cdu 577.4 consciÊncia ecolÓgica: emergÊncia, … · representa o despertar de uma compreensão e...

20
CDU 577.4 CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA: EMERGÊNCIA, OBSTÁCULOS E DESAFIOS Gustavo E da Costa Lima Introdução O problema ecológico, em nossa sociedade, assumiu, em anos recentes, urna centralidade e presença marcantes na vida cotidiana. Habita o concreto de nossas vidas, a cultura do tempo, assim como as sub- jetividades individual e coletiva. Dificilmente, vivemos um dia sequer, sem registrar uma referência a esta realidade e seus efeitos abrangentes. Este trabalho propõe uma reflexão crítica sobre o fenômeno da consciência ecológica. Busca compreender o significado dessa noção, sua origem histórica — material simbólica— os fatores sociais, ambientais culturais, econômicos e políticos que a impulsionaram, como também os principais obstáculos e desafios a seu avanço. Os motivos que conduziram à presente análise são questio- namentos que refletem a crise socioainbiental contemporânea. Busca-se compreender as possibilidades e os limites de transformar a consciência e os comportamentos individuais e sociais no sentido de valorização da vida, das relações sociais e destas com a natureza. As marcas do tempo mostram sinais contraditórios. Somos parte de uma espécie que é, simultaneamente, solidária e egoísta, salvadora e destruidora, sapiens (inteligente) e demens (demente). (Bog 1995). Quem vencerá essa luta? Saberemos compreender a crise em que estamos envolvidos e pôr em prática respostas sensatas e viáveis ou esperaremos Ci. & Tróp., Recife, v. 26, n. J, p. 103-122, jan./jun., 1998

Upload: doanthuan

Post on 07-Dec-2018

215 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

CDU 577.4

CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA: EMERGÊNCIA,OBSTÁCULOS E DESAFIOS

Gustavo E da Costa Lima

Introdução

O problema ecológico, em nossa sociedade, assumiu, em anosrecentes, urna centralidade e presença marcantes na vida cotidiana. Habitao concreto de nossas vidas, a cultura do tempo, assim como as sub-jetividades individual e coletiva. Dificilmente, vivemos um dia sequer, semregistrar uma referência a esta realidade e seus efeitos abrangentes.

Este trabalho propõe uma reflexão crítica sobre o fenômeno daconsciência ecológica. Busca compreender o significado dessa noção,sua origem histórica — material simbólica— os fatores sociais, ambientaisculturais, econômicos e políticos que a impulsionaram, como também osprincipais obstáculos e desafios a seu avanço.

Os motivos que conduziram à presente análise são questio-namentos que refletem a crise socioainbiental contemporânea. Busca-secompreender as possibilidades e os limites de transformar a consciência eos comportamentos individuais e sociais no sentido de valorização da vida,das relações sociais e destas com a natureza.

As marcas do tempo mostram sinais contraditórios. Somos partede uma espécie que é, simultaneamente, solidária e egoísta, salvadora edestruidora, sapiens (inteligente) e demens (demente). (Bog 1995). Quemvencerá essa luta? Saberemos compreender a crise em que estamosenvolvidos e pôr em prática respostas sensatas e viáveis ou esperaremos

Ci. & Tróp., Recife, v. 26, n. J, p. 103-122, jan./jun., 1998

Consciência ecológica: emergência, obstáculos e desafios

o impasse e o desastre para agir? Trabalharemos preventivamente, usandoo tempo a nosso favor ou o usaremos contra nós, tardiamente? Saberemosnos organizar em defesa da vida e de sua qualidade ou nos adaptaremosà sua degradação, numa atitude resignada e conformista? Como na tradiçãochinesa, o ideograma que representa a idéia de crise significa,simultaneamente, perigo e oportunidade. Qual sua opção?

1. Definindo o fenômeno da consciência ecológica

Consciência ecológica é uma expressão exaustivamente utilizadana bibliografia especializada, de anos recentes, sem uma preocupação damaioria dos autores de precisarem a que, exatamente, estão se referindo.A noção focalizada se contextualiza, historicamente, no período pós-Segunda Guerra Mundial, quando setores da sociedade ocidentalindustrializada passam a expressar reação aos impactos destrutivosproduzidos pelo desenvolvimento tecnocientiflco e urbano industrial sobreo ambiente natural e construído. Representa o despertar de umacompreensão e sensibilidade novas da degradação do meio ambiente edas conseqüências desse processo para a qualidade da vida humana epara o futuro da espécie como um todo. Expressa a compreensão de quea presente crise ecológica articula fenômenos naturais e sociais e, maisque isso, privilegia as razões político-sociais da crise relativamente aosmotivos biológicos e/ou técnicos. Isto porque entende que a degradaçãoambiental é, na verdade, conseqüência de um modelo de-organizaçãopolítico-social e de desenvolvimento econômico, que estabeleceprioridades e define o que a sociedade deve produzir, como deve produzire como será distribuído o produto social. Isto implica o estabelecimentode um determinado padrão tecnológico e de uso dos recursos naturais,associados a uma forma específica de organização do trabalho e deapropriação das riquezas socialmente produzidas. Comporta, portanto,interesses divergentes entre os vários grupos sociais dentre os quais aquelesque em em posição hegemônica decidem os rumos sociais e os impõe aorestante da sociedade. Assim, os impactos ecológicos e os desequilíbriossobre os ciclos biogeoquímicos são decorrentes de decisões políticas eeconômicas previamente tomadas. A solução para tais problemas, porconseguinte, exige mudanças nas estruturas de poder e de produção enão medidas superficiais e paliativas sobre seus efeitos.

Ci. & Tróp., Recife, v. 26. n. 1, p. 103-122, jan./jun., 1993104

Gustavo E da Costa Lima

Essa consciência ecológica, que se manifesta, principalmente comocompreensão intelectual de urna realidade, desencadeia e materializa açõese sentimentos que atingem, em última instância, as relações sociais e asrelações dos homens com a natureza abrangente. Isso quer dizer que aconsciência ecológica não se esgota enquanto idéia ou teoria, dada suacapacidade de elaborar comportamentos, e inspirar valores e sentimentosrelacionados com o tema. Significa, também, uma nova forma de ver ecompreender as relações entre os homens e destes com seu ambiente, deconstatar a indivisibilidade entre sociedade e natureza e de perceber aindispensabilidade desta para avida humana Aponta, ainda, para abuscade um novo relacionamento com os ecossistemas naturais que ultrapassea perspectiva individualista, antropocêntiica e utilitária que, historicamente,tem caracterizado a cultura e civilização modernas ocidentais.(Leis, 1992;Unger, 1992; Mansholt, 1973; Bog 1995; Morin,l 975).

Para Morin, um dos autores que mais avança no esforço de definiro fenômeno:

a consciência ecológica é historicamente uma maneiraradicalmente nova de apresentar os problemas deinsalubridade, nocividade e de poluição, até então julgadosexcêntricos, com relação aos "verdadeiros" temaspolíticos; esta tendência se toma um projeto político global,já que ela critica e rejeita, tanto os fundamentos dohumanismo ocidental, quanto os princípios do crescimentoe do desenvolvimento que propulsam a civilizaçãotecnocrática, (Morin, 1975).

Sinaliza-se, assim, algumas referências preliminares que indicam osignificado aqui atribuído à expressão consciência ecológica.

2. A emergência da consciência ecológica

Historicamente, podemos considerar os anos do pós-? Guerracomo o marco inicial do processo de conscientização social dadestnitividade do sistema teenocientífico humano, e da ameaça potencialdesse sistema para a continuidade da própria vida no planeta. Estaconscientização cresceu, gradualmente, até os dias atuais, através do

CL & Tróp., Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122, jan./jun., 1998105

Consciência ecológica: emergência, obstáculos e desafios

trabalho persistente de setores da comunidade científica, da militância dosmovimentos ambientalistas, pacifistas e da contracultura, numa primeirafase, com a adesão, na etapa seguinte, da atuação de órgãosgovernamentais, não-governamentais e internacionais - ONU, BIRD,PNUMA - da iniciativa privada, dos meios de comunicação de massa, edos demais movimentos sociais e religiosos. Viola e Leis analisam,oportunamente, esse processo de desenvolvimento do ambientalismomundial e nacional, que transita de uma forma bissetorial preservacionistapara um multissetorialismo orientado para o desenvolvimento sustentável.(Viola & Leis, 1995).

O conceito e a proposta de desenvolvimento sustentável sãooficialmente apresentados através do Relatório Bnintland, produzido pelaComissão das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento- CNUMAD - e publicado em 1987. A proposta inspirada na noção deecodesenvolvimento, elaborada por Ignacy Sachs e colaboradores, temcomo ponto de partida a critica do modelo de desenvolvimento econômicodas nações industriais, considerado esgotado em princípios da década desetenta. Uma das críticas centrais a esse modelo dominante é a contradiçãoexistente entre uma proposta de desenvolvimento ilimitado a partir de umabase finita de recursos naturais. Esta contradição tem sido analisada pordiversas perspectivas, todas elas evidenciando a insustentabilidade domodelo, a longo prazo. Segundo oRelatóiio Bruntland o desenvolvimentosustentável é definido como aquele que atende às necessidades do presentesem comprometer a capacidade de as gerações (lituras também atenderemas suas. Parte do pressuposto de que os problemas do desenvolvimento edo meio ambiente não podem ser tratados separadamente e atenta para anecessidade de conciliá-los. Para tanto apresenta uma nova concepçãode desenvolvimento que conjuga viabilidade econômica, prudênciaecológica e justiça social. Inova, ainda, ao defender uma abordagemmultidimensional do desenvolvimento que integra à econômica asdimensões ecológicas, políticas, culturais, éticas e sociais e ao introduzirnesse debate os problemas da pobreza e da desigualdade social.(Lima, 1997).

As repercussões desse avanço da consciência ecológica, no meiosocial, se materializam hoje na grande expansão de agências governamentaisvoltadas para o ambiental, desde esferas municipais até o nível internacional.Entre as décadas de setenta e oitenta, no exterior e no Brasil, tomou-se

CL & Tróp., Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122, jan./jun., 1998106

Gustavo E da Costa Lima

freqüente a criação de secretarias, ministérios, agências especializadas,organismos plurinacionais e partidos políticos envolvidos com a questãoambiental. De modo análogo, o setor privado tem se preocupado emintroduzir em seus produtos e estratégias mercadológicas o "apelo verde",mesmo que de maneira enganadora e superficial, porque já detectou naopinião pública e consumidora o interesse por esta nova tendência.Também nos movimentos da sociedade civil, e naqueles de caráter religioso,a preocupação ecológica se faz presente, como se fora um ingredienteindispensável dos novos tempos. Novos e crescentes espaços são,igualmente, ocupados nos meios de comunicação, nas artes e no meiocientífico. Crescem o número de publicações ou de seções ecológicas emjornais, revistas e demais meios. As Universidades, apesar da dificuldadeem superar suas barreiras disciplinares, introduzem o debate ambiental,ampliam o leque de suas possíveis abordagens e discutem propostastransdisciplinares.

Pode-se, de modo sucinto, avaliar que essa cultura ecológica emexpansão traz, simultaneamente, conseqüências positivas e negativas.Positivas no sentido que difunde informações sobre problemassocioambientais, influencia comportamentos, desperta para realidadesaté então esquecidas, assim como para novas possibilidades de ampliaçãoda cidadania. Negativas na medida em que favorece o modismo, aabordagem superficial e acrítica de problemas que exigem reflexão profundae análise pluridimensional. Negativas, ainda devido à banalização emercantilização excessiva da temática e à despolitização do problema.Essa despolitização implica uma leitura alienada do problema, que observaa crise ambiental sem enxergar suas causas proflindas e sem questionar omodelo de desenvolvimento econômico, político, cultural e social que lhedá sustentação.(Manshol 1973; Herculano, 1992; Morin & Kern, 1995).

Percebe-se, assim, no panorama mundial e brasileiro atuais, umduelo de forças favoráveis e desfavoráveis à expansão da consciênciaecológica. De modo resumido podemos formular esse conflito em tomode duas categorias básicas, a saber: a daqueles interessados natransformação das relações entre a sociedade e a natureza - emboraorientados por diversas propostas ecoanarquistas, ecossocialistas,fundamentalistas, alternativistas entre outras * - e a daqueles interessadosna conservação da sociedade capitalista industrial, tal como se configura

* Para melhor identificação das tendências ambientalistas ver: LEIS, 1992 HERCULANO. 1992

e LIMA,1997

Ci. & Tróp., Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122,jan./fun., 1998107

Consciência ecológica: emergência, obstáculos e desafios

no momento, defendendo apenas pequenos ajustes técnicos edemográficos. Diria até que estes últimos estão interessados em "muda?'para que tudo permaneça como está.

3. Os obstáculos à consciência ecológica

Conforme indicamos, o processo de conscientização da criseambiental e a deflagração de ações para combatê-la, enfrenta um conjuntode fenômenos que funcionam como obstáculos a seu crescimento erealização. Entre esses Mores podem ser elencados: os interesses político-econômicos dos grupos socialmente hegemônicos, o tipo de éticapredominante na sociedade capitalista industrial; o consumismo, uma certaleitura reducionista da consciência ecológica; a pobreza de largoscontingentes populacionais e o baixo nível educacional e de cidadaniadessas mesmas populações.

3.1 Os interesses políticos e econômicos dominantes

As exigências da racionalidade capitalista, expressas na incessantebusca de produtividade, competitividade e lucratividade e materializadasnum sistema produtivo e teenocientifico orientado para tais fins, condicionamcomportamentos imediatistas, individualistas e predatórios - por partedos grandes grupos empresariais e pela própria ação governamental -que se refletem negativamente sobre o ambiente natural concreto e sobrea cultura ambiental simbólica.A realidade tem, seguidamente, demonstradoque os interesses da acumulação de capital se colocam como os principaisresponsáveis pela presente crise ambiental-

Os requisitos inerentes ao sucesso da empresa capitalista encenamincompatibilidades flagrantes com as propostas de preservação da vida.Entre tais requisitos pode-se destacar: a necessidade de volumes semprecrescentes de investimentos (para manter taxas constantes de crescimento),a perspectiva de tempo econômico pautado no curto e curtíssimo prazos—já que a rentabilidade depende da maior rotatividade do capital - e, osobjetivos centrais visando o crescimento ilimitado e lucros imediatos. Essascaracterísticas pressupõem um consumo crescente de recursos naturais eenergéticos, um comportamento consumista por parte dos compradorese um estímulo obsessivo na busca do ganho rápido e fâdil divorciado de

Ci. & Tróp., Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122,jan./jun.. 1998

Gustavo E da Costa Lima

quaisquer considerações éticas. Essa conjugação de características eobjetivos resulta numa equação insustentável, com impactos perversossobre a vida humana - em especial da força de trabalho que toma talsistema possível - e sobre o meio ambiente. (Cavalcanti, 1995).

Ilustra esse processo a análise comparativa de Stahel entre aaceleração do tempo econômico e a estabilidade do tempo bioflsico nocontexto do capitalismo. A luz da lei da entropia, tal análise conclui pelacompleta incompatibilidade entre esses dois ritmos, e identifica nessedescompasso a origem da crise ambiental e da insustentabilidade do modelode desenvolvimento capitalista (Stahel, 1995).

Furtado, por outro lado, em seu O Mito do DesenvolvimentoEconômico, desmistifica a doutrina desenvolvimentista que, segundo ele,serve, entre outros fins, para explorar os povos da periferia, legitimar adestruição de culturas e do meio fisico e para justificar o caráter predatóriodo sistema produtivo por ela orientada. (Furtado, 1996). Portanto, osimperativos da razão capitalista e os meios técnicos construídos para suarealização, orientam ações e representações autolegitimadoras quecontradizem as propostas práticas, teóricas e éticas de sustentabilidadesocioambiental.

3.2 A ética no capitalismo industrial

O paradigma ético predominante na sociedade industrial se colocacomo um forte obstáculo ao avanço da consciência e ação ecológicas, namedida em que atua como referência de comportamentos e açõesindividuais e sociais. Esse modelo ético caracterizado pelo individualismo,antropocentrismo e pelo utilitarismo é antagonizado por amplos setoresdo pensamento ambientalista que, justamente, apóiam seu pensamento eação na crítica a estas tendências e em propostas variadas de reformulá-las. A exceção de partidários do que se convencionou nomear deecocapitalismo - corrente que vê na crise ambiental o resultado deproblemas demográficos e tecnológicos de fácil ajustamento, nãodemandando reformas profundas do modelo convencional dedesenvolvimento capitalista— todos os demais matizes do ambientalismotecem algum tipo de crítica ao padrão ético acima referido. (Leis, 1992;Herculano, 1992). Essa rede tecida com traços utilitários, individualistas eantropocêntiicos condiciona comportamentos e legitimações marcados

Ci. & Tráp., Recife, v. 26, ii. 1, p. 103-122, jan./jun., 1998109

Consciência ecológica: emergência, obstáculos e desafios

pelo domínio e exploração do ambiente flsico, em uma relação de sujeiçãosem limites, da natureza à sociedade humana. Boff nos lembra que, jáentre os pais da modernidade ocidental, entre outros Descartes e FrancisBacon, se faz presente a proposta de subjugar a natureza, possuí-ia eescravizá-la para extrair seus segredos. (Bog 1995). Nesta concepção anatureza existe e é valorada, exclusivamente, em fUnção do homem, paraservi-lo e ser por ele dominada. Deixa de ter leis e necessidades próprias,passando a subordinar-se, estritamente, aos desígnios humanos.(Grün,1996; Unger, 1992; Sung,1995).

3.3 O consumismo e o meio ambiente

O consumismo é outra característica da sociedade contemporâneaque produz impactos preocupantes sobre o ambiente natural e construído.A sociedade capitalista industrial criou o mito do consumo como sinônimode bem-estar e meta prioritária do processo civilizatório. A capacidadeaquisitiva vai, gradualmente, se transformando em medida para valorizaros indivíduos e fonte de prestígio social. A ânsia de adquirir e acumularbens deixa de ser um meio para a realização da vida, tornando-se um fimem si mesmo, o símbolo da felicidade capitalista. (Buarque,1990;Gorz,1968; Fromm, 1979)

Para a lógica capitalista de produção o principal objetivo é atenderao consumidor e estimular necessidades artificiais que promovam umamaior rotatividade e acumulação do capital investido. Naturalmente, nestalógica as categorias de consumidor e indivíduo/cidadão são diferentes.Consumidor é toda pessoa dotada de poder aquisitivo, capaz de comprarmercadorias. O mercado e as mercadorias não são destinados a satisfazertoda e qualquer necessidade das pessoas, mas sim dos consumidores. Epor esse motivo que vemos, freqüentemente, por exemplo, o Brasil investirna exportação de soja para alimentar o rebanho animal europeu enquantograndes contingentes da população brasileira não têm feijão pra comer eos produtos alimentares básicos - conhecidos como culturas de pobrecomo mandioca e feijão - não são atendidos com investimentos depesquisa. Assistimos, também, diariamente, ao crescimento simultâneodo mercado de rações animais e do número de menores abandonadosnas ruas. Isto porque o mercado no capitalismo é um eficiente instrumentopara alocar recursos, para indicar os caminhos da maior rentabilidade

Ci. & Tróp.. Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122, jan./jun., 1998110

Gustavo E da Costa Lima

econômica, mas não foi programado para perceber e responder anecessidades e problemas sociais.

A natureza intrínseca do capitalismo exige, para sua sobrevivência,acumulação e investimentos crescentes o que inevitavelmente aponta paraa estimulação do sistema de produção/consumo. O sistema de produçãoque satisfaz as necessidades dos consumidores é o mesmo que as cria;seja por processos de competição entre consumidores, pelo estímulo dosistema de valores e prestígio social, seja através da publicidade emarketing. Observa-se, assim, que a teoria econômica, historicamente,defendeu o crescimento do sistema de produção/consumo de formacompletamente desvinculada de considerações éticas entre meios e fins.Os economistas, grosso modo, se alinham à satisfação dos consumidoressem se perguntar pela relevância, justiça, legitimidade ou pela racionalidadedas necessidades atendidas (Galbraith, 1987; Buarque, 1990).

São, portanto, evidentes as conseqüências do consumismo sobreo meio ambiente e sobre a qualidade da vida social. Tal tendência conduz,por um lado, ao desperdício no uso de recursos naturais e energéticos e,por outro lado, agrava os problemas de geração e processamento de lixo.Do ponto de vista cultural e econômico aprofunda os processos dealienação e exploração do trabalho e aia irracionalidades como a indústriabélica, a proliferação de supérfluos e a obsolescência planejada.Representa, enfim, um tipo de comportamento e de ideologia que alimentao processo de degradação, tanto das relações sociais em si quanto dasrelações entre sociedade e natureza.

3.4 Reducionismo e consciência ecológica

Trata-se, neste momento, de criticar certas interpretações daproblemática ambiental como reais entraves ao crescimento da consciênciaecológica. São leituras reducionistas que se apresentam: a) reduzindo acomplexidade da crise ecológica a um problema estritamente ecológico; eb) reduzindo o problema ecológico a um problema técnico, desvinculadode outras considerações. Ambas as colocações são limitadas eenganadoras. A primeira delas retira da consciência ecológica uma desuas características centrais que é a de unir realidades, articular e relacionardimensões complementares que constituem um todo maior. Menosprezaressa capacidade articuladora significa perder a oportunidade de

CL & Tróp., Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122, jan./jun., 1998111

Consciência ecológica: emergência, obstáculos e desafios

experimentar uma visão sistêmica da realidade, que compreende a vida ea questão ambiental como um campo relacional, um todo integrado ondetodas as partes se comunicam entre si e com a totalidade.

A segunda redução, também bastante freqüente, expressa otecnicismo e a excessiva simplificação que reduz a complexa multi-dimensionalidade da temática ambiental à unidimensionalidade técnica.Ou seja, tratar um problema ambienta] que é resultante de fatoreseconômicos, políticos, sociais, culturais e ecológicos conjugados comoum problema exclusivamente técnico é, no mínimo, incorrer numasimplificação excessiva. Desconsidera o fato de que a crise ambiental éproduto de um modelo de organização geral da sociedade, que comportadecisões políticas e econômicas que condicionam toda a vida individual esocial. Está claro que a questão ambiental tem, entre outras, uma dimensãotécnica, mas esta é precedida e condicionada por razões políticas eeconômicas e, não o contrário como pretende a redução tecnicista. Mostra-se, assim, fora de propósito a leitura que pretende encontrar nodesenvolvimento tecnológico a solução de todos os problemas. A mesmacrítica pode ser estendida ao economicismo, que propõe soluçõesexclusivamente econômicas, como resposta a questões de maiorcomplexidade.

3.5 Renda, cidadania, educação e consciência ecológica

Em anos recentes e, sobretudo a partir de 1987, data depublicação do Relatório Bruntland, o qual já mencionamos, ganha forçano debate ambiental a relação entre pobreza social e degradação ambiental.Entre outras inovações introduzidas por este relatório, figura a constataçãobásica de que os problemas do meio ambiente estão diretamenterelacionados com os problemas da pobreza e, que ambos, formam entresi um ciclo vicioso de gravidade crescente. Isto é, a pobreza ao mesmotempo que contribui para a degradação ambiental sofre os efeitos doambiente agredido. Significa que os mais pobres tendem a destruir, nocurto prazo, os próprios recursos que deveriam garantir sua subsistênciaa longo prazo. Na verdade, essa constatação levou o PNUMA—Programadas Nações Unidas para o Meio Ambiente a diagnosticar que as duascausas básicas da crise ambiental são o mau uso da riqueza e a pobreza.Os pobres, como vimos, pela própria situação de escassez em que vivem,

Ci. & Tróp., Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122Ç jan./jun., 1998112

Gustavo E da Costa Lima

destróem os recursos naturais para sobreviver, enquanto os ricos consomeme desperdiçam, excessivamente, a base de recursos naturais deixando oscustos, mais uma vez, para os mais pobres (Cima, 1991). Jgnacy Sachs,economista polonês, formulador do Ecodesenvolvimento, muito antes doRelatório Bruntland já alertava para a desigualdade social como causaprimária do mau desenvolvimento, fato, em geral, ocultado pelos arautosdo desenvolvimentismo. Segundo ele, a opulência não é mais que a outraface da miséria e, embora as grandes vítimas sn sempre os mais pobres,toda a sociedade perde em sistemas muito desiguais (Sachs, 1986). Istoporque, entre outros motivos, a concentração de riqueza, própria aocapitalismo, cria situações extremas e desfvorávS à consciência e atitudeecológicas. Evidencia-se, pois, a importância da distribuição de rendacomo um instrumento democratizador que ao melhorar as condições geraisde vida de uma população - através do acesso à alimentação, trabalho,educação, saúde, informação, moradia e lazer - tende a favorecermudanças e atitudes de defesa da vida, tanto dos próprios homens comode seu ambiente.

Raciocínio análogo desenvolvemos no tocante à relação entrecidadania e consciência ecológica. Neste sentido, as mentalidades tenderãoa avançar à medida que se perceba o ambiente como um direito político,relacionado à qualidade de vida e ao usufruto de um patrimônio públicocomum. Trata-se, assim, de associar a politização da questão ambientalcom o avanço da consciência e ação ecológicas. A realidade temdemonstrado que a ação e o nível de consciência ecológicas são maispresentes e desenvolvidos naqueles países com maior nível de informação,educação, renda e cidadania. Ou seja, onde os indivíduos conhecem eexercitam plenamente seus direitos e deveres sociais. Confirmam tambémessa tendência a maior incidência de organizações, partidos políticos eassociações centradas na questão ambiental - assim como movimentosde protesto e de consumidores contra produtos e processos agressivos àvida e aos direitos dos cidadãos - nos países política e socioecono-micamente mais desenvolvidos.

Reconhecemos que ambos os condicionantes, renda e cidadaniasão fàtores necessários mas não suficientes para transformar o nível deconsciência de um povo. Essa transformação exige uma conjugação deelementos que além dos citados inclui a qualidade da educação e dainformação, a motivação social e a capacidade de organização para

Ci. & Tróp., Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122, jan./jun., 1998113

Consciência ecológica: emergência, obstáculos e desafios

participar da solução dos problemas comunitários. Deve-se, ainda,observar que o processo de mudança de mentalidades e atitudes envolveum conjunto de estímulos econômicos, políticos, sociais e culturais e quea definição de uma ordem de prioridades entre eles dependerá de cadaconfiguração social especifica.

A educação é outro elemento chave no processo de mudança dementalidades, hábitos e comportamentos no sentido de uma sociedadesustentável. Analistas e filósofos da educação preocupados com a questãoambiental têm desenvolvido propostas pedagógicas com características:a) democrática - que respeita e atua segundo o interesse da maioria dos

cidadãos.b) participativa - onde o cidadão faz parte da elaboração de respostas

aos problemas vividos pela comunidade que integra.c) crítica - que exercita a capacidade de questionar e avaliar a realidade

socioambiental.d) transformadora - que busca a mudança de comportamentos, valores e

mentalidades contrários â vida coletiva.e) dialógica— fundada no diálogo entre todos os participantes do processo

educativo e da sociedade circundante.

O multidimensio na! - que pauta sua compreensão dos fatos na integraçãodos diversos aspectos da realidade. (Freire, 1996; Reigota, 1995;UNESCO/UNEP, 1977; Grün,1996; Dias, 1993).

Isto significa dizer que uma educação convencional, conservadora,de tendência monodisciplinar, desintegrada da realidade comunitária e daparticipação social, acrítica e autoritária representa, na verdade, umobstáculo à mudança de consciência e atitudes.

Por outro lado, parece difícil pensar uma educação de qualidadeem sociedades onde a educação continua sendo um privilégio e não umdireito prioritário, onde a elite cultural importa dos centros industrializadosnão só conhecimentos técnicos mas concepções de desenvolvimento,valores e padrões de comportamento.

Merece, ainda, destaque certas propostas de educação ambientalque tendem a banalizar o tratamento da questão ambiental comum enfoquesuperficial, despolitizador e invertido dessa realidade. Isto porque, focalizae dá excessiva atenção aos efeitos mais aparentes do problema semquestionar suas causas profundas, que dão origem à crise atual. É caso,por exemplo, de chamar muita atenção para uma espécie ameaçada deextinção e promover sua reprodução em cativeiro, sem perguntar e discutiros modelos de ocupação e exploração dos recursos naturais, responsáveis

Ci. & Tróp.. Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122, jan./jun., 1998114

Gustavo E da Costa Lima

pela destruição de ecossistemas inteiros para satisfazer interesseseconômicos e políticos, completamente alheios à degradação que causam.Assim, criar ilhas de conservação fica parecendo a melhor solução paraum problema com raízes mais profundas. Concentra-se toda atenção empaliativos superficiais sem tocar nas reais causas que originam os problemassocioambientais. Além disso, análises superficiais do tipo citado tendem aatribuir, de modo genérico, as responsabilidades dos danos ambientais àação humana, deixando de dizer que o homem vive em sociedadesheterogêneas formadas por grupos e classes sociais com poderes,atividades e interesses diferenciados. Assim, os homens ocupam posiçõessociais diferentes e se relacionam com a natureza e o ambiente diversamente.Alguns são governantes outros governados; alguns são proprietários outrossão assalariados; uns são produtores outros consumidores; uns incluídosoutros excluídos. Portanto, a afirmação genética de que "o homem" é ogrande predador da natureza e do ambiente deve ser melhor qualificadapara evitar conclusões apressadas e enganosas. E o caso de transferirpara toda a sociedade as responsabilidades de um problema ambientalcausado por um determinado grupo empresarial ou iniciativa gover-namental.

O problema de inversão da realidade se observa na ênfase quecertas vertentes de educação ambiental colocam na esfera do consumo -destino do lixo, reciclagem, limpar a praia - em detrimento da esfera daprodução, ponto de origem de todo processo industrial, onde se decideo que, quanto e como produzir. É caso, por exemplo, da opção de usarembalagens renováveis ou descartáveis, de produzir mais.bens necessáriosou mais bens supérfluos, de escolher entre produtos com maior vida útilou produtos que rapidamente se tomam obsoletos? Portanto, a educaçãoambiental exige uma compreensão mais global do sistema de produção/consumo e um enfoque que privilegie mais a esfera da produção (causa) -que engendra e condiciona toda a dinâmica produtiva - que a esfera doconsumo (efeito), do contrário, estaremos invertendo e parcializando arealidade* . As citadas propostas de educação ambiental também tornam-

Contribuição extraída de debate com a Prol' Arlete Moyses Rodrigues, do Doutorado emCiências Sociais do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas-IFCH da Universidade Estadualde Campinas - UNICAMP.Por isso, segundo ei; a identidade do brasileiro contém mais valores da vida privada que da vidapública, diferentemente de outras nações onde a coisa pública é mais valorizada e próxima docidadão (Da Mata, 1996). Neste contexto, a participação social cumpre o relevante papel deromper o distanciamento entre a ação individual e coletiva e de mostrar a possibilidade detransformar a realidade no sentido de valorização da vida do indivíduo consigo mesmo, comos outros e com o seu ambiente.

Ci. & Tróp., Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122,jan./jun., 1998115

Consciência ecológica: emergência, obstáculos e desafios

se despolitizadoras porque desconsideram as causas políticas da questãoambiental, substituindo-as por motivos e soluções técnicas e, assim fazendo,desviam a atenção pública dos interesses políticos e econômicos que, defato, explicam a origem dos problemas socioambientais. E por esse motivoque analistas mais críticos da questão pensam a educação ambiental comouma educação política com vistas ao exercício pleno da cidadania. (Reigota,1995).

4. Desafios à consciência ecológica

Vimos até aqui que, desde os anos 70 a consciência ecológicaavançou bastante ,embora, ainda não o suficiente para conter o crescenteritmo de degradação socioambiental.

Há, em primeiro lugar, que reconhecer-se que a consciência e odiscurso ecológicos se expandiram mais rapidamente que oscomportamentos e ações práticas. Portanto, o primeiro desafio consiste,justamente, em materializar idéias e teorias em práticas cotidianasecologicamente orientadas.

Neste sentido insere-se como ingrediente indispensável o exercícioda participação social. Todas as propostas de fortalecimento da sociedadecivil, da cidadania e de melhoria da qualidade da vida social passam,necessariamente, pelo desenvolvimento da participação social. Diversosanalistas das relações entre sociedade, meio ambiente, educação esustentabilidade enfatizam a impossibilidade de realizar transformaçõescom sentido democrático sem a promoção da participação social(Sorrentino, 1991; Penteado, 1994; Reigota, 1995; Guimarães, 1996).Chamam atenção panos vícios herdados de uma sociedade historicamenteautoritária, paternalista, individualista e dotada de baixos níveis deeducação política. Tais características sociais terminam produzindo nosindivíduos um coiunto de atitudes e sentimentos negativos que os distanciada ação coletiva e da mobilização para resolver seus próprios problemascomunitários. Assim, acabam predominando a descrença, a apatia, a inérciae o despreparo para a participação social. O indivíduo nessas condiçõestende a perder a confiança e a crença de que sua atitude individual setransforme numa iniciativa coletiva e eficaz, atrofiando as possibilidadesde participação. Soma-se a isso o histórico descrédito nas autoridades einiciativas públicas que tão bem se expressam no antigo divórcio entre o

Ci. & Tróp., Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122,jan./jun.. 1998116

Gustavo E da Costa Lima

público e o privado no Brasil. Da Marta, em pesquisas sobre o tema,observa com lucidez, que a vida pública no Brasil foi construída, desde aColônia, de uma forma onde a casa (a esfera privada) funciona e ama (aesfera pública) não.

Um outro ponto central nessa discussão reside na necessidadede exercitar um enfoque multidimensional na análise e tratamento dosproblemas ambientais. Esse enfoque supera as abordagens anteriores decaráter unilateral e reducionista, que pretendiam explicar os problemasambientais, ora por uma ótica econômica estrita, ora por um ponto devista exclusivamente biológico ou técnico. Isto para não perder a riquezae maior fidedignidade de uma compreensão e análise pluricausal darealidade, que incorpora e articula dimensões políticas, culturais, ecológicas,econômicas e filosóficas. Dentro dessa compreensão plural surge um outrodesafio que é o de piiorizar e hierarquizar as diversas dimensões do real,o que nos remete ao próximo ponto.

Refiro-me à politização da questão ecológica, já percebida epraticada por diversos setores do ambientalismo, mas ingenuamenteesquecida por setores tradicionais do conservacionismo e bastantemanipulada pelos setores dominantes do ecocapitalisrno. Numa ou noutraversão tratam os problemas ecológicos, ora como problemas meramentebiológicos, desvinculados das relações políticas e econômicas, ora comoproblemas estritamente técnicos, facilmente ajustáveis através dodesenvolvimento tecnológico. O desafio, portanto, consiste em tratar osproblemas ecológicos como problemas políticos. Conceber o ambientecomo um patrimônio público comum e sua defesa como um direito políticoque amplia a compreensão e a prática da cidadania. Convergente com odesafio acima proposto, se coloca a questão do fortalecimento político dasociedade civil na construção da sustentabilidade social. Sem negar aimportância da participação do Estado e do Mercado nesse processo acontribuição dos movimentos civis se revela como decisiva nareorganização de uma sociedade voltada aos interesses da maioria doscidadãos e pautada em princípios democráticos, participativos, de justiçasocial, prudência ecológica e viabilidade econômica. As outras opçõeslideradas pelo Estado e pelo mercado, pela própria natureza dos interessesque encarnam, privilegiam, respectivamente, a intervenção normativa econtroladora do sistema social - orientada por interesses fortementecontraditórios - e a eficiência alocativa a serviço de interesses privados.

Ci. & Tróp., Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122,jan./jun., 1998117

Consciência ecológica: emergência, obstáculos e desafios

Ademais, a realidade tem demonstrado que são a própria iniciativa estatale privada os principais agentes responsáveis pela devastaçãosocioambiental. Por outro lado, assistimos à perda progressiva do Estadode sua importância e autonomia na relação com os conglomerados~nacionais, no contexto da globalização e do neoliberalismo. Portanto,embora a via da sociedade civil e da cidadania se apresente, ainda, comouma alternativa frágil diante das três forças apresentadas - dada acomposição de poder presente no neoliberalismo e da conseqüentedesorganização, perplexidade e desmobilização da sociedade civil nessequadro, em especial nos países periféricos - é a que representa a respostamais legítima e sintonizada aos interesses e necessidades da maioria dostrabalhadores e a mais promissora, já que o Estado tende à atrofia e omercado, embora em posição hegemônica, não responde aos crescentese, cada vez mais, dramáticos problemas sociais.

Vimos pela análise precedente que a mudança da consciência eda ação ecológicas encontra obstáculos objetivos e subjetivos poderosos,cuja superação exige profundas transformações no modelo dedesenvolvimento socioeconômico, na direção dos meios científicos etécnicos, nos padrões de comportamento social e nos referenciais éticosque dirigem os rumos hegemônicos da sociedade capitalista globalizada.A realização de tais mudanças vai, cada vez mais, exigir a descoberta doslimites quantitativos e qualitativos do crescimento econômico, asubordinação do avanço técnico-científico a controles éticos, a reformada ética do egoísmo no sentido da solidariedade e o despertar para adependência ecossistêmica a que está sujeita a sociedade e vida humanas.São tarefas e desafios de magnitude que vão exigir iniciativas proporcionaispautadas no diálogo, na participação social e na luta por uma vida maisdigna

S. Bibliografia

BOF'F, Leonardo. Princípio - Terra: A volta à terra como pátriacomum. São Paulo, Ática, 1995.

BUARQUE, Cristovam. A desordem do progresso: ofim da era doseconomistas e a construção do futuro. Rio de Janeiro, Paz eTerra, 1990.

Ci. & Tróp., Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122,jan./jun., 1998118

Gustavo E da Costa Lima

CAVALCANTI, Clóvis. Sustentabilidade da economia: paradigmasalternativos de realização econômica. In: Desenvolvimento e natureza:estudos para uma sociedade sustentável. Cavalcanti, C. (org.), SãoPaulo, Cortez,1995.

CIMA. O desafio do desenvolvimento sustentável. Brasília, ComissãoInterrninisterial para preparação da Conferência das Nações Unidassobre Meio Ambiente, 1991.

CRESPO, Samira. O que o brasileiro pensa sobre o meio ambiente,desenvolvimento e sustentabilidade. MMA, Mast, ISER, 1997.Relatório parcial.

DIAS, Genebaldo Freire. Educação ambiental, princípios e práticas.São Paulo, Gaia, 1993.

DAMATTA, Roberto. Entre vista: Antropologia da preguiça. ISTO Éi1415,São Paulo, Ed. Três, 13/11196.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários àprática educativa. São Paulo, Paz e Terra, 1996.

FROMM, Erich. Psicanálise da sociedade contemporânea Rio deJaneiro, Zahar,1979.

FURTADO, Celso. O mito do desenvolvimento econômico. Rio deJaneiro, Paz e Terra, 1996.

GALBRAJTH, John Kenneth. A sociedade afluente. São Paulo,Pioneira, 1987.

GORZ, Andre. Estratégia operária e neocapitalismo. Rio de Janeiro,Zahar, 1968.

GRON, Mauro. Ética e educação ambiental: a conexão necessária.Campinas, SP, Papirus,1996.

Q. & Tróp., Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122, jan./jun., 1998119

Consciência ecológica: emergência, obstáculos e desafios

GUHvLARÃES, Mauro. Á dimensão ambientalna educação. Campinas,SP, Papirus,1995.

HERCULANO, Selena Carvalho-Do desenvolvimento (in) suportávelà sociedadefeliz. In: Ecologia, ciência e política. GOLDENBERG,M.(org.). Rio de Janeiro, Revan, 1992.

LEIS, Hector Ricardo. Ética ecológica: análise conceitual e históricade sua evolução. In: Reflexão cristã sobre meio ambiente. São Paulo,Loyola,l992.

LIMA, Gustavo Ferreira da Costa. O debate da sustentabilidade nasociedade insustentável In: Revista Política & Trabalho, n° 13,setembro de 1997, PPGSIUIFPB.

MANSHOLT, Sicco; MARCUSE, Herbert; MORIN, Edgar e outros.Ecologia: caso de vida ou de morte. Lisboa, Moraes, 1973.

MATSUSHIMA, Kazue. Dilema contemporâneo e educaçãoambiental: uma abordagem arquetípica e holística. Brasília, ano X,n°49,janfmar, MEC/LNEP, 1991.

MORIN, Edgar Cultura de Massas no século LY o espírito do tempoII: necrose .Rio de Janeiro, Forense-Universitária, 1975.

MORIN, Edgar & KERN, Brigitte. Terra —pátria. Porto Alegre, Sulina,1995.

PENTEADO, Heloísa Dupas. Meio ambiente e formação deprofessores. São Paulo, Cortez, 1994.

REIGOTA, Marcos. Meio ambiente e representação social. São Paulo,Cortei, 1995.

SACHS, Ignacy. Ecod.esenvolvimento: crescer sem destruir. São Paulo,Vértice, 1986.

Ci. & Tróp., Recife, v. 26, ti. 1, p. 103-122, jan./jun., 1998120

Gustavo E da Costa Lima

SORRENTINO, Marcos. Educação ambiental, participação eorganização de cidadãos. In: Em Aberto, v. 10. n. 49,jan/mar, Brasília,NEC, 1991.

STAHEL, Andri Werner. Capitalismo e entropia: os aspectosideológicos de uma contradição e uma busca de alternativassustentáveis. In: Desenvolvimento e natureza: estudos para umasociedade sustentável. Cavalcanti, C. (org.). São Paulo, Cortez, 1995.

SUNG, Jung & SILVA, Josué Cândido da. Conversando sobre ética esociedade. Petrópolis, RJ, Vozes, 1995.

UNE SCO/LJNEP. "Intergovernamental Conference on EnvironmentalEducation, 1977, Tbiisi, URSS". Fina! Report. Tbilisi, CEI, 1977.

UNGER, Nancy Mangabeira (org.). Fundamentos filosóficos dopensamento ecológico. São Paulo, Ed. Loyola, 1992.

VIOLA, Eduardo & LEIS, Hector Ricardo. A evolução das políticasambientais noBrasil, 1971-1991: dobissetorialismo preservacionistapara o multissetotialismo orientado para o desenvolvimento sustentável.In: Dilemas socioainbientais e desenvolvimento sustentável. Hogari, D.& Vieira, P. F. (orgs.), Campinas, Unicanip, 1995.

Ci. & Tróp., Recife, v. 26, n. 1, p. 103-122, jan./jun., 1998121