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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSUPROJETO VEZ DO MESTRE DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR AS INFLUÊNCIAS POLÍTICAS (INTER)NACIONAIS NO DECORRER DA HISTÓRIA DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS BRASILEIRAS ORIENTADORA: MS. VERA LUCIA VAZ AGAREZ ALUNO: ROLF MARTINS GUIMARÃES RIO DE JANEIRO, 2003

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

AS INFLUÊNCIAS POLÍTICAS (INTER)NACIONAIS NO DECORRER DA HISTÓRIA DAS POLÍTICAS

EDUCACIONAIS BRASILEIRAS

ORIENTADORA: MS. VERA LUCIA VAZ AGAREZ ALUNO: ROLF MARTINS GUIMARÃES

RIO DE JANEIRO, 2003

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE

DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

AS INFLUÊNCIAS POLÍTICAS (INTER)NACIONAIS NO DECORRER DA HISTÓRIA DAS POLÍTICAS

EDUCACIONAIS BRASILEIRAS

Monografia apresentada como exigência para obtenção

de certificado de conclusão do curso de Pós-Graduação

“lato sensu” em Docência do Ensino Superior à

Universidade Cândido Mendes – Projeto “A vez do

Mestre”.

ORIENTADORA: MS. VERA LUCIA VAZ AGAREZ ALUNO: ROLF MARTINS GUIMARÃES

RIO DE JANEIRO, 2003

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AGRADECIMENTO

A todos os autores, corpo docente do Projeto “A Vez

do Mestre”, em especial, à professora Vera Lucia Vaz

Agarez. Aos colegas de turma que direta ou

indiretamente, contribuíram para a confecção desse

trabalho acadêmico.

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DEDICATÓRIA

Dedico essa monografia a minha noiva Raquel Francis,

que tanto colaborou em algumas noites de sono, para

elaboração e aperfeiçoamento desse trabalho.

Rolf Martins Guimarães

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EPÍGRAFE

“O homem é um animal político- zoón politikon -, vive

naturalmente em sociedade”.

Aristóteles

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RESUMO

A presente monografia faz um arcabouço histórico e estrutural (1930

– 1995), onde as políticas educacionais brasileiras estavam voltadas para atender o

trabalho produtivo, baseado na lógica das relações de poder entre a lógica do

capitalismo globalizante, em escala geográfica nacional e internacional. Diante

dessas novas políticas educacionais, o ensino tornou-se simples aparelho de

reprodução de mão de obra, de rígida divisão social do trabalho e da ideologia

dominante, alicerçado a estrutura de classes.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................... 08

CAPÍTULO I

A organização das políticas educacionais durante o período conhecido como

populista no Brasil (1930 – 1964) ....................................................................... 09

CAPÍTULO II

A política educacional no decorrer da ditadura militar vinculada ao capital

norte-americano (1964-1985) ............................................................................. 24

CAPÍTULO III

A política educacional diante do retorno da democracia brasileira inserida no

bojo da lógica do capitalismo globalizante ...................................................... 38

CONCLUSÃO ..................................................................................................... 52

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................. 54

ANEXOS .............................................................................................................. 56

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INTRODUÇÃO

O objetivo geral deste trabalho é abordar as influências políticas

(inter)nacionais no decorrer da história das políticas educacionais brasileiras.

Servirão de base para nossas reflexões, a temporalidade histórica e as relações de

poder em escala geográfica nacional e internacional.

A pesquisa se justifica por haver poucos estudos no campo da

educação nesse tema, pela atualidade do assunto e a complexidade.

O trabalho está estruturado da seguinte forma: abordaremos diferentes

temporalidades históricas das relações de poder em escalas geográficas

(inter)nacionais que influenciaram a história da educação brasileira (1930 a 1990),

indicando a propriedade dos acontecimentos que dão sentido aos recortes temporais e

espaciais, objetivando melhor analisá-los e dimensioná-los. Na primeira parte

faremos uma análise da organização da política educacional brasileira durante o

período conhecido como populista (1930 a 1964); na segunda parte faremos uma

análise da política educacional durante a ditadura militar, intimamente vinculada ao

capital norte-americano (1964 a 1985); na terceira parte discutiremos a política

educacional diante do retorno da democracia brasileira inserida no bojo da lógica do

capitalismo globalizante. Na conclusão, analisaremos e apontaremos as principais

influências das políticas (inter)nacionais no decorrer da história das políticas

educacionais em nosso país.

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CAPÍTULO I

A ORGANIZAÇÃO DAS POLÍTICAS EDUCADIONAIS

DURANTE O PERÍODO CONHECIDO COMO

POPULISTA NO BRASIL (1930-1964)

O período da história brasileira intitulado como populismo é altamente

rico em movimentos sociais e políticos e em transformações econômicas e

contraditórias devido à agitação de novas e antigas idéias pedagógicas.

É difícil estabelecer um critério par a sua periodização, havendo várias

controvérsias entre historiadores principalmente em relação à delimitação de suas

fases e subfases, considerarmos período populista os anos compreendidos entre 1930

e 1964 e dividimos esse período em duas subfases, tomando a data de 1945, com o

fim do Estado Novo, como linha divisória. De 1930 a 1945 o Brasil foi governado

por Getúlio Dornelles Vargas, sendo por isso conhecido como Era Vargas ou

período getulista, que pode ser dividido em três grandes fases: o Governo provisório

(de 1930 a 1934); o Governo constitucional (de 1934 a 1937); o Governo ditatorial

(de 1937 a 1945). Logo após a Era Vargas temos a redemocratização com o governo

de Eurico Gaspar Dutra (1946 a 1951). Em seguida tivemos o retorno de Getúlio

Vargas (1951 a 1954), que se suicidou, entrando em seu lugar o seu vice: Café Filho

(1954 a 1955). Depois assumiu o poder Juscelino Kubitschek (1956 a 1961). Em

1961 tivemos a meteórica carreira de Jânio Quadros, que renunciou, assumindo o seu

lugar, João Goulart (1961 a 1964).

Por período populista entendemos o período em que a classe

dominante no final da Primeira República formada notadamente por latifundiários

cafeicultores, é forçada a dividir o poder com a nova classe média burguesa,

emergente, urbano-industrial. O período se caracteriza, portanto, por uma passagem

do processo econômico onde predominava a atividade agroexportadora para um

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processo econômico onde predominava a produção industrial e, conseqüentemente, o

que é chamado de substituição de importações.

Com essa crise do modelo agroexportador e o delineamento do

modelo nacional-desenvolvimentista com base na industrialização, é exigida melhor

escolarização, principalmente nas áreas urbanas. Diante dessa nova realidade o

presidente Vargas, se vê na obrigação de criar o Ministério da Educação e Saúde, que

ficou sob a responsabilidade de Francisco Campos – elemento ligando a escola nova,

que na década de 20 tinham empreendidas reformas de ensino seu trabalho já era

conhecido no estado de Minas Gerais. Ao assumir o Ministério da Educação cria o

Conselho Nacional de Educação, ao mesmo tempo em que reforma o ensino

secundário, cria o ensino comercial e estabelece o Estatuto das Universidades

Brasileiras (Reforma Campos). O novo estatuto das universidades brasileiras propõe

a incorporação de pelo menos três institutos de ensino superior, “incluídos os de

Direito, de Medicina e de Engenharia ou, ao invés de um deles, a Faculdade de

Educação, Ciências e Letras”. Esta última, evidentemente, se volta para a premente

necessidade de formação do magistério secundário.

O ensino passa a ter dois ciclos: um fundamental, de cinco anos, e

outro complementar, de dois anos, este último visando à preparação para o curso

superior. Com isso, pretendia-se evitar que o ensino secundário permanecesse

meramente propedêutico, descuidando-se da formação geral do aluno. Todas as

escolas se equiparam ao Colégio Pedro II, até então considerado modelo, e são

estabelecidas normas de admissão de professores e formas de inspeção do ensino

ministrado. Apesar do real avanço, algumas críticas podem ser feitas ao total descaso

pela educação fundamental. Além disso, a formação de professores não se concretiza

de fato. No ensino profissionalizante, é regulamentada a atividade de contador e o

curso comercial merece mais atenção do que o industrial, este sim, de premente

necessidade na conjuntura econômica que se delineava. A falta de articulação entre o

curso secundário e o comercial evidencia a rigidez do sistema, enquanto o

enciclopedismo dos programas de estudo ao lado de uma rigorosa avaliação, torna o

ensino altamente seletivo e elitizante. Na visão de Romanelli (1978), “a reforma, na

verdade, um passo atrás, perdendo a oportunidade que o contexto oferecia de criar um

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sistema de ensino profissional condizente com a ideologia do desenvolvimento que então

ensaiava seus primeiros passos na vida política nacional. Perdeu também a oportunidade de

criar um clima propício à maior aceitação do ensino profissional pela demanda social de

educação nascente. A reforma, enfim, contribuiu para que a estrutura do ensino se tornasse

ultrapassada, em certos aspectos, porque: não conseguiu eliminar a velha concepção

liberal-aristocrática relativa à educação voltada para as carreiras liberais; não se

preocupou com a implantação efetiva de um ensino técnico e científico; implantou uma

estrutura de ensino altamente seletiva, dada a rigidez dos critérios de equiparação de

escolas (estaduais e particulares). Todos esses aspectos negativos denunciavam a existência

de uma política educacional baseada numa concepção ideológica autoritária.” (p.142).

Nessa primeira subfase (1930 – 1945), o que há de fato é uma

educação fundamental, universal, voltada para o trabalho produtivo, baseada no

modelo norte-americano. “Para o Estado nacional-populista a escola representava o

instrumento ideal para a disseminação da nova ideologia desenvolvimentista, isto é, o mito

do desenvolvimento capaz de produzir o bem estar de todos independentemente de classes

sociais.” (GADOTTI, 1983, p.111).

Essa utilização da educação como instrumento de propagação da nova

ideologia desenvolvimentista fica nítido a partir do golpe de 37 e da instituição do

Estado Novo. Imediatamente Vargas abandonou os traços liberais (norte-americano)

dos primeiros anos revolucionários, aproximando-se um nacionalismo radical e de

uma estrutura de Estado totalitário, calcado nos modos fascistas e um movimento

político e social originado na Itália na década de 20, cujo principal líder foi Benedito

Mussolini. Enquanto ideologia, o fascismo baseia-se em princípios totalitários, culto

ao chefe. Fundamenta-se na recusa de princípios liberais, negando a pluralidade de

representação política e de direitos de liberdade individual. Sua doutrina agrega

elementos totalitários como culto ao chefe (ditador), a militarização da sociedade e

decisões políticas, a idolatria nacionalista (identificando Estado e Nação, Nação

Partido) a submissão das massas, a assimilação da economia à organização

corporativa, entre outras características.

A constituição de 1937 foi altamente influenciada por essa nova

ideologia adotada por Vargas. As leis da constituinte passaram a prever a

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obrigatoriedade da disciplina e educação moral e política, além disso introduziu o

ensino profissionalizante e a obrigatoriedade de as indústrias e sindicatos criarem

escolas de aprendizagem.

“Em conseqüências são criadas, em quase todos os estados as escolas

técnicas profissionalizantes exigidas pelos vários ramos da industria que necessitava de

maior qualificação e diversificação da força de trabalho. A escola torna-se, assim o

aparelho de reprodução de mão de obra, reprodução da divisão social do trabalho e da

ideologia dominante, consolidando a e estrutura de classes.” (GADOTTI, 1983, p.111).

Com o intuito de reforçar a ideologia dominante e a rígida estrutura de

classes criou um organismo de publicidade oficial: o DIP (Departamento de

Imprensa e Propaganda) esse órgão governamental encarregava-se de censurar todos

os meios de comunicação, mas a DIP também funcionava como instrumento de

divulgação de benefícios do governo, formulando uma política cultural que visava

controlar as classes populares, um bom exemplo foi a criação em 1938 do programa

“A hora do Brasil”, que tinha a incumbência de prevalecer a doutrinação e a

propaganda oficial. O DIP encarregava-se de projetar numa imagem de um “homem

generoso, forte”, “homem sem ódio e sem vaidade”, dominado pela preocupação de

fazer o bem, homem tolerante, capas de mobilizar a simpatia como força política.

Assim Vargas aparecia como “guia da juventude brasileira”, “o grande pai”, “o

apóstolo nacional”, “o reformador”, mas também “pacifista”, pai dos pobres e mãe

dos ricos.

Dentro de seus princípios estratégicos de controle social, o Estado

Novo volta-se para a criação de leis trabalhistas que regessem relações capital-

trabalho. Em 1943 Vargas, através do Ministério do Trabalho, criava a consolidação

das leis do trabalho (CLT). Entre seus principais tópicos destacam-se: a criação da

previdência social, o direito à aposentadoria e da assistência médica, a instituição do

salário mínimo regulamentado pelo Ministério do Trabalho, a instituição da jornada

diária de oito horas, o direito à férias e descansos semanais remunerados.

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A partir de 1942, a geopolítica mundial começava a se alterar com a

perspectiva de vitória das forças aliadas comandadas pelos EUA e URSS, contra o

nazi-fascismo. O Estado Novo fascista de Vargas se viu obrigada a mudar a posição

e, pressionado pelos norte-americanos, declarou guerra à Alemanha. A situação

mostrava-se diante da declaração de guerra nazi-fascismo, altamente contraditória,

pois combatia na Europa a mesma ideologia que mantinha a organização do Estado

brasileiro. Dentro do governo também ocorriam divisões e as influências norte-

americanas foram decisivas para reduzir as forças fascistas e alguns grupos

minoritários dentro do próprio governo e do exército.

Configurava-se, dessa forma, um gradativo isolamento de Vargas no

poder. Além dessas questões políticas, a ordem econômica também enfrentava

dificuldades, principalmente a partir de 1943, com o acirramento da guerra. A

redução das importações prejudicava a reposição de máquinas e equipamentos;

assim, comprometia-se a produtividade e elevavam-se os preços dos produtos. Em

outubro de 1945 o Exército através de seus comandantes Góes Monteiro e Dutra,

acabou por desencadear um golpe, derrubando o presidente e garantindo a realização

sem a participação de Vargas. Encerrava-se o Estado Novo e a ditadura varguista no

Brasil. Foi escolhido um novo presidente: Eurico Gaspar Dutra e constituintes. “Os

líderes do evento, Góis e Dutra especialmente, eram homens identificados com a reação e

sustentáculos do Estado Novo, sendo difícil supor que tivessem mudado sua perspectiva

apesar da euforia democrática pela qual passava o Brasil. Enfim, foi um golpe conservador

voltado não só contra Vargas, mas, especialmente, contra as massas populares que o

apoiavam”. (MENDES, RONCARI & MARANHÃO, 1991, p.206).

De 1945 a 1964 retornamos o estado de direito, com governos eleitos

pelo povo e marcado pela esperança de um progresso acelerado. No período do pós-

guerra cristalizava-se a supremacia econômica dos EUA, cujos interesses

imperialistas se chocam com o nosso modelo nacionalista. O desenvolvimento

econômico até então baseado no nacionalismo, começou a entrar em contradição

com o processo de internacionalização da economia. Os anos 40 foram meramente

pela americanização da cultura brasileira, onde passamos a adotar um novo estilo de

vida, “american way of life”: “o Brasil mandava Cármen Miranda e o Bando da Lua para

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América do Norte e de lá nos chegavam o Pato Donald, o camundongo Mickey e o recém-

criado personagem de Disney, o brasileiríssimo Zé Carioca.” (PESAVENTO, 1994,

p.54).

A partir de 1945, o crescimento da população e a instalação de um

regime político representativo, trouxeram mudanças no jogo político e na correlação

de forças na sociedade brasileira. Ocorreu o deslocamento do eixo propulsor da

economia para o setor urbano-industrial se tornava cada vez mais visível. O processo

de industrialização e o crescimento das cidades produziram um aumento significativo

do proletariado urbano, que vinha adquirindo uma afeição bastante diferente daquela

do começo do século. Naquela época, a concentração de imigrantes era muito grande

na classe operária. “Nos ano 1940, o operariado das regiões de concentração industrial no

Sudeste já se apresentava composto basicamente de brasileiros, com expressiva

participação de trabalhadores egressos do meio rural e mesmo provenientes das migrações

internas. A importância política das classes médias urbanas e do operariado, concentrados

nas regiões economicamente mais desenvolvidas, cresceu nesse período. Cada vez mais, as

cidades do Rio de Janeiro, São Paulo e Belo Horizonte figuravam como áreas de grande

expressão eleitoral. O posicionamento político da população urbana adquiria força

suplementar na medida em que o voto conforme previa a Constituição de 1946, estava

restrito à população alfabetizada, mais numerosa da cidade. O contingente populacional,

formado à medida que fora se desenvolvendo o processo de industrialização no país, exigia

maior participação na política, por meio do voto, mas também maiores direitos sociais, tais

como saúde e educação.” (BERCITO, 1999, p.80).

Essa Constituição reflete o processo de redemocratização do país “fixa

a necessidade de elaboração de novas leis e diretrizes para o ensino. Começa a longa

gestação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que só seria sancionada em

1961. Essa lei visava substituir a Reforma Capanema de 1942. Gustavo Capanema, ideólogo

da educação durante o Estado Novo, inspirava-se notadamente na reforma educacional

italiana empreendida com Gentile sob a ditadura fascista. A Lei Orgânica do Ensino

secundário determinava, por exemplo, como função principal do ensino secundário, a

formação da “consciência patriótica e da consciência humanística”. Embora as reações a

essa lei fossem imediatas, as Leis Orgânicas do Ensino continuaram em vigor durante

muitos anos devido à longa discussão em torno da LDB. Com isso os setores privados

retomaram grande parte dos seus privilégios.” (GADOTTI, 1983, p.113). Em 1948 o

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ministro Clemente Mariani apresenta o anteprojeto da LDB, baseado em um trabalho

confiado à educadores sobre orientação de Lourenço Filho. O percurso desse projeto

é longo e tumultuado e esse estende até 1961, da sua promulgação. “Jamais, na

história da educação brasileira, um projeto de lei foi tão debatido e sofreu tantos reverses,

quanto este. Os resultados podem ser classificados em duas ordens: os relacionados com o

produto final obtido com a promulgação da lei, os quais, a nosso ver, foram negativos para

a evolução do sistema educacional brasileiro, e os relacionados com a própria luta, em si

mesma, a que aconteceu a promulgação da lei. Estes resultados, sim, foram altamente

positivos, pois revelaram, entre outros aspectos, da parte dos educadores da velha geração

de 30, agora acompanhados pelos da nova geração, uma disposição firme para a

continuação da luta iniciada duas décadas antes, mas interrompida durante o intervalo

ditatorial. A consciência aprofundada e amadurecida dos problemas relativos à nossa

realidade educacional agora mobilizavam um contingente muito mais significativo do que

aquele com que tinham contado “os pioneiros”. Participavam também da luta estudantes,

operários e intelectuais.” (ROMANELLI, 1978, p.171-172).

Em 1951, Vargas e Café Filho assumiram a presidência e a vice-

presidência pelo voto. Assumindo o poder, Vargas procurou apagar a imagem de

ditador do Estado Novo e construiu, em seu lugar, a figura de um estadista

democrata. Além disso, retomou duas características que o consagraram: o

nacionalismo econômico e a política de amparo aos trabalhadores urbanos. Getúlio

empenhou-se em realizar um governo nacionalista. Dizia que era preciso atacar a

exploração das forças internacionais para que o país conquistasse sua

independência econômica. O nacionalismo de Vargas foi duramente combatido pelo

governo dos Estados Unidos, pelas empresas estrangeiras e pelas forças políticas que

defendiam seus interesses no Brasil.

“No Congresso Nacional e na imprensa, havia um grande debate político

entre os nacionalistas, que apoiavam Vargas, e os entreguistas, que queriam entregar as

riquezas do país à livre exploração do capital estrangeiro. Um dos principais momentos do

debate entre nacionalistas e entreguistas aconteceu por ocasião da nacionalização do

petróleo. Os nacionalistas queriam que a extração do petróleo fosse realizada por uma

empresa brasileira e estatal. Defendiam o slogan O petróleo é nosso. Os entreguistas, por

sua vez, eram favoráveis à entrega do petróleo do país à exploração dos grupos

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internacionais. A campanha do petróleo teve um final favorável aos nacionalistas. Em

1953, foi criada a Petrobrás, empresa estatal responsável pelo monopólio total da extração,

e parcialmente, do refino do petróleo brasileiro. Ainda em 1953, o governo propôs a Lei de

Lucros Extraordinários, que limitava a remessa, ao exterior, dos lucros obtidos por

empresas estrangeiras estabelecidas no Brasil. A lei, entretanto, foi barrada ano Congresso,

devido às pressões dos grupos internacionais. Os inimigos do nacionalismo promoveram,

então, violenta reação à política de Vargas. O governo dos Estados Unidos mostrava seu

desagrado pela criação da Petrobrás e pela Lei de Lucros. A UDN, principal partido de

oposição ao governo, e os setores ligados ao capital estrangeiro começavam a conspirar

para derrubar Getúlio.” (COTRIM, 2001, p.291-292).

Paralelamente ao nacionalismo, Getúlio desenvolveu uma política de

aproximação com os trabalhadores das cidades. Dizia que seu objetivo era a

construção de uma “verdadeira democracia social e econômica”. Democracia em que

o trabalhador tivesse, além dos direitos políticos, o direito de desfrutar o progresso

que ele mesmo criara com seu trabalho. Em 1954, Getúlio Vargas autorizou um

aumento de 100% no salário mínimo, atendendo à proposta do ministro do Trabalho,

João Goulart. Tal medida provocou enorme revolta entre os patrões, que eram contra

a organização da classe trabalhadora, estimulada pelo governo. Durante o governo

Vargas, o salário mínimo recuperou significativamente seu poder aquisitivo.

Todos esses fatores – política desfavorável ao capital estrangeiro,

aumento do salário mínimo, crescente organização dos trabalhadores – concorreram

para aumentar a implacável oposição da alta burguesia, dos políticos da UDN e de

uma parte da imprensa ao governo de Vargas. O jornalista Carlos Lacerda, um de

seus críticos mais ferozes, liderava, através do seu talento de orador e artigos

contundentes, violenta campanha contra o governo. Eram tantos os ataques e as

provocações que Vargas declarou: Sinto-me mergulhado num mar de lama. Os

militares, em particular os membros da Aeronáutica, revoltaram-se contra Getúlio

Vargas e dirigiram-lhe um manifesto exigindo sua renúncia. Este, porém, recusava-se

a deixar o cargo para o qual tinha sido eleito pelo povo. Vendo-se isolado e sem

poder reagir às pressões militares, Vargas tomou uma atitude trágica, no dia 24 de

agosto de 1954. Escreveu uma carta-testamento ao povo brasileiro e, em seguida,

suicidou-se com um tiro no coração. A morte de Vargas comoveu milhões de

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brasileiros. Nos meses que ainda faltavam para completar o mandato de Vargas a

presidência da república foi ocupada, respectivamente, por Café Filho, Carlos Luz e

Nereu Ramos. O curto governo de Café Filho foi marcado por uma retomada dos

princípios econômicos que haviam sido parcialmente abandonados por Vargas. Seu

ministro da Fazenda foi Eugênio Gudin, auxiliado na Sumoc (Superintendência da

Moeda e do Crédito, embrião do Banco Central) por Otávio Gouveia de Bulhões,

ambos defensores de práticas liberais. Buscaram combater a crescente inflação com

medidas ortodoxas, isto é, monetaristas, levando inevitavelmente à recessão e a uma

aguda crise bancária.

Em 1955, durante ainda o Governo de Café Filho, foi fundado o

Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), com o intuito de repensar, e levar a

sociedade brasileira a refletir sua situação sócio-econômica de forma não-alienada.

Os principais representantes desse intuito foram Cândido Mendes, Celso Furtado e

Nelson Werneck Sodré, que além de algumas concordâncias fundamentais assume

posições ideológicas diversificadas, indo do marxismo ao pensamento cristão (nesse

caso se diferencia dos católicos conservadores) passando pelo existencialismo e etc.

O Iseb não se mostrava contrário ao capitalismo estrangeiro, mas apenas cuidadoso

com a regulamentação das forças que atuam no seu interior. É bem verdade que nem

sempre prevalecem as posições de aceitação de alguns teóricos que se colocam em

franca oposição à entrada das indústrias estrangeiras no país.

Em linhas gerais, no plano político-econômico o Iseb defende a

produção e as indústrias nacionais, daí o nacional-desenvolvimentismo que

caracterizou sua orientação. Em oposição à ideologia defendida pelo Iseb o deputado

Carlos Lacerda defendia os interesses do desenvolvimento nacional alicerçado no

capital internacional, apresentou um Projeto-de-lei que vetava o ensino estatal e

defendendo a iniciativa privada, por considerar competência do Estado o suprimento

de recursos técnicos e financeiros e a igualdade de condições das escolas oficiais e

particulares. A reação a esse projeto por intelectuais educadores culminou em 1959

com o Manifesto dos Educadores. Era uma grande campanha nacional em defesa do

ensino público e gratuito.

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Esse nacionalismo econômico, que continuou sob o governo de

Juscelino Kubitscheck (1956 - 1961) como nacional-desenvolvimentismo,

revitalizou as preocupações com a questão da cultura brasileira, sobre tudo na

produção teatral e cinema. Voltando à esfera do governo JK pautou-se num projeto

de desenvolvimento baseado na industrialização. Seu lema foi “cinqüenta anos em

cinco” no qual baseou a campanha e seu programa de governo durante a primeira

reunião de ministros em fevereiro de 1956, ele expôs o Plano de Metas e instituiu um

órgão de controle da economia, o conselho de Desenvolvimento, integrado por

ministros, chefes do Gabinete Civil e Militar e pelos presidentes do Banco do Brasil

e do Banco Nacional de desenvolvimento Econômico. O Plano de Metas tinha por

objetivo principal acelerar a acumulação, aumentando a produtividade dos

investimentos existentes e aplicando novos em atividades produtoras. Para tanto,

pretendia incentivar a industrialização acelerada, como meio de gerar novas

oportunidades de emprego e elevar o nível de vida da população. Em suma,

propunha-se o desenvolvimento planejado do capitalismo no Brasil. Tratava-se de

atacar os problemas crônicos - energia, transportes, alimentação, indústria de base e

educação – subdivididos em 30 metas. Sua aplicação envolveu a afirmação dos

tecnocratas na cena administrativa brasileira e a criação de órgãos especiais de

administração. Atuando nos GT (Grupos de Trabalho) e nos GE (Grupos

Executivos), ao lado de representantes de diversos setores da sociedade –

empresários, políticos, militares -, eles tiveram papel importante na elaboração de

projetos de lei e no controle dos incentivos tributários, financeiros e tecnológicos.

“Outro ponto de apoio da política desenvolvimentista definida no Plano de

Metas foi o Instituto Superior de Estudos Brasileiros. Os bons resultados alcançados pelo

Plano devem-se, em parte à participação do capital estrangeiro, alvo principal das críticas

da oposição de esquerda. Estimulados pela Instrução 113 da Sumoc, decretada sob o

governo de Café Filho, que oferecia aos investidores a possibilidade de importação dos bens

de produção sem cobertura cambial, capitais americanos, europeus e japoneses passaram a

investir na indústria, independentemente ou associados ao capital nacional. Este, desta

forma, também ampliava suas vantagens e a área de sua influência. A entrada de capitais

europeus e japoneses impeliu os Estados Unidos a aumentar o investimento na indústria

brasileira, sem o que colocaria em risco sua hegemonia. Em 1958 estavam registradas como

brasileiras, com participação direta de capitais estrangeiros, 1353 firmas, das quais 552

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eram associadas ao capital norte-americano.” (RODRIGUES, 2001, p.65-66). Para

Essa política de incentivo industrial foi chamada de nacional-desenvolvimento, pois

o governo JK entendia por nacional o fato de o programa econômico ser coordenado

pelo Estado, enquanto desenvolvimento reconhecia a necessidade de investimento

estrangeiro no Brasil. Esse governo concedeu a iniciativa privada e o capital

estrangeiro, os setores econômicos de menores despesas e lucratividade atraente:

expansão de bens de consumo duráveis (automóveis, eletrodomésticos, e etc).

“A Lei 4.024 de 1961 (LDB) é o resultado do compromisso entre essas duas

tendências (Projeto-de-lei Mariani e Lacerda). A LDB representa um certo triunfo do setor

privado garantindo-lhe até o direito, em alguns casos, de ser financiado pelo Estado. A

conquista popular é representada pela equivalência do ensino profissionalizante. Mas

representava “meia vitória”, como dizia Anízio Teixeira. Porque as taxas continuavam

sendo a primeira barreira para a criança pobre. Assim, a LDB nasceu ultrapassada. Apesar

de a LDB garantir o direito e o dever da educação fundamental para todos, a escola

continuava privilégio de classe. A origem sócio-econômica do estudante continuava

determinante para o rendimento escolar”. (GADOTTI, 1983, p.113-114). Baseada na

LDB, a escola reproduz e reforça a estrutura de classe, como também perpetua as

relações do trabalho que produziram essa estrutura, ou seja, a divisão social do

trabalho que separou o trabalho manual do intelectual.

Para agravar a situação social do país, cresciam as disparidades

regionais, aumentava a população nos grandes centros urbanos, a inflação atingia

níveis alarmantes, aumentava cada vez mais a concentração da renda, o que gerava

assim o crescimento da pobreza e a miséria da sociedade. Diante dessa realidade a

sociedade votou no último governo populista: Jânio Quadros (1961), obteve uma

espetacular vitória eleitoral. Esse resultado era fruto da simpatia que Jânio

conseguira granjear junto às massas populares, prometendo, durante a sua campanha

política, “varrer” toda a sujeira de nossa administração pública. Adotou como

símbolo de campanha a célebre vassoura, para situa-lo como homem honesto que iria

limpar a vida pública brasileira, dando fim a toda e qualquer corrupção. O governo

de Jânio foi marcado por atitudes contraditórias, que lhe valeram, em pouco tempo,

severas críticas da UDN. No plano interno, Jânio revelava suas idéias contrárias ao

comunismo e sua disposição de manter o país aberto ao capital estrangeiro. No plano

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externo, entretanto, procurou realizar uma política independente, que o levou a

aproximar-se de países socialistas, como a China e a União Soviética. Essa política

externa independente foi duramente criticada pela oposição conservadora, liderada

novamente por Calos Lacerda, na época governador do antigo estado da Guanabara.

A revolta oposicionista atingiu seu ponto culminante em 19 de agosto de 1961,

quando Jânio Quadros condecorou o ministro da Economia de Cuba, Ernesto Che

Guevara, com a mais importante comenda brasileira, a Ordem do Cruzeiro do Sul. A

homenagem prestada por Jânio ao famoso líder da Revolução Socialista Cubana, tão

odiada pelos Estados Unidos, fez com que Calos Lacerda acusasse o governo

brasileiro de estar abrindo as portas do país ao comunismo internacional. “Não

resistindo às pressões políticas, Jânio Quadros, inesperadamente, renunciou ao cargo de

presidente da república, no dia 25 de agosto de 1961. Numa breve carta, em que explicava

algumas das razões que o levaram à renúncia, escreveu que se sentia esmagado: forças

terríveis levantam-se contra mim e me intrigam ou infamam (...). Se permanecesse, não

manteria a confiança e a tranqüilidade, ora quebradas e indispensáveis ao exercício da

minha autoridade (...). A mim não falta a coragem da renúncia.” (COTRIM, 2001, p.298-

299).

De acordo com a Constituição vigente no país, com a renúncia de

Jânio Quadros, a presidência da república deveria ser ocupada pelo vice-presidente

eleito, João Goulart. Este, porém, estava em visita oficial à China Comunista, e a

presidência foi entregue a Ranieri Mazzilli, presidente da Câmara dos Deputados. A

oposição udenista aproveitou-se da situação para tentar impedir a posse de João

Goulart (Jango), acusando-o de ser “perigoso comunista”. Planejavam prende-lo

assim que desembarcasse no aeroporto, porém isso não ocorreu. Dois grupos

políticos, com interesses divergentes, formaram-se em relação à posse de João

Goulart: os contrários à posse, que reunia ministros militares, udenistas, grandes

empresários nacionais e estrangeiros e os favoráveis à posse, que reunia grande

parcela dos sindicalistas e trabalhadores, profissionais liberais, pequenos

empresários. Para representar o grupo dos favoráveis à posse, foi organizada a Frente

Legalista, que pretendia garantir o cumprimento da lei constitucional. Nascida no Rio

Grande do Sul, a Frente Legalista era liderada pelo governador desse estado, Leonel

Brizola (cunhado de João Goulart), e apoiada pelo comandante do III Exército,

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general Machado Lopes. O confronto entre esses dois grupos levaria o país a uma

guerra civil.

Para que isso não ocorresse, foi negociada uma solução: o vice-

presidente assumiria o poder, desde que aceitasse o sistema parlamentarista. Nesse

sistema de governo, o presidente da república divide o poder executivo com o

primeiro-ministro indicado pelo Legislativo. Isso significava que João Goulart

assumiria a presidência com poderes limitados e vigiados pelo Congresso Nacional.

João Goulart aceitou as condições impostas e tomou posse em 7 de setembro de

1961. Tancredo Neves era o primeiro-ministro de seu governo. A emenda

constitucional que estabeleceu o parlamentarismo previa que esse sistema de governo

deveria ser referendado por um plebiscito. Em seu discurso de posse, João Goulart

prometeu realizar, o mais breve possível, o plebiscito. Acreditava que a maioria dos

eleitores brasileiros recusaria o parlamentarismo e restabeleceria o sistema

presidencialista. Em 6 de janeiro de 1963, realizou-se o plebiscito que reuniu os

votos de mas de 12 milhões de cidadãos. Desse total, quase 10 milhões votaram

contra o parlamentarismo. Ou seja: a consulta popular revelou que a ampla maioria

dos brasileiros era favorável à extinção do parlamentarismo e à volta do

presidencialismo.

Após o resultado do plebiscito, Goulart assumiu plenamente o poder

presidencial, reforçando, a partir de então, sua linha de governo de tendência

nacionalista e política externa independente. Sua estratégia socioeconômica foi

formalizada através do Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social,

organizado pelo ministro do Planejamento, Celso Furtado. Esse Plano tinha como

objetivos: promover uma melhor distribuição das riquezas nacionais, atacando os

latifúndios improdutivos para defender interesses sociais; encapar as refinarias

particulares de petróleo; reduzir a dívida externa brasileira; diminuir a inflação e

manter o crescimento econômico sem sacrificar exclusivamente os trabalhadores.

Nessa época, as massas trabalhadoras mobilizavam-se cada vez mais contra a

exploração das classes dominantes. Apavorados com a idéia de perder seus lucros e

privilégios, os grandes empresários uniram-se aos militares e começaram a tramar a

queda de João Goulart. Surgiram, então, associações políticas conservadoras, como o

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IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática) e o IPES (Instituto de Pesquisas e

Estudos Sociais), sustentadas com o dinheiro dos empresários e dos Estados Unidos.

Milhões de dólares eram gastos em propagandas contra o governo, por meio de

livros, jornais, revistas, rádio e televisão. Os políticos de oposição recebiam verbas

para financiar suas campanhas e, depois de eleitos, eram subornados para votar

contra as propostas de Jango. Acirrou ainda mais a revolta das classes dominantes, o

conjunto de medidas políticas, denominadas reformas de base, anunciadas por Jango

em um comício que reuniu aproximadamente 300 mil pessoas em frente à Estação de

Ferro Central do Brasil. Entre as medidas, destacam-se: reforma agrária, para

facilitar o acesso à terra a milhões de lavradores que desejavam trabalhar e produzir

no campo. Acreditava-se que, com isso, o homem do campo permaneceria em seu

local de origem, não precisando fugir para as grandes cidades em busca de empregos;

reforma urbana para socorrer milhões de favelados e moradores de cortiços nas

grandes cidades; reforma educacional para aumentar o número de escolas públicas,

matricular todas as crianças brasileiras e combater o analfabetismo; reforma eleitoral

para dar ao analfabeto o direito de votar e participar da vida pública; reforma

tributária para corrigir as desigualdades sociais na distribuição dos deveres entre

ricos e pobres, patrões e empregados. Além dessas reformas, Jango procurou colocar

sob controle o capital estrangeiro, através da Lei de Remessa de Lucros, que limitava

o envio de dólares das empresas multinacionais para o exterior. A aprovação dessa

lei provocou enorme reação entre representantes multinacionais, políticos

entreguistas e imprensa defensora dos interesses estrangeiros.

A favor do governo, os setores populares faziam greve política em

apoio às reformas de base. Contra o governo, as classes dominantes organizavam, em

várias cidades, as marchas da Família com Deus pela Liberdade, que eram passeatas

de senhoras da elite católica, autoridades civis e parte da classe média. A agitação

política e social tomava conta do país. Os grupos de esquerda e de direita

radicalizavam suas posições. Em Brasília, 600 sargentos do Exército e da

Aeronáutica ocuparam a tiros suas guarnições para exigir o direito de voto. A

rebelião dos sargentos foi rapidamente controlada, mas os oficiais militares,

assustados com a indisciplina da tropa, responsabilizaram o governo pelo clima que

contagiava o país. No dia 31 de março de 1964, explodiu a rebelião das Forças

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Armadas contra o governo João Goulart. O movimento militar teve início em Minas

Gerais, com a mobilização das tropas comandadas pelo general Olímpio Mourão

Filho, apoiado pelo governador mineiro Magalhães Pinto. Rapidamente, o

movimento golpista contou com a adesão de outras unidades militares de São Paulo,

Rio Grande do Sul e do antigo estado da Guanabara. Sem condições de resistir ao

golpe, o presidente João Goulart deixou Brasília, em 1º de abril de 1964. Jango

passou pelo Rio Grande do Sul e, em seguida, foi para o Uruguai como exilado

político. Terminava o período democrático. Começava a ditadura militar, conhecido

também, como anos de chumbo.

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CAPÍTULO II

A POLÍTICA EDUCACIONAL DURANTE A DITADURA

MILITAR, INTIMAMENTE VINCULADA AO CAPITAL

NORTE-AMERICANO (1964 –1985)

O regime militar instalado em 1964 surgiu a partir de um golpe de

força, isso é inegável, mas desde o início seus líderes insistiram e acentuaram o seu

caráter temporário. O novo regime, no entanto, estendeu-se por 21 anos e teve os

seguintes à sucessão, na presidência da república, dos seguintes líderes militares:

Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco de abril de 1964 a março de 1967,

Marechal Artur da Costa e Silva de março de 1967 a agosto de 1969, Junta militar

composta pelos Chefes das Forças Armadas (Augusto Hamann Rademaker

Grunewald, Aurélio Lyra Tavares, Márcio de Souza e Melo) que governou o país por

ocasião da doença e posterior morte de Costa e Silva de agosto de 1969 a outubro do

mesmo ano, General Emílio Garrastazu Médici de novembro de 1969 a março de

1974, General Ernesto Geisel de março de 1974 a março de 1979 e General João

Baptista de Oliveira Figueiredo de março de 1979 a março de 1985.

Os governos militares receberam grande apoio dos Estados Unidos e

das empresas multinacionais. Em troca desse apoio, o governo assumiu posições

favoráveis aos interesses do capitalismo norte-americano. Declarou-se inimigo feroz

das idéias “socialistas” ou “comunistas”, promovendo forte repressão policial contra

várias entidades sociais, entre elas diversos sindicatos (que foram fechados) e a

União Nacional dos Estudantes – UNE (que foi invadida). Além disso, rompeu

relações diplomáticas com Cuba (único país latino-americano de governo socialista)

e acabou com a Lei de Remessa de Lucros, liberando a exploração do país pelas

empresas multinacionais.

No entanto, imediatamente após o golpe, ainda predominava a idéia de

que a intervenção militar na política seria breve. Assim em abril de 1964, a Junta

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Militar outorgou o Ato Institucional nº 1 (AI-1), que suspendia as garantias

constitucionais. Com base no AI-1, o presidente Castelo Branco cessou os direitos

políticos de João Goulart, Leonel Brizola, Celso Furtado, Miguel Arrais, Darci

Ribeiro e também extinguiu a Frente Parlamentarista Nacionalista e as organizações

que apoiavam as Reformas de Base: o CGT (Comando Geral dos Trabalhadores), o

PUA (Pacto de Unidade e Ação) e as Ligas Camponesas. Além dessa repressão, os

sindicatos e associações proletárias foram interditadas, com nomeações de

interventores do governo. Ao mesmo tempo, operários camponeses e estudantes

foram presos, perseguidos, exilados, sob a acusação de subversivos da ordem.

O governo de Marechal Castelo Branco optou pelo fortalecimento do

Executivo, bem como pela segurança de Estado. Para isso, criou-se o SNI (Serviço

Nacional de Informações) encarregado de vigiar os inimigos do regime militar,

localizá-los e prendê-los. Dentro dessa perspectiva, a política de segurança

justificava o AI-1, a preocupação do mandato de Castelo Branco (portanto, o

cancelamento das eleições presidenciais de 1965) e uma verdadeira guerra aos

oponentes do regime. O outro AI, o AI-2, seguiu-se após a derrota dos candidatos do

governo às eleições para governador (os governistas perderam em cinco dos onze

Estados brasileiros). Assim., em outubro de 1965 o AI-2 dissolvia os partidos

políticos, criando o bipartidarismo: Arena (Aliança Renovadora Nacional) e MOB

(Movimento Democrático Brasileiro), a partido oficial de oposição que, entretanto,

teve problemas para se formar, pois o número de deputados e senadores era pequeno,

quase inviabilizando sua implantação.

O AI-2 concedia plenos poderes ao presidente: caçar mandatos,

decretar estado de sítio sem prévia autorização do congresso, autorizar fechamento

do Poder Legislativo, intervir nos Estados e municípios. Em 1967 foi aprovada a

nova constituição redigida por juristas do governo, e entrou em vigor. O ex-ministro

da guerra, o general Artur da Costa e Silva. A repercussão imediata na educação se

faz sentir na reestruturação da representação estudantil. Em 1967 a ditadura coloca

fora da lei as organizações consideradas subversivas, como a UNE (União Nacional

dos Estudantes). A intenção é evitar a representação em âmbito nacional, permitindo

a atuação do DA (Diretório Acadêmico), restrito à cada curso, e do DCE (Diretório

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Central dos Estudantes), para cada universidade. A LDB de 1968 e de 1971 são

impostas por militares tecnocratas que desenvolvem uma reforma autoritária,

vertical, domesticadora, que visa atrelar o sistema educacional ao modelo econômico

dependente, imposto pela política norte-americana para a América Latina. Ela se

assenta em três pilares: educação e desenvolvimento, que é a formação de

profissionais para atender às necessidades urgentes de mão-de-obra especializada

num mercado em expansão; a educação e segurança, que é a formação do cidadão

consciente. Daí as disciplinas sobre civismo e problemas brasileiros (Educação

Moral e Cívica, Organização Social e Política do Brasil e Estudos de Problemas

Brasileiros) e educação e comunidade, que estabelece a relação entre escola e

comunidade, criando conselhos de empresários e mestres.

A Lei nº 5.540/968 trata do ensino de terceiro grau e introduz diversas

modificações na LDB de 1961. Em tempo recorde, o Grupo de Trabalho da Reforma

Universitária (GTRU), formado por pessoas especialmente designadas pelo

presidente general Costa e Silva, define as diretrizes da reforma. Segundo Aranha o

“projeto se baseia nos estudos do Relatório Atcon (Rudolph Ateon, teórico norte-americano)

e do Relatório Meira Matos (coronel da Escola Superior de Guerra). O Congresso não

oferece dificuldades para aprová-lo: depois das cassações de mandatos tipo de oposição ao

governo autoritário. A reforma extingue a cátedra, unifica o vestibular e aglutina as

faculdades em universidades para a melhor concentração de recursos materiais e humanos,

tendo em vista maior eficácia e produtividade. Institui também o curso básico para suprir as

deficiências do segundo grau e, no ciclo profissional, estabelece cursos de curta e longa

duração. Desenvolve ainda um programa de pós-graduação. A reestruturação completa da

administração visa racionalizar e modernizar o modelo, com a integração de cursos, áreas e

disciplinas. Uma nova composição curricular permite a matrícula por disciplina,

instituindo-se o sistema de créditos. A nomeação de reitores e diretores de unidades

dispensa a exigência de pessoas ligadas ao corpo docente universitário, bastando possuir

“alto tirocínio da vida pública ou empresarial”. (ARANHA, 1996, p.214).

Como convém a uma reforma em que o viés tecnocrático se sobrepõe

ao pedagógico. O controle externo de várias decisões, como a seleção de pessoal,

provoca a perda da autonomia da universidade. A divisão em departamentos

fragmenta a antiga unidade e instaura um processo de burocratização nunca visto. Da

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mesma forma, se até então os alunos eram reunidos em classes compondo uma

turma, o sistema de matrícula por disciplina desfaz grupos relativamente estáveis.

Essa técnica de romper a interação entre pessoas e grupos parece ter a intenção de

atenuar a crescente politização dos estudantes.

As escolas do grau médio sofrem controle. Seus grêmios são

transformados em centros cívicos, sob orientação do professor de Educação Moral e

Cívica. O cargo deveria ser ocupado por pessoa que não tivesse passagem pelos

Deops (Departamento Estadual de Ordem Política e Social). Este organismo

controlava de forma implacável a participação das pessoas em movimentos de

protesto, fichando-as como comunistas. “Aliás, a intenção explícita da ditadura em

‘educar politicamente’ a juventude se revela no decreto-lei baixado pela Junta Militar em

1969, que torna o ensino de Educação Moral e Cívica obrigatório nas escolas em todos os

graus e modalidade de ensino. No final do ensino médio a denominação muda para

Organização Social e Política Brasileira (OSPB) e no curso superior, para Estudos de

Problemas Brasileiros (EPB). Nas propostas curriculares do governo transparece o caráter

ideológico e manipulador dessas disciplinas”. (ARANHA, 1996, p.211). A extinta UNE,

no entanto, continua a agir clandestinamente e em outubro de 1968 realiza um

congresso em Ibiúna, no interior do estado de São Paulo, onde vários estudantes

foram presos e interrogados. A repressão gerou uma situação de radicalização do

movimento estudantil, que reivindicava urgente reforma universitária. É bom lembrar

que o ano de 1968 é marcado mundialmente pela revolta estudantil em maio, em

Paris.

A década de 60 pode ser caracterizada como um período em que

predominou um espírito de contestação, principalmente entre os jovens.

Inconformados com a família, o governo, as injustiças sociais e os preconceitos, os

jovens disseram não ao sistema estabelecido e tentaram criar um estilo de vida

diferente. Diversos grupos – entre eles artistas, estudantes, hippies, negros,

homossexuais, feministas e esquerdistas – saíram às ruas em todo o mundo para

reivindicar mudanças. O Brasil foi invadido pelo mesmo espírito questionador. E

1967, com o tropicalismo de Caetano Veloso e Gilberto Gil, os jovens brasileiros

proclamaram que é proibido proibir. Caminhando contra o vento, sem lenço, sem

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documento, escandalizaram o país. No mesmo ano, José Celso (teatrólogo), Chico

Buarque de Holanda (escritor e compositor) e Glauber Rocha (cineasta), entre outros,

reagiram ao momento político nacional com uma arte politicamente engajada.

A reação da ditadura recrudesce em dezembro de 68, o presidente

Costa e Silva decretou o AI-5, o mais violento de todos os atos institucionais até

então outorgados. Previa entre outras coisas: fechamento do legislativo pelo

presidente da República, que nos períodos de recesso, poderia legislar em seu lugar;

suspensão dos direitos políticos e garantias constitucionais, incluindo habeas-corpus;

intervenção federal em estados e municípios; a possibilidade de o presidente decretar

o estado de sítio sem autorização do Congresso. Logo após decretar o AI-5, Costa e

Silva sofreu um derrame cerebral. O vice-presidente, um civil chamado Pedro

Aleixo, foi proibido de assumir pelos ministros militares, por terem receio que

levasse avante o projeto de fazer o país retornar à legalidade constitucional. A Junta

Militar governou durante dois meses (31 de agosto a 22 de outubro de 1969). Nesse

período, alterou profundamente a Constituição de 1967, dando origem ao novo texto

constitucional de 1969.

Reconhecendo a impossibilidade de recuperação física de Costa e

Silva, a Junta Militar declarou seu mandato extinto, indicando como seu sucessor o

general Emílio Garrastazu Médici, cujo governo se estendeu de 1969 a 1974. Por

muitos considerado um meio-termo entre o grupo castelista e a linha dura, Médici

acabou governando o país com grande violência, tendo a repressão e a tortura

atingido extremos durante o seu mandato, além da censura aos meios de

comunicação. O pretexto era a intensificação da luta armada contra o regime. Em

fevereiro de 1969, o Decreto-lei nº 477 proíbe aos professores, alunos e funcionários

das escolas, toda e qualquer manifestação de caráter político. Como se vê, os

conflitos são “resolvidos” pelo expediente de decreto-lei, solução autoritária típica

das ditaduras. O modelo político do regime militar se caracterizava na visão dos

historiadores Costa e Mello (1999), “numa política baseada (na centralização do poder,

fortalecimento do executivo, controle da censura partidária, dos sindicatos e das entidades

classistas, censura aos meios de comunicação e repressão à quaisquer forma de oposição.”

(p.356).

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Os militares instalam nas universidades um terrorismo, ao abrir

processos sumários e arbitrários demitem ou aposentam professores. Muitos se

exilam em países latino-americanos, na Europa e também nos EUA. Além desse

êxodo, os profissionais remanescentes trabalham sob o risco de censura e delatação.

Isto sem dúvida prejudicou e muito a vida cultural e o ensino no Brasil. Em 1971, o

governo militar criou o vestibular classificatório. O critério deixa de ser a nota de

aprovação, sendo aceito apenas o número de candidatos condizentes com as vagas

disponíveis, mediante a classificação.

A LDB de 1971 reformula o ensino fundamental e médio. Diz o artigo

1º da Lei nº 5.692/71 que o ensino de 1º e 2º graus tem por objetivo geral

proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento de suas

potencialidades como elemento de auto-realização, qualificação para o trabalho.

“Para levar a efeito tal objetivo, a lei reestrutura o ensino, ampliando a obrigatoriedade

escolar de quatro para oito anos. Com isso, aglutina o antigo primário com o ginasial,

suprindo os exames de admissão, responsável pela seletividade. Outra mudança é a criação

da escola única profissionalizante, tentativa de extinguir a separação entre escola

secundária e técnica. Para aqueles que não conseguem concluir os estudos regulares, é

reestruturado o curso supletivo. As integrações de primário e ginásio, secundário e técnico

obedecem aos princípios da continuidade e da terminalidade. A continuidade quer garantir

a passagem de uma série para outra, desde o 1º até o 2º grau. Pelo princípio da

terminalidade espera-se que, ao terminar cada um dos níveis, o aluno esteja capacitado

para ingressar no mercado como força de trabalho, caso necessário. Para tanto, diversos

pareceres regulamentam o currículo que consta de uma parte de educação geral e outra de

formação especial da habilitação profissional. Esta última deve ser programada conforme a

região, oferecendo sugestões de habilitações correspondentes às três áreas econômicas:

primária (agropecuária), secundária (indústria) e terciária (serviços). Para se ter uma

idéia, só para o 2º grau havia uma lista de 130 habilitações. Além disso, como matéria

obrigatórias foram incluídas Educação Física, Educação Moral e Cívica, Educação

Artística, Programa de Saúde e Religião (esta, obrigatória para o estabelecimento e

optativa para o aluno). Com as alterações curriculares, algumas disciplinas desaparecem

“por falta de espaço”, como a Filosofia no 2º grau, ou são aglutinadas, como a História e a

Geografia, que passam a constituir os Estudos Sociais, no 1º grau. Outro prejuízo

inestimável é a desativação da antia Escola Normal, destinada à formação de professores

para o ensino fundamental. Com a nova denominação “Habilitação Magistério”, e incluída

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no rol de profissões esdrúxulas, perde sua identidade e os recursos humanos e materiais

necessários à especificidade de sua função.” (ARANHA, 1996, p.214-215).

Para tentar minimizar o problema dos precários índices de

alfabetização, em 1967 é criado o Mobral, que começa a funcionar de fato em 1970,

época em que a taxa de analfabetismo de pessoas de mais de 15 anos chega a 33%.

Em 1972, cai para 28,51%. O programa de alfabetização utiliza o consagrado método

Paulo Freire, só que esvaziado do conteúdo ideológico, considerado subversivo. Há,

pois, uma adulteração indevida do método, impensável sem o processo de

conscientização. Estudos mostram o baixo rendimento alcançado pelo programa, se

levarmos em conta o grande número de inscritos. Esta avaliação torna-se menos

otimista ainda quando se verifica que nem sempre a provação significa desempenho

de leitura, pois muitos dos “alfabetizados” permanecem analfabetos funcionais, sem

desenvoltura para ler e mal sabendo desenhar o próprio nome.

No plano econômico, o governo Médici foi responsável pelo advento

do chamado “milagre” econômico brasileiro (1969/1973): crescimento da economia

do país em ritmo bastante acelerado. Para concretizar esse objetivo, optaram pelo

modelo baseado em concentração de renda, criação de amplo crédito ao consumidor

e abertura da economia brasileira (incentivo às exportações e aos investimentos

estrangeiros no país. O principal ideólogo do “milagre” foi o economista Antônio

Delfin Netto, ministro da fazenda desde o governo Costa e Silva. O “milagre” deveu-

se ao ingresso maciço de capital estrangeiro, como se verificava no Brasil desde o

final dos anos 60.

Na verdade, um país como o Brasil tende normalmente a atrair

investimentos estrangeiros, dada a amplitude de seu mercado consumidor e, portanto,

a possibilidade de obtenção de lucros fabulosos. No entanto, o capital estrangeiro só

seria investido se os bancos e empresas estrangeiras considerassem o país seguro,

isto é, com um governo comprometido em respeitar a economia de mercado e com

uma baixa taxa de inflação. A estabilidade política dos governos militares,

firmemente comprometidos com o combate às esquerdas, e o plano de estabilização

econômica havia colaborado para tornar o Brasil mais uma vez atraente – e seguro –

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para o capital estrangeiro. As baixas taxas de juros praticadas no mercado

internacional no início dos anos 70 e o aval do governo norte-americano ao regime

militar contribuíram para tornar possível a instrumentalização do “milagre”.

Chegando em grande volume, o capital estrangeiro era repartido entre as empresas

privadas brasileiras, as empresas privadas estrangeiras (multinacionais) e as

empresas estatais, com cada setor se especializando concentrando num ramo da

atividade industrial.

Para viabilizar o crescimento acelerado da produção industrial

brasileira, era necessário ampliar o mercado consumidor, o que foi conseguido de

duas formas. Em primeiro lugar, promovendo-se o avanço rumo ao mercado externo.

Pela primeira vez, a produção industrial brasileira passava a encontrar um mercado

consumidor significativo no exterior, não apenas em países do Terceiro Mundo, mas

também na Europa e Estados Unidos. Entretanto, esse avanço estava mais ligado a

interesses estrangeiros do que a qualquer projeto nacional. De fato, a partir da década

de 70, diversas empresas multinacionais transferiram suas linhas de montagem para

países como o Brasil, que contava com grandes depósitos de matéria-prima (ferro),

uma indústria de base capaz de transformar essa matéria-prima (siderúrgicas) e mão-

de-obra abundante e barata. A expansão econômica foi realmente espetacular, o

governo não demorou em tirar proveito disso. Surgiu o mito do Brasil potência,

alimentado pelos slogans divulgados pela propaganda oficial (“Ninguém mais segura

este país”, “Brasil, ame-o ou deixe-o”, “Para frente Brasil”, “Até 1964 o Brasil era o

país do futuro: agora o futuro chegou”). A própria conquista do tricampeonato

mundial de futebol no México, em 1970, colaborou para criar um clima de otimismo,

quase euforia, e reforçar a imagem do país que dá certo junto aos porta-vozes do

discurso oficial.

O “milagre” ocultava alguns problemas bastante sérios. A

dependência em relação ao capital estrangeiro era bastante grande e a dívida externa

crescia em proporções alarmantes. Na verdade, o “milagre” gerou uma acentuada

desigualdade da distribuição da renda. Para Fausto (2001), “os aspectos negativos do

“milagre” foram principalmente de natureza social. A política econômica de Delfim Netto

privilegiou a acumulação de capitais, através das facilidades apontadas e da criação de um

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índice prévio de aumento de salários em nível que subestimava a inflação. Do ponto de vista

do consumo pessoal, a expansão da indústria, notadamente no casos dos automóveis,

favoreceu as classes de renda alta e média, mas os salários dos trabalhadores de baixa

qualificação foram comprimidos”. (p. 269). Durou pouco porque não tinha bases sólidas

para permanecer. O breve surto de crescimento econômico brasileiro estava

condicionado a uma conjuntura internacional favorável, porém momentânea e

excepcional. Ao desaparecer essa conjuntura favorável com a chamada crise do

petróleo, que teve início em 1973, a economia brasileira sofreu forte impacto. Por um

lado, a inflação retomou seu ritmo de crescimento; por outro, nossa dívida externa

foi-se elevando cada vez mais. Teve início, então, uma longa e amarga crise

econômica. O governo militar foi perdendo um de seus principais argumentos para

sustentar-se no poder. A ditadura não conseguia mais garantir o desenvolvimento.

Com isso, as oposições políticas foram lentamente se reorganizando para exigir a

volta da democracia.

Na área da educação, fluía a tendência tecnicista que visava aplicar na

escola o modelo empresarial, baseado na racionalização própria do sistema de

produção capitalista. Um dos objetivos dos teóricos dessa linha é, portanto, adequar a

educação às exigências da sociedade industrial e tecnológica. “Revela-se assim a

ênfase na quantidade e não na qualidade, nos métodos (técnicas) e não nos fins (ideais), na

adaptação e não na autonomia, nas necessidades sociais e não nas aspirações individuais,

na formação profissional em detrimento da cultura geral.” (RIBEIRO, 2000, p.195).

Em março de 1974, encerrou-se o mandato de Médici, o qual foi

substituído pelo general Ernesto Geisel A ascensão de Geisel marcou o retorno do

grupo castelista ao poder, embora o próprio Castello Branco já houvesse falecido (em

misterioso acidente aéreo, em julho de 1967). Seu principal projeto de governo foi

realizar a “abertura política”, isto é, nas palavras do próprio presidente, o “lento,

gradual e seguro” processo de redemocratização do país. Nessa tarefa ele seria

auxiliado pelo general Golbery do Couto e Silva, braço direito do novo presidente. A

abertura política foi provocada por diversos fatores, o principal deles o fato de que a

entrega do poder aos civis fazia parte do projeto original do grupo castelista em

1964. A seqüência do golpe “limpeza”, retorno aos quartéis, seria finalmente

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concluída, embora com alguns anos de atraso. Além disso, o regime passava por um

processo natural de desgaste; afinal, em 1974 completou-se o décimo ano seguido de

governo militar; fazendo com que mesmos setores beneficiados pelo regime

sentissem uma certa insatisfação, como ficou demonstrado nas eleições legislativas

de 1974.

Geisel, em 1978, anistiou os exilados políticos, que agora poderiam

voltar ao Brasil (incluindo Leonel Brizola e o velho Luís Carlos Prestes); a Lei de

Segurança Nacional, instrumento jurídico do autoritarismo do regime, foi modificada

e abrandada e, em 1979, o AI-5 foi revogado. Junto com essas medidas

liberalizantes, o governo tratava de elaborar o cronograma da abertura, que previa a

eleição indireta de um sucessor militar para Geisel, seguido de um sucessor civil,

porém ligado aos militares e, finalmente, eleições diretas para presidente da

República, a serem realizadas somente por volta de 1989. Tal cronograma, bastante

lento, desagradava as oposições. De qualquer forma, existia um processo eleitoral em

andamento. Os dois próximos presidentes seriam eleitos pelo voto indireto do

Colégio Eleitoral, a ser formado por deputados, senadores e representantes das

Assembléias Legislativas estaduais.

Nas eleições legislativas de 1978, fundamentais para a definição do

Colégio Eleitoral que escolheria o sucessor de Geisel, MDB e ARENA praticamente

empataram em número de votos, mas o partido do governo conseguiu obter maioria

nas duas casas do Congresso, além do controle sobre o Colégio Eleitoral, que acabou

por eleger o sucessor de Geisel, o também general João Batista Figueiredo. Este

assumiu a presidência em janeiro de 1979 e, graças a uma reforma constitucional que

ampliou o mandato presidencial para seis anos, governou até 1985. Seu objetivo era

dar prosseguimento ao processo de abertura política e, para isso, contava com a

colaboração do onipotente general Golbery do Couto e Silva, considerado por muitos

a “eminência parda” do novo governo, pelo menos em seu início. No entanto, o

processo de abertura política seria influenciado por uma intensa crise econômica na

década de 80. A crise tem suas origens na própria estrutura do modelo econômico

internacional vigente, fortemente dependente do capital externo. “A segunda crise do

petróleo, em 1979, provocou novo desequilíbrio nas contas externas brasileiras e,

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principalmente, uma diminuição no fluxo de capital estrangeiro para o Brasil. A moratória

decretada pelo México, em 1982, assustou os bancos internacionais, que passaram a temer

o mesmo com comportamento por parte do Brasil (cuja dívida, aliás, era maior do que a

mexicana) e cancelaram novos empréstimos. Só esses dados já seriam suficientes para

explicar a recessão econômica que começou a se esboçar na época. No entanto, a brusca

elevação dos juros no mercado internacional (de 8% em 1978 para 17% em 1981) também

ajudou a comprometer a estabilidade da economia brasileira, agora impossibilitada de

gerar recursos para “rolar” a dívida externa: não era possível sequer efetuar o pagamento

dos juros. Finalmente, a inflação, que já vinha crescendo desde a época do “milagre”,

escapou de qualquer controle, inclusive sendo alimentada pelo mecanismo da correção

monetária. À falta de recursos externos, emitia-se dinheiro internamente, ativando o

crescimento da inflação. Assim, já no início da década de 80, o Brasil passava a viver uma

situação marcada pela “estagflação”, isto é, estagnação econômica junto com a inflação.”

(VICENTINO & DORIGO, 1997, p.425-426).

O fracasso do modelo político e econômico adotado pelo regime

militar ficou evidente durante o governo do general Figueiredo. O país tinha

mergulhado numa das maiores crises econômicas de sua história, que se refletia nas

elevadas taxas de inflação, no assombroso endividamento externo e no déficit

público das empresas estatais. Num crescente questionamento do regime militar,

diversos setores da sociedade (partidos políticos, Igreja, associações científicas,

imprensa, empresariado, universidades, sindicados profissionais) passaram a

reivindicar uma mudança de rumos para o país.

Um grande movimento de insatisfação surgiu entre os trabalhadores

mais organizados, os operários da indústria automobilística e metalúrgica, por

exemplo. Foi justamente nesses setores que ocorreram grandes greves em 1978 e

1979, responsáveis pelo surgimento de novas lideranças sindicais desvinculadas do

velho esquema do trabalhismo e dos partidos políticos existentes. Dentre essas

lideranças destacava-se a de Luís Inácio Lula da Silva, o Lula, do Sindicato dos

Metalúrgicos do ABC paulista, hábil negociador e comprometido basicamente com

os interesses dos trabalhadores de seu sindicato. Dando prosseguimento à abertura, o

Congresso aprovou a Lei da Anistia, perdoando todos os presos ou exilados acusados

de crimes políticos. A lei, no entanto, não incluía aqueles considerados culpados por

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atos terroristas e luta armada contra o governo, embora perdoasse todos os militares

que haviam cometido violências na repressão, violência considerada meramente um

crime ‘conexo’ ao crime político, portanto passível de perdão.

“Com a abertura política, os partidos extintos voltam à legalidade, bem

como os organismos de representação estudantil (UNE, UEE, etc.). Abrandada a censura,

com algumas recaídas, é bem verdade, o debate político retorna à cena, não só na ‘praça

pública’ como nas salas de aula. Desde o período anterior, vinham se fortalecendo diversos

grupos representativos da sociedade civil: CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do

Brasil), ABI (Associação Brasileira de Imprensa), OAB (Ordem dos Advogados do Brasil),

SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), o partido da oposição PMDB

(Partido do Movimento Democrático Brasileiro) e os sindicatos, sobretudo o dos

metalúrgicos do ABCD paulista, responsável por importante greve geral em 1978 e que

também forneceu as bases para a criação do PT (Partido dos Trabalhadores). No ano de

1978, os professores intensificam a mobilização em diversos estados, a fim de recuperar as

perdas salariais, de índices inéditos, o que agravara a pauperização da profissão.”

(ARANHA, 1996, p.218).

No plano da educação, por volta de 1980 já era amplamente

reconhecido o fracasso da implantação da reforma da LDB, e a Lei nº 7.044/82

dispensa as escolas da obrigatoriedade da profissionalização, sendo retomada a

ênfase para a formação geral. Nos debates é intensificada a luta pelo retorno da

filosofia, excluída do currículo. Pelo Parecer nº 342/82 do Conselho Federal da

Educação há um tímido recomeço, em que a Filosofia ressurge como disciplina

optativa. Nesse processo todo, nada foi conseguido de graça, mas com trabalho

intenso e pressão das forças da sociedade civil.

Por outro lado, a linha dura dava os seus últimos sinais de vida.

Afastada a possibilidade de eternização do regime autoritário, os grupos mais

reacionários dentro das Forças Armadas apelaram para o terrorismo, numa série de

atentados à bomba e seqüestros sem conseqüências mais sérias no que se refere à

interrupção do processo da abertura. Em abril de 1981, explodiram duas bombas no

Riocentro, centro de convenções da capital carioca, onde se realizava um grande

festival de música. A crescente onda de descontentamento popular em relação ao

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regime militar foi canalizada, pelas lideranças de oposição, para a campanha em

favor das eleições diretas para presidente da república. O objetivo era conseguir que

o Congresso Nacional aprovasse a emenda proposta pelo deputado Dante de

Oliveira. Essa emenda restabelecia eleições diretas para presidente e acabava com o

Colégio Eleitoral, onde se faziam as eleições diretas.

A campanha pelas diretas foi um dos maiores movimentos político-

populares de nossa história recente. Envolvendo multidões entusiasmadas, o lema

Diretas-já foi proclamado pelo voto em várias manifestações realizadas em praças

públicas de diversas cidades do país. Porém, uma série de manobras realizadas pela

elite dirigente, ligada ao regime militar, impediu a implantação das eleições diretas

para presidente. O principal grupo político que se opôs à emenda das diretas era

liderado pelo deputado paulista Paulo Maluf. Contrariada a vontade popular,

expressa na campanha pelas diretas, iniciou-se a disputa indireta pela sucessão

presidencial. Essa fase foi dominada por duas grandes candidaturas: a do deputado

Paulo Maluf, representante oficial do PDS, embora não contasse com o apoio efetivo

das forças que estavam no poder; a do governador de Minas Gerais, Tancredo Neves,

apoiado por uma heterogênea aliança política, a Aliança Democrática. Através de

comícios populares, a candidatura de Tancredo Neves foi se consolidando como a

alternativa viável para garantir o fim do regime militar. Tancredo afirmava que iria

ao Colégio Eleitoral para acabar com ele, e que sua eleição seria a última eleição

indireta para presidente do Brasil.

As forças da Aliança Democrática, cujos principais núcleos eram

compostos pelo PMDB e pela Frente Liberal (dissidentes do PDS), conseguiram

eleger Tancredo Neves para presidente da república. “Tancredo Neves tinha como

proposta realizar um governo de transição democrática. Falava na instauração de uma

Nova República, cuja missão seria implantar um projeto de conciliação nacional, num clima

de ordem e respeito às instituições. Era, no fundo, a tradicional proposta do populismo,

praticamente impossível de ser realizada, uma vez que pressupunha conciliar os interesses

dos oprimidos com a prática dos grupos exploradores. Procurando demonstrar sua

sensibilidade para com os problemas sociais, Tancredo afirmava: enquanto houver nesse

país um só homem sem trabalho, sem pão, sem teto e sem letras, toda prosperidade será

falsa.” (COTRIM, 2001, p.327-328).

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Atingido por uma enfermidade doze horas antes da solenidade de

posse, Tancredo Neves não conseguiu assumir o poder, vindo a falecer em 21 de

abril de 1985. O país foi tomado de grande comoção em face da morte de Tancredo e

das esperanças de mudança nele depositadas. O vice-presidente em exercício, José

Sarney, assumiu então de forma plena o comando da ação.

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CAPÍTULO III

A POLÍTICA EDUCACIONAL DIANTE DO RETORNO

DA DEMOCRACIA BRASILEIRA INSERIDA NO BOJO

DA LÓGICA DO CAPITALISMO GLOBALIZANTE

A redemocratização de 1985 manteve a tradicional marca histórica

brasileira de se fazer a instalação de uma nova ordem política sem que fossem

destronadas as elites. As novas forças emergentes compunham-se com os interesses

dos velhos grupos que antes exerciam direta ou indiretamente o comando nacional.

O governo de José Sarney (1985-1990) iniciou-se numa fase de

intensa ebulição social, envolvendo desde os excluídos e marginalizados até os mais

bem sucedidos econômica e socialmente. A variedade dos anseios, com seus diversos

“projetos” nacionais, teve de seguir ritmos políticos ligados às peculiaridades

brasileiras e ao quadro internacional de um capitalismo em rápida globalização. À

conjuntura política nebulosa e esperançosa, acrescentava-se a deterioração do quadro

econômico nacional. Vivia-se o auge da “crise da dívida externa”, e as medidas

tomadas pelo último governo militar tinham elevado a inflação para 223% em 1984,

com tendência a escapar de qualquer controle.

