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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSO
MEIO AMBIENTE: A COLETA DO LIXO NO LAGO E BAIRRO DO JAUARY NO MUNÍCIPIO DE ITACOATIARA
LEUDA DA CRUZ SERRÃO
Profª. Orientadora: Marina de Castro Moreira
ITACOATIARA
2010
LEUDA DA CRUZ SERRÃO
MATRÍCULA: 240000000032927093
MEIO AMBIENTE: A COLETA DO LIXO NO LAGO E BAIRRO DO JAUARY NO MUNÍCIPIO DE ITACOATIARA
Monografia apresentada ao Instituto: A Vez do Mestre como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Educação Ambiental.
ITACOATIARA
2010
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, ao meu esposo Gutemberg, aos meus filhos:
Mayara, Thiago e Songela, meus netos: Brenno, Layza e
Guilherme, pela paciência, compreensão durante a realização desse
trabalho, o qual é mais um sonho realizado.
Agradeço a Escola Estadual Professor Vicente Geraldo de
Mendonça Lima por me oportunizar trabalhar com os alunos a
problemática do meio ambiente bem como os alunos do 6º ao 9º
ano que estavam na escola no de 2009 e que fizeram parte
diretamente desta pesquisa.
EPÍGRAFE
A cada criação do homem, um pouco do planeta se acaba. Então,
devemos pensar bem no que criamos ou consumimos. É preciso
construir tantos prédios, tantos carros, consumir tanto, para que o
ser humano se realize na vida?
Ladislau Dawbor (Apud BISSIO, 2000)
RESUMO
À medida que a cidade cresce, multiplicam-se os problemas ambientais, as invasões desordenadas e a falta de consciência ecológica de seus cidadãos, provocam o caos no ambiente. Para concretizar esta pesquisa, baseou-se no método qualitativo, onde se investigou o tema não de maneira aprofundada, mas para melhor compreender a realidade sobre as questões ambientais em Itacoatiara. O presente trabalho tem como objetivo refletir sobre as questões ambientais, principalmente, no que se refere à coleta e o cuidado com o lixo doméstico, buscando assim modificar a conduta dos moradores do Bairro do Jauary, no município de Itacoatiara. O estudo foi realizado em conjunto com os alunos do 6º e 9º ano, da Escola Estadual Vicente Geraldo de Mendonça Lima, visando uma modificação na realidade e uma conscientização da comunidade local, trazendo o problema do lixo no bairro como tema central. Para a coleta de dados, foi necessária a utilização das seguintes técnicas de pesquisa como: a observação participante, a entrevista semi-estruturada. Estas foram aplicadas aos moradores do Bairro do Jauary. Também foi utilizado o registro de fotos do bairro e de seus moradores, no intuito de ilustrar a realidade daquela localidade. Para compor o referencial teórico, contou com estudiosos no assunto, entre eles: Robério Braga, Anísio Jobim, Francisco Gomes, entre outros. Tais pensadores embasaram e enriqueceram a discussão do presente tema, ajudando na compreensão da análise de documentos existentes sobre o bairro, como o histórico do bairro e de algumas histórias de vida de pessoas que fazem parte da história do bairro. Assim, foi que, moradores relataram fatos históricos e do cotidiano da comunidade. É partindo do problema vivenciado no bairro que o tema em questão ganha relevância, quando leva à construção e reconstrução de valores, hábitos e atitudes, baseadas no respeito à natureza e nos direitos humanos, pois a responsabilidade é de cada um e de todos. Entretanto, antes de pensar em resolver o problema do lixo, da poluição que comprometem a saúde e o ambiente daquele local, é necessário sensibilizar a mente e o coração de seus cidadãos, preparando-os para viverem bem consigo, com os outros, integrados com o meio ambiente, visualizando assim o desenvolvimento sustentável.
PALAVRAS CHAVE: Cidadania.Conscientização. Meio Ambiente e Responsabilidade.
METODOLOGIA
A pesquisa se caracteriza como uma investigação qualitativa, como destaca
Minayo (2002, p.21), uma vez que se preocupa com um nível de realidade que não pode
ser quantificado, ou seja, trabalham com o universo de significados, motivos, valores e
atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos
fenômenos que não podem ser reduzidos a operacionalização de variável.
Assim os dados colhidos e designados por qualitativos, diz respeito às questões
investigadas que não se estabelecem mediante a operacionalização de variáveis, e sim a
investigação, dos fenômenos em toda a sua complexidade. Também se caracteriza como
pesquisa ação, que segundo Barros (1991, p.35) é a pesquisa social com base empírica,
conhecida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um
problema coletivo, no qual os pesquisadores e os participantes das situações ou do
problema estão envolvidos e de modo cooperativo ou participativo. Assim, essa pesquisa
trata da participação proposital do pesquisador em conjunto com público alvo, visando
uma modificação da realidade pesquisada.
Para estruturação desta pesquisa, o processo de coleta de dados deu-se no bairro e
lago do Jauary com os moradores assentados nesta área invadida, seguindo os seguintes
procedimentos: Os dados recolhidos na investigação são resultados da observação
participante e da entrevista semi estruturada, feita com pessoas do bairro, que vivem no
entorno do lago. Os alunos do 6º e 9º ano, da Escola Estadual Vicente Geraldo de
Mendonça Lima foram divididos em grupos e orientados para entrevistar os moradores,
atentando para os detalhes da entrevista, como a história dos primeiros moradores, e o
registro de fotos do bairro e de seus moradores, no intuito de mostrar a realidade daquela
localidade.
Após a coleta dos dados, cada grupo mostrou um relatório com informações que
ajudaram a compor este trabalho, discutiram em sala de aula sobre o lixo que se acumula
por baixo das casas. O problema com o lixo no bairro vem causando contaminação e
poluição das águas do lago, constatados nas fotos que foram expostas em forma de murais.
Para tanto foram utilizados os seguintes procedimento, segundo Lakatos (2002, p.62):
• Observação Participante: proporciona revelação da realidade pesquisada
através do cotidiano dos moradores, reuniões, fotografias. Tornou-se importante essa
técnica, pois captou uma variedade de situações e fenômenos que não foram obtidos por
meio de perguntas, uma vez que, observados diretamente na própria realidade transmitem o
que há de mais imponderável e evasivo na vida real. No roteiro de observação se levou em
consideração: estrutura do bairro; tipos de moradia; população; nível econômico; coleta de
lixo doméstico; o lago do jauary.
• Entrevista Semi-Estruturadas: possibilitou levantar dados utilizados na
análise qualitativa, refletindo o sucesso da pesquisa, proporcionando um relacionamento
amigável, revelado através das informações obtidas da área pesquisada, as manifestações
culturais, a ideologia, a afetividade e anseios dos comunitários. Como um processo de
interação social entre duas pessoas na qual uma delas, o entrevistador, tem por objetivo a
obtenção de informação por parte do outro, o entrevistado seguindo um roteiro
previamente elaborado.
• Análise Documental: essa técnica busca identificar informações nos
documentos a partir de questões de interesse, constituindo uma fonte estável e rica. A
característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a
documentos escritos ou não. Por meio desta técnica foram analisados documentos de
fundação da área, assim como projetos de lei para revitalização do referido bairro.
• História de Vida: Através deste método verificaram-se aspectos relevantes da
realidade social, o contexto de vida do informante, onde ele assume o principal papel, tais
afirmações ou relatos puderam ser uma ponte para a explicação de certo fenômeno social, ou
seja, muitas respostas para questões sobre o lixo originado no bairro e no lago do Jauari.
• Pesquisa bibliográfica: Com a ajuda de vários teóricos foi possível estabelecer
uma conexão entre o tema pesquisado na prática com a teoria, teóricos estes que embasam este
trabalho dando sua contribuição na elaboração desta investigação.
• Roteiro de Observação: Estrutura do bairro; Tipos de moradia; População;
Nível econômico; Coleta de lixo doméstico; O lago do Jauari.
SUMÁRIO
Introdução......................................................................................................................... 9
Capítulo I – O bairro do Jauary I
1.1 O bairro de Jauary I e sua História............................................................................ 11
1.2 Problemas Ambientais encontrados no bairro do Jauary.......................................... 13
1.2.1 Água.................................................................................................................... 16
1.2.2 Ocupação do solo................................................................................................ 17
1.3 O lixo: O que fazer com ele?................................................................................... 18
Capítulo II – A questão Ambiental
2.1. A questão Ambiental: Reflexões e a Contextualização do homem frente ao meio
ambiente............................................................................................................................ 22
2.2. O século XXI e a figura da “obsolescência planejada”. O que significa isso?......... 24
2.3. Um resumo dos movimentos em prol da preservação dos recursos naturais............. 28
Capítulo III – Educação Ambiental – Instrumento de Sensibilização
3.1. Educação Ambiental: Instrumento de Sensibilização na busca pela qualidade de
vida................................................................................................................................. 33
3.2. Os valores da educação frente às questões ambientais.............................................. 35
3.3. Pesquisa de campo: Análise de resultado na investigação do bairro do Jauary I
............................................................................................................................................. 38
3.3.1 Os alunos foram a campo....................................................................................... 38
4. Conclusão.................................................................................................................... 41
5. Referências.................................................................................................................. 43
Anexos
Introdução
A humanidade aumenta sua capacidade de intervir na natureza para satisfazer suas
necessidades e desejos, surgem tensões e conflitos quanto ao uso do espaço e dos recursos
em função da tecnologia, que tem evoluído tão rapidamente, que nem conseguimos
acompanhar, com ela, as consequências que se agravam com igual rapidez. Tal
preocupação, tem se intensificado, a partir da década de 60, ao perceber que a humanidade
caminha aceleradamente para o esgotamento ou inviabilização dos recursos indispensáveis
a própria sobrevivência dessa humanidade.
Sabe-se que com a implantação capitalista, principalmente, após a Revolução
Industrial, o lixo tornou-se um problema que afeta o ecossistema. O consumo desenfreado
gera toneladas de lixo diariamente nos lixões. Estima-se que a produção per capita de lixo
no Brasil varie de 0,3 a 1,1 Kg/dia, sendo diretamente proporcional ao poder aquisitivo da
população. Logo, a grande questão da atualidade é: onde colocar tanto lixo?
O tema desse estudo é “Meio Ambiente: a coleta do lixo no lago e bairro do
Jauary no município de Itacoatiara” e busca trazer para a discussão social a questão do
lixo. A princípio, foram envolvidos os alunos da Escola Estadual Vicente Geraldo, depois
se pretende envolver outros profissionais da educação, a fim de que haja uma maior
preocupação nas escolas, em promover alternativas de mudanças na conduta cotidiana da
população, no que diz respeito ao “lixo” das famílias que moram no bairro do Jauary.
