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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
“Parceria família e escola: Construção possível?”
Por: Eliane da Conceição da Silva Costa
Orientador
Prof. Mary Sue Pereira
Rio de Janeiro
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
“Parceria família e escola: Construção possível?”
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Administração
e Supervisão Escolar.
Por: . Eliane da Conceição da Silva Costa
3
AGRADECIMENTOS
Ao meu marido Vitor Hugo Duarte da Costa, que sempre esteve
vibrando com minhas conquistas incondicionalmente em todos os
momentos.
Aos meus filhos Giovanna Costa e Enrico Costa, pela
compreensão e paciência no decorrer dessa caminhada que só está
começando...
4
DEDICATÓRIA
Nestes momentos finais, dedico esta Monografia a todos que contribuíram para a minha formação profissional.
Em especial, a minha família e aos amigos do curso, pelas trocas e companheirismo.
5
RESUMO
As reflexões levantadas nesta monografia trazem a problemática acerca
da relação entre família e escola, seus erros e acertos e propõem uma
possível parceria. Inicialmente, é feito um breve levantamento histórico
contextualizando o modelo de família e de escola de antigamente e o atual. Em
seguida, enfatizou-se as instituições família e escola, as mudanças ocorridas
na sociedade, e os impactos e transformações sofridas por ambas, já que são
as principais instâncias educativas. Enfim, propõem-se uma parceria visando
minimizar possíveis conflitos, decorrentes em geral da falta de diálogo e de
clareza na divisão de responsabilidades. Aponta-se como solução uma gestão
escolar democrática significando a conquista de autonomia por parte dos
envolvidos.
Palavras-chave: Parceria, Família, Escola.
6
METODOLOGIA
Este trabalho foi norteado através da investigação bibliográfica,
permitindo descrever e analisar objetivando compreender efetivamente o
processo de gestão participativa.
Através do auxílio das fontes bibliográficas que tratam da temática foi
possível efetivar a construção do conhecimento proposto para a investigação,
gerando conhecimentos científicos significativos que podem auxiliar outros
educadores no estudo da temática.
A coleta de dados contou com a elaboração de resenhas do material
explorado, sendo previamente selecionado de acordo com a relevância que
subsidiou a pesquisa.
7SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I - FAMÍLIA E ESCOLA: NOVOS
TEMPOS, O QUE MUDOU? 12
CAPÍTULO II - PARCERIA COM OS PAIS: A
DIFÍCIL TAREFA DE DIVIDIR
RESPONSABILIDADES 30
CAPÍTULO III - CRISE DA EDUCAÇÃO OU
DE VALORES? 36
CONCLUSÃO 43
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 47
ÍNDICE 49
FOLHA DE AVALIAÇÃO 50
INTRODUÇÃO
8 A escolha deste tema surgiu a partir das vivências ocorridas no Colégio
Carolina Patrício localizado na Barra da Tijuca, foi possível observar a relação
entre família e escola mais de perto. Tal observação possibilitou uma reflexão
a respeito dos erros e acertos dessa convivência, além de avaliar a importância
de uma parceria.
Durante os momentos de reuniões pedagógicas, nota-se que os
educadores ficam em alguns momentos desanimados, desacreditados, pois
alguns pais questionavam o trabalho desenvolvido, sem o menor
embasamento para o fazer. É como se duvidassem da proposta de trabalho,
demonstrando falta de confiança no profissional e até mesmo na Instituição de
Ensino. Tal fato traz a reflexão sobre o quanto é importante o trabalho
partilhado. Os pais precisam estar sempre inteirados, conhecendo
verdadeiramente a natureza de todo trabalho desenvolvido na escola e
principalmente na sala de aula de seus filhos. Levando-nos a acreditar que
desta forma aumentaríamos os laços de respeito e confiança, somando forças
e dividindo vivências e responsabilidades.
Desta forma, o interesse em torno do tema foi aumentando e a busca de
justificativas a cerca da força que tal parceria exerce no processo educativo foi
inevitável.
Na atualidade, discussões têm apontado para a importância da parceria
que deve existir entre a família e a escola. É notória a consciência a respeito
da importância desta união, porém, na prática, algumas vezes tal realidade se
faz distante. Muitas vezes os educadores se perguntam o que leva alguns pais
a crerem que pelo simples fato de matricularem o filho na escola, já cumpriram
sua obrigação no processo educativo.
A participação da família no processo educativo, pode ser entendida
através de um diálogo aberto e de uma gestão democrática, onde todos se
reconheçam como partes fundamentais do processo ensino-aprendizagem.
Percebemos que hoje a família vem auxiliando seus filhos no cotidiano escolar,
pois muitos já sabem da importância de se conseguir formar hábitos de estudo,
e com isso diminuir os problemas com a aprendizagem e o futuro de seus
9filhos. Daí a importância que a família exerce em todo processo educacional,
visto que a instituição que desejar desenvolver o indivíduo em todas as suas
potencialidades, levando-os a querer aprender-a-aprender, deve considerar
que este dedica parte do seu tempo à permanência na escola, mas que
necessita dar atenção aos períodos em que está fora desta. Sendo assim, a
escola deve preocupar-se em dar “continuidade” ao processo educativo,
buscando meios para conseguir a parceria entre a educação familiar e a
escolar.
Outro fato abordado consiste no tipo de visão educacional que as
famílias têm e as expectativas que essas criam em torno da escola. Através
dos textos lidos, nota-se que para algumas famílias a educação é vista como
ascensão social, enquanto para outras, como oportunidade de emprego e, no
senso comum como aquela que prepara para o futuro. Porém, de acordo com
os dados pesquisados, percebe-se que a escola pode e deve atuar na
preparação acadêmica do educando, desenvolvendo suas habilidades
cognitivas, mas, além disso, a escola deve exercer uma função libertadora. É
nesta formação político-social que primeiramente ela apresenta apenas sua
conotação utilitária para só posteriormente, apresentar-se como valor em si.
Em relação à escola, a análise destina-se ao tipo de ajuda que esta
espera das famílias, bem como apresentar os benefícios causados às crianças
que recebem tais contribuições, acima de tudo as causas da segregação que
ainda existe entre família e escola, buscando apontar tal fenômeno.
O senso comum demonstra hoje uma situação diferente da existente na
década passada, onde os pais parecem desconfiar permanentemente dos
professores e equipes pedagógicas. E a escola por sua vez, demonstra-se
acuada, sem saber como se relacionar com a família, pois enquanto muitos
pais querem polemizar sobre métodos e critérios educacionais, outros, ao
contrário, são rigorosamente ausentes, entregando ao estabelecimento escolar
a integral responsabilidade pela educação das crianças.
Ao tentar desmistificar o senso comum, são levantadas questões sobre
as oportunidades oferecidas às famílias para que os pais participem dos
10procedimentos pedagógicos da instituição e como estes são incentivados a
fazer verdadeiramente parte deste processo educativo. Nota-se que o desafio
das escolas hoje é sair dos extremos, buscando valorizar tanto a informação,
como a formação, tanto o educador como o educando, tanto o método como
os conhecimentos acumulados historicamente, resgatando ainda, a
importância do grupo na construção de conceitos e valores.
A parceria ideal entre escola e família pressupõe, de ambas as partes, a
compreensão de que a relação família-escola deve se configurar de forma que
os pais não responsabilizem somente a escola pela educação de seus filhos,
mas sim promova uma união entre ambos. Isso não exime a escola de sua
responsabilidade como agente formador, porém atribui a ela a função que
realmente lhe cabe.
Com base nas pesquisas inicialmente realizadas em livros, revistas e
Internet, percebe-se que para a formação plena do indivíduo, é importante que
a família e a escola manifestem laços mútuos de confiança, estando abertas a
diálogos e a convivência verdadeiramente humana, em parceria na convivência
escolar. A família, como socialização primária, deve perceber o quão
importante é, na formação da estrutura básica da criança e na influência que
exerce em toda socialização secundária, entre elas, a escola. Em contra
partida, a necessidade da escola de valorizar as vivências trazidas pela
criança, levando-a ao saber, promovendo uma educação libertadora baseada
nas experiências e na realidade em que vivem.
Sendo assim, o objetivo desta investigação foi compreender qual o
papel desempenhado pela família e pela escola no que se refere à participação
efetiva dos pais na vida escolar dos filhos, analisando como esta parceria pode
contribuir para a formação plena do indivíduo.
Durante a realização da pesquisa tenho dado ênfase as mudanças
ocorridas ao longo do tempo em relação à convivência da família com a
escola, identificando o papel que a família exerce na formação educacional do
indivíduo, as dificuldades encontradas pela escola para estimular os pais a
participarem efetivamente da vida escolar dos filhos, as contribuições
11proporcionadas pela família, à medida que esta se integra à proposta
pedagógica da escola. Visa esclarecimento da interferência do ambiente
familiar de forma positiva ou negativa na aquisição de conhecimento,
ultrapassando os limites da sala de aula, bem como analisar o papel da escola
na formação do cidadão consciente, procurando tirá-lo da condição de objeto e
contribuindo para torná-lo sujeito de suas próprias descobertas. Durante a
investigação percebe-se a necessidade de incluir os pais nos programas de
educação continuada da escola, levando-os a refletir sobre temas que os
auxilie na educação de seus filhos para a vida.
No segundo capítulo procuramos apontar para as mudanças sofridas
pela família devido às transformações ocorridas em nossa sociedade. Demos
relevância ao saber da escola e qual a sua importância.
No terceiro capítulo apontamos a possibilidade de uma parceria com os
pais e a divisão de responsabilidades entre os envolvidos. A Gestão
Democrática surge como um grande recurso a ser utilizado para a construção
de tal parceria
I- FAMÍLIA E ESCOLA: NOVOS TEMPOS. O QUE MUDOU?
