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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” FACULDADE INTEGRADA AVM A RELAÇÃO DA MEMÓRIA COM O PROCESSO DE APRENDIZAGEM, NUMA VISÃO NEUPEDAGÓGICA POR DANIELA DE OLIVEIRA BISPO ORIENTADORA MARTA RELVAS PIRES JULHO/2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

A RELAÇÃO DA MEMÓRIA COM O PROCESSO DE

APRENDIZAGEM, NUMA VISÃO NEUPEDAGÓGICA

POR

DANIELA DE OLIVEIRA BISPO

ORIENTADORA

MARTA RELVAS PIRES

JULHO/2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

A RELAÇÃO DA MEMÓRIA COM O PROCESSO DE

APRENDIZAGEM, NUMA VISÃO NEUPEDAGÓGICA

Esta pesquisa tem por finalidade atender à complementação didático-pedagógica de

metodologia de pesquisa e a produção do desenvolvimento de monografia para o

curso de pós-graduação em Neurociência Pedagógica.

Por: Daniela de Oliveira Bispo

.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelas oportunidades que me foram dadas na

vida, ao meu filho Igor - a minha grande razão de viver, aos meus pais, meus

irmãos, e meus sobrinhos, pelo apoio em toda minha trajetória profissional e

acadêmica.

Ao meu grande amigo Elcio Cruz pelo incentivo, pelo apoio

constante, pela confiança e amizade sincera, principalmente por ser

inspiração no amadurecimento dos meus conhecimentos.

A toda equipe docente do curso, pela dedicação e responsabilidade

diante do compromisso em formar uma classe de profissionais tão importantes

para o atual paradigma educacional - os neuropedagogos.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a dois grandes exemplos de mulher: Marilú de

Oliveira , minha mãe, uma grande guerreira, que mesmo sem muita formação

educacional, sempre valorizou o ensino e sempre me incentivou a estudar e

alcançar meu sonho- ser uma educadora.

A professora Maria Aparecida Goulart por amar a educação, assim

como eu, valorizando o pleno desenvolvimento infantil e acima de tudo por

confiar em meu potencial profissional, permitindo-me fazer parte do seu grande

sonho- o Centro Educacional da Criança.

Por perceber e atentar para a relevância deste tema junto aos

demais profissionais envolvidos na formação de crianças, dedico- os também,

assim como para todas as crianças do país, que são as joias de nossa nação,

pelas quais busco maior conhecimento e um constante aperfeiçoamento

profissional .

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RESUMO

Esta pesquisa refere-se à relação da memória com o processo de

aprendizagem de crianças de até 10 anos considerando a perspectiva

neuropedagógica. Para a elaboração desta obra, a metodologia compreendeu

a pesquisa bibliográfica voltada para a conceituação de memória e

aprendizagem. Os objetivos abordados foram: a apresentação dos conceitos

de memória e aprendizagem sob a abordagem da Neurociência e a verificação

da importância da memória neste tipo de processo considerando a faixa etária

observada. Com esta pesquisa foi possível perceber que existe uma relação

intrínseca da memória com o processo de aprendizagem de crianças até 10

anos, sob o ponto de vista da Neurociência, e que a mesma possui real

importância na construção do conhecimento.

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METODOLOGIA

Este trabalho é baseado em uma pesquisa bibliográfica cujos

principais autores que serviram de base foram: Relvas, Izquierdo, Penna,

Correa, e Cordier, Anderson, Lima e Fiori. Seu principal objetivo é estabelecer

a estreita relação da memória e do aprendizado em crianças de até 10 anos,

de acordo com a neurociência pedagógica.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Conceitos de aprendizagem 10

CAPÍTULO II

Conceitos de Memória 20

CAPÍTULO III

Contribuições da neurociência para o trabalho docente 42

CONCLUSÃO 47

BIBLIOGRAFIA 48

ÍNDICE 50

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INTRODUÇÃO

Este estudo é uma investigação sobre a relação intrínseca da

memória com o processo de aprendizagem de crianças até 10 anos, sob o

ponto de vista da Neurociência, e a sua real importância na construção do

conhecimento, baseado em pesquisa bibliográfica, estudo de caso de alunos

com transtornos de aprendizagem e outras habilidades e análises de

planejamentos aplicados por docentes da Educação Infantil e do Ensino

Fundamental I, da rede privada e pública.

A questão central tratada a seguir refere-se a como os educadores

da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I, podem atuar com estratégias

eficazes e estimuladoras para assegurar o pleno desenvolvimento da

aprendizagem.

Durante quinze anos ao trabalhar com crianças de seis a dez anos

de idade, com maior ênfase na classe de alfabetização, pôde-se notar que

muitas das atividades propostas não atendiam as suas necessidades “de saber

e aprender”. Num processo cíclico, muitas das vezes ,quando o aprendizado de

um aluno não transcorria conforme esperado pela instituição de ensino, que

seguia rigorosamente o que determinava o sistema educacional do país, logo

era procurado um transtorno ou um déficit que pudesse justificar aquele

suposto fracasso. Contudo não se procurava entender o motivo pelo qual a

aprendizagem não estava satisfatória, sob aquele determinado ponto de vista.

No trabalho como coordenadora pedagógica, houve a oportunidade

de verificar que em muitos casos os educadores não possuíam conhecimento

prévio de como a aprendizagem ocorre, não entendiam como o cérebro

humano aprende e como guarda saberes.

Assim sendo, esta pesquisa visa oferecer um suporte

“neuropedagógico” e explicações científicas que tendem a auxiliar os

profissionais envolvidos no processo de aprendizagem e a traçar um currículo

educacional, frente a uma prática pedagógica que atenda de forma mais eficaz,

e que seja coerente ao desenvolvimento infantil; pautado em fundamentações

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biológicas e neuroquímicas a fim de estimular a memória e facilitar o

aprendizado, numa das fases de maiores transformações e progressos do

desenvolvimento humano- a infância.

Pode-se concluir então que não há aprendizagem sem memória, ela

é a base de todo o saber. Entretanto, esta só se estabelece a partir da

estimulação, principalmente sensorial. Daí a necessidade de todo educador

que atende crianças da Educação Infantil e do Ensino Fundamental I pautar

sua prática educacional nos fundamentos da Neurociência Pedagógica.

Serão apresentados aqui os principais conceitos de aprendizagem e

memória, destacando-se também a importância de fatores como a

neuroplasticidade e o esquecimento para o desenvolvimento destes dois

processos.

Esta obra visa estabelecer a estreita relação da memória e do

aprendizado, de acordo com a neurociência pedagógica, além de conceituar

memória e sua formação, analisando seu desenvolvimento em crianças de até

10 anos e definindo sua importância na consolidação do conhecimento.

Também objetiva conceituar aprendizagem, apresentar estratégias e

procedimentos estimuladores da memória na sala de aula, identificar o papel

do educador neste século, enquanto facilitador de aprendizados.

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CAPÍTULO I

CONCEITOS DE APRENDIZAGEM

Para nortear esta pesquisa foram analisados alguns conceitos de

estudiosos da área, a fim de definir o que é aprendizagem. Numa perspectiva

psicológica, Penna (2001) afirma:

Classicamente distinguem-se dois tipos de conceituação da aprendizagem: o que a define em termos de aquisição de respostas e o que a identifica com a

aquisição de sinais ou formação de mapas cognitivos em função dos quais se emitem respostas. (PENNA, 2001, p. 15)

O autor comenta ainda que a abordagem gestaltista, compreende a

aprendizagem como processo através do qual ocorrem reestruturações

perceptuais; conceito que, como se verá a seguir, aproxima-se muito da

conceituação neuropedagógica.

Ainda sob esta perspectiva, alguns estudiosos definem que a

aprendizagem baseada em mapas que conduzem às respostas geram-nas, na

verdade através da apresentação de comportamentos, ou seja, quando

assimilada uma estrutura, várias são as respostas (comportamentos)

resultantes dela.

Já na Psicolinguística, define-se aprendizagem como sendo o

processo de aquisição de regras em função das quais serão emitidas

respostas. Também se rejeita a ideia de “respostas aprendidas”. Noam

Chomsky (1970) destaca o fato de que qualquer criança é capaz de emitir

sentenças que jamais pronunciou ou ouviu anteriormente, assim como

compreendê-las. Ele destaca ainda o fato da emissão de formas verbais

irregulares de modo incorreto, seguindo as normas usadas com verbos

regulares, o que revela que a rapidez com que se processa o aprendizado e a

falta de modelo sistemático para que haja imitação, conduz à suposição de

condições filogeneticamente programadas, ou seja, à suposição de condições

de programação biológica que possibilitam a efetivação do aprendizado verbal.

Novamente observa-se o sujeito como um ser cujo desenvolvimento depende

de fatores biopsicossociais.

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Jean Piaget (2004) explica o desenvolvimento intelectual, a partir da

ideia que os atos biológicos são atos de adaptação ao meio físico e

organizações do meio ambiente, sempre procurando manter um equilíbrio.

Segundo ele, a atividade intelectual não pode ser separada do funcionamento

total do organismo, sendo a adaptação um fator essencial para este

funcionamento.

Henry Wallon (1981) afirma que a criança é essencialmente

emocional e gradualmente vai constituindo-se em um ser sócio cognitivo. O

autor observou a criança de forma contextualizada, como uma realidade viva e

total no conjunto de seus comportamentos, suas condições de existência.

Segundo Vygotsky (1998), a criança nasce inserida num meio social-

a família- e é nela que estabelece as primeiras relações com a linguagem na

interação com os outros. Nas interações cotidianas, a mediação (necessária

intervenção de outro entre duas coisas para que uma relação se estabeleça)

com o adulto acontecem espontaneamente no processo de utilização da

linguagem, no contexto das situações imediatas.

Comparadas as definições dadas por estes autores pode-se

comprovar que o processo de aprendizagem é continuo, complexo e que

depende de constante estimulação para um completo desenvolvimento.

Relvas (2010) explica que aprender implica planejamento de novas

formas para solucionar desafios, atividades que estimulem diferentes áreas do

cérebro a trabalhar com maior capacidade de eficiência. Ela comenta ainda

que:

Uma aprendizagem só é formativa na medida em que opera transformações na constituição daquele que aprende. (...) Em

uma visão neurobiológica da aprendizagem, pode-se dizer que, quando ocorre a ativação de uma área cortical, determinada

por um estímulo, provoca alterações também em outras áreas, pois o cérebro não funciona como regiões isoladas. (RELVAS,

2010, p. 26)

Tal definição compreende a ideia de que o sujeito desenvolve-se a

partir da integração numa perspectiva biopsicossocial.

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Nesta abordagem a aprendizagem resultará do desenvolvimento

adequado de aptidões e conhecimentos, assim como da aplicação destes em

situações diversas. Trata-se de um processo complexo e integrado que

proporciona uma transformação qualitativa, que se observará através do

comportamento do sujeito, na estrutura mental do indivíduo que aprende.

Pode-se entender também a aprendizagem como uma mudança

relativamente durável do comportamento, possivelmente de um modo mais ou

menos sistemático, adquirida por experiência, observação ou prática motivada.

Convém ressaltar aqui a importância da motivação ao longo deste processo,

visto que o desenvolvimento e a aprendizagem são inaugurados na emoção e

na afetividade, o “querer” é fator primordial neste processo, ou seja, ninguém

aprende algo com o que não se identifica. É preciso que o sujeito tenha

percepção da utilidade e da aplicação daquilo que se aprende.

O processo de motivação ocorre no interior do indivíduo e, por isso,

está intrinsecamente relacionado às situações de troca entre ele e o ambiente

que o cerca. Este processo, de acordo com Maslow, pauta-se na seguinte

hierarquia de necessidades: necessidades fisiológicas, segurança contra o

perigo, necessidades sociais como a pertença a um grupo, autoestima e

autorrealização. Conforme sua teoria, somente quando as necessidades

básicas estão satisfeitas é que o nível imediatamente mais elevado surge como

determinante do comportamento.

Em linhas gerais, a aprendizagem é a modificação do

comportamento, como resultado da experiência ou aquisição de novos

conhecimentos acerca do meio.

1.1- Tipos de aprendizagem

Como já se sabe o ser humano nasce potencialmente

inclinado a aprender, precisando de estímulos externos e internos para

que este aprendizado se consolide. Há aprendizados considerados

natos (como determinadas habilidades motoras, por exemplo), mas na

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maioria das vezes, a aprendizagem acontecerá no meio social e

temporal em que o sujeito está inserido e também será determinada por

fatores genéticos.

A aprendizagem revela-se sob formas tão variadas que se

impõem que sejam classificadas. Penna(2001) distingue entre

“aprendizado orientado no sentido da produção de formas rígidas e

estereotipadas e aprendizado caracterizado por ampla margem de

flexibilidade e versatilidade.”

Skinner (2001) diferencia aprendizagem por condicionamento

clássico ou respondente (aquele que envolve um tipo de comportamento

específico: o respondente. É a expressão de uma reação do organismo

ao meio e não de uma ação do organismo sobre o meio. Nele a

aprendizagem se dá em função de um estímulo condicionado, numa

sequência temporal integrada por um estímulo incondicionado.) e a

aprendizagem por condicionamento operante ou instrumental (apoia-se

em respostas de tipo instrumental, seguidas por eventos reforçadores,

caracterizados pelo poder de aumentar a probabilidade de emissão de

respostas que a eles conduzem. O comportamento resultante destas

respostas implica numa relação causal entre reforço e comportamento a

ser modelado)

O condicionamento clássico apoia-se nos seguintes

processos: aquisição, extinção, recuperação espontânea, generalização

do estímulo e discriminação. Enquanto o condicionamento operante

baseia-se totalmente no reforço, que visa aumentar a probabilidade de

um comportamento.

Kohler (1945), ao contrário, diferencia duas formas de

aprendizagem: a produzida diante de situações inteligíveis (Teoria do

Ensaio e Erro) e aquela realizada frente a situações dotadas de

significado (aprendizagem por insight ou compreensão caracterizada

pela captação de relações perceptuais conduzindo à solução adequada

das situações problemáticas confrontadas pelo indivíduo, sem contudo

fazer uso de seus conhecimentos prévios.)

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Numa abordagem neuropedagógica, convém explicar que

cada área do cérebro exerce um papel determinado no processo de

aprendizagem:

Lobo frontal: o córtex pré-frontal relaciona-se às funções

superiores representadas pelo comportamento humano como, por

exemplo, a fala, a escrita, a motivação, o julgamento social e o controle

emocional.

Lobo temporal: sua parte posterior relaciona-se à recepção e

a decodificação de estímulos auditivos coordenados aos impulsos

visuais, enquanto a parte anterior relaciona os estímulos olfativos e

gustativos a alguns aspectos comportamentais instintivos.

Lobo parietal: relaciona-se à interpretação e à integração de

estímulos visuais e dos táteis também. Entre suas funções estão, por

exemplo, o registro tátil, a leitura, a imagem e o processamento

espaciais.

Lobo occipital: processa a integração visual a partir da

recepção de estímulos que acontecem nas áreas primarias e de

associação visual. Dentre suas funções estão, por exemplo, a percepção

e estimulação visuais, a sequencialização visual, o posicionamento e a

relação espacial.

Tronco encefálico: responsável pela atenção, vigilância,

integração neurossensorial motora, vestibular e tônica.

Cerebelo: responsável pela coordenação de movimentos

automáticos e voluntários, segurança, proprioceptividade, regulação de

padrões motores.

Antes de concluir este item, é imperativo citar algumas

informações encontradas de outros tipos de aprendizagem:

Aprendizagem Social: os comportamentos são aprendidos por

observação simples e, às vezes, prática intensiva, outras vezes resulta

da interação e imitação social. Quando estas ocorrem a partir de um

modelo com características desejáveis, o comportamento tende a ser

imitado.

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Aprendizagem por discriminação: aprendizagem que está na

base de outras aprendizagens e se dá por análise das semelhanças e

diferenças.

Aprendizagem motora e psicomotora: relacionada à

aprendizagem de movimentos e atividades que envolvam sequências

ordenadas de movimentos.

Aprendizagem verbal: aprendizagem da linguagem, formada

por símbolos verbais através dos quais é possível estabelecer

interações sociais.

Aprendizagem de resolução de problemas: aquisição de

competências que permitem resolver problemas de caráter prático ou

formal e que podem ser aperfeiçoadas pela experiência.

1.2- O processo da Plasticidade Neural

Uma maneira de se entenderem os processos de plasticidade é

saber que quando um axônio de uma célula A está próximo o suficiente

para excitar uma célula B, e esta excitação se mantém de maneira

persistente por meio de potenciais de longa duração (LTP), acontece um

processo de crescimento ou alterações metabólicas em uma ou em ambas

as células, o que acaba por aumentar a eficiência das sinapses.

Para que o LTP ocorra, é necessário que um neurônio receba

estimulações elétricas mais fortes que o comum como forma de aumentar

o tamanho dos potenciais de campo na célula.

Esse aumento da carga elétrica na célula faz com que esta

envie estímulos mais fortes para as outras e assim sucessivamente. O

glutamato é um neurotransmissor que desempenha um papel-chave na

plasticidade neural.

Ele age sobre dois tipos de receptores, NMDA e AMPA. Os

receptores AMPA são mediadores das respostas produzidas quando o

glutamato é liberado de uma membrana pré- sináptica, ao passo que os

receptores NMDA permanecem com seus canais bloqueados.

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Quando existe uma estimulação elétrica mais forte, ela acaba

por abrir os canais do receptor NMDA. Esta abertura permite um influxo de

íons de Ca2+ no neurônio pós-sináptico, iniciando uma cascata de eventos

bioquímicos em que esta célula nervosa gera estímulos mais intensos para

outras.

1.3- Formas de aprendizagem a partir da

Plasticidade Neural

Para iniciar este estudo, é preciso entender que a plasticidade

neural é um termo que denomina, principalmente, a capacidade de

adaptação e readaptação do SNC diante das condições mutantes e a

estímulos repetidos. Seu desenvolvimento ocorre ao longo de toda a

vida do sujeito e nele estão pautados o processo de aprendizagem

humana e de reabilitação das funções motoras e sensoriais.

Existem quatro tipos de Neuroplasticidade, dos quais apenas

dois interessam neste trabalho: a Neuroplasticidade de

desenvolvimento- acontece ao longo da vida dos neurônios, a fim de

viabilizar o desenvolvimento cerebral- e a Neuroplasticidade como

resposta à experiência- ocorre a partir de novas experiências, desafios e

aprendizagem. Estes novos estímulos proporcionam ao cérebro a

possibilidade de reorganizar-se, potencializando, consequentemente, a

memória do sujeito.

Relvas explica que:

A aprendizagem se dá pela criação de novas memórias e pela ampliação das redes neuronais que armazenam o que já foi trabalhado, por meio de aprendizagens de conceitos e das

metodologias que irão formar ou ampliar estas memórias. (...) resulta no crescimento ou nas alterações das células quando o axônio de uma célula recebe um potencial de longa duração com estimulações fortes. (...) Todo esse processo pode durar

horas ou dias e interfere nos processos de memória e aprendizagem. (RELVAS, 2010, p.35)

A partir da Neuroplasticidade Neural a aprendizagem pode

acontecer por:

Habituação: as respostas de um determinado estímulo

diminuem à medida que este ocorre repetidamente. Com a habituação, o

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influxo de íons Ca2+ em resposta ao potencial de ação diminui,

resultando em menos neurotransmissores liberados na membrana pré-

sináptica, gerando um estímulo mais fraco na membrana pós-sináptica.

Sensibilização: A sensibilização corresponde ao processo

inverso da habituação, de forma que o estímulo tem sua resposta

acentuada à medida que é apresentado. Esse é um sistema adaptativo

em termos evolutivos, o qual permite, por exemplo, o reforço de

memórias importantes para a sobrevivência. o influxo de íons de Ca

aumenta devido a um potencial de ação prolongado causado pela

redução do fluxo de íons K+ na membrana pré-sináptica, aumentando,

assim, os neurotransmissores nesta membrana.

Condicionamento clássico: A história dos estudos com

condicionamento clássico começou com o fisiologista russo Ivan Pavlov.

A partir de seus estudos, atualmente sabe-se acontece a partir da

associação de estímulos incondicionados à respostas incondicionadas,

estímulos neutros à respostas semelhantes às incondicionadas, sendo

chamada resposta condicionada.

Condicionamento operante: associa-se estímulo a

comportamento, assim, respostas a um estímulo aumentam ou

diminuem aos serem desempenhadas. Respostas positivas para o

indivíduo tendem a ocorrer com maior frequência. . Entretanto, se o

comportamento for geralmente seguido de consequências

desagradáveis, este tende a ser repetido com menos frequência, sob

condições semelhantes. Dessa forma, a base do condicionamento

clássico é a associação entre estímulos, enquanto que no

condicionamento operante a base é a associação entre o estímulo e o

comportamento do animal.

Relvas conclui ressaltando que:

A aprendizagem e a memória necessitam de mecanismos neurais mediados pelas sinapses nervosas. Estas sinapses

podem ser afetadas por estímulos neuropsicológicos, eletrofisiológicos, farmacológicos e a genética molecular, que

determinam alterações nos circuitos cerebrais. (RELVAS, 2010, p.37)

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1.4- A Plasticidade Neural e a aprendizagem de 0 a

10 anos

A capacidade humana para aprender é muito ampla e a

plasticidade é fundamental para a aprendizagem, porque as áreas

cerebrais envolvidas especificamente no processo de aprendizagem, se

necessário, podem assumir outras funções, através da

interdisciplinaridade cerebral a partir do momento em que o

conhecimento de uma área é aproveitado em outra.

O SN de uma criança é muito mais plástico do que o de um

adulto por estar em franco desenvolvimento. A partir do nascimento

vários processos são iniciados no desenvolvimento das atividades

cerebrais humanas. Um recém- nascido já possui quase todos os

neurônios que necessitará ao longo da sua vida.

Relvas explica que:

Os primeiros anos de vida da criança são fundamentais para o seu desenvolvimento (...) as emoções e o equilíbrio psicológico dependem do exercício cerebral realizado nos primeiros minutos de existência e se estende até a adolescência, além de estimular e fortalecer conexões do Sistema Límbico. (RELVAS,2010,p. 39)

A partir do final da década de 1990, a neurociência chegou a

conclusões surpreendentes. Quando a criança nasce, o seu cérebro

está totalmente limpo de comportamentos genéticos e

constitucionalmente herdados, exceto uma série de reflexos não

condicionados que lhe permitem sobreviver, como a respiração, a

circulação, a sucção, entre outros. O que a criança possui é a

possibilidade e capacidade infinitas de assimilar toda a experiência

social acumulada pela humanidade ao longo de centena de gerações, a

qual lhe é transmitida, principalmente nos primeiros instantes de vida,

pelo adulto que a atende e protege. Essa capacidade de poder refletir

sobre si mesmo e de assimilar os estímulos do meio circundante é

denominada de plasticidade do cérebro humano.

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Sugere-se então que as tarefas estejam relacionadas às

necessidades, às preocupações e interesses da criança e incorporadas

as suas experiências; estimulando sua criatividade e encarando os erros

como elementos naturais da aprendizagem. O currículo deve estar

voltado para o desenvolvimento da autonomia, autoestima e dignidade

da criança.

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CAPÍTULO II

CONCEITOS DE MEMÓRIA

O conceito de que a memória funcionava como um processo unitário

foi adquirido logo no início dos estudos experimentais nesse assunto. A partir

desse conceito estudos começaram a sugerir que não existe um só sistema de

memória, mas sim vários outros diferentes entre si que se dividem em tipos e

subtipos como se apresentará a seguir.

Iván Izquierdo, um dos maiores especialistas em memória no

mundo, destaca que, de modo geral, memória:

Significa aquisição, formação, conservação e evocação de informações. A aquisição é também chamada de aprendizado ou aprendizagem: só se ‘grava’ aquilo que foi aprendido. A evocação é também chamada de recordação, lembrança,

recuperação. Só lembramos aquilo que gravamos, aquilo que foi aprendido. (IZQUIERDO, 2011, p.11)

O autor afirma ainda que “o acervo de nossas memórias faz com

que cada um de nós seja o que é: um indivíduo, um ser para o qual não existe

outro idêntico.” (IZQUIERDO, 2011). Esta habilidade possibilita a transmissão

de valores culturais, definir personalidades, desenvolver as mais diversas

habilidades e, principalmente, assegurar a individualidade humana.

Izquierdo explica que :

Procuramos laços, geralmente culturais ou de afinidades e, com base em nossas memórias comuns, formamos grupos (...) isso nos dá segurança, porque

proporciona conforto e identidade coletiva. (IZQUIERDO, 2011, p.13)

E isto influenciará diretamente o processo de aprendizagem.

O autor ressalta que convém diferenciar “memória” de “memórias”,

explicando que:

Talvez seja sensato reservar o uso da palavra Memória para designar a capacidade geral do cérebro e dos outros sistemas para adquirir, guardar e lembrar informações; e utilizar a palavra ‘memórias’ para designar a cada uma ou a cada tipo

delas. (IZQUIERDO, 2011, p.20)

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Segundo Relvas (2010) a memória é a base de todo o saber e da

existência humana desde o nascimento, por isso é um dos fatores

preponderantes no processo de aprendizagem. Isto fica claro quando a autora

cita que:

A memória é uma das funções mais importantes do cérebro, está ligada ao aprendizado e à capacidade de repetir acertos evitar erros. É a reprodução mental das experiências captadas pelo corpo por meio dos movimentos e dos sentidos. (RELVAS,

2010, p. 40)

Daí a importância de proporcionar a maior diversidade de estímulos

possíveis aos educandos. Para a autora, o conceito de memória compreende

mais que a capacidade de recordar fatos. Trata-se da capacidade de recordar

fatos. Ela é uma capacidade de planejar algo, abstraindo-o e julgando-o

criticamente. Relvas (2010) explica ainda que: “a memória não está localizada

em uma estrutura isolada no cérebro: ela é um fenômeno biológico e

psicológico, envolvendo sistemas cerebrais que funcionam juntos.”

Elvira Lima (2011) define memória como “a reprodução mental das

experiências captadas pelo corpo por meios dos movimentos e dos sentidos.

Essas representações são evocadas na hora de executar atividades, tomar

decisões e resolver problemas na escola e na vida”.

Penna afirma que memória:

Identifica-se como processo de estocagem de informações, e se revela, assim, operacionalmente relevante para efeito de adaptação. Não obstante, cobre outras funções, tais como as

de reconhecimento e evocação, as quais supõem condições de acessibilidade, envolvendo a informação armazenada.

(PENNA, 2001, p.105)

Ao considerar tais definições é possível entender que as memórias

são referentes à capacidade humana de aquisição, consolidação e evocação

de informações, formadas a partir de estímulos externos e, como será tratado a

seguir, constituídas também por fatores biológicos e psicológicos.

