...) de início, como objetivo ajudar a elevar o nível de vida das famílias rurais (OLINGER, 1998, p. 12).

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A extensão rural surgiu como um processo de trabalho cooperativo, baseado

nos princípios educacionais que tinham por fim levar diretamente aos adultos e

jovens do meio rural ensinamentos sobre agricultura, pecuária e economia

doméstica, visando a modificar os seus hábitos e atitudes nos aspectos técnicos,

econômico e social, possibilitando-lhes maior produção e melhor produtividade,

elevando e melhorando a renda e seu nível de vida (ABCAR, 1966 apud QUEDA,

1991).

Para Olinger (1998), a definição de extensão e:

a extensão rural pode ser definida como um processo educativo que propicia as famílias rurais assistência técnica, econômica e social , visando ajudá-las a elevar sua qualidade de vida, com sustentabilidade e ,sobretudo, com o mínimo possível de dano ao ambiente (OLINGER, 2001, p. 11).

No decorrer dos anos de 1970 até 1990 a extensão rural fortaleceu-se via

adição do componente crédito, onde o extencionista buscava convencer os

agricultores para aderir à modernização, aplicando o pacote tecnológico. Após esse

período de expansão, seguindo tendências internacionais o Estado começa a retirar

seu papel de financiador da Assistência Técnica, culminando com a extinção da

Empresa Brasileira de Extensão Rural, a qual financiava e subsidiava os estados da

Federação11.

Assim permaneceu durante os anos subsequentes, ampliando a organização

e fortalecimento do extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário – MDA, que em

2004 publicou a “A Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural

(PNATER) “A Política foi construída em parceria com as organizações

11

A Lei no 6.126, de 1974, estabelecia ainda os objetivos, as fontes de recursos da EMBRATER e promovia a sua integração com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), autorizando-as a dar apoio financeiro às instituições estaduais oficiais que atuassem em Ater e pesquisa agropecuária. A EMBRATER foi efetivamente criada pelo Decreto nº 75.373, de 14 de fevereiro de 1975, que regulamentou a Lei nº 6.126/74. Tendo as estruturas das ACAR sido ano a ano absorvidas pelos estados e criadas empresas ou outras estruturas governamentais de assistência técnica e extensão rural (EMATER), o Sistema Abcar (ou Siber) transformou-se no Sistema Brasileiro de Assistência Técnica e Extensão Rural (SIBRATER). A EMBRATER foi definitivamente extinta pelo Decreto no 99.192, de 15 de março de 1990, no primeiro dia do governo Collor, junto com outras estatais. O setor extensionista não conseguiu articular-se para reverter a decisão do Governo no Congresso Nacional. A resposta das instituições estaduais de Ater, então, foi a criação da Associação Brasileira das Entidades Estaduais de Assistência Técnica e Extensão Rural (ASBRAER), em 21 de março de 1990. Nos anos subsequentes à extinção da EMBRATER, houve desorganização de todo o sistema oficial de Ater, provocando nos estados extinções, fusões, mudanças de regime jurídico, sucateamentos e, principalmente, a perda de organicidade e de articulação entre as diversas instituições executoras do serviço (PEIXOTO, 2016, p. 26).

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governamentais e não governamentais de ATER e a sociedade civil organizada e

instituída pelo Governo Federal em 2003”.

Pela Lei 12.188/2010 foi criada a Política Nacional de Assistência Técnica e

Extensão Rural para a Agricultura Familiar e Reforma Agrária (PNATER) e o

Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural para a Agricultura

Familiar e na Reforma Agrária (PRONATER). No ano de 2012 foi realizada a 1ª

Conferência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (CNATER), em

Brasília (DF), com intuito de promover discussões e melhorias no setor agrário

(SANT’ANA, 2014).

2.4 EXTENSÃO RURAL EM SANTA CATARINA

Desde o ano de 1991 a EPAGRI, vinculada à Secretaria de Estado da

Agricultura e da Pesca, é o órgão oficial de extensão rural e pesquisa agropecuária

do Estado de Santa Catarina. A EPAGRI foi criada em 1991, pela incorporação, em

uma só empresa, do órgão estadual de extensão rural - ACARESC, do órgão oficial

de pesquisa agropecuária - EMPASC, da Associação de Crédito e Assistência

Pesqueira de Santa Catarina (ACARPESC) e do Instituto de Apicultura de Santa

Catarina (IASC).

Desde os anos de 2002, com o marco importante do concurso 001/200212 da

Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (EPAGRI),

a ideia da extensão rural começa a ser fortalecida novamente, depois de uma

década de desmonte da estrutura da empresa.

A sua missão, e suas ações, respectivamente, segundo informadas em sua

página são:

Conhecimento, tecnologia e extensão para o desenvolvimento sustentável do meio rural, em benefício da sociedade; As ações de pesquisa e extensão rural da EPAGRI buscam a geração de renda nas propriedades rurais, através do aumento da produtividade, da redução de custos, da diversificação e da agregação de valor à produção. O meio ambiente é uma preocupação constante nos trabalhos da Empresa. Hoje todos sabem que somente com a conservação dos recursos naturais haverá qualidade de vida no campo e nas cidades (EPAGRI, 2017).

12

Em 2002 a EPAGRI realizou concurso público para recompor o quadro de servidores, ocasião em que foram contratados 350 extensionistas de diversas formações.

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A EPAGRI está presente na maior parte dos municípios catarinenses e possui

centros de treinamentos e unidades de pesquisa voltadas, primordialmente,

à agricultura familiar. Em termos estruturais possui 23 gerências regionais, 14

unidades de pesquisa, 02 campos experimentais, 9 estações experimentais

(Urussanga, Caçador, Videira, Campos Novos, São Joaquim, Itajaí, Canoinhas,

Ituporanga e Lages), um centro de pesquisa para a agricultura familiar sediado em

Chapecó e três centros de estudos localizados em Florianópolis, além de um parque

ecológico de apicultura.

A EPAGRI é o maior órgão público estadual de representatividade junto à

Secretaria de Agricultura do Estado de Santa Catarina. O Estado ainda conta com

outros órgãos que trabalham diretamente com a agricultura, destacando-se entre

estes a Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina

(CIDASC). Nas últimas três décadas a EPAGRI também foi a executora do Projeto

Microbacias, financiado pelo Banco Mundial e trabalhou aspectos sociais,

econômicos e ambientais na agricultura de Santa Catarina. Dentre os objetivos era

melhorar a qualidade de vida dos agricultores familiares, hoje sob o nome de SC

RURAL13.

A atuação da EPAGRI nas propriedades rurais, reflete no aumento da

produtividade de culturas ou de criações, redução de custos de produção,

agregação de valor aos produtos e expansão da produção para novas áreas.

Em 2015, a EPAGRI atendeu 115.581 famílias e 2.712 entidades em todo o

Estado, dando apoio, capacitação, orientando sobre novas tecnologias e

acompanhando do cotidiano dos agricultores.

13

Segundo o Governo de Santa Catarina, “O Programa SC Rural é uma iniciativa do Governo de Santa Catarina com financiamento do Banco Mundial – BIRD. O financiamento, que visa consolidar a política pública para o desenvolvimento do meio rural catarinense prevê investimentos da ordem de US$ 189 milhões, dos quais US$ 90 milhões financiados pelo BIRD e US$ 99 milhões do Estado. O SC Rural propõe novos desafios, apoiando planos e projetos com um enfoque amplo que pode envolver um município, um grupo deles e mesmo uma determinada região. Tem como objetivo geral aumentar a competitividade das organizações da agricultura familiar por meio do fortalecimento e estruturação das suas cadeias produtivas. A responsabilidade direta pela coordenação do Programa é da Secretaria de Estado da Agricultura e da Pesca, através da Secretaria Executiva Estadual do SC Rural, tendo como executoras suas empresas vinculadas EPAGRI e CIDASC, a Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável – SDS, Secretaria de Infraestrutura – SIE, Secretaria de Turismo, Cultura e Esporte – SOL, FATMA e Batalhão da Polícia Militar Ambiental de Santa Catarina. Os antecedentes do SCRURAL foram o Projeto Microbacias/BIRD que foi executado entre 1991 a 1999, e o Projeto Prapem Microbacias 2, executado entre 2002 a 2009” (SCRURAL, 2017).

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2.5 CONCEPÇÕES TERRITÓRIO

É importante refletir o conceito de território, principalmente, pelo fato de que o

tema desta pesquisa aborda a gestão socioeconômica e ambiental no Território da

Cidadania do Planalto Norte do Estado de Santa Catarina.

Na evolução dos seres animais, as espécies constituem grupos, nos quais

cada um determina seu espaço para definir suas relações de sobrevivência, o que

também é característica dos seres humanos. Assim, historicamente, as espécies

estabelecem sua área de atuação e constroem o modo de vida e sua sobrevivência

em determinado território.

O termo território vincula-se a expressões como área de um país, estado ou

cidade, sempre sujeitas a uma autoridade e a uma jurisdição, ou seja, uma

dimensão política. Entretanto, nesta pesquisa, o objetivo é contextualizar a relação

entre Estado, programas de governo e território nas concepções de autores,

principalmente para fundamentar o Programa Territórios da Cidadania na região do

Planalto Norte, o que torna importante é a compreensão do conceito de território.

O território não se refere apenas ao simples suporte físico de atividades

econômicas ou a um quadro de localização dos agentes, sendo, no entanto, um

espaço construído histórica e socialmente, considerando-se os laços sociais de seus

componentes humanos (CIRAD-SAR, 1996). Nessa perspectiva, o território é um

resultado, e não mero dado.

De maneira análoga, destaca-se a concepção de Raffestin (1993, p. 144),

[...] ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente, o ator territorializa o espaço. Neste sentido, entende o território como sendo: [...] um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por consequência, revela relações marcadas pelo poder. [...] o território se apoia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolve, se inscreve num campo de poder [...].

Deste modo, pode-se dizer que as relações de poder mostram a existência de

estrutura e definição da organização de um território. Esta estrutura se fundamenta

em princípios que retratam os desejos e interesses do grupo ocupante do território.

Cabe ao governo executar ações que atendam as demandas do povo. Neste

sentido, é preciso compreender que governo é quem exerce o poder delegado pela

sociedade e faz a gestão do estado para o território.

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Para Andrade (1996, p. 19), território não deve ser confundido com o de

espaço ou de lugar, estando muito ligado à ideia de domínio ou de gestão de uma

determinada área. A concepção do autor incorpora ao entendimento de território a

dimensão de poder que, consequentemente, tem uma relação política. Esta

dimensão tem um papel fundamental, pois o Programa Territórios da Cidadania,

conforme se observará mais adiante, é o resultado de uma política de governo que

tem fundamento ideológico e prático de superar as desigualdades sociais.

Na estrutura de estado, as relações políticas, ideológicas, sociais,

econômicas e culturais, poder e gestão se materializam num espaço geográfico,

entendido como área de terra com limites, que estabelecem as fronteiras e até onde

as ações objetivas do estado podem alcançar. Nesta delimitação do espaço

geográfico do Estado, ocorrem diferenças entre as partes que compõem a estrutura.

No âmbito da estrutura geográfica do Estado, as subdivisões ocorrem entre

as denominações: país, estado e munícipio. No município, inicialmente se destacam

duas divisões, cujas denominações são: zona urbana e zona rural, das quais

derivam centro da cidade, bairros, vilas, localidades e distritos. A razão para a

consideração destas divisões consiste em que cada divisão (parte) estão implícitas

características próprias que determinam a organização das comunidades. Neste

sentido, entre elas se destacam aspectos culturais, etnias, costumes e outros que

lhes sejam inerentes.

No Brasil, pela sua grande extensão territorial, ocorrem diferenças culturais e

econômicas dentre outras. Entre os indicadores que caracterizam as diversas

regiões do país, também estão as grandes diferenças entre as classes sociais. De

modo geral, estas diferenças se caracterizam pelo poder aquisitivo da população,

condições de vida e de trabalho, oferta dos serviços básicos disponibilizados pelo

poder público, dentre outros.

Para Raffestin (1993):

É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente [...] o ator ‘territorializa’ o espaço (Raffestin, 1993, p. 143).

Assim, o território é definido pelas questões de poder, onde as relações entre

instituições e indivíduos é que estabelecem os limites de abrangência.

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Para Souza (1989), a situação que estabelece o território é política. Exemplo

disso é a organização em metrópoles onde é possível se observar que grupos

sociais estabelecem relações de poder, formando territórios. Nesta mesma

perspectiva encontra-se Candiotto (2004), que defende que território é constituído a

partir das relações de poder:

O território é produzido espaço-temporalmente pelas relações de poder engendradas por um determinado grupo social. Dessa forma, pode ser temporário ou permanente e se efetiva em diferentes escalas, portanto, não apenas naquela convencionalmente conhecida como o território nacional sob gestão do Estado-Nação (CANDIOTTO, 2004, p. 81).

Isto fortalece as definições de programas de governo e suas políticas

públicas. Assim é que foram concebidas as políticas públicas para formulação do

Programa Territórios da Cidadania, que na sua essência traz as diretrizes de

governo que buscam diminuir a pobreza, melhorar a qualidade de vida e condições

para geração de trabalho e renda nas regiões menos desenvolvidas do país. A isso

denomina-se de desenvolvimento regional ou territorial sustentável.

