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1 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” NOVA EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL – LEI Nº 11.382/2006 AUTOR RAPHAEL AUGUSTO PERDIGÃO TELES FERREIRA ORIENTADOR PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO RIO DE JANEIRO 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

NOVA EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL – LEI Nº 11.382/2006

AUTOR

RAPHAEL AUGUSTO PERDIGÃO TELES FERREIRA

ORIENTADOR

PROF. CARLOS AFONSO LEITE LEOCADIO

RIO DE JANEIRO 2010

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

NOVA EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL – LEI Nº 11.382/2006

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do Mestre, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito Processual Civil. Por: Raphael Augusto Perdigão Teles Ferreira.

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Primeiramente agradeço a Deus por ter me dado saúde e tranqüilidade para desenvolver este trabalho. Em segundo, agradeço aos meus pais, irmã e namorada pela ajuda e apoio que sempre me deram, além de toda a compreensão. E por fim ao escritório V. Chermont advogados associados, que foi sempre a fonte de muito incentivo e apoio profissional.

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Esta obra é dedicada a meus pais, que sempre me apoiaram, bem como propiciaram o início de meus estudos. Dedico-a, ainda, a Christiane Perdigão e Monique Keller, como não poderia deixar de ser.

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RESUMO

O procedimento relativo à ação de execução fundada em título executivo extrajudicial sofreu profundas modificações com o advento da Lei 11.382, de 6 de dezembro de 2006. Esta teve por objetivo desburocratizar o vetusto procedimento relativo ao processo de execução, otimizar o andamento processual, e, principalmente, desmotivar a prática contumaz adotada pela grande maioria dos executados, qual seja, retardar ao máximo o andamento do processo e, por consequência, o pagamento devido. E, para tanto, simplificou a forma de se praticar determinados atos processuais, bem como imposição de multa ao executado caso sua resposta ou conduta seja desprovida de qualquer fundamento plausível. Já na fase de expropriação de bens do executado, inseriu a possibilidade de o exeqüente promover, por iniciativa própria ou por intermédio de corretor, a alienação dos bens penhorados do executado, tal como disposto no artigo 685-C do Código de Processo Civil. Disciplinou a possibilidade de o exeqüente ter o usufruto de bem móvel penhorado, desde que seja esta a forma menos gravosa para o executado pagar o que deve ao exeqüente.

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METODOLOGIA

A presente pesquisa constitui-se de uma análise do procedimento da

nova execução por título extrajudicial introduzido pela Lei nº 11.382/2006 e suas

principais controvérsias, tudo sob o ponto de vista específico do direito positivo

brasileiro.

Para tanto, a pesquisa desenvolvida se valeu do método da pesquisa

bibliográfica, onde buscou-se o conhecimento em publicações oficiais da

legislação referente ao caso, em obras doutrinárias, na jurisprudência do Tribunal

de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, bem como na do Superior Tribunal de

Justiça.

Por outro lado, foram identificadas nesta pesquisa as controvérsias

existentes com relação ao procedimento da nova execução por título extrajudicial,

sob o ponto de vista específico do direito positivo brasileiro e com fundamento

exclusivo na dogmática desenvolvida pelos estudiosos que já se debruçaram

sobre o tema anteriormente citado.

Trata-se, ainda, de uma pesquisa aplicada, porque teve por objetivo a

produção de conhecimento para aplicação prática, mas também qualitativa,

porque procura entender a realidade a partir da interpretação e qualificação dos

fenômenos estudados; e exploratória, porque buscou proporcionar maior

conhecimento sobre a questão proposta, além de descritiva, porque visou a

obtenção de um resultado puramente descritivo, sem a pretensão de uma análise

crítica do tema.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...................................................................................................... 9

CAPÍTULO I

DOS TÍTULOS EXECUTIVOS.............................................................................. 11

CAPÍTULO II

INÍCIO DA EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL................................... 14

2.1 – CITAÇÃO DO EXECUTADO....................................................................... 16

2.2 – PENHORA DE BENS DO EXECUTADO.................................................... 17

2.3 – AVALIAÇÃO DOS BENS DO EXECUTADO.............................................. 22

CAPÍTULO III

DA DEFESA DO EXECUTADO........................................................................... 25

3.1 – DOS EMBARGOS DO DEVEDOR.............................................................. 25

3.2 – DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO.............................................................. 32

CAPÍTULO IV

FASE DE EXPROPRIAÇÃO DE BENS............................................................... 36

4.1 – ADJUDICAÇÃO DE BENS PENHORADOS............................................... 37

4.2 – ALIENAÇÃO POR INICIATIVA PARTICULAR........................................... 38

4.3 – ALIENAÇÃO EM HASTA PÚBLICA........................................................... 40

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4.4 – USUFRUTO DE BEM IMÓVEL OU DE BEM MÓVEL................................ 42

CAPÍTULO V

SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO..................................................... 46

5.1 – SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO................................................................... 46

5.2 – EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO....................................................................... 48

CONCLUSÃO...................................................................................................... 50

BIBLIOGRAFIA................................................................................................... 53

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INTRODUÇÃO

Esta monografia é um estudo que teve por objetivo principal a análise

das modificações introduzidas pela Lei nº 11.382/2006 ao procedimento da ação

de execução fundada em título executivo extrajudicial constante do Código de

Processo Civil.

Nesse contexto, o trabalho dedica-se a expor questões controvertidas

levantadas por doutrinadores renomados quanto às modificações realizadas no

procedimento da ação de execução, bem como apresentar jurisprudências

recentes do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e do

Superior Tribunal de Justiça, de acordo com a dinâmica do novel procedimento

implementado pela Lei nº 11.382/2006.

O estudo deste novo procedimento da ação de execução e das

questões analisadas em torno do mesmo justifica-se pelo fato de se tratar de

questão de extrema relevância prática, uma vez que dezenas de artigos foram

revogados, alterados e muitos novos dispositivos foram inseridos, totalizando,

assim, 84 artigos do Código de Processo Civil modificados.

E justamente pelo fato de ter sido o procedimento da execução

recentemente modificado e de forma tão substancial, esta pesquisa pode até

tornar-se um modesto elemento de consulta para buscar uma melhor

compreensão geral da questão quanto às novas regras procedimentais da ação

de execução.

A pesquisa que precedeu esta monografia teve como ponto de partida

a análise do entendimento de juristas renomados, mediante análise de obras

publicadas e específicas sobre o tema, como a do Professor Luiz Fux (Ministro do

Superior Tribunal de Justiça, Membro da Academia Brasileira de Letras Jurídicas,

Professor titular de Processo Civil na Faculdade de Direito da Universidade do

Estado do Rio de Janeiro), do Professor Alexandre Freitas Câmara

(Desembargador do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, Professor

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de Direito Processual Civil da Escola da Magistratura do Estado do Rio de

Janeiro) e do Professor J. E. Carreira Alvim (Membro do Tribunal Regional

Federal da 2ª Região, Membro do Instituto de Pesquisa e Estudos Jurídicos do

Rio de Janeiro), além da pesquisa de jurisprudência realizada no Tribunal de

Justiça do Estado do Rio de Janeiro e no Superior Tribunal de Justiça.

O primeiro capítulo indica os títulos extrajudiciais que são indicados

nos incisos do artigo 585 do Código de Processo Civil como hábeis a ensejar a

propositura da execução em face do credor.

O segundo capítulo indica e aborda quais são os requisitos necessários

para que o credor possa iniciar a ação de execução fundada em título extrajudicial

contra devedor, bem como os primeiros atos processuais que dão início ao

andamento processual, tais como citação do executado, normas procedimentais

que o exeqüente deve respeitar, sob pena de configurar nulidade processual.

O terceiro capítulo desta monografia analisa o procedimento de defesa

do executado, tais como prazo para apresentação da defesa, indica o ato que dá

início à contagem do prazo, forma e requisitos para se defender, além das

matérias que devem versar a defesa do executado.

No quarto capítulo deste trabalho é abordado especificamente o

procedimento previsto para a fase de expropriação de bens penhorados do

executado, além das formas com que o exeqüente dispõe para obter o

recebimento do que lhe é devido.

Por fim, o quinto capítulo trata das hipóteses que caracterizam a

suspensão e a extinção da ação de execução fundada em título executivo

extrajudicial.

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CAPÍTULO I

DOS TÍTULOS EXECUTIVOS

A Lei nº 11.382/2006, com vistas a simplificar e agilizar o andamento

dos processos de execução, introduziu ao Código de Processo Civil inúmeras

modificações quanto ao procedimento da execução fundada em títulos

extrajudiciais.

A primeira alteração promovida no Código de Processo Civil foi no

artigo 580, que passou a ter a seguinte redação:

Art. 580. A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa, líquida e exigível, consubstanciada em título executivo.

Portanto, para que a ação de execução fundada em titulo extrajudicial

tenha cabimento, basta que o devedor não cumpra obrigação certa, líquida e

exigível.

O artigo 585 do Código de Processo Civil enuncia numerus clausus os

títulos extrajudiciais, conforme abaixo:

Art. 585. São títulos executivos extrajudiciais: I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque; II - a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor; o documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas; o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública ou pelos advogados dos transatores; III - os contratos garantidos por hipoteca, penhor, anticrese e caução, bem como os de seguro de vida; IV - o crédito decorrente de foro e laudêmio; V - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio; VI - o crédito de serventuário de justiça, de perito, de intérprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorários forem aprovados por decisão judicial; VII - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei; VIII - todos os demais títulos a que, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.

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O cuidado do legislador em enumerar exaustivamente quais são os

títulos extrajudiciais decorre do fato de que somente aqueles viabilizam ao credor

a prática de atos invasivos no âmbito jurídico-patrimonial do devedor, obviamente

desde que o processo executivo seja iniciado.

A redação dada ao artigo 586 do Código de Processo Civil não deixa

dúvidas quanto à necessidade de que os títulos indiquem de forma inequívoca, a

certeza, liquidez e exigibilidade da obrigação por parte do credor, senão vejamos:

Art. 586. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível.

Portanto, para que se tenha um título executivo extrajudicial, torna-se

indispensável a identificação dos requisitos constantes do dispositivo acima, que

são perfeitamente definidos conforme lição de J. E. Carreira Alvim, que assim

dispõe (ALVIM, 2007, P. 25):

A obrigação se diz certa, quando a sua existência é indiscutível; líquida, quando de valor conhecido; e exigível, quando possa ser exigida. Em outros termos, a obrigação deve ser certa na debeatur (o que se deve); líquida quantum debeatur (quanto se deve) e, exigível (vencida).

Segue abaixo ementa do aresto onde os embargos à execução foram

julgados procedentes em razão de o exeqüente não ter observado o disposto no

artigo 585, II, do Código de Processo Civil:

APELAÇÃO CÍVEL. EMBARGOS À EXECUÇÃO POR TITULO EXECUTIVO

EXTRAJUDICIAL. CONTRATO PARTICULAR SEM ASSINATURA DE DUAS TESTEMUNHAS. ART.585, II DO CPC. AUSÊNCIA DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. IMPOSSIBILIDADE DE APRESENTAÇÃO DO TÍTULO ORIGINAL COM AS ASSINATURAS EM SEDE DE APELAÇÃO. CUMPRE AO CREDOR INSTRUIR A PETIÇÃO COM O TÍTULO. ART.614 DO CPC JURISPRUDÊNCIA DO STJ. NEGA-SE SEGUIMENTO AO RECURSO, NA FORMA DO ART.557, CAPUT DO CPC. (TJ/RJ; 3ª Câmara Cível; Relatora: Desembargadora Helena Cândida Lisboa Gaede; AI 0141345-34.2009.8.19.0000; D.O de 15/07/2010; http://www.tjrj.jus.br/. Acesso em 19/07/2010).

No disposto no art. 587 do Código de Processo Civil, fica claro que a

execução fundada em título extrajudicial será sempre definitiva, desde que a

sentença de procedência daquela venha a ser objeto de recurso recebido no

efeito suspensivo, momento em que tornar-se-á provisória, nos termos que se

seguem:

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Art. 587. É definitiva a execução fundada em título extrajudicial; é provisória enquanto pendente apelação da sentença de improcedência dos embargos do executado, quando recebidos com efeito suspensivo (art. 739).

Pela regra inserta em tal preceito, percebe-se que a intenção do

legislador foi dar maior alcance à realização dos atos praticados, conforme

esclarece o ilustre professor Luiz Fux (FUX, 2009, p. 60):

A “execução definitiva” é aquela cujo resultado do processo alcança o seu escopo satisfativo máximo. Assim, v.g., na execução definitiva por quantia certa, o processo termina com a entrega da soma ou de bens correspondentes do devedor ao credor. Os atos processuais são praticados com o objetivo de alcançar a realização “completa” do direito.

Em assim sendo, dúvidas não existem de que tão logo a sentença

venha a ser prolatada, e mesmo na hipótese de estar pendente de julgamento

recurso não recebido com efeito suspensivo, poderá o credor levantar de imediato

a quantia depositada.

Inobstante a intenção do legislador em agilizar o processo de

execução, merece ser registrado que o artigo 574 do Código de Processo Civil

dispõe que “o credor ressarcirá ao devedor os danos que este sofreu, quando a

sentença, passada em julgado, declarar inexistente, no todo ou em parte, a

obrigação, que deu lugar à execução” (Lei nº 5.869/73).

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CAPÍTULO II

INÍCIO DA EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL

Primeiramente, deve-se registrar que o processo de execução de título

extrajudicial é autônomo e originário e, por tal fato, fica adstrito à iniciativa da

parte credora.

Para que o credor possa dar início ao processo de execução fundado

em título executivo extrajudicial, deverá observar o disposto no artigo 614 do

Código de Processo Civil, que preconiza que o credor, ao requerer a execução,

pedirá a citação do devedor instruindo a petição inicial com o título executivo

original (um dos previstos nos incisos do artigo 585 do Código de Processo Civil),

com planilha contendo demonstrativo atualizado do débito (conforme artigo 614,

II, do Código de Processo Civil) e a prova de que se verificou a condição – que

nos termos do artigo 121 do Código Civil é o evento futuro e incerto – ou ocorreu

o termo – fato certo e futuro, que é verificável no próprio título.

Ademais, a petição inicial deverá, como em qualquer outro tipo de

ação, obedecer aos requisitos previstos no artigo 282 do Código de Processo

Civil, sob pena de o Juiz determinar que o exeqüente a emende ou a corrija,

conforme disposto nos artigos 284 e 616, ambos do Código de Processo Civil.

O artigo 615-A do Código de Processo Civil dispõe que o exeqüente

poderá, quando da distribuição da ação, obter certidão que comprove o

ajuizamento da execução. Certidão esta que conterá a identificação das partes e

o valor da causa, para o fim de viabilizar a imediata averbação da existência da

ação perante o registro de imóveis, registro de veículos ou registro de outros bens

sujeitos à penhora ou arresto, nos termos abaixo:

Art, 615-A. O exeqüente poderá, no ato da distribuição, obter certidão comprobatória do ajuizamento da execução, com identificação das partes e valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, registro de veículos ou registro de outros bens sujeitos à penhora ou arresto.

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Mister registrar que em cumprimento ao parágrafo 1º do artigo acima

citado, “O exeqüente deverá comunicar ao juízo as averbações efetivadas, no

prazo de 10 (dez) dias de sua concretização”.

A averbação prevista no artigo 615-A do Código de Processo Civil tem

por finalidade evitar que o devedor promova fraude à execução ou a credores,

conforme lição de J. E. Carreira Alvim, que assim esclarece (ALVIM, 2007, P. 41):

Embora não o diga, expressamente, o art. 615-A, o objetivo dessa averbação é o mesmo do § 4º do artigo 659, tornando o ato de distribuição da ação de execução de conhecimento de terceiros, para que este não alegue boa-fé na aquisição de bens quando corria contra o devedor (alienante) demanda capaz de reduzi-lo à insolvência (art. 593, II).

Para que tais averbações tenham eficácia, é preciso que sejam

comunicadas nos autos. Se for “comunicada a averbação depois do prazo legal,

só se considera aquela anotação eficaz a partir da data de sua comunicação ao

juízo” (CÂMARA, 2010, p. 276).

Registre-se, ainda que “a diligência ora instituída não é da substância

da penhora mas tutela os interesses do exequente e de terceiros de boa-fé” (FUX,

2009, p.92).

Inobstante a brilhante intenção do legislador, tal conduta merece

atenção especial em razão de o § 4º do artigo 615-A do Código de Processo Civil

dispor que “o exeqüente que promover averbação manifestamente indevida

indenizará a parte contrária, nos termos do § 2o do art. 18 desta Lei, processando-

se o incidente em autos apartados”.

Mister registrar o fato de que, apesar de a Lei nº 11.382/2006 estar

caminhando para completar seu terceiro ano de vigência, não se encontra

disponível no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e, principalmente, no Superior

Tribunal de Justiça, jurisprudência sobre todas as questões aqui tratadas.

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2.1 CITAÇÃO DO EXECUTADO

Nas ações de execução, a citação do executado se fará sempre por

oficial de justiça ou por edital, tal como previsto no artigo 221, II e III do Código de

Processo Civil, sendo expressamente vedada a citação pelo correio, nos termos

da alínea “d” do artigo 222 do diploma legal acima referido.

Na petição inicial o exeqüente requererá, em obediência ao preceito do

artigo 652 do Código de Processo Civil, a citação do executado para, no prazo de

3 (três) dias, efetuar o pagamento da divida.

No momento em que o Juiz vier a despachar a inicial da execução,

deverá, conforme disposto no artigo 652-A do Código de Processo Civil, fixar de

plano os honorários de advogado a serem pagos pelo executado.

Na hipótese de o executado acatar a citação e efetuar o pagamento

integralmente no prazo dos 3 dias, a verba honorária a que se refere o artigo

acima citado será reduzida pela metade.

A referida redução do valor dos honorários tem a intenção de incentivar

o executado a proceder ao pagamento do débito e, por consequência, por fim ao

processo.

Por outro lado, tendo ocorrido a citação do executado e no caso de

este quedar-se inerte, deverá o oficial de justiça, nos termos do parágrafo 1º do

artigo 652 do Código de Processo Civil, munido da segunda via do mandado de

citação, proceder de imediato a penhora e a avaliação de bens, que desde logo

lavrará o auto, e na mesma oportunidade, intimará o executado da penhora

efetivada.

Vale registrar que é facultado ao exeqüente, conforme consta do

parágrafo 2º do artigo acima citado, indicar na petição inicial bens a serem

penhorados, caso tenha conhecimento do patrimônio do executado.

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Com efeito, a segunda etapa da atuação do oficial de justiça somente

se inicia após o fim do prazo para o imediato pagamento. Assim, “portanto, os

atos de constrição de bens do executado só terão lugar após o decurso do prazo

de três dias para fazer o pagamento, o que demonstra que não ocorrem da forma

tão imediata como o preceito sugere (art. 652, § 1º)” (ALVIM, 2007, p. 73).

2.2 PENHORA DE BENS DO EXECUTADO

Já o parágrafo 3º prevê que o juiz, de ofício ou até mesmo a

requerimento do exeqüente, determinará, a qualquer momento, a intimação do

executado para que indique bens que sejam passíveis de penhora.

Na hipótese de o executado não ser localizado para receber a

intimação da penhora de seus bens, dispõe o parágrafo 5º que o oficial de justiça

certificará de forma detalhada as diligências por ele realizadas, caso em que

poderá o Juiz dispensar a intimação do executado ou mesmo determinar a

realização de novas diligências.

A realização de novas diligências para intimação da penhora raramente

ocorrerão na prática, pois “estando em termos a penhora, dificilmente algum juiz

se animará a determinar, de ofício, diligências para localizar o executado, caso

ele não seja mais encontrado no local onde foi citado” (ALVIM, 2007, p. 75).

O artigo 653 do Código de Processo Civil prevê a hipótese de o

executado não ser encontrado pelo oficial de justiça para receber a citação,

momento em que aquele terá arrestado tantos bens quantos bastem para garantir

a execução.

Neste sentido, colaciona-se aresto que contempla a hipótese acima:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL. REITERADAS TENTATIVAS DE LOCALIZAÇÃO DO DEVEDOR PARA FINS DE CITAÇÃO, TODAS FRUSTADAS. DECISÃO QUE INFEDERE O ARRETO DE DINHEIRO POR MEIO DO SISTEMA BACENJUD. MEDIDA INCIDENTAL PREVISTA NO ART. 653, CPC, DISTINTA DA CAUTELAR REFERIDA NO ART. 813 E

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SEGUINTES, CPC. POSSIBILIDADE DE DEFERIMENTO ANTE A NÃO-LOCALIZAÇÃO DO DEVEDOR. DESNECESSIDADE DE ESTAREM PRESENTES AS CIRCUNSTÂNCIAS DOS INCISOS DO ART. 813, CPC. PRECEDENTES DO STJ E DO TJ/RJ. DEFERIMENTO DO ARRESTO ONLINE DE DINHEIRO DO EXECUTADO/AGRAVADO EM CONTAS CORRENTES E APLICAÇÕES FINANCEIRAS. MANIFESTA PROCEDÊNCIA RECURSAL. AGRAVO A QUE SE DÁ PROVIMENTO, COM BASE NO ART. 557, § 1º-A,CPC. (TJ/RJ; 3ª Câmara Cível; Relator: Desembargador Ronaldo A. Lopes Martins; AI 2009.002.38186; D.O de 02/03/2010; http://www.tjrj.jus.br/. Acesso em 20/07/2010).

Após o arresto de bens do executado, o exequente terá o prazo de 10

dias da data que vier a ser intimado do ato para requerer a citação daquele por

edital. Ao final do prazo do edital, o executado terá o prazo previsto no artigo 652

do Código de Processo Civil para pagar o devido, sob pena de ter convertido o

arresto dos bens em penhora.

Penhora é o ato pelo qual se apreendem bens para empregá-los, de

maneira direta ou indireta, na satisfação do crédito exeqüendo (MOREIRA apud

CÂMARA, 2010, p. 282).

Em outras palavras, penhora é um “ato de apreensão judicial de bens,

sendo certo que os bens penhorados serão empregados na satisfação do direito

exeqüendo” (CÂMARA, 2010, p. 282).

É importante ressaltar, ainda, que o Juiz, quando da realização da

penhora, deverá verificar se foi observada a ordem prevista no artigo 655 do

Código de Processo Civil, conforme abaixo:

Art. 655. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem: I - dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira; II - veículos de via terrestre; III - bens móveis em geral; IV - bens imóveis; V - navios e aeronaves; VI - ações e quotas de sociedades empresárias; VII - percentual do faturamento de empresa devedora; VIII - pedras e metais preciosos; IX - títulos da dívida pública da União, Estados e Distrito Federal com cotação em mercado; X - títulos e valores mobiliários com cotação em mercado; XI - outros direitos

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Mesmo sendo atribuição do oficial de justiça proceder à penhora de

bens do executado, aquele não poderá fazê-la ao seu livre arbítrio.

Deverá, portanto, seguir a ordem elencada no artigo 655 do Código de

Processo Civil.

E é neste sentido que o professor J. E. Carreira Alvim sustenta, na

forma que se segue (ALVIM, 2007, P. 82):

Mesmo cabendo, agora, ao oficial de justiça a escolha do bem a ser penhorado, consoante a nova redação do § 1º do artigo 652, não fica a seu arbítrio a escolha do que melhor lhe apraze, cabendo-lhe observar a ordem legal da penhora, só passando aos bens da ordem subseqüente quando não houver bem da classe anterior.

Da leitura do artigo 655-A do Código de Processo Civil, percebe-se que

a intenção do legislador foi possibilitar a realização de penhora de dinheiro do

executado mediante simples requisição à autoridade supervisora do sistema

bancário, a ser realizado preferencialmente de forma eletrônica.

Neste sentido vale a transcrição do caput do artigo 655-A do Código de

Processo Civil:

Art. 655-A. Para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exeqüente, requisitará à autoridade supervisora do sistema bancário, preferencialmente por meio eletrônico, informações sobre a existência de ativos em nome do executado, podendo no mesmo ato determinar sua indisponibilidade, até o valor indicado na execução.

Complementando a interpretação da referida norma, o professor J. E.

Carreira Alvim esclarece (ALVIM, 2007, P. 92):

Essa disposição tem o propósito de amenizar o rigor da chamada “penhora on line”, ou, mais propriamente, da “penhora eletrônica”, evitando que o juiz determine, de imediato, a apreensão de valores existentes em depósito em conta corrente ou em aplicação financeira, sem mesmo saber se tais valores realmente existem.

Esclarecendo a questão acima, colaciona-se o aresto:

CONSTITUCIONAL, ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL.AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CASA NOTURNA QUE COBRAVA CONSUMAÇÃO MÍNIMA E QUE ESTARIA DANDO PRIORIDADE DE INGRESSO A DETERMINADAS PESSOAS. TERMO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA. TÍTULO EXECUTIVO EXTRAJUDICIAL. PENHORA

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"ON LINE". POSSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA DA ORDEM DE NOMEAÇÃO PREVISTA NO ARTIGO 655 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. A decisão agravada, ao determinar a citação da agravada para pagamento ou nomeação de bens à penhora não deu efetividade à tutela de satisfação do direito do credor.O título extrajudicial teve origem no descumprimento do Termo de Ajustamento de Conduta e, após o ajuizamento da execução pelo Ministério Público, a executada propôs exceção de pré-executividade, além de ter interposto alguns recursos no curso da lide, restando claro que a citação da agravada é um excesso, já que todo momento teve ciência dos valores executados, os quais sempre discordou. A penhora on line, de regra, não ofende o princípio da execução menos gravosa para o devedor (Súmula nº 117 da Jurisprudência Predominante deste Tribunal).A decisão agravada, na verdade, está em desconformidade com o acórdão proferido nos autos do Agravo de Instrumento nº 23.962/2007 (fls. 274/280), também interposto pelo Ministério Público, que provendo o recurso, cassou a decisão que tinha determinado a expedição de mandado de citação e intimação para cumprimento da obrigação de fazer, no prazo de quinze dias.Provimento do recurso, para determinar a penhora "on line", requerida pelo exeqüente. (TJ/RJ; 16ª Câmara Cível; Relator: Desembargador Lindolpho Morais Marinho; AI 0007950-12.2010.8.19.0000; D.O de 09/07/2010; http://www.tjrj.jus.br/. Acesso em 20/07/2010).

Registre-se, ainda, que o § 1º do artigo 655-A do Código de Processo

Civil limitou a extensão das informações a serem solicitadas à autoridade

supervisora do sistema bancário, para que seja tão somente informado se existe

ou não depósito até o valor objeto da execução.

Já o § 2º enuncia que incumbirá ao executado provar que o dinheiro

penhorado está ou não sob o manto da impenhorabilidade prevista no inciso IV do

caput do artigo 649 do Código de Processo Civil.

Por seu turno, o § 3º do artigo 655-A do Código de Processo Civil,

estabelece que na penhora de percentual do faturamento de empresa executada,

será nomeado depositário, com atribuição de submeter à aprovação judicial a

forma de efetivação da constrição, prestar contas mensalmente, entregando ao

exeqüente as quantias recebidas, a fim de serem computadas no pagamento da

dívida.

A penhora de que trata o § 3º mostra-se bastante lesiva para as

empresas, pois acaba retirando delas o capital de giro, indispensável para sua

manutenção.

Tal afirmativa é comprovada pela lição do professor J. E. Carreira Alvim

esclarece (ALVIM, 2007, P. 95):

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A penhora de renda ou faturamento da empresa, sem a observância das formalidades processuais, configura um “confisco”, pois retira o capital de giro da empresa para colocá-lo, até que se ultime a execução, numa conta judicial com correção monetária abaixo das leis de mercado, a serviço do ente público que ministra a justiça. Este o motivo pelo qual tal “penhora” não satisfaz às exigências legais, nem constitucionais, pois atinge a renda ou faturamento (capital de giro) da empresa na falso suposto de estar atingindo o dinheiro.

O artigo 655-B do Código de Processo Civil disciplina a hipótese de

penhora em bem indivisível, determinando que, neste caso, a meação do cônjuge

alheio à execução recairá sobre o produto da alienação do bem.

O professor J. E. Carreira Alvim define com precisão a questão do

cônjuge alheio à execução, conforme se segue (ALVIM, 2007, p. 96):

O cônjuge considera-se alheio à execução quando a dívida não foi contraída em benefício da família, tendo responsabilidade patrimonial secundária quando a obrigação é contraída intuitu familiae.

O novel artigo 656 do Código de Processo Civil apresenta o rol das

hipóteses em que a parte executada tem a possibilidade de requerer a

substituição da penhora, conforme se segue:

Art. 656. A parte poderá requerer a substituição da penhora: I - se não obedecer à ordem legal; II - se não incidir sobre os bens designados em lei, contrato ou ato judicial para o pagamento; III - se, havendo bens no foro da execução, outros houverem sido penhorados; IV - se, havendo bens livres, a penhora houver recaído sobre bens já penhorados ou objeto de gravame; V - se incidir sobre bens de baixa liquidez; VI - se fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; ou VII - se o devedor não indicar o valor dos bens ou omitir qualquer das indicações a que se referem os incisos I a IV do parágrafo único do art. 668 desta Lei.

Portanto se no caso concreto ocorrer algumas das hipóteses elencadas

nos incisos acima transcritos, poderá o executado requerer a substituição do bem

que recaiu a penhora.

O parágrafo 1º do referido dispositivo, preconiza que o executado tem o

dever de indicar, no prazo fixado pelo juiz, onde se encontram os bens sujeitos à

execução, bem como exibir a prova de sua propriedade.

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Já o parágrafo 2º do artigo 656 do Código de Processo Civil estabelece

que a penhora pode ser substituída por fiança bancária ou por seguro garantia

judicial, em valor não inferior ao débito acrescido de 30 (trinta) por cento.

O professor J. E. Carreira Alvim esclarece a questão na forma que se

segue (ALVIM, 2007, p. 103):

A fiança bancária, também conhecida como carta de fiança, é uma modalidade de garantia muito utilizada em sede judicial, devida à sua fácil operacionalização, pois, não cumprida a obrigação pelo devedor, a instituição financeira honra o compromisso por ele assumido.

O artigo 657 do Código de Processo Civil trata da hipótese de

substituição do bem penhorado por outros, momento em que a parte contrária

será ouvida no prazo de 3 dias e lavrado o respectivo termo de penhora.

O Ilustre professor J. E. Carreira Alvim define que “termo, no caso, é

uma especial modalidade de ato processual, a cargo do escrivão, datado e

subscrito por este (art. 168), e assinado também pelo executado” (ALVIM, 2007,

p. 106).

De uma forma geral, as demais regras previstas no Código de

Processo Civil para a realização de penhora encontram-se disciplinadas até o

artigo 679, mas pelo fato de não ser o objeto central desta monografia, não serão

analisadas minuciosamente.

2.3 AVALIAÇÃO DOS BENS PENHORADOS

Após a realização da penhora, necessário se faz proceder a avaliação

dos bens, que por sua vez, antecede a alienação dos mesmos, que tem a

intenção de satisfazer o crédito exequendo.

Portanto, pode-se afirmar que a atividade de avaliar “engendra-se entre

a penhora e a arrematação propriamente dita” (FUX, 2009, p. 220).

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Assim sendo, o instituto da avaliação possui como conseqüência

jurídica a fixação de limites para a alienação judicial ou a adjudicação do bem

penhorado, além de fazer com que a execução torne-se proporcional às suas

necessidades.

Por tal razão é que o artigo 680 do Código de Processo Civil dispõe

que, em regra, a avaliação será feita por oficial de justiça e, caso seja necessário

conhecimento específico, por um avaliador nomeado pelo juiz, senão vejamos:

Art. 680 – A avaliação será feita pelo oficial de justiça (art. 652), ressalvada a aceitação do valor estimado pelo executado (art. 668, parágrafo único, inciso V); caso sejam necessários conhecimentos especializados, o juiz nomeará avaliador, fixando-lhe prazo não superior a 10 (dez) dias para entrega do laudo.

Como um dos objetivos da avaliação do bem é a preparação para a

expropriação do mesmo e, geralmente aquela ocorre logo no início do processo, o

artigo 683 do Código de Processo Civil possibilitou a realização de uma nova

avaliação, desde ocorridas uma das hipóteses previstas nos seus incisos, senão

vejamos:

Art. 683. É admitida nova avaliação quando: I - qualquer das partes argüir, fundamentadamente, a ocorrência de erro na avaliação ou dolo do avaliador; II - se verificar, posteriormente à avaliação, que houve majoração ou diminuição no valor do bem; ou III - houver fundada dúvida sobre o valor atribuído ao bem (art. 668, parágrafo único, inciso V).

Ademais, se constatada a ocorrência de uma penhora inferior ao valor

da execução ou, muito superior, terá que se realizar a adequação da penhora. Na

primeira hipótese, se fará a ampliação da penhora e, na segunda, a redução,

podendo, inclusive, proceder-se à substituição do bem.

Neste sentido, traz-se à colação arestos que enfrentaram a questão

com bastante precisão:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. BEM PENHHORADO. DECURSO DE PRAZO PARA HASTA PÚBLICA. NOVA AVALIÇÃO. NÃO COMPROVAÇÃO DE FATOS QUE DEMONSTRASSE SUPERVALORIZAÇÃO DO IMÓVEL. POSSIBILIDADE DE ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA PARA PRESERVAR O VALOR AVALIADO. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. A prévia avaliação do bem penhorado tem por escopo evitar prejuízo

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maior que o necessário para o executado, pois impede a arrematação do bem por valor vil, seguindo a regra da menor onerosidade. O decurso de lapso temporal entre a avaliação e a realização da hasta pública, por si só, não representa prejuízo ao executado, cabendo a este a sua demonstração, trazendo elementos de convicção acerca de uma supervalorização do bem superveniente. Não se desincumbindo desse ônus, fica assegurado o justo preço com a simples correção monetária do valor anteriormente apurado. Conhecimento do recurso e seu desprovimento, nos termos do art. 557, caput do C.P.C. (TJ/RJ; 12ª Câmara Cível; Relatora: Desembargadora Lúcia Miguel S. Lima; AI 0016715-69.2010.8.19.0000; D.O de 20/07/2010; http://www.tjrj.jus.br/. Acesso em 20/07/2010).

Execução de título extrajudicial. Agravo de instrumento contra decisão que determinou a avaliação direta do bem penhorado quando já tinha sido realizado a avaliação indireta. Possibilidade (CPC 683). Ademais, a determinação da avaliação direta possibilitará ao Juízo a quo maiores elementos para deliberar sobre a adjudicação do imóvel penhorado, tendo em vista a concorrência neste sentido entre o agravante e uma descendente da executada, havendo divergência quanto aos valores ofertados. Aduza-se que, com a avaliação direta haverá uma certeza muito maior acerca do preço justo do bem penhorado, resguardando-se, inclusive, o próprio agravante de não receber valor inferior, caso seja decidido pela adjudicação em favor da filha da executada. Quanto ao pagamento das custas da avaliação, compete ao exeqüente adiantá-las, já que, evidentemente, é de seu interesse o desfecho da execução. Inexistência de lesão grave ou de difícil reparação a justificar a interposição do presente recurso. Negativa de seguimento com fulcro no artigo 557, caput, do CPC. (TJ/RJ; 16ª Câmara Cível; Relator: Desembargador Carlos José Martins Gomes; AI 0012719-63.2010.8.19.0000; D.O de 10/06/2010; http://www.tjrj.jus.br/. Acesso em 20/07/2010).

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CAPÍTULO III

DA DEFESA DO EXECUTADO

Todo o procedimento relativo à defesa do executado encontra-se

inserido no Código de Processo Civil no Livro II, Título III, Capítulo I, e que

também foi objeto de modificações pela Lei 11.232/2006.

3.1 DOS EMBARGOS DO DEVEDOR

E o primeiro artigo que trata da questão é o art. 736 do Código de

Processo Civil, que dispõe que o executado poderá, independentemente de

penhora, depósito ou caução, opor-se à execução por meio de embargos, que

deverá ser distribuído por dependência ao processo de execução e instruído com

cópias processuais relevantes.

Alexandre Freitas Câmara sustenta que “os embargos do executado

são, pois, processo autônomo, incidente à execução, de natureza cognitiva,

dentro do qual se poderá apreciar a pretensão manifestada pelo exeqüente, para

o fim de verificar se a mesma é procedente ou improcedente” (CÂMARA, 2010, p.

375).

As definições apresentadas pelos doutrinadores quanto aos embargos

do executado pouco variam quanto ao conteúdo, senão vejamos (OLIVEIRA apud

CÂMARA, 2010, p. 377):

Os embargos do executado são, pois, processo de conhecimento, autônomo em relação ao processo executivo fundado em título extrajudicial, embora a ele ligado por uma relação de prejudicialidade.

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Quanto à hipótese de o executado opor embargos sem que tenha

ocorrido penhora, impõe-se registrar o entendimento de J. E. Carreira Alvim, na

forma abaixo (ALVIM, 2007, p. 196):

Apesar de dispor o art. 736 que o executado pode se opor à execução independentemente de penhora, depósito ou caução, isso só ocorrerá se não tiver o executado bens penhoráveis, pois, nos termos do art. 652, caput, será ele citado para, no prazo de 3 (três) dias, efetuar o pagamento da dívida, e, não o fazendo, o oficial de justiça, munido da segunda via do mandado, procede de imediato à penhora de bens e a sua avaliação, lavrando-se o respectivo auto, intimando-se, na mesma oportunidade o executado, como reza o art. 652 e § 1º.

Neste mesmo sentido, colaciona-se o aresto abaixo, que corrobora a

lição do Professor J. E. Careira Alvim:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL E OPOSIÇÃO DE EMBARGOS DO DEVEDOR. AUSÊNCIA DE PENHORA. A NOVA SISTEMÁTICA PROCESSUAL ADMITE O MANEJO DOS EMBARGOS INDEPENDENTEMENTE DA SEGURANÇA DO JUÍZO. O FEITO EXECUTIVO DEVE, NO ENTANTO, PROSSEGUIR, SALVO NAS HIPÓTESES PREVISTAS EM QUE SE ATRIBUI O EFEITO SUSPENSIVO AOS EMBARGOS. HIPÓTESE NA QUAL NÃO SE VERIFICA A EXISTÊNCIA DE RISCO DE DANO DE DIFÍCIL OU INCERTA REPARAÇÃO. NÃO CABIMENTO DA SUSPENSIVIDADE. DECISÃO DE 1º GRAU ESCORREITA. RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. (TJ/RJ; 11ª Câmara Cível; Relator: Desembargador Mauro Martins; AI 0040021-72.2007.8.19.0000; D.O de 04/12/2007; http://www.tjrj.jus.br/. Acesso em 20/07/2010).

O artigo 738 do Código de Processo Civil, que foi modificado pela Lei

nº 11.382/2006, dispõe que o executado terá o prazo de 15 (quinze) dias, a contar

da data da juntada do mandado de citação aos autos, para distribuir seus

embargos.

Registre-se, ainda, que o parágrafo 1º do dispositivo acima reza que o

prazo do executado para apresentar embargos se iniciará da data da juntada aos

autos do seu respectivo mandado de citação, independentemente de quantos

sejam os executados, exceto se tratar-se de cônjuges.

Por seu turno, nas execuções em que o executado venha a ser citado

por carta precatória, o juízo deprecado deverá noticiar imediatamente ao juízo

deprecante a ocorrência d citação do executado, valendo-se, inclusive de meios

eletrônicos. Nestes casos, o prazo para os embargos iniciar-se-a a partir da

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juntada da comunicação aos autos da execução, nos termos constantes do

parágrafo 2º do artigo 736 do Código de Processo Civil.

Em decorrência do fato de os embargos terem natureza de ação e não

de defesa do(s) executado(s), é que o legislador fez constar expressamente no

parágrafo 3º que não se aplica a regra prevista no artigo 191 do Código de

Processo Civil, que reza que “quando os litisconsortes tiverem diferentes

procuradores, ser-lhes-ão contados em dobro os prazos para contestar, para

recorrer e, de modo geral, para falar nos autos”.

Neste sentido, vale a transcrição da lição de Luiz Fux (FUX, 2009, p.

281):

Ao reenfatizar a natureza jurídica dos embargos, o legislador esclareceu e pacificou divergências jurisprudenciais, por isso que, mesmo em havendo vários executados, o prazo não é contado em dobro, na forma do art. 191 do CPC. Ao revés, cada um em seu prazo, salvo os cônjuges, cujo prazo em regra inicia-se no mesmo momento em que são citados juntos, ou ainda que em separado, da data da juntada do último mandado.

Vale registrar, ainda, que os embargos podem ser apresentados por

algum terceiro que tenha algum interesse em livrar seu patrimônio de uma

execução, conforme lição de J. E. Carreira Alvim, na forma que se segue (ALVIM,

2007, p. 194):

Não apenas o devedor pode opor-se à execução por meio de embargos, mas também o terceiro responsável pode oferecer embargos à execução e não apenas embargos de terceira, onde se limita a pretender excluir o seu patrimônio da execução alheia. O responsável secundário também é parte legítima para embargar a execução, aduzindo defeitos de forma e de fundo, posto que, se destruir o processo, automaticamente libera o seu patrimônio da responsabilidade assumida.

De forma bastante sucinta o professor J. E. Carreira Alvim resume o

procedimento a ser seguido pelo executado, conforme abaixo (ALVIM, 2007, p.

197):

Portanto, se pretender oferecer embargos à execução, deve o executado fazê-lo no prazo de 15 (quinze) dias, contado da data da juntada aos autos do mandado de citação (para pagar) devidamente cumprido (art. 738), pelo que, se o executado tiver bens penhoráveis, tais bens já terão sido penhorados e avaliados, por força do § 1º do art. 652, pelo que jamais terá a chance de embargar a execução independentemente de penhora, como soa o art. 736.

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O artigo 739 do Código de Processo Civil preconiza que, uma vez

apresentados embargos, o juiz da execução poderá, liminarmente, rejeitá-los,

desde que sejam intempestivos, quando constatar que a petição dos embargos

for inepta ou quando forem manifestamente protelatórios.

Neste sentido, colaciona-se a definição de J.E. Carreira Alvim quanto à

atos protelatórios, na forma que se segue (ALVIM, 2007, p. 203):

Atos protelatórios são aqueles que nada acrescentam para o esclarecimento de situações fáticas ou jurídicas, sendo praticados com o único propósito de retardar a marcha do processo, e, consequentemente, o julgamento do mérito.

Neste sentido decidiu o Superior Tribunal de Justiça ao decidir quanto

ao cabimento da possibilidade de o embargante emendar à inicial nos termos do

artigo 284 do Código de Processo Civil, senão vejamos:

PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. POSSIBILIDADE DE EMENDA. ART. 284 DO CPC. 1. Consoante o artigo 284 do Código de Processo Civil é possível que o devedor emende a inicial dos embargos quando a sua inépcia ocorrer por falta de apresentação de cálculos ou de outros elementos indicativos de erro no quantum executado, providência também facultada ao credor pelo disposto do artigo 616 do Código de Processo Civil na proemial da ação de execução, caso os cálculos apresentados não reflitam a exatidão da quantia postulada. Precedentes. 2. Agravo regimental não provido. (STJ; Segunda Turma; Relator: Ministro Castro Meira; AgRg no REsp 1184676/RR; DJe de 21/05/2010; http://www.stj.jus.br/. Acesso em 19/07/2010).

Neste caso, deverá o juiz aplicar a regra constante do artigo 739-B do

Código de Processo Civil, a saber:

Art. 739-B. A cobrança de multa ou de indenizações decorrentes de litigância de má-fé (arts. 17 e 18) será promovida no próprio processo de execução, em autos apensos, operando-se por compensação ou por execução.

Nos termos do artigo 739-A do Código de Processo Civil, a mera

apresentação dos embargos não fará com que a execução fique suspensa.

Mas na hipótese de já ter ocorrido penhora de bens do executado e

caso o prosseguimento da execução manifestamente possa causar àquele grave

dano de difícil ou incerta reparação, poderá o embargante, quando da

apresentação de seus embargos, requerer ao juiz seja atribuído efeito suspensivo

à execução.

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Esclarecendo a questão, colaciona-se o entendimento de J. E. Carreira

Alvim (ALVIM, 2007, p. 206):

A suspensão, ou não, da execução dependerá das circunstâncias de cada caso concreto, devendo o juiz guiar-se pelo princípio da proporcionalidade, de modo que, se o prosseguimento da execução puder causar maior prejuízo ao executado, do que benefício ao exeqüente, deverá suspendê-la; não, porém, se a suspensão da execução puder causar maior prejuízo ao exeqüente do que benefício ao executado.

Neste sentido, colaciona-se a ementa e pequeno trecho do aresto, na

forma que se segue:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. Execução de Titulo Extrajudicial. Embargos do devedor. Pretensão de efeito suspensivo. Artigo 739-A, § 1º, do CPC. A atribuição de efeito suspensivo aos embargos à execução, dentre outros, subordina-se ao fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, requisitos cuja ausência ensejam o indeferimento do respectivo pedido. 1. A atribuição de efeito suspensivo aos embargos é possível desde que configurado, de forma cumulativa, o atendimento aos requisitos elencados no artigo 739-A § 1º, do CPC. 2. In casu, não demonstrados os requisitos, inviável a suspensão da demanda executiva. (TJ/RJ; 5ª Câmara Cível; Relatora: Desembargadora Zélia Maria Machado dos Santos; AI 0031277-83.2010.8.19.0000; D.O de 08/07/2010; http://www.tjrj.jus.br/. Acesso em 19/07/2010).

Mister registrar, ainda, o ensinamento do Alexandre Freitas Câmara,

quanto ao efeito suspensivo, a saber (CÂMARA, 2010, p. 386):

Atribuído o efeito suspensivo, suspende-se o processo executivo. Em outras palavras: até o julgamento dos embargos do executado não se poderá praticar nenhum ato processual no processo executivo, ressalvados os de caráter urgente (art. 793 do CPC).

Corroborando tal entendimento, colaciona-se a ementa e pequeno

trecho da fundamentação do aresto abaixo:

Processual Civil. Execução. Embargos à execução por título extrajudicial. Ausência de efeito suspensivo. Levantamento de quantia penhora. Possibilidade. Recurso desprovido. 1. Se os embargos à execução não têm efeito suspensivo, nada obsta o levantamento da quantia penhorada, pouco mais de 15% do valor exeqüendo. 2. Agravo de instrumento a que se nega provimento. [...] Gize-se que aos embargos não foi concedido efeito suspensivo. E, se não foi dado efeito suspensivo, não podem as agravantes pretender obstar o levantamento ou condicioná-lo à caução, providências que, por via transversa, importaria na concessão de efeito suspensivo aos embargos ou na criação de requisito não previsto em lei para o pagamento. (TJ/RJ; 5ª Câmara Cível; Relator: Desembargador Horácio S. Ribeiro Neto; AI 0027564-03.2010.8.19.0000; D.O de 06/07/2010; http://www.tjrj.jus.br/. Acesso em 19/07/2010).

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Por seu turno, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu no mesmo

sentido em questão idêntica, conforme abaixo:

PROCESSO CIVIL. AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. REFORMAS PROCESSUAIS. ART. 739-A, § 1º, DO CPC. REFLEXOS NA LEI 6.830/1980. POSSIBILIDADE DE GRAVE DANO, DE DIFÍCIL OU INCERTA REPARAÇÃO NÃO COMPROVADA. EFEITO SUSPENSIVO NÃO CONCEDIDO. REEXAME PROBATÓRIO. IMPOSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. (STJ; Primeira Turma; Relator: Ministro Luiz Fux; AgRg no Ag 1133990/RS; DJe de 14/09/2009; http://www.stj.jus.br/. Acesso em 20/07/2010).

Mesmo após o recebimento dos embargos com efeito suspensivo,

poderá, a qualquer tempo, a decisão vir a ser modificada ou até mesmo revogada,

desde que tenham cessado as circunstâncias que motivaram a concessão e que

a parte exeqüente assim requeira.

Mister registrar, ainda, o ensinamento do Alexandre Freitas Câmara,

quanto ao recurso cabível da decisão que rejeitar liminarmente os embargos, a

saber (CÂMARA, 2010, p. 384):

O ato judicial de rejeição liminar dos embargos do executado é sentença e, como tal, pode ser atacada através de apelação (não tendo o recurso, neste caso, efeito suspensivo, conforme dispõe o art. 520, V, do CPC).

Nas execuções contra mais de um executado, a efeito suspensivo

atribuído aos embargos de um deles não aproveitará aos demais, quando o

fundamento para a concessão disser respeito exclusivamente àquele executado.

O parágrafo 5º do artigo 739-A do Código de Processo Civil dispõe que

quando os embargos forem apresentados mediante o fundamento de excesso na

execução, caberá ao embargante, sob pena de rejeição liminar, instruir aqueles

com memória de cálculo. No mesmo sentido, se os embargos tiverem outros

fundamentos além de excesso na execução, este não será conhecido se não for

instruído com a memória de cálculo.

Caso não ocorra nenhuma das hipóteses de rejeição liminar dos

embargos, estes serão recebidos pelo juiz, que determinará que o exeqüente-

embargado se manifeste no prazo de 15 (quinze) dias.

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Em seguida, nos termos previsto do artigo 740 do Código de Processo

Civil, se for o caso de julgamento antecipado da lide, nos termos do art. 330 do

Código de Processo Civil, o juiz julgará imediatamente o pedido constante dos

embargos. Caso contrário, designará audiência de conciliação, instrução e

julgamento.

Ao final, se o juiz concluir que os embargos apresentados eram

manifestamente protelatórios, imporá, em favor do exeqüente, multa ao

embargante em valor não superior a 20% (vinte por cento) do valor da execução,

tal como previsto no parágrafo único do artigo 740 do Código de Processo Civil.

Importante registrar que da sentença de procedência dos embargos

caberá apelação, a ser recebida no duplo efeito.

Nos casos de extinção sem resolução do mérito ou de improcedência,

será cabível apelação, mas será recebida tão somente no efeito devolutivo

(CÂMARA, 2010, p. 388).

Neste sentido, colaciona-se a ementa do aresto que se segue:

Agravo de instrumento. Sentença que julgou improcedente os Embargos à Execução Fiscal. Apelação recebida somente no efeito devolutivo. Diante de lesão grave e de difícil reparação em razão da possibilidade imediata de execução. Efeito suspensivo justificado. Carta de fiança cujo valor é superior ao executado. Inteligência do art. 558 do CPC. Reforma da decisão para recebimento da apelação também no efeito suspensivo. Recurso provido (TJ/RJ; 4ª Câmara Cível; Relator: Desembargador Sérgio Jerônimo de Abreu da Silveira; AI 0029926-75.2010.8.19.0000; D.O de 01/07/2010; http://www.tjrj.jus.br/. Acesso em 19/07/2010).

Vale ressaltar, ainda, que dito entendimento encontra respaldo na

jurisprudência, já pacificada, do Superior Tribunal de Justiça, nos termos da

ementa abaixo:

PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL - EMBARGOS À EXECUÇÃO. EFEITO DEVOLUTIVO. JURISPRUDÊNCIA CONSOLIDADA NO STJ. SÚMULA 317/STJ. 1. As execuções fundadas em título executivo extrajudicial são definitivas, mesmo na pendência do julgamento de recurso de apelação, sem efeito suspensivo, interposto contra a sentença de improcedência dos embargos (Súmula 317/STJ). 2. Agravo regimental não provido. (STJ; Segunda Turma; Relatora: Ministra Eliana Calmon; AgRg no Ag 1268327/RJ; DJe de 03/05/2010; http://www.stj.jus.br/. Acesso em 20/07/2010).

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3.2 DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO

O artigo 745 do Código de Processo Civil enumera quais os

fundamentos que podem versar os embargos, fixando, assim, seus limites, uma

vez que estabelecem as hipóteses que comportam discussão, senão vejamos:

Art. 745. Nos embargos, poderá o executado alegar: I - nulidade da execução, por não ser executivo o título apresentado; II - penhora incorreta ou avaliação errônea; III - excesso de execução ou cumulação indevida de execuções; IV - retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de título para entrega de coisa certa (art. 621); V - qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento. § 1o Nos embargos de retenção por benfeitorias, poderá o exeqüente requerer a compensação de seu valor com o dos frutos ou danos considerados devidos pelo executado, cumprindo ao juiz, para a apuração dos respectivos valores, nomear perito, fixando-lhe breve prazo para entrega do laudo. § 2o O exeqüente poderá, a qualquer tempo, ser imitido na posse da coisa, prestando caução ou depositando o valor devido pelas benfeitorias ou resultante da compensação.

Elucidando a questão vale colacionar os ensinamentos de Luiz Fux,

conforme se segue (FUX, 2009, p. 292):

Assentada a premissa de que os embargos podem referir-se ao cerne do crédito exeqüendo, ao título executivo ou ao processo de execução, impõe-se observar quais os seus fundamentos, ou seja, quais as possíveis causae petendi deste meio de impugnação.

O inciso I do artigo 745 do Código de Processo Civil, reza que o

embargante poderá alegar em seus embargos a nulidade da execução por não

ser executivo o título apresentado.

Para tanto, deverá ser verificado o teor do artigo 585 do Código de

Processo Civil, uma vez que este enumera quais são os títulos executivos

extrajudiciais e seus requisitos indispensáveis.

Quanto ao inciso II do artigo 745 do Código de Processo Civil, reza que

o embargante poderá alegar em seus embargos a ocorrência de penhora

incorreta ou ter ocorrido avaliação errônea do bem penhorado.

Tal fato se dá porque, sendo a penhora um ato processual, fica sujeita

às normas constantes dos artigos 655 a 667 do Código de Processo Civil, ao

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passo que se não forem aquelas obedecidas, restará realizada pela forma

incorreta e, portanto, sujeita à embargos.

Por seu turno, para a avaliação ser errônea, terá que conter alguma

distorção entre o valor atribuído pelo avaliador ou mesmo quando estimado pelo

perito de forma equivocada, e o valor real de mercado do bem.

No que se refere à hipótese prevista no inciso III do artigo 745 do

Código de Processo Civil, quanto ao excesso de execução ou cumulação indevida

de execuções, sustenta Luiz Fux que será “assim considerada quando o credor

pleiteia quantia superior à do título ou nas hipóteses em que recaia a execução

sobre coisa diversa daquela declarada no título” (FUX, 2009, p. 294).

Quanto ao inciso IV, deve ser registrado que trata-se de hipótese

exclusivamente ligada à execução para entrega de coisa e somente será cabível

quando o credor pretender reavê-la sem implementar o valor das benfeitorias.

“Nos embargos de retenção por benfeitorias, pode o executado

requerer ao juiz a compensação do valor destas com os dos frutos ou danos

considerados devidos pelo executado” (ALVIM, 2007, p. 219), devendo ser

obedecido, neste caso, o preceito do § 1º do artigo 745 do Código de Processo

Civil e do § 2º, que complementa àquele.

Já a hipótese do inciso V do artigo 745 do Código de Processo Civil

preconiza que nos embargos, o executado poderá alegar qualquer matéria que

em processo de conhecimento fosse cabível, incluindo-se neste dispositivo

qualquer causa impeditiva ou modificativa da obrigação, ilegitimidade das partes,

prescrição, dentre outras questões.

Neste sentido, colaciona-se aresto onde foi dado provimento aos

embargos do devedor acolhendo a alegação de ilegitimidade, bem como julgando

extinta a execução, na forma abaixo:

APELAÇÃO CIVEL - EMBARGOS A EXECUÇÃO – TAXA DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA - LEGITIMIDADE DO MINISTERIO PÚBLICO PARA AJUIZAR AÇÃO COM INTERESSE COLETIVO –– IMPROCEDENCIA DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO – SENTENÇA REFORMADA - RECURSO PROVIDO. (TJ/RJ; 14ª Câmara Cível; Relator:

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Desembargador Edson Scisinio Dias; AI 0011322-86.2009.8.19.0037; D.O de 01/07/2010; http://www.tjrj.jus.br/. Acesso em 13/07/2010).

O artigo 745-A do Código de Processo Civil acabou por reconhecer um

dos grandes entraves que com muita freqüência ocorre nos processos de

execução, que é a falta de condições financeiras do executado para liquidar a

dívida de forma integral.

E com vistas a tentar viabilizar o pagamento por parte do executado é

que o dispositivo legal dispôs que dentro do prazo dos embargos, o executado,

reconhecendo o crédito do exeqüente e mediante a comprovação do depósito de

30% (trinta por cento) do valor executado, já com as despesas processuais,

poderá requerer seja admitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais,

devidamente atualizadas.

Caso venha a proposta do executado ser deferida pelo juiz, o

exeqüente levantará a quantia depositada e os atos executivos ficarão suspensos

até o cumprimento integral da obrigação.

Na hipótese de a proposta ser indeferida, dar-se-á prosseguimento aos

atos executivos, mantendo-se o depósito.

Ressalte-se que o parágrafo 2º cuidou de disciplinar de forma bastante

clara quais as sanções para o caso de não ocorrer o pagamento de qualquer das

parcelas, senão vejamos:

§ 2o – O não pagamento de qualquer das prestações implicará, de pleno direito, o vencimento das subseqüentes e o prosseguimento do processo, com o imediato início dos atos executivos, imposta ao executado multa de 10% (dez por cento) sobre o valor das prestações não pagas e vedada a oposição de embargos.

O professor J. E. Carreira Alvim critica os termos constantes do

dispositivo acima transcrito, alegando tratar-se de uma incongruência do

legislador, na forma que segue (ALVIM, 2007, p. 223):

A lei fala em imediato início dos atos executivos, mas, trata-se, na verdade, de retomada desses atos, já iniciados com o deferimento da petição inicial do exeqüente.

O artigo 746 do Código de Processo Civil conferiu ao executado prazo

de 5 (cinco) dias para oferecer embargos fundados em nulidade da execução ou

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em causa extintiva da obrigação, desde que superveniente à penhora, contados

da adjudicação, alienação ou arrematação.

Alexandre Freitas Câmara se refere aos embargos constantes do artigo

como sendo os embargos da segunda fase da execução, na forma abaixo

(CÂMARA, 2010, p. 410):

Estes embargos da segunda fase seguem as mesmas regras dos cabíveis na primeira fase, inclusive quanto ao procedimento a ser observado. Diferem, apenas, no momento em que se fazem oportunos, e na matéria que pode ser aqui alegada.

E discorre sobre o assunto fundamentando-o de forma bastante clara,

senão vejamos (id. ibid):

Nos embargos da segunda fase só se pode alegar fatos extintivos ou modificativos da obrigação, supervenientes à penhora, ou nulidades do processo executivo que tenham ocorrido depois daquele ato de constrição patrimonial. Qualquer causa extintiva ou modificativa da obrigação (mas não as causas impeditivas, pois estas, como já se viu, jamais seriam supervenientes à penhora), que tenha ocorrido após a apreensão dos bens do executado e, por isso, não pôde ser alegada nos embargos da primeira fase, encontrará nos embargos da segunda fase o local propício para ser trazida à cognição judicial.

Caso o executado apresente embargos, o § 1º do artigo 746 do Código

de Processo Civil, concede ao adquirente do bem a possibilidade de desistir da

aquisição, momento em que o juiz deferirá de plano requerimento com a imediata

liberação em devolução do depósito efetuado, conforme previsto no § 2º.

Ademais, ao final do processamento dos embargos opostos pelo

executado com base no artigo 746 do Código de Processo Civil, caso o juiz os

declare manifestamente protelatórios, será imposta ao executado-embargante

multa não superior a 20% (vinte por cento) do valor da execução em favor de

quem desistiu da aquisição.

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CAPÍTULO IV

FASE DE EXPROPRIAÇÃO DE BENS

Conforme brilhante ensinamento do professor Luiz Fux, “o fim da

execução por quantia certa é a obtenção da soma e sua ulterior entrega ao

credor” (FUX, 2009, p. 224).

E a forma de obtenção da soma devida ao credor, se opera pela

expropriação, que é assim definida pelo professor J. E. Carreira Alvim, vejamos

(ALVIM, 2007, p. 54):

A expropriação é uma forma de o Estado-juiz adentrar o patrimônio do devedor, apreendendo seus bens, para satisfação do direito d credor (art. 646). No exercício do poder de realizar a justiça, o Estado, pelo seus órgãos, transfere do patrimônio do devedor os bens objeto da execução para, com eles ou com o produto de sua transferência a terceiros, satisfazer o crédito do exeqüente.

Vale registrar, que a expropriação de bens se dará, preferencialmente,

na ordem prevista no artigo 647 do Código de Processo Civil, vejamos:

Artigo 647 – A expropriação consiste: I – na adjudicação em favor do exeqüente ou das pessoas indicadas no § 2º do art. 685-A desta Lei; II – na alienação por iniciativa particular; III – na alienação em hasta pública; IV – no usufruto de bem móvel ou imóvel;

Via de regra, a expropriação consiste na perda definitiva da

propriedade de determinado bem do executado, que se consuma com o registro

da mesma em nome do exeqüente.

Por outro lado, a Lei nº 11.382/2006 prevê uma perda parcial da

faculdade de fruir o bem, uma vez que permite, como forma de pagamento do

débito exeqüendo, a exploração econômica sucessiva do bem com o fim de

arrecadar, pelo tempo que for necessário, a quantia integralmente devida.

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4.1 ADJUDICAÇÃO DOS BENS PENHORADOS

Uma vez avaliados os bens penhorados, deverão os mesmos serem

expropriados.

E uma das formas de se proceder à expropriação do bem penhorado é

adjudicá-lo.

Portanto, pode-se afirmar que a adjudicação é “um ato executivo,

através do qual são expropriados bens do patrimônio do executado, os quais

haviam sido objeto de penhora, transferindo-se tais bens diretamente para o

patrimônio do exequente” (CÂMARA, 2010, p. 311).

Por tal razão é que o artigo 685-A do Código de Processo Civil dispõe

que é lícito ao exeqüente requer a adjudicação dos bens penhorados, desde que

não ofereça preço inferior ao da avaliação, senão vejamos:

Art. 685-A. É lícito ao exeqüente, oferecendo preço não inferior ao da avaliação, requerer lhe sejam adjudicados os bens penhorados.

Na hipótese de o valor do crédito ser inferior ao valor do bem, caberá

ao exeqüente promover o depósito da diferença, se for o inverso, prosseguirá a

execução quanto ao valor remanescente, tal como previsto no parágrafo primeiro,

in verbis:

Art, 685-A, § 1º - Se o valor do crédito for inferior ao dos bens, o adjudicante depositará de imediato a diferença, ficando esta à disposição do executado; se superior, a execução prosseguirá pelo saldo remanescente.

Na hipótese de o valor do crédito ser igual ao da avaliação do bem, a

adjudicação considerar-se-á perfeita e acabada, conforme dispõe o artigo 685-B,

e seu parágrafo único, do Código de Processo Civil, vejamos:

Art. 685-B. A adjudicação considera-se perfeita e acabada com a lavratura e assinatura do auto pelo juiz, pelo adjudicante, pelo escrivão e, se for presente, pelo executado, expedindo-se a respectiva carta, se bem imóvel, ou mandado de entrega ao adjudicante, se bem móvel. Parágrafo único. A carta de adjudicação conterá a descrição do imóvel, com remissão a sua matrícula e registros, a cópia do auto de adjudicação e a prova de quitação do imposto de transmissão.

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Atualmente, sob a égide da Lei nº 11.382/2006, não mais existe a

vetusta controvérsia sobre a possibilidade de adjudicar bens móveis, ou não.

Neste sentido esclarece a questão o professor Luiz Fux, nos termos

que se seguem (FUX, 2009, p. 231):

A adjudicação hodierna atinge todos os bens penhorados, pacificando-se, assim, a questão sobre ser adjudicável bem móvel porquanto a lei anterior referia-se, apenas, à praça de bem imóvel.

4.2 ALIENAÇÃO POR INICIATIVA PARTICULAR

Na hipótese de não ter havido a adjudicação do bem penhora, poderá o

exeqüente requerer, por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor, a

alienação do bem.

E foi neste sentido que a Lei nº 11.382/2006 inovou, fazendo inserir a

possibilidade da alienação por iniciativa particular, conforme se extrai do teor do

artigo 685-C e seus 3 parágrafos:

Art. 685-C. Não realizada a adjudicação dos bens penhorados, o exeqüente poderá requerer sejam eles alienados por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor credenciado perante a autoridade judiciária. § 1o O juiz fixará o prazo em que a alienação deve ser efetivada, a forma de publicidade, o preço mínimo (art. 680), as condições de pagamento e as garantias, bem como, se for o caso, a comissão de corretagem. § 2o A alienação será formalizada por termo nos autos, assinado pelo juiz, pelo exeqüente, pelo adquirente e, se for presente, pelo executado, expedindo-se carta de alienação do imóvel para o devido registro imobiliário, ou, se bem móvel, mandado de entrega ao adquirente. § 3o Os Tribunais poderão expedir provimentos detalhando o procedimento da alienação prevista neste artigo, inclusive com o concurso de meios eletrônicos, e dispondo sobre o credenciamento dos corretores, os quais deverão estar em exercício profissional por não menos de 5 (cinco) anos.

A leitura atenta dos dispositivos acima não permite que pairem

qualquer tipo de dúvidas.

Merece, registro, que a novel lei acabou por dispensar a

obrigatoriedade de se lavrar escritura pública, que no lugar desta servirá como

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título para transferência da propriedade a carta de alienação, se bem imóvel, ou,

mandado de entrega, se bem móvel.

Ratificando a afirmativa acima, vale a transcrição o esclarecimento do

professor Luiz Fux (FUX, 2009, p. 234):

A alienação, não obstante particular, dispensa escritura pública, fazendo-lhe às vezes a formalização da mesma por termo nos autos, assinado pelo juiz, pelo exeqüente, pelo adquirente e, se for presente, pelo executado, expedindo-se carta de alienação do imóvel para o devido registro imobiliário, ou, se bem móvel, mandado de entrega ao adquirente.

O professor Alexandre Freitas Câmara sustenta que a alienação por

iniciativa particular deve ser preferida à hasta pública, pois esta é sempre mais

benéfica para o executado, senão vejamos (CÂMARA, 2010, p. 314):

Essa forma de alienação deve, mesmo, preferir a hasta pública, como determinou – corretamente – a Lei 11.383/2006, que reformou o livro II do CPC. Isto porque é sabido que as pessoas que freqüentam hastas públicas normalmente lá vão em busca da possibilidade de fazer um “grande negócio”, pretendendo adquirir bens por preço inferior à avaliação (o que se verifica pelo fato de que na prática é quase impossível haver arrematação na primeira hasta pública, em que não se admite lanço inferior à avaliação).

E foi também neste sentido que Luiz Fux defendeu que em breve a

alienação particular substituirá a hasta pública, vejamos (FUX, 2009, P. 235):

Essa desformalização indica que a alienação particular substituirá, na sua generalidade, a anterior hasta pública, que se revelou de pouca transparência e constantemente onerosa para o devedor.

Por derradeiro, registre-se que o parágrafo 3º prescreve que os

Tribunais poderão expedir provimentos, detalhando o procedimento da alienação

por iniciativa particular, inclusive com a utilização de meios eletrônicos, bem como

dispondo sobre o credenciamento dos corretores.

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4.3 ALIENAÇÃO EM HASTA PÚBLICA

Esta forma de expropriação terá cabimento quando o exeqüente não

tiver adjudicado o bem penhorado, tão pouco requerido a alienação por iniciativa

particular.

A alienação em hasta pública “nada mais é do que uma licitação”

(MARQUES apud CÂMARA, 2010, p. 314).

Alexandre Freitas Câmara esclarece ainda melhor a questão, conforme

abaixo (id. ibid):

Onde os bens penhorados serão expropriados (isto é, retirados do patrimônio de seu proprietário), e irão se incorporar ao patrimônio de quem os arrematar, sendo o arrematante aquele que der a melhor oferta pelos bens.

Vale registrar que a hasta pública não foi uma inovação trazida pela Lei

11.382/2006, mas sofreu algumas modificações, que veremos a seguir.

Mister registrar que o Código de Processo Civil aponta a existência de

duas espécies de hasta pública: praça e leilão.

Alexandre Freitas Câmara novamente esclarece a questão, conforme

abaixo (id. p. 317):

A primeira, hasta pública de bens imóveis, realiza-se no átrio do edifício do fórum, e o leilão (hasta pública de bens móveis), no lugar onde estão os bens, ou em outro local designado pelo juiz. Além disso, não se pode esquecer que os títulos que tenham cotação em bolsa serão leiloados pelos corretores da Bolsa de Valores (art. 704).

Neste sentido, vale destacar as modificações constantes do art. 686 do

Código de Processo Civil, in verbis:

Art. 686. Não requerida a adjudicação e não realizada a alienação particular do bem penhorado, será expedido o edital de hasta pública, que conterá: I - a descrição do bem penhorado, com suas características e, tratando-se de imóvel, a situação e divisas, com remissão à matrícula e aos registros; [...] IV - o dia e a hora de realização da praça, se bem imóvel, ou o local, dia e hora de realização do leilão, se bem móvel; [...]

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§ 3º Quando o valor dos bens penhorados não exceder 60 (sessenta) vezes o valor do salário mínimo vigente na data da avaliação, será dispensada a publicação de editais; nesse caso, o preço da arrematação não será inferior ao da avaliação.

Neste dispositivo o legislador fez inserir algumas exceções à regra da

hasta pública no que se refere ao conteúdo necessário ao edital, bem como a

dispensa deste se o valor do bem penhorado não exceder ao equivalente a 60

salários mínimos, tudo com vistas a agilizar o andamento do feito.

Inseriu o parágrafo 2º no artigo 687 do Código de Processo Civil, que

criou a possibilidade de o juiz modificar a forma e a frequência da publicidade na

imprensa, dentre outras providências, desde que atenda ao valor dos bens e às

condições particulares de cada localidade, bem como o parágrafo 5º, que

possibilitou o executado ser intimado da data da alienação na pessoa de seu

advogado, desde que constituído, ou por qualquer outro meio idôneo, senão

vejamos:

Art. 687. O edital será afixado no local do costume e publicado, em resumo, com antecedência mínima de 5 (cinco) dias, pelo menos uma vez em jornal de ampla circulação local. [...] § 2o Atendendo ao valor dos bens e às condições da comarca, o juiz poderá alterar a forma e a freqüência da publicidade na imprensa, mandar divulgar avisos em emissora local e adotar outras providências tendentes a mais ampla publicidade da alienação, inclusive recorrendo a meios eletrônicos de divulgação. [...] § 5o O executado terá ciência do dia, hora e local da alienação judicial por intermédio de seu advogado ou, se não tiver procurador constituído nos autos, por meio de mandado, carta registrada, edital ou outro meio idôneo.

O professor J. E. Carreira Alvim apresenta uma crítica ao disposto no

parágrafo 5º, pois, se o executado, apesar de citado, deixa o processo correr à

revelia, os prazos correrão independentemente de intimação, nos termos do artigo

322 do Código de Processo Civil, na forma que se segue (ALVIM, 2007, p. 154):

Se o executado tiver sido citado pessoalmente para a execução, deixando o processo correr à revelia, não tem sentido venha ele a ser intimado da alienação judicial por mandado, carta registrada ou outro meio idôneo, pois contra o revel, que não tem patrono nos autos, correrão os prazos independentemente de intimação a partir da publicação de cada ato decisório (art. 322).

Outra novidade introduzida no Código de Processo Civil pela Lei

11.382/2006 é a possibilidade de a hasta pública ser realizada através da rede

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mundial de computadores, utilizando-se de páginas criadas pelos Tribunais ou por

outras entidades mediante convênio, nos termos constantes do artigo 689-A.

No entendimento do professor J. E. Carreira Alvim, foi realmente um

grande acerto o legislador ter inserido a possibilidade da utilização da internet

para a prática de atos processuais, na forma que se segue (id, p. 155):

Realmente, a internet deve ser prestigiada, pois, além de constituir a mais fantástica invenção do século XX, possibilita a prática de atos processuais sem os custos dos procedimentos tradicionais, viabilizando inclusive o processo eletrônico, impropriamente chamado virtual.

Já no parágrafo 1º, do artigo 690 do Código de Processo Civil, foi

contemplada a hipótese de ser efetuado lanço mediante pagamento de 30%

(trinta) por cento do valor da avaliação e o saldo remanescente ser garantido por

hipoteca que recairá sobre o próprio imóvel, conforme disciplinado nos parágrafos

seguintes.

Lanço “é a oferta de preço feita pelos participantes da alienação em

hasta pública (praça ou leilão)” (ALVIM, 2007, p. 149).

Na hipótese de o bem vir a ser arrematado, será expedida de imediato

a competente carta de arrematação, que trará a descrição do bem arrematado, a

prova da quitação de impostos, o auto de arrematação e o título executivo,

conforme consta do artigo 703 do Código de Processo Civil.

4.4 USUFRUTO DE BEM IMÓVEL OU DE BEM MÓVEL

Esta última modalidade de pagamento vem disciplinada nos artigos 716

a 724 do Código de Processo Civil.

Luiz Fux apresenta uma definição bem clara quanto a esta modalidade

de pagamento, conforme abaixo (FUX, 2009, p. 256):

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A forma de recebimento do crédito exeqüendo efetiva-se mediante recolhimento gradativo dos frutos dos bens penhorados, deduzindo-se do crédito exeqüendo.

Já Alexandre Freitas Câmara sustenta que o “usufruto de móvel ou

imóvel é meio de satisfação do exequente pela apreensão dos frutos produzidos

por um bem móvel ou imóvel do executado” (CÂMARA, 2010, p. 322).

Com efeito, vale registrar que a instituição do usufruto de bem móvel

ou imóvel possui caráter pro solvendo, que significa que a instituição, por si só,

não é capaz de extinguir a dívida (id., p. 325).

E esclarece ainda com mais precisão a questão, vejamos (id. ibid):

Verifica-se, pois, que o usufruto deve perdurar até que haja a completa satisfação do crédito exeqüendo, o que demonstra que não é ele instituído pro soluto, mas sim em caráter pro solvendo.

E Luiz Fux defendendo o mesmo entendimento, conforme se segue

(FUX, 2009, p. 255):

Essa quarta modalidade de pagamento distingue-se das anteriores porquanto é paulatina, operando-se pro solvendo e não pro soluto como ocorre com a entrega do dinheiro ou da coisa.

O artigo 716 do Código de Processo Civil assim dispõe:

Art. 716. O juiz pode conceder ao exeqüente o usufruto de móvel ou imóvel, quando o reputar menos gravoso ao executado e eficiente para o recebimento do crédito.

Portanto, o usufruto de bem móvel ou imóvel prescinde do requisito de

ser este o meio menos gravoso para o executado, bem como seja um meio

eficiente para o recebimento do crédito.

Alem dos requisitos acima citados, o legislador dispôs no artigo 721 do

Código de Processo Civil, um requisito temporal, que preconiza que o exeqüente

deverá requerer o usufruto de bem móvel ou imóvel antes de ocorrer a hasta

pública, conforme abaixo:

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Art. 721. E lícito ao credor, antes da realização da praça, requerer-lhe seja atribuído, em pagamento do crédito, o usufruto do imóvel penhorado.

Alexandre Freitas Câmara afirma que apesar do dispositivo acima ter

se limitado a falar em usufruto do imóvel penhorado, este aplica-se,

analogicamente, ao usufruto de bem móvel (CÂMARA, 2010, p. 323).

O último dos requisitos para a concessão desta modalidade é a

necessidade da prévia oitiva do executado, conforme consta do artigo 722 do

Código de Processo Civil.

Muito embora, mesmo nos casos em que o executado não manifeste

concordância, poderá ainda assim o juiz deferir o usufruto, desde que seja

verificada a sua eficiência e que seja a forma menos gravosa ao executado.

Mister registrar que o professor Alexandre Freitas Câmara flexibiliza a

regra prevista no artigo 721 do Código de Processo Civil, que trata do requisito

temporal, ao afirmar que “não parece de todo descabido, porém, admitir-se que o

requerimento seja feito depois de realizada a hasta pública sem que tenha havido

lançador” (CÂMARA, 2010, p. 323).

E fundamenta tal entendimento na forma que se segue (id. ibid):

Basta lembrar que o exeqüente não está obrigado a requerer a adjudicação ou a alienação por iniciativa particular. Ora, não tendo havido lançador, e não sendo requerida a adjudicação ou a alienação por iniciativa particular, estar-se-ia diante de um impasse, pois seria árduo para o Estado-Juiz conseguir realizar a tarefa a que se propusera, de realizar o crédito exeqüendo. Entendemos, assim, possível ao exeqüente, nesta hipótese, requerer a instituição do usufruto de móvel ou imóvel mesmo depois da hasta pública.

Vale registrar, ainda, que Luiz Fux defende o mesmo entendimento,

conforme abaixo (FUX, 2009, p. 256):

Em primeiro lugar, o usufruto deve ser requerido dentre as formas de expropriação previstas no art. 647 do CPC. Mas, nada obsta que, pagando as despesas, como, v.g., a dos editais, o exeqüente manifeste essa opção, após a escolha de outra via.

Outro dispositivo introduzido pela Lei nº 11.382/2006 foi o artigo 724 do

Código de Processo Civil, que prevê expressamente que o exeqüente usufrutuário

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poderá alugar o imóvel, mediante a oitiva do executado, e, caso haja alguma

discordância, o juiz decidirá a melhor forma de fruição do usufruto, conforme

abaixo:

Art. 724. O exeqüente usufrutuário poderá celebrar locação do móvel ou imóvel, ouvido o executado. Parágrafo único. Havendo discordância, o juiz decidirá a melhor forma de exercício do usufruto.

Neste sentido segue abaixo comentário sobre o dispositivo acima

citado (NEVES apud ALVIM, 2007, p. 191):

Embora usufrutuário, não tem o exeqüente a livre disposição quanto à destinação a ser dada ao imóvel gravado, à diferença do que acontece sob a disciplina estrita do direito material. É que no outro pólo da relação está o interesse do executado, a cuja proteção o usufruto judicial também se destina, precipuamente quanto às rendas que o prédio possa e deva produzir, após a extinção do usufruto.

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CAPÍTULO V

SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO

Da mesma forma que no processo de conhecimento, o processo de

execução pode se deparar com situações, ainda que transitórias, que culminam

com sua suspensão ou até mesmo sua extinção.

5.1 SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO

À semelhança do processo de conhecimento, a execução pode ter o

seu andamento suspenso pelos fatos que se sucedem por motivos inerentes ao

próprio processo executório.

A Lei nº 11.382/2006 modificou exclusivamente o inciso I do artigo 791

do Código de Processo Civil, que cuida das hipóteses de suspensão da

execução, nos termos abaixo:

Art. 791 – Suspende-se a execução: I – no todo ou em parte, quando recebidos com efeito suspensivo os embargos à execução (art. 739-A); II – nas hipóteses previstas no art. 265, I a III; III – quando o devedor não possuir bens penhoráveis.

Neste sentido vale a transcrição abaixo (CARNELUTTI apud ALVIM,

2007, p. 228):

A suspensão não passa de uma pausa que se confere à sucessão dos atos componentes do processo executório, durante o qual nenhum dos sujeitos processuais exerce qualquer atividades, e que, ao ser reiniciado, vai ligar o primeiro ato nessa nova fase àquele último praticado na fase anterior, como se não tivesse havido pausa.

Com efeito, vale registrar que a hipótese prevista no inciso I do artigo

791 do Código de Processo Civil fica adstrita às regras do artigo 739-A do mesmo

diploma legal, que dispõe que, via de regra, os embargos não possuem efeito

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suspensivo, salvo quando relevantes os fundamentos do requerimento formulado

pelo executado.

O inciso II do artigo 791 do Código de Processo Civil tratou das

hipóteses previstas no artigo 265, incisos I a III do mesmo diploma legal.

Neste sentido vale a transcrição do artigo 265 e incisos I, II e III do

Código de Processo Civil, in verbis:

Art. 265. Suspende-se o processo: I - pela morte ou perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou de seu procurador; II - pela convenção das partes; III - quando for oposta exceção de incompetência do juízo, da câmara ou do tribunal, bem como de suspeição ou impedimento do juiz; [...]

Esclarecendo a questão, vale à colação a lição de Alexandre Freitas

Câmara, que assim dispõe (CÂMARA, 2010, p. 417):

Assim, por exemplo, suspenso o módulo processual executivo (pela morte do exeqüente, por exemplo), não se pode praticar nenhum ato processual, mas deverá o juiz determinar a citação (ou intimação, conforme o módulo tenha natureza de processo autônomo ou de fase executiva de um processo sincrético) do executado, se verificar que o prazo prescricional está próximo de seu termo final, e que postergar a citação (ou intimação) para depois da habilitação do espólio do demandante poderia implicar a extinção do direito subjetivo.

Quanto ao disposto no inciso III do artigo 791 do Código de Processo

Civil, deve ser registrado que este está umbilicalmente ligado ao princípio da

utilidade da execução, que preconiza que a execução deverá ser suspensa

quando o devedor não possuir bens penhoráveis.

Neste sentido vale colacionar o ensinamento de Luiz Fux, na forma que

se segue (FUX, 2009, p. 82):

É que sem bens a serem expropriados torna-se inviável fazer valer a

responsabilidade patrimonial com a expropriação dos bens do devedor para satisfazer o

credor, que é a causa finalis da execução por quantia certa.

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Por seu turno, o artigo 792 do Código de Processo Civil, dispõe que

quando convir às partes, o juiz declarará suspensa a execução durante o prazo

concedido pelo credor a fim de que o devedor cumpra voluntariamente a

obrigação e, caso esta não venha a cumprida, a execução retomará seu

andamento normal.

Neste sentido, colacionam-se as decisões abaixo que tratam com

clareza a questão acima:

EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. ACORDO COM PARCELAMENTO DO DÉBITO E PEDIDO DE SUSPENSÃO DO PROCESSO. EXTINÇÃO DO FEITO POR FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL.1. A possibilidade de suspensão do processo, por convenção das partes, está expressamente prevista no art.792, do CPC. 2. Esgotado o prazo sem o cumprimento do pacto, o processo retomará seu curso normal. 3. O requerimento, em petição conjunta, de suspensão do processo até o cumprimento do ajuste celebrado entre as partes, importa na suspensão do processo, não autorizando a extinção da execução. 4. Anulação da sentença para permitir a suspensão do processo até o final do prazo fixado para o adimplemento da obrigação. (TJ/RJ; 8ª Câmara Cível; Relatora: Desembargadora Mônica Costa Di Piero; AC 0020418-94.2009.8.19.0209; D.O de 06/07/2010; http://www.tjrj.jus.br/. Acesso em 20/07/2010).

APELAÇÃO CÍVEL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. ACORDO PARA PAGAMENTO PARCELADO DO DÉBITO. DESCABIMENTO DA EXTINÇÃO DO FEITO. Na hipótese de acordo para parcelamento do débito, não cabe a extinção da execução, pois inviabilizaria o prosseguimento do feito, caso haja inadimplência. Cabível a suspensão da execução. Inteligência do art. 792 do CPC. Sentença cassada. Recurso provido. (TJ/RJ; 11ª Câmara Cível; Relator: Desembargador Cláudio de Mello Tavares; AC 0127135-75.2009.8.19.0001; D.O de 12/07/2010; http://www.tjrj.jus.br/. Acesso em 20/07/2010).

5.2 EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO

Toda execução tem finalidade satisfazer o credor.

Neste sentido, trata o artigo 794 do Código de Processo Civil das

hipóteses de extinção da execução, que terá cabimento quando o devedor

satisfizer a obrigação perante o credor, quando o devedor obtiver a remissão total

da dívida ou então quando o credor renunciar ao crédito, na forma abaixo:

Art. 794. Extingue-se a execução, quando: I – o devedor satisfaz a obrigação;

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II – o devedor obtém, por transação ou por qualquer outro meio, a remissão total da dívida; III – o credor renunciar ao crédito.

Neste sentido, colaciona-se a decisão abaixo que trata com clareza a

questão acima:

AGRAVO INTERNO. RATIFICAÇÃO DA DECISÃO MONOCRÁTICA POR SEUS PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. "PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. FASE EXECUTÓRIA. SENTENÇA DE EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO, COM BASE NO ARTIGO 794, I DO CPC. INCONFORMISMO DAS APELANTES COM CÁLCULO APRESENTADO PELA APELADA. EXCESSO DE EXECUÇÃO. PRECLUSA A DISCUSSÃO DA MATÉRIA, HAJA VISTA O JULGAMENTO DO RECURSO INTERPOSTO CONTRA A DECISÃO QUE DETERMINOU O SEGUIMENTO DA EXECUÇÃO, COM A PENHORA ONLINE, DA QUANTIA SOBRE A QUAL A DEVEDORA TINHA CIÊNCIA, ALÉM DO TRÂNSITO EM JULGADO DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO. EXECUTADA QUE PROSSEGUIU NO FEITO, IMPUGNANDO O VALOR COBRADO, A DESTEMPO E SEM INDICAR O VALOR QUE ENTENDIA CORRETO. SEGUIMENTO QUE SE NEGA AO RECURSO, NA FORMA DO DISPOSTO NO ARTIGO 557 DO CPC”. DESPROVIMENTO DO RECURSO. (TJ/RJ; 17ª Câmara Cível; Relator: Desembargador Custodio Tostes; AC 0000619-43.2004.8.19.0079; D.O de 15/07/2010; http://www.tjrj.jus.br/. Acesso em 20/07/2010).

O professor Luiz Fuz sustenta, ainda, que além das hipóteses

expressamente elencadas no artigo 794 do Código de Processo Civil, a execução

igualmente se extingue quando os embargos são acolhidos e a referida decisão

transita em julgado (FUX, 2009, p. 83).

E continua sua lição quanto à questão (id. Ibid):

A extinção da execução, quer pelo julgamento dos embargos acolhidos quer

por força desses motivos enunciados, reclama sentença sujeita à apelação, salvo se a

extinção for parcial, hipótese em que essa decisão interlocutória será agravável sob a

forma de recurso por instrumento.

Vale registrar, ainda, que o artigo 795 do Código de Processo Civil

dispõe que a extinção da execução somente produzirá efeitos quando for

declarada por sentença.

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CONCLUSÃO

A presente monografia analisou o novo procedimento da ação de

execução fundada em título executivo extrajudicial introduzido pela Lei nº

11.382/2006, de 6 de dezembro de 2006.

Assim sendo, este estudo dedicou-se a analisar as modificações

introduzidas ao procedimento da ação de execução por título extrajudicial, tendo

tomado como parâmetro inicial para o desenvolvimento do trabalho a ordem da

realização dos atos processuais tal como ocorrem na prática, mas que, nem

sempre, seguem a ordem numérica dos artigos da novel legislação.

Por outro lado, há que se ressaltar, que em determinados momentos,

houve a necessidade de citar artigos que não foram modificados pela Lei nº

11.382/2006, com vistas a não perder a lógica a que este trabalho se propôs a

realizar, mas também foi necessário deixar de citar alguns artigos para não

desvirtuar da questão central.

Nos termos desta monografia e não perdendo de vista os limites acima

citados, este trabalho reuniu o entendimento de juristas por meio da análise

sistemática de obras específicas sobre o tema e que foram publicadas por

aqueles.

Além de tal fato, o trabalho inseriu no decorrer da exposição da

pesquisa realizada, o entendimento jurisprudencial mais recente que existe no

Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro e no Superior Tribunal de Justiça,

mediante a inserção no corpo da monografia de julgados atinentes à questão

então exposta quanto ao procedimento da ação de execução.

O primeiro capítulo tratou de indicar os títulos extrajudiciais que são

indicados nos incisos do artigo 585 do Código de Processo Civil como hábeis e

indispensáveis para que possa ocorrer a propositura da ação execução.

Apresentou o entendimento dos doutrinadores quanto à conseqüência de

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eventual ausência de título na ação, bem como colacionou decisões que ratificam

as considerações apresentadas ao longo deste primeiro capítulo.

O trabalho apontou em seu segundo capítulo os requisitos necessários

para que o credor inicie a ação de execução fundada em título extrajudicial, além

dos atos processuais que se sucedem, tais como pedido para citação do

executado, identificou as situações que podem ocorrer quando da realização da

citação por parte do oficial de justiça. A monografia apontou, ainda, as

modificações inseridas ao procedimento quanto às normas para que se proceda à

penhora de bens do executado e a conseqüente avaliação dos bens. Dentre

tantas novidades da Lei nº 11.382/2006, foi destacado a inserção da possibilidade

de o executado requerer o parcelamento de seu débito em até 6 parcelas, em

uma verdadeira tentativa que o legislador inseriu na Lei para ajudar e incentivar o

executado a honrar sua obrigação.

Dentro do terceiro capítulo desta monografia foi analisado

especificamente todo o procedimento relativo à defesa do executado constante da

Lei nº 11.382/2006. O presente trabalho destacou o novo prazo que o executado

possui para apresentação da defesa, indicou o ato processual que dá início à

contagem daquele prazo, além de abordar possíveis exceções quanto ao início de

fruição daquele. Apresentou, ainda, os requisitos que o executado deve atentar

para poder realizar sua defesa, bem como as matérias que exclusivamente

devem versar sua defesa. Vale a repetição, de acordo com o desenvolvimento

das questões, foi apresentado os comentários dos doutrinadores e jurisprudências

atinentes ao caso.

Dando prosseguimento ao trabalho, no quarto capítulo a monografia

abordou o procedimento previsto para que ocorra a fase de expropriação de bens

penhorados do executado, além de comentar as formas com que o exeqüente

dispõe para viabilizar o recebimento do que lhe é devido.

Por derradeiro, o quinto e último capítulo tratou das hipóteses da

suspensão e extinção da ação de execução fundada em título executivo

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extrajudicial, colacionando o entendimento defendido pelos doutrinadores, bem

como apresentando jurisprudência relativa ao caso.

Após toda a exposição e análise do novo procedimento imposto à ação

de execução fundada em título extrajudicial, bem como da análise do

entendimento apresentado pelos doutrinadores, além das razões aduzidas pelas

jurisprudências aqui colacionadas, o trabalho concluiu que a Lei nº 11.382/2006

teve por objetivo central otimizar a tramitação dos processos no sentido de tentar

garantir que o exeqüente enfrente cada vez menos incidentes processuais

meramente protelatórios, bem como buscou incentivar o executado a cumprir sua

obrigação, sem, porém, deixar de dispor quanto à possibilidade de se aplicar

punição quando atente contra ao regular andamento do processo e conseqüente

à dignidade da justiça.

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BIBLIOGRAFIA

ALVIM, J. E. Carreira. Nova Execução de Título Extrajudicial. Curitiba: Juruá

Editora, 2007.

CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. v. 2. 18. ed. Rio

de Janeiro: Editora Lúmen Juris, 2010.

FUX, Luiz. Curso de Direito Processual Civil. v. 2. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora

Forense, 2009.

BRASIL. Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. Institui o Código de Processo

Civil. Atualizada até a Lei nº 12.125, de 16 de dezembro de 2009.

BRASIL. Lei nº 11.382, de 6 de dezembro de 2006. Altera dispositivos da Lei nº

5.869, de 11 de janeiro de 1973 – Código de Processo Civil, relativos ao processo

de execução e outros assuntos.

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ÍNDICE

RESUMO................................................................................................................ 5

METODOLOGIA..................................................................................................... 6

SUMÁRIO............................................................................................................... 7

INTRODUÇÃO........................................................................................................ 9

CAPÍTULO I

DOS TÍTULOS EXECUTIVOS.............................................................................. 11

CAPÍTULO II

INÍCIO DA EXECUÇÃO POR TÍTULO EXTRAJUDICIAL................................... 14

2.1 CITAÇÃO DO EXECUTADO.......................................................................... 16

2.2 PENHORA DE BENS DO EXECUTADO....................................................... 17

2.3 AVALIAÇÃO DOS BENS PENHORADOS.................................................... 22

CAPÍTULO III

DA DEFESA DO EXECUTADO........................................................................... 25

3.1 DOS EMBARGOS DO DEVEDOR................................................................. 25

3.2 DOS EMBARGOS À EXECUÇÃO................................................................. 32

CAPÍTULO IV

FASE DE EXPROPRIAÇÃO DE BENS............................................................... 36

4.1 ADJUDICAÇÃO DOS BENS PENHORADOS............................................... 37

4.2 ALIENAÇÃO POR INICIATIVA PARTICULAR.............................................. 38

4.3 ALIENAÇÃO EM HASTA PÚBLICA.............................................................. 40

4.4 USUFRUTO DE BEM IMÓVEL OU DE BEM MÓVEL................................... 42

CAPÍTULO V

SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO..................................................... 46

5.1 SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO...................................................................... 46

5.2 EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO.......................................................................... 48

CONCLUSÃO....................................................................................................... 50

BIBLIOGRAFIA.................................................................................................... 53