resenha frança, mauss, durkheim e ritos

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RESENHA Mauss, Durkheim e Van Gennep: um olhar sobre a antropologia francesa do início do século 20. DURKHEIM, Émile. “Introdução: Objeto da Pesquisa”, “Definição do Fenômeno Religioso e da Religião”, “III. As crenças propriamente totêmicas”, “V. Origem dessas crenças”e “Conclusão”. Em : Durkheim, E. As Formas Elementares da Vida Religiosa. SP: Martins Fontes, 2000: v – xxvii, 3-32, 138 – 154, 166 – 188, 457 – 498. DURKHEIM, Émile & MAUSS Marcel. “Algumas formas primitivas de classificação”. Em: Rodrigues, J. A. (org.) Durkheim, Sociologia. SP: Ática, 1978: 183 – 203. MAUSS, Marcel. “Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades arcaicas”. Em Mauss, M. Sociologia e Antropologia. SP: Cosac & Naify, 2003:185-318 p. 37 a 184 do volume II. MAUSS, Marcel & HUMBERT, Henri. “Esboço de uma teoria geral da Magia”. Em: Mauss, M. Sociologia e Antropologia. SP: Cosac & Naify, 2003:49-184 ou p. 36 a 172 do volume I. VAN GENNEP, Arnold. “VI. Os Ritos de Iniciaçãoe “X. Conclusões”. Em: Van Gennep A. Os Ritos de Passagem. RJ: Vozes, 1978:70-103; 157-161. Danilo Duarte Costa e Silva ¹ 1 – Mestrando em Antropologia Social – UFRN

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Page 1: resenha frança, Mauss, Durkheim e Ritos

RESENHA

Mauss, Durkheim e Van Gennep: um olhar sobre a antropologia

francesa do início do século 20.

DURKHEIM, Émile. “Introdução: Objeto da Pesquisa”, “Definição do Fenômeno

Religioso e da Religião”, “III. As crenças propriamente totêmicas”, “V. Origem dessas

crenças”e “Conclusão”. Em : Durkheim, E. As Formas Elementares da Vida Religiosa.

SP: Martins Fontes, 2000: v – xxvii, 3-32, 138 – 154, 166 – 188, 457 – 498.

DURKHEIM, Émile & MAUSS Marcel. “Algumas formas primitivas de classificação”.

Em: Rodrigues, J. A. (org.) Durkheim, Sociologia. SP: Ática, 1978: 183 – 203.

MAUSS, Marcel. “Ensaio sobre a dádiva. Forma e razão da troca nas sociedades

arcaicas”. Em Mauss, M. Sociologia e Antropologia. SP: Cosac & Naify, 2003:185-318

p. 37 a 184 do volume II.

MAUSS, Marcel & HUMBERT, Henri. “Esboço de uma teoria geral da Magia”. Em:

Mauss, M. Sociologia e Antropologia. SP: Cosac & Naify, 2003:49-184 ou p. 36 a 172

do volume I.

VAN GENNEP, Arnold. “VI. Os Ritos de Iniciação” e “X. Conclusões”. Em: Van

Gennep A. Os Ritos de Passagem. RJ: Vozes, 1978:70-103; 157-161.

Danilo Duarte Costa e Silva ¹

1 – Mestrando em Antropologia Social – UFRN

Mauss inicia o “Ensaio sobre a dádiva” apresentando poemas que

representam a questão da dádiva. Mauss apresenta o seguinte questionamento

como fio condutor de sua discussão:

“Qual é a regra de direito e de interesse que, nas sociedades de tipo atrasado

ou arcaico, faz que o presente recebido seja obrigatoriamente retribuído?”

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Mauss desenvolve a pesquisa meio a um método comparativo (que o

Mauss considera preciso). Mauss comenta que desenvolve sua pesquisa em

área determinada: da Polinésia, Melanésia, Noroeste Americano e alguns

grandes direitos.

Mauss comentado que em nenhuma parte a obrigação de dar e receber

é mais notável que na polinésia. Em cima de tal comentário Mauss incial sua

análise do sistema de trocas (potlash) polinésio. Olhando para os sistema de

troca polinésio, o Mauss, comenta que sua análise das pesquisas polinésias o

mesmo foi mais adiante do que o sistema de prestações totais atribuídos a

economias nativas, apresentando a forma de potlash presente na economia

local. Mauss comenta sobre o espírito da coisa dada “Maori” que demonstra o

valor espiritual da “coisa trocada”. Mauss apresenta a questão da obrigaçã ode

dar e receber em tais sociedades. Mauss mais adiante apresenta a relação de

presente dados aos homens e presente dado aos deuses, demonstrando que

existe uma relação de troca, até mesmo em relação aos assuntos espirituais,

Mauss apresenta a chamada “regra da generosidade” na sociedade

Andamanesa. Mostrando a obrigação de dar e receber nesta sociedade. Mauss

desenvolve seu comentário e apresenta uma análise do trabalho do Malinowisk

acerca do kula. Mauss comenta que o kula é uma espécie de grande potlash.

Mauss, apresenta o detalhadamente o relação de troca entre os chamados

vaygu’a (braceletes e colares). Após apresentar o detalhamento do kula o

Mauss apresente outras sociedades Melanénias, como a região sul da

melanésia (Fiji).

Mauss, após apresentação de trabalhos realizados nestas regiões

(Melanésia e Polinésia) parte então para a apresentação do Noroeste

Americano. Neste (Noroeste Americano) Mauss, mais uma vez, expõe

exemplos de trabalhos realizados em que o potlash é presente. Mauss

apresenta, em meio a exemplos, quatro formas de potlash americano: 1º

potlash em que as fratias e as famílias dos chefes são os únicos ou quase os

únicos em causa; 2º um potlash em que fratias, clãs, chefes e famílias

desempenham aproximadamente o mesmo papel; 3º um potlash entre chefes

que se enfrentam por clãs; 4º um potlash de chefes e confrarias.

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O Mauss comenta que a essência do potlash é “dar” e parte então para um

primeira conclusão do seu trabalho, onde:

“esse principio troca-dádiva deve ter sido o das sociedades que ultrapassaram

a fase da “prestação total”, mas que ainda não chegaram ao contrato individual

puro, ao mercado onde circula o dinheiro, à venda propriamente dita e,

sobretudo, à noção de preço calculado em moeda pesada e reconhecida

(MAUSS, 2003, p. 264)”

Mauss, após chegar a uma primeira conclusão, parte então para tentar

demonstrar que a moral e as trocas praticadas pela sociedades hoje

conservam vestígios de todos os princípios “arcaicos”.

Mauss parte então para uma exposição do direito romano antigo, do direito

indu clássico, direito germânico, direito céltico e por fim o chinês.

Posterior a tal apresentação Mauss parte para a conclusão final do trabalho,

nele Mauss comenta sobre a totalidade do empredimento apresentado,

fazendo menção ao “fato social total”, onde, de forma holística os aspectos

influenciados pelo potlash se configuram e para tanto é necessáiro um olhar

total sobre o empredimento. Em meio ao referido, Mauss apresenta um breve

reflexão que envolve até a clássica história do Rei Arthur, demonstrando que

os princípios presentes na dádiva vem como uma proposta relevante em meiao

a um mundo atual caracterizado por um individualismo nato.

O fato social total apresentado pelo Mauss em parte da conclusão do

texto, no remete a um olhar holístico, que envolve os mais diversos aspectos.

Olhando em meio ao referido para um outro aspecto do social, Mauss,

apresentam nos texto “Esboço de uma Teoria Geral de Magia” um olhar

sobre a questão da Magia. De inicio Mauss comenta a respeito de trabalhos

relativos a Magia. Mauss apresenta um definição inicial de magia como sendo:

“todo rito que não faz parte de um culto organizado, rito privado, secreto,

misteriosos e que tende no limite ao rito proibido(MAUSS 2003, p 61)”

Em meio ao referido Mauss parte então para comentar acerca dos

elementos da magia. Mauss comenta acerca dos elementos da magia: os

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mágico, os atos e as representações. Em relação ao mágico Mauss define

mágico, como o agente dos ritos mágicos (MAUSS 2003, p. 63). Mauss de

incio comenta a respeito das qualidades do mágico e sua iniciação a sociedade

mágica. Mauss comenta que para alguém se tornar um mágico é necessário a

revelação, a consagração e a tradição. A iniciação como mágico produz os

mesmos efeitos que outras inciações, ela determina uma mudança de

personalidade que se traduz, eventualmente, em mudança de nome. Um fato

nesta altura importante para se comentar é a questão da sociedade de

mágicos, na qual, o mágico participa (indo de encontro ao que o Durkheim

apresenta em “Forma elementares da vida religiosa” onde afirma que a magia é

algo eminentemente individual e que a diferença para Durkheim da magia e

religião estaria ligada a questão da coletividade da segunda em relação ao

individualismo da primeira) Um segundo aspecto comentado pelo Mauss em

relação aos elementos da magia (alem do mágico) são os atos da magia. Para

Mauss os atos do mágico são os ritos, Mauss comenta inicialmente a respeito

da condição dos ritos, para o autor para a ocorrência do rito são necessárias

condições específicas de tempo e lugar, dentre outras particularidades

necessárias a execução do mesmo, não sendo feito de qualquer forma. A

natureza dos ritos é um outro aspecto desenvolvido pelo Mauss em relação aos

atos. Para o autor os ritos são divididos em manuais e orais. Em relação aos

ritos manuais, para o autor, são os ritos que mais se apresentam como tendo

um caráter mágico, para o autor o simbolismo presente em tais ritos, são

características inerentes aos mesmos. Os ritos orais por sua vez embora são

pronunciados seguindo uma certa seqüência, entretanto, não existe apenas um

tipo de rito desta natureza. O terceiro aspecto dos elementos da magia são

suas representações. Mauss comenta que as práticas mágicas não são vazias

de sentido, pelo contrário elas correspondem a representações, geralmente

muito ricas que constituem o terceiro elemento da magia, ou seja, todo rito é

uma espécie de linguagem e o mesmo traduz uma idéia. Mauss divide as

respreentações em pessoais e impessoais. Olhando para as impessoais as

mesma são separadas em abstratas e concretas. As primeiras abstratas, o

Mauss classifica como as leis da magia, dentre as quais o autor apresenta a lei

da contigüidade (indentificação da parte com o todo), lei da similaridade (onde

o semelhante invoca o semelhante e o semelhante age sobre o semelhante) e

Page 5: resenha frança, Mauss, Durkheim e Ritos

a lei da contrariedade (onde o contrário é expulso pelo contrário). Alem da

representações impessoais abstratadas, o Mauss apresenta as representações

impessoais concretas. Neste ponto o Mauss comenta que o pensamento

mágico, não pode viver de abstração, são necessárias coisas concretas.

Portanto as propriedades entram em cena para dar vida as representações da

magia. Observa-se que as leis não são vazias, elas se ultilizam de

propriedades para a sua realização. Propriedades estas que são as mais

diversas e que estão ligadas a um ato específico (para tanto são usados desde

amuletos até uso de animais, como no exemplo citado pelo Mauss do uso de

um papagaio em relação a alguém que tem a carência da fala). Alem das

representações impessoais (descritas em abstratas e concretas) o Mauss

apresenta as representações pessoais da magia, mais precisamente a

demonologia. Neste ponto o autor comenta a respeito da presença de seres

espirituais que atuam de forma direta para a eficácia do rito mágico. Mauss

apresenta uma primeira categoria de espíritos mágicos como sendo a alma dos

mortos, uma segunda categoria são os deminios propriamente ditos. Uma vez

apresentado o presente quadro de atos mágicos compostos por

representações, o autor parte para algumas considerações gerais e em meio

aos seus comentários o autor conclui tentanto estabelecer uma ponte entre a

magia e a religião, segundo o autor:

“se podermos mostrar que, em toda a extensão da magia, reinam forças

semelhantes as que agem na religião, teremos demonstrado com isso que a

magia tem o mesmo caráter coletivo que a religião. Não nos restará senão

explicar como essas forças coletivas produziram, apesar do isolamento em que

parecem se achar os mágicos, e seremos levados a idéia de que esses

indivíduos não fizeram senão se apropriar das forças coletivas. (MAUSS 2003,

p. 125).”

Mauss uma vez apresentado os elementos da magia, o autor parte então

para a análise e explicação da mesma. De inicio o autor comenta que seu

intuito é partir para um olhar acerca das forças coletivas que agem na magia

assim como na religião. Incialmente o autor parte para um olhar a respeito das

crenças. O autor comenta que a magia é por exelencia objeto de crenças. A

magia, como a religião é um bloco, ou nela crê ou nela não crê. Neste ponto o

Page 6: resenha frança, Mauss, Durkheim e Ritos

autor comenta que há uma crença por trás da magia, a mesma não é

desenvolvida sem a presença da crença, por parte do mágico da sua eficácia.

O autor comenta que a crença coletiva na magia produz uma serie de

sentimentos e volições comuns a todo o grupo.

Mauss parte então para afirma que em seu levantamento de

representações mágicas ele observou que tanto os mágicos quanto os teóricos,

tentaram explicar a crença na eficácia do rito mágico (pelas formas da simpatia,

noção de propriedae e noção de demônio) e afirma que o nenhuma delas, por

si só foi suficiente para justificar a um mágico sua crença. De incio o Mauss

apresenta a contraposição a idéia que as formulas simpáticas bastam para

representar a totalidade de um rito mágico simpático. Mauss também afirma

que a noção de propriedade não explica, por si só, a crença nos fatos mágicos

e parte então para afirma que a teoria demonológica parece justificar melhor os

ritos que figuram os demônios, entretanto há limitações. Uma vez o Mauss

criticado as tentativas de explicações da crença do mágico ele parte então para

um olhar mais pessoal. Marcel Mauss então parte para introduzir a noção de

MANA. Para o autor MANA uma noção encontrada na Melanésia com esta

nomenclatura ver oferecer uma contribuição para a lacuna que ficou (da

ineficácia da explicação da crença na magia). Mauss desenvolve seu raciocínio

apresentado exemplos que a noção de mana é presente em uma diversidade

de civilizações (embora com outros nomes, como “orenda”). Para o autor o

mana é que produz o valor das coisas e das pessoas, embora, seja uma noção

abstrada. O autor comenta que a idéia de mana é caracterizada por uma serie

de idéias que se confundem uma com as outras, sendo ao mesmo tempo:

qualidade, substancia e atividade. Portanto, o Mauss parte então desta noção

para apresentar um explicação para a questão da crença da magia. Para o

autor esta noção (imprecisa e difícil de definir) é exatamente o elemento que

está contido, de uma forma ou de outra, em várias civilizações e que fornece a

base para o entendimento da dinâmica da magia.

Mauss parte então para comentar a respetiita da relação da forças

coletivas com a magia. Segundo o autor a magia é um produto das forças

coletivas e a idéia de mana é a expressão. Mauss parte para a conclusão

entendo que a magia é sim um fenômeno social, partido então para mostrar o

Page 7: resenha frança, Mauss, Durkheim e Ritos

lugar da magia em meio a outros fenômenos sociais. Segundo o autor o

parentesco da magia está ligado a religião e as técnicas e a ciência. Mauss

comenta entretanto, que entanto a religião tende a metafísica, ou seja ao

abstrado, a magia tende ao concreto. Magia para o autor é antes de tudo a arte

do fazer. Mauss apresenta uma certa ligação da magia com a origem da

técnica e da ciência e comenta a respeito da sua contribuição para a algumas

ciências específicas. Mauss conclui afirmando que pensemos encontrar na

magia a forma primera de representações coletivas que se tornaram depois

fundmento do entendimento individual. Portanto, o autor comenta que seu

trablaho não se reduz a uma olhar acerca da sociologia religiosa e sim do

estudo das representeções coletivas. Mauss encerra seu artigo comenta

acerca do proveito do seu estudo para a sociologia uma vez que ele demotrou

como um fenômeno coletivo pode assuimir forças individuais. Indo em outra

vertente em termos de magia. Emile Durkheim comenta em “Definição do

Fenômeno Religioso e da Religião” que a magia é eminentemente individual

e tal fato seria o principal fator que a diferenciara da religião. Em termos de

religião Durkheim desenvolve a conceituação inicialmente comentando a

respeito das noções ligadas a religião. A priori Durkheim critica a noção

desenvolvida que leva a religião como sinônimo de sobrenatural, para tanto, o

autor contrapõe Spencer, Jevons, dentre outros, argumentando que até mesmo

no cristianismo, ouve períodos onde a noção de sobrenatural estava ausente.

Uma segunda noção de religião criticada pelo Durkheim é a definição de

religião ligada a divindade. Para Durkheim tal fato seria improvável, uma vez

que há religiões, como o budismo, onde a religiões esta separada da divindade.

Após contrapor estas duas definições, Durkheim vai para sua própria definição

de religião. Para o autor um primeiro aspecto que podemos enquadrar na

definição do método religioso é a questão do sagrado e do profano. Em cima

de tal temática, o autor, conforme levanta também a questão da coletividade

ligada a religião. Durkheim, conclui o capítulo apresentando uma definição

própria de religião, definição esta que está adequada ao enquadramento, feito

a posteriori, da religião ao totemismo. Em cima de tal fato, convém no presente

momento olharmos para um artigo desenvolvido em parceria com o Mauss que

descreve de forma apropriada a questão da classificação. “Formas Primitivas

de Classificação” é um artigo elaborado de forma conjunta do Marceu Mauss

Page 8: resenha frança, Mauss, Durkheim e Ritos

como o Emile Durkheim. Neste artigo, de inicio há uma referencia ao sistema

australiano de classificação, onde segundo os autores, são os mais humildes

conhecidos. As fratias são as divisões básicas que estão presentes nas tribos,

todas as coisas estão divididas nesta classificação chamada pelos autores de

bipartida, ou seja, todas as coisas estão dispostas em duas categorias que

correspondem as duas fratias. Sendo a complexidade do sistema observada a

partir do olhar para a divisão de quatro classes matrimoniais. Uma vez

apresentado pelos autores estas divisões básicas eles partem para comentar a

respeito da sua generalização. Entretanto, os autores chegam a uma primeira

conclusão que embora não possam afirmar que tais sistema de classificação

(fratias, classema matrimoniais e clãs) estejam necessariamente presentes no

totemismo, todavia, eles observam uma estreita ligação entre o sistema social

e o sistema lógico. Maus e Durkheim então partem para um olhar acerca das

ligações dos sistema apresentado por eles com outros mais complexos.

Desenvolvendo sua linha de raciocínio os autores comentam que a ponte entre

este sistema simples e os sistemas mais complexos estão na relação que os

mesmos tem com a lógica. Ou seja, verifica-se uma espécie de “embrião”

presente na relação de tais sistemas, onde os mesmos remetem para o

desenvolvimento da ciência lógica. Durkheim também apresenta em “As

crenças propriamente totêmicas, capítulo III” detalhes acerca de sistema de

classificação e a noção de gênero. Em se artigo de inicio o Durkheim apresenta

a questão da fratia, dando exemplos acerca da classificação desenvolvidas

pelos nativos nas mesmas. O autor detalha a questão da dualidade das

mesmas e desenvolve a idéia com detalhes dos contrastes da classificação nas

fratias. Por exemplo a lua é classificada em uma fratia e o sol é classificado em

outro. Durkheim ainda comenta que todas as coisas de interesse para o nativo

são classificadas em uma ou outra fratia, sem distinção. Disto isto Durkheim

passa então para comentar a respeito da formação na humanidade da idéia de

gênero ou de classe. Conceituando gênero como o quadro exterior cujo

conteúdo é formado, em parte, por objetos percebidos como semelhantes e

classificação como sendo um sistema cujas partes estão dispostas segundo

uma ordem hierárquica. Durkeim, uma vez apresentado o conceito de ambos,

chega a uma conclusão onde a origem de ambas derivou da sociedade.

Page 9: resenha frança, Mauss, Durkheim e Ritos

Durkheim apresenta posteriormente a questão do totem como vínculo

religioso que une as classificados no clã. Para o autor, em determinados casos,

podem existir também, alem dos totens, os subtotens. O Durkheim comenta

que os subtotens durante a histórias registros informam que os mesmos

chegaram a ser tornar totens. Durkheim desenvolve sua linha de raciocínio

com o fim de demonstrar os vínculos entre totens de clãs distintos trabalhando

com a idéia que o totemismo, assim como politeísmo grego, é um sistema

complexo que, embora exista uma certa autonomia em cada clã da prática da

sua religião, entretanto, há um relações mutuas que tornam o totemismo um

complexo religioso. Um dos momentos que demonstra estes vínculos é no

momento da iniciação. Olhando para iniciação Arnold Van Gennep apresenta

em “Ritos de Iniciação” características relacionados a iniciação do indivíduo

em relação a diversos aspectos (classes de idade, sociedade secretas, religião,

etc...). Van Gennep apresenta com detalhes tipos e etapas dos ritos voltados

para iniciação. Van Gennep inicia o artigo comentando a respeito da clara

diferença entre ritos de iniciação e a questão da puberdade. Segundo o autor,

não se deve confundir um com outro, uma vez que os diversos exemplos

apresentados pelo autor servem de argumento em relação aos aspectos

distintos de ambos. Uma vez deixado isto claro, Van Gennep parte para

comentar a respeito da circuncisão (o ato de cortar parte específica do penis)

desenvolvendo a idéia de tal ato em relação aos ritos de iniciação e fazendo

tambem uma coorelação com a questão da puberdade, argumentado em torno

das variações de idade na qual a mesma é realizada. Van gennep após

comentar a respeito da puberdade parte então para comentar a respeito das

iniciações nas sociedades totemicas. É interessante notar o comentários do

autor (p. 76) a respeito do fato do mesmo não considerar importante para as

finalidades do seu livro a questão relativas a origem dos custume (se

relacionado a uma difusão por emprestimo ou de forma independente). Dito isto

o autor parte então para comentar acerca dos detalhes de iniciação a

sociedades totêmicas. Van Gennep cita dos trabalhos de Howitt, Spencer e

Gillen, Roth e Mathews em relação a iniciação de grupos totêmicos na

Austrália. Citando Howitt a respeito dos Kurnai o autor apresenta a idéia de

separação do meio infantil e partida para uma nova etapa da vida, onde não há

retorno. O rito proporciona a separação do individuo do seu passado.

Page 10: resenha frança, Mauss, Durkheim e Ritos

Comentando, a respeito das fraternidades mágico religiosas Van Gennep relata

a questão da necessidade de cerimônia de passagem, onde o mesmo é

introduzido na sociedade. Van Gennep mostra que, enquanto com os

autralianaos a separação se dá entre o indivíduo e sua mãe, em relação aos

Kwakiutle a separação está ligada a um espírito e a agregação a nova etapa da

vida se dá em meio a aquisição do espírito do clã. Depois de se deter nos

detalhes relativos a iniciação nas sociedades tometicas e fraternidades mágico-

religiosas Van Gennep parte então para apresentar a iniciação a religião dos

Sabeanos (religião fundada por João Batista (personagem Bíblico)) e a questão

da iniciação das sociedades secretas. Van Gennep comenta que o objetivo da

iniciação nas sociedades secretas tem fins distintos da iniciação as sociedades

totêmicas e fraternidades, pois nas sociedades secretas (da Oceania, com

execessão da Austrália e da África) os objetivos políticos e econômicos

(enquanto que nas sociedades tometicas e fraternidades o controle da natureza

seria o propósito).Em meio a tal realidade, entretanto, há semelhanças em

ambos os ritos. Van Gennep enfatiza em meio a descrição dos ritos de

iniciação a sociedades secretas que há uma caracterisitcas comum de:

separação, de margem e de agregação.

Van Gennep posterior ao relato do rito de iniciação a sociedaes

secretas, passa então para a descrição da iniciação as classes de idades entre

os Masai e posteiormente apresentando os ritos dos Wayo caracterizados por

um mixto de ritos de classes de idades e ritos de etapas e margens sucessivas.

Uma vez apresentado os exemplos de ritos de classes de idades e de etapas,

Van Gennep parte então para comentar a respeito do ritos de entrada no

cristianismo, no islã e nos mistérios antigos. Para o autor o cristianismo pegou

muita coisa emprestado dos mistérios egípcios, sírios, asiáticos e gregos,

sendo de acordo com autor, dificio compreender um sem levar em

consideração os outros. Van Gennep desenvolve uma crítica aos estudos que

deixaram de lado um exame mais cuidadoso da sequencia dos ritos oriundos

dos mistérios antigos (olhando para a influencia que os mesmos tem sobre o

cistianismo) e comenta que o propósito de seu livro como um todo é reagir

contra o procedimento folclorista ou antropológico que consiste em extrair de

um sequencia diversos ritos e consideram-nos isoladamente, tirando assim sua

Page 11: resenha frança, Mauss, Durkheim e Ritos

principal razão de ser e sua situação lógica no conjunto dos mecanismos (p.

86). Disto isto Van Gennep parte então para comentar a respeito da definição

de mistéiro e apresenta uma definição pessoal ligada ao fato do mesmo (o

mistério) possibilitar a passagem do mundo sagrado para o mundo profano.

Van Gennep, parte então para apresentar ritos de iniciação ligados a

antiguidade onde posteriormente o autor faz uma ponte dos mesmos com o

batismo cristão. Para o autor por influencia dos cultos asiáticos, gregos e

egípcios dos cristãos, a comunidade dos cristãos, a principio uniforme, dividiu-

se pouco a pouco em classes que correspondem a graus de mistérios. Van

Gennep detalha e demonstra em meio aos detalhes a semelhança do ritual

cristão com os outros ritos. Após o relato do cristianismo Van Gennep passa

então para a questão das confrarias religiosas. Após citar o Islã e novamente

exemplos ligados ao cristianismo o autor parte para detalhar alguns ritos indus.

Van Gennep apresenta o exemplo da prostitutas sagradas. Van Gennep, logo

adiante, parte então para a apresentação da entrada as profissões. Para tanto

o autor cita o exemplo ligado aos Estados Unidos e parte para apresentar a

questão dos brâmanes. A ordenação do padre e do mago ocupa espaço

próximo ao final do capítulo, juntamente com o comentário acerca da

entronização do chefe e dos reis, a excomunhão e a exclusão e por fim o

período de margem, demonstrando que nos mesmos há uma suspensão das

regras (sendo em alguns casos introduzida a liberalidade sexual). Van Gennep

ao final do artigo emite um ponto vista pessoal em relação as teorias de

Schurtz e Webster. Van Gennep discorda de ambas e se vale da ordem na

qual classificou as diversas sociedades especiais para examinar os ritos de

iniciação, sendo baseados na distinção dos elementos, não no acaso, para

reforçar a sua crítica.

Um segundo texto do Van Gennep, de título, “Conclusões” apresenta

as considerações acerca de todo o seu livro. Van Gennep comenta a respeito

das classificações na qual são organizados os indivíduos e para passar para

outras classificações tem que submeter-se a cerminonias diversas. Van

Gennep comenta que há duas grandes divisões primárias, tendo ou base

sexual ou mágico-religiosa. O autor comenta que o objetivo do presente livro

não são os ritos em si, mas sim seu significado e sua sequencia. Em meio ao

Page 12: resenha frança, Mauss, Durkheim e Ritos

referido o autor justifica o fato dos detalhes minuciosos dos ritos apresentados

(tanto de separação, como de margem, como de agregação). Um segundo fato

relevante comentado pelo autor é a existência de margens e um terceiro é a

questão da passagem material relacionada a idéia de passagem, ou seja,

existem casos que literalmente por algo material como um pórtico ou uma

porta. Van finaliza o texto apresentando uma correlação dos ritos com aspectos

do cosmos. Enquanto o Van Gennep, desenvolveu seu artigo com base em

vários exemplos o Emile Durkheim, em “Introdução: Objeto de pesquisa”

trabalha com a idéia de se entender o fenômeno religioso a partir de um único

exemplo que satisfaça dois critérios: o de tal religião está presente em

sociedades o mais simples possível e da não necessidade de se voltar para

outra religião para explicar a que se pretende estudar.

De inicio o Durkheim apresenta a intenção do presente livro de estudar a

religião mais arcaica. Durkheim comenta que para tanto, colocou dois critérios:

a presença da mesma em uma sociedade primitiva e o não uso de elementos

de outras religiões para explicar-la. Em meio ao referido, entretanto, Durkheim

apresenta a questão do vinculo do propósito de tal estudo (por causa do

positivismo inerente a sociologia) com relações para o homem de hoje.

Durkheim se justifica em optar pela escolha de uma religião primitiva

para o estudo da religião afirmando que tal fato se deve a razões de método.O

Durkheim passa então para falar acerca da noção de tempo. Para o autor a

construção da noção de tempo se deu a partir da sociedade, uma vez que sem

a mesma o se desenvolvimento seria improvável. Uma segunda noção que o

autor faz a relação com a sociedade é o espaço. Para o autor o espaço tem

sua origem de forma similar na sociedade. Durkheim, logo de inicio deixa

“escapar” que o presente livro chega na conclusão que o pensamento

religiosos tem sua origem no social e parte para demonstrar, através de

argumento que perpassam a filosofia (como o ponto de vista dos apriorista em

relação a noção de categoria) que também a noção de categoria tem sua

origem mais provável no social. Para pensar um pouco mais acerca da origem,

Durkheim apresenta em “Origens destas crenças” detalhes acerca de como

surgiu o totemismo. Inicialmente o autor apresenta as teorias que comentaram

a respeito do fato. Uma primeira teoria comentada pelo autor é a teoria que liga

Page 13: resenha frança, Mauss, Durkheim e Ritos

o surgimento do totemismo a uma forma de culto dos antepassados. Durkhem

citando o Tylor e o Wilken apresenta e contrapõe este primeiro ponto de vista.

Jevons é um terceiro autor citado pelo Durkheim que apresenta uma outra

teoria para origem do totemismo. Para Jevons o totemismo teria se originado

como resposta ao desconhecido. Durkheim de forma semelhante ao que fez

com o Tylor e Wilken contrapõe a teoria do Jevons. Feito isto, Durkheim

comenta que um erro intrínseco que está atrelado a resolução do problema é a

questão da existência de dois tipos de totems: Um individual e outro coletivo.

Para o autor em cima de tal pressuposto se pode realmente analisar o

totemismo. Em torno disto, o Durkheim, de forma semelhante ao que fez em

relação as teorias acerca do totemismo, apresenta as teorias para surgimento

do totem individual e do coletivo. De inicio combate a idéia do totem coletivo ter

surgido do totem individual, dentre outros argumentos, pelo fato de em uma

tribo onde o totemismo está presente, não há a repetição (salvo onde o

totemismo está em decadência) de uma mesmo totem. Portanto, caso o

totemismo individual fosse a origem do coletivo, tal fato seria regra. Durkheim

conclui seu texto separando as categorias de explicação para a origem

totemismo em duas. A primeira categoria (do Frazer e Lang) onde classifica o

totemismo como não religioso e uma segunda categoria que, embora

reconheçam o totemismo como religião, entretanto, entendem que o mesmo

deriva de outra religião. Durkheim, durante o texto contrapõe as duas. Antes de

partir para uma conclusão final, convem no presente momento olhar para a

“Conclusão” que o Durkheim encontra no livro “As formas elementares da

vida religiosa”. Olhando para tal um primeiro ponto a ser citado é a questão. De

início o Durkheim desenvolve um comentário acerca da possibilidade de

ampliar o que o autor encontrou, em termos de noções fundamentais de

religião, para um universo mais amplo de conhecimento científico. Dentre

algumas conclusões elaboradas pelo Durkheim o autor afirma que embora

exista algo de eterno o culto e a fé na religião, para entender a mesma é

necessária uma teoria. Tal teoria é obrigada, segundo o autor, a se apoiar nas

diversas ciências (sociologia, psicologia, etc) entretanto, por mais que a ciência

avence no estudo da religião, averia a insuficiência para descrever a fé. Uma

questão levantada pelo autor logo então comente a respeito da relação entre a

religião e a ciência é a questão relativa a lógica e a religião. Neste ínterim o

Page 14: resenha frança, Mauss, Durkheim e Ritos

autor se debruça sobre o assunto estabelecendo a relação entre a lógica

(ciência) e a religião. Uma ultima conclusão encontrada pelo autor é que a

religião é algo social. Tendo portanto sua constituição como produto da

coletividade. Durkheim afirma que a sociedade não é algo Ilógico, sendo a

conciecia coletiva a forma mais elevada de vida psíquica. Durkheim afirma que

só ela (a sociedade) pode fornecer ao espírito marcos que se aplicam a

totalidade dos seres. Segundo o autor atribuir ao pensamento lógico origens

sociais não é rebaixar seu valor, ao contrário é relacioná-lo a causa que o

implica naturalmente. Durkheim faz uma ponte entre o pensamento científico e

a religião, comentando que ambos se originam da mesma fonte (a sociedade).

Portanto, Durkheim coloca a sociedade em um patamar onde está considera o

mais poderoso “feixe de forças físicas e morais” cujo espetáculo a natureza

oferece (p. 498).

O olhar na França do inicio do século nos fornece um valioso panorama

que terá implicações em outras áreas do conhecimento (alem da antropologia).

De inicio se percebe o quanto a escola francesa está dialogando (isso quando

se olha para o Durkheim) com o positivismo (de Conte) e quanto a mesma

escola se distancia das noções que receberam por herança do evolucionismo.

Embora não se possa estabelecer uma rígida uniformidade entre o pensamento

da escola francesa (haja vista existem pontos de vista distintos, como o que se

refere ao totemismo por parte do Durkheim e Mauss, por exemplo) pode-se de

forma geral observar a temática da religião como objeto de interesse dos

autores analisados. Olhando para a temática, enquanto o Durkheim se ocupa

de apresentar uma valiosa contribuição acerca do pensamento religioso, vemos

o Marcel Mauss, contribuindo de igual forma, em relação a magia e o Van

Gennep, se aprofundando em um aspecto que tem relação com ambas as

partes (os ritos de iniciação). Um certo diálogo, com a epistemologia do

conhecimento científico, também é desenvolvido, tanto quando olhamos para o

texto que o Durkheim desenvolve com o Mauss, quanto, na própria obra do

Durkheim (ao olharmos para sua conclusão, principalmente). Ver-se também,

como não poderia deixar de ser em autores ligados à uma ciência

caracterizada pelo Durkheim como positivista em meio a uma sociedade

capitalista (sociologia), alem da temática da religião vemos uma contribuição

Page 15: resenha frança, Mauss, Durkheim e Ritos

significativa para com as relações de capital (isto quanto olhamos para as

questões abordadas pelo Mauss no ensaio sobre a dádiva). Por fim, a escola

francesa, apresenta de forma geral, importantes contribuições que podem

dialogar, tanto para o estudo da magia e da religião nos dias atuais, quanto,

fornece uma preciosa contribuição para aspectos contemporâneos da questão

da gênese da economia.