A questão do desenvolvimento regional desperta preocupações, uma vez que

reflete as aspirações da sociedade no âmbito local quanto ao desenvolvimento de

atividades produtivas e da melhoria das condições de vida da população. De

maneira geral, a discussão desenvolvimentista se associa à ideia do crescimento

econômico de um país, Estado, território, munícipio ou região. Entretanto,

desenvolvimento é um conceito que deve englobar várias dimensões, sendo que o

crescimento econômico constitui apenas uma delas.

Para Veiga (2008), crescimento e desenvolvimento não são sinônimos.

[...] o desenvolvimento não se confunde com crescimento econômico, que constitui apenas a sua condição necessária, porém não suficiente. [...] o desenvolvimento depende da cultura, na medida em que ele implica a invenção de um projeto. Este não pode se limitar unicamente aos aspectos sociais e sua base econômica, ignorando as relações complexas entre o porvir das sociedades humanas e a evolução da biosfera [...]. (VEIGA, 2008, p. 09-10)

O termo desenvolvimento sustentável concebeu-se como resultado da criação

de uma Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no âmbito das

Nações Unidas, em 1987, que produziu um relatório conhecido como Nosso Futuro

Comum (ou Relatório Brundtland). Neste documento o desenvolvimento sustentável

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34

foi conceituado como aquele desenvolvimento que atende às necessidades das

presentes gerações sem prejudicar o mesmo direito das gerações futuras (LE

PRESTE, 2000).

Concebe-se desenvolvimento como a interrelação de crescimento econômico

e desenvolvimento social. Uma sociedade é desenvolvida quando apresenta

elementos que denotam bem-estar, paz, educação, saúde, preservação ambiental,

justiça social, democracia, felicidade e qualidade de vida àqueles que integram o

meio.

Sendo assim, para que o desenvolvimento aconteça é fundamental que se

fortaleça a capacidade de articulação conjugada com a cultura da cooperação e

participação de instituições e indivíduos, sem perder de vista nem a esfera individual

nem a coletiva.

Este processo de articulação constrói bases para um planejamento regional a

ser executado por lideranças locais e regionais, considerando ações de gestão

adequadas para formulação de estratégias para o desenvolvimento regional.

O desenvolvimento é um processo complexo de transformações e mudanças

no âmbito econômico, político, humano, ambiental e social, enquanto o crescimento

– incrementos positivos no produto e na renda – atende e satisfaz as necessidades

variadas do ser humano, como: alimentação, educação, saúde, emprego, transporte,

habitação, lazer e outras.

Portanto, tais concepções de desenvolvimento são relevantes para a

constituição dos chamados Territórios da Cidadania, cuja proposta se vincula à

criação de uma das forças ou mecanismos para gerar o crescimento econômico e o

desenvolvimento humano de determinado território. Deste modo, o Programa se

constitui como uma ação política de estado.

2.6 TERRITÓRIOS DA CIDADANIA

A implantação do Programa Territórios da Cidadania tem relação intrínseca

entre Estado e território, visto que, enquanto um está na concepção subjetiva, o

outro é objeto real. O território não pode ficar vinculado apenas à dimensão de

limites de área onde vivem comunidades. Afinal, o programa tem a finalidade de

associar políticas públicas de governo no âmbito de uma região geográfica que,

neste caso, leva o nome de Território da Cidadania. Uma das formas de

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35

compreensão do território consiste em conhecer a evolução histórica e o respectivo

desenvolvimento socioeconômico.

O Decreto nº 3.338, de 14 de janeiro de 2000 instituiu o Ministério do

Desenvolvimento Agrário (MDA). Tal Ministério estabeleceu competências para

promover a reforma agrária; o desenvolvimento sustentável do segmento rural,

constituído pelos agricultores familiares; e a identificação, reconhecimento,

delimitação, demarcação e titulação das terras ocupadas pelos remanescentes das

comunidades indígenas e quilombolas.

Dentre os diversos programas criados pelo Ministério do Desenvolvimento

Agrário (MDA), está o Programa Territórios Rurais (PTR). A região do Planalto Norte

de Santa Catarina foi contemplada com este Programa com algumas ações

implementadas e que, posteriormente, foram incorporadas pelo Programa Territórios

da Cidadania. A concepção e objetivos do Programa Territórios da Cidadania têm

origem nos Programas Territórios de Identidade e os Territórios Rurais (MDA, 2007).

O Programa Territórios da Cidadania foi pensado e executado pelo Governo

Federal e nos mais pobres socioeconomicamente, introduzido para incorporar

políticas públicas, com a intenção de constituir um conjunto de ações para melhorar

regiões com baixos indicadores de desenvolvimento socioeconômico (MDA, 2007).

Os Territórios de Identidade caracterizaram-se como a primeira etapa de

estruturação de ações voltadas para o desenvolvimento territorial rural. O espaço

das delimitações territoriais ocorreu a partir de critérios relacionados à identidade, às

estruturações microrregionais, bem como às alianças políticas entre o Governo

Federal, Estadual e Municipal (MDA, 2007).

Diante dessa perspectiva, houve o fortalecimento dos encaminhamentos para

os planos de desenvolvimento regional com a participação da sociedade civil na

gestão pública. Como exemplo do que já vinha acontecendo desde a promulgação

da Constituição Federal de 1988 e a criação dos Conselhos Municipais, a

responsabilidade de participar do planejamento de ações voltadas ao

desenvolvimento dos municípios, propiciou a aproximação dos agentes públicos e a

sociedade civil. A instituição dos Territórios Rurais, no ano de 2003, despertou maior

atenção para as regiões no que se refere às ações de promoção para o

desenvolvimento por meio de políticas públicas territoriais (TERRITÓRIOS DA

CIDADANIA, 2013).

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Os Colegiados Territoriais, segundo o MDA (2007), são instâncias já

existentes ou a serem constituídas com integração ou articulação em face de outras

instâncias colegiadas municipais ou intermunicipais. O Comitê Gestor Nacional,

Ministério da Agricultura (MA) e, Ministério de Desenvolvimento Agrário (MDA)

possuem a responsabilidade de selecionar os territórios atendidos, aprovar as

diretrizes, organizar as ações federais e avaliar a política. Fazem parte do comitê

gestor nacional, os secretários executivos ou secretários nacionais de todos os

ministérios que compõem o Programa.

O Comitê de Articulação Estadual, ainda de acordo com o MDA (2007), tem a

responsabilidade de realizar, sob orientação do Comitê Gestor Nacional, o

acompanhamento da execução das ações do Programa. Dessa forma, este comitê

atua estimulando a execução das ações e auxiliando o trabalho dos assessores

territoriais de cada território. Tais assessores são vinculados ao MDA sob o regime

de prestação de serviço.

O Programa Territórios Rurais teve como objetivo a intenção de dinamizar

territórios mais pobres econômica e socialmente, por meio do apoio e incentivo à

organização dos sujeitos locais para que juntos, de forma participativa, atuassem

ativamente na busca por melhorias para as suas regiões. Estas melhorias estavam

focadas no atendimento das necessidades básicas da população e na geração de

novas oportunidades de trabalho e geração de renda. Dessa forma, entende-se,

então, por que estes territórios foram implantados em regiões com baixo dinamismo

econômico, com Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) inferior aos padrões

médios, maior número de agricultores familiares, assentados, quilombos e povos

indígenas, destacando a priorização dos moradores de áreas rurais, que

historicamente, ficam à margem das políticas de desenvolvimento (TERRITÓRIOS

DA CIDADANIA, 2013).

Essa foi a concepção que em 2008, fez parte da instituição do Programa

Territórios da Cidadania. Assim, o Programa Territórios Rurais originou-se no

Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) que o lançou no ano de 2003. A Casa

Civil é responsável pelo programa como, também, pela coordenação do MDA, sob a

tutela da Secretaria de Desenvolvimento Territorial (SDT) e também, tem

responsabilidade pela execução desse Programa:

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[...] o Programa Territórios da Cidadania, a ser implementado de forma integrada pelos diversos órgãos do Governo Federal responsáveis pela execução de ações voltadas à melhoria das condições de vida, de acesso a bens e serviços públicos e a oportunidades de inclusão social e econômica às populações que vivem no interior do País (BRASIL, 2008).

Diversos órgãos do Governo Federal, conforme o Artigo supracitado, têm

responsabilidades pela execução e cumprimento das políticas, sendo eles assim

colocados pelo Gabinete da Presidência da República (2008):

Casa Civil, Secretaria Geral da Presidência da República, Secretaria de Relações Institucionais, Planejamento/Orçamento e Gestão, Minas e Energia, Saúde, Integração Nacional, Trabalho e Emprego, Meio Ambiente, Cidades, Desenvolvimento Agrário, Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Educação, Ciência e Tecnologia, Comunicações, Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial, Secretaria Especial de Aquicultura e Pesca, Justiça, Agricultura/Pecuária e Abastecimento, Cultura, Fazenda e Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (BRASIL, 2008)..

Desta maneira, constata-se que o Programa Territórios da Cidadania consiste

em uma política pública que determina os recortes geográficos permitindo que o

Estado interviesse em áreas com baixos indicadores de desenvolvimento. Ainda

conforme o MDA (2007), o Programa:

[...] como parte do esforço conjunto do Governo Federal surgiu para priorizar suas ações em regiões e sub-regiões onde os investimentos públicos e privados não têm sido suficientes para garantir o atendimento às necessidades básicas da população, bem como para acelerar processos locais e sub-regionais que ampliem as oportunidades de geração de renda de maneira desconcentrada e com a observância da sustentabilidade em todas as suas dimensões (BRASIL, 2007).

Este Programa é uma estratégia que busca promover a articulação e a

participação ativa dos atores locais por meio da gestão descentralizada, com vistas

às ações para o desenvolvimento social e sustentável. O planejamento busca

promover a articulação e a gestão descentralizada e participativa, de ações para

alcançar o desenvolvimento social e sustentável das populações que vivem em

territórios rurais de todo o país (MDA, 2007).

Conforme o MDA (2007), os 120 territórios da cidadania compreendem 1.833

municípios onde vivem 37,4 milhões de brasileiros, abrangendo 32% da superfície

nacional. Nestes territórios estão agricultores familiares, assentados pela reforma

agrária, trabalhadores rurais esperando pelo acesso à terra, além de outras pessoas

que habitam estes espaços, caracterizando 42% da demanda social deste

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Ministério. Para o funcionamento dos Territórios da Cidadania foram estruturados os

Colegiados Territoriais, além do Comitê Gestor Nacional e o Comitê de Articulação

Estadual.

No ano de 2008, conforme mostra a Figura abaixo, através do Programa,

foram implementados 60 territórios, e em 2009, mais 60, perfazendo um total de 120

territórios. Assim, em 2010, contando os 44 Territórios Rurais somava-se 164

territórios, mesmo com a existência de pré-territórios e/ou projetos de subdivisão de

territórios esperando a sua oficialização (MDA, 2007).

Figura 2: Distribuição geográfica dos 120 Territórios da Cidadania no contexto brasileiro

Fonte: Sistema de Informações Territoriais (SIT, 2012).

Esses recortes territoriais se formam pelo conjunto de municípios que

apresentam características idênticas ou parecidas sob os aspectos econômicos e

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ambientais, sociais, geográficos, culturais e de identidade. Esta Figura mostra os

dois territórios da Cidadania no estado de Santa Catarina: o Planalto Norte (70) e o

Meio Oeste Contestado (33).

Para que ocorra a efetivação do Programa Território da Cidadania faz-se

necessário o desenvolvimento de quatro etapas: a matriz de ações, o debate

territorial, o plano de execução e o relatório de execução. A matriz de ações

corresponde às ofertas de ações acompanhadas dos dados financeiros e das metas,

disponibilizadas todos os anos pelo Governo Federal (MDA, 2007).

2.7 CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DO TERRITÓRIO DA CIDADANIA DO

PLANALTO NORTE

Antes da colonização pelos imigrantes e da chegada dos tropeiros, estas

terras já eram ocupadas pelo povo indígena Xokleng. Tanto os tropeiros, como mais

tarde os imigrantes, viviam em conflito com este povo. O tropeirismo teve grande

influência no Planalto Norte de Santa Catarina, uma vez que o traçado do caminho

das tropas incluiu vários municípios desta região. Os tropeiros vindos do Sul, pela

Estrada da Mata, seguiam em direção às feiras de Sorocaba (SP), passando pelas

fazendas onde eram estabelecidas áreas para o descanso da tropa e do gado

(BORGES, ABREU; 2008).

De acordo com Thomé (2012, p. 10-11), o tropeirismo constituiu-se em uma

das atividades do caboclo local desde quando os paulistas começaram a passar

pela região buscando mulas e gado bovino xucros nos campos do Rio Grande do

Sul e Rio da Prata, estabelecendo-se na Região do Contestado nos séculos XVIII e

XIX. A partir de então, o homem primitivo do Contestado se deslocava da região em

direção aos campos gerais do Paraná, região missioneira gaúcha ou litoral

catarinense para a compra de mantimentos e utensílios (THOMÉ, 2012, p. 10-11).

A colonização e a ocupação da região aconteceram pelos interesses das

pessoas vindas de diferentes regiões, com o objetivo de fazer ou refazer as suas

vidas em novas terras. Neste contexto, se destacam os tropeiros, migrantes e

imigrantes e descendentes que foram se estabelecendo, formando vilas e povoados.

Primeiro, pelos migrantes que partiram do Estado do Paraná e se estabeleceram no

atual Planalto Norte; segundo, pelo fluxo imigratório de colonos europeus, a partir de

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1829, principalmente de colonos de origem alemã, que se instalaram em Rio Negro

(PR).

No entanto, é importante resgatar o episódio da Guerra do Contestado (1912

– 1916) que ocorreu nesse território. De acordo com Ludka e Fraga (2015) o

principal fator a desencadear o conflito foi a construção da estrada de ferro São

Paulo – Rio Grande. O empreendimento foi projetado em 1887, sendo que sua

concessão passou por várias empresas. No entanto, apenas em 1905 o projeto foi

levado a cabo pelo empreendedor norte-americano Percival Farquhar, que fundou a

Railway Company e adquiriu o controle acionário da referida estrada de ferro. Como

contrapartida, o governo passou o domínio das terras (cerca de 15 km para cada

lado) às margens da estrada de ferro para a companhia, que passou a explorar a

madeira da região através das empresas Southern Brazil Company e Colonization

Company. Como consequência, aqueles que habitavam a região, não possuindo os

títulos de terra, eram expulsos por ações paramilitares mesmo que habitassem ali há

muitos anos, ainda que isto contrariasse a Lei de Terras vigente à época.

O conflito é considerado por vários autores como uma das mais sangrentas

guerras civis brasileiras. Assim, vários fatores foram essenciais para sua

conformação, dentre eles: a construção da Ferrovia São Paulo - Rio Grande (1904 a

1910) e expulsão dos caboclos de suas terras, o abandono da população local pelo

poder estatal, a influência dos monges que peregrinaram pela região, disputa das

terras entre os estados de Santa Catarina e do Paraná, a questão do

estabelecimento dos limites entre o Brasil e a Argentina, dentre outros. Segundo

alguns autores como Ludka e Fraga (2015, p. 4298), foi neste período que se iniciou

o processo de acentuada concentração de terras da região, o que contribuiria para o

fato de que a região possui um dos piores índices de desenvolvimento do Estado de

Santa Catarina.

A Figura 03 mostra a região onde aconteceu a Guerra do Contestado (1912-

1916).

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Figura 3: Área de ocorrência da Guerra do Contestado (1912-1916)

Fonte: Decioadams.netspa.com.br (2016).

No que se refere aos valores sociais atinentes à formação do Território do

Contestado segundo Thomé (2001, p.108), deve-se salientar que, aquelas pessoas

ali estabelecidas passaram a ter diferentes denominações dentro da história, sendo

chamados de caboclos, em seguida sertanejos, matutos e, por fim, jagunços.

Esses caboclos, mesmo sem segurança e nenhum tipo de armas, agiam pela

fé, recebendo o conforto espiritual através dos ensinamentos dos monges que

peregrinavam pela região. Conforme comenta Auras (1997), mesmo com condições

precárias de vida e, movidos pela crença religiosa, os caboclos não esperavam

melhorias, tendo em vista não haver políticas públicas do governo e este não estar

preocupado com aquele povo.

Até acontecer o conflito armado nas terras contestadas eram os caboclos

que ali residiam e eram oriundos das frentes expansionistas; os fazendeiros,

detentores das sesmarias tituladas ainda por São Paulo e Paraná; caudilhos

gaúchos, remanescentes da Revolução Farroupilha; esparsos grupos de

Guaranis, Kaigangues e Xoklengs, perdidos das tribos e tradições; isolados

imigrantes poloneses e alemães, que penetraram no sertão pelas

promessas de colonização; ex-integrantes de bandos de bugreiros,

caçadores de índios que conheciam o sertão; ex-combatentes da Guerra do

Paraguai e desertores da Revolução Federalista [...]. Estes habitantes

pioneiros assistiram a fixação de famílias de ex-trabalhadores na construção

da ferrovia, a maior parte gente desclassificada. Juntos, mesclados ou não,

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passaram a formar a geração matuta que povoou o Contestado. (AURAS,

1997)

Como pode-se observar, variados grupos étnicos circulavam e ocupavam o

território do Contestado. Conforme relatos de Piazza (2001), também é possível citar

jesuítas, bandeirantes procedentes de índios escravizados, migrantes e tropeiros

que tinham interesse de realizar atividades agrícolas e a pecuária extensiva. Não

existia professores nem instituições escolares. Era um povo desprovido da

participação do Estado e mesmo a Igreja Católica não era tão presente naquela

época.

A origem da colonização e organização da sociedade teve início no final do

século XIX, com a chegada dos imigrantes poloneses, alemães, italianos, eslavos,

ucranianos, japoneses, portugueses, sírio-libaneses e turcos (BORGES e ABREU,

2008). Estes trouxeram na bagagem costumes, habilidades e crenças que

mescladas às culturas já existentes na figura cabocla e tropeira, promovendo, assim,

um misto étnico-cultural rico e diversificado.

A partir do início do século XX, ocorreram transformações com o advento das

políticas de modernização da agricultura, implantadas a partir da década de 1960.

Este fator estabeleceu gradativamente uma nova dinâmica ao espaço rural da região

norte do estado de Santa Catarina.

Neste período, também se constituem e se consolidam os grandes

estabelecimentos agropecuários, gerados pela compra e incorporação de

propriedades rurais com o objetivo do plantio de batata, milho, soja e, em especial,

reflorestamentos. O crescimento de tais atividades era da exigência das empresas

do ramo madeireiro. Muitas, além de reflorestarem suas terras com árvores nativas

(Araucárias e Imbuias) e exóticas (Pinus, Eucalipto), ampliaram as atividades no

ramo agropecuário. Com isto, a necessidade de mão-de-obra diminuiu, gerando

desemprego no meio rural. Pequenos agricultores venderam suas terras para

latifundiários, o que fortaleceu as diferenças sociais no campo.

Os pequenos agricultores e pecuaristas precisaram encontrar novas

alternativas para sobrevivência. É desta forma que nascem, neste contexto, as

cooperativas e associações de produtores, como forma de compartilhar atividades e

agregar condições de produtividade e competitividade.

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Mais tarde, pelas décadas de 1970-1980, nas agroindústrias se estabelecem

as políticas de integração agroindustrial gerando renda e emprego, mas, ao mesmo

tempo, tornando os pequenos proprietários dependentes de um novo sistema

socioeconômico.

As configurações populacionais da Região, juntamente com as mazelas

ocasionadas pela Guerra, contribuíram sobremaneira para a atual conjuntura social,

econômica e ambiental da Região. Assim, conhecendo os motivos que levaram aos

problemas observados, deve-se partir para a busca por soluções para melhoria das

condições de vida neste âmbito, o que se buscou por meio da implementação do

Território da Cidadania do Planalto Norte.

2.8 O TERRITÓRIO DA CIDADANIA NO PLANALTO NORTE

Abrange uma área de 10.466,70 Km² e é composto por 14 municípios: Campo

Alegre, Canoinhas, Irineópolis, Itaiópolis, Mafra, Major Vieira, Matos Costa, Monte

Castelo, Papanduva, Três Barras, Bela Vista do Toldo, Porto União, Rio Negrinho e

São Bento do Sul. A população total do território é de 357.039 habitantes, dos quais

84.436 vivem na área rural, o que corresponde a 23,65% do total. Possui 12.909

agricultores familiares, 460 famílias assentadas e 2 terras indígenas (Kaigangues e

Xoklengs). Seu IDH médio é 0,719, de acordo com (IBGE, 2016 apud KNOREK,

2016, p. 31).

Na Tabela 01 estão apresentadas as distribuições das populações urbana e

rural para o ano de 2010 no TCPN.

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Tabela 1: Demografia urbana e rural TCPN em 2010

Lugar População Rural População Urbana Total

Brasil 29.830.007 160.925.792 190.755.799

Santa Catarina 1.000.523 5.247.913 6.248.436

Bela Vista do Toldo 5.157 847 6.004

Campo Alegre 4.511 7.237 11.748

Canoinhas 13.492 39.273 52.765

Irineópolis 6.929 3.519 10.448

Itaiópolis 9.564 10.737 20.301

Mafra 11.594 41.318 52.912

Major Vieira 4.518 2.961 7.479

Matos Costa 1.374 1.465 2.839

Monte Castelo 3.497 4.849 8.346

Papanduva 8.744 9.184 17.928

Porto União 5.227 28.266 33.493

Rio Negrinho 3.498 36.348 39.846

São Bento do Sul 3.567 71.234 74.801

Três Barras 2.764 15.365 18.129

Total do Território 84.436 272.603 357.039

Fonte: Knorek, Adaptado, (2016).

As atividades desenvolvidas no Território da Cidadania do Planalto Norte

(TCPN) são predominantemente agrícolas encontradas sob as formas de agricultura

familiar e agronegócio.

Segundo Knorek (2016, p. 20), o Território da Cidadania do Planalto Norte tem

na agricultura sua principal atividade produtiva e econômica. Na área industrial

destacam-se os ramos madeireiros, papeleiro (AMPLANORTE/SEBRAE, 2014) e

moveleiro (AMUNESC, 2014). Este cenário se mantém em alguns municípios pouco

se alterando, em outros introduzindo uma ou outra atividade industrial (Figura 4).

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Figura 4: Mapa Território da Cidadania Planalto Norte

Fonte: Bernardo (2015).

Neste recorte geográfico, a organização política e de governança tem uma

constituição peculiar. O agrupamento entre os municípios é diferenciado. Assim

sendo, destaca-se:

I – Sete (7) municípios fazem parte da 25ª Secretaria de Estado de

Desenvolvimento Regional, sendo eles: Campo Alegre, São Bento do Sul, Rio

Negrinho, Mafra, Itaiópolis, Papanduva e Monte Castelo;

II – Seis (6) municípios fazem parte da 26ª Secretaria de Estado de

Desenvolvimento Regional, sendo eles: Porto União, Irineópolis, Bela Vista do Toldo,

Canoinhas, Três Barras e Major Vieira;

III – O Município de Matos Costa faz parte da 10ª Secretaria de Estado do

Desenvolvimento Econômico;

IV – Os Municípios de Campo Alegre, São Bento do Sul e Rio Negrinho, por

sua vez, fazem parte da Associação de Municípios do Nordeste de Santa Catarina

(AMUNESC);

V – Os Municípios de Mafra, Itaiópolis, Papanduva, Monte Castelo, Major

Vieira, Três Barras, Canoinhas, Bela Vista do Toldo, Irineópolis e Porto União fazem

parte da Associação de Municípios do Planalto Norte Catarinense (AMPLANORTE);

VI – O município de Matos Costa faz parte da Associação dos Munícipios do

Alto Vale (AMARP).

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Além disso, as características socioeconômicas se diferenciam pelas diversas

etnias que colonizaram a região, agregando culturas e histórias diferentes.

Dentre os municípios que compõem esse território, 05 deles se destacam

economicamente pela quantidade de indústrias madeireiras que a partir do pós-

guerra se deslocaram do Planalto Serrano. São eles Mafra, Canoinhas, Porto União,

Rio Negrinho e São Bento do Sul. Por conta dessas atividades desenvolvidas, há

inegável importância do setor madeireiro como elemento dinamizador da economia

regional. Os municípios de Canoinhas e Três Barras se destacam pela produção de

papel e celulose. Os demais municípios têm a base da economia na produção

agrícola, pecuária e no comércio.

2.9 GESTÃO ECONÔMICA, SOCIAL E AMBIENTAL DA AGRICULTURA FAMILIAR

NO TCPN

Entende-se que a viabilidade econômica, social e ambiental das propriedades

rurais do Território da Cidadania do Planalto Norte requer, em grande medida,

gestão pública e privada eficiente e eficaz. A gestão de uma propriedade rural pode

facilitar o trabalho, qualificar a produção e maximizar a produtividade e potencializar

a rentabilidade econômica.

Observa-se e constata-se que um dos fatores que enfraquece

economicamente os pequenos agricultores é a falta de gestão profissionalizada em

suas propriedades. Ao investigar os agricultores percebe-se considerável resistência

dos mesmos para modificar tradicionais práticas agrícolas. No contexto atual,

pequenas alterações no processo produtivo, no trato com os colaboradores e com o

planejamento da produção e comercialização podem representar grandes avanços

competitivos.

A administração rural se caracteriza por um conjunto de atividades que

objetivam o planejamento, a organização e o controle da propriedade rural, provendo

subsídios para a tomada de decisão pelo produtor/gestor rural, de modo que esse

possa gerenciar as atividades, maximizar a produção, minimizar custos, obter

melhores resultados econômico-financeiros. A gestão de uma propriedade rural

encontra tantos desafios quanto qualquer outra organização. Percebe-se que muitos

agricultores quase não utilizam conceitos e práticas de administração em suas

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propriedades de modo a melhorar a produtividade o que, às vezes, pode dificultar ou

inviabilizar seus negócios.

Embora o agricultor, muitas vezes conheça e saiba fazer bem o manejo do

solo, o plantio de produtos e a criação de animais, é incapaz de fazer a gestão

administrativa, o controle de finanças e o planejamento da propriedade.

As variáveis encontradas nas propriedades rurais como sazonalidade,

incertezas ambientais e econômicas são complexas. Por isso, a importância do

planejamento, de modo a reduzir ameaças e surpresas no processo produtivo. Além

desses fatores, o agricultor deve ter controle sobre as finanças, o que é fundamental

para a tomada de decisão financeira da propriedade. Para Lourenzani (2003, p. 9),

“a administração dos recursos financeiros de um estabelecimento rural tem como

objetivo avaliar a viabilidade dos investimentos produtivos frente aos recursos

disponíveis”.

É primordial, ainda, que todas as informações sobre receitas e despesas

sejam identificadas, analisadas e interpretadas, como forma de facilitar a escolha

entre as alternativas de produção mais viável (SELLA, ICHIKAWA, LOPES, 2008).

O planejamento, quando não elaborado ou mal executado, pode representar

riscos e ameaças para a organização da propriedade rural como:

• Investimentos supérfluos, mal dimensionados ou realizados de forma

inapropriada;

• Resultados negativos nos negócios;

• Inviabilidade econômica;

• Perda de produtividade, endividamento, dentre outros.

Nesta pesquisa trabalha-se com a hipótese de que as pequenas propriedades

rurais do Território da Cidadania do Planalto Norte possam adotar, na sua

administração, a gestão fundamentada no tripé econômico, social e ambiental, ou

seja, uma gestão pautada no ideal de sustentabilidade. Se assim o fizerem, poderão

ter condições de prosperarem social e economicamente.

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3 MATERIAL E MÉTODO

A pesquisa está estruturada pelos seguintes procedimentos metodológicos: a

corrente filosófica de investigação da pesquisa é do tipo positivista e o método de

investigação é indutivo, pois estabelece a coleta de dados.

A metodologia exploratória e descritiva, pois foram investigadas as

informações sobre o desenvolvimento rural e a gestão na agricultura familiar sempre

abrangendo a questão econômica, social e ambiental a fim de descrever a realidade

da região em estudo.

A abordagem da pesquisa foi qualitativa e quantitativa, pois as opiniões e/ou

informações foram traduzidas em números e analisadas diante do referencial teórico

utilizado. Buscou-se obter dados, informações e opiniões dos agricultores por meio

da aplicação de um questionário.

Esta pesquisa foi submetida ao Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da

Universidade do Contestado (UnC), tendo recebido parecer favorável pelo protocolo

(nº 1.729.410) em 13 de setembro de 2016.

3.1 LOCAL DA PESQUISA

O recorte territorial foi definido levando em consideração as pequenas

propriedades rurais inseridas no Território da Cidadania Planalto Norte e foram

definidas por módulos fiscais, tendo sua gestão fundamentada na sustentabilidade

do tripé econômico, social e ambiental14.

3.2 DEFINIÇÃO DA AMOSTRA

Para definição em quais propriedades seria realizada a pesquisa, buscou-se

informações na Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa

Catarina (EPAGRI) instalada no referido território.

14

O módulo fiscal serve de parâmetro para classificação do imóvel rural quanto ao tamanho, na forma da Lei nº 8.629, de 25 de fevereiro de 1993: Pequena Propriedade - o imóvel rural de área compreendida entre 1 (um) e 4 (quatro) módulos fiscais; Média Propriedade - o imóvel rural de área de área superior a 4 (quatro) e até 15 (quinze) módulos fiscais. Serve também de parâmetro para definir os beneficiários do PRONAF (pequenos agricultores de economia familiar, proprietários, meeiros, posseiros, parceiros ou arrendatários de até quatro módulos fiscais) (INCRA, 2017).

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A seguir, apresenta-se a tabela 02, que consiste no número de

estabelecimentos com mão de obra familiar do Território da Cidadania do Planalto

Norte, apresenta a estratificação por área das propriedades.

Tabela 2: Estratificação do Território da Cidadania do Planalto Norte

Estado, UGT, GR e

MunicipioTotal

Agricultura

Familiar

AF/Total

[%]Até 10 10 -| 20 20 -| 50 50 -| 200

200 ou

mais

Santa Catarina 193.663 168.544 87,0% 73.516 56.412 45.310 14.839 3.591

Estabelecimentos Grupos de área [ha]

UGT 4 14.778 12.730 86,1% 6.203 3.330 3.342 1.512 391

GR Canoinhas 6.705 5.865 87,5% 3.028 1.367 1.454 680 176

Bela Vista do Toldo 982 933 95,0% 527 217 173 56 9

Canoinhas 2.044 1.747 85,5% 958 434 385 193 74

Irineópolis 1.429 1.262 88,3% 660 291 314 144 20

Major Vieira 830 760 91,6% 472 159 123 52 24

Porto União 1.014 840 82,8% 222 192 389 185 26

Três Barras 406 323 79,6% 189 74 70 50 23

GR Mafra 8.073 6.865 85,0% 3.175 1.963 1.888 832 215

Campo Alegre 746 614 82,3% 309 197 154 74 12

Itaiópolis 2.578 2.277 88,3% 943 676 677 239 43

Mafra 1.639 1.365 83,3% 598 374 410 208 49

Monte Castelo 763 630 82,6% 389 134 120 92 28

Papanduva 1.335 1.208 90,5% 634 316 265 91 29

Rio Negrinho 787 581 73,8% 214 203 203 116 51

São Bento do Sul 225 190 84,4% 88 63 59 12 3 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário, 2006

3.3 COLETA DOS DADOS

A técnica de coleta de dados e informações primárias ocorreu pela aplicação

direta de um questionário aos agricultores. O questionário era composto por 20

perguntas, sendo 18 objetivas e 2 discursivas.

Pela fórmula n= [edef*Np(1-p)] /[(d/z1-a/2*(N-1) +p(1-p)], considerando 95%

de confiança, e margem de erro em 5%, a amostra ficou estabelecida em 370

agricultores.

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Tabela 3: Estratificações da amostragem dentre os municípios Território da Cidadania do Planalto Norte (TCPN)

MUNICÍPIO 0-10 h 10-20 h Total Amostra N° Questionários

Bela Vista do Toldo 527 217 744 7.7% 28

Canoinhas 958 434 1392 14.3% 53

Irineópolis 660 291 951 9.8% 36

Major Vieira 472 159 631 6.5% 24

Porto União 222 192 414 4.2% 16

Três Barras 189 74 263 2.7% 10

Campo Alegre 309 197 506 5.2% 19

Itaiópolis 943 676 1619 16.7% 62

Mafra 598 374 972 10% 37

Monte Castelo 389 134 523 5.4% 20

Papanduva 634 316 950 9.8% 36

Rio Negrinho 214 203 417 4.3% 16

São Bento do Sul 88 63 151 1.6% 6

Matos Costa 150 29 179 1.8% 7

Totais 6353 3359 9712 370

Fonte: IBGE - Censo Agropecuário, 2006

Primeiramente, foi pesquisado no IBGE e EPAGRI o número de pequenas

propriedades com mão de obra familiar no TCPN. Após, realizou-se sorteio

definindo-se pela proporcionalidade de amostragem e a quantidade de propriedades

em cada município do território.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 INFORMAÇÕES RELATIVAS À APLICAÇÃO DO QUESTIONÁRIO

Os dados são representados na forma de gráficos de forma propositiva das

informações para melhor entendimento e esclarecimento dos resultados da

pesquisa. O gráfico 1 apresenta a média de idade dos agricultores e seus cônjuges

que vivem nas propriedades rurais no Território Planalto Norte.

Gráfico 1: Média de idade dos agricultores e cônjuges do TCPN

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Observou-se que a idade média dos entrevistados é de 39 anos para homens

e 33 anos para mulheres. Assim, constatou-se que a média de idade é relativamente

baixa. Dito de outro modo tem-se uma população relativamente jovem no referido

território, contrariando dizeres do senso comum que aponta para um envelhecimento

humano do campo.

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Constatou-se que nas propriedades entrevistadas onde o agricultor é casado,

as intenções de melhorias, adaptações e planos para atingir suas metas sempre

ocorre em consenso, ou seja, marido e mulher conversam, debatem e definem o que

de melhor pode ser feito para a sustentação dos negócios da propriedade.

O gráfico 2 apresenta-se a média de filhos menores e maiores de idade, que

vivem nas propriedades dos agricultores entrevistados.

Gráfico 2: Médias de filhos nas propriedades dos entrevistados

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Constatou-se a existência em média de 1 filho menor para cada família e 0,7

maiores de 18 anos de idade. A questão que se apresenta é que os números são

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baixos e seguem a tendência nacional que mostra uma redução na taxa de

natalidade. Como representam o futuro da população da área, tais dados são

especialmente preocupantes, sobretudo pela tendência constante de migração para

os centros urbanos. É provável que a manutenção desses jovens no meio rural

dependam de políticas públicas que oportunizem e facilitem os processos produtivos

e de acesso à terra e renda.

A seguir, apresenta-se o gráfico 3, que mostra o número de localidades rurais

percorridas dentro dos 14 municípios contemplados, perfazendo um total de 111

comunidades sendo uma representatividade significativa no Território da Cidadania

do Planalto Norte.

Gráfico 3: Números de localidades ou comunidades rurais percorridas

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Percebe-se que evolução dos usos desses espaços, com o surgimento e

emergência de novas aptidões que levam a um novo olhar sobre o rural e a uma

redefinição das suas atribuições. Nesse sentido, a definição do que seja o espaço

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rural vem sendo discutida e alterada, ou seja, o conceito de espaço rural está

redefinido-se e ganhando a atenção do debate, agora não mais visto como

historicamente era, um lugar de atraso social, político e econômico.

Isso ocorre devido ao desenvolvimento de novas funções e novos tipos de

ocupações no espaço rural, sendo uma delas o debate sobre a multifuncionalidade

da agricultura, que inclusive é o conceito adotado pelo Instituto Souza Cruz, onde o

espaço passa a ser percebido com diversas atribuições, não somente em relação à

produção que nele se realiza, mas também pela atração que exerce cada vez mais

pelos citadinos15.

Essa percepção em relação ao rural e ao natural se intensificou, na medida

em que a sociedade se urbanizou e os problemas desse processo começaram a ser

sentidos pela população. A partir disso passa haver a associação do rural com a

natureza, à saúde, à liberdade, à qualidade de vida, ao descanso, entre outros.

Analisando o gráfico 4, pode-se observar a distância que existe entre as

localidades e a sede, ou seja a cidade mais próxima no TCPN.

15

O Instituto Souza Cruz é uma organização não governamental, sem fins lucrativos, de abrangência nacional, fundada em julho de 2000, reconhecida pelo Ministério da Justiça como uma Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP). Segundo informações de sua página na internet o Instituto tem a seguinte visão de seu trabalho: A partir de diferentes experiências, constantemente avaliadas e revistas, elegemos o campo como foco prioritário de nossas ações, voltadas para a agricultura familiar sustentável. Em estratégia integrada ao modelo de sustentabilidade da Souza Cruz, com uma equipe qualificada e incorporando ferramentas empresariais, o Instituto Souza Cruz trabalha de forma cooperativa com as organizações rurais, introduzindo inovações e aperfeiçoando seus métodos de intervenção social (INSTITUTO SOUZA CRUZ, 2017).

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Gráfico 4: Distâncias da localidade até a sede do Município

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Em termos de distância para buscar informações, treinamentos e recursos à

saúde, o trajeto é considerado relativamente curto, ou seja, em média 18Km. Ainda

os próprios agricultores reconhecem que nos últimos anos as condições das

estradas rurais e de deslocamento melhoraram significativamente. No entanto nem

todas as estradas rurais dos municípios apresentam boas condições de

trafegabilidade em suas estradas rurais. As condições favoráveis das estradas

sempre foram referidas como requisito essencial para promover o desenvolvimento

rural, pois facilitam o acesso, a trafegabilidade com segurança e transporte de

produtos agropecuários (frangos, suínos, produção de leite e outros).

Analisando o gráfico 5, ratifica-se a característica do TCPN pela forte

predominância de pequenas propriedades rurais (minifúndio). Nesse gráfico

apresenta-se o tamanho médio das pequenas propriedades rurais do TCPN.

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Gráfico 5: Tamanhos médio das propriedades (há)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Propriedades menores em área de terra, exigem maior planejamento e

utilização mais racional por parte dos proprietários. Percebeu-se, também que em

pequenas propriedades a opção dos agricultores pelo sistema de integração

agroindustrial, seja animal ou vegetal.

Um dado observado na pesquisa, foi a relação do tamanho da sede da

propriedade. Ou seja, quanto maior a sede da propriedade melhores são as

condições de produção e reprodução de vida da família do agricultor. Afinal é o local

onde ele planta para sua subsistência e também desenvolve suas atividades de

reprodução social e cultural. Por outro lado, quanto menor a sede da propriedade e

mais simples a sua estrutura, percebe-se que pouco daquele espaço é aproveitado

para o desenvolvimento da vida social e cultural destas famílias.