Assim, o estudo sobre a presente temática, além de buscar compreender melhor a
questão, busca sensibilizar a população para ações ecologicamente corretas, no que se
refere à coleta e tratamento de lixo doméstico do referido bairro, bem como a limpeza do
lago que se encontra poluído pelo lixo ali acumulado. Foi observado durante a investigação
que, a população que habita aquele local, moram em casas tipo: palafitas, que são casas
feitas sobre estacas de madeira, típicas de beira de rios, igarapés e aninguais; enfrentam
problemas como enchentes que trazem à tona todo o lixo depositado no fundo do lago.
Trabalhar a questão do lixo, visando à educação ambiental no processo ensino-
aprendizagem, deve ter como objetivo receber e transmitir conhecimento capaz de
contribuírem para o aperfeiçoamento das relações educativas, voltadas para compreensão
da dinâmica dos ecossistemas, considerando os efeitos da relação do homem no meio
ambiente, pode ser o início de uma “batalha” pela conscientização e mudanças de
comportamento dos moradores dessa localidade. “Não há dúvidas da necessidade de um
trabalho sério no lago do bairro do Jauary, junto à população, visando à coleta dos detritos
domésticos que são o vilão da saúde -” o lixo”. Portanto, este trabalho de pesquisa não
oferece uma receita pronta, mas coloca a temática no cenário educativo para discussões e
debates no espaço escolar, podendo servir como alternativas para amenizar os problemas
vivenciados naquele bairro. A pesquisa de campo surgiu da tomada inicial para a
conscientização dos mesmos sobre a relevância do meio ambiente para as suas vidas e das
gerações futuras.
Assim esse trabalho de conclusão está estruturado em capítulos: o primeiro
capítulo conta um pouco da história do município e do bairro pesquisado: seus problemas,
suas dificuldades e as alternativas para tratamento do lixo ali acumulado. No segundo
capítulo, procurou-se fazer uma explanação geral sobre o tema em questão,
contextualizando o homem frente as suas ações e consequências para o meio ambiente,
focalizando as políticas públicas elaboradas em função da preservação dos Recursos
Naturais. O terceiro capítulo vem tratar da importância da Educação em preparar
permanentemente o indivíduo para a vida, desenvolvendo valores, atitudes solidárias e
ações de cidadania que o levem a tomada de consciência de que a vida com qualidade
depende de todos, onde ações conjuntas podem transformar a realidade e a vida no planeta
e isto pode ser alcançado com a Educação Ambiental nas escolas. Na conclusão está o
ponto de vista acadêmico sobre tão importante assunto, e a relação dos autores que deram
sua contribuição no decorrer do trabalho, por fim os anexos, as fotos do bairro e o roteiro
das entrevistas realizadas.
Capítulo I
O Bairro do Jauary I
1.1 O Bairro do Jauary I e sua História
O bairro do Jauary é um dos mais antigos da cidade. A Vila de Serpa originou-se
de missões religiosas que aqui existiram, depois de muitas lutas contra os índios Muras que
segundo Silva (1997,p.16) se rebelaram, atacando e destruindo povoações portuguesas. A
vila surgiu ao redor da Igreja Matriz de Nossa Senhora do Rosário. Em 1854, surge o
Bairro da Colônia que se alongou através da Estrada da Colônia, depois chamada de Rua
Álvaro França. Em 1870, havia somente a Estrada Estone, que ligava o povoado à fazenda
do norte americano James Stones, que chegou a esta cidade ainda moço, fundou uma
fazenda de gado e cultivou fumo, nessa estrada existia um lago, em que o Sr. James Stones
construiu uma ponte para interligar o povoado à fazenda, esta foi doada a prefeitura em
1890, assim o bairro desenvolveu-se ao redor da estrada.
O bairro Jauary, recebe esta denominação devido às muitas palmeiras que
existiam: os Jauaris, com um lago piscoso. Além de muitos peixes tinha também Tracajás.
A nascente do lago ficava no terreno onde hoje está situado a atual Rádio Difusora de
Itacoatiara. Era um fio de água cristalina, havendo lá muitas cacimbas. Havia até regatas,
competições em que as famílias aos domingos vinham participar ou só apreciar.
Com o passar do tempo, este lago foi aterrado e derrubado, os Jauaris, cujas
frutinhas alimentavam os peixes, formando um aningal. Tempos depois começaram a
surgir os primeiros moradores: eram agricultores que vinham para a cidade tentar melhorar
de vida, a prefeitura cedeu o terreno para construírem suas casas. No começo havia alguns
barracos, depois surgiram outros mais próximos a nascente, os terrenos doados foram se
expandindo, surgiram casas de taipa e os roçados. Na época da enchente, o bairro era
ligado ao centro por pontes, hoje esse panorama não existe mais, toda a paisagem natural
foi modificada pela ação do homem.
Atualmente, o bairro é muito movimentado, possui dois conjuntos: Conjunto da
Carolina e da Gethal. É um bairro residencial, industrial e comercial. Nele encontram-se
muitos comércios. Uma das áreas mais movimentadas da cidade é a Estrada Stone, a qual
recebe pessoas de municípios vizinhos, porta de entrada e saída da cidade, onde ocorre um
intenso fluxo de passageiros, carga e descarga de produtos rurais. E também o conhecido
supermercado do “Nego das Pedras”.
Em 1920-30, existia apenas a Rua Oriental (Leste) e a Rua Ocidental (Oeste),
cada uma de um lado do lago do Jauary. Foi em 1953-60 que a Prefeitura desapropriou
uma área que se tornou a Rua Gaspar Maia, depois a Rua Marcílio Dias. No Jauary se
estabeleceram alguns japoneses (Estrada do Japonês), trazidos quando tentaram uma nova
colonização na Amazônia, vieram japoneses para o Km 37 de Manaus-Itacoatiara e
também para cá, como afirma Braga (1979 p.54). “Em 1957 foi estabelecida uma colônia
de agricultores japoneses, nas margens dessa rodovia (hoje AM-010), com 180 famílias,
com aproximadamente 1000 pessoas, localizadas no Km37 da estrada [...].”
Infelizmente muitas famílias da época, aqui não tiveram incentivo, mesmo assim,
algumas se destacaram pelo seu trabalho, entre elas, citamos: Dairó, Taketome, Mori, se
dedicaram ao plantio de hortas, trazendo vários benefícios: Implantação de novos sistemas
de produção e trouxeram a Juta; início da Oleicultura, onde introduziram novos costumes.
Segundo, Silva (1997, p.17), a chegada destas famílias para o Jauary, estava em volta a
muitos conflitos, assim,
A vinda dos Japoneses foi muito polêmica. “O Senador Cunha Melo escreveu um livro “O perigo amarelo da Amazônia” onde combatia a vinda e a ajuda dos japoneses pelo governo”. Hoje, ainda há famílias japonesas que ainda se dedicam ao plantio de horta e comercializam no mercado da cidade.
No porto do Jauary, existe um lugar denominado Pedras, devido às inúmeras
pedras ali existentes, com inscrições de tropas e expedições que por aqui passaram. Uma
dessas pedras é tida como o símbolo da cidade, pois dela provém o seu nome que se traduz
para pedra pintada ou riscada. Foi retirada e transferida para a Praça da Matriz de Nossa
Senhora do Rosário, padroeira do município para que ficasse exposta à visitação, nela
constam as inscrições das primeiras expedições que passaram pelo município, no tempo da
batalha naval que ocorreu em frente da cidade. Sobre a questão das pedras, assim fala,
[...] Como já ficou dito nas linhas acima o nome Itacoatiara provem da existência de pedras gravadas que encontram-se no seu porto. As inscrições ali existentes só são vistas por ocasião de baixas das águas, em pleno verão, quando as pedras ficam à mostra. (Jobim,1904, p.10).
Em 1978, o então prefeito Chibly Abrahim queria desapropriar esta área para
construir um terminal pesqueiro. As famílias que ali residiam, não queriam perder seus
barracos e com ajuda de alguns políticos e da igreja, conseguiram permanecer no local,
onde até hoje está à igreja de São Pedro, padroeiro dos pescadores.
O bairro possui todas as comodidades possíveis: luz elétrica, água encanada,
telefone, coleta de lixo, ruas asfaltadas, escolas estaduais e municipais, clínicas com
atendimento médico, odontológico e oftalmológico. É um bairro de classe média e baixa,
com inúmeros problemas sociais. As enchentes que transbordam os rios, as ruas ficam
submersas, onde é necessário para se locomover a construção de pontes de madeira. As
casas ficam alagadas, levando seus moradores a mudarem para casas de parentes ou
construírem pisos elevados de madeira em suas casas, além dos altos riscos de transmissão
de doenças que nessa época é maior, devido às más condições de higiene. Esses problemas
são resultados da falta de consciência da população que não percebe que suas atitudes
acabam por degradar o meio ambiente.
1.2 Problemas Ambientais encontrados no bairro do Jauari
No inicio do século vinte, Itacoatiara vivenciava as peculiaridades de uma cidade
típica do interior, com atividades simples e comunitárias. Em meio ao seu desenvolvimento
urbano, o bairro do Jauary foi se estruturando ao redor do Lago. Até então, o lago era
lugar de lazer onde as famílias se reuniam aos domingos como afirma,
[...] Um dos costumes que vai desaparecendo era o de aproveitar a enchente do rio e o engrossamento das águas da bacia lacustre do Jauary, para fazerem regatas, com canoas e botes empavesados. Às margens do pequeno lago, aos domingos, se reuniam as famílias. (JOBIM,1904, p.46).
Com o passar do tempo esse lago foi aterrado, tornando-se um Aningal. Devido às
enchentes dos rios, os ribeirinhos começaram a migrar para cidade, onde conseguiram
terras para morarem. Como a demanda cresceu, as pessoas passaram a invadir as terras do
aningal, sem qualquer infraestrutura adequada. Começando o problema aqui descrito.
Construíram casas de papelão, de plástico, de madeira para se abrigarem, iniciou o
desmatamento do aningal, resultando no desequilíbrio ecológico daquela área. Os animais
que ali habitavam começam a transitar pelas casas e ruas, animais estes como Jacarés,
tracajás, cobras e pássaros de várias espécies foram mortos pelos novos habitantes.
Terbogh (apud BERNARDES, 2003) identifica que os maiores desafios para a
conservação da natureza, são os problemas de caráter social: superpopulação, desigualdade
social, falta de leis, pobreza e a intranquilidade. As pressões exercidas pela busca de
desenvolvimento econômico e pelo crescimento populacional seriam para ele as principais
causas de destruição da natureza nos trópicos.
Desse modo, o bairro foi se expandindo e com ele os problemas, como se não
bastasse às invasões, outro problema começa a se delinear: o lixo. O consumo desenfreado
de produtos, cujas embalagens são de difícil desintegração, a maneira de viver da
população intensificou o processo de poluição do aningal, pois assim destaca Gadotti
(2000, p. 42), “[…] os problemas atuais, inclusive os problemas ecológicos são
provocados pela nossa maneira de viver”. No bairro do Jauary está afirmativa foi
confirmada, pelo excesso de lixo que ali todos os dias são produzidos pelos moradores.
Desse modo, repensar o espaço social e ambiental, se faz necessário e que tal reflexão se
faça, levando em consideração a luta travada no cotidiano das pessoas, assim expressa por
Leonardi:
Como um espaço de convivência solidária e sustentável remete as pessoas a entender o processo de luta, resistência, poder de organização e cooperação de homens e mulheres que enfrentam situações de dominação, discriminação e exploração, necessitando portando, construir e encontrar respostas que visualizem novos tempos. Pois, da diversidade desse encontro e da convivência sábia das diferenças pode surgir à parceria, a sociedade entre pessoas e, quem sabe, o fincamento dos alicerces de uma sociedade sustentável. ( LEONARDI, 2001, p.201)
No entanto, a ausência da conscientização ambiental por parte de seus moradores
é facilmente visualizado, no tempo da cheia dos rios, pois o lixo acumulado vem à tona e
invade o aningal e as ruas (foto-anexo), deixando a paisagem suja e de fácil acesso a
contaminação e infestação de doenças: parasitas e infecções diversificadas. Nesse sentido,
Layrargues (2000) afirma que refletir a questão ambiental relacionada à problemática
social, demonstra uma íntima relação geradora de causa e efeito, e um componente
revelador das diferenças sociais na sociedade brasileira. Acrescenta Leonardi (2001 p.205),
que a riqueza e a pobreza são desafios para uma sociedade sustentável quando, “[...]
encontramos degradação e poluição ambiental produzida tanto pela expansão da pobreza
quanto pelo acúmulo de riquezas.”
Dessa realidade que provem à raiz da crise socioambiental: o modelo de
desenvolvimento fundamentado no sistema capitalista tem demonstrado plena relação de
domínio e poder sobre as pessoas e a natureza, não apenas no campo das relações
produtivas, mas também nas relações sociais com profundos reflexos negativos na maneira
de ser e viver das pessoas. Esse desenvolvimento propagou e reordenou o planeta,
exatamente no sentido da efetivação da autodestruição do ser humano, com efeito
pernicioso para o ambiente, sendo, portanto, este modelo, incapaz de difundir a
propriedade como foi concebido. Prevaleceu o modelo de desenvolvimento cujos
fundamentos estão centrados na supremacia da razão, no conhecimento técnico científico
como domínio e eficiência.
A industrialização e consumo desenfreado deixaram rastro de degradação social e
ambiental. A esse respeito Sachs (1986) já alertava através da visão
ecodesenvolvimentista, quando propunha que os modelos de desenvolvimento para as
sociedades deveriam respeitar e atender às necessidades básicas das pessoas, através de
programas e projetos participativos, distribuição de bens e recursos naturais, além da
gestão ecologicamente consistente.
Assim, as gerações do presente e do futuro encontrariam espaço para uma
convivência benéfica e responsável, possibilitando, desse modo, a formação de uma base
social e de apoio à preservação ambiental com qualidade de vida, mesmo diante de um
modelo social e econômico excludente e dominador. A esse modelo de desenvolvimento
almejado atribui-se o nome de Desenvolvimento Sustentável. Durante os últimos dez anos,
diversas organizações têm tentado medir e monitorizar a proximidade com o que
consideram a sustentabilidade através da aplicação do que tem sido chamado de métricas e
indicadores de sustentabilidade.
O desenvolvimento sustentável é dito para definir limites para o mundo em
desenvolvimento. Enquanto os atuais países de primeiro mundo, poluído
significativamente durante o seu desenvolvimento, os mesmos países incentivam os países
do terceiro mundo a reduzir a poluição, o que, por vezes, impede o crescimento. Alguns
consideram que a implementação do desenvolvimento sustentável implica um retorno à
estilos de vida pré-modernos.
Todavia as causas das agressões ao meio ambiental são de ordem política,
econômica e cultural. A sociedade ainda não absorveu a importância do meio ambiente
para sua sobrevivência. O homem tem usado os recursos naturais inescrupulosamente
priorizando o lucro em detrimento das questões ambientais. Todavia, essa ganância tem um
custo auto, já visíveis por problemas causados pela poluição do ar e da água e no número
de doenças derivadas desses fatores.
A preocupação com o meio ambiente caminha a passos lentos no Brasil, embora
esteja acontecendo vários empreendimentos por parte de empresas, novas leis tenham sido
sancionados, acordos internacionais estejam em vigor, à realidade apontada diariamente
mostra que os problemas ambientais ainda são enormes e estão longe de serem
solucionados. Daí a relevância de cada indivíduo se perceba como parte do meio ambiente,
pois, certamente estas percepções resultarão na mudança de valores e atitudes em relação à
exploração do homem, bem como a utilização dos recursos naturais, uma vez que, nem
sempre o tempo de recuperação dos recursos ou decomposição de materiais cabe no
período de vida de uma pessoa ou até de uma geração.
É preciso lembrar que o meio ambiente não se refere apenas as áreas de
preservação ou lugares paradisíacos, mas sim a tudo que nos cerca: água, ar, solo, flora,
fauna, homem, etc., cada um desses itens vem sofrendo algum tipo de degradação.
1.2.1 Água
Apenas 2% da água do planeta é doce, sendo que 90% está no subsolo e nos
pólos. Cerca de 70% da água consumida mundialmente, incluindo as desviadas dos rios e a
bombeada do subsolo, são utilizadas para irrigação. Aproximadamente 20% vão para as
indústrias e 10% para residências. Atualmente a água já é uma ameaça a paz mundial.
Segundo Dias (2000), muitos países da Ásia e do Oriente Médio disputam recursos
hídricos, os relatórios da ONU apontam que 1 bilhão de pessoas não tem acesso a água
tratada e com isso 4 milhões de crianças morrem devido doenças como cólera e a malária.
A expectativa é de que nos próximos 25 anos 2,76 bilhões de pessoas sofrerão com a
escassez de água, essa escassez se deve basicamente a má gestão dos recursos naturais e
não por falta de chuvas. Uma das maiores agressões a formação de água doce é a ocupação
e o uso desordenado do solo.
Em Itacoatiara, de modo geral, correspondendo também, ao bairro do Jauari, a
manutenção e distribuição da água é responsabilidade do Serviço de Abastecimento de
Água e Esgoto - SAAE. As residências que compõe o bairro, e a população em geral, são
abastecidas de água, que passa por uma série de tratamento e um rigoroso exame semanal,
o que garante um dos melhores resultados na distribuição de água no Estado.
1.2.2 Ocupação do solo
O acesso a terra continua sendo um dos maiores desafios de nosso país. Para
agravar ainda mais a situação são previstas as adições de mais de 3 bilhões de pessoas que
nascerão neste século, sendo a maioria em países com problemas de escassez de recursos
naturais.
De acordo com Meirelles (2000), foram construídos no Brasil 4,4 milhões de
moradias entre 1995 e 1999, sendo apenas 700 mil dentro do mercado formal. Ou seja,
mais de 3 milhões de moradias foram construídas em terras invadidas ou áreas
inadequadas. Há uma relação direta entre moradias pobres e as áreas ambientalmente
frágeis (beira de córrego, rios, lagos, encostas íngreme, mangues, várzeas). Obviamente
esses dados, são melhores observados nas grandes metrópoles (Rio de Janeiro, São Paulo,
Fortaleza), onde mais da metade da população mora ilegalmente. No caso da área
pesquisada, a invasão da área aterrada do lago, vem trazendo muito prejuízo ao meio
ambiente, visto que os bueiros da cidade jogam seus detritos ali onde as moradias foram
construídas, causando o entupimento deste, devido ao grande acúmulo de dejetos jogados
na área.
Infelizmente a má gestão do solo, bem como a ausência de uma política
habitacional tem levado a fatos lamentáveis, como o deslizamento de terra ocorrido na
favela do morro do Bumba em Niterói este ano, onde o número de chagam a 157 e quase
200 desaparecidos. Fatos que são consequência dessa ocupação desordenada e do
desmatamento que resultam em catástrofes que vem acontecendo com frequência.
Mais agravante que a ocupação desordenada do solo é o crescimento
populacional. O Brasil é um dos países que apresenta maior crescimento populacional, os
censos realizados vêm demonstrando que a cada ano a população vem aumentando,
segundo o Globo (20/02/2001), entre a década de 50-80 a população teve um acréscimo de
67 milhões. Se no planeta com 6 milhões de habitantes, a população já se encontra no
limite, imagine com 10 bilhões de pessoas previstas para o ano de 2050.
O controle da natalidade é indispensável para o planeta que esta acima de sua
capacidade máxima de ocupação, e há evidências da falta de alimentos e água para as
próximas décadas. O crescimento populacional é uma das formas de proliferação da
pobreza. A pobreza e o meio ambiente estão tão interligados que serão o tema central da
Conferencia Mundial sobre o meio ambiente (Rio+10) deste ano na África do Sul.
O aumento demográfico desordenado para acomodar as populações, acarreta
problemas ambientais que afetam a flora e a fauna da região: As florestas tem sido as mais
atingidas, vem sendo derrubada para a construção de moradias e para estabelecer campos
agricultáveis. Por não ter um planejamento ambiental adequado causa alterações
significativas nos ecossistemas do planeta. As queimadas, geralmente praticada pelo
homem, são atualmente um dos fatores que contribuem para a redução da floresta em todo
mundo, além de aumentar a concentração de dióxido de carbono na atmosfera, agravando o
aquecimento do planeta. Conforme Vitor (2002), 150 mil km da floresta tropical são
derrubados por ano, sendo que no Brasil, são em torno de 20 mil km de floresta
Amazônica. Além desta, a mata Atlântica é a mais ameaçada no Brasil, e a quinta do
mundo, já tendo sido devastada em 97% de sua área. Outro fator ambiental que vem
colaborando para o caos do lixo no planeta é o lixo que em sua maioria é lançado a céu
aberto, o que acarreta o aparecimento de muitas doenças.
É importante destacar também, as mudanças no cenário demográfico da cidade de
Itacoatiara, onde a migração de ribeirinhos para a cidade aconteceu de forma significativa.
Esse fenômeno modificou o cenário urbano da cidade, pois através das invasões no aningal
acarretou na ocupação das terras do bairro do Jauary, especificamente no território que
abrange as ruas a leste: Aquilino Barros a oeste: Rua Ocidental, ao norte a Rua Dr.
Luzardo Ferreira de Melo e ao sul: Rua Estrada Stone.
1.3 O lixo: O que fazer com ele?
A sociedade moderna produz por dia quantidade incalculável de lixo, sem nunca
ter definido o que faria com essa montanha de resíduo. Cada brasileiro produz 1 kg de lixo
doméstico por dia, ou seja, se uma pessoa viver 70 anos terá produzido em torno de 25
toneladas. Se multiplicarmos pela população brasileira, poderemos imaginar a dimensão do
problema que temos em nosso planeta.
A humanidade tornou-se uma geradora compulsiva de lixo. Tudo em algum
momento vira lixo. Por isso a preocupação da humanidade com o que fazer, como tratar ou
eliminar o lixo, seja ele industrial, comercial, doméstico, hospitalar, nuclear, tecnológico,
entre outros que surgem a todo o momento. O homem não sabe mais o que fazer com tanto
lixo.
O lixo, segundo James (1993, p. 36), além de “atrair insetos e pequenos
transmissores de doenças e poluir nosso ecossistema pode também causar a morte do
ambiente e dos seres vivos que o habitam inclusive, o homem”. O que dizer dos resíduos
industriais que são jogados na natureza, agredindo-a, muitas vezes, destruindo-a, os
produtos químicos por eles despejados na natureza ameaçam o ciclo natural da vida,
(IDEM) “os resíduos sólidos são amontoados no ar”. Toda essa ação desordenada do
homem vem agredindo ele mesmo e o meio em que vive.
É certo afirma que o homem precisa viver de bem com a natureza, visando cuidar
de tudo que nela existe. Nesse sentido, busca-se refletir nesse estudo sobre o que fazer com
o lixo produzido pelo homem nesta sociedade de consumo. Todo esse tipo de lixo é
resultado de vida da sociedade contemporânea. Para alterar esse processo é necessário
mudar a postura e o comportamento das pessoas, e isso só será possível com a
conscientização em massa.
Essa tomada de conscientização começa quando se procura soluções para tratar e
depositar o lixo coletado. Como no município de Itacoatiara não há aterro sanitário, o lixo
é depositado a céu aberto, onde os resíduos depositados de forma regular e
clandestinamente, formam verdadeiras montanhas além da poluição visual, o risco de
contaminação do solo de rios e águas subterrâneas, nos lixões proliferam parasitas
causadores de doenças. Muitas pessoas ainda lançam seus lixos em vias públicas,
acumulando-os e entupindo esgotos, o que resulta em ruas alagadas e sujas.
Sem falar da falta do saneamento básico que é inexistente na cidade. Isto faz com
que os resíduos de algumas fossas vão diretamente para as ruas da cidade, assim como as
águas poluídas das piscinas dos clubes e das casas.
Segundo Coelho (2001) , quando as interrelações entre a sociedade e a natureza
não humana não estão saudáveis, ocorre os impactos ambientais negativos, e não são
somente os resultados de determinados atos, mas das interrelações socioculturais e
ecológicas em movimento. As inundações, por exemplo, normalmente resultam de
modificações da natureza não humana e normalmente atingem mais as classes
economicamente desfavorecidas, como é o caso do bairro investigado, mostrando-nos
assim, que os impactos ambientais são complexos e se relacionam com as estruturas
sociais.
A consciência ecológica é fundamental para melhorar a situação e o entendimento
ambiental, considerando que as interrelações e interdependências entre a sociedade e a
natureza não humana foram esquecidas e afastadas durante o processo de modernização da
sociedade. Essa visão fragmentada pode ser constatada pela forma como se trata o lixo, a
água, o solo etc. Desse modo, compreende-se que os contrastes e crescentes problemas
ambientais confirmam a necessidade de se trabalhar a educação ambiental, como
instrumento para fortalecer a “ecocidadania”, ou seja, participação das pessoas na vida
política e privada, tão necessárias para o desenvolvimento social, econômico, político e
ecológico sustentável.
Cada cidade tem que desenvolver políticas públicas e uma educação ambiental
ativa em suas instituições de ensino para que o cidadão se conscientize que é cuidando do
seu lixo, colocando em local correto para serem coletados por profissionais adequados que
estarão ajudando a preservar o ambiente para futuras gerações. Leff (1997, p.28) relata:
A educação ambiental busca essencialmente “fazer um resgate do que é inerente ao homem” desenvolvendo-lhe a consciência de sua serenidade com o meio ambiente (...). A humanidade possui a capacidades de atingir um desenvolvimento que satisfaça as necessidades presentes sem o comprometimento da capacidade de gerações futuras de atenderem as suas próprias necessidades.
A concentração populacional e o processo de industrialização trouxeram a partir
do século 20, aumento da quantidade de lixo e também mudanças na sua composição. O
lixo que até então era formado por restos de alimentos, cascas e sobras de vegetais e
papéis, foram sendo incorporados novos materiais como vidro, plásticos, isopor, borracha,
alumínios, entre outros de difícil decomposição. Para se compreender melhor,
exemplificamos: enquanto o resto de comida deteriora-se rapidamente, o papel demora
entre 3 a 6 meses para se decompor; o plástico demora mais de 100 anos e o vidro cerca de
1 milhão de anos, quando jogados na natureza.
O cidadão acima de tudo deve zelar pelo seu espaço, o meio ambiente,
preservando o planeta para as gerações futuras, para isso existem maneiras de se tratar o
lixo como: a reciclagem que além de contribuir com o sustento de algumas famílias, ainda
ajuda a proteger o ecossistema. A coleta seletiva também proporciona a seleção de detritos
de difícil decomposição que podem ser reaproveitados a partir da reciclagem.
As soluções modernas apontam equivocadamente para a reciclagem do lixo, isto
é, seu reaproveitamento. Para que a reciclagem seja viável é fundamental a separação, ou
triagem, dos diversos tipos de lixo. Latas, por exemplo, podem ter seu metal reaproveitado.
Plásticos e papéis também podem ser reciclados.
O lixo orgânico (resto de alimentos, por exemplo) pode ser degradado por
microorganismos em grandes tanques chamados biodigestores, produzindo gás natural
(metano), útil como combustível residencial ou industrial. Os resíduos sólidos da biogestão
transformam-se em adubo orgânico para o solo.
O tratamento do lixo doméstico é dificultado pelo fato dele ser muito
heterogêneo. A reciclagem seria bastante facilitada se o lixo doméstico fosse separado nas
residências ou coletado de modo seletivo. A educação da sociedade torna-se cada vez mais
urgente nesse sentido. Embora no referido Município ainda não haja uma cooperativa de
catadores ou até mesmo uma coleta seletiva por parte de sua população que ainda não
atentou para essa necessidade. O que certamente ajudaria muito nesta conscientização da
sociedade,
Essa idéia, nos países desenvolvidos como em Portugal, a prática de selecionar o
lixo, faz parte da vida dos seus moradores, é incorporada como política pública do Estado.
Ao contrário da nossa realidade, que nada é aproveitado, porque ainda não se tem nenhuma
ação que ajude na seletiva do lixo. Até, o mais simples que seria a separação do lixo
doméstico, na própria casa, onde os moradores deveriam aprender que, o lixo orgânico
pode ser enterrado no quintal da casa, o que certamente, não é problema no bairro do
Jauari, pois as pessoas na sua maioria moram em casa com terrenos é uma realidade muito
distante de se por em prática.
Capítulo II
A Questão Ambiental
2.1 A questão Ambiental: Reflexões e contextualização do homem frente ao meio
ambiente
A criação do mundo e a inserção do homem no planeta são questões que há muito,
despertam a curiosidade do próprio homem. De acordo com Chiras (2002), a Terra foi
originada há 15 ou 20 bilhões de anos. A formação de galáxias e estrelas se deu há
aproximadamente 4,6 bilhões de anos e as primeiras células (microorganismos) surgiram
há 3,7 bilhões de anos. A idéia de evolução, teoria segundo a qual todas as espécies de
plantas e animais se vinculam a um antepassado comum que fornece a base unificadora de
toda a ciência biológica. A história da vida, segundo a ciência, seria um processo único de
distribuição de estruturas consideradas homóloga.
As necessidades geradas no âmbito do social surgem com o crescimento da
complexidade sócio econômico e cultural de cada sociedade. Com a evolução da raça
humana, notaram-se importantes avanços na tecnologia das ferramentas, o rápido
crescimento desta população, o agrupamento social em habitações e o surgimento das
artes: o período cultural chamado Paleolítico Superior havia começado. Certamente, os
humanos de então já haviam dominado a linguagem. Com o crescimento demográfico e, a
partir da origem dos modernos seres humanos, inicia-se o processo de colonização de
novos territórios. Povos alcançaram a Nova Guiné e Austrália, partindo da Indonésia há
cerca de 40 mil anos e desenvolveram as características australóides isoladamente naquela
região. Entretanto, há controvérsias com relação à provável data do início da presença
humana no Novo Mundo, que possivelmente se deu há cerca de 20 mil anos. Evidências
genéticas linguísticas e anatômicas dos modernos ameríndios, no entanto, sugerem cada
vez mais que a primeira presença na América do Norte tenha ocorrido entre 30 e 40 mil
anos atrás.
O impacto do homem sobre o meio ambiente depende de variáveis históricas,
como o modo de produção, a estrutura de classes, os recursos tecnológicos e a cultura de
cada sociedade ao longo do tempo. Os diferentes modos de produção surgidos ao longo da
história sempre consideraram a questão de onde retirar matéria prima como tendo uma
única resposta: a natureza. A concepção de que os recursos naturais existem em quantidade
ilimitada, possibilitando o crescimento contínuo das sociedades humanas remonta as
sociedades pré-capitalistas e permanece em nossa concepção, causando danos irreversíveis
à natureza. A ação da espécie humana sobre o meio ambiente tem uma característica
qualitativa única: possui um enorme potencial desequilibrador, pois as mudanças que
provoca nem sempre são assimiláveis pelos ecossistemas, ameaçando assim a permanência
dos sistemas na natureza.
As comunidades humanas primitivas retiravam da natureza praticamente apenas o
necessário à sua reprodução. Além disso, utilizavam-se basicamente de recursos
renováveis através da coleta, da caça e da lavoura em pequena escala. Desta forma,
deixavam intactas as bases do funcionamento dos ecossistemas. As sociedades pré
capitalistas mais desenvolvidas (ex: as da antiguidade clássica) não comprometiam de
forma generalizada o equilíbrio do meio ambiente, pois possuíam um pequeno
desenvolvimento produtivo e populacional, embora já tivessem um significativo avanço
urbano e comercial. Os impactos ambientais eram locais e pequenos. Na Idade Média, a
ruralização da economia não ameaçava a sobrevivência dos sistemas naturais. Há registros
de desflorestamento e poluição do ar devido às fundições e à queima de carvão.
A Revolução Industrial, ocorrida nos séculos XVIII e XIX, estabelece a
necessidade social da expansão permanente do mercado, como forma de garantir a
acumulação de capital que realimenta a economia capitalista. Foi a partir desta época que
se começou a consumir aceleradamente os recursos naturais não-renováveis, como os
minérios e combustíveis fósseis. Os recursos naturais (animais e vegetais) continuaram a
ser muito explorados, surgindo a contínua extinção de espécies. Outros recursos passam a
ser ameaçados em grande escala pela primeira vez, como o ar, o solo e a água. Surgem
novos tipos de poluição: a sonora, a térmica, a visual e a radioativa. A concepção de
crescimento ilimitado é gerado neste contexto histórico, influenciando países de diferentes
orientações políticas e ideológica.
De acordo com Hogan (1992 p.35), com a revolução industrial ocorrida a partir do
ano 1750 surgiram inúmeras cidades e a maioria delas sem nenhum planejamento, o que
culminou em diversos problemas ambientais, presentes nos dias atuais como:
ü Poluição atmosférica provocada por algumas indústrias;
ü Ocupação urbana desordenada em áreas de preservação
permanente, margens de rios e encostas, promovendo a
deteriorização ambiental dos ecossistemas locais, tornando-os
cada vez mais vulneráveis aos desastres naturais e acarretando
danos sociais, econômicos, ecológicos, além de humanos.
ü Assoreamento de rios e lagoas;
ü Erosão do solo e desertificação;
ü Grande desperdício de água e energia elétrica, que leva a
humanidade a viver sobre a ameaça de escassez dos mesmos;
ü Acúmulo de lixo urbano, atômico, industrial e ate mesmo
espacial;
ü Poluição do ar, do solo, da água e dos mananciais;
ü Buraco na camada de ozônio, ampliação do efeito estufa e
formação de chuva ácida;
ü Uso de agrotóxicos na agricultura o que acarreta sérios riscos de
saúde tanto para os trabalhadores como para a população que
consome esses produtos;
ü Perda da biodiversidade e da diversidade genética ocasionando
um prejuízo irreparável para o campo da medicina.
ü Proliferação no mundo da fome, desnutrição, violência, armas
químicas e biológicas, guerras e criminalidade.
Desde aquela época até nossos dias, poucas mudanças ocorreram, principalmente,
em relação à ação efetiva com as questões ambientais. As expectativas em relação a esse
tema, abordados nas conferências mundiais, são inexpressivas e tímidas. Acredita-se que
devido aos fatores econômicos, setor que teria que fazer mudanças seríssimas no seu
procedimento interno e ideológico, o Estado demonstra certa apatia, evitando maiores
preocupações interna no gerenciamento dessas questões. Na perspectiva política,
engavetam-se decisões urgentes e imediatas o que minimizaria os estragos causados ao
meio ambiente. Ressaltando que todos em seus discursos defendem uma política voltada
para essa área de extrema necessidade, de forma que garanta-se a perpetuação da nossa
espécie.
2.2 O século XXI e a figura da “obsolescência planejada”. O que significa isso?
No século XXI, surge a figura da "obsolescência planejada", em que incentiva o
consumo constante das inovações tecnológicas que surgem a cada instante. Esse conceito
se expande também para o nível cultural, causando mudanças nos costumes como mais
uma forma de incentivo do consumo. A questão tecnológica apresenta-se também como
outro fator importante na questão ambiental. A tecnologia é o reflexo do modelo sócio
econômico e se desenvolve segundo os seus princípios. Neste sentido, as soluções
tecnológicas produzidas no contexto de crescimento ilimitado também geram problemas
para a sobrevivência dos sistemas naturais.
Foi assim, que um dos mais importantes momentos sociais dos últimos anos,
promoveu significantes transformações no comportamento da sociedade e na organização
política e econômica, foi com relação à revolução ambiental. Com raízes no final do século
XIX, a questão ambiental surgiu após a Segunda Guerra Mundial, promovendo mudanças
na visão do mundo, levando a humanidade perceber que os recursos naturais são finitos e
que o uso incorreto pode representar o fim de sua própria existência, foi a partir dessa
consciência ambiental que a ciência e a tecnologia passaram a ser questionada, como é
abordado por Santos:
No começo da história do homem, a configuração territorial é simplesmente o conjunto dos complexos naturais. À medida que a história vai se fazendo, a configuração é dada pelas obras dos homens: estradas, plantações, casas, depósitos, portos, fábricas, cidades, etc (...) substituindo a natureza natural por uma natureza inteiramente humanizada. ( SANTOS, 1996, p.51).
Hoje, os riscos produzidos se expandem em quase todas as dimensões da vida
humana, obrigando uma mudança de atitudes em relação ao meio ambiente, levando o
homem a questionar os hábitos de consumo e as formas de produção de material. É nessa
busca de conhecimento, da compreensão e interpretação de seus atos que pairam no ar,
preocupações com a intensidade, a complexidade, a velocidade das mudanças e suas
consequências.
Na análise de Leff (2002) essa crise questiona o modelo de conhecimento do
mundo, e é entendida também como uma crise civilizacional, envolvendo questões como:
crescimento econômico, desequilíbrio ecológico, pobreza, desigualdade social e
sustentabilidade da vida, como afirmam Hogan (1992, p 29).
A contração de renda e de riqueza no poder de poucos amplia as desigualdades sociais, criando um verdadeiro abismo entre ricos e pobres, ocasionando um crescente aumento de favelas totalmente insalubres, como as que existem em grandes capitais do nosso país.
Esta constatação evidencia uma realidade que necessita ser redirecionada, e
suscita uma nova reflexão sobre a natureza do ser, do saber e do conhecer, onde o diálogo
e a convicção de trilhar novos caminhos que respeitem esses saberes, as culturas e acima,
de tudo os valores éticos, propondo assim, uma nova concepção de sociedade e natureza.
Em consequência dessa preocupação com o meio ambiente, eclodiram vários
movimentos em prol da preservação dos recursos naturais e a sobrevivência no planeta na
década de 60, em que questionava os estilos de vida, valores, comportamentos da
sociedade moderna em que os países ricos capitalistas, industrializados e consumistas
pressionavam os países pobres, produtores de matérias primas, resultando numa
intervenção maior na natureza. À medida que a forma de exploração atingiu níveis
comprometedores e preocupantes, necessitou-se um novo pacto, considerando aspectos
éticos, sociais e compromisso com a natureza.
Desse modo, em 1968, convocado pela ONU (Organização das Nações Unidas),
cientistas reuniram-se para discutir o consumo das reservas naturais não renováveis e sua
utilização considerando o crescimento da população mundial (grupo conhecido como
Grupo de Roma), produziram um relatório denominado “Os Limites do Crescimento”,
onde foram considerados alarmistas os resultados, conquistando em 1972, fórum político.
A Conferência de Estocolmo, em 1972, enfatizou a urgência de se educar o cidadão para a
solução dos problemas ambientais e recomendou a criação do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), concretizada no ano seguinte, a esse respeito
Pardo Dias expressa que:
A partir da Conferência de Estocolmo, a educação ambiental converte-se em uma recomendação imprescindível, e põem-se em marcha importantes projetos. Com a criação da PNUMA (que tem entre outras tarefas a informação), a informação e a capacitação são orientados preferencialmente a pessoas com responsabilidade de gestão social sobre o meio. (PARDO, 2002 p.52)
Em 1975, as Organizações das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO), criam em conjunto o Programa de Educação Ambiental (PIEA), tendo
inicio com a organização do Seminário Internacional de Educação Ambiental, em
Belgrado, segundo Santos (1996), parte do pressuposto de que o desenvolvimento da
Educação Ambiental é um dos elementos vitais para o ataque geral à crise do meio
ambiente mundial, e assim propiciar uma nova ética global.
Neste seminário foram definidos seis objetivos: O Conhecimento do meio
ambiente e a responsabilidade do indivíduo ou grupo com a conscientização, que
sensibiliza e provoca mudanças no comportamento, que a Competência nasce da
associação das técnicas com o conhecimento do senso comum e serve para as Avaliações
Permanentes das ações e programas, que contribuam com as soluções dos problemas
ambientais e a construção e/ou resgate da cidadania.
Outro momento em prol do Meio Ambiente é uma continuação do Seminário de
Belgrado que ocorreu em 1977 em Tbilisi, Geórgia (ex-URSS), denominado Conferência
Intragovernamental de Educação Ambiental, onde se construiu um marco teórico muito
importante. Nesta Conferência foi feita levantamento dos problemas ambientais da
sociedade contemporânea, as realizações, conquistas e fracassos e os obstáculos
enfrentados na resolução dos mesmos.
O terceiro momento na trajetória das políticas ambientais corresponde a uma
mudança significativa, embora não radical, após dez anos de Conferência, a UNESCO e o
PNEUMA organizaram um Congresso para revisar a problemática de atuação para a
década de 90. Após várias reuniões, coordenadas pela primeira Ministra Norueguesa Gro
Harlem Brundtland, cujo relatório ganhou seu sobrenome, o Relatoria Brundtland, em
1987, introduzir com grande repercussão o conceito de desenvolvimento sustentável,
fornecendo subsídios teóricos e metodológicos para a realização de um evento mundial
ocorrido no Rio de Janeiro em 1992, denominado de Conferência das Nações Unidas,
Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável ou Rio-92.
A Agenda 21 constitui um programa de ação para viabilizar a adoção do
Desenvolvimento Sustentável em todos os países ao longo do século XXI, onde são
definidos problemas que comprometem a qualidade de vida da humanidade bem como as
diretrizes para a efetivação do modelo de Desenvolvimento Sustentável. Adverte também
para o fato de que o seu sucesso depende dos governos e para se concretizarem são cruciais
as estratégias, os planos, as políticas e os processos nacionais, tendo apoio internacional.
O envolvimento da sociedade nas questões ambientais passou a ser estimulado.
Noções de divisão de responsabilidade e de complementaridade entre as competências
federais, estaduais e municipais ganham importância, acompanhada da discussão do papel
dos diversos atores. Foi graças à influência dos movimentos ecológicos, que a expressão
desenvolvimento sustentável ganhou forças nos discursos políticos e com variadas
interpretações, mas seja qual for as argumentações todos concordam que devemos defender
o planeta, em prol da continuação da espécie, onde haja políticas voltadas para esse fim,
nesse sentido Guimarães (1995 p.4) defende uma postura crítica, quando diz:
Se a proposta de desenvolvimento sustentável parece plenamente justificável e legítima, a sua aceitação generalizada tem-se caracterizado por uma postura acrítica e alienada em relação à dinâmica sociopolítica concretas. Para que tal proposta não represente apenas um evidenciamento do estilo atual, cujo conteúdo se esgotaria no nível da retórica, impõe-se examinar as contradições ideológicas, sociais e institucionais do próprio discurso da sustentabilidade ecológica, ambiental, social, cultural e outras para transformá-las em critérios objetivos de políticas públicas.
Cabe registrar que esses momentos ecológicos vêm provocando algumas
mudanças de atitude que devem ser ressaltadas como o consumo de mercadorias
ecológicas. Vale ressaltar, que a constituição de 1988 foi a primeira a tratar
especificamente da questão ambiental. Contém capítulo específico sobre o meio ambiente e
nela se declarou como patrimônio nacional a Mata Atlântica, a Floresta Amazônica e o
Pantanal. Foram instituídas, através deste documento novas bases de aplicação de multas,
a obrigação de recuperação dos ambientes degradados e a lei para compensar a União, aos
estados e aos municípios pela exploração de recursos naturais.
Apesar das mudanças indicadas na Constituição, é necessário ainda superar a
maneira fragmentada ou setorizada de como são elaboradas e executadas as políticas
ambientais no Brasil. Portanto, a resolução da crise agora passa pelo desenvolvimento da
consciência, do aguçar da sensibilização humana e do exercício da cidadania.
2.3 Um resumo dos movimentos em prol da preservação dos recursos naturais
Um pequeno resumo dos movimentos que eclodiram em prol da preservação dos
recursos naturais e a favor do desenvolvimento sustentável:
1968 - Criação do Clube de Roma, reunindo pessoas em cargos de relativa
importância em seus respectivos países e visa promover um crescimento econômico
estável e sustentável da humanidade. O Clube de Roma tem, entre seus membros principais
cientistas, inclusive alguns prêmios Nobel, economistas, políticos, chefes de Estado e até
mesmo associações internacionais.
1972 - O Clube de Roma publicou o relatório “Os limites do crescimento”,
preparada a seu pedido por uma equipa de pesquisadores do Massachusetts Institute of
Technology. Este relatório apresenta os resultados da simulação em computador, da
evolução da população humana com base na exploração dos recursos naturais, com
projecções para 2100. Mostra que, devido à prossecução do crescimento económico
durante o século XXI é de prever uma redução drástica da população devido à poluição, a
perda de terras aráveis e da escassez de recursos energéticos.
16 de Junho de 1972 - Conferência sobre o Ambiente Humano das Nações Unidas
(Estocolmo). É a primeira Cimeira da Terra. Ocorre pela primeira vez a nível mundial
preocupação com as questões ambientais globais.
1979: o filósofo Hans Jonas exprime a sua preocupação no livro Princípio
responsabilidade.
1980: A União Internacional para a Conservação da Natureza publicou um
relatório intitulado "A Estratégia Global para a conservação, onde surge pela primeira vez
o conceito de" desenvolvimento sustentável ".
1987 - Relatório Brundtland, Our Common Future, preparado pela Comissão
Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, onde foi pela primeira vez formalizado
o conceito de desenvolvimento sustentável.
De 3 a 14 de Junho de 1992 - Realiza-se a Conferência das Nações Unidas sobre o
Ambiente e o Desenvolvimento (segunda "Cimeira da Terra"), onde nasce a Agenda 21, e
são aprovadas a Convenção sobre Alterações Climáticas, Convenção sobre Diversidade
Biológica (Declaração do Rio), bem como a Declaração de Princípios sobre Florestas.
1993 - V Programa Ação Ambiente da União Européia: Rumo a um
desenvolvimento sustentável. Apresentação da nova estratégia da União Européia em
matéria de ambiente e as ações a serem tomadas para alcançar um desenvolvimento
sustentável para o período 1992-2000.
27 de maio de 1994 - Primeira Conferência sobre Cidades Européias Sustentáveis.
Aalborg (Dinamarca), de onde surgiu a Carta de Aalborg.
8 de Outubro de 1996 - Segunda Conferência sobre Cidades Européias
Sustentáveis. Plano de Ação de Lisboa: da Carta à acção.
1997 - 3ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas, em
Quioto, onde s estabelece o Protocolo de Quioto.
8 de Setembro de 2000 - Após os três dia da Cimeira do Milênio de líderes
mundiais na sede das Nações Unidas, a Assembléia Geral aprovou a Declaração do
Milênio.
2000 - Terceira Conferência Européia sobre Cidades Sustentáveis.
De 26 a 4 de Setembro de 2002 - Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento
Sustentável (Rio +10), em Joanesburgo, onde reafirmou o desenvolvimento sustentável
como o elemento central da agenda internacional e se deu um novo impulso à ação
mundial para combater a pobreza assim como a proteção do ambiente.
Fevereiro de 2004 - A sétima reunião ministerial da Conferência sobre
Diversidade Biológica foi celebrado com a Declaração Kuala Lumpur, o que gerou
descontentamento entre os pobres e as nações que não satisfaz plenamente os ricos.
2004 - Conferência Aalborg +10 - Inspiração para o futuro. Apelo a todos os
governos locais e regionais da Europa para participar na assinatura do compromisso de
Aalborg e fazerem parte da Campanha Europeia das Cidades Sustentáveis e Cidades.
11 de Janeiro de 2006 - Comunicação da Comissão Européia ao Parlamento
Europeu sobre a Estratégia temática sobre o ambiente urbano. É uma das sete estratégias
do Sexto Programa de Ação Ambiental para o Ambiente da União Européia, desenvolvido
com o objetivo de contribuir para uma melhor qualidade de vida através de uma
abordagem integrada e centrada nas zonas urbanas e para tornar possível um elevado nível
de qualidade de vida e bem-estar social para os cidadãos, proporcionando um ambiente em
que níveis da poluição não têm efeitos adversos sobre a saúde humana e o ambiente assim
como promover o desenvolvimento urbano sustentável.
2007 - Carta de Leipzig sobre as cidades europeias sustentáveis.
2007 - Cimeira de Bali, com o intuito de criar um sucessor do Protocolo de
Quioto, com metas mais ambiciosas e mais exigente no que diz respeito às alterações
climáticas.
Julho de 2009 - Declaração de Gaia, que implanta o Condomínio da Terra no I
Fórum Internacional do Condomínio da Terra.
Na realidade, o mundo atual, querendo ou não, têm se preocupado com as
questões ambientais e climáticas. Frequentemente, agravantes ocasionados pela emissão de
carbono, efeito estufa, buraco na camada de ozônio, entre outros, tem afetado os principais
setores econômicos do mundo, isso tem motivado líderes mundiais a organizarem
conferências, fóruns e debates em várias partes do mundo para solucionar ou mesmo
minimizar o problema. De dez em dez anos, tratados são assinados por líderes mundiais,
como forma de demonstrar interesse pelo assunto que alarma o mundo na atualidade.
A Rio-92, o Protocolo de Kyoto, o mercado de carbono, a conferência sobre
mudanças climáticas, gradativamente tem chamado atenção do mundo para a diminuição
de gases tóxicos na atmosfera. Países que compõem a União Européia, têm criado
mecanismo de desenvolvimento limpo para poupar suas poucas florestas, promover a
energia limpa e meios de produção que reduzam o atrito ao meio ambiente.
O Amazonas é um dos estados que mais tem diminuido o desmatamento no
Brasil, além do fato de ser um dos responsáveis pelo sequestro de carbono no mundo, isso
é um fator que tem acarretado não só a promoção do Estado a nível ambiental como
também econômico, já que pode vender créditos de carbono, gerando renda e convertendo
isso para o próprio amazônida, o chamado Bolsa Floresta é um exemplo disso, que mesmo
com uma renda mínima, motiva o homem do campo a evitar o desmatamento desordenado.
Itacoatira sempre foi conhecida como uma cidade madeireira, no entanto, esse
rótulo tem se transformado nos últimos anos, devido o selo de manejo forestal, uma das
exigências que tem dificultado o desmatamento desordenado na região, muitas madeireiras
migraram daqui, devido o fator burocrático e a intensa fiscalização que atualmente vigora
no município. O porto tem sido um potencial a ser explorado pela economia local como
forma de substituir a matriz econômica do município.
O bairro do Jauary sendo um dos mais antigos do município, boa parte de sua
extenção é portuária, barcos de pequeno e grande porte trafegam e aportam cotidianamente
no litoral do bairro. Lojas foram fixadas no local da vazante do lago para o rio, isso
dificultou e com o passar do tempo impossibilitou o fluxo natural do rio com o lago. Lixos
são intensamente jogados de embarcações, das lojas, ou mesmo das pessoas que transitam
pelo local. Isso transformou o lago em um grande aningal (derivado de aninga, vegetação
de igapó típica de regiões encharcadas).
A sustentabilidade é essencial em um período em que a globalização e o
desenvolvimento econômico sustentável estão em voga na busca de melhorias não só para
o meio ambiente, mas principalmente para o ser humano. Muita coisa já foi feita, mas
ainda há muito a se fazer, quando todos percebermos que o ambiente em que vivemos não
é propriedade privada e todos fizermos a nossa parte, com certeza, as gerações futuras e o
meio ambiente agradecerão.
Capítulo III
Educação Ambiental - Instrumento de sensibilização
3.1 Educação Ambiental: Instrumento de Sensibilização na busca pela qualidade de
vida
A preocupação do homem com o meio ambiente surgiu por volta do ano de 1970,
quando a população humana beirava os 4 bilhões de habitantes. Posteriormente, no ano de
1977 ocorreu na cidade de Tbilissi, capital da Geórgia (antiga República da U.R.S.S.) o
primeiro evento voltado exclusivamente para a Educação Ambiental. No Brasil a Lei
6.938/1981 estabelece em seu artigo 2°, parágrafo X, que a Educação Ambiental deve ser
abordada em todos os níveis de ensino, inclusive a educação da comunidade, objetivando
capacitá-la para participação ativa na defesa do meio ambiente.
A educação ambiental tornou-se lei em 27 de Abril de 1999. A Lei N° 9.795 –
Lei da Educação ambiental é um ramo da educação cujo objetivo é a disseminação do
conhecimento sobre o ambiente, a fim de ajudar à sua preservação e utilização sustentável
dos seus recursos. É uma metodologia de análise que surge a partir do crescente interesse
do homem em assuntos como o ambiente devido às grandes catástrofes naturais que têm
assolado o mundo nas últimas décadas.
No Brasil, a Educação Ambiental assume uma perspectiva mais abrangente, não
restringindo seu olhar à proteção e uso sustentável de recursos naturais, mas incorporando
fortemente a proposta de construção de sociedades sustentáveis. Mais do que um segmento
da Educação, pois a Educação em sua complexidade e completude. A educação ambiental
é um componente essencial e permanente da educação nacional, devendo estar presente, de
forma articulada, em todos os níveis e modalidades do processo educativo. A educação
ambiental tenta despertar em todos do planeta, a consciência de que o ser humano é parte
do meio ambiente. Ela tenta superar a visão antropocêntrica, que fez com que o homem se
sentisse sempre o centro de tudo esquecendo a importância da natureza, da qual é parte
integrante, buscando a visão ontológica, onde o homem tem como essência o ser.
Com a possibilidade de reconstrução de uma nova concepção de sociedade e
natureza é que a educação pode exercer o seu papel, questionando e apontando caminhos,
promovendo a consciência ambiental e a justiça social como requisito para o exercício da
cidadania, aguçando o senso crítico dos educadores e educandos, de tal modo que não
somente a escola seja a promotora de valores socioambientais, mas também as
comunidades organizadas sejam agentes de transformação.
A educação firma compromisso com as questões do nosso tempo, sem perder de
vista outras questões com as quais os seres convivem. Como alega Pignatt (2004), hoje a
educação necessariamente passa pela imagem, pela música, pela dança, pelos símbolos e
pela efetividade. Passa acima de tudo pelo compartilhamento da vida. Nas considerações
tecidas por Azevedo (apud BRANDÃO 2000 p.455), “a educação não muda o mundo, a
educação muda as pessoas. Pessoas mudam seus mundos.” É pensando nisso que a
educação coloca-se como fator relevante na transformação social.
