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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA DE ENFERMAGEM PROGRAMA DE RESIDENCIA UNIPROFISSIONAL EM ENFERMAGEM OBSTETRICA CAMILA TOZAKI RODRIGUES FATORES RELACIONADOS AO TRAUMA PERINEAL NO PARTO NORMAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL SÃO PAULO SP 2018

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE RESIDENCIA UNIPROFISSIONAL EM

ENFERMAGEM OBSTETRICA

CAMILA TOZAKI RODRIGUES

FATORES RELACIONADOS AO TRAUMA PERINEAL NO PARTO

NORMAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL

SÃO PAULO – SP

2018

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESCOLA DE ENFERMAGEM

PROGRAMA DE RESIDENCIA UNIPROFISSIONAL EM

ENFERMAGEM OBSTETRICA

CAMILA TOZAKI RODRIGUES

FATORES RELACIONADOS AO TRAUMA PERINEAL NO PARTO

NORMAL: UM ESTUDO TRANSVERSAL

Trabalho de conclusão apresentado ao Programa de

Residência em Enfermagem Obstétrica da Escola de

Enfermagem da Universidade de São Paulo, para a

obtenção do título de especialista em enfermagem

obstétrica.

Orientadora: Profª Ms. Enfª Ana Paula Almeida Brito

Coorientadora: Profª Drª Enfª Maria Luiza Gonzalez Riesco Bellini

SÃO PAULO – SP

2018

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DEDICATÓRIA

Dedico aos meus pais, por me apoiarem e proporcionarem condições para que eu sempre

alcance meus objetivos!

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AGRADECIMENTOS

À minha família, que sempre esteve ao meu lado, me dando apoio;

Ao meu noivo Paulo, pelo apoio e palavras de incentivo;

À minha orientadora Prof.ª Ms. Ana Paula Almeida Brito e coorientadora Prof.ª Dr.ª

Maria Luíza Gonzalez Riesco Bellini, pela sabedoria, dedicação e compreensão para

construção deste estudo, contribuindo também para minha formação profissional;

À enfermeira Dr.ª Gilcéria Toshika Shimoda, pela ajuda na análise estatística;

Às chefias da Divisão de Enfermagem Obstétrica e Ginecológica do Hospital Universitário da

Universidade de São Paulo, Enf.ª Dr.ª Alda Valéria Neves Soares, Enf.ª Ms. Chang Yi Wei

e Enf.ª Dr.ª Ilva Marico Mizumoto Aragaki pelo apoio durante a coleta de dados;

Às minhas colegas Bianca Pereira Siqueira; Francine Penha Silva; Karen Yumi Ishihara

e Sâmia Daiene de Melo Lins, pela parceria durante o Programa de Residência;

À toda equipe do Centro Obstétrico, Alojamento Conjunto e Unidade de Cuidados

Intermediários Neonatal do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo pelo

acolhimento e contribuição para minha formação profissional.

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“Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível aos olhos. ”

(Antoine de Saint-Exupéry – O Pequeno Príncipe)

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Rodrigues CT. Fatores relacionados ao trauma perineal no parto normal: Um estudo

transversal [monografia]. São Paulo: Escola de Enfermagem, Hospital Universitário da

Universidade de São Paulo; 2018.

RESUMO

Introdução: Os traumas perineais podem ocorrer em qualquer parto, embora ainda não

estejam definitivamente esclarecidos, há evidências que apontam fatores associados as

condições maternas e neonatais que influenciam no desfecho perineal. Objetivo: Analisar os

fatores relacionados ao trauma perineal no parto normal em mulheres sem parto vaginal

anterior. Métodos: Estudo transversal retrospectivo realizado mediante análise documental de

305 prontuários de mulheres que tiveram parto normal no período de janeiro a dezembro de

2016, que deram à luz recém-nascido a termo e adequado para a idade gestacional, no

Hospital Universitário da Universidade de São Paulo. A variável dependente foi o desfecho

perineal. As variáveis independentes foram idade materna, escolaridade, situação conjugal,

cor da pele, ocupação, estado nutricional, parto cesárea anterior, anestesia/analgesia,

ocitocina, misoprostol, amniotomia, acompanhante, profissional que assistiu ao parto, aspecto

do líquido amniótico, boletim de Apgar, peso do recém-nascido e unidade de internação do

RN. Os dados foram coletados por meio de um instrumento estruturada. A análise das

variáveis qualitativas foi descritiva, por meio de frequência relativa e absoluta. Para as

variáveis quantitativas foram realizadas medidas de tendência central e dispersão. A

associação foi analisada por meio do teste qui-quadrado e ANOVA, admitindo-se valor de

p<0,05. Os dados foram apresentados em forma descritiva e tabelas. A pesquisa foi aprovada

pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem e do Hospital Universitário da

Universidade de São Paulo. Resultados: A idade materna variou de 14 a 40 anos (média de

22,3 ± 5,4), sendo que a maioria tinha entre 14 a 24 anos (72,1%). A maioria tinha ensino

médio completo (46,5%), não tinha parceiro (52,1%), era branca (64,9%), exercia atividade

remunerada ou era do lar (71,5%), não teve parto normal anterior (93,4%) e estado nutricional

adequado (43,4%). A maioria apresentou altura uterina de 33 a 35 cm (57,9%), recebeu

analgesia/anestesia regional (57,7%), teve aspecto do líquido amniótico claro (91,1%),

amniotomia (53,8%), recebeu escopolamina (58%), teve tempo de trabalho de parto de 4 a 12

horas (81,6%), teve acompanhante (89,2%), foi assistida por médico (80,0%) e teve

episiotomia (51,8%). A minoria recebeu meperidina (20,7%), ocitocina sintética (37,7%) e

misoprostol (9,8%). Quanto aos recém-nascidos, a maioria nasceu com peso entre 2500 a

3999g (96,7%), teve boletim de Apgar maior que 7 no 1° e 5° minuto (92,1% e 99,0%,

respectivamente) e foi encaminhado ao alojamento conjunto (88,9%). Pela análise inferencial,

a analgesia/anestesia foi a única variável estatisticamente significante (p<0,001), pois todas as

mulheres que não receberam anestesia tiveram períneo íntegro ou laceração de 1° grau.

Conclusão: Houve associação somente entre a analgesia e o desfecho perineal, entretanto,

mais estudos são necessários para avaliar essa associação e guiar a assistência clínica.

PALAVRAS-CHAVE: Parto. Lacerações. Períneo. Episiotomia. Enfermagem obstétrica.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Distribuição das mulheres conforme as características sociodemográficas e clínicas,

São Paulo, 2016 ....................................................................................................... 23

Tabela 2 - Distribuição das mulheres conforme características obstétricas e assistenciais, São

Paulo, 2016 .............................................................................................................. 24

Tabela 3 - Distribuição dos recém-nascidos conforme dados de nascimento, São Paulo, 2016.

.................................................................................................................................. 25

Tabela 4 - Distribuição das mulheres conforme condição perineal e idade, São Paulo, 2016. 25

Tabela 5 - Distribuição das mulheres conforme a condição perineal e características

sociodemográficas, clínicas, assistenciais e neonatal, São Paulo, 2016 (continua) 26

Tabela 5 - Distribuição das mulheres conforme a condição perineal e características

sociodemográficas, clínicas, assistenciais e neonatal, São Paulo, 2016 (continuação)

.................................................................................................................................. 27

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

DATASUS Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde

NICE National Institute for Health Care and Clinical Excelence

WHO World Health Organization

RN Recém-Nascido

HU Hospital Universitário

USP Universidade de São Paulo

CO Centro Obstétrico

RNT Recém-Nascido Termo

AIG Adequado para a Idade Gestacional

SAME Serviço de Arquivo Médico e Estatístico

IG Idade Gestacional

IMC

TP

Índice de Massa Corpórea

Trabalho de parto

UTI Unidade de Terapia Intensiva

SPSS Statistical Package for the Social Sciences

ANOVA Análise de Variância

EEUSP Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

g Gramas

cm Centímetros

dp Desvio-padrão

Mín. Mínimo

Máx.

EF

EM

ES

Máximo

Ensino fundamental

Ensino médio

Ensino Superior

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 10

2 OBJETIVO ............................................................................................................................ 14

3 MÉTODOS ............................................................................................................................ 16

3.1 DESENHO DO ESTUDO .................................................................................................. 17

3.2 LOCAL DO ESTUDO ....................................................................................................... 17

3.3 POPULAÇÃO DO ESTUDO ............................................................................................. 18

3.4 COLETA DE DADOS ....................................................................................................... 18

3.5 VARIÁVEIS DO ESTUDO ............................................................................................... 18

3.5.1 Variável dependente ........................................................................................................ 18

3.5.2 Variáveis independentes .................................................................................................. 18

3.6 ANÁLISE DE DADOS ...................................................................................................... 20

3.7 ASPECTOS ÉTICOS ......................................................................................................... 20

4 RESULTADOS ..................................................................................................................... 22

4.1. CARACTERIZAÇÃO MATERNA, NEONATAL E ASSISTENCIAL .......................... 23

4.2 ANÁLISE INFERENCIAL DA CONDIÇÃO PERINEAL ............................................... 25

5 DISCUSSÃO ......................................................................................................................... 28

5.1. LIMITAÇÕES DO ESTUDO ........................................................................................... 32

5.2 IMPLICAÇOES PARA A PRÁTICA ................................................................................ 32

6 CONCLUSÃO ....................................................................................................................... 33

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 35

APÊNDICES E ANEXOS ....................................................................................................... 39

APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS ............................................. 40

APÊNDICE B – SOLICITAÇÃO DE ISENÇÃO DO TERMO DE CONSENTIMENTO

LIVRE E ESCLARECIDO ..................................................................................................... 41

APÊNDICE C - TERMO DE COMPROMISSO PARA REALIZAÇÃO DE PESQUISA .... 42

ANEXO A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA ESCOLA DE

ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ................................................... 43

ANEXO B – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DO HOSPITAL

UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ............................................... 46

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1 INTRODUÇÃO

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1 INTRODUÇÃO

No Brasil, ocorrem cerca de 1,3 milhões de partos vaginais por ano (Departamento

de informática do Sistema Único de Saúde - DATASUS, 2011-2015). De acordo com a

pesquisa Nascer no Brasil, realizada em 2011 e 2012, cerca de 53,5% das mulheres sofreram

episiotomia, sendo que 56,1% dessas mulheres foram classificadas como de risco habitual

(Leal et al., 2014).

O National Institute for Health Care and Clinical Excelence (NICE), em seu guia

sobre cuidados durante o parto atualizado em 2014, definiu o trauma perineal como aquele

causado por laceração espontânea ou episiotomia durante o parto vaginal (NCCWCH, 2014).

Segundo Cunnigham et al. (2012), a episiotomia é a incisão dos pudendos, a partir da

fúrcula vaginal. Também chamada de perioneotomia, pode ser feita na linha média ou para

longe do reto, sendo denominada de episiotomia mediolateral. Para Kalis et al. (2012), ainda

há mais cinco diferentes tipos de episiotomia, além das descritas anteriormente: a mediana

modificada (adição de uma incisão transversa a incisão mediana acima do esfíncter anal), a

em forma de “J”, a lateral (dirigida para a tuberosidade isquiática), lateral radical ou de

Schuchardt (semelhante a lateral, dirigida para a tuberosidade isquiática, mas é desviada para

a região anal) e a anterior (em mulheres submetidas à infibulação).

O uso da episiotomia era rotineiro e muito popular na década de 1970,

principalmente nas primíparas, por ser mais fácil a reparação de uma incisão reta que uma

laceração imperfeita, impedindo alterações do assoalho pélvico (Cunningham et al., 2012).

Revisão sistemática realizada por Jiang et al. (2017) que analisou o uso seletivo

versus o uso rotineiro em 12 estudos realizados com 6.177 mulheres, concluiu que a

episiotomia de rotina não diminui o risco de lacerações perineais graves e também não há

evidências confiáveis que comprovem melhores resultados maternos e perinatais.

Além disso, a episiotomia está associada a complicações, como por exemplo, a

incontinência vesical após 3 meses e a dor perineal até 6 semanas pós-parto. Por isso, a World

Health Organization (WHO, 1996) considera razoável uma taxa de episiotomia de até 10%,

permitindo ao restante das lacerações romperem espontaneamente (Cunningham et al., 2012;

Zugaib, 2012; Ministério da Saúde, 2017).

Estudo realizado em seis países da América Latina e do Caribe que avaliou práticas

obstétricas, observou que a episiotomia ainda prevalece em todos os países. O país com

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menor taxa de episiotomia foi a República Dominicana (22%), seguido do Brasil com 28,6%

e as taxas mais altas foram 52% e 53% do Chile e Peru, respectivamente (Binfa et al., 2016).

Estudo retrospectivo realizado no Hospital Geral de Itapecerica da Serra em São

Paulo, com 6.365 partos ocorridos no período entre 1999 a 2001, identificou que 25,9% das

mulheres foram submetidas a episiotomia, 28,6% tiveram a integridade perineal preservada e

45,5% tiveram laceração espontânea (Riesco et al., 2011).

Um outro estudo em São Paulo publicado em 2012 revelou taxas de episiotomia de

25,7% no Centro de Parto Normal e de 32,9% no Hospital de referência, sendo que em

nulíparas as taxas foram maiores (41,8% a 49,7%) (Schneck et al., 2012). Nos Estados

Unidos, onde os dados mostram a redução da taxa de episiotomia, um estudo com 31.784

mulheres demonstrou uma ocorrência de 0,25% de lacerações graves (Groutz et al, 2011).

As lacerações espontâneas podem ser classificadas como de primeiro grau, quando se

rompe a pele e a mucosa; segundo grau, quando a laceração atinge os músculos perineais;

terceiro grau, quando atinge o músculo esfíncter do ânus e; quarto grau, quando se rompe a

mucosa retal. Já na episiotomia, há a secção do músculo transverso superficial do períneo,

bulbocavernoso e isquiocavernoso, além da pele e mucosa (Cunningham et al., 2012).

O guia do NICE ainda acrescenta mais três subclassificações a laceração de terceiro

grau (NCCWCH, 2014; Ministério da Saúde, 2017):

3a – laceração de menos de 50% da espessura do esfíncter anal;

3b – laceração de mais de 50% da espessura do esfíncter anal;

3c – laceração do esfíncter anal interno.

Cunningham et al. (2012) afirmam que quanto maior a gravidade da laceração,

maiores as taxas de morbidade. Devido à abrangência dos tecidos lesionados durante a rotura

perineal, o trauma pode estar associado a morbidades como dor e sangramento aumentado. A

sutura para correção da laceração e episiorrafia podem causar lesões do trato geniturinário e

do assoalho pélvico, causando disfunções sexuais, como dispareunia, e geniturinárias, como a

incontinência urinária (Aasheim et al., 2010).

Os traumas perineais podem ocorrer em qualquer parto, embora ainda não estejam

definitivamente esclarecidos, há evidências que apontam fatores associados as condições

maternas para o desfecho perineal, tais como: como idade materna avançada, paridade e

dimensões do períneo (Hornemann et al., 2010).

Condições fetais e de assistência ao parto também estão relacionados ao trauma

perineal, segundo as evidências científicas, o peso e perímetro cefálico do recém-nascido

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(RN), prematuridade, vitalidade do RN, a variedade de posição anormal durante a expulsão, a

infusão de ocitocina ou qualquer outro método de indução do trabalho de parto, a posição

litotômica, duração do período expulsivo, práticas de proteção do períneo, puxos dirigidos e o

profissional responsável pela assistência ao parto estão associados ao desfecho perineal

(Mikolajczyk et al., 2008; Mouta et al., 2008; Kudish, Sokol, Kruger, 2008; Riesco et al.,

2011; Hsieh et al., 2014; Monteiro et al., 2015).

Recentemente, estudos têm investigado a associação entre o trauma perineal e a

analgesia peridural devido ao prolongamento do período expulsivo, que levaria a maior

utilização de intervenções obstétricas, aumentando o índice de lacerações. Um dos

mecanismos propostos para esse acontecimento inclui o relaxamento dos músculos pélvicos e

a diminuição da atividade uterina, reduzindo assim o reflexo de “puxo”. Por esse motivo, têm

se associado o emprego da analgesia com a ocorrência do trauma perineal, pois ocasiona a

utilização de intervenções obstétricas como a episiotomia, com indicação do parto fórcipe

(Cunha, 2010; Cunningham, 2012; Zugaib, 2012).

A analgesia peridural não está associada ao prolongamento do primeiro período do

trabalho de parto, entretanto, está associada ao aumento do uso de ocitocina neste período.

Também tem como efeito adverso a hipertermia, hipotensão e retenção urinária, por isso, é

importante considerar o esclarecimento da parturiente antes do procedimento (Ministério da

Saúde, 2016).

Diante disso, várias técnicas foram empregadas para a proteção do períneo,

entretanto, não há evidências que comprovem a eficiência destas práticas (Aasheim et al.,

2010; Beckmann, Garrett, 2010). Outros autores afirmam que o trauma perineal pode ser

evitado por meio da uma boa assistência, que inclui a restrição do uso da episiotomia,

ocitocina, parto na posição horizontal e parto instrumental (Kudish, Sokol, Kruger, 2008;

Hornemann et al., 2010; Beckmann, Garrett, 2010).

Desde o início dos estágios no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo,

do Programa de Residência em Enfermagem Obstétrica, me preocupei com os traumas

perineais, pois em 2016 ocorreram em uma taxa de 70,3% dos partos normais na instituição

em questão, os quais podem vir acompanhados de dor e outras complicações observadas

depois no Alojamento Conjunto que não são contabilizadas, como edema, hematoma,

deiscência, etc. Portanto, considerando a literatura científica pouco esclarecedora acerca dos

fatores que levam a estes traumas, a dúvida que norteou este estudo foi: Quais fatores estão

relacionados ao trauma perineal no parto normal?

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2 OBJETIVO

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2 OBJETIVO

Analisar os fatores relacionados ao trauma perineal no parto normal em mulheres sem

parto vaginal anterior.

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3 MÉTODOS

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3 MÉTODOS

3.1 DESENHO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo transversal, com coleta de dados retrospectiva, mediante a

análise documental.

3.2 LOCAL DO ESTUDO

O estudo foi desenvolvido no Hospital Universitário da Universidade de São Paulo

(HU-USP). É uma instituição de médio porte de nível de atenção secundária que conta com

258 leitos. Sua área obstétrica foi inaugurada em 1981, na qual atende funcionários, docentes

e alunos da USP e região do Butantã. O Centro Obstétrico (CO) possui quatro salas de parto e

sete leitos de pré-parto. Dispõem de 32 leitos no alojamento conjunto e 16 leitos na Unidade

de Cuidados Intermediários Neonatal. Foram realizados em média 198 partos por mês no ano

de 2016.

A admissão da parturiente é realizada pelo médico obstetra no Pronto Atendimento

Obstétrico. Logo em seguida, a parturiente é encaminha para a sala de pré-parto no CO, onde

permanece sob cuidados da equipe médica e de enfermagem até o início do período expulsivo.

Após a identificação do início do período expulsivo, a parturiente é levada a sala de parto na

área restrita, onde permanece na mesa de parto em posição litotômica até o fim da dequitação

ou após a reparação do trauma perineal, caso houver.

Os partos normais são assistidos por médicos obstetras, médicos residentes,

enfermeiras e enfermeiras residentes. Quando há indicação de analgesia, o anestesista

acompanha o parto. A assistência ao recém-nascido é realizada pela enfermeira, enfermeiras

residentes e médicos residentes de neonatologia.

Observamos que a utilização da técnica epidural é quase nula, somente é empregada

quando utilizada na técnica de duplo bloqueio (14,5%). O método mais comum utilizado é a

raquianestesia (85,5%), mesmo em parto vaginal, resultando em bloqueio motor, prolongando

a estadia da puérpera na sala de recuperação pós-anestésica.

O reparo do trauma perineal é realizado pelo profissional que assistiu ao parto. A

sutura é realizada com o fio catgut simples ou poliglactina. As lacerações perineais de 1° grau

superficiais são reparadas somente quando há necessidade de hemostasia.

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3.3 POPULAÇÃO E AMOSTRA DO ESTUDO

Fizeram parte do estudo todas as mulheres que tiveram parto normal no período de

janeiro de 2016 a dezembro de 2016 e que atenderam os seguintes critérios de inclusão:

Não ter parto vaginal anterior;

Ter dado à luz recém-nascido vivo, em apresentação cefálica, a termo (RNT), isto é,

nascido entre 37 a 42 semanas de gestação, e adequado para a idade gestacional

(AIG), ou seja, entre o percentil 10° e 90°.

A partir do livro de registro de partos do CO, foram identificadas 305 mulheres que

atenderam aos critérios de inclusão.

3.4 COLETA DE DADOS

A coleta foi realizada nos prontuários das mulheres selecionadas a partir de um

instrumento codificado (Apêndice A).

Esta coleta ocorreu no Serviço de Arquivo Médico e Estatístico da instituição

(SAME-HU-USP), conforme a disponibilização dos prontuários à pesquisadora, evitando

assim qualquer risco de extravio, perda, rasura ou outro tipo de dano decorrente da

manipulação do prontuário.

3.5 VARIÁVEIS DO ESTUDO

3.5.1 Variável dependente

Desfecho perineal – variável referente a condição perineal no parto, obtida pela ficha

obstétrica contida no prontuário. Categorizada por períneo íntegro, episiotomia ou

laceração espontânea (1º, 2º e 3º grau).

3.5.2 Variáveis independentes

Idade materna – em anos; obtida da ficha de internação contida no prontuário;

Escolaridade – categorizada em sem escolaridade, ensino infantil, ensino fundamental

incompleto, ensino fundamental completo, ensino médio incompleto, ensino médio

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completo, ensino superior incompleto, ensino superior completo e pós-graduação e sem

registro; obtida por meio do histórico de enfermagem contida no prontuário;

Cor da pele – Categorizado em branca, parda, amarela, indígena ou preta. Obtida da

ficha de internação contida no prontuário.

Situação conjugal –Categorizado em: solteira, união consensual, casada, divorciada,

viúva e sem registro. Obtido por meio da ficha de internação contida no prontuário.

Ocupação – Categorizada em remunerada, do lar ou estudante. Obtida por meio da ficha

de internação contida no prontuário.

Peso corporal - em quilogramas. Obtida na ficha obstétrica contida no prontuário.

Estatura – em metros. Obtida na ficha obstétrica contida no prontuário.

Estado nutricional – categorizado de acordo com o índice de massa corpórea (IMC) em

baixo peso, adequado, sobrepeso e obesidade, considerando a idade gestacional (Atalah

el al., 1997);

Parto cesárea anterior –Categorizada em sim ou não. Obtido por meio da ficha obstétrica

contida no prontuário.

Altura uterina – Categorizado em: até 32 cm, 33 a 35 cm, 36 cm ou mais. Obtido por

meio da ficha obstétrica contida no prontuário.

Anestesia – Categorizado em: nenhuma, local, bloqueio de pudendo, epidural, raqui e

combinada. Obtido por meio da ficha obstétrica ou ficha de sala de parto contida no

prontuário.

Meperidina – Categorizado em: sim e não. Obtido por meio da prescrição médica no pré-

parto contida no prontuário;

Escopolamina – Categorizado em: sim e não. Obtido por meio da prescrição médica no

pré-parto contida no prontuário;

Ocitocina – Categorizado em sim e não. Obtido por meio da prescrição médica no pré-

parto e ficha obstétrica contida no prontuário;

Misoprostol – Categorizado em sim e não. Obtido por meio da prescrição médica no pré-

parto e ficha obstétrica contida no prontuário;

Amniotomia – Categoriza em sim e não. Obtido por meio da ficha obstétrica;

Tempo de trabalho de parto – Categorizado em: <3 horas, 4 a 12 horas, >13 horas.

Obtido por meio da ficha obstétrica contida no prontuário;

Aspecto do líquido amniótico na expulsão fetal – categorizado como claro ou meconial.

Obtido na ficha obstétrica contida no prontuário;

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Peso do RN – Categorizado em: <2499g, 2500 a 3999g, >4000g e sem registro. Obtido

por meio da ficha obstétrica contida no prontuário;

Boletim de Apgar – de 1º e 5º minuto. Obtido na ficha obstétrica contida no prontuário;

Unidade de internação do RN – Categorizado em: Alojamento conjunto, unidade de

cuidados intermediários neonatal e UTI neonatal. Obtido por meio da evolução de

enfermagem contida no prontuário;

Acompanhante – Categorizado em sim ou não. Obtido por meio da ficha obstétrica

contida no prontuário;

Profissional que assistiu ao parto – Categorizado em médico ou enfermeiro. Obtido por

meio da ficha obstétrica contida no prontuário.

3.6 ANÁLISE DOS DADOS

Os dados foram organizados em planilha eletrônica Microsoft Excel®, analisados e

tratados estatisticamente, utilizando-se recursos do programa estatístico SPSS® (Statistical

Package for the Social Sciences) versão 22.0 e apresentado em forma descritiva e tabelas.

Foi realizada análise descritiva, mediante frequência absoluta e relativa para as

variáveis qualitativas. Para as variáveis quantitativas foram realizadas medidas de tendência

central e dispersão.

A associação entre a variável dependente e as variáveis independentes foi realizada

mediante análise bivariada, pelo teste qui-quadrado. Para o teste de associação entre a variável

dependente e a variável quantitativa foi realizado o teste ANOVA.

As variáveis com p-valor <0,20 foram submetidas ao modelo de análise multivariada.

No entanto, essa análise mostrou-se inadequada frente aos ajustes adotados, com resultados

sem valor interpretativo. Assim, o modelo não foi apresentado nos resultados.

Todos os testes foram realizados na forma bicaudal, admitindo-se a probabilidade de

ocorrência de erro de primeira espécie de 5% (p<0,05).

3.7 ASPECTOS ÉTICOS

O projeto foi submetido ao Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem

da Universidade de São Paulo (EEUSP), aprovado sob o parecer nº 2.286.097 (Anexo A), e

do HU-USP, aprovado sob o parecer nº 2.424.356 (Anexo B), atendendo à Resolução196/96,

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21

que dispõe sobre as diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa envolvendo seres

humanos.

Foi solicitado a Isenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)

(Apêndice B), pois não foi possível entrar em contato com todas as mulheres. Por envolver

coleta de dados de registro de prontuário, foi firmado o Termo de Compromisso para

Realização de Pesquisa (Apêndice C), no qual a pesquisadora se compromete a manter o

sigilo quanto a identidade materna e do RN e a utilizar os dados obtidos exclusivamente para

fins científicos, ou seja, para elaboração do relatório de pesquisa, divulgação de seus

resultados em eventos e publicações científicas.

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4 RESULTADOS

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4 RESULTADOS

4.1 CARACTERIZAÇÃO MATERNA, NEONATAL E ASSISTENCIAL

A idade materna variou de 14 a 40 anos, sendo que a maioria tinha entre 14 a 24 anos

(72,1%). Quase metade (46,5%) das mulheres referiu ter concluído o ensino médio e a

maioria se autodeclarou branca (64,9%), tinha trabalho remunerado ou era do lar (71,5%), não

tinha parto cesárea anterior (93,4%), estado nutricional adequado (43,4%) e pouco mais da

metade (52,1%) não tinha parceiro (Tabela 1).

Tabela 1 - Distribuição das mulheres conforme as características sociodemográficas e clínicas, São

Paulo, 2016.

Variável n %

Idade materna (anos) 305 100

< 20 114 37,4

20├─ 25 106 34,7

25├─ 30 48 15,7

30├─ 35 27 8,9

35├─ 40 8 2,6

≥ 40 2 0,7

Escolaridade 303 100

Nenhuma/EF incompleto 28 9,2

EF completo/EM incompleto 101 33,3

EM completo/ES incompleto 141 46,5

ES completo/pós-graduação 33 10,9

Situação conjugal 305 100

Sem parceiro 159 52,1

Com parceiro 146 47,9

Cor da pele 305 100

Branca 198 64,9

Parda 100 32,8

Preta 7 2,3

Ocupação 305 100

Remunerada 115 37,7

Do lar 103 33,8

Estudante 87 28,5

Parto cesárea anterior 305 100

Sim 20 6,6

Não 285 93,4

Estado nutricional 286 100

Baixo peso 71 24,8

Adequado 124 43,4

Sobrepeso/Obesidade 91 31,8 Fonte: a pesquisadora

Quanto às características obstétricas e assistenciais, a maioria (57,9%) tinha de 33 a

35 cm de altura uterina no momento da admissão e recebeu analgesia raqui ou combinada

(57,7%) e escopolamina (58%). Em mais da metade (53,8%) das mulheres foi realizada

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amniotomia e a minoria recebeu meperidina (dolantina) (20,7%), ocitocina sintética (37,7%) e

misoprostol (9,8%) (Tabela 2).

A maioria teve de 4 a 12 horas de trabalho de parto (81,6%), acompanhante (89,2%)

e foi assistida por um médico (80%) durante o parto. Quanto ao desfecho perineal, mais da

metade (51,8%) sofreu episiotomia (Tabela 2).

Tabela 2 – Distribuição de mulheres conforme características obstétricas e assistenciais, São Paulo,

2016.

Variável n %

Altura uterina (cm) 302 100

< 33 44 14,6

33├─ 36 175 57,9

≥ 36 83 27,5

Analgesia/anestesia 305 100 1Regional 176 57,7

Local 113 37,0

Nenhuma 16 5,2

Meperidina 305 100

Sim 63 20,7

Não 242 79,3

Escopolamina 305 100

Sim 177 58

Não 128 42

Ocitocina sintética 305 100

Sim 115 37,7

Não 190 62,3

Misoprostol 305 100

Sim 30 9,8

Não 275 90,2

Amniotomia 305 100

Sim 164 53,8

Não 141 46,2

Líquido amniótico na expulsão 305 100

Claro 278 91,1

Meconial 27 8,9

Tempo de trabalho de parto 305 100

< 4 horas 21 6,9

4├─13 horas 249 81,6

≥ 13 horas 35 11,5

Acompanhante 305 100

Sim 272 89,2

Não 33 10,8

Profissional que assistiu ao parto 305 100

Médico 244 80,0

Enfermeiro 61 20,0

Condições perineais 305 100

Episiotomia 158 51,8

Íntegro/2laceração 1º grau 114 37,4 3Laceração 2º grau ou 43º grau 33 10,8 1 - Analgesia/anestesia regional – raquidiana, n=143; combinada, n=33; 2 – 1º grau, n=79; 3 – 2º grau, n=30; 4 –

3º grau, n= 3.

Fonte: a pesquisadora.

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Quanto à caracterização do recém-nascido, a maioria (96,7%) tinha entre 2500g a

3999g ao nascer, boletim de Apgar ≥ 7 no 1º minuto (92,1%) e 5º minuto (99%) e foi

encaminhado ao alojamento conjunto (88,9%) (Tabela 3).

Tabela 3 – Distribuição dos recém-nascidos conforme dados de nascimento, São Paulo, 2016.

Variável n %

Peso (gramas) 305 100

< 2500 6 2,0

2500├─ 4000 295 96,7

≥ 4000 4 1,3

Apgar 1º minuto 305 100

≥ 7 281 92,1

4├─ 7 19 6,2

< 4 5 1,6

Apgar 5º minuto 305 100

≥ 7 302 99,0

4├─ 7 3 1,0

Unidade de internação do RN 305 100

Alojamento conjunto 271 88,9

Unidade de cuidados intermediários neonatal 31 10,2

Unidade de terapia intensiva 3 1,0

Fonte: a pesquisadora.

4.2 ANÁLISE INFERENCIAL DA CONDIÇÃO PERINEAL

A Tabela 4 apresenta as características da condição perineal das mulheres referentes

à variável contínua idade, com médias e desvio-padrão (dp), valores mínimos e máximos.

Observa-se que a média de idade das mulheres foi de 22,3 anos (dp = 5,4), na qual a idade

mínima foi 14 e máxima 40 anos.

Tabela 4 – Distribuição das mulheres conforme condição perineal e idade, São Paulo, 2016.

Condição perineal Idade

n Média d.p. Mín. Máx. Valor-p

Episiotomia 158 21,9 5,1 14 40

0,292 Íntegro/laceração 1º grau 114 22,7 5,5 14 39

Laceração 2º ou 3º grau 33 23,1 6,6 14 40

Total 305 22,3 5,4 14 40 Fonte: a pesquisadora.

Na Tabela 5 são apresentadas as análises da condição perineal das mulheres

conforme dados sociodemográficos, assistenciais e neonatais.

Houve associação estatisticamente significante somente entre a analgesia (p<0,001) e

condição perineal. Enquanto todas as mulheres que não receberam nenhuma analgesia tiveram

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períneo íntegro ou laceração de 1º grau, mais da metade que receberam analgesia regional

(56,3%) e local (52,2%) foram submetidas à episiotomia (Tabela 5).

Embora não tenha resultado em significância estatística, as maiores taxas de

episiotomia foram em mulheres com altura uterina menor que 33 cm (61,4%), receberam

meperidina (60,3%), apresentou líquido amniótico meconial (63%), deram à luz neonatos

maiores que 3999g (75%), com boletim de Apgar de 5º minuto menor que 7 (66,7%) e que

foram encaminhados à UTI neonatal (Tabela 5).

Tabela 5 – Distribuição das mulheres conforme a condição perineal e características

sociodemográficas, clínicas, assistenciais e neonatais, São Paulo, 2016 (continua).

Variável

Condição perineal

Valor-

p

Íntegro/lace

ração 1º

grau

Episiotomia Laceração

2º e 3º grau

n % n % n %

Escolaridade Fundamental incompleto 10 35,7 14 50,0 4 14,3

0,850

Fundamental

completo/médio

incompleto

34 33,7 55 54,5 12 11,9

Médio completo/superior

incompleto

57 40,4 72 51,1 12 8,5

Superior completo/Pós-

graduação

12 36,4 16 48,5 5 15,2

Situação

conjugal

Com parceiro 57 35,8 79 49,7 23 14,5 0,101

Sem parceiro 57 39,0 79 54,1 10 6,8

Cor da pele Branca 72 36,4 107 54,0 19 9,6

0,763 Parda 40 40,0 47 47,0 13 13,0

Preta 2 28,6 4 57,1 1 14,3

Ocupação Do lar 42 40,8 51 49,5 10 9,7

0,922 Estudante 32 36,8 45 51,7 10 11,5

Remunerada 40 34,8 62 53,9 13 11,3

Estado

nutricional

Baixo peso 26 36,6 39 54,9 6 8,5

0,860 Adequado 44 35,5 68 54,8 12 9,7

Sobrepeso/Obesidade 36 39,6 44 48,4 11 12,1

Parto cesárea

anterior

Sim 7 35,0 9 45,0 4 20,0 0,391

Não 106 37,3 149 52,5 29 10,2

Altura uterina

(cm)

< 33 12 27,3 27 61,3 5 11,4

0,491 33 ├─ 36 65 37,1 92 52,6 18 10,3

≥ 36 36 43,4 38 45,8 9 10,8

Analgesia/anest

esia

Regional 60 34,1 99 56,3 17 9,7

< 0,001 Local 38 33,6 59 52,2 16 14,2

Nenhuma 16 100,0 - - - -

Meperidina Sim 19 30,2 38 60,3 6 9,5 0,310

Não 95 39,3 120 49,6 27 11,2

Escopolamina Sim 62 35,0 96 54,2 19 10,7 0,575

Não 52 40,6 62 48,4 14 10,9

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Tabela 5 – Distribuição das mulheres conforme a condição perineal e características

sociodemográficas, clínicas, assistenciais e neonatal, São Paulo, 2016 (continuação).

Variável

Condição perineal

Íntegro/lace

ração 1º

grau

Episiotomia

Laceração

2º e 3º grau Valor-

p n % n % n %

Ocitocina

sintética

Sim 42 36,5 65 56,5 8 7,0 0,185

Não 72 37,9 93 48,9 25 13,2

Misoprostol Sim 11 36,7 17 56,7 2 6,7 0,709

Não 103 37,5 141 51,3 31 11,3

Amniotomia Sim 63 38,4 82 50,0 19 11,6 0,772

Não 51 36,2 76 53,9 14 9,9

Aspecto do

líquido

amniótico

Claro 107 38,5 141 50,7 30 10,4

0,416 Meconial 7 25,9 17 63,0 3 11,1

Tempo de TP < 4 horas 7 33,3 12 57,1 2 9,5

0,747 4├─ 12 horas 94 37,8 130 52,2 25 10,0

≥ 12 horas 13 37,1 16 45,7 6 17,1

Acompanhante Sim 103 37,9 142 52,2 27 9,9 0,351

Não 11 33,3 16 48,5 6 18,2

Profissional Médico 89 36,5 128 52,5 27 11,1 0,805

Enfermeiro 25 41,0 30 49,2 6 9,8

Peso RN

(gramas)

< 2500 5 83,3 1 16,7 - -

0,086 2500 ├─ 4000 109 36,9 154 52,2 32 10,8

≥ 4000 - - 3 75,0 1 25,0

Apgar 1º ≥ 7 102 36,3 147 52,3 32 11,4

0,615 4 ├─ 7 9 47,4 9 47,4 1 5,3

< 4 3 60,0 2 40,0 - -

Apgar 5º ≥ 7 113 37,4 156 51,7 33 10,9 0,790

4 ├─ 7 1 33,3 2 66,7 - -

Unidade de

internação RN

Alojamento Conjunto 98 36,2 143 52,8 30 11,1

0,688 Unidade de cuidados

intermediários neonatal

15 48,4 13 41,9 3 9,7

UTI neonatal 1 33,3 2 66,7 - -

Fonte: a pesquisadora (conclusão)

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5 DISCUSSÃO

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5 DISCUSSÃO

Na literatura, os estudos sobre os fatores de risco para trauma perineal são

controversos. Para Kudish, Sokol e Kruger (2008), Monteiro et al. (2015) e Ott et al. (2015), a

idade materna é um fator de risco para trauma perineal (p=0,033). Já no estudo de Kwon e

Park (2017), a idade materna não foi observada como fator de risco para trauma perineal,

assim como neste trabalho.

Estudo de caso-controle retrospectivo de Garretto et al. (2016), observou que a idade

materna avançada constitui um fator de proteção contra lacerações perineais de 3º e 4º grau,

enquanto estudos como o de Wu et al. (2013), Laganà et al. (2015), Suto et al. (2015) e Omih

e Lindow (2016) afirmam que mulheres mais velhas apresentam mais trauma perineal e maior

grau de laceração, assim como maior risco de parto operatório.

Quanto à etnia, embora neste estudo foram identificadas pessoas somente pela cor da

pele, trabalhos publicados identificaram associação entre a etnia asiática e trauma perineal

(Hauck et al., 2015; Quist-Nelson et al., 2016; Garretto et al., 2016). Outro estudo de coorte

observou que americanas não-africanas têm 50% de aumento de chance de risco para injúrias

perineais (Kudish, Sokol, Kruger, 2008). Em nosso estudo, a maioria das mulheres atendidas

era branca (64,9%), e mesmo assim, não representou significância estatística, pois todos os

grupos (branco, pardo e preto) demonstraram-se homogêneos quanto a distribuição da

condição perineal.

Quanto ao estado nutricional, a maioria (43,4%) das mulheres foi considerada

adequada e, dessas, 54,8% foram submetidas à episiotomia. Entre as mulheres com sobrepeso

ou obesidade (31,8%), quase metade foi submetida à episiotomia (48,4%), no entanto, essa

variável não resultou em significância estatística. Há poucos estudos relacionando o trauma

perineal e a obesidade, somente um estudo de caso-controle retrospectivo de Garretto et al.

(2016) observou que a obesidade é um fator de proteção contra o trauma perineal. Segundo os

autores, isso pode acontecer devido a composição do tecido que permite maior distensão do

períneo e a frequência e força das contrações diminuídas nessas mulheres.

O uso de escopolamina foi utilizado em 58% dos casos neste estudo. Em nosso

campo de estudo, é comum o uso desta medicação associado ou não à metoclopramida,

empiricamente. Uma explicação para seu uso é que tem efeito analgésico semelhante ao dos

opióides, como a meperidina, utilizado em 20,7% nas mulheres neste estudo. A meperidina é

o opióide mais estudado e mais utilizado no meio obstétrico para analgesia sistêmica. No

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entanto, seu uso tem sido questionado por causar analgesia incompleta e efeitos adversos

(depressão respiratória, depressão fetal, náusea e vômitos). Segundo Posner et al. (2014), a

dor excessiva e o estresse no trabalho de parto aumentam os níveis de adrenalina circulantes,

que tem efeito tocolítico sobre o miométrio. O efeito analgésico da meperidina diminuiria os

níveis da adrenalina e assim, a distocia seria corrigida (Freitas, Meinberg, 2009; Soares et al.,

2010).

Nosso trabalho não observou associação entre analgesia sistêmica e o trauma

perineal. Revisão da Cochrane em 2011 sobre os efeitos de opióides durante o trabalho de

parto concluiu que não há evidências suficientes que asseguram seu uso na prática. Entretanto,

há estudos que relacionam a meperidina com a dificuldade na amamentação, já que este

medicamento demora de 3 a 6 dias para ser eliminado do organismo do neonato (Ullman et

al., 2010; Ministério da Saúde, 2017).

A analgesia/anestesia foi o único fator que resultou em significância estatística

(p<0,001) na análise bivariada. No entanto, essa diferença estatística deu-se pelo fato de todas

as mulheres que pariram sem nenhum tipo de analgesia/anestesia tiveram somente períneo

íntegro ou laceração de 1º grau, pois, caso houvesse episiotomia ou uma laceração perineal

mais severa, a mulher necessitaria de pelo menos anestesia local para a reparação do períneo.

Podemos afirmar a partir da nossa prática que parte das anestesias locais realizadas

neste estudo foram realizadas após a expulsão fetal somente para a reparação perineal, embora

não tenha sido registrado em prontuário. Entre as mulheres que receberam analgesia regional

(56,3%) e local (52,2%), mais da metade foi submetida à episiotomia. Apesar de não haver

protocolo de episiotomia na instituição em questão, a indicação mais utilizada para a

episiotomia é a ampliação do canal de parto.

O tipo de analgesia regional (57,7%) mais utilizada em nosso campo de estudo é a

raquiadiana, e em sua minoria (18,7%), a combinada. Não faz parte da rotina da instituição

realizar a peridural isoladamente. Na literatura, encontram-se estudos somente sobre a

analgesia peridural relacionada ao trauma perineal.

Em uma meta-análise realizada por Pergialiotis et al. (2014) identificou que

mulheres que receberam analgesia peridural têm 95% de chance de ter alguma laceração

perineal. Na coorte realizada por Loewenberg-Weisband et al. (2014), a associação entre

analgesia peridural e laceração perineal desapareceu quando analisada juntamente com a

paridade. E para Monteiro et al. (2009) e Manzanares et al. (2013), não foi observado

associação entre a condição perineal e analgesia peridural. Contradizendo os estudos

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anteriores, Hauck et al. (2015) identificou que a analgesia peridural é um fator de proteção em

primíparas (OR=0,72).

Na mesma meta-análise realizada por Pergialiotis et al. (2014), foi observado que a

indução do trabalho de parto aumenta em 8% a chance de ter lacerações perineais. Em nosso

campo de estudo, a indução do TP é realizada com o uso de misoprostol (9,8%), ocitocina

sintética (37,7%) e amniotomia (53,8%), e não representou significância estatística.

Na literatura consta que o período expulsivo prolongado, ou seja, aquele que dura

mais de 3 horas em primíparas ou mais de 2 horas em multípara, é um fator de risco para

laceração perineal (Smith et al., 2013; Hsieh et al., 2014; Loewenberg-Weisband et al., 2014;

Hauck et al., 2015). No entanto, para este trabalho, não foi possível verificar nos prontuários o

horário de início do período expulsivo, portanto, calculamos o tempo de trabalho de parto a

partir do início da fase ativa até o final da expulsão. E mesmo assim, a associação entre

trauma perineal e o tempo de trabalho de parto não foi significativa.

Quanto aos profissionais que assistem ao parto, não foi encontrado na literatura a

atuação de diferentes profissionais na assistência ao parto, no entanto, um estudo de coorte

sobre a experiência de parteiras com 15.146 mulheres demonstrou que parteiras experientes

possuem taxas menores (0,2%) de laceração perineal quando comparadas a parteiras

inexperientes (0,5%). Além disso, cada ano de experiência da parteira foi associado a uma

diminuição de 4,7% de risco de lacerações (Mizrachi et al., 2016).

Em nosso campo de estudo, as taxas de lacerações perineais espontâneas ou

integridade perineal e episiotomia são semelhantes entre médicos e enfermeiras, em especial a

episiotomia, que foi realizada em aproximadamente metade dos procedimentos médicos

(52,5%) e de enfermagem (49,2%). Na literatura, as taxas de episiotomia são maiores em

primíparas, assim como neste estudo em que todos os partos foram de mulheres sem parto

vaginal anterior (Riesco et al., 2011; Hsieh et al., 2014; Monteiro et al., 2015).

Na literatura, há um consenso quanto ao peso de nascimento do RN. Para Riesco et

al. (2011), Smith et al. (2013), Schmitz e Alberti (2014), Monteiro et al. (2015), Ott et al.

(2015), Hauck et al. (2015), Laganà et al. (2015), Garretto et al. (2016) e Kwon e Park (2016),

o peso do recém-nascido aumentado tem associação com trauma perineal. No caso deste

trabalho, como um dos critérios de inclusão era RN de termo e adequado para a idade

gestacional, os RN abaixo de 2500g (2,0%) e acima de 4000g (1,3%) foram a minoria.

Quanto à vitalidade do RN, não houve diferença estatística, embora Riesco et al.

(2011) tenha observado que Apgar ≤ 7 no 1º minuto tem duas vezes mais chance de

episiotomia. Isso ocorre porque em muitas instituições, uma das principais indicações de

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episiotomia é o sofrimento fetal, além de prematuridade e ampliação do canal de parto.

Quanto ao boletim de Apgar no 5º minuto, segundo Jiang et al. (2017), tanto a episiotomia de

rotina quanto a seletiva, não tem associação com escore menor que sete.

5.1 LIMITAÇÕES DO ESTUDO

Muitos fatores descritos na literatura não puderam ser analisados neste trabalho,

como a paridade, idade gestacional, posição do parto e variedade de posição devido aos

critérios de inclusão definidos desta pesquisa e por se tratar de um estudo cuja fonte de dados

é secundária.

Outro ponto a ser considerado foi a população deste estudo, que foi pequena

comparada aos estudos já publicados, por isso, a análise das variáveis pode ter sido

prejudicada. Portanto, além da fonte secundária de dados, outra limitação foi a população do

estudo.

5.2 IMPLICAÇÕES PARA A PRÁTICA

Diante da discussão dos dados apresentados neste trabalho, mais estudos são

necessários para investigar os fatores relacionados ao trauma perineal, pois a literatura é

divergente em relação a algumas variáveis e inexistentes em relação a outras. Portanto,

estudos futuros podem trazer evidências confiáveis para guiar profissionais na prática clínica

para assim, praticarem uma boa assistência.

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6 CONCLUSÃO

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6 CONCLUSÃO

Não foi observada associação entre condição perineal e as variáveis idade materna,

escolaridade, situação conjugal, cor da pele, ocupação, estado nutricional, altura uterina, parto

cesárea anterior, meperidina, escopolamina, ocitocina, misoprostol, amniotomia, aspecto do

líquido amniótico, tempo de trabalho de parto, acompanhante, profissional que assistiu ao

parto, peso do RN, boletim de Apgar no 1° e 5° minuto e unidade de internação do RN.

No entanto, houve significância estatística na variável analgesia/anestesia. A

diferença estatística deu-se devido às mulheres que não receberam analgesia/anestesia, pois

tiveram somente períneo íntegro ou laceração de 1° grau.

.

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REFERÊNCIAS

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APÊNDICES E ANEXOS

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APÊNDICE A - INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

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APÊNDICE B – SOLICITAÇÃO DE ISENÇÃO DO TERMO DE

CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Ao Comitê de Ética da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo e do Hospital Universitário da

Universidade de São Paulo

Solicitamos a isenção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), pois não será possível

entrar em contato com todas as pacientes.

Por envolver coleta de dados de registro de prontuário, será firmado o Termo de Compromisso para

Realização de pesquisa, no qual a pesquisadora se compromete a manter o sigilo quanto a identidade materna e

do RN e a utilizar os dados obtidos exclusivamente para fins científicos, ou seja, para elaboração do relatório de

pesquisa, divulgação de seus resultados em eventos e publicações científicas.

A pesquisadora se compromete a coletar os dados em sala exclusiva, disponibilizada pelo SAME-HU

para este fim, evitando assim qualquer risco de extravio, perda, rasura ou outro tipo de dano decorrente da

manipulação do prontuário, bem como a quebra de confidencialidade.

São Paulo, / /

Atenciosamente,

___________________________ _____________________________

Camila Tozaki Rodrigues Prof. Ms. Ana Paula Almeida Brito

Pesquisadora Pesquisadora responsável

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APÊNDICE C - TERMO DE COMPROMISSO PARA REALIZAÇÃO DE

PESQUISA

I. Identificação da instituição:

Hospital Universitário da Universidade de São Paulo

II. Dados sobre a pesquisa

Titulo da pesquisa: Fatores relacionados ao trauma perineal no parto normal: Estudo

transversal

Pesquisadora: Camila Tozaki Rodrigues

Cargo/ Função: Enfermeira residente da Escola de Enfermagem da Universidade de São

Paulo

Pesquisadora responsável: Ana Paula Almeida Brito

Cargo/ Funcão: Prof. Msº .Assistente do departamento de Enfermagem Materno-Infantil e

Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo e Enfermeira do

Alojamento Conjunto do HU-USP.

III. Esclarecimento sobre a pesquisa

Trata-se de um estudo transversal, com coleta de dados retrospectiva, mediante a análise

documental que tem como objetivo analisar os fatores relacionados ao trauma perineal no

parto normal em mulheres sem parto vaginal anterior.

IV. Termo de Compromisso

“Comprometemos manter sigilo quanto a identificação das pacientes e recém-nascidos cujo

os dados do prontuário serão submetidos a tratamento estatístico. Os resultados obtidos

serão divulgados em publicações e eventos científicos relativos à área da saúde e utilizados

para melhorar a assistência oferecida a parturiente e recém-nascidos”.

“Comprometemos também a coletar os dados em sala exclusiva, disponibilizada pelo

SAME-HU para este, evitando assim qualquer risco de extravio, perda, rasura ou outro tipo

de dano decorrente da manipulação do prontuário, bem como a quebra de

confidencialidade.”

São Paulo, / /

___________________________ _____________________________

Camila Tozaki Rodrigues Prof. Ms. Ana Paula Almeida Brito

Pesquisadora Pesquisadora responsável

Telefone da Pesquisadora: 96603-7526 / e-mail: [email protected]

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ANEXO A – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA

ESCOLA DE ENFERMAGEM DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

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ANEXO B – PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DO

HOSPITAL UNIVERSITÁRIO DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

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