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CONSCIÊNCIA AMBIENTAL E PEGADA ECOLÓGICA DOS GRADUANDOS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI Janice Soares dos Anjos [email protected] Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) - Departamento de Ciências Biológicas e da Saúde. 39100 000 Diamantina Minas Gerais Ana Caroline Diniz Silva - [email protected] Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) - Departamento de Ciências Biológicas e da Saúde. Paulo Ricardo de Souza [email protected] Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) Faculdade de Ciências Agrárias Resumo: As ações antrópicas têm sido imperativas em relação ao meio natural, estando o homem a enfrentar desafios sem precedentes no que se refere à capacidade limitada dos ecossistemas em sustentar o atual nível de consumo material, atividades econômicas e crescimento populacional, causando consequências desastrosas ao meio ambiente. Frente a essa realidade surgem os indicadores de sustentabilidade, uma ferramenta muito eficaz é a Pegada Ecológica, ela aborda as dimensões humanas das alterações ambientais globais induzidas pelo metabolismo energético- material daquele socioecossistema urbano. Neste sentido, objetivou-se analisar o comportamento dos acadêmicos de Ciências Biológicas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e entender suas percepções em relação ao consumismo e ao desenvolvimento sustentável, analisando assim se as disciplinas ofertadas no curso sobre a temática ambiental influenciam de fato seus hábitos de vida. O levantamento de dados foi realizado através da aplicação de um questionário e da Pegada Ecológica a 30 estudantes dos anos iniciais e 30 dos anos finais do Curso. No entanto, os acadêmicos dos períodos finais apresentaram um maior conhecimento e consciência em relação à educação ambiental, em comparação aos discentes dos períodos iniciais. Em contrapartida pode-se observar que os graduandos dos períodos iniciais do curso apresentaram uma pegada ecológica menor. Tal fato contradiz a lógica de que pessoas que têm um maior conhecimento e sabem a importância da conservação ambiental, comportam-se de forma consciente. No entanto, quando se coloca este conhecimento em prática, as atitudes para a conservação do meio ambiente e diminuição do consumo são praticamente ausentes. Palavras-chave: Consumismo, Impacto Ambiental, Estudantes ENVIRONMENTAL AWARENESS AND ECOLOGICAL FOOTPRINT OF UNDERGRADUATE OF BIOLOGICAL SCIENCES UNIVERSITY OF FEDERAL AND VALES OF JEQUITINHONHA MUCURI Abstract: Anthropogenic actions have been imperative in relation the natural environment, being the man to face unprecedented challenges with regard to the limited capacity of ecosystems to sustain the current level of material consumption, economic activities and population growth, causing disastrous

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CONSCIÊNCIA AMBIENTAL E PEGADA ECOLÓGICA DOS

GRADUANDOS DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

Janice Soares dos Anjos – [email protected]

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) - Departamento de Ciências

Biológicas e da Saúde.

39100 000 – Diamantina – Minas Gerais

Ana Caroline Diniz Silva - [email protected]

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) - Departamento de Ciências

Biológicas e da Saúde.

Paulo Ricardo de Souza – [email protected]

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) – Faculdade de Ciências

Agrárias

Resumo: As ações antrópicas têm sido imperativas em relação ao meio natural, estando o homem a

enfrentar desafios sem precedentes no que se refere à capacidade limitada dos ecossistemas em

sustentar o atual nível de consumo material, atividades econômicas e crescimento populacional,

causando consequências desastrosas ao meio ambiente. Frente a essa realidade surgem os

indicadores de sustentabilidade, uma ferramenta muito eficaz é a Pegada Ecológica, ela aborda as

dimensões humanas das alterações ambientais globais induzidas pelo metabolismo energético-

material daquele socioecossistema urbano. Neste sentido, objetivou-se analisar o comportamento dos

acadêmicos de Ciências Biológicas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri e

entender suas percepções em relação ao consumismo e ao desenvolvimento sustentável, analisando

assim se as disciplinas ofertadas no curso sobre a temática ambiental influenciam de fato seus hábitos

de vida. O levantamento de dados foi realizado através da aplicação de um questionário e da Pegada

Ecológica a 30 estudantes dos anos iniciais e 30 dos anos finais do Curso. No entanto, os acadêmicos

dos períodos finais apresentaram um maior conhecimento e consciência em relação à educação

ambiental, em comparação aos discentes dos períodos iniciais. Em contrapartida pode-se observar

que os graduandos dos períodos iniciais do curso apresentaram uma pegada ecológica menor. Tal

fato contradiz a lógica de que pessoas que têm um maior conhecimento e sabem a importância da

conservação ambiental, comportam-se de forma consciente. No entanto, quando se coloca este

conhecimento em prática, as atitudes para a conservação do meio ambiente e diminuição do consumo

são praticamente ausentes.

Palavras-chave: Consumismo, Impacto Ambiental, Estudantes

ENVIRONMENTAL AWARENESS AND ECOLOGICAL FOOTPRINT

OF UNDERGRADUATE OF BIOLOGICAL SCIENCES UNIVERSITY

OF FEDERAL AND VALES OF JEQUITINHONHA MUCURI

Abstract: Anthropogenic actions have been imperative in relation the natural environment, being the

man to face unprecedented challenges with regard to the limited capacity of ecosystems to sustain the

current level of material consumption, economic activities and population growth, causing disastrous

consequences for the environment . Facing this reality arise sustainability indicators, a very effective

tool is the Ecological Footprint, it addresses the human dimensions of global environmental change-

induced energy metabolism stuff that urban socioecossistema. In this sense, it is aimed to analyze the

behavior of academics of Biological Sciences, Federal University of the Jequitinhonha and Mucuri

and understand their perceptions regarding consumerism and sustainable development, thereby

analyzing the disciplines offered in the course on environmental issues influence of suit their lifestyle.

The survey was conducted through a questionnaire, and Ecological Footprint to thirty students from

the early years, and thirty years of the final of the course. However, scholars of the final period had a

greater knowledge and awareness regarding environmental education, compared to students from

early periods. However it can be observed that graduates of the earlier periods of the course showed a

smaller ecological footprint. This fact contradicts the logic that people who have a greater knowledge

and know the importance of environmental conservation, behave consciously. However, when you put

up this knowledge into practice, attitudes toward environmental conservation and reduced

consumption are practically absent.

Keywords: Consumerism, Environmental Impact, Students

1. INTRODUÇÃO

As ações antrópicas têm sido imperativas em relação ao meio natural, estando o homem a

enfrentar desafios sem precedentes no que se refere à capacidade limitada dos ecossistemas em

sustentar o atual nível de consumo material e as atividades econômicas, juntamente com o crescimento

populacional, causando consequências desastrosas ao meio ambiente (Cidin, 2004).

A sociedade de consumo tem, claramente, um forte encanto e traz consigo muitos benefícios

econômicos. Também seria injusto argumentar que as vantagens obtidas por uma geração anterior de

consumidores não deveriam ser compartilhadas pela geração seguinte. Todavia, o aumento disparado

do consumo na última década – e as projeções alucinantes que logicamente dele derivam – indica que

o mundo como um todo se verá, em breve, enfrentará um grande dilema (Gardner et al., 2004).

Os programas televisivos, a internet, os cinemas dos Shoppings Centers e as vitrines são convites

para o consumismo e responsáveis pela padronização dos mesmos gostos e das mesmas preferências

por produtos descartáveis. No espaço escolar, constatamos que as crianças são persuadidas a usarem

produtos da moda, para não serem excluídas do grupo (Teruya, 2008).

Penna (1999), que evidencia o hábito consumista das populações humanas, acredita que a tarefa da

redução do consumo será árdua, sendo necessário reverter valores culturais enraizados.

Como afirma Mendonça (2007), a questão ambiental encontra-se dentro de um contexto bastante

complexo. Devido a sua natureza interdisciplinar e interinstitucional, como ressalta o autor, essa

questão demanda uma postura integrativa de diferentes áreas do conhecimento. Além disso, a própria

Constituição Federal estabelece que é dever do Poder Público “promover a educação ambiental em

todos os níveis do ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente” (art. 225,

§1º, VI/CF).

Neste contexto, as universidades, no papel de formadoras de novos profissionais, são locais onde

temas como disposição do lixo e valores culturais da sociedade consumista devem ser discutidos e

estudados, não só por estudantes da área ambiental, mas por todos os demais cursos de graduação

(Mateus et al., 2012).

Todavia, na discussão acadêmica relacionada aos temas parece que um consenso ainda é algo

muito distante, principalmente porque as mais diversas áreas do conhecimento influenciadas pelas

mais diferentes correntes ideológicas e conceituais – se acham aptas a contribuir com a discussão e,

mais que isso, não existe nenhuma definição conceitual do que seja consumo que seja consensual,

como já foi dito (Mello, 2006).

Para tanto, é necessário que haja ferramentas que permitam a identificação de padrões sustentáveis

de desenvolvimento que considerem aspectos técnicos, ambientais, econômicos e sociais. Frente a essa

realidade surgem os indicadores de sustentabilidade que constituem instrumentos que permitem

mensurar as modificações nas características de um sistema, utilizados para avaliar o desempenho

quanto a sua funcionalidade na implantação do desenvolvimento sustentável (Firmino et al., 2009).

Uma ferramenta muito eficaz é a Pegada Ecológica, ela aborda as dimensões humanas das

alterações ambientais globais induzidas pelo metabolismo energético-material daquele

socioecossistema urbano e demonstra que para sustentar o seu megametabolismo, são demandadas

quantidades colossais de matéria e energia, ao tempo em que se produz resíduos e emissões

desestabilizadoras, criando-se uma poderosa teia de exploração e carga sobre os recursos naturais, cuja

extensão de influências tem escopo global (Dias, 2002).

Segundo a WWF (2007), a Pegada Ecológica mostra até que ponto a forma de viver do ser

humano está de acordo com a capacidade do planeta de oferecer, renovar seus recursos naturais e

absorver os resíduos que são gerados por muitos e muitos anos. Deve ser levado em consideração que

o espaço é dividido com outros seres vivos e que é preciso cuidar da geração atual e das próximas.

2. OBJETIVO

Neste sentido, objetivou-se com o presente estudo analisar o comportamento dos acadêmicos de

Ciências Biológicas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e

entender suas percepções em relação ao consumismo e ao desenvolvimento sustentável, analisando

assim se as disciplinas ofertadas no curso sobre a temática ambiental influenciam de fato seus hábitos

de vida.

3. METODOLOGIA

3.1 Área de estudo

Em 2013, a UFVJM completará 60 anos de existência, considerando sua fundação em 1953 como

faculdade. Mas nos termos de hoje, como universidade, é ainda uma jovem instituição, com pouco

mais de sete anos, com um crescimento vertiginoso. A graduação presencial do Campus JK –

Diamantina (MG), oferece 24 cursos e conta com aproximadamente 4259 estudantes matriculados em

2012. Para o nosso estudo foi selecionado o curso de graduação de Ciências Biológicas que tem como

um dos objetivos formar profissionais que sejam capazes de estabelecer relações entre a ciência,

tecnologia e sociedade; atuar em prol da preservação da biodiversidade, considerando as necessidades

de desenvolvimento sustentável.

3.2 Levantamento de dados

O levantamento de dados foi realizado através da aplicação de um questionário (Apêndice 1)

composto de três perguntas simples e objetivas que continham aspectos da temática ambiental, como

consumismo e conceito de sustentabilidade, e em seguida foi realizada a aplicação da Pegada

Ecológica. Os pesquisadores identificaram-se como graduandos do curso de Ciências Biológicas e

pediram permissão ao professor que lecionava a aula para realizarem as entrevistas. As ferramentas de

pesquisa foram aplicadas a 20 estudantes dos anos iniciais (1º e 2º períodos) e 20 dos anos finais (7º e

8º períodos) do curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e

Mucuri. Desta forma, analisou-se de forma comparativa as declarações dos alunos dos períodos

iniciais com as declarações dos acadêmicos dos períodos finais. Os entrevistados participaram da

pesquisa de forma voluntária e anônima, sendo que as declarações foram redigidas por eles mesmos,

posteriormente guardadas e analisadas pelos pesquisadores. Em seguida foram agrupadas para

comparações posteriores, a fim de avaliar o grau de conhecimento que estes acadêmicos têm sobre o

consumo sustentável ao entrarem na universidade e ao saírem dela, objetivando assim identificar se o

curso contribui ou não para a formação de cidadãos cada vez mais engajados em prol do consumismo

consciente e da preservação dos recursos naturais.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Consumo sustentável – Declarações dos alunos dos 1º e 2º períodos do curso de

Ciências Biológicas da UFVJM (As declarações dadas pelos acadêmicos foram transcritas para este

trabalho conforme escritas por eles)

O primeiro questionamento foi utilizado para avaliarmos a concepção dos alunos sobre o que

é consumo sustentável, e se estes alunos têm uma percepção definida e clara entre a relação do

consumo excessivo e a degradação do meio ambiente.

Fig I. O que você entende por consumo sustentável?

As declarações analisadas demonstram um conhecimento superficial sobre o tema, e revelam

uma grande confusão conceitual existente sobre o consumo sustentável, como pode ser notado abaixo:

“Consumo com inteligência sabedoria e responsabilidade”.

“Um consumo consciente que não prejudique as gerações futuras”.

“Ganhar dinheiro para poder comprar”.

“Que preserva mais o ambiente”.

“É o consumo que se dá de maneira adequada, analisando as fontes de energia”.

Nas questões seguintes as perguntas foram utilizadas para avaliarmos se os acadêmicos tinham

a conscientização de que o consumismo excessivo é uma forma de degradação do meio ambiente.

Fig II. Quando você vai fazer compras, escolhe os produtos pela qualidade ou pelo valor? Por quê?

Com esta pergunta analisou-se o grau de consumismo dos entrevistados, e notou-se que

aqueles que compram pensando no valor, são mais consumistas, pois a quantidade é o foco principal.

Já aqueles que compram pela qualidade, normalmente, compram produtos inspecionados, dentro das

normas obrigatórias, que consequentemente terão uma vida útil muito maior, desta forma compraram

em menor quantidade e em uma maior faixa de tempo. Dentre os entrevistados somente um

compreende a relação de valor e qualidade como um fator determinante no consumismo não

consciente e prejudicial ao meio ambiente. Abaixo alguns exemplos de declarações obtidas nesta

pergunta:

“Pela qualidade, porque às vezes valor baixo ou alto nem sempre é sinal de coisa boa”.

“Pelo valor, porque a compra fica barata e não me preocupo com a qualidade”.

“Os dois quesitos, pois sei que o valor baixo não pode ser o único critério para analise”.

Na ultima questão analisamos o consumismo desnecessário e socialmente incrementado como

uma forma de terapia emocional.

Fig III. Você faz compras quando está deprimido, com raiva ou com medo? Por quê?

Os resultados obtidos revelaram que a grande maioria dos acadêmicos entrevistados não

consegue associar o consumismo desnecessário como um fator de degradação do meio ambiente, e

referem-se à questão financeira como uma barreira para que não se pratique o ato, como foi relatado

por alguns discentes que não compram por não terem recursos monetários para isso. Somente um

entrevistado respondeu de acordo com as expectativas do estudo. Abaixo alguns exemplos de

declarações dadas:

“Nunca, porque dinheiro não é algo que tenho aos montes para isso, e também compro apenas o

necessário”.

“Nunca, Porque faço compras quando é realmente necessário”.

“Nunca, pois essa atitude demonstra problemas psicológicos mais graves, piorando a situação”.

Juntamente com as questões apresentadas acima, aplicou-se para os acadêmicos a “Pegada

Ecológica”.

O WWF-Brasil, uma organização não-governamental dedicada à conservação da Natureza,

apresenta, o conceito de Pegada Ecológica. Por meio dele, percebemos que nossa trajetória pelo

planeta deixa “marcas”, “pegadas”, de acordo com a forma como caminhamos. Poderemos também

estimar o quanto da Natureza “utilizamos” para sustentar nossas formas de moradia, alimentação,

locomoção e lazer, ou seja, o nosso estilo de vida. Assim, identifica-se uma relação direta entre o

simples fato de fazer compras em um supermercado e a queda nos índices de biodiversidade no

planeta. O WWF-Brasil acredita que a Pegada Ecológica não é apenas uma nova forma de se trabalhar

as questões de educação ambiental, às quais se dedica desde 1971, ano em que a Rede WWF iniciou

suas atividades no Brasil. A Pegada é também uma ferramenta de leitura e interpretação da realidade,

pela qual poderemos enxergar, ao mesmo tempo, problemas conhecidos, como desigualdade e

injustiça, e, ainda, a construção de novos caminhos para solucioná-los, por meio de uma distribuição

mais equilibrada dos recursos naturais, que se inicia também pelas atitudes de cada indivíduo.

Fig IV. Análise da Pegada Ecológica

Através da análise dos resultados da Pegada Ecológica, verificou-se que apenas 30% dos

alunos entrevistados dos períodos iniciais do curso de Ciências Biológicas apresentaram uma pegada

ecológica que está um pouco acima da capacidade do planeta, sendo que seriam necessárias duas

terras, enquanto 70% precisariam de três terras, para que cada um dos alunos tenham os recursos

necessários para o seu consumo e descarte dos seus resíduos. Este dado é agravante, pois estes valores

estão acima da Pegada Ecológica média do brasileiro – 2,9 ha/pessoa, para o ano de 2012, de acordo

com o Relatório Planeta Vivo, da WWF-Brasil.

Por meio da análise dos questionários, pôde-se perceber a deficiência apresentada entre os

alunos dos 1º a 2º períodos do curso de Ciências Biológicas da Universidade dos Vales do

Jequitinhonha e Mucuri quando o assunto é desenvolvimento sustentável e suas implicações na

formação da cidadania individual e coletiva. Tendo em vista que na sociedade dos dias atuais, os

objetos não são adquiridos exclusivamente por sua utilidade, mas também pelo prestígio, bem estar,

realização e felicidade que sua posse oferece. Neste novo cenário, as identidades dos cidadãos

passaram a se configurar pelo consumo, e o “status”, muitas vezes, pode ser medido pelo que se

consome, conduzindo a sociedade contemporânea a um consumo desnecessário, ostentatório,

excessivo e perdulário (COSTA; TEODÓSIO, 2011). A globalização tem contribuído de forma

significativa para a disseminação da cultura de consumo. Ela favorece a circulação de produtos,

imagens e ideias em escala mundial, transformando o mundo em uma espécie de supermercado global.

4.2 Consumo sustentável - declarações dos alunos dos 7º e 8º períodos do curso de ciências

biológicas da ufvjm (As declarações dadas pelos acadêmicos foram transcritas para este trabalho

conforme escritas por eles).

Valendo-se do mesmo método de análise dos questionários anterior, obteve-se o seguinte resultado:

Fig V. O que você entende por consumo sustentável?

“Consumo sustentável abrange o uso consiste da água, de energia elétrica, compras conscientes

(comprar o que necessário, evitando desperdício). Doar o que você não utiliza, porque pode ser de

grande valia para outra pessoa”.

“Consumo sustentável significa consumir com consciência, levando os impactos ambientais em

consideração. Significa que se deve pensar no planeta na hora de fazer comprar e pensar também no

destino que vai ser dado a essa compra feita. Era o que todos deveriam fazer, no entanto no mundo

que vivemos atualmente, com os costumes que temos e os maus hábitos, pensar em consumismo

sustentável é fácil, difícil é colocar em pratica”.

“Adotar praticas que venham contribuir para um menor impacto ao meio ambiente, garantindo que

as gerações futuras possam ainda, utilizar os recursos naturais”.

Os resultados encontrados mostram que estes acadêmicos possuem uma bagagem de

conhecimento bem mais desenvolvida acerca do tema, sendo esta obtida possivelmente através de

disciplinas que visam à formação de profissionais conscientes e mais preparados para atuarem em

defesa do meio ambiente.

Fig VI. Quando você vai fazer compras, escolhe os produtos pela qualidade ou pelo valor? Por quê?

Como relatado anteriormente o consumismo é o que dita as regras no mundo atual, fato este

confirmado pelos resultados apresentados acima, por mais que as pessoas têm o conhecimento de que

o consumismo excessivo é uma forma de degradação do meio ambiente, elas não conseguem se verem

totalmente livres do ato. Se compararmos os dias atuais com os de vinte e/ou trinta anos atrás, pode-se

ver como a educação ambiental ganhou, e vem ganhando espaço na sociedade; porém essa mesma

sociedade degrada hoje bem mais o meio ambiente, do que a vinte e/ou trinta anos atrás.

Fig VII. Você faz compras quando esta deprimido, com raiva ou com medo? Por quê?

Percebe-se que o fator financeiro é a barreira principal para a diminuição do consumo, e não

os impactos gerados ao meio ambiente. Dado observado também na análise dos questionários dos

graduandos dos anos iniciais, porém notou-se que os acadêmicos que cursavam os anos finais do curso

já possuíam uma clareza maior a respeito do consumo excessivo, associando este como um fator de

degradação do meio ambiente.

Fig VIII. Pegada Ecológica

De acordo com os dados obtidos com os questionários observamos que, o conhecimento

acerca da educação ambiental, preservação do ambiente natural e a consciência em relação ao

consumismo está melhor esclarecido e detém maior presença nos alunos dos sétimos e oitavos

períodos. Tal fato pode ser explicado pela consciência e aquisição de conhecimento, nas disciplinas

cursadas durante a formação do aluno em sua graduação. No entanto, os alunos que estão nos períodos

iniciais do curso apresentaram uma pegada ecológica menor em relação aos períodos finais do curso.

De acordo com os dados adquiridos com os questionários, observamos que, não houve

diferença significativa em relação ao gênero, pois as respostas adquiridas não apresentaram alterações

expressivas.

O levantamento realizado, analisado de forma geral, revela a precariedade de conhecimento

dos alunos em relacionar o consumismo como uma forma de degradação do meio ambiente. Cada ato

de consumo é um gesto de dimensão planetária que pode tornar o consumidor um cúmplice de ações

desumanas e ecologicamente prejudiciais, ou pode torná-lo corresponsável pela geração de emprego,

pela preservação de ecossistemas, pela reciclagem de materiais, pelo combate à poluição (MANCE,

1999). As massas costumam ignorar os impactos socioambientais decorrentes do consumo, pois só

conseguem vislumbrar diretamente o objeto de seu desejo, que é produto da fase final do processo

produtivo. Grande parcela da sociedade ignora os impactos inerentes da extração e beneficiamento da

matéria prima, o impacto do transporte da mercadoria até o consumidor final e, principalmente, fica

alheia a destinação final dos resíduos gerados.

5. CONCLUSÃO

Portanto afirma-se que, os acadêmicos dos períodos finais apresentaram um maior conhecimento e

consciência em relação à educação ambiental, em comparação aos discentes dos períodos iniciais.

Em contrapartida pode-se observar que os graduandos dos períodos iniciais do curso apresentaram

uma pegada ecológica um pouco menor. A diferença foi pouco significativa, porém tal fato contradiz a

lógica de que pessoas que têm um maior conhecimento e sabem a importância da conservação

ambiental, comportam-se de forma consciente na preservação ambiental e diminuição do consumo. No

entanto, quando coloca-se este conhecimento em prática, as atitudes para a conservação do meio

ambiente e diminuição do consumo são praticamente ausentes, desta forma, deve-se aguçar a

consciência coletiva de toda a população, de maneira eficaz, através de oficinas e projetos de

Educação ambiental.

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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no meio natural. Estudos Geográficos, Rio Claro, 2(1):43-52, junho, 2004.

COSTA, D. V.; TEODÓSIO, A. S. S. Desenvolvimento sustentável, consumo e cidadania: Um

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MANCE, E. A. A revolução das redes: a colaboração solidária como uma alternativa pós-

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MATEUS M, B; SANTOS H, P; JACOVINE L, A, G. Consciência ambiental e pegada ecológica de

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TERUYA, T,K. Cultura da mídia e do consumismo na educação infantil. Publicado nos Anais do

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PPGEDU/ULBRA – Canoas/RS – De 4 a 6/ago./2008.

WWF, World WildlifeFund (Brasil). Pegada ecológica: que marcas queremos deixar no planeta?

Texto: Mônica Pilz Borba; Coordenação: Larissa Costa e Mariana Valente; Supervisão: Anderson

Falcão – Brasília: WWF Brasil, 2007. 38 p.

APÊNDICE 1

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri - UFVJM

Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde - FCBS

Departamento de Ciências Biológicas e da Saúde – DCBio

Caro Graduando,

Convidamos você a participar de uma pesquisa realizada pelos alunos da UFVJM em um

trabalho para uma disciplina do curso. A sua identificação será mantida em sigilo e os dados

coletados não serão disponibilizados para nenhum tipo de avaliação. Se você quiser saber mais

sobre a pesquisa entre em contato com a aluna:

Janice Soares – E-mail: [email protected]

Questionário

Ciências Biológicas - ______ período

Sexo:________________

Idade:_______________

1) O que você entende por consumo sustentável?

2) Quando você vai fazer compras, escolhe os produtos pela qualidade ou pelo valor? Por quê?

3) Você faz compras quando esta deprimido, com raiva ou com medo? Por quê?

a) Sempre;

b) Às vezes;

c) Nunca.