A importância da educação somada à necessidade de se perceber também o meio
ambiente como um dos fatores de transformações e unidos em prol de um objetivo comum,
é que nasce a necessidade de se entender e estabelecer conexão entre a educação e o meio
ambiente. Mesmo datando cerca de 22 anos desde que a Constituição Federal foi
estabelecida, ainda hoje muitas escolas não adaptaram seus currículos de forma a
contemplar a inclusão da Educação Ambiental nos conteúdos programáticos das
disciplinas. Cabe ainda ressaltar que a abordagem da Educação Ambiental deve ocorrer em
caráter multidisciplinar, ou seja, não deve ficar restrita aos professores de Ciências e
Biologia.
Parte deste problema tem sua raiz no fato de que grande parcela dos Professores
se sentem despreparados para incluir o tema em suas aulas, os mesmos tem consciência da
falta de preparo, uma vez que o Estado raramente oferece capacitação nesta área para os
mesmos. Outro aspecto a ser considerado é o da falta infra-estrutura, porém no caso da
Educação Ambiental, este não parece ser o maior problema. A Educação Ambiental
ensinada em sala de aula (entende-se aqui "que deveria ser ensinada") constitui o que
conhecemos como Educação Ambiental Formal, essencial para a nossa formação como
cidadãos. Existe ainda o âmbito que conhecemos como Educação Ambiental Não-Formal,
relacionado com as experiências do dia-a-dia envolvendo nossos avôs, pais, amigos e ainda
informações que têm como fonte a internet, livros e revistas, tão importantes quanto à
educação oferecida no ambiente escolar.
O meio ambiente deve ser entendido pelos formadores de opinião como um
sistema complexo de múltiplas interrelações e características próprias, para que se utilize
uma linguagem comum e coletiva com a comunidade, que resulta na valorização do meio e
na sensibilização do homem em relação à sua inserção e interdependência com o meio. Por
isso, é relevante esclarecer a etimologia da palavra meio ambiente que segundo Wallaver
relata:
[...] a palavra Meio nos leva a um superfície ou volume em que se insere um ponto qualquer, tem, portanto, uma conotação especial geométrica; desde que está “dentro”, ou inserido, vale dizer que se está “no meio”, ainda que as distâncias dos extremos não sejam perfeitamente regulares [...]. A palavra AMBIENTE é composta de dois vocábulos latinos: a preposição amb(o) (ao redor, à volta) e o verbo ire(ir) que se fundem numa aritmética muito simples, am+ire= ambire. Desta simples operação resulta uma soma importantíssima “ir à volta” AMBIENTE, pois é tudo o que vai à volta, o que rodeia determinado ponto ou ser. ( WALLAVER, 2000 p.23-25).
Mas, e meio ambiente? Este já inclui a noção de “meio” e de alguma forma um
implica no outro. Alguns autores atribuem a redundância da palavra à imprecisão
semântica das traduções do inglês (environment) durante a Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente (Estocolmo, 1972) onde a expansão tornou-se comum, em lugar de
se utilizar somente um deles, no entanto nas últimas décadas o conceito desde teve várias
definições.
Atualmente ele é considerado como entorno vital, o conjunto de fatores físico-
naturais, estéticos, culturais, sociais e econômicos que interagem entre si, com o indivíduo
e com a comunidade em que vive, determinando a sua forma, caráter, comportamento e
sobrevivência. Percebe-se que o conceito está diretamente ligado ao ser humano, pois ele
precisa se perceber como parte do meio ambiente. O despertar da consciência de está
incluído num grande movimento de defesa da vida, a partir dos problemas ambientais
constitui um novo espaço de valores, gestos solidários e ações de cidadania.
3.2 Os valores da educação formal frente às questões ambientais
Não é nada novo encontrar nos discursos pedagógicos atuais, sérias críticas ao
papel da escola e do professor no âmbito da comunidade. Esse discurso demonstra a
descontextualizarão entre o fazer escolar e a realidade em que a criança faz parte, essa
desvinculação nega-lhe a possibilidade de influir e construir para a transformação do meio
em que vive, pois a formação escolar de servir para preparar permanentemente o indivíduo
para a vida.
Uma das características chave que deve assumir a escola contemporânea há de ser
seu compromisso com o sistema de valores básicos para a vida e para convivência. Isto é, a
incorporação explícita dos valores éticos que favorecem e tornam possível uma vida mais
humana em sociedade: valores capazes de dotar de sentido a existência e o projeto de vida
pessoal dos alunos; valores que abram as possibilidades para construir, em seu presente e
futuro, uma convivência mais feliz, harmônica e rapidamente esperançosa.
O tema da educação, em nosso mundo contemporâneo, é um dos mais complexos
que enfrentamos dentro da reflexão e do fazer pedagógico, sobretudo por que se trata de
educar em valores que, com frequência, não se refletem na realidade social que vivemos e
na qual se desenvolvem a experiência e as percepções dos alunos. Trata-se de educar em
momentos de incerteza e de desassossego, o que poderíamos qualificar como uma situação
social de desordem, na qual se manifesta índices preocupantes de certos vazios morais.
E como se relaciona educação ambiental com a cidadania? Cidadania tem a ver
com a identidade e o pertencimento a uma coletividade. A educação ambiental como
formação e exercício de cidadania refere-se a uma nova forma de encarar a relação do
homem com a natureza, baseada numa nova ética, que pressupõe outros valores morais e
uma forma diferente de ver o mundo e os homens. A educação ambiental deve ser vista
como um processo de permanente aprendizagem que valoriza as diversas formas de
conhecimento e forma cidadãos com consciência local e planetária.
A educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar
as pessoas para transformar as diversas formas de participação em potenciais caminhos de
dinamização da sociedade e de concretização de uma proposta de sociabilidade baseada na
educação para a participação. O desafio da construção de uma cidadania ativa configura-se
como elemento determinante para constituição e fortalecimento de sujeitos cidadãos que,
portadores de direitos e deveres, assumam aimportância da abertura de novos espaços de
participação.
Atualmente o desafio de fortalecer uma educação ambiental convergente e
multirreferencial é prioritário para viabilizar uma prática educativa que articule de forma
incisiva a necessidade de se enfrentar concomitantemente a degradação ambiental e os
problemas sociais. Assim, o entendimento sobre os problemas am-bientais se dá por uma
visão do meio ambiente como um campo de conhecimento e significados socialmente
construído, que é perpassado pela diversidade cultural e ideológica e pelos conflitos de
interesse.
Nesse universo de complexidades precisa ser situado o aluno, cujos repertórios
pedagógicos devem ser amplos e interdependentes, visto que a questão ambiental é um
problema híbrido, associado a diversas dimensões humanas. Os professores devem estar
cada vez mais preparados para reelaborar as informações que recebem, e dentre elas, as
ambientais, a fim de poderem transmitir e decodificar para os alunos a expressão dos
significados sobre o meio ambiente e a ecologia nas suas múltiplas determinações e
interseções.
É evidente que em nosso entorno proliferam, cotidianamente, as atitudes e os
gestos comprometidos com os valores democráticos; são gestos individuais e, em casos
cada vez mais frequentes, coletivos, de responsabilidade, de igualdade, de generosidade,
todos em defesa do valor da liberdade, da vida e da paz; gestos eloquentes de honradez, de
bondade e de ternura; gestos enfim voltados de esperanças e para a manutenção da
imaginação e da utopia.
É certo, também, que essas atitudes e esses gestos positivos ficam às vezes, pouco
evidentes ante a pressão de uma realidade social exacerbada pelos meios de comunicação,
onde se produzem situações-problema que atentam clara e descaradamente contra o que
temos chamando de ética e mínismos. São situações problemas lamentáveis geradoras de
atitudes desmoralizantes que reclamam, com urgência, posicionamentos éticos alternativos
e construtivos, nem sempre fáceis.
Neste contexto, o problema ambiental é concebido como um problema social que
permite ver o tipo de organização particular da sociedade e a interação permanentemente
dessa organização com seu entorno natural. Assim, as crises ambientais estão diretamente
relacionadas com os modelos atuais de desenvolvimento que deve ser suportados. As
concepções e orientações dos modelos de desenvolvimento devem conduzir as reflexões, já
que eles têm contribuído para a degradação e deterioração da base natural e social do
ambiente.
A Educação Ambiental vista assim, obriga a fortalecer uma visão integradora
para a compreensão da problemática ambiental, já que ela não é somente o resultado da
dinâmica do sistema natural, mais o resultado das interações entre as dinâmicas do sistema
natural e social. É por isso que, conscientizar sobre um problema ambiental requer o
diálogo permanente entre todas as especialidades, todas as perspectivas, todos os pontos de
vista e todos os saberes. Portanto, é, neste diálogo, que se dinamizam diversas
aproximações que conduzem a compreender a problemática ambiental como global e
sistêmica.
3.3. Pesquisa de campo: Análise e resultado da investigação no bairro do Jauary I
No dia 17 de julho de 2009, os alunos do 6º e 9º ano da Escola Estadual Vicente
Geraldo de Mendonça Lima, juntamente com a professora Leuda da Cruz Serrão, saíram a
campo para realizar as entrevistas e também observações sobre as verdadeiras condições de
moradia e humanização dos moradores do bairro e do lago do Jauary I, pois em meados do
início dos anos 90, o bairro foi dividido em Jauary I e II, devido novos loteamentos.
Em sala de aula foi trabalhado o tema meio ambiente: a coleta do lixo no bairro do
Jauary no município de Itacoatiara, através de vídeos, murais, relatório e discussão entre os
alunos. Visto que, a área observada, em outra época, era um lago muito visitado por
famílias da cidade e atualmente é ocupado por casas sem as mínimas condições de
moradia.
3.3.1 Os alunos foram a campo
Os alunos após muitas conversas e discussões, foram a campo para observar e
coletar informações que mais tarde iriam compor relatórios e apresentações dos murais à
comunidade. Todos estavam ansiosos para iniciar a atividade de coleta de dados. A escola
disponibilizou um ônibus para transportar os alunos até o bairro, que fica a três quadras da
escola. Munidos de um roteiro de observação e perguntas previamente elaboradas (anexo),
com maquina filmadora e fotográfica em mãos, lá foram para a aventura da pesquisa de
campo.
Chegando ao bairro, a professora dividiu a turma em equipes, que seguiriam em
várias direções adequadamente orientados para conversarem com os comunitários munidos
das ferramentas e do caderno de campo, onde foram feitas anotações das respostas dadas e
do que observaram. A maioria dos entrevistados já mora no bairro ha muitos anos e tinham
muitas historias para contar, principalmente do tempo em que ali existia um belo lago; da
ponte que ligava o centro da cidade ao bairro, que atravessava o lago; dos Murerus (plantas
nativas) que deu origem ao nome de uma banda local “Grupo Mureru”, que canta as
belezas da cidade. Das regatas que aconteciam aos domingos. Infelizmente, tudo mudou,
quando resolveram aterrar o lago. Então tudo se transformou num grande aningal, onde a
rede de esgoto da cidade é despejada, o que causa grandes transtornos aos moradores.
As casas que foram sendo construídas ao redor do aningal são como palafitas, pois
em determinada época do ano ocorre à enchente dos rios e esta área fica toda submersa,
sendo necessário pontes para que os comunitários se desloquem. Algumas casas também
ficam submersas, a prefeitura local abriga moradores nos galpões, escolas ou em
instituições particulares, pois os mesmos abandonam suas casas devido às enchentes.
Alguns comunitários constroem dentro das próprias casas pisos elevados de madeira que
são adaptados conforme o nível da água.
Devido ao grande numero de famílias que migraram da zona rural e sem moradia,
começaram a ocupar a área ao redor do aningal sem a preocupação e estrutura básica de
saneamento. Jogando os seus dejetos nos quintais e quando chega à época das enchentes
dos rios, o lixo acumulado no aningal submerge e toma conta das ruas e dos quintais.
Quando perguntado aos comunitários qual a frequência da coleta de lixo no
bairro, todos foram unânimes em afirmar que diariamente o carro coletor passa coletando o
lixo doméstico e uma vez na semana recolhe o lixo de limpezas de quintais e podas de
árvores, mesmo com essa coleta as pessoas insistem em jogar lixo na aningal, assim como
restos de animais mortos, o que ocasiona em um odor insuportável que incomoda as
pessoas que por ali passam.
Como não há lixeiras coletivas nas ruas, o lixo deve ser posto meia hora antes no
meio fio para que o carro coletor recolha. No entanto, algumas pessoas colocam cedo e os
animais que circulam por ali rasgam e espalham o lixo nas calçadas, sem que haja depois a
preocupação em recolhê-los.
Os alunos no início procuraram se informar sobre o destino do lixo, coleta
seletiva, e descobriram que há documento municipal a respeito do aterro sanitário, mas na
realidade o lixo recolhido é depositado a céu aberto, no mesmo bairro onde ocorreu a
pesquisa. Não há um tratamento do lixo recolhido, não há nem cooperativa de catadores no
município. Os moradores não selecionam e nem reaproveitam os materiais recicláveis,
tudo vai para o “lixão”. Durante as entrevistas os alunos informavam e orientavam os
moradores a reaproveitar os materiais, selecionando o lixo doméstico, entretanto, eles
retrucaram dizendo: Do que isso vai adiantar, se tudo vai parar em um só lugar. o lixão
municipal.
Os catadores recolhem papelão diretamente nas lojas e supermercado, estes já
deixam as caixas dobradas em um depósito ou ao lado de seus comércios. As latinhas
consumidas em festas ou em residências, são comercializadas em algumas sucatarias que
existem pela cidade, até os papelões são comprados por eles e comercializados em
Manaus.
Quando perguntamos sobre a preocupação com o meio ambiente e o consumo de
materiais de difícil decomposição, os moradores disseram que se preocupam sim, no
entanto, a sociedade em que se vive é consumista, a necessidade do consumo fala mais
alto. O ser humano acredita que quanto mais consome mais realizado será, todavia, o
futuro das próximas gerações sofrerá com o pouco caso que o homem faz do meio
ambiente hoje.
Os alunos perguntaram como poderiam contribuir com o meio ambiente, todos os
entrevistados responderam que: não jogando lixo na natureza; não desmatando; não
queimando; preservando e cuidando do meio ambiente.
O resultado desta pesquisa foi apresentado à comunidade no mês de agosto do ano
de 2010, com a participação dos alunos, cada equipe montou um mural com suas fotos
(apêndice) e os problemas que o bairro e o lago apresentam como:
• Crescimento desordenado;
• Infraestrutura;
• Crescimento populacional;
• Moradias;
• Saneamento básico;
A participação dos alunos na coleta de dados chamou atenção pela disponibilidade
e sensibilidade em relação ao tema, pois não era obrigado a participarem, mesmo assim,
percebeu-se a empolgação dos resultados e comentários extraídos após as entrevistas e
respostas obtidas dos comunitários a respeito de jogarem lixo na natureza; desmatamento;
queimadas; preservação e cuidado com o meio ambiente.
A essa altura do trabalho, faz-se necessário instigar a necessidade de incentivar a
população em geral, em específico aos moradores do Jauary a respeito do destino do lixo,
coleta seletiva. Quem sabe a partir desse estudo, dos levantamentos obtidos, dos dados
coletados, use-se como embasamento, para criação de uma cooperativa de catadores no
município de Itacoatiara, incentivando a população a selecionarem e reaproveitarem os
materiais recicláveis, para gerarem renda e intervirem diretamente na realidade da cidade.
Para se efetivar tais ideais seria necessário parceria, entre as escolas, lojas e
supermercados. A escola seria o instrumento orientador dos projetos e idealizadora da
orientação direta a população. As lojas, supermercado e comércio em geral, participariam
como agentes de campanha em prol da educação de reciclagem, onde serão utilizadas,
latinhas, papelões entre outros materiais que podem ser reaproveitados. Dessa forma,
muda-se o destino de materiais que seriam potenciais ameaças a natureza.
4. Conclusão
Analisando os problemas vivenciados no Bairro do Jauary, verifica-se a
necessidade de um trabalho de Educação Ambiental e políticas públicas que revertam
urgentemente o quadro de degradação que se encontra o lago. Os moradores precisam se
reeducar, aprenderem a tratar do lixo doméstico.
Infelizmente, no município não há cooperativa de reciclagem, todo lixo recolhido
na cidade é depositado em aterros a céu aberto, situado no bairro pesquisado próximo as
residências e que por incrível que pareça neste instante, até a lixeira está sendo invadida
pela população, onde as pessoas estão fazendo queimadas, deixando a cidade poluída e
arriscando suas vidas ao construírem moradias em um local tão contaminado por diversos
tipos de doenças.
Tudo que se tem ouvido sobre a questão, é uma discussão aqui e outra acolá, um
seminário aqui e outro ali, mas nenhuma providência tem sido tomada em relação ao
cuidado com o lixo, a invasão da lixeira pela população e a reciclagem correta do lixo.
Parece não haver uma preocupação séria por parte da esfera administrativa do
município em investir no tratamento e reciclagem do lixo coletado das ruas e das casas. O
resultado, desta irresponsabilidade é a poluição do meio ambiente.
Desde a década de 60, a preocupação com este tema veio se intensificado,
iniciativas governamentais foram articuladas nos campos de gestão de recursos hídricos, do
manejo florestal, controle da poluição, prevenção e combati a incêndios florestais,
capacitação para o planejamento e uso da terra, medidas foram elaboradas como a
certificação ambiental (selo verde) e os padrões ISO (International Organization for
Standartization) 9001 e 1400.
Porém, se sabe que todo esse processo é influenciado pela percepção que o
indivíduo tem da realidade, atualmente, o paradigma do desenvolvimento sustentável tem
emergido com um conjunto alternativo de crenças, ideais e valores num processo de
contestação dos recursos naturais serem ilimitados; foi essa percepção que influenciou a
formação de políticas públicas voltadas à resolução dos problemas que se multiplicavam.
Tratados internacionais começaram a ser negociados, ao mesmo tempo em que
um número cada vez maior de organizações não governamentais (ONGS) passaram a se
interessar pelo tema, reorientando suas ações e incorporando as preocupações como
degradação ambiental. É preciso sim, de alternativas nos mais diversos campos da vida
humana. De atitudes coletivas, capazes de contemplar a diversidade e a solidariedade,
valorizando as pequenas coisas, os pequenos gestos imbuídos de sentimentos
compartilhados, e isso só acontece quando tomamos a consciência que as mudanças
ocorrem, quando o homem muda interiormente, fruto do companheirismo e respeito à vida.
Considerando os fatores levantados, se faz necessário, que a população acorde
para a real necessidade e que nossos governantes, articulem políticas publicas que venham
ajudar o povo a serem pessoas conscientes. Espera-se que estudos nesse enfoque
contribuam para que Itacoatiara busque e cobre por qualidade de vida, esclareça a
população sobre questões ambientais. Que se levantem os questionamentos do consumo
acelerado, despertando a maioria da população para que modifique sua realidade, dando
novos rumos pra sua vida. Que escola, professores, comunidade e governantes estejam
cientes de sua responsabilidade e seu papel na sociedade, contribuindo para mudança de
pensamentos, dando formação e informação ao individuo cidadão, como reciclar e cuidar
do seu lixo.
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WALLAVER,J.P.. ABC do meio ambiente, fauna brasileiro. Ed.IBAMA, Brasília,DF,
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Foto 1
Ponte do bairro do Jauary durante o período de alagação
Foto: Leuda Serrão
Foto 2
Lixo Espalhado
Foto: Leuda Serrão
Foto 3
Moradores atravessando a ponte totalmente submersa pela água
Foto: Leuda Serrão
Foto 4
Objeto jogado no interior do lago Foto: Leuda Serrão
Foto: Leuda Serrão Foto: Leuda Serrão
Foto 9 Foto 10
Foto: Leuda Serrão Foto: Leuda Serrão
Foto 11 Foto 12
Foto: Leuda Serrão Foto: Leuda Serrão
ROTEIRO DE OBSERVAÇÃO PARA O BAIRRO DO JAUARY
Os alunos do 6º ao 9º ano, da Escola Estadual Vicente Geraldo Lima, preencherão os dados
dos seguintes itens:
Data:
1 Estrutura do bairro
2 Tipos de moradia
3 População
4 Nível econômico
5 Coleta de lixo doméstico
6 O lago do Jauary
ROTEIRO DE ENTREVISTA A SER APLICADO AOS MORADORES DO
BAIRRO DO JAUARI
NOME:
1. Você é morador antigo do bairro?
( ) Sim ( ) Não
2. Qual a frequência que o carro de coleta de lixo passa na sua rua?
( ) Diariamente ( ) Semanalmente ( ) Outros
3. Quando o carro coletor do lixo não passa, onde ele fica?
( ) Exposto ( )em caixas com tampa ( ) Outros
4. Você sabe o que é coleta seletiva?
( ) Sim ( ) Não
5. Na sua casa são reaproveitados os materiais como vidro, sacolas de supermercado,
latas de leite, garrafa pet e outros?
( ) Sim ( ) Não
6. Você tem a preocupação em diminuir a quantidade de consumo de materiais de
difícil decomposição na sua casa?
( ) Sim ( ) Não ( ) Nunca pensei nisso
7. Você já visitou algum lixão ou depósito que trabalhe com reciclagem de lixo?
( ) Sim ( ) Não
8. O que você pode fazer para contribuir com o meio ambiente?
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Obrigado!