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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS – GRADUAÇÃO ´´LATO SENSU`` PROJETO A VEZ DO MESTRE RECREIO ESCOLAR X MOVIMENTO CORPORAL Por: Cíntia Alves de Alcântara Araújo Orientador Prof. MS Fátima Alves Rio de Janeiro 2011

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS – GRADUAÇÃO ´´LATO SENSU``

PROJETO A VEZ DO MESTRE

RECREIO ESCOLAR X MOVIMENTO CORPORAL

Por: Cíntia Alves de Alcântara Araújo

Orientador

Prof. MS Fátima Alves

Rio de Janeiro

2011

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

FACULDADE INTEGRADA AVM

RECREIO ESCOLAR X MOVIMENTO CORPORAL

Apresentação de monografia à Universidade Candido

Mendes como requisito parcial para obtenção do grau

de especialista em....

Por: Cintia Alves de Alcântara Araujo Teixeira

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AGRADECIMENTOS

A Deus por ter nos dado forças para

ultrapassar os obstáculos desta

caminhada árdua, concretizando mais

uma de suas promessas em nossa

vida.

Ao Guilherme, esposo e aos meus

filhos pela compreensão nos momentos

de ausência, pelo auxílio nos

momentos de pesquisas e pelo carinho

nos momentos de cansaço.

Aos meus mestres, meus sinceros

agradecimentos.

Aos meus queridos alunos pela

inspiração e concretização de que vale

a pena ainda ser educador.

Com a ajuda de vocês venci!

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DEDICATÓRIA

Na caminhada pela estrada da vida a

conquista de sonhos nos requer acreditar,

ter fé e seguir em frente. Sem Deus, seria

impossível! Muito obrigada por iluminar os

meus passos em todos os projetos da minha

vida.

Ao meu marido Guilherme, pela ajuda

diária, carinho e amor.

Aos meus filhos Raquel e Davi pela

compreensão das muitas ausências.

Aos meus familiares pela força e

encorajamento.

Aos amigos pela cooperação nas minhas

pesquisas.

Sem vocês sei que todo percurso desta

jornada seria impossível. Muito obrigada a

vocês!

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RESUMO

Este trabalho de pesquisa monográfica trata do Recreio escolar X

Movimento Corporal um espaço de oportunidade lúdica corporal, culminando em

experiências físicas, pessoais e interpessoais, com uma descarga de tensões

tanto de alunos quanto de professores, como um espaço rico que estimula a

organização e construção do pensamento, a expressão de idéias e que possui

benefícios por estimular independência, a atenção, o conhecimento ao movimento

corporal, valores morais e sociais dentre outros. Questiona-se a verdadeira

finalidade do recreio escolar. Fica evidente que algumas crianças precisam ser

direcionadas neste momento que deveria ser de lazer. Pretende-se apresentar

aos profissionais que atuam com crianças a importância do desenvolvimento

psicomotor como mediação pedagógica durante o recreio, contribuindo com

sugestões de jogos e brincadeiras, enfatizando a contribuição do brincar e das

brincadeiras para o desenvolvimento global da criança. O recreio escolar é um

espaço rico por propiciar às crianças vários contextos históricos e sociais. Cabe

aos educadores guiar a criança no processo de construção do aprendizado que

também ocorre durante o recreio. A atuação do educador no recreio escolar

consiste em observar, atuar, interagir e indagar para propiciar uma educação para

o movimento.

Palavras-chave: Recreio escolar; Ludicidade: Movimento Corporal;

Psicomotricidade; Brincar; Educador-transformador.

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METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa em uma abordagem qualitativa, sendo utilizado

o objetivo de analisar e descrever como ocorre o desenvolvimento relacional e do

movimento corporal da criança do Ensino Fundamental ao longo do recreio

escolar. Tendo também como objetivo levar os profissionais que atuam na escola

a responsabilidade de estimular a criatividade, fornecendo recursos materiais e

físicos adequados para os alunos se conscientizarem da importância do recreio

escolar como uma cultura lúdica.

Tivemos como referencial teórico as contribuições de Philippe Ariès, Jean

Piaget, Vygotsky, Maria Montessori, Henri Wallon, Gilda Rizzo e Sônia Kramer,

dentre outros que enfatizam a importância do movimento corporal da criança no

desenvolvimento do âmbito escolar.

É a partir de jogos e brincadeiras lúdicas que passamos a conhecer o

próprio corpo, sua função e principalmente sua importância para o

desenvolvimento corporal.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I – DELINEANDO A CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA AO LONGO DA HISTÓRIA

8 11

CAPÍTULO II – A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA E DO BRINCAR PARA O DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA.

25

CAPÍTULO III – SUGESTÕES DE BRINCADEIRAS E JOGOS A SER USADO NO RECREIO ESCOLAR

43

CONCLUSÃO ÍNDICE DE ANEXO

49 51

ANEXO BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ÍNDICE FOLHA DE AVALIAÇÃO

52 59 61 62

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INTRODUÇÃO

O brincar livremente é necessário para as crianças, nesse as relações

sociais se fortificam e as crianças aprendem a lidar com as regras estabelecidas,

despertando uma reflexão sobre a importância do movimento corporal no

processo formativo do ser humano. O que se torna um aprendizado para a

incorporação das regras sociais. Todavia, se o educador em alguns dias da

semana traçar uma mediação pedagógica para esse momento, muitas das

dificuldades enfrentadas pelos alunos em sala de aula podem ser minimizadas

através de brincadeiras com objetivo de uma educação para o movimento. Além

disso, o Recreio Escolar pode favorecer ao educador momentos de observação

do desenvolvimento infantil muitas vezes, mais ricos do que os encontrados em

sala de aula. O resultado dessa observação se converte em um material

importantíssimo para a avaliação do professor.

Dessa forma, é sobre a questão do Recreio Escolar X Movimento Corporal

que a presente monografia se debruça. Essa questão é decorrente de um esforço

constante de reflexão e observação das brincadeiras realizadas pelas crianças e

da postura dos professores no âmbito escolar, porém com um olhar voltado para

o recreio escolar.

O desejo de investigação desse tema de pesquisa monográfica se

entrelaça ao observar o recreio das escolas em São Gonçalo que em sua maioria

apresenta uma quantidade considerável de brigas e acidentes causados pelas

brincadeiras das crianças, cabe ressaltar que geralmente, as brincadeiras de

correr são as preferidas, ocasionando acidentes e confusões.

Como o corpo pode ser usado no âmbito escolar? Os alunos muitas vezes

fazem uso inadequado do recreio escolar, valendo-se de correrias, brincadeiras

perigosas de lutas e o famoso jogo de futebol com latinhas e outros objetos. Um

recreio conflituoso, com intrigas e eventuais acidentes, não podem demonstrar

que não tem consciência do ato de brincar.

Na visão de muitos educadores a brincadeira e o estudo ocupam espaços

distintos na vida das crianças. O recreio foi feito para brincar e a sala de aula para

estudar. Mas, a quem cabe o papel de interagir com os alunos durante o recreio,

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de enriquecer o universo infantil através das brincadeiras, e proporcionar

momentos de aprendizagem, ludicidade e prazer, integração entre os espaços,

um ambiente mais saudável e que vise a construção de melhores

desenvolvimentos corporais?

Tendo claro que não interessa transformar as brincadeiras do recreio em

instrumento didático, a pergunta central é: De que forma a escola e o professor

podem interagir no movimento corporal espontâneo, e como promover durante o

recreio escolar a construção do desenvolvimento da psicomotricidade?

Esta questão está sustentada na hipótese de que faltam ações mais

significativas e conhecimento da Psicomotricidade para transformar o período de

recreio num momento lúdico e de maior organização pedagógica. Poderia se

valorizar o recreio para sensibilizar os adultos para a necessidade de deixar as

crianças brincarem, movimentarem-se e expressarem-se livremente, como forma

de investir e apostar em seu crescimento, desenvolvimento, aprendizagem e,

essencialmente, em sua felicidade. Ainda pelo resgate da concepção de infância

onde a criança tem o direito de ser criança.

O objetivo da pesquisa é levar os profissionais que atuam na escola a

repensarem sobre a finalidade do recreio como oportunidade de uma expressão

corporal global. Deixar a criança livre na hora do recreio é importante, mas isso

não tira da escola e dos professores a responsabilidade de estimular a educação

para o movimento, assim como fornecer recursos físicos e materiais adequados.

Uma vez ressaltada a importância do Recreio Escolar para

expressar o movimento corporal, cabe à escola oferecer meios para a construção

da cultura lúdica em seus alunos. Se não há o espaço da rua, que a escola

ofereça o do pátio. Se a criança não tem tempo ou vive isolada, que a escola crie

este tempo e propicie esta interação em seu programa.

Assim, esta monografia baseou-se em uma abordagem qualitativa como

técnica recorreu a pesquisa bibliográfica.

Os autores convidados para esse diálogo foram Jean Piaget, Vygotsky,

Maria Montessori, Henri Wallon, Fátima Alves, Esteban Levin, Jean Le Boulch.

Esses foram escolhidos, pois são referenciais na área e muito contribuíram para

meu estudo.

Assim, esse trabalho apresenta três capítulos. No primeiro capítulo, há

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como a concepção de infância foi se delineando ao longo da história e como se

apresenta hoje. Esse movimento é importante, pois é a partir do surgimento de

concepção infantil que a criança passa a ter o direito de ser criança e,

conseqüentemente, o direito de brincar.

O segundo capítulo enfatiza a importância da brincadeira e do brincar para

o desenvolvimento global da criança e aponta como a mediação do professor é

importante no âmbito escolar.

O terceiro capítulo incorpora sugestões de brincadeiras e jogos a serem

usados no Recreio Escolar.

A conclusão aborda as principais idéias discutidas no transcorrer dessa

monografia através de questionamentos sobre o aproveitamento do espaço

escolar, e principalmente o resgate das emoções e brincadeiras tais como:

piques, queimados, pular corda, bandeirinha, amarelinha e etc.

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CAPÍTULO I

Delineando A Concepção de Infância ao Longo da

História

Para compreendermos as mais recentes configurações impostas à infância,

faço uma trajetória retrocedendo ao passado, buscando nos aspectos históricos

algumas respostas e extraindo acontecimentos registrados referente à concepção

de infância em diferentes períodos, culminando nos dias atuais.

Para iniciar minha trajetória, reporto-me as referências históricas sobre a

criança obtidas em nossos dias, materializadas pela existência de pinturas, essa

se constitui numa valiosa fonte de pesquisa para os estudos da sociedade,

deixando-nos um legado de impressões e vestígios úteis que auxiliam no

desvelamento dos acontecimentos no passado.

Ariès (1981) corrobora com essa discussão ao nos colocar a par de que

por volta do século XII, a infância era desconhecida pela arte medieval ou não

havia tentativa em representá-la, sendo bem provável a ausência de um lugar

para a infância nessa época. Os artistas impunham aos corpos das crianças uma

deformação exacerbada, bem distante de nosso sentimento e de nossa visão.

Até o fim do século XIII, não existiam crianças com características por uma

expressão particular, no entanto, eram representadas como um adulto.

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XXIV - “As Meninas”/detalhe – séc. XVII ( Velasquez)

Os homens dos séculos X – XI não interessavam-se com a imagem da

infância e nem mesmo com a realidade. Leva-nos a concluir, que não apenas na

transposição estética, assim como na vida real, a infância era um período de

transição, ultrapassada e com uma lembrança perdida.

XXIII - “O mundo às avessas” - séc. XVII ( Jan Steen)XXIII -

Sob a representação de um rapaz muito jovem, surgiu o anjo. As crianças

maiores eram educadas para ajudar na realização das missas, sendo destinadas

a uma espécie de seminaristas em uma época em que apenas a escola latina

destinava-se à formação dos clérigos.

Vale ressaltar o modelo de todas as crianças pequenas da história da arte,

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o Menino Jesus, ou Nossa senhora menina, a infância nesse momento ligava-se

ao mistério da maternidade da Virgem e ao culto de Maria.

XIII ( DuccioX - “N. Sra. Com o menino e dois anjos” - séc.)

Apareceu na fase gótica outro tipo de criança: a criança nua. O Menino

Jesus nunca era representado despido, assim como as crianças de sua época,

apareciam enrolados em cueiros ou vestidos com uma camisa ou uma camisola.

Só se despiu no final da Idade Média.

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XIV - “A virgem e a Criança” - séc. XV ( ª Baldovinetti)

A infância religiosa deixou de limitar-se à infância de Jesus, surgindo às

outras infâncias santas.

Nos séculos XV e XVI destacou-se uma iconografia laica, a criança já não

era mais representada sozinha, tornando-se uma das personagens das pinturas

anedóticas, sendo retratada com sua família, com seus companheiros de jogos

que, na maioria das vezes, eram adultos, a criança na multidão, mas no colo de

sua mãe ou segura pela mão, ou brincando, no meio do povo, assistindo os

milagres ou os martírios, acompanhando os ritos litúrgicos, ou ainda a criança na

escola.

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XVII – Detalhe do tríptico da Crucificação – séc. XV ( Juste de Grand)

As crianças eram misturadas com os adultos, os pintores gostavam de

representar a criança por sua graça ou por seu pitoresco (desenvolvidos nos

séculos XV e XVI ) conscindindo com o sentimento da infância “engraçadinha” ).

No século XV surgiram mais dois tipos de representação da infância: o

retrato e o putto. A criança não estava ausente da Idade Média, a partir do século

XIII, mas não era modelo de um retrato de uma criança real como aparecia no

momento de sua vida.

Nas efígies funerárias a criança só apareceu no século XVI, não em seu

túmulo ou de seus pais, mas no de seus professores. Não se conservava o retrato

de uma criança que tivesse sobrevivido (o índice de mortalidade infantil era

significativo) e tornado um adulto.

O cristianismo passou a respeitar na criança batizada a alma imortal.

Durante muito tempo conservou-se o hábito de enterrar no jardim de casa, as

crianças mortas sem batismo. Como já foi dito no século XVI apareceu o retrato

de uma criança morta em efígie funerária, sendo um marco importante na história

dos sentimentos, visto que inicialmente a criança não era representada sozinha,

porém inicialmente sobre o túmulo de seus professores e posteriormente, sobre o

de seus pais.

De acordo com a leitura de Ariès (1981), no final do século XVI a criança

passa a ser representada com um traje peculiar à sua faixa etária, de vestido e

touca. Até o século XIII o traje da época deixava evidente que a infância não tinha

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sua particularidade (respeitada) na vida real. A criança deixava de usar os cueiros

– a faixa de tecido que era enrolada em torno de seu corpo e prontamente era

vestida como os adultos.

A Idade Média não vestia de forma distinta as classes de idade, havia

apenas a preocupação em manter os degraus da hierarquia social através da

roupa. No século XVII, a criança de boa família, sendo nobre ou burguesa, não se

vestia mais como os adultos, tendo um traje correspondente a sua idade,

distinguindo-se dos adultos.

A diferenciação de trajes não correspondia às meninas, ao se livrar dos

cueiros eram vestidas como mulherezinhas.

XXV- “Duas Meninas” - séc. XVII (Luis Le Naim)

Partindo do século XIV, onde a criança era vestida como um adulto chega-

se ao traje que nos é familiar, mudança essa que afetou os meninos

primeiramente. As meninas permaneceram por um bom tempo no modo de vida

tradicional confundindo-se com os adultos. Porém, as crianças consideradas do

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povo, os filhos dos camponeses e dos artesões, as crianças que brincavam nas

praças das aldeias, nas ruas das cidades ou nas cozinhas das casas passaram

por uma exclusão, pois permaneceram no modo antigo de vida, tratados como

adultos mirins através dos trajes, do trabalho, dos jogos e brincadeiras.

Considerando a arte como fonte documental portadora de infância e de

significados, podemos observar que a concepção de infância pode ser

considerada a partir de uma noção histórica e culturalmente construída, a qual

sofreu e sofre alterações. Em cada época houve um discurso revelando em sua

essência os ideais e expectativas depositadas na criança, trazendo-lhes

conseqüências. A concepção de infância é recente e surge com a noção de

família e no desenvolvimento da educação escolar a partir do século XVII. Antes

do século XVII, a criança era afastada de seus pais, vivendo em outra casa para

aprender um ofício, mediante a participação no dia-a-dia dos que o praticavam.

Seguindo uma forma de organização social da família tradicional, a fase da

“infância” tinha uma curta duração, restringindo-se apenas a sua fragilidade física.

Ao adquirir certa independência, era de imediato conduzido ao convívio adulto,

compartilhando de seus trabalhos e jogos de adultos, sem estar plenamente

preparada física e psicologicamente.

O advento da industrialização modifica o relacionamento entre o adulto

burguês e seus filhos, aproximando do sentimento de infância da atualidade. O

sentimento de família começa a vigorar, a família se organiza em torno do filho e

as crianças saem do anonimato. Nos séculos XVII e início do século XVIII, a

família se recolhe para dentro de casa, sendo assim, a casa passa a ter espaços

internos e obedece a uma funcionalidade. Nesta mesma época nota-se um

sentimento superficial sobre a criança denominada de “paparicação”, reservada a

ela durante os seus primeiros meses de existência. Apesar dessa aparente

atenção e sentimentos fraternos, sua inocência, ingenuidade e graciosidade

tornavam-na um instrumento de diversão.

Em fins do século XVII, sentiu-se também a necessidade da criação de

escolas como um dos mecanismos de fornecimento da formação inicial das

crianças, tendo como objetivo o domínio da leitura, escrita e aritmética como mais

um artifício de introdução à vida adulta. A escola substitui então, a aprendizagem

obtida pela observação dos mais experientes.

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XXVII - “O Mestre-Escola – séc. XVII (Adien van Ostade)

O advento da escola moderna atrela-se ao surgimento de um novo

sentimento do adulto para com as crianças, implicando em cuidados especiais.

Processo esse atrelado ao movimento de moralização promovido pelos

reformuladores católicos e protestantes, endossados pela cumplicidade

sentimental das famílias, numa afeição entre cônjuges, entre pais e filhos.

Na pedagogia cristã, o olhar sobre a infância tinha no pensamento de

santo Agostinho a concepção de criança como sendo fruto do “pecado original”,

manchada pelas culpas impostas por este.

Na Idade Moderna, surge a teoria revolucionária de Rousseau sobre a

natureza da criança. Preconizava que a criança era como um ser naturalmente

bom, ou seja, que nasce sem o “pecado original”. Ressaltando o que esta tem de

belo, bom e produtivo.

A infância sempre existiu desde os primórdios da humanidade, mas a sua

percepção enquanto construção e categoria social, repleta de representação e

ressignificação é notável somente a partir dos séculos XVII e XVIII.

No período da Revolução Industrial, ocorrido entre os séculos XVIII e XIX,

direcionou-se um novo olhar sobre a infância. No Brasil Império, em 1851 a Lei de

Nº 630 inclui a ginástica nos currículos escolares. Preconiza a obrigatoriedade da

Educação Física nas escolas primárias de secundárias praticada quatro vezes por

semana durante trinta minutos, dando às crianças um desenvolvimento corporal

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ainda limitado. As crianças das classes populares passaram a ser vistas como

tendo um valor econômico a ser explorado dos direitos infantis de acesso à

escola, sendo levadas ao mercado de trabalho, submetidas às explorações em

nome dos ditames econômicos.

O conceito de infância e de trabalho relaciona-se na medida em que o

conceito de educação infantil não existia. Aquele conceito existia apenas no

campo do privado, não tendo importância maior na esfera pública. A criança era

vista como um “problema” da família, ou seja, do privado, pois lugar de criança

era em casa. Ao passar do tempo iniciou a preocupação em cuidar da infância,

visando formar mão-de-obra gerando a desigualdade social.

No que diz respeito à realidade brasileira a divisão entre criança livre e

criança escrava (trabalhadora) existe desde que há a desigualdade no Brasil. A

desigualdade social refletiu até mesmo nas brincadeiras infantis. Em nosso país

historicamente, havia uma separação entre as brincadeiras das crianças das

classes dominantes e das dominadas. Ambas eram vistas de forma diferente, elas

não se relacionavam.

Com o desenvolvimento das ciências humanas: Psicologia, Pedagogia,

Psicopedagogia, Psicomotricidade que contribuíram para a compreensão acerca

desse período da vida, as crianças passaram a ser retiradas das fábricas e

inseridas em contextos promotores de aprendizagem sistematizada, retornando

às escolas.

Nas famílias das classes dominantes sempre havia moleques filhos de

escravos a disposição, para brincarem de carro de bois, cavalo de montaria, ou

seja, os meios de transportes da época. Em suma, os filhos dos dominados eram

os cavalos, leva - pancada, amigos, criados.

No Brasil escravista a infância tinha como visão a mão de obra, ou seja, de

escravo e assalariado. Desde o ventre, a criança escrava já sofria com a

discriminação e o descaso. A escrava, após três dias do parto, retornava ao seu

trabalho e para sobreviver à criança escrava era incorporado ao trabalho da mãe.

Era hábito das negras levarem seus filhos presos às costas para realizar suas

obrigações e o trabalho exigido, visavam conciliar o trabalho com os cuidados à

criança. Mediante essa condição de trabalho dos negros, o desenvolvimento físico

e psicomotor era prejudicado, pois ficavam horas seguidas amarradas.

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´´À medida que a criança experimenta várias situações que

proporcionam o conhecimento total do seu corpo e suas

partes, permite uma comunicação com o meio, favorece a

diferenciação das partes do corpo em relação às outras, o

domínio do seu corpo, enfim, é capaz de desenvolver

progressivamente a consciência corporal...``

(ALVES, 2008, p.44)

Somente crianças que freqüentavam a casa grande desfrutavam de

melhores condições de vida, tendo uma relação afetuosa com o seu senhor.

Quando terminada a faixa etária dos seis anos de idade, a criança escrava era

inserida ao mundo do trabalho. Dos seis aos doze anos de idade já desenvolviam

algumas atividades como pequenas tarefas auxiliares. Ao completarem doze anos

de idade, tanto meninos como meninas eram vistos como adultos no que se

refere ao trabalho. Podemos perceber que os filhos dos escravos tinham uma

movimentação corporal mais livre e espontânea.

O tratamento dado às crianças no Brasil escravista era aquém, mediante

as necessidades, ocorrendo um destrato para as questões infantis durante

séculos. A república não conseguiu resolver os problemas referentes à infância.

Fez com que a educação ficasse mais elitizada, crianças como adultos em

miniaturas.

Com o desenvolvimento das ciências humanas, psicologia, pedagogia,

psicopedagogia, psicomotricidade, que contribuíram para a compreensão acerca

desse período da vida, as crianças passaram a ser retiradas das fábricas e

inseridas em contextos promotores de aprendizagem sistematizadas, retornando

às escolas.

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1.1 – Concepção de Infância Hoje

Com base na trajetória histórica, a partir da Idade Moderna a infância

passou a ser discutida e pensada. Hoje nos deparamos com uma série de

mudanças em curso, culminando em diferentes concepções e olhares sobre a

infância que mesmo perdida, crianças se vestindo como adultas, ainda é

produzida. A noção de infância adquiriu uma nova roupagem, passando por uma

revalorização que lhe confere outro status, apontando-nos para o advento de uma

nova maneira de ser infantil.

Reconhecemos hoje, a existência de uma “infância heterogênea”, há

diferentes infâncias vividas num mesmo espaço e tempo, refletindo os paradoxos

experimentados pelas crianças. Porém, apesar dessa infância heterogênea ainda

observa-se um discurso homogeneizando comportamentos e atitudes infantis,

desconsideração da individualidade do ser criança, construção de idéias de que

todas as crianças são felizes e vivem em condições de vida favoráveis ao seu

crescimento físico, emocional e social.

Atualmente a infância se apresenta como um conceito em crise, hoje a

criança é tutelada e amparada pelo Estatuto da Criança e Adolescente (Lei nº

8.069/90) – entre o ECA e a realidade social existe um espaço para mediação.

Em contrapartida observamos que nos dias atuais alguns pais sobrecarregam

seus filhos lhes acrescentando uma agenda lotada de atividades físicas deixando

assim incutido na criança a privação de liberdade de seus movimentos corporais

espontâneos. É considerado como um valioso instrumento de combate na luta

pela democratização radical do infanto-juvenil; instrumento político, no controle de

órgãos e agentes públicos e privados. Tem como objetivo operacionalizar a

Proteção Integral, na medida em que o ECA consiste em direitos fundamentais e

em mecanismos de garantia desses direitos. É nessa perspectiva que surge o

chamado sistema de garantia de Direitos, como uma intervenção filosófica e

operacional de diversos órgãos e agentes voltados para a realização sem

detenção dos direitos infanto-juvenis.

O ART.86 ECA diz: “A política de atendimento aos direitos da criança e do

adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais

e não-governamentais da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

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Municípios” (ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE, 2005, p.27)

Todavia, observamos um sintoma de esgotamento da infância instituída

pelas instituições modernas e legislações. Fracassam, então, as interpretações de

tais leis e instituições. Assim é notório que a infância deixou de existir para muitas

crianças, podemos ilustrar essa situação através do trabalho infantil. Crianças

pedindo esmolas pelas ruas, crianças se prostituindo, muitas vezes sobre o olhar

de suas mães ou aquelas em que estão na mídia, maquiadas e bem vestidas,

trabalhando em emissoras garantindo o sustento de sua família.

Ao observarmos criticamente o traje usado pelas crianças de hoje,

concluímos que ainda predomina o processo de adultização, são roupas de

adultos em tamanho menor. O mercado corrobora com tal precocidade, ao

disponibilizar uma variedade de produtos direcionados para as crianças.

Incentivadas pela mídia e muitas vezes pelos próprios pais as meninas aprendem

cada vez mais cedo a passar batom, usar roupas sensuais e dançar músicas com

apelos sexuais, mudando radicalmente o conceito de infância da Idade Moderna,

apontando para a erotização infantil.

Temos ainda uma infância que pensa e que precisa ser ouvida e orientada

com coerência e confiança, por isso é imprescindível conhecer as representações

da infância, considerando as crianças concretas e não apenas como produtos da

história ou idealizada pela mesma.

Toda criança tem o direito de ser criança, fica evidente em nossos dias o

desejo do adulto em aprisionar a infância a nossos saberes, na medida em que se

desconsidera como sendo o outro. As crianças perdem sua identidade infantil,

pois são apressadas a crescerem, amadurecerem a qualquer custo para

assumirem responsabilidades cada vez mais cedo. São privadas de suas

brincadeiras e brinquedos sendo obrigadas a preencherem seu tempo infantil com

aulas de balé, aulas de reforço escolar, escolinha de futebol, informática, natação,

etc.

O brincar e o jogar através do movimento corporal são importantes para o

desenvolvimento global das crianças. Todavia, as responsabilidades que são

impostas hoje em dias aos infantes não possibilitam que eles vivenciem a

brincadeira e o jogar como devem, prejudicando assim um bom processo do

desenvolvimento global.

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Salienta a necessidade de conceituar o brincar, o jogar e o movimento com

embasamentos teóricos.

´´O jogo satisfaz necessidades das crianças especialmente a

necessidade de “ação”. Para entender o avanço da criança

no seu desenvolvimento o professor deve conhecer quais as

motivações, tendências e incentivos que a colocam em

ação. Não sendo o jogo aspecto dominante da infância, ele

deve ser entendido como “fator de desenvolvimento” por

estimular a criança no exercício do pensamento, que pode

desvincular-se das situações reais e levá-la a agir

independentemente do que ela vê.``

(COLETIVOS DE AUTORES, 1992,

p. 66)

Por que o movimento corporal é importante no processo de aprendizagem?

A escola costuma considerar o corpo no processo de aprendizagem? A escola,

ainda é o lugar onde a educação acontece de forma sistemática, encarregando-se

de educar e disciplinar as crianças. Precisamos avançar no sentido de um novo

olhar com o objetivo de repensar acerca da necessidade de superar a visão da

criança como um ser passível de homogeneização, de um ser que domina suas

singularidades e subjetividade, percebendo a criança como de um ser produtor de

cultura.

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´´O corpo e os gestos são fundamentais para a formação

geral do ser humano. Desde que nasce, a criança usa a

linguagem corporal para conhecer a si mesma, relacionar-se

com seus pais, para movimentar-se e descobrir o mundo.

Essas descobertas feitas com o corpo deixam marcas, são

aprendizados efetivos, incorporados. Na verdade, são

tesouros que guardamos e usamos como referências

quando precisamos ser criativos em nossa profissão e

resolver problemas cotidianos. Os movimentos são saberes

que adquirimos sem saber, mas que também ficam à nossa

disposição para serem colocados em uso.``

(LEVIN, 2005, p.20)

O próximo capítulo se debruça sobre a questão da tentativa de conhecer

melhor a importância do brincar, do jogar e do movimento corporal no

desenvolvimento da criança.

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CAPÍTULO II

A Importância da Brincadeira E do Brincar Para O Desenvolvimento Global da Criança

Acorda, criança, tá na hora da gente brincar (obá!). Brincar de pique-esconde, pique-cola e de pique tá, tá, tá. Nessa brincadeira também tem pique-bandeira, amarelinha pra quem gosta de pular. E aquela brincadeira de beijar.

Quem ao ler a canção não se lembra de brincadeiras vivenciadas por todos

nós? É difícil falar em brincadeira sem nos reportarmos ao nosso ato de brincar

durante nossa saudosa infância. Brincar é o verbo da criança. É brincando que

aprende a conviver com o outro, pois conhece, experimenta, aprende, apreende,

vivencia, expõe emoções, cria e resolve conflitos, interage consigo e com o

mundo.

Ao procurar um significado para a palavra brincadeira, podemos encontrar

divertimento. Divertimento é algo que alegra as pessoas. Em grande parte das

sociedades contemporâneas, a infância é marcada pelo brincar, ação que faz

parte de práticas culturais típicas, apesar de ser reduzida para alguma realidade

mediante o processo do trabalho infantil e outros fatores como o crescimento

urbano, violência, falta de espaços para lazer, entre outros.

Para a maioria dos grupos sociais, a brincadeira ainda é consagrada como

uma atividade essencial ao desenvolvimento infantil. Entretanto, tenho observado

que os espaços para as crianças brincarem estão diminuindo, assim como as

brincadeiras motoras realizadas para elas para o desenvolvimento de suas

habilidades motoras.

Ariès (1981) contribui com tal discussão ao nos reportar as brincadeiras de

uma criança no início do século XVII e a que etapa de seu desenvolvimento físico

mental correspondia. Segundo o autor citado, isso se deu mediante o diário de um

médico que registrou minuciosamente os feitos e os gestos de uma criança: “Ao

mesmo tempo em que brincava com bonecas, esse menino de quatro a cinco

anos praticava o arco, jogava cartas, xadrez (aos seis anos) e participava de

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jogos de adultos, como o jogo de raquetes e inúmeros jogos de salão.” (ARIÈS,

1981, p. 44)

Vemos que a citação acima, ainda no século XVII evidencia o movimento

corporal incutido as habilidades psicomotoras.

Através de atividades psicomotoras a aprendizagem pode ser enriquecida

desenvolvendo na criança a capacidade como a atenção, a memória, a imitação,

a imaginação, explorando e refletindo sobre a realidade e a cultura na qual está

inserida, interiorizando-as, ao mesmo tempo em que questionam as regras e os

papéis sociais.

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2.1 – O Brincar Segundo Piaget

O brincar apresenta características diferentes de acordo com o período de

desenvolvimento das estruturas cognitivas, reporto-me a Piaget (2005) que

enfatiza as três etapas fundamentais desse desenvolvimento no que diz respeito

ao brincar.

Dos 0 aos 2 anos de idade- Período que não é acompanhado de palavras,

porém, de extrema importância por evidenciar o progresso da inteligência e dos

sentimentos diferenciados. Ocorre o aparecimento dos primeiros hábitos motores

seguidos das percepções organizadas, assim como dos primeiros sentimentos.

Sobre essa etapa Piaget afirma: “... é decisivo para todo o curso da evolução

psíquica: representa a conquista, através da percepção e dos movimentos, de

todo o universo prático que cerca a criança.” (PIAGET, 2005, p.17)

A criança pega o que vê com a capacidade de apreensão resultante da

manipulação dos objetos, aumentando seu poder de construir novos hábitos.

Assim descreve Piaget: “... em presença de um novo objeto, ver-se-á o bebê

incorporá-lo sucessivamente a cada um de seus esquemas de ação (agitar,

esfregar ou balançar o objeto), como se tratasse de compreendê-lo através do

uso.” ( PIAGET, 2005, p.20)

Aparece o interesse pelo seu próprio corpo, seus movimentos e pelos

resultados obtidos pelas ações. A criança passa por uma correlação com a

construção do objeto e a consciência do “eu”. Observamos um jogo de funções

sensório-motoras, ou seja, um jogo de puro exercício onde prevalecem os

movimentos e as percepções, como os jogos de bonecas, brincar de comidinha.

Para Piaget (2005) o jogo simbólico ou jogo de imaginação e imitação

aparece na primeira infância, constituindo-se uma atividade real do pensamento

apesar do egocentrismo. O egocentrismo caracteriza-se por uma visão da

realidade que parte do próprio eu, ou seja, a criança não concebe um mundo,

uma situação da qual não faça parte, tende a confundir-se com objetos e

pessoas, atribuindo a eles seus próprios pensamentos, sentimentos, etc. O

julgamento da criança depende então, da percepção imediata. Esse tipo de jogo

tem por finalidade, para a criança, a satisfação do “eu” através de uma

transformação do real em detrimento dos desejos. O autor corrobora com essa

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discussão sobre a importância da brincadeira e do brincar para o desenvolvimento

da criança ao ressaltar: “... a criança que brinca de boneca refaz sua própria vida,

corrigindo-a à sua maneira, e revive todos os prazeres ou conflitos, resolvendo-

os, compensando-os, ou seja, completando a realidade através da ficção”.

(PIAGET, 2005, pp. 28-29)

Dos 2 aos 6/7 anos de idade, mediante a socialização da ação, a troca e a

comunicação entre as crianças ocorrem como conseqüência do aparecimento da

linguagem. Tal linguagem caracteriza-se entre as crianças sendo encontradas nas

brincadeiras coletivas ou de regras, como afirma Piaget (2005): “... em partidas de

bolas de gude, por exemplo, os grandes se submetem às mesmas regras e

ajustam seus jogos individuais aos dos outros, enquanto que os pequenos jogam

cada um por si, sem se ocuparem das regras do companheiro.” (PIAGET, 2005,

pp. 26-27)

Nota-se presente nas brincadeiras e no brincar das crianças desta faixa

etária, o animismo infantil, ou seja, a tendência a conceber as coisas como vivas

e dotadas de interação. Na primeira infância as crianças interessam-se por

brincadeiras que contenham palavras, desenhos, imagens, ritmos, etc. Em contra

partida aos interesses por essas atividades surgem os sentimentos de

autovalorização conhecidos como “sentimentos de inferioridade ou de

superioridade”, culminando em um julgamento de si mesmo com repercussões

sobre todo o desenvolvimento.

A partir dos 7 anos de idade ocorre o desenvolvimento de sentimentos

interindividuais como simpatias e antipatias, respeito, etc. Nas relações

interindividuais, a criança já é capaz de cooperar, pois seu ponto de vista não se

confunde mais com o dos outros. Durante as brincadeiras as crianças já são

capazes de cooperarem, como nos mostra Piaget (2005): “As discussões tornam-

se possíveis, porque comportam compreensão a respeito dos pontos de

vista do

adversário e procura de justificação ou provas para a afirmação própria.”

(PIAGET, 2005, p. 41)

Com base na afirmação acima constatamos uma significativa mudança no

que se refere as atitudes sociais e ao comportamento coletivo das crianças. A

partir de 7 anos de idade em uma brincadeira o termo “ganhar” adquire sentido

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coletivo: que obteve bom êxito após uma competição com regras, Piaget (2005)

conclui: “É claro que o reconhecimento da vitória de um jogador, sobre os outros,

assim como o direito de ganhar as bolas de gude como recompensa, supõem

discussões, bem orientadas e definitivas.” (PIAGET, 2005, p.42)

Fica evidente nas brincadeiras e no brincar que a partir dos 7 anos de

idade ocorre a liberação do egocentrismo social e intelectual. Para a inteligência

ocorre o início da construção lógica mediante a coordenação dos pontos de vista

entre si. Quanto a afetividade as coordenações sociais e individuais originam-se

em uma moral de cooperação e de autonomia pessoal. As regras do jogo são

como um contrato entre os jogadores, na qual através do respeito mútuo a regra é

respeitada, na medida em que houve um comprometimento autônomo. O respeito

mútuo, por sua vez, desencadeia sentimentos morais até então desconhecidos

como a honestidade entre os jogadores.

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2.2 - O Brincar Segundo Vygotsky

Assim como em Piaget busco sustentação teórica também em Vygotsky

que faz uma abordagem histórico-cultural preconizando que os vestígios de cada

ser humano relacionam-se ao aprendizado, ao apoderar-se do legado cultural de

seu grupo que ocorre através da convivência das pessoas mais experientes, da

linguagem e outros mediadores, formulando assim, seus sistemas de

representação, formas de pensar e agir, etc.

Como já entrevi, o brincar e a brincadeira contribuem para o

comportamento e a capacidade cognitiva das crianças, através de suas

experiências, de sua história educativa que se relacionam com as particularidades

do grupo social e da época em que está inserido.

Busco um referencial em Vygotsky (1998) porque as conclusões

vygotskyanas possibilitam que analisamos a importância que a cultura escolar

tem sobre o comportamento e o desenvolvimento de funções psicológicas. O

autor mencionado evidencia o conceito de zona de desenvolvimento proximal,

que requer a atuação de pessoas mais experientes para que competências

transformam-se em conquistas. Mais uma vez enfatizo a importância do Recreio

Escolar X Movimento Corporal, para que competências possam se transformar

em conquistas consolidadas é imprescindível a mediação de adultos ou crianças

mais experientes. Vygotsky (1998) utiliza a tese: “... o que foi inicialmente uma

relação entre pessoas passa a funcionar como modo de relação do sujeito

consigo mesmo.” (BUSTAMANTE e FRISZMAN 2005, p.79)

Dentre as funções básicas do brincar, uma delas é dar liberdade para que

a criança aprenda a organizar os brinquedos gradualmente, para então resolver

situações de conflitos que vivencia em seu cotidiano. Desenvolver formas lúdicas

de brincar com o corpo a partir da relação estabelecida entre movimento corporal,

empregando habitualmente capacidades como a observação, a imitação e a

imaginação.

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´´Os momentos de brincar trazem assim, componentes de

diversão, de educação, de dominação, revelam também

novas informações e colocam novos problemas...``

(OLIVEIRA, 1986, p.91)

Ao questionar o papel do brinquedo, Vygotsky (1998) faz referência à

brincadeira de “faz de conta”, como brincar de escolinha, brincar de casinha,

brincar de motorista, brincar com um cabo de vassoura como se fosse um cavalo.

De forma simbólica as crianças procuram compreender o mundo ilusório e de

imaginação tornando os desejos não realizáveis possíveis. Para o referido autor ,

ao representar o comportamento social do adulto em suas brincadeiras e jogos, a

criança está reunindo em certa ordem situações reais com elementos de sua ação

fantasiosa. Necessidade essa de reproduzir o cotidiano do adulto da qual ainda

não pode participar ativamente, portanto quanto mais rica for a experiência

humana, maior será o material de que se pode dispor para as imaginações que

materializarão em seus jogos: “É no brinquedo que a criança aprende a agir numa

esfera cognitiva, ao invés de numa esfera visual externa, dependendo das

motivações e tendências internas, e não dos incentivos fornecidos pelos objetos

externos.” ( VYGOTSKY, 1998, p. 126)

Vygotsky (1998) enfatiza que através do jogo de faz de conta a criança

direciona seu comportamento pelo mundo imaginário, ou seja, o pensamento está

separado dos objetos e a ação ocorre das idéias. Do ponto de vista do

desenvolvimento global da criança, o jogo de faz-de-conta por ser contemplado

como um meio para o desenvolvimento do pensamento abstrato. Além de ser

uma situação imaginária, o brinquedo caracteriza-se também como uma atividade

regida por regras que devem ser seguidas: “A situação imaginária de qualquer

forma de brinquedo já contém regras de comportamento, embora possa não ser

um jogo com regras formais estabelecidas a priori.” (VYGOTSKY, 1998, p. 124)

Pode-se afirmar que sempre que houver uma situação imaginária no

brinquedo, haverá também regras. Não trata-se de regras pré-estabelecidas que

podem mudar o jogo, porém regras que originam-se na situação imaginária criada

pela criança. O brinquedo propicia a criança comportar-se de maneira mais

avançada do que nas atividades da vida real e assim aprende a separar

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objeto/significado, ressalta Vygotsky (1998, p. 130): “No brinquedo,

espontaneamente, a criança usa sua capacidade de separar significado do objeto

sem saber que o está fazendo...” .

Vygotsky (1998), também preconiza que ao brincar a criança não está só

fantasiando, mas fazendo uma ordenação do real, ressignificando suas

experiências do dia a dia. Portanto, é necessário, considerar as brincadeiras que

as crianças conhecem e trazem da rua ou de casa e ordenam independente do

adulto, como um conhecimento prévio. É preciso que a escola possibilite o

espaço, tempo e um educador que seja o mediador das interações das crianças

com os objetos de conhecimento.

Em seu contributo, Vygotsky (1998) afirma que toda brincadeira ou jogo

tem símbolo (imaginário) e regras, podendo não estar explícita, com o evoluir da

brincadeira estas passam a ser evidentes.

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2.3 – Dialogando Com As Teorias de Piaget E Vygotsky Sobre O Brincar

As contribuições de Piaget (2005) e Vygotsky (1998) nos permite inferir que

o brincar e a brincadeira atravessam as ações como jogo simbólico e é por meio

deste que a criança compreende-se, compreende o outro e o meio. Nessa

interação, desenvolve a linguagem, o pensamento, a socialização, a iniciativa e a

auto-estima, preparando-se para ser um cidadão capaz de enfrentar conflitos e

desafios.

O brincar e a brincadeira fazem parte do ato de educar, num compromisso

político consciente e modificador da sociedade, pois promovem de forma

dinâmica e lúdica, sendo agradável o crescimento emocional e social, por

apresentar um desafio interessante. A criança tem necessidade de expressar-se:

correr, rastejar, saltar, subir, descer, falar, sair, ficar, tocar, dentre outras, fazer

sua leitura de mundo, por isso enfatizo a necessidade da escola pensar em um

espaço para que sejam oferecidas possibilidades de expressão.

No decorrer da Educação Infantil, o movimento é mais respeitado pela

escola: usa o corpo em brincadeiras, em atividades de artes, de músicas, dentre

outras. È permitido a criança correr, pular, espreguiçar-se com pouca restrição. O

problema surge na transição para o 1º Ano. É exigido do aluno uma postura

inversa que era permitida até então. A partir dos sete anos, os alunos são

dispostos em carteiras com corpos dóceis, supostamente prestando a atenção

aos conteúdos. É necessária a experiência de atividades concretas e corporais.

Temos uma cultura de que os movimentos de usar o corpo normalmente são

usados à hora do recreio e as aulas de Educação Física, que geralmente são

ministradas somente uma vez por semana.

´´É como se a escola dissesse ao aluno: na pré-escola, você

brinca; no 1º ano, começa a estudar. Mas o estudo deveria

estar totalmente ligado ao movimento corporal.`` (LEVIN,

2005, p. 20)

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Como já mencionado, ao brincar a criança comunica-se com o mundo que

o cerca, interagindo, transformando e sendo transformada. Sabemos que o que é

experimentado, é facilmente assimilado, o que é vivido é melhor aprendido.

Seguindo a linha dos autores supracitados nesse capítulo, preconizo que

para manter o equilíbrio com seu mundo, a criança precisa brincar, criar e

inventar, jogar, para isso ela necessita agir. O prazer e a emoção também

contribuem para a espontaneidade e a flexibilidade do ser que brinca, assim,

experimenta, regula-se, organiza-se, constrói normas para si e para os outros em

um processo de respeito mútuo cria e recria, a cada possibilidade de uma nova

brincadeira, o mundo que a cerca. No ato de brincar a espontaneidade interliga-se

com a criatividade e com a aceitação das regras sociais e morais. Através da

brincadeira experimenta comportamentos que de repente, em situações reais,

jamais aconteceriam mediante o medo do erro e da punição.

O que se caracteriza como brincadeira é a opção que a criança tem de

tomar decisões, de combinar regras, de negociação de papéis, de agir de maneira

transformadora sobre conteúdos significativos, de obter liberdade e prazer,

tornando-se cada vez mais autônoma e consciente de suas ações, com melhor

auto-estima e consciência corporal.

Brincar faz parte de essência humana e através das brincadeiras e dos

jogos a criança apropria-se do mundo. É no ato de brincar que se relaciona com

as pessoas e objetos ao seu redor, aprendendo com as experiências do adulto ou

de crianças experientes em um contínuo processo de interação com as pessoas

de seu grupo social.

O brincar e a brincadeira devem ser considerados com seriedade, pois

como entrevimos, brincando a criança adquire experiências, operando sobre todo

o material cultural ( conceitos, idéias, valores, objetos concretos) desenvolvendo

conceitos sobre o mundo em que está inserido.

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2.4 – O Brincar Segundo Wallon

Ao abordar o desenvolvimento infantil, não se pode deixar de citar Wallon

(1995) que dedicou seus estudos ao psiquismo humano na perspectiva genética,

defendendo a gênese da pessoa, interessando-se pela evolução psicológica da

criança. Relacionou o tônus muscular e o desenvolvimento da criança, influenciou

gerações de psicomotricistas ao atentar para questões como a relação existente

entre a função tônica, os sentimentos e a evolução do movimento.

A psicogenética walloniana oferece subsídios para nossa discussão, por

enfatizar que o estudo sobre o desenvolvimento humano deve considerar o sujeito

como geneticamente social, sendo assim, estudou a criança contextualizada, ou

seja, nas relações com o meio: “Os aspectos físicos do espaços, as pessoas

próximas, a linguagem e os conhecimentos próprios a cada cultura formam o

contexto do desenvolvimento.” ( GALVÃO, 1995, p. 39)

As idéias de Wallon (1995) giram em torno de quatro elementos básicos

que inter-relacionam entre si, sendo eles: afetividade, movimento, inteligência e

identidade/autonomia. A afetividade predomina no desenvolvimento de qualquer

ser humano. Por meio dela a criança exterioriza seus desejos e experiências, mas

devido aos modelos tradicionais de ensino é pouco estimulado.

O movimento refere-se a organização dos espaços para elaboração de

atividades que proporcionem o desenvolvimento motor com fins educativos.

Conclui-se que a motricidade tem um caráter pedagógico tanto pela qualidade do

gesto do movimento e mediante sua representação social.

A inteligência depende da relação com o indivíduo e o meio, corresponde

aos seus signos e articula as informações de uma forma que promova uma

participação efetiva na realidade circundante.

A identidade/autonomia relaciona-se com o desenvolvimento afetivo, motor

e o cognitivo, sendo necessária a promoção de situações de aprendizagem que

proporcionem experiências, ou seja, oportunidade para a criança tornar-se

participativa contribuindo para o próprio desenvolvimento.

O autor supracitado enfatiza que o desenvolvimento da pessoa ocorre

numa construção progressiva em que prevalecem fases com predominância

afetiva e cognitiva, assim a psicogenética walloniana centra-se em cinco estágios

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descritos a seguir.

O estágio impulsivo-emocional corresponde ao primeiro ano de vida,

peculiarmente marcado pela emoção, considerada como principal instrumento de

interação da criança com o meio: “Resposta ao seu estado de imperícia, a

predominância da afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas,

as quais intermediam sua relação com o mundo físico.” (GALVÃO, 1995, p.43)

O estágio sensório-motor e projetivo ocorre até o terceiro ano, na qual a

criança interessa-se pela exploração sensório-motora do mundo físico. Esse

estágio também é marcado pelo desenvolvimento da função simbólica e da

linguagem, sendo predominantes as relações cognitivas com o meio. “A aquisição

da marcha e da preensão possibilitam-lhe maior autonomia na manipulação de

objetos e na exploração de espaços.” (GALVÃO, 1995, p 44)

O estágio do personalismo vai dos três aos seis anos, centra-se na

formação da personalidade, há uma construção da consciência de si, que ocorre

através das interações sociais: “... re-orienta o interesse da criança para as

pessoas, definindo o retorno da predominância das relações afetivas.” (GALVÃO,

1995, p. 44)

O estágio categorial inicia-se aos seis anos. Com o avanço dos estágios

anteriores, os progressos intelectuais orientam o interesse da criança para os

objetos, o conhecimento e a conquista do mundo exterior. Já no estágio da

adolescência, através da crise pubertária ocorre uma ruptura a “tranqüilidade”

afetiva (característica do estágio categorial) surgindo a necessidade de novos

contornos da personalidade.

Busco um referencial em Wallon (1995) porque após a descrição dos

estágios assinalados pelo mesmo, é possível concluir que o brincar e a

brincadeira proporcionam a criança uma interação com os objetos e com o

próprio corpo em um processo de relação entre seus movimentos e sensações.

Através desses são capazes de experimentar a diferença de sensibilidade que

existe entre o que pertence ao mundo exterior e o que pertence a seu próprio

corpo como afirma a citação: “Por essas experiências torna-se capaz de

reconhecer, no plano das sensações, os limites de seu corpo, isto é, constrói-se o

recorte corporal.” (GALVÃO, 1995, p. 51)

Para Wallon (1995), a brincadeira de faz de conta evidencia a origem

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corporal da representação, veja o exemplo:

´´... a criança que arruma os braços como se estivesse carregando uma boneca e balançando-a como se estivesse ninando. Ou a criança que faz o gesto de pegar o sabão, de abrir a torneira, de esfregar e enxugar, como se estivesse dando banho em seu bichinho de estimação.``

( GALVÃO, 1995, p.73)

Vemos no exemplo acima que através do movimento a criança é capaz de

tornar presente o objeto através de gestos simbólicos, prevendo mentalmente a

seqüência e as etapas dos atos motores que a brincadeira proporciona. Tal

movimento exercido mediante o brincar e a brincadeira possibilita a criança a ser

autônoma para agir no mundo exterior. Refletindo um pouco mais sobre o

exemplo que representa a construção da consolidação das disciplinas mentais,

um processo lento e gradual que depende de condições neurológicas, mas inter-

relaciona com fatores sociais, como o desenvolvimento da linguagem e aquisição

de conhecimento. É comum ouvirmos professores queixando-se da dificuldade de

algumas crianças em permanecerem paradas e concentradas na sala de aula, a

escola tem uma importante função na consolidação das disciplinas mentais, e o

brincar em todos os espaços e lugares pode contribuir nesse processo.

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2.5 – A importância do Ambiente Para O Desenvolvimento Infantil Segundo Montessori

Não poderia encerrar nossa reflexão sem citar a Psicóloga e Pedagoga

Maria Montessori que através da observação reuniu causas e efeitos da interação

da criança com o ambiente que a cerca, com seus iguais, pais e mestres.

Mediante sua pedagogia convida-nos a criar um ambiente para o ser criança.

Faço referência a Montessori para endossar essa discussão porque suas

teorias basearam-se na orientação que a própria criança lhe forneceu, estudou o

fenômeno do desenvolvimento humano, observando atentamente, a partir da

interação da criança com o ambiente preparado, criado para assisti-la, seja na

escola ou em casa. Criou o material Montessori e referia a eles como “meios de

desenvolvimento”, no sentido mais profundo e, não como meros e simples objetos

de manipulação. Ela dizia que por si só o material não produz nada, está a

serviço da criança para que no processo de desenvolvimento, através das

próprias emoções possa refinar o uso de sua inteligência, sentidos, desejos e

encontrar o caminho da realização, mediante uma ação indagadora, construtiva e

criativa.

Dentre os materiais elaborados por Maria Montessori cito: alfabetário, letras

de lixa, telaio de cadarço, ilhós, fivelas, colchetes, primeiras caixas de cores,

caixas de som, tábuas de áspero e liso, lixas de gradação de aspereza, jogos de

pareamento, caixas de vários tecidos, jogo de madeira, saquinhos de objetos

variados, jogos de recipientes para sabores e odores de sons, encaixes sólidos e

planos de madeira, barras vermelhas e azuis, terceira caixa de cores, torre rosa,

escada marrom, tabletes coloridos. Esses materiais possibilitam à criança a

trabalhar com grosso/fino, alto/baixo, longo/curto, pesado/leve. Auxiliam também

na construção da escrita e os sólidos trabalham noções de Matemática e os

encaixes auxiliam na geometria. Enfatizo que para Montessori a preocupação

maior não consistia em levar a criança a absorver conhecimentos envolvendo

dimensões, cores e formas, mas priorizava como objetivo maior o uso do material

como um meio para o desenvolvimento infantil, o que para a criança se

compreendia um ato de brincar utilizando de desenvolvimento pleno para sua

formação psicomotora.

O objetivo de Maria Montessori (1965) estava longe de ser unicamente a

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de ajudar a criança a aprender, voltava-se em ajudá-la a viver e conscientemente,

desenvolver sua experiência prática, vivencial, com integridade e dentro de uma

visão global. Seu material atende várias fases e aspectos do crescimento infantil e

contribuiu para o desenvolvimento global da criança por estimular muitas áreas:

psíquica, motor, sensorial, intelectual, artística, além de abranger todos os ramos

do conhecimento, ou seja, linguagem, matemática, ciências, geografia, história,...

Em sua obra a Pedagogia Científica, Maria Montessori (1965) preconiza a

importância de uma escola que promova o desenvolvimento das manifestações

espontâneas e da personalidade da criança e argumenta: “ Se deve surgir uma

pedagogia do estudo individual do escolar, isto somente será possível graças à

observação de crianças livres, isto é, de crianças observadas e estudadas em

suas livres manifestações, sem nenhum constrangimento.” (MONTESSORI, 1965,

p. 25)

Em consonância com as idéias de Montessori (1965), acredito que no

espaço escolar o brincar durante o Recreio oportuniza às crianças a livre

manifestação oferecendo aos professores uma oportunidade para a observação:

“... a liberdade de expressão que permite às crianças revelar-nos suas qualidades

e necessidades, que permaneceriam ocultas ou recalcadas num ambiente infenso

à atividade espontânea.” ( MONTESSORI, 1965, p. 42)

Um ambiente preparado tem como objetivo dispor de materiais que

despertem o interesse da criança para que desenvolvam o potencial, ou seja,

contribuindo para seu desenvolvimento global, observando a necessidade para

mais tarde suprir.

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2.6 - A Importância da Mediação do Professor

Brincar faz parte da vida das crianças, mas também podem e devem ser

promovidas de forma dirigida ou direcionada por um adulto. Se na sala de aula do

Ensino Fundamental não há espaço para o brincar, devido o currículo escolar,

considero o Recreio um momento propício. O brincar está presente também no

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, vejamos:

´´.. ao brincar de faz de conta, as crianças buscam imitar, imaginar, representar e comunicar de uma forma específica que uma coisa pode ser outra, que uma pessoa pode ser outra (...) brincar é assim um espaço no qual se pode observar a coordenação das experiências prévias das crianças e aquilo que os objetos manipulados sugerem ou provocam no momento presente.``

(1998, p. 22-23)

A intervenção do professor no recreio deve ser oferecendo materiais,

espaço e tempo adequados para que a brincadeira aconteça na sua essência, ou

seja, movida de desejo, garantindo o desenvolvimento organizacional, imaginativo

e da capacidade de construção de conceitos e conhecimentos pessoais de seus

alunos.

É acreditável que a função do professor é ampliar as vivências das

crianças, dispondo materiais diversificados, de formas diferentes e atraentes,

contribuindo para a ampliação do seu quadro de brincadeiras, resgatando

brincadeiras que já passaram, ampliando assim o repertório cultural-social,

produzindo uma cultura lúdica.

Consideramos três práticas diversificadas que o professor precisa assumir

durante as brincadeiras de seus alunos: observador, na qual procura intervir o

mínimo possível de maneira a garantir a segurança e o direito à livre

manifestação de todos; o de “catalizador”, onde através da observação, descobre

necessidades e desejos implícitos na brincadeira para poder enriquecer o

desenrolar da mesma, e o de participante ativo nas brincadeiras, atuando como

um mediador das relações surgidas, em proveito do desenvolvimento global,

saudável e prazeroso das crianças.

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É indispensável motivar os professores a participarem com mais frequência

de brincadeiras que fazem parte do desenvolvimento corporal e imaginário das

crianças ao mesmo tempo em que as brincadeiras precisam ser resgatadas

também pelos professores buscando as raízes, o que se tinha no passado, que foi

ensinado até nos tempos dos avós, pais e que devem estar presente hoje.

Precisamos estar conscientes de que o brincar é muitas vezes estimular àquela

criança que nada tem em casa, e que pode reviver a aprendizagem de maneira

mais satisfatória.

Vemos nos autores citados neste capítulo, que o brincar, auxilia a criança a

compor sua própria personalidade, desafia e motiva os professores a buscarem a

exploração, a reflexão, a descoberta, a cooperação e a aceitação de crianças

ativas, interativas, criativas e exploradoras.

O brincar durante o Recreio escolar, possibilita ao professor observar

outros ângulos do desenvolvimento infantil do processo de aprendizagem da

criança, possibilita também que ele possa intervir buscando alternativas que

auxiliem no ensino-aprendizagem de forma preventiva. Os professores podem

estimular a imaginação das crianças, despertando idéias, levando-as a

questionarem para que encontrem soluções para problemas que surgirem ou

mostrando formas variadas de resolução, promovendo um momento de opção

pela alternativa que acharem mais convenientes.

Vale destacar que a intervenção do professor deve ser para garantir entre

outros motivos que criança alguma exerça sua liderança de forma autoritária e

para promover o rodízio de papéis e de comando entre as crianças nas

brincadeiras. A mediação do professor deverá ser também no sentido de evitar a

competição, ressaltando o caráter coletivo e democrático do jogo, que oferece

condições iguais de participação a todos os jogadores.

A imitação garante grande parte da aprendizagem da criança, então se

quisermos ensinar a tolerância, a aceitação e o reconhecimento do valor da

diferença, o respeito pelo outro, a solidariedade, a justiça, a paz, predomina a

nossa conduta diária de constituir um modelo vivo do que queremos ensinar e a

brincadeira pode possibilitar isso sendo feita de uma maneira coletiva e

democrática.

Usados de forma consciente e bem planejada, o brincar e as brincadeiras

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serão bons aliados como recursos didáticos de grande aplicação e valor no

processo ensino-aprendizagem. Fazemos um convite a todos os professores:

vamos transformar o brincar no espaço escolar para usufruirmos em nosso

trabalho pedagógico, experimentando como mediadores, o verdadeiro significado

de uma aprendizagem com desejo e prazer:

´´Por isso, importa não ser realista no sentido trivial (adaptar-se ao imediato), nem irrealista no sentido trivial (subtrair-se às limitações da realidade); importa ser realista no sentido complexo: compreender a incerteza do real, saber que há algo possível ainda invisível no real.``

(MORIN, 2005, p. 85)

Vemos a escola como um espaço privilegiado de construção, portanto

precisa propor oportunidades e experiências positivas e inesquecíveis vivenciadas

em um espaço democrático, onde a criança é vista como um ser único, carregado

de emoções e energia que precisam ser extravasadas, socializadas,

experimentadas para que se tornem realmente significativas tanto para ela quanto

para o educador- mediador da ação. Assim, o brincar e a brincadeira fazem parte

do ato de educar, em constante compromisso consciente, intencional e

modificador da sociedade, para o recreio escolar se torna um momento

privilegiado no processo de desenvolvimento infantil.

Segue em anexo fotos de materiais acima citados por Maria Montessori

para o desenvolvimento psicomotor da criança.

Após tudo o que foi dito, no próximo capítulo apresentaremos sugestões de

jogos e brincadeiras utilizando da Psicomotricidade no cotidiano do âmbito

escolar.

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CAPÍTULO III

Sugestões de Brincadeiras

E Jogos A Serem Usados No Recreio Escolar.

Para auxiliar o educador estimulador esta pesquisa apresenta algumas

sugestões de jogos, brinquedos e brincadeiras que podem ser feitos com sucatas

que tem como objetivo estimular o desenvolvimento global das crianças ao

mesmo tempo em que criam laços de afetividade na relação professor-aluno.

Reporto-me a Rizzo (2001) para sugestões de jogos:

A – Vira o cartão (1)

Faixa etária: 5 a 7 anos.

Objetivos:

• Estimular a construção do número.

• Estimular o desprendimento da visão do objeto (para se pensar sobre ele).

• Estimular a operação (mental) de soma por abstrações e antecipações

mentais.

• Estimular a construção de esquemas reversíveis de raciocínio,

desprendidos da visão do objeto real.

• Desenvolvimento da atenção e disciplina.

• Reconhecimento dos direitos alheios e respeito às regras impostas pelo

grupo.

Material:

• Um dado.

• Quatro séries de cartões apresentando os números de 1 a 6 por pontos

grossos, feitos como os desenhados nas faces dos dados de jogar.

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Desenvolvimento:

• Dois jogadores, por partida, dividem os cartões, de forma que cada um

fique com duas coleções de cartões que apresentem de um a seis,

desenhados como as faces dos dados de jogar.

• Cada jogador dispõe a sua coleção de cartões sobre a mesa, da forma que

achar conveniente, contanto que todos mostrem a face desenhada com os

pontos para cima.

• Cada jogador, na sua vez, joga o dado e vira para baixo ou os cartões que

representem o total igual ao apontado pelo dado.

• Ganha o jogador que primeiro conseguir virar para baixo todos os seus

cartões.

B – Corrida de Automóveis (II)

Faixa etária: acima de 9 anos.

Objetivos:

• Estímulo a construção do número, proporcionada pela soma dos pontos de

dois dados associada ao número de casa na pista, que o carrinho pode

andar.

• Direção para frente e para trás, como ações que se anulam.

• Construção de sistemas de operações que se anulam, de aumentar e de

diminuir.

• Construção de antecipações de valor numérico.

• Desenvolvimento da atenção e disciplina.

• Reconhecimento dos direitos alheios e desrespeito as regras impostos pelo

grupo.

Material:

• Dois dados e um copo para sacudi-los. As faces de seis pontos podem ser,

inicialmente, desativadas, cobrindo-se com corretor seus pontinhos pretos,

enquanto as crianças não tiverem descoberto números maiores que 10.

• Traçado de uma pista riscada em espaços regulares por onde correrão os

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peões dos jogadores de acordo com a ordem apontada pelos dados.

Alguns desses espaços devem estar destacados em cor diferente, para

serem reconhecidas como “obstáculos”: verdes, amarelos e vermelhos. A

linha que determina o espaço onde ficarão os carrinhos, antes da primeira

jogada, poderá ser sinalizada com a palavra escrita “SAÍDA”. Ao final da

pista, outra palavra escrita, indicará a “CHEGADA”. Esta poderá ser

acrescida da bandeirinha típica quadriculada em preto e branco, usada nas

corridas de carro, para sinalizar a linha de chegada.

• Carrinhos de brinquedos, TRÊS ou quatro, em cores diferentes ou peões

de plástico que os substituem.

Desenvolvimento:

• Os jogadores, em numero de três ou quatro, decidem, por algum critério

determinado por eles mesmos, quem iniciará a partida e a ordem a

seguir.

• Cada jogador joga os dados sobre a mesa e, depois, move o seu peão

(ou carro) para frente quantas casas (espaços tracejados) os dados

mostrarem ao todo.

• Sempre o peão ou carro de um jogador cair sobre um obstáculo verde,

ele tem o direito de jogar mais uma vez e movimentar o seu peão ou

carro para frente o numero de casa que os dados.

• Sempre que seu peão ou carro cair sobre um espaço vermelho, ele é

obrigado a jogar novamente os dados e andar para trás o numero de

casa que os dados apontarem.

• Quando o jogador cair sobre o amarelo, ele deve parar e esperar uma

rodada inteira para jogar novamente.

• Ganha o jogador que chegar primeiro ao fim da pista, onde deverá estar

a escrita a palavra “CHEGADA”.

C – Elefantinho Colorido (III)

Faixa etária: a partir de 4 anos.

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Objetivos:

• Agilidade, coordenação e percepção visual.

• Comunicação oral, identificação das cores, cultura popular.

• Ordem, respeito às regras, sentido de realidade e atenção.

Material:

• Nenhum

Desenvolvimento:

• Marcar no espaço do jogo duas extremidades ou dois círculos grandes nas

extremidades, onde todos os educandos se posicionarão, escolhe-se um

para começar, que ficará no centro e dirá:

- Elefantinho colorido!

• Todas as crianças respondem:

- Que cor?

• O educando do centro responde:

- Só passa quem tiver a cor...(dirá uma cor qualquer)

• Quem tiver aquela cor na sua roupa pode trocar de lado tranquilamente,

pois está livre. Todos que não tiverem a cor escolhida também devem

trocar de lado rapidamente, evitando ser tocado pelo educando que disse a

cor, pois este tentará tocar em alguém para se tornar seu ajudante.

Repete-se a brincadeira até que todos sejam pegos, vence quem ficar por

último.

D – Formar Letras Com O Corpo (IV)

Faixa etária: a partir de 10 anos.

Objetivos:

• Ética, trabalho e consumo.

• Valores de coerência, cooperação, iniciativa, esforço e concórdia.

• Espírito de equipe, concentração e agilidade.

Material:

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• Nenhum.

Desenvolvimento:

• Dividir os participantes em equipes. O educador deverá combinar

antecipadamente qual deverá ser a posição em que deverão cumprir a

tarefa. Em pé, sentados, deitados ou mistos.

• O educador fala uma determinada letra do alfabeto que os grupos deverão

formar utilizando-se de seus corpos, virados para o lado em que o

educador se encontra, para que ele a leia.

• Todos os participantes devem participar da formação da letra.

• A equipe que terminar primeiro ganha 1 ponto, e o educador reinicia

dizendo outra letra e como deverão formá-la ou deixando os educandos à

vontade para decidir a formação.

• A atividade terminará por pontos ou por um número de vezes, sendo

vencedora a equipe que fizer mais pontos.

O Recreio Escolar defendido nessa tese centra-se em alguns objetivos

como: realçar o mérito da brincadeira; contestar as desigualdades sociais em

relação aos brinquedos; auxiliar a criança-consumidor para uma educação em

que aprenda a escolher; beneficiar as trocas e os encontros por intermédio da

brincadeira.

Deve-se ter o cuidado quanto ao direcionamento do recreio, a forma como o

ambiente será organizado pode ou não estimular o ato de brincar, a

socialização e a interação entre crianças e o educador. Um Recreio Escolar

deve ser idealizado e orientado por algumas perguntas geradoras como: Que

brinquedos, brincadeiras e jogos fazem parte do recreio? Como estão

arrumados? São escolhidos com que intenção? Como é a organização física e

social do recreio? Como as crianças reagem durante o recreio? Que

apropriação fazem dos brinquedos, brincadeiras e jogos? Quais as

brincadeiras predominantes?

Para o educador estimulador e transformador não é suficiente garantir

apenas acesso a brinquedos, brincadeiras, jogos, mas a promoção de Ação

educativa que tem o ato de brincar como eixo condutor. O objetivo central do

Recreio Escolar, é apresentar condições necessárias para que os educando

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troquem experiências entre si e com os educadores, visando o seu

desenvolvimento. Sendo um espaço privilegiando para a valorização, o

resgate e a preservação da cultura lúdica e do movimento corporal. O

brinquedo é visto como suporte de brincadeiras sendo reconhecido numa

dimensão psicológica, porém portadores de significados culturais.

O recreio escolar define-se como um cenário privilegiado para que o mundo

que se oferece às crianças nos variados contextos históricos e sociais seja

analisado, problematizado e discutido. O educador estimulador e

transformador deve atuar orientando os educandos, brincando com os

mesmos e estimulando sua relação entre si. Poderá valer-se de histórias

cotadas com base nos brinquedos, assim ludicamente as crianças

familiarizam-se com as Possíveis leituras do mundo. Pode propor também

pesquisas de brinquedos, brincadeiras e jogos de outras épocas para

montagem de livros ilustrados sobre brinquedos antigos.

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CONCLUSÃO As diretrizes assumidas nesta pesquisa relacionam-se a visões sobre infância e

seu movimento corporal, o brinquedo e o ato de brincar. A presente pesquisa

monográfica, destinada a educadores, a pesquisadores e ao público em geral,

ressaltou em sua estruturação, a discussão sobre os benefícios da

psicomotricidade no âmbito escolar.

A infância é imbuída de uma visão idealizada do passado do adulto. É

considerada como a idade do possível. Projeta-se sobre ela a esperança de

mudança, de transformação social e renovação moral. Afirma-se que há sempre

uma criança em cada adulto, pela memória e imaginação.

Hoje nos deparamos com uma imagem de infância enriquecida por concepções

psicológicas, psicomotoras e pedagógicas, que defendem o brinquedo,

brincadeiras e jogos no desenvolvimento global e na construção do conhecimento

infantil.

Em um recreio escolar o jogo é construído de acordo com os valores sociais e

modo de vida, se expressando por meio da linguagem. Ao jogar a criança executa

regras e desenvolve atividade lúdica. Temos também os benefícios dos

brinquedos por propiciar a criança a reprodução do cotidiano, a natureza e as

construções humanas. Possui como um dos objetivos apresentar à crianças um

substituto dos objetos reais, para manipulação.

Quando a brincadeira caracteriza como a ação representada pela criança ao

tornar viável as regras do jogo, ao aprofundar na ação lúdica. Ao brincar a criança

se distancia da vida cotidiana e penetra no mundo imaginário.

O fato de predominarem somente brincadeiras de pique no recreio escolar

poderia estar relacionado com a falta do conhecimento de brincadeiras culturais,

então as crianças brincam com jogos de perseguição. Pelas observações,

conclui-se a perda das brincadeiras da cultura popular. A pesquisa mostrou que

boa parte do recreio é consumida com a atividade de merendar e que nos espaço

físico da quadra esportiva as crianças correm ou jogam apenas futebol utilizando

algumas vezes de objetos como tampinhas de garrafa, copo de guaraná natural

ou bola de papel. Há um processo de exclusão, na medida que os maiores

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dominam os melhores espaços físicos e ditam suas regras. Suscita-se um novo

questionamento: até que ponto o brincar da criança, durante o recreio, é

espontâneo se há uma relação dominante?

Dessa forma, defendemos o recreio escolar x movimento corporal com a

mediação de um professor - transformador - auxiliador do desenvolvimento

corporal contínuo e global das crianças.

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ANEXOS

Índice de anexos

Anexo 1 >> Imagens de materiais montessorianos

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ANEXO 1

Alfabetário – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

Torre Rosa – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

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Escada Marrom – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

Letra de Lixa – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

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54

Barras Vermelhas e Azuis – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

Primeiras Caixas de Cores – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

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Caixa de Sons – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

Terceira Caixa de Cores – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

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Encaixes Planos – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

Encaixes Sólidos – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

Telaio de cadarço – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

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Telaio de ilhós – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

Telaio de fivelas – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

Telaio de colchetes – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

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Telaio de zíper – http://www.pedagogiaemfoco.pro.br

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ARIÈS, Philippe. História Social da Criança e da Família. Rio de Janeiro: LTC editora. 1981. Segunda Edição. BRASIL, Estatuto da Criança e do Adolescente. ECA, Lei Federal n 8. 069 de 13 de julho de 1990, Artigo 86, garantia de Direitos, como uma intervenção filosófica e operacional de diversos órgãos e agentes voltados para a realização sem detenção dos direitos infanto-juvenis. Rio de Janeiro, 2005. BRASIL, MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E DO DESPORTO. Referencial curricular nacional para a educação infantil. Secretaria da Educação Fundamental. Brasília MEC/SEF, 1998. GIROUX, H. Os professores como intelectuais: rumo a uma pedagogia critica da aprendizagem. Porto Alegre, 1997. HENRI, Wallon In GALVÃO. Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Rio de Janeiro: Vozes, 1995. KRAMER, Sonia e LEITE, Maria Isabel Ferraz Pereira In Cristina Laclette Porto. Infância e produção cultural. São Paulo: Papirus, 1998. LEVIN, Esteban. “O corpo ajuda o aluno a aprender”. Entrevista com o psicomotricista argentino. Revista Nova Escola, jan/fev. 2005. MONTESSORI, Maria. Pedagogia Científica. A descoberta da criança. São Paulo. Flamboyant, 1965. MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação do futuro. São Paulo: Cortez, 2005.

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OLIVEIRA, Paulo de Salles. Brinquedo e indústria cultural. Petrópolis: Vozes, 1986. PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária 2005. RIZZO, Gilda. Jogos Inteligentes: a construção do raciocínio na escola natural. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. VYGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. São Paulo: Martins Fontes, 1998. Sites: Material Montessori: 15 fotografias coloridas. Disponível em: http://www.pedagogiaemfoco.pro.br - Acesso em 14 de junho de 2011. História da Educação Física. Disponível em: http://www.cdof.com.br/historia.htm

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ÍNDICE FOLHA DE ROSTO ................................................................................................2

AGRADECIMENTO ................................................................................................3

DEDICATÓRIA .......................................................................................................4

RESUMO ................................................................................................................5

METODOLOGIA .....................................................................................................6

SUMÁRIO ...............................................................................................................7

INTRODUÇÃO ........................................................................................................8

CAPÍTULO I ..........................................................................................................11

DELINEANDO A CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA AO LONGO DA HISTÓRIA

1.1 – Concepção de Infância Hoje ........................................................................21

CAPÍTULO II ........................................................................................................ 25

A IMPORTÂNCIA DA BRINCADEIRA E DO BRINCAR PARA O

DESENVOLVIMENTO GLOBAL DA CRIANÇA

2.1 – O Brincar Segundo Piaget ...........................................................................27

2.2 – O Brincar Segundo Vygotsky ...................................................................... 30

2.3 – Dialogando Com As Teorias de Piaget E Vygotsky Sobre O Brincar ..........33

2.4 – O Brincar Segundo Wallon ...........................................................................35

2.5 – Importância Para O Desenvolvimento Infantil Segundo Montessori ............38

2.6 – A Importância Da Mediação Do Professor ...................................................40

CAPÍTULO III ........................................................................................................43

SUGESTÕES DE BRINCADEIRAS E JOGOS A SEREM USADOS

NO RECREIO ESCOLAR

CONCLUSÃO .......................................................................................................49

ÍNDICE DE ANEXO ..............................................................................................51

ANEXOS ...............................................................................................................52

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ...........................................................................59

ÍNDICE ..................................................................................................................61