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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
REFLEXOS DA CRISE FINANCEIRA MUNDIAL PARA A ECONOMIA BRASILEIRA.
Por: Genilson Olímpio Ferreira
Mat: K213219
Orientadora
Profa. Dr. Dayse Serra
Rio de Janeiro
2010
1
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
REFLEXOS DA CRISE FINANCEIRA MUNDIAL PARA A
ECONOMIA BRASILEIRA.
Monografia apresentada a
Universidade – UCAM – Instituto
AVM – como requisito parcial à
conclusão da Pós Graduação em
Gestão de Instituições Financeiras.
Por: Genilson Olimpio Ferreira
2
AGRADECIMENTOS
A todos os professores que
contribuíram com seus conhecimentos,
provando que o saber não se subtrai
somente se acrescenta. Aos colegas
de turma pelo apoio e convivência.
DEDICATÓRIA
3
A Deus, Senhor de minha vida.
A minha esposa, Dinha, por sempre
acreditar em mim.
A minha mãe por preocupar-se. Aos meus
pais, irmãos e amigos.
RESUMO
4
O propósito desta Monografia é entender o processo de crise mundial
pela qual o mundo e o Brasil estão passando. Buscando identificar as
características desta crise internacional e suas repercussões no Brasil.
No primeiro capítulo apresentamos o cenário da crise financeira mundial
e suas características. Vamos ver ainda como se encontrava a economia
brasileira quando a crise irrompeu por aqui e ainda uma análise sobre as crises
que o Brasil atravessou durante as últimas décadas.
No segundo capítulo tratamos principalmente da resposta dada à crise
pelas instituições financeiras brasileiras. Como e porque elas resistiram à
crise?
O último capítulo apresenta reflexões sobre as perspectivas para o
crescimento econômico do Brasil e os reflexos que já podem ser sentidos na
vida dos brasileiros.
Palavras-Chave: Crise financeira mundial, Sistema Financeiro,
Desenvolvimento e Crescimento econômico brasileiro, Pós Crise.
5
METODOLOGIA
Este estudo baseou-se em material bibliográfico e por se tratar de tema
em construção atual e permanente, teve grande embasamento em opiniões de
grandes economistas e financeiros atuais, citados durante o texto. Periódicos e
revistas, grupos de formação de opinião e estudos referentes à crise
econômica e seus desdobramentos formam as principais bases para este
trabalho. Uma das principais ferramentas utilizadas foi a Internet pela sua
capacidade de resposta e de interligar as diversas opiniões, divergentes e
complementares.
6
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ......................................................................................... 2
DEDICATÓRIA ................................................................................................... 2
RESUMO ............................................................................................................ 3
METODOLOGIA ................................................................................................. 5
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 8
CAPÍTULO I ..................................................................................................... 10
A CRISE MUNDIAL .......................................................................................... 10
1.1 O Cenário da Crise Mundial.................................................................... 10
1.2 O Cenário da Economia Brasileira no Início da Crise ............................. 14
1.3 Como a Crise Chegou ao Brasil? ......................................................... 147
1.4 Uma Análise Sobre os Históricos das Crises anteriores que refletiram no
Brasil ............................................................................................................. 18
CAPÍTULO II .................................................................................................... 21
A CRISE E AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS BRASILEIRAS ...................... 22
2.1 O Setor Bancário e suas Movimentações durante a crise ...................... 27
2.2 A ação dos Bancos Públicos durante a crise.......................................... 30
CAPÍTULO III ................................................................................................... 32
DESDOBRAMENTOS E REFLEXOS DA CRISE FINANCEIRA PARA O
BRASIL............................................................................................................. 33
3.1 Comércio Externo: Uma Saída Competitiva ........................................... 33
3.2 Perspectivas para o Brasil Pós-Crise ..................................................... 37
CONCLUSÃO ................................................................................................... 44
ANEXOS .......................................................................................................... 50
BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 58
FOLHA DE AVALIAÇÃO ........................................................................... 60
7
8
INTRODUÇÃO
Iniciamos mais um ciclo econômico enfrentando uma crise financeira
mundial, iniciada nos Estados Unidos e que logo se alastrou pelo mundo. E
embora não tenha sido exatamente uma “marolinha” como o presidente Lula
profetizou em tempos atrás, não afetou tão fortemente o Brasil, como se
presumia.
É certo que houve muitos prejuízos, as bolsas tiveram grandes quedas,
empresas passaram por dificuldades, mas de modo geral o Brasil resistiu bem
a crise e não vimos por aqui a mesma quebradeira de instituições financeiras
que em outros países.
Economistas são unânimes em dizer que vivemos as conseqüências do
fim de um extraordinário ciclo de expansão da economia mundial. O mais
longo, o mais intenso e o mais amplamente disseminado da história moderna,
como bem notou Ken Rogoff. Um ciclo que teve início com os surpreendentes
eventos econômicos e políticos do início dos anos 90, cujo auge teve lugar
exatamente no qüinqüênio que se estende de meados de 2003 ao terceiro
trimestre de 2007.
O autor define de maneira precisa a situação econômica vivenciada no
mundo desde o início da década de 90. Espelhada no Brasil pela implantação
do Real, na mesma época, e posterior alcance da estabilidade econômica no
nosso país. Desde o início da década de 90 o país vem mantendo a economia
até a redução da inflação a um dígito, mais recentemente no governo Lula. E
embora estejamos em melhor situação econômica do que há 20 anos, muito
ainda há que ser feito e enfrentado, ainda mais nesta crise financeira mundial
na qual o Brasil não é e não será uma exceção.
9
O mundo olha com atenção a economia brasileira durante este
processo. E esta monografia visa também descobrir como o Brasil resiste a
esta crise. Por que estamos em melhores condições que outras nações do
mundo? E quais os reflexos no setor financeiro e na vida dos brasileiros?
10
CAPÍTULO I
A CRISE MUNDIAL
1.1 O Cenário da Crise Mundial
O dia 15 de setembro de 2008 marcou o início da crise que assola o
mundo atualmente. O medo de que a crise viesse a tomar proporções idênticas
ou ainda maiores do que a crise de 1929 correu o globo levando pânico as
economias e principalmente aos Estados Unidos da América. A primeira
imagem que surgia era das enormes filas de desempregados e famintos que
assolaram Nova York durante a grande crise do século passado.
A quebra do Banco Lehman Brothers foi um dos marcos da atual crise.
Quando anunciou sua concordata em 15 de setembro o Lehman era o
exemplo primordial da crise sistêmica do sistema financeiro. Outras grandes
instituições financeiras como a AIG e bancos europeus também começaram a
apresentar fortes sinais de quebra. A quebra da AIG foi motivada em grande
parte pelos seguros de crédito concedidos no mercado imobiliário norte-
americano.
Isso se explica pelo excesso de hipotecas no mercado imobiliário norte
americano, que foi a gota d´água de uma crise que se avolumava há alguns
anos pela insustentabilidade dos ativos financeiros sem parâmetros com o
mundo real.
Os créditos subprimes englobam empréstimos feitos aos clientes abaixo
do preferencial - créditos hipotecários, cartões de crédito e também aluguel de
carros, sendo concedidos a clientes sem comprovação de renda, com histórico
ruim de crédito ou até mesmo sem nenhum registro. O mercado norte
americano vinha no ritmo da “exuberância irracional” – termo cunhado pelo ex-
11
presidente do Banco Central norte-americano, o FED, Alan Greenspan – desde
a década de 90, com baixo critério para oferta de crédito. A exuberância
começou nas bolsas, nos anos 90, acentuou-se com as PontoCom no ano
2000, e tomou todo o sistema financeiro até 2008.
Após anos de ganhos exagerados e como citado acima sem correlação
com o mundo real, o mercado acionário global sucumbiu à crise, as bolsas em
todo o mundo começaram a apresentar quedas vertiginosas.
“A preocupação em evitar esse cenário e permitir um processo ordenado e gradual de redução da alavancagem tem motivado uma intensa intervenção estatal no setor financeiro, envolvendo o aumento das garantias para depositantes, algum relaxamento das regras de marcação a mercado, a provisão direta de crédito a instituições financeiras e empresas, injeções de capital em bancos e seguradoras e, em alguns casos, a estatização dessas instituições. Esse processo não impressiona tanto pela sua natureza, já que algo semelhante ocorreu em vários países, desenvolvidos e em desenvolvimento, no passado, mas pela sua dimensão: apenas em injeção de capital nos países ricos os governos gastaram até aqui cerca de meio trilhão de dólares, o equivalente a um quarto do valor de mercado dessas instituições. Esse total ainda tende a crescer.” (ARMANDO CASTELLAR PINHEIRO, Como Reagir à Crise?, 2009, p.48)
As perdas financeiras chegaram a níveis tão altos no exterior que levou
os Bancos Centrais de diversas nações a saírem de suas posições mais
conservadoras e adotarem medidas de apoio e salvamento de bancos,
instituições financeiras e montadoras do setor automobilísticos para que o
sistema financeiro não desmoronasse.
Este trabalho de salvamento foi especificamente forte no EUA, onde a
idéia de que o mercado se autorregula foi deixada de lado para oferecer
socorro financeiro às empresas. Socorro este como nunca visto antes, a fim de
preservar o setor financeiro norte americano e suas conseqüências numa
possível quebradeira generalizada.
12
Estes gastos de trilhões de dólares, euros e libras que foram utilizados
para salvar instituições financeiras no mundo desenvolvido, levou muitos a
acreditar na adoção de políticas “Kenesyanas”, a política contra cíclica seria
uma solução para combater a desaceleração do crescimento. E outros a temê-
las.
A idéia de que o Estado deve se manter distante do mercado financeiro
enfraqueceu de imediato. Como conseqüência o Neoliberalismo sofreu grave
golpe, pois seus princípios passaram a ser diretamente questionados.
“A demanda por investimentos nos EUA continuará fraca, o que pode ser uma oportunidade para a América Latina atrair recursos. O sistema financeiro não escapará de uma ampla reformulação. Haverá mudanças regulatórias no mercado de hipotecas, no funcionamento das agências de rating e nos bancos. Assim, setores que não eram de maneira alguma regulados passarão a ser. Teremos que nos preocupar ainda com a perda de dinamismo nos ganhos de produtividade do setor privado .” (Edmund Phelps, apud VEJA, 2009, p.122).
A opinião de Phelps, ganhador do Prêmio Nobel de economia de 2006,
é claramente observada nas ações norte americanas na tentativa conter a
crise. Um mercado que não sofra interferências diretas do governo, é um
princípio básico do Neoliberalismo. Indo contra todas as crenças da economia
americana de autorregulação os governos Bush e depois Obama tiveram de
enfrentar o Congresso para defender vultosos aportes de capital público nas
instituições privadas daquele país, como o caso da AIG e do Lehman, exemplo
seguido pela maioria das grandes economias globais.
O professor John Taylor da Universidade de Stanford afirma que: “No
atual momento meu temor é que estrategistas econômicos ao redor do mundo
passem a confiar demais em políticas de intervenção do Estado na economia.
