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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE LUTO E FAMÍLIA Por: Ozinéa da Silva Pereira Orientador Profª. Fabiana Muniz Niterói 2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

LUTO E FAMÍLIA

Por: Ozinéa da Silva Pereira

Orientador

Profª. Fabiana Muniz

Niterói

2011

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

LUTO E FAMÍLIA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em Terapia de

Família.

Por: Fabiana Muniz

3

AGRADECIMENTOS

Ao meu marido, filhos, amigos e

parentes que sempre estiveram comigo

nesta caminhada de aprendizado, me

dando forças para conseguir superar

os obstáculos.

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho ao meu marido

Edson Pereira e ao meu filho Edson

Pereira Junior, por todo apoio

recebido nesta caminhada.

5

RESUMO

Neste trabalho estaremos identificando quais as várias etapas que uma

família apresenta em um processo de luto, diferenciando o luto normal do luto

patológico. Viver as etapas de um luto não é fácil, mas quando as pessoas se

permitem vivenciá-la é possível que esta perda não cause tanto sofrimento

dentro da família.

As famílias diante de uma perda muitas vezes ficam paralisadas e não

conseguem reagir. Uma forma saudável de viver o luto seria ter abertura de

falar de seus sentimentos, expressando sua dor e dividindo entre todos os

seus membros. A família que não se comunica e que não se ouve, guarda seu

sofrimento dentro de si, expressando suas dores de forma errada, muitas

vezes culpando os outros ou a si mesmo pela morte de quem foi, e como

conseqüência aparecem os sintomas nesta família, desestruturando-a e

tornando-a doentia.

A terapia de família neste caso atuaria de forma a fazer com que estes

familiares consigam expressar sua dor, falar de suas angústias, dividindo o

sofrimento para que esta família possa se reestruturar novamente e se

permitir viver a etapas do luto de forma saudável.

6

METODOLOGIA

Este trabalho se iniciou a partir de leituras que tratavam do tema

escolhido. Foram utilizados livros que discutiam o assunto, e pesquisas feitas

na internet, através de artigos acadêmicos. Um dos autores responsáveis para

que houvesse interesse pelo tema foi o Groisman (2003) que fala do

nascimento que não apenas marca o início da vida individual, como também

marca o início da vida familiar ou a continuação desta e de como cada membro

da família influencia a vida do outro. Então se o desejo de imortalidade passa

a predominar na família, esta se torna mais importante do que os próprios

indivíduos que compõem e torna-se a razão principal da vida de todos, manter

a família unida e viva. E se não conseguem manter este ideal, ela acaba se

desestruturando e não consegue viver sem aquele que se foi.

Outro Autor que explica claramente como o luto pode afetar uma família é

Frade (2005), pois para ele a morte não é o ponto final de uma vida somente, é

também o aparecimento de sentimentos e emoções nessas pessoas que

ficaram e que sofreram a perda. Cada ser humano reage de uma determinada

maneira diante da perda, alguns podem viver as fases do luto de forma normal,

passando pelas fases sem nenhuma seqüela, enquanto outras podem

experimentar sentimentos de negação, raiva, desconcerto, desaptação, tristeza

e depressão que podem durar muito mais do que o normal entrando em um

luto patológico. É uma fase difícil para quem a vive e a pessoa pode ver sua

vida paralisada diante desta perda, sem expectativas e sem esperanças para o

futuro.

Para Motta e Cavour (2003) existem vários fatores que podem contribuir

na forma como cada família irá reagir diante de uma perda. Entre elas estão: a

morte natural, violenta, precoce, por doença, velhice ou acidente. E também o

tipo de papel desempenhado pelo morto e a importância desempenhada pó

7

este na família, todos esses fatores são relevantes e levam a muitas variações

na elaboração da perda e na reorganização familiar. Com este estudo que esta

sendo realizado acreditamos que poderemos estar ajudando estas famílias

que já passaram por uma perda e que não conseguiram vivenciar o processo

de luto de forma saudável, para que eles se fortaleçam e se sintam

encorajados de falar de seus medos e sentimentos a muito tempo guardados.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 10

CAPÍTULO I - Luto 12

CAPÍTULO II - Reações Familiares frente ao luto 23

CAPÍTULO III – A intervenção da Terapia de

Família frente à perda 34

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA 43

ÍNDICE 46

FOLHA DE AVALIAÇÃO 47

9

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como objetivo identificar como o processo de luto mal

elaborado pode prejudicar o relacionamento de uma família e identificar as várias

reações que cada família apresenta diante de tal perda, e como a terapia de família

pode contribuir para a superação de um sofrimento que não quer cessar, e que esta

desestruturando todo um sistema familiar.

Perder alguém ou algo que se tem uma ligação forte, sentimentos

entrelaçados, se torna muito difícil para quem fica e tem que passar por este

processo doloroso. A família que perde um ente querido no primeiro momento não

acredita que isto pode ter ocorrido logo com eles, negando o acontecimento e

surgindo vários sentimentos ambivalentes, entre eles pode aparecer amor, ódio,

culpa, negação, tristeza e até depressão.

Esses sentimentos podem gerar conflitos entre as famílias, criando brigas

entre si, ou pode-se fazer um pacto velado em que não se é permitido falar sobre a

morte e o sofrimento que todos estão vivenciando no momento, assim cada um vive

sua dor sozinha, não sendo possível compartilhá-la.

Nesta monografia estaremos descrevendo os processos de luto que uma

família vive quando perde uma pessoa ou algo querido. Falaremos do luto que é

considerado normal, aonde a pessoa se recupera da dor e do sofrimento, se

permitindo vivenciá-la e dar outro significado a sua vida, passando pelas várias

fases que acontece no período do luto. Também falaremos do luto patológico, e de

como este interfere na vida das pessoas, muitas vezes paralisando-as quando se

perde algo ou alguém que se tinha uma ligação muito forte.

É necessário que se inicie o processo de luto de forma saudável, aonde existe

a permissão de expressar suas emoções através das lágrimas e dos sentimentos,

extravasando sua dor através da fala. Cada família reage de uma maneira diferente

a perda de alguém querido, algumas a vivem de forma saudável, vivendo cada uma

10

dessas fases, se permitindo sofrer, expressando seus sentimentos e

compartilhando sua dor com quem ficou, um dando apoio para o outro. Outras

famílias não têm esta abertura, não existe comunicação entre elas e acabam

adoecendo porque simplesmente não se permitem vivenciar esta dor, negam o

acontecido. Outras têm uma abertura de comunicação muito grande o que acaba

atrapalhando, pois a comunicação fica confusa e cada um acaba invadindo a vida

do outro, neste tipo de família também é muito difícil conseguir falar de seus

sentimentos, porque eles não se escutam e acabam adoecendo.

Quando as famílias adoecem, surgem conflitos entre seus membros e então se

escolhe uma pessoa entre elas para que se torne um paciente identificado no lugar

da pessoa que morreu, e este acaba enfrentando uma briga interior grande entre

ser ele mesmo, assumindo seus desejos e expectativas ou assumir o papel que lhe

foi dado, substituir o familiar que não existe mais.

Quando não existe um processo de luto saudável e começam a surgir sinais

patológicos nesta família é necessário que a mesma seja auxiliada a procurar um

acompanhamento psicológico através da terapia de família. Assim esta família

poderá perceber que não existe um “bode expiatório”, um único ser doente, e sim

que esta família esta desestruturada através das relações que foram estabelecidas

entre elas. Estas relações estão disfuncionais, então é preciso que reestruture esta

família para que elas possam compartilhar junto o sofrimento da perda, permitindo

um escutar o outro para que possam compartilhar junta a dor da perda, falando de

seus sentimentos, de seus medos, de suas expectativas em relação ao futuro, e

que cada um assuma sua responsabilidade diante da família, aceitando passar pela

transformação através do processo de luto sadio.

11

CAPÍTULO I

1.1 LUTO

"Não há cura para o nascimento e a morte,

a não ser usufruir o intervalo."

(George Santayana).

Segundo Frade (2005), a morte não é apenas o final da vida e das atividades

diárias, mas sim o surgimento de sentimentos e emoções que aparecem nessas

pessoas que ficaram e que sofreram a perda. Cada ser humano reage de uma

determinada maneira diante da perda, alguns podem viver as fases do luto de forma

normal, passando pelas fases sem nenhuma seqüela, enquanto outras podem

experimentar sentimentos de negação, raiva, desconcerto, desaptação, tristeza e

depressão que podem durar muito mais do que o normal entrando em um luto

patológico. É uma fase difícil para quem a vive e a pessoa pode ver sua vida

paralisada diante desta perda, sem expectativas e sem esperanças para o futuro.

O luto, palavra que explica todos esses sentimentos não acontece somente

diante da perda de um ente ou pessoa querida, mas sim diante de qualquer perda

sofrida, podendo ser o trabalho, a casa, o animal de estimação, o amigo, o parceiro

um objeto de valor sentimental para esta pessoa, enfim, qualquer acontecimento no

qual este indivíduo tenha que se separar de alguma coisa que seria de grande valor

para ela e que fez parte de sua vida por algum tempo.

• É claro que a maioria ou todas as pessoas já passaram ou irão passar

por um momento de perda em suas vidas e cada um se manifestará de

forma única perante esta situação. Algumas pessoas irão isolar seus

sentimentos dentro de si e não colocaram para o mundo externo estes

sentimentos e emoções comuns a perda de alguém ou coisa querida

12

que lhe provocasse tanta dor; outros ao contrário falam de seus

sentimentos de forma clara sem se preocupar. Existem pessoas que

exarcebam tanto os sentimentos que acabam se tornando doentias,

gerando uma má adaptação ao que aconteceu e uma não aceitação da

carência: seria como se sua vida continuasse caminhando normalmente

e negando que o fato tenha ocorrido, com o objetivo de fingir que o

outro ainda existe ou deixar de lado toda e qualquer recordação.

"A dor de uma perda é tão impossivelmente dolorosa, tão semelhante

ao pânico, que tem que ser inventada maneiras para se defender

contra a investida emocional do sofrimento. Existe um medo de que se

uma pessoa alguma vez se entregar totalmente à dor, ela será

devastada – como que por um maremoto enorme – para nunca mais

emergir para estados emocionais comuns outra vez”. Sanders (1999;

pág. 3)

1.2 O QUE É A VINCULAÇÃO?

Existe a teoria da vinculação criada por John Bowby, que tem como

fundamentação uma teoria de origem no surgimento do amor ( Chisholm, 1996).

Para conseguir entender o surgimento do sofrimento e da dor que acontece diante

da perda de alguém, é necessário compreender porque as pessoas estabelecem

fortes laços entre elas. A teoria da vinculação de Bowlby (1980 cit. Por Sanders,

1999) fala destes sentimentos que são construídos pelos familiares próximos logo

no começo da vida. Estes sentimentos aparecem diante da necessidade que o ser

humano tem de sentir amparado, sendo um sentimento que nasce com o ser

humano que fazem com que estes se mantenham unidos, isto é necessário para

que o bebê ao nascer seja cuidado e sobreviva, já que ele não conseguiria

sobreviver sozinho, dependendo de sua mãe ou cuidador. Esta vinculação

permanece ao longo da vida, interferindo na formação de atitudes desta pessoa em

suas relações amorosas. Percebeu-se também que o sistema de vinculação é um

13

processo, uma relação dinâmica é não um laço estatístico ( Chisholm, 1996 cit.

Melo, 2004).

Na fase adulta esta relação para que seja saudável e satisfatória não pode ser

unidirecional, esta relação deve ser embasada na reciprocidade. Para esclarecer de

uma maneira mais clara, deve-se considerar que quanto mais firme forem os laços

estabelecidos entre estas pessoas, maior será o sofrimento de uma destas pessoas

diante da ameaça da perda e da ruptura deste laço. Mas como estas relações são

complexas, não se pode prever o que irá acontecer diante de tal fato.

1.3 O PROCESSO DE LUTO.

Segundo Bowlby (1985), em seus estudos sobre como as pessoas reagem ao

falecimento de uma pessoa querida, ele aponta que as reações do processo de luto

passam por vários momentos que podem não ser bem definidas entre si, desta

forma podem se entrelaçar durante algum tempo. As fases da reação de luto após a

morte de uma pessoa querida ou situação ao qual se tinha uma ligação forte foram

descritas por alguns autores, entre eles; BOWLBY (1985), KUBLER-ROSS (1994),

BROMBERG (1994), ESSLINGER (1995). As fases são:

1. Fase de entorpecimento, choque, negação;

2. Fase de anseio, protesto, raiva;

3. Fase de desespero, desorganização;

4. Fase de recuperação, aceitação, restituição.

É importante falar que estas fases não existem necessariamente nesta ordem,

ás vezes algumas nem aparecem, e o tempo de permanência nesta fase irá

depender de pessoa para pessoa. Estes aspectos irão depender de como

14

aconteceu esta perda, qual o significado dado e da história da perda de cada

indivíduo.

Na primeira fase, a pessoa que sofre a perda sente-se confusa, paralisada,

como se não acreditasse bem no que aconteceu não sabendo o que fazer. Muitas

vezes ela nega o que tenha acontecido, não conseguindo acreditar e expressar os

seus sentimentos. Existe um desejo de evitar o terrível acontecimento de que o ser

amado não está junto a ela; o mundo é debilitado, e a pessoa que sofre está

abalada por tal situação. Assim como o corpo humano reage depois de uma perda,

a psique humana também entra em confronto diante da perda de algo importante;

sendo uma reação normal diante de tal sofrimento; o tempo de negação é

terapêutico, o objetivo é amenizar o sofrimento da pessoa para absorver a realidade

da perda. Em alguns casos, a aceitação pode ser apenas intelectual, a perda é

reconhecida, mas a resposta emocional é negada (Frade, 2005).

Quando já não é mais possível negar a morte, surge a segunda fase –

sentimentos de raiva, revolta ressentimento e desejo de busca da pessoa perdida. É

só nesta fase que, segundo Bromberg (1994), a morte começa a ser sentida como

algo que não se tem como voltar atrás. Este sentimento vivido pela pessoa pode se

direcionado à própria pessoa, que pode se sentir culpada de alguma forma pela

morte, quanto ao morto, culpando-o por ele ter partido e tê-la deixado sozinha no

mundo, sem expectativas quanto ao futuro. A raiva é sempre esperada, de alguma

forma, depois da perda de alguém querido, como uma resposta natural de ser

impedido de algum desejo. Isto acontece porque o ser humano já tem uma

predisposição biológica que se manifesta para tentar encontrar e recuperar a

pessoa perdida e acreditar que no futuro, não acontecerá outra perda. A culpa é um

processo normal e esperado na fase do luto porque nos relacionamentos sempre

existe alguma medida de ambivalência ou mistura de sentimentos positivos e

negativos; a culpa pode ser um normal concomitante para a perda dos outros

(FADRE, 2005).

O terceiro estágio é do desespero, desorganização e depressão, isto acontece

quando a pessoa se conscientiza e reconhece que o fato realmente aconteceu.

15

Nesta fase, as atividades rotineiras já não são mais realizadas e o retraimento,

isolamento social e a depressão são profundas.

“A depressão e a desesperança são reações comuns nas perdas

importantes. Inúmeros sintomas de depressão são característicos de

uma situação de luto: introversão, apatia, diminuição da energia,

redução do desejo sexual, regressão, dependência, sentimentos de

impotência ou abandono, ambivalência, vergonha, sentimentos de

estar fora do controle, despersonalização, falta de concentração e

problemas somáticos.” (Frade, 2005, pág 215).

A última fase é o da aceitação, em que aos poucos a vida vai voltando ao

normal e o enlutado começa a reorganizar sua vida. Nesta fase o sofrimento ainda

pode ser grande, mas a luta em não aceitar a perda já não existe mais.

A pessoa que sofre aprende a lidar com a morte de forma que a energia

emocional é reinvestida em novas pessoas, novos projetos e idéias. Não que a

perda esteja esquecida, mas é dado um significado diferente a ela, e passa se ter

recordações da pessoa. O enlutado fica livre para encontrar novos relacionamentos

sem se sentir amarrado ao antigo relacionamento. Mas nesta fase ainda existe a

culpa, junto com a força que o enlutado faz para dar continuidade a sua vida e

amenizar a perda. Algumas vezes, a pessoa ainda pode sentir que esta de alguma

forma traindo o companheiro que morreu, se usufruir da vida sem ele.

Para Bromberg (1994), se o enlutado não conseguir passar por esta fase de

sua vida e permanece na fase de não aceitamento, o luto patológico pode ser

diagnosticado, e isto começará a afetar seu relacionamento com o que é real.

A vivência do processo de luto surge socialmente como uma perda e estão

incluídos padrões normais de comportamento (Lindermann, 1994, cit. Rando,

1984), são eles:

- inquietude e incapacidade para se incorporara vida novamente.

16

- uma dolorosa falta de habilidade para iniciar e manter padrões organizados

de atividades.

- retiro do comportamento social que não permite o estabelecimento de novas

relações e o alívio do estresse.

Segundo Frade (2005), os sentimentos de dor se prolongam por tempo maior

do que permite a vida em sociedade em geral, pois mesmo as pessoa mais

próximas esperam que o enlutado volte a ser o mesmo em apenas alguns dias ou

semanas depois do acontecimento, mas reaprender a viver depois de uma perda

não é tão simples assim. A morte de alguém querido pode trazer para o enlutado

uma dor emocional grande e confusão durante muito tempo, podendo durar até

anos.

Freud (1917[1915]) descreve como característica do luto patológico a culpa

pela perda, a auto-recriminação, a depressão obsessiva e o conflito por causa dos

sentimentos confusos que surgem em relação a pessoa que morreu

(amor/ódio,etc.). PARKES (1965) classificou três tipos de luto patológico, são eles:

- Luto crônico: prolongamento indefinido do luto, com predomínio de tensão,

inquietação e insônia; também podem ocorrer sintomas de identificação com a

pessoa que morreu.

- Luto inibido: sintomas do luto normal estão ausentes.

- Luto adiado: reações imediatas à morte podem não ser apresentadas

podendo ser provocadas mais tarde por eventos que não teriam força para tanto.

No processo de adiamento a pessoa pode apresentar comportamento normal ou

sintomas de luto distorcidos.

Segundo Kovács (1992), quando a morte vem acompanhada já por algum

tempo devido a alguma doença, pode acontecer o chamado “luto antecipatório”,

onde o processo da perda começa com o ente ainda vivo e os sentimentos acima

citados são vividos antecipadamente.

17

Para Pitta (1990) os recursos médicos utilizados para manter o paciente vivo o

máximo possível, faz com que a família acabe por muitas vezes vivenciando o

processo de enlutamento antes mesmo da morte concreta da pessoa.

Kovács (1992), ao mesmo tempo em que se permite vivenciar o luto

antecipadamente, que já seria um fator positivo para uma elaboração satisfatória do

luto, após o falecimento de uma pessoa doente há algum tempo, podem surgir

sentimentos de alívio em relação ao sofrimento e desgaste que esta doença trazia

para todos. Ao mesmo tempo, aparecem sentimentos de culpa pelo fracasso do

tratamento médico e cuidados ao paciente. Estes sentimentos dúbios podem

prejudicar ou adiar a elaboração do luto.

“A capacidade para orientar a dor é importante tanto para o indivíduo

que experimenta a perda, quanto para a sociedade da qual faz parte. A

condução do luto significa saber manipulá-lo, compreender os

sentimentos, aprender a viver a perda e a mudança, ajustar aos

acontecimentos de uma morte ou mudança e suas conseqüências na

vida. A tensão que se acumula em um sofrimento falho ou incompleto

pode conduzir a doenças físicas sérias, a perda de horas no trabalho, à

angústia mental e, inclusive a morte. A elaboração do luto é universal e

esta sujeita a influências culturais, como os rituais da morte e o enterro;

as atitudes sociais ditam a forma com que são expressas as emoções

(FRADE, 2005).”

(Lindeman (1994), citado por Rando, 1984), forneceu um novo conceito do luto

que funciona e foi implantada nas pesquisas modernas. Ele disse que o trabalho de

luto é elaborado a partir de três tarefas que são aplicadas a qualquer e todo tipo de

perda: liberação da escravidão do falecido, readaptação ao ambiente no qual o

falecido esta ausente e formação de novas relações.

Quando emocionalmente uma pessoa cuida da outra, ela investe parte de si

mesma nela, incorporando sua energia emocional e física no sentimento pelo outro.

Vamos comparar os dedos das mãos entrelaçados a partir de duas mãos

apertadas, assim são dois seres humanos que se amam e se querem bem, estão

18

entrelaçados emocionalmente , como as duas mãos, e os laços emocionais são

representados através dos dedos entrelaçados, que são passados de uma pessoa

para a outra. Quando acontece de uma delas morrer, a pessoa que fica tem que

buscar a energia emocional que fora investida no outro. O desafio do luto neste

caso é desatar os laços que juntavam um ao outro, mas não necessariamente isto

signifique que o enlutado esqueceu o ser amado, nem que o deixou de querê-lo.

Significa sim que esta energia foi transformada e investida em outras coisas e

pessoas para se satisfazer emocionalmente. Neste estágio o sofredor fica com

medo de trair ou esquecer a pessoa perdida, ao iniciar a separação dos laços.

CAPÍTULO II

2.1. REAÇÕES FAMILIARES FRENTE AO LUTO

19

Segundo Groisman (2003), o nascimento não marca apenas o início de uma

vida individual, mas sim e principalmente o começo de uma continuidade familiar,

podendo ser o primeiro filho que dará início a família como também pode ser mais

um filho que irá se somar aos membros que já existem. Não nascemos para nós

mesmos ou só para o mundo, nascemos para fazer parte de uma família, seja ela

nuclear, adotiva, uniparental, recasada, heterossexual ou homossexual. A partir do

nascimento do primeiro filho é instaurada uma família, iniciando o seu ciclo vital

(Carter E McGoldrick, 1995, Cit. Por Groisman, 2003). Este ciclo compreende todas

as fases da vida, desde a infância de seus filhos, indo para a adolescência, até a

vida adulta, com a inevitável saída destes para uma reorganização de sua vida,

através da construção de sua própria família, ou apenas para obter sua

independência, sem precisar se casar.

“Aprender a arte da separação é aprender a arte da vida. Viver é

separar-se a cada momento. Falar de amor parece opor-se a falar de

separação. Amor é sinônimo de fusão, de dois se tornarem um em

qualquer relação. Por isso, tem-se a sensação de que amor e a

separação não podem conviver. Se amo meus filhos como posso

desejar sua partida?(Silva, Zebendo,Silva 2003, pág. 137).”

Segundo Carter e McGoldrick, (1995), crescer, amadurecer, diferenciar-se

emocionalmente da sua família de origem são algumas das etapas do processo

vital. Cada passagem de estágio no ciclo da vida é uma pequena morte, existindo

perdas e ganhos nessas épocas de mudança. Assim como na morte propriamente

dita. Deste jeito a paralisação de uma dessas etapas pode evitar que a morte

aconteça. Isto pode ser feito através de ficar mais tempo morando na mesma casa

que seus pais, na posição de filho, ou no papel de pais mais novos; aumentar a fase

escolar e a dependência financeira; não se sentir capaz de assumir

responsabilidades, são algumas das manifestações do forte sentimento de

continuar vivendo eternamente, controlando o tempo, para não precisar pensar na

20

morte. Estas são situações realizadas pelas próprias famílias, com o objetivo de

poder continuar no seio familiar de forma aconchegante e protetora.

Em outras épocas uma família tradicional de classe média incentivava seus

filhos a saírem de casa, estimulava sua liberdade, através de viagens para

conhecerem melhor o mundo, mas sabiam que eles poderiam voltar.

Disfarçadamente os empurrava para fora de casa com o discurso de que teriam que

aprender a viver no mundo lá fora. Seriam membros sem perspectiva de

contribuição para produção nesta família.

Atualmente o discurso que se houve é que os filhos precisam sair de casa

mais cedo para aprenderem a viver no mundo. Mas ao mesmo tempo percebe-se

que estes mesmos pais acabam aumentando o tempo da adolescência. Quando os

mantém em casa até terminarem os estudos universitários, sustentando-os para

que somente estudem, financiando o lazer, aumentando assim a dependência já

existente.

“Aquele casal que um dia deu o pontapé inicial para o nascimento da

família atravessa com os filhos as etapas correspondentes do ciclo

vital familiar, só que com idades diferentes: enquanto os filhos

caminham para a vida adulta, os pais seguem, paulatinamente, para

o envelhecimento e, conseqüentemente, a morte. Com o

desaparecimento dos pais, a família original também deixa de existir

ou morre, permanecendo a família dos irmãos. Esses mesmos pais,

ao mesmo tempo, pertencem a outras duas famílias – as famílias de

origem – e vão acompanhando e sentindo o envelhecimento e a

morte dos seus progenitores, que vai repercutir neles e nos seus

descendentes, responsáveis pela continuação da família (Zilbach,

1989, cit. Por Groisman, 2003, pág. 13).”

21

Desta forma a família vai se desenvolver com a soma de diversos membros

que já existem com os que vieram para somar, juntamente com as separações que

são naturais devidas à saída dos filhos de casa e das perdas que podem ser

normais por causa da idade dos membros mais velhos. A partir das separações e

das perdas terá que ser feitos um reajustamento e reorganizações na família que

podem ter como resultado abalos e repercussões em todos os parentes.

“A possibilidade de aceitar as separações e as perdas será maior,

menor ou nula de acordo com o grau de fusão ou simbiose existente

na massa indiferenciada do ego familiar, ou seja, do grau de

interdependência existente entre os diferentes componentes da

família nuclear, que, por sua vez, vai refletir numa linha

transgeracional o quanto aqueles pais se diferenciaram ou se

individualizaram das suas respectivas famílias de origem. (Bowen,

1978, cit. Por Groisman, 2003, pág. 13)”

Apesar de desde pequeno sabermos que existe a morte, o nosso primeiro

contato é com a vida, através do nascimento e é nela que nos apegamos com

todas as nossas forças, pois ninguém nasce pensando em morrer. Desta forma a

morte não faz parte de nosso dia-a-dia , mesmo sabendo que ela é inevitável e de

tentar nos apegar a crenças e valores para conseguir superá-la, ela tem uma

conseqüência fortíssima em nossas vidas, sendo prematura, acidental ou até

mesmo natural. Cada morte, com suas características, produzirá uma onda de

choque emocional, que se propagará por todos os segmentos da família nuclear e

extensa. Quando se faz parte de uma família, cada um não quer perder o outro e

nem consegue imaginar esta perda, o desejo de todos e que permaneçam juntos e

vivos, este sentimento passa de um plano individual para o familiar, como

conseqüência esta união se torna mais forte e retroalimenta este relacionamento.

22

Para Minuchin, (1988, cit. por Groisman, 2003) se o desejo que estes membros

não morram passem a predominar esta relação, e isto se torna mais importante do

que qualquer outra relação existente, isto passa a ser a principal razão de todos:

manterem a família unida e viva, esquecendo de suas próprias vidas e vivendo a

vida da família.

Os relacionamentos familiares seriam como uma casa invisível onde as partes

vivem e interagem, formando uma estrutura fundamental para dar apoio, suporte e

proteção aqueles que convivem nela. Se o grau de dependência a este suporte for

elevado, maior será a necessidade de que esta família permaneça inalterável e

eterna. Nesta dúvida entre seguir a própria vida ou continuar vivendo a vida da

família, onde ocorrerão perdas em determinados momentos, como os mais idosos

por exemplo, existe a possibilidade do surgimento de doenças mais ou menos

graves (GROISMAN, 2000).

“É importante ressaltar que esse grau elevado de fusão tanto pode

existir nas famílias ditas aglutinadas como nas desagregadas. Nas

primeiras isto fica mais fácil de entender, posto que o próprio nome

indica o grau de fusão existente, enquanto nas desagregadas o que

ocorre é que seus integrantes não conseguem alcançar um grau

razoável de diferenciação ou de originalidade em relação à sua

família por estarem desconectados entre si. Ou seja, não exercem o

movimento necessário de estar em contato com a família, com o

sentido de pertencimento, e não desenvolvem a individualidade

(Minuchin, 1988, cit. por Groisman, 2003, pág. 14).”

Uma das formas que esta família utilizaria para mantê-los unidos e sem o

crescimento dos mesmos seria feito através do congelamento do tempo, fenômeno

já estudado por Andolfi e cols. (1984) e Groisman, lobo e Cavour (1996). A família

23

que, através de um dos filhos, apresenta uma patologia mental (que pode se tornar

crônica) tem a possibilidade de manter os pais e os filhos unidos, congelados,

acreditando que eles não vão se separar. Desse jeito, os pais não vão caminhar

para a morte e, conseqüentemente, a família original também não.

Em algumas situações, para a sobrevivência da família e para um fechamento

entre eles é, a carga emocional decorrente da perda e deslocada. Desta maneira a

família coloca o afeto, as expectativas e os padrões relacionais, que tinham com o

ente que se foi em um membro que ficou recebendo uma incorporação. Assim

aquele que morreu em vez de ir para a saudade da família, é enterrado no escolhido

pelo sistema para exercer este papel (Groisman, lobo e Cavour, 1996. cit. por Motta

e Cavour, 2003).

O membro desta família que condensa em seu comportamento e na relação

com os outros parentes essa carga emocional da história familiar, em um

determinado momento do ciclo vital, surgirá com uma relação de sintomas que

poderá servir como saúde ou doença, de forma paradoxal, que podem ter como

resultados a mudança ou estagnação da mesma. Desta forma a doença costuma

surgir diante de um conflito dramático do membro da família que esta no lugar do

morto (incorporação do membro que morreu) e esta atrás de sua individualização

através do processo de diferenciação. Para que isto ocorra ele precisará não

realizar as vontades da família, abrindo mão do lugar que lhe foi colocado, para que

ele possa ser ele mesmo e não o morto, mas para isso precisará ser dispensado

deste lugar que foi colocado por sua família e que ele aceitou. Paradoxalmente,

esta situação o constituiu até aquele momento e, na maioria das vezes, até lhe

trouxe certo poder na família. Este poder, grau de importância e de atenção dentro

da família, poderá ser infinito pelas relações familiares através da doença, caso esta

se torne crônico.

Segundo Motta e Cavour (2003), a morte é um evento biológico, que termina

com a vida de uma pessoa. Para as pessoas ela não é apenas um evento biológico

e individual, mas também familiar vivenciado por todos e que afeta e traz

repercussões para todos os familiares, tanto na família nuclear, quanto na

24

transgeracional. Desta forma, a perda não é um acontecimento linear apenas, pois

provoca conseqüências nas diversas gerações.

A família fica perturbada diante de uma perda, pois esta é sempre ameaçadora

para seus integrantes, gerando um desequilíbrio e modificando toda a sua estrutura,

assim é necessário que seja feita uma reorganização de todo o sistema familiar.

Quando existe uma ruptura em uma família através da morte, percebemos que

esta muitas vezes fica estática para não enfrentar a dor da falta, o vazio e a perda

daquele que se foi. A perda nos coloca diante de uma decisão a ser tomada, uma

redefinição do passado, do presente e do futuro, provocando uma série de reações

normais e patológicas que a família se utilizará para passar por este processo de

luto.

Para Pincus (1989), as pessoas tem grandes dificuldades em falar sobre a

morte e o luto, evita-se falar sobre o assunto que envolve a perda e seu sofrimento,

estes acabam ficando sem o apoio familiar que deveria ser dado as pessoas que

mais estão sofrendo com esta perda. Segundo a autora os próprios profissionais

envolvidos com este paciente não conseguem lidar com a morte e como

conseqüência não conseguem dar o apoio necessário a família, se sentindo

impotentes frente à situação. Se antes os doentes morriam em suas casas

rodeadas por seus membros, hoje eles ficam internados em hospitais distantes da

família fazendo com que estes não vivenciem o processo de luto desde o início,

ficando mais difícil aceitar a perda quando esta acontece. Desta forma a morte fica

afastada da dinâmica da casa, ao contrário do que ocorria antigamente.

“Uma das grandes dificuldades para a compreensão e aceitação da

morte está no desconforto em se falar sobre o tema, quer seja para

quem esta morrendo ou para os parentes, como se a morte não se

incluísse na vida.. para mudar e evoluir é preciso ter consciência da

morte, aceitar a perda e valorizar a vida. As pessoas são insinadas a

negar a morte e a crer que ela nada significa. Até falar da morte é

considerado mórbido e muitos acham que fazer uma menção a ela

pode atraí-la para si (Mendes, 2003, pág.274)”

25

Esta mudança em relação ao doente fez com que a morte ficasse

emocionalmente menos dolorosa, pois os familiares deste doente se sentem sem

responsabilidades de ficarem acompanhando, principalmente no período mais

crítico, quando a morte esta nítida.

Mas muitas vezes isto nem é culpa dos familiares, pois na maioria das vezes

não é permitido que os parentes fiquem perto de seu ente no leito do hospital,

quando freqüentemente o paciente é mantido sedado. O não contato nesta fase

prejudica a aceitação da morte e elaboração do luto, pois a inevitabilidade e

irreversibilidade da perda ficam mais reais quando esta pode ser presenciada

(PINCUS 1989).

Bowlby (1985) fala que as pessoas constroem seus vínculos através de seus

relacionamentos durante toda a vida, por causa de uma necessidade natural da

pessoa ter segurança, através de um relacionamento que tenha significado para ele.

O sofrimento manifestado diante da morte, é um sentimento universal quando se

perde alguém que se tinha uma relação significativa. Ainda para o autor o modo

com a pessoa vivencia suas primeiras perdas irá influenciar a maneira como esta

pessoa irá lidar com as próximas perdas. A forma como se constroem os primeiros

relacionamentos contribuirá para determinar os relacionamentos subseqüentes,

bem como a elaboração e o enfrentamento na ruptura destes mesmos vínculos, ou

seja, os recursos para a elaboração do luto serão tão melhores quanto melhor for a

qualidade dos relacionamentos anteriormente vivenciados.

Segundo Melo (2004), dependendo das relações familiares estabelecidas,

percebe-se que cada membro deste grupo reage de forma diferente diante da perda

que é inevitável, reagindo de uma de forma singular em épocas diferentes, como

conseqüência pode acontecer conflitos, gerar isolamentos ou até mesmo rupturas

no seio familiar. Para Brown (1989 cit. por Melo 2004) não só o impacto da morte é

normalmente intenso e prolongado, mas também os seus resultados não são

habitualmente reconhecidos pela família como sendo conseqüência da perda do

26

ente querido. Como resultado da morte acontece que os membros familiares se

desestruturam, havendo uma ruptura em seus relacionamentos afetando o equilíbrio

familiar. O grau de rompimento para este sistema familiar vai depender de vários

fatores, sendo os mais significativos: 1) o contexto social e étnico da morte; 2) o

história das mortes anteriores; 3) a altura da morte no ciclo da vida; 4) a natureza da

morte ou das doenças graves; 5) a posição e a função da pessoa no sistema

familiar e nas suas interações.altura da morte no ciclo da vida.quando estas

pessoas compreendem e tomam consciência dos diversos caminhos que podem

ser trilhados para se superar uma perda , permitem que uma maior aceitação das

inúmeras diferenças que o processo de luto tem de uma pessoa para a outra.

Existem desafios adaptativos fundamentais ao âmbito familiar, que se não

conseguirem ser ultrapassados, deixa, esses mesmos membros vulneráveis,

aumentando o risco dessa família se diluir.

2.2 MORTE DOS PAIS NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA

Segundo Frade (2005), o que determinará as conseqüências do falecimento do

pai em um filho adulto será: como foi vivenciada esta relação entre eles, a idade do

filho quando acontece a perda, a maturidade emocional deste filho que sobreviveu,

o período em que se tomou consciência que a perda estava eminente, quando for

doença terminal, e o tempo que foi disponibilizado emocionalmente para que pai e

filho pudessem compreender a perda do pai.

A forma como este filho irá elaborar esta morte irá depender da idade e

maturidade deste filho, quanto mais idade ele tiver e quanto maior tenha sido o

tempo de advertência desta perda e quanto mais sincera tenha sido esta relação

entre pai e filho. Quando um filho jovem perde seu pai ou a morte foi inesperada ou

brusca, ou ainda, esta relação era tensa, o sofrimento pode permanecer sem se

resolver durante anos.

27

“Quando um dos pais morre, a idade da criança influi na maneira como

lidará com a dor. Para uma criança pequena , a morte de um pai é um mistério.

Com freqüência, a criança terá sentimentos de culpa e pensará que cauosu o

falecimento com alguma ação má ou perversa, ou pode ser tomado pelo temor de

ser castigado ou abandonado. Porém, em qualquer idade, um filho é vulnerável

ao falecimento de um pai. Se a relação pai-filho nuca pode evoluir para uma

relação de adultos, independentemente da idade do filho, o mais provável é que

com a morte sejam reativados todos os temores infantis de ser abandonado

(Frade e Barragán, 2005, pág. 198).

A perda de um pai é única para cada filho, principalmente quando este se

identifica de uma maneira profunda com aquele que morreu, o que pode acabar

acontecendo é que aquele progenitor que ficou vivo acaba sendo alvo de

sentimentos ruins, como ressentimentos, raivas e outros sentimentos violentos.

Quando um filho se identifica mais com um pai do que com o outro, como

conseqüência é natural que este pai que se foi cause um impacto maior na vida de

seu filho. Se este processo de enlutamento for vivenciado de forma saudável em

termos práticos e psicológicos, o filho acabará avançando as novas áreas de

desenvolvimento e maturidade. Os pais são as primeiras figuras de autoridade

apresentadas para o filho; quando morre algum deles nesta relação, o filho pode

sentir de início alívio por não ter mais que fingir, mas depois do alívio vem a culpa.

(O’Connor, 1995, cit. por Frade e Barragán, 2005).

Com a perda de um pai, podem surgir características independentes nos

adolescentes. Quando acontece esta perda no início da adolescência é provável

que este regrida a um estágio anterior do que estava. Os jovens tentam voltara a

infância para procurar um consolo necessário para superar esta perda.

O impacto da morte de um pai pode ter várias conseqüências na vida deste

adolescente, dependendo do se estado único de desenvolvimento. Por exemplo, em

alguns casos, o adolescente não avançou muito nos processos de separação, desta

28

forma é possível explicar seu breve retorno a infância ser ameaçador ou reforçador

se a teia familiar não aceita o desenvolvimento adequado do adolescente.

Segundo Carter e McGoldrick, (1995), crescer, amadurecer, diferenciar-se

emocionalmente da sua família de origem são algumas das etapas do processo

vital. Cada passagem de “estágio no ciclo da vida é uma pequena morte, existindo

perdas e ganhos nessas épocas de mudança. Assim como na morte propriamente

dita”. Deste jeito a paralisação de uma dessas etapas pode evitar que a morte

aconteça. Isto pode ser feito através de ficar mais tempo morando na mesma casa

que seus pais, na posição de filho, ou no papel de pais mais novos; aumentar a fase

escolar e a dependência financeira; não se sentir capaz de assumir

responsabilidades, são algumas das manifestações do forte sentimento de

continuar vivendo eternamente, controlando o tempo, para não precisar pensar na

morte. Estas são situações realizadas pelas próprias famílias, com o objetivo de

poder continuar no seio familiar de forma aconchegante e protetora.

CAPÍTULO 3

3.1 A INTERVENÇÃO DA TERAPIA DE FAMÍLIA FRENTE

À PERDA.

Segundo Walsh e McGoldrick (1998) junto com morte surgem os desafios

adaptativos que devem ser partilhados juntamente com as mudanças nas definições

que os familiares têm da identidade da família e de seus objetivos. Para que haja

uma transição saudável após a perda, esta família deveria aceitar esta morte

expressando seus sentimentos, mas percebe-se que isso na maioria das vexes não

acontece. Os membros familiares que não funcionam e não demonstram

capacidade de superação demonstram padrões desadaptativos ao lidar com as

perdas que são inevitáveis. Preferem ignorar a perda e viverem como se nada

29

tivesse acontecido, através da negação, congelando o tempo a seu favor para que

não seja tão dolorido. Quando se fala em adaptação não quer dizer que todos irão

esquecer do ente querido e da dor, e sim, aprendem a conviver com ela sem um

sofrimento que pode paralisar um membro da família ou toda ela.

Existe desta fase desafios adaptativos fundamentais na família que se não

forem ultrapassados deixam seus familiares no risco de desenvolver uma disfunção

aumentando assim, o risco desta família se dissolver.

O mesmo autor fala de duas tarefas principais que deveriam ser vividas para

promover a adaptação imediata e alongo prazo como o objetivo de aumentar o

fortalecimento familiar como uma unidade funcional, são eles:

a) aceitação partilhada da realidade da morte e experiência partilhada da

perda.

Diante da morte, cada pessoa do núcleo familiar tem que se confrontar com a

realidade da perda família a sua maneira, pois cada membro sofrerá de maneiras

diferentes. De acordo com Bowen (cit. Por Walsh e McGoldrick, 1998) é

imprescindível viver e ter um contato direto com a realidade da morte,

principalmente os familiares mais vulneráveis a perda. Acredita-se que devem ser

feitas visitas regulares ao doente e se houver crianças nas famílias incluírem-nas

nestas visitas. Muitas famílias acreditam que devem poupar as crianças e membros

mais vulneráveis do sofrimento, não os deixando participar dos rituais, e estes

acabam não participando da experiência partilhada entre a família e arriscam-nas a

impedir o processo de sofrimento pela perda.

Os rituais de despedida devem ser vivenciados por todos para que possam

compartilhar suas experiências e conseguir apoio no seio familiar e dos amigos

mais próximos. Não se pode viver esta realidade sozinha, ela deve ser dividida para

que se perceba que não esta passando por isto sozinho e que existe um apoio

social.

Segundo Melo (2004) a comunicação familiar e fundamental durante a fase de

acomodação a perda. Um ambiente de confiança, respostas empáticas e paciência

30

a várias reações e essencial . A paciência é para ajudar no manejo das respostas

que forem apresentadas diante da morte, e para que também possam lidar com as

diferentes formas que surgirem diante das estratégias de confrontação (coping),

única de cada pessoa. Pode acontecer de cada um estar em fases diferentes no

processo de perda, o que acabará criando uma desestruturação familiar.

Os sentimentos intoleráveis ou inaceitáveis podem ser delegados e

manifestados de uma maneira fragmentada pelos vários membros familiares. Como

exemplo um pode descontar toda a raiva na família, enquanto um outro familiar

pode estar vivendo um sentimento de tristeza profunda, outro irá demonstrar alívio e

outro ficar entorpecido. Neste caso deve-se ter um trabalho familiar através da

terapia de famílias para que possam construir uma resiliência na família através da

reparação da fragmentação e da promoção de uma rede mais coesa para o mais

apoio e cura mútua.

b) reorganização do sistema familiar e reinvestimento noutras relações e no

seguimento da vida

A morte de um familiar pode acabar com a homeostase e os padrões de

relacionamentos estabelecidos. O processo de recuperação envolve uma nova

estruturação das relações e uma redistribuição dos papéis necessários substituir a

perda, diminui o estresse transacionais e conseguir seguir com a vida familiar

normalmente. Assim, promover a união e uma reorganização flexível no sistema

familiar é fundamental para que a família volte a ter estabilidade e resiliência. Mas

para se chegar a estes objetivos é necessário levar em conta uma série de variáveis

que influenciam a adaptação da família à perda, entre as quais se sobressaem:

- a situação da perda (morte repentina ou morte por doença prolongada, perda

ambígua, morte violenta, suicídio);

- rede familiar e social (coesão familiar e diferenciação dos familiares,

flexibilidade do sistema familiar, comunicação aberta vs sincretismo, disponibilidade

de recursos da família alargada, sociais e econômicas, papel e funcionamento

31

anteriores no sistema familiar, relações conflituosas ou afastamentos perto da

morte);

- contexto sócio-cultural da morte (crenças étnicas, religiosas e filosóficas);

- contexto sócio-político e histórico da perda;

- a altura da perda no ciclo de vida da família (extemporaneidade da perda, co-

ocorrência de outras perdas, stresses ou mudanças do ciclo da vida, história de

perdas traumáticas e luto não resolvido).

Para Motta e Cavour (2003) cada família irá se confrontar com a morte de

maneira única, marcando-a com mais ou menos intensidade, dependendo da

relação existente entre elas: fusionada ou desagregada. Vai influenciar também a

maneira como a morte ocorreu, se o falecimento foi na família de origem ou na

nuclear, e em que fase de vida esta família estava quando alguém morreu.

Juntamente com o papel e grau de importância desempenhado pelo morto na

família, todos estes fatores são fundamentais e conduzem a muitas variações na

elaboração da perda e na reorganização familiar.

A forma como estas pessoas irão se comunicar ou não, tanto no sentido

horizontal (familiar nuclear) como no sentido vertical (família de origem) irá

influenciar no jeito como cada um irá lidar com a morte e com os sentimentos que

surgirão. Determinando se o assunto ficará escondido ou não no interior de cada

um ou entre os membros da família. Assim, poderá se tornar um segredo familiar,

não dividido, tendo como objetivo congelar o tempo, mesmo que não seja

consciente, ou poderão ser construídos novos papéis afetivo-relacionais, para que

desta maneira a família possa crescer e caminhar para as novas etapas que

surgirão.

“Quando uma vida é interrompida, vemos famílias se

paralisando para não se depararem com a falta, o vazio e

a perda que, inevitavelmente, aquele que se foi deixou. A

32

questão da morte nos coloca diante do eixo estático-

dinâmico que significará uma redefinição do passado, do

presente e do futuro e provocará uma série de reações

normais e patológicas que a família vai utilizar para realizar

seu luto.” (Motta e Cavour,2003, pág. 56).

3.2 READAPTAÇÃO DO AMBIENTE FAMILIAR APÓS A PERDA

Neste caso, a tarefa é que o enlutado se adapte ao mundo sem a presença do

ente querido. Ele tem que se acomodar a novos papéis e habilidades para

compensar as funções que a pessoa morta realizava; sua própria identidade pode

começar a ser redefinida para uma reflexão da realidade da perda e sua reais

conseqüências.

A energia emocional que é extraída da antiga relação deverá ser investida em

outras relações. Não se sabe ao certo qual seria o tempo necessário para que este

sobrevivente consiga esta transferência, pois isto depende de muitos fatores. A

pessoa muitas vezes pode conseguir extrair esta energia e depositá-la em relações

que seriam gratificantes, mas isto necessariamente não quer dizer que a pessoa

substituiu seu ente querido, que se foi.

Estas três tarefas do luto aqui apresentadas são muito parecidas aos três

estágios de ritual de passagem: a separação de um estado antigo, a transição

dentro de um novo estado e a incorporação a um novo estado. Estes estágios do

processo de luto não é apenas um fim em si mesmo, é também fundamental ritual

de passagem que o enlutado pode viver e cruzar, na seqüência, para chegar a se

reintegrar ao mundo.

Qualquer perda exige uma readaptação a uma nova modalidade de

convicções, valores, circunstâncias ou conceitos de si mesmo. A elaboração do luto

faz com que a pessoa repense em suas antigas atitudes, dando espaço para novas

33

estruturas emocionais. Assim, é possível que o enlutado se recupere depois da

perda.

No decorrer da vida, muitas coisas que causam sofrimentos emocionais

significativos passam como uma fase em nossas vidas, sendo normais de um

período para outro, mas, devido as mudanças que causam afetam o indivíduo

profundamente. É denominado “crise” porque afetam a vida da pessoa por um

determinado tempo, gerando introspecção e revalorização da própria identidade,

valores e convicções (Frade, 2005).

“quando esta crise é inesperada, como uma morte repentina, um

acidente ou um conflito imprevisto, o trauma pode ser tão sério que

provocará um período prolongado de instabilidade e confusão: essa

experiência muda as pessoas; nunca serão as mesmas que eram

antes. A habilidade para reconhecer e lidar com as mudanças e as

perdas será um fator positivo para o futuro (FRADE, 2005).”

Existem, pelo menos, quatros respostas possíveis à mudança:

a) Conservação. Essa serve como objetivo de tentar manter o status quo,

negar ou suprimir a dor, tratando de continuar no presente ou voltar ao passado,

este último ficaria como um processo de equilíbrio e harmonia. As pessoas que se

utilizam da conservação para se proteger acabam colocando a culpa nos outros de

forma a dar um significado o que aconteceu. Esta pessoa provavelmente não

conseguirá aproveitar a oportunidade para modificar os padrões de comportamento

já existentes, as convicções ou os valores.

b) Revolução: a pessoa que se utiliza desta mudança, passa a rejeitar

valores e crenças antigas, a segurança do passado fica falsa e artificial. A revolta

expressa pode ser contra as idéias, os lugares, familiares, objetos ou mesmo a

sociedade. É uma outra forma de negar o sofrimento e a angústia do presente, mas

34

é uma reação que provoca mais mudanças que a conservação. A revolução brota

para o exterior, ás vezes com muita raiva e agressividade, não querendo lembrar-se

do passado, rejeitando-o. Negando o presente e maldizendo o futuro. A pessoa que

investe neste tipo de mudança, é provável que se dedique a um emprego ou a um

trabalho com um objetivo, com energia e zelos ilimitados, ocultando os

pensamentos e sentimentos que tenham ligação com se processo interno de

sofrimento.

c) Fuga: é uma forma de evitar a angústia e dor que estão presentes,

através de comportamentos dependentes ou recorrendo a medicamentos ou

produtos químicos. Entre elas tem-se o consumo excessivo de álcool, o sono,, o

alimento, as drogas e os padrões de dependência. Algumas das características

desta pessoa são: temor, insegurança, manipulação, ressentimento, vingança,

comunicação indireta (mensagens com duplos significados) esta pessoa procura

conseguir atingir seus objetivos, sem assumir a responsabilidade por seus

comportamentos.

d) Transcendência: as pessoas que se utilizam deste mecanismo podem ir

mais longe do pesar e da perda de um ente querido, reorganizando sua vida de uma

nova forma com mais significados.. Esta posição requer um compromisso com

enfoque do mundo no aqui e agora, isto é, viver no presente com honestidade e

aberto para as mudanças que ocorrerão. Não se pode modificar o passado e não

querer conhecer o futuro. Uma pessoa que transcende confia em si mesmo para

sobreviver a qualquer situação, desde um acontecimento insignificante, até uma

enorme crise.

3.3 TERAPIA DE FAMILIA NO PROCESSO DE LUTO

Se em um determinado momento da vida em que se vive uma perda esta

família não consegue falar sobre ela, não fala de suas angústias e de seus

sofrimentos, cria-se uma lacuna e esta família não consegue fazer sua

35

reorganização familiar de forma saudável, deixando pendências que, às vezes,

atravessam gerações até que finalmente surge um membro familiar sintomático.

A relação com a pessoa que morreu pode ficar arquivada, e a cada evento

relacionado à morte fará com que este membro reviva novamente em alguns

aspectos, trazendo para o presente uma carga emocional acumulada no passado.

Este arquivo seria acionado a cada nova perda, fazendo com que cada membro

desta família reaja de forma única e uma maior união aconteceria, com o objetivo de

manter a crença familiar sobre a morte, de forma que o morto continuasse vivo.

Para o terapeuta é fundamental que ele entenda esta relação estabelecida

entre a famílias com o intuito de formular hipóteses, propor uma vivência ou mesmo

prescrever tarefas que deverão ser realizadas pela família para tratar da morte e

suas repercussões.

Esta família também pode deslocar esta perda, para um membro que se

encontra vivo, é como se o morto estivesse nele de alguma forma e muitas vezes

ele acaba se colocando realmente neste lugar para tentar manter a homeoastse

familiar. É função do terapeuta, entender este sistema de crenças existentes entre

eles, para que ele possa tirar esta pessoa do lugar de doente e distribuir este peso

para todos os membros, tirando-o do lugar de um ser doente e colocando-o como

uma pessoa sadia, a partir daí è que a família começa a perceber que é a família

que esta adoecida, e não somente um membro. (Motta e Cavour, 2003).

É fundamental criar um espaço pra que esta família que perdeu alguém possa

se lamentar, falar de seus sentimentos, possa também vivenciar e resignificar este

momento, viabilizando simultaneamente a coesão e a diferenciação no

relacionamento familiar. E é este momento que os terapeutas familiares chamam de

tempo de despedida.

Neste momento de despedida é necessário que o terapeuta possa estar

falando desta perda coma família, fazendo com que seja possível enfrentar e

superar este tabu, mas também transformar a negação da morte, que adoece,

numa possibilidade de valorização da vida e dos que ficou. Ao mesmo tempo

36

colocar os mortos no passado, no lugar da saudade, e introduzir o presente e o

futuro na continuação do ciclo familiar, descongelando o tempo.

Muitas vezes as famílias chegam para terapia com queixas que nada tem a

ver com perda que foi vivenciada no passado, mas no decorrer das sessões, logo o

terapeuta descobre que uma mau elaboração da morte deixou esta família

disfuncional e que esta perda precisa ser trabalhada, seriam situações de luto não-

compartillhados no seio familiar.

As famílias têm padrões diferenciados diante da perda, podendo se manifestar

de várias maneiras; culpar os outros membros pela morte ou até a si mesmo, pode

substituir o morto por alguém que esta vivo ou ficar com medo de viver novos

relacionamentos achando que poderá perder esta pessoa também. É necessário

que estes padrões desadaptativos sejam investigados, para que possa ser feita uma

relação entre a queixa apresentada e morte, através de hipóteses, inter-

relacionando o presente, passado e futuro.

O não falado da morte e suas repercussões seriam com águas escorregando e

infiltrando nas relações familiares, infiltrando em seus relacionamentos,

atravessando e minando tanto a coesão familiar quanto o processo de diferenciação

dos seus membros, tendo como conseqüência o mofo nos relacionamentos

familiares e na individualidade de cada um dos membros da família.

Percebemos que não é morte em si que faz com que a família adoeça, e sim, o

não dito das experiências que não foram trocados, a não permissão de sofrer diante

da perda, como se fosse um pacto consentido entre eles, numa tentativa de se

protegerem da dor.

Neste caso a terapia entraria com o objetivo de tratar estes lutos não-

resolvidos, ajudando a família a superar este mito de não falar da morte e do morto,

através de uma abertura emocional e relacional para se falar dos seus sentimentos,

que antes não eram permitidos, sem saber as conseqüências desta decisão,

causando danos aos seus membros. Esses sentimentos que prejudicam os

relacionamentos familiares devem ser trocados por uma saudade saudável,

37

desatando os nós que amarravam a todos, acabando com o silêncio, trazendo a

questão da morte e propiciando o tempo de despedida (Motta e Cavour, 2003).

Segundo Thomaz (2010)o acompanhamento terapêutico do luto tem como

principais objetivo:

- identificar e resolver os conflitos causados pela perda.

- readaptar esta família. O enlutado passa a desempenhar funções que antes

não pertenciam a ele, trazendo sofrimento.

- o paciente terá que passar a viver sentimentos antes negados por ele.

- abrir um espaço para que o paciente possa falar de seu sofrimento, o que

muitas vezes não é permitido pela sociedade.

- identificar e resolver os problemas que forem surgindo ao longo da terapia.

- recordar os bons momentos e sustentar sua alegria durante a terapia.

- fazer com que o enlutado redescubra o sentido de sua vida.

- ajuda-lo no retorno a sua vida cotidiana, quando este se sentir preparado.

- prevenir outras perdas como conseqüência do luto, como a separação

conjugal.

- estimular e orientar os membros familiares a retornarem seus cuidados com

os membros que ficaram.

- evitar situações de desequilíbrio familiar após a perda de um membro da

família, mantendo a união e o compartilhar da dor com transparência, evitando o

pacto de silêncio.

38

... o nível do funcionamento, em comparação com o nível de

pré-enlutamento; movimentos na direção de problemas

extraordinários; aceitação da perda, como questão composta

por um desdobramento no que concerne a ausência de distorção

com nenhuma expectativa de retorno ou dificuldade em

acreditar na morte, na possibilidade de dissipação do luto por

meio de trocas, e na integração do evento à visão de mundo do

enlutado; socialização, se o enlutado voltou à sua vida social;

atitude quando ao futuro, se positiva, com uma razoável atitude

de otimismo e esperança; saúde, boa quanto era antes da perda;

ansiedade ou depressão em nível normal de auto-estima; e

resistência na aparente habilidade para superar futuras

perdas.(Bromberg 1944, Pág. 66).

Muitas vezes a pessoa enlutada acredita que o ente querido poderá voltar a

qualquer momento, negando que ela morreu. É muito importante neste momento

que a terapia a prepare para encarar realmente o que aconteceu, sofrer as

conseqüências das implicações dessa morte no seu presente e futuro.

Após uma avaliação inicial com a família, deve-se ter uma hipótese

diagnóstica a ser trabalhada, considerando a formulação e uma aplicação para o

processo de mudança. Esta formulação divide-se em quatro etapas: clara definição

do problema em termos reais; investigação das soluções já experimentadas;

definição da mudança concreta a ser produzida; formulação e aplicação de um

plano escolhido para obter a mudança.

39

As três etapas fundamentais para a psicoterapia do luto familiar, são elas,

demarcação, externalização e reorganização, podem ser explicadas da seguinte

maneira: demarcação, com entrada e saída da fase de entorpecimento e

estabelecimento dos contornos da situação de perda; externalização, sucedendo-

se as fases de anseios-protesto e desespero, como um momento muito delicado,

pelo que provoca em uma situação familiar que muitas vezes podia parecer

equilibrada; e reorganização, fase final; na qual ocorrem recuperação e restituição,

ou seja, o sistema encontra o modo de funcionamento que reconhece as perdas e

identifica novas possibilidades (Bromberg, 1944).

40

CONCLUSÃO

Explorar um assunto de tal importância é fundamental para um maior

conhecimento do assunto que com certeza utilizaremos no nosso dia-a-dia. A

partir deste estudo pudemos perceber que falar na morte de alguém que se

têm laços afetivos e é querido ainda é muito difícil. A sociedade não esta

preparada para escutar alguém que perdeu um ente querido, e muitas vezes,

mesmo a família cria um pacto de silêncio entre eles onde não é permitido falar

da morte. Com estas dificuldades as pessoas acabam guardando para si esta

dor, que vai aumentando e com o tempo se torna insuportável, pois falar desta

dor muitas vezes dá um significado de que se é fracassado, já que na nossa

sociedade temos que demonstrar força todo o tempo, para sermos bem

aceitos.

Como conseqüência desse não dito, onde não é possível dialogar sobre

o que aconteceu, começam a surgir manifestações sintomáticas reativas a tal

sofrimento que não foi elaborado, o processo de luto não foi vivido de forma

saudável, muitas vezes nem elaborado foi, e esta família se encontra presa no

passado, não conseguindo dar continuidade as relações familiares, e cpode

até colocar uma pessoa que esta viva no lugar da que morreu, como tentativa

de congelar o tempo. Com isso surgem várias manifestações de sentimentos

negativos como a tristeza, a raiva, a culpa, depressão entre outros. E assim um

41

agride o outro, se culpam, transferindo os sentimentos daquele que morreu

naqueles que ficaram.

Quando uma família não aprende a lidar com esta perda, através de

uma reestruturação familiar, ela se torna doente,ou aparece um único ser

doente que leva toda a culpa do desequilibro familiar, então é preciso procurar

um tratamento terapêutico, através da terapia de Família. A terapia teria como

objetivo fazer com que eles possam falar de suas angústias e sofrimentos,

para que possam parar e escutar um ao outro, compartilhando esta perda. A

terapia serve neste caso como um suporte para que os familiares se permitam

expressar tudo o que estão sentindo, falar de suas dores, do que não foi dito

antes da morte. A partir desta libertação de sentimentos esta família estará

pronta para deixar o morto no passado, no lugar da saudade, para que possam

recomeçar novamente a relação familiar que havia adormecido junto com a

morte do ente querido.

42

BIBLIOGRAFIA

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Editora Martins Fontes, 1985.

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45

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 8

INTRODUÇÃO 9

CAPÍTULO I

1.1 - Luto 11

1.2 – O que é a vinculação 12

1.3 - O processo de luto 13

CAPÍTULO II

2.1 – Reações familiares frente ao luto 19

2.2 – Morte dos pais na infância e adolescência 27

CAPÍTULO III

3.1 – A intervenção da Terapia de Família frente à perda 29

Readaptação da família após a perda 32

3.2 – Terapia de Família no processo de luto 35

CONCLUSÃO 41

BIBLIOGRAFIA 43

ÍNDICE 46

46

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Cândido Mendes/ A Vez do Mestre-

Faculdade Integrada. Pós-Graduação Lato Sensu.

Título da Monografia: Luto e Família.

Autor: Ozinéa Da Silva Pereira.

Data da entrega: 23/01/2011.

Avaliado por: Profª. Fabiana Muniz

Conceito: