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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE GESTÃO ESCOLAR NA REDE PÚBLICA DE ENSINO, POR UMA PERSPECTIVA DEMOCRÁTICO-PARTICIPATIVA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES. Por: Fabíola Silva dos Santos Orientador Prof. Mary Sue Pereira Niterói 2011

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  • UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PS-GRADUAO LATO SENSU

    INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

    GESTO ESCOLAR NA REDE PBLICA DE ENSINO,

    POR UMA PERSPECTIVA DEMOCRTICO-PARTICIPATIVA:

    DESAFIOS E POSSIBILIDADES.

    Por: Fabola Silva dos Santos

    Orientador

    Prof. Mary Sue Pereira

    Niteri

    2011

  • 2

    UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

    PS-GRADUAO LATO SENSU

    INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

    GESTO ESCOLAR NA REDE PBLICA DE ENSINO,

    POR UMA PERSPECTIVA DEMOCRTICO-PARTICIPATIVA:

    DESAFIOS E POSSIBILIDADES.

    Apresentao de monografia Universidade Candido

    Mendes como requisito parcial para obteno do grau

    de especialista em Administrao e Superviso Escolar

    Por: Fabola Silva dos Santos

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    ... a Deus pela oportunidade de mais uma

    jornada acadmica. Aos meus pais e

    esposo pelo estmulo e confiana. E,

    ainda, s minhas amigas pela parceria e

    aos docentes pela interao durante o

    curso...

  • 4

    DEDICATRIA

    ...dedico este trabalho a minha me, que

    sempre me incentivou e apoiou

    incondicionalmente a na minha qualificao

    profissional, com suas palavras, com a sua

    proteo e carinho...

  • 5

    RESUMO

    Com os processos de redemocratizao do Brasil, associados ao

    aprimoramento da qualidade da educao pblica, emergem movimentos de

    transformao nas formas de gerir as escolas brasileiras. A participao de toda a

    comunidade escolar, tanto de especialistas, professores, quanto pais, estudantes

    e funcionrios, um imperativo para a ruptura com o modelo conservador e

    autoritrio de gesto que at os dias atuais pouco favoreceram no atendimento

    dos interesses da coletividade. Em virtude da necessidade de mudana na

    organizao e no funcionamento da escola, a questo da democratizao da

    gesto tornou-se formalmente uma determinao legal expressa na Lei de

    Diretrizes e Bases da Educao Nacional 9394/96. Em funo desse quadro, este

    trabalho monogrfico abordar o histrico das prticas de gesto escolar no Brasil,

    associada funo social da escola que sofreu modificaes devido a

    transformaes no contexto social com o decorrer do tempo. Ressaltando a

    concepo de gesto democrtico-participativa enquanto um conceito novo que se

    assenta sobre a mobilizao dinmica e coletiva dos sujeitos escolares (servidores

    e usurios), suas energias e competncias, como condies bsicas e

    fundamentais para a melhoria da qualidade do ensino. Do mesmo modo, sero

    reveladas possibilidades de prticas de gerenciamento de algumas escolas da

    rede pblica de alguns municpios da regio metropolitana do Estado do Rio de

    Janeiro, suas aes caracterizadas como democrticas e de cunho participativo,

    os desafios que enfrentam para efetivar essas prticas e as estratgias que tm

    surtido efeito positivo, conduzindo melhoria dos processos de ensino-

    aprendizagem, possibilitando as escolas ficarem a servio da educao para a

    vida, por meio da conquista da cidadania.

  • 6

    METODOLOGIA

    A metodologia empregada contemplou a coleta de documentos que

    abordassem o tema gesto democrtico-participativa, tais como: livros,

    documentos legais, publicaes de carter tcnico em revista e artigos publicados

    em sites oficiais da Internet. Aps o levantamento bibliogrfico e a seleo de

    informaes pertinentes fundamentao da pesquisa, se realizou um estudo

    mais aprofundado para fichamento e anlise minuciosa das questes. Alm disso,

    foi feita uma investigao das realidades cotidianas das escolas por meio de

    coleta de depoimentos relativos ao assunto, utilizando como instrumento um

    questionrio. Concludas as etapas anteriores, se efetuou a textualizao e

    montagem da monografia.

  • 7

    SUMRIO

    INTRODUO

    8

    CAPTULO I: A gesto da escola e seus reflexos diante de sua funo social 11

    CAPTULO II: A gesto democrtico-participativa em prol da qualidade de ensino

    no mbito das escolas

    21

    CAPTULO III: O olhar dos atores escolares frente s realidades de gesto das

    escolas pblicas

    41

    CONCLUSO

    51

    BIBLIOGRAFIA

    54

    ANEXOS 57

    NDICE 87

    FOLHA DE AVALIAO 89

  • 8

    INTRODUO

    No cenrio educativo atual possvel perceber que a melhoria da qualidade

    das escolas est relacionada a vrios fatores, entre eles, a gesto dos processos

    educacionais. Tal fator tem sido tomado, muito frequentemente, como objeto de

    discusso e estudo, devido s transformaes ocorridas na sociedade e na prpria

    escola que requerem formas mais democrticas de gesto. Alm disso, a questo

    da democratizao da gesto est expressa formalmente na Lei de Diretrizes e

    Bases da Educao Nacional 9394/96, se fazendo ento, no mais como um a

    opo a se tomada, mas como uma determinao legal e incontestvel.

    Os processos para implementao da gesto democrtico-participativa

    exigem mudanas significativas no mbito das escolas, pois a maioria das

    instituies pblicas brasileiras apresenta administraes caracterizadas pela

    centralizao, verticalizao e improvisao de aes que, ao longo da histria,

    tm debilitado esses espaos e produzido o fracasso de muitos estudantes. No

    entanto, esses procedimentos tm ocorrido paulatinamente, na medida em que se

    passa a ter o conhecimento das suas particularidades e princpios, e a conscincia

    de seu devido valor na construo de uma instituio comprometida com sua

    funo social. Funo esta que de formar cidado, atravs da construo de

    conhecimentos, atitudes e valores que o tornem mais solidrio, crtico e tico; uma

    tarefa que se amplia ao assumir tambm o compromisso de educar para a

    participao na construo de uma sociedade mais justa e igualitria.

    Os primeiros passos para que a escola venha cumprir sua funo social,

    podem ser concretizados atravs da escolha dos dirigentes, da organizao dos

    Conselhos Escolares e de toda Comunidade Escolar para participar de discusses

    que tenham o intuito de esclarecer os objetivos educacionais que se deseja atingir,

    bem como fazer valer direitos e deveres de todos os envolvidos. Pois este modo

    de gerir se basea na relao orgnica da direo e a participao de membros da

  • 9

    comunidade escolar em sua totalidade, o que acentua a importncia da busca de

    objetivos comuns assumidos por todos.

    Com isso, a organizao do trabalho pedaggico da escola pblica, diante

    dessa nova perspectiva ir requerer uma formao de boa qualidade dos

    gestores, da equipe tcnico pedaggica, dos professores entre outros atores da

    escola, em virtude de um trabalho coletivo que busque incessantemente a

    autonomia, a liberdade, a emancipao e a participao.

    Na gesto democrtico-participativa, o gestor precisar saber como

    trabalhar os conflitos e desencontros, dever ter competncia para buscar novas

    alternativas que atendam os interesses da comunidade escolar. Dever

    compreender que a qualidade da escola depender da participao ativa de todos

    membros, respeitando a individualidade de cada um e buscando nos

    conhecimentos individuais novas fontes de enriquecer o trabalho coletivo.

    Diante de tais consideraes, o presente trabalho foi proposto visando a

    necessidade da efetiva realizao de uma gesto democrtico-participativa nas

    escolas da rede pblica de ensino e sua importncia na viabilizao da

    significao qualitativa dos processos de ensino e aprendizagem. Assim, os

    captulos a seguir trataro das especificidades dessa concepo de gesto

    escolar, alguns desafios presentes no cotidiano das instituies para a

    implementao desta tendncia, bem como determinados recursos que validam tal

    perspectiva, alm do olhar de alguns atores escolares diante da nova realidade

    que vem emergindo.

    No primeiro captulo ser apresentada uma abordagem referente gesto

    escolar ao longo da histria da educao brasileira, seus princpios e

    embasamentos legais que os nortearam. Na sequncia, ser apontada a funo

    da escola no sentido de atender as novas exigncias sociais e em cumprimento

    com as determinaes das leis que regem a educao nacional.

  • 10

    No segundo captulo sero tratadas, minuciosamente, as proposies

    diretoras da gesto escolar democrtico-participativa, as possibilidades e desafios

    cerca dessa concepo, bem como o conceito de alguns elementos que

    fundamentam essa prtica, entre eles democracia e participao.

    No terceiro e ltimo captulo ficar expressa as diferentes formas de

    organizao e desenvolvimento do trabalho pedaggico na perspectiva desse

    novo conceito de gesto escolar, como elas se apresentam nos diferentes

    cotidianos de escolas da rede pblica de ensino localizadas em alguns municpios

    da regio metropolitana do Estado do Rio de Janeiro.

  • 11

    CAPTULO I

    A GESTO DA ESCOLA

    E SEUS REFLEXOS DIANTE DE SUA FUNO SOCIAL

    Ao longo da histria, mudanas ocorreram nas esferas sociais, polticas e

    econmicas, que levaram educao e sua organizao a tambm sofrerem

    transformaes para que pudessem atender s necessidades que emergiam a

    cada novo contexto. Desse modo, a funo social da escola que se construiu no

    passado tem sido reconstruda gradativamente, de acordo com as demandas

    sociais, que atualmente j diverge progressivamente dos hbitos e valores

    tradicionais.

    Primeiramente a escola era frequentada por uma minoria privilegiada, e era

    encarregada de formar cada indivduo a ocupar a posio social em que nascera.

    Com o Iluminismo, no sculo XVIII, surgem os ideais de igualdade, inclusive no

    que diz respeito ao ensino, no entanto no foram implementados porque no

    correspondiam s necessidades sociais do momento. O advento da escola para

    todos se deu somente no sculo seguinte, a servio da ordem social, pois a

    industrializao e a crescente necessidade de mo de obra, fez das crianas e

    jovens um problema para a sociedade porque ficavam sem lugar para ficar e sem

    ocupao enquanto seus pais trabalhavam. Assim, a escola foi um instrumento

    utilizado para a resoluo do problema da garantia do controle desse grupo, em

    atendimento s necessidades econmicas e sociais da poca. Quanto aos

    objetivos escolares, estes se restringiam a transmisso de valores morais e

    religiosos e em segundo lugar, os conhecimentos cientficos e tecnolgicos.

    Porm, no final do sculo, para atender s novas linhas de trabalho, o juzo de

    valor dado aos objetivos se inverte, mais uma vez para o ajustamento social.

    Como se pode perceber, a educao permeada de valores e finalidades, que

  • 12

    norteiam a ligao entre ensino e sociedade no seu percurso evolutivo desde os

    seus primrdios.

    J no sculo XX, o entendimento de que a escola possui importante papel

    na produo das contingncias sociais, tanto na produo das desigualdades

    quanto na busca por igualdade de condies para os cidados se aprofundou

    mediante pesquisas em educao realizadas entre as dcadas de 60 e 70 estas

    constataram a produo das desigualdades sociais sendo parte de

    responsabilidade da escola. Nesse perodo foi discutida a maneira pela qual a

    estrutura scio-econmica se condiciona educao. A partir de ento, se passa

    a requerer efeitos positivos da escola na sociedade, de modo a levar as

    instituies a repensar na funo social que deve desempenhar, diante

    consolidao das transformaes do paradigma capitalista crescente em escala

    mundial e seus reflexos nos diversos setores.

    A escola capaz de fazer frente essa nova realidade garantir formao

    cultural e cientfica, meios de reduo do desajuste social e preconceito para a

    construo de uma sociedade onde os preceitos de justia e igualdade sejam

    vividos por todos cidados. Esse conceito de escola tem base no pensamento

    liberal democrtico introduzido pelos educadores da escola nova que defendeu a

    escola pblica para todos, para que se alcanasse uma sociedade sem privilgios

    impregnada com ideais de equidade. Outra influncia marcante se deu com a

    larga divulgao dos pensamentos de Paulo Freire e de sua pedagogia libertadora

    preocupada com os contrastes sociais determinados por fatores de ordem

    econmica e poltica.

    O desenvolvimento do Brasil a cerca da educao se fez muito tardiamente.

    Seu processo de desenvolvimento e modernizao demorou a tomar rumos

    significativos em prol da emancipao poltica nacional. Essa questo se explica

    pelas suas caractersticas conservadoras de tratamento da prpria educao e

  • 13

    das instituies que a legitima atravs da suas sistematizao (escolas), seus

    meios de administrao, princpios e fins.

    Durante o perodo colonial, a dominao jesutica na educao era

    caracterizada pelo modelo autoritrio importado da Europa e pela sua restrio a

    uma minoria, um grupo privilegiado economicamente, que privava os demais

    brasileiros do direito de acesso aos conhecimentos sistematizados to importantes

    para o desenvolvimento do sujeito e da coletividade.

    O modelo autoritrio e conservador das prticas pedaggicas desse

    perodo capaz de remeter a ideia de que, naquela poca, a organizao e

    administrao das instituies de ensino eram permeadas por estes mesmos

    princpios: relaes centralizadoras e verticalizadas, que reproduziam e

    perpetuavam a condio social onde a diviso de classes era tomada como

    condio natural. Aps o desmantelamento do sistema jesutico, este modelo

    ainda se manteve por bastante tempo nos primeiros sculos de nossa histria.

    Somente no sculo XX, com o crescimento dos processos de urbanizao e

    industrializao, assim como em outros pases que sofreram influncias da

    Revoluo Industrial, a educao brasileira ganhou nova conotao, pois a escola

    se tornou elemento bsico para o desenvolvimento e modernizao do pas. No

    que diz respeito gesto das instituies, nesse momento, teorias e modelos de

    organizao e administrao empresariais, burocrticos, foram transferidos para

    as escolas. Estes objetivavam, por vezes, neutralizar os aspectos polticos do

    ensino tornando-os dissociveis do fazer pedaggico.

    Durante o Regime Militar ficaram bastante evidentes na educao os

    princpios de administrao escolar pautados nos modelos das empresas

    capitalistas, em que operacionalizao de objetivos e produtividade eram

    elementos indispensveis aos processos de gesto. Muitos trabalhos tericos

  • 14

    sobre administrao escolar que configuravam esta concepo foram publicados

    no Brasil. Porm, esses estudos sobre a escola como organizao de trabalho j

    tinham precedentes. Na dcada de 30, os pioneiros da educao nova realizaram

    pesquisas nesse campo de conhecimento, dando-lhe enfoque crtico capaz de

    permitir a distino entre possveis concepes de gesto escolar em relao s

    finalidades sociais e polticas da educao. Foram distinguidas assim: a

    concepo sociocrtica, que dava nfase importncia das relaes da escola

    com o contexto sociocultural e poltico e s formas democrticas de gesto; e a

    concepo cientfico-racional, onde a escola era entendida como neutra s

    realidades sociais, pautada numa estrutura organizacional hierarquizada e

    tendente ao tecnicismo do momento.

    Diante da resistncia do modelo de base autoritria, a administrao da

    escola se fez como um instrumento de reproduo o modelo capitalista, acabando

    por consolidar e manter os interesses conservadores das classes dominantes em

    detrimento da ascenso da classe trabalhadora.

    No entanto, nas dcadas de 70 e 80, apesar de as classes menos

    favorecidas j terem acesso educao, ainda que limitado, presses sociais se

    fizeram presentes requerendo o direito de mais vagas nas instituies e

    permanncia nas mesmas, j que o problema do fracasso escolar tornava-se

    notrio, e um de seus reflexos se traduziam nos altos ndices de repetncia e

    evaso. Essa nova postura da populao brasileira se explica pelas alteraes

    que se processaram no campo poltico, que se redemocratizava atravs das

    eleies diretas de alguns governantes, suscitando assim o desejo de conquistas

    cada vez maiores do exerccio do direito de tomar parte das discusses sobre os

    interesses da coletividade. Mais que isso, a ideia de democratizao superava ao

    conceito de escola para todos, a ela se inclua o pensamento de que a escola

    pblica deveria ser um espao de vivncia democrtica e administrao

    participativa.

  • 15

    O novo conceito a que se convertia a sociedade se configura nas palavras

    de Vitor Paro, quando emite crticas ao modelo conservador de administrao

    escolar, apontando-a como ineficiente no pelo formato dos seus aspectos

    tcnicos, mas pela sua negligncia ao direcionar tais tcnicas em prol de uma

    poltica dominadora e controladora da instituio escolar e dos sujeitos que dele

    fazem parte, a favor da manuteno do domnio poltico e econmico das elites.

    o que determina o carter conservador ou transformador da

    administrao a natureza dos objetivos que ela busca

    concretizar, os quais em conjunto e como resultante das

    foras sociais predominantes num determinado momento

    histrico, de uma dada formao econmico-social acabam

    por determinar a prpria forma em que se d a atividade

    administrativa. (...) preciso, pois, resgatar, na teoria e na

    prtica, a administrao enquanto momento fundamental no

    processo de transformao social (PARO, 1988, p. 157).

    Para os gestores da poca, o problema da ineficincia das redes pblicas

    estava na administrao dos recursos para o alcance dos seus objetivos. E, s a

    partir dos anos 90 o paradigma da gesto da escola pblica comea de fato a

    sofrer mudanas com nfase na descentralizao, na diminuio dos nveis

    hierrquicos, na insero da autonomia para o uso de recursos e controle de

    resultados visando resoluo desses problemas.

    A legislao desempenhou um papel marcante para que se legitimasse a

    concepo de gesto das escolas com a participao efetiva das comunidades. A

    Constituio de 1988, e mais tarde, a nova Lei de Diretrizes e Bases da Educao

    Nacional de 1996, contemplam a promoo de algumas reformas necessrias no

    sistema escolar de modo a atender as peculiaridades das diferentes realidades

    regionais e locais do pas, as diferentes clientelas e necessidades do processo de

  • 16

    ensino aprendizagem. A gesto democrtica, a partir de ento, se faz como um

    princpio bsico de organizao do ensino pblico. Numa proposta de construo

    da cidadania se contrapondo a ideia de subalternidade, fundamental para a

    ultrapassagem de prticas aliceradas na segregao que inviabiliza a construo

    histrico-social positiva do sujeito. Desde ento, suscita com mais fora um dos

    maiores desafios ensino pblico daquela poca e que perdura at os dias de hoje.

    De acordo com os parmetros legais vigentes, a funo social da escola se

    define no artigo 205 da Constituio Federal promulgada em 1988, momento de

    efervescncia dos ideais de democracia na histria brasileira:

    A educao, direito de todos e dever do Estado e da famlia,

    ser promovida e incentivada com a colaborao da

    sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu

    preparo para o exerccio da cidadania e sua qualificao para

    o trabalho.

    A Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional 9394/96 se posiciona da

    seguinte maneira:

    Art. 1 A educao abrange os processos formativos que se

    desenvolvem na vida familiar, na convivncia humana, no

    trabalho, nas instituies de ensino e pesquisa, nos

    movimentos sociais e organizaes da sociedade civil e nas

    manifestaes culturais.

    2 A educao escolar dever vincular-se ao mundo do

    trabalho e prtica social.

    Diante dessas determinaes, fica claro que a educao no deve se

    restringir a uma minoria, nem a simples formao intelectual obtida pela

    apreenso de conhecimentos acadmicos. A formao do homem deve ser muito

  • 17

    mais ampla, ultrapassando o seu individual e abrangendo a coletividade em que

    est inserido, que tambm sofre influncias de suas aes. A formao do

    cidado nesses parmetros essencial para as transformaes sociais desejadas.

    Os processos educacionais s sero verdadeiramente autnomos e

    libertadores se forem capazes de atravs da disseminao dos conhecimentos

    cientficos e construo de outros tantos, formar cidados dotados de criticidade

    para compreender os papis que desempenham (histricos, culturais, sociais e

    econmicos) na sociedade em que esto inseridos. Bem como ter a conscincia

    da importncia do reconhecimento dos seus direitos e deveres como sujeito

    transformador da realidade atravs da participao ativa nos processos sociais.

    Esses preceitos configuram a formao do cidado para a autonomia.

    Os objetivos das escolas, enquanto espaos de socializao, esto

    explcitos atravs de alguns princpios publicados na Constituio da Repblica

    Federativa do Brasil, no artigo 206. O texto a seguir no corresponde ao original

    em sua totalidade, eles sofreram alteraes com a Emenda Constitucional n 53

    de 2006, onde o princpio V obteve nova redao e o VIII foi includo lista.

    Vejamos:

    I igualdade de condies para o acesso e permanncia na escola;

    II liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a

    arte e o saber;

    III pluralismo de idias e de concepes pedaggicas, e coexistncia de

    instituies pblicas e privadas de ensino;

    IV gratuidade do ensino pblico em estabelecimentos oficiais;

    V valorizao dos profissionais da educao escolar, garantidos, na forma

    da lei, planos de carreira, com ingresso exclusivamente por concurso pblico de

    provas e ttulos, aos das redes pblicas;

    VI gesto democrtica do ensino pblico, na forma da lei;

  • 18

    VII garantia de padro de qualidade.

    VII piso salarial profissional nacional para os profissionais da educao

    escolar pblica nos termos da lei federal.

    Para viabilizar tais atribuies, a formao discente dever abranger a

    aquisio de conhecimentos, idias, habilidades e capacidades formais, bem

    como a formao de atitudes e modos de comportamento, alm de possibilidades

    e exigncias dos postos de trabalho e sua forma de organizao em coletividade.

    Apesar do reconhecimento da importncia de se assumir uma postura

    caracterizada como democrtica a favor do fim das desigualdades atravs de

    prticas pedaggicas que valorizem a formao de um sujeito transformador, no

    cotidiano das instituies ainda so utilizados mecanismos de socializao

    pertencentes a um processo de doutrinamento ideolgico e de inculcao de

    representaes particulares e idias dominantes, e do importncia secundria a

    seus objetivos polticos e sociais, dando nfase aos estritamente econmicos.

    As relaes existentes entre as aes da escola e seus reflexos no contexto

    social em que est inserida no pressupe somente a realidade histrica

    vivenciada e demandas polticas e econmicas, nesta dinmica se inclui a tomada

    de deciso dos gestores da educao de forma prtica nas instituies de ensino,

    nas suas formas de organizao e gesto singular adequada s necessidades

    locais que deve atender. Diante disso, ao fazer uma reflexo sobre a funo da

    escola, j no se pode mais tomar como principio bsico de que a educao tem o

    mero dever da transmisso sistemtica conhecimentos acumulados durante

    sculos, de fundamental importncia para o desenvolvimento intelectual do ser

    humano. preciso compreender que seu papel vai alm de transmitir

    conhecimentos, a escola tambm extremamente responsvel pela tarefa de

    difundir valores que favoream a compreenso crtica dos seus fins na sociedade.

  • 19

    Uma vez que a escola uma pequena representao de uma sociedade

    mais ampla, sabemos que ela sofre um processo de transposio das

    caractersticas dessa mesma sociedade a que pertence para o seu interior. Diante

    disto, torna-se relevante lembrar que a escola espao de vrias contradies. E

    que a tarefa dos educadores deve ser a de conciliar as exigncias sociais com os

    ideais de educao transformadora. Pois ainda que a sociedade queira que a

    escola forme profissionais para o mercado de trabalho e os educadores tambm

    devem formar pessoas mais humanizadas, solidrias e capazes de intervir na

    sociedade.

    Como j pregava Paulo Freire, a educao no neutra. O trabalho

    realizado dentro das escolas tambm no . E diante dessa no neutralidade

    torna-se essencial compreender que o trabalho desenvolvido dentro das escolas

    intencionalmente planejado e executado para atingir fins propostos. O trabalho

    realizado na escola pode auxiliar a romper com a sociedade excludente ou ajudar

    a conserv-la. A gesto escolar, elemento desse processo exercer influncia

    determinante como poder local vinculado a outros poderes maiores, podendo

    assumir diferentes dimenses polticas conservadoras ou progressistas,

    assistencialista ou burocrtica, pois qualquer poder no pode ser exercido

    isoladamente. A gesto escolar, portanto, em conjunto com outros poderes

    organizar uma escola que poder ser autnoma ou subordinada, dependendo do

    encadeamento de exigncias e contextos histricos sociais.

    Enfim, a proposta de educao escolar publica do sistema educacional

    brasileiro, como vimos, tem como um de seus princpios a gesto democrtica do

    ensino pblico. Naura Syria Carapeto Ferreira, num texto recente salienta o

    carter formador de cidadania da gesto democrtica:

    a gesto democrtica da educao hoje, um valor

    consagrado no Brasil e no mundo, embora ainda no

  • 20

    totalmente compreendido e incorporado prtica social global

    e prtica educacional brasileira e mundial. indubitvel sua

    importncia como um recurso de participao humana e de

    formao para a cidadania. indubitvel sua necessidade

    para a construo de uma sociedade mais justa e igualitria.

    indubitvel sua importncia como fonte de humanizao.

    (FERREIRA, 2000, p.167)

  • 21

    CAPTULO II

    A GESTO DEMOCRTICO-PARTICIPATIVA

    EM PROL DA QUALIDADE DE ENSINO

    NO MBITO DAS ESCOLAS

    Devido complexidade da organizao e gesto escolar torna-se

    imprescindvel que, de acordo com sua perspectiva de trabalho, ela esteja pautada

    em determinados conhecimentos e princpios que oportunizem uma estrutura

    capaz de viabilizar a concretizao de seus objetivos atravs da interdependncia

    da racionalidade no uso de recursos com a coordenao do esforo coletivo. A

    concepo de gesto democrtico-participativa, objeto de estudo deste trabalho,

    apresenta os seguintes princpios, segundo Libneo (2008, p.141):

    1. Autonomia das escolas e da comunidade educativa;

    2. Relao orgnica entre direo e a participao dos membros

    da equipe escolar;

    3. Envolvimento da comunidade no processo escolar;

    4. Planejamento de tarefas;

    5. Formao continuada para desenvolvimento pessoal e

    profissional dos integrantes da comunidade escolar;

    6. Utilizao de informaes concretas e anlise de cada

    problema em seus mltiplos aspectos, com ampla

    democratizao das informaes;

    7. Avaliao compartilhada;

    8. Relaes humanas produtivas e criativas assentadas na

    busca de objetivos comuns.

  • 22

    O autor ainda aponta a direo (rumo) como princpio e atributo da gesto

    democrtico-participativa, pois a esta implica intencionalidade perante os objetivo

    sociais e polticos da escola, o esclarecimento de sua funo social atravs da

    influncia que exerce na formao dos sujeitos. No mbito das escolas,

    imprescindvel uma direo consciente e planejada do processo educacional.

    J vimos anteriormente que na histria brasileira as formas de gesto tm

    se caracterizado pelo autoritarismo. Restringindo esse conceito ao mbito das

    escolas, a gesto das instituies se fez por muito tempo sob a responsabilidade

    de um gestor solitrio, nico detentor do poder de deciso. Tal forma convencional

    de representao pouco contribuiu para a participao popular nos processos da

    escola favorecendo a conscientizao de suas atribuies enquanto parte e

    produto do processo educativo, num movimento de conquista da cidadania.

    A atual proposta de gesto democrtica das escolas baseia-se na crena

    da possibilidade de suscitar na sociedade anseios na busca pela conquista de

    transformaes sociais positivas para todos os indivduos, a partir da

    compreenso de certos conceitos como democracia, participao e autonomia, de

    sabendo coloc-los em prtica no seu dia a dia, num movimento de ao e

    reflexo contnua. um processo que objetiva a construo da cidadania.

    2.1 Democracia, autonomia e participao: pela conquista da

    cidadania.

    Um processo de gesto democrtico-participativa que realmente objetive a construo da cidadania brasileira s se far efetivo na medida em que forem

    desenvolvidas a autonomia e participao democrtica de todos, num clima e

    estrutura organizacional que propiciem esta prtica em prol da emancipao. Para

    tanto importante que haja entendimento dos conceitos apresentados a seguir.

  • 23

    2.1.1 Democracia. No h um modo simples para se definir a democracia. Democracia, em

    primeira instncia, se relaciona com o poder do Estado, para a garantida dos

    direitos individuais e proteo da vida particular. Todavia, ela tambm necessita

    do consenso da maioria dos cidados e do respeito s regras democrticas, e, ao

    mesmo tempo precede do conflito de ideias e opinies que lhe conferem vitalidade

    e produtividade. Segundo Edgar Morin,

    exigindo ao mesmo tempo consenso, diversidade e

    conflituosidade, a democracia um sistema complexo de

    organizao e de civilizao polticas que nutre e se nutre da

    autonomia de esprito dos indivduos, da sua liberdade de

    opinio e de expresso, do seu civismo, que nutre e se nutre

    do ideal de Liberdade/Igualdade/Fraternidade, o qual comporta

    um conflituosidade criadora entre estes trs termos

    inseparveis. (MORIN, 2004, p.108)

    extremamente significante a participao de todos os cidados no s no

    governo atuante, mas tambm nas escolas, para que as mesmas possam se

    tornar de fato democrticas. Na concepo da gesto democrtico-participativa, a

    democracia representa a participao, o direito de vez e voz do membro da

    comunidade escolar por um trabalho coletivo e cooperativo que busca o alcance

    de objetivos comuns atendentes s reais necessidades da maioria.

    2.1.2 Autonomia.

    o conceito de autonomia est etimologicamente ligado a de

    autogoverno, isto , faculdade que os indivduos (ou as

    organizaes) tm de se regerem por regras prprias [e de

  • 24

    que] a autonomia pressupe a liberdade (e capacidade) de

    decidir, ela no se confunde com a independncia [na

    medida em que a] autonomia um conceito relacional [...] sua

    funo se exerce sempre num contexto de interdependncia e

    num sistema de relaes (BARROSO, 1998:16)

    O exerccio da autonomia conceito fundamental da cidadania. Diante

    disso, a escola que trabalha na perspectiva da gesto democrtico-participativa

    precisa fortalecer seu lugar e funo de centro do processo educativo autnomo.

    Ela no se restringir ao cumprimento de ordens do sistema, num exerccio

    aleatrio de suas atribuies. Alm disso, no seu interior em que sero

    determinados os seus principais compromissos com o contexto em que est

    inserida. Esse movimento tambm implica a livre escolha coletiva de objetivos,

    metodologias e ambiente de trabalho.

    Vale salientar que o conceito de autonomia, nas escolas de gesto

    democrtico-participativa, fundamentar a consolidao do conceito de

    participao, porque ela se impe s formas autoritrias de tomada de deciso. A

    construo da autonomia pode ser concretizada pela participao, porque ela

    oportuniza s pessoas o controle do prprio trabalho, levando-as a se assumirem

    como agentes responsveis pelos seus resultados.

    2.1.3 Participao.

    A participao veculo principal para o exerccio da gesto democrtico-

    participativa. ela que assegura o envolvimento dos profissionais da escola e

    seus usurios nos processos de tomada de deciso e organizao do

    funcionamento das instituies. Ela proporciona maior intimidade com os objetivos

    educacionais estabelecidos e com a dinmica que lhes daro viabilidade, alm

  • 25

    favorecer relaes mais prximas entre a prpria escola e a comunidade a quem

    deve estar a servio, entre professores, pais, alunos e outros atores.

    No entanto, a participao s tem sentido para o indivduo quando sua

    causa pode ser julgada como relevante, e no como uma mera colaborao sem

    acarretar senso de compromisso. O compromisso com a participao s se d

    com a perspectiva de construo de algo pertencente a todos e proporcionando

    benefcios para cada um, num sentido de realizao coletiva e individual ao

    mesmo tempo.

    A participao a principal condio para a gesto democrtico-

    participativa, so interdependentes. Ambas fundamentam a organizao da escola

    e sua cultura, porm a participao ser determinada pelo clima estabelecido na

    instituio, podendo ser estimulador ou no.

    Cabe aqui ressaltar a fundamental importncia da gesto da escola zelar

    pelo clima organizacional construdo no espao da instituio. preciso que seja

    estabelecido um ambiente em que as pessoas sintam-se vontade, gostem e

    tenham o prazer de fazer parte e participar. Para isso, fundamental que alguns

    elementos faam parte da escola, dentre eles:

    Finalidades e objetivos da escola devem sempre estar claros, bem

    definidos e sendo do conhecimento de todos;

    Senso de responsabilidade pelas aes tanto do coletivo quanto do

    individual;

    Valorizao e respeito das diferenas entre os iguais de forma a

    contribuir com a pluralidade de saberes;

    Colocao das pessoas enquanto sujeitos capazes de se comprometer

    e participar com autonomia;

  • 26

    Mediao dialtica dos conflitos pela busca da negociao que contribua

    para um fim positivo;

    Informao sempre tratada com transparncia;

    Cultivo ao respeito profissional acima das divergncias.

    Uma mudana de paradigmas requer mudana de valores, o que no

    uma tarefa fcil. Trata-se de algo abrangente que prescinde, entre tantos

    elementos anteriormente apontados, da formao de boa qualidade do gestor

    associado um trabalho coletivo que busque incessantemente a autonomia,

    liberdade, emancipao e a participao na construo da proposta da instituio.

    Perceberemos ainda, que na gesto democrtico-participativa o gestor,

    despido da solido, necessitar de habilidade no tratamento das adversidades

    das relaes entre os membros, que comumente gera situaes conflituosas

    devido as possveis divergncias de idias. Ele dever se esforar para encontrar

    alternativas de aes que vo ao encontro dos interesses da comunidade escolar.

    E, principalmente dever compreender que a qualidade da escola pode alcanar

    maiores nveis mediante a participao ativa de todos membros da comunidade,

    que o respeito individualidade/diversidade so essenciais para a conquista de

    elementos enriquecedores do trabalho coletivo.

    2.2 A comunidade escolar e os possveis papis na participao

    A forma de gesto da escola pblica de importncia singular para que a

    comunidade a quem presta seus servios encontre nessa instituio

    correspondncia dos seus anseios relacionados educao. Tornar possvel o

    exerccio da participao, da autonomia e da democracia prev grande

    responsabilidade. A prtica da gesto escolar democrtico-participativa exige

    aes bem coordenadas e administradas.

  • 27

    A participao de cada um no deve ser dada de forma aleatria, sem

    finalidade planejada e assim configurando-se em uma falcia. Para tanto, se faz

    necessrio o entendimento que cada segmento escolar pode contribuir de uma

    maneira especfica na gesto. A seguir sero apontadas algumas atribuies que

    cada segmento pode colocar em prtica promovendo o exerccio da participao

    democrtica na gesto escolar.

    2.2.1- O papel do diretor

    O diretor escolar, atualmente melhor reconhecido como gestor, confere o

    desafio de elaborar um planejamento estratgico que facilitar o envolvimento de

    todos os segmentos da unidade escolar na implementao das mudanas

    proporcionadas pela nova concepo de gesto. Dever suscitar nas pessoas a

    conscincia da importncia da participao de cada um na dinmica escolar, e

    que a responsabilidade do sucesso da escola j no se restringe unicamente ao

    seu trabalho, que o poder de deciso sobre os rumos da escola um

    compromisso coletivo.

    Ele tem a responsabilidade de exercer um trabalho de liderana na

    articulao da participao, suas aes e tomadas de deciso que se

    desenvolvero em grupo. Igualmente, dever ser capaz de prever conflitos e

    meios de como enfrent-los. Nesse sentido, haver emprego de esforos para a

    criao de um clima acolhedor que viabilize o trabalho educacional, firmando

    estreitas relaes entre alunos, professores, pessoal de apoio, pais e comunidade

    do entorno da escola, mediando a construo de uma identidade para a unidade

    escolar.

    Da mesma forma lhe conferida a funo de administrar espaos e

    recursos, elaborar planos de ao para utilizao dos mesmos, gerir equipes,

    garantir a formao continuada dos profissionais da escola e fazer uso da

  • 28

    tecnologia para uma melhor comunicao entre os profissionais da escola e seus

    usurios.

    Todas atitudes do gestor devero estar comprometidas com a qualidade

    dos processos de ensino-aprendizagem. O gestor escolar sempre procurar

    organizar o trabalho pedaggico de modo a garantir o desenvolvimento dos

    sujeitos em vrios aspectos (social, poltico, intelectual e humano), considerando

    as adversidades inerentes realidade da escola, da comunidade, enfim da

    sociedade.

    2.2.2 O papel dos professores.

    A participao dos professores na gesto escolar democrtico-participativa

    exerce influncia positiva na medida em que atuam organizados coletivamente,

    promovendo discusses e anlise da problemtica pedaggica que vivenciam e

    podendo compartilhar com outros segmentos da escola suas concluses que

    facilitaro no apontamento de meios para a resoluo de problemas. Os

    professores, quando se percebem como parte responsvel pelos processos de

    tomada de deciso da gesto da escola, se sentem mais compromissados com

    sua misso educativa.

    Ainda se referindo aos procedimentos voltados para a prtica pedaggica

    propriamente dita, os professores tm direito participao na avaliao de

    programas, seus modos de implementao e resultados, na escolha de livros

    didticos, elaborao de planejamentos e proposta da escola, etc. Da mesma

    forma, essencial participao dos professores na organizao da escola em

    termos de tempo, espaos e possibilidades. Eles devem tomar parte nas decises,

    que se referem formao de turmas, oferecimento de cursos, sobre os aspectos

    disciplinares, uso de recursos, etc.

  • 29

    Tambm um imperativo as relaes que os professores estabelecem com

    os estudantes, pais e outros membros da comunidade escola, pois traduz-se em

    elemento favorecedor do clima organizacional da unidade de ensino. Atravs

    desse contato, ele coopera na para a instalao da proposta democrtico-

    participativa, disseminando o entendimento da importncia da participao como

    um direito, uma prtica de cidadania.

    2.2.3 O papel dos pais

    A participao dos pais e outros responsveis de extrema necessidade

    para o sucesso dos processos de ensino e aprendizagem. Alm disso, o direito

    legal deles, definido no Estatuto da Criana e do Adolescente, de participar da

    educao dos filhos tambm no seu contexto formal.

    Os pais, assim como os professores, so responsveis pela misso de

    educar, e compartilhar esta responsabilidade contribui significativamente para a

    melhoria da qualidade do trabalho pedaggico. Cabe a eles buscar informaes

    sobre a educao dos estudantes, assumir a responsabilidade no confronto dos

    problemas e no controle dos resultados do trabalho pedaggico.

    A participao dos pais no deve se limitar ao envolvimento nos processos

    diretamente voltados para a relao professor-aluno. Sua participao no deve

    ser resumida a presena em atividades festivas ou reunies para divulgao de

    resultados de avaliaes, da situao do desempenho dos estudantes, problemas

    com indisciplina, etc. Todos aspectos da instituio devem ter relevncia para os

    pais, eles devem ter fcil acesso escola, conhecer seus aspectos educativos,

    organizacionais e financeiros.

    Os pais tambm podem e devem assumir um papel ativo na gesto escolar,

    tanto nos processos de tomada de deciso, fazendo reivindicaes, dando

  • 30

    sugestes na construo da proposta educativa, quanto no acompanhamento e

    controle da consolidao de estratgias definidas pelo coletivo, e avaliao das

    mesmas, seu desenvolvimento e resultados.

    2.2.4 O papel dos funcionrios

    Assim como os professores, os demais funcionrios da escola (porteiros,

    merendeiros, inspetores, auxiliares, etc.) devem ter garantido o seu direito de

    participao nas tomadas de deciso da escola, visto que estes tambm

    contribuem significativamente para o desenvolvimento da dinmica escolar.

    O processo educativo dos estudantes tambm sofre influncia das relaes

    estabelecidas entre eles. Portanto, tais atores tambm devem estar

    comprometidos e conscientes do papel que desempenham, pois so elementos de

    grande valor para a manuteno de um bom clima organizacional.

    Quando os funcionrios da escola se percebem em situao de conforto

    material e relacional para o cumprimento de suas atribuies profissionais e/ou

    quando veem suas opinies sendo validadas, seus esforos para a garantia de um

    trabalho de qualidade se expandem, devido valorizao concebida no somente

    ao prestador de servios, mas ao sujeito e cidado.

    2.2.5 O papel dos estudantes.

    Sendo o estudante o centro da ao educativa, principal elemento da

    instituio escolar, cabe a ele estar ciente dos processos que resultam na sua

    formao, reconhecer os problemas que fazem parte do cotidiano e suas

    implicaes, para que possam exercer sua participao comprometidamente.

  • 31

    No cotidiano do estudante tem de se fazer valer o seu direito de conquista

    da cidadania, preciso que este se efetive j no mbito da escola. A ida do

    estudante escola no pode ser restrita somente ao aprendizado. Sua

    participao em processos de gesto escola d autenticidade democracia, que

    normalmente vista como um objeto a ser conquistado num momento futuro.

    fundamental que o estudante tenha condio para participar tanto

    individualmente, como em grupo, da gesto escolar. Diante disso torna-se

    relevante a formao para a participao. A prpria escola e os pais devero se

    dedicar conscientizao dos estudantes a respeito do direito e dever de

    participar, em funo da educao para a democracia, para a cidadania, a servio

    do bem comum.

    A participao dos estudantes tambm deve se estender s crianas. J na

    infncia o indivduo capaz de participar de decises no cotidiano escolar, que

    com o tempo ganhar maturidade para a participao em situaes mais

    complexas. Apontar crianas como membros participantes da gesto da unidade

    escolar das quais elas mesmas so alvo pode conotar uma viso romntica de

    prtica democrtico-participativa de gesto. Porm, tambm um caminho para a

    superao da histria de excluso da participao dos estudantes de qualquer

    faixa etria.

    Como vemos, a participao da comunidade escolar nos processos

    decisrios das escolas pblicas um via para a prtica da democracia na gesto.

    Sua consolidao s se efetivar mediante mudanas nas pessoas em relao a

    umas s outras e em relao aos papis desempenham e como os interpretam, o

    juzo de valor a que lhes confere.

    A gesto democrtico-participativa enquanto prtica concreta nas unidades

    escolares contribui fortemente para a significao do seu carter pblico, ao passo

  • 32

    em que a sociedade estabelece controle sobre tal instituio atravs da liberdade

    para se expressar, criar e se organizar coletivamente.

    2.3. Instrumentos normativos da gesto escolar democrtico-

    participativa e seus desafios

    Diante do imperativo da regulamentao da gesto democrtica nas escolas da rede pblica de ensino conferida pela Lei de Diretrizes e Bases

    9394/96, as unidades escolares devero cuidar para que instrumentos legais e

    normativos viabilizem os mecanismos participativos nas instituies. A

    regulamentao de Conselhos Escolares e do Projeto Poltico Pedaggico

    favorecem a efetiva implementao da atual concepo de gesto que se quer

    instaurar. Alm desses elementos, percebemos como urgente a normatizao da

    escolha dos dirigentes escolares, assunto no abordado na LDB.

    Os instrumentos normativos pretendem garantir processos de discusso e

    tomada de deciso na coletividade a respeito do cotidiano da escola, pela busca

    da autonomia na criao de suas prprias diretrizes. Entretanto, precisamos estar

    cientes de que esta proposta no significa estabelecer uma autonomia baseada na

    a idia de liberdade total ou de independncia. Considerar os diferentes agentes

    sociais que fazem parte da organizao educacional de vital importncia. A

    implementao real da proposta deve ser muito bem trabalhada, para que as

    decises no sejam manipuladas. A participao exige cuidado no trato com os

    conflitos, com os descaminhos, pois a falha na coordenao do processo pode

    levar a um determinado grupo ao domnio da situao, desapropriando a gesto

    do seu carter democrtico.

  • 33

    A organizao escolar verdadeiramente comprometida com a

    implementao da gesto democrtico-participativa dever usar de um

    pensamento sistmico pela promoo da mudana do paradigma caracterizado

    pelo autoritarismo e subservincia. Portanto, torna-se fundamental a escola ser

    conscientizada de que precisa estar sujeita a mecanismos de controle e

    fiscalizao pela prpria sociedade, pois democracia tambm implica

    responsabilidade e autoridade. Esse movimento dever preceder do

    desenvolvimento de um aprendizado colaborativo entre as pessoas. Nesse

    sentido, os instrumentos citados anteriormente estaro a servio dos direitos e

    deveres democraticamente discutidos e definidos como primcias para o

    cumprimento da funo social da escola, de contribuir efetivamente na afirmao

    dos interesses coletivos.

    Vejamos, ento os principais instrumentos de regulamentao da prtica de

    gesto escolar democrtico-participativa nas escolas da rede pblica de ensino e

    os desafios pertinentes aos mesmos comuns s unidades escolares.

    2.3.1 A escolha do diretor/gestor

    Quando se fala em democratizao das prticas de gesto das escolas pblicas, por muitos anos a primeira proposta para a mudana se pautava na

    escolha do diretor atravs de eleies diretas. Havia a ideia que a escolha do

    gestor por sua comunidade seria uma condio para a realizao de aes que

    visassem a melhoria da qualidade das escolas e seus processos de ensino

    aprendizagem, atravs da utilizao responsvel de recursos por algum confivel

    e que conhecia a realidade da escola e da comunidade local. No entanto, ainda

    que houvesse escolha, a maioria apresentava postura anti-democrtica sobretudo

    quando encarnavam o poder centralizando as deciso sem a participao do

    coletivo, no correspondendo s intenes de democratizao.

  • 34

    A escolha de dirigentes escolares por processo de eleio realmente se

    configura em um mecanismo para a implementao da gesto democrtico-

    participativa nas instituies de ensino pblico. Porm, sua importncia, como

    ficou claro anteriormente, no se esgota no ato em si, mas na associao de

    outros elementos que a acompanha, como a mobilizao das pessoas para

    conhecer candidatos, a qualificao, competncia, experincia profissional e

    proposta de trabalho, alm dos questionamentos que do relevncia as

    passagens cotidianas da escola e sua amplitude. Uma outra opo democrtica

    de escolha de diretores so os concursos pblicos, onde os candidatos tomam

    posse do cargo por mrito de aprovao em avaliaes classificatrias.

    Infelizmente, ainda predomina nas escolas pblicas do pas a nomeao

    para cargos de diretores por prefeitos e governadores, o que gera um entrave na

    efetivao de uma gesto comprometida apenas com os interesses da

    comunidade, pois acaba por atender a convenincias e interesses polticos-

    partidrios.

    2.3.2 Os Conselhos Escolares

    O Conselho Escolar, como alternativa de regulamentao da proposta de

    gesto democrtico-participativa nas escolas pblicas infere cultura da escola

    progressivos graus de autonomia pedaggica, administrativa e de gesto

    financeira. Ele deve admitir a instituio escolar como um espao em funo da

    cidadania para alm dos seus muros, concebendo-a como um bem pblico a

    servio dos interesses da comunidade em que est localizada.

    Por outro lado, o Conselho Escolar pode ser entendido como um parceiro

    da escola, pois ambos compartilham do mesmo objetivo e dividem

    responsabilidades, expandindo as chances de acertos em relao ao bem

    sucedido desenrolar das funes pedaggicas e administrativas da escola e seus

  • 35

    reflexos positivos na localidade onde est situada. Nele se promove o encontro

    dos sujeitos para exposio de opinies, discusses e consenso.

    As escolas, mediante suas especificidades de cultura organizacional,

    atribuem aos conselhos diferentes sentidos para a participao da comunidade

    escolar e local na gesto da escola. Algumas adotam-no como colegiado

    deliberativo, consultivo, fiscal e mobilizador, compondo a equipe de gesto por

    regulamentao do seu regimento. H outras escolas que confere a diferentes

    entidades civis, como associaes de pais e mestres, ou outras similares, com

    institucionalidade independente da escola as mesmas atribuies dos conselhos.

    De acordo com a sua natureza, os Conselhos Escolares apresentaro

    variaes na sua regulamentao. Como foi visto, os integrados a estrutura da

    escola so regulados pelo regimento da escola, obedecendo as normas gerais do

    sistema de ensino. J os que so constitudos por entidades independentes

    possuem estatuto prprio. Porm, em ambos os casos h cuidado no

    detalhamento de suas competncias, composio e funcionamento.

    Os conselhos podem representar para as escolas concepes variadas

    sobre suas competncias. De acordo com o Programa Nacional de

    Fortalecimento dos Conselhos Escolares (2004, p.44) eles acabam por exercer

    funes deliberativas, ao passo que decide, delibera, aprova e elabora;

    consultivas, por ter o poder de opinar, emitir parecer, discutir e participar; fiscais,

    porque fiscaliza, acompanha, supervisiona e aprova prestao de contas; e

    mobilizadora, por apoiar, avaliar, promover, estimular e outros no-includos

    acima.

    H uma convergncia de princpios quanto a representatividade dos

    segmentos escolares nos conselhos ou entidades com atribuies equivalentes.

    Normalmente eles se dividem em uma parte constituda pelos prestadores de

  • 36

    servios da escola (direo, professores, especialistas e demais servidores) e

    outra pelos usurios (pais, estudantes e membros da comunidade local). Do

    mesmo modo, a forma de escolha dos representantes segue uma linha comum,

    esta se d atravs de eleio de um membro para cada segmento. Para

    representantes estudantis geralmente h limite mnimo de idade para direito a voto

    e representao (entre os 12 e 16 anos). O diretor da escola membro

    incontestvel, de presena e permanncia definitiva, fato que, por vezes, pode

    acarretar uma via para a legitimao das vontades da direo da escola, ao

    que se desvia dos princpios da gesto democrtico-participativa.

    A presidncia ou coordenao do conselho pode ser exercida pelo diretor

    da Unidade Escolar ou eleita por seus membros. Nos sistemas de ensino em que

    o gestor da escola escolhido por eleies ou pelo prprio conselho, este

    geralmente preside o conselho, todavia quando o gestor indicado pelo governo,

    o presidente do conselho, na maioria das vezes, eleito pelos pares. Os dados

    desta afirmao so fornecidos por pesquisa contida no Programa Nacional de

    Fortalecimento dos Conselhos Escolares (2004, p.50).

    O mais importante que se tem a colocar sobre os Conselhos Escolares o

    fato de estes desempenharem um papel fundamental no envolvimento dos atores

    sociais no cotidiano das escolas em prol da prtica participativa e democrtica na

    sua gesto, assumindo um carter de promotor da cidadania ativa.

    2.3.3 O Projeto Poltico-Pedaggico

    Outro importante mecanismo a favor da gesto democrtico-participativa

    a elaborao do Projeto Poltico-Pedaggico, um documento orientador da prtica

    das escolas, onde esto detalhados os objetivos da instituio, seus

    compromissos sociais, polticos e pedaggicos. Tal instrumento define as

  • 37

    diretrizes da escola e as aes que permearo o desenvolvimento do processo

    educativo para que cumpra sua intencionalidade.

    Por consistir em uma tarefa de planejamento, o PPP se traduz em uma

    atividade de previso de aes, de procedimentos, recursos e tempo necessrios

    a sua execuo. No entanto, tal documento dotado de flexibilidade,

    caracterstica que o permite, durante o seu processo de implementao prtica,

    estar em constante avaliao, para verificar se as aes esto correspondendo ao

    que foi previsto, levando reflexo e gerando mudanas favorveis ao alcance

    dos objetivos estabelecidos, caso haja necessidade de correo de

    irregularidades.

    A construo do Projeto Poltico-Pedaggico uma determinao da LDB

    9394/96, que pressupe caracterizar e singularizar, na sua execuo,

    acompanhamento e avaliao, a identidade de cada instituio de ensino. Ele a

    expresso da cultura da escola, que se recria paralela ao seu desenvolvimento.

    Nele ficam evidenciados valores, crenas, significados, modos de pensar e agir

    das pessoas que o elaboram. Ele apresenta um conjunto de princpios e prticas

    que reflete esta cultura to particular, e a recria ao traar coordenadas para intervir

    na realidade transformando-a na mais adequada possvel para o atendimento de

    necessidades coletivas e individuais. Ainda vale advertir que a construo da

    identidade da escola atravs do PPP no se restringe adoo de uma linha

    filosfica construtivista, libertadora, ou qualquer outra, apesar do grande valor

    que representam para o direcionamento das aes pedaggicas pois, por vezes,

    essa escolha acaba se transformando em um rtulo representado somente na

    teoria do projeto e sem manifestao prtica de mudana da realidade.

    O Projeto Poltico-Pedaggico, enquanto estratgia fiel gesto

    democrtico-participativa, tem o dever de admitir verdadeiro sentido ao termo

    poltico de sua nomenclatura. A princpio, pode-se pensar que esse termo se

  • 38

    refere ao sentido da ao pedaggica, que inevitavelmente, uma ao poltica,

    de modo ento, a revelar certa redundncia no termo. Neste caso, porm, ao

    termo dever ser dada uma conotao fazendo referncia ao sentido do

    posicionamento em conflitos na busca do bem comum, em outras palavras, o

    termo poltico dar validade a participao de todos os segmentos da escola na

    sua construo, de forma impretervel.

    A participao de todos os segmentos da escola na elaborao do Projeto

    Poltico-Pedaggico ainda no se configura em sua plenitude na grande maioria

    dos cenrios escolares. Habitualmente o PPP elaborado por um pequeno grupo

    da escola, constitudo pelos gestores, equipe tcnico pedaggica e alguns

    professores, concludo o texto, este exposto aos demais membros da

    comunidade escolar (dificilmente se incluem pais e estudantes) para aprovao ou

    no aprovao. Este ltimo momento caracteriza-se em uma atitude fantasiosa, de

    modo que dificilmente os atores interpem sua autoridade e direito de opinar nas

    diretrizes j estabelecidas por j perceberem como minimizada a importncia do

    seu papel nos processos decisrios da instituio suscitando ento, um

    ambiente desfavorvel ao clima organizacional, conscincia poltica e, sobretudo,

    ao exerccio democracia.

    A construo do Projeto Poltico-Pedaggico com a participao uma

    oportunidade mpar de a comunidade perceber-se como responsvel pela

    qualidade da escola. A articulao desta participao exige organizao, embora

    reconheamos que no h tcnica ou metodologia de construo do PPP. Cabe

    ento, a cada gestor buscar meios de faz-la acontecer, partindo do princpio de

    que as pessoas so capazes de se comprometer e participar de forma

    significativa, manifestando seus desejos a partir das impresses que adquirem

    com a leitura que fazem da realidade.

  • 39

    Celso Vasconcellos apresenta uma forma de construo do Projeto Poltico-

    Pedaggico, baseado no principio do Planejamento Participativo, vivenciada em

    algumas instituies e que tem se revelado de grande pertinncia:

    De incio, preciso uma viso geral sobre os passos do

    processo de elaborao e aplicao do Projeto Poltico-

    Pedaggico, desde o surgimento da sua necessidade at a

    avaliao de conjunto. A metodologia de elaborao do projeto

    no Planejamento Participativo baseada em perguntas que

    so feitas tendo como referncia as dimenses consideradas

    fundamentais para a instituio. A partir das questes

    elaboradas pelo prprio grupo, cada membro convidado a se

    posicionar pessoalmente por escrito; as contribuies

    individuais so organizadas em textos, que vo a plenrio,

    onde, mais uma vez, e agora de forma coletiva, cada um e

    todos podem se posicionar e debater. (VASCONCELLOS,

    2006, p. 42)

    Em relao s etapas apontadas, ainda salienta a necessidade de

    sensibilizao de todos os segmentos da escola como uma etapa de preparao

    para a construo, com o interesse de provocar o desejo da participao e a

    importncia da contribuio de cada um. E que este perodo preparatrio deve

    contemplar o dilogo reflexivo sobre a percepo dos atores escolares frente s

    realidades do dia a dia da instituio, como, por exemplo, como as aes da

    escola tm repercutido nos estudante ou sobre como a falta de uma linha comum

    de atuao dos professores reflete no coletivo, no que realmente se deseja

    alcanar. Tambm deve ficar claro que a participao coletiva na elaborao no

    significa que todos sero responsveis por todas as aes, a cada autor ou grupo

    de autores competiro certas atribuies.

  • 40

    A construo do Projeto Poltico-Pedaggico exige organizao, para tanto

    uma equipe de coordenao dever estar segura da sua proposta de elaborao,

    dominar tcnicas e etapas de realizao, para ter domnio do processo e sua

    conduo. Vasconcellos ainda aborda a importncia da clareza na expresso das

    ideia e a fidelidade na transposio das mesmas no texto escrito, dando

    credibilidade a participao, alm do emprego de linguagem de fcil entendimento

    que possa falar por si s. Concludo o documento, comea um novo desafio, o de

    lhe dar vida no cotidiano escolar, atravs da criao de contingncias que

    possibilitem o avano de uma educao realmente democrtica e transformadora.

    Diante de tantas proposies, como tm repercutido os processos de

    implementao da gesto democrtico-participativa em instituies de ensino

    pblico, visto que h diversidade na organizao e desenvolvimento do trabalho

    pedaggico, e que cada escola ou sistema de ensino apresentam peculiaridades

    de sua cultura na prpria gesto? H um movimento de adoo desta concepo

    baseada na relao orgnica da direo e a participao de membros da

    comunidade escolar em sua totalidade, acentuando a importncia da busca de

    objetivos comuns assumidos por todos? A utilizao efetiva de estratgias pela

    qualidade dos processos de ensino e aprendizagem e da transformao social

    pela conquista da cidadania? No prximo captulo, ser abordada a questo da

    gesto escolar democrtico-participativa na realidade de escolas da rede pblica

    de ensino localizadas em alguns municpios da regio metropolitana do Estado do

    Rio de Janeiro, seus caminhos e descaminhos.

  • 41

    CAPTULO III

    O OLHAR DOS ATORES ESCOLARES FRENTE

    S REALIDADES DE GESTO DAS ESCOLAS PBLICAS

    que a democracia, como qualquer sonho,

    no se faz com palavras desencarnadas.

    Paulo Freire

    Diante da preocupao quase que mundialmente generalizada a cerca da

    adequao da funo das escolas aos novos parmetros sociais, podemos

    perceber que, paulatinamente o sistema de ensino brasileiro tem procurado em

    encontrar meios para se qualificar. Entre tantas medidas de cunho organizacional,

    administrativo, de aplicao de recursos financeiros e avaliativos, um dos

    pressupostos para tanto, como vimos no primeiro captulo, estabelecida pela Lei

    de Diretrizes e Bases da Educao Nacional, a gesto das escolas na

    perspectiva democrtico-participativa.

    Nesse sentido, primeiramente, fundamental entender que a qualificao

    das escolas tem total ligao com o conceito de qualidade social, pois uma escola

    de qualidade, ofertar educao de qualidade, uma educao baseada na inter-

    relao de sua qualidade formal atravs do domnio de conhecimentos e

    desenvolvimento de capacidades (cognitivas, operativas e sociais), com sua

    qualidade poltica, que visa a incluso como meio para a transformao social.

    Portanto, neste ltimo captulo faremos reflexes sobre a diversidade das

    prticas polticas e pedaggicas de escolas pblicas, na busca da sua

  • 42

    qualificao, dando enfoque privilegiado as estratgias de gesto pela

    implementao dos princpios de democracia e participao, pela significao dos

    processos de ensino e aprendizagem e formao para a cidadania.

    3.1 As escolas e seus diferentes processos de gesto democrtico-participativa

    Para a coleta de informaes que favorecessem uma leitura sobre os

    processos de gesto das escolas pblicas, foi realizada uma pesquisa entre

    educadores (anexo 1, Questionrio). A maioria desses colaboradores atuante na

    rede municipal das prefeituras de Niteri e So Gonalo, do grupo tambm houve

    pequena representao dos municpios de Itabora, Mag e Maric, todos

    municpios da Regio Metropolitana do Estado do Rio de Janeiro. Ressalto que

    este estudo no pretendeu realizar uma avaliao baseada em dados

    quantitativos, este teve como objetivo, atravs da anlise das respostas

    concebidas, investigar as variaes dos modos de gesto democrtico-

    participativa, se realmente h um movimento pela incorporao dessa concepo

    s culturas das escolas da rede pblica de ensino. Igualmente foram verificados

    os desafios enfrentados pelas escolas nos seus processos de democratizao.

    Realizada a pesquisa, foi possvel perceber primeiramente que cada escola

    da rede pblica de ensino ainda que, sob olhar cuidadoso de instncias superiores

    (MEC, Conselho Federal e Secretarias Municipais de Educao), todas buscam

    melhores estratgias para a qualificao da funo do seu trabalho, adequadas ao

    seu perfil. No entanto, h semelhanas nos processos de gesto das escolas

    pertencentes a uma mesma rede, ainda que cada Unidade Escolar apresente

    identidade prpria associada s caractersticas pertinentes a comunidade local.

  • 43

    O reconhecimento da importncia do cumprimento s determinaes legais

    expressas pela Constituio e pela LDB, mostrou-se como fundamental a todos os

    entrevistados, visto que o regimento da educao das cidades tambm apontam

    para este sentido. No entanto, o que diz respeito a prtica das polticas pblicas

    em favorecimento a adequao ao cumprimento da lei h controvrsias. Houve

    muitas expresses de que estas ora se encontram a favor da democratizao e

    em outras ocasies agem em sentido contrrio. A exemplo disso, a escolha dos

    diretores, sendo em alguns municpios por meio de eleies e em outros, esse

    processo se efetua por nomeao de cargo de confiana um problema

    mencionado no captulo 2 que se mostra como fato concreto e tema de discusso

    provocador de indignao nos educadores.

    Como j vimos, a indicao poltica acaba por refletir nas escolas uma

    gesto comprometida com interesses partidrios, que trabalhar em funo de

    agradar seus padrinhos, nunca indo de encontro aos seus mandos, e assim se

    apropriando de uma postura submissa s instncias maiores, e omissa perante os

    demais servidores e os usurios da escola, j que no se prope a lutar pelos

    interesses comuns da coletividade. Por vezes, essa postura omissa vem

    acompanhada de autoritarismo quando o assunto cumprimento de ordens

    advindas dos polticos: no h discusso nem negociao, apenas comunicados.

    Um entrave para a prtica da gesto democrtico-participativa.

    Os municpios de Niteri e de So Gonalo, sendo to prximos,

    apresentam realidades bem distintas nesse sentido: no primeiro h a eleio de

    dirigentes, no segundo ainda se tem a prtica da nomeao.

    A autonomia concebida aos estados e municpios sobre essa questo,

    parece no ter resultado to positivamente, pois na prtica tem ferido os princpios

    democrticos de gesto. O que nos leva a entender que preciso haver

    regulamentao dos processos de escolha dos gestores escolares, mesmo que

  • 44

    haja mais de uma opo (eleio ou concurso), mas que seja excluda a hiptese

    de nomeao para esse cargo definitivamente.

    Da mesma forma, foi abordada a questo da participao dos membros da

    comunidade escolar. Considerando que a maioria dos entrevistados foi constituda

    de professores (profissionais que normalmente tm uma viso de totalidade da

    dinmica da escola, talvez at maior do que a do gestor, porque parecerem estar

    em posio mediadora entre o gestor e equipe tcnico-pedaggica com os

    estudantes e seus responsveis) suas impresses a respeito da participao que

    exercem na gesto foram positivas. Ficou claro que os professores tm poder de

    opinar, avaliar e decidir, sobre aspectos pedaggicos, organizacionais,

    administrativos, de usos de recursos financeiros e outros que possam surgir. No

    dia a dia, as reunies de planejamento so os momentos em que dada nfase

    na participao, que se estende a ocasies especiais como construo do Projeto

    Poltico-Pedaggico, no estabelecimento das prioridades de gastos de recursos

    financeiros provenientes de programas e projetos do Governo Federal, etc.

    Quanto a participao dos pais, esta ainda se mostrou muito restrita s

    reunies bimestrais e aos eventos de culminncia de projetos didtico-

    pedaggicos (festas, feiras, festivais). Esta situao se explica pela grande

    dificuldade que os pais das classes trabalhadoras tm para participar de reunies

    nas escolas tanto por razes econmicas, como por cansao fsico, ou at mesmo

    por no se sentirem responsveis pelo desenvolvimento dos filhos, por no serem

    conscientes da importncia do seu envolvimento nos processos de educativos.

    Tal dado tambm se justifica historicamente, porque durante muito tempo, a

    presena dos pais era desprezada por todos os segmentos da escola (professores

    inseguros, professores comprometidos, os prprios estudantes...), devido uma

    ideia equivocada de que no tinham nada a acrescer nos processos de ensino dos

    seus filhos, sua presena era evocada somente para resoluo de questes de

  • 45

    fins disciplinar ou burocrtico. Somente coma difuso das teorias dos

    escolanovistas, entre eles Dewey, Freinet e Wallon, que insistiram na necessidade

    de relaes regulares entre a famlia e a escola. Mas foi s a partir do movimento

    estudantil de 68 no Brasil, que os pais foram efetivamente admitidos a participar

    na gesto escolar, passando a serem considerados parceiros na tarefa de educar

    formalmente.

    Hoje, embora essa participao na gesto no seja to tenaz, ela surte

    efeitos importantes no elemento principal dos processos escolares, o estudante.

    Os pais precisam se desfazer do sentimento de inferioridade que apresentam

    diante dos professores, como profissionais da educao. E, no mesmo sentido h

    de se valorizar sua liberdade educativa. Estes sujeitos devem entrar na escola

    com a conscincia de serem cidados dotados do direito de usufruir dos servios

    de qualidade e do dever de se envolver na gesto, enquanto co-responsveis por

    um servio pblico fundamental para o desenvolvimento de seus filhos e da

    sociedade como um todo.

    J a participao direta dos alunos na gesto foi apontada com ausente na

    maioria das escolas. Seus anseios tm representatividade direta no interior das

    salas de aula, podendo propagar-se at o gestor somente na voz do professor.

    Uma indicao de descuido pela educao para a cidadania participativa. Pois a

    escola tem o dever de levar o estudante a compreender a sua realidade, sendo

    capaz de reconhecer problemas e tomar posio participativa nas tomadas de

    decises dos assuntos que lhe dizem respeito.

    Alguns educadores justificaram a no participao ao descrever a clientela

    da Unidade Escolar, quando se tratava de crianas entre 0 e 5 anos, Educao

    Infantil. No entanto, h de se criar a concepo de que o estudante deve ter direito

    responsabilidade na participao proporcional sua capacidade, no o privando

  • 46

    de desenvolv-la gradativamente, o que lhe proporciona melhor amadurecimento

    para se colocar frente aos desafios.

    Por outro lado, ficou claro que na Educao de Jovens e Adultos essa

    participao toma maiores propores. Mais conscientes de seus direitos e

    deveres, os estudantes colocam-se apresentando sugestes e opinies sobre a

    dinmica das escolas.

    Um exemplo positivo de participao de estudantes na gesto de escolas

    pblicas acontece no municpio de Itabora. Fato relatado em um dos

    questionrios e divulgado pelo site da Secretaria de Educao da cidade, que

    exibe os estudantes em sua participao nos Conselhos Escolares.

    Apesar da confirmada participao dos estudantes de Itabora nos

    Conselhos Escolares nas escolas da rede do municpio, expressando

    fortalecimento nas prticas democrticas de exerccio pleno da cidadania na

    sociedade poltica, em contrapartida, nos demais municpios, segundo relatos, os

    Conselhos Escolares no apresentam to forte representatividade. A maioria dos

    entrevistados mostrava-se cientes apenas da sua existncia e dos membros de

    sua composio, porm desconheciam sua dinmica e atribuies, com exceo

    da de fiscalizador de gastos de recursos financeiros.

    No entanto, um relato de experincia de uma escola da rede municipal de

    Niteri se destacou, devido o emprego de esforos para estimular a participao

    da comunidade no Conselho Escolar: Na primeira reunio de pais, ns

    professores pedimos dois pais de cada turma para compor o Conselho Escolar ,

    que tem representantes do corpo docente da EAP (Pedagogos, Diretores,...) e do

    servio de apoio. E convidamos todos da comunidade Escolar que queiram

    participar. O convite a participao diante de tantos cenrios onde o conselho

    parece uma incgnita, surge como uma ao que causa estranheza, quando na

  • 47

    verdade deveria ser uma constante nas instituies de ensino pblico, um simples

    consentimento de direito ao usurio.

    Parece urgente a disseminao da importncia na participao dos

    Conselhos Escolares e de suas atribuies enquanto orientador dos dirigentes

    sobre o que as comunidades esperam das escolas. Enfatizando esse tipo de

    colegiado como legitimador das vozes e votos dos diferentes atores da escola,

    internos e externos, desde os diferentes pontos de vista, decidindo sobre a gesto

    da escola, participante dos processos de construo da principal ferramenta de

    orientao da dinmica escolar: o Projeto Poltico-Pedaggico.

    Sobre a participao na construo do PPP das escolas, as manifestaes

    foram as mais variadas: Sim. realizado todo comeo do ano, com todos.

    Nesse aspecto deixamos um pouco a desejar. Nosso PPP precisa ser refeito em

    alguns aspectos (isso j comeou a ser feito, mas no foi concludo) e precisa da

    participao de mais atores, que no s os professores. (...) Bem, quando foi

    formulado o Projeto Poltico-Pedaggico os atores foram todos os profissionais

    que trabalhavam na escola. Porm, muitos no sabiam o que estavam fazendo.

    (...).Ainda no participei de nenhuma ao relacionado ao PPP da unidade e

    desconheo o PPP desta unidade.

    Como bem pudemos observar, as escolas ainda no apresentam um

    parmetro no trato com esse documento de fundamental importncia para a

    consolidao de um trabalho planejado, com objetivos a serem alcanados.

    Algumas Unidades Escolares zelam pela atualizao do PPP, outras fazem deste

    um documento por ora esquecido ou de acesso restrito e, o mais lamentvel, a

    participao descomprometida com o real sentido o processo por falta de

    conhecimento, uma participao ocasional.

  • 48

    At aqui, pudemos construir uma viso panormica da participao na

    gesto de algumas escolas da rede pblicas de ensino, o que nos remete uma

    ideia aproximada de como a mesma sucede em outras unidades escolares dos

    mesmos municpios desta regio do Estado do Rio de Janeiro.

    Mas, como fica a incidncia destas prticas participativas sob a significao

    dos processos de ensino e aprendizagem pela qualificao educativa?

    Diante de diversas declaraes que procuravam reproduzir minimamente o

    que se realizava nas unidades escolares, algumas manifestavam a incidncia de

    esforos somente por parte dos professores, num trabalho solitrio restrito ao

    desenvolvimento do planejamento de sua autoria exclusiva, nos planos de aula

    propriamente ditos.

    Por outro lado, foi possvel notar unanimidade entre as Unidades Escolares

    no sentido da valorizao da participao pela busca da melhoria de condies

    que propiciem qualificao dos processos educativos, atravs de adaptaes

    curriculares. Inclusive, no item 4 (H adequaes no currculo de sua escola para

    atender as reais necessidades da comunidade para qual presta servios?) as

    respostas dos educadores do mostras da preocupao em se garantir qualidade

    atravs do atendimento das reais necessidades das comunidades que prestam

    servios por meio de adequaes curriculares.

    O currculo, embora no tenha sido mencionado anteriormente, enquanto

    instrumento tcnico-pedaggico, a concretizao da intencionalidade da escola

    diante da cultura produzida pela sociedade, e num mbito menor, pela

    comunidade local. Segundo Forquim (cit in Libneo, 2008):

    [Currculo ] o conjunto de contedos cognitivos e

    simblicos (saberes, competncias, representaes,

  • 49

    tendncias, valores) transmitidos (de modo explcito ou

    implcito) nas prticas pedaggicas e nas situaes de

    escolarizao, isto , tudo aquilo a que poderamos

    chamar de dimenso cognitiva e cultural da educao

    escolar. (FORQUIM, 2000, p.48)

    Convergindo a definio citada, uma das professoras da rede municipal de

    Niteri declarou precisamente: Como indicado na LDB, o currculo deve ter uma

    base nacional comum, a ser complementada por uma parte diversificada,

    atendendo caractersticas locais, da cultura e da clientela. (A afirmativa deriva do

    artigo 26 da Lei de Diretrizes e Bases da Educao Nacional 9394/96). Por conta

    dessa e de outras tantas afirmaes positivas constata-se que as escolas, de uma

    maneira ou de outra, tm procurado cumprir sua funo social de educar pela

    transformao social.

    Associada s consideraes referentes ao currculo e a qualidade de

    ensino, ao final do questionrio havia uma proposta de sugesto de aes que

    pudessem ser implementadas nas escolas de modo a enriquecer os processos de

    democratizao e melhoria da qualidade de educao. Neste item, diferentemente

    de qualquer outro, as repostas foram as mais variadas possveis, pois cada olhar

    se voltou para a realidade de sua escola, e os anseios prprios do profissional,

    refletindo suas perspectivas sobre o devir da sua Unidade Escolar.

    Os apontamentos deram nfase no fortalecimento da participao dos pais,

    dos estudantes, dos Conselhos Escolares e comunidade em geral. Tambm se

    exps a necessidade de mudana na postura dos gestores que, por mais que

    tentam encobrir suas atitudes autoritrias, essas se mostram ainda muito

    evidentes.

  • 50

    Enfim, ainda que as relaes entre direo e membros da comunidade

    escolar no sejam to orgnicas e estreitas, ainda que os objetivos das escolas

    no estejam to claros para todos, ainda que o emprego dos esforos pela

    conscientizao do quo fundamental a participao coletiva na gesto se

    mostre como prioridade, ainda h expectativa de transformao a favor da

    autonomia e democratizao, pelo bem comum.

  • 51

    CONCLUSO

    Com a redemocratizao, associada melhoria da eficincia e qualidade da

    educao pblica brasileira, se tornou crescente o estmulo s transformaes na

    gesto das escolas. Foi dada nfase na participao da comunidade escolar em

    sua totalidade, atribuindo aos sujeitos as funes atores e autores,

    concomitantemente, da dinmica organizacional, em face ao atendimento dos

    interesses da coletividade e em detrimento de prticas conservadoras e

    autoritrias de gesto.

    Esse movimento a favor da descentralizao e democratizao das escolas

    da rede pblica de ensino, fortalecido nos anos 80, encontrou vigor em

    proposies legislativas. No entanto, essa tendncia tem encontrado entraves nos

    cotidianos escolares, apesar de haver estratgias pr-estabelecidas para a

    implementao desse novo paradigma. O fato que por si s, tais aes no

    concebero almejada transformao em esfera social, se valores e crenas se

    manterem como no passado.

    Comunidade local e escola tm responsabilidades legais em relao ao

    desenvolvimento dos estudantes, mas esta ocorre tambm para alm dos muros

    das escolas. A coordenao destes elementos da educao importante. Nos

    Conselhos Escolares, em outros colegiados e reunies, pais e educadores

    profissionais devero encontrar oportunidade para definir os rumos do processo

    educacional. A permanente avaliao do desempenho escolar parte essencial

    de um projeto educativo que se dirija para a emancipao.

  • 52

    Portanto, imprescindvel que haja conhecimento dos princpios de gesto

    na perspectiva democrtico-participativa, para que a participao acontea no seu

    sentido pleno. Participao caracterizada por uma fora de atuao consciente,

    pelo qual os membros reconheam e assumam seu poder de influncia na

    determinao da dinmica, da cultura e dos resultados de sua Unidade Escolar.

    Devemos ainda lembrar que a funo social da escola pressupe da

    educao dos estudantes para os valores da democracia. O processo democrtico

    pode assegurar a participao das pessoas envolvidas e, consequentemente, o

    seu comprometimento com tomadas de deciso. Outro importante motivo para as

    escolas incorporarem o esprito democrtico-participativo so os valores de

    incluso, justia, participao e dilogo, essenciais democracia. As escolas com

    princpios ticos e democrticos so lugares onde cultivar a equidade e a

    integridade permear todos os relacionamentos.

    Porm, sabemos que qualquer mudana gera resistncia. Nenhuma cultura

    mudada apenas por desejo, para tanto se exige competncia tcnica na

    articulao de proposies e aes. Dia a dia, esforos devero ser dedicados

    para que essa resistncia seja vencida de maneira construtiva, no impondo o

    novo modelo, mas gerando comprometimento para que seja adotado e cultivado.

    Talvez, algumas das afirmaes anteriores nos provoquem a ideia de que a

    gesto democrtico-participativa nas escolas pblicas deve ser considerada uma

    coisa utpica. Infelizmente, a escola ainda reprodutora de certa ideologia

    dominante, de um grupo que dificilmente far concesses espontneas do seu

    poder. E, com a implementao de tal concepo de gesto h de se conferir

    poder e autonomia s escolas pblicas, o que tambm significa aferir poder e

    condies concretas para o alcance dos objetivos educacionais articulados com os

  • 53

    interesses das classes populares. Via para a diminuio da estratificao social,

    por meio do exerccio pleno da cidadania.

    Enfim, essa perspectiva no deve ser compreendida apenas como um

    princpio de um novo paradigma, mas tambm como um objetivo a ser perseguido

    incessantemente, e avaliado, com o intuito de se aprimorar gradativamente,

    configurando-se em prticas cotidianas que ofeream contingncias para a

    formao do cidado capaz de se colocar frente sociedade em que vive,

    consciente de sua insero social.

  • 54

    BIBLIOGRAFIA

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    http://www.brasilescola.com/

  • 56

    www.itaborai.rj.gov.br. Secretaria de Educao. Acesso em 15/01/2011

    www.webartigos.com. Gesto participativa. Acesso em 7/12/2010.

    http://www.itaborai.rj.gov.br.%20secretaria/http://www.webartigos.com/

  • 57

    ANEXOS

    Instrumento de pesquisa: Questionrios

  • 58

    GESTO ESCOLAR NA REDE PBLICA DE ENSINO, POR UMA PERSPECTIVA DEMOCRTICO-PARTICIPATIVA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES.

    ANEXO I

    INSTRUMENTO DE PESQUISA: QUESTIONRIO

    Prezado entrevistado, este questionrio faz parte da monografia intitulada GESTO ESCOLAR NA REDE PBLICA DE ENSINO, POR UMA PERSPECTIVA DEMOCRTICO-PARTICIPATIVA: DESAFIOS E POSSIBILIDADES, desenvolvido durante o curso de Ps-Graduao em Administrao e Superviso Escolar oferecido pelo Instituto A Vez do Mestre, na Universidade Cndido Mendes. Tal trabalho tem com principal objetivo investigar alternativas de aes que efetivem a gesto democrtico-participativa nas escolas da rede pblica de ensino, em prol da significao dos processos de ensino e aprendizagem. As informaes que aqui forem registradas serviro para compor um quadro avaliativo da situao e dos desafios enfrentados pelas escolas nos seus processos de democratizao e melhoria da qualidade da educao que oferece. Os dados que forem apresentados neste questionrio sero tratados em relatrio, no sendo divulgados individualmente. Diante disso, considere de grande importncia suas declaraes, e sinta-se agr