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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE ACORDOS DE RESULTADOS: A IMPLEMENTAÇÃO DA GESTÃO DE DESEMPENHO NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO Por: Gecina Dalva Constantino Orientador Prof. Nelsom Magalhães Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ACORDOS DE RESULTADOS: A IMPLEMENTAÇÃO DA GESTÃO DE

DESEMPENHO NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Por: Gecina Dalva Constantino

Orientador

Prof. Nelsom Magalhães

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

ACORDOS DE RESULTADOS: A IMPLEMENTAÇÃO DA GESTÃO DE

DESEMPENHO NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Gestão Pública

Por: Gecina Dalva Constantino

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AGRADECIMENTOS

À Deus, por tornar possível mais esta

realização em minha vida.

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DEDICATÓRIA

Aos servidores municipais que executam

com primazia as funções públicas.

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RESUMO

A presente monografia pretende estudar a introdução da

Administração Pública Gerencial no Município do Rio de Janeiro, que traça

como caminho a Gestão de desempenho, e ainda dentro deste contexto a

utilização da ferramenta Acordos de Resultados.

Este estudo busca analisar a importância dos Acordos de

Resultados na administração de desempenho no âmbito do Município do Rio

de Janeiro, além de conceituar a administração gerencial após a Reforma do

Estado, trazendo uma abordagem sobre a relevância dos Acordos para os

servidores públicos municipais.

Palavras chave: Reforma do Estado, Administração Pública

Gerencial, Gestão de Desempenho, Acordos de Resultados.

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METODOLOGIA

Esta monografia baseou-se na pesquisa exploratória utilizando

levantamento bibliográfico sobre os seguintes temas: Reforma do Estado,

Administração gerencial, Gestão Pública e Gestão de desempenho. Dentro da

metodologia aplicou-se a utilização de um estudo de natureza qualitativa

através de coleta de dados documental que incluíram Leis, Decretos,

Resoluções e demais publicações do Diário Oficial do Município do Rio de

Janeiro.

A pesquisa bibliográfica encontra-se nos seguintes autores: PEREIRA,

Luiz Carlos Bresser; COSTA, Índio da; SANTOS, Luis Alberto dos;

SALDANHA, Clezio e MATIAS-PEREIRA, José.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - O novo modelo de Administração Pública 9

CAPÍTULO II - A Gestão de Desempenho 20 CAPÍTULO III - Os Acordos de Resultados na Prefeitura do Rio 30

CONCLUSÃO 43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45

ÍNDICE 49

FOLHA DE AVALIAÇÃO 50

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INTRODUÇÃO

De acordo com Rezende (2009), as reformas gerenciais que

ocorrem a partir dos anos 90 colocaram como problema central a necessidade

de redefinir os moldes de gestão pública a partir de novos modelos

institucionais que permitissem ampliar a capacidade de governar, a

legitimidade política e a eficiência na provisão de bens e serviços para a

sociedade.

Seguindo esta premissa, o modelo de reestruturação da

administração pública implantado com a Reforma do Estado, incidiu

diretamente nos padrões de eficiência, o que solicitou dos servidores públicos

maior desempenho na realização de suas tarefas, sobretudo após a

promulgação da Emenda Constitucional nº 19/1998.

Acompanhando este movimento, o Município do Rio dentro das

perspectivas da administração gerencial, incrementou ações voltadas

especificamente para a Gestão de desempenho. As ações implantadas

pretendem atender as novas necessidades e expectativas dos cidadãos, além

de dinamizar os serviços prestados pela Prefeitura, dando respostas mais

imediatas à população.

Dentre as ações implantadas em 2010, o Município passou a

utilizar os Acordos de Resultados, que visam atingir resultados de

produtividade através da fixação de metas estabelecidas. A adoção deste

modelo de administração gerencial refletiu sobre o trabalho dos servidores, que

passarão a ser avaliados por aferição dos índices de resultados alcançados, e

poderão obter uma bonificação anual.

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CAPÍTULO I

O novo modelo de Administração Pública

Com a explosão da crise de endividamento internacional na

década de 80, a atenção de políticos e economistas no mundo todo se voltou

para o ajuste estrutural, também conhecido como ajuste fiscal, criando

reformas orientadas para o mercado.

A partir da década de 90, a ênfase deslocou-se para a reforma do

Estado, particularmente para a reforma administrativa.

Segundo Soares (2000), a necessidade de reorganizar a máquina

estatal era a proposta máxima da reforma do Estado, retirando seu poder de

comandar a economia e reduzindo o setor público estrategicamente. Desta

forma, deixando clara a idéia de que reduzindo o tamanho do Estado, se

reduziria os gastos públicos.

Uma das premissas para alavancar tal reforma era retirar o

Estado como agente econômico produtivo, privatizando as empresas estatais,

reduzindo o setor público e reorganizando a máquina estatal.

O Brasil passou por diversas fases de reforma da administração

pública desde meados da década de 80, sendo que o foco foi mudando nos

sucessivos governos e resultando em esforços de reforma sem continuidade.

Posteriormente, com a promulgação da constituição de 1988, foram impressas

as principais ondas de reforma.

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Sob o primeiro governo Fernando Henrique Cardoso (1995-99),

um ambicioso programa de reforma gerencial foi lançado juntamente com

novas linhas de administração pública, incluindo programas de elaboração de

orçamento. O objetivo era tornar a prestação de serviços mais eficaz por meio

da reestruturação da administração e da introdução de incentivos ao

desempenho.

Foi tentada uma grande reestruturação das organizações do

serviço público, e alguns elementos dos serviços públicos foram terceirizados

ou privatizados e foram feitos também esforços para introduzir métodos de

gestão por desempenho.

“É preciso, agora, dar um salto adiante, no sentido de

uma administração pública que chamaria de "gerencial",

baseada em conceitos atuais de administração e

eficiência, voltada para o controle dos resultados e

descentralizada para poder chegar ao cidadão, que,

numa sociedade democrática, é quem dá legitimidade às

instituições e que, portanto, se torna "cliente privilegiado"

dos serviços prestados pelo Estado. É preciso

reorganizar as estruturas da administração com ênfase

na qualidade e na produtividade do serviço público; na

verdadeira profissionalização do servidor, que passaria a

perceber salários mais justos para todas as funções.

Esta reorganização da máquina estatal tem sido adotada

com êxito em muitos países desenvolvidos e em

desenvolvimento”. (BRASIL-PDRAE, 1995)

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Ainda em 1995, começou a ser discutida a introdução da

Administração Pública Gerencial, onde as principais características desse novo

modelo de gestão, segundo PAULA, 2007 apud SANTOS e VIEIRA: 2008, são

as seguintes: administração profissional, autônoma e organizada em carreiras;

descentralização administrativa; maior competição entre as unidades

administrativas; disciplina e contenção no uso dos recursos; indicadores de

desempenho transparentes; maior controle dos resultados; ênfase no uso de

práticas de gestão originadas no setor privado.

Dentro deste contexto, o que se constata é que o modelo de

Administração Pública Gerencial solicita do poder público:

• Foco da ação das instituições públicas no cidadão.

• Foco da atuação dos agentes públicos e do controle voltados

predominantemente para os resultados, em lugar de ritos

meramente processuais.

• Busca de maior transparência às ações do Estado.

• Instituição de instâncias de participação da sociedade na

formulação, no acompanhamento da execução e na avaliação

das políticas públicas: participação e controle social.

• Revisão do tamanho da máquina pública, descentralização e

desconcentração.

Segundo Santos e Vieira (2008), para que a administração

pública tenha um efetivo funcionamento, pressupõe-se a existência de uma

série de condições favoráveis em termos institucionais, administrativos e

técnicos.

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Institucionalmente, é requerido apoio político, estabilidade,

continuidade administrativa e ações legalmente fundamentadas;

administrativamente, são necessárias estruturas organizacionais capazes de

formular e coordenar a execução de atividades e programas, e cuja eficácia

possa ser medida pela capacidade em suplantar os obstáculos da burocracia

tradicional, bem como assegurar uma integração de esforços para a

consecução de objetivos comuns voltados à melhoria dos padrões de vida da

coletividade; e tecnicamente, é preciso pessoal capacitado, submetido a

programas sistemáticos de atualização e aperfeiçoamento, para que possam

ser julgados pelos seus méritos e não por injunções políticas, bem como

disponibilidade de informações conjunturais, de maneira a dar consistência à

formulação de políticas públicas.

A introdução de novos modelos administrativos e gerenciais tem

como problema central, para os formuladores e implementadores de políticas

públicas nessas organizações, o modo como combinar burocracia e

democracia, portanto a questão crucial é saber em que medida as estruturas

burocráticas comportam ambientes democráticos. (REZENDE, 1998, apud

SALDANHA, 2006: 5).

1.1 - A Administração Pública após a Reforma do Estado

Em linhas gerais a reforma do Estado pretende acompanhar a

flexibilidade do mercado capitalista globalizado, em resposta aos reflexos das

crises econômica, fiscal, política e principalmente de Estado, que afetaram o

governo, e impedia a sua melhor atuação nas esferas sociais.

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Segundo Pereira (1995), reconstruir o Estado significa superar

definitivamente a crise fiscal e rever as estratégias de intervenção no plano

econômico e social, abandonando as intervenções diretas e adotando formas

regulatórias.

A reforma visa modernizar a administração pública,

descentralizando suas ações, onde as atividades burocráticas devem ser

desempenhadas com maior qualidade por servidores mais eficientes.

Para Pereira (1995), a reforma do Estado é um tema que envolve

aspectos políticos, econômicos e administrativos, e dentro dos pressupostos

para reformular a administração se encontra a certeza de que a administração

pública burocrática devia mudar, e ser substituída por uma administração

pública gerencial.

No Brasil, estas reformas tornaram-se mais evidentes a partir de

1995 com o Plano Diretor da Reforma do Aparelho do Estado que procurou

criar condições para a reconstrução da administração pública em bases

modernas e racionais.

“No passado, constituiu grande avanço a implementação

de uma administração pública formal, baseada em

princípios racional-burocráticos, os quais se

contrapunham ao patrimonialismo, ao clientelismo, ao

nepotismo, vícios estes que ainda persistem e que

precisam ser extirpados. Mas o sistema introduzido, ao

limitar-se a padrões hierárquicos rígidos e ao concentrar-

se no controle dos processos e não dos resultados,

revelou-se lento e ineficiente para a magnitude e a

complexidade dos desafios que o País passou a enfrentar

diante da globalização econômica”. (BRASIL-PDRAE,

1995)

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Para Pereira (1996), no lugar da velha administração pública

burocrática, emergiu uma nova forma de administração - a administração

pública gerencial -, que tomou emprestado do setor privado os imensos

avanços práticos e teóricos ocorridos no século XX na administração das

empresas, sem, contudo, perder sua característica específica: a de ser uma

administração que não está orientada para o lucro, mas para o atendimento do

interesse público.

De acordo com Matias-Pereira (2010), o que se buscou com a

reforma do Estado é a substituição do modelo burocrático pelo modelo

gerencial, pautado em princípios da administração das empresas privadas, que

traz novos conceitos de gestão, que se acredita possam ser aplicados com

sucesso em muitos setores da administração pública: administração por

objetivos, downsizing1, serviços públicos voltados para o consumidor,

empowerment2, pagamento por desempenho, qualidade total, formas de

descentralização

Os esforços para importar as novas linhas de administração

pública em um serviço público totalmente despreparado e enfraquecido não

vingaram, deixando um legado de medidas parcialmente implantadas.

Para melhor compreensão da relação entre administração e

reforma conceitua-se a administração pública como o conjunto de meios

materiais, humanos, financeiros e institucionais empregados com a finalidade

de execução das funções públicas, ou seja, são os meios necessários ao

atendimento das necessidades administrativas do Estado.

1 É uma técnica da Administração contemporânea, que tem por objetivo a eliminação da burocracia corporativa desnecessária, é focada no centro da pirâmide hierárquica, na área de recursos humanos. 2 Delegação de autoridade, é uma abordagem a projetos de trabalho que se baseia na delegação de poderes de decisão, autonomia e participação dos funcionários na administração das empresas.

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Matias-Pereira (2010), aponta que a reforma do Estado brasileiro,

na qual está inserida a reforma administrativa, deve ser orientada para o

desenvolvimento e levar em consideração a absoluta necessidade do Estado e

sua construção em novas bases.

De acordo com Pereira Jr.(1999), a sociedade necessita que o

Estado realize e preste atividades, funções e serviços não lucrativos, posto que

não comerciais, nem industriais, porém essenciais, como são os relacionados

com a saúde pública, a educação fundamental, a assistência social, o

saneamento básico, a segurança pública, a tutela jurisdicional, a polícia

administrativa e a diplomacia. Para o autor, a sociedade não organiza e

mantém o Estado para que seja ineficiente, embora ineficiências possam ser, e

são, encontradas em vários setores da Administração Pública, como podem

ser, e são, encontráveis em setores de qualquer empreendimento privado.

1.2 - A introdução da Administração Pública Gerencial no Município do Rio de Janeiro

De acordo com Matias-Pereira (2010), a administração pública

gerencial surgiu na segunda metade do século XX com estratégia para reduzir

custos e tornar mais eficiente a administração dos serviços sob a

responsabilidade do Estado; como instrumento de proteção ao patrimônio

público; e para amenizar a insatisfação existente contra a administração

pública burocrática. Ressalta-se que o gerencialismo consiste na administração

voltada para resultados, voltado para atender as demandas do

cidadão/usuário.

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Segundo o levantamento da Confederação Nacional dos

Municípios (2008), a reestruturação administrativa do Estado compreende na

gestão gerencial a única forma viável de padronização e sistematização de

atividades capaz de permitir que sejam alcançados objetivos e resultados,

demonstrando um conceito empresarial e privatizador de governabilidade. Este

novo cenário, que enfoca uma nova dimensão de ajuste com pretensão de

competitividade e lucratividade, vem se consolidando inclusive nas

administrações públicas municipais.

Ainda de acordo com a CNM (2008), as transformações

tecnológicas, estruturais, econômicas e sociais exercem um grande impacto na

vida das pessoas, e conseqüentemente afetam as gestões por elas lideradas.

Estas transformações atingem todos os setores socioeconômicos, e

especificamente nos municípios encontram-se características marcantes desse

processo, o que sugere a necessidade de novas concepções e abordagens

sobre a gestão municipal.

Encontra-se explicitado no Plano Diretor da Reforma do Aparelho

do Estado (1995), que a administração pública gerencial vê o cidadão como

contribuinte de impostos e como cliente dos seus serviços. Para tanto, os

resultados da ação do Estado são considerados bons não porque os

processos administrativos estão sob controle e são seguros, mas porque as

necessidades do cidadão-cliente estão sendo atendidas.

“O modelo gerencial tornou-se realidade no mundo

desenvolvido quando, através da definição clara de

objetivos para cada unidade da administração, da

descentralização, da mudança de estruturas

organizacionais e da adoção de valores e de

comportamentos modernos no interior do Estado, se

revelou mais capaz de promover o aumento da qualidade

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e da eficiência dos serviços sociais oferecidos pelo setor

público”. (BRASIL-PDRAE, 1995)

Para lidar com essa nova situação, são necessários conceitos e

instrumentos capazes de levar em consideração adequadamente as

transformações e desenvolvimentos que estão ocorrendo. Não utilizar uma

orientação clara de desenvolvimento que se baseie no potencial do município,

e sem flexibilidade para reagir às influências externas, o desenvolvimento

municipal pode ser prejudicado sensivelmente.

Um dos instrumentos para lidar adequadamente com processos

dinâmicos de mudanças e transformações é o Planejamento. O planejamento

é um instrumento de gerenciamento que tem como único propósito tornar o

trabalho de uma organização mais eficiente. Os dois principais instrumentos de

planejamento urbano no Brasil são a Lei Orgânica e o Plano Diretor.

Segundo Pfeiffer (2000), os Municípios com mais de 20.000

habitantes são obrigados a elaborar um Plano Diretor, sob a orientação da

Constituição, onde seu objetivo é “ordenar o pleno desenvolvimento das

funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes” (Brasil,

1988: título VII, capítulo III, art. 182). A Constituição também orienta que a

elaboração do Plano Diretor deve ser participativa e considerar os interesses

das organizações civis locais. No entanto, os pormenores sobre o

procedimento são definidos na Lei Orgânica e podem variar de município para

município, desde que não firam as legislações federal ou estadual.

Desta forma, segundo Matias-Pereira (2010), passa o

planejamento governamental a constituir uma função do governo, de cunho

permanente. O planejamento, com base nas novas atribuições constitucionais,

deixou de ser um instrumento de caráter técnico e tornou-se um mecanismo

jurídico por meio do qual o dirigente passou a ter a obrigação de executar sua

atividade governamental na busca da realização das mudanças necessárias

para alcançar o desenvolvimento econômico e social.

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Para Pfeiffer (2000), ao contrário de um Plano Diretor, o

Planejamento/Plano Estratégico, não é uma norma legal senão um contrato

político e social, cuja execução corresponde àquelas partes que têm a

competência ou a capacidade para fazê-lo. No entanto, o plano funciona como

meio de pressão pública para promover o cumprimento dos seus objetivos.

Outro aspecto é de que o Planejamento Estratégico deve ser entendido como

um processo permanente no qual o ambiente da organização é observado e

analisado, ações são planejadas, executadas e os seus impactos são

avaliados, antes do ciclo começar outra vez.

Nas premissas do Plano Estratégico da Prefeitura do Rio de

Janeiro que compreende o período de 2009-2012, encontram-se expressos os

princípios da atuação do governo:

“Colocar o cotidiano das pessoas como tema prioritário de

governo. Assegurar uma gestão profissional de toda

máquina municipal. Estabelecer uma perfeita integração

entre as políticas públicas municipais, estaduais e

federais. Garantir que os serviços públicos prestados pela

Prefeitura tenham o mesmo padrão de qualidade em

todas as regiões da cidade. Potencializar a capacidade de

investimento da Prefeitura através de parcerias com o

setor privado e outras esferas de governo. Uma Prefeitura

moderna, ágil e presente. Enfim, um Rio mais integrado e

mais competitivo. Pronto para vencer novos desafios”.

(D.O RIO:2010)

Para Souza (2005), a base de qualquer sistema contemporâneo

de desempenho é o plano estratégico. A visão de futuro e as estratégias

corporativas, construídas para a resolução de problemas que afetam o

desempenho organizacional, são os alicerces principais.

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De acordo com Pfeiffer (2000), o Planejamento Estratégico

sempre deverá ser realizado por uma organização, seja uma empresa privada,

ou parte dela; uma organização não governamental; a própria administração

pública, ou parte dela; e ainda, um município.

Segundo Costa (2004), existem semelhanças enormes e

diferenças abissais entre a iniciativa privada e poder público. O serviço público

é uma organização que só trabalha com aquilo que a lei permite ou abriga. A

iniciativa privada visa o lucro, o outro, não; a administração pública depende

das decisões do Legislativo, a privada não; quando quebra a empresa privada

fecha as portas; o poder público nunca fecha.

O que se pode adotar da lógica privada são os cortes de custos e

de prazos, a modernização e a implantação de uma cultura tecnológica, uma

administração profissional, a busca da eficácia.

Ainda segundo Costa (2004), a reforma na Prefeitura busca agir

dentro da lógica pública, observando as amarras, as obrigações e os deveres

da função governamental, entretanto, quebrando barreiras no uso de conceitos

inovadores, definição de metas, corte de custos, qualidade total, balance

scorecard3, administração por processos, dentre outros.

A implantação da administração pública gerencial, para Matias-

Pereira (2010), envolve uma alteração na estratégia de gerência, que deve ser

posta em prática em uma estrutura administrativa reformada. Neste sentido,

busca descentralizar, delegar autoridade e, em especial, definir de forma clara

os setores de autuação do Estado, competências e modalidades de

administração adequadas a cada setor.

3 É uma metodologia de medição e gestão de desempenho desenvolvida pelos professores da Harvard Business School, Robert Kaplan e David Norton, em 1992.

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CAPÍTULO II

A Gestão de Desempenho

As reformas gerenciais partiram do pressuposto de fazer a

burocracia pública funcionar melhor e com menor custo, apresentando uma

nova Administração Pública construída a partir de flexibilidade gerencial,

descentralização, autonomia, e com novas formas de gerenciamento. Dentro

desta perspectiva, a velha estrutura burocrática entrou num processo de

obsolescência, sendo sucedida por um novo modelo, o modelo gerencial, que

imprimiu uma nova gestão, a gestão de desempenho.

De acordo com o Relatório da Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (2010), no começo da gestão por desempenho,

diversos países estabeleceram medidas muito sofisticadas para avaliar as

realizações e resultados, por meio de modelos destinados a atingir certo nível

de avaliação científica. Esses modelos se mostraram bastante complicados do

ponto de vista burocrático e focaram a atenção dos trabalhadores não sobre o

seu comportamento geral e prestação global de serviços, mas em alguns

poucos resultados e medidas.

A Gestão de desempenho pode ser conceituada como um

processo contínuo de negociação, acompanhamento e renegociação de

metas, individuais e grupais, com foco nos resultados organizacionais e que

gera subsídios para recompensar desempenhos superiores.

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Para Matias-Pereira (2010), o esforço para melhorar o

desempenho dos governos, por sua vez, passa pela formação de equipes de

trabalho comprometidas com as instituições e com as missões primordiais do

Estado, especialmente com a prestação de serviços de qualidade à população

e com a geração de estímulos ao desenvolvimento econômico do país.

Para entender melhor o que se espera com a implantação das

metodologias de gestão de desempenho verifica-se que as questões ligadas à

gerência do trabalho estão integradas à gerência de pessoas. Conforme a

seguinte definição:

“A administração de desempenho é uma metodologia

gerencial que visa promover a consecução das metas

organizacionais e o desempenho dos recursos humanos,

através de um processo participativo, dinâmico, continuo

e sistematizado de planejamento, acompanhamento,

avaliação e melhoria do desempenho”. (STOFFEL,

2000:13, apud SALDANHA, 2006:113)

Um sistema de gestão de desempenho funciona com a

delimitação inicial dos trabalhos a serem realizados e dos resultados a serem

alcançados (planejamento) e o acompanhamento do desempenho, visando

assegurar o cumprimento das metas e os resultados estabelecidos com base

no planejamento previamente elaborado e na avaliação do desempenho

(GUIMARÃES, NADER E RAMAGEM, 1998, apud Cadernos ENAP n. 22:

2003)

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O objetivo do acompanhamento e da avaliação de desempenho é

verificar o modo como o trabalhador está realizando seu trabalho e os

resultados alcançados, visando ter diagnóstico dos aspectos que interferiram

ou estão interferindo neles positiva ou negativamente e, a partir do diagnóstico,

estabelecer planos de ação para assegurar o alcance de objetivos previamente

estabelecidos ou valorizar os resultados alcançados e a atuação do

profissional.

A avaliação de desempenho passou a compor a metodologia de

gestão de desempenho com uma característica diferente da sua forma

tradicional, entende-se que a gestão de desempenho de organizações e

pessoas é uma questão relacionada com a busca da eficiência e eficácia

organizacional.

2.1- A Gestão de Desempenho no serviço público

O processo de introdução da administração publica gerencial, tem

como pressupostos: descentralização das decisões e funções do Estado,

autonomia no que diz respeito à gestão de recursos humanos, materiais e

financeiros e ênfase na qualidade e na produtividade do serviço público.

Desta forma, na implementação da Gestão de desempenho é

necessário que a administração meça seu desempenho de maneira

sistemática e estruturada, dotando as organizações públicas de um modelo de

avaliação do desempenho organizacional que possa contribuir para tornar o

Estado mais ágil, transparente e focado em resultados que agreguem valor à

sociedade.

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As preocupações com a melhoria do desempenho surtiram

reflexos na inclusão do princípio da eficiência na administração pública, e

também no Regime Jurídico Único dos servidores, proporcionado dotar a

administração pública de maior flexibilidade na gestão de recursos humanos

Segundo Saldanha (2006), a avaliação de desempenho resulta

da análise entre o desempenho esperado e o desempenho realizado, fechando

o ciclo de administração do desempenho. Ela permite conceituar o resultado

obtido, gerando conseqüências para o próximo ciclo, não devendo, contudo,

apresentar surpresas nem sobressaltos, uma vez que as metas e os

indicadores foram negociados na fase de planejamento e revistos

periodicamente na fase de acompanhamento.

De acordo com Souza (2005), a gestão estratégica do

desempenho humano exige a continuidade do ciclo ao demandar a

transformação das informações obtidas na etapa de avaliação em suporte à

tomada de decisão.

Segundo o Relatório OCDE (2010), o critério de melhoria de

competências tem se tornado cada vez mais importante, em parte porque é

uma forma de incentivar o desenvolvimento das competências-chave

necessárias dos servidores. Também pode ser mais fácil acordar sobre o que

constitui as competências técnicas do que avaliar quais resultados foram

alcançados. Tal caminho permitiu aos países evitar a divisão muitas vezes

associada com a remuneração com base em resultados de desempenho

avaliados.

Para Schwartzman (1996), o controle adequado do

funcionamento e desempenho das instituições públicas requer a combinação

de dois ingredientes que nem sempre andam juntos: a legitimidade, e a

competência técnica e profissional dos responsáveis pelos mecanismos de

avaliação e acompanhamento.

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Um dos maiores desafios que se deve enfrentar é como motivar

os gerentes e servidores a usar as informações geradas pelos indicadores de

maneira que se converta a medição de desempenho em um sistema de

gestão.

O que se espera é que as diretrizes usadas para a formulação e

implantação dos processos de Avaliação de Desempenho sejam inspiradas na

percepção e no reconhecimento do desempenho humano como fator de

impulso do sucesso da organização. Mais além, as funções realizadas pelo

servidor devem promover as mudanças no setor público, sendo que o trabalho

deverá ser permanente de readaptação e também de assimilação de novos

conhecimentos.

Para compreensão destes fatores conclui a OCDE no Relatório Brasil (2010):

“O “desempenho” nos serviços e administrações públicas

é um conceito amplo que inclui não apenas custos,

produção e efeitos nos resultados, mas também conceitos

como adequação, devido processo legal e confiabilidade.

O desempenho de um servidor público envolve não

apenas trabalhar e entregar, mas também o respeito

pelas leis do país, pelo sistema democrático e pelo

governo eleito durante seu o período na função. O bom

desempenho não acontece por acaso, pelo menos não de

forma consistente. Ele requer ações apropriadas por parte

dos líderes políticos, legisladores, administradores

públicos e servidores públicos. Isso se refere à cultura e

às atitudes tanto quanto às organizações, mandatos,

competências e incentivos”. (OCDE: 2010:204)

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O que se constata é que a situação atual do serviço público

brasileiro é moldada pelo legado das reformas passadas. Isso deve ser levado

em consideração para decidir como abordar mudanças futuras.