2.1- Como se formam as memórias

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Para uma compreensão satisfatória do processo de formação de

memórias é preciso entender algo sobre os neurônios, visto que estes são

responsáveis pelo armazenamento, evocação e modulação da memória

animal, conforme explica Iván Izquierdo:

Os neurônios têm prolongamentos (...) por meio dos quais estabelecem redes, se comunicando uns com os outros. Os

prolongamentos que emitem informação em forma de sinais a outros neurônios denominam-se axônios. Os prolongamentos

sobre os quais os axônios colocam essa informação se chamam dendritos. A ‘transferência’ de informação dos axônios para os dendritos é feita através de substâncias químicas (...)

denominadas neurotransmissores. Os pontos onde as terminações axônicas mais se aproximam dos dendritos se

chamam sinapses, e são os pontos reais de intercomunicação de células nervosas. Do lado dendrítico, nas sinapses, há

proteínas específicas para cada neurotransmissor, chamadas receptores que (...) podem ser excitatórios ou inibitórios. (...) O glutamato, o GABA, a dopamina, a noradrenalina, a serotonina

e a acetilcolina são moléculas simples e relativamente pequenas. São os principais neurotransmissores envolvidos

com os processos de memória. (IZQUIERDO, 2011, p. 15; 18)

Relvas reforça esta explicação ao afirmar que

A formação de memórias, desde a aquisição, passando pela consolidação, até chegar à evocação ou à lembrança, é um

processo dependente da transmissão de informações célula a célula por meio da ajuda de neurotransmissores ou moléculas, que agem no espaço existente entre dois neurônios (sinapses)

(RELVAS, 2009, p.19)

Por isso, quanto mais sinapses, mais estímulos para o

desenvolvimento da memória. A autora dá continuidade à explicação afirmando

que:

Entre as muitas reações, os neurotransmissores costumam ativar enzimas (proteínas que aceleram reações químicas), que

entram no núcleo da célula, ativando genes que, então, sintetizam proteínas. Essas proteínas estão envolvidas não apenas na formação inicial de memória, mas também no

momento de recrutá-las como lembranças, para então serem armazenadas. (RELVAS, 2009, p.19)

Convém ressaltar também a importância do hipocampo e do lobo

temporal ao longo deste processo. Cabe ao hipocampo selecionar os aspectos

importantes para as informações que serão armazenadas. É ele que usa e

descarta informações de curto prazo e promove o intercâmbio entre os

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neurônios. Tanto novas informações quanto as já armazenadas, depois de

conectadas e reestruturadas, passam pelo hipocampo e dele espalham-se por

todo o córtex.

O lobo frontal guarda e classifica as informações originando

memórias que se complementarão e constituirão o raciocínio.

De acordo com Relvas:

O processo de memorização é complexo (...) quando os neurônios são ativados, liberam neurotransmissores que

atingem outras células nervosas por meio de sinapses. (...) A memorização varia de acordo com as variações do estado

emocional ou problemas de ordem física de uma pessoa. (...) O esquecimento comum ocorrido no dia a dia acontece para

podermos ativar a memória, pois nosso cérebro tem uma certa capacidade (...) para guardar informações e, toda vez que seu limite é alcançado, ele ‘desliga-se’ por um tempo, para depois

‘ligar-se’ novamente. (RELVAS, 2010, p.41)

Os autores estudados, de modo geral, explicam que nossas

memórias não são reproduções exatas daquilo que observamos na vida real.

Elas são constituídas a partir da modificação de acordo com o contexto em que

são recuperadas e com as informações que transitam pelas sinapses. Izquierdo

comenta ainda que:

Nossa memória pessoal e coletiva descarta o trivial e, às vezes, incorpora fatos irreais. Vamos perdendo, ao longo dos dias e dos anos, aquilo que não interessa, aquilo que não nos marcou (...) mas também vamos incorporando, ao longo dos anos, mentiras e variações que geralmente as enriquecem.

(IZQUIERDO, 2011, p.19)

Assim ele afirma que:

As memórias não são adquiridas imediatamente na sua forma final. Durante os primeiros minutos ou horas após sua

aquisição são suscetíveis a interferência por outras memórias, por drogas, ou por outros tratamentos. (IZQUIERDO, 2011, p.

45)

Outro aspecto importante para a consolidação dos diferentes tipos

de memórias é a plasticidade neural- conforme Izquierdo:

É o conjunto de processos fisiológicos, em nível celular e molecular, que explica a capacidade das células nervosas de

mudar suas respostas a determinados estímulos”- que

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comportamentalmente se manifesta através da aquisição de um aprendizado e da formação de uma memória.

(IZQUIERDO, 2011, p.58)

García explica que:

Ao nascer o ser humano possui um cérebro limpo de comportamentos pré-determinados. É aí que está o grande

poder da espécie humana: apropriar-se de toda a experiência social anterior, mediante essa faculdade- a plasticidade-, ao

agir sobre seu cérebro o estímulo adulto lhe proporciona já no instante do nascimento. (GARCÍA, 2009, 56)

Biologicamente, o armazenamento de memórias obedece a

alterações morfológicas das sinapses que as constituem. Cajal, precursor nesta

área de estudos, considera que tais alterações:

Poderiam consistir em alargamentos, estreitamentos, bifurcações ou outras mudanças estruturais das sinapses (...) e

não via, racionamente, possibilidade de que pudesse haver câmbios tão profundos como os produzidos pela formação de

memórias, sem que houvesse uma alteração anatômica e fisiológica que os sustentasse. (CAJAL, apoud, IZQUIERDO,

p.61)

De fato, existe um consenso entre os estudiosos da área que as

memórias consistem na transformação de algumas sinapses de diferentes vias,

que incluem o hipocampo e suas principais conexões. Operacionalmente

observando, as memórias são alterações estruturais de sinapses, diferentes

para cada tipo de memória.

As transformações sinápticas que baseiam as memórias devem-se à

ação de proteínas cinase sobre receptores e sobre liberação de glutamato.

Posteriormente, deslocadas essas enzimas ao núcleo junto com as ERKs,

estimulando fatores de transição e, consequentemente, a síntese de proteínas

sinapse-específicas até chegar a ativação do sistema mTOR dependente para

a síntese proteica extrarribossomal. Estas alterações explicam porque cada

indivíduo responde de forma diferente a um estímulo inicialmente neutro.

Focando mais especificamente o funcionamento cerebral Relvas

explica que:

Ao vivenciar uma experiência, o sujeito recebe informações de todo tipo. (...) Neurônios são ativados de forma consistente e

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simultânea, e a ‘força sináptica’ dessas conexões são potencializadas. (...) São transformados em impulsos elétricos

que migram para o córtex cerebral. Eles circulam antes de serem descartados ou arquivados. (...) Quando essa

informação é resgatada da memória, o conhecimento será acessado de forma simples e rápida(...)”

(RELVAS, 2009, p.57)

O cérebro é divido em dois hemisférios, que são segmentados em

lobos (frontal, parietal, occipital e temporal) que sofrem reações químicas

provocadas pelos estímulos sensoriais provenientes de informações que serão

guardadas de modo diferente ao que foram captadas, já que o hemisfério

esquerdo é mais analítico, racional e lógico, enquanto o direito é sintético,

concreto e intuitivo. Elas serão fragmentadas, classificadas e hierarquizadas.

Hoje pesquisadores sugerem que o processo de formação das

memórias depende de pelo menos de três processos básicos. São eles:

- Aquisição: é um processo que se refere à entrada de um evento (qualquer

coisa que possa ser memorizado) qualquer nos sistemas neurais associados à

memória. Esses eventos podem ser esquecidos em diferentes períodos de

tempo.

-Consolidação: acontece quando um evento é memorizado por um tempo

prolongado.

- Por último, acontece o processo de evocação ou lembrança, que

ocorre quando temos acesso às informações que foram armazenadas

anteriormente na memória. Essas informações armazenadas são utilizadas

mentalmente através da cognição, emoção ou através do comportamento.

2.2- Tipos de memória

Acredita-se existirem tantas memórias quantas forem as

experiências acumuladas. Elas estão localizadas em sistemas cerebrais

conjugados:

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- Lobos temporais: região responsável pelo armazenamento de

eventos passados;

-Hipocampo: auxilia na seleção de fatos e eventos que devem ser

armazenados;

- Amígdalas cerebrais: após receberem a “tradução” dos estímulos

externos percebidos pelos sentidos, produzem memórias emocionais que serão

enviadas ao córtex pré- frontal;

-Córtex pré-frontal: racionaliza as situações apresentadas e planeja

o comportamento adequado para cada uma delas.

As memórias resultantes das mais diversas vivências são

adquiridas em espaços de tempo diferentes, percebidas por diversos sentidos e

provocarem várias sensações diferentes. Assim, de modo geral, as memórias

podem ser classificadas de acordo com sua função, duração ou conteúdo.

Vejamos:

Memória de trabalho ou operacional: mantem a informação ativa

durante minutos ou segundos, enquanto é recebida ou processada, isto

favorece a noção de continuidade dos atos humanos. Ela é breve e é usada

para determinar o contexto em que a informação foi recebida e se esta é

relevante, ou não para ser arquivada. Distingue-se dos demais tipos de

memórias porque não produz arquivos.

Izquierdo explica que:

A memória de trabalho é processada fundamentalmente pelo córtex

pré-frontal (...)- suas porções anterolateral e órbito-frontal e suas conexões com

a amígdala basolateral e o hipocampo, através do córtex entorrinal. (...)

depende, simplesmente, da atividade elétrica dos neurônios dessas regiões

(...). (IZQUIERDO, 2011, p. 26)

Memória Recente ou de Curta Duração: retem a informação por

pouco tempo e pode ser comprometida em diversos processos patológicos. O

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seu processo de formação está pautado no sistema límbico, principalmente

durante a retenção e a aquisição de novas informações.

Memória de longo prazo: armazena informações por um longo

período. Pode ser classificada como Declarativa- aquela que registra todos os

tipos de fatos passiveis a serem relatados. Pode ser episódica ou

autobiográfica ou semântica, cabendo dentro destas, outras subclassificações-

ou Não- Declarativa- aquela que se refere a procedimentos e habilidades. Pode

ser de Procedimentos (o sujeito não percebe que está aprendendo algo), de

Dicas (priming- as memórias semânticas, procedurais ou episódicas são

adquiridas através de grande quantidade de estímulos), Associativa (memória

adquirida por meio da associação de um estímulo a outro ou a uma resposta-

condicionamento clássico) ou Não Associativa (evocada por estímulos

repetitivos- condicionamento operante)

2.3- O desenvolvimento das memórias em crianças até 10 anos

A fim de facilitar a compreensão do desenvolvimento das memórias

em crianças até 10 anos de idade, torna-se relevante, a priori, conhecer o

desenvolvimento do cérebro nesta fase da vida humana:

- De 0 a 2 anos de idade: a partir da 3ª semana de gestação, forma-

se o tubo neural e começa a proliferação das células nervosas até,

aproximadamente, a 25ª semana. Neste momento essas células vão se

diferenciando e migrando para as diferentes áreas e funções cerebrais.

Paulatinamente, também se “encapam” com uma bainha de proteína no

processo denominado mielinização, que se estende até os 20 anos de idade e

possibilita sinapses mais rápidas.

- De 2 a 4 anos de idade: neste período são “descartados” os

prolongamentos e vias neurais que não foram utilizados. Ocorre também o

fortalecimento daquelas que foram devidamente usadas. É de suma

importância a estimulação da criança para seu pleno desenvolvimento

cognitivo. Neste período inicia-se um “trafego” no corpo caloso (complexo viário

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que liga os dois hemisférios cerebrais, sobretudo nas áreas frontais) que

permite um franco desenvolvimento da linguagem, do raciocínio, do

julgamento, das habilidades emocionais e da memória episódica (referente a

eventos). Aos 4 anos, desenvolvem-se áreas temporais relacionadas às

memórias de longo prazo, áreas parietais fundamentais para a lógica e o

cálculo, e áreas occipitais e cerebelares responsáveis pela coordenação visual-

motora.

-De 5 a 7 anos de idade: a mielinização de todo o corpo caloso

aperfeiçoa a interligação dos dois hemisférios cerebrais e suas diferentes

funções, surgem as primeiras estratégias de memória e uma melhor integração

entre passado e presente. Ocorre um desenvolvimento muito grande nas áreas

de leitura e léxico. Aos 6 anos, a dopamina atinge níveis de adulto no córtex

pré-frontal, possibilitando uma maior atenção e foco. Aos 7 anos ocorre um

pico na densidade das sinapses no lobo frontal e novos “caminhos” são abertos

até o sistema límbico, permitindo um melhor controle dos impulsos, autonomia,

capacidade de planejamento e responsabilidade. Nessa fase desenvolve-se a

periferia da área de Broca (envolvida na fala) responsável pela compreensão

da ironia e do sarcasmo.

- De 8 a 10 anos de idade: a maturação do córtex pré-frontal se

acelera com o progressivo aperfeiçoamento das habilidades de autocontrole,

pensamento abstrato e organização. A partir desta idade, a criança aprende

melhor por meio de estratégias de reforço positivo. A habilidade de aprender se

fortalece à medida que a mielinização avança e possibilita a associação de

sentidos com ideias. Neste período, a criança já domina a leitura e a usa para

aprender novas coisas.

Isto posto, cabe agora observar o desenvolvimento das crianças em

experimentos específicos para cada tipo de memória.

No que diz respeito à memória sensorial, como já foi visto

anteriormente, a informação que chega ao indivíduo é primeiramente mantida

pelos registros sensoriais durante frações ou escassos segundos após o

desaparecimento do estímulo. Esta forma de armazenamento sensorial para

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material visual é denominada de ícone e foi em primeiro lugar demonstrada

experimentalmente por Sperling em 1960.

Estudos subsequentes que utilizaram variantes da técnica de relato

parcial com crianças (Hoving, Spencer, Robb, & Schulte, 1978; Sheingold,

1973) mostraram diferenças etárias mínimas na evocação dos itens quando o

intervalo entre o desaparecimento do estímulo e a ocorrência do sinal era muito

curto, o que sugere uma capacidade do armazenamento sensorial icónico

semelhante ao dos adultos. Por sua vez, com intervalos mais longos, as

diferenças etárias tornavam-se significativas, evidenciando diferenças na

quantidade de informação que é transferida para a memória a curto prazo.

Foram mencionados dois tipos distintos de explicação. Por um lado, pode-se

considerar que as crianças mais novas transferem menos informação para a

memória a curto prazo do que as crianças mais velhas e adultos porque são

menos hábeis a utilizar estratégias de codificação verbal, recapitulação visual e

de focalização da atenção em partes específicas do ícone. Por outro lado,

como o ícone decai rapidamente, é provável que a menor velocidade com que

a informação é processada nas crianças mais novas leve a que menor

quantidade de informação seja transferida para a memória a curto prazo

(Schneider & Bjorklund, 1998).

Sobre a memória de curto prazo ou memória de trabalho, estudos

desenvolvimentais evidenciaram diferenças etárias no que se refere ao nível da

amplitude da memória, aumentando esta gradualmente com a idade. Enquanto

que aos 2 anos a amplitude de memória é de aproximadamente 2 itens, aos 9

anos ronda os 6 itens.

A amplitude de memória aumenta nas crianças mais novas

provavelmente porque, com a idade, também aumenta a velocidade com que

os itens são articulados na evocação, o que implica uma redução no declínio

dos itens mantidos no armazenamento fonológico (Gathercole, 1998). Fatores

como o conhecimento do léxico e da estrutura probabilística das combinações

do som na linguagem parecem também contribuir para as mudanças que

ocorrem no desempenho em testes de memória imediata (Gathercole).

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O bloco de notas viso-espacial é o outro componente da memória de

trabalho que se subdivide num componente visual e noutro espacial, e que

contém e manipula mentalmente as características físicas dos estímulos, tais

como a forma, a cor e o movimento. Em relação ao funcionamento deste

componente ocorre uma mudança desenvolvimental importante também por

volta dos 7 anos de idade. As crianças mais novas comparativamente às mais

velhas ou adultos são mais dependentes deste componente em tarefas de

memória imediata para material visual. O estudo de Hitch, Halliday, Schaafstal

e Schraagen (1988) indica que em tarefas em que os objetos a recordar

partilham muitas características físicas as crianças de 5 anos têm mais

dificuldade em recordá-los, relativamente a objetos que partilham poucas

características físicas. As crianças de 10 anos, por sua vez, não são sensíveis

à similaridade física dos objetos, mas apresentam menores níveis de

recordação quando os objetos possuem um nome mais comprido. Este estudo

sugere que as crianças mais novas dispõem apenas do bloco de notas viso-

espacial para recordar as qualidades físicas dos estímulos provavelmente

porque não são capazes de gerar códigos fonológicos para os itens visuais,

enquanto que as crianças mais velhas adotam a estratégia de recordar as

figuras sob forma verbal, funcionando o loop fonológico como mediador do

desempenho na tarefa de memória visual. A partir dos 7 anos, quando

possível, as crianças usam a recapitulação para codificar os inputs visuais

numa forma fonológica. Quando o material não é passível de ser registado

fonologicamente ainda não há consenso relativo à explicação do aumento de

desempenho nos testes de bloco de notas viso-espacial com a idade. É

possível que esteja relacionado com mudanças na capacidade do próprio

armazenamento, com a aplicação de estratégias mais eficazes ou ainda com o

maior apoio do executor central (Gathercole, Pickering, Benjamin, & Hannah,

2004).

De acordo com Gathercole et al. (2004), a estrutura modular básica

da memória de trabalho parece já estar formada aos 6 anos, ou até mais cedo,

mas a capacidade de cada componente aumenta linearmente até à

adolescência. A organização estrutural da memória de trabalho mantém-se

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constante com a idade, observando-se, no entanto uma ligação mais próxima

do executor central com o loop fonológico e com o bloco de notas visuo-

espacial ao longo do desenvolvimento, mas permanecendo estes dois últimos

componentes relativamente independentes entre si.

Quando o espaço disponível do armazenamento é tomado por

informação irrelevante que não foi devidamente suprimida a memória de

trabalho torna-se menos eficiente. De acordo com esta perspectiva o

desenvolvimento da memória de trabalho ocorre, sobretudo porque as crianças

mais velhas são mais eficientes em focar a atenção na informação relevante e

em inibirem aspectos irrelevantes que, muitas vezes, são ativados

automaticamente (N. Cowan, 1997).

Um dos temas de interesse do desenvolvimento da memória de

longo prazo refere-se à determinação do momento em que surge a memória

declarativa ou explícita. Schacter e Moscovitch (1984) propuseram que a

memória dos bebês até aproximadamente um ano era considerada

procedimental e que a partir dessa idade emergia um novo sistema de memória

designado de memória explícita. Estes autores compararam as competências

de memória dos bebês com as capacidades mnésicas observadas nos

amnésicos e sugeriram que, em ambos, a memória explícita estava ausente

enquanto que a memória procedimental permanecia intacta. A ausência de

memória explícita, de acordo com estes autores, refletia-se num desempenho

pobre em tarefas que são mediadas por um sistema que requer consciência.

Esta ideia tem trazido muita polêmica e reações de alguns investigadores, os

quais defenderam que os bebês já demonstram algumas formas de memória

explícita antes de 1 ano, tais como a evocação através de imitação diferida.

Apesar de ser inquestionável que a partir dos 3 anos as crianças já

possuem uma memória considerada explícita ela evolui, sofre alterações e com

a idade vai dando origem a novas formas de memória. Passa-se então a

identificar os aspectos da memória declarativa ou explícita que sofrem mais

alterações com o desenvolvimento.

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De uma forma geral, as crianças pré-escolares possuem um bom

desempenho em tarefas de reconhecimento mas, a maior parte das vezes,

apresentam níveis baixos em tarefas de evocação (Perlmutter & Lange, 1978).

O fato de existirem pequenas diferenças etárias relativamente ao

reconhecimento sugere que as crianças mais novas são capazes de codificar

corretamente a informação. Por outro lado, ao demonstrarem uma evocação

pobre significa que estas crianças não são hábeis na procura das suas

memórias ou que necessitam de ajuda, através de pistas, para efetuar essa

procura com sucesso (Schneider & Bjorklund, 1998).

Para alguns tipos específicos de reconhecimento a diferença de

desempenho entre idades distintas chega a ser nula. É o caso do

reconhecimento da localização espacial dos itens, medido quer através de

tarefas de reconstrução ou de jogos como o "Memória", em que as crianças

necessitam de reter a localização espacial de figuras. Schneider e Bjorklund

(1998) sugerem que as crianças mais novas apresentam um desempenho

invulgar neste tipo de tarefa porque o reconhecimento espacial baseia-se

sobretudo em capacidades viso-espaciais que se desenvolvem cedo, não

necessitando de competências da memória verbal. A contrastar com o

desempenho obtido através de tarefas de reconhecimento viso-espacial, em

tarefas de memória verbal assiste-se a desempenhos díspares de acordo com

a idade (Schumann-Hengsteler, 1992).

Quanto ao desenvolvimento do desempenho em tarefas de

evocação guiada comparativamente à evocação simples, o estudo de Ceci e

Howe (1978), utilizando listas de palavras, revelou que crianças de 4, 7 e 10

anos obtiveram níveis de evocação semelhantes num teste imediato de

evocação guiada, mas grandes diferenças em tarefas de evocação livre

realizadas com um dia de intervalo. Este tipo de estudos apoia a interpretação

de que o uso espontâneo de estratégias é o elemento que distingue o diferente

desempenho das crianças em tarefas de evocação livre.

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A memória autobiográfica foi proposta como sendo originária da

evolução da memória para acontecimentos e corresponde à memória em

sentido restrito, ou episódica. A consciência de que algo se passou (Schacter e

Moscovitch) não equivale a que algo se passou em determinado sítio e

determinado lugar (Tulving). Nelson sugere que este último estado de

consciência implica a existência daquilo que ele designou de memória

autobiográfica. Supõe-se que surja por volta dos 3/4 anos (Nelson, 1992)

quando, na terminologia de Perner (2000), a criança já consegue manter duas

representações simultaneamente, o self passado e o self presente. Nesta

perspectiva, a memória autobiográfica corresponde a um tipo de memória

episódica que pode ser acedida posteriormente e que faz parte da nossa

história (M. A. Cowan, 1990). Para Nelson (1992) o surgimento deste tipo de

memória envolve mudanças na função da memória que põem termo ao período

correspondente à amnésia infantil, ou seja, à incapacidade que nós possuímos,

enquanto adultos, em recordar episódios dos primeiros anos de vida. Para que

a memória autobiográfica seja estabelecida tem de ocorrer uma evolução da

memória episódica na forma como as memórias estão organizadas,

armazenadas e são recuperadas. Nelson e Fivush (2000, 2004) atribuem à

linguagem um papel de primordial importância para que ocorra esta evolução

pois, a linguagem não só ajuda a formar representações organizadas das

experiências passadas, como torna consciente que as memórias são

representações de acontecimentos passados. Nesta perspectiva

sociolinguística (Fivush, 2002; Nelson & Fivush, 2004), a capacidade de

partilhar a nossa experiência passada com os outros por meio da linguagem

proporciona, por um lado, o surgimento da memória autobiográfica e, por outro,

implica o fim do período da amnésia infantil.

Em oposição a esta abordagem, alguns estudiosos sugerem que

não existe uma descontinuidade nos sistemas de memória antes e após o

aparecimento da memória autobiográfica e que esta surge mais cedo do que

se propôs então. De acordo com estes estudiosos, a memória autobiográfica

emerge entre os 18 e os 24 meses, quando a criança começa a ter a

consciência de si própria como entidade possuidora de competências

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cognitivas específicas. Nesta perspectiva, os sistemas básicos de memória já

existem na infância, mas a memória autobiográfica começa a operar quando,

se constrói o self cognitivo. Assim, a memória autobiográfica surge quando esta

estrutura do conhecimento já permite à criança organizar as memórias das

experiências que ocorrem ao próprio Para que a memória autobiográfica seja

estabelecida tem de ocorrer uma evolução da memória episódica na forma

como as memórias estão organizadas, armazenadas e são recuperadas.

As crianças, mesmo as mais novas, possuem representações bem

organizadas de acontecimentos familiares, em que normalmente as ações

constituintes dos acontecimentos são relatadas numa sequência temporal

apropriada (Fivush, 1997). No entanto, quando uma experiência se repete, os

detalhes específicos do episódio tendem a confundir-se com outros episódios

do mesmo acontecimento e as crianças mais novas não são capazes de

recuperar um episódio de uma experiência familiar. As crianças tendem a

recordar os acontecimentos familiares recorrentes em termos de roteiros ou

esquemas familiares, porém, elas são capazes de relatar memórias específicas

se os acontecimentos não são familiares. Por exemplo, o estudo de Hamond e

Fivush (1991) analisou a recordação de uma visita ao Disney World efetuada

meses ou um ano após a sua realização. Mesmo as crianças mais novas foram

capazes de recordar as suas experiências numa quantidade semelhante à

recordada pelas crianças mais velhas. Desde que os acontecimentos sejam

novos e relevantes para a própria criança parece que estas conseguem

recordá-los por consideráveis períodos de tempo.

Hudson e Nelson (1986) referem que as crianças por volta dos 3

anos de idade fornecem relatos mais curtos, com menos informação incluída,

quando lhes é perguntado "o que aconteceu em determinado dia ..." em

comparação com a pergunta mais geral do tipo "o que é que normalmente

acontece ..." para acontecimentos recorrentes. Também a recordação é

normalmente superior para acontecimentos específicos novos

comparativamente com acontecimentos específicos familiares. A ideia de que

as representações de acontecimentos familiares das crianças pré-escolares

possuem uma ordem canônica que controla a recordação é partilhada por

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Mandler (1990), o qual observou que as crianças mais novas recordam melhor

os acontecimentos quando o material é apresentado numa sequência correta e

natural em comparação com a apresentação desordenada dos acontecimentos.

As crianças mais novas parecem estar mais dependentes de esquemas

familiares para recuperar a informação, contrastando com os adultos, os quais

são mais flexíveis e possuem mais opções para a recuperação.

De acordo com Nelson (1993), a primeira evolução da memória

episódica fornece à criança a capacidade de recuperar um episódio específico

de um acontecimento recorrente. Outro desenvolvimento importante no

caminho da memória autobiográfica refere-se à capacidade de recuperar

memórias na ausência de pistas externas. As crianças mais novas necessitam

de pistas específicas para conseguirem recordar detalhes sobre

acontecimentos particulares, enquanto que nas crianças mais velhas a

recordação é espontânea, sem necessidade de existência de pistas. Para este

autor esta aquisição é essencial para o estabelecimento da memória

autobiográfica e confere à memória a possibilidade de reexperimentar o

passado através da consciência autonoetica (Nelson & Fivush, 2004).

Já sobre a memória não declarativa, os estudos que analisam o seu

desenvolvimento têm utilizado, sobretudo material pictórico, em substituição de

listas de palavras, de forma a poderem incluir crianças que ainda não dominam

a leitura. Dentro das tarefas de identificação perceptiva, a prova de

identificação de figuras fragmentadas tem sido das mais usadas pelos

investigadores. Nesta tarefa, o efeito de memória implícita é obtido quando,

após as crianças terem sido expostas a determinadas figuras, conseguem mais

facilmente identificá-las a partir de fragmentos, comparativamente à

identificação de outras figuras fragmentadas que não tinham sido visualizadas

antes.

O estudo de Parkin e Streete (1988) foi dos primeiros a ser realizado

nesta área. Estes autores testaram crianças com 3, 5, 7 anos e adultos numa

tarefa de identificação de fragmentos de figuras e numa tarefa de

reconhecimento e concluíram que o reconhecimento aumentou com a idade

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enquanto a facilitação na identificação das figuras (priming) manteve-se

estável, quando calculada numa proporção relativa à aprendizagem inicial.

Poucos estudos têm sido desenvolvidos com o intuito de analisar

esta evolução da memória implícita através de provas conceituais. No estudo

de Greenbaum e Graf (1989) foi utilizada uma prova de memória implícita

conceitual denominada de tarefa de produção de exemplares de categorias.

Esta prova consistiu em expor crianças de 3 e 5 anos a figuras de animais do

Jardim Zoológico e passado algum tempo, solicitar-lhes a produção de

exemplares que pertenciam à categoria anteriormente apresentada e a outra

categoria que não tinha sido apresentada antes. Os autores mediram o priming

conceitual através da diferença entre a quantidade de exemplares produzidos

para os dois tipos de categorias. Os resultados revelaram efeitos

de priming invariáveis com a idade, apesar de se ter verificado um melhor

desempenho dos mais velhos numa tarefa semelhante de evocação. Também

o estudo de Carneiro e Esteves (2001), no qual foi utilizado o mesmo tipo de

tarefa implícita conceitual, corroborou estes resultados. No entanto, ao ser

analisado o priming para exemplares típicos e atípicos das categorias, os

estudos de Mecklenbrauker, Hupbach e Wippich (2003) e de Murphy, McKone

e Slee (2003) revelaram existir uma evolução da memória implícita conceitual

para exemplares atípicos de categorias taxonômicas familiares, sem, contudo

serem observadas diferenças relativamente aos elementos típicos.

Komatsu e colaboradores (1996) não obtiveram diferenças

de priming entre crianças de 7, 11 anos e adultos numa tarefa de identificação

de fragmentos de palavras na condição em que foi utilizado um processamento

perceptivo, mas demonstraram existir maior quantidade de priming proporcional

nos participantes mais velhos quando estes enveredaram por um

processamento conceitual.

É possível concluir então que as memórias se formam desde as

primeiras fases de vida e que estas, na maioria das vezes terão suas

constituições totalmente dependentes do desenvolvimento biopsicossocial do

ser humano.

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2.4- A importância da memória para a aprendizagem

Como já foi explicado anteriormente, até os nove meses, o bebê já

tem praticamente a quantidade definitiva de neurônios. Nos primeiros anos de

vida, os dois hemisférios cerebrais ainda não estão totalmente formados e os

feixes de neurônios que fazem a comunicação entre eles não foram

consolidados. Geralmente, até os 7 anos a memória visual é mais dinâmica.

Quando bem estimulada, por volta dos 9 ou 10 anos a criança começa a usar o

raciocínio abstrato. Nessa faixa etária se constroem os padrões e as regras

que permitirão reconhecer dados semelhantes.

Piaget afirma que não se cria nada a partir do nada, ninguém

conhece algo totalmente novo, por isso para chegar a um conhecimento novo,

o sujeito precisa recorrer a conhecimentos anteriores a ele relacionados, dai a

importância da memória ao longo de todo o processo de aprendizagem.

Para ter algo de que lembrar é preciso primeiro aprendê-lo. Aquilo

que foi aprendido não se “perde” na mente, ao contrário, consolida-se

formando novas memórias. Então, é correto afirmar que só é possível lembrar-

se daquilo que foi aprendido.

Já é sabido que o cérebro funciona em módulos cooperativos que

interagem no momento de recuperar informações. Quanto mais caminhos

levem a elas, mais fácil será o seu “resgate”, sendo a memória essencial neste

processo.

O uso de mecanismos que passam pela emoção para estimular o

bom desenvolvimento da memória é muito eficiente, haja vista que os

sentimentos regulam e estimulam a formação e a evocação de memórias. Eles

são responsáveis pela produção e interação de hormônios, otimizando as

sinapses e, assim, potencializando a aprendizagem.

Relvas (2009) afirma categoricamente que sem memória não há

aprendizagem. Ela explica que temos duas memórias: uma emocional e outra

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racional que se articulam e interagem entre si, complementando-se e formando

o raciocínio. A autora afirma que:

Cada pessoa apresenta diferentes reações conforme a utilização de suas mentes. Nessa interação, o sistema límbico está presente, é um personagem

importante para o cérebro. O elemento responsável por prazer e aprendizado situa-se nesta região. A emoção está para o prazer assim como o prazer está para o

aprendizado, e a autoestima é a ferramenta que movimenta os estímulos para gerar bons resultados. (RELVAS, 2009, p.57)

Tal fator influencia a formação de memórias e compromete a

aprendizagem.

O armazenamento de informações depende das transformações

permanentes nas sinapses de cada memória e, para a evocação de uma

memória, é preciso reativar as redes sinápticas de cada memória arquivada.

Este processo pode sofrer influências dos estados de ânimo e motivacionais,

inibindo-o.

Para que o sujeito aprenda, é preciso: ter capacidade motora e

sensorial, além da capacidade de operar mentalmente; ter conhecimento prévio

do se deseja conhecer; ter acesso a informação nova; querer aprender; agir e

expressar-se sobre aquilo que se deseja aprender.

2.5- A importância do esquecimento para a memória e a

aprendizagem

Iván Izquierdo afirma que o esquecimento é essencial para o

convívio humano, sendo este a característica mais marcante da memória. Ele

afirma também que a maioria do que aprendemos ao longo da vida se

extingue. Embora seja natural, esquecer assusta porque passa a impressão de

que a história humana pode ser ameaçada, já que o esquecimento pressupõe

falta de “passado” e, com isso, impossibilidade de futuro.

Izquierdo explica ainda que o esquecimento perpassa por todas as

informações das memórias de trabalho, mas também atinge os demais tipos de

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memórias. Todas elas representam uma pequena fração de tudo aquilo que

nos é oferecido como informações aprendidas e recordadas.

O esquecimento é muito importante para a formação de memórias.

O esquecimento diário é o descarte de uma informação pouco relevante que

apenas serve para sobrecarregar os mecanismos de memorização. Ele é

essencial para o processo de aprendizagem, visto que disponibiliza “espaço”

para as informações e conteúdos fundamentais a serem arquivados ao longo

deste processo.

Relvas (2010) explica que o esquecimento é fundamental para a

ativação da memória, haja vista que o cérebro humano possui determinada

capacidade de armazenamento de informações, por isso, esquecer é a garantia

de um bom funcionamento cerebral.

O esquecimento pode ocorrer por diferentes causas. Numa visão

psicanalítica, a repressão- memórias declarativas, geralmente episódicas, que

o indivíduo decide, provavelmente por ser desagradável, ignorar, e cuja

evocação suprime por um longuíssimo período de tempo- é uma delas, assim

com a extinção que se explicará a seguir.

Já numa abordagem psicológica, Penna (2001) afirma que existem

quatro teorias para explicar o esquecimento. São elas:

- A teoria do desuso: acredita-se que o tempo não seria o fator

responsável pela deterioração do material antes retido, mas algo que se produz

no curso de seu processamento. Em função dela, acredita-se que a evocação

beneficiará sempre o caminho menos resistente, ou seja, o que foi mais

frequentemente percorrido. Algumas pesquisas comprovam que frequentes

associações não determinam, necessariamente, a evocação de um elemento

pelo outro. É importante citar também que a repetição desprovida de reforço e

causa de extinção- resultante da associação de estímulo condicionado primeiro

á recém-aprendida falta do incondicionamento. Ela é uma forma de inibição da

evocação- e não de retenção.

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- A teoria do recalcamento: também conhecida como teoria da

repressão é considerada a teoria do esquecimento ativo. Teve como ponto de

partida a análise de atos inibidos, definidos como resultantes de recalcamento

completo. Como já foi exposto anteriormente, este esquecimento não acontece

por fraqueza da memória, mas sim devido a fenômenos inibitórios de ordem

cognitiva.

- A teoria da inibição/ interferência: um determinado aprendizado

pode sofrer obstrução por outro que imediatamente se procure realizar.

Também é possível que certo aprendizado atual possa sofrer interferências de

um outro que acaba de consumar-se. Nesta teoria é preciso considerar fatores

circunstanciais como o tempo de consolidação ou a homogeneidade/

heterogeneidade do material em processo de aprendizado, no processo de

formação das memórias.

- A teoria da consolidação: duas implicações básicas devem ser

consideradas em função da consolidação: qualquer fator que prejudique o

armazenamento de uma experiência, antes que ela se consolide, conduzirá a

esquecimento permanente e que qualquer fator que contribua para que ocorra

a consolidação determina eficácia nos processos de evocação. Assim, a teoria

da consolidação permite explicar fenômenos como: o efeito de reminiscência

logo após um curto período de tempo, melhor compreensão de alguns

processos de aprendizagem e a eficiência de desempenhos relacionados aos

períodos de sono.

Vale ressaltar também a existência da habituação, entendida como

um tipo de aprendizado e memória não associativo, resultante da repetição de

um estímulo, sem associá-lo a nenhum outro, como explica Izquierdo. Esta,

bem como a extinção deve ser dissociada da ideia de esquecimento.

É relevante diferenciar-se aqui o esquecimento dos populares

“brancos”, estes ocorrem ocasionalmente devido a um fator de estresse ou de

ansiedade, são falhas inesperadas que Acontecem no momento da evocação

de uma memória. Ivan Izquierdo explica seu processo como:

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Uma descarga de corticoides da suprarrenal, como ocorre habitualmente em momentos de estresse ou alta ansiedade.

Os corticoides agem diretamente sobre receptores próprios no hipocampo (...) (IZQUIERDO, 2011, p.82)

Em suma, esquecer potencializa o cérebro para o desempenho da

função de evocação tão útil ao desenvolvimento da espécie humana.

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CAPÍTULO III

CONTRIBUIÇÕES DA NEUROCIÊNCIA PARA O

TRABALHO DOCENTE

Durante a elaboração deste estudo, ficou claro que tanto para um

bom desenvolvimento no processo de aprendizagem como da memória, é

preciso oferecer ao educando estímulos adequados para tal, por isso, as

contribuições da Neurociência são de extrema importância para o docente,

principalmente, aquele que trabalha com crianças de 0 a 10 anos, haja vista o

potencial plástico do cérebro nesta faixa etária. Atualmente, sabe-se que o

aprendizado é um processo extremamente dinâmico, com modificações

exuberantes na química e na estrutura cerebral, o que faz do educador um

verdadeiro escultor do cérebro da criança.

Muitos consideram a primeira infância o período mais importante na

formação do indivíduo, pois é nela que se estruturam os alicerces das

particularidades físicas e das formações psicológicas da personalidade, que se

consolidarão e se aperfeiçoarão nas etapas subsequentes de desenvolvimento.

É, provavelmente, o período da vida do ser humano no qual a estimulação é

capaz de exercer a ação mais determinante sobre o desenvolvimento,

precisamente por atuar sobre formações que estão em franca fase de

amadurecimento.

Atualmente, os alunos tendem a ser mais interativos, inclusive pela

inserção da Internet e de outras inovações tecnológicas em seu cotidiano, mas

também tendem a ter mais dificuldade de dedicar atenção exclusiva a alguma

coisa. Apresentam-se, ainda, mais reclusos e voltados para a realidade virtual,

demonstrando menos habilidades sociais, emocionais e com a linguagem.

Segundo o neurologista Marco Arruda, há estudos que mostram uma

menor estimulação dos lobos frontais de indivíduos que cresceram num

contexto exclusivamente digital. É nesta região que ficam as funções

executivas responsáveis por importantes tarefas como: estabelecer um

objetivo, criar estratégias para alcança-lo, planejar o futuro, monitorar ações e

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tomar decisões. Isto faz com que estas novas gerações sejam mais

imediatistas e busquem incessantemente o prazer a curto prazo.

Observam-se ainda constantes problemas relacionados à falta de

atenção e concentração em alunos que estão expostos a um número muito

maior de estímulos e possibilidades para prender sua atenção e da diferença

de foco, já que a atenção deste educando está dividida.

Como um fenômeno constitutivo de toda sociedade com as

diversificadas formas das quais se utiliza para se efetivar, a educação é

considerada decisiva para o desenvolvimento. Assim, o fato educativo não

pode ser visto de forma isolada da informação e da inovação, devendo o

educando estar atento a estes contextos, a fim de melhor adequar sua prática.

Vários estudos e pesquisas têm evidenciado que é na primeira

infância (do nascimento aos 6-7 anos de idade), que são lançadas as bases

essenciais para o desenvolvimento infantil, bem como para a existência de

grandes reservas e possibilidades para a formação de diversas capacidades,

qualidades pessoais e para o estabelecimento inicial de características do

caráter.

Apesar do enorme número de neurônios ao nascer, e das

incalculáveis possibilidades de realizar as sinapses, a experiência científica

demonstra que o recém-nascido tem muito mais neurônios do que quando

atinge os três anos de vida, e o dobro quando na fase adulta. Isso indica- uma

vez que quando o neurônio morre não é substituído por outro, e se perde

irremediavelmente-, que falta de estímulos adequados, ou a sua ausência, não

somente impede a proliferação das células nervosas, mas também faz com que

seu número diminua progressivamente, apesar das condições tão favoráveis

que o córtex cerebral possui (pelo número de neurônios) quando a criança

nasce.

Portanto, a falta de estímulos pode ter efeitos permanentes e

irreversíveis no desenvolvimento cerebral, pois altera a sua organização e as

possibilidades de configurar as estruturas funcionais que constituirão a base

fisiológica para as condições positivas de aprendizagem.

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Após a realização de muitas pesquisas, conclui-se que a

Neurociência revolucionou a educação, ao potencializar a importância da

estimulação oportuna e do conceito dos períodos críticos (crise do

desenvolvimento) que ocorrem entre os 0-3 anos. Isso mudou o conceito de

educação, principalmente nesta faixa etária. Tudo o que se faça na primeira

infância deverá propiciar o amadurecimento das redes neuronais, inclusive a

partir da etapa intrauterina.

Devem-se levar em consideração as necessidades, experiências e

peculiaridades da criança, não para se adaptar a elas, mas para propor-lhes

atividades que permitam elevar o seu nível de desenvolvimento.

Nesta perspectiva, cabe ao professor ajudar o aluno a construir

conhecimento, problematizando situações, instigando-os, fazendo-os interagir

com os demais colegas e com as demais fontes de informação. A tecnologia

também é uma ferramenta útil no processo de aprendizagem, pois oferece ao

docente novas possibilidades de estímulos em sala de aula.

Outra ferramenta muito rica em estímulos para o bom

desenvolvimento do pensamento lógico são os passatempos, como já foi

explicado anteriormente, assim como o corpo, o cérebro necessita ser

exercitado. Cada nova informação que chega até ele possibilita novas sinapses

e quanto maior o número de sinapses, maior a capacidade de armazenamento

de dados (memória) e mais rápidas são as associações (lógica e raciocínio).

As atividades de passatempo estimulam a associação de

informações, o que é vital para a conservação dinâmica do cérebro. Para isso,

valem os mais variados tipos de entretenimento: palavras cruzadas, caça-

palavras, sudoku, forca, jogo da memória, jogo dos erros, labirinto, entre

outros.

Os passatempos relacionados à leitura são mais indicados para

crianças a partir dos 6 anos, quando o processo de alfabetização já foi iniciado.

Existem opções também para alunos da educação infantil, com foco mais

voltado para a percepção visual, distinção de formas e cores e aprimoramento

da atenção.

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A prática desse tipo de atividade é capaz de promover uma melhora

no vocabulário e na ortografia dos alunos, além do aumento da capacidade de

atenção. Além do aspecto cognitivo estimulado pelos passatempos, as

atividades também são fontes importantes de para o desenvolvimento das

relações sociais e para um futuro profissional.

Mais um fator importante numa prática pedagógica pautada nos

recursos neuropedagógicos é a criatividade- aqui entendida como a

capacidade de encontrar soluções originais para os problemas ou

necessidades do cotidiano. Na educação a criatividade pode se traduzir como

elemento capaz de transformar a aula em um delicioso momento de

aprendizagem.

Uma forma de entender melhor os mistérios da criatividade é

conhecer os processos mentais que ocorrem dentro do cérebro todas as vezes

que criamos. Para isso recorre-se à neurociência que parte da explicação do

funcionamento dos hemisférios cerebrais.

O ponto de partida para entender o caminho da criatividade no

cérebro é saber que o mundo externo oferece muitos estímulos que serão

percebidos pelo cérebro através dos sentidos e formarão as percepções. Tais

percepções darão origem à imagens sensoriais nos hemisférios direito e

esquerdo.

Estes hemisférios, como já foram explicitados, funcionam

harmonicamente e “dialogam” através do corpo caloso. É correto afirmar,

então, que a criatividade resulta de um intenso trabalho de troca de

informações entre estes hemisférios, que por possuírem características

diferentes, deverão ser estimulados de forma diferente também.

O hemisfério esquerdo pode ser explorado através da produção de

muitas imagens acopladas às respectivas palavras, é possível nomear as

experiências sensoriais. A verbalização oral ou escrita, praticada

constantemente, amplia ao máximo o repertório de imagens e é possível

exercitá-las através da música e das artes visuais.

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O hemisfério direito pode ser explorado em atividades de artes

visuais por estar relacionado ao desenvolvimento da percepção estética.

Gardner defende a ideia de que o educador deva reencantar-se e ter

prazer em ensinar. Ele acredita que a educação deve estar apta a estimular

mentes exitosas, disciplinadas, sintetizadoras, criadoras, respeitosas e éticas,

entendidas como imprescindíveis ao sucesso nos complexos tempos

contemporâneos.

É necessário, então, políticas e práticas pedagógicas que integrem e

estimulem sonhos, projetos, ou seja, uma educação dialógica e motivadora,

colocando-se a caminho sem medo de restrições, entendendo que a educação

é, por sua própria natureza, informação e inovação.

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CONCLUSÃO

Este trabalho objetivou estabelecer a estreita relação da memória e

do aprendizado em crianças de até 10 anos, de acordo com a neurociência

pedagógica.

A questão principal desta pesquisa que se referia a esta relação, foi

respondida através de pesquisas bibliográfica; baseada em autores como:

Relvas, Izquierdo, Penna, Correa, e Cordier, Anderson, Lima e Fiori.

Com base em recentes estudos da Neurociência, é possível afirmar

que a formação do SN ocorre nos primeiros anos de vida. Portanto,

amparando-se em conhecimentos adquiridos nos estudos e em pesquisas

sobre o desenvolvimento infantil é fundamental que todo conteúdo a ser

aprendido nesta fase seja exposto de maneira clara, coerente e, acima de tudo,

estimulante.

Ainda pautando-se nos atuais paradigmas educacionais é importante

ressaltar que conhecimento é algo diferente de informação, cabendo ao

professor instigar o aluno a construir seu conhecimento, através de recursos

audiovisuais, pois estes permitem que várias áreas do cérebro trabalhem

simultaneamente no resgate de informações, estimulando assim a memória.

O processo de memorização é fundamental para auxiliar a criança

na construção do conhecimento. Entretanto não se pode desconsiderar que o

educador deve conhecer e entender o funcionamento da memória e sua

relação tão intrínseca com a aprendizagem.

Ao fazê-lo, o educador consegue planejar ações eficazes a fim de

assegurar o pleno desenvolvimento cognitivo.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

Conceitos de aprendizagem 10

1.1- Tipos de aprendizagem 12

1.2- O Processo da Plasticidade Neural 15

1.3- Formas de aprendizagem a partir da Neuroplasticidade Neural 16

1.4- A plasticidade neural e a aprendizagem de 0 a 10 anos 18

CAPÍTULO II

Conceitos de Memória 20

2.1-Como se formam as memórias 22

2.2- Tipos de memória 25

2.3- O desenvolvimento das memórias em crianças até 10 anos 27

2.4- A importância da memória para a aprendizagem 37

2.5- A importância do esquecimento para a memória e a aprendizagem 38

CAPÍTULO III

Contribuições da neurociência para o trabalho docente 42

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CONCLUSÃO 47

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 48

ÍNDICE 50