Como nos mostra Zagury (2002, p.11)
12
Durante cerca de dois séculos, a família e a escola viveram em verdadeira lua-de-mel. O que a escola pensava era o que os pais pensavam. O que a escola determinava ou afirmava, no que se refere à tarefas, atribuições e até mesmo sanções era endossado e confirmado pela família. Dessa forma, crianças e jovens sentiam, nas figuras de autoridade que as cercavam e orientavam, coesão e homogeneidade.
Porém ao longo do tempo e consequentemente nos dias atuais, o que
podemos observar é que cada vez mais parecem ter os pais perdido a
confiança na escola e vice-versa. Se perguntarmos aos pais, provavelmente
obteremos uma lista de insatisfações quanto à escola. Se perguntarmos aos
educadores, é possível que apontem inúmeros fatores em que as famílias
deixam a desejar. Isto também se deu pela aceleração e mudança na própria
sociedade. No mundo atual os conhecimentos se tornaram variados,
diversificados e consequentemente especializados, exigindo dos profissionais
de educação, aprofundamento teórico e pesquisa, sendo estes os
responsáveis pela transmissão dos saberes formalizados.
Como afirma Cunha (2000, p.448), no século XVII, a escola foi pensada
como agência de apoio à família. Como afirma Cunha (2000, p. 448), as
famílias eram vistas como necessitadas de auxílio para a educação das
crianças porque não tinham tempo nem competência para tanto, ou seja, os
pais tinham muitos afazeres que acabavam por desviá-los da tarefa de bem
educar seus filhos. A escola desta forma surgiu para complementar a família,
possibilitando aos adultos maior liberdade e tempo para outras ocupações.
Ainda nessa época, os saberes necessários à vida adulta eram mais simples e
podiam ser supridos pelo agrupamento doméstico.
Segundo Cunha (2000, p.449) O sistema de aprendizagem cotidiana
que mantinha a criança junto dos mais velhos, era suficiente para transmitir a
maioria das técnicas e dos valores relacionados à vida profissional. Já nos dias
de hoje, essa formação estaria defasada. A escola não só forma para o
13trabalho, mas também, integra o indivíduo ao mundo da comunicação,
indispensável na relação cotidiana.
As famílias, por sua vez, teriam o papel de contribuir com a formação
integral dos educandos, cabendo-lhes estabelecer condições que
proporcionassem o bom desenvolvimento, induzindo o auxílio nas atividades
escolares, a formação de atitudes e valores socialmente aceitos e o
desenvolvimento de padrões comportamentais.
Porém, a escola no decorrer de sua evolução, posicionou-se contra a
família, pois os princípios educacionais norteados pela família não eram os
mesmos postos em prática na escola. A escola, ao longo da história, foi
incorporando saberes científicos em oposição aos saberes domésticos. Desta
forma, o discurso científico desqualifica o educar da família, trazendo para os
dias atuais a mentalidade que os professores, psicólogos, dentre outros
profissionais que lidam com crianças sabem mais que os familiares, sejam eles
pais ou avós. Assim podemos notar que a postura defensiva assumida pelas
famílias é resultado de uma forma de pensar e agir do passado.
Diferente dos meados do século XV, onde o sentimento de família e
infância era ausente na vida cotidiana das pessoas (Ariès, 1981), pois as
crianças eram vistas como adultos em miniatura, havendo um único mundo
para ambos. Neste caso a educação se dava através da interação direta.
Porém, ao longo do tempo, o sentimento de infância começou a ser
desenvolvido, primeiramente, como fonte de distração para os adultos e,
posteriormente, pela preocupação moral dos eclesiásticos e moralistas,
defendendo os colégios como espaço para proteger e ensinar as crianças.
Com base nesta imagem fortalecida de infância e voltando a nossa
realidade dos tempos atuais, em que tendo a família que trabalhar para o
sustento de todos, raramente tem a oportunidade de dedicar-se inteiramente à
educação dos filhos, deixando algumas vezes esta por conta da escola,
criando expectativas demasiadas sobre a instituição.
Betto (2000), explicita de forma clara a crise pela qual passamos.
Vivemos não uma época de mudanças, mas uma mudança de época. Estamos
14entrando em uma nova era da humanidade, e tais mudanças são favorecidas
pelas rápidas transformações nos meios e nos modos de produção, resultado
da revolução tecnológica e científica. A natureza do trabalho e a relação
econômica entre as pessoas e as nações sofreram enormes transformações,
mudando desta forma o que hoje entendemos por profissão. O momento atual
aponta para o papel fundamental do conhecimento nas relações de produção,
ou seja, o valor agregado de conhecimento aos produtos supera cada vez mais
o do trabalho e da matéria-prima.
Na sociedade atual capitalista, temos o modelo econômico liberal. As
relações sociais se dão conforme as regras do mercado, sem que interfira em
seu natural desenvolvimento. Segundo Paro (1998, p.3) :
A lei do livre mercado, na sociedade capitalista, mesmo se referindo a relações entre os homens, não deixa de ser uma lei natural, pois faz parte de suas condições de funcionamento que ela aja sem que o homem, enquanto ser histórico, interfira em sua ação e em seus efeitos, ou seja, tudo acontece como se todos tivessem o direito e a “liberdade” de comprar e vender a quem e de quem quisessem. Todavia, as pessoas e os grupos o fazem a partir de situações de poder e de propriedade que não dependem de suas vontades. Enquanto uns poucos detêm a propriedade de meios de produção de vida ou mantêm compromissos com quem os detêm, a imensa maioria está separada das condições objetivas da produção de suas existências, tendo que se submeter, “livremente”- ou seja, dirigidos pelas leis naturais do mercado- aos interesses dos primeiros.
Desta forma, o trabalho, mesmo que “alienado”, ou seja, o produto do
trabalho separa-se do trabalhado, continua sendo referência a todos em nossa
sociedade. Desde a infância tal preocupação é inculcada na cabeça da massa
trabalhadora, fazendo com que comecem a pensar, mesmo que
antecipadamente, no que desenvolver no futuro.
Há algumas décadas, não muito distantes, o trabalho era fator de
identidade, de reconhecimento, hoje, o fator de identidade da sociedade é
outro, é o tão falado mercado. A preocupação é a de como se inserir no
mercado, e não mais a de ter um trabalho. A ética ficou meio de lado,
esquecida, não é levada em conta, pois o mercado é globalizado, competitivo,
15disputado acirradamente, e gira em torno de regras próprias, não considerando
as reais necessidades humanas. Betto (2000) afirma que O segredo da
publicidade é tornar necessário o supérfluo.
Assim, trazendo essa lógica para o ambiente escolar, ao desconhecer
as pessoas, suas formas de vida, seus motivos, suas concepções, a escola
muitas vezes não percebe as diferenças que existem entre os indivíduos,
perdendo a chance de dialogar e conquistar a confiança de quem a freqüenta.
A escola, portanto, faz por meio de seus profissionais uma projeção do sujeito
sobre o universo. Quando não fala diretamente para ele, não reconhece nele a
condição de sujeito, desrespeitando suas diferenças, e causando, assim, um
sentimento de desconfiança.
Desta forma, algumas famílias por desconhecerem o verdadeiro sentido
da educação em sua totalidade, e com receio de uma possível “rejeição” por
não terem tido na maioria dos casos a oportunidade de freqüentarem a escola,
acabam por se afastar, sentindo-se incapazes de alcançar seu saber. Mesmo
assim, tais famílias reconhecem o valor do saber construído nesse espaço e a
vêem como um caminho rumo a uma vida melhor. Cabe à escola, então,
resgatar a auto-estima dessas famílias, considerando que nos últimos anos
ocorreu uma grande onda de mudanças na sociedade brasileira. A família não
ficou de fora desse movimento social e, ainda, encontra-se em transição. O
antigo padrão familiar, formado por pai, mãe, filhos e demais membros que
obedeciam ao comando centrado no patriarca ou, em alguns casos, na
matriarca, perdeu sua razão de ser, dando lugar a novíssimas composições
familiares. Desde a mais simples, constituída apenas de pais e filhos sem a
participação direta de parentes próximos, até as famílias formadas por
parceiros com filhos oriundos ou não de outros laços domésticos, passando
pelos núcleos formados e comandados somente pelas mães, criando uma
variedade de constelações familiares. 1
Especialistas no assunto explicam que a instituição familiar está se
adaptando aos novos tempos, assumindo um perfil mais centrado na
qualidade das relações entre as pessoas e no desejo de cada indivíduo. A
16hierarquia, a obediência e o formalismo que caracterizavam a família no
passado deram lugar a uma relativa igualdade e respeito entre todos os
integrantes.
Com base em Pereira (2003) tais mudanças sociais possibilitaram novas
assimilações ao Novo Código Civil, a citar: Família: Abrange as unidades
formadas por casamento, união estável ou comunidade de qualquer genitor e
descendente. No Código de 1916, “família legítima” era definida apenas pelo
casamento oficial; Casamento: “Comunhão plena de vida, com base na
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges”. Reconhece a união estável;
Filhos: Adotados e concebidos fora do casamento tem direitos idênticos aos
dos nascidos dentro do matrimônio. Eliminou-se a pejorativa distinção entre
“legítimos” e “ilegítimos” para designar os descendentes; Igualdade dos sexos:
A palavra “pessoa” substitui “homem”. O “pátrio poder” que o pai exercia sobre
os filhos, passa a ser “poder familiar” e é atribuído também à mãe. A família
passa a ser dirigida pelo casal; Guarda dos filhos: A Lei do Divórcio de 1977,
atribuía a guarda dos filhos ao cônjuge que não tivesse provocado a separação
ou, não havendo acordo, à mãe. Hoje, é concedida a “quem revelar melhores
condições para exercê-la”. (PEREIRA, 2003).
Essas múltiplas formas de organização familiar estabelecem, na prática,
uma nova forma de relacionamento com a escola. Novas demandas,
exigências e contradições entre seus valores foram se impondo. O passar do
tempo e a citada quebra do mais importante elo entre Educação, Família e
Escola permitiu a imaginação popular criar histórias. Entre as mais perversas
está aquela que estabelece a Educação como um assunto exclusivo de
especialistas. Certamente, isso fez com que milhares e milhares de famílias
brasileiras entregassem totalmente aos professores a responsabilidade pela
educação de seus filhos.
I.I - O papel da família
17Para falarmos do papel da família, é importante contextualizarmos as
transformações ocorridas ao longo de nossa história. Transformações estas
que se referem aos aspectos social, econômico e político do país.
Com base em Pereira (1995) no período colonial, marcado pela mão de
obra escrava e pela produção rural visando o comércio exterior, a família era
“tradicional”, com muitos filhos e patriarcal, ou seja, o pai era a autoridade da
casa. A mulher era subserviente e fiel ao marido e aos filhos, e a esta cabia, a
extensão do patrimônio deixado pelo pai. Porém, um novo modelo de família
surge no final do século XIX. A Revolução Industrial, a Proclamação da
República e o fim do trabalho escravo possibilitam as migrações para os
centros urbanos, e caracterizam um período de modernização do país.
Prolifera-se então a família “nuclear burguesa”, modelo este trazido da Europa.
A família nuclear burguesa constitui-se de pai, mãe e poucos filhos. Nada
mudou em relação a autoridade exercida pelo homem, mas, a mulher ganhou
o título de “Rainha do lar”, educada para ser boa mãe e esposa, zelando pela
educação dos filhos e manutenção da casa.
Nas duas últimas décadas, mudanças nos setores sócio-político-
econômico relacionadas ao fenômeno da globalização da economia, vem
modificando e interferindo na estrutura familiar. O padrão tradicional de
organização sofre algumas modificações.
Segundo Pereira (1995) as mais notórias são:
• Queda da taxa de fecundidade, devido ao acesso aos métodos
contraceptivos e de esterilização;
• Tendência de envelhecimento populacional;
• Declínio do número de casamentos e aumento da dissolução dos
vínculos matrimoniais constituídos, com crescimento das taxas de
pessoas vivendo sozinhas;
• Aumento da taxa de coabitações, o que permite que as crianças
recebam outros valores; menos tradicionais;
18• Aumento do número de famílias chefiada por uma só pessoa,
principalmente por mulheres, que trabalham fora e têm menos tempo
para cuidar da casa e dos filhos.
A princípio, sua aparente desorganização é uma característica da
reestruturação que vem sofrendo, podendo causar problemas e ao mesmo
tempo apresentar soluções. Tal construção é em alguns aspectos contraditória,
pois ao mesmo tempo que abala a segurança entre as pessoas, possibilita a
emancipação de estruturas familiares até então oprimidas. Desta forma, o
papel atribuído ao homem e a mulher tende a desaparecer, pois os papéis não
são mais previamente definidos.
Vale ressaltar que em cada momento histórico existiu um modelo de
família que destacava-se, porém, outros faziam parte do contexto social,
mesmo que com menor expressão. Além disso, o nascimento de um novo
modelo não aniquilava o outro. Podemos então falar de “famílias”, já que são
as mais diversas formações existentes em nossa sociedade.
E qual é o verdadeiro significado da família? Por que ela existe? Qual é
a sua função social?
Para Kaloustian (1988, p.53):
A família é o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e da proteção integral dos filhos e demais membros, independentemente do arranjo familiar ou da forma como vêm se estruturando. É a família que propicia os aportes afetivos e sobretudo materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Ela desempenha um papel decisivo na educação formal e informal, é em seu espaço que são absorvidos os valores éticos e humanitários, e onde se aprofundam os laços de solidariedade. É também em seu interior que se constróem as marcas entre as gerações e são observados valores culturais.
Enfim, é a família a maior responsável pelo desenvolvimento do caráter
e da personalidade das pessoas. Ter deveres sobre o processo de
escolaridade e sua presença é de suma importância no contexto escolar. A
citar o 1º Artigo da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (Lei 9394/96) que
19diz: A educação abrande os processos formativos que se desenvolvem na vida
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e
pesquisa, nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas
manifestações culturais. Dentre ele temos os Artigos 2º,6º e 12º, que também
destacam o dever da família em todo processo educacional.
Assim, na relação família/escola é preciso reconhecer que
independentemente do modelo constituído, pode ser um meio afetivo e seguro,
porém também de medos e incertezas. Portanto, é fundamental que a escola
conheça a família e a criança com que está convivendo. Cada família em sua
trajetória possui suas particularidades, desta forma o educando traz consigo
para escola suas experiências vivenciadas no ambiente familiar.
Como a oferta de Educação formal acertadamente era, e ainda é,
entendida como responsabilidade do Estado, algumas famílias se confundiram
com essa concepção e passaram a reforçar a idéia de que todos os
especialistas também eram os únicos responsáveis pelo resultado alcançado
pelos seus filhos na escola e imaginavam serem eles quem deveriam
responder, conseqüentemente, pelo sucesso ou insucesso na vida das
crianças, aumentando, assim, sua isenção no processo.
Observamos, porém, nos dias de hoje, que enquanto muitos
profissionais da área da Educação convocam a família para que esta assuma
junto à escola seu papel tão importante no desenvolvimento integral dos seus
filhos, por outro lado observamos inúmeras iniciativas por todo Brasil que
demonstram o despertar da sociedade civil, do cidadão, para o exercício de
seus direitos e obrigação com a educação.
Esta atividade de convocação constante da família torna-se muito
importante, uma vez que existem impactos negativos quando há falta de
consistência entre os valores da família e da escola e quando a família não
apóia a vida escolar dos filhos e as orientações da escola.
O acompanhamento familiar da vida escolar dos filhos pode exercer
interesses verdadeiros e observáveis, o que valoriza a criação de horários,
hábitos e ambientes próprios ao estudo. A participação da família também
20pode ser produtiva, conforme temos observado, à medida que esta trabalha a
motivação de seus filhos, falando de maneira positiva sobre a escola e a
educação, no apoio às tarefas, na simples aprovação e expressão de
admiração que podem fazer diante das vitórias e conquistas escolares de seus
filhos, avaliando-os em suas dificuldades, dialogando a partir da percepção de
problemas cotidianos, estimulando sua imaginação, contando-lhe suas
histórias de vida de forma positiva, escrevendo e anotando recados que o
estimule em seus cadernos, inteirando-se do processo pedagógico adotado
pela escola e participando de seu desenvolvimento, colocando quando
necessário, à disposição da escola, o que melhor sabe fazer,
profissionalmente, servindo de exemplo para seus filhos e demais alunos.
I.II – O Papel da escola
O papel da escola vem se modificando no decorrer do tempo. Não há
como falarmos da educação no presente, sem nos remetermos à educação do
passado. Segundo Paiva (2000) no período colonial, os primeiros educadores
no Brasil foram os jesuítas. Buscavam alfabetizar os índios, pois as letras
deviam significar adesão plena à cultura portuguesa. Os portugueses
colonizadores tinham uma única visão de sociedade, tendo a sua sociedade
como modelo, agindo segundo ela para relacionar-se com as demais culturas.
Não havia lugar para se pensar uma transformação estrutural da sociedade.
Com base no autor, nesse contexto, os princípios ficavam de um lado e
as práticas divergentes, de outro, podendo conviver numa paralela infinita. O
formalismo decorria dos próprios princípios da cultura, o colégio sendo apenas
um instrumento mais refinado. O colégio era a adesão à cultura portuguesa. A
visão pedagógica é fundada a partir de uma sociedade teocêntrica, tendo Deus
como princípio e fim. Educa-se para não se fazer isto ou aquilo.
Sendo assim, saíam os letrados do colégio, com a função de “vigilantes
da cultura”, função com efeito, de todos os que tinham subalternos: a
concepção de sociedade e sua organização era toda de caráter hierárquico.
Vigilante da ordem, portanto, uma função nobre. Os jesuítas, por sua vez, por
serem os representantes dos valores da cultura, são perseguidos pelos
21fazendeiros quando os interesses são perturbados. Novos valores começam a
surgir. Jesuítas e fazendeiros tinham como ponto de discórdia a utilização da
mão de obra indígena para todo tipo de serviço. Os jesuítas achavam que os
fazendeiros se comportavam fora do padrão estabelecido socialmente,
formando-se uma nova consciência.
As relações sociais passam novamente por novas modelagens,
calcados no processo de colonização exploradora, mudando valores, hábitos e
comportamentos. O eixo social deixa de ser a Corte, e as letras vão assumindo
novo papel.
Conforme Paiva (2000, p.55) foi substituída a valorização social da
ideologia do orbis christianus pela ideologia da mercadoria. O autor destaca o
papel do Mercantilismo (comercialização que visa o comércio exterior) na
transformação da cultura, em especial, a brasileira, e que a visão de homem
não se impõe mais fixa, mas processual, no qual cada geração constrói essa
nova forma de ser.
Antes, bastava copiar, ainda que com arte. Agora, tem de se criar.
Antes, havia coordenadas que davam segurança. Agora, há que se determinar
e ver até onde dá. Antes, havia um sentido de comunidade sobredeterminando
o indivíduo. Agora, a mônada viaja sozinha, numa competição que não é
aprimoramento pessoal mas, se possível, alijamento do outro. Antes, o Estado
parecia absoluto, sem condições. Agora, tem sentido na medida em que
atende aos interesses de uma nova classe que com ele não se identificava.
A sociedade se transformava culturalmente, porém, a estrutura
permanecia rígida e hierárquica. A ordem continuava sendo insubstituível e o
absoluto continuava hipnotizando as mentes. Enquanto o colégio jesuítico
continuava formando letrados, o colonizador português experimentava
diariamente a desobediência às normas verdadeiras, a casa grande se
fazendo norma. Tal experiência pautava a consciência e conformava o agir
das pessoas.
22 De acordo com Faria Filho (2000, p.135), a partir do século XIX, havia
uma intensa discussão acerca da necessidade de escolarização da população,
sobretudo das chamadas “camadas inferiores da sociedade”. No entanto, ao
que tudo indica, muitos imites foram enfrentados por aqueles que defendiam
que a educação deveria ser estendida à maioria da população. A instrução
criaria as condições para uma participação controlada na definição dos
destinos do país, possibilitando ao povo a perspectiva de um projeto de país
independente. O Estado buscava mecanismos de atuação sobre a população.
A instrução permitiria indicar os melhores caminhos a serem trilhados por um
povo livre, mas também evitaria que esse mesmo povo se desviasse do
caminho traçado.
Faria Filho (2000, p.138) diz que o processo de escolarização primária
se desenvolveu de forma desigual e diversificada, mas existiam Províncias
com significativas redes de escolas públicas, privadas ou domésticas. Assim, a
escola começou a ser reconhecida vagarosamente como sendo responsável
pela instrução e sucessivamente , como agente central em toda educação da
infância. Foi-se então substituindo a “ escola de primeiras letras” pela
“instrução elementar”.
Já no final do século XIX, foi proposto reformar todo o sistema de
instrução no Brasil, dando-lhe coerência e organização, partindo de variadas
visões políticas, que acreditavam no progresso da nação por meio do
progresso das letras. Era preciso dar um caráter mais moderno ao ensino, em
âmbito nacional. Na Europa, irradiava-se o ideário civilizatório iluminista, tendo
a idéia da necessidade de alargar as possibilidades de acesso de um número
cada vez maior de pessoas às instituições e práticas de civilização. Irradiou-se
também para o Brasil. A escola, o livro, o teatro, o jornal eram meios usados
para instruir e educar as “classes inferiores”, aproximando-as das elites cultas.
O autor (2000) ainda relata o funcionamento da escola da época, que na
maioria das vezes as aulas aconteciam nas casas dos professores ou,
sobretudo, nas fazendas, seguindo o método individual do ensino. O professor
ensinava a cada aluno individualmente mesmo tendo vários alunos. Era o
23método da instrução doméstica, ocorria em casa, onde a mãe ensinava aos
filhos e às filhas. Sua principal característica é o longo período que o aluno fica
sem contato direto com o professor, fazendo com que a perda de tempo fosse
grande e a indisciplina uma questão presente.
Visando ensinar de maneira mais econômica e rápida possível,
experimentou-se um novo método: lancasteriano. Tem como característica a
utilização do próprio aluno como auxiliar do professor. Economiza-se tempo e
recursos, devido ao reduzido número de professores a serem pagos, abrevia-
se o tempo necessário para a educação das crianças, além de generalizar a
instrução necessária às classes inferiores da sociedade.
Com o passar do tempo, o “método simultâneo” vai se configurando
como sendo o que melhor atendia as especificidades da instrução escolar,
viabilizando a organização de classes mais homogêneas, a ação do professor
sobre vários alunos simultaneamente, a otimização do tempo, a organização
em diversos níveis dos conteúdos, dentre outros. Tal método separa o aluno
em sub-grupos conforme o grau de desenvolvimento, e cada professor deveria
atender a três classes. Somente na última década do século XIX, serão
construídos espaços próprios e adequados para a escola.
O educador suíço Jean-Henri Pestalozzi em 1870, muda o curso das
discussões sobre os métodos, incidindo sobre as “relações pedagógicas de
ensino e aprendizagem”. Denominou-se o novo método de ‘intuitivo”,
chamando a atenção para a observação das coisas, dos objetos, da natureza,
para a necessidade da educação dos sentidos como momentos fundamentais
do processo de instrução na escola. O aluno passa a ser considerado como
“sujeito” no processo de aprendizagem e, o professor e os métodos
sucessivamente, como sujeito e instrumento, mediadores de todo processo de
construção do saber. O método intuitivo perdurará até a década de 30 do
século XX.
As discussões cada vez maiores acerca da importância da instrução
escolar indicam êxito àqueles que defendiam a superioridade e especificidade
da educação escolar frequente as outras estruturas sociais de formação e
24socialização como a família, a Igreja, e mesmo o grupo social. Somente na
última década do século XIX, começa a funcionar as primeiras construções
públicas próprias para a realização da instrução primária: os grupos escolares.
No interior dos processos de escolarização, a discussão da modernidade volta-
se para a relação entre a escola e outras instituições ou ocupações sociais
(família, comunidade, trabalho...), pretendendo que os pais tomem consciência
da importância da escola e façam com que seus filhos freqüentem
regularmente a escola. Portanto, vai se afirmando a especificidade do tempo
escolar, precisando estar em constante diálogo com outros espaços sociais. As
mudanças nos programas acompanham as mudanças ocorridas nas formas de
organização e utilização do tempo escolar, estreitando relações com o
desenvolvimento dos materiais pedagógicos e métodos.
A escola passa a ser vista por muitas famílias como intermédio para
ascensão social, a fim de que proporcione ao educando uma "vida melhor, um
emprego melhor, um futuro melhor ". Esse legado perdura até os dias de hoje.
A escola também pode ser vista como acontecimento social, onde crianças,
jovens e adultos buscam nesta relacionamentos pessoais como encontrar
amigos, brincar , namorar, relacionar-se com os colegas. Mas será que à
escola cabe apenas a transmissão de conhecimentos e a socialização de seus
membros?
A educação é uma tarefa de todos nós, que deve ser partilhada e da
responsabilidade dos diferentes agentes e instituições, sejam eles pais,
professores, educadores, auxiliares da ação educativa; sejam elas autarquias,
imprensa, organizações não governamentais, governo, etc. A ideia de que a
responsabilidade pela educação das crianças e jovens cabe, em grande parte
(ou exclusivo) aos professores e educadores, continua a criar uma barreira,
cada vez mais densa, e a contribuir para a confusão e distorção dos papéis
dos agentes educativos mais diretamente envolvidos neste processo: os pais e
professores / educadores. Dadas as constantes mutações de valores e
princípios das sociedades contemporâneas, a responsabilidade da educação
das crianças e jovens é, cada vez mais, “atirada” para cima dos ombros dos
professores/educadores e da própria escola. Atualmente o professor, para
25além das suas qualificações profissionais, não pode acumular papéis ou
responsabilidades que apenas dizem respeito aos pais.
Como nos diz Saul Jesus (1996, pág:27):
É importante que se assuma que os professores não podem substituir os pais na educação dos filhos. Os pais são os primeiros modelos para os filhos, tendo sobre eles uma influência que os professores não podem ter. Não vou defender que há fronteiras rígidas, intransponíveis — que marcam os compromissos para com a educação da criança ou jovem — entre pais e professores/educadores, mas haverá que reconhecer que nenhum deles substitui o outro em determinados papéis que lhes são específicos. Os pais “têm influência sobre a educação e o desenvolvimento dos filhos que é única e insubstituível.
Por sua vez, os professores e educadores, pela responsabilidade que
têm na criação de condições para o desenvolvimento de capacidades, e para a
aquisição e domínio de conhecimentos por parte dos alunos, estarão
igualmente a contribuir decisivamente para a formação integral destes.
É incontestável que a escola e os professores devam adaptar-se às
novas realidades sociais, culturais e econômicas. Depois da família, a escola é
o agente mais importante na educação da criança. Com a entrada na escola, a
criança entra num contexto social mais amplo e diferenciado. Especialmente
para as crianças que nunca tiveram oportunidade de freqüentar instituições
infantis, a escola "primária" representa a primeira experiência de novas
relações fora do círculo familiar, e a primeira com grupos e com figuras de
adultos diferentes das familiares.
A escola deve continuar e ampliar a obra educativa dos pais. É a escola
que exerce maior influência na transmissão da cultura e das tradições sociais,
como conseqüência das mudanças estruturais que a família atravessa. A
importância da escola não pode pois escapar a ninguém. Nenhuma outra
instituição exerce uma influência tão permanente, e nomeadamente em idades
em que a personalidade do ser humano está a ser moldada. O primeiro
encontro da criança na escola é com o professor; ele recria uma nova relação
afetiva. Em muitos aspectos a relação aluno-professor copia a relação filho-
26pais, sobretudo na escola "primária"; que às vezes, noutros níveis de
escolaridade, perdura, sob a forma de relações mais formais.
O professor acaba substituindo os pais em algumas circunstâncias, pois
estes, estão em muitos momentos ausentes, devido às novas demandas
sociais. Dizem os mais antigos que antigamente os salários eram mais justos,
pois o que se ganhava dava para manter o custo familiar. Hoje, a mulher vai à
luta pois precisa ajudar o marido a aumentar o orçamento, pois seu salário não
garante mais as despesas básicas. O professor, desta forma, passa a conduzir
o aluno a assumir novas atitudes mentais, novos valores, novos
conhecimentos e novas motivações. Assume uma tarefa importante perante
alunos com dificuldades, tendo que identificá-las, sejam elas, necessidades
fisiológicas, necessidades de segurança física, necessidades afetivas,
necessidades de consideração ou necessidades de auto realização.
É muito importante que o professor tenha um olhar atento, sensível e
perspicaz para identificar estas necessidades, já que em muitas situações esta
insuficiência pode ter repercussões nefastas no sucesso escolar da criança.
Porém, um professor atento ou inovador muitas vezes é incompreendido pelos
colegas e impedido pelas famílias dos alunos. Pelos colegas, pois preferem
manter-se estagnados, já que mudança exige esforço e motivação pessoal, e o
método adotado atende perfeitamente o proposto pela escola, e pelos pais,
que desconfiam das "inovações", já que a tradição os educou.
O professor e a escola devem lançar as bases para uma comunidade
verdadeiramente ativa, em que a disciplina não seja o fruto de uma imposição
externa, mas provenha da própria exigência da organização da vida da turma e
da escola, em resultado de uma necessidade do funcionamento "aberto" à vida
na comunidade. O jovem que vive num ambiente "aberto" desenvolverá
capacidades para ser ativo, confiante e agirá dando a sua contribuição para
transformar a sociedade em que vive.
Sendo os alunos o centro de toda esta problemática, ao falarmos deles,
associamos de imediato, escolas, professores, pais e famílias. Os pais e as
famílias integram realidades sociais diversas, com particularidades próprias.
27Pertencem a diferentes classes sócio-económico-culturais, e com expectativas
e intervenções diferentes em relação à escolaridade dos seus filhos.
Para as famílias mais distanciadas das escolas, uma grande parte da
responsabilidade desse distanciamento recai nas instituições escolares, por
não terem ainda encontrado as vias adequadas para aproximarem os pais da
escola. A participação dos pais na vida escolar dos filhos é imperiosa. Os
professores devem considerá-los como aliados desejáveis e imprescindíveis
para uma formação que propicie o sucesso escolar e favoreça a construção de
uma escola à medida das necessidades das crianças e adolescentes.
É comum que se perceba na relação família - escola, a dificuldade que
alguns membros de ambos os grupos tem em definir o que seria o saber da
escola. A educação escolar, na maioria das vezes apresenta uma conotação
utilitária, como oportunidade de uma vida melhor, um bom emprego, uma vida
sem dificuldades e só depois passa a ter valor em si mesma, começando a ser
vista como aquela que oferece conhecimentos que não se limitam apenas a
inserção social ou melhores condições de vida, mas a aquisição de
conhecimentos, fazendo-nos refletir sobre o quão prazerosa esta educação
deve ser.
O professor ensina, o aluno presta atenção e faz a prova. Se foi bem,
aprendeu. Se foi mal, azar — é preciso seguir com o currículo. Esse sistema,
cristalizado há séculos, deposita nos conteúdos uma importância maior do que
eles realmente têm.
Se a missão da escola ao raiar do século XXI é desenvolver as
potencialidades das crianças e transformá-las em cidadãos, a finalidade dessa
aprendizagem também deve ser adaptada. É consenso entre os educadores
que o aprendizado, na sala de aula, não se dá de forma uniforme. Cada um de
nós tem seu ritmo, suas facilidades e dificuldades. Afinal, somos pessoas
distintas. É essencial atender à diversidade dos estudantes.
Há até pouco tempo, quando se questionava quais seriam as funções
da escola a resposta era uma só: formação geral do aluno. Mas, a questão não
é tão simples assim. Vivemos em um mundo globalizado, um tempo de
28máquinas que vieram substituir algumas das nossas funções. Então, qual
passa a ser a função da escola diante destas mudanças? Formar para o
trabalho? Treinar e desenvolver habilidades? Certamente não existe uma única
função, mas sim a certeza de que a escola de hoje não pode estar longe nas
necessidades dos nossos alunos e da sociedade como um todo.
Cabe a escola se perguntar: Qual é o meu papel enquanto instituição?
Qual o papel da educação na era da informação? Quais as perspectivas para a
educação nesse início de Terceiro Milênio?
Para falarmos em perspectiva é preciso falarmos em esperança no
futuro. Não há perspectiva sem projeção e não se projeta algo sem esperança.
Assim o pensamento educacional é baseado em “pontos de vista”, mais ou
menos esperançosos, que traçam o direcionamento ao qual se caminha ou
para onde se pode caminhar. Não há educação sem esperança e sem direção.
Conforme afirma Freire (1996, p.72):
Na verdade, do ponto de vista da natureza humana, a esperança não é algo que a ela se justaponha. A esperança faz parte da natureza humana. Seria uma contradição se, inacabado e consciente do inacabamento , primeiro, o ser humano não se inscrevesse ou não se achasse predisposto a participar de um movimento constante de busca e, segundo, se buscasse sem esperança.
Só entendemos o futuro, através do entendimento do passado. Na
educação atual, podem ser destacados alguns marcos, algumas pegadas, que
persistem e poderão persistir na educação do futuro.
A escola precisa orientar criticamente, sobretudo as crianças e jovens,
na busca de uma informação que os faça crescer e se desenvolver. A
sociedade do conhecimento possui inúmeras oportunidades de aprendizagem.
As conseqüências para a escola e para a educação em geral são enormes:
ensinar a pensar; saber comunicar-se; saber pesquisar; ter raciocínio lógico;
fazer sínteses e elaborações teóricas; saber organizar o seu próprio trabalho;
ter disciplina para o trabalho; ser independente e autônomo; saber articular o
conhecimento com a prática; ser aprendiz autônomo e a distância.Cabe a
escola inovar, ser criativa, pensar criticamente a informação, ser provocadora,
29construir conhecimento. E numa perspectiva emancipadora da educação, a
escola precisa mobilizar-se em favor dos excluídos. Enfim, o saber da escola
tem sentido se servir para a vida, ou seja, só tem razão de ser caso o
conhecimento adquirido tenha aplicabilidade em sua realidade, no contexto no
qual está inserido. O indivíduo ao sair da escola precisa ser capaz de refletir
criticamente o mundo à sua volta, o seu papel na sociedade, os valores
transmitidos formal e informalmente. Daí a importância da aliança entre família
e a escola, partindo de um mesmo ideal, unindo forças em busca de uma
formação verdadeiramente integral e contextualizada.
II- PARCERIA COM OS PAIS: A DIFÍCIL TAREFA DE
DIVIDIR RESPONSABILIDADES
A participação dos pais na vida escolar dos filhos pode suscitar dúvidas,
as quais deverão ser abordadas. A primeira seria a alegação dos pais de que
tendo encontrado uma escola de boa qualidade para seus filhos e nesta tê-los
matriculado, sua tarefa está cumprida, pois cabe agora à escola a função de
ensinar.
30 Porém, mediante as pesquisas realizadas através da leitura de livros e
textos fornecidos pela Internet, observa-se que, mesmo tendo a escola funções
específicas, o fato não a isenta da importância de se levar em conta a
continuidade entre a educação familiar e a escolar. A família deve funcionar
como uma ponte, e não como obstáculo na vida educacional dos filhos. Desta
forma, podemos observar que, ao escolher uma escola, a família deve
considerar suas expectativas e, ao mesmo tempo, a do educando. Contudo, tal
ato depende, em grande parte, da perspicácia e habilidade da família em
avaliar as propostas existentes. Assemelhar os princípios norteadores da
escola aos valores familiares em termos de postura, exigências e visão de
mundo é fator de relevante importância, considerando que o ser humano
aprende o tempo todo, nas mais diversas instâncias que a vida lhe apresenta.
É importante que a escola perceba o indivíduo como parte de um sistema,
organizado com elementos que interagem entre si, valorizando sua
individualidade e a bagagem cultural que traz consigo. Desta forma, pode ser
observado a partir dessa pesquisa que família e escola são pontos de apoio e
sustentação ao ser humano, sendo assim um marco de referência existencial.
É ponto pacífico a necessidade de se buscar formas de articulação entre
a Família e a Escola. Fácil falar sobre ela, porém difícil construí-la. Até porque
a Educação é vista nos dias de hoje como algo permanente, inacabado, um
processo continuado e não mais como uma etapa, etapa esta que prepara o
estudante para inseri-lo no mercado de trabalho. A relação Família-Escola não
diz respeito apenas aos filhos-alunos, mas a todos que se inserem na
comunidade em geral.
Nessa relação é fundamental que se compreenda as questões
envolvidas e os limites e possibilidades de cada uma destas duas instituições
para uma ação comum, a educação de crianças e jovens. Então, o que é
responsabilidade da família e o que é responsabilidade da escola no processo
educativo?
O aluno, ao entrar na escola, tem uma família. Qual é e de quantas
pessoas se compõe, isso é variável. Às vezes, a tia é a família que a criança
possui. O fato é que poucas instituições conheceram mudanças tão
31significativas como a família em uma geração: o seu tamanho se reduziu e ela
se tornou instável. O casamento passou a ter um papel social menos central e
o companheirismo, ou seja, o casal morar junto sem oficializar o casamento,
tornou-se corrente e aceito. O modelo de família das gerações anteriores
convive agora com outros modelos. Por sua vez, tamanha mudança
possibilitou a construção e valorização da autonomia, autenticidade,
criatividade dos filhos e alunos.
Mas, para pensarmos em parceria e divisão de responsabilidades entre
estas duas instituições, temos de compreender suas diferenças. A família lida
com os filhos 24 horas por dia, durante a semana toda, sem férias. Já a escola
lida com os alunos por período determinado e, normalmente, apenas algumas
horas, em 5 dias da semana. Trata-se de uma parceria entre instituições
distintas. A eficácia depende do reconhecimento das particularidades de cada
uma e descoberta de possíveis ligações existentes. Tal ligação tem como elo o
filho/ aluno. Porém, ambas sofrem muitas críticas atualmente pelo que deixam
de fazer, não levando-se em conta as profundas transformações sociais da
nossa realidade.
A Escola está em movimento de busca para ter a Família ao seu lado, e
assim unir forças no enfrentamento das dificuldades atuais. Portanto, construir
uma parceria é um trabalho árduo que deverá levar em consideração as
condições reais da Escola, da Família e, também, dos filhos/alunos. Essa
tarefa de unir forças e dividir responsabilidades exige uma análise da cultura
na qual estão inseridos, implicando em visões de mundo diferenciadas, no que
se refere a realidade socioeconômica e aos valores incorporados. Para que a
Escola possa trabalhar de modo produtivo ao estabelecer uma aproximação
com as famílias, deve-se considerar as variadas organizações familiares.
O que pode-se pensar é em uma parceria onde a escola tenha como
grande conquista a realização da sua prática, ou seja, a concretização do que
se propõe. Para isso, conta com a colaboração da Família nessa caminhada.
Daí, a importância da Família conhecer e estar de acordo com a Proposta
Pedagógica da Escola e toda a sua Formação Política. Desta forma os
32contratempos, oriundos das divergências de visões, diminuem, pois comungam
de um mesmo ideal.
Cabe à escola, entretanto, não somente a preparação acadêmica do
educando, desenvolvendo suas habilidades cognitivas mas além disso, a
escola precisa exercer uma função libertadora do indivíduo.
Segundo Freire (1987, p. 96) :
Este é um esforço que cabe realizar, não apenas na metodologia da investigação temática que advogamos, mas, também na educação problematizadora que defendemos. O esforço de propor aos indivíduos dimensões significativas de sua realidade, cuja análise crítica lhes possibilite reconhecer a interação de suas partes.
À medida que a escola assume a função libertadora, como nos sugere
Freire, ela amplia o horizonte do seu aluno, capacitando-o para agir com ética
e criticidade, refletindo seu papel e suas ações na sociedade. O indivíduo é
capaz de pensar a partir dele mesmo, de construir conhecimento e não
reproduzir conceitos preestabelecidos.
II. I- O papel dos pais: Primeiras contribuições.
As famílias ao longo dos anos, assumem ou não funções de proteção e
socialização dos seus membros. Nesta perspectiva, as funções da família
possuem dois objetivos, sendo um de nível “interno”, como a proteção
psicossocial dos membros, e o outro de nível “externo”, como a acomodação a
uma cultura e sua transmissão. Cabe a família contribuir às mudanças
externas e internas, atendendo às novas demandas, proporcionando sempre
uma referência para os seus membros. Portanto, a família assume uma
responsabilidade dobrada, ou seja, precisa atender às necessidades dos seus
membros, e além disso, da sociedade.
33De acordo com Zagury (2002) é função da família:
• Gerar afeto entre os membros;
• Proporcionar segurança e aceitação pessoal, satisfação e
sentimento de utilidade, através das atividades que satisfaçam os
membros da família;
• Cultivar relações duradouras entre os familiares;
• Viabilizar estabilidade e socialização, assegurando a continuidade da
cultura da sociedade correspondente;
• Relacionar a aprendizagem às regras e normas sociais, isto é, aos
direitos e obrigações características das sociedades humanas.
Uma função essencial que não podemos deixar de citar é a de proteção,
sendo capaz de apoiar seus membros emocionalmente em circunstâncias de
problemas e conflitos, formando uma espécie de barreira contra agressões
externas. A família além disso, ajuda a manter a saúde física e mental do
indivíduo, por constituir o maior recurso natural para lidar com situações de
stress associadas às relações interpessoais da vida quotidiana.
No que se refere à criança, sua necessidade mais básica está
relacionada à figura materna, pois é responsável pela sua alimentação,
proteção e ensinamentos, criando um apego seguro, contribuindo desta forma
para o desenvolvimento da criança. A família é então, para a criança, um grupo
significativo de pessoas, de apoio, independente dos “personagens” que a
componham. Assim, a criança assume um lugar relevante na unidade familiar,
onde se sente segura.
No processo de socialização a família assume, igualmente, um papel
muito importante, já que modela o comportamento e o sentido de identidade da
criança. Ao crescerem juntas, família e criança, promovem a acomodação da
família às necessidades da criança, delimitando áreas de autonomia. A família
34tem também, um papel primordial, o da afetividade. A criança sem o afeto de
um adulto, não desenvolve a sua capacidade de confiar e de se relacionar com
o outro. Deste modo, a família constitui o primeiro e o mais importante grupo
social de todo indivíduo, bem como o seu quadro de referência, estabelecido
através das relações e identificações que a criança criou durante o seu
desenvolvimento.
Ao relacionarmos família e escola, devemos ressaltar que a família é a
primeira comunidade da qual a criança faz parte e na sociedade ocidental
contemporânea tem ainda para maioria das pessoas, conotação altamente
impregnada de carga afetiva. Na infância, a criança ao socializar-se com seus
familiares, faz suas primeiras descobertas. Sendo assim, esta torna-se sua
socialização primária. As demais comunidades da qual subseqüentemente vai
fazendo parte tornam-se socializações secundárias. Nestas, se inclui a escola.
É muito comum a família esperar neste momento, quando a escola
começa a fazer parte da vida da criança, que esta assuma o papel principal de
todo processo educativo, depositando nesta todo o peso da responsabilidade
do educar. Desta forma, pode-se afirmar que a discussão sobre a participação
da família na vida escolar de seus filhos não é atual. Há décadas que se vem
refletindo, pensando a melhor maneira para envolver a família em todo
processo educativo, promovendo a responsabilidade de ambas as partes.
Com certeza, tal aproximação é uma tarefa não muito simples, exigindo
mudanças e flexibilidade em ambos os lados, pois são muitas as dúvidas e
inseguranças por parte da família, faltando esclarecimento sobre o “Como
devo agir em determinada situação?”, “Até onde posso ir?”, “Qual a dimensão
e o eixo condutor no processo educacional?”
Zagury (2002, p.209) afirma às famílias que: “o que fica de mais
importante, o que cria raízes profundas na alma e na conduta dos filhos, é a
nossa maneira de agir, de nos relacionarmos com eles e com o mundo.”
A família atribui-se a socialização primária da criança, e é nesse
momento que a insere no contexto social e apresenta-lhe as regras de
convivência, momento importante e crucial na formação da personalidade e de
valores na criança, pois estas espelham e reproduzem as ações aprendidas
35em seu lar. Estes, ao matricularem seus filhos na escola, acreditam que os
profissionais da educação, dentre eles professores e especialistas dêem conta
da tarefa de educar. Portanto, tanto a família quanto à escola esperam que
uma dê conta das atribuições da outra. Nessa história, a criança em alguns
momentos sente-se vulnerável, dependendo de um fio condutor que direcione
qual caminho seguir. A criança necessita viver em um ambiente harmônico
para tornar-se um adulto mais equilibrado emocionalmente e
consequentemente mais feliz.
Para Zagury (2002) é fundamental que a família demonstre a seus filhos
o respeito à escola e que aja em conjunto com ela, pois à medida que coloca a
escola em xeque, julgando e criticando (muitas vezes sem base técnica) suas
ações, não poderão esperar reações diferentes de seus filhos, que baseiam-se
em seus comportamentos e atitudes. O que sugere é “compreensão”, já que
erros podem ocorrer por parte da escola, pois esta é constituída por pessoas,
dotadas de erros e acertos como todo ser humano. E ressalta que o que deve
contar é a totalidade da ação educativa. Observa-se, portanto, a importância
de se criar hábitos e atitudes relacionados à escola, mesmo antes da criança
freqüentá-la.
III- Crise da educação ou de valores?
A crise da Educação é, certamente, o mais sério problema que enfrenta
o país. As novas gerações não estão sendo preparadas para assumirem o
36exercício da cidadania, que demanda reflexão, criticidade e ética, e assim
prosperarem um futuro mais digno e igualitário para toda sociedade na qual se
insere. O que efetivamente democratiza uma nação, o que assegura a todos a
igualdade de oportunidade, não é apenas o direito de acesso à escola. É o
direito de acesso ao saber. Quando a escola não ensina, ao invés de se
transformar em agente do processo democrático — pela informação que
transmite, pelo conteúdo que enriquece, pelas oportunidades que abre, pelo
raciocínio crítico a que induz — ela se torna alienante. Aliena o educando na
medida em que oferece apenas o espectro, a caricatura do saber, a
acomodação no conformismo, uma cultura pela metade.
Hoje, vivemos uma crise de valores, em que os bens materiais pautam
as relações. A boa escola é vista como sendo aquela que oferece um maior
número de serviços e tecnologias, do tipo um micro por aluno, ar condicionado
central e até câmeras já são instaladas nas salas de aula. Tal comportamento
pode ser justificado pelo fato dos pais criarem uma expectativa em torno da
escola, esperando que esta resolva todos os seus problemas de ordem
educacional, pois associam a tecnologia ao progresso. De certa forma é
positiva, por outro lado não. É positiva na proporção que viabiliza múltiplos
estímulos e informações ao aluno, em um curto espaço de tempo. Porém, não
pode ser vista como sinônimo de qualidade de ensino, posto que um vídeo de
nada assegura o aprendizado do aluno, se a ele não é permitido pensar sobre
ele, refletir criticamente e expor suas opiniões. Há escolas que adotam práticas
inadequadas dando a impressão do conhecimento. Estas acabam sendo
alienantes, e também elitizantes. Uma criança rica terá possibilidade de
complementar os saberes adquiridos na escola, tendo acesso a variados livros,
revistas, Internet, professores particulares, teatro, graças à sua convivência
cultural. Uma criança pobre, de origem humilde, somente na escola poderá
encontrar os elementos para o seu enriquecimento intelectual. Se a escola
falhar, não sobram alternativas. A validade do ensino decorre da conciliação
dinâmica da herança cultural com as novas conquistas da cultura. O ensino
colabora para tornar o indivíduo mais livre, na medida em que o torna mais
consciente de sua missão pessoal. Educar (ex-ducere = tirar de dentro) é uma
37ação de ajuda que uma criatura presta a outra para que esta possa tirar de
dentro de si mesma suas energias interiores. O ensino também deve colaborar
para a integração do indivíduo, desenvolvidas as suas potencialidades, no
meio social em que vive e de que participa.
"Os homens, mais plenamente conscientes de sua dignidade e dever desejam participar sempre mais ativamente na vida social, e sobretudo na vida econômica e política. Os admiráveis progressos da técnica e da pesquisa científica, os novos meios de comunicação social e outros progressos fazem com que os diversos grupos e até povos se completem, por uma aproximação mais estreita e recíproca."- (Declaração Conciliar Gravissimum Educationis, 1965) .
Pouco importam as condições adversas que atravessamos, se tivermos
firme convicção do que pretendemos. Cada um de nós terá um papel por
desempenhar nesta luta pela educação. Ao Professor, cabe lutar por salários
dignos, com todos os recursos de que possa dispor, inclusive pela busca de
apoio de pais e alunos. É certo que nunca teremos boa escola sem bons
professores, e nunca teremos bons professores sem salário decente e
capacitação profissional adequada.
Os jovens precisam conscientizar-se de que são os maiores
prejudicados com a má escola. Não estudar não é bom negócio. E a escola
permissiva, facilitadora, mera fábrica de diplomas, é uma fraude que os
inabilitará futuramente, em face da forte concorrência do mercado de trabalho.
Aos pais cabe o papel de exigirem da escola, de seus filhos e, sobretudo, das
autoridades e dos políticos. Que se dirijam aos vereadores, deputados,
prefeitos ou governadores, pressionando-os para a melhoria do padrão geral
do ensino e da manutenção da rede escolar.
Aos governantes cabe agir concretamente, dando à escola pública a
atenção, a fiscalização e as verbas de que precisa. Esqueçam os pseudo-
técnicos de novas artes, burocratas geralmente auto-suficientes ou
comprometidos, e ouçam mais os professores, e professores de sala de aula.
Precisamos de mais escolas e, sobretudo, de melhor escola. A simples
presença da escola não basta, se ela não estiver ensinando. Ela se torna
alienadora, porque dá ao jovem e a seus pais a falsa impressão de ascensão
38social. É preciso escola, mas escola de verdade! Vivemos um tempo mais
complexo, diverso e inquietante, fazendo com que a escola tenha como
desafios o domínio do conhecimento que encontra-se em mudança
permanente e também a relação com seus alunos, fruto de uma sociedade em
transformação. Tanto a escola, quanto a família poderão verificar seu papel, na
medida que enfrentarem toda essa mudança. O aumento das preocupações e
anseios poderão unir em determinados aspectos as duas instituições.
Sem dúvida esse contexto perpassa por questões de diferentes
naturezas, entre as quais podemos citar: o melhor currículo a ser proposto
dentro de uma determinada realidade escolar, a escolha dos métodos mais
adequados as relações de ensino, as possibilidades de uma relação professor
- aluno de qualidade e a família, sendo considerada peça chave nesse
momento de crise.
É preciso pensar a escola como uma das instâncias de formação da
cidadania, porém não a única. Contudo, sabemos que o desenvolvimento
social depende cada vez mais da qualidade e da igualdade de oportunidades
educativas. Formamos cidadãos quando resgatamos a dimensão social do ser
humano, em que a produção do conhecimento ocorre através de práticas
participativas e criativas.
III.I- A importância da gestão democrática
A partir das pesquisas realizadas, observamos que a Constituição
Federal estabelece o dever partilhado da família, da sociedade e do Estado -
o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei Federal n.º 8069/90),
também inclui a comunidade - em assegurar o direito à educação, inclusive,
portanto, à educação escolar, a todas as crianças e adolescentes. O
cumprimento desse dever implica uma maior responsabilidade dos
profissionais da educação em assegurar a qualidade do ensino público,
princípio constitucional, integrando a família e a comunidade (relações sociais
do entorno da escola) nesse processo.
A gestão democrática da escola pública é também um princípio
garantido pela legislação recente - desde 1988, com a promulgação da
39Constituição Federal - e, significa, mais do que um direito da família e
comunidade de participarem dos processos de gestão, um novo desenho para
a organização da escola, um caminho que permite o cumprimento daquele
dever.
Fica claro que, esse caminho deve ser trilhado e descoberto por cada
escola. A partilha do dever da família, da comunidade, da sociedade e do
Estado (e aqui incluem-se os profissionais da educação, investidos de sua
função pública), implica uma partilha de poder no interior da instituição escolar.
Por isso, é fundamental a definição dos papéis de cada participante nesse
processo, como já afirmamos.
A partilha de dever/poder indica, então, a ampliação do papel da família.
É dever dos pais ou responsáveis, implícito na relação família-escola,
independentemente de qualquer legislação, acompanhar a vida escolar de
seus filhos. Contudo, a participação da família na vida escolar dos seus filhos,
ajudando a construir o projeto político-pedagógico e trazendo seus saberes
para dentro da escola, extrapola o papel que tradicionalmente lhe é imposto;
torna-se direito, visando ao cumprimento de um dever.
Cabe à família e à comunidade definir suas atribuições como
participantes da gestão escolar, mas sobretudo, compete aos diretores, aos
outros técnicos e aos professores orientá-los e estimulá-los, assumindo seu
papel como profissionais comprometidos com a educação de seus alunos, com
a autoridade que esse papel lhes instrui.
40A implementação da gestão democrática não se faz pela simples
instalação do Conselho de Escola, com assento assegurado a todos os
participantes (inclusive alunos a partir de determinada idade). Como já vimos, a
escola é o conjunto de relações sociais específicas que a constituem,
perpassadas por relações sociais mais gerais. Elas vêm carregadas de todas
as contradições da sociedade, como também, no modo como esta sociedade
se organiza. A democracia é um princípio de difícil realização, pois ainda não
penetrou no modo de viver da imensa maioria das pessoas - inclusive daquelas
que fazem a escola - e, portanto, a organização das instituições sociais.
É necessário, para definir a participação de cada um na gestão escolar,
identificar quem são essas famílias e essas comunidades, quais os saberes
que trazem e o que significam esses saberes. Percebe-se, assim, que o
trabalho pedagógico realizado pelo diretor, supervisores, orientadores e,
principalmente, professores cresce e, ao mesmo tempo que extrapola a sala
de aula (e os muros da escola), define-se nela. Se esse trabalho não for
prioridade e não se qualificar, a gestão democrática, além de não ter razão de
existir, não se realiza, pois só tem sentido quando temos em vista a mudança
da função social que tem se atribuído à escola. É função da escola fazer um
trabalho com os pais, que propicie a discussão dos interesses em comum, bem
como dos conflitantes. Além disso, trazer os saberes do aluno, família e
comunidade para dentro da escola, proporciona novos conhecimentos quanto
à gestão escolar, haja vista que, muitas vezes, a própria comunidade já possui
instâncias organizadas de proposição e/ou deliberação que podem auxiliar a
escola a definir e implementar seu Conselho Escolar. Em contrapartida, a
escola, fortalecendo-se como instituição social democrática, também exerce
uma ação pedagógica junto à comunidade. Enfim, a gestão democrática
significa a conquista da autonomia por parte do aluno, da família e da
comunidade. Trazer a cultura local para o interior da escola significa
transformar os saberes da comunidade em conteúdo de trabalho para o
professor. O saber da comunidade não deve entrar na escola apenas como
"folclore", isto é, como um saber secundário que deve ser conhecido, cultuado
e, imediatamente, superado pelo chamado "saber científico".
41Para que a gestão democrática se realize é necessário que todos os
profissionais que dela fazem parte, não apenas o professor, assumam uma
postura investigativa em seu trabalho, criando instrumentos que possam
auxiliá-los a identificar e reconhecer esses saberes.
Assim, os saberes da comunidade devem entrar na escola
quotidianamente, não somente por meio das atividades culturais, festas,
reuniões. A escola, sendo espaço de difusão e sistematização de
conhecimentos, deve privilegiar o desenvolvimento de práticas pedagógicas,
como a pesquisa, a criação e recriação de metodologias, o registro diário das
ações (tanto a dos profissionais da educação, quanto a produção dos
educandos e da comunidade, por meio da realização de cursos, seminários,
encontros, oficinas pedagógicas). Toda essa produção, ao ser trazida para a
sala de aula, possibilita a apropriação de linguagens que permitam a
ressignificação das coisas, dos lugares, das pessoas, enfim de uma nova
relação social.
Segundo Gomes (2003, p. 149):
A situação atual do Sistema Educacional Brasileiro é de crise. Tanto o setor publico quanto o privado evidenciam um momento de crise na competência gerencial, crise econômica, cultural, dificuldade de adaptação e entendimento do momento atual no mundo e no Brasil. Porém, nem sempre uma crise é ruim.
Alguns pesquisadores apontam a Educação como um mar de
oportunidades. Tais estudiosos olham para os cenários futuros e verificam o
grande valor do processo de aprendizagem num mundo tão instável.
Com base em Gomes (2003) o futurista Peter Schwartz, numa
conferência em 1997, da Word Future Society, defendeu a visão de que a vida
em nosso planeta será cada vez melhor nos próximos anos. Ele entende “ vida
melhor” como progresso, e progresso é ter mais gente no mundo com
capacidade de escolha. Considera que, no processo de evolução para este
futuro, várias sociedades participarão desigualmente dos benefícios desta
42evolução, mas ocorrerá certamente uma concordância global de que um
abrangente genuíno movimento evolutivo estará em curso.
Nossas instituições de ensino precisam assumir o fato de que esta
geração precisa ser educada com valores de ontem, hoje e amanhã, onde o
amor, a responsabilidade social e o livre arbítrio sejam bases. Não é fácil
educar nos três tempos. Com valores e ferramentas do passado, professores
fazem salas de aula no presente para preparar cidadãos para as situações de
amanhã. Por isso, o aluno não se encontra (“presente”) na escola de hoje. Ele
vê a vida fora da sala de aula e não entende a distância entre a realidade e o
que “aprende na escola”. Existe uma ausência física se não, mental. Não se
concentram no significado das coisas. Não conseguem ver a vida na escola!
O futuro da escola depende, em boa medida, dos que projetarão e
dirigirão a “Nova Escola”. O papel destinado à escola do futuro dependerá da
visão de seus líderes em todos os níveis hierárquicos. Dignificar a escola é a
saída para o resgate do valor da vida, do ser humano e seu sucesso como
cidadão brasileiro. A hora de mudar é agora !
A escola empreendedora enxerga a crise como oportunidade e sabe
que fazer uma escola melhor – uma escola com pensamento estratégico e com
ações de qualidade - é a saída para gerar desenvolvimento econômico,
promover equidade e sustentar formas democráticas de moralização do país.
Muitos são os indicadores que mostram as fraquezas do nosso sistema
educacional. O Ensino é deficiente – gritam as pesquisas. A Escola não tem
qualidade, diz a sociedade. Os professores são despreparados e não se
envolvem com as questões institucionais, afirmam os diretores e
coordenadores, as famílias não se comprometem com os estudos dos filhos –
delegam para escola, inclusive, o ensinamento de valores – dizem os
professores. De quem é a “culpa” pela falta de qualidade na educação? Não
importa pois a responsabilidade de mudar é de todos. Todos os problemas da
educação são problemas de todos os interessados pelo futuro do Brasil.
43 A escola do futuro busca aprender como empreender o que hoje parece
impossível, mas que amanhã, poderá se transformar num padrão de
excelência. Segundo Gomes (2003, p.150): “Cada gestor precisa ser um
especialista no que não existe. O caminho está na “busca” e não na
acomodação.” Portanto, é hora de despertar o espírito guerreiro, resgatar
sonhos, aspirações, transformando-os em realidade. Assim, responderemos à
Crise com criatividade.
CONCLUSÃO
Através das pesquisas realizadas, foi possível observar o quão
importante se faz a relação família-escola na formação integral do indivíduo,
através da análise das funções de ambas instituições, juntas e separadamente,
a fim de destacar que possuem grande contribuição na formação da cidadania,
bem como o desenvolvimento das habilidades motoras, afetivas e cognitivas
do educando.
Sendo assim, considera-se que a família e a escola são os grandes
esteios de uma sociedade civilizada, balizada nos valores essenciais à
convivência humana. São essas duas instituições as responsáveis por depurar
para todos os envolvidos, pais e educadores, as informações variadas do
motor da vida, da célebre diversidade do mundo. Quanto mais dedicada a
família, mais amorosos os filhos. Quanto mais equilibrada a escola, mais
civilizados os alunos.
A família é a primeira instituição na qual o sujeito faz parte desde o
nascimento, transmitindo seus primeiros conceitos de civilidade e vida social.
Sendo assim seu ingresso na escola se torna um evento que necessita da
contribuição da família, sendo esta responsável pela preparação e inserção do
educando na rotina escolar. Desta forma a escolha de uma escola para os
filhos é uma das decisões mais importantes que os pais precisam tomar. É
imprescindível que haja compatibilidade entre a proposta pedagógica da escola
e aquilo que os pais desejam para seus filhos, a forma como os educam, os
valores em que acreditam. Procurar conhecer, em várias escolas, a filosofia
que embasa o trabalho pedagógico, a metodologia adotada, os objetivos
44maiores a que se propõe, as normas internas de avaliação e disciplina, e ainda
refletir sobre esses dados, discuti-los com a escola e com todos os membros
da família, facilitará, com certeza, o processo de decisão, e oportunizará uma
escolha mais acertada diminuindo riscos de precisar mudar a criança de
escola, o que pode ser um processo traumático e prejudicial.
No entanto, esses cuidados não bastam. É necessário, depois,
participar continuamente da vida escolar de seus filhos. Acompanhá-los,
conversar com eles, participar de reuniões, festas e eventos promovidos pela
escola, levar à equipe pedagógica todas as suas dúvidas, seus
questionamentos, suas críticas e sugestões. Isto é não só um direito, mas,
principalmente, um dever dos pais.
É preciso que pais e educadores trabalhem juntos, integrados, em
busca dos mesmos objetivos e, sempre que possível, através dos mesmos
meios. Só a perfeita integração família-aluno-escola poderá produzir uma
relação satisfatória e uma educação harmoniosa, e só a coerência entre a
escola e os pais poderá propiciar a segurança, a tranqüilidade e a confiança da
criança.
Outro aspecto que merece destaque é o fato da família e da escola
sempre tenham sido, são e continuarão a ser as bases estruturais de uma
edificação educacional forte, consistente, compacta e preparadora do
educando para as dificuldades cada vez maiores da coexistência humana, em
qualquer dos planos dinâmicos do seu desenvolvimento gradual.
Observa-se que cabe a família nesta relação o papel de primeiros
agentes socializadores da criança, cabendo-lhe estabelecer condições
propiciadoras de um “bom” desenvolvimento e auxiliar, sempre que possível, a
concretização das ações realizadas pela escola o que inclui o desenvolvimento
de padrões comportamentais, atitudes e valores socialmente aceitos. Desta
forma a escola torna-se responsável por buscar a realidade em que o indivíduo
está inserido, respeitando sua classe social, sua formação familiar, bem como
seu prévio conhecimento de mundo. Buscando assim a inclusão dos
45educandos, de seus pais e responsáveis e da comunidade em que a escola
está inserida.
Para isso a escola necessita estar preparada para promover esta
verdadeira participação dos pais, não convidando-os apenas para a
participação em festas pré-programadas, mas acima de tudo para interagir em
ações pedagógicas. Envolver a família na educação escolar dos filhos pode
significar que elas venham a participar dos trabalhos realizados pela escola e
pelos professores para criar, entre outras coisas, uma atmosfera que fortaleça
o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças nesses dois ambientes
socializadores.
Com isto a parceria família-escola torna-se essencial, pois estas são
pontos de apoio e sustentação ao ser humano; são marcos de referência
existencial. Quanto melhor for a parceria entre ambas, mais positivos e
significativos serão os resultados na formação do sujeito. A participação dos
pais na educação formal dos filhos deve ser constante e consciente. Vida
familiar e vida escolar são simultâneas e complementares. É importante que
pais, professores, filhos/alunos compartilhem experiências, entendam e
trabalhem as questões envolvidas no seu dia-a-dia buscando compreender as
nuances de cada situação, uma vez que tudo o que se relaciona aos filhos tem
a ver, de algum modo, com os pais e tudo que se relaciona aos alunos tem a
ver, sob algum ângulo, com a escola.
Assim, cabe aos pais e à escola a preciosa tarefa de transformar a
criança imatura e inexperiente em cidadão maduro, participativo, atuante,
consciente de seus deveres e direitos, possibilidades e atribuições. Os pais
podem e devem envolver-se com o processo escolar de seus filhos e exigir que
a escola cumpra o papel que lhe cabe na educação das crianças sem
descaracterizar a especificidade dos papéis que cada instância deve exercer.
Apesar dessas possibilidades a vivência nas escolas nos permite supor
que, na sua maioria, as escolas não vêm conseguindo adotar uma linguagem e
uma postura que favoreçam a aproximação dos pais pertencentes a diferentes
níveis sócio-culturais e criar um ambiente verdadeiramente receptivo para a
46sua participação, de modo que possam se sentir aceitas, conhecer e
compreender o trabalho realizado e a contribuir – na justa medida de sua
especificidade – para a tarefa educativa escolar.
Por sua vez ainda é verificado que a família ao escolher a escola para
seus filhos, acredita já ter cumprido seu papel no processo educativo. Estes
pais porém não podem ser vistos como único modelo existente. Abandonando
o senso comum devemos observar que a família ainda possui certo receio em
participar da vida escolar por esta não falar sua linguagem ou mesmo, por
considerar a realidade escolar muito afastada da realidade familiar.
Então podemos concluir que a parceria família escola se dá
verdadeiramente quando observamos uma gestão democrática, onde o
aperfeiçoamento da democracia se dá na participação do cidadão, na
concepção e no controle das ações em todos os níveis. A participação
organizada da "comunidade escolar" na vida da instituição escolar é um
imperativo no atual momento. Os pais devem, cada vez mais, interferir nos
destinos da escola de seus filhos para assegurar que o ensino por ela
ministrado seja de qualidade. Contribuindo acima de tudo para a formação
integral do indivíduo que deixa a condição de objeto tornando-se sujeito de
suas próprias ações no processo educativo e em sua formação continuada ao
longo da vida...
47
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Flaksman. 2ª ed. Rio de Janeiro: LTC, 1981.
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48PEREIRA, P. A. Desafios Contemporâneos para a Sociedade e a Família. São
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ZAGURY, Tania. Escola sem conflito: parceria com os pais. Rio de Janeiro:
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BIBLIOGRAFIA CITADA
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2 - GOMES, Débora Dias. MBA Educação: Escola que Aprende.
Rio de Janeiro: OR Produtor Editorial Independente, 2003.
3 -. JESUS, Saul. Influência dos professores sobre os alunos.
Coleção cadernos Pedagógicos. N 34. Porto: Edições Asas, 1996.
4 - KALOUSTIAN, S. M. (Org.). Família Brasileira, a Base de Tudo. São Paulo:
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5 - PEREIRA, Paula. A nova família. Época, São Paulo, n 293, p.
82-89, 2003.
6 - ZAGURY, Tania. Escola sem conflito: parceria com os pais. Rio
de Janeiro: Record, 2002.
49
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
FAMÍLIA E ESCOLA: NOVOS TEMPOS. O QUE MUDOU? 12
I.I- O papel da família. 17
I.II – O papel da escola 20
CAPÍTULO II
A PARCERIA COM OS PAIS: A DIFÍCIL TAREFA DE DIVIDIR
RESPONSABILIDADES. 30
II.I- O papel dos pais: Primeiras contribuições. 32 CAPÍTULO III
CRISE DA EDUCAÇÃO OU DE VALORES? 36
III.I– A importância da gestão democrática 38
CONCLUSÃO 43
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 47
BIBLIOGRAFIA CITADA 48
ÍNDICE 49