No gráfico 6 observa-se as pequenas áreas deixadas à disposição da sede,

para moradias, lazer, e espaços livres.

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Gráfico 6: Áreas da sede da propriedade rural (%)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Constatou-se a introdução de algumas explorações de atividades agrícolas na

sede das pequenas propriedades rurais, como é o caso dos hortifrutigranjeiros,

pomares, áreas com tanques de peixes, espaços para trilhas ecológicas, etc...

Segundo os agricultores entrevistados, esses espaços são importantes dentro das

pequenas propriedades, pois, a qualidade de vida começa na educação de nossos

filhos. Esses espaços podem ser utilizados para educação agrícola e social bem

como educá-los para as práticas esportivas.

No gráfico 7, observa-se a divisão média das propriedades em relação à

exploração com Área de Preservação Permanente (APP), mata nativa,

reflorestamento, lavouras, pastagens onde está a residência e benfeitorias.

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Gráfico 7: Áreas de Preservação Permanente (%)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Recentemente, na conferência do clima da Organização das Nações Unidas

(ONU) em Paris (COP-21), o governo brasileiro anunciou uma meta de restauração

e reflorestamento de 12 milhões de hectares até o ano de 2030 na Amazônia e Mata

Atlântica como contribuição aos acordos globais para reduzir os efeitos das

mudanças climáticas (BRASIL, 2015). A proteção de florestas em áreas privadas no

Brasil é prevista pela Lei de Proteção da Vegetação Nativa (Lei nº 12.651/2012,

conhecida como Código Florestal) e a não conformidade implica em sanções como

multas pecuniárias ou embargos de áreas produtivas (SILVA, 2017).

Conforme a lei, os imóveis rurais devem conservar a vegetação nativa em

forma de Reserva Legal (RL) e em Áreas de Preservação Permanente (APP),

localizadas em torno de rios e nascentes (vegetação ripária), encostas e topos de

morros (SILVA, 2017).

A proteção de florestas ripárias estabelecida na legislação ambiental brasileira

pode variar de 30 a 500 metros a partir da borda dos rios, lagos, represas ou

nascentes, dependendo da largura do corpo hídrico; e a APP a ser recuperada varia

de 5 m a 100 metros ao redor dos corpos hídricos, dependendo do tamanho do

imóvel e largura dos mananciais (SILVA, 2017).

Constatou-se que no Território da Cidadania do Planalto Norte, mesmo nos

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minifúndios, existe relativa divisão nas propriedades quanto ao seu uso. Essa

divisão é importante oportunidade para melhoria e qualidade ambiental.

Na quase totalidade das propriedades analisadas já foi elaborado o Cadastro

Ambiental Rural (CAR). Percebeu-se pelos depoimentos dos entrevistados que os

agricultores mostram cuidados com a preservação ambiental bem como, respeito às

condições estabelecidas pelas leis. Por consequência de ter as áreas de APP, a

mata nativa também apareceu na pesquisa com a média de 1,36 hectares por

propriedade. Nota-se que poderia ser maior, mas devido ao tamanho médio das

propriedades terem essa área de preservação de mata nativa, mostra que os

agricultores têm o entendimento de preservar e proteger minimamente o meio

ambiente. Ou seja, isso mostra que os agricultores familiares dentro de sua lógica de

reprodução social, tem noção da importância de manter uma parcela de sua

propriedade preservada.

Ressaltam-se que dos municípios pesquisados Irineópolis é o município que

possui o menor percentual nesse item. Este fato observado nas entrevistas tem

como motivo principal a exploração das matas nativas na última década na região.

Isso se justifica pelo motivo da expansão de novas áreas para o plantio de soja,

demonstrando que a produção em grande escala para exportação afeta o meio

ambiente regional.

No gráfico 8, observa-se a divisão média de áreas cobertas com

reflorestamento, sendo usadas espécies exóticas como pínus, eucalipto e uva do

Japão.

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Gráfico 8: Áreas com reflorestamento (%)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Em relação aos reflorestamentos com espécies exóticas (pínus, eucalipto e

uva do Japão) constatou-se que há aproximadamente 3000 mil árvores por

propriedades. A espécie de eucalipto é a mais utilizada, seguido de pinus e a uva do

Japão com menor frequência.

O principal uso do reflorestamento nas propriedades é destinado para a

queima de lenha nos fornos de estufas de tabaco e para consumo doméstico.

Quanto ao pinus e outras culturas observa-se que são utilizadas nas melhorias e nas

construções das propriedades. Ou ainda, para uma “poupança futura”, conforme

relataram os agricultores.

Observou-se que a utilização para as lavouras das pequenas propriedades

rurais são relativamente bem planejadas. As áreas são ocupadas em todos os

períodos do ano, seja por culturas agrícolas, pastagens ou plantações temporárias

(ervilhaca, aveia, centeio e outras), para a proteção e melhoramento do solo.

Por sua vez, o gráfico 9, mostra a quantidade média de cobertura com mata

nativa, nos municípios da região pesquisada.

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Gráfico 9: Áreas com mata nativa (%)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

O Código Florestal (Lei 12.651 de 2012) traz um detalhamento preciso das

Áreas de Preservação Permanente (aplicável a áreas rurais e urbanas), da Reserva

Legal (aplicável às áreas rurais) além de definir outros espaços de uso limitado.

O licenciamento para atividades potencialmente poluidoras deve ser efetuado

por meio da emissão de Licença Ambiental Prévia - LAP, Licença Ambiental de

Instalação - LAI e Licença Ambiental de Operação – LAO. § 1º. O órgão ambiental.

As Áreas de Preservação Permanente - APPs são aquelas áreas protegidas

nos termos dos arts. 3º, II da referida lei. O conceito legal de APP relaciona tais

áreas, independente da cobertura vegetal, com a função ambiental de preservar os

recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo

gênico de fauna e flora, proteção do solo e assegurar o bem-estar das populações

humanas (MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, 2011).

No gráfico 10 mostra em porcentagens a quantidade de lavoura, observa-se

que o total não ultrapassa os 80%, respeitando assim a legislação ambiental.

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Gráfico 10: Áreas com lavoura em (%)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Em primeiro lugar está a conservação do solo. Antes do preparo do terreno

para plantio é preciso planejar as intervenções, seja no controle da erosão ou outros

cuidados as condições físicas, químicas e biológicas.

A opção pelo tipo de cultura a ser cultivada depende das condições e

situações de cada agricultor.

Constatou-se que nas pequenas propriedades não existe a prática de ter

áreas de lavouras extensas, mesmo porque, trata-se de pequenas propriedades.

Percebeu-se que há lavouras integradas com a pecuária, ou seja, consorciadas.

No gráfico 11, observa-se a divisão de áreas com pastagens nas pequenas

propriedades.

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Gráfico 11: Áreas com pastagem (%)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

A integração lavoura-pecuária em pequenas propriedades predomina no

referido território.. Alguns exemplos de sistemas de integração de culturas anuais

inclui animal (bovinos e ovinos), milho, arroz e trigo.

Percebe-se, com isso, a diversidade do sistema utilizado de diferentes

maneiras nas propriedades.

O mesmo acontece com as pastagens. Muitas áreas são nativas ou podem

ser plantadas. Dependendo da época do ano, as áreas com lavoura no verão podem

estar cobertas por pastagem.

Essas pastagens nas pequenas propriedades do Território da Cidadania do

Planalto Norte pelo o que se constatou, são usadas muito para engorda de gado de

corte. Assim, uma parte normalmente é vendida aos frigoríficos da região e outra é

para consumo próprio. Muitos agricultores também usam pastagens como cobertura

no solo, aproveitando a palhada para implantar culturas no sistema de plantio direto.

No gráfico 12, nota-se que a presença da cultura do milho está em todas as

propriedades. Em algumas, é atividade principal. São aquelas que têm a pecuária

como uma prática expressiva e dominante.

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Gráfico 12: Produtividades da cultura do milho (sacas de 60 Kg)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

As culturas de milho e de tabaco são as mais cultivadas e desenvolvidas no

Território da Cidadania do Planalto Norte. O principal destino do grão é a

alimentação animal, especialmente, na produção de suínos e aves, combinado com

o farelo de soja. Além da importância econômica, o cultivo do milho tem função

agronômica. Isto é, a cultura do milho deixa no solo abundante palhada. Ou seja, fixa

o carbono e o nitrogênio no solo. Essa palhada é fundamental para a

sustentabilidade do sistema de semeadura direta nas propriedades agrícolas.

Segundo observação das condições de solo e clima da região, a sustentabilidade do

sistema plantio direto exige uma produção anual de 9 a 12 t/ha de palha/ano.

Essa cultura tradicional, muito importante economicamente, tem no município

de Itaiópolis a maior área plantada, com 114,40 ha, 21% do total no Planalto Norte.

Constata-se que quando se instalam cooperativas como a Cooperalfa, Big Safra,

empresas de aves como a Master, força-se o plantio dessa cultura, pois é matéria

prima utilizada pelas indústrias. No entanto, também se observa que no Território da

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Cidadania do Planalto Norte, há municípios que se destacam não em quantidade de

área plantada, mas em produtividade como os municípios de Major Vieira,

Papanduva e Monte Castelo. Tais resultados também comprovam que a

sustentabilidade de qualquer cultura passa pela sua produção, produtividade e

rentabilidade, fazendo com que sejam minimizados seus custos e haja maior retorno

financeiro dos agricultores, observável no gráfico 13.

Gráfico 13: Produtividades da cultura do feijão (sacas 60Kg)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Na cozinha brasileira e regional o feijão é o produto tradicional e diariamente

consumido pelas diferentes classes sociais, fazendo parte da dieta da maior parte da

população residente tanto no meio rural, como urbano.

O cultivo do feijão também destaca-se nesse território. Assim, torna-se

importante opção para os pequenos agricultores. Segundo relatos dos agricultores

no decorrer da pesquisa a cultura do feijão é mais uma opção, pelo fato de existirem

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empresas cerealistas nos municípios que realizam a compra da produção,

beneficiam e distribuem o produto para os estados de São Paulo e Rio de Janeiro,

com grande potencial de consumo.

Observa-se que dentre os 12 municípios que utilizam essa cultura tem-se

73,40 hectares cultivados no último ano com a produção de 793 sacas. A produção

média por produtor é de 66 sacas. Destaca-se o Itaiópolis, com 22,20ha e 30% de

plantio em relação ao total, fazendo com que seja, assim como o milho, mais uma

grande alternativa de sustentabilidade.

No passado essa cultura, segundo os agricultores, era explorada somente

para o consumo próprio, não havendo produção para a venda. Com a evolução das

tecnologias, assim como orientações recebidas, o excedente da produção é

comercializado.

A cultura da soja nas pequenas propriedades do Território da Cidadania do

Planalto Norte também é efetuada. Pode se observar no gráfico 14, como está

dividido a média de produção e por área.

Gráfico 14: Produtividades da cultura de soja (sacas de 60 kg)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

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No último ano foram plantados 754ha de soja em pequenas propriedades do

território. A média é de 58 hectares, por produtor, ou seja, cada agricultor produz

uma média de 395 sacas é uma produtividade abaixo da média das grandes

propriedades. Ainda assim, o cultivo é atrativo por servir como opção na

diversificação das atividades das pequenas propriedades com mão de obra familiar.

As proteínas da soja possuem alto valor proteico, assemelhando-se, portanto,

às proteínas animais.

Seus derivados, como a farinha, a proteína texturizada ou “carne” de soja e o

extrato ou “leite” de soja, quando utilizados em alimentos associados aos cereais,

como trigo, milho e centeio, conferem aos mesmos um bom balanço em termos de

aminoácidos essenciais. Portanto, a soja é um alimento que devido ao seu valor

nutricional e propriedades funcionais, pode ser incluída na dieta alimentar da

população.

Destacam-se entre os 13 municípios produtores, Canoinhas (com a maior

área que atinge 181,62 hectares, 24% do total) e os municípios de Bela Vista do

Toldo, Rio Negrinho e São Bento do Sul com a produção que atinge 583 sacas, por

produtor.

Como principal cultura explorada nas pequenas propriedades rurais com mão

de obra familiar no Território da Cidadania do Planalto Norte, o tabaco aparece com

expressividade. Podemos observar no gráfico 15, os percentuais de áreas plantadas

da cultura em cada município.

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Gráfico 15: Áreas cultivada com tabaco (ha)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Atualmente, o cultivo do tabaco constitui-se na principal atividade econômica

na maioria das pequenas propriedades rurais do território. Apesar das controvérsias

ideológicas, ambientais, de saúde e outras, quando trabalhado dentro das normas

ambientais, com segurança, de modo planejado e fazendo-se o devido controle da

atividade, conseguem-se respostas econômicas satisfatórias e, consequentemente,

proporcionar melhores condições de vida aos agricultores.

O Brasil é o segundo maior produtor de tabaco, sendo que a região Sul

produz 98% do total nacional. O estado de Santa Catarina é o segundo maior

produtor, o que mostra a importância econômica geoestratégica do Território da

Cidadania do Planalto Norte (TCPN) (SINDITABACO, 2016).

O trabalho na lavoura de tabaco, desenvolvido nas pequenas propriedades

demanda intensa utilização da mão de obra familiar em todas as etapas do processo

produtivo, e, notadamente, no preparo da terra, no plantio das mudas, e na colheita

das folhas de tabaco, quando requer o envolvimento de praticamente todos os

integrantes da família.

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Para a agroindústria do tabaco, a noção de diversificação produtiva está

associada ao cultivo de milho e feijão ou de pastagens anuais de inverno, em

sucessão ao fumo. Tal conceito vincula-se a uma prática agrícola que combina uma

sequência de cultivos na mesma área onde o fumo foi colhido.

A agroindústria defende que o cultivo do tabaco deve fazer parte da

composição da diversificação das propriedades. Assim, estimulando a geração de

renda por intermédio das demais culturas, o agricultor diminui sua dependência

econômica ao tabaco e, por conseguinte, a pressão social sobre a agroindústria.

Essa estratégia pode afetar as negociações dos preços a serem pagos pela

folha de tabaco, uma vez que as famílias suportariam a baixa de preços com a

complementação da renda das outras atividades. Abre-se, também, a oportunidade

da cadeia produtiva se tornar mais seletiva na definição dos agricultores.

Os dados demonstram que, a cultura mais presente proporcionalmente no

Território da Cidadania do Planalto Norte é o tabaco. Os agricultores relataram que

nessa cultura é que obtém maior retorno econômico em relação à área plantada e,

consequentemente, a maior rentabilidade financeira. A questão que mais dificulta é a

mão-de-obra empregada, pois, nos três meses em que acontece a colheita

demanda muito trabalho. Esse fato tem gerado o deslocamento de trabalhadores

das áreas urbanas para o meio rural.

Esse é um aspecto importante, pois caracteriza o meio rural e, em especial

essa cultura como geradora de empregos temporários para a população urbana,

além de manter o caráter de sustentabilidade de empregos para o meio rural.

A área de exploração da cultura é de 816,01 hectares, dando uma média de

62,77 ha por município. Em relação à produção, considera-se 7.104 Kg em média

por município que explora essa cultura.

Os solos do Planalto Norte são de alta aptidão para o cultivo do Tabaco16.

Desse modo a região já é tradicional produtora dessa cultura. Todo esse contexto faz

com que no TCPN estejam instaladas muitas empresas fumageiras, tais como a

16

Com uma área de 6.930km2, a Unidade Geomorfológica Patamar de Mafra localiza-se na parte Norte do Estado, onde as principais cidades são Mafra, Canoinhas e Porto União, e prolonga-se para o Estado do Paraná. O relevo é uma superfície regular, quase plana, que no conjunto é individualizado como um patamar intermediário, predominantemente constituído por uma superfície colinosa. O limite desta unidade com o Planalto dos Campos Gerais é, em alguns pontos, a cuesta da Serra Geral, com um desnível de cerca de 300m em média. As cotas altimétricas decaem de leste para oeste, atingindo, junto à Serra Geral, valores entre 650 a 740m. Latossolo Bruno/Vermelho-Escuro, Cambissolo e Podzólico Bruno-Acinzentado constituem-se nos solos de maior expressão nesta área (EMBRAPA, 2016).

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Souza Cruz, a Alliance One, a Philip Morris, a Universal Leaf Tabacos, a JTI, a

Premium, a ATC e a CTA. Destacam-se entre os municípios produtores Canoinhas,

Itaiópolis, Mafra e Irineópolis em área cultivada. O município de Mafra, com

produção de 10.370 Kg por propriedade é destaque nesse setor. Observável no

gráfico 16.

Gráfico 16: Produtividades média da cultura de tabaco (kg)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

O complexo agroindustrial do tabaco no Brasil está instalado, principalmente,

na região Sul do país, onde a produção é realizada por 187 mil famílias de

agricultores em pequenas propriedades com área média de 16,4 ha, localizadas em

704 municípios nos três Estados do Sul do país. O processamento é realizado nas

principais usinas e unidades de compra de tabaco instaladas no referido território,

empregando cerca de 30 mil pessoas, entre trabalhadores efetivos e temporários

(SILVEIRA, 2015).

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No gráfico 17, constata-se as áreas em hectare na exploração da atividade

leiteira nas pequenas propriedades.

Gráfico 17: Áreas utilizada com a produção de leite (há)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

A bovinocultura de leite participa isoladamente com 6,98% do valor bruto da

produção agropecuária (CEPA, 2006). A atividade tem sido uma importante fonte de

emprego e renda para os habitantes do meio rural. No entanto, há alguns anos já

vêm sendo evidenciadas no Estado as tendências da economia mundial, tendo em

vista o intenso processo de reestruturação que se instalou em praticamente todos os

sistemas de produção, principalmente no agroindustrial.

Essa atividade vem sendo disseminada entre as unidades familiares rurais,

impulsionadas principalmente por dois fatores. Primeiro é a forte pressão que a

fumicultura é atingida por parte de iniciativas governamentais que incentivam a

transição agrícola, uma vez que muitas famílias ainda têm como principal prática

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agrícola a produção de tabaco17. Em segunda instância, destaca-se a pluriatividade

no âmbito das propriedades, em geral por questões econômicas. O resultado da

sinergia destes fatores se expressa em uma transição entre atividades agrícolas,

principalmente através da organização dos agricultores familiares.

Atualmente a atividade leiteira representa um dos mais importantes setores

agropecuários no âmbito nacional, presente em um a cada três estabelecimentos

classificados como sendo da agricultura familiar conforme os dados da Organização

das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, 2000).

A atividade leiteira no Território da Cidadania do Planalto Norte só se

desenvolve-se em 50 % dos municípios pesquisados. Vê-se, nessa atividade

oportunidade econômica. Atualmente, a produção de leite é incentivada pelo

Governo do Estado e pela região através do programa Planorte Leite, sendo

disponibilizado crédito para pequenas propriedades entrarem nesse ramo18.

Analisando os dados do gráfico, observa-se que 7 municípios têm como

opção a produção de leite com 87 ha de pastoreio e uma média de 12.43 ha por

município. A produção chega a 37.165 mil litros de leite/ano por município.

Nesse item o destaque é para o município de Papanduva que, nas

propriedades pesquisadas, é o município de maior área de produção de leite tendo

86.057 mil litros de leite/ano.

A mão de obra familiar se caracteriza pelo fato de aqueles que exercem as

atividades sejam membros da própria família. É notável, ainda, que esses

agricultores familiares estão transformando pequenas propriedades em

17

O Brasil é signatário da Convenção Quadro para Controle do Tabaco, o que significa que o país desenvolverá ações afim de promover a diversificação da produção para agricultores familiares. 18

“O programa Planorte Leite visa estimular o desenvolvimento integrado e sustentável do Planalto Norte Catarinense, por meio do fomento da cadeia produtiva do leite, promovendo a organização das instituições, entidades e produtores, com base na produção diferenciada, a fim de gerar renda e sustentabilidade econômica, social e ambiental. Envolve os setores político (Prefeituras/Secretarias de Agricultura), técnico (EPAGRI, UnC, CIDASC, EMBRAPA, IFSC, AMPLANORTE entre outros) e de representação (cooperativas, sindicatos e associações). A intenção é promover o desenvolvimento da produção diferenciada de leite, com o uso de metodologias de extensão rural, promovendo a organização das famílias e o emprego de tecnologias sustentáveis, econômicas e adaptadas às condições da região. Para tanto, os próximos passos serão: organizar as famílias beneficiárias para uma participação mais efetiva; captar recursos; capacitar os técnicos e extensionistas; promover a capacitação continuada dos produtores; propiciar o emprego de técnicas sustentáveis de produção do leite e seus derivados visando a segurança alimentar e a conservação e preservação ambiental; promover a utilização de energias alternativas nos processos de produção; incentivar a instalação ou desenvolvimento de agroindústrias processadores do leite produzido na região; promover trabalho pedagógico junto aos alunos e professores das escolas estaduais e municipais através de visitação às propriedades leiteiras, para valorizar a atividade e despertar o conhecimento da importância do leite como alimento e meio de vida” (AMPLANORTE, 2017).

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agroindústrias familiares..

Observa-se, no gráfico 18, a seguir, áreas utilizadas com criações de animais

(bovinos, ovinos), uma opção que também é prática nas pequenas propriedades do

Território do Planalto Norte.

Gráfico 18: Áreas utilizada com criações de animais (há)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Constata-se também que no Território da Cidadania do Planalto Norte,

existem outras oportunidades, como a produção de corte ou ovinocultura para

produção de carne e outras atividades. Os dados coletados demonstraram que as

produções excedentes nas pequenas propriedades são comercializadas através dos

frigoríficos existentes no território que incentivam esse tipo de atividade nessas

propriedades.

No gráfico 19, observa-se as produtividades médias com as criações nas

pequenas propriedades do TCPN.

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Gráfico 19: Produtividades média com criações (Unidade)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Os municípios de Canoinhas, Itaiópolis e Mafra se destacam pela área que

possuem para criações de animais (bovinos e ovinos) em pastagens. Assim, nesses

municípios essa oportunidade de diversificação é forte e expressiva. O tema

referente à criação de animais, e presente em 12 dos 14 municípios do Território da

Cidadania do Planalto Norte, requer mais atenção dos proprietários e do próprio

estado (municipal e estadual), pois poderá ser uma grande opção econômica para o

futuro.

Ainda existindo pequenas áreas nas propriedades, os agricultores ocupam

para produção de hortaliças e outros.

No gráfico 20, observa-se áreas com o cultivo de hortifrutigranjeiros.

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Gráfico 20: Áreas utilizada para cultivo de hortaliças (há)

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

A produção de hortifrutigranjeiros são explorados na maioria das propriedades

rurais dos municípios do TCPN.

Observou-se, também, que 10 municípios têm agricultores cultivando

hortaliças. Nessa atividade destaca-se a batata salsa, plantada em várias

propriedades mencionadas nos questionários como opção que não concorre com a

diversificação.

A agricultura de subsistência no referido território ainda se caracteriza pela

utilização de métodos tradicionais de cultivo.

Essa modalidade é desenvolvida, geralmente, em pequenas propriedades e a

produção é inferior se comparada às áreas rurais mecanizadas. Contudo, o

agricultor estabelece relações de produção para garantir a subsistência da família e

da comunidade a que pertence.

Essa prática é feita nas “roças”, onde uiliza-se de ferramentas como a

enxada, machado, foice e o arado. Portanto, os pequenos agricultores ainda utilizam

as tradicionais ferramentas com o intuito de produzirem o suficiente e atender às

necessidades de consumo. No entanto segundo relatos muitos deles enfrentam

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dificuldades, dentre elas a burocracia para a realização de empréstimos nas

agências bancárias para incrementar a produtividade.

Nesse item, observa-se através dos dados coletados que sempre alguns

municípios tem perfil ou cultura diferente. Isso quer dizer que, além de várias

culturas exploradas no território, ainda tem municípios com mais opções. É o caso

de Canoinhas, que tem 40ha de plantio de trigo distribuídos pelo município. Assim é

mais uma opção de negócio. O referido município produziu uma média de 1.400

sacas de trigo na safra/2016.

Percebeu-se que os agricultores buscam alternativas econômicas na

perspectiva de obter mais renda.

Constatou-se que existem culturas com outras finalidades, como é o caso de

fruticultura, piscicultura, arrendamento e plantação de forragem para tratar rebanhos

de inverno. Estas e outras podem ser observadas no gráfico 21, a seguir.

Gráfico 21: Finalidades das outras culturas

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

A intenção do primeiro bloco foi caracterizar as famílias entrevistadas, sobre a

percepção e também dados objetivos sobre produção e escolha de culturas. A seguir

busca-se compreender os dados econômicos e de administração da propriedade

que será apresentado e discutido no próximo bloco.

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BLOCO 2 – Econômico

A primeira questão concentrou-se em saber se os proprietários rurais

consideram importante o planejamento da propriedade, conforme observar no

gráfico 22, abaixo.

Gráfico 22: Importâncias do planejamento na propriedade

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Atualmente, o agricultor não é mais o mesmo de quatro ou cinco décadas

atrás. Devido a competitividade o agricultor tem a necessidade de se qualificar em

termos de renovação e acompanhamento das transformações tecnológicas. As

mudanças vêm ocorrendo, também na forma de administrar a propriedade e tudo

que envolve o processo produtivo, direta e indiretamente.

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Com todas as transformações em curso foi possível notar que o grande

problema do passado era a falta de conhecimento e capacitação dos próprios

agricultores. No estado, atualmente existem incentivos e orientações estatais

através de políticos públicos de extensão rural e mesmo por meio da extensão

agrícola e agropecuária das agroindústrias.

Administrar uma atividade agropecuária requer grande abrangência de

informações em termos de desempenho físico e financeiro. Algumas vezes,

entretanto, muitas das informações necessárias são registradas apenas na memória

de quem administra ou em anotações informais. É necessário programar algumas

regras básicas e necessárias para o bom desempenho e a boa administração

dessas propriedades. Com o interesse dos agricultores há possibilidade de resgatar

nestas pequenas propriedades o equilíbrio financeiro. Isto é, substituir concepções e

práticas absolutas e ingressando na era da organização e planejamento tornando

possível oferecer ao mercado produtos e serviços de qualidade que atendam os

consumidores de forma padronizada e regulamentada.