2.2- Os reflexos da Gestão de Desempenho na Administração Pública Municipal

Segundo Ferreira (2006), vivemos em uma sociedade estruturada

em torno de organizações. O bom funcionamento das empresas, instituições

públicas, escolas e hospitais é fundamental para que possamos ter maior

qualidade de vida e alcançar níveis mais elevados de desenvolvimento

humano, econômico e cultural. Por isso, muitos esforços foram desenvolvidos

na busca de modelos de gestão que se revelem mais adequados às

necessidades inerentes à gestão organizacional.

Acompanhando este movimento, a Administração Pública do

Município4 do Rio de Janeiro passou a promover dentro da sua organização,

um novo modelo de modernização e desenvolvimento de processos, que visa

acompanhar os movimentos da atual conjuntura de gestão operacional.

Para gerenciar o processo de mudança administrativa no âmbito

Municipal, formulou-se o Sistema Municipal de Administração, que foi

institucionalizado através da Lei 3.789/04 e regulamentado pelo Decreto

24.749/04.

4 Município é o ente federativo, a pessoa jurídica de direito público, enquanto Prefeitura é apenas a sede do Poder Executivo Municipal.

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O Sistema Municipal de Administração se compõe dos

Subsistemas de Gestão Institucional, Recursos Humanos e Infra-estrutura e

Logística. Integram o Sistema o órgão gestor, os órgãos setoriais, seccionais e

locais da Administração Direta, Indireta e Fundacional, entendidos como

aqueles que respondem pelo desenvolvimento sistemático das atividades

específicas dos subsistemas.

O processo de mudança implementado na Administração Pública

do Rio levou em consideração: o foco no cidadão, que são os clientes; a

qualidade, na prestação de serviços; organização focada em processos,

informação e tecnologia disponíveis, abandonando a lógica piramidal,

departamental, e hierárquica como a base organizacional, e passando a

enxergar a organização publica de forma integrada.

Possibilitando a mudança organizacional e permitindo o gradativo

deslocamento da administração tradicional para uma administração

eminentemente participativa, inseriu-se a importância do papel de cada

indivíduo, que neste caso, se expressou na figura dos servidores. Para tanto, a

municipalidade passou a investir na reformulação das dinâmicas de

capacitação gerencial com visão nos resultados, baseados na formação

específica e na atuação funcional aprimorada.

Para Costa (2004), o que se pretende é redesenhar a

administração pública municipal para reduzir sua burocracia, aumentar a

produtividade com processos mais simples e com menos custos para a

sociedade. Tornar a Prefeitura uma facilitadora da vida das pessoas, mais

transparente e acessível a todos.

Para alguns estudiosos, o que se pretende é inserir no cotidiano

da administração pública municipal, as rotinas do que acontecem nas grandes

empresas da iniciativa privada.

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De acordo com Ferreira (2006), o sucesso das mudanças que os

gestores precisam buscar em suas organizações depende, entre outros

fatores, da adoção de uma política de gestão de pessoas adequadas aos

novos modelos de gestão. A superação das limitações apontadas nos estudos

administrativos mais tradicionais e a incorporação de idéias propostas pelas

abordagens inovadoras estão relacionadas à forma como a organização

percebe as pessoas que nela trabalham.

Segundo Saldanha (2006), a gestão de desempenho das

pessoas (como elas podem ser mais produtivas) e da organização (como são

atingidos os resultados esperados) é uma questão recorrente na busca da

eficiência e eficácia organizacionais.

E para acompanhar esta nova lógica de gestão pública, a

Prefeitura do Rio instituiu Acordos de Resultados com secretarias e órgãos,

para premiar funcionários da ativa que atingirem metas estabelecidas para a

execução de projetos estratégicos.

Segundo o estabelecido, os Acordos de Resultados representam

uma ferramenta de gestão usada na administração pública para garantir um

maior comprometimento de toda a máquina pública municipal com os

resultados previstos, usado para institucionalizar uma nova cultura que

privilegie o planejamento com metas claras; motivar a participação dos

servidores com um modelo de meritocracia que avalie e premie aqueles que

atingirem bons resultados e, antecipar problemas e apontar soluções através

do acompanhamento formal dos resultados obtidos.

A partir dessa avaliação, juntamente com o cumprimento de

metas institucionais, é que será estabelecido o sistema de recompensas, que

deverá ser variável conforme o desempenho dos servidores e das instituições.

Isso é ilustrado na figura a seguir:

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Fonte: COLETÂNEA GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL. Confederação Nacional dos

Municípios. Brasília: CNM, 2008, p. 53

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Para Lopes (2009), a etapa final do processo de gestão de

desempenho requer a existência de uma política de recompensas e a definição

de procedimentos que funcionem como estímulos para a indução de

comportamentos eficazes e eficientes, por parte de grupos e indivíduos

Para que se possa alcançar eficiência, eficácia e efetividade

organizacional é indispensável a manutenção de coerência e compatibilidade

na modelagem das diversas variáveis organizacionais. As escolhas das

variáveis devem atender a critérios de sua adequação à tarefa/função da

organização. Fica clara, assim, a necessidade de adequação do modelo

organizacional conforme a natureza da organização e sua relação com o

ambiente.

A idéia dos Acordos é estabelecer uma nova cultura de gestão

pública e criar um maior comprometimento dos funcionários para a melhoria

dos serviços prestados à população, valorizando o desempenho de cada um.

Esta proposta pretende implementar um modelo de gestão de desempenho

que privilegia o planejamento (metas claras) e a meritocracia, como elementos

centrais para a melhoria dos serviços prestados a população.

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CAPÍTULO III

Os Acordos de Resultados na Prefeitura do Rio

Segundo Matias-Pereira (2010), o esforço de identificar as

limitações nos papéis desempenhados por organizações públicas, e de sua

necessidade de redirecionamento, não é tarefa fácil. A administração pública,

num sentido amplo, é todo o sistema de governo, todo o conjunto de idéias,

atitudes, normas, processos, instituições e outras formas de conduta humana,

que determinam na forma de distribuir e exercer a autoridade política e de

atender com equidade aos interesses públicos.

Ainda segundo o autor, a elevação do nível de desempenho dos

governos e das administrações públicas depende da formação de equipes de

trabalho comprometidas com as instituições e com as missões primordiais do

Estado, especialmente com a prestação de serviços de qualidade à população

e com a geração de estímulos ao desenvolvimento econômico do país.

Desta maneira, a atual gestão municipal, dentro da nova visão

estratégica de governança de vanguarda, publicou o Decreto nº 32.214 em 4

de maio de 2010, que fixou metas e indicadores de desempenho, e versa na

íntegra do seu Art. 1º:

“O Município do Rio de Janeiro poderá firmar acordos de

resultados com Órgãos Públicos integrantes da

Administração Direta Municipal, com a finalidade de

melhorar o desempenho e a qualidade dos serviços

prestados à população, ampliar a eficiência na utilização

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dos recursos públicos e ter assegurada, dentro da lei,

medidas de fomento de ordem financeira, orçamentária e

de política de recursos humanos, com vistas à otimização

dos resultados almejados, mensuráveis quantitativamente

e qualitativamente”. (D.O. RIO, 2010)

Os Acordos de Resultados se baseiam em exemplos de

experiências bem sucedidas de outros governos, como o Governo de Minas,

Prefeitura de Porto Alegre, Prefeitura de Curitiba e Governo de Pernambuco,

que desde 2004 utilizam esse modelo de gestão por resultados. Como modelo

de Gestão de Desempenho, os Acordos começaram a ser implementados na

Prefeitura do Rio em julho de 2009 quando ocorreu a assinatura do Acordo de

Resultados entre a Secretaria Municipal de Educação e as Diretoras das

Escolas Municipais.

Em 2010 foram assinados 18 Acordos de Resultados com as

seguintes Secretarias e órgãos: Administração, Assistência Social, Casa Civil,

Desenvolvimento, Educação, Habitação, Meio Ambiente, Transportes, Obras,

Saúde, Urbanismo, Procuradoria, Trabalho e Emprego, Fazenda, Empresa

Municipal de Urbanização, Instituto Pereira Passos, Ordem Pública,

Companhia de Engenharia de Tráfego do Rio de Janeiro. Até o momento,

estão sendo contemplados aproximadamente 80% dos servidores ativos da

Prefeitura. Durante os anos de 2011 e 2012, serão renovadas as metas dos 20

primeiros acordos estabelecidos, e ainda novos acordos serão assinados,

chegando a praticamente 100% da Prefeitura.

A implantação bem sucedida do modelo de gestão de

desempenho, em questão os Acordos de Resultados, pode garantir um maior

comprometimento de toda a máquina pública municipal com o alcance dos

resultados, aumentando significativamente as chances de atingir as metas

propostas à sociedade carioca por seus gestores e governantes.

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Consta estipulado no Art. 18 do Decreto nº 32214/2010 que o

resultado anual dos Acordos e eventuais medições da satisfação da população

carioca em relação à prestação de serviços públicos daí derivados, poderão

contribuir para a ampliação dos órgãos/entidades eleitos no âmbito da

Administração Pública Municipal, na medida da disponibilidade orçamentária

do Erário.

Acompanhar o cumprimento dos Acordos será missão da

Subsecretaria de Monitoramento de Resultados, vinculada à Secretaria

Municipal da Casa Civil. Este acompanhamento é realizado por meio de três

rotinas:

1. Relatórios de progresso, que deverão ser entregues ao Prefeito

mensalmente, informando o desempenho de cada Secretaria;

2. A expectativa em relação ao cumprimento de suas metas no

final do ano;

3. Levantamento de possíveis ações para a melhora da atuação

da Secretaria.

Os Acordos prevêem ainda que trimestralmente ocorram reuniões

de progresso para que desta forma o Prefeito possa, diretamente, tratar de

soluções para os problemas que estejam impedindo as Secretarias de

cumprirem as metas. Posteriormente, ocorrerá uma avaliação final, em que

serão apresentadas as metas alcançadas e não alcançadas pelas Secretarias,

ou seja, quem cumpriu ou não o acordo.

Quanto a revisão ou rescisão dos Acordos, o Decreto nº

32214/2010 prevê no Art. 14 que os Acordos de resultados poderão ser

revistos ou rescindidos a qualquer tempo, por consenso ou por vontade

unilateral do Município do Rio de Janeiro, Ente Político que engloba os Órgãos

Públicos com os quais ajustará metas de desempenho.

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Com a publicação do Decreto nº 32.214/10, o que a

administração pública municipal espera é estabelecer uma nova cultura de

gestão pública. Desta maneira os Acordos de Resultados consideram que:

“Formalismos desnecessários devem ceder à

materialização de objetivos concretos, o que permite

garantir o compromisso do Município do Rio de Janeiro

com Órgãos Públicos dele integrantes que, mesmo

despersonalizados, devem não só defender suas

prerrogativas institucionais, mas, também, atingir seus

propósitos, motivados por instrumentos razoáveis de

medidas de fomento de ordem administrativa, financeira e

orçamentária, nos limites da lei, e por mecanismos de

recompensa dos respectivos servidores”. (D.O. RIO,

2010)

Para Santos (2002), não se consegue gerar resultados novos

com estruturas antigas e defasadas. Uma nova ordem exige assimilação de

valores novos e uma estrutura compatível com a produção dos resultados

planejados.

3.1- Os Acordos de Resultados como ferramenta de Gestão de Desempenho

De acordo com KAPLAN e NORTON, 1997, apud LOPES,

2009:5, tudo que é importante tem de ser medido, porque somente o que é

medido pode ser gerenciado. Portanto, a mensuração se impõe como condição

imprescindível para aferir desempenhos, seja da organização, seja de seus

colaboradores.

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O Decreto Municipal nº 32.214/10 considera a necessidade de

que sejam criados instrumentos de aferição da produtividade dos Órgãos

integrantes da Administração Pública Direta, com vistas à concretização de

Políticas Públicas concebidas no contexto de uma Administração de

Resultados, voltada não só para a eficiência, como também para a eficácia do

aparato estatal e de seus servidores. Na prática, a Prefeitura do Rio pretende

acompanhar e monitorar através de relatórios mensais de progresso, reuniões

trimestrais e de relatório anual, os resultados obtidos.

Segundo Mota e Marques (2005), as experiências brasileiras na

realização de acordos de resultados são das mais variadas matizes

principalmente após o advento da Emenda Constitucional n.º 19/98. O assunto

tornou-se matéria já na promulgação da Constituição Federal de 1988,

disposto no parágrafo 8º do art. 37:

“Art. 37...

§8º. A autonomia gerencial, orçamentária e financeira dos

órgãos e entidades da administração direta e indireta

poderá ser ampliada mediante contrato, a ser firmado

entre seus administradores e o poder público, que tenha

por objeto a fixação de metas de desempenho para o

órgão ou entidade, cabendo à lei dispor sobre:

I - o prazo de duração do contrato;

II - os controles e critérios de avaliação de desempenho,

direitos, obrigações e responsabilidade dos dirigentes;

III - a remuneração do pessoal.” (Mota e Marques, 2005:

4)

Compreende-se que os Acordos de Resultados são validados

quando da assinatura dos Secretários de cada Secretaria da Administração

Direta juntamente com o Prefeito, e poderão ser revalidados anualmente.

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As Secretarias que cumprirem o Acordo (notas 4 e 5), ao final do

ano serão recompensadas com remuneração variável e verba de treinamento

adicional. Os Acordos estabelecem ainda metas orçamentárias para garantir

que os objetivos sejam atingidos dentro do orçamento definido. Se uma

Secretaria cumprir as metas e economizar parte de seus gastos, poderá

reverter 80% dessa economia em investimento no ano seguinte. Entretanto, se

uma Secretaria estourar o orçamento estipulado para o cumprimento de suas

metas, a recompensa será reduzida.

Segundo Lopes (2009), a meta representa um fim específico mais

próximo, expresso de forma quantitativa e mensurável, a ser atingido em curto

prazo. A perspectiva de tempo para alcance de metas fica geralmente restrita a

um período de no máximo doze meses.

Se os objetivos estratégicos são resultados de uma dimensão

mais geral que a organização pretende alcançar, para Matias-Pereira (2010),

as metas de desempenho devem ser mais concretas e objetivas, visto que são

necessárias ao atendimento dos objetivos e um referencial para a avaliação do

desempenho organizacional. Neste sentido, devem ser priorizadas, no

processo de definição de metas de desempenho, aquelas que impactam mais

e diretamente com os objetivos estratégicos. Sendo assim, as metas de

desempenho devem definir os níveis de desempenho mínimos aceitáveis, no

curto e médio prazo. Elas devem possuir as mesmas medidas de seus

respectivos quantificadores.

Conforme aponta Matias-Pereira (2010), dentro desta

perspectiva, a construção de metas, além do componente de realismo da

meta, ou seja, sua factibilidade, é necessário levar em consideração o elenco

de dimensões de desempenho da gestão, que é traduzido na eficiência,

eficácia, qualidade e economia. Para o autor, isso implica na necessidade de

gerar compromissos internos, tendo como referência que o cumprimento de

metas não deve depender de outras organizações ou de fatores exógenos.

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Para Lopes (2009), é fácil planejar e colocar no papel as idéias

para a execução de um processo estratégico de gestão de desempenho, em

que as gerências e subordinados estejam comprometidos em mudar o

enfoque, mas o difícil é colocá-lo em prática. Os principais problemas

encontram-se enraizados profundamente na cultura organizacional e estão

vinculados a valores reativos e inércia funcional, quando consideramos o perfil

que tende a predominar no serviço público e em algumas empresas brasileiras.

Em relação à adoção de medidas para melhorar o desempenho

da administração pública, sustenta MATHESON, 2006 apud MATIAS-

PEREIRA:2010,18 que a administração pública moderna :

“Requer servidores politicamente responsáveis e capazes

de interagir com grupos sociais diversos; requer pessoas

intelectualmente preparadas para analisar problemas

complexos e oferecer assessoramento para solucioná-los;

requer equipes suficientemente estáveis para assegurar

que o conhecimento institucional permaneça

independentemente das mudanças e governo; e por fim

requer uma base ética profissional, de forma que os

políticos recebam dos servidores assessoramento

apartidário, e os cidadãos recebam tratamento

equânime.” (MATHESON, 2006 apud MATIAS-

PEREIRA:2010,18 )

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3.2 - Os servidores públicos municipais e os Acordos de Resultados

Dentre os problemas enfrentados para a avaliação de

desempenho no serviço público, está a definição genérica de cargos e funções

(onde os ocupantes realizam os mais diversos trabalhos) e a não-definição de

objetivos, metas, resultados e padrões de desempenho a serem alcançados.

Segundo o Relatório da OCDE: Brasil 2010, que trata da

Avaliação da Gestão de Recursos Humanos no Governo, a introdução e

aumento das avaliações de desempenho, dos elementos de remuneração por

desempenho e da definição descentralizada da remuneração são tarefas

difíceis. Elas exigem competências gerenciais e de supervisão que os gestores

públicos muitas vezes recrutados e estudados de modo gerencial burocrático,

geralmente não possuem. Além disso, existe o risco de que avaliações de

desempenho deficientes e diferenciações subjetivas de remuneração possam

afetar de forma negativa a moral no trabalho e o desempenho.

O uso inadequado da avaliação de desempenho por parte dos

avaliadores reduz o comprometimento afetivo dos avaliados e a injustiça

percebida nas avaliações tem impacto sobre o comportamento das pessoas.

Matias-Pereira (2010), afirma que o monitoramento do

desempenho é o processo administrativo que indica que aquilo que uma

organização está realizando está consistente com o que ela decidiu fazer. Para

o autor, é relevante destacar que a sistemática de monitoramento do

desempenho necessita ser implementada de forma rápida, visto que dessa

celeridade depende a obtenção dos planos de ações e melhoria no

desempenho.

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Para uma melhor compreensão dos parâmetros de avaliação

individual dos servidores, e melhor explicitando o que se encontra estabelecido

nos Acordos de Resultados, os critérios de desempenho deverão seguir um

padrão conforme o que versa o Anexo II do art. 2º da Resolução Nº 917 de 06

de julho de 2010 da Secretaria Municipal de Urbanismo, como por exemplo:

Critérios de Avaliação de Desempenho de Servidores

Fonte: Resolução SMU Nº 917 de 06 de julho de 2010. Diário Oficial do Rio de Janeiro, 2010

Item Competência Descrição Pontos

1 Conhecimento Conhecimento das tarefas que lhe são confiadas para desenvolver, com domínio técnico e eficiência, e respeitando o prazo previsto.

2 Iniciativa Iniciativa para empreender e/ou resolver problemas e capacidade de tomar decisões claras e sensatas, com foco nos resultados.

3 Comprometimento Interesse em desenvolver esforços em prol da Secretaria, comprometendo-se a cumprir seus objetivos institucionais e as tarefas pelas quais for incumbido.

4 Relacionamento Aptidão para trabalhar em grupo e para desenvolver e manter boas relações interpessoais.

5 Disciplina Comportamento adequado para a manutenção da ordem no ambiente de trabalho, cumprindo as normas, leis e regulamentos sobre o cargo de servidor público, principalmente quanto à assiduidade e pontualidade.

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Ficou também estabelecido que todas as habilidades possuem o

mesmo peso e a nota de avaliação para cada uma delas varia de 0 (zero) a 10

(dez), sendo a nota final correspondente à média aritmética entre as notas,

aproximada até a 2ª casa decimal. A Nota Final equivale a média aritmética

entre as notas.

A avaliação será efetuada semestralmente pelo chefe imediato do

funcionário ou servidor, considerando-se o período de 30 de junho e 31 de

dezembro do ano em curso.

Ainda quanto à avaliação dos funcionários, a Orientação

CVL/SUBGC nº 001 de 24/05/2010, que dispõe sobre o desdobramento das

metas estabelecidas nos Acordos, prevê que:

“Art. 5º A chefia de cada unidade administrativa deverá

definir quem são os servidores e funcionários que se

destacaram no atendimento das metas segundo os

seguintes critérios:

I –continuar o desdobramento das metas quantitativas em

cada sub-área; ou

II –realizar avaliações qualitativas realizadas pelas chefias

imediatas.”(D.O RIO, 2010)

Considerando a importância de reconhecer de forma diferenciada

os servidores e funcionários que se destacam na administração pública, os

Acordos de Resultados beneficiarão com uma bonificação anual, os servidores

que cumprirem o planejado e atingirem os resultados previstos. As

bonificações serão distribuídas de acordo com os resultados obtidos, sempre

no meio do ano seguinte.

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De acordo com a Orientação CVL/SUBGC nº 001/2010, a

distribuição da bonificação variável deverá seguir critério de classificação, para

os quais a Secretaria Municipal da Casa Civil sugere os seguintes parâmetros,

conforme o Art. 6º:

“I – os servidores e funcionários que estiverem entre os

10% de melhor desempenho nas áreas que atingirem

suas metas deverão receber 1,5 salários de bonificação

variável;

II – caso haja excedente de recursos, os servidores e

funcionários que estiverem entre os 20% de melhor

desempenho, após os contemplados no inciso I, nas

áreas que atingirem suas metas deverão receber 1 salário

de bonificação variável;

III – o valor restante deverá ser distribuído igualmente

entre os demais servidores e funcionários.” (D.O RIO,

2010)

Segundo pesquisa publicada nos Cadernos ENAP 22: 2003, os

resultados de uma avaliação de desempenho devem servir de subsídio a

inúmeras decisões administrativas, mas estas não devem ser a razão de

realização da avaliação.

Os indicadores de desempenho, segundo Matias-Pereira (2010)

se apresentam como referências para permitir que o sistema de gestão possa

controlar e identificar as necessidades e melhorar o desempenho da

organização. Devem ser definidos previamente, visto que a medição do

desempenho em relação ao objetivo principal da organização depende deles.

Assim, constituem um meio para auxiliar a gestão no propósito de alcançar os

objetivos e não um fim em si mesmos.

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Para melhor situar as questões de avaliação inseridas nos

Acordos de Resultados que incidem diretamente nas relações de trabalho dos

servidores, Santos (2002), afirma que:

“No art. 39, § 7º da CF o servidor, celetista ou estatutário,

poderá ser recompensado com o pagamento de adicional

de produtividade, vinculando- se aos contratos de gestão.

Essas variáveis, notoriamente associadas às concepções

da administração gerencial, fortalecem a figura dos

gerentes, que buscarão resultados a qualquer custo,

inclusive com redução da efetividade dos serviços

públicos, como vem ocorrendo nos serviços já

privatizados, e mitigarão a sujeição dos dirigentes aos

princípios moralizadores da Administração Pública, sem

conferir ao servidor ou ao cidadão mecanismos de

garantia ou de proteção contra os desmandos”. (Santos,

2002: 48-49)

Ainda de acordo com Santos (2002), a administração pública que

resulta desse processo não é necessariamente mais transparente ou

socialmente controlada. A redação final do art. 37, § 3º não garantiu espaços

decisórios para a cidadania, embora tenha previsto a disciplina, em lei, das

formas de participação do usuário na administração direta e indireta.

Para o autor, existe a necessidade de regulamentações que

assegurem meios de participação do cidadão no processo decisório, assim

como também regular as reclamações relativas à prestação de serviços

públicos, a avaliação periódica, interna e externa, da sua qualidade, e o acesso

do usuário a registros e informações.

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Entretanto, para o autor, a ênfase do texto constitucional fortalece

a tese de que o servidor está no pólo passivo do sistema de avaliação, tanto

pela chefia, quanto pelo usuário. E será o servidor no final, quem será

penalizado pela má gestão, pelos maus resultados, pelas deficiências do

serviço público.

CONCLUSÃO

Este estudo procurou buscar, partindo da verificação da relação

existente entre a Reforma Estado e a implantação da Administração Pública

Gerencial, a compreensão dos motivos que desencadearam a implantação da

Gestão de Desempenho e a principalmente a utilização da ferramenta Acordos

de Resultados na Prefeitura do Rio de Janeiro.

As imposições que advinham da nova organização econômica

mundial compeliram os países que mantinham suas organizações político-

administrativas burocráticas a repensarem seus modos de operacionalização e

a formularem novos paradigmas de gerenciamento.

No Brasil, a reestruturação administrativa do Estado enfocou uma

nova dimensão de ajuste com pretensão de competitividade e lucratividade,

que compreende na gestão gerencial a única forma viável de padronização e

sistematização de atividades capaz de permitir ao país alcançar objetivos e

resultados, num conceito empresarial e privatizador de governabilidade.

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No âmbito Municipal, as hipóteses que convergiram para a

adoção da Gestão de Desempenho impressas na nova organização

administrativa, encontram-se referendados na realização dos Acordos de

Resultados que visam atingir metas estabelecidas e avaliar o desempenho dos

servidores.

Considerando os moldes da Administração Pública Gerencial, os

Acordos de Resultados estabelecem uma cultura de gestão pública que

investe no comprometimento dos funcionários, fazendo referência ao privado,

com objetivos que visam o aprimoramento no sentido da competência

estratégica, e impondo maior desempenho de cada servidor.

Paralelamente, os Acordos restringem o desempenho a critérios e

diretrizes definidos antecipadamente por cada Secretaria que remetem às

questões próprias do poder público, e apenas com repasse de incentivo para

os que cumprirem o planejado e atingirem os resultados previstos.

Os “Acordos de Resultados” pretendem colaborar para inserir no

cotidiano da administração municipal os parâmetros da eficiência que visam

alcançar a melhoria da prestação dos serviços públicos, entretanto a

responsabilidade final compete aos próprios servidores, demonstrando de

forma coercitiva e legalizada que depende exclusivamente de cada indivíduo a

obtenção dos resultados que propiciarão a modernidade que os governantes

almejam, numa prática que evidencia a presença das formas do poder político-

burocráticas constatadas neste estudo.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BRASIL. Código civil e Constituição Federal. São Paulo: Saraiva, 2007.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I - O novo modelo de Administração Pública 9

1.1 - A Administração Pública após a Reforma do Estado 12

1.2 - A introdução da Administração Gerencial no Município do Rio de Janeiro 15

CAPÍTULO II - A Gestão de Desempenho 20

2.1- A Gestão de Desempenho no serviço público 22

2.2- Os reflexos da Gestão de Desempenho

na Administração Municipal 25

CAPÍTULO III - Os Acordos de Resultados na Prefeitura do Rio 30

3.1- Os Acordos de Resultados como ferramenta

de Gestão de Desempenho 33

3.2- Os servidores públicos municipais

e os Acordos de Resultados 38

CONCLUSÃO 43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 45

ÍNDICE 49

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

Título da Monografia: ACORDOS DE RESULTADOS: A IMPLEMENTAÇÃO

DA GESTÃO DE DESEMPENHO NO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO

Autor: Gecina Dalva Constantino

Data da entrega:..../..../2011

Avaliado por: Conceito: