universidade de sÃo paulo faculdade de ......ressurgem implícitos na lei sobre a informatização...

258
1 UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE LETRAS MODERNAS CLÁUDIA OZON CALDO TEXTO JURÍDICO E PROCEDIMENTOS DE REFORMULAÇÃO DISCURSIVA SÃO PAULO 2013

Upload: others

Post on 04-Nov-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses

1

UNIVERSIDADE DE SAtildeO PAULO

FACULDADE DE FILOSOFIA LETRAS E CIEcircNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE LETRAS MODERNAS

CLAacuteUDIA OZON CALDO

TEXTO JURIacuteDICO E PROCEDIMENTOS DE REFORMULACcedilAtildeO

DISCURSIVA

SAtildeO PAULO

2013

2

CLAacuteUDIA OZON CALDO

TEXTO JURIacuteDICO E PROCEDIMENTOS DE REFORMULACcedilAtildeO

DISCURSIVA

Tese apresentada ao

Departamento de Letras

Modernas da Faculdade de

Filosofia Letras e Ciecircncias

Humanas da Universidade de

Satildeo Paulo para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Doutor em Letras

Versatildeo corrigida

Aacuterea de Concentraccedilatildeo

Estudos Linguiacutesticos Literaacuterios e

Tradutoloacutegicos em Francecircs

Orientadora

Profa Dra Tokiko Ishihara

Satildeo Paulo

2013

3

OZON CALDO Claacuteudia TEXTO JURIacuteDICO E PROCEDIMENTOS DE

REFORMULACcedilAtildeO DISCURSIVA Tese apresentada ao Departamento de

Letras Modernas da Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da

Universidade de Satildeo Paulo para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em Letras

Aprovada em

Banca Examinadora

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento _________________________ Assinatura __________________

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento __________________________Assinatura _________________

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento __________________________Assinatura _________________

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento _________________________ Assinatura __________________

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento _________________________ Assinatura __________________

4

A todos aqueles que acreditaram e me

auxiliaram a realizar este trabalho

5

AGRADECIMENTOS Aos meus avoacutes Adolpho e Augusta (in memoriam) que desde pequena me

incentivaram nos estudos

Aos meus pais Gustavo e Cleacutea pelo exemplo de vida que me proporcionaram

Agrave minha filha Ana Laura que soube compreender a importacircncia de minhas

escolhas

Aos amigos que incentivaram minha pesquisa

Agrave minha orientadora Tokiko Ishihara que sempre me incentivou mostrou os

caminhos a serem seguidos acreditou no desafio proposto e fez despontar a

minha capacidade

Ao professor Paulo Seacutergio Domingues que sempre participou das minhas

descobertas e se dispocircs a colaborar

A todos os meus professores da poacutes-graduaccedilatildeo que me apontaram percursos

e permitiram importantes trocas intelectuais

Aos funcionaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo

6

La science consiste agrave passer dun

eacutetonnement agrave un autre

Aristote

7

RESUMO

Este trabalho realizado na Aacuterea de Estudos Linguiacutesticos Literaacuterios e

Tradutoloacutegicos de Francecircs do Departamento de Letras Modernas da

FFLCHUSP se situa na intersecccedilatildeo do Direito e das Ciecircncias da Linguagem

numa perspectiva multi e interdisciplinar do discurso juriacutedico

O corpus formado por textos juriacutedicos em liacutengua francesa e portuguesa

(brasileira) tem como objeto de estudo o discurso juriacutedico Nele conceitos de

direito foram ao longo do tempo modificados e integrados agraves praacuteticas sociais

O meacutetodo comparativo foi o escolhido para melhor examinar as

transformaccedilotildees

No primeiro texto escolhido pela sua importacircncia histoacuterica a Declaraccedilatildeo

de Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Franccedila 1789) surgem os conceitos de

ldquohomemrdquo ldquoigualdaderdquo e ldquoliberdaderdquo Esses mesmos conceitos reaparecem na

Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (ONU 1948) em que direitos

mais explicitados conferem maior proteccedilatildeo ao homem O terceiro documento a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Brasil 1988) detalha no seu

artigo 5deg todos os direitos conferidos ao homem do seacuteculo XX conceitos que

ressurgem impliacutecitos na lei sobre a Informatizaccedilatildeo dos Processos Judiciais

(Brasil lei 114192006)

A partir da observaccedilatildeo desses documentos levanta-se a hipoacutetese de que

os conceitos apresentados de ldquohomemrdquo ldquoliberdaderdquo ldquoigualdaderdquo e de ldquojusticcedilardquo

natildeo satildeo os mesmos presentes no primeiro documento o que evidencia uma

evoluccedilatildeo soacutecio-histoacuterico-linguiacutestico-discursiva A reformulaccedilatildeo ocasiona

inclusive um apagamento de conceito Dessa forma o liame que une os

documentos eacute resultante de um processo

As noccedilotildees de polifonia e de dialogismo emprestados da Anaacutelise do

Discurso satildeo desenvolvidos a partir dos estudos bakhtinianos e dos

procedimentos argumentativos da retoacuterica renovada por Perelman bem como

das reformulaccedilotildees discursivas implicadas

8

No primeiro capiacutetulo os documentos satildeo contextualizados

historicamente a fim de que se possa entender seu surgimento O segundo

teoacuterico verifica a presenccedila da Teoria da Enunciaccedilatildeo e dos conceitos de

auditoacuterio ethos e logos integrantes da Teoria da Argumentaccedilatildeo Do ponto de

vista linguiacutestico-discursivo o que se valoriza satildeo as reformulaccedilotildees como

ferramentas dessas alteraccedilotildees Ressalta-se que tais transformaccedilotildees tecem-se

a partir das relaccedilotildees entre a Liacutengua e o Direito Os conceitos de ldquotransplantrdquo

ldquocirculation juridiquerdquo e ldquoempreacutestimordquo propostos pelo Direito Comparado

consideram as diferenccedilas entre as liacutenguas e as culturas francesa e brasileira O

terceiro capiacutetulo trata do discurso juriacutedico e de uma proposta de classificaccedilatildeo

dos diferentes textos em subgecircneros a partir de seu objetivo e local de

produccedilatildeo

O resultado das anaacutelises revela que o decurso do tempo provoca a

evoluccedilatildeo dos conceitos de ldquohomemrdquo ldquoliberdaderdquo ldquoigualdaderdquo e ldquojusticcedilardquo a

ponto de sua existecircncia material no texto escrito permitir seu apagamento

passando de concreta agrave abstrata jaacute que implicitamente eacute o conteuacutedo que

justifica a proposiccedilatildeo e a publicaccedilatildeo da lei Informatizaccedilatildeo dos Processos

Judiciais

PALAVRAS-CHAVE classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos discurso juriacutedico

enunciaccedilatildeo ethos reformulaccedilatildeo

9

ABSTRACT

This following thesis developed in the French Linguistic Literary and

Translation area of the Modern Language Department FFLCH USP lies in the

intersection of Law and Language Sciences

The corpus composed of legal texts in French and Portuguese (Brazilian)

has as its object of study of the legal discourse in which the concepts of law

over time have been modified and integrated with social practices The

comparative method was chosen to better examine these transformations

The first text chosen for its historical significance the Declaration of

Rights of Man and of the Citizen (1789 France) bring to the light the concepts

of man equality and freedom These same concepts reappear in the

Universal Declaration of Human Rights (UN 1948) in which most rights

specified give greater protection to the man The third document the

Constitution of the Federative Republic of Brazil (Brazil 1988) explains in its

5th article all rights granted to man of the 20th century concepts which

reappear implicit in the Law on the Informatized System of the Judicial Process

(Brazil law 114192006)

The observation of these documents raises the hypothesis that the

concepts presented man freedom equality and justice are not the same

in the first document which highlights a socio-historical-linguistic evolution-

discursive The reformulation causes also an erase of concept In this way the

link that connects the documents is the result of a process The concepts of

polyphony and dialogism borrowed from Discourse Analysis are developed from

Bakthinrsquos studies and procedures of argumentative renewed Rhetoric by

Perelman as well as discursives involved

In the first chapter documents are historically contextualized in order to

permit their understanding and emergence In the second chapter theoretical

the Enunciation Theory and the concepts of dialogism and polyphony are noted

in texts as well as the concepts of the Auditorium ethos and logos from the

10

Theory of Argumentation In the aspect of Linguistically-discursive cases the

reformulations are the tools of these changes It should be noted that such

transformations weave from relations between the Languag and the Law The

concepts of transplant circulation juridique and borrowing proposed by the

Comparative Law consider the differences between the French and Brazilian

languages and cultures The third chapter treat the legal discourse and

propose a classification for texts in different sub-genres from its goal and

production site

The result of the analysis prove that the course of time causes the evolution of

the concepts of man freedom equality and justice to the point that it

may even result in the erasure of his material existence in the written text

ranging from concret to abstract since its content appears implicitly in the

proposition and the publication of Law on the Informatized System of the

Judicial Process

KEYWORDS classification of legal texts legal discourse enunciation ethos

reformulation

11

REacuteSUMEacute

Cette eacutetude reacutealiseacutee dans la chaire drsquoEacutetudes Linguistiques Litteacuteraires et

Traduction en Franccedilais du Deacutepartement de Lettres Modernes FFLCH USP se

situe dans lintersection du Droit et de Sciences du Langage dans une

perspective multi et interdisciplinaire du discours juridique

Le corpus composeacute par des textes juridiques en langue franccedilaise et

portugaise (breacutesilienne) a comme objet drsquoeacutetude le discours juridique ougrave les

concepts de droit au fil du temps ont eacuteteacute modifieacutes et inteacutegreacutes aux pratiques

sociales La meacutethode comparative a eacuteteacute choisie pour mieux examiner ces

transformations

Le premier texte drsquoune grande importance historique la Deacuteclaration des

Droits de lHomme et du Citoyen (France 1789) reacutevegravele les concepts de

laquolhommeraquo laquoeacutegaliteacuteraquo et laquoliberteacuteraquo Ces mecircmes concepts reacuteapparaissent dans la

Deacuteclaration Universelle des Droits de lHomme (ONU 1948) dans laquelle des

droits plus explicites confegraverent une plus grande protection agrave lhomme Le

troisiegraveme document la Constitution de la Reacutepublique Feacutedeacuterative du Breacutesil

(Breacutesil 1988) deacutetaille dans son article 5 tous les droits accordeacutes agrave lhomme du

XXe siegravecle concepts qui deviennent implicites dans la loi sur lInformatisation

des Proceacutedures Judiciaires (Breacutesil Lei 11419 2006)

Agrave partir de lobservation de ces documents on souleacuteve lhypothegravese selon

laquelle les concepts laquohommeraquo laquoliberteacuteraquo laquoeacutegaliteacuteraquo et laquojusticeraquo ne sont pas les

mecircmes preacutesenteacutes dans le premier document ce qui teacutemoigne une eacutevolution

socio-historique-linguistique-discursive La reformulation provoque encore

lrsquoeffacement du concept Ainsi le lien qui relie ces documents est le reacutesultat dun

processus

Les notions de polyphonie et de dialogisme emprunteacutes de lrsquoAnalyse du

Discours sont deacuteveloppeacutes agrave partir des eacutetudes bakhtiniennes et des proceacutedures

12

argumentatives de la Rheacutetorique renouveleacutee par Perelman et aussi des

reformulations discursives impliqueacutees

Dans le premier chapitre les documents sont examineacutes dans leurs

contextes historiques afin de pouvoir comprendre leur parution Dans le

deuxiegraveme theacuteorique on veacuterifie la preacutesence de la Theacuteorie de lArgumentation

dans les textes et des concepts dauditoire dethos et de logos de la Theacuteorie de

lrsquoArgumentation Du point de vue linguistique-discursif les reformulations sont

les outils qui permettent ces changements Il faut remarquer que ces

transformations tissent les rapports entre la langue et le droit Les concepts de

transplant circulation juridique et emprunt proposeacutes par le Droit Compareacute

prennent en compte les diffeacuterences entre les langues et les cultures franccedilaise et

breacutesilienne Le troisiegraveme chapitre srsquooccupe du discours juridique et propose une

classification de textes dans diffeacuterents sous-genres drsquoapregraves leur but et leur lieu

de production

Le reacutesultat de lanalyse reacutevegravele que le passage du temps provoque

leacutevolution des concepts drsquolaquohommeraquo de laquoliberteacuteraquo dlsquolaquoeacutegaliteacuteraquo et de laquojusticeraquo et

peut mecircme aboutir dans leur effacement ai sein du texte eacutecrit allant du concret

agrave labstrait puisque son contenu apparaicirct implicitement dans la proposition et

dans la publication de la loi de lrsquoInformatisation des Proceacutedures Judiciaires

MOTS-CLEacuteS classification des textes juridiques discours juridique

eacutenonciation ethos reformulation

13

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO15

CAPIacuteTULO 1 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO HISTOacuteRICA20

CAPIacuteTULO 2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA35

2 1 Texto juriacutedico e teoria da enunciaccedilatildeo35

22 Dialogismo e polifonia nos textos juriacutedicos40

23 Retoacuterica e a Teoria da argumentaccedilatildeo58

231 A formaccedilatildeo do ethos61

232 O papel do local 67

233 O auditoacuterio72

234 O ethos e o logos75

24 A reformulaccedilatildeo na liacutengua e no discurso juriacutedico83

241 Do ponto de vista linguiacutestico84

242 A reformulaccedilatildeo no direito empreacutestimo ldquotransplantrdquo

ldquocirculationrdquo87

243 Liacutenguas diferentes culturas diferentes94

244 Reformulaccedilatildeo e mecanismos de substituiccedilatildeo97

CAPIacuteTULO 3 O DISCURSO JURIacuteDICO100

31 Definiccedilatildeo100

32 Classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos no Direito 104

33 Contexto o sistema juriacutedico brasileiro109

14

34 Metodologia das anaacutelises textos de lei110

35 Anaacutelise dos textos de lei111

351 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789111

352 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948119

353 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988133

354 Lei 114192006145

36 Anaacutelise de outros textos voto justificaccedilatildeo e nota oficial157

361 Voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio157

362 Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada Luiza

Erundina 163

363 Nota oficial 169

37 Resultado das anaacutelises184

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS188

REFEREcircNCIAS193

ANEXOS204

INTRODUCcedilAtildeO

15

Esta tese se situa na intersecccedilatildeo de duas grandes aacutereas do

conhecimento o Direito e as Ciecircncias da Linguagem e o breve olhar para a

Histoacuteria cumpre aqui apenas uma funccedilatildeo heuriacutestica Os eixos teoacuterico-

metodoloacutegicos foram escolhidos em funccedilatildeo da natureza interdisciplinar se natildeo

multidisciplinar deste estudo

O tema transversal escolhido pela autora se explica pela sua dupla

formaccedilatildeo ndash Direito e Letras-Francecircs e pela sua experiecircncia durante o periacuteodo

de docecircncia Nessa trajetoacuteria a observaccedilatildeo do discurso de especialidade pelos

textos de lei em liacutenguas francesa e portuguesa revelou semelhanccedilas e

dessemelhanccedilas que aparentemente natildeo eram somente de estrutura formal e

cultural mas de ordem linguiacutestica e discursiva

O texto que primeiro foi selecionado para a composiccedilatildeo do corpus foi o

que aparece em uacuteltimo lugar o texto da lei 114192006 (Lei da Informatizaccedilatildeo

do Processo Judicial) Tal texto aparentemente natildeo traz nenhuma referecircncia

ao texto ao qual estaacute intrinsecamente ligado o primeiro texto do corpus a

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo francesa de 1789 Todavia a

lei 114192006 assegura direitos decorrentes daqueles previstos na

Declaraccedilatildeo de 1789

Essa observaccedilatildeo levou agrave necessidade de se verificar em um estudo

mais detalhado qual o percurso dos princiacutepios de ldquoigualdade liberdade e

fraternidaderdquo do texto em francecircs de caraacuteter interno (a Declaraccedilatildeo de 1789) ateacute

a lei brasileira atual (114192006) que autoriza a informatizaccedilatildeo dos

processos judiciais

Tais princiacutepios surgem de forma rudimentar apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa

reaparecem no panorama internacional pela Declaraccedilatildeo Universal de Direitos

do Homem de 1948 ressurgem na Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 e acabam

por ecoar no escopo da lei 114192006

Para a realizaccedilatildeo do estudo apresentado julgou-se necessaacuterio analisar

aleacutem dos textos de lei acima mencionados outros textos a eles relacionados

ou seja o voto do deputado responsaacutevel pela aprovaccedilatildeo da lei 114192006 na

16

Cacircmara dos Deputados a justificaccedilatildeo do Projeto de Lei e uma Nota Oficial

publicada pela Associaccedilatildeo de Juiacutezes Federais

A tese tem por isso como objeto o estudo das reformulaccedilotildees linguiacutesticas

e discursivas como fator estruturador do discurso juriacutedico numa tentativa de

mostrar como se daacute o encontro do eu e do outro Os tipos variados de

empreacutestimos se mostram por meio de um mesmo leacutexico ou de construccedilotildees

gramaticais equivalentes mas diferentes Revelam num primeiro momento e

dentro de uma mesma liacutengua alteraccedilotildees linguiacutesticas e de sentido Em outro

momento essas alteraccedilotildees ultrapassam fronteiras e se transpotildeem de uma

liacutengua para a outra isto eacute da liacutengua francesa para a portuguesa de uma

cultura para outra e assim o direito francecircs e o direito brasileiro se conjugam o

primeiro imprime seus traccedilos no segundo

Os objetivos principais dessa pesquisa que percorre 217 anos de

histoacuteria satildeo sobretudo o de verificar a transposiccedilatildeo e a reformulaccedilatildeo do

princiacutepio de Direito agrave justiccedila aleacutem de averiguar se o termo evolui ou apenas se

modifica quando se transpotildee de uma cultura para outra

Isto implica tambeacutem analisar de que forma os termos ou expressotildees

satildeo retomados a partir de um discurso preacute-existente verificar quais os

deslocamentos e alteraccedilotildees de sentidos produzidos e averiguar as respectivas

consequecircncias relativas agrave forma e ao conteuacutedo nos textos

O objetivo especiacutefico da pesquisa eacute mostrar pela anaacutelise dos textos

escolhidos como se estabelecem as relaccedilotildees entre esses diferentes textos

quais satildeo os procedimentos de reformulaccedilatildeo presentes e de que forma o

direito agrave justiccedila se manifesta no escopo da nova lei

A dificuldade encontrada para se descrever e caracterizar o discurso

juriacutedico foi o que determinou a escolha desse objeto de estudo jaacute que os vaacuterios

trabalhos existentes sobre a linguagem juriacutedica tratam sobretudo das relaccedilotildees

do texto juriacutedico com a Semacircntica Alguns deles analisam o discurso sob o

ponto de vista de sua produccedilatildeo e recepccedilatildeo e suas consequentes implicaccedilotildees

sociais poliacuteticas econocircmicas histoacutericas ou ideoloacutegicas Outros na aacuterea

aplicada de liacutengua tratam da questatildeo como discurso de especialidade

O que se pretende mostrar desse modo eacute uma visatildeo do discurso

juriacutedico sincrocircnica e diacrocircnica por meio de uma anaacutelise dos textos que

17

considere a linha do tempo em relaccedilatildeo aos termos empregados sua evoluccedilatildeo

e os sentidos no uso do mesmo termo em uma uacutenica ou em duas liacutenguas

A anaacutelise dessas questotildees considerou um estudo das caracteriacutesticas

formais desses textos o que permitiu a classificaccedilatildeo do gecircnero juriacutedico em

subgecircneros Permitiu tambeacutem tratar da transposiccedilatildeo de conceitos de direito de

uma liacutengua para outra apreciando ainda questotildees culturais

O referencial teoacuterico adotado para estudar esses questionamentos se

apoacuteia nos estudos realizados por Bakhtin relativos agrave caracterizaccedilatildeo do gecircnero

do discurso cujo objetivo eacute determinar a especificidade do discurso juriacutedico e

sustentar a caracterizaccedilatildeo de seus subgecircneros

O arcabouccedilo teoacuterico se apoacuteia tambeacutem nos conceitos de polifonia e

dialogismo realizados por Bakhtin e desenvolvidos por Charaudeau

Maingueneau e Arriveacutee

O estudo destes conceitos conduz agrave origem da produccedilatildeo textual que

aparece como decorrente de praacuteticas sociais habituais conforme aponta

Bourdieu Por muitas vezes os textos satildeo consequentes da atividade juriacutedica

profissional questotildees essas abordadas pela linguiacutestica juriacutedica nos estudos de

Damette e Cornu

Coadjuvante ao referencial bakhtiniano e dos outros acima citados

escolheu-se aprofundar o que Maingueneau esboccedilou nos estudos realizados

em textos de comunicaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao ethos e ao logos dos textos Para

tanto o fundamento teoacuterico escolhido foi o apresentado por Perelman em sua

Teoria da Argumentaccedilatildeo sobretudo em relaccedilatildeo aos fundamentos da formaccedilatildeo

do ethos Associados a esta perspectiva estatildeo os estudos de Plantin e Amossy

sobre a argumentaccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees sobre o universo juriacutedico o trabalho se

fundamenta a partir dos estudos de base sobre o Direito apresentados por

Kelsen Bobbio Perelman e Alves As origens da Declaraccedilatildeo dos Direitos do

Homem foram abordadas a partir das obras de Jellineck Del Vecchio e

Verdoodt Para precisar a evoluccedilatildeo e repercussatildeo desses direitos no Direito

internacional e nacional adotaram-se os estudos realizados por Casella

Dollinger Cretella e Wise

18

A metodologia adotada neste trabalho foi a da comparaccedilatildeo dos textos do

corpus com o objetivo de identificar as categorias presentes dentro de um

mesmo gecircnero o juriacutedico As semelhanccedilas e contrastes entre os textos que

compotildeem o corpus tambeacutem satildeo abordadas a fim de se diferenciar o aspecto

formal de cada um e proceder a uma caracterizaccedilatildeo do discurso juriacutedico

textual

A constituiccedilatildeo do corpus se fez a partir de uma lei bastante inovadora

em relaccedilatildeo agraves praacuteticas juriacutedicas e que tem na sua base mesmo que natildeo se

identifique ao primeiro olhar um dos princiacutepios estabelecidos pela Declaraccedilatildeo

dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo o Direito agrave justiccedila A ela foram

acrescidos outros textos de forma retroativa e natildeo necessariamente de lei

mas ligados agrave sua origem e que satildeo representativos dessa caracteriacutestica

uniacutevoca Conveacutem ressaltar que a anaacutelise seraacute realizada a partir do documento

mais antigo

Paralelamente observou-se que no sistema juriacutedico brasileiro a

Constituiccedilatildeo Federal vigente de 1988 autoriza e eacute a base para a publicaccedilatildeo da

lei 114192006 O artigo 5deg dessa constituiccedilatildeo por sua vez baseia-se no que

estabelece a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo (DDHC) de

1789 elaborada na Franccedila logo apoacutes a Revoluccedilatildeo francesa E a Declaraccedilatildeo

Universal dos Direitos do Homem (DDUH) de 1948 que o Brasil assina como

tratado internacional (em 1948) tambeacutem se inspira na DDHC francesa Esse eacute

o liame que seraacute apontado no conjunto principal de documentos que integram o

corpus

O primeiro texto escolhido o da lei 11419 de 19 de dezembro de 2006

conhecido como a lei de Informatizaccedilatildeo Judicial originou-se de uma proposta

de projeto de lei apresentada em 2001 e foi votado pela Cacircmara dos

Deputados e pelo Senado Durante o periacuteodo de sua votaccedilatildeo a proposta

recebeu criticas positivas e negativas mas finalmente obteve sua aprovaccedilatildeo

A ele foram acrescentados os outros textos de modo que integram o corpus os

seguintes textos

I- Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789 (DDHC)

19

II- Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 (DUDH) em liacutengua

francesa

III- Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF88) Preacircmbulo

e artigo 5ordm

IV- Lei 114192006 sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial (LIPJ)

Textos relativos agrave lei 114192006

a) Apresentaccedilatildeo (do projeto de lei)

b) Parecer e voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio de 2252002

c) Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei nordm 58282001 ndash Deputada Luiza Erundina

d) Nota Oficial de 19602

e) Notiacutecia de 6802

f) Carta Aberta IJURIS

Cumpre observar que a pesquisa dos documentos foi feita ao longo do

periacuteodo de estudos e que nem sempre o acesso dos websites permaneceu

vigente Isso explica que muitos tenham a data de 122012 data em que foram

revisados todos os acessos

20

CAPIacuteTULO 1 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO HISTOacuteRICA

Os textos apresentados no corpus deste trabalho tecircm uma importacircncia

muito grande natildeo soacute na Histoacuteria brasileira mas tambeacutem na Histoacuteria mundial

pois modificam os paradigmas do Direito Satildeo textos que afetam as realidades

francesa brasileira e internacional pois dirigem orientam e alteram o percurso

do paiacutes ou dos paiacuteses envolvidos O objetivo deste panorama eacute contextualizar

a anaacutelise que se faraacute deles posteriormente Seratildeo apresentadas de forma

abreviada as histoacuterias das origens dos seguintes documentos

I Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789 (DDHC)

II Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 (DUDH)

III Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF88)

IV Lei 114192006 sobre a Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial e seus

documentos anexos (LIPJ)

a Apresentaccedilatildeo

b Voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio

c Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282201 - Deputada Luiza

Erundina

d Nota Oficial de 1962002

e Noticia de 682002

f Carta Aberta IJURIS

I A Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

A declaraccedilatildeo eacute um documento que foi produzido logo apoacutes a queda da

Bastilha na Franccedila revolucionaacuteria e seu escopo inicial era o de assegurar que

21

natildeo seria mais possiacutevel que um governo absolutista tomasse o poder e que as

garantias individuais dos cidadatildeos franceses fossem respeitadas

Em 27 de julho de 1789 foram abertos os debates na Assembleia

Nacional para a elaboraccedilatildeo de tal documento Para a maioria dos deputados o

documento era necessaacuterio como preliminar de uma Constituiccedilatildeo e vaacuterios foram

os projetos que tentaram realizaacute-lo Nas sessotildees subsequentes a grande

questatildeo era se a declaraccedilatildeo de tais direitos natildeo traria de modo reverso um

abuso de seu exerciacutecio dado seu caraacuteter apaziguador dos acircnimos exaltados

pelas manifestaccedilotildees turbulentas da populaccedilatildeo

Visto o calor dos debates e uma falta de consenso em 18 de agosto a

Assembleia decidiu que um comitecirc analisaria os projetos apresentados por La

Fayette Sieyegraves e o ldquosexto gabineterdquo e foi a siacutentese do que foi apresentado

como a Declaraccedilatildeo final em 26 de agosto de 1789 que passou para a Histoacuteria

A imagem que a Assembleia projeta eacute a de um grupo preocupado com a

estabilidade e que procura um consenso para a soluccedilatildeo dos problemas

Ora o projeto apresentado por La Fayette era calcado na Declaraccedilatildeo de

Independecircncia dos Estados Unidos de 1776 La Fayette chegou ateacute mesmo a

ler na sessatildeo de 11 de julho conforme nos relata Jellinek (1902) o documento

estadunidense traduzido por Thomas Jefferson

A declaraccedilatildeo de Independecircncia dos Estados Unidos era por sua vez o

reflexo e a siacutentese de vaacuterias cartas de direitos de suas colocircnias antes da uniatildeo

federativa que as reuniu Seu conteuacutedo visava estabelecer um estado de direito

em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo e ao funcionamento administrativo do territoacuterio

garantindo liberdades que lhes eram fundamentais sobretudo a liberdade de

consciecircncia e a religiosa

Como bem mostrou Jellinek (1902) em sua obra os estadunidenses jaacute

tinham a vivecircncia praacutetica dos problemas de administraccedilatildeo e da vida

comunitaacuteria precisando apenas cristalizar no texto escrito a organizaccedilatildeo e a

preservaccedilatildeo de suas instituiccedilotildees e de seus indiviacuteduos

22

Neste ponto a Declaraccedilatildeo de Direitos francesa lhe eacute fundamentalmente

oposta Os franceses primeiro estabeleceram os direitos que julgavam

necessaacuterios para um bom funcionamento do novo governo que acabara de se

constituir para depois organizar suas instituiccedilotildees

II Declaraccedilatildeo universal dos Direitos do Homem de 1948 ndash em liacutengua

francesa

O segundo documento que integra esta anaacutelise a DUDH encontra-se

publicado nos sites da ONU1 na versatildeo em francecircs Foi produzido a fim de

assegurar que atrocidades tais como as acontecidas nas duas Grandes

Guerras Mundiais a de 1914 e a de 1939 natildeo pudessem mais ocorrer Seu

objetivo era proteger os direitos dos cidadatildeos como indiviacuteduos de

nacionalidades diferentes integrantes de uma comunidade universal-

internacional

Esse documento ldquoune feuille de route garantissant les droits de chaque

personne en tout lieu et en tout tempsrdquo teve seu texto final redigido por Reneacute

Cassin eminente jurista francecircs e foi apresentado em Genebra sendo

adotado pela resoluccedilatildeo 217 A (III) da ONU em 10 de dezembro de 1948

reunida em Paris com oito votos de abstenccedilatildeo e sem nenhuma contestaccedilatildeo

A DUDH inspirou pactos convenccedilotildees e tratados sobre os direitos do

homem Pode-se dizer que todos os programas da ONU hoje satildeo baseados em

seus princiacutepios Como primeiro documento do reconhecimento universal das

liberdades e dos direitos fundamentais inerentes de todo ser humano livre e

igual em direitos independentemente da nacionalidade residecircncia sexo etnia

cor religiatildeo liacutengua ou qualquer outra diferenccedila - seu objetivo eacute promover a

justiccedila ldquopour chacun drsquoentre nousrdquo

1 httpwwwunorgfrdocumentsudhrindexshtml Acesso em 22122012

23

Sua importacircncia se deve ao fato desse documento enunciar as

obrigaccedilotildees de cada Estado e seu dever de respeitar os princiacutepios ali

estabelecidos ateacute o ponto de se necessaacuterio natildeo intervir e natildeo restringir o

exerciacutecio dos direitos do homem2

Resultado de quase dois anos de trabalhos de uma comissatildeo formada

por 8 dos 18 membros participantes de diferentes horizontes poliacuteticos culturais

e religiosos teve como presidente dos trabalhos de discussatildeo Eleanor

Roosevelt viuacuteva do presidente estadunidense que assumiu esta tarefa apoacutes a

morte de seu marido

Os princiacutepios enunciados na declaraccedilatildeo (de universalidade

interdependecircncia indivisibilidade igualdade e natildeo-discriminaccedilatildeo) atribuiacuteram

aos 50 Estados signataacuterios em 1948 obrigaccedilotildees que exprimem de forma

concreta a universalidade e internacionalidade da DUDH o que se constata

pelo fato de 80 dos paiacuteses atualmente a adotarem assegurando direitos a

cada homem sob sua proteccedilatildeo por meio de legislaccedilatildeo que integre os tratados

aos seus sistemas juriacutedicos internos

Existe uma versatildeo desse texto no site da ONU em liacutengua portuguesa

Mas natildeo haacute referecircncia sobre a data de publicaccedilatildeo ou da traduccedilatildeo da

respectivas versatildeo Foram encontradas diferenccedilas no emprego de

determinados termos e por natildeo ser possiacutevel determinar seu motivo optou-se

pela versatildeo em francecircs que foi a primeira a ser publicada3 aleacutem do fato de ser

a liacutengua nativa do responsaacutevel por sua redaccedilatildeo Reneacute Cassin

2 Os documentos em liacutengua portuguesa vatildeo sempre usar o termo ldquodireitos humanosrdquo Entretanto preferiu-

se neste trabalho adotar a expressatildeo ldquodireitos do homemrdquo pois ao se usar um uacutenico adjetivo (humanos)

haacute em nosso entender uma alteraccedilatildeo de sentido a expressatildeo deixa de ser composta por coordenaccedilatildeo e

passa a ser apenas adjetivada O adjetivo usado associado ao substantivo eacute bem verdade integra-se a ele

mas por outro lado perde o impacto da justaposiccedilatildeo apaga a palavra homem que eacute o sujeito e o objeto

central dos direitos Cumpre notar que em liacutengua francesa o termo foi mantido (ldquodroits de lrsquohommerdquo) e

que se poderia ter optado por ldquodroits humainsrdquo o que natildeo ocorreu preferindo manter-se a expressatildeo tal

qual foi adotada em sua origem

3 Eacute possiacutevel que na traduccedilatildeo em liacutengua portuguesa o momento histoacuterico diferente tenha resultado em

escolhas diferenciadas em relaccedilatildeo aos termos empregados Mas a primeira versatildeo em liacutengua francesa vem

cotejada pela versatildeo em liacutengua inglesa e o emprego de vaacuterios termos e expressotildees tambeacutem natildeo eacute o

mesmo Tal problemaacutetica deveraacute ser tratada em estudos posteriores ao dessa tese

24

III Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Preacircmbulo

e artigo 5ordm

A fim de entender o extrato desse documento faz-se necessaacuterio situaacute-lo

historicamente Segundo Cretella (1994) as quatro Declaraccedilotildees

Revolucionaacuterias Francesas influem na Constituiccedilatildeo Poliacutetica do Impeacuterio do

Brasil de 1824 Satildeo elas

a) A de 17 artigos e mais conhecida a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem

e do Cidadatildeo pois seus artigos constam no Proacutelogo da Constituiccedilatildeo de

1791 e na de 1958 tambeacutem Foi votada pela Assembleia Constituinte

francesa em 27 de agosto de 1789

b) A Declaraccedilatildeo girondina de 1793 votada pela Convenccedilatildeo

c) A Declaraccedilatildeo Montanhesa de 1793 que deveria preceder a constituiccedilatildeo

mas que acabou natildeo sendo votada

d) A Declaraccedilatildeo do Ano III que precede a Constituiccedilatildeo de 5 Frutidor (do

mesmo ano) votada tambeacutem pela Convenccedilatildeo

No Brasil os cem constituintes da Assembleia Constituinte de 1823

convocada em 19 de junho de 1822 pelo Priacutencipe Regente antes de

proclamada a Independecircncia do Brasil receberam grande influencia de Antonio

Carlos de Andrada e Silva4 nomeado seu relator Quatro meses depois por

desentendimentos entre os brasileiros e portugueses adotivos infelizmente a

Assembleia foi dissolvida por sua Alteza Real que criou em seguida um

Conselho de Estado para elaborar um novo projeto de constituiccedilatildeo

4 ldquoA Constituiccedilatildeo do Impeacuterio do Brasil de 1824 teve a sua elaboraccedilatildeo encomendada pelo Imperador Dom

Pedro I Primeira constituiccedilatildeo brasileira foi marcada pela influecircncia das constituiccedilotildees europeias A

Assembleia Nacional Constituinte reunida para sua criaccedilatildeo era composta por um total de 90 membros

eleitos na qual destacavam-se os proprietaacuterios rurais bachareacuteis em leis aleacutem de militares meacutedicos e

funcionaacuterios puacuteblicos O anteprojeto constitucional foi elaborado por uma comissatildeo composta por seis

deputados sob a lideranccedila de Antocircnio Carlos de Andrada e Silva irmatildeo de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e

Silva O anteprojeto foi marcado pela manutenccedilatildeo do sistema escravista e pela divisatildeo dos trecircs poderes

executivo legislativo e judiciaacuterio A primeira carta constitucional do Brasil foi outorgada jaacute que D Pedro

I natildeo aceitando ter poderes limitados dissolveu a Assembleia Constituinterdquo In

httpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara8528 Acesso em 22122012

25

Esta constituiccedilatildeo foi considerada por alguns comentaristas como a mais

bela e perfeita do seacuteculo XIX Foi influenciada pelo jurista pensador e filoacutesofo

positivista Benjamin Constant Ela assegura vaacuterios dos direitos que ainda

ecoam na Constituiccedilatildeo de 1988 jaacute que tambeacutem a plena liberdade de

consciecircncia crenccedila e culto coibiu a perseguiccedilatildeo religiosa e aboliu os accediloites a

tortura e demais penas crueacuteis

O excerto utilizado neste trabalho faz parte da oitava constituiccedilatildeo

brasileira a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 a qual

vigora ateacute hoje Apoacutes um periacuteodo em que houve uma sequecircncia de Atos

Institucionais e uma disposiccedilatildeo de se restaurar um estado democraacutetico o

presidente Joatildeo Baptista Figueiredo eleito indiretamente aprova algumas

Emendas Constitucionais entre elas a EC no15 restabelecendo a eleiccedilatildeo

direta para Governadores dos Estados e Senadores Eleito o presidente

seguinte Tancredo Neves em 1984 devido ao seu falecimento quem toma

posse eacute seu vice Joseacute Sarney que daacute iniacutecio agrave Nova Repuacuteblica e convoca

atraveacutes de novas Emendas Constitucionais

ldquoos Membros da Cacircmara dos Deputados e do Senado Federal a

reunirem-se unicameralmente no dia 1ordm De fevereiro de 1987

na sede do Congresso Nacional devendo o Presidente do

Supremo Tribunal Federal instalar a Assembleia e dirigir a

sessatildeo de eleiccedilatildeo de seu Presidente sendo afinal a Constituiccedilatildeo

promulgada no fim dos trabalhos depois da aprovaccedilatildeo de seu

Texto em dois turnos de discussatildeo e votaccedilatildeo pela maioria

absoluta dos membros colegiadosrdquo 5

A Assembleia Nacional Constituinte cuja missatildeo especiacutefica era a de

elaborar a nova constituiccedilatildeo foi formada apoacutes a eleiccedilatildeo de Deputados e

Senadores foi criada uma Comissatildeo de Estudos Constitucionais um grupo de

ldquonotaacuteveisrdquo nomes conhecidos e representativos da sociedade brasileira que

deveriam se reunir para debater e apresentar sugestotildees Instalada em 20 de

agosto de forma solene a Comissatildeo deu inicio aos trabalhos Entretanto tal

5 Arts 1ordm 2ordm e 3ordm Da EC no 12 aspas do autor

26

qual ocorrera na primeira constituiccedilatildeo brasileira a imperial natildeo se chegou a

um consenso com artigos de impossiacutevel aceitaccedilatildeo

Foram entatildeo convocadas eleiccedilotildees e por fim tal qual determinava a EC

no 2685 os 559 membros eleitos das duas casas se reuniram

unicameralmente em 1ordm de fevereiro de 1987 na sede do Congresso Nacional

sob a direccedilatildeo do Presidente do Supremo Federal Professor e Ministro Joseacute

Carlos Moreira Alves O Senador Humberto Lucena foi eleito Presidente do

Senado e teve o Deputado Ulysses Guimaratildees como Presidente da

Constituinte no seu primeiro dia Finalmente aos 5 de outubro de 1988 o Brasil

teve promulgada a sua Oitava Constituiccedilatildeo

Este terceiro documento foi produzido logo apoacutes o fim do periacuteodo de

governo militar Seu escopo aleacutem de organizar o Estado e as relaccedilotildees entre os

indiviacuteduos que dele fazem parte era sobretudo o de resguardar as instituiccedilotildees

e o cidadatildeo brasileiros Dessa forma seus artigos tecircm como objetivo principal

natildeo permitir mais a instalaccedilatildeo no poder de um governo de forccedila e autoritaacuterio e

assegurar o respeito das garantias individuais do cidadatildeo tais como sua

liberdade e a igualdade entre os indiviacuteduos

Os trechos selecionados satildeo o Preacircmbulo o caput do artigo 5ordm e seu

inciso LXVVIII O Preacircmbulo texto que antecede o texto propriamente dito da

Constituiccedilatildeo e que auxilia o inteacuterprete a entender melhor o pensamento do

constituinte (mens legislatoris) funciona como um acessoacuterio do texto principal

pois como deve ser afirma princiacutepios Eacute uma siacutentese do pensamento

dominante conforme ensina Cavalcanti6 mostrando seu conteuacutedo ideoloacutegico e

seus propoacutesitos7

6CAVALCANTI Temiacutestocles Brandatildeo A Constituiccedilatildeo Federal comentada 3ordf Ed 1956 V I p14

apud CRETELLA 1994

7 Cretella analisa termo a termo do Preacircmbulo ao longo de 23 paacuteginas ressaltando sua categoria

gramatical e seu sentido dentro do texto

27

Conforme expotildee Cretella (1994) Mangabeira poliacutetico brasileiro explica

que a igualdade consiste ldquoem considerar desigualmente condiccedilotildees desiguais

de modo a abrandar tanto quanto possiacutevel pelo direito as diferenccedilas sociais e

por ele promover a harmonia social o equiliacutebrio dos interesses e da sorte das

classes A concepccedilatildeo individualista do direito desaparece ante a sua

socializaccedilatildeo como instrumento de justiccedila social solidariedade humana e

felicidade coletiva8rdquo

Cretella (1994) trata especialmente do excerto ldquoTODOS satildeo iguaisrdquo

explicando que este todos se refere a ldquoldquotodos os seres humanosrdquo ldquotodos os

homens e mulheresrdquo ldquotodos os brasileirosrdquo em peacute de igualdade satildeo iguais

ldquoperante a leirdquo

ldquoPor quecircPorque os homens nascem livres e iguais em direitos ldquoAs

distinccedilotildees sociais natildeo podem ser baseadas a natildeo ser na utilidade comumrdquo

(art 1ordm da Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo de 3 de setembro

de 1791) 9rdquo

As distinccedilotildees porventura existentes seriam as de ldquosexordquo ldquoraccedilardquo ldquocorrdquo

ldquoreligiatildeordquo ou ldquocredo religiosordquo ldquotrabalhordquo ldquoconvicccedilotildees poliacuteticasrdquo

ldquofilosoacuteficasrdquo rdquoorigemrdquo ldquoidaderdquo como se encontram enumeradas no art 3ordm

III que a final acrescenta ldquooutras formas de discriminaccedilatildeordquo que equivale a

ldquosem distinccedilatildeo de qualquer naturezardquo Precedendo a ldquofraternidaderdquo a

Revoluccedilatildeo Francesa colocou a ldquoigualdaderdquo lado a lado com a ldquoliberdaderdquo

Com efeito natildeo soacute a monarquia francesa como as monarquias de todo o

mundo inclusive a brasileira oriunda da lusitana eram baseadas em classes

sociais bem estratificadas resultando daiacute tratamento juriacutedico diverso

desigual prevalecendo os privileacutegios e prerrogativas que foi desfeito pelas

Repuacuteblicas responsaacuteveis pelos principio de isonomia como prerrogativa do

homem livre e igual perante a lei ldquoO principio de isonomia oferece na sua

aplicaccedilatildeo agrave vida inuacutemeras e seacuterias dificuldades De fato conduziria a

inominaacuteveis injusticcedilas se importasse em tratamento igual para os que se

acham em desigualdade de situaccedilotildees A injusticcedila que reclama tratamento

igual para os iguais pressupotildee tratamento desigual para os desiguais Ora a

necessidade de desigualar os homens em certos momentos parar estabelecer

8 MANGABEIRA Joatildeo Em torno da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1934 p

261 apud CRETELLA 1994

9 A data apresentada por Cretella difere da data que consta no site do governo francecircs

httpwwwtextesjusticegouvfrtextes-fondamentaux-10086droits-de-lhomme-et-libertes-

fondamentales-10087declaration-des-droits-de-lhomme-et-du-citoyen-de-1789-10116html Acesso em

22122012

28

no plano do fundamental a sua igualdade cria problemas delicados que nem

sempre a razatildeo humana resolve adequadamenterdquo10

Cretella tambeacutem discorre sobre o direito agrave igualdade tratando deste item

sob a oacutetica daquele que pretende ingressar nos quadros de agentes do Estado

ldquoeacute a aplicaccedilatildeo no plano do serviccedilo publico dos princiacutepios estabelecidos pela

Declaraccedilatildeo dos direitos do homem para todos os cidadatildeos como pretendendo

participar das atividades exercidas pelo Estado como tambeacutem regulando a

situaccedilatildeo do usuaacuterio beneficiaacuterio do serviccedilo publicordquo

Entretanto termina dizendo o seguinte

ldquoO principio da igualdade sob a forma de proposiccedilatildeo mandamental pode ser assim

expresso ldquoOs administrados que preenchem os requisitos prescritos nas leis e

regulamentos tem o direito subjetivo publico de exigir o mesmo tratamento por parte do

Estadordquordquo

O inciso LXXVIII foi acrescido pela Emenda Constitucional no 45 de 9 de

dezembro de 2004 Trata como ensina Alexandre de Moraes (2011)

ldquoA EC no 4504 (Reforma do Judiciaacuterio) assegurou a todos no acircmbito

judicial e administrativo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que

garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeordquo

()

ldquoOs processos administrativos e judiciais devem garantir todos os direitos agraves

partes sem contudo esquecer a necessidade de desburocratizaccedilatildeo de seus

procedimentos e na busca de qualidade e maacutexima eficaacutecia de suas decisotildees

Na tentativa de alcanccedilar esses objetivos a EC no 4504 trouxe diversos

mecanismos de celeridade transparecircncia e controle de qualidade da atividade

jurisdicionalrdquo

()

ldquoO sistema processual judiciaacuterio necessita de alteraccedilotildees infraconstitucionais

que privilegiem a soluccedilatildeo dos conflitos a distribuiccedilatildeo de Justiccedila e maior

seguranccedila juriacutedica afastando-se tecnicismos exageradosrdquo

10

FERREIRA FILHO Manoel Gonccedilalves Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira Volume III 6ordf ed

Satildeo Paulo Saraiva 1986 p581 apud CRETELLA 1994

29

IV Lei 114192006 sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial

A lei 114192006 eacute uma lei federal que regula as praacuteticas relativas agraves

novas tecnologias ligadas agrave informaacutetica e que podem ser utilizadas no Poder

Judiciaacuterio O objetivo da lei eacute o de acelerar os procedimentos judiciais de

regular ao mesmo tempo em que torna homogecircnea e permite a modernizaccedilatildeo

das praacuteticas jaacute existentes no Poder Judiciaacuterio

O texto da Lei 114192006 vem assinado pelo Presidente da Repuacuteblica e

pelo Ministro da Justiccedila ambos representantes do Poder Executivo O Poder

Executivo conforme define o artigo 76 CF88 eacute exercido pelo Presidente da

Repuacuteblica e seus Ministros de Estado O presidente da Repuacuteblica tem

competecircncias privativas definidas pelo artigo 84 entre elas a de iniciar o

processo legislativo sancionar promulgar e fazer publicar leis e expedir

decretos e regulamentos para que as leis possam ser promulgadas aleacutem de

vetar projetos de lei de forma parcial ou total11

O Poder Executivo dito federal age diretamente atraveacutes de seus

Ministeacuterios na execuccedilatildeo de programas ou prestaccedilatildeo de serviccedilo puacuteblico ou

indiretamente atraveacutes de empresas puacuteblicas Tambeacutem exerce o controle do

Poder Judiciaacuterio pois nomeia os ministros dos diferentes Tribunais Superiores e

o controle do Legislativo pois participa da elaboraccedilatildeo de leis sancionando ou

vetando projetos

O Ministeacuterio da Justiccedila dentre os diversos Ministeacuterios e respectivas

11

Art 84 Compete privativamente ao Presidente da Repuacuteblica

I - nomear e exonerar os Ministros de Estado

II - exercer com o auxiacutelio dos Ministros de Estado a direccedilatildeo superior da administraccedilatildeo federal

III - iniciar o processo legislativo na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo

IV - sancionar promulgar e fazer publicar as leis bem como expedir decretos e regulamentos para sua

fiel execuccedilatildeo

V - vetar projetos de lei total ou parcialmente

30

Autarquias que compotildeem o Governo Federal eacute o mais antigo criado em 3 de

julho de 1822 pelo Priacutencipe Regente D Pedro com nome de Secretaria de

Estado de Negoacutecios da Justiccedila Seus ministros auxiliam o Presidente da

Repuacuteblica no exerciacutecio do Poder Executivo

Aos Ministros de Estado de acordo com o artigo 87 cabe entre outras

a funccedilatildeo de referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da

Repuacuteblica exercer a orientaccedilatildeo coordenaccedilatildeo e supervisatildeo dos oacutergatildeos e

entidades da administraccedilatildeo federal de sua aacuterea de administraccedilatildeo e praticar atos

que lhe forem atribuiacutedos pelo Presidente da Repuacuteblica

Textos de IVa ateacute IVf

Os textos seguintes de IVa ateacute IVf integrantes deste trabalho seratildeo

utilizados como fonte para que se possa contextualizar e justificar o texto da Lei

114192006 da informatizaccedilatildeo judicial e somente alguns deles seratildeo

analisados Encontram-se numa cartilha que foi elaborada pela Associaccedilatildeo dos

Juiacutezes Federais do Brasil e que foi distribuiacuteda aos parlamentares por ocasiatildeo da

votaccedilatildeo final em que a mesma lei foi aprovada O nome dos textos foi mantido

tal qual figuravam na cartilha

IVa Apresentaccedilatildeo (do projeto de lei)

Este texto eacute apresentado pela AJUFE na pessoa de seu presidente o

juiz federal Paulo Seacutergio Domingues Segundo seu Estatuto esta Associaccedilatildeo eacute

uma entidade de acircmbito nacional que congrega os magistrados da Justiccedila

Federal tendo sido criada como sociedade civil sem fins lucrativos natildeo sendo

filiada a quaisquer outras entidades nacionais de representaccedilatildeo de juiacutezes

31

A AJUFE tem entre outros objetivos relativos agrave defesa dos interesses

gerais e regionais da magistratura brasileira visando colaborar com o

fortalecimento do Poder Judiciaacuterio e de seus integrantes bem como o

aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito observando os direitos

humanos

Tambeacutem estaacute entre seus objetivos promover reuniotildees e simpoacutesios para

o estudo e debate de questotildees institucionais e de interesse funcional dos

magistrados aleacutem de publicar ou patrocinar a publicaccedilatildeo de trabalhos e obras

de interesse dos magistrados mantendo para tanto revista de divulgaccedilatildeo de

trabalhos de cunho cientiacutefico na aacuterea juriacutedica

O juiz que preside a AJUFE fala como pessoa mas sobretudo como

representante de um grupo de juiacutezes associados que tecircm os mesmos objetivos

constituiacutedos

IVb Voto com o parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio

(2252002)

Apresentado o texto do anteprojeto agrave Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila da Cacircmara dos Deputados o Deputado Relator Joseacute Roberto

Batochio deve emitir um parecer e dar seu voto em relaccedilatildeo ao anteprojeto O

Deputado assim como o juiz presidente da AJUFE tambeacutem exerce a funccedilatildeo

de representante conforme consta na proacutepria paacutegina de internet12

Uma de suas principais atividades eacute assim a elaboraccedilatildeo de leis e a

fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira de orccedilamento e patrimocircnio da Uniatildeo e dos

oacutergatildeos da Administraccedilatildeo direta e indireta

12

ldquoO Poder Legislativo cumpre papel imprescindiacutevel perante a sociedade do Paiacutes visto que desempenha

trecircs funccedilotildees primordiais para a consolidaccedilatildeo da democracia representar o povo brasileiro legislar sobre

os assuntos de interesse nacional e fiscalizar a aplicaccedilatildeo dos recursos puacuteblicos

Nesse contexto a Cacircmara dos Deputados autecircntica representante do povo brasileiro exerce atividades

que viabilizam a realizaccedilatildeo dos anseios da populaccedilatildeo mediante discussatildeo e aprovaccedilatildeo de propostas

referentes agraves aacutereas econocircmicas e sociais como educaccedilatildeo sauacutede transporte habitaccedilatildeo entre outrasrdquo

32

IVc Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282201 - Deputada Luiza

Erundina

O texto que acompanha o texto do Projeto de Lei 58282001 eacute datado de

1962002 Neste documento o nome da Deputada Luiza Erundina figura na

justificativa que acompanha o projeto que seraacute transformado em lei

IVd Nota oficial

A nota oficial de 1962002 uma manifestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos

Juiacutezes Federais do Brasil (AJUFE) teve como propoacutesito responder a uma criacutetica

efetuada pela Ordem dos Advogados do Brasil de Satildeo Paulo A AJUFE foi a

primeira entidade a apresentar uma proposta de lei (a lei de informatizaccedilatildeo do

processo judicial) agrave Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa da Cacircmara dos

Deputados a partir da mudanccedila constitucional implantada em 2001

A proposta de lei foi aceita pela Cacircmara dos Deputados e transformada

em projeto de lei Durante sua tramitaccedilatildeo para discussatildeo do projeto vaacuterias

foram as manifestaccedilotildees a seu favor e apenas uma - a da OABSP criticava a

proposta A Nota Oficial eacute a resposta da AJUFE a essa criacutetica

IVe Notiacutecia de 682002

Esta notiacutecia publicada em 682002 pela Revista Consultor Juriacutedico eacute

um boletim eletrocircnico na Internet para consulta e informaccedilatildeo do puacuteblico

interessado em geral mas tambeacutem do puacuteblico do universo juriacutedico

especializado

Conforme consta em seu site a revista eletrocircnica13 criada em 1997

13

httpwwwconjurcombraquem_somos Acesso em 20112012

33

eacute uma publicaccedilatildeo independente sobre direito e justiccedila que se propotildee a ser

fonte de informaccedilatildeo e pesquisa no trabalho no estudo e na compreensatildeo de

seus direitos

Seu banco de dados dispotildee de cerca de 70000 arquivos que satildeo

acessados por quase um milhatildeo de leitores a cada mecircs De seu auditoacuterio-leitor

fazem parte advogados juiacutezes estudantes jornalistas professores integrantes

do Ministeacuterio Puacuteblico empresaacuterios bem como pessoas do puacuteblico em geral

Editada por jornalistas conta com colaboradores do mundo juriacutedico

informando seu auditoacuterio sobre os principais acontecimentos que interferem na

vida do cidadatildeo

IVf Carta Aberta IJURIS

A Carta Aberta do IJURIS vem assinada por Hugo Ceacutesar Hoeschi e

Tacircnia Cristina DrsquoAgostini Bueno pesquisadores do Instituto que foi fundado

com a denominaccedilatildeo de Instituto de Inteligecircncia Juriacutedica e Sistemas ndash IJURIS a

fim de constituir uma sociedade civil sem fins lucrativos Seu objetivo eacute realizar

pesquisas avanccediladas e desenvolvimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos Eacute

credenciado como Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico -

OSCIP pela Secretaria Nacional de Justiccedila do Ministeacuterio da Justiccedila

Em fevereiro de 2008 realizou modificaccedilatildeo em seu nome social e

passou a chamar-se Instituto de Governo Eletrocircnico Inteligecircncias e Sistemas ndash

i3G evidenciando a missatildeo do Instituto (3G significa Inteligecircncias para

Governo isto eacute Inteligecircncia Artificial Inteligecircncia de Governo e Inteligecircncia

Social) a fim de deixar transparente a sinergia de conhecimentos cujo objetivo

eacute o fortalecimento da cidadania

O Instituto tambeacutem manteacutem convecircnios de Cooperaccedilatildeo Teacutecnica e

Cientiacutefica com o Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia e Gestatildeo do

Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina ndash EGCUFSC e de

Cooperaccedilatildeo Internacional para Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico com a Universidade Politeacutecnica de Madrid e a Universidad de

FASTA da Argentina ambos firmados em 2008

34

Os documentos analisados no capiacutetulo 3 desse trabalho satildeo os de

nuacutemeros I a IV e os de nuacutemeros IVb IVc e IVd Os outros documentos

interessam pelo seu contexto e teor que satildeo relevantes para esclarecer o

liame entre a Liacutengua a cultura e o Direito

35

CAPITULO 2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 Textos juriacutedicos e a Teoria da Enunciaccedilatildeo enunciado enunciador e

contexto da enunciaccedilatildeo

Antes de examinar como a Teoria da Enunciaccedilatildeo se aplica aos textos

juriacutedicos eacute importante definir o que se entende por discurso na perspectiva da

Anaacutelise do Discurso A definiccedilatildeo proposta por Maingueneau (2002) e que eacute

consenso apresenta o discurso como uma organizaccedilatildeo situada aleacutem da frase

pois ele ldquomobiliza estruturas de uma outra ordem que as da fraserdquo e isto

permite verificar a quais regras de organizaccedilatildeo ele se submeteu

Segundo este autor o discurso eacute orientado visa a um objetivo e se

desenvolve de forma linear no tempo sendo regido por determinadas

condiccedilotildees que podem ser alteradas caso seja produzido por um ou mais

enunciadores ou aborde diferentes formas de accedilatildeo do seu enunciador

(prometer afirmar estabelecer por exemplo)

Isto significa que o discurso eacute contextualizado ou seja soacute tem sentido

em um determinado contexto Aleacutem disso um mesmo discurso produzido em

contextos diferentes deveria implicar em consequecircncias diferentes como se

veraacute na anaacutelise da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (DUDH)14

O discurso ldquosoacute eacute discurso enquanto remete a um sujeito um EU que se

coloca como fonte de referecircncias pessoais temporais espaciaisrdquo e ldquoao mesmo

tempo indica que atitude estaacute tomando em relaccedilatildeo agravequilo que diz e em relaccedilatildeo

ao seu co-enunciadorrdquo

14

A DUDH enquanto documento internacional deve ser entendida da mesma forma por todos os paises

que a assinaram

36

Ainda considera Maingueneau (2002) que o discurso eacute regido por

normas pois ldquocada ato de linguagem implica normas particularesrdquo de modo que

uma pergunta por exemplo pressupotildee a existecircncia de uma resposta mesmo

que ela natildeo se manifeste Por fim o autor situa a existecircncia do discurso em um

ldquouniverso de outros discursosrdquo pois um enunciado se relaciona a outros como

seraacute examinado nos itens referentes ao dialogismo e agrave polifonia

Sob a perspectiva que expotildee Maingueneau eacute possiacutevel entatildeo se falar

em discurso juriacutedico pois tudo o que se refere a ele eacute caracteriacutestico de um

contexto de produccedilatildeo particular sendo orientado e regido por normas

especificas e ainda que aparentemente uma lei natildeo possua um enunciador

expliacutecito este estaacute presente no ato da enunciaccedilatildeo O discurso juriacutedico se serve

de uma linguagem especifica proacutepria ao Direito a fim de enunciar de maneira

particular e que interessa ao universo juriacutedico naquilo que pretende como

explica Cornu (2005210)

Dans le discours juridique comme dans tout discours lrsquoinstrument de la

communication demeure la langue naturelle Mais ici la langue porteuse

incorpore um langage speacuteciliseacute Elle utilise (non pas neacutecessairement on lrsquoa

vu mais fort souvent) des termes et des tournures speacutecifiquement

juridiques15

Cornu (2005) adverte que atribuir um caraacuteter juriacutedico ao discurso natildeo

pode se limitar a uma simples constataccedilatildeo do uso de um determinado

vocabulaacuterio teacutecnico do estilo empregado no discurso (arcaiacutesmo nas

construccedilotildees por exemplo) de um pertencimento a uma classe profissional ou

da praacutetica de atividades ligadas ao universo juriacutedico

Segundo o autor esses elementos conferem caracteriacutesticas e

especificidade ao discurso mas a elas devem-se acrescentar o fato de que o

discurso juriacutedico propriamente dito eacute formado ldquoporque ele estabelece ou diz o

direitordquo tal como por exemplo uma lei Cornu considera que tambeacutem integra o

discurso juriacutedico tudo o que ldquocontribui para a realizaccedilatildeo do direitordquo tal como um

laudo pericial 15

ldquoNo discurso juridico como em todo discurso o instrumento da comunicaccedilatildeo permanece a liacutengua

natural Mas aqui a liacutengua que traz (a regra juridica) incorpora uma linguagem especializada Ela utiliza

(nao que se tenha necessariamente observado mas muito frequentemente) termos e construccediloes

especificamente juridicos raquo (Trad Nossa)

37

Bakhtin (1984) trata da esfera no discurso explicando que o contexto

que envolve a produccedilatildeo de um determinado gecircnero eacute o que determina sua

orientaccedilatildeo ideoloacutegica e portanto seu sentido Isto quer dizer que em se

tratando do discurso juriacutedico o uso de um vocabulaacuterio especiacutefico (juriacutedico) em

certo lugar e momento histoacuterico ou seja em uma determinada esfera produz

um discurso peculiar

Cornu natildeo contempla entretanto outros discursos como integrantes do

juriacutedico e que por pertencerem a esse universo natildeo podem ser

desconsiderados Fazem parte assim do discurso juriacutedico igualmente os

textos teoacutericos os artigos acadecircmicos os textos jornaliacutesticos que vulgarizam o

conteuacutedo juriacutedico e ateacute mesmo o projeto de lei que antecede a lei Todos

esses textos tratam do Direito como quer Cornu e devem portanto ser

integrados ao do discurso juriacutedico resguardadas algumas peculiaridades pois

pertencem a um desdobramento de gecircnero

De acordo com a Teoria da enunciaccedilatildeo e de acordo com

Maingueneau16 a enunciaccedilatildeo eacute um termo da filosofia que foi pelo uso

sistemaacutetico ganhando novos contornos e que constitui o que hoje se pode

chamar a ponte entre a liacutengua e o mundo na medida em que os fatos estatildeo

representados em um enunciado

A concepccedilatildeo de enunciaccedilatildeo se encaminha para uma concepccedilatildeo

discursiva ou para uma concepccedilatildeo linguiacutestica dependendo da tocircnica dada a

determinados eventos De acordo com Charaudeau (1992) a concepccedilatildeo

linguiacutestica eacute aquela que toma a enunciaccedilatildeo como sendo o conjunto de

procedimentos laquo qui explicitent les diffeacuterents types de relations de lrsquoacte

eacutenonciatif agrave travers les processus de Modalisation de lrsquoeacutenonceacute raquo e que

permitem laquoexpliciter ce que sont les positions du sujet parlant par rapport agrave son

interlocuteur raquo17 A concepccedilatildeo discursiva eacute aquela cujo enfoque estaacute voltado

16

CHARAUDEAU Patrick MAINGUENEAU Dominique Dictionnaire drsquoAnalyse du Discours Paris

Seuil 2002

17 ldquoque explicitam os diferentes tipos de relaccedilotildees do ato enunciativo pelo processo de Modalizaccedilatildeo do

enunciadordquo e que permitem ldquoexplicitar o que satildeo os posicionamentos do sujeito falante em relaccedilatildeo a seu

interlocutorrdquo (Trad Nossa)

38

para os procedimentos ldquoqui contribuent agrave mettre en scegravene les modes

drsquoorganisation du discoursrdquo18 tais como o narrativo ou argumentativo

A enunciaccedilatildeo trata do discurso considerando um niacutevel local e um niacutevel

global niacuteveis esses que interagem constantemente Segundo Charaudeau

(2002) o niacutevel local permite caracterizar os gecircneros do discurso pelas marcas

encontradas nas reformulaccedilotildees ou nas modalidades por exemplo O niacutevel

global trata de questotildees que abordam o funcionamento individual da liacutengua e

seu desenvolvimento dentro do discurso como a cena da enunciaccedilatildeo a

situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo ou os gecircneros do discurso

Arriveacute Gadet e Galmiche (1986) propotildeem como definiccedilatildeo de

enunciaccedilatildeo o ato pelo qual um locutor faz funcionar a liacutengua em uma

determinada situaccedilatildeo Neste ato entram em accedilatildeo natildeo apenas o locutor mas

tambeacutem o alocutaacuterio que recebe o enunciado

Segundo Maingueneau (200256-57) o enunciado eacute ldquoa marca verbal do

acontecimento do que eacute a enunciaccedilatildeordquo ou melhor seu resultado ou produto

uma ldquosequecircncia verbal que forma uma unidade de comunicaccedilatildeo completa no

acircmbito de um determinado gecircnero de discursordquo19

No presente trabalho seraacute tomada no seu sentido amplo a concepccedilatildeo

proposta por Maingueneau sendo o locutor denominado enunciador Jaacute o

alocutaacuterio seraacute tratado como enunciataacuterio pois o corpus desse trabalho eacute

dotado de textos escritos de origem juriacutedica Escolheu-se entatildeo usar

enunciador e enunciataacuterio pois a relaccedilatildeo entre ambos eacute de polo ativo

(enunciador) e polo passivo (enunciataacuterio) Isso se justifica porque um texto

escrito eacute produzido antes pelo enunciador e o enunciataacuterio soacute entra em contato

com o texto produzido num momento posterior Ainda eacute necessaacuterio observar

que se o texto for uma lei ou um tratado por exemplo os enunciadores

submetem as respectivas sociedades agraves disposiccedilotildees por eles estabelecidas

18

ldquoque contribuem para por em cena os modos de organizaccedilatildeo do discursordquo (Trad Nossa)

19 Grifo do autor

39

O interesse especial pelo enunciador neste trabalho deve-se sobretudo

ao fato de se determinar nos textos estudados ou melhor nos enunciados

tomados como parte do corpus quem eacute de fato o enunciador como ele se

constitui como sujeito quais operaccedilotildees de reformulaccedilatildeo satildeo por ele

promovidas na medida em que o discurso eacute alterado e refeito Este processo

revela como o enunciador se apresenta como ele promove seu proacuteprio

apagamento se necessaacuterio a fim de alcanccedilar sua pretensatildeo

Tratar do enunciado implica portanto tratar do enunciador e da

subjetividade considerando diversos status que ele pode adquirir enquanto

sujeito que organiza o enunciado ou o dizer um sujeito que exprime seu ponto

de vista e que se coloca diante do outro (enunciataacuterio) numa troca linguiacutestica O

sujeito nessa perspectiva se constroacutei enquanto produz seu enunciado e de

acordo com um objetivo que tambeacutem pode ser alterado durante sua produccedilatildeo

Uma anaacutelise mais aprofundada do enunciador em relaccedilatildeo ao seu ethos seraacute

tratada mais adiante

A linguagem atividade que se realiza entre dois protagonistas

(enunciador e enunciataacuterio) revela segundo Maingueneau (2002) natildeo somente

a posiccedilatildeo do primeiro em relaccedilatildeo ao segundo mas tambeacutem a proacutepria situaccedilatildeo

de enunciaccedilatildeo a situaccedilatildeo do enunciado a sua relaccedilatildeo com o mundo e com os

enunciados anteriores ou posteriores a sua inscriccedilatildeo numa determinada

cultura trazendo agrave tona de certa forma aquilo que jaacute foi dito anteriormente

mas que natildeo eacute mais o mesmo porque se renova ao mesmo tempo em que se

reformula

Como ato individual de utilizaccedilatildeo da liacutengua a enunciaccedilatildeo eacute um evento

uacutenico resultado do ato de um enunciador e de um enunciataacuterio especiacuteficos

numa determinada situaccedilatildeo e estes mesmo estando ocultos no enunciado

tornam-no possiacutevel Conforme esclarece Arriveacute (1986) essa troca linguiacutestica

coloca em funcionamento a liacutengua em uma situaccedilatildeo

Na condiccedilatildeo de evento situado no tempo e no espaccedilo o fato de se

produzir um enunciado denota a existecircncia de um conteuacutedo estaacutevel mesmo

que seja possiacutevel uma multiplicidade de eventos enunciativos anteriores para a

40

realizaccedilatildeo do enunciado Os rastros deixados pelo enunciado nos atos de sua

produccedilatildeo constroem assim o sentido dado pelos protagonistas numa dada

situaccedilatildeo

No discurso juriacutedico o enunciado eacute o portador de algumas caracteriacutesticas

importantes deste gecircnero especifico Aleacutem de um vocabulaacuterio teacutecnico existe

uma composiccedilatildeo que eacute formular para os textos escritos sendo que o

enunciado deve prescrever regras de conduta no caso de uma lei ou um

tratado O enunciador desses textos natildeo eacute uma pessoa que se possa

determinar pois em geral o enunciado eacute o resultado da decisatildeo de uma

assembleia ou seja de um grupo de pessoas que se reuacutenem com o objetivo

de elaborar tal texto em um determinado momento histoacuterico e para um

determinado fim O texto de lei ou de um tratado eacute assim o resultado da

expressatildeo da vontade de um grupo e mesmo que venha assinado por um

sujeito este eacute apenas um representante a quem foi atribuiacuteda tal funccedilatildeo Tal

contexto de produccedilatildeo revela a forccedila ilocutoacuteria do enunciado ou seja a

intenccedilatildeo de quem o produz

As circunstacircncias de enunciaccedilatildeo satildeo representadas por elementos que

integram o sentido do enunciado Esses elementos se reportam agraves vezes a

outros elementos os referentes Esse mecanismo revela tambeacutem as intenccedilotildees

do enunciado dando sentido ao texto o que justifica que sejam estudados

mais adiante no item que trata das reformulaccedilotildees e nas anaacutelises dos textos

22 O dialogismo e a polifonia nos textos juriacutedicos

Apoacutes terem sido examinados o enunciado e alguns aspectos relevantes

em relaccedilatildeo ao enunciador e ao enunciataacuterio esta parte do capitulo pretende

analisar as relaccedilotildees entre os diferentes textos a partir das propostas teoacutericas

de Bakhtin que tratam do dialogismo e da polifonia

41

Bakhtin (2003261) trata da produccedilatildeo da linguagem oral e escrita como

parte da atividade humana Dentro dessas atividades que satildeo de diferentes

domiacutenios ele situa o enunciado em relaccedilatildeo a sua utilizaccedilatildeo

ldquoenunciados refletem as condiccedilotildees especiacuteficas e as finalidades de cada

referido campo natildeo soacute por seu conteuacutedo (temaacutetico) e pelo estilo da

linguagem ou seja pela seleccedilatildeo dos recursos lexicais fraseoloacutegicos e

gramaticais da liacutengua mas acima de tudo por sua construccedilatildeo

composicionalrdquo

Os elementos que Bakhtin (2003261) trata como conteuacutedo temaacutetico

estilo e construccedilatildeo composicional se fundem para ele de forma inseparaacutevel no

todo que constitui o enunciado e cada um deles estaacute marcado pela

especificidade de uma esfera de troca Todo enunciado tomado

separadamente eacute bem entendido individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da

liacutengua elabora seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados que

determinam os diferentes gecircneros do discurso

Isto implica dizer que toda a produccedilatildeo que se faz em torno da lei pode

ser definida como sendo do gecircnero juriacutedico pois produz ocorrecircncias de troca

numa esfera especiacutefica Os enunciados aiacute produzidos satildeo relativamente

estaacuteveis ainda que bastante diversos entre si e eacute justamente esse aspecto que

justifica porque eacute possiacutevel analisar textos juriacutedicos de origens diferentes tais

como uma declaraccedilatildeo francesa uma nacional ou uma internacional todos os

documentos pertencem ao gecircnero juriacutedico portanto agrave mesma esfera e mesmo

sendo elaborados em um contexto de produccedilatildeo diferente possuem formas

composicionais mais ou menos estaacuteveis

Bakhtin (1984270) explica que a liacutengua escrita se altera de forma

continua assim como seu estilo e que tal fato eacute reflexo das mudanccedilas que

ocorrem na vida social Isto pode ser verificado pela observaccedilatildeo dos gecircneros

do discurso e dos enunciados que satildeo segundo ele ldquoles courroies de

transmission qui megravenent de lrsquohistoire de la socieacuteteacute agrave lrsquohistoire de la languerdquo20

20

ldquoas correias de transmissatildeo que conduzem a histoacuteria da sociedade para a histoacuteria da liacutenguardquo (Trad

Nossa)

42

Esse eacute um aspecto bastante relevante nos textos juriacutedicos e remete ao

fato de que todo enunciado de alguma forma se refere a um enunciado que jaacute

foi anteriormente produzido Esse aspecto confere ao enunciado por

conseguinte uma dupla relaccedilatildeo dialoacutegica ou seja exprime a relaccedilatildeo que o

enunciado tem com enunciados anteriores produzidos sobre o mesmo objeto e

com os possiacuteveis enunciados que possam ser produzidos a partir do enunciado

que se toma para anaacutelise levando em consideraccedilatildeo o destinataacuterio que iraacute

recebecirc-lo e a forma como ele seraacute recebido compreendido respondido

Cabe aqui uma distinccedilatildeo entre o dialogismo e a intertextualidade

Enquanto o dialogismo mostra referecircncias nem sempre diretas de um texto ou

de um enunciado em outro texto ou enunciado a intertextualidade eacute um

fenocircmeno mais restrito

Fiorin (2006) explica que na intertextualidade a referecircncia ao texto ou

enunciado eacute feita de forma direta Esse procedimento ocorre por expliacutecita

citaccedilatildeo do primeiro dentro da redaccedilatildeo do segundo como se fossem duas

vozes dentro de um mesmo texto Nesse caso o segundo texto existe fora do

primeiro como texto independente A interdiscursividade pode inclusive ocorrer

na retomada do mesmo enunciado ainda que sua redaccedilatildeo seja diferente

podendo ateacute se manifestar pela negaccedilatildeo ou oposiccedilatildeo do segundo enunciado

em relaccedilatildeo ao primeiro

A intertextualidade eacute portanto uma operaccedilatildeo que coloca em relaccedilatildeo

dois ou mais discursos e que vem construiacuteda como se fosse um ldquojeu de

citations plus ou moins cachecircrdquo21 conforme sintetiza Charaudeau (1992)

Para os textos analisados no corpus o que se verifica satildeo relaccedilotildees

dialoacutegicas e natildeo de intertextualidade pois natildeo haacute a ocorrecircncia de citaccedilatildeo

direta de retomadas de redaccedilatildeo de enunciados ou negaccedilatildeo dos mesmos em

relaccedilatildeo a um enunciado primeiro

O que se verifica eacute uma extensatildeo um desenvolvimento de alguns

termos ou mesmo princiacutepios O homem que aparece na DDHC eacute um homem

21

ldquoum jogo de citaccedilotildees mais ou menos veladordquo (Trad Nossa)

43

mais limitado em seus direitos protegido apenas pela Assembleia nacional

francesa enquanto o homem da DDUH eacute um homem protegido pela

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Assim tambeacutem os direitos de igualdade

liberdade e justiccedila satildeo ampliados remodelados estendidos Apesar do uso do

termo ser absolutamente o mesmo (homem direito liberdade) o conceito natildeo

eacute o mesmo e isso pode ser verificado pela construccedilatildeo de cada enunciado e

uma anaacutelise mais detalhada mostraraacute no texto adiante essa evoluccedilatildeo Cada

conceito entretanto dialoga com o conceito anterior pois eacute um

desenvolvimento do conceito que o precede um aperfeiccediloamento e um

alargamento do conceito anterior a ele

Essa retomada de conceito implica tambeacutem num resgate histoacuterico da

memoacuteria coletiva pois a declaraccedilatildeo francesa ou a universal natildeo satildeo

documentos que surgem como uma novidade em termos juriacutedicos Elas foram

inspiradas em outros documentos anteriores de outras culturas ateacute

Remontando ao Iluminismo pode-se encontrar na DDHC ideais que se

transpotildeem nos conceitos revolucionaacuterios que definem e envolvem o homem e a

lei por exemplo

Tomemos assim o que diz Montesquieu (1748) acerca do ldquoEspiacuterito das

Leisrdquo e suas ideias relativas agrave origem das leis e de sua natureza Para ele o

homem precisa ter suas proacuteprias leis assim como a divindade e os animais22 e

a lei adveacutem da relaccedilatildeo que se estabelece entre o homem e os outros seres

iguais ou diferentes dele23

Os homens satildeo governados pela razatildeo humana e um dos frutos que

produz satildeo as leis poliacuteticas e civis e satildeo elas que governam os homens As

leis devem ser adequadas ao povo para a qual foram feitas e somente por

acaso podem servir para outra naccedilatildeo jaacute que satildeo adaptadas agraves especificidades

22

laquo Les lois dans la signification la plus eacutetendue sont les rapports neacutecessaires qui deacuterivent de la nature

des choses et dans ce sens tous les ecirctres ont leurs lois la Diviniteacute a ses lois le monde mateacuteriel a ses lois

les intelligences supeacuterieures agrave lhomme ont leurs lois les becirctes ont leurs lois lhomme a ses lois raquo Livre

I p 100

23 laquo Il y a donc une raison primitive et les lois sont les rapports qui se trouvent entre elle et les diffeacuterents

ecirctres et les rapports de ces divers ecirctres entre euxraquo Livre I p 100

44

de cada povo (tal como o clima a religiatildeo) a aspectos particulares das

relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais e ateacute mesmo agrave vontade do legislador 24

Portanto para Montesquieu a lei eacute o reflexo da sociedade que a produz

e a aplica Mas o filoacutesofo alerta que natildeo se pode de forma alguma esquecer a

virtude que contem as leis pelo fato de refletirem os costumes e as maacuteximas

antigas da sociedade que as estabeleceu

Neste sentido uma lei nova apenas altera a anterior fazendo correccedilotildees e

ajustes no que jaacute estava antes estabelecido25 e natildeo renega assim totalmente

24

laquo La loi en geacuteneacuteral est la raison humaine 20 en tant quelle gouverne tous les peuples de la terre et les

lois politiques et civiles de chaque nation ne doivent ecirctre que les cas particuliers ougrave sapplique cette raison

humaine

Elles doivent ecirctre tellement propres au peuple pour lequel elles sont faites que cest un tregraves grand hasard

si celles dune nation peuvent convenir agrave une autre

Il faut quelles se rapportent agrave la nature et au principe du gouvernement qui est eacutetabli ou quon veut eacutetablir

soit quelles le forment comme font les lois politiques soit quelles le maintiennent comme font les lois

civiles

Elles doivent ecirctre relatives au physique du pays au climat glaceacute brucirclant ou tempeacutereacute agrave la qualiteacute du

terrain agrave sa situation agrave sa grandeur au genre de vie des peuples laboureurs chasseurs ou pasteurs Elles

doivent se rapporter au degreacute de liberteacute que la constitution peut souffrir agrave la religion des habitants agrave

leurs inclinations agrave leurs richesses agrave leur nombre agrave leur commerce agrave leurs moeurs agrave leurs maniegraveres

Enfin elles ont des rapports entre elles elles en ont avec leur origine avec lobjet du leacutegislateur avec

lordre des choses sur lesquelles elles sont eacutetablies Cest dans toutes ces vues quil faut les consideacutererraquo

Livre I p 106

laquo Cest encore une loi fondamentale de la deacutemocratie que le peuple seul fasse des lois 3I Il y a pourtant

mille occasions ougrave il est neacutecessaire que le seacutenat puisse statuer il es mecircme souvent agrave propos dessayer une

loi avant de reacutetablir raquo Livre II p 113

laquo On avait vu jusqursquoici la nation donner des marques drsquoimpatience et de leacutegegravereteacute sur le choix ou sur la

conduite de ses maicirctres on lrsquoavait vue reacutegler les diffeacuterends de ses maicirctres entre eux et leur imposer la

neacutecessiteacute de la paix Mais ce qursquoon nrsquoavait pas encore vu la nation le fit pour lors elle jeta les yeux sur

sa situation actuelle elle examina ses lois de sang-froid elle pourvut agrave leur insuffisance elle arrecircta la

violence elle reacutegla le pouvoir raquo Livre XXXI ch II p338

laquo Lrsquoeacutedit de Clotaire redressa tous les griefs Personne ne put plus ecirctre condamneacute sans ecirctre entendu les

parents durent toujours succeacuteder selon lrsquoordre eacutetabli par la loi toutes preacuteceptions pour eacutepouser des filles

des veuves ou des religieuses furent nulles et on punit seacutevegraverement ceux qui les obtinrent et en firent

usage raquo Livre XXXI ch II p339

25 laquo Il y a beaucoup agrave gagner en fait de moeurs agrave garder les coutumes anciennes Comme les peuples

corrompus font rarement de grandes choses quils nont guegravere eacutetabli de socieacuteteacutes fondeacute de villes donneacute

de lois et quau contraire ceux qui avaient des moeurs simples et austegraveres ont fait la plupart des

eacutetablissements rappeler les hommes aux maximes anciennes cest ordinairement les ramener agrave la vertu

De plus sil y a eu quelque reacutevolution et que lon ait donneacute agrave lEacutetat une forme nouvelle cela na guegravere pu

se faire quavec des peines et des travaux infinis et rarement avec loisiveteacute et des moeurs corrompues

45

uma lei antiga O que se constitui neste caso eacute um diaacutelogo com a lei (fonte)

anterior pois natildeo se pode querer ldquoreinventar a rodardquo a cada produccedilatildeo

legislativa Existe assim uma memoacuteria intriacutenseca mesmo que apagada de um

texto legislativo novo em relaccedilatildeo ao texto anterior

As leis novas satildeo adaptaccedilotildees grandes ou pequenos ajustes de

formulaccedilotildees que se fazem nos modelos anteriores com acreacutescimos ou

supressotildees que permitem um reordenamento do sistema juriacutedico vigente Isto

porque a lei tem sua origem na cultura econocircmica poliacutetica e social de um povo

e seu texto eacute apenas um reflexo disso mesmo quando produzida para suprir

uma lacuna do sistema

Eacute tambeacutem o que diz Bakhtin (1977) acerca do dialogismo textual para

ele as relaccedilotildees dialoacutegicas se estabelecem na medida em que um texto reflete

e se reproduz em outro ecoando dialogando com outro texto Um texto de lei

ao mesmo tempo em que daacute voz agrave cultura do povo ao qual eacute imposta esta lei

traduzindo seus costumes histoacutericos econocircmicos poliacuteticos e sociais tambeacutem

responde a um outro texto de lei

Assim um segundo texto entra em relaccedilatildeo dialoacutegica interna com o

primeiro podendo tanto ser um texto hierarquicamente superior como aquele

que autoriza a elaboraccedilatildeo de uma nova lei O novo texto de lei tem o mesmo

objeto do texto anterior mas aparece renovado atualizado para as novas

necessidades do homem e a lei anterior que lhe serviu de base ou origem seraacute

derrogada total ou parcialmente pela lei nova

O dialogismo mostra como ocorrem as relaccedilotildees discursivas que podem

ser externas na medida em que o texto dialoga com o ordenamento juriacutedico ou

mesmo com a doutrina estrangeiros ou internas quando se encontram essas

relaccedilotildees dentro do proacuteprio ordenamento juriacutedico nacional

Ceux mecircmes qui ont fait la reacutevolution ont voulu la faire goucircter et ils nont guegravere pu y reacuteussir que par de

bonnes lois Les institutions anciennes sont donc ordinairement des corrections et les nouvelles des

abus Dans le cours dun long gouvernement on va au mal par une pente insensible et on ne remonte au

bien que par un effort raquo Livre V p151

46

O texto de lei seraacute tomado aqui como sendo o cerne (centro) dos textos

juriacutedicos visto que tudo gravita em torno dele isto eacute ou os textos precursores

satildeo seus textos originaacuterios e constituintes porque seus princiacutepios e argumentos

fundamentaram a propositura da lei ou satildeo seus textos derivados e

consequentes porque eacute a lei que possibilita a propositura ou confecccedilatildeo de tais

textos

Essa situaccedilatildeo de origem de cada texto juriacutedico eacute de suma importacircncia

pois eacute ela que mostra a dimensatildeo da relaccedilatildeo dialoacutegica um texto de lei natildeo

existe sem um motivo anterior e suscita outros tantos textos decorrentes da

existecircncia da lei

De onde se conclui que nos textos juriacutedicos o dialogismo eacute inerente jaacute

que um texto se refere sempre a um anterior um autor cita o outro - discutindo

a ideia proposta por outro autor seja para apoiaacute-la ou contestaacute-la- uma lei se

refere ou estaacute autorizada por uma outra

Nessa mesma consideraccedilatildeo cabe ressaltar que cada texto teoacuterico ou

artigo acadecircmico e ateacute mesmo da imprensa especializada pode ser o elemento

detonador ou mola propulsora para questionar uma lei desatualizada ou

mostrar a necessidade da propositura de uma nova podendo-se incluir ainda

aqui o fato de que uma lei seja produzida com objetivo complementar isto eacute a

fim de completar uma outra lei especificando um determinado tipo de pena ou

de procedimento por exemplo

O fato de cada texto ser produzido em resposta a um outro anterior

revela por sua vez natildeo soacute o processo dialoacutegico mas tambeacutem um processo

polifocircnico Isto porque na medida em que se considera a produccedilatildeo do texto natildeo

se pode deixar de considerar que ele foi produzido num determinado lugar e

tempo e por um determinado enunciador

De forma bem simples a lei se torna a voz da sociedade que se

expressa para regular as relaccedilotildees entre os homens ou seja a lei eacute a voz do

homem social a voz da sociedade num dado lugar e num dado momento

histoacuterico e como tal a repercussatildeo de uma voz que aleacutem de individual eacute

coletiva

47

Isto porque a lei natildeo eacute fruto nos sistemas de governo democraacuteticos da

vontade de um soacute como ocorria nos regimes absolutistas mas eacute a expressatildeo

da vontade geral portanto de um conjunto de pessoas que faz sua voz ser

ouvida e resolve as questotildees de conviacutevio que causam conflito atraveacutes de um

texto que vai regular a conduta da vida do homem dentro de um grupo

Por isso seria de se esperar que uma lei fosse apenas aplicaacutevel a um

uacutenico grupo de homens que vivessem sob as mesmas regras E por isso seria

de se esperar que a lei de um paiacutes natildeo fosse adequada a um outro ou a outros

paiacuteses Entretanto isso natildeo eacute impossiacutevel e resguardados certos limites eacute ateacute

bem frequente como se veraacute mais adiante

Conveacutem ainda lembrar que Bakhtin e o Ciacuterculo26 tratam a linguagem de

forma diversa da dimensatildeo monoloacutegica - que tomava a liacutengua como forma de

expressatildeo particular do sujeito (subjetivista idealista) ou como constituiacuteda por

formas e atos psicofisioloacutegico da sua produccedilatildeo (objetivismo abstrato) A

linguagem eacute considerada sempre ao contraacuterio sob o ponto de vista da

interaccedilatildeo verbal um espaccedilo onde a liacutengua existe e se constitui

A obra bakhtiniana e a do ciacuterculo vatildeo nesta perspectiva tomar a

linguagem do ponto de vista de sua natureza social sobretudo no que se refere

agrave relaccedilatildeo do enunciado com o contexto social imediato Isto quer dizer que a

linguagem eacute analisada a partir das interaccedilotildees que ocorrem entre os indiviacuteduos

organizados em sociedade e que considera as condiccedilotildees de produccedilatildeo onde

elas se elaboram

Essas condiccedilotildees por conseguinte produzem um sentido praacutetico que

estaacute aleacutem do fato da linguagem vir associada ao momento histoacuterico onde

ocorrem essas interaccedilotildees e permite dessa forma que o meio social espelhe a

esfera ideoloacutegica presente nas Ciecircncias nas Artes na Literatura no

Jornalismo e tambeacutem no Direito

26

No presente trabalho natildeo seraacute considerada a questatildeo da autoria dos trabalhos de Bakhtin que eacute dividida

em alguns casos com Voloshinov jaacute que as obras consultadas tinham como autor Bakhtin sendo sempre

referidas como obras de ldquoBakhtin e o Ciacuterculordquo

48

O conceito de esfera na comunicaccedilatildeo discursiva de que fala Bakhtin

estaacute centrado na diversidade da linguagem humana e ideologia que a cerca

isto eacute de forma bastante resumida a esfera revela como a realidade se

manifesta na linguagem

A linguagem refrata a esfera ideoloacutegica em que estaacute inserida uma

produccedilatildeo literaacuteria que eacute o que Bakhtin (19771984) defende na anaacutelise que faz

do romance de Dostoieacutevski pois ela a linguagem revela o jogo de regras

usadas para a produccedilatildeo em um determinado contexto

Na esfera do Direito tem-se que todo gecircnero refrata as relaccedilotildees

dialoacutegicas que se estabelecem do homem com o homem e do homem com a

sociedade O Direito enquanto ciecircncia tem como funccedilatildeo dirigir as condutas

sociais criando para isso regras de direito que regulem a vida comum na

esfera em um dado momento histoacuterico

Essa natureza social da linguagem ou seja a relaccedilatildeo do enunciado com

o contexto social imediato - interaccedilotildees que ocorrem entre os indiviacuteduos

organizados em sociedade e que considera as condiccedilotildees de produccedilatildeo -

confere um sentido praacutetico associada ao momento histoacuterico onde ocorrem

essas interaccedilotildees num processo dialoacutegico

Desta forma todo o gecircnero eacute e assim tambeacutem o gecircnero juriacutedico um

reflexo de relaccedilotildees dialoacutegicas que se estabelecem do homem com o homem

pois espelha a necessidade do direito para regular a vida em comum do

homem com a sociedade e das condutas sociais

As condutas sociais por sua vez satildeo resultantes uma forma de agir que

se apoia no que um grupo determina como um tipo modelo ou padratildeo de

atitude em relaccedilatildeo a diferentes situaccedilotildees e que satildeo resultado de um consenso

Essas condutas sociais se tornam padrotildees de condutas e ao se repetirem vatildeo

constituir o que Bourdieu define como habitus tomado dentro de um

determinado campo

Bourdieu (1980) define o campo como ldquoo espaccedilo social capaz de

refratar traduzir ou transformar as demandas externas sobretudo da base

49

socioeconocircmica comumrdquo Eacute no campo onde acontecem as diferentes

produccedilotildees juriacutedicas textuais pois na medida em que surgem alteraccedilotildees no

espaccedilo social nasce a necessidade de um reordenamento juriacutedico para que

outros textos regulem as novas relaccedilotildees ou relaccedilotildees entre indiviacuteduos que se

modificam

Em relaccedilatildeo a concepccedilatildeo da linguagem o campo eacute definido como o

espaccedilo em que determinadas formas de agir refletem as individualidades

(como gostos e preferecircncias) constituindo-se em um habitus

Sobre esse habitus tambeacutem incidem o tipo de relaccedilotildees entre os pares

que participam das relaccedilotildees ndash as relaccedilotildees simboacutelicas - o tipo de relaccedilatildeo que

se estabelece com o capital ndash atraveacutes da heranccedila e da renda - e o espectro de

possibilidades ou impossibilidades oferecidas aos participantes de tomar

posiccedilatildeo e definir os espaccedilos isto eacute participar da ldquoheranccedila acumulada pelo

trabalho coletivordquo

Uma lei eacute um reflexo de um habitus que se cristaliza pela norma escrita

Entatildeo a preocupaccedilatildeo dos magistrados brasileiros que objetivavam melhorar

em curto espaccedilo de tempo a prestaccedilatildeo dos serviccedilos da justiccedila ao cidadatildeo eacute

expressa pela tomada de posiccedilatildeo dos integrantes da associaccedilatildeo que

apresentam uma proposta de lei que se torna depois a Lei 114192006 e que

iraacute modificar as accedilotildees processuais que satildeo submetidas agrave anaacutelise do Poder

Judiciaacuterio

O fato de esses juiacutezes apresentarem uma sugestatildeo (SUG1CLP 2001)

autorizados pela Constituiccedilatildeo27 que permite a um grupo apresentar uma

27

O artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 foi alterado pela Lei 97091998 ldquoArt 13 A iniciativa

popular consiste na apresentaccedilatildeo de projeto de lei agrave Cacircmara dos Deputados subscrito por no miacutenimo um

por cento do eleitorado nacional distribuiacutedo pelo menos por cinco Estados com natildeo menos de trecircs

deacutecimos por cento dos eleitores de cada um delesrdquo e ldquoArt 14 A Cacircmara dos Deputados verificando o

cumprimento das exigecircncias estabelecidas no art 13 e respectivos paraacutegrafos daraacute seguimento agrave

iniciativa popular consoante as normas do Regimento Internordquo O Regimento Interno da Camara dos

Deputados diz na parte referente a Subseccedilatildeo III Das Mateacuterias ou Atividades de Competecircncia das

Comissotildees em seu inciso XII que cabe agrave Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa ldquoa) sugestotildees de

iniciativa legislativa apresentadas por associaccedilotildees e oacutergatildeos de classe sindicatos e entidades organizadas

da sociedade civil exceto Partidos Poliacuteticos b) pareceres teacutecnicos exposiccedilotildees e propostas oriundas de

entidades cientiacuteficas e culturais e de qualquer das entidades mencionadas na aliacutenea a deste incisordquo

50

proposta de Projeto de Lei ao Poder Legislativo tambeacutem integrarem o Poder

Judiciaacuterio eacute relevante na aceitaccedilatildeo da proposta que eacute examinada e aceita A

sugestatildeo SUG1CLP 2001 eacute marcada pela necessidade de mudanccedila no

habitus as modificaccedilotildees e avanccedilos tecnoloacutegicos demandam alteraccedilotildees que

satildeo propostas como imperativas aleacutem de serem reflexo da experiecircncia praacutetica

do mundo do trabalho

Numa relaccedilatildeo que tambeacutem eacute dialoacutegica a esfera ideoloacutegica do Poder

Judiciaacuterio representada pelos integrantes desse poder ou seja os juiacutezes

federais que tecircm como objetivo fazer aplicar a lei se mistura com a esfera do

Poder Legislativo cuja funccedilatildeo eacute a de propor leis para serem aprovadas e

colocadas em vigor pelo Poder Executivo atraveacutes de sua publicaccedilatildeo

Desta forma uma sugestatildeo de proposta de lei integra os trecircs poderes

judiciaacuterio legislativo e executivo Vecirc-se neste momento histoacuterico a maior

expressatildeo possiacutevel da democracia a necessidade fez agir representantes de

um poder enquanto integrantes de uma associaccedilatildeo ou seja no seu papel de

cidadatildeos a fim de melhorar a prestaccedilatildeo jurisdicional da justiccedila da qual cabe ao

Estado zelar

O caminho encontrado para fazer o que era necessaacuterio ou seja uma

prestaccedilatildeo de atendimento de uma justiccedila mais raacutepido pode parecer a primeira

vista uma extrapolaccedilatildeo da funccedilatildeo e do papel dos juiacutezes que devem apenas

zelar e fazer aplicar a lei quando se considera que natildeo haacute justiccedila

O que eacute relevante eacute que o caminho encontrado foi o dado pela

concessatildeo criada pelo proacuteprio sistema poliacutetico que permite aos cidadatildeos

fazerem uma proposta de projeto de lei Agrave eacutepoca da apresentaccedilatildeo da sugestatildeo

a primeira a ser apresentada por um segmento da sociedade e neste caso um

segmento muito especial ainda natildeo havia a precisatildeo de como se faria uma

51

justiccedila mais raacutepida o que foi acrescentado pela Emenda Constitucional no 45

de 2004 que inseriu o inciso LXXVIII28

Os textos que satildeo examinados neste trabalho foram produzidos dentro

do campo de atividades do Direito No topo hieraacuterquico qualitativo como seraacute

explicado mais adiante encontra-se a lei que foi promulgada em 2006 e que eacute

consequecircncia de uma cadeia de outros textos que foram produzidos

O campo do direito onde se inserem os textos juriacutedicos tem como

puacuteblico-alvo toda a sociedade que eacute o lugar onde as leis se aplicam mas o

texto original foi produzido por um setor da sociedade uma associaccedilatildeo de

classe de magistrados

Dentro do gecircnero juriacutedico podemos distinguir textos de maior e menor

relevacircncia em relaccedilatildeo agrave sua aplicaccedilatildeo A lei como texto autorizado pela

Constituiccedilatildeo se aplica a toda a naccedilatildeo jaacute uma carta de intenccedilatildeo que apoia a

sua aprovaccedilatildeo enquanto ainda era projeto de lei eacute uma apresentaccedilatildeo do texto

dirigida agrave Cacircmara dos Deputados Ambos satildeo textos juriacutedicos mas a ordem de

sua obediecircncia e aceitaccedilatildeo eacute diferente e acarreta consequecircncias proporcionais

ao seu cumprimento a lei obriga a todos a carta eacute uma critica positiva

O esquema simplificado abaixo permite compreender o tramite da

Proposta de Legislaccedilatildeo Participativa que foi o documento de origem dessa lei

federal

28

ldquoLXXVIII - a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do

processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeo (Inciso acrescido pela Emenda

Constitucional nordm 45 de 2004)rdquo

52

O processo histoacuterico de formaccedilatildeo do campo implica numa reflexatildeo sobre

os gecircneros e as obras que nele satildeo produzidas A percepccedilatildeo de cada obra

produzida no campo eacute feita de forma critica e somente a ampliaccedilatildeo da

produccedilatildeo eacute que permite a sua estabilizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos textos juriacutedicos

ao se tomar a elaboraccedilatildeo de textos legais por exemplo constata-se que uma

lei se apoia sempre nos textos anteriores numa relaccedilatildeo dialoacutegica a fim de

suprir ou corrigir as necessidades do grupo social a que se aplica

No contexto histoacuterico do corpus analisado antes da lei 114192006 ndash haacute

pouco mais de dez anos de sua sugestatildeo natildeo existia a possibilidade de

implantaccedilatildeo de serviccedilos de informatizaccedilatildeo em muitos dos preacutedios do Poder

Judiciaacuterio

Entretanto na medida em que a utilizaccedilatildeo dos computadores alterou o

comportamento dos cidadatildeos o uso de tecnologias digitais e similares e da

internet se tornou um habitus e as modificaccedilotildees produzidas por esse habitus

acabaram alterando as praacuteticas do quotidiano sendo finalmente incorporadas

por uma nova lei

LEI 114192006

53

Eacute nesse ponto que se constata a existecircncia das relaccedilotildees dialoacutegicas

apontadas por Bakhtin pois natildeo havia uma previsatildeo legal na lei anterior

(contida no Coacutedigo de Processo Civil) regulando como se daria na praacutetica

quotidiana do andamento dos processos no Poder Judiciaacuterio a integraccedilatildeo dos

serviccedilos de informatizaccedilatildeo jaacute que na data de sua entrada em vigor 1973 essa

tecnologia natildeo estava disponiacutevel

Ainda do ponto de vista da elaboraccedilatildeo de uma linguagem Bourdieu

propotildee que esta seja parte do processo de surgimento do campo O Direito tem

uma linguagem especifica que eacute utilizada na elaboraccedilatildeo dos textos de lei e que

perpassa os outros textos do campo que se produzem a partir ou mesmo antes

do texto legal uma linguagem que sai do campo do Direito e interfere em

outros campos tal como o legislativo ou o jornaliacutestico Eacute uma linguagem que

nomeia aqueles que participam do campo tal como os agentes que define

conceitos atos e praacuteticas e que determina condutas

Na lei 114192006 a relaccedilatildeo dialoacutegica da linguagem juriacutedica com a

linguagem da informaacutetica produziu inclusive uma nova linguagem teacutecnico-

juriacutedica em que surgem expressotildees tais como ldquomeio eletrocircnicordquo ldquotransmissatildeo

eletrocircnicardquo ldquoassinatura digitalrdquo ldquocertificado digitalrdquo rdquoprotocolo eletrocircnicordquo

rdquopublicaccedilatildeo eletrocircnicardquo rdquocorrespondecircncia eletrocircnicardquo rdquoprocesso eletrocircnicordquo

rdquoextratos digitaisrdquo etc expressotildees que estatildeo no corpo do texto da lei

As modificaccedilotildees trazidas pela Lei nordm 11419 de 19 de dezembro de

2006 para a Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 que instituiu o Coacutedigo de

Processo Civil29 propiciam o diaacutelogo e suprem na sociedade globalizada a

necessidade imposta pelo momento atual30 Uma sociedade que exige e

permite ao advogado postar sua peticcedilatildeo em espaccedilo fiacutesico por vezes diferente e

muito distante daquele onde estaacute o processo em que atua

29

Essas modificaccedilotildees natildeo seratildeo objeto de anaacutelise nesse trabalho O fato de elas existirem no conteuacutedo da

lei nova apenas atesta o dialogismo existente entre os textos de lei

30 Documento anexo nuacutemero 05 paacutegina da internet do Tribunal Regional Federal

54

Essa relaccedilatildeo dialoacutegica entretanto natildeo ocorre apenas entre esses dois

textos pois eacute permeada por vaacuterias outras de diferentes esferas e campos

como atestam os diferentes textos produzidos pela AJUFE (Apresentaccedilatildeo e

Nota Oficial) pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Redaccedilatildeo

(Anteprojeto) pela Cacircmara dos Deputados e da Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei

5828 de 2001 e do parecer e voto do Deputado Roberto Batochio pelos

artigos das Revista Consultor Juriacutedico e do Instituto Iuris31 Todos esses textos

mostram o empenho da sociedade como um todo em regular as atividades que

em parte jaacute foram modificadas com o advento da informatizaccedilatildeo no Poder

Judiciaacuterio

O dialogismo eacute mais evidente no texto da lei nova que jaacute declara no seu

caput32 que explicitamente altera a lei anterior33 revogando uma parte dos

artigos do Coacutedigo de Processo Civil (Lei 58691973) ou dando nova redaccedilatildeo

aos artigos que jaacute existiam (Lei 114192006 artigos 12 169sect1ordm) Faz-se

presente tambeacutem quando acresce incisos ou paraacutegrafos na Lei 58691973 (Lei

114192006 artigos 38 paraacutegrafo uacutenico 154sect 2ordm 164 paraacutegrafo uacutenico 169 sect2ordm

e sect3ordm) testemunhando a mudanccedila na esferacampo das atividades humanas

trazidas pela evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

O capital simboacutelico ou seja as relaccedilotildees entre os pares que participam

das relaccedilotildees e do reconhecimento e prestiacutegio pessoal das relaccedilotildees que satildeo

valorizadas pelo grupo tambeacutem exercem sua influecircncia no campo

De fato os profissionais da aacuterea juriacutedica gozam de prestiacutegio social e do

reconhecimento de seus pares e dos outros indiviacuteduos da sociedade pois eacute em

funccedilatildeo de suas atividades a de aplicar as normas coercitivas estabelecidas

pela sociedade que a vida social segue equilibrada

31

Documentos anexos I II III IVa IVb IVc IVd IVe IVf

32 Caput parte superior o iniacutecio de um documento uma lei ou de qualquer de seus artigos in PETRI

Maria Joseacute Constantino Manual de linguagem juriacutedica Satildeo Paulo Editora Saraiva 2011

33 ldquoDispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial altera a Lei n

o 5869 de 11 de janeiro de 1973 ndash

Coacutedigo de Processo Civil e daacute outras providecircnciasrdquo

55

Assim sob o aspecto da esferacampo que relaciona o momento soacutecio-

histoacuterico e as atividades humanas pudemos constatar como a modernizaccedilatildeo da

sociedade permite e ateacute mesmo impotildee modificaccedilotildees sociais que se transpotildeem

ao ordenamento juriacutedico na forma de aprovaccedilatildeo e cumprimento de uma nova

lei

Desta forma entendemos que as propostas de Bakhtin e do Circulo e

tambeacutem a de Bourdieu nos revelam a composiccedilatildeo dos mecanismos de

produccedilatildeo da linguagem bem como o dialogismo existente entre as diferentes

esferas e campos sociais e o sentido praacutetico produzido na sociedade atual

Os conceitos de esfera e campo se fundem para constituir o espaccedilo

onde ocorrem as produccedilotildees textuais juriacutedicas Um espaccedilo cujos limites

geograacuteficos satildeo variaacuteveis e que natildeo se circunscreve a um espaccedilo fiacutesico

especifico um espaccedilo universal que exige adaptaccedilotildees permanentes visto as

mudanccedilas sociais decorrentes da evoluccedilatildeo inevitaacutevel do mundo em que

vivemos (tome-se como exemplo as mudanccedilas provocadas pela adesatildeo dos

paiacuteses europeus agrave Uniatildeo Europeacuteia)

Essas adaptaccedilotildees satildeo permanentes e necessaacuterias para que a

convivecircncia se faccedila de forma relativamente equilibrada de onde a produccedilatildeo de

um ordenamento juriacutedico internacional e nacional constante Segundo Dollinger

(1992) elas satildeo inspiradas em rdquoprinciacutepios fundamentais e transcendentais de

justiccedila e equidaderdquo a fim de balancear ldquorealidades e necessidades

socioeconocircmicas em diferentes tempos e lugaresrdquo num processo de

universalizaccedilatildeo e extensatildeo dos direitos humanos

A regulaccedilatildeo internacional atraveacutes de tratados se faz na medida em que

seja necessaacuterio determinar de forma consensual as condutas entre diferentes

naccedilotildees Entretanto nem todas as naccedilotildees ratificaratildeo um tratado ao mesmo

tempo e nem todas procederatildeo de imediato agraves respectivas modificaccedilotildees

necessaacuterias em seus ordenamentos juriacutedicos internos

A produccedilatildeo de legislaccedilatildeo interna reflete por sua vez as necessidades

de adaptaccedilatildeo agraves realidades da naccedilatildeo e de suas relaccedilotildees com outras naccedilotildees

56

ou de suas relaccedilotildees internas Toda produccedilatildeo de textual juriacutedica incorpora

portanto o que se passa diariamente no territoacuterio internacional ou nacional34

Ao se examinar textos doutrinaacuterios de produccedilatildeo nacional o que se

constata eacute que os autores brasileiros fazem referecircncia frequentemente

sobretudo em notas de rodapeacute a autores de outros paiacuteses e a doutrinas e

legislaccedilotildees estrangeiras sobretudo europeus comparando os sistemas os

institutos juriacutedicos e ateacute mesmo as jurisprudecircncias

O Direito Brasileiro de acordo com Dolinger (1990) recebe tambeacutem

influecircncias do Direito Americano sobretudo em mateacuteria constitucional e

administrativa e pode ser testemunhada pelo direcionamento adotado em

decisotildees de nosso Supremo Tribunal Federal

Em relaccedilatildeo agraves influecircncias europeacuteias verificamos o que acontece em

obras de autores consagrados que se dedicam ao estudo do Direito Civil

Washington de Barros Monteiro (1971) Caio Maacuterio da Silva Pereira (1991) e

Silvio Rodrigues (1988)

Monteiro tem em seu primeiro capiacutetulo 27 citaccedilotildees de obras e autores

sendo que destes 25 satildeo estrangeiros (oito franceses) Em Pereira constam 23

obras citadas sendo que dessas 19 satildeo de obras e autores estrangeiros (oito

franceses) Rodrigues o mais econocircmico faz 12 citaccedilotildees sendo que cinco satildeo

de referecircncia a obras e direitos estrangeiros (trecircs franceses)

Ao colocarem nas notas de rodapeacute no corpo do texto ou na abertura do

capiacutetulo as citaccedilotildees de autores e obras os autores Monteiro Pereira e

Rodrigues informam que ao menos leram as obras referidas e que estatildeo

fazendo suas consideraccedilotildees a partir delas Este eacute o que se poderia chamar em

Direito de meacutetodo comparativo sobre os conceitos que satildeo apresentados por

nossos consagrados autores brasileiros

Essa praacutetica comeccedilou a tornar-se usual na Europa a partir do fim do

seacuteculo XIX quando diversas leis comeccedilaram a emergir nos paiacuteses europeus e

34

PELISSE ldquoEn effet quoi de plus speacutecifique aux cultures nationales que le droit De mecircme quoi de

plus incorporeacute et particulier que laquo ce qui se passe tous les jours raquo ce qui est banal et commun et qui

traduit par exemple le fait que lrsquoon est ou pas dans laquo son raquo pays raquo

57

as relaccedilotildees sobretudo comerciais entre os paiacuteses se intensificaram De

acordo com David (1985) a publicaccedilatildeo do Coacutedigo Civil francecircs em 1804

inspirou vaacuterios outros coacutedigos (entre eles o nosso Coacutedigo Civil) e acabou por

difundir a praacutetica das comparaccedilotildees

O que se chama portanto em Direito de meacutetodo comparativo eacute cada

vez mais frequente ao longo dos anos e fez surgir mais tarde o ramo que hoje

eacute chamado de Direito Comparado Atraveacutes do Direito Comparado eacute possiacutevel

entatildeo examinar direitos e legislaccedilotildees a fim de se verificar as semelhanccedilas ou

as diferenccedilas entre eles segundo Bevilaqua (1897) seja em seus aspectos

especiacuteficos ou gerais conforme precisa Dantas (1997)

Comparar direitos diferentes implica ler os textos de lei e compreende-

los em diferentes liacutenguas e contextos culturais Implica tambeacutem poder

reconhecer o que se manifesta como eco de uma legislaccedilatildeo anterior ou da

legislaccedilatildeo de um paiacutes para a de um paiacutes diferente A leitura de um livro teoacuterico

criacutetico ou de um coacutedigo comentado normalmente traz nas notas de rodapeacute

essas referecircncias

Na perspectiva da Anaacutelise do Discurso as citaccedilotildees nos rodapeacutes dos

manuais de direito satildeo testemunhos da polifonia (a voz de outro autor) e do

dialogismo (textual) O Direito Comparado nesta medida usa necessariamente

da polifonia e do dialogismo para fazer o exame comparativo dos textos

juriacutedicos

Outro aspecto da polifonia pode ser verificado pelo exame do percurso

de uma lei no sistema juriacutedico Esse eacute o caso de uma lei brasileira a proposta

de uma lei federal por exemplo eacute de iniciativa de um deputado de um

senador de um grupo deles ou de iniciativa popular Aprovado pela Cacircmara

dos Deputados o projeto de lei eacute encaminhado para o Senado a fim de

tambeacutem ali ser votado Se aprovado pelas duas casas o projeto seraacute

sancionado pelo Poder Executivo mais especificamente pelo Presidente da

Repuacuteblica O fato de um projeto tramitar pelo Poder Legislativo onde recebe

aprovaccedilatildeo de uma maioria de deputados e senadores e depois ser recebido

pelo Poder Executivo torna a lei publicada o resultado do acordo de vozes

58

diferentes Se o projeto for vetado pelo Congresso Nacional ou mesmo pelo

Presidente da Repuacuteblica o que eacute possiacutevel o veto tambeacutem eacute a expressatildeo de

vaacuterias vozes nesse caso dissonantes da intenccedilatildeo do projeto levado para

anaacutelise do Poder Legislativo ou Executivo

A lei resultado de um projeto de lei aprovado por um certo consenso eacute

um enunciado referendado por um grupo de pessoas - os Deputados

Senadores e Presidente da Repuacuteblica ndash que defenderam seu ponto de vista

aprovando a proposta apresentada O contexto de enunciaccedilatildeo onde se

entrecruzam dialogismo e polifonia tem sua cena de enunciaccedilatildeo como explica

Maingueneau (2002) no Congresso Nacional Eacute nessa cena de enunciaccedilatildeo

que se apresentam o enunciador que assume primeiramente o papel de

orador e o plenaacuterio do Congresso Nacional que eacute primeiramente o auditoacuterio

Essas noccedilotildees satildeo tratadas pela Teoria da Argumentaccedilatildeo e seratildeo estudadas no

item a seguir

23 A Retoacuterica e a Teoria da argumentaccedilatildeo a formaccedilatildeo do logos

do ethos e a influecircncia do local

O contato entre um enunciador aqui tratado como orador e um

enunciataacuterio aqui denominado auditoacuterio se faz pelo uso da palavra Os

recursos empregados pelo orador a fim de tentar convencer seu auditoacuterio ou

seja a argumentaccedilatildeo eacute o objeto de estudo da Retoacuterica A argumentaccedilatildeo vista

sob essa perspectiva eacute o campo em que se encontram de forma polecircmica

posiccedilotildees e interesses que se conjugam ou se confrontam conforme explica

Plantin (1990)

Esse autor explica que a palavra isto eacute a ponte entre orador e

auditoacuterio eacute o vetor de uma accedilatildeo simboacutelica e vem carregada pela intenccedilatildeo de

produzir resultados diferentes de acordo com o puacuteblico a que se destina em

funccedilatildeo dos projetos argumentativos dos interactantes

59

Perelman filoacutesofo do Direito ao renovar a Retoacuterica em 1958 propotildee

uma Nova Retoacuterica hierarquizando o que a Retoacuterica Claacutessica tinha

estabelecido como gecircnero deliberativo epidiacutedico e judiciaacuterio e priorizando a

linguagem do tribunal

Perelman fundamenta sua argumentaccedilatildeo juriacutedica substituindo a loacutegica

pela razatildeo partindo do justo conceito chave para ele de onde derivam dois

conceitos justiccedila que leva ao conceito de juriacutedico e justificado que conduz a

noccedilatildeo do que eacute razoaacutevel

Ainda segundo Plantin (1990) eacute neste ultimo ponto que o autor se

concentra para fundamentar a Nova Retoacuterica Segundo ele Perelman aleacutem de

procurar organizar respostas para a pergunta o que devo fazer tenta

encontrar respostas que contenham um princiacutepio de abstraccedilatildeo juriacutedica uma

regra de justiccedila e de igualdade entre os indiviacuteduos em que o argumento

eficaz no passado deve ser empregado em situaccedilatildeo anaacuteloga numa operaccedilatildeo

de recurso ao precedente

Eacute exatamente isso o que ocorre dentro de um sistema juriacutedico em que

uma lei se justifica pela existecircncia de uma outra que lhe antecede uma

tornando-se o argumento de existecircncia de outra que lhe eacute posterior

Tal como ocorre com a fixaccedilatildeo dos paracircmetros essenciais que

delimitam a situaccedilatildeo retoacuterica ocorre tambeacutem com os princiacutepios juriacutedicos A

situaccedilatildeo juriacutedica se constitui em torno de uma crise que deve ser resolvida por

uma decisatildeo seja sobre uma lei que jaacute existe seja por meio de uma decisatildeo

inovadora

Cabe esclarecer que uma lei natildeo pode retroagir para solucionar um

problema anterior a sua existecircncia Mas ela pode e vai corrigir os litiacutegios ou

desajustes posteriores a ela Nos sistemas juriacutedicos que permitem tal correccedilatildeo

como o brasileiro ela se faz seja por meio de uma decisatildeo de sentenccedila que

interprete a lei de forma inovadora seja por uma sentenccedila extensiva que

ultrapasse o que estaacute previsto em lei A decisatildeo inovadora e a sentenccedila

extensiva satildeo nesse sentido a expressatildeo de uma palavra orientada para um

determinado auditoacuterio que necessita de uma soluccedilatildeo para a sua demanda

60

Perelman (1996) na Nova Retoacuterica trata do auditoacuterio e do orador

segundo a premissa de que para que a argumentaccedilatildeo se desenvolva eacute

necessaacuterio que primeiramente a atenccedilatildeo do auditoacuterio esteja assegurada

Numa publicaccedilatildeo cientiacutefica como exemplifica esse autor essa atenccedilatildeo jaacute estaacute

assegurada na medida em que o puacuteblico leitor se dirige agrave revista com intenccedilatildeo

de ler seu conteuacutedo cabendo ao autor do artigo selecionado pelo leitor tatildeo

somente manter o contato que a instituiccedilatildeo cientiacutefica jaacute disponibilizou ao

permitir a publicaccedilatildeo do exemplar

Isso tambeacutem acontece num texto juriacutedico quem tem acesso ao texto eacute

um leitor direcionado e na maior parte das vezes especializado isto eacute domina

o vocabulaacuterio bem como o conteuacutedo da aacuterea Um leitor leigo certamente natildeo

teria um entendimento satisfatoacuterio do texto

Conforme esclarece Perelman as instituiccedilotildees que existem na sociedade

facilitam e organizam o contato entre um orador (enunciador) e seu auditoacuterio

(alocutaacuterio ou co-enunciador) pois normalmente um puacuteblico que procura por

um determinado assunto ou tema jaacute conhece algo sobre ele

O contato entre o orador e o auditoacuterio pelo argumento natildeo se faz

somente pelo antes isto eacute por presunccedilatildeo estabelecida entre ambos (de quem

eacute o orador e qual eacute seu auditoacuterio) mas se constroacutei durante a troca entre eles

pois as condiccedilotildees de uso da palavra e a intenccedilatildeo do orador e a reaccedilatildeo do

auditoacuterio tambeacutem contribuem para o desenvolvimento do argumento

O orador deve para que sua argumentaccedilatildeo alcance o objetivo

pretendido conhecer bem o auditoacuterio a que se dirige para poder prever sua

reaccedilatildeo e fazer os ajustes necessaacuterios a fim de que possa ter ecircxito no seu

propoacutesito Dessa forma o orador se serve da persuasatildeo pois enquanto estaacute

diante do seu auditoacuterio constroacutei a sua proacutepria personalidade diante daquele

auditoacuterio o seu ethos

231 A formaccedilatildeo do ethos

61

Aristoacuteteles apresenta o ethos sob a perspectiva de uma figura que se

serve do que eacute persuasivo para um certo grupo de indiviacuteduos com o objetivo

de causar uma boa impressatildeo proporcionando uma imagem de si capaz de

convencer o auditoacuterio e ganhar sua confianccedila

Por isso o ethos mobiliza tudo o que contribui pra alcanccedilar seu objetivo

desde o tom da voz ateacute o proacuteprio argumento apresentado O orador

proporciona uma imagem psicoloacutegica e socioloacutegica de si agindo de forma

indireta e dinacircmica a fim de atingir seu objetivo mobilizando para isso a

afetividade (pathos)

Estes recursos permitem ao orador obter uma eficaacutecia que permite

ganhar a confianccedila de seu auditoacuterio O ethos vai dessa forma se mostrando

durante o ato da enunciaccedilatildeo sem no entanto fazer uma apologia do orador ao

mesmo tempo em que constroacutei sua identidade atraveacutes de estrateacutegias que

direcionam suas palavras e orientam portanto o discurso

Ao mesmo tempo em que o ethos se apresenta o auditoacuterio constroacutei uma

representaccedilatildeo dele uma espeacutecie de ethos preacute-discursivo e que lhe eacute ateacute

mesmo anterior tal como ocorre em relaccedilatildeo a um poliacutetico diante do Congresso

Nacional por exemplo no momento em que ele discursa o auditoacuterio

normalmente jaacute sabe a que partido ele pertence e as ideias que abraccedila o que

ocorre em geral eacute que natildeo haacute grandes surpresas

Segundo Amossy (2005) o orador apresenta para o auditoacuterio um ethos

onde faz uma apresentaccedilatildeo de uma imagem a imagem de si a fim de garantir

o seu sucesso diante de seu interlocutor (ou co-enunciador) apresentando ao

mesmo tempo o que ele eacute e o que ele natildeo eacute (seu anti-ethos conforme

Maingueneau) privilegiando o que lhe interessa

Mesmo que alguns autores35 tenham tratado sobre esta questatildeo

analisando as trocas verbais considera-se para este trabalho que o texto

escrito tem diante de si um autor e um leitor e que a interaccedilatildeo de faz da

mesma forma poreacutem num momento temporal que natildeo eacute simultacircneo mas

35

Benveniste Kerbrat-Orecchioni

62

consecutivo podendo inclusive existir uma grande lacuna temporal separando

os dois polos em contato pelo enunciado

Segundo Amossy o tratamento dado ao ethos na anaacutelise do discurso por

Maingueneau tem seu foco na maneira de dizer que ldquoautoriza a construccedilatildeo de

uma verdadeira imagem de sirdquo A imagem usa da relaccedilatildeo do interlocutor e do

seu parceiro buscando a eficaacutecia da palavra causando impacto e buscando a

adesatildeo Como jaacute foi visto neste capiacutetulo a autora esclarece que Perelman se

preocupa mais quando trata do ethos com a forma de apresentaccedilatildeo do

argumento pelo orador diante do auditoacuterio

Amossy aborda a questatildeo da credibilidade do narrador tratada por

Hassal e de como o narrador se torna confiaacutevel aos olhos do leitor

mobilizando estrateacutegias para que a relaccedilatildeo de confianccedila seja fundada na

autoridade que ele enunciador deve se conferir caso deseje convencer uma

autoridade natildeo eacute negociada mas conferida

Segundo Mainguenau36 (2002) o ethos se elabora ldquoatraveacutes de uma

percepccedilatildeo complexa que mobiliza a afetividade do interprete ao mesmo tempo

em que tira suas informaccedilotildees do material linguiacutestico e do entorno do ambienterdquo

Entretanto essa elaboraccedilatildeo ultrapassa esse limite indo para alem disso

atingindo todo o comportamento do orador incluindo ai o verbal e o natildeo-verbal

sempre como o objetivo de provocar um efeito maior que o das simples

palavras

Maingueneau aponta algumas variantes na concepccedilatildeo de ethos

tratadas por Auchlin37 bastante interessantes a saber

a) O ethos pode ser bastante concreto (carnal) ou mais ou menos abstrato

36 Lrsquoethos de la rheacutetorique agrave lrsquoanalyse du discours 2002

37 Auchlin AntoineUniversiteacute de Genegraveve Publicou entre outros estudos laquoEthos et expeacuterience du

discours quelques remarquesraquo in Wauthion M et A C Simon (eacuteds) Politesse et ideacuteologie Rencontres

de pragmatique et de rheacutetorique conversationnelles Louvain Peeters laquoBCILLraquo 77-95 (trad en

portugais laquo Ethos e experiecircncia do discurso algumas observaccedilotildees raquo in Mari H I L Machado amp R De

Mello (2001) (eacuteds) Anaacutelise do discurso fundamentos e praacuteticas Nuacutecleo de Anaacutelise do discurso

FALEUFMG Belo Horizonte 201-225)

63

b) O ethos pode ser concebido como mais ou menos axioloacutegico vindo

associado agrave ideia de que um bom orador eacute algueacutem de bem de boa

moral e costumes

c) O ethos pode ser concebido como destacado manifesto singular

oposto ao coletivo partilhado impliacutecito e invisiacutevel Este uacuteltimo eacute

conforme explica o autor parte de uma comunidade comunicativa e

como tal eacute invisiacutevel e imperceptiacutevel

d) O ethos pode ser mais ou menos fixo convencional em oposiccedilatildeo ao

emergente e singular tal qual figuras preacute-moldadas

O ethos conclui o autor eacute uma noccedilatildeo discursiva que se constroacutei no

discurso e natildeo apenas uma imagem que o outro faz de um orador Isto implica

dizer que ele eacute parte de uma interaccedilatildeo em que o outro (auditoacuterio ou co-

enuciador) recebe uma determinada influecircncia num determinado contexto

histoacuterico-social e como jaacute explicado antes agraves vezes resultante de habitus

coletivos

O texto de lei tem um ethos atraacutes de si o ethos do legislador que

elaborou a lei Este ethos eacute um ethos preacute-estabelecido o do Congresso

Nacional que aprovou uma lei federal da Assembleia Nacional Francesa que

redigiu a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo ou da ONU que

elaborou atraveacutes de um comitecirc de vaacuterios paiacuteses uma Declaraccedilatildeo Universal de

Direitos do Homem

E cada um desses ethos tem atraacutes de si outros tantos ethos estes

individuais que aparecem na figura representada pelo Congresso brasileiro

pela Assembleia francesa ou pela ONU jaacute que estas satildeo ldquocasasrdquo em que

representantes da sociedade de uma naccedilatildeo ou das naccedilotildees se reuacutenem para

deliberar sobre questotildees de seu interesse

Na medida em que um ethos se une a outros ethos por meio de um

acordo que ocorre no momento em que opiniotildees similares se unem numa

64

anuecircncia sobre um determinado tema forma-se a opiniatildeo de consenso

resultante de um ideal ou real partilhado38

O ethos de um indiviacuteduo poliacutetico tende para o abstrato pois eacute

transformado em ethos de um grupo de deputados ou de representantes de

uma naccedilatildeo e se transforma no ethos da entidade que representam seja ela o

Congresso a Assembleia ou a ONU

No entanto a sua manifestaccedilatildeo natildeo pode ser percebida pelo documento

que apresentam (lei ou tratado) pois nesse texto que eacute um texto-resultado soacute

estatildeo expressas as vontades finais dos legisladores e a proacutepria figura do ethos

eacute apagada Na lei ou tratado a vontade expressa do legislador natildeo vem

expliacutecita na letra do texto O que o texto apresenta satildeo as foacutermulas de

execuccedilatildeo para que na vida praacutetica a vontade seja realizada O ethos estaacute

presente todavia nas sessotildees de debate normalmente privadas restritas ou

de acesso bem menos frequente ao grande puacuteblico e esse eacute o lugar onde

melhor se pode ver sua presenccedila sua construccedilatildeo e seu desenvolvimento

Para exemplificar o que se quer dizer tome-se o seguinte caso poucos

sabem por exemplo quem eram Charles Malik (libanecircs) ou Pen Chung Chang

(vice-presidente da China) que participaram da redaccedilatildeo da DUDH Nem

tampouco se sabe quais paiacuteses participaram da redaccedilatildeo quem foi seu redator

final (o jurista francecircs Reneacute Cassin) ou por quem foram presididos os trabalhos

de discussatildeo (tarefa que coube agrave Eleanor Roosevelt viuacuteva de Franklin

Roosevelt)39

Da mesma forma ocorreu com a lei de informatizaccedilatildeo da justiccedila (Lei

114192006) os usuaacuterios da lei natildeo conhecem o juiz Paulo Seacutergio Domingues

38

Como explica Charaudeau (2002) Aristoacuteteles trata da doxa ou sentido comum que eacute a resultante das

ideias admitidas e opiniotildees partilhadas pelos homens ou por uma maioria (ldquoesclarecidardquo)

39 Este eacute um caso onde se pode verificar uma polifonia visto que existem vaacuterias vozes que chegam a um

consenso para a redaccedilatildeo final do documento Poderia se pensar tambeacutem na questatildeo sobre a perspectiva da

heterogeneidade constitutiva do enunciado segundo o que desenvolve Authier-Revuz Mas como a

redaccedilatildeo final do documento implica em um texto resultado que traduz de forma neutra diferentes pontos

de vista de seus debatedores as marcas possiacuteveis de alteridade satildeo apagadas e natildeo se pode reconhecer

essa heterogeneidade

65

presidente da entidade de classe AJUFE (Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do

Brasil) que eacute quem a defende num momento de debates antes da sua

aprovaccedilatildeo mediante as criticas da OAB

Nesse caso tem-se a maior expressatildeo do ethos o ethos do individuo

Paulo Seacutergio Domingues eacute tambeacutem o ethos do homem mas tambeacutem da

entidade civil da qual este eacute presidente ele defende algo em que acredita e

natildeo soacute porque eacute representante da entidade40 Aleacutem disso na qualidade de juiz

federal natildeo deixa de ser representante do Poder Judiciaacuterio

Percebe-se de pronto pelos exemplos que o ethos individual deu lugar

a um ethos nacional continental cultural histoacuterico e social Pode-se dizer que

haacute a formaccedilatildeo de um super ethos de caraacuteter universal jaacute que funde em si

vaacuterios ethos tatildeo distintos mas que encontram um objetivo em comum uma

opiniatildeo partilhada e concordam em pontos que satildeo apresentados Todos tecircm

como resultado um texto juriacutedico a lei 114192206 ou a Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem

Natildeo eacute diferente do que ocorre na Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

Cidadatildeo elaborada pela Assembleia Francesa ou pela Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil colocada em vigor em 1988 O que difere satildeo

seus objetivos que satildeo particulares a uma naccedilatildeo ou a uma situaccedilatildeo o

momento histoacuterico e social de cada uma delas No entanto a forma de

construccedilatildeo do ethos eacute igual em todos os casos

Cada um dos documentos citados conteacutem em si um caraacuteter abstrato em

sua intenccedilatildeo mas concreto porque seraacute validado jaacute que eacute lei ou tratado Cada

um deles conteacutem um valor axioloacutegico pois traduz a moral do tempo as regras

que precisam ser impostas E como tal satildeo uacutenicos singulares mas dirigidos a

uma comunidade e portanto de efeito coletivo e de caraacuteter partilhado Por fim

como forma textual satildeo documentos fixos moldados convenccedilatildeo que deve ser

respeitada por todos a quem se destina

40

Conforme relatou o proacuteprio Dr Paulo Seacutergio Domingues professor da Faculdade de Direito de

Sorocaba onde leciona haacute 18 anos a disciplina de Direito Processual Civil

66

Maingueneau explica esta questatildeo

laquo Dans le cas de textes scientifiques ou juridiques par exemple le garant au-

delagrave de lrsquoecirctre empirique qui a mateacuteriellement produit le texte est une entiteacute

collective (les savants les hommes de loihellip) eux-mecircmes repreacutesentants

drsquoentiteacutes abstraites (la Science la Loihellip) dont chaque membre est censeacute

assumer les pouvoirs degraves qursquoil prend la parole Degraves lors que dans une socieacuteteacute

toute parole est socialement incarneacutee et eacutevalueacutee la parole scientifique ou

juridique est inseacuteparable de mondes eacutethiques bien caracteacuteriseacutes (savants en

blouses blanches dans des laboratoires immaculeacutes juges austegraveres dans un

tribunalhellip) ougrave lrsquoethos prend selon le cas les couleurs de la laquo neutraliteacute raquo de

lrsquo laquo objectiviteacute raquo de lrsquo laquo impartialiteacute etcraquo41

Mas se por um lado existe uma neutralidade da qual fala esse autor ela

vem impregnada por um vetor ideoloacutegico ligado ao conteuacutedo de cada

documento e de caraacuteter extremamente subjetivo pois que dirigido agrave proteccedilatildeo

dos direitos do homem O resultado final (tratado declaraccedilatildeo ou lei) exprime

dessa forma ao mesmo tempo neutralidade e objetividade e diacronicamente e

de forma oposta eacute resultado justamente da parcialidade e da subjetividade

O enunciador do texto de lei assim como de alguns outros textos

abordados nesse trabalho (os textos de lei e os votos) eacute um enunciador-

resultante expressatildeo de vaacuterias vozes e vontades bem como de diferentes

ethos Pode-se por isso conferir-lhe um status de sujeito enunciador tal qual

um orador e que eacute dotado de um ethos Esse sujeito ao exprimir sua vontade

por meio do texto escrito da lei vai exercer sobre seu auditoacuterio os mesmos

poderes que um enunciador comum de um uacutenico sujeito Seu ethos ainda que

abstrato eacute ldquogigante pela proacutepria natureza eacute impaacutevido colossordquo na medida em

que exprime a vontade do enunciador-resultante e pode ateacute mesmo por

exemplo ser caracterizado do ponto de vista social e poliacutetico

41

Ndo A ldquo No caso dos textos cientiacuteficos ou juriacutedicos por exemplo a garantia aleacutem do ser empiacuterico

que materialmente produziu o texto eacute uma entidade coletiva (os saacutebios os homens da lei) eles proacuteprios

representantes de entidades abstratas (a Ciecircncia a Lei) da qual cada membro eacute autorizado a assumir os

poderes a partir do momento em que toma a palavra Desde o momento em que numa sociedade toda

palavra eacute socialmente personificada e avaliada a palavra cientiacutefica ou juriacutedica eacute inseparaacutevel de mundos

eacuteticos bastante caracterizados (saacutebios de aventais brancos em laboratoacuterios imaculados juizes austeros em

um tribunal) lugar em que o ethos assume de acordo com o caso as cores da ldquoneutralidaderdquo da

ldquoobjetividaderdquo da ldquoimparcialidaderdquo etc

67

232 O papel do local

O local fiacutesico e concreto onde se encontra o enunciador eacute revestido de

um caraacuteter objetivo mas que eacute ao mesmo tempo subjetivo e por isso abstrato

o Congresso Nacional a Assembleia Nacional (francesa) ou a ONU tecircm um

preacutedio fiacutesico como endereccedilo e satildeo pessoas juriacutedicas42 Satildeo chamadas de

42

Conforme o Vocabulaacuterio Juriacutedico (Silva De Plaacutecido e Vocabulaacuterio Juriacutedico Atualizadores Nagib

Slaibi Filho e Glaacuteucia Carvalho Rio de Janeiro Companhia Editora Forense 2004) Pessoa juriacutedica eacute

aquela ldquoempregada para designar as instituiccedilotildees corporaccedilotildees associaccedilotildees e sociedades quepor forccedila ou

determinaccedilatildeo da lei se personalizam tomam individualidade proacutepria para constituir uma entidade

juriacutedica distinta das pessoas que a forma ou que a compotildeem

Diz-se juriacutedica porque se mostra uma encarnaccedilatildeo da lei E quando natildeo seja inteiramente criada por ela

adquire vida ou existecircncia legal somente quando cumpre as determinaccedilotildees fixadas por lei

Dessa forma ao contraacuterio da pessoa natural cuja existecircncia legal se inicia por um fato natural ( o

nascimento) a pessoa juriacutedica somente tem existecircncia quando o Direito lhe imprime o sopro vital

Criando-se ou as confirmando eacute pois o Direito que determina ou daacute vida a essas entidades formadas

pela agremiaccedilatildeo de homens pela patrimonizaccedilatildeo de bens ou para cumprir segundo as circunstacircncias

realizaccedilatildeo do proacuteprio Estado

Inquinam a expressatildeo de pleonaacutestica porque pessoa simplesmente jaacute exprime ou daacute o sentido do ser

juridicamente considerado

Realmente pessoa assim se entende tanto se refere ao homem juridicamente compreendido como a toda

instituiccedilatildeo ou organizaccedilatildeo que se personalizou legalmente para cumprir finalidades do Direito ou fins

desejados por seus instituidores

Mas a qualificaccedilatildeo natural ou a juriacutedica eacute imposta para especializaccedilatildeo pois que em verdade segundo a

mateacuteria de que eacute composta ou constituiacuteda a pessoa haacute distinccedilatildeo entre essas duas espeacutecies

Nesta razatildeo a qualificaccedilatildeo adotada funda-se no fato do qual decorre a sua existecircncia ou personalidade

civil

No homem daacute-se o fato natural E daiacute a designaccedilatildeo adotada logicamente homem natural

Nas instituiccedilotildees corporaccedilotildees associaccedilotildees sociedades etc o fato de que decorre a personalizaccedilatildeo ou

individualizaccedilatildeo eacute legal eacute juriacutedico pois que se funda no Direito E daiacute a expressatildeo juriacutedica que integra

este sentido Juriacutedico eacute tudo o que eacute legal aprovado ou confirmado por lei quando natildeo eacute a proacutepria lei que

o institui ()

As pessoas juriacutedicas satildeo sempre representadas pelas pessoas naturais a quem se outorgam poderes para

representaccedilatildeo Esta representaccedilatildeo em regra eacute dita de delegaccedilatildeo por ser distinta em sua formaccedilatildeo e

exerciacutecio do mandato comumrdquo

Desta forma a ONU eacute pessoa juriacutedica de direito puacuteblico externo o Congresso Nacional eacute pessoa juriacutedica

de direito puacuteblico interno

68

pessoa juriacutedica pois possuem uma personalidade chamada de juriacutedica porque

natildeo eacute uma pessoa humana mas uma entidade a quem se conferem

determinados direitos e obrigaccedilotildees parecidas com as que satildeo atribuiacutedas aos

homens

Essas pessoas juriacutedicas que satildeo sediadas num endereccedilo fiacutesico

concreto tecircm poderes podem decidir negociar delegar ou representar o

grupo tal qual um mandato de um mandante ao seu mandataacuterio

Tecircm todos Congresso Nacional Assembleia Nacional e ONU uma

vontade que exprimem por seus atos e decisotildees tais como promulgar uma

constituiccedilatildeo uma lei um tratado uma declaraccedilatildeo resultado da decisatildeo da

maior parte de seus membros ou revogaacute-los

O local importa porque eacute ao mesmo tempo objetivo e subjetivo quando

se trata de uma notiacutecia em um telejornal ou na internet sobre essas casas haacute

sempre a imagem do preacutedio associada agrave notiacutecia o repoacuterter estaacute no local ou haacute

uma foto do local A fotografia ou a imagem do local fiacutesico personifica e

humaniza o local e por conseguinte se incorpora ao ethos de cada casa que

adquire uma forccedila maior quando citada como fonte (por exemplo O

Congresso Nacional aprovou a lei ldquoxrdquo) Imediatamente vem agrave mente do leitor

ou do ouvinte uma imagem real do local

Assim uma decisatildeo ou declaraccedilatildeo proferida por uma dessas casas tem

uma forccedila (ilocutoacuteria) muito maior do que se o enunciado fosse proferido de um

local natildeo conhecido pelo enunciataacuterio (uma associaccedilatildeo de moradores de um

bairro por exemplo) caso em que o espaccedilo da imagem ficaria no ldquovaziordquo no

referencial do enunciataacuterio

Pode-se exemplificar isso ao se pensar no Congresso Nacional

perguntando-se o que vem agrave cabeccedila do leitor Com certeza ele imaginaraacute algo

parecido com as imagens das figuras abaixo

69

43

Ou

44

Ou ainda

45

Por isso considera-se o local como constituinte tambeacutem do ethos a

imponecircncia institucional associada agrave apresentaccedilatildeo contiacutenua da imagem nos

meios de comunicaccedilatildeo impotildee um respeito agrave figura do ethos da entidade

tornando-o mais forte porque melhor conhecido do seu enunciataacuterio (auditoacuterio)

Todo esse contexto favorece a compreensatildeo da importacircncia de um texto

juriacutedico no seu contexto de produccedilatildeo Mais ainda geralmente um texto

referente a um determinado tema (por exemplo direito a uma justiccedila raacutepida)

natildeo teraacute o mesmo sentido e nem poderaacute ser aplicado da mesma forma em

paiacuteses diferentes ou ateacute mesmo em regiotildees diferentes de um mesmo paiacutes

43

httpwww2camaragovbr

44 httpwwwsenadogovbr

45 Niemeyer Oscar Congresso Nacional 1958 Brasilia httpwwwarcowebcombrarquiteturaoscar-

niemeyer-coletanea-de-11-02-2008html

70

Imagine-se a demora necessaacuteria para a resoluccedilatildeo de um processo de

divoacutercio na cidade de Satildeo Paulo ou numa pequena cidade do interior do

Estado Logicamente onde haacute mais demanda a demora eacute maior para o

atendimento do que se pleiteia

Entatildeo o texto juriacutedico tem sentido em seu local de produccedilatildeo ou de

origem se bem que possa ser aplicado e servir de fonte para outros sistemas

juriacutedicos diferentes (pela analogia admitida em vaacuterios sistemas juriacutedicos)46

Daiacute a importacircncia de conhecer bem o enunciataacuterio ao qual se dirige a

palavra pois dificilmente se poderia obter ecircxito diante de um auditoacuterio cujas

ideias e perfis satildeo contraacuterios ao do enunciador-orador Entretanto nada

impede que ao estabelecer uma relaccedilatildeo com seu puacuteblico o enunciador possa

se servir de argumentos e desenvolvecirc-los de tal forma que termine por

direcionar a opiniatildeo do seu enunciataacuterio-auditoacuterio convencendo-o totalmente

Cabe aqui uma distinccedilatildeo entre a persuasatildeo e a convicccedilatildeo o que

requer como premissa a distinccedilatildeo entre os tipos de auditoacuterios Um primeiro

tipo chamado de universal eacute aquele formado por toda a humanidade O

segundo eacute formado por um uacutenico interlocutor e seu auditoacuterio como num

diaacutelogo O uacuteltimo tipo eacute o estabelecido entre o proacuteprio sujeito e as deliberaccedilotildees

que ele faz consigo mesmo como num diaacutelogo interno

O objetivo do orador - o de obter a adesatildeo desse auditoacuterio - se

concretiza na medida em que o primeiro obteacutem um convencimento de ldquocaraacuteter

impositivo coativo das razotildees fornecidas e de sua evidecircncia validade

intemporal e absoluta independecircncia das contingecircncias locais ou histoacutericasrdquo

que satildeo apontadas

Perelman (197642) destaca ainda que o auditoacuterio universal eacute constituiacutedo

por cada um de seus integrantes e que cada cultura e cada individuo tem a sua

proacutepria concepccedilatildeo do que eacute um auditoacuterio universal Essas consideraccedilotildees levam

46

Uma versatildeo integral do coacutedigo civil francecircs foi adotada na iacutentegra no gratildeo-ducado de Varsoacutevia

Polocircnia durante a ocupaccedilatildeo napoleocircnica (httpideruditorgiderudit043668ar)

71

agrave conclusatildeo de que um determinado argumento pode natildeo obter o mesmo tipo

de adesatildeo em auditoacuterios de culturas diferentes de nacionalidades diferentes

Como se realiza a integraccedilatildeo ou a entrada de um sistema juriacutedico em

um outro diferente como se processam os aportes de legislaccedilatildeo Como um

sistema juriacutedico tal qual o brasileiro integra um tratado internacional ou de que

forma ele insere em seu ordenamento juriacutedico um coacutedigo quase ldquocopiadordquo tal

como ocorreu com os primeiros coacutedigos brasileiros (civil penal e comercial)

Os exemplos dos respectivos coacutedigos civis abaixo satildeo testemunhos

desse fenocircmeno

a) Coacutedigo Civil Brasileiro47

Art 3o Satildeo absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os

atos da vida civil

I - os menores de dezesseis anos

II - os que por enfermidade ou deficiecircncia mental natildeo tiverem

o necessaacuterio discernimento para a praacutetica desses atos

III - os que mesmo por causa transitoacuteria natildeo puderem exprimir

sua vontade

b) Coacutedigo Civil Francecircs 48

Article 1123

Creacuteeacute par Loi 1804-02-07 promulgueacutee le 17 feacutevrier 1804

Toute personne peut contracter si elle nen est pas deacuteclareacutee

incapable par la loi

Article 1124

47

REVOGADA A LEI Nordm 3071 DE 1ordm DE JANEIRO DE 1916 - Coacutedigo Civil dos

Estados Unidos do Brasil - VIGEcircNCIA ATEacute O DIA 10012003LEI No 10406 DE 10 DE

JANEIRO DE 2002 Institui o Coacutedigo Civil em vigor desde 11012003 (Alterado pela MP Nordm

10409012003( hoje LEI No 1067722052003 LEI Ndeg 1082522122003 LEI Ndeg 1093102082004

MP Nordm 234 10012005 LEI Nordm 11107 06042005 LEI Nordm 11127 28062005 LEI Nordm 11280

16022006 LEI Nordm 11481 31052007 LEI Nordm 1169813062008 LC Nordm 12819122008 LEI Nordm

1201003082009 jaacute inseridas no texto) LIVRO I DAS PESSOASTIacuteTULO I DAS PESSOAS

NATURAIS CAPIacuteTULO IDA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE

48 Version consolideacutee au 2 juin 2012 Chapitre II Des conditions essentielles pour la validiteacute des

conventions Section 2 De la capaciteacute des parties contractantes

72

Creacuteeacute par Loi 1804-02-07 promulgueacutee le 17 feacutevrier 1804

Modifieacute par Loi ndeg68-5 du 3 janvier 1968 - art 2

Sont incapables de contracter dans la mesure deacutefinie par la loi

Les mineurs non eacutemancipeacutes

Les majeurs proteacutegeacutes au sens de larticle 488 du preacutesent code

Constata-se o uso dos mesmos vocaacutebulos termos e expressotildees Mais

mesmo com redaccedilatildeo diferente o conteuacutedo eacute quase o mesmo

Como todas essas consideraccedilotildees se encaixam na Teoria da

Argumentaccedilatildeo Tomando a lei como o ponto de partida do fenocircmeno que

constroacutei o sistema juriacutedico ela eacute o argumento em si Isso posto o auditoacuterio eacute o

puacuteblico a que se destina seu enunciataacuterio E o enunciador ou orador eacute o

legislador ou aqueles que deram razatildeo as mudanccedilas da lei Uma lei alterada

existe porque foi necessaacuteria uma mudanccedila social requerida pelo enunciador e

eacute destinada a regrar a vida dos enunciataacuterios

A lei nova que vem como soluccedilatildeo pode ter sido inspirada apenas pelas

mudanccedilas sociais de uma nova tecnologia (pelo uso da informaacutetica) ou por um

tratado internacional assinado pelo governo brasileiro (Declaraccedilatildeo Universal de

Direitos Humanos) Dessa forma uma lei anterior eacute fonte de uma nova lei o que

revela a polifonia existente A necessidade de uma nova lei pela modernizaccedilatildeo

ou adequaccedilatildeo a um sistema internacional eacute o argumento

233 O auditoacuterio

O auditoacuterio para quem se destina a lei eacute um auditoacuterio ao mesmo tempo

uacutenico e universal Uacutenico quando tomado como naccedilatildeo pois uma lei se destina a

todo o povo de uma naccedilatildeo E ao mesmo tempo universal porque eacute constituiacutedo

de indiviacuteduos homens e mulheres bastante diferentes entre si na sua

73

individualidade mas que aos olhos do Estado e de seus poderes politicamente

organizados constituem um uacutenico ser o povo

Diferente do auditoacuterio universal o auditoacuterio onde se apresenta um uacutenico

interlocutor vecirc o desenvolvimento do argumento dentro de um diaacutelogo que se

desenvolve de maneira razoavelmente equilibrada no qual tanto o orador

quanto o interlocutor expotildeem cada um seus bons argumentos a fim de

encontrar uma soluccedilatildeo de consenso

A proposta de uma lei federal por exemplo eacute resultado da expressatildeo de

um auditoacuterio universal pois ela eacute debatida no Congresso Nacional onde estatildeo

deputados e senadores No entanto um interlocutor uacutenico pode representar na

condiccedilatildeo de representante do grupo ao qual pertence um auditoacuterio universal

Dessa forma o Congresso Nacional pode ser visto no momento do debate

como um ser uacutenico

Normalmente no auditoacuterio a troca entre orador e interlocutor possui

caracteriacutesticas que apontam para a discussatildeo Todavia ela pode se transformar

em debate se o objetivo principal for o triunfo da tese defendida tal como

ocorre no debate para a aprovaccedilatildeo de uma lei Segundo Perelman (197650) a

distinccedilatildeo entre o debate e a discussatildeo se faz sobretudo pela intenccedilatildeo dos

participantes da troca

O auditoacuterio ao deliberar consigo mesmo diante do que lhe eacute

apresentado pelo orador estaraacute sopesando sua aceitaccedilatildeo total ou parcial

convencendo-se ou natildeo da tese que lhe foi proposta

Diferente eacute o que ocorre na persuasatildeo que transcende os limites da

convicccedilatildeo iacutentima do interlocutor ou do auditoacuterio mediante o uso de um

elemento de maior forccedila que tem como objetivo coagir o auditoacuterio seja ele

formado por um uacutenico interlocutor ou universal

A persuasatildeo pode ser resultado dos procedimentos utilizados pelo

orador ou ocorrer em funccedilatildeo da formaccedilatildeo do proacuteprio auditoacuterio universal Assim

por exemplo um deputado de opiniatildeo divergente em seu partido pode votar a

favor de um projeto de lei que eacute de interesse do grupo poliacutetico ao qual

74

pertence A persuasatildeo neste caso seria efeito do pathos que se realiza pela

coerccedilatildeo isto eacute pelo compromisso assumido pelo poliacutetico com seu partido

obrigando-o a votar de acordo com o que a sua bancada partidaacuteria determinou

Uma lei colocada em vigor natildeo aceita discussatildeo sobre seu caraacuteter

persuasivo pois como lei sua persuasatildeo e seu poder de coaccedilatildeo satildeo atributos

inerentes Entretanto uma lei colocada em vigor pode suscitar debates sobre

sua forma de aplicaccedilatildeo Jaacute um projeto de lei pode tambeacutem suscitar debates

onde discussatildeo e persuasatildeo estatildeo presentes no momento de sua proposta

visto que num sistema democraacutetico o projeto de lei implica num debate antes

de sua aprovaccedilatildeo definitiva em lei

Os tratados de retoacuterica distinguem todos os gecircneros oratoacuterios

deliberativos judiciaacuterios e epidiacutedicos Os primeiros e os segundos se

constituem sobretudo por debates poliacuteticos e judiciaacuterios enquanto o terceiro

seria voltado para uma livre forma de expressatildeo cujo objetivo eacute o de agradar

elevar ou ornar um fato

Perelman destaca todavia que apesar de seu caraacuteter aparentemente

esteacutetico-literaacuterio o gecircnero epidiacutedico eacute aquele que conteacutem a intensidade

necessaacuteria presente na exposiccedilatildeo de cada argumento que por sua vez tem

seu valor exacerbado em uma medida necessaacuteria para atingir o resultado a que

se propotildee o orador

Perelman (197667) explica que dessa forma o convencimento do

auditoacuterio tambeacutem se faz natildeo soacute pela discussatildeo dos elementos que constituem

o argumento mas pelo fato de ser belo o recurso do qual se utiliza o orador

por exemplo Eacute nele ainda segundo Perelman que o orador se faz educador

que transmite seus valores Aqui estaacute presente a arte encantatoacuteria que muitas

vezes se faz pela presenccedila pessoal do orador diante de seu auditoacuterio seu

gestual sua forma de impostar a voz etc No Congresso Nacional a presenccedila

do epidiacutedico se faz pela emoccedilatildeo e pelo discurso inflamado do deputado ao

defender ou refutar o projeto de lei em debate diante do plenaacuterio

A argumentaccedilatildeo tem sempre como objetivo modificar um estado de

coisas preexistentes Eacute portanto de ordem praacutetica objetiva e pretende

75

mostrar por meio de provas que tem sua razatildeo de ser alterando o criteacuterio

subjetivo com que o auditoacuterio julga o argumento

Aleacutem do gecircnero epidiacutedico que eacute usado como recurso como jaacute foi dito

antes o orador serve-se de outros recursos para convencer o seu auditoacuterio

O auditoacuterio ou enunciataacuterio a quem se dirigem os textos de lei

analisados pelo corpus deste trabalho eacute o homem que vive em sociedade a

coletividade No caso da DDHC eacute o homem e cidadatildeo francecircs (leia-se homem

enquanto ser da espeacutecie humana) na DUDH eacute o homem de cada paiacutes

integrante da ONU na CF88 o homem brasileiro ou estrangeiro que vive no

Brasil e finalmente no caso da Lei 114192006 o homem eacute cada um que for

usuaacuterio do Poder Judiciaacuterio funcionaacuterio ou parte de um processo

resguardadas as limitaccedilotildees de implantaccedilatildeo do sistema de informatizaccedilatildeo

Jaacute nos textos do voto e parecer do Deputado Roberto Batochio e da

Justificaccedilatildeo da Deputada Luiza Erundina o auditoacuterio eacute a proacutepria Cacircmara dos

Deputados pois eacute ela quem aceita o parecer de ambos para depois votar a

aprovaccedilatildeo do projeto de lei Jaacute na Nota Oficial analisada o auditoacuterio eacute mais

restrito o texto dirige-se agrave OAB que criticou o projeto de lei e tambeacutem aos que

possam se interessar pela aprovaccedilatildeo da proposta apresentada ao Congresso

Nacional

234 O ethos e o logos

Perelman (197667) trata da adesatildeo que se pode fazer a grupos especiais

como os valores as hierarquias e os lugares do preferiacutevel explicando que

ldquoestar de acordo em relaccedilatildeo a um valor significa admitir que se exerceraacute uma

influecircncia sobre um objeto um ser ou um idealrdquo e que ela pode natildeo se impor a

todos

Mas destaca o autor que os valores estatildeo presentes de alguma forma e

em algum momento em todas as argumentaccedilotildees mesmo que isso ocorra pela

contestaccedilatildeo do valor ou sua total negaccedilatildeo Um auditoacuterio universal vai estar

76

sujeito a valores universais Mas na medida em que um auditoacuterio universal eacute

composto por auditoacuterios especiais a adesatildeo de cada grupo se faraacute de forma

diferente Entatildeo na aprovaccedilatildeo de uma lei ou tratado por um parlamento haveraacute

adesatildeo integral ou parcial ou natildeo do auditoacuterio universal A aprovaccedilatildeo e

portanto sua adesatildeo natildeo se faraacute de forma igual podendo haver diferentes

graus de adesatildeo mesmo diante da aprovaccedilatildeo E cada adesatildeo pode se fazer

por razotildees diferentes isto eacute cada grupo pode aderir por concordar ou se opor

a um certo grupo de valores diversos

Eacute o que ocorreu com a posiccedilatildeo da OAB que criticou o projeto da Lei de

Informatizaccedilatildeo Judicial para essa entidade o valor de ldquoacesso a uma justiccedila

mais ceacutelererdquo parecia impossiacutevel de ser alcanccedilado mesmo depois de sua

aprovaccedilatildeo pelo Poder Legislativo Hoje pode-se constatar que apesar de

ainda serem necessaacuterios vaacuterios aperfeiccediloamentos na implantaccedilatildeo - e ateacute

mesmo na execuccedilatildeo dos procedimentos de informatizaccedilatildeo a certificaccedilatildeo

digital por exemplo eacute uma realidade para os advogados brasileiros49

49

De acordo com o site nacional da entidade httpwwwacoabcombracoabsiteentendacertificado-

digital-oab Acesso em 22122012

O Certificado Digital OAB eacute emitido apenas para advogados regularmente inscritos na Ordem dos

Advogados do Brasil

Como descrito na DPC AC-OAB (Declaraccedilatildeo de Praacuteticas de Certificado ndash Autoridade

Certificadora OAB) documento que conteacutem as normas e procedimentos aplicaacuteveis agrave

Autoridade Certificadora o Certificado Digital do advogado somente poderaacute ser armazenado no chip do

seu cartatildeo profissional

Os inscritos que jaacute receberam a nova identidade profissional emitida pela OAB contendo

o chip eletrocircnico natildeo precisaratildeo solicitar um novo cartatildeo

Seraacute necessaacuterio apenas realizar o processo de solicitaccedilatildeo descrito no paraacutegrafo ldquoComo emitir

um Certificado Digitalrdquo

Os inscritos que ainda possuem o modelo antigo da identidade profissional sem o chip deveratildeo

providenciar imediatamente a troca pelo novo modelo para obter as vantagens do uso da

certificaccedilatildeo digital

Quando o advogado opta por ter uma certificaccedilatildeo digital ICP-BRASILAC-OAB ele valoriza a sua

entidade de classe e viabiliza seu acesso a diversos serviccedilos agregados e disponibilizados pelo Conselho

Federal como

1 Aacuterea para seu uso exclusivo no site da Instituiccedilatildeo para disponibilizar seu curriacuteculo profissional e

outras informaccedilotildees uacuteteis

2 Acesso automaacutetico aos seus dados constantes do Cadastro Nacional de Advogados passiacuteveis de

atualizar eletronicamente

77

Os valores podem ser de ordem distinta isto eacute concretos ou abstratos

Perelman considera a justiccedila ou a veracidade como valores abstratos e a

Franccedila ou a Igreja como valores concretos Na sociedade ocidental calcada

nas concepccedilotildees greco-romanas existem comportamentos e virtudes que soacute

podem ser segundo ele concebidos em relaccedilatildeo aos valores concretos tais

com as noccedilotildees de fidelidade ou lealdade

A base da argumentaccedilatildeo se faz sobre um tipo de valores ou sobre o

outro dependendo das circunstacircncias e nem sempre eacute faacutecil se distinguir o

papel de cada um dos valores Num dado grupo social o valor concreto pode

ser tratado como uacutenico e se oporaacute a qualquer outro que lhe seja estranho e

pode ateacute se for adotado sem os devidos cuidados levar a uma tomada de

posiccedilatildeo arbitraacuteria

Os valores concretos podem ser usados para fundar valores abstratos e

vice-versa Apoiar-se num valor abstrato pode servir agrave critica e agrave necessidade

de se proceder dessa forma manifesta ou ainda segundo Perelman (1976) a

um espiacuterito revolucionaacuterio enquanto que o contraacuterio indica normalmente um

caraacuteter conservador

O valor de igualdade e liberdade que parecia abstrato em 1789 aos

revolucionaacuterios franceses se materializa na DDHC se reforccedila com a

publicaccedilatildeo na DUHC Aiacute o conceito de justiccedila ainda volaacutetil sobretudo pelo fato

das duas grandes guerras vivenciadas pela Europa em menos de 50 anos

comeccedila a tomar corpo e ganhar forccedila Por toda a parte satildeo contestadas as

medidas que restringem a igualdade e a liberdade ao mesmo tempo em que o

3 Reduccedilatildeo dos custos na contrataccedilatildeo da Certificaccedilatildeo Digital

4 Seguranccedila na emissatildeo do Certificado ICP-BRASILAC-OAB porque aleacutem da conferecircncia

presencial dos documentos apresentados na hora da certificaccedilatildeo haveraacute uma consulta ao Cadastro

Nacional dos Advogados onde apareceraacute a foto do advogado para a confirmaccedilatildeo final

5 Possibilidade de encaminhamento de livros para Editoraccedilatildeo da Editora OAB

6 Desconto na inscriccedilatildeo de cursos na ENA

7 Aquisiccedilatildeo de livro da Livraria OAB com descontos

Para que o advogado possa usufruir a valorizaccedilatildeo de seu cartatildeo deve estar em dia com a OAB e ter

certificaccedilatildeo ICP-BRASILAC-OAB

78

sentido do conceito de justiccedila se amplia se reformula sobe na hierarquia dos

valores sociais ateacute se transformar no acesso raacutepido agrave justiccedila sustentado pelas

maacuteximas do fumus bon iuris e do periculum in mora

As hierarquias que tambeacutem constituem a base da argumentaccedilatildeo se

apoiam sobre os valores pois indicam a preferecircncia ou a concepccedilatildeo dos

valores relativos agraves pessoas e agraves coisas umas em relaccedilatildeo agraves outras Tambeacutem

podem ser concretas e abstratas sendo que os mesmos criteacuterios em relaccedilatildeo

aos valores satildeo adotados para se distinguir umas das outras

Uma das formas mais usuais de hierarquizaccedilatildeo eacute a que considera o

aspecto quantitativo dos elementos colocando em preferecircncia os de maior

quantidade Mas a hierarquia dos valores abstratos se faz mediante o criteacuterio

da natureza do elemento o que equivale dizer da sua natureza qualitativa e a

essa hierarquia na apresentaccedilatildeo dos argumentos eacute mais importante ateacute do

que o proacuteprio valor dos argumentos

Perelman ensina que um auditoacuterio se caracteriza mais pela forma como

ele hierarquiza os valores do que pelos proacuteprios valores A intensidade de

adesatildeo a cada um dos valores tambeacutem deve ser considerada e conhecida do

orador a fim de que ele possa explorar convenientemente esse aspecto na

apresentaccedilatildeo de sua argumentaccedilatildeo

Ao se examinar uma lei e o argumento que caracteriza a sua existecircncia

temos que sua concretude se daacute pelo fato da lei ser publicada e produzir seus

efeitos Mas o grau de importacircncia de uma lei eacute baseado tal qual o argumento

numa escala hieraacuterquica onde o valor atribuiacutedo a diferentes leis eacute normalmente

definido pela Constituiccedilatildeo do paiacutes como se veraacute mais adiante

Em relaccedilatildeo aos argumentos e aos lugares estes vatildeo designar as

rubricas sob as quais se podem classificar os argumentos como se fossem

etiquetas A divisatildeo aristoteacutelica separava os lugares comuns dos especiacuteficos

Os primeiros de caraacuteter generalizante permitem um uso em diversas e

muacuteltiplas circunstacircncias Seu uso indiscriminado levou agrave repeticcedilatildeo exaustiva e

esse excesso foi tachado de local comum caracterizando os lugares comuns

por uma banalidade que entretanto natildeo exclui a especificidade

79

Perelman (1976115) propotildee em sua obra diferente do que fez

Aristoacuteteles tratar dos lugares comuns separando-os em lugares da

quantidade da qualidade da ordem da existecircncia da essecircncia e da pessoa

Os lugares da quantidade satildeo definidos como sendo lugares comuns onde

prevalece a quantidade da ocorrecircncia e segundo Isoacutecrates deve se avaliar

sua aplicaccedilatildeo e retorno isto eacute aquele que ldquorend servicerdquo a maior quantidade

de pessoas que dele se beneficia Retomando Aristoacuteteles Perelman

(1976116) cita um trecho de Toacutepicos50 que eacute bastante interessante onde ele

compara a justiccedila agrave coragem e a utilidade de ambas a justiccedila sempre eacute uacutetil a

coragem apenas agraves vezes Isto implica dizer que o local da quantidade eacute

aquele onde o que acontece eacute o usual o normal o habitual

Oposto ao local da quantidade estaacute o da qualidade tal como o da

qualidade da verdade divina defendida por Calvino e os Reformistas Aqui tem

maior importacircncia a singularidade a preciosidade a especificidade a

originalidade de cada ser ou objeto e das relaccedilotildees que os envolvem eacute a

valorizaccedilatildeo do uacutenico A precariedade citada como exemplo de local da

qualidade em oposiccedilatildeo ao valor quantitativo da duraccedilatildeo Por isso o que eacute

precaacuterio tem um valor maior

Os outros lugares tal qual o da ordem afirmam a superioridade do

anterior sobre o posterior da causa sobre o fim e o dos princiacutepios sobre o

objetivo os lugares da existecircncia afirmam a superioridade do que existe do

que eacute atual e real sobre o possiacutevel o eventual ou o impossiacutevel

Uma lei como jaacute foi mencionado eacute um argumento em si e eacute posta

diante de um auditoacuterio a sociedade As palavras que se apresentam no seu

enunciado nem sempre representam o seu conteuacutedo uma lei como a da

informatizaccedilatildeo da justiccedila (Lei 114192006) busca em seu escopo uma

celeridade no tracircmite dos processos junto ao sistema judiciaacuterio Mas no corpo

50

ldquoEst aussi plus deacutesirable ce qui est plus utile en toute occasion ou la plupart du temps par exemple la

justice et la tempeacuterance sont preacutefeacuterables au courage car les deux premiegraveres sont toujours utiles tandis

que le courage ne lrsquoest qursquoagrave certains momentsraquo

80

do texto da lei essas palavras natildeo aparecem O que natildeo significa que a

maacutexima ldquoceleridade processualrdquo esteja ausente

Um estudo mais aprofundado realizado por Cretella (1994) da oitava

Constituiccedilatildeo da Republica Federativa do Brasil de 1988 que ainda eacute vigente

revela que quatro Declaraccedilotildees Revolucionaacuterias Francesas51 influem na

Constituiccedilatildeo Poliacutetica do Impeacuterio de Brasil de 1824 e se perpetuam ao longo dos

tempos

No texto de 1988 o principio tradicional de ldquotodos satildeo iguais perante a

leirdquo ressurge reformulado no Preacircmbulo atraveacutes da palavra ldquoigualdaderdquo Mas

este princiacutepio tambeacutem estaacute presente em outras Constituiccedilotildees anteriores a

saber

Constituiccedilatildeo do Impeacuterio (art 179 inc I)

Constituiccedilatildeo Federal de 1891 (art 72 sect 2ordm)

Constituiccedilatildeo Federal de 1934 (art 113 inc I)

Carta de 1937 (art 122 inc I)

Constituiccedilatildeo Federal de1946 (art 141 sect 1ordm)

Emenda Constitucional no 1 de 1969 (art 153 sect 1ordm)

e na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (art 5ordm)

Por sua vez o artigo 5ordm da Constituiccedilatildeo de 1988 recebe uma Emenda

Constitucional52 16 anos apoacutes a sua entrada em vigor que trata exatamente

da questatildeo da celeridade da justiccedila ldquoa todos no acircmbito judicial e

51

De acordo com o mesmo autor a) a de 17 artigos e mais conhecida a Declaraccedilatildeo dos Direitos do

Homem e do Cidadatildeo pois seus artigos constam no Proacutelogo da Constituiccedilatildeo de 1791 e na de 1958

tambeacutem Foi votada pela Assembleia Constituinte francesa em 27 de agosto de 1789 b) a Declaraccedilatildeo

girondina de 1793 votada pela Convenccedilatildeo c) a Declaraccedilatildeo Montanhesa de 1793 que deveria preceder a

constituiccedilatildeo mas que acabou natildeo sendo votada d) a Declaraccedilatildeo do Ano III que precede a Constituiccedilatildeo

de 5 Frutidor (do mesmo ano) votada tambeacutem pela Convenccedilatildeo

52 Emenda Constitucional n

o 45 de 9 de dezembro de 2004 Art 5ordm LXXVIII - a todos no acircmbito judicial

e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeridade de

sua tramitaccedilatildeo

81

administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios

que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeordquo

Conforme observa Alexandre de Moraes (2011410-412) evocando o

princiacutepio da eficiecircncia dos serviccedilos

A EC no 4504 (Reforma do Judiciaacuterio) assegurou a todos no

acircmbito judicial e administrativo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo

e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeo

O mesmo autor comenta mais adiante na mesma obra referindo-se

especificamente agrave lei 114192006

No contexto da Reforma do Judiciaacuterio e buscando efetivar a

celeridade processual a Lei no

11419 de 19 de dezembro de

2006 regulamenta a informatizaccedilatildeo do processo judicial (autos

virtuais) estabelecendo a possibilidade de utilizaccedilatildeo do meio

eletrocircnico na tramitaccedilatildeo dos processos judiciais comunicaccedilatildeo

de atos e transmissatildeo de peccedilas processuais indistintamente aos

processos civil penal e trabalhista bem como aos juizados

especiais em qualquer grau de jurisdiccedilatildeo

A proacutepria lei define os principais termos para a implementaccedilatildeo

da informatizaccedilatildeo do processo judicial

Entatildeo o desaparecimento ou ausecircncia de certos termos nos documentos

(tal qual o termo justiccedila) tem um significado sua ausecircncia implica no fato de

que o valor abstrato passou a ser concreto natildeo eacute mais necessaacuterio estar

presente de forma expliacutecita ele eacute inerente agrave sociedade pois a evoluccedilatildeo dos

costumes fez com que o valor transigisse de status passando da abstraccedilatildeo

para a concretude

Na Revoluccedilatildeo Francesa o direito a uma justiccedila ldquojustardquo era algo que natildeo

se conhecia e se existia era exercido para alguns e natildeo para todos podendo

nunca se concretizar pela demora em sua realizaccedilatildeo O direito agrave justiccedila se

ampliou de tal forma que hoje natildeo eacute mais necessaacuterio que ele apareccedila

explicitado dessa forma pois ele se tornou inerente ao homem do seacuteculo XXI

mesmo que seja necessaacuterio ainda em alguns casos explicitaacute-lo melhor53

53

Ao se acessar a paacutegina da ONU pode-se verificar que ainda existem muitas questotildees em que a justiccedila

ainda natildeo alcanccedila sua efetividade pois existem programas tais como eliminaccedilatildeo da violecircncia contra a

82

A anaacutelise que Cretella (1994) faz do Preacircmbulo da Constituiccedilatildeo Federal

da Repuacuteblica do Brasil mostra sob a oacutetica do direito tal evoluccedilatildeo Ele explica

que a Revoluccedilatildeo Francesa incorpora em um soacute valor as maacuteximas de ldquoliberteacuterdquo

ldquoeacutegaliteacuterdquo e ldquofraterniteacuterdquo mas que os constituintes brasileiros os separaram na

redaccedilatildeo do Preacircmbulo colocando-os em ldquolugaresrdquo diferentes

A separaccedilatildeo permite ao contraacuterio do que se possa pensar natildeo uma

dispersatildeo dos valores Significa que cada um desses valores pode e seraacute

como se veraacute mais adiante ser tomado individualmente para que possa ser

melhor explorado desenvolvido e especificado A um valor baacutesico de liberdade

se associam as situaccedilotildees onde este valor eacute necessaacuterio liberdade de crenccedila

religiosa de ir e vir de filiaccedilatildeo partidaacuteria por exemplo

De certa forma alguns desses valores estatildeo presentes ao mesmo tempo

fundidos em outros Assim o valor de bem-estar soacute pode existir se um homem

for livre para circular pelo espaccedilo social se ele for tratado de forma equacircnime

em relaccedilatildeo aos outros homens e de maneira fraterna

Assim tambeacutem ocorre em relaccedilatildeo agrave justiccedila para que se atinja a justiccedila

enquanto ideal de uma sociedade haacute que se ter liberdade igualdade e

fraternidade A maacutexima francesa retomada em vaacuterias das Constituiccedilotildees e

Cartas brasileiras se repete sempre como se sua repeticcedilatildeo fosse necessaacuteria

para sua solidificaccedilatildeo presente no preacircmbulo e perpetuando-se pelos artigos

seguintes inclusive no artigo 5ordm cristaliza-se tal qual claacuteusula peacutetrea Sua

exigecircncia passa a ser inquestionaacutevel e deve ser a todo custo cumprida

Desta forma valores tatildeo abstratos na Franccedila de 1789 e que passaram a

ser repercutidos ao longo dos anos surgiram na primeira Constituiccedilatildeo do

Impeacuterio e se perpetuaram em outras Constituiccedilotildees brasileiras concretizando-

se como direitos adquiridos

mulher a crianccedila da violecircncia sexual nos conflitos da proteccedilatildeo dos povos autoacutectones das crianccedilas nos

conflitos armados etc (httpwwwunorgfrrights)

83

Entretanto natildeo soacute os documentos franceses influenciaram as leis

brasileiras O cenaacuterio internacional tambeacutem provocou interferecircncias apoacutes duas

guerras mundiais de consequecircncias perpeacutetuas e avassaladoras para o mundo

que culminaram na celebraccedilatildeo de vaacuterios tratados e da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem de 1948 A DDUH retomara os valores de igualdade

fraternidade liberdade justiccedila especificando-os e aprofundando-os a fim de

impedir que novos horrores fossem praticados

Ora o Brasil por meio do mesmo art 5ordm e inciso LXXVIII54 inclui os

tratados internacionais em seu sistema legal colocando os tratados

internacionais sobre direitos humanos entre a constituiccedilatildeo federal e as leis

federais o que implica dizer que eles tecircm que ser respeitados tal como

constam no tratado dentro do sistema hieraacuterquico das leis brasileiras

Essa forma de organizaccedilatildeo hieraacuterquica das leis nada mais eacute do que o

logos do enunciado uma lei autoriza ou se acorda com outra uma eacute

argumento da outra Consequentemente uma medida provisoacuteria natildeo pode estar

em desacordo com um tratado internacional ou um decreto legislativo em

desacordo como uma lei complementar

24 A reformulaccedilatildeo na liacutengua e no discurso juriacutedico

As figuras e procedimentos da Retoacuterica no item anterior mostram que

documentos franceses repercutiram no mundo e influenciaram documentos

brasileiros por meio de procedimentos reformulativos variados Conceitos

expressotildees termos foram ora incorporados repetidos reformulados ora

suprimidos sendo sua ausecircncia apenas formal Essas diversas formas de

reformulaccedilatildeo expliacutecita natildeo se realizam sem alterar o sentido obviamente O

54

sect 2ordm - Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do

regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do

Brasil seja parte

84

termo reformulaccedilatildeo eacute muito geneacuterico e refere-se a vaacuterios procedimentos

linguiacutesticos discursivos e enunciativos natildeo cabendo aqui discorrer sobre suas

inuacutemeras formas e alcance apenas seratildeo aludidas as formas que interessam agrave

anaacutelise deste corpus55

241 Do ponto de vista linguiacutestico

A reformulaccedilatildeo eacute um procedimento de substituiccedilatildeo empregado na

construccedilatildeo de um enunciado De acordo com Peytard (1984) a reformulaccedilatildeo

pode ser entendida ldquocomme lrsquoensemble des transformations quun discours

(litteacuterairescientifique) admet dune mecircme et unique source pour devenir laquo

autrement raquo56 eacutequivalentrdquo Para que se possa realizar tal operaccedilatildeo

normalmente faz-se uso de uma expressatildeo linguiacutestica diferente Por exemplo

no caso de um texto juriacutedico a lei pode ser substituiacuteda de forma reduzida ou

simplificada por ldquoelardquo ldquodelardquo ou ldquoregra legalrdquo

Peytard tambeacutem ensina que a reformulaccedilatildeo ocorre no momento em que

se explica um enunciado levando em consideraccedilatildeo o ldquoagente de

reformulaccedilatildeordquo

crsquoest-agrave-dire par rapport au locuteur-scripteur qui partant drsquoun

eacutenonceacute discursif drsquoorigine (situeacute) le transforme selon des

proceacutedures repeacuterables en un eacutenonceacute discursif second Eacutetant

entendu que lrsquoalteacuteration peut soit maintenir une similitude (eacutetat

drsquoeacutequivalence) soit provoquer une diffeacuterence (eacutetat drsquoalteacuteriteacute)57

A reformulaccedilatildeo elaborada por um mesmo enunciador reflete sim a

alteridade discursiva Todavia nos casos em que ela eacute resultante de um

55

Alguns autores preferem a grafia re-formulaccedilatildeo pois cada alteraccedilatildeo eacute uma nova formulaccedilatildeo

56 aspas do autor

57 ldquoIsto eacute em relaccedilatildeo ao locutor-escritor que partindo de um enunciado discursivo de origem (situado) o

transforma segundo procedimentos que se evidenciam em um enunciado discursivo segundo Visto que

a alteraccedilatildeo pode ou manter uma similaridade (estado de equivalecircncia) ou provocar uma diferenccedila (estado

de alteridade)rdquo (Trad Nossa)

85

conjunto de vozes de diferentes enunciadores de mesma cultura e ateacute de

culturas diferentes ela refrata apenas a polifonia existente

Segundo Mortureux (1993) a reformulaccedilatildeo como recurso eacute bastante

adotada para transpor o discurso cientiacutefico e teacutecnico para um discurso de

vulgarizaccedilatildeo (divulgaccedilatildeo cientiacutefica) ou seja essa transposiccedilatildeo possibilita o

acesso de uma linguagem teacutecnica e cientiacutefica para uma linguagem quotidiana

ou mais acessiacutevel Explica Peytard (1984) que sendo o agente da alteraccedilatildeo o

mesmo que produziu o enunciado discursivo de origem trata-se de

reformulaccedilatildeo

Segundo Charaudeau a reformulaccedilatildeo tem diferentes objetivos mas o

principal eacute evitar a repeticcedilatildeo de um mesmo termo retomado A reformulaccedilatildeo

pode se aplicar a um uacutenico termo ou a um conjunto deles e pode tambeacutem se

fazer de vaacuterias formas Enquanto fenocircmeno enunciativo a reformulaccedilatildeo pode

tratar dos diferentes aspectos do discurso direto ou indireto mas tambeacutem do

dialogismo inerente a todo discurso conforme a perspectiva bakhtiniana

Nos casos em que ocorre uma reformulaccedilatildeo e a alteraccedilatildeo do enunciador

ndash que eacute substituiacutedo por outro enunciador ou por um grupo de enunciadores ndash

pode haver uma alteraccedilatildeo do sentido Tal fato pode ser da escolha do

enunciador que quer ou precisa se afastar do termo inicialmente usado Tome-

se como exemplo o uso de termos substituiacutedos por outros porque

considerados inadequados a partir de um determinado momento tal como a

substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquodeficiente fiacutesicordquo pela expressatildeo ldquoportador de

necessidade especialrdquo O enunciador pode iniciar seu texto com a primeira

expressatildeo para esclarecer sobre o objeto do qual iraacute tratar para em seguida

passar a usar sempre a segunda expressatildeo considerada mais adequada nos

tempos atuais O conteuacutedo ideoloacutegico presente na reformulaccedilatildeo aponta a

vontade do enunciador de natildeo discriminar aqueles que tecircm mobilidade

diferenciada

Explica ainda Charaudeau (1992) que a reformulaccedilatildeo pode ter um

caraacuteter explicativo ou imitativo No primeiro caso ela tem um caraacuteter didaacutetico

conforme ensina esse autor pois explica de forma detalhada e atualizada tal

86

qual se faz num dicionaacuterio ou em um resumo (abstract ou reacutesumeacute) de artigo

cientiacutefico O caraacuteter imitativo reproduz as caracteriacutesticas mais marcantes tal

como no pastiche na saacutetira ou na paroacutedia e sua funccedilatildeo eacute luacutedica

A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo pode-se tomar o caso de um fiacutesico e um

engenheiro que descrevem o funcionamento de um motor de automoacutevel em

linguagem teacutecnica em um relatoacuterio teacutecnico sobre o desempenho do motor e o

mesmo fenocircmeno explicado num manual para o proprietaacuterio de um veiculo

automotor

Ensina Mortureux (1993) que essas substituiccedilotildees podem se efetuar pelo

emprego de recursos metalinguiacutesticos diafoacutericos ou tipograacuteficos

a) metalinguiacutesticos satildeo chamados pela autora os recursos empregados

com o auxilio dos verbos do tipo significar designar etc que satildeo utilizados na

sequecircncia do termo para esclarecer ou explicar tal como a sequecircncia de

palavras que datildeo o sentido de um termo no dicionaacuterio Ex incapacidade

designa a falta de capacidade de algueacutem para a realizaccedilatildeo de determinados

atos da vida civil

b) diafoacutericos satildeo os recursos que compreendem a

- anaacutefora gramatical retomada do termo posteriormente e acompanhado por um determinante do tipo demonstrativo por exemplo

- anaacutefora lexical retomada do termo por repeticcedilatildeo simples sinoniacutemia metoniacutemia

- a cataacutefora retomada do termo por um enunciado posterior

c) tipograacuteficos satildeo os recursos que se destinam a chamar a atenccedilatildeo

atraveacutes da pontuaccedilatildeo ou forma graacutefica tal como uma palavra grafada em

itaacutelico

Em relaccedilatildeo agrave sinoniacutemia recurso bastante empregado nos textos do

corpus Charaudeau (199254) ensina que no momento em que se emprega

uma palavra no local de outra num mesmo contexto ldquosans que change le sens

de leacutenonceacute on dira que ces deux mots sont seacutemantiquement eacutequivalents Ce

pheacutenomegravene est traditionnellement appeleacute synonymieraquo

87

O autor observa entretanto que natildeo existe sinoniacutemia absoluta Se

assim fosse natildeo haveria a necessidade de existirem diferentes palavras para

exprimir a mesma coisa Se haacute outra palavra existe um sentido diferente em

geral devido agrave diferenccedila do contexto em que cada uma eacute empregada

242 A reformulaccedilatildeo no direito empreacutestimo ldquotransplantrdquo ldquocirculationrdquo

No Direito eacute preciso tomar bastante cuidado com a substituiccedilatildeo de um

termo pelo outro jaacute que o sentido se altera A reformulaccedilatildeo eacute um procedimento

bastante praticado pelos juristas ao se tomar a lei como texto primordial e

central da atividade do jurista o texto que ele produz a partir da leitura da lei

nada mais eacute do que um procedimento de reformulaccedilatildeo acrescido de uma

interpretaccedilatildeo argumentativa para atingir um determinado objetivo

Existem ateacute mesmo artigos e leis que satildeo conhecidos inclusive por

aqueles que natildeo satildeo da aacuterea juriacutedica No Coacutedigo Penal os artigos 121 e 171

satildeo sinocircnimos de homiciacutedio e estelionato e na linguagem popular satildeo ateacute

empregados como adjetivos ldquoAh o fulano Conheccedilo bem ele eacute o ldquomaior 171rdquo

do bairrordquo

No discurso juriacutedico a reformulaccedilatildeo se faz normalmente no corpo do

texto onde haacute a transcriccedilatildeo do referido artigo de lei que agraves vezes se muito

conhecido tem apenas seu nuacutemero mencionado Em seguida haacute a

fundamentaccedilatildeo para justificar o pedido e o proacuteprio pedido como se pode ver

no exemplo de peticcedilatildeo abaixo caso em que a partir de uma lei o advogado

formula seu texto

ldquoDe acordo com o artigo 3deg do Coacutedigo Civil58

Satildeo absolutamente incapazes59

de exercer pessoalmente

os atos da vida civil

58

VADEMECUM SARAIVA 2ordf Ed Satildeo Paulo Saraiva 2006

59 Os grifos mostram a reformulaccedilatildeo dos termos e expressotildees empregados

88

I - os menores de dezesseis anos

II - os que por enfermidade ou deficiecircncia mental

natildeo tiverem o necessaacuterio discernimento para a praacutetica desses

atos

III - os que mesmo por causa transitoacuteria natildeo

puderem exprimir sua vontade

Assim Joseacute da Silva maior como jaacute foi demonstrado

anteriormente deficiente mental conforme o laudo anexado as

folhas e pelo processo de interdiccedilatildeo no

natildeo tem capacidade

suficiente para contratar um serviccedilo pois natildeo sabe diferenciar

entre o certo e o errado e portanto o que foi acertado entre as

partes eacute nulo em seu efeito rdquo60

Tambeacutem se encontram procedimentos de reformulaccedilatildeo em textos

teoacutericos como o texto de um manual de direito que explica este mesmo artigo

Capacidade de direito e de fato - Capacidade jaacute o vimos eacute a

aptidatildeo para ser sujeito de direitos e obrigaccedilotildees e exercer por si

ou por outrem atos da vida civil Duas satildeo portanto as espeacutecies

de capacidade a de gozo ou de direito e a de exerciacutecio ou de

fatordquo

()

A segunda espeacutecie de capacidade eacute a de exerciacutecio ou de fato eacute a

simples aptidatildeo para exercitar direitos eacute a faculdade de os fazer

valer se a capacidade de gozo eacute inerente a todo ser humano a

de exerciacutecio ou de fato deste pode ser retirada O exerciacutecio dos

direitos pressupotildee realmente consciecircncia e vontade por

conseguinte a capacidade de fato subordina-se agrave existecircncia no

homem dessas duas faculdades 61

No exemplo acima eacute possiacutevel verificar como os termos foram

reformulados por operaccedilotildees de sinoniacutemia ou mesmo por meio de uma

60

Exemplo elaborado baseado numa peccedila processual deste tipo de processo

61 Monteiro Washington de Barros Grifos do autor

89

expressatildeo ou paraacutefrase que detalha o que vem a ser incapacidade O termo

ldquoincapazesrdquo eacute restringido pela idade (os menores de dezesseis anos) pela

condiccedilatildeo fiacutesica ou mental (os que por enfermidade ou deficiecircncia mental natildeo

tiverem o necessaacuterio discernimento para a praacutetica desses atos) por motivos

fortuitos (os que mesmo por causa transitoacuteria natildeo puderem exprimir sua

vontade) O termo ldquodeficiente mentalrdquo eacute explicado por ldquonatildeo tem capacidade

suficienterdquo e ldquonatildeo sabe diferenciarrdquo Jaacute a capacidade vem parafraseada por

Monteiro (1970) como a ldquoaptidatildeo para ser sujeito de direitos e obrigaccedilotildees e

exercer por si ou por outrem atos da vida civilrdquo A capacidade de fato vem

definida como sendo ldquoa simples aptidatildeo para exercitar direitosrdquo ldquoa faculdade de

os fazer valerrdquo e explicitada por ldquoa capacidade de fato subordina-se agrave

existecircncia no homem dessas duas faculdadesrdquo

Os dois casos de reformulaccedilatildeo acima observados encontram-se entre

textos de um mesmo sistema juriacutedico o brasileiro Mas isso tambeacutem pode

ocorrer em sistemas juriacutedicos diferentes tal qual o francecircs e o brasileiro em

que podem tambeacutem estatildeo presentes reformulaccedilotildees tal qual nos textos do

corpus desse trabalho No artigo 5ordm da Constituiccedilatildeo brasileira encontramos

Art 5ordm - Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

E na Constituiccedilatildeo francesa que integra a DDHC e 1789 laquo Art 1ordm Les hommes

naissent et demeurent libres et eacutegaux en droits Les distinctions sociales ne

peuvent ecirctre fondeacutees que sur lutiliteacute commune raquo

Em Direito eacute comum encontrar-se ldquointerferecircnciasrdquo de um conjunto de

regras e ideias pertencentes a um sistema de direito em outro sistema62 Essas

ldquointerferecircnciasrdquo reformulaccedilotildees empreacutestimos importaccedilotildees satildeo de grande

amplitude pois ocorrem nas praacuteticas profissionais do mundo do trabalho

62

A CF88 integra os tratados internacionais e os de direitos humanos no mesmo artigo 5o LXXVIII sect 2ordm

- Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do regime e dos

princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja

parte sect 3ordm Os tratados e convenccedilotildees internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados em cada

Casa do Congresso Nacional em dois turnos por trecircs quintos dos votos dos respectivos membros seratildeo

equivalentes agraves emendas constitucionais (Conforme Emenda Constitucional no45 de 2004)

90

Tambeacutem ocorrem na produccedilatildeo de textos ndash de doutrina de lei de jurisprudecircncia

ndash ainda que em sistemas bastante diferentes tais como o Direito da Common-

Law63 (no qual se encaixa o sistema anglo-estadunidense) e tambeacutem no Direito

Continental franco-germacircnico 64 no qual se encaixam o direito francecircs e o

brasileiro

Esse fenocircmeno estudado pelo Direito Comparado ocorre porque um

sistema juriacutedico importa eou exporta frequentemente para outro(s) sistema(s)

seus vocaacutebulos conceitos ideias princiacutepios doutrinas leis ou

jurisprudecircncias65 Essa eacute uma praacutetica importante e necessaacuteria para o Direito e

sua evoluccedilatildeo66 Esse aporte pode se dar de forma parcial ou integral

WISE(1990) faz diversas consideraccedilotildees sobre o tema tambeacutem

questionando qual seria o melhor termo a ser empregado para tratar do aporte

63

Conforme o Dictionnaire Juridique Dahl Common Law laquo (hellip) la troisiegraveme signification srsquoemploie

pour deacutefinir les Etats-Unis comme un pays de common law dont le droit se fonde sur le droit britannique

par opposition agrave un pays de laquo droit civil raquo dont le droit deacuterive de la tradition juridique romaineraquo

64 Conforme o livreto disponivel em httpwwwkontinentalesrechtdetl_fileskontinental-

baseBroschuere_FRPDF (01112012) Direito Continental laquo Le droit continental est un droit eacutecrit

marqueacute par le concept de codification La codification est le regroupement systeacutematique et rationnel des

regravegles de droit dans des recueils officiels tels un code civil ou un code de commerce raquo

65

DAVID Reneacute e JAUFFRET-SPINOSI Camille Les grands systegravemes de droit contemporains Paris

Dalloz 1992 pg 5 -6 laquo Le leacutegislateur de tout temps a utiliseacute lui-mecircme le droit compareacute pour accomplir

et perfectionner son œuvre () la science du droit a par sa nature mecircme de science un caractegravere

transnational Ce qui est tradition que le nocirctre peut influer sur la maniegravere dont le droit de notre pays sera

expliqueacute interpreteacute et parfois renouveleacute en dehors mecircme de toute intervention du leacutegislateur

66 PELISSE Jeacuterome A-t-on conscience du droit Autour des Legal Consciousness Studies Genegraveses

ndeg 59 httpwwwcairninforevue-geneses-2005-2-p-114htm 2005

ldquoIl apparaicirct donc leacutegitime non seulement de renouveler (ou de redeacutecouvrir et drsquoapprofondir) le regard sur

les pheacutenomegravenes de socialisation juridique de mobilisation quotidienne du droit de construction

ideacuteologique de la leacutegaliteacute mais aussi de croiser drsquoimporter et de dialoguer avec des travaux qui

srsquoinscrivent dans une culture juridique elle-mecircme de plus en plus mondialiseacutee La juridicisation etou la

judiciarisation du politique et de la socieacuteteacute tout comme les transformations de lrsquoaction publique (inflation

leacutegislative contractualisation et proceacuteduralisation des politiques publiques deacutecentralisation et

laquo europeacuteanisation raquo simultaneacutee etc) constituent autant de pheacutenomegravenes dont lrsquoimportance est souligneacutee

par un nombre croissant de travaux en sciences sociales raquo

91

que faz um sistema juriacutedico para o outro ldquotransplantrdquo 67 (adotado em liacutengua

inglesa) ou ldquocirculationrdquo middot68 (adotado em liacutengua francesa)

Conveacutem examinar aqui que na liacutengua francesa seria possiacutevel o emprego

do termo ldquotransplantrdquo que apresenta o sentido de ldquoorgane tissu transplanteacuterdquo ou

ldquotransplantationrdquo para a ldquoaction de transplanterrdquo ldquoCirculationrdquo tem como

definiccedilotildees ldquomouvement circulairerdquo ldquoaeacuterationrdquo ldquocommerce raquo laquo roulement raquo laquoen

cours raquo laquo diffusion lancement raquo laquo propagation transmission raquo laquo trafic raquo Este

termo tambeacutem pode ter o mesmo sentido de ldquotransporte por imigraccedilatildeordquo

Na liacutengua inglesa ldquotransplantrdquo tem a forma idecircntica para o verbo e para o

substantivo e estaacute ligado agrave ideia de ldquoto remove and plant in another placerdquo ldquoto

transport as or colonisation cause to emigraterdquo ou ldquoto remove (issue from one

part or individual and plant for growth in another)rdquo

Pode-se acreditar que cada sistema juriacutedico e portanto cultural escolha

um termo diferente para designar um mesmo fenocircmeno pois os costumes satildeo

diferentes Seria possiacutevel ainda empregar o termo empreacutestimo em liacutengua

portuguesa ldquobrasileirardquo Nesse caso o termo explica o fenocircmeno em que um

sistema juriacutedico se utiliza de uma parte ou agraves vezes de uma grande parte do

direito de outro sistema para resolver uma espeacutecie de lacuna de forma mais

raacutepida e talvez mais eficaz

Eacute pouco provaacutevel que uma legislaccedilatildeo de um paiacutes seja eficaz em outro

paiacutes pois os aspectos culturais sociais histoacutericos poliacuteticos e econocircmicos

certamente satildeo bastante diferentes A aplicaccedilatildeo para que atinja a eficaacutecia teria

que ser bastante flexiacutevel Um exemplo de adoccedilatildeo de coacutedigo integral se fez na

Turquia que adotou em 17021926 o coacutedigo civil suiacuteccedilo69

67

WEBSTERrsquoS NEW COLLEGIATE DICTIONARY GampCMERRYAN AND CO PUBLISHERS

Springfield Mass USA 1959Second editon

68 Robert Paul LE PETIT ROBERT DICTIONNAIRE Dictionnaires Le Robert Paris 1986

69 Segundo LEGEAIS Raymond Les grands systegravemes de droit contemporain Paris LexisNexis Litec

Eacuteditions du Juris-Classeur 2004141)

92

Mas antes de se proceder a uma siacutentese conveacutem considerar o seguinte

em relaccedilatildeo ao emprego de termos diferentes

a) O termo ldquotransplantrdquo carrega em si uma ideia de passividade de fato

consumado de enxerto que deve ser aceito e adaptado tal qual oacutergatildeo

recebido por um corpo humano e portanto sujeito agrave rejeiccedilatildeo e agraves adaptaccedilotildees

orgacircnicas as mais diversas inclusive com a interferecircncia de fatores externos

ao organismo que o recebe como a administraccedilatildeo de remeacutedios que combatam

a sua rejeiccedilatildeo

ldquoTransplantrdquo tambeacutem estaacute ligado a plantar e toda planta tem raiacutezes que

se afincam a fim de manter a vida orgacircnica da mesma Transplant carrega em

si desta forma uma carga de imposiccedilatildeo quase que definitiva de sistema que

deve ser recebido com a finalidade de prolongar a vida como uacutenica saiacuteda para

a soluccedilatildeo de uma fraqueza orgacircnica Ou entatildeo rejeitado

b) O termo ldquocirculationrdquo por sua vez vem carregado da ideia de atividade

de movimento dinacircmico de repercussatildeo de relacionamento e que permite uma

interpretaccedilatildeo mais ampla e maleaacutevel

ldquoCirculationrdquo conteacutem em seus sentidos e usos uma definiccedilatildeo que leva a

conceber a ocorrecircncia do empreacutestimo de uma forma mais aberta e mais

tolerante natildeo tatildeo impositiva mais permeaacutevel que aceita trocas intervenccedilotildees e

permite sua difusatildeo e propagaccedilatildeo

De onde se conclui que o emprego dos dois termos pode ser adequado

mas para usos diferentes O termo ldquotransplantrdquo aplicar-se-ia aos casos em que

o empreacutestimo fosse mais rigoroso estrito e menos sujeito agraves influecircncias do

sistema juriacutedico receptor de forma integral ou quase totalitaacuteria Jaacute o uso do

termo ldquocirculationrdquo se faria quando o empreacutestimo fosse mais aberto amplo e

sujeito a alteraccedilotildees mais adaptado ao sistema cultural receptor podendo ser

recuperados os traccedilos do sistema original que fez o aporte Esse eacute o caso de

um tratado que eacute transcrito para a liacutengua do paiacutes que o assina o mesmo

93

tratado eacute vaacutelido em todos os paiacuteses mas estaacute escrito em mais que uma

liacutengua70

Em ambos os casos entretanto seria impossiacutevel a aplicaccedilatildeo de um

modelo juriacutedico emprestado para outro sistema ldquoestrangeirordquo que fosse

assentado sobre as mesmas bases em que pesassem as mesmas medidas e

fossem aplicados rigorosamente da mesma forma os criteacuterios do sistema

original

Tal praacutetica parece inviaacutevel pois o contexto receptor a que se destina

difere e muito e cada sistema juriacutedico eacute interpretado e aplicado pelos pares

sociais da cultura em que estaacute inserido E uma cultura natildeo pode ser e natildeo eacute

igual agrave outra

Esta reflexatildeo eacute uma reflexatildeo mais voltada para a aacuterea do Direito mas o

fenocircmeno acima descrito eacute um fenocircmeno que se passa tambeacutem dentro da

liacutengua visto ser ela o veiacuteculo pelo qual se produz a regra escrita

Por tais razotildees eacute que um dos questionamentos desse trabalho se volta

para o que realmente ocorre na liacutengua receptora quando se comparam

sistemas juriacutedicos doutrinas leis ou decisotildees Parece claro que natildeo se

emprestam apenas palavras (leacutexico) paraacutegrafos ou textos escritos de sentidos

estritos uma vez que a carga e valor semacircnticos dos novos termos

empregados interferem no conteuacutedo Para a Anaacutelise do Discurso este

fenocircmeno eacute reformulaccedilatildeo e dessa forma ldquotransplantrdquo ldquocirculation juridiquerdquo

ldquointerferecircnciardquo satildeo todos tipos de reformulaccedilatildeo

243 Liacutenguas diferentes culturas diferentes

70

A Declaraccedilatildeo Universal de Direitos do Homem nas suas versotildees em liacutengua inglesa francesa e

portuguesa nos respectivos sites da ONU emprega formas bastante diferentes para um mesmo termo Eacute

uma constataccedilatildeo surpreendente e ao mesmo tempo relevante pois em direito essa diferenccedila pode ateacute

implicar em diferentes interpretaccedilotildees e porque natildeo decisotildees sobre uma questatildeo Deixaremos para estudo

posterior essa descoberta e adotamos neste trabalho a versatildeo em francecircs da DUDH por ser ela a de origem

do documento cuja redaccedilatildeo final foi elaborada por Reneacute Cassin

94

Outra e bastante importante reflexatildeo eacute que ao se comparar textos de

liacutenguas diferentes no caso dos textos de doutrinas brasileira e francesaseria

de se esperar que esses tivessem um conteuacutedo ateacute parecido mas que sua

composiccedilatildeo fosse diferente em termos textuais isto eacute suas formas

composicionais ou a maneira pela qual se estruturam os textos Entretanto

como se pode verificar no exemplo apresentado dos artigos dos coacutedigos civil

francecircs e brasileiro71 ambos os textos possuem formas surpreendentemente

ldquosemelhantesrdquo

Uma das explicaccedilotildees para essa aparente semelhanccedila aleacutem de ambas

as liacutenguas derivarem do latim encontra sentido no fato dos autores brasileiros

terem estudado as obras dos autores estrangeiros para aprofundar seus

conhecimentos e utilizarem de seus conceitos como referecircncia teoacuterica

A estrutura composicional textual entatildeo migra juntamente com os

valores e as ideias trazidos pelo meacutetodo comparativo no aporte de direitos

estrangeiros para o direito brasileiro A reformulaccedilatildeo que se faz eacute textual

testemunha do dialogismo

Natildeo se pode esquecer todavia que ao se efetuar a leitura de textos em

liacutengua estrangeira estamos procedendo agrave comparaccedilatildeo sobretudo de textos de

culturas diferentes Culturas diferentes que tecircm origens diferentes de acordo

com o que explica Charaudeau (2001)

Il est clair que la langue est neacutecessaire agrave la constitution drsquoune identiteacute

collective qursquoelle garantit la coheacutesion sociale drsquoune communauteacute qursquoelle en

constitue drsquoautant plus le ciment qursquoelle srsquoaffiche Elle est le lieu par

excellence de lrsquointeacutegration sociale de lrsquoacculturation linguistique ougrave se forge

la symbolique identitaire Il est eacutegalement clair que la langue nous rend

comptables du passeacute creacutee une solidariteacute avec celui-ci fait que notre identiteacute

est peacutetrie drsquohistoire et que de ce fait nous avons toujours quelque chose agrave

voir avec notre propre filiation aussi lointaine fucirct-elle Il nrsquoempecircche que le

rapport de la langue agrave lrsquoidentiteacute est complexe car il ne srsquoagit pas seulement

de la langue mais aussi de son usage Peut-ecirctre faut-il dissocier langue et

culture et associer discours (usages) et culture Sinon comment expliquer que

les cultures franccedilaise queacutebeacutecoise belge suisse voire africaine et maghreacutebine

(agrave une certaine eacutepoque) ne sont pas identiques malgreacute lrsquoemploi drsquoune mecircme

langue Comment expliquer eacutegalement que les cultures breacutesilienne et

portugaise drsquoune part latino-ameacutericaine et espagnole drsquoautre part soient

diffeacuterentes La langue nrsquoest pas le tout du langage On pourrait mecircme dire

71

Item 242 paacuteg 85

95

qursquoelle nrsquoest rien sans le discours crsquoest-agrave-dire ce qui la met en œuvre ce qui

reacutegule son usage et qui deacutepend par conseacutequent de lrsquoidentiteacute de ses

utilisateurs raquo72

Cultura bem diferente da brasileira a da Franccedila testemunha mais de

2000 anos de histoacuteria Como naccedilatildeo foi por longo tempo o centro do universo a

referecircncia e o padratildeo a ser imitado e copiado por outras cortes europeacuteias

Aleacutem disso foi o paiacutes precursor das mudanccedilas sociais decorrentes da

Revoluccedilatildeo Francesa e local da publicaccedilatildeo dos primeiros coacutedigos (o Civil em

1804 e o Penal em 1810)

Cultura colocada como fonte de referecircncia para a doutrina juriacutedica

brasileira cuja histoacuteria de 512 anos traz haacutebitos ldquoimportadosrdquo interferecircncias

natildeo soacute da metroacutepole portuguesa mas muitas vezes como no caso do Direito

do epicentro francecircs Assim foi com o primeiro coacutedigo civil brasileiro que surgiu

em 1916 112 anos depois do Coacutedigo Civil francecircs

Vecirc-se dessa forma porque a liacutengua eacute o reflexo do que ocorre nas

praacuteticas sociais como explicou Bourdieu Eacute a liacutengua que traduz o que acontece

no cotidiano do homem sua posiccedilatildeo e relaccedilotildees numa sociedade poliacutetica e

economicamente situada que reflete o seu habitus Por sua vez o mesmo

habitus modifica a liacutengua construindo uma relaccedilatildeo circular

O texto juriacutedico traduz pois se expressa pela liacutengua todo o contexto

cultural da sociedade que o produziu Nada mais natural entatildeo do que

72

ldquoEacute claro que a liacutengua eacute necessaacuteria para a constituiccedilatildeo de uma identidade coletiva que ela assegura a

coesatildeo de uma comunidade que eacute tanto mais cimento na medida em que ela aparece Eacutela eacute o lugar por

excelecircncia da integraccedilatildeo social de aculturaccedilatildeo linguumliacutestica onde se forja o simboacutelico identitaacuterio

Tambeacutem eacute evidente que a linguagem nos faz responsaacuteveis pelo passado faz com que nossa identidade

seja amalgamada agrave histoacuteria e assim noacutes sempre temos algo a ver com nossa proacutepria filiaccedilatildeo tatildeo

longinqua quanto ela possa ser

Talvez seja necessaacuterio dissociar liacutengua e cultura e associar discurso (usos) e cutura Se natildeo como

explicar que culturas francesa do Quebec belga suiacuteccedila e ateacute mesmo africana e do Magrebe (em dada

eacutepoca) natildeo satildeo identicas apesar do uso de uma mesma liacutenguagem

Como explicar tambeacutem que as culturas brasileira e o portuguesa de um lado latino-americano e

espanhola por outro lado sejam diferentes A liacutengua natildeo eacute o todo da linguagem Pode-se dizer mesmo

que ela natildeo eacute nada sem o discurso ou seja o que a potildee em praacutetica o que regula seu uso e que depende

portanto da identidade de seus usuaacuteriosrdquo (Trad Nossa)

96

encontrar traccedilos culturais fortemente marcados na sua composiccedilatildeo traccedilos que

deixam ver como se constitui o sistema juriacutedico de uma dada sociedade

Aproximando essas constataccedilotildees do sistema juriacutedico brasileiro o que se

percebe eacute que no inicio da sua formaccedilatildeo seus juristas e legisladores

inspiraram-se no que havia de mais novo no inicio do seacuteculo XX momento em

que para o Brasil foi necessaacuterio organizar suas instituiccedilotildees e regular suas

relaccedilotildees sociais

Por tal razatildeo foram adotados coacutedigos inspirados em outros jaacute existentes

tal como o Civil baseado no modelo franco-iacutetalo-germacircnico Pode-se assim

dizer que a doutrina brasileira se fez atraveacutes da comparaccedilatildeo com outros

sistemas juriacutedicos portanto reformulando conceitos e princiacutepios o que

demonstra claramente que se trata aqui de ldquocirculationrdquo e natildeo de ldquotransplantrdquo e

que seus textos de lei foram impregnados natildeo soacute pelas ideias e pela cultura

juriacutedica europeacuteia Por isso se verifica a presenccedila de palavras como ldquoliberdaderdquo

ldquoigualdaderdquo e ldquodireitosrdquo em vaacuterios desses textos

Mas natildeo soacute palavras se repetem Tambeacutem se reproduz a forma de

composiccedilatildeo textual trazida pelas leituras dos juristas e legisladores que

buscavam absorver o conteuacutedo de outros sistemas fazendo de certa forma o

que aqui seraacute chamado com o devido respeito de antropofagia cultural

juriacutedica A produccedilatildeo de textos juriacutedicos brasileiros como praacutetica objetiva em

que se emprega a reformulaccedilatildeo - de palavras termos conceitos expressotildees

enunciados ou de paraacutegrafos - mescla forma e conteuacutedo

Hoje depois de vaacuterios periacuteodos poliacuteticos diferentes desde a

proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica e apoacutes a Constituiccedilatildeo de 1988 juristas e

legisladores percebem a realidade brasileira de forma diferente dos primeiros

tempos ateacute porque em muitos casos as praacuteticas estatildeo por demais distantes da

teoria e do texto de lei Essa eacute a razatildeo pela qual buscam novas soluccedilotildees a

partir de uma realidade que eacute fato mas tambeacutem a partir de outros modelos

diferentes

Por isso existem tentativas de equilibrar as diferenccedilas e os

descompassos que ora se aproximam e ora se despregam por completo do

97

que foi trazido em outras eras pela ldquocirculation des modegraveles juridiquesrdquo

europeus

Tais tentativas buscam soluccedilotildees consultando sistemas bastante

diferentes como aquelas do sistema anglo-saxatildeo adotado pela Common-Law

Eacute por isso que o Poder Legislativo produz assim novas leis a todo o momento

pois eacute necessaacuterio regular o que ficou faltando aqui e ali no ensejo de

aperfeiccediloar o que estaacute antigo ou o que acaba de chegar para que o sistema

juriacutedico esteja mais bem aparelhado para os novos tempos

O fato de aperfeiccediloar um conceito ou uma lei de certa forma tambeacutem

implica em reformulaccedilatildeo Observando-se o conceito de homem proposto pela

Encyclopeacutedie73 verifica-se que eacute bastante proacuteximo do conceito que se tem do

homem no seacuteculo XXI

HOMME s m crsquoest un ecirctre sentant reacutefleacutechissant pensant qui se promegravene

librement sur la surface de la terre qui paroicirct ecirctre agrave la tecircte de tous les autres

animaux sur lesquels il domine qui vit en socieacuteteacute qui a inventeacute des sciences

et des arts qui a une bonteacute et une meacutechanceteacute qui lui est propre qui srsquoest

donneacute des maicirctres qui srsquoest fait des lois etc74

244 Reformulaccedilatildeo e mecanismos de substituiccedilatildeo

A reformulaccedilatildeo pode ser discursiva o que implica dizer que um discurso

se reconstroacutei no outro e que estaacute baseado no outro conforme demonstram os

exemplos acima

Mas pode-se falar tambeacutem em reformulaccedilatildeo de conceitos e de termos

Nesse caso o que ocorre satildeo mecanismos de substituiccedilatildeo De acordo com os

levantamentos realizados nos textos do corpus em relaccedilatildeo aos termos

73

httpfrwikisourceorgwikiLE28099EncyclopC3A9dieVolume_8HOMME Acesso em

20072011

74 ldquoHOMEM sm eacute um ser que sente reflete pensa que vagueia livremente pela face da terra que

parece estar agrave frente de todos os outros animais sobre os quais ele tem o domiacutenio que vive em sociedade

que inventou as ciecircncias e as artes que tem uma bondade e uma maldade que lhe eacute proacutepria que se

estabeleceu senhores que se fez leis etcrdquo (Trad Nossa)

98

escolhidos seratildeo adotados para anaacutelise comparativa os seguintes paracircmetros

para os procedimentos de reformulaccedilatildeo

a) Sinoniacutemia e antoniacutemia o emprego de sinocircnimos e antocircnimos merece

uma consideraccedilatildeo importante Conforme ensinam Faraco (2006) e

tambeacutem Charaudeau (199250-55) a sinoniacutemia nunca eacute perfeita pois a

retomada de um termo por outro de sentido equivalente nunca preenche

todo o sentido do termo primeiro e o que distingue um do outro eacute

justamente o emprego em diferentes situaccedilotildees que se faz dele Esta

mesma reflexatildeo aplica-se aos antocircnimos

Como desdobramento da sinoniacutemia tem-se a hiponiacutemia e a hiperoniacutemia

A primeira pode ser verificada no caso em que o termo homem por

exemplo eacute substituiacutedo por outro tornando-o parte de uma categoria do

tal como humano Jaacute quando ocorre o inverso na hiperoniacutemia o sentido

eacute mais amplo Este eacute o caso verificado pelo uso do termo assembleia em

substituiccedilatildeo ao representante da assembleia

b) Pronominal neste caso o termo eacute substituiacutedo por um pronome

substantivo do tipo demonstrativo possessivo indefinido ou numeral

Homem pode ser substituiacutedo assim por nenhum

c) Grupo nominal o grupo nominal eacute aquele que se refere ao termo por

meio de um grupo de palavras normalmente constituiacutedo de um

determinante do tipo artigo um substantivo e um adjetivo Como

exemplo pode-se tomar o termo homem substituiacutedo por membro da

famiacutelia humana

d) Extensiva direta nesta categoria incluem-se os adjetivos e os particiacutepios

que se referem ao termo homem Entatildeo livre e incluiacutedo satildeo referencias

diretas ao termo homem que se encontra no texto Tambeacutem se incluem

aqui todos os termos que se referem aos coletivos do termo homem

como por exemplo assembleia sociedade povo etc

e) Extensiva indireta nesta categoria inclui-se aquilo que eacute decorrente da

accedilatildeo do homem ou inerente agrave sua existecircncia Dessa forma a escravidatildeo

99

a tortura a amizade a feacute e a dignidade por exemplo satildeo situaccedilotildees ou

conceitos que estatildeo ligados ao fato do homem ser dotado de vida e ateacute

mesmo de conviver com outros homens

f) Embreante de pessoa ou de tempo75 embreantes de pessoas satildeo os

pronomes determinantes (pronomes adjetivos) ou pronomes

possessivos que satildeo empregados no local da pessoa ou seja que

representam o enunciador Embreantes de tempo satildeo as foacutermulas

empregadas para situar no tempo tal como adveacuterbios ou a data do

documento

CAPITULO 3 O DISCURSO JURIacuteDICO

75

Maingueneau (2002) define embreagem como sendo laquoo conjunto das operaccedilotildees pelas quais um

enunciado se ancora na sua situaccedilatildeo de enunciaccedilatildeo e embreantes (tambeacutem chamados de ldquoelementos

decirciticosrdquo ldquodecirciticosrdquo ou agraves vezes ldquoelementos indiciaisrdquo os elementos que no enunciado marcam essa

embreagem Satildeo embreantes de pessoas

Os tradicionais ldquopronomesrdquo pessoais de primeira e segunda pessoas eu tuvocecirc(s) noacutes voacutes

Os determinantes meuteu nossovosso seu e suas formas femininas e plurais

Os pronomes o meuo teu o nossoo vosso o seu e suas formas no feminino e pluralrdquo

Maingueneau tambeacutem classifica os embreantes em temporais e espaciais Os primeiros trazem as marcas

dos tempos do verbo atraveacutes de partiacuteculas desinentes do passado presente ou futuro ou palavras que

marquem o tempo tal como ontem hoje etc e que fazem referencia ao momento da enunciaccedilatildeo Os

embreantes espaciais menos frequentes segundo o autor satildeo os que indicam o lugar em que ocorre a

enunciaccedilatildeo tais como aqui ali

100

31 Definiccedilatildeo

O discurso juriacutedico eacute constituiacutedo por todo enunciado - sequecircncia que

forma uma unidade de comunicaccedilatildeo no gecircnero juriacutedico - que integra o

universo juriacutedico seja ele oral ou escrito Por universo juriacutedico entende-se o

que gravita em torno de uma lei anterior ou posterior a sua publicaccedilatildeo e

abrange diferentes produccedilotildees orais e textuais Eacute nesse universo que se utiliza

uma linguagem juriacutedica definida por Damette (2007)76 como sendo a

linguagem que eacute usada por juristas e tambeacutem pelo legislador aleacutem de

pertencer aos poderes judiciaacuterio legislativo e eventualmente aos poderes

privados por ocasiatildeo do contato deste uacuteltimo com os outros

Dentre as caracteriacutesticas apontadas pela autora vale ressaltar que a

linguagem do Direito eacute uma linguagem de ldquoautoridaderdquo porque a situaccedilatildeo de

comunicaccedilatildeo onde ela acontece eacute ldquocontrainte notamment par le fait que celui

qui srsquoexprime le fait au nom drsquoune ldquoinstitutionrdquo77 srsquoabstrait en tant que sujet

eacutenonciateur et est censeacute repreacutesenter un auteur dont Il aurait deacuteleacutegation de la

parolerdquo

Esta eacute a posiccedilatildeo que adota este trabalho pois como jaacute se viu o

enunciador se apaga na medida em que se reveste da competecircncia que lhe eacute

conferida pela posiccedilatildeo que ocupa como representante de um poder por isso o

juiz decide uma questatildeo levada a ele pois estaacute autorizado pelo Poder

Judiciaacuterio a fazecirc-lo Essa competecircncia eacute conferida atribuiacuteda e natildeo apenas

resultado de uma imposiccedilatildeo ela eacute um atributo real e natildeo hipoteacutetico eacute

adjudicada ao homem incumbido de julgar outros homens por uma decisatildeo

legitimada do Poder Judiciaacuterio que aprovou o juiz em um concurso puacuteblico

76

Damette Eliane 2007 85-95

77 ldquoconstrangedora sobretudo pelo fato de que aquele que se exprime o faz em nome de uma instituiccedilatildeordquo

(Trad Nossa)

101

A linguagem juriacutedica vai ultrapassar a esfera juriacutedica e permear outras

esferas pois seus textos interagem com a sociedade regulam a vida dos

homens que nela vivem Eacute entretanto uma linguagem diferenciada da

linguagem corriqueira

Segundo Damette (2007) a linguagem juriacutedica eacute uma linguagem de

especialidade e como tal produz enunciados especiacuteficos pois eacute dotada de um

leacutexico de construccedilotildees sintaacuteticas e argumentaccedilatildeo especificas Integra esta

linguagem um vocabulaacuterio juriacutedico constituiacutedo de termos e expressotildees que tecircm

um sentido especiacutefico atribuiacutedos pelo Direito

Essa linguagem especiacutefica ainda segundo Damette laquo nomme tous les

eacuteleacutements que la penseacutee juridique deacutecoupe dans la reacutealiteacute pour en faire des

notions juridiques raquo78 Ainda ressalta a autora que a linguagem juriacutedica eacute

tradicional pois eacute inscrita na histoacuteria ao mesmo tempo em que

diacronicamente eacute evolutiva jaacute que testemunha uma evoluccedilatildeo dos costumes

na medida em que se adapta para descrever novas situaccedilotildees e para isso pode

criar palavras para definir novas noccedilotildees conceitos atos e fatos

Essa evoluccedilatildeo pode ser verificada por exemplo em relaccedilatildeo aos termos

expressotildees e conceitos novos criados pela Lei 114192006 (Lei da

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial) analisada nesse trabalho Como se pode

observar no artigo 1deg

sect 2o Para o disposto nesta Lei considera-se

I - meio eletrocircnico qualquer forma de armazenamento ou traacutefego de

documentos e arquivos digitais

II - transmissatildeo eletrocircnica toda forma de comunicaccedilatildeo a distacircncia com a

utilizaccedilatildeo de redes de comunicaccedilatildeo preferencialmente a rede mundial de

computadores

III - assinatura eletrocircnica as seguintes formas de identificaccedilatildeo

inequiacutevoca do signataacuterio

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por

Autoridade Certificadora credenciada na forma de lei especiacutefica

78

ldquonomeia todos os elementos que o pensamento juriacutedico recorta da realidade para fazer deles noccedilotildees

juriacutedicasrdquo (Trad Nossa)

102

b) mediante cadastro de usuaacuterio no Poder Judiciaacuterio conforme

disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

Aleacutem desses conceitos a lei tambeacutem cria novos termos especiacuteficos que se referem aos atos processuais peculiares tais como

Art 2o O envio de peticcedilotildees de recursos e a praacutetica de atos processuais

em geral por meio eletrocircnico seratildeo admitidos mediante uso de assinatura

eletrocircnica na forma do art 1o desta Lei sendo obrigatoacuterio o credenciamento

preacutevio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

sect 1o O credenciamento no Poder Judiciaacuterio seraacute realizado mediante

procedimento no qual esteja assegurada a adequada identificaccedilatildeo presencial

do interessado

Art 3o Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrocircnico no

dia e hora do seu envio ao sistema do Poder Judiciaacuterio do que deveraacute ser

fornecido protocolo eletrocircnico

Art 4o Os tribunais poderatildeo criar Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

disponibilizado em siacutetio da rede mundial de computadores para publicaccedilatildeo

de atos judiciais e administrativos proacuteprios e dos oacutergatildeos a eles subordinados

bem como comunicaccedilotildees em geral

sect 1o O siacutetio e o conteuacutedo das publicaccedilotildees de que trata este artigo

deveratildeo ser assinados digitalmente com base em certificado emitido por

Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica

sect 2o A publicaccedilatildeo eletrocircnica na forma deste artigo substitui qualquer

outro meio e publicaccedilatildeo oficial para quaisquer efeitos legais agrave exceccedilatildeo dos

casos que por lei exigem intimaccedilatildeo ou vista pessoal

Por fim a lei cria um novo veiacuteculo de comunicaccedilatildeo oficial mudando

assim a praacutetica profissional pois os advogados teratildeo que consultar o novo

Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

Este movimento do direito para a liacutengua que provoca alteraccedilotildees no

leacutexico mostra como as ciecircncias se cruzam atestando a interdisciplinaridade

revelando a relaccedilatildeo entre diferentes culturas juriacutedicas e diferentes esferas da

sociedade uma esfera especifica e juriacutedica interveacutem na esfera social do

quotidiano ao introduzir termos especiacuteficos como o diaacuterio judicial eletrocircnico Ao

mesmo tempo isso eacute possiacutevel porque a informaacutetica evoluiu e trouxe da sua

esfera especifica de ciecircncia a tecnologia que interferiu nas praacuteticas sociais

testemunhando a existecircncia e a importacircncia do habitus do qual fala Bourdieu

Esse dinamismo eacute caracteriacutestico da liacutengua e eacute inerente agraves sociedades que se

adaptam agraves suas necessidades internas e externas

103

Por isso a concepccedilatildeo que adota Cornu (2005207) em que o discurso

juriacutedico eacute laquola mise en œuvre de la langue par la parole au service du droit raquo79

eacute a que melhor define a linha deste trabalho pois o autor entende que o

ldquodiscurso juriacutedico integra o uso da liacutenguardquo e se mostra em todas as operaccedilotildees

normais de comunicaccedilatildeo que um universo particular requisita modificando

determinados elementos se necessaacuterio a fim de cumprir sua funccedilatildeo

Para Cornu propotildee uma tipologia para o discurso juriacutedico classificando-o

em legislativo (textos de lei) jurisdicional (relativo a decisotildees de justiccedila)

costumeiro (maacuteximas e adaacutegios de direito) e de expressatildeo corporal (para os

casos em que os juristas fazem uso da expressatildeo oral por exemplo em uma

audiecircncia)

Recordando que este trabalho trata apenas dos textos escritos e antes

de passar agrave anaacutelise dos mesmos faz-se necessaacuterio situar os textos escolhidos

e sua inserccedilatildeo no sistema juriacutedico brasileiro

O Brasil considera que no topo da hierarquia do seu sistema juriacutedico se

encontra a Constituiccedilatildeo Federal (CF 1988) Vigente desde 1988 todo o

ordenamento juriacutedico interno deve a ela se adequar Por isso eacute a CF 1988 que

autoriza e eacute a base para a publicaccedilatildeo da Lei da Informatizaccedilatildeo Judicial Lei

114192006

Na CF 1988 o artigo 5deg por sua vez prevecirc no inciso LXXVIII sect 2ordm e sect 3ordm

como jaacute anteriormente mencionado a inclusatildeo dos tratados internacionais (que

o Brasil tenha assinado) e das convenccedilotildees e tratados de direitos humanos

Isso implica a integraccedilatildeo da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem

assinada em 1948 ao sistema juriacutedico brasileiro

A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem eacute por sua vez um

aperfeiccediloamento no acircmbito internacional dos direitos do homem e do cidadatildeo

(DDHC) proclamados por ocasiatildeo da Revoluccedilatildeo Francesa em 1792

79

ldquoimplementaccedilatildeo da liacutengua pela palavra a serviccedilo do direitordquo (Trad Nossa) ldquoParolerdquo para o autor eacute a

expressatildeo vocal dotada de um sentido atribuiacutedo por aquele que dela se utiliza

104

Apontado o liame entre os documentos principais que seratildeo aqui

analisados fez-se necessaacuteria uma classificaccedilatildeo desses documentos quanto ao

gecircnero textual

32 Classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos no Direito

Para se proceder agrave anaacutelise dos textos do corpus foi elaborada uma

classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos a fim de se poder estabelecer algumas de

suas caracteriacutesticas ligadas agrave definiccedilatildeo do status do enunciador Esta

classificaccedilatildeo difere da tipologia apresentada por Cornu (2005) pois ultrapassa

os limites por ele propostos indo aleacutem e sendo mais abrangente numa

tentativa de dar conta de outros fenocircmenos observados em relaccedilatildeo aos textos

juriacutedicos

Cornu (2005) tratou apenas do discurso juriacutedico no seu sentido estrito O

corpus desse trabalho apresenta entretanto um aspecto dialoacutegico que natildeo

pode ser desconsiderado Aleacutem disso um texto juriacutedico que figura no jornal da

OAB por exemplo natildeo eacute um texto de gecircnero diferente e ainda que contenha

caracteriacutesticas de ambos os gecircneros poderia ser considerado como de gecircnero

misto Para o discurso juriacutedico o artigo numa publicaccedilatildeo como a da OAB eacute

formador de opiniatildeo e natildeo pertence exclusivamente ao gecircnero jornaliacutestico que

provavelmente o classificaria como texto de aacuterea de especialidade ou aacuterea

teacutecnica Por essas razotildees a soluccedilatildeo que parece mais adequada eacute tratar do

texto juriacutedico jornaliacutestico assim como de outros que apresentam caracteriacutesticas

mistas como integrante do discurso juriacutedico

A fim de estabelecer alguns criteacuterios em relaccedilatildeo aos textos que

pertencem ao gecircnero juriacutedico considerem-se os seguintes aspectos

- todos os textos pertencentes a esse gecircnero devem ser de conteuacutedo

juriacutedico e gravitar em torno de uma lei

- os textos juriacutedicos possuem finalidades distintas que devem ser

consideradas

105

- o local de produccedilatildeo do texto tambeacutem atribui caracteriacutesticas

especiacuteficas ao texto juriacutedico

A partir dessas primeiras observaccedilotildees propotildee-se a seguinte

classificaccedilatildeo para os sub-gecircneros dos textos juriacutedicos

a) Textos de lei satildeo os que passam a vigorar depois de sua publicaccedilatildeo

sendo publicados de forma oficial Aqui se incluem um tratado

internacional uma constituiccedilatildeo uma emenda constitucional uma lei

federal etc Satildeo textos oficiais e publicados geralmente em um

jornal do tipo Diaacuterio Oficial

b) Textos legislativos satildeo os produzidos em funccedilatildeo da lei e dos

debates pertinentes a ela nas casas parlamentares enquanto o texto

ainda era um projeto de lei Este item comporta tanto o voto do

deputado relator de uma comissatildeo parlamentar quanto o parecer

teacutecnico de um membro de uma comissatildeo especifica ou a

recomendaccedilatildeo para alteraccedilatildeo da redaccedilatildeo de um artigo ou mesmo

uma proposta de emenda ao projeto Haacute tambeacutem a possibilidade de

um questionamento posterior a uma lei jaacute vigente tal qual a arguiccedilatildeo

de inconstitucionalidade que pode gerar debates e relatoacuterios

semelhantes aos do projeto de lei

c) Textos jornaliacutesticos satildeo textos publicados pela imprensa

especializada em relaccedilatildeo ao tracircmite do projeto e sua repercussatildeo na

sociedade ou mesmo criacuteticas a respeito de uma lei vigente ou a falta

de uma lei para regular um problema Tais textos podem ser

encontrados no jornal da OAB na revista Consultor Juriacutedico ou ateacute

mesmo em um jornal de grande circulaccedilatildeo tal qual o Estado de Satildeo

Paulo ou O Globo em uma sessatildeo especiacutefica Eacute muito possiacutevel que

estes textos figurem na rubrica destinada agrave poliacutetica ou a noticias

internacionais

d) Textos teoacutericos satildeo os produzidos por professores profissionais da

aacuterea juriacutedica ou especialistas que discorrem sobre o tema a fim de

referendar ou discordar do que dispotildee a lei ou ateacute mesmo propiciar

106

uma reflexatildeo que resulte na proposiccedilatildeo de uma lei Geralmente estes

textos se apresentam em livros ndashdentre os quais figuram os manuais

de direito que satildeo usados para o ensino nos cursos de graduaccedilatildeo-

ou revistas acadecircmicas

e) Textos processuais satildeo as peccedilas que fazem parte de um processo

ou um pedido ao Poder Judiciaacuterio ou dele emanados a fim de fazer

cumprir a lei Satildeo os textos produzidos pelos advogados juiacutezes

promotores peritos pelas proacuteprias partes demandantes ou outros

funcionaacuterios do Poder Judiciaacuterio e que existem em funccedilatildeo de um

pedido ou de uma ordem e em geral decorrem da existecircncia de uma

lei Neste item incluem-se a jurisprudecircncia e a suacutemula80

f) Textos de discurso satildeo os discursos proferidos por um

representante tal qual um presidente do Senado ou o presidente da

Repuacuteblica ou mesmo proferido por outro representante e que por

forccedila da proacutepria situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo de sua assinatura ou da

importacircncia que adquire torna-se juriacutedico Inserem-se neste item

tambeacutem as cartas de intenccedilatildeo 81 e os compromissos assumidos de

forma oficial82

80

Tanto a jurisprudecircncia como a suacutemula satildeo resultado de decisotildees isto eacute de sentenccedilas proferidas em

processos Segundo explica o Vocabulaacuterio Juriacutedico ldquoJurisprudecircncia Extensivamente assim se diz para

designar o conjunto de decisotildees acerca de um mesmo assunto ou a coleccedilatildeo de decisotildees de um Tribunalrdquo

ldquoSuacutemula No acircmbito da uniformizaccedilatildeo da jurisprudecircncia indica a condensaccedilatildeo de seacuterie de acoacuterdatildeos do

mesmo tribunal que adotem idecircntica interpretaccedilatildeo de preceito juriacutedico em tese sem caraacuteter obrigatoacuterio

mas persuasivo e que devidamente numerados se estampem em repertoacuteriosrdquo

81 Exemplo de tema carta de intenccedilatildeo ldquoUma carta de intenccedilotildees entre a Secretaria Nacional de Justiccedila do

Ministeacuterio da Justiccedila e o Centro Internacional para o Desenvolvimento de Poliacuteticas Migratoacuterias

(International Centre for Migration Policy Development ndash ICMPD) foi assinada na uacuteltima quarta-feira

298 para aprofundar a cooperaccedilatildeo existente na aacuterea de regulaccedilatildeo da migraccedilatildeo e de enfrentamento ao

traacutefico de pessoas Para assinatura do documento o representante do ICMPD Luckas Gehrke foi

recebido pelo secretaacuterio Nacional de Justiccedila Paulo Abratildeo

O documento prevecirc que ambas as partes deveratildeo cooperar para garantir que as poliacuteticas e programas de

migraccedilatildeo existentes e futuros sejam eficazes sustentaacuteveis e em conformidade com as obrigaccedilotildees

internacionaisrdquo In httpblogjusticagovbrinicioministerio-da-justica-assina-carta-de-

intencoes-com-centro-europeu-de-politicas-migratorias em 16112012

82 Discurso proferido pelo Ministro Celso Amorim nas Naccedilotildees Unidas na Reuniatildeo de Seguimento da

Declaraccedilatildeo de Compromisso sobre o HIVAIDS em 02062006

107

A partir dessa classificaccedilatildeo tipoloacutegica dos textos juriacutedicos eacute possiacutevel

descrevecirc-los da seguinte forma

a) Os textos juriacutedicos de lei de um sistema democraacutetico satildeo polifocircnicos

e natildeo tem um enunciador que figura sob a forma de sujeito mostrado

O sujeito eacute propositalmente apagado a fim de mostrar isenccedilatildeo e eacute

sempre resultado de um processo de consenso de vozes que

demonstra a vontade de vaacuterios enunciadores

b) Os textos juriacutedicos tecircm um caraacuteter dialoacutegico pois estatildeo

normalmente ligados de forma intriacutenseca a textos anteriores Essa

ligaccedilatildeo pode ser resultado de uma reformulaccedilatildeo do texto precedente

ou ateacute mesmo uma oposiccedilatildeo a ele em ambos os casos a relaccedilatildeo eacute

dialoacutegica

c) Os textos juriacutedicos satildeo resultado de um habitus Podem poreacutem ser

inovadores e tratar de tema sem precedentes Nessa hipoacutetese haacute um

corte no habitus social e a sociedade eacute chamada para opinar e agir

Por isso os primeiros textos tendem a ser de caraacuteter argumentativo

ldquo()Senhor Presidente

Ainda haacute muito o que ser feito particularmente no apoio agrave cooperaccedilatildeo Sul-Sul

O Brasil vem implementando projetos de cooperaccedilatildeo em mais de 25 paiacuteses na Ameacuterica Latina e na

Aacutefrica Tais projetos envolvem o fortalecimento das capacidades nacionais treinamento de recursos

humanos e doaccedilatildeo de medicamentos anti-retrovirais geneacutericos

Compartilhamos a mesma responsabilidade As vidas de milhotildees de pessoas dependem das decisotildees e

compromissos que adotarmos hoje

Obrigado

(httpwwwitamaratygovbrsala-de-imprensadiscursos-artigos-entrevistas-e-outras-

comunicacoesministro-estado-relacoes-exterioresdiscurso-proferido-pelo-ministro-celso-amorim-nas

Em 16112012)

108

formadores de opiniatildeo Se proposto um projeto de lei este seraacute

votado e aprovado

d) Os textos juriacutedicos de lei satildeo coercitivos e essa coerccedilatildeo eacute legitimada

pela proacutepria publicaccedilatildeo da lei que passou por um processo

legislativo nos paiacuteses democraacuteticos

e) Os outros textos juriacutedicos que natildeo satildeo textos de lei pertencem a mais

de um gecircnero O voto por exemplo faz parte do gecircnero legislativo

por sua forma e do juriacutedico por seu conteuacutedo Jaacute no jornaliacutestico haacute a

divulgaccedilatildeo de um conteuacutedo especiacutefico de forma simplificada

f) Nos textos juriacutedicos sempre haacute a reformulaccedilatildeo de um termo conceito

ou princiacutepio e eacute importante que esse procedimento possa ser

reconhecido pois ele permite melhor compreensatildeo do texto Por

conseguinte permite um melhor domiacutenio da atividade juriacutedica

O corpus de texto escolhido para este trabalho contempla os textos de

lei os textos legislativos e os jornaliacutesticos Cabe ressaltar que diversos textos

teoacutericos anteriores natildeo integrantes do corpus aleacutem de explanarem princiacutepios

do Direito serviram como reflexatildeo agrave propositura dos textos que seratildeo

examinados Por isso poder-se- ia dizer que em alguns casos ateacute mesmo a

reformulaccedilatildeo discursiva estaacute apagada fazendo parte da memoacuteria discursiva

Um bom exemplo disso eacute a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo83

Ao se analisar o conjunto de documentos escolhidos com valor de lei a

partir de uma perspectiva histoacuterica linear tem-se como ponto de origem a

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789 passando pela

Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 pela Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 e por fim a lei federal nordm 11419 de 19

de dezembro de 2006 Essa uacuteltima vem ancorada por outros documentos

legislativos e jornaliacutesticos e que satildeo seus fundamentos

83

JELLINECK aponta em sua obra que a DDHC foi influenciada pelas cartas de direitos das colocircnias

americanas

109

33 Contexto o sistema juriacutedico brasileiro

Para se proceder agrave explanaccedilatildeo e anaacutelise dos documentos eacute importante

entender como funciona o sistema juriacutedico de leis no Brasil Aqui uma lei eacute

publicada depois de um tracircmite peculiar no Congresso Nacional

O Brasil possui um ordenamento juriacutedico baseado no direito positivo isto

eacute em que o sistema de normas juriacutedicas eacute regulamentado e deve portanto ser

produzido por um ato institucional especial resultante de uma vontade Isto

pode ocorrer por meio dos costumes ou pelo processo legislativo no que se

refere agraves normas gerais

O ordenamento juriacutedico pode ser internacional ou nacional No primeiro

caso entende-se por ordenamento juriacutedico internacional um conjunto de

normas que regulam a vida de alguns Estados ou naccedilotildees que se submetem a

este ordenamento84

O ordenamento juriacutedico nacional eacute o conjunto de normas internas de um

paiacutes que regula o funcionamento deste enquanto Estado e a vida de seus

habitantes servindo-se para isso de um conjunto de normas organizado

No Brasil o sistema juriacutedico obedece ao principio hieraacuterquico de

organizaccedilatildeo das normas (tal como jaacute foi demonstrado85) Eacute a partir deste

quadro que se situam os textos de lei brasileiros estudados

34 Metodologia das anaacutelises textos de lei

A anaacutelise dos documentos foi efetuada da seguinte forma conforme se

pode verificar no anexo

84

Haacute casos de paiacuteses que recusam se integrar a um ordenamento internacional isto eacute a assinar um tratado

ou acordo tal como os Estados Unidos que natildeo assinou o Protocolo de Kyoto

85 Capitulo 234 paacuteg 72

110

a) Em relaccedilatildeo aos quatro documentos-lei foram escolhidos os preacircmbulos

de cada um e os primeiros artigos a fim de limitar o tamanho do

conteuacutedo analisado86 Tal escolha se fez porque eacute o preacircmbulo que

conteacutem a diretriz do que estaacute no conteuacutedo do documento Em relaccedilatildeo ao

artigo 5deg da CF88 que conteacutem 72 incisos foram escolhidos os mais

relevantes para a anaacutelise pretendida

b) Em relaccedilatildeo aos outros textos foram selecionados os primeiros e o

uacuteltimo paraacutegrafo de cada um dos textos devido agrave importacircncia da ordem

do conteuacutedo pois eacute o que inicia e encerra o documento aleacutem desses

tambeacutem foram selecionados os paraacutegrafos mais relevantes ao estudo

Foram escolhidos para a anaacutelise os votos dos deputados que datildeo

o parecer sobre a lei antes de sua aprovaccedilatildeo e mais a nota oficial pois

estes satildeo os documentos mais importantes anteriores agrave publicaccedilatildeo da

lei Os outros tambeacutem a justificam mas tecircm menor relevacircncia Todas as

escolhas se fizeram a fim de limitar a extensatildeo dos excertos analisados

c) O quadro apresentado em que se separam em periacuteodos os excertos

escolhidos foi elaborado com um objetivo funcional natildeo tendo a

pretensatildeo de ser exaustivo Tal quadro visou apenas deixar mais

evidente quais os tipos de reformulaccedilatildeo realizados e se havia ou natildeo

outras peculiaridades que mereciam atenccedilatildeo Os periacuteodos foram

separados como se faz em uma anaacutelise sintaacutetica (sujeito verbo e

complemento)

d) Nos artigos de cada documento que natildeo foram analisados pelo quadro

os termos mais importantes e que se repetem ao longo do documento

foram destacados a fim de que se pudesse verificar o aspecto

qualitativo da incidecircncia do uso do termo ou a sua ausecircncia

Para um desenvolvimento que estruture melhor o que se pretende

demonstrar os resultados das anaacutelises seratildeo observados considerando

a evoluccedilatildeo do termo homem em relaccedilatildeo aos seus direitos de liberdade

igualdade e justiccedila

86

A DDHC1789 tem 17 artigos a DUHC1948 tem 30 artigos a CF1988 tem 250 artigos aleacutem de

numerosos incisos e a lei 114192006 tem 22 artigos

111

35 Anaacutelise dos textos de lei

Satildeo quatro a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo A

Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil em seu artigo 5ordm e a Lei 114192006 que trata da

informatizaccedilatildeo judicial

351 A Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (DDHC 1789)87

A DDHC eacute um documento elaborado pela sociedade francesa a fim de

se proteger contra os excessos do absolutismo e com o objetivo de assegurar

direitos ao homem fragilizado pelos abusos de poder Eacute concebida dentro do

periacuteodo mais conturbado da histoacuteria francesa posterior agrave Revoluccedilatildeo Francesa

Tornou-se depois referecircncia a vaacuterios outros documentos tanto na Franccedila

quanto em outros paiacuteses de liacutengua e cultura diferentes Integra ainda hoje a

constituiccedilatildeo vigente na Franccedila de 1958 como seu preacircmbulo o que justifica o

fato de ser um documento em diaacutelogo direto natildeo soacute com a Declaraccedilatildeo

Universal dos Direitos do Homem mas tambeacutem com a Constituiccedilatildeo brasileira

Isto tudo demonstra que os princiacutepios nela contidos ainda satildeo vaacutelidos e

observados natildeo soacute na naccedilatildeo francesa mas em outras como a brasileira Uma

das razotildees se deve ao fato de ter sido elaborada por um grupo de pessoas

que representavam a sociedade e que decidiram por ela o que a evoluccedilatildeo dos

tempos exigia

O extrato de documento revelou a presenccedila de diversas formas de

reformulaccedilatildeo para o termo ldquohommerdquo de diferentes categorias tais

como

a) Sinoniacutemia homem eacute igual a ldquocitoyenrdquo a ldquocorpsrdquo a ldquoindividuordquo

b) Pronominal ldquonulrdquo ldquoautruirdquo

87

Documento anexo I

112

c) Grupo nominal laquo repreacutesentants du peuple franccedilais raquo laquo membres

du corps social raquo laquo membres de la socieacuteteacute raquo

d) Extensiva direta laquo Assembleacutee nationale raquo laquo association raquo

laquo socieacuteteacute raquo

e) Extensiva indireta laquo ignorance raquo laquo oubli raquo laquo droits raquo

laquo gouvernement raquo laquo devoirs raquo laquo pouvoir leacutegislatif raquo laquo pouvoir

exeacutecutif raquo laquo institution politique raquo laquo principes raquo laquo constitution raquo

laquo bonheur raquo laquo Ecirctre Suprecircme raquo

f) Embreantes de pessoa natildeo haacute

Tais observaccedilotildees podem ser constatadas a partir da anaacutelise feita da

estrutura textual conforme os quadros e texto abaixo

DEacuteCLARATION DES DROITS DE LrsquoHOMME ET DU CITOYEN DE 178988

a) Preacircmbulo

Les Repreacutesentants du Peuple Franccedilais constitueacutes en Assembleacutee nationale consideacuterant que lrsquoignorance

lrsquooubli ou le meacutepris des droits de lrsquohomme sont les seules causes des malheurs publics et de la corruption

des Gouvernements ont reacutesolu drsquoexposer dans une Deacuteclaration solennelle les droits naturels

inalieacutenables et sacreacutes de lrsquohomme afin que cette Deacuteclaration constamment preacutesente agrave tous les membres

du corps social leur rappelle sans cesse leurs droits et leurs devoirs afin que les actes du pouvoir

leacutegislatif et ceux du pouvoir exeacutecutif pouvant ecirctre agrave chaque instant compareacutes avec le but de toute

institution politique en soient plus respecteacutes afin que les reacuteclamations des citoyens fondeacutees deacutesormais

sur des principes simples et incontestables tournent toujours au maintien de la Constitution et au bonheur

de tous En conseacutequence lrsquoAssembleacutee nationale reconnaicirct et deacuteclare en preacutesence et sous les auspices de

lrsquoEcirctre Suprecircme les droits suivants de lrsquohomme et du citoyen

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Les

Repreacutesentants

du Peuple

Franccedilais

representantes =

homens franceses=gt

grupo= parte pelo

todo = ampliaccedilatildeo

homem consciente

(eacutetant)

presente

constitueacutes en

Assembleacutee

nationale

Constitueacutes =

representantes

Assembleia =

homens reunidos

88

httpwwwassemblee-nationalefrhistoiredudh1789asp

113

(les

repreacutesentants

du peuple

franccedilais)

representantes Consideacuterant

particiacutepio

presente

que

lrsquoignorance

lrsquooubli ou le

meacutepris des

droits de

lrsquohomme

sentimentos do

homem

Sont

Presente

les seules causes

des malheurs

publics et de la

corruption des

Gouvernements

Malheurs = atributo

do homem aqui eacute

puacuteblico como se

fosse do Estado e

do Governo que no

entanto satildeo forma-

dos por homens

(les

repreacutesentants

du peuple

franccedilais)

representantes =

homens

ont reacutesolu

drsquoexposer

passeacute composeacute

dans une

Deacuteclaration

solennelle les droits

naturels

inalieacutenables et

sacreacutes de lrsquohomme

Direitos = do

homem = definidos

= restriccedilatildeo

afin que cette

Deacuteclaration(

constamment

preacutesente agrave

tous les

membres du

corps social)

declaraccedilatildeo rappelle

presente

leur (rappelle) sans

cesse leurs droits et

leurs devoirs

Leur = aos

membros do corpo

social

direitos e deveres

do homem

(qui) declaraccedilatildeo (est)

Presente

constamment

preacutesente agrave tous les

membres du corps

social

presente declaraccedilatildeo

corpo social =

homens

afin que les

actes du pou-

voir leacutegislatif

et ceux du

pouvoir

exeacutecutif (pou-

vant ecirctre agrave

chaque instant

compareacutes

avec le but de

toute institu-

tion politique)

atos do poder

legislativo e

executivo= atos dos

homens

Soient

Subjuntivo

en (soient) plus

respecteacutes

respeitadosdireitos

e deveres do

homem

(qui) Atos = idem ao de

cima

(peuvent)

pouvant ecirctre

participio

presente

agrave chaque instant

compareacutes avec le

but de toute

institution politique

comparados atos

afin que les

reacuteclamations

des citoyens

citoyens = homens (qui sont)

Presente

fondeacutees deacutesormais

sur des principes

simples et

incontestables

fondeacutees=

reclamaccedilotildees = dos

cidadatildeos

(afin que les

reacuteclamations

des citoyens)

reclamaccedilotildees dos

cidadatildeos =

restriccedilatildeo=gtprinciacutepios

Tournent

Presente

toujours au maintien

de la Constitution

et au bonheur de

tous

Tous= os homens

En

conseacutequence

lrsquoAssembleacutee

nationale

assembleia

nacionalhomens

franceses com

objetivos

definidos=restriccedilao

reconnaicirct et

deacuteclare

presente dois

en preacutesence et sous

les auspices de

lrsquoEcirctre Suprecircme les

droits suivants de

lrsquohomme et du

Etre supreme=

quem acredita no

ser supremo eacute o

114

verbos citoyen homem

direitos especiacuteficos

b) Artigos

Article premier

Les hommes naissent et demeurent libres et eacutegaux en droits Les distinctions sociales ne peuvent ecirctre

fondeacutees que sur lrsquoutiliteacute commune

Article II

Le but de toute association politique est la conservation des droits naturels et imprescriptibles de

lrsquohomme Ces droits sont la liberteacute la proprieacuteteacute la sucircreteacute et la reacutesistance agrave lrsquooppression

Article IV

La liberteacute consiste agrave pouvoir faire tout ce qui ne nuit pas agrave autrui ainsi lrsquoexercice des droits naturels de

chaque homme nrsquoa de bornes que celles qui assurent aux autres Membres de la Socieacuteteacute la jouissance de

ces mecircmes droits Ces bornes ne peuvent ecirctre deacutetermineacutees que par la Loi

Article V

La Loi nrsquoa le droit de deacutefendre que les actions nuisibles agrave la Socieacuteteacute Tout ce qui nrsquoest pas deacutefendu par la

Loi ne peut ecirctre empecirccheacute et nul ne peut ecirctre contraint agrave faire ce qursquoelle nrsquoordonne pas

ART SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

I Les hommes naissent et

demeurent

presente

libres et eacutegaux en

droits

libres egaux

=gthomem

en droit= homem

tem direitos

Les

distinctions

sociales

sociales=da

sociedade=do

homem

peuvent ecirctre

fondeacutees

presente

ne (peuvent ecirctre

fondeacutees) que sur

lrsquoutiliteacute commune

utiliteacute commune =

para o homem

II Le but de

toute

association

politique

association

politique= de

homens

est

presente

la conservation des

droits naturels et

imprescriptibles de

lrsquohomme

droits de lrsquohomme

Ces droits direitos naturais e

imprescritiacuteveis do

homem

sont

presente

la liberteacute la

proprieacuteteacute la sucircreteacute

et la reacutesistance agrave

lrsquooppression

III Le principe de

toute

Souveraineteacute

eacute um conceito que

o homem atribui

reacuteside

presente

essentiellement

dans la Nation

eacute um conceito que

o homem atribui

115

Nul corps nul

individu

corpo

indiviacuteduo=gt

homem

peut exercer

presente

ne (peut exercer)

drsquoautoriteacute qui nrsquoen

eacutemane

expresseacutement

autoridade = do

homem

en=gtdo

homem()

IV La liberteacute do homem consiste

presente

agrave pouvoir faire tout

Ce qui nuit

presente

ne (nuit) pas agrave

autrui

autrui= homem

ainsi

lrsquoexercice des

droits naturels

de chaque

homme

comparaccedilatildeo com

liberdade

droit de chaque

homme

a

presente

nrsquo(a) de bornes que

Celles qui celles=bornes assurent

presente

aux autres Membres

de la Socieacuteteacute la

jouissance de ces

mecircmes droits

autres membres

de la

socieacuteteacute=homem

ces mecircmes

droits=direitos

naturais do

homem

Ces bornes peuvent

presente

ne (peuvent) ecirctre

deacutetermineacutees que par

la Loi

V La loi a

presente

nrsquo(a) le droit de

deacutefendre que les

actions nuisibles agrave

la Socieacuteteacute

socieacuteteacute=gthomem

Tout ce qui est

presente

nrsquo(est) pas deacutefendu

par la Loi

peut ecirctre

presente

ne (peut ecirctre)

empecirccheacute

empecirccher=quem

impede eacute o

homem

Et nul nul=homem peut ecirctre

presente

ne (peut ecirctre)

contraint agrave faire

contraint= homem

Ce qursquoelle elle=lei ordonne

presente

nrsquo(ordonne) pas

QUADRO RESUMO

Substantivos Referentes diretos Outros

Repreacutesentants du peuple franccedilais

Assembleacutee Droits de lrsquohomme Actes du pouvoir leacutegislatif

116

Membres du corps social

Reacuteclamations des citoyens

Etre suprecircme

tous

Assembleacutee nationale Droits de lrsquohomme et du citoyen

Utiliteacutes communes

Hommes Libres et eacutegaux Souveraniteacute

Distinctions sociales

Association politique

Ces droits

nation

Nul corps nul individu autrui Autoriteacute

Membres de la socieacuteteacute Liberteacute

Chaque homme Socieacuteteacute

c) Outros artigos

Article VI

La Loi est lrsquoexpression de la volonteacute geacuteneacuterale Tous les Citoyens ont droit de concourir personnellement

ou par leurs Repreacutesentants agrave sa formation Elle doit ecirctre la mecircme pour tous soit qursquoelle protegravege soit

qursquoelle punisse Tous les Citoyens eacutetant eacutegaux agrave ses yeux sont eacutegalement admissibles agrave toutes digniteacutes

places et emplois publics selon leur capaciteacute et sans autre distinction que celle de leurs vertus et de leurs

talents

Article VII

Nul homme ne peut ecirctre accuseacute arrecircteacute ni deacutetenu que dans les cas deacutetermineacutes par la Loi et selon les

formes qursquoelle a prescrites Ceux qui sollicitent expeacutedient exeacutecutent ou font exeacutecuter des ordres

arbitraires doivent ecirctre punis mais tout Citoyen appeleacute ou saisi en vertu de la Loi doit obeacuteir agrave lrsquoinstant

il se rend coupable par la reacutesistance

Article VIII

La Loi ne doit eacutetablir que des peines strictement et eacutevidemment neacutecessaires et nul ne peut ecirctre puni qursquoen

vertu drsquoune Loi eacutetablie et promulgueacutee anteacuterieurement au deacutelit et leacutegalement appliqueacutee

Article IX

Tout homme eacutetant preacutesumeacute innocent jusqursquoagrave ce qursquoil ait eacuteteacute deacuteclareacute coupable srsquoil est jugeacute indispensable

de lrsquoarrecircter toute rigueur qui ne serait pas neacutecessaire pour srsquoassurer de sa personne doit ecirctre seacutevegraverement

reacuteprimeacutee par la Loi

Article XI

117

La libre communication des penseacutees et des opinions est un des droits les plus preacutecieux de lrsquoHomme tout

Citoyen peut donc parler eacutecrire imprimer librement sauf agrave reacutepondre de lrsquoabus de cette liberteacute dans les

cas deacutetermineacutes par la Loi

Article XII

La garantie des droits de lrsquoHomme et du Citoyen neacutecessite une force publique cette force est donc

institueacutee pour lrsquoavantage de tous et non pour lrsquoutiliteacute particuliegravere de ceux auxquels elle est confieacutee

Article XIII

Pour lrsquoentretien de la force publique et pour les deacutepenses drsquoadministration une contribution commune est

indispensable Elle doit ecirctre eacutegalement reacutepartie entre tous les Citoyens en raison de leurs faculteacutes

Article XIV

Tous les Citoyens ont le droit de constater par eux-mecircmes ou par leurs Repreacutesentants la neacutecessiteacute de la

contribution publique de la consentir librement drsquoen suivre lrsquoemploi et drsquoen deacuteterminer la quotiteacute

lrsquoassiette le recouvrement et la dureacutee

Article XV

La Socieacuteteacute a le droit de demander compte agrave tout Agent public de son administration

Article XVI

Toute Socieacuteteacute dans laquelle la garantie des Droits nrsquoest pas assureacutee ni la seacuteparation des Pouvoirs

deacutetermineacutee nrsquoa point de Constitution

Article XVII

La proprieacuteteacute eacutetant un droit inviolable et sacreacute nul ne peut en ecirctre priveacute si ce nrsquoest lorsque la neacutecessiteacute

publique leacutegalement constateacutee lrsquoexige eacutevidemment et sous la condition drsquoune juste et preacutealable

indemniteacute

No excerto analisado observa-se que

a) O homem aparece representado pelas palavras ldquohommerdquo ldquoindividurdquo

ldquocorpsrdquo ldquocitoyenrdquo ldquoautruirdquo como um uacutenico ser Mas aparece tambeacutem

como laquo repreacutesantant raquo laquo membre du corps social raquo laquo membre de la

socieacuteteacute raquo Nesta acepccedilatildeo o homem eacute tomado individualmente mas

representando um grupo como integrante dele e a expressatildeo eacute

equivalente a um coletivo Jaacute o uso das palavras ldquoassembleacuteerdquo

118

ldquoassociationrdquo ldquosocieacuteteacuterdquo satildeo coletivos propriamente ditos da palavra

homem

b) Neste documento o atributo que mais eacute empregado eacute a palavra direito

As palavras igualdade liberdade e justiccedila natildeo figuram no texto e apenas

ldquolibrerdquo ldquoeacutegauxrdquo e ldquojusterdquo aparecem A ausecircncia dessas palavras indica

que o que estaacute sendo delineado eacute o direito ou melhor os direitos que ao

homem seratildeo atribuiacutedos

c) Quase a totalidade dos sujeitos gramaticais eacute representada pelo homem

ou seus referentes diretos (a palavra homem aparece explicitamente 7

vezes sendo que em nenhum dos casos eacute sujeito da oraccedilatildeo palavra

ldquodireitordquo(s) aparece 11 vezes sendo que eacute sujeito em apenas um caso)

tais como ldquoassembleiardquo ldquocorpo socialrdquo ldquosociedaderdquo Os outros referentes

satildeo decorrentes de accedilotildees do homem e se apresentam de forma indireta

quem impotildee limites quem faz a declaraccedilatildeo e a assina quem reclama eacute

o homem pois satildeo accedilotildees inerentes ao homem Quanto aos

complementos (objetos ou predicativos do sujeito) haacute um maior

equiliacutebrio referem-se em sua maioria ao homem ou aos seus direitos

Poderia se resumir esta parte do documento no seguinte enunciado o

homem especifica quais satildeo os direitos do homem

d) O enunciador do texto eacute representado por homens pois o texto eacute

elaborado por homens e para os homens Esses homens que satildeo os

representantes da Assembleia francesa tem um ethos revestido pelo

poder que foi conferido pela sociedade francesa Satildeo representantes de

vaacuterias outras vozes

e) Ao mesmo tempo em que representam vaacuterias outras vozes os direitos

ali estabelecidos como jaacute se viu mesmo que inovadores (o homem tem

direito agrave propriedade agrave liberdade de expressatildeo por exemplo) satildeo

reflexos de outros direitos ou dos direitos adquiridos por outras culturas

o que mostra o processo dialoacutegico no qual esse texto se insere

f) O homem ao qual se refere o documento que antes era sozinho e

desprotegido aparece reformulado e representado na Assembleia

insere-se na sociedade inserido sendo assim amparado por ela

119

O homem vem delineado como um cidadatildeo como um corpo dotado de

individualidade como UM SER e assim se define como parte da sociedade Eacute

representado por um outro homem e dotado de direitos dentro de uma

sociedade em que os poderes satildeo organizados regidos por princiacutepios leis e

sob a proteccedilatildeo de um SER SUPREMO

352 A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (DUDH 1948)89

A DUDH eacute um tratado internacional e seu teor foi redigido por uma

comissatildeo de membros considerados representantes das aspiraccedilotildees gerais e

tinha o objetivo de assegurar que os excessos cometidos pelos paiacuteses

participantes das duas grandes guerras mundiais ou de outros paiacuteses natildeo

voltassem a ocorrer (armas quiacutemicas ou campos de extermiacutenio por exemplo)

Eacute elaborado num periacuteodo posterior ao final da segunda guerra (1948) e foi

assinado e ratificado por 50 paiacuteses num primeiro momento mas outros paiacuteses

aderiram a ele ao longo do tempo Hoje praticamente todos os paiacuteses o

adotam Como esta declaraccedilatildeo eacute um tratado internacional cabe a cada paiacutes de

acordo com seu sistema de leis integraacute-lo e fazer com que seja respeitado

dentro de seu sistema legal Mesmo sendo um tratado internacional

denominado declaraccedilatildeo tem a forma composicional ou melhor estrutura do

texto igual a da Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo francesa de

1789 possui artigos e eacute resultado da vontade de uma assembleia neste caso

geral e da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

Pode-se observar nessa declaraccedilatildeo a presenccedila do termo ldquohomemrdquo nas

seguintes formas

a) Sinoniacutemia homem eacute igual a ldquohommerdquo ldquoindividurdquo ldquopersonnerdquo

ldquoesclaverdquo

b) Pronominal ldquonulrdquo

89

Documento anexo II

120

c) Grupo nominal laquo membres de la famille humaine raquo laquo ecirctres

humains raquo laquo les uns envers les autres raquo

d) Extensiva direta laquo droits de lrsquohomme raquo laquo libres raquo laquo libeacutereacutes raquo

laquo contraint raquo laquo nation raquo laquo assembleacutee geacuteneacuterale raquo laquo ONU raquo

laquo peuples et nations raquo laquo populations des eacutetats membres raquo

laquo libres et eacutegaux en droits raquo laquo doueacutes de raison et

conscience raquo laquo ressortissante raquo

e) Extensiva indireta laquo droits eacutegaux et inalieacutenables raquo laquo justice raquo

laquo paix raquo laquo conscience de lrsquohumaniteacute raquo laquo actes de barbarie raquo

laquo la terreur raquo laquo la misegravere raquo laquo aspiration de lrsquohomme raquo

laquo reacutevolte raquo laquo tyrannie raquo laquo oppression raquo laquo relations

amicales raquo laquo charte de peuples des nations unies raquo laquo foi raquo

laquo digniteacute raquo laquo valeur raquo laquo eacutegaliteacute raquo laquo eacutetats membres raquo

laquo liberteacutes fondamentales raquo laquo organes de la socieacuteteacute raquo

laquo enseignement raquo laquo eacuteducation raquo laquo engagements raquo laquo esprit

de fraterniteacute raquo laquo race raquo laquo couleurs raquo laquo sexe raquo laquo langue raquo

laquo religion raquo laquo opinion politique raquo laquo autre opinion raquo laquo origine

nationale ou sociale raquo laquo de fortune raquo laquo naissance ou autre

situation raquo laquo liberteacute raquo laquo vie raquo laquo liberteacute raquo laquo sureteacute de sa

personne raquo laquo esclavage raquo laquo servitude raquo laquo traitements

inhumains ou deacutegradants raquo

f) Embreantes de pessoa natildeo haacute

A anaacutelise do documento pode ser constatada abaixo

a) Preacircmbulo

LA DECLARATION UNIVERSELLE DES DROITS DE LrsquoHOMME 1948 - 200890

90

httpwwwunorgfrdocumentsudhrlawshtml

121

Preacuteambule

Consideacuterant que la reconnaissance de la digniteacute inheacuterente agrave tous les membres de la famille humaine et

de leurs droits eacutegaux et inalieacutenables constitue le fondement de la liberteacute de la justice et de la paix dans le

monde

Consideacuterant que la meacuteconnaissance et le meacutepris des droits de lhomme ont conduit agrave des actes de

barbarie qui reacutevoltent la conscience de lhumaniteacute et que lavegravenement dun monde ougrave les ecirctres humains

seront libres de parler et de croire libeacutereacutes de la terreur et de la misegravere a eacuteteacute proclameacute comme la plus

haute aspiration de lhomme

Consideacuterant quil est essentiel que les droits de lhomme soient proteacutegeacutes par un reacutegime de droit pour

que lhomme ne soit pas contraint en suprecircme recours agrave la reacutevolte contre la tyrannie et loppression

Consideacuterant quil est essentiel dencourager le deacuteveloppement de relations amicales entre nations

Consideacuterant que dans la Charte les peuples des Nations Unies ont proclameacute agrave nouveau leur foi dans les

droits fondamentaux de lhomme dans la digniteacute et la valeur de la personne humaine dans leacutegaliteacute des

droits des hommes et des femmes et quils se sont deacuteclareacutes reacutesolus agrave favoriser le progregraves social et agrave

instaurer de meilleures conditions de vie dans une liberteacute plus grande

Consideacuterant que les Etats Membres se sont engageacutes agrave assurer en coopeacuteration avec lOrganisation des

Nations Unies le respect universel et effectif des droits de lhomme et des liberteacutes fondamentales

Consideacuterant quune conception commune de ces droits et liberteacutes est de la plus haute importance pour

remplir pleinement cet engagement

LAssembleacutee Geacuteneacuterale proclame la preacutesente Deacuteclaration universelle des droits de lhomme comme

lideacuteal commun agrave atteindre par tous les peuples et toutes les nations afin que tous les individus et tous les

organes de la socieacuteteacute ayant cette Deacuteclaration constamment agrave lesprit sefforcent par lenseignement et

leacuteducation de deacutevelopper le respect de ces droits et liberteacutes et den assurer par des mesures progressives

dordre national et international la reconnaissance et lapplication universelles et effectives tant parmi les

populations des Etats Membres eux-mecircmes que parmi celles des territoires placeacutes sous leur juridiction

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

(Assembleacutee

Geacuteneacuterale = AG) homens reunidos consideacuterant

particiacutepio

presente

Que

la

reconnaissance

de la digniteacute

inheacuterente agrave tous

les membres de

la famille

humaine et de

leurs droits

eacutegaux et

inalieacutenables

reconhecimento da

dignidade e dos

direitos=gtdignidade

e direitos do homem

membros da familia

humana=gthomens

constitue

presente

le fondement de la

liberteacute de la justice

et de la paix dans le

monde

le monde= onde

vive o homem

la liberteacutee la justice

la paix = conceitos

estabelecidos pelo

homem

122

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Que

la

meacuteconnaissance

et le meacutepris des

droits de

lhomme

deconhecimento e

desprezo dos direitos

do homem =gt

homem

ont conduit

preteacuterito

perfeito

agrave des actes de

barbarie

actes de barbarie=

do homem

Qui atos de barbaacuterie reacutevoltent

presente

la conscience de

lhumaniteacute

humaniteacute= do

homem

Et que

lavegravenement dun

monde

surgimento=gtquem

faz surgir

ougrave les ecirctres

humains

seres

humanos=homens

seront

futuro

libres de parler et de

croire libeacutereacutes de la

terreur et de la

misegravere

libres =

liberdade=gthomem

eacute livre

libeacutereacutes=

liberdade=gthomem

(lrsquoavenement

drsquoun monde)

surgimento a eacuteteacute proclameacute

preteacuterito

perfeito com

voz passiva

comme la plus

haute aspiration de

lhomme

Homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

Particiacutepio

presente

Qursquo

il impessoal=sujeito

inexistente

Est

Presente

essentiel que

les droits de

lhomme

direitos do homem

=gt homem

Soient

subjuntivo

proteacutegeacutes par un

reacutegime de droit

proteacutegeacutes =gt les

droits = os direitos

satildeo protegidos por

outros direitos

pour que

lhomme

homem ne soit pas

subjuntivo

contraint en

suprecircme recours agrave

la reacutevolte contre la

tyrannie et

loppression

contraint=gt homem

tyrannie et

oppression=sistemas

de governo do

homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Qursquo

il impessoal=sujeito

inexistente

Est

presente

essentiel

dencourager le

deacuteveloppement de

relations amicales

entre nations

relations amicales =

relaccedilotildees de

amizade= do homem

123

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Que dans la Charte

les peuples des

Nations Unies

a carta = documento

(AG) ont proclameacute

preteacuterito

perfeito

agrave nouveau leur foi

dans les droits

fondamentaux de

lhomme dans la

digniteacute et la valeur

de la personne

humaine dans

leacutegaliteacute des droits

des hommes et des

femmes

foi= o homem eacute

quem tem feacute

direitos

fundamentais do

homem

personne humaine =

homem

Et qursquo

lsquoils eles = homens se sont

deacuteclareacutes

preteacuterito

perfeito

reacutesolus agrave favoriser

le progregraves social et

agrave instaurer de

meilleures

conditions de vie

dans une liberteacute

plus grande

reacutesolus = homens

conditions de vie=

do homem

liberteacute= do homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Que les Etats

Membres

(ils) estados membros =gt

homens poreacutem

despersonificados

mas eacute pessoa

juridica

se sont

engageacutes

preteacuterito

perfeito

agrave assurer en

coopeacuteration avec

lOrganisation des

Nations Unies le

respect universel et

effectif des droits

de lhomme et des

liberteacutes

fondamentales

coopeacuteration= quem

coopera satildeo os

Estados

direitos do homem e

das liberdades=do

homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Qursquo

quune

conception

commune de ces

droits et liberteacutes

concepccedilatildeo comum =

dos homens =de

direitos e liberdades

especiacuteficos =gtdo

homem

retomada na linha

abaixo por ideal

comum

Est

presente

de la plus haute

importance pour

remplir pleinement

cet engagement

cet engangement =

DUDH

LAssembleacutee

Geacuteneacuterale

Assembleacutee = homens

reunidos

proclame

presente

la preacutesente

Deacuteclaration

universelle des

droits de lhomme

comme lideacuteal

commun agrave atteindre

direitos do homem

peuples et nation=

de homens

124

par tous les peuples

et toutes les nations

afin que tous les

individus et

tous les organes

de la socieacuteteacute

todos os indiviacuteduos=

homens e todos os

oacutergatildeos da sociedade=

homens reunidos

ayant

particiacutepio

presente

cette Deacuteclaration

constamment agrave

lesprit

cette=gt deacuteclaration

esprit= do homem

(tous les

individus et

tous les organes

de la socieacuteteacute)

idem sefforcent

Presente

par lenseignement

et leacuteducation

de deacutevelopper le

respect de ces droits

et liberteacutes

enseignement et

eacuteducation = do

homem

et den assurer

(par des mesures

progressives dordre

national et

international)

la reconnaissance

et lapplication

universelles et

effectives tant

parmi les

populations des

Etats Membres eux-

mecircmes que parmi

celles

en assurer=

assegurar o

desenvolvimento

deles = direitos e

liberdades e

tambeacutem seu

reconhecimento e

sua aplicaccedilatildeo

populations= de

homens

eacutetats membres =

homens reunidos de

forma poliacutetica

(tous les

individus et

tous les organes

de la socieacuteteacute)

(sefforcent) par des mesures

progressives dordre

national et

international

ordem =gtimposta

pelo homem

des territoires territoacuterios=naccedilotildees

estados membros

(qui

sont)

presente

voz passiva

Placeacutes sous leur

juridiction

placeacutes= os territoacuterios

jurisdiccedilatildeo= do s

Estados membros

=gt do homem

b) Artigos

Article premier

Tous les ecirctres humains naissent libres et eacutegaux en digniteacute et en droits Ils sont doueacutes de raison et de

conscience et doivent agir les uns envers les autres dans un esprit de fraterniteacute

Article 2

1Chacun peut se preacutevaloir de tous les droits et de toutes les liberteacutes proclameacutes dans la preacutesente

Deacuteclaration sans distinction aucune notamment de race de couleur de sexe de langue de religion

125

dopinion politique ou de toute autre opinion dorigine nationale ou sociale de fortune de naissance ou

de toute autre situation

2De plus il ne sera fait aucune distinction fondeacutee sur le statut politique juridique ou international du

pays ou du territoire dont une personne est ressortissante que ce pays ou territoire soit indeacutependant sous

tutelle non autonome ou soumis agrave une limitation quelconque de souveraineteacute

Article 3

Tout individu a droit agrave la vie agrave la liberteacute et agrave la sucircreteacute de sa personne

Article 4

Nul ne sera tenu en esclavage ni en servitude lesclavage et la traite des esclaves sont interdits sous toutes

leurs formes

Article 5

Nul ne sera soumis agrave la torture ni agrave des peines ou traitements cruels inhumains ou deacutegradants

ART SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

I Tous les ecirctres

humains

ecirctres

humains=homens

naissent

presente

libres et eacutegaux en

digniteacute et en droits

libres et eacutegaux=

homens

em direitos

Ils ils= homens sont

presente

doueacutes de raison et de

conscience

doueacutes= homens

Et (ils) doivent agir

presente

les uns envers les

autres dans un esprit

de fraterniteacute

les autres= os

homens

fraterniteacute=

sentimento dos

homens

II Chacun

chacun=homem peut se

preacutevaloir

presente

de tous les droits et

de toutes les liberteacutes

proclameacutes dans la

preacutesente Deacuteclaration

sans distinction

aucune notamment

de race de couleur

de sexe de langue de

religion dopinion

politique ou de toute

autre opinion

dorigine nationale ou

sociale de fortune de

naissance ou de toute

autre situation

race couleur

opinion=gthome

m

sociale

naissance=gtho

mem

126

De plus il il= impessoal ne sera fait

aucune

futuro

distinction fondeacutee sur

le statut politique

juridique ou

international du pays

ou du territoire

statut politique=

quem tem

status eacute o

homem

dont une

personne

une

personne=homem

est presente Ressortissante Ressortissant

=gthomem

que ce pays soit

subjuntivo

est ressortissante

que ce pays ou

territoire soit

indeacutependant sous

tutelle non autonome

ou soumis agrave une

limitation quelconque

de souveraineteacute

III Tout individu individu=homem a

presente

droit agrave la vie agrave la

liberteacute et agrave la sucircreteacute

de sa personne

liberteacute=homem

personne=gthom

em

IV Nul Nul = ninguem =

nenhum homem

ne sera tenu

futuro voz

passiva

en esclavage ni en

servitude

esclavage=gt

condiccedilatildeo do

homem

lesclavage et

la traite des

esclaves

Esclavage

=gtescravo

=gthomem

sont

presente

interdits sous toutes

leurs formes

V Nul Nul = ningueacutem =

nenhum homem

ne sera

soumis

futuro voz

passiva

agrave la torture ni agrave des

peines ou traitements

cruels inhumains ou

deacutegradants

torture

peines=gtinflingi

das ao homem

inhumaine=

inhumanas= do

que natildeo eacute

homem =gtdo

homem

QUADRO RESUMO

Substantivos Referentes diretos Outros

Membres de la famille

127

humaine

Droits eacutegaux et inalieacutenables

Droits de lrsquohomme Liberteacute justice paix

Conscience de l humaniteacute Actes de barbarie

Etres humains Libres libeacutereacutes La terreur et la misegravere

Aspiration de lrsquohomme

Homme Contraint Reacutevolte tyranie oppression

Relations amicales

Nations

Personne humaine Charte de peuples des nations unies

Foi digniteacute valeur eacutegaliteacute

Etats membres

Assembleacutee geacuteneacuterale onu

Peuples et nations Respect universel et effectif liberteacutes fondamentales

Individus Organes de la socieacuteteacute Conception des droits et liberteacutes

Populations des eacutetats membres

engagements

Enseignement eacuteducation

Libres et eacutegaux en droits Respects des droits

Tous les ecirctres humains Doueacutes de raison et conscience

Ordre national e international

c) Outros artigos

Article 6

Chacun a le droit agrave la reconnaissance en tous lieux de sa personnaliteacute juridique

Article 7

Tous sont eacutegaux devant la loi et ont droit sans distinction agrave une eacutegale protection de la loi Tous ont droit agrave

une protection eacutegale contre toute discrimination qui violerait la preacutesente Deacuteclaration et contre toute

provocation agrave une telle discrimination

Article 8

128

Toute personne a droit agrave un recours effectif devant les juridictions nationales compeacutetentes contre les actes

violant les droits fondamentaux qui lui sont reconnus par la constitution ou par la loi

Article 10

Toute personne a droit en pleine eacutegaliteacute agrave ce que sa cause soit entendue eacutequitablement et publiquement

par un tribunal indeacutependant et impartial qui deacutecidera soit de ses droits et obligations soit du bien-fondeacute

de toute accusation en matiegravere peacutenale dirigeacutee contre elle

Article 11

1 Toute personne accuseacutee dun acte deacutelictueux est preacutesumeacutee innocente jusquagrave ce que sa culpabiliteacute

ait eacuteteacute leacutegalement eacutetablie au cours dun procegraves public ougrave toutes les garanties neacutecessaires agrave sa

deacutefense lui auront eacuteteacute assureacutees

2 Nul ne sera condamneacute pour des actions ou omissions qui au moment ougrave elles ont eacuteteacute commises ne

constituaient pas un acte deacutelictueux dapregraves le droit national ou international De mecircme il ne sera

infligeacute aucune peine plus forte que celle qui eacutetait applicable au moment ougrave lacte deacutelictueux a eacuteteacute

commis

Article 12

Nul ne sera lobjet dimmixtions arbitraires dans sa vie priveacutee sa famille son domicile ou sa

correspondance ni datteintes agrave son honneur et agrave sa reacuteputation Toute personne a droit agrave la protection de la

loi contre de telles immixtions ou de telles atteintes

Article 13

1 Toute personne a le droit de circuler librement et de choisir sa reacutesidence agrave linteacuterieur dun Etat

2 Toute personne a le droit de quitter tout pays y compris le sien et de revenir dans son pays

Article 14

1 Devant la perseacutecution toute personne a le droit de chercher asile et de beacuteneacuteficier de lasile en dautres

pays

2 Ce droit ne peut ecirctre invoqueacute dans le cas de poursuites reacuteellement fondeacutees sur un crime de droit

commun ou sur des agissements contraires aux buts et aux principes des Nations Unies

Article 15

1 Tout individu a droit agrave une nationaliteacute

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa nationaliteacute ni du droit de changer de nationaliteacute

Article 16

1 A partir de lacircge nubile lhomme et la femme sans aucune restriction quant agrave la race la nationaliteacute ou

la religion ont le droit de se marier et de fonder une famille Ils ont des droits eacutegaux au regard du

mariage durant le mariage et lors de sa dissolution

2 Le mariage ne peut ecirctre conclu quavec le libre et plein consentement des futurs eacutepoux

129

3 La famille est leacuteleacutement naturel et fondamental de la socieacuteteacute et a droit agrave la protection de la socieacuteteacute et

de lEtat

Article 17

1 Toute personne aussi bien seule quen collectiviteacute a droit agrave la proprieacuteteacute

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa proprieacuteteacute

Article 18

Toute personne a droit agrave la liberteacute de penseacutee de conscience et de religion ce droit implique la liberteacute de

changer de religion ou de conviction ainsi que la liberteacute de manifester sa religion ou sa conviction seule

ou en commun tant en public quen priveacute par lenseignement les pratiques le culte et laccomplissement

des rites

Article 19

Tout individu a droit agrave la liberteacute dopinion et dexpression ce qui implique le droit de ne pas ecirctre inquieacuteteacute

pour ses opinions et celui de chercher de recevoir et de reacutepandre sans consideacuterations de frontiegraveres les

informations et les ideacutees par quelque moyen dexpression que ce soit

Article 20

1 Toute personne a droit agrave la liberteacute de reacuteunion et dassociation pacifiques

2 Nul ne peut ecirctre obligeacute de faire partie dune association

Article 21

1 Toute personne a le droit de prendre part agrave la direction des affaires publiques de son pays soit

directement soit par lintermeacutediaire de repreacutesentants librement choisis

2 Toute personne a droit agrave acceacuteder dans des conditions deacutegaliteacute aux fonctions publiques de son

pays

3 La volonteacute du peuple est le fondement de lautoriteacute des pouvoirs publics cette volonteacute doit

sexprimer par des eacutelections honnecirctes qui doivent avoir lieu peacuteriodiquement au suffrage

universel eacutegal et au vote secret ou suivant une proceacutedure eacutequivalente assurant la liberteacute du vote

Article 22

Toute personne en tant que membre de la socieacuteteacute a droit agrave la seacutecuriteacute sociale elle est fondeacutee agrave obtenir la

satisfaction des droits eacuteconomiques sociaux et culturels indispensables agrave sa digniteacute et au libre

deacuteveloppement de sa personnaliteacute gracircce agrave leffort national et agrave la coopeacuteration internationale compte tenu

de lorganisation et des ressources de chaque pays

Article 23

1 Toute personne a droit au travail au libre choix de son travail agrave des conditions eacutequitables et

satisfaisantes de travail et agrave la protection contre le chocircmage

2 Tous ont droit sans aucune discrimination agrave un salaire eacutegal pour un travail eacutegal

130

3 Quiconque travaille a droit agrave une reacutemuneacuteration eacutequitable et satisfaisante lui assurant ainsi quagrave sa

famille une existence conforme agrave la digniteacute humaine et compleacuteteacutee sil y a lieu par tous autres

moyens de protection sociale

4 Toute personne a le droit de fonder avec dautres des syndicats et de saffilier agrave des syndicats

pour la deacutefense de ses inteacuterecircts

Article 24

Toute personne a droit au repos et aux loisirs et notamment agrave une limitation raisonnable de la dureacutee du

travail et agrave des congeacutes payeacutes peacuteriodiques

Article 25

1 Toute personne a droit agrave un niveau de vie suffisant pour assurer sa santeacute son bien-ecirctre et ceux de sa

famille notamment pour lalimentation lhabillement le logement les soins meacutedicaux ainsi que pour les

services sociaux neacutecessaires elle a droit agrave la seacutecuriteacute en cas de chocircmage de maladie dinvaliditeacute de

veuvage de vieillesse ou dans les autres cas de perte de ses moyens de subsistance par suite de

circonstances indeacutependantes de sa volonteacute

2 La materniteacute et lenfance ont droit agrave une aide et agrave une assistance speacuteciales Tous les enfants quils

soient neacutes dans le mariage ou hors mariage jouissent de la mecircme protection sociale

Article 26

1 Toute personne a droit agrave leacuteducation Leacuteducation doit ecirctre gratuite au moins en ce qui concerne

lenseignement eacuteleacutementaire et fondamental Lenseignement eacuteleacutementaire est obligatoire Lenseignement

technique et professionnel doit ecirctre geacuteneacuteraliseacute laccegraves aux eacutetudes supeacuterieures doit ecirctre ouvert en pleine

eacutegaliteacute agrave tous en fonction de leur meacuterite

2 Leacuteducation doit viser au plein eacutepanouissement de la personnaliteacute humaine et au renforcement du

respect des droits de lhomme et des liberteacutes fondamentales Elle doit favoriser la compreacutehension la

toleacuterance et lamitieacute entre toutes les nations et tous les groupes raciaux ou religieux ainsi que le

deacuteveloppement des activiteacutes des Nations Unies pour le maintien de la paix

3 Les parents ont par prioriteacute le droit de choisir le genre deacuteducation agrave donner agrave leurs enfants

Article 27

1 Toute personne a le droit de prendre part librement agrave la vie culturelle de la communauteacute de jouir des

arts et de participer au progregraves scientifique et aux bienfaits qui en reacutesultent

2 Chacun a droit agrave la protection des inteacuterecircts moraux et mateacuteriels deacutecoulant de toute production

scientifique litteacuteraire ou artistique dont il est lauteur

Article 28

Toute personne a droit agrave ce que regravegne sur le plan social et sur le plan international un ordre tel que les

droits et liberteacutes eacutenonceacutes dans la preacutesente Deacuteclaration puissent y trouver plein effet

Article 29

131

1 Lindividu a des devoirs envers la communauteacute dans laquelle seule le libre et plein

deacuteveloppement de sa personnaliteacute est possible

2 Dans lexercice de ses droits et dans la jouissance de ses liberteacutes chacun nest soumis quaux

limitations eacutetablies par la loi exclusivement en vue dassurer la reconnaissance et le respect des

droits et liberteacutes dautrui et afin de satisfaire aux justes exigences de la morale de lordre public

et du bien-ecirctre geacuteneacuteral dans une socieacuteteacute deacutemocratique

3 Ces droits et liberteacutes ne pourront en aucun cas sexercer contrairement aux buts et aux principes

des Nations Unies

Article 30

Aucune disposition de la preacutesente Deacuteclaration ne peut ecirctre interpreacuteteacutee comme impliquant pour un Etat un

groupement ou un individu un droit quelconque de se livrer agrave une activiteacute ou daccomplir un acte visant agrave

la destruction des droits et liberteacutes qui y sont eacutenonceacutes

No trecho analisado observa-se que

a O homem aparece representado pelas palavras e expressotildees ldquoecirctre

humainrdquo ldquohommerdquo ldquopersonne humainerdquo ldquoindividurdquo ldquoles uns envers les

autresrdquo ldquopersonnerdquo ldquonulrdquo ldquoesclavesrdquo Eacute o homem tomado na sua

individualidade Tambeacutem se encontram no texto expressotildees tais como

ldquomembres de la famille humainerdquo o que mostra o homem enquanto

indiviacuteduo mas situado e inserido num grupo Ainda aparecem

expressotildees tais como ldquoassembleacutee geacuteneacuteralerdquo ldquopopulation des eacutetats

membresrdquo ldquopeuplesrdquo ldquonationsrdquo ldquoONUrdquo que se referem a agrupamentos

de homem fazendo o papel de coletivo da palavra homem

b Nessa declaraccedilatildeo o direito aparece mais especificado vem mais

detalhado e tambeacutem aparece associado aos conceitos de liberdade

igualdade e justiccedila Esses conceitos aparecem inclusive em sua

maioria no plural o que equivale dizer que existe mais de um tipo de

direito e de liberdade o que vem inclusive expresso no proacuteprio

preacircmbulo ldquoune conception commune de ces droits et liberteacutes est de la

plus haute importance pour remplir pleinement cet engagementrdquo Pode-

se entender que isso seria devido ao fato de a declaraccedilatildeo ser de caraacuteter

universal Mas haacute que se lembrar do contexto histoacuterico que eacute a razatildeo de

sua elaboraccedilatildeo uma maior proteccedilatildeo do homem apoacutes os horrores das

duas Guerras Mundiais

132

c Aleacutem disso a caracterizaccedilatildeo do homem de forma mais definida permite

que se lhe atribua direitos mais definidos de justiccedila igualdade natildeo

escravidatildeo tratamento digno Eacute um homem mais delineado inserido

num contexto determinado - social poliacutetico universal Ele se torna parte

da famiacutelia humana integrado a um grupo formado por naccedilotildees povos

populaccedilotildees A esse grupo tambeacutem satildeo atribuiacutedos direitos mais

definidos de justiccedila igualdade natildeo escravidatildeo tratamento digno de

seguranccedila Eacute um homem delineado que tem opiniatildeo inserido num

contexto nacional internacional e atual moderno para o seu tempo

(1948) Vale lembrar que ainda hoje existem paiacuteses que natildeo ratificaram

o tratado91 ou que mesmo que o tenham feito natildeo respeitam o que ele

dispotildee

d Tal como no texto anterior o enunciador eacute o homem representado pelo

grupo portanto satildeo vaacuterias vozes representadas O homem eacute igualmente

constituiacutedo em um grupo sob a forma de Assembleia Geral Seu ethos

tambeacutem eacute fortalecido e constituiacutedo pelo status que lhe foi atribuiacutedo pela

Assembleia A ausecircncia do termo ldquoAssembleacutee Geacuteneacuteralerdquo conjugada com

a repeticcedilatildeo do verbo ldquoconsideacuterantrdquo ressalta essa forccedila do ethos

e O homem representado na Assembleia Geral da ONU eacute diferente do

homem da Assembleia francesa natildeo soacute pelo fato de pertencer a uma

organizaccedilatildeo de paiacuteses mas tambeacutem esse homem eacute descrito por meio

de expressotildees que lhe atribuem caracteriacutesticas especiacuteficas Eacute um

homem que faz parte de um grupo (da famiacutelia humana de povos e

naccedilotildees pertencente aos estados membros) cujos direitos satildeo mais

detalhados (livres e iguais em direitos direitos iguais e inalienaacuteveis) e

cujos atributos satildeo bem especificados (dotado de razatildeo e consciecircncia

espiacuterito de fraternidade) sendo protegido dos infortuacutenios (miseacuteria

escravidatildeo tratamentos inumanos e degradantes)

f As expressotildees que se referem ao homem ao mesmo tempo em que o

especificam mostram o aspecto ideoloacutegico da sociedade onde ele estaacute

91

Taiwan natildeo teve aceito seu pedido de ratificaccedilatildeo pela ONU em 2007porque eacute consideradoum paiacutes natildeo

independente da Republica da China (httpbrchina-embassyorgporztzltwwtt344180htm em

25112012)92

Documento anexo III

133

inserido o que deixa evidente que havia um estado anterior diferente do

que eacute pretendido pelo documento e por conseguinte revela seu caraacuteter

dialoacutegico

353 A Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF1988)

Preacircmbulo e artigo 5deg LXXVIII 92

A Constituiccedilatildeo Federal eacute a lei maacutexima que rege a vida de todo brasileiro

e tambeacutem daqueles que vivem sobre o solo do paiacutes Tem em comum com a

DDHC e com a DUDH o fato de dar ao homem o status de ser igual aos outros

homens A disposiccedilatildeo ldquoLes hommes naissent libres et eacutegaux en droitsrdquo(DDHC)

e ldquoTous les ecirctres humains naissent libres et eacutegaux en digniteacute et en droitsrdquo

(DUDH) eacute reformulada em ldquoTodos satildeo iguais perante a leirdquo

Esse conjunto de normas foi elaborado ao final de um periacuteodo de

governo autoritaacuterio comandado por militares

Foi redigido e votado pelos representantes do povo brasileiro (72

senadores e 487deputados) e visava natildeo soacute estabelecer o funcionamento do

Estado democraacutetico definindo as funccedilotildees do diferentes poderes (executivo

legislativo e judiciaacuterio) mas tambeacutem garantir ao cidadatildeo direitos essenciais

aleacutem de regular as ordens financeira econocircmica e social entre outros Nesse

documento foram observados os seguintes casos de reformulaccedilatildeo em relaccedilatildeo

ao emprego do termo homem

a) Sinoniacutemia ldquobrasileiros e estrangeirosrdquo ldquomulheresrdquo

b) Pronominal ldquotodosrdquo

c) Grupo nominal ldquorepresentantes do povo brasileirordquo ldquopessoa

humanardquo ldquorepresentantes eleitosrdquo ldquoningueacutemrdquo

92

Documento anexo III

134

d) Extensiva direta ldquoassembleia nacionalrdquo ldquoindividuaisrdquo ldquosociedade

fraterna pluralista e sem preconceitosrdquo ldquocidadaniardquo ldquopovordquo

ldquosociedaderdquo ldquocomunidade latino-americana de naccedilotildeesrdquo ldquoiguaisrdquo

e) Extensiva indireta ldquoestado democraacuteticordquo ldquodireitos sociaisrdquo

ldquoliberdaderdquo ldquoseguranccedilardquo ldquobem estarrdquo ldquodesenvolvimentordquo

ldquoigualdaderdquo ldquojusticcedilardquo ldquoharmonia socialrdquo ldquosoluccedilatildeo pacificardquo

ldquodignidade da pessoa humanardquo ldquosob a proteccedilatildeo de Deusrdquo ldquopoder

legislativo executivo judiciaacuteriordquo ldquopobrezardquo ldquomarginalizaccedilatildeordquo

ldquodesigualdades sociaisrdquo ldquodiscriminaccedilatildeordquo ldquoorigemrdquo ldquoraccedilardquo ldquosexordquo

ldquocorrdquo ldquoidaderdquo ldquodireitos humanosrdquo ldquoautodeterminaccedilatildeo dos povosrdquo

ldquopazrdquo ldquoconflitordquo ldquoterrorismordquo ldquoracismordquo ldquocooperaccedilatildeo entre os

povosrdquo ldquoprogresso da humanidaderdquo ldquoasilo poliacuteticordquo ldquointegraccedilatildeo

socialrdquo ldquotorturardquo ldquotratamento desumano ou degradanterdquo

ldquomanifestaccedilatildeo do pensamentordquo ldquoanonimatordquo ldquoliberdade de

crenccedila de consciecircncia de pensamento de culto religiosordquo

f) Embreantes de pessoa noacutes

Essa constataccedilatildeo se fez a partir de um levantamento efetuado no texto

abaixo conforme se pode ver no quadro de anaacutelise

a) Preacircmbulo

CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 198893

Noacutes representantes do povo brasileiro reunidos em Assembleia Nacional

Constituinte para instituir um Estado Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio

dos direitos sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-estar o

desenvolvimento a igualdade e a justiccedila como valores supremos de uma sociedade

93

httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm Acesso em 30112012

135

fraterna pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia social e comprometida na

ordem interna e internacional com a soluccedilatildeo paciacutefica das controveacutersias promulgamos

sob a proteccedilatildeo de Deus a seguinte CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Noacutes

representantes

do povo

brasileiro

Representantes do

povo = homens

restritivo

(estamos)

presente voz

passiva

Reunidos em

Assembleia Nacional

Constituinte

Assembleia

=gthomens reunidos

Para instituir

infinitivo

um Estado

Democraacutetico

Estado =gt homens

organizados

(estado

democraacutetico

que)

Estado (estejaseja)

subjuntivo voz

passiva

destinado a assegurar o

exerciacutecio dos direitos

sociais e individuais a

liberdade a seguranccedila

o bem-estar o

desenvolvimento a

igualdade e a justiccedila

Exerciacutecio de direi-tos

=gt do homem

A liberdade a

seguranccedila o bem

estar =gt do homem

O desenvolvimento a

igualdade a justiccedila

=gtpara o homem

como valores

supremos de

uma sociedade

fraterna

pluralista e

sem

preconceitos

Valores de uma

sociedade = de

homens

(estejaseja)

subjuntivo voz

passiva

fundada na harmonia

social e comprometida

na ordem interna e

internacional com a

soluccedilatildeo paciacutefica das

controveacutersias

Fundada=gt a

sociedade=gt homem

Harmonia social e

comprometida etc

soluccedilatildeo pacifica =gt

apenas o homem eacute

capaz de fazer isso

Sujeito oculto =

nos representantes

= homens

promulgamos

presente

sob a proteccedilatildeo de

Deus a seguinte

CONSTITUICcedilAtildeO DA

REPUacuteBLICA

FEDERATIVA DO

BRASIL

Deus =gt quem

acredita em Deus eacute o

homem

Repuacuteblica =gt forma

de governo do

homem

b) Artigos

TIacuteTULO I

Dos Princiacutepios Fundamentais

Art 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos

Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de

Direito e tem como fundamentos

I - a soberania

II - a cidadania

136

III - a dignidade da pessoa humana

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o

Executivo e o Judiciaacuterio

Art 3ordm Constituem objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa do Brasil

I - construir uma sociedade livre justa e solidaacuteria

II - garantir o desenvolvimento nacional

III - erradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir as desigualdades sociais e

regionais

IV - promover o bem de todos sem preconceitos de origem raccedila sexo cor idade e

quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeo

Art 4ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais

pelos seguintes princiacutepios

I - independecircncia nacional

II - prevalecircncia dos direitos humanos

III - autodeterminaccedilatildeo dos povos

IV - natildeo-intervenccedilatildeo

V - igualdade entre os Estados

VI - defesa da paz

VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos

VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo

IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade

X - concessatildeo de asilo poliacutetico

137

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica

poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma

comunidade latino-americana de naccedilotildees

Art SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE 1deg A

Repuacuteblica

Federativa

do Brasil

constitui-

se

em Estado Demo-

craacutetico de Direito e tem

como fundamentos

I - a soberania

II - a cidadania

III - a dignidade da

pessoa humana

IV - os valores sociais

do trabalho e da livre

iniciativa

V - o pluralismo

poliacutetico

Cidadania=Cidadatildeo

=homem

Pessoa

humana=homem

Valores sociais=

sociedade=grupo de

homens

(A

Repuacuteblica

Federativa

do Brasil)

(eacute) formada pela uniatildeo

indissoluacutevel dos Esta-

dos e Municiacutepios e do

Distrito Federal

Pessoas juriacutedicas

Estado municiacutepio e

distrito federal

Paacutera- Todo o

poder

emana do povo Povo=homens

grafo

uni-

co

Que (o

povo)

Povo exerce por meio de re-

presentantes eleitos ou

diretamente nos ter-

mos desta Constituiccedilatildeo

Representantes

eleitos= homens

2deg o

Legislativo

o Executivo

e o

Judiciaacuterio

Poderes do gover-

no = dos homens

satildeo Poderes da Uniatildeo

independentes e

harmocircnicos entre si

Poder= quem tem

poder eacute o homem

3deg

Consti-

tuem

objetivos fundamen-

tais da Repuacuteblica Fede-

rativa do Brasil

I- construir uma

sociedade livre justa e

solidaacuteria

II - garantir o desen-

volvimento nacional

III - erradicar a pobreza

e a marginalizaccedilatildeo e

reduzir as desigualda-

des sociais e regionais

Sociedade= homens

Pobreza e

marginalizaccedilatildeo=

homens

Bem de todos= dos

homens

Sociais= de homens

Raccedila idade=

homens

138

IV - promover o bem

de todos sem preacute-

conceitos de origem

raccedila sexo cor idade e

quaisquer outras for-

mas de discriminaccedilatildeo

4deg A Repuacuteblica

Federativa

do Brasil

Repuacuteblica= forma

de governo=

homens

rege-se nas suas relaccedilotildees

internacionais pelos

seguintes princiacutepios

I ndash independecircncia

nacional

II ndash prevalecircncia dos

direitos humanos

III ndash autodeterminaccedilatildeo

dos povos

IV - natildeo-intervenccedilatildeo

V - igualdade entre os

Estados

VI - defesa da paz

VII - soluccedilatildeo paciacutefica

dos confli-tos

VIII - repuacutedio ao

terrorismo e ao

racismo

IX ndash cooperaccedilatildeo entre

os povos para o

progresso da

humanidade

X ndash concessatildeo de asilo

poliacutetico

Direitos humanos=

dos homens

Povos=homens

Terrorismo e racis-

mo = accedilotildees dos

homens

Asilo poliacutetico= con-

cedido ao homem

A Repuacuteblica

Federativa

do Brasil

Idem buscaraacute A integraccedilatildeo

econocircmica politica

social e cultural dos

poacutevos da Ameacuterica

Latina

Social =dos homens

Povos=homens

(que= a

integraccedilatildeo

etc)

visando agrave formaccedilatildeo de uma

comunidade latino-

americana de naccedilotildees

Comunidade de

naccedilotildees=de homens

TIacuteTULO II

Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPIacuteTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

139

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave

igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos desta Constituiccedilatildeo

II - ningueacutem seraacute obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senatildeo em virtude de lei

III - ningueacutem seraacute submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante

IV - eacute livre a manifestaccedilatildeo do pensamento sendo vedado o anonimato

V - eacute assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo aleacutem da indenizaccedilatildeo por dano material

moral ou agrave imagem

()

LXXVIII a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do

processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeo (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional

nordm 45 de 2004)

sect 1ordm - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tecircm aplicaccedilatildeo imediata

ARTIGO SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Art 5deg Todos satildeo satildeo iguais perante a

lei sem distinccedilatildeo de

qualquer natureza

garantindo-

se

aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes

no Paiacutes a

inviolabilidade do

direito agrave vida agrave

liberdade agrave igualdade

agrave seguranccedila e agrave pro-

priedade nos termos

seguintes

Brasileiros e

estrangeiros=

homens

INCISO

I homens e

mulheres

satildeo iguais em direitos e

obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo

II ningueacutem seraacute seraacute obrigado a fazer

ou deixar de fazer

alguma coisa senatildeo em

virtude de lei

Obrigado= o

homem

III ningueacutem Seraacute submetido a tortura

nem a tratamento

desumano ou

degradante

Tortura e trata-

mento desumano

ou degradante=

soacute o homem faz

isso

IV Eacute a manifestaccedilatildeo do

pensamento

Pensamento= do

homem

Sendo vedado o anonimato

V Eacute assegurado o direito

de resposta propor-

cional ao agravo aleacutem

da indenizaccedilatildeo por

dano material moral

Resposta= do

homem

Dano moral= do

140

ou agrave imagem homem

LXXVIII satildeo a todos no acircmbito

judicial e administra-

tivo (satildeo) assegurados

a razoaacutevel dura-ccedilatildeo do

processo e os meios

que garantam a celeri-

dade de sua tramitaccedilatildeo

Direito a uma

justiccedila raacutepida

QUADRO RESUMO

Substantivos Referente direto Outros

Noacutes

Representantes do povo brasileiro

Assembleia nacional

Estado democraacutetico

Individuais Direitos sociais liberdade seguranccedila bem estar desenvolvimento igualdade justiccedila

Sociedade fraterna pluralista e sem preconceitos

Harmonia social soluccedilatildeo paciacutefica

Cidadania dignidade da pessoa humana

Sob a proteccedilatildeo de Deus

Trabalho livre iniciativa

Povo Poder

Representantes eleitos

Legislativo executivo judiciaacuterio satildeo poderes da uniatildeo

Sociedade Pobreza marginalizaccedilatildeo desigualdades sociais

(O bem de) todos Origem raccedila sexo cor idade discriminaccedilatildeo

Direitos humanos autodeterminaccedilatildeo dos povos

Paz conflitos terrorismo racismo

Cooperaccedilatildeo entre os povos

Progresso da humanidade

Asilo poliacutetico

Integraccedilatildeo social

Comunidade latino-americana de naccedilotildees

Todos

141

Iguais

Brasileiros e estrangeiros

direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade

Homens e mulheres Iguais Direitos e obrigaccedilotildees

Ningueacutem seraacute obrigado

Tortura

Tratamento desumano ou degradante

Manifestaccedilatildeo do pensamento anonimato

Liberdade de crenccedila de consciecircncia culto religioso

Local de culto e sua liturgia

LXXVIII Todos=esse todos retoma o todos satildeo iguais

c) Art5deg Outros incisos

VI - eacute inviolaacutevel a liberdade de consciecircncia e de crenccedila sendo assegurado o livre exerciacutecio dos cultos

religiosos e garantida na forma da lei a proteccedilatildeo aos locais de culto e a suas liturgias

VIII - ningueacutem seraacute privado de direitos por motivo de crenccedila religiosa ou de convicccedilatildeo filosoacutefica ou

poliacutetica salvo se as invocar para eximir-se de obrigaccedilatildeo legal a todos imposta e recusar-se a cumprir

prestaccedilatildeo alternativa fixada em lei

IX - eacute livre a expressatildeo da atividade intelectual artiacutestica cientiacutefica e de comunicaccedilatildeo

independentemente de censura ou licenccedila

X - satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito

a indenizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeo

XIII - eacute livre o exerciacutecio de qualquer trabalho ofiacutecio ou profissatildeo atendidas as qualificaccedilotildees

profissionais que a lei estabelecer

XV - eacute livre a locomoccedilatildeo no territoacuterio nacional em tempo de paz podendo qualquer pessoa nos

termos da lei nele entrar permanecer ou dele sair com seus bens

XVII - eacute plena a liberdade de associaccedilatildeo para fins liacutecitos vedada a de caraacuteter paramilitar

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ou utilidade puacuteblica

ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvados os casos previstos

nesta Constituiccedilatildeo

142

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilizaccedilatildeo publicaccedilatildeo ou reproduccedilatildeo de suas

obras transmissiacutevel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar

XXVIII - satildeo assegurados nos termos da lei

b) o direito de fiscalizaccedilatildeo do aproveitamento econocircmico das obras que criarem ou de que

participarem aos criadores aos inteacuterpretes e agraves respectivas representaccedilotildees sindicais e associativas

XXX - eacute garantido o direito de heranccedila

XXXIII - todos tecircm direito a receber dos oacutergatildeos puacuteblicos informaccedilotildees de seu interesse particular ou

de interesse coletivo ou geral que seratildeo prestadas no prazo da lei sob pena de responsabilidade

ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindiacutevel agrave seguranccedila da sociedade e do Estado (Regulamento)

XXXIV - satildeo a todos assegurados independentemente do pagamento de taxas

a) o direito de peticcedilatildeo aos Poderes Puacuteblicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de

poder

b) a obtenccedilatildeo de certidotildees em reparticcedilotildees puacuteblicas para defesa de direitos e esclarecimento de

situaccedilotildees de interesse pessoal

XXXV - a lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a direito

XXXVI - a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada

XLI - a lei puniraacute qualquer discriminaccedilatildeo atentatoacuteria dos direitos e liberdades fundamentais

a) privaccedilatildeo ou restriccedilatildeo da liberdade

e) suspensatildeo ou interdiccedilatildeo de direitos

LIV - ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal

LXIII - o preso seraacute informado de seus direitos entre os quais o de permanecer calado sendo-lhe

assegurada a assistecircncia da famiacutelia e de advogado

LXIV - o preso tem direito agrave identificaccedilatildeo dos responsaacuteveis por sua prisatildeo ou por seu interrogatoacuterio

policial

LXVI - ningueacutem seraacute levado agrave prisatildeo ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisoacuteria

com ou sem fianccedila

LXVIII - conceder-se-aacute habeas-corpus sempre que algueacutem sofrer ou se achar ameaccedilado de sofrer

violecircncia ou coaccedilatildeo em sua liberdade de locomoccedilatildeo por ilegalidade ou abuso de poder

LXIX - conceder-se-aacute mandado de seguranccedila para proteger direito liacutequido e certo natildeo amparado por

habeas-corpus ou habeas-data quando o responsaacutevel pela ilegalidade ou abuso de poder for

autoridade puacuteblica ou agente de pessoa juriacutedica no exerciacutecio de atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico

LXXI - conceder-se-aacute mandado de injunccedilatildeo sempre que a falta de norma regulamentadora torne

inviaacutevel o exerciacutecio dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade

agrave soberania e agrave cidadania

143

De acordo com o texto constitucional pode-se verificar que

a) O homem aparece caracterizado de forma individual tal qual se vecirc pelo

emprego de termos como ldquopessoa humanardquo ldquohomens e mulheresrdquo

ldquoningueacutemrdquo Tambeacutem vem explicitado dentro do grupo como se pode ver

nas expressotildees ldquorepresentantesrdquo ldquorepresentantes eleitosrdquo ldquobrasileiros e

estrangeirosrdquo Ainda se pode observar sua existecircncia pelo emprego de

coletivos ou seus equivalentes tal como em ldquorepresentantesrdquo ldquopovordquo

ldquoassembleiardquo ldquonoacutesrdquo ldquosociedaderdquo ldquopovosrdquo ldquonaccedilotildeesrdquo ldquotodosrdquo

b) Na Constituiccedilatildeo o homem possui os direitos muito bem assegurados o

que eacute comprovado natildeo soacute pela frequecircncia do uso do termo no singular e

no plural mas tambeacutem pelo contexto em que vem empregado o proacuteprio

artigo 5deg eacute uma descriccedilatildeo exaustiva dos direitos do homem com ecircnfase

sobretudo agrave liberdade Tal peculiaridade se explica pelo contexto de

produccedilatildeo da Constituiccedilatildeo elaborada por deputados depois de um longo

periacuteodo de regime autoritaacuterio militar em que a maior parte da liberdade

individual foi abolida Esse homem eacute bem especificado pois eacute brasileiro

e estrangeiro e dotado de vaacuterios direitos que satildeo bem definidos e

determinados tecircm representantes eleitos e dotados de poderes (noacutes)

igualdade extensa liberdade ampla direitos mais abrangentes auxiacutelio

em vaacuterios casos Incorpora como os direitos do homem da DUDH e de

outros tratados referentes agrave sua proteccedilatildeo conforme dispotildee o inciso

LXXVII94

c) O emprego do pronome noacutes eacute tambeacutem bastante relevante o

enunciador se mostra num texto de lei se revela e com isso se afirma

94

Art 5ordm LXXVIII

sect 2ordm - Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do

regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do

Brasil seja parte

sect 3ordm Os tratados e convenccedilotildees internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados em

cada Casa do Congresso Nacional em dois turnos por trecircs quintos dos votos dos respectivos membros

seratildeo equivalentes agraves emendas constitucionais (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45 de 2004)

144

ganha em autoridade satildeo os representantes eleitos e legalmente

constituiacutedos que elaboram a constituiccedilatildeo e a publicam Os nomes dos

participantes desse documento figuram ao final do mesmo Isso

demonstra ainda o papel que cada um deles representa na histoacuteria do

Brasil e a contribuiccedilatildeo individual para um bem maior dotado da vontade

de equilibrar a sociedade e de se adequar a um contexto internacional

que se modificou e aboliu em muitas naccedilotildees o poder de grupos

minoritaacuterios pela forccedila Cabe lembrar que na Ameacuterica Latina nessa

eacutepoca vaacuterios outros paiacuteses tambeacutem eram governados dessa forma e

que o Brasil foi o precursor da mudanccedila

d) O homem de quem se trata no texto da constituiccedilatildeo democraacutetica de 1988

parece mais bem protegido do que o homem representado haacute quase

duzentos anos atraacutes na declaraccedilatildeo proposta apoacutes a Revoluccedilatildeo

Francesa de 1789 Mesmo em contextos histoacutericos e sociais bastante

diferentes ambos o homem francecircs e o homem brasileiro recebem um

direito agrave liberdade de que natildeo dispunham um direito universal

atemporal de existir e de poder se exprimir de igualdade e justiccedila e dos

quais ficaram privados por formas de governos opressoras

e) O enunciador do texto da Constituiccedilatildeo brasileira eacute revelado pelo

pronome pessoal ldquonoacutesrdquo Ele assume portanto seu papel de

representante do povo brasileiro de forma destacada (o pronome

aparece no iniacutecio do preacircmbulo) um enunciador cujo ethos eacute forte o

bastante para se colocar no primeiro espaccedilo do texto e devidamente

qualificado por ldquorepresentantes do povo brasileirordquo

f) Ainda que esse ldquonoacutesrdquo seja a explicitaccedilatildeo de um sujeito formado por um

grupo de pessoas ele eacute tambeacutem resultante como nos documentos

anteriores da siacutentese da voz de vaacuterios enunciadores que se incorporam

em um uacutenico O jogo polifocircnico torna-se evidente na medida em que

cada deputado da constituinte representa um segmento social e foi eleito

por um puacuteblico eleitoral diferente

145

354 A lei 114192006 a lei de informatizaccedilatildeo judicial95

A lei de informatizaccedilatildeo judicial eacute uma lei federal Isto implica dizer que

ela eacute infraconstitucional e deve ser aplicada em todo o territoacuterio nacional Foi

aprovada portanto pela assembleia federal e pelo senado - Congresso

Nacional - a partir de um projeto de lei O projeto de lei ou seja a proposta

merece uma atenccedilatildeo especial no que se refere agrave sua elaboraccedilatildeo pois foi a

primeira proposta de legislaccedilatildeo participativa possibilidade aberta pela

constituiccedilatildeo atraveacutes da emenda constitucional no45 de 2004 em que um setor

da sociedade devidamente representado pode apresentar ao congresso uma

proposta de lei Esse projeto que foi a PLP no 01 e que tramitou como

PLP012002 foi proposto pela associaccedilatildeo dos juiacutezes federais (AJUFE) com o

objetivo de resolver questotildees referentes agrave utilizaccedilatildeo dos meios tecnoloacutegicos

avanccedilados nos processos em curso no poder judiciaacuterio Apresentado na forma

legal foi devidamente encaminhado e seguiu o curso normal de um projeto de

lei ateacute sua votaccedilatildeo aprovaccedilatildeo promulgaccedilatildeo e publicaccedilatildeo Examinado o texto

da lei foram encontrados os seguintes casos de reformulaccedilatildeo

a) Sinoniacutemia ldquoPRESIDENTE DA REPUacuteBLICArdquo ldquosignataacuteriordquo

ldquousuaacuteriordquo

b) Pronominal natildeo haacute

c) Grupo nominal ldquoautoridade certificadorardquo

d) Extensiva direta ldquoCongresso Nacionalrdquo

e) Extensiva indireta ldquocomunicaccedilatildeordquo ldquoprocessosrdquo ldquoassinaturardquo

ldquoidentificaccedilatildeordquo ldquocadastrordquo ldquoPoder Judiciaacuteriordquo ldquocredenciamentordquo

ldquopeticcedilatildeordquo ldquoregistrordquo ldquoacessordquo ldquosigilordquo ldquoautenticidaderdquo ldquoatos

processuaisrdquo ldquoprotocolordquo ldquopeticcedilatildeordquo

f) Embreantes de pessoa eu decirciticos ldquofaccedilordquo ldquosancionordquo

95

Documento anexo IV

146

Eis aqui o levantamento realizado no texto

a) Caput

LEI Nordm 11419 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial

altera a Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 ndash

Coacutedigo de Processo Civil e daacute outras providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

DA INFORMATIZACcedilAtildeO DO PROCESSO JUDICIAL

b) Artigos

Art 1o O uso de meio eletrocircnico na tramitaccedilatildeo de processos judiciais comunicaccedilatildeo de atos e

transmissatildeo de peccedilas processuais seraacute admitido nos termos desta Lei

sect 1o Aplica-se o disposto nesta Lei indistintamente aos processos civil penal e trabalhista bem

como aos juizados especiais em qualquer grau de jurisdiccedilatildeo

sect 2o Para o disposto nesta Lei considera-se

I - meio eletrocircnico qualquer forma de armazenamento ou traacutefego de documentos e arquivos digitais

II - transmissatildeo eletrocircnica toda forma de comunicaccedilatildeo a distacircncia com a utilizaccedilatildeo de redes de

comunicaccedilatildeo preferencialmente a rede mundial de computadores

III - assinatura eletrocircnica as seguintes formas de identificaccedilatildeo inequiacutevoca do signataacuterio

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora

credenciada na forma de lei especiacutefica

b) mediante cadastro de usuaacuterio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos

respectivos

Art 2o O envio de peticcedilotildees de recursos e a praacutetica de atos processuais em geral por meio eletrocircnico

seratildeo admitidos mediante uso de assinatura eletrocircnica na forma do art 1o desta Lei sendo obrigatoacuterio o

credenciamento preacutevio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

sect 1o O credenciamento no Poder Judiciaacuterio seraacute realizado mediante procedimento no qual esteja

assegurada a adequada identificaccedilatildeo presencial do interessado

147

sect 2o Ao credenciado seraacute atribuiacutedo registro e meio de acesso ao sistema de modo a preservar o

sigilo a identificaccedilatildeo e a autenticidade de suas comunicaccedilotildees

sect 3o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo criar um cadastro uacutenico para o credenciamento previsto

neste artigo

ART SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ca-

put

(a lei) Dispotildee Dispotildee sobre a

informatizaccedilatildeo do

processo judicial

Idem altera a Lei no 5869 de 11

de janeiro de 1973 ndash

Coacutedigo de Processo

Civil

Idem E daacute outras providecircncias

O PRESIDENTE

DA REPUacuteBLICA

= eu o

presidente

Faccedilo

saber

que

o Congresso

Nacional

Congresso decreta

E eu Eu= decircitico de

pessoa

presidente

Sanciono A seguinte Lei

1deg O uso de meio

eletrocircnico na tra-

mitaccedilatildeo de pro-

cessos judiciais

comunicaccedilatildeo de

atos e transmissatildeo

de peccedilas proces-

suais

Seraacute admitido nos termos

desta Lei

Comunicaccedilatildeo

sect 1o (se) aplica o disposto nesta Lei

indistintamente aos

processos civil penal

e trabalhista bem

como aos juizados es-

peciais em qualquer

grau de jurisdiccedilatildeo

Processos

sect 2o (se)

considera

-

Para o disposto nesta

Lei

I - meio eletrocircnico

qualquer forma de

armazenamento ou

traacutefego de documen-

tos e arquivos

digitais

II - transmissatildeo ele-

trocircnica toda forma de

comunicaccedilatildeo a dis-

tacircncia com a utili-

zaccedilatildeo de redes de

Signataacuterio=quem

assina=assinatura

=homem

Usuaacuterio=homem

Autoridade

certificadora=pess

oa

juridica=represent

ada por homens

Assinatura

148

comunicaccedilatildeo prefe-

rencialmente a rede

mundial de compu-

tadores

III - assinatura ele-

trocircnica as seguintes

formas de identi-

ficaccedilatildeo inequiacutevoca do

signataacuterio

a) assinatura digital

baseada em certi-

ficado digital emitido

por Autoridade Certi-

ficadora credenciada

na forma de lei

especiacutefica

b) mediante cadastro

de usuaacuterio no Poder

Judiciaacuterio conforme

disciplinado pelos

oacutergatildeos respectivos

Identificaccedilatildeo

Cadastro

Poder Judiciaacuterio

2deg O envio de

peticcedilotildees de

recursos e a

praacutetica de atos

processuais em

geral por meio

eletrocircnico

Peticcedilatildeo Seratildeo admitidos mediante

uso de assinatura

eletrocircnica na forma

do art 1o desta Lei

sendo obrigatoacuterio o

credenciamento preacute-

vio no Poder Judi-

ciaacuterio conforme dis-

ciplinado pelos

oacutergatildeos respectivos

Credenciamento=

de um

credenciado

Assinatura

sect 1o O credenciamento

no Poder

Judiciaacuterio

Credenciamento

= de um

credenciado

Seraacute Realizado mediante

procedimento no qual

esteja assegurada a

adequada identifica-

ccedilatildeo presencial do

interessado

Interessado =

homem

Identificaccedilatildeo

sect 2o registro e meio de

acesso ao sistema

Registro

Acesso

seraacute atribuiacutedo ao creden-

ciado de modo a pre-

servar o sigilo a

identificaccedilatildeo e a

autenticidade de suas

comunicaccedilotildees

Credenciado=

homem

Sigilo

Identificaccedilatildeo

Autenticidade

sect 3o Os oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio

Poder Judiciaacuterio Poderatildeo criar um cadastro

uacutenico para o creden-

ciamento previsto

neste artigo

Cadastro= de

usuaacuterios

3o (-se) Conside- realizados os atos Atos

149

ram processuais por meio

eletrocircnico no dia e

hora do seu envio ao

sistema do Poder

Judiciaacuterio

processuais=realiz

ados por homens

do que deveraacute

ser

fornecido protocolo

eletrocircnico

Protocolo

Paraacute-

grafo

uacutenico

Quando a peticcedilatildeo

eletrocircnica

Peticcedilatildeo For enviada para atender

prazo processual

As (peticcediloes) (que

forem)

as transmitidas ateacute as

24 (vinte e quatro)

horas do seu uacuteltimo

dia

(as peticcedilotildees) seratildeo consideradas

tempestivas

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto Referente Indireto

PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA

Eu = decircitico de pessoa=presidente

Comunicaccedilatildeo

Congresso Nacional Processos

Signataacuterio Assinatura

Usuaacuterio Identificaccedilatildeo

Autoridade certificadora Cadastro

Poder Judiciaacuterio

Credenciamento

Peticcedilatildeo

Registro

Acesso

Sigilo

Autenticidade

Atos processuais

Protocolo

Peticcedilatildeo

c) Outros artigos

Art 3o Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrocircnico no dia e hora do seu envio

ao sistema do Poder Judiciaacuterio do que deveraacute ser fornecido protocolo eletrocircnico

150

Paraacutegrafo uacutenico Quando a peticcedilatildeo eletrocircnica for enviada para atender prazo processual seratildeo

consideradas tempestivas as transmitidas ateacute as 24 (vinte e quatro) horas do seu uacuteltimo dia

CAPIacuteTULO II

DA COMUNICACcedilAtildeO ELETROcircNICA DOS ATOS PROCESSUAIS

Art 4o Os tribunais poderatildeo criar Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico disponibilizado em siacutetio da rede

mundial de computadores para publicaccedilatildeo de atos judiciais e administrativos proacuteprios e dos oacutergatildeos a eles

subordinados bem como comunicaccedilotildees em geral

sect 1o O siacutetio e o conteuacutedo das publicaccedilotildees de que trata este artigo deveratildeo ser assinados digitalmente

com base em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica

sect 2o A publicaccedilatildeo eletrocircnica na forma deste artigo substitui qualquer outro meio e publicaccedilatildeo

oficial para quaisquer efeitos legais agrave exceccedilatildeo dos casos que por lei exigem intimaccedilatildeo ou vista pessoal

sect 3o Considera-se como data da publicaccedilatildeo o primeiro dia uacutetil seguinte ao da disponibilizaccedilatildeo da

informaccedilatildeo no Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

sect 4o Os prazos processuais teratildeo iniacutecio no primeiro dia uacutetil que seguir ao considerado como data da

publicaccedilatildeo

sect 5o A criaccedilatildeo do Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico deveraacute ser acompanhada de ampla divulgaccedilatildeo e o ato

administrativo correspondente seraacute publicado durante 30 (trinta) dias no diaacuterio oficial em uso

Art 5o As intimaccedilotildees seratildeo feitas por meio eletrocircnico em portal proacuteprio aos que se cadastrarem na

forma do art 2o desta Lei dispensando-se a publicaccedilatildeo no oacutergatildeo oficial inclusive eletrocircnico

sect 1o Considerar-se-aacute realizada a intimaccedilatildeo no dia em que o intimando efetivar a consulta eletrocircnica

ao teor da intimaccedilatildeo certificando-se nos autos a sua realizaccedilatildeo

sect 2o Na hipoacutetese do sect 1

o deste artigo nos casos em que a consulta se decirc em dia natildeo uacutetil a intimaccedilatildeo

seraacute considerada como realizada no primeiro dia uacutetil seguinte

sect 3o A consulta referida nos sectsect 1

o e 2

o deste artigo deveraacute ser feita em ateacute 10 (dez) dias corridos

contados da data do envio da intimaccedilatildeo sob pena de considerar-se a intimaccedilatildeo automaticamente realizada

na data do teacutermino desse prazo

sect 4o Em caraacuteter informativo poderaacute ser efetivada remessa de correspondecircncia eletrocircnica

comunicando o envio da intimaccedilatildeo e a abertura automaacutetica do prazo processual nos termos do sect 3o deste

artigo aos que manifestarem interesse por esse serviccedilo

sect 5o Nos casos urgentes em que a intimaccedilatildeo feita na forma deste artigo possa causar prejuiacutezo a

quaisquer das partes ou nos casos em que for evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema o ato

processual deveraacute ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade conforme determinado pelo

juiz

sect 6o As intimaccedilotildees feitas na forma deste artigo inclusive da Fazenda Puacuteblica seratildeo

consideradas pessoais para todos os efeitos legais

151

Art 7o As cartas precatoacuterias rogatoacuterias de ordem e de um modo geral todas as comunicaccedilotildees oficiais

que transitem entre oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio bem como entre os deste e os dos demais Poderes seratildeo

feitas preferentemente por meio eletrocircnico

CAPIacuteTULO III

DO PROCESSO ELETROcircNICO

Art 8o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo desenvolver sistemas eletrocircnicos de processamento

de accedilotildees judiciais por meio de autos total ou parcialmente digitais utilizando preferencialmente a rede

mundial de computadores e acesso por meio de redes internas e externas

Paraacutegrafo uacutenico Todos os atos processuais do processo eletrocircnico seratildeo assinados eletronicamente

na forma estabelecida nesta Lei

Art 9o No processo eletrocircnico todas as citaccedilotildees intimaccedilotildees e notificaccedilotildees inclusive da Fazenda

Puacuteblica seratildeo feitas por meio eletrocircnico na forma desta Lei

sect 2o Quando por motivo teacutecnico for inviaacutevel o uso do meio eletrocircnico para a realizaccedilatildeo de citaccedilatildeo

intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo esses atos processuais poderatildeo ser praticados segundo as regras ordinaacuterias

digitalizando-se o documento fiacutesico que deveraacute ser posteriormente destruiacutedo

Art 11 Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrocircnicos com

garantia da origem e de seu signataacuterio na forma estabelecida nesta Lei seratildeo considerados originais para

todos os efeitos legais

sect 1o Os extratos digitais e os documentos digitalizados e juntados aos autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila

e seus auxiliares pelo Ministeacuterio Puacuteblico e seus auxiliares pelas procuradorias pelas autoridades

policiais pelas reparticcedilotildees puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos e privados tecircm a mesma forccedila

probante dos originais ressalvada a alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de adulteraccedilatildeo antes ou durante o

processo de digitalizaccedilatildeo

sect 5o Os documentos cuja digitalizaccedilatildeo seja tecnicamente inviaacutevel devido ao grande volume ou por

motivo de ilegibilidade deveratildeo ser apresentados ao cartoacuterio ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias

contados do envio de peticcedilatildeo eletrocircnica comunicando o fato os quais seratildeo devolvidos agrave parte apoacutes o

tracircnsito em julgado

sect 6o Os documentos digitalizados juntados em processo eletrocircnico somente estaratildeo disponiacuteveis para

acesso por meio da rede externa para suas respectivas partes processuais e para o Ministeacuterio Puacuteblico

respeitado o disposto em lei para as situaccedilotildees de sigilo e de segredo de justiccedila

Art 12 A conservaccedilatildeo dos autos do processo poderaacute ser efetuada total ou parcialmente por meio

eletrocircnico

sect 1o Os autos dos processos eletrocircnicos deveratildeo ser protegidos por meio de sistemas de seguranccedila

de acesso e armazenados em meio que garanta a preservaccedilatildeo e integridade dos dados sendo dispensada a

formaccedilatildeo de autos suplementares

152

sect 2o Os autos de processos eletrocircnicos que tiverem de ser remetidos a outro juiacutezo ou instacircncia

superior que natildeo disponham de sistema compatiacutevel deveratildeo ser impressos em papel autuados na forma

dos arts 166 a 168 da Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo Civil ainda que de

natureza criminal ou trabalhista ou pertinentes a juizado especial

sect 5o A digitalizaccedilatildeo de autos em miacutedia natildeo digital em tramitaccedilatildeo ou jaacute arquivados seraacute precedida

de publicaccedilatildeo de editais de intimaccedilotildees ou da intimaccedilatildeo pessoal das partes e de seus procuradores para

que no prazo preclusivo de 30 (trinta) dias se manifestem sobre o desejo de manterem pessoalmente a

guarda de algum dos documentos originais

Art 13 O magistrado poderaacute determinar que sejam realizados por meio eletrocircnico a exibiccedilatildeo e o

envio de dados e de documentos necessaacuterios agrave instruccedilatildeo do processo

sect 2o O acesso de que trata este artigo dar-se-aacute por qualquer meio tecnoloacutegico disponiacutevel

preferentemente o de menor custo considerada sua eficiecircncia

CAPIacuteTULO IV

DISPOSICcedilOtildeES GERAIS E FINAIS

Art 14 Os sistemas a serem desenvolvidos pelos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio deveratildeo usar

preferencialmente programas com coacutedigo aberto acessiacuteveis ininterruptamente por meio da rede mundial

de computadores priorizando-se a sua padronizaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Os sistemas devem buscar identificar os casos de ocorrecircncia de prevenccedilatildeo

litispendecircncia e coisa julgada

Art 16 Os livros cartoraacuterios e demais repositoacuterios dos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo ser

gerados e armazenados em meio totalmente eletrocircnico

Art 20 A Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo Civil passa a vigorar com

as seguintes alteraccedilotildees

Art 38

Paraacutegrafo uacutenico A procuraccedilatildeo pode ser assinada digitalmente com base em certificado emitido por

Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica (NR)

Art 154

sect 2o Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos transmitidos armazenados e assinados

por meio eletrocircnico na forma da lei (NR)

Art 164

Paraacutegrafo uacutenico A assinatura dos juiacutezes em todos os graus de jurisdiccedilatildeo pode ser feita eletronicamente

na forma da lei (NR)

Art 169 sect 1o Eacute vedado usar abreviaturas

153

sect 2o Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrocircnico os atos processuais praticados na

presenccedila do juiz poderatildeo ser produzidos e armazenados de modo integralmente digital em arquivo

eletrocircnico inviolaacutevel na forma da lei mediante registro em termo que seraacute assinado digitalmente pelo juiz

e pelo escrivatildeo ou chefe de secretaria bem como pelos advogados das partes

Art 202

sect 3o A carta de ordem carta precatoacuteria ou carta rogatoacuteria pode ser expedida por meio eletrocircnico situaccedilatildeo

em que a assinatura do juiz deveraacute ser eletrocircnica na forma da lei (NR)

Art 221

IV - por meio eletrocircnico conforme regulado em lei proacutepria (NR)

Art 237

Paraacutegrafo uacutenico As intimaccedilotildees podem ser feitas de forma eletrocircnica conforme regulado em lei proacutepria

(NR)

Art 365

V - os extratos digitais de bancos de dados puacuteblicos e privados desde que atestado pelo seu emitente sob

as penas da lei que as informaccedilotildees conferem com o que consta na origem

VI - as reproduccedilotildees digitalizadas de qualquer documento puacuteblico ou particular quando juntados aos

autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila e seus auxiliares pelo Ministeacuterio Puacuteblico e seus auxiliares pelas

procuradorias pelas reparticcedilotildees puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos ou privados ressalvada a

alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de adulteraccedilatildeo antes ou durante o processo de digitalizaccedilatildeo

sect 1o Os originais dos documentos digitalizados mencionados no inciso VI do caput deste artigo deveratildeo

ser preservados pelo seu detentor ateacute o final do prazo para interposiccedilatildeo de accedilatildeo rescisoacuteria

sect 2o Tratando-se de coacutepia digital de tiacutetulo executivo extrajudicial ou outro documento relevante agrave

instruccedilatildeo do processo o juiz poderaacute determinar o seu depoacutesito em cartoacuterio ou secretaria (NR)

Art 399

sect 2o As reparticcedilotildees puacuteblicas poderatildeo fornecer todos os documentos em meio eletrocircnico conforme

disposto em lei certificando pelo mesmo meio que se trata de extrato fiel do que consta em seu banco de

dados ou do documento digitalizado (NR)

Art 417

sect 1o O depoimento seraacute passado para a versatildeo datilograacutefica quando houver recurso da sentenccedila ou

noutros casos quando o juiz o determinar de ofiacutecio ou a requerimento da parte

sect 2o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2

o e 3

o do art 169 desta Lei

(NR)

Art 457

154

sect 4o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2

o e 3

o do art 169 desta Lei

(NR)

Art 556

Paraacutegrafo uacutenico Os votos acoacuterdatildeos e demais atos processuais podem ser registrados em arquivo

eletrocircnico inviolaacutevel e assinados eletronicamente na forma da lei devendo ser impressos para juntada aos

autos do processo quando este natildeo for eletrocircnico (NR)

Art 22 Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias depois de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 19 de dezembro de 2006 185o da Independecircncia e 118

o da Repuacuteblica

LUIZ INAacuteCIO LULA DA SILVA

Maacutercio Thomaz Bastos

Este texto natildeo substitui o publicado no DOU de 20122006

Conforme se pode verificar pela anaacutelise dos quadros e texto acima

a) O homem aqui figura numa concepccedilatildeo quase teacutecnica signataacuterio

usuaacuterio autoridade certificadora credenciado Aparece como ser

individual e capaz de utilizar um sistema de informaacutetica Esse homem eacute

um homem moderno que usa a tecnologia para trabalhar para alcanccedilar

(ldquosaisirrdquo) a justiccedila

b) O homem vem caracterizado por meio de suas accedilotildees de comunicaccedilatildeo e

para isso procede a sua identificaccedilatildeo protocoliza envia uma peticcedilatildeo

um usuaacuterio e profissional capacitado que tem o direito disponibilizado

pela lei de executar determinados atos da aacuterea juriacutedica

c) A execuccedilatildeo de tais atos profissionais eacute aparelhada por ferramentas

tecnoloacutegicas de um sistema de informaacutetica E o objetivo desse sistema

aleacutem da uniformizaccedilatildeo de praacuteticas do quotidiano adequadas ao Poder

Judiciaacuterio eacute apenas um facilitar e tornar aacutegil eficaz e raacutepido todo

processo interposto e que tem como objetivo o alcance da justiccedila Assim

essa lei permite o alcance de uma justiccedila de forma mais aacutegil visando ao

atendimento das expectativas sociais que exigem um Poder Judiciaacuterio

menos lento

155

d) O enunciador desse texto de lei diferente dos anteriores estaacute ao

mesmo tempo explicitado e apagado no caput da lei e no seu fecho vecirc-

se que a lei foi publicada pela vontade do Presidente da Repuacuteblica e

pelo Ministro da Justiccedila No entanto cabe a eles apenas o papel de

sancionaacute-la sendo que a primeira vontade de realizar o que dispotildee a lei

natildeo veio de nenhum deles A lei foi a vontade dos juiacutezes que fizeram a

proposta de legislaccedilatildeo e a apresentaram agrave Cacircmara dos Deputados

Como jaacute foi dito anteriormente eacute na lei que o ethos natildeo mostrado tem a

sua maior expressatildeo a proposta parte dos juiacutezes (Poder Judiciaacuterio)

segue para o Poder Legislativo transforma-se em lei pela sanccedilatildeo do

Presidente da Repuacuteblica (Poder Executivo) e do Ministro da Justiccedila

(Poder Executivo importante observar que eacute o Ministro da Justiccedila que agrave

frente do Ministeacuterio da Justiccedila sendo responsaacutevel por ldquogarantir e

promover a cidadania a justiccedila e a seguranccedila puacuteblica atraveacutes de uma

accedilatildeo conjunta entre o Estado e a sociedaderdquo96 Depois de publicada a

96

Segundo o portal do Ministeacuterio da Justiccedila httpportalmjgovbrdataPagesMJAD82FBF6ITEMID3006FB374BA746898656440BE0410ADDPT

BRNNhtm Acesso em 26122012

ldquoMissatildeo O Ministeacuterio da Justiccedila tem por missatildeo garantir e promover a cidadania a justiccedila e a seguranccedila puacuteblica

atraveacutes de uma accedilatildeo conjunta entre o Estado e a sociedade

Competecircncias O Ministeacuterio da Justiccedila oacutergatildeo da administraccedilatildeo federal direta tem como aacuterea de competecircncia os

seguintes assuntos

I - defesa da ordem juriacutedica dos direitos poliacuteticos e das garantias constitucionais

II - poliacutetica judiciaacuteria

III - direitos dos iacutendios

IV - entorpecentes seguranccedila puacuteblica Poliacutecias Federal Rodoviaacuteria Federal e Ferroviaacuteria Federal e do

Distrito Federal

V - defesa da ordem econocircmica nacional e dos direitos do consumidor

VI - planejamento coordenaccedilatildeo e administraccedilatildeo da poliacutetica penitenciaacuteria nacional

VII - nacionalidade imigraccedilatildeo e estrangeiros

VIII - ouvidoria-geral dos iacutendios e do consumidor

IX - ouvidoria das poliacutecias federais

X - assistecircncia juriacutedica judicial e extrajudicial integral e gratuita aos necessitados assim considerados

em lei

XI - defesa dos bens e dos proacuteprios da Uniatildeo e das entidades integrantes da administraccedilatildeo puacuteblica federal

indireta

XII - articulaccedilatildeo integraccedilatildeo e proposiccedilatildeo das accedilotildees do Governo nos aspectos relacionados com as

atividades de repressatildeo ao uso indevido do traacutefico iliacutecito e da produccedilatildeo natildeo autorizada de substacircncias

entorpecentes e drogas que causem dependecircncia fiacutesica ou psiacutequica

XIII - coordenaccedilatildeo e implementaccedilatildeo dos trabalhos de consolidaccedilatildeo dos atos normativos no acircmbito do

Poder Executivo e

XIV - prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e cooperaccedilatildeo juriacutedica internacional

XV - poliacutetica nacional de arquivos

XVI - assistecircncia ao Presidente da Repuacuteblica em mateacuterias natildeo afetas a outro Ministeacuterio

156

lei seraacute de aplicada pelo Poder Judiciaacuterio seu primeiro beneficiaacuterio mas

para favorecer aqueles que pedirem a prestaccedilatildeo jurisdicional do Estado

na soluccedilatildeo de seus problemas

e) O item anterior mostra de forma clara como diferentes vozes

representativas dos Poderes Judiciaacuterio Legislativo e Executivo se

conjugam para a aprovaccedilatildeo da nova lei A polifonia existente aqui daacute voz

a uma das maiores expressotildees de justiccedila e de democracia na eacutepoca

atual

Primeiras observaccedilotildees

O que haacute de comum nestes quatro documentos de lei

1) Todos foram elaborados por um grupo menor representante de um

grupo maior com o objetivo de melhorar o conviacutevio do homem em sociedade

2) Todos os documentos foram propostos para regrar um certo desajuste ndash

maior ou menor - nas relaccedilotildees jaacute existentes entre os homens

3) Todos os documentos afetam um grande nuacutemero de indiviacuteduos a partir

de sua publicaccedilatildeo mudando as relaccedilotildees entre eles

A partir de cada um desses documentos os indiviacuteduos que a eles ficam

submetidos modificam seu perfil seu status social e individual Tornam-se mais

revestidos de direitos mas tambeacutem sujeitos a obrigaccedilotildees mais definidas pois

para ter o direito agrave liberdade de religiatildeo por exemplo eacute necessaacuterio tambeacutem

respeitar a liberdade do outro na sua religiatildeo Eacute um homem que evolui bem

diferente do primeiro que vivia em um mundo de poucos recursos e direitos

Este homem cresceu ganhou importacircncia e respectivamente atributos que lhe

permitem exercer as suas prerrogativas em plenitude protegido por leis

nacionais e internacionais e por aparatos tecnoloacutegicos A polifonia existente

Competecircncia estabelecida pelo Decreto nordm 6061 de 15 de marccedilo de 2007 Anexo I e alteraccedilotildeesrdquo ndash grifo

da paacutegina na internet

157

nos textos reveste o ethos do enunciador de competecircncia mesmo que ele

esteja apagado enquanto voz ndash ou porque ausente ou porque reduzido a um

ldquonoacutesrdquo social A vontade do enunciador se corporifica no texto de lei cujo caraacuteter

coercitivo tem autoridade indubitaacutevel

36 Anaacutelise de outros textos

Satildeo trecircs os textos o voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio a

justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 da Deputada Luiza Erundina e a nota

oficial de 1962002

361 Voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio97

O voto do Deputado Roberto Batochio relator da Comissatildeo de

Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania da Cacircmara dos Deputados analisa a

proposta sob os aspectos de constitucionalidade juridicidade teacutecnica

legislativa e meacuterito para depois seguir para a votaccedilatildeo do plenaacuterio A comissatildeo

tem diferentes atribuiccedilotildees De acordo com o Regimento Interno da Cacircmara dos

Deputados em seu artigo 32 IV ela eacute encarregada de examinar98

a)

aspectos constitucional legal juriacutedico regimental e de teacutecnica

legislativa de projetos emendas ou substitutivos sujeitos agrave

apreciaccedilatildeo da Cacircmara ou de suas Comissotildees para efeito de

admissibilidade e tramitaccedilatildeo

b) admissibilidade de proposta de emenda agrave Constituiccedilatildeo

c)

assunto de natureza juriacutedica ou constitucional que lhe seja submetido

em consulta pelo Presidente da Cacircmara pelo Plenaacuterio ou por outra

Comissatildeo ou em razatildeo de recurso previsto neste Regimento

d)

assuntos atinentes aos direitos e garantias fundamentais agrave

organizaccedilatildeo do Estado agrave organizaccedilatildeo dos Poderes e agraves funccedilotildees

essenciais da Justiccedila

e) mateacuterias relativas a direito constitucional eleitoral civil penal

penitenciaacuterio processual notarial

f) partidos poliacuteticos mandato e representaccedilatildeo poliacutetica sistemas

eleitorais e eleiccedilotildees

h) desapropriaccedilotildees

i) nacionalidade cidadania naturalizaccedilatildeo regime juriacutedico dos

estrangeiros emigraccedilatildeo e imigraccedilatildeo

97

Documento anexo IV b

98 httpwww2camaralegbrleginfedrescad1989resolucaodacamaradosdeputados-17-21-setembro-

1989-320110-publicacaooriginal-1-plhtml em 02122012

g) registros puacuteblicos

158

j) intervenccedilatildeo federal

l) uso dos siacutembolos nacionais

m) criaccedilatildeo de novos Estados e Territoacuterios incorporaccedilatildeo subdivisatildeo ou

desmembramento de aacutereas de Estados ou de Territoacuterios

n) transferecircncia temporaacuteria da sede do Governo

o) anistia

p)

direitos e deveres do mandato perda de mandato de Deputado nas

hipoacuteteses dos incisos I II e VI do art 55 da Constituiccedilatildeo pedidos de

licenccedila para incorporaccedilatildeo de Deputados agraves Forccedilas Armadas

q) redaccedilatildeo do vencido em Plenaacuterio e redaccedilatildeo final das proposiccedilotildees em

geral

O levantamento das operaccedilotildees de referecircncia revelou no voto do

deputado relator casos de

a) Sinoniacutemia ldquopartesrdquo ldquoadvogadosrdquo ldquointeressadosrdquo

b) Pronominal natildeo haacute

c) Grupo nominal natildeo haacute

d) Extensiva direta ldquoComissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativardquo

ldquoComissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e Redaccedilatildeordquo ldquoplenaacuteriordquo

e) Extensiva indireta ldquoacolhidardquo ldquooportunardquo ldquoconvenienterdquo

ldquoaprovaccedilatildeordquo

f) Embreante de pessoa decirciticos de pessoa ldquovislumbramosrdquo

ldquoprecisaratildeordquo

Tais fenocircmenos podem ser verificados conforme a anaacutelise do texto que

segue abaixo

a) Primeiro paraacutegrafo

PARECER DO DEPUTADO

PARECER E VOTO DO DEPUTADO JOSEacute ROBERTO BATOCHIO

RELATOR DO PROJETO DE LEI NA CCJR DA CAcircMARA DOS DEPUTADOS

COMISSAtildeO DE CONSTITUICcedilAtildeO E JUSTICcedilA E DE REDACcedilAtildeO

159

PROJETO DE LEI Ndeg 5828 DE 2001

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial e daacute outras providecircncias

Autor Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa

Relator Deputado Joseacute Roberto Batochio

I-RELATOacuteRIO

A presente proposta de autoria da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa pretende permitir o uso de meio

eletrocircnico na comunicaccedilatildeo de atos e na transmissatildeo de peccedilas processuais tais como peticcedilotildees recursos

cartas precatoacuterias etc desde que os interessados se credenciem junto aos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Primeiro paraacutegrafo

A presente proposta

de autoria da

Comissatildeo de

Legislaccedilatildeo

Participativa

Comissatildeo= de

homens

pretende permitir o uso de

meio eletrocircnico na

comunicaccedilatildeo de atos

e na transmis-satildeo de

peccedilas pro-cessuais

tais como peticcedilotildees

recursos cartas

precatoacuterias etc

desde que os

interessados

Interessados=ho

mens

se credenciem

credenciar=cre

denciados

junto aos oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio

b) Uacuteltimo paraacutegrafo

A esta Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Redaccedilatildeo compete analisar a proposta sob os aspectos de

constitucionalidade juridicidade teacutecnica legislativa e meacuterito sendo a apreciaccedilatildeo final do Plenaacuterio da

Casa

Eacute o Relatoacuterio

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ultimo

paraacutegrafo do

160

relatoacuterio

A esta

Comissatildeo de

Constituiccedilatildeo e

Justiccedila e de

Redaccedilatildeo

Compete analisar a proposta

sob os aspectos de

constitucionalidade

juridicidade teacutecnica

legislativa e meacuterito

Comissatildeo= formada

por homens

sendo a apreciaccedilatildeo final do

Plenaacuterio da Casa

Plenaacuterio da casa =

grupo de deputados =

homens

c) Primeiro paraacutegrafo do voto

11-VOTO DO RELATOR

Natildeo vislumbramos na Proposiccedilatildeo viacutecios de natureza constitucional de juridicidade ou de teacutecnica

legislativa

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Primeiro

paraacutegrafo

(Noacutes)= sujeito

oculto

Vislumbra-

mos

natildeo (vislumbramos)

na Proposiccedilatildeo viacutecios

de natureza

constitucional de

juridicidade ou de

teacutecnica legislativa

d) Uacuteltimos paraacutegrafos

No meacuterito merece acolhida a Proposiccedilatildeo

Eis que eacute oportuna e conveniente moderniza a tramitaccedilatildeo processual imprime celeridade dessacraliza o

processo sem ferir os direitos e garantias das partes

A adoccedilatildeo de meios eletrocircnicos traraacute indubitavelmente ateacute mesmo maior conforto para os advogados e

para as partes uma vez que natildeo mais precisaratildeo deslocar-se ateacute o tribunal para aforar peticcedilotildees recursos

etc

161

Assim nosso voto eacute pela constitucionalidade juridicidade boa teacutecnica legislativa e no meacuterito pela

aprovaccedilatildeo do Projeto de Lei no5828 de 2001

Sala da Comissatildeo em de de 2002

Deputado Joseacute Roberto Batochio

Relator

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ultimos

paraacutegrafos

a Proposiccedilatildeo

merece No meacuterito( merece)

acolhida

Acolhida=quem acolhe

eacute a comissao =gthomem

Eis que

eacute oportuna e

conveniente

Oportuna e conve-

niente para o sistema

para os homens

moderniza a tramitaccedilatildeo pro-

cessual

imprime celeridade

dessacraliza o processo

ferir sem (ferir) os direitos

e garantias das partes

Direitos e garantias das

partes=dos homens

A adoccedilatildeo de

meios

eletrocircnicos

traraacute indubitavelmente

ateacute mesmo maior

conforto para os

advogados e para as

partes

Advogados

partes=homens

uma vez que precisaratildeo natildeo mais (precisaratildeo)

deslocar-se ateacute o

tribunal para aforar

peticcedilotildees recursos etc

Sujeito oculto

Precisaratildeo = eles =

homens

Assim nosso

voto

eacute pela constitucionali-

dade juridicidade

boa teacutecnica legislati-

va e no meacuterito pela

aprovaccedilatildeo do Projeto

de Lei no5828 de

2001

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto Referente Indireto

162

Comissatildeo de legislaccedilatildeo participativa

Acolhida

Comissatildeo de constituiccedilatildeo e justiccedila e de redaccedilatildeo

Interessados Oportuna e conveniente

Plenaacuterio da casa Vislumbramos (noacutes)

Partes= No processo= requerenterequerido=homens

Precisaratildeo (eles=advogados)

Aprovaccedilatildeo = quem aprova eacute a comissatildeo

Advogados= homens

De acordo com o que pode ser observado nas anaacutelises dos termos destacados

vecirc-se que

a) O homem se faz presente na sua individualidade pelo emprego de

termos como ldquopartesrdquo ldquoadvogadosrdquo ldquointeressadosrdquo A referecircncia tambeacutem

pode ser verificada mesmo com o sujeito oculto pelo emprego de

decirciticos de pessoa tal qual em ldquovislumbramosrdquo e ldquoprecisaratildeordquo o que

mostra um afastamento do autor do texto que visa agrave impessoalidade

Apesar de o voto ser redigido por um deputado ele eacute o responsaacutevel pela

comissatildeo que representa Eacute a ele que cabe dar a decisatildeo final da

anaacutelise a que foi submetido o projeto de lei

O coletivo de homem vem expresso pelo termo ldquoplenaacuteriordquo que

implica em homens reunidos para uma decisatildeo Alguns outros

substantivos fazem referecircncia a praacuteticas que incluem julgamentos de

valor tiacutepicos do homem e que somente ele pode emitir (ldquoacolhidardquo

ldquooportunardquo ldquoconvenienterdquo ldquoaprovaccedilatildeordquo)

b) Interessante notar a ausecircncia de termos ou expressotildees que faccedilam

referecircncia ao direito ou direitos do homem ou o acesso agrave justiccedila Tal fato

natildeo afeta entretanto o conteuacutedo do voto Conveacutem ressaltar que os

proacuteprios termos Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa e Comissatildeo de

constituiccedilatildeo e justiccedila e redaccedilatildeo por si soacute jaacute contecircm o necessaacuterio

c) A Comissatildeo de Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania eacute aquela

que recebe o projeto de lei da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa -

que por sua vez proveacutem de um grupo social Tem como anseio fazer

aprovar uma lei e esta por seu caraacuteter intriacutenseco interfere na ordem

social A existecircncia de tal Comissatildeo atesta uma preocupaccedilatildeo com a

forma e o conteuacutedo do projeto pois ele tem que estar adequado agrave

Constituiccedilatildeo aleacutem de proteger o cidadatildeo e conforme ao princiacutepio de

justiccedila

163

d) As funccedilotildees para as quais eacute designada a Comissatildeo mostram que seu

objetivo eacute cuidar para que a justiccedila seja feita desde que respeitados os

dispositivos constitucionais e os direitos de igualdade e liberdade

atribuiacutedos ao homem Pode-se dizer que essa Comissatildeo eacute a verdadeira

guardiatilde do texto constitucional e de seus princiacutepios

e) O enunciador aqui tambeacutem eacute mostrado pois consta o nome do

Deputado como sendo o do relator do voto Da mesma forma o ethos eacute

reforccedilado pelo fato do Deputado ser presidente da Comissatildeo Nesse

voto no entanto o enunciador cuida da proteccedilatildeo do homem eacute um

Deputado responsaacutevel pelo status de cidadania de outros homens

f) A polifonia se apresenta de forma impliacutecita o Deputado Joseacute Roberto

Batochio eacute o presidente da Comissatildeo sendo assim a voz-siacutentese da voz

de outros Deputados

362 Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada Luiza Erundina99

A partir do momento em que um projeto de lei eacute enviado agrave Cacircmara dos

Deputados ele se submete a diversas anaacutelises cujo objetivo eacute o de verificar se

tal projeto estaacute adequado agrave Constituiccedilatildeo e se preenche os requisitos

necessaacuterios aos fins que se destinam Essa verificaccedilatildeo visa por exemplo

examinar se a lei no momento em que passar a vigorar tem condiccedilotildees de

execuccedilatildeo

Conforme explica o glossaacuterio100 do portal da Cacircmara dos Deputados uma

comissatildeo eacute um

Oacutergatildeo integrado por parlamentares tendo composiccedilatildeo partidaacuteria

proporcional agrave da Casa Legislativa tanto quanto possiacutevel e pode ter caraacuteter

permanente ou temporaacuterio Eacute comissatildeo permanente quando integra a

estrutura institucional e comissatildeo temporaacuteria quando criada para apreciar

determinado assunto especial e de inqueacuterito ou para o cumprimento de

missatildeo temporaacuteria autorizada A comissatildeo temporaacuteria extingue-se ao teacutermino

da legislatura quando alcanccedilado o fim a que se destina ou ainda quando

expirado o seu prazo de duraccedilatildeo

99

Documento anexo IVc

100 httpwww2camaralegbrglossario Acesso em 22022012

164

Cada comissatildeo apoacutes analisar os pareceres dos demais integrantes

emite sua opiniatildeo A Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa que recebeu o

anteprojeto da lei 114192006 eacute composta por 18 membros titulares e igual

nuacutemero de suplentes Sua primeira presidente a deputada Luiza Erundina

(PSBSP) eacute quem emitiu ao final dos trabalhos de anaacutelise a justificativa do

projeto de lei Tal texto eacute o que seraacute analisado aqui

a) Primeiro paraacutegrafo

DEPUTADA LUIZA ERUNDINA DE SOUZA

PRESIDENTE

JUSTIFICACcedilAtildeO

Quando se trata da questatildeo judiciaacuteria no Brasil eacute consenso que os mais graves problemas se situam no

terreno da velocidade com que o cidadatildeo recebe a resposta final agrave sua demanda A morosidade eacute sem

duacutevida o principal fato gerador de insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo judiciaacuterio como revelam todas as pesquisas

realizadas sobre o assunto Em 1993 em pesquisa de opiniatildeo coordenada pelo IBOPE foi proposta a

seguinte afirmaccedilatildeoO problema do Brasil natildeo estaacute nas leis mas na Justiccedila que eacute muito lenta Dos

entrevistados 87 consignaram suas concordacircncias 8 discordaram e5 natildeo souberam responder Jaacute

em 1999 o jornal O Estado de Satildeo Paulo101

chegou a iacutendices ainda mais elevados 92 consideraram a

Justiccedila muito lenta

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Primeiro paraacutegrafo

Eacute consenso

(quando se) se trata da questatildeo judiciaacuteria no

Brasil

que os mais graves

problemas

Se situam situam no terreno da

velocidade

Com que o cidadatildeo Recebe a resposta final agrave sua

demanda

Sua= do cidadatildeo

101 MARQUES Hugo 92 dos brasileiros consideram a Justiccedila lenta O Estado de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 24 mar 1999

165

A morosidade Eacute sem duacutevida o principal

fato gerador de insatis-

faccedilatildeo com o serviccedilo

judiciaacuterio

Como todas as

pesquisas

(foram) realizadas sobre o

assunto

(pesquisas) Revelam

a seguinte afirmaccedilatildeo Foi proposta Em 1993 em pesquisa

de opiniatildeo coordenada

pelo IBOPE

Quem tem

opiniatildeo eacute o

homem

O problema do

Brasil

Estaacute natildeo (estaacute) nas leis mas

na Justiccedila

que eacute muito lenta

Dos entrevistados

87

entrevistados consignaram suas concordacircncias

8 entrevistados discordaram

e5 entrevistados souberam

responder

Natildeo (souberam

responder)

o jornal O Estado

de Satildeo Paulo102

Chegou Jaacute em 1999 a iacutendices

ainda mais elevados

92 entrevistados consideraram a Justiccedila muito lenta

b) Paraacutegrafo intermediaacuterio

Como se constataa soma dos juiacutezes que consideram a falta de INFORMATIZACcedilAtildeO um fator muito

importanteou importante alcanccedila 92 Evidentemente a informatizaccedilatildeo aqui natildeo se refere somente agrave

aquisiccedilatildeo de computadores para utilizaccedilatildeo como substitutos mais eficientes das velhas maacutequinas de

datilografia Aliaacutes este processo de substituiccedilatildeo jaacute se encontra concluiacutedo na imensa maioria das unidades

jurisdicionais existentes no paiacutes Eacute necessaacuterio agora -simultaneamente ao teacutermino desta fase de aquisiccedilatildeo

de equipamentos nas unidades restantes -avanccedilar em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo de todos os atores que intervecircm

em um processo judicial (VarasMinisteacuterio Puacuteblico Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de Advocacia) de

modo a que crescentemente os procedimentos judiciais utilizem ao maacuteximo os avanccedilos tecnoloacutegicos

disponiacuteveis

O Congresso Nacional tem buscado trilhar este caminho

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Paraacutegrafo

intermediaacuterio

--- Sujeito

indeterminado

pela partiacutecula se

Como se

constata

a soma dos juiacutezes que

consideram a falta de

INFORMATIZA-

CcedilAtildeO um fator mui-

to importanteou im-

portante alcanccedila

92

Juiacutezes=homens

92 = dos

juiacutezes

102 MARQUES Hugo 92 dos brasileiros consideram a Justiccedila lenta O Estado de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 24 mar 1999

166

a informatizaccedilatildeo aqui Aqui=

lugar=gtembreante

Se refere Evidentemente natildeo

(se refere) somente agrave

aquisiccedilatildeo de compu-

tadores para utiliza-

ccedilatildeo como substitutos

mais eficientes das

velhas maacutequinas de

datilografia

Maacutequinas de

datilografia =gt

datilografia

precisa de um

homem

Aliaacutes este processo

de substituiccedilatildeo

Este= embreante

de processo

Se encontra jaacute (se encontra)

concluiacutedo na imensa

maioria das unidades

jurisdicionais

existentes no paiacutes

Eacute (necessaacuterio agora ndash

simultaneamente ao

teacutermino desta fase de

aquisiccedilatildeo de equipa-

mentos nas unidades

restantes)

-avanccedilar em direccedilatildeo

agrave integraccedilatildeo de todos

os atores que inter-

vecircm em um processo

judicial (Varas Mi-

nisteacuterio Puacuteblico

Advocacia Puacuteblica

escritoacuterios de

Advocacia)

Atores que

intervecircm= o que

esta entre

parecircnteses (MP

ADV etc) mas

satildeo constituiacutedos

por homens

de modo a que

crescentemente os

procedimentos

judiciais

utilizem ao maacuteximo os

avanccedilos tecnoloacutegicos

disponiacuteveis

O Congresso

Nacional

Congresso

nacional=

deputados e

senadores =

homens

Tem

buscado

Trilhar este caminho

Uacuteltimo paraacutegrafo

Finalmente merece ser destacado o grande benefiacutecio que a meacutedio prazo o projeto traraacute ao Eraacuterio seja

com a diminuiccedilatildeo de gastos seja com a melhoria do funcionamento do sistema econocircmico em razatildeo da

maior eficiecircncia do serviccedilo jurisdicional

167

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ultimo paraacutegrafo

o grande

benefiacutecio

merece Finalmente(merece) ser

destacado

Que o projeto Traraacute a meacutedio prazo ao Eraacuterio

seja com a diminuiccedilatildeo de

gastos seja com a melhoria

do funcionamento do

sistema econocircmico em razatildeo

da maior eficiecircncia do

serviccedilo jurisdicional

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto

Referente Indireto

Cidadatildeo Sua Varas Ministeacuterio Puacuteblico Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de AdvocaciaCongresso nacional

Entrevistados Opiniatildeo

Juiacutezes Maacutequinas de datilografia

87 8 5 92

Atores

O levantamento das operaccedilotildees de reformulaccedilatildeo revelou os seguintes

casos

a) Sinoniacutemia ldquocidadatildeordquo ldquoentrevistadosrdquo ldquojuiacutezesrdquo ldquoatoresrdquo

b) Pronominal natildeo haacute

c) Grupo nominal natildeo haacute

d) Extensiva direta natildeo haacute

e) Extensiva indireta ldquoVarasrdquo ldquoMinisteacuterio Puacuteblicordquo ldquoAdvocacia

Puacuteblicardquo ldquoescritoacuterios de Advocaciardquo ldquoCongresso nacionalrdquo

ldquoMaacutequinas de datilografiardquo ldquoinsatisfaccedilatildeordquo ldquoserviccedilo judiciaacuteriordquo

ldquopesquisa de opiniatildeordquo ldquoconcordacircnciardquo ldquoeficiecircnciardquo

f) Embreantes de pessoa ldquosuardquo (demanda do cidadatildeo)

168

Conforme se pode observar em relaccedilatildeo aos termos e expressotildees

a) O homem neste documento aparece sob duas perspectivas em seu

papel social individual tal como em cidadatildeo entrevistados juiacutezes

atores Mas aparece tambeacutem na sua atuaccedilatildeo junto aos oacutergatildeos ligados agrave

execuccedilatildeo da justiccedila como se pode ver pelo emprego dos termos Varas

Ministeacuterio Puacuteblico Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de Advocacia

Congresso Nacional Interessante notar a presenccedila da expressatildeo

maacutequinas de datilografia que como instrumento de execuccedilatildeo liga o

homem ao seu trabalho e ao mesmo tempo denota a lentidatildeo dos

serviccedilos diante de um teclado de computador

b) Encontra-se nesse texto o uso do embreante sua que se refere agrave

demanda do cidadatildeo a fim de dar ecircnfase ao que mais importa o uso de

tecnologia acelera o acesso agrave justiccedila visto que a demanda eacute grande e o

sistema eacute lento

c) Haacute um apagamento total da expressatildeo de vontade individual da

deputada que emprega a marca de indeterminaccedilatildeo do sujeito (se) a fim

de colocar em destaque o que mais importa o projeto No entanto esse

distanciamento natildeo ofusca que o maior interesse eacute que o projeto seja

aprovado pelos deputados que devem votar a favor a fim de que ele se

converta em lei

d) O enunciador nesse texto diferente dos anteriores pode ser

identificado mesmo que se apague pela indeterminaccedilatildeo do sujeito eacute a

Deputada Luiza Erundina como se pode ler no topo e no fecho do

documento Seu ethos eacute validado pela funccedilatildeo que ocupa como

Presidente da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa e pela polifonia

presente

e) O fato de existir uma Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa indica a

polifonia existente nesse texto pois traduz a possibilidade da sociedade

169

de participar do processo legislativo propondo um projeto de lei

Tambeacutem se constata pela figura da Deputada integrante da Cacircmara dos

Deputados que analisa o anteprojeto de lei Sua justificaccedilatildeo representa

a vontade de todos os outros deputados pois ela eacute a presidente da

Comissatildeo

f) O texto da deputada revela a importacircncia do projeto de lei ao expor a

necessidade de um Poder Judiciaacuterio mais eficaz Eacute interessante

observar que a justificaccedilatildeo favoraacutevel se faz por meio dos resultados de

pesquisas elaboradas cujo objetivo eacute saber o que pensam os

entrevistados homens que se servem da justiccedila e a julgam ineficaz os

quadros publicados mostram os homens que estatildeo por traacutes dos

resultados e suas respectivas opiniotildees

363 Nota Oficial

A designaccedilatildeo de Nota Oficial segundo o manual de redaccedilatildeo da Cacircmara

dos Deputados

pode ser empregada somente quando se referir a comunicado emitido por

autoridade No caso de empresa particular ou pessoa fiacutesica eacute emitida nota agrave

imprensa ou comunicado nunca nota oficial103

Agrave eacutepoca da ediccedilatildeo do livreto da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais

(AJUFE) onde esse documento estaacute impresso o nome de Nota Oficial foi dado

ao documento que laacute figura Hoje o termo jaacute foi substituiacutedo por Nota Puacuteblica

Em relaccedilatildeo a seus objetivos

Desde sua fundaccedilatildeo a Ajufe tem atuado na elaboraccedilatildeo e acompanhamento de

projetos do interesse do Poder Judiciaacuterio na realizaccedilatildeo de seminaacuterios e

eventos e na disseminaccedilatildeo de ideias propostas e princiacutepios da magistratura

federal A atuaccedilatildeo em questotildees poliacuteticas e sociais tambeacutem tem estado

103 httpwww2camaralegbrglossario Acesso em 22122012

170

presente ao longo dos 30 anos de existecircncia Congregar os juiacutezes federais

para realizar uma efetiva troca de experiecircncia e ideias104

Hoje na paacutegina da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais (AJUFE) foram

inseridas informaccedilotildees complementares que mostram sua atuaccedilatildeo junto agrave

sociedade

A Ajufe foi a primeira entidade do Paiacutes a apresentar projeto de lei agrave entatildeo

receacutem-criada Comissatildeo de Participaccedilatildeo Legislativa da Cacircmara dos

Deputados com uma proposta para normatizar a informatizaccedilatildeo do processo

judicial que em 19 de dezembro de 2006 se transformou na Lei nordm

114192006

A gestatildeo de Paulo Seacutergio Domingues 10ordm presidente que atuou no periacuteodo

de junho de 2002 a junho de 2004 enfrentou algumas turbulecircncias Em 2002

uma tentativa de aprovar a reforma do Judiciaacuterio no Senado com um texto

prejudicial agrave Justiccedila Federal fez com que a Ajufe mobilizasse juiacutezes de todo o

Paiacutes A mobilizaccedilatildeo durou todo o periacuteodo da gestatildeo105

Mesmo como entidade civil a AJUFE natildeo deixa de ser representante das

vontades dos membros do Poder Judiciaacuterio Diante da necessidade de se

manifestar junto da opiniatildeo puacuteblica para se defender das criacuteticas da Ordem dos

Advogados do Brasil o meio adequado encontrado para tanto foi a nota oficial

a fim de que o pensamento daqueles que pertencem ao Poder Judiciaacuterio e que

defendem a melhoria do proacuteprio oacutergatildeo tivesse a autoridade compatiacutevel com o

que exigia o momento para que o projeto de lei fosse enfim aprovado

Na Nota Oficial foram encontrados termos e expressotildees que fazem

referecircncia ao homem nas seguintes formas

a) Sinoniacutemia ldquopresidenterdquo (A JUFE) ldquojuizrdquo ldquoPaulo Seacutergio

Dominguesrdquo ldquopresidenterdquo (CI-OAB) ldquoadvogado(s)rdquo ldquoDominguesrdquo

ldquoprofissionaisrdquo ldquoTribunaisrdquo ldquoresponsaacuteveisrdquo ldquoautorrdquo

b) Pronominal natildeo haacute

104

httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=398amptmptexto=70202 Acesso em

18092012

105 httpwwwajufeorgbrportalindexphpoption=com_contentampview=articleampid=1403ampItemid=67

Acesso em 26122012

171

c) Grupo nominal natildeo haacute

d) Extensiva direta ldquoAssociaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasilrdquo

ldquoAJUFErdquo ldquoComissatildeo de Informaacuteticardquo ldquoOABrdquo ldquoComissatildeo de

Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputadosrdquo

ldquoimpedidosrdquo ldquoexcluiacutedosrdquo ldquoresponsaacuteveisrdquo ldquocategoriardquo

e) Extensiva indireta ldquounanimidaderdquo ldquocorporativismordquo ldquoanaacuteliserdquo

ldquoresistecircnciardquo ldquomedordquo ldquojusticcedilardquo ldquomorosidaderdquo ldquoJudiciaacuteriordquo ldquocriacuteticardquo

ldquoviolaccedilatildeordquo ldquoseguranccedila juriacutedicardquo ldquoautonomiardquo ldquocredenciamentordquo

ldquoprofissatildeordquo ldquocadastrosrdquo ldquoseguranccedilardquo ldquoassinaturardquo ldquopeticcedilatildeordquo

ldquofrauderdquo ldquorastreamentordquo

f) Embreante de pessoa ldquonosrdquo ldquonossardquo decirciticos de pessoas

ldquolamentourdquo ldquodestacourdquo ldquo ndashlordquo ldquoelardquo

Eacute no texto da Nota Oficial que segue abaixo que se pode observar tais

reformulaccedilotildees do termo homem

a) Primeiro paraacutegrafo

NOTA OFICIAL DE 190602

Brasiacutelia 19 de junho de 2002

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial

Reaccedilatildeo da OAB eacute corporativa e medo do novo rebate Ajufe o presidente da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes

Federais do Brasil (Ajufe) juiz Paulo Seacutergio Domingues rebateu enfaticamente a nota divulgada ontem

pelo presidente da Comissatildeo de Informaacutetica da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Satildeo Paulo

Marcos da Costa apontando equiacutevocos juriacutedicos e tecnoloacutegicos no Projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo

Judicial apresentado pela Ajufe ao Congresso O projeto de lei que regulamenta a transferecircncia de

informaccedilotildees judiciais por meio eletrocircnico foi aprovado na iacutentegra e por unanimidade no uacuteltimo dia 11

pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo (CCJ-R) da Cacircmara dos Deputados Infelizmente o

corporativismo estaacute impedindo uma anaacutelise mais global e cuidadosa da nossa proposta lamentou

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

172

Primeiro paraacutegrafo

o presidente da

Associaccedilatildeo dos

Juiacutezes Federais do

Brasil (Ajufe) juiz

Paulo Seacutergio

Domingues

Presidente=

associaccedilatildeo= juiz =

Paulo= homem

rebateu rebateu enfaticamen-te a

nota divulgada ontem

pelo presidente da

Comissatildeo de Infor-

maacutetica da Ordem dos

Advogados do Brasil

(OAB) de Satildeo Paulo

Marcos da Costa

Presidente=gtcomiss

atildeo=gt

OAB=gt

Marcos=homem

(a nota) apontando equiacutevocos juriacutedicos e

tecnoloacutegicos no Projeto

de Informatizaccedilatildeo do

Processo Judicial

apresentado pela Ajufe

ao Congresso

Ajufe=associaccedilatildeo

O projeto de lei (que)

regulamen-

ta

a transferecircncia de

informaccedilotildees judiciais por

meio eletrocircnico

(o projeto) foi aprovado na iacutentegra e por

unanimidade no uacuteltimo

dia 11 pela Comissatildeo de

Constituiccedilatildeo Justiccedila e

Redaccedilatildeo (CCJ-R) da

Cacircmara dos Deputados

Comissatildeo

Unanimidade

o corporativismo Corporativismo=gt

corporaccedilotildees

dirigidas por

homens

estaacute Infelizmente impedindo

uma anaacutelise mais global

e cuidadosa da nossa

proposta

Nossa= decircitico de

pessoa

Anaacutelise

(o juiz) decircitico de pessoa

lamentou

lamentou

b) Segundo paraacutegrafo

Para Domingues a resistecircncia ao projeto eacute injustificadaEacute o medo do novo apresentando-se como

desculpa para impedir a evoluccedilatildeo da Justiccedila Isso nos espanta especialmente numa eacutepoca de criacuteticas agrave

morosidade do Judiciaacuterio quando imagina-se que os advogados apoiem a busca de soluccedilotildees Aliaacutes a

criacutetica da OABSP eacute a uacutenica que se viu ateacute o momento destacou Segundo o presidente da Ajufe o

projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial natildeo representa qualquer violaccedilatildeo agrave autonomia do

advogado nem riscos agrave seguranccedila juriacutedica como acusa a OAB O credenciamento dos profissionais junto

aos tribunais natildeo tem a funccedilatildeo de autorizar o advogado a exercer a profissatildeo mas apenas de autorizaacute-lo a

utilizar o meio eletrocircnico para receber intimaccedilotildees e enviar peticcedilotildees esclarece Este credenciamento

aponta Domingues natildeo favorece o exerciacutecio ilegal da profissatildeo ou a atuaccedilatildeo de profissionais excluiacutedos

dos quadros da entidade Ao contraacuterio ele permite aos tribunais -que satildeo os responsaacuteveis na praacutetica

pelo impedimento do exerciacutecio ilegal da profissatildeo -atualizar com maior agilidade seus cadastros de

advogados temporariamente impedidos de advogar ou excluiacutedos da OAB Eacute um fator de proteccedilatildeo agrave

categoria

173

Segundo

paragrafo

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

a resistecircncia

ao projeto

Resistecircncia Eacute Para Domingues (eacute )

injustificada

Domingues=juiz

Sujeito inexistente Eacute o medo do novo Medo= do homem

Iacutendice de

inderminaccedilao do

sujeito

apresentando-se como desculpa para

impedir a evoluccedilatildeo da

Justiccedila

justiccedila

Isso Espanta nos (espanta) especial-

mente numa eacutepoca de

criacuteticas agrave morosidade do

Judiciaacuterio

Nos=decircitico de

pessoa

morosidade

Judiciaacuterio

(quando ) Se imagina Que

os advogados Advogados =

homens

Apoiem a busca de soluccedilotildees Soluccedilotildees = do

homem

Aliaacutes a criacutetica

da OABSP

OAB

Critica= do

homem

Eacute uacutenica que se viu ateacute o

momento

Decircitico de pessoa

destacou

destacou

o projeto de

Informatizaccedilatilde

o do Processo

Judicial

(natildeo) representa Segundo o presidente da

Ajufe natildeo (representa)

qualquer violaccedilatildeo agrave

autonomia do advogado

nem riscos agrave seguranccedila

juriacutedica

Presidente Ajufe

Advogado=homem

Violaccedilatildeo= da regra

Seguranccedila juriacutedica=

quem sente eacute o

homem

Autonomia= do

homem

Como a OAB Acusa

O credencia-

mento dos

profissionais

junto aos

tribunais

Credenciamento=

do homem

Profissionais=

homens

(natildeo) tem Natildeo (tem) a funccedilatildeo de

autorizar o advogado a

exercer a profissatildeo

Advogado

Profissatildeo

mas (ele) (tem) (a funccedilatildeo) apenas de au-

torizaacute-lo a utilizar o meio

eletrocircnico para receber

intimaccedilotildees e enviar

lo decircitico de pessoa =

o advogado

174

peticcedilotildees esclarece

Domingues Domingues aponta

(Domingues)

Este

credenciamen

-to

(natildeo) favorece natildeo (favorece) o exer-

ciacutecio ilegal da profissatildeo

ou a atuaccedilatildeo de pro-

fissionais excluiacutedos dos

quadros da entidade

Profissatildeo

Profissionais

excluiacutedos

Ao contraacuterio

ele

Permite aos tribunais -atualizar

com maior agilidade seus

cadastros de advogados

temporariamente

impedidos de advogar ou

excluiacutedos da OAB

Cadastros

Advogados

impedidos ou

excluiacutedos

Que (os

tribunais)

Tribunais =

homens

Satildeo os responsaacuteveis na

praacutetica pelo impedimen-

to do exerciacutecio ilegal da

profissatildeo

Responsaacuteveis =

homens

(Isso) Eacute um fator de proteccedilatildeo agrave

categoria

Categoria=gtde

profissionais=gt

homens

c) Uacuteltimo paraacutegrafo

Quanto agrave seguranccedila do meio eletrocircnico Domingues lembra agrave OABSP que o sistema informaacutetico eacute muito

mais seguro que o atual Ou seraacute que ela imagina que um falso advogado tenha mais dificuldade em

falsificar um papel timbrado e uma assinatura em peticcedilatildeo convencional do que em fraudar todo um

sistema de seguranccedila eletrocircnico que permite inclusive o rastreamento do autor de eventuais tentativas de

fraude

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

uacuteltimo paraacutegrafo

Quanto agrave seguranccedila

do meio eletrocircnico

Domingues

Domingues

seguranccedila

Lembra agrave OABSP OAB=advogados

que o sistema

informaacutetico eacute

Eacute muito mais seguro

que o atual

Seguro=seguran-

ccedila

Ou seraacute que

ela Ela = OAB decircitico

de pessoa

Imagina

que um falso

advogado

Tenha mais dificuldade em

falsificar um papel

timbrado e uma

assinatura em peticcedilatildeo

convencional

Falsificar

Assinatura

175

Peticcedilatildeo

Do que (tenha) (dificuldade) em

fraudar todo um sis-

tema de seguranccedila

eletrocircnico

Fraudar=fraude

seguranccedila

Que (o sistema) Permite permite inclusive o

rastreamento do autor

de eventuais tenta-

tivas de fraude

Rastreamento

Autor

fraude

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto Referente Indireto

Presidente (Ajufe) Nos (pron COD) unanimidade

Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil

Nossa corporativismo

Ajufe Desinecircncia verbal= decircitico de pessoa=lamentou

anaacutelise

Juiz Desinecircncia verbal= decircitico de pessoa=destacou

Resistecircncia

Paulo Seacutergio Domingues COD== decircitico de pessoa=lo

Medo

Presidente (OAB) Impedidos justiccedila

Comissatildeo de Informaacutetica Excluiacutedos morosidade

OAB Responsaacuteveis Judiciaacuterio

Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputados

Criacutetica

Advogado(s) Violaccedilatildeo

Domingues Seguranccedila juriacutedica

Profissionais autonomia

Tribunais credenciamento

Responsaacuteveis Profissatildeo

Categoria

Autor cadastros

Ela seguranccedila

Assinatura

Peticcedilatildeo

Fraude

Seguranccedila

rastreamento

176

A observaccedilatildeo dos elementos referenciados revelou que

a) Haacute um apagamento do enunciador que emite a Nota Oficial no texto o

juiz Paulo Seacutergio Domingues que eacute presidente da AJUFE Esse

apagamento se faz pelo emprego de diferentes formas de tratamento na

terceira pessoa do singular (ele) No entanto a Nota Oficial se natildeo for de

sua autoria seraacute feita sob sua autorizaccedilatildeo expressa pois ele eacute o

presidente da entidade

Esse apagamento eacute bastante relevante pois ao mesmo tempo em

que o juiz se afasta de si para dar credibilidade ao que se expotildee no

texto ele reafirma seu ethos Aleacutem disso o afastamento do ldquoeurdquo reforccedila

a figura do homem que estaacute atraacutes do presidente da associaccedilatildeo devido

ao emprego de seu sobrenome para se proceder agrave referenciaccedilatildeo Esse

contexto reforccedila a figura do homem que eacute ao mesmo tempo cidadatildeo juiz

e representante de seus pares

b) As outras referecircncias que satildeo realizadas se referem aos pares

profissionais seja sob a forma individual tal como em responsaacuteveis ou

autor ou sob a forma de expressotildees que indicam coletivos tal como

associaccedilatildeo comissatildeo categoria

c) A maior parte dos referentes indiretos funciona como qualificadores

positivos ou negativos das partes em questatildeo (homens a favor e

homens contra a aprovaccedilatildeo do projeto de lei) como se pode ver em

ldquoautonomiardquo ldquojusticcedilardquo ldquoseguranccedila juriacutedicardquo ldquocredenciamentordquo em

oposiccedilatildeo a ldquocorporativismordquo ldquoresistecircnciardquo ldquomedordquo ldquomorosidaderdquo

ldquoviolaccedilatildeordquo ldquofrauderdquo Esse mecanismo de qualificaccedilatildeodesqualificaccedilatildeo

das partes eacute tiacutepico de um texto que tem como objetivo argumentar e

dirigir a opiniatildeo de seu auditoacuterio-enunciataacuterio

d) A polifonia nesse texto se realiza de duas formas Ela se apresenta pelo

efeito de resposta que o texto tem a Nota Oficial eacute uma resposta agrave

criacutetica da OAB como o proacuteprio texto relata Portanto aleacutem do dialogismo

se verifica a presenccedila de uma segunda voz A voz da OAB no texto eacute

relatada portanto estaacute presente A polifonia tambeacutem se realiza pela

177

fusatildeo de vozes na voz do Dr Paulo Seacutergio Domingues a voz do

homem que acredita no que defende a voz do presidente da Associaccedilatildeo

dos Juiacutezes Federais representante de seus pares a voz de um membro

do Poder Judiciaacuterio que tem outros juiacutezes ao seu lado e portanto

representa esse Poder

e) A polifonia em conjunto com o dialogismo confere ao ethos do

enunciador uma forccedila extraordinaacuteria Essa forccedila aliada agraves estrateacutegias

argumentativas de valorizaccedilatildeo proacutepria e desvalorizaccedilatildeo do ldquoadversaacuteriordquo

eacute a estrateacutegia ideal para vencer o debate e convencer todo e qualquer

enunciataacuterio de que o enunciador tem razatildeo

Segundas Observaccedilotildees

Apoacutes as anaacutelises dos quatro textos que satildeo textos juriacutedicos mas que natildeo

satildeo textos de lei pode-se observar o seguinte

a) Em relaccedilatildeo ao subgecircnero a que pertencem conforme jaacute se

apresentou anteriormente o voto e a justificaccedilatildeo pertencem ao

subgecircnero juriacutedico legislativo e a nota oficial ao subgecircnero juriacutedico

jornaliacutestico

b) Esses trecircs textos tecircm em comum o fato de expressarem a opiniatildeo de

um enunciador (Deputada Luiza Erundina Deputado Roberto

Batochio e juiz Paulo Seacutergio Domingues) que foi eleito para o cargo

que ocupa (deputado relator e presidente das comissotildees e

presidente da AJUFE respectivamente) no momento em que emite

sua opiniatildeo

c) O fato de haver um apagamento mais ou menos pujante natildeo isenta a

condensaccedilatildeo que se faz na figura de cada um da presenccedila de

diversos ethos integrados pelos papeacuteis sociais que cada um

representa individualmente

178

d) O indiviacuteduo homem que eacute cidadatildeo e que exerce seus direitos

sociais de forma mais incidente sobretudo pelo fato de se fazer

eleger pelo povo como seu representante se reveste de poder e se

integra ao poder legislativo no caso dos deputados

Jaacute em relaccedilatildeo ao juiz haacute uma fusatildeo da entidade civil

representada pelo seu presidente ao Poder Judiciaacuterio A autoridade

conferida pelo cargo de juiz se avulta pela representatividade que

decorre do fato dele falar em nome do grupo de juiacutezes federais que

satildeo os responsaacuteveis pela defesa do que reza a Constituiccedilatildeo Federal

e) O homem representante se funde ao poder que representa

legislativo ou judiciaacuterio e se reveste da autoridade necessaacuteria

durante a emissatildeo de sua opiniatildeo apoiado em dados de pesquisa e

pelo proacuteprio status profissional com o objetivo de fazer valer a sua

opiniatildeo

Apoacutes as observaccedilotildees dos dois conjuntos de documentos pode-se fazer

uma reduccedilatildeo de cada um dos documentos apresentados conforme o modelo

abaixo

DOCUMENTO

A- ENUNCIADOR

Ethos

179

Local do ethos

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito Sujeito gramatical

Objeto de direito Objeto gramatical

C- ARGUMENTO

Valor Concreto abstrato

hierarquia Quantitativo qualitativo

180

ANAacuteLISE DDHC 1789

A- ENUNCIADOR

Ethos O POVO FRANCES

Local do ethos ASSEMBLEIA NACIONAL FRANCESA

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito HOMENS

FRANCESES CIDADAtildeOS

Sujeito gramatical

REPRESENTANTES DO POVO

FRANCES

Objeto de direito O HOMEM E O

CIDADAtildeO

Objeto gramatical DIREITOS (DO

HOMEM E DO CIDADAtildeO)

C- ARGUMENTO

Valor DIREITO Agrave

LIBERDADE E

IGUALDADE

Concreto PELO

DOCUMENTO

ESCRITO INTEGRADO

POSTERIORMENTE Agrave

CONSTITUICcedilAtildeO

Abstrato PELO

CONTEUacuteDO

Hierarquia

INTEGRADO A

CONSTITUICcedilAO

DOCUMENTO

INTERNO

Quantitativo ATINGE

TODA A POPULACcedilAtildeO

FRANCESA

Qualitativo

CONFERE A

QUALIDADE AO

HOMEM DE SER

PROTEGIDO NO

AMBITO NACIONAL

ANAacuteLISE DUCH 1948

A- ENUNCIADOR

Ethos AS NACcedilOtildeES DA ONU

Local do ethos ASSEMBLEIA GERAL DA ONU

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito HOMENS DO

MUNDO TODO

Sujeito gramatical

REPRESENTANTES NA

ASSEMBLEIA

Objeto de direito TODO HOMEM

NO MUNDO

Objeto gramatical DIREITOS

UNIVERSAIS (DO HOMEM)

C- ARGUMENTO

Valor PROTECcedilAtildeO

AMPLA DOS

DIREITOS Agrave

LIBERDADE E

IGUALDADE

Concreto PELA

ASSINATURA DO

DOCUMENTO QUE Eacute

RATI-FICADO

Abstrato PELO

CONTEUacuteDO E

OUTROS TRATADOS

QUE DELE PODEM

DECORRER

Hierarquia TEM

STATUS DE TRATADO

INTERNACIONAL

Quantitativo

ASSINADO POR 48

PAISES HOJE Eacute

ASSINADO POR

QUASE TODOS OS

NTEGRANTES DA ONU

Qualitativo CONFERE A

QUALIDADE AO HOMEM

DE SER PROTEGIDO NO

AMBITO

INTERNACIONAL

181

ANAacuteLISE CF88

A- ENUNCIADOR

Ethos POVO BRASILEIRO

Local do ethos CONGRESSO NACIONAL

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito BRASILEIROS E

ESTRANGEIROS

Sujeito gramatical NOacuteS

REPRESENTANTES DO

POVO BRASILEIRO

Objeto de direito DIREITOS E

DEVERES DOS BRASILEIROS E

ESTRANGEIROS

Objeto gramatical O

ESTADO E A SOCIEDADE

C- ARGUMENTO

Valor DIREITOS E

DEVERES

Concreto PODERES

QUE EXECUTAM A LEI

Abstrato

IGUALDADE

LIBERDADE

JUSTICcedilA

Hierarquia LEI INTERNA

QUE INTEGRA LEIS

INTERNACIONAIS

Quantitativo TODA A

POPULACcedilAtildeO QUE

RESIDE NO PAIacuteS

Qualitativo

REGULA A

VIDA DO

ESTADO E

DOS

HOMENS

ANAacuteLISE LEI 114192006

A- ENUNCIADOR

Ethos PODER EXECUTIVO LEGISLATIVO E JUDICIAacuteRIO

Local do ethos BRASILIA PRESIDEcircNCIA CASA CIVIL

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito USUAacuteRIOS DA

JUSTICcedilA

Sujeito gramatical PODER

JUDICIAacuteRIO

Objeto de direito CIDADAtildeO Objeto gramatical

INFORMATIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO

C- ARGUMENTO

Valor JUSTICcedilA PARA

TODOS

Concreto A

INFORMATIZACcedilAtildeO

Abstrato

CELERIDADE

Hierarquia LEI INTERNA

INFRACONSTITUCIONAL

Quantitativo TODOS

OS QUE SE SERVEM

DO PODER

JUDICIAacuteRIO

Qualitativo

REGULA O

FUNCIONAMENTO

DO PODER

JUDICIAacuteRIO

182

ANAacuteLISE VOTO DO DEPUTADO ROBERTO BATOCCHIO

A- ENUNCIADOR

Ethos PODER LEGISLATIVO COMISSAtildeO DE CONSTITUICcedilAtildeO E JUSTICcedilA

E DE REDACcedilAtildeO

Local do ethos PODER LEGISLATIVO CAcircMARA DOS DEPUTADOS

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito LEI 114192006 Sujeito gramatical A

COMISSAtildeO= NOacuteS

Objeto de direito APROVACcedilAO DA

PROPOSTA OU PROJETO DE LEI

Objeto gramatical A

PROPOSTA OU PROJETO DE

LEI

C- ARGUMENTO

Valor ADMISSIBILIDADE Concreto CAMARA DOS

DEPUTADOS

Abstrato

COMPETENCIA

DA COMISSAtildeO

Hierarquia VOTO

DECISIVO

Quantitativo A CAMARA

DOS DEPUTADOS

Qualitativo

APROVACcedilAtildeO

JUSTIFICACcedilAtildeO DO PROJETO DE LEI 58282001 DEPUTADA LUIZA

ERUNDINA

A- ENUNCIADOR

Ethos PODER LEGISLATIVO COMISSAtildeO DE LEGISLACcedilAtildeO

PARTICIPATIVA

Local do ethos PODER LEGISLATIVO CAMARA DOS DEPUTADOS

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito CIDADAtildeOS Sujeito gramatical O BRASIL

Objeto de direito O ANDAMENTO

DOS PROCESSOS

Objeto gramatical A

INFORMATIZACcedilAtildeO

C- ARGUMENTO

Valor ATUALIZACcedilAtildeO

DO SISTEMA

Concreto PODER

JUDICIAacuteRIO

Abstrato

AGILIDADE

Hierarquia VOTO

DECISIVO

Quantitativo A

CAMARA DOS

DEPUTADOS

Qualitativo

APROVACcedilAtildeO

183

ANAacuteLISE DA NOTA OFICIAL

A- ENUNCIADOR

Ethos AJUFE (PARTE DO PODER JUDICIAacuteRIO)

Local do ethos AJUFE BRASILIA

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito LEI 114192006 Sujeito gramatical

Objeto de direito APROVACcedilAO

DA PROPOSTA OU PROJETO DE

LEI

Objeto gramatical A PROPOSTA

OU PROJETO DE LEI

C- ARGUMENTO

Valor APROVACcedilAtildeO E

EFICAacuteCIA X

REPROVACcedilAtildeO

Concreto

CONGRESSO

NACIONAL E PODER

JUDICIAacuteRIO X OAB

Abstrato EFICAacuteCIA E

CREDIBILIDADE X

MEDO E

DIFICULDADE

Hierarquia

ASSOCIACcedilAtildeO DE

JUIacuteZES FEDERAIS X

OAB

Quantitativo PARTE

DO PODER

JUDICIAacuteRIO X

ADVOGADOS

Qualitativo

APROVACcedilAtildeO X

REPROVACcedilAtildeO

184

37Resultado das anaacutelises

O que se constatou com as anaacutelises dos documentos foi uma evoluccedilatildeo do

conceito de homem igualdade liberdade e justiccedila A evoluccedilatildeo revela os traccedilos

do dialogismo da polifonia assim como a evoluccedilatildeo dos conceitos de direito

liberdade igualdade e justiccedila As consideraccedilotildees que seguem satildeo mostradas

respeitando-se a ordem cronoloacutegica de publicaccedilatildeo de cada documento

Na DUDH de 1789 a presenccedila do termo homem se caracteriza como

pertencente a um grupo como representante do povo francecircs parte da

assembleia Sua caracterizaccedilatildeo aborda a perspectiva do individuo membro da

sociedade cidadatildeo tomado na sua individualidade diante de outrem Esse

homem eacute o mesmo que foi concebido pelo Iluminismo e que foi definido na

Encyclopeacutedie como sendo106

laquo un ecirctre sentant reacutefleacutechissant pensant qui se promegravene librement sur

la surface de la terre qui paroicirct ecirctre agrave la tecircte de tous les autres

animaux sur lesquels il domine qui vit en socieacuteteacute qui a inventeacute des

sciences et des arts qui a une bonteacute et une meacutechanceteacute qui lui est

propre qui srsquoest donneacute des maicirctres qui srsquoest fait des lois etc raquo

Esse homem de 1789 evolui com duas Grandes Guerras Mundiais e

percebe que governos e constituiccedilotildees muitas vezes natildeo satildeo suficientes para a

sua proteccedilatildeo Assim decidem fundar a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas e em

1948 promulgam a DUDH Nessa declaraccedilatildeo a liberdade a igualdade e o

direito agrave vida satildeo declarados primordiais e todos os signataacuterios se

comprometem a proteger o homem Esse homem ganha dessa forma proteccedilatildeo

e se torna sujeito de direitos universais

O homem da Constituiccedilatildeo Federal brasileira de 1988 eacute um homem que

se vecirc diante da liberdade poliacutetica que lhe tinha sido suprimida bem como

outros direitos inclusive o da vida pelo regime autoritaacuterio militar que vigorou no

106

ENCYCLOPEacuteDIE vol 8 em 02122012

httpfrwikisourceorgwikiLE28099EncyclopC3A9dieVolume_8HOMME

185

paiacutes entre os anos 60 e 80 Por isso esse homem tem seus direitos bem

detalhados pelo artigo 5deg que possui setenta e oito incisos atualmente A

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 protege o homem auferindo-lhe diversos direitos

individuais poliacuteticos e sociais

O homem que natildeo aparece na lei 114192006 da Informatizaccedilatildeo

Judicial eacute o seu beneficiaacuterio direto pois atraveacutes do que estabelece a lei todo o

sistema do Poder Judiciaacuterio poderaacute ser informatizado tornando a justiccedila aacutegil e

permitindo um maior acesso dos cidadatildeos aos recursos que o Poder Judiciaacuterio

lhe oferece para fazer valer seus direitos

O voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio e a justificaccedilatildeo da Deputada

Luiza Erundina satildeo a expressatildeo da democracia e do controle que o proacuteprio

cidadatildeo faz do sistema legislativo do Paiacutes Ao aprovar o projeto da lei de

informatizaccedilatildeo judicial os deputados representam natildeo soacute a opiniatildeo teacutecnica da

comissatildeo mas a vontade de seus eleitores

O homem representado na Nota Oficial eacute o que representa melhor a

expressatildeo da democracia brasileira e da modernidade do sistema de governo

Pois ao se verificar a fusatildeo do juiz que representa o Poder Judiciaacuterio e

tambeacutem seus colegas juiacutezes como presidente da Associaccedilatildeo que enviou o

projeto de lei ao Poder Legislativo percebe-se uma circularidade que beneficia

aparentemente o proacuteprio Poder Judiciaacuterio cujos benefiacutecios seratildeo colhidos

pelos usuaacuterios da justiccedila isto eacute os homens sejam eles advogados

funcionaacuterios ou partes de um processo Esse mecanismo que permite uma

maior igualdade entre os homens visto que os processos poderatildeo ser julgados

mais rapidamente natildeo havendo hesitaccedilatildeo em se recorrer a um Poder

Judiciaacuterio lento poderia ser assim representado

186

PODER

LEGISLATIVO

PODER

JUDICIAacuteR

IO

AJUFE

Esse homem reformulado e distante historicamente da definiccedilatildeo

proposta por Diderot e DrsquoAlembert no entanto eacute hoje bem mais proacuteximo do

homem ideal proposto pelos dois enciclopedistas do que o homem de 1751

quando foi publicado seu primeiro volume Ao longo do tempo o consenso

sobre alcanccedilar justiccedila deixou de ser ideal para se tornar real pois eacute um valor

partilhado pela sociedade

O texto constitucional brasileiro preserva a identidade individual social

econocircmica poliacutetica e cultural do homem ao mesmo tempo em que o coloca

sob a proteccedilatildeo de tratados relativos ao direito do homem e tambeacutem dos

tratados internacionais assinados pelo Brasil

O fato de o texto constitucional conter no seu artigo 5o na parte que

trata das direitos e garantias fundamentais a previsatildeo para uma prestaccedilatildeo

ceacutelere dos serviccedilos de administraccedilatildeo publica e da justiccedila num inciso acrescido

em 2004 atraveacutes da Emenda Constitucional ndeg 45 isto eacute quinze anos apoacutes a

PODER

EXECUTI

VO

PODER

JUDICIAacuteRIO

HOMEM

187

publicaccedilatildeo do texto primeiro indica a flexibilidade para a soluccedilatildeo de novos

problemas e o enfrentamento de desafios Isso explica o perfil do Brasil diante

da comunidade internacional e o destaque que o paiacutes recebe nas relaccedilotildees

externas107

107

De acordo com o que expotildee Paulo Borba CASELLA (2008298) em direito internacional poacutes-

modernordquocomo ademais se verifica em qualquer ramo do conhecimento humano deve acontecer a

inevitaacutevel combinaccedilatildeo entre teacutecnica espiacuterito e utopiardquo Eacute exatamente isso o que a lei 114192006 permite

ao possibilitar a informatizaccedilatildeo do sistema do Poder Judiciaacuterio para acelerar a prestaccedilatildeo jurisdicional ao

cidadatildeo

188

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao se efetuar as anaacutelises dos textos de acordo com o fenocircmeno da

reformulaccedilatildeo o que se verificou eacute que havia conceitos em destaque dentro dos

textos do corpus conceitos esses que natildeo satildeo exatamente os mesmos nos

diferentes textos

A proposta desta tese era a de responder a alguns questionamentos

referentes ao homem considerada a questatildeo da transversalidade do tema a

fim de se perceber se o homem que estava na primeira declaraccedilatildeo de direitos eacute

o mesmo homem do seacuteculo XXI Tambeacutem se pretendeu saber se os conceitos

formulados de direitos justiccedila igualdade liberdade continuavam vaacutelidos tal

qual foram postos haacute mais de dois seacuteculos e se deixavam rastros em outros

documentos juriacutedicos No caso de ter havido mudanccedilas a intenccedilatildeo era a de

saber quais foram elas e por que ocorreram Outra questatildeo que se pretendeu

tratar era a de saber se era possiacutevel a interferecircncia de um sistema juriacutedico em

outro e em caso afirmativo como isso se processava como se verificava e

como se justificava Por uacuteltimo havia a intenccedilatildeo de se proceder a uma

classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos levando-se em consideraccedilatildeo a questatildeo do

gecircnero

Em funccedilatildeo do quadro teoacuterico apresentado e das noccedilotildees estudadas a

que pareceu mais importante aleacutem do princiacutepio dialoacutegico e polifocircnico que

regem os textos foi a noccedilatildeo de ethos percebida por meio da anaacutelise dos

textos Tomado como expressatildeo do EU do orador diante de um auditoacuterio a fim

de formar uma impressatildeo sobre este e defender seu argumento eacute o ethos que

mais se destaca nos excertos examinados

Dentro da Nova Retoacuterica perelmaniana o ethos se constroacutei formando-se

a partir de uma loacutegica apoiada pela razatildeo sempre considerando o que eacute justo

o que eacute razoaacutevel Tambeacutem se fortalece na medida em que eacute retomado e

transformado de um documento para o outro O homem enquanto sujeito de

direito surge no primeiro texto se reforccedila (ldquotodo homem tem direito agrave justiccedilardquo) e

se apaga na medida em que alcanccedila uma parte do que almeja desaparecendo

materialmente do texto escrito pois torna-se titular do direito de receber (ser

189

contemplado) por uma justiccedila ceacutelere Mesmo que ainda longe do ideal o

homem do seacuteculo XXI eacute detentor de um ethos bem mais forte do que o homem

de trecircs seacuteculos atraacutes

O orador ou enunciador ao entrar em contato com o enunciataacuterio

(auditoacuterio) expotildee o seu argumento Este processo se apresenta aqui pelos

textos escritos que se dirigem pelo seu conteuacutedo a um auditoacuterio jaacute

determinado Esses textos representam um resultado do seu processo de

produccedilatildeo pois antes de sua redaccedilatildeo final houve uma reflexatildeo e em alguns

casos debate

Isso implica dizer que o enunciador tem um projeto delineado de

apresentaccedilatildeo de seu(s) argumento(s) Esse projeto se revela no texto na

medida em que o enunciador mostra sua intenccedilatildeo e modifica e transforma esse

argumento a fim de adaptaacute-lo agraves suas necessidades A intenccedilatildeo do enunciador

eacute persuadir seu auditoacuterio e ao fazer isso tambeacutem revela e constroacutei seu ethos

O argumento que precede os outros eacute o de autoridade que eacute inerente ao

discurso juriacutedico pois eacute consequente do gecircnero e subgecircneros dos textos Isto

ocorre porque uma declaraccedilatildeo com efeitos juriacutedicos e neste caso ambas a

DDHC1789 e a DUDH1948 aleacutem de declararem seu conteuacutedo tambeacutem

explicam e estabelecem paracircmetros A constituiccedilatildeo por sua vez aleacutem de

declarar e estabelecer organiza a vida das pessoas e do sistema poliacutetico

econocircmico e social assim como a lei federal

O voto do deputado Joseacute Roberto Batochio e a justificaccedilatildeo da Deputada

Luiza Erundina satildeo de caraacuteter decisoacuterio e justificativo e por isso tambeacutem

estabelecem explicam declaram que o projeto de lei deve ser aprovado Por

fim a nota oficial eacute uma declaraccedilatildeo que rebate um argumento defendendo a

criacutetica da sua proposta de lei

A persuasatildeo se concretiza no caso das declaraccedilotildees constituiccedilatildeo e lei

pelo seu caraacuteter oficial e de aplicaccedilatildeo os textos-resultados satildeo publicados e

referendados pelo(s) paiacutes(es) a que se destinam Isto resulta da autoridade que

eacute conferida ao ethos do qual se revestiu cada enunciador

190

Em relaccedilatildeo aos votos isso ocorre em razatildeo do caraacuteter funcional dos

deputados que devem dar um parecer neste caso favoraacutevel pois cabe ao

deputado julgar o projeto de lei em seus diferentes aspectos Isto tambeacutem se

aplica na Nota Oficial cujo caraacuteter eacute tambeacutem funcional cabendo ao presidente

da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais responder agrave critica feita pela OAB ao

projeto de lei

O caraacuteter dos documentos eacute portanto de obrigatoriedade

Obrigatoriedade por parte do orador-enunciador que apresenta um documento

que eacute consenso e que estaacute autorizado a publicar

Esses documentos apresentam ainda uma imagem do enunciador-

orador Essa imagem eacute diacrocircnica (ambivalente) pois de um lado apresenta o

que eacute resultado da obrigaccedilatildeo e que por conseguinte natildeo poderia deixar de

ser feito Por outro lado natildeo haacute como dizer que natildeo existe um direcionamento

do ethos do enunciador

Todos os documentos apresentados satildeo de caraacuteter poliacutetico-social e

portanto reproduzem um ethos que eacute direcionado por um vetor ideoloacutegico que

se ajusta ao tempo histoacuterico e agrave necessidade mas de autoridade indubitaacutevel Eacute

o ethos que conduz o enunciataacuterio ao caminho escolhido para atingir o objetivo

do enunciador que eacute fazer com que se concretize o que estaacute disposto nos

documentos Para tanto os enunciados precisam de clareza convincente em

seu conteuacutedo

Conveacutem lembrar aqui que o ethos no caso dos documentos desse

corpus eacute um ethos individual de cada homem que foi responsaacutevel pela

elaboraccedilatildeo do documento mas tambeacutem um ethos coletivo visto que

representa um grupo social um partido poliacutetico uma naccedilatildeo uma associaccedilatildeo

conforme o caso O ethos final do enunciador dos documentos eacute resultado da

soma de vaacuterios outros ethos individuais e coletivos

Seria improvaacutevel senatildeo impossiacutevel que um enunciador que fosse

contra o projeto argumentativo dos textos juriacutedicos apenas exercesse seu papel

de representante e defendesse um ponto de vista em que natildeo acreditasse

191

Em relaccedilatildeo aos contextos de produccedilatildeo e ao contexto cultural todos os

documentos apontam uma eacutepoca de evoluccedilatildeo social com mudanccedilas

significativas de comportamento do homem quebra dos regimes monaacuterquicos

absolutistas fim das atrocidades cometidas com as evoluccedilotildees das maacutequinas e

dos artefatos de guerra fim de um periacuteodo de regime autoritaacuterio teacutermino de

decisotildees diferentes no que se refere agrave introduccedilatildeo de tecnologia de ponta para

a celeridade do julgamento dos processos no Poder Judiciaacuterio

Todos os documentos representam marcos histoacutericos dentro ou fora de

uma naccedilatildeo Todos trouxeram consequecircncias que modificaratildeo para sempre os

habitus do homem Provocaram e provocaratildeo consequecircncias importantes na

sociedade

O auditoacuterio a que se dirigem os documentos eacute de caraacuteter universal

porque atinge todos os membros do grupo devido ao caraacuteter dos documentos

As duas declaraccedilotildees dirigem-se aos franceses e a todos que estatildeo protegidos

pela ONU (paiacuteses com seus habitantes) A constituiccedilatildeo brasileira eacute endereccedilada

aos brasileiros e estrangeiros residentes no Paiacutes assim como a lei federal

114192006 Os votos dos deputados dirigem-se ao Congresso Nacional e a

nota oficial eacute publicada para o conhecimento geral sendo publicada no website

da instituiccedilatildeo

O argumento do enunciador eacute desenvolvido com um objetivo conforme

jaacute foi dito Este objetivo leva o enunciador a traccedilar um percurso escolhendo o

que vai fazer figurar e o que iraacute privilegiar Assim no argumento eacute possiacutevel

servindo-se de um percurso ideoloacutegico destacar valorativamente o que

interessa ao projeto Todos os documentos de forma expliacutecita ou impliacutecita

defendem por exemplo o direito do homem agrave liberdade agrave igualdade e agrave

justiccedila O que difere eacute o grau em que se apresentam esses valores que se

especificam mais com o passar do tempo

O exame dos diferentes textos levou agrave constataccedilatildeo de que o que era

privilegiado pelo enunciador era sempre o homem O homem aparece em

praticamente todos os documentos analisados seja pelo emprego do proacuteprio

termo homem ou reformulado Os outros termos relevantes que surgem nos

192

textos satildeo aqueles que se relacionam ao homem eacute o homem quem tem

direitos que satildeo especificados sob os princiacutepios de liberdade igualdade e

justiccedila As operaccedilotildees de reformulaccedilotildees permitiram assim perceber a evoluccedilatildeo

dos termos expressotildees e conceitos que se referem ao homem

193

REFEREcircNCIAS

ADAM Jean-Michel Eleacutements de linguistique textuel Liegravege Pierre

Mardaga 1990

______ A linguiacutestica textual introduccedilatildeo agrave anaacutelise textual do discurso

Satildeo Paulo Cortez editora 2008

______ HEIDMANN Ute e MAINGUENEAU Dominique Anaacutelises

textuais e discursivas metodologia e aplicaccedilotildees Satildeo Paulo Cortez

editora 2010

ALEXY Robert Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Satildeo Paulo Landy Ed

2001

ALVES Alaor Caffeacute Loacutegica Pensamento formal e Argumentaccedilatildeo Satildeo

Paulo Quartier Latin 2003

AMOSSY Ruth O ethos na intersecccedilatildeo das disciplinas retoacuterica

pragmaacutetica sociologia dos campos In AMOSSY Ruth (Org)Imagens

de si no discurso a construccedilatildeo do ethos Trad Diacutelson Ferreira da Cruz

Fabiana Komesu Siacuterio Possenti Satildeo Paulo Contexto 2005 p 119-143

ARRIVEacute M GADET F GALMICHE M La grammaire drsquoaujourdrsquohui

Paris Flammarion 1986

AUBERT Jean-Luc Introduction au Droit et thegravemes fondamentaux du

droit civil Paris Ed Dalloz Armand Collin 1998

AUBRY Charles Cours de droit civil franccedilais Paris Marchal Billard et

Cie Libraire de la Cour de Cassation 1878

AUTHIER-REVUZ Jacqueline Heacuteteacuterogeacuteneiteacute(s) eacutenonciative(s) In

Langages 19e anneacutee ndeg 73 Les Plans dEacutenonciation Mars 1984 p98-111

BACHMAN Christian LINDEFELD Jacqueline et SIMONIN Jacky

Langage et Communications Sociales Collection LAL Paris Didier

Hatier 1991

194

BAKHTIN Mikhail laquo Les genres do discours I ndash Probleacutematique et

deacutefinition raquo Estheacutetique de la creacuteation verbale Paris Gallimard 1984 p

265-272

______ Os gecircneros do discurso Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo

Martins Fontes2003

______ Pour une philosophie de lrsquoacte Paris LrsquoAge drsquoHomme 2003

______ (Voloshinov-1929) Marxismo e Filosofia da Linguagem Trad M

Lahud e Y F Vieira Satildeo Paulo Hucitec 1979

______ (Voloshinov-1929) Le marxisme et la philosophie du langage

Paris Les Eacuteditions de Minuit 1977

BEACCO Jean-Claude Les genres textuels dans lrsquoanalyse du discours

eacutecriture leacutegitime et communauteacutes translangagiegraveres Langages 26e

anneacutee nordm 105 Mars 92 Ethnolinguistique de lrsquoeacutecrit p 8-27

______ DAROT M Pour lire les sciences sociales une analyse de

discours nordm 4752 amm-fhjcb Paris BELC 1978

BERTHO F BORDENAVE ML Droit Notions Essentielles Paris

Nathan 1990

BEVILAQUA Cloacutevis Liccedilotildees de Legislaccedilatildeo Comparada Bahia Livraria

Magalhatildees 1897

BITTAR Eduardo Carlos Bianca Linguagem juriacutedica Satildeo Paulo Ed

Saraiva 2003

BOBBIO Norberto O Positivismo Juriacutedico Trad Maacutercio Pugliesi Satildeo

Paulo Iacutecone 1995

______ A era dos direitos Trad Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro

Elsevier 2004

BOISSINOT Alain Les textes argumentatifs Toulouse Bertrand

Lacoste 1996

195

BOURDIEU Pierre Ce que parler veut dire Paris Fayard 1987

______ Le sens pratique Paris Eacuteditions de Minuit 1980

BRAIT Beth Bakhtin conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2005

______ Bakhtin outros conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2006

BRANDAtildeO Helena Nagamine Introduccedilatildeo agrave Anaacutelise do Discurso

Campinas Ed Unicamp 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Satildeo Paulo

Saraiva 1997

CARRAS Catherine TOLAS Jacqueline KHOLER Patricia SZILAGYI

Eacutelisabeth Le franccedilais sur objectifs speacutecifiques Paris Cleacute International

2007

CASELLA Paulo Borba Fundamentos do Direito Internacional Poacutes-

moderno Satildeo Paulo Quartier Latin 2006

______ ACCIOLY Hildebrando GEdo Nascimento e Silva Manual de

Direito Internacional Puacuteblico Satildeo Paulo Editora Saraiva 2008

CERDA-GUZMAN Carolina Une recodification des droits fondamentaux

pour un nouveau controcircle de constitutionnaliteacute Constitution droits

et devoirs Actes du VIIe Congregraves franccedilais de droit constitutionnel Paris

2008 (httpwwwdroitconstitutionnelorgcongresParisatelierP8html)

CHALLE Odile Enseigner le franccedilais de speacutecialiteacute Paris Econocircmica

2002

CHARAUDEAU Patrick Langue discours et identiteacute culturelle ELA

32001(nordm 123-124) p341-348

______ Grammaire du sens et de lrsquoexpression Paris Hachette

Collection Education 1992

______ Discurso PoliacuteticoSatildeo Paulo Contexto 2008

196

______ Linguagem e Discurso Modos de organizaccedilatildeoSatildeo Paulo

Contexto 2009

______ MAINGUENEAU Dominique Dictionnaire drsquoAnalyse du

Discours Paris Seuil 2002

CORNU Geacuterard Linguistique Juridique Paris Montchrestien 2005

______ Vocabulaire Juridique Paris PUF Quadrige 2003

CRETELLA Juacutenior Joseacute Comentaacuterios agrave constituiccedilatildeo brasileira de 1988

Vol I e II Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1994

CUNHA Celso Gramaacutetica do Portuguecircs Contemporacircneo Rio de

Janeiro Padratildeo Livraria Editora 1983

CUNHA Antonio Geraldo da Os estrangeirismos da liacutengua portuguesa

vocabulaacuterio histoacuterico-etimoloacutegico Satildeo Paulo Humanitas 2003

DAMETTE Eacuteliane Didactique du franccedilais juridique Paris LrsquoHarmattan

2007

DAMIAtildeO Regina Toledo HENRIQUES Antonio Curso de portuguecircs

juriacutedico Satildeo Paulo Atlas 2000

DANTAS Ivo Direito Comparado como Ciecircncia Brasiacutelia Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa nordm 134 1997

DAVID Reneacute Major Legal Systems in the world today 3rd ed London

Stevens amp Sons 1985

DAVID Reneacute et JAUFFRET-SPINOSI Camille Les grands systegravemes de

droit contemporain Paris Dalloz 1992

DEL VECCHIO Giorgio La deacuteclaration des droits de lrsquohomme et du

citoyen dans la Reacutevolution Franccedilaise Trad Antoinette Pellevant Gini

Fondation Europeacuteenne Dragan Rome ndash Foro Traiano 1 Paris LGDJ 1968

DOLINGER Jacob The Influence of American Constitutional Law on

the Brazilian Legal System nordm 4 vol 38 The American Journal of

Comparative Law Fall 1990

197

______ Unconscionability around the world seven perspectives on

the contractual practice nordm 3 vol 14 Loyola of Los Angeles International

and comparative Law July 1992

DUARTE Eacutecio Oto Ramos O R Teoria do Discurso e Correccedilatildeo

Normativa do Direito Satildeo Paulo Landy 2004

DUCROT Oswald Le dire et le di Paris Minuit 1984

ELA ndash La reformulation pratiques problegravemes et propositions Coord

Claudine Normand No68 Paris Didier Eacuterudition 1987

EacuteLA - Vocabulaires de speacutecialiteacute et lexicographie drsquoapprentissage en

langues-cultures eacutetrangegraveres et maternelles Coord LINO Maria Teresa nordm

135 Paris Didier 2004

FARACO Carlos Alberto TEZZA Cristoacutevatildeo CASTRO Gilberto Org Beth

Brait [et al] Diaacutelogos com Bakhtin Curitiba UFPR 2007

FARACO MOURA E MARUXO Gramaacutetica 20a ed Satildeo Paulo Atica

2006

FARIA Joseacute Eduardo A cultura e as profissotildees juriacutedicas numa

sociedade em transformaccedilatildeo Formaccedilatildeo juriacutedica Org Joseacute Renato Nalini

Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 1999

FAVERO L M Coesatildeo e Coerecircncia Textuais Satildeo PauloEd Aacutetica 2002

FAVRE Pierre La constitution dune science du politique le

deacuteplacement de ses objets et ldquolrsquoirruption de lrsquohistoire reacuteelle Revue

franccedilaise de science politique wwwperseefr 1983

FIORIN Joseacute Luiz Interdiscursividade e IntertextualidadeOrg BRAIT

Beth Bakhtin outros conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2006

GILISSEN J Introduccedilatildeo Histoacuterica ao DireitoTrad Hespanha AM e

Malheiros IMMacaiacutesca cap 2 Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian

2001

198

GODECHOT Jean Lexpansion de la Deacuteclaration des droits de

lhomme de 1789 dans le monde Annales historiques de la Reacutevolution

franccedilaise wwwperseefr 1978

GRILLO Sheila Vieira de Camargo Esfera e campo Org BRAIT Beth

Bakhtin outros conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2006

ISAAC Jules et MALETAlbert Lrsquo Histoire La naissance du Monde

moderne 1848-1914 Paris Hachette 1961

ISHIHARA Tokiko Discours rapporteacutes reformulation et sens Linx

(Nanterre) Franccedila v 1 p 43-52 1998

______ Leitura e enunciaccedilatildeo a pluralidade de vozes no discurso da

imprensa In X Congresso de Leitura do Brasil (COLE) 1995 Campinas

Anais do X COLE 1995

JELLINEK George La deacuteclaration des droits de lrsquohomme et du citoyen

Trad Georges FARDIS Paris Albert Fontemoing 1902

KELSEN H Teoria Pura do Direito Trad Cretella J Jr e Cretella A Satildeo

Paulo Ed Revista dos Tribunais 2003

KOCH Ingedore G Vilaccedila O texto e a construccedilatildeo dos sentidos Satildeo

Paulo Contexto 2003

______ Argumentaccedilatildeo e Linguagem Satildeo Paulo Editora Cortez 2011

LEHMANN D MARIET F MARIET J MOIRAND S Lecture fonctionnelle

de textes de speacutecialiteacute Didier Credif 1980

LEGEAIS Raymond Les grands systegravemes de droit contemporains

Paris Litec 2004

LEVY Maria Stella Ferreira (org) Linguagem e suas aplicaccedilotildees no

direito Satildeo Paulo Paulistana 2006

MAINGUENEAU Dominique Anaacutelise de Textos de Comunicaccedilatildeo Satildeo

Paulo Ed Cortez 2002

______ Lrsquoeacutenonciation en linguistique franccedilaise Paris Hachette 1999

199

______ Les termes cleacutes de lrsquoanalyse du discours Paris Seuil 1996

______ Aborder la linguistique Paris Seuil 1996

______Lrsquoethos de la rheacutetorique agrave lrsquoanalyse du discours

httpdominiquemaingueneaupagesperso-orangefrintro_companyhtml

2002 Acesso em 22122012

MANGIANTE Jean-Marc PARPETTE Chantal Le Franccedilais sur Objectif

Speacutecifique de lrsquoanalyse des besoins agrave lrsquoeacutelaboration drsquoun cours Paris

Hachette 2004

MARCHI Eduardo C Silveira Guia de Metodologia Juriacutedica Satildeo Paulo

Saraiva 2009

MARCUSCHI Luiz Antonio Leitura como processo inferencial num

universo cultural cognitivo In Barzotto Estado de Leitura Campinas

Mercado das Letras 1999

MARIE Jean-Bernard La Comission des Droits de lrsquoHomme de lrsquo ONU

Paris Eacuteditions A Pedone 1975

MARTINS Ives Gandra da Silva A cultura do jurista In Formaccedilatildeo

juriacutedicaOrg Joseacute Renato Nalini Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

1999

MAXIMILIANO Carlos Hermenecircutica e Aplicaccedilatildeo do Direito Rio de

Janeiro Ed Forense 1998

MOIRAND Sophie Deacutecrire des discours de speacutecialiteacute in Lenguas para

fines especiacuteficos (III) actes du colloque organiseacute par lrsquouniversiteacute Alcala de

Henares les 15-17 novembre 1993 Universiteacute Alcala de Henares 1994 p

79-91

MONTEIRO Washington de Barros Curso de Direito Civil ndash Parte geral

Vol 1 Satildeo Paulo Saraiva 1971

200

MONTESQUIEU Charles-Louis de Secondat Esprit des lois Livres I-V

Paris Libraire Ch Delagrave1887 in Bibliothegraveque nationale de France in

httpgallica2bnffrark12148bpt6k55507712 Acesso em 22122012

______ Do Espiacuterito das Leis Trad CARDOSO FH e RODRIGUES LM

cap V Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do Livro 1962

MORAES Alexandre de Constituiccedilatildeo do Brasil interpretada e

legislaccedilatildeo constitucional 8ordf Ed Atualizada ateacute a EC no 6710 ndash Satildeo

Paulo Atlas 2011

MORTUREUX Marie-Franccediloise Paradigmes deacutesignationnels Semen [En

ligne] 8 | 1993 mis en ligne le 06 juillet 2007 Acesso em 20092012

httpsemenrevuesorg4132

MOSCA Lineide do Lago Salvador Retoacutericas de Ontem e de hoje Org

MOSCA Lineide do Lago Salvador 3ordf ed Satildeo Paulo Humanitas 2004

MOURLHON-DALLIES F Enseigner une langue agrave des fins

professionnelles Collection Langues et Didactiques Paris Didier2008

NALINI Joseacute Renato Formaccedilatildeo juriacutedica Satildeo Paulo Editora Revista dos

Tribunais 1999

NUNES Pedro dos Reis Dicionaacuterio de tecnologia juridica Rio de

Janeiro Freitas Bastos 1982

OLEacuteRON Pierre Lrsquoargumentation Paris Presses Universitaires de

France 1996

PASQUARELLI Maria Luiza Rigo Normas para apresentaccedilatildeo de

trabalhos acadecircmicos Osasco Edifieo 2009

PEIXOTO Paulo Matos Vocabulaacuterio Juriacutedico Satildeo Paulo Paumape 1993

PELISSE Jeacuterome A-t-on conscience du droit Autour des Legal

Consciousness Studies Genegraveses ndeg 59 httpwwwcairninforevue-

geneses-2005-2-p-114htm 2005 Acesso em 22122012

201

PEREIRA Caio Maacuterio da Silva Instituiccedilotildees de Direito Civil Rio de

Janeiro Forense 1991 vol 1 pp 3-20

PENFORNIS J L Le Franccedilais du Droit Cleacute International 1998

PERELMAN Chaim Loacutegica juriacutedica nova retoacuterica Satildeo Paulo Martins

Fontes 2004

______ OLBRECHTS-TYTECA Lucie Tratado da argumentaccedilatildeo a

nova retoacuterica Bruxelles Ed de lrsquoUniversiteacute de Bruxelles 1976 Trad Maria

Ermantina Galvatildeo G Pereira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 [1958]

______ OLBRECHTS-TYTECA Lucie Traiteacute de lrsquoargumentation 3e ed

Bruxelles Ed de lrsquoUniversiteacute de Bruxelles 1976

PETRI Maria Joseacute Constantino Manual de linguagem juriacutedica Satildeo

Paulo Editora Saraiva 2011

PEYTARD Jean Langue franccedilaise Ndeg64 1984 Franccedilais technique et

scientifique reformulation enseignement

httpwwwperseefrwebrevueshome prescriptissuelfr_0023-

8368_1984_num_64_1 Acesso em 20092012

PLANTIN Christian Essais sur l lsquoargumentation Paris Eacuted Kimeacute 1990

______ Lrsquoargumentation Paris Ed du Seuil 1996 (Meacutemo)

ROBERT Paul Le petit Robert Paris Robert 1986

ROBLES Gregoacuterio O direito como texto quatro textos de teoria

comunicacional do direito Barueri Manole 2005

RODRIGUES Silvio Direito Civil ndash Parte Geral Vol 1Satildeo Paulo Saraiva

1993

SAacute Elisabeth Schneider de Manual de normalizaccedilatildeo de trabalhos

cientiacuteficos e culturais Petroacutepolis Vozes 1994

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos Direitos Fundamentais Porto

Alegre Livraria do Advogado Editora 2008

202

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do Trabalho Cientiacutefico Satildeo

Paulo Cortez 2007

SILVA De Plaacutecido e Vocabulaacuterio Juriacutedico Rio de Janeiro Editora

Forense 2004

SILVA Joseacute Afonso da Curso de direito constitucional positivo 9 ed

rev e ampl de acordo com a nova Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros

1992

SOARES A SANTOS MJ Dicionaacuterio do Tradutor Francecircs-Portuguecircs

Faro Editor Noecircmio Ramos 2003

SOIGNET M Le Franccedilais Juridique Paris Ed Hachette e CCIP 2003

THOMASSET C Lire le droit langue texte cognition Bourcier D

Mackay P Libraire Geacuteneacuterale de Droit et de Jurisprudence 1992

TODOROV Tzvetan Mikhail Bakhtin le principe dialogique Paris

Seuil 1981

VANNIER Guillaume Argumentation et droit Paris Presses

Universitaires de France 2001

VERDOODT Albert Naissance et signification de la Deacuteclaration

Universelle des Droits de lrsquoHomme Luvain-Paris Eacuteditions Nauwelaerts

1963

WISE Edward M The Transplant of Legal Patterns In The American

Journal of Comparative Law vol 38 Supplement U S Law in an Era of

Democratization1990 pp 1-22

WOJTYCZEK K Les fonctions de la constitution eacutecrite dans le

contexte de la mondialisation In Lrsquoeacutevolution des concepts de la doctrine

classique de droit constitutionnel dir Genoveva Vrabie Iasi Institut

Europeacuteen 2008

203

ANEXOS

DOCUMENTO I Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo de

1789205

204

DOCUMENTO II Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de

1948209

DOCUMENTO III Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de

1988218

DOCUMENTO IV Lei 114192006230

DOCUMENTO IVa APRESENTACcedilAtildeO242

DOCUMENTO IVb Voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio244

DOCUMENTO IVc Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada

Luiza Erundina 247

DOCUMENTO IVd Nota oficial de 1962002252

DOCUMENTO IVe Notiacutecia de 682002254

DOCUMENTO IVf Carta Aberta IJURIS 255

DOCUMENTO V Paacutegina do Tribunal Regional Federal 3ordf Regiatildeo257

DOCUMENTO I

DEacuteCLARATION DES DROITS DE LrsquoHOMME ET DU CITOYEN DE 1789

205

Les Repreacutesentants du Peuple Franccedilais constitueacutes en Assembleacutee nationale

consideacuterant que lrsquoignorance lrsquooubli ou le meacutepris des droits de lrsquohomme sont les

seules causes des malheurs publics et de la corruption des Gouvernements

ont reacutesolu drsquoexposer dans une Deacuteclaration solennelle les droits naturels

inalieacutenables et sacreacutes de lrsquohomme afin que cette Deacuteclaration constamment

preacutesente agrave tous les membres du corps social leur rappelle sans cesse leurs

droits et leurs devoirs afin que les actes du pouvoir leacutegislatif et ceux du

pouvoir exeacutecutif pouvant ecirctre agrave chaque instant compareacutes avec le but de toute

institution politique en soient plus respecteacutes afin que les reacuteclamations des

citoyens fondeacutees deacutesormais sur des principes simples et incontestables

tournent toujours au maintien de la Constitution et au bonheur de tous En

conseacutequence lrsquoAssembleacutee nationale reconnaicirct et deacuteclare en preacutesence et sous

les auspices de lrsquoEcirctre Suprecircme les droits suivants de lrsquohomme et du citoyen

Article premier

Les hommes naissent et demeurent libres et eacutegaux en droits Les distinctions

sociales ne peuvent ecirctre fondeacutees que sur lrsquoutiliteacute commune

Article II

Le but de toute association politique est la conservation des droits naturels et

imprescriptibles de lrsquohomme Ces droits sont la liberteacute la proprieacuteteacute la sucircreteacute et

la reacutesistance agrave lrsquooppression

Article III

Le principe de toute Souveraineteacute reacuteside essentiellement dans la Nation Nul

corps nul individu ne peut exercer drsquoautoriteacute qui nrsquoen eacutemane expresseacutement

Article IV

La liberteacute consiste agrave pouvoir faire tout ce qui ne nuit pas agrave autrui ainsi

lrsquoexercice des droits naturels de chaque homme nrsquoa de bornes que celles qui

assurent aux autres Membres de la Socieacuteteacute la jouissance de ces mecircmes droits

Ces bornes ne peuvent ecirctre deacutetermineacutees que par la Loi

206

Article V

La Loi nrsquoa le droit de deacutefendre que les actions nuisibles agrave la Socieacuteteacute Tout ce qui

nrsquoest pas deacutefendu par la Loi ne peut ecirctre empecirccheacute et nul ne peut ecirctre contraint

agrave faire ce qursquoelle nrsquoordonne pas

Article VI

La Loi est lrsquoexpression de la volonteacute geacuteneacuterale Tous les Citoyens ont droit de

concourir personnellement ou par leurs Repreacutesentants agrave sa formation Elle doit

ecirctre la mecircme pour tous soit qursquoelle protegravege soit qursquoelle punisse Tous les

Citoyens eacutetant eacutegaux agrave ses yeux sont eacutegalement admissibles agrave toutes digniteacutes

places et emplois publics selon leur capaciteacute et sans autre distinction que celle

de leurs vertus et de leurs talents

Article VII

Nul homme ne peut ecirctre accuseacute arrecircteacute ni deacutetenu que dans les cas deacutetermineacutes

par la Loi et selon les formes qursquoelle a prescrites Ceux qui sollicitent

expeacutedient exeacutecutent ou font exeacutecuter des ordres arbitraires doivent ecirctre punis

mais tout Citoyen appeleacute ou saisi en vertu de la Loi doit obeacuteir agrave lrsquoinstant il se

rend coupable par la reacutesistance

Article VIII

La Loi ne doit eacutetablir que des peines strictement et eacutevidemment neacutecessaires et

nul ne peut ecirctre puni qursquoen vertu drsquoune Loi eacutetablie et promulgueacutee

anteacuterieurement au deacutelit et leacutegalement appliqueacutee

Article IX

Tout homme eacutetant preacutesumeacute innocent jusqursquoagrave ce qursquoil ait eacuteteacute deacuteclareacute coupable

srsquoil est jugeacute indispensable de lrsquoarrecircter toute rigueur qui ne serait pas neacutecessaire

pour srsquoassurer de sa personne doit ecirctre seacutevegraverement reacuteprimeacutee par la Loi

Article X

207

Nul ne doit ecirctre inquieacuteteacute pour ses opinions mecircme religieuses pourvu que leur

manifestation ne trouble pas lrsquoordre public eacutetabli par la Loi

Article XI

La libre communication des penseacutees et des opinions est un des droits les plus

preacutecieux de lrsquoHomme tout Citoyen peut donc parler eacutecrire imprimer librement

sauf agrave reacutepondre de lrsquoabus de cette liberteacute dans les cas deacutetermineacutes par la Loi

Article XII

La garantie des droits de lrsquoHomme et du Citoyen neacutecessite une force publique

cette force est donc institueacutee pour lrsquoavantage de tous et non pour lrsquoutiliteacute

particuliegravere de ceux auxquels elle est confieacutee

Article XIII

Pour lrsquoentretien de la force publique et pour les deacutepenses drsquoadministration une

contribution commune est indispensable Elle doit ecirctre eacutegalement reacutepartie entre

tous les Citoyens en raison de leurs faculteacutes

Article XIV

Tous les Citoyens ont le droit de constater par eux-mecircmes ou par leurs

Repreacutesentants la neacutecessiteacute de la contribution publique de la consentir

librement drsquoen suivre lrsquoemploi et drsquoen deacuteterminer la quotiteacute lrsquoassiette le

recouvrement et la dureacutee

Article XV

La Socieacuteteacute a le droit de demander compte agrave tout Agent public de son

administration

Article XVI

Toute Socieacuteteacute dans laquelle la garantie des Droits nrsquoest pas assureacutee ni la

seacuteparation des Pouvoirs deacutetermineacutee nrsquoa point de Constitution

208

Article XVII

La proprieacuteteacute eacutetant un droit inviolable et sacreacute nul ne peut en ecirctre priveacute si ce

nrsquoest lorsque la neacutecessiteacute publique leacutegalement constateacutee lrsquoexige eacutevidemment

et sous la condition drsquoune juste et preacutealable indemniteacute

httpwwwassemblee-nationalefrhistoiredudh1789asp

DOCUMENTO II

LA DECLARATION UNIVERSELLE DES DROITS DE LrsquoHOMME 1948 - 2008

Preacuteambule

209

Consideacuterant que la reconnaissance de la digniteacute inheacuterente agrave tous les membres

de la famille humaine et de leurs droits eacutegaux et inalieacutenables constitue le

fondement de la liberteacute de la justice et de la paix dans le monde

Consideacuterant que la meacuteconnaissance et le meacutepris des droits de lhomme ont

conduit agrave des actes de barbarie qui reacutevoltent la conscience de lhumaniteacute et que

lavegravenement dun monde ougrave les ecirctres humains seront libres de parler et de

croire libeacutereacutes de la terreur et de la misegravere a eacuteteacute proclameacute comme la plus haute

aspiration de lhomme

Consideacuterant quil est essentiel que les droits de lhomme soient proteacutegeacutes par un

reacutegime de droit pour que lhomme ne soit pas contraint en suprecircme recours agrave

la reacutevolte contre la tyrannie et loppression

Consideacuterant quil est essentiel dencourager le deacuteveloppement de relations

amicales entre nations

Consideacuterant que dans la Charte les peuples des Nations Unies ont proclameacute agrave

nouveau leur foi dans les droits fondamentaux de lhomme dans la digniteacute et la

valeur de la personne humaine dans leacutegaliteacute des droits des hommes et des

femmes et quils se sont deacuteclareacutes reacutesolus agrave favoriser le progregraves social et agrave

instaurer de meilleures conditions de vie dans une liberteacute plus grande

Consideacuterant que les Etats Membres se sont engageacutes agrave assurer en coopeacuteration

avec lOrganisation des Nations Unies le respect universel et effectif des droits

de lhomme et des liberteacutes fondamentales

Consideacuterant quune conception commune de ces droits et liberteacutes est de la plus

haute importance pour remplir pleinement cet engagement

LAssembleacutee Geacuteneacuterale proclame la preacutesente Deacuteclaration universelle des

droits de lhomme comme lideacuteal commun agrave atteindre par tous les peuples et

toutes les nations afin que tous les individus et tous les organes de la socieacuteteacute

ayant cette Deacuteclaration constamment agrave lesprit sefforcent par lenseignement

et leacuteducation de deacutevelopper le respect de ces droits et liberteacutes et den assurer

210

par des mesures progressives dordre national et international la

reconnaissance et lapplication universelles et effectives tant parmi les

populations des Etats Membres eux-mecircmes que parmi celles des territoires

placeacutes sous leur juridiction

Article premier

Tous les ecirctres humains naissent libres et eacutegaux en digniteacute et en droits Ils sont

doueacutes de raison et de conscience et doivent agir les uns envers les autres dans

un esprit de fraterniteacute

Article 2

1Chacun peut se preacutevaloir de tous les droits et de toutes les liberteacutes proclameacutes

dans la preacutesente Deacuteclaration sans distinction aucune notamment de race de

couleur de sexe de langue de religion dopinion politique ou de toute autre

opinion dorigine nationale ou sociale de fortune de naissance ou de toute

autre situation

2De plus il ne sera fait aucune distinction fondeacutee sur le statut politique

juridique ou international du pays ou du territoire dont une personne est

ressortissante que ce pays ou territoire soit indeacutependant sous tutelle non

autonome ou soumis agrave une limitation quelconque de souveraineteacute

Article 3

Tout individu a droit agrave la vie agrave la liberteacute et agrave la sucircreteacute de sa personne

Article 4

Nul ne sera tenu en esclavage ni en servitude lesclavage et la traite des

esclaves sont interdits sous toutes leurs formes

Article 5

211

Nul ne sera soumis agrave la torture ni agrave des peines ou traitements cruels

inhumains ou deacutegradants

Article 6

Chacun a le droit agrave la reconnaissance en tous lieux de sa personnaliteacute juridique

Article 7

Tous sont eacutegaux devant la loi et ont droit sans distinction agrave une eacutegale protection

de la loi Tous ont droit agrave une protection eacutegale contre toute discrimination qui

violerait la preacutesente Deacuteclaration et contre toute provocation agrave une telle

discrimination

Article 8

Toute personne a droit agrave un recours effectif devant les juridictions nationales

compeacutetentes contre les actes violant les droits fondamentaux qui lui sont

reconnus par la constitution ou par la loi

Article 9

Nul ne peut ecirctre arbitrairement arrecircteacute deacutetenu ou exileacute

Article 10

Toute personne a droit en pleine eacutegaliteacute agrave ce que sa cause soit entendue

eacutequitablement et publiquement par un tribunal indeacutependant et impartial qui

deacutecidera soit de ses droits et obligations soit du bien-fondeacute de toute

accusation en matiegravere peacutenale dirigeacutee contre elle

Article 11

212

1 Toute personne accuseacutee dun acte deacutelictueux est preacutesumeacutee innocente

jusquagrave ce que sa culpabiliteacute ait eacuteteacute leacutegalement eacutetablie au cours dun procegraves

public ougrave toutes les garanties neacutecessaires agrave sa deacutefense lui auront eacuteteacute assureacutees

2 Nul ne sera condamneacute pour des actions ou omissions qui au moment ougrave

elles ont eacuteteacute commises ne constituaient pas un acte deacutelictueux dapregraves le droit

national ou international De mecircme il ne sera infligeacute aucune peine plus forte

que celle qui eacutetait applicable au moment ougrave lacte deacutelictueux a eacuteteacute commis

Article 12

Nul ne sera lobjet dimmixtions arbitraires dans sa vie priveacutee sa famille son

domicile ou sa correspondance ni datteintes agrave son honneur et agrave sa reacuteputation

Toute personne a droit agrave la protection de la loi contre de telles immixtions ou de

telles atteintes

Article 13

1 Toute personne a le droit de circuler librement et de choisir sa reacutesidence

agrave linteacuterieur dun Etat

2 Toute personne a le droit de quitter tout pays y compris le sien et de

revenir dans son pays

Article 14

1 Devant la perseacutecution toute personne a le droit de chercher asile et de

beacuteneacuteficier de lasile en dautres pays

2 Ce droit ne peut ecirctre invoqueacute dans le cas de poursuites reacuteellement

fondeacutees sur un crime de droit commun ou sur des agissements

contraires aux buts et aux principes des Nations Unies

Article 15

1 Tout individu a droit agrave une nationaliteacute

213

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa nationaliteacute ni du droit de

changer de nationaliteacute

Article 16

1 A partir de lacircge nubile lhomme et la femme sans aucune restriction

quant agrave la race la nationaliteacute ou la religion ont le droit de se marier et de

fonder une famille Ils ont des droits eacutegaux au regard du mariage durant

le mariage et lors de sa dissolution

2 Le mariage ne peut ecirctre conclu quavec le libre et plein consentement

des futurs eacutepoux

3 La famille est leacuteleacutement naturel et fondamental de la socieacuteteacute et a droit agrave la

protection de la socieacuteteacute et de lEtat

Article 17

1 Toute personne aussi bien seule quen collectiviteacute a droit agrave la proprieacuteteacute

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa proprieacuteteacute

Article 18

Toute personne a droit agrave la liberteacute de penseacutee de conscience et de religion ce

droit implique la liberteacute de changer de religion ou de conviction ainsi que la

liberteacute de manifester sa religion ou sa conviction seule ou en commun tant en

public quen priveacute par lenseignement les pratiques le culte et

laccomplissement des rites

Article 19

Tout individu a droit agrave la liberteacute dopinion et dexpression ce qui implique le droit

de ne pas ecirctre inquieacuteteacute pour ses opinions et celui de chercher de recevoir et de

reacutepandre sans consideacuterations de frontiegraveres les informations et les ideacutees par

quelque moyen dexpression que ce soit

214

Article 20

1 Toute personne a droit agrave la liberteacute de reacuteunion et dassociation pacifiques

2 Nul ne peut ecirctre obligeacute de faire partie dune association

Article 21

1 Toute personne a le droit de prendre part agrave la direction des affaires

publiques de son pays soit directement soit par lintermeacutediaire de

repreacutesentants librement choisis

2 Toute personne a droit agrave acceacuteder dans des conditions deacutegaliteacute aux

fonctions publiques de son pays

3 La volonteacute du peuple est le fondement de lautoriteacute des pouvoirs publics

cette volonteacute doit sexprimer par des eacutelections honnecirctes qui doivent avoir

lieu peacuteriodiquement au suffrage universel eacutegal et au vote secret ou

suivant une proceacutedure eacutequivalente assurant la liberteacute du vote

Article 22

Toute personne en tant que membre de la socieacuteteacute a droit agrave la seacutecuriteacute sociale

elle est fondeacutee agrave obtenir la satisfaction des droits eacuteconomiques sociaux et

culturels indispensables agrave sa digniteacute et au libre deacuteveloppement de sa

personnaliteacute gracircce agrave leffort national et agrave la coopeacuteration internationale compte

tenu de lorganisation et des ressources de chaque pays

Article 23

1 Toute personne a droit au travail au libre choix de son travail agrave des

conditions eacutequitables et satisfaisantes de travail et agrave la protection contre le

chocircmage

2 Tous ont droit sans aucune discrimination agrave un salaire eacutegal pour un travail

eacutegal

3 Quiconque travaille a droit agrave une reacutemuneacuteration eacutequitable et satisfaisante lui

assurant ainsi quagrave sa famille une existence conforme agrave la digniteacute humaine et

215

compleacuteteacutee sil y a lieu par tous autres moyens de protection sociale

4 Toute personne a le droit de fonder avec dautres des syndicats et de saffilier

agrave des syndicats pour la deacutefense de ses inteacuterecircts

Article 24

Toute personne a droit au repos et aux loisirs et notamment agrave une limitation

raisonnable de la dureacutee du travail et agrave des congeacutes payeacutes peacuteriodiques

Article 25

1 Toute personne a droit agrave un niveau de vie suffisant pour assurer sa

santeacute son bien-ecirctre et ceux de sa famille notamment pour lalimentation

lhabillement le logement les soins meacutedicaux ainsi que pour les services

sociaux neacutecessaires elle a droit agrave la seacutecuriteacute en cas de chocircmage de

maladie dinvaliditeacute de veuvage de vieillesse ou dans les autres cas de

perte de ses moyens de subsistance par suite de circonstances

indeacutependantes de sa volonteacute

2 La materniteacute et lenfance ont droit agrave une aide et agrave une assistance

speacuteciales Tous les enfants quils soient neacutes dans le mariage ou hors

mariage jouissent de la mecircme protection sociale

Article 26

1 Toute personne a droit agrave leacuteducation Leacuteducation doit ecirctre gratuite au

moins en ce qui concerne lenseignement eacuteleacutementaire et fondamental

Lenseignement eacuteleacutementaire est obligatoire Lenseignement technique et

professionnel doit ecirctre geacuteneacuteraliseacute laccegraves aux eacutetudes supeacuterieures doit

ecirctre ouvert en pleine eacutegaliteacute agrave tous en fonction de leur meacuterite

216

2 Leacuteducation doit viser au plein eacutepanouissement de la personnaliteacute

humaine et au renforcement du respect des droits de lhomme et des

liberteacutes fondamentales Elle doit favoriser la compreacutehension la toleacuterance

et lamitieacute entre toutes les nations et tous les groupes raciaux ou

religieux ainsi que le deacuteveloppement des activiteacutes des Nations Unies

pour le maintien de la paix

3 Les parents ont par prioriteacute le droit de choisir le genre deacuteducation agrave

donner agrave leurs enfants

Article 27

1 Toute personne a le droit de prendre part librement agrave la vie culturelle de

la communauteacute de jouir des arts et de participer au progregraves scientifique

et aux bienfaits qui en reacutesultent

2 Chacun a droit agrave la protection des inteacuterecircts moraux et mateacuteriels deacutecoulant

de toute production scientifique litteacuteraire ou artistique dont il est lauteur

Article 28

Toute personne a droit agrave ce que regravegne sur le plan social et sur le plan

international un ordre tel que les droits et liberteacutes eacutenonceacutes dans la preacutesente

Deacuteclaration puissent y trouver plein effet

Article 29

1 Lindividu a des devoirs envers la communauteacute dans laquelle seule le

libre et plein deacuteveloppement de sa personnaliteacute est possible

2 Dans lexercice de ses droits et dans la jouissance de ses liberteacutes

chacun nest soumis quaux limitations eacutetablies par la loi exclusivement

en vue dassurer la reconnaissance et le respect des droits et liberteacutes

dautrui et afin de satisfaire aux justes exigences de la morale de lordre

public et du bien-ecirctre geacuteneacuteral dans une socieacuteteacute deacutemocratique

3 Ces droits et liberteacutes ne pourront en aucun cas sexercer contrairement

aux buts et aux principes des Nations Unies

217

Article 30

Aucune disposition de la preacutesente Deacuteclaration ne peut ecirctre interpreacuteteacutee comme

impliquant pour un Etat un groupement ou un individu un droit quelconque de

se livrer agrave une activiteacute ou daccomplir un acte visant agrave la destruction des droits

et liberteacutes qui y sont eacutenonceacutes

DOCUMENTO III

218

Presidecircncia da Repuacuteblica

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Juriacutedicos

CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

PREAcircMBULO

Noacutes representantes do povo brasileiro reunidos em Assembleia Nacional

Constituinte para instituir um Estado Democraacutetico destinado a assegurar o

exerciacutecio dos direitos sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-

estar o desenvolvimento a igualdade e a justiccedila como valores supremos de

uma sociedade fraterna pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia

social e comprometida na ordem interna e internacional com a soluccedilatildeo

paciacutefica das controveacutersias promulgamos sob a proteccedilatildeo de Deus a seguinte

CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

TIacuteTULO I

Dos Princiacutepios Fundamentais

Art 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos

Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico

de Direito e tem como fundamentos

I - a soberania

II - a cidadania

III - a dignidade da pessoa humana

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

219

Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o

Legislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

Art 3ordm Constituem objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa do Brasil

I - construir uma sociedade livre justa e solidaacuteria

II - garantir o desenvolvimento nacional

III - erradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir as desigualdades

sociais e regionais

IV - promover o bem de todos sem preconceitos de origem raccedila sexo cor

idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeo

Art 4ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees

internacionais pelos seguintes princiacutepios

I - independecircncia nacional

II - prevalecircncia dos direitos humanos

III - autodeterminaccedilatildeo dos povos

IV - natildeo-intervenccedilatildeo

V - igualdade entre os Estados

VI - defesa da paz

VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos

VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo

IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade

X - concessatildeo de asilo poliacutetico

220

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo

econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave

formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

TIacuteTULO II

Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPIacuteTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos desta

Constituiccedilatildeo

II - ningueacutem seraacute obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senatildeo em

virtude de lei

ltP

III - ningueacutem seraacute submetido a tortura nem a tratamento desumano ou

degradante

IV - eacute livre a manifestaccedilatildeo do pensamento sendo vedado o anonimato

V - eacute assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo aleacutem da

indenizaccedilatildeo por dano material moral ou agrave imagem

221

VI - eacute inviolaacutevel a liberdade de consciecircncia e de crenccedila sendo assegurado o

livre exerciacutecio dos cultos religiosos e garantida na forma da lei a proteccedilatildeo aos

locais de culto e a suas liturgias

VII - eacute assegurada nos termos da lei a prestaccedilatildeo de assistecircncia religiosa

nas entidades civis e militares de internaccedilatildeo coletiva

VIII - ningueacutem seraacute privado de direitos por motivo de crenccedila religiosa ou de

convicccedilatildeo filosoacutefica ou poliacutetica salvo se as invocar para eximir-se de obrigaccedilatildeo

legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestaccedilatildeo alternativa fixada em

lei

IX - eacute livre a expressatildeo da atividade intelectual artiacutestica cientiacutefica e de

comunicaccedilatildeo independentemente de censura ou licenccedila

X - satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das

pessoas assegurado o direito a indenizaccedilatildeo pelo dano material ou moral

decorrente de sua violaccedilatildeo

XI - a casa eacute asilo inviolaacutevel do indiviacuteduo ningueacutem nela podendo penetrar

sem consentimento do morador salvo em caso de flagrante delito ou desastre

ou para prestar socorro ou durante o dia por determinaccedilatildeo judicial

XII - eacute inviolaacutevel o sigilo da correspondecircncia e das comunicaccedilotildees

telegraacuteficas de dados e das comunicaccedilotildees telefocircnicas salvo no uacuteltimo caso

por ordem judicial nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de

investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo processual penal (Vide Lei nordm 9296 de

1996)

XIII - eacute livre o exerciacutecio de qualquer trabalho ofiacutecio ou profissatildeo atendidas

as qualificaccedilotildees profissionais que a lei estabelecer

XIV - eacute assegurado a todos o acesso agrave informaccedilatildeo e resguardado o sigilo da

fonte quando necessaacuterio ao exerciacutecio profissional

222

XV - eacute livre a locomoccedilatildeo no territoacuterio nacional em tempo de paz podendo

qualquer pessoa nos termos da lei nele entrar permanecer ou dele sair com

seus bens

XVI - todos podem reunir-se pacificamente sem armas em locais abertos

ao puacuteblico independentemente de autorizaccedilatildeo desde que natildeo frustrem outra

reuniatildeo anteriormente convocada para o mesmo local sendo apenas exigido

preacutevio aviso agrave autoridade competente

XVII - eacute plena a liberdade de associaccedilatildeo para fins liacutecitos vedada a de

caraacuteter paramilitar

XVIII - a criaccedilatildeo de associaccedilotildees e na forma da lei a de cooperativas

independem de autorizaccedilatildeo sendo vedada a interferecircncia estatal em seu

funcionamento

XIX - as associaccedilotildees soacute poderatildeo ser compulsoriamente dissolvidas ou ter

suas atividades suspensas por decisatildeo judicial exigindo-se no primeiro caso

o tracircnsito em julgado

XX - ningueacutem poderaacute ser compelido a associar-se ou a permanecer

associado

XXI - as entidades associativas quando expressamente autorizadas tecircm

legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social

XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e

preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvados os casos previstos nesta

Constituiccedilatildeo

223

XXV - no caso de iminente perigo puacuteblico a autoridade competente poderaacute

usar de propriedade particular assegurada ao proprietaacuterio indenizaccedilatildeo ulterior

se houver dano

XXVI - a pequena propriedade rural assim definida em lei desde que

trabalhada pela famiacutelia natildeo seraacute objeto de penhora para pagamento de deacutebitos

decorrentes de sua atividade produtiva dispondo a lei sobre os meios de

financiar o seu desenvolvimento

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilizaccedilatildeo publicaccedilatildeo ou

reproduccedilatildeo de suas obras transmissiacutevel aos herdeiros pelo tempo que a lei

fixar

XXVIII - satildeo assegurados nos termos da lei

a) a proteccedilatildeo agraves participaccedilotildees individuais em obras coletivas e agrave reproduccedilatildeo

da imagem e voz humanas inclusive nas atividades desportivas

b) o direito de fiscalizaccedilatildeo do aproveitamento econocircmico das obras que

criarem ou de que participarem aos criadores aos inteacuterpretes e agraves respectivas

representaccedilotildees sindicais e associativas

XXIX - a lei asseguraraacute aos autores de inventos industriais privileacutegio

temporaacuterio para sua utilizaccedilatildeo bem como proteccedilatildeo agraves criaccedilotildees industriais agrave

propriedade das marcas aos nomes de empresas e a outros signos distintivos

tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnoloacutegico e econocircmico

do Paiacutes

XXX - eacute garantido o direito de heranccedila

XXXI - a sucessatildeo de bens de estrangeiros situados no Paiacutes seraacute regulada

pela lei brasileira em benefiacutecio do cocircnjuge ou dos filhos brasileiros sempre que

natildeo lhes seja mais favoraacutevel a lei pessoal do de cujus

XXXII - o Estado promoveraacute na forma da lei a defesa do consumidor

224

XXXIII - todos tecircm direito a receber dos oacutergatildeos puacuteblicos informaccedilotildees de seu

interesse particular ou de interesse coletivo ou geral que seratildeo prestadas no

prazo da lei sob pena de responsabilidade ressalvadas aquelas cujo sigilo

seja imprescindiacutevel agrave seguranccedila da sociedade e do Estado (Regulamento)

XXXIV - satildeo a todos assegurados independentemente do pagamento de

taxas

a) o direito de peticcedilatildeo aos Poderes Puacuteblicos em defesa de direitos ou contra

ilegalidade ou abuso de poder

b) a obtenccedilatildeo de certidotildees em reparticcedilotildees puacuteblicas para defesa de direitos

e esclarecimento de situaccedilotildees de interesse pessoal

XXXV - a lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou

ameaccedila a direito

XXXVI - a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a

coisa julgada

XXXVII - natildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeo

XXXVIII - eacute reconhecida a instituiccedilatildeo do juacuteri com a organizaccedilatildeo que lhe der

a lei assegurados

a) a plenitude de defesa

b) o sigilo das votaccedilotildees

c) a soberania dos veredictos

d) a competecircncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida

XXXIX - natildeo haacute crime sem lei anterior que o defina nem pena sem preacutevia

cominaccedilatildeo legal

XL - a lei penal natildeo retroagiraacute salvo para beneficiar o reacuteu

225

XLI - a lei puniraacute qualquer discriminaccedilatildeo atentatoacuteria dos direitos e liberdades

fundamentais

XLII - a praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel

sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da lei

XLIII - a lei consideraraacute crimes inafianccedilaacuteveis e insuscetiacuteveis de graccedila ou

anistia a praacutetica da tortura o traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins o

terrorismo e os definidos como crimes hediondos por eles respondendo os

mandantes os executores e os que podendo evitaacute-los se omitirem

XLIV - constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel a accedilatildeo de grupos

armados civis ou militares contra a ordem constitucional e o Estado

Democraacutetico

XLV - nenhuma pena passaraacute da pessoa do condenado podendo a

obrigaccedilatildeo de reparar o dano e a decretaccedilatildeo do perdimento de bens ser nos

termos da lei estendidas aos sucessores e contra eles executadas ateacute o limite

do valor do patrimocircnio transferido

XLVI - a lei regularaacute a individualizaccedilatildeo da pena e adotaraacute entre outras as

seguintes

a) privaccedilatildeo ou restriccedilatildeo da liberdade

b) perda de bens

c) multa

d) prestaccedilatildeo social alternativa

e) suspensatildeo ou interdiccedilatildeo de direitos

XLVII - natildeo haveraacute penas

a) de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art 84 XIX

226

b) de caraacuteter perpeacutetuo

c) de trabalhos forccedilados

d) de banimento

e) crueacuteis

XLVIII - a pena seraacute cumprida em estabelecimentos distintos de acordo com

a natureza do delito a idade e o sexo do apenado

XLIX - eacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade fiacutesica e moral

L - agraves presidiaacuterias seratildeo asseguradas condiccedilotildees para que possam

permanecer com seus filhos durante o periacuteodo de amamentaccedilatildeo

LI - nenhum brasileiro seraacute extraditado salvo o naturalizado em caso de

crime comum praticado antes da naturalizaccedilatildeo ou de comprovado

envolvimento em traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins na forma da lei

LII - natildeo seraacute concedida extradiccedilatildeo de estrangeiro por crime poliacutetico ou de

opiniatildeo

LIII - ningueacutem seraacute processado nem sentenciado senatildeo pela autoridade

competente

LIV - ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido

processo legal

LV - aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados

em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e

recursos a ela inerentes

LVI - satildeo inadmissiacuteveis no processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

LVII - ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de

sentenccedila penal condenatoacuteria

227

LVIII - o civilmente identificado natildeo seraacute submetido a identificaccedilatildeo criminal

salvo nas hipoacuteteses previstas em lei (Regulamento)

LIX - seraacute admitida accedilatildeo privada nos crimes de accedilatildeo puacuteblica se esta natildeo for

intentada no prazo legal

LX - a lei soacute poderaacute restringir a publicidade dos atos processuais quando a

defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem

LXI - ningueacutem seraacute preso senatildeo em flagrante delito ou por ordem escrita e

fundamentada de autoridade judiciaacuteria competente salvo nos casos de

transgressatildeo militar ou crime propriamente militar definidos em lei

LXII - a prisatildeo de qualquer pessoa e o local onde se encontre seratildeo

comunicados imediatamente ao juiz competente e agrave famiacutelia do preso ou agrave

pessoa por ele indicada

LXIII - o preso seraacute informado de seus direitos entre os quais o de

permanecer calado sendo-lhe assegurada a assistecircncia da famiacutelia e de

advogado

LXIV - o preso tem direito agrave identificaccedilatildeo dos responsaacuteveis por sua prisatildeo ou

por seu interrogatoacuterio policial

LXV - a prisatildeo ilegal seraacute imediatamente relaxada pela autoridade judiciaacuteria

LXVI - ningueacutem seraacute levado agrave prisatildeo ou nela mantido quando a lei admitir a

liberdade provisoacuteria com ou sem fianccedila

LXVII - natildeo haveraacute prisatildeo civil por diacutevida salvo a do responsaacutevel pelo

inadimplemento voluntaacuterio e inescusaacutevel de obrigaccedilatildeo alimentiacutecia e a do

depositaacuterio infiel

LXVIII - conceder-se-aacute habeas-corpus sempre que algueacutem sofrer ou se

achar ameaccedilado de sofrer violecircncia ou coaccedilatildeo em sua liberdade de

locomoccedilatildeo por ilegalidade ou abuso de poder

228

LXIX - conceder-se-aacute mandado de seguranccedila para proteger direito liacutequido e

certo natildeo amparado por habeas-corpus ou habeas-data quando o

responsaacutevel pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade puacuteblica ou

agente de pessoa juriacutedica no exerciacutecio de atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico

LXX - o mandado de seguranccedila coletivo pode ser impetrado por

a) partido poliacutetico com representaccedilatildeo no Congresso Nacional

b) organizaccedilatildeo sindical entidade de classe ou associaccedilatildeo legalmente

constituiacuteda e em funcionamento haacute pelo menos um ano em defesa dos

interesses de seus membros ou associados

LXXI - conceder-se-aacute mandado de injunccedilatildeo sempre que a falta de norma

regulamentadora torne inviaacutevel o exerciacutecio dos direitos e liberdades

constitucionais e das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade agrave soberania e agrave

cidadania

LXXII - conceder-se-aacute habeas-data

a) para assegurar o conhecimento de informaccedilotildees relativas agrave pessoa do

impetrante constantes de registros ou bancos de dados de entidades

governamentais ou de caraacuteter puacuteblico

b) para a retificaccedilatildeo de dados quando natildeo se prefira fazecirc-lo por processo

sigiloso judicial ou administrativo

LXXIII - qualquer cidadatildeo eacute parte legiacutetima para propor accedilatildeo popular que vise

a anular ato lesivo ao patrimocircnio puacuteblico ou de entidade de que o Estado

participe agrave moralidade administrativa ao meio ambiente e ao patrimocircnio

histoacuterico e cultural ficando o autor salvo comprovada maacute-feacute isento de custas

judiciais e do ocircnus da sucumbecircncia

LXXIV - o Estado prestaraacute assistecircncia juriacutedica integral e gratuita aos que

comprovarem insuficiecircncia de recursos

229

LXXV - o Estado indenizaraacute o condenado por erro judiciaacuterio assim como o

que ficar preso aleacutem do tempo fixado na sentenccedila

LXXVI - satildeo gratuitos para os reconhecidamente pobres na forma da lei

a) o registro civil de nascimento

b) a certidatildeo de oacutebito

LXXVII - satildeo gratuitas as accedilotildees de habeas-corpus e habeas-data e na

forma da lei os atos necessaacuterios ao exerciacutecio da cidadania

LXXVIII a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a

razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeridade de sua

tramitaccedilatildeo (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45 de 2004)

sect 1ordm - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tecircm

aplicaccedilatildeo imediata

sect 2ordm - Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem

outros decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos

tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parte

sect 3ordm Os tratados e convenccedilotildees internacionais sobre direitos humanos que

forem aprovados em cada Casa do Congresso Nacional em dois turnos por

trecircs quintos dos votos dos respectivos membros seratildeo equivalentes agraves

emendas constitucionais (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45 de 2004)

(Atos aprovados na forma deste paraacutegrafo)

sect 4ordm O Brasil se submete agrave jurisdiccedilatildeo de Tribunal Penal Internacional a cuja

criaccedilatildeo tenha manifestado adesatildeo (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45

de 2004)

230

DOCUMENTO IV

Presidecircncia da Repuacuteblica

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Juriacutedicos

LEI Nordm 11419 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006

Mensagem de veto

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do

processo judicial altera a Lei no 5869

de 11 de janeiro de 1973 ndash Coacutedigo de

Processo Civil e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

DA INFORMATIZACcedilAtildeO DO PROCESSO JUDICIAL

Art 1o O uso de meio eletrocircnico na tramitaccedilatildeo de processos judiciais

comunicaccedilatildeo de atos e transmissatildeo de peccedilas processuais seraacute admitido nos

termos desta Lei

sect 1o Aplica-se o disposto nesta Lei indistintamente aos processos civil

penal e trabalhista bem como aos juizados especiais em qualquer grau de

jurisdiccedilatildeo

sect 2o Para o disposto nesta Lei considera-se

I - meio eletrocircnico qualquer forma de armazenamento ou traacutefego de

documentos e arquivos digitais

231

II - transmissatildeo eletrocircnica toda forma de comunicaccedilatildeo a distacircncia com a

utilizaccedilatildeo de redes de comunicaccedilatildeo preferencialmente a rede mundial de

computadores

III - assinatura eletrocircnica as seguintes formas de identificaccedilatildeo inequiacutevoca

do signataacuterio

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade

Certificadora credenciada na forma de lei especiacutefica

b) mediante cadastro de usuaacuterio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado

pelos oacutergatildeos respectivos

Art 2o O envio de peticcedilotildees de recursos e a praacutetica de atos processuais

em geral por meio eletrocircnico seratildeo admitidos mediante uso de assinatura

eletrocircnica na forma do art 1o desta Lei sendo obrigatoacuterio o credenciamento

preacutevio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

sect 1o O credenciamento no Poder Judiciaacuterio seraacute realizado mediante

procedimento no qual esteja assegurada a adequada identificaccedilatildeo presencial

do interessado

sect 2o Ao credenciado seraacute atribuiacutedo registro e meio de acesso ao sistema

de modo a preservar o sigilo a identificaccedilatildeo e a autenticidade de suas

comunicaccedilotildees

sect 3o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo criar um cadastro uacutenico para o

credenciamento previsto neste artigo

Art 3o Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrocircnico

no dia e hora do seu envio ao sistema do Poder Judiciaacuterio do que deveraacute ser

fornecido protocolo eletrocircnico

Paraacutegrafo uacutenico Quando a peticcedilatildeo eletrocircnica for enviada para atender

prazo processual seratildeo consideradas tempestivas as transmitidas ateacute as 24

(vinte e quatro) horas do seu uacuteltimo dia

232

CAPIacuteTULO II

DA COMUNICACcedilAtildeO ELETROcircNICA DOS ATOS PROCESSUAIS

Art 4o Os tribunais poderatildeo criar Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

disponibilizado em siacutetio da rede mundial de computadores para publicaccedilatildeo de

atos judiciais e administrativos proacuteprios e dos oacutergatildeos a eles subordinados bem

como comunicaccedilotildees em geral

sect 1o O siacutetio e o conteuacutedo das publicaccedilotildees de que trata este artigo deveratildeo

ser assinados digitalmente com base em certificado emitido por Autoridade

Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica

sect 2o A publicaccedilatildeo eletrocircnica na forma deste artigo substitui qualquer outro

meio e publicaccedilatildeo oficial para quaisquer efeitos legais agrave exceccedilatildeo dos casos

que por lei exigem intimaccedilatildeo ou vista pessoal

sect 3o Considera-se como data da publicaccedilatildeo o primeiro dia uacutetil seguinte ao

da disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo no Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

sect 4o Os prazos processuais teratildeo iniacutecio no primeiro dia uacutetil que seguir ao

considerado como data da publicaccedilatildeo

sect 5o A criaccedilatildeo do Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico deveraacute ser acompanhada de

ampla divulgaccedilatildeo e o ato administrativo correspondente seraacute publicado

durante 30 (trinta) dias no diaacuterio oficial em uso

Art 5o As intimaccedilotildees seratildeo feitas por meio eletrocircnico em portal proacuteprio aos

que se cadastrarem na forma do art 2o desta Lei dispensando-se a publicaccedilatildeo

no oacutergatildeo oficial inclusive eletrocircnico

sect 1o Considerar-se-aacute realizada a intimaccedilatildeo no dia em que o intimando

efetivar a consulta eletrocircnica ao teor da intimaccedilatildeo certificando-se nos autos a

sua realizaccedilatildeo

233

sect 2o Na hipoacutetese do sect 1o deste artigo nos casos em que a consulta se decirc

em dia natildeo uacutetil a intimaccedilatildeo seraacute considerada como realizada no primeiro dia

uacutetil seguinte

sect 3o A consulta referida nos sectsect 1o e 2o deste artigo deveraacute ser feita em ateacute

10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimaccedilatildeo sob pena de

considerar-se a intimaccedilatildeo automaticamente realizada na data do teacutermino desse

prazo

sect 4o Em caraacuteter informativo poderaacute ser efetivada remessa de

correspondecircncia eletrocircnica comunicando o envio da intimaccedilatildeo e a abertura

automaacutetica do prazo processual nos termos do sect 3o deste artigo aos que

manifestarem interesse por esse serviccedilo

sect 5o Nos casos urgentes em que a intimaccedilatildeo feita na forma deste artigo

possa causar prejuiacutezo a quaisquer das partes ou nos casos em que for

evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema o ato processual deveraacute

ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade conforme determinado

pelo juiz

sect 6o As intimaccedilotildees feitas na forma deste artigo inclusive da Fazenda

Puacuteblica seratildeo consideradas pessoais para todos os efeitos legais

Art 6o Observadas as formas e as cautelas do art 5o desta Lei as

citaccedilotildees inclusive da Fazenda Puacuteblica excetuadas as dos Direitos

Processuais Criminal e Infracional poderatildeo ser feitas por meio eletrocircnico

desde que a iacutentegra dos autos seja acessiacutevel ao citando

Art 7o As cartas precatoacuterias rogatoacuterias de ordem e de um modo geral

todas as comunicaccedilotildees oficiais que transitem entre oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio

bem como entre os deste e os dos demais Poderes seratildeo feitas

preferentemente por meio eletrocircnico

CAPIacuteTULO III

234

DO PROCESSO ELETROcircNICO

Art 8o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo desenvolver sistemas

eletrocircnicos de processamento de accedilotildees judiciais por meio de autos total ou

parcialmente digitais utilizando preferencialmente a rede mundial de

computadores e acesso por meio de redes internas e externas

Paraacutegrafo uacutenico Todos os atos processuais do processo eletrocircnico seratildeo

assinados eletronicamente na forma estabelecida nesta Lei

Art 9o No processo eletrocircnico todas as citaccedilotildees intimaccedilotildees e

notificaccedilotildees inclusive da Fazenda Puacuteblica seratildeo feitas por meio eletrocircnico na

forma desta Lei

sect 1o As citaccedilotildees intimaccedilotildees notificaccedilotildees e remessas que viabilizem o

acesso agrave iacutentegra do processo correspondente seratildeo consideradas vista pessoal

do interessado para todos os efeitos legais

sect 2o Quando por motivo teacutecnico for inviaacutevel o uso do meio eletrocircnico para

a realizaccedilatildeo de citaccedilatildeo intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo esses atos processuais

poderatildeo ser praticados segundo as regras ordinaacuterias digitalizando-se o

documento fiacutesico que deveraacute ser posteriormente destruiacutedo

Art 10 A distribuiccedilatildeo da peticcedilatildeo inicial e a juntada da contestaccedilatildeo dos

recursos e das peticcedilotildees em geral todos em formato digital nos autos de

processo eletrocircnico podem ser feitas diretamente pelos advogados puacuteblicos e

privados sem necessidade da intervenccedilatildeo do cartoacuterio ou secretaria judicial

situaccedilatildeo em que a autuaccedilatildeo deveraacute se dar de forma automaacutetica fornecendo-se

recibo eletrocircnico de protocolo

sect 1o Quando o ato processual tiver que ser praticado em determinado

prazo por meio de peticcedilatildeo eletrocircnica seratildeo considerados tempestivos os

efetivados ateacute as 24 (vinte e quatro) horas do uacuteltimo dia

235

sect 2o No caso do sect 1o deste artigo se o Sistema do Poder Judiciaacuterio se

tornar indisponiacutevel por motivo teacutecnico o prazo fica automaticamente prorrogado

para o primeiro dia uacutetil seguinte agrave resoluccedilatildeo do problema

sect 3o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio deveratildeo manter equipamentos de

digitalizaccedilatildeo e de acesso agrave rede mundial de computadores agrave disposiccedilatildeo dos

interessados para distribuiccedilatildeo de peccedilas processuais

Art 11 Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos

processos eletrocircnicos com garantia da origem e de seu signataacuterio na forma

estabelecida nesta Lei seratildeo considerados originais para todos os efeitos

legais

sect 1o Os extratos digitais e os documentos digitalizados e juntados aos

autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila e seus auxiliares pelo Ministeacuterio Puacuteblico e seus

auxiliares pelas procuradorias pelas autoridades policiais pelas reparticcedilotildees

puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos e privados tecircm a mesma forccedila

probante dos originais ressalvada a alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de

adulteraccedilatildeo antes ou durante o processo de digitalizaccedilatildeo

sect 2o A arguumliccedilatildeo de falsidade do documento original seraacute processada

eletronicamente na forma da lei processual em vigor

sect 3o Os originais dos documentos digitalizados mencionados no sect 2o

deste artigo deveratildeo ser preservados pelo seu detentor ateacute o tracircnsito em

julgado da sentenccedila ou quando admitida ateacute o final do prazo para interposiccedilatildeo

de accedilatildeo rescisoacuteria

sect 4o (VETADO)

sect 5o Os documentos cuja digitalizaccedilatildeo seja tecnicamente inviaacutevel devido

ao grande volume ou por motivo de ilegibilidade deveratildeo ser apresentados ao

cartoacuterio ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias contados do envio de peticcedilatildeo

eletrocircnica comunicando o fato os quais seratildeo devolvidos agrave parte apoacutes o

tracircnsito em julgado

236

sect 6o Os documentos digitalizados juntados em processo eletrocircnico

somente estaratildeo disponiacuteveis para acesso por meio da rede externa para suas

respectivas partes processuais e para o Ministeacuterio Puacuteblico respeitado o

disposto em lei para as situaccedilotildees de sigilo e de segredo de justiccedila

Art 12 A conservaccedilatildeo dos autos do processo poderaacute ser efetuada total ou

parcialmente por meio eletrocircnico

sect 1o Os autos dos processos eletrocircnicos deveratildeo ser protegidos por meio

de sistemas de seguranccedila de acesso e armazenados em meio que garanta a

preservaccedilatildeo e integridade dos dados sendo dispensada a formaccedilatildeo de autos

suplementares

sect 2o Os autos de processos eletrocircnicos que tiverem de ser remetidos a

outro juiacutezo ou instacircncia superior que natildeo disponham de sistema compatiacutevel

deveratildeo ser impressos em papel autuados na forma dos arts 166 a 168 da Lei

no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo Civil ainda que de

natureza criminal ou trabalhista ou pertinentes a juizado especial

sect 3o No caso do sect 2o deste artigo o escrivatildeo ou o chefe de secretaria

certificaraacute os autores ou a origem dos documentos produzidos nos autos

acrescentando ressalvada a hipoacutetese de existir segredo de justiccedila a forma

pela qual o banco de dados poderaacute ser acessado para aferir a autenticidade

das peccedilas e das respectivas assinaturas digitais

sect 4o Feita a autuaccedilatildeo na forma estabelecida no sect 2o deste artigo o

processo seguiraacute a tramitaccedilatildeo legalmente estabelecida para os processos

fiacutesicos

sect 5o A digitalizaccedilatildeo de autos em miacutedia natildeo digital em tramitaccedilatildeo ou jaacute

arquivados seraacute precedida de publicaccedilatildeo de editais de intimaccedilotildees ou da

intimaccedilatildeo pessoal das partes e de seus procuradores para que no prazo

preclusivo de 30 (trinta) dias se manifestem sobre o desejo de manterem

pessoalmente a guarda de algum dos documentos originais

237

Art 13 O magistrado poderaacute determinar que sejam realizados por meio

eletrocircnico a exibiccedilatildeo e o envio de dados e de documentos necessaacuterios agrave

instruccedilatildeo do processo

sect 1o Consideram-se cadastros puacuteblicos para os efeitos deste artigo

dentre outros existentes ou que venham a ser criados ainda que mantidos por

concessionaacuterias de serviccedilo puacuteblico ou empresas privadas os que contenham

informaccedilotildees indispensaacuteveis ao exerciacutecio da funccedilatildeo judicante

sect 2o O acesso de que trata este artigo dar-se-aacute por qualquer meio

tecnoloacutegico disponiacutevel preferentemente o de menor custo considerada sua

eficiecircncia

sect 3o (VETADO)

CAPIacuteTULO IV

DISPOSICcedilOtildeES GERAIS E FINAIS

Art 14 Os sistemas a serem desenvolvidos pelos oacutergatildeos do Poder

Judiciaacuterio deveratildeo usar preferencialmente programas com coacutedigo aberto

acessiacuteveis ininterruptamente por meio da rede mundial de computadores

priorizando-se a sua padronizaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Os sistemas devem buscar identificar os casos de

ocorrecircncia de prevenccedilatildeo litispendecircncia e coisa julgada

Art 15 Salvo impossibilidade que comprometa o acesso agrave justiccedila a parte

deveraacute informar ao distribuir a peticcedilatildeo inicial de qualquer accedilatildeo judicial o

nuacutemero no cadastro de pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas conforme o caso perante

a Secretaria da Receita Federal

Paraacutegrafo uacutenico Da mesma forma as peccedilas de acusaccedilatildeo criminais

deveratildeo ser instruiacutedas pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico ou pelas

autoridades policiais com os nuacutemeros de registros dos acusados no Instituto

Nacional de Identificaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila se houver

238

Art 16 Os livros cartoraacuterios e demais repositoacuterios dos oacutergatildeos do Poder

Judiciaacuterio poderatildeo ser gerados e armazenados em meio totalmente eletrocircnico

Art 17 (VETADO)

Art 18 Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio regulamentaratildeo esta Lei no que

couber no acircmbito de suas respectivas competecircncias

Art 19 Ficam convalidados os atos processuais praticados por meio

eletrocircnico ateacute a data de publicaccedilatildeo desta Lei desde que tenham atingido sua

finalidade e natildeo tenha havido prejuiacutezo para as partes

Art 20 A Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo

Civil passa a vigorar com as seguintes alteraccedilotildees

Art 38

Paraacutegrafo uacutenico A procuraccedilatildeo pode ser assinada digitalmente com base em

certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei

especiacutefica (NR)

Art 154

Paraacutegrafo uacutenico (Vetado) (VETADO)

sect 2o Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos transmitidos

armazenados e assinados por meio eletrocircnico na forma da lei (NR)

Art 164

Paraacutegrafo uacutenico A assinatura dos juiacutezes em todos os graus de jurisdiccedilatildeo

pode ser feita eletronicamente na forma da lei (NR)

Art 169

sect 1o Eacute vedado usar abreviaturas

239

sect 2o Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrocircnico os atos

processuais praticados na presenccedila do juiz poderatildeo ser produzidos e

armazenados de modo integralmente digital em arquivo eletrocircnico inviolaacutevel na

forma da lei mediante registro em termo que seraacute assinado digitalmente pelo

juiz e pelo escrivatildeo ou chefe de secretaria bem como pelos advogados das

partes

sect 3o No caso do sect 2o deste artigo eventuais contradiccedilotildees na transcriccedilatildeo

deveratildeo ser suscitadas oralmente no momento da realizaccedilatildeo do ato sob pena

de preclusatildeo devendo o juiz decidir de plano registrando-se a alegaccedilatildeo e a

decisatildeo no termo (NR)

Art 202

sect 3o A carta de ordem carta precatoacuteria ou carta rogatoacuteria pode ser expedida

por meio eletrocircnico situaccedilatildeo em que a assinatura do juiz deveraacute ser eletrocircnica

na forma da lei (NR)

Art 221

IV - por meio eletrocircnico conforme regulado em lei proacutepria (NR)

Art 237

Paraacutegrafo uacutenico As intimaccedilotildees podem ser feitas de forma eletrocircnica conforme

regulado em lei proacutepria (NR)

Art 365

240

V - os extratos digitais de bancos de dados puacuteblicos e privados desde que

atestado pelo seu emitente sob as penas da lei que as informaccedilotildees conferem

com o que consta na origem

VI - as reproduccedilotildees digitalizadas de qualquer documento puacuteblico ou particular

quando juntados aos autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila e seus auxiliares pelo

Ministeacuterio Puacuteblico e seus auxiliares pelas procuradorias pelas reparticcedilotildees

puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos ou privados ressalvada a

alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de adulteraccedilatildeo antes ou durante o

processo de digitalizaccedilatildeo

sect 1o Os originais dos documentos digitalizados mencionados no inciso VI do

caput deste artigo deveratildeo ser preservados pelo seu detentor ateacute o final do

prazo para interposiccedilatildeo de accedilatildeo rescisoacuteria

sect 2o Tratando-se de coacutepia digital de tiacutetulo executivo extrajudicial ou outro

documento relevante agrave instruccedilatildeo do processo o juiz poderaacute determinar o seu

depoacutesito em cartoacuterio ou secretaria (NR)

Art 399

sect 1o Recebidos os autos o juiz mandaraacute extrair no prazo maacuteximo e

improrrogaacutevel de 30 (trinta) dias certidotildees ou reproduccedilotildees fotograacuteficas das

peccedilas indicadas pelas partes ou de ofiacutecio findo o prazo devolveraacute os autos agrave

reparticcedilatildeo de origem

sect 2o As reparticcedilotildees puacuteblicas poderatildeo fornecer todos os documentos em meio

eletrocircnico conforme disposto em lei certificando pelo mesmo meio que se

trata de extrato fiel do que consta em seu banco de dados ou do documento

digitalizado (NR)

Art 417

sect 1o O depoimento seraacute passado para a versatildeo datilograacutefica quando houver

recurso da sentenccedila ou noutros casos quando o juiz o determinar de ofiacutecio ou

a requerimento da parte

241

sect 2o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2o e

3o do art 169 desta Lei (NR)

Art 457

sect 4o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2o e

3o do art 169 desta Lei (NR)

Art 556

Paraacutegrafo uacutenico Os votos acoacuterdatildeos e demais atos processuais podem ser

registrados em arquivo eletrocircnico inviolaacutevel e assinados eletronicamente na

forma da lei devendo ser impressos para juntada aos autos do processo

quando este natildeo for eletrocircnico (NR)

Art 21 (VETADO)

Art 22 Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias depois de sua

publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 19 de dezembro de 2006 185o da Independecircncia e 118o da

Repuacuteblica

LUIZ INAacuteCIO LULA DA SILVA

Maacutercio Thomaz Bastos

Este texto natildeo substitui o publicado no DOU de 20122006

DOCUMENTO IV a

APRESENTACcedilAtildeO

242

Apresentamos neste livreto um breve histoacuterico sobre as iniciativas tomadas

pela AJUFE - Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil no acircmbito da

informatizaccedilatildeo do processo judicial

A AJUFE foi a primeira entidade a apresentar em meados de 2001 uma

sugestatildeo de projeto de lei agrave Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa da Cacircmara

dos Deputados receacutem-criada pelo Presidente da Cacircmara Deputado Aeacutecio

Neves e presidida pela Deputada Luiza Erundina

A proposta foi amplamente discutida na Comissatildeo incluindo a realizaccedilatildeo de

audiecircncia puacuteblica na qual foram apresentadas valiosas sugestotildees

incorporadas ao projeto original Transformado o texto no Projeto de Lei

ndeg58282001foi ele relatado pelo Deputado Joseacute Roberto Batochio na

Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputados e

finalmente foi aprovado pelo plenaacuterio em junho do Corrente ano

Atualmente o projeto encontra-se em tramitaccedilatildeo na Comissatildeo de Constituiccedilatildeo

e Justiccedila do Senado Federal A iniciativa da AJUFE insere-se em seu ideal de

trabalho em prol da maior eficaacutecia e celeridade da prestaccedilatildeo jurisdicional

Procuramos apresentar um projeto aberto que permita sua imediata

implementaccedilatildeo aproveitando-se as vaacuterias ferramentas de informaacutetica jaacute em

uso por iniciativa dos diversos Tribunais

Entendemos que natildeo eacute viaacutevel que uma lei que disponha sobre a informaacutetica no

processo judicial venha a impor uma determinada tecnologia pois essa soluccedilatildeo

colocaria todas as iniciativas hoje aplicadas nos Tribunais agrave margem da lei

Aleacutem disso engessaria o projeto urna vez que impediria a incorporaccedilatildeo das

evoluccedilotildees tecnoloacutegicas futuras por parte dos Tribunais sem a ediccedilatildeo de uma

nova lei

O projeto apresentado eacute plenamente compatiacutevel tambeacutem com as tecnologias e

ferramentas de certificaccedilatildeo em vias de implementaccedilatildeo como a ICP-Brasil e a

autenticaccedilatildeo de mensagens eletrocircnicas

Desburocratiza o processo e democratiza o uso da informaacutetica por parte de

todos os envolvidos no processo judicial inclusive advogados e partes

243

Incluiacutemos neste livreto alguns textos que retratam o histoacuterico do projeto de lei

ateacute sua aprovaccedilatildeo na Cacircmara dos Deputados bem como algumas notas da

imprensa e a Carta Abertado IJURIS-Instituto Juriacutedico de Inteligecircncia e

Sistemas entidade independente dedicada ao estudo da informaacutetica e sua

aplicaccedilatildeo no direito e no governo em apoio ao projeto

Esperamos com isso contribuir para o aprimoramento do processo judicial

com evidentes ganhos para a sociedade brasileira

Paulo Seacutergio Domingues

Presidente da AJUFE

DOCUMENTO IVb

244

PARECER E VOTO DO DEPUTADO JOSEacute ROBERTO BATOCHIO

(2252002)

PARECER E VOTO DO DEPUTADO JOSEacute ROBERTO BATOCHIO

RELATOR DO PROJETO DE LEI NA CCJR DA CAcircMARA DOS DEPUTADOS

COMISSAtildeO DE CONSTITUiCcedilAtildeO E JUSTiCcedilA E DE REDACcedilAtildeO

PROJETO DE LEI NQ5828 DE 2001

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial e daacute outras providecircncias

Autor Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa

Relator Deputado Joseacute Roberto Batochio

I-RELATOacuteRIO

A presente proposta de autoria da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa

pretende permitir o uso de meio eletrocircnico na comunicaccedilatildeo de atos e na

transmissatildeo de peccedilas processuais tais como peticcedilotildees recursos cartas

precatoacuterias etc desde que os interessados se credenciem junto aos oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio

Determina que pessoas de direito puacuteblico oacutergatildeos da administraccedilatildeo Direta e

indireta e suas representaccedilotildees judiciais disponibilizemem cento e vinte dias da

publicaccedilatildeo desta lei serviccedilo de recebimento e envio de comunicaccedilotildees de atos

judiciais por meio eletrocircnico excetuado os Municiacutepios que natildeo possuam

condiccedilotildees teacutecnicas de implementaccedilatildeo de sistemas eletrocircnicos

Assegura a requisiccedilatildeo por parte de juiacutezes e tribunais de dados constantes de

cadastros puacuteblicos essenciais ao desempenho de suas atividades

A esta Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Redaccedilatildeo compete analisar a

proposta sob os aspectos de constitucionalidade juridicidade teacutecnica

legislativa e meacuterito sendo a apreciaccedilatildeo final do Plenaacuterio da Casa

245

Eacute o Relatoacuterio

11-VOTO DO RELATOR

Natildeo vislumbramos na Proposiccedilatildeo viacutecios de natureza constitucional de

juridicidade ou de teacutecnica legislativa

Natildeo se ignora que a competecircncia para iniciar leis que digam respeito a estas

entidades puacuteblicas a teor do art 61 de nossa Carta Magna eacute privativa do

Presidente da Repuacuteblica natildeo cabendo nem mesmo agrave iniciativa popular ferir a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Dispotildee este artigo

Arf 61 A iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer

membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do

Congresso Nacional ao Presidente da Repuacuteblica ao Supremo Tribunal

Federalaos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos

cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo

sect1g ndashSatildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que

I -fixem ou modifiquem os efetivos das Forccedilas Armadas

1-disponham sobre

e) criaccedilatildeo e extinccedilatildeo de Ministeacuterios e oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica

observado o disposto no arf 84 VI

No entantoo projeto natildeo pressupotildee a criaccedilatildeo de quaisquer oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica bastando que as pessoas de direito puacuteblico abram canal

de recepccedilatildeo no sistema informatizado de que jaacute dispotildeem natildeo haacute cogitar por

conseguintede qualquer mossa ao Texto Magno

No meacuterito merece acolhida a Proposiccedilatildeo

Eis que eacute oportuna e conveniente moderniza a tramitaccedilatildeo processual imprime

celeridade dessacraliza o processo sem ferir os direitos e garantias das

partes

246

A adoccedilatildeo de meios eletrocircnicos traraacute indubitavelmente ateacute mesmo maior

conforto para os advogados e para as partes uma vez que natildeo mais

precisaratildeo deslocar-se ateacute o tribunal para aforar peticcedilotildees recursos etc

Assim nosso voto eacute pela constitucionalidade juridicidade boa teacutecnica

legislativa e no meacuterito pela aprovaccedilatildeo do Projeto de Lei no5828 de 2001

Sala da Comissatildeo em de de 2002

Deputado Joseacute Roberto Batochio

Relator

DOCUMENTO IVc

JUSTIFICACcedilAtildeO DO PROJETO DE LEI NO58282001 ndash DEPUTADA LUIZA

ERUNDINA

247

PROJETO DE LEI No5828 DE 2001

Aprovado na Cacircmara dos Deputados e Justificaccedilatildeo

(DA COMISSAtildeO DE LEGISLACcedilAtildeO PARTICIPATIVA)

(SUGESTAtildeO No012001 -da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil -

AJUFE)

Deputada Luiza Erundina de Souza

Presidente

JUSTIFICACcedilAtildeO

Quando se trata da questatildeo judiciaacuteria no Brasil eacute consenso que os mais graves

problemas se situam no terreno da velocidade com que o cidadatildeo recebe a

resposta final agrave sua demanda A morosidade eacute sem duacutevida o principal fato

gerador de insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo judiciaacuterio como revelam todas as

pesquisas realizadas sobre o assunto Em 1993 em pesquisa de opiniatildeo

coordenada pelo IBOPE foi proposta a seguinte afirmaccedilatildeoO problema do

Brasil natildeo estaacute nas leis mas na Justiccedila que eacute muito lenta Dos entrevistados

87 consignaram suas concordacircncias 8 discordaram e5 natildeosouberam

responderJaacute em 1999 o jornal O Estado de Satildeo Paulo108chegou a iacutendices

ainda mais elevados 92 consideraram a Justiccedila muito lenta

Avaliaccedilotildees setoriais confirmam este diagnoacutestico a exemplo da procedida pelo

IDESP junto a empresas estabelecidas no Brasil Convidando-se estas a se

108 MARQUES Hugo 92 dos brasileiros consideram a JJsticcedilalenta OEstado de Satildeo

Paulo Satildeo Paulo 24 mar 1999

248

pronunciarem acerca de trecircs atributos do Judiciaacuterio nacional (agilidade

imparcialidade custos) os seguintes resultados foram alcanccedilados109

Como se constata no que tange agrave imparcialidade e custos a soma dos

conceitos oacutetimo bom e regular equivale respectivamente a 705 e

538 Jaacute no tocante agrave agilidade representa somente 103

A morosidade transformou-se em consenso absoluto inclusive entre os juiacutezes

Pesquisafeitaem1995peloConselho da JusticcedilaFederal concluiu que 9912 dos

magistrados federais viam o referido atributo como o principal problema desse

ramo do Judiciaacuterio110

Instados pelo IDESPno ano de 2000 a se pronunciarem sobre a relevacircncia

de fatores responsaacuteveis pela morosidade da Justiccedila os juiacutezes

responderam111

109 PINHEIROArmandoCastelar(org)JudiciaacuterioeEconomianoBrasilSatildeoPauloEditora

Sumareacute 2000 p 77

110 NUNES Eunice Pesquisa feita entre juizes revela ineficiecircncia da Justiccedila Folha de

Satildeo Paulo Satildeo Paulo 24 fev 1996 Caderno cotidiano p02

111 PINHEIRO Armando Castelar deg Judiciaacuterio e a Economia na Visatildeo dos

Magistrados Satildeo Paulo IDESP2001 p 4-5

249

Como se constataa soma dos juiacutezes que consideram a falta de

INFORMATIZACcedilAtildeO um fator muito importanteou importante alcanccedila 92

Evidentemente a informatizaccedilatildeo aqui natildeo se refere somente agrave aquisiccedilatildeo de

computadores para utilizaccedilatildeo como substitutos mais eficientes das velhas

maacutequinas de datilografia Aliaacutes este processo de substituiccedilatildeo jaacute se encontra

concluiacutedo na imensa maioria das unidades jurisdicionais existentes no paiacutes Eacute

necessaacuterio agora -simultaneamente ao teacutermino desta fase de aquisiccedilatildeo de

equipamentos nas unidades restantes -avanccedilar em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo de

todos os atores que inteNecircm em um processo judicial (VarasMinisteacuterio Puacuteblico

Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de Advocacia) de modo a que crescentemente

os procedimentos judiciais utilizem ao maacuteximo os avanccedilos tecnoloacutegicos

disponiacuteveis

O Congresso Nacional tem buscado trilhar este caminho Considere-se por

exemplo o que dispotildee a Lei ndeg 980099

Art 1degEacute permitida agraves partes a utilizaccedilatildeo de sistema de transmissatildeo de dados e

imagens tipo fac-siacutemile ou outro similar para a praacutetica de atos processuais que

dependam de peticcedilatildeo escrita

Art2deg A utilizaccedilatildeo de sistema de transmissatildeo de dados e imagens natildeo

prejudica o cumprimento dos prazos devendo os originais ser entregues em

juiacutezo necessariamente ateacute cinco dias da data de seu teacutermino

Paraacutegrafo uacutenico Nos atos natildeo sujeitos a prazo os originais deveratildeo ser

entregues necessariamente ateacute cinco dias da data da recepccedilatildeo do material

250

Constata-secom a leitura destes dispositivosque ndashnatildeo obstante a sua

importacircncia -tal diploma legal ainda exige a ratificaccedilatildeo dos atos processuais

praticados por fax com a utilizaccedilatildeo demeacutetodos tradicionaiso que certamente

diminui o seu impacto positivo no tocante agrave agilizaccedilatildeo dos processos judiciais

Recentemente a Lei ndeg102592001 que versa sobre os Juizados Especiais

Federais albergou relevante regra assim escrita

Art 8deg As partes seratildeo intimadas da sentenccedila quando natildeo proferida esta na

audiecircncia em que estiver presente seu representantepor ARMP (aviso de

recebimento em matildeo proacutepria)

sect 1Q As demais intimaccedilotildees das partes seratildeo feitas na pessoa dos advogados

ou dos Procuradores que oficiem nos respectivos autos pessoalmente ou por

via postal

sect 2QOS tribunais poderatildeo organizar serviccedilo de intimaccedilatildeo das partes e de

recepccedilatildeo de peticcedilotildees por meio eletrocircnico

O projeto ora apresentado visa evoluir na vereda inaugurada pelas leis

mencionadas regulando plenamente a informatizaccedilatildeo dos procedimentos

judiciais afastando duacutevidas acerca da validade de atos processuais assim

praticados A este propoacutesito pertinente mencionar que muitos juiacutezes e

Tribunais - mesmo sem a existecircncia de lei expressa -jaacute vecircm adotando alguns

dos caminhos insertos no projeto sempre com excelentes resultados

Destaque-se que a presente proposiccedilatildeo natildeo se confunde com o PL ndeg 365500

recentemente aprovado pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila da Cacircmara o

qual indubitavelmente representa significativo aperfeiccediloamento da citada Lei ndeg

980099 - natildeo alterando contudo a sistemaacutetica de ratificaccedilatildeo nela contida

Frise-se que os benefiacutecios do projeto poderatildeo ser extraiacutedos amplamente na

medida em que se cuida integralmente da comunicaccedilatildeo entre o Poder

Judiciaacuterio e os demais agentes que pCcedilirticipam da atuaccedilatildeo jurisdicional

O projeto natildeo elimina a possibilidade de as partes se manifestarem pelos

meacutetodos convencionais a fim de levar em conta as necessidades de

251

profissionais regiotildees eou segmentos que -por diferentes motivos natildeo

disponham dos equipamentos necessaacuter10s

Finalmente merece ser destacado o grande benefiacutecio que a meacutedio prazo o

projeto traraacute ao Eraacuterio seja com a diminuiccedilatildeo de gastos seja com a melhoria

do funcionamento do sistema econocircmico em razatildeo da maior eficiecircncia do

serviccedilo jurisdicional

252

DOCUMENTO IVd

NOTA OFICIAL DE 19602

Brasiacutelia 19 de junho de 2002

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial

Reaccedilatildeo da OAB eacute corporativa e medo do novo rebate Ajufe o presidente da

Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil (Ajufe) juiz Paulo Seacutergio Domingues

rebateu enfaticamente a nota divulgada ontem pelo presidente da Comissatildeo de

Informaacutetica da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Satildeo Paulo Marcos

da Costa apontando equiacutevocos juriacutedicos e tecnoloacutegicos no Projeto de

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial apresentado pela Ajufe ao Congresso O

projeto de lei que regulamenta a transferecircncia de informaccedilotildees judiciais por

meio eletrocircnico foi aprovado na iacutentegra e por unanimidade no uacuteltimo dia 11

pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo (CCJ-R) da Cacircmara dos

Deputados Infelizmente o corporativismo estaacute impedindo uma anaacutelise mais

global e cuidadosa da nossa proposta lamentou

Para Dominguesa resistecircncia ao projeto eacute injustificadaEacute o medo do novo

apresentando-se como desculpa para impedir a evoluccedilatildeo da Justiccedila Isso nos

espanta especialmente num~ eacutepoca de criacuteticas agrave morosidade do Judiciaacuterio

quando imagina-seque os advogados apoiem a busca de soluccedilotildees Aliaacutes a

criacutetica da OABSP eacute a uacutenica que se viu ateacute o momento destacou Segundo o

presidente da Ajufe o projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial natildeo

representa qualquer violaccedilatildeo agrave autonomia do advogado nem riscos agrave

seguranccedila juriacutedica como acusa a OAB O credenciamento dos profissionais

junto aos tribunais natildeo tem a funccedilatildeo de autorizar o advogado a exercer a

profissatildeo mas apenas de autorizaacute-lo a utilizar o meio eletrocircnico para receber

intimaccedilotildees e enviar peticcedilotildees esclarece Este credenciamento aponta

Domingues natildeo favorece o exerciacutecio ilegal da profissatildeo ou a atuaccedilatildeo de

profissionais excluiacutedos dos quadros da entidade Ao contraacuterio ele permite aos

tribunais -que satildeo os responsaacuteveis na praacutetica pelo impedimento do exerciacutecio

253

ilegal da profissatildeo -atualizar com maior agilidade seus cadastros de advogados

temporariamente impedidos de advogar ou excluiacutedos da OAB Eacute um fator de

proteccedilatildeo agrave categoria

A criacutetica ao uso de senhas para acessar as informaccedilotildees juriacutedicas por meio

eletrocircnico eacute outro equiacutevoco da OAB entende o presidente da Ajufe Satildeo

criacuteticas de quem natildeo leu ou natildeo entendeu o projeto pois sua grande virtude eacute

que ele eacute aberto ou seja natildeo adota expressamente esta ou aquela tecnologia

mas permite que os tribunais conforme for evoluindo a informaacutetica adotem as

novas teacutecnicas explica

De acordo com Domingues a proposta da Ajufe natildeo elege expressamente o

sistema de senhas ou assinatura eletrocircnica para a comprovaccedilatildeo de envio e

recebimento eletrocircnico de documentos Poreacutem ainda que fosse adotada essa

metodologia natildeo haveria impedimentos pois eacute a exigecircncia baacutesica atualmente

para acessar qualquer serviccedilo eletrocircnico de bancos a livrarias virtuais O

sistema de assinatura eletrocircnica eacute tecnologia de ponta e pode vir a ser

adotado mas o projeto de lei da Ajufe teve o cuidado de natildeo especificar esses

detalhes operacionais no texto deixando a discussatildeo para a fase de

implementaccedilatildeo da leienfatizaPreviacuteamosjustamenteque tecnologias mais

avanccediladas iratildeo surgir A ideia foi redigir uma legislaccedilatildeo que permitisse

acompanhar essa evoluccedilatildeo sem a necessidade de se criar novas leis a cada

mudanccedila de metodologia

Quanto agrave seguranccedila do meio eletrocircnico Domingues lembra agrave OABSP que o

sistema informaacutetico eacute muito mais seguro que o atual Ou seraacute que ela imagina

que um falso advogado tenhaacute mais dificuldade em falsificar um papel timbrado

e uma assinatura em peticcedilatildeo convencional do que em fraudar todo um sistema

de seguranccedila eletrocircnico que permite inclusive o rastreamento do autor de

eventuais tentativas de fraude

254

DOCUMENTO IVe

NOTIacuteCIA DE 682002

INFORMATIZACcedilAtildeO AJUFE VAI LUTAR PELO PROJETO ORIGINAL

A Ajufe louva a rapidez com que o projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial de

sua autoriavem tramitando no Senado -aprovado no Plenaacuterio da Cacircmara dos

Deputados no uacuteltimo dia 19 de junho o projeto foi remetido jaacute no dia 26 ao Senado e

jaacute tem parecer do relator na Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila (CCJ) senador

Osmar Dias O senador emitiu parecer favoraacutevel ao projeto soacute que com substitutivo o

que significa mudanccedila em vaacuterios pontos da proposta original da AJUFE

O presidente da Ajufe juiz Paulo Seacutergio Domingues anunciou que pretende lutar pela

retomada do texto original do projeto jaacute que o tracircmite no Senado estaacute apenas

comeccedilando

Segundo Domingues as modificaccedilotildees propostas pelo senador geram o risco de

inviabilizar a implantaccedilatildeo da lei no curto prazo porque a imposiccedilatildeo de se adotar um

sistema nacional de chaves puacuteblicas e privadas formado por uma rede de empresas

certificadoras significa que a informatizaccedilatildeo do processo judicial soacute viraacute a ser

promovida quando implantado esse sistema de chaves no BrasilEacute um processo

complexo oneroso e muito demorado que natildeo tem data para ser implantando

lembra o presidente da Ajufe

Domingues tambeacutem argumenta que essa imposiccedilatildeo pela tecnologia de Chaves

puacuteblicas e privadas engessa o sistema de informatizaccedilatildeo Se o substitutivo passar

como estaacute seraacute necessaacuteria uma nova lei a cada nova tecnologia que for surgindo na

aacuterea e eacute justamente isso que a Ajufe procurou evitar em seu texto detalha o juiz

Revista Consultor Juriacutedico 6 de agosto de 2002

255

DOCUMENTO IVf

CARTA ABERTA IJURIS

TECNOLOGIA DA INFORMACAO JURIacuteDICA SOCIEDADE DA INFORMACcedilAtildeO E

GOVERNO ELETROcircNICO

wwwiiurisorg

Assunto Regulamentaccedilatildeo de procedimentos digitais

O domiacutenio de tecnologias inovadoras eacute um poderoso instrumento da soberania de uma

naccedilatildeo Com base nesta preocupaccedilatildeo o Ijuris Instituto Juriacutedico de Inteligecircncia e

Sistemas -vem estudando o fluxo de criaccedilatildeo de padrotildees tecnoloacutegicos para as

atividades puacuteblicas brasileiras e lanccedila a puacuteblico esta carta aberta

O cenaacuterio mundial apresenta atualmente diversas iniciativas de fixaccedilatildeo de padrotildees e

paracircmetros para a construccedilatildeo de modelos tecnoloacutegicos os quais diante da sua

crescente relevacircncia teratildeo longevidade prolongada na futura historia da humanidade

Diversos paises blocos de interesse conglomerados produtivos e associaccedilotildees

internacionais tecircm dedicado significativa parcela de suas preocupaccedilotildees traccedilando

estrateacutegias para delimitar referecircncias de padronizaccedilatildeo as quais vatildeo traccedilar o rumo de

muitas atividades produtivas orgacircnicas e governamentais

A sociedade brasileira estaacute proacutexima de receber uma grande inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

geradora de procedimentos que vatildeo incrementar a cidadania Trata-se da construccedilatildeo

eletrocircnica dos processos judiciais e procedimentos administrativosEste tema vem

despertando a atenccedilatildeo de importantes setores governamentais e produtivos do Brasil

Exatamente neste momento alguns pontos diretamente ligados a este assunto estatildeo

em discussatildeo no Congresso Nacional com adiantados encaminhamentos focados

exatamente na fixaccedilatildeo de padrotildees e paracircmetros tecnoloacutegicos

Diante deste contexto eacute importante destacar as seguintes diretrizes

1) Os paracircmetros a serem estabelecidos devem contemplar a diversidade tecnoloacutegica

2) A nova legislaccedilatildeo deve atender aos propoacutesitos da descentralizaccedilatildeo e da autonomia

3)No plano legala especificidade sobre requisitos teacutecnicos deve ser miacutenima e

geneacuterica

256

4) O modelo de custeio da implementaccedilatildeo das medidas deve permitir o alinhamento

de interesses entre instituiccedilotildees puacuteblicasempresas privadas instituiccedilotildees de pesquisa e

entidades educacionais comprometidas coma evoluccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica e

interessadas no desenvolvimento de sistemas que gerem o fortalecimento da

soberania e da cidadania

5) Todos os mecanismos devem ensejar agilidade e facilidade no acesso agrave

informaccedilatildeo

6) Os mecamismos regulatoacuterios e fiscalizatoacuterios devem adquirir uma modelagem

voltada agrave pluralidade dos segmentos da sociedade civil envolvidos no cenaacuterio juriacutedico

e tecnoloacutegico

7) O detalhismo natildeo pode se transformar em uma forma de geraccedilatildeo de dificuldades

procedimentais ou propiciar um panorama estaacutetico que dificulte a incorporaccedilatildeo de

futuras inovaccedilotildees

Para isto eacute fundamental que a lei processual apenas autorize a utilizaccedilatildeo de meios

eletrocircnicos na praacutetica de atos processuais e procedimentais e disponha sobre os

requisitos miacutenimos de seguranccedila no tracircnsito de documentos e informaccedilotildees

Eacute importante lembrar que existem fortes atenccedilotildees internacionais voltadas para a

fixaccedilatildeo de padrotildees tecnoloacutegicos nos paiacuteses emergentes e a criptografia e os padrotildees

eletrocircnicos de fluxo de documentos satildeo assuntos de interesse direto das

superpotecircncias mundiais

Adotando tais diretrizes estaremos incrementando nossa caminhada rumo ao

fortalecimento da cidadania digital

Florianoacutepolis22082002

Hugo Cesar Hoeschl Dr

Pesquisador do Ijuris

metaiurepsufscbr

wwwdigestonetcurriculo

Tacircnia Cristina DAgostini Bueno Msc

Pesquisadora do Ijuris

taniaijurisorg

257

DOCUMENTO V

Informaccedilotildees Processuais

Existem atalhos para consultas processuais na paacutegina do TRF3ordf R Obs Somente para navegadores Internet Explorer

Digite a tecla

Para consulta processual da Primeira Instacircncia - Justiccedila Federal SPMS

Para consulta processual aqui na Segunda Instacircncia - TRF3ordf R

Para consulta processual do Juizado Especial Federal - Revisatildeo de Aposentadoria

O que vocecirc deseja

Consultar Processo na 1ordf Instacircncia Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul

Consultar Processo no TRF 3ordf Regiatildeo

Consultar Processo no Juizado Especial Federal - SatildeoPaulo

Consultar Processo no Juizado Especial Federal - Campo Grande

Sistema Push do TRF3ordf Regiatildeo

Sistema Push da Justiccedila Federal de Satildeo Paulo

Consultar Acoacuterdatildeos

Peticcedilotildees Eletrocircnicas

CPF

Senha

Avanccedilar

Caso vocecirc ainda natildeo tenha se cadastrado clique aqui

Caso vocecirc tenha esquecido sua senha clique aqui

JUIZADO ESPECIAL FEDERAL PABX(11) 3254-1499 FAX (11) 3254-1495

httpwwwtrf3jusbr Acesso em 20112007

258

  • TEXTO JURIacuteDICO E PROCEDIMENTOS DE REFORMULACcedilAtildeO DISCURSIVA
  • AGRADECIMENTOS
  • RESUMO
  • ABSTRACT
  • REacuteSUMEacute
  • SUMAacuteRIO
  • INTRODUCcedilAtildeO
  • CAPIacuteTULO 1 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO HISTOacuteRICA
  • CAPITULO 2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
    • 21 Textos juriacutedicos e a Teoria da Enunciaccedilatildeo enunciado enunciador e contexto da enunciaccedilatildeo
    • 22 O dialogismo e a polifonia nos textos juriacutedicos
    • 23 A Retoacuterica e a Teoria da argumentaccedilatildeo a formaccedilatildeo do logos do ethos e a influecircncia do local
      • 231 A formaccedilatildeo do ethos
      • 232 O papel do local
      • 233 O auditoacuterio
      • 234 O ethos e o logos
        • 24 A reformulaccedilatildeo na liacutengua e no discurso juriacutedico
          • 241 Do ponto de vista linguiacutestico
          • 242 A reformulaccedilatildeo no direito empreacutestimo ldquotransplantrdquo ldquocirculationrdquo
          • 243 Liacutenguas diferentes culturas diferentes
          • 244 Reformulaccedilatildeo e mecanismos de substituiccedilatildeo
              • CAPITULO 3 O DISCURSO JURIacuteDICO
                • 31 Definiccedilatildeo
                • 32 Classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos no Direito
                • 33 Contexto o sistema juriacutedico brasileiro
                • 34 Metodologia das anaacutelises textos de lei
                • 35 Anaacutelise dos textos de lei
                  • 351 A Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (DDHC 1789)13
                  • 352 A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (DUDH 1948)
                  • 353 A Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF1988) Preacircmbulo e artigo 5deg LXXVIII
                  • 354 A lei 114192006 a lei de informatizaccedilatildeo judicial
                    • 36 Anaacutelise de outros textos
                      • 361 Voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio
                      • 362 Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada Luiza Erundina
                      • 363 Nota Oficial
                        • 37Resultado das anaacutelises
                          • CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
                          • REFEREcircNCIAS
                          • ANEXOS
Page 2: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses

2

CLAacuteUDIA OZON CALDO

TEXTO JURIacuteDICO E PROCEDIMENTOS DE REFORMULACcedilAtildeO

DISCURSIVA

Tese apresentada ao

Departamento de Letras

Modernas da Faculdade de

Filosofia Letras e Ciecircncias

Humanas da Universidade de

Satildeo Paulo para obtenccedilatildeo do

tiacutetulo de Doutor em Letras

Versatildeo corrigida

Aacuterea de Concentraccedilatildeo

Estudos Linguiacutesticos Literaacuterios e

Tradutoloacutegicos em Francecircs

Orientadora

Profa Dra Tokiko Ishihara

Satildeo Paulo

2013

3

OZON CALDO Claacuteudia TEXTO JURIacuteDICO E PROCEDIMENTOS DE

REFORMULACcedilAtildeO DISCURSIVA Tese apresentada ao Departamento de

Letras Modernas da Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da

Universidade de Satildeo Paulo para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em Letras

Aprovada em

Banca Examinadora

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento _________________________ Assinatura __________________

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento __________________________Assinatura _________________

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento __________________________Assinatura _________________

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento _________________________ Assinatura __________________

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento _________________________ Assinatura __________________

4

A todos aqueles que acreditaram e me

auxiliaram a realizar este trabalho

5

AGRADECIMENTOS Aos meus avoacutes Adolpho e Augusta (in memoriam) que desde pequena me

incentivaram nos estudos

Aos meus pais Gustavo e Cleacutea pelo exemplo de vida que me proporcionaram

Agrave minha filha Ana Laura que soube compreender a importacircncia de minhas

escolhas

Aos amigos que incentivaram minha pesquisa

Agrave minha orientadora Tokiko Ishihara que sempre me incentivou mostrou os

caminhos a serem seguidos acreditou no desafio proposto e fez despontar a

minha capacidade

Ao professor Paulo Seacutergio Domingues que sempre participou das minhas

descobertas e se dispocircs a colaborar

A todos os meus professores da poacutes-graduaccedilatildeo que me apontaram percursos

e permitiram importantes trocas intelectuais

Aos funcionaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo

6

La science consiste agrave passer dun

eacutetonnement agrave un autre

Aristote

7

RESUMO

Este trabalho realizado na Aacuterea de Estudos Linguiacutesticos Literaacuterios e

Tradutoloacutegicos de Francecircs do Departamento de Letras Modernas da

FFLCHUSP se situa na intersecccedilatildeo do Direito e das Ciecircncias da Linguagem

numa perspectiva multi e interdisciplinar do discurso juriacutedico

O corpus formado por textos juriacutedicos em liacutengua francesa e portuguesa

(brasileira) tem como objeto de estudo o discurso juriacutedico Nele conceitos de

direito foram ao longo do tempo modificados e integrados agraves praacuteticas sociais

O meacutetodo comparativo foi o escolhido para melhor examinar as

transformaccedilotildees

No primeiro texto escolhido pela sua importacircncia histoacuterica a Declaraccedilatildeo

de Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Franccedila 1789) surgem os conceitos de

ldquohomemrdquo ldquoigualdaderdquo e ldquoliberdaderdquo Esses mesmos conceitos reaparecem na

Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (ONU 1948) em que direitos

mais explicitados conferem maior proteccedilatildeo ao homem O terceiro documento a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Brasil 1988) detalha no seu

artigo 5deg todos os direitos conferidos ao homem do seacuteculo XX conceitos que

ressurgem impliacutecitos na lei sobre a Informatizaccedilatildeo dos Processos Judiciais

(Brasil lei 114192006)

A partir da observaccedilatildeo desses documentos levanta-se a hipoacutetese de que

os conceitos apresentados de ldquohomemrdquo ldquoliberdaderdquo ldquoigualdaderdquo e de ldquojusticcedilardquo

natildeo satildeo os mesmos presentes no primeiro documento o que evidencia uma

evoluccedilatildeo soacutecio-histoacuterico-linguiacutestico-discursiva A reformulaccedilatildeo ocasiona

inclusive um apagamento de conceito Dessa forma o liame que une os

documentos eacute resultante de um processo

As noccedilotildees de polifonia e de dialogismo emprestados da Anaacutelise do

Discurso satildeo desenvolvidos a partir dos estudos bakhtinianos e dos

procedimentos argumentativos da retoacuterica renovada por Perelman bem como

das reformulaccedilotildees discursivas implicadas

8

No primeiro capiacutetulo os documentos satildeo contextualizados

historicamente a fim de que se possa entender seu surgimento O segundo

teoacuterico verifica a presenccedila da Teoria da Enunciaccedilatildeo e dos conceitos de

auditoacuterio ethos e logos integrantes da Teoria da Argumentaccedilatildeo Do ponto de

vista linguiacutestico-discursivo o que se valoriza satildeo as reformulaccedilotildees como

ferramentas dessas alteraccedilotildees Ressalta-se que tais transformaccedilotildees tecem-se

a partir das relaccedilotildees entre a Liacutengua e o Direito Os conceitos de ldquotransplantrdquo

ldquocirculation juridiquerdquo e ldquoempreacutestimordquo propostos pelo Direito Comparado

consideram as diferenccedilas entre as liacutenguas e as culturas francesa e brasileira O

terceiro capiacutetulo trata do discurso juriacutedico e de uma proposta de classificaccedilatildeo

dos diferentes textos em subgecircneros a partir de seu objetivo e local de

produccedilatildeo

O resultado das anaacutelises revela que o decurso do tempo provoca a

evoluccedilatildeo dos conceitos de ldquohomemrdquo ldquoliberdaderdquo ldquoigualdaderdquo e ldquojusticcedilardquo a

ponto de sua existecircncia material no texto escrito permitir seu apagamento

passando de concreta agrave abstrata jaacute que implicitamente eacute o conteuacutedo que

justifica a proposiccedilatildeo e a publicaccedilatildeo da lei Informatizaccedilatildeo dos Processos

Judiciais

PALAVRAS-CHAVE classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos discurso juriacutedico

enunciaccedilatildeo ethos reformulaccedilatildeo

9

ABSTRACT

This following thesis developed in the French Linguistic Literary and

Translation area of the Modern Language Department FFLCH USP lies in the

intersection of Law and Language Sciences

The corpus composed of legal texts in French and Portuguese (Brazilian)

has as its object of study of the legal discourse in which the concepts of law

over time have been modified and integrated with social practices The

comparative method was chosen to better examine these transformations

The first text chosen for its historical significance the Declaration of

Rights of Man and of the Citizen (1789 France) bring to the light the concepts

of man equality and freedom These same concepts reappear in the

Universal Declaration of Human Rights (UN 1948) in which most rights

specified give greater protection to the man The third document the

Constitution of the Federative Republic of Brazil (Brazil 1988) explains in its

5th article all rights granted to man of the 20th century concepts which

reappear implicit in the Law on the Informatized System of the Judicial Process

(Brazil law 114192006)

The observation of these documents raises the hypothesis that the

concepts presented man freedom equality and justice are not the same

in the first document which highlights a socio-historical-linguistic evolution-

discursive The reformulation causes also an erase of concept In this way the

link that connects the documents is the result of a process The concepts of

polyphony and dialogism borrowed from Discourse Analysis are developed from

Bakthinrsquos studies and procedures of argumentative renewed Rhetoric by

Perelman as well as discursives involved

In the first chapter documents are historically contextualized in order to

permit their understanding and emergence In the second chapter theoretical

the Enunciation Theory and the concepts of dialogism and polyphony are noted

in texts as well as the concepts of the Auditorium ethos and logos from the

10

Theory of Argumentation In the aspect of Linguistically-discursive cases the

reformulations are the tools of these changes It should be noted that such

transformations weave from relations between the Languag and the Law The

concepts of transplant circulation juridique and borrowing proposed by the

Comparative Law consider the differences between the French and Brazilian

languages and cultures The third chapter treat the legal discourse and

propose a classification for texts in different sub-genres from its goal and

production site

The result of the analysis prove that the course of time causes the evolution of

the concepts of man freedom equality and justice to the point that it

may even result in the erasure of his material existence in the written text

ranging from concret to abstract since its content appears implicitly in the

proposition and the publication of Law on the Informatized System of the

Judicial Process

KEYWORDS classification of legal texts legal discourse enunciation ethos

reformulation

11

REacuteSUMEacute

Cette eacutetude reacutealiseacutee dans la chaire drsquoEacutetudes Linguistiques Litteacuteraires et

Traduction en Franccedilais du Deacutepartement de Lettres Modernes FFLCH USP se

situe dans lintersection du Droit et de Sciences du Langage dans une

perspective multi et interdisciplinaire du discours juridique

Le corpus composeacute par des textes juridiques en langue franccedilaise et

portugaise (breacutesilienne) a comme objet drsquoeacutetude le discours juridique ougrave les

concepts de droit au fil du temps ont eacuteteacute modifieacutes et inteacutegreacutes aux pratiques

sociales La meacutethode comparative a eacuteteacute choisie pour mieux examiner ces

transformations

Le premier texte drsquoune grande importance historique la Deacuteclaration des

Droits de lHomme et du Citoyen (France 1789) reacutevegravele les concepts de

laquolhommeraquo laquoeacutegaliteacuteraquo et laquoliberteacuteraquo Ces mecircmes concepts reacuteapparaissent dans la

Deacuteclaration Universelle des Droits de lHomme (ONU 1948) dans laquelle des

droits plus explicites confegraverent une plus grande protection agrave lhomme Le

troisiegraveme document la Constitution de la Reacutepublique Feacutedeacuterative du Breacutesil

(Breacutesil 1988) deacutetaille dans son article 5 tous les droits accordeacutes agrave lhomme du

XXe siegravecle concepts qui deviennent implicites dans la loi sur lInformatisation

des Proceacutedures Judiciaires (Breacutesil Lei 11419 2006)

Agrave partir de lobservation de ces documents on souleacuteve lhypothegravese selon

laquelle les concepts laquohommeraquo laquoliberteacuteraquo laquoeacutegaliteacuteraquo et laquojusticeraquo ne sont pas les

mecircmes preacutesenteacutes dans le premier document ce qui teacutemoigne une eacutevolution

socio-historique-linguistique-discursive La reformulation provoque encore

lrsquoeffacement du concept Ainsi le lien qui relie ces documents est le reacutesultat dun

processus

Les notions de polyphonie et de dialogisme emprunteacutes de lrsquoAnalyse du

Discours sont deacuteveloppeacutes agrave partir des eacutetudes bakhtiniennes et des proceacutedures

12

argumentatives de la Rheacutetorique renouveleacutee par Perelman et aussi des

reformulations discursives impliqueacutees

Dans le premier chapitre les documents sont examineacutes dans leurs

contextes historiques afin de pouvoir comprendre leur parution Dans le

deuxiegraveme theacuteorique on veacuterifie la preacutesence de la Theacuteorie de lArgumentation

dans les textes et des concepts dauditoire dethos et de logos de la Theacuteorie de

lrsquoArgumentation Du point de vue linguistique-discursif les reformulations sont

les outils qui permettent ces changements Il faut remarquer que ces

transformations tissent les rapports entre la langue et le droit Les concepts de

transplant circulation juridique et emprunt proposeacutes par le Droit Compareacute

prennent en compte les diffeacuterences entre les langues et les cultures franccedilaise et

breacutesilienne Le troisiegraveme chapitre srsquooccupe du discours juridique et propose une

classification de textes dans diffeacuterents sous-genres drsquoapregraves leur but et leur lieu

de production

Le reacutesultat de lanalyse reacutevegravele que le passage du temps provoque

leacutevolution des concepts drsquolaquohommeraquo de laquoliberteacuteraquo dlsquolaquoeacutegaliteacuteraquo et de laquojusticeraquo et

peut mecircme aboutir dans leur effacement ai sein du texte eacutecrit allant du concret

agrave labstrait puisque son contenu apparaicirct implicitement dans la proposition et

dans la publication de la loi de lrsquoInformatisation des Proceacutedures Judiciaires

MOTS-CLEacuteS classification des textes juridiques discours juridique

eacutenonciation ethos reformulation

13

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO15

CAPIacuteTULO 1 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO HISTOacuteRICA20

CAPIacuteTULO 2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA35

2 1 Texto juriacutedico e teoria da enunciaccedilatildeo35

22 Dialogismo e polifonia nos textos juriacutedicos40

23 Retoacuterica e a Teoria da argumentaccedilatildeo58

231 A formaccedilatildeo do ethos61

232 O papel do local 67

233 O auditoacuterio72

234 O ethos e o logos75

24 A reformulaccedilatildeo na liacutengua e no discurso juriacutedico83

241 Do ponto de vista linguiacutestico84

242 A reformulaccedilatildeo no direito empreacutestimo ldquotransplantrdquo

ldquocirculationrdquo87

243 Liacutenguas diferentes culturas diferentes94

244 Reformulaccedilatildeo e mecanismos de substituiccedilatildeo97

CAPIacuteTULO 3 O DISCURSO JURIacuteDICO100

31 Definiccedilatildeo100

32 Classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos no Direito 104

33 Contexto o sistema juriacutedico brasileiro109

14

34 Metodologia das anaacutelises textos de lei110

35 Anaacutelise dos textos de lei111

351 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789111

352 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948119

353 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988133

354 Lei 114192006145

36 Anaacutelise de outros textos voto justificaccedilatildeo e nota oficial157

361 Voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio157

362 Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada Luiza

Erundina 163

363 Nota oficial 169

37 Resultado das anaacutelises184

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS188

REFEREcircNCIAS193

ANEXOS204

INTRODUCcedilAtildeO

15

Esta tese se situa na intersecccedilatildeo de duas grandes aacutereas do

conhecimento o Direito e as Ciecircncias da Linguagem e o breve olhar para a

Histoacuteria cumpre aqui apenas uma funccedilatildeo heuriacutestica Os eixos teoacuterico-

metodoloacutegicos foram escolhidos em funccedilatildeo da natureza interdisciplinar se natildeo

multidisciplinar deste estudo

O tema transversal escolhido pela autora se explica pela sua dupla

formaccedilatildeo ndash Direito e Letras-Francecircs e pela sua experiecircncia durante o periacuteodo

de docecircncia Nessa trajetoacuteria a observaccedilatildeo do discurso de especialidade pelos

textos de lei em liacutenguas francesa e portuguesa revelou semelhanccedilas e

dessemelhanccedilas que aparentemente natildeo eram somente de estrutura formal e

cultural mas de ordem linguiacutestica e discursiva

O texto que primeiro foi selecionado para a composiccedilatildeo do corpus foi o

que aparece em uacuteltimo lugar o texto da lei 114192006 (Lei da Informatizaccedilatildeo

do Processo Judicial) Tal texto aparentemente natildeo traz nenhuma referecircncia

ao texto ao qual estaacute intrinsecamente ligado o primeiro texto do corpus a

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo francesa de 1789 Todavia a

lei 114192006 assegura direitos decorrentes daqueles previstos na

Declaraccedilatildeo de 1789

Essa observaccedilatildeo levou agrave necessidade de se verificar em um estudo

mais detalhado qual o percurso dos princiacutepios de ldquoigualdade liberdade e

fraternidaderdquo do texto em francecircs de caraacuteter interno (a Declaraccedilatildeo de 1789) ateacute

a lei brasileira atual (114192006) que autoriza a informatizaccedilatildeo dos

processos judiciais

Tais princiacutepios surgem de forma rudimentar apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa

reaparecem no panorama internacional pela Declaraccedilatildeo Universal de Direitos

do Homem de 1948 ressurgem na Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 e acabam

por ecoar no escopo da lei 114192006

Para a realizaccedilatildeo do estudo apresentado julgou-se necessaacuterio analisar

aleacutem dos textos de lei acima mencionados outros textos a eles relacionados

ou seja o voto do deputado responsaacutevel pela aprovaccedilatildeo da lei 114192006 na

16

Cacircmara dos Deputados a justificaccedilatildeo do Projeto de Lei e uma Nota Oficial

publicada pela Associaccedilatildeo de Juiacutezes Federais

A tese tem por isso como objeto o estudo das reformulaccedilotildees linguiacutesticas

e discursivas como fator estruturador do discurso juriacutedico numa tentativa de

mostrar como se daacute o encontro do eu e do outro Os tipos variados de

empreacutestimos se mostram por meio de um mesmo leacutexico ou de construccedilotildees

gramaticais equivalentes mas diferentes Revelam num primeiro momento e

dentro de uma mesma liacutengua alteraccedilotildees linguiacutesticas e de sentido Em outro

momento essas alteraccedilotildees ultrapassam fronteiras e se transpotildeem de uma

liacutengua para a outra isto eacute da liacutengua francesa para a portuguesa de uma

cultura para outra e assim o direito francecircs e o direito brasileiro se conjugam o

primeiro imprime seus traccedilos no segundo

Os objetivos principais dessa pesquisa que percorre 217 anos de

histoacuteria satildeo sobretudo o de verificar a transposiccedilatildeo e a reformulaccedilatildeo do

princiacutepio de Direito agrave justiccedila aleacutem de averiguar se o termo evolui ou apenas se

modifica quando se transpotildee de uma cultura para outra

Isto implica tambeacutem analisar de que forma os termos ou expressotildees

satildeo retomados a partir de um discurso preacute-existente verificar quais os

deslocamentos e alteraccedilotildees de sentidos produzidos e averiguar as respectivas

consequecircncias relativas agrave forma e ao conteuacutedo nos textos

O objetivo especiacutefico da pesquisa eacute mostrar pela anaacutelise dos textos

escolhidos como se estabelecem as relaccedilotildees entre esses diferentes textos

quais satildeo os procedimentos de reformulaccedilatildeo presentes e de que forma o

direito agrave justiccedila se manifesta no escopo da nova lei

A dificuldade encontrada para se descrever e caracterizar o discurso

juriacutedico foi o que determinou a escolha desse objeto de estudo jaacute que os vaacuterios

trabalhos existentes sobre a linguagem juriacutedica tratam sobretudo das relaccedilotildees

do texto juriacutedico com a Semacircntica Alguns deles analisam o discurso sob o

ponto de vista de sua produccedilatildeo e recepccedilatildeo e suas consequentes implicaccedilotildees

sociais poliacuteticas econocircmicas histoacutericas ou ideoloacutegicas Outros na aacuterea

aplicada de liacutengua tratam da questatildeo como discurso de especialidade

O que se pretende mostrar desse modo eacute uma visatildeo do discurso

juriacutedico sincrocircnica e diacrocircnica por meio de uma anaacutelise dos textos que

17

considere a linha do tempo em relaccedilatildeo aos termos empregados sua evoluccedilatildeo

e os sentidos no uso do mesmo termo em uma uacutenica ou em duas liacutenguas

A anaacutelise dessas questotildees considerou um estudo das caracteriacutesticas

formais desses textos o que permitiu a classificaccedilatildeo do gecircnero juriacutedico em

subgecircneros Permitiu tambeacutem tratar da transposiccedilatildeo de conceitos de direito de

uma liacutengua para outra apreciando ainda questotildees culturais

O referencial teoacuterico adotado para estudar esses questionamentos se

apoacuteia nos estudos realizados por Bakhtin relativos agrave caracterizaccedilatildeo do gecircnero

do discurso cujo objetivo eacute determinar a especificidade do discurso juriacutedico e

sustentar a caracterizaccedilatildeo de seus subgecircneros

O arcabouccedilo teoacuterico se apoacuteia tambeacutem nos conceitos de polifonia e

dialogismo realizados por Bakhtin e desenvolvidos por Charaudeau

Maingueneau e Arriveacutee

O estudo destes conceitos conduz agrave origem da produccedilatildeo textual que

aparece como decorrente de praacuteticas sociais habituais conforme aponta

Bourdieu Por muitas vezes os textos satildeo consequentes da atividade juriacutedica

profissional questotildees essas abordadas pela linguiacutestica juriacutedica nos estudos de

Damette e Cornu

Coadjuvante ao referencial bakhtiniano e dos outros acima citados

escolheu-se aprofundar o que Maingueneau esboccedilou nos estudos realizados

em textos de comunicaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao ethos e ao logos dos textos Para

tanto o fundamento teoacuterico escolhido foi o apresentado por Perelman em sua

Teoria da Argumentaccedilatildeo sobretudo em relaccedilatildeo aos fundamentos da formaccedilatildeo

do ethos Associados a esta perspectiva estatildeo os estudos de Plantin e Amossy

sobre a argumentaccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees sobre o universo juriacutedico o trabalho se

fundamenta a partir dos estudos de base sobre o Direito apresentados por

Kelsen Bobbio Perelman e Alves As origens da Declaraccedilatildeo dos Direitos do

Homem foram abordadas a partir das obras de Jellineck Del Vecchio e

Verdoodt Para precisar a evoluccedilatildeo e repercussatildeo desses direitos no Direito

internacional e nacional adotaram-se os estudos realizados por Casella

Dollinger Cretella e Wise

18

A metodologia adotada neste trabalho foi a da comparaccedilatildeo dos textos do

corpus com o objetivo de identificar as categorias presentes dentro de um

mesmo gecircnero o juriacutedico As semelhanccedilas e contrastes entre os textos que

compotildeem o corpus tambeacutem satildeo abordadas a fim de se diferenciar o aspecto

formal de cada um e proceder a uma caracterizaccedilatildeo do discurso juriacutedico

textual

A constituiccedilatildeo do corpus se fez a partir de uma lei bastante inovadora

em relaccedilatildeo agraves praacuteticas juriacutedicas e que tem na sua base mesmo que natildeo se

identifique ao primeiro olhar um dos princiacutepios estabelecidos pela Declaraccedilatildeo

dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo o Direito agrave justiccedila A ela foram

acrescidos outros textos de forma retroativa e natildeo necessariamente de lei

mas ligados agrave sua origem e que satildeo representativos dessa caracteriacutestica

uniacutevoca Conveacutem ressaltar que a anaacutelise seraacute realizada a partir do documento

mais antigo

Paralelamente observou-se que no sistema juriacutedico brasileiro a

Constituiccedilatildeo Federal vigente de 1988 autoriza e eacute a base para a publicaccedilatildeo da

lei 114192006 O artigo 5deg dessa constituiccedilatildeo por sua vez baseia-se no que

estabelece a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo (DDHC) de

1789 elaborada na Franccedila logo apoacutes a Revoluccedilatildeo francesa E a Declaraccedilatildeo

Universal dos Direitos do Homem (DDUH) de 1948 que o Brasil assina como

tratado internacional (em 1948) tambeacutem se inspira na DDHC francesa Esse eacute

o liame que seraacute apontado no conjunto principal de documentos que integram o

corpus

O primeiro texto escolhido o da lei 11419 de 19 de dezembro de 2006

conhecido como a lei de Informatizaccedilatildeo Judicial originou-se de uma proposta

de projeto de lei apresentada em 2001 e foi votado pela Cacircmara dos

Deputados e pelo Senado Durante o periacuteodo de sua votaccedilatildeo a proposta

recebeu criticas positivas e negativas mas finalmente obteve sua aprovaccedilatildeo

A ele foram acrescentados os outros textos de modo que integram o corpus os

seguintes textos

I- Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789 (DDHC)

19

II- Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 (DUDH) em liacutengua

francesa

III- Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF88) Preacircmbulo

e artigo 5ordm

IV- Lei 114192006 sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial (LIPJ)

Textos relativos agrave lei 114192006

a) Apresentaccedilatildeo (do projeto de lei)

b) Parecer e voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio de 2252002

c) Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei nordm 58282001 ndash Deputada Luiza Erundina

d) Nota Oficial de 19602

e) Notiacutecia de 6802

f) Carta Aberta IJURIS

Cumpre observar que a pesquisa dos documentos foi feita ao longo do

periacuteodo de estudos e que nem sempre o acesso dos websites permaneceu

vigente Isso explica que muitos tenham a data de 122012 data em que foram

revisados todos os acessos

20

CAPIacuteTULO 1 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO HISTOacuteRICA

Os textos apresentados no corpus deste trabalho tecircm uma importacircncia

muito grande natildeo soacute na Histoacuteria brasileira mas tambeacutem na Histoacuteria mundial

pois modificam os paradigmas do Direito Satildeo textos que afetam as realidades

francesa brasileira e internacional pois dirigem orientam e alteram o percurso

do paiacutes ou dos paiacuteses envolvidos O objetivo deste panorama eacute contextualizar

a anaacutelise que se faraacute deles posteriormente Seratildeo apresentadas de forma

abreviada as histoacuterias das origens dos seguintes documentos

I Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789 (DDHC)

II Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 (DUDH)

III Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF88)

IV Lei 114192006 sobre a Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial e seus

documentos anexos (LIPJ)

a Apresentaccedilatildeo

b Voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio

c Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282201 - Deputada Luiza

Erundina

d Nota Oficial de 1962002

e Noticia de 682002

f Carta Aberta IJURIS

I A Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

A declaraccedilatildeo eacute um documento que foi produzido logo apoacutes a queda da

Bastilha na Franccedila revolucionaacuteria e seu escopo inicial era o de assegurar que

21

natildeo seria mais possiacutevel que um governo absolutista tomasse o poder e que as

garantias individuais dos cidadatildeos franceses fossem respeitadas

Em 27 de julho de 1789 foram abertos os debates na Assembleia

Nacional para a elaboraccedilatildeo de tal documento Para a maioria dos deputados o

documento era necessaacuterio como preliminar de uma Constituiccedilatildeo e vaacuterios foram

os projetos que tentaram realizaacute-lo Nas sessotildees subsequentes a grande

questatildeo era se a declaraccedilatildeo de tais direitos natildeo traria de modo reverso um

abuso de seu exerciacutecio dado seu caraacuteter apaziguador dos acircnimos exaltados

pelas manifestaccedilotildees turbulentas da populaccedilatildeo

Visto o calor dos debates e uma falta de consenso em 18 de agosto a

Assembleia decidiu que um comitecirc analisaria os projetos apresentados por La

Fayette Sieyegraves e o ldquosexto gabineterdquo e foi a siacutentese do que foi apresentado

como a Declaraccedilatildeo final em 26 de agosto de 1789 que passou para a Histoacuteria

A imagem que a Assembleia projeta eacute a de um grupo preocupado com a

estabilidade e que procura um consenso para a soluccedilatildeo dos problemas

Ora o projeto apresentado por La Fayette era calcado na Declaraccedilatildeo de

Independecircncia dos Estados Unidos de 1776 La Fayette chegou ateacute mesmo a

ler na sessatildeo de 11 de julho conforme nos relata Jellinek (1902) o documento

estadunidense traduzido por Thomas Jefferson

A declaraccedilatildeo de Independecircncia dos Estados Unidos era por sua vez o

reflexo e a siacutentese de vaacuterias cartas de direitos de suas colocircnias antes da uniatildeo

federativa que as reuniu Seu conteuacutedo visava estabelecer um estado de direito

em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo e ao funcionamento administrativo do territoacuterio

garantindo liberdades que lhes eram fundamentais sobretudo a liberdade de

consciecircncia e a religiosa

Como bem mostrou Jellinek (1902) em sua obra os estadunidenses jaacute

tinham a vivecircncia praacutetica dos problemas de administraccedilatildeo e da vida

comunitaacuteria precisando apenas cristalizar no texto escrito a organizaccedilatildeo e a

preservaccedilatildeo de suas instituiccedilotildees e de seus indiviacuteduos

22

Neste ponto a Declaraccedilatildeo de Direitos francesa lhe eacute fundamentalmente

oposta Os franceses primeiro estabeleceram os direitos que julgavam

necessaacuterios para um bom funcionamento do novo governo que acabara de se

constituir para depois organizar suas instituiccedilotildees

II Declaraccedilatildeo universal dos Direitos do Homem de 1948 ndash em liacutengua

francesa

O segundo documento que integra esta anaacutelise a DUDH encontra-se

publicado nos sites da ONU1 na versatildeo em francecircs Foi produzido a fim de

assegurar que atrocidades tais como as acontecidas nas duas Grandes

Guerras Mundiais a de 1914 e a de 1939 natildeo pudessem mais ocorrer Seu

objetivo era proteger os direitos dos cidadatildeos como indiviacuteduos de

nacionalidades diferentes integrantes de uma comunidade universal-

internacional

Esse documento ldquoune feuille de route garantissant les droits de chaque

personne en tout lieu et en tout tempsrdquo teve seu texto final redigido por Reneacute

Cassin eminente jurista francecircs e foi apresentado em Genebra sendo

adotado pela resoluccedilatildeo 217 A (III) da ONU em 10 de dezembro de 1948

reunida em Paris com oito votos de abstenccedilatildeo e sem nenhuma contestaccedilatildeo

A DUDH inspirou pactos convenccedilotildees e tratados sobre os direitos do

homem Pode-se dizer que todos os programas da ONU hoje satildeo baseados em

seus princiacutepios Como primeiro documento do reconhecimento universal das

liberdades e dos direitos fundamentais inerentes de todo ser humano livre e

igual em direitos independentemente da nacionalidade residecircncia sexo etnia

cor religiatildeo liacutengua ou qualquer outra diferenccedila - seu objetivo eacute promover a

justiccedila ldquopour chacun drsquoentre nousrdquo

1 httpwwwunorgfrdocumentsudhrindexshtml Acesso em 22122012

23

Sua importacircncia se deve ao fato desse documento enunciar as

obrigaccedilotildees de cada Estado e seu dever de respeitar os princiacutepios ali

estabelecidos ateacute o ponto de se necessaacuterio natildeo intervir e natildeo restringir o

exerciacutecio dos direitos do homem2

Resultado de quase dois anos de trabalhos de uma comissatildeo formada

por 8 dos 18 membros participantes de diferentes horizontes poliacuteticos culturais

e religiosos teve como presidente dos trabalhos de discussatildeo Eleanor

Roosevelt viuacuteva do presidente estadunidense que assumiu esta tarefa apoacutes a

morte de seu marido

Os princiacutepios enunciados na declaraccedilatildeo (de universalidade

interdependecircncia indivisibilidade igualdade e natildeo-discriminaccedilatildeo) atribuiacuteram

aos 50 Estados signataacuterios em 1948 obrigaccedilotildees que exprimem de forma

concreta a universalidade e internacionalidade da DUDH o que se constata

pelo fato de 80 dos paiacuteses atualmente a adotarem assegurando direitos a

cada homem sob sua proteccedilatildeo por meio de legislaccedilatildeo que integre os tratados

aos seus sistemas juriacutedicos internos

Existe uma versatildeo desse texto no site da ONU em liacutengua portuguesa

Mas natildeo haacute referecircncia sobre a data de publicaccedilatildeo ou da traduccedilatildeo da

respectivas versatildeo Foram encontradas diferenccedilas no emprego de

determinados termos e por natildeo ser possiacutevel determinar seu motivo optou-se

pela versatildeo em francecircs que foi a primeira a ser publicada3 aleacutem do fato de ser

a liacutengua nativa do responsaacutevel por sua redaccedilatildeo Reneacute Cassin

2 Os documentos em liacutengua portuguesa vatildeo sempre usar o termo ldquodireitos humanosrdquo Entretanto preferiu-

se neste trabalho adotar a expressatildeo ldquodireitos do homemrdquo pois ao se usar um uacutenico adjetivo (humanos)

haacute em nosso entender uma alteraccedilatildeo de sentido a expressatildeo deixa de ser composta por coordenaccedilatildeo e

passa a ser apenas adjetivada O adjetivo usado associado ao substantivo eacute bem verdade integra-se a ele

mas por outro lado perde o impacto da justaposiccedilatildeo apaga a palavra homem que eacute o sujeito e o objeto

central dos direitos Cumpre notar que em liacutengua francesa o termo foi mantido (ldquodroits de lrsquohommerdquo) e

que se poderia ter optado por ldquodroits humainsrdquo o que natildeo ocorreu preferindo manter-se a expressatildeo tal

qual foi adotada em sua origem

3 Eacute possiacutevel que na traduccedilatildeo em liacutengua portuguesa o momento histoacuterico diferente tenha resultado em

escolhas diferenciadas em relaccedilatildeo aos termos empregados Mas a primeira versatildeo em liacutengua francesa vem

cotejada pela versatildeo em liacutengua inglesa e o emprego de vaacuterios termos e expressotildees tambeacutem natildeo eacute o

mesmo Tal problemaacutetica deveraacute ser tratada em estudos posteriores ao dessa tese

24

III Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Preacircmbulo

e artigo 5ordm

A fim de entender o extrato desse documento faz-se necessaacuterio situaacute-lo

historicamente Segundo Cretella (1994) as quatro Declaraccedilotildees

Revolucionaacuterias Francesas influem na Constituiccedilatildeo Poliacutetica do Impeacuterio do

Brasil de 1824 Satildeo elas

a) A de 17 artigos e mais conhecida a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem

e do Cidadatildeo pois seus artigos constam no Proacutelogo da Constituiccedilatildeo de

1791 e na de 1958 tambeacutem Foi votada pela Assembleia Constituinte

francesa em 27 de agosto de 1789

b) A Declaraccedilatildeo girondina de 1793 votada pela Convenccedilatildeo

c) A Declaraccedilatildeo Montanhesa de 1793 que deveria preceder a constituiccedilatildeo

mas que acabou natildeo sendo votada

d) A Declaraccedilatildeo do Ano III que precede a Constituiccedilatildeo de 5 Frutidor (do

mesmo ano) votada tambeacutem pela Convenccedilatildeo

No Brasil os cem constituintes da Assembleia Constituinte de 1823

convocada em 19 de junho de 1822 pelo Priacutencipe Regente antes de

proclamada a Independecircncia do Brasil receberam grande influencia de Antonio

Carlos de Andrada e Silva4 nomeado seu relator Quatro meses depois por

desentendimentos entre os brasileiros e portugueses adotivos infelizmente a

Assembleia foi dissolvida por sua Alteza Real que criou em seguida um

Conselho de Estado para elaborar um novo projeto de constituiccedilatildeo

4 ldquoA Constituiccedilatildeo do Impeacuterio do Brasil de 1824 teve a sua elaboraccedilatildeo encomendada pelo Imperador Dom

Pedro I Primeira constituiccedilatildeo brasileira foi marcada pela influecircncia das constituiccedilotildees europeias A

Assembleia Nacional Constituinte reunida para sua criaccedilatildeo era composta por um total de 90 membros

eleitos na qual destacavam-se os proprietaacuterios rurais bachareacuteis em leis aleacutem de militares meacutedicos e

funcionaacuterios puacuteblicos O anteprojeto constitucional foi elaborado por uma comissatildeo composta por seis

deputados sob a lideranccedila de Antocircnio Carlos de Andrada e Silva irmatildeo de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e

Silva O anteprojeto foi marcado pela manutenccedilatildeo do sistema escravista e pela divisatildeo dos trecircs poderes

executivo legislativo e judiciaacuterio A primeira carta constitucional do Brasil foi outorgada jaacute que D Pedro

I natildeo aceitando ter poderes limitados dissolveu a Assembleia Constituinterdquo In

httpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara8528 Acesso em 22122012

25

Esta constituiccedilatildeo foi considerada por alguns comentaristas como a mais

bela e perfeita do seacuteculo XIX Foi influenciada pelo jurista pensador e filoacutesofo

positivista Benjamin Constant Ela assegura vaacuterios dos direitos que ainda

ecoam na Constituiccedilatildeo de 1988 jaacute que tambeacutem a plena liberdade de

consciecircncia crenccedila e culto coibiu a perseguiccedilatildeo religiosa e aboliu os accediloites a

tortura e demais penas crueacuteis

O excerto utilizado neste trabalho faz parte da oitava constituiccedilatildeo

brasileira a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 a qual

vigora ateacute hoje Apoacutes um periacuteodo em que houve uma sequecircncia de Atos

Institucionais e uma disposiccedilatildeo de se restaurar um estado democraacutetico o

presidente Joatildeo Baptista Figueiredo eleito indiretamente aprova algumas

Emendas Constitucionais entre elas a EC no15 restabelecendo a eleiccedilatildeo

direta para Governadores dos Estados e Senadores Eleito o presidente

seguinte Tancredo Neves em 1984 devido ao seu falecimento quem toma

posse eacute seu vice Joseacute Sarney que daacute iniacutecio agrave Nova Repuacuteblica e convoca

atraveacutes de novas Emendas Constitucionais

ldquoos Membros da Cacircmara dos Deputados e do Senado Federal a

reunirem-se unicameralmente no dia 1ordm De fevereiro de 1987

na sede do Congresso Nacional devendo o Presidente do

Supremo Tribunal Federal instalar a Assembleia e dirigir a

sessatildeo de eleiccedilatildeo de seu Presidente sendo afinal a Constituiccedilatildeo

promulgada no fim dos trabalhos depois da aprovaccedilatildeo de seu

Texto em dois turnos de discussatildeo e votaccedilatildeo pela maioria

absoluta dos membros colegiadosrdquo 5

A Assembleia Nacional Constituinte cuja missatildeo especiacutefica era a de

elaborar a nova constituiccedilatildeo foi formada apoacutes a eleiccedilatildeo de Deputados e

Senadores foi criada uma Comissatildeo de Estudos Constitucionais um grupo de

ldquonotaacuteveisrdquo nomes conhecidos e representativos da sociedade brasileira que

deveriam se reunir para debater e apresentar sugestotildees Instalada em 20 de

agosto de forma solene a Comissatildeo deu inicio aos trabalhos Entretanto tal

5 Arts 1ordm 2ordm e 3ordm Da EC no 12 aspas do autor

26

qual ocorrera na primeira constituiccedilatildeo brasileira a imperial natildeo se chegou a

um consenso com artigos de impossiacutevel aceitaccedilatildeo

Foram entatildeo convocadas eleiccedilotildees e por fim tal qual determinava a EC

no 2685 os 559 membros eleitos das duas casas se reuniram

unicameralmente em 1ordm de fevereiro de 1987 na sede do Congresso Nacional

sob a direccedilatildeo do Presidente do Supremo Federal Professor e Ministro Joseacute

Carlos Moreira Alves O Senador Humberto Lucena foi eleito Presidente do

Senado e teve o Deputado Ulysses Guimaratildees como Presidente da

Constituinte no seu primeiro dia Finalmente aos 5 de outubro de 1988 o Brasil

teve promulgada a sua Oitava Constituiccedilatildeo

Este terceiro documento foi produzido logo apoacutes o fim do periacuteodo de

governo militar Seu escopo aleacutem de organizar o Estado e as relaccedilotildees entre os

indiviacuteduos que dele fazem parte era sobretudo o de resguardar as instituiccedilotildees

e o cidadatildeo brasileiros Dessa forma seus artigos tecircm como objetivo principal

natildeo permitir mais a instalaccedilatildeo no poder de um governo de forccedila e autoritaacuterio e

assegurar o respeito das garantias individuais do cidadatildeo tais como sua

liberdade e a igualdade entre os indiviacuteduos

Os trechos selecionados satildeo o Preacircmbulo o caput do artigo 5ordm e seu

inciso LXVVIII O Preacircmbulo texto que antecede o texto propriamente dito da

Constituiccedilatildeo e que auxilia o inteacuterprete a entender melhor o pensamento do

constituinte (mens legislatoris) funciona como um acessoacuterio do texto principal

pois como deve ser afirma princiacutepios Eacute uma siacutentese do pensamento

dominante conforme ensina Cavalcanti6 mostrando seu conteuacutedo ideoloacutegico e

seus propoacutesitos7

6CAVALCANTI Temiacutestocles Brandatildeo A Constituiccedilatildeo Federal comentada 3ordf Ed 1956 V I p14

apud CRETELLA 1994

7 Cretella analisa termo a termo do Preacircmbulo ao longo de 23 paacuteginas ressaltando sua categoria

gramatical e seu sentido dentro do texto

27

Conforme expotildee Cretella (1994) Mangabeira poliacutetico brasileiro explica

que a igualdade consiste ldquoem considerar desigualmente condiccedilotildees desiguais

de modo a abrandar tanto quanto possiacutevel pelo direito as diferenccedilas sociais e

por ele promover a harmonia social o equiliacutebrio dos interesses e da sorte das

classes A concepccedilatildeo individualista do direito desaparece ante a sua

socializaccedilatildeo como instrumento de justiccedila social solidariedade humana e

felicidade coletiva8rdquo

Cretella (1994) trata especialmente do excerto ldquoTODOS satildeo iguaisrdquo

explicando que este todos se refere a ldquoldquotodos os seres humanosrdquo ldquotodos os

homens e mulheresrdquo ldquotodos os brasileirosrdquo em peacute de igualdade satildeo iguais

ldquoperante a leirdquo

ldquoPor quecircPorque os homens nascem livres e iguais em direitos ldquoAs

distinccedilotildees sociais natildeo podem ser baseadas a natildeo ser na utilidade comumrdquo

(art 1ordm da Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo de 3 de setembro

de 1791) 9rdquo

As distinccedilotildees porventura existentes seriam as de ldquosexordquo ldquoraccedilardquo ldquocorrdquo

ldquoreligiatildeordquo ou ldquocredo religiosordquo ldquotrabalhordquo ldquoconvicccedilotildees poliacuteticasrdquo

ldquofilosoacuteficasrdquo rdquoorigemrdquo ldquoidaderdquo como se encontram enumeradas no art 3ordm

III que a final acrescenta ldquooutras formas de discriminaccedilatildeordquo que equivale a

ldquosem distinccedilatildeo de qualquer naturezardquo Precedendo a ldquofraternidaderdquo a

Revoluccedilatildeo Francesa colocou a ldquoigualdaderdquo lado a lado com a ldquoliberdaderdquo

Com efeito natildeo soacute a monarquia francesa como as monarquias de todo o

mundo inclusive a brasileira oriunda da lusitana eram baseadas em classes

sociais bem estratificadas resultando daiacute tratamento juriacutedico diverso

desigual prevalecendo os privileacutegios e prerrogativas que foi desfeito pelas

Repuacuteblicas responsaacuteveis pelos principio de isonomia como prerrogativa do

homem livre e igual perante a lei ldquoO principio de isonomia oferece na sua

aplicaccedilatildeo agrave vida inuacutemeras e seacuterias dificuldades De fato conduziria a

inominaacuteveis injusticcedilas se importasse em tratamento igual para os que se

acham em desigualdade de situaccedilotildees A injusticcedila que reclama tratamento

igual para os iguais pressupotildee tratamento desigual para os desiguais Ora a

necessidade de desigualar os homens em certos momentos parar estabelecer

8 MANGABEIRA Joatildeo Em torno da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1934 p

261 apud CRETELLA 1994

9 A data apresentada por Cretella difere da data que consta no site do governo francecircs

httpwwwtextesjusticegouvfrtextes-fondamentaux-10086droits-de-lhomme-et-libertes-

fondamentales-10087declaration-des-droits-de-lhomme-et-du-citoyen-de-1789-10116html Acesso em

22122012

28

no plano do fundamental a sua igualdade cria problemas delicados que nem

sempre a razatildeo humana resolve adequadamenterdquo10

Cretella tambeacutem discorre sobre o direito agrave igualdade tratando deste item

sob a oacutetica daquele que pretende ingressar nos quadros de agentes do Estado

ldquoeacute a aplicaccedilatildeo no plano do serviccedilo publico dos princiacutepios estabelecidos pela

Declaraccedilatildeo dos direitos do homem para todos os cidadatildeos como pretendendo

participar das atividades exercidas pelo Estado como tambeacutem regulando a

situaccedilatildeo do usuaacuterio beneficiaacuterio do serviccedilo publicordquo

Entretanto termina dizendo o seguinte

ldquoO principio da igualdade sob a forma de proposiccedilatildeo mandamental pode ser assim

expresso ldquoOs administrados que preenchem os requisitos prescritos nas leis e

regulamentos tem o direito subjetivo publico de exigir o mesmo tratamento por parte do

Estadordquordquo

O inciso LXXVIII foi acrescido pela Emenda Constitucional no 45 de 9 de

dezembro de 2004 Trata como ensina Alexandre de Moraes (2011)

ldquoA EC no 4504 (Reforma do Judiciaacuterio) assegurou a todos no acircmbito

judicial e administrativo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que

garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeordquo

()

ldquoOs processos administrativos e judiciais devem garantir todos os direitos agraves

partes sem contudo esquecer a necessidade de desburocratizaccedilatildeo de seus

procedimentos e na busca de qualidade e maacutexima eficaacutecia de suas decisotildees

Na tentativa de alcanccedilar esses objetivos a EC no 4504 trouxe diversos

mecanismos de celeridade transparecircncia e controle de qualidade da atividade

jurisdicionalrdquo

()

ldquoO sistema processual judiciaacuterio necessita de alteraccedilotildees infraconstitucionais

que privilegiem a soluccedilatildeo dos conflitos a distribuiccedilatildeo de Justiccedila e maior

seguranccedila juriacutedica afastando-se tecnicismos exageradosrdquo

10

FERREIRA FILHO Manoel Gonccedilalves Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira Volume III 6ordf ed

Satildeo Paulo Saraiva 1986 p581 apud CRETELLA 1994

29

IV Lei 114192006 sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial

A lei 114192006 eacute uma lei federal que regula as praacuteticas relativas agraves

novas tecnologias ligadas agrave informaacutetica e que podem ser utilizadas no Poder

Judiciaacuterio O objetivo da lei eacute o de acelerar os procedimentos judiciais de

regular ao mesmo tempo em que torna homogecircnea e permite a modernizaccedilatildeo

das praacuteticas jaacute existentes no Poder Judiciaacuterio

O texto da Lei 114192006 vem assinado pelo Presidente da Repuacuteblica e

pelo Ministro da Justiccedila ambos representantes do Poder Executivo O Poder

Executivo conforme define o artigo 76 CF88 eacute exercido pelo Presidente da

Repuacuteblica e seus Ministros de Estado O presidente da Repuacuteblica tem

competecircncias privativas definidas pelo artigo 84 entre elas a de iniciar o

processo legislativo sancionar promulgar e fazer publicar leis e expedir

decretos e regulamentos para que as leis possam ser promulgadas aleacutem de

vetar projetos de lei de forma parcial ou total11

O Poder Executivo dito federal age diretamente atraveacutes de seus

Ministeacuterios na execuccedilatildeo de programas ou prestaccedilatildeo de serviccedilo puacuteblico ou

indiretamente atraveacutes de empresas puacuteblicas Tambeacutem exerce o controle do

Poder Judiciaacuterio pois nomeia os ministros dos diferentes Tribunais Superiores e

o controle do Legislativo pois participa da elaboraccedilatildeo de leis sancionando ou

vetando projetos

O Ministeacuterio da Justiccedila dentre os diversos Ministeacuterios e respectivas

11

Art 84 Compete privativamente ao Presidente da Repuacuteblica

I - nomear e exonerar os Ministros de Estado

II - exercer com o auxiacutelio dos Ministros de Estado a direccedilatildeo superior da administraccedilatildeo federal

III - iniciar o processo legislativo na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo

IV - sancionar promulgar e fazer publicar as leis bem como expedir decretos e regulamentos para sua

fiel execuccedilatildeo

V - vetar projetos de lei total ou parcialmente

30

Autarquias que compotildeem o Governo Federal eacute o mais antigo criado em 3 de

julho de 1822 pelo Priacutencipe Regente D Pedro com nome de Secretaria de

Estado de Negoacutecios da Justiccedila Seus ministros auxiliam o Presidente da

Repuacuteblica no exerciacutecio do Poder Executivo

Aos Ministros de Estado de acordo com o artigo 87 cabe entre outras

a funccedilatildeo de referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da

Repuacuteblica exercer a orientaccedilatildeo coordenaccedilatildeo e supervisatildeo dos oacutergatildeos e

entidades da administraccedilatildeo federal de sua aacuterea de administraccedilatildeo e praticar atos

que lhe forem atribuiacutedos pelo Presidente da Repuacuteblica

Textos de IVa ateacute IVf

Os textos seguintes de IVa ateacute IVf integrantes deste trabalho seratildeo

utilizados como fonte para que se possa contextualizar e justificar o texto da Lei

114192006 da informatizaccedilatildeo judicial e somente alguns deles seratildeo

analisados Encontram-se numa cartilha que foi elaborada pela Associaccedilatildeo dos

Juiacutezes Federais do Brasil e que foi distribuiacuteda aos parlamentares por ocasiatildeo da

votaccedilatildeo final em que a mesma lei foi aprovada O nome dos textos foi mantido

tal qual figuravam na cartilha

IVa Apresentaccedilatildeo (do projeto de lei)

Este texto eacute apresentado pela AJUFE na pessoa de seu presidente o

juiz federal Paulo Seacutergio Domingues Segundo seu Estatuto esta Associaccedilatildeo eacute

uma entidade de acircmbito nacional que congrega os magistrados da Justiccedila

Federal tendo sido criada como sociedade civil sem fins lucrativos natildeo sendo

filiada a quaisquer outras entidades nacionais de representaccedilatildeo de juiacutezes

31

A AJUFE tem entre outros objetivos relativos agrave defesa dos interesses

gerais e regionais da magistratura brasileira visando colaborar com o

fortalecimento do Poder Judiciaacuterio e de seus integrantes bem como o

aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito observando os direitos

humanos

Tambeacutem estaacute entre seus objetivos promover reuniotildees e simpoacutesios para

o estudo e debate de questotildees institucionais e de interesse funcional dos

magistrados aleacutem de publicar ou patrocinar a publicaccedilatildeo de trabalhos e obras

de interesse dos magistrados mantendo para tanto revista de divulgaccedilatildeo de

trabalhos de cunho cientiacutefico na aacuterea juriacutedica

O juiz que preside a AJUFE fala como pessoa mas sobretudo como

representante de um grupo de juiacutezes associados que tecircm os mesmos objetivos

constituiacutedos

IVb Voto com o parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio

(2252002)

Apresentado o texto do anteprojeto agrave Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila da Cacircmara dos Deputados o Deputado Relator Joseacute Roberto

Batochio deve emitir um parecer e dar seu voto em relaccedilatildeo ao anteprojeto O

Deputado assim como o juiz presidente da AJUFE tambeacutem exerce a funccedilatildeo

de representante conforme consta na proacutepria paacutegina de internet12

Uma de suas principais atividades eacute assim a elaboraccedilatildeo de leis e a

fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira de orccedilamento e patrimocircnio da Uniatildeo e dos

oacutergatildeos da Administraccedilatildeo direta e indireta

12

ldquoO Poder Legislativo cumpre papel imprescindiacutevel perante a sociedade do Paiacutes visto que desempenha

trecircs funccedilotildees primordiais para a consolidaccedilatildeo da democracia representar o povo brasileiro legislar sobre

os assuntos de interesse nacional e fiscalizar a aplicaccedilatildeo dos recursos puacuteblicos

Nesse contexto a Cacircmara dos Deputados autecircntica representante do povo brasileiro exerce atividades

que viabilizam a realizaccedilatildeo dos anseios da populaccedilatildeo mediante discussatildeo e aprovaccedilatildeo de propostas

referentes agraves aacutereas econocircmicas e sociais como educaccedilatildeo sauacutede transporte habitaccedilatildeo entre outrasrdquo

32

IVc Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282201 - Deputada Luiza

Erundina

O texto que acompanha o texto do Projeto de Lei 58282001 eacute datado de

1962002 Neste documento o nome da Deputada Luiza Erundina figura na

justificativa que acompanha o projeto que seraacute transformado em lei

IVd Nota oficial

A nota oficial de 1962002 uma manifestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos

Juiacutezes Federais do Brasil (AJUFE) teve como propoacutesito responder a uma criacutetica

efetuada pela Ordem dos Advogados do Brasil de Satildeo Paulo A AJUFE foi a

primeira entidade a apresentar uma proposta de lei (a lei de informatizaccedilatildeo do

processo judicial) agrave Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa da Cacircmara dos

Deputados a partir da mudanccedila constitucional implantada em 2001

A proposta de lei foi aceita pela Cacircmara dos Deputados e transformada

em projeto de lei Durante sua tramitaccedilatildeo para discussatildeo do projeto vaacuterias

foram as manifestaccedilotildees a seu favor e apenas uma - a da OABSP criticava a

proposta A Nota Oficial eacute a resposta da AJUFE a essa criacutetica

IVe Notiacutecia de 682002

Esta notiacutecia publicada em 682002 pela Revista Consultor Juriacutedico eacute

um boletim eletrocircnico na Internet para consulta e informaccedilatildeo do puacuteblico

interessado em geral mas tambeacutem do puacuteblico do universo juriacutedico

especializado

Conforme consta em seu site a revista eletrocircnica13 criada em 1997

13

httpwwwconjurcombraquem_somos Acesso em 20112012

33

eacute uma publicaccedilatildeo independente sobre direito e justiccedila que se propotildee a ser

fonte de informaccedilatildeo e pesquisa no trabalho no estudo e na compreensatildeo de

seus direitos

Seu banco de dados dispotildee de cerca de 70000 arquivos que satildeo

acessados por quase um milhatildeo de leitores a cada mecircs De seu auditoacuterio-leitor

fazem parte advogados juiacutezes estudantes jornalistas professores integrantes

do Ministeacuterio Puacuteblico empresaacuterios bem como pessoas do puacuteblico em geral

Editada por jornalistas conta com colaboradores do mundo juriacutedico

informando seu auditoacuterio sobre os principais acontecimentos que interferem na

vida do cidadatildeo

IVf Carta Aberta IJURIS

A Carta Aberta do IJURIS vem assinada por Hugo Ceacutesar Hoeschi e

Tacircnia Cristina DrsquoAgostini Bueno pesquisadores do Instituto que foi fundado

com a denominaccedilatildeo de Instituto de Inteligecircncia Juriacutedica e Sistemas ndash IJURIS a

fim de constituir uma sociedade civil sem fins lucrativos Seu objetivo eacute realizar

pesquisas avanccediladas e desenvolvimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos Eacute

credenciado como Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico -

OSCIP pela Secretaria Nacional de Justiccedila do Ministeacuterio da Justiccedila

Em fevereiro de 2008 realizou modificaccedilatildeo em seu nome social e

passou a chamar-se Instituto de Governo Eletrocircnico Inteligecircncias e Sistemas ndash

i3G evidenciando a missatildeo do Instituto (3G significa Inteligecircncias para

Governo isto eacute Inteligecircncia Artificial Inteligecircncia de Governo e Inteligecircncia

Social) a fim de deixar transparente a sinergia de conhecimentos cujo objetivo

eacute o fortalecimento da cidadania

O Instituto tambeacutem manteacutem convecircnios de Cooperaccedilatildeo Teacutecnica e

Cientiacutefica com o Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia e Gestatildeo do

Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina ndash EGCUFSC e de

Cooperaccedilatildeo Internacional para Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico com a Universidade Politeacutecnica de Madrid e a Universidad de

FASTA da Argentina ambos firmados em 2008

34

Os documentos analisados no capiacutetulo 3 desse trabalho satildeo os de

nuacutemeros I a IV e os de nuacutemeros IVb IVc e IVd Os outros documentos

interessam pelo seu contexto e teor que satildeo relevantes para esclarecer o

liame entre a Liacutengua a cultura e o Direito

35

CAPITULO 2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 Textos juriacutedicos e a Teoria da Enunciaccedilatildeo enunciado enunciador e

contexto da enunciaccedilatildeo

Antes de examinar como a Teoria da Enunciaccedilatildeo se aplica aos textos

juriacutedicos eacute importante definir o que se entende por discurso na perspectiva da

Anaacutelise do Discurso A definiccedilatildeo proposta por Maingueneau (2002) e que eacute

consenso apresenta o discurso como uma organizaccedilatildeo situada aleacutem da frase

pois ele ldquomobiliza estruturas de uma outra ordem que as da fraserdquo e isto

permite verificar a quais regras de organizaccedilatildeo ele se submeteu

Segundo este autor o discurso eacute orientado visa a um objetivo e se

desenvolve de forma linear no tempo sendo regido por determinadas

condiccedilotildees que podem ser alteradas caso seja produzido por um ou mais

enunciadores ou aborde diferentes formas de accedilatildeo do seu enunciador

(prometer afirmar estabelecer por exemplo)

Isto significa que o discurso eacute contextualizado ou seja soacute tem sentido

em um determinado contexto Aleacutem disso um mesmo discurso produzido em

contextos diferentes deveria implicar em consequecircncias diferentes como se

veraacute na anaacutelise da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (DUDH)14

O discurso ldquosoacute eacute discurso enquanto remete a um sujeito um EU que se

coloca como fonte de referecircncias pessoais temporais espaciaisrdquo e ldquoao mesmo

tempo indica que atitude estaacute tomando em relaccedilatildeo agravequilo que diz e em relaccedilatildeo

ao seu co-enunciadorrdquo

14

A DUDH enquanto documento internacional deve ser entendida da mesma forma por todos os paises

que a assinaram

36

Ainda considera Maingueneau (2002) que o discurso eacute regido por

normas pois ldquocada ato de linguagem implica normas particularesrdquo de modo que

uma pergunta por exemplo pressupotildee a existecircncia de uma resposta mesmo

que ela natildeo se manifeste Por fim o autor situa a existecircncia do discurso em um

ldquouniverso de outros discursosrdquo pois um enunciado se relaciona a outros como

seraacute examinado nos itens referentes ao dialogismo e agrave polifonia

Sob a perspectiva que expotildee Maingueneau eacute possiacutevel entatildeo se falar

em discurso juriacutedico pois tudo o que se refere a ele eacute caracteriacutestico de um

contexto de produccedilatildeo particular sendo orientado e regido por normas

especificas e ainda que aparentemente uma lei natildeo possua um enunciador

expliacutecito este estaacute presente no ato da enunciaccedilatildeo O discurso juriacutedico se serve

de uma linguagem especifica proacutepria ao Direito a fim de enunciar de maneira

particular e que interessa ao universo juriacutedico naquilo que pretende como

explica Cornu (2005210)

Dans le discours juridique comme dans tout discours lrsquoinstrument de la

communication demeure la langue naturelle Mais ici la langue porteuse

incorpore um langage speacuteciliseacute Elle utilise (non pas neacutecessairement on lrsquoa

vu mais fort souvent) des termes et des tournures speacutecifiquement

juridiques15

Cornu (2005) adverte que atribuir um caraacuteter juriacutedico ao discurso natildeo

pode se limitar a uma simples constataccedilatildeo do uso de um determinado

vocabulaacuterio teacutecnico do estilo empregado no discurso (arcaiacutesmo nas

construccedilotildees por exemplo) de um pertencimento a uma classe profissional ou

da praacutetica de atividades ligadas ao universo juriacutedico

Segundo o autor esses elementos conferem caracteriacutesticas e

especificidade ao discurso mas a elas devem-se acrescentar o fato de que o

discurso juriacutedico propriamente dito eacute formado ldquoporque ele estabelece ou diz o

direitordquo tal como por exemplo uma lei Cornu considera que tambeacutem integra o

discurso juriacutedico tudo o que ldquocontribui para a realizaccedilatildeo do direitordquo tal como um

laudo pericial 15

ldquoNo discurso juridico como em todo discurso o instrumento da comunicaccedilatildeo permanece a liacutengua

natural Mas aqui a liacutengua que traz (a regra juridica) incorpora uma linguagem especializada Ela utiliza

(nao que se tenha necessariamente observado mas muito frequentemente) termos e construccediloes

especificamente juridicos raquo (Trad Nossa)

37

Bakhtin (1984) trata da esfera no discurso explicando que o contexto

que envolve a produccedilatildeo de um determinado gecircnero eacute o que determina sua

orientaccedilatildeo ideoloacutegica e portanto seu sentido Isto quer dizer que em se

tratando do discurso juriacutedico o uso de um vocabulaacuterio especiacutefico (juriacutedico) em

certo lugar e momento histoacuterico ou seja em uma determinada esfera produz

um discurso peculiar

Cornu natildeo contempla entretanto outros discursos como integrantes do

juriacutedico e que por pertencerem a esse universo natildeo podem ser

desconsiderados Fazem parte assim do discurso juriacutedico igualmente os

textos teoacutericos os artigos acadecircmicos os textos jornaliacutesticos que vulgarizam o

conteuacutedo juriacutedico e ateacute mesmo o projeto de lei que antecede a lei Todos

esses textos tratam do Direito como quer Cornu e devem portanto ser

integrados ao do discurso juriacutedico resguardadas algumas peculiaridades pois

pertencem a um desdobramento de gecircnero

De acordo com a Teoria da enunciaccedilatildeo e de acordo com

Maingueneau16 a enunciaccedilatildeo eacute um termo da filosofia que foi pelo uso

sistemaacutetico ganhando novos contornos e que constitui o que hoje se pode

chamar a ponte entre a liacutengua e o mundo na medida em que os fatos estatildeo

representados em um enunciado

A concepccedilatildeo de enunciaccedilatildeo se encaminha para uma concepccedilatildeo

discursiva ou para uma concepccedilatildeo linguiacutestica dependendo da tocircnica dada a

determinados eventos De acordo com Charaudeau (1992) a concepccedilatildeo

linguiacutestica eacute aquela que toma a enunciaccedilatildeo como sendo o conjunto de

procedimentos laquo qui explicitent les diffeacuterents types de relations de lrsquoacte

eacutenonciatif agrave travers les processus de Modalisation de lrsquoeacutenonceacute raquo e que

permitem laquoexpliciter ce que sont les positions du sujet parlant par rapport agrave son

interlocuteur raquo17 A concepccedilatildeo discursiva eacute aquela cujo enfoque estaacute voltado

16

CHARAUDEAU Patrick MAINGUENEAU Dominique Dictionnaire drsquoAnalyse du Discours Paris

Seuil 2002

17 ldquoque explicitam os diferentes tipos de relaccedilotildees do ato enunciativo pelo processo de Modalizaccedilatildeo do

enunciadordquo e que permitem ldquoexplicitar o que satildeo os posicionamentos do sujeito falante em relaccedilatildeo a seu

interlocutorrdquo (Trad Nossa)

38

para os procedimentos ldquoqui contribuent agrave mettre en scegravene les modes

drsquoorganisation du discoursrdquo18 tais como o narrativo ou argumentativo

A enunciaccedilatildeo trata do discurso considerando um niacutevel local e um niacutevel

global niacuteveis esses que interagem constantemente Segundo Charaudeau

(2002) o niacutevel local permite caracterizar os gecircneros do discurso pelas marcas

encontradas nas reformulaccedilotildees ou nas modalidades por exemplo O niacutevel

global trata de questotildees que abordam o funcionamento individual da liacutengua e

seu desenvolvimento dentro do discurso como a cena da enunciaccedilatildeo a

situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo ou os gecircneros do discurso

Arriveacute Gadet e Galmiche (1986) propotildeem como definiccedilatildeo de

enunciaccedilatildeo o ato pelo qual um locutor faz funcionar a liacutengua em uma

determinada situaccedilatildeo Neste ato entram em accedilatildeo natildeo apenas o locutor mas

tambeacutem o alocutaacuterio que recebe o enunciado

Segundo Maingueneau (200256-57) o enunciado eacute ldquoa marca verbal do

acontecimento do que eacute a enunciaccedilatildeordquo ou melhor seu resultado ou produto

uma ldquosequecircncia verbal que forma uma unidade de comunicaccedilatildeo completa no

acircmbito de um determinado gecircnero de discursordquo19

No presente trabalho seraacute tomada no seu sentido amplo a concepccedilatildeo

proposta por Maingueneau sendo o locutor denominado enunciador Jaacute o

alocutaacuterio seraacute tratado como enunciataacuterio pois o corpus desse trabalho eacute

dotado de textos escritos de origem juriacutedica Escolheu-se entatildeo usar

enunciador e enunciataacuterio pois a relaccedilatildeo entre ambos eacute de polo ativo

(enunciador) e polo passivo (enunciataacuterio) Isso se justifica porque um texto

escrito eacute produzido antes pelo enunciador e o enunciataacuterio soacute entra em contato

com o texto produzido num momento posterior Ainda eacute necessaacuterio observar

que se o texto for uma lei ou um tratado por exemplo os enunciadores

submetem as respectivas sociedades agraves disposiccedilotildees por eles estabelecidas

18

ldquoque contribuem para por em cena os modos de organizaccedilatildeo do discursordquo (Trad Nossa)

19 Grifo do autor

39

O interesse especial pelo enunciador neste trabalho deve-se sobretudo

ao fato de se determinar nos textos estudados ou melhor nos enunciados

tomados como parte do corpus quem eacute de fato o enunciador como ele se

constitui como sujeito quais operaccedilotildees de reformulaccedilatildeo satildeo por ele

promovidas na medida em que o discurso eacute alterado e refeito Este processo

revela como o enunciador se apresenta como ele promove seu proacuteprio

apagamento se necessaacuterio a fim de alcanccedilar sua pretensatildeo

Tratar do enunciado implica portanto tratar do enunciador e da

subjetividade considerando diversos status que ele pode adquirir enquanto

sujeito que organiza o enunciado ou o dizer um sujeito que exprime seu ponto

de vista e que se coloca diante do outro (enunciataacuterio) numa troca linguiacutestica O

sujeito nessa perspectiva se constroacutei enquanto produz seu enunciado e de

acordo com um objetivo que tambeacutem pode ser alterado durante sua produccedilatildeo

Uma anaacutelise mais aprofundada do enunciador em relaccedilatildeo ao seu ethos seraacute

tratada mais adiante

A linguagem atividade que se realiza entre dois protagonistas

(enunciador e enunciataacuterio) revela segundo Maingueneau (2002) natildeo somente

a posiccedilatildeo do primeiro em relaccedilatildeo ao segundo mas tambeacutem a proacutepria situaccedilatildeo

de enunciaccedilatildeo a situaccedilatildeo do enunciado a sua relaccedilatildeo com o mundo e com os

enunciados anteriores ou posteriores a sua inscriccedilatildeo numa determinada

cultura trazendo agrave tona de certa forma aquilo que jaacute foi dito anteriormente

mas que natildeo eacute mais o mesmo porque se renova ao mesmo tempo em que se

reformula

Como ato individual de utilizaccedilatildeo da liacutengua a enunciaccedilatildeo eacute um evento

uacutenico resultado do ato de um enunciador e de um enunciataacuterio especiacuteficos

numa determinada situaccedilatildeo e estes mesmo estando ocultos no enunciado

tornam-no possiacutevel Conforme esclarece Arriveacute (1986) essa troca linguiacutestica

coloca em funcionamento a liacutengua em uma situaccedilatildeo

Na condiccedilatildeo de evento situado no tempo e no espaccedilo o fato de se

produzir um enunciado denota a existecircncia de um conteuacutedo estaacutevel mesmo

que seja possiacutevel uma multiplicidade de eventos enunciativos anteriores para a

40

realizaccedilatildeo do enunciado Os rastros deixados pelo enunciado nos atos de sua

produccedilatildeo constroem assim o sentido dado pelos protagonistas numa dada

situaccedilatildeo

No discurso juriacutedico o enunciado eacute o portador de algumas caracteriacutesticas

importantes deste gecircnero especifico Aleacutem de um vocabulaacuterio teacutecnico existe

uma composiccedilatildeo que eacute formular para os textos escritos sendo que o

enunciado deve prescrever regras de conduta no caso de uma lei ou um

tratado O enunciador desses textos natildeo eacute uma pessoa que se possa

determinar pois em geral o enunciado eacute o resultado da decisatildeo de uma

assembleia ou seja de um grupo de pessoas que se reuacutenem com o objetivo

de elaborar tal texto em um determinado momento histoacuterico e para um

determinado fim O texto de lei ou de um tratado eacute assim o resultado da

expressatildeo da vontade de um grupo e mesmo que venha assinado por um

sujeito este eacute apenas um representante a quem foi atribuiacuteda tal funccedilatildeo Tal

contexto de produccedilatildeo revela a forccedila ilocutoacuteria do enunciado ou seja a

intenccedilatildeo de quem o produz

As circunstacircncias de enunciaccedilatildeo satildeo representadas por elementos que

integram o sentido do enunciado Esses elementos se reportam agraves vezes a

outros elementos os referentes Esse mecanismo revela tambeacutem as intenccedilotildees

do enunciado dando sentido ao texto o que justifica que sejam estudados

mais adiante no item que trata das reformulaccedilotildees e nas anaacutelises dos textos

22 O dialogismo e a polifonia nos textos juriacutedicos

Apoacutes terem sido examinados o enunciado e alguns aspectos relevantes

em relaccedilatildeo ao enunciador e ao enunciataacuterio esta parte do capitulo pretende

analisar as relaccedilotildees entre os diferentes textos a partir das propostas teoacutericas

de Bakhtin que tratam do dialogismo e da polifonia

41

Bakhtin (2003261) trata da produccedilatildeo da linguagem oral e escrita como

parte da atividade humana Dentro dessas atividades que satildeo de diferentes

domiacutenios ele situa o enunciado em relaccedilatildeo a sua utilizaccedilatildeo

ldquoenunciados refletem as condiccedilotildees especiacuteficas e as finalidades de cada

referido campo natildeo soacute por seu conteuacutedo (temaacutetico) e pelo estilo da

linguagem ou seja pela seleccedilatildeo dos recursos lexicais fraseoloacutegicos e

gramaticais da liacutengua mas acima de tudo por sua construccedilatildeo

composicionalrdquo

Os elementos que Bakhtin (2003261) trata como conteuacutedo temaacutetico

estilo e construccedilatildeo composicional se fundem para ele de forma inseparaacutevel no

todo que constitui o enunciado e cada um deles estaacute marcado pela

especificidade de uma esfera de troca Todo enunciado tomado

separadamente eacute bem entendido individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da

liacutengua elabora seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados que

determinam os diferentes gecircneros do discurso

Isto implica dizer que toda a produccedilatildeo que se faz em torno da lei pode

ser definida como sendo do gecircnero juriacutedico pois produz ocorrecircncias de troca

numa esfera especiacutefica Os enunciados aiacute produzidos satildeo relativamente

estaacuteveis ainda que bastante diversos entre si e eacute justamente esse aspecto que

justifica porque eacute possiacutevel analisar textos juriacutedicos de origens diferentes tais

como uma declaraccedilatildeo francesa uma nacional ou uma internacional todos os

documentos pertencem ao gecircnero juriacutedico portanto agrave mesma esfera e mesmo

sendo elaborados em um contexto de produccedilatildeo diferente possuem formas

composicionais mais ou menos estaacuteveis

Bakhtin (1984270) explica que a liacutengua escrita se altera de forma

continua assim como seu estilo e que tal fato eacute reflexo das mudanccedilas que

ocorrem na vida social Isto pode ser verificado pela observaccedilatildeo dos gecircneros

do discurso e dos enunciados que satildeo segundo ele ldquoles courroies de

transmission qui megravenent de lrsquohistoire de la socieacuteteacute agrave lrsquohistoire de la languerdquo20

20

ldquoas correias de transmissatildeo que conduzem a histoacuteria da sociedade para a histoacuteria da liacutenguardquo (Trad

Nossa)

42

Esse eacute um aspecto bastante relevante nos textos juriacutedicos e remete ao

fato de que todo enunciado de alguma forma se refere a um enunciado que jaacute

foi anteriormente produzido Esse aspecto confere ao enunciado por

conseguinte uma dupla relaccedilatildeo dialoacutegica ou seja exprime a relaccedilatildeo que o

enunciado tem com enunciados anteriores produzidos sobre o mesmo objeto e

com os possiacuteveis enunciados que possam ser produzidos a partir do enunciado

que se toma para anaacutelise levando em consideraccedilatildeo o destinataacuterio que iraacute

recebecirc-lo e a forma como ele seraacute recebido compreendido respondido

Cabe aqui uma distinccedilatildeo entre o dialogismo e a intertextualidade

Enquanto o dialogismo mostra referecircncias nem sempre diretas de um texto ou

de um enunciado em outro texto ou enunciado a intertextualidade eacute um

fenocircmeno mais restrito

Fiorin (2006) explica que na intertextualidade a referecircncia ao texto ou

enunciado eacute feita de forma direta Esse procedimento ocorre por expliacutecita

citaccedilatildeo do primeiro dentro da redaccedilatildeo do segundo como se fossem duas

vozes dentro de um mesmo texto Nesse caso o segundo texto existe fora do

primeiro como texto independente A interdiscursividade pode inclusive ocorrer

na retomada do mesmo enunciado ainda que sua redaccedilatildeo seja diferente

podendo ateacute se manifestar pela negaccedilatildeo ou oposiccedilatildeo do segundo enunciado

em relaccedilatildeo ao primeiro

A intertextualidade eacute portanto uma operaccedilatildeo que coloca em relaccedilatildeo

dois ou mais discursos e que vem construiacuteda como se fosse um ldquojeu de

citations plus ou moins cachecircrdquo21 conforme sintetiza Charaudeau (1992)

Para os textos analisados no corpus o que se verifica satildeo relaccedilotildees

dialoacutegicas e natildeo de intertextualidade pois natildeo haacute a ocorrecircncia de citaccedilatildeo

direta de retomadas de redaccedilatildeo de enunciados ou negaccedilatildeo dos mesmos em

relaccedilatildeo a um enunciado primeiro

O que se verifica eacute uma extensatildeo um desenvolvimento de alguns

termos ou mesmo princiacutepios O homem que aparece na DDHC eacute um homem

21

ldquoum jogo de citaccedilotildees mais ou menos veladordquo (Trad Nossa)

43

mais limitado em seus direitos protegido apenas pela Assembleia nacional

francesa enquanto o homem da DDUH eacute um homem protegido pela

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Assim tambeacutem os direitos de igualdade

liberdade e justiccedila satildeo ampliados remodelados estendidos Apesar do uso do

termo ser absolutamente o mesmo (homem direito liberdade) o conceito natildeo

eacute o mesmo e isso pode ser verificado pela construccedilatildeo de cada enunciado e

uma anaacutelise mais detalhada mostraraacute no texto adiante essa evoluccedilatildeo Cada

conceito entretanto dialoga com o conceito anterior pois eacute um

desenvolvimento do conceito que o precede um aperfeiccediloamento e um

alargamento do conceito anterior a ele

Essa retomada de conceito implica tambeacutem num resgate histoacuterico da

memoacuteria coletiva pois a declaraccedilatildeo francesa ou a universal natildeo satildeo

documentos que surgem como uma novidade em termos juriacutedicos Elas foram

inspiradas em outros documentos anteriores de outras culturas ateacute

Remontando ao Iluminismo pode-se encontrar na DDHC ideais que se

transpotildeem nos conceitos revolucionaacuterios que definem e envolvem o homem e a

lei por exemplo

Tomemos assim o que diz Montesquieu (1748) acerca do ldquoEspiacuterito das

Leisrdquo e suas ideias relativas agrave origem das leis e de sua natureza Para ele o

homem precisa ter suas proacuteprias leis assim como a divindade e os animais22 e

a lei adveacutem da relaccedilatildeo que se estabelece entre o homem e os outros seres

iguais ou diferentes dele23

Os homens satildeo governados pela razatildeo humana e um dos frutos que

produz satildeo as leis poliacuteticas e civis e satildeo elas que governam os homens As

leis devem ser adequadas ao povo para a qual foram feitas e somente por

acaso podem servir para outra naccedilatildeo jaacute que satildeo adaptadas agraves especificidades

22

laquo Les lois dans la signification la plus eacutetendue sont les rapports neacutecessaires qui deacuterivent de la nature

des choses et dans ce sens tous les ecirctres ont leurs lois la Diviniteacute a ses lois le monde mateacuteriel a ses lois

les intelligences supeacuterieures agrave lhomme ont leurs lois les becirctes ont leurs lois lhomme a ses lois raquo Livre

I p 100

23 laquo Il y a donc une raison primitive et les lois sont les rapports qui se trouvent entre elle et les diffeacuterents

ecirctres et les rapports de ces divers ecirctres entre euxraquo Livre I p 100

44

de cada povo (tal como o clima a religiatildeo) a aspectos particulares das

relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais e ateacute mesmo agrave vontade do legislador 24

Portanto para Montesquieu a lei eacute o reflexo da sociedade que a produz

e a aplica Mas o filoacutesofo alerta que natildeo se pode de forma alguma esquecer a

virtude que contem as leis pelo fato de refletirem os costumes e as maacuteximas

antigas da sociedade que as estabeleceu

Neste sentido uma lei nova apenas altera a anterior fazendo correccedilotildees e

ajustes no que jaacute estava antes estabelecido25 e natildeo renega assim totalmente

24

laquo La loi en geacuteneacuteral est la raison humaine 20 en tant quelle gouverne tous les peuples de la terre et les

lois politiques et civiles de chaque nation ne doivent ecirctre que les cas particuliers ougrave sapplique cette raison

humaine

Elles doivent ecirctre tellement propres au peuple pour lequel elles sont faites que cest un tregraves grand hasard

si celles dune nation peuvent convenir agrave une autre

Il faut quelles se rapportent agrave la nature et au principe du gouvernement qui est eacutetabli ou quon veut eacutetablir

soit quelles le forment comme font les lois politiques soit quelles le maintiennent comme font les lois

civiles

Elles doivent ecirctre relatives au physique du pays au climat glaceacute brucirclant ou tempeacutereacute agrave la qualiteacute du

terrain agrave sa situation agrave sa grandeur au genre de vie des peuples laboureurs chasseurs ou pasteurs Elles

doivent se rapporter au degreacute de liberteacute que la constitution peut souffrir agrave la religion des habitants agrave

leurs inclinations agrave leurs richesses agrave leur nombre agrave leur commerce agrave leurs moeurs agrave leurs maniegraveres

Enfin elles ont des rapports entre elles elles en ont avec leur origine avec lobjet du leacutegislateur avec

lordre des choses sur lesquelles elles sont eacutetablies Cest dans toutes ces vues quil faut les consideacutererraquo

Livre I p 106

laquo Cest encore une loi fondamentale de la deacutemocratie que le peuple seul fasse des lois 3I Il y a pourtant

mille occasions ougrave il est neacutecessaire que le seacutenat puisse statuer il es mecircme souvent agrave propos dessayer une

loi avant de reacutetablir raquo Livre II p 113

laquo On avait vu jusqursquoici la nation donner des marques drsquoimpatience et de leacutegegravereteacute sur le choix ou sur la

conduite de ses maicirctres on lrsquoavait vue reacutegler les diffeacuterends de ses maicirctres entre eux et leur imposer la

neacutecessiteacute de la paix Mais ce qursquoon nrsquoavait pas encore vu la nation le fit pour lors elle jeta les yeux sur

sa situation actuelle elle examina ses lois de sang-froid elle pourvut agrave leur insuffisance elle arrecircta la

violence elle reacutegla le pouvoir raquo Livre XXXI ch II p338

laquo Lrsquoeacutedit de Clotaire redressa tous les griefs Personne ne put plus ecirctre condamneacute sans ecirctre entendu les

parents durent toujours succeacuteder selon lrsquoordre eacutetabli par la loi toutes preacuteceptions pour eacutepouser des filles

des veuves ou des religieuses furent nulles et on punit seacutevegraverement ceux qui les obtinrent et en firent

usage raquo Livre XXXI ch II p339

25 laquo Il y a beaucoup agrave gagner en fait de moeurs agrave garder les coutumes anciennes Comme les peuples

corrompus font rarement de grandes choses quils nont guegravere eacutetabli de socieacuteteacutes fondeacute de villes donneacute

de lois et quau contraire ceux qui avaient des moeurs simples et austegraveres ont fait la plupart des

eacutetablissements rappeler les hommes aux maximes anciennes cest ordinairement les ramener agrave la vertu

De plus sil y a eu quelque reacutevolution et que lon ait donneacute agrave lEacutetat une forme nouvelle cela na guegravere pu

se faire quavec des peines et des travaux infinis et rarement avec loisiveteacute et des moeurs corrompues

45

uma lei antiga O que se constitui neste caso eacute um diaacutelogo com a lei (fonte)

anterior pois natildeo se pode querer ldquoreinventar a rodardquo a cada produccedilatildeo

legislativa Existe assim uma memoacuteria intriacutenseca mesmo que apagada de um

texto legislativo novo em relaccedilatildeo ao texto anterior

As leis novas satildeo adaptaccedilotildees grandes ou pequenos ajustes de

formulaccedilotildees que se fazem nos modelos anteriores com acreacutescimos ou

supressotildees que permitem um reordenamento do sistema juriacutedico vigente Isto

porque a lei tem sua origem na cultura econocircmica poliacutetica e social de um povo

e seu texto eacute apenas um reflexo disso mesmo quando produzida para suprir

uma lacuna do sistema

Eacute tambeacutem o que diz Bakhtin (1977) acerca do dialogismo textual para

ele as relaccedilotildees dialoacutegicas se estabelecem na medida em que um texto reflete

e se reproduz em outro ecoando dialogando com outro texto Um texto de lei

ao mesmo tempo em que daacute voz agrave cultura do povo ao qual eacute imposta esta lei

traduzindo seus costumes histoacutericos econocircmicos poliacuteticos e sociais tambeacutem

responde a um outro texto de lei

Assim um segundo texto entra em relaccedilatildeo dialoacutegica interna com o

primeiro podendo tanto ser um texto hierarquicamente superior como aquele

que autoriza a elaboraccedilatildeo de uma nova lei O novo texto de lei tem o mesmo

objeto do texto anterior mas aparece renovado atualizado para as novas

necessidades do homem e a lei anterior que lhe serviu de base ou origem seraacute

derrogada total ou parcialmente pela lei nova

O dialogismo mostra como ocorrem as relaccedilotildees discursivas que podem

ser externas na medida em que o texto dialoga com o ordenamento juriacutedico ou

mesmo com a doutrina estrangeiros ou internas quando se encontram essas

relaccedilotildees dentro do proacuteprio ordenamento juriacutedico nacional

Ceux mecircmes qui ont fait la reacutevolution ont voulu la faire goucircter et ils nont guegravere pu y reacuteussir que par de

bonnes lois Les institutions anciennes sont donc ordinairement des corrections et les nouvelles des

abus Dans le cours dun long gouvernement on va au mal par une pente insensible et on ne remonte au

bien que par un effort raquo Livre V p151

46

O texto de lei seraacute tomado aqui como sendo o cerne (centro) dos textos

juriacutedicos visto que tudo gravita em torno dele isto eacute ou os textos precursores

satildeo seus textos originaacuterios e constituintes porque seus princiacutepios e argumentos

fundamentaram a propositura da lei ou satildeo seus textos derivados e

consequentes porque eacute a lei que possibilita a propositura ou confecccedilatildeo de tais

textos

Essa situaccedilatildeo de origem de cada texto juriacutedico eacute de suma importacircncia

pois eacute ela que mostra a dimensatildeo da relaccedilatildeo dialoacutegica um texto de lei natildeo

existe sem um motivo anterior e suscita outros tantos textos decorrentes da

existecircncia da lei

De onde se conclui que nos textos juriacutedicos o dialogismo eacute inerente jaacute

que um texto se refere sempre a um anterior um autor cita o outro - discutindo

a ideia proposta por outro autor seja para apoiaacute-la ou contestaacute-la- uma lei se

refere ou estaacute autorizada por uma outra

Nessa mesma consideraccedilatildeo cabe ressaltar que cada texto teoacuterico ou

artigo acadecircmico e ateacute mesmo da imprensa especializada pode ser o elemento

detonador ou mola propulsora para questionar uma lei desatualizada ou

mostrar a necessidade da propositura de uma nova podendo-se incluir ainda

aqui o fato de que uma lei seja produzida com objetivo complementar isto eacute a

fim de completar uma outra lei especificando um determinado tipo de pena ou

de procedimento por exemplo

O fato de cada texto ser produzido em resposta a um outro anterior

revela por sua vez natildeo soacute o processo dialoacutegico mas tambeacutem um processo

polifocircnico Isto porque na medida em que se considera a produccedilatildeo do texto natildeo

se pode deixar de considerar que ele foi produzido num determinado lugar e

tempo e por um determinado enunciador

De forma bem simples a lei se torna a voz da sociedade que se

expressa para regular as relaccedilotildees entre os homens ou seja a lei eacute a voz do

homem social a voz da sociedade num dado lugar e num dado momento

histoacuterico e como tal a repercussatildeo de uma voz que aleacutem de individual eacute

coletiva

47

Isto porque a lei natildeo eacute fruto nos sistemas de governo democraacuteticos da

vontade de um soacute como ocorria nos regimes absolutistas mas eacute a expressatildeo

da vontade geral portanto de um conjunto de pessoas que faz sua voz ser

ouvida e resolve as questotildees de conviacutevio que causam conflito atraveacutes de um

texto que vai regular a conduta da vida do homem dentro de um grupo

Por isso seria de se esperar que uma lei fosse apenas aplicaacutevel a um

uacutenico grupo de homens que vivessem sob as mesmas regras E por isso seria

de se esperar que a lei de um paiacutes natildeo fosse adequada a um outro ou a outros

paiacuteses Entretanto isso natildeo eacute impossiacutevel e resguardados certos limites eacute ateacute

bem frequente como se veraacute mais adiante

Conveacutem ainda lembrar que Bakhtin e o Ciacuterculo26 tratam a linguagem de

forma diversa da dimensatildeo monoloacutegica - que tomava a liacutengua como forma de

expressatildeo particular do sujeito (subjetivista idealista) ou como constituiacuteda por

formas e atos psicofisioloacutegico da sua produccedilatildeo (objetivismo abstrato) A

linguagem eacute considerada sempre ao contraacuterio sob o ponto de vista da

interaccedilatildeo verbal um espaccedilo onde a liacutengua existe e se constitui

A obra bakhtiniana e a do ciacuterculo vatildeo nesta perspectiva tomar a

linguagem do ponto de vista de sua natureza social sobretudo no que se refere

agrave relaccedilatildeo do enunciado com o contexto social imediato Isto quer dizer que a

linguagem eacute analisada a partir das interaccedilotildees que ocorrem entre os indiviacuteduos

organizados em sociedade e que considera as condiccedilotildees de produccedilatildeo onde

elas se elaboram

Essas condiccedilotildees por conseguinte produzem um sentido praacutetico que

estaacute aleacutem do fato da linguagem vir associada ao momento histoacuterico onde

ocorrem essas interaccedilotildees e permite dessa forma que o meio social espelhe a

esfera ideoloacutegica presente nas Ciecircncias nas Artes na Literatura no

Jornalismo e tambeacutem no Direito

26

No presente trabalho natildeo seraacute considerada a questatildeo da autoria dos trabalhos de Bakhtin que eacute dividida

em alguns casos com Voloshinov jaacute que as obras consultadas tinham como autor Bakhtin sendo sempre

referidas como obras de ldquoBakhtin e o Ciacuterculordquo

48

O conceito de esfera na comunicaccedilatildeo discursiva de que fala Bakhtin

estaacute centrado na diversidade da linguagem humana e ideologia que a cerca

isto eacute de forma bastante resumida a esfera revela como a realidade se

manifesta na linguagem

A linguagem refrata a esfera ideoloacutegica em que estaacute inserida uma

produccedilatildeo literaacuteria que eacute o que Bakhtin (19771984) defende na anaacutelise que faz

do romance de Dostoieacutevski pois ela a linguagem revela o jogo de regras

usadas para a produccedilatildeo em um determinado contexto

Na esfera do Direito tem-se que todo gecircnero refrata as relaccedilotildees

dialoacutegicas que se estabelecem do homem com o homem e do homem com a

sociedade O Direito enquanto ciecircncia tem como funccedilatildeo dirigir as condutas

sociais criando para isso regras de direito que regulem a vida comum na

esfera em um dado momento histoacuterico

Essa natureza social da linguagem ou seja a relaccedilatildeo do enunciado com

o contexto social imediato - interaccedilotildees que ocorrem entre os indiviacuteduos

organizados em sociedade e que considera as condiccedilotildees de produccedilatildeo -

confere um sentido praacutetico associada ao momento histoacuterico onde ocorrem

essas interaccedilotildees num processo dialoacutegico

Desta forma todo o gecircnero eacute e assim tambeacutem o gecircnero juriacutedico um

reflexo de relaccedilotildees dialoacutegicas que se estabelecem do homem com o homem

pois espelha a necessidade do direito para regular a vida em comum do

homem com a sociedade e das condutas sociais

As condutas sociais por sua vez satildeo resultantes uma forma de agir que

se apoia no que um grupo determina como um tipo modelo ou padratildeo de

atitude em relaccedilatildeo a diferentes situaccedilotildees e que satildeo resultado de um consenso

Essas condutas sociais se tornam padrotildees de condutas e ao se repetirem vatildeo

constituir o que Bourdieu define como habitus tomado dentro de um

determinado campo

Bourdieu (1980) define o campo como ldquoo espaccedilo social capaz de

refratar traduzir ou transformar as demandas externas sobretudo da base

49

socioeconocircmica comumrdquo Eacute no campo onde acontecem as diferentes

produccedilotildees juriacutedicas textuais pois na medida em que surgem alteraccedilotildees no

espaccedilo social nasce a necessidade de um reordenamento juriacutedico para que

outros textos regulem as novas relaccedilotildees ou relaccedilotildees entre indiviacuteduos que se

modificam

Em relaccedilatildeo a concepccedilatildeo da linguagem o campo eacute definido como o

espaccedilo em que determinadas formas de agir refletem as individualidades

(como gostos e preferecircncias) constituindo-se em um habitus

Sobre esse habitus tambeacutem incidem o tipo de relaccedilotildees entre os pares

que participam das relaccedilotildees ndash as relaccedilotildees simboacutelicas - o tipo de relaccedilatildeo que

se estabelece com o capital ndash atraveacutes da heranccedila e da renda - e o espectro de

possibilidades ou impossibilidades oferecidas aos participantes de tomar

posiccedilatildeo e definir os espaccedilos isto eacute participar da ldquoheranccedila acumulada pelo

trabalho coletivordquo

Uma lei eacute um reflexo de um habitus que se cristaliza pela norma escrita

Entatildeo a preocupaccedilatildeo dos magistrados brasileiros que objetivavam melhorar

em curto espaccedilo de tempo a prestaccedilatildeo dos serviccedilos da justiccedila ao cidadatildeo eacute

expressa pela tomada de posiccedilatildeo dos integrantes da associaccedilatildeo que

apresentam uma proposta de lei que se torna depois a Lei 114192006 e que

iraacute modificar as accedilotildees processuais que satildeo submetidas agrave anaacutelise do Poder

Judiciaacuterio

O fato de esses juiacutezes apresentarem uma sugestatildeo (SUG1CLP 2001)

autorizados pela Constituiccedilatildeo27 que permite a um grupo apresentar uma

27

O artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 foi alterado pela Lei 97091998 ldquoArt 13 A iniciativa

popular consiste na apresentaccedilatildeo de projeto de lei agrave Cacircmara dos Deputados subscrito por no miacutenimo um

por cento do eleitorado nacional distribuiacutedo pelo menos por cinco Estados com natildeo menos de trecircs

deacutecimos por cento dos eleitores de cada um delesrdquo e ldquoArt 14 A Cacircmara dos Deputados verificando o

cumprimento das exigecircncias estabelecidas no art 13 e respectivos paraacutegrafos daraacute seguimento agrave

iniciativa popular consoante as normas do Regimento Internordquo O Regimento Interno da Camara dos

Deputados diz na parte referente a Subseccedilatildeo III Das Mateacuterias ou Atividades de Competecircncia das

Comissotildees em seu inciso XII que cabe agrave Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa ldquoa) sugestotildees de

iniciativa legislativa apresentadas por associaccedilotildees e oacutergatildeos de classe sindicatos e entidades organizadas

da sociedade civil exceto Partidos Poliacuteticos b) pareceres teacutecnicos exposiccedilotildees e propostas oriundas de

entidades cientiacuteficas e culturais e de qualquer das entidades mencionadas na aliacutenea a deste incisordquo

50

proposta de Projeto de Lei ao Poder Legislativo tambeacutem integrarem o Poder

Judiciaacuterio eacute relevante na aceitaccedilatildeo da proposta que eacute examinada e aceita A

sugestatildeo SUG1CLP 2001 eacute marcada pela necessidade de mudanccedila no

habitus as modificaccedilotildees e avanccedilos tecnoloacutegicos demandam alteraccedilotildees que

satildeo propostas como imperativas aleacutem de serem reflexo da experiecircncia praacutetica

do mundo do trabalho

Numa relaccedilatildeo que tambeacutem eacute dialoacutegica a esfera ideoloacutegica do Poder

Judiciaacuterio representada pelos integrantes desse poder ou seja os juiacutezes

federais que tecircm como objetivo fazer aplicar a lei se mistura com a esfera do

Poder Legislativo cuja funccedilatildeo eacute a de propor leis para serem aprovadas e

colocadas em vigor pelo Poder Executivo atraveacutes de sua publicaccedilatildeo

Desta forma uma sugestatildeo de proposta de lei integra os trecircs poderes

judiciaacuterio legislativo e executivo Vecirc-se neste momento histoacuterico a maior

expressatildeo possiacutevel da democracia a necessidade fez agir representantes de

um poder enquanto integrantes de uma associaccedilatildeo ou seja no seu papel de

cidadatildeos a fim de melhorar a prestaccedilatildeo jurisdicional da justiccedila da qual cabe ao

Estado zelar

O caminho encontrado para fazer o que era necessaacuterio ou seja uma

prestaccedilatildeo de atendimento de uma justiccedila mais raacutepido pode parecer a primeira

vista uma extrapolaccedilatildeo da funccedilatildeo e do papel dos juiacutezes que devem apenas

zelar e fazer aplicar a lei quando se considera que natildeo haacute justiccedila

O que eacute relevante eacute que o caminho encontrado foi o dado pela

concessatildeo criada pelo proacuteprio sistema poliacutetico que permite aos cidadatildeos

fazerem uma proposta de projeto de lei Agrave eacutepoca da apresentaccedilatildeo da sugestatildeo

a primeira a ser apresentada por um segmento da sociedade e neste caso um

segmento muito especial ainda natildeo havia a precisatildeo de como se faria uma

51

justiccedila mais raacutepida o que foi acrescentado pela Emenda Constitucional no 45

de 2004 que inseriu o inciso LXXVIII28

Os textos que satildeo examinados neste trabalho foram produzidos dentro

do campo de atividades do Direito No topo hieraacuterquico qualitativo como seraacute

explicado mais adiante encontra-se a lei que foi promulgada em 2006 e que eacute

consequecircncia de uma cadeia de outros textos que foram produzidos

O campo do direito onde se inserem os textos juriacutedicos tem como

puacuteblico-alvo toda a sociedade que eacute o lugar onde as leis se aplicam mas o

texto original foi produzido por um setor da sociedade uma associaccedilatildeo de

classe de magistrados

Dentro do gecircnero juriacutedico podemos distinguir textos de maior e menor

relevacircncia em relaccedilatildeo agrave sua aplicaccedilatildeo A lei como texto autorizado pela

Constituiccedilatildeo se aplica a toda a naccedilatildeo jaacute uma carta de intenccedilatildeo que apoia a

sua aprovaccedilatildeo enquanto ainda era projeto de lei eacute uma apresentaccedilatildeo do texto

dirigida agrave Cacircmara dos Deputados Ambos satildeo textos juriacutedicos mas a ordem de

sua obediecircncia e aceitaccedilatildeo eacute diferente e acarreta consequecircncias proporcionais

ao seu cumprimento a lei obriga a todos a carta eacute uma critica positiva

O esquema simplificado abaixo permite compreender o tramite da

Proposta de Legislaccedilatildeo Participativa que foi o documento de origem dessa lei

federal

28

ldquoLXXVIII - a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do

processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeo (Inciso acrescido pela Emenda

Constitucional nordm 45 de 2004)rdquo

52

O processo histoacuterico de formaccedilatildeo do campo implica numa reflexatildeo sobre

os gecircneros e as obras que nele satildeo produzidas A percepccedilatildeo de cada obra

produzida no campo eacute feita de forma critica e somente a ampliaccedilatildeo da

produccedilatildeo eacute que permite a sua estabilizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos textos juriacutedicos

ao se tomar a elaboraccedilatildeo de textos legais por exemplo constata-se que uma

lei se apoia sempre nos textos anteriores numa relaccedilatildeo dialoacutegica a fim de

suprir ou corrigir as necessidades do grupo social a que se aplica

No contexto histoacuterico do corpus analisado antes da lei 114192006 ndash haacute

pouco mais de dez anos de sua sugestatildeo natildeo existia a possibilidade de

implantaccedilatildeo de serviccedilos de informatizaccedilatildeo em muitos dos preacutedios do Poder

Judiciaacuterio

Entretanto na medida em que a utilizaccedilatildeo dos computadores alterou o

comportamento dos cidadatildeos o uso de tecnologias digitais e similares e da

internet se tornou um habitus e as modificaccedilotildees produzidas por esse habitus

acabaram alterando as praacuteticas do quotidiano sendo finalmente incorporadas

por uma nova lei

LEI 114192006

53

Eacute nesse ponto que se constata a existecircncia das relaccedilotildees dialoacutegicas

apontadas por Bakhtin pois natildeo havia uma previsatildeo legal na lei anterior

(contida no Coacutedigo de Processo Civil) regulando como se daria na praacutetica

quotidiana do andamento dos processos no Poder Judiciaacuterio a integraccedilatildeo dos

serviccedilos de informatizaccedilatildeo jaacute que na data de sua entrada em vigor 1973 essa

tecnologia natildeo estava disponiacutevel

Ainda do ponto de vista da elaboraccedilatildeo de uma linguagem Bourdieu

propotildee que esta seja parte do processo de surgimento do campo O Direito tem

uma linguagem especifica que eacute utilizada na elaboraccedilatildeo dos textos de lei e que

perpassa os outros textos do campo que se produzem a partir ou mesmo antes

do texto legal uma linguagem que sai do campo do Direito e interfere em

outros campos tal como o legislativo ou o jornaliacutestico Eacute uma linguagem que

nomeia aqueles que participam do campo tal como os agentes que define

conceitos atos e praacuteticas e que determina condutas

Na lei 114192006 a relaccedilatildeo dialoacutegica da linguagem juriacutedica com a

linguagem da informaacutetica produziu inclusive uma nova linguagem teacutecnico-

juriacutedica em que surgem expressotildees tais como ldquomeio eletrocircnicordquo ldquotransmissatildeo

eletrocircnicardquo ldquoassinatura digitalrdquo ldquocertificado digitalrdquo rdquoprotocolo eletrocircnicordquo

rdquopublicaccedilatildeo eletrocircnicardquo rdquocorrespondecircncia eletrocircnicardquo rdquoprocesso eletrocircnicordquo

rdquoextratos digitaisrdquo etc expressotildees que estatildeo no corpo do texto da lei

As modificaccedilotildees trazidas pela Lei nordm 11419 de 19 de dezembro de

2006 para a Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 que instituiu o Coacutedigo de

Processo Civil29 propiciam o diaacutelogo e suprem na sociedade globalizada a

necessidade imposta pelo momento atual30 Uma sociedade que exige e

permite ao advogado postar sua peticcedilatildeo em espaccedilo fiacutesico por vezes diferente e

muito distante daquele onde estaacute o processo em que atua

29

Essas modificaccedilotildees natildeo seratildeo objeto de anaacutelise nesse trabalho O fato de elas existirem no conteuacutedo da

lei nova apenas atesta o dialogismo existente entre os textos de lei

30 Documento anexo nuacutemero 05 paacutegina da internet do Tribunal Regional Federal

54

Essa relaccedilatildeo dialoacutegica entretanto natildeo ocorre apenas entre esses dois

textos pois eacute permeada por vaacuterias outras de diferentes esferas e campos

como atestam os diferentes textos produzidos pela AJUFE (Apresentaccedilatildeo e

Nota Oficial) pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Redaccedilatildeo

(Anteprojeto) pela Cacircmara dos Deputados e da Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei

5828 de 2001 e do parecer e voto do Deputado Roberto Batochio pelos

artigos das Revista Consultor Juriacutedico e do Instituto Iuris31 Todos esses textos

mostram o empenho da sociedade como um todo em regular as atividades que

em parte jaacute foram modificadas com o advento da informatizaccedilatildeo no Poder

Judiciaacuterio

O dialogismo eacute mais evidente no texto da lei nova que jaacute declara no seu

caput32 que explicitamente altera a lei anterior33 revogando uma parte dos

artigos do Coacutedigo de Processo Civil (Lei 58691973) ou dando nova redaccedilatildeo

aos artigos que jaacute existiam (Lei 114192006 artigos 12 169sect1ordm) Faz-se

presente tambeacutem quando acresce incisos ou paraacutegrafos na Lei 58691973 (Lei

114192006 artigos 38 paraacutegrafo uacutenico 154sect 2ordm 164 paraacutegrafo uacutenico 169 sect2ordm

e sect3ordm) testemunhando a mudanccedila na esferacampo das atividades humanas

trazidas pela evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

O capital simboacutelico ou seja as relaccedilotildees entre os pares que participam

das relaccedilotildees e do reconhecimento e prestiacutegio pessoal das relaccedilotildees que satildeo

valorizadas pelo grupo tambeacutem exercem sua influecircncia no campo

De fato os profissionais da aacuterea juriacutedica gozam de prestiacutegio social e do

reconhecimento de seus pares e dos outros indiviacuteduos da sociedade pois eacute em

funccedilatildeo de suas atividades a de aplicar as normas coercitivas estabelecidas

pela sociedade que a vida social segue equilibrada

31

Documentos anexos I II III IVa IVb IVc IVd IVe IVf

32 Caput parte superior o iniacutecio de um documento uma lei ou de qualquer de seus artigos in PETRI

Maria Joseacute Constantino Manual de linguagem juriacutedica Satildeo Paulo Editora Saraiva 2011

33 ldquoDispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial altera a Lei n

o 5869 de 11 de janeiro de 1973 ndash

Coacutedigo de Processo Civil e daacute outras providecircnciasrdquo

55

Assim sob o aspecto da esferacampo que relaciona o momento soacutecio-

histoacuterico e as atividades humanas pudemos constatar como a modernizaccedilatildeo da

sociedade permite e ateacute mesmo impotildee modificaccedilotildees sociais que se transpotildeem

ao ordenamento juriacutedico na forma de aprovaccedilatildeo e cumprimento de uma nova

lei

Desta forma entendemos que as propostas de Bakhtin e do Circulo e

tambeacutem a de Bourdieu nos revelam a composiccedilatildeo dos mecanismos de

produccedilatildeo da linguagem bem como o dialogismo existente entre as diferentes

esferas e campos sociais e o sentido praacutetico produzido na sociedade atual

Os conceitos de esfera e campo se fundem para constituir o espaccedilo

onde ocorrem as produccedilotildees textuais juriacutedicas Um espaccedilo cujos limites

geograacuteficos satildeo variaacuteveis e que natildeo se circunscreve a um espaccedilo fiacutesico

especifico um espaccedilo universal que exige adaptaccedilotildees permanentes visto as

mudanccedilas sociais decorrentes da evoluccedilatildeo inevitaacutevel do mundo em que

vivemos (tome-se como exemplo as mudanccedilas provocadas pela adesatildeo dos

paiacuteses europeus agrave Uniatildeo Europeacuteia)

Essas adaptaccedilotildees satildeo permanentes e necessaacuterias para que a

convivecircncia se faccedila de forma relativamente equilibrada de onde a produccedilatildeo de

um ordenamento juriacutedico internacional e nacional constante Segundo Dollinger

(1992) elas satildeo inspiradas em rdquoprinciacutepios fundamentais e transcendentais de

justiccedila e equidaderdquo a fim de balancear ldquorealidades e necessidades

socioeconocircmicas em diferentes tempos e lugaresrdquo num processo de

universalizaccedilatildeo e extensatildeo dos direitos humanos

A regulaccedilatildeo internacional atraveacutes de tratados se faz na medida em que

seja necessaacuterio determinar de forma consensual as condutas entre diferentes

naccedilotildees Entretanto nem todas as naccedilotildees ratificaratildeo um tratado ao mesmo

tempo e nem todas procederatildeo de imediato agraves respectivas modificaccedilotildees

necessaacuterias em seus ordenamentos juriacutedicos internos

A produccedilatildeo de legislaccedilatildeo interna reflete por sua vez as necessidades

de adaptaccedilatildeo agraves realidades da naccedilatildeo e de suas relaccedilotildees com outras naccedilotildees

56

ou de suas relaccedilotildees internas Toda produccedilatildeo de textual juriacutedica incorpora

portanto o que se passa diariamente no territoacuterio internacional ou nacional34

Ao se examinar textos doutrinaacuterios de produccedilatildeo nacional o que se

constata eacute que os autores brasileiros fazem referecircncia frequentemente

sobretudo em notas de rodapeacute a autores de outros paiacuteses e a doutrinas e

legislaccedilotildees estrangeiras sobretudo europeus comparando os sistemas os

institutos juriacutedicos e ateacute mesmo as jurisprudecircncias

O Direito Brasileiro de acordo com Dolinger (1990) recebe tambeacutem

influecircncias do Direito Americano sobretudo em mateacuteria constitucional e

administrativa e pode ser testemunhada pelo direcionamento adotado em

decisotildees de nosso Supremo Tribunal Federal

Em relaccedilatildeo agraves influecircncias europeacuteias verificamos o que acontece em

obras de autores consagrados que se dedicam ao estudo do Direito Civil

Washington de Barros Monteiro (1971) Caio Maacuterio da Silva Pereira (1991) e

Silvio Rodrigues (1988)

Monteiro tem em seu primeiro capiacutetulo 27 citaccedilotildees de obras e autores

sendo que destes 25 satildeo estrangeiros (oito franceses) Em Pereira constam 23

obras citadas sendo que dessas 19 satildeo de obras e autores estrangeiros (oito

franceses) Rodrigues o mais econocircmico faz 12 citaccedilotildees sendo que cinco satildeo

de referecircncia a obras e direitos estrangeiros (trecircs franceses)

Ao colocarem nas notas de rodapeacute no corpo do texto ou na abertura do

capiacutetulo as citaccedilotildees de autores e obras os autores Monteiro Pereira e

Rodrigues informam que ao menos leram as obras referidas e que estatildeo

fazendo suas consideraccedilotildees a partir delas Este eacute o que se poderia chamar em

Direito de meacutetodo comparativo sobre os conceitos que satildeo apresentados por

nossos consagrados autores brasileiros

Essa praacutetica comeccedilou a tornar-se usual na Europa a partir do fim do

seacuteculo XIX quando diversas leis comeccedilaram a emergir nos paiacuteses europeus e

34

PELISSE ldquoEn effet quoi de plus speacutecifique aux cultures nationales que le droit De mecircme quoi de

plus incorporeacute et particulier que laquo ce qui se passe tous les jours raquo ce qui est banal et commun et qui

traduit par exemple le fait que lrsquoon est ou pas dans laquo son raquo pays raquo

57

as relaccedilotildees sobretudo comerciais entre os paiacuteses se intensificaram De

acordo com David (1985) a publicaccedilatildeo do Coacutedigo Civil francecircs em 1804

inspirou vaacuterios outros coacutedigos (entre eles o nosso Coacutedigo Civil) e acabou por

difundir a praacutetica das comparaccedilotildees

O que se chama portanto em Direito de meacutetodo comparativo eacute cada

vez mais frequente ao longo dos anos e fez surgir mais tarde o ramo que hoje

eacute chamado de Direito Comparado Atraveacutes do Direito Comparado eacute possiacutevel

entatildeo examinar direitos e legislaccedilotildees a fim de se verificar as semelhanccedilas ou

as diferenccedilas entre eles segundo Bevilaqua (1897) seja em seus aspectos

especiacuteficos ou gerais conforme precisa Dantas (1997)

Comparar direitos diferentes implica ler os textos de lei e compreende-

los em diferentes liacutenguas e contextos culturais Implica tambeacutem poder

reconhecer o que se manifesta como eco de uma legislaccedilatildeo anterior ou da

legislaccedilatildeo de um paiacutes para a de um paiacutes diferente A leitura de um livro teoacuterico

criacutetico ou de um coacutedigo comentado normalmente traz nas notas de rodapeacute

essas referecircncias

Na perspectiva da Anaacutelise do Discurso as citaccedilotildees nos rodapeacutes dos

manuais de direito satildeo testemunhos da polifonia (a voz de outro autor) e do

dialogismo (textual) O Direito Comparado nesta medida usa necessariamente

da polifonia e do dialogismo para fazer o exame comparativo dos textos

juriacutedicos

Outro aspecto da polifonia pode ser verificado pelo exame do percurso

de uma lei no sistema juriacutedico Esse eacute o caso de uma lei brasileira a proposta

de uma lei federal por exemplo eacute de iniciativa de um deputado de um

senador de um grupo deles ou de iniciativa popular Aprovado pela Cacircmara

dos Deputados o projeto de lei eacute encaminhado para o Senado a fim de

tambeacutem ali ser votado Se aprovado pelas duas casas o projeto seraacute

sancionado pelo Poder Executivo mais especificamente pelo Presidente da

Repuacuteblica O fato de um projeto tramitar pelo Poder Legislativo onde recebe

aprovaccedilatildeo de uma maioria de deputados e senadores e depois ser recebido

pelo Poder Executivo torna a lei publicada o resultado do acordo de vozes

58

diferentes Se o projeto for vetado pelo Congresso Nacional ou mesmo pelo

Presidente da Repuacuteblica o que eacute possiacutevel o veto tambeacutem eacute a expressatildeo de

vaacuterias vozes nesse caso dissonantes da intenccedilatildeo do projeto levado para

anaacutelise do Poder Legislativo ou Executivo

A lei resultado de um projeto de lei aprovado por um certo consenso eacute

um enunciado referendado por um grupo de pessoas - os Deputados

Senadores e Presidente da Repuacuteblica ndash que defenderam seu ponto de vista

aprovando a proposta apresentada O contexto de enunciaccedilatildeo onde se

entrecruzam dialogismo e polifonia tem sua cena de enunciaccedilatildeo como explica

Maingueneau (2002) no Congresso Nacional Eacute nessa cena de enunciaccedilatildeo

que se apresentam o enunciador que assume primeiramente o papel de

orador e o plenaacuterio do Congresso Nacional que eacute primeiramente o auditoacuterio

Essas noccedilotildees satildeo tratadas pela Teoria da Argumentaccedilatildeo e seratildeo estudadas no

item a seguir

23 A Retoacuterica e a Teoria da argumentaccedilatildeo a formaccedilatildeo do logos

do ethos e a influecircncia do local

O contato entre um enunciador aqui tratado como orador e um

enunciataacuterio aqui denominado auditoacuterio se faz pelo uso da palavra Os

recursos empregados pelo orador a fim de tentar convencer seu auditoacuterio ou

seja a argumentaccedilatildeo eacute o objeto de estudo da Retoacuterica A argumentaccedilatildeo vista

sob essa perspectiva eacute o campo em que se encontram de forma polecircmica

posiccedilotildees e interesses que se conjugam ou se confrontam conforme explica

Plantin (1990)

Esse autor explica que a palavra isto eacute a ponte entre orador e

auditoacuterio eacute o vetor de uma accedilatildeo simboacutelica e vem carregada pela intenccedilatildeo de

produzir resultados diferentes de acordo com o puacuteblico a que se destina em

funccedilatildeo dos projetos argumentativos dos interactantes

59

Perelman filoacutesofo do Direito ao renovar a Retoacuterica em 1958 propotildee

uma Nova Retoacuterica hierarquizando o que a Retoacuterica Claacutessica tinha

estabelecido como gecircnero deliberativo epidiacutedico e judiciaacuterio e priorizando a

linguagem do tribunal

Perelman fundamenta sua argumentaccedilatildeo juriacutedica substituindo a loacutegica

pela razatildeo partindo do justo conceito chave para ele de onde derivam dois

conceitos justiccedila que leva ao conceito de juriacutedico e justificado que conduz a

noccedilatildeo do que eacute razoaacutevel

Ainda segundo Plantin (1990) eacute neste ultimo ponto que o autor se

concentra para fundamentar a Nova Retoacuterica Segundo ele Perelman aleacutem de

procurar organizar respostas para a pergunta o que devo fazer tenta

encontrar respostas que contenham um princiacutepio de abstraccedilatildeo juriacutedica uma

regra de justiccedila e de igualdade entre os indiviacuteduos em que o argumento

eficaz no passado deve ser empregado em situaccedilatildeo anaacuteloga numa operaccedilatildeo

de recurso ao precedente

Eacute exatamente isso o que ocorre dentro de um sistema juriacutedico em que

uma lei se justifica pela existecircncia de uma outra que lhe antecede uma

tornando-se o argumento de existecircncia de outra que lhe eacute posterior

Tal como ocorre com a fixaccedilatildeo dos paracircmetros essenciais que

delimitam a situaccedilatildeo retoacuterica ocorre tambeacutem com os princiacutepios juriacutedicos A

situaccedilatildeo juriacutedica se constitui em torno de uma crise que deve ser resolvida por

uma decisatildeo seja sobre uma lei que jaacute existe seja por meio de uma decisatildeo

inovadora

Cabe esclarecer que uma lei natildeo pode retroagir para solucionar um

problema anterior a sua existecircncia Mas ela pode e vai corrigir os litiacutegios ou

desajustes posteriores a ela Nos sistemas juriacutedicos que permitem tal correccedilatildeo

como o brasileiro ela se faz seja por meio de uma decisatildeo de sentenccedila que

interprete a lei de forma inovadora seja por uma sentenccedila extensiva que

ultrapasse o que estaacute previsto em lei A decisatildeo inovadora e a sentenccedila

extensiva satildeo nesse sentido a expressatildeo de uma palavra orientada para um

determinado auditoacuterio que necessita de uma soluccedilatildeo para a sua demanda

60

Perelman (1996) na Nova Retoacuterica trata do auditoacuterio e do orador

segundo a premissa de que para que a argumentaccedilatildeo se desenvolva eacute

necessaacuterio que primeiramente a atenccedilatildeo do auditoacuterio esteja assegurada

Numa publicaccedilatildeo cientiacutefica como exemplifica esse autor essa atenccedilatildeo jaacute estaacute

assegurada na medida em que o puacuteblico leitor se dirige agrave revista com intenccedilatildeo

de ler seu conteuacutedo cabendo ao autor do artigo selecionado pelo leitor tatildeo

somente manter o contato que a instituiccedilatildeo cientiacutefica jaacute disponibilizou ao

permitir a publicaccedilatildeo do exemplar

Isso tambeacutem acontece num texto juriacutedico quem tem acesso ao texto eacute

um leitor direcionado e na maior parte das vezes especializado isto eacute domina

o vocabulaacuterio bem como o conteuacutedo da aacuterea Um leitor leigo certamente natildeo

teria um entendimento satisfatoacuterio do texto

Conforme esclarece Perelman as instituiccedilotildees que existem na sociedade

facilitam e organizam o contato entre um orador (enunciador) e seu auditoacuterio

(alocutaacuterio ou co-enunciador) pois normalmente um puacuteblico que procura por

um determinado assunto ou tema jaacute conhece algo sobre ele

O contato entre o orador e o auditoacuterio pelo argumento natildeo se faz

somente pelo antes isto eacute por presunccedilatildeo estabelecida entre ambos (de quem

eacute o orador e qual eacute seu auditoacuterio) mas se constroacutei durante a troca entre eles

pois as condiccedilotildees de uso da palavra e a intenccedilatildeo do orador e a reaccedilatildeo do

auditoacuterio tambeacutem contribuem para o desenvolvimento do argumento

O orador deve para que sua argumentaccedilatildeo alcance o objetivo

pretendido conhecer bem o auditoacuterio a que se dirige para poder prever sua

reaccedilatildeo e fazer os ajustes necessaacuterios a fim de que possa ter ecircxito no seu

propoacutesito Dessa forma o orador se serve da persuasatildeo pois enquanto estaacute

diante do seu auditoacuterio constroacutei a sua proacutepria personalidade diante daquele

auditoacuterio o seu ethos

231 A formaccedilatildeo do ethos

61

Aristoacuteteles apresenta o ethos sob a perspectiva de uma figura que se

serve do que eacute persuasivo para um certo grupo de indiviacuteduos com o objetivo

de causar uma boa impressatildeo proporcionando uma imagem de si capaz de

convencer o auditoacuterio e ganhar sua confianccedila

Por isso o ethos mobiliza tudo o que contribui pra alcanccedilar seu objetivo

desde o tom da voz ateacute o proacuteprio argumento apresentado O orador

proporciona uma imagem psicoloacutegica e socioloacutegica de si agindo de forma

indireta e dinacircmica a fim de atingir seu objetivo mobilizando para isso a

afetividade (pathos)

Estes recursos permitem ao orador obter uma eficaacutecia que permite

ganhar a confianccedila de seu auditoacuterio O ethos vai dessa forma se mostrando

durante o ato da enunciaccedilatildeo sem no entanto fazer uma apologia do orador ao

mesmo tempo em que constroacutei sua identidade atraveacutes de estrateacutegias que

direcionam suas palavras e orientam portanto o discurso

Ao mesmo tempo em que o ethos se apresenta o auditoacuterio constroacutei uma

representaccedilatildeo dele uma espeacutecie de ethos preacute-discursivo e que lhe eacute ateacute

mesmo anterior tal como ocorre em relaccedilatildeo a um poliacutetico diante do Congresso

Nacional por exemplo no momento em que ele discursa o auditoacuterio

normalmente jaacute sabe a que partido ele pertence e as ideias que abraccedila o que

ocorre em geral eacute que natildeo haacute grandes surpresas

Segundo Amossy (2005) o orador apresenta para o auditoacuterio um ethos

onde faz uma apresentaccedilatildeo de uma imagem a imagem de si a fim de garantir

o seu sucesso diante de seu interlocutor (ou co-enunciador) apresentando ao

mesmo tempo o que ele eacute e o que ele natildeo eacute (seu anti-ethos conforme

Maingueneau) privilegiando o que lhe interessa

Mesmo que alguns autores35 tenham tratado sobre esta questatildeo

analisando as trocas verbais considera-se para este trabalho que o texto

escrito tem diante de si um autor e um leitor e que a interaccedilatildeo de faz da

mesma forma poreacutem num momento temporal que natildeo eacute simultacircneo mas

35

Benveniste Kerbrat-Orecchioni

62

consecutivo podendo inclusive existir uma grande lacuna temporal separando

os dois polos em contato pelo enunciado

Segundo Amossy o tratamento dado ao ethos na anaacutelise do discurso por

Maingueneau tem seu foco na maneira de dizer que ldquoautoriza a construccedilatildeo de

uma verdadeira imagem de sirdquo A imagem usa da relaccedilatildeo do interlocutor e do

seu parceiro buscando a eficaacutecia da palavra causando impacto e buscando a

adesatildeo Como jaacute foi visto neste capiacutetulo a autora esclarece que Perelman se

preocupa mais quando trata do ethos com a forma de apresentaccedilatildeo do

argumento pelo orador diante do auditoacuterio

Amossy aborda a questatildeo da credibilidade do narrador tratada por

Hassal e de como o narrador se torna confiaacutevel aos olhos do leitor

mobilizando estrateacutegias para que a relaccedilatildeo de confianccedila seja fundada na

autoridade que ele enunciador deve se conferir caso deseje convencer uma

autoridade natildeo eacute negociada mas conferida

Segundo Mainguenau36 (2002) o ethos se elabora ldquoatraveacutes de uma

percepccedilatildeo complexa que mobiliza a afetividade do interprete ao mesmo tempo

em que tira suas informaccedilotildees do material linguiacutestico e do entorno do ambienterdquo

Entretanto essa elaboraccedilatildeo ultrapassa esse limite indo para alem disso

atingindo todo o comportamento do orador incluindo ai o verbal e o natildeo-verbal

sempre como o objetivo de provocar um efeito maior que o das simples

palavras

Maingueneau aponta algumas variantes na concepccedilatildeo de ethos

tratadas por Auchlin37 bastante interessantes a saber

a) O ethos pode ser bastante concreto (carnal) ou mais ou menos abstrato

36 Lrsquoethos de la rheacutetorique agrave lrsquoanalyse du discours 2002

37 Auchlin AntoineUniversiteacute de Genegraveve Publicou entre outros estudos laquoEthos et expeacuterience du

discours quelques remarquesraquo in Wauthion M et A C Simon (eacuteds) Politesse et ideacuteologie Rencontres

de pragmatique et de rheacutetorique conversationnelles Louvain Peeters laquoBCILLraquo 77-95 (trad en

portugais laquo Ethos e experiecircncia do discurso algumas observaccedilotildees raquo in Mari H I L Machado amp R De

Mello (2001) (eacuteds) Anaacutelise do discurso fundamentos e praacuteticas Nuacutecleo de Anaacutelise do discurso

FALEUFMG Belo Horizonte 201-225)

63

b) O ethos pode ser concebido como mais ou menos axioloacutegico vindo

associado agrave ideia de que um bom orador eacute algueacutem de bem de boa

moral e costumes

c) O ethos pode ser concebido como destacado manifesto singular

oposto ao coletivo partilhado impliacutecito e invisiacutevel Este uacuteltimo eacute

conforme explica o autor parte de uma comunidade comunicativa e

como tal eacute invisiacutevel e imperceptiacutevel

d) O ethos pode ser mais ou menos fixo convencional em oposiccedilatildeo ao

emergente e singular tal qual figuras preacute-moldadas

O ethos conclui o autor eacute uma noccedilatildeo discursiva que se constroacutei no

discurso e natildeo apenas uma imagem que o outro faz de um orador Isto implica

dizer que ele eacute parte de uma interaccedilatildeo em que o outro (auditoacuterio ou co-

enuciador) recebe uma determinada influecircncia num determinado contexto

histoacuterico-social e como jaacute explicado antes agraves vezes resultante de habitus

coletivos

O texto de lei tem um ethos atraacutes de si o ethos do legislador que

elaborou a lei Este ethos eacute um ethos preacute-estabelecido o do Congresso

Nacional que aprovou uma lei federal da Assembleia Nacional Francesa que

redigiu a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo ou da ONU que

elaborou atraveacutes de um comitecirc de vaacuterios paiacuteses uma Declaraccedilatildeo Universal de

Direitos do Homem

E cada um desses ethos tem atraacutes de si outros tantos ethos estes

individuais que aparecem na figura representada pelo Congresso brasileiro

pela Assembleia francesa ou pela ONU jaacute que estas satildeo ldquocasasrdquo em que

representantes da sociedade de uma naccedilatildeo ou das naccedilotildees se reuacutenem para

deliberar sobre questotildees de seu interesse

Na medida em que um ethos se une a outros ethos por meio de um

acordo que ocorre no momento em que opiniotildees similares se unem numa

64

anuecircncia sobre um determinado tema forma-se a opiniatildeo de consenso

resultante de um ideal ou real partilhado38

O ethos de um indiviacuteduo poliacutetico tende para o abstrato pois eacute

transformado em ethos de um grupo de deputados ou de representantes de

uma naccedilatildeo e se transforma no ethos da entidade que representam seja ela o

Congresso a Assembleia ou a ONU

No entanto a sua manifestaccedilatildeo natildeo pode ser percebida pelo documento

que apresentam (lei ou tratado) pois nesse texto que eacute um texto-resultado soacute

estatildeo expressas as vontades finais dos legisladores e a proacutepria figura do ethos

eacute apagada Na lei ou tratado a vontade expressa do legislador natildeo vem

expliacutecita na letra do texto O que o texto apresenta satildeo as foacutermulas de

execuccedilatildeo para que na vida praacutetica a vontade seja realizada O ethos estaacute

presente todavia nas sessotildees de debate normalmente privadas restritas ou

de acesso bem menos frequente ao grande puacuteblico e esse eacute o lugar onde

melhor se pode ver sua presenccedila sua construccedilatildeo e seu desenvolvimento

Para exemplificar o que se quer dizer tome-se o seguinte caso poucos

sabem por exemplo quem eram Charles Malik (libanecircs) ou Pen Chung Chang

(vice-presidente da China) que participaram da redaccedilatildeo da DUDH Nem

tampouco se sabe quais paiacuteses participaram da redaccedilatildeo quem foi seu redator

final (o jurista francecircs Reneacute Cassin) ou por quem foram presididos os trabalhos

de discussatildeo (tarefa que coube agrave Eleanor Roosevelt viuacuteva de Franklin

Roosevelt)39

Da mesma forma ocorreu com a lei de informatizaccedilatildeo da justiccedila (Lei

114192006) os usuaacuterios da lei natildeo conhecem o juiz Paulo Seacutergio Domingues

38

Como explica Charaudeau (2002) Aristoacuteteles trata da doxa ou sentido comum que eacute a resultante das

ideias admitidas e opiniotildees partilhadas pelos homens ou por uma maioria (ldquoesclarecidardquo)

39 Este eacute um caso onde se pode verificar uma polifonia visto que existem vaacuterias vozes que chegam a um

consenso para a redaccedilatildeo final do documento Poderia se pensar tambeacutem na questatildeo sobre a perspectiva da

heterogeneidade constitutiva do enunciado segundo o que desenvolve Authier-Revuz Mas como a

redaccedilatildeo final do documento implica em um texto resultado que traduz de forma neutra diferentes pontos

de vista de seus debatedores as marcas possiacuteveis de alteridade satildeo apagadas e natildeo se pode reconhecer

essa heterogeneidade

65

presidente da entidade de classe AJUFE (Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do

Brasil) que eacute quem a defende num momento de debates antes da sua

aprovaccedilatildeo mediante as criticas da OAB

Nesse caso tem-se a maior expressatildeo do ethos o ethos do individuo

Paulo Seacutergio Domingues eacute tambeacutem o ethos do homem mas tambeacutem da

entidade civil da qual este eacute presidente ele defende algo em que acredita e

natildeo soacute porque eacute representante da entidade40 Aleacutem disso na qualidade de juiz

federal natildeo deixa de ser representante do Poder Judiciaacuterio

Percebe-se de pronto pelos exemplos que o ethos individual deu lugar

a um ethos nacional continental cultural histoacuterico e social Pode-se dizer que

haacute a formaccedilatildeo de um super ethos de caraacuteter universal jaacute que funde em si

vaacuterios ethos tatildeo distintos mas que encontram um objetivo em comum uma

opiniatildeo partilhada e concordam em pontos que satildeo apresentados Todos tecircm

como resultado um texto juriacutedico a lei 114192206 ou a Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem

Natildeo eacute diferente do que ocorre na Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

Cidadatildeo elaborada pela Assembleia Francesa ou pela Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil colocada em vigor em 1988 O que difere satildeo

seus objetivos que satildeo particulares a uma naccedilatildeo ou a uma situaccedilatildeo o

momento histoacuterico e social de cada uma delas No entanto a forma de

construccedilatildeo do ethos eacute igual em todos os casos

Cada um dos documentos citados conteacutem em si um caraacuteter abstrato em

sua intenccedilatildeo mas concreto porque seraacute validado jaacute que eacute lei ou tratado Cada

um deles conteacutem um valor axioloacutegico pois traduz a moral do tempo as regras

que precisam ser impostas E como tal satildeo uacutenicos singulares mas dirigidos a

uma comunidade e portanto de efeito coletivo e de caraacuteter partilhado Por fim

como forma textual satildeo documentos fixos moldados convenccedilatildeo que deve ser

respeitada por todos a quem se destina

40

Conforme relatou o proacuteprio Dr Paulo Seacutergio Domingues professor da Faculdade de Direito de

Sorocaba onde leciona haacute 18 anos a disciplina de Direito Processual Civil

66

Maingueneau explica esta questatildeo

laquo Dans le cas de textes scientifiques ou juridiques par exemple le garant au-

delagrave de lrsquoecirctre empirique qui a mateacuteriellement produit le texte est une entiteacute

collective (les savants les hommes de loihellip) eux-mecircmes repreacutesentants

drsquoentiteacutes abstraites (la Science la Loihellip) dont chaque membre est censeacute

assumer les pouvoirs degraves qursquoil prend la parole Degraves lors que dans une socieacuteteacute

toute parole est socialement incarneacutee et eacutevalueacutee la parole scientifique ou

juridique est inseacuteparable de mondes eacutethiques bien caracteacuteriseacutes (savants en

blouses blanches dans des laboratoires immaculeacutes juges austegraveres dans un

tribunalhellip) ougrave lrsquoethos prend selon le cas les couleurs de la laquo neutraliteacute raquo de

lrsquo laquo objectiviteacute raquo de lrsquo laquo impartialiteacute etcraquo41

Mas se por um lado existe uma neutralidade da qual fala esse autor ela

vem impregnada por um vetor ideoloacutegico ligado ao conteuacutedo de cada

documento e de caraacuteter extremamente subjetivo pois que dirigido agrave proteccedilatildeo

dos direitos do homem O resultado final (tratado declaraccedilatildeo ou lei) exprime

dessa forma ao mesmo tempo neutralidade e objetividade e diacronicamente e

de forma oposta eacute resultado justamente da parcialidade e da subjetividade

O enunciador do texto de lei assim como de alguns outros textos

abordados nesse trabalho (os textos de lei e os votos) eacute um enunciador-

resultante expressatildeo de vaacuterias vozes e vontades bem como de diferentes

ethos Pode-se por isso conferir-lhe um status de sujeito enunciador tal qual

um orador e que eacute dotado de um ethos Esse sujeito ao exprimir sua vontade

por meio do texto escrito da lei vai exercer sobre seu auditoacuterio os mesmos

poderes que um enunciador comum de um uacutenico sujeito Seu ethos ainda que

abstrato eacute ldquogigante pela proacutepria natureza eacute impaacutevido colossordquo na medida em

que exprime a vontade do enunciador-resultante e pode ateacute mesmo por

exemplo ser caracterizado do ponto de vista social e poliacutetico

41

Ndo A ldquo No caso dos textos cientiacuteficos ou juriacutedicos por exemplo a garantia aleacutem do ser empiacuterico

que materialmente produziu o texto eacute uma entidade coletiva (os saacutebios os homens da lei) eles proacuteprios

representantes de entidades abstratas (a Ciecircncia a Lei) da qual cada membro eacute autorizado a assumir os

poderes a partir do momento em que toma a palavra Desde o momento em que numa sociedade toda

palavra eacute socialmente personificada e avaliada a palavra cientiacutefica ou juriacutedica eacute inseparaacutevel de mundos

eacuteticos bastante caracterizados (saacutebios de aventais brancos em laboratoacuterios imaculados juizes austeros em

um tribunal) lugar em que o ethos assume de acordo com o caso as cores da ldquoneutralidaderdquo da

ldquoobjetividaderdquo da ldquoimparcialidaderdquo etc

67

232 O papel do local

O local fiacutesico e concreto onde se encontra o enunciador eacute revestido de

um caraacuteter objetivo mas que eacute ao mesmo tempo subjetivo e por isso abstrato

o Congresso Nacional a Assembleia Nacional (francesa) ou a ONU tecircm um

preacutedio fiacutesico como endereccedilo e satildeo pessoas juriacutedicas42 Satildeo chamadas de

42

Conforme o Vocabulaacuterio Juriacutedico (Silva De Plaacutecido e Vocabulaacuterio Juriacutedico Atualizadores Nagib

Slaibi Filho e Glaacuteucia Carvalho Rio de Janeiro Companhia Editora Forense 2004) Pessoa juriacutedica eacute

aquela ldquoempregada para designar as instituiccedilotildees corporaccedilotildees associaccedilotildees e sociedades quepor forccedila ou

determinaccedilatildeo da lei se personalizam tomam individualidade proacutepria para constituir uma entidade

juriacutedica distinta das pessoas que a forma ou que a compotildeem

Diz-se juriacutedica porque se mostra uma encarnaccedilatildeo da lei E quando natildeo seja inteiramente criada por ela

adquire vida ou existecircncia legal somente quando cumpre as determinaccedilotildees fixadas por lei

Dessa forma ao contraacuterio da pessoa natural cuja existecircncia legal se inicia por um fato natural ( o

nascimento) a pessoa juriacutedica somente tem existecircncia quando o Direito lhe imprime o sopro vital

Criando-se ou as confirmando eacute pois o Direito que determina ou daacute vida a essas entidades formadas

pela agremiaccedilatildeo de homens pela patrimonizaccedilatildeo de bens ou para cumprir segundo as circunstacircncias

realizaccedilatildeo do proacuteprio Estado

Inquinam a expressatildeo de pleonaacutestica porque pessoa simplesmente jaacute exprime ou daacute o sentido do ser

juridicamente considerado

Realmente pessoa assim se entende tanto se refere ao homem juridicamente compreendido como a toda

instituiccedilatildeo ou organizaccedilatildeo que se personalizou legalmente para cumprir finalidades do Direito ou fins

desejados por seus instituidores

Mas a qualificaccedilatildeo natural ou a juriacutedica eacute imposta para especializaccedilatildeo pois que em verdade segundo a

mateacuteria de que eacute composta ou constituiacuteda a pessoa haacute distinccedilatildeo entre essas duas espeacutecies

Nesta razatildeo a qualificaccedilatildeo adotada funda-se no fato do qual decorre a sua existecircncia ou personalidade

civil

No homem daacute-se o fato natural E daiacute a designaccedilatildeo adotada logicamente homem natural

Nas instituiccedilotildees corporaccedilotildees associaccedilotildees sociedades etc o fato de que decorre a personalizaccedilatildeo ou

individualizaccedilatildeo eacute legal eacute juriacutedico pois que se funda no Direito E daiacute a expressatildeo juriacutedica que integra

este sentido Juriacutedico eacute tudo o que eacute legal aprovado ou confirmado por lei quando natildeo eacute a proacutepria lei que

o institui ()

As pessoas juriacutedicas satildeo sempre representadas pelas pessoas naturais a quem se outorgam poderes para

representaccedilatildeo Esta representaccedilatildeo em regra eacute dita de delegaccedilatildeo por ser distinta em sua formaccedilatildeo e

exerciacutecio do mandato comumrdquo

Desta forma a ONU eacute pessoa juriacutedica de direito puacuteblico externo o Congresso Nacional eacute pessoa juriacutedica

de direito puacuteblico interno

68

pessoa juriacutedica pois possuem uma personalidade chamada de juriacutedica porque

natildeo eacute uma pessoa humana mas uma entidade a quem se conferem

determinados direitos e obrigaccedilotildees parecidas com as que satildeo atribuiacutedas aos

homens

Essas pessoas juriacutedicas que satildeo sediadas num endereccedilo fiacutesico

concreto tecircm poderes podem decidir negociar delegar ou representar o

grupo tal qual um mandato de um mandante ao seu mandataacuterio

Tecircm todos Congresso Nacional Assembleia Nacional e ONU uma

vontade que exprimem por seus atos e decisotildees tais como promulgar uma

constituiccedilatildeo uma lei um tratado uma declaraccedilatildeo resultado da decisatildeo da

maior parte de seus membros ou revogaacute-los

O local importa porque eacute ao mesmo tempo objetivo e subjetivo quando

se trata de uma notiacutecia em um telejornal ou na internet sobre essas casas haacute

sempre a imagem do preacutedio associada agrave notiacutecia o repoacuterter estaacute no local ou haacute

uma foto do local A fotografia ou a imagem do local fiacutesico personifica e

humaniza o local e por conseguinte se incorpora ao ethos de cada casa que

adquire uma forccedila maior quando citada como fonte (por exemplo O

Congresso Nacional aprovou a lei ldquoxrdquo) Imediatamente vem agrave mente do leitor

ou do ouvinte uma imagem real do local

Assim uma decisatildeo ou declaraccedilatildeo proferida por uma dessas casas tem

uma forccedila (ilocutoacuteria) muito maior do que se o enunciado fosse proferido de um

local natildeo conhecido pelo enunciataacuterio (uma associaccedilatildeo de moradores de um

bairro por exemplo) caso em que o espaccedilo da imagem ficaria no ldquovaziordquo no

referencial do enunciataacuterio

Pode-se exemplificar isso ao se pensar no Congresso Nacional

perguntando-se o que vem agrave cabeccedila do leitor Com certeza ele imaginaraacute algo

parecido com as imagens das figuras abaixo

69

43

Ou

44

Ou ainda

45

Por isso considera-se o local como constituinte tambeacutem do ethos a

imponecircncia institucional associada agrave apresentaccedilatildeo contiacutenua da imagem nos

meios de comunicaccedilatildeo impotildee um respeito agrave figura do ethos da entidade

tornando-o mais forte porque melhor conhecido do seu enunciataacuterio (auditoacuterio)

Todo esse contexto favorece a compreensatildeo da importacircncia de um texto

juriacutedico no seu contexto de produccedilatildeo Mais ainda geralmente um texto

referente a um determinado tema (por exemplo direito a uma justiccedila raacutepida)

natildeo teraacute o mesmo sentido e nem poderaacute ser aplicado da mesma forma em

paiacuteses diferentes ou ateacute mesmo em regiotildees diferentes de um mesmo paiacutes

43

httpwww2camaragovbr

44 httpwwwsenadogovbr

45 Niemeyer Oscar Congresso Nacional 1958 Brasilia httpwwwarcowebcombrarquiteturaoscar-

niemeyer-coletanea-de-11-02-2008html

70

Imagine-se a demora necessaacuteria para a resoluccedilatildeo de um processo de

divoacutercio na cidade de Satildeo Paulo ou numa pequena cidade do interior do

Estado Logicamente onde haacute mais demanda a demora eacute maior para o

atendimento do que se pleiteia

Entatildeo o texto juriacutedico tem sentido em seu local de produccedilatildeo ou de

origem se bem que possa ser aplicado e servir de fonte para outros sistemas

juriacutedicos diferentes (pela analogia admitida em vaacuterios sistemas juriacutedicos)46

Daiacute a importacircncia de conhecer bem o enunciataacuterio ao qual se dirige a

palavra pois dificilmente se poderia obter ecircxito diante de um auditoacuterio cujas

ideias e perfis satildeo contraacuterios ao do enunciador-orador Entretanto nada

impede que ao estabelecer uma relaccedilatildeo com seu puacuteblico o enunciador possa

se servir de argumentos e desenvolvecirc-los de tal forma que termine por

direcionar a opiniatildeo do seu enunciataacuterio-auditoacuterio convencendo-o totalmente

Cabe aqui uma distinccedilatildeo entre a persuasatildeo e a convicccedilatildeo o que

requer como premissa a distinccedilatildeo entre os tipos de auditoacuterios Um primeiro

tipo chamado de universal eacute aquele formado por toda a humanidade O

segundo eacute formado por um uacutenico interlocutor e seu auditoacuterio como num

diaacutelogo O uacuteltimo tipo eacute o estabelecido entre o proacuteprio sujeito e as deliberaccedilotildees

que ele faz consigo mesmo como num diaacutelogo interno

O objetivo do orador - o de obter a adesatildeo desse auditoacuterio - se

concretiza na medida em que o primeiro obteacutem um convencimento de ldquocaraacuteter

impositivo coativo das razotildees fornecidas e de sua evidecircncia validade

intemporal e absoluta independecircncia das contingecircncias locais ou histoacutericasrdquo

que satildeo apontadas

Perelman (197642) destaca ainda que o auditoacuterio universal eacute constituiacutedo

por cada um de seus integrantes e que cada cultura e cada individuo tem a sua

proacutepria concepccedilatildeo do que eacute um auditoacuterio universal Essas consideraccedilotildees levam

46

Uma versatildeo integral do coacutedigo civil francecircs foi adotada na iacutentegra no gratildeo-ducado de Varsoacutevia

Polocircnia durante a ocupaccedilatildeo napoleocircnica (httpideruditorgiderudit043668ar)

71

agrave conclusatildeo de que um determinado argumento pode natildeo obter o mesmo tipo

de adesatildeo em auditoacuterios de culturas diferentes de nacionalidades diferentes

Como se realiza a integraccedilatildeo ou a entrada de um sistema juriacutedico em

um outro diferente como se processam os aportes de legislaccedilatildeo Como um

sistema juriacutedico tal qual o brasileiro integra um tratado internacional ou de que

forma ele insere em seu ordenamento juriacutedico um coacutedigo quase ldquocopiadordquo tal

como ocorreu com os primeiros coacutedigos brasileiros (civil penal e comercial)

Os exemplos dos respectivos coacutedigos civis abaixo satildeo testemunhos

desse fenocircmeno

a) Coacutedigo Civil Brasileiro47

Art 3o Satildeo absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os

atos da vida civil

I - os menores de dezesseis anos

II - os que por enfermidade ou deficiecircncia mental natildeo tiverem

o necessaacuterio discernimento para a praacutetica desses atos

III - os que mesmo por causa transitoacuteria natildeo puderem exprimir

sua vontade

b) Coacutedigo Civil Francecircs 48

Article 1123

Creacuteeacute par Loi 1804-02-07 promulgueacutee le 17 feacutevrier 1804

Toute personne peut contracter si elle nen est pas deacuteclareacutee

incapable par la loi

Article 1124

47

REVOGADA A LEI Nordm 3071 DE 1ordm DE JANEIRO DE 1916 - Coacutedigo Civil dos

Estados Unidos do Brasil - VIGEcircNCIA ATEacute O DIA 10012003LEI No 10406 DE 10 DE

JANEIRO DE 2002 Institui o Coacutedigo Civil em vigor desde 11012003 (Alterado pela MP Nordm

10409012003( hoje LEI No 1067722052003 LEI Ndeg 1082522122003 LEI Ndeg 1093102082004

MP Nordm 234 10012005 LEI Nordm 11107 06042005 LEI Nordm 11127 28062005 LEI Nordm 11280

16022006 LEI Nordm 11481 31052007 LEI Nordm 1169813062008 LC Nordm 12819122008 LEI Nordm

1201003082009 jaacute inseridas no texto) LIVRO I DAS PESSOASTIacuteTULO I DAS PESSOAS

NATURAIS CAPIacuteTULO IDA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE

48 Version consolideacutee au 2 juin 2012 Chapitre II Des conditions essentielles pour la validiteacute des

conventions Section 2 De la capaciteacute des parties contractantes

72

Creacuteeacute par Loi 1804-02-07 promulgueacutee le 17 feacutevrier 1804

Modifieacute par Loi ndeg68-5 du 3 janvier 1968 - art 2

Sont incapables de contracter dans la mesure deacutefinie par la loi

Les mineurs non eacutemancipeacutes

Les majeurs proteacutegeacutes au sens de larticle 488 du preacutesent code

Constata-se o uso dos mesmos vocaacutebulos termos e expressotildees Mais

mesmo com redaccedilatildeo diferente o conteuacutedo eacute quase o mesmo

Como todas essas consideraccedilotildees se encaixam na Teoria da

Argumentaccedilatildeo Tomando a lei como o ponto de partida do fenocircmeno que

constroacutei o sistema juriacutedico ela eacute o argumento em si Isso posto o auditoacuterio eacute o

puacuteblico a que se destina seu enunciataacuterio E o enunciador ou orador eacute o

legislador ou aqueles que deram razatildeo as mudanccedilas da lei Uma lei alterada

existe porque foi necessaacuteria uma mudanccedila social requerida pelo enunciador e

eacute destinada a regrar a vida dos enunciataacuterios

A lei nova que vem como soluccedilatildeo pode ter sido inspirada apenas pelas

mudanccedilas sociais de uma nova tecnologia (pelo uso da informaacutetica) ou por um

tratado internacional assinado pelo governo brasileiro (Declaraccedilatildeo Universal de

Direitos Humanos) Dessa forma uma lei anterior eacute fonte de uma nova lei o que

revela a polifonia existente A necessidade de uma nova lei pela modernizaccedilatildeo

ou adequaccedilatildeo a um sistema internacional eacute o argumento

233 O auditoacuterio

O auditoacuterio para quem se destina a lei eacute um auditoacuterio ao mesmo tempo

uacutenico e universal Uacutenico quando tomado como naccedilatildeo pois uma lei se destina a

todo o povo de uma naccedilatildeo E ao mesmo tempo universal porque eacute constituiacutedo

de indiviacuteduos homens e mulheres bastante diferentes entre si na sua

73

individualidade mas que aos olhos do Estado e de seus poderes politicamente

organizados constituem um uacutenico ser o povo

Diferente do auditoacuterio universal o auditoacuterio onde se apresenta um uacutenico

interlocutor vecirc o desenvolvimento do argumento dentro de um diaacutelogo que se

desenvolve de maneira razoavelmente equilibrada no qual tanto o orador

quanto o interlocutor expotildeem cada um seus bons argumentos a fim de

encontrar uma soluccedilatildeo de consenso

A proposta de uma lei federal por exemplo eacute resultado da expressatildeo de

um auditoacuterio universal pois ela eacute debatida no Congresso Nacional onde estatildeo

deputados e senadores No entanto um interlocutor uacutenico pode representar na

condiccedilatildeo de representante do grupo ao qual pertence um auditoacuterio universal

Dessa forma o Congresso Nacional pode ser visto no momento do debate

como um ser uacutenico

Normalmente no auditoacuterio a troca entre orador e interlocutor possui

caracteriacutesticas que apontam para a discussatildeo Todavia ela pode se transformar

em debate se o objetivo principal for o triunfo da tese defendida tal como

ocorre no debate para a aprovaccedilatildeo de uma lei Segundo Perelman (197650) a

distinccedilatildeo entre o debate e a discussatildeo se faz sobretudo pela intenccedilatildeo dos

participantes da troca

O auditoacuterio ao deliberar consigo mesmo diante do que lhe eacute

apresentado pelo orador estaraacute sopesando sua aceitaccedilatildeo total ou parcial

convencendo-se ou natildeo da tese que lhe foi proposta

Diferente eacute o que ocorre na persuasatildeo que transcende os limites da

convicccedilatildeo iacutentima do interlocutor ou do auditoacuterio mediante o uso de um

elemento de maior forccedila que tem como objetivo coagir o auditoacuterio seja ele

formado por um uacutenico interlocutor ou universal

A persuasatildeo pode ser resultado dos procedimentos utilizados pelo

orador ou ocorrer em funccedilatildeo da formaccedilatildeo do proacuteprio auditoacuterio universal Assim

por exemplo um deputado de opiniatildeo divergente em seu partido pode votar a

favor de um projeto de lei que eacute de interesse do grupo poliacutetico ao qual

74

pertence A persuasatildeo neste caso seria efeito do pathos que se realiza pela

coerccedilatildeo isto eacute pelo compromisso assumido pelo poliacutetico com seu partido

obrigando-o a votar de acordo com o que a sua bancada partidaacuteria determinou

Uma lei colocada em vigor natildeo aceita discussatildeo sobre seu caraacuteter

persuasivo pois como lei sua persuasatildeo e seu poder de coaccedilatildeo satildeo atributos

inerentes Entretanto uma lei colocada em vigor pode suscitar debates sobre

sua forma de aplicaccedilatildeo Jaacute um projeto de lei pode tambeacutem suscitar debates

onde discussatildeo e persuasatildeo estatildeo presentes no momento de sua proposta

visto que num sistema democraacutetico o projeto de lei implica num debate antes

de sua aprovaccedilatildeo definitiva em lei

Os tratados de retoacuterica distinguem todos os gecircneros oratoacuterios

deliberativos judiciaacuterios e epidiacutedicos Os primeiros e os segundos se

constituem sobretudo por debates poliacuteticos e judiciaacuterios enquanto o terceiro

seria voltado para uma livre forma de expressatildeo cujo objetivo eacute o de agradar

elevar ou ornar um fato

Perelman destaca todavia que apesar de seu caraacuteter aparentemente

esteacutetico-literaacuterio o gecircnero epidiacutedico eacute aquele que conteacutem a intensidade

necessaacuteria presente na exposiccedilatildeo de cada argumento que por sua vez tem

seu valor exacerbado em uma medida necessaacuteria para atingir o resultado a que

se propotildee o orador

Perelman (197667) explica que dessa forma o convencimento do

auditoacuterio tambeacutem se faz natildeo soacute pela discussatildeo dos elementos que constituem

o argumento mas pelo fato de ser belo o recurso do qual se utiliza o orador

por exemplo Eacute nele ainda segundo Perelman que o orador se faz educador

que transmite seus valores Aqui estaacute presente a arte encantatoacuteria que muitas

vezes se faz pela presenccedila pessoal do orador diante de seu auditoacuterio seu

gestual sua forma de impostar a voz etc No Congresso Nacional a presenccedila

do epidiacutedico se faz pela emoccedilatildeo e pelo discurso inflamado do deputado ao

defender ou refutar o projeto de lei em debate diante do plenaacuterio

A argumentaccedilatildeo tem sempre como objetivo modificar um estado de

coisas preexistentes Eacute portanto de ordem praacutetica objetiva e pretende

75

mostrar por meio de provas que tem sua razatildeo de ser alterando o criteacuterio

subjetivo com que o auditoacuterio julga o argumento

Aleacutem do gecircnero epidiacutedico que eacute usado como recurso como jaacute foi dito

antes o orador serve-se de outros recursos para convencer o seu auditoacuterio

O auditoacuterio ou enunciataacuterio a quem se dirigem os textos de lei

analisados pelo corpus deste trabalho eacute o homem que vive em sociedade a

coletividade No caso da DDHC eacute o homem e cidadatildeo francecircs (leia-se homem

enquanto ser da espeacutecie humana) na DUDH eacute o homem de cada paiacutes

integrante da ONU na CF88 o homem brasileiro ou estrangeiro que vive no

Brasil e finalmente no caso da Lei 114192006 o homem eacute cada um que for

usuaacuterio do Poder Judiciaacuterio funcionaacuterio ou parte de um processo

resguardadas as limitaccedilotildees de implantaccedilatildeo do sistema de informatizaccedilatildeo

Jaacute nos textos do voto e parecer do Deputado Roberto Batochio e da

Justificaccedilatildeo da Deputada Luiza Erundina o auditoacuterio eacute a proacutepria Cacircmara dos

Deputados pois eacute ela quem aceita o parecer de ambos para depois votar a

aprovaccedilatildeo do projeto de lei Jaacute na Nota Oficial analisada o auditoacuterio eacute mais

restrito o texto dirige-se agrave OAB que criticou o projeto de lei e tambeacutem aos que

possam se interessar pela aprovaccedilatildeo da proposta apresentada ao Congresso

Nacional

234 O ethos e o logos

Perelman (197667) trata da adesatildeo que se pode fazer a grupos especiais

como os valores as hierarquias e os lugares do preferiacutevel explicando que

ldquoestar de acordo em relaccedilatildeo a um valor significa admitir que se exerceraacute uma

influecircncia sobre um objeto um ser ou um idealrdquo e que ela pode natildeo se impor a

todos

Mas destaca o autor que os valores estatildeo presentes de alguma forma e

em algum momento em todas as argumentaccedilotildees mesmo que isso ocorra pela

contestaccedilatildeo do valor ou sua total negaccedilatildeo Um auditoacuterio universal vai estar

76

sujeito a valores universais Mas na medida em que um auditoacuterio universal eacute

composto por auditoacuterios especiais a adesatildeo de cada grupo se faraacute de forma

diferente Entatildeo na aprovaccedilatildeo de uma lei ou tratado por um parlamento haveraacute

adesatildeo integral ou parcial ou natildeo do auditoacuterio universal A aprovaccedilatildeo e

portanto sua adesatildeo natildeo se faraacute de forma igual podendo haver diferentes

graus de adesatildeo mesmo diante da aprovaccedilatildeo E cada adesatildeo pode se fazer

por razotildees diferentes isto eacute cada grupo pode aderir por concordar ou se opor

a um certo grupo de valores diversos

Eacute o que ocorreu com a posiccedilatildeo da OAB que criticou o projeto da Lei de

Informatizaccedilatildeo Judicial para essa entidade o valor de ldquoacesso a uma justiccedila

mais ceacutelererdquo parecia impossiacutevel de ser alcanccedilado mesmo depois de sua

aprovaccedilatildeo pelo Poder Legislativo Hoje pode-se constatar que apesar de

ainda serem necessaacuterios vaacuterios aperfeiccediloamentos na implantaccedilatildeo - e ateacute

mesmo na execuccedilatildeo dos procedimentos de informatizaccedilatildeo a certificaccedilatildeo

digital por exemplo eacute uma realidade para os advogados brasileiros49

49

De acordo com o site nacional da entidade httpwwwacoabcombracoabsiteentendacertificado-

digital-oab Acesso em 22122012

O Certificado Digital OAB eacute emitido apenas para advogados regularmente inscritos na Ordem dos

Advogados do Brasil

Como descrito na DPC AC-OAB (Declaraccedilatildeo de Praacuteticas de Certificado ndash Autoridade

Certificadora OAB) documento que conteacutem as normas e procedimentos aplicaacuteveis agrave

Autoridade Certificadora o Certificado Digital do advogado somente poderaacute ser armazenado no chip do

seu cartatildeo profissional

Os inscritos que jaacute receberam a nova identidade profissional emitida pela OAB contendo

o chip eletrocircnico natildeo precisaratildeo solicitar um novo cartatildeo

Seraacute necessaacuterio apenas realizar o processo de solicitaccedilatildeo descrito no paraacutegrafo ldquoComo emitir

um Certificado Digitalrdquo

Os inscritos que ainda possuem o modelo antigo da identidade profissional sem o chip deveratildeo

providenciar imediatamente a troca pelo novo modelo para obter as vantagens do uso da

certificaccedilatildeo digital

Quando o advogado opta por ter uma certificaccedilatildeo digital ICP-BRASILAC-OAB ele valoriza a sua

entidade de classe e viabiliza seu acesso a diversos serviccedilos agregados e disponibilizados pelo Conselho

Federal como

1 Aacuterea para seu uso exclusivo no site da Instituiccedilatildeo para disponibilizar seu curriacuteculo profissional e

outras informaccedilotildees uacuteteis

2 Acesso automaacutetico aos seus dados constantes do Cadastro Nacional de Advogados passiacuteveis de

atualizar eletronicamente

77

Os valores podem ser de ordem distinta isto eacute concretos ou abstratos

Perelman considera a justiccedila ou a veracidade como valores abstratos e a

Franccedila ou a Igreja como valores concretos Na sociedade ocidental calcada

nas concepccedilotildees greco-romanas existem comportamentos e virtudes que soacute

podem ser segundo ele concebidos em relaccedilatildeo aos valores concretos tais

com as noccedilotildees de fidelidade ou lealdade

A base da argumentaccedilatildeo se faz sobre um tipo de valores ou sobre o

outro dependendo das circunstacircncias e nem sempre eacute faacutecil se distinguir o

papel de cada um dos valores Num dado grupo social o valor concreto pode

ser tratado como uacutenico e se oporaacute a qualquer outro que lhe seja estranho e

pode ateacute se for adotado sem os devidos cuidados levar a uma tomada de

posiccedilatildeo arbitraacuteria

Os valores concretos podem ser usados para fundar valores abstratos e

vice-versa Apoiar-se num valor abstrato pode servir agrave critica e agrave necessidade

de se proceder dessa forma manifesta ou ainda segundo Perelman (1976) a

um espiacuterito revolucionaacuterio enquanto que o contraacuterio indica normalmente um

caraacuteter conservador

O valor de igualdade e liberdade que parecia abstrato em 1789 aos

revolucionaacuterios franceses se materializa na DDHC se reforccedila com a

publicaccedilatildeo na DUHC Aiacute o conceito de justiccedila ainda volaacutetil sobretudo pelo fato

das duas grandes guerras vivenciadas pela Europa em menos de 50 anos

comeccedila a tomar corpo e ganhar forccedila Por toda a parte satildeo contestadas as

medidas que restringem a igualdade e a liberdade ao mesmo tempo em que o

3 Reduccedilatildeo dos custos na contrataccedilatildeo da Certificaccedilatildeo Digital

4 Seguranccedila na emissatildeo do Certificado ICP-BRASILAC-OAB porque aleacutem da conferecircncia

presencial dos documentos apresentados na hora da certificaccedilatildeo haveraacute uma consulta ao Cadastro

Nacional dos Advogados onde apareceraacute a foto do advogado para a confirmaccedilatildeo final

5 Possibilidade de encaminhamento de livros para Editoraccedilatildeo da Editora OAB

6 Desconto na inscriccedilatildeo de cursos na ENA

7 Aquisiccedilatildeo de livro da Livraria OAB com descontos

Para que o advogado possa usufruir a valorizaccedilatildeo de seu cartatildeo deve estar em dia com a OAB e ter

certificaccedilatildeo ICP-BRASILAC-OAB

78

sentido do conceito de justiccedila se amplia se reformula sobe na hierarquia dos

valores sociais ateacute se transformar no acesso raacutepido agrave justiccedila sustentado pelas

maacuteximas do fumus bon iuris e do periculum in mora

As hierarquias que tambeacutem constituem a base da argumentaccedilatildeo se

apoiam sobre os valores pois indicam a preferecircncia ou a concepccedilatildeo dos

valores relativos agraves pessoas e agraves coisas umas em relaccedilatildeo agraves outras Tambeacutem

podem ser concretas e abstratas sendo que os mesmos criteacuterios em relaccedilatildeo

aos valores satildeo adotados para se distinguir umas das outras

Uma das formas mais usuais de hierarquizaccedilatildeo eacute a que considera o

aspecto quantitativo dos elementos colocando em preferecircncia os de maior

quantidade Mas a hierarquia dos valores abstratos se faz mediante o criteacuterio

da natureza do elemento o que equivale dizer da sua natureza qualitativa e a

essa hierarquia na apresentaccedilatildeo dos argumentos eacute mais importante ateacute do

que o proacuteprio valor dos argumentos

Perelman ensina que um auditoacuterio se caracteriza mais pela forma como

ele hierarquiza os valores do que pelos proacuteprios valores A intensidade de

adesatildeo a cada um dos valores tambeacutem deve ser considerada e conhecida do

orador a fim de que ele possa explorar convenientemente esse aspecto na

apresentaccedilatildeo de sua argumentaccedilatildeo

Ao se examinar uma lei e o argumento que caracteriza a sua existecircncia

temos que sua concretude se daacute pelo fato da lei ser publicada e produzir seus

efeitos Mas o grau de importacircncia de uma lei eacute baseado tal qual o argumento

numa escala hieraacuterquica onde o valor atribuiacutedo a diferentes leis eacute normalmente

definido pela Constituiccedilatildeo do paiacutes como se veraacute mais adiante

Em relaccedilatildeo aos argumentos e aos lugares estes vatildeo designar as

rubricas sob as quais se podem classificar os argumentos como se fossem

etiquetas A divisatildeo aristoteacutelica separava os lugares comuns dos especiacuteficos

Os primeiros de caraacuteter generalizante permitem um uso em diversas e

muacuteltiplas circunstacircncias Seu uso indiscriminado levou agrave repeticcedilatildeo exaustiva e

esse excesso foi tachado de local comum caracterizando os lugares comuns

por uma banalidade que entretanto natildeo exclui a especificidade

79

Perelman (1976115) propotildee em sua obra diferente do que fez

Aristoacuteteles tratar dos lugares comuns separando-os em lugares da

quantidade da qualidade da ordem da existecircncia da essecircncia e da pessoa

Os lugares da quantidade satildeo definidos como sendo lugares comuns onde

prevalece a quantidade da ocorrecircncia e segundo Isoacutecrates deve se avaliar

sua aplicaccedilatildeo e retorno isto eacute aquele que ldquorend servicerdquo a maior quantidade

de pessoas que dele se beneficia Retomando Aristoacuteteles Perelman

(1976116) cita um trecho de Toacutepicos50 que eacute bastante interessante onde ele

compara a justiccedila agrave coragem e a utilidade de ambas a justiccedila sempre eacute uacutetil a

coragem apenas agraves vezes Isto implica dizer que o local da quantidade eacute

aquele onde o que acontece eacute o usual o normal o habitual

Oposto ao local da quantidade estaacute o da qualidade tal como o da

qualidade da verdade divina defendida por Calvino e os Reformistas Aqui tem

maior importacircncia a singularidade a preciosidade a especificidade a

originalidade de cada ser ou objeto e das relaccedilotildees que os envolvem eacute a

valorizaccedilatildeo do uacutenico A precariedade citada como exemplo de local da

qualidade em oposiccedilatildeo ao valor quantitativo da duraccedilatildeo Por isso o que eacute

precaacuterio tem um valor maior

Os outros lugares tal qual o da ordem afirmam a superioridade do

anterior sobre o posterior da causa sobre o fim e o dos princiacutepios sobre o

objetivo os lugares da existecircncia afirmam a superioridade do que existe do

que eacute atual e real sobre o possiacutevel o eventual ou o impossiacutevel

Uma lei como jaacute foi mencionado eacute um argumento em si e eacute posta

diante de um auditoacuterio a sociedade As palavras que se apresentam no seu

enunciado nem sempre representam o seu conteuacutedo uma lei como a da

informatizaccedilatildeo da justiccedila (Lei 114192006) busca em seu escopo uma

celeridade no tracircmite dos processos junto ao sistema judiciaacuterio Mas no corpo

50

ldquoEst aussi plus deacutesirable ce qui est plus utile en toute occasion ou la plupart du temps par exemple la

justice et la tempeacuterance sont preacutefeacuterables au courage car les deux premiegraveres sont toujours utiles tandis

que le courage ne lrsquoest qursquoagrave certains momentsraquo

80

do texto da lei essas palavras natildeo aparecem O que natildeo significa que a

maacutexima ldquoceleridade processualrdquo esteja ausente

Um estudo mais aprofundado realizado por Cretella (1994) da oitava

Constituiccedilatildeo da Republica Federativa do Brasil de 1988 que ainda eacute vigente

revela que quatro Declaraccedilotildees Revolucionaacuterias Francesas51 influem na

Constituiccedilatildeo Poliacutetica do Impeacuterio de Brasil de 1824 e se perpetuam ao longo dos

tempos

No texto de 1988 o principio tradicional de ldquotodos satildeo iguais perante a

leirdquo ressurge reformulado no Preacircmbulo atraveacutes da palavra ldquoigualdaderdquo Mas

este princiacutepio tambeacutem estaacute presente em outras Constituiccedilotildees anteriores a

saber

Constituiccedilatildeo do Impeacuterio (art 179 inc I)

Constituiccedilatildeo Federal de 1891 (art 72 sect 2ordm)

Constituiccedilatildeo Federal de 1934 (art 113 inc I)

Carta de 1937 (art 122 inc I)

Constituiccedilatildeo Federal de1946 (art 141 sect 1ordm)

Emenda Constitucional no 1 de 1969 (art 153 sect 1ordm)

e na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (art 5ordm)

Por sua vez o artigo 5ordm da Constituiccedilatildeo de 1988 recebe uma Emenda

Constitucional52 16 anos apoacutes a sua entrada em vigor que trata exatamente

da questatildeo da celeridade da justiccedila ldquoa todos no acircmbito judicial e

51

De acordo com o mesmo autor a) a de 17 artigos e mais conhecida a Declaraccedilatildeo dos Direitos do

Homem e do Cidadatildeo pois seus artigos constam no Proacutelogo da Constituiccedilatildeo de 1791 e na de 1958

tambeacutem Foi votada pela Assembleia Constituinte francesa em 27 de agosto de 1789 b) a Declaraccedilatildeo

girondina de 1793 votada pela Convenccedilatildeo c) a Declaraccedilatildeo Montanhesa de 1793 que deveria preceder a

constituiccedilatildeo mas que acabou natildeo sendo votada d) a Declaraccedilatildeo do Ano III que precede a Constituiccedilatildeo

de 5 Frutidor (do mesmo ano) votada tambeacutem pela Convenccedilatildeo

52 Emenda Constitucional n

o 45 de 9 de dezembro de 2004 Art 5ordm LXXVIII - a todos no acircmbito judicial

e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeridade de

sua tramitaccedilatildeo

81

administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios

que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeordquo

Conforme observa Alexandre de Moraes (2011410-412) evocando o

princiacutepio da eficiecircncia dos serviccedilos

A EC no 4504 (Reforma do Judiciaacuterio) assegurou a todos no

acircmbito judicial e administrativo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo

e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeo

O mesmo autor comenta mais adiante na mesma obra referindo-se

especificamente agrave lei 114192006

No contexto da Reforma do Judiciaacuterio e buscando efetivar a

celeridade processual a Lei no

11419 de 19 de dezembro de

2006 regulamenta a informatizaccedilatildeo do processo judicial (autos

virtuais) estabelecendo a possibilidade de utilizaccedilatildeo do meio

eletrocircnico na tramitaccedilatildeo dos processos judiciais comunicaccedilatildeo

de atos e transmissatildeo de peccedilas processuais indistintamente aos

processos civil penal e trabalhista bem como aos juizados

especiais em qualquer grau de jurisdiccedilatildeo

A proacutepria lei define os principais termos para a implementaccedilatildeo

da informatizaccedilatildeo do processo judicial

Entatildeo o desaparecimento ou ausecircncia de certos termos nos documentos

(tal qual o termo justiccedila) tem um significado sua ausecircncia implica no fato de

que o valor abstrato passou a ser concreto natildeo eacute mais necessaacuterio estar

presente de forma expliacutecita ele eacute inerente agrave sociedade pois a evoluccedilatildeo dos

costumes fez com que o valor transigisse de status passando da abstraccedilatildeo

para a concretude

Na Revoluccedilatildeo Francesa o direito a uma justiccedila ldquojustardquo era algo que natildeo

se conhecia e se existia era exercido para alguns e natildeo para todos podendo

nunca se concretizar pela demora em sua realizaccedilatildeo O direito agrave justiccedila se

ampliou de tal forma que hoje natildeo eacute mais necessaacuterio que ele apareccedila

explicitado dessa forma pois ele se tornou inerente ao homem do seacuteculo XXI

mesmo que seja necessaacuterio ainda em alguns casos explicitaacute-lo melhor53

53

Ao se acessar a paacutegina da ONU pode-se verificar que ainda existem muitas questotildees em que a justiccedila

ainda natildeo alcanccedila sua efetividade pois existem programas tais como eliminaccedilatildeo da violecircncia contra a

82

A anaacutelise que Cretella (1994) faz do Preacircmbulo da Constituiccedilatildeo Federal

da Repuacuteblica do Brasil mostra sob a oacutetica do direito tal evoluccedilatildeo Ele explica

que a Revoluccedilatildeo Francesa incorpora em um soacute valor as maacuteximas de ldquoliberteacuterdquo

ldquoeacutegaliteacuterdquo e ldquofraterniteacuterdquo mas que os constituintes brasileiros os separaram na

redaccedilatildeo do Preacircmbulo colocando-os em ldquolugaresrdquo diferentes

A separaccedilatildeo permite ao contraacuterio do que se possa pensar natildeo uma

dispersatildeo dos valores Significa que cada um desses valores pode e seraacute

como se veraacute mais adiante ser tomado individualmente para que possa ser

melhor explorado desenvolvido e especificado A um valor baacutesico de liberdade

se associam as situaccedilotildees onde este valor eacute necessaacuterio liberdade de crenccedila

religiosa de ir e vir de filiaccedilatildeo partidaacuteria por exemplo

De certa forma alguns desses valores estatildeo presentes ao mesmo tempo

fundidos em outros Assim o valor de bem-estar soacute pode existir se um homem

for livre para circular pelo espaccedilo social se ele for tratado de forma equacircnime

em relaccedilatildeo aos outros homens e de maneira fraterna

Assim tambeacutem ocorre em relaccedilatildeo agrave justiccedila para que se atinja a justiccedila

enquanto ideal de uma sociedade haacute que se ter liberdade igualdade e

fraternidade A maacutexima francesa retomada em vaacuterias das Constituiccedilotildees e

Cartas brasileiras se repete sempre como se sua repeticcedilatildeo fosse necessaacuteria

para sua solidificaccedilatildeo presente no preacircmbulo e perpetuando-se pelos artigos

seguintes inclusive no artigo 5ordm cristaliza-se tal qual claacuteusula peacutetrea Sua

exigecircncia passa a ser inquestionaacutevel e deve ser a todo custo cumprida

Desta forma valores tatildeo abstratos na Franccedila de 1789 e que passaram a

ser repercutidos ao longo dos anos surgiram na primeira Constituiccedilatildeo do

Impeacuterio e se perpetuaram em outras Constituiccedilotildees brasileiras concretizando-

se como direitos adquiridos

mulher a crianccedila da violecircncia sexual nos conflitos da proteccedilatildeo dos povos autoacutectones das crianccedilas nos

conflitos armados etc (httpwwwunorgfrrights)

83

Entretanto natildeo soacute os documentos franceses influenciaram as leis

brasileiras O cenaacuterio internacional tambeacutem provocou interferecircncias apoacutes duas

guerras mundiais de consequecircncias perpeacutetuas e avassaladoras para o mundo

que culminaram na celebraccedilatildeo de vaacuterios tratados e da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem de 1948 A DDUH retomara os valores de igualdade

fraternidade liberdade justiccedila especificando-os e aprofundando-os a fim de

impedir que novos horrores fossem praticados

Ora o Brasil por meio do mesmo art 5ordm e inciso LXXVIII54 inclui os

tratados internacionais em seu sistema legal colocando os tratados

internacionais sobre direitos humanos entre a constituiccedilatildeo federal e as leis

federais o que implica dizer que eles tecircm que ser respeitados tal como

constam no tratado dentro do sistema hieraacuterquico das leis brasileiras

Essa forma de organizaccedilatildeo hieraacuterquica das leis nada mais eacute do que o

logos do enunciado uma lei autoriza ou se acorda com outra uma eacute

argumento da outra Consequentemente uma medida provisoacuteria natildeo pode estar

em desacordo com um tratado internacional ou um decreto legislativo em

desacordo como uma lei complementar

24 A reformulaccedilatildeo na liacutengua e no discurso juriacutedico

As figuras e procedimentos da Retoacuterica no item anterior mostram que

documentos franceses repercutiram no mundo e influenciaram documentos

brasileiros por meio de procedimentos reformulativos variados Conceitos

expressotildees termos foram ora incorporados repetidos reformulados ora

suprimidos sendo sua ausecircncia apenas formal Essas diversas formas de

reformulaccedilatildeo expliacutecita natildeo se realizam sem alterar o sentido obviamente O

54

sect 2ordm - Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do

regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do

Brasil seja parte

84

termo reformulaccedilatildeo eacute muito geneacuterico e refere-se a vaacuterios procedimentos

linguiacutesticos discursivos e enunciativos natildeo cabendo aqui discorrer sobre suas

inuacutemeras formas e alcance apenas seratildeo aludidas as formas que interessam agrave

anaacutelise deste corpus55

241 Do ponto de vista linguiacutestico

A reformulaccedilatildeo eacute um procedimento de substituiccedilatildeo empregado na

construccedilatildeo de um enunciado De acordo com Peytard (1984) a reformulaccedilatildeo

pode ser entendida ldquocomme lrsquoensemble des transformations quun discours

(litteacuterairescientifique) admet dune mecircme et unique source pour devenir laquo

autrement raquo56 eacutequivalentrdquo Para que se possa realizar tal operaccedilatildeo

normalmente faz-se uso de uma expressatildeo linguiacutestica diferente Por exemplo

no caso de um texto juriacutedico a lei pode ser substituiacuteda de forma reduzida ou

simplificada por ldquoelardquo ldquodelardquo ou ldquoregra legalrdquo

Peytard tambeacutem ensina que a reformulaccedilatildeo ocorre no momento em que

se explica um enunciado levando em consideraccedilatildeo o ldquoagente de

reformulaccedilatildeordquo

crsquoest-agrave-dire par rapport au locuteur-scripteur qui partant drsquoun

eacutenonceacute discursif drsquoorigine (situeacute) le transforme selon des

proceacutedures repeacuterables en un eacutenonceacute discursif second Eacutetant

entendu que lrsquoalteacuteration peut soit maintenir une similitude (eacutetat

drsquoeacutequivalence) soit provoquer une diffeacuterence (eacutetat drsquoalteacuteriteacute)57

A reformulaccedilatildeo elaborada por um mesmo enunciador reflete sim a

alteridade discursiva Todavia nos casos em que ela eacute resultante de um

55

Alguns autores preferem a grafia re-formulaccedilatildeo pois cada alteraccedilatildeo eacute uma nova formulaccedilatildeo

56 aspas do autor

57 ldquoIsto eacute em relaccedilatildeo ao locutor-escritor que partindo de um enunciado discursivo de origem (situado) o

transforma segundo procedimentos que se evidenciam em um enunciado discursivo segundo Visto que

a alteraccedilatildeo pode ou manter uma similaridade (estado de equivalecircncia) ou provocar uma diferenccedila (estado

de alteridade)rdquo (Trad Nossa)

85

conjunto de vozes de diferentes enunciadores de mesma cultura e ateacute de

culturas diferentes ela refrata apenas a polifonia existente

Segundo Mortureux (1993) a reformulaccedilatildeo como recurso eacute bastante

adotada para transpor o discurso cientiacutefico e teacutecnico para um discurso de

vulgarizaccedilatildeo (divulgaccedilatildeo cientiacutefica) ou seja essa transposiccedilatildeo possibilita o

acesso de uma linguagem teacutecnica e cientiacutefica para uma linguagem quotidiana

ou mais acessiacutevel Explica Peytard (1984) que sendo o agente da alteraccedilatildeo o

mesmo que produziu o enunciado discursivo de origem trata-se de

reformulaccedilatildeo

Segundo Charaudeau a reformulaccedilatildeo tem diferentes objetivos mas o

principal eacute evitar a repeticcedilatildeo de um mesmo termo retomado A reformulaccedilatildeo

pode se aplicar a um uacutenico termo ou a um conjunto deles e pode tambeacutem se

fazer de vaacuterias formas Enquanto fenocircmeno enunciativo a reformulaccedilatildeo pode

tratar dos diferentes aspectos do discurso direto ou indireto mas tambeacutem do

dialogismo inerente a todo discurso conforme a perspectiva bakhtiniana

Nos casos em que ocorre uma reformulaccedilatildeo e a alteraccedilatildeo do enunciador

ndash que eacute substituiacutedo por outro enunciador ou por um grupo de enunciadores ndash

pode haver uma alteraccedilatildeo do sentido Tal fato pode ser da escolha do

enunciador que quer ou precisa se afastar do termo inicialmente usado Tome-

se como exemplo o uso de termos substituiacutedos por outros porque

considerados inadequados a partir de um determinado momento tal como a

substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquodeficiente fiacutesicordquo pela expressatildeo ldquoportador de

necessidade especialrdquo O enunciador pode iniciar seu texto com a primeira

expressatildeo para esclarecer sobre o objeto do qual iraacute tratar para em seguida

passar a usar sempre a segunda expressatildeo considerada mais adequada nos

tempos atuais O conteuacutedo ideoloacutegico presente na reformulaccedilatildeo aponta a

vontade do enunciador de natildeo discriminar aqueles que tecircm mobilidade

diferenciada

Explica ainda Charaudeau (1992) que a reformulaccedilatildeo pode ter um

caraacuteter explicativo ou imitativo No primeiro caso ela tem um caraacuteter didaacutetico

conforme ensina esse autor pois explica de forma detalhada e atualizada tal

86

qual se faz num dicionaacuterio ou em um resumo (abstract ou reacutesumeacute) de artigo

cientiacutefico O caraacuteter imitativo reproduz as caracteriacutesticas mais marcantes tal

como no pastiche na saacutetira ou na paroacutedia e sua funccedilatildeo eacute luacutedica

A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo pode-se tomar o caso de um fiacutesico e um

engenheiro que descrevem o funcionamento de um motor de automoacutevel em

linguagem teacutecnica em um relatoacuterio teacutecnico sobre o desempenho do motor e o

mesmo fenocircmeno explicado num manual para o proprietaacuterio de um veiculo

automotor

Ensina Mortureux (1993) que essas substituiccedilotildees podem se efetuar pelo

emprego de recursos metalinguiacutesticos diafoacutericos ou tipograacuteficos

a) metalinguiacutesticos satildeo chamados pela autora os recursos empregados

com o auxilio dos verbos do tipo significar designar etc que satildeo utilizados na

sequecircncia do termo para esclarecer ou explicar tal como a sequecircncia de

palavras que datildeo o sentido de um termo no dicionaacuterio Ex incapacidade

designa a falta de capacidade de algueacutem para a realizaccedilatildeo de determinados

atos da vida civil

b) diafoacutericos satildeo os recursos que compreendem a

- anaacutefora gramatical retomada do termo posteriormente e acompanhado por um determinante do tipo demonstrativo por exemplo

- anaacutefora lexical retomada do termo por repeticcedilatildeo simples sinoniacutemia metoniacutemia

- a cataacutefora retomada do termo por um enunciado posterior

c) tipograacuteficos satildeo os recursos que se destinam a chamar a atenccedilatildeo

atraveacutes da pontuaccedilatildeo ou forma graacutefica tal como uma palavra grafada em

itaacutelico

Em relaccedilatildeo agrave sinoniacutemia recurso bastante empregado nos textos do

corpus Charaudeau (199254) ensina que no momento em que se emprega

uma palavra no local de outra num mesmo contexto ldquosans que change le sens

de leacutenonceacute on dira que ces deux mots sont seacutemantiquement eacutequivalents Ce

pheacutenomegravene est traditionnellement appeleacute synonymieraquo

87

O autor observa entretanto que natildeo existe sinoniacutemia absoluta Se

assim fosse natildeo haveria a necessidade de existirem diferentes palavras para

exprimir a mesma coisa Se haacute outra palavra existe um sentido diferente em

geral devido agrave diferenccedila do contexto em que cada uma eacute empregada

242 A reformulaccedilatildeo no direito empreacutestimo ldquotransplantrdquo ldquocirculationrdquo

No Direito eacute preciso tomar bastante cuidado com a substituiccedilatildeo de um

termo pelo outro jaacute que o sentido se altera A reformulaccedilatildeo eacute um procedimento

bastante praticado pelos juristas ao se tomar a lei como texto primordial e

central da atividade do jurista o texto que ele produz a partir da leitura da lei

nada mais eacute do que um procedimento de reformulaccedilatildeo acrescido de uma

interpretaccedilatildeo argumentativa para atingir um determinado objetivo

Existem ateacute mesmo artigos e leis que satildeo conhecidos inclusive por

aqueles que natildeo satildeo da aacuterea juriacutedica No Coacutedigo Penal os artigos 121 e 171

satildeo sinocircnimos de homiciacutedio e estelionato e na linguagem popular satildeo ateacute

empregados como adjetivos ldquoAh o fulano Conheccedilo bem ele eacute o ldquomaior 171rdquo

do bairrordquo

No discurso juriacutedico a reformulaccedilatildeo se faz normalmente no corpo do

texto onde haacute a transcriccedilatildeo do referido artigo de lei que agraves vezes se muito

conhecido tem apenas seu nuacutemero mencionado Em seguida haacute a

fundamentaccedilatildeo para justificar o pedido e o proacuteprio pedido como se pode ver

no exemplo de peticcedilatildeo abaixo caso em que a partir de uma lei o advogado

formula seu texto

ldquoDe acordo com o artigo 3deg do Coacutedigo Civil58

Satildeo absolutamente incapazes59

de exercer pessoalmente

os atos da vida civil

58

VADEMECUM SARAIVA 2ordf Ed Satildeo Paulo Saraiva 2006

59 Os grifos mostram a reformulaccedilatildeo dos termos e expressotildees empregados

88

I - os menores de dezesseis anos

II - os que por enfermidade ou deficiecircncia mental

natildeo tiverem o necessaacuterio discernimento para a praacutetica desses

atos

III - os que mesmo por causa transitoacuteria natildeo

puderem exprimir sua vontade

Assim Joseacute da Silva maior como jaacute foi demonstrado

anteriormente deficiente mental conforme o laudo anexado as

folhas e pelo processo de interdiccedilatildeo no

natildeo tem capacidade

suficiente para contratar um serviccedilo pois natildeo sabe diferenciar

entre o certo e o errado e portanto o que foi acertado entre as

partes eacute nulo em seu efeito rdquo60

Tambeacutem se encontram procedimentos de reformulaccedilatildeo em textos

teoacutericos como o texto de um manual de direito que explica este mesmo artigo

Capacidade de direito e de fato - Capacidade jaacute o vimos eacute a

aptidatildeo para ser sujeito de direitos e obrigaccedilotildees e exercer por si

ou por outrem atos da vida civil Duas satildeo portanto as espeacutecies

de capacidade a de gozo ou de direito e a de exerciacutecio ou de

fatordquo

()

A segunda espeacutecie de capacidade eacute a de exerciacutecio ou de fato eacute a

simples aptidatildeo para exercitar direitos eacute a faculdade de os fazer

valer se a capacidade de gozo eacute inerente a todo ser humano a

de exerciacutecio ou de fato deste pode ser retirada O exerciacutecio dos

direitos pressupotildee realmente consciecircncia e vontade por

conseguinte a capacidade de fato subordina-se agrave existecircncia no

homem dessas duas faculdades 61

No exemplo acima eacute possiacutevel verificar como os termos foram

reformulados por operaccedilotildees de sinoniacutemia ou mesmo por meio de uma

60

Exemplo elaborado baseado numa peccedila processual deste tipo de processo

61 Monteiro Washington de Barros Grifos do autor

89

expressatildeo ou paraacutefrase que detalha o que vem a ser incapacidade O termo

ldquoincapazesrdquo eacute restringido pela idade (os menores de dezesseis anos) pela

condiccedilatildeo fiacutesica ou mental (os que por enfermidade ou deficiecircncia mental natildeo

tiverem o necessaacuterio discernimento para a praacutetica desses atos) por motivos

fortuitos (os que mesmo por causa transitoacuteria natildeo puderem exprimir sua

vontade) O termo ldquodeficiente mentalrdquo eacute explicado por ldquonatildeo tem capacidade

suficienterdquo e ldquonatildeo sabe diferenciarrdquo Jaacute a capacidade vem parafraseada por

Monteiro (1970) como a ldquoaptidatildeo para ser sujeito de direitos e obrigaccedilotildees e

exercer por si ou por outrem atos da vida civilrdquo A capacidade de fato vem

definida como sendo ldquoa simples aptidatildeo para exercitar direitosrdquo ldquoa faculdade de

os fazer valerrdquo e explicitada por ldquoa capacidade de fato subordina-se agrave

existecircncia no homem dessas duas faculdadesrdquo

Os dois casos de reformulaccedilatildeo acima observados encontram-se entre

textos de um mesmo sistema juriacutedico o brasileiro Mas isso tambeacutem pode

ocorrer em sistemas juriacutedicos diferentes tal qual o francecircs e o brasileiro em

que podem tambeacutem estatildeo presentes reformulaccedilotildees tal qual nos textos do

corpus desse trabalho No artigo 5ordm da Constituiccedilatildeo brasileira encontramos

Art 5ordm - Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

E na Constituiccedilatildeo francesa que integra a DDHC e 1789 laquo Art 1ordm Les hommes

naissent et demeurent libres et eacutegaux en droits Les distinctions sociales ne

peuvent ecirctre fondeacutees que sur lutiliteacute commune raquo

Em Direito eacute comum encontrar-se ldquointerferecircnciasrdquo de um conjunto de

regras e ideias pertencentes a um sistema de direito em outro sistema62 Essas

ldquointerferecircnciasrdquo reformulaccedilotildees empreacutestimos importaccedilotildees satildeo de grande

amplitude pois ocorrem nas praacuteticas profissionais do mundo do trabalho

62

A CF88 integra os tratados internacionais e os de direitos humanos no mesmo artigo 5o LXXVIII sect 2ordm

- Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do regime e dos

princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja

parte sect 3ordm Os tratados e convenccedilotildees internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados em cada

Casa do Congresso Nacional em dois turnos por trecircs quintos dos votos dos respectivos membros seratildeo

equivalentes agraves emendas constitucionais (Conforme Emenda Constitucional no45 de 2004)

90

Tambeacutem ocorrem na produccedilatildeo de textos ndash de doutrina de lei de jurisprudecircncia

ndash ainda que em sistemas bastante diferentes tais como o Direito da Common-

Law63 (no qual se encaixa o sistema anglo-estadunidense) e tambeacutem no Direito

Continental franco-germacircnico 64 no qual se encaixam o direito francecircs e o

brasileiro

Esse fenocircmeno estudado pelo Direito Comparado ocorre porque um

sistema juriacutedico importa eou exporta frequentemente para outro(s) sistema(s)

seus vocaacutebulos conceitos ideias princiacutepios doutrinas leis ou

jurisprudecircncias65 Essa eacute uma praacutetica importante e necessaacuteria para o Direito e

sua evoluccedilatildeo66 Esse aporte pode se dar de forma parcial ou integral

WISE(1990) faz diversas consideraccedilotildees sobre o tema tambeacutem

questionando qual seria o melhor termo a ser empregado para tratar do aporte

63

Conforme o Dictionnaire Juridique Dahl Common Law laquo (hellip) la troisiegraveme signification srsquoemploie

pour deacutefinir les Etats-Unis comme un pays de common law dont le droit se fonde sur le droit britannique

par opposition agrave un pays de laquo droit civil raquo dont le droit deacuterive de la tradition juridique romaineraquo

64 Conforme o livreto disponivel em httpwwwkontinentalesrechtdetl_fileskontinental-

baseBroschuere_FRPDF (01112012) Direito Continental laquo Le droit continental est un droit eacutecrit

marqueacute par le concept de codification La codification est le regroupement systeacutematique et rationnel des

regravegles de droit dans des recueils officiels tels un code civil ou un code de commerce raquo

65

DAVID Reneacute e JAUFFRET-SPINOSI Camille Les grands systegravemes de droit contemporains Paris

Dalloz 1992 pg 5 -6 laquo Le leacutegislateur de tout temps a utiliseacute lui-mecircme le droit compareacute pour accomplir

et perfectionner son œuvre () la science du droit a par sa nature mecircme de science un caractegravere

transnational Ce qui est tradition que le nocirctre peut influer sur la maniegravere dont le droit de notre pays sera

expliqueacute interpreteacute et parfois renouveleacute en dehors mecircme de toute intervention du leacutegislateur

66 PELISSE Jeacuterome A-t-on conscience du droit Autour des Legal Consciousness Studies Genegraveses

ndeg 59 httpwwwcairninforevue-geneses-2005-2-p-114htm 2005

ldquoIl apparaicirct donc leacutegitime non seulement de renouveler (ou de redeacutecouvrir et drsquoapprofondir) le regard sur

les pheacutenomegravenes de socialisation juridique de mobilisation quotidienne du droit de construction

ideacuteologique de la leacutegaliteacute mais aussi de croiser drsquoimporter et de dialoguer avec des travaux qui

srsquoinscrivent dans une culture juridique elle-mecircme de plus en plus mondialiseacutee La juridicisation etou la

judiciarisation du politique et de la socieacuteteacute tout comme les transformations de lrsquoaction publique (inflation

leacutegislative contractualisation et proceacuteduralisation des politiques publiques deacutecentralisation et

laquo europeacuteanisation raquo simultaneacutee etc) constituent autant de pheacutenomegravenes dont lrsquoimportance est souligneacutee

par un nombre croissant de travaux en sciences sociales raquo

91

que faz um sistema juriacutedico para o outro ldquotransplantrdquo 67 (adotado em liacutengua

inglesa) ou ldquocirculationrdquo middot68 (adotado em liacutengua francesa)

Conveacutem examinar aqui que na liacutengua francesa seria possiacutevel o emprego

do termo ldquotransplantrdquo que apresenta o sentido de ldquoorgane tissu transplanteacuterdquo ou

ldquotransplantationrdquo para a ldquoaction de transplanterrdquo ldquoCirculationrdquo tem como

definiccedilotildees ldquomouvement circulairerdquo ldquoaeacuterationrdquo ldquocommerce raquo laquo roulement raquo laquoen

cours raquo laquo diffusion lancement raquo laquo propagation transmission raquo laquo trafic raquo Este

termo tambeacutem pode ter o mesmo sentido de ldquotransporte por imigraccedilatildeordquo

Na liacutengua inglesa ldquotransplantrdquo tem a forma idecircntica para o verbo e para o

substantivo e estaacute ligado agrave ideia de ldquoto remove and plant in another placerdquo ldquoto

transport as or colonisation cause to emigraterdquo ou ldquoto remove (issue from one

part or individual and plant for growth in another)rdquo

Pode-se acreditar que cada sistema juriacutedico e portanto cultural escolha

um termo diferente para designar um mesmo fenocircmeno pois os costumes satildeo

diferentes Seria possiacutevel ainda empregar o termo empreacutestimo em liacutengua

portuguesa ldquobrasileirardquo Nesse caso o termo explica o fenocircmeno em que um

sistema juriacutedico se utiliza de uma parte ou agraves vezes de uma grande parte do

direito de outro sistema para resolver uma espeacutecie de lacuna de forma mais

raacutepida e talvez mais eficaz

Eacute pouco provaacutevel que uma legislaccedilatildeo de um paiacutes seja eficaz em outro

paiacutes pois os aspectos culturais sociais histoacutericos poliacuteticos e econocircmicos

certamente satildeo bastante diferentes A aplicaccedilatildeo para que atinja a eficaacutecia teria

que ser bastante flexiacutevel Um exemplo de adoccedilatildeo de coacutedigo integral se fez na

Turquia que adotou em 17021926 o coacutedigo civil suiacuteccedilo69

67

WEBSTERrsquoS NEW COLLEGIATE DICTIONARY GampCMERRYAN AND CO PUBLISHERS

Springfield Mass USA 1959Second editon

68 Robert Paul LE PETIT ROBERT DICTIONNAIRE Dictionnaires Le Robert Paris 1986

69 Segundo LEGEAIS Raymond Les grands systegravemes de droit contemporain Paris LexisNexis Litec

Eacuteditions du Juris-Classeur 2004141)

92

Mas antes de se proceder a uma siacutentese conveacutem considerar o seguinte

em relaccedilatildeo ao emprego de termos diferentes

a) O termo ldquotransplantrdquo carrega em si uma ideia de passividade de fato

consumado de enxerto que deve ser aceito e adaptado tal qual oacutergatildeo

recebido por um corpo humano e portanto sujeito agrave rejeiccedilatildeo e agraves adaptaccedilotildees

orgacircnicas as mais diversas inclusive com a interferecircncia de fatores externos

ao organismo que o recebe como a administraccedilatildeo de remeacutedios que combatam

a sua rejeiccedilatildeo

ldquoTransplantrdquo tambeacutem estaacute ligado a plantar e toda planta tem raiacutezes que

se afincam a fim de manter a vida orgacircnica da mesma Transplant carrega em

si desta forma uma carga de imposiccedilatildeo quase que definitiva de sistema que

deve ser recebido com a finalidade de prolongar a vida como uacutenica saiacuteda para

a soluccedilatildeo de uma fraqueza orgacircnica Ou entatildeo rejeitado

b) O termo ldquocirculationrdquo por sua vez vem carregado da ideia de atividade

de movimento dinacircmico de repercussatildeo de relacionamento e que permite uma

interpretaccedilatildeo mais ampla e maleaacutevel

ldquoCirculationrdquo conteacutem em seus sentidos e usos uma definiccedilatildeo que leva a

conceber a ocorrecircncia do empreacutestimo de uma forma mais aberta e mais

tolerante natildeo tatildeo impositiva mais permeaacutevel que aceita trocas intervenccedilotildees e

permite sua difusatildeo e propagaccedilatildeo

De onde se conclui que o emprego dos dois termos pode ser adequado

mas para usos diferentes O termo ldquotransplantrdquo aplicar-se-ia aos casos em que

o empreacutestimo fosse mais rigoroso estrito e menos sujeito agraves influecircncias do

sistema juriacutedico receptor de forma integral ou quase totalitaacuteria Jaacute o uso do

termo ldquocirculationrdquo se faria quando o empreacutestimo fosse mais aberto amplo e

sujeito a alteraccedilotildees mais adaptado ao sistema cultural receptor podendo ser

recuperados os traccedilos do sistema original que fez o aporte Esse eacute o caso de

um tratado que eacute transcrito para a liacutengua do paiacutes que o assina o mesmo

93

tratado eacute vaacutelido em todos os paiacuteses mas estaacute escrito em mais que uma

liacutengua70

Em ambos os casos entretanto seria impossiacutevel a aplicaccedilatildeo de um

modelo juriacutedico emprestado para outro sistema ldquoestrangeirordquo que fosse

assentado sobre as mesmas bases em que pesassem as mesmas medidas e

fossem aplicados rigorosamente da mesma forma os criteacuterios do sistema

original

Tal praacutetica parece inviaacutevel pois o contexto receptor a que se destina

difere e muito e cada sistema juriacutedico eacute interpretado e aplicado pelos pares

sociais da cultura em que estaacute inserido E uma cultura natildeo pode ser e natildeo eacute

igual agrave outra

Esta reflexatildeo eacute uma reflexatildeo mais voltada para a aacuterea do Direito mas o

fenocircmeno acima descrito eacute um fenocircmeno que se passa tambeacutem dentro da

liacutengua visto ser ela o veiacuteculo pelo qual se produz a regra escrita

Por tais razotildees eacute que um dos questionamentos desse trabalho se volta

para o que realmente ocorre na liacutengua receptora quando se comparam

sistemas juriacutedicos doutrinas leis ou decisotildees Parece claro que natildeo se

emprestam apenas palavras (leacutexico) paraacutegrafos ou textos escritos de sentidos

estritos uma vez que a carga e valor semacircnticos dos novos termos

empregados interferem no conteuacutedo Para a Anaacutelise do Discurso este

fenocircmeno eacute reformulaccedilatildeo e dessa forma ldquotransplantrdquo ldquocirculation juridiquerdquo

ldquointerferecircnciardquo satildeo todos tipos de reformulaccedilatildeo

243 Liacutenguas diferentes culturas diferentes

70

A Declaraccedilatildeo Universal de Direitos do Homem nas suas versotildees em liacutengua inglesa francesa e

portuguesa nos respectivos sites da ONU emprega formas bastante diferentes para um mesmo termo Eacute

uma constataccedilatildeo surpreendente e ao mesmo tempo relevante pois em direito essa diferenccedila pode ateacute

implicar em diferentes interpretaccedilotildees e porque natildeo decisotildees sobre uma questatildeo Deixaremos para estudo

posterior essa descoberta e adotamos neste trabalho a versatildeo em francecircs da DUDH por ser ela a de origem

do documento cuja redaccedilatildeo final foi elaborada por Reneacute Cassin

94

Outra e bastante importante reflexatildeo eacute que ao se comparar textos de

liacutenguas diferentes no caso dos textos de doutrinas brasileira e francesaseria

de se esperar que esses tivessem um conteuacutedo ateacute parecido mas que sua

composiccedilatildeo fosse diferente em termos textuais isto eacute suas formas

composicionais ou a maneira pela qual se estruturam os textos Entretanto

como se pode verificar no exemplo apresentado dos artigos dos coacutedigos civil

francecircs e brasileiro71 ambos os textos possuem formas surpreendentemente

ldquosemelhantesrdquo

Uma das explicaccedilotildees para essa aparente semelhanccedila aleacutem de ambas

as liacutenguas derivarem do latim encontra sentido no fato dos autores brasileiros

terem estudado as obras dos autores estrangeiros para aprofundar seus

conhecimentos e utilizarem de seus conceitos como referecircncia teoacuterica

A estrutura composicional textual entatildeo migra juntamente com os

valores e as ideias trazidos pelo meacutetodo comparativo no aporte de direitos

estrangeiros para o direito brasileiro A reformulaccedilatildeo que se faz eacute textual

testemunha do dialogismo

Natildeo se pode esquecer todavia que ao se efetuar a leitura de textos em

liacutengua estrangeira estamos procedendo agrave comparaccedilatildeo sobretudo de textos de

culturas diferentes Culturas diferentes que tecircm origens diferentes de acordo

com o que explica Charaudeau (2001)

Il est clair que la langue est neacutecessaire agrave la constitution drsquoune identiteacute

collective qursquoelle garantit la coheacutesion sociale drsquoune communauteacute qursquoelle en

constitue drsquoautant plus le ciment qursquoelle srsquoaffiche Elle est le lieu par

excellence de lrsquointeacutegration sociale de lrsquoacculturation linguistique ougrave se forge

la symbolique identitaire Il est eacutegalement clair que la langue nous rend

comptables du passeacute creacutee une solidariteacute avec celui-ci fait que notre identiteacute

est peacutetrie drsquohistoire et que de ce fait nous avons toujours quelque chose agrave

voir avec notre propre filiation aussi lointaine fucirct-elle Il nrsquoempecircche que le

rapport de la langue agrave lrsquoidentiteacute est complexe car il ne srsquoagit pas seulement

de la langue mais aussi de son usage Peut-ecirctre faut-il dissocier langue et

culture et associer discours (usages) et culture Sinon comment expliquer que

les cultures franccedilaise queacutebeacutecoise belge suisse voire africaine et maghreacutebine

(agrave une certaine eacutepoque) ne sont pas identiques malgreacute lrsquoemploi drsquoune mecircme

langue Comment expliquer eacutegalement que les cultures breacutesilienne et

portugaise drsquoune part latino-ameacutericaine et espagnole drsquoautre part soient

diffeacuterentes La langue nrsquoest pas le tout du langage On pourrait mecircme dire

71

Item 242 paacuteg 85

95

qursquoelle nrsquoest rien sans le discours crsquoest-agrave-dire ce qui la met en œuvre ce qui

reacutegule son usage et qui deacutepend par conseacutequent de lrsquoidentiteacute de ses

utilisateurs raquo72

Cultura bem diferente da brasileira a da Franccedila testemunha mais de

2000 anos de histoacuteria Como naccedilatildeo foi por longo tempo o centro do universo a

referecircncia e o padratildeo a ser imitado e copiado por outras cortes europeacuteias

Aleacutem disso foi o paiacutes precursor das mudanccedilas sociais decorrentes da

Revoluccedilatildeo Francesa e local da publicaccedilatildeo dos primeiros coacutedigos (o Civil em

1804 e o Penal em 1810)

Cultura colocada como fonte de referecircncia para a doutrina juriacutedica

brasileira cuja histoacuteria de 512 anos traz haacutebitos ldquoimportadosrdquo interferecircncias

natildeo soacute da metroacutepole portuguesa mas muitas vezes como no caso do Direito

do epicentro francecircs Assim foi com o primeiro coacutedigo civil brasileiro que surgiu

em 1916 112 anos depois do Coacutedigo Civil francecircs

Vecirc-se dessa forma porque a liacutengua eacute o reflexo do que ocorre nas

praacuteticas sociais como explicou Bourdieu Eacute a liacutengua que traduz o que acontece

no cotidiano do homem sua posiccedilatildeo e relaccedilotildees numa sociedade poliacutetica e

economicamente situada que reflete o seu habitus Por sua vez o mesmo

habitus modifica a liacutengua construindo uma relaccedilatildeo circular

O texto juriacutedico traduz pois se expressa pela liacutengua todo o contexto

cultural da sociedade que o produziu Nada mais natural entatildeo do que

72

ldquoEacute claro que a liacutengua eacute necessaacuteria para a constituiccedilatildeo de uma identidade coletiva que ela assegura a

coesatildeo de uma comunidade que eacute tanto mais cimento na medida em que ela aparece Eacutela eacute o lugar por

excelecircncia da integraccedilatildeo social de aculturaccedilatildeo linguumliacutestica onde se forja o simboacutelico identitaacuterio

Tambeacutem eacute evidente que a linguagem nos faz responsaacuteveis pelo passado faz com que nossa identidade

seja amalgamada agrave histoacuteria e assim noacutes sempre temos algo a ver com nossa proacutepria filiaccedilatildeo tatildeo

longinqua quanto ela possa ser

Talvez seja necessaacuterio dissociar liacutengua e cultura e associar discurso (usos) e cutura Se natildeo como

explicar que culturas francesa do Quebec belga suiacuteccedila e ateacute mesmo africana e do Magrebe (em dada

eacutepoca) natildeo satildeo identicas apesar do uso de uma mesma liacutenguagem

Como explicar tambeacutem que as culturas brasileira e o portuguesa de um lado latino-americano e

espanhola por outro lado sejam diferentes A liacutengua natildeo eacute o todo da linguagem Pode-se dizer mesmo

que ela natildeo eacute nada sem o discurso ou seja o que a potildee em praacutetica o que regula seu uso e que depende

portanto da identidade de seus usuaacuteriosrdquo (Trad Nossa)

96

encontrar traccedilos culturais fortemente marcados na sua composiccedilatildeo traccedilos que

deixam ver como se constitui o sistema juriacutedico de uma dada sociedade

Aproximando essas constataccedilotildees do sistema juriacutedico brasileiro o que se

percebe eacute que no inicio da sua formaccedilatildeo seus juristas e legisladores

inspiraram-se no que havia de mais novo no inicio do seacuteculo XX momento em

que para o Brasil foi necessaacuterio organizar suas instituiccedilotildees e regular suas

relaccedilotildees sociais

Por tal razatildeo foram adotados coacutedigos inspirados em outros jaacute existentes

tal como o Civil baseado no modelo franco-iacutetalo-germacircnico Pode-se assim

dizer que a doutrina brasileira se fez atraveacutes da comparaccedilatildeo com outros

sistemas juriacutedicos portanto reformulando conceitos e princiacutepios o que

demonstra claramente que se trata aqui de ldquocirculationrdquo e natildeo de ldquotransplantrdquo e

que seus textos de lei foram impregnados natildeo soacute pelas ideias e pela cultura

juriacutedica europeacuteia Por isso se verifica a presenccedila de palavras como ldquoliberdaderdquo

ldquoigualdaderdquo e ldquodireitosrdquo em vaacuterios desses textos

Mas natildeo soacute palavras se repetem Tambeacutem se reproduz a forma de

composiccedilatildeo textual trazida pelas leituras dos juristas e legisladores que

buscavam absorver o conteuacutedo de outros sistemas fazendo de certa forma o

que aqui seraacute chamado com o devido respeito de antropofagia cultural

juriacutedica A produccedilatildeo de textos juriacutedicos brasileiros como praacutetica objetiva em

que se emprega a reformulaccedilatildeo - de palavras termos conceitos expressotildees

enunciados ou de paraacutegrafos - mescla forma e conteuacutedo

Hoje depois de vaacuterios periacuteodos poliacuteticos diferentes desde a

proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica e apoacutes a Constituiccedilatildeo de 1988 juristas e

legisladores percebem a realidade brasileira de forma diferente dos primeiros

tempos ateacute porque em muitos casos as praacuteticas estatildeo por demais distantes da

teoria e do texto de lei Essa eacute a razatildeo pela qual buscam novas soluccedilotildees a

partir de uma realidade que eacute fato mas tambeacutem a partir de outros modelos

diferentes

Por isso existem tentativas de equilibrar as diferenccedilas e os

descompassos que ora se aproximam e ora se despregam por completo do

97

que foi trazido em outras eras pela ldquocirculation des modegraveles juridiquesrdquo

europeus

Tais tentativas buscam soluccedilotildees consultando sistemas bastante

diferentes como aquelas do sistema anglo-saxatildeo adotado pela Common-Law

Eacute por isso que o Poder Legislativo produz assim novas leis a todo o momento

pois eacute necessaacuterio regular o que ficou faltando aqui e ali no ensejo de

aperfeiccediloar o que estaacute antigo ou o que acaba de chegar para que o sistema

juriacutedico esteja mais bem aparelhado para os novos tempos

O fato de aperfeiccediloar um conceito ou uma lei de certa forma tambeacutem

implica em reformulaccedilatildeo Observando-se o conceito de homem proposto pela

Encyclopeacutedie73 verifica-se que eacute bastante proacuteximo do conceito que se tem do

homem no seacuteculo XXI

HOMME s m crsquoest un ecirctre sentant reacutefleacutechissant pensant qui se promegravene

librement sur la surface de la terre qui paroicirct ecirctre agrave la tecircte de tous les autres

animaux sur lesquels il domine qui vit en socieacuteteacute qui a inventeacute des sciences

et des arts qui a une bonteacute et une meacutechanceteacute qui lui est propre qui srsquoest

donneacute des maicirctres qui srsquoest fait des lois etc74

244 Reformulaccedilatildeo e mecanismos de substituiccedilatildeo

A reformulaccedilatildeo pode ser discursiva o que implica dizer que um discurso

se reconstroacutei no outro e que estaacute baseado no outro conforme demonstram os

exemplos acima

Mas pode-se falar tambeacutem em reformulaccedilatildeo de conceitos e de termos

Nesse caso o que ocorre satildeo mecanismos de substituiccedilatildeo De acordo com os

levantamentos realizados nos textos do corpus em relaccedilatildeo aos termos

73

httpfrwikisourceorgwikiLE28099EncyclopC3A9dieVolume_8HOMME Acesso em

20072011

74 ldquoHOMEM sm eacute um ser que sente reflete pensa que vagueia livremente pela face da terra que

parece estar agrave frente de todos os outros animais sobre os quais ele tem o domiacutenio que vive em sociedade

que inventou as ciecircncias e as artes que tem uma bondade e uma maldade que lhe eacute proacutepria que se

estabeleceu senhores que se fez leis etcrdquo (Trad Nossa)

98

escolhidos seratildeo adotados para anaacutelise comparativa os seguintes paracircmetros

para os procedimentos de reformulaccedilatildeo

a) Sinoniacutemia e antoniacutemia o emprego de sinocircnimos e antocircnimos merece

uma consideraccedilatildeo importante Conforme ensinam Faraco (2006) e

tambeacutem Charaudeau (199250-55) a sinoniacutemia nunca eacute perfeita pois a

retomada de um termo por outro de sentido equivalente nunca preenche

todo o sentido do termo primeiro e o que distingue um do outro eacute

justamente o emprego em diferentes situaccedilotildees que se faz dele Esta

mesma reflexatildeo aplica-se aos antocircnimos

Como desdobramento da sinoniacutemia tem-se a hiponiacutemia e a hiperoniacutemia

A primeira pode ser verificada no caso em que o termo homem por

exemplo eacute substituiacutedo por outro tornando-o parte de uma categoria do

tal como humano Jaacute quando ocorre o inverso na hiperoniacutemia o sentido

eacute mais amplo Este eacute o caso verificado pelo uso do termo assembleia em

substituiccedilatildeo ao representante da assembleia

b) Pronominal neste caso o termo eacute substituiacutedo por um pronome

substantivo do tipo demonstrativo possessivo indefinido ou numeral

Homem pode ser substituiacutedo assim por nenhum

c) Grupo nominal o grupo nominal eacute aquele que se refere ao termo por

meio de um grupo de palavras normalmente constituiacutedo de um

determinante do tipo artigo um substantivo e um adjetivo Como

exemplo pode-se tomar o termo homem substituiacutedo por membro da

famiacutelia humana

d) Extensiva direta nesta categoria incluem-se os adjetivos e os particiacutepios

que se referem ao termo homem Entatildeo livre e incluiacutedo satildeo referencias

diretas ao termo homem que se encontra no texto Tambeacutem se incluem

aqui todos os termos que se referem aos coletivos do termo homem

como por exemplo assembleia sociedade povo etc

e) Extensiva indireta nesta categoria inclui-se aquilo que eacute decorrente da

accedilatildeo do homem ou inerente agrave sua existecircncia Dessa forma a escravidatildeo

99

a tortura a amizade a feacute e a dignidade por exemplo satildeo situaccedilotildees ou

conceitos que estatildeo ligados ao fato do homem ser dotado de vida e ateacute

mesmo de conviver com outros homens

f) Embreante de pessoa ou de tempo75 embreantes de pessoas satildeo os

pronomes determinantes (pronomes adjetivos) ou pronomes

possessivos que satildeo empregados no local da pessoa ou seja que

representam o enunciador Embreantes de tempo satildeo as foacutermulas

empregadas para situar no tempo tal como adveacuterbios ou a data do

documento

CAPITULO 3 O DISCURSO JURIacuteDICO

75

Maingueneau (2002) define embreagem como sendo laquoo conjunto das operaccedilotildees pelas quais um

enunciado se ancora na sua situaccedilatildeo de enunciaccedilatildeo e embreantes (tambeacutem chamados de ldquoelementos

decirciticosrdquo ldquodecirciticosrdquo ou agraves vezes ldquoelementos indiciaisrdquo os elementos que no enunciado marcam essa

embreagem Satildeo embreantes de pessoas

Os tradicionais ldquopronomesrdquo pessoais de primeira e segunda pessoas eu tuvocecirc(s) noacutes voacutes

Os determinantes meuteu nossovosso seu e suas formas femininas e plurais

Os pronomes o meuo teu o nossoo vosso o seu e suas formas no feminino e pluralrdquo

Maingueneau tambeacutem classifica os embreantes em temporais e espaciais Os primeiros trazem as marcas

dos tempos do verbo atraveacutes de partiacuteculas desinentes do passado presente ou futuro ou palavras que

marquem o tempo tal como ontem hoje etc e que fazem referencia ao momento da enunciaccedilatildeo Os

embreantes espaciais menos frequentes segundo o autor satildeo os que indicam o lugar em que ocorre a

enunciaccedilatildeo tais como aqui ali

100

31 Definiccedilatildeo

O discurso juriacutedico eacute constituiacutedo por todo enunciado - sequecircncia que

forma uma unidade de comunicaccedilatildeo no gecircnero juriacutedico - que integra o

universo juriacutedico seja ele oral ou escrito Por universo juriacutedico entende-se o

que gravita em torno de uma lei anterior ou posterior a sua publicaccedilatildeo e

abrange diferentes produccedilotildees orais e textuais Eacute nesse universo que se utiliza

uma linguagem juriacutedica definida por Damette (2007)76 como sendo a

linguagem que eacute usada por juristas e tambeacutem pelo legislador aleacutem de

pertencer aos poderes judiciaacuterio legislativo e eventualmente aos poderes

privados por ocasiatildeo do contato deste uacuteltimo com os outros

Dentre as caracteriacutesticas apontadas pela autora vale ressaltar que a

linguagem do Direito eacute uma linguagem de ldquoautoridaderdquo porque a situaccedilatildeo de

comunicaccedilatildeo onde ela acontece eacute ldquocontrainte notamment par le fait que celui

qui srsquoexprime le fait au nom drsquoune ldquoinstitutionrdquo77 srsquoabstrait en tant que sujet

eacutenonciateur et est censeacute repreacutesenter un auteur dont Il aurait deacuteleacutegation de la

parolerdquo

Esta eacute a posiccedilatildeo que adota este trabalho pois como jaacute se viu o

enunciador se apaga na medida em que se reveste da competecircncia que lhe eacute

conferida pela posiccedilatildeo que ocupa como representante de um poder por isso o

juiz decide uma questatildeo levada a ele pois estaacute autorizado pelo Poder

Judiciaacuterio a fazecirc-lo Essa competecircncia eacute conferida atribuiacuteda e natildeo apenas

resultado de uma imposiccedilatildeo ela eacute um atributo real e natildeo hipoteacutetico eacute

adjudicada ao homem incumbido de julgar outros homens por uma decisatildeo

legitimada do Poder Judiciaacuterio que aprovou o juiz em um concurso puacuteblico

76

Damette Eliane 2007 85-95

77 ldquoconstrangedora sobretudo pelo fato de que aquele que se exprime o faz em nome de uma instituiccedilatildeordquo

(Trad Nossa)

101

A linguagem juriacutedica vai ultrapassar a esfera juriacutedica e permear outras

esferas pois seus textos interagem com a sociedade regulam a vida dos

homens que nela vivem Eacute entretanto uma linguagem diferenciada da

linguagem corriqueira

Segundo Damette (2007) a linguagem juriacutedica eacute uma linguagem de

especialidade e como tal produz enunciados especiacuteficos pois eacute dotada de um

leacutexico de construccedilotildees sintaacuteticas e argumentaccedilatildeo especificas Integra esta

linguagem um vocabulaacuterio juriacutedico constituiacutedo de termos e expressotildees que tecircm

um sentido especiacutefico atribuiacutedos pelo Direito

Essa linguagem especiacutefica ainda segundo Damette laquo nomme tous les

eacuteleacutements que la penseacutee juridique deacutecoupe dans la reacutealiteacute pour en faire des

notions juridiques raquo78 Ainda ressalta a autora que a linguagem juriacutedica eacute

tradicional pois eacute inscrita na histoacuteria ao mesmo tempo em que

diacronicamente eacute evolutiva jaacute que testemunha uma evoluccedilatildeo dos costumes

na medida em que se adapta para descrever novas situaccedilotildees e para isso pode

criar palavras para definir novas noccedilotildees conceitos atos e fatos

Essa evoluccedilatildeo pode ser verificada por exemplo em relaccedilatildeo aos termos

expressotildees e conceitos novos criados pela Lei 114192006 (Lei da

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial) analisada nesse trabalho Como se pode

observar no artigo 1deg

sect 2o Para o disposto nesta Lei considera-se

I - meio eletrocircnico qualquer forma de armazenamento ou traacutefego de

documentos e arquivos digitais

II - transmissatildeo eletrocircnica toda forma de comunicaccedilatildeo a distacircncia com a

utilizaccedilatildeo de redes de comunicaccedilatildeo preferencialmente a rede mundial de

computadores

III - assinatura eletrocircnica as seguintes formas de identificaccedilatildeo

inequiacutevoca do signataacuterio

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por

Autoridade Certificadora credenciada na forma de lei especiacutefica

78

ldquonomeia todos os elementos que o pensamento juriacutedico recorta da realidade para fazer deles noccedilotildees

juriacutedicasrdquo (Trad Nossa)

102

b) mediante cadastro de usuaacuterio no Poder Judiciaacuterio conforme

disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

Aleacutem desses conceitos a lei tambeacutem cria novos termos especiacuteficos que se referem aos atos processuais peculiares tais como

Art 2o O envio de peticcedilotildees de recursos e a praacutetica de atos processuais

em geral por meio eletrocircnico seratildeo admitidos mediante uso de assinatura

eletrocircnica na forma do art 1o desta Lei sendo obrigatoacuterio o credenciamento

preacutevio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

sect 1o O credenciamento no Poder Judiciaacuterio seraacute realizado mediante

procedimento no qual esteja assegurada a adequada identificaccedilatildeo presencial

do interessado

Art 3o Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrocircnico no

dia e hora do seu envio ao sistema do Poder Judiciaacuterio do que deveraacute ser

fornecido protocolo eletrocircnico

Art 4o Os tribunais poderatildeo criar Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

disponibilizado em siacutetio da rede mundial de computadores para publicaccedilatildeo

de atos judiciais e administrativos proacuteprios e dos oacutergatildeos a eles subordinados

bem como comunicaccedilotildees em geral

sect 1o O siacutetio e o conteuacutedo das publicaccedilotildees de que trata este artigo

deveratildeo ser assinados digitalmente com base em certificado emitido por

Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica

sect 2o A publicaccedilatildeo eletrocircnica na forma deste artigo substitui qualquer

outro meio e publicaccedilatildeo oficial para quaisquer efeitos legais agrave exceccedilatildeo dos

casos que por lei exigem intimaccedilatildeo ou vista pessoal

Por fim a lei cria um novo veiacuteculo de comunicaccedilatildeo oficial mudando

assim a praacutetica profissional pois os advogados teratildeo que consultar o novo

Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

Este movimento do direito para a liacutengua que provoca alteraccedilotildees no

leacutexico mostra como as ciecircncias se cruzam atestando a interdisciplinaridade

revelando a relaccedilatildeo entre diferentes culturas juriacutedicas e diferentes esferas da

sociedade uma esfera especifica e juriacutedica interveacutem na esfera social do

quotidiano ao introduzir termos especiacuteficos como o diaacuterio judicial eletrocircnico Ao

mesmo tempo isso eacute possiacutevel porque a informaacutetica evoluiu e trouxe da sua

esfera especifica de ciecircncia a tecnologia que interferiu nas praacuteticas sociais

testemunhando a existecircncia e a importacircncia do habitus do qual fala Bourdieu

Esse dinamismo eacute caracteriacutestico da liacutengua e eacute inerente agraves sociedades que se

adaptam agraves suas necessidades internas e externas

103

Por isso a concepccedilatildeo que adota Cornu (2005207) em que o discurso

juriacutedico eacute laquola mise en œuvre de la langue par la parole au service du droit raquo79

eacute a que melhor define a linha deste trabalho pois o autor entende que o

ldquodiscurso juriacutedico integra o uso da liacutenguardquo e se mostra em todas as operaccedilotildees

normais de comunicaccedilatildeo que um universo particular requisita modificando

determinados elementos se necessaacuterio a fim de cumprir sua funccedilatildeo

Para Cornu propotildee uma tipologia para o discurso juriacutedico classificando-o

em legislativo (textos de lei) jurisdicional (relativo a decisotildees de justiccedila)

costumeiro (maacuteximas e adaacutegios de direito) e de expressatildeo corporal (para os

casos em que os juristas fazem uso da expressatildeo oral por exemplo em uma

audiecircncia)

Recordando que este trabalho trata apenas dos textos escritos e antes

de passar agrave anaacutelise dos mesmos faz-se necessaacuterio situar os textos escolhidos

e sua inserccedilatildeo no sistema juriacutedico brasileiro

O Brasil considera que no topo da hierarquia do seu sistema juriacutedico se

encontra a Constituiccedilatildeo Federal (CF 1988) Vigente desde 1988 todo o

ordenamento juriacutedico interno deve a ela se adequar Por isso eacute a CF 1988 que

autoriza e eacute a base para a publicaccedilatildeo da Lei da Informatizaccedilatildeo Judicial Lei

114192006

Na CF 1988 o artigo 5deg por sua vez prevecirc no inciso LXXVIII sect 2ordm e sect 3ordm

como jaacute anteriormente mencionado a inclusatildeo dos tratados internacionais (que

o Brasil tenha assinado) e das convenccedilotildees e tratados de direitos humanos

Isso implica a integraccedilatildeo da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem

assinada em 1948 ao sistema juriacutedico brasileiro

A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem eacute por sua vez um

aperfeiccediloamento no acircmbito internacional dos direitos do homem e do cidadatildeo

(DDHC) proclamados por ocasiatildeo da Revoluccedilatildeo Francesa em 1792

79

ldquoimplementaccedilatildeo da liacutengua pela palavra a serviccedilo do direitordquo (Trad Nossa) ldquoParolerdquo para o autor eacute a

expressatildeo vocal dotada de um sentido atribuiacutedo por aquele que dela se utiliza

104

Apontado o liame entre os documentos principais que seratildeo aqui

analisados fez-se necessaacuteria uma classificaccedilatildeo desses documentos quanto ao

gecircnero textual

32 Classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos no Direito

Para se proceder agrave anaacutelise dos textos do corpus foi elaborada uma

classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos a fim de se poder estabelecer algumas de

suas caracteriacutesticas ligadas agrave definiccedilatildeo do status do enunciador Esta

classificaccedilatildeo difere da tipologia apresentada por Cornu (2005) pois ultrapassa

os limites por ele propostos indo aleacutem e sendo mais abrangente numa

tentativa de dar conta de outros fenocircmenos observados em relaccedilatildeo aos textos

juriacutedicos

Cornu (2005) tratou apenas do discurso juriacutedico no seu sentido estrito O

corpus desse trabalho apresenta entretanto um aspecto dialoacutegico que natildeo

pode ser desconsiderado Aleacutem disso um texto juriacutedico que figura no jornal da

OAB por exemplo natildeo eacute um texto de gecircnero diferente e ainda que contenha

caracteriacutesticas de ambos os gecircneros poderia ser considerado como de gecircnero

misto Para o discurso juriacutedico o artigo numa publicaccedilatildeo como a da OAB eacute

formador de opiniatildeo e natildeo pertence exclusivamente ao gecircnero jornaliacutestico que

provavelmente o classificaria como texto de aacuterea de especialidade ou aacuterea

teacutecnica Por essas razotildees a soluccedilatildeo que parece mais adequada eacute tratar do

texto juriacutedico jornaliacutestico assim como de outros que apresentam caracteriacutesticas

mistas como integrante do discurso juriacutedico

A fim de estabelecer alguns criteacuterios em relaccedilatildeo aos textos que

pertencem ao gecircnero juriacutedico considerem-se os seguintes aspectos

- todos os textos pertencentes a esse gecircnero devem ser de conteuacutedo

juriacutedico e gravitar em torno de uma lei

- os textos juriacutedicos possuem finalidades distintas que devem ser

consideradas

105

- o local de produccedilatildeo do texto tambeacutem atribui caracteriacutesticas

especiacuteficas ao texto juriacutedico

A partir dessas primeiras observaccedilotildees propotildee-se a seguinte

classificaccedilatildeo para os sub-gecircneros dos textos juriacutedicos

a) Textos de lei satildeo os que passam a vigorar depois de sua publicaccedilatildeo

sendo publicados de forma oficial Aqui se incluem um tratado

internacional uma constituiccedilatildeo uma emenda constitucional uma lei

federal etc Satildeo textos oficiais e publicados geralmente em um

jornal do tipo Diaacuterio Oficial

b) Textos legislativos satildeo os produzidos em funccedilatildeo da lei e dos

debates pertinentes a ela nas casas parlamentares enquanto o texto

ainda era um projeto de lei Este item comporta tanto o voto do

deputado relator de uma comissatildeo parlamentar quanto o parecer

teacutecnico de um membro de uma comissatildeo especifica ou a

recomendaccedilatildeo para alteraccedilatildeo da redaccedilatildeo de um artigo ou mesmo

uma proposta de emenda ao projeto Haacute tambeacutem a possibilidade de

um questionamento posterior a uma lei jaacute vigente tal qual a arguiccedilatildeo

de inconstitucionalidade que pode gerar debates e relatoacuterios

semelhantes aos do projeto de lei

c) Textos jornaliacutesticos satildeo textos publicados pela imprensa

especializada em relaccedilatildeo ao tracircmite do projeto e sua repercussatildeo na

sociedade ou mesmo criacuteticas a respeito de uma lei vigente ou a falta

de uma lei para regular um problema Tais textos podem ser

encontrados no jornal da OAB na revista Consultor Juriacutedico ou ateacute

mesmo em um jornal de grande circulaccedilatildeo tal qual o Estado de Satildeo

Paulo ou O Globo em uma sessatildeo especiacutefica Eacute muito possiacutevel que

estes textos figurem na rubrica destinada agrave poliacutetica ou a noticias

internacionais

d) Textos teoacutericos satildeo os produzidos por professores profissionais da

aacuterea juriacutedica ou especialistas que discorrem sobre o tema a fim de

referendar ou discordar do que dispotildee a lei ou ateacute mesmo propiciar

106

uma reflexatildeo que resulte na proposiccedilatildeo de uma lei Geralmente estes

textos se apresentam em livros ndashdentre os quais figuram os manuais

de direito que satildeo usados para o ensino nos cursos de graduaccedilatildeo-

ou revistas acadecircmicas

e) Textos processuais satildeo as peccedilas que fazem parte de um processo

ou um pedido ao Poder Judiciaacuterio ou dele emanados a fim de fazer

cumprir a lei Satildeo os textos produzidos pelos advogados juiacutezes

promotores peritos pelas proacuteprias partes demandantes ou outros

funcionaacuterios do Poder Judiciaacuterio e que existem em funccedilatildeo de um

pedido ou de uma ordem e em geral decorrem da existecircncia de uma

lei Neste item incluem-se a jurisprudecircncia e a suacutemula80

f) Textos de discurso satildeo os discursos proferidos por um

representante tal qual um presidente do Senado ou o presidente da

Repuacuteblica ou mesmo proferido por outro representante e que por

forccedila da proacutepria situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo de sua assinatura ou da

importacircncia que adquire torna-se juriacutedico Inserem-se neste item

tambeacutem as cartas de intenccedilatildeo 81 e os compromissos assumidos de

forma oficial82

80

Tanto a jurisprudecircncia como a suacutemula satildeo resultado de decisotildees isto eacute de sentenccedilas proferidas em

processos Segundo explica o Vocabulaacuterio Juriacutedico ldquoJurisprudecircncia Extensivamente assim se diz para

designar o conjunto de decisotildees acerca de um mesmo assunto ou a coleccedilatildeo de decisotildees de um Tribunalrdquo

ldquoSuacutemula No acircmbito da uniformizaccedilatildeo da jurisprudecircncia indica a condensaccedilatildeo de seacuterie de acoacuterdatildeos do

mesmo tribunal que adotem idecircntica interpretaccedilatildeo de preceito juriacutedico em tese sem caraacuteter obrigatoacuterio

mas persuasivo e que devidamente numerados se estampem em repertoacuteriosrdquo

81 Exemplo de tema carta de intenccedilatildeo ldquoUma carta de intenccedilotildees entre a Secretaria Nacional de Justiccedila do

Ministeacuterio da Justiccedila e o Centro Internacional para o Desenvolvimento de Poliacuteticas Migratoacuterias

(International Centre for Migration Policy Development ndash ICMPD) foi assinada na uacuteltima quarta-feira

298 para aprofundar a cooperaccedilatildeo existente na aacuterea de regulaccedilatildeo da migraccedilatildeo e de enfrentamento ao

traacutefico de pessoas Para assinatura do documento o representante do ICMPD Luckas Gehrke foi

recebido pelo secretaacuterio Nacional de Justiccedila Paulo Abratildeo

O documento prevecirc que ambas as partes deveratildeo cooperar para garantir que as poliacuteticas e programas de

migraccedilatildeo existentes e futuros sejam eficazes sustentaacuteveis e em conformidade com as obrigaccedilotildees

internacionaisrdquo In httpblogjusticagovbrinicioministerio-da-justica-assina-carta-de-

intencoes-com-centro-europeu-de-politicas-migratorias em 16112012

82 Discurso proferido pelo Ministro Celso Amorim nas Naccedilotildees Unidas na Reuniatildeo de Seguimento da

Declaraccedilatildeo de Compromisso sobre o HIVAIDS em 02062006

107

A partir dessa classificaccedilatildeo tipoloacutegica dos textos juriacutedicos eacute possiacutevel

descrevecirc-los da seguinte forma

a) Os textos juriacutedicos de lei de um sistema democraacutetico satildeo polifocircnicos

e natildeo tem um enunciador que figura sob a forma de sujeito mostrado

O sujeito eacute propositalmente apagado a fim de mostrar isenccedilatildeo e eacute

sempre resultado de um processo de consenso de vozes que

demonstra a vontade de vaacuterios enunciadores

b) Os textos juriacutedicos tecircm um caraacuteter dialoacutegico pois estatildeo

normalmente ligados de forma intriacutenseca a textos anteriores Essa

ligaccedilatildeo pode ser resultado de uma reformulaccedilatildeo do texto precedente

ou ateacute mesmo uma oposiccedilatildeo a ele em ambos os casos a relaccedilatildeo eacute

dialoacutegica

c) Os textos juriacutedicos satildeo resultado de um habitus Podem poreacutem ser

inovadores e tratar de tema sem precedentes Nessa hipoacutetese haacute um

corte no habitus social e a sociedade eacute chamada para opinar e agir

Por isso os primeiros textos tendem a ser de caraacuteter argumentativo

ldquo()Senhor Presidente

Ainda haacute muito o que ser feito particularmente no apoio agrave cooperaccedilatildeo Sul-Sul

O Brasil vem implementando projetos de cooperaccedilatildeo em mais de 25 paiacuteses na Ameacuterica Latina e na

Aacutefrica Tais projetos envolvem o fortalecimento das capacidades nacionais treinamento de recursos

humanos e doaccedilatildeo de medicamentos anti-retrovirais geneacutericos

Compartilhamos a mesma responsabilidade As vidas de milhotildees de pessoas dependem das decisotildees e

compromissos que adotarmos hoje

Obrigado

(httpwwwitamaratygovbrsala-de-imprensadiscursos-artigos-entrevistas-e-outras-

comunicacoesministro-estado-relacoes-exterioresdiscurso-proferido-pelo-ministro-celso-amorim-nas

Em 16112012)

108

formadores de opiniatildeo Se proposto um projeto de lei este seraacute

votado e aprovado

d) Os textos juriacutedicos de lei satildeo coercitivos e essa coerccedilatildeo eacute legitimada

pela proacutepria publicaccedilatildeo da lei que passou por um processo

legislativo nos paiacuteses democraacuteticos

e) Os outros textos juriacutedicos que natildeo satildeo textos de lei pertencem a mais

de um gecircnero O voto por exemplo faz parte do gecircnero legislativo

por sua forma e do juriacutedico por seu conteuacutedo Jaacute no jornaliacutestico haacute a

divulgaccedilatildeo de um conteuacutedo especiacutefico de forma simplificada

f) Nos textos juriacutedicos sempre haacute a reformulaccedilatildeo de um termo conceito

ou princiacutepio e eacute importante que esse procedimento possa ser

reconhecido pois ele permite melhor compreensatildeo do texto Por

conseguinte permite um melhor domiacutenio da atividade juriacutedica

O corpus de texto escolhido para este trabalho contempla os textos de

lei os textos legislativos e os jornaliacutesticos Cabe ressaltar que diversos textos

teoacutericos anteriores natildeo integrantes do corpus aleacutem de explanarem princiacutepios

do Direito serviram como reflexatildeo agrave propositura dos textos que seratildeo

examinados Por isso poder-se- ia dizer que em alguns casos ateacute mesmo a

reformulaccedilatildeo discursiva estaacute apagada fazendo parte da memoacuteria discursiva

Um bom exemplo disso eacute a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo83

Ao se analisar o conjunto de documentos escolhidos com valor de lei a

partir de uma perspectiva histoacuterica linear tem-se como ponto de origem a

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789 passando pela

Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 pela Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 e por fim a lei federal nordm 11419 de 19

de dezembro de 2006 Essa uacuteltima vem ancorada por outros documentos

legislativos e jornaliacutesticos e que satildeo seus fundamentos

83

JELLINECK aponta em sua obra que a DDHC foi influenciada pelas cartas de direitos das colocircnias

americanas

109

33 Contexto o sistema juriacutedico brasileiro

Para se proceder agrave explanaccedilatildeo e anaacutelise dos documentos eacute importante

entender como funciona o sistema juriacutedico de leis no Brasil Aqui uma lei eacute

publicada depois de um tracircmite peculiar no Congresso Nacional

O Brasil possui um ordenamento juriacutedico baseado no direito positivo isto

eacute em que o sistema de normas juriacutedicas eacute regulamentado e deve portanto ser

produzido por um ato institucional especial resultante de uma vontade Isto

pode ocorrer por meio dos costumes ou pelo processo legislativo no que se

refere agraves normas gerais

O ordenamento juriacutedico pode ser internacional ou nacional No primeiro

caso entende-se por ordenamento juriacutedico internacional um conjunto de

normas que regulam a vida de alguns Estados ou naccedilotildees que se submetem a

este ordenamento84

O ordenamento juriacutedico nacional eacute o conjunto de normas internas de um

paiacutes que regula o funcionamento deste enquanto Estado e a vida de seus

habitantes servindo-se para isso de um conjunto de normas organizado

No Brasil o sistema juriacutedico obedece ao principio hieraacuterquico de

organizaccedilatildeo das normas (tal como jaacute foi demonstrado85) Eacute a partir deste

quadro que se situam os textos de lei brasileiros estudados

34 Metodologia das anaacutelises textos de lei

A anaacutelise dos documentos foi efetuada da seguinte forma conforme se

pode verificar no anexo

84

Haacute casos de paiacuteses que recusam se integrar a um ordenamento internacional isto eacute a assinar um tratado

ou acordo tal como os Estados Unidos que natildeo assinou o Protocolo de Kyoto

85 Capitulo 234 paacuteg 72

110

a) Em relaccedilatildeo aos quatro documentos-lei foram escolhidos os preacircmbulos

de cada um e os primeiros artigos a fim de limitar o tamanho do

conteuacutedo analisado86 Tal escolha se fez porque eacute o preacircmbulo que

conteacutem a diretriz do que estaacute no conteuacutedo do documento Em relaccedilatildeo ao

artigo 5deg da CF88 que conteacutem 72 incisos foram escolhidos os mais

relevantes para a anaacutelise pretendida

b) Em relaccedilatildeo aos outros textos foram selecionados os primeiros e o

uacuteltimo paraacutegrafo de cada um dos textos devido agrave importacircncia da ordem

do conteuacutedo pois eacute o que inicia e encerra o documento aleacutem desses

tambeacutem foram selecionados os paraacutegrafos mais relevantes ao estudo

Foram escolhidos para a anaacutelise os votos dos deputados que datildeo

o parecer sobre a lei antes de sua aprovaccedilatildeo e mais a nota oficial pois

estes satildeo os documentos mais importantes anteriores agrave publicaccedilatildeo da

lei Os outros tambeacutem a justificam mas tecircm menor relevacircncia Todas as

escolhas se fizeram a fim de limitar a extensatildeo dos excertos analisados

c) O quadro apresentado em que se separam em periacuteodos os excertos

escolhidos foi elaborado com um objetivo funcional natildeo tendo a

pretensatildeo de ser exaustivo Tal quadro visou apenas deixar mais

evidente quais os tipos de reformulaccedilatildeo realizados e se havia ou natildeo

outras peculiaridades que mereciam atenccedilatildeo Os periacuteodos foram

separados como se faz em uma anaacutelise sintaacutetica (sujeito verbo e

complemento)

d) Nos artigos de cada documento que natildeo foram analisados pelo quadro

os termos mais importantes e que se repetem ao longo do documento

foram destacados a fim de que se pudesse verificar o aspecto

qualitativo da incidecircncia do uso do termo ou a sua ausecircncia

Para um desenvolvimento que estruture melhor o que se pretende

demonstrar os resultados das anaacutelises seratildeo observados considerando

a evoluccedilatildeo do termo homem em relaccedilatildeo aos seus direitos de liberdade

igualdade e justiccedila

86

A DDHC1789 tem 17 artigos a DUHC1948 tem 30 artigos a CF1988 tem 250 artigos aleacutem de

numerosos incisos e a lei 114192006 tem 22 artigos

111

35 Anaacutelise dos textos de lei

Satildeo quatro a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo A

Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil em seu artigo 5ordm e a Lei 114192006 que trata da

informatizaccedilatildeo judicial

351 A Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (DDHC 1789)87

A DDHC eacute um documento elaborado pela sociedade francesa a fim de

se proteger contra os excessos do absolutismo e com o objetivo de assegurar

direitos ao homem fragilizado pelos abusos de poder Eacute concebida dentro do

periacuteodo mais conturbado da histoacuteria francesa posterior agrave Revoluccedilatildeo Francesa

Tornou-se depois referecircncia a vaacuterios outros documentos tanto na Franccedila

quanto em outros paiacuteses de liacutengua e cultura diferentes Integra ainda hoje a

constituiccedilatildeo vigente na Franccedila de 1958 como seu preacircmbulo o que justifica o

fato de ser um documento em diaacutelogo direto natildeo soacute com a Declaraccedilatildeo

Universal dos Direitos do Homem mas tambeacutem com a Constituiccedilatildeo brasileira

Isto tudo demonstra que os princiacutepios nela contidos ainda satildeo vaacutelidos e

observados natildeo soacute na naccedilatildeo francesa mas em outras como a brasileira Uma

das razotildees se deve ao fato de ter sido elaborada por um grupo de pessoas

que representavam a sociedade e que decidiram por ela o que a evoluccedilatildeo dos

tempos exigia

O extrato de documento revelou a presenccedila de diversas formas de

reformulaccedilatildeo para o termo ldquohommerdquo de diferentes categorias tais

como

a) Sinoniacutemia homem eacute igual a ldquocitoyenrdquo a ldquocorpsrdquo a ldquoindividuordquo

b) Pronominal ldquonulrdquo ldquoautruirdquo

87

Documento anexo I

112

c) Grupo nominal laquo repreacutesentants du peuple franccedilais raquo laquo membres

du corps social raquo laquo membres de la socieacuteteacute raquo

d) Extensiva direta laquo Assembleacutee nationale raquo laquo association raquo

laquo socieacuteteacute raquo

e) Extensiva indireta laquo ignorance raquo laquo oubli raquo laquo droits raquo

laquo gouvernement raquo laquo devoirs raquo laquo pouvoir leacutegislatif raquo laquo pouvoir

exeacutecutif raquo laquo institution politique raquo laquo principes raquo laquo constitution raquo

laquo bonheur raquo laquo Ecirctre Suprecircme raquo

f) Embreantes de pessoa natildeo haacute

Tais observaccedilotildees podem ser constatadas a partir da anaacutelise feita da

estrutura textual conforme os quadros e texto abaixo

DEacuteCLARATION DES DROITS DE LrsquoHOMME ET DU CITOYEN DE 178988

a) Preacircmbulo

Les Repreacutesentants du Peuple Franccedilais constitueacutes en Assembleacutee nationale consideacuterant que lrsquoignorance

lrsquooubli ou le meacutepris des droits de lrsquohomme sont les seules causes des malheurs publics et de la corruption

des Gouvernements ont reacutesolu drsquoexposer dans une Deacuteclaration solennelle les droits naturels

inalieacutenables et sacreacutes de lrsquohomme afin que cette Deacuteclaration constamment preacutesente agrave tous les membres

du corps social leur rappelle sans cesse leurs droits et leurs devoirs afin que les actes du pouvoir

leacutegislatif et ceux du pouvoir exeacutecutif pouvant ecirctre agrave chaque instant compareacutes avec le but de toute

institution politique en soient plus respecteacutes afin que les reacuteclamations des citoyens fondeacutees deacutesormais

sur des principes simples et incontestables tournent toujours au maintien de la Constitution et au bonheur

de tous En conseacutequence lrsquoAssembleacutee nationale reconnaicirct et deacuteclare en preacutesence et sous les auspices de

lrsquoEcirctre Suprecircme les droits suivants de lrsquohomme et du citoyen

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Les

Repreacutesentants

du Peuple

Franccedilais

representantes =

homens franceses=gt

grupo= parte pelo

todo = ampliaccedilatildeo

homem consciente

(eacutetant)

presente

constitueacutes en

Assembleacutee

nationale

Constitueacutes =

representantes

Assembleia =

homens reunidos

88

httpwwwassemblee-nationalefrhistoiredudh1789asp

113

(les

repreacutesentants

du peuple

franccedilais)

representantes Consideacuterant

particiacutepio

presente

que

lrsquoignorance

lrsquooubli ou le

meacutepris des

droits de

lrsquohomme

sentimentos do

homem

Sont

Presente

les seules causes

des malheurs

publics et de la

corruption des

Gouvernements

Malheurs = atributo

do homem aqui eacute

puacuteblico como se

fosse do Estado e

do Governo que no

entanto satildeo forma-

dos por homens

(les

repreacutesentants

du peuple

franccedilais)

representantes =

homens

ont reacutesolu

drsquoexposer

passeacute composeacute

dans une

Deacuteclaration

solennelle les droits

naturels

inalieacutenables et

sacreacutes de lrsquohomme

Direitos = do

homem = definidos

= restriccedilatildeo

afin que cette

Deacuteclaration(

constamment

preacutesente agrave

tous les

membres du

corps social)

declaraccedilatildeo rappelle

presente

leur (rappelle) sans

cesse leurs droits et

leurs devoirs

Leur = aos

membros do corpo

social

direitos e deveres

do homem

(qui) declaraccedilatildeo (est)

Presente

constamment

preacutesente agrave tous les

membres du corps

social

presente declaraccedilatildeo

corpo social =

homens

afin que les

actes du pou-

voir leacutegislatif

et ceux du

pouvoir

exeacutecutif (pou-

vant ecirctre agrave

chaque instant

compareacutes

avec le but de

toute institu-

tion politique)

atos do poder

legislativo e

executivo= atos dos

homens

Soient

Subjuntivo

en (soient) plus

respecteacutes

respeitadosdireitos

e deveres do

homem

(qui) Atos = idem ao de

cima

(peuvent)

pouvant ecirctre

participio

presente

agrave chaque instant

compareacutes avec le

but de toute

institution politique

comparados atos

afin que les

reacuteclamations

des citoyens

citoyens = homens (qui sont)

Presente

fondeacutees deacutesormais

sur des principes

simples et

incontestables

fondeacutees=

reclamaccedilotildees = dos

cidadatildeos

(afin que les

reacuteclamations

des citoyens)

reclamaccedilotildees dos

cidadatildeos =

restriccedilatildeo=gtprinciacutepios

Tournent

Presente

toujours au maintien

de la Constitution

et au bonheur de

tous

Tous= os homens

En

conseacutequence

lrsquoAssembleacutee

nationale

assembleia

nacionalhomens

franceses com

objetivos

definidos=restriccedilao

reconnaicirct et

deacuteclare

presente dois

en preacutesence et sous

les auspices de

lrsquoEcirctre Suprecircme les

droits suivants de

lrsquohomme et du

Etre supreme=

quem acredita no

ser supremo eacute o

114

verbos citoyen homem

direitos especiacuteficos

b) Artigos

Article premier

Les hommes naissent et demeurent libres et eacutegaux en droits Les distinctions sociales ne peuvent ecirctre

fondeacutees que sur lrsquoutiliteacute commune

Article II

Le but de toute association politique est la conservation des droits naturels et imprescriptibles de

lrsquohomme Ces droits sont la liberteacute la proprieacuteteacute la sucircreteacute et la reacutesistance agrave lrsquooppression

Article IV

La liberteacute consiste agrave pouvoir faire tout ce qui ne nuit pas agrave autrui ainsi lrsquoexercice des droits naturels de

chaque homme nrsquoa de bornes que celles qui assurent aux autres Membres de la Socieacuteteacute la jouissance de

ces mecircmes droits Ces bornes ne peuvent ecirctre deacutetermineacutees que par la Loi

Article V

La Loi nrsquoa le droit de deacutefendre que les actions nuisibles agrave la Socieacuteteacute Tout ce qui nrsquoest pas deacutefendu par la

Loi ne peut ecirctre empecirccheacute et nul ne peut ecirctre contraint agrave faire ce qursquoelle nrsquoordonne pas

ART SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

I Les hommes naissent et

demeurent

presente

libres et eacutegaux en

droits

libres egaux

=gthomem

en droit= homem

tem direitos

Les

distinctions

sociales

sociales=da

sociedade=do

homem

peuvent ecirctre

fondeacutees

presente

ne (peuvent ecirctre

fondeacutees) que sur

lrsquoutiliteacute commune

utiliteacute commune =

para o homem

II Le but de

toute

association

politique

association

politique= de

homens

est

presente

la conservation des

droits naturels et

imprescriptibles de

lrsquohomme

droits de lrsquohomme

Ces droits direitos naturais e

imprescritiacuteveis do

homem

sont

presente

la liberteacute la

proprieacuteteacute la sucircreteacute

et la reacutesistance agrave

lrsquooppression

III Le principe de

toute

Souveraineteacute

eacute um conceito que

o homem atribui

reacuteside

presente

essentiellement

dans la Nation

eacute um conceito que

o homem atribui

115

Nul corps nul

individu

corpo

indiviacuteduo=gt

homem

peut exercer

presente

ne (peut exercer)

drsquoautoriteacute qui nrsquoen

eacutemane

expresseacutement

autoridade = do

homem

en=gtdo

homem()

IV La liberteacute do homem consiste

presente

agrave pouvoir faire tout

Ce qui nuit

presente

ne (nuit) pas agrave

autrui

autrui= homem

ainsi

lrsquoexercice des

droits naturels

de chaque

homme

comparaccedilatildeo com

liberdade

droit de chaque

homme

a

presente

nrsquo(a) de bornes que

Celles qui celles=bornes assurent

presente

aux autres Membres

de la Socieacuteteacute la

jouissance de ces

mecircmes droits

autres membres

de la

socieacuteteacute=homem

ces mecircmes

droits=direitos

naturais do

homem

Ces bornes peuvent

presente

ne (peuvent) ecirctre

deacutetermineacutees que par

la Loi

V La loi a

presente

nrsquo(a) le droit de

deacutefendre que les

actions nuisibles agrave

la Socieacuteteacute

socieacuteteacute=gthomem

Tout ce qui est

presente

nrsquo(est) pas deacutefendu

par la Loi

peut ecirctre

presente

ne (peut ecirctre)

empecirccheacute

empecirccher=quem

impede eacute o

homem

Et nul nul=homem peut ecirctre

presente

ne (peut ecirctre)

contraint agrave faire

contraint= homem

Ce qursquoelle elle=lei ordonne

presente

nrsquo(ordonne) pas

QUADRO RESUMO

Substantivos Referentes diretos Outros

Repreacutesentants du peuple franccedilais

Assembleacutee Droits de lrsquohomme Actes du pouvoir leacutegislatif

116

Membres du corps social

Reacuteclamations des citoyens

Etre suprecircme

tous

Assembleacutee nationale Droits de lrsquohomme et du citoyen

Utiliteacutes communes

Hommes Libres et eacutegaux Souveraniteacute

Distinctions sociales

Association politique

Ces droits

nation

Nul corps nul individu autrui Autoriteacute

Membres de la socieacuteteacute Liberteacute

Chaque homme Socieacuteteacute

c) Outros artigos

Article VI

La Loi est lrsquoexpression de la volonteacute geacuteneacuterale Tous les Citoyens ont droit de concourir personnellement

ou par leurs Repreacutesentants agrave sa formation Elle doit ecirctre la mecircme pour tous soit qursquoelle protegravege soit

qursquoelle punisse Tous les Citoyens eacutetant eacutegaux agrave ses yeux sont eacutegalement admissibles agrave toutes digniteacutes

places et emplois publics selon leur capaciteacute et sans autre distinction que celle de leurs vertus et de leurs

talents

Article VII

Nul homme ne peut ecirctre accuseacute arrecircteacute ni deacutetenu que dans les cas deacutetermineacutes par la Loi et selon les

formes qursquoelle a prescrites Ceux qui sollicitent expeacutedient exeacutecutent ou font exeacutecuter des ordres

arbitraires doivent ecirctre punis mais tout Citoyen appeleacute ou saisi en vertu de la Loi doit obeacuteir agrave lrsquoinstant

il se rend coupable par la reacutesistance

Article VIII

La Loi ne doit eacutetablir que des peines strictement et eacutevidemment neacutecessaires et nul ne peut ecirctre puni qursquoen

vertu drsquoune Loi eacutetablie et promulgueacutee anteacuterieurement au deacutelit et leacutegalement appliqueacutee

Article IX

Tout homme eacutetant preacutesumeacute innocent jusqursquoagrave ce qursquoil ait eacuteteacute deacuteclareacute coupable srsquoil est jugeacute indispensable

de lrsquoarrecircter toute rigueur qui ne serait pas neacutecessaire pour srsquoassurer de sa personne doit ecirctre seacutevegraverement

reacuteprimeacutee par la Loi

Article XI

117

La libre communication des penseacutees et des opinions est un des droits les plus preacutecieux de lrsquoHomme tout

Citoyen peut donc parler eacutecrire imprimer librement sauf agrave reacutepondre de lrsquoabus de cette liberteacute dans les

cas deacutetermineacutes par la Loi

Article XII

La garantie des droits de lrsquoHomme et du Citoyen neacutecessite une force publique cette force est donc

institueacutee pour lrsquoavantage de tous et non pour lrsquoutiliteacute particuliegravere de ceux auxquels elle est confieacutee

Article XIII

Pour lrsquoentretien de la force publique et pour les deacutepenses drsquoadministration une contribution commune est

indispensable Elle doit ecirctre eacutegalement reacutepartie entre tous les Citoyens en raison de leurs faculteacutes

Article XIV

Tous les Citoyens ont le droit de constater par eux-mecircmes ou par leurs Repreacutesentants la neacutecessiteacute de la

contribution publique de la consentir librement drsquoen suivre lrsquoemploi et drsquoen deacuteterminer la quotiteacute

lrsquoassiette le recouvrement et la dureacutee

Article XV

La Socieacuteteacute a le droit de demander compte agrave tout Agent public de son administration

Article XVI

Toute Socieacuteteacute dans laquelle la garantie des Droits nrsquoest pas assureacutee ni la seacuteparation des Pouvoirs

deacutetermineacutee nrsquoa point de Constitution

Article XVII

La proprieacuteteacute eacutetant un droit inviolable et sacreacute nul ne peut en ecirctre priveacute si ce nrsquoest lorsque la neacutecessiteacute

publique leacutegalement constateacutee lrsquoexige eacutevidemment et sous la condition drsquoune juste et preacutealable

indemniteacute

No excerto analisado observa-se que

a) O homem aparece representado pelas palavras ldquohommerdquo ldquoindividurdquo

ldquocorpsrdquo ldquocitoyenrdquo ldquoautruirdquo como um uacutenico ser Mas aparece tambeacutem

como laquo repreacutesantant raquo laquo membre du corps social raquo laquo membre de la

socieacuteteacute raquo Nesta acepccedilatildeo o homem eacute tomado individualmente mas

representando um grupo como integrante dele e a expressatildeo eacute

equivalente a um coletivo Jaacute o uso das palavras ldquoassembleacuteerdquo

118

ldquoassociationrdquo ldquosocieacuteteacuterdquo satildeo coletivos propriamente ditos da palavra

homem

b) Neste documento o atributo que mais eacute empregado eacute a palavra direito

As palavras igualdade liberdade e justiccedila natildeo figuram no texto e apenas

ldquolibrerdquo ldquoeacutegauxrdquo e ldquojusterdquo aparecem A ausecircncia dessas palavras indica

que o que estaacute sendo delineado eacute o direito ou melhor os direitos que ao

homem seratildeo atribuiacutedos

c) Quase a totalidade dos sujeitos gramaticais eacute representada pelo homem

ou seus referentes diretos (a palavra homem aparece explicitamente 7

vezes sendo que em nenhum dos casos eacute sujeito da oraccedilatildeo palavra

ldquodireitordquo(s) aparece 11 vezes sendo que eacute sujeito em apenas um caso)

tais como ldquoassembleiardquo ldquocorpo socialrdquo ldquosociedaderdquo Os outros referentes

satildeo decorrentes de accedilotildees do homem e se apresentam de forma indireta

quem impotildee limites quem faz a declaraccedilatildeo e a assina quem reclama eacute

o homem pois satildeo accedilotildees inerentes ao homem Quanto aos

complementos (objetos ou predicativos do sujeito) haacute um maior

equiliacutebrio referem-se em sua maioria ao homem ou aos seus direitos

Poderia se resumir esta parte do documento no seguinte enunciado o

homem especifica quais satildeo os direitos do homem

d) O enunciador do texto eacute representado por homens pois o texto eacute

elaborado por homens e para os homens Esses homens que satildeo os

representantes da Assembleia francesa tem um ethos revestido pelo

poder que foi conferido pela sociedade francesa Satildeo representantes de

vaacuterias outras vozes

e) Ao mesmo tempo em que representam vaacuterias outras vozes os direitos

ali estabelecidos como jaacute se viu mesmo que inovadores (o homem tem

direito agrave propriedade agrave liberdade de expressatildeo por exemplo) satildeo

reflexos de outros direitos ou dos direitos adquiridos por outras culturas

o que mostra o processo dialoacutegico no qual esse texto se insere

f) O homem ao qual se refere o documento que antes era sozinho e

desprotegido aparece reformulado e representado na Assembleia

insere-se na sociedade inserido sendo assim amparado por ela

119

O homem vem delineado como um cidadatildeo como um corpo dotado de

individualidade como UM SER e assim se define como parte da sociedade Eacute

representado por um outro homem e dotado de direitos dentro de uma

sociedade em que os poderes satildeo organizados regidos por princiacutepios leis e

sob a proteccedilatildeo de um SER SUPREMO

352 A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (DUDH 1948)89

A DUDH eacute um tratado internacional e seu teor foi redigido por uma

comissatildeo de membros considerados representantes das aspiraccedilotildees gerais e

tinha o objetivo de assegurar que os excessos cometidos pelos paiacuteses

participantes das duas grandes guerras mundiais ou de outros paiacuteses natildeo

voltassem a ocorrer (armas quiacutemicas ou campos de extermiacutenio por exemplo)

Eacute elaborado num periacuteodo posterior ao final da segunda guerra (1948) e foi

assinado e ratificado por 50 paiacuteses num primeiro momento mas outros paiacuteses

aderiram a ele ao longo do tempo Hoje praticamente todos os paiacuteses o

adotam Como esta declaraccedilatildeo eacute um tratado internacional cabe a cada paiacutes de

acordo com seu sistema de leis integraacute-lo e fazer com que seja respeitado

dentro de seu sistema legal Mesmo sendo um tratado internacional

denominado declaraccedilatildeo tem a forma composicional ou melhor estrutura do

texto igual a da Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo francesa de

1789 possui artigos e eacute resultado da vontade de uma assembleia neste caso

geral e da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

Pode-se observar nessa declaraccedilatildeo a presenccedila do termo ldquohomemrdquo nas

seguintes formas

a) Sinoniacutemia homem eacute igual a ldquohommerdquo ldquoindividurdquo ldquopersonnerdquo

ldquoesclaverdquo

b) Pronominal ldquonulrdquo

89

Documento anexo II

120

c) Grupo nominal laquo membres de la famille humaine raquo laquo ecirctres

humains raquo laquo les uns envers les autres raquo

d) Extensiva direta laquo droits de lrsquohomme raquo laquo libres raquo laquo libeacutereacutes raquo

laquo contraint raquo laquo nation raquo laquo assembleacutee geacuteneacuterale raquo laquo ONU raquo

laquo peuples et nations raquo laquo populations des eacutetats membres raquo

laquo libres et eacutegaux en droits raquo laquo doueacutes de raison et

conscience raquo laquo ressortissante raquo

e) Extensiva indireta laquo droits eacutegaux et inalieacutenables raquo laquo justice raquo

laquo paix raquo laquo conscience de lrsquohumaniteacute raquo laquo actes de barbarie raquo

laquo la terreur raquo laquo la misegravere raquo laquo aspiration de lrsquohomme raquo

laquo reacutevolte raquo laquo tyrannie raquo laquo oppression raquo laquo relations

amicales raquo laquo charte de peuples des nations unies raquo laquo foi raquo

laquo digniteacute raquo laquo valeur raquo laquo eacutegaliteacute raquo laquo eacutetats membres raquo

laquo liberteacutes fondamentales raquo laquo organes de la socieacuteteacute raquo

laquo enseignement raquo laquo eacuteducation raquo laquo engagements raquo laquo esprit

de fraterniteacute raquo laquo race raquo laquo couleurs raquo laquo sexe raquo laquo langue raquo

laquo religion raquo laquo opinion politique raquo laquo autre opinion raquo laquo origine

nationale ou sociale raquo laquo de fortune raquo laquo naissance ou autre

situation raquo laquo liberteacute raquo laquo vie raquo laquo liberteacute raquo laquo sureteacute de sa

personne raquo laquo esclavage raquo laquo servitude raquo laquo traitements

inhumains ou deacutegradants raquo

f) Embreantes de pessoa natildeo haacute

A anaacutelise do documento pode ser constatada abaixo

a) Preacircmbulo

LA DECLARATION UNIVERSELLE DES DROITS DE LrsquoHOMME 1948 - 200890

90

httpwwwunorgfrdocumentsudhrlawshtml

121

Preacuteambule

Consideacuterant que la reconnaissance de la digniteacute inheacuterente agrave tous les membres de la famille humaine et

de leurs droits eacutegaux et inalieacutenables constitue le fondement de la liberteacute de la justice et de la paix dans le

monde

Consideacuterant que la meacuteconnaissance et le meacutepris des droits de lhomme ont conduit agrave des actes de

barbarie qui reacutevoltent la conscience de lhumaniteacute et que lavegravenement dun monde ougrave les ecirctres humains

seront libres de parler et de croire libeacutereacutes de la terreur et de la misegravere a eacuteteacute proclameacute comme la plus

haute aspiration de lhomme

Consideacuterant quil est essentiel que les droits de lhomme soient proteacutegeacutes par un reacutegime de droit pour

que lhomme ne soit pas contraint en suprecircme recours agrave la reacutevolte contre la tyrannie et loppression

Consideacuterant quil est essentiel dencourager le deacuteveloppement de relations amicales entre nations

Consideacuterant que dans la Charte les peuples des Nations Unies ont proclameacute agrave nouveau leur foi dans les

droits fondamentaux de lhomme dans la digniteacute et la valeur de la personne humaine dans leacutegaliteacute des

droits des hommes et des femmes et quils se sont deacuteclareacutes reacutesolus agrave favoriser le progregraves social et agrave

instaurer de meilleures conditions de vie dans une liberteacute plus grande

Consideacuterant que les Etats Membres se sont engageacutes agrave assurer en coopeacuteration avec lOrganisation des

Nations Unies le respect universel et effectif des droits de lhomme et des liberteacutes fondamentales

Consideacuterant quune conception commune de ces droits et liberteacutes est de la plus haute importance pour

remplir pleinement cet engagement

LAssembleacutee Geacuteneacuterale proclame la preacutesente Deacuteclaration universelle des droits de lhomme comme

lideacuteal commun agrave atteindre par tous les peuples et toutes les nations afin que tous les individus et tous les

organes de la socieacuteteacute ayant cette Deacuteclaration constamment agrave lesprit sefforcent par lenseignement et

leacuteducation de deacutevelopper le respect de ces droits et liberteacutes et den assurer par des mesures progressives

dordre national et international la reconnaissance et lapplication universelles et effectives tant parmi les

populations des Etats Membres eux-mecircmes que parmi celles des territoires placeacutes sous leur juridiction

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

(Assembleacutee

Geacuteneacuterale = AG) homens reunidos consideacuterant

particiacutepio

presente

Que

la

reconnaissance

de la digniteacute

inheacuterente agrave tous

les membres de

la famille

humaine et de

leurs droits

eacutegaux et

inalieacutenables

reconhecimento da

dignidade e dos

direitos=gtdignidade

e direitos do homem

membros da familia

humana=gthomens

constitue

presente

le fondement de la

liberteacute de la justice

et de la paix dans le

monde

le monde= onde

vive o homem

la liberteacutee la justice

la paix = conceitos

estabelecidos pelo

homem

122

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Que

la

meacuteconnaissance

et le meacutepris des

droits de

lhomme

deconhecimento e

desprezo dos direitos

do homem =gt

homem

ont conduit

preteacuterito

perfeito

agrave des actes de

barbarie

actes de barbarie=

do homem

Qui atos de barbaacuterie reacutevoltent

presente

la conscience de

lhumaniteacute

humaniteacute= do

homem

Et que

lavegravenement dun

monde

surgimento=gtquem

faz surgir

ougrave les ecirctres

humains

seres

humanos=homens

seront

futuro

libres de parler et de

croire libeacutereacutes de la

terreur et de la

misegravere

libres =

liberdade=gthomem

eacute livre

libeacutereacutes=

liberdade=gthomem

(lrsquoavenement

drsquoun monde)

surgimento a eacuteteacute proclameacute

preteacuterito

perfeito com

voz passiva

comme la plus

haute aspiration de

lhomme

Homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

Particiacutepio

presente

Qursquo

il impessoal=sujeito

inexistente

Est

Presente

essentiel que

les droits de

lhomme

direitos do homem

=gt homem

Soient

subjuntivo

proteacutegeacutes par un

reacutegime de droit

proteacutegeacutes =gt les

droits = os direitos

satildeo protegidos por

outros direitos

pour que

lhomme

homem ne soit pas

subjuntivo

contraint en

suprecircme recours agrave

la reacutevolte contre la

tyrannie et

loppression

contraint=gt homem

tyrannie et

oppression=sistemas

de governo do

homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Qursquo

il impessoal=sujeito

inexistente

Est

presente

essentiel

dencourager le

deacuteveloppement de

relations amicales

entre nations

relations amicales =

relaccedilotildees de

amizade= do homem

123

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Que dans la Charte

les peuples des

Nations Unies

a carta = documento

(AG) ont proclameacute

preteacuterito

perfeito

agrave nouveau leur foi

dans les droits

fondamentaux de

lhomme dans la

digniteacute et la valeur

de la personne

humaine dans

leacutegaliteacute des droits

des hommes et des

femmes

foi= o homem eacute

quem tem feacute

direitos

fundamentais do

homem

personne humaine =

homem

Et qursquo

lsquoils eles = homens se sont

deacuteclareacutes

preteacuterito

perfeito

reacutesolus agrave favoriser

le progregraves social et

agrave instaurer de

meilleures

conditions de vie

dans une liberteacute

plus grande

reacutesolus = homens

conditions de vie=

do homem

liberteacute= do homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Que les Etats

Membres

(ils) estados membros =gt

homens poreacutem

despersonificados

mas eacute pessoa

juridica

se sont

engageacutes

preteacuterito

perfeito

agrave assurer en

coopeacuteration avec

lOrganisation des

Nations Unies le

respect universel et

effectif des droits

de lhomme et des

liberteacutes

fondamentales

coopeacuteration= quem

coopera satildeo os

Estados

direitos do homem e

das liberdades=do

homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Qursquo

quune

conception

commune de ces

droits et liberteacutes

concepccedilatildeo comum =

dos homens =de

direitos e liberdades

especiacuteficos =gtdo

homem

retomada na linha

abaixo por ideal

comum

Est

presente

de la plus haute

importance pour

remplir pleinement

cet engagement

cet engangement =

DUDH

LAssembleacutee

Geacuteneacuterale

Assembleacutee = homens

reunidos

proclame

presente

la preacutesente

Deacuteclaration

universelle des

droits de lhomme

comme lideacuteal

commun agrave atteindre

direitos do homem

peuples et nation=

de homens

124

par tous les peuples

et toutes les nations

afin que tous les

individus et

tous les organes

de la socieacuteteacute

todos os indiviacuteduos=

homens e todos os

oacutergatildeos da sociedade=

homens reunidos

ayant

particiacutepio

presente

cette Deacuteclaration

constamment agrave

lesprit

cette=gt deacuteclaration

esprit= do homem

(tous les

individus et

tous les organes

de la socieacuteteacute)

idem sefforcent

Presente

par lenseignement

et leacuteducation

de deacutevelopper le

respect de ces droits

et liberteacutes

enseignement et

eacuteducation = do

homem

et den assurer

(par des mesures

progressives dordre

national et

international)

la reconnaissance

et lapplication

universelles et

effectives tant

parmi les

populations des

Etats Membres eux-

mecircmes que parmi

celles

en assurer=

assegurar o

desenvolvimento

deles = direitos e

liberdades e

tambeacutem seu

reconhecimento e

sua aplicaccedilatildeo

populations= de

homens

eacutetats membres =

homens reunidos de

forma poliacutetica

(tous les

individus et

tous les organes

de la socieacuteteacute)

(sefforcent) par des mesures

progressives dordre

national et

international

ordem =gtimposta

pelo homem

des territoires territoacuterios=naccedilotildees

estados membros

(qui

sont)

presente

voz passiva

Placeacutes sous leur

juridiction

placeacutes= os territoacuterios

jurisdiccedilatildeo= do s

Estados membros

=gt do homem

b) Artigos

Article premier

Tous les ecirctres humains naissent libres et eacutegaux en digniteacute et en droits Ils sont doueacutes de raison et de

conscience et doivent agir les uns envers les autres dans un esprit de fraterniteacute

Article 2

1Chacun peut se preacutevaloir de tous les droits et de toutes les liberteacutes proclameacutes dans la preacutesente

Deacuteclaration sans distinction aucune notamment de race de couleur de sexe de langue de religion

125

dopinion politique ou de toute autre opinion dorigine nationale ou sociale de fortune de naissance ou

de toute autre situation

2De plus il ne sera fait aucune distinction fondeacutee sur le statut politique juridique ou international du

pays ou du territoire dont une personne est ressortissante que ce pays ou territoire soit indeacutependant sous

tutelle non autonome ou soumis agrave une limitation quelconque de souveraineteacute

Article 3

Tout individu a droit agrave la vie agrave la liberteacute et agrave la sucircreteacute de sa personne

Article 4

Nul ne sera tenu en esclavage ni en servitude lesclavage et la traite des esclaves sont interdits sous toutes

leurs formes

Article 5

Nul ne sera soumis agrave la torture ni agrave des peines ou traitements cruels inhumains ou deacutegradants

ART SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

I Tous les ecirctres

humains

ecirctres

humains=homens

naissent

presente

libres et eacutegaux en

digniteacute et en droits

libres et eacutegaux=

homens

em direitos

Ils ils= homens sont

presente

doueacutes de raison et de

conscience

doueacutes= homens

Et (ils) doivent agir

presente

les uns envers les

autres dans un esprit

de fraterniteacute

les autres= os

homens

fraterniteacute=

sentimento dos

homens

II Chacun

chacun=homem peut se

preacutevaloir

presente

de tous les droits et

de toutes les liberteacutes

proclameacutes dans la

preacutesente Deacuteclaration

sans distinction

aucune notamment

de race de couleur

de sexe de langue de

religion dopinion

politique ou de toute

autre opinion

dorigine nationale ou

sociale de fortune de

naissance ou de toute

autre situation

race couleur

opinion=gthome

m

sociale

naissance=gtho

mem

126

De plus il il= impessoal ne sera fait

aucune

futuro

distinction fondeacutee sur

le statut politique

juridique ou

international du pays

ou du territoire

statut politique=

quem tem

status eacute o

homem

dont une

personne

une

personne=homem

est presente Ressortissante Ressortissant

=gthomem

que ce pays soit

subjuntivo

est ressortissante

que ce pays ou

territoire soit

indeacutependant sous

tutelle non autonome

ou soumis agrave une

limitation quelconque

de souveraineteacute

III Tout individu individu=homem a

presente

droit agrave la vie agrave la

liberteacute et agrave la sucircreteacute

de sa personne

liberteacute=homem

personne=gthom

em

IV Nul Nul = ninguem =

nenhum homem

ne sera tenu

futuro voz

passiva

en esclavage ni en

servitude

esclavage=gt

condiccedilatildeo do

homem

lesclavage et

la traite des

esclaves

Esclavage

=gtescravo

=gthomem

sont

presente

interdits sous toutes

leurs formes

V Nul Nul = ningueacutem =

nenhum homem

ne sera

soumis

futuro voz

passiva

agrave la torture ni agrave des

peines ou traitements

cruels inhumains ou

deacutegradants

torture

peines=gtinflingi

das ao homem

inhumaine=

inhumanas= do

que natildeo eacute

homem =gtdo

homem

QUADRO RESUMO

Substantivos Referentes diretos Outros

Membres de la famille

127

humaine

Droits eacutegaux et inalieacutenables

Droits de lrsquohomme Liberteacute justice paix

Conscience de l humaniteacute Actes de barbarie

Etres humains Libres libeacutereacutes La terreur et la misegravere

Aspiration de lrsquohomme

Homme Contraint Reacutevolte tyranie oppression

Relations amicales

Nations

Personne humaine Charte de peuples des nations unies

Foi digniteacute valeur eacutegaliteacute

Etats membres

Assembleacutee geacuteneacuterale onu

Peuples et nations Respect universel et effectif liberteacutes fondamentales

Individus Organes de la socieacuteteacute Conception des droits et liberteacutes

Populations des eacutetats membres

engagements

Enseignement eacuteducation

Libres et eacutegaux en droits Respects des droits

Tous les ecirctres humains Doueacutes de raison et conscience

Ordre national e international

c) Outros artigos

Article 6

Chacun a le droit agrave la reconnaissance en tous lieux de sa personnaliteacute juridique

Article 7

Tous sont eacutegaux devant la loi et ont droit sans distinction agrave une eacutegale protection de la loi Tous ont droit agrave

une protection eacutegale contre toute discrimination qui violerait la preacutesente Deacuteclaration et contre toute

provocation agrave une telle discrimination

Article 8

128

Toute personne a droit agrave un recours effectif devant les juridictions nationales compeacutetentes contre les actes

violant les droits fondamentaux qui lui sont reconnus par la constitution ou par la loi

Article 10

Toute personne a droit en pleine eacutegaliteacute agrave ce que sa cause soit entendue eacutequitablement et publiquement

par un tribunal indeacutependant et impartial qui deacutecidera soit de ses droits et obligations soit du bien-fondeacute

de toute accusation en matiegravere peacutenale dirigeacutee contre elle

Article 11

1 Toute personne accuseacutee dun acte deacutelictueux est preacutesumeacutee innocente jusquagrave ce que sa culpabiliteacute

ait eacuteteacute leacutegalement eacutetablie au cours dun procegraves public ougrave toutes les garanties neacutecessaires agrave sa

deacutefense lui auront eacuteteacute assureacutees

2 Nul ne sera condamneacute pour des actions ou omissions qui au moment ougrave elles ont eacuteteacute commises ne

constituaient pas un acte deacutelictueux dapregraves le droit national ou international De mecircme il ne sera

infligeacute aucune peine plus forte que celle qui eacutetait applicable au moment ougrave lacte deacutelictueux a eacuteteacute

commis

Article 12

Nul ne sera lobjet dimmixtions arbitraires dans sa vie priveacutee sa famille son domicile ou sa

correspondance ni datteintes agrave son honneur et agrave sa reacuteputation Toute personne a droit agrave la protection de la

loi contre de telles immixtions ou de telles atteintes

Article 13

1 Toute personne a le droit de circuler librement et de choisir sa reacutesidence agrave linteacuterieur dun Etat

2 Toute personne a le droit de quitter tout pays y compris le sien et de revenir dans son pays

Article 14

1 Devant la perseacutecution toute personne a le droit de chercher asile et de beacuteneacuteficier de lasile en dautres

pays

2 Ce droit ne peut ecirctre invoqueacute dans le cas de poursuites reacuteellement fondeacutees sur un crime de droit

commun ou sur des agissements contraires aux buts et aux principes des Nations Unies

Article 15

1 Tout individu a droit agrave une nationaliteacute

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa nationaliteacute ni du droit de changer de nationaliteacute

Article 16

1 A partir de lacircge nubile lhomme et la femme sans aucune restriction quant agrave la race la nationaliteacute ou

la religion ont le droit de se marier et de fonder une famille Ils ont des droits eacutegaux au regard du

mariage durant le mariage et lors de sa dissolution

2 Le mariage ne peut ecirctre conclu quavec le libre et plein consentement des futurs eacutepoux

129

3 La famille est leacuteleacutement naturel et fondamental de la socieacuteteacute et a droit agrave la protection de la socieacuteteacute et

de lEtat

Article 17

1 Toute personne aussi bien seule quen collectiviteacute a droit agrave la proprieacuteteacute

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa proprieacuteteacute

Article 18

Toute personne a droit agrave la liberteacute de penseacutee de conscience et de religion ce droit implique la liberteacute de

changer de religion ou de conviction ainsi que la liberteacute de manifester sa religion ou sa conviction seule

ou en commun tant en public quen priveacute par lenseignement les pratiques le culte et laccomplissement

des rites

Article 19

Tout individu a droit agrave la liberteacute dopinion et dexpression ce qui implique le droit de ne pas ecirctre inquieacuteteacute

pour ses opinions et celui de chercher de recevoir et de reacutepandre sans consideacuterations de frontiegraveres les

informations et les ideacutees par quelque moyen dexpression que ce soit

Article 20

1 Toute personne a droit agrave la liberteacute de reacuteunion et dassociation pacifiques

2 Nul ne peut ecirctre obligeacute de faire partie dune association

Article 21

1 Toute personne a le droit de prendre part agrave la direction des affaires publiques de son pays soit

directement soit par lintermeacutediaire de repreacutesentants librement choisis

2 Toute personne a droit agrave acceacuteder dans des conditions deacutegaliteacute aux fonctions publiques de son

pays

3 La volonteacute du peuple est le fondement de lautoriteacute des pouvoirs publics cette volonteacute doit

sexprimer par des eacutelections honnecirctes qui doivent avoir lieu peacuteriodiquement au suffrage

universel eacutegal et au vote secret ou suivant une proceacutedure eacutequivalente assurant la liberteacute du vote

Article 22

Toute personne en tant que membre de la socieacuteteacute a droit agrave la seacutecuriteacute sociale elle est fondeacutee agrave obtenir la

satisfaction des droits eacuteconomiques sociaux et culturels indispensables agrave sa digniteacute et au libre

deacuteveloppement de sa personnaliteacute gracircce agrave leffort national et agrave la coopeacuteration internationale compte tenu

de lorganisation et des ressources de chaque pays

Article 23

1 Toute personne a droit au travail au libre choix de son travail agrave des conditions eacutequitables et

satisfaisantes de travail et agrave la protection contre le chocircmage

2 Tous ont droit sans aucune discrimination agrave un salaire eacutegal pour un travail eacutegal

130

3 Quiconque travaille a droit agrave une reacutemuneacuteration eacutequitable et satisfaisante lui assurant ainsi quagrave sa

famille une existence conforme agrave la digniteacute humaine et compleacuteteacutee sil y a lieu par tous autres

moyens de protection sociale

4 Toute personne a le droit de fonder avec dautres des syndicats et de saffilier agrave des syndicats

pour la deacutefense de ses inteacuterecircts

Article 24

Toute personne a droit au repos et aux loisirs et notamment agrave une limitation raisonnable de la dureacutee du

travail et agrave des congeacutes payeacutes peacuteriodiques

Article 25

1 Toute personne a droit agrave un niveau de vie suffisant pour assurer sa santeacute son bien-ecirctre et ceux de sa

famille notamment pour lalimentation lhabillement le logement les soins meacutedicaux ainsi que pour les

services sociaux neacutecessaires elle a droit agrave la seacutecuriteacute en cas de chocircmage de maladie dinvaliditeacute de

veuvage de vieillesse ou dans les autres cas de perte de ses moyens de subsistance par suite de

circonstances indeacutependantes de sa volonteacute

2 La materniteacute et lenfance ont droit agrave une aide et agrave une assistance speacuteciales Tous les enfants quils

soient neacutes dans le mariage ou hors mariage jouissent de la mecircme protection sociale

Article 26

1 Toute personne a droit agrave leacuteducation Leacuteducation doit ecirctre gratuite au moins en ce qui concerne

lenseignement eacuteleacutementaire et fondamental Lenseignement eacuteleacutementaire est obligatoire Lenseignement

technique et professionnel doit ecirctre geacuteneacuteraliseacute laccegraves aux eacutetudes supeacuterieures doit ecirctre ouvert en pleine

eacutegaliteacute agrave tous en fonction de leur meacuterite

2 Leacuteducation doit viser au plein eacutepanouissement de la personnaliteacute humaine et au renforcement du

respect des droits de lhomme et des liberteacutes fondamentales Elle doit favoriser la compreacutehension la

toleacuterance et lamitieacute entre toutes les nations et tous les groupes raciaux ou religieux ainsi que le

deacuteveloppement des activiteacutes des Nations Unies pour le maintien de la paix

3 Les parents ont par prioriteacute le droit de choisir le genre deacuteducation agrave donner agrave leurs enfants

Article 27

1 Toute personne a le droit de prendre part librement agrave la vie culturelle de la communauteacute de jouir des

arts et de participer au progregraves scientifique et aux bienfaits qui en reacutesultent

2 Chacun a droit agrave la protection des inteacuterecircts moraux et mateacuteriels deacutecoulant de toute production

scientifique litteacuteraire ou artistique dont il est lauteur

Article 28

Toute personne a droit agrave ce que regravegne sur le plan social et sur le plan international un ordre tel que les

droits et liberteacutes eacutenonceacutes dans la preacutesente Deacuteclaration puissent y trouver plein effet

Article 29

131

1 Lindividu a des devoirs envers la communauteacute dans laquelle seule le libre et plein

deacuteveloppement de sa personnaliteacute est possible

2 Dans lexercice de ses droits et dans la jouissance de ses liberteacutes chacun nest soumis quaux

limitations eacutetablies par la loi exclusivement en vue dassurer la reconnaissance et le respect des

droits et liberteacutes dautrui et afin de satisfaire aux justes exigences de la morale de lordre public

et du bien-ecirctre geacuteneacuteral dans une socieacuteteacute deacutemocratique

3 Ces droits et liberteacutes ne pourront en aucun cas sexercer contrairement aux buts et aux principes

des Nations Unies

Article 30

Aucune disposition de la preacutesente Deacuteclaration ne peut ecirctre interpreacuteteacutee comme impliquant pour un Etat un

groupement ou un individu un droit quelconque de se livrer agrave une activiteacute ou daccomplir un acte visant agrave

la destruction des droits et liberteacutes qui y sont eacutenonceacutes

No trecho analisado observa-se que

a O homem aparece representado pelas palavras e expressotildees ldquoecirctre

humainrdquo ldquohommerdquo ldquopersonne humainerdquo ldquoindividurdquo ldquoles uns envers les

autresrdquo ldquopersonnerdquo ldquonulrdquo ldquoesclavesrdquo Eacute o homem tomado na sua

individualidade Tambeacutem se encontram no texto expressotildees tais como

ldquomembres de la famille humainerdquo o que mostra o homem enquanto

indiviacuteduo mas situado e inserido num grupo Ainda aparecem

expressotildees tais como ldquoassembleacutee geacuteneacuteralerdquo ldquopopulation des eacutetats

membresrdquo ldquopeuplesrdquo ldquonationsrdquo ldquoONUrdquo que se referem a agrupamentos

de homem fazendo o papel de coletivo da palavra homem

b Nessa declaraccedilatildeo o direito aparece mais especificado vem mais

detalhado e tambeacutem aparece associado aos conceitos de liberdade

igualdade e justiccedila Esses conceitos aparecem inclusive em sua

maioria no plural o que equivale dizer que existe mais de um tipo de

direito e de liberdade o que vem inclusive expresso no proacuteprio

preacircmbulo ldquoune conception commune de ces droits et liberteacutes est de la

plus haute importance pour remplir pleinement cet engagementrdquo Pode-

se entender que isso seria devido ao fato de a declaraccedilatildeo ser de caraacuteter

universal Mas haacute que se lembrar do contexto histoacuterico que eacute a razatildeo de

sua elaboraccedilatildeo uma maior proteccedilatildeo do homem apoacutes os horrores das

duas Guerras Mundiais

132

c Aleacutem disso a caracterizaccedilatildeo do homem de forma mais definida permite

que se lhe atribua direitos mais definidos de justiccedila igualdade natildeo

escravidatildeo tratamento digno Eacute um homem mais delineado inserido

num contexto determinado - social poliacutetico universal Ele se torna parte

da famiacutelia humana integrado a um grupo formado por naccedilotildees povos

populaccedilotildees A esse grupo tambeacutem satildeo atribuiacutedos direitos mais

definidos de justiccedila igualdade natildeo escravidatildeo tratamento digno de

seguranccedila Eacute um homem delineado que tem opiniatildeo inserido num

contexto nacional internacional e atual moderno para o seu tempo

(1948) Vale lembrar que ainda hoje existem paiacuteses que natildeo ratificaram

o tratado91 ou que mesmo que o tenham feito natildeo respeitam o que ele

dispotildee

d Tal como no texto anterior o enunciador eacute o homem representado pelo

grupo portanto satildeo vaacuterias vozes representadas O homem eacute igualmente

constituiacutedo em um grupo sob a forma de Assembleia Geral Seu ethos

tambeacutem eacute fortalecido e constituiacutedo pelo status que lhe foi atribuiacutedo pela

Assembleia A ausecircncia do termo ldquoAssembleacutee Geacuteneacuteralerdquo conjugada com

a repeticcedilatildeo do verbo ldquoconsideacuterantrdquo ressalta essa forccedila do ethos

e O homem representado na Assembleia Geral da ONU eacute diferente do

homem da Assembleia francesa natildeo soacute pelo fato de pertencer a uma

organizaccedilatildeo de paiacuteses mas tambeacutem esse homem eacute descrito por meio

de expressotildees que lhe atribuem caracteriacutesticas especiacuteficas Eacute um

homem que faz parte de um grupo (da famiacutelia humana de povos e

naccedilotildees pertencente aos estados membros) cujos direitos satildeo mais

detalhados (livres e iguais em direitos direitos iguais e inalienaacuteveis) e

cujos atributos satildeo bem especificados (dotado de razatildeo e consciecircncia

espiacuterito de fraternidade) sendo protegido dos infortuacutenios (miseacuteria

escravidatildeo tratamentos inumanos e degradantes)

f As expressotildees que se referem ao homem ao mesmo tempo em que o

especificam mostram o aspecto ideoloacutegico da sociedade onde ele estaacute

91

Taiwan natildeo teve aceito seu pedido de ratificaccedilatildeo pela ONU em 2007porque eacute consideradoum paiacutes natildeo

independente da Republica da China (httpbrchina-embassyorgporztzltwwtt344180htm em

25112012)92

Documento anexo III

133

inserido o que deixa evidente que havia um estado anterior diferente do

que eacute pretendido pelo documento e por conseguinte revela seu caraacuteter

dialoacutegico

353 A Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF1988)

Preacircmbulo e artigo 5deg LXXVIII 92

A Constituiccedilatildeo Federal eacute a lei maacutexima que rege a vida de todo brasileiro

e tambeacutem daqueles que vivem sobre o solo do paiacutes Tem em comum com a

DDHC e com a DUDH o fato de dar ao homem o status de ser igual aos outros

homens A disposiccedilatildeo ldquoLes hommes naissent libres et eacutegaux en droitsrdquo(DDHC)

e ldquoTous les ecirctres humains naissent libres et eacutegaux en digniteacute et en droitsrdquo

(DUDH) eacute reformulada em ldquoTodos satildeo iguais perante a leirdquo

Esse conjunto de normas foi elaborado ao final de um periacuteodo de

governo autoritaacuterio comandado por militares

Foi redigido e votado pelos representantes do povo brasileiro (72

senadores e 487deputados) e visava natildeo soacute estabelecer o funcionamento do

Estado democraacutetico definindo as funccedilotildees do diferentes poderes (executivo

legislativo e judiciaacuterio) mas tambeacutem garantir ao cidadatildeo direitos essenciais

aleacutem de regular as ordens financeira econocircmica e social entre outros Nesse

documento foram observados os seguintes casos de reformulaccedilatildeo em relaccedilatildeo

ao emprego do termo homem

a) Sinoniacutemia ldquobrasileiros e estrangeirosrdquo ldquomulheresrdquo

b) Pronominal ldquotodosrdquo

c) Grupo nominal ldquorepresentantes do povo brasileirordquo ldquopessoa

humanardquo ldquorepresentantes eleitosrdquo ldquoningueacutemrdquo

92

Documento anexo III

134

d) Extensiva direta ldquoassembleia nacionalrdquo ldquoindividuaisrdquo ldquosociedade

fraterna pluralista e sem preconceitosrdquo ldquocidadaniardquo ldquopovordquo

ldquosociedaderdquo ldquocomunidade latino-americana de naccedilotildeesrdquo ldquoiguaisrdquo

e) Extensiva indireta ldquoestado democraacuteticordquo ldquodireitos sociaisrdquo

ldquoliberdaderdquo ldquoseguranccedilardquo ldquobem estarrdquo ldquodesenvolvimentordquo

ldquoigualdaderdquo ldquojusticcedilardquo ldquoharmonia socialrdquo ldquosoluccedilatildeo pacificardquo

ldquodignidade da pessoa humanardquo ldquosob a proteccedilatildeo de Deusrdquo ldquopoder

legislativo executivo judiciaacuteriordquo ldquopobrezardquo ldquomarginalizaccedilatildeordquo

ldquodesigualdades sociaisrdquo ldquodiscriminaccedilatildeordquo ldquoorigemrdquo ldquoraccedilardquo ldquosexordquo

ldquocorrdquo ldquoidaderdquo ldquodireitos humanosrdquo ldquoautodeterminaccedilatildeo dos povosrdquo

ldquopazrdquo ldquoconflitordquo ldquoterrorismordquo ldquoracismordquo ldquocooperaccedilatildeo entre os

povosrdquo ldquoprogresso da humanidaderdquo ldquoasilo poliacuteticordquo ldquointegraccedilatildeo

socialrdquo ldquotorturardquo ldquotratamento desumano ou degradanterdquo

ldquomanifestaccedilatildeo do pensamentordquo ldquoanonimatordquo ldquoliberdade de

crenccedila de consciecircncia de pensamento de culto religiosordquo

f) Embreantes de pessoa noacutes

Essa constataccedilatildeo se fez a partir de um levantamento efetuado no texto

abaixo conforme se pode ver no quadro de anaacutelise

a) Preacircmbulo

CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 198893

Noacutes representantes do povo brasileiro reunidos em Assembleia Nacional

Constituinte para instituir um Estado Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio

dos direitos sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-estar o

desenvolvimento a igualdade e a justiccedila como valores supremos de uma sociedade

93

httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm Acesso em 30112012

135

fraterna pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia social e comprometida na

ordem interna e internacional com a soluccedilatildeo paciacutefica das controveacutersias promulgamos

sob a proteccedilatildeo de Deus a seguinte CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Noacutes

representantes

do povo

brasileiro

Representantes do

povo = homens

restritivo

(estamos)

presente voz

passiva

Reunidos em

Assembleia Nacional

Constituinte

Assembleia

=gthomens reunidos

Para instituir

infinitivo

um Estado

Democraacutetico

Estado =gt homens

organizados

(estado

democraacutetico

que)

Estado (estejaseja)

subjuntivo voz

passiva

destinado a assegurar o

exerciacutecio dos direitos

sociais e individuais a

liberdade a seguranccedila

o bem-estar o

desenvolvimento a

igualdade e a justiccedila

Exerciacutecio de direi-tos

=gt do homem

A liberdade a

seguranccedila o bem

estar =gt do homem

O desenvolvimento a

igualdade a justiccedila

=gtpara o homem

como valores

supremos de

uma sociedade

fraterna

pluralista e

sem

preconceitos

Valores de uma

sociedade = de

homens

(estejaseja)

subjuntivo voz

passiva

fundada na harmonia

social e comprometida

na ordem interna e

internacional com a

soluccedilatildeo paciacutefica das

controveacutersias

Fundada=gt a

sociedade=gt homem

Harmonia social e

comprometida etc

soluccedilatildeo pacifica =gt

apenas o homem eacute

capaz de fazer isso

Sujeito oculto =

nos representantes

= homens

promulgamos

presente

sob a proteccedilatildeo de

Deus a seguinte

CONSTITUICcedilAtildeO DA

REPUacuteBLICA

FEDERATIVA DO

BRASIL

Deus =gt quem

acredita em Deus eacute o

homem

Repuacuteblica =gt forma

de governo do

homem

b) Artigos

TIacuteTULO I

Dos Princiacutepios Fundamentais

Art 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos

Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de

Direito e tem como fundamentos

I - a soberania

II - a cidadania

136

III - a dignidade da pessoa humana

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o

Executivo e o Judiciaacuterio

Art 3ordm Constituem objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa do Brasil

I - construir uma sociedade livre justa e solidaacuteria

II - garantir o desenvolvimento nacional

III - erradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir as desigualdades sociais e

regionais

IV - promover o bem de todos sem preconceitos de origem raccedila sexo cor idade e

quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeo

Art 4ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais

pelos seguintes princiacutepios

I - independecircncia nacional

II - prevalecircncia dos direitos humanos

III - autodeterminaccedilatildeo dos povos

IV - natildeo-intervenccedilatildeo

V - igualdade entre os Estados

VI - defesa da paz

VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos

VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo

IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade

X - concessatildeo de asilo poliacutetico

137

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica

poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma

comunidade latino-americana de naccedilotildees

Art SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE 1deg A

Repuacuteblica

Federativa

do Brasil

constitui-

se

em Estado Demo-

craacutetico de Direito e tem

como fundamentos

I - a soberania

II - a cidadania

III - a dignidade da

pessoa humana

IV - os valores sociais

do trabalho e da livre

iniciativa

V - o pluralismo

poliacutetico

Cidadania=Cidadatildeo

=homem

Pessoa

humana=homem

Valores sociais=

sociedade=grupo de

homens

(A

Repuacuteblica

Federativa

do Brasil)

(eacute) formada pela uniatildeo

indissoluacutevel dos Esta-

dos e Municiacutepios e do

Distrito Federal

Pessoas juriacutedicas

Estado municiacutepio e

distrito federal

Paacutera- Todo o

poder

emana do povo Povo=homens

grafo

uni-

co

Que (o

povo)

Povo exerce por meio de re-

presentantes eleitos ou

diretamente nos ter-

mos desta Constituiccedilatildeo

Representantes

eleitos= homens

2deg o

Legislativo

o Executivo

e o

Judiciaacuterio

Poderes do gover-

no = dos homens

satildeo Poderes da Uniatildeo

independentes e

harmocircnicos entre si

Poder= quem tem

poder eacute o homem

3deg

Consti-

tuem

objetivos fundamen-

tais da Repuacuteblica Fede-

rativa do Brasil

I- construir uma

sociedade livre justa e

solidaacuteria

II - garantir o desen-

volvimento nacional

III - erradicar a pobreza

e a marginalizaccedilatildeo e

reduzir as desigualda-

des sociais e regionais

Sociedade= homens

Pobreza e

marginalizaccedilatildeo=

homens

Bem de todos= dos

homens

Sociais= de homens

Raccedila idade=

homens

138

IV - promover o bem

de todos sem preacute-

conceitos de origem

raccedila sexo cor idade e

quaisquer outras for-

mas de discriminaccedilatildeo

4deg A Repuacuteblica

Federativa

do Brasil

Repuacuteblica= forma

de governo=

homens

rege-se nas suas relaccedilotildees

internacionais pelos

seguintes princiacutepios

I ndash independecircncia

nacional

II ndash prevalecircncia dos

direitos humanos

III ndash autodeterminaccedilatildeo

dos povos

IV - natildeo-intervenccedilatildeo

V - igualdade entre os

Estados

VI - defesa da paz

VII - soluccedilatildeo paciacutefica

dos confli-tos

VIII - repuacutedio ao

terrorismo e ao

racismo

IX ndash cooperaccedilatildeo entre

os povos para o

progresso da

humanidade

X ndash concessatildeo de asilo

poliacutetico

Direitos humanos=

dos homens

Povos=homens

Terrorismo e racis-

mo = accedilotildees dos

homens

Asilo poliacutetico= con-

cedido ao homem

A Repuacuteblica

Federativa

do Brasil

Idem buscaraacute A integraccedilatildeo

econocircmica politica

social e cultural dos

poacutevos da Ameacuterica

Latina

Social =dos homens

Povos=homens

(que= a

integraccedilatildeo

etc)

visando agrave formaccedilatildeo de uma

comunidade latino-

americana de naccedilotildees

Comunidade de

naccedilotildees=de homens

TIacuteTULO II

Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPIacuteTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

139

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave

igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos desta Constituiccedilatildeo

II - ningueacutem seraacute obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senatildeo em virtude de lei

III - ningueacutem seraacute submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante

IV - eacute livre a manifestaccedilatildeo do pensamento sendo vedado o anonimato

V - eacute assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo aleacutem da indenizaccedilatildeo por dano material

moral ou agrave imagem

()

LXXVIII a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do

processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeo (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional

nordm 45 de 2004)

sect 1ordm - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tecircm aplicaccedilatildeo imediata

ARTIGO SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Art 5deg Todos satildeo satildeo iguais perante a

lei sem distinccedilatildeo de

qualquer natureza

garantindo-

se

aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes

no Paiacutes a

inviolabilidade do

direito agrave vida agrave

liberdade agrave igualdade

agrave seguranccedila e agrave pro-

priedade nos termos

seguintes

Brasileiros e

estrangeiros=

homens

INCISO

I homens e

mulheres

satildeo iguais em direitos e

obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo

II ningueacutem seraacute seraacute obrigado a fazer

ou deixar de fazer

alguma coisa senatildeo em

virtude de lei

Obrigado= o

homem

III ningueacutem Seraacute submetido a tortura

nem a tratamento

desumano ou

degradante

Tortura e trata-

mento desumano

ou degradante=

soacute o homem faz

isso

IV Eacute a manifestaccedilatildeo do

pensamento

Pensamento= do

homem

Sendo vedado o anonimato

V Eacute assegurado o direito

de resposta propor-

cional ao agravo aleacutem

da indenizaccedilatildeo por

dano material moral

Resposta= do

homem

Dano moral= do

140

ou agrave imagem homem

LXXVIII satildeo a todos no acircmbito

judicial e administra-

tivo (satildeo) assegurados

a razoaacutevel dura-ccedilatildeo do

processo e os meios

que garantam a celeri-

dade de sua tramitaccedilatildeo

Direito a uma

justiccedila raacutepida

QUADRO RESUMO

Substantivos Referente direto Outros

Noacutes

Representantes do povo brasileiro

Assembleia nacional

Estado democraacutetico

Individuais Direitos sociais liberdade seguranccedila bem estar desenvolvimento igualdade justiccedila

Sociedade fraterna pluralista e sem preconceitos

Harmonia social soluccedilatildeo paciacutefica

Cidadania dignidade da pessoa humana

Sob a proteccedilatildeo de Deus

Trabalho livre iniciativa

Povo Poder

Representantes eleitos

Legislativo executivo judiciaacuterio satildeo poderes da uniatildeo

Sociedade Pobreza marginalizaccedilatildeo desigualdades sociais

(O bem de) todos Origem raccedila sexo cor idade discriminaccedilatildeo

Direitos humanos autodeterminaccedilatildeo dos povos

Paz conflitos terrorismo racismo

Cooperaccedilatildeo entre os povos

Progresso da humanidade

Asilo poliacutetico

Integraccedilatildeo social

Comunidade latino-americana de naccedilotildees

Todos

141

Iguais

Brasileiros e estrangeiros

direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade

Homens e mulheres Iguais Direitos e obrigaccedilotildees

Ningueacutem seraacute obrigado

Tortura

Tratamento desumano ou degradante

Manifestaccedilatildeo do pensamento anonimato

Liberdade de crenccedila de consciecircncia culto religioso

Local de culto e sua liturgia

LXXVIII Todos=esse todos retoma o todos satildeo iguais

c) Art5deg Outros incisos

VI - eacute inviolaacutevel a liberdade de consciecircncia e de crenccedila sendo assegurado o livre exerciacutecio dos cultos

religiosos e garantida na forma da lei a proteccedilatildeo aos locais de culto e a suas liturgias

VIII - ningueacutem seraacute privado de direitos por motivo de crenccedila religiosa ou de convicccedilatildeo filosoacutefica ou

poliacutetica salvo se as invocar para eximir-se de obrigaccedilatildeo legal a todos imposta e recusar-se a cumprir

prestaccedilatildeo alternativa fixada em lei

IX - eacute livre a expressatildeo da atividade intelectual artiacutestica cientiacutefica e de comunicaccedilatildeo

independentemente de censura ou licenccedila

X - satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito

a indenizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeo

XIII - eacute livre o exerciacutecio de qualquer trabalho ofiacutecio ou profissatildeo atendidas as qualificaccedilotildees

profissionais que a lei estabelecer

XV - eacute livre a locomoccedilatildeo no territoacuterio nacional em tempo de paz podendo qualquer pessoa nos

termos da lei nele entrar permanecer ou dele sair com seus bens

XVII - eacute plena a liberdade de associaccedilatildeo para fins liacutecitos vedada a de caraacuteter paramilitar

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ou utilidade puacuteblica

ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvados os casos previstos

nesta Constituiccedilatildeo

142

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilizaccedilatildeo publicaccedilatildeo ou reproduccedilatildeo de suas

obras transmissiacutevel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar

XXVIII - satildeo assegurados nos termos da lei

b) o direito de fiscalizaccedilatildeo do aproveitamento econocircmico das obras que criarem ou de que

participarem aos criadores aos inteacuterpretes e agraves respectivas representaccedilotildees sindicais e associativas

XXX - eacute garantido o direito de heranccedila

XXXIII - todos tecircm direito a receber dos oacutergatildeos puacuteblicos informaccedilotildees de seu interesse particular ou

de interesse coletivo ou geral que seratildeo prestadas no prazo da lei sob pena de responsabilidade

ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindiacutevel agrave seguranccedila da sociedade e do Estado (Regulamento)

XXXIV - satildeo a todos assegurados independentemente do pagamento de taxas

a) o direito de peticcedilatildeo aos Poderes Puacuteblicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de

poder

b) a obtenccedilatildeo de certidotildees em reparticcedilotildees puacuteblicas para defesa de direitos e esclarecimento de

situaccedilotildees de interesse pessoal

XXXV - a lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a direito

XXXVI - a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada

XLI - a lei puniraacute qualquer discriminaccedilatildeo atentatoacuteria dos direitos e liberdades fundamentais

a) privaccedilatildeo ou restriccedilatildeo da liberdade

e) suspensatildeo ou interdiccedilatildeo de direitos

LIV - ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal

LXIII - o preso seraacute informado de seus direitos entre os quais o de permanecer calado sendo-lhe

assegurada a assistecircncia da famiacutelia e de advogado

LXIV - o preso tem direito agrave identificaccedilatildeo dos responsaacuteveis por sua prisatildeo ou por seu interrogatoacuterio

policial

LXVI - ningueacutem seraacute levado agrave prisatildeo ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisoacuteria

com ou sem fianccedila

LXVIII - conceder-se-aacute habeas-corpus sempre que algueacutem sofrer ou se achar ameaccedilado de sofrer

violecircncia ou coaccedilatildeo em sua liberdade de locomoccedilatildeo por ilegalidade ou abuso de poder

LXIX - conceder-se-aacute mandado de seguranccedila para proteger direito liacutequido e certo natildeo amparado por

habeas-corpus ou habeas-data quando o responsaacutevel pela ilegalidade ou abuso de poder for

autoridade puacuteblica ou agente de pessoa juriacutedica no exerciacutecio de atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico

LXXI - conceder-se-aacute mandado de injunccedilatildeo sempre que a falta de norma regulamentadora torne

inviaacutevel o exerciacutecio dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade

agrave soberania e agrave cidadania

143

De acordo com o texto constitucional pode-se verificar que

a) O homem aparece caracterizado de forma individual tal qual se vecirc pelo

emprego de termos como ldquopessoa humanardquo ldquohomens e mulheresrdquo

ldquoningueacutemrdquo Tambeacutem vem explicitado dentro do grupo como se pode ver

nas expressotildees ldquorepresentantesrdquo ldquorepresentantes eleitosrdquo ldquobrasileiros e

estrangeirosrdquo Ainda se pode observar sua existecircncia pelo emprego de

coletivos ou seus equivalentes tal como em ldquorepresentantesrdquo ldquopovordquo

ldquoassembleiardquo ldquonoacutesrdquo ldquosociedaderdquo ldquopovosrdquo ldquonaccedilotildeesrdquo ldquotodosrdquo

b) Na Constituiccedilatildeo o homem possui os direitos muito bem assegurados o

que eacute comprovado natildeo soacute pela frequecircncia do uso do termo no singular e

no plural mas tambeacutem pelo contexto em que vem empregado o proacuteprio

artigo 5deg eacute uma descriccedilatildeo exaustiva dos direitos do homem com ecircnfase

sobretudo agrave liberdade Tal peculiaridade se explica pelo contexto de

produccedilatildeo da Constituiccedilatildeo elaborada por deputados depois de um longo

periacuteodo de regime autoritaacuterio militar em que a maior parte da liberdade

individual foi abolida Esse homem eacute bem especificado pois eacute brasileiro

e estrangeiro e dotado de vaacuterios direitos que satildeo bem definidos e

determinados tecircm representantes eleitos e dotados de poderes (noacutes)

igualdade extensa liberdade ampla direitos mais abrangentes auxiacutelio

em vaacuterios casos Incorpora como os direitos do homem da DUDH e de

outros tratados referentes agrave sua proteccedilatildeo conforme dispotildee o inciso

LXXVII94

c) O emprego do pronome noacutes eacute tambeacutem bastante relevante o

enunciador se mostra num texto de lei se revela e com isso se afirma

94

Art 5ordm LXXVIII

sect 2ordm - Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do

regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do

Brasil seja parte

sect 3ordm Os tratados e convenccedilotildees internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados em

cada Casa do Congresso Nacional em dois turnos por trecircs quintos dos votos dos respectivos membros

seratildeo equivalentes agraves emendas constitucionais (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45 de 2004)

144

ganha em autoridade satildeo os representantes eleitos e legalmente

constituiacutedos que elaboram a constituiccedilatildeo e a publicam Os nomes dos

participantes desse documento figuram ao final do mesmo Isso

demonstra ainda o papel que cada um deles representa na histoacuteria do

Brasil e a contribuiccedilatildeo individual para um bem maior dotado da vontade

de equilibrar a sociedade e de se adequar a um contexto internacional

que se modificou e aboliu em muitas naccedilotildees o poder de grupos

minoritaacuterios pela forccedila Cabe lembrar que na Ameacuterica Latina nessa

eacutepoca vaacuterios outros paiacuteses tambeacutem eram governados dessa forma e

que o Brasil foi o precursor da mudanccedila

d) O homem de quem se trata no texto da constituiccedilatildeo democraacutetica de 1988

parece mais bem protegido do que o homem representado haacute quase

duzentos anos atraacutes na declaraccedilatildeo proposta apoacutes a Revoluccedilatildeo

Francesa de 1789 Mesmo em contextos histoacutericos e sociais bastante

diferentes ambos o homem francecircs e o homem brasileiro recebem um

direito agrave liberdade de que natildeo dispunham um direito universal

atemporal de existir e de poder se exprimir de igualdade e justiccedila e dos

quais ficaram privados por formas de governos opressoras

e) O enunciador do texto da Constituiccedilatildeo brasileira eacute revelado pelo

pronome pessoal ldquonoacutesrdquo Ele assume portanto seu papel de

representante do povo brasileiro de forma destacada (o pronome

aparece no iniacutecio do preacircmbulo) um enunciador cujo ethos eacute forte o

bastante para se colocar no primeiro espaccedilo do texto e devidamente

qualificado por ldquorepresentantes do povo brasileirordquo

f) Ainda que esse ldquonoacutesrdquo seja a explicitaccedilatildeo de um sujeito formado por um

grupo de pessoas ele eacute tambeacutem resultante como nos documentos

anteriores da siacutentese da voz de vaacuterios enunciadores que se incorporam

em um uacutenico O jogo polifocircnico torna-se evidente na medida em que

cada deputado da constituinte representa um segmento social e foi eleito

por um puacuteblico eleitoral diferente

145

354 A lei 114192006 a lei de informatizaccedilatildeo judicial95

A lei de informatizaccedilatildeo judicial eacute uma lei federal Isto implica dizer que

ela eacute infraconstitucional e deve ser aplicada em todo o territoacuterio nacional Foi

aprovada portanto pela assembleia federal e pelo senado - Congresso

Nacional - a partir de um projeto de lei O projeto de lei ou seja a proposta

merece uma atenccedilatildeo especial no que se refere agrave sua elaboraccedilatildeo pois foi a

primeira proposta de legislaccedilatildeo participativa possibilidade aberta pela

constituiccedilatildeo atraveacutes da emenda constitucional no45 de 2004 em que um setor

da sociedade devidamente representado pode apresentar ao congresso uma

proposta de lei Esse projeto que foi a PLP no 01 e que tramitou como

PLP012002 foi proposto pela associaccedilatildeo dos juiacutezes federais (AJUFE) com o

objetivo de resolver questotildees referentes agrave utilizaccedilatildeo dos meios tecnoloacutegicos

avanccedilados nos processos em curso no poder judiciaacuterio Apresentado na forma

legal foi devidamente encaminhado e seguiu o curso normal de um projeto de

lei ateacute sua votaccedilatildeo aprovaccedilatildeo promulgaccedilatildeo e publicaccedilatildeo Examinado o texto

da lei foram encontrados os seguintes casos de reformulaccedilatildeo

a) Sinoniacutemia ldquoPRESIDENTE DA REPUacuteBLICArdquo ldquosignataacuteriordquo

ldquousuaacuteriordquo

b) Pronominal natildeo haacute

c) Grupo nominal ldquoautoridade certificadorardquo

d) Extensiva direta ldquoCongresso Nacionalrdquo

e) Extensiva indireta ldquocomunicaccedilatildeordquo ldquoprocessosrdquo ldquoassinaturardquo

ldquoidentificaccedilatildeordquo ldquocadastrordquo ldquoPoder Judiciaacuteriordquo ldquocredenciamentordquo

ldquopeticcedilatildeordquo ldquoregistrordquo ldquoacessordquo ldquosigilordquo ldquoautenticidaderdquo ldquoatos

processuaisrdquo ldquoprotocolordquo ldquopeticcedilatildeordquo

f) Embreantes de pessoa eu decirciticos ldquofaccedilordquo ldquosancionordquo

95

Documento anexo IV

146

Eis aqui o levantamento realizado no texto

a) Caput

LEI Nordm 11419 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial

altera a Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 ndash

Coacutedigo de Processo Civil e daacute outras providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

DA INFORMATIZACcedilAtildeO DO PROCESSO JUDICIAL

b) Artigos

Art 1o O uso de meio eletrocircnico na tramitaccedilatildeo de processos judiciais comunicaccedilatildeo de atos e

transmissatildeo de peccedilas processuais seraacute admitido nos termos desta Lei

sect 1o Aplica-se o disposto nesta Lei indistintamente aos processos civil penal e trabalhista bem

como aos juizados especiais em qualquer grau de jurisdiccedilatildeo

sect 2o Para o disposto nesta Lei considera-se

I - meio eletrocircnico qualquer forma de armazenamento ou traacutefego de documentos e arquivos digitais

II - transmissatildeo eletrocircnica toda forma de comunicaccedilatildeo a distacircncia com a utilizaccedilatildeo de redes de

comunicaccedilatildeo preferencialmente a rede mundial de computadores

III - assinatura eletrocircnica as seguintes formas de identificaccedilatildeo inequiacutevoca do signataacuterio

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora

credenciada na forma de lei especiacutefica

b) mediante cadastro de usuaacuterio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos

respectivos

Art 2o O envio de peticcedilotildees de recursos e a praacutetica de atos processuais em geral por meio eletrocircnico

seratildeo admitidos mediante uso de assinatura eletrocircnica na forma do art 1o desta Lei sendo obrigatoacuterio o

credenciamento preacutevio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

sect 1o O credenciamento no Poder Judiciaacuterio seraacute realizado mediante procedimento no qual esteja

assegurada a adequada identificaccedilatildeo presencial do interessado

147

sect 2o Ao credenciado seraacute atribuiacutedo registro e meio de acesso ao sistema de modo a preservar o

sigilo a identificaccedilatildeo e a autenticidade de suas comunicaccedilotildees

sect 3o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo criar um cadastro uacutenico para o credenciamento previsto

neste artigo

ART SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ca-

put

(a lei) Dispotildee Dispotildee sobre a

informatizaccedilatildeo do

processo judicial

Idem altera a Lei no 5869 de 11

de janeiro de 1973 ndash

Coacutedigo de Processo

Civil

Idem E daacute outras providecircncias

O PRESIDENTE

DA REPUacuteBLICA

= eu o

presidente

Faccedilo

saber

que

o Congresso

Nacional

Congresso decreta

E eu Eu= decircitico de

pessoa

presidente

Sanciono A seguinte Lei

1deg O uso de meio

eletrocircnico na tra-

mitaccedilatildeo de pro-

cessos judiciais

comunicaccedilatildeo de

atos e transmissatildeo

de peccedilas proces-

suais

Seraacute admitido nos termos

desta Lei

Comunicaccedilatildeo

sect 1o (se) aplica o disposto nesta Lei

indistintamente aos

processos civil penal

e trabalhista bem

como aos juizados es-

peciais em qualquer

grau de jurisdiccedilatildeo

Processos

sect 2o (se)

considera

-

Para o disposto nesta

Lei

I - meio eletrocircnico

qualquer forma de

armazenamento ou

traacutefego de documen-

tos e arquivos

digitais

II - transmissatildeo ele-

trocircnica toda forma de

comunicaccedilatildeo a dis-

tacircncia com a utili-

zaccedilatildeo de redes de

Signataacuterio=quem

assina=assinatura

=homem

Usuaacuterio=homem

Autoridade

certificadora=pess

oa

juridica=represent

ada por homens

Assinatura

148

comunicaccedilatildeo prefe-

rencialmente a rede

mundial de compu-

tadores

III - assinatura ele-

trocircnica as seguintes

formas de identi-

ficaccedilatildeo inequiacutevoca do

signataacuterio

a) assinatura digital

baseada em certi-

ficado digital emitido

por Autoridade Certi-

ficadora credenciada

na forma de lei

especiacutefica

b) mediante cadastro

de usuaacuterio no Poder

Judiciaacuterio conforme

disciplinado pelos

oacutergatildeos respectivos

Identificaccedilatildeo

Cadastro

Poder Judiciaacuterio

2deg O envio de

peticcedilotildees de

recursos e a

praacutetica de atos

processuais em

geral por meio

eletrocircnico

Peticcedilatildeo Seratildeo admitidos mediante

uso de assinatura

eletrocircnica na forma

do art 1o desta Lei

sendo obrigatoacuterio o

credenciamento preacute-

vio no Poder Judi-

ciaacuterio conforme dis-

ciplinado pelos

oacutergatildeos respectivos

Credenciamento=

de um

credenciado

Assinatura

sect 1o O credenciamento

no Poder

Judiciaacuterio

Credenciamento

= de um

credenciado

Seraacute Realizado mediante

procedimento no qual

esteja assegurada a

adequada identifica-

ccedilatildeo presencial do

interessado

Interessado =

homem

Identificaccedilatildeo

sect 2o registro e meio de

acesso ao sistema

Registro

Acesso

seraacute atribuiacutedo ao creden-

ciado de modo a pre-

servar o sigilo a

identificaccedilatildeo e a

autenticidade de suas

comunicaccedilotildees

Credenciado=

homem

Sigilo

Identificaccedilatildeo

Autenticidade

sect 3o Os oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio

Poder Judiciaacuterio Poderatildeo criar um cadastro

uacutenico para o creden-

ciamento previsto

neste artigo

Cadastro= de

usuaacuterios

3o (-se) Conside- realizados os atos Atos

149

ram processuais por meio

eletrocircnico no dia e

hora do seu envio ao

sistema do Poder

Judiciaacuterio

processuais=realiz

ados por homens

do que deveraacute

ser

fornecido protocolo

eletrocircnico

Protocolo

Paraacute-

grafo

uacutenico

Quando a peticcedilatildeo

eletrocircnica

Peticcedilatildeo For enviada para atender

prazo processual

As (peticcediloes) (que

forem)

as transmitidas ateacute as

24 (vinte e quatro)

horas do seu uacuteltimo

dia

(as peticcedilotildees) seratildeo consideradas

tempestivas

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto Referente Indireto

PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA

Eu = decircitico de pessoa=presidente

Comunicaccedilatildeo

Congresso Nacional Processos

Signataacuterio Assinatura

Usuaacuterio Identificaccedilatildeo

Autoridade certificadora Cadastro

Poder Judiciaacuterio

Credenciamento

Peticcedilatildeo

Registro

Acesso

Sigilo

Autenticidade

Atos processuais

Protocolo

Peticcedilatildeo

c) Outros artigos

Art 3o Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrocircnico no dia e hora do seu envio

ao sistema do Poder Judiciaacuterio do que deveraacute ser fornecido protocolo eletrocircnico

150

Paraacutegrafo uacutenico Quando a peticcedilatildeo eletrocircnica for enviada para atender prazo processual seratildeo

consideradas tempestivas as transmitidas ateacute as 24 (vinte e quatro) horas do seu uacuteltimo dia

CAPIacuteTULO II

DA COMUNICACcedilAtildeO ELETROcircNICA DOS ATOS PROCESSUAIS

Art 4o Os tribunais poderatildeo criar Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico disponibilizado em siacutetio da rede

mundial de computadores para publicaccedilatildeo de atos judiciais e administrativos proacuteprios e dos oacutergatildeos a eles

subordinados bem como comunicaccedilotildees em geral

sect 1o O siacutetio e o conteuacutedo das publicaccedilotildees de que trata este artigo deveratildeo ser assinados digitalmente

com base em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica

sect 2o A publicaccedilatildeo eletrocircnica na forma deste artigo substitui qualquer outro meio e publicaccedilatildeo

oficial para quaisquer efeitos legais agrave exceccedilatildeo dos casos que por lei exigem intimaccedilatildeo ou vista pessoal

sect 3o Considera-se como data da publicaccedilatildeo o primeiro dia uacutetil seguinte ao da disponibilizaccedilatildeo da

informaccedilatildeo no Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

sect 4o Os prazos processuais teratildeo iniacutecio no primeiro dia uacutetil que seguir ao considerado como data da

publicaccedilatildeo

sect 5o A criaccedilatildeo do Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico deveraacute ser acompanhada de ampla divulgaccedilatildeo e o ato

administrativo correspondente seraacute publicado durante 30 (trinta) dias no diaacuterio oficial em uso

Art 5o As intimaccedilotildees seratildeo feitas por meio eletrocircnico em portal proacuteprio aos que se cadastrarem na

forma do art 2o desta Lei dispensando-se a publicaccedilatildeo no oacutergatildeo oficial inclusive eletrocircnico

sect 1o Considerar-se-aacute realizada a intimaccedilatildeo no dia em que o intimando efetivar a consulta eletrocircnica

ao teor da intimaccedilatildeo certificando-se nos autos a sua realizaccedilatildeo

sect 2o Na hipoacutetese do sect 1

o deste artigo nos casos em que a consulta se decirc em dia natildeo uacutetil a intimaccedilatildeo

seraacute considerada como realizada no primeiro dia uacutetil seguinte

sect 3o A consulta referida nos sectsect 1

o e 2

o deste artigo deveraacute ser feita em ateacute 10 (dez) dias corridos

contados da data do envio da intimaccedilatildeo sob pena de considerar-se a intimaccedilatildeo automaticamente realizada

na data do teacutermino desse prazo

sect 4o Em caraacuteter informativo poderaacute ser efetivada remessa de correspondecircncia eletrocircnica

comunicando o envio da intimaccedilatildeo e a abertura automaacutetica do prazo processual nos termos do sect 3o deste

artigo aos que manifestarem interesse por esse serviccedilo

sect 5o Nos casos urgentes em que a intimaccedilatildeo feita na forma deste artigo possa causar prejuiacutezo a

quaisquer das partes ou nos casos em que for evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema o ato

processual deveraacute ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade conforme determinado pelo

juiz

sect 6o As intimaccedilotildees feitas na forma deste artigo inclusive da Fazenda Puacuteblica seratildeo

consideradas pessoais para todos os efeitos legais

151

Art 7o As cartas precatoacuterias rogatoacuterias de ordem e de um modo geral todas as comunicaccedilotildees oficiais

que transitem entre oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio bem como entre os deste e os dos demais Poderes seratildeo

feitas preferentemente por meio eletrocircnico

CAPIacuteTULO III

DO PROCESSO ELETROcircNICO

Art 8o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo desenvolver sistemas eletrocircnicos de processamento

de accedilotildees judiciais por meio de autos total ou parcialmente digitais utilizando preferencialmente a rede

mundial de computadores e acesso por meio de redes internas e externas

Paraacutegrafo uacutenico Todos os atos processuais do processo eletrocircnico seratildeo assinados eletronicamente

na forma estabelecida nesta Lei

Art 9o No processo eletrocircnico todas as citaccedilotildees intimaccedilotildees e notificaccedilotildees inclusive da Fazenda

Puacuteblica seratildeo feitas por meio eletrocircnico na forma desta Lei

sect 2o Quando por motivo teacutecnico for inviaacutevel o uso do meio eletrocircnico para a realizaccedilatildeo de citaccedilatildeo

intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo esses atos processuais poderatildeo ser praticados segundo as regras ordinaacuterias

digitalizando-se o documento fiacutesico que deveraacute ser posteriormente destruiacutedo

Art 11 Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrocircnicos com

garantia da origem e de seu signataacuterio na forma estabelecida nesta Lei seratildeo considerados originais para

todos os efeitos legais

sect 1o Os extratos digitais e os documentos digitalizados e juntados aos autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila

e seus auxiliares pelo Ministeacuterio Puacuteblico e seus auxiliares pelas procuradorias pelas autoridades

policiais pelas reparticcedilotildees puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos e privados tecircm a mesma forccedila

probante dos originais ressalvada a alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de adulteraccedilatildeo antes ou durante o

processo de digitalizaccedilatildeo

sect 5o Os documentos cuja digitalizaccedilatildeo seja tecnicamente inviaacutevel devido ao grande volume ou por

motivo de ilegibilidade deveratildeo ser apresentados ao cartoacuterio ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias

contados do envio de peticcedilatildeo eletrocircnica comunicando o fato os quais seratildeo devolvidos agrave parte apoacutes o

tracircnsito em julgado

sect 6o Os documentos digitalizados juntados em processo eletrocircnico somente estaratildeo disponiacuteveis para

acesso por meio da rede externa para suas respectivas partes processuais e para o Ministeacuterio Puacuteblico

respeitado o disposto em lei para as situaccedilotildees de sigilo e de segredo de justiccedila

Art 12 A conservaccedilatildeo dos autos do processo poderaacute ser efetuada total ou parcialmente por meio

eletrocircnico

sect 1o Os autos dos processos eletrocircnicos deveratildeo ser protegidos por meio de sistemas de seguranccedila

de acesso e armazenados em meio que garanta a preservaccedilatildeo e integridade dos dados sendo dispensada a

formaccedilatildeo de autos suplementares

152

sect 2o Os autos de processos eletrocircnicos que tiverem de ser remetidos a outro juiacutezo ou instacircncia

superior que natildeo disponham de sistema compatiacutevel deveratildeo ser impressos em papel autuados na forma

dos arts 166 a 168 da Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo Civil ainda que de

natureza criminal ou trabalhista ou pertinentes a juizado especial

sect 5o A digitalizaccedilatildeo de autos em miacutedia natildeo digital em tramitaccedilatildeo ou jaacute arquivados seraacute precedida

de publicaccedilatildeo de editais de intimaccedilotildees ou da intimaccedilatildeo pessoal das partes e de seus procuradores para

que no prazo preclusivo de 30 (trinta) dias se manifestem sobre o desejo de manterem pessoalmente a

guarda de algum dos documentos originais

Art 13 O magistrado poderaacute determinar que sejam realizados por meio eletrocircnico a exibiccedilatildeo e o

envio de dados e de documentos necessaacuterios agrave instruccedilatildeo do processo

sect 2o O acesso de que trata este artigo dar-se-aacute por qualquer meio tecnoloacutegico disponiacutevel

preferentemente o de menor custo considerada sua eficiecircncia

CAPIacuteTULO IV

DISPOSICcedilOtildeES GERAIS E FINAIS

Art 14 Os sistemas a serem desenvolvidos pelos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio deveratildeo usar

preferencialmente programas com coacutedigo aberto acessiacuteveis ininterruptamente por meio da rede mundial

de computadores priorizando-se a sua padronizaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Os sistemas devem buscar identificar os casos de ocorrecircncia de prevenccedilatildeo

litispendecircncia e coisa julgada

Art 16 Os livros cartoraacuterios e demais repositoacuterios dos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo ser

gerados e armazenados em meio totalmente eletrocircnico

Art 20 A Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo Civil passa a vigorar com

as seguintes alteraccedilotildees

Art 38

Paraacutegrafo uacutenico A procuraccedilatildeo pode ser assinada digitalmente com base em certificado emitido por

Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica (NR)

Art 154

sect 2o Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos transmitidos armazenados e assinados

por meio eletrocircnico na forma da lei (NR)

Art 164

Paraacutegrafo uacutenico A assinatura dos juiacutezes em todos os graus de jurisdiccedilatildeo pode ser feita eletronicamente

na forma da lei (NR)

Art 169 sect 1o Eacute vedado usar abreviaturas

153

sect 2o Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrocircnico os atos processuais praticados na

presenccedila do juiz poderatildeo ser produzidos e armazenados de modo integralmente digital em arquivo

eletrocircnico inviolaacutevel na forma da lei mediante registro em termo que seraacute assinado digitalmente pelo juiz

e pelo escrivatildeo ou chefe de secretaria bem como pelos advogados das partes

Art 202

sect 3o A carta de ordem carta precatoacuteria ou carta rogatoacuteria pode ser expedida por meio eletrocircnico situaccedilatildeo

em que a assinatura do juiz deveraacute ser eletrocircnica na forma da lei (NR)

Art 221

IV - por meio eletrocircnico conforme regulado em lei proacutepria (NR)

Art 237

Paraacutegrafo uacutenico As intimaccedilotildees podem ser feitas de forma eletrocircnica conforme regulado em lei proacutepria

(NR)

Art 365

V - os extratos digitais de bancos de dados puacuteblicos e privados desde que atestado pelo seu emitente sob

as penas da lei que as informaccedilotildees conferem com o que consta na origem

VI - as reproduccedilotildees digitalizadas de qualquer documento puacuteblico ou particular quando juntados aos

autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila e seus auxiliares pelo Ministeacuterio Puacuteblico e seus auxiliares pelas

procuradorias pelas reparticcedilotildees puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos ou privados ressalvada a

alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de adulteraccedilatildeo antes ou durante o processo de digitalizaccedilatildeo

sect 1o Os originais dos documentos digitalizados mencionados no inciso VI do caput deste artigo deveratildeo

ser preservados pelo seu detentor ateacute o final do prazo para interposiccedilatildeo de accedilatildeo rescisoacuteria

sect 2o Tratando-se de coacutepia digital de tiacutetulo executivo extrajudicial ou outro documento relevante agrave

instruccedilatildeo do processo o juiz poderaacute determinar o seu depoacutesito em cartoacuterio ou secretaria (NR)

Art 399

sect 2o As reparticcedilotildees puacuteblicas poderatildeo fornecer todos os documentos em meio eletrocircnico conforme

disposto em lei certificando pelo mesmo meio que se trata de extrato fiel do que consta em seu banco de

dados ou do documento digitalizado (NR)

Art 417

sect 1o O depoimento seraacute passado para a versatildeo datilograacutefica quando houver recurso da sentenccedila ou

noutros casos quando o juiz o determinar de ofiacutecio ou a requerimento da parte

sect 2o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2

o e 3

o do art 169 desta Lei

(NR)

Art 457

154

sect 4o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2

o e 3

o do art 169 desta Lei

(NR)

Art 556

Paraacutegrafo uacutenico Os votos acoacuterdatildeos e demais atos processuais podem ser registrados em arquivo

eletrocircnico inviolaacutevel e assinados eletronicamente na forma da lei devendo ser impressos para juntada aos

autos do processo quando este natildeo for eletrocircnico (NR)

Art 22 Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias depois de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 19 de dezembro de 2006 185o da Independecircncia e 118

o da Repuacuteblica

LUIZ INAacuteCIO LULA DA SILVA

Maacutercio Thomaz Bastos

Este texto natildeo substitui o publicado no DOU de 20122006

Conforme se pode verificar pela anaacutelise dos quadros e texto acima

a) O homem aqui figura numa concepccedilatildeo quase teacutecnica signataacuterio

usuaacuterio autoridade certificadora credenciado Aparece como ser

individual e capaz de utilizar um sistema de informaacutetica Esse homem eacute

um homem moderno que usa a tecnologia para trabalhar para alcanccedilar

(ldquosaisirrdquo) a justiccedila

b) O homem vem caracterizado por meio de suas accedilotildees de comunicaccedilatildeo e

para isso procede a sua identificaccedilatildeo protocoliza envia uma peticcedilatildeo

um usuaacuterio e profissional capacitado que tem o direito disponibilizado

pela lei de executar determinados atos da aacuterea juriacutedica

c) A execuccedilatildeo de tais atos profissionais eacute aparelhada por ferramentas

tecnoloacutegicas de um sistema de informaacutetica E o objetivo desse sistema

aleacutem da uniformizaccedilatildeo de praacuteticas do quotidiano adequadas ao Poder

Judiciaacuterio eacute apenas um facilitar e tornar aacutegil eficaz e raacutepido todo

processo interposto e que tem como objetivo o alcance da justiccedila Assim

essa lei permite o alcance de uma justiccedila de forma mais aacutegil visando ao

atendimento das expectativas sociais que exigem um Poder Judiciaacuterio

menos lento

155

d) O enunciador desse texto de lei diferente dos anteriores estaacute ao

mesmo tempo explicitado e apagado no caput da lei e no seu fecho vecirc-

se que a lei foi publicada pela vontade do Presidente da Repuacuteblica e

pelo Ministro da Justiccedila No entanto cabe a eles apenas o papel de

sancionaacute-la sendo que a primeira vontade de realizar o que dispotildee a lei

natildeo veio de nenhum deles A lei foi a vontade dos juiacutezes que fizeram a

proposta de legislaccedilatildeo e a apresentaram agrave Cacircmara dos Deputados

Como jaacute foi dito anteriormente eacute na lei que o ethos natildeo mostrado tem a

sua maior expressatildeo a proposta parte dos juiacutezes (Poder Judiciaacuterio)

segue para o Poder Legislativo transforma-se em lei pela sanccedilatildeo do

Presidente da Repuacuteblica (Poder Executivo) e do Ministro da Justiccedila

(Poder Executivo importante observar que eacute o Ministro da Justiccedila que agrave

frente do Ministeacuterio da Justiccedila sendo responsaacutevel por ldquogarantir e

promover a cidadania a justiccedila e a seguranccedila puacuteblica atraveacutes de uma

accedilatildeo conjunta entre o Estado e a sociedaderdquo96 Depois de publicada a

96

Segundo o portal do Ministeacuterio da Justiccedila httpportalmjgovbrdataPagesMJAD82FBF6ITEMID3006FB374BA746898656440BE0410ADDPT

BRNNhtm Acesso em 26122012

ldquoMissatildeo O Ministeacuterio da Justiccedila tem por missatildeo garantir e promover a cidadania a justiccedila e a seguranccedila puacuteblica

atraveacutes de uma accedilatildeo conjunta entre o Estado e a sociedade

Competecircncias O Ministeacuterio da Justiccedila oacutergatildeo da administraccedilatildeo federal direta tem como aacuterea de competecircncia os

seguintes assuntos

I - defesa da ordem juriacutedica dos direitos poliacuteticos e das garantias constitucionais

II - poliacutetica judiciaacuteria

III - direitos dos iacutendios

IV - entorpecentes seguranccedila puacuteblica Poliacutecias Federal Rodoviaacuteria Federal e Ferroviaacuteria Federal e do

Distrito Federal

V - defesa da ordem econocircmica nacional e dos direitos do consumidor

VI - planejamento coordenaccedilatildeo e administraccedilatildeo da poliacutetica penitenciaacuteria nacional

VII - nacionalidade imigraccedilatildeo e estrangeiros

VIII - ouvidoria-geral dos iacutendios e do consumidor

IX - ouvidoria das poliacutecias federais

X - assistecircncia juriacutedica judicial e extrajudicial integral e gratuita aos necessitados assim considerados

em lei

XI - defesa dos bens e dos proacuteprios da Uniatildeo e das entidades integrantes da administraccedilatildeo puacuteblica federal

indireta

XII - articulaccedilatildeo integraccedilatildeo e proposiccedilatildeo das accedilotildees do Governo nos aspectos relacionados com as

atividades de repressatildeo ao uso indevido do traacutefico iliacutecito e da produccedilatildeo natildeo autorizada de substacircncias

entorpecentes e drogas que causem dependecircncia fiacutesica ou psiacutequica

XIII - coordenaccedilatildeo e implementaccedilatildeo dos trabalhos de consolidaccedilatildeo dos atos normativos no acircmbito do

Poder Executivo e

XIV - prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e cooperaccedilatildeo juriacutedica internacional

XV - poliacutetica nacional de arquivos

XVI - assistecircncia ao Presidente da Repuacuteblica em mateacuterias natildeo afetas a outro Ministeacuterio

156

lei seraacute de aplicada pelo Poder Judiciaacuterio seu primeiro beneficiaacuterio mas

para favorecer aqueles que pedirem a prestaccedilatildeo jurisdicional do Estado

na soluccedilatildeo de seus problemas

e) O item anterior mostra de forma clara como diferentes vozes

representativas dos Poderes Judiciaacuterio Legislativo e Executivo se

conjugam para a aprovaccedilatildeo da nova lei A polifonia existente aqui daacute voz

a uma das maiores expressotildees de justiccedila e de democracia na eacutepoca

atual

Primeiras observaccedilotildees

O que haacute de comum nestes quatro documentos de lei

1) Todos foram elaborados por um grupo menor representante de um

grupo maior com o objetivo de melhorar o conviacutevio do homem em sociedade

2) Todos os documentos foram propostos para regrar um certo desajuste ndash

maior ou menor - nas relaccedilotildees jaacute existentes entre os homens

3) Todos os documentos afetam um grande nuacutemero de indiviacuteduos a partir

de sua publicaccedilatildeo mudando as relaccedilotildees entre eles

A partir de cada um desses documentos os indiviacuteduos que a eles ficam

submetidos modificam seu perfil seu status social e individual Tornam-se mais

revestidos de direitos mas tambeacutem sujeitos a obrigaccedilotildees mais definidas pois

para ter o direito agrave liberdade de religiatildeo por exemplo eacute necessaacuterio tambeacutem

respeitar a liberdade do outro na sua religiatildeo Eacute um homem que evolui bem

diferente do primeiro que vivia em um mundo de poucos recursos e direitos

Este homem cresceu ganhou importacircncia e respectivamente atributos que lhe

permitem exercer as suas prerrogativas em plenitude protegido por leis

nacionais e internacionais e por aparatos tecnoloacutegicos A polifonia existente

Competecircncia estabelecida pelo Decreto nordm 6061 de 15 de marccedilo de 2007 Anexo I e alteraccedilotildeesrdquo ndash grifo

da paacutegina na internet

157

nos textos reveste o ethos do enunciador de competecircncia mesmo que ele

esteja apagado enquanto voz ndash ou porque ausente ou porque reduzido a um

ldquonoacutesrdquo social A vontade do enunciador se corporifica no texto de lei cujo caraacuteter

coercitivo tem autoridade indubitaacutevel

36 Anaacutelise de outros textos

Satildeo trecircs os textos o voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio a

justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 da Deputada Luiza Erundina e a nota

oficial de 1962002

361 Voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio97

O voto do Deputado Roberto Batochio relator da Comissatildeo de

Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania da Cacircmara dos Deputados analisa a

proposta sob os aspectos de constitucionalidade juridicidade teacutecnica

legislativa e meacuterito para depois seguir para a votaccedilatildeo do plenaacuterio A comissatildeo

tem diferentes atribuiccedilotildees De acordo com o Regimento Interno da Cacircmara dos

Deputados em seu artigo 32 IV ela eacute encarregada de examinar98

a)

aspectos constitucional legal juriacutedico regimental e de teacutecnica

legislativa de projetos emendas ou substitutivos sujeitos agrave

apreciaccedilatildeo da Cacircmara ou de suas Comissotildees para efeito de

admissibilidade e tramitaccedilatildeo

b) admissibilidade de proposta de emenda agrave Constituiccedilatildeo

c)

assunto de natureza juriacutedica ou constitucional que lhe seja submetido

em consulta pelo Presidente da Cacircmara pelo Plenaacuterio ou por outra

Comissatildeo ou em razatildeo de recurso previsto neste Regimento

d)

assuntos atinentes aos direitos e garantias fundamentais agrave

organizaccedilatildeo do Estado agrave organizaccedilatildeo dos Poderes e agraves funccedilotildees

essenciais da Justiccedila

e) mateacuterias relativas a direito constitucional eleitoral civil penal

penitenciaacuterio processual notarial

f) partidos poliacuteticos mandato e representaccedilatildeo poliacutetica sistemas

eleitorais e eleiccedilotildees

h) desapropriaccedilotildees

i) nacionalidade cidadania naturalizaccedilatildeo regime juriacutedico dos

estrangeiros emigraccedilatildeo e imigraccedilatildeo

97

Documento anexo IV b

98 httpwww2camaralegbrleginfedrescad1989resolucaodacamaradosdeputados-17-21-setembro-

1989-320110-publicacaooriginal-1-plhtml em 02122012

g) registros puacuteblicos

158

j) intervenccedilatildeo federal

l) uso dos siacutembolos nacionais

m) criaccedilatildeo de novos Estados e Territoacuterios incorporaccedilatildeo subdivisatildeo ou

desmembramento de aacutereas de Estados ou de Territoacuterios

n) transferecircncia temporaacuteria da sede do Governo

o) anistia

p)

direitos e deveres do mandato perda de mandato de Deputado nas

hipoacuteteses dos incisos I II e VI do art 55 da Constituiccedilatildeo pedidos de

licenccedila para incorporaccedilatildeo de Deputados agraves Forccedilas Armadas

q) redaccedilatildeo do vencido em Plenaacuterio e redaccedilatildeo final das proposiccedilotildees em

geral

O levantamento das operaccedilotildees de referecircncia revelou no voto do

deputado relator casos de

a) Sinoniacutemia ldquopartesrdquo ldquoadvogadosrdquo ldquointeressadosrdquo

b) Pronominal natildeo haacute

c) Grupo nominal natildeo haacute

d) Extensiva direta ldquoComissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativardquo

ldquoComissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e Redaccedilatildeordquo ldquoplenaacuteriordquo

e) Extensiva indireta ldquoacolhidardquo ldquooportunardquo ldquoconvenienterdquo

ldquoaprovaccedilatildeordquo

f) Embreante de pessoa decirciticos de pessoa ldquovislumbramosrdquo

ldquoprecisaratildeordquo

Tais fenocircmenos podem ser verificados conforme a anaacutelise do texto que

segue abaixo

a) Primeiro paraacutegrafo

PARECER DO DEPUTADO

PARECER E VOTO DO DEPUTADO JOSEacute ROBERTO BATOCHIO

RELATOR DO PROJETO DE LEI NA CCJR DA CAcircMARA DOS DEPUTADOS

COMISSAtildeO DE CONSTITUICcedilAtildeO E JUSTICcedilA E DE REDACcedilAtildeO

159

PROJETO DE LEI Ndeg 5828 DE 2001

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial e daacute outras providecircncias

Autor Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa

Relator Deputado Joseacute Roberto Batochio

I-RELATOacuteRIO

A presente proposta de autoria da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa pretende permitir o uso de meio

eletrocircnico na comunicaccedilatildeo de atos e na transmissatildeo de peccedilas processuais tais como peticcedilotildees recursos

cartas precatoacuterias etc desde que os interessados se credenciem junto aos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Primeiro paraacutegrafo

A presente proposta

de autoria da

Comissatildeo de

Legislaccedilatildeo

Participativa

Comissatildeo= de

homens

pretende permitir o uso de

meio eletrocircnico na

comunicaccedilatildeo de atos

e na transmis-satildeo de

peccedilas pro-cessuais

tais como peticcedilotildees

recursos cartas

precatoacuterias etc

desde que os

interessados

Interessados=ho

mens

se credenciem

credenciar=cre

denciados

junto aos oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio

b) Uacuteltimo paraacutegrafo

A esta Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Redaccedilatildeo compete analisar a proposta sob os aspectos de

constitucionalidade juridicidade teacutecnica legislativa e meacuterito sendo a apreciaccedilatildeo final do Plenaacuterio da

Casa

Eacute o Relatoacuterio

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ultimo

paraacutegrafo do

160

relatoacuterio

A esta

Comissatildeo de

Constituiccedilatildeo e

Justiccedila e de

Redaccedilatildeo

Compete analisar a proposta

sob os aspectos de

constitucionalidade

juridicidade teacutecnica

legislativa e meacuterito

Comissatildeo= formada

por homens

sendo a apreciaccedilatildeo final do

Plenaacuterio da Casa

Plenaacuterio da casa =

grupo de deputados =

homens

c) Primeiro paraacutegrafo do voto

11-VOTO DO RELATOR

Natildeo vislumbramos na Proposiccedilatildeo viacutecios de natureza constitucional de juridicidade ou de teacutecnica

legislativa

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Primeiro

paraacutegrafo

(Noacutes)= sujeito

oculto

Vislumbra-

mos

natildeo (vislumbramos)

na Proposiccedilatildeo viacutecios

de natureza

constitucional de

juridicidade ou de

teacutecnica legislativa

d) Uacuteltimos paraacutegrafos

No meacuterito merece acolhida a Proposiccedilatildeo

Eis que eacute oportuna e conveniente moderniza a tramitaccedilatildeo processual imprime celeridade dessacraliza o

processo sem ferir os direitos e garantias das partes

A adoccedilatildeo de meios eletrocircnicos traraacute indubitavelmente ateacute mesmo maior conforto para os advogados e

para as partes uma vez que natildeo mais precisaratildeo deslocar-se ateacute o tribunal para aforar peticcedilotildees recursos

etc

161

Assim nosso voto eacute pela constitucionalidade juridicidade boa teacutecnica legislativa e no meacuterito pela

aprovaccedilatildeo do Projeto de Lei no5828 de 2001

Sala da Comissatildeo em de de 2002

Deputado Joseacute Roberto Batochio

Relator

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ultimos

paraacutegrafos

a Proposiccedilatildeo

merece No meacuterito( merece)

acolhida

Acolhida=quem acolhe

eacute a comissao =gthomem

Eis que

eacute oportuna e

conveniente

Oportuna e conve-

niente para o sistema

para os homens

moderniza a tramitaccedilatildeo pro-

cessual

imprime celeridade

dessacraliza o processo

ferir sem (ferir) os direitos

e garantias das partes

Direitos e garantias das

partes=dos homens

A adoccedilatildeo de

meios

eletrocircnicos

traraacute indubitavelmente

ateacute mesmo maior

conforto para os

advogados e para as

partes

Advogados

partes=homens

uma vez que precisaratildeo natildeo mais (precisaratildeo)

deslocar-se ateacute o

tribunal para aforar

peticcedilotildees recursos etc

Sujeito oculto

Precisaratildeo = eles =

homens

Assim nosso

voto

eacute pela constitucionali-

dade juridicidade

boa teacutecnica legislati-

va e no meacuterito pela

aprovaccedilatildeo do Projeto

de Lei no5828 de

2001

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto Referente Indireto

162

Comissatildeo de legislaccedilatildeo participativa

Acolhida

Comissatildeo de constituiccedilatildeo e justiccedila e de redaccedilatildeo

Interessados Oportuna e conveniente

Plenaacuterio da casa Vislumbramos (noacutes)

Partes= No processo= requerenterequerido=homens

Precisaratildeo (eles=advogados)

Aprovaccedilatildeo = quem aprova eacute a comissatildeo

Advogados= homens

De acordo com o que pode ser observado nas anaacutelises dos termos destacados

vecirc-se que

a) O homem se faz presente na sua individualidade pelo emprego de

termos como ldquopartesrdquo ldquoadvogadosrdquo ldquointeressadosrdquo A referecircncia tambeacutem

pode ser verificada mesmo com o sujeito oculto pelo emprego de

decirciticos de pessoa tal qual em ldquovislumbramosrdquo e ldquoprecisaratildeordquo o que

mostra um afastamento do autor do texto que visa agrave impessoalidade

Apesar de o voto ser redigido por um deputado ele eacute o responsaacutevel pela

comissatildeo que representa Eacute a ele que cabe dar a decisatildeo final da

anaacutelise a que foi submetido o projeto de lei

O coletivo de homem vem expresso pelo termo ldquoplenaacuteriordquo que

implica em homens reunidos para uma decisatildeo Alguns outros

substantivos fazem referecircncia a praacuteticas que incluem julgamentos de

valor tiacutepicos do homem e que somente ele pode emitir (ldquoacolhidardquo

ldquooportunardquo ldquoconvenienterdquo ldquoaprovaccedilatildeordquo)

b) Interessante notar a ausecircncia de termos ou expressotildees que faccedilam

referecircncia ao direito ou direitos do homem ou o acesso agrave justiccedila Tal fato

natildeo afeta entretanto o conteuacutedo do voto Conveacutem ressaltar que os

proacuteprios termos Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa e Comissatildeo de

constituiccedilatildeo e justiccedila e redaccedilatildeo por si soacute jaacute contecircm o necessaacuterio

c) A Comissatildeo de Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania eacute aquela

que recebe o projeto de lei da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa -

que por sua vez proveacutem de um grupo social Tem como anseio fazer

aprovar uma lei e esta por seu caraacuteter intriacutenseco interfere na ordem

social A existecircncia de tal Comissatildeo atesta uma preocupaccedilatildeo com a

forma e o conteuacutedo do projeto pois ele tem que estar adequado agrave

Constituiccedilatildeo aleacutem de proteger o cidadatildeo e conforme ao princiacutepio de

justiccedila

163

d) As funccedilotildees para as quais eacute designada a Comissatildeo mostram que seu

objetivo eacute cuidar para que a justiccedila seja feita desde que respeitados os

dispositivos constitucionais e os direitos de igualdade e liberdade

atribuiacutedos ao homem Pode-se dizer que essa Comissatildeo eacute a verdadeira

guardiatilde do texto constitucional e de seus princiacutepios

e) O enunciador aqui tambeacutem eacute mostrado pois consta o nome do

Deputado como sendo o do relator do voto Da mesma forma o ethos eacute

reforccedilado pelo fato do Deputado ser presidente da Comissatildeo Nesse

voto no entanto o enunciador cuida da proteccedilatildeo do homem eacute um

Deputado responsaacutevel pelo status de cidadania de outros homens

f) A polifonia se apresenta de forma impliacutecita o Deputado Joseacute Roberto

Batochio eacute o presidente da Comissatildeo sendo assim a voz-siacutentese da voz

de outros Deputados

362 Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada Luiza Erundina99

A partir do momento em que um projeto de lei eacute enviado agrave Cacircmara dos

Deputados ele se submete a diversas anaacutelises cujo objetivo eacute o de verificar se

tal projeto estaacute adequado agrave Constituiccedilatildeo e se preenche os requisitos

necessaacuterios aos fins que se destinam Essa verificaccedilatildeo visa por exemplo

examinar se a lei no momento em que passar a vigorar tem condiccedilotildees de

execuccedilatildeo

Conforme explica o glossaacuterio100 do portal da Cacircmara dos Deputados uma

comissatildeo eacute um

Oacutergatildeo integrado por parlamentares tendo composiccedilatildeo partidaacuteria

proporcional agrave da Casa Legislativa tanto quanto possiacutevel e pode ter caraacuteter

permanente ou temporaacuterio Eacute comissatildeo permanente quando integra a

estrutura institucional e comissatildeo temporaacuteria quando criada para apreciar

determinado assunto especial e de inqueacuterito ou para o cumprimento de

missatildeo temporaacuteria autorizada A comissatildeo temporaacuteria extingue-se ao teacutermino

da legislatura quando alcanccedilado o fim a que se destina ou ainda quando

expirado o seu prazo de duraccedilatildeo

99

Documento anexo IVc

100 httpwww2camaralegbrglossario Acesso em 22022012

164

Cada comissatildeo apoacutes analisar os pareceres dos demais integrantes

emite sua opiniatildeo A Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa que recebeu o

anteprojeto da lei 114192006 eacute composta por 18 membros titulares e igual

nuacutemero de suplentes Sua primeira presidente a deputada Luiza Erundina

(PSBSP) eacute quem emitiu ao final dos trabalhos de anaacutelise a justificativa do

projeto de lei Tal texto eacute o que seraacute analisado aqui

a) Primeiro paraacutegrafo

DEPUTADA LUIZA ERUNDINA DE SOUZA

PRESIDENTE

JUSTIFICACcedilAtildeO

Quando se trata da questatildeo judiciaacuteria no Brasil eacute consenso que os mais graves problemas se situam no

terreno da velocidade com que o cidadatildeo recebe a resposta final agrave sua demanda A morosidade eacute sem

duacutevida o principal fato gerador de insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo judiciaacuterio como revelam todas as pesquisas

realizadas sobre o assunto Em 1993 em pesquisa de opiniatildeo coordenada pelo IBOPE foi proposta a

seguinte afirmaccedilatildeoO problema do Brasil natildeo estaacute nas leis mas na Justiccedila que eacute muito lenta Dos

entrevistados 87 consignaram suas concordacircncias 8 discordaram e5 natildeo souberam responder Jaacute

em 1999 o jornal O Estado de Satildeo Paulo101

chegou a iacutendices ainda mais elevados 92 consideraram a

Justiccedila muito lenta

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Primeiro paraacutegrafo

Eacute consenso

(quando se) se trata da questatildeo judiciaacuteria no

Brasil

que os mais graves

problemas

Se situam situam no terreno da

velocidade

Com que o cidadatildeo Recebe a resposta final agrave sua

demanda

Sua= do cidadatildeo

101 MARQUES Hugo 92 dos brasileiros consideram a Justiccedila lenta O Estado de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 24 mar 1999

165

A morosidade Eacute sem duacutevida o principal

fato gerador de insatis-

faccedilatildeo com o serviccedilo

judiciaacuterio

Como todas as

pesquisas

(foram) realizadas sobre o

assunto

(pesquisas) Revelam

a seguinte afirmaccedilatildeo Foi proposta Em 1993 em pesquisa

de opiniatildeo coordenada

pelo IBOPE

Quem tem

opiniatildeo eacute o

homem

O problema do

Brasil

Estaacute natildeo (estaacute) nas leis mas

na Justiccedila

que eacute muito lenta

Dos entrevistados

87

entrevistados consignaram suas concordacircncias

8 entrevistados discordaram

e5 entrevistados souberam

responder

Natildeo (souberam

responder)

o jornal O Estado

de Satildeo Paulo102

Chegou Jaacute em 1999 a iacutendices

ainda mais elevados

92 entrevistados consideraram a Justiccedila muito lenta

b) Paraacutegrafo intermediaacuterio

Como se constataa soma dos juiacutezes que consideram a falta de INFORMATIZACcedilAtildeO um fator muito

importanteou importante alcanccedila 92 Evidentemente a informatizaccedilatildeo aqui natildeo se refere somente agrave

aquisiccedilatildeo de computadores para utilizaccedilatildeo como substitutos mais eficientes das velhas maacutequinas de

datilografia Aliaacutes este processo de substituiccedilatildeo jaacute se encontra concluiacutedo na imensa maioria das unidades

jurisdicionais existentes no paiacutes Eacute necessaacuterio agora -simultaneamente ao teacutermino desta fase de aquisiccedilatildeo

de equipamentos nas unidades restantes -avanccedilar em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo de todos os atores que intervecircm

em um processo judicial (VarasMinisteacuterio Puacuteblico Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de Advocacia) de

modo a que crescentemente os procedimentos judiciais utilizem ao maacuteximo os avanccedilos tecnoloacutegicos

disponiacuteveis

O Congresso Nacional tem buscado trilhar este caminho

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Paraacutegrafo

intermediaacuterio

--- Sujeito

indeterminado

pela partiacutecula se

Como se

constata

a soma dos juiacutezes que

consideram a falta de

INFORMATIZA-

CcedilAtildeO um fator mui-

to importanteou im-

portante alcanccedila

92

Juiacutezes=homens

92 = dos

juiacutezes

102 MARQUES Hugo 92 dos brasileiros consideram a Justiccedila lenta O Estado de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 24 mar 1999

166

a informatizaccedilatildeo aqui Aqui=

lugar=gtembreante

Se refere Evidentemente natildeo

(se refere) somente agrave

aquisiccedilatildeo de compu-

tadores para utiliza-

ccedilatildeo como substitutos

mais eficientes das

velhas maacutequinas de

datilografia

Maacutequinas de

datilografia =gt

datilografia

precisa de um

homem

Aliaacutes este processo

de substituiccedilatildeo

Este= embreante

de processo

Se encontra jaacute (se encontra)

concluiacutedo na imensa

maioria das unidades

jurisdicionais

existentes no paiacutes

Eacute (necessaacuterio agora ndash

simultaneamente ao

teacutermino desta fase de

aquisiccedilatildeo de equipa-

mentos nas unidades

restantes)

-avanccedilar em direccedilatildeo

agrave integraccedilatildeo de todos

os atores que inter-

vecircm em um processo

judicial (Varas Mi-

nisteacuterio Puacuteblico

Advocacia Puacuteblica

escritoacuterios de

Advocacia)

Atores que

intervecircm= o que

esta entre

parecircnteses (MP

ADV etc) mas

satildeo constituiacutedos

por homens

de modo a que

crescentemente os

procedimentos

judiciais

utilizem ao maacuteximo os

avanccedilos tecnoloacutegicos

disponiacuteveis

O Congresso

Nacional

Congresso

nacional=

deputados e

senadores =

homens

Tem

buscado

Trilhar este caminho

Uacuteltimo paraacutegrafo

Finalmente merece ser destacado o grande benefiacutecio que a meacutedio prazo o projeto traraacute ao Eraacuterio seja

com a diminuiccedilatildeo de gastos seja com a melhoria do funcionamento do sistema econocircmico em razatildeo da

maior eficiecircncia do serviccedilo jurisdicional

167

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ultimo paraacutegrafo

o grande

benefiacutecio

merece Finalmente(merece) ser

destacado

Que o projeto Traraacute a meacutedio prazo ao Eraacuterio

seja com a diminuiccedilatildeo de

gastos seja com a melhoria

do funcionamento do

sistema econocircmico em razatildeo

da maior eficiecircncia do

serviccedilo jurisdicional

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto

Referente Indireto

Cidadatildeo Sua Varas Ministeacuterio Puacuteblico Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de AdvocaciaCongresso nacional

Entrevistados Opiniatildeo

Juiacutezes Maacutequinas de datilografia

87 8 5 92

Atores

O levantamento das operaccedilotildees de reformulaccedilatildeo revelou os seguintes

casos

a) Sinoniacutemia ldquocidadatildeordquo ldquoentrevistadosrdquo ldquojuiacutezesrdquo ldquoatoresrdquo

b) Pronominal natildeo haacute

c) Grupo nominal natildeo haacute

d) Extensiva direta natildeo haacute

e) Extensiva indireta ldquoVarasrdquo ldquoMinisteacuterio Puacuteblicordquo ldquoAdvocacia

Puacuteblicardquo ldquoescritoacuterios de Advocaciardquo ldquoCongresso nacionalrdquo

ldquoMaacutequinas de datilografiardquo ldquoinsatisfaccedilatildeordquo ldquoserviccedilo judiciaacuteriordquo

ldquopesquisa de opiniatildeordquo ldquoconcordacircnciardquo ldquoeficiecircnciardquo

f) Embreantes de pessoa ldquosuardquo (demanda do cidadatildeo)

168

Conforme se pode observar em relaccedilatildeo aos termos e expressotildees

a) O homem neste documento aparece sob duas perspectivas em seu

papel social individual tal como em cidadatildeo entrevistados juiacutezes

atores Mas aparece tambeacutem na sua atuaccedilatildeo junto aos oacutergatildeos ligados agrave

execuccedilatildeo da justiccedila como se pode ver pelo emprego dos termos Varas

Ministeacuterio Puacuteblico Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de Advocacia

Congresso Nacional Interessante notar a presenccedila da expressatildeo

maacutequinas de datilografia que como instrumento de execuccedilatildeo liga o

homem ao seu trabalho e ao mesmo tempo denota a lentidatildeo dos

serviccedilos diante de um teclado de computador

b) Encontra-se nesse texto o uso do embreante sua que se refere agrave

demanda do cidadatildeo a fim de dar ecircnfase ao que mais importa o uso de

tecnologia acelera o acesso agrave justiccedila visto que a demanda eacute grande e o

sistema eacute lento

c) Haacute um apagamento total da expressatildeo de vontade individual da

deputada que emprega a marca de indeterminaccedilatildeo do sujeito (se) a fim

de colocar em destaque o que mais importa o projeto No entanto esse

distanciamento natildeo ofusca que o maior interesse eacute que o projeto seja

aprovado pelos deputados que devem votar a favor a fim de que ele se

converta em lei

d) O enunciador nesse texto diferente dos anteriores pode ser

identificado mesmo que se apague pela indeterminaccedilatildeo do sujeito eacute a

Deputada Luiza Erundina como se pode ler no topo e no fecho do

documento Seu ethos eacute validado pela funccedilatildeo que ocupa como

Presidente da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa e pela polifonia

presente

e) O fato de existir uma Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa indica a

polifonia existente nesse texto pois traduz a possibilidade da sociedade

169

de participar do processo legislativo propondo um projeto de lei

Tambeacutem se constata pela figura da Deputada integrante da Cacircmara dos

Deputados que analisa o anteprojeto de lei Sua justificaccedilatildeo representa

a vontade de todos os outros deputados pois ela eacute a presidente da

Comissatildeo

f) O texto da deputada revela a importacircncia do projeto de lei ao expor a

necessidade de um Poder Judiciaacuterio mais eficaz Eacute interessante

observar que a justificaccedilatildeo favoraacutevel se faz por meio dos resultados de

pesquisas elaboradas cujo objetivo eacute saber o que pensam os

entrevistados homens que se servem da justiccedila e a julgam ineficaz os

quadros publicados mostram os homens que estatildeo por traacutes dos

resultados e suas respectivas opiniotildees

363 Nota Oficial

A designaccedilatildeo de Nota Oficial segundo o manual de redaccedilatildeo da Cacircmara

dos Deputados

pode ser empregada somente quando se referir a comunicado emitido por

autoridade No caso de empresa particular ou pessoa fiacutesica eacute emitida nota agrave

imprensa ou comunicado nunca nota oficial103

Agrave eacutepoca da ediccedilatildeo do livreto da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais

(AJUFE) onde esse documento estaacute impresso o nome de Nota Oficial foi dado

ao documento que laacute figura Hoje o termo jaacute foi substituiacutedo por Nota Puacuteblica

Em relaccedilatildeo a seus objetivos

Desde sua fundaccedilatildeo a Ajufe tem atuado na elaboraccedilatildeo e acompanhamento de

projetos do interesse do Poder Judiciaacuterio na realizaccedilatildeo de seminaacuterios e

eventos e na disseminaccedilatildeo de ideias propostas e princiacutepios da magistratura

federal A atuaccedilatildeo em questotildees poliacuteticas e sociais tambeacutem tem estado

103 httpwww2camaralegbrglossario Acesso em 22122012

170

presente ao longo dos 30 anos de existecircncia Congregar os juiacutezes federais

para realizar uma efetiva troca de experiecircncia e ideias104

Hoje na paacutegina da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais (AJUFE) foram

inseridas informaccedilotildees complementares que mostram sua atuaccedilatildeo junto agrave

sociedade

A Ajufe foi a primeira entidade do Paiacutes a apresentar projeto de lei agrave entatildeo

receacutem-criada Comissatildeo de Participaccedilatildeo Legislativa da Cacircmara dos

Deputados com uma proposta para normatizar a informatizaccedilatildeo do processo

judicial que em 19 de dezembro de 2006 se transformou na Lei nordm

114192006

A gestatildeo de Paulo Seacutergio Domingues 10ordm presidente que atuou no periacuteodo

de junho de 2002 a junho de 2004 enfrentou algumas turbulecircncias Em 2002

uma tentativa de aprovar a reforma do Judiciaacuterio no Senado com um texto

prejudicial agrave Justiccedila Federal fez com que a Ajufe mobilizasse juiacutezes de todo o

Paiacutes A mobilizaccedilatildeo durou todo o periacuteodo da gestatildeo105

Mesmo como entidade civil a AJUFE natildeo deixa de ser representante das

vontades dos membros do Poder Judiciaacuterio Diante da necessidade de se

manifestar junto da opiniatildeo puacuteblica para se defender das criacuteticas da Ordem dos

Advogados do Brasil o meio adequado encontrado para tanto foi a nota oficial

a fim de que o pensamento daqueles que pertencem ao Poder Judiciaacuterio e que

defendem a melhoria do proacuteprio oacutergatildeo tivesse a autoridade compatiacutevel com o

que exigia o momento para que o projeto de lei fosse enfim aprovado

Na Nota Oficial foram encontrados termos e expressotildees que fazem

referecircncia ao homem nas seguintes formas

a) Sinoniacutemia ldquopresidenterdquo (A JUFE) ldquojuizrdquo ldquoPaulo Seacutergio

Dominguesrdquo ldquopresidenterdquo (CI-OAB) ldquoadvogado(s)rdquo ldquoDominguesrdquo

ldquoprofissionaisrdquo ldquoTribunaisrdquo ldquoresponsaacuteveisrdquo ldquoautorrdquo

b) Pronominal natildeo haacute

104

httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=398amptmptexto=70202 Acesso em

18092012

105 httpwwwajufeorgbrportalindexphpoption=com_contentampview=articleampid=1403ampItemid=67

Acesso em 26122012

171

c) Grupo nominal natildeo haacute

d) Extensiva direta ldquoAssociaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasilrdquo

ldquoAJUFErdquo ldquoComissatildeo de Informaacuteticardquo ldquoOABrdquo ldquoComissatildeo de

Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputadosrdquo

ldquoimpedidosrdquo ldquoexcluiacutedosrdquo ldquoresponsaacuteveisrdquo ldquocategoriardquo

e) Extensiva indireta ldquounanimidaderdquo ldquocorporativismordquo ldquoanaacuteliserdquo

ldquoresistecircnciardquo ldquomedordquo ldquojusticcedilardquo ldquomorosidaderdquo ldquoJudiciaacuteriordquo ldquocriacuteticardquo

ldquoviolaccedilatildeordquo ldquoseguranccedila juriacutedicardquo ldquoautonomiardquo ldquocredenciamentordquo

ldquoprofissatildeordquo ldquocadastrosrdquo ldquoseguranccedilardquo ldquoassinaturardquo ldquopeticcedilatildeordquo

ldquofrauderdquo ldquorastreamentordquo

f) Embreante de pessoa ldquonosrdquo ldquonossardquo decirciticos de pessoas

ldquolamentourdquo ldquodestacourdquo ldquo ndashlordquo ldquoelardquo

Eacute no texto da Nota Oficial que segue abaixo que se pode observar tais

reformulaccedilotildees do termo homem

a) Primeiro paraacutegrafo

NOTA OFICIAL DE 190602

Brasiacutelia 19 de junho de 2002

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial

Reaccedilatildeo da OAB eacute corporativa e medo do novo rebate Ajufe o presidente da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes

Federais do Brasil (Ajufe) juiz Paulo Seacutergio Domingues rebateu enfaticamente a nota divulgada ontem

pelo presidente da Comissatildeo de Informaacutetica da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Satildeo Paulo

Marcos da Costa apontando equiacutevocos juriacutedicos e tecnoloacutegicos no Projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo

Judicial apresentado pela Ajufe ao Congresso O projeto de lei que regulamenta a transferecircncia de

informaccedilotildees judiciais por meio eletrocircnico foi aprovado na iacutentegra e por unanimidade no uacuteltimo dia 11

pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo (CCJ-R) da Cacircmara dos Deputados Infelizmente o

corporativismo estaacute impedindo uma anaacutelise mais global e cuidadosa da nossa proposta lamentou

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

172

Primeiro paraacutegrafo

o presidente da

Associaccedilatildeo dos

Juiacutezes Federais do

Brasil (Ajufe) juiz

Paulo Seacutergio

Domingues

Presidente=

associaccedilatildeo= juiz =

Paulo= homem

rebateu rebateu enfaticamen-te a

nota divulgada ontem

pelo presidente da

Comissatildeo de Infor-

maacutetica da Ordem dos

Advogados do Brasil

(OAB) de Satildeo Paulo

Marcos da Costa

Presidente=gtcomiss

atildeo=gt

OAB=gt

Marcos=homem

(a nota) apontando equiacutevocos juriacutedicos e

tecnoloacutegicos no Projeto

de Informatizaccedilatildeo do

Processo Judicial

apresentado pela Ajufe

ao Congresso

Ajufe=associaccedilatildeo

O projeto de lei (que)

regulamen-

ta

a transferecircncia de

informaccedilotildees judiciais por

meio eletrocircnico

(o projeto) foi aprovado na iacutentegra e por

unanimidade no uacuteltimo

dia 11 pela Comissatildeo de

Constituiccedilatildeo Justiccedila e

Redaccedilatildeo (CCJ-R) da

Cacircmara dos Deputados

Comissatildeo

Unanimidade

o corporativismo Corporativismo=gt

corporaccedilotildees

dirigidas por

homens

estaacute Infelizmente impedindo

uma anaacutelise mais global

e cuidadosa da nossa

proposta

Nossa= decircitico de

pessoa

Anaacutelise

(o juiz) decircitico de pessoa

lamentou

lamentou

b) Segundo paraacutegrafo

Para Domingues a resistecircncia ao projeto eacute injustificadaEacute o medo do novo apresentando-se como

desculpa para impedir a evoluccedilatildeo da Justiccedila Isso nos espanta especialmente numa eacutepoca de criacuteticas agrave

morosidade do Judiciaacuterio quando imagina-se que os advogados apoiem a busca de soluccedilotildees Aliaacutes a

criacutetica da OABSP eacute a uacutenica que se viu ateacute o momento destacou Segundo o presidente da Ajufe o

projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial natildeo representa qualquer violaccedilatildeo agrave autonomia do

advogado nem riscos agrave seguranccedila juriacutedica como acusa a OAB O credenciamento dos profissionais junto

aos tribunais natildeo tem a funccedilatildeo de autorizar o advogado a exercer a profissatildeo mas apenas de autorizaacute-lo a

utilizar o meio eletrocircnico para receber intimaccedilotildees e enviar peticcedilotildees esclarece Este credenciamento

aponta Domingues natildeo favorece o exerciacutecio ilegal da profissatildeo ou a atuaccedilatildeo de profissionais excluiacutedos

dos quadros da entidade Ao contraacuterio ele permite aos tribunais -que satildeo os responsaacuteveis na praacutetica

pelo impedimento do exerciacutecio ilegal da profissatildeo -atualizar com maior agilidade seus cadastros de

advogados temporariamente impedidos de advogar ou excluiacutedos da OAB Eacute um fator de proteccedilatildeo agrave

categoria

173

Segundo

paragrafo

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

a resistecircncia

ao projeto

Resistecircncia Eacute Para Domingues (eacute )

injustificada

Domingues=juiz

Sujeito inexistente Eacute o medo do novo Medo= do homem

Iacutendice de

inderminaccedilao do

sujeito

apresentando-se como desculpa para

impedir a evoluccedilatildeo da

Justiccedila

justiccedila

Isso Espanta nos (espanta) especial-

mente numa eacutepoca de

criacuteticas agrave morosidade do

Judiciaacuterio

Nos=decircitico de

pessoa

morosidade

Judiciaacuterio

(quando ) Se imagina Que

os advogados Advogados =

homens

Apoiem a busca de soluccedilotildees Soluccedilotildees = do

homem

Aliaacutes a criacutetica

da OABSP

OAB

Critica= do

homem

Eacute uacutenica que se viu ateacute o

momento

Decircitico de pessoa

destacou

destacou

o projeto de

Informatizaccedilatilde

o do Processo

Judicial

(natildeo) representa Segundo o presidente da

Ajufe natildeo (representa)

qualquer violaccedilatildeo agrave

autonomia do advogado

nem riscos agrave seguranccedila

juriacutedica

Presidente Ajufe

Advogado=homem

Violaccedilatildeo= da regra

Seguranccedila juriacutedica=

quem sente eacute o

homem

Autonomia= do

homem

Como a OAB Acusa

O credencia-

mento dos

profissionais

junto aos

tribunais

Credenciamento=

do homem

Profissionais=

homens

(natildeo) tem Natildeo (tem) a funccedilatildeo de

autorizar o advogado a

exercer a profissatildeo

Advogado

Profissatildeo

mas (ele) (tem) (a funccedilatildeo) apenas de au-

torizaacute-lo a utilizar o meio

eletrocircnico para receber

intimaccedilotildees e enviar

lo decircitico de pessoa =

o advogado

174

peticcedilotildees esclarece

Domingues Domingues aponta

(Domingues)

Este

credenciamen

-to

(natildeo) favorece natildeo (favorece) o exer-

ciacutecio ilegal da profissatildeo

ou a atuaccedilatildeo de pro-

fissionais excluiacutedos dos

quadros da entidade

Profissatildeo

Profissionais

excluiacutedos

Ao contraacuterio

ele

Permite aos tribunais -atualizar

com maior agilidade seus

cadastros de advogados

temporariamente

impedidos de advogar ou

excluiacutedos da OAB

Cadastros

Advogados

impedidos ou

excluiacutedos

Que (os

tribunais)

Tribunais =

homens

Satildeo os responsaacuteveis na

praacutetica pelo impedimen-

to do exerciacutecio ilegal da

profissatildeo

Responsaacuteveis =

homens

(Isso) Eacute um fator de proteccedilatildeo agrave

categoria

Categoria=gtde

profissionais=gt

homens

c) Uacuteltimo paraacutegrafo

Quanto agrave seguranccedila do meio eletrocircnico Domingues lembra agrave OABSP que o sistema informaacutetico eacute muito

mais seguro que o atual Ou seraacute que ela imagina que um falso advogado tenha mais dificuldade em

falsificar um papel timbrado e uma assinatura em peticcedilatildeo convencional do que em fraudar todo um

sistema de seguranccedila eletrocircnico que permite inclusive o rastreamento do autor de eventuais tentativas de

fraude

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

uacuteltimo paraacutegrafo

Quanto agrave seguranccedila

do meio eletrocircnico

Domingues

Domingues

seguranccedila

Lembra agrave OABSP OAB=advogados

que o sistema

informaacutetico eacute

Eacute muito mais seguro

que o atual

Seguro=seguran-

ccedila

Ou seraacute que

ela Ela = OAB decircitico

de pessoa

Imagina

que um falso

advogado

Tenha mais dificuldade em

falsificar um papel

timbrado e uma

assinatura em peticcedilatildeo

convencional

Falsificar

Assinatura

175

Peticcedilatildeo

Do que (tenha) (dificuldade) em

fraudar todo um sis-

tema de seguranccedila

eletrocircnico

Fraudar=fraude

seguranccedila

Que (o sistema) Permite permite inclusive o

rastreamento do autor

de eventuais tenta-

tivas de fraude

Rastreamento

Autor

fraude

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto Referente Indireto

Presidente (Ajufe) Nos (pron COD) unanimidade

Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil

Nossa corporativismo

Ajufe Desinecircncia verbal= decircitico de pessoa=lamentou

anaacutelise

Juiz Desinecircncia verbal= decircitico de pessoa=destacou

Resistecircncia

Paulo Seacutergio Domingues COD== decircitico de pessoa=lo

Medo

Presidente (OAB) Impedidos justiccedila

Comissatildeo de Informaacutetica Excluiacutedos morosidade

OAB Responsaacuteveis Judiciaacuterio

Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputados

Criacutetica

Advogado(s) Violaccedilatildeo

Domingues Seguranccedila juriacutedica

Profissionais autonomia

Tribunais credenciamento

Responsaacuteveis Profissatildeo

Categoria

Autor cadastros

Ela seguranccedila

Assinatura

Peticcedilatildeo

Fraude

Seguranccedila

rastreamento

176

A observaccedilatildeo dos elementos referenciados revelou que

a) Haacute um apagamento do enunciador que emite a Nota Oficial no texto o

juiz Paulo Seacutergio Domingues que eacute presidente da AJUFE Esse

apagamento se faz pelo emprego de diferentes formas de tratamento na

terceira pessoa do singular (ele) No entanto a Nota Oficial se natildeo for de

sua autoria seraacute feita sob sua autorizaccedilatildeo expressa pois ele eacute o

presidente da entidade

Esse apagamento eacute bastante relevante pois ao mesmo tempo em

que o juiz se afasta de si para dar credibilidade ao que se expotildee no

texto ele reafirma seu ethos Aleacutem disso o afastamento do ldquoeurdquo reforccedila

a figura do homem que estaacute atraacutes do presidente da associaccedilatildeo devido

ao emprego de seu sobrenome para se proceder agrave referenciaccedilatildeo Esse

contexto reforccedila a figura do homem que eacute ao mesmo tempo cidadatildeo juiz

e representante de seus pares

b) As outras referecircncias que satildeo realizadas se referem aos pares

profissionais seja sob a forma individual tal como em responsaacuteveis ou

autor ou sob a forma de expressotildees que indicam coletivos tal como

associaccedilatildeo comissatildeo categoria

c) A maior parte dos referentes indiretos funciona como qualificadores

positivos ou negativos das partes em questatildeo (homens a favor e

homens contra a aprovaccedilatildeo do projeto de lei) como se pode ver em

ldquoautonomiardquo ldquojusticcedilardquo ldquoseguranccedila juriacutedicardquo ldquocredenciamentordquo em

oposiccedilatildeo a ldquocorporativismordquo ldquoresistecircnciardquo ldquomedordquo ldquomorosidaderdquo

ldquoviolaccedilatildeordquo ldquofrauderdquo Esse mecanismo de qualificaccedilatildeodesqualificaccedilatildeo

das partes eacute tiacutepico de um texto que tem como objetivo argumentar e

dirigir a opiniatildeo de seu auditoacuterio-enunciataacuterio

d) A polifonia nesse texto se realiza de duas formas Ela se apresenta pelo

efeito de resposta que o texto tem a Nota Oficial eacute uma resposta agrave

criacutetica da OAB como o proacuteprio texto relata Portanto aleacutem do dialogismo

se verifica a presenccedila de uma segunda voz A voz da OAB no texto eacute

relatada portanto estaacute presente A polifonia tambeacutem se realiza pela

177

fusatildeo de vozes na voz do Dr Paulo Seacutergio Domingues a voz do

homem que acredita no que defende a voz do presidente da Associaccedilatildeo

dos Juiacutezes Federais representante de seus pares a voz de um membro

do Poder Judiciaacuterio que tem outros juiacutezes ao seu lado e portanto

representa esse Poder

e) A polifonia em conjunto com o dialogismo confere ao ethos do

enunciador uma forccedila extraordinaacuteria Essa forccedila aliada agraves estrateacutegias

argumentativas de valorizaccedilatildeo proacutepria e desvalorizaccedilatildeo do ldquoadversaacuteriordquo

eacute a estrateacutegia ideal para vencer o debate e convencer todo e qualquer

enunciataacuterio de que o enunciador tem razatildeo

Segundas Observaccedilotildees

Apoacutes as anaacutelises dos quatro textos que satildeo textos juriacutedicos mas que natildeo

satildeo textos de lei pode-se observar o seguinte

a) Em relaccedilatildeo ao subgecircnero a que pertencem conforme jaacute se

apresentou anteriormente o voto e a justificaccedilatildeo pertencem ao

subgecircnero juriacutedico legislativo e a nota oficial ao subgecircnero juriacutedico

jornaliacutestico

b) Esses trecircs textos tecircm em comum o fato de expressarem a opiniatildeo de

um enunciador (Deputada Luiza Erundina Deputado Roberto

Batochio e juiz Paulo Seacutergio Domingues) que foi eleito para o cargo

que ocupa (deputado relator e presidente das comissotildees e

presidente da AJUFE respectivamente) no momento em que emite

sua opiniatildeo

c) O fato de haver um apagamento mais ou menos pujante natildeo isenta a

condensaccedilatildeo que se faz na figura de cada um da presenccedila de

diversos ethos integrados pelos papeacuteis sociais que cada um

representa individualmente

178

d) O indiviacuteduo homem que eacute cidadatildeo e que exerce seus direitos

sociais de forma mais incidente sobretudo pelo fato de se fazer

eleger pelo povo como seu representante se reveste de poder e se

integra ao poder legislativo no caso dos deputados

Jaacute em relaccedilatildeo ao juiz haacute uma fusatildeo da entidade civil

representada pelo seu presidente ao Poder Judiciaacuterio A autoridade

conferida pelo cargo de juiz se avulta pela representatividade que

decorre do fato dele falar em nome do grupo de juiacutezes federais que

satildeo os responsaacuteveis pela defesa do que reza a Constituiccedilatildeo Federal

e) O homem representante se funde ao poder que representa

legislativo ou judiciaacuterio e se reveste da autoridade necessaacuteria

durante a emissatildeo de sua opiniatildeo apoiado em dados de pesquisa e

pelo proacuteprio status profissional com o objetivo de fazer valer a sua

opiniatildeo

Apoacutes as observaccedilotildees dos dois conjuntos de documentos pode-se fazer

uma reduccedilatildeo de cada um dos documentos apresentados conforme o modelo

abaixo

DOCUMENTO

A- ENUNCIADOR

Ethos

179

Local do ethos

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito Sujeito gramatical

Objeto de direito Objeto gramatical

C- ARGUMENTO

Valor Concreto abstrato

hierarquia Quantitativo qualitativo

180

ANAacuteLISE DDHC 1789

A- ENUNCIADOR

Ethos O POVO FRANCES

Local do ethos ASSEMBLEIA NACIONAL FRANCESA

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito HOMENS

FRANCESES CIDADAtildeOS

Sujeito gramatical

REPRESENTANTES DO POVO

FRANCES

Objeto de direito O HOMEM E O

CIDADAtildeO

Objeto gramatical DIREITOS (DO

HOMEM E DO CIDADAtildeO)

C- ARGUMENTO

Valor DIREITO Agrave

LIBERDADE E

IGUALDADE

Concreto PELO

DOCUMENTO

ESCRITO INTEGRADO

POSTERIORMENTE Agrave

CONSTITUICcedilAtildeO

Abstrato PELO

CONTEUacuteDO

Hierarquia

INTEGRADO A

CONSTITUICcedilAO

DOCUMENTO

INTERNO

Quantitativo ATINGE

TODA A POPULACcedilAtildeO

FRANCESA

Qualitativo

CONFERE A

QUALIDADE AO

HOMEM DE SER

PROTEGIDO NO

AMBITO NACIONAL

ANAacuteLISE DUCH 1948

A- ENUNCIADOR

Ethos AS NACcedilOtildeES DA ONU

Local do ethos ASSEMBLEIA GERAL DA ONU

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito HOMENS DO

MUNDO TODO

Sujeito gramatical

REPRESENTANTES NA

ASSEMBLEIA

Objeto de direito TODO HOMEM

NO MUNDO

Objeto gramatical DIREITOS

UNIVERSAIS (DO HOMEM)

C- ARGUMENTO

Valor PROTECcedilAtildeO

AMPLA DOS

DIREITOS Agrave

LIBERDADE E

IGUALDADE

Concreto PELA

ASSINATURA DO

DOCUMENTO QUE Eacute

RATI-FICADO

Abstrato PELO

CONTEUacuteDO E

OUTROS TRATADOS

QUE DELE PODEM

DECORRER

Hierarquia TEM

STATUS DE TRATADO

INTERNACIONAL

Quantitativo

ASSINADO POR 48

PAISES HOJE Eacute

ASSINADO POR

QUASE TODOS OS

NTEGRANTES DA ONU

Qualitativo CONFERE A

QUALIDADE AO HOMEM

DE SER PROTEGIDO NO

AMBITO

INTERNACIONAL

181

ANAacuteLISE CF88

A- ENUNCIADOR

Ethos POVO BRASILEIRO

Local do ethos CONGRESSO NACIONAL

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito BRASILEIROS E

ESTRANGEIROS

Sujeito gramatical NOacuteS

REPRESENTANTES DO

POVO BRASILEIRO

Objeto de direito DIREITOS E

DEVERES DOS BRASILEIROS E

ESTRANGEIROS

Objeto gramatical O

ESTADO E A SOCIEDADE

C- ARGUMENTO

Valor DIREITOS E

DEVERES

Concreto PODERES

QUE EXECUTAM A LEI

Abstrato

IGUALDADE

LIBERDADE

JUSTICcedilA

Hierarquia LEI INTERNA

QUE INTEGRA LEIS

INTERNACIONAIS

Quantitativo TODA A

POPULACcedilAtildeO QUE

RESIDE NO PAIacuteS

Qualitativo

REGULA A

VIDA DO

ESTADO E

DOS

HOMENS

ANAacuteLISE LEI 114192006

A- ENUNCIADOR

Ethos PODER EXECUTIVO LEGISLATIVO E JUDICIAacuteRIO

Local do ethos BRASILIA PRESIDEcircNCIA CASA CIVIL

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito USUAacuteRIOS DA

JUSTICcedilA

Sujeito gramatical PODER

JUDICIAacuteRIO

Objeto de direito CIDADAtildeO Objeto gramatical

INFORMATIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO

C- ARGUMENTO

Valor JUSTICcedilA PARA

TODOS

Concreto A

INFORMATIZACcedilAtildeO

Abstrato

CELERIDADE

Hierarquia LEI INTERNA

INFRACONSTITUCIONAL

Quantitativo TODOS

OS QUE SE SERVEM

DO PODER

JUDICIAacuteRIO

Qualitativo

REGULA O

FUNCIONAMENTO

DO PODER

JUDICIAacuteRIO

182

ANAacuteLISE VOTO DO DEPUTADO ROBERTO BATOCCHIO

A- ENUNCIADOR

Ethos PODER LEGISLATIVO COMISSAtildeO DE CONSTITUICcedilAtildeO E JUSTICcedilA

E DE REDACcedilAtildeO

Local do ethos PODER LEGISLATIVO CAcircMARA DOS DEPUTADOS

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito LEI 114192006 Sujeito gramatical A

COMISSAtildeO= NOacuteS

Objeto de direito APROVACcedilAO DA

PROPOSTA OU PROJETO DE LEI

Objeto gramatical A

PROPOSTA OU PROJETO DE

LEI

C- ARGUMENTO

Valor ADMISSIBILIDADE Concreto CAMARA DOS

DEPUTADOS

Abstrato

COMPETENCIA

DA COMISSAtildeO

Hierarquia VOTO

DECISIVO

Quantitativo A CAMARA

DOS DEPUTADOS

Qualitativo

APROVACcedilAtildeO

JUSTIFICACcedilAtildeO DO PROJETO DE LEI 58282001 DEPUTADA LUIZA

ERUNDINA

A- ENUNCIADOR

Ethos PODER LEGISLATIVO COMISSAtildeO DE LEGISLACcedilAtildeO

PARTICIPATIVA

Local do ethos PODER LEGISLATIVO CAMARA DOS DEPUTADOS

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito CIDADAtildeOS Sujeito gramatical O BRASIL

Objeto de direito O ANDAMENTO

DOS PROCESSOS

Objeto gramatical A

INFORMATIZACcedilAtildeO

C- ARGUMENTO

Valor ATUALIZACcedilAtildeO

DO SISTEMA

Concreto PODER

JUDICIAacuteRIO

Abstrato

AGILIDADE

Hierarquia VOTO

DECISIVO

Quantitativo A

CAMARA DOS

DEPUTADOS

Qualitativo

APROVACcedilAtildeO

183

ANAacuteLISE DA NOTA OFICIAL

A- ENUNCIADOR

Ethos AJUFE (PARTE DO PODER JUDICIAacuteRIO)

Local do ethos AJUFE BRASILIA

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito LEI 114192006 Sujeito gramatical

Objeto de direito APROVACcedilAO

DA PROPOSTA OU PROJETO DE

LEI

Objeto gramatical A PROPOSTA

OU PROJETO DE LEI

C- ARGUMENTO

Valor APROVACcedilAtildeO E

EFICAacuteCIA X

REPROVACcedilAtildeO

Concreto

CONGRESSO

NACIONAL E PODER

JUDICIAacuteRIO X OAB

Abstrato EFICAacuteCIA E

CREDIBILIDADE X

MEDO E

DIFICULDADE

Hierarquia

ASSOCIACcedilAtildeO DE

JUIacuteZES FEDERAIS X

OAB

Quantitativo PARTE

DO PODER

JUDICIAacuteRIO X

ADVOGADOS

Qualitativo

APROVACcedilAtildeO X

REPROVACcedilAtildeO

184

37Resultado das anaacutelises

O que se constatou com as anaacutelises dos documentos foi uma evoluccedilatildeo do

conceito de homem igualdade liberdade e justiccedila A evoluccedilatildeo revela os traccedilos

do dialogismo da polifonia assim como a evoluccedilatildeo dos conceitos de direito

liberdade igualdade e justiccedila As consideraccedilotildees que seguem satildeo mostradas

respeitando-se a ordem cronoloacutegica de publicaccedilatildeo de cada documento

Na DUDH de 1789 a presenccedila do termo homem se caracteriza como

pertencente a um grupo como representante do povo francecircs parte da

assembleia Sua caracterizaccedilatildeo aborda a perspectiva do individuo membro da

sociedade cidadatildeo tomado na sua individualidade diante de outrem Esse

homem eacute o mesmo que foi concebido pelo Iluminismo e que foi definido na

Encyclopeacutedie como sendo106

laquo un ecirctre sentant reacutefleacutechissant pensant qui se promegravene librement sur

la surface de la terre qui paroicirct ecirctre agrave la tecircte de tous les autres

animaux sur lesquels il domine qui vit en socieacuteteacute qui a inventeacute des

sciences et des arts qui a une bonteacute et une meacutechanceteacute qui lui est

propre qui srsquoest donneacute des maicirctres qui srsquoest fait des lois etc raquo

Esse homem de 1789 evolui com duas Grandes Guerras Mundiais e

percebe que governos e constituiccedilotildees muitas vezes natildeo satildeo suficientes para a

sua proteccedilatildeo Assim decidem fundar a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas e em

1948 promulgam a DUDH Nessa declaraccedilatildeo a liberdade a igualdade e o

direito agrave vida satildeo declarados primordiais e todos os signataacuterios se

comprometem a proteger o homem Esse homem ganha dessa forma proteccedilatildeo

e se torna sujeito de direitos universais

O homem da Constituiccedilatildeo Federal brasileira de 1988 eacute um homem que

se vecirc diante da liberdade poliacutetica que lhe tinha sido suprimida bem como

outros direitos inclusive o da vida pelo regime autoritaacuterio militar que vigorou no

106

ENCYCLOPEacuteDIE vol 8 em 02122012

httpfrwikisourceorgwikiLE28099EncyclopC3A9dieVolume_8HOMME

185

paiacutes entre os anos 60 e 80 Por isso esse homem tem seus direitos bem

detalhados pelo artigo 5deg que possui setenta e oito incisos atualmente A

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 protege o homem auferindo-lhe diversos direitos

individuais poliacuteticos e sociais

O homem que natildeo aparece na lei 114192006 da Informatizaccedilatildeo

Judicial eacute o seu beneficiaacuterio direto pois atraveacutes do que estabelece a lei todo o

sistema do Poder Judiciaacuterio poderaacute ser informatizado tornando a justiccedila aacutegil e

permitindo um maior acesso dos cidadatildeos aos recursos que o Poder Judiciaacuterio

lhe oferece para fazer valer seus direitos

O voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio e a justificaccedilatildeo da Deputada

Luiza Erundina satildeo a expressatildeo da democracia e do controle que o proacuteprio

cidadatildeo faz do sistema legislativo do Paiacutes Ao aprovar o projeto da lei de

informatizaccedilatildeo judicial os deputados representam natildeo soacute a opiniatildeo teacutecnica da

comissatildeo mas a vontade de seus eleitores

O homem representado na Nota Oficial eacute o que representa melhor a

expressatildeo da democracia brasileira e da modernidade do sistema de governo

Pois ao se verificar a fusatildeo do juiz que representa o Poder Judiciaacuterio e

tambeacutem seus colegas juiacutezes como presidente da Associaccedilatildeo que enviou o

projeto de lei ao Poder Legislativo percebe-se uma circularidade que beneficia

aparentemente o proacuteprio Poder Judiciaacuterio cujos benefiacutecios seratildeo colhidos

pelos usuaacuterios da justiccedila isto eacute os homens sejam eles advogados

funcionaacuterios ou partes de um processo Esse mecanismo que permite uma

maior igualdade entre os homens visto que os processos poderatildeo ser julgados

mais rapidamente natildeo havendo hesitaccedilatildeo em se recorrer a um Poder

Judiciaacuterio lento poderia ser assim representado

186

PODER

LEGISLATIVO

PODER

JUDICIAacuteR

IO

AJUFE

Esse homem reformulado e distante historicamente da definiccedilatildeo

proposta por Diderot e DrsquoAlembert no entanto eacute hoje bem mais proacuteximo do

homem ideal proposto pelos dois enciclopedistas do que o homem de 1751

quando foi publicado seu primeiro volume Ao longo do tempo o consenso

sobre alcanccedilar justiccedila deixou de ser ideal para se tornar real pois eacute um valor

partilhado pela sociedade

O texto constitucional brasileiro preserva a identidade individual social

econocircmica poliacutetica e cultural do homem ao mesmo tempo em que o coloca

sob a proteccedilatildeo de tratados relativos ao direito do homem e tambeacutem dos

tratados internacionais assinados pelo Brasil

O fato de o texto constitucional conter no seu artigo 5o na parte que

trata das direitos e garantias fundamentais a previsatildeo para uma prestaccedilatildeo

ceacutelere dos serviccedilos de administraccedilatildeo publica e da justiccedila num inciso acrescido

em 2004 atraveacutes da Emenda Constitucional ndeg 45 isto eacute quinze anos apoacutes a

PODER

EXECUTI

VO

PODER

JUDICIAacuteRIO

HOMEM

187

publicaccedilatildeo do texto primeiro indica a flexibilidade para a soluccedilatildeo de novos

problemas e o enfrentamento de desafios Isso explica o perfil do Brasil diante

da comunidade internacional e o destaque que o paiacutes recebe nas relaccedilotildees

externas107

107

De acordo com o que expotildee Paulo Borba CASELLA (2008298) em direito internacional poacutes-

modernordquocomo ademais se verifica em qualquer ramo do conhecimento humano deve acontecer a

inevitaacutevel combinaccedilatildeo entre teacutecnica espiacuterito e utopiardquo Eacute exatamente isso o que a lei 114192006 permite

ao possibilitar a informatizaccedilatildeo do sistema do Poder Judiciaacuterio para acelerar a prestaccedilatildeo jurisdicional ao

cidadatildeo

188

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao se efetuar as anaacutelises dos textos de acordo com o fenocircmeno da

reformulaccedilatildeo o que se verificou eacute que havia conceitos em destaque dentro dos

textos do corpus conceitos esses que natildeo satildeo exatamente os mesmos nos

diferentes textos

A proposta desta tese era a de responder a alguns questionamentos

referentes ao homem considerada a questatildeo da transversalidade do tema a

fim de se perceber se o homem que estava na primeira declaraccedilatildeo de direitos eacute

o mesmo homem do seacuteculo XXI Tambeacutem se pretendeu saber se os conceitos

formulados de direitos justiccedila igualdade liberdade continuavam vaacutelidos tal

qual foram postos haacute mais de dois seacuteculos e se deixavam rastros em outros

documentos juriacutedicos No caso de ter havido mudanccedilas a intenccedilatildeo era a de

saber quais foram elas e por que ocorreram Outra questatildeo que se pretendeu

tratar era a de saber se era possiacutevel a interferecircncia de um sistema juriacutedico em

outro e em caso afirmativo como isso se processava como se verificava e

como se justificava Por uacuteltimo havia a intenccedilatildeo de se proceder a uma

classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos levando-se em consideraccedilatildeo a questatildeo do

gecircnero

Em funccedilatildeo do quadro teoacuterico apresentado e das noccedilotildees estudadas a

que pareceu mais importante aleacutem do princiacutepio dialoacutegico e polifocircnico que

regem os textos foi a noccedilatildeo de ethos percebida por meio da anaacutelise dos

textos Tomado como expressatildeo do EU do orador diante de um auditoacuterio a fim

de formar uma impressatildeo sobre este e defender seu argumento eacute o ethos que

mais se destaca nos excertos examinados

Dentro da Nova Retoacuterica perelmaniana o ethos se constroacutei formando-se

a partir de uma loacutegica apoiada pela razatildeo sempre considerando o que eacute justo

o que eacute razoaacutevel Tambeacutem se fortalece na medida em que eacute retomado e

transformado de um documento para o outro O homem enquanto sujeito de

direito surge no primeiro texto se reforccedila (ldquotodo homem tem direito agrave justiccedilardquo) e

se apaga na medida em que alcanccedila uma parte do que almeja desaparecendo

materialmente do texto escrito pois torna-se titular do direito de receber (ser

189

contemplado) por uma justiccedila ceacutelere Mesmo que ainda longe do ideal o

homem do seacuteculo XXI eacute detentor de um ethos bem mais forte do que o homem

de trecircs seacuteculos atraacutes

O orador ou enunciador ao entrar em contato com o enunciataacuterio

(auditoacuterio) expotildee o seu argumento Este processo se apresenta aqui pelos

textos escritos que se dirigem pelo seu conteuacutedo a um auditoacuterio jaacute

determinado Esses textos representam um resultado do seu processo de

produccedilatildeo pois antes de sua redaccedilatildeo final houve uma reflexatildeo e em alguns

casos debate

Isso implica dizer que o enunciador tem um projeto delineado de

apresentaccedilatildeo de seu(s) argumento(s) Esse projeto se revela no texto na

medida em que o enunciador mostra sua intenccedilatildeo e modifica e transforma esse

argumento a fim de adaptaacute-lo agraves suas necessidades A intenccedilatildeo do enunciador

eacute persuadir seu auditoacuterio e ao fazer isso tambeacutem revela e constroacutei seu ethos

O argumento que precede os outros eacute o de autoridade que eacute inerente ao

discurso juriacutedico pois eacute consequente do gecircnero e subgecircneros dos textos Isto

ocorre porque uma declaraccedilatildeo com efeitos juriacutedicos e neste caso ambas a

DDHC1789 e a DUDH1948 aleacutem de declararem seu conteuacutedo tambeacutem

explicam e estabelecem paracircmetros A constituiccedilatildeo por sua vez aleacutem de

declarar e estabelecer organiza a vida das pessoas e do sistema poliacutetico

econocircmico e social assim como a lei federal

O voto do deputado Joseacute Roberto Batochio e a justificaccedilatildeo da Deputada

Luiza Erundina satildeo de caraacuteter decisoacuterio e justificativo e por isso tambeacutem

estabelecem explicam declaram que o projeto de lei deve ser aprovado Por

fim a nota oficial eacute uma declaraccedilatildeo que rebate um argumento defendendo a

criacutetica da sua proposta de lei

A persuasatildeo se concretiza no caso das declaraccedilotildees constituiccedilatildeo e lei

pelo seu caraacuteter oficial e de aplicaccedilatildeo os textos-resultados satildeo publicados e

referendados pelo(s) paiacutes(es) a que se destinam Isto resulta da autoridade que

eacute conferida ao ethos do qual se revestiu cada enunciador

190

Em relaccedilatildeo aos votos isso ocorre em razatildeo do caraacuteter funcional dos

deputados que devem dar um parecer neste caso favoraacutevel pois cabe ao

deputado julgar o projeto de lei em seus diferentes aspectos Isto tambeacutem se

aplica na Nota Oficial cujo caraacuteter eacute tambeacutem funcional cabendo ao presidente

da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais responder agrave critica feita pela OAB ao

projeto de lei

O caraacuteter dos documentos eacute portanto de obrigatoriedade

Obrigatoriedade por parte do orador-enunciador que apresenta um documento

que eacute consenso e que estaacute autorizado a publicar

Esses documentos apresentam ainda uma imagem do enunciador-

orador Essa imagem eacute diacrocircnica (ambivalente) pois de um lado apresenta o

que eacute resultado da obrigaccedilatildeo e que por conseguinte natildeo poderia deixar de

ser feito Por outro lado natildeo haacute como dizer que natildeo existe um direcionamento

do ethos do enunciador

Todos os documentos apresentados satildeo de caraacuteter poliacutetico-social e

portanto reproduzem um ethos que eacute direcionado por um vetor ideoloacutegico que

se ajusta ao tempo histoacuterico e agrave necessidade mas de autoridade indubitaacutevel Eacute

o ethos que conduz o enunciataacuterio ao caminho escolhido para atingir o objetivo

do enunciador que eacute fazer com que se concretize o que estaacute disposto nos

documentos Para tanto os enunciados precisam de clareza convincente em

seu conteuacutedo

Conveacutem lembrar aqui que o ethos no caso dos documentos desse

corpus eacute um ethos individual de cada homem que foi responsaacutevel pela

elaboraccedilatildeo do documento mas tambeacutem um ethos coletivo visto que

representa um grupo social um partido poliacutetico uma naccedilatildeo uma associaccedilatildeo

conforme o caso O ethos final do enunciador dos documentos eacute resultado da

soma de vaacuterios outros ethos individuais e coletivos

Seria improvaacutevel senatildeo impossiacutevel que um enunciador que fosse

contra o projeto argumentativo dos textos juriacutedicos apenas exercesse seu papel

de representante e defendesse um ponto de vista em que natildeo acreditasse

191

Em relaccedilatildeo aos contextos de produccedilatildeo e ao contexto cultural todos os

documentos apontam uma eacutepoca de evoluccedilatildeo social com mudanccedilas

significativas de comportamento do homem quebra dos regimes monaacuterquicos

absolutistas fim das atrocidades cometidas com as evoluccedilotildees das maacutequinas e

dos artefatos de guerra fim de um periacuteodo de regime autoritaacuterio teacutermino de

decisotildees diferentes no que se refere agrave introduccedilatildeo de tecnologia de ponta para

a celeridade do julgamento dos processos no Poder Judiciaacuterio

Todos os documentos representam marcos histoacutericos dentro ou fora de

uma naccedilatildeo Todos trouxeram consequecircncias que modificaratildeo para sempre os

habitus do homem Provocaram e provocaratildeo consequecircncias importantes na

sociedade

O auditoacuterio a que se dirigem os documentos eacute de caraacuteter universal

porque atinge todos os membros do grupo devido ao caraacuteter dos documentos

As duas declaraccedilotildees dirigem-se aos franceses e a todos que estatildeo protegidos

pela ONU (paiacuteses com seus habitantes) A constituiccedilatildeo brasileira eacute endereccedilada

aos brasileiros e estrangeiros residentes no Paiacutes assim como a lei federal

114192006 Os votos dos deputados dirigem-se ao Congresso Nacional e a

nota oficial eacute publicada para o conhecimento geral sendo publicada no website

da instituiccedilatildeo

O argumento do enunciador eacute desenvolvido com um objetivo conforme

jaacute foi dito Este objetivo leva o enunciador a traccedilar um percurso escolhendo o

que vai fazer figurar e o que iraacute privilegiar Assim no argumento eacute possiacutevel

servindo-se de um percurso ideoloacutegico destacar valorativamente o que

interessa ao projeto Todos os documentos de forma expliacutecita ou impliacutecita

defendem por exemplo o direito do homem agrave liberdade agrave igualdade e agrave

justiccedila O que difere eacute o grau em que se apresentam esses valores que se

especificam mais com o passar do tempo

O exame dos diferentes textos levou agrave constataccedilatildeo de que o que era

privilegiado pelo enunciador era sempre o homem O homem aparece em

praticamente todos os documentos analisados seja pelo emprego do proacuteprio

termo homem ou reformulado Os outros termos relevantes que surgem nos

192

textos satildeo aqueles que se relacionam ao homem eacute o homem quem tem

direitos que satildeo especificados sob os princiacutepios de liberdade igualdade e

justiccedila As operaccedilotildees de reformulaccedilotildees permitiram assim perceber a evoluccedilatildeo

dos termos expressotildees e conceitos que se referem ao homem

193

REFEREcircNCIAS

ADAM Jean-Michel Eleacutements de linguistique textuel Liegravege Pierre

Mardaga 1990

______ A linguiacutestica textual introduccedilatildeo agrave anaacutelise textual do discurso

Satildeo Paulo Cortez editora 2008

______ HEIDMANN Ute e MAINGUENEAU Dominique Anaacutelises

textuais e discursivas metodologia e aplicaccedilotildees Satildeo Paulo Cortez

editora 2010

ALEXY Robert Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Satildeo Paulo Landy Ed

2001

ALVES Alaor Caffeacute Loacutegica Pensamento formal e Argumentaccedilatildeo Satildeo

Paulo Quartier Latin 2003

AMOSSY Ruth O ethos na intersecccedilatildeo das disciplinas retoacuterica

pragmaacutetica sociologia dos campos In AMOSSY Ruth (Org)Imagens

de si no discurso a construccedilatildeo do ethos Trad Diacutelson Ferreira da Cruz

Fabiana Komesu Siacuterio Possenti Satildeo Paulo Contexto 2005 p 119-143

ARRIVEacute M GADET F GALMICHE M La grammaire drsquoaujourdrsquohui

Paris Flammarion 1986

AUBERT Jean-Luc Introduction au Droit et thegravemes fondamentaux du

droit civil Paris Ed Dalloz Armand Collin 1998

AUBRY Charles Cours de droit civil franccedilais Paris Marchal Billard et

Cie Libraire de la Cour de Cassation 1878

AUTHIER-REVUZ Jacqueline Heacuteteacuterogeacuteneiteacute(s) eacutenonciative(s) In

Langages 19e anneacutee ndeg 73 Les Plans dEacutenonciation Mars 1984 p98-111

BACHMAN Christian LINDEFELD Jacqueline et SIMONIN Jacky

Langage et Communications Sociales Collection LAL Paris Didier

Hatier 1991

194

BAKHTIN Mikhail laquo Les genres do discours I ndash Probleacutematique et

deacutefinition raquo Estheacutetique de la creacuteation verbale Paris Gallimard 1984 p

265-272

______ Os gecircneros do discurso Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo

Martins Fontes2003

______ Pour une philosophie de lrsquoacte Paris LrsquoAge drsquoHomme 2003

______ (Voloshinov-1929) Marxismo e Filosofia da Linguagem Trad M

Lahud e Y F Vieira Satildeo Paulo Hucitec 1979

______ (Voloshinov-1929) Le marxisme et la philosophie du langage

Paris Les Eacuteditions de Minuit 1977

BEACCO Jean-Claude Les genres textuels dans lrsquoanalyse du discours

eacutecriture leacutegitime et communauteacutes translangagiegraveres Langages 26e

anneacutee nordm 105 Mars 92 Ethnolinguistique de lrsquoeacutecrit p 8-27

______ DAROT M Pour lire les sciences sociales une analyse de

discours nordm 4752 amm-fhjcb Paris BELC 1978

BERTHO F BORDENAVE ML Droit Notions Essentielles Paris

Nathan 1990

BEVILAQUA Cloacutevis Liccedilotildees de Legislaccedilatildeo Comparada Bahia Livraria

Magalhatildees 1897

BITTAR Eduardo Carlos Bianca Linguagem juriacutedica Satildeo Paulo Ed

Saraiva 2003

BOBBIO Norberto O Positivismo Juriacutedico Trad Maacutercio Pugliesi Satildeo

Paulo Iacutecone 1995

______ A era dos direitos Trad Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro

Elsevier 2004

BOISSINOT Alain Les textes argumentatifs Toulouse Bertrand

Lacoste 1996

195

BOURDIEU Pierre Ce que parler veut dire Paris Fayard 1987

______ Le sens pratique Paris Eacuteditions de Minuit 1980

BRAIT Beth Bakhtin conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2005

______ Bakhtin outros conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2006

BRANDAtildeO Helena Nagamine Introduccedilatildeo agrave Anaacutelise do Discurso

Campinas Ed Unicamp 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Satildeo Paulo

Saraiva 1997

CARRAS Catherine TOLAS Jacqueline KHOLER Patricia SZILAGYI

Eacutelisabeth Le franccedilais sur objectifs speacutecifiques Paris Cleacute International

2007

CASELLA Paulo Borba Fundamentos do Direito Internacional Poacutes-

moderno Satildeo Paulo Quartier Latin 2006

______ ACCIOLY Hildebrando GEdo Nascimento e Silva Manual de

Direito Internacional Puacuteblico Satildeo Paulo Editora Saraiva 2008

CERDA-GUZMAN Carolina Une recodification des droits fondamentaux

pour un nouveau controcircle de constitutionnaliteacute Constitution droits

et devoirs Actes du VIIe Congregraves franccedilais de droit constitutionnel Paris

2008 (httpwwwdroitconstitutionnelorgcongresParisatelierP8html)

CHALLE Odile Enseigner le franccedilais de speacutecialiteacute Paris Econocircmica

2002

CHARAUDEAU Patrick Langue discours et identiteacute culturelle ELA

32001(nordm 123-124) p341-348

______ Grammaire du sens et de lrsquoexpression Paris Hachette

Collection Education 1992

______ Discurso PoliacuteticoSatildeo Paulo Contexto 2008

196

______ Linguagem e Discurso Modos de organizaccedilatildeoSatildeo Paulo

Contexto 2009

______ MAINGUENEAU Dominique Dictionnaire drsquoAnalyse du

Discours Paris Seuil 2002

CORNU Geacuterard Linguistique Juridique Paris Montchrestien 2005

______ Vocabulaire Juridique Paris PUF Quadrige 2003

CRETELLA Juacutenior Joseacute Comentaacuterios agrave constituiccedilatildeo brasileira de 1988

Vol I e II Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1994

CUNHA Celso Gramaacutetica do Portuguecircs Contemporacircneo Rio de

Janeiro Padratildeo Livraria Editora 1983

CUNHA Antonio Geraldo da Os estrangeirismos da liacutengua portuguesa

vocabulaacuterio histoacuterico-etimoloacutegico Satildeo Paulo Humanitas 2003

DAMETTE Eacuteliane Didactique du franccedilais juridique Paris LrsquoHarmattan

2007

DAMIAtildeO Regina Toledo HENRIQUES Antonio Curso de portuguecircs

juriacutedico Satildeo Paulo Atlas 2000

DANTAS Ivo Direito Comparado como Ciecircncia Brasiacutelia Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa nordm 134 1997

DAVID Reneacute Major Legal Systems in the world today 3rd ed London

Stevens amp Sons 1985

DAVID Reneacute et JAUFFRET-SPINOSI Camille Les grands systegravemes de

droit contemporain Paris Dalloz 1992

DEL VECCHIO Giorgio La deacuteclaration des droits de lrsquohomme et du

citoyen dans la Reacutevolution Franccedilaise Trad Antoinette Pellevant Gini

Fondation Europeacuteenne Dragan Rome ndash Foro Traiano 1 Paris LGDJ 1968

DOLINGER Jacob The Influence of American Constitutional Law on

the Brazilian Legal System nordm 4 vol 38 The American Journal of

Comparative Law Fall 1990

197

______ Unconscionability around the world seven perspectives on

the contractual practice nordm 3 vol 14 Loyola of Los Angeles International

and comparative Law July 1992

DUARTE Eacutecio Oto Ramos O R Teoria do Discurso e Correccedilatildeo

Normativa do Direito Satildeo Paulo Landy 2004

DUCROT Oswald Le dire et le di Paris Minuit 1984

ELA ndash La reformulation pratiques problegravemes et propositions Coord

Claudine Normand No68 Paris Didier Eacuterudition 1987

EacuteLA - Vocabulaires de speacutecialiteacute et lexicographie drsquoapprentissage en

langues-cultures eacutetrangegraveres et maternelles Coord LINO Maria Teresa nordm

135 Paris Didier 2004

FARACO Carlos Alberto TEZZA Cristoacutevatildeo CASTRO Gilberto Org Beth

Brait [et al] Diaacutelogos com Bakhtin Curitiba UFPR 2007

FARACO MOURA E MARUXO Gramaacutetica 20a ed Satildeo Paulo Atica

2006

FARIA Joseacute Eduardo A cultura e as profissotildees juriacutedicas numa

sociedade em transformaccedilatildeo Formaccedilatildeo juriacutedica Org Joseacute Renato Nalini

Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 1999

FAVERO L M Coesatildeo e Coerecircncia Textuais Satildeo PauloEd Aacutetica 2002

FAVRE Pierre La constitution dune science du politique le

deacuteplacement de ses objets et ldquolrsquoirruption de lrsquohistoire reacuteelle Revue

franccedilaise de science politique wwwperseefr 1983

FIORIN Joseacute Luiz Interdiscursividade e IntertextualidadeOrg BRAIT

Beth Bakhtin outros conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2006

GILISSEN J Introduccedilatildeo Histoacuterica ao DireitoTrad Hespanha AM e

Malheiros IMMacaiacutesca cap 2 Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian

2001

198

GODECHOT Jean Lexpansion de la Deacuteclaration des droits de

lhomme de 1789 dans le monde Annales historiques de la Reacutevolution

franccedilaise wwwperseefr 1978

GRILLO Sheila Vieira de Camargo Esfera e campo Org BRAIT Beth

Bakhtin outros conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2006

ISAAC Jules et MALETAlbert Lrsquo Histoire La naissance du Monde

moderne 1848-1914 Paris Hachette 1961

ISHIHARA Tokiko Discours rapporteacutes reformulation et sens Linx

(Nanterre) Franccedila v 1 p 43-52 1998

______ Leitura e enunciaccedilatildeo a pluralidade de vozes no discurso da

imprensa In X Congresso de Leitura do Brasil (COLE) 1995 Campinas

Anais do X COLE 1995

JELLINEK George La deacuteclaration des droits de lrsquohomme et du citoyen

Trad Georges FARDIS Paris Albert Fontemoing 1902

KELSEN H Teoria Pura do Direito Trad Cretella J Jr e Cretella A Satildeo

Paulo Ed Revista dos Tribunais 2003

KOCH Ingedore G Vilaccedila O texto e a construccedilatildeo dos sentidos Satildeo

Paulo Contexto 2003

______ Argumentaccedilatildeo e Linguagem Satildeo Paulo Editora Cortez 2011

LEHMANN D MARIET F MARIET J MOIRAND S Lecture fonctionnelle

de textes de speacutecialiteacute Didier Credif 1980

LEGEAIS Raymond Les grands systegravemes de droit contemporains

Paris Litec 2004

LEVY Maria Stella Ferreira (org) Linguagem e suas aplicaccedilotildees no

direito Satildeo Paulo Paulistana 2006

MAINGUENEAU Dominique Anaacutelise de Textos de Comunicaccedilatildeo Satildeo

Paulo Ed Cortez 2002

______ Lrsquoeacutenonciation en linguistique franccedilaise Paris Hachette 1999

199

______ Les termes cleacutes de lrsquoanalyse du discours Paris Seuil 1996

______ Aborder la linguistique Paris Seuil 1996

______Lrsquoethos de la rheacutetorique agrave lrsquoanalyse du discours

httpdominiquemaingueneaupagesperso-orangefrintro_companyhtml

2002 Acesso em 22122012

MANGIANTE Jean-Marc PARPETTE Chantal Le Franccedilais sur Objectif

Speacutecifique de lrsquoanalyse des besoins agrave lrsquoeacutelaboration drsquoun cours Paris

Hachette 2004

MARCHI Eduardo C Silveira Guia de Metodologia Juriacutedica Satildeo Paulo

Saraiva 2009

MARCUSCHI Luiz Antonio Leitura como processo inferencial num

universo cultural cognitivo In Barzotto Estado de Leitura Campinas

Mercado das Letras 1999

MARIE Jean-Bernard La Comission des Droits de lrsquoHomme de lrsquo ONU

Paris Eacuteditions A Pedone 1975

MARTINS Ives Gandra da Silva A cultura do jurista In Formaccedilatildeo

juriacutedicaOrg Joseacute Renato Nalini Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

1999

MAXIMILIANO Carlos Hermenecircutica e Aplicaccedilatildeo do Direito Rio de

Janeiro Ed Forense 1998

MOIRAND Sophie Deacutecrire des discours de speacutecialiteacute in Lenguas para

fines especiacuteficos (III) actes du colloque organiseacute par lrsquouniversiteacute Alcala de

Henares les 15-17 novembre 1993 Universiteacute Alcala de Henares 1994 p

79-91

MONTEIRO Washington de Barros Curso de Direito Civil ndash Parte geral

Vol 1 Satildeo Paulo Saraiva 1971

200

MONTESQUIEU Charles-Louis de Secondat Esprit des lois Livres I-V

Paris Libraire Ch Delagrave1887 in Bibliothegraveque nationale de France in

httpgallica2bnffrark12148bpt6k55507712 Acesso em 22122012

______ Do Espiacuterito das Leis Trad CARDOSO FH e RODRIGUES LM

cap V Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do Livro 1962

MORAES Alexandre de Constituiccedilatildeo do Brasil interpretada e

legislaccedilatildeo constitucional 8ordf Ed Atualizada ateacute a EC no 6710 ndash Satildeo

Paulo Atlas 2011

MORTUREUX Marie-Franccediloise Paradigmes deacutesignationnels Semen [En

ligne] 8 | 1993 mis en ligne le 06 juillet 2007 Acesso em 20092012

httpsemenrevuesorg4132

MOSCA Lineide do Lago Salvador Retoacutericas de Ontem e de hoje Org

MOSCA Lineide do Lago Salvador 3ordf ed Satildeo Paulo Humanitas 2004

MOURLHON-DALLIES F Enseigner une langue agrave des fins

professionnelles Collection Langues et Didactiques Paris Didier2008

NALINI Joseacute Renato Formaccedilatildeo juriacutedica Satildeo Paulo Editora Revista dos

Tribunais 1999

NUNES Pedro dos Reis Dicionaacuterio de tecnologia juridica Rio de

Janeiro Freitas Bastos 1982

OLEacuteRON Pierre Lrsquoargumentation Paris Presses Universitaires de

France 1996

PASQUARELLI Maria Luiza Rigo Normas para apresentaccedilatildeo de

trabalhos acadecircmicos Osasco Edifieo 2009

PEIXOTO Paulo Matos Vocabulaacuterio Juriacutedico Satildeo Paulo Paumape 1993

PELISSE Jeacuterome A-t-on conscience du droit Autour des Legal

Consciousness Studies Genegraveses ndeg 59 httpwwwcairninforevue-

geneses-2005-2-p-114htm 2005 Acesso em 22122012

201

PEREIRA Caio Maacuterio da Silva Instituiccedilotildees de Direito Civil Rio de

Janeiro Forense 1991 vol 1 pp 3-20

PENFORNIS J L Le Franccedilais du Droit Cleacute International 1998

PERELMAN Chaim Loacutegica juriacutedica nova retoacuterica Satildeo Paulo Martins

Fontes 2004

______ OLBRECHTS-TYTECA Lucie Tratado da argumentaccedilatildeo a

nova retoacuterica Bruxelles Ed de lrsquoUniversiteacute de Bruxelles 1976 Trad Maria

Ermantina Galvatildeo G Pereira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 [1958]

______ OLBRECHTS-TYTECA Lucie Traiteacute de lrsquoargumentation 3e ed

Bruxelles Ed de lrsquoUniversiteacute de Bruxelles 1976

PETRI Maria Joseacute Constantino Manual de linguagem juriacutedica Satildeo

Paulo Editora Saraiva 2011

PEYTARD Jean Langue franccedilaise Ndeg64 1984 Franccedilais technique et

scientifique reformulation enseignement

httpwwwperseefrwebrevueshome prescriptissuelfr_0023-

8368_1984_num_64_1 Acesso em 20092012

PLANTIN Christian Essais sur l lsquoargumentation Paris Eacuted Kimeacute 1990

______ Lrsquoargumentation Paris Ed du Seuil 1996 (Meacutemo)

ROBERT Paul Le petit Robert Paris Robert 1986

ROBLES Gregoacuterio O direito como texto quatro textos de teoria

comunicacional do direito Barueri Manole 2005

RODRIGUES Silvio Direito Civil ndash Parte Geral Vol 1Satildeo Paulo Saraiva

1993

SAacute Elisabeth Schneider de Manual de normalizaccedilatildeo de trabalhos

cientiacuteficos e culturais Petroacutepolis Vozes 1994

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos Direitos Fundamentais Porto

Alegre Livraria do Advogado Editora 2008

202

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do Trabalho Cientiacutefico Satildeo

Paulo Cortez 2007

SILVA De Plaacutecido e Vocabulaacuterio Juriacutedico Rio de Janeiro Editora

Forense 2004

SILVA Joseacute Afonso da Curso de direito constitucional positivo 9 ed

rev e ampl de acordo com a nova Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros

1992

SOARES A SANTOS MJ Dicionaacuterio do Tradutor Francecircs-Portuguecircs

Faro Editor Noecircmio Ramos 2003

SOIGNET M Le Franccedilais Juridique Paris Ed Hachette e CCIP 2003

THOMASSET C Lire le droit langue texte cognition Bourcier D

Mackay P Libraire Geacuteneacuterale de Droit et de Jurisprudence 1992

TODOROV Tzvetan Mikhail Bakhtin le principe dialogique Paris

Seuil 1981

VANNIER Guillaume Argumentation et droit Paris Presses

Universitaires de France 2001

VERDOODT Albert Naissance et signification de la Deacuteclaration

Universelle des Droits de lrsquoHomme Luvain-Paris Eacuteditions Nauwelaerts

1963

WISE Edward M The Transplant of Legal Patterns In The American

Journal of Comparative Law vol 38 Supplement U S Law in an Era of

Democratization1990 pp 1-22

WOJTYCZEK K Les fonctions de la constitution eacutecrite dans le

contexte de la mondialisation In Lrsquoeacutevolution des concepts de la doctrine

classique de droit constitutionnel dir Genoveva Vrabie Iasi Institut

Europeacuteen 2008

203

ANEXOS

DOCUMENTO I Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo de

1789205

204

DOCUMENTO II Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de

1948209

DOCUMENTO III Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de

1988218

DOCUMENTO IV Lei 114192006230

DOCUMENTO IVa APRESENTACcedilAtildeO242

DOCUMENTO IVb Voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio244

DOCUMENTO IVc Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada

Luiza Erundina 247

DOCUMENTO IVd Nota oficial de 1962002252

DOCUMENTO IVe Notiacutecia de 682002254

DOCUMENTO IVf Carta Aberta IJURIS 255

DOCUMENTO V Paacutegina do Tribunal Regional Federal 3ordf Regiatildeo257

DOCUMENTO I

DEacuteCLARATION DES DROITS DE LrsquoHOMME ET DU CITOYEN DE 1789

205

Les Repreacutesentants du Peuple Franccedilais constitueacutes en Assembleacutee nationale

consideacuterant que lrsquoignorance lrsquooubli ou le meacutepris des droits de lrsquohomme sont les

seules causes des malheurs publics et de la corruption des Gouvernements

ont reacutesolu drsquoexposer dans une Deacuteclaration solennelle les droits naturels

inalieacutenables et sacreacutes de lrsquohomme afin que cette Deacuteclaration constamment

preacutesente agrave tous les membres du corps social leur rappelle sans cesse leurs

droits et leurs devoirs afin que les actes du pouvoir leacutegislatif et ceux du

pouvoir exeacutecutif pouvant ecirctre agrave chaque instant compareacutes avec le but de toute

institution politique en soient plus respecteacutes afin que les reacuteclamations des

citoyens fondeacutees deacutesormais sur des principes simples et incontestables

tournent toujours au maintien de la Constitution et au bonheur de tous En

conseacutequence lrsquoAssembleacutee nationale reconnaicirct et deacuteclare en preacutesence et sous

les auspices de lrsquoEcirctre Suprecircme les droits suivants de lrsquohomme et du citoyen

Article premier

Les hommes naissent et demeurent libres et eacutegaux en droits Les distinctions

sociales ne peuvent ecirctre fondeacutees que sur lrsquoutiliteacute commune

Article II

Le but de toute association politique est la conservation des droits naturels et

imprescriptibles de lrsquohomme Ces droits sont la liberteacute la proprieacuteteacute la sucircreteacute et

la reacutesistance agrave lrsquooppression

Article III

Le principe de toute Souveraineteacute reacuteside essentiellement dans la Nation Nul

corps nul individu ne peut exercer drsquoautoriteacute qui nrsquoen eacutemane expresseacutement

Article IV

La liberteacute consiste agrave pouvoir faire tout ce qui ne nuit pas agrave autrui ainsi

lrsquoexercice des droits naturels de chaque homme nrsquoa de bornes que celles qui

assurent aux autres Membres de la Socieacuteteacute la jouissance de ces mecircmes droits

Ces bornes ne peuvent ecirctre deacutetermineacutees que par la Loi

206

Article V

La Loi nrsquoa le droit de deacutefendre que les actions nuisibles agrave la Socieacuteteacute Tout ce qui

nrsquoest pas deacutefendu par la Loi ne peut ecirctre empecirccheacute et nul ne peut ecirctre contraint

agrave faire ce qursquoelle nrsquoordonne pas

Article VI

La Loi est lrsquoexpression de la volonteacute geacuteneacuterale Tous les Citoyens ont droit de

concourir personnellement ou par leurs Repreacutesentants agrave sa formation Elle doit

ecirctre la mecircme pour tous soit qursquoelle protegravege soit qursquoelle punisse Tous les

Citoyens eacutetant eacutegaux agrave ses yeux sont eacutegalement admissibles agrave toutes digniteacutes

places et emplois publics selon leur capaciteacute et sans autre distinction que celle

de leurs vertus et de leurs talents

Article VII

Nul homme ne peut ecirctre accuseacute arrecircteacute ni deacutetenu que dans les cas deacutetermineacutes

par la Loi et selon les formes qursquoelle a prescrites Ceux qui sollicitent

expeacutedient exeacutecutent ou font exeacutecuter des ordres arbitraires doivent ecirctre punis

mais tout Citoyen appeleacute ou saisi en vertu de la Loi doit obeacuteir agrave lrsquoinstant il se

rend coupable par la reacutesistance

Article VIII

La Loi ne doit eacutetablir que des peines strictement et eacutevidemment neacutecessaires et

nul ne peut ecirctre puni qursquoen vertu drsquoune Loi eacutetablie et promulgueacutee

anteacuterieurement au deacutelit et leacutegalement appliqueacutee

Article IX

Tout homme eacutetant preacutesumeacute innocent jusqursquoagrave ce qursquoil ait eacuteteacute deacuteclareacute coupable

srsquoil est jugeacute indispensable de lrsquoarrecircter toute rigueur qui ne serait pas neacutecessaire

pour srsquoassurer de sa personne doit ecirctre seacutevegraverement reacuteprimeacutee par la Loi

Article X

207

Nul ne doit ecirctre inquieacuteteacute pour ses opinions mecircme religieuses pourvu que leur

manifestation ne trouble pas lrsquoordre public eacutetabli par la Loi

Article XI

La libre communication des penseacutees et des opinions est un des droits les plus

preacutecieux de lrsquoHomme tout Citoyen peut donc parler eacutecrire imprimer librement

sauf agrave reacutepondre de lrsquoabus de cette liberteacute dans les cas deacutetermineacutes par la Loi

Article XII

La garantie des droits de lrsquoHomme et du Citoyen neacutecessite une force publique

cette force est donc institueacutee pour lrsquoavantage de tous et non pour lrsquoutiliteacute

particuliegravere de ceux auxquels elle est confieacutee

Article XIII

Pour lrsquoentretien de la force publique et pour les deacutepenses drsquoadministration une

contribution commune est indispensable Elle doit ecirctre eacutegalement reacutepartie entre

tous les Citoyens en raison de leurs faculteacutes

Article XIV

Tous les Citoyens ont le droit de constater par eux-mecircmes ou par leurs

Repreacutesentants la neacutecessiteacute de la contribution publique de la consentir

librement drsquoen suivre lrsquoemploi et drsquoen deacuteterminer la quotiteacute lrsquoassiette le

recouvrement et la dureacutee

Article XV

La Socieacuteteacute a le droit de demander compte agrave tout Agent public de son

administration

Article XVI

Toute Socieacuteteacute dans laquelle la garantie des Droits nrsquoest pas assureacutee ni la

seacuteparation des Pouvoirs deacutetermineacutee nrsquoa point de Constitution

208

Article XVII

La proprieacuteteacute eacutetant un droit inviolable et sacreacute nul ne peut en ecirctre priveacute si ce

nrsquoest lorsque la neacutecessiteacute publique leacutegalement constateacutee lrsquoexige eacutevidemment

et sous la condition drsquoune juste et preacutealable indemniteacute

httpwwwassemblee-nationalefrhistoiredudh1789asp

DOCUMENTO II

LA DECLARATION UNIVERSELLE DES DROITS DE LrsquoHOMME 1948 - 2008

Preacuteambule

209

Consideacuterant que la reconnaissance de la digniteacute inheacuterente agrave tous les membres

de la famille humaine et de leurs droits eacutegaux et inalieacutenables constitue le

fondement de la liberteacute de la justice et de la paix dans le monde

Consideacuterant que la meacuteconnaissance et le meacutepris des droits de lhomme ont

conduit agrave des actes de barbarie qui reacutevoltent la conscience de lhumaniteacute et que

lavegravenement dun monde ougrave les ecirctres humains seront libres de parler et de

croire libeacutereacutes de la terreur et de la misegravere a eacuteteacute proclameacute comme la plus haute

aspiration de lhomme

Consideacuterant quil est essentiel que les droits de lhomme soient proteacutegeacutes par un

reacutegime de droit pour que lhomme ne soit pas contraint en suprecircme recours agrave

la reacutevolte contre la tyrannie et loppression

Consideacuterant quil est essentiel dencourager le deacuteveloppement de relations

amicales entre nations

Consideacuterant que dans la Charte les peuples des Nations Unies ont proclameacute agrave

nouveau leur foi dans les droits fondamentaux de lhomme dans la digniteacute et la

valeur de la personne humaine dans leacutegaliteacute des droits des hommes et des

femmes et quils se sont deacuteclareacutes reacutesolus agrave favoriser le progregraves social et agrave

instaurer de meilleures conditions de vie dans une liberteacute plus grande

Consideacuterant que les Etats Membres se sont engageacutes agrave assurer en coopeacuteration

avec lOrganisation des Nations Unies le respect universel et effectif des droits

de lhomme et des liberteacutes fondamentales

Consideacuterant quune conception commune de ces droits et liberteacutes est de la plus

haute importance pour remplir pleinement cet engagement

LAssembleacutee Geacuteneacuterale proclame la preacutesente Deacuteclaration universelle des

droits de lhomme comme lideacuteal commun agrave atteindre par tous les peuples et

toutes les nations afin que tous les individus et tous les organes de la socieacuteteacute

ayant cette Deacuteclaration constamment agrave lesprit sefforcent par lenseignement

et leacuteducation de deacutevelopper le respect de ces droits et liberteacutes et den assurer

210

par des mesures progressives dordre national et international la

reconnaissance et lapplication universelles et effectives tant parmi les

populations des Etats Membres eux-mecircmes que parmi celles des territoires

placeacutes sous leur juridiction

Article premier

Tous les ecirctres humains naissent libres et eacutegaux en digniteacute et en droits Ils sont

doueacutes de raison et de conscience et doivent agir les uns envers les autres dans

un esprit de fraterniteacute

Article 2

1Chacun peut se preacutevaloir de tous les droits et de toutes les liberteacutes proclameacutes

dans la preacutesente Deacuteclaration sans distinction aucune notamment de race de

couleur de sexe de langue de religion dopinion politique ou de toute autre

opinion dorigine nationale ou sociale de fortune de naissance ou de toute

autre situation

2De plus il ne sera fait aucune distinction fondeacutee sur le statut politique

juridique ou international du pays ou du territoire dont une personne est

ressortissante que ce pays ou territoire soit indeacutependant sous tutelle non

autonome ou soumis agrave une limitation quelconque de souveraineteacute

Article 3

Tout individu a droit agrave la vie agrave la liberteacute et agrave la sucircreteacute de sa personne

Article 4

Nul ne sera tenu en esclavage ni en servitude lesclavage et la traite des

esclaves sont interdits sous toutes leurs formes

Article 5

211

Nul ne sera soumis agrave la torture ni agrave des peines ou traitements cruels

inhumains ou deacutegradants

Article 6

Chacun a le droit agrave la reconnaissance en tous lieux de sa personnaliteacute juridique

Article 7

Tous sont eacutegaux devant la loi et ont droit sans distinction agrave une eacutegale protection

de la loi Tous ont droit agrave une protection eacutegale contre toute discrimination qui

violerait la preacutesente Deacuteclaration et contre toute provocation agrave une telle

discrimination

Article 8

Toute personne a droit agrave un recours effectif devant les juridictions nationales

compeacutetentes contre les actes violant les droits fondamentaux qui lui sont

reconnus par la constitution ou par la loi

Article 9

Nul ne peut ecirctre arbitrairement arrecircteacute deacutetenu ou exileacute

Article 10

Toute personne a droit en pleine eacutegaliteacute agrave ce que sa cause soit entendue

eacutequitablement et publiquement par un tribunal indeacutependant et impartial qui

deacutecidera soit de ses droits et obligations soit du bien-fondeacute de toute

accusation en matiegravere peacutenale dirigeacutee contre elle

Article 11

212

1 Toute personne accuseacutee dun acte deacutelictueux est preacutesumeacutee innocente

jusquagrave ce que sa culpabiliteacute ait eacuteteacute leacutegalement eacutetablie au cours dun procegraves

public ougrave toutes les garanties neacutecessaires agrave sa deacutefense lui auront eacuteteacute assureacutees

2 Nul ne sera condamneacute pour des actions ou omissions qui au moment ougrave

elles ont eacuteteacute commises ne constituaient pas un acte deacutelictueux dapregraves le droit

national ou international De mecircme il ne sera infligeacute aucune peine plus forte

que celle qui eacutetait applicable au moment ougrave lacte deacutelictueux a eacuteteacute commis

Article 12

Nul ne sera lobjet dimmixtions arbitraires dans sa vie priveacutee sa famille son

domicile ou sa correspondance ni datteintes agrave son honneur et agrave sa reacuteputation

Toute personne a droit agrave la protection de la loi contre de telles immixtions ou de

telles atteintes

Article 13

1 Toute personne a le droit de circuler librement et de choisir sa reacutesidence

agrave linteacuterieur dun Etat

2 Toute personne a le droit de quitter tout pays y compris le sien et de

revenir dans son pays

Article 14

1 Devant la perseacutecution toute personne a le droit de chercher asile et de

beacuteneacuteficier de lasile en dautres pays

2 Ce droit ne peut ecirctre invoqueacute dans le cas de poursuites reacuteellement

fondeacutees sur un crime de droit commun ou sur des agissements

contraires aux buts et aux principes des Nations Unies

Article 15

1 Tout individu a droit agrave une nationaliteacute

213

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa nationaliteacute ni du droit de

changer de nationaliteacute

Article 16

1 A partir de lacircge nubile lhomme et la femme sans aucune restriction

quant agrave la race la nationaliteacute ou la religion ont le droit de se marier et de

fonder une famille Ils ont des droits eacutegaux au regard du mariage durant

le mariage et lors de sa dissolution

2 Le mariage ne peut ecirctre conclu quavec le libre et plein consentement

des futurs eacutepoux

3 La famille est leacuteleacutement naturel et fondamental de la socieacuteteacute et a droit agrave la

protection de la socieacuteteacute et de lEtat

Article 17

1 Toute personne aussi bien seule quen collectiviteacute a droit agrave la proprieacuteteacute

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa proprieacuteteacute

Article 18

Toute personne a droit agrave la liberteacute de penseacutee de conscience et de religion ce

droit implique la liberteacute de changer de religion ou de conviction ainsi que la

liberteacute de manifester sa religion ou sa conviction seule ou en commun tant en

public quen priveacute par lenseignement les pratiques le culte et

laccomplissement des rites

Article 19

Tout individu a droit agrave la liberteacute dopinion et dexpression ce qui implique le droit

de ne pas ecirctre inquieacuteteacute pour ses opinions et celui de chercher de recevoir et de

reacutepandre sans consideacuterations de frontiegraveres les informations et les ideacutees par

quelque moyen dexpression que ce soit

214

Article 20

1 Toute personne a droit agrave la liberteacute de reacuteunion et dassociation pacifiques

2 Nul ne peut ecirctre obligeacute de faire partie dune association

Article 21

1 Toute personne a le droit de prendre part agrave la direction des affaires

publiques de son pays soit directement soit par lintermeacutediaire de

repreacutesentants librement choisis

2 Toute personne a droit agrave acceacuteder dans des conditions deacutegaliteacute aux

fonctions publiques de son pays

3 La volonteacute du peuple est le fondement de lautoriteacute des pouvoirs publics

cette volonteacute doit sexprimer par des eacutelections honnecirctes qui doivent avoir

lieu peacuteriodiquement au suffrage universel eacutegal et au vote secret ou

suivant une proceacutedure eacutequivalente assurant la liberteacute du vote

Article 22

Toute personne en tant que membre de la socieacuteteacute a droit agrave la seacutecuriteacute sociale

elle est fondeacutee agrave obtenir la satisfaction des droits eacuteconomiques sociaux et

culturels indispensables agrave sa digniteacute et au libre deacuteveloppement de sa

personnaliteacute gracircce agrave leffort national et agrave la coopeacuteration internationale compte

tenu de lorganisation et des ressources de chaque pays

Article 23

1 Toute personne a droit au travail au libre choix de son travail agrave des

conditions eacutequitables et satisfaisantes de travail et agrave la protection contre le

chocircmage

2 Tous ont droit sans aucune discrimination agrave un salaire eacutegal pour un travail

eacutegal

3 Quiconque travaille a droit agrave une reacutemuneacuteration eacutequitable et satisfaisante lui

assurant ainsi quagrave sa famille une existence conforme agrave la digniteacute humaine et

215

compleacuteteacutee sil y a lieu par tous autres moyens de protection sociale

4 Toute personne a le droit de fonder avec dautres des syndicats et de saffilier

agrave des syndicats pour la deacutefense de ses inteacuterecircts

Article 24

Toute personne a droit au repos et aux loisirs et notamment agrave une limitation

raisonnable de la dureacutee du travail et agrave des congeacutes payeacutes peacuteriodiques

Article 25

1 Toute personne a droit agrave un niveau de vie suffisant pour assurer sa

santeacute son bien-ecirctre et ceux de sa famille notamment pour lalimentation

lhabillement le logement les soins meacutedicaux ainsi que pour les services

sociaux neacutecessaires elle a droit agrave la seacutecuriteacute en cas de chocircmage de

maladie dinvaliditeacute de veuvage de vieillesse ou dans les autres cas de

perte de ses moyens de subsistance par suite de circonstances

indeacutependantes de sa volonteacute

2 La materniteacute et lenfance ont droit agrave une aide et agrave une assistance

speacuteciales Tous les enfants quils soient neacutes dans le mariage ou hors

mariage jouissent de la mecircme protection sociale

Article 26

1 Toute personne a droit agrave leacuteducation Leacuteducation doit ecirctre gratuite au

moins en ce qui concerne lenseignement eacuteleacutementaire et fondamental

Lenseignement eacuteleacutementaire est obligatoire Lenseignement technique et

professionnel doit ecirctre geacuteneacuteraliseacute laccegraves aux eacutetudes supeacuterieures doit

ecirctre ouvert en pleine eacutegaliteacute agrave tous en fonction de leur meacuterite

216

2 Leacuteducation doit viser au plein eacutepanouissement de la personnaliteacute

humaine et au renforcement du respect des droits de lhomme et des

liberteacutes fondamentales Elle doit favoriser la compreacutehension la toleacuterance

et lamitieacute entre toutes les nations et tous les groupes raciaux ou

religieux ainsi que le deacuteveloppement des activiteacutes des Nations Unies

pour le maintien de la paix

3 Les parents ont par prioriteacute le droit de choisir le genre deacuteducation agrave

donner agrave leurs enfants

Article 27

1 Toute personne a le droit de prendre part librement agrave la vie culturelle de

la communauteacute de jouir des arts et de participer au progregraves scientifique

et aux bienfaits qui en reacutesultent

2 Chacun a droit agrave la protection des inteacuterecircts moraux et mateacuteriels deacutecoulant

de toute production scientifique litteacuteraire ou artistique dont il est lauteur

Article 28

Toute personne a droit agrave ce que regravegne sur le plan social et sur le plan

international un ordre tel que les droits et liberteacutes eacutenonceacutes dans la preacutesente

Deacuteclaration puissent y trouver plein effet

Article 29

1 Lindividu a des devoirs envers la communauteacute dans laquelle seule le

libre et plein deacuteveloppement de sa personnaliteacute est possible

2 Dans lexercice de ses droits et dans la jouissance de ses liberteacutes

chacun nest soumis quaux limitations eacutetablies par la loi exclusivement

en vue dassurer la reconnaissance et le respect des droits et liberteacutes

dautrui et afin de satisfaire aux justes exigences de la morale de lordre

public et du bien-ecirctre geacuteneacuteral dans une socieacuteteacute deacutemocratique

3 Ces droits et liberteacutes ne pourront en aucun cas sexercer contrairement

aux buts et aux principes des Nations Unies

217

Article 30

Aucune disposition de la preacutesente Deacuteclaration ne peut ecirctre interpreacuteteacutee comme

impliquant pour un Etat un groupement ou un individu un droit quelconque de

se livrer agrave une activiteacute ou daccomplir un acte visant agrave la destruction des droits

et liberteacutes qui y sont eacutenonceacutes

DOCUMENTO III

218

Presidecircncia da Repuacuteblica

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Juriacutedicos

CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

PREAcircMBULO

Noacutes representantes do povo brasileiro reunidos em Assembleia Nacional

Constituinte para instituir um Estado Democraacutetico destinado a assegurar o

exerciacutecio dos direitos sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-

estar o desenvolvimento a igualdade e a justiccedila como valores supremos de

uma sociedade fraterna pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia

social e comprometida na ordem interna e internacional com a soluccedilatildeo

paciacutefica das controveacutersias promulgamos sob a proteccedilatildeo de Deus a seguinte

CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

TIacuteTULO I

Dos Princiacutepios Fundamentais

Art 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos

Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico

de Direito e tem como fundamentos

I - a soberania

II - a cidadania

III - a dignidade da pessoa humana

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

219

Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o

Legislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

Art 3ordm Constituem objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa do Brasil

I - construir uma sociedade livre justa e solidaacuteria

II - garantir o desenvolvimento nacional

III - erradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir as desigualdades

sociais e regionais

IV - promover o bem de todos sem preconceitos de origem raccedila sexo cor

idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeo

Art 4ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees

internacionais pelos seguintes princiacutepios

I - independecircncia nacional

II - prevalecircncia dos direitos humanos

III - autodeterminaccedilatildeo dos povos

IV - natildeo-intervenccedilatildeo

V - igualdade entre os Estados

VI - defesa da paz

VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos

VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo

IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade

X - concessatildeo de asilo poliacutetico

220

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo

econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave

formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

TIacuteTULO II

Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPIacuteTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos desta

Constituiccedilatildeo

II - ningueacutem seraacute obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senatildeo em

virtude de lei

ltP

III - ningueacutem seraacute submetido a tortura nem a tratamento desumano ou

degradante

IV - eacute livre a manifestaccedilatildeo do pensamento sendo vedado o anonimato

V - eacute assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo aleacutem da

indenizaccedilatildeo por dano material moral ou agrave imagem

221

VI - eacute inviolaacutevel a liberdade de consciecircncia e de crenccedila sendo assegurado o

livre exerciacutecio dos cultos religiosos e garantida na forma da lei a proteccedilatildeo aos

locais de culto e a suas liturgias

VII - eacute assegurada nos termos da lei a prestaccedilatildeo de assistecircncia religiosa

nas entidades civis e militares de internaccedilatildeo coletiva

VIII - ningueacutem seraacute privado de direitos por motivo de crenccedila religiosa ou de

convicccedilatildeo filosoacutefica ou poliacutetica salvo se as invocar para eximir-se de obrigaccedilatildeo

legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestaccedilatildeo alternativa fixada em

lei

IX - eacute livre a expressatildeo da atividade intelectual artiacutestica cientiacutefica e de

comunicaccedilatildeo independentemente de censura ou licenccedila

X - satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das

pessoas assegurado o direito a indenizaccedilatildeo pelo dano material ou moral

decorrente de sua violaccedilatildeo

XI - a casa eacute asilo inviolaacutevel do indiviacuteduo ningueacutem nela podendo penetrar

sem consentimento do morador salvo em caso de flagrante delito ou desastre

ou para prestar socorro ou durante o dia por determinaccedilatildeo judicial

XII - eacute inviolaacutevel o sigilo da correspondecircncia e das comunicaccedilotildees

telegraacuteficas de dados e das comunicaccedilotildees telefocircnicas salvo no uacuteltimo caso

por ordem judicial nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de

investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo processual penal (Vide Lei nordm 9296 de

1996)

XIII - eacute livre o exerciacutecio de qualquer trabalho ofiacutecio ou profissatildeo atendidas

as qualificaccedilotildees profissionais que a lei estabelecer

XIV - eacute assegurado a todos o acesso agrave informaccedilatildeo e resguardado o sigilo da

fonte quando necessaacuterio ao exerciacutecio profissional

222

XV - eacute livre a locomoccedilatildeo no territoacuterio nacional em tempo de paz podendo

qualquer pessoa nos termos da lei nele entrar permanecer ou dele sair com

seus bens

XVI - todos podem reunir-se pacificamente sem armas em locais abertos

ao puacuteblico independentemente de autorizaccedilatildeo desde que natildeo frustrem outra

reuniatildeo anteriormente convocada para o mesmo local sendo apenas exigido

preacutevio aviso agrave autoridade competente

XVII - eacute plena a liberdade de associaccedilatildeo para fins liacutecitos vedada a de

caraacuteter paramilitar

XVIII - a criaccedilatildeo de associaccedilotildees e na forma da lei a de cooperativas

independem de autorizaccedilatildeo sendo vedada a interferecircncia estatal em seu

funcionamento

XIX - as associaccedilotildees soacute poderatildeo ser compulsoriamente dissolvidas ou ter

suas atividades suspensas por decisatildeo judicial exigindo-se no primeiro caso

o tracircnsito em julgado

XX - ningueacutem poderaacute ser compelido a associar-se ou a permanecer

associado

XXI - as entidades associativas quando expressamente autorizadas tecircm

legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social

XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e

preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvados os casos previstos nesta

Constituiccedilatildeo

223

XXV - no caso de iminente perigo puacuteblico a autoridade competente poderaacute

usar de propriedade particular assegurada ao proprietaacuterio indenizaccedilatildeo ulterior

se houver dano

XXVI - a pequena propriedade rural assim definida em lei desde que

trabalhada pela famiacutelia natildeo seraacute objeto de penhora para pagamento de deacutebitos

decorrentes de sua atividade produtiva dispondo a lei sobre os meios de

financiar o seu desenvolvimento

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilizaccedilatildeo publicaccedilatildeo ou

reproduccedilatildeo de suas obras transmissiacutevel aos herdeiros pelo tempo que a lei

fixar

XXVIII - satildeo assegurados nos termos da lei

a) a proteccedilatildeo agraves participaccedilotildees individuais em obras coletivas e agrave reproduccedilatildeo

da imagem e voz humanas inclusive nas atividades desportivas

b) o direito de fiscalizaccedilatildeo do aproveitamento econocircmico das obras que

criarem ou de que participarem aos criadores aos inteacuterpretes e agraves respectivas

representaccedilotildees sindicais e associativas

XXIX - a lei asseguraraacute aos autores de inventos industriais privileacutegio

temporaacuterio para sua utilizaccedilatildeo bem como proteccedilatildeo agraves criaccedilotildees industriais agrave

propriedade das marcas aos nomes de empresas e a outros signos distintivos

tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnoloacutegico e econocircmico

do Paiacutes

XXX - eacute garantido o direito de heranccedila

XXXI - a sucessatildeo de bens de estrangeiros situados no Paiacutes seraacute regulada

pela lei brasileira em benefiacutecio do cocircnjuge ou dos filhos brasileiros sempre que

natildeo lhes seja mais favoraacutevel a lei pessoal do de cujus

XXXII - o Estado promoveraacute na forma da lei a defesa do consumidor

224

XXXIII - todos tecircm direito a receber dos oacutergatildeos puacuteblicos informaccedilotildees de seu

interesse particular ou de interesse coletivo ou geral que seratildeo prestadas no

prazo da lei sob pena de responsabilidade ressalvadas aquelas cujo sigilo

seja imprescindiacutevel agrave seguranccedila da sociedade e do Estado (Regulamento)

XXXIV - satildeo a todos assegurados independentemente do pagamento de

taxas

a) o direito de peticcedilatildeo aos Poderes Puacuteblicos em defesa de direitos ou contra

ilegalidade ou abuso de poder

b) a obtenccedilatildeo de certidotildees em reparticcedilotildees puacuteblicas para defesa de direitos

e esclarecimento de situaccedilotildees de interesse pessoal

XXXV - a lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou

ameaccedila a direito

XXXVI - a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a

coisa julgada

XXXVII - natildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeo

XXXVIII - eacute reconhecida a instituiccedilatildeo do juacuteri com a organizaccedilatildeo que lhe der

a lei assegurados

a) a plenitude de defesa

b) o sigilo das votaccedilotildees

c) a soberania dos veredictos

d) a competecircncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida

XXXIX - natildeo haacute crime sem lei anterior que o defina nem pena sem preacutevia

cominaccedilatildeo legal

XL - a lei penal natildeo retroagiraacute salvo para beneficiar o reacuteu

225

XLI - a lei puniraacute qualquer discriminaccedilatildeo atentatoacuteria dos direitos e liberdades

fundamentais

XLII - a praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel

sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da lei

XLIII - a lei consideraraacute crimes inafianccedilaacuteveis e insuscetiacuteveis de graccedila ou

anistia a praacutetica da tortura o traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins o

terrorismo e os definidos como crimes hediondos por eles respondendo os

mandantes os executores e os que podendo evitaacute-los se omitirem

XLIV - constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel a accedilatildeo de grupos

armados civis ou militares contra a ordem constitucional e o Estado

Democraacutetico

XLV - nenhuma pena passaraacute da pessoa do condenado podendo a

obrigaccedilatildeo de reparar o dano e a decretaccedilatildeo do perdimento de bens ser nos

termos da lei estendidas aos sucessores e contra eles executadas ateacute o limite

do valor do patrimocircnio transferido

XLVI - a lei regularaacute a individualizaccedilatildeo da pena e adotaraacute entre outras as

seguintes

a) privaccedilatildeo ou restriccedilatildeo da liberdade

b) perda de bens

c) multa

d) prestaccedilatildeo social alternativa

e) suspensatildeo ou interdiccedilatildeo de direitos

XLVII - natildeo haveraacute penas

a) de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art 84 XIX

226

b) de caraacuteter perpeacutetuo

c) de trabalhos forccedilados

d) de banimento

e) crueacuteis

XLVIII - a pena seraacute cumprida em estabelecimentos distintos de acordo com

a natureza do delito a idade e o sexo do apenado

XLIX - eacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade fiacutesica e moral

L - agraves presidiaacuterias seratildeo asseguradas condiccedilotildees para que possam

permanecer com seus filhos durante o periacuteodo de amamentaccedilatildeo

LI - nenhum brasileiro seraacute extraditado salvo o naturalizado em caso de

crime comum praticado antes da naturalizaccedilatildeo ou de comprovado

envolvimento em traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins na forma da lei

LII - natildeo seraacute concedida extradiccedilatildeo de estrangeiro por crime poliacutetico ou de

opiniatildeo

LIII - ningueacutem seraacute processado nem sentenciado senatildeo pela autoridade

competente

LIV - ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido

processo legal

LV - aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados

em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e

recursos a ela inerentes

LVI - satildeo inadmissiacuteveis no processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

LVII - ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de

sentenccedila penal condenatoacuteria

227

LVIII - o civilmente identificado natildeo seraacute submetido a identificaccedilatildeo criminal

salvo nas hipoacuteteses previstas em lei (Regulamento)

LIX - seraacute admitida accedilatildeo privada nos crimes de accedilatildeo puacuteblica se esta natildeo for

intentada no prazo legal

LX - a lei soacute poderaacute restringir a publicidade dos atos processuais quando a

defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem

LXI - ningueacutem seraacute preso senatildeo em flagrante delito ou por ordem escrita e

fundamentada de autoridade judiciaacuteria competente salvo nos casos de

transgressatildeo militar ou crime propriamente militar definidos em lei

LXII - a prisatildeo de qualquer pessoa e o local onde se encontre seratildeo

comunicados imediatamente ao juiz competente e agrave famiacutelia do preso ou agrave

pessoa por ele indicada

LXIII - o preso seraacute informado de seus direitos entre os quais o de

permanecer calado sendo-lhe assegurada a assistecircncia da famiacutelia e de

advogado

LXIV - o preso tem direito agrave identificaccedilatildeo dos responsaacuteveis por sua prisatildeo ou

por seu interrogatoacuterio policial

LXV - a prisatildeo ilegal seraacute imediatamente relaxada pela autoridade judiciaacuteria

LXVI - ningueacutem seraacute levado agrave prisatildeo ou nela mantido quando a lei admitir a

liberdade provisoacuteria com ou sem fianccedila

LXVII - natildeo haveraacute prisatildeo civil por diacutevida salvo a do responsaacutevel pelo

inadimplemento voluntaacuterio e inescusaacutevel de obrigaccedilatildeo alimentiacutecia e a do

depositaacuterio infiel

LXVIII - conceder-se-aacute habeas-corpus sempre que algueacutem sofrer ou se

achar ameaccedilado de sofrer violecircncia ou coaccedilatildeo em sua liberdade de

locomoccedilatildeo por ilegalidade ou abuso de poder

228

LXIX - conceder-se-aacute mandado de seguranccedila para proteger direito liacutequido e

certo natildeo amparado por habeas-corpus ou habeas-data quando o

responsaacutevel pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade puacuteblica ou

agente de pessoa juriacutedica no exerciacutecio de atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico

LXX - o mandado de seguranccedila coletivo pode ser impetrado por

a) partido poliacutetico com representaccedilatildeo no Congresso Nacional

b) organizaccedilatildeo sindical entidade de classe ou associaccedilatildeo legalmente

constituiacuteda e em funcionamento haacute pelo menos um ano em defesa dos

interesses de seus membros ou associados

LXXI - conceder-se-aacute mandado de injunccedilatildeo sempre que a falta de norma

regulamentadora torne inviaacutevel o exerciacutecio dos direitos e liberdades

constitucionais e das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade agrave soberania e agrave

cidadania

LXXII - conceder-se-aacute habeas-data

a) para assegurar o conhecimento de informaccedilotildees relativas agrave pessoa do

impetrante constantes de registros ou bancos de dados de entidades

governamentais ou de caraacuteter puacuteblico

b) para a retificaccedilatildeo de dados quando natildeo se prefira fazecirc-lo por processo

sigiloso judicial ou administrativo

LXXIII - qualquer cidadatildeo eacute parte legiacutetima para propor accedilatildeo popular que vise

a anular ato lesivo ao patrimocircnio puacuteblico ou de entidade de que o Estado

participe agrave moralidade administrativa ao meio ambiente e ao patrimocircnio

histoacuterico e cultural ficando o autor salvo comprovada maacute-feacute isento de custas

judiciais e do ocircnus da sucumbecircncia

LXXIV - o Estado prestaraacute assistecircncia juriacutedica integral e gratuita aos que

comprovarem insuficiecircncia de recursos

229

LXXV - o Estado indenizaraacute o condenado por erro judiciaacuterio assim como o

que ficar preso aleacutem do tempo fixado na sentenccedila

LXXVI - satildeo gratuitos para os reconhecidamente pobres na forma da lei

a) o registro civil de nascimento

b) a certidatildeo de oacutebito

LXXVII - satildeo gratuitas as accedilotildees de habeas-corpus e habeas-data e na

forma da lei os atos necessaacuterios ao exerciacutecio da cidadania

LXXVIII a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a

razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeridade de sua

tramitaccedilatildeo (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45 de 2004)

sect 1ordm - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tecircm

aplicaccedilatildeo imediata

sect 2ordm - Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem

outros decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos

tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parte

sect 3ordm Os tratados e convenccedilotildees internacionais sobre direitos humanos que

forem aprovados em cada Casa do Congresso Nacional em dois turnos por

trecircs quintos dos votos dos respectivos membros seratildeo equivalentes agraves

emendas constitucionais (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45 de 2004)

(Atos aprovados na forma deste paraacutegrafo)

sect 4ordm O Brasil se submete agrave jurisdiccedilatildeo de Tribunal Penal Internacional a cuja

criaccedilatildeo tenha manifestado adesatildeo (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45

de 2004)

230

DOCUMENTO IV

Presidecircncia da Repuacuteblica

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Juriacutedicos

LEI Nordm 11419 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006

Mensagem de veto

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do

processo judicial altera a Lei no 5869

de 11 de janeiro de 1973 ndash Coacutedigo de

Processo Civil e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

DA INFORMATIZACcedilAtildeO DO PROCESSO JUDICIAL

Art 1o O uso de meio eletrocircnico na tramitaccedilatildeo de processos judiciais

comunicaccedilatildeo de atos e transmissatildeo de peccedilas processuais seraacute admitido nos

termos desta Lei

sect 1o Aplica-se o disposto nesta Lei indistintamente aos processos civil

penal e trabalhista bem como aos juizados especiais em qualquer grau de

jurisdiccedilatildeo

sect 2o Para o disposto nesta Lei considera-se

I - meio eletrocircnico qualquer forma de armazenamento ou traacutefego de

documentos e arquivos digitais

231

II - transmissatildeo eletrocircnica toda forma de comunicaccedilatildeo a distacircncia com a

utilizaccedilatildeo de redes de comunicaccedilatildeo preferencialmente a rede mundial de

computadores

III - assinatura eletrocircnica as seguintes formas de identificaccedilatildeo inequiacutevoca

do signataacuterio

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade

Certificadora credenciada na forma de lei especiacutefica

b) mediante cadastro de usuaacuterio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado

pelos oacutergatildeos respectivos

Art 2o O envio de peticcedilotildees de recursos e a praacutetica de atos processuais

em geral por meio eletrocircnico seratildeo admitidos mediante uso de assinatura

eletrocircnica na forma do art 1o desta Lei sendo obrigatoacuterio o credenciamento

preacutevio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

sect 1o O credenciamento no Poder Judiciaacuterio seraacute realizado mediante

procedimento no qual esteja assegurada a adequada identificaccedilatildeo presencial

do interessado

sect 2o Ao credenciado seraacute atribuiacutedo registro e meio de acesso ao sistema

de modo a preservar o sigilo a identificaccedilatildeo e a autenticidade de suas

comunicaccedilotildees

sect 3o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo criar um cadastro uacutenico para o

credenciamento previsto neste artigo

Art 3o Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrocircnico

no dia e hora do seu envio ao sistema do Poder Judiciaacuterio do que deveraacute ser

fornecido protocolo eletrocircnico

Paraacutegrafo uacutenico Quando a peticcedilatildeo eletrocircnica for enviada para atender

prazo processual seratildeo consideradas tempestivas as transmitidas ateacute as 24

(vinte e quatro) horas do seu uacuteltimo dia

232

CAPIacuteTULO II

DA COMUNICACcedilAtildeO ELETROcircNICA DOS ATOS PROCESSUAIS

Art 4o Os tribunais poderatildeo criar Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

disponibilizado em siacutetio da rede mundial de computadores para publicaccedilatildeo de

atos judiciais e administrativos proacuteprios e dos oacutergatildeos a eles subordinados bem

como comunicaccedilotildees em geral

sect 1o O siacutetio e o conteuacutedo das publicaccedilotildees de que trata este artigo deveratildeo

ser assinados digitalmente com base em certificado emitido por Autoridade

Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica

sect 2o A publicaccedilatildeo eletrocircnica na forma deste artigo substitui qualquer outro

meio e publicaccedilatildeo oficial para quaisquer efeitos legais agrave exceccedilatildeo dos casos

que por lei exigem intimaccedilatildeo ou vista pessoal

sect 3o Considera-se como data da publicaccedilatildeo o primeiro dia uacutetil seguinte ao

da disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo no Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

sect 4o Os prazos processuais teratildeo iniacutecio no primeiro dia uacutetil que seguir ao

considerado como data da publicaccedilatildeo

sect 5o A criaccedilatildeo do Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico deveraacute ser acompanhada de

ampla divulgaccedilatildeo e o ato administrativo correspondente seraacute publicado

durante 30 (trinta) dias no diaacuterio oficial em uso

Art 5o As intimaccedilotildees seratildeo feitas por meio eletrocircnico em portal proacuteprio aos

que se cadastrarem na forma do art 2o desta Lei dispensando-se a publicaccedilatildeo

no oacutergatildeo oficial inclusive eletrocircnico

sect 1o Considerar-se-aacute realizada a intimaccedilatildeo no dia em que o intimando

efetivar a consulta eletrocircnica ao teor da intimaccedilatildeo certificando-se nos autos a

sua realizaccedilatildeo

233

sect 2o Na hipoacutetese do sect 1o deste artigo nos casos em que a consulta se decirc

em dia natildeo uacutetil a intimaccedilatildeo seraacute considerada como realizada no primeiro dia

uacutetil seguinte

sect 3o A consulta referida nos sectsect 1o e 2o deste artigo deveraacute ser feita em ateacute

10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimaccedilatildeo sob pena de

considerar-se a intimaccedilatildeo automaticamente realizada na data do teacutermino desse

prazo

sect 4o Em caraacuteter informativo poderaacute ser efetivada remessa de

correspondecircncia eletrocircnica comunicando o envio da intimaccedilatildeo e a abertura

automaacutetica do prazo processual nos termos do sect 3o deste artigo aos que

manifestarem interesse por esse serviccedilo

sect 5o Nos casos urgentes em que a intimaccedilatildeo feita na forma deste artigo

possa causar prejuiacutezo a quaisquer das partes ou nos casos em que for

evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema o ato processual deveraacute

ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade conforme determinado

pelo juiz

sect 6o As intimaccedilotildees feitas na forma deste artigo inclusive da Fazenda

Puacuteblica seratildeo consideradas pessoais para todos os efeitos legais

Art 6o Observadas as formas e as cautelas do art 5o desta Lei as

citaccedilotildees inclusive da Fazenda Puacuteblica excetuadas as dos Direitos

Processuais Criminal e Infracional poderatildeo ser feitas por meio eletrocircnico

desde que a iacutentegra dos autos seja acessiacutevel ao citando

Art 7o As cartas precatoacuterias rogatoacuterias de ordem e de um modo geral

todas as comunicaccedilotildees oficiais que transitem entre oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio

bem como entre os deste e os dos demais Poderes seratildeo feitas

preferentemente por meio eletrocircnico

CAPIacuteTULO III

234

DO PROCESSO ELETROcircNICO

Art 8o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo desenvolver sistemas

eletrocircnicos de processamento de accedilotildees judiciais por meio de autos total ou

parcialmente digitais utilizando preferencialmente a rede mundial de

computadores e acesso por meio de redes internas e externas

Paraacutegrafo uacutenico Todos os atos processuais do processo eletrocircnico seratildeo

assinados eletronicamente na forma estabelecida nesta Lei

Art 9o No processo eletrocircnico todas as citaccedilotildees intimaccedilotildees e

notificaccedilotildees inclusive da Fazenda Puacuteblica seratildeo feitas por meio eletrocircnico na

forma desta Lei

sect 1o As citaccedilotildees intimaccedilotildees notificaccedilotildees e remessas que viabilizem o

acesso agrave iacutentegra do processo correspondente seratildeo consideradas vista pessoal

do interessado para todos os efeitos legais

sect 2o Quando por motivo teacutecnico for inviaacutevel o uso do meio eletrocircnico para

a realizaccedilatildeo de citaccedilatildeo intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo esses atos processuais

poderatildeo ser praticados segundo as regras ordinaacuterias digitalizando-se o

documento fiacutesico que deveraacute ser posteriormente destruiacutedo

Art 10 A distribuiccedilatildeo da peticcedilatildeo inicial e a juntada da contestaccedilatildeo dos

recursos e das peticcedilotildees em geral todos em formato digital nos autos de

processo eletrocircnico podem ser feitas diretamente pelos advogados puacuteblicos e

privados sem necessidade da intervenccedilatildeo do cartoacuterio ou secretaria judicial

situaccedilatildeo em que a autuaccedilatildeo deveraacute se dar de forma automaacutetica fornecendo-se

recibo eletrocircnico de protocolo

sect 1o Quando o ato processual tiver que ser praticado em determinado

prazo por meio de peticcedilatildeo eletrocircnica seratildeo considerados tempestivos os

efetivados ateacute as 24 (vinte e quatro) horas do uacuteltimo dia

235

sect 2o No caso do sect 1o deste artigo se o Sistema do Poder Judiciaacuterio se

tornar indisponiacutevel por motivo teacutecnico o prazo fica automaticamente prorrogado

para o primeiro dia uacutetil seguinte agrave resoluccedilatildeo do problema

sect 3o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio deveratildeo manter equipamentos de

digitalizaccedilatildeo e de acesso agrave rede mundial de computadores agrave disposiccedilatildeo dos

interessados para distribuiccedilatildeo de peccedilas processuais

Art 11 Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos

processos eletrocircnicos com garantia da origem e de seu signataacuterio na forma

estabelecida nesta Lei seratildeo considerados originais para todos os efeitos

legais

sect 1o Os extratos digitais e os documentos digitalizados e juntados aos

autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila e seus auxiliares pelo Ministeacuterio Puacuteblico e seus

auxiliares pelas procuradorias pelas autoridades policiais pelas reparticcedilotildees

puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos e privados tecircm a mesma forccedila

probante dos originais ressalvada a alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de

adulteraccedilatildeo antes ou durante o processo de digitalizaccedilatildeo

sect 2o A arguumliccedilatildeo de falsidade do documento original seraacute processada

eletronicamente na forma da lei processual em vigor

sect 3o Os originais dos documentos digitalizados mencionados no sect 2o

deste artigo deveratildeo ser preservados pelo seu detentor ateacute o tracircnsito em

julgado da sentenccedila ou quando admitida ateacute o final do prazo para interposiccedilatildeo

de accedilatildeo rescisoacuteria

sect 4o (VETADO)

sect 5o Os documentos cuja digitalizaccedilatildeo seja tecnicamente inviaacutevel devido

ao grande volume ou por motivo de ilegibilidade deveratildeo ser apresentados ao

cartoacuterio ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias contados do envio de peticcedilatildeo

eletrocircnica comunicando o fato os quais seratildeo devolvidos agrave parte apoacutes o

tracircnsito em julgado

236

sect 6o Os documentos digitalizados juntados em processo eletrocircnico

somente estaratildeo disponiacuteveis para acesso por meio da rede externa para suas

respectivas partes processuais e para o Ministeacuterio Puacuteblico respeitado o

disposto em lei para as situaccedilotildees de sigilo e de segredo de justiccedila

Art 12 A conservaccedilatildeo dos autos do processo poderaacute ser efetuada total ou

parcialmente por meio eletrocircnico

sect 1o Os autos dos processos eletrocircnicos deveratildeo ser protegidos por meio

de sistemas de seguranccedila de acesso e armazenados em meio que garanta a

preservaccedilatildeo e integridade dos dados sendo dispensada a formaccedilatildeo de autos

suplementares

sect 2o Os autos de processos eletrocircnicos que tiverem de ser remetidos a

outro juiacutezo ou instacircncia superior que natildeo disponham de sistema compatiacutevel

deveratildeo ser impressos em papel autuados na forma dos arts 166 a 168 da Lei

no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo Civil ainda que de

natureza criminal ou trabalhista ou pertinentes a juizado especial

sect 3o No caso do sect 2o deste artigo o escrivatildeo ou o chefe de secretaria

certificaraacute os autores ou a origem dos documentos produzidos nos autos

acrescentando ressalvada a hipoacutetese de existir segredo de justiccedila a forma

pela qual o banco de dados poderaacute ser acessado para aferir a autenticidade

das peccedilas e das respectivas assinaturas digitais

sect 4o Feita a autuaccedilatildeo na forma estabelecida no sect 2o deste artigo o

processo seguiraacute a tramitaccedilatildeo legalmente estabelecida para os processos

fiacutesicos

sect 5o A digitalizaccedilatildeo de autos em miacutedia natildeo digital em tramitaccedilatildeo ou jaacute

arquivados seraacute precedida de publicaccedilatildeo de editais de intimaccedilotildees ou da

intimaccedilatildeo pessoal das partes e de seus procuradores para que no prazo

preclusivo de 30 (trinta) dias se manifestem sobre o desejo de manterem

pessoalmente a guarda de algum dos documentos originais

237

Art 13 O magistrado poderaacute determinar que sejam realizados por meio

eletrocircnico a exibiccedilatildeo e o envio de dados e de documentos necessaacuterios agrave

instruccedilatildeo do processo

sect 1o Consideram-se cadastros puacuteblicos para os efeitos deste artigo

dentre outros existentes ou que venham a ser criados ainda que mantidos por

concessionaacuterias de serviccedilo puacuteblico ou empresas privadas os que contenham

informaccedilotildees indispensaacuteveis ao exerciacutecio da funccedilatildeo judicante

sect 2o O acesso de que trata este artigo dar-se-aacute por qualquer meio

tecnoloacutegico disponiacutevel preferentemente o de menor custo considerada sua

eficiecircncia

sect 3o (VETADO)

CAPIacuteTULO IV

DISPOSICcedilOtildeES GERAIS E FINAIS

Art 14 Os sistemas a serem desenvolvidos pelos oacutergatildeos do Poder

Judiciaacuterio deveratildeo usar preferencialmente programas com coacutedigo aberto

acessiacuteveis ininterruptamente por meio da rede mundial de computadores

priorizando-se a sua padronizaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Os sistemas devem buscar identificar os casos de

ocorrecircncia de prevenccedilatildeo litispendecircncia e coisa julgada

Art 15 Salvo impossibilidade que comprometa o acesso agrave justiccedila a parte

deveraacute informar ao distribuir a peticcedilatildeo inicial de qualquer accedilatildeo judicial o

nuacutemero no cadastro de pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas conforme o caso perante

a Secretaria da Receita Federal

Paraacutegrafo uacutenico Da mesma forma as peccedilas de acusaccedilatildeo criminais

deveratildeo ser instruiacutedas pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico ou pelas

autoridades policiais com os nuacutemeros de registros dos acusados no Instituto

Nacional de Identificaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila se houver

238

Art 16 Os livros cartoraacuterios e demais repositoacuterios dos oacutergatildeos do Poder

Judiciaacuterio poderatildeo ser gerados e armazenados em meio totalmente eletrocircnico

Art 17 (VETADO)

Art 18 Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio regulamentaratildeo esta Lei no que

couber no acircmbito de suas respectivas competecircncias

Art 19 Ficam convalidados os atos processuais praticados por meio

eletrocircnico ateacute a data de publicaccedilatildeo desta Lei desde que tenham atingido sua

finalidade e natildeo tenha havido prejuiacutezo para as partes

Art 20 A Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo

Civil passa a vigorar com as seguintes alteraccedilotildees

Art 38

Paraacutegrafo uacutenico A procuraccedilatildeo pode ser assinada digitalmente com base em

certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei

especiacutefica (NR)

Art 154

Paraacutegrafo uacutenico (Vetado) (VETADO)

sect 2o Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos transmitidos

armazenados e assinados por meio eletrocircnico na forma da lei (NR)

Art 164

Paraacutegrafo uacutenico A assinatura dos juiacutezes em todos os graus de jurisdiccedilatildeo

pode ser feita eletronicamente na forma da lei (NR)

Art 169

sect 1o Eacute vedado usar abreviaturas

239

sect 2o Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrocircnico os atos

processuais praticados na presenccedila do juiz poderatildeo ser produzidos e

armazenados de modo integralmente digital em arquivo eletrocircnico inviolaacutevel na

forma da lei mediante registro em termo que seraacute assinado digitalmente pelo

juiz e pelo escrivatildeo ou chefe de secretaria bem como pelos advogados das

partes

sect 3o No caso do sect 2o deste artigo eventuais contradiccedilotildees na transcriccedilatildeo

deveratildeo ser suscitadas oralmente no momento da realizaccedilatildeo do ato sob pena

de preclusatildeo devendo o juiz decidir de plano registrando-se a alegaccedilatildeo e a

decisatildeo no termo (NR)

Art 202

sect 3o A carta de ordem carta precatoacuteria ou carta rogatoacuteria pode ser expedida

por meio eletrocircnico situaccedilatildeo em que a assinatura do juiz deveraacute ser eletrocircnica

na forma da lei (NR)

Art 221

IV - por meio eletrocircnico conforme regulado em lei proacutepria (NR)

Art 237

Paraacutegrafo uacutenico As intimaccedilotildees podem ser feitas de forma eletrocircnica conforme

regulado em lei proacutepria (NR)

Art 365

240

V - os extratos digitais de bancos de dados puacuteblicos e privados desde que

atestado pelo seu emitente sob as penas da lei que as informaccedilotildees conferem

com o que consta na origem

VI - as reproduccedilotildees digitalizadas de qualquer documento puacuteblico ou particular

quando juntados aos autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila e seus auxiliares pelo

Ministeacuterio Puacuteblico e seus auxiliares pelas procuradorias pelas reparticcedilotildees

puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos ou privados ressalvada a

alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de adulteraccedilatildeo antes ou durante o

processo de digitalizaccedilatildeo

sect 1o Os originais dos documentos digitalizados mencionados no inciso VI do

caput deste artigo deveratildeo ser preservados pelo seu detentor ateacute o final do

prazo para interposiccedilatildeo de accedilatildeo rescisoacuteria

sect 2o Tratando-se de coacutepia digital de tiacutetulo executivo extrajudicial ou outro

documento relevante agrave instruccedilatildeo do processo o juiz poderaacute determinar o seu

depoacutesito em cartoacuterio ou secretaria (NR)

Art 399

sect 1o Recebidos os autos o juiz mandaraacute extrair no prazo maacuteximo e

improrrogaacutevel de 30 (trinta) dias certidotildees ou reproduccedilotildees fotograacuteficas das

peccedilas indicadas pelas partes ou de ofiacutecio findo o prazo devolveraacute os autos agrave

reparticcedilatildeo de origem

sect 2o As reparticcedilotildees puacuteblicas poderatildeo fornecer todos os documentos em meio

eletrocircnico conforme disposto em lei certificando pelo mesmo meio que se

trata de extrato fiel do que consta em seu banco de dados ou do documento

digitalizado (NR)

Art 417

sect 1o O depoimento seraacute passado para a versatildeo datilograacutefica quando houver

recurso da sentenccedila ou noutros casos quando o juiz o determinar de ofiacutecio ou

a requerimento da parte

241

sect 2o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2o e

3o do art 169 desta Lei (NR)

Art 457

sect 4o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2o e

3o do art 169 desta Lei (NR)

Art 556

Paraacutegrafo uacutenico Os votos acoacuterdatildeos e demais atos processuais podem ser

registrados em arquivo eletrocircnico inviolaacutevel e assinados eletronicamente na

forma da lei devendo ser impressos para juntada aos autos do processo

quando este natildeo for eletrocircnico (NR)

Art 21 (VETADO)

Art 22 Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias depois de sua

publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 19 de dezembro de 2006 185o da Independecircncia e 118o da

Repuacuteblica

LUIZ INAacuteCIO LULA DA SILVA

Maacutercio Thomaz Bastos

Este texto natildeo substitui o publicado no DOU de 20122006

DOCUMENTO IV a

APRESENTACcedilAtildeO

242

Apresentamos neste livreto um breve histoacuterico sobre as iniciativas tomadas

pela AJUFE - Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil no acircmbito da

informatizaccedilatildeo do processo judicial

A AJUFE foi a primeira entidade a apresentar em meados de 2001 uma

sugestatildeo de projeto de lei agrave Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa da Cacircmara

dos Deputados receacutem-criada pelo Presidente da Cacircmara Deputado Aeacutecio

Neves e presidida pela Deputada Luiza Erundina

A proposta foi amplamente discutida na Comissatildeo incluindo a realizaccedilatildeo de

audiecircncia puacuteblica na qual foram apresentadas valiosas sugestotildees

incorporadas ao projeto original Transformado o texto no Projeto de Lei

ndeg58282001foi ele relatado pelo Deputado Joseacute Roberto Batochio na

Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputados e

finalmente foi aprovado pelo plenaacuterio em junho do Corrente ano

Atualmente o projeto encontra-se em tramitaccedilatildeo na Comissatildeo de Constituiccedilatildeo

e Justiccedila do Senado Federal A iniciativa da AJUFE insere-se em seu ideal de

trabalho em prol da maior eficaacutecia e celeridade da prestaccedilatildeo jurisdicional

Procuramos apresentar um projeto aberto que permita sua imediata

implementaccedilatildeo aproveitando-se as vaacuterias ferramentas de informaacutetica jaacute em

uso por iniciativa dos diversos Tribunais

Entendemos que natildeo eacute viaacutevel que uma lei que disponha sobre a informaacutetica no

processo judicial venha a impor uma determinada tecnologia pois essa soluccedilatildeo

colocaria todas as iniciativas hoje aplicadas nos Tribunais agrave margem da lei

Aleacutem disso engessaria o projeto urna vez que impediria a incorporaccedilatildeo das

evoluccedilotildees tecnoloacutegicas futuras por parte dos Tribunais sem a ediccedilatildeo de uma

nova lei

O projeto apresentado eacute plenamente compatiacutevel tambeacutem com as tecnologias e

ferramentas de certificaccedilatildeo em vias de implementaccedilatildeo como a ICP-Brasil e a

autenticaccedilatildeo de mensagens eletrocircnicas

Desburocratiza o processo e democratiza o uso da informaacutetica por parte de

todos os envolvidos no processo judicial inclusive advogados e partes

243

Incluiacutemos neste livreto alguns textos que retratam o histoacuterico do projeto de lei

ateacute sua aprovaccedilatildeo na Cacircmara dos Deputados bem como algumas notas da

imprensa e a Carta Abertado IJURIS-Instituto Juriacutedico de Inteligecircncia e

Sistemas entidade independente dedicada ao estudo da informaacutetica e sua

aplicaccedilatildeo no direito e no governo em apoio ao projeto

Esperamos com isso contribuir para o aprimoramento do processo judicial

com evidentes ganhos para a sociedade brasileira

Paulo Seacutergio Domingues

Presidente da AJUFE

DOCUMENTO IVb

244

PARECER E VOTO DO DEPUTADO JOSEacute ROBERTO BATOCHIO

(2252002)

PARECER E VOTO DO DEPUTADO JOSEacute ROBERTO BATOCHIO

RELATOR DO PROJETO DE LEI NA CCJR DA CAcircMARA DOS DEPUTADOS

COMISSAtildeO DE CONSTITUiCcedilAtildeO E JUSTiCcedilA E DE REDACcedilAtildeO

PROJETO DE LEI NQ5828 DE 2001

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial e daacute outras providecircncias

Autor Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa

Relator Deputado Joseacute Roberto Batochio

I-RELATOacuteRIO

A presente proposta de autoria da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa

pretende permitir o uso de meio eletrocircnico na comunicaccedilatildeo de atos e na

transmissatildeo de peccedilas processuais tais como peticcedilotildees recursos cartas

precatoacuterias etc desde que os interessados se credenciem junto aos oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio

Determina que pessoas de direito puacuteblico oacutergatildeos da administraccedilatildeo Direta e

indireta e suas representaccedilotildees judiciais disponibilizemem cento e vinte dias da

publicaccedilatildeo desta lei serviccedilo de recebimento e envio de comunicaccedilotildees de atos

judiciais por meio eletrocircnico excetuado os Municiacutepios que natildeo possuam

condiccedilotildees teacutecnicas de implementaccedilatildeo de sistemas eletrocircnicos

Assegura a requisiccedilatildeo por parte de juiacutezes e tribunais de dados constantes de

cadastros puacuteblicos essenciais ao desempenho de suas atividades

A esta Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Redaccedilatildeo compete analisar a

proposta sob os aspectos de constitucionalidade juridicidade teacutecnica

legislativa e meacuterito sendo a apreciaccedilatildeo final do Plenaacuterio da Casa

245

Eacute o Relatoacuterio

11-VOTO DO RELATOR

Natildeo vislumbramos na Proposiccedilatildeo viacutecios de natureza constitucional de

juridicidade ou de teacutecnica legislativa

Natildeo se ignora que a competecircncia para iniciar leis que digam respeito a estas

entidades puacuteblicas a teor do art 61 de nossa Carta Magna eacute privativa do

Presidente da Repuacuteblica natildeo cabendo nem mesmo agrave iniciativa popular ferir a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Dispotildee este artigo

Arf 61 A iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer

membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do

Congresso Nacional ao Presidente da Repuacuteblica ao Supremo Tribunal

Federalaos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos

cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo

sect1g ndashSatildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que

I -fixem ou modifiquem os efetivos das Forccedilas Armadas

1-disponham sobre

e) criaccedilatildeo e extinccedilatildeo de Ministeacuterios e oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica

observado o disposto no arf 84 VI

No entantoo projeto natildeo pressupotildee a criaccedilatildeo de quaisquer oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica bastando que as pessoas de direito puacuteblico abram canal

de recepccedilatildeo no sistema informatizado de que jaacute dispotildeem natildeo haacute cogitar por

conseguintede qualquer mossa ao Texto Magno

No meacuterito merece acolhida a Proposiccedilatildeo

Eis que eacute oportuna e conveniente moderniza a tramitaccedilatildeo processual imprime

celeridade dessacraliza o processo sem ferir os direitos e garantias das

partes

246

A adoccedilatildeo de meios eletrocircnicos traraacute indubitavelmente ateacute mesmo maior

conforto para os advogados e para as partes uma vez que natildeo mais

precisaratildeo deslocar-se ateacute o tribunal para aforar peticcedilotildees recursos etc

Assim nosso voto eacute pela constitucionalidade juridicidade boa teacutecnica

legislativa e no meacuterito pela aprovaccedilatildeo do Projeto de Lei no5828 de 2001

Sala da Comissatildeo em de de 2002

Deputado Joseacute Roberto Batochio

Relator

DOCUMENTO IVc

JUSTIFICACcedilAtildeO DO PROJETO DE LEI NO58282001 ndash DEPUTADA LUIZA

ERUNDINA

247

PROJETO DE LEI No5828 DE 2001

Aprovado na Cacircmara dos Deputados e Justificaccedilatildeo

(DA COMISSAtildeO DE LEGISLACcedilAtildeO PARTICIPATIVA)

(SUGESTAtildeO No012001 -da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil -

AJUFE)

Deputada Luiza Erundina de Souza

Presidente

JUSTIFICACcedilAtildeO

Quando se trata da questatildeo judiciaacuteria no Brasil eacute consenso que os mais graves

problemas se situam no terreno da velocidade com que o cidadatildeo recebe a

resposta final agrave sua demanda A morosidade eacute sem duacutevida o principal fato

gerador de insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo judiciaacuterio como revelam todas as

pesquisas realizadas sobre o assunto Em 1993 em pesquisa de opiniatildeo

coordenada pelo IBOPE foi proposta a seguinte afirmaccedilatildeoO problema do

Brasil natildeo estaacute nas leis mas na Justiccedila que eacute muito lenta Dos entrevistados

87 consignaram suas concordacircncias 8 discordaram e5 natildeosouberam

responderJaacute em 1999 o jornal O Estado de Satildeo Paulo108chegou a iacutendices

ainda mais elevados 92 consideraram a Justiccedila muito lenta

Avaliaccedilotildees setoriais confirmam este diagnoacutestico a exemplo da procedida pelo

IDESP junto a empresas estabelecidas no Brasil Convidando-se estas a se

108 MARQUES Hugo 92 dos brasileiros consideram a JJsticcedilalenta OEstado de Satildeo

Paulo Satildeo Paulo 24 mar 1999

248

pronunciarem acerca de trecircs atributos do Judiciaacuterio nacional (agilidade

imparcialidade custos) os seguintes resultados foram alcanccedilados109

Como se constata no que tange agrave imparcialidade e custos a soma dos

conceitos oacutetimo bom e regular equivale respectivamente a 705 e

538 Jaacute no tocante agrave agilidade representa somente 103

A morosidade transformou-se em consenso absoluto inclusive entre os juiacutezes

Pesquisafeitaem1995peloConselho da JusticcedilaFederal concluiu que 9912 dos

magistrados federais viam o referido atributo como o principal problema desse

ramo do Judiciaacuterio110

Instados pelo IDESPno ano de 2000 a se pronunciarem sobre a relevacircncia

de fatores responsaacuteveis pela morosidade da Justiccedila os juiacutezes

responderam111

109 PINHEIROArmandoCastelar(org)JudiciaacuterioeEconomianoBrasilSatildeoPauloEditora

Sumareacute 2000 p 77

110 NUNES Eunice Pesquisa feita entre juizes revela ineficiecircncia da Justiccedila Folha de

Satildeo Paulo Satildeo Paulo 24 fev 1996 Caderno cotidiano p02

111 PINHEIRO Armando Castelar deg Judiciaacuterio e a Economia na Visatildeo dos

Magistrados Satildeo Paulo IDESP2001 p 4-5

249

Como se constataa soma dos juiacutezes que consideram a falta de

INFORMATIZACcedilAtildeO um fator muito importanteou importante alcanccedila 92

Evidentemente a informatizaccedilatildeo aqui natildeo se refere somente agrave aquisiccedilatildeo de

computadores para utilizaccedilatildeo como substitutos mais eficientes das velhas

maacutequinas de datilografia Aliaacutes este processo de substituiccedilatildeo jaacute se encontra

concluiacutedo na imensa maioria das unidades jurisdicionais existentes no paiacutes Eacute

necessaacuterio agora -simultaneamente ao teacutermino desta fase de aquisiccedilatildeo de

equipamentos nas unidades restantes -avanccedilar em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo de

todos os atores que inteNecircm em um processo judicial (VarasMinisteacuterio Puacuteblico

Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de Advocacia) de modo a que crescentemente

os procedimentos judiciais utilizem ao maacuteximo os avanccedilos tecnoloacutegicos

disponiacuteveis

O Congresso Nacional tem buscado trilhar este caminho Considere-se por

exemplo o que dispotildee a Lei ndeg 980099

Art 1degEacute permitida agraves partes a utilizaccedilatildeo de sistema de transmissatildeo de dados e

imagens tipo fac-siacutemile ou outro similar para a praacutetica de atos processuais que

dependam de peticcedilatildeo escrita

Art2deg A utilizaccedilatildeo de sistema de transmissatildeo de dados e imagens natildeo

prejudica o cumprimento dos prazos devendo os originais ser entregues em

juiacutezo necessariamente ateacute cinco dias da data de seu teacutermino

Paraacutegrafo uacutenico Nos atos natildeo sujeitos a prazo os originais deveratildeo ser

entregues necessariamente ateacute cinco dias da data da recepccedilatildeo do material

250

Constata-secom a leitura destes dispositivosque ndashnatildeo obstante a sua

importacircncia -tal diploma legal ainda exige a ratificaccedilatildeo dos atos processuais

praticados por fax com a utilizaccedilatildeo demeacutetodos tradicionaiso que certamente

diminui o seu impacto positivo no tocante agrave agilizaccedilatildeo dos processos judiciais

Recentemente a Lei ndeg102592001 que versa sobre os Juizados Especiais

Federais albergou relevante regra assim escrita

Art 8deg As partes seratildeo intimadas da sentenccedila quando natildeo proferida esta na

audiecircncia em que estiver presente seu representantepor ARMP (aviso de

recebimento em matildeo proacutepria)

sect 1Q As demais intimaccedilotildees das partes seratildeo feitas na pessoa dos advogados

ou dos Procuradores que oficiem nos respectivos autos pessoalmente ou por

via postal

sect 2QOS tribunais poderatildeo organizar serviccedilo de intimaccedilatildeo das partes e de

recepccedilatildeo de peticcedilotildees por meio eletrocircnico

O projeto ora apresentado visa evoluir na vereda inaugurada pelas leis

mencionadas regulando plenamente a informatizaccedilatildeo dos procedimentos

judiciais afastando duacutevidas acerca da validade de atos processuais assim

praticados A este propoacutesito pertinente mencionar que muitos juiacutezes e

Tribunais - mesmo sem a existecircncia de lei expressa -jaacute vecircm adotando alguns

dos caminhos insertos no projeto sempre com excelentes resultados

Destaque-se que a presente proposiccedilatildeo natildeo se confunde com o PL ndeg 365500

recentemente aprovado pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila da Cacircmara o

qual indubitavelmente representa significativo aperfeiccediloamento da citada Lei ndeg

980099 - natildeo alterando contudo a sistemaacutetica de ratificaccedilatildeo nela contida

Frise-se que os benefiacutecios do projeto poderatildeo ser extraiacutedos amplamente na

medida em que se cuida integralmente da comunicaccedilatildeo entre o Poder

Judiciaacuterio e os demais agentes que pCcedilirticipam da atuaccedilatildeo jurisdicional

O projeto natildeo elimina a possibilidade de as partes se manifestarem pelos

meacutetodos convencionais a fim de levar em conta as necessidades de

251

profissionais regiotildees eou segmentos que -por diferentes motivos natildeo

disponham dos equipamentos necessaacuter10s

Finalmente merece ser destacado o grande benefiacutecio que a meacutedio prazo o

projeto traraacute ao Eraacuterio seja com a diminuiccedilatildeo de gastos seja com a melhoria

do funcionamento do sistema econocircmico em razatildeo da maior eficiecircncia do

serviccedilo jurisdicional

252

DOCUMENTO IVd

NOTA OFICIAL DE 19602

Brasiacutelia 19 de junho de 2002

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial

Reaccedilatildeo da OAB eacute corporativa e medo do novo rebate Ajufe o presidente da

Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil (Ajufe) juiz Paulo Seacutergio Domingues

rebateu enfaticamente a nota divulgada ontem pelo presidente da Comissatildeo de

Informaacutetica da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Satildeo Paulo Marcos

da Costa apontando equiacutevocos juriacutedicos e tecnoloacutegicos no Projeto de

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial apresentado pela Ajufe ao Congresso O

projeto de lei que regulamenta a transferecircncia de informaccedilotildees judiciais por

meio eletrocircnico foi aprovado na iacutentegra e por unanimidade no uacuteltimo dia 11

pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo (CCJ-R) da Cacircmara dos

Deputados Infelizmente o corporativismo estaacute impedindo uma anaacutelise mais

global e cuidadosa da nossa proposta lamentou

Para Dominguesa resistecircncia ao projeto eacute injustificadaEacute o medo do novo

apresentando-se como desculpa para impedir a evoluccedilatildeo da Justiccedila Isso nos

espanta especialmente num~ eacutepoca de criacuteticas agrave morosidade do Judiciaacuterio

quando imagina-seque os advogados apoiem a busca de soluccedilotildees Aliaacutes a

criacutetica da OABSP eacute a uacutenica que se viu ateacute o momento destacou Segundo o

presidente da Ajufe o projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial natildeo

representa qualquer violaccedilatildeo agrave autonomia do advogado nem riscos agrave

seguranccedila juriacutedica como acusa a OAB O credenciamento dos profissionais

junto aos tribunais natildeo tem a funccedilatildeo de autorizar o advogado a exercer a

profissatildeo mas apenas de autorizaacute-lo a utilizar o meio eletrocircnico para receber

intimaccedilotildees e enviar peticcedilotildees esclarece Este credenciamento aponta

Domingues natildeo favorece o exerciacutecio ilegal da profissatildeo ou a atuaccedilatildeo de

profissionais excluiacutedos dos quadros da entidade Ao contraacuterio ele permite aos

tribunais -que satildeo os responsaacuteveis na praacutetica pelo impedimento do exerciacutecio

253

ilegal da profissatildeo -atualizar com maior agilidade seus cadastros de advogados

temporariamente impedidos de advogar ou excluiacutedos da OAB Eacute um fator de

proteccedilatildeo agrave categoria

A criacutetica ao uso de senhas para acessar as informaccedilotildees juriacutedicas por meio

eletrocircnico eacute outro equiacutevoco da OAB entende o presidente da Ajufe Satildeo

criacuteticas de quem natildeo leu ou natildeo entendeu o projeto pois sua grande virtude eacute

que ele eacute aberto ou seja natildeo adota expressamente esta ou aquela tecnologia

mas permite que os tribunais conforme for evoluindo a informaacutetica adotem as

novas teacutecnicas explica

De acordo com Domingues a proposta da Ajufe natildeo elege expressamente o

sistema de senhas ou assinatura eletrocircnica para a comprovaccedilatildeo de envio e

recebimento eletrocircnico de documentos Poreacutem ainda que fosse adotada essa

metodologia natildeo haveria impedimentos pois eacute a exigecircncia baacutesica atualmente

para acessar qualquer serviccedilo eletrocircnico de bancos a livrarias virtuais O

sistema de assinatura eletrocircnica eacute tecnologia de ponta e pode vir a ser

adotado mas o projeto de lei da Ajufe teve o cuidado de natildeo especificar esses

detalhes operacionais no texto deixando a discussatildeo para a fase de

implementaccedilatildeo da leienfatizaPreviacuteamosjustamenteque tecnologias mais

avanccediladas iratildeo surgir A ideia foi redigir uma legislaccedilatildeo que permitisse

acompanhar essa evoluccedilatildeo sem a necessidade de se criar novas leis a cada

mudanccedila de metodologia

Quanto agrave seguranccedila do meio eletrocircnico Domingues lembra agrave OABSP que o

sistema informaacutetico eacute muito mais seguro que o atual Ou seraacute que ela imagina

que um falso advogado tenhaacute mais dificuldade em falsificar um papel timbrado

e uma assinatura em peticcedilatildeo convencional do que em fraudar todo um sistema

de seguranccedila eletrocircnico que permite inclusive o rastreamento do autor de

eventuais tentativas de fraude

254

DOCUMENTO IVe

NOTIacuteCIA DE 682002

INFORMATIZACcedilAtildeO AJUFE VAI LUTAR PELO PROJETO ORIGINAL

A Ajufe louva a rapidez com que o projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial de

sua autoriavem tramitando no Senado -aprovado no Plenaacuterio da Cacircmara dos

Deputados no uacuteltimo dia 19 de junho o projeto foi remetido jaacute no dia 26 ao Senado e

jaacute tem parecer do relator na Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila (CCJ) senador

Osmar Dias O senador emitiu parecer favoraacutevel ao projeto soacute que com substitutivo o

que significa mudanccedila em vaacuterios pontos da proposta original da AJUFE

O presidente da Ajufe juiz Paulo Seacutergio Domingues anunciou que pretende lutar pela

retomada do texto original do projeto jaacute que o tracircmite no Senado estaacute apenas

comeccedilando

Segundo Domingues as modificaccedilotildees propostas pelo senador geram o risco de

inviabilizar a implantaccedilatildeo da lei no curto prazo porque a imposiccedilatildeo de se adotar um

sistema nacional de chaves puacuteblicas e privadas formado por uma rede de empresas

certificadoras significa que a informatizaccedilatildeo do processo judicial soacute viraacute a ser

promovida quando implantado esse sistema de chaves no BrasilEacute um processo

complexo oneroso e muito demorado que natildeo tem data para ser implantando

lembra o presidente da Ajufe

Domingues tambeacutem argumenta que essa imposiccedilatildeo pela tecnologia de Chaves

puacuteblicas e privadas engessa o sistema de informatizaccedilatildeo Se o substitutivo passar

como estaacute seraacute necessaacuteria uma nova lei a cada nova tecnologia que for surgindo na

aacuterea e eacute justamente isso que a Ajufe procurou evitar em seu texto detalha o juiz

Revista Consultor Juriacutedico 6 de agosto de 2002

255

DOCUMENTO IVf

CARTA ABERTA IJURIS

TECNOLOGIA DA INFORMACAO JURIacuteDICA SOCIEDADE DA INFORMACcedilAtildeO E

GOVERNO ELETROcircNICO

wwwiiurisorg

Assunto Regulamentaccedilatildeo de procedimentos digitais

O domiacutenio de tecnologias inovadoras eacute um poderoso instrumento da soberania de uma

naccedilatildeo Com base nesta preocupaccedilatildeo o Ijuris Instituto Juriacutedico de Inteligecircncia e

Sistemas -vem estudando o fluxo de criaccedilatildeo de padrotildees tecnoloacutegicos para as

atividades puacuteblicas brasileiras e lanccedila a puacuteblico esta carta aberta

O cenaacuterio mundial apresenta atualmente diversas iniciativas de fixaccedilatildeo de padrotildees e

paracircmetros para a construccedilatildeo de modelos tecnoloacutegicos os quais diante da sua

crescente relevacircncia teratildeo longevidade prolongada na futura historia da humanidade

Diversos paises blocos de interesse conglomerados produtivos e associaccedilotildees

internacionais tecircm dedicado significativa parcela de suas preocupaccedilotildees traccedilando

estrateacutegias para delimitar referecircncias de padronizaccedilatildeo as quais vatildeo traccedilar o rumo de

muitas atividades produtivas orgacircnicas e governamentais

A sociedade brasileira estaacute proacutexima de receber uma grande inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

geradora de procedimentos que vatildeo incrementar a cidadania Trata-se da construccedilatildeo

eletrocircnica dos processos judiciais e procedimentos administrativosEste tema vem

despertando a atenccedilatildeo de importantes setores governamentais e produtivos do Brasil

Exatamente neste momento alguns pontos diretamente ligados a este assunto estatildeo

em discussatildeo no Congresso Nacional com adiantados encaminhamentos focados

exatamente na fixaccedilatildeo de padrotildees e paracircmetros tecnoloacutegicos

Diante deste contexto eacute importante destacar as seguintes diretrizes

1) Os paracircmetros a serem estabelecidos devem contemplar a diversidade tecnoloacutegica

2) A nova legislaccedilatildeo deve atender aos propoacutesitos da descentralizaccedilatildeo e da autonomia

3)No plano legala especificidade sobre requisitos teacutecnicos deve ser miacutenima e

geneacuterica

256

4) O modelo de custeio da implementaccedilatildeo das medidas deve permitir o alinhamento

de interesses entre instituiccedilotildees puacuteblicasempresas privadas instituiccedilotildees de pesquisa e

entidades educacionais comprometidas coma evoluccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica e

interessadas no desenvolvimento de sistemas que gerem o fortalecimento da

soberania e da cidadania

5) Todos os mecanismos devem ensejar agilidade e facilidade no acesso agrave

informaccedilatildeo

6) Os mecamismos regulatoacuterios e fiscalizatoacuterios devem adquirir uma modelagem

voltada agrave pluralidade dos segmentos da sociedade civil envolvidos no cenaacuterio juriacutedico

e tecnoloacutegico

7) O detalhismo natildeo pode se transformar em uma forma de geraccedilatildeo de dificuldades

procedimentais ou propiciar um panorama estaacutetico que dificulte a incorporaccedilatildeo de

futuras inovaccedilotildees

Para isto eacute fundamental que a lei processual apenas autorize a utilizaccedilatildeo de meios

eletrocircnicos na praacutetica de atos processuais e procedimentais e disponha sobre os

requisitos miacutenimos de seguranccedila no tracircnsito de documentos e informaccedilotildees

Eacute importante lembrar que existem fortes atenccedilotildees internacionais voltadas para a

fixaccedilatildeo de padrotildees tecnoloacutegicos nos paiacuteses emergentes e a criptografia e os padrotildees

eletrocircnicos de fluxo de documentos satildeo assuntos de interesse direto das

superpotecircncias mundiais

Adotando tais diretrizes estaremos incrementando nossa caminhada rumo ao

fortalecimento da cidadania digital

Florianoacutepolis22082002

Hugo Cesar Hoeschl Dr

Pesquisador do Ijuris

metaiurepsufscbr

wwwdigestonetcurriculo

Tacircnia Cristina DAgostini Bueno Msc

Pesquisadora do Ijuris

taniaijurisorg

257

DOCUMENTO V

Informaccedilotildees Processuais

Existem atalhos para consultas processuais na paacutegina do TRF3ordf R Obs Somente para navegadores Internet Explorer

Digite a tecla

Para consulta processual da Primeira Instacircncia - Justiccedila Federal SPMS

Para consulta processual aqui na Segunda Instacircncia - TRF3ordf R

Para consulta processual do Juizado Especial Federal - Revisatildeo de Aposentadoria

O que vocecirc deseja

Consultar Processo na 1ordf Instacircncia Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul

Consultar Processo no TRF 3ordf Regiatildeo

Consultar Processo no Juizado Especial Federal - SatildeoPaulo

Consultar Processo no Juizado Especial Federal - Campo Grande

Sistema Push do TRF3ordf Regiatildeo

Sistema Push da Justiccedila Federal de Satildeo Paulo

Consultar Acoacuterdatildeos

Peticcedilotildees Eletrocircnicas

CPF

Senha

Avanccedilar

Caso vocecirc ainda natildeo tenha se cadastrado clique aqui

Caso vocecirc tenha esquecido sua senha clique aqui

JUIZADO ESPECIAL FEDERAL PABX(11) 3254-1499 FAX (11) 3254-1495

httpwwwtrf3jusbr Acesso em 20112007

258

  • TEXTO JURIacuteDICO E PROCEDIMENTOS DE REFORMULACcedilAtildeO DISCURSIVA
  • AGRADECIMENTOS
  • RESUMO
  • ABSTRACT
  • REacuteSUMEacute
  • SUMAacuteRIO
  • INTRODUCcedilAtildeO
  • CAPIacuteTULO 1 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO HISTOacuteRICA
  • CAPITULO 2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
    • 21 Textos juriacutedicos e a Teoria da Enunciaccedilatildeo enunciado enunciador e contexto da enunciaccedilatildeo
    • 22 O dialogismo e a polifonia nos textos juriacutedicos
    • 23 A Retoacuterica e a Teoria da argumentaccedilatildeo a formaccedilatildeo do logos do ethos e a influecircncia do local
      • 231 A formaccedilatildeo do ethos
      • 232 O papel do local
      • 233 O auditoacuterio
      • 234 O ethos e o logos
        • 24 A reformulaccedilatildeo na liacutengua e no discurso juriacutedico
          • 241 Do ponto de vista linguiacutestico
          • 242 A reformulaccedilatildeo no direito empreacutestimo ldquotransplantrdquo ldquocirculationrdquo
          • 243 Liacutenguas diferentes culturas diferentes
          • 244 Reformulaccedilatildeo e mecanismos de substituiccedilatildeo
              • CAPITULO 3 O DISCURSO JURIacuteDICO
                • 31 Definiccedilatildeo
                • 32 Classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos no Direito
                • 33 Contexto o sistema juriacutedico brasileiro
                • 34 Metodologia das anaacutelises textos de lei
                • 35 Anaacutelise dos textos de lei
                  • 351 A Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (DDHC 1789)13
                  • 352 A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (DUDH 1948)
                  • 353 A Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF1988) Preacircmbulo e artigo 5deg LXXVIII
                  • 354 A lei 114192006 a lei de informatizaccedilatildeo judicial
                    • 36 Anaacutelise de outros textos
                      • 361 Voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio
                      • 362 Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada Luiza Erundina
                      • 363 Nota Oficial
                        • 37Resultado das anaacutelises
                          • CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
                          • REFEREcircNCIAS
                          • ANEXOS
Page 3: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses

3

OZON CALDO Claacuteudia TEXTO JURIacuteDICO E PROCEDIMENTOS DE

REFORMULACcedilAtildeO DISCURSIVA Tese apresentada ao Departamento de

Letras Modernas da Faculdade de Filosofia Letras e Ciecircncias Humanas da

Universidade de Satildeo Paulo para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Doutor em Letras

Aprovada em

Banca Examinadora

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento _________________________ Assinatura __________________

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento __________________________Assinatura _________________

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento __________________________Assinatura _________________

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento _________________________ Assinatura __________________

Prof Dr _____________________________Instituiccedilatildeo __________________

Julgamento _________________________ Assinatura __________________

4

A todos aqueles que acreditaram e me

auxiliaram a realizar este trabalho

5

AGRADECIMENTOS Aos meus avoacutes Adolpho e Augusta (in memoriam) que desde pequena me

incentivaram nos estudos

Aos meus pais Gustavo e Cleacutea pelo exemplo de vida que me proporcionaram

Agrave minha filha Ana Laura que soube compreender a importacircncia de minhas

escolhas

Aos amigos que incentivaram minha pesquisa

Agrave minha orientadora Tokiko Ishihara que sempre me incentivou mostrou os

caminhos a serem seguidos acreditou no desafio proposto e fez despontar a

minha capacidade

Ao professor Paulo Seacutergio Domingues que sempre participou das minhas

descobertas e se dispocircs a colaborar

A todos os meus professores da poacutes-graduaccedilatildeo que me apontaram percursos

e permitiram importantes trocas intelectuais

Aos funcionaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo

6

La science consiste agrave passer dun

eacutetonnement agrave un autre

Aristote

7

RESUMO

Este trabalho realizado na Aacuterea de Estudos Linguiacutesticos Literaacuterios e

Tradutoloacutegicos de Francecircs do Departamento de Letras Modernas da

FFLCHUSP se situa na intersecccedilatildeo do Direito e das Ciecircncias da Linguagem

numa perspectiva multi e interdisciplinar do discurso juriacutedico

O corpus formado por textos juriacutedicos em liacutengua francesa e portuguesa

(brasileira) tem como objeto de estudo o discurso juriacutedico Nele conceitos de

direito foram ao longo do tempo modificados e integrados agraves praacuteticas sociais

O meacutetodo comparativo foi o escolhido para melhor examinar as

transformaccedilotildees

No primeiro texto escolhido pela sua importacircncia histoacuterica a Declaraccedilatildeo

de Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Franccedila 1789) surgem os conceitos de

ldquohomemrdquo ldquoigualdaderdquo e ldquoliberdaderdquo Esses mesmos conceitos reaparecem na

Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (ONU 1948) em que direitos

mais explicitados conferem maior proteccedilatildeo ao homem O terceiro documento a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Brasil 1988) detalha no seu

artigo 5deg todos os direitos conferidos ao homem do seacuteculo XX conceitos que

ressurgem impliacutecitos na lei sobre a Informatizaccedilatildeo dos Processos Judiciais

(Brasil lei 114192006)

A partir da observaccedilatildeo desses documentos levanta-se a hipoacutetese de que

os conceitos apresentados de ldquohomemrdquo ldquoliberdaderdquo ldquoigualdaderdquo e de ldquojusticcedilardquo

natildeo satildeo os mesmos presentes no primeiro documento o que evidencia uma

evoluccedilatildeo soacutecio-histoacuterico-linguiacutestico-discursiva A reformulaccedilatildeo ocasiona

inclusive um apagamento de conceito Dessa forma o liame que une os

documentos eacute resultante de um processo

As noccedilotildees de polifonia e de dialogismo emprestados da Anaacutelise do

Discurso satildeo desenvolvidos a partir dos estudos bakhtinianos e dos

procedimentos argumentativos da retoacuterica renovada por Perelman bem como

das reformulaccedilotildees discursivas implicadas

8

No primeiro capiacutetulo os documentos satildeo contextualizados

historicamente a fim de que se possa entender seu surgimento O segundo

teoacuterico verifica a presenccedila da Teoria da Enunciaccedilatildeo e dos conceitos de

auditoacuterio ethos e logos integrantes da Teoria da Argumentaccedilatildeo Do ponto de

vista linguiacutestico-discursivo o que se valoriza satildeo as reformulaccedilotildees como

ferramentas dessas alteraccedilotildees Ressalta-se que tais transformaccedilotildees tecem-se

a partir das relaccedilotildees entre a Liacutengua e o Direito Os conceitos de ldquotransplantrdquo

ldquocirculation juridiquerdquo e ldquoempreacutestimordquo propostos pelo Direito Comparado

consideram as diferenccedilas entre as liacutenguas e as culturas francesa e brasileira O

terceiro capiacutetulo trata do discurso juriacutedico e de uma proposta de classificaccedilatildeo

dos diferentes textos em subgecircneros a partir de seu objetivo e local de

produccedilatildeo

O resultado das anaacutelises revela que o decurso do tempo provoca a

evoluccedilatildeo dos conceitos de ldquohomemrdquo ldquoliberdaderdquo ldquoigualdaderdquo e ldquojusticcedilardquo a

ponto de sua existecircncia material no texto escrito permitir seu apagamento

passando de concreta agrave abstrata jaacute que implicitamente eacute o conteuacutedo que

justifica a proposiccedilatildeo e a publicaccedilatildeo da lei Informatizaccedilatildeo dos Processos

Judiciais

PALAVRAS-CHAVE classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos discurso juriacutedico

enunciaccedilatildeo ethos reformulaccedilatildeo

9

ABSTRACT

This following thesis developed in the French Linguistic Literary and

Translation area of the Modern Language Department FFLCH USP lies in the

intersection of Law and Language Sciences

The corpus composed of legal texts in French and Portuguese (Brazilian)

has as its object of study of the legal discourse in which the concepts of law

over time have been modified and integrated with social practices The

comparative method was chosen to better examine these transformations

The first text chosen for its historical significance the Declaration of

Rights of Man and of the Citizen (1789 France) bring to the light the concepts

of man equality and freedom These same concepts reappear in the

Universal Declaration of Human Rights (UN 1948) in which most rights

specified give greater protection to the man The third document the

Constitution of the Federative Republic of Brazil (Brazil 1988) explains in its

5th article all rights granted to man of the 20th century concepts which

reappear implicit in the Law on the Informatized System of the Judicial Process

(Brazil law 114192006)

The observation of these documents raises the hypothesis that the

concepts presented man freedom equality and justice are not the same

in the first document which highlights a socio-historical-linguistic evolution-

discursive The reformulation causes also an erase of concept In this way the

link that connects the documents is the result of a process The concepts of

polyphony and dialogism borrowed from Discourse Analysis are developed from

Bakthinrsquos studies and procedures of argumentative renewed Rhetoric by

Perelman as well as discursives involved

In the first chapter documents are historically contextualized in order to

permit their understanding and emergence In the second chapter theoretical

the Enunciation Theory and the concepts of dialogism and polyphony are noted

in texts as well as the concepts of the Auditorium ethos and logos from the

10

Theory of Argumentation In the aspect of Linguistically-discursive cases the

reformulations are the tools of these changes It should be noted that such

transformations weave from relations between the Languag and the Law The

concepts of transplant circulation juridique and borrowing proposed by the

Comparative Law consider the differences between the French and Brazilian

languages and cultures The third chapter treat the legal discourse and

propose a classification for texts in different sub-genres from its goal and

production site

The result of the analysis prove that the course of time causes the evolution of

the concepts of man freedom equality and justice to the point that it

may even result in the erasure of his material existence in the written text

ranging from concret to abstract since its content appears implicitly in the

proposition and the publication of Law on the Informatized System of the

Judicial Process

KEYWORDS classification of legal texts legal discourse enunciation ethos

reformulation

11

REacuteSUMEacute

Cette eacutetude reacutealiseacutee dans la chaire drsquoEacutetudes Linguistiques Litteacuteraires et

Traduction en Franccedilais du Deacutepartement de Lettres Modernes FFLCH USP se

situe dans lintersection du Droit et de Sciences du Langage dans une

perspective multi et interdisciplinaire du discours juridique

Le corpus composeacute par des textes juridiques en langue franccedilaise et

portugaise (breacutesilienne) a comme objet drsquoeacutetude le discours juridique ougrave les

concepts de droit au fil du temps ont eacuteteacute modifieacutes et inteacutegreacutes aux pratiques

sociales La meacutethode comparative a eacuteteacute choisie pour mieux examiner ces

transformations

Le premier texte drsquoune grande importance historique la Deacuteclaration des

Droits de lHomme et du Citoyen (France 1789) reacutevegravele les concepts de

laquolhommeraquo laquoeacutegaliteacuteraquo et laquoliberteacuteraquo Ces mecircmes concepts reacuteapparaissent dans la

Deacuteclaration Universelle des Droits de lHomme (ONU 1948) dans laquelle des

droits plus explicites confegraverent une plus grande protection agrave lhomme Le

troisiegraveme document la Constitution de la Reacutepublique Feacutedeacuterative du Breacutesil

(Breacutesil 1988) deacutetaille dans son article 5 tous les droits accordeacutes agrave lhomme du

XXe siegravecle concepts qui deviennent implicites dans la loi sur lInformatisation

des Proceacutedures Judiciaires (Breacutesil Lei 11419 2006)

Agrave partir de lobservation de ces documents on souleacuteve lhypothegravese selon

laquelle les concepts laquohommeraquo laquoliberteacuteraquo laquoeacutegaliteacuteraquo et laquojusticeraquo ne sont pas les

mecircmes preacutesenteacutes dans le premier document ce qui teacutemoigne une eacutevolution

socio-historique-linguistique-discursive La reformulation provoque encore

lrsquoeffacement du concept Ainsi le lien qui relie ces documents est le reacutesultat dun

processus

Les notions de polyphonie et de dialogisme emprunteacutes de lrsquoAnalyse du

Discours sont deacuteveloppeacutes agrave partir des eacutetudes bakhtiniennes et des proceacutedures

12

argumentatives de la Rheacutetorique renouveleacutee par Perelman et aussi des

reformulations discursives impliqueacutees

Dans le premier chapitre les documents sont examineacutes dans leurs

contextes historiques afin de pouvoir comprendre leur parution Dans le

deuxiegraveme theacuteorique on veacuterifie la preacutesence de la Theacuteorie de lArgumentation

dans les textes et des concepts dauditoire dethos et de logos de la Theacuteorie de

lrsquoArgumentation Du point de vue linguistique-discursif les reformulations sont

les outils qui permettent ces changements Il faut remarquer que ces

transformations tissent les rapports entre la langue et le droit Les concepts de

transplant circulation juridique et emprunt proposeacutes par le Droit Compareacute

prennent en compte les diffeacuterences entre les langues et les cultures franccedilaise et

breacutesilienne Le troisiegraveme chapitre srsquooccupe du discours juridique et propose une

classification de textes dans diffeacuterents sous-genres drsquoapregraves leur but et leur lieu

de production

Le reacutesultat de lanalyse reacutevegravele que le passage du temps provoque

leacutevolution des concepts drsquolaquohommeraquo de laquoliberteacuteraquo dlsquolaquoeacutegaliteacuteraquo et de laquojusticeraquo et

peut mecircme aboutir dans leur effacement ai sein du texte eacutecrit allant du concret

agrave labstrait puisque son contenu apparaicirct implicitement dans la proposition et

dans la publication de la loi de lrsquoInformatisation des Proceacutedures Judiciaires

MOTS-CLEacuteS classification des textes juridiques discours juridique

eacutenonciation ethos reformulation

13

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO15

CAPIacuteTULO 1 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO HISTOacuteRICA20

CAPIacuteTULO 2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA35

2 1 Texto juriacutedico e teoria da enunciaccedilatildeo35

22 Dialogismo e polifonia nos textos juriacutedicos40

23 Retoacuterica e a Teoria da argumentaccedilatildeo58

231 A formaccedilatildeo do ethos61

232 O papel do local 67

233 O auditoacuterio72

234 O ethos e o logos75

24 A reformulaccedilatildeo na liacutengua e no discurso juriacutedico83

241 Do ponto de vista linguiacutestico84

242 A reformulaccedilatildeo no direito empreacutestimo ldquotransplantrdquo

ldquocirculationrdquo87

243 Liacutenguas diferentes culturas diferentes94

244 Reformulaccedilatildeo e mecanismos de substituiccedilatildeo97

CAPIacuteTULO 3 O DISCURSO JURIacuteDICO100

31 Definiccedilatildeo100

32 Classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos no Direito 104

33 Contexto o sistema juriacutedico brasileiro109

14

34 Metodologia das anaacutelises textos de lei110

35 Anaacutelise dos textos de lei111

351 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789111

352 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948119

353 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988133

354 Lei 114192006145

36 Anaacutelise de outros textos voto justificaccedilatildeo e nota oficial157

361 Voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio157

362 Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada Luiza

Erundina 163

363 Nota oficial 169

37 Resultado das anaacutelises184

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS188

REFEREcircNCIAS193

ANEXOS204

INTRODUCcedilAtildeO

15

Esta tese se situa na intersecccedilatildeo de duas grandes aacutereas do

conhecimento o Direito e as Ciecircncias da Linguagem e o breve olhar para a

Histoacuteria cumpre aqui apenas uma funccedilatildeo heuriacutestica Os eixos teoacuterico-

metodoloacutegicos foram escolhidos em funccedilatildeo da natureza interdisciplinar se natildeo

multidisciplinar deste estudo

O tema transversal escolhido pela autora se explica pela sua dupla

formaccedilatildeo ndash Direito e Letras-Francecircs e pela sua experiecircncia durante o periacuteodo

de docecircncia Nessa trajetoacuteria a observaccedilatildeo do discurso de especialidade pelos

textos de lei em liacutenguas francesa e portuguesa revelou semelhanccedilas e

dessemelhanccedilas que aparentemente natildeo eram somente de estrutura formal e

cultural mas de ordem linguiacutestica e discursiva

O texto que primeiro foi selecionado para a composiccedilatildeo do corpus foi o

que aparece em uacuteltimo lugar o texto da lei 114192006 (Lei da Informatizaccedilatildeo

do Processo Judicial) Tal texto aparentemente natildeo traz nenhuma referecircncia

ao texto ao qual estaacute intrinsecamente ligado o primeiro texto do corpus a

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo francesa de 1789 Todavia a

lei 114192006 assegura direitos decorrentes daqueles previstos na

Declaraccedilatildeo de 1789

Essa observaccedilatildeo levou agrave necessidade de se verificar em um estudo

mais detalhado qual o percurso dos princiacutepios de ldquoigualdade liberdade e

fraternidaderdquo do texto em francecircs de caraacuteter interno (a Declaraccedilatildeo de 1789) ateacute

a lei brasileira atual (114192006) que autoriza a informatizaccedilatildeo dos

processos judiciais

Tais princiacutepios surgem de forma rudimentar apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa

reaparecem no panorama internacional pela Declaraccedilatildeo Universal de Direitos

do Homem de 1948 ressurgem na Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 e acabam

por ecoar no escopo da lei 114192006

Para a realizaccedilatildeo do estudo apresentado julgou-se necessaacuterio analisar

aleacutem dos textos de lei acima mencionados outros textos a eles relacionados

ou seja o voto do deputado responsaacutevel pela aprovaccedilatildeo da lei 114192006 na

16

Cacircmara dos Deputados a justificaccedilatildeo do Projeto de Lei e uma Nota Oficial

publicada pela Associaccedilatildeo de Juiacutezes Federais

A tese tem por isso como objeto o estudo das reformulaccedilotildees linguiacutesticas

e discursivas como fator estruturador do discurso juriacutedico numa tentativa de

mostrar como se daacute o encontro do eu e do outro Os tipos variados de

empreacutestimos se mostram por meio de um mesmo leacutexico ou de construccedilotildees

gramaticais equivalentes mas diferentes Revelam num primeiro momento e

dentro de uma mesma liacutengua alteraccedilotildees linguiacutesticas e de sentido Em outro

momento essas alteraccedilotildees ultrapassam fronteiras e se transpotildeem de uma

liacutengua para a outra isto eacute da liacutengua francesa para a portuguesa de uma

cultura para outra e assim o direito francecircs e o direito brasileiro se conjugam o

primeiro imprime seus traccedilos no segundo

Os objetivos principais dessa pesquisa que percorre 217 anos de

histoacuteria satildeo sobretudo o de verificar a transposiccedilatildeo e a reformulaccedilatildeo do

princiacutepio de Direito agrave justiccedila aleacutem de averiguar se o termo evolui ou apenas se

modifica quando se transpotildee de uma cultura para outra

Isto implica tambeacutem analisar de que forma os termos ou expressotildees

satildeo retomados a partir de um discurso preacute-existente verificar quais os

deslocamentos e alteraccedilotildees de sentidos produzidos e averiguar as respectivas

consequecircncias relativas agrave forma e ao conteuacutedo nos textos

O objetivo especiacutefico da pesquisa eacute mostrar pela anaacutelise dos textos

escolhidos como se estabelecem as relaccedilotildees entre esses diferentes textos

quais satildeo os procedimentos de reformulaccedilatildeo presentes e de que forma o

direito agrave justiccedila se manifesta no escopo da nova lei

A dificuldade encontrada para se descrever e caracterizar o discurso

juriacutedico foi o que determinou a escolha desse objeto de estudo jaacute que os vaacuterios

trabalhos existentes sobre a linguagem juriacutedica tratam sobretudo das relaccedilotildees

do texto juriacutedico com a Semacircntica Alguns deles analisam o discurso sob o

ponto de vista de sua produccedilatildeo e recepccedilatildeo e suas consequentes implicaccedilotildees

sociais poliacuteticas econocircmicas histoacutericas ou ideoloacutegicas Outros na aacuterea

aplicada de liacutengua tratam da questatildeo como discurso de especialidade

O que se pretende mostrar desse modo eacute uma visatildeo do discurso

juriacutedico sincrocircnica e diacrocircnica por meio de uma anaacutelise dos textos que

17

considere a linha do tempo em relaccedilatildeo aos termos empregados sua evoluccedilatildeo

e os sentidos no uso do mesmo termo em uma uacutenica ou em duas liacutenguas

A anaacutelise dessas questotildees considerou um estudo das caracteriacutesticas

formais desses textos o que permitiu a classificaccedilatildeo do gecircnero juriacutedico em

subgecircneros Permitiu tambeacutem tratar da transposiccedilatildeo de conceitos de direito de

uma liacutengua para outra apreciando ainda questotildees culturais

O referencial teoacuterico adotado para estudar esses questionamentos se

apoacuteia nos estudos realizados por Bakhtin relativos agrave caracterizaccedilatildeo do gecircnero

do discurso cujo objetivo eacute determinar a especificidade do discurso juriacutedico e

sustentar a caracterizaccedilatildeo de seus subgecircneros

O arcabouccedilo teoacuterico se apoacuteia tambeacutem nos conceitos de polifonia e

dialogismo realizados por Bakhtin e desenvolvidos por Charaudeau

Maingueneau e Arriveacutee

O estudo destes conceitos conduz agrave origem da produccedilatildeo textual que

aparece como decorrente de praacuteticas sociais habituais conforme aponta

Bourdieu Por muitas vezes os textos satildeo consequentes da atividade juriacutedica

profissional questotildees essas abordadas pela linguiacutestica juriacutedica nos estudos de

Damette e Cornu

Coadjuvante ao referencial bakhtiniano e dos outros acima citados

escolheu-se aprofundar o que Maingueneau esboccedilou nos estudos realizados

em textos de comunicaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao ethos e ao logos dos textos Para

tanto o fundamento teoacuterico escolhido foi o apresentado por Perelman em sua

Teoria da Argumentaccedilatildeo sobretudo em relaccedilatildeo aos fundamentos da formaccedilatildeo

do ethos Associados a esta perspectiva estatildeo os estudos de Plantin e Amossy

sobre a argumentaccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees sobre o universo juriacutedico o trabalho se

fundamenta a partir dos estudos de base sobre o Direito apresentados por

Kelsen Bobbio Perelman e Alves As origens da Declaraccedilatildeo dos Direitos do

Homem foram abordadas a partir das obras de Jellineck Del Vecchio e

Verdoodt Para precisar a evoluccedilatildeo e repercussatildeo desses direitos no Direito

internacional e nacional adotaram-se os estudos realizados por Casella

Dollinger Cretella e Wise

18

A metodologia adotada neste trabalho foi a da comparaccedilatildeo dos textos do

corpus com o objetivo de identificar as categorias presentes dentro de um

mesmo gecircnero o juriacutedico As semelhanccedilas e contrastes entre os textos que

compotildeem o corpus tambeacutem satildeo abordadas a fim de se diferenciar o aspecto

formal de cada um e proceder a uma caracterizaccedilatildeo do discurso juriacutedico

textual

A constituiccedilatildeo do corpus se fez a partir de uma lei bastante inovadora

em relaccedilatildeo agraves praacuteticas juriacutedicas e que tem na sua base mesmo que natildeo se

identifique ao primeiro olhar um dos princiacutepios estabelecidos pela Declaraccedilatildeo

dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo o Direito agrave justiccedila A ela foram

acrescidos outros textos de forma retroativa e natildeo necessariamente de lei

mas ligados agrave sua origem e que satildeo representativos dessa caracteriacutestica

uniacutevoca Conveacutem ressaltar que a anaacutelise seraacute realizada a partir do documento

mais antigo

Paralelamente observou-se que no sistema juriacutedico brasileiro a

Constituiccedilatildeo Federal vigente de 1988 autoriza e eacute a base para a publicaccedilatildeo da

lei 114192006 O artigo 5deg dessa constituiccedilatildeo por sua vez baseia-se no que

estabelece a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo (DDHC) de

1789 elaborada na Franccedila logo apoacutes a Revoluccedilatildeo francesa E a Declaraccedilatildeo

Universal dos Direitos do Homem (DDUH) de 1948 que o Brasil assina como

tratado internacional (em 1948) tambeacutem se inspira na DDHC francesa Esse eacute

o liame que seraacute apontado no conjunto principal de documentos que integram o

corpus

O primeiro texto escolhido o da lei 11419 de 19 de dezembro de 2006

conhecido como a lei de Informatizaccedilatildeo Judicial originou-se de uma proposta

de projeto de lei apresentada em 2001 e foi votado pela Cacircmara dos

Deputados e pelo Senado Durante o periacuteodo de sua votaccedilatildeo a proposta

recebeu criticas positivas e negativas mas finalmente obteve sua aprovaccedilatildeo

A ele foram acrescentados os outros textos de modo que integram o corpus os

seguintes textos

I- Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789 (DDHC)

19

II- Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 (DUDH) em liacutengua

francesa

III- Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF88) Preacircmbulo

e artigo 5ordm

IV- Lei 114192006 sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial (LIPJ)

Textos relativos agrave lei 114192006

a) Apresentaccedilatildeo (do projeto de lei)

b) Parecer e voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio de 2252002

c) Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei nordm 58282001 ndash Deputada Luiza Erundina

d) Nota Oficial de 19602

e) Notiacutecia de 6802

f) Carta Aberta IJURIS

Cumpre observar que a pesquisa dos documentos foi feita ao longo do

periacuteodo de estudos e que nem sempre o acesso dos websites permaneceu

vigente Isso explica que muitos tenham a data de 122012 data em que foram

revisados todos os acessos

20

CAPIacuteTULO 1 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO HISTOacuteRICA

Os textos apresentados no corpus deste trabalho tecircm uma importacircncia

muito grande natildeo soacute na Histoacuteria brasileira mas tambeacutem na Histoacuteria mundial

pois modificam os paradigmas do Direito Satildeo textos que afetam as realidades

francesa brasileira e internacional pois dirigem orientam e alteram o percurso

do paiacutes ou dos paiacuteses envolvidos O objetivo deste panorama eacute contextualizar

a anaacutelise que se faraacute deles posteriormente Seratildeo apresentadas de forma

abreviada as histoacuterias das origens dos seguintes documentos

I Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789 (DDHC)

II Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 (DUDH)

III Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF88)

IV Lei 114192006 sobre a Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial e seus

documentos anexos (LIPJ)

a Apresentaccedilatildeo

b Voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio

c Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282201 - Deputada Luiza

Erundina

d Nota Oficial de 1962002

e Noticia de 682002

f Carta Aberta IJURIS

I A Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

A declaraccedilatildeo eacute um documento que foi produzido logo apoacutes a queda da

Bastilha na Franccedila revolucionaacuteria e seu escopo inicial era o de assegurar que

21

natildeo seria mais possiacutevel que um governo absolutista tomasse o poder e que as

garantias individuais dos cidadatildeos franceses fossem respeitadas

Em 27 de julho de 1789 foram abertos os debates na Assembleia

Nacional para a elaboraccedilatildeo de tal documento Para a maioria dos deputados o

documento era necessaacuterio como preliminar de uma Constituiccedilatildeo e vaacuterios foram

os projetos que tentaram realizaacute-lo Nas sessotildees subsequentes a grande

questatildeo era se a declaraccedilatildeo de tais direitos natildeo traria de modo reverso um

abuso de seu exerciacutecio dado seu caraacuteter apaziguador dos acircnimos exaltados

pelas manifestaccedilotildees turbulentas da populaccedilatildeo

Visto o calor dos debates e uma falta de consenso em 18 de agosto a

Assembleia decidiu que um comitecirc analisaria os projetos apresentados por La

Fayette Sieyegraves e o ldquosexto gabineterdquo e foi a siacutentese do que foi apresentado

como a Declaraccedilatildeo final em 26 de agosto de 1789 que passou para a Histoacuteria

A imagem que a Assembleia projeta eacute a de um grupo preocupado com a

estabilidade e que procura um consenso para a soluccedilatildeo dos problemas

Ora o projeto apresentado por La Fayette era calcado na Declaraccedilatildeo de

Independecircncia dos Estados Unidos de 1776 La Fayette chegou ateacute mesmo a

ler na sessatildeo de 11 de julho conforme nos relata Jellinek (1902) o documento

estadunidense traduzido por Thomas Jefferson

A declaraccedilatildeo de Independecircncia dos Estados Unidos era por sua vez o

reflexo e a siacutentese de vaacuterias cartas de direitos de suas colocircnias antes da uniatildeo

federativa que as reuniu Seu conteuacutedo visava estabelecer um estado de direito

em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo e ao funcionamento administrativo do territoacuterio

garantindo liberdades que lhes eram fundamentais sobretudo a liberdade de

consciecircncia e a religiosa

Como bem mostrou Jellinek (1902) em sua obra os estadunidenses jaacute

tinham a vivecircncia praacutetica dos problemas de administraccedilatildeo e da vida

comunitaacuteria precisando apenas cristalizar no texto escrito a organizaccedilatildeo e a

preservaccedilatildeo de suas instituiccedilotildees e de seus indiviacuteduos

22

Neste ponto a Declaraccedilatildeo de Direitos francesa lhe eacute fundamentalmente

oposta Os franceses primeiro estabeleceram os direitos que julgavam

necessaacuterios para um bom funcionamento do novo governo que acabara de se

constituir para depois organizar suas instituiccedilotildees

II Declaraccedilatildeo universal dos Direitos do Homem de 1948 ndash em liacutengua

francesa

O segundo documento que integra esta anaacutelise a DUDH encontra-se

publicado nos sites da ONU1 na versatildeo em francecircs Foi produzido a fim de

assegurar que atrocidades tais como as acontecidas nas duas Grandes

Guerras Mundiais a de 1914 e a de 1939 natildeo pudessem mais ocorrer Seu

objetivo era proteger os direitos dos cidadatildeos como indiviacuteduos de

nacionalidades diferentes integrantes de uma comunidade universal-

internacional

Esse documento ldquoune feuille de route garantissant les droits de chaque

personne en tout lieu et en tout tempsrdquo teve seu texto final redigido por Reneacute

Cassin eminente jurista francecircs e foi apresentado em Genebra sendo

adotado pela resoluccedilatildeo 217 A (III) da ONU em 10 de dezembro de 1948

reunida em Paris com oito votos de abstenccedilatildeo e sem nenhuma contestaccedilatildeo

A DUDH inspirou pactos convenccedilotildees e tratados sobre os direitos do

homem Pode-se dizer que todos os programas da ONU hoje satildeo baseados em

seus princiacutepios Como primeiro documento do reconhecimento universal das

liberdades e dos direitos fundamentais inerentes de todo ser humano livre e

igual em direitos independentemente da nacionalidade residecircncia sexo etnia

cor religiatildeo liacutengua ou qualquer outra diferenccedila - seu objetivo eacute promover a

justiccedila ldquopour chacun drsquoentre nousrdquo

1 httpwwwunorgfrdocumentsudhrindexshtml Acesso em 22122012

23

Sua importacircncia se deve ao fato desse documento enunciar as

obrigaccedilotildees de cada Estado e seu dever de respeitar os princiacutepios ali

estabelecidos ateacute o ponto de se necessaacuterio natildeo intervir e natildeo restringir o

exerciacutecio dos direitos do homem2

Resultado de quase dois anos de trabalhos de uma comissatildeo formada

por 8 dos 18 membros participantes de diferentes horizontes poliacuteticos culturais

e religiosos teve como presidente dos trabalhos de discussatildeo Eleanor

Roosevelt viuacuteva do presidente estadunidense que assumiu esta tarefa apoacutes a

morte de seu marido

Os princiacutepios enunciados na declaraccedilatildeo (de universalidade

interdependecircncia indivisibilidade igualdade e natildeo-discriminaccedilatildeo) atribuiacuteram

aos 50 Estados signataacuterios em 1948 obrigaccedilotildees que exprimem de forma

concreta a universalidade e internacionalidade da DUDH o que se constata

pelo fato de 80 dos paiacuteses atualmente a adotarem assegurando direitos a

cada homem sob sua proteccedilatildeo por meio de legislaccedilatildeo que integre os tratados

aos seus sistemas juriacutedicos internos

Existe uma versatildeo desse texto no site da ONU em liacutengua portuguesa

Mas natildeo haacute referecircncia sobre a data de publicaccedilatildeo ou da traduccedilatildeo da

respectivas versatildeo Foram encontradas diferenccedilas no emprego de

determinados termos e por natildeo ser possiacutevel determinar seu motivo optou-se

pela versatildeo em francecircs que foi a primeira a ser publicada3 aleacutem do fato de ser

a liacutengua nativa do responsaacutevel por sua redaccedilatildeo Reneacute Cassin

2 Os documentos em liacutengua portuguesa vatildeo sempre usar o termo ldquodireitos humanosrdquo Entretanto preferiu-

se neste trabalho adotar a expressatildeo ldquodireitos do homemrdquo pois ao se usar um uacutenico adjetivo (humanos)

haacute em nosso entender uma alteraccedilatildeo de sentido a expressatildeo deixa de ser composta por coordenaccedilatildeo e

passa a ser apenas adjetivada O adjetivo usado associado ao substantivo eacute bem verdade integra-se a ele

mas por outro lado perde o impacto da justaposiccedilatildeo apaga a palavra homem que eacute o sujeito e o objeto

central dos direitos Cumpre notar que em liacutengua francesa o termo foi mantido (ldquodroits de lrsquohommerdquo) e

que se poderia ter optado por ldquodroits humainsrdquo o que natildeo ocorreu preferindo manter-se a expressatildeo tal

qual foi adotada em sua origem

3 Eacute possiacutevel que na traduccedilatildeo em liacutengua portuguesa o momento histoacuterico diferente tenha resultado em

escolhas diferenciadas em relaccedilatildeo aos termos empregados Mas a primeira versatildeo em liacutengua francesa vem

cotejada pela versatildeo em liacutengua inglesa e o emprego de vaacuterios termos e expressotildees tambeacutem natildeo eacute o

mesmo Tal problemaacutetica deveraacute ser tratada em estudos posteriores ao dessa tese

24

III Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Preacircmbulo

e artigo 5ordm

A fim de entender o extrato desse documento faz-se necessaacuterio situaacute-lo

historicamente Segundo Cretella (1994) as quatro Declaraccedilotildees

Revolucionaacuterias Francesas influem na Constituiccedilatildeo Poliacutetica do Impeacuterio do

Brasil de 1824 Satildeo elas

a) A de 17 artigos e mais conhecida a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem

e do Cidadatildeo pois seus artigos constam no Proacutelogo da Constituiccedilatildeo de

1791 e na de 1958 tambeacutem Foi votada pela Assembleia Constituinte

francesa em 27 de agosto de 1789

b) A Declaraccedilatildeo girondina de 1793 votada pela Convenccedilatildeo

c) A Declaraccedilatildeo Montanhesa de 1793 que deveria preceder a constituiccedilatildeo

mas que acabou natildeo sendo votada

d) A Declaraccedilatildeo do Ano III que precede a Constituiccedilatildeo de 5 Frutidor (do

mesmo ano) votada tambeacutem pela Convenccedilatildeo

No Brasil os cem constituintes da Assembleia Constituinte de 1823

convocada em 19 de junho de 1822 pelo Priacutencipe Regente antes de

proclamada a Independecircncia do Brasil receberam grande influencia de Antonio

Carlos de Andrada e Silva4 nomeado seu relator Quatro meses depois por

desentendimentos entre os brasileiros e portugueses adotivos infelizmente a

Assembleia foi dissolvida por sua Alteza Real que criou em seguida um

Conselho de Estado para elaborar um novo projeto de constituiccedilatildeo

4 ldquoA Constituiccedilatildeo do Impeacuterio do Brasil de 1824 teve a sua elaboraccedilatildeo encomendada pelo Imperador Dom

Pedro I Primeira constituiccedilatildeo brasileira foi marcada pela influecircncia das constituiccedilotildees europeias A

Assembleia Nacional Constituinte reunida para sua criaccedilatildeo era composta por um total de 90 membros

eleitos na qual destacavam-se os proprietaacuterios rurais bachareacuteis em leis aleacutem de militares meacutedicos e

funcionaacuterios puacuteblicos O anteprojeto constitucional foi elaborado por uma comissatildeo composta por seis

deputados sob a lideranccedila de Antocircnio Carlos de Andrada e Silva irmatildeo de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e

Silva O anteprojeto foi marcado pela manutenccedilatildeo do sistema escravista e pela divisatildeo dos trecircs poderes

executivo legislativo e judiciaacuterio A primeira carta constitucional do Brasil foi outorgada jaacute que D Pedro

I natildeo aceitando ter poderes limitados dissolveu a Assembleia Constituinterdquo In

httpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara8528 Acesso em 22122012

25

Esta constituiccedilatildeo foi considerada por alguns comentaristas como a mais

bela e perfeita do seacuteculo XIX Foi influenciada pelo jurista pensador e filoacutesofo

positivista Benjamin Constant Ela assegura vaacuterios dos direitos que ainda

ecoam na Constituiccedilatildeo de 1988 jaacute que tambeacutem a plena liberdade de

consciecircncia crenccedila e culto coibiu a perseguiccedilatildeo religiosa e aboliu os accediloites a

tortura e demais penas crueacuteis

O excerto utilizado neste trabalho faz parte da oitava constituiccedilatildeo

brasileira a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 a qual

vigora ateacute hoje Apoacutes um periacuteodo em que houve uma sequecircncia de Atos

Institucionais e uma disposiccedilatildeo de se restaurar um estado democraacutetico o

presidente Joatildeo Baptista Figueiredo eleito indiretamente aprova algumas

Emendas Constitucionais entre elas a EC no15 restabelecendo a eleiccedilatildeo

direta para Governadores dos Estados e Senadores Eleito o presidente

seguinte Tancredo Neves em 1984 devido ao seu falecimento quem toma

posse eacute seu vice Joseacute Sarney que daacute iniacutecio agrave Nova Repuacuteblica e convoca

atraveacutes de novas Emendas Constitucionais

ldquoos Membros da Cacircmara dos Deputados e do Senado Federal a

reunirem-se unicameralmente no dia 1ordm De fevereiro de 1987

na sede do Congresso Nacional devendo o Presidente do

Supremo Tribunal Federal instalar a Assembleia e dirigir a

sessatildeo de eleiccedilatildeo de seu Presidente sendo afinal a Constituiccedilatildeo

promulgada no fim dos trabalhos depois da aprovaccedilatildeo de seu

Texto em dois turnos de discussatildeo e votaccedilatildeo pela maioria

absoluta dos membros colegiadosrdquo 5

A Assembleia Nacional Constituinte cuja missatildeo especiacutefica era a de

elaborar a nova constituiccedilatildeo foi formada apoacutes a eleiccedilatildeo de Deputados e

Senadores foi criada uma Comissatildeo de Estudos Constitucionais um grupo de

ldquonotaacuteveisrdquo nomes conhecidos e representativos da sociedade brasileira que

deveriam se reunir para debater e apresentar sugestotildees Instalada em 20 de

agosto de forma solene a Comissatildeo deu inicio aos trabalhos Entretanto tal

5 Arts 1ordm 2ordm e 3ordm Da EC no 12 aspas do autor

26

qual ocorrera na primeira constituiccedilatildeo brasileira a imperial natildeo se chegou a

um consenso com artigos de impossiacutevel aceitaccedilatildeo

Foram entatildeo convocadas eleiccedilotildees e por fim tal qual determinava a EC

no 2685 os 559 membros eleitos das duas casas se reuniram

unicameralmente em 1ordm de fevereiro de 1987 na sede do Congresso Nacional

sob a direccedilatildeo do Presidente do Supremo Federal Professor e Ministro Joseacute

Carlos Moreira Alves O Senador Humberto Lucena foi eleito Presidente do

Senado e teve o Deputado Ulysses Guimaratildees como Presidente da

Constituinte no seu primeiro dia Finalmente aos 5 de outubro de 1988 o Brasil

teve promulgada a sua Oitava Constituiccedilatildeo

Este terceiro documento foi produzido logo apoacutes o fim do periacuteodo de

governo militar Seu escopo aleacutem de organizar o Estado e as relaccedilotildees entre os

indiviacuteduos que dele fazem parte era sobretudo o de resguardar as instituiccedilotildees

e o cidadatildeo brasileiros Dessa forma seus artigos tecircm como objetivo principal

natildeo permitir mais a instalaccedilatildeo no poder de um governo de forccedila e autoritaacuterio e

assegurar o respeito das garantias individuais do cidadatildeo tais como sua

liberdade e a igualdade entre os indiviacuteduos

Os trechos selecionados satildeo o Preacircmbulo o caput do artigo 5ordm e seu

inciso LXVVIII O Preacircmbulo texto que antecede o texto propriamente dito da

Constituiccedilatildeo e que auxilia o inteacuterprete a entender melhor o pensamento do

constituinte (mens legislatoris) funciona como um acessoacuterio do texto principal

pois como deve ser afirma princiacutepios Eacute uma siacutentese do pensamento

dominante conforme ensina Cavalcanti6 mostrando seu conteuacutedo ideoloacutegico e

seus propoacutesitos7

6CAVALCANTI Temiacutestocles Brandatildeo A Constituiccedilatildeo Federal comentada 3ordf Ed 1956 V I p14

apud CRETELLA 1994

7 Cretella analisa termo a termo do Preacircmbulo ao longo de 23 paacuteginas ressaltando sua categoria

gramatical e seu sentido dentro do texto

27

Conforme expotildee Cretella (1994) Mangabeira poliacutetico brasileiro explica

que a igualdade consiste ldquoem considerar desigualmente condiccedilotildees desiguais

de modo a abrandar tanto quanto possiacutevel pelo direito as diferenccedilas sociais e

por ele promover a harmonia social o equiliacutebrio dos interesses e da sorte das

classes A concepccedilatildeo individualista do direito desaparece ante a sua

socializaccedilatildeo como instrumento de justiccedila social solidariedade humana e

felicidade coletiva8rdquo

Cretella (1994) trata especialmente do excerto ldquoTODOS satildeo iguaisrdquo

explicando que este todos se refere a ldquoldquotodos os seres humanosrdquo ldquotodos os

homens e mulheresrdquo ldquotodos os brasileirosrdquo em peacute de igualdade satildeo iguais

ldquoperante a leirdquo

ldquoPor quecircPorque os homens nascem livres e iguais em direitos ldquoAs

distinccedilotildees sociais natildeo podem ser baseadas a natildeo ser na utilidade comumrdquo

(art 1ordm da Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo de 3 de setembro

de 1791) 9rdquo

As distinccedilotildees porventura existentes seriam as de ldquosexordquo ldquoraccedilardquo ldquocorrdquo

ldquoreligiatildeordquo ou ldquocredo religiosordquo ldquotrabalhordquo ldquoconvicccedilotildees poliacuteticasrdquo

ldquofilosoacuteficasrdquo rdquoorigemrdquo ldquoidaderdquo como se encontram enumeradas no art 3ordm

III que a final acrescenta ldquooutras formas de discriminaccedilatildeordquo que equivale a

ldquosem distinccedilatildeo de qualquer naturezardquo Precedendo a ldquofraternidaderdquo a

Revoluccedilatildeo Francesa colocou a ldquoigualdaderdquo lado a lado com a ldquoliberdaderdquo

Com efeito natildeo soacute a monarquia francesa como as monarquias de todo o

mundo inclusive a brasileira oriunda da lusitana eram baseadas em classes

sociais bem estratificadas resultando daiacute tratamento juriacutedico diverso

desigual prevalecendo os privileacutegios e prerrogativas que foi desfeito pelas

Repuacuteblicas responsaacuteveis pelos principio de isonomia como prerrogativa do

homem livre e igual perante a lei ldquoO principio de isonomia oferece na sua

aplicaccedilatildeo agrave vida inuacutemeras e seacuterias dificuldades De fato conduziria a

inominaacuteveis injusticcedilas se importasse em tratamento igual para os que se

acham em desigualdade de situaccedilotildees A injusticcedila que reclama tratamento

igual para os iguais pressupotildee tratamento desigual para os desiguais Ora a

necessidade de desigualar os homens em certos momentos parar estabelecer

8 MANGABEIRA Joatildeo Em torno da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1934 p

261 apud CRETELLA 1994

9 A data apresentada por Cretella difere da data que consta no site do governo francecircs

httpwwwtextesjusticegouvfrtextes-fondamentaux-10086droits-de-lhomme-et-libertes-

fondamentales-10087declaration-des-droits-de-lhomme-et-du-citoyen-de-1789-10116html Acesso em

22122012

28

no plano do fundamental a sua igualdade cria problemas delicados que nem

sempre a razatildeo humana resolve adequadamenterdquo10

Cretella tambeacutem discorre sobre o direito agrave igualdade tratando deste item

sob a oacutetica daquele que pretende ingressar nos quadros de agentes do Estado

ldquoeacute a aplicaccedilatildeo no plano do serviccedilo publico dos princiacutepios estabelecidos pela

Declaraccedilatildeo dos direitos do homem para todos os cidadatildeos como pretendendo

participar das atividades exercidas pelo Estado como tambeacutem regulando a

situaccedilatildeo do usuaacuterio beneficiaacuterio do serviccedilo publicordquo

Entretanto termina dizendo o seguinte

ldquoO principio da igualdade sob a forma de proposiccedilatildeo mandamental pode ser assim

expresso ldquoOs administrados que preenchem os requisitos prescritos nas leis e

regulamentos tem o direito subjetivo publico de exigir o mesmo tratamento por parte do

Estadordquordquo

O inciso LXXVIII foi acrescido pela Emenda Constitucional no 45 de 9 de

dezembro de 2004 Trata como ensina Alexandre de Moraes (2011)

ldquoA EC no 4504 (Reforma do Judiciaacuterio) assegurou a todos no acircmbito

judicial e administrativo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que

garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeordquo

()

ldquoOs processos administrativos e judiciais devem garantir todos os direitos agraves

partes sem contudo esquecer a necessidade de desburocratizaccedilatildeo de seus

procedimentos e na busca de qualidade e maacutexima eficaacutecia de suas decisotildees

Na tentativa de alcanccedilar esses objetivos a EC no 4504 trouxe diversos

mecanismos de celeridade transparecircncia e controle de qualidade da atividade

jurisdicionalrdquo

()

ldquoO sistema processual judiciaacuterio necessita de alteraccedilotildees infraconstitucionais

que privilegiem a soluccedilatildeo dos conflitos a distribuiccedilatildeo de Justiccedila e maior

seguranccedila juriacutedica afastando-se tecnicismos exageradosrdquo

10

FERREIRA FILHO Manoel Gonccedilalves Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira Volume III 6ordf ed

Satildeo Paulo Saraiva 1986 p581 apud CRETELLA 1994

29

IV Lei 114192006 sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial

A lei 114192006 eacute uma lei federal que regula as praacuteticas relativas agraves

novas tecnologias ligadas agrave informaacutetica e que podem ser utilizadas no Poder

Judiciaacuterio O objetivo da lei eacute o de acelerar os procedimentos judiciais de

regular ao mesmo tempo em que torna homogecircnea e permite a modernizaccedilatildeo

das praacuteticas jaacute existentes no Poder Judiciaacuterio

O texto da Lei 114192006 vem assinado pelo Presidente da Repuacuteblica e

pelo Ministro da Justiccedila ambos representantes do Poder Executivo O Poder

Executivo conforme define o artigo 76 CF88 eacute exercido pelo Presidente da

Repuacuteblica e seus Ministros de Estado O presidente da Repuacuteblica tem

competecircncias privativas definidas pelo artigo 84 entre elas a de iniciar o

processo legislativo sancionar promulgar e fazer publicar leis e expedir

decretos e regulamentos para que as leis possam ser promulgadas aleacutem de

vetar projetos de lei de forma parcial ou total11

O Poder Executivo dito federal age diretamente atraveacutes de seus

Ministeacuterios na execuccedilatildeo de programas ou prestaccedilatildeo de serviccedilo puacuteblico ou

indiretamente atraveacutes de empresas puacuteblicas Tambeacutem exerce o controle do

Poder Judiciaacuterio pois nomeia os ministros dos diferentes Tribunais Superiores e

o controle do Legislativo pois participa da elaboraccedilatildeo de leis sancionando ou

vetando projetos

O Ministeacuterio da Justiccedila dentre os diversos Ministeacuterios e respectivas

11

Art 84 Compete privativamente ao Presidente da Repuacuteblica

I - nomear e exonerar os Ministros de Estado

II - exercer com o auxiacutelio dos Ministros de Estado a direccedilatildeo superior da administraccedilatildeo federal

III - iniciar o processo legislativo na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo

IV - sancionar promulgar e fazer publicar as leis bem como expedir decretos e regulamentos para sua

fiel execuccedilatildeo

V - vetar projetos de lei total ou parcialmente

30

Autarquias que compotildeem o Governo Federal eacute o mais antigo criado em 3 de

julho de 1822 pelo Priacutencipe Regente D Pedro com nome de Secretaria de

Estado de Negoacutecios da Justiccedila Seus ministros auxiliam o Presidente da

Repuacuteblica no exerciacutecio do Poder Executivo

Aos Ministros de Estado de acordo com o artigo 87 cabe entre outras

a funccedilatildeo de referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da

Repuacuteblica exercer a orientaccedilatildeo coordenaccedilatildeo e supervisatildeo dos oacutergatildeos e

entidades da administraccedilatildeo federal de sua aacuterea de administraccedilatildeo e praticar atos

que lhe forem atribuiacutedos pelo Presidente da Repuacuteblica

Textos de IVa ateacute IVf

Os textos seguintes de IVa ateacute IVf integrantes deste trabalho seratildeo

utilizados como fonte para que se possa contextualizar e justificar o texto da Lei

114192006 da informatizaccedilatildeo judicial e somente alguns deles seratildeo

analisados Encontram-se numa cartilha que foi elaborada pela Associaccedilatildeo dos

Juiacutezes Federais do Brasil e que foi distribuiacuteda aos parlamentares por ocasiatildeo da

votaccedilatildeo final em que a mesma lei foi aprovada O nome dos textos foi mantido

tal qual figuravam na cartilha

IVa Apresentaccedilatildeo (do projeto de lei)

Este texto eacute apresentado pela AJUFE na pessoa de seu presidente o

juiz federal Paulo Seacutergio Domingues Segundo seu Estatuto esta Associaccedilatildeo eacute

uma entidade de acircmbito nacional que congrega os magistrados da Justiccedila

Federal tendo sido criada como sociedade civil sem fins lucrativos natildeo sendo

filiada a quaisquer outras entidades nacionais de representaccedilatildeo de juiacutezes

31

A AJUFE tem entre outros objetivos relativos agrave defesa dos interesses

gerais e regionais da magistratura brasileira visando colaborar com o

fortalecimento do Poder Judiciaacuterio e de seus integrantes bem como o

aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito observando os direitos

humanos

Tambeacutem estaacute entre seus objetivos promover reuniotildees e simpoacutesios para

o estudo e debate de questotildees institucionais e de interesse funcional dos

magistrados aleacutem de publicar ou patrocinar a publicaccedilatildeo de trabalhos e obras

de interesse dos magistrados mantendo para tanto revista de divulgaccedilatildeo de

trabalhos de cunho cientiacutefico na aacuterea juriacutedica

O juiz que preside a AJUFE fala como pessoa mas sobretudo como

representante de um grupo de juiacutezes associados que tecircm os mesmos objetivos

constituiacutedos

IVb Voto com o parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio

(2252002)

Apresentado o texto do anteprojeto agrave Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila da Cacircmara dos Deputados o Deputado Relator Joseacute Roberto

Batochio deve emitir um parecer e dar seu voto em relaccedilatildeo ao anteprojeto O

Deputado assim como o juiz presidente da AJUFE tambeacutem exerce a funccedilatildeo

de representante conforme consta na proacutepria paacutegina de internet12

Uma de suas principais atividades eacute assim a elaboraccedilatildeo de leis e a

fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira de orccedilamento e patrimocircnio da Uniatildeo e dos

oacutergatildeos da Administraccedilatildeo direta e indireta

12

ldquoO Poder Legislativo cumpre papel imprescindiacutevel perante a sociedade do Paiacutes visto que desempenha

trecircs funccedilotildees primordiais para a consolidaccedilatildeo da democracia representar o povo brasileiro legislar sobre

os assuntos de interesse nacional e fiscalizar a aplicaccedilatildeo dos recursos puacuteblicos

Nesse contexto a Cacircmara dos Deputados autecircntica representante do povo brasileiro exerce atividades

que viabilizam a realizaccedilatildeo dos anseios da populaccedilatildeo mediante discussatildeo e aprovaccedilatildeo de propostas

referentes agraves aacutereas econocircmicas e sociais como educaccedilatildeo sauacutede transporte habitaccedilatildeo entre outrasrdquo

32

IVc Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282201 - Deputada Luiza

Erundina

O texto que acompanha o texto do Projeto de Lei 58282001 eacute datado de

1962002 Neste documento o nome da Deputada Luiza Erundina figura na

justificativa que acompanha o projeto que seraacute transformado em lei

IVd Nota oficial

A nota oficial de 1962002 uma manifestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos

Juiacutezes Federais do Brasil (AJUFE) teve como propoacutesito responder a uma criacutetica

efetuada pela Ordem dos Advogados do Brasil de Satildeo Paulo A AJUFE foi a

primeira entidade a apresentar uma proposta de lei (a lei de informatizaccedilatildeo do

processo judicial) agrave Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa da Cacircmara dos

Deputados a partir da mudanccedila constitucional implantada em 2001

A proposta de lei foi aceita pela Cacircmara dos Deputados e transformada

em projeto de lei Durante sua tramitaccedilatildeo para discussatildeo do projeto vaacuterias

foram as manifestaccedilotildees a seu favor e apenas uma - a da OABSP criticava a

proposta A Nota Oficial eacute a resposta da AJUFE a essa criacutetica

IVe Notiacutecia de 682002

Esta notiacutecia publicada em 682002 pela Revista Consultor Juriacutedico eacute

um boletim eletrocircnico na Internet para consulta e informaccedilatildeo do puacuteblico

interessado em geral mas tambeacutem do puacuteblico do universo juriacutedico

especializado

Conforme consta em seu site a revista eletrocircnica13 criada em 1997

13

httpwwwconjurcombraquem_somos Acesso em 20112012

33

eacute uma publicaccedilatildeo independente sobre direito e justiccedila que se propotildee a ser

fonte de informaccedilatildeo e pesquisa no trabalho no estudo e na compreensatildeo de

seus direitos

Seu banco de dados dispotildee de cerca de 70000 arquivos que satildeo

acessados por quase um milhatildeo de leitores a cada mecircs De seu auditoacuterio-leitor

fazem parte advogados juiacutezes estudantes jornalistas professores integrantes

do Ministeacuterio Puacuteblico empresaacuterios bem como pessoas do puacuteblico em geral

Editada por jornalistas conta com colaboradores do mundo juriacutedico

informando seu auditoacuterio sobre os principais acontecimentos que interferem na

vida do cidadatildeo

IVf Carta Aberta IJURIS

A Carta Aberta do IJURIS vem assinada por Hugo Ceacutesar Hoeschi e

Tacircnia Cristina DrsquoAgostini Bueno pesquisadores do Instituto que foi fundado

com a denominaccedilatildeo de Instituto de Inteligecircncia Juriacutedica e Sistemas ndash IJURIS a

fim de constituir uma sociedade civil sem fins lucrativos Seu objetivo eacute realizar

pesquisas avanccediladas e desenvolvimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos Eacute

credenciado como Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico -

OSCIP pela Secretaria Nacional de Justiccedila do Ministeacuterio da Justiccedila

Em fevereiro de 2008 realizou modificaccedilatildeo em seu nome social e

passou a chamar-se Instituto de Governo Eletrocircnico Inteligecircncias e Sistemas ndash

i3G evidenciando a missatildeo do Instituto (3G significa Inteligecircncias para

Governo isto eacute Inteligecircncia Artificial Inteligecircncia de Governo e Inteligecircncia

Social) a fim de deixar transparente a sinergia de conhecimentos cujo objetivo

eacute o fortalecimento da cidadania

O Instituto tambeacutem manteacutem convecircnios de Cooperaccedilatildeo Teacutecnica e

Cientiacutefica com o Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia e Gestatildeo do

Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina ndash EGCUFSC e de

Cooperaccedilatildeo Internacional para Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico com a Universidade Politeacutecnica de Madrid e a Universidad de

FASTA da Argentina ambos firmados em 2008

34

Os documentos analisados no capiacutetulo 3 desse trabalho satildeo os de

nuacutemeros I a IV e os de nuacutemeros IVb IVc e IVd Os outros documentos

interessam pelo seu contexto e teor que satildeo relevantes para esclarecer o

liame entre a Liacutengua a cultura e o Direito

35

CAPITULO 2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 Textos juriacutedicos e a Teoria da Enunciaccedilatildeo enunciado enunciador e

contexto da enunciaccedilatildeo

Antes de examinar como a Teoria da Enunciaccedilatildeo se aplica aos textos

juriacutedicos eacute importante definir o que se entende por discurso na perspectiva da

Anaacutelise do Discurso A definiccedilatildeo proposta por Maingueneau (2002) e que eacute

consenso apresenta o discurso como uma organizaccedilatildeo situada aleacutem da frase

pois ele ldquomobiliza estruturas de uma outra ordem que as da fraserdquo e isto

permite verificar a quais regras de organizaccedilatildeo ele se submeteu

Segundo este autor o discurso eacute orientado visa a um objetivo e se

desenvolve de forma linear no tempo sendo regido por determinadas

condiccedilotildees que podem ser alteradas caso seja produzido por um ou mais

enunciadores ou aborde diferentes formas de accedilatildeo do seu enunciador

(prometer afirmar estabelecer por exemplo)

Isto significa que o discurso eacute contextualizado ou seja soacute tem sentido

em um determinado contexto Aleacutem disso um mesmo discurso produzido em

contextos diferentes deveria implicar em consequecircncias diferentes como se

veraacute na anaacutelise da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (DUDH)14

O discurso ldquosoacute eacute discurso enquanto remete a um sujeito um EU que se

coloca como fonte de referecircncias pessoais temporais espaciaisrdquo e ldquoao mesmo

tempo indica que atitude estaacute tomando em relaccedilatildeo agravequilo que diz e em relaccedilatildeo

ao seu co-enunciadorrdquo

14

A DUDH enquanto documento internacional deve ser entendida da mesma forma por todos os paises

que a assinaram

36

Ainda considera Maingueneau (2002) que o discurso eacute regido por

normas pois ldquocada ato de linguagem implica normas particularesrdquo de modo que

uma pergunta por exemplo pressupotildee a existecircncia de uma resposta mesmo

que ela natildeo se manifeste Por fim o autor situa a existecircncia do discurso em um

ldquouniverso de outros discursosrdquo pois um enunciado se relaciona a outros como

seraacute examinado nos itens referentes ao dialogismo e agrave polifonia

Sob a perspectiva que expotildee Maingueneau eacute possiacutevel entatildeo se falar

em discurso juriacutedico pois tudo o que se refere a ele eacute caracteriacutestico de um

contexto de produccedilatildeo particular sendo orientado e regido por normas

especificas e ainda que aparentemente uma lei natildeo possua um enunciador

expliacutecito este estaacute presente no ato da enunciaccedilatildeo O discurso juriacutedico se serve

de uma linguagem especifica proacutepria ao Direito a fim de enunciar de maneira

particular e que interessa ao universo juriacutedico naquilo que pretende como

explica Cornu (2005210)

Dans le discours juridique comme dans tout discours lrsquoinstrument de la

communication demeure la langue naturelle Mais ici la langue porteuse

incorpore um langage speacuteciliseacute Elle utilise (non pas neacutecessairement on lrsquoa

vu mais fort souvent) des termes et des tournures speacutecifiquement

juridiques15

Cornu (2005) adverte que atribuir um caraacuteter juriacutedico ao discurso natildeo

pode se limitar a uma simples constataccedilatildeo do uso de um determinado

vocabulaacuterio teacutecnico do estilo empregado no discurso (arcaiacutesmo nas

construccedilotildees por exemplo) de um pertencimento a uma classe profissional ou

da praacutetica de atividades ligadas ao universo juriacutedico

Segundo o autor esses elementos conferem caracteriacutesticas e

especificidade ao discurso mas a elas devem-se acrescentar o fato de que o

discurso juriacutedico propriamente dito eacute formado ldquoporque ele estabelece ou diz o

direitordquo tal como por exemplo uma lei Cornu considera que tambeacutem integra o

discurso juriacutedico tudo o que ldquocontribui para a realizaccedilatildeo do direitordquo tal como um

laudo pericial 15

ldquoNo discurso juridico como em todo discurso o instrumento da comunicaccedilatildeo permanece a liacutengua

natural Mas aqui a liacutengua que traz (a regra juridica) incorpora uma linguagem especializada Ela utiliza

(nao que se tenha necessariamente observado mas muito frequentemente) termos e construccediloes

especificamente juridicos raquo (Trad Nossa)

37

Bakhtin (1984) trata da esfera no discurso explicando que o contexto

que envolve a produccedilatildeo de um determinado gecircnero eacute o que determina sua

orientaccedilatildeo ideoloacutegica e portanto seu sentido Isto quer dizer que em se

tratando do discurso juriacutedico o uso de um vocabulaacuterio especiacutefico (juriacutedico) em

certo lugar e momento histoacuterico ou seja em uma determinada esfera produz

um discurso peculiar

Cornu natildeo contempla entretanto outros discursos como integrantes do

juriacutedico e que por pertencerem a esse universo natildeo podem ser

desconsiderados Fazem parte assim do discurso juriacutedico igualmente os

textos teoacutericos os artigos acadecircmicos os textos jornaliacutesticos que vulgarizam o

conteuacutedo juriacutedico e ateacute mesmo o projeto de lei que antecede a lei Todos

esses textos tratam do Direito como quer Cornu e devem portanto ser

integrados ao do discurso juriacutedico resguardadas algumas peculiaridades pois

pertencem a um desdobramento de gecircnero

De acordo com a Teoria da enunciaccedilatildeo e de acordo com

Maingueneau16 a enunciaccedilatildeo eacute um termo da filosofia que foi pelo uso

sistemaacutetico ganhando novos contornos e que constitui o que hoje se pode

chamar a ponte entre a liacutengua e o mundo na medida em que os fatos estatildeo

representados em um enunciado

A concepccedilatildeo de enunciaccedilatildeo se encaminha para uma concepccedilatildeo

discursiva ou para uma concepccedilatildeo linguiacutestica dependendo da tocircnica dada a

determinados eventos De acordo com Charaudeau (1992) a concepccedilatildeo

linguiacutestica eacute aquela que toma a enunciaccedilatildeo como sendo o conjunto de

procedimentos laquo qui explicitent les diffeacuterents types de relations de lrsquoacte

eacutenonciatif agrave travers les processus de Modalisation de lrsquoeacutenonceacute raquo e que

permitem laquoexpliciter ce que sont les positions du sujet parlant par rapport agrave son

interlocuteur raquo17 A concepccedilatildeo discursiva eacute aquela cujo enfoque estaacute voltado

16

CHARAUDEAU Patrick MAINGUENEAU Dominique Dictionnaire drsquoAnalyse du Discours Paris

Seuil 2002

17 ldquoque explicitam os diferentes tipos de relaccedilotildees do ato enunciativo pelo processo de Modalizaccedilatildeo do

enunciadordquo e que permitem ldquoexplicitar o que satildeo os posicionamentos do sujeito falante em relaccedilatildeo a seu

interlocutorrdquo (Trad Nossa)

38

para os procedimentos ldquoqui contribuent agrave mettre en scegravene les modes

drsquoorganisation du discoursrdquo18 tais como o narrativo ou argumentativo

A enunciaccedilatildeo trata do discurso considerando um niacutevel local e um niacutevel

global niacuteveis esses que interagem constantemente Segundo Charaudeau

(2002) o niacutevel local permite caracterizar os gecircneros do discurso pelas marcas

encontradas nas reformulaccedilotildees ou nas modalidades por exemplo O niacutevel

global trata de questotildees que abordam o funcionamento individual da liacutengua e

seu desenvolvimento dentro do discurso como a cena da enunciaccedilatildeo a

situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo ou os gecircneros do discurso

Arriveacute Gadet e Galmiche (1986) propotildeem como definiccedilatildeo de

enunciaccedilatildeo o ato pelo qual um locutor faz funcionar a liacutengua em uma

determinada situaccedilatildeo Neste ato entram em accedilatildeo natildeo apenas o locutor mas

tambeacutem o alocutaacuterio que recebe o enunciado

Segundo Maingueneau (200256-57) o enunciado eacute ldquoa marca verbal do

acontecimento do que eacute a enunciaccedilatildeordquo ou melhor seu resultado ou produto

uma ldquosequecircncia verbal que forma uma unidade de comunicaccedilatildeo completa no

acircmbito de um determinado gecircnero de discursordquo19

No presente trabalho seraacute tomada no seu sentido amplo a concepccedilatildeo

proposta por Maingueneau sendo o locutor denominado enunciador Jaacute o

alocutaacuterio seraacute tratado como enunciataacuterio pois o corpus desse trabalho eacute

dotado de textos escritos de origem juriacutedica Escolheu-se entatildeo usar

enunciador e enunciataacuterio pois a relaccedilatildeo entre ambos eacute de polo ativo

(enunciador) e polo passivo (enunciataacuterio) Isso se justifica porque um texto

escrito eacute produzido antes pelo enunciador e o enunciataacuterio soacute entra em contato

com o texto produzido num momento posterior Ainda eacute necessaacuterio observar

que se o texto for uma lei ou um tratado por exemplo os enunciadores

submetem as respectivas sociedades agraves disposiccedilotildees por eles estabelecidas

18

ldquoque contribuem para por em cena os modos de organizaccedilatildeo do discursordquo (Trad Nossa)

19 Grifo do autor

39

O interesse especial pelo enunciador neste trabalho deve-se sobretudo

ao fato de se determinar nos textos estudados ou melhor nos enunciados

tomados como parte do corpus quem eacute de fato o enunciador como ele se

constitui como sujeito quais operaccedilotildees de reformulaccedilatildeo satildeo por ele

promovidas na medida em que o discurso eacute alterado e refeito Este processo

revela como o enunciador se apresenta como ele promove seu proacuteprio

apagamento se necessaacuterio a fim de alcanccedilar sua pretensatildeo

Tratar do enunciado implica portanto tratar do enunciador e da

subjetividade considerando diversos status que ele pode adquirir enquanto

sujeito que organiza o enunciado ou o dizer um sujeito que exprime seu ponto

de vista e que se coloca diante do outro (enunciataacuterio) numa troca linguiacutestica O

sujeito nessa perspectiva se constroacutei enquanto produz seu enunciado e de

acordo com um objetivo que tambeacutem pode ser alterado durante sua produccedilatildeo

Uma anaacutelise mais aprofundada do enunciador em relaccedilatildeo ao seu ethos seraacute

tratada mais adiante

A linguagem atividade que se realiza entre dois protagonistas

(enunciador e enunciataacuterio) revela segundo Maingueneau (2002) natildeo somente

a posiccedilatildeo do primeiro em relaccedilatildeo ao segundo mas tambeacutem a proacutepria situaccedilatildeo

de enunciaccedilatildeo a situaccedilatildeo do enunciado a sua relaccedilatildeo com o mundo e com os

enunciados anteriores ou posteriores a sua inscriccedilatildeo numa determinada

cultura trazendo agrave tona de certa forma aquilo que jaacute foi dito anteriormente

mas que natildeo eacute mais o mesmo porque se renova ao mesmo tempo em que se

reformula

Como ato individual de utilizaccedilatildeo da liacutengua a enunciaccedilatildeo eacute um evento

uacutenico resultado do ato de um enunciador e de um enunciataacuterio especiacuteficos

numa determinada situaccedilatildeo e estes mesmo estando ocultos no enunciado

tornam-no possiacutevel Conforme esclarece Arriveacute (1986) essa troca linguiacutestica

coloca em funcionamento a liacutengua em uma situaccedilatildeo

Na condiccedilatildeo de evento situado no tempo e no espaccedilo o fato de se

produzir um enunciado denota a existecircncia de um conteuacutedo estaacutevel mesmo

que seja possiacutevel uma multiplicidade de eventos enunciativos anteriores para a

40

realizaccedilatildeo do enunciado Os rastros deixados pelo enunciado nos atos de sua

produccedilatildeo constroem assim o sentido dado pelos protagonistas numa dada

situaccedilatildeo

No discurso juriacutedico o enunciado eacute o portador de algumas caracteriacutesticas

importantes deste gecircnero especifico Aleacutem de um vocabulaacuterio teacutecnico existe

uma composiccedilatildeo que eacute formular para os textos escritos sendo que o

enunciado deve prescrever regras de conduta no caso de uma lei ou um

tratado O enunciador desses textos natildeo eacute uma pessoa que se possa

determinar pois em geral o enunciado eacute o resultado da decisatildeo de uma

assembleia ou seja de um grupo de pessoas que se reuacutenem com o objetivo

de elaborar tal texto em um determinado momento histoacuterico e para um

determinado fim O texto de lei ou de um tratado eacute assim o resultado da

expressatildeo da vontade de um grupo e mesmo que venha assinado por um

sujeito este eacute apenas um representante a quem foi atribuiacuteda tal funccedilatildeo Tal

contexto de produccedilatildeo revela a forccedila ilocutoacuteria do enunciado ou seja a

intenccedilatildeo de quem o produz

As circunstacircncias de enunciaccedilatildeo satildeo representadas por elementos que

integram o sentido do enunciado Esses elementos se reportam agraves vezes a

outros elementos os referentes Esse mecanismo revela tambeacutem as intenccedilotildees

do enunciado dando sentido ao texto o que justifica que sejam estudados

mais adiante no item que trata das reformulaccedilotildees e nas anaacutelises dos textos

22 O dialogismo e a polifonia nos textos juriacutedicos

Apoacutes terem sido examinados o enunciado e alguns aspectos relevantes

em relaccedilatildeo ao enunciador e ao enunciataacuterio esta parte do capitulo pretende

analisar as relaccedilotildees entre os diferentes textos a partir das propostas teoacutericas

de Bakhtin que tratam do dialogismo e da polifonia

41

Bakhtin (2003261) trata da produccedilatildeo da linguagem oral e escrita como

parte da atividade humana Dentro dessas atividades que satildeo de diferentes

domiacutenios ele situa o enunciado em relaccedilatildeo a sua utilizaccedilatildeo

ldquoenunciados refletem as condiccedilotildees especiacuteficas e as finalidades de cada

referido campo natildeo soacute por seu conteuacutedo (temaacutetico) e pelo estilo da

linguagem ou seja pela seleccedilatildeo dos recursos lexicais fraseoloacutegicos e

gramaticais da liacutengua mas acima de tudo por sua construccedilatildeo

composicionalrdquo

Os elementos que Bakhtin (2003261) trata como conteuacutedo temaacutetico

estilo e construccedilatildeo composicional se fundem para ele de forma inseparaacutevel no

todo que constitui o enunciado e cada um deles estaacute marcado pela

especificidade de uma esfera de troca Todo enunciado tomado

separadamente eacute bem entendido individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da

liacutengua elabora seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados que

determinam os diferentes gecircneros do discurso

Isto implica dizer que toda a produccedilatildeo que se faz em torno da lei pode

ser definida como sendo do gecircnero juriacutedico pois produz ocorrecircncias de troca

numa esfera especiacutefica Os enunciados aiacute produzidos satildeo relativamente

estaacuteveis ainda que bastante diversos entre si e eacute justamente esse aspecto que

justifica porque eacute possiacutevel analisar textos juriacutedicos de origens diferentes tais

como uma declaraccedilatildeo francesa uma nacional ou uma internacional todos os

documentos pertencem ao gecircnero juriacutedico portanto agrave mesma esfera e mesmo

sendo elaborados em um contexto de produccedilatildeo diferente possuem formas

composicionais mais ou menos estaacuteveis

Bakhtin (1984270) explica que a liacutengua escrita se altera de forma

continua assim como seu estilo e que tal fato eacute reflexo das mudanccedilas que

ocorrem na vida social Isto pode ser verificado pela observaccedilatildeo dos gecircneros

do discurso e dos enunciados que satildeo segundo ele ldquoles courroies de

transmission qui megravenent de lrsquohistoire de la socieacuteteacute agrave lrsquohistoire de la languerdquo20

20

ldquoas correias de transmissatildeo que conduzem a histoacuteria da sociedade para a histoacuteria da liacutenguardquo (Trad

Nossa)

42

Esse eacute um aspecto bastante relevante nos textos juriacutedicos e remete ao

fato de que todo enunciado de alguma forma se refere a um enunciado que jaacute

foi anteriormente produzido Esse aspecto confere ao enunciado por

conseguinte uma dupla relaccedilatildeo dialoacutegica ou seja exprime a relaccedilatildeo que o

enunciado tem com enunciados anteriores produzidos sobre o mesmo objeto e

com os possiacuteveis enunciados que possam ser produzidos a partir do enunciado

que se toma para anaacutelise levando em consideraccedilatildeo o destinataacuterio que iraacute

recebecirc-lo e a forma como ele seraacute recebido compreendido respondido

Cabe aqui uma distinccedilatildeo entre o dialogismo e a intertextualidade

Enquanto o dialogismo mostra referecircncias nem sempre diretas de um texto ou

de um enunciado em outro texto ou enunciado a intertextualidade eacute um

fenocircmeno mais restrito

Fiorin (2006) explica que na intertextualidade a referecircncia ao texto ou

enunciado eacute feita de forma direta Esse procedimento ocorre por expliacutecita

citaccedilatildeo do primeiro dentro da redaccedilatildeo do segundo como se fossem duas

vozes dentro de um mesmo texto Nesse caso o segundo texto existe fora do

primeiro como texto independente A interdiscursividade pode inclusive ocorrer

na retomada do mesmo enunciado ainda que sua redaccedilatildeo seja diferente

podendo ateacute se manifestar pela negaccedilatildeo ou oposiccedilatildeo do segundo enunciado

em relaccedilatildeo ao primeiro

A intertextualidade eacute portanto uma operaccedilatildeo que coloca em relaccedilatildeo

dois ou mais discursos e que vem construiacuteda como se fosse um ldquojeu de

citations plus ou moins cachecircrdquo21 conforme sintetiza Charaudeau (1992)

Para os textos analisados no corpus o que se verifica satildeo relaccedilotildees

dialoacutegicas e natildeo de intertextualidade pois natildeo haacute a ocorrecircncia de citaccedilatildeo

direta de retomadas de redaccedilatildeo de enunciados ou negaccedilatildeo dos mesmos em

relaccedilatildeo a um enunciado primeiro

O que se verifica eacute uma extensatildeo um desenvolvimento de alguns

termos ou mesmo princiacutepios O homem que aparece na DDHC eacute um homem

21

ldquoum jogo de citaccedilotildees mais ou menos veladordquo (Trad Nossa)

43

mais limitado em seus direitos protegido apenas pela Assembleia nacional

francesa enquanto o homem da DDUH eacute um homem protegido pela

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Assim tambeacutem os direitos de igualdade

liberdade e justiccedila satildeo ampliados remodelados estendidos Apesar do uso do

termo ser absolutamente o mesmo (homem direito liberdade) o conceito natildeo

eacute o mesmo e isso pode ser verificado pela construccedilatildeo de cada enunciado e

uma anaacutelise mais detalhada mostraraacute no texto adiante essa evoluccedilatildeo Cada

conceito entretanto dialoga com o conceito anterior pois eacute um

desenvolvimento do conceito que o precede um aperfeiccediloamento e um

alargamento do conceito anterior a ele

Essa retomada de conceito implica tambeacutem num resgate histoacuterico da

memoacuteria coletiva pois a declaraccedilatildeo francesa ou a universal natildeo satildeo

documentos que surgem como uma novidade em termos juriacutedicos Elas foram

inspiradas em outros documentos anteriores de outras culturas ateacute

Remontando ao Iluminismo pode-se encontrar na DDHC ideais que se

transpotildeem nos conceitos revolucionaacuterios que definem e envolvem o homem e a

lei por exemplo

Tomemos assim o que diz Montesquieu (1748) acerca do ldquoEspiacuterito das

Leisrdquo e suas ideias relativas agrave origem das leis e de sua natureza Para ele o

homem precisa ter suas proacuteprias leis assim como a divindade e os animais22 e

a lei adveacutem da relaccedilatildeo que se estabelece entre o homem e os outros seres

iguais ou diferentes dele23

Os homens satildeo governados pela razatildeo humana e um dos frutos que

produz satildeo as leis poliacuteticas e civis e satildeo elas que governam os homens As

leis devem ser adequadas ao povo para a qual foram feitas e somente por

acaso podem servir para outra naccedilatildeo jaacute que satildeo adaptadas agraves especificidades

22

laquo Les lois dans la signification la plus eacutetendue sont les rapports neacutecessaires qui deacuterivent de la nature

des choses et dans ce sens tous les ecirctres ont leurs lois la Diviniteacute a ses lois le monde mateacuteriel a ses lois

les intelligences supeacuterieures agrave lhomme ont leurs lois les becirctes ont leurs lois lhomme a ses lois raquo Livre

I p 100

23 laquo Il y a donc une raison primitive et les lois sont les rapports qui se trouvent entre elle et les diffeacuterents

ecirctres et les rapports de ces divers ecirctres entre euxraquo Livre I p 100

44

de cada povo (tal como o clima a religiatildeo) a aspectos particulares das

relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais e ateacute mesmo agrave vontade do legislador 24

Portanto para Montesquieu a lei eacute o reflexo da sociedade que a produz

e a aplica Mas o filoacutesofo alerta que natildeo se pode de forma alguma esquecer a

virtude que contem as leis pelo fato de refletirem os costumes e as maacuteximas

antigas da sociedade que as estabeleceu

Neste sentido uma lei nova apenas altera a anterior fazendo correccedilotildees e

ajustes no que jaacute estava antes estabelecido25 e natildeo renega assim totalmente

24

laquo La loi en geacuteneacuteral est la raison humaine 20 en tant quelle gouverne tous les peuples de la terre et les

lois politiques et civiles de chaque nation ne doivent ecirctre que les cas particuliers ougrave sapplique cette raison

humaine

Elles doivent ecirctre tellement propres au peuple pour lequel elles sont faites que cest un tregraves grand hasard

si celles dune nation peuvent convenir agrave une autre

Il faut quelles se rapportent agrave la nature et au principe du gouvernement qui est eacutetabli ou quon veut eacutetablir

soit quelles le forment comme font les lois politiques soit quelles le maintiennent comme font les lois

civiles

Elles doivent ecirctre relatives au physique du pays au climat glaceacute brucirclant ou tempeacutereacute agrave la qualiteacute du

terrain agrave sa situation agrave sa grandeur au genre de vie des peuples laboureurs chasseurs ou pasteurs Elles

doivent se rapporter au degreacute de liberteacute que la constitution peut souffrir agrave la religion des habitants agrave

leurs inclinations agrave leurs richesses agrave leur nombre agrave leur commerce agrave leurs moeurs agrave leurs maniegraveres

Enfin elles ont des rapports entre elles elles en ont avec leur origine avec lobjet du leacutegislateur avec

lordre des choses sur lesquelles elles sont eacutetablies Cest dans toutes ces vues quil faut les consideacutererraquo

Livre I p 106

laquo Cest encore une loi fondamentale de la deacutemocratie que le peuple seul fasse des lois 3I Il y a pourtant

mille occasions ougrave il est neacutecessaire que le seacutenat puisse statuer il es mecircme souvent agrave propos dessayer une

loi avant de reacutetablir raquo Livre II p 113

laquo On avait vu jusqursquoici la nation donner des marques drsquoimpatience et de leacutegegravereteacute sur le choix ou sur la

conduite de ses maicirctres on lrsquoavait vue reacutegler les diffeacuterends de ses maicirctres entre eux et leur imposer la

neacutecessiteacute de la paix Mais ce qursquoon nrsquoavait pas encore vu la nation le fit pour lors elle jeta les yeux sur

sa situation actuelle elle examina ses lois de sang-froid elle pourvut agrave leur insuffisance elle arrecircta la

violence elle reacutegla le pouvoir raquo Livre XXXI ch II p338

laquo Lrsquoeacutedit de Clotaire redressa tous les griefs Personne ne put plus ecirctre condamneacute sans ecirctre entendu les

parents durent toujours succeacuteder selon lrsquoordre eacutetabli par la loi toutes preacuteceptions pour eacutepouser des filles

des veuves ou des religieuses furent nulles et on punit seacutevegraverement ceux qui les obtinrent et en firent

usage raquo Livre XXXI ch II p339

25 laquo Il y a beaucoup agrave gagner en fait de moeurs agrave garder les coutumes anciennes Comme les peuples

corrompus font rarement de grandes choses quils nont guegravere eacutetabli de socieacuteteacutes fondeacute de villes donneacute

de lois et quau contraire ceux qui avaient des moeurs simples et austegraveres ont fait la plupart des

eacutetablissements rappeler les hommes aux maximes anciennes cest ordinairement les ramener agrave la vertu

De plus sil y a eu quelque reacutevolution et que lon ait donneacute agrave lEacutetat une forme nouvelle cela na guegravere pu

se faire quavec des peines et des travaux infinis et rarement avec loisiveteacute et des moeurs corrompues

45

uma lei antiga O que se constitui neste caso eacute um diaacutelogo com a lei (fonte)

anterior pois natildeo se pode querer ldquoreinventar a rodardquo a cada produccedilatildeo

legislativa Existe assim uma memoacuteria intriacutenseca mesmo que apagada de um

texto legislativo novo em relaccedilatildeo ao texto anterior

As leis novas satildeo adaptaccedilotildees grandes ou pequenos ajustes de

formulaccedilotildees que se fazem nos modelos anteriores com acreacutescimos ou

supressotildees que permitem um reordenamento do sistema juriacutedico vigente Isto

porque a lei tem sua origem na cultura econocircmica poliacutetica e social de um povo

e seu texto eacute apenas um reflexo disso mesmo quando produzida para suprir

uma lacuna do sistema

Eacute tambeacutem o que diz Bakhtin (1977) acerca do dialogismo textual para

ele as relaccedilotildees dialoacutegicas se estabelecem na medida em que um texto reflete

e se reproduz em outro ecoando dialogando com outro texto Um texto de lei

ao mesmo tempo em que daacute voz agrave cultura do povo ao qual eacute imposta esta lei

traduzindo seus costumes histoacutericos econocircmicos poliacuteticos e sociais tambeacutem

responde a um outro texto de lei

Assim um segundo texto entra em relaccedilatildeo dialoacutegica interna com o

primeiro podendo tanto ser um texto hierarquicamente superior como aquele

que autoriza a elaboraccedilatildeo de uma nova lei O novo texto de lei tem o mesmo

objeto do texto anterior mas aparece renovado atualizado para as novas

necessidades do homem e a lei anterior que lhe serviu de base ou origem seraacute

derrogada total ou parcialmente pela lei nova

O dialogismo mostra como ocorrem as relaccedilotildees discursivas que podem

ser externas na medida em que o texto dialoga com o ordenamento juriacutedico ou

mesmo com a doutrina estrangeiros ou internas quando se encontram essas

relaccedilotildees dentro do proacuteprio ordenamento juriacutedico nacional

Ceux mecircmes qui ont fait la reacutevolution ont voulu la faire goucircter et ils nont guegravere pu y reacuteussir que par de

bonnes lois Les institutions anciennes sont donc ordinairement des corrections et les nouvelles des

abus Dans le cours dun long gouvernement on va au mal par une pente insensible et on ne remonte au

bien que par un effort raquo Livre V p151

46

O texto de lei seraacute tomado aqui como sendo o cerne (centro) dos textos

juriacutedicos visto que tudo gravita em torno dele isto eacute ou os textos precursores

satildeo seus textos originaacuterios e constituintes porque seus princiacutepios e argumentos

fundamentaram a propositura da lei ou satildeo seus textos derivados e

consequentes porque eacute a lei que possibilita a propositura ou confecccedilatildeo de tais

textos

Essa situaccedilatildeo de origem de cada texto juriacutedico eacute de suma importacircncia

pois eacute ela que mostra a dimensatildeo da relaccedilatildeo dialoacutegica um texto de lei natildeo

existe sem um motivo anterior e suscita outros tantos textos decorrentes da

existecircncia da lei

De onde se conclui que nos textos juriacutedicos o dialogismo eacute inerente jaacute

que um texto se refere sempre a um anterior um autor cita o outro - discutindo

a ideia proposta por outro autor seja para apoiaacute-la ou contestaacute-la- uma lei se

refere ou estaacute autorizada por uma outra

Nessa mesma consideraccedilatildeo cabe ressaltar que cada texto teoacuterico ou

artigo acadecircmico e ateacute mesmo da imprensa especializada pode ser o elemento

detonador ou mola propulsora para questionar uma lei desatualizada ou

mostrar a necessidade da propositura de uma nova podendo-se incluir ainda

aqui o fato de que uma lei seja produzida com objetivo complementar isto eacute a

fim de completar uma outra lei especificando um determinado tipo de pena ou

de procedimento por exemplo

O fato de cada texto ser produzido em resposta a um outro anterior

revela por sua vez natildeo soacute o processo dialoacutegico mas tambeacutem um processo

polifocircnico Isto porque na medida em que se considera a produccedilatildeo do texto natildeo

se pode deixar de considerar que ele foi produzido num determinado lugar e

tempo e por um determinado enunciador

De forma bem simples a lei se torna a voz da sociedade que se

expressa para regular as relaccedilotildees entre os homens ou seja a lei eacute a voz do

homem social a voz da sociedade num dado lugar e num dado momento

histoacuterico e como tal a repercussatildeo de uma voz que aleacutem de individual eacute

coletiva

47

Isto porque a lei natildeo eacute fruto nos sistemas de governo democraacuteticos da

vontade de um soacute como ocorria nos regimes absolutistas mas eacute a expressatildeo

da vontade geral portanto de um conjunto de pessoas que faz sua voz ser

ouvida e resolve as questotildees de conviacutevio que causam conflito atraveacutes de um

texto que vai regular a conduta da vida do homem dentro de um grupo

Por isso seria de se esperar que uma lei fosse apenas aplicaacutevel a um

uacutenico grupo de homens que vivessem sob as mesmas regras E por isso seria

de se esperar que a lei de um paiacutes natildeo fosse adequada a um outro ou a outros

paiacuteses Entretanto isso natildeo eacute impossiacutevel e resguardados certos limites eacute ateacute

bem frequente como se veraacute mais adiante

Conveacutem ainda lembrar que Bakhtin e o Ciacuterculo26 tratam a linguagem de

forma diversa da dimensatildeo monoloacutegica - que tomava a liacutengua como forma de

expressatildeo particular do sujeito (subjetivista idealista) ou como constituiacuteda por

formas e atos psicofisioloacutegico da sua produccedilatildeo (objetivismo abstrato) A

linguagem eacute considerada sempre ao contraacuterio sob o ponto de vista da

interaccedilatildeo verbal um espaccedilo onde a liacutengua existe e se constitui

A obra bakhtiniana e a do ciacuterculo vatildeo nesta perspectiva tomar a

linguagem do ponto de vista de sua natureza social sobretudo no que se refere

agrave relaccedilatildeo do enunciado com o contexto social imediato Isto quer dizer que a

linguagem eacute analisada a partir das interaccedilotildees que ocorrem entre os indiviacuteduos

organizados em sociedade e que considera as condiccedilotildees de produccedilatildeo onde

elas se elaboram

Essas condiccedilotildees por conseguinte produzem um sentido praacutetico que

estaacute aleacutem do fato da linguagem vir associada ao momento histoacuterico onde

ocorrem essas interaccedilotildees e permite dessa forma que o meio social espelhe a

esfera ideoloacutegica presente nas Ciecircncias nas Artes na Literatura no

Jornalismo e tambeacutem no Direito

26

No presente trabalho natildeo seraacute considerada a questatildeo da autoria dos trabalhos de Bakhtin que eacute dividida

em alguns casos com Voloshinov jaacute que as obras consultadas tinham como autor Bakhtin sendo sempre

referidas como obras de ldquoBakhtin e o Ciacuterculordquo

48

O conceito de esfera na comunicaccedilatildeo discursiva de que fala Bakhtin

estaacute centrado na diversidade da linguagem humana e ideologia que a cerca

isto eacute de forma bastante resumida a esfera revela como a realidade se

manifesta na linguagem

A linguagem refrata a esfera ideoloacutegica em que estaacute inserida uma

produccedilatildeo literaacuteria que eacute o que Bakhtin (19771984) defende na anaacutelise que faz

do romance de Dostoieacutevski pois ela a linguagem revela o jogo de regras

usadas para a produccedilatildeo em um determinado contexto

Na esfera do Direito tem-se que todo gecircnero refrata as relaccedilotildees

dialoacutegicas que se estabelecem do homem com o homem e do homem com a

sociedade O Direito enquanto ciecircncia tem como funccedilatildeo dirigir as condutas

sociais criando para isso regras de direito que regulem a vida comum na

esfera em um dado momento histoacuterico

Essa natureza social da linguagem ou seja a relaccedilatildeo do enunciado com

o contexto social imediato - interaccedilotildees que ocorrem entre os indiviacuteduos

organizados em sociedade e que considera as condiccedilotildees de produccedilatildeo -

confere um sentido praacutetico associada ao momento histoacuterico onde ocorrem

essas interaccedilotildees num processo dialoacutegico

Desta forma todo o gecircnero eacute e assim tambeacutem o gecircnero juriacutedico um

reflexo de relaccedilotildees dialoacutegicas que se estabelecem do homem com o homem

pois espelha a necessidade do direito para regular a vida em comum do

homem com a sociedade e das condutas sociais

As condutas sociais por sua vez satildeo resultantes uma forma de agir que

se apoia no que um grupo determina como um tipo modelo ou padratildeo de

atitude em relaccedilatildeo a diferentes situaccedilotildees e que satildeo resultado de um consenso

Essas condutas sociais se tornam padrotildees de condutas e ao se repetirem vatildeo

constituir o que Bourdieu define como habitus tomado dentro de um

determinado campo

Bourdieu (1980) define o campo como ldquoo espaccedilo social capaz de

refratar traduzir ou transformar as demandas externas sobretudo da base

49

socioeconocircmica comumrdquo Eacute no campo onde acontecem as diferentes

produccedilotildees juriacutedicas textuais pois na medida em que surgem alteraccedilotildees no

espaccedilo social nasce a necessidade de um reordenamento juriacutedico para que

outros textos regulem as novas relaccedilotildees ou relaccedilotildees entre indiviacuteduos que se

modificam

Em relaccedilatildeo a concepccedilatildeo da linguagem o campo eacute definido como o

espaccedilo em que determinadas formas de agir refletem as individualidades

(como gostos e preferecircncias) constituindo-se em um habitus

Sobre esse habitus tambeacutem incidem o tipo de relaccedilotildees entre os pares

que participam das relaccedilotildees ndash as relaccedilotildees simboacutelicas - o tipo de relaccedilatildeo que

se estabelece com o capital ndash atraveacutes da heranccedila e da renda - e o espectro de

possibilidades ou impossibilidades oferecidas aos participantes de tomar

posiccedilatildeo e definir os espaccedilos isto eacute participar da ldquoheranccedila acumulada pelo

trabalho coletivordquo

Uma lei eacute um reflexo de um habitus que se cristaliza pela norma escrita

Entatildeo a preocupaccedilatildeo dos magistrados brasileiros que objetivavam melhorar

em curto espaccedilo de tempo a prestaccedilatildeo dos serviccedilos da justiccedila ao cidadatildeo eacute

expressa pela tomada de posiccedilatildeo dos integrantes da associaccedilatildeo que

apresentam uma proposta de lei que se torna depois a Lei 114192006 e que

iraacute modificar as accedilotildees processuais que satildeo submetidas agrave anaacutelise do Poder

Judiciaacuterio

O fato de esses juiacutezes apresentarem uma sugestatildeo (SUG1CLP 2001)

autorizados pela Constituiccedilatildeo27 que permite a um grupo apresentar uma

27

O artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 foi alterado pela Lei 97091998 ldquoArt 13 A iniciativa

popular consiste na apresentaccedilatildeo de projeto de lei agrave Cacircmara dos Deputados subscrito por no miacutenimo um

por cento do eleitorado nacional distribuiacutedo pelo menos por cinco Estados com natildeo menos de trecircs

deacutecimos por cento dos eleitores de cada um delesrdquo e ldquoArt 14 A Cacircmara dos Deputados verificando o

cumprimento das exigecircncias estabelecidas no art 13 e respectivos paraacutegrafos daraacute seguimento agrave

iniciativa popular consoante as normas do Regimento Internordquo O Regimento Interno da Camara dos

Deputados diz na parte referente a Subseccedilatildeo III Das Mateacuterias ou Atividades de Competecircncia das

Comissotildees em seu inciso XII que cabe agrave Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa ldquoa) sugestotildees de

iniciativa legislativa apresentadas por associaccedilotildees e oacutergatildeos de classe sindicatos e entidades organizadas

da sociedade civil exceto Partidos Poliacuteticos b) pareceres teacutecnicos exposiccedilotildees e propostas oriundas de

entidades cientiacuteficas e culturais e de qualquer das entidades mencionadas na aliacutenea a deste incisordquo

50

proposta de Projeto de Lei ao Poder Legislativo tambeacutem integrarem o Poder

Judiciaacuterio eacute relevante na aceitaccedilatildeo da proposta que eacute examinada e aceita A

sugestatildeo SUG1CLP 2001 eacute marcada pela necessidade de mudanccedila no

habitus as modificaccedilotildees e avanccedilos tecnoloacutegicos demandam alteraccedilotildees que

satildeo propostas como imperativas aleacutem de serem reflexo da experiecircncia praacutetica

do mundo do trabalho

Numa relaccedilatildeo que tambeacutem eacute dialoacutegica a esfera ideoloacutegica do Poder

Judiciaacuterio representada pelos integrantes desse poder ou seja os juiacutezes

federais que tecircm como objetivo fazer aplicar a lei se mistura com a esfera do

Poder Legislativo cuja funccedilatildeo eacute a de propor leis para serem aprovadas e

colocadas em vigor pelo Poder Executivo atraveacutes de sua publicaccedilatildeo

Desta forma uma sugestatildeo de proposta de lei integra os trecircs poderes

judiciaacuterio legislativo e executivo Vecirc-se neste momento histoacuterico a maior

expressatildeo possiacutevel da democracia a necessidade fez agir representantes de

um poder enquanto integrantes de uma associaccedilatildeo ou seja no seu papel de

cidadatildeos a fim de melhorar a prestaccedilatildeo jurisdicional da justiccedila da qual cabe ao

Estado zelar

O caminho encontrado para fazer o que era necessaacuterio ou seja uma

prestaccedilatildeo de atendimento de uma justiccedila mais raacutepido pode parecer a primeira

vista uma extrapolaccedilatildeo da funccedilatildeo e do papel dos juiacutezes que devem apenas

zelar e fazer aplicar a lei quando se considera que natildeo haacute justiccedila

O que eacute relevante eacute que o caminho encontrado foi o dado pela

concessatildeo criada pelo proacuteprio sistema poliacutetico que permite aos cidadatildeos

fazerem uma proposta de projeto de lei Agrave eacutepoca da apresentaccedilatildeo da sugestatildeo

a primeira a ser apresentada por um segmento da sociedade e neste caso um

segmento muito especial ainda natildeo havia a precisatildeo de como se faria uma

51

justiccedila mais raacutepida o que foi acrescentado pela Emenda Constitucional no 45

de 2004 que inseriu o inciso LXXVIII28

Os textos que satildeo examinados neste trabalho foram produzidos dentro

do campo de atividades do Direito No topo hieraacuterquico qualitativo como seraacute

explicado mais adiante encontra-se a lei que foi promulgada em 2006 e que eacute

consequecircncia de uma cadeia de outros textos que foram produzidos

O campo do direito onde se inserem os textos juriacutedicos tem como

puacuteblico-alvo toda a sociedade que eacute o lugar onde as leis se aplicam mas o

texto original foi produzido por um setor da sociedade uma associaccedilatildeo de

classe de magistrados

Dentro do gecircnero juriacutedico podemos distinguir textos de maior e menor

relevacircncia em relaccedilatildeo agrave sua aplicaccedilatildeo A lei como texto autorizado pela

Constituiccedilatildeo se aplica a toda a naccedilatildeo jaacute uma carta de intenccedilatildeo que apoia a

sua aprovaccedilatildeo enquanto ainda era projeto de lei eacute uma apresentaccedilatildeo do texto

dirigida agrave Cacircmara dos Deputados Ambos satildeo textos juriacutedicos mas a ordem de

sua obediecircncia e aceitaccedilatildeo eacute diferente e acarreta consequecircncias proporcionais

ao seu cumprimento a lei obriga a todos a carta eacute uma critica positiva

O esquema simplificado abaixo permite compreender o tramite da

Proposta de Legislaccedilatildeo Participativa que foi o documento de origem dessa lei

federal

28

ldquoLXXVIII - a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do

processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeo (Inciso acrescido pela Emenda

Constitucional nordm 45 de 2004)rdquo

52

O processo histoacuterico de formaccedilatildeo do campo implica numa reflexatildeo sobre

os gecircneros e as obras que nele satildeo produzidas A percepccedilatildeo de cada obra

produzida no campo eacute feita de forma critica e somente a ampliaccedilatildeo da

produccedilatildeo eacute que permite a sua estabilizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos textos juriacutedicos

ao se tomar a elaboraccedilatildeo de textos legais por exemplo constata-se que uma

lei se apoia sempre nos textos anteriores numa relaccedilatildeo dialoacutegica a fim de

suprir ou corrigir as necessidades do grupo social a que se aplica

No contexto histoacuterico do corpus analisado antes da lei 114192006 ndash haacute

pouco mais de dez anos de sua sugestatildeo natildeo existia a possibilidade de

implantaccedilatildeo de serviccedilos de informatizaccedilatildeo em muitos dos preacutedios do Poder

Judiciaacuterio

Entretanto na medida em que a utilizaccedilatildeo dos computadores alterou o

comportamento dos cidadatildeos o uso de tecnologias digitais e similares e da

internet se tornou um habitus e as modificaccedilotildees produzidas por esse habitus

acabaram alterando as praacuteticas do quotidiano sendo finalmente incorporadas

por uma nova lei

LEI 114192006

53

Eacute nesse ponto que se constata a existecircncia das relaccedilotildees dialoacutegicas

apontadas por Bakhtin pois natildeo havia uma previsatildeo legal na lei anterior

(contida no Coacutedigo de Processo Civil) regulando como se daria na praacutetica

quotidiana do andamento dos processos no Poder Judiciaacuterio a integraccedilatildeo dos

serviccedilos de informatizaccedilatildeo jaacute que na data de sua entrada em vigor 1973 essa

tecnologia natildeo estava disponiacutevel

Ainda do ponto de vista da elaboraccedilatildeo de uma linguagem Bourdieu

propotildee que esta seja parte do processo de surgimento do campo O Direito tem

uma linguagem especifica que eacute utilizada na elaboraccedilatildeo dos textos de lei e que

perpassa os outros textos do campo que se produzem a partir ou mesmo antes

do texto legal uma linguagem que sai do campo do Direito e interfere em

outros campos tal como o legislativo ou o jornaliacutestico Eacute uma linguagem que

nomeia aqueles que participam do campo tal como os agentes que define

conceitos atos e praacuteticas e que determina condutas

Na lei 114192006 a relaccedilatildeo dialoacutegica da linguagem juriacutedica com a

linguagem da informaacutetica produziu inclusive uma nova linguagem teacutecnico-

juriacutedica em que surgem expressotildees tais como ldquomeio eletrocircnicordquo ldquotransmissatildeo

eletrocircnicardquo ldquoassinatura digitalrdquo ldquocertificado digitalrdquo rdquoprotocolo eletrocircnicordquo

rdquopublicaccedilatildeo eletrocircnicardquo rdquocorrespondecircncia eletrocircnicardquo rdquoprocesso eletrocircnicordquo

rdquoextratos digitaisrdquo etc expressotildees que estatildeo no corpo do texto da lei

As modificaccedilotildees trazidas pela Lei nordm 11419 de 19 de dezembro de

2006 para a Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 que instituiu o Coacutedigo de

Processo Civil29 propiciam o diaacutelogo e suprem na sociedade globalizada a

necessidade imposta pelo momento atual30 Uma sociedade que exige e

permite ao advogado postar sua peticcedilatildeo em espaccedilo fiacutesico por vezes diferente e

muito distante daquele onde estaacute o processo em que atua

29

Essas modificaccedilotildees natildeo seratildeo objeto de anaacutelise nesse trabalho O fato de elas existirem no conteuacutedo da

lei nova apenas atesta o dialogismo existente entre os textos de lei

30 Documento anexo nuacutemero 05 paacutegina da internet do Tribunal Regional Federal

54

Essa relaccedilatildeo dialoacutegica entretanto natildeo ocorre apenas entre esses dois

textos pois eacute permeada por vaacuterias outras de diferentes esferas e campos

como atestam os diferentes textos produzidos pela AJUFE (Apresentaccedilatildeo e

Nota Oficial) pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Redaccedilatildeo

(Anteprojeto) pela Cacircmara dos Deputados e da Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei

5828 de 2001 e do parecer e voto do Deputado Roberto Batochio pelos

artigos das Revista Consultor Juriacutedico e do Instituto Iuris31 Todos esses textos

mostram o empenho da sociedade como um todo em regular as atividades que

em parte jaacute foram modificadas com o advento da informatizaccedilatildeo no Poder

Judiciaacuterio

O dialogismo eacute mais evidente no texto da lei nova que jaacute declara no seu

caput32 que explicitamente altera a lei anterior33 revogando uma parte dos

artigos do Coacutedigo de Processo Civil (Lei 58691973) ou dando nova redaccedilatildeo

aos artigos que jaacute existiam (Lei 114192006 artigos 12 169sect1ordm) Faz-se

presente tambeacutem quando acresce incisos ou paraacutegrafos na Lei 58691973 (Lei

114192006 artigos 38 paraacutegrafo uacutenico 154sect 2ordm 164 paraacutegrafo uacutenico 169 sect2ordm

e sect3ordm) testemunhando a mudanccedila na esferacampo das atividades humanas

trazidas pela evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

O capital simboacutelico ou seja as relaccedilotildees entre os pares que participam

das relaccedilotildees e do reconhecimento e prestiacutegio pessoal das relaccedilotildees que satildeo

valorizadas pelo grupo tambeacutem exercem sua influecircncia no campo

De fato os profissionais da aacuterea juriacutedica gozam de prestiacutegio social e do

reconhecimento de seus pares e dos outros indiviacuteduos da sociedade pois eacute em

funccedilatildeo de suas atividades a de aplicar as normas coercitivas estabelecidas

pela sociedade que a vida social segue equilibrada

31

Documentos anexos I II III IVa IVb IVc IVd IVe IVf

32 Caput parte superior o iniacutecio de um documento uma lei ou de qualquer de seus artigos in PETRI

Maria Joseacute Constantino Manual de linguagem juriacutedica Satildeo Paulo Editora Saraiva 2011

33 ldquoDispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial altera a Lei n

o 5869 de 11 de janeiro de 1973 ndash

Coacutedigo de Processo Civil e daacute outras providecircnciasrdquo

55

Assim sob o aspecto da esferacampo que relaciona o momento soacutecio-

histoacuterico e as atividades humanas pudemos constatar como a modernizaccedilatildeo da

sociedade permite e ateacute mesmo impotildee modificaccedilotildees sociais que se transpotildeem

ao ordenamento juriacutedico na forma de aprovaccedilatildeo e cumprimento de uma nova

lei

Desta forma entendemos que as propostas de Bakhtin e do Circulo e

tambeacutem a de Bourdieu nos revelam a composiccedilatildeo dos mecanismos de

produccedilatildeo da linguagem bem como o dialogismo existente entre as diferentes

esferas e campos sociais e o sentido praacutetico produzido na sociedade atual

Os conceitos de esfera e campo se fundem para constituir o espaccedilo

onde ocorrem as produccedilotildees textuais juriacutedicas Um espaccedilo cujos limites

geograacuteficos satildeo variaacuteveis e que natildeo se circunscreve a um espaccedilo fiacutesico

especifico um espaccedilo universal que exige adaptaccedilotildees permanentes visto as

mudanccedilas sociais decorrentes da evoluccedilatildeo inevitaacutevel do mundo em que

vivemos (tome-se como exemplo as mudanccedilas provocadas pela adesatildeo dos

paiacuteses europeus agrave Uniatildeo Europeacuteia)

Essas adaptaccedilotildees satildeo permanentes e necessaacuterias para que a

convivecircncia se faccedila de forma relativamente equilibrada de onde a produccedilatildeo de

um ordenamento juriacutedico internacional e nacional constante Segundo Dollinger

(1992) elas satildeo inspiradas em rdquoprinciacutepios fundamentais e transcendentais de

justiccedila e equidaderdquo a fim de balancear ldquorealidades e necessidades

socioeconocircmicas em diferentes tempos e lugaresrdquo num processo de

universalizaccedilatildeo e extensatildeo dos direitos humanos

A regulaccedilatildeo internacional atraveacutes de tratados se faz na medida em que

seja necessaacuterio determinar de forma consensual as condutas entre diferentes

naccedilotildees Entretanto nem todas as naccedilotildees ratificaratildeo um tratado ao mesmo

tempo e nem todas procederatildeo de imediato agraves respectivas modificaccedilotildees

necessaacuterias em seus ordenamentos juriacutedicos internos

A produccedilatildeo de legislaccedilatildeo interna reflete por sua vez as necessidades

de adaptaccedilatildeo agraves realidades da naccedilatildeo e de suas relaccedilotildees com outras naccedilotildees

56

ou de suas relaccedilotildees internas Toda produccedilatildeo de textual juriacutedica incorpora

portanto o que se passa diariamente no territoacuterio internacional ou nacional34

Ao se examinar textos doutrinaacuterios de produccedilatildeo nacional o que se

constata eacute que os autores brasileiros fazem referecircncia frequentemente

sobretudo em notas de rodapeacute a autores de outros paiacuteses e a doutrinas e

legislaccedilotildees estrangeiras sobretudo europeus comparando os sistemas os

institutos juriacutedicos e ateacute mesmo as jurisprudecircncias

O Direito Brasileiro de acordo com Dolinger (1990) recebe tambeacutem

influecircncias do Direito Americano sobretudo em mateacuteria constitucional e

administrativa e pode ser testemunhada pelo direcionamento adotado em

decisotildees de nosso Supremo Tribunal Federal

Em relaccedilatildeo agraves influecircncias europeacuteias verificamos o que acontece em

obras de autores consagrados que se dedicam ao estudo do Direito Civil

Washington de Barros Monteiro (1971) Caio Maacuterio da Silva Pereira (1991) e

Silvio Rodrigues (1988)

Monteiro tem em seu primeiro capiacutetulo 27 citaccedilotildees de obras e autores

sendo que destes 25 satildeo estrangeiros (oito franceses) Em Pereira constam 23

obras citadas sendo que dessas 19 satildeo de obras e autores estrangeiros (oito

franceses) Rodrigues o mais econocircmico faz 12 citaccedilotildees sendo que cinco satildeo

de referecircncia a obras e direitos estrangeiros (trecircs franceses)

Ao colocarem nas notas de rodapeacute no corpo do texto ou na abertura do

capiacutetulo as citaccedilotildees de autores e obras os autores Monteiro Pereira e

Rodrigues informam que ao menos leram as obras referidas e que estatildeo

fazendo suas consideraccedilotildees a partir delas Este eacute o que se poderia chamar em

Direito de meacutetodo comparativo sobre os conceitos que satildeo apresentados por

nossos consagrados autores brasileiros

Essa praacutetica comeccedilou a tornar-se usual na Europa a partir do fim do

seacuteculo XIX quando diversas leis comeccedilaram a emergir nos paiacuteses europeus e

34

PELISSE ldquoEn effet quoi de plus speacutecifique aux cultures nationales que le droit De mecircme quoi de

plus incorporeacute et particulier que laquo ce qui se passe tous les jours raquo ce qui est banal et commun et qui

traduit par exemple le fait que lrsquoon est ou pas dans laquo son raquo pays raquo

57

as relaccedilotildees sobretudo comerciais entre os paiacuteses se intensificaram De

acordo com David (1985) a publicaccedilatildeo do Coacutedigo Civil francecircs em 1804

inspirou vaacuterios outros coacutedigos (entre eles o nosso Coacutedigo Civil) e acabou por

difundir a praacutetica das comparaccedilotildees

O que se chama portanto em Direito de meacutetodo comparativo eacute cada

vez mais frequente ao longo dos anos e fez surgir mais tarde o ramo que hoje

eacute chamado de Direito Comparado Atraveacutes do Direito Comparado eacute possiacutevel

entatildeo examinar direitos e legislaccedilotildees a fim de se verificar as semelhanccedilas ou

as diferenccedilas entre eles segundo Bevilaqua (1897) seja em seus aspectos

especiacuteficos ou gerais conforme precisa Dantas (1997)

Comparar direitos diferentes implica ler os textos de lei e compreende-

los em diferentes liacutenguas e contextos culturais Implica tambeacutem poder

reconhecer o que se manifesta como eco de uma legislaccedilatildeo anterior ou da

legislaccedilatildeo de um paiacutes para a de um paiacutes diferente A leitura de um livro teoacuterico

criacutetico ou de um coacutedigo comentado normalmente traz nas notas de rodapeacute

essas referecircncias

Na perspectiva da Anaacutelise do Discurso as citaccedilotildees nos rodapeacutes dos

manuais de direito satildeo testemunhos da polifonia (a voz de outro autor) e do

dialogismo (textual) O Direito Comparado nesta medida usa necessariamente

da polifonia e do dialogismo para fazer o exame comparativo dos textos

juriacutedicos

Outro aspecto da polifonia pode ser verificado pelo exame do percurso

de uma lei no sistema juriacutedico Esse eacute o caso de uma lei brasileira a proposta

de uma lei federal por exemplo eacute de iniciativa de um deputado de um

senador de um grupo deles ou de iniciativa popular Aprovado pela Cacircmara

dos Deputados o projeto de lei eacute encaminhado para o Senado a fim de

tambeacutem ali ser votado Se aprovado pelas duas casas o projeto seraacute

sancionado pelo Poder Executivo mais especificamente pelo Presidente da

Repuacuteblica O fato de um projeto tramitar pelo Poder Legislativo onde recebe

aprovaccedilatildeo de uma maioria de deputados e senadores e depois ser recebido

pelo Poder Executivo torna a lei publicada o resultado do acordo de vozes

58

diferentes Se o projeto for vetado pelo Congresso Nacional ou mesmo pelo

Presidente da Repuacuteblica o que eacute possiacutevel o veto tambeacutem eacute a expressatildeo de

vaacuterias vozes nesse caso dissonantes da intenccedilatildeo do projeto levado para

anaacutelise do Poder Legislativo ou Executivo

A lei resultado de um projeto de lei aprovado por um certo consenso eacute

um enunciado referendado por um grupo de pessoas - os Deputados

Senadores e Presidente da Repuacuteblica ndash que defenderam seu ponto de vista

aprovando a proposta apresentada O contexto de enunciaccedilatildeo onde se

entrecruzam dialogismo e polifonia tem sua cena de enunciaccedilatildeo como explica

Maingueneau (2002) no Congresso Nacional Eacute nessa cena de enunciaccedilatildeo

que se apresentam o enunciador que assume primeiramente o papel de

orador e o plenaacuterio do Congresso Nacional que eacute primeiramente o auditoacuterio

Essas noccedilotildees satildeo tratadas pela Teoria da Argumentaccedilatildeo e seratildeo estudadas no

item a seguir

23 A Retoacuterica e a Teoria da argumentaccedilatildeo a formaccedilatildeo do logos

do ethos e a influecircncia do local

O contato entre um enunciador aqui tratado como orador e um

enunciataacuterio aqui denominado auditoacuterio se faz pelo uso da palavra Os

recursos empregados pelo orador a fim de tentar convencer seu auditoacuterio ou

seja a argumentaccedilatildeo eacute o objeto de estudo da Retoacuterica A argumentaccedilatildeo vista

sob essa perspectiva eacute o campo em que se encontram de forma polecircmica

posiccedilotildees e interesses que se conjugam ou se confrontam conforme explica

Plantin (1990)

Esse autor explica que a palavra isto eacute a ponte entre orador e

auditoacuterio eacute o vetor de uma accedilatildeo simboacutelica e vem carregada pela intenccedilatildeo de

produzir resultados diferentes de acordo com o puacuteblico a que se destina em

funccedilatildeo dos projetos argumentativos dos interactantes

59

Perelman filoacutesofo do Direito ao renovar a Retoacuterica em 1958 propotildee

uma Nova Retoacuterica hierarquizando o que a Retoacuterica Claacutessica tinha

estabelecido como gecircnero deliberativo epidiacutedico e judiciaacuterio e priorizando a

linguagem do tribunal

Perelman fundamenta sua argumentaccedilatildeo juriacutedica substituindo a loacutegica

pela razatildeo partindo do justo conceito chave para ele de onde derivam dois

conceitos justiccedila que leva ao conceito de juriacutedico e justificado que conduz a

noccedilatildeo do que eacute razoaacutevel

Ainda segundo Plantin (1990) eacute neste ultimo ponto que o autor se

concentra para fundamentar a Nova Retoacuterica Segundo ele Perelman aleacutem de

procurar organizar respostas para a pergunta o que devo fazer tenta

encontrar respostas que contenham um princiacutepio de abstraccedilatildeo juriacutedica uma

regra de justiccedila e de igualdade entre os indiviacuteduos em que o argumento

eficaz no passado deve ser empregado em situaccedilatildeo anaacuteloga numa operaccedilatildeo

de recurso ao precedente

Eacute exatamente isso o que ocorre dentro de um sistema juriacutedico em que

uma lei se justifica pela existecircncia de uma outra que lhe antecede uma

tornando-se o argumento de existecircncia de outra que lhe eacute posterior

Tal como ocorre com a fixaccedilatildeo dos paracircmetros essenciais que

delimitam a situaccedilatildeo retoacuterica ocorre tambeacutem com os princiacutepios juriacutedicos A

situaccedilatildeo juriacutedica se constitui em torno de uma crise que deve ser resolvida por

uma decisatildeo seja sobre uma lei que jaacute existe seja por meio de uma decisatildeo

inovadora

Cabe esclarecer que uma lei natildeo pode retroagir para solucionar um

problema anterior a sua existecircncia Mas ela pode e vai corrigir os litiacutegios ou

desajustes posteriores a ela Nos sistemas juriacutedicos que permitem tal correccedilatildeo

como o brasileiro ela se faz seja por meio de uma decisatildeo de sentenccedila que

interprete a lei de forma inovadora seja por uma sentenccedila extensiva que

ultrapasse o que estaacute previsto em lei A decisatildeo inovadora e a sentenccedila

extensiva satildeo nesse sentido a expressatildeo de uma palavra orientada para um

determinado auditoacuterio que necessita de uma soluccedilatildeo para a sua demanda

60

Perelman (1996) na Nova Retoacuterica trata do auditoacuterio e do orador

segundo a premissa de que para que a argumentaccedilatildeo se desenvolva eacute

necessaacuterio que primeiramente a atenccedilatildeo do auditoacuterio esteja assegurada

Numa publicaccedilatildeo cientiacutefica como exemplifica esse autor essa atenccedilatildeo jaacute estaacute

assegurada na medida em que o puacuteblico leitor se dirige agrave revista com intenccedilatildeo

de ler seu conteuacutedo cabendo ao autor do artigo selecionado pelo leitor tatildeo

somente manter o contato que a instituiccedilatildeo cientiacutefica jaacute disponibilizou ao

permitir a publicaccedilatildeo do exemplar

Isso tambeacutem acontece num texto juriacutedico quem tem acesso ao texto eacute

um leitor direcionado e na maior parte das vezes especializado isto eacute domina

o vocabulaacuterio bem como o conteuacutedo da aacuterea Um leitor leigo certamente natildeo

teria um entendimento satisfatoacuterio do texto

Conforme esclarece Perelman as instituiccedilotildees que existem na sociedade

facilitam e organizam o contato entre um orador (enunciador) e seu auditoacuterio

(alocutaacuterio ou co-enunciador) pois normalmente um puacuteblico que procura por

um determinado assunto ou tema jaacute conhece algo sobre ele

O contato entre o orador e o auditoacuterio pelo argumento natildeo se faz

somente pelo antes isto eacute por presunccedilatildeo estabelecida entre ambos (de quem

eacute o orador e qual eacute seu auditoacuterio) mas se constroacutei durante a troca entre eles

pois as condiccedilotildees de uso da palavra e a intenccedilatildeo do orador e a reaccedilatildeo do

auditoacuterio tambeacutem contribuem para o desenvolvimento do argumento

O orador deve para que sua argumentaccedilatildeo alcance o objetivo

pretendido conhecer bem o auditoacuterio a que se dirige para poder prever sua

reaccedilatildeo e fazer os ajustes necessaacuterios a fim de que possa ter ecircxito no seu

propoacutesito Dessa forma o orador se serve da persuasatildeo pois enquanto estaacute

diante do seu auditoacuterio constroacutei a sua proacutepria personalidade diante daquele

auditoacuterio o seu ethos

231 A formaccedilatildeo do ethos

61

Aristoacuteteles apresenta o ethos sob a perspectiva de uma figura que se

serve do que eacute persuasivo para um certo grupo de indiviacuteduos com o objetivo

de causar uma boa impressatildeo proporcionando uma imagem de si capaz de

convencer o auditoacuterio e ganhar sua confianccedila

Por isso o ethos mobiliza tudo o que contribui pra alcanccedilar seu objetivo

desde o tom da voz ateacute o proacuteprio argumento apresentado O orador

proporciona uma imagem psicoloacutegica e socioloacutegica de si agindo de forma

indireta e dinacircmica a fim de atingir seu objetivo mobilizando para isso a

afetividade (pathos)

Estes recursos permitem ao orador obter uma eficaacutecia que permite

ganhar a confianccedila de seu auditoacuterio O ethos vai dessa forma se mostrando

durante o ato da enunciaccedilatildeo sem no entanto fazer uma apologia do orador ao

mesmo tempo em que constroacutei sua identidade atraveacutes de estrateacutegias que

direcionam suas palavras e orientam portanto o discurso

Ao mesmo tempo em que o ethos se apresenta o auditoacuterio constroacutei uma

representaccedilatildeo dele uma espeacutecie de ethos preacute-discursivo e que lhe eacute ateacute

mesmo anterior tal como ocorre em relaccedilatildeo a um poliacutetico diante do Congresso

Nacional por exemplo no momento em que ele discursa o auditoacuterio

normalmente jaacute sabe a que partido ele pertence e as ideias que abraccedila o que

ocorre em geral eacute que natildeo haacute grandes surpresas

Segundo Amossy (2005) o orador apresenta para o auditoacuterio um ethos

onde faz uma apresentaccedilatildeo de uma imagem a imagem de si a fim de garantir

o seu sucesso diante de seu interlocutor (ou co-enunciador) apresentando ao

mesmo tempo o que ele eacute e o que ele natildeo eacute (seu anti-ethos conforme

Maingueneau) privilegiando o que lhe interessa

Mesmo que alguns autores35 tenham tratado sobre esta questatildeo

analisando as trocas verbais considera-se para este trabalho que o texto

escrito tem diante de si um autor e um leitor e que a interaccedilatildeo de faz da

mesma forma poreacutem num momento temporal que natildeo eacute simultacircneo mas

35

Benveniste Kerbrat-Orecchioni

62

consecutivo podendo inclusive existir uma grande lacuna temporal separando

os dois polos em contato pelo enunciado

Segundo Amossy o tratamento dado ao ethos na anaacutelise do discurso por

Maingueneau tem seu foco na maneira de dizer que ldquoautoriza a construccedilatildeo de

uma verdadeira imagem de sirdquo A imagem usa da relaccedilatildeo do interlocutor e do

seu parceiro buscando a eficaacutecia da palavra causando impacto e buscando a

adesatildeo Como jaacute foi visto neste capiacutetulo a autora esclarece que Perelman se

preocupa mais quando trata do ethos com a forma de apresentaccedilatildeo do

argumento pelo orador diante do auditoacuterio

Amossy aborda a questatildeo da credibilidade do narrador tratada por

Hassal e de como o narrador se torna confiaacutevel aos olhos do leitor

mobilizando estrateacutegias para que a relaccedilatildeo de confianccedila seja fundada na

autoridade que ele enunciador deve se conferir caso deseje convencer uma

autoridade natildeo eacute negociada mas conferida

Segundo Mainguenau36 (2002) o ethos se elabora ldquoatraveacutes de uma

percepccedilatildeo complexa que mobiliza a afetividade do interprete ao mesmo tempo

em que tira suas informaccedilotildees do material linguiacutestico e do entorno do ambienterdquo

Entretanto essa elaboraccedilatildeo ultrapassa esse limite indo para alem disso

atingindo todo o comportamento do orador incluindo ai o verbal e o natildeo-verbal

sempre como o objetivo de provocar um efeito maior que o das simples

palavras

Maingueneau aponta algumas variantes na concepccedilatildeo de ethos

tratadas por Auchlin37 bastante interessantes a saber

a) O ethos pode ser bastante concreto (carnal) ou mais ou menos abstrato

36 Lrsquoethos de la rheacutetorique agrave lrsquoanalyse du discours 2002

37 Auchlin AntoineUniversiteacute de Genegraveve Publicou entre outros estudos laquoEthos et expeacuterience du

discours quelques remarquesraquo in Wauthion M et A C Simon (eacuteds) Politesse et ideacuteologie Rencontres

de pragmatique et de rheacutetorique conversationnelles Louvain Peeters laquoBCILLraquo 77-95 (trad en

portugais laquo Ethos e experiecircncia do discurso algumas observaccedilotildees raquo in Mari H I L Machado amp R De

Mello (2001) (eacuteds) Anaacutelise do discurso fundamentos e praacuteticas Nuacutecleo de Anaacutelise do discurso

FALEUFMG Belo Horizonte 201-225)

63

b) O ethos pode ser concebido como mais ou menos axioloacutegico vindo

associado agrave ideia de que um bom orador eacute algueacutem de bem de boa

moral e costumes

c) O ethos pode ser concebido como destacado manifesto singular

oposto ao coletivo partilhado impliacutecito e invisiacutevel Este uacuteltimo eacute

conforme explica o autor parte de uma comunidade comunicativa e

como tal eacute invisiacutevel e imperceptiacutevel

d) O ethos pode ser mais ou menos fixo convencional em oposiccedilatildeo ao

emergente e singular tal qual figuras preacute-moldadas

O ethos conclui o autor eacute uma noccedilatildeo discursiva que se constroacutei no

discurso e natildeo apenas uma imagem que o outro faz de um orador Isto implica

dizer que ele eacute parte de uma interaccedilatildeo em que o outro (auditoacuterio ou co-

enuciador) recebe uma determinada influecircncia num determinado contexto

histoacuterico-social e como jaacute explicado antes agraves vezes resultante de habitus

coletivos

O texto de lei tem um ethos atraacutes de si o ethos do legislador que

elaborou a lei Este ethos eacute um ethos preacute-estabelecido o do Congresso

Nacional que aprovou uma lei federal da Assembleia Nacional Francesa que

redigiu a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo ou da ONU que

elaborou atraveacutes de um comitecirc de vaacuterios paiacuteses uma Declaraccedilatildeo Universal de

Direitos do Homem

E cada um desses ethos tem atraacutes de si outros tantos ethos estes

individuais que aparecem na figura representada pelo Congresso brasileiro

pela Assembleia francesa ou pela ONU jaacute que estas satildeo ldquocasasrdquo em que

representantes da sociedade de uma naccedilatildeo ou das naccedilotildees se reuacutenem para

deliberar sobre questotildees de seu interesse

Na medida em que um ethos se une a outros ethos por meio de um

acordo que ocorre no momento em que opiniotildees similares se unem numa

64

anuecircncia sobre um determinado tema forma-se a opiniatildeo de consenso

resultante de um ideal ou real partilhado38

O ethos de um indiviacuteduo poliacutetico tende para o abstrato pois eacute

transformado em ethos de um grupo de deputados ou de representantes de

uma naccedilatildeo e se transforma no ethos da entidade que representam seja ela o

Congresso a Assembleia ou a ONU

No entanto a sua manifestaccedilatildeo natildeo pode ser percebida pelo documento

que apresentam (lei ou tratado) pois nesse texto que eacute um texto-resultado soacute

estatildeo expressas as vontades finais dos legisladores e a proacutepria figura do ethos

eacute apagada Na lei ou tratado a vontade expressa do legislador natildeo vem

expliacutecita na letra do texto O que o texto apresenta satildeo as foacutermulas de

execuccedilatildeo para que na vida praacutetica a vontade seja realizada O ethos estaacute

presente todavia nas sessotildees de debate normalmente privadas restritas ou

de acesso bem menos frequente ao grande puacuteblico e esse eacute o lugar onde

melhor se pode ver sua presenccedila sua construccedilatildeo e seu desenvolvimento

Para exemplificar o que se quer dizer tome-se o seguinte caso poucos

sabem por exemplo quem eram Charles Malik (libanecircs) ou Pen Chung Chang

(vice-presidente da China) que participaram da redaccedilatildeo da DUDH Nem

tampouco se sabe quais paiacuteses participaram da redaccedilatildeo quem foi seu redator

final (o jurista francecircs Reneacute Cassin) ou por quem foram presididos os trabalhos

de discussatildeo (tarefa que coube agrave Eleanor Roosevelt viuacuteva de Franklin

Roosevelt)39

Da mesma forma ocorreu com a lei de informatizaccedilatildeo da justiccedila (Lei

114192006) os usuaacuterios da lei natildeo conhecem o juiz Paulo Seacutergio Domingues

38

Como explica Charaudeau (2002) Aristoacuteteles trata da doxa ou sentido comum que eacute a resultante das

ideias admitidas e opiniotildees partilhadas pelos homens ou por uma maioria (ldquoesclarecidardquo)

39 Este eacute um caso onde se pode verificar uma polifonia visto que existem vaacuterias vozes que chegam a um

consenso para a redaccedilatildeo final do documento Poderia se pensar tambeacutem na questatildeo sobre a perspectiva da

heterogeneidade constitutiva do enunciado segundo o que desenvolve Authier-Revuz Mas como a

redaccedilatildeo final do documento implica em um texto resultado que traduz de forma neutra diferentes pontos

de vista de seus debatedores as marcas possiacuteveis de alteridade satildeo apagadas e natildeo se pode reconhecer

essa heterogeneidade

65

presidente da entidade de classe AJUFE (Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do

Brasil) que eacute quem a defende num momento de debates antes da sua

aprovaccedilatildeo mediante as criticas da OAB

Nesse caso tem-se a maior expressatildeo do ethos o ethos do individuo

Paulo Seacutergio Domingues eacute tambeacutem o ethos do homem mas tambeacutem da

entidade civil da qual este eacute presidente ele defende algo em que acredita e

natildeo soacute porque eacute representante da entidade40 Aleacutem disso na qualidade de juiz

federal natildeo deixa de ser representante do Poder Judiciaacuterio

Percebe-se de pronto pelos exemplos que o ethos individual deu lugar

a um ethos nacional continental cultural histoacuterico e social Pode-se dizer que

haacute a formaccedilatildeo de um super ethos de caraacuteter universal jaacute que funde em si

vaacuterios ethos tatildeo distintos mas que encontram um objetivo em comum uma

opiniatildeo partilhada e concordam em pontos que satildeo apresentados Todos tecircm

como resultado um texto juriacutedico a lei 114192206 ou a Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem

Natildeo eacute diferente do que ocorre na Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

Cidadatildeo elaborada pela Assembleia Francesa ou pela Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil colocada em vigor em 1988 O que difere satildeo

seus objetivos que satildeo particulares a uma naccedilatildeo ou a uma situaccedilatildeo o

momento histoacuterico e social de cada uma delas No entanto a forma de

construccedilatildeo do ethos eacute igual em todos os casos

Cada um dos documentos citados conteacutem em si um caraacuteter abstrato em

sua intenccedilatildeo mas concreto porque seraacute validado jaacute que eacute lei ou tratado Cada

um deles conteacutem um valor axioloacutegico pois traduz a moral do tempo as regras

que precisam ser impostas E como tal satildeo uacutenicos singulares mas dirigidos a

uma comunidade e portanto de efeito coletivo e de caraacuteter partilhado Por fim

como forma textual satildeo documentos fixos moldados convenccedilatildeo que deve ser

respeitada por todos a quem se destina

40

Conforme relatou o proacuteprio Dr Paulo Seacutergio Domingues professor da Faculdade de Direito de

Sorocaba onde leciona haacute 18 anos a disciplina de Direito Processual Civil

66

Maingueneau explica esta questatildeo

laquo Dans le cas de textes scientifiques ou juridiques par exemple le garant au-

delagrave de lrsquoecirctre empirique qui a mateacuteriellement produit le texte est une entiteacute

collective (les savants les hommes de loihellip) eux-mecircmes repreacutesentants

drsquoentiteacutes abstraites (la Science la Loihellip) dont chaque membre est censeacute

assumer les pouvoirs degraves qursquoil prend la parole Degraves lors que dans une socieacuteteacute

toute parole est socialement incarneacutee et eacutevalueacutee la parole scientifique ou

juridique est inseacuteparable de mondes eacutethiques bien caracteacuteriseacutes (savants en

blouses blanches dans des laboratoires immaculeacutes juges austegraveres dans un

tribunalhellip) ougrave lrsquoethos prend selon le cas les couleurs de la laquo neutraliteacute raquo de

lrsquo laquo objectiviteacute raquo de lrsquo laquo impartialiteacute etcraquo41

Mas se por um lado existe uma neutralidade da qual fala esse autor ela

vem impregnada por um vetor ideoloacutegico ligado ao conteuacutedo de cada

documento e de caraacuteter extremamente subjetivo pois que dirigido agrave proteccedilatildeo

dos direitos do homem O resultado final (tratado declaraccedilatildeo ou lei) exprime

dessa forma ao mesmo tempo neutralidade e objetividade e diacronicamente e

de forma oposta eacute resultado justamente da parcialidade e da subjetividade

O enunciador do texto de lei assim como de alguns outros textos

abordados nesse trabalho (os textos de lei e os votos) eacute um enunciador-

resultante expressatildeo de vaacuterias vozes e vontades bem como de diferentes

ethos Pode-se por isso conferir-lhe um status de sujeito enunciador tal qual

um orador e que eacute dotado de um ethos Esse sujeito ao exprimir sua vontade

por meio do texto escrito da lei vai exercer sobre seu auditoacuterio os mesmos

poderes que um enunciador comum de um uacutenico sujeito Seu ethos ainda que

abstrato eacute ldquogigante pela proacutepria natureza eacute impaacutevido colossordquo na medida em

que exprime a vontade do enunciador-resultante e pode ateacute mesmo por

exemplo ser caracterizado do ponto de vista social e poliacutetico

41

Ndo A ldquo No caso dos textos cientiacuteficos ou juriacutedicos por exemplo a garantia aleacutem do ser empiacuterico

que materialmente produziu o texto eacute uma entidade coletiva (os saacutebios os homens da lei) eles proacuteprios

representantes de entidades abstratas (a Ciecircncia a Lei) da qual cada membro eacute autorizado a assumir os

poderes a partir do momento em que toma a palavra Desde o momento em que numa sociedade toda

palavra eacute socialmente personificada e avaliada a palavra cientiacutefica ou juriacutedica eacute inseparaacutevel de mundos

eacuteticos bastante caracterizados (saacutebios de aventais brancos em laboratoacuterios imaculados juizes austeros em

um tribunal) lugar em que o ethos assume de acordo com o caso as cores da ldquoneutralidaderdquo da

ldquoobjetividaderdquo da ldquoimparcialidaderdquo etc

67

232 O papel do local

O local fiacutesico e concreto onde se encontra o enunciador eacute revestido de

um caraacuteter objetivo mas que eacute ao mesmo tempo subjetivo e por isso abstrato

o Congresso Nacional a Assembleia Nacional (francesa) ou a ONU tecircm um

preacutedio fiacutesico como endereccedilo e satildeo pessoas juriacutedicas42 Satildeo chamadas de

42

Conforme o Vocabulaacuterio Juriacutedico (Silva De Plaacutecido e Vocabulaacuterio Juriacutedico Atualizadores Nagib

Slaibi Filho e Glaacuteucia Carvalho Rio de Janeiro Companhia Editora Forense 2004) Pessoa juriacutedica eacute

aquela ldquoempregada para designar as instituiccedilotildees corporaccedilotildees associaccedilotildees e sociedades quepor forccedila ou

determinaccedilatildeo da lei se personalizam tomam individualidade proacutepria para constituir uma entidade

juriacutedica distinta das pessoas que a forma ou que a compotildeem

Diz-se juriacutedica porque se mostra uma encarnaccedilatildeo da lei E quando natildeo seja inteiramente criada por ela

adquire vida ou existecircncia legal somente quando cumpre as determinaccedilotildees fixadas por lei

Dessa forma ao contraacuterio da pessoa natural cuja existecircncia legal se inicia por um fato natural ( o

nascimento) a pessoa juriacutedica somente tem existecircncia quando o Direito lhe imprime o sopro vital

Criando-se ou as confirmando eacute pois o Direito que determina ou daacute vida a essas entidades formadas

pela agremiaccedilatildeo de homens pela patrimonizaccedilatildeo de bens ou para cumprir segundo as circunstacircncias

realizaccedilatildeo do proacuteprio Estado

Inquinam a expressatildeo de pleonaacutestica porque pessoa simplesmente jaacute exprime ou daacute o sentido do ser

juridicamente considerado

Realmente pessoa assim se entende tanto se refere ao homem juridicamente compreendido como a toda

instituiccedilatildeo ou organizaccedilatildeo que se personalizou legalmente para cumprir finalidades do Direito ou fins

desejados por seus instituidores

Mas a qualificaccedilatildeo natural ou a juriacutedica eacute imposta para especializaccedilatildeo pois que em verdade segundo a

mateacuteria de que eacute composta ou constituiacuteda a pessoa haacute distinccedilatildeo entre essas duas espeacutecies

Nesta razatildeo a qualificaccedilatildeo adotada funda-se no fato do qual decorre a sua existecircncia ou personalidade

civil

No homem daacute-se o fato natural E daiacute a designaccedilatildeo adotada logicamente homem natural

Nas instituiccedilotildees corporaccedilotildees associaccedilotildees sociedades etc o fato de que decorre a personalizaccedilatildeo ou

individualizaccedilatildeo eacute legal eacute juriacutedico pois que se funda no Direito E daiacute a expressatildeo juriacutedica que integra

este sentido Juriacutedico eacute tudo o que eacute legal aprovado ou confirmado por lei quando natildeo eacute a proacutepria lei que

o institui ()

As pessoas juriacutedicas satildeo sempre representadas pelas pessoas naturais a quem se outorgam poderes para

representaccedilatildeo Esta representaccedilatildeo em regra eacute dita de delegaccedilatildeo por ser distinta em sua formaccedilatildeo e

exerciacutecio do mandato comumrdquo

Desta forma a ONU eacute pessoa juriacutedica de direito puacuteblico externo o Congresso Nacional eacute pessoa juriacutedica

de direito puacuteblico interno

68

pessoa juriacutedica pois possuem uma personalidade chamada de juriacutedica porque

natildeo eacute uma pessoa humana mas uma entidade a quem se conferem

determinados direitos e obrigaccedilotildees parecidas com as que satildeo atribuiacutedas aos

homens

Essas pessoas juriacutedicas que satildeo sediadas num endereccedilo fiacutesico

concreto tecircm poderes podem decidir negociar delegar ou representar o

grupo tal qual um mandato de um mandante ao seu mandataacuterio

Tecircm todos Congresso Nacional Assembleia Nacional e ONU uma

vontade que exprimem por seus atos e decisotildees tais como promulgar uma

constituiccedilatildeo uma lei um tratado uma declaraccedilatildeo resultado da decisatildeo da

maior parte de seus membros ou revogaacute-los

O local importa porque eacute ao mesmo tempo objetivo e subjetivo quando

se trata de uma notiacutecia em um telejornal ou na internet sobre essas casas haacute

sempre a imagem do preacutedio associada agrave notiacutecia o repoacuterter estaacute no local ou haacute

uma foto do local A fotografia ou a imagem do local fiacutesico personifica e

humaniza o local e por conseguinte se incorpora ao ethos de cada casa que

adquire uma forccedila maior quando citada como fonte (por exemplo O

Congresso Nacional aprovou a lei ldquoxrdquo) Imediatamente vem agrave mente do leitor

ou do ouvinte uma imagem real do local

Assim uma decisatildeo ou declaraccedilatildeo proferida por uma dessas casas tem

uma forccedila (ilocutoacuteria) muito maior do que se o enunciado fosse proferido de um

local natildeo conhecido pelo enunciataacuterio (uma associaccedilatildeo de moradores de um

bairro por exemplo) caso em que o espaccedilo da imagem ficaria no ldquovaziordquo no

referencial do enunciataacuterio

Pode-se exemplificar isso ao se pensar no Congresso Nacional

perguntando-se o que vem agrave cabeccedila do leitor Com certeza ele imaginaraacute algo

parecido com as imagens das figuras abaixo

69

43

Ou

44

Ou ainda

45

Por isso considera-se o local como constituinte tambeacutem do ethos a

imponecircncia institucional associada agrave apresentaccedilatildeo contiacutenua da imagem nos

meios de comunicaccedilatildeo impotildee um respeito agrave figura do ethos da entidade

tornando-o mais forte porque melhor conhecido do seu enunciataacuterio (auditoacuterio)

Todo esse contexto favorece a compreensatildeo da importacircncia de um texto

juriacutedico no seu contexto de produccedilatildeo Mais ainda geralmente um texto

referente a um determinado tema (por exemplo direito a uma justiccedila raacutepida)

natildeo teraacute o mesmo sentido e nem poderaacute ser aplicado da mesma forma em

paiacuteses diferentes ou ateacute mesmo em regiotildees diferentes de um mesmo paiacutes

43

httpwww2camaragovbr

44 httpwwwsenadogovbr

45 Niemeyer Oscar Congresso Nacional 1958 Brasilia httpwwwarcowebcombrarquiteturaoscar-

niemeyer-coletanea-de-11-02-2008html

70

Imagine-se a demora necessaacuteria para a resoluccedilatildeo de um processo de

divoacutercio na cidade de Satildeo Paulo ou numa pequena cidade do interior do

Estado Logicamente onde haacute mais demanda a demora eacute maior para o

atendimento do que se pleiteia

Entatildeo o texto juriacutedico tem sentido em seu local de produccedilatildeo ou de

origem se bem que possa ser aplicado e servir de fonte para outros sistemas

juriacutedicos diferentes (pela analogia admitida em vaacuterios sistemas juriacutedicos)46

Daiacute a importacircncia de conhecer bem o enunciataacuterio ao qual se dirige a

palavra pois dificilmente se poderia obter ecircxito diante de um auditoacuterio cujas

ideias e perfis satildeo contraacuterios ao do enunciador-orador Entretanto nada

impede que ao estabelecer uma relaccedilatildeo com seu puacuteblico o enunciador possa

se servir de argumentos e desenvolvecirc-los de tal forma que termine por

direcionar a opiniatildeo do seu enunciataacuterio-auditoacuterio convencendo-o totalmente

Cabe aqui uma distinccedilatildeo entre a persuasatildeo e a convicccedilatildeo o que

requer como premissa a distinccedilatildeo entre os tipos de auditoacuterios Um primeiro

tipo chamado de universal eacute aquele formado por toda a humanidade O

segundo eacute formado por um uacutenico interlocutor e seu auditoacuterio como num

diaacutelogo O uacuteltimo tipo eacute o estabelecido entre o proacuteprio sujeito e as deliberaccedilotildees

que ele faz consigo mesmo como num diaacutelogo interno

O objetivo do orador - o de obter a adesatildeo desse auditoacuterio - se

concretiza na medida em que o primeiro obteacutem um convencimento de ldquocaraacuteter

impositivo coativo das razotildees fornecidas e de sua evidecircncia validade

intemporal e absoluta independecircncia das contingecircncias locais ou histoacutericasrdquo

que satildeo apontadas

Perelman (197642) destaca ainda que o auditoacuterio universal eacute constituiacutedo

por cada um de seus integrantes e que cada cultura e cada individuo tem a sua

proacutepria concepccedilatildeo do que eacute um auditoacuterio universal Essas consideraccedilotildees levam

46

Uma versatildeo integral do coacutedigo civil francecircs foi adotada na iacutentegra no gratildeo-ducado de Varsoacutevia

Polocircnia durante a ocupaccedilatildeo napoleocircnica (httpideruditorgiderudit043668ar)

71

agrave conclusatildeo de que um determinado argumento pode natildeo obter o mesmo tipo

de adesatildeo em auditoacuterios de culturas diferentes de nacionalidades diferentes

Como se realiza a integraccedilatildeo ou a entrada de um sistema juriacutedico em

um outro diferente como se processam os aportes de legislaccedilatildeo Como um

sistema juriacutedico tal qual o brasileiro integra um tratado internacional ou de que

forma ele insere em seu ordenamento juriacutedico um coacutedigo quase ldquocopiadordquo tal

como ocorreu com os primeiros coacutedigos brasileiros (civil penal e comercial)

Os exemplos dos respectivos coacutedigos civis abaixo satildeo testemunhos

desse fenocircmeno

a) Coacutedigo Civil Brasileiro47

Art 3o Satildeo absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os

atos da vida civil

I - os menores de dezesseis anos

II - os que por enfermidade ou deficiecircncia mental natildeo tiverem

o necessaacuterio discernimento para a praacutetica desses atos

III - os que mesmo por causa transitoacuteria natildeo puderem exprimir

sua vontade

b) Coacutedigo Civil Francecircs 48

Article 1123

Creacuteeacute par Loi 1804-02-07 promulgueacutee le 17 feacutevrier 1804

Toute personne peut contracter si elle nen est pas deacuteclareacutee

incapable par la loi

Article 1124

47

REVOGADA A LEI Nordm 3071 DE 1ordm DE JANEIRO DE 1916 - Coacutedigo Civil dos

Estados Unidos do Brasil - VIGEcircNCIA ATEacute O DIA 10012003LEI No 10406 DE 10 DE

JANEIRO DE 2002 Institui o Coacutedigo Civil em vigor desde 11012003 (Alterado pela MP Nordm

10409012003( hoje LEI No 1067722052003 LEI Ndeg 1082522122003 LEI Ndeg 1093102082004

MP Nordm 234 10012005 LEI Nordm 11107 06042005 LEI Nordm 11127 28062005 LEI Nordm 11280

16022006 LEI Nordm 11481 31052007 LEI Nordm 1169813062008 LC Nordm 12819122008 LEI Nordm

1201003082009 jaacute inseridas no texto) LIVRO I DAS PESSOASTIacuteTULO I DAS PESSOAS

NATURAIS CAPIacuteTULO IDA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE

48 Version consolideacutee au 2 juin 2012 Chapitre II Des conditions essentielles pour la validiteacute des

conventions Section 2 De la capaciteacute des parties contractantes

72

Creacuteeacute par Loi 1804-02-07 promulgueacutee le 17 feacutevrier 1804

Modifieacute par Loi ndeg68-5 du 3 janvier 1968 - art 2

Sont incapables de contracter dans la mesure deacutefinie par la loi

Les mineurs non eacutemancipeacutes

Les majeurs proteacutegeacutes au sens de larticle 488 du preacutesent code

Constata-se o uso dos mesmos vocaacutebulos termos e expressotildees Mais

mesmo com redaccedilatildeo diferente o conteuacutedo eacute quase o mesmo

Como todas essas consideraccedilotildees se encaixam na Teoria da

Argumentaccedilatildeo Tomando a lei como o ponto de partida do fenocircmeno que

constroacutei o sistema juriacutedico ela eacute o argumento em si Isso posto o auditoacuterio eacute o

puacuteblico a que se destina seu enunciataacuterio E o enunciador ou orador eacute o

legislador ou aqueles que deram razatildeo as mudanccedilas da lei Uma lei alterada

existe porque foi necessaacuteria uma mudanccedila social requerida pelo enunciador e

eacute destinada a regrar a vida dos enunciataacuterios

A lei nova que vem como soluccedilatildeo pode ter sido inspirada apenas pelas

mudanccedilas sociais de uma nova tecnologia (pelo uso da informaacutetica) ou por um

tratado internacional assinado pelo governo brasileiro (Declaraccedilatildeo Universal de

Direitos Humanos) Dessa forma uma lei anterior eacute fonte de uma nova lei o que

revela a polifonia existente A necessidade de uma nova lei pela modernizaccedilatildeo

ou adequaccedilatildeo a um sistema internacional eacute o argumento

233 O auditoacuterio

O auditoacuterio para quem se destina a lei eacute um auditoacuterio ao mesmo tempo

uacutenico e universal Uacutenico quando tomado como naccedilatildeo pois uma lei se destina a

todo o povo de uma naccedilatildeo E ao mesmo tempo universal porque eacute constituiacutedo

de indiviacuteduos homens e mulheres bastante diferentes entre si na sua

73

individualidade mas que aos olhos do Estado e de seus poderes politicamente

organizados constituem um uacutenico ser o povo

Diferente do auditoacuterio universal o auditoacuterio onde se apresenta um uacutenico

interlocutor vecirc o desenvolvimento do argumento dentro de um diaacutelogo que se

desenvolve de maneira razoavelmente equilibrada no qual tanto o orador

quanto o interlocutor expotildeem cada um seus bons argumentos a fim de

encontrar uma soluccedilatildeo de consenso

A proposta de uma lei federal por exemplo eacute resultado da expressatildeo de

um auditoacuterio universal pois ela eacute debatida no Congresso Nacional onde estatildeo

deputados e senadores No entanto um interlocutor uacutenico pode representar na

condiccedilatildeo de representante do grupo ao qual pertence um auditoacuterio universal

Dessa forma o Congresso Nacional pode ser visto no momento do debate

como um ser uacutenico

Normalmente no auditoacuterio a troca entre orador e interlocutor possui

caracteriacutesticas que apontam para a discussatildeo Todavia ela pode se transformar

em debate se o objetivo principal for o triunfo da tese defendida tal como

ocorre no debate para a aprovaccedilatildeo de uma lei Segundo Perelman (197650) a

distinccedilatildeo entre o debate e a discussatildeo se faz sobretudo pela intenccedilatildeo dos

participantes da troca

O auditoacuterio ao deliberar consigo mesmo diante do que lhe eacute

apresentado pelo orador estaraacute sopesando sua aceitaccedilatildeo total ou parcial

convencendo-se ou natildeo da tese que lhe foi proposta

Diferente eacute o que ocorre na persuasatildeo que transcende os limites da

convicccedilatildeo iacutentima do interlocutor ou do auditoacuterio mediante o uso de um

elemento de maior forccedila que tem como objetivo coagir o auditoacuterio seja ele

formado por um uacutenico interlocutor ou universal

A persuasatildeo pode ser resultado dos procedimentos utilizados pelo

orador ou ocorrer em funccedilatildeo da formaccedilatildeo do proacuteprio auditoacuterio universal Assim

por exemplo um deputado de opiniatildeo divergente em seu partido pode votar a

favor de um projeto de lei que eacute de interesse do grupo poliacutetico ao qual

74

pertence A persuasatildeo neste caso seria efeito do pathos que se realiza pela

coerccedilatildeo isto eacute pelo compromisso assumido pelo poliacutetico com seu partido

obrigando-o a votar de acordo com o que a sua bancada partidaacuteria determinou

Uma lei colocada em vigor natildeo aceita discussatildeo sobre seu caraacuteter

persuasivo pois como lei sua persuasatildeo e seu poder de coaccedilatildeo satildeo atributos

inerentes Entretanto uma lei colocada em vigor pode suscitar debates sobre

sua forma de aplicaccedilatildeo Jaacute um projeto de lei pode tambeacutem suscitar debates

onde discussatildeo e persuasatildeo estatildeo presentes no momento de sua proposta

visto que num sistema democraacutetico o projeto de lei implica num debate antes

de sua aprovaccedilatildeo definitiva em lei

Os tratados de retoacuterica distinguem todos os gecircneros oratoacuterios

deliberativos judiciaacuterios e epidiacutedicos Os primeiros e os segundos se

constituem sobretudo por debates poliacuteticos e judiciaacuterios enquanto o terceiro

seria voltado para uma livre forma de expressatildeo cujo objetivo eacute o de agradar

elevar ou ornar um fato

Perelman destaca todavia que apesar de seu caraacuteter aparentemente

esteacutetico-literaacuterio o gecircnero epidiacutedico eacute aquele que conteacutem a intensidade

necessaacuteria presente na exposiccedilatildeo de cada argumento que por sua vez tem

seu valor exacerbado em uma medida necessaacuteria para atingir o resultado a que

se propotildee o orador

Perelman (197667) explica que dessa forma o convencimento do

auditoacuterio tambeacutem se faz natildeo soacute pela discussatildeo dos elementos que constituem

o argumento mas pelo fato de ser belo o recurso do qual se utiliza o orador

por exemplo Eacute nele ainda segundo Perelman que o orador se faz educador

que transmite seus valores Aqui estaacute presente a arte encantatoacuteria que muitas

vezes se faz pela presenccedila pessoal do orador diante de seu auditoacuterio seu

gestual sua forma de impostar a voz etc No Congresso Nacional a presenccedila

do epidiacutedico se faz pela emoccedilatildeo e pelo discurso inflamado do deputado ao

defender ou refutar o projeto de lei em debate diante do plenaacuterio

A argumentaccedilatildeo tem sempre como objetivo modificar um estado de

coisas preexistentes Eacute portanto de ordem praacutetica objetiva e pretende

75

mostrar por meio de provas que tem sua razatildeo de ser alterando o criteacuterio

subjetivo com que o auditoacuterio julga o argumento

Aleacutem do gecircnero epidiacutedico que eacute usado como recurso como jaacute foi dito

antes o orador serve-se de outros recursos para convencer o seu auditoacuterio

O auditoacuterio ou enunciataacuterio a quem se dirigem os textos de lei

analisados pelo corpus deste trabalho eacute o homem que vive em sociedade a

coletividade No caso da DDHC eacute o homem e cidadatildeo francecircs (leia-se homem

enquanto ser da espeacutecie humana) na DUDH eacute o homem de cada paiacutes

integrante da ONU na CF88 o homem brasileiro ou estrangeiro que vive no

Brasil e finalmente no caso da Lei 114192006 o homem eacute cada um que for

usuaacuterio do Poder Judiciaacuterio funcionaacuterio ou parte de um processo

resguardadas as limitaccedilotildees de implantaccedilatildeo do sistema de informatizaccedilatildeo

Jaacute nos textos do voto e parecer do Deputado Roberto Batochio e da

Justificaccedilatildeo da Deputada Luiza Erundina o auditoacuterio eacute a proacutepria Cacircmara dos

Deputados pois eacute ela quem aceita o parecer de ambos para depois votar a

aprovaccedilatildeo do projeto de lei Jaacute na Nota Oficial analisada o auditoacuterio eacute mais

restrito o texto dirige-se agrave OAB que criticou o projeto de lei e tambeacutem aos que

possam se interessar pela aprovaccedilatildeo da proposta apresentada ao Congresso

Nacional

234 O ethos e o logos

Perelman (197667) trata da adesatildeo que se pode fazer a grupos especiais

como os valores as hierarquias e os lugares do preferiacutevel explicando que

ldquoestar de acordo em relaccedilatildeo a um valor significa admitir que se exerceraacute uma

influecircncia sobre um objeto um ser ou um idealrdquo e que ela pode natildeo se impor a

todos

Mas destaca o autor que os valores estatildeo presentes de alguma forma e

em algum momento em todas as argumentaccedilotildees mesmo que isso ocorra pela

contestaccedilatildeo do valor ou sua total negaccedilatildeo Um auditoacuterio universal vai estar

76

sujeito a valores universais Mas na medida em que um auditoacuterio universal eacute

composto por auditoacuterios especiais a adesatildeo de cada grupo se faraacute de forma

diferente Entatildeo na aprovaccedilatildeo de uma lei ou tratado por um parlamento haveraacute

adesatildeo integral ou parcial ou natildeo do auditoacuterio universal A aprovaccedilatildeo e

portanto sua adesatildeo natildeo se faraacute de forma igual podendo haver diferentes

graus de adesatildeo mesmo diante da aprovaccedilatildeo E cada adesatildeo pode se fazer

por razotildees diferentes isto eacute cada grupo pode aderir por concordar ou se opor

a um certo grupo de valores diversos

Eacute o que ocorreu com a posiccedilatildeo da OAB que criticou o projeto da Lei de

Informatizaccedilatildeo Judicial para essa entidade o valor de ldquoacesso a uma justiccedila

mais ceacutelererdquo parecia impossiacutevel de ser alcanccedilado mesmo depois de sua

aprovaccedilatildeo pelo Poder Legislativo Hoje pode-se constatar que apesar de

ainda serem necessaacuterios vaacuterios aperfeiccediloamentos na implantaccedilatildeo - e ateacute

mesmo na execuccedilatildeo dos procedimentos de informatizaccedilatildeo a certificaccedilatildeo

digital por exemplo eacute uma realidade para os advogados brasileiros49

49

De acordo com o site nacional da entidade httpwwwacoabcombracoabsiteentendacertificado-

digital-oab Acesso em 22122012

O Certificado Digital OAB eacute emitido apenas para advogados regularmente inscritos na Ordem dos

Advogados do Brasil

Como descrito na DPC AC-OAB (Declaraccedilatildeo de Praacuteticas de Certificado ndash Autoridade

Certificadora OAB) documento que conteacutem as normas e procedimentos aplicaacuteveis agrave

Autoridade Certificadora o Certificado Digital do advogado somente poderaacute ser armazenado no chip do

seu cartatildeo profissional

Os inscritos que jaacute receberam a nova identidade profissional emitida pela OAB contendo

o chip eletrocircnico natildeo precisaratildeo solicitar um novo cartatildeo

Seraacute necessaacuterio apenas realizar o processo de solicitaccedilatildeo descrito no paraacutegrafo ldquoComo emitir

um Certificado Digitalrdquo

Os inscritos que ainda possuem o modelo antigo da identidade profissional sem o chip deveratildeo

providenciar imediatamente a troca pelo novo modelo para obter as vantagens do uso da

certificaccedilatildeo digital

Quando o advogado opta por ter uma certificaccedilatildeo digital ICP-BRASILAC-OAB ele valoriza a sua

entidade de classe e viabiliza seu acesso a diversos serviccedilos agregados e disponibilizados pelo Conselho

Federal como

1 Aacuterea para seu uso exclusivo no site da Instituiccedilatildeo para disponibilizar seu curriacuteculo profissional e

outras informaccedilotildees uacuteteis

2 Acesso automaacutetico aos seus dados constantes do Cadastro Nacional de Advogados passiacuteveis de

atualizar eletronicamente

77

Os valores podem ser de ordem distinta isto eacute concretos ou abstratos

Perelman considera a justiccedila ou a veracidade como valores abstratos e a

Franccedila ou a Igreja como valores concretos Na sociedade ocidental calcada

nas concepccedilotildees greco-romanas existem comportamentos e virtudes que soacute

podem ser segundo ele concebidos em relaccedilatildeo aos valores concretos tais

com as noccedilotildees de fidelidade ou lealdade

A base da argumentaccedilatildeo se faz sobre um tipo de valores ou sobre o

outro dependendo das circunstacircncias e nem sempre eacute faacutecil se distinguir o

papel de cada um dos valores Num dado grupo social o valor concreto pode

ser tratado como uacutenico e se oporaacute a qualquer outro que lhe seja estranho e

pode ateacute se for adotado sem os devidos cuidados levar a uma tomada de

posiccedilatildeo arbitraacuteria

Os valores concretos podem ser usados para fundar valores abstratos e

vice-versa Apoiar-se num valor abstrato pode servir agrave critica e agrave necessidade

de se proceder dessa forma manifesta ou ainda segundo Perelman (1976) a

um espiacuterito revolucionaacuterio enquanto que o contraacuterio indica normalmente um

caraacuteter conservador

O valor de igualdade e liberdade que parecia abstrato em 1789 aos

revolucionaacuterios franceses se materializa na DDHC se reforccedila com a

publicaccedilatildeo na DUHC Aiacute o conceito de justiccedila ainda volaacutetil sobretudo pelo fato

das duas grandes guerras vivenciadas pela Europa em menos de 50 anos

comeccedila a tomar corpo e ganhar forccedila Por toda a parte satildeo contestadas as

medidas que restringem a igualdade e a liberdade ao mesmo tempo em que o

3 Reduccedilatildeo dos custos na contrataccedilatildeo da Certificaccedilatildeo Digital

4 Seguranccedila na emissatildeo do Certificado ICP-BRASILAC-OAB porque aleacutem da conferecircncia

presencial dos documentos apresentados na hora da certificaccedilatildeo haveraacute uma consulta ao Cadastro

Nacional dos Advogados onde apareceraacute a foto do advogado para a confirmaccedilatildeo final

5 Possibilidade de encaminhamento de livros para Editoraccedilatildeo da Editora OAB

6 Desconto na inscriccedilatildeo de cursos na ENA

7 Aquisiccedilatildeo de livro da Livraria OAB com descontos

Para que o advogado possa usufruir a valorizaccedilatildeo de seu cartatildeo deve estar em dia com a OAB e ter

certificaccedilatildeo ICP-BRASILAC-OAB

78

sentido do conceito de justiccedila se amplia se reformula sobe na hierarquia dos

valores sociais ateacute se transformar no acesso raacutepido agrave justiccedila sustentado pelas

maacuteximas do fumus bon iuris e do periculum in mora

As hierarquias que tambeacutem constituem a base da argumentaccedilatildeo se

apoiam sobre os valores pois indicam a preferecircncia ou a concepccedilatildeo dos

valores relativos agraves pessoas e agraves coisas umas em relaccedilatildeo agraves outras Tambeacutem

podem ser concretas e abstratas sendo que os mesmos criteacuterios em relaccedilatildeo

aos valores satildeo adotados para se distinguir umas das outras

Uma das formas mais usuais de hierarquizaccedilatildeo eacute a que considera o

aspecto quantitativo dos elementos colocando em preferecircncia os de maior

quantidade Mas a hierarquia dos valores abstratos se faz mediante o criteacuterio

da natureza do elemento o que equivale dizer da sua natureza qualitativa e a

essa hierarquia na apresentaccedilatildeo dos argumentos eacute mais importante ateacute do

que o proacuteprio valor dos argumentos

Perelman ensina que um auditoacuterio se caracteriza mais pela forma como

ele hierarquiza os valores do que pelos proacuteprios valores A intensidade de

adesatildeo a cada um dos valores tambeacutem deve ser considerada e conhecida do

orador a fim de que ele possa explorar convenientemente esse aspecto na

apresentaccedilatildeo de sua argumentaccedilatildeo

Ao se examinar uma lei e o argumento que caracteriza a sua existecircncia

temos que sua concretude se daacute pelo fato da lei ser publicada e produzir seus

efeitos Mas o grau de importacircncia de uma lei eacute baseado tal qual o argumento

numa escala hieraacuterquica onde o valor atribuiacutedo a diferentes leis eacute normalmente

definido pela Constituiccedilatildeo do paiacutes como se veraacute mais adiante

Em relaccedilatildeo aos argumentos e aos lugares estes vatildeo designar as

rubricas sob as quais se podem classificar os argumentos como se fossem

etiquetas A divisatildeo aristoteacutelica separava os lugares comuns dos especiacuteficos

Os primeiros de caraacuteter generalizante permitem um uso em diversas e

muacuteltiplas circunstacircncias Seu uso indiscriminado levou agrave repeticcedilatildeo exaustiva e

esse excesso foi tachado de local comum caracterizando os lugares comuns

por uma banalidade que entretanto natildeo exclui a especificidade

79

Perelman (1976115) propotildee em sua obra diferente do que fez

Aristoacuteteles tratar dos lugares comuns separando-os em lugares da

quantidade da qualidade da ordem da existecircncia da essecircncia e da pessoa

Os lugares da quantidade satildeo definidos como sendo lugares comuns onde

prevalece a quantidade da ocorrecircncia e segundo Isoacutecrates deve se avaliar

sua aplicaccedilatildeo e retorno isto eacute aquele que ldquorend servicerdquo a maior quantidade

de pessoas que dele se beneficia Retomando Aristoacuteteles Perelman

(1976116) cita um trecho de Toacutepicos50 que eacute bastante interessante onde ele

compara a justiccedila agrave coragem e a utilidade de ambas a justiccedila sempre eacute uacutetil a

coragem apenas agraves vezes Isto implica dizer que o local da quantidade eacute

aquele onde o que acontece eacute o usual o normal o habitual

Oposto ao local da quantidade estaacute o da qualidade tal como o da

qualidade da verdade divina defendida por Calvino e os Reformistas Aqui tem

maior importacircncia a singularidade a preciosidade a especificidade a

originalidade de cada ser ou objeto e das relaccedilotildees que os envolvem eacute a

valorizaccedilatildeo do uacutenico A precariedade citada como exemplo de local da

qualidade em oposiccedilatildeo ao valor quantitativo da duraccedilatildeo Por isso o que eacute

precaacuterio tem um valor maior

Os outros lugares tal qual o da ordem afirmam a superioridade do

anterior sobre o posterior da causa sobre o fim e o dos princiacutepios sobre o

objetivo os lugares da existecircncia afirmam a superioridade do que existe do

que eacute atual e real sobre o possiacutevel o eventual ou o impossiacutevel

Uma lei como jaacute foi mencionado eacute um argumento em si e eacute posta

diante de um auditoacuterio a sociedade As palavras que se apresentam no seu

enunciado nem sempre representam o seu conteuacutedo uma lei como a da

informatizaccedilatildeo da justiccedila (Lei 114192006) busca em seu escopo uma

celeridade no tracircmite dos processos junto ao sistema judiciaacuterio Mas no corpo

50

ldquoEst aussi plus deacutesirable ce qui est plus utile en toute occasion ou la plupart du temps par exemple la

justice et la tempeacuterance sont preacutefeacuterables au courage car les deux premiegraveres sont toujours utiles tandis

que le courage ne lrsquoest qursquoagrave certains momentsraquo

80

do texto da lei essas palavras natildeo aparecem O que natildeo significa que a

maacutexima ldquoceleridade processualrdquo esteja ausente

Um estudo mais aprofundado realizado por Cretella (1994) da oitava

Constituiccedilatildeo da Republica Federativa do Brasil de 1988 que ainda eacute vigente

revela que quatro Declaraccedilotildees Revolucionaacuterias Francesas51 influem na

Constituiccedilatildeo Poliacutetica do Impeacuterio de Brasil de 1824 e se perpetuam ao longo dos

tempos

No texto de 1988 o principio tradicional de ldquotodos satildeo iguais perante a

leirdquo ressurge reformulado no Preacircmbulo atraveacutes da palavra ldquoigualdaderdquo Mas

este princiacutepio tambeacutem estaacute presente em outras Constituiccedilotildees anteriores a

saber

Constituiccedilatildeo do Impeacuterio (art 179 inc I)

Constituiccedilatildeo Federal de 1891 (art 72 sect 2ordm)

Constituiccedilatildeo Federal de 1934 (art 113 inc I)

Carta de 1937 (art 122 inc I)

Constituiccedilatildeo Federal de1946 (art 141 sect 1ordm)

Emenda Constitucional no 1 de 1969 (art 153 sect 1ordm)

e na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (art 5ordm)

Por sua vez o artigo 5ordm da Constituiccedilatildeo de 1988 recebe uma Emenda

Constitucional52 16 anos apoacutes a sua entrada em vigor que trata exatamente

da questatildeo da celeridade da justiccedila ldquoa todos no acircmbito judicial e

51

De acordo com o mesmo autor a) a de 17 artigos e mais conhecida a Declaraccedilatildeo dos Direitos do

Homem e do Cidadatildeo pois seus artigos constam no Proacutelogo da Constituiccedilatildeo de 1791 e na de 1958

tambeacutem Foi votada pela Assembleia Constituinte francesa em 27 de agosto de 1789 b) a Declaraccedilatildeo

girondina de 1793 votada pela Convenccedilatildeo c) a Declaraccedilatildeo Montanhesa de 1793 que deveria preceder a

constituiccedilatildeo mas que acabou natildeo sendo votada d) a Declaraccedilatildeo do Ano III que precede a Constituiccedilatildeo

de 5 Frutidor (do mesmo ano) votada tambeacutem pela Convenccedilatildeo

52 Emenda Constitucional n

o 45 de 9 de dezembro de 2004 Art 5ordm LXXVIII - a todos no acircmbito judicial

e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeridade de

sua tramitaccedilatildeo

81

administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios

que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeordquo

Conforme observa Alexandre de Moraes (2011410-412) evocando o

princiacutepio da eficiecircncia dos serviccedilos

A EC no 4504 (Reforma do Judiciaacuterio) assegurou a todos no

acircmbito judicial e administrativo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo

e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeo

O mesmo autor comenta mais adiante na mesma obra referindo-se

especificamente agrave lei 114192006

No contexto da Reforma do Judiciaacuterio e buscando efetivar a

celeridade processual a Lei no

11419 de 19 de dezembro de

2006 regulamenta a informatizaccedilatildeo do processo judicial (autos

virtuais) estabelecendo a possibilidade de utilizaccedilatildeo do meio

eletrocircnico na tramitaccedilatildeo dos processos judiciais comunicaccedilatildeo

de atos e transmissatildeo de peccedilas processuais indistintamente aos

processos civil penal e trabalhista bem como aos juizados

especiais em qualquer grau de jurisdiccedilatildeo

A proacutepria lei define os principais termos para a implementaccedilatildeo

da informatizaccedilatildeo do processo judicial

Entatildeo o desaparecimento ou ausecircncia de certos termos nos documentos

(tal qual o termo justiccedila) tem um significado sua ausecircncia implica no fato de

que o valor abstrato passou a ser concreto natildeo eacute mais necessaacuterio estar

presente de forma expliacutecita ele eacute inerente agrave sociedade pois a evoluccedilatildeo dos

costumes fez com que o valor transigisse de status passando da abstraccedilatildeo

para a concretude

Na Revoluccedilatildeo Francesa o direito a uma justiccedila ldquojustardquo era algo que natildeo

se conhecia e se existia era exercido para alguns e natildeo para todos podendo

nunca se concretizar pela demora em sua realizaccedilatildeo O direito agrave justiccedila se

ampliou de tal forma que hoje natildeo eacute mais necessaacuterio que ele apareccedila

explicitado dessa forma pois ele se tornou inerente ao homem do seacuteculo XXI

mesmo que seja necessaacuterio ainda em alguns casos explicitaacute-lo melhor53

53

Ao se acessar a paacutegina da ONU pode-se verificar que ainda existem muitas questotildees em que a justiccedila

ainda natildeo alcanccedila sua efetividade pois existem programas tais como eliminaccedilatildeo da violecircncia contra a

82

A anaacutelise que Cretella (1994) faz do Preacircmbulo da Constituiccedilatildeo Federal

da Repuacuteblica do Brasil mostra sob a oacutetica do direito tal evoluccedilatildeo Ele explica

que a Revoluccedilatildeo Francesa incorpora em um soacute valor as maacuteximas de ldquoliberteacuterdquo

ldquoeacutegaliteacuterdquo e ldquofraterniteacuterdquo mas que os constituintes brasileiros os separaram na

redaccedilatildeo do Preacircmbulo colocando-os em ldquolugaresrdquo diferentes

A separaccedilatildeo permite ao contraacuterio do que se possa pensar natildeo uma

dispersatildeo dos valores Significa que cada um desses valores pode e seraacute

como se veraacute mais adiante ser tomado individualmente para que possa ser

melhor explorado desenvolvido e especificado A um valor baacutesico de liberdade

se associam as situaccedilotildees onde este valor eacute necessaacuterio liberdade de crenccedila

religiosa de ir e vir de filiaccedilatildeo partidaacuteria por exemplo

De certa forma alguns desses valores estatildeo presentes ao mesmo tempo

fundidos em outros Assim o valor de bem-estar soacute pode existir se um homem

for livre para circular pelo espaccedilo social se ele for tratado de forma equacircnime

em relaccedilatildeo aos outros homens e de maneira fraterna

Assim tambeacutem ocorre em relaccedilatildeo agrave justiccedila para que se atinja a justiccedila

enquanto ideal de uma sociedade haacute que se ter liberdade igualdade e

fraternidade A maacutexima francesa retomada em vaacuterias das Constituiccedilotildees e

Cartas brasileiras se repete sempre como se sua repeticcedilatildeo fosse necessaacuteria

para sua solidificaccedilatildeo presente no preacircmbulo e perpetuando-se pelos artigos

seguintes inclusive no artigo 5ordm cristaliza-se tal qual claacuteusula peacutetrea Sua

exigecircncia passa a ser inquestionaacutevel e deve ser a todo custo cumprida

Desta forma valores tatildeo abstratos na Franccedila de 1789 e que passaram a

ser repercutidos ao longo dos anos surgiram na primeira Constituiccedilatildeo do

Impeacuterio e se perpetuaram em outras Constituiccedilotildees brasileiras concretizando-

se como direitos adquiridos

mulher a crianccedila da violecircncia sexual nos conflitos da proteccedilatildeo dos povos autoacutectones das crianccedilas nos

conflitos armados etc (httpwwwunorgfrrights)

83

Entretanto natildeo soacute os documentos franceses influenciaram as leis

brasileiras O cenaacuterio internacional tambeacutem provocou interferecircncias apoacutes duas

guerras mundiais de consequecircncias perpeacutetuas e avassaladoras para o mundo

que culminaram na celebraccedilatildeo de vaacuterios tratados e da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem de 1948 A DDUH retomara os valores de igualdade

fraternidade liberdade justiccedila especificando-os e aprofundando-os a fim de

impedir que novos horrores fossem praticados

Ora o Brasil por meio do mesmo art 5ordm e inciso LXXVIII54 inclui os

tratados internacionais em seu sistema legal colocando os tratados

internacionais sobre direitos humanos entre a constituiccedilatildeo federal e as leis

federais o que implica dizer que eles tecircm que ser respeitados tal como

constam no tratado dentro do sistema hieraacuterquico das leis brasileiras

Essa forma de organizaccedilatildeo hieraacuterquica das leis nada mais eacute do que o

logos do enunciado uma lei autoriza ou se acorda com outra uma eacute

argumento da outra Consequentemente uma medida provisoacuteria natildeo pode estar

em desacordo com um tratado internacional ou um decreto legislativo em

desacordo como uma lei complementar

24 A reformulaccedilatildeo na liacutengua e no discurso juriacutedico

As figuras e procedimentos da Retoacuterica no item anterior mostram que

documentos franceses repercutiram no mundo e influenciaram documentos

brasileiros por meio de procedimentos reformulativos variados Conceitos

expressotildees termos foram ora incorporados repetidos reformulados ora

suprimidos sendo sua ausecircncia apenas formal Essas diversas formas de

reformulaccedilatildeo expliacutecita natildeo se realizam sem alterar o sentido obviamente O

54

sect 2ordm - Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do

regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do

Brasil seja parte

84

termo reformulaccedilatildeo eacute muito geneacuterico e refere-se a vaacuterios procedimentos

linguiacutesticos discursivos e enunciativos natildeo cabendo aqui discorrer sobre suas

inuacutemeras formas e alcance apenas seratildeo aludidas as formas que interessam agrave

anaacutelise deste corpus55

241 Do ponto de vista linguiacutestico

A reformulaccedilatildeo eacute um procedimento de substituiccedilatildeo empregado na

construccedilatildeo de um enunciado De acordo com Peytard (1984) a reformulaccedilatildeo

pode ser entendida ldquocomme lrsquoensemble des transformations quun discours

(litteacuterairescientifique) admet dune mecircme et unique source pour devenir laquo

autrement raquo56 eacutequivalentrdquo Para que se possa realizar tal operaccedilatildeo

normalmente faz-se uso de uma expressatildeo linguiacutestica diferente Por exemplo

no caso de um texto juriacutedico a lei pode ser substituiacuteda de forma reduzida ou

simplificada por ldquoelardquo ldquodelardquo ou ldquoregra legalrdquo

Peytard tambeacutem ensina que a reformulaccedilatildeo ocorre no momento em que

se explica um enunciado levando em consideraccedilatildeo o ldquoagente de

reformulaccedilatildeordquo

crsquoest-agrave-dire par rapport au locuteur-scripteur qui partant drsquoun

eacutenonceacute discursif drsquoorigine (situeacute) le transforme selon des

proceacutedures repeacuterables en un eacutenonceacute discursif second Eacutetant

entendu que lrsquoalteacuteration peut soit maintenir une similitude (eacutetat

drsquoeacutequivalence) soit provoquer une diffeacuterence (eacutetat drsquoalteacuteriteacute)57

A reformulaccedilatildeo elaborada por um mesmo enunciador reflete sim a

alteridade discursiva Todavia nos casos em que ela eacute resultante de um

55

Alguns autores preferem a grafia re-formulaccedilatildeo pois cada alteraccedilatildeo eacute uma nova formulaccedilatildeo

56 aspas do autor

57 ldquoIsto eacute em relaccedilatildeo ao locutor-escritor que partindo de um enunciado discursivo de origem (situado) o

transforma segundo procedimentos que se evidenciam em um enunciado discursivo segundo Visto que

a alteraccedilatildeo pode ou manter uma similaridade (estado de equivalecircncia) ou provocar uma diferenccedila (estado

de alteridade)rdquo (Trad Nossa)

85

conjunto de vozes de diferentes enunciadores de mesma cultura e ateacute de

culturas diferentes ela refrata apenas a polifonia existente

Segundo Mortureux (1993) a reformulaccedilatildeo como recurso eacute bastante

adotada para transpor o discurso cientiacutefico e teacutecnico para um discurso de

vulgarizaccedilatildeo (divulgaccedilatildeo cientiacutefica) ou seja essa transposiccedilatildeo possibilita o

acesso de uma linguagem teacutecnica e cientiacutefica para uma linguagem quotidiana

ou mais acessiacutevel Explica Peytard (1984) que sendo o agente da alteraccedilatildeo o

mesmo que produziu o enunciado discursivo de origem trata-se de

reformulaccedilatildeo

Segundo Charaudeau a reformulaccedilatildeo tem diferentes objetivos mas o

principal eacute evitar a repeticcedilatildeo de um mesmo termo retomado A reformulaccedilatildeo

pode se aplicar a um uacutenico termo ou a um conjunto deles e pode tambeacutem se

fazer de vaacuterias formas Enquanto fenocircmeno enunciativo a reformulaccedilatildeo pode

tratar dos diferentes aspectos do discurso direto ou indireto mas tambeacutem do

dialogismo inerente a todo discurso conforme a perspectiva bakhtiniana

Nos casos em que ocorre uma reformulaccedilatildeo e a alteraccedilatildeo do enunciador

ndash que eacute substituiacutedo por outro enunciador ou por um grupo de enunciadores ndash

pode haver uma alteraccedilatildeo do sentido Tal fato pode ser da escolha do

enunciador que quer ou precisa se afastar do termo inicialmente usado Tome-

se como exemplo o uso de termos substituiacutedos por outros porque

considerados inadequados a partir de um determinado momento tal como a

substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquodeficiente fiacutesicordquo pela expressatildeo ldquoportador de

necessidade especialrdquo O enunciador pode iniciar seu texto com a primeira

expressatildeo para esclarecer sobre o objeto do qual iraacute tratar para em seguida

passar a usar sempre a segunda expressatildeo considerada mais adequada nos

tempos atuais O conteuacutedo ideoloacutegico presente na reformulaccedilatildeo aponta a

vontade do enunciador de natildeo discriminar aqueles que tecircm mobilidade

diferenciada

Explica ainda Charaudeau (1992) que a reformulaccedilatildeo pode ter um

caraacuteter explicativo ou imitativo No primeiro caso ela tem um caraacuteter didaacutetico

conforme ensina esse autor pois explica de forma detalhada e atualizada tal

86

qual se faz num dicionaacuterio ou em um resumo (abstract ou reacutesumeacute) de artigo

cientiacutefico O caraacuteter imitativo reproduz as caracteriacutesticas mais marcantes tal

como no pastiche na saacutetira ou na paroacutedia e sua funccedilatildeo eacute luacutedica

A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo pode-se tomar o caso de um fiacutesico e um

engenheiro que descrevem o funcionamento de um motor de automoacutevel em

linguagem teacutecnica em um relatoacuterio teacutecnico sobre o desempenho do motor e o

mesmo fenocircmeno explicado num manual para o proprietaacuterio de um veiculo

automotor

Ensina Mortureux (1993) que essas substituiccedilotildees podem se efetuar pelo

emprego de recursos metalinguiacutesticos diafoacutericos ou tipograacuteficos

a) metalinguiacutesticos satildeo chamados pela autora os recursos empregados

com o auxilio dos verbos do tipo significar designar etc que satildeo utilizados na

sequecircncia do termo para esclarecer ou explicar tal como a sequecircncia de

palavras que datildeo o sentido de um termo no dicionaacuterio Ex incapacidade

designa a falta de capacidade de algueacutem para a realizaccedilatildeo de determinados

atos da vida civil

b) diafoacutericos satildeo os recursos que compreendem a

- anaacutefora gramatical retomada do termo posteriormente e acompanhado por um determinante do tipo demonstrativo por exemplo

- anaacutefora lexical retomada do termo por repeticcedilatildeo simples sinoniacutemia metoniacutemia

- a cataacutefora retomada do termo por um enunciado posterior

c) tipograacuteficos satildeo os recursos que se destinam a chamar a atenccedilatildeo

atraveacutes da pontuaccedilatildeo ou forma graacutefica tal como uma palavra grafada em

itaacutelico

Em relaccedilatildeo agrave sinoniacutemia recurso bastante empregado nos textos do

corpus Charaudeau (199254) ensina que no momento em que se emprega

uma palavra no local de outra num mesmo contexto ldquosans que change le sens

de leacutenonceacute on dira que ces deux mots sont seacutemantiquement eacutequivalents Ce

pheacutenomegravene est traditionnellement appeleacute synonymieraquo

87

O autor observa entretanto que natildeo existe sinoniacutemia absoluta Se

assim fosse natildeo haveria a necessidade de existirem diferentes palavras para

exprimir a mesma coisa Se haacute outra palavra existe um sentido diferente em

geral devido agrave diferenccedila do contexto em que cada uma eacute empregada

242 A reformulaccedilatildeo no direito empreacutestimo ldquotransplantrdquo ldquocirculationrdquo

No Direito eacute preciso tomar bastante cuidado com a substituiccedilatildeo de um

termo pelo outro jaacute que o sentido se altera A reformulaccedilatildeo eacute um procedimento

bastante praticado pelos juristas ao se tomar a lei como texto primordial e

central da atividade do jurista o texto que ele produz a partir da leitura da lei

nada mais eacute do que um procedimento de reformulaccedilatildeo acrescido de uma

interpretaccedilatildeo argumentativa para atingir um determinado objetivo

Existem ateacute mesmo artigos e leis que satildeo conhecidos inclusive por

aqueles que natildeo satildeo da aacuterea juriacutedica No Coacutedigo Penal os artigos 121 e 171

satildeo sinocircnimos de homiciacutedio e estelionato e na linguagem popular satildeo ateacute

empregados como adjetivos ldquoAh o fulano Conheccedilo bem ele eacute o ldquomaior 171rdquo

do bairrordquo

No discurso juriacutedico a reformulaccedilatildeo se faz normalmente no corpo do

texto onde haacute a transcriccedilatildeo do referido artigo de lei que agraves vezes se muito

conhecido tem apenas seu nuacutemero mencionado Em seguida haacute a

fundamentaccedilatildeo para justificar o pedido e o proacuteprio pedido como se pode ver

no exemplo de peticcedilatildeo abaixo caso em que a partir de uma lei o advogado

formula seu texto

ldquoDe acordo com o artigo 3deg do Coacutedigo Civil58

Satildeo absolutamente incapazes59

de exercer pessoalmente

os atos da vida civil

58

VADEMECUM SARAIVA 2ordf Ed Satildeo Paulo Saraiva 2006

59 Os grifos mostram a reformulaccedilatildeo dos termos e expressotildees empregados

88

I - os menores de dezesseis anos

II - os que por enfermidade ou deficiecircncia mental

natildeo tiverem o necessaacuterio discernimento para a praacutetica desses

atos

III - os que mesmo por causa transitoacuteria natildeo

puderem exprimir sua vontade

Assim Joseacute da Silva maior como jaacute foi demonstrado

anteriormente deficiente mental conforme o laudo anexado as

folhas e pelo processo de interdiccedilatildeo no

natildeo tem capacidade

suficiente para contratar um serviccedilo pois natildeo sabe diferenciar

entre o certo e o errado e portanto o que foi acertado entre as

partes eacute nulo em seu efeito rdquo60

Tambeacutem se encontram procedimentos de reformulaccedilatildeo em textos

teoacutericos como o texto de um manual de direito que explica este mesmo artigo

Capacidade de direito e de fato - Capacidade jaacute o vimos eacute a

aptidatildeo para ser sujeito de direitos e obrigaccedilotildees e exercer por si

ou por outrem atos da vida civil Duas satildeo portanto as espeacutecies

de capacidade a de gozo ou de direito e a de exerciacutecio ou de

fatordquo

()

A segunda espeacutecie de capacidade eacute a de exerciacutecio ou de fato eacute a

simples aptidatildeo para exercitar direitos eacute a faculdade de os fazer

valer se a capacidade de gozo eacute inerente a todo ser humano a

de exerciacutecio ou de fato deste pode ser retirada O exerciacutecio dos

direitos pressupotildee realmente consciecircncia e vontade por

conseguinte a capacidade de fato subordina-se agrave existecircncia no

homem dessas duas faculdades 61

No exemplo acima eacute possiacutevel verificar como os termos foram

reformulados por operaccedilotildees de sinoniacutemia ou mesmo por meio de uma

60

Exemplo elaborado baseado numa peccedila processual deste tipo de processo

61 Monteiro Washington de Barros Grifos do autor

89

expressatildeo ou paraacutefrase que detalha o que vem a ser incapacidade O termo

ldquoincapazesrdquo eacute restringido pela idade (os menores de dezesseis anos) pela

condiccedilatildeo fiacutesica ou mental (os que por enfermidade ou deficiecircncia mental natildeo

tiverem o necessaacuterio discernimento para a praacutetica desses atos) por motivos

fortuitos (os que mesmo por causa transitoacuteria natildeo puderem exprimir sua

vontade) O termo ldquodeficiente mentalrdquo eacute explicado por ldquonatildeo tem capacidade

suficienterdquo e ldquonatildeo sabe diferenciarrdquo Jaacute a capacidade vem parafraseada por

Monteiro (1970) como a ldquoaptidatildeo para ser sujeito de direitos e obrigaccedilotildees e

exercer por si ou por outrem atos da vida civilrdquo A capacidade de fato vem

definida como sendo ldquoa simples aptidatildeo para exercitar direitosrdquo ldquoa faculdade de

os fazer valerrdquo e explicitada por ldquoa capacidade de fato subordina-se agrave

existecircncia no homem dessas duas faculdadesrdquo

Os dois casos de reformulaccedilatildeo acima observados encontram-se entre

textos de um mesmo sistema juriacutedico o brasileiro Mas isso tambeacutem pode

ocorrer em sistemas juriacutedicos diferentes tal qual o francecircs e o brasileiro em

que podem tambeacutem estatildeo presentes reformulaccedilotildees tal qual nos textos do

corpus desse trabalho No artigo 5ordm da Constituiccedilatildeo brasileira encontramos

Art 5ordm - Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

E na Constituiccedilatildeo francesa que integra a DDHC e 1789 laquo Art 1ordm Les hommes

naissent et demeurent libres et eacutegaux en droits Les distinctions sociales ne

peuvent ecirctre fondeacutees que sur lutiliteacute commune raquo

Em Direito eacute comum encontrar-se ldquointerferecircnciasrdquo de um conjunto de

regras e ideias pertencentes a um sistema de direito em outro sistema62 Essas

ldquointerferecircnciasrdquo reformulaccedilotildees empreacutestimos importaccedilotildees satildeo de grande

amplitude pois ocorrem nas praacuteticas profissionais do mundo do trabalho

62

A CF88 integra os tratados internacionais e os de direitos humanos no mesmo artigo 5o LXXVIII sect 2ordm

- Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do regime e dos

princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja

parte sect 3ordm Os tratados e convenccedilotildees internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados em cada

Casa do Congresso Nacional em dois turnos por trecircs quintos dos votos dos respectivos membros seratildeo

equivalentes agraves emendas constitucionais (Conforme Emenda Constitucional no45 de 2004)

90

Tambeacutem ocorrem na produccedilatildeo de textos ndash de doutrina de lei de jurisprudecircncia

ndash ainda que em sistemas bastante diferentes tais como o Direito da Common-

Law63 (no qual se encaixa o sistema anglo-estadunidense) e tambeacutem no Direito

Continental franco-germacircnico 64 no qual se encaixam o direito francecircs e o

brasileiro

Esse fenocircmeno estudado pelo Direito Comparado ocorre porque um

sistema juriacutedico importa eou exporta frequentemente para outro(s) sistema(s)

seus vocaacutebulos conceitos ideias princiacutepios doutrinas leis ou

jurisprudecircncias65 Essa eacute uma praacutetica importante e necessaacuteria para o Direito e

sua evoluccedilatildeo66 Esse aporte pode se dar de forma parcial ou integral

WISE(1990) faz diversas consideraccedilotildees sobre o tema tambeacutem

questionando qual seria o melhor termo a ser empregado para tratar do aporte

63

Conforme o Dictionnaire Juridique Dahl Common Law laquo (hellip) la troisiegraveme signification srsquoemploie

pour deacutefinir les Etats-Unis comme un pays de common law dont le droit se fonde sur le droit britannique

par opposition agrave un pays de laquo droit civil raquo dont le droit deacuterive de la tradition juridique romaineraquo

64 Conforme o livreto disponivel em httpwwwkontinentalesrechtdetl_fileskontinental-

baseBroschuere_FRPDF (01112012) Direito Continental laquo Le droit continental est un droit eacutecrit

marqueacute par le concept de codification La codification est le regroupement systeacutematique et rationnel des

regravegles de droit dans des recueils officiels tels un code civil ou un code de commerce raquo

65

DAVID Reneacute e JAUFFRET-SPINOSI Camille Les grands systegravemes de droit contemporains Paris

Dalloz 1992 pg 5 -6 laquo Le leacutegislateur de tout temps a utiliseacute lui-mecircme le droit compareacute pour accomplir

et perfectionner son œuvre () la science du droit a par sa nature mecircme de science un caractegravere

transnational Ce qui est tradition que le nocirctre peut influer sur la maniegravere dont le droit de notre pays sera

expliqueacute interpreteacute et parfois renouveleacute en dehors mecircme de toute intervention du leacutegislateur

66 PELISSE Jeacuterome A-t-on conscience du droit Autour des Legal Consciousness Studies Genegraveses

ndeg 59 httpwwwcairninforevue-geneses-2005-2-p-114htm 2005

ldquoIl apparaicirct donc leacutegitime non seulement de renouveler (ou de redeacutecouvrir et drsquoapprofondir) le regard sur

les pheacutenomegravenes de socialisation juridique de mobilisation quotidienne du droit de construction

ideacuteologique de la leacutegaliteacute mais aussi de croiser drsquoimporter et de dialoguer avec des travaux qui

srsquoinscrivent dans une culture juridique elle-mecircme de plus en plus mondialiseacutee La juridicisation etou la

judiciarisation du politique et de la socieacuteteacute tout comme les transformations de lrsquoaction publique (inflation

leacutegislative contractualisation et proceacuteduralisation des politiques publiques deacutecentralisation et

laquo europeacuteanisation raquo simultaneacutee etc) constituent autant de pheacutenomegravenes dont lrsquoimportance est souligneacutee

par un nombre croissant de travaux en sciences sociales raquo

91

que faz um sistema juriacutedico para o outro ldquotransplantrdquo 67 (adotado em liacutengua

inglesa) ou ldquocirculationrdquo middot68 (adotado em liacutengua francesa)

Conveacutem examinar aqui que na liacutengua francesa seria possiacutevel o emprego

do termo ldquotransplantrdquo que apresenta o sentido de ldquoorgane tissu transplanteacuterdquo ou

ldquotransplantationrdquo para a ldquoaction de transplanterrdquo ldquoCirculationrdquo tem como

definiccedilotildees ldquomouvement circulairerdquo ldquoaeacuterationrdquo ldquocommerce raquo laquo roulement raquo laquoen

cours raquo laquo diffusion lancement raquo laquo propagation transmission raquo laquo trafic raquo Este

termo tambeacutem pode ter o mesmo sentido de ldquotransporte por imigraccedilatildeordquo

Na liacutengua inglesa ldquotransplantrdquo tem a forma idecircntica para o verbo e para o

substantivo e estaacute ligado agrave ideia de ldquoto remove and plant in another placerdquo ldquoto

transport as or colonisation cause to emigraterdquo ou ldquoto remove (issue from one

part or individual and plant for growth in another)rdquo

Pode-se acreditar que cada sistema juriacutedico e portanto cultural escolha

um termo diferente para designar um mesmo fenocircmeno pois os costumes satildeo

diferentes Seria possiacutevel ainda empregar o termo empreacutestimo em liacutengua

portuguesa ldquobrasileirardquo Nesse caso o termo explica o fenocircmeno em que um

sistema juriacutedico se utiliza de uma parte ou agraves vezes de uma grande parte do

direito de outro sistema para resolver uma espeacutecie de lacuna de forma mais

raacutepida e talvez mais eficaz

Eacute pouco provaacutevel que uma legislaccedilatildeo de um paiacutes seja eficaz em outro

paiacutes pois os aspectos culturais sociais histoacutericos poliacuteticos e econocircmicos

certamente satildeo bastante diferentes A aplicaccedilatildeo para que atinja a eficaacutecia teria

que ser bastante flexiacutevel Um exemplo de adoccedilatildeo de coacutedigo integral se fez na

Turquia que adotou em 17021926 o coacutedigo civil suiacuteccedilo69

67

WEBSTERrsquoS NEW COLLEGIATE DICTIONARY GampCMERRYAN AND CO PUBLISHERS

Springfield Mass USA 1959Second editon

68 Robert Paul LE PETIT ROBERT DICTIONNAIRE Dictionnaires Le Robert Paris 1986

69 Segundo LEGEAIS Raymond Les grands systegravemes de droit contemporain Paris LexisNexis Litec

Eacuteditions du Juris-Classeur 2004141)

92

Mas antes de se proceder a uma siacutentese conveacutem considerar o seguinte

em relaccedilatildeo ao emprego de termos diferentes

a) O termo ldquotransplantrdquo carrega em si uma ideia de passividade de fato

consumado de enxerto que deve ser aceito e adaptado tal qual oacutergatildeo

recebido por um corpo humano e portanto sujeito agrave rejeiccedilatildeo e agraves adaptaccedilotildees

orgacircnicas as mais diversas inclusive com a interferecircncia de fatores externos

ao organismo que o recebe como a administraccedilatildeo de remeacutedios que combatam

a sua rejeiccedilatildeo

ldquoTransplantrdquo tambeacutem estaacute ligado a plantar e toda planta tem raiacutezes que

se afincam a fim de manter a vida orgacircnica da mesma Transplant carrega em

si desta forma uma carga de imposiccedilatildeo quase que definitiva de sistema que

deve ser recebido com a finalidade de prolongar a vida como uacutenica saiacuteda para

a soluccedilatildeo de uma fraqueza orgacircnica Ou entatildeo rejeitado

b) O termo ldquocirculationrdquo por sua vez vem carregado da ideia de atividade

de movimento dinacircmico de repercussatildeo de relacionamento e que permite uma

interpretaccedilatildeo mais ampla e maleaacutevel

ldquoCirculationrdquo conteacutem em seus sentidos e usos uma definiccedilatildeo que leva a

conceber a ocorrecircncia do empreacutestimo de uma forma mais aberta e mais

tolerante natildeo tatildeo impositiva mais permeaacutevel que aceita trocas intervenccedilotildees e

permite sua difusatildeo e propagaccedilatildeo

De onde se conclui que o emprego dos dois termos pode ser adequado

mas para usos diferentes O termo ldquotransplantrdquo aplicar-se-ia aos casos em que

o empreacutestimo fosse mais rigoroso estrito e menos sujeito agraves influecircncias do

sistema juriacutedico receptor de forma integral ou quase totalitaacuteria Jaacute o uso do

termo ldquocirculationrdquo se faria quando o empreacutestimo fosse mais aberto amplo e

sujeito a alteraccedilotildees mais adaptado ao sistema cultural receptor podendo ser

recuperados os traccedilos do sistema original que fez o aporte Esse eacute o caso de

um tratado que eacute transcrito para a liacutengua do paiacutes que o assina o mesmo

93

tratado eacute vaacutelido em todos os paiacuteses mas estaacute escrito em mais que uma

liacutengua70

Em ambos os casos entretanto seria impossiacutevel a aplicaccedilatildeo de um

modelo juriacutedico emprestado para outro sistema ldquoestrangeirordquo que fosse

assentado sobre as mesmas bases em que pesassem as mesmas medidas e

fossem aplicados rigorosamente da mesma forma os criteacuterios do sistema

original

Tal praacutetica parece inviaacutevel pois o contexto receptor a que se destina

difere e muito e cada sistema juriacutedico eacute interpretado e aplicado pelos pares

sociais da cultura em que estaacute inserido E uma cultura natildeo pode ser e natildeo eacute

igual agrave outra

Esta reflexatildeo eacute uma reflexatildeo mais voltada para a aacuterea do Direito mas o

fenocircmeno acima descrito eacute um fenocircmeno que se passa tambeacutem dentro da

liacutengua visto ser ela o veiacuteculo pelo qual se produz a regra escrita

Por tais razotildees eacute que um dos questionamentos desse trabalho se volta

para o que realmente ocorre na liacutengua receptora quando se comparam

sistemas juriacutedicos doutrinas leis ou decisotildees Parece claro que natildeo se

emprestam apenas palavras (leacutexico) paraacutegrafos ou textos escritos de sentidos

estritos uma vez que a carga e valor semacircnticos dos novos termos

empregados interferem no conteuacutedo Para a Anaacutelise do Discurso este

fenocircmeno eacute reformulaccedilatildeo e dessa forma ldquotransplantrdquo ldquocirculation juridiquerdquo

ldquointerferecircnciardquo satildeo todos tipos de reformulaccedilatildeo

243 Liacutenguas diferentes culturas diferentes

70

A Declaraccedilatildeo Universal de Direitos do Homem nas suas versotildees em liacutengua inglesa francesa e

portuguesa nos respectivos sites da ONU emprega formas bastante diferentes para um mesmo termo Eacute

uma constataccedilatildeo surpreendente e ao mesmo tempo relevante pois em direito essa diferenccedila pode ateacute

implicar em diferentes interpretaccedilotildees e porque natildeo decisotildees sobre uma questatildeo Deixaremos para estudo

posterior essa descoberta e adotamos neste trabalho a versatildeo em francecircs da DUDH por ser ela a de origem

do documento cuja redaccedilatildeo final foi elaborada por Reneacute Cassin

94

Outra e bastante importante reflexatildeo eacute que ao se comparar textos de

liacutenguas diferentes no caso dos textos de doutrinas brasileira e francesaseria

de se esperar que esses tivessem um conteuacutedo ateacute parecido mas que sua

composiccedilatildeo fosse diferente em termos textuais isto eacute suas formas

composicionais ou a maneira pela qual se estruturam os textos Entretanto

como se pode verificar no exemplo apresentado dos artigos dos coacutedigos civil

francecircs e brasileiro71 ambos os textos possuem formas surpreendentemente

ldquosemelhantesrdquo

Uma das explicaccedilotildees para essa aparente semelhanccedila aleacutem de ambas

as liacutenguas derivarem do latim encontra sentido no fato dos autores brasileiros

terem estudado as obras dos autores estrangeiros para aprofundar seus

conhecimentos e utilizarem de seus conceitos como referecircncia teoacuterica

A estrutura composicional textual entatildeo migra juntamente com os

valores e as ideias trazidos pelo meacutetodo comparativo no aporte de direitos

estrangeiros para o direito brasileiro A reformulaccedilatildeo que se faz eacute textual

testemunha do dialogismo

Natildeo se pode esquecer todavia que ao se efetuar a leitura de textos em

liacutengua estrangeira estamos procedendo agrave comparaccedilatildeo sobretudo de textos de

culturas diferentes Culturas diferentes que tecircm origens diferentes de acordo

com o que explica Charaudeau (2001)

Il est clair que la langue est neacutecessaire agrave la constitution drsquoune identiteacute

collective qursquoelle garantit la coheacutesion sociale drsquoune communauteacute qursquoelle en

constitue drsquoautant plus le ciment qursquoelle srsquoaffiche Elle est le lieu par

excellence de lrsquointeacutegration sociale de lrsquoacculturation linguistique ougrave se forge

la symbolique identitaire Il est eacutegalement clair que la langue nous rend

comptables du passeacute creacutee une solidariteacute avec celui-ci fait que notre identiteacute

est peacutetrie drsquohistoire et que de ce fait nous avons toujours quelque chose agrave

voir avec notre propre filiation aussi lointaine fucirct-elle Il nrsquoempecircche que le

rapport de la langue agrave lrsquoidentiteacute est complexe car il ne srsquoagit pas seulement

de la langue mais aussi de son usage Peut-ecirctre faut-il dissocier langue et

culture et associer discours (usages) et culture Sinon comment expliquer que

les cultures franccedilaise queacutebeacutecoise belge suisse voire africaine et maghreacutebine

(agrave une certaine eacutepoque) ne sont pas identiques malgreacute lrsquoemploi drsquoune mecircme

langue Comment expliquer eacutegalement que les cultures breacutesilienne et

portugaise drsquoune part latino-ameacutericaine et espagnole drsquoautre part soient

diffeacuterentes La langue nrsquoest pas le tout du langage On pourrait mecircme dire

71

Item 242 paacuteg 85

95

qursquoelle nrsquoest rien sans le discours crsquoest-agrave-dire ce qui la met en œuvre ce qui

reacutegule son usage et qui deacutepend par conseacutequent de lrsquoidentiteacute de ses

utilisateurs raquo72

Cultura bem diferente da brasileira a da Franccedila testemunha mais de

2000 anos de histoacuteria Como naccedilatildeo foi por longo tempo o centro do universo a

referecircncia e o padratildeo a ser imitado e copiado por outras cortes europeacuteias

Aleacutem disso foi o paiacutes precursor das mudanccedilas sociais decorrentes da

Revoluccedilatildeo Francesa e local da publicaccedilatildeo dos primeiros coacutedigos (o Civil em

1804 e o Penal em 1810)

Cultura colocada como fonte de referecircncia para a doutrina juriacutedica

brasileira cuja histoacuteria de 512 anos traz haacutebitos ldquoimportadosrdquo interferecircncias

natildeo soacute da metroacutepole portuguesa mas muitas vezes como no caso do Direito

do epicentro francecircs Assim foi com o primeiro coacutedigo civil brasileiro que surgiu

em 1916 112 anos depois do Coacutedigo Civil francecircs

Vecirc-se dessa forma porque a liacutengua eacute o reflexo do que ocorre nas

praacuteticas sociais como explicou Bourdieu Eacute a liacutengua que traduz o que acontece

no cotidiano do homem sua posiccedilatildeo e relaccedilotildees numa sociedade poliacutetica e

economicamente situada que reflete o seu habitus Por sua vez o mesmo

habitus modifica a liacutengua construindo uma relaccedilatildeo circular

O texto juriacutedico traduz pois se expressa pela liacutengua todo o contexto

cultural da sociedade que o produziu Nada mais natural entatildeo do que

72

ldquoEacute claro que a liacutengua eacute necessaacuteria para a constituiccedilatildeo de uma identidade coletiva que ela assegura a

coesatildeo de uma comunidade que eacute tanto mais cimento na medida em que ela aparece Eacutela eacute o lugar por

excelecircncia da integraccedilatildeo social de aculturaccedilatildeo linguumliacutestica onde se forja o simboacutelico identitaacuterio

Tambeacutem eacute evidente que a linguagem nos faz responsaacuteveis pelo passado faz com que nossa identidade

seja amalgamada agrave histoacuteria e assim noacutes sempre temos algo a ver com nossa proacutepria filiaccedilatildeo tatildeo

longinqua quanto ela possa ser

Talvez seja necessaacuterio dissociar liacutengua e cultura e associar discurso (usos) e cutura Se natildeo como

explicar que culturas francesa do Quebec belga suiacuteccedila e ateacute mesmo africana e do Magrebe (em dada

eacutepoca) natildeo satildeo identicas apesar do uso de uma mesma liacutenguagem

Como explicar tambeacutem que as culturas brasileira e o portuguesa de um lado latino-americano e

espanhola por outro lado sejam diferentes A liacutengua natildeo eacute o todo da linguagem Pode-se dizer mesmo

que ela natildeo eacute nada sem o discurso ou seja o que a potildee em praacutetica o que regula seu uso e que depende

portanto da identidade de seus usuaacuteriosrdquo (Trad Nossa)

96

encontrar traccedilos culturais fortemente marcados na sua composiccedilatildeo traccedilos que

deixam ver como se constitui o sistema juriacutedico de uma dada sociedade

Aproximando essas constataccedilotildees do sistema juriacutedico brasileiro o que se

percebe eacute que no inicio da sua formaccedilatildeo seus juristas e legisladores

inspiraram-se no que havia de mais novo no inicio do seacuteculo XX momento em

que para o Brasil foi necessaacuterio organizar suas instituiccedilotildees e regular suas

relaccedilotildees sociais

Por tal razatildeo foram adotados coacutedigos inspirados em outros jaacute existentes

tal como o Civil baseado no modelo franco-iacutetalo-germacircnico Pode-se assim

dizer que a doutrina brasileira se fez atraveacutes da comparaccedilatildeo com outros

sistemas juriacutedicos portanto reformulando conceitos e princiacutepios o que

demonstra claramente que se trata aqui de ldquocirculationrdquo e natildeo de ldquotransplantrdquo e

que seus textos de lei foram impregnados natildeo soacute pelas ideias e pela cultura

juriacutedica europeacuteia Por isso se verifica a presenccedila de palavras como ldquoliberdaderdquo

ldquoigualdaderdquo e ldquodireitosrdquo em vaacuterios desses textos

Mas natildeo soacute palavras se repetem Tambeacutem se reproduz a forma de

composiccedilatildeo textual trazida pelas leituras dos juristas e legisladores que

buscavam absorver o conteuacutedo de outros sistemas fazendo de certa forma o

que aqui seraacute chamado com o devido respeito de antropofagia cultural

juriacutedica A produccedilatildeo de textos juriacutedicos brasileiros como praacutetica objetiva em

que se emprega a reformulaccedilatildeo - de palavras termos conceitos expressotildees

enunciados ou de paraacutegrafos - mescla forma e conteuacutedo

Hoje depois de vaacuterios periacuteodos poliacuteticos diferentes desde a

proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica e apoacutes a Constituiccedilatildeo de 1988 juristas e

legisladores percebem a realidade brasileira de forma diferente dos primeiros

tempos ateacute porque em muitos casos as praacuteticas estatildeo por demais distantes da

teoria e do texto de lei Essa eacute a razatildeo pela qual buscam novas soluccedilotildees a

partir de uma realidade que eacute fato mas tambeacutem a partir de outros modelos

diferentes

Por isso existem tentativas de equilibrar as diferenccedilas e os

descompassos que ora se aproximam e ora se despregam por completo do

97

que foi trazido em outras eras pela ldquocirculation des modegraveles juridiquesrdquo

europeus

Tais tentativas buscam soluccedilotildees consultando sistemas bastante

diferentes como aquelas do sistema anglo-saxatildeo adotado pela Common-Law

Eacute por isso que o Poder Legislativo produz assim novas leis a todo o momento

pois eacute necessaacuterio regular o que ficou faltando aqui e ali no ensejo de

aperfeiccediloar o que estaacute antigo ou o que acaba de chegar para que o sistema

juriacutedico esteja mais bem aparelhado para os novos tempos

O fato de aperfeiccediloar um conceito ou uma lei de certa forma tambeacutem

implica em reformulaccedilatildeo Observando-se o conceito de homem proposto pela

Encyclopeacutedie73 verifica-se que eacute bastante proacuteximo do conceito que se tem do

homem no seacuteculo XXI

HOMME s m crsquoest un ecirctre sentant reacutefleacutechissant pensant qui se promegravene

librement sur la surface de la terre qui paroicirct ecirctre agrave la tecircte de tous les autres

animaux sur lesquels il domine qui vit en socieacuteteacute qui a inventeacute des sciences

et des arts qui a une bonteacute et une meacutechanceteacute qui lui est propre qui srsquoest

donneacute des maicirctres qui srsquoest fait des lois etc74

244 Reformulaccedilatildeo e mecanismos de substituiccedilatildeo

A reformulaccedilatildeo pode ser discursiva o que implica dizer que um discurso

se reconstroacutei no outro e que estaacute baseado no outro conforme demonstram os

exemplos acima

Mas pode-se falar tambeacutem em reformulaccedilatildeo de conceitos e de termos

Nesse caso o que ocorre satildeo mecanismos de substituiccedilatildeo De acordo com os

levantamentos realizados nos textos do corpus em relaccedilatildeo aos termos

73

httpfrwikisourceorgwikiLE28099EncyclopC3A9dieVolume_8HOMME Acesso em

20072011

74 ldquoHOMEM sm eacute um ser que sente reflete pensa que vagueia livremente pela face da terra que

parece estar agrave frente de todos os outros animais sobre os quais ele tem o domiacutenio que vive em sociedade

que inventou as ciecircncias e as artes que tem uma bondade e uma maldade que lhe eacute proacutepria que se

estabeleceu senhores que se fez leis etcrdquo (Trad Nossa)

98

escolhidos seratildeo adotados para anaacutelise comparativa os seguintes paracircmetros

para os procedimentos de reformulaccedilatildeo

a) Sinoniacutemia e antoniacutemia o emprego de sinocircnimos e antocircnimos merece

uma consideraccedilatildeo importante Conforme ensinam Faraco (2006) e

tambeacutem Charaudeau (199250-55) a sinoniacutemia nunca eacute perfeita pois a

retomada de um termo por outro de sentido equivalente nunca preenche

todo o sentido do termo primeiro e o que distingue um do outro eacute

justamente o emprego em diferentes situaccedilotildees que se faz dele Esta

mesma reflexatildeo aplica-se aos antocircnimos

Como desdobramento da sinoniacutemia tem-se a hiponiacutemia e a hiperoniacutemia

A primeira pode ser verificada no caso em que o termo homem por

exemplo eacute substituiacutedo por outro tornando-o parte de uma categoria do

tal como humano Jaacute quando ocorre o inverso na hiperoniacutemia o sentido

eacute mais amplo Este eacute o caso verificado pelo uso do termo assembleia em

substituiccedilatildeo ao representante da assembleia

b) Pronominal neste caso o termo eacute substituiacutedo por um pronome

substantivo do tipo demonstrativo possessivo indefinido ou numeral

Homem pode ser substituiacutedo assim por nenhum

c) Grupo nominal o grupo nominal eacute aquele que se refere ao termo por

meio de um grupo de palavras normalmente constituiacutedo de um

determinante do tipo artigo um substantivo e um adjetivo Como

exemplo pode-se tomar o termo homem substituiacutedo por membro da

famiacutelia humana

d) Extensiva direta nesta categoria incluem-se os adjetivos e os particiacutepios

que se referem ao termo homem Entatildeo livre e incluiacutedo satildeo referencias

diretas ao termo homem que se encontra no texto Tambeacutem se incluem

aqui todos os termos que se referem aos coletivos do termo homem

como por exemplo assembleia sociedade povo etc

e) Extensiva indireta nesta categoria inclui-se aquilo que eacute decorrente da

accedilatildeo do homem ou inerente agrave sua existecircncia Dessa forma a escravidatildeo

99

a tortura a amizade a feacute e a dignidade por exemplo satildeo situaccedilotildees ou

conceitos que estatildeo ligados ao fato do homem ser dotado de vida e ateacute

mesmo de conviver com outros homens

f) Embreante de pessoa ou de tempo75 embreantes de pessoas satildeo os

pronomes determinantes (pronomes adjetivos) ou pronomes

possessivos que satildeo empregados no local da pessoa ou seja que

representam o enunciador Embreantes de tempo satildeo as foacutermulas

empregadas para situar no tempo tal como adveacuterbios ou a data do

documento

CAPITULO 3 O DISCURSO JURIacuteDICO

75

Maingueneau (2002) define embreagem como sendo laquoo conjunto das operaccedilotildees pelas quais um

enunciado se ancora na sua situaccedilatildeo de enunciaccedilatildeo e embreantes (tambeacutem chamados de ldquoelementos

decirciticosrdquo ldquodecirciticosrdquo ou agraves vezes ldquoelementos indiciaisrdquo os elementos que no enunciado marcam essa

embreagem Satildeo embreantes de pessoas

Os tradicionais ldquopronomesrdquo pessoais de primeira e segunda pessoas eu tuvocecirc(s) noacutes voacutes

Os determinantes meuteu nossovosso seu e suas formas femininas e plurais

Os pronomes o meuo teu o nossoo vosso o seu e suas formas no feminino e pluralrdquo

Maingueneau tambeacutem classifica os embreantes em temporais e espaciais Os primeiros trazem as marcas

dos tempos do verbo atraveacutes de partiacuteculas desinentes do passado presente ou futuro ou palavras que

marquem o tempo tal como ontem hoje etc e que fazem referencia ao momento da enunciaccedilatildeo Os

embreantes espaciais menos frequentes segundo o autor satildeo os que indicam o lugar em que ocorre a

enunciaccedilatildeo tais como aqui ali

100

31 Definiccedilatildeo

O discurso juriacutedico eacute constituiacutedo por todo enunciado - sequecircncia que

forma uma unidade de comunicaccedilatildeo no gecircnero juriacutedico - que integra o

universo juriacutedico seja ele oral ou escrito Por universo juriacutedico entende-se o

que gravita em torno de uma lei anterior ou posterior a sua publicaccedilatildeo e

abrange diferentes produccedilotildees orais e textuais Eacute nesse universo que se utiliza

uma linguagem juriacutedica definida por Damette (2007)76 como sendo a

linguagem que eacute usada por juristas e tambeacutem pelo legislador aleacutem de

pertencer aos poderes judiciaacuterio legislativo e eventualmente aos poderes

privados por ocasiatildeo do contato deste uacuteltimo com os outros

Dentre as caracteriacutesticas apontadas pela autora vale ressaltar que a

linguagem do Direito eacute uma linguagem de ldquoautoridaderdquo porque a situaccedilatildeo de

comunicaccedilatildeo onde ela acontece eacute ldquocontrainte notamment par le fait que celui

qui srsquoexprime le fait au nom drsquoune ldquoinstitutionrdquo77 srsquoabstrait en tant que sujet

eacutenonciateur et est censeacute repreacutesenter un auteur dont Il aurait deacuteleacutegation de la

parolerdquo

Esta eacute a posiccedilatildeo que adota este trabalho pois como jaacute se viu o

enunciador se apaga na medida em que se reveste da competecircncia que lhe eacute

conferida pela posiccedilatildeo que ocupa como representante de um poder por isso o

juiz decide uma questatildeo levada a ele pois estaacute autorizado pelo Poder

Judiciaacuterio a fazecirc-lo Essa competecircncia eacute conferida atribuiacuteda e natildeo apenas

resultado de uma imposiccedilatildeo ela eacute um atributo real e natildeo hipoteacutetico eacute

adjudicada ao homem incumbido de julgar outros homens por uma decisatildeo

legitimada do Poder Judiciaacuterio que aprovou o juiz em um concurso puacuteblico

76

Damette Eliane 2007 85-95

77 ldquoconstrangedora sobretudo pelo fato de que aquele que se exprime o faz em nome de uma instituiccedilatildeordquo

(Trad Nossa)

101

A linguagem juriacutedica vai ultrapassar a esfera juriacutedica e permear outras

esferas pois seus textos interagem com a sociedade regulam a vida dos

homens que nela vivem Eacute entretanto uma linguagem diferenciada da

linguagem corriqueira

Segundo Damette (2007) a linguagem juriacutedica eacute uma linguagem de

especialidade e como tal produz enunciados especiacuteficos pois eacute dotada de um

leacutexico de construccedilotildees sintaacuteticas e argumentaccedilatildeo especificas Integra esta

linguagem um vocabulaacuterio juriacutedico constituiacutedo de termos e expressotildees que tecircm

um sentido especiacutefico atribuiacutedos pelo Direito

Essa linguagem especiacutefica ainda segundo Damette laquo nomme tous les

eacuteleacutements que la penseacutee juridique deacutecoupe dans la reacutealiteacute pour en faire des

notions juridiques raquo78 Ainda ressalta a autora que a linguagem juriacutedica eacute

tradicional pois eacute inscrita na histoacuteria ao mesmo tempo em que

diacronicamente eacute evolutiva jaacute que testemunha uma evoluccedilatildeo dos costumes

na medida em que se adapta para descrever novas situaccedilotildees e para isso pode

criar palavras para definir novas noccedilotildees conceitos atos e fatos

Essa evoluccedilatildeo pode ser verificada por exemplo em relaccedilatildeo aos termos

expressotildees e conceitos novos criados pela Lei 114192006 (Lei da

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial) analisada nesse trabalho Como se pode

observar no artigo 1deg

sect 2o Para o disposto nesta Lei considera-se

I - meio eletrocircnico qualquer forma de armazenamento ou traacutefego de

documentos e arquivos digitais

II - transmissatildeo eletrocircnica toda forma de comunicaccedilatildeo a distacircncia com a

utilizaccedilatildeo de redes de comunicaccedilatildeo preferencialmente a rede mundial de

computadores

III - assinatura eletrocircnica as seguintes formas de identificaccedilatildeo

inequiacutevoca do signataacuterio

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por

Autoridade Certificadora credenciada na forma de lei especiacutefica

78

ldquonomeia todos os elementos que o pensamento juriacutedico recorta da realidade para fazer deles noccedilotildees

juriacutedicasrdquo (Trad Nossa)

102

b) mediante cadastro de usuaacuterio no Poder Judiciaacuterio conforme

disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

Aleacutem desses conceitos a lei tambeacutem cria novos termos especiacuteficos que se referem aos atos processuais peculiares tais como

Art 2o O envio de peticcedilotildees de recursos e a praacutetica de atos processuais

em geral por meio eletrocircnico seratildeo admitidos mediante uso de assinatura

eletrocircnica na forma do art 1o desta Lei sendo obrigatoacuterio o credenciamento

preacutevio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

sect 1o O credenciamento no Poder Judiciaacuterio seraacute realizado mediante

procedimento no qual esteja assegurada a adequada identificaccedilatildeo presencial

do interessado

Art 3o Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrocircnico no

dia e hora do seu envio ao sistema do Poder Judiciaacuterio do que deveraacute ser

fornecido protocolo eletrocircnico

Art 4o Os tribunais poderatildeo criar Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

disponibilizado em siacutetio da rede mundial de computadores para publicaccedilatildeo

de atos judiciais e administrativos proacuteprios e dos oacutergatildeos a eles subordinados

bem como comunicaccedilotildees em geral

sect 1o O siacutetio e o conteuacutedo das publicaccedilotildees de que trata este artigo

deveratildeo ser assinados digitalmente com base em certificado emitido por

Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica

sect 2o A publicaccedilatildeo eletrocircnica na forma deste artigo substitui qualquer

outro meio e publicaccedilatildeo oficial para quaisquer efeitos legais agrave exceccedilatildeo dos

casos que por lei exigem intimaccedilatildeo ou vista pessoal

Por fim a lei cria um novo veiacuteculo de comunicaccedilatildeo oficial mudando

assim a praacutetica profissional pois os advogados teratildeo que consultar o novo

Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

Este movimento do direito para a liacutengua que provoca alteraccedilotildees no

leacutexico mostra como as ciecircncias se cruzam atestando a interdisciplinaridade

revelando a relaccedilatildeo entre diferentes culturas juriacutedicas e diferentes esferas da

sociedade uma esfera especifica e juriacutedica interveacutem na esfera social do

quotidiano ao introduzir termos especiacuteficos como o diaacuterio judicial eletrocircnico Ao

mesmo tempo isso eacute possiacutevel porque a informaacutetica evoluiu e trouxe da sua

esfera especifica de ciecircncia a tecnologia que interferiu nas praacuteticas sociais

testemunhando a existecircncia e a importacircncia do habitus do qual fala Bourdieu

Esse dinamismo eacute caracteriacutestico da liacutengua e eacute inerente agraves sociedades que se

adaptam agraves suas necessidades internas e externas

103

Por isso a concepccedilatildeo que adota Cornu (2005207) em que o discurso

juriacutedico eacute laquola mise en œuvre de la langue par la parole au service du droit raquo79

eacute a que melhor define a linha deste trabalho pois o autor entende que o

ldquodiscurso juriacutedico integra o uso da liacutenguardquo e se mostra em todas as operaccedilotildees

normais de comunicaccedilatildeo que um universo particular requisita modificando

determinados elementos se necessaacuterio a fim de cumprir sua funccedilatildeo

Para Cornu propotildee uma tipologia para o discurso juriacutedico classificando-o

em legislativo (textos de lei) jurisdicional (relativo a decisotildees de justiccedila)

costumeiro (maacuteximas e adaacutegios de direito) e de expressatildeo corporal (para os

casos em que os juristas fazem uso da expressatildeo oral por exemplo em uma

audiecircncia)

Recordando que este trabalho trata apenas dos textos escritos e antes

de passar agrave anaacutelise dos mesmos faz-se necessaacuterio situar os textos escolhidos

e sua inserccedilatildeo no sistema juriacutedico brasileiro

O Brasil considera que no topo da hierarquia do seu sistema juriacutedico se

encontra a Constituiccedilatildeo Federal (CF 1988) Vigente desde 1988 todo o

ordenamento juriacutedico interno deve a ela se adequar Por isso eacute a CF 1988 que

autoriza e eacute a base para a publicaccedilatildeo da Lei da Informatizaccedilatildeo Judicial Lei

114192006

Na CF 1988 o artigo 5deg por sua vez prevecirc no inciso LXXVIII sect 2ordm e sect 3ordm

como jaacute anteriormente mencionado a inclusatildeo dos tratados internacionais (que

o Brasil tenha assinado) e das convenccedilotildees e tratados de direitos humanos

Isso implica a integraccedilatildeo da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem

assinada em 1948 ao sistema juriacutedico brasileiro

A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem eacute por sua vez um

aperfeiccediloamento no acircmbito internacional dos direitos do homem e do cidadatildeo

(DDHC) proclamados por ocasiatildeo da Revoluccedilatildeo Francesa em 1792

79

ldquoimplementaccedilatildeo da liacutengua pela palavra a serviccedilo do direitordquo (Trad Nossa) ldquoParolerdquo para o autor eacute a

expressatildeo vocal dotada de um sentido atribuiacutedo por aquele que dela se utiliza

104

Apontado o liame entre os documentos principais que seratildeo aqui

analisados fez-se necessaacuteria uma classificaccedilatildeo desses documentos quanto ao

gecircnero textual

32 Classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos no Direito

Para se proceder agrave anaacutelise dos textos do corpus foi elaborada uma

classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos a fim de se poder estabelecer algumas de

suas caracteriacutesticas ligadas agrave definiccedilatildeo do status do enunciador Esta

classificaccedilatildeo difere da tipologia apresentada por Cornu (2005) pois ultrapassa

os limites por ele propostos indo aleacutem e sendo mais abrangente numa

tentativa de dar conta de outros fenocircmenos observados em relaccedilatildeo aos textos

juriacutedicos

Cornu (2005) tratou apenas do discurso juriacutedico no seu sentido estrito O

corpus desse trabalho apresenta entretanto um aspecto dialoacutegico que natildeo

pode ser desconsiderado Aleacutem disso um texto juriacutedico que figura no jornal da

OAB por exemplo natildeo eacute um texto de gecircnero diferente e ainda que contenha

caracteriacutesticas de ambos os gecircneros poderia ser considerado como de gecircnero

misto Para o discurso juriacutedico o artigo numa publicaccedilatildeo como a da OAB eacute

formador de opiniatildeo e natildeo pertence exclusivamente ao gecircnero jornaliacutestico que

provavelmente o classificaria como texto de aacuterea de especialidade ou aacuterea

teacutecnica Por essas razotildees a soluccedilatildeo que parece mais adequada eacute tratar do

texto juriacutedico jornaliacutestico assim como de outros que apresentam caracteriacutesticas

mistas como integrante do discurso juriacutedico

A fim de estabelecer alguns criteacuterios em relaccedilatildeo aos textos que

pertencem ao gecircnero juriacutedico considerem-se os seguintes aspectos

- todos os textos pertencentes a esse gecircnero devem ser de conteuacutedo

juriacutedico e gravitar em torno de uma lei

- os textos juriacutedicos possuem finalidades distintas que devem ser

consideradas

105

- o local de produccedilatildeo do texto tambeacutem atribui caracteriacutesticas

especiacuteficas ao texto juriacutedico

A partir dessas primeiras observaccedilotildees propotildee-se a seguinte

classificaccedilatildeo para os sub-gecircneros dos textos juriacutedicos

a) Textos de lei satildeo os que passam a vigorar depois de sua publicaccedilatildeo

sendo publicados de forma oficial Aqui se incluem um tratado

internacional uma constituiccedilatildeo uma emenda constitucional uma lei

federal etc Satildeo textos oficiais e publicados geralmente em um

jornal do tipo Diaacuterio Oficial

b) Textos legislativos satildeo os produzidos em funccedilatildeo da lei e dos

debates pertinentes a ela nas casas parlamentares enquanto o texto

ainda era um projeto de lei Este item comporta tanto o voto do

deputado relator de uma comissatildeo parlamentar quanto o parecer

teacutecnico de um membro de uma comissatildeo especifica ou a

recomendaccedilatildeo para alteraccedilatildeo da redaccedilatildeo de um artigo ou mesmo

uma proposta de emenda ao projeto Haacute tambeacutem a possibilidade de

um questionamento posterior a uma lei jaacute vigente tal qual a arguiccedilatildeo

de inconstitucionalidade que pode gerar debates e relatoacuterios

semelhantes aos do projeto de lei

c) Textos jornaliacutesticos satildeo textos publicados pela imprensa

especializada em relaccedilatildeo ao tracircmite do projeto e sua repercussatildeo na

sociedade ou mesmo criacuteticas a respeito de uma lei vigente ou a falta

de uma lei para regular um problema Tais textos podem ser

encontrados no jornal da OAB na revista Consultor Juriacutedico ou ateacute

mesmo em um jornal de grande circulaccedilatildeo tal qual o Estado de Satildeo

Paulo ou O Globo em uma sessatildeo especiacutefica Eacute muito possiacutevel que

estes textos figurem na rubrica destinada agrave poliacutetica ou a noticias

internacionais

d) Textos teoacutericos satildeo os produzidos por professores profissionais da

aacuterea juriacutedica ou especialistas que discorrem sobre o tema a fim de

referendar ou discordar do que dispotildee a lei ou ateacute mesmo propiciar

106

uma reflexatildeo que resulte na proposiccedilatildeo de uma lei Geralmente estes

textos se apresentam em livros ndashdentre os quais figuram os manuais

de direito que satildeo usados para o ensino nos cursos de graduaccedilatildeo-

ou revistas acadecircmicas

e) Textos processuais satildeo as peccedilas que fazem parte de um processo

ou um pedido ao Poder Judiciaacuterio ou dele emanados a fim de fazer

cumprir a lei Satildeo os textos produzidos pelos advogados juiacutezes

promotores peritos pelas proacuteprias partes demandantes ou outros

funcionaacuterios do Poder Judiciaacuterio e que existem em funccedilatildeo de um

pedido ou de uma ordem e em geral decorrem da existecircncia de uma

lei Neste item incluem-se a jurisprudecircncia e a suacutemula80

f) Textos de discurso satildeo os discursos proferidos por um

representante tal qual um presidente do Senado ou o presidente da

Repuacuteblica ou mesmo proferido por outro representante e que por

forccedila da proacutepria situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo de sua assinatura ou da

importacircncia que adquire torna-se juriacutedico Inserem-se neste item

tambeacutem as cartas de intenccedilatildeo 81 e os compromissos assumidos de

forma oficial82

80

Tanto a jurisprudecircncia como a suacutemula satildeo resultado de decisotildees isto eacute de sentenccedilas proferidas em

processos Segundo explica o Vocabulaacuterio Juriacutedico ldquoJurisprudecircncia Extensivamente assim se diz para

designar o conjunto de decisotildees acerca de um mesmo assunto ou a coleccedilatildeo de decisotildees de um Tribunalrdquo

ldquoSuacutemula No acircmbito da uniformizaccedilatildeo da jurisprudecircncia indica a condensaccedilatildeo de seacuterie de acoacuterdatildeos do

mesmo tribunal que adotem idecircntica interpretaccedilatildeo de preceito juriacutedico em tese sem caraacuteter obrigatoacuterio

mas persuasivo e que devidamente numerados se estampem em repertoacuteriosrdquo

81 Exemplo de tema carta de intenccedilatildeo ldquoUma carta de intenccedilotildees entre a Secretaria Nacional de Justiccedila do

Ministeacuterio da Justiccedila e o Centro Internacional para o Desenvolvimento de Poliacuteticas Migratoacuterias

(International Centre for Migration Policy Development ndash ICMPD) foi assinada na uacuteltima quarta-feira

298 para aprofundar a cooperaccedilatildeo existente na aacuterea de regulaccedilatildeo da migraccedilatildeo e de enfrentamento ao

traacutefico de pessoas Para assinatura do documento o representante do ICMPD Luckas Gehrke foi

recebido pelo secretaacuterio Nacional de Justiccedila Paulo Abratildeo

O documento prevecirc que ambas as partes deveratildeo cooperar para garantir que as poliacuteticas e programas de

migraccedilatildeo existentes e futuros sejam eficazes sustentaacuteveis e em conformidade com as obrigaccedilotildees

internacionaisrdquo In httpblogjusticagovbrinicioministerio-da-justica-assina-carta-de-

intencoes-com-centro-europeu-de-politicas-migratorias em 16112012

82 Discurso proferido pelo Ministro Celso Amorim nas Naccedilotildees Unidas na Reuniatildeo de Seguimento da

Declaraccedilatildeo de Compromisso sobre o HIVAIDS em 02062006

107

A partir dessa classificaccedilatildeo tipoloacutegica dos textos juriacutedicos eacute possiacutevel

descrevecirc-los da seguinte forma

a) Os textos juriacutedicos de lei de um sistema democraacutetico satildeo polifocircnicos

e natildeo tem um enunciador que figura sob a forma de sujeito mostrado

O sujeito eacute propositalmente apagado a fim de mostrar isenccedilatildeo e eacute

sempre resultado de um processo de consenso de vozes que

demonstra a vontade de vaacuterios enunciadores

b) Os textos juriacutedicos tecircm um caraacuteter dialoacutegico pois estatildeo

normalmente ligados de forma intriacutenseca a textos anteriores Essa

ligaccedilatildeo pode ser resultado de uma reformulaccedilatildeo do texto precedente

ou ateacute mesmo uma oposiccedilatildeo a ele em ambos os casos a relaccedilatildeo eacute

dialoacutegica

c) Os textos juriacutedicos satildeo resultado de um habitus Podem poreacutem ser

inovadores e tratar de tema sem precedentes Nessa hipoacutetese haacute um

corte no habitus social e a sociedade eacute chamada para opinar e agir

Por isso os primeiros textos tendem a ser de caraacuteter argumentativo

ldquo()Senhor Presidente

Ainda haacute muito o que ser feito particularmente no apoio agrave cooperaccedilatildeo Sul-Sul

O Brasil vem implementando projetos de cooperaccedilatildeo em mais de 25 paiacuteses na Ameacuterica Latina e na

Aacutefrica Tais projetos envolvem o fortalecimento das capacidades nacionais treinamento de recursos

humanos e doaccedilatildeo de medicamentos anti-retrovirais geneacutericos

Compartilhamos a mesma responsabilidade As vidas de milhotildees de pessoas dependem das decisotildees e

compromissos que adotarmos hoje

Obrigado

(httpwwwitamaratygovbrsala-de-imprensadiscursos-artigos-entrevistas-e-outras-

comunicacoesministro-estado-relacoes-exterioresdiscurso-proferido-pelo-ministro-celso-amorim-nas

Em 16112012)

108

formadores de opiniatildeo Se proposto um projeto de lei este seraacute

votado e aprovado

d) Os textos juriacutedicos de lei satildeo coercitivos e essa coerccedilatildeo eacute legitimada

pela proacutepria publicaccedilatildeo da lei que passou por um processo

legislativo nos paiacuteses democraacuteticos

e) Os outros textos juriacutedicos que natildeo satildeo textos de lei pertencem a mais

de um gecircnero O voto por exemplo faz parte do gecircnero legislativo

por sua forma e do juriacutedico por seu conteuacutedo Jaacute no jornaliacutestico haacute a

divulgaccedilatildeo de um conteuacutedo especiacutefico de forma simplificada

f) Nos textos juriacutedicos sempre haacute a reformulaccedilatildeo de um termo conceito

ou princiacutepio e eacute importante que esse procedimento possa ser

reconhecido pois ele permite melhor compreensatildeo do texto Por

conseguinte permite um melhor domiacutenio da atividade juriacutedica

O corpus de texto escolhido para este trabalho contempla os textos de

lei os textos legislativos e os jornaliacutesticos Cabe ressaltar que diversos textos

teoacutericos anteriores natildeo integrantes do corpus aleacutem de explanarem princiacutepios

do Direito serviram como reflexatildeo agrave propositura dos textos que seratildeo

examinados Por isso poder-se- ia dizer que em alguns casos ateacute mesmo a

reformulaccedilatildeo discursiva estaacute apagada fazendo parte da memoacuteria discursiva

Um bom exemplo disso eacute a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo83

Ao se analisar o conjunto de documentos escolhidos com valor de lei a

partir de uma perspectiva histoacuterica linear tem-se como ponto de origem a

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789 passando pela

Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 pela Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 e por fim a lei federal nordm 11419 de 19

de dezembro de 2006 Essa uacuteltima vem ancorada por outros documentos

legislativos e jornaliacutesticos e que satildeo seus fundamentos

83

JELLINECK aponta em sua obra que a DDHC foi influenciada pelas cartas de direitos das colocircnias

americanas

109

33 Contexto o sistema juriacutedico brasileiro

Para se proceder agrave explanaccedilatildeo e anaacutelise dos documentos eacute importante

entender como funciona o sistema juriacutedico de leis no Brasil Aqui uma lei eacute

publicada depois de um tracircmite peculiar no Congresso Nacional

O Brasil possui um ordenamento juriacutedico baseado no direito positivo isto

eacute em que o sistema de normas juriacutedicas eacute regulamentado e deve portanto ser

produzido por um ato institucional especial resultante de uma vontade Isto

pode ocorrer por meio dos costumes ou pelo processo legislativo no que se

refere agraves normas gerais

O ordenamento juriacutedico pode ser internacional ou nacional No primeiro

caso entende-se por ordenamento juriacutedico internacional um conjunto de

normas que regulam a vida de alguns Estados ou naccedilotildees que se submetem a

este ordenamento84

O ordenamento juriacutedico nacional eacute o conjunto de normas internas de um

paiacutes que regula o funcionamento deste enquanto Estado e a vida de seus

habitantes servindo-se para isso de um conjunto de normas organizado

No Brasil o sistema juriacutedico obedece ao principio hieraacuterquico de

organizaccedilatildeo das normas (tal como jaacute foi demonstrado85) Eacute a partir deste

quadro que se situam os textos de lei brasileiros estudados

34 Metodologia das anaacutelises textos de lei

A anaacutelise dos documentos foi efetuada da seguinte forma conforme se

pode verificar no anexo

84

Haacute casos de paiacuteses que recusam se integrar a um ordenamento internacional isto eacute a assinar um tratado

ou acordo tal como os Estados Unidos que natildeo assinou o Protocolo de Kyoto

85 Capitulo 234 paacuteg 72

110

a) Em relaccedilatildeo aos quatro documentos-lei foram escolhidos os preacircmbulos

de cada um e os primeiros artigos a fim de limitar o tamanho do

conteuacutedo analisado86 Tal escolha se fez porque eacute o preacircmbulo que

conteacutem a diretriz do que estaacute no conteuacutedo do documento Em relaccedilatildeo ao

artigo 5deg da CF88 que conteacutem 72 incisos foram escolhidos os mais

relevantes para a anaacutelise pretendida

b) Em relaccedilatildeo aos outros textos foram selecionados os primeiros e o

uacuteltimo paraacutegrafo de cada um dos textos devido agrave importacircncia da ordem

do conteuacutedo pois eacute o que inicia e encerra o documento aleacutem desses

tambeacutem foram selecionados os paraacutegrafos mais relevantes ao estudo

Foram escolhidos para a anaacutelise os votos dos deputados que datildeo

o parecer sobre a lei antes de sua aprovaccedilatildeo e mais a nota oficial pois

estes satildeo os documentos mais importantes anteriores agrave publicaccedilatildeo da

lei Os outros tambeacutem a justificam mas tecircm menor relevacircncia Todas as

escolhas se fizeram a fim de limitar a extensatildeo dos excertos analisados

c) O quadro apresentado em que se separam em periacuteodos os excertos

escolhidos foi elaborado com um objetivo funcional natildeo tendo a

pretensatildeo de ser exaustivo Tal quadro visou apenas deixar mais

evidente quais os tipos de reformulaccedilatildeo realizados e se havia ou natildeo

outras peculiaridades que mereciam atenccedilatildeo Os periacuteodos foram

separados como se faz em uma anaacutelise sintaacutetica (sujeito verbo e

complemento)

d) Nos artigos de cada documento que natildeo foram analisados pelo quadro

os termos mais importantes e que se repetem ao longo do documento

foram destacados a fim de que se pudesse verificar o aspecto

qualitativo da incidecircncia do uso do termo ou a sua ausecircncia

Para um desenvolvimento que estruture melhor o que se pretende

demonstrar os resultados das anaacutelises seratildeo observados considerando

a evoluccedilatildeo do termo homem em relaccedilatildeo aos seus direitos de liberdade

igualdade e justiccedila

86

A DDHC1789 tem 17 artigos a DUHC1948 tem 30 artigos a CF1988 tem 250 artigos aleacutem de

numerosos incisos e a lei 114192006 tem 22 artigos

111

35 Anaacutelise dos textos de lei

Satildeo quatro a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo A

Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil em seu artigo 5ordm e a Lei 114192006 que trata da

informatizaccedilatildeo judicial

351 A Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (DDHC 1789)87

A DDHC eacute um documento elaborado pela sociedade francesa a fim de

se proteger contra os excessos do absolutismo e com o objetivo de assegurar

direitos ao homem fragilizado pelos abusos de poder Eacute concebida dentro do

periacuteodo mais conturbado da histoacuteria francesa posterior agrave Revoluccedilatildeo Francesa

Tornou-se depois referecircncia a vaacuterios outros documentos tanto na Franccedila

quanto em outros paiacuteses de liacutengua e cultura diferentes Integra ainda hoje a

constituiccedilatildeo vigente na Franccedila de 1958 como seu preacircmbulo o que justifica o

fato de ser um documento em diaacutelogo direto natildeo soacute com a Declaraccedilatildeo

Universal dos Direitos do Homem mas tambeacutem com a Constituiccedilatildeo brasileira

Isto tudo demonstra que os princiacutepios nela contidos ainda satildeo vaacutelidos e

observados natildeo soacute na naccedilatildeo francesa mas em outras como a brasileira Uma

das razotildees se deve ao fato de ter sido elaborada por um grupo de pessoas

que representavam a sociedade e que decidiram por ela o que a evoluccedilatildeo dos

tempos exigia

O extrato de documento revelou a presenccedila de diversas formas de

reformulaccedilatildeo para o termo ldquohommerdquo de diferentes categorias tais

como

a) Sinoniacutemia homem eacute igual a ldquocitoyenrdquo a ldquocorpsrdquo a ldquoindividuordquo

b) Pronominal ldquonulrdquo ldquoautruirdquo

87

Documento anexo I

112

c) Grupo nominal laquo repreacutesentants du peuple franccedilais raquo laquo membres

du corps social raquo laquo membres de la socieacuteteacute raquo

d) Extensiva direta laquo Assembleacutee nationale raquo laquo association raquo

laquo socieacuteteacute raquo

e) Extensiva indireta laquo ignorance raquo laquo oubli raquo laquo droits raquo

laquo gouvernement raquo laquo devoirs raquo laquo pouvoir leacutegislatif raquo laquo pouvoir

exeacutecutif raquo laquo institution politique raquo laquo principes raquo laquo constitution raquo

laquo bonheur raquo laquo Ecirctre Suprecircme raquo

f) Embreantes de pessoa natildeo haacute

Tais observaccedilotildees podem ser constatadas a partir da anaacutelise feita da

estrutura textual conforme os quadros e texto abaixo

DEacuteCLARATION DES DROITS DE LrsquoHOMME ET DU CITOYEN DE 178988

a) Preacircmbulo

Les Repreacutesentants du Peuple Franccedilais constitueacutes en Assembleacutee nationale consideacuterant que lrsquoignorance

lrsquooubli ou le meacutepris des droits de lrsquohomme sont les seules causes des malheurs publics et de la corruption

des Gouvernements ont reacutesolu drsquoexposer dans une Deacuteclaration solennelle les droits naturels

inalieacutenables et sacreacutes de lrsquohomme afin que cette Deacuteclaration constamment preacutesente agrave tous les membres

du corps social leur rappelle sans cesse leurs droits et leurs devoirs afin que les actes du pouvoir

leacutegislatif et ceux du pouvoir exeacutecutif pouvant ecirctre agrave chaque instant compareacutes avec le but de toute

institution politique en soient plus respecteacutes afin que les reacuteclamations des citoyens fondeacutees deacutesormais

sur des principes simples et incontestables tournent toujours au maintien de la Constitution et au bonheur

de tous En conseacutequence lrsquoAssembleacutee nationale reconnaicirct et deacuteclare en preacutesence et sous les auspices de

lrsquoEcirctre Suprecircme les droits suivants de lrsquohomme et du citoyen

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Les

Repreacutesentants

du Peuple

Franccedilais

representantes =

homens franceses=gt

grupo= parte pelo

todo = ampliaccedilatildeo

homem consciente

(eacutetant)

presente

constitueacutes en

Assembleacutee

nationale

Constitueacutes =

representantes

Assembleia =

homens reunidos

88

httpwwwassemblee-nationalefrhistoiredudh1789asp

113

(les

repreacutesentants

du peuple

franccedilais)

representantes Consideacuterant

particiacutepio

presente

que

lrsquoignorance

lrsquooubli ou le

meacutepris des

droits de

lrsquohomme

sentimentos do

homem

Sont

Presente

les seules causes

des malheurs

publics et de la

corruption des

Gouvernements

Malheurs = atributo

do homem aqui eacute

puacuteblico como se

fosse do Estado e

do Governo que no

entanto satildeo forma-

dos por homens

(les

repreacutesentants

du peuple

franccedilais)

representantes =

homens

ont reacutesolu

drsquoexposer

passeacute composeacute

dans une

Deacuteclaration

solennelle les droits

naturels

inalieacutenables et

sacreacutes de lrsquohomme

Direitos = do

homem = definidos

= restriccedilatildeo

afin que cette

Deacuteclaration(

constamment

preacutesente agrave

tous les

membres du

corps social)

declaraccedilatildeo rappelle

presente

leur (rappelle) sans

cesse leurs droits et

leurs devoirs

Leur = aos

membros do corpo

social

direitos e deveres

do homem

(qui) declaraccedilatildeo (est)

Presente

constamment

preacutesente agrave tous les

membres du corps

social

presente declaraccedilatildeo

corpo social =

homens

afin que les

actes du pou-

voir leacutegislatif

et ceux du

pouvoir

exeacutecutif (pou-

vant ecirctre agrave

chaque instant

compareacutes

avec le but de

toute institu-

tion politique)

atos do poder

legislativo e

executivo= atos dos

homens

Soient

Subjuntivo

en (soient) plus

respecteacutes

respeitadosdireitos

e deveres do

homem

(qui) Atos = idem ao de

cima

(peuvent)

pouvant ecirctre

participio

presente

agrave chaque instant

compareacutes avec le

but de toute

institution politique

comparados atos

afin que les

reacuteclamations

des citoyens

citoyens = homens (qui sont)

Presente

fondeacutees deacutesormais

sur des principes

simples et

incontestables

fondeacutees=

reclamaccedilotildees = dos

cidadatildeos

(afin que les

reacuteclamations

des citoyens)

reclamaccedilotildees dos

cidadatildeos =

restriccedilatildeo=gtprinciacutepios

Tournent

Presente

toujours au maintien

de la Constitution

et au bonheur de

tous

Tous= os homens

En

conseacutequence

lrsquoAssembleacutee

nationale

assembleia

nacionalhomens

franceses com

objetivos

definidos=restriccedilao

reconnaicirct et

deacuteclare

presente dois

en preacutesence et sous

les auspices de

lrsquoEcirctre Suprecircme les

droits suivants de

lrsquohomme et du

Etre supreme=

quem acredita no

ser supremo eacute o

114

verbos citoyen homem

direitos especiacuteficos

b) Artigos

Article premier

Les hommes naissent et demeurent libres et eacutegaux en droits Les distinctions sociales ne peuvent ecirctre

fondeacutees que sur lrsquoutiliteacute commune

Article II

Le but de toute association politique est la conservation des droits naturels et imprescriptibles de

lrsquohomme Ces droits sont la liberteacute la proprieacuteteacute la sucircreteacute et la reacutesistance agrave lrsquooppression

Article IV

La liberteacute consiste agrave pouvoir faire tout ce qui ne nuit pas agrave autrui ainsi lrsquoexercice des droits naturels de

chaque homme nrsquoa de bornes que celles qui assurent aux autres Membres de la Socieacuteteacute la jouissance de

ces mecircmes droits Ces bornes ne peuvent ecirctre deacutetermineacutees que par la Loi

Article V

La Loi nrsquoa le droit de deacutefendre que les actions nuisibles agrave la Socieacuteteacute Tout ce qui nrsquoest pas deacutefendu par la

Loi ne peut ecirctre empecirccheacute et nul ne peut ecirctre contraint agrave faire ce qursquoelle nrsquoordonne pas

ART SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

I Les hommes naissent et

demeurent

presente

libres et eacutegaux en

droits

libres egaux

=gthomem

en droit= homem

tem direitos

Les

distinctions

sociales

sociales=da

sociedade=do

homem

peuvent ecirctre

fondeacutees

presente

ne (peuvent ecirctre

fondeacutees) que sur

lrsquoutiliteacute commune

utiliteacute commune =

para o homem

II Le but de

toute

association

politique

association

politique= de

homens

est

presente

la conservation des

droits naturels et

imprescriptibles de

lrsquohomme

droits de lrsquohomme

Ces droits direitos naturais e

imprescritiacuteveis do

homem

sont

presente

la liberteacute la

proprieacuteteacute la sucircreteacute

et la reacutesistance agrave

lrsquooppression

III Le principe de

toute

Souveraineteacute

eacute um conceito que

o homem atribui

reacuteside

presente

essentiellement

dans la Nation

eacute um conceito que

o homem atribui

115

Nul corps nul

individu

corpo

indiviacuteduo=gt

homem

peut exercer

presente

ne (peut exercer)

drsquoautoriteacute qui nrsquoen

eacutemane

expresseacutement

autoridade = do

homem

en=gtdo

homem()

IV La liberteacute do homem consiste

presente

agrave pouvoir faire tout

Ce qui nuit

presente

ne (nuit) pas agrave

autrui

autrui= homem

ainsi

lrsquoexercice des

droits naturels

de chaque

homme

comparaccedilatildeo com

liberdade

droit de chaque

homme

a

presente

nrsquo(a) de bornes que

Celles qui celles=bornes assurent

presente

aux autres Membres

de la Socieacuteteacute la

jouissance de ces

mecircmes droits

autres membres

de la

socieacuteteacute=homem

ces mecircmes

droits=direitos

naturais do

homem

Ces bornes peuvent

presente

ne (peuvent) ecirctre

deacutetermineacutees que par

la Loi

V La loi a

presente

nrsquo(a) le droit de

deacutefendre que les

actions nuisibles agrave

la Socieacuteteacute

socieacuteteacute=gthomem

Tout ce qui est

presente

nrsquo(est) pas deacutefendu

par la Loi

peut ecirctre

presente

ne (peut ecirctre)

empecirccheacute

empecirccher=quem

impede eacute o

homem

Et nul nul=homem peut ecirctre

presente

ne (peut ecirctre)

contraint agrave faire

contraint= homem

Ce qursquoelle elle=lei ordonne

presente

nrsquo(ordonne) pas

QUADRO RESUMO

Substantivos Referentes diretos Outros

Repreacutesentants du peuple franccedilais

Assembleacutee Droits de lrsquohomme Actes du pouvoir leacutegislatif

116

Membres du corps social

Reacuteclamations des citoyens

Etre suprecircme

tous

Assembleacutee nationale Droits de lrsquohomme et du citoyen

Utiliteacutes communes

Hommes Libres et eacutegaux Souveraniteacute

Distinctions sociales

Association politique

Ces droits

nation

Nul corps nul individu autrui Autoriteacute

Membres de la socieacuteteacute Liberteacute

Chaque homme Socieacuteteacute

c) Outros artigos

Article VI

La Loi est lrsquoexpression de la volonteacute geacuteneacuterale Tous les Citoyens ont droit de concourir personnellement

ou par leurs Repreacutesentants agrave sa formation Elle doit ecirctre la mecircme pour tous soit qursquoelle protegravege soit

qursquoelle punisse Tous les Citoyens eacutetant eacutegaux agrave ses yeux sont eacutegalement admissibles agrave toutes digniteacutes

places et emplois publics selon leur capaciteacute et sans autre distinction que celle de leurs vertus et de leurs

talents

Article VII

Nul homme ne peut ecirctre accuseacute arrecircteacute ni deacutetenu que dans les cas deacutetermineacutes par la Loi et selon les

formes qursquoelle a prescrites Ceux qui sollicitent expeacutedient exeacutecutent ou font exeacutecuter des ordres

arbitraires doivent ecirctre punis mais tout Citoyen appeleacute ou saisi en vertu de la Loi doit obeacuteir agrave lrsquoinstant

il se rend coupable par la reacutesistance

Article VIII

La Loi ne doit eacutetablir que des peines strictement et eacutevidemment neacutecessaires et nul ne peut ecirctre puni qursquoen

vertu drsquoune Loi eacutetablie et promulgueacutee anteacuterieurement au deacutelit et leacutegalement appliqueacutee

Article IX

Tout homme eacutetant preacutesumeacute innocent jusqursquoagrave ce qursquoil ait eacuteteacute deacuteclareacute coupable srsquoil est jugeacute indispensable

de lrsquoarrecircter toute rigueur qui ne serait pas neacutecessaire pour srsquoassurer de sa personne doit ecirctre seacutevegraverement

reacuteprimeacutee par la Loi

Article XI

117

La libre communication des penseacutees et des opinions est un des droits les plus preacutecieux de lrsquoHomme tout

Citoyen peut donc parler eacutecrire imprimer librement sauf agrave reacutepondre de lrsquoabus de cette liberteacute dans les

cas deacutetermineacutes par la Loi

Article XII

La garantie des droits de lrsquoHomme et du Citoyen neacutecessite une force publique cette force est donc

institueacutee pour lrsquoavantage de tous et non pour lrsquoutiliteacute particuliegravere de ceux auxquels elle est confieacutee

Article XIII

Pour lrsquoentretien de la force publique et pour les deacutepenses drsquoadministration une contribution commune est

indispensable Elle doit ecirctre eacutegalement reacutepartie entre tous les Citoyens en raison de leurs faculteacutes

Article XIV

Tous les Citoyens ont le droit de constater par eux-mecircmes ou par leurs Repreacutesentants la neacutecessiteacute de la

contribution publique de la consentir librement drsquoen suivre lrsquoemploi et drsquoen deacuteterminer la quotiteacute

lrsquoassiette le recouvrement et la dureacutee

Article XV

La Socieacuteteacute a le droit de demander compte agrave tout Agent public de son administration

Article XVI

Toute Socieacuteteacute dans laquelle la garantie des Droits nrsquoest pas assureacutee ni la seacuteparation des Pouvoirs

deacutetermineacutee nrsquoa point de Constitution

Article XVII

La proprieacuteteacute eacutetant un droit inviolable et sacreacute nul ne peut en ecirctre priveacute si ce nrsquoest lorsque la neacutecessiteacute

publique leacutegalement constateacutee lrsquoexige eacutevidemment et sous la condition drsquoune juste et preacutealable

indemniteacute

No excerto analisado observa-se que

a) O homem aparece representado pelas palavras ldquohommerdquo ldquoindividurdquo

ldquocorpsrdquo ldquocitoyenrdquo ldquoautruirdquo como um uacutenico ser Mas aparece tambeacutem

como laquo repreacutesantant raquo laquo membre du corps social raquo laquo membre de la

socieacuteteacute raquo Nesta acepccedilatildeo o homem eacute tomado individualmente mas

representando um grupo como integrante dele e a expressatildeo eacute

equivalente a um coletivo Jaacute o uso das palavras ldquoassembleacuteerdquo

118

ldquoassociationrdquo ldquosocieacuteteacuterdquo satildeo coletivos propriamente ditos da palavra

homem

b) Neste documento o atributo que mais eacute empregado eacute a palavra direito

As palavras igualdade liberdade e justiccedila natildeo figuram no texto e apenas

ldquolibrerdquo ldquoeacutegauxrdquo e ldquojusterdquo aparecem A ausecircncia dessas palavras indica

que o que estaacute sendo delineado eacute o direito ou melhor os direitos que ao

homem seratildeo atribuiacutedos

c) Quase a totalidade dos sujeitos gramaticais eacute representada pelo homem

ou seus referentes diretos (a palavra homem aparece explicitamente 7

vezes sendo que em nenhum dos casos eacute sujeito da oraccedilatildeo palavra

ldquodireitordquo(s) aparece 11 vezes sendo que eacute sujeito em apenas um caso)

tais como ldquoassembleiardquo ldquocorpo socialrdquo ldquosociedaderdquo Os outros referentes

satildeo decorrentes de accedilotildees do homem e se apresentam de forma indireta

quem impotildee limites quem faz a declaraccedilatildeo e a assina quem reclama eacute

o homem pois satildeo accedilotildees inerentes ao homem Quanto aos

complementos (objetos ou predicativos do sujeito) haacute um maior

equiliacutebrio referem-se em sua maioria ao homem ou aos seus direitos

Poderia se resumir esta parte do documento no seguinte enunciado o

homem especifica quais satildeo os direitos do homem

d) O enunciador do texto eacute representado por homens pois o texto eacute

elaborado por homens e para os homens Esses homens que satildeo os

representantes da Assembleia francesa tem um ethos revestido pelo

poder que foi conferido pela sociedade francesa Satildeo representantes de

vaacuterias outras vozes

e) Ao mesmo tempo em que representam vaacuterias outras vozes os direitos

ali estabelecidos como jaacute se viu mesmo que inovadores (o homem tem

direito agrave propriedade agrave liberdade de expressatildeo por exemplo) satildeo

reflexos de outros direitos ou dos direitos adquiridos por outras culturas

o que mostra o processo dialoacutegico no qual esse texto se insere

f) O homem ao qual se refere o documento que antes era sozinho e

desprotegido aparece reformulado e representado na Assembleia

insere-se na sociedade inserido sendo assim amparado por ela

119

O homem vem delineado como um cidadatildeo como um corpo dotado de

individualidade como UM SER e assim se define como parte da sociedade Eacute

representado por um outro homem e dotado de direitos dentro de uma

sociedade em que os poderes satildeo organizados regidos por princiacutepios leis e

sob a proteccedilatildeo de um SER SUPREMO

352 A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (DUDH 1948)89

A DUDH eacute um tratado internacional e seu teor foi redigido por uma

comissatildeo de membros considerados representantes das aspiraccedilotildees gerais e

tinha o objetivo de assegurar que os excessos cometidos pelos paiacuteses

participantes das duas grandes guerras mundiais ou de outros paiacuteses natildeo

voltassem a ocorrer (armas quiacutemicas ou campos de extermiacutenio por exemplo)

Eacute elaborado num periacuteodo posterior ao final da segunda guerra (1948) e foi

assinado e ratificado por 50 paiacuteses num primeiro momento mas outros paiacuteses

aderiram a ele ao longo do tempo Hoje praticamente todos os paiacuteses o

adotam Como esta declaraccedilatildeo eacute um tratado internacional cabe a cada paiacutes de

acordo com seu sistema de leis integraacute-lo e fazer com que seja respeitado

dentro de seu sistema legal Mesmo sendo um tratado internacional

denominado declaraccedilatildeo tem a forma composicional ou melhor estrutura do

texto igual a da Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo francesa de

1789 possui artigos e eacute resultado da vontade de uma assembleia neste caso

geral e da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

Pode-se observar nessa declaraccedilatildeo a presenccedila do termo ldquohomemrdquo nas

seguintes formas

a) Sinoniacutemia homem eacute igual a ldquohommerdquo ldquoindividurdquo ldquopersonnerdquo

ldquoesclaverdquo

b) Pronominal ldquonulrdquo

89

Documento anexo II

120

c) Grupo nominal laquo membres de la famille humaine raquo laquo ecirctres

humains raquo laquo les uns envers les autres raquo

d) Extensiva direta laquo droits de lrsquohomme raquo laquo libres raquo laquo libeacutereacutes raquo

laquo contraint raquo laquo nation raquo laquo assembleacutee geacuteneacuterale raquo laquo ONU raquo

laquo peuples et nations raquo laquo populations des eacutetats membres raquo

laquo libres et eacutegaux en droits raquo laquo doueacutes de raison et

conscience raquo laquo ressortissante raquo

e) Extensiva indireta laquo droits eacutegaux et inalieacutenables raquo laquo justice raquo

laquo paix raquo laquo conscience de lrsquohumaniteacute raquo laquo actes de barbarie raquo

laquo la terreur raquo laquo la misegravere raquo laquo aspiration de lrsquohomme raquo

laquo reacutevolte raquo laquo tyrannie raquo laquo oppression raquo laquo relations

amicales raquo laquo charte de peuples des nations unies raquo laquo foi raquo

laquo digniteacute raquo laquo valeur raquo laquo eacutegaliteacute raquo laquo eacutetats membres raquo

laquo liberteacutes fondamentales raquo laquo organes de la socieacuteteacute raquo

laquo enseignement raquo laquo eacuteducation raquo laquo engagements raquo laquo esprit

de fraterniteacute raquo laquo race raquo laquo couleurs raquo laquo sexe raquo laquo langue raquo

laquo religion raquo laquo opinion politique raquo laquo autre opinion raquo laquo origine

nationale ou sociale raquo laquo de fortune raquo laquo naissance ou autre

situation raquo laquo liberteacute raquo laquo vie raquo laquo liberteacute raquo laquo sureteacute de sa

personne raquo laquo esclavage raquo laquo servitude raquo laquo traitements

inhumains ou deacutegradants raquo

f) Embreantes de pessoa natildeo haacute

A anaacutelise do documento pode ser constatada abaixo

a) Preacircmbulo

LA DECLARATION UNIVERSELLE DES DROITS DE LrsquoHOMME 1948 - 200890

90

httpwwwunorgfrdocumentsudhrlawshtml

121

Preacuteambule

Consideacuterant que la reconnaissance de la digniteacute inheacuterente agrave tous les membres de la famille humaine et

de leurs droits eacutegaux et inalieacutenables constitue le fondement de la liberteacute de la justice et de la paix dans le

monde

Consideacuterant que la meacuteconnaissance et le meacutepris des droits de lhomme ont conduit agrave des actes de

barbarie qui reacutevoltent la conscience de lhumaniteacute et que lavegravenement dun monde ougrave les ecirctres humains

seront libres de parler et de croire libeacutereacutes de la terreur et de la misegravere a eacuteteacute proclameacute comme la plus

haute aspiration de lhomme

Consideacuterant quil est essentiel que les droits de lhomme soient proteacutegeacutes par un reacutegime de droit pour

que lhomme ne soit pas contraint en suprecircme recours agrave la reacutevolte contre la tyrannie et loppression

Consideacuterant quil est essentiel dencourager le deacuteveloppement de relations amicales entre nations

Consideacuterant que dans la Charte les peuples des Nations Unies ont proclameacute agrave nouveau leur foi dans les

droits fondamentaux de lhomme dans la digniteacute et la valeur de la personne humaine dans leacutegaliteacute des

droits des hommes et des femmes et quils se sont deacuteclareacutes reacutesolus agrave favoriser le progregraves social et agrave

instaurer de meilleures conditions de vie dans une liberteacute plus grande

Consideacuterant que les Etats Membres se sont engageacutes agrave assurer en coopeacuteration avec lOrganisation des

Nations Unies le respect universel et effectif des droits de lhomme et des liberteacutes fondamentales

Consideacuterant quune conception commune de ces droits et liberteacutes est de la plus haute importance pour

remplir pleinement cet engagement

LAssembleacutee Geacuteneacuterale proclame la preacutesente Deacuteclaration universelle des droits de lhomme comme

lideacuteal commun agrave atteindre par tous les peuples et toutes les nations afin que tous les individus et tous les

organes de la socieacuteteacute ayant cette Deacuteclaration constamment agrave lesprit sefforcent par lenseignement et

leacuteducation de deacutevelopper le respect de ces droits et liberteacutes et den assurer par des mesures progressives

dordre national et international la reconnaissance et lapplication universelles et effectives tant parmi les

populations des Etats Membres eux-mecircmes que parmi celles des territoires placeacutes sous leur juridiction

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

(Assembleacutee

Geacuteneacuterale = AG) homens reunidos consideacuterant

particiacutepio

presente

Que

la

reconnaissance

de la digniteacute

inheacuterente agrave tous

les membres de

la famille

humaine et de

leurs droits

eacutegaux et

inalieacutenables

reconhecimento da

dignidade e dos

direitos=gtdignidade

e direitos do homem

membros da familia

humana=gthomens

constitue

presente

le fondement de la

liberteacute de la justice

et de la paix dans le

monde

le monde= onde

vive o homem

la liberteacutee la justice

la paix = conceitos

estabelecidos pelo

homem

122

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Que

la

meacuteconnaissance

et le meacutepris des

droits de

lhomme

deconhecimento e

desprezo dos direitos

do homem =gt

homem

ont conduit

preteacuterito

perfeito

agrave des actes de

barbarie

actes de barbarie=

do homem

Qui atos de barbaacuterie reacutevoltent

presente

la conscience de

lhumaniteacute

humaniteacute= do

homem

Et que

lavegravenement dun

monde

surgimento=gtquem

faz surgir

ougrave les ecirctres

humains

seres

humanos=homens

seront

futuro

libres de parler et de

croire libeacutereacutes de la

terreur et de la

misegravere

libres =

liberdade=gthomem

eacute livre

libeacutereacutes=

liberdade=gthomem

(lrsquoavenement

drsquoun monde)

surgimento a eacuteteacute proclameacute

preteacuterito

perfeito com

voz passiva

comme la plus

haute aspiration de

lhomme

Homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

Particiacutepio

presente

Qursquo

il impessoal=sujeito

inexistente

Est

Presente

essentiel que

les droits de

lhomme

direitos do homem

=gt homem

Soient

subjuntivo

proteacutegeacutes par un

reacutegime de droit

proteacutegeacutes =gt les

droits = os direitos

satildeo protegidos por

outros direitos

pour que

lhomme

homem ne soit pas

subjuntivo

contraint en

suprecircme recours agrave

la reacutevolte contre la

tyrannie et

loppression

contraint=gt homem

tyrannie et

oppression=sistemas

de governo do

homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Qursquo

il impessoal=sujeito

inexistente

Est

presente

essentiel

dencourager le

deacuteveloppement de

relations amicales

entre nations

relations amicales =

relaccedilotildees de

amizade= do homem

123

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Que dans la Charte

les peuples des

Nations Unies

a carta = documento

(AG) ont proclameacute

preteacuterito

perfeito

agrave nouveau leur foi

dans les droits

fondamentaux de

lhomme dans la

digniteacute et la valeur

de la personne

humaine dans

leacutegaliteacute des droits

des hommes et des

femmes

foi= o homem eacute

quem tem feacute

direitos

fundamentais do

homem

personne humaine =

homem

Et qursquo

lsquoils eles = homens se sont

deacuteclareacutes

preteacuterito

perfeito

reacutesolus agrave favoriser

le progregraves social et

agrave instaurer de

meilleures

conditions de vie

dans une liberteacute

plus grande

reacutesolus = homens

conditions de vie=

do homem

liberteacute= do homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Que les Etats

Membres

(ils) estados membros =gt

homens poreacutem

despersonificados

mas eacute pessoa

juridica

se sont

engageacutes

preteacuterito

perfeito

agrave assurer en

coopeacuteration avec

lOrganisation des

Nations Unies le

respect universel et

effectif des droits

de lhomme et des

liberteacutes

fondamentales

coopeacuteration= quem

coopera satildeo os

Estados

direitos do homem e

das liberdades=do

homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Qursquo

quune

conception

commune de ces

droits et liberteacutes

concepccedilatildeo comum =

dos homens =de

direitos e liberdades

especiacuteficos =gtdo

homem

retomada na linha

abaixo por ideal

comum

Est

presente

de la plus haute

importance pour

remplir pleinement

cet engagement

cet engangement =

DUDH

LAssembleacutee

Geacuteneacuterale

Assembleacutee = homens

reunidos

proclame

presente

la preacutesente

Deacuteclaration

universelle des

droits de lhomme

comme lideacuteal

commun agrave atteindre

direitos do homem

peuples et nation=

de homens

124

par tous les peuples

et toutes les nations

afin que tous les

individus et

tous les organes

de la socieacuteteacute

todos os indiviacuteduos=

homens e todos os

oacutergatildeos da sociedade=

homens reunidos

ayant

particiacutepio

presente

cette Deacuteclaration

constamment agrave

lesprit

cette=gt deacuteclaration

esprit= do homem

(tous les

individus et

tous les organes

de la socieacuteteacute)

idem sefforcent

Presente

par lenseignement

et leacuteducation

de deacutevelopper le

respect de ces droits

et liberteacutes

enseignement et

eacuteducation = do

homem

et den assurer

(par des mesures

progressives dordre

national et

international)

la reconnaissance

et lapplication

universelles et

effectives tant

parmi les

populations des

Etats Membres eux-

mecircmes que parmi

celles

en assurer=

assegurar o

desenvolvimento

deles = direitos e

liberdades e

tambeacutem seu

reconhecimento e

sua aplicaccedilatildeo

populations= de

homens

eacutetats membres =

homens reunidos de

forma poliacutetica

(tous les

individus et

tous les organes

de la socieacuteteacute)

(sefforcent) par des mesures

progressives dordre

national et

international

ordem =gtimposta

pelo homem

des territoires territoacuterios=naccedilotildees

estados membros

(qui

sont)

presente

voz passiva

Placeacutes sous leur

juridiction

placeacutes= os territoacuterios

jurisdiccedilatildeo= do s

Estados membros

=gt do homem

b) Artigos

Article premier

Tous les ecirctres humains naissent libres et eacutegaux en digniteacute et en droits Ils sont doueacutes de raison et de

conscience et doivent agir les uns envers les autres dans un esprit de fraterniteacute

Article 2

1Chacun peut se preacutevaloir de tous les droits et de toutes les liberteacutes proclameacutes dans la preacutesente

Deacuteclaration sans distinction aucune notamment de race de couleur de sexe de langue de religion

125

dopinion politique ou de toute autre opinion dorigine nationale ou sociale de fortune de naissance ou

de toute autre situation

2De plus il ne sera fait aucune distinction fondeacutee sur le statut politique juridique ou international du

pays ou du territoire dont une personne est ressortissante que ce pays ou territoire soit indeacutependant sous

tutelle non autonome ou soumis agrave une limitation quelconque de souveraineteacute

Article 3

Tout individu a droit agrave la vie agrave la liberteacute et agrave la sucircreteacute de sa personne

Article 4

Nul ne sera tenu en esclavage ni en servitude lesclavage et la traite des esclaves sont interdits sous toutes

leurs formes

Article 5

Nul ne sera soumis agrave la torture ni agrave des peines ou traitements cruels inhumains ou deacutegradants

ART SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

I Tous les ecirctres

humains

ecirctres

humains=homens

naissent

presente

libres et eacutegaux en

digniteacute et en droits

libres et eacutegaux=

homens

em direitos

Ils ils= homens sont

presente

doueacutes de raison et de

conscience

doueacutes= homens

Et (ils) doivent agir

presente

les uns envers les

autres dans un esprit

de fraterniteacute

les autres= os

homens

fraterniteacute=

sentimento dos

homens

II Chacun

chacun=homem peut se

preacutevaloir

presente

de tous les droits et

de toutes les liberteacutes

proclameacutes dans la

preacutesente Deacuteclaration

sans distinction

aucune notamment

de race de couleur

de sexe de langue de

religion dopinion

politique ou de toute

autre opinion

dorigine nationale ou

sociale de fortune de

naissance ou de toute

autre situation

race couleur

opinion=gthome

m

sociale

naissance=gtho

mem

126

De plus il il= impessoal ne sera fait

aucune

futuro

distinction fondeacutee sur

le statut politique

juridique ou

international du pays

ou du territoire

statut politique=

quem tem

status eacute o

homem

dont une

personne

une

personne=homem

est presente Ressortissante Ressortissant

=gthomem

que ce pays soit

subjuntivo

est ressortissante

que ce pays ou

territoire soit

indeacutependant sous

tutelle non autonome

ou soumis agrave une

limitation quelconque

de souveraineteacute

III Tout individu individu=homem a

presente

droit agrave la vie agrave la

liberteacute et agrave la sucircreteacute

de sa personne

liberteacute=homem

personne=gthom

em

IV Nul Nul = ninguem =

nenhum homem

ne sera tenu

futuro voz

passiva

en esclavage ni en

servitude

esclavage=gt

condiccedilatildeo do

homem

lesclavage et

la traite des

esclaves

Esclavage

=gtescravo

=gthomem

sont

presente

interdits sous toutes

leurs formes

V Nul Nul = ningueacutem =

nenhum homem

ne sera

soumis

futuro voz

passiva

agrave la torture ni agrave des

peines ou traitements

cruels inhumains ou

deacutegradants

torture

peines=gtinflingi

das ao homem

inhumaine=

inhumanas= do

que natildeo eacute

homem =gtdo

homem

QUADRO RESUMO

Substantivos Referentes diretos Outros

Membres de la famille

127

humaine

Droits eacutegaux et inalieacutenables

Droits de lrsquohomme Liberteacute justice paix

Conscience de l humaniteacute Actes de barbarie

Etres humains Libres libeacutereacutes La terreur et la misegravere

Aspiration de lrsquohomme

Homme Contraint Reacutevolte tyranie oppression

Relations amicales

Nations

Personne humaine Charte de peuples des nations unies

Foi digniteacute valeur eacutegaliteacute

Etats membres

Assembleacutee geacuteneacuterale onu

Peuples et nations Respect universel et effectif liberteacutes fondamentales

Individus Organes de la socieacuteteacute Conception des droits et liberteacutes

Populations des eacutetats membres

engagements

Enseignement eacuteducation

Libres et eacutegaux en droits Respects des droits

Tous les ecirctres humains Doueacutes de raison et conscience

Ordre national e international

c) Outros artigos

Article 6

Chacun a le droit agrave la reconnaissance en tous lieux de sa personnaliteacute juridique

Article 7

Tous sont eacutegaux devant la loi et ont droit sans distinction agrave une eacutegale protection de la loi Tous ont droit agrave

une protection eacutegale contre toute discrimination qui violerait la preacutesente Deacuteclaration et contre toute

provocation agrave une telle discrimination

Article 8

128

Toute personne a droit agrave un recours effectif devant les juridictions nationales compeacutetentes contre les actes

violant les droits fondamentaux qui lui sont reconnus par la constitution ou par la loi

Article 10

Toute personne a droit en pleine eacutegaliteacute agrave ce que sa cause soit entendue eacutequitablement et publiquement

par un tribunal indeacutependant et impartial qui deacutecidera soit de ses droits et obligations soit du bien-fondeacute

de toute accusation en matiegravere peacutenale dirigeacutee contre elle

Article 11

1 Toute personne accuseacutee dun acte deacutelictueux est preacutesumeacutee innocente jusquagrave ce que sa culpabiliteacute

ait eacuteteacute leacutegalement eacutetablie au cours dun procegraves public ougrave toutes les garanties neacutecessaires agrave sa

deacutefense lui auront eacuteteacute assureacutees

2 Nul ne sera condamneacute pour des actions ou omissions qui au moment ougrave elles ont eacuteteacute commises ne

constituaient pas un acte deacutelictueux dapregraves le droit national ou international De mecircme il ne sera

infligeacute aucune peine plus forte que celle qui eacutetait applicable au moment ougrave lacte deacutelictueux a eacuteteacute

commis

Article 12

Nul ne sera lobjet dimmixtions arbitraires dans sa vie priveacutee sa famille son domicile ou sa

correspondance ni datteintes agrave son honneur et agrave sa reacuteputation Toute personne a droit agrave la protection de la

loi contre de telles immixtions ou de telles atteintes

Article 13

1 Toute personne a le droit de circuler librement et de choisir sa reacutesidence agrave linteacuterieur dun Etat

2 Toute personne a le droit de quitter tout pays y compris le sien et de revenir dans son pays

Article 14

1 Devant la perseacutecution toute personne a le droit de chercher asile et de beacuteneacuteficier de lasile en dautres

pays

2 Ce droit ne peut ecirctre invoqueacute dans le cas de poursuites reacuteellement fondeacutees sur un crime de droit

commun ou sur des agissements contraires aux buts et aux principes des Nations Unies

Article 15

1 Tout individu a droit agrave une nationaliteacute

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa nationaliteacute ni du droit de changer de nationaliteacute

Article 16

1 A partir de lacircge nubile lhomme et la femme sans aucune restriction quant agrave la race la nationaliteacute ou

la religion ont le droit de se marier et de fonder une famille Ils ont des droits eacutegaux au regard du

mariage durant le mariage et lors de sa dissolution

2 Le mariage ne peut ecirctre conclu quavec le libre et plein consentement des futurs eacutepoux

129

3 La famille est leacuteleacutement naturel et fondamental de la socieacuteteacute et a droit agrave la protection de la socieacuteteacute et

de lEtat

Article 17

1 Toute personne aussi bien seule quen collectiviteacute a droit agrave la proprieacuteteacute

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa proprieacuteteacute

Article 18

Toute personne a droit agrave la liberteacute de penseacutee de conscience et de religion ce droit implique la liberteacute de

changer de religion ou de conviction ainsi que la liberteacute de manifester sa religion ou sa conviction seule

ou en commun tant en public quen priveacute par lenseignement les pratiques le culte et laccomplissement

des rites

Article 19

Tout individu a droit agrave la liberteacute dopinion et dexpression ce qui implique le droit de ne pas ecirctre inquieacuteteacute

pour ses opinions et celui de chercher de recevoir et de reacutepandre sans consideacuterations de frontiegraveres les

informations et les ideacutees par quelque moyen dexpression que ce soit

Article 20

1 Toute personne a droit agrave la liberteacute de reacuteunion et dassociation pacifiques

2 Nul ne peut ecirctre obligeacute de faire partie dune association

Article 21

1 Toute personne a le droit de prendre part agrave la direction des affaires publiques de son pays soit

directement soit par lintermeacutediaire de repreacutesentants librement choisis

2 Toute personne a droit agrave acceacuteder dans des conditions deacutegaliteacute aux fonctions publiques de son

pays

3 La volonteacute du peuple est le fondement de lautoriteacute des pouvoirs publics cette volonteacute doit

sexprimer par des eacutelections honnecirctes qui doivent avoir lieu peacuteriodiquement au suffrage

universel eacutegal et au vote secret ou suivant une proceacutedure eacutequivalente assurant la liberteacute du vote

Article 22

Toute personne en tant que membre de la socieacuteteacute a droit agrave la seacutecuriteacute sociale elle est fondeacutee agrave obtenir la

satisfaction des droits eacuteconomiques sociaux et culturels indispensables agrave sa digniteacute et au libre

deacuteveloppement de sa personnaliteacute gracircce agrave leffort national et agrave la coopeacuteration internationale compte tenu

de lorganisation et des ressources de chaque pays

Article 23

1 Toute personne a droit au travail au libre choix de son travail agrave des conditions eacutequitables et

satisfaisantes de travail et agrave la protection contre le chocircmage

2 Tous ont droit sans aucune discrimination agrave un salaire eacutegal pour un travail eacutegal

130

3 Quiconque travaille a droit agrave une reacutemuneacuteration eacutequitable et satisfaisante lui assurant ainsi quagrave sa

famille une existence conforme agrave la digniteacute humaine et compleacuteteacutee sil y a lieu par tous autres

moyens de protection sociale

4 Toute personne a le droit de fonder avec dautres des syndicats et de saffilier agrave des syndicats

pour la deacutefense de ses inteacuterecircts

Article 24

Toute personne a droit au repos et aux loisirs et notamment agrave une limitation raisonnable de la dureacutee du

travail et agrave des congeacutes payeacutes peacuteriodiques

Article 25

1 Toute personne a droit agrave un niveau de vie suffisant pour assurer sa santeacute son bien-ecirctre et ceux de sa

famille notamment pour lalimentation lhabillement le logement les soins meacutedicaux ainsi que pour les

services sociaux neacutecessaires elle a droit agrave la seacutecuriteacute en cas de chocircmage de maladie dinvaliditeacute de

veuvage de vieillesse ou dans les autres cas de perte de ses moyens de subsistance par suite de

circonstances indeacutependantes de sa volonteacute

2 La materniteacute et lenfance ont droit agrave une aide et agrave une assistance speacuteciales Tous les enfants quils

soient neacutes dans le mariage ou hors mariage jouissent de la mecircme protection sociale

Article 26

1 Toute personne a droit agrave leacuteducation Leacuteducation doit ecirctre gratuite au moins en ce qui concerne

lenseignement eacuteleacutementaire et fondamental Lenseignement eacuteleacutementaire est obligatoire Lenseignement

technique et professionnel doit ecirctre geacuteneacuteraliseacute laccegraves aux eacutetudes supeacuterieures doit ecirctre ouvert en pleine

eacutegaliteacute agrave tous en fonction de leur meacuterite

2 Leacuteducation doit viser au plein eacutepanouissement de la personnaliteacute humaine et au renforcement du

respect des droits de lhomme et des liberteacutes fondamentales Elle doit favoriser la compreacutehension la

toleacuterance et lamitieacute entre toutes les nations et tous les groupes raciaux ou religieux ainsi que le

deacuteveloppement des activiteacutes des Nations Unies pour le maintien de la paix

3 Les parents ont par prioriteacute le droit de choisir le genre deacuteducation agrave donner agrave leurs enfants

Article 27

1 Toute personne a le droit de prendre part librement agrave la vie culturelle de la communauteacute de jouir des

arts et de participer au progregraves scientifique et aux bienfaits qui en reacutesultent

2 Chacun a droit agrave la protection des inteacuterecircts moraux et mateacuteriels deacutecoulant de toute production

scientifique litteacuteraire ou artistique dont il est lauteur

Article 28

Toute personne a droit agrave ce que regravegne sur le plan social et sur le plan international un ordre tel que les

droits et liberteacutes eacutenonceacutes dans la preacutesente Deacuteclaration puissent y trouver plein effet

Article 29

131

1 Lindividu a des devoirs envers la communauteacute dans laquelle seule le libre et plein

deacuteveloppement de sa personnaliteacute est possible

2 Dans lexercice de ses droits et dans la jouissance de ses liberteacutes chacun nest soumis quaux

limitations eacutetablies par la loi exclusivement en vue dassurer la reconnaissance et le respect des

droits et liberteacutes dautrui et afin de satisfaire aux justes exigences de la morale de lordre public

et du bien-ecirctre geacuteneacuteral dans une socieacuteteacute deacutemocratique

3 Ces droits et liberteacutes ne pourront en aucun cas sexercer contrairement aux buts et aux principes

des Nations Unies

Article 30

Aucune disposition de la preacutesente Deacuteclaration ne peut ecirctre interpreacuteteacutee comme impliquant pour un Etat un

groupement ou un individu un droit quelconque de se livrer agrave une activiteacute ou daccomplir un acte visant agrave

la destruction des droits et liberteacutes qui y sont eacutenonceacutes

No trecho analisado observa-se que

a O homem aparece representado pelas palavras e expressotildees ldquoecirctre

humainrdquo ldquohommerdquo ldquopersonne humainerdquo ldquoindividurdquo ldquoles uns envers les

autresrdquo ldquopersonnerdquo ldquonulrdquo ldquoesclavesrdquo Eacute o homem tomado na sua

individualidade Tambeacutem se encontram no texto expressotildees tais como

ldquomembres de la famille humainerdquo o que mostra o homem enquanto

indiviacuteduo mas situado e inserido num grupo Ainda aparecem

expressotildees tais como ldquoassembleacutee geacuteneacuteralerdquo ldquopopulation des eacutetats

membresrdquo ldquopeuplesrdquo ldquonationsrdquo ldquoONUrdquo que se referem a agrupamentos

de homem fazendo o papel de coletivo da palavra homem

b Nessa declaraccedilatildeo o direito aparece mais especificado vem mais

detalhado e tambeacutem aparece associado aos conceitos de liberdade

igualdade e justiccedila Esses conceitos aparecem inclusive em sua

maioria no plural o que equivale dizer que existe mais de um tipo de

direito e de liberdade o que vem inclusive expresso no proacuteprio

preacircmbulo ldquoune conception commune de ces droits et liberteacutes est de la

plus haute importance pour remplir pleinement cet engagementrdquo Pode-

se entender que isso seria devido ao fato de a declaraccedilatildeo ser de caraacuteter

universal Mas haacute que se lembrar do contexto histoacuterico que eacute a razatildeo de

sua elaboraccedilatildeo uma maior proteccedilatildeo do homem apoacutes os horrores das

duas Guerras Mundiais

132

c Aleacutem disso a caracterizaccedilatildeo do homem de forma mais definida permite

que se lhe atribua direitos mais definidos de justiccedila igualdade natildeo

escravidatildeo tratamento digno Eacute um homem mais delineado inserido

num contexto determinado - social poliacutetico universal Ele se torna parte

da famiacutelia humana integrado a um grupo formado por naccedilotildees povos

populaccedilotildees A esse grupo tambeacutem satildeo atribuiacutedos direitos mais

definidos de justiccedila igualdade natildeo escravidatildeo tratamento digno de

seguranccedila Eacute um homem delineado que tem opiniatildeo inserido num

contexto nacional internacional e atual moderno para o seu tempo

(1948) Vale lembrar que ainda hoje existem paiacuteses que natildeo ratificaram

o tratado91 ou que mesmo que o tenham feito natildeo respeitam o que ele

dispotildee

d Tal como no texto anterior o enunciador eacute o homem representado pelo

grupo portanto satildeo vaacuterias vozes representadas O homem eacute igualmente

constituiacutedo em um grupo sob a forma de Assembleia Geral Seu ethos

tambeacutem eacute fortalecido e constituiacutedo pelo status que lhe foi atribuiacutedo pela

Assembleia A ausecircncia do termo ldquoAssembleacutee Geacuteneacuteralerdquo conjugada com

a repeticcedilatildeo do verbo ldquoconsideacuterantrdquo ressalta essa forccedila do ethos

e O homem representado na Assembleia Geral da ONU eacute diferente do

homem da Assembleia francesa natildeo soacute pelo fato de pertencer a uma

organizaccedilatildeo de paiacuteses mas tambeacutem esse homem eacute descrito por meio

de expressotildees que lhe atribuem caracteriacutesticas especiacuteficas Eacute um

homem que faz parte de um grupo (da famiacutelia humana de povos e

naccedilotildees pertencente aos estados membros) cujos direitos satildeo mais

detalhados (livres e iguais em direitos direitos iguais e inalienaacuteveis) e

cujos atributos satildeo bem especificados (dotado de razatildeo e consciecircncia

espiacuterito de fraternidade) sendo protegido dos infortuacutenios (miseacuteria

escravidatildeo tratamentos inumanos e degradantes)

f As expressotildees que se referem ao homem ao mesmo tempo em que o

especificam mostram o aspecto ideoloacutegico da sociedade onde ele estaacute

91

Taiwan natildeo teve aceito seu pedido de ratificaccedilatildeo pela ONU em 2007porque eacute consideradoum paiacutes natildeo

independente da Republica da China (httpbrchina-embassyorgporztzltwwtt344180htm em

25112012)92

Documento anexo III

133

inserido o que deixa evidente que havia um estado anterior diferente do

que eacute pretendido pelo documento e por conseguinte revela seu caraacuteter

dialoacutegico

353 A Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF1988)

Preacircmbulo e artigo 5deg LXXVIII 92

A Constituiccedilatildeo Federal eacute a lei maacutexima que rege a vida de todo brasileiro

e tambeacutem daqueles que vivem sobre o solo do paiacutes Tem em comum com a

DDHC e com a DUDH o fato de dar ao homem o status de ser igual aos outros

homens A disposiccedilatildeo ldquoLes hommes naissent libres et eacutegaux en droitsrdquo(DDHC)

e ldquoTous les ecirctres humains naissent libres et eacutegaux en digniteacute et en droitsrdquo

(DUDH) eacute reformulada em ldquoTodos satildeo iguais perante a leirdquo

Esse conjunto de normas foi elaborado ao final de um periacuteodo de

governo autoritaacuterio comandado por militares

Foi redigido e votado pelos representantes do povo brasileiro (72

senadores e 487deputados) e visava natildeo soacute estabelecer o funcionamento do

Estado democraacutetico definindo as funccedilotildees do diferentes poderes (executivo

legislativo e judiciaacuterio) mas tambeacutem garantir ao cidadatildeo direitos essenciais

aleacutem de regular as ordens financeira econocircmica e social entre outros Nesse

documento foram observados os seguintes casos de reformulaccedilatildeo em relaccedilatildeo

ao emprego do termo homem

a) Sinoniacutemia ldquobrasileiros e estrangeirosrdquo ldquomulheresrdquo

b) Pronominal ldquotodosrdquo

c) Grupo nominal ldquorepresentantes do povo brasileirordquo ldquopessoa

humanardquo ldquorepresentantes eleitosrdquo ldquoningueacutemrdquo

92

Documento anexo III

134

d) Extensiva direta ldquoassembleia nacionalrdquo ldquoindividuaisrdquo ldquosociedade

fraterna pluralista e sem preconceitosrdquo ldquocidadaniardquo ldquopovordquo

ldquosociedaderdquo ldquocomunidade latino-americana de naccedilotildeesrdquo ldquoiguaisrdquo

e) Extensiva indireta ldquoestado democraacuteticordquo ldquodireitos sociaisrdquo

ldquoliberdaderdquo ldquoseguranccedilardquo ldquobem estarrdquo ldquodesenvolvimentordquo

ldquoigualdaderdquo ldquojusticcedilardquo ldquoharmonia socialrdquo ldquosoluccedilatildeo pacificardquo

ldquodignidade da pessoa humanardquo ldquosob a proteccedilatildeo de Deusrdquo ldquopoder

legislativo executivo judiciaacuteriordquo ldquopobrezardquo ldquomarginalizaccedilatildeordquo

ldquodesigualdades sociaisrdquo ldquodiscriminaccedilatildeordquo ldquoorigemrdquo ldquoraccedilardquo ldquosexordquo

ldquocorrdquo ldquoidaderdquo ldquodireitos humanosrdquo ldquoautodeterminaccedilatildeo dos povosrdquo

ldquopazrdquo ldquoconflitordquo ldquoterrorismordquo ldquoracismordquo ldquocooperaccedilatildeo entre os

povosrdquo ldquoprogresso da humanidaderdquo ldquoasilo poliacuteticordquo ldquointegraccedilatildeo

socialrdquo ldquotorturardquo ldquotratamento desumano ou degradanterdquo

ldquomanifestaccedilatildeo do pensamentordquo ldquoanonimatordquo ldquoliberdade de

crenccedila de consciecircncia de pensamento de culto religiosordquo

f) Embreantes de pessoa noacutes

Essa constataccedilatildeo se fez a partir de um levantamento efetuado no texto

abaixo conforme se pode ver no quadro de anaacutelise

a) Preacircmbulo

CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 198893

Noacutes representantes do povo brasileiro reunidos em Assembleia Nacional

Constituinte para instituir um Estado Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio

dos direitos sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-estar o

desenvolvimento a igualdade e a justiccedila como valores supremos de uma sociedade

93

httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm Acesso em 30112012

135

fraterna pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia social e comprometida na

ordem interna e internacional com a soluccedilatildeo paciacutefica das controveacutersias promulgamos

sob a proteccedilatildeo de Deus a seguinte CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Noacutes

representantes

do povo

brasileiro

Representantes do

povo = homens

restritivo

(estamos)

presente voz

passiva

Reunidos em

Assembleia Nacional

Constituinte

Assembleia

=gthomens reunidos

Para instituir

infinitivo

um Estado

Democraacutetico

Estado =gt homens

organizados

(estado

democraacutetico

que)

Estado (estejaseja)

subjuntivo voz

passiva

destinado a assegurar o

exerciacutecio dos direitos

sociais e individuais a

liberdade a seguranccedila

o bem-estar o

desenvolvimento a

igualdade e a justiccedila

Exerciacutecio de direi-tos

=gt do homem

A liberdade a

seguranccedila o bem

estar =gt do homem

O desenvolvimento a

igualdade a justiccedila

=gtpara o homem

como valores

supremos de

uma sociedade

fraterna

pluralista e

sem

preconceitos

Valores de uma

sociedade = de

homens

(estejaseja)

subjuntivo voz

passiva

fundada na harmonia

social e comprometida

na ordem interna e

internacional com a

soluccedilatildeo paciacutefica das

controveacutersias

Fundada=gt a

sociedade=gt homem

Harmonia social e

comprometida etc

soluccedilatildeo pacifica =gt

apenas o homem eacute

capaz de fazer isso

Sujeito oculto =

nos representantes

= homens

promulgamos

presente

sob a proteccedilatildeo de

Deus a seguinte

CONSTITUICcedilAtildeO DA

REPUacuteBLICA

FEDERATIVA DO

BRASIL

Deus =gt quem

acredita em Deus eacute o

homem

Repuacuteblica =gt forma

de governo do

homem

b) Artigos

TIacuteTULO I

Dos Princiacutepios Fundamentais

Art 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos

Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de

Direito e tem como fundamentos

I - a soberania

II - a cidadania

136

III - a dignidade da pessoa humana

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o

Executivo e o Judiciaacuterio

Art 3ordm Constituem objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa do Brasil

I - construir uma sociedade livre justa e solidaacuteria

II - garantir o desenvolvimento nacional

III - erradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir as desigualdades sociais e

regionais

IV - promover o bem de todos sem preconceitos de origem raccedila sexo cor idade e

quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeo

Art 4ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais

pelos seguintes princiacutepios

I - independecircncia nacional

II - prevalecircncia dos direitos humanos

III - autodeterminaccedilatildeo dos povos

IV - natildeo-intervenccedilatildeo

V - igualdade entre os Estados

VI - defesa da paz

VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos

VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo

IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade

X - concessatildeo de asilo poliacutetico

137

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica

poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma

comunidade latino-americana de naccedilotildees

Art SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE 1deg A

Repuacuteblica

Federativa

do Brasil

constitui-

se

em Estado Demo-

craacutetico de Direito e tem

como fundamentos

I - a soberania

II - a cidadania

III - a dignidade da

pessoa humana

IV - os valores sociais

do trabalho e da livre

iniciativa

V - o pluralismo

poliacutetico

Cidadania=Cidadatildeo

=homem

Pessoa

humana=homem

Valores sociais=

sociedade=grupo de

homens

(A

Repuacuteblica

Federativa

do Brasil)

(eacute) formada pela uniatildeo

indissoluacutevel dos Esta-

dos e Municiacutepios e do

Distrito Federal

Pessoas juriacutedicas

Estado municiacutepio e

distrito federal

Paacutera- Todo o

poder

emana do povo Povo=homens

grafo

uni-

co

Que (o

povo)

Povo exerce por meio de re-

presentantes eleitos ou

diretamente nos ter-

mos desta Constituiccedilatildeo

Representantes

eleitos= homens

2deg o

Legislativo

o Executivo

e o

Judiciaacuterio

Poderes do gover-

no = dos homens

satildeo Poderes da Uniatildeo

independentes e

harmocircnicos entre si

Poder= quem tem

poder eacute o homem

3deg

Consti-

tuem

objetivos fundamen-

tais da Repuacuteblica Fede-

rativa do Brasil

I- construir uma

sociedade livre justa e

solidaacuteria

II - garantir o desen-

volvimento nacional

III - erradicar a pobreza

e a marginalizaccedilatildeo e

reduzir as desigualda-

des sociais e regionais

Sociedade= homens

Pobreza e

marginalizaccedilatildeo=

homens

Bem de todos= dos

homens

Sociais= de homens

Raccedila idade=

homens

138

IV - promover o bem

de todos sem preacute-

conceitos de origem

raccedila sexo cor idade e

quaisquer outras for-

mas de discriminaccedilatildeo

4deg A Repuacuteblica

Federativa

do Brasil

Repuacuteblica= forma

de governo=

homens

rege-se nas suas relaccedilotildees

internacionais pelos

seguintes princiacutepios

I ndash independecircncia

nacional

II ndash prevalecircncia dos

direitos humanos

III ndash autodeterminaccedilatildeo

dos povos

IV - natildeo-intervenccedilatildeo

V - igualdade entre os

Estados

VI - defesa da paz

VII - soluccedilatildeo paciacutefica

dos confli-tos

VIII - repuacutedio ao

terrorismo e ao

racismo

IX ndash cooperaccedilatildeo entre

os povos para o

progresso da

humanidade

X ndash concessatildeo de asilo

poliacutetico

Direitos humanos=

dos homens

Povos=homens

Terrorismo e racis-

mo = accedilotildees dos

homens

Asilo poliacutetico= con-

cedido ao homem

A Repuacuteblica

Federativa

do Brasil

Idem buscaraacute A integraccedilatildeo

econocircmica politica

social e cultural dos

poacutevos da Ameacuterica

Latina

Social =dos homens

Povos=homens

(que= a

integraccedilatildeo

etc)

visando agrave formaccedilatildeo de uma

comunidade latino-

americana de naccedilotildees

Comunidade de

naccedilotildees=de homens

TIacuteTULO II

Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPIacuteTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

139

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave

igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos desta Constituiccedilatildeo

II - ningueacutem seraacute obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senatildeo em virtude de lei

III - ningueacutem seraacute submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante

IV - eacute livre a manifestaccedilatildeo do pensamento sendo vedado o anonimato

V - eacute assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo aleacutem da indenizaccedilatildeo por dano material

moral ou agrave imagem

()

LXXVIII a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do

processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeo (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional

nordm 45 de 2004)

sect 1ordm - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tecircm aplicaccedilatildeo imediata

ARTIGO SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Art 5deg Todos satildeo satildeo iguais perante a

lei sem distinccedilatildeo de

qualquer natureza

garantindo-

se

aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes

no Paiacutes a

inviolabilidade do

direito agrave vida agrave

liberdade agrave igualdade

agrave seguranccedila e agrave pro-

priedade nos termos

seguintes

Brasileiros e

estrangeiros=

homens

INCISO

I homens e

mulheres

satildeo iguais em direitos e

obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo

II ningueacutem seraacute seraacute obrigado a fazer

ou deixar de fazer

alguma coisa senatildeo em

virtude de lei

Obrigado= o

homem

III ningueacutem Seraacute submetido a tortura

nem a tratamento

desumano ou

degradante

Tortura e trata-

mento desumano

ou degradante=

soacute o homem faz

isso

IV Eacute a manifestaccedilatildeo do

pensamento

Pensamento= do

homem

Sendo vedado o anonimato

V Eacute assegurado o direito

de resposta propor-

cional ao agravo aleacutem

da indenizaccedilatildeo por

dano material moral

Resposta= do

homem

Dano moral= do

140

ou agrave imagem homem

LXXVIII satildeo a todos no acircmbito

judicial e administra-

tivo (satildeo) assegurados

a razoaacutevel dura-ccedilatildeo do

processo e os meios

que garantam a celeri-

dade de sua tramitaccedilatildeo

Direito a uma

justiccedila raacutepida

QUADRO RESUMO

Substantivos Referente direto Outros

Noacutes

Representantes do povo brasileiro

Assembleia nacional

Estado democraacutetico

Individuais Direitos sociais liberdade seguranccedila bem estar desenvolvimento igualdade justiccedila

Sociedade fraterna pluralista e sem preconceitos

Harmonia social soluccedilatildeo paciacutefica

Cidadania dignidade da pessoa humana

Sob a proteccedilatildeo de Deus

Trabalho livre iniciativa

Povo Poder

Representantes eleitos

Legislativo executivo judiciaacuterio satildeo poderes da uniatildeo

Sociedade Pobreza marginalizaccedilatildeo desigualdades sociais

(O bem de) todos Origem raccedila sexo cor idade discriminaccedilatildeo

Direitos humanos autodeterminaccedilatildeo dos povos

Paz conflitos terrorismo racismo

Cooperaccedilatildeo entre os povos

Progresso da humanidade

Asilo poliacutetico

Integraccedilatildeo social

Comunidade latino-americana de naccedilotildees

Todos

141

Iguais

Brasileiros e estrangeiros

direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade

Homens e mulheres Iguais Direitos e obrigaccedilotildees

Ningueacutem seraacute obrigado

Tortura

Tratamento desumano ou degradante

Manifestaccedilatildeo do pensamento anonimato

Liberdade de crenccedila de consciecircncia culto religioso

Local de culto e sua liturgia

LXXVIII Todos=esse todos retoma o todos satildeo iguais

c) Art5deg Outros incisos

VI - eacute inviolaacutevel a liberdade de consciecircncia e de crenccedila sendo assegurado o livre exerciacutecio dos cultos

religiosos e garantida na forma da lei a proteccedilatildeo aos locais de culto e a suas liturgias

VIII - ningueacutem seraacute privado de direitos por motivo de crenccedila religiosa ou de convicccedilatildeo filosoacutefica ou

poliacutetica salvo se as invocar para eximir-se de obrigaccedilatildeo legal a todos imposta e recusar-se a cumprir

prestaccedilatildeo alternativa fixada em lei

IX - eacute livre a expressatildeo da atividade intelectual artiacutestica cientiacutefica e de comunicaccedilatildeo

independentemente de censura ou licenccedila

X - satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito

a indenizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeo

XIII - eacute livre o exerciacutecio de qualquer trabalho ofiacutecio ou profissatildeo atendidas as qualificaccedilotildees

profissionais que a lei estabelecer

XV - eacute livre a locomoccedilatildeo no territoacuterio nacional em tempo de paz podendo qualquer pessoa nos

termos da lei nele entrar permanecer ou dele sair com seus bens

XVII - eacute plena a liberdade de associaccedilatildeo para fins liacutecitos vedada a de caraacuteter paramilitar

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ou utilidade puacuteblica

ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvados os casos previstos

nesta Constituiccedilatildeo

142

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilizaccedilatildeo publicaccedilatildeo ou reproduccedilatildeo de suas

obras transmissiacutevel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar

XXVIII - satildeo assegurados nos termos da lei

b) o direito de fiscalizaccedilatildeo do aproveitamento econocircmico das obras que criarem ou de que

participarem aos criadores aos inteacuterpretes e agraves respectivas representaccedilotildees sindicais e associativas

XXX - eacute garantido o direito de heranccedila

XXXIII - todos tecircm direito a receber dos oacutergatildeos puacuteblicos informaccedilotildees de seu interesse particular ou

de interesse coletivo ou geral que seratildeo prestadas no prazo da lei sob pena de responsabilidade

ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindiacutevel agrave seguranccedila da sociedade e do Estado (Regulamento)

XXXIV - satildeo a todos assegurados independentemente do pagamento de taxas

a) o direito de peticcedilatildeo aos Poderes Puacuteblicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de

poder

b) a obtenccedilatildeo de certidotildees em reparticcedilotildees puacuteblicas para defesa de direitos e esclarecimento de

situaccedilotildees de interesse pessoal

XXXV - a lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a direito

XXXVI - a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada

XLI - a lei puniraacute qualquer discriminaccedilatildeo atentatoacuteria dos direitos e liberdades fundamentais

a) privaccedilatildeo ou restriccedilatildeo da liberdade

e) suspensatildeo ou interdiccedilatildeo de direitos

LIV - ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal

LXIII - o preso seraacute informado de seus direitos entre os quais o de permanecer calado sendo-lhe

assegurada a assistecircncia da famiacutelia e de advogado

LXIV - o preso tem direito agrave identificaccedilatildeo dos responsaacuteveis por sua prisatildeo ou por seu interrogatoacuterio

policial

LXVI - ningueacutem seraacute levado agrave prisatildeo ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisoacuteria

com ou sem fianccedila

LXVIII - conceder-se-aacute habeas-corpus sempre que algueacutem sofrer ou se achar ameaccedilado de sofrer

violecircncia ou coaccedilatildeo em sua liberdade de locomoccedilatildeo por ilegalidade ou abuso de poder

LXIX - conceder-se-aacute mandado de seguranccedila para proteger direito liacutequido e certo natildeo amparado por

habeas-corpus ou habeas-data quando o responsaacutevel pela ilegalidade ou abuso de poder for

autoridade puacuteblica ou agente de pessoa juriacutedica no exerciacutecio de atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico

LXXI - conceder-se-aacute mandado de injunccedilatildeo sempre que a falta de norma regulamentadora torne

inviaacutevel o exerciacutecio dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade

agrave soberania e agrave cidadania

143

De acordo com o texto constitucional pode-se verificar que

a) O homem aparece caracterizado de forma individual tal qual se vecirc pelo

emprego de termos como ldquopessoa humanardquo ldquohomens e mulheresrdquo

ldquoningueacutemrdquo Tambeacutem vem explicitado dentro do grupo como se pode ver

nas expressotildees ldquorepresentantesrdquo ldquorepresentantes eleitosrdquo ldquobrasileiros e

estrangeirosrdquo Ainda se pode observar sua existecircncia pelo emprego de

coletivos ou seus equivalentes tal como em ldquorepresentantesrdquo ldquopovordquo

ldquoassembleiardquo ldquonoacutesrdquo ldquosociedaderdquo ldquopovosrdquo ldquonaccedilotildeesrdquo ldquotodosrdquo

b) Na Constituiccedilatildeo o homem possui os direitos muito bem assegurados o

que eacute comprovado natildeo soacute pela frequecircncia do uso do termo no singular e

no plural mas tambeacutem pelo contexto em que vem empregado o proacuteprio

artigo 5deg eacute uma descriccedilatildeo exaustiva dos direitos do homem com ecircnfase

sobretudo agrave liberdade Tal peculiaridade se explica pelo contexto de

produccedilatildeo da Constituiccedilatildeo elaborada por deputados depois de um longo

periacuteodo de regime autoritaacuterio militar em que a maior parte da liberdade

individual foi abolida Esse homem eacute bem especificado pois eacute brasileiro

e estrangeiro e dotado de vaacuterios direitos que satildeo bem definidos e

determinados tecircm representantes eleitos e dotados de poderes (noacutes)

igualdade extensa liberdade ampla direitos mais abrangentes auxiacutelio

em vaacuterios casos Incorpora como os direitos do homem da DUDH e de

outros tratados referentes agrave sua proteccedilatildeo conforme dispotildee o inciso

LXXVII94

c) O emprego do pronome noacutes eacute tambeacutem bastante relevante o

enunciador se mostra num texto de lei se revela e com isso se afirma

94

Art 5ordm LXXVIII

sect 2ordm - Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do

regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do

Brasil seja parte

sect 3ordm Os tratados e convenccedilotildees internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados em

cada Casa do Congresso Nacional em dois turnos por trecircs quintos dos votos dos respectivos membros

seratildeo equivalentes agraves emendas constitucionais (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45 de 2004)

144

ganha em autoridade satildeo os representantes eleitos e legalmente

constituiacutedos que elaboram a constituiccedilatildeo e a publicam Os nomes dos

participantes desse documento figuram ao final do mesmo Isso

demonstra ainda o papel que cada um deles representa na histoacuteria do

Brasil e a contribuiccedilatildeo individual para um bem maior dotado da vontade

de equilibrar a sociedade e de se adequar a um contexto internacional

que se modificou e aboliu em muitas naccedilotildees o poder de grupos

minoritaacuterios pela forccedila Cabe lembrar que na Ameacuterica Latina nessa

eacutepoca vaacuterios outros paiacuteses tambeacutem eram governados dessa forma e

que o Brasil foi o precursor da mudanccedila

d) O homem de quem se trata no texto da constituiccedilatildeo democraacutetica de 1988

parece mais bem protegido do que o homem representado haacute quase

duzentos anos atraacutes na declaraccedilatildeo proposta apoacutes a Revoluccedilatildeo

Francesa de 1789 Mesmo em contextos histoacutericos e sociais bastante

diferentes ambos o homem francecircs e o homem brasileiro recebem um

direito agrave liberdade de que natildeo dispunham um direito universal

atemporal de existir e de poder se exprimir de igualdade e justiccedila e dos

quais ficaram privados por formas de governos opressoras

e) O enunciador do texto da Constituiccedilatildeo brasileira eacute revelado pelo

pronome pessoal ldquonoacutesrdquo Ele assume portanto seu papel de

representante do povo brasileiro de forma destacada (o pronome

aparece no iniacutecio do preacircmbulo) um enunciador cujo ethos eacute forte o

bastante para se colocar no primeiro espaccedilo do texto e devidamente

qualificado por ldquorepresentantes do povo brasileirordquo

f) Ainda que esse ldquonoacutesrdquo seja a explicitaccedilatildeo de um sujeito formado por um

grupo de pessoas ele eacute tambeacutem resultante como nos documentos

anteriores da siacutentese da voz de vaacuterios enunciadores que se incorporam

em um uacutenico O jogo polifocircnico torna-se evidente na medida em que

cada deputado da constituinte representa um segmento social e foi eleito

por um puacuteblico eleitoral diferente

145

354 A lei 114192006 a lei de informatizaccedilatildeo judicial95

A lei de informatizaccedilatildeo judicial eacute uma lei federal Isto implica dizer que

ela eacute infraconstitucional e deve ser aplicada em todo o territoacuterio nacional Foi

aprovada portanto pela assembleia federal e pelo senado - Congresso

Nacional - a partir de um projeto de lei O projeto de lei ou seja a proposta

merece uma atenccedilatildeo especial no que se refere agrave sua elaboraccedilatildeo pois foi a

primeira proposta de legislaccedilatildeo participativa possibilidade aberta pela

constituiccedilatildeo atraveacutes da emenda constitucional no45 de 2004 em que um setor

da sociedade devidamente representado pode apresentar ao congresso uma

proposta de lei Esse projeto que foi a PLP no 01 e que tramitou como

PLP012002 foi proposto pela associaccedilatildeo dos juiacutezes federais (AJUFE) com o

objetivo de resolver questotildees referentes agrave utilizaccedilatildeo dos meios tecnoloacutegicos

avanccedilados nos processos em curso no poder judiciaacuterio Apresentado na forma

legal foi devidamente encaminhado e seguiu o curso normal de um projeto de

lei ateacute sua votaccedilatildeo aprovaccedilatildeo promulgaccedilatildeo e publicaccedilatildeo Examinado o texto

da lei foram encontrados os seguintes casos de reformulaccedilatildeo

a) Sinoniacutemia ldquoPRESIDENTE DA REPUacuteBLICArdquo ldquosignataacuteriordquo

ldquousuaacuteriordquo

b) Pronominal natildeo haacute

c) Grupo nominal ldquoautoridade certificadorardquo

d) Extensiva direta ldquoCongresso Nacionalrdquo

e) Extensiva indireta ldquocomunicaccedilatildeordquo ldquoprocessosrdquo ldquoassinaturardquo

ldquoidentificaccedilatildeordquo ldquocadastrordquo ldquoPoder Judiciaacuteriordquo ldquocredenciamentordquo

ldquopeticcedilatildeordquo ldquoregistrordquo ldquoacessordquo ldquosigilordquo ldquoautenticidaderdquo ldquoatos

processuaisrdquo ldquoprotocolordquo ldquopeticcedilatildeordquo

f) Embreantes de pessoa eu decirciticos ldquofaccedilordquo ldquosancionordquo

95

Documento anexo IV

146

Eis aqui o levantamento realizado no texto

a) Caput

LEI Nordm 11419 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial

altera a Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 ndash

Coacutedigo de Processo Civil e daacute outras providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

DA INFORMATIZACcedilAtildeO DO PROCESSO JUDICIAL

b) Artigos

Art 1o O uso de meio eletrocircnico na tramitaccedilatildeo de processos judiciais comunicaccedilatildeo de atos e

transmissatildeo de peccedilas processuais seraacute admitido nos termos desta Lei

sect 1o Aplica-se o disposto nesta Lei indistintamente aos processos civil penal e trabalhista bem

como aos juizados especiais em qualquer grau de jurisdiccedilatildeo

sect 2o Para o disposto nesta Lei considera-se

I - meio eletrocircnico qualquer forma de armazenamento ou traacutefego de documentos e arquivos digitais

II - transmissatildeo eletrocircnica toda forma de comunicaccedilatildeo a distacircncia com a utilizaccedilatildeo de redes de

comunicaccedilatildeo preferencialmente a rede mundial de computadores

III - assinatura eletrocircnica as seguintes formas de identificaccedilatildeo inequiacutevoca do signataacuterio

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora

credenciada na forma de lei especiacutefica

b) mediante cadastro de usuaacuterio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos

respectivos

Art 2o O envio de peticcedilotildees de recursos e a praacutetica de atos processuais em geral por meio eletrocircnico

seratildeo admitidos mediante uso de assinatura eletrocircnica na forma do art 1o desta Lei sendo obrigatoacuterio o

credenciamento preacutevio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

sect 1o O credenciamento no Poder Judiciaacuterio seraacute realizado mediante procedimento no qual esteja

assegurada a adequada identificaccedilatildeo presencial do interessado

147

sect 2o Ao credenciado seraacute atribuiacutedo registro e meio de acesso ao sistema de modo a preservar o

sigilo a identificaccedilatildeo e a autenticidade de suas comunicaccedilotildees

sect 3o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo criar um cadastro uacutenico para o credenciamento previsto

neste artigo

ART SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ca-

put

(a lei) Dispotildee Dispotildee sobre a

informatizaccedilatildeo do

processo judicial

Idem altera a Lei no 5869 de 11

de janeiro de 1973 ndash

Coacutedigo de Processo

Civil

Idem E daacute outras providecircncias

O PRESIDENTE

DA REPUacuteBLICA

= eu o

presidente

Faccedilo

saber

que

o Congresso

Nacional

Congresso decreta

E eu Eu= decircitico de

pessoa

presidente

Sanciono A seguinte Lei

1deg O uso de meio

eletrocircnico na tra-

mitaccedilatildeo de pro-

cessos judiciais

comunicaccedilatildeo de

atos e transmissatildeo

de peccedilas proces-

suais

Seraacute admitido nos termos

desta Lei

Comunicaccedilatildeo

sect 1o (se) aplica o disposto nesta Lei

indistintamente aos

processos civil penal

e trabalhista bem

como aos juizados es-

peciais em qualquer

grau de jurisdiccedilatildeo

Processos

sect 2o (se)

considera

-

Para o disposto nesta

Lei

I - meio eletrocircnico

qualquer forma de

armazenamento ou

traacutefego de documen-

tos e arquivos

digitais

II - transmissatildeo ele-

trocircnica toda forma de

comunicaccedilatildeo a dis-

tacircncia com a utili-

zaccedilatildeo de redes de

Signataacuterio=quem

assina=assinatura

=homem

Usuaacuterio=homem

Autoridade

certificadora=pess

oa

juridica=represent

ada por homens

Assinatura

148

comunicaccedilatildeo prefe-

rencialmente a rede

mundial de compu-

tadores

III - assinatura ele-

trocircnica as seguintes

formas de identi-

ficaccedilatildeo inequiacutevoca do

signataacuterio

a) assinatura digital

baseada em certi-

ficado digital emitido

por Autoridade Certi-

ficadora credenciada

na forma de lei

especiacutefica

b) mediante cadastro

de usuaacuterio no Poder

Judiciaacuterio conforme

disciplinado pelos

oacutergatildeos respectivos

Identificaccedilatildeo

Cadastro

Poder Judiciaacuterio

2deg O envio de

peticcedilotildees de

recursos e a

praacutetica de atos

processuais em

geral por meio

eletrocircnico

Peticcedilatildeo Seratildeo admitidos mediante

uso de assinatura

eletrocircnica na forma

do art 1o desta Lei

sendo obrigatoacuterio o

credenciamento preacute-

vio no Poder Judi-

ciaacuterio conforme dis-

ciplinado pelos

oacutergatildeos respectivos

Credenciamento=

de um

credenciado

Assinatura

sect 1o O credenciamento

no Poder

Judiciaacuterio

Credenciamento

= de um

credenciado

Seraacute Realizado mediante

procedimento no qual

esteja assegurada a

adequada identifica-

ccedilatildeo presencial do

interessado

Interessado =

homem

Identificaccedilatildeo

sect 2o registro e meio de

acesso ao sistema

Registro

Acesso

seraacute atribuiacutedo ao creden-

ciado de modo a pre-

servar o sigilo a

identificaccedilatildeo e a

autenticidade de suas

comunicaccedilotildees

Credenciado=

homem

Sigilo

Identificaccedilatildeo

Autenticidade

sect 3o Os oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio

Poder Judiciaacuterio Poderatildeo criar um cadastro

uacutenico para o creden-

ciamento previsto

neste artigo

Cadastro= de

usuaacuterios

3o (-se) Conside- realizados os atos Atos

149

ram processuais por meio

eletrocircnico no dia e

hora do seu envio ao

sistema do Poder

Judiciaacuterio

processuais=realiz

ados por homens

do que deveraacute

ser

fornecido protocolo

eletrocircnico

Protocolo

Paraacute-

grafo

uacutenico

Quando a peticcedilatildeo

eletrocircnica

Peticcedilatildeo For enviada para atender

prazo processual

As (peticcediloes) (que

forem)

as transmitidas ateacute as

24 (vinte e quatro)

horas do seu uacuteltimo

dia

(as peticcedilotildees) seratildeo consideradas

tempestivas

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto Referente Indireto

PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA

Eu = decircitico de pessoa=presidente

Comunicaccedilatildeo

Congresso Nacional Processos

Signataacuterio Assinatura

Usuaacuterio Identificaccedilatildeo

Autoridade certificadora Cadastro

Poder Judiciaacuterio

Credenciamento

Peticcedilatildeo

Registro

Acesso

Sigilo

Autenticidade

Atos processuais

Protocolo

Peticcedilatildeo

c) Outros artigos

Art 3o Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrocircnico no dia e hora do seu envio

ao sistema do Poder Judiciaacuterio do que deveraacute ser fornecido protocolo eletrocircnico

150

Paraacutegrafo uacutenico Quando a peticcedilatildeo eletrocircnica for enviada para atender prazo processual seratildeo

consideradas tempestivas as transmitidas ateacute as 24 (vinte e quatro) horas do seu uacuteltimo dia

CAPIacuteTULO II

DA COMUNICACcedilAtildeO ELETROcircNICA DOS ATOS PROCESSUAIS

Art 4o Os tribunais poderatildeo criar Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico disponibilizado em siacutetio da rede

mundial de computadores para publicaccedilatildeo de atos judiciais e administrativos proacuteprios e dos oacutergatildeos a eles

subordinados bem como comunicaccedilotildees em geral

sect 1o O siacutetio e o conteuacutedo das publicaccedilotildees de que trata este artigo deveratildeo ser assinados digitalmente

com base em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica

sect 2o A publicaccedilatildeo eletrocircnica na forma deste artigo substitui qualquer outro meio e publicaccedilatildeo

oficial para quaisquer efeitos legais agrave exceccedilatildeo dos casos que por lei exigem intimaccedilatildeo ou vista pessoal

sect 3o Considera-se como data da publicaccedilatildeo o primeiro dia uacutetil seguinte ao da disponibilizaccedilatildeo da

informaccedilatildeo no Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

sect 4o Os prazos processuais teratildeo iniacutecio no primeiro dia uacutetil que seguir ao considerado como data da

publicaccedilatildeo

sect 5o A criaccedilatildeo do Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico deveraacute ser acompanhada de ampla divulgaccedilatildeo e o ato

administrativo correspondente seraacute publicado durante 30 (trinta) dias no diaacuterio oficial em uso

Art 5o As intimaccedilotildees seratildeo feitas por meio eletrocircnico em portal proacuteprio aos que se cadastrarem na

forma do art 2o desta Lei dispensando-se a publicaccedilatildeo no oacutergatildeo oficial inclusive eletrocircnico

sect 1o Considerar-se-aacute realizada a intimaccedilatildeo no dia em que o intimando efetivar a consulta eletrocircnica

ao teor da intimaccedilatildeo certificando-se nos autos a sua realizaccedilatildeo

sect 2o Na hipoacutetese do sect 1

o deste artigo nos casos em que a consulta se decirc em dia natildeo uacutetil a intimaccedilatildeo

seraacute considerada como realizada no primeiro dia uacutetil seguinte

sect 3o A consulta referida nos sectsect 1

o e 2

o deste artigo deveraacute ser feita em ateacute 10 (dez) dias corridos

contados da data do envio da intimaccedilatildeo sob pena de considerar-se a intimaccedilatildeo automaticamente realizada

na data do teacutermino desse prazo

sect 4o Em caraacuteter informativo poderaacute ser efetivada remessa de correspondecircncia eletrocircnica

comunicando o envio da intimaccedilatildeo e a abertura automaacutetica do prazo processual nos termos do sect 3o deste

artigo aos que manifestarem interesse por esse serviccedilo

sect 5o Nos casos urgentes em que a intimaccedilatildeo feita na forma deste artigo possa causar prejuiacutezo a

quaisquer das partes ou nos casos em que for evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema o ato

processual deveraacute ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade conforme determinado pelo

juiz

sect 6o As intimaccedilotildees feitas na forma deste artigo inclusive da Fazenda Puacuteblica seratildeo

consideradas pessoais para todos os efeitos legais

151

Art 7o As cartas precatoacuterias rogatoacuterias de ordem e de um modo geral todas as comunicaccedilotildees oficiais

que transitem entre oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio bem como entre os deste e os dos demais Poderes seratildeo

feitas preferentemente por meio eletrocircnico

CAPIacuteTULO III

DO PROCESSO ELETROcircNICO

Art 8o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo desenvolver sistemas eletrocircnicos de processamento

de accedilotildees judiciais por meio de autos total ou parcialmente digitais utilizando preferencialmente a rede

mundial de computadores e acesso por meio de redes internas e externas

Paraacutegrafo uacutenico Todos os atos processuais do processo eletrocircnico seratildeo assinados eletronicamente

na forma estabelecida nesta Lei

Art 9o No processo eletrocircnico todas as citaccedilotildees intimaccedilotildees e notificaccedilotildees inclusive da Fazenda

Puacuteblica seratildeo feitas por meio eletrocircnico na forma desta Lei

sect 2o Quando por motivo teacutecnico for inviaacutevel o uso do meio eletrocircnico para a realizaccedilatildeo de citaccedilatildeo

intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo esses atos processuais poderatildeo ser praticados segundo as regras ordinaacuterias

digitalizando-se o documento fiacutesico que deveraacute ser posteriormente destruiacutedo

Art 11 Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrocircnicos com

garantia da origem e de seu signataacuterio na forma estabelecida nesta Lei seratildeo considerados originais para

todos os efeitos legais

sect 1o Os extratos digitais e os documentos digitalizados e juntados aos autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila

e seus auxiliares pelo Ministeacuterio Puacuteblico e seus auxiliares pelas procuradorias pelas autoridades

policiais pelas reparticcedilotildees puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos e privados tecircm a mesma forccedila

probante dos originais ressalvada a alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de adulteraccedilatildeo antes ou durante o

processo de digitalizaccedilatildeo

sect 5o Os documentos cuja digitalizaccedilatildeo seja tecnicamente inviaacutevel devido ao grande volume ou por

motivo de ilegibilidade deveratildeo ser apresentados ao cartoacuterio ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias

contados do envio de peticcedilatildeo eletrocircnica comunicando o fato os quais seratildeo devolvidos agrave parte apoacutes o

tracircnsito em julgado

sect 6o Os documentos digitalizados juntados em processo eletrocircnico somente estaratildeo disponiacuteveis para

acesso por meio da rede externa para suas respectivas partes processuais e para o Ministeacuterio Puacuteblico

respeitado o disposto em lei para as situaccedilotildees de sigilo e de segredo de justiccedila

Art 12 A conservaccedilatildeo dos autos do processo poderaacute ser efetuada total ou parcialmente por meio

eletrocircnico

sect 1o Os autos dos processos eletrocircnicos deveratildeo ser protegidos por meio de sistemas de seguranccedila

de acesso e armazenados em meio que garanta a preservaccedilatildeo e integridade dos dados sendo dispensada a

formaccedilatildeo de autos suplementares

152

sect 2o Os autos de processos eletrocircnicos que tiverem de ser remetidos a outro juiacutezo ou instacircncia

superior que natildeo disponham de sistema compatiacutevel deveratildeo ser impressos em papel autuados na forma

dos arts 166 a 168 da Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo Civil ainda que de

natureza criminal ou trabalhista ou pertinentes a juizado especial

sect 5o A digitalizaccedilatildeo de autos em miacutedia natildeo digital em tramitaccedilatildeo ou jaacute arquivados seraacute precedida

de publicaccedilatildeo de editais de intimaccedilotildees ou da intimaccedilatildeo pessoal das partes e de seus procuradores para

que no prazo preclusivo de 30 (trinta) dias se manifestem sobre o desejo de manterem pessoalmente a

guarda de algum dos documentos originais

Art 13 O magistrado poderaacute determinar que sejam realizados por meio eletrocircnico a exibiccedilatildeo e o

envio de dados e de documentos necessaacuterios agrave instruccedilatildeo do processo

sect 2o O acesso de que trata este artigo dar-se-aacute por qualquer meio tecnoloacutegico disponiacutevel

preferentemente o de menor custo considerada sua eficiecircncia

CAPIacuteTULO IV

DISPOSICcedilOtildeES GERAIS E FINAIS

Art 14 Os sistemas a serem desenvolvidos pelos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio deveratildeo usar

preferencialmente programas com coacutedigo aberto acessiacuteveis ininterruptamente por meio da rede mundial

de computadores priorizando-se a sua padronizaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Os sistemas devem buscar identificar os casos de ocorrecircncia de prevenccedilatildeo

litispendecircncia e coisa julgada

Art 16 Os livros cartoraacuterios e demais repositoacuterios dos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo ser

gerados e armazenados em meio totalmente eletrocircnico

Art 20 A Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo Civil passa a vigorar com

as seguintes alteraccedilotildees

Art 38

Paraacutegrafo uacutenico A procuraccedilatildeo pode ser assinada digitalmente com base em certificado emitido por

Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica (NR)

Art 154

sect 2o Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos transmitidos armazenados e assinados

por meio eletrocircnico na forma da lei (NR)

Art 164

Paraacutegrafo uacutenico A assinatura dos juiacutezes em todos os graus de jurisdiccedilatildeo pode ser feita eletronicamente

na forma da lei (NR)

Art 169 sect 1o Eacute vedado usar abreviaturas

153

sect 2o Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrocircnico os atos processuais praticados na

presenccedila do juiz poderatildeo ser produzidos e armazenados de modo integralmente digital em arquivo

eletrocircnico inviolaacutevel na forma da lei mediante registro em termo que seraacute assinado digitalmente pelo juiz

e pelo escrivatildeo ou chefe de secretaria bem como pelos advogados das partes

Art 202

sect 3o A carta de ordem carta precatoacuteria ou carta rogatoacuteria pode ser expedida por meio eletrocircnico situaccedilatildeo

em que a assinatura do juiz deveraacute ser eletrocircnica na forma da lei (NR)

Art 221

IV - por meio eletrocircnico conforme regulado em lei proacutepria (NR)

Art 237

Paraacutegrafo uacutenico As intimaccedilotildees podem ser feitas de forma eletrocircnica conforme regulado em lei proacutepria

(NR)

Art 365

V - os extratos digitais de bancos de dados puacuteblicos e privados desde que atestado pelo seu emitente sob

as penas da lei que as informaccedilotildees conferem com o que consta na origem

VI - as reproduccedilotildees digitalizadas de qualquer documento puacuteblico ou particular quando juntados aos

autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila e seus auxiliares pelo Ministeacuterio Puacuteblico e seus auxiliares pelas

procuradorias pelas reparticcedilotildees puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos ou privados ressalvada a

alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de adulteraccedilatildeo antes ou durante o processo de digitalizaccedilatildeo

sect 1o Os originais dos documentos digitalizados mencionados no inciso VI do caput deste artigo deveratildeo

ser preservados pelo seu detentor ateacute o final do prazo para interposiccedilatildeo de accedilatildeo rescisoacuteria

sect 2o Tratando-se de coacutepia digital de tiacutetulo executivo extrajudicial ou outro documento relevante agrave

instruccedilatildeo do processo o juiz poderaacute determinar o seu depoacutesito em cartoacuterio ou secretaria (NR)

Art 399

sect 2o As reparticcedilotildees puacuteblicas poderatildeo fornecer todos os documentos em meio eletrocircnico conforme

disposto em lei certificando pelo mesmo meio que se trata de extrato fiel do que consta em seu banco de

dados ou do documento digitalizado (NR)

Art 417

sect 1o O depoimento seraacute passado para a versatildeo datilograacutefica quando houver recurso da sentenccedila ou

noutros casos quando o juiz o determinar de ofiacutecio ou a requerimento da parte

sect 2o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2

o e 3

o do art 169 desta Lei

(NR)

Art 457

154

sect 4o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2

o e 3

o do art 169 desta Lei

(NR)

Art 556

Paraacutegrafo uacutenico Os votos acoacuterdatildeos e demais atos processuais podem ser registrados em arquivo

eletrocircnico inviolaacutevel e assinados eletronicamente na forma da lei devendo ser impressos para juntada aos

autos do processo quando este natildeo for eletrocircnico (NR)

Art 22 Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias depois de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 19 de dezembro de 2006 185o da Independecircncia e 118

o da Repuacuteblica

LUIZ INAacuteCIO LULA DA SILVA

Maacutercio Thomaz Bastos

Este texto natildeo substitui o publicado no DOU de 20122006

Conforme se pode verificar pela anaacutelise dos quadros e texto acima

a) O homem aqui figura numa concepccedilatildeo quase teacutecnica signataacuterio

usuaacuterio autoridade certificadora credenciado Aparece como ser

individual e capaz de utilizar um sistema de informaacutetica Esse homem eacute

um homem moderno que usa a tecnologia para trabalhar para alcanccedilar

(ldquosaisirrdquo) a justiccedila

b) O homem vem caracterizado por meio de suas accedilotildees de comunicaccedilatildeo e

para isso procede a sua identificaccedilatildeo protocoliza envia uma peticcedilatildeo

um usuaacuterio e profissional capacitado que tem o direito disponibilizado

pela lei de executar determinados atos da aacuterea juriacutedica

c) A execuccedilatildeo de tais atos profissionais eacute aparelhada por ferramentas

tecnoloacutegicas de um sistema de informaacutetica E o objetivo desse sistema

aleacutem da uniformizaccedilatildeo de praacuteticas do quotidiano adequadas ao Poder

Judiciaacuterio eacute apenas um facilitar e tornar aacutegil eficaz e raacutepido todo

processo interposto e que tem como objetivo o alcance da justiccedila Assim

essa lei permite o alcance de uma justiccedila de forma mais aacutegil visando ao

atendimento das expectativas sociais que exigem um Poder Judiciaacuterio

menos lento

155

d) O enunciador desse texto de lei diferente dos anteriores estaacute ao

mesmo tempo explicitado e apagado no caput da lei e no seu fecho vecirc-

se que a lei foi publicada pela vontade do Presidente da Repuacuteblica e

pelo Ministro da Justiccedila No entanto cabe a eles apenas o papel de

sancionaacute-la sendo que a primeira vontade de realizar o que dispotildee a lei

natildeo veio de nenhum deles A lei foi a vontade dos juiacutezes que fizeram a

proposta de legislaccedilatildeo e a apresentaram agrave Cacircmara dos Deputados

Como jaacute foi dito anteriormente eacute na lei que o ethos natildeo mostrado tem a

sua maior expressatildeo a proposta parte dos juiacutezes (Poder Judiciaacuterio)

segue para o Poder Legislativo transforma-se em lei pela sanccedilatildeo do

Presidente da Repuacuteblica (Poder Executivo) e do Ministro da Justiccedila

(Poder Executivo importante observar que eacute o Ministro da Justiccedila que agrave

frente do Ministeacuterio da Justiccedila sendo responsaacutevel por ldquogarantir e

promover a cidadania a justiccedila e a seguranccedila puacuteblica atraveacutes de uma

accedilatildeo conjunta entre o Estado e a sociedaderdquo96 Depois de publicada a

96

Segundo o portal do Ministeacuterio da Justiccedila httpportalmjgovbrdataPagesMJAD82FBF6ITEMID3006FB374BA746898656440BE0410ADDPT

BRNNhtm Acesso em 26122012

ldquoMissatildeo O Ministeacuterio da Justiccedila tem por missatildeo garantir e promover a cidadania a justiccedila e a seguranccedila puacuteblica

atraveacutes de uma accedilatildeo conjunta entre o Estado e a sociedade

Competecircncias O Ministeacuterio da Justiccedila oacutergatildeo da administraccedilatildeo federal direta tem como aacuterea de competecircncia os

seguintes assuntos

I - defesa da ordem juriacutedica dos direitos poliacuteticos e das garantias constitucionais

II - poliacutetica judiciaacuteria

III - direitos dos iacutendios

IV - entorpecentes seguranccedila puacuteblica Poliacutecias Federal Rodoviaacuteria Federal e Ferroviaacuteria Federal e do

Distrito Federal

V - defesa da ordem econocircmica nacional e dos direitos do consumidor

VI - planejamento coordenaccedilatildeo e administraccedilatildeo da poliacutetica penitenciaacuteria nacional

VII - nacionalidade imigraccedilatildeo e estrangeiros

VIII - ouvidoria-geral dos iacutendios e do consumidor

IX - ouvidoria das poliacutecias federais

X - assistecircncia juriacutedica judicial e extrajudicial integral e gratuita aos necessitados assim considerados

em lei

XI - defesa dos bens e dos proacuteprios da Uniatildeo e das entidades integrantes da administraccedilatildeo puacuteblica federal

indireta

XII - articulaccedilatildeo integraccedilatildeo e proposiccedilatildeo das accedilotildees do Governo nos aspectos relacionados com as

atividades de repressatildeo ao uso indevido do traacutefico iliacutecito e da produccedilatildeo natildeo autorizada de substacircncias

entorpecentes e drogas que causem dependecircncia fiacutesica ou psiacutequica

XIII - coordenaccedilatildeo e implementaccedilatildeo dos trabalhos de consolidaccedilatildeo dos atos normativos no acircmbito do

Poder Executivo e

XIV - prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e cooperaccedilatildeo juriacutedica internacional

XV - poliacutetica nacional de arquivos

XVI - assistecircncia ao Presidente da Repuacuteblica em mateacuterias natildeo afetas a outro Ministeacuterio

156

lei seraacute de aplicada pelo Poder Judiciaacuterio seu primeiro beneficiaacuterio mas

para favorecer aqueles que pedirem a prestaccedilatildeo jurisdicional do Estado

na soluccedilatildeo de seus problemas

e) O item anterior mostra de forma clara como diferentes vozes

representativas dos Poderes Judiciaacuterio Legislativo e Executivo se

conjugam para a aprovaccedilatildeo da nova lei A polifonia existente aqui daacute voz

a uma das maiores expressotildees de justiccedila e de democracia na eacutepoca

atual

Primeiras observaccedilotildees

O que haacute de comum nestes quatro documentos de lei

1) Todos foram elaborados por um grupo menor representante de um

grupo maior com o objetivo de melhorar o conviacutevio do homem em sociedade

2) Todos os documentos foram propostos para regrar um certo desajuste ndash

maior ou menor - nas relaccedilotildees jaacute existentes entre os homens

3) Todos os documentos afetam um grande nuacutemero de indiviacuteduos a partir

de sua publicaccedilatildeo mudando as relaccedilotildees entre eles

A partir de cada um desses documentos os indiviacuteduos que a eles ficam

submetidos modificam seu perfil seu status social e individual Tornam-se mais

revestidos de direitos mas tambeacutem sujeitos a obrigaccedilotildees mais definidas pois

para ter o direito agrave liberdade de religiatildeo por exemplo eacute necessaacuterio tambeacutem

respeitar a liberdade do outro na sua religiatildeo Eacute um homem que evolui bem

diferente do primeiro que vivia em um mundo de poucos recursos e direitos

Este homem cresceu ganhou importacircncia e respectivamente atributos que lhe

permitem exercer as suas prerrogativas em plenitude protegido por leis

nacionais e internacionais e por aparatos tecnoloacutegicos A polifonia existente

Competecircncia estabelecida pelo Decreto nordm 6061 de 15 de marccedilo de 2007 Anexo I e alteraccedilotildeesrdquo ndash grifo

da paacutegina na internet

157

nos textos reveste o ethos do enunciador de competecircncia mesmo que ele

esteja apagado enquanto voz ndash ou porque ausente ou porque reduzido a um

ldquonoacutesrdquo social A vontade do enunciador se corporifica no texto de lei cujo caraacuteter

coercitivo tem autoridade indubitaacutevel

36 Anaacutelise de outros textos

Satildeo trecircs os textos o voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio a

justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 da Deputada Luiza Erundina e a nota

oficial de 1962002

361 Voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio97

O voto do Deputado Roberto Batochio relator da Comissatildeo de

Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania da Cacircmara dos Deputados analisa a

proposta sob os aspectos de constitucionalidade juridicidade teacutecnica

legislativa e meacuterito para depois seguir para a votaccedilatildeo do plenaacuterio A comissatildeo

tem diferentes atribuiccedilotildees De acordo com o Regimento Interno da Cacircmara dos

Deputados em seu artigo 32 IV ela eacute encarregada de examinar98

a)

aspectos constitucional legal juriacutedico regimental e de teacutecnica

legislativa de projetos emendas ou substitutivos sujeitos agrave

apreciaccedilatildeo da Cacircmara ou de suas Comissotildees para efeito de

admissibilidade e tramitaccedilatildeo

b) admissibilidade de proposta de emenda agrave Constituiccedilatildeo

c)

assunto de natureza juriacutedica ou constitucional que lhe seja submetido

em consulta pelo Presidente da Cacircmara pelo Plenaacuterio ou por outra

Comissatildeo ou em razatildeo de recurso previsto neste Regimento

d)

assuntos atinentes aos direitos e garantias fundamentais agrave

organizaccedilatildeo do Estado agrave organizaccedilatildeo dos Poderes e agraves funccedilotildees

essenciais da Justiccedila

e) mateacuterias relativas a direito constitucional eleitoral civil penal

penitenciaacuterio processual notarial

f) partidos poliacuteticos mandato e representaccedilatildeo poliacutetica sistemas

eleitorais e eleiccedilotildees

h) desapropriaccedilotildees

i) nacionalidade cidadania naturalizaccedilatildeo regime juriacutedico dos

estrangeiros emigraccedilatildeo e imigraccedilatildeo

97

Documento anexo IV b

98 httpwww2camaralegbrleginfedrescad1989resolucaodacamaradosdeputados-17-21-setembro-

1989-320110-publicacaooriginal-1-plhtml em 02122012

g) registros puacuteblicos

158

j) intervenccedilatildeo federal

l) uso dos siacutembolos nacionais

m) criaccedilatildeo de novos Estados e Territoacuterios incorporaccedilatildeo subdivisatildeo ou

desmembramento de aacutereas de Estados ou de Territoacuterios

n) transferecircncia temporaacuteria da sede do Governo

o) anistia

p)

direitos e deveres do mandato perda de mandato de Deputado nas

hipoacuteteses dos incisos I II e VI do art 55 da Constituiccedilatildeo pedidos de

licenccedila para incorporaccedilatildeo de Deputados agraves Forccedilas Armadas

q) redaccedilatildeo do vencido em Plenaacuterio e redaccedilatildeo final das proposiccedilotildees em

geral

O levantamento das operaccedilotildees de referecircncia revelou no voto do

deputado relator casos de

a) Sinoniacutemia ldquopartesrdquo ldquoadvogadosrdquo ldquointeressadosrdquo

b) Pronominal natildeo haacute

c) Grupo nominal natildeo haacute

d) Extensiva direta ldquoComissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativardquo

ldquoComissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e Redaccedilatildeordquo ldquoplenaacuteriordquo

e) Extensiva indireta ldquoacolhidardquo ldquooportunardquo ldquoconvenienterdquo

ldquoaprovaccedilatildeordquo

f) Embreante de pessoa decirciticos de pessoa ldquovislumbramosrdquo

ldquoprecisaratildeordquo

Tais fenocircmenos podem ser verificados conforme a anaacutelise do texto que

segue abaixo

a) Primeiro paraacutegrafo

PARECER DO DEPUTADO

PARECER E VOTO DO DEPUTADO JOSEacute ROBERTO BATOCHIO

RELATOR DO PROJETO DE LEI NA CCJR DA CAcircMARA DOS DEPUTADOS

COMISSAtildeO DE CONSTITUICcedilAtildeO E JUSTICcedilA E DE REDACcedilAtildeO

159

PROJETO DE LEI Ndeg 5828 DE 2001

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial e daacute outras providecircncias

Autor Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa

Relator Deputado Joseacute Roberto Batochio

I-RELATOacuteRIO

A presente proposta de autoria da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa pretende permitir o uso de meio

eletrocircnico na comunicaccedilatildeo de atos e na transmissatildeo de peccedilas processuais tais como peticcedilotildees recursos

cartas precatoacuterias etc desde que os interessados se credenciem junto aos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Primeiro paraacutegrafo

A presente proposta

de autoria da

Comissatildeo de

Legislaccedilatildeo

Participativa

Comissatildeo= de

homens

pretende permitir o uso de

meio eletrocircnico na

comunicaccedilatildeo de atos

e na transmis-satildeo de

peccedilas pro-cessuais

tais como peticcedilotildees

recursos cartas

precatoacuterias etc

desde que os

interessados

Interessados=ho

mens

se credenciem

credenciar=cre

denciados

junto aos oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio

b) Uacuteltimo paraacutegrafo

A esta Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Redaccedilatildeo compete analisar a proposta sob os aspectos de

constitucionalidade juridicidade teacutecnica legislativa e meacuterito sendo a apreciaccedilatildeo final do Plenaacuterio da

Casa

Eacute o Relatoacuterio

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ultimo

paraacutegrafo do

160

relatoacuterio

A esta

Comissatildeo de

Constituiccedilatildeo e

Justiccedila e de

Redaccedilatildeo

Compete analisar a proposta

sob os aspectos de

constitucionalidade

juridicidade teacutecnica

legislativa e meacuterito

Comissatildeo= formada

por homens

sendo a apreciaccedilatildeo final do

Plenaacuterio da Casa

Plenaacuterio da casa =

grupo de deputados =

homens

c) Primeiro paraacutegrafo do voto

11-VOTO DO RELATOR

Natildeo vislumbramos na Proposiccedilatildeo viacutecios de natureza constitucional de juridicidade ou de teacutecnica

legislativa

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Primeiro

paraacutegrafo

(Noacutes)= sujeito

oculto

Vislumbra-

mos

natildeo (vislumbramos)

na Proposiccedilatildeo viacutecios

de natureza

constitucional de

juridicidade ou de

teacutecnica legislativa

d) Uacuteltimos paraacutegrafos

No meacuterito merece acolhida a Proposiccedilatildeo

Eis que eacute oportuna e conveniente moderniza a tramitaccedilatildeo processual imprime celeridade dessacraliza o

processo sem ferir os direitos e garantias das partes

A adoccedilatildeo de meios eletrocircnicos traraacute indubitavelmente ateacute mesmo maior conforto para os advogados e

para as partes uma vez que natildeo mais precisaratildeo deslocar-se ateacute o tribunal para aforar peticcedilotildees recursos

etc

161

Assim nosso voto eacute pela constitucionalidade juridicidade boa teacutecnica legislativa e no meacuterito pela

aprovaccedilatildeo do Projeto de Lei no5828 de 2001

Sala da Comissatildeo em de de 2002

Deputado Joseacute Roberto Batochio

Relator

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ultimos

paraacutegrafos

a Proposiccedilatildeo

merece No meacuterito( merece)

acolhida

Acolhida=quem acolhe

eacute a comissao =gthomem

Eis que

eacute oportuna e

conveniente

Oportuna e conve-

niente para o sistema

para os homens

moderniza a tramitaccedilatildeo pro-

cessual

imprime celeridade

dessacraliza o processo

ferir sem (ferir) os direitos

e garantias das partes

Direitos e garantias das

partes=dos homens

A adoccedilatildeo de

meios

eletrocircnicos

traraacute indubitavelmente

ateacute mesmo maior

conforto para os

advogados e para as

partes

Advogados

partes=homens

uma vez que precisaratildeo natildeo mais (precisaratildeo)

deslocar-se ateacute o

tribunal para aforar

peticcedilotildees recursos etc

Sujeito oculto

Precisaratildeo = eles =

homens

Assim nosso

voto

eacute pela constitucionali-

dade juridicidade

boa teacutecnica legislati-

va e no meacuterito pela

aprovaccedilatildeo do Projeto

de Lei no5828 de

2001

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto Referente Indireto

162

Comissatildeo de legislaccedilatildeo participativa

Acolhida

Comissatildeo de constituiccedilatildeo e justiccedila e de redaccedilatildeo

Interessados Oportuna e conveniente

Plenaacuterio da casa Vislumbramos (noacutes)

Partes= No processo= requerenterequerido=homens

Precisaratildeo (eles=advogados)

Aprovaccedilatildeo = quem aprova eacute a comissatildeo

Advogados= homens

De acordo com o que pode ser observado nas anaacutelises dos termos destacados

vecirc-se que

a) O homem se faz presente na sua individualidade pelo emprego de

termos como ldquopartesrdquo ldquoadvogadosrdquo ldquointeressadosrdquo A referecircncia tambeacutem

pode ser verificada mesmo com o sujeito oculto pelo emprego de

decirciticos de pessoa tal qual em ldquovislumbramosrdquo e ldquoprecisaratildeordquo o que

mostra um afastamento do autor do texto que visa agrave impessoalidade

Apesar de o voto ser redigido por um deputado ele eacute o responsaacutevel pela

comissatildeo que representa Eacute a ele que cabe dar a decisatildeo final da

anaacutelise a que foi submetido o projeto de lei

O coletivo de homem vem expresso pelo termo ldquoplenaacuteriordquo que

implica em homens reunidos para uma decisatildeo Alguns outros

substantivos fazem referecircncia a praacuteticas que incluem julgamentos de

valor tiacutepicos do homem e que somente ele pode emitir (ldquoacolhidardquo

ldquooportunardquo ldquoconvenienterdquo ldquoaprovaccedilatildeordquo)

b) Interessante notar a ausecircncia de termos ou expressotildees que faccedilam

referecircncia ao direito ou direitos do homem ou o acesso agrave justiccedila Tal fato

natildeo afeta entretanto o conteuacutedo do voto Conveacutem ressaltar que os

proacuteprios termos Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa e Comissatildeo de

constituiccedilatildeo e justiccedila e redaccedilatildeo por si soacute jaacute contecircm o necessaacuterio

c) A Comissatildeo de Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania eacute aquela

que recebe o projeto de lei da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa -

que por sua vez proveacutem de um grupo social Tem como anseio fazer

aprovar uma lei e esta por seu caraacuteter intriacutenseco interfere na ordem

social A existecircncia de tal Comissatildeo atesta uma preocupaccedilatildeo com a

forma e o conteuacutedo do projeto pois ele tem que estar adequado agrave

Constituiccedilatildeo aleacutem de proteger o cidadatildeo e conforme ao princiacutepio de

justiccedila

163

d) As funccedilotildees para as quais eacute designada a Comissatildeo mostram que seu

objetivo eacute cuidar para que a justiccedila seja feita desde que respeitados os

dispositivos constitucionais e os direitos de igualdade e liberdade

atribuiacutedos ao homem Pode-se dizer que essa Comissatildeo eacute a verdadeira

guardiatilde do texto constitucional e de seus princiacutepios

e) O enunciador aqui tambeacutem eacute mostrado pois consta o nome do

Deputado como sendo o do relator do voto Da mesma forma o ethos eacute

reforccedilado pelo fato do Deputado ser presidente da Comissatildeo Nesse

voto no entanto o enunciador cuida da proteccedilatildeo do homem eacute um

Deputado responsaacutevel pelo status de cidadania de outros homens

f) A polifonia se apresenta de forma impliacutecita o Deputado Joseacute Roberto

Batochio eacute o presidente da Comissatildeo sendo assim a voz-siacutentese da voz

de outros Deputados

362 Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada Luiza Erundina99

A partir do momento em que um projeto de lei eacute enviado agrave Cacircmara dos

Deputados ele se submete a diversas anaacutelises cujo objetivo eacute o de verificar se

tal projeto estaacute adequado agrave Constituiccedilatildeo e se preenche os requisitos

necessaacuterios aos fins que se destinam Essa verificaccedilatildeo visa por exemplo

examinar se a lei no momento em que passar a vigorar tem condiccedilotildees de

execuccedilatildeo

Conforme explica o glossaacuterio100 do portal da Cacircmara dos Deputados uma

comissatildeo eacute um

Oacutergatildeo integrado por parlamentares tendo composiccedilatildeo partidaacuteria

proporcional agrave da Casa Legislativa tanto quanto possiacutevel e pode ter caraacuteter

permanente ou temporaacuterio Eacute comissatildeo permanente quando integra a

estrutura institucional e comissatildeo temporaacuteria quando criada para apreciar

determinado assunto especial e de inqueacuterito ou para o cumprimento de

missatildeo temporaacuteria autorizada A comissatildeo temporaacuteria extingue-se ao teacutermino

da legislatura quando alcanccedilado o fim a que se destina ou ainda quando

expirado o seu prazo de duraccedilatildeo

99

Documento anexo IVc

100 httpwww2camaralegbrglossario Acesso em 22022012

164

Cada comissatildeo apoacutes analisar os pareceres dos demais integrantes

emite sua opiniatildeo A Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa que recebeu o

anteprojeto da lei 114192006 eacute composta por 18 membros titulares e igual

nuacutemero de suplentes Sua primeira presidente a deputada Luiza Erundina

(PSBSP) eacute quem emitiu ao final dos trabalhos de anaacutelise a justificativa do

projeto de lei Tal texto eacute o que seraacute analisado aqui

a) Primeiro paraacutegrafo

DEPUTADA LUIZA ERUNDINA DE SOUZA

PRESIDENTE

JUSTIFICACcedilAtildeO

Quando se trata da questatildeo judiciaacuteria no Brasil eacute consenso que os mais graves problemas se situam no

terreno da velocidade com que o cidadatildeo recebe a resposta final agrave sua demanda A morosidade eacute sem

duacutevida o principal fato gerador de insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo judiciaacuterio como revelam todas as pesquisas

realizadas sobre o assunto Em 1993 em pesquisa de opiniatildeo coordenada pelo IBOPE foi proposta a

seguinte afirmaccedilatildeoO problema do Brasil natildeo estaacute nas leis mas na Justiccedila que eacute muito lenta Dos

entrevistados 87 consignaram suas concordacircncias 8 discordaram e5 natildeo souberam responder Jaacute

em 1999 o jornal O Estado de Satildeo Paulo101

chegou a iacutendices ainda mais elevados 92 consideraram a

Justiccedila muito lenta

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Primeiro paraacutegrafo

Eacute consenso

(quando se) se trata da questatildeo judiciaacuteria no

Brasil

que os mais graves

problemas

Se situam situam no terreno da

velocidade

Com que o cidadatildeo Recebe a resposta final agrave sua

demanda

Sua= do cidadatildeo

101 MARQUES Hugo 92 dos brasileiros consideram a Justiccedila lenta O Estado de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 24 mar 1999

165

A morosidade Eacute sem duacutevida o principal

fato gerador de insatis-

faccedilatildeo com o serviccedilo

judiciaacuterio

Como todas as

pesquisas

(foram) realizadas sobre o

assunto

(pesquisas) Revelam

a seguinte afirmaccedilatildeo Foi proposta Em 1993 em pesquisa

de opiniatildeo coordenada

pelo IBOPE

Quem tem

opiniatildeo eacute o

homem

O problema do

Brasil

Estaacute natildeo (estaacute) nas leis mas

na Justiccedila

que eacute muito lenta

Dos entrevistados

87

entrevistados consignaram suas concordacircncias

8 entrevistados discordaram

e5 entrevistados souberam

responder

Natildeo (souberam

responder)

o jornal O Estado

de Satildeo Paulo102

Chegou Jaacute em 1999 a iacutendices

ainda mais elevados

92 entrevistados consideraram a Justiccedila muito lenta

b) Paraacutegrafo intermediaacuterio

Como se constataa soma dos juiacutezes que consideram a falta de INFORMATIZACcedilAtildeO um fator muito

importanteou importante alcanccedila 92 Evidentemente a informatizaccedilatildeo aqui natildeo se refere somente agrave

aquisiccedilatildeo de computadores para utilizaccedilatildeo como substitutos mais eficientes das velhas maacutequinas de

datilografia Aliaacutes este processo de substituiccedilatildeo jaacute se encontra concluiacutedo na imensa maioria das unidades

jurisdicionais existentes no paiacutes Eacute necessaacuterio agora -simultaneamente ao teacutermino desta fase de aquisiccedilatildeo

de equipamentos nas unidades restantes -avanccedilar em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo de todos os atores que intervecircm

em um processo judicial (VarasMinisteacuterio Puacuteblico Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de Advocacia) de

modo a que crescentemente os procedimentos judiciais utilizem ao maacuteximo os avanccedilos tecnoloacutegicos

disponiacuteveis

O Congresso Nacional tem buscado trilhar este caminho

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Paraacutegrafo

intermediaacuterio

--- Sujeito

indeterminado

pela partiacutecula se

Como se

constata

a soma dos juiacutezes que

consideram a falta de

INFORMATIZA-

CcedilAtildeO um fator mui-

to importanteou im-

portante alcanccedila

92

Juiacutezes=homens

92 = dos

juiacutezes

102 MARQUES Hugo 92 dos brasileiros consideram a Justiccedila lenta O Estado de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 24 mar 1999

166

a informatizaccedilatildeo aqui Aqui=

lugar=gtembreante

Se refere Evidentemente natildeo

(se refere) somente agrave

aquisiccedilatildeo de compu-

tadores para utiliza-

ccedilatildeo como substitutos

mais eficientes das

velhas maacutequinas de

datilografia

Maacutequinas de

datilografia =gt

datilografia

precisa de um

homem

Aliaacutes este processo

de substituiccedilatildeo

Este= embreante

de processo

Se encontra jaacute (se encontra)

concluiacutedo na imensa

maioria das unidades

jurisdicionais

existentes no paiacutes

Eacute (necessaacuterio agora ndash

simultaneamente ao

teacutermino desta fase de

aquisiccedilatildeo de equipa-

mentos nas unidades

restantes)

-avanccedilar em direccedilatildeo

agrave integraccedilatildeo de todos

os atores que inter-

vecircm em um processo

judicial (Varas Mi-

nisteacuterio Puacuteblico

Advocacia Puacuteblica

escritoacuterios de

Advocacia)

Atores que

intervecircm= o que

esta entre

parecircnteses (MP

ADV etc) mas

satildeo constituiacutedos

por homens

de modo a que

crescentemente os

procedimentos

judiciais

utilizem ao maacuteximo os

avanccedilos tecnoloacutegicos

disponiacuteveis

O Congresso

Nacional

Congresso

nacional=

deputados e

senadores =

homens

Tem

buscado

Trilhar este caminho

Uacuteltimo paraacutegrafo

Finalmente merece ser destacado o grande benefiacutecio que a meacutedio prazo o projeto traraacute ao Eraacuterio seja

com a diminuiccedilatildeo de gastos seja com a melhoria do funcionamento do sistema econocircmico em razatildeo da

maior eficiecircncia do serviccedilo jurisdicional

167

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ultimo paraacutegrafo

o grande

benefiacutecio

merece Finalmente(merece) ser

destacado

Que o projeto Traraacute a meacutedio prazo ao Eraacuterio

seja com a diminuiccedilatildeo de

gastos seja com a melhoria

do funcionamento do

sistema econocircmico em razatildeo

da maior eficiecircncia do

serviccedilo jurisdicional

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto

Referente Indireto

Cidadatildeo Sua Varas Ministeacuterio Puacuteblico Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de AdvocaciaCongresso nacional

Entrevistados Opiniatildeo

Juiacutezes Maacutequinas de datilografia

87 8 5 92

Atores

O levantamento das operaccedilotildees de reformulaccedilatildeo revelou os seguintes

casos

a) Sinoniacutemia ldquocidadatildeordquo ldquoentrevistadosrdquo ldquojuiacutezesrdquo ldquoatoresrdquo

b) Pronominal natildeo haacute

c) Grupo nominal natildeo haacute

d) Extensiva direta natildeo haacute

e) Extensiva indireta ldquoVarasrdquo ldquoMinisteacuterio Puacuteblicordquo ldquoAdvocacia

Puacuteblicardquo ldquoescritoacuterios de Advocaciardquo ldquoCongresso nacionalrdquo

ldquoMaacutequinas de datilografiardquo ldquoinsatisfaccedilatildeordquo ldquoserviccedilo judiciaacuteriordquo

ldquopesquisa de opiniatildeordquo ldquoconcordacircnciardquo ldquoeficiecircnciardquo

f) Embreantes de pessoa ldquosuardquo (demanda do cidadatildeo)

168

Conforme se pode observar em relaccedilatildeo aos termos e expressotildees

a) O homem neste documento aparece sob duas perspectivas em seu

papel social individual tal como em cidadatildeo entrevistados juiacutezes

atores Mas aparece tambeacutem na sua atuaccedilatildeo junto aos oacutergatildeos ligados agrave

execuccedilatildeo da justiccedila como se pode ver pelo emprego dos termos Varas

Ministeacuterio Puacuteblico Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de Advocacia

Congresso Nacional Interessante notar a presenccedila da expressatildeo

maacutequinas de datilografia que como instrumento de execuccedilatildeo liga o

homem ao seu trabalho e ao mesmo tempo denota a lentidatildeo dos

serviccedilos diante de um teclado de computador

b) Encontra-se nesse texto o uso do embreante sua que se refere agrave

demanda do cidadatildeo a fim de dar ecircnfase ao que mais importa o uso de

tecnologia acelera o acesso agrave justiccedila visto que a demanda eacute grande e o

sistema eacute lento

c) Haacute um apagamento total da expressatildeo de vontade individual da

deputada que emprega a marca de indeterminaccedilatildeo do sujeito (se) a fim

de colocar em destaque o que mais importa o projeto No entanto esse

distanciamento natildeo ofusca que o maior interesse eacute que o projeto seja

aprovado pelos deputados que devem votar a favor a fim de que ele se

converta em lei

d) O enunciador nesse texto diferente dos anteriores pode ser

identificado mesmo que se apague pela indeterminaccedilatildeo do sujeito eacute a

Deputada Luiza Erundina como se pode ler no topo e no fecho do

documento Seu ethos eacute validado pela funccedilatildeo que ocupa como

Presidente da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa e pela polifonia

presente

e) O fato de existir uma Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa indica a

polifonia existente nesse texto pois traduz a possibilidade da sociedade

169

de participar do processo legislativo propondo um projeto de lei

Tambeacutem se constata pela figura da Deputada integrante da Cacircmara dos

Deputados que analisa o anteprojeto de lei Sua justificaccedilatildeo representa

a vontade de todos os outros deputados pois ela eacute a presidente da

Comissatildeo

f) O texto da deputada revela a importacircncia do projeto de lei ao expor a

necessidade de um Poder Judiciaacuterio mais eficaz Eacute interessante

observar que a justificaccedilatildeo favoraacutevel se faz por meio dos resultados de

pesquisas elaboradas cujo objetivo eacute saber o que pensam os

entrevistados homens que se servem da justiccedila e a julgam ineficaz os

quadros publicados mostram os homens que estatildeo por traacutes dos

resultados e suas respectivas opiniotildees

363 Nota Oficial

A designaccedilatildeo de Nota Oficial segundo o manual de redaccedilatildeo da Cacircmara

dos Deputados

pode ser empregada somente quando se referir a comunicado emitido por

autoridade No caso de empresa particular ou pessoa fiacutesica eacute emitida nota agrave

imprensa ou comunicado nunca nota oficial103

Agrave eacutepoca da ediccedilatildeo do livreto da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais

(AJUFE) onde esse documento estaacute impresso o nome de Nota Oficial foi dado

ao documento que laacute figura Hoje o termo jaacute foi substituiacutedo por Nota Puacuteblica

Em relaccedilatildeo a seus objetivos

Desde sua fundaccedilatildeo a Ajufe tem atuado na elaboraccedilatildeo e acompanhamento de

projetos do interesse do Poder Judiciaacuterio na realizaccedilatildeo de seminaacuterios e

eventos e na disseminaccedilatildeo de ideias propostas e princiacutepios da magistratura

federal A atuaccedilatildeo em questotildees poliacuteticas e sociais tambeacutem tem estado

103 httpwww2camaralegbrglossario Acesso em 22122012

170

presente ao longo dos 30 anos de existecircncia Congregar os juiacutezes federais

para realizar uma efetiva troca de experiecircncia e ideias104

Hoje na paacutegina da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais (AJUFE) foram

inseridas informaccedilotildees complementares que mostram sua atuaccedilatildeo junto agrave

sociedade

A Ajufe foi a primeira entidade do Paiacutes a apresentar projeto de lei agrave entatildeo

receacutem-criada Comissatildeo de Participaccedilatildeo Legislativa da Cacircmara dos

Deputados com uma proposta para normatizar a informatizaccedilatildeo do processo

judicial que em 19 de dezembro de 2006 se transformou na Lei nordm

114192006

A gestatildeo de Paulo Seacutergio Domingues 10ordm presidente que atuou no periacuteodo

de junho de 2002 a junho de 2004 enfrentou algumas turbulecircncias Em 2002

uma tentativa de aprovar a reforma do Judiciaacuterio no Senado com um texto

prejudicial agrave Justiccedila Federal fez com que a Ajufe mobilizasse juiacutezes de todo o

Paiacutes A mobilizaccedilatildeo durou todo o periacuteodo da gestatildeo105

Mesmo como entidade civil a AJUFE natildeo deixa de ser representante das

vontades dos membros do Poder Judiciaacuterio Diante da necessidade de se

manifestar junto da opiniatildeo puacuteblica para se defender das criacuteticas da Ordem dos

Advogados do Brasil o meio adequado encontrado para tanto foi a nota oficial

a fim de que o pensamento daqueles que pertencem ao Poder Judiciaacuterio e que

defendem a melhoria do proacuteprio oacutergatildeo tivesse a autoridade compatiacutevel com o

que exigia o momento para que o projeto de lei fosse enfim aprovado

Na Nota Oficial foram encontrados termos e expressotildees que fazem

referecircncia ao homem nas seguintes formas

a) Sinoniacutemia ldquopresidenterdquo (A JUFE) ldquojuizrdquo ldquoPaulo Seacutergio

Dominguesrdquo ldquopresidenterdquo (CI-OAB) ldquoadvogado(s)rdquo ldquoDominguesrdquo

ldquoprofissionaisrdquo ldquoTribunaisrdquo ldquoresponsaacuteveisrdquo ldquoautorrdquo

b) Pronominal natildeo haacute

104

httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=398amptmptexto=70202 Acesso em

18092012

105 httpwwwajufeorgbrportalindexphpoption=com_contentampview=articleampid=1403ampItemid=67

Acesso em 26122012

171

c) Grupo nominal natildeo haacute

d) Extensiva direta ldquoAssociaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasilrdquo

ldquoAJUFErdquo ldquoComissatildeo de Informaacuteticardquo ldquoOABrdquo ldquoComissatildeo de

Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputadosrdquo

ldquoimpedidosrdquo ldquoexcluiacutedosrdquo ldquoresponsaacuteveisrdquo ldquocategoriardquo

e) Extensiva indireta ldquounanimidaderdquo ldquocorporativismordquo ldquoanaacuteliserdquo

ldquoresistecircnciardquo ldquomedordquo ldquojusticcedilardquo ldquomorosidaderdquo ldquoJudiciaacuteriordquo ldquocriacuteticardquo

ldquoviolaccedilatildeordquo ldquoseguranccedila juriacutedicardquo ldquoautonomiardquo ldquocredenciamentordquo

ldquoprofissatildeordquo ldquocadastrosrdquo ldquoseguranccedilardquo ldquoassinaturardquo ldquopeticcedilatildeordquo

ldquofrauderdquo ldquorastreamentordquo

f) Embreante de pessoa ldquonosrdquo ldquonossardquo decirciticos de pessoas

ldquolamentourdquo ldquodestacourdquo ldquo ndashlordquo ldquoelardquo

Eacute no texto da Nota Oficial que segue abaixo que se pode observar tais

reformulaccedilotildees do termo homem

a) Primeiro paraacutegrafo

NOTA OFICIAL DE 190602

Brasiacutelia 19 de junho de 2002

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial

Reaccedilatildeo da OAB eacute corporativa e medo do novo rebate Ajufe o presidente da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes

Federais do Brasil (Ajufe) juiz Paulo Seacutergio Domingues rebateu enfaticamente a nota divulgada ontem

pelo presidente da Comissatildeo de Informaacutetica da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Satildeo Paulo

Marcos da Costa apontando equiacutevocos juriacutedicos e tecnoloacutegicos no Projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo

Judicial apresentado pela Ajufe ao Congresso O projeto de lei que regulamenta a transferecircncia de

informaccedilotildees judiciais por meio eletrocircnico foi aprovado na iacutentegra e por unanimidade no uacuteltimo dia 11

pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo (CCJ-R) da Cacircmara dos Deputados Infelizmente o

corporativismo estaacute impedindo uma anaacutelise mais global e cuidadosa da nossa proposta lamentou

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

172

Primeiro paraacutegrafo

o presidente da

Associaccedilatildeo dos

Juiacutezes Federais do

Brasil (Ajufe) juiz

Paulo Seacutergio

Domingues

Presidente=

associaccedilatildeo= juiz =

Paulo= homem

rebateu rebateu enfaticamen-te a

nota divulgada ontem

pelo presidente da

Comissatildeo de Infor-

maacutetica da Ordem dos

Advogados do Brasil

(OAB) de Satildeo Paulo

Marcos da Costa

Presidente=gtcomiss

atildeo=gt

OAB=gt

Marcos=homem

(a nota) apontando equiacutevocos juriacutedicos e

tecnoloacutegicos no Projeto

de Informatizaccedilatildeo do

Processo Judicial

apresentado pela Ajufe

ao Congresso

Ajufe=associaccedilatildeo

O projeto de lei (que)

regulamen-

ta

a transferecircncia de

informaccedilotildees judiciais por

meio eletrocircnico

(o projeto) foi aprovado na iacutentegra e por

unanimidade no uacuteltimo

dia 11 pela Comissatildeo de

Constituiccedilatildeo Justiccedila e

Redaccedilatildeo (CCJ-R) da

Cacircmara dos Deputados

Comissatildeo

Unanimidade

o corporativismo Corporativismo=gt

corporaccedilotildees

dirigidas por

homens

estaacute Infelizmente impedindo

uma anaacutelise mais global

e cuidadosa da nossa

proposta

Nossa= decircitico de

pessoa

Anaacutelise

(o juiz) decircitico de pessoa

lamentou

lamentou

b) Segundo paraacutegrafo

Para Domingues a resistecircncia ao projeto eacute injustificadaEacute o medo do novo apresentando-se como

desculpa para impedir a evoluccedilatildeo da Justiccedila Isso nos espanta especialmente numa eacutepoca de criacuteticas agrave

morosidade do Judiciaacuterio quando imagina-se que os advogados apoiem a busca de soluccedilotildees Aliaacutes a

criacutetica da OABSP eacute a uacutenica que se viu ateacute o momento destacou Segundo o presidente da Ajufe o

projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial natildeo representa qualquer violaccedilatildeo agrave autonomia do

advogado nem riscos agrave seguranccedila juriacutedica como acusa a OAB O credenciamento dos profissionais junto

aos tribunais natildeo tem a funccedilatildeo de autorizar o advogado a exercer a profissatildeo mas apenas de autorizaacute-lo a

utilizar o meio eletrocircnico para receber intimaccedilotildees e enviar peticcedilotildees esclarece Este credenciamento

aponta Domingues natildeo favorece o exerciacutecio ilegal da profissatildeo ou a atuaccedilatildeo de profissionais excluiacutedos

dos quadros da entidade Ao contraacuterio ele permite aos tribunais -que satildeo os responsaacuteveis na praacutetica

pelo impedimento do exerciacutecio ilegal da profissatildeo -atualizar com maior agilidade seus cadastros de

advogados temporariamente impedidos de advogar ou excluiacutedos da OAB Eacute um fator de proteccedilatildeo agrave

categoria

173

Segundo

paragrafo

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

a resistecircncia

ao projeto

Resistecircncia Eacute Para Domingues (eacute )

injustificada

Domingues=juiz

Sujeito inexistente Eacute o medo do novo Medo= do homem

Iacutendice de

inderminaccedilao do

sujeito

apresentando-se como desculpa para

impedir a evoluccedilatildeo da

Justiccedila

justiccedila

Isso Espanta nos (espanta) especial-

mente numa eacutepoca de

criacuteticas agrave morosidade do

Judiciaacuterio

Nos=decircitico de

pessoa

morosidade

Judiciaacuterio

(quando ) Se imagina Que

os advogados Advogados =

homens

Apoiem a busca de soluccedilotildees Soluccedilotildees = do

homem

Aliaacutes a criacutetica

da OABSP

OAB

Critica= do

homem

Eacute uacutenica que se viu ateacute o

momento

Decircitico de pessoa

destacou

destacou

o projeto de

Informatizaccedilatilde

o do Processo

Judicial

(natildeo) representa Segundo o presidente da

Ajufe natildeo (representa)

qualquer violaccedilatildeo agrave

autonomia do advogado

nem riscos agrave seguranccedila

juriacutedica

Presidente Ajufe

Advogado=homem

Violaccedilatildeo= da regra

Seguranccedila juriacutedica=

quem sente eacute o

homem

Autonomia= do

homem

Como a OAB Acusa

O credencia-

mento dos

profissionais

junto aos

tribunais

Credenciamento=

do homem

Profissionais=

homens

(natildeo) tem Natildeo (tem) a funccedilatildeo de

autorizar o advogado a

exercer a profissatildeo

Advogado

Profissatildeo

mas (ele) (tem) (a funccedilatildeo) apenas de au-

torizaacute-lo a utilizar o meio

eletrocircnico para receber

intimaccedilotildees e enviar

lo decircitico de pessoa =

o advogado

174

peticcedilotildees esclarece

Domingues Domingues aponta

(Domingues)

Este

credenciamen

-to

(natildeo) favorece natildeo (favorece) o exer-

ciacutecio ilegal da profissatildeo

ou a atuaccedilatildeo de pro-

fissionais excluiacutedos dos

quadros da entidade

Profissatildeo

Profissionais

excluiacutedos

Ao contraacuterio

ele

Permite aos tribunais -atualizar

com maior agilidade seus

cadastros de advogados

temporariamente

impedidos de advogar ou

excluiacutedos da OAB

Cadastros

Advogados

impedidos ou

excluiacutedos

Que (os

tribunais)

Tribunais =

homens

Satildeo os responsaacuteveis na

praacutetica pelo impedimen-

to do exerciacutecio ilegal da

profissatildeo

Responsaacuteveis =

homens

(Isso) Eacute um fator de proteccedilatildeo agrave

categoria

Categoria=gtde

profissionais=gt

homens

c) Uacuteltimo paraacutegrafo

Quanto agrave seguranccedila do meio eletrocircnico Domingues lembra agrave OABSP que o sistema informaacutetico eacute muito

mais seguro que o atual Ou seraacute que ela imagina que um falso advogado tenha mais dificuldade em

falsificar um papel timbrado e uma assinatura em peticcedilatildeo convencional do que em fraudar todo um

sistema de seguranccedila eletrocircnico que permite inclusive o rastreamento do autor de eventuais tentativas de

fraude

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

uacuteltimo paraacutegrafo

Quanto agrave seguranccedila

do meio eletrocircnico

Domingues

Domingues

seguranccedila

Lembra agrave OABSP OAB=advogados

que o sistema

informaacutetico eacute

Eacute muito mais seguro

que o atual

Seguro=seguran-

ccedila

Ou seraacute que

ela Ela = OAB decircitico

de pessoa

Imagina

que um falso

advogado

Tenha mais dificuldade em

falsificar um papel

timbrado e uma

assinatura em peticcedilatildeo

convencional

Falsificar

Assinatura

175

Peticcedilatildeo

Do que (tenha) (dificuldade) em

fraudar todo um sis-

tema de seguranccedila

eletrocircnico

Fraudar=fraude

seguranccedila

Que (o sistema) Permite permite inclusive o

rastreamento do autor

de eventuais tenta-

tivas de fraude

Rastreamento

Autor

fraude

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto Referente Indireto

Presidente (Ajufe) Nos (pron COD) unanimidade

Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil

Nossa corporativismo

Ajufe Desinecircncia verbal= decircitico de pessoa=lamentou

anaacutelise

Juiz Desinecircncia verbal= decircitico de pessoa=destacou

Resistecircncia

Paulo Seacutergio Domingues COD== decircitico de pessoa=lo

Medo

Presidente (OAB) Impedidos justiccedila

Comissatildeo de Informaacutetica Excluiacutedos morosidade

OAB Responsaacuteveis Judiciaacuterio

Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputados

Criacutetica

Advogado(s) Violaccedilatildeo

Domingues Seguranccedila juriacutedica

Profissionais autonomia

Tribunais credenciamento

Responsaacuteveis Profissatildeo

Categoria

Autor cadastros

Ela seguranccedila

Assinatura

Peticcedilatildeo

Fraude

Seguranccedila

rastreamento

176

A observaccedilatildeo dos elementos referenciados revelou que

a) Haacute um apagamento do enunciador que emite a Nota Oficial no texto o

juiz Paulo Seacutergio Domingues que eacute presidente da AJUFE Esse

apagamento se faz pelo emprego de diferentes formas de tratamento na

terceira pessoa do singular (ele) No entanto a Nota Oficial se natildeo for de

sua autoria seraacute feita sob sua autorizaccedilatildeo expressa pois ele eacute o

presidente da entidade

Esse apagamento eacute bastante relevante pois ao mesmo tempo em

que o juiz se afasta de si para dar credibilidade ao que se expotildee no

texto ele reafirma seu ethos Aleacutem disso o afastamento do ldquoeurdquo reforccedila

a figura do homem que estaacute atraacutes do presidente da associaccedilatildeo devido

ao emprego de seu sobrenome para se proceder agrave referenciaccedilatildeo Esse

contexto reforccedila a figura do homem que eacute ao mesmo tempo cidadatildeo juiz

e representante de seus pares

b) As outras referecircncias que satildeo realizadas se referem aos pares

profissionais seja sob a forma individual tal como em responsaacuteveis ou

autor ou sob a forma de expressotildees que indicam coletivos tal como

associaccedilatildeo comissatildeo categoria

c) A maior parte dos referentes indiretos funciona como qualificadores

positivos ou negativos das partes em questatildeo (homens a favor e

homens contra a aprovaccedilatildeo do projeto de lei) como se pode ver em

ldquoautonomiardquo ldquojusticcedilardquo ldquoseguranccedila juriacutedicardquo ldquocredenciamentordquo em

oposiccedilatildeo a ldquocorporativismordquo ldquoresistecircnciardquo ldquomedordquo ldquomorosidaderdquo

ldquoviolaccedilatildeordquo ldquofrauderdquo Esse mecanismo de qualificaccedilatildeodesqualificaccedilatildeo

das partes eacute tiacutepico de um texto que tem como objetivo argumentar e

dirigir a opiniatildeo de seu auditoacuterio-enunciataacuterio

d) A polifonia nesse texto se realiza de duas formas Ela se apresenta pelo

efeito de resposta que o texto tem a Nota Oficial eacute uma resposta agrave

criacutetica da OAB como o proacuteprio texto relata Portanto aleacutem do dialogismo

se verifica a presenccedila de uma segunda voz A voz da OAB no texto eacute

relatada portanto estaacute presente A polifonia tambeacutem se realiza pela

177

fusatildeo de vozes na voz do Dr Paulo Seacutergio Domingues a voz do

homem que acredita no que defende a voz do presidente da Associaccedilatildeo

dos Juiacutezes Federais representante de seus pares a voz de um membro

do Poder Judiciaacuterio que tem outros juiacutezes ao seu lado e portanto

representa esse Poder

e) A polifonia em conjunto com o dialogismo confere ao ethos do

enunciador uma forccedila extraordinaacuteria Essa forccedila aliada agraves estrateacutegias

argumentativas de valorizaccedilatildeo proacutepria e desvalorizaccedilatildeo do ldquoadversaacuteriordquo

eacute a estrateacutegia ideal para vencer o debate e convencer todo e qualquer

enunciataacuterio de que o enunciador tem razatildeo

Segundas Observaccedilotildees

Apoacutes as anaacutelises dos quatro textos que satildeo textos juriacutedicos mas que natildeo

satildeo textos de lei pode-se observar o seguinte

a) Em relaccedilatildeo ao subgecircnero a que pertencem conforme jaacute se

apresentou anteriormente o voto e a justificaccedilatildeo pertencem ao

subgecircnero juriacutedico legislativo e a nota oficial ao subgecircnero juriacutedico

jornaliacutestico

b) Esses trecircs textos tecircm em comum o fato de expressarem a opiniatildeo de

um enunciador (Deputada Luiza Erundina Deputado Roberto

Batochio e juiz Paulo Seacutergio Domingues) que foi eleito para o cargo

que ocupa (deputado relator e presidente das comissotildees e

presidente da AJUFE respectivamente) no momento em que emite

sua opiniatildeo

c) O fato de haver um apagamento mais ou menos pujante natildeo isenta a

condensaccedilatildeo que se faz na figura de cada um da presenccedila de

diversos ethos integrados pelos papeacuteis sociais que cada um

representa individualmente

178

d) O indiviacuteduo homem que eacute cidadatildeo e que exerce seus direitos

sociais de forma mais incidente sobretudo pelo fato de se fazer

eleger pelo povo como seu representante se reveste de poder e se

integra ao poder legislativo no caso dos deputados

Jaacute em relaccedilatildeo ao juiz haacute uma fusatildeo da entidade civil

representada pelo seu presidente ao Poder Judiciaacuterio A autoridade

conferida pelo cargo de juiz se avulta pela representatividade que

decorre do fato dele falar em nome do grupo de juiacutezes federais que

satildeo os responsaacuteveis pela defesa do que reza a Constituiccedilatildeo Federal

e) O homem representante se funde ao poder que representa

legislativo ou judiciaacuterio e se reveste da autoridade necessaacuteria

durante a emissatildeo de sua opiniatildeo apoiado em dados de pesquisa e

pelo proacuteprio status profissional com o objetivo de fazer valer a sua

opiniatildeo

Apoacutes as observaccedilotildees dos dois conjuntos de documentos pode-se fazer

uma reduccedilatildeo de cada um dos documentos apresentados conforme o modelo

abaixo

DOCUMENTO

A- ENUNCIADOR

Ethos

179

Local do ethos

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito Sujeito gramatical

Objeto de direito Objeto gramatical

C- ARGUMENTO

Valor Concreto abstrato

hierarquia Quantitativo qualitativo

180

ANAacuteLISE DDHC 1789

A- ENUNCIADOR

Ethos O POVO FRANCES

Local do ethos ASSEMBLEIA NACIONAL FRANCESA

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito HOMENS

FRANCESES CIDADAtildeOS

Sujeito gramatical

REPRESENTANTES DO POVO

FRANCES

Objeto de direito O HOMEM E O

CIDADAtildeO

Objeto gramatical DIREITOS (DO

HOMEM E DO CIDADAtildeO)

C- ARGUMENTO

Valor DIREITO Agrave

LIBERDADE E

IGUALDADE

Concreto PELO

DOCUMENTO

ESCRITO INTEGRADO

POSTERIORMENTE Agrave

CONSTITUICcedilAtildeO

Abstrato PELO

CONTEUacuteDO

Hierarquia

INTEGRADO A

CONSTITUICcedilAO

DOCUMENTO

INTERNO

Quantitativo ATINGE

TODA A POPULACcedilAtildeO

FRANCESA

Qualitativo

CONFERE A

QUALIDADE AO

HOMEM DE SER

PROTEGIDO NO

AMBITO NACIONAL

ANAacuteLISE DUCH 1948

A- ENUNCIADOR

Ethos AS NACcedilOtildeES DA ONU

Local do ethos ASSEMBLEIA GERAL DA ONU

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito HOMENS DO

MUNDO TODO

Sujeito gramatical

REPRESENTANTES NA

ASSEMBLEIA

Objeto de direito TODO HOMEM

NO MUNDO

Objeto gramatical DIREITOS

UNIVERSAIS (DO HOMEM)

C- ARGUMENTO

Valor PROTECcedilAtildeO

AMPLA DOS

DIREITOS Agrave

LIBERDADE E

IGUALDADE

Concreto PELA

ASSINATURA DO

DOCUMENTO QUE Eacute

RATI-FICADO

Abstrato PELO

CONTEUacuteDO E

OUTROS TRATADOS

QUE DELE PODEM

DECORRER

Hierarquia TEM

STATUS DE TRATADO

INTERNACIONAL

Quantitativo

ASSINADO POR 48

PAISES HOJE Eacute

ASSINADO POR

QUASE TODOS OS

NTEGRANTES DA ONU

Qualitativo CONFERE A

QUALIDADE AO HOMEM

DE SER PROTEGIDO NO

AMBITO

INTERNACIONAL

181

ANAacuteLISE CF88

A- ENUNCIADOR

Ethos POVO BRASILEIRO

Local do ethos CONGRESSO NACIONAL

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito BRASILEIROS E

ESTRANGEIROS

Sujeito gramatical NOacuteS

REPRESENTANTES DO

POVO BRASILEIRO

Objeto de direito DIREITOS E

DEVERES DOS BRASILEIROS E

ESTRANGEIROS

Objeto gramatical O

ESTADO E A SOCIEDADE

C- ARGUMENTO

Valor DIREITOS E

DEVERES

Concreto PODERES

QUE EXECUTAM A LEI

Abstrato

IGUALDADE

LIBERDADE

JUSTICcedilA

Hierarquia LEI INTERNA

QUE INTEGRA LEIS

INTERNACIONAIS

Quantitativo TODA A

POPULACcedilAtildeO QUE

RESIDE NO PAIacuteS

Qualitativo

REGULA A

VIDA DO

ESTADO E

DOS

HOMENS

ANAacuteLISE LEI 114192006

A- ENUNCIADOR

Ethos PODER EXECUTIVO LEGISLATIVO E JUDICIAacuteRIO

Local do ethos BRASILIA PRESIDEcircNCIA CASA CIVIL

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito USUAacuteRIOS DA

JUSTICcedilA

Sujeito gramatical PODER

JUDICIAacuteRIO

Objeto de direito CIDADAtildeO Objeto gramatical

INFORMATIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO

C- ARGUMENTO

Valor JUSTICcedilA PARA

TODOS

Concreto A

INFORMATIZACcedilAtildeO

Abstrato

CELERIDADE

Hierarquia LEI INTERNA

INFRACONSTITUCIONAL

Quantitativo TODOS

OS QUE SE SERVEM

DO PODER

JUDICIAacuteRIO

Qualitativo

REGULA O

FUNCIONAMENTO

DO PODER

JUDICIAacuteRIO

182

ANAacuteLISE VOTO DO DEPUTADO ROBERTO BATOCCHIO

A- ENUNCIADOR

Ethos PODER LEGISLATIVO COMISSAtildeO DE CONSTITUICcedilAtildeO E JUSTICcedilA

E DE REDACcedilAtildeO

Local do ethos PODER LEGISLATIVO CAcircMARA DOS DEPUTADOS

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito LEI 114192006 Sujeito gramatical A

COMISSAtildeO= NOacuteS

Objeto de direito APROVACcedilAO DA

PROPOSTA OU PROJETO DE LEI

Objeto gramatical A

PROPOSTA OU PROJETO DE

LEI

C- ARGUMENTO

Valor ADMISSIBILIDADE Concreto CAMARA DOS

DEPUTADOS

Abstrato

COMPETENCIA

DA COMISSAtildeO

Hierarquia VOTO

DECISIVO

Quantitativo A CAMARA

DOS DEPUTADOS

Qualitativo

APROVACcedilAtildeO

JUSTIFICACcedilAtildeO DO PROJETO DE LEI 58282001 DEPUTADA LUIZA

ERUNDINA

A- ENUNCIADOR

Ethos PODER LEGISLATIVO COMISSAtildeO DE LEGISLACcedilAtildeO

PARTICIPATIVA

Local do ethos PODER LEGISLATIVO CAMARA DOS DEPUTADOS

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito CIDADAtildeOS Sujeito gramatical O BRASIL

Objeto de direito O ANDAMENTO

DOS PROCESSOS

Objeto gramatical A

INFORMATIZACcedilAtildeO

C- ARGUMENTO

Valor ATUALIZACcedilAtildeO

DO SISTEMA

Concreto PODER

JUDICIAacuteRIO

Abstrato

AGILIDADE

Hierarquia VOTO

DECISIVO

Quantitativo A

CAMARA DOS

DEPUTADOS

Qualitativo

APROVACcedilAtildeO

183

ANAacuteLISE DA NOTA OFICIAL

A- ENUNCIADOR

Ethos AJUFE (PARTE DO PODER JUDICIAacuteRIO)

Local do ethos AJUFE BRASILIA

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito LEI 114192006 Sujeito gramatical

Objeto de direito APROVACcedilAO

DA PROPOSTA OU PROJETO DE

LEI

Objeto gramatical A PROPOSTA

OU PROJETO DE LEI

C- ARGUMENTO

Valor APROVACcedilAtildeO E

EFICAacuteCIA X

REPROVACcedilAtildeO

Concreto

CONGRESSO

NACIONAL E PODER

JUDICIAacuteRIO X OAB

Abstrato EFICAacuteCIA E

CREDIBILIDADE X

MEDO E

DIFICULDADE

Hierarquia

ASSOCIACcedilAtildeO DE

JUIacuteZES FEDERAIS X

OAB

Quantitativo PARTE

DO PODER

JUDICIAacuteRIO X

ADVOGADOS

Qualitativo

APROVACcedilAtildeO X

REPROVACcedilAtildeO

184

37Resultado das anaacutelises

O que se constatou com as anaacutelises dos documentos foi uma evoluccedilatildeo do

conceito de homem igualdade liberdade e justiccedila A evoluccedilatildeo revela os traccedilos

do dialogismo da polifonia assim como a evoluccedilatildeo dos conceitos de direito

liberdade igualdade e justiccedila As consideraccedilotildees que seguem satildeo mostradas

respeitando-se a ordem cronoloacutegica de publicaccedilatildeo de cada documento

Na DUDH de 1789 a presenccedila do termo homem se caracteriza como

pertencente a um grupo como representante do povo francecircs parte da

assembleia Sua caracterizaccedilatildeo aborda a perspectiva do individuo membro da

sociedade cidadatildeo tomado na sua individualidade diante de outrem Esse

homem eacute o mesmo que foi concebido pelo Iluminismo e que foi definido na

Encyclopeacutedie como sendo106

laquo un ecirctre sentant reacutefleacutechissant pensant qui se promegravene librement sur

la surface de la terre qui paroicirct ecirctre agrave la tecircte de tous les autres

animaux sur lesquels il domine qui vit en socieacuteteacute qui a inventeacute des

sciences et des arts qui a une bonteacute et une meacutechanceteacute qui lui est

propre qui srsquoest donneacute des maicirctres qui srsquoest fait des lois etc raquo

Esse homem de 1789 evolui com duas Grandes Guerras Mundiais e

percebe que governos e constituiccedilotildees muitas vezes natildeo satildeo suficientes para a

sua proteccedilatildeo Assim decidem fundar a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas e em

1948 promulgam a DUDH Nessa declaraccedilatildeo a liberdade a igualdade e o

direito agrave vida satildeo declarados primordiais e todos os signataacuterios se

comprometem a proteger o homem Esse homem ganha dessa forma proteccedilatildeo

e se torna sujeito de direitos universais

O homem da Constituiccedilatildeo Federal brasileira de 1988 eacute um homem que

se vecirc diante da liberdade poliacutetica que lhe tinha sido suprimida bem como

outros direitos inclusive o da vida pelo regime autoritaacuterio militar que vigorou no

106

ENCYCLOPEacuteDIE vol 8 em 02122012

httpfrwikisourceorgwikiLE28099EncyclopC3A9dieVolume_8HOMME

185

paiacutes entre os anos 60 e 80 Por isso esse homem tem seus direitos bem

detalhados pelo artigo 5deg que possui setenta e oito incisos atualmente A

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 protege o homem auferindo-lhe diversos direitos

individuais poliacuteticos e sociais

O homem que natildeo aparece na lei 114192006 da Informatizaccedilatildeo

Judicial eacute o seu beneficiaacuterio direto pois atraveacutes do que estabelece a lei todo o

sistema do Poder Judiciaacuterio poderaacute ser informatizado tornando a justiccedila aacutegil e

permitindo um maior acesso dos cidadatildeos aos recursos que o Poder Judiciaacuterio

lhe oferece para fazer valer seus direitos

O voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio e a justificaccedilatildeo da Deputada

Luiza Erundina satildeo a expressatildeo da democracia e do controle que o proacuteprio

cidadatildeo faz do sistema legislativo do Paiacutes Ao aprovar o projeto da lei de

informatizaccedilatildeo judicial os deputados representam natildeo soacute a opiniatildeo teacutecnica da

comissatildeo mas a vontade de seus eleitores

O homem representado na Nota Oficial eacute o que representa melhor a

expressatildeo da democracia brasileira e da modernidade do sistema de governo

Pois ao se verificar a fusatildeo do juiz que representa o Poder Judiciaacuterio e

tambeacutem seus colegas juiacutezes como presidente da Associaccedilatildeo que enviou o

projeto de lei ao Poder Legislativo percebe-se uma circularidade que beneficia

aparentemente o proacuteprio Poder Judiciaacuterio cujos benefiacutecios seratildeo colhidos

pelos usuaacuterios da justiccedila isto eacute os homens sejam eles advogados

funcionaacuterios ou partes de um processo Esse mecanismo que permite uma

maior igualdade entre os homens visto que os processos poderatildeo ser julgados

mais rapidamente natildeo havendo hesitaccedilatildeo em se recorrer a um Poder

Judiciaacuterio lento poderia ser assim representado

186

PODER

LEGISLATIVO

PODER

JUDICIAacuteR

IO

AJUFE

Esse homem reformulado e distante historicamente da definiccedilatildeo

proposta por Diderot e DrsquoAlembert no entanto eacute hoje bem mais proacuteximo do

homem ideal proposto pelos dois enciclopedistas do que o homem de 1751

quando foi publicado seu primeiro volume Ao longo do tempo o consenso

sobre alcanccedilar justiccedila deixou de ser ideal para se tornar real pois eacute um valor

partilhado pela sociedade

O texto constitucional brasileiro preserva a identidade individual social

econocircmica poliacutetica e cultural do homem ao mesmo tempo em que o coloca

sob a proteccedilatildeo de tratados relativos ao direito do homem e tambeacutem dos

tratados internacionais assinados pelo Brasil

O fato de o texto constitucional conter no seu artigo 5o na parte que

trata das direitos e garantias fundamentais a previsatildeo para uma prestaccedilatildeo

ceacutelere dos serviccedilos de administraccedilatildeo publica e da justiccedila num inciso acrescido

em 2004 atraveacutes da Emenda Constitucional ndeg 45 isto eacute quinze anos apoacutes a

PODER

EXECUTI

VO

PODER

JUDICIAacuteRIO

HOMEM

187

publicaccedilatildeo do texto primeiro indica a flexibilidade para a soluccedilatildeo de novos

problemas e o enfrentamento de desafios Isso explica o perfil do Brasil diante

da comunidade internacional e o destaque que o paiacutes recebe nas relaccedilotildees

externas107

107

De acordo com o que expotildee Paulo Borba CASELLA (2008298) em direito internacional poacutes-

modernordquocomo ademais se verifica em qualquer ramo do conhecimento humano deve acontecer a

inevitaacutevel combinaccedilatildeo entre teacutecnica espiacuterito e utopiardquo Eacute exatamente isso o que a lei 114192006 permite

ao possibilitar a informatizaccedilatildeo do sistema do Poder Judiciaacuterio para acelerar a prestaccedilatildeo jurisdicional ao

cidadatildeo

188

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao se efetuar as anaacutelises dos textos de acordo com o fenocircmeno da

reformulaccedilatildeo o que se verificou eacute que havia conceitos em destaque dentro dos

textos do corpus conceitos esses que natildeo satildeo exatamente os mesmos nos

diferentes textos

A proposta desta tese era a de responder a alguns questionamentos

referentes ao homem considerada a questatildeo da transversalidade do tema a

fim de se perceber se o homem que estava na primeira declaraccedilatildeo de direitos eacute

o mesmo homem do seacuteculo XXI Tambeacutem se pretendeu saber se os conceitos

formulados de direitos justiccedila igualdade liberdade continuavam vaacutelidos tal

qual foram postos haacute mais de dois seacuteculos e se deixavam rastros em outros

documentos juriacutedicos No caso de ter havido mudanccedilas a intenccedilatildeo era a de

saber quais foram elas e por que ocorreram Outra questatildeo que se pretendeu

tratar era a de saber se era possiacutevel a interferecircncia de um sistema juriacutedico em

outro e em caso afirmativo como isso se processava como se verificava e

como se justificava Por uacuteltimo havia a intenccedilatildeo de se proceder a uma

classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos levando-se em consideraccedilatildeo a questatildeo do

gecircnero

Em funccedilatildeo do quadro teoacuterico apresentado e das noccedilotildees estudadas a

que pareceu mais importante aleacutem do princiacutepio dialoacutegico e polifocircnico que

regem os textos foi a noccedilatildeo de ethos percebida por meio da anaacutelise dos

textos Tomado como expressatildeo do EU do orador diante de um auditoacuterio a fim

de formar uma impressatildeo sobre este e defender seu argumento eacute o ethos que

mais se destaca nos excertos examinados

Dentro da Nova Retoacuterica perelmaniana o ethos se constroacutei formando-se

a partir de uma loacutegica apoiada pela razatildeo sempre considerando o que eacute justo

o que eacute razoaacutevel Tambeacutem se fortalece na medida em que eacute retomado e

transformado de um documento para o outro O homem enquanto sujeito de

direito surge no primeiro texto se reforccedila (ldquotodo homem tem direito agrave justiccedilardquo) e

se apaga na medida em que alcanccedila uma parte do que almeja desaparecendo

materialmente do texto escrito pois torna-se titular do direito de receber (ser

189

contemplado) por uma justiccedila ceacutelere Mesmo que ainda longe do ideal o

homem do seacuteculo XXI eacute detentor de um ethos bem mais forte do que o homem

de trecircs seacuteculos atraacutes

O orador ou enunciador ao entrar em contato com o enunciataacuterio

(auditoacuterio) expotildee o seu argumento Este processo se apresenta aqui pelos

textos escritos que se dirigem pelo seu conteuacutedo a um auditoacuterio jaacute

determinado Esses textos representam um resultado do seu processo de

produccedilatildeo pois antes de sua redaccedilatildeo final houve uma reflexatildeo e em alguns

casos debate

Isso implica dizer que o enunciador tem um projeto delineado de

apresentaccedilatildeo de seu(s) argumento(s) Esse projeto se revela no texto na

medida em que o enunciador mostra sua intenccedilatildeo e modifica e transforma esse

argumento a fim de adaptaacute-lo agraves suas necessidades A intenccedilatildeo do enunciador

eacute persuadir seu auditoacuterio e ao fazer isso tambeacutem revela e constroacutei seu ethos

O argumento que precede os outros eacute o de autoridade que eacute inerente ao

discurso juriacutedico pois eacute consequente do gecircnero e subgecircneros dos textos Isto

ocorre porque uma declaraccedilatildeo com efeitos juriacutedicos e neste caso ambas a

DDHC1789 e a DUDH1948 aleacutem de declararem seu conteuacutedo tambeacutem

explicam e estabelecem paracircmetros A constituiccedilatildeo por sua vez aleacutem de

declarar e estabelecer organiza a vida das pessoas e do sistema poliacutetico

econocircmico e social assim como a lei federal

O voto do deputado Joseacute Roberto Batochio e a justificaccedilatildeo da Deputada

Luiza Erundina satildeo de caraacuteter decisoacuterio e justificativo e por isso tambeacutem

estabelecem explicam declaram que o projeto de lei deve ser aprovado Por

fim a nota oficial eacute uma declaraccedilatildeo que rebate um argumento defendendo a

criacutetica da sua proposta de lei

A persuasatildeo se concretiza no caso das declaraccedilotildees constituiccedilatildeo e lei

pelo seu caraacuteter oficial e de aplicaccedilatildeo os textos-resultados satildeo publicados e

referendados pelo(s) paiacutes(es) a que se destinam Isto resulta da autoridade que

eacute conferida ao ethos do qual se revestiu cada enunciador

190

Em relaccedilatildeo aos votos isso ocorre em razatildeo do caraacuteter funcional dos

deputados que devem dar um parecer neste caso favoraacutevel pois cabe ao

deputado julgar o projeto de lei em seus diferentes aspectos Isto tambeacutem se

aplica na Nota Oficial cujo caraacuteter eacute tambeacutem funcional cabendo ao presidente

da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais responder agrave critica feita pela OAB ao

projeto de lei

O caraacuteter dos documentos eacute portanto de obrigatoriedade

Obrigatoriedade por parte do orador-enunciador que apresenta um documento

que eacute consenso e que estaacute autorizado a publicar

Esses documentos apresentam ainda uma imagem do enunciador-

orador Essa imagem eacute diacrocircnica (ambivalente) pois de um lado apresenta o

que eacute resultado da obrigaccedilatildeo e que por conseguinte natildeo poderia deixar de

ser feito Por outro lado natildeo haacute como dizer que natildeo existe um direcionamento

do ethos do enunciador

Todos os documentos apresentados satildeo de caraacuteter poliacutetico-social e

portanto reproduzem um ethos que eacute direcionado por um vetor ideoloacutegico que

se ajusta ao tempo histoacuterico e agrave necessidade mas de autoridade indubitaacutevel Eacute

o ethos que conduz o enunciataacuterio ao caminho escolhido para atingir o objetivo

do enunciador que eacute fazer com que se concretize o que estaacute disposto nos

documentos Para tanto os enunciados precisam de clareza convincente em

seu conteuacutedo

Conveacutem lembrar aqui que o ethos no caso dos documentos desse

corpus eacute um ethos individual de cada homem que foi responsaacutevel pela

elaboraccedilatildeo do documento mas tambeacutem um ethos coletivo visto que

representa um grupo social um partido poliacutetico uma naccedilatildeo uma associaccedilatildeo

conforme o caso O ethos final do enunciador dos documentos eacute resultado da

soma de vaacuterios outros ethos individuais e coletivos

Seria improvaacutevel senatildeo impossiacutevel que um enunciador que fosse

contra o projeto argumentativo dos textos juriacutedicos apenas exercesse seu papel

de representante e defendesse um ponto de vista em que natildeo acreditasse

191

Em relaccedilatildeo aos contextos de produccedilatildeo e ao contexto cultural todos os

documentos apontam uma eacutepoca de evoluccedilatildeo social com mudanccedilas

significativas de comportamento do homem quebra dos regimes monaacuterquicos

absolutistas fim das atrocidades cometidas com as evoluccedilotildees das maacutequinas e

dos artefatos de guerra fim de um periacuteodo de regime autoritaacuterio teacutermino de

decisotildees diferentes no que se refere agrave introduccedilatildeo de tecnologia de ponta para

a celeridade do julgamento dos processos no Poder Judiciaacuterio

Todos os documentos representam marcos histoacutericos dentro ou fora de

uma naccedilatildeo Todos trouxeram consequecircncias que modificaratildeo para sempre os

habitus do homem Provocaram e provocaratildeo consequecircncias importantes na

sociedade

O auditoacuterio a que se dirigem os documentos eacute de caraacuteter universal

porque atinge todos os membros do grupo devido ao caraacuteter dos documentos

As duas declaraccedilotildees dirigem-se aos franceses e a todos que estatildeo protegidos

pela ONU (paiacuteses com seus habitantes) A constituiccedilatildeo brasileira eacute endereccedilada

aos brasileiros e estrangeiros residentes no Paiacutes assim como a lei federal

114192006 Os votos dos deputados dirigem-se ao Congresso Nacional e a

nota oficial eacute publicada para o conhecimento geral sendo publicada no website

da instituiccedilatildeo

O argumento do enunciador eacute desenvolvido com um objetivo conforme

jaacute foi dito Este objetivo leva o enunciador a traccedilar um percurso escolhendo o

que vai fazer figurar e o que iraacute privilegiar Assim no argumento eacute possiacutevel

servindo-se de um percurso ideoloacutegico destacar valorativamente o que

interessa ao projeto Todos os documentos de forma expliacutecita ou impliacutecita

defendem por exemplo o direito do homem agrave liberdade agrave igualdade e agrave

justiccedila O que difere eacute o grau em que se apresentam esses valores que se

especificam mais com o passar do tempo

O exame dos diferentes textos levou agrave constataccedilatildeo de que o que era

privilegiado pelo enunciador era sempre o homem O homem aparece em

praticamente todos os documentos analisados seja pelo emprego do proacuteprio

termo homem ou reformulado Os outros termos relevantes que surgem nos

192

textos satildeo aqueles que se relacionam ao homem eacute o homem quem tem

direitos que satildeo especificados sob os princiacutepios de liberdade igualdade e

justiccedila As operaccedilotildees de reformulaccedilotildees permitiram assim perceber a evoluccedilatildeo

dos termos expressotildees e conceitos que se referem ao homem

193

REFEREcircNCIAS

ADAM Jean-Michel Eleacutements de linguistique textuel Liegravege Pierre

Mardaga 1990

______ A linguiacutestica textual introduccedilatildeo agrave anaacutelise textual do discurso

Satildeo Paulo Cortez editora 2008

______ HEIDMANN Ute e MAINGUENEAU Dominique Anaacutelises

textuais e discursivas metodologia e aplicaccedilotildees Satildeo Paulo Cortez

editora 2010

ALEXY Robert Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Satildeo Paulo Landy Ed

2001

ALVES Alaor Caffeacute Loacutegica Pensamento formal e Argumentaccedilatildeo Satildeo

Paulo Quartier Latin 2003

AMOSSY Ruth O ethos na intersecccedilatildeo das disciplinas retoacuterica

pragmaacutetica sociologia dos campos In AMOSSY Ruth (Org)Imagens

de si no discurso a construccedilatildeo do ethos Trad Diacutelson Ferreira da Cruz

Fabiana Komesu Siacuterio Possenti Satildeo Paulo Contexto 2005 p 119-143

ARRIVEacute M GADET F GALMICHE M La grammaire drsquoaujourdrsquohui

Paris Flammarion 1986

AUBERT Jean-Luc Introduction au Droit et thegravemes fondamentaux du

droit civil Paris Ed Dalloz Armand Collin 1998

AUBRY Charles Cours de droit civil franccedilais Paris Marchal Billard et

Cie Libraire de la Cour de Cassation 1878

AUTHIER-REVUZ Jacqueline Heacuteteacuterogeacuteneiteacute(s) eacutenonciative(s) In

Langages 19e anneacutee ndeg 73 Les Plans dEacutenonciation Mars 1984 p98-111

BACHMAN Christian LINDEFELD Jacqueline et SIMONIN Jacky

Langage et Communications Sociales Collection LAL Paris Didier

Hatier 1991

194

BAKHTIN Mikhail laquo Les genres do discours I ndash Probleacutematique et

deacutefinition raquo Estheacutetique de la creacuteation verbale Paris Gallimard 1984 p

265-272

______ Os gecircneros do discurso Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo

Martins Fontes2003

______ Pour une philosophie de lrsquoacte Paris LrsquoAge drsquoHomme 2003

______ (Voloshinov-1929) Marxismo e Filosofia da Linguagem Trad M

Lahud e Y F Vieira Satildeo Paulo Hucitec 1979

______ (Voloshinov-1929) Le marxisme et la philosophie du langage

Paris Les Eacuteditions de Minuit 1977

BEACCO Jean-Claude Les genres textuels dans lrsquoanalyse du discours

eacutecriture leacutegitime et communauteacutes translangagiegraveres Langages 26e

anneacutee nordm 105 Mars 92 Ethnolinguistique de lrsquoeacutecrit p 8-27

______ DAROT M Pour lire les sciences sociales une analyse de

discours nordm 4752 amm-fhjcb Paris BELC 1978

BERTHO F BORDENAVE ML Droit Notions Essentielles Paris

Nathan 1990

BEVILAQUA Cloacutevis Liccedilotildees de Legislaccedilatildeo Comparada Bahia Livraria

Magalhatildees 1897

BITTAR Eduardo Carlos Bianca Linguagem juriacutedica Satildeo Paulo Ed

Saraiva 2003

BOBBIO Norberto O Positivismo Juriacutedico Trad Maacutercio Pugliesi Satildeo

Paulo Iacutecone 1995

______ A era dos direitos Trad Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro

Elsevier 2004

BOISSINOT Alain Les textes argumentatifs Toulouse Bertrand

Lacoste 1996

195

BOURDIEU Pierre Ce que parler veut dire Paris Fayard 1987

______ Le sens pratique Paris Eacuteditions de Minuit 1980

BRAIT Beth Bakhtin conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2005

______ Bakhtin outros conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2006

BRANDAtildeO Helena Nagamine Introduccedilatildeo agrave Anaacutelise do Discurso

Campinas Ed Unicamp 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Satildeo Paulo

Saraiva 1997

CARRAS Catherine TOLAS Jacqueline KHOLER Patricia SZILAGYI

Eacutelisabeth Le franccedilais sur objectifs speacutecifiques Paris Cleacute International

2007

CASELLA Paulo Borba Fundamentos do Direito Internacional Poacutes-

moderno Satildeo Paulo Quartier Latin 2006

______ ACCIOLY Hildebrando GEdo Nascimento e Silva Manual de

Direito Internacional Puacuteblico Satildeo Paulo Editora Saraiva 2008

CERDA-GUZMAN Carolina Une recodification des droits fondamentaux

pour un nouveau controcircle de constitutionnaliteacute Constitution droits

et devoirs Actes du VIIe Congregraves franccedilais de droit constitutionnel Paris

2008 (httpwwwdroitconstitutionnelorgcongresParisatelierP8html)

CHALLE Odile Enseigner le franccedilais de speacutecialiteacute Paris Econocircmica

2002

CHARAUDEAU Patrick Langue discours et identiteacute culturelle ELA

32001(nordm 123-124) p341-348

______ Grammaire du sens et de lrsquoexpression Paris Hachette

Collection Education 1992

______ Discurso PoliacuteticoSatildeo Paulo Contexto 2008

196

______ Linguagem e Discurso Modos de organizaccedilatildeoSatildeo Paulo

Contexto 2009

______ MAINGUENEAU Dominique Dictionnaire drsquoAnalyse du

Discours Paris Seuil 2002

CORNU Geacuterard Linguistique Juridique Paris Montchrestien 2005

______ Vocabulaire Juridique Paris PUF Quadrige 2003

CRETELLA Juacutenior Joseacute Comentaacuterios agrave constituiccedilatildeo brasileira de 1988

Vol I e II Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1994

CUNHA Celso Gramaacutetica do Portuguecircs Contemporacircneo Rio de

Janeiro Padratildeo Livraria Editora 1983

CUNHA Antonio Geraldo da Os estrangeirismos da liacutengua portuguesa

vocabulaacuterio histoacuterico-etimoloacutegico Satildeo Paulo Humanitas 2003

DAMETTE Eacuteliane Didactique du franccedilais juridique Paris LrsquoHarmattan

2007

DAMIAtildeO Regina Toledo HENRIQUES Antonio Curso de portuguecircs

juriacutedico Satildeo Paulo Atlas 2000

DANTAS Ivo Direito Comparado como Ciecircncia Brasiacutelia Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa nordm 134 1997

DAVID Reneacute Major Legal Systems in the world today 3rd ed London

Stevens amp Sons 1985

DAVID Reneacute et JAUFFRET-SPINOSI Camille Les grands systegravemes de

droit contemporain Paris Dalloz 1992

DEL VECCHIO Giorgio La deacuteclaration des droits de lrsquohomme et du

citoyen dans la Reacutevolution Franccedilaise Trad Antoinette Pellevant Gini

Fondation Europeacuteenne Dragan Rome ndash Foro Traiano 1 Paris LGDJ 1968

DOLINGER Jacob The Influence of American Constitutional Law on

the Brazilian Legal System nordm 4 vol 38 The American Journal of

Comparative Law Fall 1990

197

______ Unconscionability around the world seven perspectives on

the contractual practice nordm 3 vol 14 Loyola of Los Angeles International

and comparative Law July 1992

DUARTE Eacutecio Oto Ramos O R Teoria do Discurso e Correccedilatildeo

Normativa do Direito Satildeo Paulo Landy 2004

DUCROT Oswald Le dire et le di Paris Minuit 1984

ELA ndash La reformulation pratiques problegravemes et propositions Coord

Claudine Normand No68 Paris Didier Eacuterudition 1987

EacuteLA - Vocabulaires de speacutecialiteacute et lexicographie drsquoapprentissage en

langues-cultures eacutetrangegraveres et maternelles Coord LINO Maria Teresa nordm

135 Paris Didier 2004

FARACO Carlos Alberto TEZZA Cristoacutevatildeo CASTRO Gilberto Org Beth

Brait [et al] Diaacutelogos com Bakhtin Curitiba UFPR 2007

FARACO MOURA E MARUXO Gramaacutetica 20a ed Satildeo Paulo Atica

2006

FARIA Joseacute Eduardo A cultura e as profissotildees juriacutedicas numa

sociedade em transformaccedilatildeo Formaccedilatildeo juriacutedica Org Joseacute Renato Nalini

Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 1999

FAVERO L M Coesatildeo e Coerecircncia Textuais Satildeo PauloEd Aacutetica 2002

FAVRE Pierre La constitution dune science du politique le

deacuteplacement de ses objets et ldquolrsquoirruption de lrsquohistoire reacuteelle Revue

franccedilaise de science politique wwwperseefr 1983

FIORIN Joseacute Luiz Interdiscursividade e IntertextualidadeOrg BRAIT

Beth Bakhtin outros conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2006

GILISSEN J Introduccedilatildeo Histoacuterica ao DireitoTrad Hespanha AM e

Malheiros IMMacaiacutesca cap 2 Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian

2001

198

GODECHOT Jean Lexpansion de la Deacuteclaration des droits de

lhomme de 1789 dans le monde Annales historiques de la Reacutevolution

franccedilaise wwwperseefr 1978

GRILLO Sheila Vieira de Camargo Esfera e campo Org BRAIT Beth

Bakhtin outros conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2006

ISAAC Jules et MALETAlbert Lrsquo Histoire La naissance du Monde

moderne 1848-1914 Paris Hachette 1961

ISHIHARA Tokiko Discours rapporteacutes reformulation et sens Linx

(Nanterre) Franccedila v 1 p 43-52 1998

______ Leitura e enunciaccedilatildeo a pluralidade de vozes no discurso da

imprensa In X Congresso de Leitura do Brasil (COLE) 1995 Campinas

Anais do X COLE 1995

JELLINEK George La deacuteclaration des droits de lrsquohomme et du citoyen

Trad Georges FARDIS Paris Albert Fontemoing 1902

KELSEN H Teoria Pura do Direito Trad Cretella J Jr e Cretella A Satildeo

Paulo Ed Revista dos Tribunais 2003

KOCH Ingedore G Vilaccedila O texto e a construccedilatildeo dos sentidos Satildeo

Paulo Contexto 2003

______ Argumentaccedilatildeo e Linguagem Satildeo Paulo Editora Cortez 2011

LEHMANN D MARIET F MARIET J MOIRAND S Lecture fonctionnelle

de textes de speacutecialiteacute Didier Credif 1980

LEGEAIS Raymond Les grands systegravemes de droit contemporains

Paris Litec 2004

LEVY Maria Stella Ferreira (org) Linguagem e suas aplicaccedilotildees no

direito Satildeo Paulo Paulistana 2006

MAINGUENEAU Dominique Anaacutelise de Textos de Comunicaccedilatildeo Satildeo

Paulo Ed Cortez 2002

______ Lrsquoeacutenonciation en linguistique franccedilaise Paris Hachette 1999

199

______ Les termes cleacutes de lrsquoanalyse du discours Paris Seuil 1996

______ Aborder la linguistique Paris Seuil 1996

______Lrsquoethos de la rheacutetorique agrave lrsquoanalyse du discours

httpdominiquemaingueneaupagesperso-orangefrintro_companyhtml

2002 Acesso em 22122012

MANGIANTE Jean-Marc PARPETTE Chantal Le Franccedilais sur Objectif

Speacutecifique de lrsquoanalyse des besoins agrave lrsquoeacutelaboration drsquoun cours Paris

Hachette 2004

MARCHI Eduardo C Silveira Guia de Metodologia Juriacutedica Satildeo Paulo

Saraiva 2009

MARCUSCHI Luiz Antonio Leitura como processo inferencial num

universo cultural cognitivo In Barzotto Estado de Leitura Campinas

Mercado das Letras 1999

MARIE Jean-Bernard La Comission des Droits de lrsquoHomme de lrsquo ONU

Paris Eacuteditions A Pedone 1975

MARTINS Ives Gandra da Silva A cultura do jurista In Formaccedilatildeo

juriacutedicaOrg Joseacute Renato Nalini Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

1999

MAXIMILIANO Carlos Hermenecircutica e Aplicaccedilatildeo do Direito Rio de

Janeiro Ed Forense 1998

MOIRAND Sophie Deacutecrire des discours de speacutecialiteacute in Lenguas para

fines especiacuteficos (III) actes du colloque organiseacute par lrsquouniversiteacute Alcala de

Henares les 15-17 novembre 1993 Universiteacute Alcala de Henares 1994 p

79-91

MONTEIRO Washington de Barros Curso de Direito Civil ndash Parte geral

Vol 1 Satildeo Paulo Saraiva 1971

200

MONTESQUIEU Charles-Louis de Secondat Esprit des lois Livres I-V

Paris Libraire Ch Delagrave1887 in Bibliothegraveque nationale de France in

httpgallica2bnffrark12148bpt6k55507712 Acesso em 22122012

______ Do Espiacuterito das Leis Trad CARDOSO FH e RODRIGUES LM

cap V Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do Livro 1962

MORAES Alexandre de Constituiccedilatildeo do Brasil interpretada e

legislaccedilatildeo constitucional 8ordf Ed Atualizada ateacute a EC no 6710 ndash Satildeo

Paulo Atlas 2011

MORTUREUX Marie-Franccediloise Paradigmes deacutesignationnels Semen [En

ligne] 8 | 1993 mis en ligne le 06 juillet 2007 Acesso em 20092012

httpsemenrevuesorg4132

MOSCA Lineide do Lago Salvador Retoacutericas de Ontem e de hoje Org

MOSCA Lineide do Lago Salvador 3ordf ed Satildeo Paulo Humanitas 2004

MOURLHON-DALLIES F Enseigner une langue agrave des fins

professionnelles Collection Langues et Didactiques Paris Didier2008

NALINI Joseacute Renato Formaccedilatildeo juriacutedica Satildeo Paulo Editora Revista dos

Tribunais 1999

NUNES Pedro dos Reis Dicionaacuterio de tecnologia juridica Rio de

Janeiro Freitas Bastos 1982

OLEacuteRON Pierre Lrsquoargumentation Paris Presses Universitaires de

France 1996

PASQUARELLI Maria Luiza Rigo Normas para apresentaccedilatildeo de

trabalhos acadecircmicos Osasco Edifieo 2009

PEIXOTO Paulo Matos Vocabulaacuterio Juriacutedico Satildeo Paulo Paumape 1993

PELISSE Jeacuterome A-t-on conscience du droit Autour des Legal

Consciousness Studies Genegraveses ndeg 59 httpwwwcairninforevue-

geneses-2005-2-p-114htm 2005 Acesso em 22122012

201

PEREIRA Caio Maacuterio da Silva Instituiccedilotildees de Direito Civil Rio de

Janeiro Forense 1991 vol 1 pp 3-20

PENFORNIS J L Le Franccedilais du Droit Cleacute International 1998

PERELMAN Chaim Loacutegica juriacutedica nova retoacuterica Satildeo Paulo Martins

Fontes 2004

______ OLBRECHTS-TYTECA Lucie Tratado da argumentaccedilatildeo a

nova retoacuterica Bruxelles Ed de lrsquoUniversiteacute de Bruxelles 1976 Trad Maria

Ermantina Galvatildeo G Pereira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 [1958]

______ OLBRECHTS-TYTECA Lucie Traiteacute de lrsquoargumentation 3e ed

Bruxelles Ed de lrsquoUniversiteacute de Bruxelles 1976

PETRI Maria Joseacute Constantino Manual de linguagem juriacutedica Satildeo

Paulo Editora Saraiva 2011

PEYTARD Jean Langue franccedilaise Ndeg64 1984 Franccedilais technique et

scientifique reformulation enseignement

httpwwwperseefrwebrevueshome prescriptissuelfr_0023-

8368_1984_num_64_1 Acesso em 20092012

PLANTIN Christian Essais sur l lsquoargumentation Paris Eacuted Kimeacute 1990

______ Lrsquoargumentation Paris Ed du Seuil 1996 (Meacutemo)

ROBERT Paul Le petit Robert Paris Robert 1986

ROBLES Gregoacuterio O direito como texto quatro textos de teoria

comunicacional do direito Barueri Manole 2005

RODRIGUES Silvio Direito Civil ndash Parte Geral Vol 1Satildeo Paulo Saraiva

1993

SAacute Elisabeth Schneider de Manual de normalizaccedilatildeo de trabalhos

cientiacuteficos e culturais Petroacutepolis Vozes 1994

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos Direitos Fundamentais Porto

Alegre Livraria do Advogado Editora 2008

202

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do Trabalho Cientiacutefico Satildeo

Paulo Cortez 2007

SILVA De Plaacutecido e Vocabulaacuterio Juriacutedico Rio de Janeiro Editora

Forense 2004

SILVA Joseacute Afonso da Curso de direito constitucional positivo 9 ed

rev e ampl de acordo com a nova Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros

1992

SOARES A SANTOS MJ Dicionaacuterio do Tradutor Francecircs-Portuguecircs

Faro Editor Noecircmio Ramos 2003

SOIGNET M Le Franccedilais Juridique Paris Ed Hachette e CCIP 2003

THOMASSET C Lire le droit langue texte cognition Bourcier D

Mackay P Libraire Geacuteneacuterale de Droit et de Jurisprudence 1992

TODOROV Tzvetan Mikhail Bakhtin le principe dialogique Paris

Seuil 1981

VANNIER Guillaume Argumentation et droit Paris Presses

Universitaires de France 2001

VERDOODT Albert Naissance et signification de la Deacuteclaration

Universelle des Droits de lrsquoHomme Luvain-Paris Eacuteditions Nauwelaerts

1963

WISE Edward M The Transplant of Legal Patterns In The American

Journal of Comparative Law vol 38 Supplement U S Law in an Era of

Democratization1990 pp 1-22

WOJTYCZEK K Les fonctions de la constitution eacutecrite dans le

contexte de la mondialisation In Lrsquoeacutevolution des concepts de la doctrine

classique de droit constitutionnel dir Genoveva Vrabie Iasi Institut

Europeacuteen 2008

203

ANEXOS

DOCUMENTO I Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo de

1789205

204

DOCUMENTO II Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de

1948209

DOCUMENTO III Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de

1988218

DOCUMENTO IV Lei 114192006230

DOCUMENTO IVa APRESENTACcedilAtildeO242

DOCUMENTO IVb Voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio244

DOCUMENTO IVc Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada

Luiza Erundina 247

DOCUMENTO IVd Nota oficial de 1962002252

DOCUMENTO IVe Notiacutecia de 682002254

DOCUMENTO IVf Carta Aberta IJURIS 255

DOCUMENTO V Paacutegina do Tribunal Regional Federal 3ordf Regiatildeo257

DOCUMENTO I

DEacuteCLARATION DES DROITS DE LrsquoHOMME ET DU CITOYEN DE 1789

205

Les Repreacutesentants du Peuple Franccedilais constitueacutes en Assembleacutee nationale

consideacuterant que lrsquoignorance lrsquooubli ou le meacutepris des droits de lrsquohomme sont les

seules causes des malheurs publics et de la corruption des Gouvernements

ont reacutesolu drsquoexposer dans une Deacuteclaration solennelle les droits naturels

inalieacutenables et sacreacutes de lrsquohomme afin que cette Deacuteclaration constamment

preacutesente agrave tous les membres du corps social leur rappelle sans cesse leurs

droits et leurs devoirs afin que les actes du pouvoir leacutegislatif et ceux du

pouvoir exeacutecutif pouvant ecirctre agrave chaque instant compareacutes avec le but de toute

institution politique en soient plus respecteacutes afin que les reacuteclamations des

citoyens fondeacutees deacutesormais sur des principes simples et incontestables

tournent toujours au maintien de la Constitution et au bonheur de tous En

conseacutequence lrsquoAssembleacutee nationale reconnaicirct et deacuteclare en preacutesence et sous

les auspices de lrsquoEcirctre Suprecircme les droits suivants de lrsquohomme et du citoyen

Article premier

Les hommes naissent et demeurent libres et eacutegaux en droits Les distinctions

sociales ne peuvent ecirctre fondeacutees que sur lrsquoutiliteacute commune

Article II

Le but de toute association politique est la conservation des droits naturels et

imprescriptibles de lrsquohomme Ces droits sont la liberteacute la proprieacuteteacute la sucircreteacute et

la reacutesistance agrave lrsquooppression

Article III

Le principe de toute Souveraineteacute reacuteside essentiellement dans la Nation Nul

corps nul individu ne peut exercer drsquoautoriteacute qui nrsquoen eacutemane expresseacutement

Article IV

La liberteacute consiste agrave pouvoir faire tout ce qui ne nuit pas agrave autrui ainsi

lrsquoexercice des droits naturels de chaque homme nrsquoa de bornes que celles qui

assurent aux autres Membres de la Socieacuteteacute la jouissance de ces mecircmes droits

Ces bornes ne peuvent ecirctre deacutetermineacutees que par la Loi

206

Article V

La Loi nrsquoa le droit de deacutefendre que les actions nuisibles agrave la Socieacuteteacute Tout ce qui

nrsquoest pas deacutefendu par la Loi ne peut ecirctre empecirccheacute et nul ne peut ecirctre contraint

agrave faire ce qursquoelle nrsquoordonne pas

Article VI

La Loi est lrsquoexpression de la volonteacute geacuteneacuterale Tous les Citoyens ont droit de

concourir personnellement ou par leurs Repreacutesentants agrave sa formation Elle doit

ecirctre la mecircme pour tous soit qursquoelle protegravege soit qursquoelle punisse Tous les

Citoyens eacutetant eacutegaux agrave ses yeux sont eacutegalement admissibles agrave toutes digniteacutes

places et emplois publics selon leur capaciteacute et sans autre distinction que celle

de leurs vertus et de leurs talents

Article VII

Nul homme ne peut ecirctre accuseacute arrecircteacute ni deacutetenu que dans les cas deacutetermineacutes

par la Loi et selon les formes qursquoelle a prescrites Ceux qui sollicitent

expeacutedient exeacutecutent ou font exeacutecuter des ordres arbitraires doivent ecirctre punis

mais tout Citoyen appeleacute ou saisi en vertu de la Loi doit obeacuteir agrave lrsquoinstant il se

rend coupable par la reacutesistance

Article VIII

La Loi ne doit eacutetablir que des peines strictement et eacutevidemment neacutecessaires et

nul ne peut ecirctre puni qursquoen vertu drsquoune Loi eacutetablie et promulgueacutee

anteacuterieurement au deacutelit et leacutegalement appliqueacutee

Article IX

Tout homme eacutetant preacutesumeacute innocent jusqursquoagrave ce qursquoil ait eacuteteacute deacuteclareacute coupable

srsquoil est jugeacute indispensable de lrsquoarrecircter toute rigueur qui ne serait pas neacutecessaire

pour srsquoassurer de sa personne doit ecirctre seacutevegraverement reacuteprimeacutee par la Loi

Article X

207

Nul ne doit ecirctre inquieacuteteacute pour ses opinions mecircme religieuses pourvu que leur

manifestation ne trouble pas lrsquoordre public eacutetabli par la Loi

Article XI

La libre communication des penseacutees et des opinions est un des droits les plus

preacutecieux de lrsquoHomme tout Citoyen peut donc parler eacutecrire imprimer librement

sauf agrave reacutepondre de lrsquoabus de cette liberteacute dans les cas deacutetermineacutes par la Loi

Article XII

La garantie des droits de lrsquoHomme et du Citoyen neacutecessite une force publique

cette force est donc institueacutee pour lrsquoavantage de tous et non pour lrsquoutiliteacute

particuliegravere de ceux auxquels elle est confieacutee

Article XIII

Pour lrsquoentretien de la force publique et pour les deacutepenses drsquoadministration une

contribution commune est indispensable Elle doit ecirctre eacutegalement reacutepartie entre

tous les Citoyens en raison de leurs faculteacutes

Article XIV

Tous les Citoyens ont le droit de constater par eux-mecircmes ou par leurs

Repreacutesentants la neacutecessiteacute de la contribution publique de la consentir

librement drsquoen suivre lrsquoemploi et drsquoen deacuteterminer la quotiteacute lrsquoassiette le

recouvrement et la dureacutee

Article XV

La Socieacuteteacute a le droit de demander compte agrave tout Agent public de son

administration

Article XVI

Toute Socieacuteteacute dans laquelle la garantie des Droits nrsquoest pas assureacutee ni la

seacuteparation des Pouvoirs deacutetermineacutee nrsquoa point de Constitution

208

Article XVII

La proprieacuteteacute eacutetant un droit inviolable et sacreacute nul ne peut en ecirctre priveacute si ce

nrsquoest lorsque la neacutecessiteacute publique leacutegalement constateacutee lrsquoexige eacutevidemment

et sous la condition drsquoune juste et preacutealable indemniteacute

httpwwwassemblee-nationalefrhistoiredudh1789asp

DOCUMENTO II

LA DECLARATION UNIVERSELLE DES DROITS DE LrsquoHOMME 1948 - 2008

Preacuteambule

209

Consideacuterant que la reconnaissance de la digniteacute inheacuterente agrave tous les membres

de la famille humaine et de leurs droits eacutegaux et inalieacutenables constitue le

fondement de la liberteacute de la justice et de la paix dans le monde

Consideacuterant que la meacuteconnaissance et le meacutepris des droits de lhomme ont

conduit agrave des actes de barbarie qui reacutevoltent la conscience de lhumaniteacute et que

lavegravenement dun monde ougrave les ecirctres humains seront libres de parler et de

croire libeacutereacutes de la terreur et de la misegravere a eacuteteacute proclameacute comme la plus haute

aspiration de lhomme

Consideacuterant quil est essentiel que les droits de lhomme soient proteacutegeacutes par un

reacutegime de droit pour que lhomme ne soit pas contraint en suprecircme recours agrave

la reacutevolte contre la tyrannie et loppression

Consideacuterant quil est essentiel dencourager le deacuteveloppement de relations

amicales entre nations

Consideacuterant que dans la Charte les peuples des Nations Unies ont proclameacute agrave

nouveau leur foi dans les droits fondamentaux de lhomme dans la digniteacute et la

valeur de la personne humaine dans leacutegaliteacute des droits des hommes et des

femmes et quils se sont deacuteclareacutes reacutesolus agrave favoriser le progregraves social et agrave

instaurer de meilleures conditions de vie dans une liberteacute plus grande

Consideacuterant que les Etats Membres se sont engageacutes agrave assurer en coopeacuteration

avec lOrganisation des Nations Unies le respect universel et effectif des droits

de lhomme et des liberteacutes fondamentales

Consideacuterant quune conception commune de ces droits et liberteacutes est de la plus

haute importance pour remplir pleinement cet engagement

LAssembleacutee Geacuteneacuterale proclame la preacutesente Deacuteclaration universelle des

droits de lhomme comme lideacuteal commun agrave atteindre par tous les peuples et

toutes les nations afin que tous les individus et tous les organes de la socieacuteteacute

ayant cette Deacuteclaration constamment agrave lesprit sefforcent par lenseignement

et leacuteducation de deacutevelopper le respect de ces droits et liberteacutes et den assurer

210

par des mesures progressives dordre national et international la

reconnaissance et lapplication universelles et effectives tant parmi les

populations des Etats Membres eux-mecircmes que parmi celles des territoires

placeacutes sous leur juridiction

Article premier

Tous les ecirctres humains naissent libres et eacutegaux en digniteacute et en droits Ils sont

doueacutes de raison et de conscience et doivent agir les uns envers les autres dans

un esprit de fraterniteacute

Article 2

1Chacun peut se preacutevaloir de tous les droits et de toutes les liberteacutes proclameacutes

dans la preacutesente Deacuteclaration sans distinction aucune notamment de race de

couleur de sexe de langue de religion dopinion politique ou de toute autre

opinion dorigine nationale ou sociale de fortune de naissance ou de toute

autre situation

2De plus il ne sera fait aucune distinction fondeacutee sur le statut politique

juridique ou international du pays ou du territoire dont une personne est

ressortissante que ce pays ou territoire soit indeacutependant sous tutelle non

autonome ou soumis agrave une limitation quelconque de souveraineteacute

Article 3

Tout individu a droit agrave la vie agrave la liberteacute et agrave la sucircreteacute de sa personne

Article 4

Nul ne sera tenu en esclavage ni en servitude lesclavage et la traite des

esclaves sont interdits sous toutes leurs formes

Article 5

211

Nul ne sera soumis agrave la torture ni agrave des peines ou traitements cruels

inhumains ou deacutegradants

Article 6

Chacun a le droit agrave la reconnaissance en tous lieux de sa personnaliteacute juridique

Article 7

Tous sont eacutegaux devant la loi et ont droit sans distinction agrave une eacutegale protection

de la loi Tous ont droit agrave une protection eacutegale contre toute discrimination qui

violerait la preacutesente Deacuteclaration et contre toute provocation agrave une telle

discrimination

Article 8

Toute personne a droit agrave un recours effectif devant les juridictions nationales

compeacutetentes contre les actes violant les droits fondamentaux qui lui sont

reconnus par la constitution ou par la loi

Article 9

Nul ne peut ecirctre arbitrairement arrecircteacute deacutetenu ou exileacute

Article 10

Toute personne a droit en pleine eacutegaliteacute agrave ce que sa cause soit entendue

eacutequitablement et publiquement par un tribunal indeacutependant et impartial qui

deacutecidera soit de ses droits et obligations soit du bien-fondeacute de toute

accusation en matiegravere peacutenale dirigeacutee contre elle

Article 11

212

1 Toute personne accuseacutee dun acte deacutelictueux est preacutesumeacutee innocente

jusquagrave ce que sa culpabiliteacute ait eacuteteacute leacutegalement eacutetablie au cours dun procegraves

public ougrave toutes les garanties neacutecessaires agrave sa deacutefense lui auront eacuteteacute assureacutees

2 Nul ne sera condamneacute pour des actions ou omissions qui au moment ougrave

elles ont eacuteteacute commises ne constituaient pas un acte deacutelictueux dapregraves le droit

national ou international De mecircme il ne sera infligeacute aucune peine plus forte

que celle qui eacutetait applicable au moment ougrave lacte deacutelictueux a eacuteteacute commis

Article 12

Nul ne sera lobjet dimmixtions arbitraires dans sa vie priveacutee sa famille son

domicile ou sa correspondance ni datteintes agrave son honneur et agrave sa reacuteputation

Toute personne a droit agrave la protection de la loi contre de telles immixtions ou de

telles atteintes

Article 13

1 Toute personne a le droit de circuler librement et de choisir sa reacutesidence

agrave linteacuterieur dun Etat

2 Toute personne a le droit de quitter tout pays y compris le sien et de

revenir dans son pays

Article 14

1 Devant la perseacutecution toute personne a le droit de chercher asile et de

beacuteneacuteficier de lasile en dautres pays

2 Ce droit ne peut ecirctre invoqueacute dans le cas de poursuites reacuteellement

fondeacutees sur un crime de droit commun ou sur des agissements

contraires aux buts et aux principes des Nations Unies

Article 15

1 Tout individu a droit agrave une nationaliteacute

213

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa nationaliteacute ni du droit de

changer de nationaliteacute

Article 16

1 A partir de lacircge nubile lhomme et la femme sans aucune restriction

quant agrave la race la nationaliteacute ou la religion ont le droit de se marier et de

fonder une famille Ils ont des droits eacutegaux au regard du mariage durant

le mariage et lors de sa dissolution

2 Le mariage ne peut ecirctre conclu quavec le libre et plein consentement

des futurs eacutepoux

3 La famille est leacuteleacutement naturel et fondamental de la socieacuteteacute et a droit agrave la

protection de la socieacuteteacute et de lEtat

Article 17

1 Toute personne aussi bien seule quen collectiviteacute a droit agrave la proprieacuteteacute

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa proprieacuteteacute

Article 18

Toute personne a droit agrave la liberteacute de penseacutee de conscience et de religion ce

droit implique la liberteacute de changer de religion ou de conviction ainsi que la

liberteacute de manifester sa religion ou sa conviction seule ou en commun tant en

public quen priveacute par lenseignement les pratiques le culte et

laccomplissement des rites

Article 19

Tout individu a droit agrave la liberteacute dopinion et dexpression ce qui implique le droit

de ne pas ecirctre inquieacuteteacute pour ses opinions et celui de chercher de recevoir et de

reacutepandre sans consideacuterations de frontiegraveres les informations et les ideacutees par

quelque moyen dexpression que ce soit

214

Article 20

1 Toute personne a droit agrave la liberteacute de reacuteunion et dassociation pacifiques

2 Nul ne peut ecirctre obligeacute de faire partie dune association

Article 21

1 Toute personne a le droit de prendre part agrave la direction des affaires

publiques de son pays soit directement soit par lintermeacutediaire de

repreacutesentants librement choisis

2 Toute personne a droit agrave acceacuteder dans des conditions deacutegaliteacute aux

fonctions publiques de son pays

3 La volonteacute du peuple est le fondement de lautoriteacute des pouvoirs publics

cette volonteacute doit sexprimer par des eacutelections honnecirctes qui doivent avoir

lieu peacuteriodiquement au suffrage universel eacutegal et au vote secret ou

suivant une proceacutedure eacutequivalente assurant la liberteacute du vote

Article 22

Toute personne en tant que membre de la socieacuteteacute a droit agrave la seacutecuriteacute sociale

elle est fondeacutee agrave obtenir la satisfaction des droits eacuteconomiques sociaux et

culturels indispensables agrave sa digniteacute et au libre deacuteveloppement de sa

personnaliteacute gracircce agrave leffort national et agrave la coopeacuteration internationale compte

tenu de lorganisation et des ressources de chaque pays

Article 23

1 Toute personne a droit au travail au libre choix de son travail agrave des

conditions eacutequitables et satisfaisantes de travail et agrave la protection contre le

chocircmage

2 Tous ont droit sans aucune discrimination agrave un salaire eacutegal pour un travail

eacutegal

3 Quiconque travaille a droit agrave une reacutemuneacuteration eacutequitable et satisfaisante lui

assurant ainsi quagrave sa famille une existence conforme agrave la digniteacute humaine et

215

compleacuteteacutee sil y a lieu par tous autres moyens de protection sociale

4 Toute personne a le droit de fonder avec dautres des syndicats et de saffilier

agrave des syndicats pour la deacutefense de ses inteacuterecircts

Article 24

Toute personne a droit au repos et aux loisirs et notamment agrave une limitation

raisonnable de la dureacutee du travail et agrave des congeacutes payeacutes peacuteriodiques

Article 25

1 Toute personne a droit agrave un niveau de vie suffisant pour assurer sa

santeacute son bien-ecirctre et ceux de sa famille notamment pour lalimentation

lhabillement le logement les soins meacutedicaux ainsi que pour les services

sociaux neacutecessaires elle a droit agrave la seacutecuriteacute en cas de chocircmage de

maladie dinvaliditeacute de veuvage de vieillesse ou dans les autres cas de

perte de ses moyens de subsistance par suite de circonstances

indeacutependantes de sa volonteacute

2 La materniteacute et lenfance ont droit agrave une aide et agrave une assistance

speacuteciales Tous les enfants quils soient neacutes dans le mariage ou hors

mariage jouissent de la mecircme protection sociale

Article 26

1 Toute personne a droit agrave leacuteducation Leacuteducation doit ecirctre gratuite au

moins en ce qui concerne lenseignement eacuteleacutementaire et fondamental

Lenseignement eacuteleacutementaire est obligatoire Lenseignement technique et

professionnel doit ecirctre geacuteneacuteraliseacute laccegraves aux eacutetudes supeacuterieures doit

ecirctre ouvert en pleine eacutegaliteacute agrave tous en fonction de leur meacuterite

216

2 Leacuteducation doit viser au plein eacutepanouissement de la personnaliteacute

humaine et au renforcement du respect des droits de lhomme et des

liberteacutes fondamentales Elle doit favoriser la compreacutehension la toleacuterance

et lamitieacute entre toutes les nations et tous les groupes raciaux ou

religieux ainsi que le deacuteveloppement des activiteacutes des Nations Unies

pour le maintien de la paix

3 Les parents ont par prioriteacute le droit de choisir le genre deacuteducation agrave

donner agrave leurs enfants

Article 27

1 Toute personne a le droit de prendre part librement agrave la vie culturelle de

la communauteacute de jouir des arts et de participer au progregraves scientifique

et aux bienfaits qui en reacutesultent

2 Chacun a droit agrave la protection des inteacuterecircts moraux et mateacuteriels deacutecoulant

de toute production scientifique litteacuteraire ou artistique dont il est lauteur

Article 28

Toute personne a droit agrave ce que regravegne sur le plan social et sur le plan

international un ordre tel que les droits et liberteacutes eacutenonceacutes dans la preacutesente

Deacuteclaration puissent y trouver plein effet

Article 29

1 Lindividu a des devoirs envers la communauteacute dans laquelle seule le

libre et plein deacuteveloppement de sa personnaliteacute est possible

2 Dans lexercice de ses droits et dans la jouissance de ses liberteacutes

chacun nest soumis quaux limitations eacutetablies par la loi exclusivement

en vue dassurer la reconnaissance et le respect des droits et liberteacutes

dautrui et afin de satisfaire aux justes exigences de la morale de lordre

public et du bien-ecirctre geacuteneacuteral dans une socieacuteteacute deacutemocratique

3 Ces droits et liberteacutes ne pourront en aucun cas sexercer contrairement

aux buts et aux principes des Nations Unies

217

Article 30

Aucune disposition de la preacutesente Deacuteclaration ne peut ecirctre interpreacuteteacutee comme

impliquant pour un Etat un groupement ou un individu un droit quelconque de

se livrer agrave une activiteacute ou daccomplir un acte visant agrave la destruction des droits

et liberteacutes qui y sont eacutenonceacutes

DOCUMENTO III

218

Presidecircncia da Repuacuteblica

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Juriacutedicos

CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

PREAcircMBULO

Noacutes representantes do povo brasileiro reunidos em Assembleia Nacional

Constituinte para instituir um Estado Democraacutetico destinado a assegurar o

exerciacutecio dos direitos sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-

estar o desenvolvimento a igualdade e a justiccedila como valores supremos de

uma sociedade fraterna pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia

social e comprometida na ordem interna e internacional com a soluccedilatildeo

paciacutefica das controveacutersias promulgamos sob a proteccedilatildeo de Deus a seguinte

CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

TIacuteTULO I

Dos Princiacutepios Fundamentais

Art 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos

Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico

de Direito e tem como fundamentos

I - a soberania

II - a cidadania

III - a dignidade da pessoa humana

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

219

Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o

Legislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

Art 3ordm Constituem objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa do Brasil

I - construir uma sociedade livre justa e solidaacuteria

II - garantir o desenvolvimento nacional

III - erradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir as desigualdades

sociais e regionais

IV - promover o bem de todos sem preconceitos de origem raccedila sexo cor

idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeo

Art 4ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees

internacionais pelos seguintes princiacutepios

I - independecircncia nacional

II - prevalecircncia dos direitos humanos

III - autodeterminaccedilatildeo dos povos

IV - natildeo-intervenccedilatildeo

V - igualdade entre os Estados

VI - defesa da paz

VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos

VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo

IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade

X - concessatildeo de asilo poliacutetico

220

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo

econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave

formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

TIacuteTULO II

Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPIacuteTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos desta

Constituiccedilatildeo

II - ningueacutem seraacute obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senatildeo em

virtude de lei

ltP

III - ningueacutem seraacute submetido a tortura nem a tratamento desumano ou

degradante

IV - eacute livre a manifestaccedilatildeo do pensamento sendo vedado o anonimato

V - eacute assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo aleacutem da

indenizaccedilatildeo por dano material moral ou agrave imagem

221

VI - eacute inviolaacutevel a liberdade de consciecircncia e de crenccedila sendo assegurado o

livre exerciacutecio dos cultos religiosos e garantida na forma da lei a proteccedilatildeo aos

locais de culto e a suas liturgias

VII - eacute assegurada nos termos da lei a prestaccedilatildeo de assistecircncia religiosa

nas entidades civis e militares de internaccedilatildeo coletiva

VIII - ningueacutem seraacute privado de direitos por motivo de crenccedila religiosa ou de

convicccedilatildeo filosoacutefica ou poliacutetica salvo se as invocar para eximir-se de obrigaccedilatildeo

legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestaccedilatildeo alternativa fixada em

lei

IX - eacute livre a expressatildeo da atividade intelectual artiacutestica cientiacutefica e de

comunicaccedilatildeo independentemente de censura ou licenccedila

X - satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das

pessoas assegurado o direito a indenizaccedilatildeo pelo dano material ou moral

decorrente de sua violaccedilatildeo

XI - a casa eacute asilo inviolaacutevel do indiviacuteduo ningueacutem nela podendo penetrar

sem consentimento do morador salvo em caso de flagrante delito ou desastre

ou para prestar socorro ou durante o dia por determinaccedilatildeo judicial

XII - eacute inviolaacutevel o sigilo da correspondecircncia e das comunicaccedilotildees

telegraacuteficas de dados e das comunicaccedilotildees telefocircnicas salvo no uacuteltimo caso

por ordem judicial nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de

investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo processual penal (Vide Lei nordm 9296 de

1996)

XIII - eacute livre o exerciacutecio de qualquer trabalho ofiacutecio ou profissatildeo atendidas

as qualificaccedilotildees profissionais que a lei estabelecer

XIV - eacute assegurado a todos o acesso agrave informaccedilatildeo e resguardado o sigilo da

fonte quando necessaacuterio ao exerciacutecio profissional

222

XV - eacute livre a locomoccedilatildeo no territoacuterio nacional em tempo de paz podendo

qualquer pessoa nos termos da lei nele entrar permanecer ou dele sair com

seus bens

XVI - todos podem reunir-se pacificamente sem armas em locais abertos

ao puacuteblico independentemente de autorizaccedilatildeo desde que natildeo frustrem outra

reuniatildeo anteriormente convocada para o mesmo local sendo apenas exigido

preacutevio aviso agrave autoridade competente

XVII - eacute plena a liberdade de associaccedilatildeo para fins liacutecitos vedada a de

caraacuteter paramilitar

XVIII - a criaccedilatildeo de associaccedilotildees e na forma da lei a de cooperativas

independem de autorizaccedilatildeo sendo vedada a interferecircncia estatal em seu

funcionamento

XIX - as associaccedilotildees soacute poderatildeo ser compulsoriamente dissolvidas ou ter

suas atividades suspensas por decisatildeo judicial exigindo-se no primeiro caso

o tracircnsito em julgado

XX - ningueacutem poderaacute ser compelido a associar-se ou a permanecer

associado

XXI - as entidades associativas quando expressamente autorizadas tecircm

legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social

XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e

preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvados os casos previstos nesta

Constituiccedilatildeo

223

XXV - no caso de iminente perigo puacuteblico a autoridade competente poderaacute

usar de propriedade particular assegurada ao proprietaacuterio indenizaccedilatildeo ulterior

se houver dano

XXVI - a pequena propriedade rural assim definida em lei desde que

trabalhada pela famiacutelia natildeo seraacute objeto de penhora para pagamento de deacutebitos

decorrentes de sua atividade produtiva dispondo a lei sobre os meios de

financiar o seu desenvolvimento

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilizaccedilatildeo publicaccedilatildeo ou

reproduccedilatildeo de suas obras transmissiacutevel aos herdeiros pelo tempo que a lei

fixar

XXVIII - satildeo assegurados nos termos da lei

a) a proteccedilatildeo agraves participaccedilotildees individuais em obras coletivas e agrave reproduccedilatildeo

da imagem e voz humanas inclusive nas atividades desportivas

b) o direito de fiscalizaccedilatildeo do aproveitamento econocircmico das obras que

criarem ou de que participarem aos criadores aos inteacuterpretes e agraves respectivas

representaccedilotildees sindicais e associativas

XXIX - a lei asseguraraacute aos autores de inventos industriais privileacutegio

temporaacuterio para sua utilizaccedilatildeo bem como proteccedilatildeo agraves criaccedilotildees industriais agrave

propriedade das marcas aos nomes de empresas e a outros signos distintivos

tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnoloacutegico e econocircmico

do Paiacutes

XXX - eacute garantido o direito de heranccedila

XXXI - a sucessatildeo de bens de estrangeiros situados no Paiacutes seraacute regulada

pela lei brasileira em benefiacutecio do cocircnjuge ou dos filhos brasileiros sempre que

natildeo lhes seja mais favoraacutevel a lei pessoal do de cujus

XXXII - o Estado promoveraacute na forma da lei a defesa do consumidor

224

XXXIII - todos tecircm direito a receber dos oacutergatildeos puacuteblicos informaccedilotildees de seu

interesse particular ou de interesse coletivo ou geral que seratildeo prestadas no

prazo da lei sob pena de responsabilidade ressalvadas aquelas cujo sigilo

seja imprescindiacutevel agrave seguranccedila da sociedade e do Estado (Regulamento)

XXXIV - satildeo a todos assegurados independentemente do pagamento de

taxas

a) o direito de peticcedilatildeo aos Poderes Puacuteblicos em defesa de direitos ou contra

ilegalidade ou abuso de poder

b) a obtenccedilatildeo de certidotildees em reparticcedilotildees puacuteblicas para defesa de direitos

e esclarecimento de situaccedilotildees de interesse pessoal

XXXV - a lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou

ameaccedila a direito

XXXVI - a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a

coisa julgada

XXXVII - natildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeo

XXXVIII - eacute reconhecida a instituiccedilatildeo do juacuteri com a organizaccedilatildeo que lhe der

a lei assegurados

a) a plenitude de defesa

b) o sigilo das votaccedilotildees

c) a soberania dos veredictos

d) a competecircncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida

XXXIX - natildeo haacute crime sem lei anterior que o defina nem pena sem preacutevia

cominaccedilatildeo legal

XL - a lei penal natildeo retroagiraacute salvo para beneficiar o reacuteu

225

XLI - a lei puniraacute qualquer discriminaccedilatildeo atentatoacuteria dos direitos e liberdades

fundamentais

XLII - a praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel

sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da lei

XLIII - a lei consideraraacute crimes inafianccedilaacuteveis e insuscetiacuteveis de graccedila ou

anistia a praacutetica da tortura o traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins o

terrorismo e os definidos como crimes hediondos por eles respondendo os

mandantes os executores e os que podendo evitaacute-los se omitirem

XLIV - constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel a accedilatildeo de grupos

armados civis ou militares contra a ordem constitucional e o Estado

Democraacutetico

XLV - nenhuma pena passaraacute da pessoa do condenado podendo a

obrigaccedilatildeo de reparar o dano e a decretaccedilatildeo do perdimento de bens ser nos

termos da lei estendidas aos sucessores e contra eles executadas ateacute o limite

do valor do patrimocircnio transferido

XLVI - a lei regularaacute a individualizaccedilatildeo da pena e adotaraacute entre outras as

seguintes

a) privaccedilatildeo ou restriccedilatildeo da liberdade

b) perda de bens

c) multa

d) prestaccedilatildeo social alternativa

e) suspensatildeo ou interdiccedilatildeo de direitos

XLVII - natildeo haveraacute penas

a) de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art 84 XIX

226

b) de caraacuteter perpeacutetuo

c) de trabalhos forccedilados

d) de banimento

e) crueacuteis

XLVIII - a pena seraacute cumprida em estabelecimentos distintos de acordo com

a natureza do delito a idade e o sexo do apenado

XLIX - eacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade fiacutesica e moral

L - agraves presidiaacuterias seratildeo asseguradas condiccedilotildees para que possam

permanecer com seus filhos durante o periacuteodo de amamentaccedilatildeo

LI - nenhum brasileiro seraacute extraditado salvo o naturalizado em caso de

crime comum praticado antes da naturalizaccedilatildeo ou de comprovado

envolvimento em traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins na forma da lei

LII - natildeo seraacute concedida extradiccedilatildeo de estrangeiro por crime poliacutetico ou de

opiniatildeo

LIII - ningueacutem seraacute processado nem sentenciado senatildeo pela autoridade

competente

LIV - ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido

processo legal

LV - aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados

em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e

recursos a ela inerentes

LVI - satildeo inadmissiacuteveis no processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

LVII - ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de

sentenccedila penal condenatoacuteria

227

LVIII - o civilmente identificado natildeo seraacute submetido a identificaccedilatildeo criminal

salvo nas hipoacuteteses previstas em lei (Regulamento)

LIX - seraacute admitida accedilatildeo privada nos crimes de accedilatildeo puacuteblica se esta natildeo for

intentada no prazo legal

LX - a lei soacute poderaacute restringir a publicidade dos atos processuais quando a

defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem

LXI - ningueacutem seraacute preso senatildeo em flagrante delito ou por ordem escrita e

fundamentada de autoridade judiciaacuteria competente salvo nos casos de

transgressatildeo militar ou crime propriamente militar definidos em lei

LXII - a prisatildeo de qualquer pessoa e o local onde se encontre seratildeo

comunicados imediatamente ao juiz competente e agrave famiacutelia do preso ou agrave

pessoa por ele indicada

LXIII - o preso seraacute informado de seus direitos entre os quais o de

permanecer calado sendo-lhe assegurada a assistecircncia da famiacutelia e de

advogado

LXIV - o preso tem direito agrave identificaccedilatildeo dos responsaacuteveis por sua prisatildeo ou

por seu interrogatoacuterio policial

LXV - a prisatildeo ilegal seraacute imediatamente relaxada pela autoridade judiciaacuteria

LXVI - ningueacutem seraacute levado agrave prisatildeo ou nela mantido quando a lei admitir a

liberdade provisoacuteria com ou sem fianccedila

LXVII - natildeo haveraacute prisatildeo civil por diacutevida salvo a do responsaacutevel pelo

inadimplemento voluntaacuterio e inescusaacutevel de obrigaccedilatildeo alimentiacutecia e a do

depositaacuterio infiel

LXVIII - conceder-se-aacute habeas-corpus sempre que algueacutem sofrer ou se

achar ameaccedilado de sofrer violecircncia ou coaccedilatildeo em sua liberdade de

locomoccedilatildeo por ilegalidade ou abuso de poder

228

LXIX - conceder-se-aacute mandado de seguranccedila para proteger direito liacutequido e

certo natildeo amparado por habeas-corpus ou habeas-data quando o

responsaacutevel pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade puacuteblica ou

agente de pessoa juriacutedica no exerciacutecio de atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico

LXX - o mandado de seguranccedila coletivo pode ser impetrado por

a) partido poliacutetico com representaccedilatildeo no Congresso Nacional

b) organizaccedilatildeo sindical entidade de classe ou associaccedilatildeo legalmente

constituiacuteda e em funcionamento haacute pelo menos um ano em defesa dos

interesses de seus membros ou associados

LXXI - conceder-se-aacute mandado de injunccedilatildeo sempre que a falta de norma

regulamentadora torne inviaacutevel o exerciacutecio dos direitos e liberdades

constitucionais e das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade agrave soberania e agrave

cidadania

LXXII - conceder-se-aacute habeas-data

a) para assegurar o conhecimento de informaccedilotildees relativas agrave pessoa do

impetrante constantes de registros ou bancos de dados de entidades

governamentais ou de caraacuteter puacuteblico

b) para a retificaccedilatildeo de dados quando natildeo se prefira fazecirc-lo por processo

sigiloso judicial ou administrativo

LXXIII - qualquer cidadatildeo eacute parte legiacutetima para propor accedilatildeo popular que vise

a anular ato lesivo ao patrimocircnio puacuteblico ou de entidade de que o Estado

participe agrave moralidade administrativa ao meio ambiente e ao patrimocircnio

histoacuterico e cultural ficando o autor salvo comprovada maacute-feacute isento de custas

judiciais e do ocircnus da sucumbecircncia

LXXIV - o Estado prestaraacute assistecircncia juriacutedica integral e gratuita aos que

comprovarem insuficiecircncia de recursos

229

LXXV - o Estado indenizaraacute o condenado por erro judiciaacuterio assim como o

que ficar preso aleacutem do tempo fixado na sentenccedila

LXXVI - satildeo gratuitos para os reconhecidamente pobres na forma da lei

a) o registro civil de nascimento

b) a certidatildeo de oacutebito

LXXVII - satildeo gratuitas as accedilotildees de habeas-corpus e habeas-data e na

forma da lei os atos necessaacuterios ao exerciacutecio da cidadania

LXXVIII a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a

razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeridade de sua

tramitaccedilatildeo (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45 de 2004)

sect 1ordm - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tecircm

aplicaccedilatildeo imediata

sect 2ordm - Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem

outros decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos

tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parte

sect 3ordm Os tratados e convenccedilotildees internacionais sobre direitos humanos que

forem aprovados em cada Casa do Congresso Nacional em dois turnos por

trecircs quintos dos votos dos respectivos membros seratildeo equivalentes agraves

emendas constitucionais (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45 de 2004)

(Atos aprovados na forma deste paraacutegrafo)

sect 4ordm O Brasil se submete agrave jurisdiccedilatildeo de Tribunal Penal Internacional a cuja

criaccedilatildeo tenha manifestado adesatildeo (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45

de 2004)

230

DOCUMENTO IV

Presidecircncia da Repuacuteblica

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Juriacutedicos

LEI Nordm 11419 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006

Mensagem de veto

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do

processo judicial altera a Lei no 5869

de 11 de janeiro de 1973 ndash Coacutedigo de

Processo Civil e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

DA INFORMATIZACcedilAtildeO DO PROCESSO JUDICIAL

Art 1o O uso de meio eletrocircnico na tramitaccedilatildeo de processos judiciais

comunicaccedilatildeo de atos e transmissatildeo de peccedilas processuais seraacute admitido nos

termos desta Lei

sect 1o Aplica-se o disposto nesta Lei indistintamente aos processos civil

penal e trabalhista bem como aos juizados especiais em qualquer grau de

jurisdiccedilatildeo

sect 2o Para o disposto nesta Lei considera-se

I - meio eletrocircnico qualquer forma de armazenamento ou traacutefego de

documentos e arquivos digitais

231

II - transmissatildeo eletrocircnica toda forma de comunicaccedilatildeo a distacircncia com a

utilizaccedilatildeo de redes de comunicaccedilatildeo preferencialmente a rede mundial de

computadores

III - assinatura eletrocircnica as seguintes formas de identificaccedilatildeo inequiacutevoca

do signataacuterio

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade

Certificadora credenciada na forma de lei especiacutefica

b) mediante cadastro de usuaacuterio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado

pelos oacutergatildeos respectivos

Art 2o O envio de peticcedilotildees de recursos e a praacutetica de atos processuais

em geral por meio eletrocircnico seratildeo admitidos mediante uso de assinatura

eletrocircnica na forma do art 1o desta Lei sendo obrigatoacuterio o credenciamento

preacutevio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

sect 1o O credenciamento no Poder Judiciaacuterio seraacute realizado mediante

procedimento no qual esteja assegurada a adequada identificaccedilatildeo presencial

do interessado

sect 2o Ao credenciado seraacute atribuiacutedo registro e meio de acesso ao sistema

de modo a preservar o sigilo a identificaccedilatildeo e a autenticidade de suas

comunicaccedilotildees

sect 3o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo criar um cadastro uacutenico para o

credenciamento previsto neste artigo

Art 3o Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrocircnico

no dia e hora do seu envio ao sistema do Poder Judiciaacuterio do que deveraacute ser

fornecido protocolo eletrocircnico

Paraacutegrafo uacutenico Quando a peticcedilatildeo eletrocircnica for enviada para atender

prazo processual seratildeo consideradas tempestivas as transmitidas ateacute as 24

(vinte e quatro) horas do seu uacuteltimo dia

232

CAPIacuteTULO II

DA COMUNICACcedilAtildeO ELETROcircNICA DOS ATOS PROCESSUAIS

Art 4o Os tribunais poderatildeo criar Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

disponibilizado em siacutetio da rede mundial de computadores para publicaccedilatildeo de

atos judiciais e administrativos proacuteprios e dos oacutergatildeos a eles subordinados bem

como comunicaccedilotildees em geral

sect 1o O siacutetio e o conteuacutedo das publicaccedilotildees de que trata este artigo deveratildeo

ser assinados digitalmente com base em certificado emitido por Autoridade

Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica

sect 2o A publicaccedilatildeo eletrocircnica na forma deste artigo substitui qualquer outro

meio e publicaccedilatildeo oficial para quaisquer efeitos legais agrave exceccedilatildeo dos casos

que por lei exigem intimaccedilatildeo ou vista pessoal

sect 3o Considera-se como data da publicaccedilatildeo o primeiro dia uacutetil seguinte ao

da disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo no Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

sect 4o Os prazos processuais teratildeo iniacutecio no primeiro dia uacutetil que seguir ao

considerado como data da publicaccedilatildeo

sect 5o A criaccedilatildeo do Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico deveraacute ser acompanhada de

ampla divulgaccedilatildeo e o ato administrativo correspondente seraacute publicado

durante 30 (trinta) dias no diaacuterio oficial em uso

Art 5o As intimaccedilotildees seratildeo feitas por meio eletrocircnico em portal proacuteprio aos

que se cadastrarem na forma do art 2o desta Lei dispensando-se a publicaccedilatildeo

no oacutergatildeo oficial inclusive eletrocircnico

sect 1o Considerar-se-aacute realizada a intimaccedilatildeo no dia em que o intimando

efetivar a consulta eletrocircnica ao teor da intimaccedilatildeo certificando-se nos autos a

sua realizaccedilatildeo

233

sect 2o Na hipoacutetese do sect 1o deste artigo nos casos em que a consulta se decirc

em dia natildeo uacutetil a intimaccedilatildeo seraacute considerada como realizada no primeiro dia

uacutetil seguinte

sect 3o A consulta referida nos sectsect 1o e 2o deste artigo deveraacute ser feita em ateacute

10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimaccedilatildeo sob pena de

considerar-se a intimaccedilatildeo automaticamente realizada na data do teacutermino desse

prazo

sect 4o Em caraacuteter informativo poderaacute ser efetivada remessa de

correspondecircncia eletrocircnica comunicando o envio da intimaccedilatildeo e a abertura

automaacutetica do prazo processual nos termos do sect 3o deste artigo aos que

manifestarem interesse por esse serviccedilo

sect 5o Nos casos urgentes em que a intimaccedilatildeo feita na forma deste artigo

possa causar prejuiacutezo a quaisquer das partes ou nos casos em que for

evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema o ato processual deveraacute

ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade conforme determinado

pelo juiz

sect 6o As intimaccedilotildees feitas na forma deste artigo inclusive da Fazenda

Puacuteblica seratildeo consideradas pessoais para todos os efeitos legais

Art 6o Observadas as formas e as cautelas do art 5o desta Lei as

citaccedilotildees inclusive da Fazenda Puacuteblica excetuadas as dos Direitos

Processuais Criminal e Infracional poderatildeo ser feitas por meio eletrocircnico

desde que a iacutentegra dos autos seja acessiacutevel ao citando

Art 7o As cartas precatoacuterias rogatoacuterias de ordem e de um modo geral

todas as comunicaccedilotildees oficiais que transitem entre oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio

bem como entre os deste e os dos demais Poderes seratildeo feitas

preferentemente por meio eletrocircnico

CAPIacuteTULO III

234

DO PROCESSO ELETROcircNICO

Art 8o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo desenvolver sistemas

eletrocircnicos de processamento de accedilotildees judiciais por meio de autos total ou

parcialmente digitais utilizando preferencialmente a rede mundial de

computadores e acesso por meio de redes internas e externas

Paraacutegrafo uacutenico Todos os atos processuais do processo eletrocircnico seratildeo

assinados eletronicamente na forma estabelecida nesta Lei

Art 9o No processo eletrocircnico todas as citaccedilotildees intimaccedilotildees e

notificaccedilotildees inclusive da Fazenda Puacuteblica seratildeo feitas por meio eletrocircnico na

forma desta Lei

sect 1o As citaccedilotildees intimaccedilotildees notificaccedilotildees e remessas que viabilizem o

acesso agrave iacutentegra do processo correspondente seratildeo consideradas vista pessoal

do interessado para todos os efeitos legais

sect 2o Quando por motivo teacutecnico for inviaacutevel o uso do meio eletrocircnico para

a realizaccedilatildeo de citaccedilatildeo intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo esses atos processuais

poderatildeo ser praticados segundo as regras ordinaacuterias digitalizando-se o

documento fiacutesico que deveraacute ser posteriormente destruiacutedo

Art 10 A distribuiccedilatildeo da peticcedilatildeo inicial e a juntada da contestaccedilatildeo dos

recursos e das peticcedilotildees em geral todos em formato digital nos autos de

processo eletrocircnico podem ser feitas diretamente pelos advogados puacuteblicos e

privados sem necessidade da intervenccedilatildeo do cartoacuterio ou secretaria judicial

situaccedilatildeo em que a autuaccedilatildeo deveraacute se dar de forma automaacutetica fornecendo-se

recibo eletrocircnico de protocolo

sect 1o Quando o ato processual tiver que ser praticado em determinado

prazo por meio de peticcedilatildeo eletrocircnica seratildeo considerados tempestivos os

efetivados ateacute as 24 (vinte e quatro) horas do uacuteltimo dia

235

sect 2o No caso do sect 1o deste artigo se o Sistema do Poder Judiciaacuterio se

tornar indisponiacutevel por motivo teacutecnico o prazo fica automaticamente prorrogado

para o primeiro dia uacutetil seguinte agrave resoluccedilatildeo do problema

sect 3o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio deveratildeo manter equipamentos de

digitalizaccedilatildeo e de acesso agrave rede mundial de computadores agrave disposiccedilatildeo dos

interessados para distribuiccedilatildeo de peccedilas processuais

Art 11 Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos

processos eletrocircnicos com garantia da origem e de seu signataacuterio na forma

estabelecida nesta Lei seratildeo considerados originais para todos os efeitos

legais

sect 1o Os extratos digitais e os documentos digitalizados e juntados aos

autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila e seus auxiliares pelo Ministeacuterio Puacuteblico e seus

auxiliares pelas procuradorias pelas autoridades policiais pelas reparticcedilotildees

puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos e privados tecircm a mesma forccedila

probante dos originais ressalvada a alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de

adulteraccedilatildeo antes ou durante o processo de digitalizaccedilatildeo

sect 2o A arguumliccedilatildeo de falsidade do documento original seraacute processada

eletronicamente na forma da lei processual em vigor

sect 3o Os originais dos documentos digitalizados mencionados no sect 2o

deste artigo deveratildeo ser preservados pelo seu detentor ateacute o tracircnsito em

julgado da sentenccedila ou quando admitida ateacute o final do prazo para interposiccedilatildeo

de accedilatildeo rescisoacuteria

sect 4o (VETADO)

sect 5o Os documentos cuja digitalizaccedilatildeo seja tecnicamente inviaacutevel devido

ao grande volume ou por motivo de ilegibilidade deveratildeo ser apresentados ao

cartoacuterio ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias contados do envio de peticcedilatildeo

eletrocircnica comunicando o fato os quais seratildeo devolvidos agrave parte apoacutes o

tracircnsito em julgado

236

sect 6o Os documentos digitalizados juntados em processo eletrocircnico

somente estaratildeo disponiacuteveis para acesso por meio da rede externa para suas

respectivas partes processuais e para o Ministeacuterio Puacuteblico respeitado o

disposto em lei para as situaccedilotildees de sigilo e de segredo de justiccedila

Art 12 A conservaccedilatildeo dos autos do processo poderaacute ser efetuada total ou

parcialmente por meio eletrocircnico

sect 1o Os autos dos processos eletrocircnicos deveratildeo ser protegidos por meio

de sistemas de seguranccedila de acesso e armazenados em meio que garanta a

preservaccedilatildeo e integridade dos dados sendo dispensada a formaccedilatildeo de autos

suplementares

sect 2o Os autos de processos eletrocircnicos que tiverem de ser remetidos a

outro juiacutezo ou instacircncia superior que natildeo disponham de sistema compatiacutevel

deveratildeo ser impressos em papel autuados na forma dos arts 166 a 168 da Lei

no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo Civil ainda que de

natureza criminal ou trabalhista ou pertinentes a juizado especial

sect 3o No caso do sect 2o deste artigo o escrivatildeo ou o chefe de secretaria

certificaraacute os autores ou a origem dos documentos produzidos nos autos

acrescentando ressalvada a hipoacutetese de existir segredo de justiccedila a forma

pela qual o banco de dados poderaacute ser acessado para aferir a autenticidade

das peccedilas e das respectivas assinaturas digitais

sect 4o Feita a autuaccedilatildeo na forma estabelecida no sect 2o deste artigo o

processo seguiraacute a tramitaccedilatildeo legalmente estabelecida para os processos

fiacutesicos

sect 5o A digitalizaccedilatildeo de autos em miacutedia natildeo digital em tramitaccedilatildeo ou jaacute

arquivados seraacute precedida de publicaccedilatildeo de editais de intimaccedilotildees ou da

intimaccedilatildeo pessoal das partes e de seus procuradores para que no prazo

preclusivo de 30 (trinta) dias se manifestem sobre o desejo de manterem

pessoalmente a guarda de algum dos documentos originais

237

Art 13 O magistrado poderaacute determinar que sejam realizados por meio

eletrocircnico a exibiccedilatildeo e o envio de dados e de documentos necessaacuterios agrave

instruccedilatildeo do processo

sect 1o Consideram-se cadastros puacuteblicos para os efeitos deste artigo

dentre outros existentes ou que venham a ser criados ainda que mantidos por

concessionaacuterias de serviccedilo puacuteblico ou empresas privadas os que contenham

informaccedilotildees indispensaacuteveis ao exerciacutecio da funccedilatildeo judicante

sect 2o O acesso de que trata este artigo dar-se-aacute por qualquer meio

tecnoloacutegico disponiacutevel preferentemente o de menor custo considerada sua

eficiecircncia

sect 3o (VETADO)

CAPIacuteTULO IV

DISPOSICcedilOtildeES GERAIS E FINAIS

Art 14 Os sistemas a serem desenvolvidos pelos oacutergatildeos do Poder

Judiciaacuterio deveratildeo usar preferencialmente programas com coacutedigo aberto

acessiacuteveis ininterruptamente por meio da rede mundial de computadores

priorizando-se a sua padronizaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Os sistemas devem buscar identificar os casos de

ocorrecircncia de prevenccedilatildeo litispendecircncia e coisa julgada

Art 15 Salvo impossibilidade que comprometa o acesso agrave justiccedila a parte

deveraacute informar ao distribuir a peticcedilatildeo inicial de qualquer accedilatildeo judicial o

nuacutemero no cadastro de pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas conforme o caso perante

a Secretaria da Receita Federal

Paraacutegrafo uacutenico Da mesma forma as peccedilas de acusaccedilatildeo criminais

deveratildeo ser instruiacutedas pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico ou pelas

autoridades policiais com os nuacutemeros de registros dos acusados no Instituto

Nacional de Identificaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila se houver

238

Art 16 Os livros cartoraacuterios e demais repositoacuterios dos oacutergatildeos do Poder

Judiciaacuterio poderatildeo ser gerados e armazenados em meio totalmente eletrocircnico

Art 17 (VETADO)

Art 18 Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio regulamentaratildeo esta Lei no que

couber no acircmbito de suas respectivas competecircncias

Art 19 Ficam convalidados os atos processuais praticados por meio

eletrocircnico ateacute a data de publicaccedilatildeo desta Lei desde que tenham atingido sua

finalidade e natildeo tenha havido prejuiacutezo para as partes

Art 20 A Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo

Civil passa a vigorar com as seguintes alteraccedilotildees

Art 38

Paraacutegrafo uacutenico A procuraccedilatildeo pode ser assinada digitalmente com base em

certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei

especiacutefica (NR)

Art 154

Paraacutegrafo uacutenico (Vetado) (VETADO)

sect 2o Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos transmitidos

armazenados e assinados por meio eletrocircnico na forma da lei (NR)

Art 164

Paraacutegrafo uacutenico A assinatura dos juiacutezes em todos os graus de jurisdiccedilatildeo

pode ser feita eletronicamente na forma da lei (NR)

Art 169

sect 1o Eacute vedado usar abreviaturas

239

sect 2o Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrocircnico os atos

processuais praticados na presenccedila do juiz poderatildeo ser produzidos e

armazenados de modo integralmente digital em arquivo eletrocircnico inviolaacutevel na

forma da lei mediante registro em termo que seraacute assinado digitalmente pelo

juiz e pelo escrivatildeo ou chefe de secretaria bem como pelos advogados das

partes

sect 3o No caso do sect 2o deste artigo eventuais contradiccedilotildees na transcriccedilatildeo

deveratildeo ser suscitadas oralmente no momento da realizaccedilatildeo do ato sob pena

de preclusatildeo devendo o juiz decidir de plano registrando-se a alegaccedilatildeo e a

decisatildeo no termo (NR)

Art 202

sect 3o A carta de ordem carta precatoacuteria ou carta rogatoacuteria pode ser expedida

por meio eletrocircnico situaccedilatildeo em que a assinatura do juiz deveraacute ser eletrocircnica

na forma da lei (NR)

Art 221

IV - por meio eletrocircnico conforme regulado em lei proacutepria (NR)

Art 237

Paraacutegrafo uacutenico As intimaccedilotildees podem ser feitas de forma eletrocircnica conforme

regulado em lei proacutepria (NR)

Art 365

240

V - os extratos digitais de bancos de dados puacuteblicos e privados desde que

atestado pelo seu emitente sob as penas da lei que as informaccedilotildees conferem

com o que consta na origem

VI - as reproduccedilotildees digitalizadas de qualquer documento puacuteblico ou particular

quando juntados aos autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila e seus auxiliares pelo

Ministeacuterio Puacuteblico e seus auxiliares pelas procuradorias pelas reparticcedilotildees

puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos ou privados ressalvada a

alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de adulteraccedilatildeo antes ou durante o

processo de digitalizaccedilatildeo

sect 1o Os originais dos documentos digitalizados mencionados no inciso VI do

caput deste artigo deveratildeo ser preservados pelo seu detentor ateacute o final do

prazo para interposiccedilatildeo de accedilatildeo rescisoacuteria

sect 2o Tratando-se de coacutepia digital de tiacutetulo executivo extrajudicial ou outro

documento relevante agrave instruccedilatildeo do processo o juiz poderaacute determinar o seu

depoacutesito em cartoacuterio ou secretaria (NR)

Art 399

sect 1o Recebidos os autos o juiz mandaraacute extrair no prazo maacuteximo e

improrrogaacutevel de 30 (trinta) dias certidotildees ou reproduccedilotildees fotograacuteficas das

peccedilas indicadas pelas partes ou de ofiacutecio findo o prazo devolveraacute os autos agrave

reparticcedilatildeo de origem

sect 2o As reparticcedilotildees puacuteblicas poderatildeo fornecer todos os documentos em meio

eletrocircnico conforme disposto em lei certificando pelo mesmo meio que se

trata de extrato fiel do que consta em seu banco de dados ou do documento

digitalizado (NR)

Art 417

sect 1o O depoimento seraacute passado para a versatildeo datilograacutefica quando houver

recurso da sentenccedila ou noutros casos quando o juiz o determinar de ofiacutecio ou

a requerimento da parte

241

sect 2o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2o e

3o do art 169 desta Lei (NR)

Art 457

sect 4o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2o e

3o do art 169 desta Lei (NR)

Art 556

Paraacutegrafo uacutenico Os votos acoacuterdatildeos e demais atos processuais podem ser

registrados em arquivo eletrocircnico inviolaacutevel e assinados eletronicamente na

forma da lei devendo ser impressos para juntada aos autos do processo

quando este natildeo for eletrocircnico (NR)

Art 21 (VETADO)

Art 22 Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias depois de sua

publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 19 de dezembro de 2006 185o da Independecircncia e 118o da

Repuacuteblica

LUIZ INAacuteCIO LULA DA SILVA

Maacutercio Thomaz Bastos

Este texto natildeo substitui o publicado no DOU de 20122006

DOCUMENTO IV a

APRESENTACcedilAtildeO

242

Apresentamos neste livreto um breve histoacuterico sobre as iniciativas tomadas

pela AJUFE - Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil no acircmbito da

informatizaccedilatildeo do processo judicial

A AJUFE foi a primeira entidade a apresentar em meados de 2001 uma

sugestatildeo de projeto de lei agrave Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa da Cacircmara

dos Deputados receacutem-criada pelo Presidente da Cacircmara Deputado Aeacutecio

Neves e presidida pela Deputada Luiza Erundina

A proposta foi amplamente discutida na Comissatildeo incluindo a realizaccedilatildeo de

audiecircncia puacuteblica na qual foram apresentadas valiosas sugestotildees

incorporadas ao projeto original Transformado o texto no Projeto de Lei

ndeg58282001foi ele relatado pelo Deputado Joseacute Roberto Batochio na

Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputados e

finalmente foi aprovado pelo plenaacuterio em junho do Corrente ano

Atualmente o projeto encontra-se em tramitaccedilatildeo na Comissatildeo de Constituiccedilatildeo

e Justiccedila do Senado Federal A iniciativa da AJUFE insere-se em seu ideal de

trabalho em prol da maior eficaacutecia e celeridade da prestaccedilatildeo jurisdicional

Procuramos apresentar um projeto aberto que permita sua imediata

implementaccedilatildeo aproveitando-se as vaacuterias ferramentas de informaacutetica jaacute em

uso por iniciativa dos diversos Tribunais

Entendemos que natildeo eacute viaacutevel que uma lei que disponha sobre a informaacutetica no

processo judicial venha a impor uma determinada tecnologia pois essa soluccedilatildeo

colocaria todas as iniciativas hoje aplicadas nos Tribunais agrave margem da lei

Aleacutem disso engessaria o projeto urna vez que impediria a incorporaccedilatildeo das

evoluccedilotildees tecnoloacutegicas futuras por parte dos Tribunais sem a ediccedilatildeo de uma

nova lei

O projeto apresentado eacute plenamente compatiacutevel tambeacutem com as tecnologias e

ferramentas de certificaccedilatildeo em vias de implementaccedilatildeo como a ICP-Brasil e a

autenticaccedilatildeo de mensagens eletrocircnicas

Desburocratiza o processo e democratiza o uso da informaacutetica por parte de

todos os envolvidos no processo judicial inclusive advogados e partes

243

Incluiacutemos neste livreto alguns textos que retratam o histoacuterico do projeto de lei

ateacute sua aprovaccedilatildeo na Cacircmara dos Deputados bem como algumas notas da

imprensa e a Carta Abertado IJURIS-Instituto Juriacutedico de Inteligecircncia e

Sistemas entidade independente dedicada ao estudo da informaacutetica e sua

aplicaccedilatildeo no direito e no governo em apoio ao projeto

Esperamos com isso contribuir para o aprimoramento do processo judicial

com evidentes ganhos para a sociedade brasileira

Paulo Seacutergio Domingues

Presidente da AJUFE

DOCUMENTO IVb

244

PARECER E VOTO DO DEPUTADO JOSEacute ROBERTO BATOCHIO

(2252002)

PARECER E VOTO DO DEPUTADO JOSEacute ROBERTO BATOCHIO

RELATOR DO PROJETO DE LEI NA CCJR DA CAcircMARA DOS DEPUTADOS

COMISSAtildeO DE CONSTITUiCcedilAtildeO E JUSTiCcedilA E DE REDACcedilAtildeO

PROJETO DE LEI NQ5828 DE 2001

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial e daacute outras providecircncias

Autor Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa

Relator Deputado Joseacute Roberto Batochio

I-RELATOacuteRIO

A presente proposta de autoria da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa

pretende permitir o uso de meio eletrocircnico na comunicaccedilatildeo de atos e na

transmissatildeo de peccedilas processuais tais como peticcedilotildees recursos cartas

precatoacuterias etc desde que os interessados se credenciem junto aos oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio

Determina que pessoas de direito puacuteblico oacutergatildeos da administraccedilatildeo Direta e

indireta e suas representaccedilotildees judiciais disponibilizemem cento e vinte dias da

publicaccedilatildeo desta lei serviccedilo de recebimento e envio de comunicaccedilotildees de atos

judiciais por meio eletrocircnico excetuado os Municiacutepios que natildeo possuam

condiccedilotildees teacutecnicas de implementaccedilatildeo de sistemas eletrocircnicos

Assegura a requisiccedilatildeo por parte de juiacutezes e tribunais de dados constantes de

cadastros puacuteblicos essenciais ao desempenho de suas atividades

A esta Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Redaccedilatildeo compete analisar a

proposta sob os aspectos de constitucionalidade juridicidade teacutecnica

legislativa e meacuterito sendo a apreciaccedilatildeo final do Plenaacuterio da Casa

245

Eacute o Relatoacuterio

11-VOTO DO RELATOR

Natildeo vislumbramos na Proposiccedilatildeo viacutecios de natureza constitucional de

juridicidade ou de teacutecnica legislativa

Natildeo se ignora que a competecircncia para iniciar leis que digam respeito a estas

entidades puacuteblicas a teor do art 61 de nossa Carta Magna eacute privativa do

Presidente da Repuacuteblica natildeo cabendo nem mesmo agrave iniciativa popular ferir a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Dispotildee este artigo

Arf 61 A iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer

membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do

Congresso Nacional ao Presidente da Repuacuteblica ao Supremo Tribunal

Federalaos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos

cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo

sect1g ndashSatildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que

I -fixem ou modifiquem os efetivos das Forccedilas Armadas

1-disponham sobre

e) criaccedilatildeo e extinccedilatildeo de Ministeacuterios e oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica

observado o disposto no arf 84 VI

No entantoo projeto natildeo pressupotildee a criaccedilatildeo de quaisquer oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica bastando que as pessoas de direito puacuteblico abram canal

de recepccedilatildeo no sistema informatizado de que jaacute dispotildeem natildeo haacute cogitar por

conseguintede qualquer mossa ao Texto Magno

No meacuterito merece acolhida a Proposiccedilatildeo

Eis que eacute oportuna e conveniente moderniza a tramitaccedilatildeo processual imprime

celeridade dessacraliza o processo sem ferir os direitos e garantias das

partes

246

A adoccedilatildeo de meios eletrocircnicos traraacute indubitavelmente ateacute mesmo maior

conforto para os advogados e para as partes uma vez que natildeo mais

precisaratildeo deslocar-se ateacute o tribunal para aforar peticcedilotildees recursos etc

Assim nosso voto eacute pela constitucionalidade juridicidade boa teacutecnica

legislativa e no meacuterito pela aprovaccedilatildeo do Projeto de Lei no5828 de 2001

Sala da Comissatildeo em de de 2002

Deputado Joseacute Roberto Batochio

Relator

DOCUMENTO IVc

JUSTIFICACcedilAtildeO DO PROJETO DE LEI NO58282001 ndash DEPUTADA LUIZA

ERUNDINA

247

PROJETO DE LEI No5828 DE 2001

Aprovado na Cacircmara dos Deputados e Justificaccedilatildeo

(DA COMISSAtildeO DE LEGISLACcedilAtildeO PARTICIPATIVA)

(SUGESTAtildeO No012001 -da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil -

AJUFE)

Deputada Luiza Erundina de Souza

Presidente

JUSTIFICACcedilAtildeO

Quando se trata da questatildeo judiciaacuteria no Brasil eacute consenso que os mais graves

problemas se situam no terreno da velocidade com que o cidadatildeo recebe a

resposta final agrave sua demanda A morosidade eacute sem duacutevida o principal fato

gerador de insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo judiciaacuterio como revelam todas as

pesquisas realizadas sobre o assunto Em 1993 em pesquisa de opiniatildeo

coordenada pelo IBOPE foi proposta a seguinte afirmaccedilatildeoO problema do

Brasil natildeo estaacute nas leis mas na Justiccedila que eacute muito lenta Dos entrevistados

87 consignaram suas concordacircncias 8 discordaram e5 natildeosouberam

responderJaacute em 1999 o jornal O Estado de Satildeo Paulo108chegou a iacutendices

ainda mais elevados 92 consideraram a Justiccedila muito lenta

Avaliaccedilotildees setoriais confirmam este diagnoacutestico a exemplo da procedida pelo

IDESP junto a empresas estabelecidas no Brasil Convidando-se estas a se

108 MARQUES Hugo 92 dos brasileiros consideram a JJsticcedilalenta OEstado de Satildeo

Paulo Satildeo Paulo 24 mar 1999

248

pronunciarem acerca de trecircs atributos do Judiciaacuterio nacional (agilidade

imparcialidade custos) os seguintes resultados foram alcanccedilados109

Como se constata no que tange agrave imparcialidade e custos a soma dos

conceitos oacutetimo bom e regular equivale respectivamente a 705 e

538 Jaacute no tocante agrave agilidade representa somente 103

A morosidade transformou-se em consenso absoluto inclusive entre os juiacutezes

Pesquisafeitaem1995peloConselho da JusticcedilaFederal concluiu que 9912 dos

magistrados federais viam o referido atributo como o principal problema desse

ramo do Judiciaacuterio110

Instados pelo IDESPno ano de 2000 a se pronunciarem sobre a relevacircncia

de fatores responsaacuteveis pela morosidade da Justiccedila os juiacutezes

responderam111

109 PINHEIROArmandoCastelar(org)JudiciaacuterioeEconomianoBrasilSatildeoPauloEditora

Sumareacute 2000 p 77

110 NUNES Eunice Pesquisa feita entre juizes revela ineficiecircncia da Justiccedila Folha de

Satildeo Paulo Satildeo Paulo 24 fev 1996 Caderno cotidiano p02

111 PINHEIRO Armando Castelar deg Judiciaacuterio e a Economia na Visatildeo dos

Magistrados Satildeo Paulo IDESP2001 p 4-5

249

Como se constataa soma dos juiacutezes que consideram a falta de

INFORMATIZACcedilAtildeO um fator muito importanteou importante alcanccedila 92

Evidentemente a informatizaccedilatildeo aqui natildeo se refere somente agrave aquisiccedilatildeo de

computadores para utilizaccedilatildeo como substitutos mais eficientes das velhas

maacutequinas de datilografia Aliaacutes este processo de substituiccedilatildeo jaacute se encontra

concluiacutedo na imensa maioria das unidades jurisdicionais existentes no paiacutes Eacute

necessaacuterio agora -simultaneamente ao teacutermino desta fase de aquisiccedilatildeo de

equipamentos nas unidades restantes -avanccedilar em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo de

todos os atores que inteNecircm em um processo judicial (VarasMinisteacuterio Puacuteblico

Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de Advocacia) de modo a que crescentemente

os procedimentos judiciais utilizem ao maacuteximo os avanccedilos tecnoloacutegicos

disponiacuteveis

O Congresso Nacional tem buscado trilhar este caminho Considere-se por

exemplo o que dispotildee a Lei ndeg 980099

Art 1degEacute permitida agraves partes a utilizaccedilatildeo de sistema de transmissatildeo de dados e

imagens tipo fac-siacutemile ou outro similar para a praacutetica de atos processuais que

dependam de peticcedilatildeo escrita

Art2deg A utilizaccedilatildeo de sistema de transmissatildeo de dados e imagens natildeo

prejudica o cumprimento dos prazos devendo os originais ser entregues em

juiacutezo necessariamente ateacute cinco dias da data de seu teacutermino

Paraacutegrafo uacutenico Nos atos natildeo sujeitos a prazo os originais deveratildeo ser

entregues necessariamente ateacute cinco dias da data da recepccedilatildeo do material

250

Constata-secom a leitura destes dispositivosque ndashnatildeo obstante a sua

importacircncia -tal diploma legal ainda exige a ratificaccedilatildeo dos atos processuais

praticados por fax com a utilizaccedilatildeo demeacutetodos tradicionaiso que certamente

diminui o seu impacto positivo no tocante agrave agilizaccedilatildeo dos processos judiciais

Recentemente a Lei ndeg102592001 que versa sobre os Juizados Especiais

Federais albergou relevante regra assim escrita

Art 8deg As partes seratildeo intimadas da sentenccedila quando natildeo proferida esta na

audiecircncia em que estiver presente seu representantepor ARMP (aviso de

recebimento em matildeo proacutepria)

sect 1Q As demais intimaccedilotildees das partes seratildeo feitas na pessoa dos advogados

ou dos Procuradores que oficiem nos respectivos autos pessoalmente ou por

via postal

sect 2QOS tribunais poderatildeo organizar serviccedilo de intimaccedilatildeo das partes e de

recepccedilatildeo de peticcedilotildees por meio eletrocircnico

O projeto ora apresentado visa evoluir na vereda inaugurada pelas leis

mencionadas regulando plenamente a informatizaccedilatildeo dos procedimentos

judiciais afastando duacutevidas acerca da validade de atos processuais assim

praticados A este propoacutesito pertinente mencionar que muitos juiacutezes e

Tribunais - mesmo sem a existecircncia de lei expressa -jaacute vecircm adotando alguns

dos caminhos insertos no projeto sempre com excelentes resultados

Destaque-se que a presente proposiccedilatildeo natildeo se confunde com o PL ndeg 365500

recentemente aprovado pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila da Cacircmara o

qual indubitavelmente representa significativo aperfeiccediloamento da citada Lei ndeg

980099 - natildeo alterando contudo a sistemaacutetica de ratificaccedilatildeo nela contida

Frise-se que os benefiacutecios do projeto poderatildeo ser extraiacutedos amplamente na

medida em que se cuida integralmente da comunicaccedilatildeo entre o Poder

Judiciaacuterio e os demais agentes que pCcedilirticipam da atuaccedilatildeo jurisdicional

O projeto natildeo elimina a possibilidade de as partes se manifestarem pelos

meacutetodos convencionais a fim de levar em conta as necessidades de

251

profissionais regiotildees eou segmentos que -por diferentes motivos natildeo

disponham dos equipamentos necessaacuter10s

Finalmente merece ser destacado o grande benefiacutecio que a meacutedio prazo o

projeto traraacute ao Eraacuterio seja com a diminuiccedilatildeo de gastos seja com a melhoria

do funcionamento do sistema econocircmico em razatildeo da maior eficiecircncia do

serviccedilo jurisdicional

252

DOCUMENTO IVd

NOTA OFICIAL DE 19602

Brasiacutelia 19 de junho de 2002

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial

Reaccedilatildeo da OAB eacute corporativa e medo do novo rebate Ajufe o presidente da

Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil (Ajufe) juiz Paulo Seacutergio Domingues

rebateu enfaticamente a nota divulgada ontem pelo presidente da Comissatildeo de

Informaacutetica da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Satildeo Paulo Marcos

da Costa apontando equiacutevocos juriacutedicos e tecnoloacutegicos no Projeto de

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial apresentado pela Ajufe ao Congresso O

projeto de lei que regulamenta a transferecircncia de informaccedilotildees judiciais por

meio eletrocircnico foi aprovado na iacutentegra e por unanimidade no uacuteltimo dia 11

pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo (CCJ-R) da Cacircmara dos

Deputados Infelizmente o corporativismo estaacute impedindo uma anaacutelise mais

global e cuidadosa da nossa proposta lamentou

Para Dominguesa resistecircncia ao projeto eacute injustificadaEacute o medo do novo

apresentando-se como desculpa para impedir a evoluccedilatildeo da Justiccedila Isso nos

espanta especialmente num~ eacutepoca de criacuteticas agrave morosidade do Judiciaacuterio

quando imagina-seque os advogados apoiem a busca de soluccedilotildees Aliaacutes a

criacutetica da OABSP eacute a uacutenica que se viu ateacute o momento destacou Segundo o

presidente da Ajufe o projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial natildeo

representa qualquer violaccedilatildeo agrave autonomia do advogado nem riscos agrave

seguranccedila juriacutedica como acusa a OAB O credenciamento dos profissionais

junto aos tribunais natildeo tem a funccedilatildeo de autorizar o advogado a exercer a

profissatildeo mas apenas de autorizaacute-lo a utilizar o meio eletrocircnico para receber

intimaccedilotildees e enviar peticcedilotildees esclarece Este credenciamento aponta

Domingues natildeo favorece o exerciacutecio ilegal da profissatildeo ou a atuaccedilatildeo de

profissionais excluiacutedos dos quadros da entidade Ao contraacuterio ele permite aos

tribunais -que satildeo os responsaacuteveis na praacutetica pelo impedimento do exerciacutecio

253

ilegal da profissatildeo -atualizar com maior agilidade seus cadastros de advogados

temporariamente impedidos de advogar ou excluiacutedos da OAB Eacute um fator de

proteccedilatildeo agrave categoria

A criacutetica ao uso de senhas para acessar as informaccedilotildees juriacutedicas por meio

eletrocircnico eacute outro equiacutevoco da OAB entende o presidente da Ajufe Satildeo

criacuteticas de quem natildeo leu ou natildeo entendeu o projeto pois sua grande virtude eacute

que ele eacute aberto ou seja natildeo adota expressamente esta ou aquela tecnologia

mas permite que os tribunais conforme for evoluindo a informaacutetica adotem as

novas teacutecnicas explica

De acordo com Domingues a proposta da Ajufe natildeo elege expressamente o

sistema de senhas ou assinatura eletrocircnica para a comprovaccedilatildeo de envio e

recebimento eletrocircnico de documentos Poreacutem ainda que fosse adotada essa

metodologia natildeo haveria impedimentos pois eacute a exigecircncia baacutesica atualmente

para acessar qualquer serviccedilo eletrocircnico de bancos a livrarias virtuais O

sistema de assinatura eletrocircnica eacute tecnologia de ponta e pode vir a ser

adotado mas o projeto de lei da Ajufe teve o cuidado de natildeo especificar esses

detalhes operacionais no texto deixando a discussatildeo para a fase de

implementaccedilatildeo da leienfatizaPreviacuteamosjustamenteque tecnologias mais

avanccediladas iratildeo surgir A ideia foi redigir uma legislaccedilatildeo que permitisse

acompanhar essa evoluccedilatildeo sem a necessidade de se criar novas leis a cada

mudanccedila de metodologia

Quanto agrave seguranccedila do meio eletrocircnico Domingues lembra agrave OABSP que o

sistema informaacutetico eacute muito mais seguro que o atual Ou seraacute que ela imagina

que um falso advogado tenhaacute mais dificuldade em falsificar um papel timbrado

e uma assinatura em peticcedilatildeo convencional do que em fraudar todo um sistema

de seguranccedila eletrocircnico que permite inclusive o rastreamento do autor de

eventuais tentativas de fraude

254

DOCUMENTO IVe

NOTIacuteCIA DE 682002

INFORMATIZACcedilAtildeO AJUFE VAI LUTAR PELO PROJETO ORIGINAL

A Ajufe louva a rapidez com que o projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial de

sua autoriavem tramitando no Senado -aprovado no Plenaacuterio da Cacircmara dos

Deputados no uacuteltimo dia 19 de junho o projeto foi remetido jaacute no dia 26 ao Senado e

jaacute tem parecer do relator na Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila (CCJ) senador

Osmar Dias O senador emitiu parecer favoraacutevel ao projeto soacute que com substitutivo o

que significa mudanccedila em vaacuterios pontos da proposta original da AJUFE

O presidente da Ajufe juiz Paulo Seacutergio Domingues anunciou que pretende lutar pela

retomada do texto original do projeto jaacute que o tracircmite no Senado estaacute apenas

comeccedilando

Segundo Domingues as modificaccedilotildees propostas pelo senador geram o risco de

inviabilizar a implantaccedilatildeo da lei no curto prazo porque a imposiccedilatildeo de se adotar um

sistema nacional de chaves puacuteblicas e privadas formado por uma rede de empresas

certificadoras significa que a informatizaccedilatildeo do processo judicial soacute viraacute a ser

promovida quando implantado esse sistema de chaves no BrasilEacute um processo

complexo oneroso e muito demorado que natildeo tem data para ser implantando

lembra o presidente da Ajufe

Domingues tambeacutem argumenta que essa imposiccedilatildeo pela tecnologia de Chaves

puacuteblicas e privadas engessa o sistema de informatizaccedilatildeo Se o substitutivo passar

como estaacute seraacute necessaacuteria uma nova lei a cada nova tecnologia que for surgindo na

aacuterea e eacute justamente isso que a Ajufe procurou evitar em seu texto detalha o juiz

Revista Consultor Juriacutedico 6 de agosto de 2002

255

DOCUMENTO IVf

CARTA ABERTA IJURIS

TECNOLOGIA DA INFORMACAO JURIacuteDICA SOCIEDADE DA INFORMACcedilAtildeO E

GOVERNO ELETROcircNICO

wwwiiurisorg

Assunto Regulamentaccedilatildeo de procedimentos digitais

O domiacutenio de tecnologias inovadoras eacute um poderoso instrumento da soberania de uma

naccedilatildeo Com base nesta preocupaccedilatildeo o Ijuris Instituto Juriacutedico de Inteligecircncia e

Sistemas -vem estudando o fluxo de criaccedilatildeo de padrotildees tecnoloacutegicos para as

atividades puacuteblicas brasileiras e lanccedila a puacuteblico esta carta aberta

O cenaacuterio mundial apresenta atualmente diversas iniciativas de fixaccedilatildeo de padrotildees e

paracircmetros para a construccedilatildeo de modelos tecnoloacutegicos os quais diante da sua

crescente relevacircncia teratildeo longevidade prolongada na futura historia da humanidade

Diversos paises blocos de interesse conglomerados produtivos e associaccedilotildees

internacionais tecircm dedicado significativa parcela de suas preocupaccedilotildees traccedilando

estrateacutegias para delimitar referecircncias de padronizaccedilatildeo as quais vatildeo traccedilar o rumo de

muitas atividades produtivas orgacircnicas e governamentais

A sociedade brasileira estaacute proacutexima de receber uma grande inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

geradora de procedimentos que vatildeo incrementar a cidadania Trata-se da construccedilatildeo

eletrocircnica dos processos judiciais e procedimentos administrativosEste tema vem

despertando a atenccedilatildeo de importantes setores governamentais e produtivos do Brasil

Exatamente neste momento alguns pontos diretamente ligados a este assunto estatildeo

em discussatildeo no Congresso Nacional com adiantados encaminhamentos focados

exatamente na fixaccedilatildeo de padrotildees e paracircmetros tecnoloacutegicos

Diante deste contexto eacute importante destacar as seguintes diretrizes

1) Os paracircmetros a serem estabelecidos devem contemplar a diversidade tecnoloacutegica

2) A nova legislaccedilatildeo deve atender aos propoacutesitos da descentralizaccedilatildeo e da autonomia

3)No plano legala especificidade sobre requisitos teacutecnicos deve ser miacutenima e

geneacuterica

256

4) O modelo de custeio da implementaccedilatildeo das medidas deve permitir o alinhamento

de interesses entre instituiccedilotildees puacuteblicasempresas privadas instituiccedilotildees de pesquisa e

entidades educacionais comprometidas coma evoluccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica e

interessadas no desenvolvimento de sistemas que gerem o fortalecimento da

soberania e da cidadania

5) Todos os mecanismos devem ensejar agilidade e facilidade no acesso agrave

informaccedilatildeo

6) Os mecamismos regulatoacuterios e fiscalizatoacuterios devem adquirir uma modelagem

voltada agrave pluralidade dos segmentos da sociedade civil envolvidos no cenaacuterio juriacutedico

e tecnoloacutegico

7) O detalhismo natildeo pode se transformar em uma forma de geraccedilatildeo de dificuldades

procedimentais ou propiciar um panorama estaacutetico que dificulte a incorporaccedilatildeo de

futuras inovaccedilotildees

Para isto eacute fundamental que a lei processual apenas autorize a utilizaccedilatildeo de meios

eletrocircnicos na praacutetica de atos processuais e procedimentais e disponha sobre os

requisitos miacutenimos de seguranccedila no tracircnsito de documentos e informaccedilotildees

Eacute importante lembrar que existem fortes atenccedilotildees internacionais voltadas para a

fixaccedilatildeo de padrotildees tecnoloacutegicos nos paiacuteses emergentes e a criptografia e os padrotildees

eletrocircnicos de fluxo de documentos satildeo assuntos de interesse direto das

superpotecircncias mundiais

Adotando tais diretrizes estaremos incrementando nossa caminhada rumo ao

fortalecimento da cidadania digital

Florianoacutepolis22082002

Hugo Cesar Hoeschl Dr

Pesquisador do Ijuris

metaiurepsufscbr

wwwdigestonetcurriculo

Tacircnia Cristina DAgostini Bueno Msc

Pesquisadora do Ijuris

taniaijurisorg

257

DOCUMENTO V

Informaccedilotildees Processuais

Existem atalhos para consultas processuais na paacutegina do TRF3ordf R Obs Somente para navegadores Internet Explorer

Digite a tecla

Para consulta processual da Primeira Instacircncia - Justiccedila Federal SPMS

Para consulta processual aqui na Segunda Instacircncia - TRF3ordf R

Para consulta processual do Juizado Especial Federal - Revisatildeo de Aposentadoria

O que vocecirc deseja

Consultar Processo na 1ordf Instacircncia Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul

Consultar Processo no TRF 3ordf Regiatildeo

Consultar Processo no Juizado Especial Federal - SatildeoPaulo

Consultar Processo no Juizado Especial Federal - Campo Grande

Sistema Push do TRF3ordf Regiatildeo

Sistema Push da Justiccedila Federal de Satildeo Paulo

Consultar Acoacuterdatildeos

Peticcedilotildees Eletrocircnicas

CPF

Senha

Avanccedilar

Caso vocecirc ainda natildeo tenha se cadastrado clique aqui

Caso vocecirc tenha esquecido sua senha clique aqui

JUIZADO ESPECIAL FEDERAL PABX(11) 3254-1499 FAX (11) 3254-1495

httpwwwtrf3jusbr Acesso em 20112007

258

  • TEXTO JURIacuteDICO E PROCEDIMENTOS DE REFORMULACcedilAtildeO DISCURSIVA
  • AGRADECIMENTOS
  • RESUMO
  • ABSTRACT
  • REacuteSUMEacute
  • SUMAacuteRIO
  • INTRODUCcedilAtildeO
  • CAPIacuteTULO 1 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO HISTOacuteRICA
  • CAPITULO 2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
    • 21 Textos juriacutedicos e a Teoria da Enunciaccedilatildeo enunciado enunciador e contexto da enunciaccedilatildeo
    • 22 O dialogismo e a polifonia nos textos juriacutedicos
    • 23 A Retoacuterica e a Teoria da argumentaccedilatildeo a formaccedilatildeo do logos do ethos e a influecircncia do local
      • 231 A formaccedilatildeo do ethos
      • 232 O papel do local
      • 233 O auditoacuterio
      • 234 O ethos e o logos
        • 24 A reformulaccedilatildeo na liacutengua e no discurso juriacutedico
          • 241 Do ponto de vista linguiacutestico
          • 242 A reformulaccedilatildeo no direito empreacutestimo ldquotransplantrdquo ldquocirculationrdquo
          • 243 Liacutenguas diferentes culturas diferentes
          • 244 Reformulaccedilatildeo e mecanismos de substituiccedilatildeo
              • CAPITULO 3 O DISCURSO JURIacuteDICO
                • 31 Definiccedilatildeo
                • 32 Classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos no Direito
                • 33 Contexto o sistema juriacutedico brasileiro
                • 34 Metodologia das anaacutelises textos de lei
                • 35 Anaacutelise dos textos de lei
                  • 351 A Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (DDHC 1789)13
                  • 352 A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (DUDH 1948)
                  • 353 A Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF1988) Preacircmbulo e artigo 5deg LXXVIII
                  • 354 A lei 114192006 a lei de informatizaccedilatildeo judicial
                    • 36 Anaacutelise de outros textos
                      • 361 Voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio
                      • 362 Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada Luiza Erundina
                      • 363 Nota Oficial
                        • 37Resultado das anaacutelises
                          • CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
                          • REFEREcircNCIAS
                          • ANEXOS
Page 4: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses

4

A todos aqueles que acreditaram e me

auxiliaram a realizar este trabalho

5

AGRADECIMENTOS Aos meus avoacutes Adolpho e Augusta (in memoriam) que desde pequena me

incentivaram nos estudos

Aos meus pais Gustavo e Cleacutea pelo exemplo de vida que me proporcionaram

Agrave minha filha Ana Laura que soube compreender a importacircncia de minhas

escolhas

Aos amigos que incentivaram minha pesquisa

Agrave minha orientadora Tokiko Ishihara que sempre me incentivou mostrou os

caminhos a serem seguidos acreditou no desafio proposto e fez despontar a

minha capacidade

Ao professor Paulo Seacutergio Domingues que sempre participou das minhas

descobertas e se dispocircs a colaborar

A todos os meus professores da poacutes-graduaccedilatildeo que me apontaram percursos

e permitiram importantes trocas intelectuais

Aos funcionaacuterios da Universidade de Satildeo Paulo

6

La science consiste agrave passer dun

eacutetonnement agrave un autre

Aristote

7

RESUMO

Este trabalho realizado na Aacuterea de Estudos Linguiacutesticos Literaacuterios e

Tradutoloacutegicos de Francecircs do Departamento de Letras Modernas da

FFLCHUSP se situa na intersecccedilatildeo do Direito e das Ciecircncias da Linguagem

numa perspectiva multi e interdisciplinar do discurso juriacutedico

O corpus formado por textos juriacutedicos em liacutengua francesa e portuguesa

(brasileira) tem como objeto de estudo o discurso juriacutedico Nele conceitos de

direito foram ao longo do tempo modificados e integrados agraves praacuteticas sociais

O meacutetodo comparativo foi o escolhido para melhor examinar as

transformaccedilotildees

No primeiro texto escolhido pela sua importacircncia histoacuterica a Declaraccedilatildeo

de Direitos do Homem e do Cidadatildeo (Franccedila 1789) surgem os conceitos de

ldquohomemrdquo ldquoigualdaderdquo e ldquoliberdaderdquo Esses mesmos conceitos reaparecem na

Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (ONU 1948) em que direitos

mais explicitados conferem maior proteccedilatildeo ao homem O terceiro documento a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil (Brasil 1988) detalha no seu

artigo 5deg todos os direitos conferidos ao homem do seacuteculo XX conceitos que

ressurgem impliacutecitos na lei sobre a Informatizaccedilatildeo dos Processos Judiciais

(Brasil lei 114192006)

A partir da observaccedilatildeo desses documentos levanta-se a hipoacutetese de que

os conceitos apresentados de ldquohomemrdquo ldquoliberdaderdquo ldquoigualdaderdquo e de ldquojusticcedilardquo

natildeo satildeo os mesmos presentes no primeiro documento o que evidencia uma

evoluccedilatildeo soacutecio-histoacuterico-linguiacutestico-discursiva A reformulaccedilatildeo ocasiona

inclusive um apagamento de conceito Dessa forma o liame que une os

documentos eacute resultante de um processo

As noccedilotildees de polifonia e de dialogismo emprestados da Anaacutelise do

Discurso satildeo desenvolvidos a partir dos estudos bakhtinianos e dos

procedimentos argumentativos da retoacuterica renovada por Perelman bem como

das reformulaccedilotildees discursivas implicadas

8

No primeiro capiacutetulo os documentos satildeo contextualizados

historicamente a fim de que se possa entender seu surgimento O segundo

teoacuterico verifica a presenccedila da Teoria da Enunciaccedilatildeo e dos conceitos de

auditoacuterio ethos e logos integrantes da Teoria da Argumentaccedilatildeo Do ponto de

vista linguiacutestico-discursivo o que se valoriza satildeo as reformulaccedilotildees como

ferramentas dessas alteraccedilotildees Ressalta-se que tais transformaccedilotildees tecem-se

a partir das relaccedilotildees entre a Liacutengua e o Direito Os conceitos de ldquotransplantrdquo

ldquocirculation juridiquerdquo e ldquoempreacutestimordquo propostos pelo Direito Comparado

consideram as diferenccedilas entre as liacutenguas e as culturas francesa e brasileira O

terceiro capiacutetulo trata do discurso juriacutedico e de uma proposta de classificaccedilatildeo

dos diferentes textos em subgecircneros a partir de seu objetivo e local de

produccedilatildeo

O resultado das anaacutelises revela que o decurso do tempo provoca a

evoluccedilatildeo dos conceitos de ldquohomemrdquo ldquoliberdaderdquo ldquoigualdaderdquo e ldquojusticcedilardquo a

ponto de sua existecircncia material no texto escrito permitir seu apagamento

passando de concreta agrave abstrata jaacute que implicitamente eacute o conteuacutedo que

justifica a proposiccedilatildeo e a publicaccedilatildeo da lei Informatizaccedilatildeo dos Processos

Judiciais

PALAVRAS-CHAVE classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos discurso juriacutedico

enunciaccedilatildeo ethos reformulaccedilatildeo

9

ABSTRACT

This following thesis developed in the French Linguistic Literary and

Translation area of the Modern Language Department FFLCH USP lies in the

intersection of Law and Language Sciences

The corpus composed of legal texts in French and Portuguese (Brazilian)

has as its object of study of the legal discourse in which the concepts of law

over time have been modified and integrated with social practices The

comparative method was chosen to better examine these transformations

The first text chosen for its historical significance the Declaration of

Rights of Man and of the Citizen (1789 France) bring to the light the concepts

of man equality and freedom These same concepts reappear in the

Universal Declaration of Human Rights (UN 1948) in which most rights

specified give greater protection to the man The third document the

Constitution of the Federative Republic of Brazil (Brazil 1988) explains in its

5th article all rights granted to man of the 20th century concepts which

reappear implicit in the Law on the Informatized System of the Judicial Process

(Brazil law 114192006)

The observation of these documents raises the hypothesis that the

concepts presented man freedom equality and justice are not the same

in the first document which highlights a socio-historical-linguistic evolution-

discursive The reformulation causes also an erase of concept In this way the

link that connects the documents is the result of a process The concepts of

polyphony and dialogism borrowed from Discourse Analysis are developed from

Bakthinrsquos studies and procedures of argumentative renewed Rhetoric by

Perelman as well as discursives involved

In the first chapter documents are historically contextualized in order to

permit their understanding and emergence In the second chapter theoretical

the Enunciation Theory and the concepts of dialogism and polyphony are noted

in texts as well as the concepts of the Auditorium ethos and logos from the

10

Theory of Argumentation In the aspect of Linguistically-discursive cases the

reformulations are the tools of these changes It should be noted that such

transformations weave from relations between the Languag and the Law The

concepts of transplant circulation juridique and borrowing proposed by the

Comparative Law consider the differences between the French and Brazilian

languages and cultures The third chapter treat the legal discourse and

propose a classification for texts in different sub-genres from its goal and

production site

The result of the analysis prove that the course of time causes the evolution of

the concepts of man freedom equality and justice to the point that it

may even result in the erasure of his material existence in the written text

ranging from concret to abstract since its content appears implicitly in the

proposition and the publication of Law on the Informatized System of the

Judicial Process

KEYWORDS classification of legal texts legal discourse enunciation ethos

reformulation

11

REacuteSUMEacute

Cette eacutetude reacutealiseacutee dans la chaire drsquoEacutetudes Linguistiques Litteacuteraires et

Traduction en Franccedilais du Deacutepartement de Lettres Modernes FFLCH USP se

situe dans lintersection du Droit et de Sciences du Langage dans une

perspective multi et interdisciplinaire du discours juridique

Le corpus composeacute par des textes juridiques en langue franccedilaise et

portugaise (breacutesilienne) a comme objet drsquoeacutetude le discours juridique ougrave les

concepts de droit au fil du temps ont eacuteteacute modifieacutes et inteacutegreacutes aux pratiques

sociales La meacutethode comparative a eacuteteacute choisie pour mieux examiner ces

transformations

Le premier texte drsquoune grande importance historique la Deacuteclaration des

Droits de lHomme et du Citoyen (France 1789) reacutevegravele les concepts de

laquolhommeraquo laquoeacutegaliteacuteraquo et laquoliberteacuteraquo Ces mecircmes concepts reacuteapparaissent dans la

Deacuteclaration Universelle des Droits de lHomme (ONU 1948) dans laquelle des

droits plus explicites confegraverent une plus grande protection agrave lhomme Le

troisiegraveme document la Constitution de la Reacutepublique Feacutedeacuterative du Breacutesil

(Breacutesil 1988) deacutetaille dans son article 5 tous les droits accordeacutes agrave lhomme du

XXe siegravecle concepts qui deviennent implicites dans la loi sur lInformatisation

des Proceacutedures Judiciaires (Breacutesil Lei 11419 2006)

Agrave partir de lobservation de ces documents on souleacuteve lhypothegravese selon

laquelle les concepts laquohommeraquo laquoliberteacuteraquo laquoeacutegaliteacuteraquo et laquojusticeraquo ne sont pas les

mecircmes preacutesenteacutes dans le premier document ce qui teacutemoigne une eacutevolution

socio-historique-linguistique-discursive La reformulation provoque encore

lrsquoeffacement du concept Ainsi le lien qui relie ces documents est le reacutesultat dun

processus

Les notions de polyphonie et de dialogisme emprunteacutes de lrsquoAnalyse du

Discours sont deacuteveloppeacutes agrave partir des eacutetudes bakhtiniennes et des proceacutedures

12

argumentatives de la Rheacutetorique renouveleacutee par Perelman et aussi des

reformulations discursives impliqueacutees

Dans le premier chapitre les documents sont examineacutes dans leurs

contextes historiques afin de pouvoir comprendre leur parution Dans le

deuxiegraveme theacuteorique on veacuterifie la preacutesence de la Theacuteorie de lArgumentation

dans les textes et des concepts dauditoire dethos et de logos de la Theacuteorie de

lrsquoArgumentation Du point de vue linguistique-discursif les reformulations sont

les outils qui permettent ces changements Il faut remarquer que ces

transformations tissent les rapports entre la langue et le droit Les concepts de

transplant circulation juridique et emprunt proposeacutes par le Droit Compareacute

prennent en compte les diffeacuterences entre les langues et les cultures franccedilaise et

breacutesilienne Le troisiegraveme chapitre srsquooccupe du discours juridique et propose une

classification de textes dans diffeacuterents sous-genres drsquoapregraves leur but et leur lieu

de production

Le reacutesultat de lanalyse reacutevegravele que le passage du temps provoque

leacutevolution des concepts drsquolaquohommeraquo de laquoliberteacuteraquo dlsquolaquoeacutegaliteacuteraquo et de laquojusticeraquo et

peut mecircme aboutir dans leur effacement ai sein du texte eacutecrit allant du concret

agrave labstrait puisque son contenu apparaicirct implicitement dans la proposition et

dans la publication de la loi de lrsquoInformatisation des Proceacutedures Judiciaires

MOTS-CLEacuteS classification des textes juridiques discours juridique

eacutenonciation ethos reformulation

13

SUMAacuteRIO

INTRODUCcedilAtildeO15

CAPIacuteTULO 1 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO HISTOacuteRICA20

CAPIacuteTULO 2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA35

2 1 Texto juriacutedico e teoria da enunciaccedilatildeo35

22 Dialogismo e polifonia nos textos juriacutedicos40

23 Retoacuterica e a Teoria da argumentaccedilatildeo58

231 A formaccedilatildeo do ethos61

232 O papel do local 67

233 O auditoacuterio72

234 O ethos e o logos75

24 A reformulaccedilatildeo na liacutengua e no discurso juriacutedico83

241 Do ponto de vista linguiacutestico84

242 A reformulaccedilatildeo no direito empreacutestimo ldquotransplantrdquo

ldquocirculationrdquo87

243 Liacutenguas diferentes culturas diferentes94

244 Reformulaccedilatildeo e mecanismos de substituiccedilatildeo97

CAPIacuteTULO 3 O DISCURSO JURIacuteDICO100

31 Definiccedilatildeo100

32 Classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos no Direito 104

33 Contexto o sistema juriacutedico brasileiro109

14

34 Metodologia das anaacutelises textos de lei110

35 Anaacutelise dos textos de lei111

351 Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789111

352 Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948119

353 Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988133

354 Lei 114192006145

36 Anaacutelise de outros textos voto justificaccedilatildeo e nota oficial157

361 Voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio157

362 Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada Luiza

Erundina 163

363 Nota oficial 169

37 Resultado das anaacutelises184

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS188

REFEREcircNCIAS193

ANEXOS204

INTRODUCcedilAtildeO

15

Esta tese se situa na intersecccedilatildeo de duas grandes aacutereas do

conhecimento o Direito e as Ciecircncias da Linguagem e o breve olhar para a

Histoacuteria cumpre aqui apenas uma funccedilatildeo heuriacutestica Os eixos teoacuterico-

metodoloacutegicos foram escolhidos em funccedilatildeo da natureza interdisciplinar se natildeo

multidisciplinar deste estudo

O tema transversal escolhido pela autora se explica pela sua dupla

formaccedilatildeo ndash Direito e Letras-Francecircs e pela sua experiecircncia durante o periacuteodo

de docecircncia Nessa trajetoacuteria a observaccedilatildeo do discurso de especialidade pelos

textos de lei em liacutenguas francesa e portuguesa revelou semelhanccedilas e

dessemelhanccedilas que aparentemente natildeo eram somente de estrutura formal e

cultural mas de ordem linguiacutestica e discursiva

O texto que primeiro foi selecionado para a composiccedilatildeo do corpus foi o

que aparece em uacuteltimo lugar o texto da lei 114192006 (Lei da Informatizaccedilatildeo

do Processo Judicial) Tal texto aparentemente natildeo traz nenhuma referecircncia

ao texto ao qual estaacute intrinsecamente ligado o primeiro texto do corpus a

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo francesa de 1789 Todavia a

lei 114192006 assegura direitos decorrentes daqueles previstos na

Declaraccedilatildeo de 1789

Essa observaccedilatildeo levou agrave necessidade de se verificar em um estudo

mais detalhado qual o percurso dos princiacutepios de ldquoigualdade liberdade e

fraternidaderdquo do texto em francecircs de caraacuteter interno (a Declaraccedilatildeo de 1789) ateacute

a lei brasileira atual (114192006) que autoriza a informatizaccedilatildeo dos

processos judiciais

Tais princiacutepios surgem de forma rudimentar apoacutes a Revoluccedilatildeo Francesa

reaparecem no panorama internacional pela Declaraccedilatildeo Universal de Direitos

do Homem de 1948 ressurgem na Constituiccedilatildeo brasileira de 1988 e acabam

por ecoar no escopo da lei 114192006

Para a realizaccedilatildeo do estudo apresentado julgou-se necessaacuterio analisar

aleacutem dos textos de lei acima mencionados outros textos a eles relacionados

ou seja o voto do deputado responsaacutevel pela aprovaccedilatildeo da lei 114192006 na

16

Cacircmara dos Deputados a justificaccedilatildeo do Projeto de Lei e uma Nota Oficial

publicada pela Associaccedilatildeo de Juiacutezes Federais

A tese tem por isso como objeto o estudo das reformulaccedilotildees linguiacutesticas

e discursivas como fator estruturador do discurso juriacutedico numa tentativa de

mostrar como se daacute o encontro do eu e do outro Os tipos variados de

empreacutestimos se mostram por meio de um mesmo leacutexico ou de construccedilotildees

gramaticais equivalentes mas diferentes Revelam num primeiro momento e

dentro de uma mesma liacutengua alteraccedilotildees linguiacutesticas e de sentido Em outro

momento essas alteraccedilotildees ultrapassam fronteiras e se transpotildeem de uma

liacutengua para a outra isto eacute da liacutengua francesa para a portuguesa de uma

cultura para outra e assim o direito francecircs e o direito brasileiro se conjugam o

primeiro imprime seus traccedilos no segundo

Os objetivos principais dessa pesquisa que percorre 217 anos de

histoacuteria satildeo sobretudo o de verificar a transposiccedilatildeo e a reformulaccedilatildeo do

princiacutepio de Direito agrave justiccedila aleacutem de averiguar se o termo evolui ou apenas se

modifica quando se transpotildee de uma cultura para outra

Isto implica tambeacutem analisar de que forma os termos ou expressotildees

satildeo retomados a partir de um discurso preacute-existente verificar quais os

deslocamentos e alteraccedilotildees de sentidos produzidos e averiguar as respectivas

consequecircncias relativas agrave forma e ao conteuacutedo nos textos

O objetivo especiacutefico da pesquisa eacute mostrar pela anaacutelise dos textos

escolhidos como se estabelecem as relaccedilotildees entre esses diferentes textos

quais satildeo os procedimentos de reformulaccedilatildeo presentes e de que forma o

direito agrave justiccedila se manifesta no escopo da nova lei

A dificuldade encontrada para se descrever e caracterizar o discurso

juriacutedico foi o que determinou a escolha desse objeto de estudo jaacute que os vaacuterios

trabalhos existentes sobre a linguagem juriacutedica tratam sobretudo das relaccedilotildees

do texto juriacutedico com a Semacircntica Alguns deles analisam o discurso sob o

ponto de vista de sua produccedilatildeo e recepccedilatildeo e suas consequentes implicaccedilotildees

sociais poliacuteticas econocircmicas histoacutericas ou ideoloacutegicas Outros na aacuterea

aplicada de liacutengua tratam da questatildeo como discurso de especialidade

O que se pretende mostrar desse modo eacute uma visatildeo do discurso

juriacutedico sincrocircnica e diacrocircnica por meio de uma anaacutelise dos textos que

17

considere a linha do tempo em relaccedilatildeo aos termos empregados sua evoluccedilatildeo

e os sentidos no uso do mesmo termo em uma uacutenica ou em duas liacutenguas

A anaacutelise dessas questotildees considerou um estudo das caracteriacutesticas

formais desses textos o que permitiu a classificaccedilatildeo do gecircnero juriacutedico em

subgecircneros Permitiu tambeacutem tratar da transposiccedilatildeo de conceitos de direito de

uma liacutengua para outra apreciando ainda questotildees culturais

O referencial teoacuterico adotado para estudar esses questionamentos se

apoacuteia nos estudos realizados por Bakhtin relativos agrave caracterizaccedilatildeo do gecircnero

do discurso cujo objetivo eacute determinar a especificidade do discurso juriacutedico e

sustentar a caracterizaccedilatildeo de seus subgecircneros

O arcabouccedilo teoacuterico se apoacuteia tambeacutem nos conceitos de polifonia e

dialogismo realizados por Bakhtin e desenvolvidos por Charaudeau

Maingueneau e Arriveacutee

O estudo destes conceitos conduz agrave origem da produccedilatildeo textual que

aparece como decorrente de praacuteticas sociais habituais conforme aponta

Bourdieu Por muitas vezes os textos satildeo consequentes da atividade juriacutedica

profissional questotildees essas abordadas pela linguiacutestica juriacutedica nos estudos de

Damette e Cornu

Coadjuvante ao referencial bakhtiniano e dos outros acima citados

escolheu-se aprofundar o que Maingueneau esboccedilou nos estudos realizados

em textos de comunicaccedilatildeo em relaccedilatildeo ao ethos e ao logos dos textos Para

tanto o fundamento teoacuterico escolhido foi o apresentado por Perelman em sua

Teoria da Argumentaccedilatildeo sobretudo em relaccedilatildeo aos fundamentos da formaccedilatildeo

do ethos Associados a esta perspectiva estatildeo os estudos de Plantin e Amossy

sobre a argumentaccedilatildeo

Em relaccedilatildeo agraves concepccedilotildees sobre o universo juriacutedico o trabalho se

fundamenta a partir dos estudos de base sobre o Direito apresentados por

Kelsen Bobbio Perelman e Alves As origens da Declaraccedilatildeo dos Direitos do

Homem foram abordadas a partir das obras de Jellineck Del Vecchio e

Verdoodt Para precisar a evoluccedilatildeo e repercussatildeo desses direitos no Direito

internacional e nacional adotaram-se os estudos realizados por Casella

Dollinger Cretella e Wise

18

A metodologia adotada neste trabalho foi a da comparaccedilatildeo dos textos do

corpus com o objetivo de identificar as categorias presentes dentro de um

mesmo gecircnero o juriacutedico As semelhanccedilas e contrastes entre os textos que

compotildeem o corpus tambeacutem satildeo abordadas a fim de se diferenciar o aspecto

formal de cada um e proceder a uma caracterizaccedilatildeo do discurso juriacutedico

textual

A constituiccedilatildeo do corpus se fez a partir de uma lei bastante inovadora

em relaccedilatildeo agraves praacuteticas juriacutedicas e que tem na sua base mesmo que natildeo se

identifique ao primeiro olhar um dos princiacutepios estabelecidos pela Declaraccedilatildeo

dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo o Direito agrave justiccedila A ela foram

acrescidos outros textos de forma retroativa e natildeo necessariamente de lei

mas ligados agrave sua origem e que satildeo representativos dessa caracteriacutestica

uniacutevoca Conveacutem ressaltar que a anaacutelise seraacute realizada a partir do documento

mais antigo

Paralelamente observou-se que no sistema juriacutedico brasileiro a

Constituiccedilatildeo Federal vigente de 1988 autoriza e eacute a base para a publicaccedilatildeo da

lei 114192006 O artigo 5deg dessa constituiccedilatildeo por sua vez baseia-se no que

estabelece a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo (DDHC) de

1789 elaborada na Franccedila logo apoacutes a Revoluccedilatildeo francesa E a Declaraccedilatildeo

Universal dos Direitos do Homem (DDUH) de 1948 que o Brasil assina como

tratado internacional (em 1948) tambeacutem se inspira na DDHC francesa Esse eacute

o liame que seraacute apontado no conjunto principal de documentos que integram o

corpus

O primeiro texto escolhido o da lei 11419 de 19 de dezembro de 2006

conhecido como a lei de Informatizaccedilatildeo Judicial originou-se de uma proposta

de projeto de lei apresentada em 2001 e foi votado pela Cacircmara dos

Deputados e pelo Senado Durante o periacuteodo de sua votaccedilatildeo a proposta

recebeu criticas positivas e negativas mas finalmente obteve sua aprovaccedilatildeo

A ele foram acrescentados os outros textos de modo que integram o corpus os

seguintes textos

I- Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789 (DDHC)

19

II- Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 (DUDH) em liacutengua

francesa

III- Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF88) Preacircmbulo

e artigo 5ordm

IV- Lei 114192006 sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial (LIPJ)

Textos relativos agrave lei 114192006

a) Apresentaccedilatildeo (do projeto de lei)

b) Parecer e voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio de 2252002

c) Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei nordm 58282001 ndash Deputada Luiza Erundina

d) Nota Oficial de 19602

e) Notiacutecia de 6802

f) Carta Aberta IJURIS

Cumpre observar que a pesquisa dos documentos foi feita ao longo do

periacuteodo de estudos e que nem sempre o acesso dos websites permaneceu

vigente Isso explica que muitos tenham a data de 122012 data em que foram

revisados todos os acessos

20

CAPIacuteTULO 1 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO HISTOacuteRICA

Os textos apresentados no corpus deste trabalho tecircm uma importacircncia

muito grande natildeo soacute na Histoacuteria brasileira mas tambeacutem na Histoacuteria mundial

pois modificam os paradigmas do Direito Satildeo textos que afetam as realidades

francesa brasileira e internacional pois dirigem orientam e alteram o percurso

do paiacutes ou dos paiacuteses envolvidos O objetivo deste panorama eacute contextualizar

a anaacutelise que se faraacute deles posteriormente Seratildeo apresentadas de forma

abreviada as histoacuterias das origens dos seguintes documentos

I Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789 (DDHC)

II Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 (DUDH)

III Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF88)

IV Lei 114192006 sobre a Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial e seus

documentos anexos (LIPJ)

a Apresentaccedilatildeo

b Voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio

c Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282201 - Deputada Luiza

Erundina

d Nota Oficial de 1962002

e Noticia de 682002

f Carta Aberta IJURIS

I A Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789

A declaraccedilatildeo eacute um documento que foi produzido logo apoacutes a queda da

Bastilha na Franccedila revolucionaacuteria e seu escopo inicial era o de assegurar que

21

natildeo seria mais possiacutevel que um governo absolutista tomasse o poder e que as

garantias individuais dos cidadatildeos franceses fossem respeitadas

Em 27 de julho de 1789 foram abertos os debates na Assembleia

Nacional para a elaboraccedilatildeo de tal documento Para a maioria dos deputados o

documento era necessaacuterio como preliminar de uma Constituiccedilatildeo e vaacuterios foram

os projetos que tentaram realizaacute-lo Nas sessotildees subsequentes a grande

questatildeo era se a declaraccedilatildeo de tais direitos natildeo traria de modo reverso um

abuso de seu exerciacutecio dado seu caraacuteter apaziguador dos acircnimos exaltados

pelas manifestaccedilotildees turbulentas da populaccedilatildeo

Visto o calor dos debates e uma falta de consenso em 18 de agosto a

Assembleia decidiu que um comitecirc analisaria os projetos apresentados por La

Fayette Sieyegraves e o ldquosexto gabineterdquo e foi a siacutentese do que foi apresentado

como a Declaraccedilatildeo final em 26 de agosto de 1789 que passou para a Histoacuteria

A imagem que a Assembleia projeta eacute a de um grupo preocupado com a

estabilidade e que procura um consenso para a soluccedilatildeo dos problemas

Ora o projeto apresentado por La Fayette era calcado na Declaraccedilatildeo de

Independecircncia dos Estados Unidos de 1776 La Fayette chegou ateacute mesmo a

ler na sessatildeo de 11 de julho conforme nos relata Jellinek (1902) o documento

estadunidense traduzido por Thomas Jefferson

A declaraccedilatildeo de Independecircncia dos Estados Unidos era por sua vez o

reflexo e a siacutentese de vaacuterias cartas de direitos de suas colocircnias antes da uniatildeo

federativa que as reuniu Seu conteuacutedo visava estabelecer um estado de direito

em relaccedilatildeo agrave organizaccedilatildeo e ao funcionamento administrativo do territoacuterio

garantindo liberdades que lhes eram fundamentais sobretudo a liberdade de

consciecircncia e a religiosa

Como bem mostrou Jellinek (1902) em sua obra os estadunidenses jaacute

tinham a vivecircncia praacutetica dos problemas de administraccedilatildeo e da vida

comunitaacuteria precisando apenas cristalizar no texto escrito a organizaccedilatildeo e a

preservaccedilatildeo de suas instituiccedilotildees e de seus indiviacuteduos

22

Neste ponto a Declaraccedilatildeo de Direitos francesa lhe eacute fundamentalmente

oposta Os franceses primeiro estabeleceram os direitos que julgavam

necessaacuterios para um bom funcionamento do novo governo que acabara de se

constituir para depois organizar suas instituiccedilotildees

II Declaraccedilatildeo universal dos Direitos do Homem de 1948 ndash em liacutengua

francesa

O segundo documento que integra esta anaacutelise a DUDH encontra-se

publicado nos sites da ONU1 na versatildeo em francecircs Foi produzido a fim de

assegurar que atrocidades tais como as acontecidas nas duas Grandes

Guerras Mundiais a de 1914 e a de 1939 natildeo pudessem mais ocorrer Seu

objetivo era proteger os direitos dos cidadatildeos como indiviacuteduos de

nacionalidades diferentes integrantes de uma comunidade universal-

internacional

Esse documento ldquoune feuille de route garantissant les droits de chaque

personne en tout lieu et en tout tempsrdquo teve seu texto final redigido por Reneacute

Cassin eminente jurista francecircs e foi apresentado em Genebra sendo

adotado pela resoluccedilatildeo 217 A (III) da ONU em 10 de dezembro de 1948

reunida em Paris com oito votos de abstenccedilatildeo e sem nenhuma contestaccedilatildeo

A DUDH inspirou pactos convenccedilotildees e tratados sobre os direitos do

homem Pode-se dizer que todos os programas da ONU hoje satildeo baseados em

seus princiacutepios Como primeiro documento do reconhecimento universal das

liberdades e dos direitos fundamentais inerentes de todo ser humano livre e

igual em direitos independentemente da nacionalidade residecircncia sexo etnia

cor religiatildeo liacutengua ou qualquer outra diferenccedila - seu objetivo eacute promover a

justiccedila ldquopour chacun drsquoentre nousrdquo

1 httpwwwunorgfrdocumentsudhrindexshtml Acesso em 22122012

23

Sua importacircncia se deve ao fato desse documento enunciar as

obrigaccedilotildees de cada Estado e seu dever de respeitar os princiacutepios ali

estabelecidos ateacute o ponto de se necessaacuterio natildeo intervir e natildeo restringir o

exerciacutecio dos direitos do homem2

Resultado de quase dois anos de trabalhos de uma comissatildeo formada

por 8 dos 18 membros participantes de diferentes horizontes poliacuteticos culturais

e religiosos teve como presidente dos trabalhos de discussatildeo Eleanor

Roosevelt viuacuteva do presidente estadunidense que assumiu esta tarefa apoacutes a

morte de seu marido

Os princiacutepios enunciados na declaraccedilatildeo (de universalidade

interdependecircncia indivisibilidade igualdade e natildeo-discriminaccedilatildeo) atribuiacuteram

aos 50 Estados signataacuterios em 1948 obrigaccedilotildees que exprimem de forma

concreta a universalidade e internacionalidade da DUDH o que se constata

pelo fato de 80 dos paiacuteses atualmente a adotarem assegurando direitos a

cada homem sob sua proteccedilatildeo por meio de legislaccedilatildeo que integre os tratados

aos seus sistemas juriacutedicos internos

Existe uma versatildeo desse texto no site da ONU em liacutengua portuguesa

Mas natildeo haacute referecircncia sobre a data de publicaccedilatildeo ou da traduccedilatildeo da

respectivas versatildeo Foram encontradas diferenccedilas no emprego de

determinados termos e por natildeo ser possiacutevel determinar seu motivo optou-se

pela versatildeo em francecircs que foi a primeira a ser publicada3 aleacutem do fato de ser

a liacutengua nativa do responsaacutevel por sua redaccedilatildeo Reneacute Cassin

2 Os documentos em liacutengua portuguesa vatildeo sempre usar o termo ldquodireitos humanosrdquo Entretanto preferiu-

se neste trabalho adotar a expressatildeo ldquodireitos do homemrdquo pois ao se usar um uacutenico adjetivo (humanos)

haacute em nosso entender uma alteraccedilatildeo de sentido a expressatildeo deixa de ser composta por coordenaccedilatildeo e

passa a ser apenas adjetivada O adjetivo usado associado ao substantivo eacute bem verdade integra-se a ele

mas por outro lado perde o impacto da justaposiccedilatildeo apaga a palavra homem que eacute o sujeito e o objeto

central dos direitos Cumpre notar que em liacutengua francesa o termo foi mantido (ldquodroits de lrsquohommerdquo) e

que se poderia ter optado por ldquodroits humainsrdquo o que natildeo ocorreu preferindo manter-se a expressatildeo tal

qual foi adotada em sua origem

3 Eacute possiacutevel que na traduccedilatildeo em liacutengua portuguesa o momento histoacuterico diferente tenha resultado em

escolhas diferenciadas em relaccedilatildeo aos termos empregados Mas a primeira versatildeo em liacutengua francesa vem

cotejada pela versatildeo em liacutengua inglesa e o emprego de vaacuterios termos e expressotildees tambeacutem natildeo eacute o

mesmo Tal problemaacutetica deveraacute ser tratada em estudos posteriores ao dessa tese

24

III Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 Preacircmbulo

e artigo 5ordm

A fim de entender o extrato desse documento faz-se necessaacuterio situaacute-lo

historicamente Segundo Cretella (1994) as quatro Declaraccedilotildees

Revolucionaacuterias Francesas influem na Constituiccedilatildeo Poliacutetica do Impeacuterio do

Brasil de 1824 Satildeo elas

a) A de 17 artigos e mais conhecida a Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem

e do Cidadatildeo pois seus artigos constam no Proacutelogo da Constituiccedilatildeo de

1791 e na de 1958 tambeacutem Foi votada pela Assembleia Constituinte

francesa em 27 de agosto de 1789

b) A Declaraccedilatildeo girondina de 1793 votada pela Convenccedilatildeo

c) A Declaraccedilatildeo Montanhesa de 1793 que deveria preceder a constituiccedilatildeo

mas que acabou natildeo sendo votada

d) A Declaraccedilatildeo do Ano III que precede a Constituiccedilatildeo de 5 Frutidor (do

mesmo ano) votada tambeacutem pela Convenccedilatildeo

No Brasil os cem constituintes da Assembleia Constituinte de 1823

convocada em 19 de junho de 1822 pelo Priacutencipe Regente antes de

proclamada a Independecircncia do Brasil receberam grande influencia de Antonio

Carlos de Andrada e Silva4 nomeado seu relator Quatro meses depois por

desentendimentos entre os brasileiros e portugueses adotivos infelizmente a

Assembleia foi dissolvida por sua Alteza Real que criou em seguida um

Conselho de Estado para elaborar um novo projeto de constituiccedilatildeo

4 ldquoA Constituiccedilatildeo do Impeacuterio do Brasil de 1824 teve a sua elaboraccedilatildeo encomendada pelo Imperador Dom

Pedro I Primeira constituiccedilatildeo brasileira foi marcada pela influecircncia das constituiccedilotildees europeias A

Assembleia Nacional Constituinte reunida para sua criaccedilatildeo era composta por um total de 90 membros

eleitos na qual destacavam-se os proprietaacuterios rurais bachareacuteis em leis aleacutem de militares meacutedicos e

funcionaacuterios puacuteblicos O anteprojeto constitucional foi elaborado por uma comissatildeo composta por seis

deputados sob a lideranccedila de Antocircnio Carlos de Andrada e Silva irmatildeo de Joseacute Bonifaacutecio de Andrada e

Silva O anteprojeto foi marcado pela manutenccedilatildeo do sistema escravista e pela divisatildeo dos trecircs poderes

executivo legislativo e judiciaacuterio A primeira carta constitucional do Brasil foi outorgada jaacute que D Pedro

I natildeo aceitando ter poderes limitados dissolveu a Assembleia Constituinterdquo In

httpbdcamaragovbrbdhandlebdcamara8528 Acesso em 22122012

25

Esta constituiccedilatildeo foi considerada por alguns comentaristas como a mais

bela e perfeita do seacuteculo XIX Foi influenciada pelo jurista pensador e filoacutesofo

positivista Benjamin Constant Ela assegura vaacuterios dos direitos que ainda

ecoam na Constituiccedilatildeo de 1988 jaacute que tambeacutem a plena liberdade de

consciecircncia crenccedila e culto coibiu a perseguiccedilatildeo religiosa e aboliu os accediloites a

tortura e demais penas crueacuteis

O excerto utilizado neste trabalho faz parte da oitava constituiccedilatildeo

brasileira a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 a qual

vigora ateacute hoje Apoacutes um periacuteodo em que houve uma sequecircncia de Atos

Institucionais e uma disposiccedilatildeo de se restaurar um estado democraacutetico o

presidente Joatildeo Baptista Figueiredo eleito indiretamente aprova algumas

Emendas Constitucionais entre elas a EC no15 restabelecendo a eleiccedilatildeo

direta para Governadores dos Estados e Senadores Eleito o presidente

seguinte Tancredo Neves em 1984 devido ao seu falecimento quem toma

posse eacute seu vice Joseacute Sarney que daacute iniacutecio agrave Nova Repuacuteblica e convoca

atraveacutes de novas Emendas Constitucionais

ldquoos Membros da Cacircmara dos Deputados e do Senado Federal a

reunirem-se unicameralmente no dia 1ordm De fevereiro de 1987

na sede do Congresso Nacional devendo o Presidente do

Supremo Tribunal Federal instalar a Assembleia e dirigir a

sessatildeo de eleiccedilatildeo de seu Presidente sendo afinal a Constituiccedilatildeo

promulgada no fim dos trabalhos depois da aprovaccedilatildeo de seu

Texto em dois turnos de discussatildeo e votaccedilatildeo pela maioria

absoluta dos membros colegiadosrdquo 5

A Assembleia Nacional Constituinte cuja missatildeo especiacutefica era a de

elaborar a nova constituiccedilatildeo foi formada apoacutes a eleiccedilatildeo de Deputados e

Senadores foi criada uma Comissatildeo de Estudos Constitucionais um grupo de

ldquonotaacuteveisrdquo nomes conhecidos e representativos da sociedade brasileira que

deveriam se reunir para debater e apresentar sugestotildees Instalada em 20 de

agosto de forma solene a Comissatildeo deu inicio aos trabalhos Entretanto tal

5 Arts 1ordm 2ordm e 3ordm Da EC no 12 aspas do autor

26

qual ocorrera na primeira constituiccedilatildeo brasileira a imperial natildeo se chegou a

um consenso com artigos de impossiacutevel aceitaccedilatildeo

Foram entatildeo convocadas eleiccedilotildees e por fim tal qual determinava a EC

no 2685 os 559 membros eleitos das duas casas se reuniram

unicameralmente em 1ordm de fevereiro de 1987 na sede do Congresso Nacional

sob a direccedilatildeo do Presidente do Supremo Federal Professor e Ministro Joseacute

Carlos Moreira Alves O Senador Humberto Lucena foi eleito Presidente do

Senado e teve o Deputado Ulysses Guimaratildees como Presidente da

Constituinte no seu primeiro dia Finalmente aos 5 de outubro de 1988 o Brasil

teve promulgada a sua Oitava Constituiccedilatildeo

Este terceiro documento foi produzido logo apoacutes o fim do periacuteodo de

governo militar Seu escopo aleacutem de organizar o Estado e as relaccedilotildees entre os

indiviacuteduos que dele fazem parte era sobretudo o de resguardar as instituiccedilotildees

e o cidadatildeo brasileiros Dessa forma seus artigos tecircm como objetivo principal

natildeo permitir mais a instalaccedilatildeo no poder de um governo de forccedila e autoritaacuterio e

assegurar o respeito das garantias individuais do cidadatildeo tais como sua

liberdade e a igualdade entre os indiviacuteduos

Os trechos selecionados satildeo o Preacircmbulo o caput do artigo 5ordm e seu

inciso LXVVIII O Preacircmbulo texto que antecede o texto propriamente dito da

Constituiccedilatildeo e que auxilia o inteacuterprete a entender melhor o pensamento do

constituinte (mens legislatoris) funciona como um acessoacuterio do texto principal

pois como deve ser afirma princiacutepios Eacute uma siacutentese do pensamento

dominante conforme ensina Cavalcanti6 mostrando seu conteuacutedo ideoloacutegico e

seus propoacutesitos7

6CAVALCANTI Temiacutestocles Brandatildeo A Constituiccedilatildeo Federal comentada 3ordf Ed 1956 V I p14

apud CRETELLA 1994

7 Cretella analisa termo a termo do Preacircmbulo ao longo de 23 paacuteginas ressaltando sua categoria

gramatical e seu sentido dentro do texto

27

Conforme expotildee Cretella (1994) Mangabeira poliacutetico brasileiro explica

que a igualdade consiste ldquoem considerar desigualmente condiccedilotildees desiguais

de modo a abrandar tanto quanto possiacutevel pelo direito as diferenccedilas sociais e

por ele promover a harmonia social o equiliacutebrio dos interesses e da sorte das

classes A concepccedilatildeo individualista do direito desaparece ante a sua

socializaccedilatildeo como instrumento de justiccedila social solidariedade humana e

felicidade coletiva8rdquo

Cretella (1994) trata especialmente do excerto ldquoTODOS satildeo iguaisrdquo

explicando que este todos se refere a ldquoldquotodos os seres humanosrdquo ldquotodos os

homens e mulheresrdquo ldquotodos os brasileirosrdquo em peacute de igualdade satildeo iguais

ldquoperante a leirdquo

ldquoPor quecircPorque os homens nascem livres e iguais em direitos ldquoAs

distinccedilotildees sociais natildeo podem ser baseadas a natildeo ser na utilidade comumrdquo

(art 1ordm da Declaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeo de 3 de setembro

de 1791) 9rdquo

As distinccedilotildees porventura existentes seriam as de ldquosexordquo ldquoraccedilardquo ldquocorrdquo

ldquoreligiatildeordquo ou ldquocredo religiosordquo ldquotrabalhordquo ldquoconvicccedilotildees poliacuteticasrdquo

ldquofilosoacuteficasrdquo rdquoorigemrdquo ldquoidaderdquo como se encontram enumeradas no art 3ordm

III que a final acrescenta ldquooutras formas de discriminaccedilatildeordquo que equivale a

ldquosem distinccedilatildeo de qualquer naturezardquo Precedendo a ldquofraternidaderdquo a

Revoluccedilatildeo Francesa colocou a ldquoigualdaderdquo lado a lado com a ldquoliberdaderdquo

Com efeito natildeo soacute a monarquia francesa como as monarquias de todo o

mundo inclusive a brasileira oriunda da lusitana eram baseadas em classes

sociais bem estratificadas resultando daiacute tratamento juriacutedico diverso

desigual prevalecendo os privileacutegios e prerrogativas que foi desfeito pelas

Repuacuteblicas responsaacuteveis pelos principio de isonomia como prerrogativa do

homem livre e igual perante a lei ldquoO principio de isonomia oferece na sua

aplicaccedilatildeo agrave vida inuacutemeras e seacuterias dificuldades De fato conduziria a

inominaacuteveis injusticcedilas se importasse em tratamento igual para os que se

acham em desigualdade de situaccedilotildees A injusticcedila que reclama tratamento

igual para os iguais pressupotildee tratamento desigual para os desiguais Ora a

necessidade de desigualar os homens em certos momentos parar estabelecer

8 MANGABEIRA Joatildeo Em torno da Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1934 p

261 apud CRETELLA 1994

9 A data apresentada por Cretella difere da data que consta no site do governo francecircs

httpwwwtextesjusticegouvfrtextes-fondamentaux-10086droits-de-lhomme-et-libertes-

fondamentales-10087declaration-des-droits-de-lhomme-et-du-citoyen-de-1789-10116html Acesso em

22122012

28

no plano do fundamental a sua igualdade cria problemas delicados que nem

sempre a razatildeo humana resolve adequadamenterdquo10

Cretella tambeacutem discorre sobre o direito agrave igualdade tratando deste item

sob a oacutetica daquele que pretende ingressar nos quadros de agentes do Estado

ldquoeacute a aplicaccedilatildeo no plano do serviccedilo publico dos princiacutepios estabelecidos pela

Declaraccedilatildeo dos direitos do homem para todos os cidadatildeos como pretendendo

participar das atividades exercidas pelo Estado como tambeacutem regulando a

situaccedilatildeo do usuaacuterio beneficiaacuterio do serviccedilo publicordquo

Entretanto termina dizendo o seguinte

ldquoO principio da igualdade sob a forma de proposiccedilatildeo mandamental pode ser assim

expresso ldquoOs administrados que preenchem os requisitos prescritos nas leis e

regulamentos tem o direito subjetivo publico de exigir o mesmo tratamento por parte do

Estadordquordquo

O inciso LXXVIII foi acrescido pela Emenda Constitucional no 45 de 9 de

dezembro de 2004 Trata como ensina Alexandre de Moraes (2011)

ldquoA EC no 4504 (Reforma do Judiciaacuterio) assegurou a todos no acircmbito

judicial e administrativo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que

garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeordquo

()

ldquoOs processos administrativos e judiciais devem garantir todos os direitos agraves

partes sem contudo esquecer a necessidade de desburocratizaccedilatildeo de seus

procedimentos e na busca de qualidade e maacutexima eficaacutecia de suas decisotildees

Na tentativa de alcanccedilar esses objetivos a EC no 4504 trouxe diversos

mecanismos de celeridade transparecircncia e controle de qualidade da atividade

jurisdicionalrdquo

()

ldquoO sistema processual judiciaacuterio necessita de alteraccedilotildees infraconstitucionais

que privilegiem a soluccedilatildeo dos conflitos a distribuiccedilatildeo de Justiccedila e maior

seguranccedila juriacutedica afastando-se tecnicismos exageradosrdquo

10

FERREIRA FILHO Manoel Gonccedilalves Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira Volume III 6ordf ed

Satildeo Paulo Saraiva 1986 p581 apud CRETELLA 1994

29

IV Lei 114192006 sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial

A lei 114192006 eacute uma lei federal que regula as praacuteticas relativas agraves

novas tecnologias ligadas agrave informaacutetica e que podem ser utilizadas no Poder

Judiciaacuterio O objetivo da lei eacute o de acelerar os procedimentos judiciais de

regular ao mesmo tempo em que torna homogecircnea e permite a modernizaccedilatildeo

das praacuteticas jaacute existentes no Poder Judiciaacuterio

O texto da Lei 114192006 vem assinado pelo Presidente da Repuacuteblica e

pelo Ministro da Justiccedila ambos representantes do Poder Executivo O Poder

Executivo conforme define o artigo 76 CF88 eacute exercido pelo Presidente da

Repuacuteblica e seus Ministros de Estado O presidente da Repuacuteblica tem

competecircncias privativas definidas pelo artigo 84 entre elas a de iniciar o

processo legislativo sancionar promulgar e fazer publicar leis e expedir

decretos e regulamentos para que as leis possam ser promulgadas aleacutem de

vetar projetos de lei de forma parcial ou total11

O Poder Executivo dito federal age diretamente atraveacutes de seus

Ministeacuterios na execuccedilatildeo de programas ou prestaccedilatildeo de serviccedilo puacuteblico ou

indiretamente atraveacutes de empresas puacuteblicas Tambeacutem exerce o controle do

Poder Judiciaacuterio pois nomeia os ministros dos diferentes Tribunais Superiores e

o controle do Legislativo pois participa da elaboraccedilatildeo de leis sancionando ou

vetando projetos

O Ministeacuterio da Justiccedila dentre os diversos Ministeacuterios e respectivas

11

Art 84 Compete privativamente ao Presidente da Repuacuteblica

I - nomear e exonerar os Ministros de Estado

II - exercer com o auxiacutelio dos Ministros de Estado a direccedilatildeo superior da administraccedilatildeo federal

III - iniciar o processo legislativo na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo

IV - sancionar promulgar e fazer publicar as leis bem como expedir decretos e regulamentos para sua

fiel execuccedilatildeo

V - vetar projetos de lei total ou parcialmente

30

Autarquias que compotildeem o Governo Federal eacute o mais antigo criado em 3 de

julho de 1822 pelo Priacutencipe Regente D Pedro com nome de Secretaria de

Estado de Negoacutecios da Justiccedila Seus ministros auxiliam o Presidente da

Repuacuteblica no exerciacutecio do Poder Executivo

Aos Ministros de Estado de acordo com o artigo 87 cabe entre outras

a funccedilatildeo de referendar os atos e decretos assinados pelo Presidente da

Repuacuteblica exercer a orientaccedilatildeo coordenaccedilatildeo e supervisatildeo dos oacutergatildeos e

entidades da administraccedilatildeo federal de sua aacuterea de administraccedilatildeo e praticar atos

que lhe forem atribuiacutedos pelo Presidente da Repuacuteblica

Textos de IVa ateacute IVf

Os textos seguintes de IVa ateacute IVf integrantes deste trabalho seratildeo

utilizados como fonte para que se possa contextualizar e justificar o texto da Lei

114192006 da informatizaccedilatildeo judicial e somente alguns deles seratildeo

analisados Encontram-se numa cartilha que foi elaborada pela Associaccedilatildeo dos

Juiacutezes Federais do Brasil e que foi distribuiacuteda aos parlamentares por ocasiatildeo da

votaccedilatildeo final em que a mesma lei foi aprovada O nome dos textos foi mantido

tal qual figuravam na cartilha

IVa Apresentaccedilatildeo (do projeto de lei)

Este texto eacute apresentado pela AJUFE na pessoa de seu presidente o

juiz federal Paulo Seacutergio Domingues Segundo seu Estatuto esta Associaccedilatildeo eacute

uma entidade de acircmbito nacional que congrega os magistrados da Justiccedila

Federal tendo sido criada como sociedade civil sem fins lucrativos natildeo sendo

filiada a quaisquer outras entidades nacionais de representaccedilatildeo de juiacutezes

31

A AJUFE tem entre outros objetivos relativos agrave defesa dos interesses

gerais e regionais da magistratura brasileira visando colaborar com o

fortalecimento do Poder Judiciaacuterio e de seus integrantes bem como o

aperfeiccediloamento do Estado Democraacutetico de Direito observando os direitos

humanos

Tambeacutem estaacute entre seus objetivos promover reuniotildees e simpoacutesios para

o estudo e debate de questotildees institucionais e de interesse funcional dos

magistrados aleacutem de publicar ou patrocinar a publicaccedilatildeo de trabalhos e obras

de interesse dos magistrados mantendo para tanto revista de divulgaccedilatildeo de

trabalhos de cunho cientiacutefico na aacuterea juriacutedica

O juiz que preside a AJUFE fala como pessoa mas sobretudo como

representante de um grupo de juiacutezes associados que tecircm os mesmos objetivos

constituiacutedos

IVb Voto com o parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio

(2252002)

Apresentado o texto do anteprojeto agrave Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e

Justiccedila da Cacircmara dos Deputados o Deputado Relator Joseacute Roberto

Batochio deve emitir um parecer e dar seu voto em relaccedilatildeo ao anteprojeto O

Deputado assim como o juiz presidente da AJUFE tambeacutem exerce a funccedilatildeo

de representante conforme consta na proacutepria paacutegina de internet12

Uma de suas principais atividades eacute assim a elaboraccedilatildeo de leis e a

fiscalizaccedilatildeo contaacutebil financeira de orccedilamento e patrimocircnio da Uniatildeo e dos

oacutergatildeos da Administraccedilatildeo direta e indireta

12

ldquoO Poder Legislativo cumpre papel imprescindiacutevel perante a sociedade do Paiacutes visto que desempenha

trecircs funccedilotildees primordiais para a consolidaccedilatildeo da democracia representar o povo brasileiro legislar sobre

os assuntos de interesse nacional e fiscalizar a aplicaccedilatildeo dos recursos puacuteblicos

Nesse contexto a Cacircmara dos Deputados autecircntica representante do povo brasileiro exerce atividades

que viabilizam a realizaccedilatildeo dos anseios da populaccedilatildeo mediante discussatildeo e aprovaccedilatildeo de propostas

referentes agraves aacutereas econocircmicas e sociais como educaccedilatildeo sauacutede transporte habitaccedilatildeo entre outrasrdquo

32

IVc Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282201 - Deputada Luiza

Erundina

O texto que acompanha o texto do Projeto de Lei 58282001 eacute datado de

1962002 Neste documento o nome da Deputada Luiza Erundina figura na

justificativa que acompanha o projeto que seraacute transformado em lei

IVd Nota oficial

A nota oficial de 1962002 uma manifestaccedilatildeo da Associaccedilatildeo dos

Juiacutezes Federais do Brasil (AJUFE) teve como propoacutesito responder a uma criacutetica

efetuada pela Ordem dos Advogados do Brasil de Satildeo Paulo A AJUFE foi a

primeira entidade a apresentar uma proposta de lei (a lei de informatizaccedilatildeo do

processo judicial) agrave Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa da Cacircmara dos

Deputados a partir da mudanccedila constitucional implantada em 2001

A proposta de lei foi aceita pela Cacircmara dos Deputados e transformada

em projeto de lei Durante sua tramitaccedilatildeo para discussatildeo do projeto vaacuterias

foram as manifestaccedilotildees a seu favor e apenas uma - a da OABSP criticava a

proposta A Nota Oficial eacute a resposta da AJUFE a essa criacutetica

IVe Notiacutecia de 682002

Esta notiacutecia publicada em 682002 pela Revista Consultor Juriacutedico eacute

um boletim eletrocircnico na Internet para consulta e informaccedilatildeo do puacuteblico

interessado em geral mas tambeacutem do puacuteblico do universo juriacutedico

especializado

Conforme consta em seu site a revista eletrocircnica13 criada em 1997

13

httpwwwconjurcombraquem_somos Acesso em 20112012

33

eacute uma publicaccedilatildeo independente sobre direito e justiccedila que se propotildee a ser

fonte de informaccedilatildeo e pesquisa no trabalho no estudo e na compreensatildeo de

seus direitos

Seu banco de dados dispotildee de cerca de 70000 arquivos que satildeo

acessados por quase um milhatildeo de leitores a cada mecircs De seu auditoacuterio-leitor

fazem parte advogados juiacutezes estudantes jornalistas professores integrantes

do Ministeacuterio Puacuteblico empresaacuterios bem como pessoas do puacuteblico em geral

Editada por jornalistas conta com colaboradores do mundo juriacutedico

informando seu auditoacuterio sobre os principais acontecimentos que interferem na

vida do cidadatildeo

IVf Carta Aberta IJURIS

A Carta Aberta do IJURIS vem assinada por Hugo Ceacutesar Hoeschi e

Tacircnia Cristina DrsquoAgostini Bueno pesquisadores do Instituto que foi fundado

com a denominaccedilatildeo de Instituto de Inteligecircncia Juriacutedica e Sistemas ndash IJURIS a

fim de constituir uma sociedade civil sem fins lucrativos Seu objetivo eacute realizar

pesquisas avanccediladas e desenvolvimentos cientiacuteficos e tecnoloacutegicos Eacute

credenciado como Organizaccedilatildeo da Sociedade Civil de Interesse Puacuteblico -

OSCIP pela Secretaria Nacional de Justiccedila do Ministeacuterio da Justiccedila

Em fevereiro de 2008 realizou modificaccedilatildeo em seu nome social e

passou a chamar-se Instituto de Governo Eletrocircnico Inteligecircncias e Sistemas ndash

i3G evidenciando a missatildeo do Instituto (3G significa Inteligecircncias para

Governo isto eacute Inteligecircncia Artificial Inteligecircncia de Governo e Inteligecircncia

Social) a fim de deixar transparente a sinergia de conhecimentos cujo objetivo

eacute o fortalecimento da cidadania

O Instituto tambeacutem manteacutem convecircnios de Cooperaccedilatildeo Teacutecnica e

Cientiacutefica com o Programa de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Engenharia e Gestatildeo do

Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina ndash EGCUFSC e de

Cooperaccedilatildeo Internacional para Investigaccedilatildeo e Desenvolvimento Cientiacutefico e

Tecnoloacutegico com a Universidade Politeacutecnica de Madrid e a Universidad de

FASTA da Argentina ambos firmados em 2008

34

Os documentos analisados no capiacutetulo 3 desse trabalho satildeo os de

nuacutemeros I a IV e os de nuacutemeros IVb IVc e IVd Os outros documentos

interessam pelo seu contexto e teor que satildeo relevantes para esclarecer o

liame entre a Liacutengua a cultura e o Direito

35

CAPITULO 2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA

21 Textos juriacutedicos e a Teoria da Enunciaccedilatildeo enunciado enunciador e

contexto da enunciaccedilatildeo

Antes de examinar como a Teoria da Enunciaccedilatildeo se aplica aos textos

juriacutedicos eacute importante definir o que se entende por discurso na perspectiva da

Anaacutelise do Discurso A definiccedilatildeo proposta por Maingueneau (2002) e que eacute

consenso apresenta o discurso como uma organizaccedilatildeo situada aleacutem da frase

pois ele ldquomobiliza estruturas de uma outra ordem que as da fraserdquo e isto

permite verificar a quais regras de organizaccedilatildeo ele se submeteu

Segundo este autor o discurso eacute orientado visa a um objetivo e se

desenvolve de forma linear no tempo sendo regido por determinadas

condiccedilotildees que podem ser alteradas caso seja produzido por um ou mais

enunciadores ou aborde diferentes formas de accedilatildeo do seu enunciador

(prometer afirmar estabelecer por exemplo)

Isto significa que o discurso eacute contextualizado ou seja soacute tem sentido

em um determinado contexto Aleacutem disso um mesmo discurso produzido em

contextos diferentes deveria implicar em consequecircncias diferentes como se

veraacute na anaacutelise da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (DUDH)14

O discurso ldquosoacute eacute discurso enquanto remete a um sujeito um EU que se

coloca como fonte de referecircncias pessoais temporais espaciaisrdquo e ldquoao mesmo

tempo indica que atitude estaacute tomando em relaccedilatildeo agravequilo que diz e em relaccedilatildeo

ao seu co-enunciadorrdquo

14

A DUDH enquanto documento internacional deve ser entendida da mesma forma por todos os paises

que a assinaram

36

Ainda considera Maingueneau (2002) que o discurso eacute regido por

normas pois ldquocada ato de linguagem implica normas particularesrdquo de modo que

uma pergunta por exemplo pressupotildee a existecircncia de uma resposta mesmo

que ela natildeo se manifeste Por fim o autor situa a existecircncia do discurso em um

ldquouniverso de outros discursosrdquo pois um enunciado se relaciona a outros como

seraacute examinado nos itens referentes ao dialogismo e agrave polifonia

Sob a perspectiva que expotildee Maingueneau eacute possiacutevel entatildeo se falar

em discurso juriacutedico pois tudo o que se refere a ele eacute caracteriacutestico de um

contexto de produccedilatildeo particular sendo orientado e regido por normas

especificas e ainda que aparentemente uma lei natildeo possua um enunciador

expliacutecito este estaacute presente no ato da enunciaccedilatildeo O discurso juriacutedico se serve

de uma linguagem especifica proacutepria ao Direito a fim de enunciar de maneira

particular e que interessa ao universo juriacutedico naquilo que pretende como

explica Cornu (2005210)

Dans le discours juridique comme dans tout discours lrsquoinstrument de la

communication demeure la langue naturelle Mais ici la langue porteuse

incorpore um langage speacuteciliseacute Elle utilise (non pas neacutecessairement on lrsquoa

vu mais fort souvent) des termes et des tournures speacutecifiquement

juridiques15

Cornu (2005) adverte que atribuir um caraacuteter juriacutedico ao discurso natildeo

pode se limitar a uma simples constataccedilatildeo do uso de um determinado

vocabulaacuterio teacutecnico do estilo empregado no discurso (arcaiacutesmo nas

construccedilotildees por exemplo) de um pertencimento a uma classe profissional ou

da praacutetica de atividades ligadas ao universo juriacutedico

Segundo o autor esses elementos conferem caracteriacutesticas e

especificidade ao discurso mas a elas devem-se acrescentar o fato de que o

discurso juriacutedico propriamente dito eacute formado ldquoporque ele estabelece ou diz o

direitordquo tal como por exemplo uma lei Cornu considera que tambeacutem integra o

discurso juriacutedico tudo o que ldquocontribui para a realizaccedilatildeo do direitordquo tal como um

laudo pericial 15

ldquoNo discurso juridico como em todo discurso o instrumento da comunicaccedilatildeo permanece a liacutengua

natural Mas aqui a liacutengua que traz (a regra juridica) incorpora uma linguagem especializada Ela utiliza

(nao que se tenha necessariamente observado mas muito frequentemente) termos e construccediloes

especificamente juridicos raquo (Trad Nossa)

37

Bakhtin (1984) trata da esfera no discurso explicando que o contexto

que envolve a produccedilatildeo de um determinado gecircnero eacute o que determina sua

orientaccedilatildeo ideoloacutegica e portanto seu sentido Isto quer dizer que em se

tratando do discurso juriacutedico o uso de um vocabulaacuterio especiacutefico (juriacutedico) em

certo lugar e momento histoacuterico ou seja em uma determinada esfera produz

um discurso peculiar

Cornu natildeo contempla entretanto outros discursos como integrantes do

juriacutedico e que por pertencerem a esse universo natildeo podem ser

desconsiderados Fazem parte assim do discurso juriacutedico igualmente os

textos teoacutericos os artigos acadecircmicos os textos jornaliacutesticos que vulgarizam o

conteuacutedo juriacutedico e ateacute mesmo o projeto de lei que antecede a lei Todos

esses textos tratam do Direito como quer Cornu e devem portanto ser

integrados ao do discurso juriacutedico resguardadas algumas peculiaridades pois

pertencem a um desdobramento de gecircnero

De acordo com a Teoria da enunciaccedilatildeo e de acordo com

Maingueneau16 a enunciaccedilatildeo eacute um termo da filosofia que foi pelo uso

sistemaacutetico ganhando novos contornos e que constitui o que hoje se pode

chamar a ponte entre a liacutengua e o mundo na medida em que os fatos estatildeo

representados em um enunciado

A concepccedilatildeo de enunciaccedilatildeo se encaminha para uma concepccedilatildeo

discursiva ou para uma concepccedilatildeo linguiacutestica dependendo da tocircnica dada a

determinados eventos De acordo com Charaudeau (1992) a concepccedilatildeo

linguiacutestica eacute aquela que toma a enunciaccedilatildeo como sendo o conjunto de

procedimentos laquo qui explicitent les diffeacuterents types de relations de lrsquoacte

eacutenonciatif agrave travers les processus de Modalisation de lrsquoeacutenonceacute raquo e que

permitem laquoexpliciter ce que sont les positions du sujet parlant par rapport agrave son

interlocuteur raquo17 A concepccedilatildeo discursiva eacute aquela cujo enfoque estaacute voltado

16

CHARAUDEAU Patrick MAINGUENEAU Dominique Dictionnaire drsquoAnalyse du Discours Paris

Seuil 2002

17 ldquoque explicitam os diferentes tipos de relaccedilotildees do ato enunciativo pelo processo de Modalizaccedilatildeo do

enunciadordquo e que permitem ldquoexplicitar o que satildeo os posicionamentos do sujeito falante em relaccedilatildeo a seu

interlocutorrdquo (Trad Nossa)

38

para os procedimentos ldquoqui contribuent agrave mettre en scegravene les modes

drsquoorganisation du discoursrdquo18 tais como o narrativo ou argumentativo

A enunciaccedilatildeo trata do discurso considerando um niacutevel local e um niacutevel

global niacuteveis esses que interagem constantemente Segundo Charaudeau

(2002) o niacutevel local permite caracterizar os gecircneros do discurso pelas marcas

encontradas nas reformulaccedilotildees ou nas modalidades por exemplo O niacutevel

global trata de questotildees que abordam o funcionamento individual da liacutengua e

seu desenvolvimento dentro do discurso como a cena da enunciaccedilatildeo a

situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo ou os gecircneros do discurso

Arriveacute Gadet e Galmiche (1986) propotildeem como definiccedilatildeo de

enunciaccedilatildeo o ato pelo qual um locutor faz funcionar a liacutengua em uma

determinada situaccedilatildeo Neste ato entram em accedilatildeo natildeo apenas o locutor mas

tambeacutem o alocutaacuterio que recebe o enunciado

Segundo Maingueneau (200256-57) o enunciado eacute ldquoa marca verbal do

acontecimento do que eacute a enunciaccedilatildeordquo ou melhor seu resultado ou produto

uma ldquosequecircncia verbal que forma uma unidade de comunicaccedilatildeo completa no

acircmbito de um determinado gecircnero de discursordquo19

No presente trabalho seraacute tomada no seu sentido amplo a concepccedilatildeo

proposta por Maingueneau sendo o locutor denominado enunciador Jaacute o

alocutaacuterio seraacute tratado como enunciataacuterio pois o corpus desse trabalho eacute

dotado de textos escritos de origem juriacutedica Escolheu-se entatildeo usar

enunciador e enunciataacuterio pois a relaccedilatildeo entre ambos eacute de polo ativo

(enunciador) e polo passivo (enunciataacuterio) Isso se justifica porque um texto

escrito eacute produzido antes pelo enunciador e o enunciataacuterio soacute entra em contato

com o texto produzido num momento posterior Ainda eacute necessaacuterio observar

que se o texto for uma lei ou um tratado por exemplo os enunciadores

submetem as respectivas sociedades agraves disposiccedilotildees por eles estabelecidas

18

ldquoque contribuem para por em cena os modos de organizaccedilatildeo do discursordquo (Trad Nossa)

19 Grifo do autor

39

O interesse especial pelo enunciador neste trabalho deve-se sobretudo

ao fato de se determinar nos textos estudados ou melhor nos enunciados

tomados como parte do corpus quem eacute de fato o enunciador como ele se

constitui como sujeito quais operaccedilotildees de reformulaccedilatildeo satildeo por ele

promovidas na medida em que o discurso eacute alterado e refeito Este processo

revela como o enunciador se apresenta como ele promove seu proacuteprio

apagamento se necessaacuterio a fim de alcanccedilar sua pretensatildeo

Tratar do enunciado implica portanto tratar do enunciador e da

subjetividade considerando diversos status que ele pode adquirir enquanto

sujeito que organiza o enunciado ou o dizer um sujeito que exprime seu ponto

de vista e que se coloca diante do outro (enunciataacuterio) numa troca linguiacutestica O

sujeito nessa perspectiva se constroacutei enquanto produz seu enunciado e de

acordo com um objetivo que tambeacutem pode ser alterado durante sua produccedilatildeo

Uma anaacutelise mais aprofundada do enunciador em relaccedilatildeo ao seu ethos seraacute

tratada mais adiante

A linguagem atividade que se realiza entre dois protagonistas

(enunciador e enunciataacuterio) revela segundo Maingueneau (2002) natildeo somente

a posiccedilatildeo do primeiro em relaccedilatildeo ao segundo mas tambeacutem a proacutepria situaccedilatildeo

de enunciaccedilatildeo a situaccedilatildeo do enunciado a sua relaccedilatildeo com o mundo e com os

enunciados anteriores ou posteriores a sua inscriccedilatildeo numa determinada

cultura trazendo agrave tona de certa forma aquilo que jaacute foi dito anteriormente

mas que natildeo eacute mais o mesmo porque se renova ao mesmo tempo em que se

reformula

Como ato individual de utilizaccedilatildeo da liacutengua a enunciaccedilatildeo eacute um evento

uacutenico resultado do ato de um enunciador e de um enunciataacuterio especiacuteficos

numa determinada situaccedilatildeo e estes mesmo estando ocultos no enunciado

tornam-no possiacutevel Conforme esclarece Arriveacute (1986) essa troca linguiacutestica

coloca em funcionamento a liacutengua em uma situaccedilatildeo

Na condiccedilatildeo de evento situado no tempo e no espaccedilo o fato de se

produzir um enunciado denota a existecircncia de um conteuacutedo estaacutevel mesmo

que seja possiacutevel uma multiplicidade de eventos enunciativos anteriores para a

40

realizaccedilatildeo do enunciado Os rastros deixados pelo enunciado nos atos de sua

produccedilatildeo constroem assim o sentido dado pelos protagonistas numa dada

situaccedilatildeo

No discurso juriacutedico o enunciado eacute o portador de algumas caracteriacutesticas

importantes deste gecircnero especifico Aleacutem de um vocabulaacuterio teacutecnico existe

uma composiccedilatildeo que eacute formular para os textos escritos sendo que o

enunciado deve prescrever regras de conduta no caso de uma lei ou um

tratado O enunciador desses textos natildeo eacute uma pessoa que se possa

determinar pois em geral o enunciado eacute o resultado da decisatildeo de uma

assembleia ou seja de um grupo de pessoas que se reuacutenem com o objetivo

de elaborar tal texto em um determinado momento histoacuterico e para um

determinado fim O texto de lei ou de um tratado eacute assim o resultado da

expressatildeo da vontade de um grupo e mesmo que venha assinado por um

sujeito este eacute apenas um representante a quem foi atribuiacuteda tal funccedilatildeo Tal

contexto de produccedilatildeo revela a forccedila ilocutoacuteria do enunciado ou seja a

intenccedilatildeo de quem o produz

As circunstacircncias de enunciaccedilatildeo satildeo representadas por elementos que

integram o sentido do enunciado Esses elementos se reportam agraves vezes a

outros elementos os referentes Esse mecanismo revela tambeacutem as intenccedilotildees

do enunciado dando sentido ao texto o que justifica que sejam estudados

mais adiante no item que trata das reformulaccedilotildees e nas anaacutelises dos textos

22 O dialogismo e a polifonia nos textos juriacutedicos

Apoacutes terem sido examinados o enunciado e alguns aspectos relevantes

em relaccedilatildeo ao enunciador e ao enunciataacuterio esta parte do capitulo pretende

analisar as relaccedilotildees entre os diferentes textos a partir das propostas teoacutericas

de Bakhtin que tratam do dialogismo e da polifonia

41

Bakhtin (2003261) trata da produccedilatildeo da linguagem oral e escrita como

parte da atividade humana Dentro dessas atividades que satildeo de diferentes

domiacutenios ele situa o enunciado em relaccedilatildeo a sua utilizaccedilatildeo

ldquoenunciados refletem as condiccedilotildees especiacuteficas e as finalidades de cada

referido campo natildeo soacute por seu conteuacutedo (temaacutetico) e pelo estilo da

linguagem ou seja pela seleccedilatildeo dos recursos lexicais fraseoloacutegicos e

gramaticais da liacutengua mas acima de tudo por sua construccedilatildeo

composicionalrdquo

Os elementos que Bakhtin (2003261) trata como conteuacutedo temaacutetico

estilo e construccedilatildeo composicional se fundem para ele de forma inseparaacutevel no

todo que constitui o enunciado e cada um deles estaacute marcado pela

especificidade de uma esfera de troca Todo enunciado tomado

separadamente eacute bem entendido individual mas cada esfera de utilizaccedilatildeo da

liacutengua elabora seus tipos relativamente estaacuteveis de enunciados que

determinam os diferentes gecircneros do discurso

Isto implica dizer que toda a produccedilatildeo que se faz em torno da lei pode

ser definida como sendo do gecircnero juriacutedico pois produz ocorrecircncias de troca

numa esfera especiacutefica Os enunciados aiacute produzidos satildeo relativamente

estaacuteveis ainda que bastante diversos entre si e eacute justamente esse aspecto que

justifica porque eacute possiacutevel analisar textos juriacutedicos de origens diferentes tais

como uma declaraccedilatildeo francesa uma nacional ou uma internacional todos os

documentos pertencem ao gecircnero juriacutedico portanto agrave mesma esfera e mesmo

sendo elaborados em um contexto de produccedilatildeo diferente possuem formas

composicionais mais ou menos estaacuteveis

Bakhtin (1984270) explica que a liacutengua escrita se altera de forma

continua assim como seu estilo e que tal fato eacute reflexo das mudanccedilas que

ocorrem na vida social Isto pode ser verificado pela observaccedilatildeo dos gecircneros

do discurso e dos enunciados que satildeo segundo ele ldquoles courroies de

transmission qui megravenent de lrsquohistoire de la socieacuteteacute agrave lrsquohistoire de la languerdquo20

20

ldquoas correias de transmissatildeo que conduzem a histoacuteria da sociedade para a histoacuteria da liacutenguardquo (Trad

Nossa)

42

Esse eacute um aspecto bastante relevante nos textos juriacutedicos e remete ao

fato de que todo enunciado de alguma forma se refere a um enunciado que jaacute

foi anteriormente produzido Esse aspecto confere ao enunciado por

conseguinte uma dupla relaccedilatildeo dialoacutegica ou seja exprime a relaccedilatildeo que o

enunciado tem com enunciados anteriores produzidos sobre o mesmo objeto e

com os possiacuteveis enunciados que possam ser produzidos a partir do enunciado

que se toma para anaacutelise levando em consideraccedilatildeo o destinataacuterio que iraacute

recebecirc-lo e a forma como ele seraacute recebido compreendido respondido

Cabe aqui uma distinccedilatildeo entre o dialogismo e a intertextualidade

Enquanto o dialogismo mostra referecircncias nem sempre diretas de um texto ou

de um enunciado em outro texto ou enunciado a intertextualidade eacute um

fenocircmeno mais restrito

Fiorin (2006) explica que na intertextualidade a referecircncia ao texto ou

enunciado eacute feita de forma direta Esse procedimento ocorre por expliacutecita

citaccedilatildeo do primeiro dentro da redaccedilatildeo do segundo como se fossem duas

vozes dentro de um mesmo texto Nesse caso o segundo texto existe fora do

primeiro como texto independente A interdiscursividade pode inclusive ocorrer

na retomada do mesmo enunciado ainda que sua redaccedilatildeo seja diferente

podendo ateacute se manifestar pela negaccedilatildeo ou oposiccedilatildeo do segundo enunciado

em relaccedilatildeo ao primeiro

A intertextualidade eacute portanto uma operaccedilatildeo que coloca em relaccedilatildeo

dois ou mais discursos e que vem construiacuteda como se fosse um ldquojeu de

citations plus ou moins cachecircrdquo21 conforme sintetiza Charaudeau (1992)

Para os textos analisados no corpus o que se verifica satildeo relaccedilotildees

dialoacutegicas e natildeo de intertextualidade pois natildeo haacute a ocorrecircncia de citaccedilatildeo

direta de retomadas de redaccedilatildeo de enunciados ou negaccedilatildeo dos mesmos em

relaccedilatildeo a um enunciado primeiro

O que se verifica eacute uma extensatildeo um desenvolvimento de alguns

termos ou mesmo princiacutepios O homem que aparece na DDHC eacute um homem

21

ldquoum jogo de citaccedilotildees mais ou menos veladordquo (Trad Nossa)

43

mais limitado em seus direitos protegido apenas pela Assembleia nacional

francesa enquanto o homem da DDUH eacute um homem protegido pela

Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas Assim tambeacutem os direitos de igualdade

liberdade e justiccedila satildeo ampliados remodelados estendidos Apesar do uso do

termo ser absolutamente o mesmo (homem direito liberdade) o conceito natildeo

eacute o mesmo e isso pode ser verificado pela construccedilatildeo de cada enunciado e

uma anaacutelise mais detalhada mostraraacute no texto adiante essa evoluccedilatildeo Cada

conceito entretanto dialoga com o conceito anterior pois eacute um

desenvolvimento do conceito que o precede um aperfeiccediloamento e um

alargamento do conceito anterior a ele

Essa retomada de conceito implica tambeacutem num resgate histoacuterico da

memoacuteria coletiva pois a declaraccedilatildeo francesa ou a universal natildeo satildeo

documentos que surgem como uma novidade em termos juriacutedicos Elas foram

inspiradas em outros documentos anteriores de outras culturas ateacute

Remontando ao Iluminismo pode-se encontrar na DDHC ideais que se

transpotildeem nos conceitos revolucionaacuterios que definem e envolvem o homem e a

lei por exemplo

Tomemos assim o que diz Montesquieu (1748) acerca do ldquoEspiacuterito das

Leisrdquo e suas ideias relativas agrave origem das leis e de sua natureza Para ele o

homem precisa ter suas proacuteprias leis assim como a divindade e os animais22 e

a lei adveacutem da relaccedilatildeo que se estabelece entre o homem e os outros seres

iguais ou diferentes dele23

Os homens satildeo governados pela razatildeo humana e um dos frutos que

produz satildeo as leis poliacuteticas e civis e satildeo elas que governam os homens As

leis devem ser adequadas ao povo para a qual foram feitas e somente por

acaso podem servir para outra naccedilatildeo jaacute que satildeo adaptadas agraves especificidades

22

laquo Les lois dans la signification la plus eacutetendue sont les rapports neacutecessaires qui deacuterivent de la nature

des choses et dans ce sens tous les ecirctres ont leurs lois la Diviniteacute a ses lois le monde mateacuteriel a ses lois

les intelligences supeacuterieures agrave lhomme ont leurs lois les becirctes ont leurs lois lhomme a ses lois raquo Livre

I p 100

23 laquo Il y a donc une raison primitive et les lois sont les rapports qui se trouvent entre elle et les diffeacuterents

ecirctres et les rapports de ces divers ecirctres entre euxraquo Livre I p 100

44

de cada povo (tal como o clima a religiatildeo) a aspectos particulares das

relaccedilotildees poliacuteticas econocircmicas sociais e ateacute mesmo agrave vontade do legislador 24

Portanto para Montesquieu a lei eacute o reflexo da sociedade que a produz

e a aplica Mas o filoacutesofo alerta que natildeo se pode de forma alguma esquecer a

virtude que contem as leis pelo fato de refletirem os costumes e as maacuteximas

antigas da sociedade que as estabeleceu

Neste sentido uma lei nova apenas altera a anterior fazendo correccedilotildees e

ajustes no que jaacute estava antes estabelecido25 e natildeo renega assim totalmente

24

laquo La loi en geacuteneacuteral est la raison humaine 20 en tant quelle gouverne tous les peuples de la terre et les

lois politiques et civiles de chaque nation ne doivent ecirctre que les cas particuliers ougrave sapplique cette raison

humaine

Elles doivent ecirctre tellement propres au peuple pour lequel elles sont faites que cest un tregraves grand hasard

si celles dune nation peuvent convenir agrave une autre

Il faut quelles se rapportent agrave la nature et au principe du gouvernement qui est eacutetabli ou quon veut eacutetablir

soit quelles le forment comme font les lois politiques soit quelles le maintiennent comme font les lois

civiles

Elles doivent ecirctre relatives au physique du pays au climat glaceacute brucirclant ou tempeacutereacute agrave la qualiteacute du

terrain agrave sa situation agrave sa grandeur au genre de vie des peuples laboureurs chasseurs ou pasteurs Elles

doivent se rapporter au degreacute de liberteacute que la constitution peut souffrir agrave la religion des habitants agrave

leurs inclinations agrave leurs richesses agrave leur nombre agrave leur commerce agrave leurs moeurs agrave leurs maniegraveres

Enfin elles ont des rapports entre elles elles en ont avec leur origine avec lobjet du leacutegislateur avec

lordre des choses sur lesquelles elles sont eacutetablies Cest dans toutes ces vues quil faut les consideacutererraquo

Livre I p 106

laquo Cest encore une loi fondamentale de la deacutemocratie que le peuple seul fasse des lois 3I Il y a pourtant

mille occasions ougrave il est neacutecessaire que le seacutenat puisse statuer il es mecircme souvent agrave propos dessayer une

loi avant de reacutetablir raquo Livre II p 113

laquo On avait vu jusqursquoici la nation donner des marques drsquoimpatience et de leacutegegravereteacute sur le choix ou sur la

conduite de ses maicirctres on lrsquoavait vue reacutegler les diffeacuterends de ses maicirctres entre eux et leur imposer la

neacutecessiteacute de la paix Mais ce qursquoon nrsquoavait pas encore vu la nation le fit pour lors elle jeta les yeux sur

sa situation actuelle elle examina ses lois de sang-froid elle pourvut agrave leur insuffisance elle arrecircta la

violence elle reacutegla le pouvoir raquo Livre XXXI ch II p338

laquo Lrsquoeacutedit de Clotaire redressa tous les griefs Personne ne put plus ecirctre condamneacute sans ecirctre entendu les

parents durent toujours succeacuteder selon lrsquoordre eacutetabli par la loi toutes preacuteceptions pour eacutepouser des filles

des veuves ou des religieuses furent nulles et on punit seacutevegraverement ceux qui les obtinrent et en firent

usage raquo Livre XXXI ch II p339

25 laquo Il y a beaucoup agrave gagner en fait de moeurs agrave garder les coutumes anciennes Comme les peuples

corrompus font rarement de grandes choses quils nont guegravere eacutetabli de socieacuteteacutes fondeacute de villes donneacute

de lois et quau contraire ceux qui avaient des moeurs simples et austegraveres ont fait la plupart des

eacutetablissements rappeler les hommes aux maximes anciennes cest ordinairement les ramener agrave la vertu

De plus sil y a eu quelque reacutevolution et que lon ait donneacute agrave lEacutetat une forme nouvelle cela na guegravere pu

se faire quavec des peines et des travaux infinis et rarement avec loisiveteacute et des moeurs corrompues

45

uma lei antiga O que se constitui neste caso eacute um diaacutelogo com a lei (fonte)

anterior pois natildeo se pode querer ldquoreinventar a rodardquo a cada produccedilatildeo

legislativa Existe assim uma memoacuteria intriacutenseca mesmo que apagada de um

texto legislativo novo em relaccedilatildeo ao texto anterior

As leis novas satildeo adaptaccedilotildees grandes ou pequenos ajustes de

formulaccedilotildees que se fazem nos modelos anteriores com acreacutescimos ou

supressotildees que permitem um reordenamento do sistema juriacutedico vigente Isto

porque a lei tem sua origem na cultura econocircmica poliacutetica e social de um povo

e seu texto eacute apenas um reflexo disso mesmo quando produzida para suprir

uma lacuna do sistema

Eacute tambeacutem o que diz Bakhtin (1977) acerca do dialogismo textual para

ele as relaccedilotildees dialoacutegicas se estabelecem na medida em que um texto reflete

e se reproduz em outro ecoando dialogando com outro texto Um texto de lei

ao mesmo tempo em que daacute voz agrave cultura do povo ao qual eacute imposta esta lei

traduzindo seus costumes histoacutericos econocircmicos poliacuteticos e sociais tambeacutem

responde a um outro texto de lei

Assim um segundo texto entra em relaccedilatildeo dialoacutegica interna com o

primeiro podendo tanto ser um texto hierarquicamente superior como aquele

que autoriza a elaboraccedilatildeo de uma nova lei O novo texto de lei tem o mesmo

objeto do texto anterior mas aparece renovado atualizado para as novas

necessidades do homem e a lei anterior que lhe serviu de base ou origem seraacute

derrogada total ou parcialmente pela lei nova

O dialogismo mostra como ocorrem as relaccedilotildees discursivas que podem

ser externas na medida em que o texto dialoga com o ordenamento juriacutedico ou

mesmo com a doutrina estrangeiros ou internas quando se encontram essas

relaccedilotildees dentro do proacuteprio ordenamento juriacutedico nacional

Ceux mecircmes qui ont fait la reacutevolution ont voulu la faire goucircter et ils nont guegravere pu y reacuteussir que par de

bonnes lois Les institutions anciennes sont donc ordinairement des corrections et les nouvelles des

abus Dans le cours dun long gouvernement on va au mal par une pente insensible et on ne remonte au

bien que par un effort raquo Livre V p151

46

O texto de lei seraacute tomado aqui como sendo o cerne (centro) dos textos

juriacutedicos visto que tudo gravita em torno dele isto eacute ou os textos precursores

satildeo seus textos originaacuterios e constituintes porque seus princiacutepios e argumentos

fundamentaram a propositura da lei ou satildeo seus textos derivados e

consequentes porque eacute a lei que possibilita a propositura ou confecccedilatildeo de tais

textos

Essa situaccedilatildeo de origem de cada texto juriacutedico eacute de suma importacircncia

pois eacute ela que mostra a dimensatildeo da relaccedilatildeo dialoacutegica um texto de lei natildeo

existe sem um motivo anterior e suscita outros tantos textos decorrentes da

existecircncia da lei

De onde se conclui que nos textos juriacutedicos o dialogismo eacute inerente jaacute

que um texto se refere sempre a um anterior um autor cita o outro - discutindo

a ideia proposta por outro autor seja para apoiaacute-la ou contestaacute-la- uma lei se

refere ou estaacute autorizada por uma outra

Nessa mesma consideraccedilatildeo cabe ressaltar que cada texto teoacuterico ou

artigo acadecircmico e ateacute mesmo da imprensa especializada pode ser o elemento

detonador ou mola propulsora para questionar uma lei desatualizada ou

mostrar a necessidade da propositura de uma nova podendo-se incluir ainda

aqui o fato de que uma lei seja produzida com objetivo complementar isto eacute a

fim de completar uma outra lei especificando um determinado tipo de pena ou

de procedimento por exemplo

O fato de cada texto ser produzido em resposta a um outro anterior

revela por sua vez natildeo soacute o processo dialoacutegico mas tambeacutem um processo

polifocircnico Isto porque na medida em que se considera a produccedilatildeo do texto natildeo

se pode deixar de considerar que ele foi produzido num determinado lugar e

tempo e por um determinado enunciador

De forma bem simples a lei se torna a voz da sociedade que se

expressa para regular as relaccedilotildees entre os homens ou seja a lei eacute a voz do

homem social a voz da sociedade num dado lugar e num dado momento

histoacuterico e como tal a repercussatildeo de uma voz que aleacutem de individual eacute

coletiva

47

Isto porque a lei natildeo eacute fruto nos sistemas de governo democraacuteticos da

vontade de um soacute como ocorria nos regimes absolutistas mas eacute a expressatildeo

da vontade geral portanto de um conjunto de pessoas que faz sua voz ser

ouvida e resolve as questotildees de conviacutevio que causam conflito atraveacutes de um

texto que vai regular a conduta da vida do homem dentro de um grupo

Por isso seria de se esperar que uma lei fosse apenas aplicaacutevel a um

uacutenico grupo de homens que vivessem sob as mesmas regras E por isso seria

de se esperar que a lei de um paiacutes natildeo fosse adequada a um outro ou a outros

paiacuteses Entretanto isso natildeo eacute impossiacutevel e resguardados certos limites eacute ateacute

bem frequente como se veraacute mais adiante

Conveacutem ainda lembrar que Bakhtin e o Ciacuterculo26 tratam a linguagem de

forma diversa da dimensatildeo monoloacutegica - que tomava a liacutengua como forma de

expressatildeo particular do sujeito (subjetivista idealista) ou como constituiacuteda por

formas e atos psicofisioloacutegico da sua produccedilatildeo (objetivismo abstrato) A

linguagem eacute considerada sempre ao contraacuterio sob o ponto de vista da

interaccedilatildeo verbal um espaccedilo onde a liacutengua existe e se constitui

A obra bakhtiniana e a do ciacuterculo vatildeo nesta perspectiva tomar a

linguagem do ponto de vista de sua natureza social sobretudo no que se refere

agrave relaccedilatildeo do enunciado com o contexto social imediato Isto quer dizer que a

linguagem eacute analisada a partir das interaccedilotildees que ocorrem entre os indiviacuteduos

organizados em sociedade e que considera as condiccedilotildees de produccedilatildeo onde

elas se elaboram

Essas condiccedilotildees por conseguinte produzem um sentido praacutetico que

estaacute aleacutem do fato da linguagem vir associada ao momento histoacuterico onde

ocorrem essas interaccedilotildees e permite dessa forma que o meio social espelhe a

esfera ideoloacutegica presente nas Ciecircncias nas Artes na Literatura no

Jornalismo e tambeacutem no Direito

26

No presente trabalho natildeo seraacute considerada a questatildeo da autoria dos trabalhos de Bakhtin que eacute dividida

em alguns casos com Voloshinov jaacute que as obras consultadas tinham como autor Bakhtin sendo sempre

referidas como obras de ldquoBakhtin e o Ciacuterculordquo

48

O conceito de esfera na comunicaccedilatildeo discursiva de que fala Bakhtin

estaacute centrado na diversidade da linguagem humana e ideologia que a cerca

isto eacute de forma bastante resumida a esfera revela como a realidade se

manifesta na linguagem

A linguagem refrata a esfera ideoloacutegica em que estaacute inserida uma

produccedilatildeo literaacuteria que eacute o que Bakhtin (19771984) defende na anaacutelise que faz

do romance de Dostoieacutevski pois ela a linguagem revela o jogo de regras

usadas para a produccedilatildeo em um determinado contexto

Na esfera do Direito tem-se que todo gecircnero refrata as relaccedilotildees

dialoacutegicas que se estabelecem do homem com o homem e do homem com a

sociedade O Direito enquanto ciecircncia tem como funccedilatildeo dirigir as condutas

sociais criando para isso regras de direito que regulem a vida comum na

esfera em um dado momento histoacuterico

Essa natureza social da linguagem ou seja a relaccedilatildeo do enunciado com

o contexto social imediato - interaccedilotildees que ocorrem entre os indiviacuteduos

organizados em sociedade e que considera as condiccedilotildees de produccedilatildeo -

confere um sentido praacutetico associada ao momento histoacuterico onde ocorrem

essas interaccedilotildees num processo dialoacutegico

Desta forma todo o gecircnero eacute e assim tambeacutem o gecircnero juriacutedico um

reflexo de relaccedilotildees dialoacutegicas que se estabelecem do homem com o homem

pois espelha a necessidade do direito para regular a vida em comum do

homem com a sociedade e das condutas sociais

As condutas sociais por sua vez satildeo resultantes uma forma de agir que

se apoia no que um grupo determina como um tipo modelo ou padratildeo de

atitude em relaccedilatildeo a diferentes situaccedilotildees e que satildeo resultado de um consenso

Essas condutas sociais se tornam padrotildees de condutas e ao se repetirem vatildeo

constituir o que Bourdieu define como habitus tomado dentro de um

determinado campo

Bourdieu (1980) define o campo como ldquoo espaccedilo social capaz de

refratar traduzir ou transformar as demandas externas sobretudo da base

49

socioeconocircmica comumrdquo Eacute no campo onde acontecem as diferentes

produccedilotildees juriacutedicas textuais pois na medida em que surgem alteraccedilotildees no

espaccedilo social nasce a necessidade de um reordenamento juriacutedico para que

outros textos regulem as novas relaccedilotildees ou relaccedilotildees entre indiviacuteduos que se

modificam

Em relaccedilatildeo a concepccedilatildeo da linguagem o campo eacute definido como o

espaccedilo em que determinadas formas de agir refletem as individualidades

(como gostos e preferecircncias) constituindo-se em um habitus

Sobre esse habitus tambeacutem incidem o tipo de relaccedilotildees entre os pares

que participam das relaccedilotildees ndash as relaccedilotildees simboacutelicas - o tipo de relaccedilatildeo que

se estabelece com o capital ndash atraveacutes da heranccedila e da renda - e o espectro de

possibilidades ou impossibilidades oferecidas aos participantes de tomar

posiccedilatildeo e definir os espaccedilos isto eacute participar da ldquoheranccedila acumulada pelo

trabalho coletivordquo

Uma lei eacute um reflexo de um habitus que se cristaliza pela norma escrita

Entatildeo a preocupaccedilatildeo dos magistrados brasileiros que objetivavam melhorar

em curto espaccedilo de tempo a prestaccedilatildeo dos serviccedilos da justiccedila ao cidadatildeo eacute

expressa pela tomada de posiccedilatildeo dos integrantes da associaccedilatildeo que

apresentam uma proposta de lei que se torna depois a Lei 114192006 e que

iraacute modificar as accedilotildees processuais que satildeo submetidas agrave anaacutelise do Poder

Judiciaacuterio

O fato de esses juiacutezes apresentarem uma sugestatildeo (SUG1CLP 2001)

autorizados pela Constituiccedilatildeo27 que permite a um grupo apresentar uma

27

O artigo 14 da Constituiccedilatildeo Federal de 1988 foi alterado pela Lei 97091998 ldquoArt 13 A iniciativa

popular consiste na apresentaccedilatildeo de projeto de lei agrave Cacircmara dos Deputados subscrito por no miacutenimo um

por cento do eleitorado nacional distribuiacutedo pelo menos por cinco Estados com natildeo menos de trecircs

deacutecimos por cento dos eleitores de cada um delesrdquo e ldquoArt 14 A Cacircmara dos Deputados verificando o

cumprimento das exigecircncias estabelecidas no art 13 e respectivos paraacutegrafos daraacute seguimento agrave

iniciativa popular consoante as normas do Regimento Internordquo O Regimento Interno da Camara dos

Deputados diz na parte referente a Subseccedilatildeo III Das Mateacuterias ou Atividades de Competecircncia das

Comissotildees em seu inciso XII que cabe agrave Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa ldquoa) sugestotildees de

iniciativa legislativa apresentadas por associaccedilotildees e oacutergatildeos de classe sindicatos e entidades organizadas

da sociedade civil exceto Partidos Poliacuteticos b) pareceres teacutecnicos exposiccedilotildees e propostas oriundas de

entidades cientiacuteficas e culturais e de qualquer das entidades mencionadas na aliacutenea a deste incisordquo

50

proposta de Projeto de Lei ao Poder Legislativo tambeacutem integrarem o Poder

Judiciaacuterio eacute relevante na aceitaccedilatildeo da proposta que eacute examinada e aceita A

sugestatildeo SUG1CLP 2001 eacute marcada pela necessidade de mudanccedila no

habitus as modificaccedilotildees e avanccedilos tecnoloacutegicos demandam alteraccedilotildees que

satildeo propostas como imperativas aleacutem de serem reflexo da experiecircncia praacutetica

do mundo do trabalho

Numa relaccedilatildeo que tambeacutem eacute dialoacutegica a esfera ideoloacutegica do Poder

Judiciaacuterio representada pelos integrantes desse poder ou seja os juiacutezes

federais que tecircm como objetivo fazer aplicar a lei se mistura com a esfera do

Poder Legislativo cuja funccedilatildeo eacute a de propor leis para serem aprovadas e

colocadas em vigor pelo Poder Executivo atraveacutes de sua publicaccedilatildeo

Desta forma uma sugestatildeo de proposta de lei integra os trecircs poderes

judiciaacuterio legislativo e executivo Vecirc-se neste momento histoacuterico a maior

expressatildeo possiacutevel da democracia a necessidade fez agir representantes de

um poder enquanto integrantes de uma associaccedilatildeo ou seja no seu papel de

cidadatildeos a fim de melhorar a prestaccedilatildeo jurisdicional da justiccedila da qual cabe ao

Estado zelar

O caminho encontrado para fazer o que era necessaacuterio ou seja uma

prestaccedilatildeo de atendimento de uma justiccedila mais raacutepido pode parecer a primeira

vista uma extrapolaccedilatildeo da funccedilatildeo e do papel dos juiacutezes que devem apenas

zelar e fazer aplicar a lei quando se considera que natildeo haacute justiccedila

O que eacute relevante eacute que o caminho encontrado foi o dado pela

concessatildeo criada pelo proacuteprio sistema poliacutetico que permite aos cidadatildeos

fazerem uma proposta de projeto de lei Agrave eacutepoca da apresentaccedilatildeo da sugestatildeo

a primeira a ser apresentada por um segmento da sociedade e neste caso um

segmento muito especial ainda natildeo havia a precisatildeo de como se faria uma

51

justiccedila mais raacutepida o que foi acrescentado pela Emenda Constitucional no 45

de 2004 que inseriu o inciso LXXVIII28

Os textos que satildeo examinados neste trabalho foram produzidos dentro

do campo de atividades do Direito No topo hieraacuterquico qualitativo como seraacute

explicado mais adiante encontra-se a lei que foi promulgada em 2006 e que eacute

consequecircncia de uma cadeia de outros textos que foram produzidos

O campo do direito onde se inserem os textos juriacutedicos tem como

puacuteblico-alvo toda a sociedade que eacute o lugar onde as leis se aplicam mas o

texto original foi produzido por um setor da sociedade uma associaccedilatildeo de

classe de magistrados

Dentro do gecircnero juriacutedico podemos distinguir textos de maior e menor

relevacircncia em relaccedilatildeo agrave sua aplicaccedilatildeo A lei como texto autorizado pela

Constituiccedilatildeo se aplica a toda a naccedilatildeo jaacute uma carta de intenccedilatildeo que apoia a

sua aprovaccedilatildeo enquanto ainda era projeto de lei eacute uma apresentaccedilatildeo do texto

dirigida agrave Cacircmara dos Deputados Ambos satildeo textos juriacutedicos mas a ordem de

sua obediecircncia e aceitaccedilatildeo eacute diferente e acarreta consequecircncias proporcionais

ao seu cumprimento a lei obriga a todos a carta eacute uma critica positiva

O esquema simplificado abaixo permite compreender o tramite da

Proposta de Legislaccedilatildeo Participativa que foi o documento de origem dessa lei

federal

28

ldquoLXXVIII - a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do

processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeo (Inciso acrescido pela Emenda

Constitucional nordm 45 de 2004)rdquo

52

O processo histoacuterico de formaccedilatildeo do campo implica numa reflexatildeo sobre

os gecircneros e as obras que nele satildeo produzidas A percepccedilatildeo de cada obra

produzida no campo eacute feita de forma critica e somente a ampliaccedilatildeo da

produccedilatildeo eacute que permite a sua estabilizaccedilatildeo Em relaccedilatildeo aos textos juriacutedicos

ao se tomar a elaboraccedilatildeo de textos legais por exemplo constata-se que uma

lei se apoia sempre nos textos anteriores numa relaccedilatildeo dialoacutegica a fim de

suprir ou corrigir as necessidades do grupo social a que se aplica

No contexto histoacuterico do corpus analisado antes da lei 114192006 ndash haacute

pouco mais de dez anos de sua sugestatildeo natildeo existia a possibilidade de

implantaccedilatildeo de serviccedilos de informatizaccedilatildeo em muitos dos preacutedios do Poder

Judiciaacuterio

Entretanto na medida em que a utilizaccedilatildeo dos computadores alterou o

comportamento dos cidadatildeos o uso de tecnologias digitais e similares e da

internet se tornou um habitus e as modificaccedilotildees produzidas por esse habitus

acabaram alterando as praacuteticas do quotidiano sendo finalmente incorporadas

por uma nova lei

LEI 114192006

53

Eacute nesse ponto que se constata a existecircncia das relaccedilotildees dialoacutegicas

apontadas por Bakhtin pois natildeo havia uma previsatildeo legal na lei anterior

(contida no Coacutedigo de Processo Civil) regulando como se daria na praacutetica

quotidiana do andamento dos processos no Poder Judiciaacuterio a integraccedilatildeo dos

serviccedilos de informatizaccedilatildeo jaacute que na data de sua entrada em vigor 1973 essa

tecnologia natildeo estava disponiacutevel

Ainda do ponto de vista da elaboraccedilatildeo de uma linguagem Bourdieu

propotildee que esta seja parte do processo de surgimento do campo O Direito tem

uma linguagem especifica que eacute utilizada na elaboraccedilatildeo dos textos de lei e que

perpassa os outros textos do campo que se produzem a partir ou mesmo antes

do texto legal uma linguagem que sai do campo do Direito e interfere em

outros campos tal como o legislativo ou o jornaliacutestico Eacute uma linguagem que

nomeia aqueles que participam do campo tal como os agentes que define

conceitos atos e praacuteticas e que determina condutas

Na lei 114192006 a relaccedilatildeo dialoacutegica da linguagem juriacutedica com a

linguagem da informaacutetica produziu inclusive uma nova linguagem teacutecnico-

juriacutedica em que surgem expressotildees tais como ldquomeio eletrocircnicordquo ldquotransmissatildeo

eletrocircnicardquo ldquoassinatura digitalrdquo ldquocertificado digitalrdquo rdquoprotocolo eletrocircnicordquo

rdquopublicaccedilatildeo eletrocircnicardquo rdquocorrespondecircncia eletrocircnicardquo rdquoprocesso eletrocircnicordquo

rdquoextratos digitaisrdquo etc expressotildees que estatildeo no corpo do texto da lei

As modificaccedilotildees trazidas pela Lei nordm 11419 de 19 de dezembro de

2006 para a Lei 5869 de 11 de janeiro de 1973 que instituiu o Coacutedigo de

Processo Civil29 propiciam o diaacutelogo e suprem na sociedade globalizada a

necessidade imposta pelo momento atual30 Uma sociedade que exige e

permite ao advogado postar sua peticcedilatildeo em espaccedilo fiacutesico por vezes diferente e

muito distante daquele onde estaacute o processo em que atua

29

Essas modificaccedilotildees natildeo seratildeo objeto de anaacutelise nesse trabalho O fato de elas existirem no conteuacutedo da

lei nova apenas atesta o dialogismo existente entre os textos de lei

30 Documento anexo nuacutemero 05 paacutegina da internet do Tribunal Regional Federal

54

Essa relaccedilatildeo dialoacutegica entretanto natildeo ocorre apenas entre esses dois

textos pois eacute permeada por vaacuterias outras de diferentes esferas e campos

como atestam os diferentes textos produzidos pela AJUFE (Apresentaccedilatildeo e

Nota Oficial) pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Redaccedilatildeo

(Anteprojeto) pela Cacircmara dos Deputados e da Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei

5828 de 2001 e do parecer e voto do Deputado Roberto Batochio pelos

artigos das Revista Consultor Juriacutedico e do Instituto Iuris31 Todos esses textos

mostram o empenho da sociedade como um todo em regular as atividades que

em parte jaacute foram modificadas com o advento da informatizaccedilatildeo no Poder

Judiciaacuterio

O dialogismo eacute mais evidente no texto da lei nova que jaacute declara no seu

caput32 que explicitamente altera a lei anterior33 revogando uma parte dos

artigos do Coacutedigo de Processo Civil (Lei 58691973) ou dando nova redaccedilatildeo

aos artigos que jaacute existiam (Lei 114192006 artigos 12 169sect1ordm) Faz-se

presente tambeacutem quando acresce incisos ou paraacutegrafos na Lei 58691973 (Lei

114192006 artigos 38 paraacutegrafo uacutenico 154sect 2ordm 164 paraacutegrafo uacutenico 169 sect2ordm

e sect3ordm) testemunhando a mudanccedila na esferacampo das atividades humanas

trazidas pela evoluccedilatildeo tecnoloacutegica

O capital simboacutelico ou seja as relaccedilotildees entre os pares que participam

das relaccedilotildees e do reconhecimento e prestiacutegio pessoal das relaccedilotildees que satildeo

valorizadas pelo grupo tambeacutem exercem sua influecircncia no campo

De fato os profissionais da aacuterea juriacutedica gozam de prestiacutegio social e do

reconhecimento de seus pares e dos outros indiviacuteduos da sociedade pois eacute em

funccedilatildeo de suas atividades a de aplicar as normas coercitivas estabelecidas

pela sociedade que a vida social segue equilibrada

31

Documentos anexos I II III IVa IVb IVc IVd IVe IVf

32 Caput parte superior o iniacutecio de um documento uma lei ou de qualquer de seus artigos in PETRI

Maria Joseacute Constantino Manual de linguagem juriacutedica Satildeo Paulo Editora Saraiva 2011

33 ldquoDispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial altera a Lei n

o 5869 de 11 de janeiro de 1973 ndash

Coacutedigo de Processo Civil e daacute outras providecircnciasrdquo

55

Assim sob o aspecto da esferacampo que relaciona o momento soacutecio-

histoacuterico e as atividades humanas pudemos constatar como a modernizaccedilatildeo da

sociedade permite e ateacute mesmo impotildee modificaccedilotildees sociais que se transpotildeem

ao ordenamento juriacutedico na forma de aprovaccedilatildeo e cumprimento de uma nova

lei

Desta forma entendemos que as propostas de Bakhtin e do Circulo e

tambeacutem a de Bourdieu nos revelam a composiccedilatildeo dos mecanismos de

produccedilatildeo da linguagem bem como o dialogismo existente entre as diferentes

esferas e campos sociais e o sentido praacutetico produzido na sociedade atual

Os conceitos de esfera e campo se fundem para constituir o espaccedilo

onde ocorrem as produccedilotildees textuais juriacutedicas Um espaccedilo cujos limites

geograacuteficos satildeo variaacuteveis e que natildeo se circunscreve a um espaccedilo fiacutesico

especifico um espaccedilo universal que exige adaptaccedilotildees permanentes visto as

mudanccedilas sociais decorrentes da evoluccedilatildeo inevitaacutevel do mundo em que

vivemos (tome-se como exemplo as mudanccedilas provocadas pela adesatildeo dos

paiacuteses europeus agrave Uniatildeo Europeacuteia)

Essas adaptaccedilotildees satildeo permanentes e necessaacuterias para que a

convivecircncia se faccedila de forma relativamente equilibrada de onde a produccedilatildeo de

um ordenamento juriacutedico internacional e nacional constante Segundo Dollinger

(1992) elas satildeo inspiradas em rdquoprinciacutepios fundamentais e transcendentais de

justiccedila e equidaderdquo a fim de balancear ldquorealidades e necessidades

socioeconocircmicas em diferentes tempos e lugaresrdquo num processo de

universalizaccedilatildeo e extensatildeo dos direitos humanos

A regulaccedilatildeo internacional atraveacutes de tratados se faz na medida em que

seja necessaacuterio determinar de forma consensual as condutas entre diferentes

naccedilotildees Entretanto nem todas as naccedilotildees ratificaratildeo um tratado ao mesmo

tempo e nem todas procederatildeo de imediato agraves respectivas modificaccedilotildees

necessaacuterias em seus ordenamentos juriacutedicos internos

A produccedilatildeo de legislaccedilatildeo interna reflete por sua vez as necessidades

de adaptaccedilatildeo agraves realidades da naccedilatildeo e de suas relaccedilotildees com outras naccedilotildees

56

ou de suas relaccedilotildees internas Toda produccedilatildeo de textual juriacutedica incorpora

portanto o que se passa diariamente no territoacuterio internacional ou nacional34

Ao se examinar textos doutrinaacuterios de produccedilatildeo nacional o que se

constata eacute que os autores brasileiros fazem referecircncia frequentemente

sobretudo em notas de rodapeacute a autores de outros paiacuteses e a doutrinas e

legislaccedilotildees estrangeiras sobretudo europeus comparando os sistemas os

institutos juriacutedicos e ateacute mesmo as jurisprudecircncias

O Direito Brasileiro de acordo com Dolinger (1990) recebe tambeacutem

influecircncias do Direito Americano sobretudo em mateacuteria constitucional e

administrativa e pode ser testemunhada pelo direcionamento adotado em

decisotildees de nosso Supremo Tribunal Federal

Em relaccedilatildeo agraves influecircncias europeacuteias verificamos o que acontece em

obras de autores consagrados que se dedicam ao estudo do Direito Civil

Washington de Barros Monteiro (1971) Caio Maacuterio da Silva Pereira (1991) e

Silvio Rodrigues (1988)

Monteiro tem em seu primeiro capiacutetulo 27 citaccedilotildees de obras e autores

sendo que destes 25 satildeo estrangeiros (oito franceses) Em Pereira constam 23

obras citadas sendo que dessas 19 satildeo de obras e autores estrangeiros (oito

franceses) Rodrigues o mais econocircmico faz 12 citaccedilotildees sendo que cinco satildeo

de referecircncia a obras e direitos estrangeiros (trecircs franceses)

Ao colocarem nas notas de rodapeacute no corpo do texto ou na abertura do

capiacutetulo as citaccedilotildees de autores e obras os autores Monteiro Pereira e

Rodrigues informam que ao menos leram as obras referidas e que estatildeo

fazendo suas consideraccedilotildees a partir delas Este eacute o que se poderia chamar em

Direito de meacutetodo comparativo sobre os conceitos que satildeo apresentados por

nossos consagrados autores brasileiros

Essa praacutetica comeccedilou a tornar-se usual na Europa a partir do fim do

seacuteculo XIX quando diversas leis comeccedilaram a emergir nos paiacuteses europeus e

34

PELISSE ldquoEn effet quoi de plus speacutecifique aux cultures nationales que le droit De mecircme quoi de

plus incorporeacute et particulier que laquo ce qui se passe tous les jours raquo ce qui est banal et commun et qui

traduit par exemple le fait que lrsquoon est ou pas dans laquo son raquo pays raquo

57

as relaccedilotildees sobretudo comerciais entre os paiacuteses se intensificaram De

acordo com David (1985) a publicaccedilatildeo do Coacutedigo Civil francecircs em 1804

inspirou vaacuterios outros coacutedigos (entre eles o nosso Coacutedigo Civil) e acabou por

difundir a praacutetica das comparaccedilotildees

O que se chama portanto em Direito de meacutetodo comparativo eacute cada

vez mais frequente ao longo dos anos e fez surgir mais tarde o ramo que hoje

eacute chamado de Direito Comparado Atraveacutes do Direito Comparado eacute possiacutevel

entatildeo examinar direitos e legislaccedilotildees a fim de se verificar as semelhanccedilas ou

as diferenccedilas entre eles segundo Bevilaqua (1897) seja em seus aspectos

especiacuteficos ou gerais conforme precisa Dantas (1997)

Comparar direitos diferentes implica ler os textos de lei e compreende-

los em diferentes liacutenguas e contextos culturais Implica tambeacutem poder

reconhecer o que se manifesta como eco de uma legislaccedilatildeo anterior ou da

legislaccedilatildeo de um paiacutes para a de um paiacutes diferente A leitura de um livro teoacuterico

criacutetico ou de um coacutedigo comentado normalmente traz nas notas de rodapeacute

essas referecircncias

Na perspectiva da Anaacutelise do Discurso as citaccedilotildees nos rodapeacutes dos

manuais de direito satildeo testemunhos da polifonia (a voz de outro autor) e do

dialogismo (textual) O Direito Comparado nesta medida usa necessariamente

da polifonia e do dialogismo para fazer o exame comparativo dos textos

juriacutedicos

Outro aspecto da polifonia pode ser verificado pelo exame do percurso

de uma lei no sistema juriacutedico Esse eacute o caso de uma lei brasileira a proposta

de uma lei federal por exemplo eacute de iniciativa de um deputado de um

senador de um grupo deles ou de iniciativa popular Aprovado pela Cacircmara

dos Deputados o projeto de lei eacute encaminhado para o Senado a fim de

tambeacutem ali ser votado Se aprovado pelas duas casas o projeto seraacute

sancionado pelo Poder Executivo mais especificamente pelo Presidente da

Repuacuteblica O fato de um projeto tramitar pelo Poder Legislativo onde recebe

aprovaccedilatildeo de uma maioria de deputados e senadores e depois ser recebido

pelo Poder Executivo torna a lei publicada o resultado do acordo de vozes

58

diferentes Se o projeto for vetado pelo Congresso Nacional ou mesmo pelo

Presidente da Repuacuteblica o que eacute possiacutevel o veto tambeacutem eacute a expressatildeo de

vaacuterias vozes nesse caso dissonantes da intenccedilatildeo do projeto levado para

anaacutelise do Poder Legislativo ou Executivo

A lei resultado de um projeto de lei aprovado por um certo consenso eacute

um enunciado referendado por um grupo de pessoas - os Deputados

Senadores e Presidente da Repuacuteblica ndash que defenderam seu ponto de vista

aprovando a proposta apresentada O contexto de enunciaccedilatildeo onde se

entrecruzam dialogismo e polifonia tem sua cena de enunciaccedilatildeo como explica

Maingueneau (2002) no Congresso Nacional Eacute nessa cena de enunciaccedilatildeo

que se apresentam o enunciador que assume primeiramente o papel de

orador e o plenaacuterio do Congresso Nacional que eacute primeiramente o auditoacuterio

Essas noccedilotildees satildeo tratadas pela Teoria da Argumentaccedilatildeo e seratildeo estudadas no

item a seguir

23 A Retoacuterica e a Teoria da argumentaccedilatildeo a formaccedilatildeo do logos

do ethos e a influecircncia do local

O contato entre um enunciador aqui tratado como orador e um

enunciataacuterio aqui denominado auditoacuterio se faz pelo uso da palavra Os

recursos empregados pelo orador a fim de tentar convencer seu auditoacuterio ou

seja a argumentaccedilatildeo eacute o objeto de estudo da Retoacuterica A argumentaccedilatildeo vista

sob essa perspectiva eacute o campo em que se encontram de forma polecircmica

posiccedilotildees e interesses que se conjugam ou se confrontam conforme explica

Plantin (1990)

Esse autor explica que a palavra isto eacute a ponte entre orador e

auditoacuterio eacute o vetor de uma accedilatildeo simboacutelica e vem carregada pela intenccedilatildeo de

produzir resultados diferentes de acordo com o puacuteblico a que se destina em

funccedilatildeo dos projetos argumentativos dos interactantes

59

Perelman filoacutesofo do Direito ao renovar a Retoacuterica em 1958 propotildee

uma Nova Retoacuterica hierarquizando o que a Retoacuterica Claacutessica tinha

estabelecido como gecircnero deliberativo epidiacutedico e judiciaacuterio e priorizando a

linguagem do tribunal

Perelman fundamenta sua argumentaccedilatildeo juriacutedica substituindo a loacutegica

pela razatildeo partindo do justo conceito chave para ele de onde derivam dois

conceitos justiccedila que leva ao conceito de juriacutedico e justificado que conduz a

noccedilatildeo do que eacute razoaacutevel

Ainda segundo Plantin (1990) eacute neste ultimo ponto que o autor se

concentra para fundamentar a Nova Retoacuterica Segundo ele Perelman aleacutem de

procurar organizar respostas para a pergunta o que devo fazer tenta

encontrar respostas que contenham um princiacutepio de abstraccedilatildeo juriacutedica uma

regra de justiccedila e de igualdade entre os indiviacuteduos em que o argumento

eficaz no passado deve ser empregado em situaccedilatildeo anaacuteloga numa operaccedilatildeo

de recurso ao precedente

Eacute exatamente isso o que ocorre dentro de um sistema juriacutedico em que

uma lei se justifica pela existecircncia de uma outra que lhe antecede uma

tornando-se o argumento de existecircncia de outra que lhe eacute posterior

Tal como ocorre com a fixaccedilatildeo dos paracircmetros essenciais que

delimitam a situaccedilatildeo retoacuterica ocorre tambeacutem com os princiacutepios juriacutedicos A

situaccedilatildeo juriacutedica se constitui em torno de uma crise que deve ser resolvida por

uma decisatildeo seja sobre uma lei que jaacute existe seja por meio de uma decisatildeo

inovadora

Cabe esclarecer que uma lei natildeo pode retroagir para solucionar um

problema anterior a sua existecircncia Mas ela pode e vai corrigir os litiacutegios ou

desajustes posteriores a ela Nos sistemas juriacutedicos que permitem tal correccedilatildeo

como o brasileiro ela se faz seja por meio de uma decisatildeo de sentenccedila que

interprete a lei de forma inovadora seja por uma sentenccedila extensiva que

ultrapasse o que estaacute previsto em lei A decisatildeo inovadora e a sentenccedila

extensiva satildeo nesse sentido a expressatildeo de uma palavra orientada para um

determinado auditoacuterio que necessita de uma soluccedilatildeo para a sua demanda

60

Perelman (1996) na Nova Retoacuterica trata do auditoacuterio e do orador

segundo a premissa de que para que a argumentaccedilatildeo se desenvolva eacute

necessaacuterio que primeiramente a atenccedilatildeo do auditoacuterio esteja assegurada

Numa publicaccedilatildeo cientiacutefica como exemplifica esse autor essa atenccedilatildeo jaacute estaacute

assegurada na medida em que o puacuteblico leitor se dirige agrave revista com intenccedilatildeo

de ler seu conteuacutedo cabendo ao autor do artigo selecionado pelo leitor tatildeo

somente manter o contato que a instituiccedilatildeo cientiacutefica jaacute disponibilizou ao

permitir a publicaccedilatildeo do exemplar

Isso tambeacutem acontece num texto juriacutedico quem tem acesso ao texto eacute

um leitor direcionado e na maior parte das vezes especializado isto eacute domina

o vocabulaacuterio bem como o conteuacutedo da aacuterea Um leitor leigo certamente natildeo

teria um entendimento satisfatoacuterio do texto

Conforme esclarece Perelman as instituiccedilotildees que existem na sociedade

facilitam e organizam o contato entre um orador (enunciador) e seu auditoacuterio

(alocutaacuterio ou co-enunciador) pois normalmente um puacuteblico que procura por

um determinado assunto ou tema jaacute conhece algo sobre ele

O contato entre o orador e o auditoacuterio pelo argumento natildeo se faz

somente pelo antes isto eacute por presunccedilatildeo estabelecida entre ambos (de quem

eacute o orador e qual eacute seu auditoacuterio) mas se constroacutei durante a troca entre eles

pois as condiccedilotildees de uso da palavra e a intenccedilatildeo do orador e a reaccedilatildeo do

auditoacuterio tambeacutem contribuem para o desenvolvimento do argumento

O orador deve para que sua argumentaccedilatildeo alcance o objetivo

pretendido conhecer bem o auditoacuterio a que se dirige para poder prever sua

reaccedilatildeo e fazer os ajustes necessaacuterios a fim de que possa ter ecircxito no seu

propoacutesito Dessa forma o orador se serve da persuasatildeo pois enquanto estaacute

diante do seu auditoacuterio constroacutei a sua proacutepria personalidade diante daquele

auditoacuterio o seu ethos

231 A formaccedilatildeo do ethos

61

Aristoacuteteles apresenta o ethos sob a perspectiva de uma figura que se

serve do que eacute persuasivo para um certo grupo de indiviacuteduos com o objetivo

de causar uma boa impressatildeo proporcionando uma imagem de si capaz de

convencer o auditoacuterio e ganhar sua confianccedila

Por isso o ethos mobiliza tudo o que contribui pra alcanccedilar seu objetivo

desde o tom da voz ateacute o proacuteprio argumento apresentado O orador

proporciona uma imagem psicoloacutegica e socioloacutegica de si agindo de forma

indireta e dinacircmica a fim de atingir seu objetivo mobilizando para isso a

afetividade (pathos)

Estes recursos permitem ao orador obter uma eficaacutecia que permite

ganhar a confianccedila de seu auditoacuterio O ethos vai dessa forma se mostrando

durante o ato da enunciaccedilatildeo sem no entanto fazer uma apologia do orador ao

mesmo tempo em que constroacutei sua identidade atraveacutes de estrateacutegias que

direcionam suas palavras e orientam portanto o discurso

Ao mesmo tempo em que o ethos se apresenta o auditoacuterio constroacutei uma

representaccedilatildeo dele uma espeacutecie de ethos preacute-discursivo e que lhe eacute ateacute

mesmo anterior tal como ocorre em relaccedilatildeo a um poliacutetico diante do Congresso

Nacional por exemplo no momento em que ele discursa o auditoacuterio

normalmente jaacute sabe a que partido ele pertence e as ideias que abraccedila o que

ocorre em geral eacute que natildeo haacute grandes surpresas

Segundo Amossy (2005) o orador apresenta para o auditoacuterio um ethos

onde faz uma apresentaccedilatildeo de uma imagem a imagem de si a fim de garantir

o seu sucesso diante de seu interlocutor (ou co-enunciador) apresentando ao

mesmo tempo o que ele eacute e o que ele natildeo eacute (seu anti-ethos conforme

Maingueneau) privilegiando o que lhe interessa

Mesmo que alguns autores35 tenham tratado sobre esta questatildeo

analisando as trocas verbais considera-se para este trabalho que o texto

escrito tem diante de si um autor e um leitor e que a interaccedilatildeo de faz da

mesma forma poreacutem num momento temporal que natildeo eacute simultacircneo mas

35

Benveniste Kerbrat-Orecchioni

62

consecutivo podendo inclusive existir uma grande lacuna temporal separando

os dois polos em contato pelo enunciado

Segundo Amossy o tratamento dado ao ethos na anaacutelise do discurso por

Maingueneau tem seu foco na maneira de dizer que ldquoautoriza a construccedilatildeo de

uma verdadeira imagem de sirdquo A imagem usa da relaccedilatildeo do interlocutor e do

seu parceiro buscando a eficaacutecia da palavra causando impacto e buscando a

adesatildeo Como jaacute foi visto neste capiacutetulo a autora esclarece que Perelman se

preocupa mais quando trata do ethos com a forma de apresentaccedilatildeo do

argumento pelo orador diante do auditoacuterio

Amossy aborda a questatildeo da credibilidade do narrador tratada por

Hassal e de como o narrador se torna confiaacutevel aos olhos do leitor

mobilizando estrateacutegias para que a relaccedilatildeo de confianccedila seja fundada na

autoridade que ele enunciador deve se conferir caso deseje convencer uma

autoridade natildeo eacute negociada mas conferida

Segundo Mainguenau36 (2002) o ethos se elabora ldquoatraveacutes de uma

percepccedilatildeo complexa que mobiliza a afetividade do interprete ao mesmo tempo

em que tira suas informaccedilotildees do material linguiacutestico e do entorno do ambienterdquo

Entretanto essa elaboraccedilatildeo ultrapassa esse limite indo para alem disso

atingindo todo o comportamento do orador incluindo ai o verbal e o natildeo-verbal

sempre como o objetivo de provocar um efeito maior que o das simples

palavras

Maingueneau aponta algumas variantes na concepccedilatildeo de ethos

tratadas por Auchlin37 bastante interessantes a saber

a) O ethos pode ser bastante concreto (carnal) ou mais ou menos abstrato

36 Lrsquoethos de la rheacutetorique agrave lrsquoanalyse du discours 2002

37 Auchlin AntoineUniversiteacute de Genegraveve Publicou entre outros estudos laquoEthos et expeacuterience du

discours quelques remarquesraquo in Wauthion M et A C Simon (eacuteds) Politesse et ideacuteologie Rencontres

de pragmatique et de rheacutetorique conversationnelles Louvain Peeters laquoBCILLraquo 77-95 (trad en

portugais laquo Ethos e experiecircncia do discurso algumas observaccedilotildees raquo in Mari H I L Machado amp R De

Mello (2001) (eacuteds) Anaacutelise do discurso fundamentos e praacuteticas Nuacutecleo de Anaacutelise do discurso

FALEUFMG Belo Horizonte 201-225)

63

b) O ethos pode ser concebido como mais ou menos axioloacutegico vindo

associado agrave ideia de que um bom orador eacute algueacutem de bem de boa

moral e costumes

c) O ethos pode ser concebido como destacado manifesto singular

oposto ao coletivo partilhado impliacutecito e invisiacutevel Este uacuteltimo eacute

conforme explica o autor parte de uma comunidade comunicativa e

como tal eacute invisiacutevel e imperceptiacutevel

d) O ethos pode ser mais ou menos fixo convencional em oposiccedilatildeo ao

emergente e singular tal qual figuras preacute-moldadas

O ethos conclui o autor eacute uma noccedilatildeo discursiva que se constroacutei no

discurso e natildeo apenas uma imagem que o outro faz de um orador Isto implica

dizer que ele eacute parte de uma interaccedilatildeo em que o outro (auditoacuterio ou co-

enuciador) recebe uma determinada influecircncia num determinado contexto

histoacuterico-social e como jaacute explicado antes agraves vezes resultante de habitus

coletivos

O texto de lei tem um ethos atraacutes de si o ethos do legislador que

elaborou a lei Este ethos eacute um ethos preacute-estabelecido o do Congresso

Nacional que aprovou uma lei federal da Assembleia Nacional Francesa que

redigiu a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo ou da ONU que

elaborou atraveacutes de um comitecirc de vaacuterios paiacuteses uma Declaraccedilatildeo Universal de

Direitos do Homem

E cada um desses ethos tem atraacutes de si outros tantos ethos estes

individuais que aparecem na figura representada pelo Congresso brasileiro

pela Assembleia francesa ou pela ONU jaacute que estas satildeo ldquocasasrdquo em que

representantes da sociedade de uma naccedilatildeo ou das naccedilotildees se reuacutenem para

deliberar sobre questotildees de seu interesse

Na medida em que um ethos se une a outros ethos por meio de um

acordo que ocorre no momento em que opiniotildees similares se unem numa

64

anuecircncia sobre um determinado tema forma-se a opiniatildeo de consenso

resultante de um ideal ou real partilhado38

O ethos de um indiviacuteduo poliacutetico tende para o abstrato pois eacute

transformado em ethos de um grupo de deputados ou de representantes de

uma naccedilatildeo e se transforma no ethos da entidade que representam seja ela o

Congresso a Assembleia ou a ONU

No entanto a sua manifestaccedilatildeo natildeo pode ser percebida pelo documento

que apresentam (lei ou tratado) pois nesse texto que eacute um texto-resultado soacute

estatildeo expressas as vontades finais dos legisladores e a proacutepria figura do ethos

eacute apagada Na lei ou tratado a vontade expressa do legislador natildeo vem

expliacutecita na letra do texto O que o texto apresenta satildeo as foacutermulas de

execuccedilatildeo para que na vida praacutetica a vontade seja realizada O ethos estaacute

presente todavia nas sessotildees de debate normalmente privadas restritas ou

de acesso bem menos frequente ao grande puacuteblico e esse eacute o lugar onde

melhor se pode ver sua presenccedila sua construccedilatildeo e seu desenvolvimento

Para exemplificar o que se quer dizer tome-se o seguinte caso poucos

sabem por exemplo quem eram Charles Malik (libanecircs) ou Pen Chung Chang

(vice-presidente da China) que participaram da redaccedilatildeo da DUDH Nem

tampouco se sabe quais paiacuteses participaram da redaccedilatildeo quem foi seu redator

final (o jurista francecircs Reneacute Cassin) ou por quem foram presididos os trabalhos

de discussatildeo (tarefa que coube agrave Eleanor Roosevelt viuacuteva de Franklin

Roosevelt)39

Da mesma forma ocorreu com a lei de informatizaccedilatildeo da justiccedila (Lei

114192006) os usuaacuterios da lei natildeo conhecem o juiz Paulo Seacutergio Domingues

38

Como explica Charaudeau (2002) Aristoacuteteles trata da doxa ou sentido comum que eacute a resultante das

ideias admitidas e opiniotildees partilhadas pelos homens ou por uma maioria (ldquoesclarecidardquo)

39 Este eacute um caso onde se pode verificar uma polifonia visto que existem vaacuterias vozes que chegam a um

consenso para a redaccedilatildeo final do documento Poderia se pensar tambeacutem na questatildeo sobre a perspectiva da

heterogeneidade constitutiva do enunciado segundo o que desenvolve Authier-Revuz Mas como a

redaccedilatildeo final do documento implica em um texto resultado que traduz de forma neutra diferentes pontos

de vista de seus debatedores as marcas possiacuteveis de alteridade satildeo apagadas e natildeo se pode reconhecer

essa heterogeneidade

65

presidente da entidade de classe AJUFE (Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do

Brasil) que eacute quem a defende num momento de debates antes da sua

aprovaccedilatildeo mediante as criticas da OAB

Nesse caso tem-se a maior expressatildeo do ethos o ethos do individuo

Paulo Seacutergio Domingues eacute tambeacutem o ethos do homem mas tambeacutem da

entidade civil da qual este eacute presidente ele defende algo em que acredita e

natildeo soacute porque eacute representante da entidade40 Aleacutem disso na qualidade de juiz

federal natildeo deixa de ser representante do Poder Judiciaacuterio

Percebe-se de pronto pelos exemplos que o ethos individual deu lugar

a um ethos nacional continental cultural histoacuterico e social Pode-se dizer que

haacute a formaccedilatildeo de um super ethos de caraacuteter universal jaacute que funde em si

vaacuterios ethos tatildeo distintos mas que encontram um objetivo em comum uma

opiniatildeo partilhada e concordam em pontos que satildeo apresentados Todos tecircm

como resultado um texto juriacutedico a lei 114192206 ou a Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem

Natildeo eacute diferente do que ocorre na Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do

Cidadatildeo elaborada pela Assembleia Francesa ou pela Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil colocada em vigor em 1988 O que difere satildeo

seus objetivos que satildeo particulares a uma naccedilatildeo ou a uma situaccedilatildeo o

momento histoacuterico e social de cada uma delas No entanto a forma de

construccedilatildeo do ethos eacute igual em todos os casos

Cada um dos documentos citados conteacutem em si um caraacuteter abstrato em

sua intenccedilatildeo mas concreto porque seraacute validado jaacute que eacute lei ou tratado Cada

um deles conteacutem um valor axioloacutegico pois traduz a moral do tempo as regras

que precisam ser impostas E como tal satildeo uacutenicos singulares mas dirigidos a

uma comunidade e portanto de efeito coletivo e de caraacuteter partilhado Por fim

como forma textual satildeo documentos fixos moldados convenccedilatildeo que deve ser

respeitada por todos a quem se destina

40

Conforme relatou o proacuteprio Dr Paulo Seacutergio Domingues professor da Faculdade de Direito de

Sorocaba onde leciona haacute 18 anos a disciplina de Direito Processual Civil

66

Maingueneau explica esta questatildeo

laquo Dans le cas de textes scientifiques ou juridiques par exemple le garant au-

delagrave de lrsquoecirctre empirique qui a mateacuteriellement produit le texte est une entiteacute

collective (les savants les hommes de loihellip) eux-mecircmes repreacutesentants

drsquoentiteacutes abstraites (la Science la Loihellip) dont chaque membre est censeacute

assumer les pouvoirs degraves qursquoil prend la parole Degraves lors que dans une socieacuteteacute

toute parole est socialement incarneacutee et eacutevalueacutee la parole scientifique ou

juridique est inseacuteparable de mondes eacutethiques bien caracteacuteriseacutes (savants en

blouses blanches dans des laboratoires immaculeacutes juges austegraveres dans un

tribunalhellip) ougrave lrsquoethos prend selon le cas les couleurs de la laquo neutraliteacute raquo de

lrsquo laquo objectiviteacute raquo de lrsquo laquo impartialiteacute etcraquo41

Mas se por um lado existe uma neutralidade da qual fala esse autor ela

vem impregnada por um vetor ideoloacutegico ligado ao conteuacutedo de cada

documento e de caraacuteter extremamente subjetivo pois que dirigido agrave proteccedilatildeo

dos direitos do homem O resultado final (tratado declaraccedilatildeo ou lei) exprime

dessa forma ao mesmo tempo neutralidade e objetividade e diacronicamente e

de forma oposta eacute resultado justamente da parcialidade e da subjetividade

O enunciador do texto de lei assim como de alguns outros textos

abordados nesse trabalho (os textos de lei e os votos) eacute um enunciador-

resultante expressatildeo de vaacuterias vozes e vontades bem como de diferentes

ethos Pode-se por isso conferir-lhe um status de sujeito enunciador tal qual

um orador e que eacute dotado de um ethos Esse sujeito ao exprimir sua vontade

por meio do texto escrito da lei vai exercer sobre seu auditoacuterio os mesmos

poderes que um enunciador comum de um uacutenico sujeito Seu ethos ainda que

abstrato eacute ldquogigante pela proacutepria natureza eacute impaacutevido colossordquo na medida em

que exprime a vontade do enunciador-resultante e pode ateacute mesmo por

exemplo ser caracterizado do ponto de vista social e poliacutetico

41

Ndo A ldquo No caso dos textos cientiacuteficos ou juriacutedicos por exemplo a garantia aleacutem do ser empiacuterico

que materialmente produziu o texto eacute uma entidade coletiva (os saacutebios os homens da lei) eles proacuteprios

representantes de entidades abstratas (a Ciecircncia a Lei) da qual cada membro eacute autorizado a assumir os

poderes a partir do momento em que toma a palavra Desde o momento em que numa sociedade toda

palavra eacute socialmente personificada e avaliada a palavra cientiacutefica ou juriacutedica eacute inseparaacutevel de mundos

eacuteticos bastante caracterizados (saacutebios de aventais brancos em laboratoacuterios imaculados juizes austeros em

um tribunal) lugar em que o ethos assume de acordo com o caso as cores da ldquoneutralidaderdquo da

ldquoobjetividaderdquo da ldquoimparcialidaderdquo etc

67

232 O papel do local

O local fiacutesico e concreto onde se encontra o enunciador eacute revestido de

um caraacuteter objetivo mas que eacute ao mesmo tempo subjetivo e por isso abstrato

o Congresso Nacional a Assembleia Nacional (francesa) ou a ONU tecircm um

preacutedio fiacutesico como endereccedilo e satildeo pessoas juriacutedicas42 Satildeo chamadas de

42

Conforme o Vocabulaacuterio Juriacutedico (Silva De Plaacutecido e Vocabulaacuterio Juriacutedico Atualizadores Nagib

Slaibi Filho e Glaacuteucia Carvalho Rio de Janeiro Companhia Editora Forense 2004) Pessoa juriacutedica eacute

aquela ldquoempregada para designar as instituiccedilotildees corporaccedilotildees associaccedilotildees e sociedades quepor forccedila ou

determinaccedilatildeo da lei se personalizam tomam individualidade proacutepria para constituir uma entidade

juriacutedica distinta das pessoas que a forma ou que a compotildeem

Diz-se juriacutedica porque se mostra uma encarnaccedilatildeo da lei E quando natildeo seja inteiramente criada por ela

adquire vida ou existecircncia legal somente quando cumpre as determinaccedilotildees fixadas por lei

Dessa forma ao contraacuterio da pessoa natural cuja existecircncia legal se inicia por um fato natural ( o

nascimento) a pessoa juriacutedica somente tem existecircncia quando o Direito lhe imprime o sopro vital

Criando-se ou as confirmando eacute pois o Direito que determina ou daacute vida a essas entidades formadas

pela agremiaccedilatildeo de homens pela patrimonizaccedilatildeo de bens ou para cumprir segundo as circunstacircncias

realizaccedilatildeo do proacuteprio Estado

Inquinam a expressatildeo de pleonaacutestica porque pessoa simplesmente jaacute exprime ou daacute o sentido do ser

juridicamente considerado

Realmente pessoa assim se entende tanto se refere ao homem juridicamente compreendido como a toda

instituiccedilatildeo ou organizaccedilatildeo que se personalizou legalmente para cumprir finalidades do Direito ou fins

desejados por seus instituidores

Mas a qualificaccedilatildeo natural ou a juriacutedica eacute imposta para especializaccedilatildeo pois que em verdade segundo a

mateacuteria de que eacute composta ou constituiacuteda a pessoa haacute distinccedilatildeo entre essas duas espeacutecies

Nesta razatildeo a qualificaccedilatildeo adotada funda-se no fato do qual decorre a sua existecircncia ou personalidade

civil

No homem daacute-se o fato natural E daiacute a designaccedilatildeo adotada logicamente homem natural

Nas instituiccedilotildees corporaccedilotildees associaccedilotildees sociedades etc o fato de que decorre a personalizaccedilatildeo ou

individualizaccedilatildeo eacute legal eacute juriacutedico pois que se funda no Direito E daiacute a expressatildeo juriacutedica que integra

este sentido Juriacutedico eacute tudo o que eacute legal aprovado ou confirmado por lei quando natildeo eacute a proacutepria lei que

o institui ()

As pessoas juriacutedicas satildeo sempre representadas pelas pessoas naturais a quem se outorgam poderes para

representaccedilatildeo Esta representaccedilatildeo em regra eacute dita de delegaccedilatildeo por ser distinta em sua formaccedilatildeo e

exerciacutecio do mandato comumrdquo

Desta forma a ONU eacute pessoa juriacutedica de direito puacuteblico externo o Congresso Nacional eacute pessoa juriacutedica

de direito puacuteblico interno

68

pessoa juriacutedica pois possuem uma personalidade chamada de juriacutedica porque

natildeo eacute uma pessoa humana mas uma entidade a quem se conferem

determinados direitos e obrigaccedilotildees parecidas com as que satildeo atribuiacutedas aos

homens

Essas pessoas juriacutedicas que satildeo sediadas num endereccedilo fiacutesico

concreto tecircm poderes podem decidir negociar delegar ou representar o

grupo tal qual um mandato de um mandante ao seu mandataacuterio

Tecircm todos Congresso Nacional Assembleia Nacional e ONU uma

vontade que exprimem por seus atos e decisotildees tais como promulgar uma

constituiccedilatildeo uma lei um tratado uma declaraccedilatildeo resultado da decisatildeo da

maior parte de seus membros ou revogaacute-los

O local importa porque eacute ao mesmo tempo objetivo e subjetivo quando

se trata de uma notiacutecia em um telejornal ou na internet sobre essas casas haacute

sempre a imagem do preacutedio associada agrave notiacutecia o repoacuterter estaacute no local ou haacute

uma foto do local A fotografia ou a imagem do local fiacutesico personifica e

humaniza o local e por conseguinte se incorpora ao ethos de cada casa que

adquire uma forccedila maior quando citada como fonte (por exemplo O

Congresso Nacional aprovou a lei ldquoxrdquo) Imediatamente vem agrave mente do leitor

ou do ouvinte uma imagem real do local

Assim uma decisatildeo ou declaraccedilatildeo proferida por uma dessas casas tem

uma forccedila (ilocutoacuteria) muito maior do que se o enunciado fosse proferido de um

local natildeo conhecido pelo enunciataacuterio (uma associaccedilatildeo de moradores de um

bairro por exemplo) caso em que o espaccedilo da imagem ficaria no ldquovaziordquo no

referencial do enunciataacuterio

Pode-se exemplificar isso ao se pensar no Congresso Nacional

perguntando-se o que vem agrave cabeccedila do leitor Com certeza ele imaginaraacute algo

parecido com as imagens das figuras abaixo

69

43

Ou

44

Ou ainda

45

Por isso considera-se o local como constituinte tambeacutem do ethos a

imponecircncia institucional associada agrave apresentaccedilatildeo contiacutenua da imagem nos

meios de comunicaccedilatildeo impotildee um respeito agrave figura do ethos da entidade

tornando-o mais forte porque melhor conhecido do seu enunciataacuterio (auditoacuterio)

Todo esse contexto favorece a compreensatildeo da importacircncia de um texto

juriacutedico no seu contexto de produccedilatildeo Mais ainda geralmente um texto

referente a um determinado tema (por exemplo direito a uma justiccedila raacutepida)

natildeo teraacute o mesmo sentido e nem poderaacute ser aplicado da mesma forma em

paiacuteses diferentes ou ateacute mesmo em regiotildees diferentes de um mesmo paiacutes

43

httpwww2camaragovbr

44 httpwwwsenadogovbr

45 Niemeyer Oscar Congresso Nacional 1958 Brasilia httpwwwarcowebcombrarquiteturaoscar-

niemeyer-coletanea-de-11-02-2008html

70

Imagine-se a demora necessaacuteria para a resoluccedilatildeo de um processo de

divoacutercio na cidade de Satildeo Paulo ou numa pequena cidade do interior do

Estado Logicamente onde haacute mais demanda a demora eacute maior para o

atendimento do que se pleiteia

Entatildeo o texto juriacutedico tem sentido em seu local de produccedilatildeo ou de

origem se bem que possa ser aplicado e servir de fonte para outros sistemas

juriacutedicos diferentes (pela analogia admitida em vaacuterios sistemas juriacutedicos)46

Daiacute a importacircncia de conhecer bem o enunciataacuterio ao qual se dirige a

palavra pois dificilmente se poderia obter ecircxito diante de um auditoacuterio cujas

ideias e perfis satildeo contraacuterios ao do enunciador-orador Entretanto nada

impede que ao estabelecer uma relaccedilatildeo com seu puacuteblico o enunciador possa

se servir de argumentos e desenvolvecirc-los de tal forma que termine por

direcionar a opiniatildeo do seu enunciataacuterio-auditoacuterio convencendo-o totalmente

Cabe aqui uma distinccedilatildeo entre a persuasatildeo e a convicccedilatildeo o que

requer como premissa a distinccedilatildeo entre os tipos de auditoacuterios Um primeiro

tipo chamado de universal eacute aquele formado por toda a humanidade O

segundo eacute formado por um uacutenico interlocutor e seu auditoacuterio como num

diaacutelogo O uacuteltimo tipo eacute o estabelecido entre o proacuteprio sujeito e as deliberaccedilotildees

que ele faz consigo mesmo como num diaacutelogo interno

O objetivo do orador - o de obter a adesatildeo desse auditoacuterio - se

concretiza na medida em que o primeiro obteacutem um convencimento de ldquocaraacuteter

impositivo coativo das razotildees fornecidas e de sua evidecircncia validade

intemporal e absoluta independecircncia das contingecircncias locais ou histoacutericasrdquo

que satildeo apontadas

Perelman (197642) destaca ainda que o auditoacuterio universal eacute constituiacutedo

por cada um de seus integrantes e que cada cultura e cada individuo tem a sua

proacutepria concepccedilatildeo do que eacute um auditoacuterio universal Essas consideraccedilotildees levam

46

Uma versatildeo integral do coacutedigo civil francecircs foi adotada na iacutentegra no gratildeo-ducado de Varsoacutevia

Polocircnia durante a ocupaccedilatildeo napoleocircnica (httpideruditorgiderudit043668ar)

71

agrave conclusatildeo de que um determinado argumento pode natildeo obter o mesmo tipo

de adesatildeo em auditoacuterios de culturas diferentes de nacionalidades diferentes

Como se realiza a integraccedilatildeo ou a entrada de um sistema juriacutedico em

um outro diferente como se processam os aportes de legislaccedilatildeo Como um

sistema juriacutedico tal qual o brasileiro integra um tratado internacional ou de que

forma ele insere em seu ordenamento juriacutedico um coacutedigo quase ldquocopiadordquo tal

como ocorreu com os primeiros coacutedigos brasileiros (civil penal e comercial)

Os exemplos dos respectivos coacutedigos civis abaixo satildeo testemunhos

desse fenocircmeno

a) Coacutedigo Civil Brasileiro47

Art 3o Satildeo absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os

atos da vida civil

I - os menores de dezesseis anos

II - os que por enfermidade ou deficiecircncia mental natildeo tiverem

o necessaacuterio discernimento para a praacutetica desses atos

III - os que mesmo por causa transitoacuteria natildeo puderem exprimir

sua vontade

b) Coacutedigo Civil Francecircs 48

Article 1123

Creacuteeacute par Loi 1804-02-07 promulgueacutee le 17 feacutevrier 1804

Toute personne peut contracter si elle nen est pas deacuteclareacutee

incapable par la loi

Article 1124

47

REVOGADA A LEI Nordm 3071 DE 1ordm DE JANEIRO DE 1916 - Coacutedigo Civil dos

Estados Unidos do Brasil - VIGEcircNCIA ATEacute O DIA 10012003LEI No 10406 DE 10 DE

JANEIRO DE 2002 Institui o Coacutedigo Civil em vigor desde 11012003 (Alterado pela MP Nordm

10409012003( hoje LEI No 1067722052003 LEI Ndeg 1082522122003 LEI Ndeg 1093102082004

MP Nordm 234 10012005 LEI Nordm 11107 06042005 LEI Nordm 11127 28062005 LEI Nordm 11280

16022006 LEI Nordm 11481 31052007 LEI Nordm 1169813062008 LC Nordm 12819122008 LEI Nordm

1201003082009 jaacute inseridas no texto) LIVRO I DAS PESSOASTIacuteTULO I DAS PESSOAS

NATURAIS CAPIacuteTULO IDA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE

48 Version consolideacutee au 2 juin 2012 Chapitre II Des conditions essentielles pour la validiteacute des

conventions Section 2 De la capaciteacute des parties contractantes

72

Creacuteeacute par Loi 1804-02-07 promulgueacutee le 17 feacutevrier 1804

Modifieacute par Loi ndeg68-5 du 3 janvier 1968 - art 2

Sont incapables de contracter dans la mesure deacutefinie par la loi

Les mineurs non eacutemancipeacutes

Les majeurs proteacutegeacutes au sens de larticle 488 du preacutesent code

Constata-se o uso dos mesmos vocaacutebulos termos e expressotildees Mais

mesmo com redaccedilatildeo diferente o conteuacutedo eacute quase o mesmo

Como todas essas consideraccedilotildees se encaixam na Teoria da

Argumentaccedilatildeo Tomando a lei como o ponto de partida do fenocircmeno que

constroacutei o sistema juriacutedico ela eacute o argumento em si Isso posto o auditoacuterio eacute o

puacuteblico a que se destina seu enunciataacuterio E o enunciador ou orador eacute o

legislador ou aqueles que deram razatildeo as mudanccedilas da lei Uma lei alterada

existe porque foi necessaacuteria uma mudanccedila social requerida pelo enunciador e

eacute destinada a regrar a vida dos enunciataacuterios

A lei nova que vem como soluccedilatildeo pode ter sido inspirada apenas pelas

mudanccedilas sociais de uma nova tecnologia (pelo uso da informaacutetica) ou por um

tratado internacional assinado pelo governo brasileiro (Declaraccedilatildeo Universal de

Direitos Humanos) Dessa forma uma lei anterior eacute fonte de uma nova lei o que

revela a polifonia existente A necessidade de uma nova lei pela modernizaccedilatildeo

ou adequaccedilatildeo a um sistema internacional eacute o argumento

233 O auditoacuterio

O auditoacuterio para quem se destina a lei eacute um auditoacuterio ao mesmo tempo

uacutenico e universal Uacutenico quando tomado como naccedilatildeo pois uma lei se destina a

todo o povo de uma naccedilatildeo E ao mesmo tempo universal porque eacute constituiacutedo

de indiviacuteduos homens e mulheres bastante diferentes entre si na sua

73

individualidade mas que aos olhos do Estado e de seus poderes politicamente

organizados constituem um uacutenico ser o povo

Diferente do auditoacuterio universal o auditoacuterio onde se apresenta um uacutenico

interlocutor vecirc o desenvolvimento do argumento dentro de um diaacutelogo que se

desenvolve de maneira razoavelmente equilibrada no qual tanto o orador

quanto o interlocutor expotildeem cada um seus bons argumentos a fim de

encontrar uma soluccedilatildeo de consenso

A proposta de uma lei federal por exemplo eacute resultado da expressatildeo de

um auditoacuterio universal pois ela eacute debatida no Congresso Nacional onde estatildeo

deputados e senadores No entanto um interlocutor uacutenico pode representar na

condiccedilatildeo de representante do grupo ao qual pertence um auditoacuterio universal

Dessa forma o Congresso Nacional pode ser visto no momento do debate

como um ser uacutenico

Normalmente no auditoacuterio a troca entre orador e interlocutor possui

caracteriacutesticas que apontam para a discussatildeo Todavia ela pode se transformar

em debate se o objetivo principal for o triunfo da tese defendida tal como

ocorre no debate para a aprovaccedilatildeo de uma lei Segundo Perelman (197650) a

distinccedilatildeo entre o debate e a discussatildeo se faz sobretudo pela intenccedilatildeo dos

participantes da troca

O auditoacuterio ao deliberar consigo mesmo diante do que lhe eacute

apresentado pelo orador estaraacute sopesando sua aceitaccedilatildeo total ou parcial

convencendo-se ou natildeo da tese que lhe foi proposta

Diferente eacute o que ocorre na persuasatildeo que transcende os limites da

convicccedilatildeo iacutentima do interlocutor ou do auditoacuterio mediante o uso de um

elemento de maior forccedila que tem como objetivo coagir o auditoacuterio seja ele

formado por um uacutenico interlocutor ou universal

A persuasatildeo pode ser resultado dos procedimentos utilizados pelo

orador ou ocorrer em funccedilatildeo da formaccedilatildeo do proacuteprio auditoacuterio universal Assim

por exemplo um deputado de opiniatildeo divergente em seu partido pode votar a

favor de um projeto de lei que eacute de interesse do grupo poliacutetico ao qual

74

pertence A persuasatildeo neste caso seria efeito do pathos que se realiza pela

coerccedilatildeo isto eacute pelo compromisso assumido pelo poliacutetico com seu partido

obrigando-o a votar de acordo com o que a sua bancada partidaacuteria determinou

Uma lei colocada em vigor natildeo aceita discussatildeo sobre seu caraacuteter

persuasivo pois como lei sua persuasatildeo e seu poder de coaccedilatildeo satildeo atributos

inerentes Entretanto uma lei colocada em vigor pode suscitar debates sobre

sua forma de aplicaccedilatildeo Jaacute um projeto de lei pode tambeacutem suscitar debates

onde discussatildeo e persuasatildeo estatildeo presentes no momento de sua proposta

visto que num sistema democraacutetico o projeto de lei implica num debate antes

de sua aprovaccedilatildeo definitiva em lei

Os tratados de retoacuterica distinguem todos os gecircneros oratoacuterios

deliberativos judiciaacuterios e epidiacutedicos Os primeiros e os segundos se

constituem sobretudo por debates poliacuteticos e judiciaacuterios enquanto o terceiro

seria voltado para uma livre forma de expressatildeo cujo objetivo eacute o de agradar

elevar ou ornar um fato

Perelman destaca todavia que apesar de seu caraacuteter aparentemente

esteacutetico-literaacuterio o gecircnero epidiacutedico eacute aquele que conteacutem a intensidade

necessaacuteria presente na exposiccedilatildeo de cada argumento que por sua vez tem

seu valor exacerbado em uma medida necessaacuteria para atingir o resultado a que

se propotildee o orador

Perelman (197667) explica que dessa forma o convencimento do

auditoacuterio tambeacutem se faz natildeo soacute pela discussatildeo dos elementos que constituem

o argumento mas pelo fato de ser belo o recurso do qual se utiliza o orador

por exemplo Eacute nele ainda segundo Perelman que o orador se faz educador

que transmite seus valores Aqui estaacute presente a arte encantatoacuteria que muitas

vezes se faz pela presenccedila pessoal do orador diante de seu auditoacuterio seu

gestual sua forma de impostar a voz etc No Congresso Nacional a presenccedila

do epidiacutedico se faz pela emoccedilatildeo e pelo discurso inflamado do deputado ao

defender ou refutar o projeto de lei em debate diante do plenaacuterio

A argumentaccedilatildeo tem sempre como objetivo modificar um estado de

coisas preexistentes Eacute portanto de ordem praacutetica objetiva e pretende

75

mostrar por meio de provas que tem sua razatildeo de ser alterando o criteacuterio

subjetivo com que o auditoacuterio julga o argumento

Aleacutem do gecircnero epidiacutedico que eacute usado como recurso como jaacute foi dito

antes o orador serve-se de outros recursos para convencer o seu auditoacuterio

O auditoacuterio ou enunciataacuterio a quem se dirigem os textos de lei

analisados pelo corpus deste trabalho eacute o homem que vive em sociedade a

coletividade No caso da DDHC eacute o homem e cidadatildeo francecircs (leia-se homem

enquanto ser da espeacutecie humana) na DUDH eacute o homem de cada paiacutes

integrante da ONU na CF88 o homem brasileiro ou estrangeiro que vive no

Brasil e finalmente no caso da Lei 114192006 o homem eacute cada um que for

usuaacuterio do Poder Judiciaacuterio funcionaacuterio ou parte de um processo

resguardadas as limitaccedilotildees de implantaccedilatildeo do sistema de informatizaccedilatildeo

Jaacute nos textos do voto e parecer do Deputado Roberto Batochio e da

Justificaccedilatildeo da Deputada Luiza Erundina o auditoacuterio eacute a proacutepria Cacircmara dos

Deputados pois eacute ela quem aceita o parecer de ambos para depois votar a

aprovaccedilatildeo do projeto de lei Jaacute na Nota Oficial analisada o auditoacuterio eacute mais

restrito o texto dirige-se agrave OAB que criticou o projeto de lei e tambeacutem aos que

possam se interessar pela aprovaccedilatildeo da proposta apresentada ao Congresso

Nacional

234 O ethos e o logos

Perelman (197667) trata da adesatildeo que se pode fazer a grupos especiais

como os valores as hierarquias e os lugares do preferiacutevel explicando que

ldquoestar de acordo em relaccedilatildeo a um valor significa admitir que se exerceraacute uma

influecircncia sobre um objeto um ser ou um idealrdquo e que ela pode natildeo se impor a

todos

Mas destaca o autor que os valores estatildeo presentes de alguma forma e

em algum momento em todas as argumentaccedilotildees mesmo que isso ocorra pela

contestaccedilatildeo do valor ou sua total negaccedilatildeo Um auditoacuterio universal vai estar

76

sujeito a valores universais Mas na medida em que um auditoacuterio universal eacute

composto por auditoacuterios especiais a adesatildeo de cada grupo se faraacute de forma

diferente Entatildeo na aprovaccedilatildeo de uma lei ou tratado por um parlamento haveraacute

adesatildeo integral ou parcial ou natildeo do auditoacuterio universal A aprovaccedilatildeo e

portanto sua adesatildeo natildeo se faraacute de forma igual podendo haver diferentes

graus de adesatildeo mesmo diante da aprovaccedilatildeo E cada adesatildeo pode se fazer

por razotildees diferentes isto eacute cada grupo pode aderir por concordar ou se opor

a um certo grupo de valores diversos

Eacute o que ocorreu com a posiccedilatildeo da OAB que criticou o projeto da Lei de

Informatizaccedilatildeo Judicial para essa entidade o valor de ldquoacesso a uma justiccedila

mais ceacutelererdquo parecia impossiacutevel de ser alcanccedilado mesmo depois de sua

aprovaccedilatildeo pelo Poder Legislativo Hoje pode-se constatar que apesar de

ainda serem necessaacuterios vaacuterios aperfeiccediloamentos na implantaccedilatildeo - e ateacute

mesmo na execuccedilatildeo dos procedimentos de informatizaccedilatildeo a certificaccedilatildeo

digital por exemplo eacute uma realidade para os advogados brasileiros49

49

De acordo com o site nacional da entidade httpwwwacoabcombracoabsiteentendacertificado-

digital-oab Acesso em 22122012

O Certificado Digital OAB eacute emitido apenas para advogados regularmente inscritos na Ordem dos

Advogados do Brasil

Como descrito na DPC AC-OAB (Declaraccedilatildeo de Praacuteticas de Certificado ndash Autoridade

Certificadora OAB) documento que conteacutem as normas e procedimentos aplicaacuteveis agrave

Autoridade Certificadora o Certificado Digital do advogado somente poderaacute ser armazenado no chip do

seu cartatildeo profissional

Os inscritos que jaacute receberam a nova identidade profissional emitida pela OAB contendo

o chip eletrocircnico natildeo precisaratildeo solicitar um novo cartatildeo

Seraacute necessaacuterio apenas realizar o processo de solicitaccedilatildeo descrito no paraacutegrafo ldquoComo emitir

um Certificado Digitalrdquo

Os inscritos que ainda possuem o modelo antigo da identidade profissional sem o chip deveratildeo

providenciar imediatamente a troca pelo novo modelo para obter as vantagens do uso da

certificaccedilatildeo digital

Quando o advogado opta por ter uma certificaccedilatildeo digital ICP-BRASILAC-OAB ele valoriza a sua

entidade de classe e viabiliza seu acesso a diversos serviccedilos agregados e disponibilizados pelo Conselho

Federal como

1 Aacuterea para seu uso exclusivo no site da Instituiccedilatildeo para disponibilizar seu curriacuteculo profissional e

outras informaccedilotildees uacuteteis

2 Acesso automaacutetico aos seus dados constantes do Cadastro Nacional de Advogados passiacuteveis de

atualizar eletronicamente

77

Os valores podem ser de ordem distinta isto eacute concretos ou abstratos

Perelman considera a justiccedila ou a veracidade como valores abstratos e a

Franccedila ou a Igreja como valores concretos Na sociedade ocidental calcada

nas concepccedilotildees greco-romanas existem comportamentos e virtudes que soacute

podem ser segundo ele concebidos em relaccedilatildeo aos valores concretos tais

com as noccedilotildees de fidelidade ou lealdade

A base da argumentaccedilatildeo se faz sobre um tipo de valores ou sobre o

outro dependendo das circunstacircncias e nem sempre eacute faacutecil se distinguir o

papel de cada um dos valores Num dado grupo social o valor concreto pode

ser tratado como uacutenico e se oporaacute a qualquer outro que lhe seja estranho e

pode ateacute se for adotado sem os devidos cuidados levar a uma tomada de

posiccedilatildeo arbitraacuteria

Os valores concretos podem ser usados para fundar valores abstratos e

vice-versa Apoiar-se num valor abstrato pode servir agrave critica e agrave necessidade

de se proceder dessa forma manifesta ou ainda segundo Perelman (1976) a

um espiacuterito revolucionaacuterio enquanto que o contraacuterio indica normalmente um

caraacuteter conservador

O valor de igualdade e liberdade que parecia abstrato em 1789 aos

revolucionaacuterios franceses se materializa na DDHC se reforccedila com a

publicaccedilatildeo na DUHC Aiacute o conceito de justiccedila ainda volaacutetil sobretudo pelo fato

das duas grandes guerras vivenciadas pela Europa em menos de 50 anos

comeccedila a tomar corpo e ganhar forccedila Por toda a parte satildeo contestadas as

medidas que restringem a igualdade e a liberdade ao mesmo tempo em que o

3 Reduccedilatildeo dos custos na contrataccedilatildeo da Certificaccedilatildeo Digital

4 Seguranccedila na emissatildeo do Certificado ICP-BRASILAC-OAB porque aleacutem da conferecircncia

presencial dos documentos apresentados na hora da certificaccedilatildeo haveraacute uma consulta ao Cadastro

Nacional dos Advogados onde apareceraacute a foto do advogado para a confirmaccedilatildeo final

5 Possibilidade de encaminhamento de livros para Editoraccedilatildeo da Editora OAB

6 Desconto na inscriccedilatildeo de cursos na ENA

7 Aquisiccedilatildeo de livro da Livraria OAB com descontos

Para que o advogado possa usufruir a valorizaccedilatildeo de seu cartatildeo deve estar em dia com a OAB e ter

certificaccedilatildeo ICP-BRASILAC-OAB

78

sentido do conceito de justiccedila se amplia se reformula sobe na hierarquia dos

valores sociais ateacute se transformar no acesso raacutepido agrave justiccedila sustentado pelas

maacuteximas do fumus bon iuris e do periculum in mora

As hierarquias que tambeacutem constituem a base da argumentaccedilatildeo se

apoiam sobre os valores pois indicam a preferecircncia ou a concepccedilatildeo dos

valores relativos agraves pessoas e agraves coisas umas em relaccedilatildeo agraves outras Tambeacutem

podem ser concretas e abstratas sendo que os mesmos criteacuterios em relaccedilatildeo

aos valores satildeo adotados para se distinguir umas das outras

Uma das formas mais usuais de hierarquizaccedilatildeo eacute a que considera o

aspecto quantitativo dos elementos colocando em preferecircncia os de maior

quantidade Mas a hierarquia dos valores abstratos se faz mediante o criteacuterio

da natureza do elemento o que equivale dizer da sua natureza qualitativa e a

essa hierarquia na apresentaccedilatildeo dos argumentos eacute mais importante ateacute do

que o proacuteprio valor dos argumentos

Perelman ensina que um auditoacuterio se caracteriza mais pela forma como

ele hierarquiza os valores do que pelos proacuteprios valores A intensidade de

adesatildeo a cada um dos valores tambeacutem deve ser considerada e conhecida do

orador a fim de que ele possa explorar convenientemente esse aspecto na

apresentaccedilatildeo de sua argumentaccedilatildeo

Ao se examinar uma lei e o argumento que caracteriza a sua existecircncia

temos que sua concretude se daacute pelo fato da lei ser publicada e produzir seus

efeitos Mas o grau de importacircncia de uma lei eacute baseado tal qual o argumento

numa escala hieraacuterquica onde o valor atribuiacutedo a diferentes leis eacute normalmente

definido pela Constituiccedilatildeo do paiacutes como se veraacute mais adiante

Em relaccedilatildeo aos argumentos e aos lugares estes vatildeo designar as

rubricas sob as quais se podem classificar os argumentos como se fossem

etiquetas A divisatildeo aristoteacutelica separava os lugares comuns dos especiacuteficos

Os primeiros de caraacuteter generalizante permitem um uso em diversas e

muacuteltiplas circunstacircncias Seu uso indiscriminado levou agrave repeticcedilatildeo exaustiva e

esse excesso foi tachado de local comum caracterizando os lugares comuns

por uma banalidade que entretanto natildeo exclui a especificidade

79

Perelman (1976115) propotildee em sua obra diferente do que fez

Aristoacuteteles tratar dos lugares comuns separando-os em lugares da

quantidade da qualidade da ordem da existecircncia da essecircncia e da pessoa

Os lugares da quantidade satildeo definidos como sendo lugares comuns onde

prevalece a quantidade da ocorrecircncia e segundo Isoacutecrates deve se avaliar

sua aplicaccedilatildeo e retorno isto eacute aquele que ldquorend servicerdquo a maior quantidade

de pessoas que dele se beneficia Retomando Aristoacuteteles Perelman

(1976116) cita um trecho de Toacutepicos50 que eacute bastante interessante onde ele

compara a justiccedila agrave coragem e a utilidade de ambas a justiccedila sempre eacute uacutetil a

coragem apenas agraves vezes Isto implica dizer que o local da quantidade eacute

aquele onde o que acontece eacute o usual o normal o habitual

Oposto ao local da quantidade estaacute o da qualidade tal como o da

qualidade da verdade divina defendida por Calvino e os Reformistas Aqui tem

maior importacircncia a singularidade a preciosidade a especificidade a

originalidade de cada ser ou objeto e das relaccedilotildees que os envolvem eacute a

valorizaccedilatildeo do uacutenico A precariedade citada como exemplo de local da

qualidade em oposiccedilatildeo ao valor quantitativo da duraccedilatildeo Por isso o que eacute

precaacuterio tem um valor maior

Os outros lugares tal qual o da ordem afirmam a superioridade do

anterior sobre o posterior da causa sobre o fim e o dos princiacutepios sobre o

objetivo os lugares da existecircncia afirmam a superioridade do que existe do

que eacute atual e real sobre o possiacutevel o eventual ou o impossiacutevel

Uma lei como jaacute foi mencionado eacute um argumento em si e eacute posta

diante de um auditoacuterio a sociedade As palavras que se apresentam no seu

enunciado nem sempre representam o seu conteuacutedo uma lei como a da

informatizaccedilatildeo da justiccedila (Lei 114192006) busca em seu escopo uma

celeridade no tracircmite dos processos junto ao sistema judiciaacuterio Mas no corpo

50

ldquoEst aussi plus deacutesirable ce qui est plus utile en toute occasion ou la plupart du temps par exemple la

justice et la tempeacuterance sont preacutefeacuterables au courage car les deux premiegraveres sont toujours utiles tandis

que le courage ne lrsquoest qursquoagrave certains momentsraquo

80

do texto da lei essas palavras natildeo aparecem O que natildeo significa que a

maacutexima ldquoceleridade processualrdquo esteja ausente

Um estudo mais aprofundado realizado por Cretella (1994) da oitava

Constituiccedilatildeo da Republica Federativa do Brasil de 1988 que ainda eacute vigente

revela que quatro Declaraccedilotildees Revolucionaacuterias Francesas51 influem na

Constituiccedilatildeo Poliacutetica do Impeacuterio de Brasil de 1824 e se perpetuam ao longo dos

tempos

No texto de 1988 o principio tradicional de ldquotodos satildeo iguais perante a

leirdquo ressurge reformulado no Preacircmbulo atraveacutes da palavra ldquoigualdaderdquo Mas

este princiacutepio tambeacutem estaacute presente em outras Constituiccedilotildees anteriores a

saber

Constituiccedilatildeo do Impeacuterio (art 179 inc I)

Constituiccedilatildeo Federal de 1891 (art 72 sect 2ordm)

Constituiccedilatildeo Federal de 1934 (art 113 inc I)

Carta de 1937 (art 122 inc I)

Constituiccedilatildeo Federal de1946 (art 141 sect 1ordm)

Emenda Constitucional no 1 de 1969 (art 153 sect 1ordm)

e na proacutepria Constituiccedilatildeo Federal de 1988 (art 5ordm)

Por sua vez o artigo 5ordm da Constituiccedilatildeo de 1988 recebe uma Emenda

Constitucional52 16 anos apoacutes a sua entrada em vigor que trata exatamente

da questatildeo da celeridade da justiccedila ldquoa todos no acircmbito judicial e

51

De acordo com o mesmo autor a) a de 17 artigos e mais conhecida a Declaraccedilatildeo dos Direitos do

Homem e do Cidadatildeo pois seus artigos constam no Proacutelogo da Constituiccedilatildeo de 1791 e na de 1958

tambeacutem Foi votada pela Assembleia Constituinte francesa em 27 de agosto de 1789 b) a Declaraccedilatildeo

girondina de 1793 votada pela Convenccedilatildeo c) a Declaraccedilatildeo Montanhesa de 1793 que deveria preceder a

constituiccedilatildeo mas que acabou natildeo sendo votada d) a Declaraccedilatildeo do Ano III que precede a Constituiccedilatildeo

de 5 Frutidor (do mesmo ano) votada tambeacutem pela Convenccedilatildeo

52 Emenda Constitucional n

o 45 de 9 de dezembro de 2004 Art 5ordm LXXVIII - a todos no acircmbito judicial

e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeridade de

sua tramitaccedilatildeo

81

administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios

que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeordquo

Conforme observa Alexandre de Moraes (2011410-412) evocando o

princiacutepio da eficiecircncia dos serviccedilos

A EC no 4504 (Reforma do Judiciaacuterio) assegurou a todos no

acircmbito judicial e administrativo a razoaacutevel duraccedilatildeo do processo

e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeo

O mesmo autor comenta mais adiante na mesma obra referindo-se

especificamente agrave lei 114192006

No contexto da Reforma do Judiciaacuterio e buscando efetivar a

celeridade processual a Lei no

11419 de 19 de dezembro de

2006 regulamenta a informatizaccedilatildeo do processo judicial (autos

virtuais) estabelecendo a possibilidade de utilizaccedilatildeo do meio

eletrocircnico na tramitaccedilatildeo dos processos judiciais comunicaccedilatildeo

de atos e transmissatildeo de peccedilas processuais indistintamente aos

processos civil penal e trabalhista bem como aos juizados

especiais em qualquer grau de jurisdiccedilatildeo

A proacutepria lei define os principais termos para a implementaccedilatildeo

da informatizaccedilatildeo do processo judicial

Entatildeo o desaparecimento ou ausecircncia de certos termos nos documentos

(tal qual o termo justiccedila) tem um significado sua ausecircncia implica no fato de

que o valor abstrato passou a ser concreto natildeo eacute mais necessaacuterio estar

presente de forma expliacutecita ele eacute inerente agrave sociedade pois a evoluccedilatildeo dos

costumes fez com que o valor transigisse de status passando da abstraccedilatildeo

para a concretude

Na Revoluccedilatildeo Francesa o direito a uma justiccedila ldquojustardquo era algo que natildeo

se conhecia e se existia era exercido para alguns e natildeo para todos podendo

nunca se concretizar pela demora em sua realizaccedilatildeo O direito agrave justiccedila se

ampliou de tal forma que hoje natildeo eacute mais necessaacuterio que ele apareccedila

explicitado dessa forma pois ele se tornou inerente ao homem do seacuteculo XXI

mesmo que seja necessaacuterio ainda em alguns casos explicitaacute-lo melhor53

53

Ao se acessar a paacutegina da ONU pode-se verificar que ainda existem muitas questotildees em que a justiccedila

ainda natildeo alcanccedila sua efetividade pois existem programas tais como eliminaccedilatildeo da violecircncia contra a

82

A anaacutelise que Cretella (1994) faz do Preacircmbulo da Constituiccedilatildeo Federal

da Repuacuteblica do Brasil mostra sob a oacutetica do direito tal evoluccedilatildeo Ele explica

que a Revoluccedilatildeo Francesa incorpora em um soacute valor as maacuteximas de ldquoliberteacuterdquo

ldquoeacutegaliteacuterdquo e ldquofraterniteacuterdquo mas que os constituintes brasileiros os separaram na

redaccedilatildeo do Preacircmbulo colocando-os em ldquolugaresrdquo diferentes

A separaccedilatildeo permite ao contraacuterio do que se possa pensar natildeo uma

dispersatildeo dos valores Significa que cada um desses valores pode e seraacute

como se veraacute mais adiante ser tomado individualmente para que possa ser

melhor explorado desenvolvido e especificado A um valor baacutesico de liberdade

se associam as situaccedilotildees onde este valor eacute necessaacuterio liberdade de crenccedila

religiosa de ir e vir de filiaccedilatildeo partidaacuteria por exemplo

De certa forma alguns desses valores estatildeo presentes ao mesmo tempo

fundidos em outros Assim o valor de bem-estar soacute pode existir se um homem

for livre para circular pelo espaccedilo social se ele for tratado de forma equacircnime

em relaccedilatildeo aos outros homens e de maneira fraterna

Assim tambeacutem ocorre em relaccedilatildeo agrave justiccedila para que se atinja a justiccedila

enquanto ideal de uma sociedade haacute que se ter liberdade igualdade e

fraternidade A maacutexima francesa retomada em vaacuterias das Constituiccedilotildees e

Cartas brasileiras se repete sempre como se sua repeticcedilatildeo fosse necessaacuteria

para sua solidificaccedilatildeo presente no preacircmbulo e perpetuando-se pelos artigos

seguintes inclusive no artigo 5ordm cristaliza-se tal qual claacuteusula peacutetrea Sua

exigecircncia passa a ser inquestionaacutevel e deve ser a todo custo cumprida

Desta forma valores tatildeo abstratos na Franccedila de 1789 e que passaram a

ser repercutidos ao longo dos anos surgiram na primeira Constituiccedilatildeo do

Impeacuterio e se perpetuaram em outras Constituiccedilotildees brasileiras concretizando-

se como direitos adquiridos

mulher a crianccedila da violecircncia sexual nos conflitos da proteccedilatildeo dos povos autoacutectones das crianccedilas nos

conflitos armados etc (httpwwwunorgfrrights)

83

Entretanto natildeo soacute os documentos franceses influenciaram as leis

brasileiras O cenaacuterio internacional tambeacutem provocou interferecircncias apoacutes duas

guerras mundiais de consequecircncias perpeacutetuas e avassaladoras para o mundo

que culminaram na celebraccedilatildeo de vaacuterios tratados e da Declaraccedilatildeo Universal

dos Direitos do Homem de 1948 A DDUH retomara os valores de igualdade

fraternidade liberdade justiccedila especificando-os e aprofundando-os a fim de

impedir que novos horrores fossem praticados

Ora o Brasil por meio do mesmo art 5ordm e inciso LXXVIII54 inclui os

tratados internacionais em seu sistema legal colocando os tratados

internacionais sobre direitos humanos entre a constituiccedilatildeo federal e as leis

federais o que implica dizer que eles tecircm que ser respeitados tal como

constam no tratado dentro do sistema hieraacuterquico das leis brasileiras

Essa forma de organizaccedilatildeo hieraacuterquica das leis nada mais eacute do que o

logos do enunciado uma lei autoriza ou se acorda com outra uma eacute

argumento da outra Consequentemente uma medida provisoacuteria natildeo pode estar

em desacordo com um tratado internacional ou um decreto legislativo em

desacordo como uma lei complementar

24 A reformulaccedilatildeo na liacutengua e no discurso juriacutedico

As figuras e procedimentos da Retoacuterica no item anterior mostram que

documentos franceses repercutiram no mundo e influenciaram documentos

brasileiros por meio de procedimentos reformulativos variados Conceitos

expressotildees termos foram ora incorporados repetidos reformulados ora

suprimidos sendo sua ausecircncia apenas formal Essas diversas formas de

reformulaccedilatildeo expliacutecita natildeo se realizam sem alterar o sentido obviamente O

54

sect 2ordm - Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do

regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do

Brasil seja parte

84

termo reformulaccedilatildeo eacute muito geneacuterico e refere-se a vaacuterios procedimentos

linguiacutesticos discursivos e enunciativos natildeo cabendo aqui discorrer sobre suas

inuacutemeras formas e alcance apenas seratildeo aludidas as formas que interessam agrave

anaacutelise deste corpus55

241 Do ponto de vista linguiacutestico

A reformulaccedilatildeo eacute um procedimento de substituiccedilatildeo empregado na

construccedilatildeo de um enunciado De acordo com Peytard (1984) a reformulaccedilatildeo

pode ser entendida ldquocomme lrsquoensemble des transformations quun discours

(litteacuterairescientifique) admet dune mecircme et unique source pour devenir laquo

autrement raquo56 eacutequivalentrdquo Para que se possa realizar tal operaccedilatildeo

normalmente faz-se uso de uma expressatildeo linguiacutestica diferente Por exemplo

no caso de um texto juriacutedico a lei pode ser substituiacuteda de forma reduzida ou

simplificada por ldquoelardquo ldquodelardquo ou ldquoregra legalrdquo

Peytard tambeacutem ensina que a reformulaccedilatildeo ocorre no momento em que

se explica um enunciado levando em consideraccedilatildeo o ldquoagente de

reformulaccedilatildeordquo

crsquoest-agrave-dire par rapport au locuteur-scripteur qui partant drsquoun

eacutenonceacute discursif drsquoorigine (situeacute) le transforme selon des

proceacutedures repeacuterables en un eacutenonceacute discursif second Eacutetant

entendu que lrsquoalteacuteration peut soit maintenir une similitude (eacutetat

drsquoeacutequivalence) soit provoquer une diffeacuterence (eacutetat drsquoalteacuteriteacute)57

A reformulaccedilatildeo elaborada por um mesmo enunciador reflete sim a

alteridade discursiva Todavia nos casos em que ela eacute resultante de um

55

Alguns autores preferem a grafia re-formulaccedilatildeo pois cada alteraccedilatildeo eacute uma nova formulaccedilatildeo

56 aspas do autor

57 ldquoIsto eacute em relaccedilatildeo ao locutor-escritor que partindo de um enunciado discursivo de origem (situado) o

transforma segundo procedimentos que se evidenciam em um enunciado discursivo segundo Visto que

a alteraccedilatildeo pode ou manter uma similaridade (estado de equivalecircncia) ou provocar uma diferenccedila (estado

de alteridade)rdquo (Trad Nossa)

85

conjunto de vozes de diferentes enunciadores de mesma cultura e ateacute de

culturas diferentes ela refrata apenas a polifonia existente

Segundo Mortureux (1993) a reformulaccedilatildeo como recurso eacute bastante

adotada para transpor o discurso cientiacutefico e teacutecnico para um discurso de

vulgarizaccedilatildeo (divulgaccedilatildeo cientiacutefica) ou seja essa transposiccedilatildeo possibilita o

acesso de uma linguagem teacutecnica e cientiacutefica para uma linguagem quotidiana

ou mais acessiacutevel Explica Peytard (1984) que sendo o agente da alteraccedilatildeo o

mesmo que produziu o enunciado discursivo de origem trata-se de

reformulaccedilatildeo

Segundo Charaudeau a reformulaccedilatildeo tem diferentes objetivos mas o

principal eacute evitar a repeticcedilatildeo de um mesmo termo retomado A reformulaccedilatildeo

pode se aplicar a um uacutenico termo ou a um conjunto deles e pode tambeacutem se

fazer de vaacuterias formas Enquanto fenocircmeno enunciativo a reformulaccedilatildeo pode

tratar dos diferentes aspectos do discurso direto ou indireto mas tambeacutem do

dialogismo inerente a todo discurso conforme a perspectiva bakhtiniana

Nos casos em que ocorre uma reformulaccedilatildeo e a alteraccedilatildeo do enunciador

ndash que eacute substituiacutedo por outro enunciador ou por um grupo de enunciadores ndash

pode haver uma alteraccedilatildeo do sentido Tal fato pode ser da escolha do

enunciador que quer ou precisa se afastar do termo inicialmente usado Tome-

se como exemplo o uso de termos substituiacutedos por outros porque

considerados inadequados a partir de um determinado momento tal como a

substituiccedilatildeo da expressatildeo ldquodeficiente fiacutesicordquo pela expressatildeo ldquoportador de

necessidade especialrdquo O enunciador pode iniciar seu texto com a primeira

expressatildeo para esclarecer sobre o objeto do qual iraacute tratar para em seguida

passar a usar sempre a segunda expressatildeo considerada mais adequada nos

tempos atuais O conteuacutedo ideoloacutegico presente na reformulaccedilatildeo aponta a

vontade do enunciador de natildeo discriminar aqueles que tecircm mobilidade

diferenciada

Explica ainda Charaudeau (1992) que a reformulaccedilatildeo pode ter um

caraacuteter explicativo ou imitativo No primeiro caso ela tem um caraacuteter didaacutetico

conforme ensina esse autor pois explica de forma detalhada e atualizada tal

86

qual se faz num dicionaacuterio ou em um resumo (abstract ou reacutesumeacute) de artigo

cientiacutefico O caraacuteter imitativo reproduz as caracteriacutesticas mais marcantes tal

como no pastiche na saacutetira ou na paroacutedia e sua funccedilatildeo eacute luacutedica

A tiacutetulo de ilustraccedilatildeo pode-se tomar o caso de um fiacutesico e um

engenheiro que descrevem o funcionamento de um motor de automoacutevel em

linguagem teacutecnica em um relatoacuterio teacutecnico sobre o desempenho do motor e o

mesmo fenocircmeno explicado num manual para o proprietaacuterio de um veiculo

automotor

Ensina Mortureux (1993) que essas substituiccedilotildees podem se efetuar pelo

emprego de recursos metalinguiacutesticos diafoacutericos ou tipograacuteficos

a) metalinguiacutesticos satildeo chamados pela autora os recursos empregados

com o auxilio dos verbos do tipo significar designar etc que satildeo utilizados na

sequecircncia do termo para esclarecer ou explicar tal como a sequecircncia de

palavras que datildeo o sentido de um termo no dicionaacuterio Ex incapacidade

designa a falta de capacidade de algueacutem para a realizaccedilatildeo de determinados

atos da vida civil

b) diafoacutericos satildeo os recursos que compreendem a

- anaacutefora gramatical retomada do termo posteriormente e acompanhado por um determinante do tipo demonstrativo por exemplo

- anaacutefora lexical retomada do termo por repeticcedilatildeo simples sinoniacutemia metoniacutemia

- a cataacutefora retomada do termo por um enunciado posterior

c) tipograacuteficos satildeo os recursos que se destinam a chamar a atenccedilatildeo

atraveacutes da pontuaccedilatildeo ou forma graacutefica tal como uma palavra grafada em

itaacutelico

Em relaccedilatildeo agrave sinoniacutemia recurso bastante empregado nos textos do

corpus Charaudeau (199254) ensina que no momento em que se emprega

uma palavra no local de outra num mesmo contexto ldquosans que change le sens

de leacutenonceacute on dira que ces deux mots sont seacutemantiquement eacutequivalents Ce

pheacutenomegravene est traditionnellement appeleacute synonymieraquo

87

O autor observa entretanto que natildeo existe sinoniacutemia absoluta Se

assim fosse natildeo haveria a necessidade de existirem diferentes palavras para

exprimir a mesma coisa Se haacute outra palavra existe um sentido diferente em

geral devido agrave diferenccedila do contexto em que cada uma eacute empregada

242 A reformulaccedilatildeo no direito empreacutestimo ldquotransplantrdquo ldquocirculationrdquo

No Direito eacute preciso tomar bastante cuidado com a substituiccedilatildeo de um

termo pelo outro jaacute que o sentido se altera A reformulaccedilatildeo eacute um procedimento

bastante praticado pelos juristas ao se tomar a lei como texto primordial e

central da atividade do jurista o texto que ele produz a partir da leitura da lei

nada mais eacute do que um procedimento de reformulaccedilatildeo acrescido de uma

interpretaccedilatildeo argumentativa para atingir um determinado objetivo

Existem ateacute mesmo artigos e leis que satildeo conhecidos inclusive por

aqueles que natildeo satildeo da aacuterea juriacutedica No Coacutedigo Penal os artigos 121 e 171

satildeo sinocircnimos de homiciacutedio e estelionato e na linguagem popular satildeo ateacute

empregados como adjetivos ldquoAh o fulano Conheccedilo bem ele eacute o ldquomaior 171rdquo

do bairrordquo

No discurso juriacutedico a reformulaccedilatildeo se faz normalmente no corpo do

texto onde haacute a transcriccedilatildeo do referido artigo de lei que agraves vezes se muito

conhecido tem apenas seu nuacutemero mencionado Em seguida haacute a

fundamentaccedilatildeo para justificar o pedido e o proacuteprio pedido como se pode ver

no exemplo de peticcedilatildeo abaixo caso em que a partir de uma lei o advogado

formula seu texto

ldquoDe acordo com o artigo 3deg do Coacutedigo Civil58

Satildeo absolutamente incapazes59

de exercer pessoalmente

os atos da vida civil

58

VADEMECUM SARAIVA 2ordf Ed Satildeo Paulo Saraiva 2006

59 Os grifos mostram a reformulaccedilatildeo dos termos e expressotildees empregados

88

I - os menores de dezesseis anos

II - os que por enfermidade ou deficiecircncia mental

natildeo tiverem o necessaacuterio discernimento para a praacutetica desses

atos

III - os que mesmo por causa transitoacuteria natildeo

puderem exprimir sua vontade

Assim Joseacute da Silva maior como jaacute foi demonstrado

anteriormente deficiente mental conforme o laudo anexado as

folhas e pelo processo de interdiccedilatildeo no

natildeo tem capacidade

suficiente para contratar um serviccedilo pois natildeo sabe diferenciar

entre o certo e o errado e portanto o que foi acertado entre as

partes eacute nulo em seu efeito rdquo60

Tambeacutem se encontram procedimentos de reformulaccedilatildeo em textos

teoacutericos como o texto de um manual de direito que explica este mesmo artigo

Capacidade de direito e de fato - Capacidade jaacute o vimos eacute a

aptidatildeo para ser sujeito de direitos e obrigaccedilotildees e exercer por si

ou por outrem atos da vida civil Duas satildeo portanto as espeacutecies

de capacidade a de gozo ou de direito e a de exerciacutecio ou de

fatordquo

()

A segunda espeacutecie de capacidade eacute a de exerciacutecio ou de fato eacute a

simples aptidatildeo para exercitar direitos eacute a faculdade de os fazer

valer se a capacidade de gozo eacute inerente a todo ser humano a

de exerciacutecio ou de fato deste pode ser retirada O exerciacutecio dos

direitos pressupotildee realmente consciecircncia e vontade por

conseguinte a capacidade de fato subordina-se agrave existecircncia no

homem dessas duas faculdades 61

No exemplo acima eacute possiacutevel verificar como os termos foram

reformulados por operaccedilotildees de sinoniacutemia ou mesmo por meio de uma

60

Exemplo elaborado baseado numa peccedila processual deste tipo de processo

61 Monteiro Washington de Barros Grifos do autor

89

expressatildeo ou paraacutefrase que detalha o que vem a ser incapacidade O termo

ldquoincapazesrdquo eacute restringido pela idade (os menores de dezesseis anos) pela

condiccedilatildeo fiacutesica ou mental (os que por enfermidade ou deficiecircncia mental natildeo

tiverem o necessaacuterio discernimento para a praacutetica desses atos) por motivos

fortuitos (os que mesmo por causa transitoacuteria natildeo puderem exprimir sua

vontade) O termo ldquodeficiente mentalrdquo eacute explicado por ldquonatildeo tem capacidade

suficienterdquo e ldquonatildeo sabe diferenciarrdquo Jaacute a capacidade vem parafraseada por

Monteiro (1970) como a ldquoaptidatildeo para ser sujeito de direitos e obrigaccedilotildees e

exercer por si ou por outrem atos da vida civilrdquo A capacidade de fato vem

definida como sendo ldquoa simples aptidatildeo para exercitar direitosrdquo ldquoa faculdade de

os fazer valerrdquo e explicitada por ldquoa capacidade de fato subordina-se agrave

existecircncia no homem dessas duas faculdadesrdquo

Os dois casos de reformulaccedilatildeo acima observados encontram-se entre

textos de um mesmo sistema juriacutedico o brasileiro Mas isso tambeacutem pode

ocorrer em sistemas juriacutedicos diferentes tal qual o francecircs e o brasileiro em

que podem tambeacutem estatildeo presentes reformulaccedilotildees tal qual nos textos do

corpus desse trabalho No artigo 5ordm da Constituiccedilatildeo brasileira encontramos

Art 5ordm - Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

E na Constituiccedilatildeo francesa que integra a DDHC e 1789 laquo Art 1ordm Les hommes

naissent et demeurent libres et eacutegaux en droits Les distinctions sociales ne

peuvent ecirctre fondeacutees que sur lutiliteacute commune raquo

Em Direito eacute comum encontrar-se ldquointerferecircnciasrdquo de um conjunto de

regras e ideias pertencentes a um sistema de direito em outro sistema62 Essas

ldquointerferecircnciasrdquo reformulaccedilotildees empreacutestimos importaccedilotildees satildeo de grande

amplitude pois ocorrem nas praacuteticas profissionais do mundo do trabalho

62

A CF88 integra os tratados internacionais e os de direitos humanos no mesmo artigo 5o LXXVIII sect 2ordm

- Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do regime e dos

princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja

parte sect 3ordm Os tratados e convenccedilotildees internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados em cada

Casa do Congresso Nacional em dois turnos por trecircs quintos dos votos dos respectivos membros seratildeo

equivalentes agraves emendas constitucionais (Conforme Emenda Constitucional no45 de 2004)

90

Tambeacutem ocorrem na produccedilatildeo de textos ndash de doutrina de lei de jurisprudecircncia

ndash ainda que em sistemas bastante diferentes tais como o Direito da Common-

Law63 (no qual se encaixa o sistema anglo-estadunidense) e tambeacutem no Direito

Continental franco-germacircnico 64 no qual se encaixam o direito francecircs e o

brasileiro

Esse fenocircmeno estudado pelo Direito Comparado ocorre porque um

sistema juriacutedico importa eou exporta frequentemente para outro(s) sistema(s)

seus vocaacutebulos conceitos ideias princiacutepios doutrinas leis ou

jurisprudecircncias65 Essa eacute uma praacutetica importante e necessaacuteria para o Direito e

sua evoluccedilatildeo66 Esse aporte pode se dar de forma parcial ou integral

WISE(1990) faz diversas consideraccedilotildees sobre o tema tambeacutem

questionando qual seria o melhor termo a ser empregado para tratar do aporte

63

Conforme o Dictionnaire Juridique Dahl Common Law laquo (hellip) la troisiegraveme signification srsquoemploie

pour deacutefinir les Etats-Unis comme un pays de common law dont le droit se fonde sur le droit britannique

par opposition agrave un pays de laquo droit civil raquo dont le droit deacuterive de la tradition juridique romaineraquo

64 Conforme o livreto disponivel em httpwwwkontinentalesrechtdetl_fileskontinental-

baseBroschuere_FRPDF (01112012) Direito Continental laquo Le droit continental est un droit eacutecrit

marqueacute par le concept de codification La codification est le regroupement systeacutematique et rationnel des

regravegles de droit dans des recueils officiels tels un code civil ou un code de commerce raquo

65

DAVID Reneacute e JAUFFRET-SPINOSI Camille Les grands systegravemes de droit contemporains Paris

Dalloz 1992 pg 5 -6 laquo Le leacutegislateur de tout temps a utiliseacute lui-mecircme le droit compareacute pour accomplir

et perfectionner son œuvre () la science du droit a par sa nature mecircme de science un caractegravere

transnational Ce qui est tradition que le nocirctre peut influer sur la maniegravere dont le droit de notre pays sera

expliqueacute interpreteacute et parfois renouveleacute en dehors mecircme de toute intervention du leacutegislateur

66 PELISSE Jeacuterome A-t-on conscience du droit Autour des Legal Consciousness Studies Genegraveses

ndeg 59 httpwwwcairninforevue-geneses-2005-2-p-114htm 2005

ldquoIl apparaicirct donc leacutegitime non seulement de renouveler (ou de redeacutecouvrir et drsquoapprofondir) le regard sur

les pheacutenomegravenes de socialisation juridique de mobilisation quotidienne du droit de construction

ideacuteologique de la leacutegaliteacute mais aussi de croiser drsquoimporter et de dialoguer avec des travaux qui

srsquoinscrivent dans une culture juridique elle-mecircme de plus en plus mondialiseacutee La juridicisation etou la

judiciarisation du politique et de la socieacuteteacute tout comme les transformations de lrsquoaction publique (inflation

leacutegislative contractualisation et proceacuteduralisation des politiques publiques deacutecentralisation et

laquo europeacuteanisation raquo simultaneacutee etc) constituent autant de pheacutenomegravenes dont lrsquoimportance est souligneacutee

par un nombre croissant de travaux en sciences sociales raquo

91

que faz um sistema juriacutedico para o outro ldquotransplantrdquo 67 (adotado em liacutengua

inglesa) ou ldquocirculationrdquo middot68 (adotado em liacutengua francesa)

Conveacutem examinar aqui que na liacutengua francesa seria possiacutevel o emprego

do termo ldquotransplantrdquo que apresenta o sentido de ldquoorgane tissu transplanteacuterdquo ou

ldquotransplantationrdquo para a ldquoaction de transplanterrdquo ldquoCirculationrdquo tem como

definiccedilotildees ldquomouvement circulairerdquo ldquoaeacuterationrdquo ldquocommerce raquo laquo roulement raquo laquoen

cours raquo laquo diffusion lancement raquo laquo propagation transmission raquo laquo trafic raquo Este

termo tambeacutem pode ter o mesmo sentido de ldquotransporte por imigraccedilatildeordquo

Na liacutengua inglesa ldquotransplantrdquo tem a forma idecircntica para o verbo e para o

substantivo e estaacute ligado agrave ideia de ldquoto remove and plant in another placerdquo ldquoto

transport as or colonisation cause to emigraterdquo ou ldquoto remove (issue from one

part or individual and plant for growth in another)rdquo

Pode-se acreditar que cada sistema juriacutedico e portanto cultural escolha

um termo diferente para designar um mesmo fenocircmeno pois os costumes satildeo

diferentes Seria possiacutevel ainda empregar o termo empreacutestimo em liacutengua

portuguesa ldquobrasileirardquo Nesse caso o termo explica o fenocircmeno em que um

sistema juriacutedico se utiliza de uma parte ou agraves vezes de uma grande parte do

direito de outro sistema para resolver uma espeacutecie de lacuna de forma mais

raacutepida e talvez mais eficaz

Eacute pouco provaacutevel que uma legislaccedilatildeo de um paiacutes seja eficaz em outro

paiacutes pois os aspectos culturais sociais histoacutericos poliacuteticos e econocircmicos

certamente satildeo bastante diferentes A aplicaccedilatildeo para que atinja a eficaacutecia teria

que ser bastante flexiacutevel Um exemplo de adoccedilatildeo de coacutedigo integral se fez na

Turquia que adotou em 17021926 o coacutedigo civil suiacuteccedilo69

67

WEBSTERrsquoS NEW COLLEGIATE DICTIONARY GampCMERRYAN AND CO PUBLISHERS

Springfield Mass USA 1959Second editon

68 Robert Paul LE PETIT ROBERT DICTIONNAIRE Dictionnaires Le Robert Paris 1986

69 Segundo LEGEAIS Raymond Les grands systegravemes de droit contemporain Paris LexisNexis Litec

Eacuteditions du Juris-Classeur 2004141)

92

Mas antes de se proceder a uma siacutentese conveacutem considerar o seguinte

em relaccedilatildeo ao emprego de termos diferentes

a) O termo ldquotransplantrdquo carrega em si uma ideia de passividade de fato

consumado de enxerto que deve ser aceito e adaptado tal qual oacutergatildeo

recebido por um corpo humano e portanto sujeito agrave rejeiccedilatildeo e agraves adaptaccedilotildees

orgacircnicas as mais diversas inclusive com a interferecircncia de fatores externos

ao organismo que o recebe como a administraccedilatildeo de remeacutedios que combatam

a sua rejeiccedilatildeo

ldquoTransplantrdquo tambeacutem estaacute ligado a plantar e toda planta tem raiacutezes que

se afincam a fim de manter a vida orgacircnica da mesma Transplant carrega em

si desta forma uma carga de imposiccedilatildeo quase que definitiva de sistema que

deve ser recebido com a finalidade de prolongar a vida como uacutenica saiacuteda para

a soluccedilatildeo de uma fraqueza orgacircnica Ou entatildeo rejeitado

b) O termo ldquocirculationrdquo por sua vez vem carregado da ideia de atividade

de movimento dinacircmico de repercussatildeo de relacionamento e que permite uma

interpretaccedilatildeo mais ampla e maleaacutevel

ldquoCirculationrdquo conteacutem em seus sentidos e usos uma definiccedilatildeo que leva a

conceber a ocorrecircncia do empreacutestimo de uma forma mais aberta e mais

tolerante natildeo tatildeo impositiva mais permeaacutevel que aceita trocas intervenccedilotildees e

permite sua difusatildeo e propagaccedilatildeo

De onde se conclui que o emprego dos dois termos pode ser adequado

mas para usos diferentes O termo ldquotransplantrdquo aplicar-se-ia aos casos em que

o empreacutestimo fosse mais rigoroso estrito e menos sujeito agraves influecircncias do

sistema juriacutedico receptor de forma integral ou quase totalitaacuteria Jaacute o uso do

termo ldquocirculationrdquo se faria quando o empreacutestimo fosse mais aberto amplo e

sujeito a alteraccedilotildees mais adaptado ao sistema cultural receptor podendo ser

recuperados os traccedilos do sistema original que fez o aporte Esse eacute o caso de

um tratado que eacute transcrito para a liacutengua do paiacutes que o assina o mesmo

93

tratado eacute vaacutelido em todos os paiacuteses mas estaacute escrito em mais que uma

liacutengua70

Em ambos os casos entretanto seria impossiacutevel a aplicaccedilatildeo de um

modelo juriacutedico emprestado para outro sistema ldquoestrangeirordquo que fosse

assentado sobre as mesmas bases em que pesassem as mesmas medidas e

fossem aplicados rigorosamente da mesma forma os criteacuterios do sistema

original

Tal praacutetica parece inviaacutevel pois o contexto receptor a que se destina

difere e muito e cada sistema juriacutedico eacute interpretado e aplicado pelos pares

sociais da cultura em que estaacute inserido E uma cultura natildeo pode ser e natildeo eacute

igual agrave outra

Esta reflexatildeo eacute uma reflexatildeo mais voltada para a aacuterea do Direito mas o

fenocircmeno acima descrito eacute um fenocircmeno que se passa tambeacutem dentro da

liacutengua visto ser ela o veiacuteculo pelo qual se produz a regra escrita

Por tais razotildees eacute que um dos questionamentos desse trabalho se volta

para o que realmente ocorre na liacutengua receptora quando se comparam

sistemas juriacutedicos doutrinas leis ou decisotildees Parece claro que natildeo se

emprestam apenas palavras (leacutexico) paraacutegrafos ou textos escritos de sentidos

estritos uma vez que a carga e valor semacircnticos dos novos termos

empregados interferem no conteuacutedo Para a Anaacutelise do Discurso este

fenocircmeno eacute reformulaccedilatildeo e dessa forma ldquotransplantrdquo ldquocirculation juridiquerdquo

ldquointerferecircnciardquo satildeo todos tipos de reformulaccedilatildeo

243 Liacutenguas diferentes culturas diferentes

70

A Declaraccedilatildeo Universal de Direitos do Homem nas suas versotildees em liacutengua inglesa francesa e

portuguesa nos respectivos sites da ONU emprega formas bastante diferentes para um mesmo termo Eacute

uma constataccedilatildeo surpreendente e ao mesmo tempo relevante pois em direito essa diferenccedila pode ateacute

implicar em diferentes interpretaccedilotildees e porque natildeo decisotildees sobre uma questatildeo Deixaremos para estudo

posterior essa descoberta e adotamos neste trabalho a versatildeo em francecircs da DUDH por ser ela a de origem

do documento cuja redaccedilatildeo final foi elaborada por Reneacute Cassin

94

Outra e bastante importante reflexatildeo eacute que ao se comparar textos de

liacutenguas diferentes no caso dos textos de doutrinas brasileira e francesaseria

de se esperar que esses tivessem um conteuacutedo ateacute parecido mas que sua

composiccedilatildeo fosse diferente em termos textuais isto eacute suas formas

composicionais ou a maneira pela qual se estruturam os textos Entretanto

como se pode verificar no exemplo apresentado dos artigos dos coacutedigos civil

francecircs e brasileiro71 ambos os textos possuem formas surpreendentemente

ldquosemelhantesrdquo

Uma das explicaccedilotildees para essa aparente semelhanccedila aleacutem de ambas

as liacutenguas derivarem do latim encontra sentido no fato dos autores brasileiros

terem estudado as obras dos autores estrangeiros para aprofundar seus

conhecimentos e utilizarem de seus conceitos como referecircncia teoacuterica

A estrutura composicional textual entatildeo migra juntamente com os

valores e as ideias trazidos pelo meacutetodo comparativo no aporte de direitos

estrangeiros para o direito brasileiro A reformulaccedilatildeo que se faz eacute textual

testemunha do dialogismo

Natildeo se pode esquecer todavia que ao se efetuar a leitura de textos em

liacutengua estrangeira estamos procedendo agrave comparaccedilatildeo sobretudo de textos de

culturas diferentes Culturas diferentes que tecircm origens diferentes de acordo

com o que explica Charaudeau (2001)

Il est clair que la langue est neacutecessaire agrave la constitution drsquoune identiteacute

collective qursquoelle garantit la coheacutesion sociale drsquoune communauteacute qursquoelle en

constitue drsquoautant plus le ciment qursquoelle srsquoaffiche Elle est le lieu par

excellence de lrsquointeacutegration sociale de lrsquoacculturation linguistique ougrave se forge

la symbolique identitaire Il est eacutegalement clair que la langue nous rend

comptables du passeacute creacutee une solidariteacute avec celui-ci fait que notre identiteacute

est peacutetrie drsquohistoire et que de ce fait nous avons toujours quelque chose agrave

voir avec notre propre filiation aussi lointaine fucirct-elle Il nrsquoempecircche que le

rapport de la langue agrave lrsquoidentiteacute est complexe car il ne srsquoagit pas seulement

de la langue mais aussi de son usage Peut-ecirctre faut-il dissocier langue et

culture et associer discours (usages) et culture Sinon comment expliquer que

les cultures franccedilaise queacutebeacutecoise belge suisse voire africaine et maghreacutebine

(agrave une certaine eacutepoque) ne sont pas identiques malgreacute lrsquoemploi drsquoune mecircme

langue Comment expliquer eacutegalement que les cultures breacutesilienne et

portugaise drsquoune part latino-ameacutericaine et espagnole drsquoautre part soient

diffeacuterentes La langue nrsquoest pas le tout du langage On pourrait mecircme dire

71

Item 242 paacuteg 85

95

qursquoelle nrsquoest rien sans le discours crsquoest-agrave-dire ce qui la met en œuvre ce qui

reacutegule son usage et qui deacutepend par conseacutequent de lrsquoidentiteacute de ses

utilisateurs raquo72

Cultura bem diferente da brasileira a da Franccedila testemunha mais de

2000 anos de histoacuteria Como naccedilatildeo foi por longo tempo o centro do universo a

referecircncia e o padratildeo a ser imitado e copiado por outras cortes europeacuteias

Aleacutem disso foi o paiacutes precursor das mudanccedilas sociais decorrentes da

Revoluccedilatildeo Francesa e local da publicaccedilatildeo dos primeiros coacutedigos (o Civil em

1804 e o Penal em 1810)

Cultura colocada como fonte de referecircncia para a doutrina juriacutedica

brasileira cuja histoacuteria de 512 anos traz haacutebitos ldquoimportadosrdquo interferecircncias

natildeo soacute da metroacutepole portuguesa mas muitas vezes como no caso do Direito

do epicentro francecircs Assim foi com o primeiro coacutedigo civil brasileiro que surgiu

em 1916 112 anos depois do Coacutedigo Civil francecircs

Vecirc-se dessa forma porque a liacutengua eacute o reflexo do que ocorre nas

praacuteticas sociais como explicou Bourdieu Eacute a liacutengua que traduz o que acontece

no cotidiano do homem sua posiccedilatildeo e relaccedilotildees numa sociedade poliacutetica e

economicamente situada que reflete o seu habitus Por sua vez o mesmo

habitus modifica a liacutengua construindo uma relaccedilatildeo circular

O texto juriacutedico traduz pois se expressa pela liacutengua todo o contexto

cultural da sociedade que o produziu Nada mais natural entatildeo do que

72

ldquoEacute claro que a liacutengua eacute necessaacuteria para a constituiccedilatildeo de uma identidade coletiva que ela assegura a

coesatildeo de uma comunidade que eacute tanto mais cimento na medida em que ela aparece Eacutela eacute o lugar por

excelecircncia da integraccedilatildeo social de aculturaccedilatildeo linguumliacutestica onde se forja o simboacutelico identitaacuterio

Tambeacutem eacute evidente que a linguagem nos faz responsaacuteveis pelo passado faz com que nossa identidade

seja amalgamada agrave histoacuteria e assim noacutes sempre temos algo a ver com nossa proacutepria filiaccedilatildeo tatildeo

longinqua quanto ela possa ser

Talvez seja necessaacuterio dissociar liacutengua e cultura e associar discurso (usos) e cutura Se natildeo como

explicar que culturas francesa do Quebec belga suiacuteccedila e ateacute mesmo africana e do Magrebe (em dada

eacutepoca) natildeo satildeo identicas apesar do uso de uma mesma liacutenguagem

Como explicar tambeacutem que as culturas brasileira e o portuguesa de um lado latino-americano e

espanhola por outro lado sejam diferentes A liacutengua natildeo eacute o todo da linguagem Pode-se dizer mesmo

que ela natildeo eacute nada sem o discurso ou seja o que a potildee em praacutetica o que regula seu uso e que depende

portanto da identidade de seus usuaacuteriosrdquo (Trad Nossa)

96

encontrar traccedilos culturais fortemente marcados na sua composiccedilatildeo traccedilos que

deixam ver como se constitui o sistema juriacutedico de uma dada sociedade

Aproximando essas constataccedilotildees do sistema juriacutedico brasileiro o que se

percebe eacute que no inicio da sua formaccedilatildeo seus juristas e legisladores

inspiraram-se no que havia de mais novo no inicio do seacuteculo XX momento em

que para o Brasil foi necessaacuterio organizar suas instituiccedilotildees e regular suas

relaccedilotildees sociais

Por tal razatildeo foram adotados coacutedigos inspirados em outros jaacute existentes

tal como o Civil baseado no modelo franco-iacutetalo-germacircnico Pode-se assim

dizer que a doutrina brasileira se fez atraveacutes da comparaccedilatildeo com outros

sistemas juriacutedicos portanto reformulando conceitos e princiacutepios o que

demonstra claramente que se trata aqui de ldquocirculationrdquo e natildeo de ldquotransplantrdquo e

que seus textos de lei foram impregnados natildeo soacute pelas ideias e pela cultura

juriacutedica europeacuteia Por isso se verifica a presenccedila de palavras como ldquoliberdaderdquo

ldquoigualdaderdquo e ldquodireitosrdquo em vaacuterios desses textos

Mas natildeo soacute palavras se repetem Tambeacutem se reproduz a forma de

composiccedilatildeo textual trazida pelas leituras dos juristas e legisladores que

buscavam absorver o conteuacutedo de outros sistemas fazendo de certa forma o

que aqui seraacute chamado com o devido respeito de antropofagia cultural

juriacutedica A produccedilatildeo de textos juriacutedicos brasileiros como praacutetica objetiva em

que se emprega a reformulaccedilatildeo - de palavras termos conceitos expressotildees

enunciados ou de paraacutegrafos - mescla forma e conteuacutedo

Hoje depois de vaacuterios periacuteodos poliacuteticos diferentes desde a

proclamaccedilatildeo da Repuacuteblica e apoacutes a Constituiccedilatildeo de 1988 juristas e

legisladores percebem a realidade brasileira de forma diferente dos primeiros

tempos ateacute porque em muitos casos as praacuteticas estatildeo por demais distantes da

teoria e do texto de lei Essa eacute a razatildeo pela qual buscam novas soluccedilotildees a

partir de uma realidade que eacute fato mas tambeacutem a partir de outros modelos

diferentes

Por isso existem tentativas de equilibrar as diferenccedilas e os

descompassos que ora se aproximam e ora se despregam por completo do

97

que foi trazido em outras eras pela ldquocirculation des modegraveles juridiquesrdquo

europeus

Tais tentativas buscam soluccedilotildees consultando sistemas bastante

diferentes como aquelas do sistema anglo-saxatildeo adotado pela Common-Law

Eacute por isso que o Poder Legislativo produz assim novas leis a todo o momento

pois eacute necessaacuterio regular o que ficou faltando aqui e ali no ensejo de

aperfeiccediloar o que estaacute antigo ou o que acaba de chegar para que o sistema

juriacutedico esteja mais bem aparelhado para os novos tempos

O fato de aperfeiccediloar um conceito ou uma lei de certa forma tambeacutem

implica em reformulaccedilatildeo Observando-se o conceito de homem proposto pela

Encyclopeacutedie73 verifica-se que eacute bastante proacuteximo do conceito que se tem do

homem no seacuteculo XXI

HOMME s m crsquoest un ecirctre sentant reacutefleacutechissant pensant qui se promegravene

librement sur la surface de la terre qui paroicirct ecirctre agrave la tecircte de tous les autres

animaux sur lesquels il domine qui vit en socieacuteteacute qui a inventeacute des sciences

et des arts qui a une bonteacute et une meacutechanceteacute qui lui est propre qui srsquoest

donneacute des maicirctres qui srsquoest fait des lois etc74

244 Reformulaccedilatildeo e mecanismos de substituiccedilatildeo

A reformulaccedilatildeo pode ser discursiva o que implica dizer que um discurso

se reconstroacutei no outro e que estaacute baseado no outro conforme demonstram os

exemplos acima

Mas pode-se falar tambeacutem em reformulaccedilatildeo de conceitos e de termos

Nesse caso o que ocorre satildeo mecanismos de substituiccedilatildeo De acordo com os

levantamentos realizados nos textos do corpus em relaccedilatildeo aos termos

73

httpfrwikisourceorgwikiLE28099EncyclopC3A9dieVolume_8HOMME Acesso em

20072011

74 ldquoHOMEM sm eacute um ser que sente reflete pensa que vagueia livremente pela face da terra que

parece estar agrave frente de todos os outros animais sobre os quais ele tem o domiacutenio que vive em sociedade

que inventou as ciecircncias e as artes que tem uma bondade e uma maldade que lhe eacute proacutepria que se

estabeleceu senhores que se fez leis etcrdquo (Trad Nossa)

98

escolhidos seratildeo adotados para anaacutelise comparativa os seguintes paracircmetros

para os procedimentos de reformulaccedilatildeo

a) Sinoniacutemia e antoniacutemia o emprego de sinocircnimos e antocircnimos merece

uma consideraccedilatildeo importante Conforme ensinam Faraco (2006) e

tambeacutem Charaudeau (199250-55) a sinoniacutemia nunca eacute perfeita pois a

retomada de um termo por outro de sentido equivalente nunca preenche

todo o sentido do termo primeiro e o que distingue um do outro eacute

justamente o emprego em diferentes situaccedilotildees que se faz dele Esta

mesma reflexatildeo aplica-se aos antocircnimos

Como desdobramento da sinoniacutemia tem-se a hiponiacutemia e a hiperoniacutemia

A primeira pode ser verificada no caso em que o termo homem por

exemplo eacute substituiacutedo por outro tornando-o parte de uma categoria do

tal como humano Jaacute quando ocorre o inverso na hiperoniacutemia o sentido

eacute mais amplo Este eacute o caso verificado pelo uso do termo assembleia em

substituiccedilatildeo ao representante da assembleia

b) Pronominal neste caso o termo eacute substituiacutedo por um pronome

substantivo do tipo demonstrativo possessivo indefinido ou numeral

Homem pode ser substituiacutedo assim por nenhum

c) Grupo nominal o grupo nominal eacute aquele que se refere ao termo por

meio de um grupo de palavras normalmente constituiacutedo de um

determinante do tipo artigo um substantivo e um adjetivo Como

exemplo pode-se tomar o termo homem substituiacutedo por membro da

famiacutelia humana

d) Extensiva direta nesta categoria incluem-se os adjetivos e os particiacutepios

que se referem ao termo homem Entatildeo livre e incluiacutedo satildeo referencias

diretas ao termo homem que se encontra no texto Tambeacutem se incluem

aqui todos os termos que se referem aos coletivos do termo homem

como por exemplo assembleia sociedade povo etc

e) Extensiva indireta nesta categoria inclui-se aquilo que eacute decorrente da

accedilatildeo do homem ou inerente agrave sua existecircncia Dessa forma a escravidatildeo

99

a tortura a amizade a feacute e a dignidade por exemplo satildeo situaccedilotildees ou

conceitos que estatildeo ligados ao fato do homem ser dotado de vida e ateacute

mesmo de conviver com outros homens

f) Embreante de pessoa ou de tempo75 embreantes de pessoas satildeo os

pronomes determinantes (pronomes adjetivos) ou pronomes

possessivos que satildeo empregados no local da pessoa ou seja que

representam o enunciador Embreantes de tempo satildeo as foacutermulas

empregadas para situar no tempo tal como adveacuterbios ou a data do

documento

CAPITULO 3 O DISCURSO JURIacuteDICO

75

Maingueneau (2002) define embreagem como sendo laquoo conjunto das operaccedilotildees pelas quais um

enunciado se ancora na sua situaccedilatildeo de enunciaccedilatildeo e embreantes (tambeacutem chamados de ldquoelementos

decirciticosrdquo ldquodecirciticosrdquo ou agraves vezes ldquoelementos indiciaisrdquo os elementos que no enunciado marcam essa

embreagem Satildeo embreantes de pessoas

Os tradicionais ldquopronomesrdquo pessoais de primeira e segunda pessoas eu tuvocecirc(s) noacutes voacutes

Os determinantes meuteu nossovosso seu e suas formas femininas e plurais

Os pronomes o meuo teu o nossoo vosso o seu e suas formas no feminino e pluralrdquo

Maingueneau tambeacutem classifica os embreantes em temporais e espaciais Os primeiros trazem as marcas

dos tempos do verbo atraveacutes de partiacuteculas desinentes do passado presente ou futuro ou palavras que

marquem o tempo tal como ontem hoje etc e que fazem referencia ao momento da enunciaccedilatildeo Os

embreantes espaciais menos frequentes segundo o autor satildeo os que indicam o lugar em que ocorre a

enunciaccedilatildeo tais como aqui ali

100

31 Definiccedilatildeo

O discurso juriacutedico eacute constituiacutedo por todo enunciado - sequecircncia que

forma uma unidade de comunicaccedilatildeo no gecircnero juriacutedico - que integra o

universo juriacutedico seja ele oral ou escrito Por universo juriacutedico entende-se o

que gravita em torno de uma lei anterior ou posterior a sua publicaccedilatildeo e

abrange diferentes produccedilotildees orais e textuais Eacute nesse universo que se utiliza

uma linguagem juriacutedica definida por Damette (2007)76 como sendo a

linguagem que eacute usada por juristas e tambeacutem pelo legislador aleacutem de

pertencer aos poderes judiciaacuterio legislativo e eventualmente aos poderes

privados por ocasiatildeo do contato deste uacuteltimo com os outros

Dentre as caracteriacutesticas apontadas pela autora vale ressaltar que a

linguagem do Direito eacute uma linguagem de ldquoautoridaderdquo porque a situaccedilatildeo de

comunicaccedilatildeo onde ela acontece eacute ldquocontrainte notamment par le fait que celui

qui srsquoexprime le fait au nom drsquoune ldquoinstitutionrdquo77 srsquoabstrait en tant que sujet

eacutenonciateur et est censeacute repreacutesenter un auteur dont Il aurait deacuteleacutegation de la

parolerdquo

Esta eacute a posiccedilatildeo que adota este trabalho pois como jaacute se viu o

enunciador se apaga na medida em que se reveste da competecircncia que lhe eacute

conferida pela posiccedilatildeo que ocupa como representante de um poder por isso o

juiz decide uma questatildeo levada a ele pois estaacute autorizado pelo Poder

Judiciaacuterio a fazecirc-lo Essa competecircncia eacute conferida atribuiacuteda e natildeo apenas

resultado de uma imposiccedilatildeo ela eacute um atributo real e natildeo hipoteacutetico eacute

adjudicada ao homem incumbido de julgar outros homens por uma decisatildeo

legitimada do Poder Judiciaacuterio que aprovou o juiz em um concurso puacuteblico

76

Damette Eliane 2007 85-95

77 ldquoconstrangedora sobretudo pelo fato de que aquele que se exprime o faz em nome de uma instituiccedilatildeordquo

(Trad Nossa)

101

A linguagem juriacutedica vai ultrapassar a esfera juriacutedica e permear outras

esferas pois seus textos interagem com a sociedade regulam a vida dos

homens que nela vivem Eacute entretanto uma linguagem diferenciada da

linguagem corriqueira

Segundo Damette (2007) a linguagem juriacutedica eacute uma linguagem de

especialidade e como tal produz enunciados especiacuteficos pois eacute dotada de um

leacutexico de construccedilotildees sintaacuteticas e argumentaccedilatildeo especificas Integra esta

linguagem um vocabulaacuterio juriacutedico constituiacutedo de termos e expressotildees que tecircm

um sentido especiacutefico atribuiacutedos pelo Direito

Essa linguagem especiacutefica ainda segundo Damette laquo nomme tous les

eacuteleacutements que la penseacutee juridique deacutecoupe dans la reacutealiteacute pour en faire des

notions juridiques raquo78 Ainda ressalta a autora que a linguagem juriacutedica eacute

tradicional pois eacute inscrita na histoacuteria ao mesmo tempo em que

diacronicamente eacute evolutiva jaacute que testemunha uma evoluccedilatildeo dos costumes

na medida em que se adapta para descrever novas situaccedilotildees e para isso pode

criar palavras para definir novas noccedilotildees conceitos atos e fatos

Essa evoluccedilatildeo pode ser verificada por exemplo em relaccedilatildeo aos termos

expressotildees e conceitos novos criados pela Lei 114192006 (Lei da

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial) analisada nesse trabalho Como se pode

observar no artigo 1deg

sect 2o Para o disposto nesta Lei considera-se

I - meio eletrocircnico qualquer forma de armazenamento ou traacutefego de

documentos e arquivos digitais

II - transmissatildeo eletrocircnica toda forma de comunicaccedilatildeo a distacircncia com a

utilizaccedilatildeo de redes de comunicaccedilatildeo preferencialmente a rede mundial de

computadores

III - assinatura eletrocircnica as seguintes formas de identificaccedilatildeo

inequiacutevoca do signataacuterio

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por

Autoridade Certificadora credenciada na forma de lei especiacutefica

78

ldquonomeia todos os elementos que o pensamento juriacutedico recorta da realidade para fazer deles noccedilotildees

juriacutedicasrdquo (Trad Nossa)

102

b) mediante cadastro de usuaacuterio no Poder Judiciaacuterio conforme

disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

Aleacutem desses conceitos a lei tambeacutem cria novos termos especiacuteficos que se referem aos atos processuais peculiares tais como

Art 2o O envio de peticcedilotildees de recursos e a praacutetica de atos processuais

em geral por meio eletrocircnico seratildeo admitidos mediante uso de assinatura

eletrocircnica na forma do art 1o desta Lei sendo obrigatoacuterio o credenciamento

preacutevio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

sect 1o O credenciamento no Poder Judiciaacuterio seraacute realizado mediante

procedimento no qual esteja assegurada a adequada identificaccedilatildeo presencial

do interessado

Art 3o Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrocircnico no

dia e hora do seu envio ao sistema do Poder Judiciaacuterio do que deveraacute ser

fornecido protocolo eletrocircnico

Art 4o Os tribunais poderatildeo criar Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

disponibilizado em siacutetio da rede mundial de computadores para publicaccedilatildeo

de atos judiciais e administrativos proacuteprios e dos oacutergatildeos a eles subordinados

bem como comunicaccedilotildees em geral

sect 1o O siacutetio e o conteuacutedo das publicaccedilotildees de que trata este artigo

deveratildeo ser assinados digitalmente com base em certificado emitido por

Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica

sect 2o A publicaccedilatildeo eletrocircnica na forma deste artigo substitui qualquer

outro meio e publicaccedilatildeo oficial para quaisquer efeitos legais agrave exceccedilatildeo dos

casos que por lei exigem intimaccedilatildeo ou vista pessoal

Por fim a lei cria um novo veiacuteculo de comunicaccedilatildeo oficial mudando

assim a praacutetica profissional pois os advogados teratildeo que consultar o novo

Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

Este movimento do direito para a liacutengua que provoca alteraccedilotildees no

leacutexico mostra como as ciecircncias se cruzam atestando a interdisciplinaridade

revelando a relaccedilatildeo entre diferentes culturas juriacutedicas e diferentes esferas da

sociedade uma esfera especifica e juriacutedica interveacutem na esfera social do

quotidiano ao introduzir termos especiacuteficos como o diaacuterio judicial eletrocircnico Ao

mesmo tempo isso eacute possiacutevel porque a informaacutetica evoluiu e trouxe da sua

esfera especifica de ciecircncia a tecnologia que interferiu nas praacuteticas sociais

testemunhando a existecircncia e a importacircncia do habitus do qual fala Bourdieu

Esse dinamismo eacute caracteriacutestico da liacutengua e eacute inerente agraves sociedades que se

adaptam agraves suas necessidades internas e externas

103

Por isso a concepccedilatildeo que adota Cornu (2005207) em que o discurso

juriacutedico eacute laquola mise en œuvre de la langue par la parole au service du droit raquo79

eacute a que melhor define a linha deste trabalho pois o autor entende que o

ldquodiscurso juriacutedico integra o uso da liacutenguardquo e se mostra em todas as operaccedilotildees

normais de comunicaccedilatildeo que um universo particular requisita modificando

determinados elementos se necessaacuterio a fim de cumprir sua funccedilatildeo

Para Cornu propotildee uma tipologia para o discurso juriacutedico classificando-o

em legislativo (textos de lei) jurisdicional (relativo a decisotildees de justiccedila)

costumeiro (maacuteximas e adaacutegios de direito) e de expressatildeo corporal (para os

casos em que os juristas fazem uso da expressatildeo oral por exemplo em uma

audiecircncia)

Recordando que este trabalho trata apenas dos textos escritos e antes

de passar agrave anaacutelise dos mesmos faz-se necessaacuterio situar os textos escolhidos

e sua inserccedilatildeo no sistema juriacutedico brasileiro

O Brasil considera que no topo da hierarquia do seu sistema juriacutedico se

encontra a Constituiccedilatildeo Federal (CF 1988) Vigente desde 1988 todo o

ordenamento juriacutedico interno deve a ela se adequar Por isso eacute a CF 1988 que

autoriza e eacute a base para a publicaccedilatildeo da Lei da Informatizaccedilatildeo Judicial Lei

114192006

Na CF 1988 o artigo 5deg por sua vez prevecirc no inciso LXXVIII sect 2ordm e sect 3ordm

como jaacute anteriormente mencionado a inclusatildeo dos tratados internacionais (que

o Brasil tenha assinado) e das convenccedilotildees e tratados de direitos humanos

Isso implica a integraccedilatildeo da Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem

assinada em 1948 ao sistema juriacutedico brasileiro

A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem eacute por sua vez um

aperfeiccediloamento no acircmbito internacional dos direitos do homem e do cidadatildeo

(DDHC) proclamados por ocasiatildeo da Revoluccedilatildeo Francesa em 1792

79

ldquoimplementaccedilatildeo da liacutengua pela palavra a serviccedilo do direitordquo (Trad Nossa) ldquoParolerdquo para o autor eacute a

expressatildeo vocal dotada de um sentido atribuiacutedo por aquele que dela se utiliza

104

Apontado o liame entre os documentos principais que seratildeo aqui

analisados fez-se necessaacuteria uma classificaccedilatildeo desses documentos quanto ao

gecircnero textual

32 Classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos no Direito

Para se proceder agrave anaacutelise dos textos do corpus foi elaborada uma

classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos a fim de se poder estabelecer algumas de

suas caracteriacutesticas ligadas agrave definiccedilatildeo do status do enunciador Esta

classificaccedilatildeo difere da tipologia apresentada por Cornu (2005) pois ultrapassa

os limites por ele propostos indo aleacutem e sendo mais abrangente numa

tentativa de dar conta de outros fenocircmenos observados em relaccedilatildeo aos textos

juriacutedicos

Cornu (2005) tratou apenas do discurso juriacutedico no seu sentido estrito O

corpus desse trabalho apresenta entretanto um aspecto dialoacutegico que natildeo

pode ser desconsiderado Aleacutem disso um texto juriacutedico que figura no jornal da

OAB por exemplo natildeo eacute um texto de gecircnero diferente e ainda que contenha

caracteriacutesticas de ambos os gecircneros poderia ser considerado como de gecircnero

misto Para o discurso juriacutedico o artigo numa publicaccedilatildeo como a da OAB eacute

formador de opiniatildeo e natildeo pertence exclusivamente ao gecircnero jornaliacutestico que

provavelmente o classificaria como texto de aacuterea de especialidade ou aacuterea

teacutecnica Por essas razotildees a soluccedilatildeo que parece mais adequada eacute tratar do

texto juriacutedico jornaliacutestico assim como de outros que apresentam caracteriacutesticas

mistas como integrante do discurso juriacutedico

A fim de estabelecer alguns criteacuterios em relaccedilatildeo aos textos que

pertencem ao gecircnero juriacutedico considerem-se os seguintes aspectos

- todos os textos pertencentes a esse gecircnero devem ser de conteuacutedo

juriacutedico e gravitar em torno de uma lei

- os textos juriacutedicos possuem finalidades distintas que devem ser

consideradas

105

- o local de produccedilatildeo do texto tambeacutem atribui caracteriacutesticas

especiacuteficas ao texto juriacutedico

A partir dessas primeiras observaccedilotildees propotildee-se a seguinte

classificaccedilatildeo para os sub-gecircneros dos textos juriacutedicos

a) Textos de lei satildeo os que passam a vigorar depois de sua publicaccedilatildeo

sendo publicados de forma oficial Aqui se incluem um tratado

internacional uma constituiccedilatildeo uma emenda constitucional uma lei

federal etc Satildeo textos oficiais e publicados geralmente em um

jornal do tipo Diaacuterio Oficial

b) Textos legislativos satildeo os produzidos em funccedilatildeo da lei e dos

debates pertinentes a ela nas casas parlamentares enquanto o texto

ainda era um projeto de lei Este item comporta tanto o voto do

deputado relator de uma comissatildeo parlamentar quanto o parecer

teacutecnico de um membro de uma comissatildeo especifica ou a

recomendaccedilatildeo para alteraccedilatildeo da redaccedilatildeo de um artigo ou mesmo

uma proposta de emenda ao projeto Haacute tambeacutem a possibilidade de

um questionamento posterior a uma lei jaacute vigente tal qual a arguiccedilatildeo

de inconstitucionalidade que pode gerar debates e relatoacuterios

semelhantes aos do projeto de lei

c) Textos jornaliacutesticos satildeo textos publicados pela imprensa

especializada em relaccedilatildeo ao tracircmite do projeto e sua repercussatildeo na

sociedade ou mesmo criacuteticas a respeito de uma lei vigente ou a falta

de uma lei para regular um problema Tais textos podem ser

encontrados no jornal da OAB na revista Consultor Juriacutedico ou ateacute

mesmo em um jornal de grande circulaccedilatildeo tal qual o Estado de Satildeo

Paulo ou O Globo em uma sessatildeo especiacutefica Eacute muito possiacutevel que

estes textos figurem na rubrica destinada agrave poliacutetica ou a noticias

internacionais

d) Textos teoacutericos satildeo os produzidos por professores profissionais da

aacuterea juriacutedica ou especialistas que discorrem sobre o tema a fim de

referendar ou discordar do que dispotildee a lei ou ateacute mesmo propiciar

106

uma reflexatildeo que resulte na proposiccedilatildeo de uma lei Geralmente estes

textos se apresentam em livros ndashdentre os quais figuram os manuais

de direito que satildeo usados para o ensino nos cursos de graduaccedilatildeo-

ou revistas acadecircmicas

e) Textos processuais satildeo as peccedilas que fazem parte de um processo

ou um pedido ao Poder Judiciaacuterio ou dele emanados a fim de fazer

cumprir a lei Satildeo os textos produzidos pelos advogados juiacutezes

promotores peritos pelas proacuteprias partes demandantes ou outros

funcionaacuterios do Poder Judiciaacuterio e que existem em funccedilatildeo de um

pedido ou de uma ordem e em geral decorrem da existecircncia de uma

lei Neste item incluem-se a jurisprudecircncia e a suacutemula80

f) Textos de discurso satildeo os discursos proferidos por um

representante tal qual um presidente do Senado ou o presidente da

Repuacuteblica ou mesmo proferido por outro representante e que por

forccedila da proacutepria situaccedilatildeo de comunicaccedilatildeo de sua assinatura ou da

importacircncia que adquire torna-se juriacutedico Inserem-se neste item

tambeacutem as cartas de intenccedilatildeo 81 e os compromissos assumidos de

forma oficial82

80

Tanto a jurisprudecircncia como a suacutemula satildeo resultado de decisotildees isto eacute de sentenccedilas proferidas em

processos Segundo explica o Vocabulaacuterio Juriacutedico ldquoJurisprudecircncia Extensivamente assim se diz para

designar o conjunto de decisotildees acerca de um mesmo assunto ou a coleccedilatildeo de decisotildees de um Tribunalrdquo

ldquoSuacutemula No acircmbito da uniformizaccedilatildeo da jurisprudecircncia indica a condensaccedilatildeo de seacuterie de acoacuterdatildeos do

mesmo tribunal que adotem idecircntica interpretaccedilatildeo de preceito juriacutedico em tese sem caraacuteter obrigatoacuterio

mas persuasivo e que devidamente numerados se estampem em repertoacuteriosrdquo

81 Exemplo de tema carta de intenccedilatildeo ldquoUma carta de intenccedilotildees entre a Secretaria Nacional de Justiccedila do

Ministeacuterio da Justiccedila e o Centro Internacional para o Desenvolvimento de Poliacuteticas Migratoacuterias

(International Centre for Migration Policy Development ndash ICMPD) foi assinada na uacuteltima quarta-feira

298 para aprofundar a cooperaccedilatildeo existente na aacuterea de regulaccedilatildeo da migraccedilatildeo e de enfrentamento ao

traacutefico de pessoas Para assinatura do documento o representante do ICMPD Luckas Gehrke foi

recebido pelo secretaacuterio Nacional de Justiccedila Paulo Abratildeo

O documento prevecirc que ambas as partes deveratildeo cooperar para garantir que as poliacuteticas e programas de

migraccedilatildeo existentes e futuros sejam eficazes sustentaacuteveis e em conformidade com as obrigaccedilotildees

internacionaisrdquo In httpblogjusticagovbrinicioministerio-da-justica-assina-carta-de-

intencoes-com-centro-europeu-de-politicas-migratorias em 16112012

82 Discurso proferido pelo Ministro Celso Amorim nas Naccedilotildees Unidas na Reuniatildeo de Seguimento da

Declaraccedilatildeo de Compromisso sobre o HIVAIDS em 02062006

107

A partir dessa classificaccedilatildeo tipoloacutegica dos textos juriacutedicos eacute possiacutevel

descrevecirc-los da seguinte forma

a) Os textos juriacutedicos de lei de um sistema democraacutetico satildeo polifocircnicos

e natildeo tem um enunciador que figura sob a forma de sujeito mostrado

O sujeito eacute propositalmente apagado a fim de mostrar isenccedilatildeo e eacute

sempre resultado de um processo de consenso de vozes que

demonstra a vontade de vaacuterios enunciadores

b) Os textos juriacutedicos tecircm um caraacuteter dialoacutegico pois estatildeo

normalmente ligados de forma intriacutenseca a textos anteriores Essa

ligaccedilatildeo pode ser resultado de uma reformulaccedilatildeo do texto precedente

ou ateacute mesmo uma oposiccedilatildeo a ele em ambos os casos a relaccedilatildeo eacute

dialoacutegica

c) Os textos juriacutedicos satildeo resultado de um habitus Podem poreacutem ser

inovadores e tratar de tema sem precedentes Nessa hipoacutetese haacute um

corte no habitus social e a sociedade eacute chamada para opinar e agir

Por isso os primeiros textos tendem a ser de caraacuteter argumentativo

ldquo()Senhor Presidente

Ainda haacute muito o que ser feito particularmente no apoio agrave cooperaccedilatildeo Sul-Sul

O Brasil vem implementando projetos de cooperaccedilatildeo em mais de 25 paiacuteses na Ameacuterica Latina e na

Aacutefrica Tais projetos envolvem o fortalecimento das capacidades nacionais treinamento de recursos

humanos e doaccedilatildeo de medicamentos anti-retrovirais geneacutericos

Compartilhamos a mesma responsabilidade As vidas de milhotildees de pessoas dependem das decisotildees e

compromissos que adotarmos hoje

Obrigado

(httpwwwitamaratygovbrsala-de-imprensadiscursos-artigos-entrevistas-e-outras-

comunicacoesministro-estado-relacoes-exterioresdiscurso-proferido-pelo-ministro-celso-amorim-nas

Em 16112012)

108

formadores de opiniatildeo Se proposto um projeto de lei este seraacute

votado e aprovado

d) Os textos juriacutedicos de lei satildeo coercitivos e essa coerccedilatildeo eacute legitimada

pela proacutepria publicaccedilatildeo da lei que passou por um processo

legislativo nos paiacuteses democraacuteticos

e) Os outros textos juriacutedicos que natildeo satildeo textos de lei pertencem a mais

de um gecircnero O voto por exemplo faz parte do gecircnero legislativo

por sua forma e do juriacutedico por seu conteuacutedo Jaacute no jornaliacutestico haacute a

divulgaccedilatildeo de um conteuacutedo especiacutefico de forma simplificada

f) Nos textos juriacutedicos sempre haacute a reformulaccedilatildeo de um termo conceito

ou princiacutepio e eacute importante que esse procedimento possa ser

reconhecido pois ele permite melhor compreensatildeo do texto Por

conseguinte permite um melhor domiacutenio da atividade juriacutedica

O corpus de texto escolhido para este trabalho contempla os textos de

lei os textos legislativos e os jornaliacutesticos Cabe ressaltar que diversos textos

teoacutericos anteriores natildeo integrantes do corpus aleacutem de explanarem princiacutepios

do Direito serviram como reflexatildeo agrave propositura dos textos que seratildeo

examinados Por isso poder-se- ia dizer que em alguns casos ateacute mesmo a

reformulaccedilatildeo discursiva estaacute apagada fazendo parte da memoacuteria discursiva

Um bom exemplo disso eacute a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo83

Ao se analisar o conjunto de documentos escolhidos com valor de lei a

partir de uma perspectiva histoacuterica linear tem-se como ponto de origem a

Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo de 1789 passando pela

Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de 1948 pela Constituiccedilatildeo da

Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 e por fim a lei federal nordm 11419 de 19

de dezembro de 2006 Essa uacuteltima vem ancorada por outros documentos

legislativos e jornaliacutesticos e que satildeo seus fundamentos

83

JELLINECK aponta em sua obra que a DDHC foi influenciada pelas cartas de direitos das colocircnias

americanas

109

33 Contexto o sistema juriacutedico brasileiro

Para se proceder agrave explanaccedilatildeo e anaacutelise dos documentos eacute importante

entender como funciona o sistema juriacutedico de leis no Brasil Aqui uma lei eacute

publicada depois de um tracircmite peculiar no Congresso Nacional

O Brasil possui um ordenamento juriacutedico baseado no direito positivo isto

eacute em que o sistema de normas juriacutedicas eacute regulamentado e deve portanto ser

produzido por um ato institucional especial resultante de uma vontade Isto

pode ocorrer por meio dos costumes ou pelo processo legislativo no que se

refere agraves normas gerais

O ordenamento juriacutedico pode ser internacional ou nacional No primeiro

caso entende-se por ordenamento juriacutedico internacional um conjunto de

normas que regulam a vida de alguns Estados ou naccedilotildees que se submetem a

este ordenamento84

O ordenamento juriacutedico nacional eacute o conjunto de normas internas de um

paiacutes que regula o funcionamento deste enquanto Estado e a vida de seus

habitantes servindo-se para isso de um conjunto de normas organizado

No Brasil o sistema juriacutedico obedece ao principio hieraacuterquico de

organizaccedilatildeo das normas (tal como jaacute foi demonstrado85) Eacute a partir deste

quadro que se situam os textos de lei brasileiros estudados

34 Metodologia das anaacutelises textos de lei

A anaacutelise dos documentos foi efetuada da seguinte forma conforme se

pode verificar no anexo

84

Haacute casos de paiacuteses que recusam se integrar a um ordenamento internacional isto eacute a assinar um tratado

ou acordo tal como os Estados Unidos que natildeo assinou o Protocolo de Kyoto

85 Capitulo 234 paacuteg 72

110

a) Em relaccedilatildeo aos quatro documentos-lei foram escolhidos os preacircmbulos

de cada um e os primeiros artigos a fim de limitar o tamanho do

conteuacutedo analisado86 Tal escolha se fez porque eacute o preacircmbulo que

conteacutem a diretriz do que estaacute no conteuacutedo do documento Em relaccedilatildeo ao

artigo 5deg da CF88 que conteacutem 72 incisos foram escolhidos os mais

relevantes para a anaacutelise pretendida

b) Em relaccedilatildeo aos outros textos foram selecionados os primeiros e o

uacuteltimo paraacutegrafo de cada um dos textos devido agrave importacircncia da ordem

do conteuacutedo pois eacute o que inicia e encerra o documento aleacutem desses

tambeacutem foram selecionados os paraacutegrafos mais relevantes ao estudo

Foram escolhidos para a anaacutelise os votos dos deputados que datildeo

o parecer sobre a lei antes de sua aprovaccedilatildeo e mais a nota oficial pois

estes satildeo os documentos mais importantes anteriores agrave publicaccedilatildeo da

lei Os outros tambeacutem a justificam mas tecircm menor relevacircncia Todas as

escolhas se fizeram a fim de limitar a extensatildeo dos excertos analisados

c) O quadro apresentado em que se separam em periacuteodos os excertos

escolhidos foi elaborado com um objetivo funcional natildeo tendo a

pretensatildeo de ser exaustivo Tal quadro visou apenas deixar mais

evidente quais os tipos de reformulaccedilatildeo realizados e se havia ou natildeo

outras peculiaridades que mereciam atenccedilatildeo Os periacuteodos foram

separados como se faz em uma anaacutelise sintaacutetica (sujeito verbo e

complemento)

d) Nos artigos de cada documento que natildeo foram analisados pelo quadro

os termos mais importantes e que se repetem ao longo do documento

foram destacados a fim de que se pudesse verificar o aspecto

qualitativo da incidecircncia do uso do termo ou a sua ausecircncia

Para um desenvolvimento que estruture melhor o que se pretende

demonstrar os resultados das anaacutelises seratildeo observados considerando

a evoluccedilatildeo do termo homem em relaccedilatildeo aos seus direitos de liberdade

igualdade e justiccedila

86

A DDHC1789 tem 17 artigos a DUHC1948 tem 30 artigos a CF1988 tem 250 artigos aleacutem de

numerosos incisos e a lei 114192006 tem 22 artigos

111

35 Anaacutelise dos textos de lei

Satildeo quatro a Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo A

Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem a Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica

Federativa do Brasil em seu artigo 5ordm e a Lei 114192006 que trata da

informatizaccedilatildeo judicial

351 A Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (DDHC 1789)87

A DDHC eacute um documento elaborado pela sociedade francesa a fim de

se proteger contra os excessos do absolutismo e com o objetivo de assegurar

direitos ao homem fragilizado pelos abusos de poder Eacute concebida dentro do

periacuteodo mais conturbado da histoacuteria francesa posterior agrave Revoluccedilatildeo Francesa

Tornou-se depois referecircncia a vaacuterios outros documentos tanto na Franccedila

quanto em outros paiacuteses de liacutengua e cultura diferentes Integra ainda hoje a

constituiccedilatildeo vigente na Franccedila de 1958 como seu preacircmbulo o que justifica o

fato de ser um documento em diaacutelogo direto natildeo soacute com a Declaraccedilatildeo

Universal dos Direitos do Homem mas tambeacutem com a Constituiccedilatildeo brasileira

Isto tudo demonstra que os princiacutepios nela contidos ainda satildeo vaacutelidos e

observados natildeo soacute na naccedilatildeo francesa mas em outras como a brasileira Uma

das razotildees se deve ao fato de ter sido elaborada por um grupo de pessoas

que representavam a sociedade e que decidiram por ela o que a evoluccedilatildeo dos

tempos exigia

O extrato de documento revelou a presenccedila de diversas formas de

reformulaccedilatildeo para o termo ldquohommerdquo de diferentes categorias tais

como

a) Sinoniacutemia homem eacute igual a ldquocitoyenrdquo a ldquocorpsrdquo a ldquoindividuordquo

b) Pronominal ldquonulrdquo ldquoautruirdquo

87

Documento anexo I

112

c) Grupo nominal laquo repreacutesentants du peuple franccedilais raquo laquo membres

du corps social raquo laquo membres de la socieacuteteacute raquo

d) Extensiva direta laquo Assembleacutee nationale raquo laquo association raquo

laquo socieacuteteacute raquo

e) Extensiva indireta laquo ignorance raquo laquo oubli raquo laquo droits raquo

laquo gouvernement raquo laquo devoirs raquo laquo pouvoir leacutegislatif raquo laquo pouvoir

exeacutecutif raquo laquo institution politique raquo laquo principes raquo laquo constitution raquo

laquo bonheur raquo laquo Ecirctre Suprecircme raquo

f) Embreantes de pessoa natildeo haacute

Tais observaccedilotildees podem ser constatadas a partir da anaacutelise feita da

estrutura textual conforme os quadros e texto abaixo

DEacuteCLARATION DES DROITS DE LrsquoHOMME ET DU CITOYEN DE 178988

a) Preacircmbulo

Les Repreacutesentants du Peuple Franccedilais constitueacutes en Assembleacutee nationale consideacuterant que lrsquoignorance

lrsquooubli ou le meacutepris des droits de lrsquohomme sont les seules causes des malheurs publics et de la corruption

des Gouvernements ont reacutesolu drsquoexposer dans une Deacuteclaration solennelle les droits naturels

inalieacutenables et sacreacutes de lrsquohomme afin que cette Deacuteclaration constamment preacutesente agrave tous les membres

du corps social leur rappelle sans cesse leurs droits et leurs devoirs afin que les actes du pouvoir

leacutegislatif et ceux du pouvoir exeacutecutif pouvant ecirctre agrave chaque instant compareacutes avec le but de toute

institution politique en soient plus respecteacutes afin que les reacuteclamations des citoyens fondeacutees deacutesormais

sur des principes simples et incontestables tournent toujours au maintien de la Constitution et au bonheur

de tous En conseacutequence lrsquoAssembleacutee nationale reconnaicirct et deacuteclare en preacutesence et sous les auspices de

lrsquoEcirctre Suprecircme les droits suivants de lrsquohomme et du citoyen

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Les

Repreacutesentants

du Peuple

Franccedilais

representantes =

homens franceses=gt

grupo= parte pelo

todo = ampliaccedilatildeo

homem consciente

(eacutetant)

presente

constitueacutes en

Assembleacutee

nationale

Constitueacutes =

representantes

Assembleia =

homens reunidos

88

httpwwwassemblee-nationalefrhistoiredudh1789asp

113

(les

repreacutesentants

du peuple

franccedilais)

representantes Consideacuterant

particiacutepio

presente

que

lrsquoignorance

lrsquooubli ou le

meacutepris des

droits de

lrsquohomme

sentimentos do

homem

Sont

Presente

les seules causes

des malheurs

publics et de la

corruption des

Gouvernements

Malheurs = atributo

do homem aqui eacute

puacuteblico como se

fosse do Estado e

do Governo que no

entanto satildeo forma-

dos por homens

(les

repreacutesentants

du peuple

franccedilais)

representantes =

homens

ont reacutesolu

drsquoexposer

passeacute composeacute

dans une

Deacuteclaration

solennelle les droits

naturels

inalieacutenables et

sacreacutes de lrsquohomme

Direitos = do

homem = definidos

= restriccedilatildeo

afin que cette

Deacuteclaration(

constamment

preacutesente agrave

tous les

membres du

corps social)

declaraccedilatildeo rappelle

presente

leur (rappelle) sans

cesse leurs droits et

leurs devoirs

Leur = aos

membros do corpo

social

direitos e deveres

do homem

(qui) declaraccedilatildeo (est)

Presente

constamment

preacutesente agrave tous les

membres du corps

social

presente declaraccedilatildeo

corpo social =

homens

afin que les

actes du pou-

voir leacutegislatif

et ceux du

pouvoir

exeacutecutif (pou-

vant ecirctre agrave

chaque instant

compareacutes

avec le but de

toute institu-

tion politique)

atos do poder

legislativo e

executivo= atos dos

homens

Soient

Subjuntivo

en (soient) plus

respecteacutes

respeitadosdireitos

e deveres do

homem

(qui) Atos = idem ao de

cima

(peuvent)

pouvant ecirctre

participio

presente

agrave chaque instant

compareacutes avec le

but de toute

institution politique

comparados atos

afin que les

reacuteclamations

des citoyens

citoyens = homens (qui sont)

Presente

fondeacutees deacutesormais

sur des principes

simples et

incontestables

fondeacutees=

reclamaccedilotildees = dos

cidadatildeos

(afin que les

reacuteclamations

des citoyens)

reclamaccedilotildees dos

cidadatildeos =

restriccedilatildeo=gtprinciacutepios

Tournent

Presente

toujours au maintien

de la Constitution

et au bonheur de

tous

Tous= os homens

En

conseacutequence

lrsquoAssembleacutee

nationale

assembleia

nacionalhomens

franceses com

objetivos

definidos=restriccedilao

reconnaicirct et

deacuteclare

presente dois

en preacutesence et sous

les auspices de

lrsquoEcirctre Suprecircme les

droits suivants de

lrsquohomme et du

Etre supreme=

quem acredita no

ser supremo eacute o

114

verbos citoyen homem

direitos especiacuteficos

b) Artigos

Article premier

Les hommes naissent et demeurent libres et eacutegaux en droits Les distinctions sociales ne peuvent ecirctre

fondeacutees que sur lrsquoutiliteacute commune

Article II

Le but de toute association politique est la conservation des droits naturels et imprescriptibles de

lrsquohomme Ces droits sont la liberteacute la proprieacuteteacute la sucircreteacute et la reacutesistance agrave lrsquooppression

Article IV

La liberteacute consiste agrave pouvoir faire tout ce qui ne nuit pas agrave autrui ainsi lrsquoexercice des droits naturels de

chaque homme nrsquoa de bornes que celles qui assurent aux autres Membres de la Socieacuteteacute la jouissance de

ces mecircmes droits Ces bornes ne peuvent ecirctre deacutetermineacutees que par la Loi

Article V

La Loi nrsquoa le droit de deacutefendre que les actions nuisibles agrave la Socieacuteteacute Tout ce qui nrsquoest pas deacutefendu par la

Loi ne peut ecirctre empecirccheacute et nul ne peut ecirctre contraint agrave faire ce qursquoelle nrsquoordonne pas

ART SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

I Les hommes naissent et

demeurent

presente

libres et eacutegaux en

droits

libres egaux

=gthomem

en droit= homem

tem direitos

Les

distinctions

sociales

sociales=da

sociedade=do

homem

peuvent ecirctre

fondeacutees

presente

ne (peuvent ecirctre

fondeacutees) que sur

lrsquoutiliteacute commune

utiliteacute commune =

para o homem

II Le but de

toute

association

politique

association

politique= de

homens

est

presente

la conservation des

droits naturels et

imprescriptibles de

lrsquohomme

droits de lrsquohomme

Ces droits direitos naturais e

imprescritiacuteveis do

homem

sont

presente

la liberteacute la

proprieacuteteacute la sucircreteacute

et la reacutesistance agrave

lrsquooppression

III Le principe de

toute

Souveraineteacute

eacute um conceito que

o homem atribui

reacuteside

presente

essentiellement

dans la Nation

eacute um conceito que

o homem atribui

115

Nul corps nul

individu

corpo

indiviacuteduo=gt

homem

peut exercer

presente

ne (peut exercer)

drsquoautoriteacute qui nrsquoen

eacutemane

expresseacutement

autoridade = do

homem

en=gtdo

homem()

IV La liberteacute do homem consiste

presente

agrave pouvoir faire tout

Ce qui nuit

presente

ne (nuit) pas agrave

autrui

autrui= homem

ainsi

lrsquoexercice des

droits naturels

de chaque

homme

comparaccedilatildeo com

liberdade

droit de chaque

homme

a

presente

nrsquo(a) de bornes que

Celles qui celles=bornes assurent

presente

aux autres Membres

de la Socieacuteteacute la

jouissance de ces

mecircmes droits

autres membres

de la

socieacuteteacute=homem

ces mecircmes

droits=direitos

naturais do

homem

Ces bornes peuvent

presente

ne (peuvent) ecirctre

deacutetermineacutees que par

la Loi

V La loi a

presente

nrsquo(a) le droit de

deacutefendre que les

actions nuisibles agrave

la Socieacuteteacute

socieacuteteacute=gthomem

Tout ce qui est

presente

nrsquo(est) pas deacutefendu

par la Loi

peut ecirctre

presente

ne (peut ecirctre)

empecirccheacute

empecirccher=quem

impede eacute o

homem

Et nul nul=homem peut ecirctre

presente

ne (peut ecirctre)

contraint agrave faire

contraint= homem

Ce qursquoelle elle=lei ordonne

presente

nrsquo(ordonne) pas

QUADRO RESUMO

Substantivos Referentes diretos Outros

Repreacutesentants du peuple franccedilais

Assembleacutee Droits de lrsquohomme Actes du pouvoir leacutegislatif

116

Membres du corps social

Reacuteclamations des citoyens

Etre suprecircme

tous

Assembleacutee nationale Droits de lrsquohomme et du citoyen

Utiliteacutes communes

Hommes Libres et eacutegaux Souveraniteacute

Distinctions sociales

Association politique

Ces droits

nation

Nul corps nul individu autrui Autoriteacute

Membres de la socieacuteteacute Liberteacute

Chaque homme Socieacuteteacute

c) Outros artigos

Article VI

La Loi est lrsquoexpression de la volonteacute geacuteneacuterale Tous les Citoyens ont droit de concourir personnellement

ou par leurs Repreacutesentants agrave sa formation Elle doit ecirctre la mecircme pour tous soit qursquoelle protegravege soit

qursquoelle punisse Tous les Citoyens eacutetant eacutegaux agrave ses yeux sont eacutegalement admissibles agrave toutes digniteacutes

places et emplois publics selon leur capaciteacute et sans autre distinction que celle de leurs vertus et de leurs

talents

Article VII

Nul homme ne peut ecirctre accuseacute arrecircteacute ni deacutetenu que dans les cas deacutetermineacutes par la Loi et selon les

formes qursquoelle a prescrites Ceux qui sollicitent expeacutedient exeacutecutent ou font exeacutecuter des ordres

arbitraires doivent ecirctre punis mais tout Citoyen appeleacute ou saisi en vertu de la Loi doit obeacuteir agrave lrsquoinstant

il se rend coupable par la reacutesistance

Article VIII

La Loi ne doit eacutetablir que des peines strictement et eacutevidemment neacutecessaires et nul ne peut ecirctre puni qursquoen

vertu drsquoune Loi eacutetablie et promulgueacutee anteacuterieurement au deacutelit et leacutegalement appliqueacutee

Article IX

Tout homme eacutetant preacutesumeacute innocent jusqursquoagrave ce qursquoil ait eacuteteacute deacuteclareacute coupable srsquoil est jugeacute indispensable

de lrsquoarrecircter toute rigueur qui ne serait pas neacutecessaire pour srsquoassurer de sa personne doit ecirctre seacutevegraverement

reacuteprimeacutee par la Loi

Article XI

117

La libre communication des penseacutees et des opinions est un des droits les plus preacutecieux de lrsquoHomme tout

Citoyen peut donc parler eacutecrire imprimer librement sauf agrave reacutepondre de lrsquoabus de cette liberteacute dans les

cas deacutetermineacutes par la Loi

Article XII

La garantie des droits de lrsquoHomme et du Citoyen neacutecessite une force publique cette force est donc

institueacutee pour lrsquoavantage de tous et non pour lrsquoutiliteacute particuliegravere de ceux auxquels elle est confieacutee

Article XIII

Pour lrsquoentretien de la force publique et pour les deacutepenses drsquoadministration une contribution commune est

indispensable Elle doit ecirctre eacutegalement reacutepartie entre tous les Citoyens en raison de leurs faculteacutes

Article XIV

Tous les Citoyens ont le droit de constater par eux-mecircmes ou par leurs Repreacutesentants la neacutecessiteacute de la

contribution publique de la consentir librement drsquoen suivre lrsquoemploi et drsquoen deacuteterminer la quotiteacute

lrsquoassiette le recouvrement et la dureacutee

Article XV

La Socieacuteteacute a le droit de demander compte agrave tout Agent public de son administration

Article XVI

Toute Socieacuteteacute dans laquelle la garantie des Droits nrsquoest pas assureacutee ni la seacuteparation des Pouvoirs

deacutetermineacutee nrsquoa point de Constitution

Article XVII

La proprieacuteteacute eacutetant un droit inviolable et sacreacute nul ne peut en ecirctre priveacute si ce nrsquoest lorsque la neacutecessiteacute

publique leacutegalement constateacutee lrsquoexige eacutevidemment et sous la condition drsquoune juste et preacutealable

indemniteacute

No excerto analisado observa-se que

a) O homem aparece representado pelas palavras ldquohommerdquo ldquoindividurdquo

ldquocorpsrdquo ldquocitoyenrdquo ldquoautruirdquo como um uacutenico ser Mas aparece tambeacutem

como laquo repreacutesantant raquo laquo membre du corps social raquo laquo membre de la

socieacuteteacute raquo Nesta acepccedilatildeo o homem eacute tomado individualmente mas

representando um grupo como integrante dele e a expressatildeo eacute

equivalente a um coletivo Jaacute o uso das palavras ldquoassembleacuteerdquo

118

ldquoassociationrdquo ldquosocieacuteteacuterdquo satildeo coletivos propriamente ditos da palavra

homem

b) Neste documento o atributo que mais eacute empregado eacute a palavra direito

As palavras igualdade liberdade e justiccedila natildeo figuram no texto e apenas

ldquolibrerdquo ldquoeacutegauxrdquo e ldquojusterdquo aparecem A ausecircncia dessas palavras indica

que o que estaacute sendo delineado eacute o direito ou melhor os direitos que ao

homem seratildeo atribuiacutedos

c) Quase a totalidade dos sujeitos gramaticais eacute representada pelo homem

ou seus referentes diretos (a palavra homem aparece explicitamente 7

vezes sendo que em nenhum dos casos eacute sujeito da oraccedilatildeo palavra

ldquodireitordquo(s) aparece 11 vezes sendo que eacute sujeito em apenas um caso)

tais como ldquoassembleiardquo ldquocorpo socialrdquo ldquosociedaderdquo Os outros referentes

satildeo decorrentes de accedilotildees do homem e se apresentam de forma indireta

quem impotildee limites quem faz a declaraccedilatildeo e a assina quem reclama eacute

o homem pois satildeo accedilotildees inerentes ao homem Quanto aos

complementos (objetos ou predicativos do sujeito) haacute um maior

equiliacutebrio referem-se em sua maioria ao homem ou aos seus direitos

Poderia se resumir esta parte do documento no seguinte enunciado o

homem especifica quais satildeo os direitos do homem

d) O enunciador do texto eacute representado por homens pois o texto eacute

elaborado por homens e para os homens Esses homens que satildeo os

representantes da Assembleia francesa tem um ethos revestido pelo

poder que foi conferido pela sociedade francesa Satildeo representantes de

vaacuterias outras vozes

e) Ao mesmo tempo em que representam vaacuterias outras vozes os direitos

ali estabelecidos como jaacute se viu mesmo que inovadores (o homem tem

direito agrave propriedade agrave liberdade de expressatildeo por exemplo) satildeo

reflexos de outros direitos ou dos direitos adquiridos por outras culturas

o que mostra o processo dialoacutegico no qual esse texto se insere

f) O homem ao qual se refere o documento que antes era sozinho e

desprotegido aparece reformulado e representado na Assembleia

insere-se na sociedade inserido sendo assim amparado por ela

119

O homem vem delineado como um cidadatildeo como um corpo dotado de

individualidade como UM SER e assim se define como parte da sociedade Eacute

representado por um outro homem e dotado de direitos dentro de uma

sociedade em que os poderes satildeo organizados regidos por princiacutepios leis e

sob a proteccedilatildeo de um SER SUPREMO

352 A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (DUDH 1948)89

A DUDH eacute um tratado internacional e seu teor foi redigido por uma

comissatildeo de membros considerados representantes das aspiraccedilotildees gerais e

tinha o objetivo de assegurar que os excessos cometidos pelos paiacuteses

participantes das duas grandes guerras mundiais ou de outros paiacuteses natildeo

voltassem a ocorrer (armas quiacutemicas ou campos de extermiacutenio por exemplo)

Eacute elaborado num periacuteodo posterior ao final da segunda guerra (1948) e foi

assinado e ratificado por 50 paiacuteses num primeiro momento mas outros paiacuteses

aderiram a ele ao longo do tempo Hoje praticamente todos os paiacuteses o

adotam Como esta declaraccedilatildeo eacute um tratado internacional cabe a cada paiacutes de

acordo com seu sistema de leis integraacute-lo e fazer com que seja respeitado

dentro de seu sistema legal Mesmo sendo um tratado internacional

denominado declaraccedilatildeo tem a forma composicional ou melhor estrutura do

texto igual a da Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo francesa de

1789 possui artigos e eacute resultado da vontade de uma assembleia neste caso

geral e da Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas

Pode-se observar nessa declaraccedilatildeo a presenccedila do termo ldquohomemrdquo nas

seguintes formas

a) Sinoniacutemia homem eacute igual a ldquohommerdquo ldquoindividurdquo ldquopersonnerdquo

ldquoesclaverdquo

b) Pronominal ldquonulrdquo

89

Documento anexo II

120

c) Grupo nominal laquo membres de la famille humaine raquo laquo ecirctres

humains raquo laquo les uns envers les autres raquo

d) Extensiva direta laquo droits de lrsquohomme raquo laquo libres raquo laquo libeacutereacutes raquo

laquo contraint raquo laquo nation raquo laquo assembleacutee geacuteneacuterale raquo laquo ONU raquo

laquo peuples et nations raquo laquo populations des eacutetats membres raquo

laquo libres et eacutegaux en droits raquo laquo doueacutes de raison et

conscience raquo laquo ressortissante raquo

e) Extensiva indireta laquo droits eacutegaux et inalieacutenables raquo laquo justice raquo

laquo paix raquo laquo conscience de lrsquohumaniteacute raquo laquo actes de barbarie raquo

laquo la terreur raquo laquo la misegravere raquo laquo aspiration de lrsquohomme raquo

laquo reacutevolte raquo laquo tyrannie raquo laquo oppression raquo laquo relations

amicales raquo laquo charte de peuples des nations unies raquo laquo foi raquo

laquo digniteacute raquo laquo valeur raquo laquo eacutegaliteacute raquo laquo eacutetats membres raquo

laquo liberteacutes fondamentales raquo laquo organes de la socieacuteteacute raquo

laquo enseignement raquo laquo eacuteducation raquo laquo engagements raquo laquo esprit

de fraterniteacute raquo laquo race raquo laquo couleurs raquo laquo sexe raquo laquo langue raquo

laquo religion raquo laquo opinion politique raquo laquo autre opinion raquo laquo origine

nationale ou sociale raquo laquo de fortune raquo laquo naissance ou autre

situation raquo laquo liberteacute raquo laquo vie raquo laquo liberteacute raquo laquo sureteacute de sa

personne raquo laquo esclavage raquo laquo servitude raquo laquo traitements

inhumains ou deacutegradants raquo

f) Embreantes de pessoa natildeo haacute

A anaacutelise do documento pode ser constatada abaixo

a) Preacircmbulo

LA DECLARATION UNIVERSELLE DES DROITS DE LrsquoHOMME 1948 - 200890

90

httpwwwunorgfrdocumentsudhrlawshtml

121

Preacuteambule

Consideacuterant que la reconnaissance de la digniteacute inheacuterente agrave tous les membres de la famille humaine et

de leurs droits eacutegaux et inalieacutenables constitue le fondement de la liberteacute de la justice et de la paix dans le

monde

Consideacuterant que la meacuteconnaissance et le meacutepris des droits de lhomme ont conduit agrave des actes de

barbarie qui reacutevoltent la conscience de lhumaniteacute et que lavegravenement dun monde ougrave les ecirctres humains

seront libres de parler et de croire libeacutereacutes de la terreur et de la misegravere a eacuteteacute proclameacute comme la plus

haute aspiration de lhomme

Consideacuterant quil est essentiel que les droits de lhomme soient proteacutegeacutes par un reacutegime de droit pour

que lhomme ne soit pas contraint en suprecircme recours agrave la reacutevolte contre la tyrannie et loppression

Consideacuterant quil est essentiel dencourager le deacuteveloppement de relations amicales entre nations

Consideacuterant que dans la Charte les peuples des Nations Unies ont proclameacute agrave nouveau leur foi dans les

droits fondamentaux de lhomme dans la digniteacute et la valeur de la personne humaine dans leacutegaliteacute des

droits des hommes et des femmes et quils se sont deacuteclareacutes reacutesolus agrave favoriser le progregraves social et agrave

instaurer de meilleures conditions de vie dans une liberteacute plus grande

Consideacuterant que les Etats Membres se sont engageacutes agrave assurer en coopeacuteration avec lOrganisation des

Nations Unies le respect universel et effectif des droits de lhomme et des liberteacutes fondamentales

Consideacuterant quune conception commune de ces droits et liberteacutes est de la plus haute importance pour

remplir pleinement cet engagement

LAssembleacutee Geacuteneacuterale proclame la preacutesente Deacuteclaration universelle des droits de lhomme comme

lideacuteal commun agrave atteindre par tous les peuples et toutes les nations afin que tous les individus et tous les

organes de la socieacuteteacute ayant cette Deacuteclaration constamment agrave lesprit sefforcent par lenseignement et

leacuteducation de deacutevelopper le respect de ces droits et liberteacutes et den assurer par des mesures progressives

dordre national et international la reconnaissance et lapplication universelles et effectives tant parmi les

populations des Etats Membres eux-mecircmes que parmi celles des territoires placeacutes sous leur juridiction

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

(Assembleacutee

Geacuteneacuterale = AG) homens reunidos consideacuterant

particiacutepio

presente

Que

la

reconnaissance

de la digniteacute

inheacuterente agrave tous

les membres de

la famille

humaine et de

leurs droits

eacutegaux et

inalieacutenables

reconhecimento da

dignidade e dos

direitos=gtdignidade

e direitos do homem

membros da familia

humana=gthomens

constitue

presente

le fondement de la

liberteacute de la justice

et de la paix dans le

monde

le monde= onde

vive o homem

la liberteacutee la justice

la paix = conceitos

estabelecidos pelo

homem

122

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Que

la

meacuteconnaissance

et le meacutepris des

droits de

lhomme

deconhecimento e

desprezo dos direitos

do homem =gt

homem

ont conduit

preteacuterito

perfeito

agrave des actes de

barbarie

actes de barbarie=

do homem

Qui atos de barbaacuterie reacutevoltent

presente

la conscience de

lhumaniteacute

humaniteacute= do

homem

Et que

lavegravenement dun

monde

surgimento=gtquem

faz surgir

ougrave les ecirctres

humains

seres

humanos=homens

seront

futuro

libres de parler et de

croire libeacutereacutes de la

terreur et de la

misegravere

libres =

liberdade=gthomem

eacute livre

libeacutereacutes=

liberdade=gthomem

(lrsquoavenement

drsquoun monde)

surgimento a eacuteteacute proclameacute

preteacuterito

perfeito com

voz passiva

comme la plus

haute aspiration de

lhomme

Homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

Particiacutepio

presente

Qursquo

il impessoal=sujeito

inexistente

Est

Presente

essentiel que

les droits de

lhomme

direitos do homem

=gt homem

Soient

subjuntivo

proteacutegeacutes par un

reacutegime de droit

proteacutegeacutes =gt les

droits = os direitos

satildeo protegidos por

outros direitos

pour que

lhomme

homem ne soit pas

subjuntivo

contraint en

suprecircme recours agrave

la reacutevolte contre la

tyrannie et

loppression

contraint=gt homem

tyrannie et

oppression=sistemas

de governo do

homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Qursquo

il impessoal=sujeito

inexistente

Est

presente

essentiel

dencourager le

deacuteveloppement de

relations amicales

entre nations

relations amicales =

relaccedilotildees de

amizade= do homem

123

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Que dans la Charte

les peuples des

Nations Unies

a carta = documento

(AG) ont proclameacute

preteacuterito

perfeito

agrave nouveau leur foi

dans les droits

fondamentaux de

lhomme dans la

digniteacute et la valeur

de la personne

humaine dans

leacutegaliteacute des droits

des hommes et des

femmes

foi= o homem eacute

quem tem feacute

direitos

fundamentais do

homem

personne humaine =

homem

Et qursquo

lsquoils eles = homens se sont

deacuteclareacutes

preteacuterito

perfeito

reacutesolus agrave favoriser

le progregraves social et

agrave instaurer de

meilleures

conditions de vie

dans une liberteacute

plus grande

reacutesolus = homens

conditions de vie=

do homem

liberteacute= do homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Que les Etats

Membres

(ils) estados membros =gt

homens poreacutem

despersonificados

mas eacute pessoa

juridica

se sont

engageacutes

preteacuterito

perfeito

agrave assurer en

coopeacuteration avec

lOrganisation des

Nations Unies le

respect universel et

effectif des droits

de lhomme et des

liberteacutes

fondamentales

coopeacuteration= quem

coopera satildeo os

Estados

direitos do homem e

das liberdades=do

homem

(AG) homens reunidos Consideacuterant

particiacutepio

presente

Qursquo

quune

conception

commune de ces

droits et liberteacutes

concepccedilatildeo comum =

dos homens =de

direitos e liberdades

especiacuteficos =gtdo

homem

retomada na linha

abaixo por ideal

comum

Est

presente

de la plus haute

importance pour

remplir pleinement

cet engagement

cet engangement =

DUDH

LAssembleacutee

Geacuteneacuterale

Assembleacutee = homens

reunidos

proclame

presente

la preacutesente

Deacuteclaration

universelle des

droits de lhomme

comme lideacuteal

commun agrave atteindre

direitos do homem

peuples et nation=

de homens

124

par tous les peuples

et toutes les nations

afin que tous les

individus et

tous les organes

de la socieacuteteacute

todos os indiviacuteduos=

homens e todos os

oacutergatildeos da sociedade=

homens reunidos

ayant

particiacutepio

presente

cette Deacuteclaration

constamment agrave

lesprit

cette=gt deacuteclaration

esprit= do homem

(tous les

individus et

tous les organes

de la socieacuteteacute)

idem sefforcent

Presente

par lenseignement

et leacuteducation

de deacutevelopper le

respect de ces droits

et liberteacutes

enseignement et

eacuteducation = do

homem

et den assurer

(par des mesures

progressives dordre

national et

international)

la reconnaissance

et lapplication

universelles et

effectives tant

parmi les

populations des

Etats Membres eux-

mecircmes que parmi

celles

en assurer=

assegurar o

desenvolvimento

deles = direitos e

liberdades e

tambeacutem seu

reconhecimento e

sua aplicaccedilatildeo

populations= de

homens

eacutetats membres =

homens reunidos de

forma poliacutetica

(tous les

individus et

tous les organes

de la socieacuteteacute)

(sefforcent) par des mesures

progressives dordre

national et

international

ordem =gtimposta

pelo homem

des territoires territoacuterios=naccedilotildees

estados membros

(qui

sont)

presente

voz passiva

Placeacutes sous leur

juridiction

placeacutes= os territoacuterios

jurisdiccedilatildeo= do s

Estados membros

=gt do homem

b) Artigos

Article premier

Tous les ecirctres humains naissent libres et eacutegaux en digniteacute et en droits Ils sont doueacutes de raison et de

conscience et doivent agir les uns envers les autres dans un esprit de fraterniteacute

Article 2

1Chacun peut se preacutevaloir de tous les droits et de toutes les liberteacutes proclameacutes dans la preacutesente

Deacuteclaration sans distinction aucune notamment de race de couleur de sexe de langue de religion

125

dopinion politique ou de toute autre opinion dorigine nationale ou sociale de fortune de naissance ou

de toute autre situation

2De plus il ne sera fait aucune distinction fondeacutee sur le statut politique juridique ou international du

pays ou du territoire dont une personne est ressortissante que ce pays ou territoire soit indeacutependant sous

tutelle non autonome ou soumis agrave une limitation quelconque de souveraineteacute

Article 3

Tout individu a droit agrave la vie agrave la liberteacute et agrave la sucircreteacute de sa personne

Article 4

Nul ne sera tenu en esclavage ni en servitude lesclavage et la traite des esclaves sont interdits sous toutes

leurs formes

Article 5

Nul ne sera soumis agrave la torture ni agrave des peines ou traitements cruels inhumains ou deacutegradants

ART SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

I Tous les ecirctres

humains

ecirctres

humains=homens

naissent

presente

libres et eacutegaux en

digniteacute et en droits

libres et eacutegaux=

homens

em direitos

Ils ils= homens sont

presente

doueacutes de raison et de

conscience

doueacutes= homens

Et (ils) doivent agir

presente

les uns envers les

autres dans un esprit

de fraterniteacute

les autres= os

homens

fraterniteacute=

sentimento dos

homens

II Chacun

chacun=homem peut se

preacutevaloir

presente

de tous les droits et

de toutes les liberteacutes

proclameacutes dans la

preacutesente Deacuteclaration

sans distinction

aucune notamment

de race de couleur

de sexe de langue de

religion dopinion

politique ou de toute

autre opinion

dorigine nationale ou

sociale de fortune de

naissance ou de toute

autre situation

race couleur

opinion=gthome

m

sociale

naissance=gtho

mem

126

De plus il il= impessoal ne sera fait

aucune

futuro

distinction fondeacutee sur

le statut politique

juridique ou

international du pays

ou du territoire

statut politique=

quem tem

status eacute o

homem

dont une

personne

une

personne=homem

est presente Ressortissante Ressortissant

=gthomem

que ce pays soit

subjuntivo

est ressortissante

que ce pays ou

territoire soit

indeacutependant sous

tutelle non autonome

ou soumis agrave une

limitation quelconque

de souveraineteacute

III Tout individu individu=homem a

presente

droit agrave la vie agrave la

liberteacute et agrave la sucircreteacute

de sa personne

liberteacute=homem

personne=gthom

em

IV Nul Nul = ninguem =

nenhum homem

ne sera tenu

futuro voz

passiva

en esclavage ni en

servitude

esclavage=gt

condiccedilatildeo do

homem

lesclavage et

la traite des

esclaves

Esclavage

=gtescravo

=gthomem

sont

presente

interdits sous toutes

leurs formes

V Nul Nul = ningueacutem =

nenhum homem

ne sera

soumis

futuro voz

passiva

agrave la torture ni agrave des

peines ou traitements

cruels inhumains ou

deacutegradants

torture

peines=gtinflingi

das ao homem

inhumaine=

inhumanas= do

que natildeo eacute

homem =gtdo

homem

QUADRO RESUMO

Substantivos Referentes diretos Outros

Membres de la famille

127

humaine

Droits eacutegaux et inalieacutenables

Droits de lrsquohomme Liberteacute justice paix

Conscience de l humaniteacute Actes de barbarie

Etres humains Libres libeacutereacutes La terreur et la misegravere

Aspiration de lrsquohomme

Homme Contraint Reacutevolte tyranie oppression

Relations amicales

Nations

Personne humaine Charte de peuples des nations unies

Foi digniteacute valeur eacutegaliteacute

Etats membres

Assembleacutee geacuteneacuterale onu

Peuples et nations Respect universel et effectif liberteacutes fondamentales

Individus Organes de la socieacuteteacute Conception des droits et liberteacutes

Populations des eacutetats membres

engagements

Enseignement eacuteducation

Libres et eacutegaux en droits Respects des droits

Tous les ecirctres humains Doueacutes de raison et conscience

Ordre national e international

c) Outros artigos

Article 6

Chacun a le droit agrave la reconnaissance en tous lieux de sa personnaliteacute juridique

Article 7

Tous sont eacutegaux devant la loi et ont droit sans distinction agrave une eacutegale protection de la loi Tous ont droit agrave

une protection eacutegale contre toute discrimination qui violerait la preacutesente Deacuteclaration et contre toute

provocation agrave une telle discrimination

Article 8

128

Toute personne a droit agrave un recours effectif devant les juridictions nationales compeacutetentes contre les actes

violant les droits fondamentaux qui lui sont reconnus par la constitution ou par la loi

Article 10

Toute personne a droit en pleine eacutegaliteacute agrave ce que sa cause soit entendue eacutequitablement et publiquement

par un tribunal indeacutependant et impartial qui deacutecidera soit de ses droits et obligations soit du bien-fondeacute

de toute accusation en matiegravere peacutenale dirigeacutee contre elle

Article 11

1 Toute personne accuseacutee dun acte deacutelictueux est preacutesumeacutee innocente jusquagrave ce que sa culpabiliteacute

ait eacuteteacute leacutegalement eacutetablie au cours dun procegraves public ougrave toutes les garanties neacutecessaires agrave sa

deacutefense lui auront eacuteteacute assureacutees

2 Nul ne sera condamneacute pour des actions ou omissions qui au moment ougrave elles ont eacuteteacute commises ne

constituaient pas un acte deacutelictueux dapregraves le droit national ou international De mecircme il ne sera

infligeacute aucune peine plus forte que celle qui eacutetait applicable au moment ougrave lacte deacutelictueux a eacuteteacute

commis

Article 12

Nul ne sera lobjet dimmixtions arbitraires dans sa vie priveacutee sa famille son domicile ou sa

correspondance ni datteintes agrave son honneur et agrave sa reacuteputation Toute personne a droit agrave la protection de la

loi contre de telles immixtions ou de telles atteintes

Article 13

1 Toute personne a le droit de circuler librement et de choisir sa reacutesidence agrave linteacuterieur dun Etat

2 Toute personne a le droit de quitter tout pays y compris le sien et de revenir dans son pays

Article 14

1 Devant la perseacutecution toute personne a le droit de chercher asile et de beacuteneacuteficier de lasile en dautres

pays

2 Ce droit ne peut ecirctre invoqueacute dans le cas de poursuites reacuteellement fondeacutees sur un crime de droit

commun ou sur des agissements contraires aux buts et aux principes des Nations Unies

Article 15

1 Tout individu a droit agrave une nationaliteacute

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa nationaliteacute ni du droit de changer de nationaliteacute

Article 16

1 A partir de lacircge nubile lhomme et la femme sans aucune restriction quant agrave la race la nationaliteacute ou

la religion ont le droit de se marier et de fonder une famille Ils ont des droits eacutegaux au regard du

mariage durant le mariage et lors de sa dissolution

2 Le mariage ne peut ecirctre conclu quavec le libre et plein consentement des futurs eacutepoux

129

3 La famille est leacuteleacutement naturel et fondamental de la socieacuteteacute et a droit agrave la protection de la socieacuteteacute et

de lEtat

Article 17

1 Toute personne aussi bien seule quen collectiviteacute a droit agrave la proprieacuteteacute

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa proprieacuteteacute

Article 18

Toute personne a droit agrave la liberteacute de penseacutee de conscience et de religion ce droit implique la liberteacute de

changer de religion ou de conviction ainsi que la liberteacute de manifester sa religion ou sa conviction seule

ou en commun tant en public quen priveacute par lenseignement les pratiques le culte et laccomplissement

des rites

Article 19

Tout individu a droit agrave la liberteacute dopinion et dexpression ce qui implique le droit de ne pas ecirctre inquieacuteteacute

pour ses opinions et celui de chercher de recevoir et de reacutepandre sans consideacuterations de frontiegraveres les

informations et les ideacutees par quelque moyen dexpression que ce soit

Article 20

1 Toute personne a droit agrave la liberteacute de reacuteunion et dassociation pacifiques

2 Nul ne peut ecirctre obligeacute de faire partie dune association

Article 21

1 Toute personne a le droit de prendre part agrave la direction des affaires publiques de son pays soit

directement soit par lintermeacutediaire de repreacutesentants librement choisis

2 Toute personne a droit agrave acceacuteder dans des conditions deacutegaliteacute aux fonctions publiques de son

pays

3 La volonteacute du peuple est le fondement de lautoriteacute des pouvoirs publics cette volonteacute doit

sexprimer par des eacutelections honnecirctes qui doivent avoir lieu peacuteriodiquement au suffrage

universel eacutegal et au vote secret ou suivant une proceacutedure eacutequivalente assurant la liberteacute du vote

Article 22

Toute personne en tant que membre de la socieacuteteacute a droit agrave la seacutecuriteacute sociale elle est fondeacutee agrave obtenir la

satisfaction des droits eacuteconomiques sociaux et culturels indispensables agrave sa digniteacute et au libre

deacuteveloppement de sa personnaliteacute gracircce agrave leffort national et agrave la coopeacuteration internationale compte tenu

de lorganisation et des ressources de chaque pays

Article 23

1 Toute personne a droit au travail au libre choix de son travail agrave des conditions eacutequitables et

satisfaisantes de travail et agrave la protection contre le chocircmage

2 Tous ont droit sans aucune discrimination agrave un salaire eacutegal pour un travail eacutegal

130

3 Quiconque travaille a droit agrave une reacutemuneacuteration eacutequitable et satisfaisante lui assurant ainsi quagrave sa

famille une existence conforme agrave la digniteacute humaine et compleacuteteacutee sil y a lieu par tous autres

moyens de protection sociale

4 Toute personne a le droit de fonder avec dautres des syndicats et de saffilier agrave des syndicats

pour la deacutefense de ses inteacuterecircts

Article 24

Toute personne a droit au repos et aux loisirs et notamment agrave une limitation raisonnable de la dureacutee du

travail et agrave des congeacutes payeacutes peacuteriodiques

Article 25

1 Toute personne a droit agrave un niveau de vie suffisant pour assurer sa santeacute son bien-ecirctre et ceux de sa

famille notamment pour lalimentation lhabillement le logement les soins meacutedicaux ainsi que pour les

services sociaux neacutecessaires elle a droit agrave la seacutecuriteacute en cas de chocircmage de maladie dinvaliditeacute de

veuvage de vieillesse ou dans les autres cas de perte de ses moyens de subsistance par suite de

circonstances indeacutependantes de sa volonteacute

2 La materniteacute et lenfance ont droit agrave une aide et agrave une assistance speacuteciales Tous les enfants quils

soient neacutes dans le mariage ou hors mariage jouissent de la mecircme protection sociale

Article 26

1 Toute personne a droit agrave leacuteducation Leacuteducation doit ecirctre gratuite au moins en ce qui concerne

lenseignement eacuteleacutementaire et fondamental Lenseignement eacuteleacutementaire est obligatoire Lenseignement

technique et professionnel doit ecirctre geacuteneacuteraliseacute laccegraves aux eacutetudes supeacuterieures doit ecirctre ouvert en pleine

eacutegaliteacute agrave tous en fonction de leur meacuterite

2 Leacuteducation doit viser au plein eacutepanouissement de la personnaliteacute humaine et au renforcement du

respect des droits de lhomme et des liberteacutes fondamentales Elle doit favoriser la compreacutehension la

toleacuterance et lamitieacute entre toutes les nations et tous les groupes raciaux ou religieux ainsi que le

deacuteveloppement des activiteacutes des Nations Unies pour le maintien de la paix

3 Les parents ont par prioriteacute le droit de choisir le genre deacuteducation agrave donner agrave leurs enfants

Article 27

1 Toute personne a le droit de prendre part librement agrave la vie culturelle de la communauteacute de jouir des

arts et de participer au progregraves scientifique et aux bienfaits qui en reacutesultent

2 Chacun a droit agrave la protection des inteacuterecircts moraux et mateacuteriels deacutecoulant de toute production

scientifique litteacuteraire ou artistique dont il est lauteur

Article 28

Toute personne a droit agrave ce que regravegne sur le plan social et sur le plan international un ordre tel que les

droits et liberteacutes eacutenonceacutes dans la preacutesente Deacuteclaration puissent y trouver plein effet

Article 29

131

1 Lindividu a des devoirs envers la communauteacute dans laquelle seule le libre et plein

deacuteveloppement de sa personnaliteacute est possible

2 Dans lexercice de ses droits et dans la jouissance de ses liberteacutes chacun nest soumis quaux

limitations eacutetablies par la loi exclusivement en vue dassurer la reconnaissance et le respect des

droits et liberteacutes dautrui et afin de satisfaire aux justes exigences de la morale de lordre public

et du bien-ecirctre geacuteneacuteral dans une socieacuteteacute deacutemocratique

3 Ces droits et liberteacutes ne pourront en aucun cas sexercer contrairement aux buts et aux principes

des Nations Unies

Article 30

Aucune disposition de la preacutesente Deacuteclaration ne peut ecirctre interpreacuteteacutee comme impliquant pour un Etat un

groupement ou un individu un droit quelconque de se livrer agrave une activiteacute ou daccomplir un acte visant agrave

la destruction des droits et liberteacutes qui y sont eacutenonceacutes

No trecho analisado observa-se que

a O homem aparece representado pelas palavras e expressotildees ldquoecirctre

humainrdquo ldquohommerdquo ldquopersonne humainerdquo ldquoindividurdquo ldquoles uns envers les

autresrdquo ldquopersonnerdquo ldquonulrdquo ldquoesclavesrdquo Eacute o homem tomado na sua

individualidade Tambeacutem se encontram no texto expressotildees tais como

ldquomembres de la famille humainerdquo o que mostra o homem enquanto

indiviacuteduo mas situado e inserido num grupo Ainda aparecem

expressotildees tais como ldquoassembleacutee geacuteneacuteralerdquo ldquopopulation des eacutetats

membresrdquo ldquopeuplesrdquo ldquonationsrdquo ldquoONUrdquo que se referem a agrupamentos

de homem fazendo o papel de coletivo da palavra homem

b Nessa declaraccedilatildeo o direito aparece mais especificado vem mais

detalhado e tambeacutem aparece associado aos conceitos de liberdade

igualdade e justiccedila Esses conceitos aparecem inclusive em sua

maioria no plural o que equivale dizer que existe mais de um tipo de

direito e de liberdade o que vem inclusive expresso no proacuteprio

preacircmbulo ldquoune conception commune de ces droits et liberteacutes est de la

plus haute importance pour remplir pleinement cet engagementrdquo Pode-

se entender que isso seria devido ao fato de a declaraccedilatildeo ser de caraacuteter

universal Mas haacute que se lembrar do contexto histoacuterico que eacute a razatildeo de

sua elaboraccedilatildeo uma maior proteccedilatildeo do homem apoacutes os horrores das

duas Guerras Mundiais

132

c Aleacutem disso a caracterizaccedilatildeo do homem de forma mais definida permite

que se lhe atribua direitos mais definidos de justiccedila igualdade natildeo

escravidatildeo tratamento digno Eacute um homem mais delineado inserido

num contexto determinado - social poliacutetico universal Ele se torna parte

da famiacutelia humana integrado a um grupo formado por naccedilotildees povos

populaccedilotildees A esse grupo tambeacutem satildeo atribuiacutedos direitos mais

definidos de justiccedila igualdade natildeo escravidatildeo tratamento digno de

seguranccedila Eacute um homem delineado que tem opiniatildeo inserido num

contexto nacional internacional e atual moderno para o seu tempo

(1948) Vale lembrar que ainda hoje existem paiacuteses que natildeo ratificaram

o tratado91 ou que mesmo que o tenham feito natildeo respeitam o que ele

dispotildee

d Tal como no texto anterior o enunciador eacute o homem representado pelo

grupo portanto satildeo vaacuterias vozes representadas O homem eacute igualmente

constituiacutedo em um grupo sob a forma de Assembleia Geral Seu ethos

tambeacutem eacute fortalecido e constituiacutedo pelo status que lhe foi atribuiacutedo pela

Assembleia A ausecircncia do termo ldquoAssembleacutee Geacuteneacuteralerdquo conjugada com

a repeticcedilatildeo do verbo ldquoconsideacuterantrdquo ressalta essa forccedila do ethos

e O homem representado na Assembleia Geral da ONU eacute diferente do

homem da Assembleia francesa natildeo soacute pelo fato de pertencer a uma

organizaccedilatildeo de paiacuteses mas tambeacutem esse homem eacute descrito por meio

de expressotildees que lhe atribuem caracteriacutesticas especiacuteficas Eacute um

homem que faz parte de um grupo (da famiacutelia humana de povos e

naccedilotildees pertencente aos estados membros) cujos direitos satildeo mais

detalhados (livres e iguais em direitos direitos iguais e inalienaacuteveis) e

cujos atributos satildeo bem especificados (dotado de razatildeo e consciecircncia

espiacuterito de fraternidade) sendo protegido dos infortuacutenios (miseacuteria

escravidatildeo tratamentos inumanos e degradantes)

f As expressotildees que se referem ao homem ao mesmo tempo em que o

especificam mostram o aspecto ideoloacutegico da sociedade onde ele estaacute

91

Taiwan natildeo teve aceito seu pedido de ratificaccedilatildeo pela ONU em 2007porque eacute consideradoum paiacutes natildeo

independente da Republica da China (httpbrchina-embassyorgporztzltwwtt344180htm em

25112012)92

Documento anexo III

133

inserido o que deixa evidente que havia um estado anterior diferente do

que eacute pretendido pelo documento e por conseguinte revela seu caraacuteter

dialoacutegico

353 A Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF1988)

Preacircmbulo e artigo 5deg LXXVIII 92

A Constituiccedilatildeo Federal eacute a lei maacutexima que rege a vida de todo brasileiro

e tambeacutem daqueles que vivem sobre o solo do paiacutes Tem em comum com a

DDHC e com a DUDH o fato de dar ao homem o status de ser igual aos outros

homens A disposiccedilatildeo ldquoLes hommes naissent libres et eacutegaux en droitsrdquo(DDHC)

e ldquoTous les ecirctres humains naissent libres et eacutegaux en digniteacute et en droitsrdquo

(DUDH) eacute reformulada em ldquoTodos satildeo iguais perante a leirdquo

Esse conjunto de normas foi elaborado ao final de um periacuteodo de

governo autoritaacuterio comandado por militares

Foi redigido e votado pelos representantes do povo brasileiro (72

senadores e 487deputados) e visava natildeo soacute estabelecer o funcionamento do

Estado democraacutetico definindo as funccedilotildees do diferentes poderes (executivo

legislativo e judiciaacuterio) mas tambeacutem garantir ao cidadatildeo direitos essenciais

aleacutem de regular as ordens financeira econocircmica e social entre outros Nesse

documento foram observados os seguintes casos de reformulaccedilatildeo em relaccedilatildeo

ao emprego do termo homem

a) Sinoniacutemia ldquobrasileiros e estrangeirosrdquo ldquomulheresrdquo

b) Pronominal ldquotodosrdquo

c) Grupo nominal ldquorepresentantes do povo brasileirordquo ldquopessoa

humanardquo ldquorepresentantes eleitosrdquo ldquoningueacutemrdquo

92

Documento anexo III

134

d) Extensiva direta ldquoassembleia nacionalrdquo ldquoindividuaisrdquo ldquosociedade

fraterna pluralista e sem preconceitosrdquo ldquocidadaniardquo ldquopovordquo

ldquosociedaderdquo ldquocomunidade latino-americana de naccedilotildeesrdquo ldquoiguaisrdquo

e) Extensiva indireta ldquoestado democraacuteticordquo ldquodireitos sociaisrdquo

ldquoliberdaderdquo ldquoseguranccedilardquo ldquobem estarrdquo ldquodesenvolvimentordquo

ldquoigualdaderdquo ldquojusticcedilardquo ldquoharmonia socialrdquo ldquosoluccedilatildeo pacificardquo

ldquodignidade da pessoa humanardquo ldquosob a proteccedilatildeo de Deusrdquo ldquopoder

legislativo executivo judiciaacuteriordquo ldquopobrezardquo ldquomarginalizaccedilatildeordquo

ldquodesigualdades sociaisrdquo ldquodiscriminaccedilatildeordquo ldquoorigemrdquo ldquoraccedilardquo ldquosexordquo

ldquocorrdquo ldquoidaderdquo ldquodireitos humanosrdquo ldquoautodeterminaccedilatildeo dos povosrdquo

ldquopazrdquo ldquoconflitordquo ldquoterrorismordquo ldquoracismordquo ldquocooperaccedilatildeo entre os

povosrdquo ldquoprogresso da humanidaderdquo ldquoasilo poliacuteticordquo ldquointegraccedilatildeo

socialrdquo ldquotorturardquo ldquotratamento desumano ou degradanterdquo

ldquomanifestaccedilatildeo do pensamentordquo ldquoanonimatordquo ldquoliberdade de

crenccedila de consciecircncia de pensamento de culto religiosordquo

f) Embreantes de pessoa noacutes

Essa constataccedilatildeo se fez a partir de um levantamento efetuado no texto

abaixo conforme se pode ver no quadro de anaacutelise

a) Preacircmbulo

CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 198893

Noacutes representantes do povo brasileiro reunidos em Assembleia Nacional

Constituinte para instituir um Estado Democraacutetico destinado a assegurar o exerciacutecio

dos direitos sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-estar o

desenvolvimento a igualdade e a justiccedila como valores supremos de uma sociedade

93

httpwwwplanaltogovbrccivil_03ConstituicaoConstituicaohtm Acesso em 30112012

135

fraterna pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia social e comprometida na

ordem interna e internacional com a soluccedilatildeo paciacutefica das controveacutersias promulgamos

sob a proteccedilatildeo de Deus a seguinte CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA

FEDERATIVA DO BRASIL

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Noacutes

representantes

do povo

brasileiro

Representantes do

povo = homens

restritivo

(estamos)

presente voz

passiva

Reunidos em

Assembleia Nacional

Constituinte

Assembleia

=gthomens reunidos

Para instituir

infinitivo

um Estado

Democraacutetico

Estado =gt homens

organizados

(estado

democraacutetico

que)

Estado (estejaseja)

subjuntivo voz

passiva

destinado a assegurar o

exerciacutecio dos direitos

sociais e individuais a

liberdade a seguranccedila

o bem-estar o

desenvolvimento a

igualdade e a justiccedila

Exerciacutecio de direi-tos

=gt do homem

A liberdade a

seguranccedila o bem

estar =gt do homem

O desenvolvimento a

igualdade a justiccedila

=gtpara o homem

como valores

supremos de

uma sociedade

fraterna

pluralista e

sem

preconceitos

Valores de uma

sociedade = de

homens

(estejaseja)

subjuntivo voz

passiva

fundada na harmonia

social e comprometida

na ordem interna e

internacional com a

soluccedilatildeo paciacutefica das

controveacutersias

Fundada=gt a

sociedade=gt homem

Harmonia social e

comprometida etc

soluccedilatildeo pacifica =gt

apenas o homem eacute

capaz de fazer isso

Sujeito oculto =

nos representantes

= homens

promulgamos

presente

sob a proteccedilatildeo de

Deus a seguinte

CONSTITUICcedilAtildeO DA

REPUacuteBLICA

FEDERATIVA DO

BRASIL

Deus =gt quem

acredita em Deus eacute o

homem

Repuacuteblica =gt forma

de governo do

homem

b) Artigos

TIacuteTULO I

Dos Princiacutepios Fundamentais

Art 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos

Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico de

Direito e tem como fundamentos

I - a soberania

II - a cidadania

136

III - a dignidade da pessoa humana

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o Legislativo o

Executivo e o Judiciaacuterio

Art 3ordm Constituem objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa do Brasil

I - construir uma sociedade livre justa e solidaacuteria

II - garantir o desenvolvimento nacional

III - erradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir as desigualdades sociais e

regionais

IV - promover o bem de todos sem preconceitos de origem raccedila sexo cor idade e

quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeo

Art 4ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees internacionais

pelos seguintes princiacutepios

I - independecircncia nacional

II - prevalecircncia dos direitos humanos

III - autodeterminaccedilatildeo dos povos

IV - natildeo-intervenccedilatildeo

V - igualdade entre os Estados

VI - defesa da paz

VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos

VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo

IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade

X - concessatildeo de asilo poliacutetico

137

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo econocircmica

poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave formaccedilatildeo de uma

comunidade latino-americana de naccedilotildees

Art SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE 1deg A

Repuacuteblica

Federativa

do Brasil

constitui-

se

em Estado Demo-

craacutetico de Direito e tem

como fundamentos

I - a soberania

II - a cidadania

III - a dignidade da

pessoa humana

IV - os valores sociais

do trabalho e da livre

iniciativa

V - o pluralismo

poliacutetico

Cidadania=Cidadatildeo

=homem

Pessoa

humana=homem

Valores sociais=

sociedade=grupo de

homens

(A

Repuacuteblica

Federativa

do Brasil)

(eacute) formada pela uniatildeo

indissoluacutevel dos Esta-

dos e Municiacutepios e do

Distrito Federal

Pessoas juriacutedicas

Estado municiacutepio e

distrito federal

Paacutera- Todo o

poder

emana do povo Povo=homens

grafo

uni-

co

Que (o

povo)

Povo exerce por meio de re-

presentantes eleitos ou

diretamente nos ter-

mos desta Constituiccedilatildeo

Representantes

eleitos= homens

2deg o

Legislativo

o Executivo

e o

Judiciaacuterio

Poderes do gover-

no = dos homens

satildeo Poderes da Uniatildeo

independentes e

harmocircnicos entre si

Poder= quem tem

poder eacute o homem

3deg

Consti-

tuem

objetivos fundamen-

tais da Repuacuteblica Fede-

rativa do Brasil

I- construir uma

sociedade livre justa e

solidaacuteria

II - garantir o desen-

volvimento nacional

III - erradicar a pobreza

e a marginalizaccedilatildeo e

reduzir as desigualda-

des sociais e regionais

Sociedade= homens

Pobreza e

marginalizaccedilatildeo=

homens

Bem de todos= dos

homens

Sociais= de homens

Raccedila idade=

homens

138

IV - promover o bem

de todos sem preacute-

conceitos de origem

raccedila sexo cor idade e

quaisquer outras for-

mas de discriminaccedilatildeo

4deg A Repuacuteblica

Federativa

do Brasil

Repuacuteblica= forma

de governo=

homens

rege-se nas suas relaccedilotildees

internacionais pelos

seguintes princiacutepios

I ndash independecircncia

nacional

II ndash prevalecircncia dos

direitos humanos

III ndash autodeterminaccedilatildeo

dos povos

IV - natildeo-intervenccedilatildeo

V - igualdade entre os

Estados

VI - defesa da paz

VII - soluccedilatildeo paciacutefica

dos confli-tos

VIII - repuacutedio ao

terrorismo e ao

racismo

IX ndash cooperaccedilatildeo entre

os povos para o

progresso da

humanidade

X ndash concessatildeo de asilo

poliacutetico

Direitos humanos=

dos homens

Povos=homens

Terrorismo e racis-

mo = accedilotildees dos

homens

Asilo poliacutetico= con-

cedido ao homem

A Repuacuteblica

Federativa

do Brasil

Idem buscaraacute A integraccedilatildeo

econocircmica politica

social e cultural dos

poacutevos da Ameacuterica

Latina

Social =dos homens

Povos=homens

(que= a

integraccedilatildeo

etc)

visando agrave formaccedilatildeo de uma

comunidade latino-

americana de naccedilotildees

Comunidade de

naccedilotildees=de homens

TIacuteTULO II

Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPIacuteTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

139

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza garantindo-se aos

brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave

igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos desta Constituiccedilatildeo

II - ningueacutem seraacute obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senatildeo em virtude de lei

III - ningueacutem seraacute submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante

IV - eacute livre a manifestaccedilatildeo do pensamento sendo vedado o anonimato

V - eacute assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo aleacutem da indenizaccedilatildeo por dano material

moral ou agrave imagem

()

LXXVIII a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a razoaacutevel duraccedilatildeo do

processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitaccedilatildeo (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional

nordm 45 de 2004)

sect 1ordm - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tecircm aplicaccedilatildeo imediata

ARTIGO SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Art 5deg Todos satildeo satildeo iguais perante a

lei sem distinccedilatildeo de

qualquer natureza

garantindo-

se

aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes

no Paiacutes a

inviolabilidade do

direito agrave vida agrave

liberdade agrave igualdade

agrave seguranccedila e agrave pro-

priedade nos termos

seguintes

Brasileiros e

estrangeiros=

homens

INCISO

I homens e

mulheres

satildeo iguais em direitos e

obrigaccedilotildees nos termos

desta Constituiccedilatildeo

II ningueacutem seraacute seraacute obrigado a fazer

ou deixar de fazer

alguma coisa senatildeo em

virtude de lei

Obrigado= o

homem

III ningueacutem Seraacute submetido a tortura

nem a tratamento

desumano ou

degradante

Tortura e trata-

mento desumano

ou degradante=

soacute o homem faz

isso

IV Eacute a manifestaccedilatildeo do

pensamento

Pensamento= do

homem

Sendo vedado o anonimato

V Eacute assegurado o direito

de resposta propor-

cional ao agravo aleacutem

da indenizaccedilatildeo por

dano material moral

Resposta= do

homem

Dano moral= do

140

ou agrave imagem homem

LXXVIII satildeo a todos no acircmbito

judicial e administra-

tivo (satildeo) assegurados

a razoaacutevel dura-ccedilatildeo do

processo e os meios

que garantam a celeri-

dade de sua tramitaccedilatildeo

Direito a uma

justiccedila raacutepida

QUADRO RESUMO

Substantivos Referente direto Outros

Noacutes

Representantes do povo brasileiro

Assembleia nacional

Estado democraacutetico

Individuais Direitos sociais liberdade seguranccedila bem estar desenvolvimento igualdade justiccedila

Sociedade fraterna pluralista e sem preconceitos

Harmonia social soluccedilatildeo paciacutefica

Cidadania dignidade da pessoa humana

Sob a proteccedilatildeo de Deus

Trabalho livre iniciativa

Povo Poder

Representantes eleitos

Legislativo executivo judiciaacuterio satildeo poderes da uniatildeo

Sociedade Pobreza marginalizaccedilatildeo desigualdades sociais

(O bem de) todos Origem raccedila sexo cor idade discriminaccedilatildeo

Direitos humanos autodeterminaccedilatildeo dos povos

Paz conflitos terrorismo racismo

Cooperaccedilatildeo entre os povos

Progresso da humanidade

Asilo poliacutetico

Integraccedilatildeo social

Comunidade latino-americana de naccedilotildees

Todos

141

Iguais

Brasileiros e estrangeiros

direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave propriedade

Homens e mulheres Iguais Direitos e obrigaccedilotildees

Ningueacutem seraacute obrigado

Tortura

Tratamento desumano ou degradante

Manifestaccedilatildeo do pensamento anonimato

Liberdade de crenccedila de consciecircncia culto religioso

Local de culto e sua liturgia

LXXVIII Todos=esse todos retoma o todos satildeo iguais

c) Art5deg Outros incisos

VI - eacute inviolaacutevel a liberdade de consciecircncia e de crenccedila sendo assegurado o livre exerciacutecio dos cultos

religiosos e garantida na forma da lei a proteccedilatildeo aos locais de culto e a suas liturgias

VIII - ningueacutem seraacute privado de direitos por motivo de crenccedila religiosa ou de convicccedilatildeo filosoacutefica ou

poliacutetica salvo se as invocar para eximir-se de obrigaccedilatildeo legal a todos imposta e recusar-se a cumprir

prestaccedilatildeo alternativa fixada em lei

IX - eacute livre a expressatildeo da atividade intelectual artiacutestica cientiacutefica e de comunicaccedilatildeo

independentemente de censura ou licenccedila

X - satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das pessoas assegurado o direito

a indenizaccedilatildeo pelo dano material ou moral decorrente de sua violaccedilatildeo

XIII - eacute livre o exerciacutecio de qualquer trabalho ofiacutecio ou profissatildeo atendidas as qualificaccedilotildees

profissionais que a lei estabelecer

XV - eacute livre a locomoccedilatildeo no territoacuterio nacional em tempo de paz podendo qualquer pessoa nos

termos da lei nele entrar permanecer ou dele sair com seus bens

XVII - eacute plena a liberdade de associaccedilatildeo para fins liacutecitos vedada a de caraacuteter paramilitar

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por necessidade ou utilidade puacuteblica

ou por interesse social mediante justa e preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvados os casos previstos

nesta Constituiccedilatildeo

142

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilizaccedilatildeo publicaccedilatildeo ou reproduccedilatildeo de suas

obras transmissiacutevel aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar

XXVIII - satildeo assegurados nos termos da lei

b) o direito de fiscalizaccedilatildeo do aproveitamento econocircmico das obras que criarem ou de que

participarem aos criadores aos inteacuterpretes e agraves respectivas representaccedilotildees sindicais e associativas

XXX - eacute garantido o direito de heranccedila

XXXIII - todos tecircm direito a receber dos oacutergatildeos puacuteblicos informaccedilotildees de seu interesse particular ou

de interesse coletivo ou geral que seratildeo prestadas no prazo da lei sob pena de responsabilidade

ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindiacutevel agrave seguranccedila da sociedade e do Estado (Regulamento)

XXXIV - satildeo a todos assegurados independentemente do pagamento de taxas

a) o direito de peticcedilatildeo aos Poderes Puacuteblicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de

poder

b) a obtenccedilatildeo de certidotildees em reparticcedilotildees puacuteblicas para defesa de direitos e esclarecimento de

situaccedilotildees de interesse pessoal

XXXV - a lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a direito

XXXVI - a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a coisa julgada

XLI - a lei puniraacute qualquer discriminaccedilatildeo atentatoacuteria dos direitos e liberdades fundamentais

a) privaccedilatildeo ou restriccedilatildeo da liberdade

e) suspensatildeo ou interdiccedilatildeo de direitos

LIV - ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal

LXIII - o preso seraacute informado de seus direitos entre os quais o de permanecer calado sendo-lhe

assegurada a assistecircncia da famiacutelia e de advogado

LXIV - o preso tem direito agrave identificaccedilatildeo dos responsaacuteveis por sua prisatildeo ou por seu interrogatoacuterio

policial

LXVI - ningueacutem seraacute levado agrave prisatildeo ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisoacuteria

com ou sem fianccedila

LXVIII - conceder-se-aacute habeas-corpus sempre que algueacutem sofrer ou se achar ameaccedilado de sofrer

violecircncia ou coaccedilatildeo em sua liberdade de locomoccedilatildeo por ilegalidade ou abuso de poder

LXIX - conceder-se-aacute mandado de seguranccedila para proteger direito liacutequido e certo natildeo amparado por

habeas-corpus ou habeas-data quando o responsaacutevel pela ilegalidade ou abuso de poder for

autoridade puacuteblica ou agente de pessoa juriacutedica no exerciacutecio de atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico

LXXI - conceder-se-aacute mandado de injunccedilatildeo sempre que a falta de norma regulamentadora torne

inviaacutevel o exerciacutecio dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade

agrave soberania e agrave cidadania

143

De acordo com o texto constitucional pode-se verificar que

a) O homem aparece caracterizado de forma individual tal qual se vecirc pelo

emprego de termos como ldquopessoa humanardquo ldquohomens e mulheresrdquo

ldquoningueacutemrdquo Tambeacutem vem explicitado dentro do grupo como se pode ver

nas expressotildees ldquorepresentantesrdquo ldquorepresentantes eleitosrdquo ldquobrasileiros e

estrangeirosrdquo Ainda se pode observar sua existecircncia pelo emprego de

coletivos ou seus equivalentes tal como em ldquorepresentantesrdquo ldquopovordquo

ldquoassembleiardquo ldquonoacutesrdquo ldquosociedaderdquo ldquopovosrdquo ldquonaccedilotildeesrdquo ldquotodosrdquo

b) Na Constituiccedilatildeo o homem possui os direitos muito bem assegurados o

que eacute comprovado natildeo soacute pela frequecircncia do uso do termo no singular e

no plural mas tambeacutem pelo contexto em que vem empregado o proacuteprio

artigo 5deg eacute uma descriccedilatildeo exaustiva dos direitos do homem com ecircnfase

sobretudo agrave liberdade Tal peculiaridade se explica pelo contexto de

produccedilatildeo da Constituiccedilatildeo elaborada por deputados depois de um longo

periacuteodo de regime autoritaacuterio militar em que a maior parte da liberdade

individual foi abolida Esse homem eacute bem especificado pois eacute brasileiro

e estrangeiro e dotado de vaacuterios direitos que satildeo bem definidos e

determinados tecircm representantes eleitos e dotados de poderes (noacutes)

igualdade extensa liberdade ampla direitos mais abrangentes auxiacutelio

em vaacuterios casos Incorpora como os direitos do homem da DUDH e de

outros tratados referentes agrave sua proteccedilatildeo conforme dispotildee o inciso

LXXVII94

c) O emprego do pronome noacutes eacute tambeacutem bastante relevante o

enunciador se mostra num texto de lei se revela e com isso se afirma

94

Art 5ordm LXXVIII

sect 2ordm - Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem outros decorrentes do

regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do

Brasil seja parte

sect 3ordm Os tratados e convenccedilotildees internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados em

cada Casa do Congresso Nacional em dois turnos por trecircs quintos dos votos dos respectivos membros

seratildeo equivalentes agraves emendas constitucionais (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45 de 2004)

144

ganha em autoridade satildeo os representantes eleitos e legalmente

constituiacutedos que elaboram a constituiccedilatildeo e a publicam Os nomes dos

participantes desse documento figuram ao final do mesmo Isso

demonstra ainda o papel que cada um deles representa na histoacuteria do

Brasil e a contribuiccedilatildeo individual para um bem maior dotado da vontade

de equilibrar a sociedade e de se adequar a um contexto internacional

que se modificou e aboliu em muitas naccedilotildees o poder de grupos

minoritaacuterios pela forccedila Cabe lembrar que na Ameacuterica Latina nessa

eacutepoca vaacuterios outros paiacuteses tambeacutem eram governados dessa forma e

que o Brasil foi o precursor da mudanccedila

d) O homem de quem se trata no texto da constituiccedilatildeo democraacutetica de 1988

parece mais bem protegido do que o homem representado haacute quase

duzentos anos atraacutes na declaraccedilatildeo proposta apoacutes a Revoluccedilatildeo

Francesa de 1789 Mesmo em contextos histoacutericos e sociais bastante

diferentes ambos o homem francecircs e o homem brasileiro recebem um

direito agrave liberdade de que natildeo dispunham um direito universal

atemporal de existir e de poder se exprimir de igualdade e justiccedila e dos

quais ficaram privados por formas de governos opressoras

e) O enunciador do texto da Constituiccedilatildeo brasileira eacute revelado pelo

pronome pessoal ldquonoacutesrdquo Ele assume portanto seu papel de

representante do povo brasileiro de forma destacada (o pronome

aparece no iniacutecio do preacircmbulo) um enunciador cujo ethos eacute forte o

bastante para se colocar no primeiro espaccedilo do texto e devidamente

qualificado por ldquorepresentantes do povo brasileirordquo

f) Ainda que esse ldquonoacutesrdquo seja a explicitaccedilatildeo de um sujeito formado por um

grupo de pessoas ele eacute tambeacutem resultante como nos documentos

anteriores da siacutentese da voz de vaacuterios enunciadores que se incorporam

em um uacutenico O jogo polifocircnico torna-se evidente na medida em que

cada deputado da constituinte representa um segmento social e foi eleito

por um puacuteblico eleitoral diferente

145

354 A lei 114192006 a lei de informatizaccedilatildeo judicial95

A lei de informatizaccedilatildeo judicial eacute uma lei federal Isto implica dizer que

ela eacute infraconstitucional e deve ser aplicada em todo o territoacuterio nacional Foi

aprovada portanto pela assembleia federal e pelo senado - Congresso

Nacional - a partir de um projeto de lei O projeto de lei ou seja a proposta

merece uma atenccedilatildeo especial no que se refere agrave sua elaboraccedilatildeo pois foi a

primeira proposta de legislaccedilatildeo participativa possibilidade aberta pela

constituiccedilatildeo atraveacutes da emenda constitucional no45 de 2004 em que um setor

da sociedade devidamente representado pode apresentar ao congresso uma

proposta de lei Esse projeto que foi a PLP no 01 e que tramitou como

PLP012002 foi proposto pela associaccedilatildeo dos juiacutezes federais (AJUFE) com o

objetivo de resolver questotildees referentes agrave utilizaccedilatildeo dos meios tecnoloacutegicos

avanccedilados nos processos em curso no poder judiciaacuterio Apresentado na forma

legal foi devidamente encaminhado e seguiu o curso normal de um projeto de

lei ateacute sua votaccedilatildeo aprovaccedilatildeo promulgaccedilatildeo e publicaccedilatildeo Examinado o texto

da lei foram encontrados os seguintes casos de reformulaccedilatildeo

a) Sinoniacutemia ldquoPRESIDENTE DA REPUacuteBLICArdquo ldquosignataacuteriordquo

ldquousuaacuteriordquo

b) Pronominal natildeo haacute

c) Grupo nominal ldquoautoridade certificadorardquo

d) Extensiva direta ldquoCongresso Nacionalrdquo

e) Extensiva indireta ldquocomunicaccedilatildeordquo ldquoprocessosrdquo ldquoassinaturardquo

ldquoidentificaccedilatildeordquo ldquocadastrordquo ldquoPoder Judiciaacuteriordquo ldquocredenciamentordquo

ldquopeticcedilatildeordquo ldquoregistrordquo ldquoacessordquo ldquosigilordquo ldquoautenticidaderdquo ldquoatos

processuaisrdquo ldquoprotocolordquo ldquopeticcedilatildeordquo

f) Embreantes de pessoa eu decirciticos ldquofaccedilordquo ldquosancionordquo

95

Documento anexo IV

146

Eis aqui o levantamento realizado no texto

a) Caput

LEI Nordm 11419 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial

altera a Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 ndash

Coacutedigo de Processo Civil e daacute outras providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional decreta e eu

sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

DA INFORMATIZACcedilAtildeO DO PROCESSO JUDICIAL

b) Artigos

Art 1o O uso de meio eletrocircnico na tramitaccedilatildeo de processos judiciais comunicaccedilatildeo de atos e

transmissatildeo de peccedilas processuais seraacute admitido nos termos desta Lei

sect 1o Aplica-se o disposto nesta Lei indistintamente aos processos civil penal e trabalhista bem

como aos juizados especiais em qualquer grau de jurisdiccedilatildeo

sect 2o Para o disposto nesta Lei considera-se

I - meio eletrocircnico qualquer forma de armazenamento ou traacutefego de documentos e arquivos digitais

II - transmissatildeo eletrocircnica toda forma de comunicaccedilatildeo a distacircncia com a utilizaccedilatildeo de redes de

comunicaccedilatildeo preferencialmente a rede mundial de computadores

III - assinatura eletrocircnica as seguintes formas de identificaccedilatildeo inequiacutevoca do signataacuterio

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade Certificadora

credenciada na forma de lei especiacutefica

b) mediante cadastro de usuaacuterio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos

respectivos

Art 2o O envio de peticcedilotildees de recursos e a praacutetica de atos processuais em geral por meio eletrocircnico

seratildeo admitidos mediante uso de assinatura eletrocircnica na forma do art 1o desta Lei sendo obrigatoacuterio o

credenciamento preacutevio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

sect 1o O credenciamento no Poder Judiciaacuterio seraacute realizado mediante procedimento no qual esteja

assegurada a adequada identificaccedilatildeo presencial do interessado

147

sect 2o Ao credenciado seraacute atribuiacutedo registro e meio de acesso ao sistema de modo a preservar o

sigilo a identificaccedilatildeo e a autenticidade de suas comunicaccedilotildees

sect 3o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo criar um cadastro uacutenico para o credenciamento previsto

neste artigo

ART SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ca-

put

(a lei) Dispotildee Dispotildee sobre a

informatizaccedilatildeo do

processo judicial

Idem altera a Lei no 5869 de 11

de janeiro de 1973 ndash

Coacutedigo de Processo

Civil

Idem E daacute outras providecircncias

O PRESIDENTE

DA REPUacuteBLICA

= eu o

presidente

Faccedilo

saber

que

o Congresso

Nacional

Congresso decreta

E eu Eu= decircitico de

pessoa

presidente

Sanciono A seguinte Lei

1deg O uso de meio

eletrocircnico na tra-

mitaccedilatildeo de pro-

cessos judiciais

comunicaccedilatildeo de

atos e transmissatildeo

de peccedilas proces-

suais

Seraacute admitido nos termos

desta Lei

Comunicaccedilatildeo

sect 1o (se) aplica o disposto nesta Lei

indistintamente aos

processos civil penal

e trabalhista bem

como aos juizados es-

peciais em qualquer

grau de jurisdiccedilatildeo

Processos

sect 2o (se)

considera

-

Para o disposto nesta

Lei

I - meio eletrocircnico

qualquer forma de

armazenamento ou

traacutefego de documen-

tos e arquivos

digitais

II - transmissatildeo ele-

trocircnica toda forma de

comunicaccedilatildeo a dis-

tacircncia com a utili-

zaccedilatildeo de redes de

Signataacuterio=quem

assina=assinatura

=homem

Usuaacuterio=homem

Autoridade

certificadora=pess

oa

juridica=represent

ada por homens

Assinatura

148

comunicaccedilatildeo prefe-

rencialmente a rede

mundial de compu-

tadores

III - assinatura ele-

trocircnica as seguintes

formas de identi-

ficaccedilatildeo inequiacutevoca do

signataacuterio

a) assinatura digital

baseada em certi-

ficado digital emitido

por Autoridade Certi-

ficadora credenciada

na forma de lei

especiacutefica

b) mediante cadastro

de usuaacuterio no Poder

Judiciaacuterio conforme

disciplinado pelos

oacutergatildeos respectivos

Identificaccedilatildeo

Cadastro

Poder Judiciaacuterio

2deg O envio de

peticcedilotildees de

recursos e a

praacutetica de atos

processuais em

geral por meio

eletrocircnico

Peticcedilatildeo Seratildeo admitidos mediante

uso de assinatura

eletrocircnica na forma

do art 1o desta Lei

sendo obrigatoacuterio o

credenciamento preacute-

vio no Poder Judi-

ciaacuterio conforme dis-

ciplinado pelos

oacutergatildeos respectivos

Credenciamento=

de um

credenciado

Assinatura

sect 1o O credenciamento

no Poder

Judiciaacuterio

Credenciamento

= de um

credenciado

Seraacute Realizado mediante

procedimento no qual

esteja assegurada a

adequada identifica-

ccedilatildeo presencial do

interessado

Interessado =

homem

Identificaccedilatildeo

sect 2o registro e meio de

acesso ao sistema

Registro

Acesso

seraacute atribuiacutedo ao creden-

ciado de modo a pre-

servar o sigilo a

identificaccedilatildeo e a

autenticidade de suas

comunicaccedilotildees

Credenciado=

homem

Sigilo

Identificaccedilatildeo

Autenticidade

sect 3o Os oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio

Poder Judiciaacuterio Poderatildeo criar um cadastro

uacutenico para o creden-

ciamento previsto

neste artigo

Cadastro= de

usuaacuterios

3o (-se) Conside- realizados os atos Atos

149

ram processuais por meio

eletrocircnico no dia e

hora do seu envio ao

sistema do Poder

Judiciaacuterio

processuais=realiz

ados por homens

do que deveraacute

ser

fornecido protocolo

eletrocircnico

Protocolo

Paraacute-

grafo

uacutenico

Quando a peticcedilatildeo

eletrocircnica

Peticcedilatildeo For enviada para atender

prazo processual

As (peticcediloes) (que

forem)

as transmitidas ateacute as

24 (vinte e quatro)

horas do seu uacuteltimo

dia

(as peticcedilotildees) seratildeo consideradas

tempestivas

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto Referente Indireto

PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA

Eu = decircitico de pessoa=presidente

Comunicaccedilatildeo

Congresso Nacional Processos

Signataacuterio Assinatura

Usuaacuterio Identificaccedilatildeo

Autoridade certificadora Cadastro

Poder Judiciaacuterio

Credenciamento

Peticcedilatildeo

Registro

Acesso

Sigilo

Autenticidade

Atos processuais

Protocolo

Peticcedilatildeo

c) Outros artigos

Art 3o Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrocircnico no dia e hora do seu envio

ao sistema do Poder Judiciaacuterio do que deveraacute ser fornecido protocolo eletrocircnico

150

Paraacutegrafo uacutenico Quando a peticcedilatildeo eletrocircnica for enviada para atender prazo processual seratildeo

consideradas tempestivas as transmitidas ateacute as 24 (vinte e quatro) horas do seu uacuteltimo dia

CAPIacuteTULO II

DA COMUNICACcedilAtildeO ELETROcircNICA DOS ATOS PROCESSUAIS

Art 4o Os tribunais poderatildeo criar Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico disponibilizado em siacutetio da rede

mundial de computadores para publicaccedilatildeo de atos judiciais e administrativos proacuteprios e dos oacutergatildeos a eles

subordinados bem como comunicaccedilotildees em geral

sect 1o O siacutetio e o conteuacutedo das publicaccedilotildees de que trata este artigo deveratildeo ser assinados digitalmente

com base em certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica

sect 2o A publicaccedilatildeo eletrocircnica na forma deste artigo substitui qualquer outro meio e publicaccedilatildeo

oficial para quaisquer efeitos legais agrave exceccedilatildeo dos casos que por lei exigem intimaccedilatildeo ou vista pessoal

sect 3o Considera-se como data da publicaccedilatildeo o primeiro dia uacutetil seguinte ao da disponibilizaccedilatildeo da

informaccedilatildeo no Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

sect 4o Os prazos processuais teratildeo iniacutecio no primeiro dia uacutetil que seguir ao considerado como data da

publicaccedilatildeo

sect 5o A criaccedilatildeo do Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico deveraacute ser acompanhada de ampla divulgaccedilatildeo e o ato

administrativo correspondente seraacute publicado durante 30 (trinta) dias no diaacuterio oficial em uso

Art 5o As intimaccedilotildees seratildeo feitas por meio eletrocircnico em portal proacuteprio aos que se cadastrarem na

forma do art 2o desta Lei dispensando-se a publicaccedilatildeo no oacutergatildeo oficial inclusive eletrocircnico

sect 1o Considerar-se-aacute realizada a intimaccedilatildeo no dia em que o intimando efetivar a consulta eletrocircnica

ao teor da intimaccedilatildeo certificando-se nos autos a sua realizaccedilatildeo

sect 2o Na hipoacutetese do sect 1

o deste artigo nos casos em que a consulta se decirc em dia natildeo uacutetil a intimaccedilatildeo

seraacute considerada como realizada no primeiro dia uacutetil seguinte

sect 3o A consulta referida nos sectsect 1

o e 2

o deste artigo deveraacute ser feita em ateacute 10 (dez) dias corridos

contados da data do envio da intimaccedilatildeo sob pena de considerar-se a intimaccedilatildeo automaticamente realizada

na data do teacutermino desse prazo

sect 4o Em caraacuteter informativo poderaacute ser efetivada remessa de correspondecircncia eletrocircnica

comunicando o envio da intimaccedilatildeo e a abertura automaacutetica do prazo processual nos termos do sect 3o deste

artigo aos que manifestarem interesse por esse serviccedilo

sect 5o Nos casos urgentes em que a intimaccedilatildeo feita na forma deste artigo possa causar prejuiacutezo a

quaisquer das partes ou nos casos em que for evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema o ato

processual deveraacute ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade conforme determinado pelo

juiz

sect 6o As intimaccedilotildees feitas na forma deste artigo inclusive da Fazenda Puacuteblica seratildeo

consideradas pessoais para todos os efeitos legais

151

Art 7o As cartas precatoacuterias rogatoacuterias de ordem e de um modo geral todas as comunicaccedilotildees oficiais

que transitem entre oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio bem como entre os deste e os dos demais Poderes seratildeo

feitas preferentemente por meio eletrocircnico

CAPIacuteTULO III

DO PROCESSO ELETROcircNICO

Art 8o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo desenvolver sistemas eletrocircnicos de processamento

de accedilotildees judiciais por meio de autos total ou parcialmente digitais utilizando preferencialmente a rede

mundial de computadores e acesso por meio de redes internas e externas

Paraacutegrafo uacutenico Todos os atos processuais do processo eletrocircnico seratildeo assinados eletronicamente

na forma estabelecida nesta Lei

Art 9o No processo eletrocircnico todas as citaccedilotildees intimaccedilotildees e notificaccedilotildees inclusive da Fazenda

Puacuteblica seratildeo feitas por meio eletrocircnico na forma desta Lei

sect 2o Quando por motivo teacutecnico for inviaacutevel o uso do meio eletrocircnico para a realizaccedilatildeo de citaccedilatildeo

intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo esses atos processuais poderatildeo ser praticados segundo as regras ordinaacuterias

digitalizando-se o documento fiacutesico que deveraacute ser posteriormente destruiacutedo

Art 11 Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos processos eletrocircnicos com

garantia da origem e de seu signataacuterio na forma estabelecida nesta Lei seratildeo considerados originais para

todos os efeitos legais

sect 1o Os extratos digitais e os documentos digitalizados e juntados aos autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila

e seus auxiliares pelo Ministeacuterio Puacuteblico e seus auxiliares pelas procuradorias pelas autoridades

policiais pelas reparticcedilotildees puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos e privados tecircm a mesma forccedila

probante dos originais ressalvada a alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de adulteraccedilatildeo antes ou durante o

processo de digitalizaccedilatildeo

sect 5o Os documentos cuja digitalizaccedilatildeo seja tecnicamente inviaacutevel devido ao grande volume ou por

motivo de ilegibilidade deveratildeo ser apresentados ao cartoacuterio ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias

contados do envio de peticcedilatildeo eletrocircnica comunicando o fato os quais seratildeo devolvidos agrave parte apoacutes o

tracircnsito em julgado

sect 6o Os documentos digitalizados juntados em processo eletrocircnico somente estaratildeo disponiacuteveis para

acesso por meio da rede externa para suas respectivas partes processuais e para o Ministeacuterio Puacuteblico

respeitado o disposto em lei para as situaccedilotildees de sigilo e de segredo de justiccedila

Art 12 A conservaccedilatildeo dos autos do processo poderaacute ser efetuada total ou parcialmente por meio

eletrocircnico

sect 1o Os autos dos processos eletrocircnicos deveratildeo ser protegidos por meio de sistemas de seguranccedila

de acesso e armazenados em meio que garanta a preservaccedilatildeo e integridade dos dados sendo dispensada a

formaccedilatildeo de autos suplementares

152

sect 2o Os autos de processos eletrocircnicos que tiverem de ser remetidos a outro juiacutezo ou instacircncia

superior que natildeo disponham de sistema compatiacutevel deveratildeo ser impressos em papel autuados na forma

dos arts 166 a 168 da Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo Civil ainda que de

natureza criminal ou trabalhista ou pertinentes a juizado especial

sect 5o A digitalizaccedilatildeo de autos em miacutedia natildeo digital em tramitaccedilatildeo ou jaacute arquivados seraacute precedida

de publicaccedilatildeo de editais de intimaccedilotildees ou da intimaccedilatildeo pessoal das partes e de seus procuradores para

que no prazo preclusivo de 30 (trinta) dias se manifestem sobre o desejo de manterem pessoalmente a

guarda de algum dos documentos originais

Art 13 O magistrado poderaacute determinar que sejam realizados por meio eletrocircnico a exibiccedilatildeo e o

envio de dados e de documentos necessaacuterios agrave instruccedilatildeo do processo

sect 2o O acesso de que trata este artigo dar-se-aacute por qualquer meio tecnoloacutegico disponiacutevel

preferentemente o de menor custo considerada sua eficiecircncia

CAPIacuteTULO IV

DISPOSICcedilOtildeES GERAIS E FINAIS

Art 14 Os sistemas a serem desenvolvidos pelos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio deveratildeo usar

preferencialmente programas com coacutedigo aberto acessiacuteveis ininterruptamente por meio da rede mundial

de computadores priorizando-se a sua padronizaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Os sistemas devem buscar identificar os casos de ocorrecircncia de prevenccedilatildeo

litispendecircncia e coisa julgada

Art 16 Os livros cartoraacuterios e demais repositoacuterios dos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo ser

gerados e armazenados em meio totalmente eletrocircnico

Art 20 A Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo Civil passa a vigorar com

as seguintes alteraccedilotildees

Art 38

Paraacutegrafo uacutenico A procuraccedilatildeo pode ser assinada digitalmente com base em certificado emitido por

Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica (NR)

Art 154

sect 2o Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos transmitidos armazenados e assinados

por meio eletrocircnico na forma da lei (NR)

Art 164

Paraacutegrafo uacutenico A assinatura dos juiacutezes em todos os graus de jurisdiccedilatildeo pode ser feita eletronicamente

na forma da lei (NR)

Art 169 sect 1o Eacute vedado usar abreviaturas

153

sect 2o Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrocircnico os atos processuais praticados na

presenccedila do juiz poderatildeo ser produzidos e armazenados de modo integralmente digital em arquivo

eletrocircnico inviolaacutevel na forma da lei mediante registro em termo que seraacute assinado digitalmente pelo juiz

e pelo escrivatildeo ou chefe de secretaria bem como pelos advogados das partes

Art 202

sect 3o A carta de ordem carta precatoacuteria ou carta rogatoacuteria pode ser expedida por meio eletrocircnico situaccedilatildeo

em que a assinatura do juiz deveraacute ser eletrocircnica na forma da lei (NR)

Art 221

IV - por meio eletrocircnico conforme regulado em lei proacutepria (NR)

Art 237

Paraacutegrafo uacutenico As intimaccedilotildees podem ser feitas de forma eletrocircnica conforme regulado em lei proacutepria

(NR)

Art 365

V - os extratos digitais de bancos de dados puacuteblicos e privados desde que atestado pelo seu emitente sob

as penas da lei que as informaccedilotildees conferem com o que consta na origem

VI - as reproduccedilotildees digitalizadas de qualquer documento puacuteblico ou particular quando juntados aos

autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila e seus auxiliares pelo Ministeacuterio Puacuteblico e seus auxiliares pelas

procuradorias pelas reparticcedilotildees puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos ou privados ressalvada a

alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de adulteraccedilatildeo antes ou durante o processo de digitalizaccedilatildeo

sect 1o Os originais dos documentos digitalizados mencionados no inciso VI do caput deste artigo deveratildeo

ser preservados pelo seu detentor ateacute o final do prazo para interposiccedilatildeo de accedilatildeo rescisoacuteria

sect 2o Tratando-se de coacutepia digital de tiacutetulo executivo extrajudicial ou outro documento relevante agrave

instruccedilatildeo do processo o juiz poderaacute determinar o seu depoacutesito em cartoacuterio ou secretaria (NR)

Art 399

sect 2o As reparticcedilotildees puacuteblicas poderatildeo fornecer todos os documentos em meio eletrocircnico conforme

disposto em lei certificando pelo mesmo meio que se trata de extrato fiel do que consta em seu banco de

dados ou do documento digitalizado (NR)

Art 417

sect 1o O depoimento seraacute passado para a versatildeo datilograacutefica quando houver recurso da sentenccedila ou

noutros casos quando o juiz o determinar de ofiacutecio ou a requerimento da parte

sect 2o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2

o e 3

o do art 169 desta Lei

(NR)

Art 457

154

sect 4o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2

o e 3

o do art 169 desta Lei

(NR)

Art 556

Paraacutegrafo uacutenico Os votos acoacuterdatildeos e demais atos processuais podem ser registrados em arquivo

eletrocircnico inviolaacutevel e assinados eletronicamente na forma da lei devendo ser impressos para juntada aos

autos do processo quando este natildeo for eletrocircnico (NR)

Art 22 Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias depois de sua publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 19 de dezembro de 2006 185o da Independecircncia e 118

o da Repuacuteblica

LUIZ INAacuteCIO LULA DA SILVA

Maacutercio Thomaz Bastos

Este texto natildeo substitui o publicado no DOU de 20122006

Conforme se pode verificar pela anaacutelise dos quadros e texto acima

a) O homem aqui figura numa concepccedilatildeo quase teacutecnica signataacuterio

usuaacuterio autoridade certificadora credenciado Aparece como ser

individual e capaz de utilizar um sistema de informaacutetica Esse homem eacute

um homem moderno que usa a tecnologia para trabalhar para alcanccedilar

(ldquosaisirrdquo) a justiccedila

b) O homem vem caracterizado por meio de suas accedilotildees de comunicaccedilatildeo e

para isso procede a sua identificaccedilatildeo protocoliza envia uma peticcedilatildeo

um usuaacuterio e profissional capacitado que tem o direito disponibilizado

pela lei de executar determinados atos da aacuterea juriacutedica

c) A execuccedilatildeo de tais atos profissionais eacute aparelhada por ferramentas

tecnoloacutegicas de um sistema de informaacutetica E o objetivo desse sistema

aleacutem da uniformizaccedilatildeo de praacuteticas do quotidiano adequadas ao Poder

Judiciaacuterio eacute apenas um facilitar e tornar aacutegil eficaz e raacutepido todo

processo interposto e que tem como objetivo o alcance da justiccedila Assim

essa lei permite o alcance de uma justiccedila de forma mais aacutegil visando ao

atendimento das expectativas sociais que exigem um Poder Judiciaacuterio

menos lento

155

d) O enunciador desse texto de lei diferente dos anteriores estaacute ao

mesmo tempo explicitado e apagado no caput da lei e no seu fecho vecirc-

se que a lei foi publicada pela vontade do Presidente da Repuacuteblica e

pelo Ministro da Justiccedila No entanto cabe a eles apenas o papel de

sancionaacute-la sendo que a primeira vontade de realizar o que dispotildee a lei

natildeo veio de nenhum deles A lei foi a vontade dos juiacutezes que fizeram a

proposta de legislaccedilatildeo e a apresentaram agrave Cacircmara dos Deputados

Como jaacute foi dito anteriormente eacute na lei que o ethos natildeo mostrado tem a

sua maior expressatildeo a proposta parte dos juiacutezes (Poder Judiciaacuterio)

segue para o Poder Legislativo transforma-se em lei pela sanccedilatildeo do

Presidente da Repuacuteblica (Poder Executivo) e do Ministro da Justiccedila

(Poder Executivo importante observar que eacute o Ministro da Justiccedila que agrave

frente do Ministeacuterio da Justiccedila sendo responsaacutevel por ldquogarantir e

promover a cidadania a justiccedila e a seguranccedila puacuteblica atraveacutes de uma

accedilatildeo conjunta entre o Estado e a sociedaderdquo96 Depois de publicada a

96

Segundo o portal do Ministeacuterio da Justiccedila httpportalmjgovbrdataPagesMJAD82FBF6ITEMID3006FB374BA746898656440BE0410ADDPT

BRNNhtm Acesso em 26122012

ldquoMissatildeo O Ministeacuterio da Justiccedila tem por missatildeo garantir e promover a cidadania a justiccedila e a seguranccedila puacuteblica

atraveacutes de uma accedilatildeo conjunta entre o Estado e a sociedade

Competecircncias O Ministeacuterio da Justiccedila oacutergatildeo da administraccedilatildeo federal direta tem como aacuterea de competecircncia os

seguintes assuntos

I - defesa da ordem juriacutedica dos direitos poliacuteticos e das garantias constitucionais

II - poliacutetica judiciaacuteria

III - direitos dos iacutendios

IV - entorpecentes seguranccedila puacuteblica Poliacutecias Federal Rodoviaacuteria Federal e Ferroviaacuteria Federal e do

Distrito Federal

V - defesa da ordem econocircmica nacional e dos direitos do consumidor

VI - planejamento coordenaccedilatildeo e administraccedilatildeo da poliacutetica penitenciaacuteria nacional

VII - nacionalidade imigraccedilatildeo e estrangeiros

VIII - ouvidoria-geral dos iacutendios e do consumidor

IX - ouvidoria das poliacutecias federais

X - assistecircncia juriacutedica judicial e extrajudicial integral e gratuita aos necessitados assim considerados

em lei

XI - defesa dos bens e dos proacuteprios da Uniatildeo e das entidades integrantes da administraccedilatildeo puacuteblica federal

indireta

XII - articulaccedilatildeo integraccedilatildeo e proposiccedilatildeo das accedilotildees do Governo nos aspectos relacionados com as

atividades de repressatildeo ao uso indevido do traacutefico iliacutecito e da produccedilatildeo natildeo autorizada de substacircncias

entorpecentes e drogas que causem dependecircncia fiacutesica ou psiacutequica

XIII - coordenaccedilatildeo e implementaccedilatildeo dos trabalhos de consolidaccedilatildeo dos atos normativos no acircmbito do

Poder Executivo e

XIV - prevenccedilatildeo e repressatildeo agrave lavagem de dinheiro e cooperaccedilatildeo juriacutedica internacional

XV - poliacutetica nacional de arquivos

XVI - assistecircncia ao Presidente da Repuacuteblica em mateacuterias natildeo afetas a outro Ministeacuterio

156

lei seraacute de aplicada pelo Poder Judiciaacuterio seu primeiro beneficiaacuterio mas

para favorecer aqueles que pedirem a prestaccedilatildeo jurisdicional do Estado

na soluccedilatildeo de seus problemas

e) O item anterior mostra de forma clara como diferentes vozes

representativas dos Poderes Judiciaacuterio Legislativo e Executivo se

conjugam para a aprovaccedilatildeo da nova lei A polifonia existente aqui daacute voz

a uma das maiores expressotildees de justiccedila e de democracia na eacutepoca

atual

Primeiras observaccedilotildees

O que haacute de comum nestes quatro documentos de lei

1) Todos foram elaborados por um grupo menor representante de um

grupo maior com o objetivo de melhorar o conviacutevio do homem em sociedade

2) Todos os documentos foram propostos para regrar um certo desajuste ndash

maior ou menor - nas relaccedilotildees jaacute existentes entre os homens

3) Todos os documentos afetam um grande nuacutemero de indiviacuteduos a partir

de sua publicaccedilatildeo mudando as relaccedilotildees entre eles

A partir de cada um desses documentos os indiviacuteduos que a eles ficam

submetidos modificam seu perfil seu status social e individual Tornam-se mais

revestidos de direitos mas tambeacutem sujeitos a obrigaccedilotildees mais definidas pois

para ter o direito agrave liberdade de religiatildeo por exemplo eacute necessaacuterio tambeacutem

respeitar a liberdade do outro na sua religiatildeo Eacute um homem que evolui bem

diferente do primeiro que vivia em um mundo de poucos recursos e direitos

Este homem cresceu ganhou importacircncia e respectivamente atributos que lhe

permitem exercer as suas prerrogativas em plenitude protegido por leis

nacionais e internacionais e por aparatos tecnoloacutegicos A polifonia existente

Competecircncia estabelecida pelo Decreto nordm 6061 de 15 de marccedilo de 2007 Anexo I e alteraccedilotildeesrdquo ndash grifo

da paacutegina na internet

157

nos textos reveste o ethos do enunciador de competecircncia mesmo que ele

esteja apagado enquanto voz ndash ou porque ausente ou porque reduzido a um

ldquonoacutesrdquo social A vontade do enunciador se corporifica no texto de lei cujo caraacuteter

coercitivo tem autoridade indubitaacutevel

36 Anaacutelise de outros textos

Satildeo trecircs os textos o voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio a

justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 da Deputada Luiza Erundina e a nota

oficial de 1962002

361 Voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio97

O voto do Deputado Roberto Batochio relator da Comissatildeo de

Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania da Cacircmara dos Deputados analisa a

proposta sob os aspectos de constitucionalidade juridicidade teacutecnica

legislativa e meacuterito para depois seguir para a votaccedilatildeo do plenaacuterio A comissatildeo

tem diferentes atribuiccedilotildees De acordo com o Regimento Interno da Cacircmara dos

Deputados em seu artigo 32 IV ela eacute encarregada de examinar98

a)

aspectos constitucional legal juriacutedico regimental e de teacutecnica

legislativa de projetos emendas ou substitutivos sujeitos agrave

apreciaccedilatildeo da Cacircmara ou de suas Comissotildees para efeito de

admissibilidade e tramitaccedilatildeo

b) admissibilidade de proposta de emenda agrave Constituiccedilatildeo

c)

assunto de natureza juriacutedica ou constitucional que lhe seja submetido

em consulta pelo Presidente da Cacircmara pelo Plenaacuterio ou por outra

Comissatildeo ou em razatildeo de recurso previsto neste Regimento

d)

assuntos atinentes aos direitos e garantias fundamentais agrave

organizaccedilatildeo do Estado agrave organizaccedilatildeo dos Poderes e agraves funccedilotildees

essenciais da Justiccedila

e) mateacuterias relativas a direito constitucional eleitoral civil penal

penitenciaacuterio processual notarial

f) partidos poliacuteticos mandato e representaccedilatildeo poliacutetica sistemas

eleitorais e eleiccedilotildees

h) desapropriaccedilotildees

i) nacionalidade cidadania naturalizaccedilatildeo regime juriacutedico dos

estrangeiros emigraccedilatildeo e imigraccedilatildeo

97

Documento anexo IV b

98 httpwww2camaralegbrleginfedrescad1989resolucaodacamaradosdeputados-17-21-setembro-

1989-320110-publicacaooriginal-1-plhtml em 02122012

g) registros puacuteblicos

158

j) intervenccedilatildeo federal

l) uso dos siacutembolos nacionais

m) criaccedilatildeo de novos Estados e Territoacuterios incorporaccedilatildeo subdivisatildeo ou

desmembramento de aacutereas de Estados ou de Territoacuterios

n) transferecircncia temporaacuteria da sede do Governo

o) anistia

p)

direitos e deveres do mandato perda de mandato de Deputado nas

hipoacuteteses dos incisos I II e VI do art 55 da Constituiccedilatildeo pedidos de

licenccedila para incorporaccedilatildeo de Deputados agraves Forccedilas Armadas

q) redaccedilatildeo do vencido em Plenaacuterio e redaccedilatildeo final das proposiccedilotildees em

geral

O levantamento das operaccedilotildees de referecircncia revelou no voto do

deputado relator casos de

a) Sinoniacutemia ldquopartesrdquo ldquoadvogadosrdquo ldquointeressadosrdquo

b) Pronominal natildeo haacute

c) Grupo nominal natildeo haacute

d) Extensiva direta ldquoComissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativardquo

ldquoComissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e Redaccedilatildeordquo ldquoplenaacuteriordquo

e) Extensiva indireta ldquoacolhidardquo ldquooportunardquo ldquoconvenienterdquo

ldquoaprovaccedilatildeordquo

f) Embreante de pessoa decirciticos de pessoa ldquovislumbramosrdquo

ldquoprecisaratildeordquo

Tais fenocircmenos podem ser verificados conforme a anaacutelise do texto que

segue abaixo

a) Primeiro paraacutegrafo

PARECER DO DEPUTADO

PARECER E VOTO DO DEPUTADO JOSEacute ROBERTO BATOCHIO

RELATOR DO PROJETO DE LEI NA CCJR DA CAcircMARA DOS DEPUTADOS

COMISSAtildeO DE CONSTITUICcedilAtildeO E JUSTICcedilA E DE REDACcedilAtildeO

159

PROJETO DE LEI Ndeg 5828 DE 2001

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial e daacute outras providecircncias

Autor Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa

Relator Deputado Joseacute Roberto Batochio

I-RELATOacuteRIO

A presente proposta de autoria da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa pretende permitir o uso de meio

eletrocircnico na comunicaccedilatildeo de atos e na transmissatildeo de peccedilas processuais tais como peticcedilotildees recursos

cartas precatoacuterias etc desde que os interessados se credenciem junto aos oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Primeiro paraacutegrafo

A presente proposta

de autoria da

Comissatildeo de

Legislaccedilatildeo

Participativa

Comissatildeo= de

homens

pretende permitir o uso de

meio eletrocircnico na

comunicaccedilatildeo de atos

e na transmis-satildeo de

peccedilas pro-cessuais

tais como peticcedilotildees

recursos cartas

precatoacuterias etc

desde que os

interessados

Interessados=ho

mens

se credenciem

credenciar=cre

denciados

junto aos oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio

b) Uacuteltimo paraacutegrafo

A esta Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Redaccedilatildeo compete analisar a proposta sob os aspectos de

constitucionalidade juridicidade teacutecnica legislativa e meacuterito sendo a apreciaccedilatildeo final do Plenaacuterio da

Casa

Eacute o Relatoacuterio

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ultimo

paraacutegrafo do

160

relatoacuterio

A esta

Comissatildeo de

Constituiccedilatildeo e

Justiccedila e de

Redaccedilatildeo

Compete analisar a proposta

sob os aspectos de

constitucionalidade

juridicidade teacutecnica

legislativa e meacuterito

Comissatildeo= formada

por homens

sendo a apreciaccedilatildeo final do

Plenaacuterio da Casa

Plenaacuterio da casa =

grupo de deputados =

homens

c) Primeiro paraacutegrafo do voto

11-VOTO DO RELATOR

Natildeo vislumbramos na Proposiccedilatildeo viacutecios de natureza constitucional de juridicidade ou de teacutecnica

legislativa

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Primeiro

paraacutegrafo

(Noacutes)= sujeito

oculto

Vislumbra-

mos

natildeo (vislumbramos)

na Proposiccedilatildeo viacutecios

de natureza

constitucional de

juridicidade ou de

teacutecnica legislativa

d) Uacuteltimos paraacutegrafos

No meacuterito merece acolhida a Proposiccedilatildeo

Eis que eacute oportuna e conveniente moderniza a tramitaccedilatildeo processual imprime celeridade dessacraliza o

processo sem ferir os direitos e garantias das partes

A adoccedilatildeo de meios eletrocircnicos traraacute indubitavelmente ateacute mesmo maior conforto para os advogados e

para as partes uma vez que natildeo mais precisaratildeo deslocar-se ateacute o tribunal para aforar peticcedilotildees recursos

etc

161

Assim nosso voto eacute pela constitucionalidade juridicidade boa teacutecnica legislativa e no meacuterito pela

aprovaccedilatildeo do Projeto de Lei no5828 de 2001

Sala da Comissatildeo em de de 2002

Deputado Joseacute Roberto Batochio

Relator

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ultimos

paraacutegrafos

a Proposiccedilatildeo

merece No meacuterito( merece)

acolhida

Acolhida=quem acolhe

eacute a comissao =gthomem

Eis que

eacute oportuna e

conveniente

Oportuna e conve-

niente para o sistema

para os homens

moderniza a tramitaccedilatildeo pro-

cessual

imprime celeridade

dessacraliza o processo

ferir sem (ferir) os direitos

e garantias das partes

Direitos e garantias das

partes=dos homens

A adoccedilatildeo de

meios

eletrocircnicos

traraacute indubitavelmente

ateacute mesmo maior

conforto para os

advogados e para as

partes

Advogados

partes=homens

uma vez que precisaratildeo natildeo mais (precisaratildeo)

deslocar-se ateacute o

tribunal para aforar

peticcedilotildees recursos etc

Sujeito oculto

Precisaratildeo = eles =

homens

Assim nosso

voto

eacute pela constitucionali-

dade juridicidade

boa teacutecnica legislati-

va e no meacuterito pela

aprovaccedilatildeo do Projeto

de Lei no5828 de

2001

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto Referente Indireto

162

Comissatildeo de legislaccedilatildeo participativa

Acolhida

Comissatildeo de constituiccedilatildeo e justiccedila e de redaccedilatildeo

Interessados Oportuna e conveniente

Plenaacuterio da casa Vislumbramos (noacutes)

Partes= No processo= requerenterequerido=homens

Precisaratildeo (eles=advogados)

Aprovaccedilatildeo = quem aprova eacute a comissatildeo

Advogados= homens

De acordo com o que pode ser observado nas anaacutelises dos termos destacados

vecirc-se que

a) O homem se faz presente na sua individualidade pelo emprego de

termos como ldquopartesrdquo ldquoadvogadosrdquo ldquointeressadosrdquo A referecircncia tambeacutem

pode ser verificada mesmo com o sujeito oculto pelo emprego de

decirciticos de pessoa tal qual em ldquovislumbramosrdquo e ldquoprecisaratildeordquo o que

mostra um afastamento do autor do texto que visa agrave impessoalidade

Apesar de o voto ser redigido por um deputado ele eacute o responsaacutevel pela

comissatildeo que representa Eacute a ele que cabe dar a decisatildeo final da

anaacutelise a que foi submetido o projeto de lei

O coletivo de homem vem expresso pelo termo ldquoplenaacuteriordquo que

implica em homens reunidos para uma decisatildeo Alguns outros

substantivos fazem referecircncia a praacuteticas que incluem julgamentos de

valor tiacutepicos do homem e que somente ele pode emitir (ldquoacolhidardquo

ldquooportunardquo ldquoconvenienterdquo ldquoaprovaccedilatildeordquo)

b) Interessante notar a ausecircncia de termos ou expressotildees que faccedilam

referecircncia ao direito ou direitos do homem ou o acesso agrave justiccedila Tal fato

natildeo afeta entretanto o conteuacutedo do voto Conveacutem ressaltar que os

proacuteprios termos Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa e Comissatildeo de

constituiccedilatildeo e justiccedila e redaccedilatildeo por si soacute jaacute contecircm o necessaacuterio

c) A Comissatildeo de Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Cidadania eacute aquela

que recebe o projeto de lei da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa -

que por sua vez proveacutem de um grupo social Tem como anseio fazer

aprovar uma lei e esta por seu caraacuteter intriacutenseco interfere na ordem

social A existecircncia de tal Comissatildeo atesta uma preocupaccedilatildeo com a

forma e o conteuacutedo do projeto pois ele tem que estar adequado agrave

Constituiccedilatildeo aleacutem de proteger o cidadatildeo e conforme ao princiacutepio de

justiccedila

163

d) As funccedilotildees para as quais eacute designada a Comissatildeo mostram que seu

objetivo eacute cuidar para que a justiccedila seja feita desde que respeitados os

dispositivos constitucionais e os direitos de igualdade e liberdade

atribuiacutedos ao homem Pode-se dizer que essa Comissatildeo eacute a verdadeira

guardiatilde do texto constitucional e de seus princiacutepios

e) O enunciador aqui tambeacutem eacute mostrado pois consta o nome do

Deputado como sendo o do relator do voto Da mesma forma o ethos eacute

reforccedilado pelo fato do Deputado ser presidente da Comissatildeo Nesse

voto no entanto o enunciador cuida da proteccedilatildeo do homem eacute um

Deputado responsaacutevel pelo status de cidadania de outros homens

f) A polifonia se apresenta de forma impliacutecita o Deputado Joseacute Roberto

Batochio eacute o presidente da Comissatildeo sendo assim a voz-siacutentese da voz

de outros Deputados

362 Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada Luiza Erundina99

A partir do momento em que um projeto de lei eacute enviado agrave Cacircmara dos

Deputados ele se submete a diversas anaacutelises cujo objetivo eacute o de verificar se

tal projeto estaacute adequado agrave Constituiccedilatildeo e se preenche os requisitos

necessaacuterios aos fins que se destinam Essa verificaccedilatildeo visa por exemplo

examinar se a lei no momento em que passar a vigorar tem condiccedilotildees de

execuccedilatildeo

Conforme explica o glossaacuterio100 do portal da Cacircmara dos Deputados uma

comissatildeo eacute um

Oacutergatildeo integrado por parlamentares tendo composiccedilatildeo partidaacuteria

proporcional agrave da Casa Legislativa tanto quanto possiacutevel e pode ter caraacuteter

permanente ou temporaacuterio Eacute comissatildeo permanente quando integra a

estrutura institucional e comissatildeo temporaacuteria quando criada para apreciar

determinado assunto especial e de inqueacuterito ou para o cumprimento de

missatildeo temporaacuteria autorizada A comissatildeo temporaacuteria extingue-se ao teacutermino

da legislatura quando alcanccedilado o fim a que se destina ou ainda quando

expirado o seu prazo de duraccedilatildeo

99

Documento anexo IVc

100 httpwww2camaralegbrglossario Acesso em 22022012

164

Cada comissatildeo apoacutes analisar os pareceres dos demais integrantes

emite sua opiniatildeo A Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa que recebeu o

anteprojeto da lei 114192006 eacute composta por 18 membros titulares e igual

nuacutemero de suplentes Sua primeira presidente a deputada Luiza Erundina

(PSBSP) eacute quem emitiu ao final dos trabalhos de anaacutelise a justificativa do

projeto de lei Tal texto eacute o que seraacute analisado aqui

a) Primeiro paraacutegrafo

DEPUTADA LUIZA ERUNDINA DE SOUZA

PRESIDENTE

JUSTIFICACcedilAtildeO

Quando se trata da questatildeo judiciaacuteria no Brasil eacute consenso que os mais graves problemas se situam no

terreno da velocidade com que o cidadatildeo recebe a resposta final agrave sua demanda A morosidade eacute sem

duacutevida o principal fato gerador de insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo judiciaacuterio como revelam todas as pesquisas

realizadas sobre o assunto Em 1993 em pesquisa de opiniatildeo coordenada pelo IBOPE foi proposta a

seguinte afirmaccedilatildeoO problema do Brasil natildeo estaacute nas leis mas na Justiccedila que eacute muito lenta Dos

entrevistados 87 consignaram suas concordacircncias 8 discordaram e5 natildeo souberam responder Jaacute

em 1999 o jornal O Estado de Satildeo Paulo101

chegou a iacutendices ainda mais elevados 92 consideraram a

Justiccedila muito lenta

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Primeiro paraacutegrafo

Eacute consenso

(quando se) se trata da questatildeo judiciaacuteria no

Brasil

que os mais graves

problemas

Se situam situam no terreno da

velocidade

Com que o cidadatildeo Recebe a resposta final agrave sua

demanda

Sua= do cidadatildeo

101 MARQUES Hugo 92 dos brasileiros consideram a Justiccedila lenta O Estado de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 24 mar 1999

165

A morosidade Eacute sem duacutevida o principal

fato gerador de insatis-

faccedilatildeo com o serviccedilo

judiciaacuterio

Como todas as

pesquisas

(foram) realizadas sobre o

assunto

(pesquisas) Revelam

a seguinte afirmaccedilatildeo Foi proposta Em 1993 em pesquisa

de opiniatildeo coordenada

pelo IBOPE

Quem tem

opiniatildeo eacute o

homem

O problema do

Brasil

Estaacute natildeo (estaacute) nas leis mas

na Justiccedila

que eacute muito lenta

Dos entrevistados

87

entrevistados consignaram suas concordacircncias

8 entrevistados discordaram

e5 entrevistados souberam

responder

Natildeo (souberam

responder)

o jornal O Estado

de Satildeo Paulo102

Chegou Jaacute em 1999 a iacutendices

ainda mais elevados

92 entrevistados consideraram a Justiccedila muito lenta

b) Paraacutegrafo intermediaacuterio

Como se constataa soma dos juiacutezes que consideram a falta de INFORMATIZACcedilAtildeO um fator muito

importanteou importante alcanccedila 92 Evidentemente a informatizaccedilatildeo aqui natildeo se refere somente agrave

aquisiccedilatildeo de computadores para utilizaccedilatildeo como substitutos mais eficientes das velhas maacutequinas de

datilografia Aliaacutes este processo de substituiccedilatildeo jaacute se encontra concluiacutedo na imensa maioria das unidades

jurisdicionais existentes no paiacutes Eacute necessaacuterio agora -simultaneamente ao teacutermino desta fase de aquisiccedilatildeo

de equipamentos nas unidades restantes -avanccedilar em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo de todos os atores que intervecircm

em um processo judicial (VarasMinisteacuterio Puacuteblico Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de Advocacia) de

modo a que crescentemente os procedimentos judiciais utilizem ao maacuteximo os avanccedilos tecnoloacutegicos

disponiacuteveis

O Congresso Nacional tem buscado trilhar este caminho

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Paraacutegrafo

intermediaacuterio

--- Sujeito

indeterminado

pela partiacutecula se

Como se

constata

a soma dos juiacutezes que

consideram a falta de

INFORMATIZA-

CcedilAtildeO um fator mui-

to importanteou im-

portante alcanccedila

92

Juiacutezes=homens

92 = dos

juiacutezes

102 MARQUES Hugo 92 dos brasileiros consideram a Justiccedila lenta O Estado de Satildeo Paulo Satildeo Paulo 24 mar 1999

166

a informatizaccedilatildeo aqui Aqui=

lugar=gtembreante

Se refere Evidentemente natildeo

(se refere) somente agrave

aquisiccedilatildeo de compu-

tadores para utiliza-

ccedilatildeo como substitutos

mais eficientes das

velhas maacutequinas de

datilografia

Maacutequinas de

datilografia =gt

datilografia

precisa de um

homem

Aliaacutes este processo

de substituiccedilatildeo

Este= embreante

de processo

Se encontra jaacute (se encontra)

concluiacutedo na imensa

maioria das unidades

jurisdicionais

existentes no paiacutes

Eacute (necessaacuterio agora ndash

simultaneamente ao

teacutermino desta fase de

aquisiccedilatildeo de equipa-

mentos nas unidades

restantes)

-avanccedilar em direccedilatildeo

agrave integraccedilatildeo de todos

os atores que inter-

vecircm em um processo

judicial (Varas Mi-

nisteacuterio Puacuteblico

Advocacia Puacuteblica

escritoacuterios de

Advocacia)

Atores que

intervecircm= o que

esta entre

parecircnteses (MP

ADV etc) mas

satildeo constituiacutedos

por homens

de modo a que

crescentemente os

procedimentos

judiciais

utilizem ao maacuteximo os

avanccedilos tecnoloacutegicos

disponiacuteveis

O Congresso

Nacional

Congresso

nacional=

deputados e

senadores =

homens

Tem

buscado

Trilhar este caminho

Uacuteltimo paraacutegrafo

Finalmente merece ser destacado o grande benefiacutecio que a meacutedio prazo o projeto traraacute ao Eraacuterio seja

com a diminuiccedilatildeo de gastos seja com a melhoria do funcionamento do sistema econocircmico em razatildeo da

maior eficiecircncia do serviccedilo jurisdicional

167

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

Ultimo paraacutegrafo

o grande

benefiacutecio

merece Finalmente(merece) ser

destacado

Que o projeto Traraacute a meacutedio prazo ao Eraacuterio

seja com a diminuiccedilatildeo de

gastos seja com a melhoria

do funcionamento do

sistema econocircmico em razatildeo

da maior eficiecircncia do

serviccedilo jurisdicional

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto

Referente Indireto

Cidadatildeo Sua Varas Ministeacuterio Puacuteblico Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de AdvocaciaCongresso nacional

Entrevistados Opiniatildeo

Juiacutezes Maacutequinas de datilografia

87 8 5 92

Atores

O levantamento das operaccedilotildees de reformulaccedilatildeo revelou os seguintes

casos

a) Sinoniacutemia ldquocidadatildeordquo ldquoentrevistadosrdquo ldquojuiacutezesrdquo ldquoatoresrdquo

b) Pronominal natildeo haacute

c) Grupo nominal natildeo haacute

d) Extensiva direta natildeo haacute

e) Extensiva indireta ldquoVarasrdquo ldquoMinisteacuterio Puacuteblicordquo ldquoAdvocacia

Puacuteblicardquo ldquoescritoacuterios de Advocaciardquo ldquoCongresso nacionalrdquo

ldquoMaacutequinas de datilografiardquo ldquoinsatisfaccedilatildeordquo ldquoserviccedilo judiciaacuteriordquo

ldquopesquisa de opiniatildeordquo ldquoconcordacircnciardquo ldquoeficiecircnciardquo

f) Embreantes de pessoa ldquosuardquo (demanda do cidadatildeo)

168

Conforme se pode observar em relaccedilatildeo aos termos e expressotildees

a) O homem neste documento aparece sob duas perspectivas em seu

papel social individual tal como em cidadatildeo entrevistados juiacutezes

atores Mas aparece tambeacutem na sua atuaccedilatildeo junto aos oacutergatildeos ligados agrave

execuccedilatildeo da justiccedila como se pode ver pelo emprego dos termos Varas

Ministeacuterio Puacuteblico Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de Advocacia

Congresso Nacional Interessante notar a presenccedila da expressatildeo

maacutequinas de datilografia que como instrumento de execuccedilatildeo liga o

homem ao seu trabalho e ao mesmo tempo denota a lentidatildeo dos

serviccedilos diante de um teclado de computador

b) Encontra-se nesse texto o uso do embreante sua que se refere agrave

demanda do cidadatildeo a fim de dar ecircnfase ao que mais importa o uso de

tecnologia acelera o acesso agrave justiccedila visto que a demanda eacute grande e o

sistema eacute lento

c) Haacute um apagamento total da expressatildeo de vontade individual da

deputada que emprega a marca de indeterminaccedilatildeo do sujeito (se) a fim

de colocar em destaque o que mais importa o projeto No entanto esse

distanciamento natildeo ofusca que o maior interesse eacute que o projeto seja

aprovado pelos deputados que devem votar a favor a fim de que ele se

converta em lei

d) O enunciador nesse texto diferente dos anteriores pode ser

identificado mesmo que se apague pela indeterminaccedilatildeo do sujeito eacute a

Deputada Luiza Erundina como se pode ler no topo e no fecho do

documento Seu ethos eacute validado pela funccedilatildeo que ocupa como

Presidente da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa e pela polifonia

presente

e) O fato de existir uma Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa indica a

polifonia existente nesse texto pois traduz a possibilidade da sociedade

169

de participar do processo legislativo propondo um projeto de lei

Tambeacutem se constata pela figura da Deputada integrante da Cacircmara dos

Deputados que analisa o anteprojeto de lei Sua justificaccedilatildeo representa

a vontade de todos os outros deputados pois ela eacute a presidente da

Comissatildeo

f) O texto da deputada revela a importacircncia do projeto de lei ao expor a

necessidade de um Poder Judiciaacuterio mais eficaz Eacute interessante

observar que a justificaccedilatildeo favoraacutevel se faz por meio dos resultados de

pesquisas elaboradas cujo objetivo eacute saber o que pensam os

entrevistados homens que se servem da justiccedila e a julgam ineficaz os

quadros publicados mostram os homens que estatildeo por traacutes dos

resultados e suas respectivas opiniotildees

363 Nota Oficial

A designaccedilatildeo de Nota Oficial segundo o manual de redaccedilatildeo da Cacircmara

dos Deputados

pode ser empregada somente quando se referir a comunicado emitido por

autoridade No caso de empresa particular ou pessoa fiacutesica eacute emitida nota agrave

imprensa ou comunicado nunca nota oficial103

Agrave eacutepoca da ediccedilatildeo do livreto da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais

(AJUFE) onde esse documento estaacute impresso o nome de Nota Oficial foi dado

ao documento que laacute figura Hoje o termo jaacute foi substituiacutedo por Nota Puacuteblica

Em relaccedilatildeo a seus objetivos

Desde sua fundaccedilatildeo a Ajufe tem atuado na elaboraccedilatildeo e acompanhamento de

projetos do interesse do Poder Judiciaacuterio na realizaccedilatildeo de seminaacuterios e

eventos e na disseminaccedilatildeo de ideias propostas e princiacutepios da magistratura

federal A atuaccedilatildeo em questotildees poliacuteticas e sociais tambeacutem tem estado

103 httpwww2camaralegbrglossario Acesso em 22122012

170

presente ao longo dos 30 anos de existecircncia Congregar os juiacutezes federais

para realizar uma efetiva troca de experiecircncia e ideias104

Hoje na paacutegina da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais (AJUFE) foram

inseridas informaccedilotildees complementares que mostram sua atuaccedilatildeo junto agrave

sociedade

A Ajufe foi a primeira entidade do Paiacutes a apresentar projeto de lei agrave entatildeo

receacutem-criada Comissatildeo de Participaccedilatildeo Legislativa da Cacircmara dos

Deputados com uma proposta para normatizar a informatizaccedilatildeo do processo

judicial que em 19 de dezembro de 2006 se transformou na Lei nordm

114192006

A gestatildeo de Paulo Seacutergio Domingues 10ordm presidente que atuou no periacuteodo

de junho de 2002 a junho de 2004 enfrentou algumas turbulecircncias Em 2002

uma tentativa de aprovar a reforma do Judiciaacuterio no Senado com um texto

prejudicial agrave Justiccedila Federal fez com que a Ajufe mobilizasse juiacutezes de todo o

Paiacutes A mobilizaccedilatildeo durou todo o periacuteodo da gestatildeo105

Mesmo como entidade civil a AJUFE natildeo deixa de ser representante das

vontades dos membros do Poder Judiciaacuterio Diante da necessidade de se

manifestar junto da opiniatildeo puacuteblica para se defender das criacuteticas da Ordem dos

Advogados do Brasil o meio adequado encontrado para tanto foi a nota oficial

a fim de que o pensamento daqueles que pertencem ao Poder Judiciaacuterio e que

defendem a melhoria do proacuteprio oacutergatildeo tivesse a autoridade compatiacutevel com o

que exigia o momento para que o projeto de lei fosse enfim aprovado

Na Nota Oficial foram encontrados termos e expressotildees que fazem

referecircncia ao homem nas seguintes formas

a) Sinoniacutemia ldquopresidenterdquo (A JUFE) ldquojuizrdquo ldquoPaulo Seacutergio

Dominguesrdquo ldquopresidenterdquo (CI-OAB) ldquoadvogado(s)rdquo ldquoDominguesrdquo

ldquoprofissionaisrdquo ldquoTribunaisrdquo ldquoresponsaacuteveisrdquo ldquoautorrdquo

b) Pronominal natildeo haacute

104

httpwwwstjgovbrportal_stjpublicacaoenginewsptmparea=398amptmptexto=70202 Acesso em

18092012

105 httpwwwajufeorgbrportalindexphpoption=com_contentampview=articleampid=1403ampItemid=67

Acesso em 26122012

171

c) Grupo nominal natildeo haacute

d) Extensiva direta ldquoAssociaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasilrdquo

ldquoAJUFErdquo ldquoComissatildeo de Informaacuteticardquo ldquoOABrdquo ldquoComissatildeo de

Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputadosrdquo

ldquoimpedidosrdquo ldquoexcluiacutedosrdquo ldquoresponsaacuteveisrdquo ldquocategoriardquo

e) Extensiva indireta ldquounanimidaderdquo ldquocorporativismordquo ldquoanaacuteliserdquo

ldquoresistecircnciardquo ldquomedordquo ldquojusticcedilardquo ldquomorosidaderdquo ldquoJudiciaacuteriordquo ldquocriacuteticardquo

ldquoviolaccedilatildeordquo ldquoseguranccedila juriacutedicardquo ldquoautonomiardquo ldquocredenciamentordquo

ldquoprofissatildeordquo ldquocadastrosrdquo ldquoseguranccedilardquo ldquoassinaturardquo ldquopeticcedilatildeordquo

ldquofrauderdquo ldquorastreamentordquo

f) Embreante de pessoa ldquonosrdquo ldquonossardquo decirciticos de pessoas

ldquolamentourdquo ldquodestacourdquo ldquo ndashlordquo ldquoelardquo

Eacute no texto da Nota Oficial que segue abaixo que se pode observar tais

reformulaccedilotildees do termo homem

a) Primeiro paraacutegrafo

NOTA OFICIAL DE 190602

Brasiacutelia 19 de junho de 2002

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial

Reaccedilatildeo da OAB eacute corporativa e medo do novo rebate Ajufe o presidente da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes

Federais do Brasil (Ajufe) juiz Paulo Seacutergio Domingues rebateu enfaticamente a nota divulgada ontem

pelo presidente da Comissatildeo de Informaacutetica da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Satildeo Paulo

Marcos da Costa apontando equiacutevocos juriacutedicos e tecnoloacutegicos no Projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo

Judicial apresentado pela Ajufe ao Congresso O projeto de lei que regulamenta a transferecircncia de

informaccedilotildees judiciais por meio eletrocircnico foi aprovado na iacutentegra e por unanimidade no uacuteltimo dia 11

pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo (CCJ-R) da Cacircmara dos Deputados Infelizmente o

corporativismo estaacute impedindo uma anaacutelise mais global e cuidadosa da nossa proposta lamentou

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

172

Primeiro paraacutegrafo

o presidente da

Associaccedilatildeo dos

Juiacutezes Federais do

Brasil (Ajufe) juiz

Paulo Seacutergio

Domingues

Presidente=

associaccedilatildeo= juiz =

Paulo= homem

rebateu rebateu enfaticamen-te a

nota divulgada ontem

pelo presidente da

Comissatildeo de Infor-

maacutetica da Ordem dos

Advogados do Brasil

(OAB) de Satildeo Paulo

Marcos da Costa

Presidente=gtcomiss

atildeo=gt

OAB=gt

Marcos=homem

(a nota) apontando equiacutevocos juriacutedicos e

tecnoloacutegicos no Projeto

de Informatizaccedilatildeo do

Processo Judicial

apresentado pela Ajufe

ao Congresso

Ajufe=associaccedilatildeo

O projeto de lei (que)

regulamen-

ta

a transferecircncia de

informaccedilotildees judiciais por

meio eletrocircnico

(o projeto) foi aprovado na iacutentegra e por

unanimidade no uacuteltimo

dia 11 pela Comissatildeo de

Constituiccedilatildeo Justiccedila e

Redaccedilatildeo (CCJ-R) da

Cacircmara dos Deputados

Comissatildeo

Unanimidade

o corporativismo Corporativismo=gt

corporaccedilotildees

dirigidas por

homens

estaacute Infelizmente impedindo

uma anaacutelise mais global

e cuidadosa da nossa

proposta

Nossa= decircitico de

pessoa

Anaacutelise

(o juiz) decircitico de pessoa

lamentou

lamentou

b) Segundo paraacutegrafo

Para Domingues a resistecircncia ao projeto eacute injustificadaEacute o medo do novo apresentando-se como

desculpa para impedir a evoluccedilatildeo da Justiccedila Isso nos espanta especialmente numa eacutepoca de criacuteticas agrave

morosidade do Judiciaacuterio quando imagina-se que os advogados apoiem a busca de soluccedilotildees Aliaacutes a

criacutetica da OABSP eacute a uacutenica que se viu ateacute o momento destacou Segundo o presidente da Ajufe o

projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial natildeo representa qualquer violaccedilatildeo agrave autonomia do

advogado nem riscos agrave seguranccedila juriacutedica como acusa a OAB O credenciamento dos profissionais junto

aos tribunais natildeo tem a funccedilatildeo de autorizar o advogado a exercer a profissatildeo mas apenas de autorizaacute-lo a

utilizar o meio eletrocircnico para receber intimaccedilotildees e enviar peticcedilotildees esclarece Este credenciamento

aponta Domingues natildeo favorece o exerciacutecio ilegal da profissatildeo ou a atuaccedilatildeo de profissionais excluiacutedos

dos quadros da entidade Ao contraacuterio ele permite aos tribunais -que satildeo os responsaacuteveis na praacutetica

pelo impedimento do exerciacutecio ilegal da profissatildeo -atualizar com maior agilidade seus cadastros de

advogados temporariamente impedidos de advogar ou excluiacutedos da OAB Eacute um fator de proteccedilatildeo agrave

categoria

173

Segundo

paragrafo

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

a resistecircncia

ao projeto

Resistecircncia Eacute Para Domingues (eacute )

injustificada

Domingues=juiz

Sujeito inexistente Eacute o medo do novo Medo= do homem

Iacutendice de

inderminaccedilao do

sujeito

apresentando-se como desculpa para

impedir a evoluccedilatildeo da

Justiccedila

justiccedila

Isso Espanta nos (espanta) especial-

mente numa eacutepoca de

criacuteticas agrave morosidade do

Judiciaacuterio

Nos=decircitico de

pessoa

morosidade

Judiciaacuterio

(quando ) Se imagina Que

os advogados Advogados =

homens

Apoiem a busca de soluccedilotildees Soluccedilotildees = do

homem

Aliaacutes a criacutetica

da OABSP

OAB

Critica= do

homem

Eacute uacutenica que se viu ateacute o

momento

Decircitico de pessoa

destacou

destacou

o projeto de

Informatizaccedilatilde

o do Processo

Judicial

(natildeo) representa Segundo o presidente da

Ajufe natildeo (representa)

qualquer violaccedilatildeo agrave

autonomia do advogado

nem riscos agrave seguranccedila

juriacutedica

Presidente Ajufe

Advogado=homem

Violaccedilatildeo= da regra

Seguranccedila juriacutedica=

quem sente eacute o

homem

Autonomia= do

homem

Como a OAB Acusa

O credencia-

mento dos

profissionais

junto aos

tribunais

Credenciamento=

do homem

Profissionais=

homens

(natildeo) tem Natildeo (tem) a funccedilatildeo de

autorizar o advogado a

exercer a profissatildeo

Advogado

Profissatildeo

mas (ele) (tem) (a funccedilatildeo) apenas de au-

torizaacute-lo a utilizar o meio

eletrocircnico para receber

intimaccedilotildees e enviar

lo decircitico de pessoa =

o advogado

174

peticcedilotildees esclarece

Domingues Domingues aponta

(Domingues)

Este

credenciamen

-to

(natildeo) favorece natildeo (favorece) o exer-

ciacutecio ilegal da profissatildeo

ou a atuaccedilatildeo de pro-

fissionais excluiacutedos dos

quadros da entidade

Profissatildeo

Profissionais

excluiacutedos

Ao contraacuterio

ele

Permite aos tribunais -atualizar

com maior agilidade seus

cadastros de advogados

temporariamente

impedidos de advogar ou

excluiacutedos da OAB

Cadastros

Advogados

impedidos ou

excluiacutedos

Que (os

tribunais)

Tribunais =

homens

Satildeo os responsaacuteveis na

praacutetica pelo impedimen-

to do exerciacutecio ilegal da

profissatildeo

Responsaacuteveis =

homens

(Isso) Eacute um fator de proteccedilatildeo agrave

categoria

Categoria=gtde

profissionais=gt

homens

c) Uacuteltimo paraacutegrafo

Quanto agrave seguranccedila do meio eletrocircnico Domingues lembra agrave OABSP que o sistema informaacutetico eacute muito

mais seguro que o atual Ou seraacute que ela imagina que um falso advogado tenha mais dificuldade em

falsificar um papel timbrado e uma assinatura em peticcedilatildeo convencional do que em fraudar todo um

sistema de seguranccedila eletrocircnico que permite inclusive o rastreamento do autor de eventuais tentativas de

fraude

SUJEITO REFERENTE VERBO COMPLEMENTO REFERENTE

uacuteltimo paraacutegrafo

Quanto agrave seguranccedila

do meio eletrocircnico

Domingues

Domingues

seguranccedila

Lembra agrave OABSP OAB=advogados

que o sistema

informaacutetico eacute

Eacute muito mais seguro

que o atual

Seguro=seguran-

ccedila

Ou seraacute que

ela Ela = OAB decircitico

de pessoa

Imagina

que um falso

advogado

Tenha mais dificuldade em

falsificar um papel

timbrado e uma

assinatura em peticcedilatildeo

convencional

Falsificar

Assinatura

175

Peticcedilatildeo

Do que (tenha) (dificuldade) em

fraudar todo um sis-

tema de seguranccedila

eletrocircnico

Fraudar=fraude

seguranccedila

Que (o sistema) Permite permite inclusive o

rastreamento do autor

de eventuais tenta-

tivas de fraude

Rastreamento

Autor

fraude

QUADRO RESUMO

Substantivo Referente direto Referente Indireto

Presidente (Ajufe) Nos (pron COD) unanimidade

Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil

Nossa corporativismo

Ajufe Desinecircncia verbal= decircitico de pessoa=lamentou

anaacutelise

Juiz Desinecircncia verbal= decircitico de pessoa=destacou

Resistecircncia

Paulo Seacutergio Domingues COD== decircitico de pessoa=lo

Medo

Presidente (OAB) Impedidos justiccedila

Comissatildeo de Informaacutetica Excluiacutedos morosidade

OAB Responsaacuteveis Judiciaacuterio

Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputados

Criacutetica

Advogado(s) Violaccedilatildeo

Domingues Seguranccedila juriacutedica

Profissionais autonomia

Tribunais credenciamento

Responsaacuteveis Profissatildeo

Categoria

Autor cadastros

Ela seguranccedila

Assinatura

Peticcedilatildeo

Fraude

Seguranccedila

rastreamento

176

A observaccedilatildeo dos elementos referenciados revelou que

a) Haacute um apagamento do enunciador que emite a Nota Oficial no texto o

juiz Paulo Seacutergio Domingues que eacute presidente da AJUFE Esse

apagamento se faz pelo emprego de diferentes formas de tratamento na

terceira pessoa do singular (ele) No entanto a Nota Oficial se natildeo for de

sua autoria seraacute feita sob sua autorizaccedilatildeo expressa pois ele eacute o

presidente da entidade

Esse apagamento eacute bastante relevante pois ao mesmo tempo em

que o juiz se afasta de si para dar credibilidade ao que se expotildee no

texto ele reafirma seu ethos Aleacutem disso o afastamento do ldquoeurdquo reforccedila

a figura do homem que estaacute atraacutes do presidente da associaccedilatildeo devido

ao emprego de seu sobrenome para se proceder agrave referenciaccedilatildeo Esse

contexto reforccedila a figura do homem que eacute ao mesmo tempo cidadatildeo juiz

e representante de seus pares

b) As outras referecircncias que satildeo realizadas se referem aos pares

profissionais seja sob a forma individual tal como em responsaacuteveis ou

autor ou sob a forma de expressotildees que indicam coletivos tal como

associaccedilatildeo comissatildeo categoria

c) A maior parte dos referentes indiretos funciona como qualificadores

positivos ou negativos das partes em questatildeo (homens a favor e

homens contra a aprovaccedilatildeo do projeto de lei) como se pode ver em

ldquoautonomiardquo ldquojusticcedilardquo ldquoseguranccedila juriacutedicardquo ldquocredenciamentordquo em

oposiccedilatildeo a ldquocorporativismordquo ldquoresistecircnciardquo ldquomedordquo ldquomorosidaderdquo

ldquoviolaccedilatildeordquo ldquofrauderdquo Esse mecanismo de qualificaccedilatildeodesqualificaccedilatildeo

das partes eacute tiacutepico de um texto que tem como objetivo argumentar e

dirigir a opiniatildeo de seu auditoacuterio-enunciataacuterio

d) A polifonia nesse texto se realiza de duas formas Ela se apresenta pelo

efeito de resposta que o texto tem a Nota Oficial eacute uma resposta agrave

criacutetica da OAB como o proacuteprio texto relata Portanto aleacutem do dialogismo

se verifica a presenccedila de uma segunda voz A voz da OAB no texto eacute

relatada portanto estaacute presente A polifonia tambeacutem se realiza pela

177

fusatildeo de vozes na voz do Dr Paulo Seacutergio Domingues a voz do

homem que acredita no que defende a voz do presidente da Associaccedilatildeo

dos Juiacutezes Federais representante de seus pares a voz de um membro

do Poder Judiciaacuterio que tem outros juiacutezes ao seu lado e portanto

representa esse Poder

e) A polifonia em conjunto com o dialogismo confere ao ethos do

enunciador uma forccedila extraordinaacuteria Essa forccedila aliada agraves estrateacutegias

argumentativas de valorizaccedilatildeo proacutepria e desvalorizaccedilatildeo do ldquoadversaacuteriordquo

eacute a estrateacutegia ideal para vencer o debate e convencer todo e qualquer

enunciataacuterio de que o enunciador tem razatildeo

Segundas Observaccedilotildees

Apoacutes as anaacutelises dos quatro textos que satildeo textos juriacutedicos mas que natildeo

satildeo textos de lei pode-se observar o seguinte

a) Em relaccedilatildeo ao subgecircnero a que pertencem conforme jaacute se

apresentou anteriormente o voto e a justificaccedilatildeo pertencem ao

subgecircnero juriacutedico legislativo e a nota oficial ao subgecircnero juriacutedico

jornaliacutestico

b) Esses trecircs textos tecircm em comum o fato de expressarem a opiniatildeo de

um enunciador (Deputada Luiza Erundina Deputado Roberto

Batochio e juiz Paulo Seacutergio Domingues) que foi eleito para o cargo

que ocupa (deputado relator e presidente das comissotildees e

presidente da AJUFE respectivamente) no momento em que emite

sua opiniatildeo

c) O fato de haver um apagamento mais ou menos pujante natildeo isenta a

condensaccedilatildeo que se faz na figura de cada um da presenccedila de

diversos ethos integrados pelos papeacuteis sociais que cada um

representa individualmente

178

d) O indiviacuteduo homem que eacute cidadatildeo e que exerce seus direitos

sociais de forma mais incidente sobretudo pelo fato de se fazer

eleger pelo povo como seu representante se reveste de poder e se

integra ao poder legislativo no caso dos deputados

Jaacute em relaccedilatildeo ao juiz haacute uma fusatildeo da entidade civil

representada pelo seu presidente ao Poder Judiciaacuterio A autoridade

conferida pelo cargo de juiz se avulta pela representatividade que

decorre do fato dele falar em nome do grupo de juiacutezes federais que

satildeo os responsaacuteveis pela defesa do que reza a Constituiccedilatildeo Federal

e) O homem representante se funde ao poder que representa

legislativo ou judiciaacuterio e se reveste da autoridade necessaacuteria

durante a emissatildeo de sua opiniatildeo apoiado em dados de pesquisa e

pelo proacuteprio status profissional com o objetivo de fazer valer a sua

opiniatildeo

Apoacutes as observaccedilotildees dos dois conjuntos de documentos pode-se fazer

uma reduccedilatildeo de cada um dos documentos apresentados conforme o modelo

abaixo

DOCUMENTO

A- ENUNCIADOR

Ethos

179

Local do ethos

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito Sujeito gramatical

Objeto de direito Objeto gramatical

C- ARGUMENTO

Valor Concreto abstrato

hierarquia Quantitativo qualitativo

180

ANAacuteLISE DDHC 1789

A- ENUNCIADOR

Ethos O POVO FRANCES

Local do ethos ASSEMBLEIA NACIONAL FRANCESA

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito HOMENS

FRANCESES CIDADAtildeOS

Sujeito gramatical

REPRESENTANTES DO POVO

FRANCES

Objeto de direito O HOMEM E O

CIDADAtildeO

Objeto gramatical DIREITOS (DO

HOMEM E DO CIDADAtildeO)

C- ARGUMENTO

Valor DIREITO Agrave

LIBERDADE E

IGUALDADE

Concreto PELO

DOCUMENTO

ESCRITO INTEGRADO

POSTERIORMENTE Agrave

CONSTITUICcedilAtildeO

Abstrato PELO

CONTEUacuteDO

Hierarquia

INTEGRADO A

CONSTITUICcedilAO

DOCUMENTO

INTERNO

Quantitativo ATINGE

TODA A POPULACcedilAtildeO

FRANCESA

Qualitativo

CONFERE A

QUALIDADE AO

HOMEM DE SER

PROTEGIDO NO

AMBITO NACIONAL

ANAacuteLISE DUCH 1948

A- ENUNCIADOR

Ethos AS NACcedilOtildeES DA ONU

Local do ethos ASSEMBLEIA GERAL DA ONU

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito HOMENS DO

MUNDO TODO

Sujeito gramatical

REPRESENTANTES NA

ASSEMBLEIA

Objeto de direito TODO HOMEM

NO MUNDO

Objeto gramatical DIREITOS

UNIVERSAIS (DO HOMEM)

C- ARGUMENTO

Valor PROTECcedilAtildeO

AMPLA DOS

DIREITOS Agrave

LIBERDADE E

IGUALDADE

Concreto PELA

ASSINATURA DO

DOCUMENTO QUE Eacute

RATI-FICADO

Abstrato PELO

CONTEUacuteDO E

OUTROS TRATADOS

QUE DELE PODEM

DECORRER

Hierarquia TEM

STATUS DE TRATADO

INTERNACIONAL

Quantitativo

ASSINADO POR 48

PAISES HOJE Eacute

ASSINADO POR

QUASE TODOS OS

NTEGRANTES DA ONU

Qualitativo CONFERE A

QUALIDADE AO HOMEM

DE SER PROTEGIDO NO

AMBITO

INTERNACIONAL

181

ANAacuteLISE CF88

A- ENUNCIADOR

Ethos POVO BRASILEIRO

Local do ethos CONGRESSO NACIONAL

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito BRASILEIROS E

ESTRANGEIROS

Sujeito gramatical NOacuteS

REPRESENTANTES DO

POVO BRASILEIRO

Objeto de direito DIREITOS E

DEVERES DOS BRASILEIROS E

ESTRANGEIROS

Objeto gramatical O

ESTADO E A SOCIEDADE

C- ARGUMENTO

Valor DIREITOS E

DEVERES

Concreto PODERES

QUE EXECUTAM A LEI

Abstrato

IGUALDADE

LIBERDADE

JUSTICcedilA

Hierarquia LEI INTERNA

QUE INTEGRA LEIS

INTERNACIONAIS

Quantitativo TODA A

POPULACcedilAtildeO QUE

RESIDE NO PAIacuteS

Qualitativo

REGULA A

VIDA DO

ESTADO E

DOS

HOMENS

ANAacuteLISE LEI 114192006

A- ENUNCIADOR

Ethos PODER EXECUTIVO LEGISLATIVO E JUDICIAacuteRIO

Local do ethos BRASILIA PRESIDEcircNCIA CASA CIVIL

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito USUAacuteRIOS DA

JUSTICcedilA

Sujeito gramatical PODER

JUDICIAacuteRIO

Objeto de direito CIDADAtildeO Objeto gramatical

INFORMATIZACcedilAtildeO DO

PROCESSO

C- ARGUMENTO

Valor JUSTICcedilA PARA

TODOS

Concreto A

INFORMATIZACcedilAtildeO

Abstrato

CELERIDADE

Hierarquia LEI INTERNA

INFRACONSTITUCIONAL

Quantitativo TODOS

OS QUE SE SERVEM

DO PODER

JUDICIAacuteRIO

Qualitativo

REGULA O

FUNCIONAMENTO

DO PODER

JUDICIAacuteRIO

182

ANAacuteLISE VOTO DO DEPUTADO ROBERTO BATOCCHIO

A- ENUNCIADOR

Ethos PODER LEGISLATIVO COMISSAtildeO DE CONSTITUICcedilAtildeO E JUSTICcedilA

E DE REDACcedilAtildeO

Local do ethos PODER LEGISLATIVO CAcircMARA DOS DEPUTADOS

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito LEI 114192006 Sujeito gramatical A

COMISSAtildeO= NOacuteS

Objeto de direito APROVACcedilAO DA

PROPOSTA OU PROJETO DE LEI

Objeto gramatical A

PROPOSTA OU PROJETO DE

LEI

C- ARGUMENTO

Valor ADMISSIBILIDADE Concreto CAMARA DOS

DEPUTADOS

Abstrato

COMPETENCIA

DA COMISSAtildeO

Hierarquia VOTO

DECISIVO

Quantitativo A CAMARA

DOS DEPUTADOS

Qualitativo

APROVACcedilAtildeO

JUSTIFICACcedilAtildeO DO PROJETO DE LEI 58282001 DEPUTADA LUIZA

ERUNDINA

A- ENUNCIADOR

Ethos PODER LEGISLATIVO COMISSAtildeO DE LEGISLACcedilAtildeO

PARTICIPATIVA

Local do ethos PODER LEGISLATIVO CAMARA DOS DEPUTADOS

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito CIDADAtildeOS Sujeito gramatical O BRASIL

Objeto de direito O ANDAMENTO

DOS PROCESSOS

Objeto gramatical A

INFORMATIZACcedilAtildeO

C- ARGUMENTO

Valor ATUALIZACcedilAtildeO

DO SISTEMA

Concreto PODER

JUDICIAacuteRIO

Abstrato

AGILIDADE

Hierarquia VOTO

DECISIVO

Quantitativo A

CAMARA DOS

DEPUTADOS

Qualitativo

APROVACcedilAtildeO

183

ANAacuteLISE DA NOTA OFICIAL

A- ENUNCIADOR

Ethos AJUFE (PARTE DO PODER JUDICIAacuteRIO)

Local do ethos AJUFE BRASILIA

B- ENUNCIADO

Sujeito de direito LEI 114192006 Sujeito gramatical

Objeto de direito APROVACcedilAO

DA PROPOSTA OU PROJETO DE

LEI

Objeto gramatical A PROPOSTA

OU PROJETO DE LEI

C- ARGUMENTO

Valor APROVACcedilAtildeO E

EFICAacuteCIA X

REPROVACcedilAtildeO

Concreto

CONGRESSO

NACIONAL E PODER

JUDICIAacuteRIO X OAB

Abstrato EFICAacuteCIA E

CREDIBILIDADE X

MEDO E

DIFICULDADE

Hierarquia

ASSOCIACcedilAtildeO DE

JUIacuteZES FEDERAIS X

OAB

Quantitativo PARTE

DO PODER

JUDICIAacuteRIO X

ADVOGADOS

Qualitativo

APROVACcedilAtildeO X

REPROVACcedilAtildeO

184

37Resultado das anaacutelises

O que se constatou com as anaacutelises dos documentos foi uma evoluccedilatildeo do

conceito de homem igualdade liberdade e justiccedila A evoluccedilatildeo revela os traccedilos

do dialogismo da polifonia assim como a evoluccedilatildeo dos conceitos de direito

liberdade igualdade e justiccedila As consideraccedilotildees que seguem satildeo mostradas

respeitando-se a ordem cronoloacutegica de publicaccedilatildeo de cada documento

Na DUDH de 1789 a presenccedila do termo homem se caracteriza como

pertencente a um grupo como representante do povo francecircs parte da

assembleia Sua caracterizaccedilatildeo aborda a perspectiva do individuo membro da

sociedade cidadatildeo tomado na sua individualidade diante de outrem Esse

homem eacute o mesmo que foi concebido pelo Iluminismo e que foi definido na

Encyclopeacutedie como sendo106

laquo un ecirctre sentant reacutefleacutechissant pensant qui se promegravene librement sur

la surface de la terre qui paroicirct ecirctre agrave la tecircte de tous les autres

animaux sur lesquels il domine qui vit en socieacuteteacute qui a inventeacute des

sciences et des arts qui a une bonteacute et une meacutechanceteacute qui lui est

propre qui srsquoest donneacute des maicirctres qui srsquoest fait des lois etc raquo

Esse homem de 1789 evolui com duas Grandes Guerras Mundiais e

percebe que governos e constituiccedilotildees muitas vezes natildeo satildeo suficientes para a

sua proteccedilatildeo Assim decidem fundar a Organizaccedilatildeo das Naccedilotildees Unidas e em

1948 promulgam a DUDH Nessa declaraccedilatildeo a liberdade a igualdade e o

direito agrave vida satildeo declarados primordiais e todos os signataacuterios se

comprometem a proteger o homem Esse homem ganha dessa forma proteccedilatildeo

e se torna sujeito de direitos universais

O homem da Constituiccedilatildeo Federal brasileira de 1988 eacute um homem que

se vecirc diante da liberdade poliacutetica que lhe tinha sido suprimida bem como

outros direitos inclusive o da vida pelo regime autoritaacuterio militar que vigorou no

106

ENCYCLOPEacuteDIE vol 8 em 02122012

httpfrwikisourceorgwikiLE28099EncyclopC3A9dieVolume_8HOMME

185

paiacutes entre os anos 60 e 80 Por isso esse homem tem seus direitos bem

detalhados pelo artigo 5deg que possui setenta e oito incisos atualmente A

Constituiccedilatildeo Federal de 1988 protege o homem auferindo-lhe diversos direitos

individuais poliacuteticos e sociais

O homem que natildeo aparece na lei 114192006 da Informatizaccedilatildeo

Judicial eacute o seu beneficiaacuterio direto pois atraveacutes do que estabelece a lei todo o

sistema do Poder Judiciaacuterio poderaacute ser informatizado tornando a justiccedila aacutegil e

permitindo um maior acesso dos cidadatildeos aos recursos que o Poder Judiciaacuterio

lhe oferece para fazer valer seus direitos

O voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio e a justificaccedilatildeo da Deputada

Luiza Erundina satildeo a expressatildeo da democracia e do controle que o proacuteprio

cidadatildeo faz do sistema legislativo do Paiacutes Ao aprovar o projeto da lei de

informatizaccedilatildeo judicial os deputados representam natildeo soacute a opiniatildeo teacutecnica da

comissatildeo mas a vontade de seus eleitores

O homem representado na Nota Oficial eacute o que representa melhor a

expressatildeo da democracia brasileira e da modernidade do sistema de governo

Pois ao se verificar a fusatildeo do juiz que representa o Poder Judiciaacuterio e

tambeacutem seus colegas juiacutezes como presidente da Associaccedilatildeo que enviou o

projeto de lei ao Poder Legislativo percebe-se uma circularidade que beneficia

aparentemente o proacuteprio Poder Judiciaacuterio cujos benefiacutecios seratildeo colhidos

pelos usuaacuterios da justiccedila isto eacute os homens sejam eles advogados

funcionaacuterios ou partes de um processo Esse mecanismo que permite uma

maior igualdade entre os homens visto que os processos poderatildeo ser julgados

mais rapidamente natildeo havendo hesitaccedilatildeo em se recorrer a um Poder

Judiciaacuterio lento poderia ser assim representado

186

PODER

LEGISLATIVO

PODER

JUDICIAacuteR

IO

AJUFE

Esse homem reformulado e distante historicamente da definiccedilatildeo

proposta por Diderot e DrsquoAlembert no entanto eacute hoje bem mais proacuteximo do

homem ideal proposto pelos dois enciclopedistas do que o homem de 1751

quando foi publicado seu primeiro volume Ao longo do tempo o consenso

sobre alcanccedilar justiccedila deixou de ser ideal para se tornar real pois eacute um valor

partilhado pela sociedade

O texto constitucional brasileiro preserva a identidade individual social

econocircmica poliacutetica e cultural do homem ao mesmo tempo em que o coloca

sob a proteccedilatildeo de tratados relativos ao direito do homem e tambeacutem dos

tratados internacionais assinados pelo Brasil

O fato de o texto constitucional conter no seu artigo 5o na parte que

trata das direitos e garantias fundamentais a previsatildeo para uma prestaccedilatildeo

ceacutelere dos serviccedilos de administraccedilatildeo publica e da justiccedila num inciso acrescido

em 2004 atraveacutes da Emenda Constitucional ndeg 45 isto eacute quinze anos apoacutes a

PODER

EXECUTI

VO

PODER

JUDICIAacuteRIO

HOMEM

187

publicaccedilatildeo do texto primeiro indica a flexibilidade para a soluccedilatildeo de novos

problemas e o enfrentamento de desafios Isso explica o perfil do Brasil diante

da comunidade internacional e o destaque que o paiacutes recebe nas relaccedilotildees

externas107

107

De acordo com o que expotildee Paulo Borba CASELLA (2008298) em direito internacional poacutes-

modernordquocomo ademais se verifica em qualquer ramo do conhecimento humano deve acontecer a

inevitaacutevel combinaccedilatildeo entre teacutecnica espiacuterito e utopiardquo Eacute exatamente isso o que a lei 114192006 permite

ao possibilitar a informatizaccedilatildeo do sistema do Poder Judiciaacuterio para acelerar a prestaccedilatildeo jurisdicional ao

cidadatildeo

188

CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

Ao se efetuar as anaacutelises dos textos de acordo com o fenocircmeno da

reformulaccedilatildeo o que se verificou eacute que havia conceitos em destaque dentro dos

textos do corpus conceitos esses que natildeo satildeo exatamente os mesmos nos

diferentes textos

A proposta desta tese era a de responder a alguns questionamentos

referentes ao homem considerada a questatildeo da transversalidade do tema a

fim de se perceber se o homem que estava na primeira declaraccedilatildeo de direitos eacute

o mesmo homem do seacuteculo XXI Tambeacutem se pretendeu saber se os conceitos

formulados de direitos justiccedila igualdade liberdade continuavam vaacutelidos tal

qual foram postos haacute mais de dois seacuteculos e se deixavam rastros em outros

documentos juriacutedicos No caso de ter havido mudanccedilas a intenccedilatildeo era a de

saber quais foram elas e por que ocorreram Outra questatildeo que se pretendeu

tratar era a de saber se era possiacutevel a interferecircncia de um sistema juriacutedico em

outro e em caso afirmativo como isso se processava como se verificava e

como se justificava Por uacuteltimo havia a intenccedilatildeo de se proceder a uma

classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos levando-se em consideraccedilatildeo a questatildeo do

gecircnero

Em funccedilatildeo do quadro teoacuterico apresentado e das noccedilotildees estudadas a

que pareceu mais importante aleacutem do princiacutepio dialoacutegico e polifocircnico que

regem os textos foi a noccedilatildeo de ethos percebida por meio da anaacutelise dos

textos Tomado como expressatildeo do EU do orador diante de um auditoacuterio a fim

de formar uma impressatildeo sobre este e defender seu argumento eacute o ethos que

mais se destaca nos excertos examinados

Dentro da Nova Retoacuterica perelmaniana o ethos se constroacutei formando-se

a partir de uma loacutegica apoiada pela razatildeo sempre considerando o que eacute justo

o que eacute razoaacutevel Tambeacutem se fortalece na medida em que eacute retomado e

transformado de um documento para o outro O homem enquanto sujeito de

direito surge no primeiro texto se reforccedila (ldquotodo homem tem direito agrave justiccedilardquo) e

se apaga na medida em que alcanccedila uma parte do que almeja desaparecendo

materialmente do texto escrito pois torna-se titular do direito de receber (ser

189

contemplado) por uma justiccedila ceacutelere Mesmo que ainda longe do ideal o

homem do seacuteculo XXI eacute detentor de um ethos bem mais forte do que o homem

de trecircs seacuteculos atraacutes

O orador ou enunciador ao entrar em contato com o enunciataacuterio

(auditoacuterio) expotildee o seu argumento Este processo se apresenta aqui pelos

textos escritos que se dirigem pelo seu conteuacutedo a um auditoacuterio jaacute

determinado Esses textos representam um resultado do seu processo de

produccedilatildeo pois antes de sua redaccedilatildeo final houve uma reflexatildeo e em alguns

casos debate

Isso implica dizer que o enunciador tem um projeto delineado de

apresentaccedilatildeo de seu(s) argumento(s) Esse projeto se revela no texto na

medida em que o enunciador mostra sua intenccedilatildeo e modifica e transforma esse

argumento a fim de adaptaacute-lo agraves suas necessidades A intenccedilatildeo do enunciador

eacute persuadir seu auditoacuterio e ao fazer isso tambeacutem revela e constroacutei seu ethos

O argumento que precede os outros eacute o de autoridade que eacute inerente ao

discurso juriacutedico pois eacute consequente do gecircnero e subgecircneros dos textos Isto

ocorre porque uma declaraccedilatildeo com efeitos juriacutedicos e neste caso ambas a

DDHC1789 e a DUDH1948 aleacutem de declararem seu conteuacutedo tambeacutem

explicam e estabelecem paracircmetros A constituiccedilatildeo por sua vez aleacutem de

declarar e estabelecer organiza a vida das pessoas e do sistema poliacutetico

econocircmico e social assim como a lei federal

O voto do deputado Joseacute Roberto Batochio e a justificaccedilatildeo da Deputada

Luiza Erundina satildeo de caraacuteter decisoacuterio e justificativo e por isso tambeacutem

estabelecem explicam declaram que o projeto de lei deve ser aprovado Por

fim a nota oficial eacute uma declaraccedilatildeo que rebate um argumento defendendo a

criacutetica da sua proposta de lei

A persuasatildeo se concretiza no caso das declaraccedilotildees constituiccedilatildeo e lei

pelo seu caraacuteter oficial e de aplicaccedilatildeo os textos-resultados satildeo publicados e

referendados pelo(s) paiacutes(es) a que se destinam Isto resulta da autoridade que

eacute conferida ao ethos do qual se revestiu cada enunciador

190

Em relaccedilatildeo aos votos isso ocorre em razatildeo do caraacuteter funcional dos

deputados que devem dar um parecer neste caso favoraacutevel pois cabe ao

deputado julgar o projeto de lei em seus diferentes aspectos Isto tambeacutem se

aplica na Nota Oficial cujo caraacuteter eacute tambeacutem funcional cabendo ao presidente

da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais responder agrave critica feita pela OAB ao

projeto de lei

O caraacuteter dos documentos eacute portanto de obrigatoriedade

Obrigatoriedade por parte do orador-enunciador que apresenta um documento

que eacute consenso e que estaacute autorizado a publicar

Esses documentos apresentam ainda uma imagem do enunciador-

orador Essa imagem eacute diacrocircnica (ambivalente) pois de um lado apresenta o

que eacute resultado da obrigaccedilatildeo e que por conseguinte natildeo poderia deixar de

ser feito Por outro lado natildeo haacute como dizer que natildeo existe um direcionamento

do ethos do enunciador

Todos os documentos apresentados satildeo de caraacuteter poliacutetico-social e

portanto reproduzem um ethos que eacute direcionado por um vetor ideoloacutegico que

se ajusta ao tempo histoacuterico e agrave necessidade mas de autoridade indubitaacutevel Eacute

o ethos que conduz o enunciataacuterio ao caminho escolhido para atingir o objetivo

do enunciador que eacute fazer com que se concretize o que estaacute disposto nos

documentos Para tanto os enunciados precisam de clareza convincente em

seu conteuacutedo

Conveacutem lembrar aqui que o ethos no caso dos documentos desse

corpus eacute um ethos individual de cada homem que foi responsaacutevel pela

elaboraccedilatildeo do documento mas tambeacutem um ethos coletivo visto que

representa um grupo social um partido poliacutetico uma naccedilatildeo uma associaccedilatildeo

conforme o caso O ethos final do enunciador dos documentos eacute resultado da

soma de vaacuterios outros ethos individuais e coletivos

Seria improvaacutevel senatildeo impossiacutevel que um enunciador que fosse

contra o projeto argumentativo dos textos juriacutedicos apenas exercesse seu papel

de representante e defendesse um ponto de vista em que natildeo acreditasse

191

Em relaccedilatildeo aos contextos de produccedilatildeo e ao contexto cultural todos os

documentos apontam uma eacutepoca de evoluccedilatildeo social com mudanccedilas

significativas de comportamento do homem quebra dos regimes monaacuterquicos

absolutistas fim das atrocidades cometidas com as evoluccedilotildees das maacutequinas e

dos artefatos de guerra fim de um periacuteodo de regime autoritaacuterio teacutermino de

decisotildees diferentes no que se refere agrave introduccedilatildeo de tecnologia de ponta para

a celeridade do julgamento dos processos no Poder Judiciaacuterio

Todos os documentos representam marcos histoacutericos dentro ou fora de

uma naccedilatildeo Todos trouxeram consequecircncias que modificaratildeo para sempre os

habitus do homem Provocaram e provocaratildeo consequecircncias importantes na

sociedade

O auditoacuterio a que se dirigem os documentos eacute de caraacuteter universal

porque atinge todos os membros do grupo devido ao caraacuteter dos documentos

As duas declaraccedilotildees dirigem-se aos franceses e a todos que estatildeo protegidos

pela ONU (paiacuteses com seus habitantes) A constituiccedilatildeo brasileira eacute endereccedilada

aos brasileiros e estrangeiros residentes no Paiacutes assim como a lei federal

114192006 Os votos dos deputados dirigem-se ao Congresso Nacional e a

nota oficial eacute publicada para o conhecimento geral sendo publicada no website

da instituiccedilatildeo

O argumento do enunciador eacute desenvolvido com um objetivo conforme

jaacute foi dito Este objetivo leva o enunciador a traccedilar um percurso escolhendo o

que vai fazer figurar e o que iraacute privilegiar Assim no argumento eacute possiacutevel

servindo-se de um percurso ideoloacutegico destacar valorativamente o que

interessa ao projeto Todos os documentos de forma expliacutecita ou impliacutecita

defendem por exemplo o direito do homem agrave liberdade agrave igualdade e agrave

justiccedila O que difere eacute o grau em que se apresentam esses valores que se

especificam mais com o passar do tempo

O exame dos diferentes textos levou agrave constataccedilatildeo de que o que era

privilegiado pelo enunciador era sempre o homem O homem aparece em

praticamente todos os documentos analisados seja pelo emprego do proacuteprio

termo homem ou reformulado Os outros termos relevantes que surgem nos

192

textos satildeo aqueles que se relacionam ao homem eacute o homem quem tem

direitos que satildeo especificados sob os princiacutepios de liberdade igualdade e

justiccedila As operaccedilotildees de reformulaccedilotildees permitiram assim perceber a evoluccedilatildeo

dos termos expressotildees e conceitos que se referem ao homem

193

REFEREcircNCIAS

ADAM Jean-Michel Eleacutements de linguistique textuel Liegravege Pierre

Mardaga 1990

______ A linguiacutestica textual introduccedilatildeo agrave anaacutelise textual do discurso

Satildeo Paulo Cortez editora 2008

______ HEIDMANN Ute e MAINGUENEAU Dominique Anaacutelises

textuais e discursivas metodologia e aplicaccedilotildees Satildeo Paulo Cortez

editora 2010

ALEXY Robert Teoria da argumentaccedilatildeo juriacutedica Satildeo Paulo Landy Ed

2001

ALVES Alaor Caffeacute Loacutegica Pensamento formal e Argumentaccedilatildeo Satildeo

Paulo Quartier Latin 2003

AMOSSY Ruth O ethos na intersecccedilatildeo das disciplinas retoacuterica

pragmaacutetica sociologia dos campos In AMOSSY Ruth (Org)Imagens

de si no discurso a construccedilatildeo do ethos Trad Diacutelson Ferreira da Cruz

Fabiana Komesu Siacuterio Possenti Satildeo Paulo Contexto 2005 p 119-143

ARRIVEacute M GADET F GALMICHE M La grammaire drsquoaujourdrsquohui

Paris Flammarion 1986

AUBERT Jean-Luc Introduction au Droit et thegravemes fondamentaux du

droit civil Paris Ed Dalloz Armand Collin 1998

AUBRY Charles Cours de droit civil franccedilais Paris Marchal Billard et

Cie Libraire de la Cour de Cassation 1878

AUTHIER-REVUZ Jacqueline Heacuteteacuterogeacuteneiteacute(s) eacutenonciative(s) In

Langages 19e anneacutee ndeg 73 Les Plans dEacutenonciation Mars 1984 p98-111

BACHMAN Christian LINDEFELD Jacqueline et SIMONIN Jacky

Langage et Communications Sociales Collection LAL Paris Didier

Hatier 1991

194

BAKHTIN Mikhail laquo Les genres do discours I ndash Probleacutematique et

deacutefinition raquo Estheacutetique de la creacuteation verbale Paris Gallimard 1984 p

265-272

______ Os gecircneros do discurso Esteacutetica da criaccedilatildeo verbal Satildeo Paulo

Martins Fontes2003

______ Pour une philosophie de lrsquoacte Paris LrsquoAge drsquoHomme 2003

______ (Voloshinov-1929) Marxismo e Filosofia da Linguagem Trad M

Lahud e Y F Vieira Satildeo Paulo Hucitec 1979

______ (Voloshinov-1929) Le marxisme et la philosophie du langage

Paris Les Eacuteditions de Minuit 1977

BEACCO Jean-Claude Les genres textuels dans lrsquoanalyse du discours

eacutecriture leacutegitime et communauteacutes translangagiegraveres Langages 26e

anneacutee nordm 105 Mars 92 Ethnolinguistique de lrsquoeacutecrit p 8-27

______ DAROT M Pour lire les sciences sociales une analyse de

discours nordm 4752 amm-fhjcb Paris BELC 1978

BERTHO F BORDENAVE ML Droit Notions Essentielles Paris

Nathan 1990

BEVILAQUA Cloacutevis Liccedilotildees de Legislaccedilatildeo Comparada Bahia Livraria

Magalhatildees 1897

BITTAR Eduardo Carlos Bianca Linguagem juriacutedica Satildeo Paulo Ed

Saraiva 2003

BOBBIO Norberto O Positivismo Juriacutedico Trad Maacutercio Pugliesi Satildeo

Paulo Iacutecone 1995

______ A era dos direitos Trad Carlos Nelson Coutinho Rio de Janeiro

Elsevier 2004

BOISSINOT Alain Les textes argumentatifs Toulouse Bertrand

Lacoste 1996

195

BOURDIEU Pierre Ce que parler veut dire Paris Fayard 1987

______ Le sens pratique Paris Eacuteditions de Minuit 1980

BRAIT Beth Bakhtin conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2005

______ Bakhtin outros conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2006

BRANDAtildeO Helena Nagamine Introduccedilatildeo agrave Anaacutelise do Discurso

Campinas Ed Unicamp 2004

BRASIL Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil Satildeo Paulo

Saraiva 1997

CARRAS Catherine TOLAS Jacqueline KHOLER Patricia SZILAGYI

Eacutelisabeth Le franccedilais sur objectifs speacutecifiques Paris Cleacute International

2007

CASELLA Paulo Borba Fundamentos do Direito Internacional Poacutes-

moderno Satildeo Paulo Quartier Latin 2006

______ ACCIOLY Hildebrando GEdo Nascimento e Silva Manual de

Direito Internacional Puacuteblico Satildeo Paulo Editora Saraiva 2008

CERDA-GUZMAN Carolina Une recodification des droits fondamentaux

pour un nouveau controcircle de constitutionnaliteacute Constitution droits

et devoirs Actes du VIIe Congregraves franccedilais de droit constitutionnel Paris

2008 (httpwwwdroitconstitutionnelorgcongresParisatelierP8html)

CHALLE Odile Enseigner le franccedilais de speacutecialiteacute Paris Econocircmica

2002

CHARAUDEAU Patrick Langue discours et identiteacute culturelle ELA

32001(nordm 123-124) p341-348

______ Grammaire du sens et de lrsquoexpression Paris Hachette

Collection Education 1992

______ Discurso PoliacuteticoSatildeo Paulo Contexto 2008

196

______ Linguagem e Discurso Modos de organizaccedilatildeoSatildeo Paulo

Contexto 2009

______ MAINGUENEAU Dominique Dictionnaire drsquoAnalyse du

Discours Paris Seuil 2002

CORNU Geacuterard Linguistique Juridique Paris Montchrestien 2005

______ Vocabulaire Juridique Paris PUF Quadrige 2003

CRETELLA Juacutenior Joseacute Comentaacuterios agrave constituiccedilatildeo brasileira de 1988

Vol I e II Rio de Janeiro Forense Universitaacuteria 1994

CUNHA Celso Gramaacutetica do Portuguecircs Contemporacircneo Rio de

Janeiro Padratildeo Livraria Editora 1983

CUNHA Antonio Geraldo da Os estrangeirismos da liacutengua portuguesa

vocabulaacuterio histoacuterico-etimoloacutegico Satildeo Paulo Humanitas 2003

DAMETTE Eacuteliane Didactique du franccedilais juridique Paris LrsquoHarmattan

2007

DAMIAtildeO Regina Toledo HENRIQUES Antonio Curso de portuguecircs

juriacutedico Satildeo Paulo Atlas 2000

DANTAS Ivo Direito Comparado como Ciecircncia Brasiacutelia Revista de

Informaccedilatildeo Legislativa nordm 134 1997

DAVID Reneacute Major Legal Systems in the world today 3rd ed London

Stevens amp Sons 1985

DAVID Reneacute et JAUFFRET-SPINOSI Camille Les grands systegravemes de

droit contemporain Paris Dalloz 1992

DEL VECCHIO Giorgio La deacuteclaration des droits de lrsquohomme et du

citoyen dans la Reacutevolution Franccedilaise Trad Antoinette Pellevant Gini

Fondation Europeacuteenne Dragan Rome ndash Foro Traiano 1 Paris LGDJ 1968

DOLINGER Jacob The Influence of American Constitutional Law on

the Brazilian Legal System nordm 4 vol 38 The American Journal of

Comparative Law Fall 1990

197

______ Unconscionability around the world seven perspectives on

the contractual practice nordm 3 vol 14 Loyola of Los Angeles International

and comparative Law July 1992

DUARTE Eacutecio Oto Ramos O R Teoria do Discurso e Correccedilatildeo

Normativa do Direito Satildeo Paulo Landy 2004

DUCROT Oswald Le dire et le di Paris Minuit 1984

ELA ndash La reformulation pratiques problegravemes et propositions Coord

Claudine Normand No68 Paris Didier Eacuterudition 1987

EacuteLA - Vocabulaires de speacutecialiteacute et lexicographie drsquoapprentissage en

langues-cultures eacutetrangegraveres et maternelles Coord LINO Maria Teresa nordm

135 Paris Didier 2004

FARACO Carlos Alberto TEZZA Cristoacutevatildeo CASTRO Gilberto Org Beth

Brait [et al] Diaacutelogos com Bakhtin Curitiba UFPR 2007

FARACO MOURA E MARUXO Gramaacutetica 20a ed Satildeo Paulo Atica

2006

FARIA Joseacute Eduardo A cultura e as profissotildees juriacutedicas numa

sociedade em transformaccedilatildeo Formaccedilatildeo juriacutedica Org Joseacute Renato Nalini

Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais 1999

FAVERO L M Coesatildeo e Coerecircncia Textuais Satildeo PauloEd Aacutetica 2002

FAVRE Pierre La constitution dune science du politique le

deacuteplacement de ses objets et ldquolrsquoirruption de lrsquohistoire reacuteelle Revue

franccedilaise de science politique wwwperseefr 1983

FIORIN Joseacute Luiz Interdiscursividade e IntertextualidadeOrg BRAIT

Beth Bakhtin outros conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2006

GILISSEN J Introduccedilatildeo Histoacuterica ao DireitoTrad Hespanha AM e

Malheiros IMMacaiacutesca cap 2 Lisboa Fundaccedilatildeo Calouste Gulbenkian

2001

198

GODECHOT Jean Lexpansion de la Deacuteclaration des droits de

lhomme de 1789 dans le monde Annales historiques de la Reacutevolution

franccedilaise wwwperseefr 1978

GRILLO Sheila Vieira de Camargo Esfera e campo Org BRAIT Beth

Bakhtin outros conceitos chave Satildeo Paulo Contexto 2006

ISAAC Jules et MALETAlbert Lrsquo Histoire La naissance du Monde

moderne 1848-1914 Paris Hachette 1961

ISHIHARA Tokiko Discours rapporteacutes reformulation et sens Linx

(Nanterre) Franccedila v 1 p 43-52 1998

______ Leitura e enunciaccedilatildeo a pluralidade de vozes no discurso da

imprensa In X Congresso de Leitura do Brasil (COLE) 1995 Campinas

Anais do X COLE 1995

JELLINEK George La deacuteclaration des droits de lrsquohomme et du citoyen

Trad Georges FARDIS Paris Albert Fontemoing 1902

KELSEN H Teoria Pura do Direito Trad Cretella J Jr e Cretella A Satildeo

Paulo Ed Revista dos Tribunais 2003

KOCH Ingedore G Vilaccedila O texto e a construccedilatildeo dos sentidos Satildeo

Paulo Contexto 2003

______ Argumentaccedilatildeo e Linguagem Satildeo Paulo Editora Cortez 2011

LEHMANN D MARIET F MARIET J MOIRAND S Lecture fonctionnelle

de textes de speacutecialiteacute Didier Credif 1980

LEGEAIS Raymond Les grands systegravemes de droit contemporains

Paris Litec 2004

LEVY Maria Stella Ferreira (org) Linguagem e suas aplicaccedilotildees no

direito Satildeo Paulo Paulistana 2006

MAINGUENEAU Dominique Anaacutelise de Textos de Comunicaccedilatildeo Satildeo

Paulo Ed Cortez 2002

______ Lrsquoeacutenonciation en linguistique franccedilaise Paris Hachette 1999

199

______ Les termes cleacutes de lrsquoanalyse du discours Paris Seuil 1996

______ Aborder la linguistique Paris Seuil 1996

______Lrsquoethos de la rheacutetorique agrave lrsquoanalyse du discours

httpdominiquemaingueneaupagesperso-orangefrintro_companyhtml

2002 Acesso em 22122012

MANGIANTE Jean-Marc PARPETTE Chantal Le Franccedilais sur Objectif

Speacutecifique de lrsquoanalyse des besoins agrave lrsquoeacutelaboration drsquoun cours Paris

Hachette 2004

MARCHI Eduardo C Silveira Guia de Metodologia Juriacutedica Satildeo Paulo

Saraiva 2009

MARCUSCHI Luiz Antonio Leitura como processo inferencial num

universo cultural cognitivo In Barzotto Estado de Leitura Campinas

Mercado das Letras 1999

MARIE Jean-Bernard La Comission des Droits de lrsquoHomme de lrsquo ONU

Paris Eacuteditions A Pedone 1975

MARTINS Ives Gandra da Silva A cultura do jurista In Formaccedilatildeo

juriacutedicaOrg Joseacute Renato Nalini Satildeo Paulo Ed Revista dos Tribunais

1999

MAXIMILIANO Carlos Hermenecircutica e Aplicaccedilatildeo do Direito Rio de

Janeiro Ed Forense 1998

MOIRAND Sophie Deacutecrire des discours de speacutecialiteacute in Lenguas para

fines especiacuteficos (III) actes du colloque organiseacute par lrsquouniversiteacute Alcala de

Henares les 15-17 novembre 1993 Universiteacute Alcala de Henares 1994 p

79-91

MONTEIRO Washington de Barros Curso de Direito Civil ndash Parte geral

Vol 1 Satildeo Paulo Saraiva 1971

200

MONTESQUIEU Charles-Louis de Secondat Esprit des lois Livres I-V

Paris Libraire Ch Delagrave1887 in Bibliothegraveque nationale de France in

httpgallica2bnffrark12148bpt6k55507712 Acesso em 22122012

______ Do Espiacuterito das Leis Trad CARDOSO FH e RODRIGUES LM

cap V Satildeo Paulo Difusatildeo Europeacuteia do Livro 1962

MORAES Alexandre de Constituiccedilatildeo do Brasil interpretada e

legislaccedilatildeo constitucional 8ordf Ed Atualizada ateacute a EC no 6710 ndash Satildeo

Paulo Atlas 2011

MORTUREUX Marie-Franccediloise Paradigmes deacutesignationnels Semen [En

ligne] 8 | 1993 mis en ligne le 06 juillet 2007 Acesso em 20092012

httpsemenrevuesorg4132

MOSCA Lineide do Lago Salvador Retoacutericas de Ontem e de hoje Org

MOSCA Lineide do Lago Salvador 3ordf ed Satildeo Paulo Humanitas 2004

MOURLHON-DALLIES F Enseigner une langue agrave des fins

professionnelles Collection Langues et Didactiques Paris Didier2008

NALINI Joseacute Renato Formaccedilatildeo juriacutedica Satildeo Paulo Editora Revista dos

Tribunais 1999

NUNES Pedro dos Reis Dicionaacuterio de tecnologia juridica Rio de

Janeiro Freitas Bastos 1982

OLEacuteRON Pierre Lrsquoargumentation Paris Presses Universitaires de

France 1996

PASQUARELLI Maria Luiza Rigo Normas para apresentaccedilatildeo de

trabalhos acadecircmicos Osasco Edifieo 2009

PEIXOTO Paulo Matos Vocabulaacuterio Juriacutedico Satildeo Paulo Paumape 1993

PELISSE Jeacuterome A-t-on conscience du droit Autour des Legal

Consciousness Studies Genegraveses ndeg 59 httpwwwcairninforevue-

geneses-2005-2-p-114htm 2005 Acesso em 22122012

201

PEREIRA Caio Maacuterio da Silva Instituiccedilotildees de Direito Civil Rio de

Janeiro Forense 1991 vol 1 pp 3-20

PENFORNIS J L Le Franccedilais du Droit Cleacute International 1998

PERELMAN Chaim Loacutegica juriacutedica nova retoacuterica Satildeo Paulo Martins

Fontes 2004

______ OLBRECHTS-TYTECA Lucie Tratado da argumentaccedilatildeo a

nova retoacuterica Bruxelles Ed de lrsquoUniversiteacute de Bruxelles 1976 Trad Maria

Ermantina Galvatildeo G Pereira Satildeo Paulo Martins Fontes 1996 [1958]

______ OLBRECHTS-TYTECA Lucie Traiteacute de lrsquoargumentation 3e ed

Bruxelles Ed de lrsquoUniversiteacute de Bruxelles 1976

PETRI Maria Joseacute Constantino Manual de linguagem juriacutedica Satildeo

Paulo Editora Saraiva 2011

PEYTARD Jean Langue franccedilaise Ndeg64 1984 Franccedilais technique et

scientifique reformulation enseignement

httpwwwperseefrwebrevueshome prescriptissuelfr_0023-

8368_1984_num_64_1 Acesso em 20092012

PLANTIN Christian Essais sur l lsquoargumentation Paris Eacuted Kimeacute 1990

______ Lrsquoargumentation Paris Ed du Seuil 1996 (Meacutemo)

ROBERT Paul Le petit Robert Paris Robert 1986

ROBLES Gregoacuterio O direito como texto quatro textos de teoria

comunicacional do direito Barueri Manole 2005

RODRIGUES Silvio Direito Civil ndash Parte Geral Vol 1Satildeo Paulo Saraiva

1993

SAacute Elisabeth Schneider de Manual de normalizaccedilatildeo de trabalhos

cientiacuteficos e culturais Petroacutepolis Vozes 1994

SARLET Ingo Wolfgang A eficaacutecia dos Direitos Fundamentais Porto

Alegre Livraria do Advogado Editora 2008

202

SEVERINO Antonio Joaquim Metodologia do Trabalho Cientiacutefico Satildeo

Paulo Cortez 2007

SILVA De Plaacutecido e Vocabulaacuterio Juriacutedico Rio de Janeiro Editora

Forense 2004

SILVA Joseacute Afonso da Curso de direito constitucional positivo 9 ed

rev e ampl de acordo com a nova Constituiccedilatildeo Satildeo Paulo Malheiros

1992

SOARES A SANTOS MJ Dicionaacuterio do Tradutor Francecircs-Portuguecircs

Faro Editor Noecircmio Ramos 2003

SOIGNET M Le Franccedilais Juridique Paris Ed Hachette e CCIP 2003

THOMASSET C Lire le droit langue texte cognition Bourcier D

Mackay P Libraire Geacuteneacuterale de Droit et de Jurisprudence 1992

TODOROV Tzvetan Mikhail Bakhtin le principe dialogique Paris

Seuil 1981

VANNIER Guillaume Argumentation et droit Paris Presses

Universitaires de France 2001

VERDOODT Albert Naissance et signification de la Deacuteclaration

Universelle des Droits de lrsquoHomme Luvain-Paris Eacuteditions Nauwelaerts

1963

WISE Edward M The Transplant of Legal Patterns In The American

Journal of Comparative Law vol 38 Supplement U S Law in an Era of

Democratization1990 pp 1-22

WOJTYCZEK K Les fonctions de la constitution eacutecrite dans le

contexte de la mondialisation In Lrsquoeacutevolution des concepts de la doctrine

classique de droit constitutionnel dir Genoveva Vrabie Iasi Institut

Europeacuteen 2008

203

ANEXOS

DOCUMENTO I Declaraccedilatildeo de Direitos do Homem e do Cidadatildeo de

1789205

204

DOCUMENTO II Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem de

1948209

DOCUMENTO III Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de

1988218

DOCUMENTO IV Lei 114192006230

DOCUMENTO IVa APRESENTACcedilAtildeO242

DOCUMENTO IVb Voto do Deputado Joseacute Roberto Batochio244

DOCUMENTO IVc Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada

Luiza Erundina 247

DOCUMENTO IVd Nota oficial de 1962002252

DOCUMENTO IVe Notiacutecia de 682002254

DOCUMENTO IVf Carta Aberta IJURIS 255

DOCUMENTO V Paacutegina do Tribunal Regional Federal 3ordf Regiatildeo257

DOCUMENTO I

DEacuteCLARATION DES DROITS DE LrsquoHOMME ET DU CITOYEN DE 1789

205

Les Repreacutesentants du Peuple Franccedilais constitueacutes en Assembleacutee nationale

consideacuterant que lrsquoignorance lrsquooubli ou le meacutepris des droits de lrsquohomme sont les

seules causes des malheurs publics et de la corruption des Gouvernements

ont reacutesolu drsquoexposer dans une Deacuteclaration solennelle les droits naturels

inalieacutenables et sacreacutes de lrsquohomme afin que cette Deacuteclaration constamment

preacutesente agrave tous les membres du corps social leur rappelle sans cesse leurs

droits et leurs devoirs afin que les actes du pouvoir leacutegislatif et ceux du

pouvoir exeacutecutif pouvant ecirctre agrave chaque instant compareacutes avec le but de toute

institution politique en soient plus respecteacutes afin que les reacuteclamations des

citoyens fondeacutees deacutesormais sur des principes simples et incontestables

tournent toujours au maintien de la Constitution et au bonheur de tous En

conseacutequence lrsquoAssembleacutee nationale reconnaicirct et deacuteclare en preacutesence et sous

les auspices de lrsquoEcirctre Suprecircme les droits suivants de lrsquohomme et du citoyen

Article premier

Les hommes naissent et demeurent libres et eacutegaux en droits Les distinctions

sociales ne peuvent ecirctre fondeacutees que sur lrsquoutiliteacute commune

Article II

Le but de toute association politique est la conservation des droits naturels et

imprescriptibles de lrsquohomme Ces droits sont la liberteacute la proprieacuteteacute la sucircreteacute et

la reacutesistance agrave lrsquooppression

Article III

Le principe de toute Souveraineteacute reacuteside essentiellement dans la Nation Nul

corps nul individu ne peut exercer drsquoautoriteacute qui nrsquoen eacutemane expresseacutement

Article IV

La liberteacute consiste agrave pouvoir faire tout ce qui ne nuit pas agrave autrui ainsi

lrsquoexercice des droits naturels de chaque homme nrsquoa de bornes que celles qui

assurent aux autres Membres de la Socieacuteteacute la jouissance de ces mecircmes droits

Ces bornes ne peuvent ecirctre deacutetermineacutees que par la Loi

206

Article V

La Loi nrsquoa le droit de deacutefendre que les actions nuisibles agrave la Socieacuteteacute Tout ce qui

nrsquoest pas deacutefendu par la Loi ne peut ecirctre empecirccheacute et nul ne peut ecirctre contraint

agrave faire ce qursquoelle nrsquoordonne pas

Article VI

La Loi est lrsquoexpression de la volonteacute geacuteneacuterale Tous les Citoyens ont droit de

concourir personnellement ou par leurs Repreacutesentants agrave sa formation Elle doit

ecirctre la mecircme pour tous soit qursquoelle protegravege soit qursquoelle punisse Tous les

Citoyens eacutetant eacutegaux agrave ses yeux sont eacutegalement admissibles agrave toutes digniteacutes

places et emplois publics selon leur capaciteacute et sans autre distinction que celle

de leurs vertus et de leurs talents

Article VII

Nul homme ne peut ecirctre accuseacute arrecircteacute ni deacutetenu que dans les cas deacutetermineacutes

par la Loi et selon les formes qursquoelle a prescrites Ceux qui sollicitent

expeacutedient exeacutecutent ou font exeacutecuter des ordres arbitraires doivent ecirctre punis

mais tout Citoyen appeleacute ou saisi en vertu de la Loi doit obeacuteir agrave lrsquoinstant il se

rend coupable par la reacutesistance

Article VIII

La Loi ne doit eacutetablir que des peines strictement et eacutevidemment neacutecessaires et

nul ne peut ecirctre puni qursquoen vertu drsquoune Loi eacutetablie et promulgueacutee

anteacuterieurement au deacutelit et leacutegalement appliqueacutee

Article IX

Tout homme eacutetant preacutesumeacute innocent jusqursquoagrave ce qursquoil ait eacuteteacute deacuteclareacute coupable

srsquoil est jugeacute indispensable de lrsquoarrecircter toute rigueur qui ne serait pas neacutecessaire

pour srsquoassurer de sa personne doit ecirctre seacutevegraverement reacuteprimeacutee par la Loi

Article X

207

Nul ne doit ecirctre inquieacuteteacute pour ses opinions mecircme religieuses pourvu que leur

manifestation ne trouble pas lrsquoordre public eacutetabli par la Loi

Article XI

La libre communication des penseacutees et des opinions est un des droits les plus

preacutecieux de lrsquoHomme tout Citoyen peut donc parler eacutecrire imprimer librement

sauf agrave reacutepondre de lrsquoabus de cette liberteacute dans les cas deacutetermineacutes par la Loi

Article XII

La garantie des droits de lrsquoHomme et du Citoyen neacutecessite une force publique

cette force est donc institueacutee pour lrsquoavantage de tous et non pour lrsquoutiliteacute

particuliegravere de ceux auxquels elle est confieacutee

Article XIII

Pour lrsquoentretien de la force publique et pour les deacutepenses drsquoadministration une

contribution commune est indispensable Elle doit ecirctre eacutegalement reacutepartie entre

tous les Citoyens en raison de leurs faculteacutes

Article XIV

Tous les Citoyens ont le droit de constater par eux-mecircmes ou par leurs

Repreacutesentants la neacutecessiteacute de la contribution publique de la consentir

librement drsquoen suivre lrsquoemploi et drsquoen deacuteterminer la quotiteacute lrsquoassiette le

recouvrement et la dureacutee

Article XV

La Socieacuteteacute a le droit de demander compte agrave tout Agent public de son

administration

Article XVI

Toute Socieacuteteacute dans laquelle la garantie des Droits nrsquoest pas assureacutee ni la

seacuteparation des Pouvoirs deacutetermineacutee nrsquoa point de Constitution

208

Article XVII

La proprieacuteteacute eacutetant un droit inviolable et sacreacute nul ne peut en ecirctre priveacute si ce

nrsquoest lorsque la neacutecessiteacute publique leacutegalement constateacutee lrsquoexige eacutevidemment

et sous la condition drsquoune juste et preacutealable indemniteacute

httpwwwassemblee-nationalefrhistoiredudh1789asp

DOCUMENTO II

LA DECLARATION UNIVERSELLE DES DROITS DE LrsquoHOMME 1948 - 2008

Preacuteambule

209

Consideacuterant que la reconnaissance de la digniteacute inheacuterente agrave tous les membres

de la famille humaine et de leurs droits eacutegaux et inalieacutenables constitue le

fondement de la liberteacute de la justice et de la paix dans le monde

Consideacuterant que la meacuteconnaissance et le meacutepris des droits de lhomme ont

conduit agrave des actes de barbarie qui reacutevoltent la conscience de lhumaniteacute et que

lavegravenement dun monde ougrave les ecirctres humains seront libres de parler et de

croire libeacutereacutes de la terreur et de la misegravere a eacuteteacute proclameacute comme la plus haute

aspiration de lhomme

Consideacuterant quil est essentiel que les droits de lhomme soient proteacutegeacutes par un

reacutegime de droit pour que lhomme ne soit pas contraint en suprecircme recours agrave

la reacutevolte contre la tyrannie et loppression

Consideacuterant quil est essentiel dencourager le deacuteveloppement de relations

amicales entre nations

Consideacuterant que dans la Charte les peuples des Nations Unies ont proclameacute agrave

nouveau leur foi dans les droits fondamentaux de lhomme dans la digniteacute et la

valeur de la personne humaine dans leacutegaliteacute des droits des hommes et des

femmes et quils se sont deacuteclareacutes reacutesolus agrave favoriser le progregraves social et agrave

instaurer de meilleures conditions de vie dans une liberteacute plus grande

Consideacuterant que les Etats Membres se sont engageacutes agrave assurer en coopeacuteration

avec lOrganisation des Nations Unies le respect universel et effectif des droits

de lhomme et des liberteacutes fondamentales

Consideacuterant quune conception commune de ces droits et liberteacutes est de la plus

haute importance pour remplir pleinement cet engagement

LAssembleacutee Geacuteneacuterale proclame la preacutesente Deacuteclaration universelle des

droits de lhomme comme lideacuteal commun agrave atteindre par tous les peuples et

toutes les nations afin que tous les individus et tous les organes de la socieacuteteacute

ayant cette Deacuteclaration constamment agrave lesprit sefforcent par lenseignement

et leacuteducation de deacutevelopper le respect de ces droits et liberteacutes et den assurer

210

par des mesures progressives dordre national et international la

reconnaissance et lapplication universelles et effectives tant parmi les

populations des Etats Membres eux-mecircmes que parmi celles des territoires

placeacutes sous leur juridiction

Article premier

Tous les ecirctres humains naissent libres et eacutegaux en digniteacute et en droits Ils sont

doueacutes de raison et de conscience et doivent agir les uns envers les autres dans

un esprit de fraterniteacute

Article 2

1Chacun peut se preacutevaloir de tous les droits et de toutes les liberteacutes proclameacutes

dans la preacutesente Deacuteclaration sans distinction aucune notamment de race de

couleur de sexe de langue de religion dopinion politique ou de toute autre

opinion dorigine nationale ou sociale de fortune de naissance ou de toute

autre situation

2De plus il ne sera fait aucune distinction fondeacutee sur le statut politique

juridique ou international du pays ou du territoire dont une personne est

ressortissante que ce pays ou territoire soit indeacutependant sous tutelle non

autonome ou soumis agrave une limitation quelconque de souveraineteacute

Article 3

Tout individu a droit agrave la vie agrave la liberteacute et agrave la sucircreteacute de sa personne

Article 4

Nul ne sera tenu en esclavage ni en servitude lesclavage et la traite des

esclaves sont interdits sous toutes leurs formes

Article 5

211

Nul ne sera soumis agrave la torture ni agrave des peines ou traitements cruels

inhumains ou deacutegradants

Article 6

Chacun a le droit agrave la reconnaissance en tous lieux de sa personnaliteacute juridique

Article 7

Tous sont eacutegaux devant la loi et ont droit sans distinction agrave une eacutegale protection

de la loi Tous ont droit agrave une protection eacutegale contre toute discrimination qui

violerait la preacutesente Deacuteclaration et contre toute provocation agrave une telle

discrimination

Article 8

Toute personne a droit agrave un recours effectif devant les juridictions nationales

compeacutetentes contre les actes violant les droits fondamentaux qui lui sont

reconnus par la constitution ou par la loi

Article 9

Nul ne peut ecirctre arbitrairement arrecircteacute deacutetenu ou exileacute

Article 10

Toute personne a droit en pleine eacutegaliteacute agrave ce que sa cause soit entendue

eacutequitablement et publiquement par un tribunal indeacutependant et impartial qui

deacutecidera soit de ses droits et obligations soit du bien-fondeacute de toute

accusation en matiegravere peacutenale dirigeacutee contre elle

Article 11

212

1 Toute personne accuseacutee dun acte deacutelictueux est preacutesumeacutee innocente

jusquagrave ce que sa culpabiliteacute ait eacuteteacute leacutegalement eacutetablie au cours dun procegraves

public ougrave toutes les garanties neacutecessaires agrave sa deacutefense lui auront eacuteteacute assureacutees

2 Nul ne sera condamneacute pour des actions ou omissions qui au moment ougrave

elles ont eacuteteacute commises ne constituaient pas un acte deacutelictueux dapregraves le droit

national ou international De mecircme il ne sera infligeacute aucune peine plus forte

que celle qui eacutetait applicable au moment ougrave lacte deacutelictueux a eacuteteacute commis

Article 12

Nul ne sera lobjet dimmixtions arbitraires dans sa vie priveacutee sa famille son

domicile ou sa correspondance ni datteintes agrave son honneur et agrave sa reacuteputation

Toute personne a droit agrave la protection de la loi contre de telles immixtions ou de

telles atteintes

Article 13

1 Toute personne a le droit de circuler librement et de choisir sa reacutesidence

agrave linteacuterieur dun Etat

2 Toute personne a le droit de quitter tout pays y compris le sien et de

revenir dans son pays

Article 14

1 Devant la perseacutecution toute personne a le droit de chercher asile et de

beacuteneacuteficier de lasile en dautres pays

2 Ce droit ne peut ecirctre invoqueacute dans le cas de poursuites reacuteellement

fondeacutees sur un crime de droit commun ou sur des agissements

contraires aux buts et aux principes des Nations Unies

Article 15

1 Tout individu a droit agrave une nationaliteacute

213

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa nationaliteacute ni du droit de

changer de nationaliteacute

Article 16

1 A partir de lacircge nubile lhomme et la femme sans aucune restriction

quant agrave la race la nationaliteacute ou la religion ont le droit de se marier et de

fonder une famille Ils ont des droits eacutegaux au regard du mariage durant

le mariage et lors de sa dissolution

2 Le mariage ne peut ecirctre conclu quavec le libre et plein consentement

des futurs eacutepoux

3 La famille est leacuteleacutement naturel et fondamental de la socieacuteteacute et a droit agrave la

protection de la socieacuteteacute et de lEtat

Article 17

1 Toute personne aussi bien seule quen collectiviteacute a droit agrave la proprieacuteteacute

2 Nul ne peut ecirctre arbitrairement priveacute de sa proprieacuteteacute

Article 18

Toute personne a droit agrave la liberteacute de penseacutee de conscience et de religion ce

droit implique la liberteacute de changer de religion ou de conviction ainsi que la

liberteacute de manifester sa religion ou sa conviction seule ou en commun tant en

public quen priveacute par lenseignement les pratiques le culte et

laccomplissement des rites

Article 19

Tout individu a droit agrave la liberteacute dopinion et dexpression ce qui implique le droit

de ne pas ecirctre inquieacuteteacute pour ses opinions et celui de chercher de recevoir et de

reacutepandre sans consideacuterations de frontiegraveres les informations et les ideacutees par

quelque moyen dexpression que ce soit

214

Article 20

1 Toute personne a droit agrave la liberteacute de reacuteunion et dassociation pacifiques

2 Nul ne peut ecirctre obligeacute de faire partie dune association

Article 21

1 Toute personne a le droit de prendre part agrave la direction des affaires

publiques de son pays soit directement soit par lintermeacutediaire de

repreacutesentants librement choisis

2 Toute personne a droit agrave acceacuteder dans des conditions deacutegaliteacute aux

fonctions publiques de son pays

3 La volonteacute du peuple est le fondement de lautoriteacute des pouvoirs publics

cette volonteacute doit sexprimer par des eacutelections honnecirctes qui doivent avoir

lieu peacuteriodiquement au suffrage universel eacutegal et au vote secret ou

suivant une proceacutedure eacutequivalente assurant la liberteacute du vote

Article 22

Toute personne en tant que membre de la socieacuteteacute a droit agrave la seacutecuriteacute sociale

elle est fondeacutee agrave obtenir la satisfaction des droits eacuteconomiques sociaux et

culturels indispensables agrave sa digniteacute et au libre deacuteveloppement de sa

personnaliteacute gracircce agrave leffort national et agrave la coopeacuteration internationale compte

tenu de lorganisation et des ressources de chaque pays

Article 23

1 Toute personne a droit au travail au libre choix de son travail agrave des

conditions eacutequitables et satisfaisantes de travail et agrave la protection contre le

chocircmage

2 Tous ont droit sans aucune discrimination agrave un salaire eacutegal pour un travail

eacutegal

3 Quiconque travaille a droit agrave une reacutemuneacuteration eacutequitable et satisfaisante lui

assurant ainsi quagrave sa famille une existence conforme agrave la digniteacute humaine et

215

compleacuteteacutee sil y a lieu par tous autres moyens de protection sociale

4 Toute personne a le droit de fonder avec dautres des syndicats et de saffilier

agrave des syndicats pour la deacutefense de ses inteacuterecircts

Article 24

Toute personne a droit au repos et aux loisirs et notamment agrave une limitation

raisonnable de la dureacutee du travail et agrave des congeacutes payeacutes peacuteriodiques

Article 25

1 Toute personne a droit agrave un niveau de vie suffisant pour assurer sa

santeacute son bien-ecirctre et ceux de sa famille notamment pour lalimentation

lhabillement le logement les soins meacutedicaux ainsi que pour les services

sociaux neacutecessaires elle a droit agrave la seacutecuriteacute en cas de chocircmage de

maladie dinvaliditeacute de veuvage de vieillesse ou dans les autres cas de

perte de ses moyens de subsistance par suite de circonstances

indeacutependantes de sa volonteacute

2 La materniteacute et lenfance ont droit agrave une aide et agrave une assistance

speacuteciales Tous les enfants quils soient neacutes dans le mariage ou hors

mariage jouissent de la mecircme protection sociale

Article 26

1 Toute personne a droit agrave leacuteducation Leacuteducation doit ecirctre gratuite au

moins en ce qui concerne lenseignement eacuteleacutementaire et fondamental

Lenseignement eacuteleacutementaire est obligatoire Lenseignement technique et

professionnel doit ecirctre geacuteneacuteraliseacute laccegraves aux eacutetudes supeacuterieures doit

ecirctre ouvert en pleine eacutegaliteacute agrave tous en fonction de leur meacuterite

216

2 Leacuteducation doit viser au plein eacutepanouissement de la personnaliteacute

humaine et au renforcement du respect des droits de lhomme et des

liberteacutes fondamentales Elle doit favoriser la compreacutehension la toleacuterance

et lamitieacute entre toutes les nations et tous les groupes raciaux ou

religieux ainsi que le deacuteveloppement des activiteacutes des Nations Unies

pour le maintien de la paix

3 Les parents ont par prioriteacute le droit de choisir le genre deacuteducation agrave

donner agrave leurs enfants

Article 27

1 Toute personne a le droit de prendre part librement agrave la vie culturelle de

la communauteacute de jouir des arts et de participer au progregraves scientifique

et aux bienfaits qui en reacutesultent

2 Chacun a droit agrave la protection des inteacuterecircts moraux et mateacuteriels deacutecoulant

de toute production scientifique litteacuteraire ou artistique dont il est lauteur

Article 28

Toute personne a droit agrave ce que regravegne sur le plan social et sur le plan

international un ordre tel que les droits et liberteacutes eacutenonceacutes dans la preacutesente

Deacuteclaration puissent y trouver plein effet

Article 29

1 Lindividu a des devoirs envers la communauteacute dans laquelle seule le

libre et plein deacuteveloppement de sa personnaliteacute est possible

2 Dans lexercice de ses droits et dans la jouissance de ses liberteacutes

chacun nest soumis quaux limitations eacutetablies par la loi exclusivement

en vue dassurer la reconnaissance et le respect des droits et liberteacutes

dautrui et afin de satisfaire aux justes exigences de la morale de lordre

public et du bien-ecirctre geacuteneacuteral dans une socieacuteteacute deacutemocratique

3 Ces droits et liberteacutes ne pourront en aucun cas sexercer contrairement

aux buts et aux principes des Nations Unies

217

Article 30

Aucune disposition de la preacutesente Deacuteclaration ne peut ecirctre interpreacuteteacutee comme

impliquant pour un Etat un groupement ou un individu un droit quelconque de

se livrer agrave une activiteacute ou daccomplir un acte visant agrave la destruction des droits

et liberteacutes qui y sont eacutenonceacutes

DOCUMENTO III

218

Presidecircncia da Repuacuteblica

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Juriacutedicos

CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988

PREAcircMBULO

Noacutes representantes do povo brasileiro reunidos em Assembleia Nacional

Constituinte para instituir um Estado Democraacutetico destinado a assegurar o

exerciacutecio dos direitos sociais e individuais a liberdade a seguranccedila o bem-

estar o desenvolvimento a igualdade e a justiccedila como valores supremos de

uma sociedade fraterna pluralista e sem preconceitos fundada na harmonia

social e comprometida na ordem interna e internacional com a soluccedilatildeo

paciacutefica das controveacutersias promulgamos sob a proteccedilatildeo de Deus a seguinte

CONSTITUICcedilAtildeO DA REPUacuteBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

TIacuteTULO I

Dos Princiacutepios Fundamentais

Art 1ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil formada pela uniatildeo indissoluacutevel dos

Estados e Municiacutepios e do Distrito Federal constitui-se em Estado Democraacutetico

de Direito e tem como fundamentos

I - a soberania

II - a cidadania

III - a dignidade da pessoa humana

IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa

V - o pluralismo poliacutetico

Paraacutegrafo uacutenico Todo o poder emana do povo que o exerce por meio de

representantes eleitos ou diretamente nos termos desta Constituiccedilatildeo

219

Art 2ordm Satildeo Poderes da Uniatildeo independentes e harmocircnicos entre si o

Legislativo o Executivo e o Judiciaacuterio

Art 3ordm Constituem objetivos fundamentais da Repuacuteblica Federativa do Brasil

I - construir uma sociedade livre justa e solidaacuteria

II - garantir o desenvolvimento nacional

III - erradicar a pobreza e a marginalizaccedilatildeo e reduzir as desigualdades

sociais e regionais

IV - promover o bem de todos sem preconceitos de origem raccedila sexo cor

idade e quaisquer outras formas de discriminaccedilatildeo

Art 4ordm A Repuacuteblica Federativa do Brasil rege-se nas suas relaccedilotildees

internacionais pelos seguintes princiacutepios

I - independecircncia nacional

II - prevalecircncia dos direitos humanos

III - autodeterminaccedilatildeo dos povos

IV - natildeo-intervenccedilatildeo

V - igualdade entre os Estados

VI - defesa da paz

VII - soluccedilatildeo paciacutefica dos conflitos

VIII - repuacutedio ao terrorismo e ao racismo

IX - cooperaccedilatildeo entre os povos para o progresso da humanidade

X - concessatildeo de asilo poliacutetico

220

Paraacutegrafo uacutenico A Repuacuteblica Federativa do Brasil buscaraacute a integraccedilatildeo

econocircmica poliacutetica social e cultural dos povos da Ameacuterica Latina visando agrave

formaccedilatildeo de uma comunidade latino-americana de naccedilotildees

TIacuteTULO II

Dos Direitos e Garantias Fundamentais

CAPIacuteTULO I

DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art 5ordm Todos satildeo iguais perante a lei sem distinccedilatildeo de qualquer natureza

garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no Paiacutes a

inviolabilidade do direito agrave vida agrave liberdade agrave igualdade agrave seguranccedila e agrave

propriedade nos termos seguintes

I - homens e mulheres satildeo iguais em direitos e obrigaccedilotildees nos termos desta

Constituiccedilatildeo

II - ningueacutem seraacute obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senatildeo em

virtude de lei

ltP

III - ningueacutem seraacute submetido a tortura nem a tratamento desumano ou

degradante

IV - eacute livre a manifestaccedilatildeo do pensamento sendo vedado o anonimato

V - eacute assegurado o direito de resposta proporcional ao agravo aleacutem da

indenizaccedilatildeo por dano material moral ou agrave imagem

221

VI - eacute inviolaacutevel a liberdade de consciecircncia e de crenccedila sendo assegurado o

livre exerciacutecio dos cultos religiosos e garantida na forma da lei a proteccedilatildeo aos

locais de culto e a suas liturgias

VII - eacute assegurada nos termos da lei a prestaccedilatildeo de assistecircncia religiosa

nas entidades civis e militares de internaccedilatildeo coletiva

VIII - ningueacutem seraacute privado de direitos por motivo de crenccedila religiosa ou de

convicccedilatildeo filosoacutefica ou poliacutetica salvo se as invocar para eximir-se de obrigaccedilatildeo

legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestaccedilatildeo alternativa fixada em

lei

IX - eacute livre a expressatildeo da atividade intelectual artiacutestica cientiacutefica e de

comunicaccedilatildeo independentemente de censura ou licenccedila

X - satildeo inviolaacuteveis a intimidade a vida privada a honra e a imagem das

pessoas assegurado o direito a indenizaccedilatildeo pelo dano material ou moral

decorrente de sua violaccedilatildeo

XI - a casa eacute asilo inviolaacutevel do indiviacuteduo ningueacutem nela podendo penetrar

sem consentimento do morador salvo em caso de flagrante delito ou desastre

ou para prestar socorro ou durante o dia por determinaccedilatildeo judicial

XII - eacute inviolaacutevel o sigilo da correspondecircncia e das comunicaccedilotildees

telegraacuteficas de dados e das comunicaccedilotildees telefocircnicas salvo no uacuteltimo caso

por ordem judicial nas hipoacuteteses e na forma que a lei estabelecer para fins de

investigaccedilatildeo criminal ou instruccedilatildeo processual penal (Vide Lei nordm 9296 de

1996)

XIII - eacute livre o exerciacutecio de qualquer trabalho ofiacutecio ou profissatildeo atendidas

as qualificaccedilotildees profissionais que a lei estabelecer

XIV - eacute assegurado a todos o acesso agrave informaccedilatildeo e resguardado o sigilo da

fonte quando necessaacuterio ao exerciacutecio profissional

222

XV - eacute livre a locomoccedilatildeo no territoacuterio nacional em tempo de paz podendo

qualquer pessoa nos termos da lei nele entrar permanecer ou dele sair com

seus bens

XVI - todos podem reunir-se pacificamente sem armas em locais abertos

ao puacuteblico independentemente de autorizaccedilatildeo desde que natildeo frustrem outra

reuniatildeo anteriormente convocada para o mesmo local sendo apenas exigido

preacutevio aviso agrave autoridade competente

XVII - eacute plena a liberdade de associaccedilatildeo para fins liacutecitos vedada a de

caraacuteter paramilitar

XVIII - a criaccedilatildeo de associaccedilotildees e na forma da lei a de cooperativas

independem de autorizaccedilatildeo sendo vedada a interferecircncia estatal em seu

funcionamento

XIX - as associaccedilotildees soacute poderatildeo ser compulsoriamente dissolvidas ou ter

suas atividades suspensas por decisatildeo judicial exigindo-se no primeiro caso

o tracircnsito em julgado

XX - ningueacutem poderaacute ser compelido a associar-se ou a permanecer

associado

XXI - as entidades associativas quando expressamente autorizadas tecircm

legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente

XXII - eacute garantido o direito de propriedade

XXIII - a propriedade atenderaacute a sua funccedilatildeo social

XXIV - a lei estabeleceraacute o procedimento para desapropriaccedilatildeo por

necessidade ou utilidade puacuteblica ou por interesse social mediante justa e

preacutevia indenizaccedilatildeo em dinheiro ressalvados os casos previstos nesta

Constituiccedilatildeo

223

XXV - no caso de iminente perigo puacuteblico a autoridade competente poderaacute

usar de propriedade particular assegurada ao proprietaacuterio indenizaccedilatildeo ulterior

se houver dano

XXVI - a pequena propriedade rural assim definida em lei desde que

trabalhada pela famiacutelia natildeo seraacute objeto de penhora para pagamento de deacutebitos

decorrentes de sua atividade produtiva dispondo a lei sobre os meios de

financiar o seu desenvolvimento

XXVII - aos autores pertence o direito exclusivo de utilizaccedilatildeo publicaccedilatildeo ou

reproduccedilatildeo de suas obras transmissiacutevel aos herdeiros pelo tempo que a lei

fixar

XXVIII - satildeo assegurados nos termos da lei

a) a proteccedilatildeo agraves participaccedilotildees individuais em obras coletivas e agrave reproduccedilatildeo

da imagem e voz humanas inclusive nas atividades desportivas

b) o direito de fiscalizaccedilatildeo do aproveitamento econocircmico das obras que

criarem ou de que participarem aos criadores aos inteacuterpretes e agraves respectivas

representaccedilotildees sindicais e associativas

XXIX - a lei asseguraraacute aos autores de inventos industriais privileacutegio

temporaacuterio para sua utilizaccedilatildeo bem como proteccedilatildeo agraves criaccedilotildees industriais agrave

propriedade das marcas aos nomes de empresas e a outros signos distintivos

tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnoloacutegico e econocircmico

do Paiacutes

XXX - eacute garantido o direito de heranccedila

XXXI - a sucessatildeo de bens de estrangeiros situados no Paiacutes seraacute regulada

pela lei brasileira em benefiacutecio do cocircnjuge ou dos filhos brasileiros sempre que

natildeo lhes seja mais favoraacutevel a lei pessoal do de cujus

XXXII - o Estado promoveraacute na forma da lei a defesa do consumidor

224

XXXIII - todos tecircm direito a receber dos oacutergatildeos puacuteblicos informaccedilotildees de seu

interesse particular ou de interesse coletivo ou geral que seratildeo prestadas no

prazo da lei sob pena de responsabilidade ressalvadas aquelas cujo sigilo

seja imprescindiacutevel agrave seguranccedila da sociedade e do Estado (Regulamento)

XXXIV - satildeo a todos assegurados independentemente do pagamento de

taxas

a) o direito de peticcedilatildeo aos Poderes Puacuteblicos em defesa de direitos ou contra

ilegalidade ou abuso de poder

b) a obtenccedilatildeo de certidotildees em reparticcedilotildees puacuteblicas para defesa de direitos

e esclarecimento de situaccedilotildees de interesse pessoal

XXXV - a lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou

ameaccedila a direito

XXXVI - a lei natildeo prejudicaraacute o direito adquirido o ato juriacutedico perfeito e a

coisa julgada

XXXVII - natildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeo

XXXVIII - eacute reconhecida a instituiccedilatildeo do juacuteri com a organizaccedilatildeo que lhe der

a lei assegurados

a) a plenitude de defesa

b) o sigilo das votaccedilotildees

c) a soberania dos veredictos

d) a competecircncia para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida

XXXIX - natildeo haacute crime sem lei anterior que o defina nem pena sem preacutevia

cominaccedilatildeo legal

XL - a lei penal natildeo retroagiraacute salvo para beneficiar o reacuteu

225

XLI - a lei puniraacute qualquer discriminaccedilatildeo atentatoacuteria dos direitos e liberdades

fundamentais

XLII - a praacutetica do racismo constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel

sujeito agrave pena de reclusatildeo nos termos da lei

XLIII - a lei consideraraacute crimes inafianccedilaacuteveis e insuscetiacuteveis de graccedila ou

anistia a praacutetica da tortura o traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins o

terrorismo e os definidos como crimes hediondos por eles respondendo os

mandantes os executores e os que podendo evitaacute-los se omitirem

XLIV - constitui crime inafianccedilaacutevel e imprescritiacutevel a accedilatildeo de grupos

armados civis ou militares contra a ordem constitucional e o Estado

Democraacutetico

XLV - nenhuma pena passaraacute da pessoa do condenado podendo a

obrigaccedilatildeo de reparar o dano e a decretaccedilatildeo do perdimento de bens ser nos

termos da lei estendidas aos sucessores e contra eles executadas ateacute o limite

do valor do patrimocircnio transferido

XLVI - a lei regularaacute a individualizaccedilatildeo da pena e adotaraacute entre outras as

seguintes

a) privaccedilatildeo ou restriccedilatildeo da liberdade

b) perda de bens

c) multa

d) prestaccedilatildeo social alternativa

e) suspensatildeo ou interdiccedilatildeo de direitos

XLVII - natildeo haveraacute penas

a) de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art 84 XIX

226

b) de caraacuteter perpeacutetuo

c) de trabalhos forccedilados

d) de banimento

e) crueacuteis

XLVIII - a pena seraacute cumprida em estabelecimentos distintos de acordo com

a natureza do delito a idade e o sexo do apenado

XLIX - eacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade fiacutesica e moral

L - agraves presidiaacuterias seratildeo asseguradas condiccedilotildees para que possam

permanecer com seus filhos durante o periacuteodo de amamentaccedilatildeo

LI - nenhum brasileiro seraacute extraditado salvo o naturalizado em caso de

crime comum praticado antes da naturalizaccedilatildeo ou de comprovado

envolvimento em traacutefico iliacutecito de entorpecentes e drogas afins na forma da lei

LII - natildeo seraacute concedida extradiccedilatildeo de estrangeiro por crime poliacutetico ou de

opiniatildeo

LIII - ningueacutem seraacute processado nem sentenciado senatildeo pela autoridade

competente

LIV - ningueacutem seraacute privado da liberdade ou de seus bens sem o devido

processo legal

LV - aos litigantes em processo judicial ou administrativo e aos acusados

em geral satildeo assegurados o contraditoacuterio e ampla defesa com os meios e

recursos a ela inerentes

LVI - satildeo inadmissiacuteveis no processo as provas obtidas por meios iliacutecitos

LVII - ningueacutem seraacute considerado culpado ateacute o tracircnsito em julgado de

sentenccedila penal condenatoacuteria

227

LVIII - o civilmente identificado natildeo seraacute submetido a identificaccedilatildeo criminal

salvo nas hipoacuteteses previstas em lei (Regulamento)

LIX - seraacute admitida accedilatildeo privada nos crimes de accedilatildeo puacuteblica se esta natildeo for

intentada no prazo legal

LX - a lei soacute poderaacute restringir a publicidade dos atos processuais quando a

defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem

LXI - ningueacutem seraacute preso senatildeo em flagrante delito ou por ordem escrita e

fundamentada de autoridade judiciaacuteria competente salvo nos casos de

transgressatildeo militar ou crime propriamente militar definidos em lei

LXII - a prisatildeo de qualquer pessoa e o local onde se encontre seratildeo

comunicados imediatamente ao juiz competente e agrave famiacutelia do preso ou agrave

pessoa por ele indicada

LXIII - o preso seraacute informado de seus direitos entre os quais o de

permanecer calado sendo-lhe assegurada a assistecircncia da famiacutelia e de

advogado

LXIV - o preso tem direito agrave identificaccedilatildeo dos responsaacuteveis por sua prisatildeo ou

por seu interrogatoacuterio policial

LXV - a prisatildeo ilegal seraacute imediatamente relaxada pela autoridade judiciaacuteria

LXVI - ningueacutem seraacute levado agrave prisatildeo ou nela mantido quando a lei admitir a

liberdade provisoacuteria com ou sem fianccedila

LXVII - natildeo haveraacute prisatildeo civil por diacutevida salvo a do responsaacutevel pelo

inadimplemento voluntaacuterio e inescusaacutevel de obrigaccedilatildeo alimentiacutecia e a do

depositaacuterio infiel

LXVIII - conceder-se-aacute habeas-corpus sempre que algueacutem sofrer ou se

achar ameaccedilado de sofrer violecircncia ou coaccedilatildeo em sua liberdade de

locomoccedilatildeo por ilegalidade ou abuso de poder

228

LXIX - conceder-se-aacute mandado de seguranccedila para proteger direito liacutequido e

certo natildeo amparado por habeas-corpus ou habeas-data quando o

responsaacutevel pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade puacuteblica ou

agente de pessoa juriacutedica no exerciacutecio de atribuiccedilotildees do Poder Puacuteblico

LXX - o mandado de seguranccedila coletivo pode ser impetrado por

a) partido poliacutetico com representaccedilatildeo no Congresso Nacional

b) organizaccedilatildeo sindical entidade de classe ou associaccedilatildeo legalmente

constituiacuteda e em funcionamento haacute pelo menos um ano em defesa dos

interesses de seus membros ou associados

LXXI - conceder-se-aacute mandado de injunccedilatildeo sempre que a falta de norma

regulamentadora torne inviaacutevel o exerciacutecio dos direitos e liberdades

constitucionais e das prerrogativas inerentes agrave nacionalidade agrave soberania e agrave

cidadania

LXXII - conceder-se-aacute habeas-data

a) para assegurar o conhecimento de informaccedilotildees relativas agrave pessoa do

impetrante constantes de registros ou bancos de dados de entidades

governamentais ou de caraacuteter puacuteblico

b) para a retificaccedilatildeo de dados quando natildeo se prefira fazecirc-lo por processo

sigiloso judicial ou administrativo

LXXIII - qualquer cidadatildeo eacute parte legiacutetima para propor accedilatildeo popular que vise

a anular ato lesivo ao patrimocircnio puacuteblico ou de entidade de que o Estado

participe agrave moralidade administrativa ao meio ambiente e ao patrimocircnio

histoacuterico e cultural ficando o autor salvo comprovada maacute-feacute isento de custas

judiciais e do ocircnus da sucumbecircncia

LXXIV - o Estado prestaraacute assistecircncia juriacutedica integral e gratuita aos que

comprovarem insuficiecircncia de recursos

229

LXXV - o Estado indenizaraacute o condenado por erro judiciaacuterio assim como o

que ficar preso aleacutem do tempo fixado na sentenccedila

LXXVI - satildeo gratuitos para os reconhecidamente pobres na forma da lei

a) o registro civil de nascimento

b) a certidatildeo de oacutebito

LXXVII - satildeo gratuitas as accedilotildees de habeas-corpus e habeas-data e na

forma da lei os atos necessaacuterios ao exerciacutecio da cidadania

LXXVIII a todos no acircmbito judicial e administrativo satildeo assegurados a

razoaacutevel duraccedilatildeo do processo e os meios que garantam a celeridade de sua

tramitaccedilatildeo (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45 de 2004)

sect 1ordm - As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tecircm

aplicaccedilatildeo imediata

sect 2ordm - Os direitos e garantias expressos nesta Constituiccedilatildeo natildeo excluem

outros decorrentes do regime e dos princiacutepios por ela adotados ou dos

tratados internacionais em que a Repuacuteblica Federativa do Brasil seja parte

sect 3ordm Os tratados e convenccedilotildees internacionais sobre direitos humanos que

forem aprovados em cada Casa do Congresso Nacional em dois turnos por

trecircs quintos dos votos dos respectivos membros seratildeo equivalentes agraves

emendas constitucionais (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45 de 2004)

(Atos aprovados na forma deste paraacutegrafo)

sect 4ordm O Brasil se submete agrave jurisdiccedilatildeo de Tribunal Penal Internacional a cuja

criaccedilatildeo tenha manifestado adesatildeo (Incluiacutedo pela Emenda Constitucional nordm 45

de 2004)

230

DOCUMENTO IV

Presidecircncia da Repuacuteblica

Casa Civil

Subchefia para Assuntos Juriacutedicos

LEI Nordm 11419 DE 19 DE DEZEMBRO DE 2006

Mensagem de veto

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do

processo judicial altera a Lei no 5869

de 11 de janeiro de 1973 ndash Coacutedigo de

Processo Civil e daacute outras

providecircncias

O PRESIDENTE DA REPUacuteBLICA Faccedilo saber que o Congresso Nacional

decreta e eu sanciono a seguinte Lei

CAPIacuteTULO I

DA INFORMATIZACcedilAtildeO DO PROCESSO JUDICIAL

Art 1o O uso de meio eletrocircnico na tramitaccedilatildeo de processos judiciais

comunicaccedilatildeo de atos e transmissatildeo de peccedilas processuais seraacute admitido nos

termos desta Lei

sect 1o Aplica-se o disposto nesta Lei indistintamente aos processos civil

penal e trabalhista bem como aos juizados especiais em qualquer grau de

jurisdiccedilatildeo

sect 2o Para o disposto nesta Lei considera-se

I - meio eletrocircnico qualquer forma de armazenamento ou traacutefego de

documentos e arquivos digitais

231

II - transmissatildeo eletrocircnica toda forma de comunicaccedilatildeo a distacircncia com a

utilizaccedilatildeo de redes de comunicaccedilatildeo preferencialmente a rede mundial de

computadores

III - assinatura eletrocircnica as seguintes formas de identificaccedilatildeo inequiacutevoca

do signataacuterio

a) assinatura digital baseada em certificado digital emitido por Autoridade

Certificadora credenciada na forma de lei especiacutefica

b) mediante cadastro de usuaacuterio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado

pelos oacutergatildeos respectivos

Art 2o O envio de peticcedilotildees de recursos e a praacutetica de atos processuais

em geral por meio eletrocircnico seratildeo admitidos mediante uso de assinatura

eletrocircnica na forma do art 1o desta Lei sendo obrigatoacuterio o credenciamento

preacutevio no Poder Judiciaacuterio conforme disciplinado pelos oacutergatildeos respectivos

sect 1o O credenciamento no Poder Judiciaacuterio seraacute realizado mediante

procedimento no qual esteja assegurada a adequada identificaccedilatildeo presencial

do interessado

sect 2o Ao credenciado seraacute atribuiacutedo registro e meio de acesso ao sistema

de modo a preservar o sigilo a identificaccedilatildeo e a autenticidade de suas

comunicaccedilotildees

sect 3o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo criar um cadastro uacutenico para o

credenciamento previsto neste artigo

Art 3o Consideram-se realizados os atos processuais por meio eletrocircnico

no dia e hora do seu envio ao sistema do Poder Judiciaacuterio do que deveraacute ser

fornecido protocolo eletrocircnico

Paraacutegrafo uacutenico Quando a peticcedilatildeo eletrocircnica for enviada para atender

prazo processual seratildeo consideradas tempestivas as transmitidas ateacute as 24

(vinte e quatro) horas do seu uacuteltimo dia

232

CAPIacuteTULO II

DA COMUNICACcedilAtildeO ELETROcircNICA DOS ATOS PROCESSUAIS

Art 4o Os tribunais poderatildeo criar Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

disponibilizado em siacutetio da rede mundial de computadores para publicaccedilatildeo de

atos judiciais e administrativos proacuteprios e dos oacutergatildeos a eles subordinados bem

como comunicaccedilotildees em geral

sect 1o O siacutetio e o conteuacutedo das publicaccedilotildees de que trata este artigo deveratildeo

ser assinados digitalmente com base em certificado emitido por Autoridade

Certificadora credenciada na forma da lei especiacutefica

sect 2o A publicaccedilatildeo eletrocircnica na forma deste artigo substitui qualquer outro

meio e publicaccedilatildeo oficial para quaisquer efeitos legais agrave exceccedilatildeo dos casos

que por lei exigem intimaccedilatildeo ou vista pessoal

sect 3o Considera-se como data da publicaccedilatildeo o primeiro dia uacutetil seguinte ao

da disponibilizaccedilatildeo da informaccedilatildeo no Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico

sect 4o Os prazos processuais teratildeo iniacutecio no primeiro dia uacutetil que seguir ao

considerado como data da publicaccedilatildeo

sect 5o A criaccedilatildeo do Diaacuterio da Justiccedila eletrocircnico deveraacute ser acompanhada de

ampla divulgaccedilatildeo e o ato administrativo correspondente seraacute publicado

durante 30 (trinta) dias no diaacuterio oficial em uso

Art 5o As intimaccedilotildees seratildeo feitas por meio eletrocircnico em portal proacuteprio aos

que se cadastrarem na forma do art 2o desta Lei dispensando-se a publicaccedilatildeo

no oacutergatildeo oficial inclusive eletrocircnico

sect 1o Considerar-se-aacute realizada a intimaccedilatildeo no dia em que o intimando

efetivar a consulta eletrocircnica ao teor da intimaccedilatildeo certificando-se nos autos a

sua realizaccedilatildeo

233

sect 2o Na hipoacutetese do sect 1o deste artigo nos casos em que a consulta se decirc

em dia natildeo uacutetil a intimaccedilatildeo seraacute considerada como realizada no primeiro dia

uacutetil seguinte

sect 3o A consulta referida nos sectsect 1o e 2o deste artigo deveraacute ser feita em ateacute

10 (dez) dias corridos contados da data do envio da intimaccedilatildeo sob pena de

considerar-se a intimaccedilatildeo automaticamente realizada na data do teacutermino desse

prazo

sect 4o Em caraacuteter informativo poderaacute ser efetivada remessa de

correspondecircncia eletrocircnica comunicando o envio da intimaccedilatildeo e a abertura

automaacutetica do prazo processual nos termos do sect 3o deste artigo aos que

manifestarem interesse por esse serviccedilo

sect 5o Nos casos urgentes em que a intimaccedilatildeo feita na forma deste artigo

possa causar prejuiacutezo a quaisquer das partes ou nos casos em que for

evidenciada qualquer tentativa de burla ao sistema o ato processual deveraacute

ser realizado por outro meio que atinja a sua finalidade conforme determinado

pelo juiz

sect 6o As intimaccedilotildees feitas na forma deste artigo inclusive da Fazenda

Puacuteblica seratildeo consideradas pessoais para todos os efeitos legais

Art 6o Observadas as formas e as cautelas do art 5o desta Lei as

citaccedilotildees inclusive da Fazenda Puacuteblica excetuadas as dos Direitos

Processuais Criminal e Infracional poderatildeo ser feitas por meio eletrocircnico

desde que a iacutentegra dos autos seja acessiacutevel ao citando

Art 7o As cartas precatoacuterias rogatoacuterias de ordem e de um modo geral

todas as comunicaccedilotildees oficiais que transitem entre oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio

bem como entre os deste e os dos demais Poderes seratildeo feitas

preferentemente por meio eletrocircnico

CAPIacuteTULO III

234

DO PROCESSO ELETROcircNICO

Art 8o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio poderatildeo desenvolver sistemas

eletrocircnicos de processamento de accedilotildees judiciais por meio de autos total ou

parcialmente digitais utilizando preferencialmente a rede mundial de

computadores e acesso por meio de redes internas e externas

Paraacutegrafo uacutenico Todos os atos processuais do processo eletrocircnico seratildeo

assinados eletronicamente na forma estabelecida nesta Lei

Art 9o No processo eletrocircnico todas as citaccedilotildees intimaccedilotildees e

notificaccedilotildees inclusive da Fazenda Puacuteblica seratildeo feitas por meio eletrocircnico na

forma desta Lei

sect 1o As citaccedilotildees intimaccedilotildees notificaccedilotildees e remessas que viabilizem o

acesso agrave iacutentegra do processo correspondente seratildeo consideradas vista pessoal

do interessado para todos os efeitos legais

sect 2o Quando por motivo teacutecnico for inviaacutevel o uso do meio eletrocircnico para

a realizaccedilatildeo de citaccedilatildeo intimaccedilatildeo ou notificaccedilatildeo esses atos processuais

poderatildeo ser praticados segundo as regras ordinaacuterias digitalizando-se o

documento fiacutesico que deveraacute ser posteriormente destruiacutedo

Art 10 A distribuiccedilatildeo da peticcedilatildeo inicial e a juntada da contestaccedilatildeo dos

recursos e das peticcedilotildees em geral todos em formato digital nos autos de

processo eletrocircnico podem ser feitas diretamente pelos advogados puacuteblicos e

privados sem necessidade da intervenccedilatildeo do cartoacuterio ou secretaria judicial

situaccedilatildeo em que a autuaccedilatildeo deveraacute se dar de forma automaacutetica fornecendo-se

recibo eletrocircnico de protocolo

sect 1o Quando o ato processual tiver que ser praticado em determinado

prazo por meio de peticcedilatildeo eletrocircnica seratildeo considerados tempestivos os

efetivados ateacute as 24 (vinte e quatro) horas do uacuteltimo dia

235

sect 2o No caso do sect 1o deste artigo se o Sistema do Poder Judiciaacuterio se

tornar indisponiacutevel por motivo teacutecnico o prazo fica automaticamente prorrogado

para o primeiro dia uacutetil seguinte agrave resoluccedilatildeo do problema

sect 3o Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio deveratildeo manter equipamentos de

digitalizaccedilatildeo e de acesso agrave rede mundial de computadores agrave disposiccedilatildeo dos

interessados para distribuiccedilatildeo de peccedilas processuais

Art 11 Os documentos produzidos eletronicamente e juntados aos

processos eletrocircnicos com garantia da origem e de seu signataacuterio na forma

estabelecida nesta Lei seratildeo considerados originais para todos os efeitos

legais

sect 1o Os extratos digitais e os documentos digitalizados e juntados aos

autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila e seus auxiliares pelo Ministeacuterio Puacuteblico e seus

auxiliares pelas procuradorias pelas autoridades policiais pelas reparticcedilotildees

puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos e privados tecircm a mesma forccedila

probante dos originais ressalvada a alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de

adulteraccedilatildeo antes ou durante o processo de digitalizaccedilatildeo

sect 2o A arguumliccedilatildeo de falsidade do documento original seraacute processada

eletronicamente na forma da lei processual em vigor

sect 3o Os originais dos documentos digitalizados mencionados no sect 2o

deste artigo deveratildeo ser preservados pelo seu detentor ateacute o tracircnsito em

julgado da sentenccedila ou quando admitida ateacute o final do prazo para interposiccedilatildeo

de accedilatildeo rescisoacuteria

sect 4o (VETADO)

sect 5o Os documentos cuja digitalizaccedilatildeo seja tecnicamente inviaacutevel devido

ao grande volume ou por motivo de ilegibilidade deveratildeo ser apresentados ao

cartoacuterio ou secretaria no prazo de 10 (dez) dias contados do envio de peticcedilatildeo

eletrocircnica comunicando o fato os quais seratildeo devolvidos agrave parte apoacutes o

tracircnsito em julgado

236

sect 6o Os documentos digitalizados juntados em processo eletrocircnico

somente estaratildeo disponiacuteveis para acesso por meio da rede externa para suas

respectivas partes processuais e para o Ministeacuterio Puacuteblico respeitado o

disposto em lei para as situaccedilotildees de sigilo e de segredo de justiccedila

Art 12 A conservaccedilatildeo dos autos do processo poderaacute ser efetuada total ou

parcialmente por meio eletrocircnico

sect 1o Os autos dos processos eletrocircnicos deveratildeo ser protegidos por meio

de sistemas de seguranccedila de acesso e armazenados em meio que garanta a

preservaccedilatildeo e integridade dos dados sendo dispensada a formaccedilatildeo de autos

suplementares

sect 2o Os autos de processos eletrocircnicos que tiverem de ser remetidos a

outro juiacutezo ou instacircncia superior que natildeo disponham de sistema compatiacutevel

deveratildeo ser impressos em papel autuados na forma dos arts 166 a 168 da Lei

no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo Civil ainda que de

natureza criminal ou trabalhista ou pertinentes a juizado especial

sect 3o No caso do sect 2o deste artigo o escrivatildeo ou o chefe de secretaria

certificaraacute os autores ou a origem dos documentos produzidos nos autos

acrescentando ressalvada a hipoacutetese de existir segredo de justiccedila a forma

pela qual o banco de dados poderaacute ser acessado para aferir a autenticidade

das peccedilas e das respectivas assinaturas digitais

sect 4o Feita a autuaccedilatildeo na forma estabelecida no sect 2o deste artigo o

processo seguiraacute a tramitaccedilatildeo legalmente estabelecida para os processos

fiacutesicos

sect 5o A digitalizaccedilatildeo de autos em miacutedia natildeo digital em tramitaccedilatildeo ou jaacute

arquivados seraacute precedida de publicaccedilatildeo de editais de intimaccedilotildees ou da

intimaccedilatildeo pessoal das partes e de seus procuradores para que no prazo

preclusivo de 30 (trinta) dias se manifestem sobre o desejo de manterem

pessoalmente a guarda de algum dos documentos originais

237

Art 13 O magistrado poderaacute determinar que sejam realizados por meio

eletrocircnico a exibiccedilatildeo e o envio de dados e de documentos necessaacuterios agrave

instruccedilatildeo do processo

sect 1o Consideram-se cadastros puacuteblicos para os efeitos deste artigo

dentre outros existentes ou que venham a ser criados ainda que mantidos por

concessionaacuterias de serviccedilo puacuteblico ou empresas privadas os que contenham

informaccedilotildees indispensaacuteveis ao exerciacutecio da funccedilatildeo judicante

sect 2o O acesso de que trata este artigo dar-se-aacute por qualquer meio

tecnoloacutegico disponiacutevel preferentemente o de menor custo considerada sua

eficiecircncia

sect 3o (VETADO)

CAPIacuteTULO IV

DISPOSICcedilOtildeES GERAIS E FINAIS

Art 14 Os sistemas a serem desenvolvidos pelos oacutergatildeos do Poder

Judiciaacuterio deveratildeo usar preferencialmente programas com coacutedigo aberto

acessiacuteveis ininterruptamente por meio da rede mundial de computadores

priorizando-se a sua padronizaccedilatildeo

Paraacutegrafo uacutenico Os sistemas devem buscar identificar os casos de

ocorrecircncia de prevenccedilatildeo litispendecircncia e coisa julgada

Art 15 Salvo impossibilidade que comprometa o acesso agrave justiccedila a parte

deveraacute informar ao distribuir a peticcedilatildeo inicial de qualquer accedilatildeo judicial o

nuacutemero no cadastro de pessoas fiacutesicas ou juriacutedicas conforme o caso perante

a Secretaria da Receita Federal

Paraacutegrafo uacutenico Da mesma forma as peccedilas de acusaccedilatildeo criminais

deveratildeo ser instruiacutedas pelos membros do Ministeacuterio Puacuteblico ou pelas

autoridades policiais com os nuacutemeros de registros dos acusados no Instituto

Nacional de Identificaccedilatildeo do Ministeacuterio da Justiccedila se houver

238

Art 16 Os livros cartoraacuterios e demais repositoacuterios dos oacutergatildeos do Poder

Judiciaacuterio poderatildeo ser gerados e armazenados em meio totalmente eletrocircnico

Art 17 (VETADO)

Art 18 Os oacutergatildeos do Poder Judiciaacuterio regulamentaratildeo esta Lei no que

couber no acircmbito de suas respectivas competecircncias

Art 19 Ficam convalidados os atos processuais praticados por meio

eletrocircnico ateacute a data de publicaccedilatildeo desta Lei desde que tenham atingido sua

finalidade e natildeo tenha havido prejuiacutezo para as partes

Art 20 A Lei no 5869 de 11 de janeiro de 1973 - Coacutedigo de Processo

Civil passa a vigorar com as seguintes alteraccedilotildees

Art 38

Paraacutegrafo uacutenico A procuraccedilatildeo pode ser assinada digitalmente com base em

certificado emitido por Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei

especiacutefica (NR)

Art 154

Paraacutegrafo uacutenico (Vetado) (VETADO)

sect 2o Todos os atos e termos do processo podem ser produzidos transmitidos

armazenados e assinados por meio eletrocircnico na forma da lei (NR)

Art 164

Paraacutegrafo uacutenico A assinatura dos juiacutezes em todos os graus de jurisdiccedilatildeo

pode ser feita eletronicamente na forma da lei (NR)

Art 169

sect 1o Eacute vedado usar abreviaturas

239

sect 2o Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrocircnico os atos

processuais praticados na presenccedila do juiz poderatildeo ser produzidos e

armazenados de modo integralmente digital em arquivo eletrocircnico inviolaacutevel na

forma da lei mediante registro em termo que seraacute assinado digitalmente pelo

juiz e pelo escrivatildeo ou chefe de secretaria bem como pelos advogados das

partes

sect 3o No caso do sect 2o deste artigo eventuais contradiccedilotildees na transcriccedilatildeo

deveratildeo ser suscitadas oralmente no momento da realizaccedilatildeo do ato sob pena

de preclusatildeo devendo o juiz decidir de plano registrando-se a alegaccedilatildeo e a

decisatildeo no termo (NR)

Art 202

sect 3o A carta de ordem carta precatoacuteria ou carta rogatoacuteria pode ser expedida

por meio eletrocircnico situaccedilatildeo em que a assinatura do juiz deveraacute ser eletrocircnica

na forma da lei (NR)

Art 221

IV - por meio eletrocircnico conforme regulado em lei proacutepria (NR)

Art 237

Paraacutegrafo uacutenico As intimaccedilotildees podem ser feitas de forma eletrocircnica conforme

regulado em lei proacutepria (NR)

Art 365

240

V - os extratos digitais de bancos de dados puacuteblicos e privados desde que

atestado pelo seu emitente sob as penas da lei que as informaccedilotildees conferem

com o que consta na origem

VI - as reproduccedilotildees digitalizadas de qualquer documento puacuteblico ou particular

quando juntados aos autos pelos oacutergatildeos da Justiccedila e seus auxiliares pelo

Ministeacuterio Puacuteblico e seus auxiliares pelas procuradorias pelas reparticcedilotildees

puacuteblicas em geral e por advogados puacuteblicos ou privados ressalvada a

alegaccedilatildeo motivada e fundamentada de adulteraccedilatildeo antes ou durante o

processo de digitalizaccedilatildeo

sect 1o Os originais dos documentos digitalizados mencionados no inciso VI do

caput deste artigo deveratildeo ser preservados pelo seu detentor ateacute o final do

prazo para interposiccedilatildeo de accedilatildeo rescisoacuteria

sect 2o Tratando-se de coacutepia digital de tiacutetulo executivo extrajudicial ou outro

documento relevante agrave instruccedilatildeo do processo o juiz poderaacute determinar o seu

depoacutesito em cartoacuterio ou secretaria (NR)

Art 399

sect 1o Recebidos os autos o juiz mandaraacute extrair no prazo maacuteximo e

improrrogaacutevel de 30 (trinta) dias certidotildees ou reproduccedilotildees fotograacuteficas das

peccedilas indicadas pelas partes ou de ofiacutecio findo o prazo devolveraacute os autos agrave

reparticcedilatildeo de origem

sect 2o As reparticcedilotildees puacuteblicas poderatildeo fornecer todos os documentos em meio

eletrocircnico conforme disposto em lei certificando pelo mesmo meio que se

trata de extrato fiel do que consta em seu banco de dados ou do documento

digitalizado (NR)

Art 417

sect 1o O depoimento seraacute passado para a versatildeo datilograacutefica quando houver

recurso da sentenccedila ou noutros casos quando o juiz o determinar de ofiacutecio ou

a requerimento da parte

241

sect 2o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2o e

3o do art 169 desta Lei (NR)

Art 457

sect 4o Tratando-se de processo eletrocircnico observar-se-aacute o disposto nos sectsect 2o e

3o do art 169 desta Lei (NR)

Art 556

Paraacutegrafo uacutenico Os votos acoacuterdatildeos e demais atos processuais podem ser

registrados em arquivo eletrocircnico inviolaacutevel e assinados eletronicamente na

forma da lei devendo ser impressos para juntada aos autos do processo

quando este natildeo for eletrocircnico (NR)

Art 21 (VETADO)

Art 22 Esta Lei entra em vigor 90 (noventa) dias depois de sua

publicaccedilatildeo

Brasiacutelia 19 de dezembro de 2006 185o da Independecircncia e 118o da

Repuacuteblica

LUIZ INAacuteCIO LULA DA SILVA

Maacutercio Thomaz Bastos

Este texto natildeo substitui o publicado no DOU de 20122006

DOCUMENTO IV a

APRESENTACcedilAtildeO

242

Apresentamos neste livreto um breve histoacuterico sobre as iniciativas tomadas

pela AJUFE - Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil no acircmbito da

informatizaccedilatildeo do processo judicial

A AJUFE foi a primeira entidade a apresentar em meados de 2001 uma

sugestatildeo de projeto de lei agrave Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa da Cacircmara

dos Deputados receacutem-criada pelo Presidente da Cacircmara Deputado Aeacutecio

Neves e presidida pela Deputada Luiza Erundina

A proposta foi amplamente discutida na Comissatildeo incluindo a realizaccedilatildeo de

audiecircncia puacuteblica na qual foram apresentadas valiosas sugestotildees

incorporadas ao projeto original Transformado o texto no Projeto de Lei

ndeg58282001foi ele relatado pelo Deputado Joseacute Roberto Batochio na

Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo da Cacircmara dos Deputados e

finalmente foi aprovado pelo plenaacuterio em junho do Corrente ano

Atualmente o projeto encontra-se em tramitaccedilatildeo na Comissatildeo de Constituiccedilatildeo

e Justiccedila do Senado Federal A iniciativa da AJUFE insere-se em seu ideal de

trabalho em prol da maior eficaacutecia e celeridade da prestaccedilatildeo jurisdicional

Procuramos apresentar um projeto aberto que permita sua imediata

implementaccedilatildeo aproveitando-se as vaacuterias ferramentas de informaacutetica jaacute em

uso por iniciativa dos diversos Tribunais

Entendemos que natildeo eacute viaacutevel que uma lei que disponha sobre a informaacutetica no

processo judicial venha a impor uma determinada tecnologia pois essa soluccedilatildeo

colocaria todas as iniciativas hoje aplicadas nos Tribunais agrave margem da lei

Aleacutem disso engessaria o projeto urna vez que impediria a incorporaccedilatildeo das

evoluccedilotildees tecnoloacutegicas futuras por parte dos Tribunais sem a ediccedilatildeo de uma

nova lei

O projeto apresentado eacute plenamente compatiacutevel tambeacutem com as tecnologias e

ferramentas de certificaccedilatildeo em vias de implementaccedilatildeo como a ICP-Brasil e a

autenticaccedilatildeo de mensagens eletrocircnicas

Desburocratiza o processo e democratiza o uso da informaacutetica por parte de

todos os envolvidos no processo judicial inclusive advogados e partes

243

Incluiacutemos neste livreto alguns textos que retratam o histoacuterico do projeto de lei

ateacute sua aprovaccedilatildeo na Cacircmara dos Deputados bem como algumas notas da

imprensa e a Carta Abertado IJURIS-Instituto Juriacutedico de Inteligecircncia e

Sistemas entidade independente dedicada ao estudo da informaacutetica e sua

aplicaccedilatildeo no direito e no governo em apoio ao projeto

Esperamos com isso contribuir para o aprimoramento do processo judicial

com evidentes ganhos para a sociedade brasileira

Paulo Seacutergio Domingues

Presidente da AJUFE

DOCUMENTO IVb

244

PARECER E VOTO DO DEPUTADO JOSEacute ROBERTO BATOCHIO

(2252002)

PARECER E VOTO DO DEPUTADO JOSEacute ROBERTO BATOCHIO

RELATOR DO PROJETO DE LEI NA CCJR DA CAcircMARA DOS DEPUTADOS

COMISSAtildeO DE CONSTITUiCcedilAtildeO E JUSTiCcedilA E DE REDACcedilAtildeO

PROJETO DE LEI NQ5828 DE 2001

Dispotildee sobre a informatizaccedilatildeo do processo judicial e daacute outras providecircncias

Autor Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa

Relator Deputado Joseacute Roberto Batochio

I-RELATOacuteRIO

A presente proposta de autoria da Comissatildeo de Legislaccedilatildeo Participativa

pretende permitir o uso de meio eletrocircnico na comunicaccedilatildeo de atos e na

transmissatildeo de peccedilas processuais tais como peticcedilotildees recursos cartas

precatoacuterias etc desde que os interessados se credenciem junto aos oacutergatildeos do

Poder Judiciaacuterio

Determina que pessoas de direito puacuteblico oacutergatildeos da administraccedilatildeo Direta e

indireta e suas representaccedilotildees judiciais disponibilizemem cento e vinte dias da

publicaccedilatildeo desta lei serviccedilo de recebimento e envio de comunicaccedilotildees de atos

judiciais por meio eletrocircnico excetuado os Municiacutepios que natildeo possuam

condiccedilotildees teacutecnicas de implementaccedilatildeo de sistemas eletrocircnicos

Assegura a requisiccedilatildeo por parte de juiacutezes e tribunais de dados constantes de

cadastros puacuteblicos essenciais ao desempenho de suas atividades

A esta Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila e de Redaccedilatildeo compete analisar a

proposta sob os aspectos de constitucionalidade juridicidade teacutecnica

legislativa e meacuterito sendo a apreciaccedilatildeo final do Plenaacuterio da Casa

245

Eacute o Relatoacuterio

11-VOTO DO RELATOR

Natildeo vislumbramos na Proposiccedilatildeo viacutecios de natureza constitucional de

juridicidade ou de teacutecnica legislativa

Natildeo se ignora que a competecircncia para iniciar leis que digam respeito a estas

entidades puacuteblicas a teor do art 61 de nossa Carta Magna eacute privativa do

Presidente da Repuacuteblica natildeo cabendo nem mesmo agrave iniciativa popular ferir a

Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Dispotildee este artigo

Arf 61 A iniciativa das leis complementares e ordinaacuterias cabe a qualquer

membro ou Comissatildeo da Cacircmara dos Deputados do Senado Federal ou do

Congresso Nacional ao Presidente da Repuacuteblica ao Supremo Tribunal

Federalaos Tribunais Superiores ao Procurador-Geral da Repuacuteblica e aos

cidadatildeos na forma e nos casos previstos nesta Constituiccedilatildeo

sect1g ndashSatildeo de iniciativa privativa do Presidente da Repuacuteblica as leis que

I -fixem ou modifiquem os efetivos das Forccedilas Armadas

1-disponham sobre

e) criaccedilatildeo e extinccedilatildeo de Ministeacuterios e oacutergatildeos da administraccedilatildeo puacuteblica

observado o disposto no arf 84 VI

No entantoo projeto natildeo pressupotildee a criaccedilatildeo de quaisquer oacutergatildeos da

administraccedilatildeo puacuteblica bastando que as pessoas de direito puacuteblico abram canal

de recepccedilatildeo no sistema informatizado de que jaacute dispotildeem natildeo haacute cogitar por

conseguintede qualquer mossa ao Texto Magno

No meacuterito merece acolhida a Proposiccedilatildeo

Eis que eacute oportuna e conveniente moderniza a tramitaccedilatildeo processual imprime

celeridade dessacraliza o processo sem ferir os direitos e garantias das

partes

246

A adoccedilatildeo de meios eletrocircnicos traraacute indubitavelmente ateacute mesmo maior

conforto para os advogados e para as partes uma vez que natildeo mais

precisaratildeo deslocar-se ateacute o tribunal para aforar peticcedilotildees recursos etc

Assim nosso voto eacute pela constitucionalidade juridicidade boa teacutecnica

legislativa e no meacuterito pela aprovaccedilatildeo do Projeto de Lei no5828 de 2001

Sala da Comissatildeo em de de 2002

Deputado Joseacute Roberto Batochio

Relator

DOCUMENTO IVc

JUSTIFICACcedilAtildeO DO PROJETO DE LEI NO58282001 ndash DEPUTADA LUIZA

ERUNDINA

247

PROJETO DE LEI No5828 DE 2001

Aprovado na Cacircmara dos Deputados e Justificaccedilatildeo

(DA COMISSAtildeO DE LEGISLACcedilAtildeO PARTICIPATIVA)

(SUGESTAtildeO No012001 -da Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil -

AJUFE)

Deputada Luiza Erundina de Souza

Presidente

JUSTIFICACcedilAtildeO

Quando se trata da questatildeo judiciaacuteria no Brasil eacute consenso que os mais graves

problemas se situam no terreno da velocidade com que o cidadatildeo recebe a

resposta final agrave sua demanda A morosidade eacute sem duacutevida o principal fato

gerador de insatisfaccedilatildeo com o serviccedilo judiciaacuterio como revelam todas as

pesquisas realizadas sobre o assunto Em 1993 em pesquisa de opiniatildeo

coordenada pelo IBOPE foi proposta a seguinte afirmaccedilatildeoO problema do

Brasil natildeo estaacute nas leis mas na Justiccedila que eacute muito lenta Dos entrevistados

87 consignaram suas concordacircncias 8 discordaram e5 natildeosouberam

responderJaacute em 1999 o jornal O Estado de Satildeo Paulo108chegou a iacutendices

ainda mais elevados 92 consideraram a Justiccedila muito lenta

Avaliaccedilotildees setoriais confirmam este diagnoacutestico a exemplo da procedida pelo

IDESP junto a empresas estabelecidas no Brasil Convidando-se estas a se

108 MARQUES Hugo 92 dos brasileiros consideram a JJsticcedilalenta OEstado de Satildeo

Paulo Satildeo Paulo 24 mar 1999

248

pronunciarem acerca de trecircs atributos do Judiciaacuterio nacional (agilidade

imparcialidade custos) os seguintes resultados foram alcanccedilados109

Como se constata no que tange agrave imparcialidade e custos a soma dos

conceitos oacutetimo bom e regular equivale respectivamente a 705 e

538 Jaacute no tocante agrave agilidade representa somente 103

A morosidade transformou-se em consenso absoluto inclusive entre os juiacutezes

Pesquisafeitaem1995peloConselho da JusticcedilaFederal concluiu que 9912 dos

magistrados federais viam o referido atributo como o principal problema desse

ramo do Judiciaacuterio110

Instados pelo IDESPno ano de 2000 a se pronunciarem sobre a relevacircncia

de fatores responsaacuteveis pela morosidade da Justiccedila os juiacutezes

responderam111

109 PINHEIROArmandoCastelar(org)JudiciaacuterioeEconomianoBrasilSatildeoPauloEditora

Sumareacute 2000 p 77

110 NUNES Eunice Pesquisa feita entre juizes revela ineficiecircncia da Justiccedila Folha de

Satildeo Paulo Satildeo Paulo 24 fev 1996 Caderno cotidiano p02

111 PINHEIRO Armando Castelar deg Judiciaacuterio e a Economia na Visatildeo dos

Magistrados Satildeo Paulo IDESP2001 p 4-5

249

Como se constataa soma dos juiacutezes que consideram a falta de

INFORMATIZACcedilAtildeO um fator muito importanteou importante alcanccedila 92

Evidentemente a informatizaccedilatildeo aqui natildeo se refere somente agrave aquisiccedilatildeo de

computadores para utilizaccedilatildeo como substitutos mais eficientes das velhas

maacutequinas de datilografia Aliaacutes este processo de substituiccedilatildeo jaacute se encontra

concluiacutedo na imensa maioria das unidades jurisdicionais existentes no paiacutes Eacute

necessaacuterio agora -simultaneamente ao teacutermino desta fase de aquisiccedilatildeo de

equipamentos nas unidades restantes -avanccedilar em direccedilatildeo agrave integraccedilatildeo de

todos os atores que inteNecircm em um processo judicial (VarasMinisteacuterio Puacuteblico

Advocacia Puacuteblica escritoacuterios de Advocacia) de modo a que crescentemente

os procedimentos judiciais utilizem ao maacuteximo os avanccedilos tecnoloacutegicos

disponiacuteveis

O Congresso Nacional tem buscado trilhar este caminho Considere-se por

exemplo o que dispotildee a Lei ndeg 980099

Art 1degEacute permitida agraves partes a utilizaccedilatildeo de sistema de transmissatildeo de dados e

imagens tipo fac-siacutemile ou outro similar para a praacutetica de atos processuais que

dependam de peticcedilatildeo escrita

Art2deg A utilizaccedilatildeo de sistema de transmissatildeo de dados e imagens natildeo

prejudica o cumprimento dos prazos devendo os originais ser entregues em

juiacutezo necessariamente ateacute cinco dias da data de seu teacutermino

Paraacutegrafo uacutenico Nos atos natildeo sujeitos a prazo os originais deveratildeo ser

entregues necessariamente ateacute cinco dias da data da recepccedilatildeo do material

250

Constata-secom a leitura destes dispositivosque ndashnatildeo obstante a sua

importacircncia -tal diploma legal ainda exige a ratificaccedilatildeo dos atos processuais

praticados por fax com a utilizaccedilatildeo demeacutetodos tradicionaiso que certamente

diminui o seu impacto positivo no tocante agrave agilizaccedilatildeo dos processos judiciais

Recentemente a Lei ndeg102592001 que versa sobre os Juizados Especiais

Federais albergou relevante regra assim escrita

Art 8deg As partes seratildeo intimadas da sentenccedila quando natildeo proferida esta na

audiecircncia em que estiver presente seu representantepor ARMP (aviso de

recebimento em matildeo proacutepria)

sect 1Q As demais intimaccedilotildees das partes seratildeo feitas na pessoa dos advogados

ou dos Procuradores que oficiem nos respectivos autos pessoalmente ou por

via postal

sect 2QOS tribunais poderatildeo organizar serviccedilo de intimaccedilatildeo das partes e de

recepccedilatildeo de peticcedilotildees por meio eletrocircnico

O projeto ora apresentado visa evoluir na vereda inaugurada pelas leis

mencionadas regulando plenamente a informatizaccedilatildeo dos procedimentos

judiciais afastando duacutevidas acerca da validade de atos processuais assim

praticados A este propoacutesito pertinente mencionar que muitos juiacutezes e

Tribunais - mesmo sem a existecircncia de lei expressa -jaacute vecircm adotando alguns

dos caminhos insertos no projeto sempre com excelentes resultados

Destaque-se que a presente proposiccedilatildeo natildeo se confunde com o PL ndeg 365500

recentemente aprovado pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila da Cacircmara o

qual indubitavelmente representa significativo aperfeiccediloamento da citada Lei ndeg

980099 - natildeo alterando contudo a sistemaacutetica de ratificaccedilatildeo nela contida

Frise-se que os benefiacutecios do projeto poderatildeo ser extraiacutedos amplamente na

medida em que se cuida integralmente da comunicaccedilatildeo entre o Poder

Judiciaacuterio e os demais agentes que pCcedilirticipam da atuaccedilatildeo jurisdicional

O projeto natildeo elimina a possibilidade de as partes se manifestarem pelos

meacutetodos convencionais a fim de levar em conta as necessidades de

251

profissionais regiotildees eou segmentos que -por diferentes motivos natildeo

disponham dos equipamentos necessaacuter10s

Finalmente merece ser destacado o grande benefiacutecio que a meacutedio prazo o

projeto traraacute ao Eraacuterio seja com a diminuiccedilatildeo de gastos seja com a melhoria

do funcionamento do sistema econocircmico em razatildeo da maior eficiecircncia do

serviccedilo jurisdicional

252

DOCUMENTO IVd

NOTA OFICIAL DE 19602

Brasiacutelia 19 de junho de 2002

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial

Reaccedilatildeo da OAB eacute corporativa e medo do novo rebate Ajufe o presidente da

Associaccedilatildeo dos Juiacutezes Federais do Brasil (Ajufe) juiz Paulo Seacutergio Domingues

rebateu enfaticamente a nota divulgada ontem pelo presidente da Comissatildeo de

Informaacutetica da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Satildeo Paulo Marcos

da Costa apontando equiacutevocos juriacutedicos e tecnoloacutegicos no Projeto de

Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial apresentado pela Ajufe ao Congresso O

projeto de lei que regulamenta a transferecircncia de informaccedilotildees judiciais por

meio eletrocircnico foi aprovado na iacutentegra e por unanimidade no uacuteltimo dia 11

pela Comissatildeo de Constituiccedilatildeo Justiccedila e Redaccedilatildeo (CCJ-R) da Cacircmara dos

Deputados Infelizmente o corporativismo estaacute impedindo uma anaacutelise mais

global e cuidadosa da nossa proposta lamentou

Para Dominguesa resistecircncia ao projeto eacute injustificadaEacute o medo do novo

apresentando-se como desculpa para impedir a evoluccedilatildeo da Justiccedila Isso nos

espanta especialmente num~ eacutepoca de criacuteticas agrave morosidade do Judiciaacuterio

quando imagina-seque os advogados apoiem a busca de soluccedilotildees Aliaacutes a

criacutetica da OABSP eacute a uacutenica que se viu ateacute o momento destacou Segundo o

presidente da Ajufe o projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial natildeo

representa qualquer violaccedilatildeo agrave autonomia do advogado nem riscos agrave

seguranccedila juriacutedica como acusa a OAB O credenciamento dos profissionais

junto aos tribunais natildeo tem a funccedilatildeo de autorizar o advogado a exercer a

profissatildeo mas apenas de autorizaacute-lo a utilizar o meio eletrocircnico para receber

intimaccedilotildees e enviar peticcedilotildees esclarece Este credenciamento aponta

Domingues natildeo favorece o exerciacutecio ilegal da profissatildeo ou a atuaccedilatildeo de

profissionais excluiacutedos dos quadros da entidade Ao contraacuterio ele permite aos

tribunais -que satildeo os responsaacuteveis na praacutetica pelo impedimento do exerciacutecio

253

ilegal da profissatildeo -atualizar com maior agilidade seus cadastros de advogados

temporariamente impedidos de advogar ou excluiacutedos da OAB Eacute um fator de

proteccedilatildeo agrave categoria

A criacutetica ao uso de senhas para acessar as informaccedilotildees juriacutedicas por meio

eletrocircnico eacute outro equiacutevoco da OAB entende o presidente da Ajufe Satildeo

criacuteticas de quem natildeo leu ou natildeo entendeu o projeto pois sua grande virtude eacute

que ele eacute aberto ou seja natildeo adota expressamente esta ou aquela tecnologia

mas permite que os tribunais conforme for evoluindo a informaacutetica adotem as

novas teacutecnicas explica

De acordo com Domingues a proposta da Ajufe natildeo elege expressamente o

sistema de senhas ou assinatura eletrocircnica para a comprovaccedilatildeo de envio e

recebimento eletrocircnico de documentos Poreacutem ainda que fosse adotada essa

metodologia natildeo haveria impedimentos pois eacute a exigecircncia baacutesica atualmente

para acessar qualquer serviccedilo eletrocircnico de bancos a livrarias virtuais O

sistema de assinatura eletrocircnica eacute tecnologia de ponta e pode vir a ser

adotado mas o projeto de lei da Ajufe teve o cuidado de natildeo especificar esses

detalhes operacionais no texto deixando a discussatildeo para a fase de

implementaccedilatildeo da leienfatizaPreviacuteamosjustamenteque tecnologias mais

avanccediladas iratildeo surgir A ideia foi redigir uma legislaccedilatildeo que permitisse

acompanhar essa evoluccedilatildeo sem a necessidade de se criar novas leis a cada

mudanccedila de metodologia

Quanto agrave seguranccedila do meio eletrocircnico Domingues lembra agrave OABSP que o

sistema informaacutetico eacute muito mais seguro que o atual Ou seraacute que ela imagina

que um falso advogado tenhaacute mais dificuldade em falsificar um papel timbrado

e uma assinatura em peticcedilatildeo convencional do que em fraudar todo um sistema

de seguranccedila eletrocircnico que permite inclusive o rastreamento do autor de

eventuais tentativas de fraude

254

DOCUMENTO IVe

NOTIacuteCIA DE 682002

INFORMATIZACcedilAtildeO AJUFE VAI LUTAR PELO PROJETO ORIGINAL

A Ajufe louva a rapidez com que o projeto de Informatizaccedilatildeo do Processo Judicial de

sua autoriavem tramitando no Senado -aprovado no Plenaacuterio da Cacircmara dos

Deputados no uacuteltimo dia 19 de junho o projeto foi remetido jaacute no dia 26 ao Senado e

jaacute tem parecer do relator na Comissatildeo de Constituiccedilatildeo e Justiccedila (CCJ) senador

Osmar Dias O senador emitiu parecer favoraacutevel ao projeto soacute que com substitutivo o

que significa mudanccedila em vaacuterios pontos da proposta original da AJUFE

O presidente da Ajufe juiz Paulo Seacutergio Domingues anunciou que pretende lutar pela

retomada do texto original do projeto jaacute que o tracircmite no Senado estaacute apenas

comeccedilando

Segundo Domingues as modificaccedilotildees propostas pelo senador geram o risco de

inviabilizar a implantaccedilatildeo da lei no curto prazo porque a imposiccedilatildeo de se adotar um

sistema nacional de chaves puacuteblicas e privadas formado por uma rede de empresas

certificadoras significa que a informatizaccedilatildeo do processo judicial soacute viraacute a ser

promovida quando implantado esse sistema de chaves no BrasilEacute um processo

complexo oneroso e muito demorado que natildeo tem data para ser implantando

lembra o presidente da Ajufe

Domingues tambeacutem argumenta que essa imposiccedilatildeo pela tecnologia de Chaves

puacuteblicas e privadas engessa o sistema de informatizaccedilatildeo Se o substitutivo passar

como estaacute seraacute necessaacuteria uma nova lei a cada nova tecnologia que for surgindo na

aacuterea e eacute justamente isso que a Ajufe procurou evitar em seu texto detalha o juiz

Revista Consultor Juriacutedico 6 de agosto de 2002

255

DOCUMENTO IVf

CARTA ABERTA IJURIS

TECNOLOGIA DA INFORMACAO JURIacuteDICA SOCIEDADE DA INFORMACcedilAtildeO E

GOVERNO ELETROcircNICO

wwwiiurisorg

Assunto Regulamentaccedilatildeo de procedimentos digitais

O domiacutenio de tecnologias inovadoras eacute um poderoso instrumento da soberania de uma

naccedilatildeo Com base nesta preocupaccedilatildeo o Ijuris Instituto Juriacutedico de Inteligecircncia e

Sistemas -vem estudando o fluxo de criaccedilatildeo de padrotildees tecnoloacutegicos para as

atividades puacuteblicas brasileiras e lanccedila a puacuteblico esta carta aberta

O cenaacuterio mundial apresenta atualmente diversas iniciativas de fixaccedilatildeo de padrotildees e

paracircmetros para a construccedilatildeo de modelos tecnoloacutegicos os quais diante da sua

crescente relevacircncia teratildeo longevidade prolongada na futura historia da humanidade

Diversos paises blocos de interesse conglomerados produtivos e associaccedilotildees

internacionais tecircm dedicado significativa parcela de suas preocupaccedilotildees traccedilando

estrateacutegias para delimitar referecircncias de padronizaccedilatildeo as quais vatildeo traccedilar o rumo de

muitas atividades produtivas orgacircnicas e governamentais

A sociedade brasileira estaacute proacutexima de receber uma grande inovaccedilatildeo tecnoloacutegica

geradora de procedimentos que vatildeo incrementar a cidadania Trata-se da construccedilatildeo

eletrocircnica dos processos judiciais e procedimentos administrativosEste tema vem

despertando a atenccedilatildeo de importantes setores governamentais e produtivos do Brasil

Exatamente neste momento alguns pontos diretamente ligados a este assunto estatildeo

em discussatildeo no Congresso Nacional com adiantados encaminhamentos focados

exatamente na fixaccedilatildeo de padrotildees e paracircmetros tecnoloacutegicos

Diante deste contexto eacute importante destacar as seguintes diretrizes

1) Os paracircmetros a serem estabelecidos devem contemplar a diversidade tecnoloacutegica

2) A nova legislaccedilatildeo deve atender aos propoacutesitos da descentralizaccedilatildeo e da autonomia

3)No plano legala especificidade sobre requisitos teacutecnicos deve ser miacutenima e

geneacuterica

256

4) O modelo de custeio da implementaccedilatildeo das medidas deve permitir o alinhamento

de interesses entre instituiccedilotildees puacuteblicasempresas privadas instituiccedilotildees de pesquisa e

entidades educacionais comprometidas coma evoluccedilatildeo cientiacutefica e tecnoloacutegica e

interessadas no desenvolvimento de sistemas que gerem o fortalecimento da

soberania e da cidadania

5) Todos os mecanismos devem ensejar agilidade e facilidade no acesso agrave

informaccedilatildeo

6) Os mecamismos regulatoacuterios e fiscalizatoacuterios devem adquirir uma modelagem

voltada agrave pluralidade dos segmentos da sociedade civil envolvidos no cenaacuterio juriacutedico

e tecnoloacutegico

7) O detalhismo natildeo pode se transformar em uma forma de geraccedilatildeo de dificuldades

procedimentais ou propiciar um panorama estaacutetico que dificulte a incorporaccedilatildeo de

futuras inovaccedilotildees

Para isto eacute fundamental que a lei processual apenas autorize a utilizaccedilatildeo de meios

eletrocircnicos na praacutetica de atos processuais e procedimentais e disponha sobre os

requisitos miacutenimos de seguranccedila no tracircnsito de documentos e informaccedilotildees

Eacute importante lembrar que existem fortes atenccedilotildees internacionais voltadas para a

fixaccedilatildeo de padrotildees tecnoloacutegicos nos paiacuteses emergentes e a criptografia e os padrotildees

eletrocircnicos de fluxo de documentos satildeo assuntos de interesse direto das

superpotecircncias mundiais

Adotando tais diretrizes estaremos incrementando nossa caminhada rumo ao

fortalecimento da cidadania digital

Florianoacutepolis22082002

Hugo Cesar Hoeschl Dr

Pesquisador do Ijuris

metaiurepsufscbr

wwwdigestonetcurriculo

Tacircnia Cristina DAgostini Bueno Msc

Pesquisadora do Ijuris

taniaijurisorg

257

DOCUMENTO V

Informaccedilotildees Processuais

Existem atalhos para consultas processuais na paacutegina do TRF3ordf R Obs Somente para navegadores Internet Explorer

Digite a tecla

Para consulta processual da Primeira Instacircncia - Justiccedila Federal SPMS

Para consulta processual aqui na Segunda Instacircncia - TRF3ordf R

Para consulta processual do Juizado Especial Federal - Revisatildeo de Aposentadoria

O que vocecirc deseja

Consultar Processo na 1ordf Instacircncia Satildeo Paulo e Mato Grosso do Sul

Consultar Processo no TRF 3ordf Regiatildeo

Consultar Processo no Juizado Especial Federal - SatildeoPaulo

Consultar Processo no Juizado Especial Federal - Campo Grande

Sistema Push do TRF3ordf Regiatildeo

Sistema Push da Justiccedila Federal de Satildeo Paulo

Consultar Acoacuterdatildeos

Peticcedilotildees Eletrocircnicas

CPF

Senha

Avanccedilar

Caso vocecirc ainda natildeo tenha se cadastrado clique aqui

Caso vocecirc tenha esquecido sua senha clique aqui

JUIZADO ESPECIAL FEDERAL PABX(11) 3254-1499 FAX (11) 3254-1495

httpwwwtrf3jusbr Acesso em 20112007

258

  • TEXTO JURIacuteDICO E PROCEDIMENTOS DE REFORMULACcedilAtildeO DISCURSIVA
  • AGRADECIMENTOS
  • RESUMO
  • ABSTRACT
  • REacuteSUMEacute
  • SUMAacuteRIO
  • INTRODUCcedilAtildeO
  • CAPIacuteTULO 1 CONTEXTUALIZACcedilAtildeO HISTOacuteRICA
  • CAPITULO 2 FUNDAMENTACcedilAtildeO TEOacuteRICA
    • 21 Textos juriacutedicos e a Teoria da Enunciaccedilatildeo enunciado enunciador e contexto da enunciaccedilatildeo
    • 22 O dialogismo e a polifonia nos textos juriacutedicos
    • 23 A Retoacuterica e a Teoria da argumentaccedilatildeo a formaccedilatildeo do logos do ethos e a influecircncia do local
      • 231 A formaccedilatildeo do ethos
      • 232 O papel do local
      • 233 O auditoacuterio
      • 234 O ethos e o logos
        • 24 A reformulaccedilatildeo na liacutengua e no discurso juriacutedico
          • 241 Do ponto de vista linguiacutestico
          • 242 A reformulaccedilatildeo no direito empreacutestimo ldquotransplantrdquo ldquocirculationrdquo
          • 243 Liacutenguas diferentes culturas diferentes
          • 244 Reformulaccedilatildeo e mecanismos de substituiccedilatildeo
              • CAPITULO 3 O DISCURSO JURIacuteDICO
                • 31 Definiccedilatildeo
                • 32 Classificaccedilatildeo dos textos juriacutedicos no Direito
                • 33 Contexto o sistema juriacutedico brasileiro
                • 34 Metodologia das anaacutelises textos de lei
                • 35 Anaacutelise dos textos de lei
                  • 351 A Declaraccedilatildeo dos Direitos do Homem e do Cidadatildeo (DDHC 1789)13
                  • 352 A Declaraccedilatildeo Universal dos Direitos do Homem (DUDH 1948)
                  • 353 A Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil de 1988 (CF1988) Preacircmbulo e artigo 5deg LXXVIII
                  • 354 A lei 114192006 a lei de informatizaccedilatildeo judicial
                    • 36 Anaacutelise de outros textos
                      • 361 Voto e parecer do Deputado Joseacute Roberto Batochio
                      • 362 Justificaccedilatildeo do Projeto de Lei 58282001 - Deputada Luiza Erundina
                      • 363 Nota Oficial
                        • 37Resultado das anaacutelises
                          • CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS
                          • REFEREcircNCIAS
                          • ANEXOS
Page 5: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 6: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 7: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 8: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 9: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 10: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 11: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 12: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 13: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 14: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 15: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 16: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 17: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 18: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 19: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 20: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 21: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 22: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 23: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 24: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 25: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 26: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 27: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 28: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 29: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 30: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 31: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 32: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 33: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 34: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 35: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 36: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 37: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 38: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 39: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 40: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 41: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 42: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 43: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 44: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 45: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 46: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 47: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 48: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 49: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 50: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 51: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 52: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 53: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 54: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 55: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 56: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 57: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 58: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 59: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 60: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 61: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 62: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 63: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 64: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 65: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 66: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 67: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 68: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 69: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 70: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 71: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 72: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 73: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 74: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 75: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 76: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 77: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 78: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 79: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 80: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 81: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 82: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 83: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 84: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 85: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 86: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 87: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 88: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 89: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 90: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 91: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 92: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 93: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 94: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 95: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 96: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 97: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 98: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 99: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 100: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 101: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 102: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 103: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 104: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 105: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 106: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 107: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 108: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 109: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 110: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 111: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 112: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 113: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 114: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 115: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 116: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 117: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 118: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 119: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 120: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 121: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 122: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 123: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 124: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 125: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 126: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 127: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 128: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 129: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 130: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 131: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 132: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 133: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 134: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 135: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 136: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 137: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 138: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 139: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 140: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 141: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 142: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 143: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 144: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 145: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 146: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 147: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 148: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 149: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 150: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 151: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 152: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 153: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 154: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 155: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 156: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 157: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 158: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 159: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 160: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 161: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 162: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 163: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 164: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 165: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 166: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 167: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 168: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 169: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 170: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 171: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 172: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 173: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 174: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 175: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 176: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 177: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 178: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 179: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 180: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 181: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 182: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 183: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 184: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 185: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 186: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 187: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 188: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 189: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 190: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 191: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 192: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 193: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 194: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 195: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 196: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 197: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 198: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 199: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 200: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 201: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 202: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 203: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 204: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 205: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 206: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 207: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 208: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 209: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 210: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 211: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 212: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 213: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 214: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 215: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 216: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 217: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 218: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 219: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 220: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 221: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 222: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 223: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 224: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 225: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 226: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 227: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 228: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 229: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 230: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 231: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 232: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 233: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 234: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 235: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 236: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 237: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 238: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 239: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 240: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 241: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 242: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 243: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 244: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 245: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 246: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 247: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 248: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 249: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 250: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 251: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 252: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 253: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 254: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 255: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 256: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 257: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses
Page 258: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ......ressurgem implícitos na lei sobre a Informatização dos Processos Judiciais (Brasil, lei 11.419/2006). A partir da observação desses