O diagnóstico é resultado de um sistema de informações internas e externas

da propriedade. Envolve a coleta ou levantamento, registros, ordenação, análise ou

interpretação e síntese de dados, fatos e informações, comparados a uma situação

desejada. A qualidade da informação e dos dados obtidos pode oferecer

confiabilidade aos resultados da análise. De nada adianta ter computadores

sofisticados e métodos de análise precisos, se os dados e informações não têm

consistência técnica e real.

Planejamento é importante nas pequenas propriedades rurais, principalmente,

é ainda mais significativa quando existe diversificação. Observa-se na tabela, que

quase todos os proprietários entrevistados fazem planejamento, entretanto há

diferenças no nível qualitativo do planejamento.

Mais da metade dos municípios do Território da Cidadania do Planalto Norte,

fazem planejamento em mais de 50% das propriedades. Isso é comprovado com os

dados observados nos municípios de São Bento do Sul, Rio Negrinho, Mafra,

Itaiópolis, Campo Alegre e Bela Vista do Toldo. Nesses municípios a proximidade

das agroindústrias favorece os agricultores a praticarem o planejamento mais

constante e qualificado.

No município de Matos Costa 57,14% dos agricultores não efetuam a prática

de usar o planejamento como ferramenta em suas propriedades. Esse dado é

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explicado porque esse município é mais afastado de centros mais desenvolvidos do

agronegócio. Além disso, deduz-se devido o relevo ser o mais acidentado do TCPN.

O período de se fazer planejamento também tem grande importância.

Observa-se no gráfico que a maioria dos entrevistados realizam planejamento anual.

Daqueles municípios que os agricultores planejam, constata-se, também que a

opção de planejamento anual é o que se destaca em todos. Isso ocorre pelo fato de

que na maioria dos casos as explorações agrícolas são anuais.

Ressalta-se, no entanto, que os agricultores dos municípios de Monte

Castelo, Major Vieira e Mafra optam pelo planejamento por décadas.

Observando-se o território e as culturas exploradas tem-se a clareza de que o

período em que é feito planejamento está ligado à cultura que é explorada na região.

Afinal, há culturas que podem ser feitas duas colheitas anuais.

No gráfico 23, abaixo podemos constatar os tipos de planejamento que são

realizados nas pequenas propriedades rurais com mão de obra familiar no Território

da Cidadania do Planalto Norte.

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Gráfico 23: Tipos de planejamento

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Destaca-se para o planejamento de produção, produtividade e uso da terra.

Isso acontece pelo motivo que, culturalmente, de geração para geração, a maneira

de planejar e o que planejar sempre é feito pelo costume. Primeiro, precisa saber

onde se vai plantar, depois, o que será produzido e, por fim, retorno financeiro da

produção.

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Observa-se que a gestão integrada é crescente no Planalto Norte. Isso se

justifica pela inserção e cobrança das empresas do agronegócio instaladas no

território. As mesmas exigem dos agricultores exploração dos cultivos de forma

diferenciada. Tais atividades foram observadas nos municípios de, Itaiópolis e Mafra,

por exemplo.

Constatou-se pela pesquisa, que o controle de custos por parte dos

proprietários entrevistados nos municípios do Território da Cidadania do Planalto

Norte é uma ação presente. Na sua maioria, todos os proprietários estão

preocupados com seus custos. Assim usam o controle em mais de 50% das

propriedades.

O controle de custos acontece em média 72% das propriedades, pelo fato que

os agricultores precisam saber o seu lucro por atividade executada.

Segundo os agricultores, há uma dependência desse controle para ver se

realmente aquilo que estão cultivando oferece rendimentos esperados. Afinal, se as

atividades não geram resultados a contento há condições de trocar de atividade.

Esse bloco teve a intenção de mostrar como os agricultores das pequenas

propriedades rurais do Território da Cidadania do Planalto Norte fazem o uso de

planejamento e de controles em suas atividades.

No próximo bloco verificar-se á as intenções dos agricultores entrevistados

em relação à sucessão familiar e possibilidades de reorganização da agricultura

familiar.

BLOCO 3 – Social

No gráfico 24, observa-se como os agricultores trabalham com a sucessão

familiar e possibilidades de uma reorganização da agricultura familiar.

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Gráfico 24: Intenções dos filhos em permanecer nas propriedades

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Por meio desta informação da pesquisa, pode-se observar a porcentagem de

pessoas que desejam continuar no trabalho de seus pais na agricultura.

Os jovens que migram para as cidades, normalmente são atraídos pelas

ofertas de trabalho, e pelas condições econômicas. Muitos quando percebem a

realidade, retornam para a casa dos pais. Muitas vezes, já com uma família

constituída e em uma situação pior que daquela quando saíram. Esses fatos são

ainda mais relevantes nos pequenos municípios que têm sua base econômica

centrada na agropecuária, pois os jovens são atraídos para os municípios maiores

em busca de melhores oportunidades de trabalho, ocasionando a diminuição da

população e a perda de mão de obra.

A preocupação com a sucessão no meio rural é recorrente em praticamente,

todo o Brasil. No gráfico acima, constatam-se que nos 14 municípios quase 70% dos

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entrevistados responderam que tem intenção de ficar no meio rural desenvolvendo

suas atividades.

Existem fatores que interferem para que isso se concretize. De um lado, estão

as dificuldades para estudar, devido à distância até as Escolas ou Centros de Ensino

Superior, além dos custos. Por outro lado, a percepção das dificuldades passadas

pelos seus pais por não terem estudado, contribui para a necessidade de evoluir.

Costumeiramente, ouve-se a reflexão ‘não quero para mim o que meus pais

passaram’.

No município de Matos Costa constatou-se que em 57,14% das propriedades

os filhos não têm a intenção de continuar. No município de Papanduva essa questão

também é relevante. Segundo os agricultores, os jovens têm interesse de adquirir as

coisas para consumo pessoal e nem sempre dispõe de dinheiro. Por este motivo,

muitos jovens pretendem sair do campo para as cidades em busca de oportunidades

diferentes daquelas que sempre estão fazendo ou vendo seus pais realizarem.

Ainda muitas vezes não tem os retornos financeiros que esperam.

No gráfico 25, pode-se observar os interesses dos pais em fazer com que

seus filhos continuem no meio rural, ou seja, nas propriedades, dando continuidade

à trajetória de trabalho e de vida.

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Gráfico 25: Interesses dos pais que os filhos permaneçam nas propriedades

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Sempre buscando alternativas melhores aos seus filhos. Observando os

dados obtidos percebe-se que os agricultores entrevistados nos municípios do

Território da Cidadania do Planalto Norte, em sua maioria têm o interesse que seus

filhos permaneçam no meio rural. Para isso, estimulam seus filhos a buscarem

práticas melhores de manejo, uso de tecnologias apropriadas e maneiras mais

eficientes de administrar as suas propriedades.

Observou-se que muitos filhos dos agricultores desejam ter seu próprio

dinheiro. Quando isso não ocorre devido os pais centralizarem o controle financeiro,

muitos filhos vão buscar sua autonomia ou independência financeira em outros

trabalhos, principalmente nas cidades.

Constatou-se também, que alguns pais falam mal do negócio (agricultura).

A baixa rentabilidade diante do alto custo de sustento dos filhos com vocação

para estudos e os custos crescentes com saúde da população cada vez mais idosa,

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percebe-se que a vida rural seja menos atrativa do que a urbana. Além disso a

dificuldade de incorporar novas tecnologias e intensificar investimentos para

aumentar a produtividade.

O gráfico 26, mostra as opiniões dos agricultores em relação aos seus filhos

permanecerem no meio rural.

Gráfico 26: Na sua opinião como o senhor vê a permanência dos jovens nas propriedades

Fonte: Dados da Pesquisa, 2016.

O Território da Cidadania do Planalto Norte destaca-se pela integração

agroindustrial. Os agricultores de pequenas propriedades com mão de obra familiar

têm, nas últimas décadas, notado avanços e oportunidades com as integrações

agroindustriais.

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Constata-se que há no território empresas que integram produtores na

avicultura, suinocultura, cooperativas, fumicultura, fruticultura e outras. Esse vínculo

das pequenas propriedades integradas com empresas oferece aos agricultores, de

certa forma maior segurança para enfrentar as oscilações de mercado e da

economia. Por outro lado, os mantem em uma relação de subordinação e

dependência.

Devido ao mercado competitivo, a gestão da pequena propriedade passou a

ser fundamental. Muitos agricultores assumem o perfil de empresários rurais. Em

paralelo, há a necessidade da utilização de novas tecnologias no processo de

gerenciamento. Tal aspecto ganha cada vez mais importância nas propriedades.

Com tecnologias avançadas e consumidores mais exigentes, as grandes,

médias e pequenas propriedades devem planejar estrategicamente sua produção

para gerar lucro e produtos de qualidade. Há de se considerar que muitas famílias

não possuem filhos e que nesse território várias empresas incentivam trabalhadores

rurais e seus filhos a cursar ensino superior. Assim, muitos deles, mesmo

trabalhando no campo, também conseguem fazer treinamentos e cursar cursos

técnicos ou universidades.

Constata-se, que quase a totalidade dos entrevistados considera as relações

do mercado exigentes. Assim necessita de pessoas qualificadas para enfrentar os

desafios nas pequenas propriedades com mão de obra familiar.

Os municípios de Matos Costa, Bela Vista do Toldo, Irineópolis e Porto União

62% dos agricultores não responderam essa questão. Conclui-se por não ter

opiniões formadas e também por ainda não possuírem filhos.

No gráfico 27, apresenta-se a situação de vínculos das pequenas

propriedades com os sindicatos desse território.

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Gráfico 27: Vinculações com sindicatos

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

A vinculação com sindicato na visão dos agricultores do referido território em

muitas situações é vantajosa. Com uma instituição sindical há representação social

das propriedades principalmente quando necessitam de representatividade nas

políticas públicas em todas as esferas governamentais.

Segundo os agricultores entrevistados os sindicatos têm suas diferenças. Isso

ocorre pelo fato dos aspectos culturais, pois, para cada município há variações

conforme a participação e interesse em reuniões dos agricultores sindicalizados.

Constata-se que existem algumas interferências quando diretores ou

presidentes de sindicatos estão ligados à política partidária. Isso pode dificultar o

trabalho sindical, pois, nem todos os sócios do sindicato fazem parte do mesmo

partido político.

Por isso, observa-se no gráfico 27 que os municípios têm em sua maioria

vínculos sindicais. Destaque para o município de Porto União que tem 100% dos

entrevistados pertencentes ao sindicato rural.

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No bloco a seguir apresenta-se um diagnóstico ambiental das pequenas

propriedades do TCPN.

BLOCO 4 – Ambiental

O gráfico 28, observa-se a existência de animais de várias raças e tipos nas

propriedades segundo os agricultores entrevistados.

Gráfico 28: Existe animais bovinos, suínos, equinos e caprinos nas propriedades

Fonte: Dados a pesquisa (2016

Constatou-se que dos 14 municípios do Território apenas o município de

Major Vieira possui poucos animais (bovinos, equinos, caprinos, suínos e outros). O

destaque fica para os municípios de Itaiópolis e Campo Alegre onde quase 90% de

seus agricultores possuem bovinos, equinos, suínos e caprinos em suas

propriedades.

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Observou-se nas entrevistas que a questão de ter animais nas propriedades

também está relacionada na disponibilidade de área, pois, na criação de animais,

ainda se necessita de controle e manejo adequado dos dejetos. Criar, produzir e

reproduzir animais é próprio da cultura dos habitantes rurais seja por necessidades

de sobrevivência, para uso doméstico ou comércio do excedente.

De posse das informações pode-se afirmar que a produção animal é realizada

predominantemente por agricultores familiares, sendo que, o tamanho pequeno das

propriedades e dos rebanhos pode dificultar a sustentabilidade dos sistemas de

produção e a sobrevivência dos agricultores na atividade.

Predominam nos sistemas de produção a criação de bovinos de leite, suínos,

ovinos e aves. Os bovinos de leite assim como, suínos, ovinos e as galinhas

domésticas (postura) asseguram a alimentação da família e complementam a renda

dos agricultores.

A alimentação dos bovinos, no período em que os pastos estão escassos, é

dependente de insumos externos.

Conclui-se que há necessidade de estruturar as cadeias produtivas e

desenvolver e/ou apropriar tecnologias adequadas para os produtores familiares da

região.

No gráfico 29 discute-se se a coleta de lixo nas pequenas propriedades do

TCPN.

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Gráfico 29: Coletas de lixo na propriedade

Fonte: Dados da pesquisa

Com o crescente vínculo do TCPN ao modo de produção capitalista e a

aderência aos hábitos de consumo, acelerou-se o processo de comprar, usar e

descartar. Com isso, tem-se maior geração de lixo. Nas pequenas propriedades isso

também ocorre. Das entrevistas realizadas com os agricultores, constatou-se que a

coleta de lixo por parte das Prefeituras municipais é relativamente satisfatória.

Alguns municípios fazem a coleta de lixo, como é o caso de Major Vieira,

Matos Costa, Monte Castelo, Papanduva e São Bento do Sul. Segundo os

agricultores entrevistados, são as Prefeituras municipais responsáveis e que

prestam esse trabalho.

Em outros municípios como Campo Alegre, Rio Negrinho e Mafra não há o

recolhimento. Assim, muitos agricultores enterram ou queimam o lixo que é

produzido nas propriedades.

Observa-se que existem ainda muitas informações distorcidas, quanto à

orientação dos agricultores.

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Fazer um plano de recolhimento especial é um tema que muitas vezes é

esquecido.

Nota-se através das entrevistas que há municípios que dão atenção e tem

interesse na questão de coleta e destino seguro de lixo dentro de seus objetivos e

propostas. Já, outros municípios não têm isso definido, fazendo com que este fato

acarrete interferência negativa ambientalmente.

No gráfico 30 mostra onde há separação do lixo reciclável.

Gráfico 30: Fazem separação de lixo reciclável na propriedade

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Observa-se que nem sempre quem recolhe o lixo faz reciclagem e quem faz

reciclagem tem coleta em sua propriedade. É o caso dos municípios de Matos Costa

e Papanduva que fazem coleta, porém, não fazem reciclagem nem destinam o lixo

adequadamente, segundo os agricultores entrevistados. De acordo com o

observado, não o fazem por falta de incentivos ou por falta de conscientização por

parte da população.

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Práticas de reciclagem, recolhimento e destino adequado do lixo são

fundamentais para a melhoria do ambiente, da qualidade de vida dos agricultores.

Assim, nota-se que a questão da sustentabilidade ambiental não está adequada às

práticas cotidianas para alguns agricultores do referido território, pois não tem apoio,

informações e interesses necessários. Porém, há casos em que se observa um

interesse de fazer a reciclagem, mesmo que não haja entrega de lixo orgânico, como

o caso dos municípios de Canoinhas, Rio Negrinho e Campo Alegre.

O fato observado é que os agricultores de uma forma geral são carentes de

informações e conhecimento sobre o tema, além da falta de incentivos para essa

atividade. No entanto se tiver orientação adequada é possível reverter essa

situação.

No gráfico 31 as pequenas propriedades do TCPN praticam o esgotamento

sanitário.

Gráfico 31: Esgotamentos sanitário na propriedade

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

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Historicamente no meio rural brasileiro é comum um buraco simples cavado

ao lado da casa servir de depósito do esgoto doméstico. Denomina-se de fossa

negra. Com o tempo, os dejetos desaparecem e os usuários interpretam que o

sistema é limpo e seguro. Longe disso, o material não desaparece, ele penetra no

solo e pode contaminar os lençóis freáticos. Ao usar água subterrânea de poços

escavadas pode comprometer a saúde da família.

Observou-se que alguns municípios destacam-se positivamente em relação

ao tratamento sanitário nas pequenas propriedades do TCPN. É o caso dos

municípios de Campo Alegre, Rio Negrinho e São Bento do Sul que atingiram 100 %

com tratamento sanitário em suas propriedades, atingindo 57% de propriedades que

possuem esgotamento sanitário.

Mas, existem municípios como, Monte Castelo, Matos Costa, Mafra e Três

Barras, um número elevado de propriedades que não possuem esgoto sanitário

adequado. O grupo que soma 129 propriedades não tem esgoto, ou seja, um

percentual de 34% da amostragem.

Embora o Brasil tenha parte da população vivendo na zona rural, a falta de

tratamento adequado de efluentes domésticos, sobretudo do esgoto, ainda é uma

realidade negativa ao país. Sem dúvida, é legítimo priorizar o atendimento às

maiores aglomerações populacionais (cidades, sedes de distritos, favelas), porém, é

preciso estar atento ao saneamento nas unidades rurais, pois a saúde das famílias

que habitam no espaço rural está intimamente ligada à qualidade dos recursos

hídricos de suas Microbacias.

O próximo gráfico, o 32, aborda-se como está a situação das pequenas

propriedades do TCPN em relação a entrega de embalagens de agrotóxicos.

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Gráfico 32: Devoluções de embalagens de agrotóxicos

Fonte: Dados da pesquisa (2016)

Historicamente, este território foi subordinado ao intenso processo extrativista.

Paralelamente, seu povo foi marginalizado social e economicamente. Nas últimas

duas décadas, principalmente, voltou a ser subordinado ao capital agroindustrial.

No entanto, há de se considerar que em algumas agroindústrias também

contribuem nos processos de orientação, gestão e, consequentemente, no

desenvolvimento regional.

Observou-se através da análise dos dados no gráfico que 84% das

propriedades entrevistadas realizam a devolução de embalagens de agrotóxicos no

último ano. Porém, o dado preocupante é que 15% não realizam a devolução.

Apenas 1% do total de 370 propriedades entrevistadas não respondeu.

Tal situação se explica pelo fato de que no território muitas empresas

agroindustriais (tabaco, leite, cereais), de uma forma ou de outra, exigem dos

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agricultores fazer a devida devolução das embalagens. Isso ocorre com frequência,

segundo os agricultores, por parte das fumageiras, cooperativas e prefeituras.

Nesse item, o TCPN destaca-se positivamente, pois das 370 entrevistas da

amostra, 312 relataram fazer a devolução das embalagens. Os mesmos

entrevistados, relataram, também que a não devolução das embalagens pode

acarretar problemas ambientais tais como: poluição dos solos, das águas,

intoxicação de animais e até de humanos.

Nas entrevistas foi questionado a postura da não devolução das embalagens.

As respostas sempre foram diversas: passam desde as situações de esquecimento

até o extravio de embalagens ao longo da safra, dentre outras justificativas.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa constatou de maneira geral que existe uma gestão

socioeconômica e ambiental nas propriedades rurais do TCPN. Porém, muitas delas,

ainda têm a dificuldades de implementarem essa prática. Observou-se, também a

falta de informações e de incentivos do Estado no âmbito da gestão pública.

O Estado exerce o papel articulador de uma rede complexa de divisão de

poder e tomadas de decisão, bem como a postura ao lidar com o desenvolvimento

rural e sua relação com o mercado. Assim, as Políticas públicas voltadas ao

planejamento rural colaboram com os agricultores com informações e ações gerais

para garantir a produção e inclusão ao mercado consumidor.

No Território da Cidadania do Planalto Norte o clima é favorável, os solos são

férteis, e, além de outras possibilidades, como por exemplo o desenvolvimento da

agricultura e pecuária.

A agricultura familiar é diversificada no território. De maneira geral, percebe-

se que os agricultores estão preocupados com a qualidade de vida e dispostos a

adequar-se às exigências do mercado.

No tocante à gestão da propriedade, constata-se que a gestão ambiental é a

mais exercitada, pois é notória a preocupação por parte dos agricultores, devido em

grande parte as medidas de exigências da legislação ambiental.

Já, nas gestões sociais e econômicas existe por parte dos agricultores a

percepção de se acomodar ao modo já utilizado, sem necessidade de maiores

mudanças.

Os agricultores residentes no Território ampliam a policultura (milho, feijão,

tabaco, batata, verduras, arroz criolo e outras). Possuem também criações de

animais para consumo próprio. Além disso, produzem geleias, doces, compotas,

conservas, queijos, doces e outros. Tais práticas domésticas denotam princípios e

ações de gestão com os produtos que compõem dieta alimentar das famílias do

referido território.

O planejamento e controle financeiro e de custos é muito importante para

tomada de decisão. No entanto, percebe-se a falta de treinamentos e incentivos,

pois nem todos têm condições e conhecimentos para planejar as propriedades e

inserir sistemas de gestão. No entanto, percebeu-se que nas propriedades que têm

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jovens e adolescentes existem, sobretudo, maiores condições e possibilidades de

implementação de uma gestão eficaz na propriedade.

Foi possível observar entre os agricultores a ausências de práticas de

administração.

É possível, também, concluir que as pequenas propriedades rurais no

Território da Cidadania do Planalto Norte, tem em sua maioria a intenção de fazer

gestão, das mais variadas formas, porém, há dificuldades para implementação. Isso

ocorre devido as questões culturais, principalmente.

Assim, o que se constata é que a agricultura familiar precisa ser observada

sob diferentes prismas por parte dos órgãos de assistência técnica (pública e

privada) na perspectiva de ajudar os agricultores a fomentar, executar e fortalecer a

gestão social, econômica e ambiental.

A permanência do agricultor no campo pode ser possível por meio de

investimentos em pesquisa e, em especial, o desenvolvimento de projetos

integrados entre as secretarias dos municípios, empresas, agroindústrias

integradoras e órgãos de assistência técnica rural.

Observa-se que existe certa dependência dos agricultores das empresas da

agroindustriais integradoras. Assim, os agricultores tendem a depender

demasiadamente das monoculturas. Uma das alternativas poderia ser o incentivo à

agroindustrialização, o associativismo e o cooperativismo na perspectiva de

melhorar o desenvolvimento social e econômico dos agricultores do referido

território. Na questão ambiental notou-se que os agricultores, evidenciam

preocupações em proteger o meio ambiente para si e para as gerações futuras.

Assim, o planejamento a gestão ou administração das propriedades rurais é

uma importante ferramenta a ser aplicada e utilizada pelos agricultores em constituir

estratégias de desenvolvimento regional sustentável. Nesse sentido, o desafio é

capacitar os agricultores e incentivá-los a práticas de gestão social, econômica e

ambiental na perspectiva de melhorar a qualidade de vida e, consequentemente

promover o desenvolvimento regional do Território da Cidadania do Planalto Norte.

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ANEXO I - QUESTIONÁRIO

AGRICULTURA FAMILIAR: ANÁLISE DA GESTÃO SOCIOECONÔMICA E

AMBIENTAL EM PEQUENAS PROPRIEDADES RURAIS NO TERRITÓRIO DA

CIDADANIA DO PLANALTO NORTE

MESTRANDO: ALMIR TUCHINSKI

BLOCO 1 – IDENTIFICAÇÃO

1) Identificação da Propriedade

Nome do Agricultor: ....................................................................:.........Idade.............

Nome do Cônjuge: ................................................................................Idade............

Quantos filhos: Menores idade ( ) maiores de idade ( )

2) Localização da Propriedade

Localidade: ...........................................................................................

Município: .............................................................................................

Quantos quilômetros da Sede: ............................................................

3) Qual o tamanho da Propriedade em Hectares: ................................

4) Como está dividida a propriedade?

Nº Itens Hectare

1 APP

2 Mata Nativa

3 Reflorestamento

4 Área para Lavoura

5 Pastagem

6 Sede

Total

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5) O que é produzido na propriedade e quais as produções

Nº Itens Hectare Quantidade

Ano Observações

1 Milho

2 Feijão

3 Soja

4 Tabaco

5 Leite

6 Criações

7 Hortaliças

8 Outros

Total

BLOCO 2 – ECONÔMICO

1 - Faz o planejamento na propriedade?

( ) Sim ( ) Não ( ) As vezes

2 - O planejamento é:

( ) Anual – curto prazo ( ) Década – médio prazo

( ) Mais de uma década – longo prazo

3 - O Planejamento de:

( ) Uso da Terra ( ) Produtividade ( ) Produção

( ) Tempo ( ) Gestão integrada

4 - Há controle de custos na Propriedade?

( ) Não ( ) Sim; ( ) Sempre ( ) Quase sempre ( ) Às vezes

5 – Usa algum tipo de controle financeiro ou de custos que controle os gastos na

propriedade?

( ) Não

( ) Sim; ( ) Se sim, qual controle faz; ...............................................................

......................................................................................................................................

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BLOCO 3 – SOCIAL

1 – Seus filhos pretendem continuar na propriedade?

( ) Sim ( ) Não

Se Não qual o motivo? .............................................................................................

2 – O Senhor quer que seus filhos permaneçam na propriedade?

( ) Sim ( ) Não

3 - A propriedade faz parte de algum tipo de Integração com empresas que atuam

na região?

( ) Não ( ) Sim; Se sim, Qual empresas; ..........................................................

.......................................................................................................................................

4 - São realizados treinamentos ou capacitações sociais aos membros da família?

( ) Sempre, 2 a 3 vezes/ano ( ) Às vezes, 1 vez/ano ( ) Nunca

5 - A família está vinculada a algum Sindicato?

( ) Não ( ) Sim; Qual? .........................................................

BLOCO 4 – AMBIENTAL

1 - Existe animais na sua propriedade?

( ) Sim ( ) Não

Se Sim; Como é feito o lançamento dos efluentes; ......................................................

........................................................................................................................................

2 – Tem coleta de lixo na propriedade?

( ) Não

( ) Sim; Qual o destino? ...........................................................................................

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3 – Na sua propriedade é feito a separação do lixo reciclável do lixo orgânico?

( ) Sim

( ) Não

4 – Tem esgoto sanitário na propriedade?

( ) Sim ( ) Não

5 – Na sua propriedade é feito o recolhimento anual de embalagens de agrotóxicos,

ou seja a logística reversa?

( ) Não ( ) Sim ; Quem faz...............................................................................

Quando é feito; ............................................................................................................