13
Não gostaria de ver uma regressão neste aspecto.” (John Taylor , Apud VEJA,
2009, p.125)
Buscando dimensionar a crise, Francisco L. Lopes, sustenta no seu
artigo A Dimensão da Crise, livro Como Reagir a Crise? Páginas 12 a 15.
“Se considerarmos o indicador da produção industrial (índice total com ajuste sazonal e base 2002=100), não há dúvida que a presente recessão começou nos Estados Unidos em janeiro de 2008. Mas que intensidade terá e quando terminará? De acordo com o National Bureau of Economic Research, desde 1854 a economia americana passou por 31 recessões, com período médio de contração de 17 meses. Duas delas, porém, se destacaram pela intensidade: 1929-32 e 1937-38.” (Francisco L. Lopes, Como Reagir a Crise?, 2009, p.12).
Em seu artigo ele defende que conhecedores da história das crises,
principalmente de 1929 e 1937 temos ferramentas para combater a atual crise
financeira que assola o mundo.
Numa comparação direta entre a principal característica da recessão de
1929 com a atual, encontramos a mesma origem, a grave crise no setor
financeiro. Já o estudo da recessão de 1937 demonstra que o final da crise
bancária não foi suficiente para a retomada do crescimento.
Para evitar a crise de 1929-32, os governos deveriam ter estancado a
propagação da crise bancária de imediato. Em relação a crise de 1937-38, a
medida correta seria adicionar políticas públicas e fiscais expansionistas.
Medidas que os governos norte-americanos, de Bush e depois Obama,
tomaram. E que se espalharam em outras nações afetadas pela crise.
Nesta linha de pensamento podemos entender que a atual crise de
2008-2010 será uma recessão normal, se compararmos as que ocorreram no
último século, como mostram os quadros no Anexo 1.
14
1.2 O Cenário da Economia Brasileira no Início da Crise
A construção do cenário da economia brasileira ficou mais confusa com
a crise. Por isso para descrever este cenário temos que examinar a economia
antes e depois do início da crise em setembro de 2008.
Antes de a crise chegar ao país em setembro de 2008, o desempenho
da economia brasileira chegava a um ritmo de 6%, refletindo a tendência de
crescimento vista no ano anterior. Internamente o crescimento real da
demanda interna era de 9% ao ano com expansão de 6% no consumo privado,
6% nos gastos públicos e 17% no investimento privado
(PRICEWATERHOUSE COOPERS, 2008, p.8).
Os principais fatores geradores desta expansão foram: a prosperidade
na economia mundial e o vigoroso impulso ao crédito interno. Em abril de
2008, ao perceber que o desequilíbrio entre a demanda e a capacidade de
produção gerariam pressões inflacionárias, o Banco Central iniciou uma ciclo
de aumentos na taxa de juros. Temeroso de que a inflação anual atingisse o
limite superior da meta do governo de 6,5%. O visto foi que a taxa de inflação
encerrou o ano em 5,9%, amortecida pelos efeitos da crise.
Apesar deste aumento gradual na taxa de juros a demanda agregada
manteve seu ritmo de expansão. Porém logo que a crise se instaurou no
terceiro trimestre de 2008, com os mercados internacionais de crédito entrando
em colapso e com a queda nos preços dos produtos primários, a expansão
demanda se reverteu.
Ao contrário do que aconteceu em outras nações os bancos brasileiros
não estavam diretamente envolvidos na crise, ainda assim como o crédito
externo do setor exportador, principalmente, representava em torno de um
15
quinto do total de crédito da economia, sua súbita paralisação gerou um aperto
na liquidez bancária, uma contração no crédito e um aumento imediato nas
taxas de empréstimos. Houve uma transferência na demanda por recursos
para o mercado financeiro interno, reduzindo ainda mais sua liquidez, já que
grandes empresas não conseguiam rolar sua dívida em moeda estrangeira.
A queda nas exportações logo foi sentida, principalmente as
exportações de produtos básicos, como metais e alimentos. A queda do
comércio externo reduziu o preço das commodities afetando ainda mais a
demanda interna.
O efeito da crise foi surpreendentemente forte e sentido rapidamente no
Brasil. O PIB caiu 1% no último trimestre de 2008. Devido a baixa produção
industrial do período influenciada pela queda acentuada nos setores
impulsionados pelo crédito, ou seja, pelos setores produtores de bens de
consumo duráveis, bens de capital e de material de construção. Um claro
exemplo foi a redução em 50% da produção de veículos automotores em
relação ao nível anterior à crise, com o ajuste pelas empresas de seus
estoques excedentes criados pela retração na demanda. A conseqüência
direta foi o aumento do desemprego, sentida principalmente a partir de
dezembro de 2008. Grandes montadoras do ABC paulista começaram a dar
férias coletivas a seus empregados e o medo das demissões em massa forçou
os sindicatos a sentarem junto com as organizações patronais para juntos
pensarem em possíveis soluções.
Segundo a Pricewaterhouse Coopers, a produção industrial cresceu
3,6% em 2008, uma queda em relação ao ritmo de 6,8% mantido até o terceiro
trimestre - um bom indicador do intenso impacto da crise. Não obstante, a
economia cresceu 5,5% em 2008, embora as perspectivas para o ano em
curso pareçam muito menos otimistas, como analisado abaixo. O ajuste das
empresas à queda na demanda e a acumulação de estoques excedentes levou
para zero a taxa de criação de novos postos de trabalho nos últimos meses e
16
terminará por aumentar a taxa de desemprego (PRICEWATERHOUSE
COOPERS, 2008, p.9).
Houve uma conseqüente redução do superávit da balança comercial da
ordem de US$ 40 bilhões em 2007 para US$ 23 bilhões em 2008, um aumento
no valor das importações em 46% e das exportações em 24. o resultado desta
conta foi um déficit de US$ 30 bilhões, primeiro resultado negativo em seis
anos. Juntamente com um expressivo fluxo positivo de investimentos de
carteira (antes da crise financeira mundial), a entrada de US$ 38 bilhões em
investimento estrangeiro direto mais do que financiou o déficit em transações
correntes, permitindo ao Banco Central contar com cerca de US$ 200 bilhões
em reservas ao final do ano.
Do cálculo entre a dívida bruta brasileira menos suas reservas podemos
obter que a dívida externa líquida continuou irrisória. Em conseqüência as
principais agências de classificação de crédito elevaram a nota do Brasil para o
grau de investimento.
A taxa de câmbio respondeu com redução em junho, quando o Real
atingiu R$ 1,60 por dólar, menor índice desde 1999. Esta redução foi se
mantendo a cima dos 40%, já que as aplicações de carteira deixaram o país e
as receitas de exportação encolheram. Só não houve impacto inflacionário
usual numa desvalorização cambial devido ao enfraquecimento da demanda
interna junto com a queda nos preços dos produtos básicos.
No final de 2008, o governo precisava “transferir” parte do superávit
primário do último ano para financiar grandes gastos fiscais em 2009, criou
então um “fundo soberano”. Críticos afirmam que, na realidade, o fundo é uma
forma de manter o ritmo de expansão fiscal da administração Lula, com vistas
à eleição presidencial do próximo ano.
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Acompanhando a tendência mundial de queda o preço dos ativos
brasileiros caiu significativamente após setembro , bem como dos imóveis e
das ações ordinárias. E houve queda de quase 50% no Índice Bovespa em
relação ao pico atingido em maio, refletindo a saída de capitais de investidores
institucionais estrangeiros e a expectativa mais fraca em relação ao
desempenho das grandes empresas.
1.3 Como a crise chegou ao Brasil?
Depois destas análises, resta-nos ainda identificar como a crise norte-
americana se propagou pelo mundo e como alcançou o Brasil?
Apoiados pelo artigo de Francisco L. Lopes , A dimensão da crise,
podemos perceber que a crise norte-americana se alastrou rapidamente por
todas as nações no atual mundo globalizado e com modelo de capitalismo
neoliberal, através de quatro mecanismos principais:
1. contração de crédito devido à redução da alavancagem
vivenciada até então pelo sistema financeiro global, com
conseqüente fragilização das instituições financeiras;
2. a queda dos ativos financeiros, imóveis e ações, gerou uma
rápida destruição de riquezas;
3. o pânico imediato levou a deterioração das expectativas da
evolução futura da atividade econômica, que afetou os gastos de
empresas e famílias;
4. a redução no crescimento das exportações e diminuição do
comércio mundial.
18
O entendimento é que no Brasil a principal fonte de contaminação se
deu em razão da expectativa da economia e em razão da redução imediata
nas exportações. Visto que por aqui não se viu na mesma intensidade, a
destruição de riquezas em razão da baixa participação da renda variável na
riqueza dos investidores brasileiros. Assim a queda das bolsas brasileiras
afetou mais os investidores estrangeiros. Também não havia aqui a
especulação imobiliária, alavancando o sistema financeiro norte-americano de
subprimes, que fragilizou as instituições estrangeiras.
Portanto a impressão que tiramos é que os países que apresentavam
uma economia mais alavancada, seja por financiamento ao investimento
imobiliário, caso dos EUA, Espanha, Inglaterra, ou seja por consumo, como na
Hungria, França, Países Báltico etc., sofreram mais que países que não
apresentavam uma alavancagem financeira tão alta, caso do Brasil e de outros
integrantes do BRICs.
1.4 Uma Análise Sobre os Históricos das Crises anteriores que refletiram no Brasil
Nas últimas décadas o Brasil fora sempre um dos primeiros países a
mergulhar nas crises que se aproximavam. O que aconteceu com a economia
brasileira que possibilitou ao país resistir por mais tempo a entrar na crise, já
que ela se avolumava a algum tempo no mercado externo?
Apresentamos a seguir um breve histórico das crises nas últimas
décadas, nas quais o Brasil esteve envolvido.
1973-79: Choque do Petróleo.
A primeira crise do Petróleo dobrou as contas de importação do Brasil
dentro de um ano. A segunda causou uma inflação descontrolada que girava
em torno de 110% em 1980. Os quinze anos seguintes foram de constantes
19
tentativas de fazer estes números baixarem. O país viu o rápido crescimento
da dívida externa em dólares, mergulhando em uma década e meia de
instabilidade.
1982: Calote
Com o calote dado pelo México, investidores estrangeiros também
passaram a desconfiar do Brasil e retiraram seus investimentos. O governo
tentou reaver credores, forçando os importadores a obterem licença e a
comprar dólares a preços oficiais inflados. Em 1983 o Brasil não pode saldar
dívidas e o cruzeiro desvalorizou-se em relação ao dólar, tornando a inflação
ainda pior.
1986: O Plano Cruzado
Três zeros foram cortados de uso, e pela primeira vez o Brasil parecia
ter vencido a inflação. Mas o país ainda estava em processo de tornar uma
democracia, e a vitória sobra a inflação requeria grandes batalhas, impossíveis
para o momento político. O plano Bresser (1987) e o Plano Verão (1989),
também não tiveram êxito. Em 1990, a inflação girava em 70% ao mês.
1990: O Plano Collor
O Plano Collor congelou por 18 meses nos bancos os depósitos de
cerca de 80% dos investimentos no país. A idéia era forçar a queda dos preços
reduzindo a liquidez. Os salários foram congelados, transações financeiras
foram altamente taxadas e o comércio internacional foi liberado. Mas este
plano causou efeito contrário ao objetivado, a volta da recessão e inflação
ainda maior.
1994: A crise Tequila ou Crise Mexicana
20
Outra desvalorização da economia Mexicana gerada por mais um calote
causou efeitos diretos ao Brasil. O Banco Central respondeu com uma
liberação de dinheiro na economia para aumentar o interesse dos
investimentos com taxas de juros próximas a 50%a.a.
1997: A Crise Asiática
Os exportadores de commodities sofreram duro golpe com a queda das
importações asiáticas. Mais uma vez a injeção de dinheiro na economia foi
utilizada pelo Banco Central para proteger o Real, aumentando as taxas do
overnight a 40%a.a. e paralisando o crescimento da economia.
1998-99: A Crise da Rússia e LTCM
Quando a economia brasileira voltava a se equilibrar e mostrar sinais de
crescimento veio a crise gerada pelo calote da Rússia. O governo viu-se
forçado a liberar a flutuação do câmbio, medida economicamente correta, mas
extremamente impopular.
2001-02: A Quebra das PontoCom e o Calote Argentino
Mais uma vez o Real enfrentou o temor do calote dos vizinhos, no caso
a Argentina. A quebradeira nos investimentos na empresas da nova economia.
E ainda o medo do futuro nas mãos do então eleito Presidente Lula. A inflação
beirava os 12,5% e as taxas de juros ultrapassaram os 25%.
A resposta que até agora podemos alcançar é que ao contrário do que
ocorreu em crises anteriores, o Brasil está mais preparado para enfrentar os
problemas oriundos do exterior. Nesses períodos, as reservas brasileiras não
eram superiores a US$ 50 bilhões, sendo utilizadas para sustentar a taxa
21
cambial fixa. A dívida pública era superior a 60% do PIB, tínhamos saldo
comercial deficitário e o risco país registrava mais de 2.000 pontos.
Hoje o Brasil tem câmbio flutuante, reservas superiores a US$ 200
bilhões, a dívida pública brasileira representa 40% do PIB e está em queda.
Hoje o país é superavitário na Balança Comercial e o risco país está entre 250
e 300 pontos. Essas diferenças explicam por que uma crise mundial de
proporções tão grandes afetou menos o país do que em outros momentos.
Então o que parecia ser a pior recessão global desde 1930 alcançou o
Brasil relativamente seguro, fortificado. Sendo possível cortar taxas de juros e
manter o valor do Real. O Brasil foi um dos últimos países a entrar na crise e
está sendo um dos primeiros a se erguer dela, causando grande surpresa e
celebração nacional.
A observação destes fatos leva-nos a crer que as crises anteriores
fortificaram nossa economia, como vacinas agem no corpo humano. Uma dose
de crise para solucionar um problema e tornar a economia resistente a ele.
CAPÍTULO II
A CRISE E AS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
BRASILEIRAS
“As finanças americanas precisam passar por uma profunda reforma. O que queremos é um sistema financeiro que não desperdice recursos e que sirva bem as pessoas. Contudo, as fortes conexões entre Wall Street e Washington não permitem ter muita esperança de que serão feitas mudanças significativas.” (Edward Prescot, apud VEJA, 2009, p.123).
22
É perceptível que a área mais sensível desta crise é o sistema bancário.
Segundo Gustavo H. B. Franco (2009), “A este respeito deve-se observar,
desde logo, que: (I) o Brasil vem de uma tradição de “sobre-regulação”
(repressão) de mercados financeiros; (II) as empresas brasileiras são
historicamente sub-alavancadas, e (III) como entramos na crise com claros
sinais de superaquecimento, é difícil pensar em políticas anti-cíclicas.”
Seguindo neste sentido verificamos que a questão do crédito bancário
no Brasil tem as seguintes características:
1. Um saneamento prévio necessário que resultou em no aspecto
regulatório e prudencial;
2. A regulação bancária, com forte crescimento dos depósitos
compulsórios impostos pelo Banco Central ao menos até setembro
de 2008 e pelas elevações de padrões de concessão de crédito
adotadas pelos próprios bancos;
3. O crédito bancário tem forte característica na categoria de pessoa
física, principalmente no crédito consignado, menos cíclico;
4. Onze bancos de médio porte tornaram-se companhias abertas,
aumentando o capital em média em R$ 1 bilhão, permitindo expandir
seus ativos com conforto.
Uma das respostas que podemos encontrar, nesta linha de raciocínio, é
que a demora da nossa economia em entrar na crise deve-se também a
formação do nosso sistema financeiro. As diversas crises que o país
atravessou no passado tornaram necessário o fortalecimento do Sistema
Financeiro Nacional e uma conseqüente regularização, que em outros
momentos chegou mesmo a ser contestada.
O Sistema Financeiro Nacional é formado pelo Subsistema Normativo
composto pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), Banco Central (BACEN) e
23
Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Subsistema de Intermediação e
Instituições Auxiliares e o SPB, Sistema de Pagamentos Brasileiro.
A maneira como o Sistema Financeiro é formada, como regula e age no
mercado financeiro proporcionou ao Brasil uma força mediante a quebradeira
bancária que ocorreu em outros países. É claro que diversas medidas em
conjunto foram e são necessárias para manter um sistema financeiro saudável
e resistente a uma crise mundial, mas esta formação ajuda a explicar por que
uma crise mundial de proporções tão grandes afetou menos o país do que
afetaria em outros momentos.
A Lei nº. 4.595, de 31 de dezembro de 1964, dispõe sobre a política e
as instituições monetárias, bancárias e creditícias e que criou o Conselho
Monetário Nacional, por sua vez, estabelece que compete, privativamente, ao
Banco Central, a autorização, a supervisão e fiscalização do Sistema
Financeiro Nacional. Além disso, compete exclusivamente, ao Banco aprovar o
efetivo funcionamento de qualquer instituição financeira no país.
Esta herança em grande parte é devida ao PROER (Programa de
Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro
Nacional), executado pelo Banco central entre 1995 e 2000. “Esse programa
de saneamento foi a face mais visível de um processo que mudou a regulação
bancária brasileira. Desde então, o BC (Banco Central) manteve a seriedade
na fiscalização e na supervisão do sistema financeiro”. (Gustavo Loyola, apud
VEJA, 2009 p. 84).
“Um dos grandes desafios é descobrir que tipo de inovações queremos. A dificuldade é tecer uma nova estrutura que nos traga mais soluções que problemas. Ninguém sabe por enquanto, exatamente como fazer isso. Uma saída que parece inevitável é alterar as regras de funcionamento e fiscalização dos mercados financeiros. Mas é errado pensar em mais regulação. Precisamos, sim, de um marco que seja mais
24
eficiente e não desestimule a criatividade.” (Raghuran Rajan, apud VEJA, 2009, p.127).
As observações feitas por Raghuran Rajan, professor de Finanças da
Universidade de Chicago, e por Edward Prescot, ganhador do Nobel de
Economia de 2004, reforçam a idéia da necessidade de melhor regulação do
sistema financeiro em todo o mundo. Daí também a atenção que o modelo
brasileiro de sistema financeiro tem despertado nos diversos países que
atravessam a crise. Inclusive grandes nações como os EUA. Interessados em
entender como a regulação brasileira pôde fortificar a economia e contribuir
para a resposta brasileira a crise mundial, sem contudo engessar a economia.
Não foi somente um sistema financeiro que fez com que o Brasil
pudesse suportar a crise. Mas em conjunto com outras medidas a formação
do Sistema Financeiro Nacional ajudou a fortalecer o mercado financeiro
brasileiro, suportando-o na resistência a atual crise financeira.
Em consonância ao que diz o professor John Taylor, o Brasil respondeu
melhor a crise, através do Banco Central, comandado por Henrique Meirelles e
optou por não intervir nas empresas financeiras, injetando capital como foi
necessário ser feito por outros bancos centrais ao redor do mundo.
Barry Einchengreen, professor da Universidade da Califórnia em
Berkeley, afirma:
“A economia mundial perderá boa parte de seu fôlego. Isso ocorrerá principalmente porque Estados Unidos e Europa crescerão mais vagarosamente, pois terão de administrar o enorme peso de seu endividamento. E essa expansão mais lenta será liderada não mais pelo setor de construção residencial. Haverá outros seguimentos que se destacarão.” (Barry Einchengreen, apud VEJA, 2009, p.129).
25
Podemos observar que este grande endividamento se deve a
intervenção do Estado. Medida tomada por estes países para conter a crise de
seus sistemas financeiros. Em resposta as necessidades de setores
financeiros, securitários e automobilísticos os governos injetaram trilhões de
dólares para evitar a falência dessas grandes empresas, daí o endividamento e
a previsão de um crescimento menos acelerado.
Este cenário é mais uma grande oportunidade para o crescimento do
Brasil, que, como já visto, tomou um caminho diverso na direção de auxiliar as
empresas em dificuldades. Por aqui os setores mais afetados não foram os
financeiros ou de seguros, pois estes possuem uma regulação que os blindou
a atual crise. O setor produtivo foi o mais afetado. E a resposta pôde ser outra.
Medidas de incentivo a produção e ao consumo formaram o escudo que
protegeu o Brasil nesta crise.
O Brasil tomou a dianteira ao reduzir os impostos, principalmente a
redução do IPI das chamadas linhas brancas (geladeiras, fogões e máquinas
de lavar) e do setor automobilístico, para daí incentivar a retomada de crédito,
o aumento da demanda e consequentemente o retorno da produção.
Os três Rs do sucesso brasileiro a resposta a crise são:
1. Redução de impostos
2. Retomada do Crédito
3. Retorno da produção
As medidas tomadas pelo governo para prover liquidez à economia
foram no intuito de adotar iniciativas que preservaram da crise setores como
exportador, agrícola, automotivo e de construção civil. Priorizados por terem
26
maior potencial de geração de empregos e poderem gerar maior crescimento
para a economia.
“A economia americana verá agora uma recuperação do setor privado, graças, sobretudo a uma redução de estoques e estímulo monetário. O problema é que eventuais aumentos de produtividade serão bem pequenos. Podemos esperar, então, que a expansão econômica seja instável e lenta. Além disso, o governo Obama vai ter que administrar um grave problema nos próximos dois anos: a inflação em alta.” (Allan Meltzer, apud VEJA, 2009, P.127).
Os reflexos para o Brasil destas previsões são imediatamente sentidos
nas nossas exportações. O país deve buscar a diversificação de mercados
consumidores, objetivando conquistar autonomia em relação a economia Norte
americana atualmente em recessão.
Se as previsões do professor Meltzer se confirmarem o Brasil obterá
uma saída para suas exportações e não estará tão intimamente ligado aos
reflexos da economia norte americana. Na verdade as relações externas do
Brasil têm se diversificado bastante durante o último governo do presidente
Lula. Uma saída bem interessante é a relação Brasil e China. O comércio entre
os dois países integrantes do BRICs é bem favorável a Balança de Patrimônio
Brasileira. Nossas exportações para aquele país têm crescido continuamente
nos últimos anos.
E até mesmo a relação com outras nações dentro e fora do BRICs como
a índia estão surtindo bons efeitos na nossa Balança Patrimonial.
Ainda que estas previsões de Meltzer (2009) não se confirmem ao
intensivar nossas relações com outras nações, como o Brasil já vinha fazendo
antes da crise, estamos aumentando nosso mercado e conforme regem as leis
de mercado, quanto mais demanda para os nossos produtos, maior a
27
produção e quanto maior a produção, maiores os investimentos e maior a
possibilidade de contratação de mão-de-obra, ou seja teremos a possibilidade
de entrar num círculo virtuoso, que reforçaria nossa economia frente as demais
nações.
2.1 O Setor Bancário e suas Movimentações durante a crise
Para Flavio Fucs e Thomas Wu (2009), autores do capítulo Liquidez e
Juros são Políticas Diferentes afirmam no livro , Como Reagir à Crise?, página
42, “O agravamento da crise financeira nos EUA causou parada súbita nas
linhas de financiamento externas, trazendo sérias dificuldades às instituições
financeiras domésticas e, com elas, o empoçamento da liquidez. “
O resultado da crise financeira internacional, originada no mercado de
hipotecas subprimes foi um aperto da liquidez no sistema financeiro nacional.
Os créditos para pessoas físicas e jurídicas foram reduzidos.
A captação das médias e pequenas instituições financeiras foi de
imediato afetada, e a principal conseqüência foi a redução dos níveis de
crédito e em alguns casos mesmo sua completa extinção.
O governo reagiu à crise de maneira forte e no momento exato, ainda
que de forma arbitrária segundo críticos. Embora numa extensão muito menor
que na maioria dos outros países, o Banco Central brasileiro concedeu crédito
ao sistema bancário para proteger as instituições mais suscetíveis ao aperto de
liquidez e evitar uma maior contração no crédito ao setor privado.
Ao mesmo tempo, o Banco Central interrompeu a linha crescente da
taxa de juros. Reduziu ainda o recolhimento compulsório sobre depósitos
buscando injetar liquidez ao mercado. E aportou capital nos três grandes
bancos federais: Banco do Brasil (BB), Caixa Econômica Federal (CEF) e
28
BNDES, melhorando a capacidade de concessão de crédito, especialmente
aos setores mais afetados pela crise, como o automotivo e o de construção
civil. E forçando os bancos particulares a responderem com a redução das
altas taxas de juros praticadas em seus empréstimos.
Simultaneamente, o congresso aprovou uma nova lei, permitindo a
aquisição de participação em bancos privados, ou mesmo seu controle pelos
bancos federais, que saíram ao mercado ampliando sua já considerável
participação estatal no sistema financeiro brasileiro.
Em resposta, acirrou-se as aquisições de pequenas instituições
financeiras afetadas pela crise pelos grandes bancos privados.
E aproveitando o momento dois dos maiores bancos do país
anunciaram suas movimentações: o Banco Itaú e o Unibanco numa fusão de
imensas proporções. Como conseqüência, o setor bancário ficou ainda mais
concentrado.
“Esta fusão surge em momento de grandes mudanças e oportunidades no mundo, particularmente no setor financeiro. O novo banco consolida-se em um cenário que encontra o Brasil e o seu sistema financeiro em situação privilegiada, com enormes possibilidades de melhorar ainda mais a sua posição relativa no cenário global", (VALOR ECONÔMICO, 2009).
A associação com o sexto maior banco do país deixou o Itaú isolado na
posição de maior banco nacional, ganhando escala para permitir um salto
importante rumo ao mercado internacional. Para o consumidor, analistas
lembram que a fusão restringe a concorrência num mercado já em franco
processo de concentração. Para os acionistas de cada um dos bancos, pode
haver uma perspectiva de ganhos importante.
29
"Com essa compra, o Itaú ganhou bastante espaço contra a
concorrência. Agora, provavelmente o Bradesco vai ter que sair comprando
[bancos médios e pequenos] para se recuperar", afirma Clodoir Vieira,
economista-chefe da corretora Souza Barros (VALOR ECONÔMICO, 2009).
Esse ganho de escala pode estar preparando o Itaú para se tornar um
banco realmente multinacional. O importante é que, nesse momento de crise,
em que os bancos americanos passam por dificuldades, o Itaú aparece como
um banco comprador.
O Jornal Valor comenta sobre o CADE, que dificilmente se oporá ao
negócio:
“A fusão entre Unibanco e Itaú será o maior negócio do Sistema Financeiro Nacional a ser analisado pelo CADE do Ministério da Justiça, mas, apesar do gigantismo da operação, o órgão antitruste não deverá se opor ao negócio. Nos últimos julgamentos envolvendo o setor financeiro, o CADE concluiu que o mercado é altamente pulverizado no Brasil. A cota de 20% funciona como uma espécie de "luz amarela" para o CADE. É a partir de 20% de participação num determinado mercado que o órgão antitruste passa a dedicar maior atenção a um negócio”. (VALOR ECONÔMICO, 2009).
Para o Ministro da Fazenda, Guido Mantega, a fusão entre Itaú e
Unibanco fortalece o mercado financeiro brasileiro e pode aumentar a liquidez
e a oferta de crédito. Boas notícias para o atual momento da crise financeira.
Especialistas destacam que, em 1997, existiam 215 bancos divididos em
privados nacionais (142), estatais (27) e estrangeiros (46). Em 2005, dados do
Banco Central apontaram que esse número caiu para 159. A tendência é que o
movimento de concentração no mercado brasileiro seja naturalmente mais
acelerado devido ao momento atual de crise. Unindo-se a isso a informação de
30
que dos mais de 150 bancos em operação no Brasil, apenas 10 possuem
ativos acima de R$ 100 bilhões.
Não podemos deixar de frisar que a crise internacional desembarcou no
mundo bancário através do crescimento da aversão ao risco, processo muito
semelhante ao que gerou a falência do Banco Santos. Falência esta que
proporcionou amadurecimento do Sistema Financeiro Nacional.
“A contração da oferta de crédito externo pode ter uma resposta por parte das autoridades monetárias. Nesse caso, nossos vícios se tornam virtudes: reservas internacionais elevadas (um vício não por sua existência, mas apenas por sua origem, porque foram adquiridas não com superávit fiscal, mas com expansão da dívida interna), bancos públicos importantes, depósitos compulsórios altos e juros elevados formam um capital que pode ser utilizado, de forma criteriosa e temporária, para contrapor-se aos efeitos negativos da súbita parada dos fluxos de capital externo sobre a atividade econômica.” (EDMAR L. BACHA, Como Reagir à Crise?, 2009, pp.27-28).
Devemos atentar que os riscos de uma política creditícia compensatória
a crise, que evolvam o uso de reservas internacionais, expansão de créditos
dos bancos públicos, redução de depósitos compulsórios e queda de juros são
conhecidos. Os efeitos de baixas reservas são ataques especulativos e
depreciações súbitas da moeda nacional. Bancos públicos com expansão não
criteriosa significam mais peso para o Tesouro no futuro. Queda de juros pode
reacender a inflação. Somente a redução dos depósitos compulsórios parece
não ter efeitos colaterais negativos.
2.2 A ação dos Bancos Públicos durante a crise
A forma como agiram os bancos estatais brasileiros, o Banco do Brasil e
a Caixa Econômica, respondendo aos comandos do governo através do Banco
Central, foi muito importante para conter a contaminação da economia
31
brasileira pelas quebras bancárias mundiais e o agravamento da escassez de
crédito na nossa economia. Esta ação permitiu que os bancos públicos
aumentassem a oferta de crédito e pusessem freios a recessão, evitando uma
piora.
Ponchmann (2009) defende que “Esse quadro nos permite dizer que o
Brasil não foi tão abalado como os países ricos ou os países mais
dependentes dos países ricos, como o México. Possivelmente, não teremos
recessão neste ano.”
O que a apresenta os bancos públicos como fortes ferramentas de
ajuste monetário da nossa economia e justifica mais uma vez a formação do
Sistema Financeiro Nacional.
“No lado do crédito, o governo vem instruindo os bancos públicos a expandirem seus balanços de forma a compensar a retração do setor privado. Cabe aqui questionar até que ponto se deve se empregar este mecanismo. Ao contrário do que se vê no exterior, o sistema bancário brasileiro está bem capitalizado e provisionado. Se não toma a dianteira e mantém um crescimento acelerado do fluxo de financiamento é porque teme perder dinheiro.” (ARMÍNIO FRAGA NETO, Como Reagir à Crise?, 2009, p.31).
Já há sinais de exaustão dos tomadores no caso dos empréstimos ao
consumo, que vinham se aproximando do seu limite de capacidade de
pagamento. Já o BNDES em sua política expansionista deve tomar cuidado,
no caso dos empréstimos para financiar investimentos, para não se tornar um
substituto aos recursos privados não subsidiados e portanto mais caros.
32
CAPÍTULO III
DESDOBRAMENTOS E REFLEXOS DA CRISE FINANCEIRA PARA O BRASIL
A economia não é um estudo de futurologia, é antes um estudo que
traz propostas a serem seguidas. Mas mesmo no atual momento em que
nos encontramos, enfrentando a crise, já é possível delinear alguns
caminhos e possibilidades para economia brasileira:
A primeira dúvida que temos a responder é quanto irá durar esta crise
financeira? Outra grande questão é como se dará a recuperação no pós-
crise? Seremos capazes de retomar o crescimento dos últimos anos ou
teremos crescimentos menores, como verificado em 2009.
Estas respostas segundo o artigo “Como Responder ao Trade-off
Riso vs. Eficiência?”, de Dionísio Dias Carneiro e Mônica Baumgarten de
Bolle, no livro Como Responder à Crise?, páginas 16 a 20, dependem de
uma interação difícil de antecipar: as reações da política e as respostas dos
consumidores e investidores.
A primeira impressão que temos é que em razão da política produtora
brasileira estar intimamente ligada aos mercados internacionais, teremos de
33
aguardar as grandes economias reinflamem seus mercados consumidores.
Como já falamos uma boa resposta a esta dificuldade é o aumento do
comércio entre os integrantes do BRIC, principalmente entre Brasil e China
e Brasil e índia.
Segundo o economista Márcio Pochmann, presidente do IPEA, a nova
geoeconomia mundial abre um espaço importante para o Brasil que desponta
entre as nações no pós crise.
“A crise está permitindo a construção de uma nova geoeconomia do mundo, com um espaço importante para os Estados Unidos, evidentemente, mas também para a União Européia, a China e o Brasil. Esta é uma oportunidade que o Brasil não teve nas crises anteriores. Ao mesmo tempo, é uma possibilidade de o Brasil ser o protagonista de um novo modelo econômico, sócio e ambiental. Nas crises anteriores, havia uma receita a ser cumprida, hoje, ela precisa ser inventada. E nós estamos vivendo um momento singular, porque é a primeira crise enfrentada com base em um regime democrático. O Brasil pode liderar, mas pressupõe uma convergência interna que deve ser construída no regime democrático...” (Márcio Pochmann, apud GENTE DA CAIXA, 2009, P.8).
3.1 A Posição Brasileira Mundial
“No que diz respeito ao Brasil, assim como em outros grandes emergentes, um ponto fundamental é batalhar pelo aumento da competitividade. É importante por em prática políticas de redução de impostos e estímulo à produtividade.” (Edward Prescot, apud VEJA, 2009, p.123).
O aumento do poder de barganha brasileiro no cenário internacional tem
muito a ver com a retomada econômica de um país que se mostra capaz de
sair de uma crise mundial sem sofrer muitos abalos, como ficou recentemente
comprovado. A diversificação comercial é exatamente um dos fatores que
34
explicam esse conforto. Um país que, até pouco tempo, via nos Estados
Unidos o único grande parceiro percebeu ricas fontes de intercâmbio com os
próprios vizinhos de continente e também com países em desenvolvimento
como Rússia, Índia, China e África do Sul. Antes, encampou a briga para que
não fosse estabelecido a ALCA (Área de Livre Comércio para as Américas),
acordo que previa polpudas vantagens aos norte-americanos.
Com a economia norte-americana quase em colapso por causa da
turbulência, não exige muito esforço imaginar quais conseqüências teria o
Brasil caso insistisse nos EUA como a grande referência para se fazer
comércio.
O ministro Celso Amorim (2009) aponta que: "Mesmo os críticos
reconhecem que o fato de o Brasil ter diversificado os parceiros foi importante
para superar a crise". Dados do Ministério do Desenvolvimento mostram que a
opção foi acertada: o Brasil movimentou em 2008 - ano em que a crise se
acentuou - US$ 371 bilhões em importação e exportação, um recorde.
Na avaliação do economista e ex-presidente do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) Carlos Lessa, "trata-se de
uma política externa que procura reforçar a soberania nacional". Diz ele: "Com
a crescente concorrência internacional, a diversificação de parceiros
econômicos é um sonho assemelhável ao desejo de todos os outros países do
planeta. A melhor chance brasileira está na parceria com os países do Sul,
porém a melhor credencial brasileira não é a política externa e sim uma
retomada do desenvolvimento brasileiro, o que animaria parceiros potenciais. É
necessário não esquecer que soberania exige Forças Armadas bem
equipadas. O mundo sabe que o recado da política externa brasileira sempre
foi na direção da paz e da harmonia".
Num cenário futuro de piores perspectivas, a saída para o Brasil seria
um maior comprometimento com as metas inflacionárias e a implementação
35
de cortes nos crescentes gastos públicos. Medidas essenciais para uma
trajetória de crescimento sustentável.
No livro supracitado, Pedro Malan (2009) diz que a determinação de
onde queremos chegar é crucial para atravessarmos bem a crise. Ele
propõe quatro blocos a serem trabalhados: o Bloco Macroeconômico (o
Regime Monetário, o Regime Cambial, o Regime Fiscal), o Bloco Não-
Macro, o Bloco Social e Bloco das Reformas.
O temor de que o governo brasileiro resolva adotar políticas anti-
cíclicas, segundo um modelo Keynesiano, segundo Malan (2009) se justifica
pela situação atual que não é de recessão, nem de deflação, mas de
desaceleração do crescimento, que reduz as receitas estimadas e por
conseguinte exige a redução dos gastos públicos.
Ilan Goldfajn propõe sobre este assunto que “a política fiscal tem tido
um comportamento pró-cíclico.” Lembramos que no primeiro mandato do
governo Lula houve uma tentativa de instituir metas de longo prazo que
limitassem os gastos correntes, gerando um superávit fiscal estrutural
redutor do endividamento público, tronando possível remover o obstáculo
fiscal ao crescimento da economia. No entanto não houve avanços na
proposta batizada de rudimentar.
Daí a necessidade urgente de reformas nos regimes fiscais, que
possam atender ao retorno crescimento de economia, através do aumento
de produção. Reaquecendo assim a economia para que ao sair
definitivamente da crise tenhamos novo fôlego para aproveitar a
oportunidade que o Brasil tem em mãos atualmente.
Este reaquecimento da economia poderá gerar novo aumento nos
níveis de emprego num ciclo que conhecemos e que se faz necessário para
36
elevar a economia brasileira ao patamar de grande economia mundial.
Finalmente trazendo o país para a posição de ponta.
O professor Francisco L. Lopes (2009) defende que no médio prazo a
dinâmica de crescimento atualmente “embutida” no sistema e a atuação
expansionista do governo através do PAC, BNDES e outros mecanismos
fiscais e creditícios, deverão garantir a recuperação das expectativas, com
crescente consolidação da confiança das empresas nas perspectivas de
crescimento de longo prazo. Na realidade o governo brasileiro já tinha
encomendado um pacote expansionista mesmo antes da crise se manifestar,
claramente se antecipando aos chineses e americanos!
“É importante notar que o Banco Central do Brasil está agindo corretamente ao deixar a taxa de cambio se ajustar à nova realidade da economia mundial, e isto nos livrará de uma das nossas duas grandes deformidades macroeconômicas. A realidade é que o trabalho de estabilização da economia brasileira, iniciado com o Plano Real, ainda não foi totalmente concluído, e as evidências disso, até recentemente, eram a supervalorização cambial e o nível da taxa SELIC. Com o ajuste cambial provocado pela crise, resta apenas o problema de reduzir a taxa de juros a um patamar ‘civilizado’.” (FRANCISCO L. LOPES, 2009, Como Reagir à Crise?, p. 14).
Armínio Fraga Neto, importante economista e um dos responsáveis pelo
sucesso do Plano Real diz, que o atual governo respondeu à crise de
confiança ligada à sua própria chegada com uma notável dose de
pragmatismo: manteve o tripé da responsabilidade fiscal, metas para a inflação
e câmbio flutuante. Esta resposta trouxe resultados rápidos, que foram
reforçados por uma fase de extraordinário crescimento global.
Nos período que se seguiu o Brasil se beneficiou de um grande
aumento nos preços de seus principais produtos exportados, as commodities
chegaram a crescer 100% do final de 2003 a junho de 2008, da abundante
37
liquidez no mercado internacional e de um crescente fluxo de capitais. A boa
fase da economia mundial e as boas gestões do Banco Central e do Tesouro
permitiram o acumulo de cerca de USD 200 bilhões de reservas,
desdolarizando a dívida pública, notáveis elementos de resistência a choques
externos como os atuais.
Beny Parnes e Ilan Goldfajn, organizador do livro Como Reagir à Crise?
defendem que em relação à crise:
“Caso consiga atravessá-la mostrando consistência, com reações que não destruam as bases para o crescimento sustentado, inevitavelmente conquistará espaço no cenário internacional. Nesse caso, o Brasil faria jus à sua participação no BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China), conjunto de economias emergentes que determinarão, em boa parte, o futuro da economia mundial.” (BENY PARNES e ILAN GOLDFAJN, 2009, Como Reagir à Crise?, p. 32).
3.2 Reflexos para o Brasil Pós-Crise
Tentando não manter o antigo ufanismo que muitas vezes atrapalhou o
crescimento da economia brasileira, vamos delinear algumas características do
atual cenário favorável ao Brasil.
A volta por cima do Brasil no ano 2009 foi sentida de várias maneiras,
inclusive nas medidas já citadas de combate à crise e nas medidas que são
tomadas atualmente para manter o crescimento da nossa economia.
Testemunha neste sentido a reportagem de capa da revista norte-
americana The Economist em novembro de 2009, com o título “Brazil Takes
Off”, mostrando o Cristo Redentor, nosso símbolo mais conhecido no mundo,
como um foguete sendo lançado.
38
Quando, em 2003, economistas do Goldman Sachs, classificaram
Brasil, Rússia, Índia e China como as economias que poderiam vir a dominar o
mundo, houve muita divisão sobre o B no acrônimo BRIC. O Brasil? O país
apresentava um índice de crescimento ínfimo e era presa de qualquer crise
financeira que se aproximasse, um lugar de permanente instabilidade política,
sua infinita capacidade para esbanjar seu potencial obvio era tão legendária
quanto seu talento para o futebol e o carnaval, não parecia tornar-se este
emergente titã.
Agora este ceticismo parece diminuir. A China lidera o cenário mundial
fora da recessão, mas o Brasil também está no páreo. Nossa economia cresce
outra vez a uma taxa anual de 5%. Este crescimento tende a ser ainda maior
nos próximos poucos anos, quando os enormes campos de petróleo do Pré-
Sal começarem a produzir, e os países da Ásia continuarem a consumir os
produtos agropecuários e minérios produzidos nas vastas e ricas terras do
Brasil.
De acordo com a Pricewaterhouse Coopers (2009), “Previsões variam,
mas confirmam que por volta de 2014 – o Brasil será provavelmente a 5ª maior
economia do mundo, ultrapassando Inglaterra e França. Em 2025, São Paulo
será a quinta cidade mais rica do mundo.” (PRICEWATERHOUSE COOPERS,
apud THE ECONOMIST, 2009, p.14).
De qualquer maneira o Brasil se diferencia dos outros integrantes do
BRICs. Ao contrário da China, é uma democracia. Ao contrário da Índia, não
possui movimentos revolucionários, não há conflitos éticos e religiosos nem
possui vizinhos hostis. Ao contrário da Rússia, exporta mais que petróleo e
armas, e trata os investimentos estrangeiros com respeito. Sob a presidência
de Luiz Inácio Lula da Silva, o primeiro líder sindicalista vindo das camadas
mais pobres, seu governo tem trabalhado para reduzir as enormes diferenças,
que desfiguram o país.
39
Na verdade, ao se analisar a política social e o consumo interno, o
mundo desenvolvido tem muito mais a aprender com Brasil que com a China.
De fato, o Brasil surpreende ao entrar neste estágio do mundo. Sua chegada
foi simbolicamente marcada no último ano pela vitória em sediar os Jogos
Olímpicos de 2016 no Rio de Janeiro, em 2014 o Brasil sediará também a
Copa do Mundo de Futebol.
De fato, a ascensão do Brasil tem sido firme, e não apenas repentina.
Os primeiros passos foram dados nos anos 90 quando, tendo exaurido todas
as demais opções, estabeleceu-se uma série de políticas econômicas sólidas.
A inflação foi domada, e os dispendiosos gastos dos governos locais e federais
passaram a ser regulados por lei para que fossem controlados seus débitos.
Ainda que este processo falte muito para ser concluído, visto que os gastos do
governo voltaram a crescer, seus efeitos já podem ser sentidos.
O Banco Central recebeu autonomia necessária para manter a inflação
em índices baixos e cuidar para que os bancos mantenham-se distantes de
práticas que enfraqueceram o sistema bancário, como no caso dos bancos
ingleses e norte-americanos. A economia foi aberta ao comércio e aos
investimentos estrangeiros, e muitas empresas estatais foram privatizadas.
Além disto, despontou um grupo de novas e ambiciosas multinacionais
brasileiras. Algumas com um capital misto operam como braços do governo. É
o caso da companhia nacional de Petróleo, Petrobras, da Vale, a gigante
mineradora e da Embraer, fabricante de aeronaves. Outras são empresas
privadas como Gerdau, fabricante de aço, ou a JBS surgindo como a maior
produtora de carne do mundo.
Podemos citar ainda como empresas brasileiras que despontam no
mercado multinacional a CSN, outra fabricante de aço; a Marcopolo fabricante
de ônibus; Perdigão e Sadia, que após perdas com a crise, se fundiram na
Brasil Foods; a Odebrecht e Camargo Côrrea, duas grandes construtoras; A
40
natura, fabricante de cosméticos; a Votorantim, um conglomerado de
indústrias; e a Coteminas, grande produtor têxtil. Servindo como suporte, estão
novos empreendedores resistindo para não voltar ao passado sombrio.
Investimentos estrangeiros são constantemente atraídos pelo crescente
mercado consumidor formado pelas classes D e E, e pela grande parcela da
classe média. O país estabeleceu algumas fortes políticas institucionais. E há
uma pressão popular interna para acabar com a corrupção que se alastra pelo
país e que em grande parte continua impune.
Apesar de tudo isto o país ainda apresenta pontos a serem trabalhados.
Os gastos do governo crescem acima da economia como um todo, mas ambos
os setores públicos e privados continuam investindo pouco, trazendo
questionamentos sobre a estabilidade do crescimento. Grande parte do
dinheiro público é gasto de maneira errada. A dívida do governo federal
cresceu 13% desde setembro de 2008. Os gastos com seguridade social e
pensões estão 7% maiores que nos mesmo período anterior, embora a
população seja relativamente jovem. Apesar dos recentes progressos na
educação e infra-estrutura temos um grande déficit em relação à China e
Coréia do Sul. Em partes do Brasil, crimes violentos são comuns.
Novos problemas surgem no horizonte, justamente na direção das
plataformas de petróleo. O Real se valorizou cerca de 50% em relação ao valor
do dólar desde dezembro último. O que mexe na balança nacional, pois torna
as importações mais baratas. Mas dificulta a vida dos exportadores. Em
outubro de 2009, o governo impôs uma taxa para investimentos flutuantes de
curto-prazo. Mas isto será insuficiente para parar o atual fluxo de investimento,
especialmente uma que o petróleo comece a ser produzido.
Lula instintivamente atribui este dilema a política industrial. O governo
necessitará de suprimentos para a indústria do petróleo, de tubulações a
navios, que serão produzidos internamente. Por isso tenta convencer a Vale a
41
tornar-se a nova grande fabricante de metal. É verdade que políticas industriais
criaram a indústria de base do Brasil. Mas a privatização e abertura fizeram
com que ela tomasse corpo. Enquanto isso o governo não age para desfazer
diversos obstáculos ao crescimento – notadamente a alta taxação da folha de
pagamentos de empregados. O governo insiste que uma reforma na arcaica lei
trabalhista não é necessária.
E talvez este seja o grande desafio a ser enfrentado pelo Brasil:
arrogância. Lula está certo ao dizer que o crescimento do país merece
respeito. Mas tem que admitir que a sorte ajudou com um “boom” das
“commodities” e que houve a colaboração na construção de sólidas
plataformas, levantadas pelo seu predecessor Fernando Henrique Cardoso.
Para manter a crescente desempenho do Brasil num mundo passando
por tempos de crise parece que o sucessor do Lula terá de enfrentar de frente
problemas que ele habilmente ignora. Então o resultado das eleições será
determinante para a velocidade com que o Brasil avançará no mundo da era
pós-Lula. Enquanto isso, o país trabalha para chegar ao topo. O que torna
ainda mais admirável porque isto está acontecendo com um esforço que
ultrapassa reformas e construção consensual da democracia.
John Prideaux, um dos autores do artigo especial da The Economist diz sobre
o atual momento brasileiro, “O Brasil costumava ser uma promessa. Agora isto
começa a se realizar,” (John Prideaux, apud THE ECONOMIST, 2009, p. 64).
O Brasil sempre foi conhecido como um país de enorme potencial. Possui as maiores reservas de água do mundo, a maior floresta tropical, terras tão férteis que em alguns lugares produtores agrícolas conseguem ter três colheitas por ano e muitas reservas minerais e de petróleo. Investidores estrangeiros apostaram fortunas na idéia de que o Brasil seria o país do futuro. E perderam fortunas, especialmente Henry Ford, que fez enormes investimentos em plantações de seringueiras que pretendia usar nos pneus de seus carros. (THE ECONOMIST, 2009, p. 64).
42
A The Economist parece ter acertado, o Brasil está provavelmente
entrando em sua melhor fase desde que foi descoberto pelos portugueses, a
caminho da Índia, em 1500. O país já alcançou a democracia anteriormente, já
obteve crescimento econômico, e já teve inflação baixa. Mas nunca conseguiu
ter estes três fatores ao mesmo tempo. A continuar nesta direção, o Brasil,
com sua população de 192 milhões e carecendo rápido, se tornará uma das
cinco maiores economias até o metade deste século, junto com China,
América, Índia e Japão.
“O Brasil e outros grandes países emergentes alinharam-se, nos últimos anos, a boas práticas de política monetária e fiscal. Assim conseguiram sair-se relativamente bem durante a crise, se comparados às economias desenvolvidas.” (John Taylor, apud VEJA, 2009, p.125).
Apesar da crise financeira que sacode o mundo. Um conjunto de boas
práticas estão sendo adotadas pelo Brasil atualmente. O país tornou-se auto-
suficiente em produção de petróleo, e a recente descoberta de jazidas de
petróleo do Pré-Sal anunciada pela Petrobras tornará o país um dos maiores
exportadores de petróleo até o final da próxima década, caso consiga decidir
como se estruturar para isto.
Todas as três Agências de Rating classificaram os papéis do governo
com o Grau de investimento. O governo anunciou recentemente que poderá
emprestar dinheiro ao FMI, uma instituição que somente há uma década atrás
impunha condições restritas aos empréstimos ao Brasil. Apesar de o mundo
todo estar mergulhado numa crise desde o último ano, os investimentos
estrangeiros em 2009 cresceram 30% em relação ao ano anterior, num
período em que os investimentos exteriores em outras partes do mundo girou
em torno de 14%.
43
Muito desta corrente sucesso se deve ao bom senso dos recentes
governo, em particular de Fernando Henrique Cardoso, de 1995 a 2003, que
criou uma estabilidade, e conseqüentes condições macroeconômicas para
sustentar o fortalecimentos dos negócios brasileiros.
Já é sentida pelas nações o aumento da representatividade
internacional do Brasil. Sua inserção nos grupos G20, G4, sua importância
junto a órgãos como a ONU. Os fóruns no qual participa, como o recente COP
10, sobre as mudanças no clima, em Copenhagen Até mesmo a recente
eleição do Cristo Redentor como uma das maravilhas do mundo moderno e a
conquista da Olimpíada de 2016 para o Rio de Janeiro, representam o
reconhecimento da importância do Brasil no mundo do terceiro milênio.
3.3 Alguns reflexos podem ser sentidos na vida dos brasileiros
Mas apesar disto o número de pessoas que deixaram as camadas mais
pobres da sociedade e entraram no mercado consumidor fortalecendo as
camadas C e D é crescente. Ainda que em boa parte devido a programas
assistenciais como o Bolsa Família.
O aumento da renda e do salário mínimo ainda que insuficiente para
atender o que dita a Constituição Brasileira também é um fator importante para
a crescente demanda das famílias brasileiras, o que se justifica com o
aquecimento dos mercados consumidores.
Segundo informações do DIEESE ao resgatamos a série histórica de
variação do salário mínimo no decorrer do período de 1998 a janeiro de 2010,
nota-se que o reajuste aplicado ao salário mínimo foi de 325%, para uma
inflação acumulada (INPC/IBGE) de 121,5%, correspondendo a um aumento
real de 91,88%. No mesmo período, a economia brasileira cresceu 44,93% do
seu Produto Interno Bruto (PIB).
44
Tomando como referência o ano de implantação desta política de
valorização do salário mínimo, 2004, e estendendo até os dias atuais, a
elevação do valor do salário mínimo foi de 96,1%, valor este superior a taxa de
inflação que, no mesmo período, acumulou 40,6%, resultando assim em um
ganho real de 39,4%. Ao mesmo tempo, a economia brasileira teve um
desempenho, medido pelo PIB, de 27,9%. Em relação aos impactos
proporcionados pela elevação do salário mínimo na economia brasileira,
considerando-se que aproximadamente 46,1 milhões de pessoas têm
rendimento referenciado no salário mínimo, sua elevação para R$ 510 deverá
gerar um incremento de renda da ordem de R$ 26,6 bilhões e de R$ 7,7
bilhões na arrecadação tributária sobre o consumo.
Outra constatação da importância do aumento do salário mínimo está na
comparação com a cesta básica calculada pelo DIEESE. Com um custo de
R$228,19 em dezembro de 2009, estima-se que o salário mínimo terá, então,
um poder de compra equivalente a 2,23 cestas básicas, a maior relação na
série das médias anuais desde 1979.
Quanto à educação é crescente o número de estudantes que se
matriculam nas Universidades, muitos são os primeiros representantes de suas
famílias a pisarem em Universidades. Programas como o Pro-Uni, o Programa
de Cotas das Universidades Públicas e o FIES são a mola mestra para este
movimento. Mas ainda há muito que se fazer principalmente em relação a
educação de base.
Outros reflexos começam a ser sentidos pela sociedade como aumento
gradual na taxa de emprego no mercado formal de trabalho, manutenção da
inflação sobre controle, combinado com o aumento do poder de compra dos
brasileiros, políticas sociais apontam melhorias a médio e longo prazo a se
manter o ritmo atual.
CONCLUSÃO
45
A atual crise financeira representa, portanto, um importante desafio aos
objetivos de crescimento brasileiros. Mas antes e devido ao ótimo momento
em que nos encontramos é uma grande oportunidade. No mais nítido molde de
uma análise de Forças e Fraquezas, Oportunidades e Ameaças (FOFA ou
SWOT). O governo busca tomar medidas necessárias para preservar as taxas
de crescimento. Cabe a ele amenizar e dirimir o impacto da crise atual.
Sabendo se a meta é factível, os riscos que corremos com ela e como alcançá-
la.
Concluímos que os principais assuntos a serem tratados pelo governo
na busca da manutenção do crescimento econômico brasileiro após a crise
são: o ajuste das contas públicas que aumentaria a eficiência do governo, a
redução do custo de crédito, reduzindo os entraves aos investimentos
produtivos e o melhoramento dos gastos sociais.
O alcance deste objetivo seria facilitado se o executivo e o legislativo
pudessem aproveitar a oportunidade temporal para atacar de forma definitiva
os desequilíbrios de longo prazo do nosso regime fiscal, em especial as da
previdência e do inchaço da máquina pública. Ou seja, uma intensa reforma é
essencial para o Brasil.
As perspectivas são de que a economia brasileira poderá manter uma
taxa de crescimento após a crise superior a 6% ao ano. O próximo presidente
teria em mãos um país que retomaria o crescimento econômico, num momento
crucial de desenvolvimento e representação do Brasil no exterior.
A visão que temos, após a conclusão deste trabalho, é de que o futuro
do país do futuro começa a se realizar.
ANEXOS
46
ANEXO 1
47
Data Inicial Jul-1929 Mar-1937 Produção Industrial Máximo Local 8,9 9,4 Data Final Jul-1932 Mai-1938 Produção Industrial Máximo Local 4,1 6,3 Duração em meses 37 14 Variação % Produção Industrial -53,6% 32,5%
Fonte: Livro: Como Reagir à Crise? Capítulo: A Dimensão da Crise. p.p. 12-13
ANEXO 2
LEI Nº. 4.595, DE 31 DE DEZEMBRO DE 1964
Dispõe sobre a política e as instituições monetárias, bancárias e creditícias, cria o Conselho Monetário �acional e dá outras providências.
48
Alterada pelas legislações abaixo, já inseridas no texto
CF de 1967 CF de 1988 Decreto-Lei 48/66
Decreto-Lei 278/67
Decreto-Lei 581/69
Decreto-Lei 1795/80
Decreto-Lei 1940/82
Decreto-Lei 2284/86
Decreto-Lei 2290/86
Decreto-Lei 2291/86
Decreto-Lei 2321/87
Decreto-Lei 2376/87
Lei 4829/65 Lei 5025/66 Lei 5143/66 Lei 5710/71
Lei 6024/74 Lei 6045/74 Lei 6385/76 Lei 6404/76
Lei 7492/86 Lei 7730/89 Lei 8490/92 Lei 9069/95
Lei 9650/98 Lei Compl. 101/2000
Lei Compl. 105/2001
CAPÍTULO I DO SISTEMA FI�A�CEIRO �ACIO�AL
Art. 1º - O Sistema Financeiro Nacional, estruturado e regulado pela presente Lei, será constituído:
I - do Conselho Monetário Nacional; II - do Banco Central do Brasil; III - do Banco do Brasil S.A.; IV - do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social; V - das demais instituições financeiras públicas e privadas.
CAPÍTULO II DO CO�SELHO MO�ETÁRIO �ACIO�AL
Art. 2º - Fica extinto o Conselho da atual Superintendência da Moeda e do Crédito, e criado, em substituição, o Conselho Monetário Nacional, com a finalidade de formular a política da moeda e do crédito, como previsto nesta Lei, objetivando o progresso econômico e social do País.
Art. 3º - A política do Conselho Monetário Nacional objetivará:
I - adaptar o volume dos meios de pagamento às reais necessidades da economia nacional e seu processo de desenvolvimento;
II - regular o valor interno da moeda, para tanto prevenindo ou corrigindo os surtos inflacionários ou deflacionários de origem interna ou externa, as depressões econômicas e outros desequilíbrios oriundos de fenômenos conjunturais;
III - regular o valor externo da moeda e o equilíbrio no balanço de pagamento do País, tendo em vista a melhor utilização dos recursos em moeda estrangeira;
49
IV - orientar a aplicação dos recursos das instituições financeiras, quer públicas, quer privadas, tendo em vista propiciar, nas diferentes regiões do País, condições favoráveis ao desenvolvimento harmônico da economia nacional;
V - propiciar o aperfeiçoamento das instituições e dos instrumentos financeiros, com vistas à maior eficiência do sistema de pagamentos e de mobilização de recursos;
VI - zelar pela liquidez e solvência das instituições financeiras;
VII - coordenar as políticas monetária, creditícia, orçamentária, fiscal e da dívida pública, interna e externa.
Art. 4º - Compete ao Conselho Monetário Nacional, segundo diretrizes estabelecidas pelo Presidente da República : (Redação da Lei 6045, de 15 de maio de 1974
I - (REVOGADO) (CF de 1988)
II - estabelecer condições para que o Banco Central do Brasil emita moeda-papel (Vetado) de curso forçado, nos termos e limites decorrentes desta Lei, bem como as normas reguladoras do meio circulante;
III - aprovar os orçamentos monetários, preparados pelo Banco Central do Brasil, por meio dos quais se estimarão as necessidades globais de moeda e crédito;
IV - determinar as características gerais (Vetado) das cédulas e das moedas;
V - fixar as diretrizes e normas da política cambial, inclusive quanto à compra e venda de ouro e quaisquer operações em direitos especiais de saque e em moeda estrangeira; (Redação do Decreto-Lei 581, de 14 de maio de 1969)
VI - disciplinar o crédito em todas as suas modalidades e as operações creditícias em todas as suas formas, inclusive aceites, avais e prestações de quaisquer garantias por parte das instituições financeiras;
VII - coordenar a política de que trata o art.3º desta Lei com a de investimentos do Governo Federal;
VIII - regular a constituição, funcionamento e fiscalização dos que exercerem atividades subordinadas a esta Lei, bem como a aplicação das penalidades previstas;
IX - limitar, sempre que necessário, as taxas de juros, descontos, comissões e qualquer outra forma de remuneração de operações e serviços bancários ou financeiros, inclusive os prestados pelo Banco Central do Brasil, assegurando taxas favorecidas aos financiamentos que se destinem a promover:
- recuperação e fertilização do solo;- reflorestamento;
- combate a epizootias e pragas, nas atividades rurais;
- eletrificação rural;
50
- mecanização;
- irrigação;
- investimentos indispensáveis às atividades agropecuárias;
X - determinar a percentagem máxima dos recursos que as instituições financeiras poderão emprestar a um mesmo cliente ou grupo de empresas;
XI - estipular índices e outras condições técnicas sobre encaixes, imobilizações e outras relações patrimoniais, a serem observadas pelas instituições financeiras;
XII - expedir normas gerais de contabilidade e estatística a serem observadas pelas instituições financeiras;
XIII - delimitar, com periodicidade não inferior a dois anos, o capital mínimo das instituições financeiras privadas, levando em conta sua natureza, bem como a localização de suas sedes e agências ou filiais;
XIV - (REVOGADO)
XV - estabelecer para as instituições financeiras públicas a dedução dos depósitos de pessoas jurídicas de direito público que lhes detenham o controle acionário, bem como das respectivas autarquias e sociedades de economia mista, no cálculo a que se refere o artigo 10 inciso III, desta Lei.
XVI - enviar obrigatoriamente ao Congresso Nacional, até o último dia do mês subseqüente, relatório e mapas demonstrativos da aplicação dos recolhimentos compulsórios, (Vetado);
XVII - regulamentar, fixando limites, prazos e outras condições, as operações de redesconto e de empréstimo, efetuadas com quaisquer instituições financeiras públicas e privadas de natureza bancária;
XVIII - outorgar ao Banco Central do Brasil o monopólio das operações de câmbio quando ocorrer grave desequilíbrio no balanço de pagamentos ou houver sérias razões para prever a iminência de tal situação;
XIX - estabelecer normas a serem observadas pelo Banco Central do Brasil em suas transações com títulos públicos e de entidades de que participe o Estado;
XX - autorizar o Banco Central do Brasil e as instituições financeiras públicas federais a efetuar a subscrição, compra e venda de ações e outros papéis emitidos ou de responsabilidade das sociedades de economia mista e empresas do Estado;
XXI - disciplinar as atividades das Bolsas de Valores e dos corretores de fundos públicos;
XXII - estatuir normas para as operações das instituições financeiras públicas, para preservar sua solidez e adequar seu funcionamento aos objetivos desta Lei;
51
XXIII - fixar, até quinze (15) vezes a soma do capital realizado e reservas livres, o limite além do qual os excedentes dos depósitos das instituições financeiras serão recolhidos ao Banco Central do Brasil ou aplicados de acordo com as normas que o Conselho estabelecer;
XXIV - decidir de sua própria organização, elaborando seu regimento interno no prazo máximo de 30 (trinta) dias;
XXV - (REVOGADO)
XXVI - (REVOGADO)
XXVII - aprovar o regimento interno e as contas do Banco Central do Brasil e decidir sobre seu orçamento e sobre seus sistemas de contabilidade;
XXVIII - aplicar aos bancos estrangeiros que funcionem no País as mesmas vedações ou restrições equivalentes, que vigorem, nas praças de suas matrizes, em relação a bancos brasileiros ali instalados ou que nelas desejem estabelecer-se;
XXIX - colaborar com o Senado Federal, na instrução dos processos de empréstimos externos dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, para cumprimento do disposto no art. 52, V e VII, da Constituição Federal;
XXX - (REVOGADO)
XXXI - baixar normas que regulem as operações de câmbio, inclusive swaps, fixando limites, taxas, prazos e outras condições. (Redação do Decreto-Lei 2284, de 12 de maio de 1986)
XXXII - regular os depósitos a prazo de instituições financeiras e demais sociedades autorizadas a funcionar pelo Banco Central do Brasil, inclusive entre aquelas sujeitas ao mesmo controle acionário ou coligadas.
§ 1º O Conselho Monetário Nacional, no exercício das atribuições previstas no inciso VIII deste artigo, poderá determinar que o Banco Central do Brasil recuse autorização para o funcionamento de novas instituições financeiras, em função de conveniências de ordem geral.
§ 2º (REVOGADO) § 3º (REVOGADO) § 4º (REVOGADO) § 5º (REVOGADO) § 6º (REVOGADO) § 7º (REVOGADO)
Art. 5º - As deliberações do Conselho Monetário Nacional entendem-se de responsabilidade de seu Presidente para os efeitos do art.105, I, letra "b", da Constituição Federal e obrigarão também os órgãos oficiais, inclusive autarquias e sociedades de economia mista, nas atividades que afetem o mercado financeiro e o de capitais.
52
Art. 6º - (REVOGADO) Art. 7º - (REVOGADO)
CAPÍTULO III DO BA�CO CE�TRAL DO BRASIL
Art. 8º - A atual Superintendência da Moeda e do Crédito é transformada em autarquia federal, tendo sede e foro na Capital da República, sob a denominação de Banco Central do Brasil, com personalidade jurídica e patrimônio próprios, este constituído dos bens, direitos e valores que lhe são transferidos na forma desta Lei e ainda da apropriação dos juros e renda resultantes, na data da vigência desta Lei, do disposto no art.9º do Decreto-lei numero 8495, de 28 de dezembro de 1945, dispositivo que ora é expressamente revogado.
Parágrafo único. Os resultados positivos do Banco Central do Brasil, apurados em seus balanços semestrais, serão recolhidos ao Tesouro Nacional, ate o dia 10 do mês subseqüente ao da apuração.
Art. 9º - Compete ao Banco Central do Brasil cumprir e fazer cumprir as disposições que lhe são atribuídas pela legislação em vigor e as normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional.
Art. 10 - Compete privativamente ao Banco Central do Brasil:
I - emitir moeda-papel e moeda metálica, nas condições e limites autorizados pelo Conselho Monetário Nacional (Vetado);
II - executar os serviços do meio circulante;
III - determinar o recolhimento de até cem por cento do total dos depósitos à vista e de até sessenta por cento de outros títulos contábeis das instituições financeiras, seja na forma de subscrição de letras ou obrigações do Tesouro Nacional ou compra de títulos da dívida pública federal, seja através de recolhimento em espécie, em ambos os casos entregues ao Banco Central do Brasil, na forma e condições por ele determinadas, podendo: (Redação do Decreto-Lei 2284, de 12 de maio de 1986)
a) adotar percentagens diferentes em função:
1- das regiões geo-econômicas;
2- das prioridades que atribuir as aplicações;
3- da natureza das instituições financeiras;
b) determinar percentuais que não serão recolhidos, desde que tenham sido reaplicados em financiamentos à agricultura, sob juros favorecidos e outras condições por ele fixadas.
IV - receber os recolhimentos compulsórios de que trata o inciso anterior e, ainda, os depósitos voluntários à vista das instituições financeiras, nos termos do inciso III e § 2º do art.19.
53
V - realizar operações de redesconto e empréstimo a instituições financeiras bancárias e as referidas no inciso III, alínea b, deste artigo, e no § 4º do art.49 desta Lei;
VI - exercer o controle do crédito sob todas as suas formas;
VII - efetuar o controle dos capitais estrangeiros, nos termos da Lei;
VIII - ser depositário das reservas oficiais de ouro, de moeda estrangeira e de direitos especiais de saque e fazer com estas últimas todas e quaisquer operações previstas no convênio constitutivo do Fundo Monetário Internacional. (Redação do Decreto-Lei 581, de 14 de maio de 1969)
IX - exercer a fiscalização das instituições financeiras e aplicar as penalidades previstas;
X - conceder autorização às instituições financeiras, a fim de que possam:
a) funcionar no País;
b) instalar ou transferir suas sedes, ou dependências, inclusive no exterior;
c) ser transformadas, fundidas, incorporadas ou encampadas;
d) praticar operações de câmbio, crédito real e venda habitual, de títulos da dívida pública federal, estadual ou municipal, ações, debêntures, letras hipotecárias e outros títulos de crédito ou mobiliários;
e) ter prorrogados os prazos concedidos para funcionamento;
f) alterar seus estatutos.
g) alienar ou, por qualquer outra forma, transferir o seu controle acionário.
XI - estabelecer condições para a posse e para o exercício de quaisquer cargos de administração de instituições financeiras privadas, assim como para o exercício de quaisquer funções em órgãos consultivos, fiscais e semelhantes, segundo normas que forem expedidas pelo Conselho Monetário Nacional;
XII - efetuar, como instrumento de política monetária, operações de compra e venda de títulos públicos federais;
XIII - determinar que as matrizes das instituições financeiras registrem os cadastros das firmas que operam com suas agências há mais de um ano.
§ 1º No exercício das atribuições a que se refere o inciso X deste artigo, com base nas normas estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional, o Banco Central do Brasil estudará os pedidos que lhes sejam formulados e resolverá conceder ou recusar a autorização pleiteada, podendo (Vetado) incluir as cláusulas que reputar convenientes ao interesse público.
54
§ 2º Observado o disposto no parágrafo anterior, as instituições financeiras estrangeiras dependem de autorização do poder executivo, mediante decreto, para que possam funcionar no País (Vetado).
Art. 11 - Compete ainda ao Banco Central do Brasil:
I - entender-se, em nome do Governo Brasileiro, com as instituições financeiras estrangeiras e internacionais;
II - promover, como agente do Governo Federal, a colocação de empréstimos internos ou externos, podendo, também, encarregar-se dos respectivos serviços;
III - atuar no sentido de funcionamento regular do mercado cambial, da estabilidade relativa das taxas de câmbio e do equilíbrio no balanço de pagamentos, podendo para esse fim comprar e vender ouro e moeda estrangeira, bem como realizar operações de crédito no exterior, inclusive as referentes aos direitos especiais de saque, e separar os mercados de câmbio financeiro e comercial. (Redação do Decreto-Lei 581, de 14 de maio de 1969)
IV - efetuar compra e venda de títulos de sociedades de economia mista e empresas do Estado;
V - emitir títulos de responsabilidade própria, de acordo com as condições estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional;
VI - regular a execução dos serviços de compensação de cheques e outros papéis;
VII - exercer permanente vigilância nos mercados financeiros e de capitais sobre empresas que, direta ou indiretamente, interfiram nesses mercados e em relação às modalidades ou processos operacionais que utilizem;
VIII - prover, sob controle do Conselho Monetário Nacional, os serviços de sua Secretaria.
§ 1º No exercício das atribuições a que se refere o inciso IX do artigo 10 desta Lei, o Banco Central do Brasil poderá examinar os livros e documentos das pessoas naturais ou jurídicas que detenham o controle acionário de instituição financeira, ficando essas pessoas sujeitas ao disposto no artigo 44, § 8º, desta Lei.
§ 2º O Banco Central do Brasil instalará delegacias, com autorização do Conselho Monetário Nacional, nas diferentes regiões geo-econômicas do País, tendo em vista a descentralização administrativa para distribuição e recolhimento da moeda e o cumprimento das decisões adotadas pelo mesmo Conselho ou prescritas em Lei.
Art. 12 - O Banco Central do Brasil operará exclusivamente com instituições financeiras públicas e privadas, vedadas operações bancárias de qualquer natureza com outras pessoas de direito público ou privado, salvo as expressamente autorizadas por Lei.
Art. 13 - Os encargos e serviços de competência do Banco Central, quando por ele não executados diretamente, serão contratados de preferência com o Banco do Brasil
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S.A., exceto nos casos especialmente autorizados pelo Conselho Monetário Nacional. (Redação do Decreto-Lei 278, de 28 de fevereiro de 1967)
Art. 14 - (REVOGADO)
Art. 15 - O regimento interno do Banco Central do Brasil, a que se refere o inciso XXVII, do art.4º, desta Lei, prescreverá as atribuições do Presidente e dos Diretores e especificará os casos que dependerão de deliberação da Diretoria, a qual será tomada por maioria de votos, presentes no mínimo o Presidente ou seu substituto eventual e dois outros Diretores, cabendo ao Presidente também o voto de qualidade.
Parágrafo único. A Diretoria se reunirá, ordinariamente, uma vez por semana, e, extraordinariamente, sempre que necessário, por convocação do Presidente ou a requerimento de, pelo menos, dois de seus membros.
Art. 16 - Constituem receitas do Banco Central do Brasil as rendas:
I - de operações financeiras e de outras aplicações de seus recursos;
II - das suas operações de câmbio, da compra e venda de ouro e de quaisquer outras operações em moeda estrangeira;
III - eventuais, inclusive as derivadas de multas e de juros de mora aplicados por força do disposto na legislação em vigor.
CAPÍTULO IV DAS I�STITUIÇÕES FI�A�CEIRAS
Seção I Da Caracterização e Subordinação
Art. 17 - Consideram-se instituições financeiras, para os efeitos da legislação em vigor, as pessoas jurídicas públicas ou privadas, que tenham como atividade principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade de terceiros.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei e da legislação em vigor, equiparam-se às instituições financeiras as pessoas físicas que exerçam qualquer das atividades referidas neste artigo, de forma permanente ou eventual.
Art. 18 - As instituições financeiras somente poderão funcionar no País mediante prévia autorização do Banco Central do Brasil ou decreto do Poder Executivo, quando forem estrangeiras.
§ 1º Além dos estabelecimentos bancários oficiais ou privados, das sociedades de crédito, financiamento e investimentos, das caixas econômicas e das cooperativas de crédito ou a seção de crédito das cooperativas que a tenham, também se subordinam às disposições e disciplina desta Lei no que for aplicável as bolsas de valores, companhias de seguros e de capitalização, as sociedades que efetuam distribuição de prêmios em imóveis, mercadorias ou dinheiro, mediante sorteio de títulos de sua emissão ou por qualquer forma, e as pessoas físicas ou jurídicas que exerçam, por conta própria ou de
56
terceiros, atividade relacionada com a compra e venda de ações e outros quaisquer títulos, realizando nos mercados financeiros e de capitais operações ou serviços de natureza dos executados pelas instituições financeiras.
§ 2º O Banco Central do Brasil, no exercício da fiscalização que lhe compete, regulará as condições de concorrência entre instituições financeiras, coibindo-lhes os abusos com a aplicação da pena (Vetado) nos termos desta Lei.
§ 3º Dependerão de prévia autorização do Banco Central do Brasil as campanhas destinadas à coleta de recursos do público, praticadas por pessoas físicas ou jurídicas abrangidas neste artigo, salvo para subscrição pública de ações, nos termos da Lei das Sociedades por Ações.
(...)
ANEXO 3
57
Fontes: IBGE e DIEESE
(*) PIB do ano imediatamente anterior ao reajuste do salário mínimo
58
BIBLIOGRAFIA
1. BACHA, Edmar L.; GOLDFAJN, Ilan. Como Reagir à Crise? Políticas
Econômicas para o Brasil. Rio de Janeiro. Coletânea de artigos, 2009.
2. Brazil Takes Off, The Economist, Londres, n 8657, p. 14, Nov. 2009.
3. Getting it toghether at last, The Economist, Londres, n. 8657, p. 61-78,
Nov. 2009.
4. Nasce o Mundo Pós-Crise, VEJA, Rio de Janeiro, ano 42, n. 37, p. 120-
144, set. 2009.
5. A hora de o Brasil crescer, VEJA, Rio de Janeiro, ano 42, n. 40, p. 80-
86, out. 2009.
6. O Brasil e a crise mundial, Dez razões para o otimismo, VEJA, Rio de
Janeiro, ano 42, n. 9, p. 82-90, out. 2009.
7. Reflexões sobre o Brasil, entrevista com Márcio Pochmann, Gente da
Caixa, Rio de Janeiro, ano 5, n. 27, p. 6-9, mai./jun. 2009.
8. Doing Businness in Brazil, SWISSCAM - Câmara de Comércio Suíço-
Brasileira, Pricewaterhouse Coopers, São Paulo, p. 8-11, out. 2008.
9. Valor Econômico, <http://valoreconomico.com.br>, Data de acesso:
07/04/2009.
10. A crise de A a Z, <http://br.hsmglobal.com>, Data de acesso:
15/09/2009.
59
11. ALMEIDA, Danilo; Brasil o Líder Regional,
<http://br.noticias.yahoo.com>, Data de acesso: 23/11/2009.
12. Nota Técnica. <www.dieese.org.br>. n. 86, jan. 2010, Data de acesso:
25/02/2010.
13. CRAINER, Stuart, Grandes pensadores da administração. São
Paulo. Ed. Futura, 2000.
14. BATEMAN, Thomas S.; SNELL, Scott A.; Administração, Construindo
vantagem competitiva. São Paulo. Ed. Atlas, 1998.
15. LAROSA, Marco A.; AYRES, Fernando A.; Como produzir uma
monografia. Rio de Janeiro. Ed. WAK, 2008.
60
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: Instituto A Vez do Mestre - UCAM
Título da Monografia: Reflexos da crise financeira mundial para a
economia brasileira.
Autor: Genilson Olímpio Ferreira
Data da entrega: 25/02/2010
Avaliado por: Conceito: