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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AMBIENTAL INSTITUTO A VEZ DO MESTRE VISÃO HOLÍSTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL: Possibilidade jurídica de associar o princípio do desenvolvimento sustentável à Teoria do Autopoiese e à Teoria de Gaia Fritz Viehmayer Rodrigues

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AMBIENTAL

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

VISÃO HOLÍSTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL:

Possibilidade jurídica de associar o princípio do desenvolvimento

sustentável à Teoria do Autopoiese e à Teoria de Gaia

Fritz Viehmayer Rodrigues

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RIO DE JANEIRO 2010

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO AMBIENTAL

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

VISÃO HOLÍSTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL:

Possibilidade jurídica de associar o princípio do desenvolvimento

sustentável à Teoria do Autopoiese e à Teoria de Gaia

Apresentação de monografia à Universidade Cândido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Direito Ambiental.

Por: Fritz Viehmayer Rodrigues

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AGRADECIMENTOS

Ao encerrar mais esta etapa da vida acadêmica,

após as mais diversas dificuldades e obstáculos

ultrapassados, é com satisfação e por dever de justiça

que agradeço:

A Deus pelas oportunidades que me tem

dispensado e pela força que me tem sido dada para

que eu possa perseguir o meu ideal.

À minha família, pelo amor e pelo carinho que

sempre me doaram através de gestos e atitudes e pela

confiança em mim depositada, quando das minhas

escolhas.

Ao Professor Orientador e aos demais

professores e colegas desta caminhada que chega ao

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seu final, ao mesmo tempo em que enriquece nossa

vida profissional.

A todos aqueles que de uma forma ou outra,

colaboraram num gesto ou numa palavra, mesmo à

distância, estimulando - me para atingir essa meta.

DEDICATÓRIA

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A todos os estudiosos que procuram respostas

que venham elucidar de uma forma ou outra as

diretrizes que norteiam o modo de relacionamento do

homem com os demais seres nos complexos caminhos

da preservação do Meio Ambiente.

EPÍGRAFE

Vaga-lume, vaga-lume, numa noite escura, madrugada.

Voando, vaga-lume reluzente, por entre as folhas verdes da mata

serenada.

Que brilho azul! Não sei ao certo...um zumbido elétrico, quanto

mistério ao meu redor.

Quão belo é magistralmente Deus que reflete a luz das estrelas em

tão grandiosas criaturas!

Não sei como explicar e não tenho a razão para tanto,

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Mas sinto que me encantei e me deixei levar pelo brilho daquele

amor.

Na certeza de que o Pai é puro resplendor.

Vaga vaga-lume que nos dá direção. A natureza se impõe ...

É só saber ver, enxergar na escuridão da reflexão.

Vaga vaga-lume que seu rumo é certo

Ilumina a mente, ilumina o interior da gente.

Autor: Fritz Viehmayer Rodrigues

RESUMO

Vem-se observando que a Educação Ambiental no Brasil tem crescido nos

debates efervescentes e por isso mesmo encontrado inimigos e revolvido o

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pensamento de pessoas que amam a natureza. Por outro lado, tem-se

conhecimento que alguns estudos antropológicos apontam que a humanidade

caminha num processo de evolução onde são identificadas algumas fases críticas

de transformações sociais radicais.

Com o agravamento da crise ambiental, é perceptível no cenário mundial um

grande debate acerca da questão sócio-ambiental. Deste modo é que se entende

que o mundo passa por uma crise do paradigma de sobrevivência humana. Estas

crises, sentidas ao longo de anos, normalmente constroem novas visões, novos

modelos de vida e estabelecem novos valores. Acredita-se que a educação

ambiental deva caminhar numa perspectiva holística que leve em consideração o ser

humano em suas múltiplas relações com o cosmos.

A proposta de educação dentro de uma Visão Holística tem por objetivo

integrar a pessoa ao social e ao ambiental, trabalhar todas as áreas, corpo, mente e

espírito. Transformar a lei da separatividade em o TODO sempre relacionado, ligado

ao todo num mesmo ser: O Universo.

Compreende-se, desta forma, que há a necessidade da formação de um

sujeito ecológico, ou seja, é preciso repensar a respeito da nossa condição humana.

É com base nesta busca incessante de respostas que visem à proteção e à

preservação do meio ambiente que se pretende demonstrar se há possibilidade

jurídica de associar o princípio do desenvolvimento sustentável à Teoria de

Autopoiese e à Teoria de Gaia, para que melhor se possa entender a inter-relação

de tais teorias nas diversas áreas de conhecimento.

Palavras-chave: Meio ambiente, desenvolvimento sustentável, Educação

holística, Teorias de Gaia e de Autopoiese.

METODOLOGIA

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Existem vários tipos de métodos, mas este estudo está classificado no

elenco das pesquisas bibliográficas, uma vez que se refere ao estudo de textos,

tendo em vista que exigirá respaldo teórico fornecido através de informações

coligidas em fontes escritas produzidas por vários estudiosos do tema.

Através desse procedimento é que foram constituídas as etapas concretas

para a investigação com a finalidade de melhor explicar os fenômenos menos

abstratos.

A pesquisa se baseará no método dedutivo por partir do geral e por colocar

a generalização como um produto posterior do trabalho de coleta de dados

particulares. É um método de abordagem, constituído de procedimentos gerais que

norteiam o desenvolvimento das etapas fundamentais de uma pesquisa científica.

A técnica utilizada será a qualitativa que servirá para apresentar,

demonstrar, comparar ou reforçar as idéias do tema em questão.

Somente a partir daí, é que serão elaborados os capítulos que, para fins

didáticos, deverão manter correlação direta uns com os outros.

Buscou-se apoio em textos que se referem ao assunto, além de consultas a

artigos e periódicos, revistas e pesquisas através da Internet.

SUMÁRIO

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INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

MEIO AMBIENTE: VISÃO GERAL 11

CAPÍTULO II

ASPECTOS ESSENCIAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 26

CAPÍTULO III

ABORDAGEM PRINCIPIOLÓGICA E HOLÍSTICA DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL 37

CONCLUSÃO 81

BIBLIOGRAFIA 84

WEBGRAFIA 88

ÍNDICE 89

FOLHA DE AVALIAÇÃO 91

INTRODUÇÃO

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Com base na afirmativa de que a sociedade atual passou por várias

transformações de ordem política e econômica que culminaram com a globalização

e com a criação de riscos, sobretudo ambientais, que podem afetar a humanidade

como um todo, constata-se que um dos problemas mais marcantes representativos

dessa realidade é o fenômeno do aquecimento global e as consequentes mudanças

climáticas que podem modificar profundamente a realidade, para que se possa lidar

com a complexidade do tema é que a Teoria dos Sistemas apresenta-se como um

caminho.

O aquecimento global surge como um problema planetário que exige novas

e eficientes estratégias para combatê-lo, seja por meio de um despertar ambiental,

avanços tecnológicos, prevenção das conseqüências negativas do processo

civilizatório, ou ainda por meio de uma interferência jurídica. É preciso agir em

benefício do homem enquanto espécie bem como em benefício do planeta como um

todo, um planeta vivo representado na mitologia grega por Gaia, a mãe provedora,

mas não indestrutível.

Inicialmente, um diagnóstico correto do fenômeno social precisa ser feito

para depois se procurar encontrar alternativas, no caso, jurídicas, capazes de

estabelecer uma comunicação mais efetiva entre os sistemas sociais do direito e da

economia visando comunicar ações protetivas e/ou preventivas aptas a fazer frente

à crescente complexidade das relações sociais e da relação conturbada do Homem

com o meio ambiente, do qual faz parte integrante, tudo sob uma perspectiva

sistêmica e autopoiética visando a superação da visão fragmentada de mundo

nascida com o pensamento cartesiano.

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A Educação Ambiental por ser um processo participativo atua de maneira

ativa no diagnóstico dos problemas ambientais na busca de soluções, através de

agente transformador, no desenvolvimento de habilidades e formação de atitudes

do cidadão, por meio de uma conduta ética, condizentes ao exercício da cidadania.

Na esfera internacional, existe o Protocolo de Kyoto e os mecanismos por

ele criados que visam compensar as emissões de gases estufa, como os créditos de

carbono, verificando-se uma clara função de proteção e programação do futuro em

seu conteúdo. Deste modo, procura-se demonstrar que existe um problema de

comunicação entre os sistemas sociais do Direito e da Economia que impede a

concreção da esperada efetividade em termos de proteção do meio ambiente.

Sendo esse um dos pontos de superação dessa dificuldade comunicativa que se

pretende, também, discutir no decorrer da pesquisa.

Justifica-se o tema por se tratar de um enfoque humanista, holístico,

democrático e participativo representando uma amplitude no horizonte da educação

ambiental. O humanista, porque contém em seu bojo elementos éticos e

antropocêntricos, agregando, ainda, concepções solidárias; holístico, por ser uma

prática indivisível que deve ser compreendida em sua totalidade; democrático, por

se referir aos interesses populares e participativo porque diz respeito à participação

das pessoas no processo.

Com base no exposto é que se pretende contribuir com a discussão acerca

da Educação Ambiental para a construção de um meio ambiente saudável e da

formação da consciência humana ecológica.

Para que se chegue ao objetivo da pesquisa, será realizado no primeiro

capítulo um breve estudo sobre o meio ambiente onde serão delineados seus

fatores primordiais, isto é, a noção de bem ambiental, conceitos de meio ambiente e

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importância dos seus recursos, bem como a questão ambiental e o que representa

para a sociedade.

No segundo capítulo serão feitas breves considerações sobre a Educação

Ambiental com a finalidade de elucidar seu conceito e a importância da sua

emancipação no século XXI, apresentando, ao mesmo tempo, documentos como o

papel da Agenda XXI na Educação e da Carta da Terra, caracterizando a visão ética

e legislativa da Educação Ambiental no Brasil, como um processo participativo

através do qual o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, adquirem

conhecimentos, atitudes e habilidades voltadas para a conquista e manutenção do

direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, questionando para que serve a

Educação Ambiental e para quem é destinada e se com ela poderá se reverter o

atual quadro de degradação do meio ambiente.

Por derradeiro, será abordada no terceiro capítulo a possibilidade jurídica de

associar o princípio do desenvolvimento sustentável à Teoria de Autopoiese, que

resultou da tentativa de Maturana de resolver duas questões aparentemente

distintas com as quais se defrontou em sua atividade profissional, ou seja, a

característica distintiva de um sistema vivo e o fenômeno da percepção; e à Teoria

de Gaia, quando na busca de respostas que satisfaçam a afirmativa de que a Terra

é um ser vivo, baseada em três definições de vida diferentes, uma das quais,

associada ao paradigma até hoje mais influente na história da Biologia, a teoria

neodarwinista da evolução e a teoria da autopoiese.

CAPÍTULO I

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MEIO AMBIENTE: VISÃO GERAL

“Tudo quanto vemos não é mais do que aparência. A realidade é outra. (...) O sol parece girar em torno de nós, levantar-se pela manhã e recolher-se à tarde, e a Terra em que estamos parece imóvel. O contrário é que é verdade. Habitamos em torno de um projétil turbilhonante (...) O som não existe não passa de uma impressão de nossos sentidos, produzida por vibrações de ar, de uma certa amplitude e com uma certa velocidade, vibrações silenciosas por si mesmas. Sem o nervo auditivo e sem o cérebro não haveria sons. Na realidade não há senão movimento. Tudo é ilusão no testemunho dos nossos sentidos. A Terra não é o que nos parece ser: a Natureza não é o que supomos. (...) A impressão direta e regular dada pela observação da Natureza é a de que habitamos na superfície de uma Terra sólida, estável, fixa no centro do Universo. (...) A Criação universal é uma imensa harmonia na qual a Terra é um insignificante fragmento, bastante pesado e incompreensível”. (Camille Flammarion)

A questão ambiental é problema central de nosso tempo, existindo uma

facção econômica relativa à salvaguarda da saúde e do ambiente. A proteção do

ambiente não se resume apenas à conservação, mas à coordenação e

racionalização do uso dos recursos, com a finalidade de preservar o futuro do

homem.

O sistema democrático fundado sobre direito de igualdade, intensifica o setor

ambiental, ou seja, como de livre acesso a todas as partes, basta verificar como no

plano internacional tem sido usado o ambiente oceânico para os experimentos

nucleares. A questão ambiental assume de fato, dimensão transfronteiriça e geral.

Hoje se define em qualquer lugar o direito subjetivo ao ambiente, o direito ao

ambiente das gerações futuras e, sobre as políticas nacionais, uma comunidade

política supranacional para a tutela do ambiente.

1.1 A NOÇÃO DE BEM AMBIENTAL

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Para indicar os bens ambientais que são comuns a todo o globo terrestre,

o Relatório Bruntland, Comissão Mundial Para o Meio Ambiente e Desenvolvimento

– ONU, 1988 (1991, p. 1), introduziu o conceito do bem ambiental. Trata-se de um

elenco exemplificativo e provisório, pertencendo a essa categoria todos aqueles cuja

função supera os interesses de um só Estado.

Durante o curso da história econômica mundial, a escala dos valores dos

bens está sujeito a contínuas transformações. Enquanto que no século XIX a riqueza

de um Estado era baseada na disponibilidade dos recursos naturais, hoje essa

hierarquia é invertida, sendo dado pela disponibilidade intelectual, pelo know-how

tecnológico, pelo sistema bancário e financeiro e formas de organização social e

econômica.

A noção de bem pode ser subdividida em duas vertentes básicas: a

identificação da coisa enquanto tal e a sua função. O bem ambiental hoje conserva a

sua utilidade em relação a sua função e conservação.

O estudo da habilidade para a valorização dos riscos ambientais é um

aspecto ainda pouco conhecido. Hoje é fundamental ocupar-se das conseqüências

que o processo de urbanização tem produzido sobre o contexto ambiental. O que

dizer do gás do escapamento dos veículos privados e públicos, o amontoado de

habitações e escritórios, todos os fatores que têm formado a smog (nuvem de

poluição misturada com nevoeiro), nociva não somente aos monumentos, mas

sobretudo à saúde dos cidadãos.

O discurso é amplo: vai da economia à indústria, à agricultura, mas também,

à defesa do território e da qualidade de vida. Todavia, a atenção que é dada sobre o

adequadamento dos instrumentos e das regras idôneas a perseguirem seja a tutela,

seja a salvaguarda do ambiente é ainda carente.

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1.2 CONCEITOS AMBIENTAIS

Existe certa confusão sobre ambiente, natureza, paisagem, urbanística, que

pode ocasionar uma dificuldade em termos instrumental para individuação da

utilização dos diversos meios legislativos previstos para a defesa do ambiente.

A expressão meio ambiente foi provavelmente introduzida em 1835 por St.

Hilaire em seus Estudos de um naturalista e, depois, por Augusto Comte, em seu

“Curso de Filosofia Positiva”.

Como aponta SILVA (2004, p. 1), a própria expressão meio ambiente é

redundante, pois a palavra ambiente engloba a de meio, uma vez que a palavra

ambiente "indica a esfera, o círculo, o âmbito que nos cerca, em que vivemos", ou

seja, o termo geral meio ambiente carece de precisão e necessita ser

complementado por uma série de outros vocábulos correntemente utilizados como,

natureza, ecologia, qualidade de vida, patrimônio e outros. A questão ambiental se

endereça, pois à proteção dos bens singulares e à recuperação da degradação

global. Os bens comuns globais não são comercializáveis, constituindo um rol

primário e inalienável para a salvaguarda dos países.

Enfim, “o meio ambiente é a interação do conjunto de elementos naturais,

artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida humana”

(SILVA, 1981, p. 435). Note-se que o autor refere-se apenas à vida humana,

assumindo uma postura antropocêntrica próxima do que CAPRA (2004, p. 25)

denomina “ecologia rasa”, sendo nesse ponto uma voz destoante do pensamento

atual, inclusive contrária à Resolução n.º 37/7 da Organização das Nações Unidas,

datada de 28 de outubro de 1982 e da lei federal anteriormente citada, que em seu

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artigo 3º, dispõe o seguinte: “I – meio ambiente, o conjunto de condições, leis,

influências e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e

rege a vida em todas as suas formas; II – degradação da qualidade ambiental, a

alteração adversa das características do meio ambiente”.

O dispositivo legal acima transcrito bem explicita a preocupação do

legislador em não desamparar da lei nenhuma situação que possa caracterizar-se

como relativa ao meio ambiente.

Urge esclarecer, contudo, que a escola filosófica fundada pelo norueguês

Arne Naess, no início da década de 70, introduziu a distinção entre “ecologia rasa” e

“ecologia profunda”. A percepção ecológica profunda reconhece a interdependência

fundamental de todos os fenômenos, estando todos encaixados nos processos

cíclicos da natureza. Esta distinção é hoje amplamente aceita como termo útil ao se

referir a uma das principais divisões do pensamento ambientalista contemporâneo.

“Toda forma de vida é única e merece ser respeitada, qualquer que seja sua

utilidade para o homem, e, com finalidade de reconhecer aos outros organismos

vivos este direito, o homem deve se guiar por um código moral de ação”

(RESOLUÇÃO 37/7, ONU, 1982).

Da definição que o texto da lei dá ao meio ambiente como “um conjunto de

relações, leis, influências e interações que regem a vida”, pode-se verificar não se

tratar de um bem corpóreo e material, pura e simplesmente, ou seja, não é correto,

sob esse ponto de vista, considerar a flora e a fauna como sendo o meio ambiente

propriamente dito.

Diante de uma ampla gama de possíveis definições, é válido juntar ao

estudo uma definição elaborada por autores estrangeiros como a do Conseil

International de la Langue Française citada por Moreira Neto quando diz:

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Meio ambiente é o conjunto, em um dado momento, dos agentes físicos, químicos e biológicos e dos fatores sociais suscetíveis de ter um efeito direto ou indireto, imediato ou mediato, sobre os seres viventes e as atividades humanas (2004, p. 14).

1.3 O QUE É O MEIO AMBIENTE E O QUE ELE REPRESENTA

A palavra ambiente indica a esfera, o círculo, o âmbito que nos cerca, em

que vivemos, portanto, em certo sentido, nela já se contém o sentido da palavra

meio. É por isso que na expressão meio ambiente até se pode reconhecer e se

denotar certa redundância, advertida por Ramón Martins Mateo, ao observar que

"se utiliza decididamente a rubrica "Derecho ambiental" em vez de "Derecho del

medio ambiente", abandonando uma prática lingüística pouco ortodoxa que utiliza

cumulativamente expressões sinônimas ou, ao menos, redundantes, no que incorre

o próprio legislador" (SILVA, 2004, p. 2).

Em português, também ocorre o mesmo fenômeno, mas essa necessidade

de reforçar o sentido significante de determinados termos, em expressões

compostas, é uma prática que deriva do fato de o termo reforçado ter sofrido

enfraquecimento no sentido a destacar, ou, então, porque sua expressividade é mais

ampla ou mais difusa, de sorte a não satisfazer mais, psicologicamente, a idéia que

a linguagem quer expressar.

Em italiano, contudo, só se emprega a palavra ambiente que, segundo

Massimo Severo Giannini, corresponde a três noções: a de ambiente enquanto

paisagem, incluindo tanto as belezas naturais como os centros históricos, parques e

florestas; de ambiente como objeto de movimento normativo ou de idéias sobre

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defesa do solo, do ar e da água; de ambiente como objeto da disciplina urbanística

(MATEO, Ramón Martins apud SILVA, 2004, p. 2 ).

O ambiente integra-se, realmente, de um conjunto de elementos naturais e

culturais, cuja interação constitui e condiciona o meio em que se vive. Daí por que a

expressão meio ambiente se manifesta mais rica de sentido, como conexão de

valores, do que a simples palavra ambiente. Esta exprime o conjunto de elementos;

aquela expressa o resultado da interação desses elementos.

O conceito de meio ambiente há de ser, pois, globalizante, abrangente de

toda a natureza original e artificial, bem como os bens culturais correlatos,

compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o

patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e arqueológico.

O meio ambiente é, assim, a interação do conjunto de elementos naturais,

artificiais e culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida em todas

as suas formas. A integração busca assumir uma concepção unitária do ambiente

compreensiva dos recursos naturais e culturais.

Por isso é que a preservação, a recuperação e a revitalização do meio

ambiente há de constituir uma preocupação do Poder Público e porque ele forma

a ambiência na qual se move, desenvolve, atua e se expande a vida humana.

A Constituição Federal de 1988 reservou um capítulo especial para esse

assunto denominado "Do Meio Ambiente", no art. 225, respectivamente, porém, tal

tema encontra-se disperso em todo o texto constitucional, inclusive no que tange aos

direitos fundamentais (art. 5º, inc. LXXIII).

O art. 24, em seus incisos VI e VII, estabelece competência concorrente

entre a União, os Estados e o Distrito Federal para legislarem sobre o assunto,

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silenciando a respeito dos municípios. Neste sentido, José Afonso da Silva analisa o

problema da seguinte forma:

A questão já não é tão clara em relação aos Municípios. Pode-se dizer, no entanto, que sua competência suplementar na matéria é também reconhecida. De fato dá-lhes competência para promover o adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle de uso, parcelamento e ocupação do solo urbano (art. 30, inc. VIII). Outorga-se-lhes a competência para a política de desenvolvimento urbano e estabelecimento do plano diretor (art. 182), e ainda a competência para promover a proteção do meio ambiente natural e cultural. Logo, é plausível reconhecer, igualmente, que na norma do art. 30, inc. II, entra também a competência suplementar a legislação federal e estadual na matéria (SILVA, 2004, p. 53).

Ainda sobre o tema tem-se o art. 129, inciso III, art. 170, inciso VI, art. 174, §

3º, art. 200, inciso VIII e art. 216, inciso V, da Magna Carta. Acrescente-se que o

meio ambiente construído não se encontra de forma etérea na União ou nos

Estados, mas sim, no território e no solo do Município. A este cabe a tutela do

patrimônio ambiental artificial que está sob sua alçada, quer própria e direta, quer

associada e indireta. Daí a importância do Plano Diretor, que provê o desenvolvi-

mento global de todo o Município e não apenas nas áreas urbanas, assim como a lei

outras derivadas, por assim dizer, do Plano Diretor, tais como o uso do solo

zoneamento, edificações e obras, limpeza pública e outros.

Por outro lado, o patrimônio ambiental artificial mantém vínculos

profundos e indissolúveis com os patrimônios natural e cultural, embora em sua

especificidade, estes últimos necessitam de ordenamento próprio. O

desenvolvimento urbano é indissociável da gestão ambiental ou, melhor, há uma

reciprocidade entre meio ambiente e desenvolvimento urbano. Valendo lembrar que

a regra estabelecida no art. 6º da Resolução CONAMA 237/97 afirma in verbis:

Art. 20 - Compete ao órgão ambiental municipal ouvidos os órgãos competentes da União, dos Estados e dos Distrito Federal, quando couber,

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o licenciamento ambiental de empreendimentos e atividades de impacto ambiental local e daqueles que lhe forem delegados pelo Estado por Conselho de Meio Ambiente e, ainda, possuir em seus quadros ou a sua disposição profissionais legalmente habilitados.

Enfim, a variável ambiental vem sendo cada vez mais introduzida na

realidade municipal, com a finalidade de assegurar a qualidade sadia de vida para o

homem e seu desenvolvimento e suas atividades produtivas.

Ressaltando-se finalmente que a Lei n.º 9.605/98 atenta que a cidade é o

ambiente preferido do homem, tipificando ainda que, de maneira tímida, os crimes

contra o ordenamento urbano, deixando escapar a oportunidade de incriminar o

desrespeito aos Planos Diretores e leis de uso do solo, tão comuns em nosso país e

que se incluem entre as práticas responsáveis pela caótica situação ambiental em

grande número de cidades brasileiras.

Na história constitucional, o meio ambiente teve, pela primeira vez, um

capítulo específico em que os princípios gerais da matéria estão delineados. Na

verdade, não se trata de mera mudança como as que diariamente se tentam impor à

sociedade, mas sim de corroboração aos anseios dessa mesma sociedade que tem

adquirido, sensivelmente, uma consciência ecológica e tem postulado a melhoria da

qualidade de vida, tanto a nível urbano quanto a nível rural.

1.4 A QUESTÃO AMBIENTAL

A perspectiva ambiental consiste num modo de ver o mundo no qual se

evidenciam as inter-relações e a interdependência dos diversos elementos na

constituição e manutenção da vida.

À medida que a humanidade aumenta sua capacidade de intervir na

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natureza para satisfação de necessidades e desejos crescentes, surgem tensões e

conflitos quanto ao uso do espaço e dos recursos.

Nos últimos séculos, um modelo de civilização se impôs, alicerçado na

industrialização, com sua forma de produção e organização do trabalho, a

mecanização da agricultura, o uso intenso de agrotóxicos e a concentração

populacional nas cidades.

Tornaram-se hegemônicas na civilização ocidental as interações sociedade /

natureza adequadas às relações de mercado. A exploração dos recursos naturais se

intensificou muito e adquiriu outras características, a partir das revoluções industriais

e do desenvolvimento de novas tecnologias, associadas a um processo de formação

de um mercado mundial que transforma desde a matéria-prima até os mais

sofisticados produtos em demandas mundiais.

Quando se trata de discutir a questão ambiental, nem sempre se explicita o

peso que realmente têm essas relações de mercado, de grupos de interesses, na

determinação das condições do meio ambiente, o que dá margem à interpretação

dos principais danos ambientais como fruto de uma maldade intrínseca ao ser

humano.

A demanda global dos recursos naturais deriva de uma formação econômica

cuja base é a produção e o consumo em larga escala. A lógica, associada a essa

formação, que rege o processo de exploração da natureza hoje, é responsável por

boa parte da destruição dos recursos naturais e é criadora de necessidades que

exigem, para a sua própria manutenção, um crescimento sem fim das demandas

quantitativas e qualitativas desses recursos.

As relações político - econômicas que permitem a continuidade dessa

formação econômica e sua expansão resultam na exploração desenfreada de

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recursos naturais, especialmente pelas populações carentes de países

subdesenvolvidos como o Brasil. É o caso, por exemplo, das populações que

comercializam madeira da Amazônia, nem sempre de forma legal, ou dos indígenas

do sul da Bahia que queimam suas matas para vender carvão vegetal.

Os rápidos avanços tecnológicos viabilizaram formas de produção de bens

com conseqüências indesejáveis que se agravam com igual rapidez. A exploração

dos recursos naturais passou a ser feita de forma demasiadamente intensa, a ponto

de pôr em risco a sua renovabilidade. Sabe-se agora da necessidade de entender

mais sobre os limites da renovabilidade de recursos tão básicos como a água, por

exemplo.

Recursos não-renováveis, como o petróleo, ameaçam escassear. De onde

se retirava uma árvore, agora se retiram centenas. Onde moravam algumas famílias,

consumindo escassa quantidade de água e produzindo poucos detritos, agora

moram milhões de famílias, exigindo a manutenção de imensos mananciais e

gerando milhares de toneladas de lixo por dia.

Essas diferenças são definitivas para a degradação do meio. Sistemas

inteiros de vida vegetal e animal são tirados de seu equilíbrio. E a riqueza, gerada

num modelo econômico que propicia a concentração da renda, não impede o

aumento da miséria e da fome. Algumas das conseqüências são, por exemplo, o

esgotamento do solo, a contaminação da água e a crescente violência nos centros

urbanos.

À medida que tal modelo de desenvolvimento provocou efeitos negativos

mais graves, surgiram manifestações e movimentos que refletiam a consciência de

parcelas da população sobre o perigo que a humanidade corre ao afetar de forma

tão violenta o seu meio ambiente.

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23

Em vários países, a preocupação com a preservação de espécies surgiu há

muitos anos.

No final do século XIX, iniciaram-se manifestações pela preservação de

sistemas naturais que culminaram na criação de Parques Nacionais e em outras

Unidades de Conservação - SNUC1.

Nas regiões mais industrializadas, passou-se a constatar uma deterioração

na qualidade de vida, o que afeta tanto a saúde física quanto a saúde psicológica

das pessoas, especialmente das que habitam as grandes cidades. Por outro lado, os

estudos ecológicos começaram a tornar evidente que a destruição e até a simples

alteração de um único elemento pode ser nociva e mesmo fatal para todo o

ecossistema2.

Grandes extensões de monocultura, por exemplo, podem determinar a

extinção regional de algumas espécies e a proliferação de outras. Vegetais e animais

favorecidos pela plantação, ou cujos predadores foram exterminados, reproduzem-

se de modo desequilibrado, prejudicando a própria plantação. Eles passam a ser

considerados então uma “praga”!

A indústria química oferece como solução o uso de praguicidas que acabam,

muitas vezes, envenenando as plantas, o solo, a água e colocam em risco a saúde

de trabalhadores rurais e consumidores.

________________ 1É nesse contexto que, no final do século passado, surgiu a área do conhecimento que se chamou de Ecologia. O termo foi proposto em 1866 pelo biólogo Haeckel, e deriva de duas palavras gregas: oikos, que quer dizer “morada”, e logos, que significa “estudo”. A Ecologia começou como um novo ramo das Ciências Naturais, e seu estudo passa a sugerir novos campos do conhecimento como a ecologia humana e a economia ecológica. Mas só na década de 1970 o termo passa a ser conhecido do grande público. Com freqüência, porém, ele é usado com outros sentidos e até como sinônimo de meio ambiente. VIO, Antonia Pereira de Avila [et al.]: (Coord. Antônio Herman Benjamin). Direito Ambiental e áreas protegidas: o regime jurídico das unidades de conservação. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2005, p. 231. 2Entende-se por ecossistema o “conjunto de interações desenvolvidas pelos componentes vivos (animais, vegetais, fungos, protozoários e bactérias) e não-vivos (água, gases atmosféricos, sais minerais e radiação solar) de um determinado ambiente”. SÃO PAULO (Estado), Secretaria do Meio Ambiente, 1992a.

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Assim como em outros países, no Brasil, a preocupação com a exploração

descontrolada e depredatória de recursos naturais passou a existir em função do

rareamento do pau-brasil, há poucos séculos. Foi estabelecida uma regulamentação

para a extração de alguns tipos de madeira, que passaram a ser tratadas como

“madeiras de lei”. Hoje, além de ser um dos maiores países do mundo em extensão,

o Brasil ainda possui inúmeros recursos naturais de fundamental importância para

todo o planeta, desde os ecossistemas como as florestas tropicais, o pantanal, o

cerrado, os mangues e restingas, até uma grande parte da água doce disponível

para o consumo humano.

Dono de uma das maiores biodiversidades3 do mundo, este país tem ainda

uma riqueza cultural vinda da interação entre os diversos grupos étnicos, ou seja,

americanos, africanos, europeus, asiáticos e outros, que trazem contribuições

singulares para a relação sociedade/natureza. Parte desse patrimônio cultural

consiste no conhecimento importantíssimo, mas ainda pouco divulgado, dos eco-

sistemas locais: seu funcionamento, sua dinâmica e seus recursos.

No entanto, preocupante a forma como os recursos naturais e culturais

brasileiros vêm sendo tratados. Poucos produtores conhecem ou dão valor a esse

conhecimento do ambiente em que atuam. Muitas vezes, para utilizar um recurso

natural, perde-se outro de maior valor, como tem sido o caso da formação de pastos

em certas áreas da Amazônia. Além disso, a degradação dos ambientes

intensamente urbanizados nos quais se insere a maior parte da população brasileira

também é razão de ser deste tema. A fome, a miséria, a injustiça social, a violência

e a baixa qualidade de vida de grande parte da população brasileira são fatores

fortemente relacionados ao modelo de desenvolvimento e suas implicações.

________________ 3A respeito do termo “biodiversidade” (bio = vida; diversidade = diferença).

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Problemas como esse, vêm confirmar a hipótese, que já se levantava, da

possibilidade de sérios riscos em se manter um alto ritmo de ocupação, com invasão

e destruição da natureza sem conhecimento das implicações para a vida no planeta.

Por volta da metade do século XX, ao conhecimento científico da Ecologia

somou-se um movimento ambientalista voltado, no início, principalmente para a

preservação de grandes áreas de ecossistemas “intocados” pelo ser humano,

criando-se parques e reservas. Isso foi visto muitas vezes como uma preocupação

poética de visionários, vez que pregavam o afastamento do ser humano desses

espaços, inviabilizando sua exploração econômica.

Toda essa situação colocou em xeque a idéia desenvolvimentista de que a

qualidade de vida dependia unicamente do avanço da ciência e da tecnologia. Todos

os problemas sociais e econômicos teriam, nessa visão, solução com a otimização

da exploração dos recursos naturais.

Para uns, a maior parte dos problemas atuais pode ser resolvida pela

comunidade científica, pois confiam na capacidade de a humanidade produzir novas

soluções tecnológicas e econômicas a cada etapa, em resposta aos problemas que

surgem, permanecendo basicamente no mesmo paradigma civilizatório dos últimos

séculos. Para outros, a questão ambiental representa quase uma síntese dos

impasses que o atual modelo de civilização acarreta, pois consideram o que se

assiste no final do século XX, não só como crise ambiental, mas civilizatória, e que a

superação dos problemas exigirá mudanças profundas na concepção de mundo, de

natureza, de poder, de bem-estar, tendo por base novos valores. Faz parte dessa

nova visão de mundo a percepção de que o ser humano não é o centro da natureza,

e deveria se comportar não como seu dono mas, percebendo-se como parte dela, e

resgatar a noção de sua sacralidade, respeitada e celebrada por diversas culturas

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tradicionais antigas e contemporâneas.

Assim, a questão ambiental impõe às sociedades a busca de novas formas

de pensar e agir, individual e coletivamente, de novos caminhos e modelos de

produção de bens, para suprir necessidades humanas, e relações sociais que não

perpetuem tantas desigualdades e exclusão social, e, ao mesmo tempo, que

garantam a sustentabilidade ecológica. Isso implica um novo universo de valores no

qual a educação tem um importante papel a desempenhar.

1.5 SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE

As questões apontadas neste item de conteúdo dizem respeito às

sociedades industriais e é importante que se compreenda que existem sociedades

em que essas questões são de outra ordem. Diferentes culturas se relacionam com

a natureza explorando ou não determinados recursos presentes em seu espaço

segundo sua visão de mundo. Como exemplo disso, pode-se destacar a dieta sem

carne de vaca dos hindus, mesmo sabendo que o rebanho bovino faz parte do

ambiente natural da Índia. Os hindus não elegeram o rebanho bovino como recurso,

mas como referencial religioso.

O contato com outras formas de organização social, de culturas e suas

formas respectivas de relação com a natureza pode, então, contribuir para relativizar

a idéia de que a estrutura social predominante na civilização ocidental é a única

possível, ou a melhor, ou natural. Entretanto, a prioridade da discussão das relações

da sociedade industrial com a natureza deve-se ao fato de que esse é o modelo

hegemônico, determinante das principais questões ambientais vividas no país.

As principais características da região em que se vive, as relações do

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homem e de sua comunidade com os elementos dessa paisagem, as singularidades

de cada uma dessas áreas e as condições históricas em que se organizou esse

espaço são a base concreta para o debate sobre a vida, a gestão do espaço, os

diferentes problemas nas várias localidades, quais os conflitos atuais e as

perspectivas para enfrentá-los.

Ao problematizar as relações sociais e da sociedade com a natureza,

ressalta-se a importância de que os cidadãos venham a entender a dimensão local

como uma materialização dessas relações, como por exemplo, ao estudar as

transformações da arquitetura dos prédios, como as mudanças realizadas, sua

estrutura, conservação, tombamentos, entre outras, é interessante interpretar suas

conseqüências para a dinâmica ambiental local.

Ao incluir, nesse estudo, os interesses de grupos, os conflitos sociais e os

aspectos econômicos no interior dos quais foram definidas e implementadas essas

atuações, possibilita-se aos estudiosos do assunto, ampliar seu universo de

compreensão sobre cada forma específica de intervenção ambiental. Esse é o

contexto das questões ambientais cuja compreensão é imprescindível para construir

futuras formas de atuação com relação à natureza, tendo em vista a superação dos

problemas atuais.

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CAPÍTULO II

ASPECTOS ESSENCIAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

“A educação ambiental não é neutra, mas ideológica. É um ato político baseado em valores para a transformação social”. (Tratado de educação ambiental para sociedades sustentáveis e responsabilidade global. Fórum Global da ECO/92).

O papel fundamental da educação no desenvolvimento das pessoas e das

sociedades amplia-se ainda mais no despertar desse novo milênio e aponta para a

necessidade de se construir uma escola voltada para a formação de cidadãos.

Vivemos numa era marcada pela competição e pela excelência, onde

progressos científicos e avanços tecnológicos definem exigências novas para os

jovens que lutarão por um mundo melhor, ou seja, equilibrado ecologicamente.

A Educação Ambiental é fundamentalmente uma pedagogia da ação. Não

basta se tornar mais consciente dos problemas ambientais sem se tornar também

mais ativo, crítico e participativo, ou, melhor dizendo, o comportamento dos cidadãos

em relação ao seu meio ambiente é indissociável do exercício da cidadania.

2.1 EMANCIPAÇÃO DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL

Foi em meados da década de 1960, que a Educação Ambiental surgiu no

palco mundial, através de denúncia da jornalista norte-americana Rachel Carson,

sobre uma série de desastres ambientais causados principalmente pelas atividades

industriais em seu livro “Primavera Silenciosa”. Neste sentido, com o acirramento

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dos debates acerca dos problemas ambientais impulsionados pelo livro da jornalista,

acontece um evento de Educação na Universidade de Keele, Inglaterra, no ano de

1965. Este evento inaugurou a utilização do termo “Educação Ambiental”

(BARBOSA; BARBOSA, 2004).

Em 1968, o Clube de Roma reúne especialistas de várias áreas do

conhecimento para tratar da temática ambiental em uma perspectiva holística, cuja,

analisa a realidade social por meio da relação de interdependência entre os fatores

biofísicos, bioquímicos, sociopolíticos e culturais.

Um dos pontos máximos de grande relevância da discussão da temática

ambiental aconteceu em 1972 com a realização da I Conferência das Nações Unidas

sobre o Meio Ambiente Humano, em Estocolmo contando com a participação de

representantes de 113 países que, em conjunto com a Organização das Nações

Unidas, ONU, pretendia estabelecer uma visão global que servisse como normas

para a humanidade, a fim de proporcionar um meio ambiente melhor às condições

de vida na terra, recomendando-se a criação de um Programa Internacional de

Educação Ambiental (PIEA) (BARBOSA; BARBOSA, 2004).

A elaboração do PIEA influenciou contundentemente na concretização do I

Seminário de Educação Ambiental Internacional em Belgrado, em 1975, tornando a

Educação Ambiental uma área de estudos consolidada a nível internacional. Neste

seminário frisou-se a importância da Educação Ambiental como um campo de

estudo amplo que abrangia os aspectos sociopolíticos e culturais além de promover

o exercício da ética ambiental.

Outro evento importante que envolve a história da Educação Ambiental deu

- se em Tibilisi, Geórgia/CEI, no ano de 1977, patrocinada pela UNESCO, em

parceria com o PNUMA, através da Conferência Intergovernamental sobre Educação

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Ambiental, onde se discutiu acerca dos aspectos socioeconômicos e culturais, dando

ênfase aos éticos e definindo-se os objetivos, princípios, estratégias e

recomendações com o escopo de ampliar a compreensão da educação ambiental

em todos os continentes terrestres. Neste momento a Educação Ambiental é

revestida pela visão holística buscando ser vista em sua totalidade (BARBOSA;

BARBOSA, 2004).

Em 1987, a UNESCO promoveu em Moscou a Conferência Internacional

sobre Educação e Formação Ambiental, onde foram discutidas estratégias

internacionais para ações na esfera da Educação Ambiental. Essas diretrizes

estratégicas serviram de orientação aos diversos países, inclusive ao Brasil.

Em 1992, aconteceu a Rio92, marco histórico para o meio ambiente, neste

mesmo período realizava-se em paralelo à Rio92, a Jornada Internacional de

Educação Ambiental, onde foi produzido o documento Tratado de Educação

Ambiental para as Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global estabele-

cendo uma concordata para a sociedade civil de todo o Planeta (BARBOSA;

BARBOSA, 2004).

Nessa conferência propunha-se a necessidade da articulação entre meio

ambiente natural e ambiência humana, o Clube de Roma (1968) e o do Rio de

Janeiro (1992), vale salientar que todos eles apontam para a Educação Ambiental

inserida em uma dinâmica relacional e complexa, enfatizam o holismo, que segundo

OLIVEIRA (2007), a percepção holística pretende dar conta da visão multifacetada

da realidade, que é própria de tudo que envolve a relação ecologia-meio ambiente.

Posto isso, verifica-se que a Educação Ambiental se emancipa com a visão holística,

contornando o conhecimento científico.

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A Educação Ambiental Holística deve prover ao organismo total da epistemologia ambiental o projeto visionário que conglobe as varáveis da problemática ambiental numa perspectiva totalizante, dinamizando relações entre todas as correntes, para produzir, em qualquer contexto, a síntese de seus elementos. (OLIVEIRA, 2003, p. 78)

O caminho percorrido pela Educação Ambiental não termina por aqui, está

sendo construído dia a dia por cada cidadão, percebendo-se assim que ela é

humana e por este fato, parafraseando Freire, é inconclusa, crítica e dialógica.

No Brasil, a Carta Brasileira para a Educação Ambiental, organizada pelo

Ministério da Educação e Cultura, MEC, em 1992, ajudou na concepção futura da

formulação da Lei nº. 9.795/99. Por sua vez, a Constituição Federal de 1988, em

seu artigo 225, parágrafo 1º, inciso VI, explicita que “compete ao Poder Público

promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização

pública para a preservação do meio ambiente”.

É importante lembrar que a Lei nº. 9.795, de 27 de abril de 1999, dispõe

sobre a Educação Ambiental e institui a Política Nacional de Educação Ambiental,

definindo no artigo 1º Educação Ambiental como sendo “os processos por meio dos

quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais, conhecimentos,

habilidades, atitudes e competências voltadas para a conservação do meio

ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à saudável qualidade de vida e

sua sustentabilidade’. Ademais, de acordo com o art. 2º da Lei de Educação

Ambiental “a educação ambiental é um componente essencial e permanente da

educação nacional, devendo estar presente, de forma articulada, em todos os níveis

e modalidades do processo educativo, em caráter formal e não-formal”.

Em suma, o meio ambiente não deve ser compreendido de forma

fragmentada, em partes desconectadas, pois é uma expressão complexa que

agrega em seu interior múltiplas componentes de um processo ecossistêmico.

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Assim, o meio físico, as ações antrópicas, os aspectos sócio-econômicos e

as práticas culturais devem interagir em busca da sustentabilidade.

A educação ambiental deve, portanto, enfrentar a problemática ambiental em

suas origens, sob ótica holística, interdisciplinar e crítica com relação ao sistema e

seus modelos de produção e consumo, debruçando-se sobre as causas sócio-

econômicas de seu desequilíbrio, os variados efeitos das atividades produtivas

sobre o meio natural, bem como, os riscos e custos sociais e financeiros implícitos

nessas correções. Sua abordagem do meio ambiente deve envolver todos os

espaços onde a vida se desenvolve e os seres interagem, sejam eles naturais,

culturais ou artificiais. Sua prática deve se dar à luz da ética ambiental, que reintegra

o homem à natureza e resgata valores de amor ao próximo, compreendendo que

todos os seres e ecossistemas estão de alguma forma conectados entre si, em

dinâmicas interdependentes a exigir um convívio harmônico sobre o Planeta; este

por si também se constitui em um grande organismo vivo, do qual todos dependem e

fazem parte.

Seguindo a orientação da Constituição Federal de 1988, artigo 225, § 1°, inc.

VI, a Lei n.º 9.795, de 27.04.99, tem por objetivo último formar cidadãos capazes de

influir sobre o meio em que vivem e contribuir ativamente na proteção ambiental, na

melhora da qualidade de vida e na defesa dos direitos de sua comunidade.

2.2 AGENDA 21

Historicamente, a Agenda XXI surgiu a partir de compromissos firmados

entre os países presentes na ECO/92, ocorrida no Rio de Janeiro, promovida pela

ONU. Contudo, foi a conclusão de debates iniciados antes mesmo da 1ª Grande

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Conferência, para discutir o Meio Ambiente Humano. Nesse encontro ficou definido

o dia mundial do meio ambiente, como o de junho (Estocolmo/Suécia/1972).

Desde 1948, a Comunidade Científico/Ambiental Internacional, busca

mecanismos que articulem todos os países do mundo em ações integradas, de

conservação Ambiental.

O Ministério do Meio Ambiente afirma que a Agenda 21 Global, patrocinada

pela Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento,

CNUMAD, é um conjunto mais amplo de premissas e recomendações, em busca de

um desenvolvimento sustentável, que devem ser seguidas pelos países que

assinaram esse Documento. Ela contém 40 capítulos e foi assinada por diversos

governos e instituições da sociedade civil de 179 países. É inclusive apelidada de

Rio 92 ou ECO 92.

Fora esses e outros marcos, há a ação pontual e contínua de ONG’s e

representantes da sociedade civil, contribuindo para a elaboração de novos

paradigmas comportamentais, condizentes com a boa saúde do planeta. Esse

paradigma constitui um dos pontos mais polêmicos da Agenda XXI, traduzido pelo

conceito de desenvolvimento sustentável. Desta feita, pode-se confirmar que a

Agenda XXI foi uma proposta aparentemente gerada nas cúpulas governamentais

dos 179 países que com ela se comprometeram. A assinatura dos tratados que

delineiam suas bases nacionais, ocorreu sem debate anterior, nas instâncias

municipais, estaduais ou regionais. Ela aponta para um repensar das relações do

homem com o meio, em bases auto-sustentáveis, buscando possíveis caminhos

para o futuro do planeta.

Afora a Agenda 21, outros quatro acordos foram firmados, quais sejam: a

Declaração do Rio, a Declaração de Princípios sobre o Uso das Florestas, a

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Convenção sobre a Diversidade Biológica e a Convenção sobre Mudanças

Climáticas. Por sua vez, os países signatários assumiram posições com a mudança

dos padrões de desenvolvimento para o século XXI. Em síntese, Agenda quer dizer

premissas, intenções, desiderato, desejo, mudanças, no sentido de um padrão

sustentável que agregue os termos desenvolvimento e meio ambiente, de forma

harmônica.

Segundo definição do Ministério do Meio Ambiente:

A Agenda 21 é um processo de planejamento participativo que resulta na análise da situação atual de um país, estado, município, região, setor e planeja o futuro de forma sustentável. E esse processo deve envolver toda a sociedade na discussão dos principais problemas e formulação de parcerias e compromissos para a solução a curto, médio e longo prazos. A observação do cenário hodierno e as diretrizes propostas para o futuro devem ser realizadas dentro de uma abordagem integrada e sistêmica das dimensões econômica, social, ambiental e político-institucional da localidade.

Em outras palavras, com base nos princípios da Agenda 21, o esforço de

planejar o futuro gera inserção social e oportunidades para que as sociedades e os

governos possam definir prioridades nas políticas públicas. Não se deve esquecer

que a Rio 92 foi orientada para o desenvolvimento, e que a Agenda 21 é uma

Agenda de Desenvolvimento Sustentável, onde, o meio ambiente, evidentemente, é

uma consideração de primeira ordem.

Segundo COIMBRA (2002), desenvolvimento sustentável pode ser concei-

tuado da seguinte forma:

Desenvolvimento é um processo contínuo e progressivo, gerado na comunidade e por ela assumido, que leva as populações a um crescimento global e harmonizado de todos os setores da sociedade, através do aproveitamento dos seus diferentes valores e potencialidades, em modo a produzir e distribuir os bens e serviços necessários à satisfação das necessidades individuais e coletivas do ser humano por meio de um aprimoramento técnico e cultural, e com o menor impacto ambiental possível (2002, p. 51).

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Do exposto, depreende-se que o desenvolvimento sustentável é um pro-

cesso dinâmico, integrado, ético e ascendente, de realizações técnico-culturais, sem

se descuidar da preservação ambiental. A Agenda 21 Global rompe, portanto, com o

conceito de desenvolvimento econômico tradicional e elege o conceito de

desenvolvimento sustentável como vetor das proposições para políticas públicas em

diversas partes do globo terrestre.

Para garantir essa sustentabilidade, é necessário respeitar os princípios básicos da ecologia e, assim, tornar-se ecologicamente alfabetizado, entendendo a organização das comunidades ecológicas (ecossistemas), para então se criar comunidades humanas sustentáveis. Comunidade aqui se estende como as comunidades educativas, comerciais e políticas. O intuito é que os princípios da ecologia se reflitam nas comunidades como princípios de educação, de administração e de política (CAPRA, 2003).

O Decreto nº 4.281/2002 veio regulamentar a Lei n.º 9.795/99, nos termos

do seu artigo 14, instituindo o Órgão Gestor, responsável pela coordenação da

Política Nacional de Educação Ambiental, dirigido pelos Ministros de Estado do Meio

Ambiente e da Educação. O referido órgão receberá das Secretarias–Executivas dos

referidos ministérios o suporte técnico e administrativo necessários ao desempenho

de suas atribuições.

A Agenda 21 recepcionou os princípios defendidos nas conferências de

Tbilisi e Moscou, que defendem os conceitos da transversalidade e inter-

disciplinaridade da educação ambiental. Necessário repensar o equilíbrio entre a

premência da construção dessa agenda e as circunstâncias reais dos municípios

orientados a implantá-la para que não haja incompatibilidade entre necessidade e

possibilidade, tendo em vista que estes muitas vezes não dispõem de condições

nem de cumprir com suas obrigações básicas de alfabetização, tampouco com a

educação ambiental na dimensão inter, multi e transdisciplinar.

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Baseado no acima exposto, o Brasil implementou sua Agenda 21 Particular,

ou seja, a Agenda 21 Brasileira com recomendações planejadas e participativas em

busca do desenvolvimento e que apresentam como viés a sustentabilidade,

procurando integrar de forma harmônica o tripé: conservação ambiental, justiça

social e crescimento econômico.

A Agenda 21 Brasileira é fruto de uma consulta popular ao povo brasileiro,

seguindo as recomendações descritas no Documento Internacional, isto é, a Agenda

21 Global quando diz:

A Agenda 21 Global informa que as autoridades, em suas jurisdições, implementem agendas em que suas ações tomem como parâmetros: a construção, a operacionalização e manutenção da infra-estrutura econômica, social e ambiental local. Assim, em escala mais reduzida, foi implementada a Agenda 21 Local, que tem por propósito planejar e implementar políticas públicas sobre desenvolvimento local, mas que respeitem o meio ambiente.

A Agenda XXI vem propor, portanto, dentro da Educação Ambiental, um

procedimento crítico-reflexivo que, apesar de ser vagaroso, se constitui numa

possibilidade real de caminho, diante da encruzilhada que os povos se encontram.

2.3 EDUCAÇÃO HOLÍSTICA

Para melhor entender a Visão Holística da Educação é necessário saber a

sua origem, ou seja, a palavra Holismo, vem do grego holon, que significa todo,

inteiro, integral, totalidade, realidade, que faz referência a um universo feito de

conjuntos integrados que não pode ser reduzido a simples soma de suas partes.

No século VI antes de Cristo, o filósofo Heráclito de Éfeso já dizia "A parte é

diferente do todo, mas também é o mesmo que o todo. A essência é o todo e a

parte".

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Na verdade, partes e todo em sentido absoluto não existem. Tudo o que há

na natureza, seja o homem, um minúsculo inseto, uma molécula, ou até mesmo as

grandiosas galáxias que brilham na noite, são considerados todos, em relação às

suas partes constituintes, mas também são partes de todos maiores.

E tudo isso, todos e partes, estão interligados, são interdependentes, numa

totalidade harmônica e funcional, numa perpétua oscilação onde os todos e as

partes se esclarecem mutuamente.

Essa concepção holística do Universo mostra a existência viva de uma

relação dialética entre os fenômenos e sua essência, entre o particular e o universal,

entre a base material e a consciência, entre a imaginação e a razão. O todo e a

parte.

O termo Educação Holística foi proposto pelo americano R. Miller em 1997, para designar o trabalho de um conjunto heterogêneo de liberais, de humanistas e de românticos que têm em comum a convicção de que a personalidade global de cada criança deve ser considerada na educação. São consideradas todas as facetas da experiência humana, não só o intelecto racional e as responsabilidades de vocação e cidadania, mas também os aspectos físicos, emocionais, sociais, estéticos, criativos, intuitivos e espirituais inatos da natureza do ser humano”. (YUS, 2002, p.16).

Diante de tal conceito tem-se que a Visão Holística da Educação é um novo

modo de relação do ser humano com o mundo; uma nova visão do cosmos, da

natureza, da sociedade, do outro e de si mesmo. O holismo da educação nada mais

é do que o reconhecimento do holismo da vida e do ser humano, rompendo com a

educação tradicional e compartimentalizada.

Desde 1982 que se vem trabalhando a questão da educação holística,

ressignificando a Paidéia grega (pedagogia), no contexto atual, cultural, político,

econômico, social e religioso das comunidades e das regiões. Enfim, em qualquer

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atividade o processo holístico não pode ser diferente: a dimensão holística é

inerente ao nosso ser e à nossa vida.

A educação dentro de uma visão holística não é uma proposta pronta, com

"receitas", e sim uma forma de pensar e perceber a vida, ela se faz presente em

várias propostas educacionais. E todas estas contribuem em muito para uma nova

forma de educação onde se pode trabalhar a espiritualidade sem dogmas, o corpo e

a mente através da meditação, ecologia, arte, jogos, alimentação, enfim, repensar a

educação buscando o equilíbrio entre o lado direito e esquerdo do cérebro.

Toda mudança de paradigma gera uma mudança de postura e estas podem

causar um certo receio aos que se acham donos do saber, seria necessário

reconhecer erros.

O que se precisa, é ter claro que mudar não significa excluir o antigo, mas

aperfeiçoá-lo. O novo não ameaça o velho ou elimina-o, mas gera o crescimento.

A Natureza é um bem transnacional e como tal deve ser tratado.

Por sua vez, o Brasil enfrenta um importante desafio quanto à introdução

dos princípios de Direito Ambiental em seu ordenamento jurídico pela contrariedade

aos interesses econômicos que representa. Nesta questão é preciso que os

cidadãos brasileiros não sejam uma platéia silenciosa, mas que ajam como atores

principais, impondo-se, para tanto, imprimir uma visão holística à questão.

Educação Ambiental em todos os níveis de ensino como reza o art. 225 da

Constituição Federal de 1988, Desenvolvimento Sustentável, participação e parceria

da comunidade na defesa ambiental fazem parte do dia-a-dia forense.

Inegavelmente já se percorreu uma jornada considerável desde o tempo em

que, após a Conferência de Estocolmo, em 1972, um estado do Brasil publicou um

anúncio afirmando que a poluição lá era bem-vinda, pois significava empregos,

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progresso e desenvolvimento. A Ação Civil Pública Ambiental é constantemente

proposta tanto pelo Ministério Público como pelas ONGs.

Dentro de uma visão holística, o processo educacional tem como objetivo a

transdisciplinariedade, isto é, despertar e desenvolver a razão, intuição, sensação e

sentimento e, acima de tudo, trabalhar com a crença de que alguns jovens precisam

"aprender a aprender", pois para este aprender é preciso buscar todas as

potencialidades deste jovem.

2.4 CARTA DA TERRA

É importante compreender o espírito filosófico-agrário da Carta da Terra, que

foi aprovada em 14 de março de 2000 pela UNESCO na França, em Paris. Sua

criação englobou 46 países e aproximadamente 100 mil pessoas, incluindo,

sobretudo, entidades civis, escolas, universidades, empresas, religiões, nativos,

indígenas brasileiros, canadenses e australianos.

Já no preâmbulo informa que se devem somar forças para gerar uma

sociedade sustentável global baseada no respeito pela natureza, nos direitos

humanos universais, na justiça econômica e numa cultura de paz. Afirma ainda que,

para chegar a este desiderato, é imperativo que os povos da Terra, declarem sua

responsabilidade uns para com os outros, com a grande comunidade da vida e com

as futuras gerações.

Adverte, também, que a Terra é o lar do homem, assim, o meio ambiente

global, com seus recursos finitos, é uma preocupação comum de todas as pessoas e

que a proteção da vitalidade, diversidade e beleza da Terra é um dever sagrado. A

escolha é do ser humano: formar uma aliança global para cuidar da Terra e uns dos

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outros, ou arriscar a sua destruição e a da diversidade da vida.

Eis os princípios inseridos na Carta da Terra, respeitar e cuidar da

comunidade de vida; integridade ecológica; justiça social e econômica; democracia,

não violência e paz.

Dentre os princípios expostos é fundamental compreender o princípio da

integridade ecológica, subdivida em subtópicos. Assim, a integridade ecológica é

grafada inicialmente com a frase: proteger e restaurar a integridade dos sistemas

ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos

processos naturais que sustentam a vida.

Para que essa integridade ecológica se sustente, é necessário: 1º) adotar

planos e regulações de desenvolvimento sustentável em todos os níveis que façam

com que a conservação ambiental e a reabilitação sejam parte integral de todas as

iniciativas de desenvolvimento; 2º) estabelecer e proteger as reservas com uma

natureza viável e da biosfera, incluindo terras selvagens e áreas marinhas, para

proteger os sistemas de sustento à vida da Terra, manter a biodiversidade e

preservar a nossa herança cultural; 3º) promover a recuperação de espécies e

ecossistemas em perigo; 4º) controlar e erradicar organismos não-nativos ou

modificados geneticamente que causem dano às espécies nativas, ao meio

ambiente, e prevenir a introdução desses organismos daninhos; 5º) manejar o uso

de recursos renováveis como a água, o solo, produtos florestais e a vida marinha

com maneiras que não excedam as taxas de regeneração e que protejam a

sanidade dos ecossistemas; 6º) manejar a extração e uso de recursos não

renováveis como minerais e combustíveis fósseis de forma que diminua a exaustão

e não cause sério dano ambiental.

Diante do documento - Carta da Terra -, é necessário que o meio Rural e

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Urbano no Brasil tenham conhecimentos relativos ao mesmo pela sua importância

nos planejamentos educacionais, em planos escolares e currículos pedagógicos, na

mídia televisiva, radiofônica, escrita e informatizada através de destaque entre as

matérias veiculadas; na comunidade acadêmica, onde o assunto deve aparecer

como importante ponto de pauta das agendas epistemológicas, em como sua

posição sobre a abordagem nos diversos grupos sociais. Isto porque o objetivo

central do trabalho epistemológico é possibilitar que estudantes de áreas agro-

ambientais e quem delas queiram fazer uso tenham ao menos possibilidade de

saber da sua existência e reflitam sobre os assuntos apresentados.

Formaliza-se a seguinte indagação: qual ou quais as relações existentes

entre a Carta da Terra, o Estatuto da Terra, Lei n.º 4.504/1964 e a Constituição

Federal brasileira, ao que se responde, que ocorre uma íntima integração entre os

documentos, pois, é assegurada a todos brasileiros a oportunidade de acesso à

propriedade da terra, condicionada ao princípio da função social.

Ademais, o Estatuto da Terra diz que a propriedade da terra desempenha integralmente a sua função social quando simultaneamente: favorece o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores que nela labutam, assim como de suas famílias; mantém níveis satisfatórios de produtividade; assegura a conservação dos recursos naturais e observa as disposições legais que regulam as justas relações de trabalho entre os que a possuem e a cultivam. Outrossim, a Constituição também admite que o princípio da função social da propriedade rural atenda a esses requisitos, além de prever a preservação do meio ambiente. A Carta da Terra também contém o princípio da justiça social e da integridade ecológica (BARBOSA;BARBOSA, 2004, p. 6).

Observa-se, dessa forma, que existe uma relação harmônica e principio-

lógica entre os três documentos, que corrobora para o alcance do objetivo que se

almeja alcançar, ou seja, promover e elevar o grau de cidadão consciente, pois

afinal, ele é o ator protagonista do processo da qualidade e da preservação do meio

ambiente.

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Ao mesmo tempo, pôde ser observado que o Brasil se encontra em uma

posição que não é de todo ruim, sendo certo que, em muitos aspectos, o arcabouço

legislativo é mais bem estruturado do que o de muitos países do chamado de

Primeiro Mundo, por possuir uma base legal mínima, capaz de assegurar a proteção

legal ao meio ambiente.

Finalizando, pode-se afirmar sem sombra de dúvidas, que o principal

caminho é encontrar as causas que deram origem a crise ambiental em que a

sociedade mundial se encontra e com isso produzir uma prática comprometida, para

que se lute em defesa do legítimo direito que o homem tem de desfrutar o que

herdou da natureza, superando os diversos interesses.

Ao mesmo tempo, não se pode esquecer pelo próprio objetivo da pesquisa

que está sendo realizada que a Educação Ambiental é um processo de

aprendizagem permanente que tem por base o respeito de todas as formas de vida,

para que se tenha uma sociedade sustentável e eqüitativa firmada no respeito a

todas as formas de vida. Com a Educação se tem firmado os valores e as ações que

contribuem para o desenvolvimento humano e social em relação à preservação

ecológica, ajudando na formação de sociedades justas e ecologicamente

equilibradas, conservando entre si relações de interdependência e diversidade.

Em suma, a Educação Ambiental deve estimular o sentido de responsabili-

dade e de solidariedade entre as nações, facilitando uma tomada de consciência da

interdependência econômica, política e ecológica do mundo moderno.

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CAPÍTULO III

POSSIBILIDADE JURÍDICA DE ASSOCIAR O PRINCÍPIO DO

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL À TEORIA DE

AUTOPOIESE E À TEORIA DE GAIA

“O novo paradigma pode ser chamado de uma visão de mundo holística, que concebe o mundo como um todo integrado, e não como uma coleção de partes dissociadas. Pode também ser denominado visão ecológica [...]”. (CAPRA,1998, p.16.)

A literatura sobre o planejamento de áreas de proteção ambiental é

dominada por duas visões: a tradicional e a recente. A primeira dissocia a natureza

da humanidade e, por conseguinte, incentiva o estabelecimento de áreas protegidas

livres da ocupação humana, mas disponíveis para lazer. A segunda, nitidamente

diferente da primeira, argumenta que a gestão bem sucedida de áreas protegidas

requer a cooperação e o suporte da população local.

O valor dos métodos de proteção ambiental concebido dentro da visão

tradicional está crescentemente sendo questionado como instrumentos de solução

sustentável contra a degradação de vários ecossistemas considerados críticos.

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A tendência para alterar a visão tradicional aumenta cada vez mais. Os

modelos de desenvolvimento precisam ser alterados para se tornarem mais

compatíveis com a preservação da valiosíssima diversidade biológica do planeta.

Alterar as estruturas econômicas e de uso da terra parece ser a melhor abordagem

de longo prazo para garantir a sobrevivência das espécies selvagens e de seus eco-

sistemas (CMMAD, 1988, p. 173).

Diante dessa situação, começaram a surgir, há alguns anos, sugestões

como a de que os conservacionistas estão gradativamente assumindo que a

exclusão de comunidades locais da tomada de decisão e do controle de suas áreas

é uma imposição que deve ser refutada, pois vai de encontro à visão do

desenvolvimento sustentável.

De fato, uma visão que está hoje emergindo entre os conservacionistas é que a gestão bem sucedida de áreas protegidas precisa basear-se na inclusão da população local, relacionando a conservação da diversidade biológica nas áreas protegidas com o desenvolvimento local (tanto econômico quanto social). A essência desta nova visão é garantir a conservação de áreas protegidas através da promoção do desenvolvimento sócio-econômico e, mais precisamente, através da criação de fontes alternativas de renda que não apresentem nenhum risco para a expansão das plantas e dos animais dentro da área protegida (CMMAD, 1988; MCNELLY et al., 1990).

Enfim, a educação ambiental contribui muito no sentido de ajudar a eliminar

uma das causas da degradação - a falta de informação e o desconhecimento dos

cidadãos e dos produtores. Logo, quando se fala de desenvolvimento, é preciso

levar em consideração não só o volume de produtos, mas também as pessoas, as

instituições e o meio ambiente.

3.1 O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

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A definição mais aceita para desenvolvimento sustentável é aquela que o

define como o “desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual,

sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações”.

Ou seja, é o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. Essa

definição surgiu na Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

(1991, p. 2), criada pelas Nações Unidas para discutir e propor meios de harmonizar

dois objetivos, o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental. Logo, para

ser alcançado, o desenvolvimento sustentável depende de planejamento e do

reconhecimento de que os recursos naturais são finitos. Esse conceito representou

uma nova forma de desenvolvimento econômico, que leva em conta o meio

ambiente.

Por sua vez, muitas vezes o termo desenvolvimento é confundido com

crescimento econômico, que depende do consumo crescente de energia e recursos

naturais. Esse tipo de desenvolvimento tende a ser insustentável, pois leva ao

esgotamento dos recursos naturais dos quais a humanidade depende.

O desenvolvimento sustentável sugere, de fato, qualidade em vez de

quantidade, com a redução do uso de matérias-primas e produtos e o aumento da

reutilização e da reciclagem.

De acordo com o seu significado, desenvolvimento significa a expansão ou

avanço potencial, ou gradual, para um estado mais completo, maior ou melhor.

Um elemento para o qual se deve atentar quando da dedicação à

compreensão do que seja o desenvolvimento é o aspecto econômico, que, segundo

Singer (1982) citado por SILVA (2004, p. 5), há duas correntes que se confrontam

quando definem o desenvolvimento: “uma que associa o desenvolvimento ao

crescimento econômico; e outra que distingue o desenvolvimento do crescimento

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econômico”. A primeira possui uma natureza quantitativa, sendo a mais adotada

para explicar o desenvolvimento de países desenvolvidos, enquanto a segunda tem

uma índole qualitativa, visto que tenta explicar o desenvolvimento de países ainda

não desenvolvidos, ou seja, que possuem um alto índice de desigualdades sociais.

Acompanhando o raciocínio de Singer, SILVA (2004), argumenta que:

O desenvolvimento econômico tem consistido, para a cultura ocidental, na aplicação direta de toda a tecnologia gerada pelo homem no sentido de criar formas de substituir o que é oferecido pela natureza, com vista, no mais das vezes, à obtenção de lucro em forma de dinheiro, e ter mais ou menos dinheiro é muitas vezes confundido com melhor ou pior qualidade de vida (SILVA, 2004, p. 6).

Após essas considerações iniciais sobre o desenvolvimento, faz-se

necessária uma breve abordagem sobre o ecodesenvolvimento que surgiu como

alternativa de política de desenvolvimento.

O conceito de ecodesenvolvimento nasceu durante os anos 70, por conta da

polêmica gerada na primeira Conferência das Nações Unidas sobre o Meio

Ambiente, em Estocolmo, em junho de 1973, entre aqueles que defendiam o

desenvolvimento a qualquer preço, mesmo pondo em risco a própria natureza, e os

partidários das questões ambientais. O termo foi proposto e usado pela primeira vez

pelo canadense Maurice Strong, primeiro diretor executivo do Programa das Nações

Unidas para o Meio Ambiente, e, em seguida, ampliado por Ignacy Sachs, que, além

da preocupação com o meio ambiente, incorporou as devidas atenções às questões

sociais, econômicas, culturais, de gestão participativa e ética. (BRÜSEKE, 1995;

LEFF, 2000, CAVALCANTI, 1995, p. 237).

O ecodesenvolvimento pode ser definido como o desenvolvimento que, em cada ecorregião, consiste nas soluções específicas de seus problemas particulares, levando em conta os dados ecológicos da mesma forma que os culturais, as necessidades imediatas, como também aquelas a longo prazo. (KRIEGER et al.., 1998, p. 146).

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Ignacy Sachs (apud WEBER, 1997, p. 119), um dos grandes teóricos do

tema por sua vez, define o ecodesenvolvimento como o “desenvolvimento endógeno

e dependente de suas próprias forças, submetido à lógica das necessidades do

conjunto da população, consciente de sua dimensão ecológica e buscando

estabelecer uma relação de harmonia entre o homem e a natureza”, ou ainda, “um

estilo de desenvolvimento, particularmente adaptado às regiões rurais do Terceiro

Mundo, fundado na sua capacidade natural de fotossíntese” (apud LEFF, 2000, p.

267).

Como uma derivação do conceito do Ecodesenvolvimento, surgiu a idéia de

desenvolvimento sustentável. Em 1987, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento (CMMAD), presidida pela a então primeira-ministra da Noruega,

Gro Harlem Brundtland, adotou o conceito de Desenvolvimento Sustentável em seu

relatório Our Common Future (Nosso futuro comum), também conhecido como

Relatório Brundtland. O conceito foi definitivamente incorporado como um princípio

durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento,

a Cúpula da Terra de 1992 (Eco-92), no Rio de Janeiro.

Em sua essência, o Desenvolvimento Sustentável também busca o equilíbrio

entre proteção ambiental e desenvolvimento econômico e serviu como base para a

formulação da Agenda 21, com a qual mais de 170 países se comprometeram. A

premissa básica do Relatório Brundtlan é: “independente da existência de atores

sociais implicados na responsabilidade da degradação ambiental, a busca de

soluções seria uma tarefa comum a toda humanidade” (1991, p. 3).

Para MILARÉ (2001), o ecodesenvolvimento pode ser definido:

Como um processo criativo de transformação do meio com a ajuda de técnicas ecologicamente prudentes, concebidas em função das potencialidades deste meio, impedindo o desperdício inconsiderado dos

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recursos, e cuidando para que estes sejam empregados na satisfação da necessidade de todos os membros da sociedade, dada a diversidade dos meios naturais e dos contextos culturais (2001, p. 725).

Atualmente, é comum ver autores citando o ecodesenvolvimento como

sinônimo de desenvolvimento sustentável (MILARÉ, 2001, p. 725). Não obstante,

discorreremos sobre o ecodesenvolvimento e o desenvolvimento sustentável como

conceitos distintos, em virtude da importância histórica e influência do primeiro como

base de formulação do segundo. Enfim, os dois tratam de ser abrangentes conjuntos

de metas para a criação de um mundo, enfim, equilibrado e com uma sociedade

sustentável.

Uma das chaves do desenvolvimento sustentável é a educação ambiental.

Essa educação deve basear-se no fato de que a biosfera (solos, água e ar) tem

capacidade limitada e as ações do homem podem acarretar modificações nefastas à

saúde e à segurança das populações. Essa educação deve demonstrar que, para se

desenvolver, todo ser humano depende das condições de seu meio ambiente, e

deve acentuar que nenhuma geração pode arrogar-se o direito de destruir os

elementos necessários à sobrevivência da geração seguinte.

3.2 ELEMENTOS CARACTERIZADORES

Como mencionado, o conceito de desenvolvimento sustentável foi elaborado

pela Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD), no

âmbito da Organização das Nações Unidas, ONU (Relatório Brundtland, 1987): “O

desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem

comprometer a possibilidade12 de as gerações futuras atenderem a suas próprias

necessidades” (CMMAD, 1991, p. 46). O conceito de desenvolvimento sustentável

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49

carrega consigo um ingrediente inovador, uma vez que trata as gerações futuras

como titulares do direito a um meio ambiente equilibrado e de um desenvolvimento

saudável (MACHADO, 1998).

Assim como o termo desenvolvimento, a sustentabilidade também tem suas

raízes na economia. É atribuída ao economista britânico John Hicks a formulação

inicial do conceito de sustentabilidade (HUNTER et al., 1998, p. 135). A partir da

leitura dos conceitos de desenvolvimento e de sustentabilidade é possível perceber

que os problemas ambientais e econômicos estão intimamente ligados.

A sustentabilidade, uma vez que o desenvolvimento sustentável ainda é um

objetivo a ser alcançado, pode ser classificada em quatro diferentes graus (HUNTER

et al., 1998, p. 135): fraca, média, forte, absurdamente forte. A classificação da

sustentabilidade em uma dessas categorias depende de quanto se acredita na

substituição dos vários tipos de capital.

A sustentabilidade fraca e a absurdamente forte coincidem com os modelos

de desenvolvimento de fundamentação exploracionista, reconhecem a possibilidade

e viabilidade da exploração indiscriminada do capital natural do planeta, e

preservacionista, abominam a utilização de recursos não renováveis e o uso

“irresponsável” dos recursos renováveis, respectivamente; a sustentabilidade média exige a

manutenção de um nível mínimo do capital intacto – abrangendo porções dos diversos tipos

de capital –, dando especial atenção à quantidade de capital natural, manufaturado e humano

que comporão o capital total; a sustentabilidade forte requer a conservação de um nível

mínimo de cada um dos diferentes tipos de capital separadamente, ou seja, cada realidade será

estudada de modo independente e levando-se em conta todo o conjunto.

3.3 PRINCÍPIOS DO DIREITO AMBIENTAL

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O termo desenvolvimento sustentável define as práticas de desenvolvimento

que atendem às necessidades presentes sem comprometer as condições de susten-

tabilidade das gerações futuras.

Os princípios do desenvolvimento sustentável são baseados nas necessi-

dades, sobretudo, as necessidades essenciais e, prioritariamente, aquelas das

populações mais pobres; e limitações que a tecnologia e a organização social

impõem ao meio ambiente, restringindo a capacidade de atender às necessidades

presentes e futuras.

Serão apresentados, a seguir os princípios do Direito Ambiental que

usualmente derivam dos principais instrumentos internacionais de proteção do meio

ambiente, de modo que ao se referir aos princípios deste ramo do direito se pode

constatar uma íntima relação entre o direito ambiental internacional e o direito

ambiental pátrio. Assim, além de mencionar os principais atos normativos brasileiros,

serão citados também algumas declarações internacionais como a Declaração do

Rio (1992) e a Declaração de Estocolmo (1972).

Antes de serem tecidas quaisquer considerações sobre esses princípios,

importa esclarecer que o estudo está baseado no artigo 225, que compõe o Capítulo

VI (Meio Ambiente) do Título VIII (Ordem Social) da Constituição Federal de 1988.

Como bem abordado por Miguel Reale, os princípios são a base para que

um novo sistema cognitivo possa emergir:

[...] os princípios são "verdades fundantes" de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da praxis. (REALE, 2001, p. 305.)

Na lição de De Plácido, os princípios

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[...] notadamente no plural, significa as normas elementares ou os requisitos primordiais instituídos como base, como alicerce de alguma coisa. [...] princípios revelam conjunto de regras ou preceitos, que se fixam para servir de norma a toda espécie de ação jurídica [...] exprimem sentido mais relevante que o da própria norma ou regra jurídica (DE PLÁCIDO, 2002, p. 639).

Assim, para que a Ética Ambiental tome enquadramento como ramo de

destaque, necessária se faz a pormenorização de seus princípios, que retirados de

enunciados da filosofia e ética contemporâneas, têm intrínseca relação com a

necessária modificação do paradigma vigente.

Em que pese a existência de trabalhos que tragam uma quantidade maior ou

menor de princípios, tratar-se-á, aqui, dos seguintes: direito fundamental a um meio

ambiente ecologicamente equilibrado; princípio da educação; princípio da

participação; princípio do poluidor/pagador; princípio da prevenção e da precaução;

princípio da cooperação; princípio da recuperação, ou reabilitação, do meio degra-

dado; princípio do desenvolvimento sustentável.

3.3.1 Princípio do direito fundamental a um meio ambiente

ecologicamente equilibrado

O princípio do direito fundamental a um meio ambiente ecologicamente

equilibrado surge pela gradual inter-relação entre a proteção do meio ambiente e a

proteção dos direitos humanos. Uma vez considerado imprescindível à qualidade de

vida, o direito a um meio ambiente sadio passou a ser inserido nas Constituições de

vários países, incluindo-se aí o Brasil.

A positivação desses direitos humanos sob a forma de norma constitucional

lhes confere o status de direito fundamental. Embora o direito a um meio ambiente

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ecologicamente equilibrado não tenha sido inserido no art. 5º da Constituição

Federal de 1988, o qual cuida dos direitos e deveres individuais e coletivos, o

parágrafo 2º deste artigo dispõe que “os direitos e garantias expressos nesta

Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela

adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil

seja parte”. Assim, é possível afirmar com segurança que existe no ordenamento

jurídico brasileiro um direito fundamental a um meio ambiente sadio, expressamente

consignado no caput do art. 225 da Carta Magna.

A Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente (1972) incluiu, no

primeiro princípio, o direito fundamental de viver em um meio ambiente de qualidade

satisfatória. A Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992),

igualmente em seu princípio 1, dispõe que os seres humanos têm direito a uma vida

saudável e produtiva em harmonia com a natureza.

3.3.2 Princípio da Educação Ambiental

O direito ao meio-ambiente é um direito coletivo. Um direito que pertence a

todos, e ao mesmo tempo a cada um, pois todos têm o direito de viver num meio

circundante ecologicamente equilibrado, um habitat.

O Princípio da Educação Ambiental surge como forma de possibilitar às

populações o conhecimento necessário para que se possam implementar as mais

diversas atividades e ações relacionadas à preservação do meio ambiente, inclusive

a compreensão e adoção dos outros princípios estabelecidos.

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A anteriormente citada Declaração de Estocolmo estabeleceu, com respeito

à educação, que:

É indispensável um trabalho de educação sobre as questões ambientais, visando tanto às gerações jovens como os adultos, dispensando a devida atenção ao setor das populações menos privilegiadas, com a finalidade de desenvolver as bases necessárias para esclarecer a opinião pública e dar aos indivíduos, empresas e coletividades o sentido de suas responsabilidades, relativamente à proteção humana e melhoramento do meio ambiente, em toda a sua dimensão humana (Declaração Internacional de Estocolmo, Princípio n.º 19).

Nota-se no texto transcrito a presença de uma preocupação maior com as

ditas “populações menos privilegiadas”, ponto no qual se pode estabelecer uma

crítica baseada no fato de que as pessoas com maiores possibilidades de controlar e

influenciar os processos de produção, os ocupantes de posições de comando dentro

do contexto social, os legisladores em geral e, até mesmo, os tantos operadores do

Direito, não são, de maneira alguma, considerados como aqueles.

O princípio da Educação Ambiental deve ser entendido em seu aspecto mais

amplo, ou seja, o mais abrangente possível. Não há o porquê restringi-lo a uma

determinada faixa da população, do território ou qualquer outra diminuição de sua

capacidade de atuar.

Tal pensamento é assim manifestado pela Constituição Federal de 1988, que

em seu artigo 225, parágrafo 1º, inciso IV, prevê como incumbência do Poder

Público: “Promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a

conscientização pública para a preservação do meio ambiente”.

3.3.3 Princípio da participação

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54

A proteção ambiental, inicialmente, é de natureza pública (MILARÉ, 2001).

Conforme se extrai da leitura do parágrafo primeiro do art. 225 da Constituição

Federal de1988, ao Poder Público cabe assegurar a efetividade do direito ao meio

ambiente ecologicamente equilibrado através de obrigações previstas expressa-

mente. Todavia, a tarefa de proteger o ambiente diz respeito à coletividade como um

todo, isto é, tanto os entes públicos quanto os entes privados, pessoas físicas e

jurídicas, têm o dever de velar pela manutenção e melhoria da qualidade do

ambiente. A Declaração do Rio trata da participação popular em seu princípio 10.

A respeito da participação popular, as organizações não-governamentais

(ONG’s) têm desempenhado importante papel de mobilização da sociedade,

difundindo informações sobre o meio ambiente, promovendo debates, levando

reivindicações ao poder público.

A participação popular, aliás, é um dos elementos basilares para se atingir

um desenvolvimento sustentável, posto que a gestão dos recursos ambientais deve

acontecer em harmonia com as populações diretamente interessadas e ser

legitimada por processos democráticos.

A Carta Magna de 1988 impôs à coletividade, o principal interessado na

qualidade do ambiente, assim como impôs ao Poder Público, o dever de proteger e

preservar o meio ambiente tendo em vista um contexto intergeracional.

3.3.4 Princípio do poluidor-pagador

O princípio do poluidor-pagador tem como fundamento a internalização dos

custos sociais da atividade produtiva. De acordo com este princípio “arca o causador

da poluição com os custos necessários à diminuição, eliminação ou neutralização

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deste dano” (DERANI, 2001, p. 162). Portanto, pode-se afirmar que é um princípio

de natureza ambiental e econômica, que produz efeitos diretos na atividade

produtiva, uma vez que o empreendedor/poluidor deverá suportar o ônus advindo

das externalidades negativas, aqueles reflexos negativos da atividade econômica

que atingem toda a coletividade, ou inserir esse custo na formação do preço do

produto final.

O princípio do poluidor-pagador diz respeito também a todo aquele que se

beneficia da utilização dos recursos naturais. Devendo-se, então, incluir não só a

poluição, mas, do mesmo modo, o uso de recursos naturais (polluter and user pays

principle) (HUNTER et al., 1998, p. 382).

A intensificação da relação entre economia (atividade produtiva) e meio

ambiente favoreceu a criação de princípio do poluidor-pagador. Urquidi aponta três

etapas principais que compõem a evolução da relação entre a economia e o meio

ambiente:

a) até 1970, quando a produção ocupava um papel hierarquicamente superior à proteção ambiental; b) 1970-1987, período compreendido entre os trabalhos preparatórios da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Estocolmo, 1972) e a publicação do Relatório Brundtland, que popularizou o conceito de desenvolvimento sustentável; c) 1987-1992, período compreendido entre a publicação do Relatório Brundtland e a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD) no Rio de Janeiro (URIQUIDI, 1994, p. 47-61).

O princípio originou-se na legislação brasileira na Lei n.º 6.938/1981 da

Política Nacional do Meio Ambiente que, por sua vez, dispõe no art. 4º, inc. VII,

dentre outros objetivos, “à imposição, ao poluidor e ao predador, da obrigação de

recuperar e/ou indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela

utilização de recursos ambientais com fins econômicos”. Percebe-se que o legislador

brasileiro, influenciado pelo contexto mundial “pós Estocolmo 1972”, inseriu não só o

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princípio do poluidor-pagador, mas também, o usuário-pagador e a recuperação do

meio por aquele que desenvolve atividades predatórias.

Na Constituição Federal de 1988, encontram-se reflexos do princípio do

poluidor-pagador, incluindo-se aí o usuário-pagador, no art. 170, inc. VI, que inclui a

defesa do meio ambiente entre os princípios que regem a ordem econômica; art.

186, inc. II, que prevê a utilização racional de recursos naturais e a preservação

ambiental dentre os requisitos para o cumprimento da função social da terra; e no

art. 225, § 3º, cuja redação transcrevem-se: “As condutas e atividades consideradas

lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a

sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os

danos causados”.

O Poder Público na implementação desse princípio dispõe tanto de meios

diretos de regulação (limites legais), quanto de meios indiretos como incentivos e

instrumentos de natureza econômica (CARNEIRO, 2001, p. 34). Dentre esses meios

indiretos podem ser citados os tributos ambientais (ALIER et al., 2001) sobre

emissão de efluentes, serviços públicos ou produtos.

Como dito anteriormente, este princípio interfere diretamente na atividade

econômica, uma vez que os custos certamente serão incluídos no preço final dos

produtos e serviços, o que pode retirar a competitividade dos bens produzidos em

um país e provocar o fechamento de companhias e, por conseguinte, a eliminação

de muitos postos de trabalho. Assim, é possível que em algumas situações a

aplicação deste princípio deva ocorrer em harmonia com um outro princípio: o

Princípio do Ônus Social, que, segundo informa Derani:

Pelo princípio do ônus social são divididos os custos da proteção ambiental pela coletividade, isto é, pelo conjunto dos pagadores de impostos, sem se

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observar a utilidade relativa que cada indivíduo retiraria. (DERANI, 2001, p. 164).

O princípio do ônus social é, portanto, uma defesa necessária do mercado

de uma aplicação radical do princípio do poluidor-pagador. A harmonia entre esses

dois princípios é um dos objetivos do que se chama desenvolvimento sustentável.

No entanto, embora seja fundamental a harmonia entre a atividade econômica e a

proteção ambiental, os formuladores e aplicadores das Políticas Públicas devem

estimular ao máximo a criação de atividades ambientalmente corretas e a substi-

tuição gradual de atividades que apresentem um alto índice de externalidades

negativas.

3.3.5 Princípio da prevenção e da precaução

O princípio da prevenção é um dos fundamentos da proteção ambiental,

uma vez que procura evitar o acontecimento ou a ocorrência do dano ambiental.

A prevenção é princípio essencial da preservação e da conservação

ambiental e deve ser colocada à frente do dever de reparação por parte daqueles

que causam danos ao ambiente. Nem sempre um dano ambiental pode ser

remediado. Em alguns casos a recuperação é impossível, em outros requer largo

espaço de tempo e altos custos, o que nos aproxima da impossibilidade. Portanto, a

prevenção é elemento imprescindível à manutenção e à melhoria da qualidade

ambiental.

O texto constitucional brasileiro possui dispositivos de características

preventivas como o inciso IV, “exigência de estudo prévio de impacto ambiental na

instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa

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degradação” e inciso V, “previsão de controle da produção, da comercialização e do

emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a

qualidade de vida e o meio ambiente”, do § 1º do art. 225.

Após a Declaração do Rio (1992), tendo como fundamento o princípio da

prevenção, foi adotado o princípio da precaução. A precaução se encontra expressa

no princípio 15 da declaração, cuja redação está transcrita abaixo:

Com o fim de proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deverá ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com suas capacidades. Quando houver ameaça de danos graves ou irreversíveis, a ausência de certeza científica absoluta não será utilizada como razão para o adiamento de medidas economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental. A precaução é uma forma especial de prevenção. A incerteza científica não deverá representar obstáculo ou motivo de prorrogação da adoção de medidas preventivas. Identificam-se entre a prevenção e a precaução uma relação entre gênero e espécie, na qual a segunda é espécie da primeira. (CNUMAD, 1997, p. 596)

3.3.6 Princípio da cooperação

O princípio da cooperação leva implícita a idéia de que a proteção ambiental

é um tema de preocupação comum de toda a humanidade. A cooperação

internacional, em sentido amplo, foi inserida no Pacto da Liga das Nações, adotado

em 28 de junho de 1919, em Versalhes, e na Carta das Nações Unidas, adotada em

26 de junho de 1945. Nesta última, no § 3º do art. 1º reconhecia como um dos

objetivos das Nações Unidas a “cooperação internacional para resolver os

problemas internacionais de caráter econômico, social, cultural ou humanitário [...]”.

Embora a cooperação em matéria ambiental esteja relacionada à

cooperação econômica, social, cultural e humanitária foi necessária a criação de

documentos que a previssem de forma expressa, como a Declaração de Estocolmo

que em seu princípio 24, cuida da cooperação internacional e a Declaração do Rio,

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que em vários princípios trata da cooperação nacional, dentre outros, o princípio 5

que diz que “Todos os Estados e todos os indivíduos [...] irão cooperar na tarefa

essencial de erradicar a pobreza [...]”); o princípio 7 que versa que “Os Estados irão

cooperar, em espírito de parceria global, para a conservação, proteção e

restauração da saúde e da integridade do ecossistema terrestre”.

A cooperação também foi incluída no texto da Agenda 21 que em seu

capítulo 2 tem como título a “Cooperação internacional para acelerar o desenvolvi-

mento dos países em desenvolvimento e políticas internas correlatas” e a Seção 4,

que trata dos meios de implementação em 8 capítulos (33 a 40).

Finalizando, pode-se inferir que a cooperação é o elemento chave para a

implementação efetiva de políticas ambientais, o caminho em direção a um

desenvolvimento sustentável requer, dentre outros elementos, a transferência de

tecnologia e a criação de fundos para a implementação de políticas nos países em

desenvolvimento.

3.3.7 Princípio da recuperação ou reabilitação do meio degradado

O princípio da recuperação do meio degradado poderia ser perfeitamente

incluído no princípio do poluidor-pagador, ou usuário-pagador. Entretanto, devido à

atenção que o constituinte brasileiro conferiu ao tema, quando vinculado à

exploração de recursos minerais, preferiu-se abordá-lo separadamente do princípio

do poluidor-pagador.

O § 2º do art. 225 da Carta Magna de1988 determina que todo “aquele que

explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de

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acordo com a solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da

lei”.

A obrigação de recuperar o ambiente degradado decorre da natureza da

atividade mineradora. Trata-se da extração de recursos não renováveis, isto é, uma

vez retirados, jamais retornarão ao seu local de origem.

FREIRE (2000) sintetiza o tema da recuperação das áreas degradadas com

as seguintes palavras:

São considerados como degradação os processos resultantes dos danos ao meio ambiente, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas propriedades, tais como a qualidade ou capacidade produtiva dos recursos ambientais. A recuperação terá por objetivo o retorno do sítio degradado a uma forma de utilização, de acordo com um plano preestabelecido para uso do solo, visando a obtenção de uma estabilidade do meio ambiente (2000, p. 146 e 147).

A recuperação do meio degradado é o complemento necessário ao princípio

da prevenção no que diz respeito à atividade mineradora, pois não é possível a

extração de recursos minerais, ou de pelo menos grande parte dos recursos

minerais, sem a produção da modificação do meio. Portanto, nem sempre aqui será

possível aplicar o princípio da prevenção, salvo quanto às exigências de utilização

das melhores técnicas disponíveis, isto é, aquelas que acarretem o menor dano

possível ao espaço onde ocorre a atividade e às pessoas diretamente envolvidas na

atividade produtiva – os trabalhadores.

Existe uma relação muito próxima entre o princípio da recuperação do meio

e o princípio do poluidor-pagador. Assim como este não é específico da atividade

mineradora, aquele também não é. No art. 2º, inciso VIIII, da Lei de Política Nacional

do Meio Ambiente, a recuperação das áreas degradadas é tratada de modo

genérico; não há menção única ao empreendimento mineiro. Deste modo, refor-

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çamos a convicção de que a recuperação do meio pode tanto ter uma conotação

geral quanto específica à atividade mineradora.

3.3.8 Princípio do Desenvolvimento Sustentável

A Constituição Brasileira não trata diretamente do desenvolvimento

sustentável, todavia, esse princípio encontra-se inserido no ordenamento

constitucional pátrio. A forma como o constituinte brasileiro tratou a ordem

econômica e o meio ambiente demonstra que o desenvolvimento sustentável

também é princípio de natureza constitucional-ambiental.

O art. 170, inc. VI, da Carta Magna, inclui entre os princípios que ordenam a

ordem econômica, a defesa do meio ambiente. Princípios como o do poluidor

pagador e o da recuperação do meio degradado reforçam a intenção do constituinte

de criar um fundamento normativo que consagrasse o desenvolvimento sustentável.

A Política Nacional do Meio Ambiente, Lei n.º 6.938/1981, entretanto, já

incluía em seu texto temas relativos ao desenvolvimento sustentável, conceito ainda

em formação na época em que foi aprovada a referida lei. O caput do art. 2º dispõe

que a “Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria

e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, ao País,

condições ao desenvolvimento socioeconômico, aos interesses da segurança

nacional e à proteção da dignidade da vida humana”; enquanto que o art. 4º exibe

entre os objetivos da Política Nacional do Meio Ambiente (inc. I) a “compatibilização

do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio

ambiente e do equilíbrio ecológico”.

No mesmo sentido, a Lei n.º 6.803, de 3 de julho de 1980, de Diretrizes

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Básicas para o Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de Poluição, já exigia em

seu art. 1º que “as zonas destinadas à instalação de indústrias seriam definidas em

esquema de zoneamento urbano, aprovado por lei, que compatibilize as atividades

industriais com a proteção ambiental”.

Desta feita, no período em que estava sendo construída a noção de

desenvolvimento sustentável, a partir do ecodesenvolvimento, podem ser encon-

trados no ordenamento jurídico brasileiro elementos típicos do desenvolvimento

sustentável.

3.4 HIPÓTESE DE GAIA

Cabe esclarecer, primeiramente, que se entende como teoria, um sistema ou

uma estrutura (LAKATOS, 1979, CHALMERS 1982 [1997]), ou seja, como um

conjunto de elementos que estabelecem relações entre si. Os elementos que

compõem uma teoria incluem, entre outros, princípios explicativos, leis empíricas,

suposições metafísicas, hipóteses, descrições, métodos, técnicas. Uma teoria

cumpre o papel de explicar um fenômeno ou padrão observado mediante a

elucidação dos mecanismos ou processos responsáveis por sua produção ou

causação. Como hipóteses, entende-se, por sua vez, como tentativas de responder

a uma questão ou um problema definido, ou, nas palavras de Campbell (1996), uma

“explicação em julgamento”.

Nesses termos, parece mais correto considerar Gaia uma teoria, e não uma

hipótese (LIMA-TAVARES; EL-HANI, 2001). Assim, será utilizado o termo ‘teoria’

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para referir-se a Gaia, restringindo o uso da expressão ‘hipótese Gaia’ às citações

de outros trabalhos, quando não for possível evitá-la.

Desde Newton, acreditava-se que todos os fenômenos físicos podiam ser

reduzidos ao funcionamento de partículas elementares. Uma vez Pierre Laplace

escreveu:

Um intelecto que, num momento dado qualquer, conhecesse todas as forças que animam a natureza e as posições mútuas dos seres que a compõem, se esse intelecto fosse vasto o suficiente para submeter seus dados a análise, seria capaz de condensar numa única fórmula o movimento dos maiores corpos do universo e o do menor dos átomos: para tal intelecto nada poderia ser incerto; e tanto o futuro quanto o passado estariam presente diante de seus olhos (LAPLACE apud CAPRA, 2004).

A física quântica demonstrou que as partículas elementares não existem: no

nível subatômico, partículas se dissolvem em padrões de probabilidades seme-

lhantes a ondas. Partículas subatômicas não têm significado isoladamente: o

observador influencia o resultado da observação. Objetos macroscópicos que

parecem isolados, revelam-se como uma complexa teia de interações de causa e

efeito.

Como afirmou Heisenberg, "o mundo parece assim como um complicado

tecido de eventos, no qual conexões de diferentes tipos se alternam, se sobrepõem,

ou se combinam, e, por meio disso, determinam a textura do todo" (HEISENBERG

apud CAPRA, 2004, p. 123).

A sabedoria convencional vê o planeta Terra, composto por rochas, oceanos

e atmosfera, como a base inanimada para a vida. A hipótese de Gaia reúne

geologia, biologia, química e outras disciplinas em uma visão sistêmica da Terra. O

planeta Terra, que sempre foi visto como meio ambiente da vida, é agora

considerado como parte da vida.

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Compare-se, por exemplo, a atmosfera da Terra com a do planeta Marte: na

atmosfera terrestre existe grande quantidade de oxigênio, quase nenhum dióxido de

carbono, e um pouco de metano; em Marte existe muito pouco oxigênio, um pouco

de dióxido de carbono e nenhum metano. A diferença é que em um planeta sem vida

todas as reações químicas possíveis aconteceram há muito tempo atrás, e a

atmosfera encontra-se em equilíbrio. Na Terra acontece o contrário: gases como o

oxigênio e o metano, que têm alta probabilidade de reagir, coexistem em

abundância, resultando em uma mistura afastada do equilíbrio. Isso se deve à

presença de vida na Terra.

A hipótese de Gaia considera o planeta como um sistema em que todas as

partes interagem de modo a formar um todo auto-regulado. A vida cria as condições

para sua própria existência.

3.5 TEORIA DE GAIA

A Teoria de Gaia vem sendo desenvolvida por James Lovelock, desde a

década de 1960, a partir de seus trabalhos de natureza sistêmica, envolvendo a

relação entre a biosfera e os fatores ambientais.

Em um breve panorama da teoria Gaia, se pode dizer que esta teoria foi

desenvolvida por James Lovelock a partir de observações de algumas caracte-

rísticas de auto-regulação do planeta Terra.

Uma delas foi a de regulação da composição da atmosfera terrestre, que apresenta gases altamente reativos como o oxigênio (O2) e o metano (CH4), assim como gases de fácil decomposição como o óxido nítrico (NO2), caracterizando-se por encontrar-se em um estado de instabilidade química. No entanto, a atmosfera terrestre apresenta uma estabilidade que não se limita à química, na medida em que uma situação de instabilidade ou desequilíbrio químico, contrariando todas as probabilidades, se mantém na atmosfera terrestre há um longo período de tempo (LOVELOCK, 1990).

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Para James Lovelock, a melhor explicação para a instabilidade química da

atmosfera do planeta Terra seria uma atuação direta da biosfera, que utiliza a atmos-

fera como fonte de matéria prima e para a liberação de seus resíduos.

No entanto, a atmosfera terrestre apresenta uma estabilidade que não se limita à química, na medida em que uma situação de instabilidade ou desequilíbrio químico, contrariando todas as probabilidades, se mantém na atmosfera terrestre há um longo período de tempo. A melhor explicação para a instabilidade química da atmosfera do planeta Terra seria uma atuação direta da biosfera, que utiliza a atmosfera como fonte de matéria prima e para a liberação de seus resíduos (LOVELOCK, 1990).

A partir destas constatações, James Lovelock apresentou como o aspecto

principal da teoria Gaia a noção da biosfera como “um sistema de controle

adaptativo que poderia manter a Terra em homeostase” (LOVELOCK, 1972, p. 579).

A teoria Gaia, ao ser inicialmente apresentada para a comunidade científica em uma carta, ‘Gaia as Seen Through the Atmosphere’(1972), enviada por Lovelock para o periódico Atmospheric Environment, e em uma série de artigos publicados em colaboração com Lynn Margulis em 1974, teve a maior parte de suas idéias ignorada, começando a ser sujeita a críticas apenas no final da década de 1970 (LOVELOCK, [1988]1995, p. 31).

Algumas dessas críticas o teriam levado a perceber que Gaia, “como uma

teoria, ainda estaria necessitando de bases teóricas mais firmes” (LOVELOCK,

([1988] 1995, p. 32).

Caso as críticas a Gaia fossem apenas de natureza conceitual, com o

surgimento de questões relacionadas a aspectos pouco fundamentados de Gaia

como uma teoria, estaria se observando uma situação normal e quotidiana na

ciência, visto que todo programa de pesquisa científica apresenta seus defensores e

críticos, e tal situação é desejável e benéfica, na medida em que, ao tentar

responder aos críticos, os defensores de uma teoria tendem a fundamentá-la cada

vez melhor, buscando cada vez mais evidências empíricas e argumentos teóricos

para sua defesa.

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Com relação à cientificidade da teoria Gaia, James Lovelock discorda da

idéia de que sua teoria não seja científica e afirma que, “mesmo parecendo não ser

testável em uma primeira impressão, é altamente aberta a investigações experi-

mentais” (LOVELOCK, [1988]1995, p. 42).

É verdade que, ao realizarmos uma leitura dos trabalhos de Lovelock, muitas vezes deparamo-nos com aspectos questionáveis em relação ao estado atual do conhecimento científico, como, por exemplo, a idéia de que a Terra é viva, a qual, como o próprio Lovelock admite, está fora da fronteira da credibilidade científica (LOVELOCK, [1988]1995, p. 3. Cf. LIMA-TAVARES 2000, EL-HANI; LIMA-TAVARES 2001).

No entanto, mesmo apresentando tais aspectos polêmicos para a comuni-

dade científica, os trabalhos de James Lovelock também apresentam aspectos de

grande interesse para esta comunidade, podendo ser citada como exemplo a

proposição do próprio sistema cibernético de controle, que é uma das idéias

principais da teoria, mantendo-se ao longo de todo o seu desenvolvimento.

Além disso, é possível observar que, a partir das idéias de Gaia, muitos

trabalhos de pesquisa empírica e teórica vêm sendo realizados, produzindo-se um

número significativo de novidades quanto ao conhecimento de aspectos relaciona-

dos à dinâmica e regulação planetárias.

Outra característica da metodologia dos programas de pesquisa de Lakatos

que se mostra relevante para uma análise da teoria Gaia diz respeito à sua

flexibilidade e tolerância com as teorias, particularmente em seus estágios iniciais de

desenvolvimento, sem que, com isso, haja perda de racionalidade na avaliação de

sua cientificidade.

Estas características de flexibilidade e tolerância podem ser encontradas tanto no desenvolvimento de um programa de pesquisa como uma série de teorias quanto na heurística positiva, entendida, na teoria da ciência de Lakatos, como um conjunto parcialmente articulado de sugestões ou palpites sobre como desenvolver e modificar as ‘variantes refutáveis’ do

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programa de pesquisa e como modificar o cinturão protetor ‘refutável’ (LAKATOS, [1978]1995, p. 50).

A escolha da metodologia dos programas de pesquisa de Lakatos como

marco epistemológico se deve à visão de que esta teoria da ciência pode fornecer

um referencial heuristicamente poderoso para o tratamento de questões relacio-

nadas à cientificidade de teorias novas e controversas, como é o caso da teoria

Gaia.

A teoria Gaia é sobre a evolução de um planeta vivo. Quando bioquímicos examinam um animal vivo, eles sabem que muitas das suas reações e dos seus processos podem ser adequadamente descritos por simples física e química determinística. Mas eles também aceitam a legitimidade da fisiologia. Eles sabem que, para um animal intacto, a homeostase, a regulação automática da temperatura e da composição química, ainda que envolva química, é uma propriedade emergente. O todo é mais importante do que a soma das partes. Tais propriedades requerem fisiologia para sua explicação e compreensão. Eu acredito que o mesmo pode ser dito sobre a Terra. Se ela é um super-organismo, então sua explicação requer fisiologia, assim como química e física. (LOVELOCK, 1988, p. 266).

É interessante notar outras afirmações que podem ser situadas no cinturão

protetor da teoria Gaia, como, por exemplo, a idéia de que Gaia e Terra são

sinônimos e a proposição de que o sistema descrito pela teoria é caracterizado por

propriedades emergentes.

Ao mesmo tempo, constata-se que a teoria Gaia sofreu uma modificação

muito importante em sua estrutura a partir da década de 1980, quando o papel da

biosfera deixou de ser o fator principal do sistema gaiano e os fatores físico-

químicos envolvidos neste sistema alcançaram o mesmo patamar de importância no

estabelecimento de uma auto-regulação ao nível planetário.

Myrdene Anderson (apud LOVELOCK, 1990, p.102), observou “Gaia é um

signo vazio com capacidade quase infinita de significação”.

O próprio Lovelock reconheceu que o termo ‘Gaia’ se estendeu muito além

de suas intenções, comparando-o a “uma lata vazia deixada numa rua, sendo

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gradualmente enchida com um monte de lixo” (1990, p.102). Embora ele afirme que

este é o destino de qualquer signo novo, é razoável pensar que um dos motivos para

que isso tenha ocorrido foi a escolha do nome ‘Gaia’, que contribuiu tanto para a

rejeição da teoria por muitos cientistas como para a adesão entusiasmada de grupos

ambientalistas e espiritualistas (SCHNEIDER; BOSTON, 1993).

A partir dessa mudança em seus argumentos, James Lovelock propôs um

substituto para o termo Gaia, Geofisiologia, referindo-se àquele primeiro termo como

uma “abreviação para a teoria” (LOVELOCK, 1990, p. 100). Contudo, este neo-

logismo não se tornou muito difundido, provavelmente porque é um termo muito

menos atraente do que ‘Gaia’.

O termo ‘Geofisiologia’ preserva a idéia de que a Terra é um super-

organismo. Considerando-se que o conceito de super-organismo é uma das noções

mais polêmicas na história da Ecologia e a referência a ele torna a teoria Gaia ainda

mais controversa (SIMBERLOFF, 1980). Passou-se, então, a enfatizar em sua teoria

a necessidade de um estudo geofisiológico de Gaia, com base em uma analogia

com os estudos fisiológicos dos organismos vivos.

Algumas analogias interessantes entre os organismos vivos e Gaia,

concernentes à capacidade de alcançar e manter um estado de homeostase e à

capacidade de regular a temperatura, desenvolvidas por James Lovelock neste

artigo, parecem confirmar que a atribuição de vida a Gaia teria surgido como uma

maneira de criar uma ponte entre a teoria Gaia e a realidade. Aspectos como a

capacidade de regulação da temperatura ou a capacidade de manter ativamente a

composição química constante em face das perturbações, existentes tanto no

planeta Terra quanto nos organismos vivos, funcionam como base para tais

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analogias. Outras analogias são feitas entre Gaia e organismos específicos, como

bactérias, árvores etc., e mesmo entre Gaia e ecossistemas.

Ainda quanto à questão da atribuição de vida à Gaia, observam-se impor- tantes modificações na maneira como é proposta a analogia entre Gaia e vida, onde a noção de que a Terra é viva é reconhecida apenas em um sentido fisiológico: “A noção de que a Terra é viva, tão ofensiva aos biólogos, eu agora reconheço como verdadeira apenas em um sentido fisiológico” (LOVELOCK, 1995, p. 11).

Como se pode observar, a idéia de fisiologia a um nível planetário é

novamente enfatizada. Além disso, desta vez James Lovelock deixa claro que:

A idéia de que a Terra é viva tem um papel acessório na teoria Gaia, visto que ela aparece como uma forma de justificar a importância de um estudo em termos fisiológicos do sistema auto-regulatório proposto pela teoria. Ele continua, no entanto, a enfatizar a importância de tentar-se compreender o conceito de vida, visto que o conceito de Gaia estaria inteiramente ligado a ele: O conceito de Gaia é inteiramente ligado ao conceito de vida. (LOVELOCK, [1988]1995, p. 16).

Atente-se que em artigos como ‘Are we destabilising the world climate? ‘The

lessons of Geophysiology’ (1985) e ‘Geophysiology: a new look at life on Earth

Science’ (1986), Lovelock não mais apresenta Gaia como uma entidade viva, mas

como uma entidade quase-viva, capaz de gerar uma homeostase global: “A teoria

Gaia sugere que nós habitamos e somos parte de uma entidade quase-viva que tem

a capacidade de uma homeostase global” (LOVELOCK, 1985, p. 53; 1986a, p. 395).

Novamente, a associação entre os conceitos de vida e Gaia por meio de

analogias, como aquela baseada na capacidade de manter-se em homeostase,

aparece de modo mais preponderante que a definição da Terra como um ser vivo.

Ao contrário do que Lovelock afirmava em seus artigos da década de 1970, a Terra

não precisaria ser viva para ser considerada uma entidade real.

SPOWERS (2000, p. 25 apud LIMA-TAVARES; EL-HANI, 2001) atribui a

resistência da comunidade científica à hipótese Gaia a dois fatores: (1º) os paralelos

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entre Gaia e crenças animistas, dado que, nos dois casos, afirma-se que a Terra é

viva; (2º) a abordagem holística de Gaia, que estaria em contraste direto com a

abordagem reducionista da ciência moderna. Não será discutido, aqui, este segundo

ponto, reservando-o para trabalhos futuros. O que interessa neste momento é o fato

de que Spowers não reconhece que a dificuldade não reside apenas na similaridade

de conteúdo entre a idéia de que a Terra é viva na teoria de Lovelock e crenças

animistas, mas na ausência de uma justificativa teórica adequada para a proposição

de que a Terra é viva.

3.6 DEFININDO VIDA NA TERRA

A idéia de que a Terra é um ser vivo pode ser justificada com base em

alguma, ou algumas das definições discutidas acima.

Sendo a Terra considerada ‘viva’ e, se a vida é caracterizada pela presença

de uma população de entidades das propriedades necessárias para assegurar a

evolução por seleção natural. A Terra é, obviamente, uma entidade individual única,

e não um membro de uma ‘população de planetas’. Pode-se afirmar que a Terra

evolui através do tempo, mas ela o faz como uma entidade individual, mediante um

processo transformacional, e não variacional.

Lovelock afirma que:

A Terra claramente não é um organismo, se os seres vivos forem entendidos como entidades que se reproduzem e obedecem às leis da seleção natural. Ele levanta, contudo, uma dúvida: ‘Gaia é única no sentido de que teve um tempo de vida de pelo menos 3,8 bilhões de anos. Quem sabe se ela se reproduz ou não!’ (LOVELOCK apud SPOWERS 2000, p. 27).

Quanto a este argumento, é suficiente dizer que:

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Esse esforço de esclarecer os conceitos em questão não deve perder-se num terreno de pura especulação, sem uma fundamentação teórica que permita conceber uma suposta ‘reprodução’ da Terra. Nestes termos, Lovelock argumenta também que a Terra tem outros atributos da vida tão importantes quanto a reprodução, como o metabolismo e a capacidade de homeostase (SPOWERS, 2000, p. 27).

Na teoria autopoiética, a organização circular dos sistemas vivos é

considerada seu principal atributo definidor. Proposições centrais da teoria Gaia,

como a de que o sistema compreendendo a biota e o ambiente físico-químico é

capaz de exibir auto-regulação, mantendo a homeostase planetária, sugerem ser

possível pensar na Terra, tal como caracterizada nesta teoria, como uma unidade

autopoiética.

Explica-se que a definição de vida encontrada na teoria da autopoiese,

desenvolvida por Maturana e Varela na década de 1960 que será abordada mais

adiante. Pode-se dizer, porém, que a definição autopoiética não se refere apenas ao

exemplo particular de vida encontrado na Terra. Essa definição é coerente com o

conhecimento biológico atual e, a despeito do estilo difícil da teoria, oferece uma

maneira particular e logicamente consistente de ver a vida, com capacidade de

organizar o conhecimento a este respeito.

A definição da vida como autopoiese parece, em princípio, ser suficiente-

mente específica para capturar aspectos fundamentais da vida biológica, ainda que

problemas possam ser detectados neste caso. A teoria da autopoiese contém, em

suma, uma definição de vida que parece satisfazer os requisitos discutidos acima.

Como esta definição foi criada deliberadamente para responder à questão ‘O que é

vida?’, ela é um exemplo característico de definição de vida encontrada como um

elemento explícito na rede de conceitos de um paradigma.

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De outro lado, se a afirmação de que a Terra é viva não for entendida como

uma referência a uma caracterização do planeta como um todo, mas apenas à fina

camada de seres vivos que o recobre, qual seria a vantagem de tal qualificação? É

difícil ver como a inferência de que a Terra é um ser vivo com base na observação

de que ela é coberta por uma fina camada de seres vivos poderia sustentar-se

diante de uma aplicação do princípio da parcimônia. É certamente mais

parcimonioso afirmar-se que a Terra, como um todo, não é um ser vivo, mas está

coberta por seres vivos, e a biota é capaz de regular o ambiente físico-químico, por

estar intimamente acoplada a ele.

Quanto ao ensino nos mais diferentes níveis, deverá ser considerada a

afirmação de que a Terra é viva e auxilia de algum modo a compreensão das redes

de interação envolvendo os sistemas vivos e o ambiente físico-químico, ou se ela se

mostra dispensável no uso da teoria Gaia como parte do conhecimento escolar.

A caracterização da Terra como um ser vivo poderia contribuir, por exemplo,

para a conscientização ecológica dos alunos, correndo-se o risco, entretanto, de

levá-los a uma compreensão equivocada da natureza da vida ou a uma confusão

entre proposições metafísicas e hipóteses científicas no contexto de um paradigma.

Consideram-se suficiente, para que a teoria Gaia suscite uma mudança substancial

no entendimento do planeta, a explicação da complexa rede de alças de

retroalimentação descrita por Lovelock e Margulis e da capacidade de tal rede de

regular o sistema planetário, acoplando intimamente os seres vivos e seu ambiente

físico-químico.

No estudo interdisciplinar, cada área do conhecimento vai discutir uma

determinada questão, em conjunto, para solucioná-la ou para contribuir para um

melhor entendimento.

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O que se pode inferir que o estudo interdisciplinar parece ser a abordagem

mais apropriada para a ciência da Ecologia, por permitir uma melhor compreensão

dos sistemas (concepção sistêmica) pela identificação e interpretação dos seus

elementos, possibilitando uma “visão holística” e, conseqüentemente, a proposição

de soluções para os problemas ambientais da atualidade.

Enfim, pode-se afirmar que a história da vida na Terra tem revelado, como

ensinam Margulis e Segan, que:

A vida não se apossa do globo pelo combate, mas, sim, pela formação de redes. Práticas destrutivas não encontram a vida eterna. Triunfam a cooperação e a criatividade. Desde que as primeiras células nucleadas foram criadas, arranjos de cooperação e de co-evolução foram o procedimento da evolução (Apud CAPRA, 1997, p. 185).

Talvez porque conheçam a teoria, talvez por intuição, sensibilidade ou

inteligência, o fato é que várias empresas estão se tornando permeáveis à prática de

ações que levam em conta a co-evolução de sua rede interna e a de seu ambiente e

que aqui são designadas empresas humanizadas. Ao serem apresentados exemplos

de empresas desse tipo, é importante que se leve em conta que não estamos

considerando a totalidade de suas operações, mas, sim, um determinado projeto ou

conjunto de ações. Da mesma forma, sugerimos que não sejam estabelecidas

correlações entre as ações tidas como humanizadas por parte dessas empresas e

seus respectivos desempenhos econômico-financeiros, visto que inúmeras outras

variáveis impactam esse desempenho e aqui não estão sendo consideradas.

3.7 TEORIA DE AUTOPOIESE

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O termo autopoiese ou autopoiesis origina-se do grego auto que significa

próprio, e do termo poiesis, criação, cunhado na década de 70, pelos biólogos e

filósofos chilenos Francisco Varela e Humberto Maturana “a capacidade dos seres

vivos de produzirem a si próprios”. Essa construção conceitual foi rapidamente

difundida e começou a ser empregada em outras áreas do conhecimento até ser

introduzida na seara das ciências sociais (MATURANA, 1997, p. 17).

O responsável pela colocação da autopoiese no meio social foi Niklas

Luhmann, que na década de 80 transformou a teoria autopoiética em um método de

observação social. Note-se que o postulado luhmanniano pode ser dividido em duas

fases: uma estritamente sistêmica e outra com a aplicação da autopoiese sobre os

marcos já existentes da sistêmica. Tanto a criação da teoria autopoiética com a sua

aplicação aos sistemas sociais representou uma revolução epistemológica. Essa

proposta de mutação no foco epistemológico propiciou uma melhor observação do

meio e suas características. Anteriormente, o processo de observação científica de

um dado objeto pressupunha a análise estrutural de todos os seus elementos

constitutivos isoladamente. Conhecer algo significava poder determinar quais são as

partes que determinam o todo desse objeto. Não se avaliava as relações entre os

elementos mas apenas sua condição / colocação no todo.

Nesse sentido, pode-se revisar a dificuldade de se aplicar essa metodologia à realidades complexas. Já a proposta da teoria autopoiética, diferentemente da postura analítica, parte da observação de determinado objeto pela interação de seus elementos, possibilitando, assim, a construção de um arcabouço cientifico embasado nas relações entre os elementos e as funções exercidas no todo comunicativo dos sistemas. A autopoiese vem sendo utilizada como marco teórico dos Direitos Fundamentais (TRINDADE, 2007, p. 44).

Nessa perspectiva autopoiética formulada por Niklas Luhmann,

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a Sociologia e o Direito são auto-reprodutores de suas próprias estruturas a exemplo da teoria biológica onde se originou. A sociedade é concebida como um sistema social que apresenta infinitas possibilidades de interações sociais e se reveste de grande complexidade a exigir subsistemas altamente especializados como o Direito, a Política e a Economia, os quais possuem suas próprias racionalidades e estruturas diferenciadas como condição de sua própria existência enquanto sistemas sociais, os quais são formas de relação comunicacional (LUHMANN, 1992, p. 11).

Enquanto que segundo opinião de Leonel Severo Rocha, “a sociedade como

concebida por Niklas Luhmann, tem a comunicação como elemento central e

fundamental” (ROCHA, 2003, p. 104). Dessa forma, faz-se necessário analisar essa

perspectiva a fim de identificar a necessidade de superar as dificuldades que surgem

justamente da improbabilidade da comunicação entre os sistemas ou subsistemas

sociais do direito e da economia.

A importância da comunicação para a espécie humana é algo indiscutível,

assim como é para os animais que também possuem formas particulares de

comunicação que aos poucos são descobertas, descortinando-se uma infinidade de

códigos próprios de cada espécie. É pela comunicação que se estabelecem os laços

sociais e as relações interpessoais.

Segundo esta teoria, um ser vivo é um sistema autopoiético, caracterizado

como uma rede fechada de produções moleculares (processos), onde as moléculas

produzidas geram com suas interações a mesma rede de moléculas que as

produziu. A conservação da autopoiese e da adaptação de um ser vivo ao seu meio

são condições sistêmicas para a vida. Por tanto um sistema vivo, como sistema

autônomo está constantemente se autoproduzindo, autorregulando, e sempre

mantendo interações com o meio, onde este apenas desencadeia no ser vivo

mudanças determinadas em sua própria estrutura, e não por um agente externo.

Num desafio de Francisco Varela feito à Humberto Maturana para encontrar

uma descrição mais formal e mais completa da concepção de organização circular,

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76

Eles se puseram a trabalhar numa descrição formal completa da idéia de Maturana

antes de tentar construir um modelo matemático, e começaram inventando um novo

nome para ela - autopoiese. Auto, naturalmente, significa "si mesmo" e se refere à

autonomia dos sistemas autoorganizadores, e poiese - que compartilha da mesma

raiz grega com a palavra "poesia" – significa Autopoiese - a Organização dos Seres

Vivos Os hiperciclos estudados por Eigen se auto-organizam, se auto-reproduzem e

evoluem.

Maturana e Varela começaram seu ensaio sobre autopoiese caracterizando

sua abordagem como "mecanicista", para distingui-la das abordagens vitalistas da

natureza da vida: "Nossa abordagem será mecanicista: não serão nela aduzidos

forças ou princípios que não se encontrem no universo físico." No entanto, a

sentença seguinte esclarece, de imediato, que os autores não são mecanicistas

cartesianos, mas, sim, pensadores sistêmicos: Não obstante, nosso problema é o da

organização viva e, portanto, nosso interesse não estará nas propriedades dos

componentes, mas sim, em processos e nas relações entre processos realizadas por

meio de componentes.

Eles prosseguem aprimorando sua posição com a importante distinção entre

"organização" e "estrutura", que tem sido um tema implícito durante toda a história

do pensamento sistêmico, mas não foi explicitamente abordada até o desenvolvi-

mento da cibernética. Dão a essa distinção uma clareza cristalina. A organização de

um sistema vivo, eles explicam, é o conjunto de relações entre os seus

componentes que caracteriza o sistema como pertencendo a uma determinada

classe (tal como uma bactéria, um girassol, um gato ou um cérebro humano). A

descrição dessa organização é uma descrição abstrata de relações e não identifica

os componentes. Os autores supõem que a autopoiese é um padrão geral de

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organização comum a todos os sistemas vivos, qualquer que seja a natureza dos

seus componentes.

A estrutura de um sistema vivo, ao contrário, é constituída pelas relações

efetivas entre os componentes físicos. Em outras palavras, a estrutura do sistema é

a corporificação física de sua organização. Maturana e Varela enfatizam que a

organização do sistema é independente das propriedades dos seus componentes,

de modo que uma dada organização pode ser incorporada de muitas maneiras

diferentes por muitos tipos diferentes de componentes.

Tendo esclarecido que seu interesse é com a organização, e não com a

estrutura, os autores prosseguem então definindo autopoiese, a organização comum

a todos os sistemas vivos.

Uma importante característica dos sistemas vivos é o fato de sua organiza-

ção autopoiética incluir a criação de uma fronteira que especifica o domínio das

operações da rede e define o sistema como uma unidade. Os autores assinalam que

os ciclos catalíticos, em particular, não constituem sistemas vivos, pois sua fronteira

é determinada por fatores (tais como um recipiente físico) independentes dos

processos catalíticos.

O padrão de organização determina a identidade do sistema (suas

características essenciais); a estrutura, formada por uma seqüência de mudanças

estruturais, determina o comportamento do sistema. Na terminologia de Maturana, o

comportamento dos sistemas vivos é "determinado pela estrutura" desse mesmo

sistema.

Uma definição de vida é encontrada na teoria da autopoiese, desenvolvida

por Maturana e Varela na década de 1960, que resultou da tentativa de Maturana

resolver duas questões aparentemente distintas com as quais se defrontou em sua

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atividade profissional, a primeira diz respeito à característica distintiva de um sistema

vivo, seguida do que acontece no fenômeno da percepção.

Humberto Maturana se debateu com essas questões por quase uma

década, e, graças ao seu gênio, encontrou uma resposta comum a ambas. Ao obtê-

la, tornou possível a unificação de duas tradições de pensamento sistêmico que

estavam preocupadas com fenômenos em diferentes lados da divisão cartesiana.

Enquanto biólogos organísmicos tinham investigado a natureza da forma biológica,

ciberneticistas tinham tentado entender a natureza da mente. O pesquisador

compreendeu, no final dos anos 60, que a chave para esses dois quebra-cabeças

estava no entendimento da "organização da vida".

Segundo reporta El-Hani e Pereira:

Maturana observou que a principal questão colocada por seus estudantes dizia respeito às propriedades que distinguiam os seres vivos dos objetos inanimados. Entrementes, seus estudos sobre a visão de formas e cores em pássaros resultou em dados inusitados, que o levaram a inferir que a relação entre a retina e os estímulos físicos externos não era o principal fator a ser considerado, mas antes a relação entre as atividades retinais e as experiências de percepção de cor daqueles animais. A percepção não parecia ser uma representação de uma realidade externa, mas uma criação incessante de novas relações dentro de redes neurais. Ele havia chegado, pelo caminho da Neurofisiologia, a considerações sobre a natureza da percepção que a Filosofia tinha alcançado anteriormente por outros caminhos (EL-HANI; PEREIRA, 2001, p. 9).

Em suas próprias palavras, afirma o autor:

Minhas investigações sobre a percepção da cor levaram-me a uma descoberta que foi extraordinariamente importante para mim: o sistema nervoso opera como uma rede fechada de interações, nas quais cada mudança das relações interativas entre certos componentes sempre resulta numa mudança das relações interativas dos mesmos ou de outros componentes (MATURANA, 1997, p. 21).

Com base nessa descoberta, Maturana tirou duas conclusões, que lhe

deram as respostas a essas duas grandes questões. Ele supôs que:

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A ‘organização circular’ do sistema nervoso é a organização básica de todos os sistemas vivos: ‘Os sistemas vivos ... [estão] organizados num processo circular causal fechado que leva em consideração a mudança evolutiva na maneira como a circularidade é mantida, mas não permite a perda da própria circularidade’(MATURANA, 1997, p. 21).

Uma vez que todas as mudanças no sistema ocorrem no âmbito dessa

circularidade básica, Humberto Maturana argumentou que os componentes que

especificam a organização circular também devem ser produzidos e mantidos por

ela. E concluiu que esse padrão de rede, no qual a função de cada componente é

ajudar a produzir e a transformar outros componentes enquanto mantém a

circularidade global da rede, é a "organização [básica] da vida".

A segunda conclusão que Maturana extraiu do fechamento circular do

sistema nervoso corresponde a uma compreensão radicalmente nova da cognição.

Ele postulou que:

O sistema nervoso é não somente auto-organizador, mas, também continuamente auto-referente, de modo que a percepção não pode ser vista como a representação de uma realidade externa, mas deve ser entendida como a criação contínua de novas relações dentro da rede neural: ‘As atividades das células nervosas não refletem um meio ambiente independente do organismo vivo e, conseqüentemente, não levam em consideração a construção de um mundo exterior absolutamente existente.’ (MATURANA, 1997, p. 21).

Observa-se,pois, que de acordo com Humberto Maturana, a percepção e,

mais geralmente, a cognição não representam uma realidade exterior, mas, em vez

disso, especificam uma por meio do processo de organização circular do sistema

nervoso. Com base nessa premissa, Maturana deu o passo radical de postular que o

próprio processo de organização circular - com ou sem um sistema nervoso - é

idêntico ao processo de cognição: Sistemas vivos são sistemas cognitivos, e a vida

como um processo é um processo de cognição. Essa afirmação vale para todos os

organismos, com ou sem um sistema nervoso.

Em suma, isso mostrava que “as atividades do sistema nervoso eram

determinadas pelo próprio sistema nervoso, e não pelo ambiente externo. O sistema

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nervoso funcionaria como uma rede fechada de interações neurais” (MATURANA;

VARELA, 1980).

A definição autopoiética não se refere apenas ao exemplo particular de vida encontrado na Terra. Essa definição é coerente com o conhecimento biológico atual e, a despeito do estilo difícil da teoria, oferece uma maneira particular e logicamente consistente de ver a vida, com capacidade de organizar o conhecimento a este respeito. A definição da vida como autopoiese parece, em princípio, ser suficientemente específica para capturar aspectos fundamentais da vida biológica, ainda que problemas possam ser detectados neste caso. A teoria da autopoiese contém, em suma, uma definição de vida que parece satisfazer os requisitos discutidos acima. Como esta definição foi criada deliberadamente para responder à questão ‘O que é vida?’, ela é um exemplo característico de definição de vida encontrada como um elemento explícito na rede de conceitos de um paradigma (MATURANA; VARELA, 1980, apud EL-HANI; PEREIRA, 2001, p. 9).

Em 1970, Humberto Maturana criou e aprimorou o conceito de Autopoiese,

que explica como se dá o fechamento dos sistemas vivos em redes circulares de

produções moleculares, em que as moléculas produzidas com suas interações

constituem a mesma rede que as produziu e especificam seus limites. Ao mesmo

tempo, os seres vivos se mantém abertos ao fluxo de energia e matéria, enquanto

sistemas moleculares. Assim, os seres vivos são "máquinas", que se distinguem de

outras por sua capacidade de se auto-produzir. Desde então, Humberto Maturana

tem desenvolvido a Biologia do conhecimento.

A analogia mais comum do genoma é a de um programa de computador, ou

seja, uma seqüência linear de instruções que podem ser interpretados passo a

passo. Uma imagem mais próxima da realidade, porém, seria a de uma imensa rede

interconectada, rica em laços de alimentação, na qual os genes, direta ou

indiretamente, se auto-regulam. Ou, nas palavras de Francisco Varela, "o genoma

não é um arranjo linear de genes independentes, mas uma rede altamente

entrelaçada de múltiplos efeitos recíprocos" (VARELA, 1987, p. 86). A autopoiese se

revela no entrelaçamento, ou no auto-apoio desta rede.

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Todos os sistemas vivos são redes e participam de outras redes; das

organelas presentes nas células, passando pelos organismos, populações e

ecossistemas, estamos sempre falando de redes dentro de redes.

Há pouca dúvida de que o próprio sistema de Gaia forma uma rede

autopoiética; o que se poderia dizer do Universo, como um todo?

O resgatar as emoções dentro duma deriva cultural que tem escondido as

emoções, por ir contra da razão, é uma das aberturas de olhar propostas por

Humberto Maturana, pois dá conta que a deriva natural do ser humano como um ser

vivo particular, tem um fundamento emocional que determina esta deriva. Segundo o

autor:

O amor é a emoção que sustenta, funda o humano em tanto é o fundamento da recorrência de encontros na aceitação do outro, como legitimo outro que da origem à convivência social e por tanto à possibilidade de constituição da linguagem, elemento constitucional do viver humano. O Amor é a emoção que sustenta e permite o surgimento do humano, uma vez que é o fundamento da recorrência dos encontros na aceitação do outro, da outra como legítimo outro(a); dando origem, portanto, a convivência social e a possibilidade da constituição da linguagem, considerada um elemento constitucional do viver humano e somente do viver humano.

E mais:

Dizem que nós, seres humanos, somos animais racionais. Nossa crença nessa afirmação, nos leva a menosprezar as emoções e a enaltecer a racionalidade, a ponto de querermos atribuir pensamento racional a animais não-humanos, sempre que observamos neles comportamentos complexos. Nesse processo, fizemos com que a noção de realidade objetiva, se tornasse referência a algo que supomos ser universal e independente do que fazemos, e que usamos como argumento visando a convencer alguém, quando não queremos usar a força bruta. (MATURANA,1997, p. 67).

Com essa afirmação, observa-se que os estudos de Humberto Maturana

também levaram à concepção de que a realidade é criada por um dado indivíduo,

segundo a estrutura (a configuração biopsicossocial) de seu organismo num dado

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momento. Essa estrutura muda constantemente, de acordo com a interação do

organismo com o meio. Neste sentido, lembra Fritjof Capra que:

Humberto Maturana e Francisco Varela conseguiram estabelecer uma importante distinção entre “organização” e “estrutura”, que muito contribuiu para clarificar a questão dentro de uma concepção sistêmica e rompendo com a visão mecanicista: de que “a organização de um sistema vivo é o conjunto de relações entre os seus componentes que caracteriza o sistema como pertencendo a uma determinada classe (tal como uma bactéria, um girassol, um gato ou um cérebro humano)” (CAPRA, 2003, p. 89).

Segundo Von Bertalanffy (1977), a análise dos sistemas trata a organização

como um sistema de variáveis mutuamente dependentes. Assim, pode-se chegar ao

conceito de “sistemas vivos”, que incluem organismos individuais e suas partes,

sistemas sociais (famílias e comunidades) e ecossistemas (SENAC, 2006).

Pode-se finalizar, afirmando que todo organismo vivo renova continuamente

a si mesmo, com células parando de funcionar ou, gradualmente e por etapas,

construindo estruturas, tecidos e órgãos repondo suas células em ciclos contínuos.

Não obstante essas mudanças em andamento, o organismo mantém sua identidade,

ou padrão de organização global.

Desde as formas de vida mais arcaicas e mais simples até as formas

contemporâneas, mais intrincadas e mais complexas, a vida tem se desdobrado

numa dança contínua sem jamais quebrar o padrão básico de suas redes auto-

poiéticas.

Observa-se, desta forma, que a teoria dos sistemas vivos fornece um

arcabouço conceitual para o elo entre comunidades ecológicas e comunidades

humanas. Ambos são sistemas vivos que exibem os mesmos princípios básicos de

organização. Trata-se de redes que são organizacionalmente fechadas, mas abertas

aos fluxos de energia e de recursos; suas estruturas são determinadas por suas

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histórias de mudanças estruturais; são inteligentes devido às dimensões cognitivas

inerentes aos processos da vida.

Em suma, reconectar-se com a teia da vida significa construir, nutrir e

educar comunidades sustentáveis, nas quais o homem pode satisfazer suas

aspirações e suas necessidades sem diminuir as chances das gerações futuras.

Portanto, uma comunidade de vida diversificada é uma comunidade flexível, capaz

de se adaptar a situações mutáveis, sustentada por uma teia de relações, que

enriquecerá, por conseguinte toda a comunidade de vida.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Encerrados todos os capítulos, cabe agora a tarefa de apresentar um

desfecho para o trabalho. Essa tarefa se torna ainda mais difícil, pois alguns temas

os quais julgamos relevantes não puderam ser tratados e outros não foram

aprofundados como deveriam. Dentre esses temas podem ser citados os aspectos

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da política e do direito internacional relacionados ao meio ambiente e à educação

ambiental. Esses outros aspectos, porém, serão desenvolvidos em um momento

mais oportuno.

Diante do objetivo proposto, inicialmente, não se deseja, em nenhuma

hipótese, e, principalmente, por constar de um estudo inicial acerca do tema, apontar

nada como absoluto, haja vista a rápida evolução de alguns conceitos e

posicionamentos atualmente, em especial no que se refere à prioridade que deve

receber a questão da proteção do meio ambiente, mas destacar aqueles pontos de

maior relevância e que se mostram mais evidentes.

Dessa forma, verificou-se a importância de desenvolver um estudo versando

sobre a visão holística da educação ambiental, onde se procurou associar o

princípio do desenvolvimento sustentável à Teoria do Autopoiese e à Teoria de Gaia

Conforme vem se desenvolvendo em estudos acerca do assunto, constata-

se que o homem deste século se desenvolveu muito na área científica, com o

desenvolvimento de tecnologias para o bem da humanidade, tal como a aplicação da

energia elétrica até o avanço nas telecomunicações, a Internet, como também,

descobertas malignas como a bomba nuclear e o aperfeiçoamento de outros

materiais bélicos para uma guerra quase virtual, totalmente nocivas ao meio e à

própria vida do homem. A exploração espacial onde o homem lança sondas pelo

sistema solar e estuda outros planetas. Mesmo com todas essas inovações ora bem

aplicadas ora devastadoramente aterrorizantes, o homem parece ter esquecido de

se preocupar consigo mesmo.

Pelo contrário, os homens estão preocupados em demasia com os seus

problemas financeiros sem se preocupar consigo próprios e com o ambiente que os

cerca.

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Apesar de toda essa evolução científica, o homem não está vivendo em

harmonia com o ambiente, e, é justamente segundo essa visão que a teoria

Autopoiética deixa isso bem claro, incluindo a posição de vários governantes que

evitam discutir este problema, deixando para a própria sociedade a solução deste

impasse, antes que as condições de vida no planeta se tornem completamente

inóspitas.

A intenção maior do presente estudo foi a de transmitir uma noção inicial a

respeito do meio ambiente e da sua conceituação doutrinária, bem como a questão

central que aflige esse tempo vivido presentemente.

Em um segundo momento, procurou-se analisar a Educação Ambiental como

ferramenta imprescindível para minorar os danos causados ao meio ambiente,

levando-se em conta que somente com a conscientização da população, com a

responsabilidade que cada ser humano tem em relação ao meio ambiente é que se

conseguirá melhorar e preservá-lo das agressões aumentando as chances de um

ecossistema equilibrado.

Pensar a Educação por si só já é um enorme desafio. Propor a transfor-

mação da Educação é uma urgência sem tamanho!

Com essas idéias, chega-se à conclusão de que atualmente ao se tentar

fazer Educação, requer ousar e criar novas visões dos processos pedagógicos à luz

da complexidade que representa a vida na face do planeta Terra, a vida psicossocial

humana inserida neste contexto planetário, o veloz avanço das tecnociências da

informação e da inserção de uma visão pós-moderna, para além da civilização

industrial.

Muito já foi feito, mas o que se tem ainda para fazer suplanta a estrada

percorrida. Todos sabem que o trabalho não está terminado. O mundo muda, a

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ciência avança e certamente o amanhã também trará novas angulações desta

questão intrigante e complexa que é a simbiose Homem / Meio Ambiente.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO....................................................................................................02

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AGRADECIMENTOS.................................................................................................03

DEDICATÓRIA...........................................................................................................04

EPÍGRAFE.................................................................................................................05

RESUMO....................................................................................................................06

METODOLOGIA.........................................................................................................07

SUMÁRIO...................................................................................................................08

INTRODUÇÃO...........................................................................................................09

CAPÍTULO I - MEIO AMBIENTE: VISÃO GERAL ....................................................11

1.1 A noção de bem ambiental...................................................................................12

1.2 Conceitos ambientais...........................................................................................13

1.3 O que é o meio ambiente e o que ele representa................................................15

1.4 A questão ambiental.............................................................................................18

1.5 Sociedade e meio ambiente.................................................................................25

CAPÍTULO II - ASPECTOS ESSENCIAIS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL................26

2.1 Emancipação da Educação Ambiental................................................................26

2.2 Agenda 21...........................................................................................................31

2.3 Educação Holística..............................................................................................34

2.4 Carta da Terra.....................................................................................................37

CAPÍTULO III - ABORDAGEM PRINCIPIOLÓGICA E HOLÍSTICA DA EDUCAÇÃO

AMBIENTAL...............................................................................................................41

3.1 O desenvolvimento sustentável...........................................................................42

3.2 Elementos caracterizadores.................................................................................46

3.3 Princípios do Direito Ambiental............................................................................47

3.3.1 Princípio do direito fundamental a um meio ambiente ecologicamente

equilibrado.........................................................................................................49

3.3.2 Princípio da participação...................................................................................50

3.3.3 Princípio do poluidor-pagador...........................................................................51

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3.3.4 Princípio da prevenção e da precaução............................................................52

3.3.5 Princípio da cooperação....................................................................................55

3.3.6 Princípio da recuperação ou reabilitação do meio degradado........................56

3.3.7 Princípio do Desenvolvimento Sustentável.......................................................57

3.4 Hipótese de Gaia..................................................................................................60

3.5 Teoria de Gaia......................................................................................................62

3.6 Definindo Vida na Terra........................................................................................67

3.7 Teoria de Autopoiese...........................................................................................71

CONCLUSÃO.............................................................................................................81

BIBLIOGRAFIA...........................................................................................................84

WEBGRAFIA..............................................................................................................88

ÍNDICE.......................................................................................................................89

FOLHA DE AVALIAÇÃO............................................................................................91

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes – A Vez do Mestre

Título da Monografia: Visão Holística da Educação Ambiental: Possibilidade

jurídica de associar o princípio do desenvolvimento sustentável à Teoria do

Autopoiese e à Teoria de Gaia

Autor: Fritz Rodrigues Viehmayer

Data da entrega: 30/09/2010

Avaliado por: Prof. Francisco Carrera Conceito: