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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE” A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA EDUCAÇÃO INFANTIL. ALICE JOSEFA DA CONCEIÇÃO RODRIGUES ORIENTADORA: Prof.ª- MARIA ESTHER DE ARAÚJO OLIVEIRA SIMOLÂNDIA – GOIÁS AGOSTO – 2008

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA EDUCAÇÃO INFANTIL.

ALICE JOSEFA DA CONCEIÇÃO RODRIGUES

ORIENTADORA: Prof.ª- MARIA ESTHER DE ARAÚJO OLIVEIRA

SIMOLÂNDIA – GOIÁS AGOSTO – 2008

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E

DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO “A VEZ DO MESTRE”

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR

PARA EDUCAÇÃO INFANTIL.

Apresentação de monografia ao Instituto A Vez do

Mestre – Universidade Candido Mendes como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Educação Infantil e

Desenvolvimento.

Por: Alice Josefa da Conceição Rodrigues

.

3

AGRADECIMENTOS

“A Deus” Pai, antes mesmo que eu

nascesse,tu estavas presentes nos

meus primeiros passos também

estavas lá, quantas vezes em meio as

decepções e dificuldades, quando os

meus pés resvalavam e eu vacilava, tu

me tomavas pelas mãos e me

sustentavas.Aos amigos e as minhas

filhas pela ausência e

compreensão.”Somente a renúncia de

tantos momentos que poderiam ser

vividos juntos, traduz a palavra amor,

que estimulou e reforçou a conclusão

deste trabalho.

4

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho de pesquisa aqueles

que vieram me orientando na conquista

da minha formação pedagógica e

sobretudo na participação para

conclusão desta monografia.

5

“Não nasci marcado para ser

professor assim como sou. Vim me

tornando dessa forma nas tramas, na

reflexão sobre ação, na observação a

outras práticas na leitura persistente e

critica. Ninguém nasce feito. Vamos

nos fazendo aos poucos, na prática

social, de que tornamos parte.”

(PAULO FREIRE)

6

RESUMO

Formar professores como profissionais para o campo da ação pedagógica, de

acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, desenvolvem o currículo

através de um processo construtivo de aprendizagem, cuja prática parte do

oferecimento de um repertório de disciplinas que atendam a diversidade do

saber natureza do processo escolar. A formação do educador que irá atuar

com esta faixa etária que varia de 0 a 6 anos, deve ser voltada para o pleno

desenvolvimento da capacidade física, mental, intelectual da criança, levando

em consideração suas habilidades, a forma de pensar, agir, organizar o

conhecimento.A partir destes conceitos este assunto será desenvolvido nos

capítulos seguintes sendo detalhadamente descritos, buscando uma maior

compreensão reflexão do tema deste trabalho.Verificar quais as principais

qualidades exigidas do professor de educação infantil; Constatar se os

professores que lidam com a educação infantil são preparados especificamente

para essa função; Verificar que oportunidades de educação a sociedade,

através dos municípios, iniciativas particulares, oferece à educação infantil;

Verificar quais as experiências educativas oferecidas aos professores de

educação infantil; Analisar quais os métodos usados pelos professores de

educação infantil na sala de aula; Apresentar sugestões de atividades para

serem usadas pelos professores de educação infantil. Foram realizadas

entrevistas para verificar como estão sendo feitos os procedimentos na prática

da educação. O levantamento dos dados foi realizado por meio de consultas a

professores em exercício em escolas particular, municipal de educação infantil.

A análise e interpretação dos dados foram feitas baseando-se em caráter com

enfoque quantitativo/qualitativo.

7

METODOLOGIA

A metodologia a ser adotada consistirá na pesquisa bibliográfica, bem como

pesquisa de campo. O instrumento de coleta de dados se fará através de

entrevista. Esta será feita em três escolas do Município de Alvorada do Norte e

Simolândia - Goiás. Participando da pesquisa três professores que têm ensino

médio ou superior e que estão atuando como educadores da área infantil. Os

mesmos falarão dos procedimentos adotados com os alunos na sala de aula.

A proposta desta monografia irá se fundamentar baseando-se nas teorias de

Freinet, Piaget Freire, PCNs para Educação Infantil, Freire, DCNs para

Educação Infantil, Revistas, Etc. Nesse sentido, a monografia a que se

pretende apresentar evidentemente será complementada por vários outros

autores que representarão grande ajuda no aprofundar dos estudos, dando

assim sustento a pesquisa a ser realizada.

8

SUMÁRIO INTRODUÇÃO..................................................................................................11 CAPÍTULO I 1. Princípio Básico da Educação......................................................................14 1.1. A Constituição Federal e a LDBEN............................................................14 1.2. A qualidade na formação do profissional que irá atuar na educação infantil...............................................................................................................15 1.3. A formação dos professores nas escolas................................................. 17 1.4. Conhecimento sobre educação infantil......................................................18 1.5. Formar, profissionalizar e educar..............................................................20 CAPÍTULO II 2. Necessidades Formativas dos Profissionais de Educação Infantil...............22 2.1. O Problema................................................................................................22 2.2. Contextualização........................................................................................23 2.3. Propostas de Formação dos Educadores..................................................24 2.4 A Investigação............................................................................................24

2.4.1. Relato de profissionais que atuam na Educação Infantil..................25 2.5. Finalidades.................................................................................................26 CAPÍTULO III 3. Tendências Pedagógicas...............................................................................27 3.1. Tendência Crítica, Romântica e Cognitiva..................................................27 3.2. Procedimentos Teórico-metodológicos Adotados Pelas Entrevistadas..... 27 3.3. Análises dos Resultados.............................................................................31 3.4. Reflexão.....................................................................................................34

9

3.5. As Necessidades Formativas Detectadas..................................................36 CAPÍTULO IV 4. Fundamentação Teórica................................................................................37 4.1. Conhecimento Teórico-prático....................................................................37 4.2. Formação Docente pautada no modelo tecnicista......................................37 4.3. A formação Docente Pautada na Epistemologia da Prática.......................39 4.4. Sugestões Pedagógicas.............................................................................40 CAPÍTULO V 5. Exigências no Processo de Formação..........................................................42 5.1. O Que é a Formação Profissional? ...........................................................42 5.2. Formar Por Quê? .....................................................................................42 5.3. Objetivos da Formação Profissional da Educação Infantil.........................43 5.4. Perfil Profissional........................................................................................44 5.5. Os Ideais....................................................................................................46 5.6. O Professor Idealizado...............................................................................47 5.7. Competências e Habilidades Profissionais Para O Exercício do Magistério..........................................................................................................49 CAPÍTULO VI 6. Educação Infantil e Pedagogia......................................................................51 6.1. A Educação.................................................................................................51 6.2. Contextura da Infância................................................................................51 6.3. Um Olhar Sensível e Reflexivo Sobre a Criança........................................53 6.4. Os Parâmetros Pedagógicos da “Infância em Situação Escolar”...............54

10

6.5. Pedagogia Escolar......................................................................................55 6.6. O Sistema Educacional Brasileiro...............................................................56 6.7. Diretrizes Curriculares Nacionais Para Educação Infantil..........................58 CONCLUSÃO...................................................................................................61 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................62

11

INTRODUÇÃO

Pensando na formação do profissional de educação infantil e, durante

alguns meses pesquisando foi notada certa insuficiência de atividades que as

crianças deveriam realizar para desenvolver com maior êxito a leitura, a escrita

e a compreensão. Por isso a presente monografia vem apresentando como

tema: A importância da formação do professor para Educação Infantil.

Este trabalho enfoca as necessidades formativas dos educadores da

área infantil, visto que no Brasil existem professores que ainda não passou ou

não concluiu sua formação. Nos últimos anos a educação está se mostrando

enfraquecida, no que diz respeito ao desenvolvimento da criança. Não que o

problema esteja inteiramente ligado na formação do professor, mas que este é

um passo largo para melhorar o índice do desempenho escolar.

O tema abordado é de fundamental relevância, já que é preciso formar

professores capazes de dominarem tanto o conteúdo técnico, científico e

pedagógico, quanto perceber analítica e criticamente a realidade onde irão

atuar, pois a atividade profissional do educador envolve sua responsabilidade

sobre o destino dos alunos. Identificar essas necessidades definidas como

formas de conhecimento dos professores relativos á área de atuação no

desenvolvimento de sua prática pedagógica, é de fato, um dos primeiros

passos na tentativa de melhorar a formação do professor que lhes vem sendo

oferecida, seja em nível médio ou superior. É a partir desse ver que se situa a

questão deste projeto, para conhecer: quais são as necessidades formativas

básicas dos profissionais da educação infantil.

Na sua origem, as instituições de educação infantil tinham um caráter

assistencialista em função da classe social a qual se destinavam, isto é, ás

classes populares. Pouco se fazia no Brasil pela infância desditosa desde o

descobrimento até 1874. Sendo assim, não era exigida nenhuma preparação

dos adultos que lidavam com as crianças. Sabe-se que para se ter qualidade

12

de ensino muitos elementos interferem: professores capacitados, família

estruturada, escolas organizadas tanto na parte administrativa como na

pedagógica, ensino não tradicional, escolha de conteúdo e metodologias

adequadas á realidade local, etc. Este trabalho irá enfocar um desses

elementos: professores capacitados.

A razão da escolha do tema se prende ao fato das experiências vividas

cotidianamente na prática da participação na área escolar, onde a questão da

importância da formação profissional é uma constante. Analisar a

complexidade da atividade prática do profissional. Ter compreensão clara da

necessidade de articulação entre cultura e conhecimento, educação e

sociedade, compreendendo que é através da educação que se forma o modo

de pensar e agir no social. Constatar se os professores que lidam com crianças

pequenas são preparados especificamente para essa função; Verificar quais as

experiências de preparação dos educadores de crianças é oferecido; em outras

palavras, procura-se identificar problemas, carências e deficiências percebidas

na Educação, além de contribuir com sugestões e reflexões para que a

formação dos profissionais da educação infantil alcance os níveis de

reconhecimento e do valor que lhe cabem.

Historicamente, os professores eram vistos sem qualquer qualificação

e o processo de ensino ás crianças era baseado através da decoração.

Apresentava-se á elas as vogais, o alfabeto, as famílias silábicas, os números

e esperava-se disso que as mesmas os dissessem "de cor e salteado". Estes

métodos usados, por alguns professores provavelmente já viveram essas

experiência, não é mais realizado nos dias atuais. O desenvolvimento escolar

veio em função dos níveis de aprendizagem, se modernizando, desde o

momento em que o professor passou a ser conhecedor de novos critérios para

a apresentação dos conteúdos.

Isso se deu graças ás exigências da formação profissional prescritas

na Lei da Educação. A partir daí, o educador torna-se um especialista capaz de

difundir o novo, criar, propor situações de aprendizagem significativas, localizar

13

e trabalhar as dificuldades das crianças dentro dos Parâmetros Curriculares

para Educação Infantil. O que antes eram atividades de rotinas passa a ser

notadas como atividades livres em relação ás crianças, de forma a encorajá-

las a ter iniciativas e a ultrapassar seus medos. Dai a importância legal de o

professor passar por uma formação.

14

CAPÍTULO I 1. Princípio básico da educação 1.1. A Constituição Federal e a LDBEN

Segundo a Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação Nacional (LDBEN), a educação é direito de todos e dever da família

e do Estado. Segundo o Referencial Curricular Nacional (RCN), a educação

infantil deve propiciar situações de cuidados, jogos e aprendizagens orientadas

de forma integrada. Segundo MONTAGNER e outros a educação infantil é um

espaço de relações sociais entre os sujeitos, sujeitos históricos e interativos

que se constroem, em um currículo vivo, permeado de ações, atitudes,

conceitos, linguagens e interesses.

Conforme a Declaração de Jomtien (WCEFA 2001), a educação não se

realiza em isolamento. Dewey estabelece como princípio básico da educação a

experiência, fazendo o professor parte indissociável da aprendizagem (1945).

Talvez pela primeira vez em nosso país, começamos a pensar um perfil de

educador adequado às características e necessidades de alunos em diferentes

fases de seu desenvolvimento. Ou seja, começamos a pensar na criança, no

adolescente, jovem, no adulto que se encontra escondido atrás da palavra

“aluno” (CAMPOS, 1999 p. 127). A formação do professor de educação infantil

se pode fazer em Escolas Normais Superiores, Institutos Superiores de

Educação ou Universidades.

Alguns dados indicam que a grande maioria dos profissionais de pré-

escola e classes de alfabetização já possui nível médio (66,57% e 62,31%

respectivamente). Dos professores que atuam na pré-escola 20% já adquiriram

formação superior, enquanto nas classes de alfabetização apenas 9,14% têm

nível superior (KISHIMOTO, 1999 p. 62). Isso coincide com as dados dessa

pesquisa. Em síntese, dizemos que o professor é um profissional do humano

que: ajuda o desenvolvimento pessoal/intersubjetivo do aluno; um facilitador do

15

acesso do aluno ao conhecimento (informador informado); um ser de cultura

que domina de forma profunda sua área de especialidade (científica e

pedagógico-educacional) e seus aportes para compreender o mundo; um

analista crítico da sociedade, portanto, que nela intervém com sua atividade

profissional; um membro de uma comunidade de profissionais, portanto

científica (que produz conhecimento sobre sua área) e social (LIBÂNEO E

PIMENTA, 1999 p. 262).

1.2. A qualidade na formação do profissional que irá atuar na educação infantil.

Este capítulo é fundamental, pois trata a questão da formação do

profissional na pré-escola; e este por sua vez, precisa e deve estar ciente de

seu papel perante os pequeninos, ou seja, da sua responsabilidade

pedagógica, visto que houve um crescente amadurecimento no conceito de

Educação Infantil, principalmente após a Lei de Diretrizes e Bases nº 9394/96

que sinaliza em seu texto que a educação infantil é a primeira etapa da

educação básica. Para que esta mudança ocorra de forma plena e satisfatória,

é preciso que os cursos de formação de professores ou o magistério superior

estejam engajados na luta para uma formação de qualidade também voltada

para profissionais que atuam ou vão atuar na educação infantil. São poucas as

faculdades e universidades que oferecem esta área como formação.

Da mesma forma acontece com os cursos de pós-graduação; até

mesmo pelo fato da procura não ser muito grande. A área da educação infantil

deve ser vista como essencial na formação do professor, pois é a base da

formação do aluno, é onde o professor poderá desenvolver um trabalho

visando à construção do saber, estimulando o aspecto cognitivo, afetivo e

social da criança. É importante considerar que a educação é um processo

dinâmico e complexo envolvendo muitas variáveis não controláveis.

16

Portanto, o que se pode prever em termos comportamentais é muito

pouco e pobre em relação à riqueza do que ocorre no processo educativo. A

esse respeito convém ouvir Gusdorf (1987): “(...) O ensino é sempre mais que

o ensino. O ato pedagógico em cada situação particular ultrapassa os limites

dessa situação para pôr em causa a existência pessoal no seu conjunto.” É

preciso que o educador tenha sempre presente para si que o conhecimento

não é algo pronto e acabado, mas algo em constante movimento e

transformação. Importante também acrescentar, as recomendações feitas pela

Associação Nacional pela Formação de Profissionais da Educação – ANFOPE,

em 1980, no que diz respeito ao educador:

Ø O Ter docência como base da sua identidade profissional;

Ø O Dominar o conhecimento específico de sua área, articulado ao

conhecimento socialmente produzido, que lhe permita perceber as relações

existentes entre as atividades educacionais e a totalidade das relações sociais

em que o processo educacional ocorre;

Ø O Ser capaz de atuar como agente de transformação da realidade

na qual se insere.

O profissional da educação infantil deve ter em mente pensamentos

desafiadores, inquietos, responsáveis e, sobretudo estudiosos para que se

mantenham sempre ao lado dos avanços científicos da pedagogia, da

psicologia, da psicopedagogia e porque não da neurologia? Estes grandes

profissionais devem dominar estratégias de ensino que possibilitem que as

crianças ensaiem, estruturem projetos, façam explorações, elaborem

hipóteses, desenvolvam conjecturas que as ajude a sair do egocentrismo; que

seja um lançador de desafios; propositor de problemas e um motivador, jamais

incutindo conhecimentos, mas intermediando a construção de conceitos e de

significações.

O professor ao desenvolver trabalhos voltados para a faixa etária em

que atua, deve ter seu olhar voltado para o desenvolvimento humano; ter

comprometimento com a profissão, com as conquistas. A educação infantil que

17

desejamos é aquela que privilegia a existência plena da criança naquilo que lhe

é próprio e específico. Isto exige à contribuição de tudo aquilo que compõe o

universo escolar: a pessoa da criança, dos profissionais, seus colaboradores,

os conteúdos escolares e curriculares, os objetos, a instituição.

A escola proposta é um lugar de satisfação, altamente gratificante. Esta

proposta exigirá dos profissionais da educação infantil a reconquista do

entusiasmo cultural, da confiança de que a cultura que eles introduzem na

escola pode dar satisfação, produzir sentimentos profundos de realização.

Numa visão de educação infantil global, não há como discriminar nem pessoas,

nem tarefas; não há funções nobres e meio nobres. O que deve ser garantido

como meta é a formação do profissional em nível superior e um plano de

carreira para estimular a busca da melhoria, de desemprego e de qualificação

do mesmo dentro da opção que fazemos da educação para nossa criança.

1.3. A formação dos professores nas escolas

Observando os dados colhidos em um estudo realizado em meados de

2002, podemos notar a formação de professores, tanto em escola municipal,

quanto estadual e privada.

Em tal pesquisa foram

consultados 61

professores das escolas

escolhidas. A amostra foi

de 96,72% feminina, o que

corresponde mais ou

menos à tendência

nacional nas escolas de

educação infantil.

Nas escolas municipais: 38,71 % - magistério de 2º grau; 54

graduações em andamento ou completa; 3,2% pedagogia com ênfase em

18

educação infantil; 19,35% especialização. Nas escolas estaduais: 34,35% têm

2º grau/magistério; 61,54% graduação em andamento ou completa; 11,54%

pedagogia com ênfase em educação infantil; 11,54% especialização. Nas

escolas particulares: 28% têm 2º grau/magistério; 66% graduação em

andamento ou completa; 10% pedagogia com ênfase em educação infantil;

14% especialização.

Ainda há poucos professores com curso de Pedagogia, com ênfase em

educação infantil. Mas a maioria tem algum preparo específico para trabalhar

com crianças. Mas há grande preocupação com a competência, pois 91,8%

dos professores pretendem dar continuidade à sua formação. Supervisores,

orientadores e psicólogos: foram consultados 44.

Formação: 35,85% concluíram graduação específica na área; 54,72% -

têm especialização; 86,36% pretendem dar continuidade à sua formação.

Portanto, ou estão formados especificamente, ou vão procurar novos cursos.

Problemas mais atendidos: 16,86% - problemas comportamentais; 16,86%

problemas disciplinares; 16,28% problemas familiares e 10,93% dificuldades de

aprendizagem. Quanto ao seu preparo, a maioria citou como objetivos mais

importantes da legislação sobre Educação Infantil: maior valorização do

educador e exigência de formação contínua e superior.

1.4. Conhecimento sobre educação infantil

Para alguns professores, os objetivos mais importantes das leis da

educação infantil são: Estatuto (determina que as creches e pré-escolas façam

parte dos direitos da criança e do adolescente), a Lei Federal 08969/90 e o

Conselho Estadual de Educação determinam: atender as necessidades básicas

de desenvolvimento da criança nessa etapa evolutiva, de acordo com a

realidade social e cultural, respeitando sua individualidade.

19

Na prática, os

principais objetivos são: a

socialização, a ética, o

desenvolvimento do

raciocínio próprio, a

formação de hábitos e

habilidades, o gosto pela

descoberta, expressão

pessoal e grupal, vínculo

afetivo e de troca com os adultos e as crianças, e também propiciar o

desenvolvimento infantil, garantindo a aquisição de novos conhecimentos

sociais, morais, físicos, mentais e autonomia. Com respeito às práticas com as

crianças, deve haver o desenvolvimento integral, que atenda a faixa etária, a

introdução dos temas universais, vivências sensoriais, socialização, cuidado,

ampliar capacidades de comunicação, pensamento (áreas de linguagem,

motora, perceptiva e sócio-afetiva).

Devem-se valorizar as histórias individuais, construir limites, hábitos,

atitudes e cuidar da formação da autonomia, atender ao caráter lúdico,

promover a liberdade de aprender e ensinar diferentes culturas. A Educação

Infantil deve estar incorporada à educação básica e o enfoque educacional em

oposição a um sistema assistencialista. A forma de avaliação deve ser feita de

acompanhamento e registro do desenvolvimento do aluno. Deve-se

proporcionar a inter-relação entre a criança e a escola, complementada com o

apoio da família e da comunidade. Necessitam-se estabelecer a vinculação

entre a educação escolar, o trabalho e a prática social.

(...) “O importante na escola não é só estudar”, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade, é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se’ amarrar nela’! Ora, é lógico... “Numa escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz.”

(Paulo Freire)

20

1.5. Formar, profissionalizar e educar

A maioria das

escolas exige formação

superior dos educadores,

ou que esteja ao menos

realizando um curso

superior, aliás, atendendo

as prescrições da Lei da

Educação. Como incentivo

aos professores, devem as

escolas estaduais,

particulares e municipais disponibilizarem horários para poderem participar em

eventos. Além disso, todas estas poderiam promover reuniões e palestras

oferecidas aos educadores. As escolas precisam demonstrar grande interesse

em adaptar-se aos novos preceitos da legislação proposta e às práticas que se

estão fazendo presentes.

De acordo com os dados obtidos, pode-se crer que a educação infantil

se está adaptando às normas legais e que existe grande interesse dos

responsáveis, tanto diretores e professores como profissionais da equipe

pedagógica em formar melhor os seus profissionais e oferecer serviços mais

qualificados às crianças que procuram à escola infantil. Por outro lado, faz-se

necessário que a educação infantil se integre cada vez mais na educação

básica, formando continuidade com a educação seguinte. Para tal, necessitam

de educadores bem formados, conhecedores aprofundados dos objetivos da

educação infantil e consciente da importância de sua atuação junto às crianças.

Esperamos que a nossa pesquisa possa contribuir na melhoria da

educação infantil e alertar os responsáveis pela educação em todas as redes

da necessidade de ótima e adequada formação para oferecerem educação de

alto nível às crianças, pois, em grande parte, a continuidade da mesma vai

21

depender dos hábitos costumes e conhecimentos que adquirirem neste nível

da educação.

22

CAPÍTULO II 2. Necessidades formativas dos Profissionais de Educação Infantil

2.1. O problema

Identificar necessidades formativas dos profissionais de educação

infantil é de fato, um dos primeiros passos na tentativa de melhorar a formação

do professor que lhes vem sendo oferecida, seja em nível médio ou superior. É

a partir desse ver, que se situa a questão da presente investigação, para

conhecer: quais são as necessidades formativas básicas dos profissionais da

educação infantil.

Definimos necessidades formativas como formas de conhecimentos

dos professores relativos à área de atuação no desenvolvimento de sua prática

pedagógica. Em outras

palavras, procura-se

identificar problemas,

carências e deficiências

percebidas pelos

professores no

desenvolvimento do ensino

ou, ainda, de acordo com

Blair e Lange (1990, apud

Garcia, 1998, p. 66), a divergência entre o que é a prática habitual e o que

deveria ser a prática desejada.

A presente investigação encontra sua importância no âmbito da

formação do educador infantil pela pequenez de estudos sobre o tema, unindo-

se a outras propostas de reorientação desta formação como meio de contribuir

com sugestões e reflexões para que a formação dos profissionais da educação

23

infantil, sendo hoje a primeira etapa da educação básica, alcance os níveis de

reconhecimento e do valor que lhe cabem. Dessa forma, contribuir com a

reflexão sobre os problemas de formação que afligem os profissionais de

educação infantil hoje se torna o principal objetivo deste trabalho.

2.2. Contextualização

O contexto de formação dos profissionais da educação infantil vem

forçando uma profunda reflexão, principalmente por ser uma área de atuação

profissional que, historicamente, tem sido relegada no panorama educacional

brasileiro. O profissional da educação infantil é visto neste cenário sem

qualquer exigência de qualificação, é que sua formação passou a ser discutida

somente a partir de mudanças sociais significativas que influenciaram reformas

no sistema educacional.

Na sua origem, as instituições de educação infantil tinham um caráter

assistencial em função da classe social a qual se destinavam, isto é, às classes

populares. Pouco se fazia no Brasil pela infância desditosa desde o

descobrimento até 1874(Kramer1992, p. 48). Sendo assim, não era exigida

nenhuma preparação dos adultos que lidavam com as crianças.

Tal atendimento contava com as amas de leite ou mães mercenárias.

Sendo as iniciativas particulares de atendimento mais numerosas em relação

àquelas oferecidas pelo governo, este também começa a se responsabilizar

por esse atendimento. Com isto, a criança passa a ser vista como o adulto de

amanhã e a educação a ela oferecida assume, então, um caráter

compensatório. Esta característica reforçou a tônica preconceituosa desse

atendimento. A crítica à educação compensatória trouxe à tona seu caráter

assistencialista e discriminatório (Khulmann Jr.,1998, p.182). A infância, então,

passa de abandonada a centro das atenções no que tange aos interesses

governamentais, pois o investimento em seu atendimento significava benefícios

políticos ao Estado.

24

2.3. Propostas de formação de educadores

As propostas de formação de professores que têm sido elaboradas nos

últimos seis anos visam um perfil profissional oposto àquele sem qualificação

para atender às funções indissociáveis de cuidado e educação no atendimento

à criança. Essas propostas apontam para a necessidade de rever a antiga

visão identificada pela falta, pela carência, para outra que reconhece a criança

como cidadã, sujeito histórico, criador da cultura. Assim, deve-se levar em

conta o duplo objetivo de educar-cuidar, dois lados essenciais à ação dos seus

profissionais. Não se trata de inverter prioridades, mas sim de conjugá-las,

fazendo um novo conceito de educação infantil como espaço de educação e

cuidado ou atenção. A atividade profissional de um professor envolve sua

responsabilidade sobre o destino dos alunos. Portanto, cada currículo, cada

curso precisam ter propósitos bem conhecidos tanto pelo aluno quanto pelo

educador.

Assim, em função do quadro que se apresenta sobre a formação do

profissional de educação infantil em nosso país, foi preciso investigar a prática

de professoras dessa área e conhecer sua formação para identificarmos suas

necessidades formativas. Pretende-se com isso contribuir com algumas

sugestões para a melhoria da formação desse profissional, principalmente em

seu nível inicial.

2.4. A investigação

A pesquisa desenvolveu-se em três escolas no município de Alvorada

do Norte-Go num período de dois meses, tendo como entrevistados três

profissionais: de escola particular e municipal, respectivamente. A escolha das

profissionais justifica-se por suas diferenças de nível de formação (médio e

superior), a localização das escolas em que atuam (rural e central) e seu tempo

de experiência na educação infantil. A presente investigação procedeu-se em

dois estudos de caso referente a concepções de profissionais de educação

infantil e a prática pedagógica.

25

Para isto foram utilizadas entrevistas semi-estruturadas e normas de

observação da prática das professoras como instrumento de coleta de dados.

Primeiramente, buscou-se conhecer como ocorreu a formação inicial das

profissionais, assim como, suas percepções sobre seu trabalho docente, o que

contribuiu para confirmar ou refutar aspectos por nós observados em suas

práticas pedagógicas. Organização da sala, interações (professora/criança,

professora/professora) atividades desenvolvidas e materiais utilizados foram

considerados nos momentos de observação.

2.4.1. Relato de profissionais que atuam na Educação Infantil

A seguir encontra-se descrito alguns depoimentos de professores da

Educação Infantil, que contam um pouco de sua prática e de seu amor pelo

trabalho que realizam.

“Meu trabalho com a educação infantil tem sido muito gratificante

porque sempre tenho retorno das aulas propostas. Além disso, há um fator

muito motivador que é o elo afetivo entre o professor e aluno. É com muita

alegria que trabalho todos os dias.” Professora Núbia.

“Sendo a Educação Infantil alicerce para uma educação de qualidade

sinto-me na obrigação (por ser plenamente apaixonada por essa modalidade

de ensino) de participar para a solidificação desse alicerce”. Trabalho com

crianças de 4 e 5 anos em uma escola da rede privada. A cada dia sinto-me

mais surpreendida com tanta imaginação, reflexão e até mesmo na construção

de seus próprios conhecimentos pelas crianças. Realizo um trabalho baseado

na pedagogia de projetos elaborados e desenvolvidos com a total participação

dos alunos, os quais tornam os conteúdos mais significativos, prazerosos e

torna a aprendizagem uma verdadeira brincadeira construtiva do saber. “Enfim,

trabalhar com crianças de Educação Infantil é extremamente prazeroso,

surpreendente e apaixonante, pois o retorno que eles nos trazem é

maravilhoso.” Professora Hosana

26

“Meu trabalho com as crianças da Educação Infantil é muito

gratificante, pois adoro trabalhar com crianças. Eu trabalho com crianças de 5 a

6 anos deidade, e eles adoram quando eu levo novidades como trabalhinhos

de pintura,desenhos para colorir,e trabalhinhos de números. As crianças me

obedecem e eu admiro isso nelas.” Professora JÔ

2.5. Finalidades

A fim de identificar as principais necessidades formativas destas três

profissionais, suas práticas e suas percepções foram analisadas à luz de

concepções de criança, educação infantil, perfil profissional e formação

docente que caracterizam por sua vez as tendências pedagógicas romântica,

cognitiva e crítica da educação infantil. A seguir, essas concepções e práticas

foram constatadas àquelas apontadas pela produção científica da área como

as mais atuais e adequadas (tendência crítica) levando à identificação das

necessidades formativas das três profissionais.

27

CAPÍTULO III 3. Tendências pedagógicas

3.1. Tendência crítica, romântica e cognitiva

A tendência crítica identifica-se como uma educação para a cidadania,

isto é, que contribua para uma inserção crítica e criativa dos indivíduos na

sociedade. Concebe a pré-escola como um lugar de trabalho, a criança e o

professor como cidadãos, sujeitos ativos, cooperativos e responsáveis. A

tendência romântica concebe a criança como a semente do futuro e a

professora é a jardineira, a protetora da infância, que cultivará o

desenvolvimento das potencialidades infantis, a felicidade e a verdadeira

humanidade.

Por sua vez, a tendência cognitiva privilegia o aspecto cognitivo do

desenvolvimento infantil, objetivando formar homens criativos e descobridores.

A criança é vista como pesquisador, explorador e o professor é o estimulador

dos avanços das etapas de desenvolvimento cognitivo da criança. É bom

registrar que foi básica para este capítulo a leitura das tendências pedagógicas

á proposta deste trabalho.

3.2. Procedimentos teórico-metodológicos adotados pelas entrevistadas Professora Núbia

A prática da professora Núbia, cursando Pedagogia, que atua com uma

turma de Jardim I com quatorze crianças na escola particular central em

Simolândia - GO revelou forte preocupação em adequar o comportamento das

crianças ao que é considerado como socialmente correto. Gosta de ensinar

seus alunos como se fossem líderes de forte opinião, valorizando assim a

28

expressão oral. As crianças de hoje, para ela, seriam os adultos de amanhã,

nos quais era preciso cultivar a disciplina, a flexibilidade (o professor não pode

ser único o tempo todo). Exige muito e ensina brincando. Valoriza o

individualismo (eu ensino e eles criam, devem fazer sozinhos), humanidade e o

ser espiritual, característica própria de uma tendência romântica de trabalho na

educação infantil, além disso, o domínio está em primeiro lugar. As atividades

desenvolvidas na turma da professora Núbia voltavam-se, com muita

freqüência, para a escrita, atividade oral, jogos e dinâmica.

Os jogos e as dinâmicas como atividades de recreação funcionam

como combustível para as suas crianças. A destreza e a perfeição na execução

das atividades eram as principais exigências da professora para com seus

alunos. Durante as explicações a professora exigia silêncio e atenção, por isso

era essencial que as crianças devessem permanecer sentadas e caladas.

Na desobediência a esta regra, o aluno era chamado à atenção com

carinho e muita dedicação aos poucos todos seguiam as regras pré-

estabelecidas pela professora. Diz ela que o seu objetivo como professora é

que o aluno aprenda brincando sem exigir muito da criança nessa fase.

A relação da

professora Núbia com as

crianças parecia ser

determinada pela

necessidade de ensinar-

lhes os conteúdos pré-

estabelecidos pela grade

curricular da instituição

escolar e bons modos.

Ensina algumas normas

de boa conduta tais como comportamentos, á partilha, cooperação e trabalho

em grupo e isto é, a serem educadas, estimulando assim sua inteligência. Para

esta professora, as crianças de escola privada na qual atua chegam pré-

29

alfabetizada, ou seja, conseguem decodificar alguns símbolos. Porém precisa

ser conduzida ou reformular seu conhecimento, sua codificação, para assim se

estabelece a alfabetização que se desencadeia na pré- escola.

Ela abre um leque chamando atenção para aquelas crianças que não

conseguem decodificar alguns símbolos, tais como: a primeira letra do seu

nome os símbolos e seus siguinificados. Isto é, observado mais nas famílias de

baixa escolaridade as péssimas condições de vida, ainda tem aqueles que

dizem que a criança só deve entrar na escola a partir dos seis anos de idade.

Nesse período a criança encontra muita dificuldade para ser

alfabetizada. Percebe-se então, a forte intenção de escolarização das

crianças nos procedimentos desta professora. Tal característica de trabalho

hoje é bastante criticada pela literatura por não ser considerada adequada às

atuais necessidades de educação das crianças de 0 a 6 anos de idade.

Professora Hosana

A professora Hosana tem ensino médio e trabalhava na escola

particular central em Alvorada do Norte com uma turma de “Jardim II” formada

por dezessete crianças. Sua prática pedagógica caracterizava-se pela

organização da sala em cantinhos de atividade ou áreas de trabalho, como:

área da lição, de recorte e colagem, leitura, jogos, artes e casinha. Sempre

após as atividades de rotina (oração, cântico, história) a professora explicava

para a turma a atividade do dia que seria desenvolvida no dia.

Durante o desenvolvimento das atividades a postura da professora era

de incentivos e elogios às crianças. Sua relação com elas era amigável e

descontraída. As regras da sala eram estabelecidas juntamente com as

crianças e por elas cumpridas com responsabilidade, inclusive repreendendo-

se mutuamente sempre que alguém não as cumpria como, por exemplo, não

arrumar os materiais após o uso. As crianças se relacionam bem entre si, num

clima de cooperação e amizade.

30

Eram raras as situações de conflito ou agressividade observadas entre

as crianças. A interação da professora Hosana com as crianças era constante,

isto é, não se limitava às explicações das atividades, mas acontecia em todos

os momentos do início ao fim do horário da turma. Aparentemente, os

procedimentos da professora Hosana evoluem para posturas típicas da

proposta freinetiana quanto à organização do ambiente da sala de aula e das

atividades, sua satisfação na realização de interesses, vontades e

necessidades das crianças, a relação de confiança, afetividade, cooperação e

respeito mútuo. O espírito de liberdade e o incentivo produtivo na orientação e

acertos dos erros estavam sempre presentes no ambiente desta turma.

No entanto, a concepção de criança desta professora revela, também,

que estas são seres em desenvolvimento e que precisam ser estimulados e

desafiados a construir seu próprio conhecimento, como pressupõe a tendência

pedagógica cognitiva. Isso se confirmava pela interação que ela estabelecia

com as crianças, respeitando seu ritmo, seus limites, suas preferências.

Demonstrava acreditar no potencial das crianças e preocupava-se com sua

aprendizagem. Para ela, o bom professor é aquele que além de ter

competência e conhecimento prático para lidar com crianças, deve estar

atualizado.

Professora JÔ

A professora JÔ atuava na escola municipal rural com uma turma de

maternal II composta por doze crianças de 2 a 3 anos de idade no município de

Alvorada do Norte. Sua prática pareceu-nos fundada na formação ambiental,

pois ela agia, na maioria das vezes, com base na experiência prática adquirida

ao lidar com crianças dentro e fora da instituição. Percebia-se também sua

preocupação em relacionar as atividades a serem desenvolvidas à idade das

crianças, ou seja, ao seu estágio de desenvolvimento. As atividades voltavam-

se, com muita freqüência, para a escrita, pois faziam diariamente exercícios

diversos a fim de adquirirem mais segurança ao escrever.

31

Pareciam ser prioridade nesta turma as tarefas onde as crianças

devessem permanecer sentadas para desenvolverem as mesmas, de um modo

geral, eram bastante estimuladas à independência das crianças. Sempre ao

término das atividades, as crianças eram orientadas a guardar os materiais,

principalmente, os brinquedos, que eram espalhados à vontade pela sala. As

crianças tinham liberdade de movimentação e exploração do ambiente, sendo

sempre observadas por JÔ. A exploração sensorial e a atividade espontânea

das crianças marcavam a prática desta professora, revelando forte tendência

romântica de trabalho na educação infantil.

3.3. Análises dos resultados

A professora Núbia revelava-se

preocupada com o desenvolvimento

cognitivo das crianças, pois avaliava seu

trabalho apenas pelo aspecto da

aprendizagem ou não dos conteúdos

escolares. Era tal aspecto que a levava a

modificar seus procedimentos. Isto a

aproxima de uma tendência cognitiva de

trabalho na educação infantil, embora seus

conhecimentos sobre o desenvolvimento

cognitivo das crianças fossem bastante

superficiais. Sobre as contribuições do seu curso de formação, nos níveis

médios e superiores, para a sua prática diária com as crianças, a professora

considerou que não ofereceram grandes contribuições, principalmente no que

se refere aos conhecimentos relativos à educação infantil. Segundo ela, na

pedagogia é que foi tratada, de forma muito vaga, a importância de considerar

a “bagagem” que a criança traz. Por isso, afirma que é seus três anos de

experiência na educação infantil que a tem ensinado como desenvolver seu

trabalho com as crianças.

32

No entanto, a concepção de criança da professora Hosana revela,

também, que estas são seres em desenvolvimento e que precisam ser

estimulados e desafiados a construir seu próprio conhecimento, como

pressupõe a tendência pedagógica cognitiva. Isso se confirmava pela interação

que ela estabelecia com as crianças, respeitando seu ritmo, seus limites, suas

preferências. Demonstrava acreditar no potencial das crianças e preocupava-

se com sua aprendizagem. Dessa concepção de criança emana sua percepção

de educação infantil, isto é, de que está deve auxiliar a criança no seu

processo de desenvolvimento, contribuindo para sua formação nos seus

aspectos cognitivo, social, físico e emocional. Acredita que a educação deve

estimular a curiosidade e a criatividade infantil, ajudando a formar pessoas

autônomas.

Com relação à formação profissional a professora Hosana ressalta-se a

algumas coisas que lhe marcaram bastante como a importância de cantar, de

fazer jogos de regras, etc. Na formação em nível superior, no curso de

Pedagogia, segundo ela, foi enfatizada a importância de valorizar as conquistas

das crianças e a importância de conhecimentos sobre as etapas de

desenvolvimento infantil. Considerou, ainda, a ausência de conhecimentos

mais específicos sobre a educação infantil. Complementa sua idéia dizendo:

“na prática é que fui adquirindo mais conhecimento sobre a educação infantil”,

ou seja, quando começou a atuar como professora de educação infantil.

As falas da professora Hosana na entrevista foram bastante coerentes

com a prática pedagógica por ela desenvolvida. Esta se identifica, em muitos

aspectos, com a tendência cognitiva de educação infantil. Seu conhecimento

sobre o desenvolvimento infantil privilegia o aspecto cognitivo, preocupando-se

mais com o processo de aprendizagem das crianças, em seu desenvolvimento

nos aspectos sociais e culturais. Preocupavam-se, também, em adequar as

atividades à idade das crianças, como tentativa de relacionar as atividades às

fases de desenvolvimento infantil propostas por Piaget.

33

A prática da professora Hosana embora tenha revelado alguns

aspectos típicos da tendência cognitiva, por outro lado, também apontou para

uma perspectiva crítica em função da sua abertura de espírito às mudanças

que se lhe apresentam, pelas avaliações que faz do seu trabalho a cada ano,

acreditando que é possível e necessário melhorá-lo é, fundamentalmente, pela

consciência que revela sobre a necessidade de formação permanente do

profissional.

A professora JÔ avaliou que o seu curso médio de formação foi bom no

aspecto prático, pois sendo um curso direcionado para as monitoras da

Prefeitura, foi adaptado à realidade delas. Mesmo assim, ela considera que tal

curso contribuiu pouco para o trabalho que ela já desenvolvia quando monitora,

pois muitas coisas que lá foram tratadas ela já as fazia. O que se observou em

sua prática foi a tentativa constante de aplicar a teoria a pratica como um

receituário. Isso a levava ao desenvolvimento de uma docência ingênua, isto é,

acrítica e sem autonomia.

Contraditoriamente, sua concepção de criança não era romântica, pois

não as tratava como seres frágeis e necessitados apenas de cuidados, mas via

a criança como um ser curioso e explorador, observando sempre as

realizações das crianças. Sua concepção de desenvolvimento infantil centrada

em fases estanques limitava-a a agir com as crianças de modo a seguir uma

seqüência de atividades que estivessem de acordo com a idade e, ainda, via

seus alunos como estando todas em um mesmo nível de desenvolvimento em

função de terem, aproximadamente, a mesma idade. Isto aproximava a

professora Jô de uma tendência cognitiva de educação infantil.

Um aspecto comum, revelado pelas profissionais investigadas, refere-

se à ausência de conhecimentos relativos à educação infantil nos seus cursos

de formação. Em função disso, as professoras afirmam que tais conhecimentos

só foram adquiridos no próprio exercício da sua docência e assim foram

adquirindo á prática.

34

A partir do contraste entre tais concepções com aquelas características

da tendência crítica, nos foi possível detectar as necessidades formativas que

estão implícitas no desenvolvimento do trabalho pedagógico das professoras e

que resultam em práticas ainda muito distantes do que, hoje, se propõe como

uma educação infantil de qualidade.

3.4. Reflexão

Após proceder a análise das práticas pedagógicas das três

profissionais investigadas foi possível identificar problemas que constatamos

como marcadamente decorrentes da formação inicial à que foram submetidas.

Tais problemas referem-se a:

• Leitura equivocada de teorias psicológicas com tentativa constante de

aplicá-las como único construtor teórico para explicar e/ou encaminhar

as situações que se apresentam no dia-a-dia das crianças;

• Concepção ingênua do aspecto lúdico da educação infantil;

• Desconsideração do contexto sócio-cultural das crianças na sua

educação.

O primeiro problema decorre da prática pedagógica das professoras

revelarem uns fortes níveis psicológicos, pois elas agem com as crianças de

modo a tentar relacionar sua idade a determinados estágios de

desenvolvimentos, mais especificamente àqueles propostos por Piaget. Neste

sentido, as atividades se desenvolvem com base no cumprimento de regras de

comportamento previamente estabelecidas para cada estágio e seguidas pelas

professoras como um manual de como lidar com uma criança em determinada

idade.

O que se constata, portanto, é que os cursos de formação das

professoras entrevistadas desenvolveram-se em total desarticulação com a

prática, concretizada nos espaços de educação infantil produzindo, assim, um

35

receituário a partir das contribuições teóricas de Piaget, sendo estas

interpretadas pelas professoras de modo tecnicista, isto é, como procedimentos

a serem seguidos. O equívoco ocorre, também, pelo olhar simplista que, neste

caso, os cursos de formação lançam à complexidade do fenômeno educativo,

ao tentar compreendê-lo, exclusivamente, à luz da psicologia. Certamente, esta

é uma compreensão reducionista, portanto, incompleta, que por desconsiderar

outras áreas de conhecimento como a sociologia, a antropologia, a lingüística,

a história, não dá conta, por si só, de explicar todos os problemas que

envolvem a ação educativa.

Desse primeiro problema decorrem os outros dois, pois esse modelo

técnico de formação contribui para que os demais conhecimentos trabalhados

no curso pautem-se na tentativa de aplicação direta à prática pedagógica. Daí

surge a ingenuidade do aspecto lúdico observada na prática das professoras

que, a nosso ver, resulta dessa aplicação acrítica de teorias a prática, pois

associam a ludicidade apenas à brincadeira infantil, partindo da premissa de

que se o brincar é inerente à criança, então, toda criança para ter um

desenvolvimento adequado precisa brincar.

As crianças que

freqüentam as turmas das

professoras Núbia, Hosana

e Jô assemelham-se pela

classe social (média baixa)

a que pertencem

revelando, no entanto,

diferença fútil entre as

escolas particular, central e

rural, mais

especificamente, no que se refere às condições de moradia, constituição

familiar, nível de escolaridade e profissão dos pais, acessa a bens materiais e

culturais. Surge daí o terceiro e último problema de formação docente

36

constatado nas práticas aqui investigadas, que se refere à desconsideração do

contexto sócio-cultural das crianças na sua educação.

O que constatamos nas práticas investigadas foi à ausência de

referências ao contexto sócio-cultural das crianças nas atividades

desenvolvidas e a ênfase em valores e costumes próprios de uma classe social

mais abastada. Isso constatada com a realidade na qual as crianças vivem o

que pode levá-las a uma leitura preconceituosa em relação à sua classe social

e de valorização e assunção de uma identidade cultural contrária à sua.

Nesse sentido, consideramos que as necessidades detectadas

decorrem de um modelo de formação docente pautado na racionalidade

técnica evidenciando, primordialmente a necessidade de articulação, teórica-

prática, pois tal aspecto limitou a compreensão das profissionais quanto às

teorias trabalhadas no curso de formação, reduzindo-as a uma mera aplicação

prática e comprometendo uma reflexão crítica das professoras sobre sua ação

pedagógica.

3.5. As necessidades formativas detectadas

ü Necessidade de compreensão adequada das teorias psicológicas sobre

o desenvolvimento infantil;

ü Necessidade de visão crítica do aspecto lúdico na educação infantil;

ü Necessidade de valorização do contexto sócio-cultural na educação das

crianças.

37

CAPÍTULO IV 4. Fundamentação Teórica 4.1. Conhecimento teórico-prático

Em função dessas necessidades, podemos depreender que a

formação inicial de professores de educação infantil (Normal ou Superior) ou

continuada (desenvolvimento profissional) visando uma atuação docente na

perspectiva da tendência crítica, necessita levar em conta os seguintes

princípios básicos: Conhecimento teórico-prático da realidade na qual irão

atuar. Segundo Pimenta (1994), na formação de qualquer professor é preciso

tomar-se o campo de atuação como referência, isto é, tomá-lo como uma

totalidade em todas as suas determinações.

Ter contato com discussões e práticas que estimulem a sua atuação

numa perspectiva crítico-reflexivo. A reflexão crítica sobre a prática se torna

uma exigência da relação teoria/prática, sem a qual a teoria pode ir virando

blábláblá e a prática ativismo. (Freire, 1997), Ter compreensão clara da

necessidade de articulação entre cultura e conhecimento, educação e

sociedade, compreendendo que é através da educação que se forma o modo

de pensar e agir no social. Considerar a criança em seu contexto social e

cultural como ponto de partida para a elaboração de propostas para a sua

educação.

4.2. Formação docente pautada no modelo tecnicista

Como nos foi possível constatar, o modelo de formação docente

pautado na racionalidade técnica configura-se como a base de formação das

professoras investigadas. Em tal modelo, de racionalidade a atividade

profissional consiste na resolução de problemas instrumentais mediante a

aplicação de teorias (Schön, 1983). Por isso, a tarefa docente limita-se a

38

escolher corretamente os meios e procedimentos a serem aplicados na

resolução dos problemas da prática.

A característica

mais marcante deste

modelo de formação é,

portanto, a separação

entre teoria e prática.

Assim, esta terá lugar

após a aquisição de

conhecimentos teóricos a

serem nela aplicados, tal

como se estruturam os

cursos de formação de professores de educação infantil. Essa distância entre

teoria e prática na formação docente reforça o aspecto técnico desta formação,

quando nos primeiros anos do curso tenta equipar os alunos com teorias para

que eles depois, no último ano apenas, as apliquem nos momentos da prática

(estágios).

Mas, por outro lado, seria igualmente ineficiente submeter futuros

professores às experiências práticas logo no seu primeiro ano do curso de

formação, pois eles necessitam no início, de alguns conhecimentos básicos

que lhes permita, minimamente, um começo de reflexão e crítica sobre a

experiência a ser vivida.

De acordo com Schön (1983, apud Pérez Gómez, 1992) para

compreender a complexidade da atividade prática do profissional é preciso

distinguir três conceitos diferentes que integram o pensamento prático que são:

conhecimento-na-ação, reflexão-na-ação e reflexão sobre a reflexão-na-ação.

Esses processos que compõem o pensamento prático do professor

complementam-se para garantir uma intervenção prática racional. Este

pensamento prático é fundamental para que o professor compreenda o

39

processo de ensino-aprendizagem, a natureza do conhecimento acadêmico,

assim como, o seu papel como profissional e os princípios, conteúdos e

métodos da sua formação.

“As pessoas que vencem neste mundo são as que procuram as circunstâncias de que precisam e, quando não as encontram as criam”.

(Bernardo Shaw – filósofo)

4.3. A formação docente pautada na epistemologia da prática

Formar professores reflexivos conduz a uma reconceptualização da

teoria e do desenvolvimento prático do professor. O paradigma de formação

pautado na racionalidade prática tem como princípio básico a articulação entre

teoria e prática, que valoriza e reconhece a riqueza dos saberes docentes

constituídos na prática pedagógica e os toma como fundamentais no processo

de formação dos professores. É um paradigma que parte do pensamento

prático do professor. Entendemos, assim, que a ineficácia da formação docente

atribui-se ao modelo de racionalidade técnica reproduzido pelos próprios

formadores. Isto equivale dizer que esta mudança implica, antes de tudo, num

profundo repensar da concepção de formação docente por parte dos

formadores.

Estes precisam dar prioridade à prática do educador infantil para

iluminá-la com teorias, as quais só têm significado a partir das próprias

situações problemáticas vivenciadas na prática. É fundamental, também, que

seja estimulada a reflexão crítica dos futuros professores sobre essa prática, ou

seja, ao formador se coloca a tarefa de problematizá-la, de contagiar seus

alunos com a necessidade de questioná-la, ajudando-os a construir o que

Freire (1997) chamou de curiosidade epistemológica (p. 27), levando-os a

compreender a complexidade da sua ação educativa.

40

Sendo assim, uma alternativa de melhoria desta formação implica

numa mudança de paradigma que rompa com a racionalidade técnica em

direção a uma epistemologia da prática, visando à formação de professores

críticos e reflexivos. Isto conduz a uma reconceptualização da teoria e do

desenvolvimento prático do professor, enriquecida por olhares teóricos mais

adequados à condição da criança como ser histórico e social que é.

“O que ocorrerá se a educação de zero “a” seis anos permanecer da forma como está nas mãos de pessoas apaixonadas, mas quase sempre mal preparadas?...

(Celso Antunes)

4.4. Sugestões pedagógicas

Para tais sugestões buscaram-se inspiração em pensamentos e

pedagogias como as de Freinet e Piaget. Tomaremos por base a prática

educativa do trabalho piagetiano: Tudo começa pela ação.

Toda atividade na escola deve ser representada. A criança se

desenvolve no contato e na interação com outras crianças. A organização é

adquirida através da atividade e não o contrário. Na pré-escola é essencial

haver um clima de expectativas positivas em relação ás crianças de forma a

encorajá-las a ultrapassar seus medos e a ter iniciativas.

No currículo da pré-escola o eixo central são as atividades. Segundo

Freinet (1896-1966), a escola é o elemento de mudança social, popular sem

discriminação. Em sua pedagogia propõe o trabalho-jogo como atividade

mestra para escola popular dinâmica, questionando deveres tais, como:

ü Texto e desenhos livres;

ü Diários individuais e coletivos;

41

ü Oficinas de trabalhos manuais e intelectuais;

ü Aulas-passeio;

ü Jornais murais e impressos;

ü Trabalho como atividade verdadeira;

ü Cooperativa escolar.

Ainda faz-se necessário:

ü A dramatização;

ü Versinhos musicados;

ü Adivinhação;

ü Histórias em quadrinhos;

ü Jogo da memória;

ü Laboratório de informática;

Qualquer que seja o instrumento que adote, o professor deve ter claro

se ele é relevante pra compreender o processo de aprendizagem da turma e

mostrar caminhos para uma intervenção visando sua melhoria.

42

CAPÍTULO V 5. Exigências no processo de formação 5.1. O que é a formação profissional?

O conceito de formação está ligado necessariamente em estar

preparado para lidar com a área que irá atuar. No dicionário, este termo

significa que se concluiu um curso, ou seja, que o indivíduo foi diplomado. É

claro que ter um diploma não é suficiente para mostrar que a pessoa já é um

profissional. Para que isso ocorra, será preciso práticas para ganhar

experiência. Podemos assim, também usar a palavra experiência e

competência para definir a formação profissional.

5.2. Formar por quê?

É este o desafio que a educação deve enfrentar: Formar professores

capazes de atuar como educadores e que dominem não apenas o conteúdo

técnico, científico e pedagógico, mas, sobretudo, que sejam capazes de

perceber analítica e criticamente a realidade social, econômica e cultural em

que irão atuar. Tendo a compreensão de que o Curso Normal Superior não

está restrito à formação de profissionais que deverão atuar apenas na esfera

da ação educativa escolar, a habilitação em Educação Infantil direciona a

formação do professor para o campo da ação pedagógica escolar, tendo em

vista:

ü A – As necessidades mais prementes da educação brasileira, que estão

a exigir uma priorização da educação básica, hoje, considerado o nível

de ensino mais complexo e problemático, bem como de influência

decisiva sobre o desenvolvimento pessoal do indivíduo e sócio-

econômico do país;

43

ü B – As características da clientela (demanda de alunos) que procura o

curso, constituída, na sua grande maioria, de professores que já atuam

na área e que buscam a sua profissionalização.

Verifica-se que essa clientela está buscando no curso a sua identidade

profissional dentro de um contexto social que o reconheça como um

profissional qualificado. No campo da ação pedagógica escolar, o curso tem a

finalidade de formar o Educador para atuar no Magistério da Educação Infantil.

Na realidade, não se trata de formação exclusiva, como se poderá

perceber na proposta curricular do curso. O professor receberá uma formação

que o capacite não apenas para exercer a função docente - de domínio de

conteúdos e metodologias, mas como também um profissional capaz de

pensar, planejar, assessorar e executar o seu trabalho competente e de

conjunto na ação intra/extra-escolar. O curso deve englobar uma área de

conhecimento interdisciplinar que trata da educação formal: objetivos,

problemas, modalidades, metodologias e teorias que a fundamentam. A

educação nas sociedades modernas aponta para o desenvolvimento do

trabalho interdisciplinar, de equipes interprofissionais. O curso Normal Superior

- Educação Infantil deve atender a essa nova configuração do trabalho.

5.3. Objetivos da formação do professor de Educação Infantil

ü Preparar um profissional:

ü Capaz tecnicamente e profundo conhecedor da realidade específica na

qual atua e capaz de responder, na prática, às necessidades dessa

realidade;

ü Comprometido e socializador dos conhecimentos;

ü Capaz de resgatar a dignidade da criança como um ser integral, sujeito

do seu processo histórico e de sua condição de cidadão.

44

ü Formar profissionais para o campo da ação pedagógica, a saber, do

professor de Educação Infantil;

ü Formar educadores habilitados para a compreensão da realidade

educacional brasileira.

ü Aproveitar a vivência de situações pedagógicas que possibilitem o

permanente embate de conhecimentos entre os sujeitos

(alunos/professores) constitutivos do processo formativo.

5.4. Perfil Profissional

Sabe-se que um currículo, concebido apenas na sua dimensão restrita

não assegura, por si, qualidade ao curso. Fez parte da reflexão que resultou

nessa proposta curricular, a busca de uma "linha" para o Curso Normal

Superior. Contudo, esbarrou-se em algumas dificuldades sintetizadas nos

seguintes questionamentos. É desejável definir uma tendência pedagógica

para que todos os professores a assumam? É possível, neste momento

histórico e, num regime democrático, trabalhar sob o prisma de uma única

ideologia? É desejável adotar uma única teoria de aprendizagem, como

fundamento de toda a ação pedagógica do curso? Evidentemente, a resposta a

estas questões foi negativa. Como decorrência, julgou-se ser possível buscar

alguma coisa que pudesse garantir integração entre as diferentes disciplinas,

enquanto se vislumbra a dinâmica curricular.

Partindo-se do pressuposto de que as mudanças na sociedade

ocorrem, predominantemente, em função da qualidade da educação básica,

uma vez que esta tem que ser proporcionada a todas as pessoas, os cursos

deverá ter como metas formar professores competentes, comprometidos com

nossa realidade. Em outras palavras é preciso trabalhar com a convicção de

que os professores do ensino básico são uma das molas mestras do

desenvolvimento.

45

Conceber competência não é coisa fácil. A busca do desenvolvimento,

contudo, conduz à crença de que precisamos formar professores capazes de

lidar com o novo, de oportunizar situações que propiciem a produção do

conhecimento ou, pelo menos, a sua redescoberta.

Considerando que um ensino de vanguarda deve ter a pesquisa como

princípio básico, para que o sujeito se acostume a ler a realidade, julga-se

poder alicerçar nesse sentido, a metodologia do curso, independente da

tendência pedagógica adotada pelo professor. Acredita-se que, dessa forma,

se oportunizará ao aluno não apenas adquirir conhecimento, mas usar o

conhecimento para interpretar a realidade e enfrentar os desafios que a mesma

representa, produzindo o conhecimento, a partir da observação de diferentes

realidades.

Dessa forma, ao mesmo tempo em que o aluno se constrói, se

desenvolve, domina o processo de construção do saber. Transportando esta

linha de pensamento para os objetivos da formação profissional do educador

infantil, a partir dos componentes curriculares, ter-se-á um enfoque que se

mesclará com as grandes questões da sociedade, com os fundamentos do

processo de ensinar e de aprender e com os aspectos específicos do currículo.

É expectativa que, em todos esses momentos, o aluno mergulhará,

concomitantemente, na realidade e na teoria, numa perfeita inter-atuação teoria

X prática, esta última concebida como busca de dados que serão criticados e

explicados pela teoria, num processo de ir e vir. É através desse caminho que

se pretende preparar um aluno que tenha uma formação sólida de educador,

tanto a nível geral quanto ao nível específico da habilitação.

Como decorrência desse processo, o aluno terá um diálogo inteligente

com a realidade e saberá produzir e propor um projeto pedagógico consistente.

Isto se reveste em capacidade de elaboração, o que significa, em termos

práticos, que o professor é capaz de produzir seus próprios textos, tornando-se

46

independente do livro didático e, em conseqüência, capaz de "deixar" seus

alunos produzir.

5.5. Os ideais

A questão ideológica será tratada pelos diferentes professores, de vez

que está de certa forma, implícita na tendência pedagógica adotada. Acredita-

se que, definir uma ideologia num projeto pedagógico seria fazer doutrinação, o

que não se deseja em países democráticos. Sabe-se que analisar, estudar ou

criticar a educação torna-se impossível, se desvinculada da ideologia dos

sujeitos que participam. Com isto se demonstra concordância com os princípios

democráticos. Acredita-se que o aluno, a partir das experiências vivenciadas

em diferentes disciplinas, com diferentes professores, cada um explicitando e

justificando seu posicionamento ideológico, poderá assumir conscientemente

sua postura, com a qual assumirá sua responsabilidade profissional.

O que se pretende, com a formação de professores de Educação

Infantil, é que a prática pedagógica se calque na pesquisa e, portanto, na

problematização. Dessa forma, a ação educativa se dará sobre o contexto em

que trabalham e interagem professores e alunos ao invés de idealizarem uma

"outra" realidade.

Dessa maneira, se estará desenvolvendo o currículo através de um

processo construtivo de aprendizagem, cuja compreensão parte, sempre, de

situações problema ou desafio para o sujeito. Assim, a pesquisa didática

substituirá a didática tradicional.

47

5.6. O professor idealizado

Em síntese, estas são as conquistas que o professor idealizado

evidenciará:

ü A – Capacidade de promover a ampliação das experiências e dos

conhecimentos do aluno, estimulando o interesse da criança pelo

processo de transformação da natureza e pela dinâmica da vida social;

ü B – Capacidade de contribuir para que sua interação e convivência na

sociedade sejam produtivas e marcadas pelos valores de solidariedade,

liberdade, cooperação e respeito.

Auxiliar a criança no seu processo de desenvolvimento, estimular o

desenvolvimento da criança, adaptar a criança ao ambiente social e moldar o

comportamento das crianças são grandes características que devem estar

presentes no desenvolver do trabalho pedagógico dos professores. Ao mesmo

tempo, sua formação deverá priorizar aspectos que o tornem um profissional

comprometido com a transformação da realidade, com a ampliação das

possibilidades de Educação e com a construção de uma Escola de qualidade,

capaz de tornar menos distante o sonho de uma sociedade justa e igualitária.

Como nas mais diversas áreas da educação, é preciso ter profissionais

adequados e capacitados para atender as necessidades do aluno; seja no

campo social, afetivo ou cognitivo.

A tarefa de ensinar é uma tarefa profissional que, no entanto, exige amorosidade, criatividade, competência científica, mas recusa a estreiteza científica, que exige a capacidade de brigar pela liberdade sem a qual a própria tarefa fornece.

(Freire, 1930:10)

Neste contexto, dentro da educação infantil deve existir uma relação

educativa e pedagógica, onde jamais um homem humilhará outro homem;

48

jamais e sem nenhuma justificativa alguém humilhará uma criança; jamais uma

criança humilhará outra criança.

O educador deve estar atento: toda criança pode abrigar dentro de si o

dominador que a oprime: não por um ditame da natureza, mas por um

condicionamento sócio-histórico.

A partir da relação educativa e pedagógica, o tempo e a situação onde “o homem confiará no homem como um menino confia em outro menino onde o pão tenha sempre o eterno sabor da ternura”.

(Thiago de Mello, 1978:19)

A ternura há de ser um sentimento forte e sempre presente para

defender a qualquer custo o direito à vida, para que o rigor, a rigidez da luta,

não nos torne insensíveis. A relação educativa é como uma relação de

cumplicidade, de companheirismo, de parceria, de classe, de categoria social.

A família precisa e deve estar inserida neste contexto, pois é um elo entre a

escola, o aluno e o professor. A família, apesar de suas dificuldades deve ser o

espaço do encontro do aconchego, da realimentação humana, da dignidade.

Por estas razões o profissional da educação infantil tem que estar “aberto” para

receber, trocar, dialogar, questionar, interagir; não só com a escola, mas com a

família também. Este profissional precisa e deve compreender que o

sentimento da infância apresenta significados, ele (o profissional) deve estar

atento a este fato. O fato da criança ter emergido e ocupado um lugar

determinado.

O profissional da educação infantil precisa se conscientizar de que

crianças têm direitos e deveres; entre eles o direito de brincar, que infelizmente

para muitos profissionais isso não passa de “besteira”; ou “coisa de criança”.

Este profissional esquece que criança também tem seus direitos e deveres; e

que brincar faz parte de seus direitos e que a partir destas “brincadeiras” a

criança também pode aprender muita coisa. O profissional de educação infantil

precisa antes de tudo compreender a fundo a criança como um todo. Toda

criança tem direito ao pão, à paz e ao jogo. Mais ainda, toda a criança deveria

49

antes de tudo, ter direito à sua infância. A declaração oficial desses direitos

fundamentais de que se orgulham amplamente as sociedades prósperas, é

aplicável na prática, a uma minoria no mundo. Além disso, o direito ao jogo

também faz parte das necessidades essenciais do homem. A criança que joga

está reinventando grande parte do saber humano.

A criança sadia possui a capacidade de agir sobre o mundo e os outros

através da fantasia, da imaginação e do símbolo, pelos quais o mundo tem

seus limites ultrapassados; a criança recria o mundo e a natureza, a forma e o

transforma e, neste movimento, ela se cria e se transforma. Existe um princípio

educativo, uma pedagogia que passa pelo cotidiano da produção material e

social da existência, e mais, significa aceitar que a pedagogia escolar tem de

estar atenta a esses processos educativos, tem de entendê-los, acompanhá-los

e até aprender com eles. A primeira lição que essa pedagogia do trabalho e da

prática social no ensino é que os seres humanos não se constituem, formam ou

educam através da inculcação de idéias, valores ou hábitos, mas através da

experiência coletiva, social, de relações com a natureza e de relação com os

outros seres humanos. (Arroyo).

5.7. Competências e habilidades profissionais para o exercício do magistério

Formar professores como profissionais para o campo da ação

pedagógica, de acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais,

desenvolvem o currículo através de um processo construtivo de aprendizagem,

cuja prática parte do oferecimento de um repertório de disciplinas que atendam

à diversidade do saber da natureza do processo escolar.

A complexidade da formação do professor-educador não se encerra

em um curso, é certo, nem se faz de fora para dentro (no sentido de se ter

alguém que ensina de um lado e alguém que aprende de outro lado). É

50

necessária a interação constante entre os/as alunos/as e os campos do saber

para a construção do profissional.

Os conteúdos de aprendizagem curricular da Educação Infantil incluem

todas as "... formas culturais e científicas que a escola considera importantes

para a formação integral do cidadão e envolve a aprendizagem daquilo que

devemos saber (os fatos, conceitos e princípios), aquilo que devemos saber

fazer (os procedimentos) e aquilo que devemos ser/conviver (valores, atitudes

e normas)”... “Aprendendo a viver juntos, aprendendo a viver com os outros”.

Diante do exposto, na formação profissional em Educação Infantil o aluno deve

ser capaz de perceber a importância de cada uma das disciplinas que cursa em

sua formação, que lhe requer o embasamento teórico e a instrumentalização

para atuar na Educação Infantil.

51

CAPÍTULO VI 6. Educação infantil e Pedagogia 6.1. A Educação

O momento histórico atual marcado por transformações tecnológico-

científicas e ético-sociais destaca a educação da criança, enquanto sujeito

social, legitimando-a como competente e sujeito de direitos. Citando ZABALZA

(1998), pode-se dizer que se está diante da "infância recuperada". Da criança

reprimida, adulto em miniatura, criança-aluno, criança-filho renasce uma

criança verdadeira, pedindo para viver como criança, reconhecida pela

grandeza de seu tempo ao construir também a história.

A educação ocupa o espaço de esperança na dinâmica da sociedade.

Família, escola e sociedade são chamadas a compor uma unidade em prol

deste desafio, que requer um rever contínuo de crenças, valores, princípios e

ideais. À escola em parceria com a família e à sociedade é reservado o papel

de desenvolver a formação da criança para a cidadania, envolvendo

conhecimentos, atitudes, habilidades, valores, formas de pensar e agir

contextualizadas ao social para que possa participar de sua transformação. O

mundo dos adultos estabelece alguns paradoxos em relação à infância ao

considerar as crianças, as suas circunstâncias e condições de vida. (Pinto e

Sarmento, 1997).

6.2. Contextura da infância

Na história da infância, nunca houve tanta preocupação com as

crianças como acontece hoje em dia. Constata-se, no entanto, que a criança

não dispõe mais de tempo para vivenciar suas brincadeiras e fantasias, tão

benéficas ao seu desenvolvimento mental e emocional. Por um lado é

52

valorizada a espontaneidade e expressão infantil, ao passo que, por outro,

bloqueia-se suas manifestações naturais.

Sabe-se que os pais são os primeiros agentes sociabilizadores e os

educadores mais importantes para seus filhos, apesar dessa assertiva, não

assumem a maior parte da responsabilidade sobre eles. Da mesma forma,

acredita-se que as crianças devem viver e comportar-se dentro do que lhe é

próprio, porém suas infantilidades são criticadas e bloqueadas pelos adultos.

Defende-se a importância do brincar na construção do

desenvolvimento e aprendizado infantil, mas quando ordenamos, em

determinadas circunstâncias, que parem de brincar e elas resistem, não se

compreende essa rebeldia e repreende-se com a autoridade do adulto.

Incentivam-se as crianças a criar e se expressar só que da maneira que se

idealiza para elas.

Discursam-se, também, sobre o respeito ao ritmo de desenvolvimento,

interesses, possibilidades, características e espaço infantil e, em contrapartida,

limita-se a vida das crianças a longos períodos em carteiras realizando

atividades sem significado, rotineiras e que não conduzem à promoção.

Espera-se que as crianças desvendem o mundo e se fecha a porta da

descoberta, da curiosidade e da experiência tateante, com encaminhamentos

definidos e impostos pelo adulto. Ao mesmo tempo em que se incentivam as

crianças à autonomia, à livre expressão e à comunicação, no cotidiano elas

não podem fazer escolhas, manifestar seus sentimentos e expor suas idéias e

desejos.

Outrossim, as crianças devem ser educadas para a liberdade e para a

democracia, todavia em prol do controle e da disciplina, os limites são impostos

de forma inflexível. Diante desse contexto, será que é possível as crianças

serem importantes e sem importância ao mesmo tempo?

53

6.3. Um olhar sensível e reflexivo sobre a criança

As preocupações com a infância abrem novas possibilidades e um

novo caminho para repensar as intenções pedagógicas e sociais, no sentido de

dar resposta às expectativas infantis, apontando para novas tendências e

desafios educacionais. As crianças pequenas precisam dos adultos a fim de

que possam ter seus direitos assegurados. A partir das questões que se

evidenciam, está despontando, atualmente, uma pedagogia da educação

infantil que respeite a criança como cidadã e a coloque no centro do processo

educacional.

Um desafio se coloca para o professor de educação infantil: um novo

olhar sensível e reflexivo sobre a criança, procurando compreender e aceitar os

sinais que manifesta e que comunica a respeito do que é e espera do adulto.

Dos estudos de Rousseau, Froebel, Decroly, Montessori, Piaget e seus

seguidores abrem-se um novo conceito para o desenvolvimento cognitivo com

a construção do conhecimento.

Segundo Freinet, a ótica do desenvolvimento natural e da perspectiva

cultural e social se delineia e com Vygotsky, se confirma o paradigma

contemporâneo da educação infantil, que destaca no pensamento e na

linguagem, na interação e na mediação a tônica de uma educação infantil que

de escolar, com o foco no aluno, configura-se como educacional, e passa a

concentrar sua atenção na criança, competente e sujeito de direitos.

A trajetória da educação infantil sustenta, assim, uma concepção em

torno da idéia de WALLON (1995) sobre a evolução natural da criança, vista

como ser social em desenvolvimento, pensada em termos das relações sociais

que estabelece considerada em sua individualidade e possibilidades.

54

6.4. Os parâmetros pedagógicos da “infância em situação

escolar”

Os parâmetros pedagógicos da "infância em situação escolar"

sustentam uma situação em que a educação infantil é vista como uma

antecipação das rotinas do ensino fundamental, quando o currículo deste é

adaptado para a criança de zero a seis anos. Está em construção uma

pedagogia não-escolar para a educação infantil, superando o assistencialismo

e se confirmando a integração educação e cuidado, que envolve a criança e o

adulto, que contempla a família, que viabiliza uma nova organização de tempo

e espaço pedagógico, com o desenvolvimento de projetos no lugar de

disciplinas curriculares isoladas, vindo a garantir a construção da cultura

infantil. É preciso ampliar a rede de solidariedade de preocupações com as

crianças de zero a seis anos, reavivando a imagem do professor diante do

sentido da ação educativa na contemporaneidade.

Diante do contexto de desafios e descaso entre professores

encontram-se os que "tiram de quase nada formas criativas, amorosas,

inovadoras, estimulantes, que mobilizam a curiosidade das crianças de

aprender, o que as faz a cada dia retornar à escola com brilho nos olhos,

cheias de perguntas, cheias de descobertas, ansiando por compartilhar com a

professora e com as outras crianças os seus novos saberes e novos desejos

de saber". (GARCIA, 2002:8):

“A passagem da infância do âmbito familiar para o institucional, à medida que se co-responsabiliza pela criança, passa a constituir um discurso próprio e novos contornos se encontram a caminho de definição. Uma nova ação pedagógica em um contexto que contemple todas as dimensões do humano passa a ser o desafio aos educadores. A instituição de educação infantil é um espaço diferente, assim como o professor deve ter um perfil próprio, composto por um amplo conhecimento cultural e uma formação na qual aprendesse a vibrar e a fazer vibrar. (BALAGUER, 1999), avançando a uma prática reflexiva e transformadora. A tarefa, pois, consiste em “devolver à infância a sua presença enigmática”.

(LAROSSA, 1998:233)

55

6.5. Pedagogia escolar

À Pedagogia cabe, assim, ampliar e subsidiar a formação ampla e

contínua do professor para a educação infantil, que atenda às demandas sócio-

culturais dos programas voltados para a infância ressaltando uma postura

ética, polivalente e comprometida, que agregue ousadia para conquistar na

prática as conquistas obtidas nos aspectos legais em relação à infância

brasileira. Significa, pois, saber utilizar os conhecimentos socialmente

produzidos para estabelecer transposições didáticas adequadas e de qualidade

para o cuidado e educação das crianças.

De uma pedagogia escolar, novos contornos estão se delineando

timidamente. A criança em seu próprio tempo dá um impulso a uma abordagem

humanizadora à intervenção educativa. As relações socioculturais, o conceito

de infância heterogênea, os diferentes contextos de construção da diversidade,

a necessidade de se resgatar a infância abrem um universo de oportunidades à

pedagogia.

Uma criança renovada desponta diante do quadro constatado na

família, na escola e na sociedade. Inteligente, curiosa, ativa, solidária, criativa,

integrada no meio em que vive, quer dialogar e participar da construção de seu

caminho, ao mesmo tempo, ávida por afeto, brincar, correr, sorrir, chorar, viver

e por sonhar. Ao longo da história da humanidade foi com os pais, parentes e

vizinhos, brincando com outras crianças que ela aprendeu a viver. E hoje, o

que se oferece a ela?

A necessidade de programas sensíveis às crianças vem sendo

destacado e analisado no cenário mundial. O que se confirma nas palavras de

EDWARDS (1999:294): uma sociedade humana parece ser um pré-requisito

necessário para terem-se escolas humanas, onde os professores sejam

capazes de aprender com as crianças e com seu ambiente.

56

Não faz parte deste trabalho recuperar a história da educação infantil

no Brasil, pois muitos estudiosos já o fizeram, com muita propriedade. No

entanto, alguns recortes dessa história representam a exigência de um

determinado momento histórico e clarificam os paradigmas existentes.

6.6. O Sistema Educacional Brasileiro

Marcada há mais de um século pelo início de preocupação com a

educação infantil, o sistema educacional do Brasil surge, sem nenhuma

indicação legal a respeito, no momento em que o processo de industrialização

do país atrai a mulher ao mercado de trabalho. Os registros oficiais da

educação pré-escolar mais remoto são descritos, na década de 1930, na Lei

Orgânica do Ensino Normal (Decreto-lei 8530) de Gustavo Capanema, onde os

Institutos de Educação eram responsáveis pelo profissional do magistério

primário e também pelo curso de especialização para o trabalho pré-escolar.

Em 1961, a Lei 4024/61, pela primeira vez no país, contempla todos os

níveis de educação, não alterando a formação do professor da pré-escola que

continua sendo realizada no ensino médio. Refere-se à educação infantil como

os Jardins de Infância e, em acordo com a CLT (1943), definem que as mães

que trabalhassem e com filhos menores de sete anos, seriam estimuladas a

organizar instituições de educação pré-primária. Só que com o golpe militar de

1964 as discussões educacionais passam por uma longa fase de conformismo

e silêncio.

Durante este período, a influência do tecnicismo norte-americano e os

acordos MEC-USAID tornam-se os marcos das Leis 5.540/68 e 5.692/71 que

reorganizavam o ensino superior e de 1º e 2º graus, respectivamente. O Curso

de Magistério transformou-se em Habilitação Específica para o Magistério,

tendo um núcleo comum destinado à formação geral e à formação especial, de

caráter profissionalizante, que habilitava o aluno, em quatro anos, a lecionar da

pré-escola a 6. ª série do 1º grau. À educação infantil ficava reservada a parte

57

da formação especial nas matérias que contemplavam o desenvolvimento

infantil e didático-pedagógico para esta fase. Iniciativas isoladas, movidas por

idealismo de educadores, traçando uma educação realmente preocupada com

a infância.

Neste sentido, a Constituição Brasileira (1988) torna-se um ponto

decisivo na afirmação dos direitos da criança incluindo, pela primeira vez na

história, o direito à educação em creches e pré-escolas. (art. 208, inciso IV).

Em 1990, O Estatuto da Criança e do Adolescente ECA, insere as crianças no

mundo dos direitos, mais especificamente no mundo dos Direitos Humanos,

reconhecendo-as como pessoas em condições peculiares de desenvolvimento,

como cidadãs, com direito ao afeto, a brincar, a querer, a não-querer, a

conhecer, a opinar e a sonhar. O referido Estatuto considerado pela UNICEF

uma das legislações mais avançadas do mundo na área do direito da criança e

do adolescente, ao enfatizar a vida, a educação, a saúde, a proteção, a

liberdade, a convivência familiar e o lazer.

É neste contexto que o Ministério de Educação e Desporto (MEC), em

1994, assume o papel de propor a formulação de uma Política Nacional de

Educação Infantil. Neste período, a Coordenação Geral de Educação Infantil

(Coedi) da Secretaria de Educação Fundamental do MEC publicou uma série

de documentos para a educação infantil no Brasil, entre os quais se destacam:

"Por uma política de formação do profissional de educação infantil" (1994),

"Política Nacional de Educação Infantil” (1994), "Critérios para um atendimento

em creches e pré-escolas que respeitem os direitos fundamentais das crianças"

(1995).

Reafirmando estas mudanças, a LDB? Lei de Diretrizes e Bases,

nº94/96, estabelece o vínculo entre a educação e a sociedade e, ao longo do

texto, faz referências específicas à educação infantil, de forma sucinta e

genérica. Reafirma que a educação para crianças com menos de seis anos é a

primeira etapa da educação básica, destaca a idéia de desenvolvimento

integral e o dever do Estado com o atendimento gratuito em creches e pré-

58

escolas. Outro avanço refere-se à avaliação na educação infantil, ressaltando

que não tem a finalidade de promoção, em oposição à visão preparatória para

as séries iniciais. A exigência da formação dos profissionais para a educação

infantil em nível superior e ensino médio, apresentada pela Lei, vem sendo

motivo de debates e reflexões, a nível nacional.

De acordo com a LDB, considerando seu papel e sua responsabilidade

na indução, proposição e avaliação das políticas públicas relativas à educação

nacional, o Ministério da Educação e do Desporto propõe, em 1998, o

Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. São três volumes,

sem valor legal, que se constituem num conjunto de sugestões para os

professores de creches e pré-escolas, para que possam promover e ampliar as

condições necessárias ao exercício da cidadania da criança brasileira.

“GARCIA (2001:41) ao fazer uma análise das críticas ao documento ressalta que "mesmo desconsiderando a imensa diversidade cultural e social da sociedade brasileira e das propostas curriculares de educação infantil existentes, a leitura crítica deste documento pode ser um importante subsídio para o debate sobre a criança e a educação infantil"

6.7. Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação infantil

Em dezembro de 1998, o Conselho Nacional de Educação publica as

Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, com o intuito de

nortear as propostas curriculares e os projetos pedagógicos para educação da

criança de 0 a 6 anos e, estabelece paradigmas para a própria concepção de

programas de cuidado e educação, com qualidade, em situações de

brincadeiras e aprendizagem orientada de forma integrada, contribuindo para o

desenvolvimento das capacidades infantis de relação interpessoal, de ser e

estar com os outros, em uma atitude de respeito e confiança, enquanto tem

acesso aos conhecimentos mais amplos da realidade social e cultural.

O documento destaca a evolução do conceito de criança na história da

educação infantil e os impactos da modificação da constituição familiar e da

59

vida na sociedade sobre a vida da criança. As Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Educação Infantil confirmam os Princípios, Fundamentos e

Procedimentos da Educação Básica na orientação das instituições de

educação infantil.

No entanto, sabe-se que a lei e as diretrizes ao assegurarem a

concepção de criança cidadã e da educação infantil como direito da criança no

Brasil, não determinam a mudança na realidade das crianças brasileiras e nas

propostas e trabalho das creches e pré-escolas. E a quem cabe agilizar e

concretizar toda esta proposta? Qual é a real situação dos profissionais que

atuam diretamente em creches e pré-escolas do país? Que perguntas se fazem

esses profissionais sobre sua identidade e tarefa de educadores infantis?

A análise dos impactos das transformações sociais, tecnológicas e

culturais sobre a criança de 0 a 6 anos, as conseqüências sobre seu modo de

ser e se relacionar têm sido alvo das discussões pertinentes na formação do

professor de educação infantil, em nível superior? Os questionamentos estão

presentes nas abordagens pedagógicas, de conhecimento geral e específico,

do universo infantil e da formação do perfil profissional do professor? Sabe-se

que a intervenção pedagógica tem oscilado entre as concepções de mundo e

de educação em que, ou se permite à criança ser criança em seu processo de

desenvolvimento natural, no seu tempo e singularidade, ou se opta a forçar a

natureza, estipulando regras, modelos e padrões a serem aprendidos, seguidos

e repetidos.

A educação infantil comprometida e planejada para ser um tempo e um

espaço de aprendizagem, socialização e diversão, oportuniza a criança a viver

como criança em instituições educacionais. Através de atividades que não têm

a conotação escolar ou igual às de sua casa, à criança é reservado o lugar de

viver sua infância, sem encurtá-la com tarefas rotineiras e desmotivastes ao ser

aluno ou ser trabalhador em seus contextos familiar e social.

60

O reconhecimento da educação infantil como espaço de aprendizado e

conhecimento, traz a importância de repensar as relações da Pedagogia com a

educação infantil, orientada para uma prática comprometida com uma

intencionalidade educativa que resgate a infância. Pascal & Bertran (apud

ROSEMBERG, 1994) afirmam que se quisermos melhorar a qualidade da

educação de crianças pequenas, devemos nos preocupar com a qualidade de

seus professores.

61

CONCLUSÃO

Ao considerar a concepção de infância e de educação na formação

acadêmica do professor de educação infantil, destacou-se a importância do

estudo da educação e da investigação da realidade, para que possa intervir e

fazer sua ação pedagógica relacionada com os componentes da prática

educativa, ou seja, a criança, o professor e o contexto em que vivem. Coube,

pois, considerar os valores e princípios presentes na concepção de criança,

sociedade, conhecimento, educação e cultura, necessários à contextualização

sociopolítica da formação do pedagogo crítico, reflexivo, pesquisador, criativo e

comprometido com a responsabilidade social e inovadora na educação infantil.

É bom registrar que toda escola de educação infantil precisa ter certeza

do que pretende desenvolver na criança e a mesma precisa ser mais do que

um lugar agradável. Deve ser um ambiente aconchegante e carinhoso,

principalmente com professores capacitados para acompanhar a criança no

cotidiano de crescimentos e descobertas. O importante não é o material,

método ou teoria usada para aprender com propriedade. É responsabilidade do

professor mudar seu material, método ou teoria sempre que eles não tiverem

ajudando o aluno a atingir os objetivos.

Não se pretendeu até aqui fornecer dicas prontas, mas simplesmente

sugerir algumas atividades para crescer e variar estratégias em sala de aula

para o desempenho intelectual das crianças. Poder e saber ajudar no bom

desempenho das crianças de Educação Infantil é antes de tudo, um imenso

prazer. Assim, espera-se que todos os capítulos apresentados por meio desta

monografia possam levar muitos professores a ver o quanto a formação

profissional faz-se necessária, e, além disso, ajudá-los em sua prática de

trabalho na área infantil.

62

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65

FOLHA DE AVALIAÇÃO

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU

PROJETO A VEZ DO MÊS

A IMPORTÂNCIA DA FORMAÇÃO DO PROFESSOR PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

Autor: ALICE JOSEFA DA CONCEIÇÃO RODRIGUES

Orientadora: Prof.ª- MARIA ESTHER DE ARAÚJO OLIVEIRA

Data da entrega: ____/____/_____

Avaliado por:____________________________________________________

Conceito:_______________________________________________________

66