Proveniente do Maranhão, ligado a redutos de políticos tradicionais

nordestinos, José Sarney teria a difícil tarefa de governar um país em aguda crise

econômica, vítima de péssima distribuição de renda, intensificada pela crise, e tendo

de enfrentar os desafios da inserção numa economia cada vez mais globalizada. Tudo

isso sem quebrar os privilégios tradicionais dos grupos estaduais que o cercavam,

destacando-se o PFL (Partido da Frente Liberal), capitaneado por Antonio Carlos

Magalhães e a aliança com o PMDB, do qual Sarney agora fazia parte. Como já era

tradição histórica, tal empresa carecia das articulações e comprometimentos políticos

com forças realmente dispostas a grandes transformações.

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Apesar do clima de esperanças, mistificação e frustração, durante

cinco anos Sarney permaneceu no poder e, respeitando a transição sem quebra de

estruturas, confirmou o forte domínio das velhas oligarquias. No Brasil, o projeto

modernizador implementado há várias décadas, centrava-se na busca da

industrialização e na diversificação produtiva com raízes numa política de

“substituição de importações”.

As grandes corporações internacionais (multinacionais) vinham se

instalando no Brasil desde os anos 60, garantindo e reforçando a ligação entre o

capitalismo nacional e o internacional. Progressivamente, foram crescendo os

comprometimentos entre os setores nacionais e internacionais, desde os vínculos

tecnológicos, passando pelos intercâmbios comerciais e de capitais, até aqueles mais

amplos de política nacional. No final dos anos 80, porém, a produção nacional

substituía as importações, com ou sem a participação dos grandes conglomerados

capitalistas internacionais, passou a apresentar seus limites esgotando-se

rapidamente. Um de seus lados críticos mais transparentes, por exemplo, era a

crescente queda de produtividade brasileira. Segundo a FIESP (Federação das

Indústrias do Estado de São Paulo) de 1986 a 1990, a taxa de crescimento da

produtividade do trabalho – produção por horas trabalhadas – foi decrescente, uma

situação oposta à da dinâmica internacional capitalista.

Um mercado externo cada vez mais competitivo, exigente de elevada

produtividade e custos de produção decrescentes, pressionava o modelo nacional e as

suas elevadas tarifas protecionistas, que, se de um lado, preservavam as elites

empresariais da concorrência dos produtos estrangeiros, de outro, aprofundavam a

distância tecnológica e a competência em disputar mercados e garantir algum

desenvolvimento. Além disso, com a produtividade em queda e a escassez de

recursos, sobravam ao governo nacional obrigações e custos crescentes, bancados

por endividamento externo – enquanto houve crédito internacional – ou pela

inflacionária emissão de moeda dos anos 80, agravando a desorganização produtiva,

as desigualdades sociais e as incertezas. Além da carência de capitais nacionais

próprios, instabilidade crescente e a desorganização econômica afugentavam

investidores e debilitavam a credibilidade externa.

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O distanciamento entre o modelo desenvolvimentista brasileiro e a

vanguarda capitalista mundial devia-se, principalmente, a profundas e importantes

transformações internacionais, relacionadas à dinamização capitalista da

globalização e alterações geopolíticas. No âmbito econômico, as áreas capitalistas

mais avançadas desenvolviam sofisticada tecnologia (microeletrônica, biotecnologia,

química fina) iniciadas ainda nos anos 50 e 60, no processo que alguns denominaram

terceira revolução industrial. A nova dinâmica produtiva e tecnológica exigia

imensos investimentos, que somente as grandes corporações empresarias dos centos

dinâmicos capitalistas poderiam bancar.

Consolidava-se o predomínio dos grandes conglomerados

empresariais, as multinacionais, buscando retornos crescentes aos seus gigantescos

investimentos, alcançado, no início dos anos 90, o controle de mais de 2/3 do

comércio internacional mundial. Essa dinâmica capitalista exigia a crescente

ampliação de mercados e o fim das barreiras protecionistas, estimulando associações

regionais de livre comércio, os blocos econômicos, o que de fato aconteceu no início

dos anos 90. Dentre dezenas que surgiram, destacaram-se: o Nafta (North American

Free Trade Agreement – Acordo Norte-americano de Livre Comércio), UE (União

Européia) e o Mercosul na América Latina. Simultaneamente ganharam impulso a

ideologia contrária ao Estado intervencionista e seu protecionismo com a defesa

intransigente do “Estado mínimo”, subordinado à economia de mercado e capaz de

atrair investimentos internacionais. Nascia assim o neoliberalismo.

O avanço do processo de globalização punha em cheque o modelo de

desenvolvimento econômico adotado pelo Brasil: numa época de capitalismo

globalizado, continuar apegado a um modelo protecionista, nacional

desenvolvimentista, era ficar excluído das grandes rotas dos capitais internacionais,

da dinamização tecnológica e produtiva internacional. Além disso, insistir em um

modelo ultrapassado na dinâmica capitalista mundial certamente seria impulsionar as

pressões e as exigências sociais internas, que há muito esse modelo não dava provas

de possuir condições de enfrentar de forma minimamente satisfatória. Para completar

o quadro, ocorria o declínio do bloco dito socialista no final dos anos 80 e seu

conseqüente colapso em 1991, quando enterrou o mundo da guerra fria. Terminava

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assim, uma época em que as nações conseguiam algumas vantagens ao jogar com a

diplomacia internacional bipolarizada.

Para os historiadores Vicentino e Dorigo, “a era da globalização

capitalista exigia integração e adaptação da produção nacional aos padrões mundiais, ao

projeto de acomodação neoliberal, chamado por alguns de “consenso de Washington”.

Diante dessa nova realidade da conjuntura mundial na qual o Brasil está inserido como um

país independente do capital especulativo internacional se vê mergulhado num período de

alta inflação. José Sarney se vê na obrigação de combater a inflação criando o plano

cruzado. O plano consistia numa tentativa de combater a inflação, sem comprometer o

crescimento econômico, rompendo assim com as práticas radicais tradicionais adotadas no

Brasil desde o início do século, que, como sabemos, defendia o combate à inflação aliado à

recessão. Já o plano cruzado partia do pressuposto de que implantar recessão para

combater a inflação era um equívoco, dado as desigualdades sociais e o estado de miséria

em que vivia grande parte da população brasileira. Acrescentam-se ainda próprias

particularidades da economia brasileira, na qual devido ao longo período inflacionário, o

aumento dos preços havia ganho um impulso “inercial”, isto é, os grandes agentes

econômicos responsáveis pela definição dos preços (industriais, comerciantes) tinham o

hábito de remarcar os preços para cima sem que houvesse razões contábeis para isso. Dada

a alta generalizada dos preços, um reajuste podia não ter motivos claros hoje, mas amanhã

teria. Contra isso foram adotadas medidas heterodoxas que incluíam: congelamento de

preços pelo período de um ano, com o objetivo de combater a inflação inercial;

congelamento dos salários; implantação de uma nova moeda, o cruzado, que teria o valor

do cruzeiro menos três zeros; o fim da correção monetária e a criação de dificuldades para

realização de operações financeiras. Esperava-se que, no intervalo de 12 meses, a

população se “acostumasse” com os preços estabilizados e a inexistência de correção

monetária fizesse com que o impulso inflacionário diminuísse ou até desaparecesse,

estancando o fator inercial.” (VICENTINO & DORIGO, 1997, p.436-437).

Os primeiros resultados foram espetaculares. Os preços, congelados,

efetivamente se mantiveram inalterados, e um apelo do presidente da República para

que a própria população se envolvesse no plano, fiscalizando o congelamento e

denunciando os infratores, provocou resultados inesperados. Os primeiros sinais de

desequilíbrio começaram a surgir, o governo manteve rígido o congelamento de

preços, quando poderia ter optado por flexibilizá-lo. Mesmo que tivesse sido essa a

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intenção de parte da equipe de governo, o presidente, de olho nos dividendos

políticos do plano e nas eleições para a Constituinte marcadas para novembro de

1986, resolveu insistir no congelamento. Ao mesmo tempo autorizavam-se as

importações para suprir o mercado de produtos essenciais, que começavam a

escassear.

As importações acrescentavam um novo item negativo à economia

nacional. Elas comprometiam a balança comercial, único pronto positivo da

economia brasileira na primeira metade dos anos 80. O saldo da balança comercial,

que alcançara superávits de 12 bilhões de dólares por ano em 1984, em 1986 caiu

para 8,3 milhões, incompatíveis com as obrigações internacionais do país, uma vez

que a crise da dívida ainda existia. Assim, o balanço de pagamentos do país (balança

comercial + serviços + movimento de capitais) voltava a ser fortemente negativo,

após anos de esforços. Ao mesmo tempo, as reservas internacionais do país

começavam a desaparecer. O Brasil se encaminhava para a moratória, a

impossibilidade de manter o pagamento dos juros da dívida externa.

Em novembro de 1986, ocorreram eleições para a Assembléia

Constituinte, seguidas imediatamente de medidas de ajuste econômico (plano

Cruzado II), com o descongelamento dos preços. Era tarde demais: após nove meses

“engessados”, os preços agora disparavam. A inflação escapava de qualquer controle,

até atingir a taxa anual de 365% em 1987, crescendo nos meses e anos seguintes. Em

fevereiro de 1987, o Brasil declarava-se em “moratória técnica”, para usarmos a

infeliz expressão criada pelo governo: não mais tínhamos condições técnicas (isto é,

dinheiro) para pagar a dívida. Desde o início da década de 80, o Brasil havia

cumprido seus compromissos internacionais, ao contrário de países como o México e

a Argentina, ambos em moratória desde 1982.

O governo Sarney ainda buscaria reajustar a economia com outros

planos (Bresser, em 1987; Verão, em 1989), porém sem obter efeitos maiores do que

a queda das taxas de inflação de um mês para o outro, seguida de rápida retomada

dos preços nos meses seguintes. E, por ainda, a expectativa de novos congelamentos

fazia com que empresários aumentassem ainda mais os preços, como forma de

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defesa. O descontrole econômico marcaria o final dos governo Sarney, com a

inflação atingindo 933% em 1988 e espantosos 1764% em 1989.

Após o fracasso do Plano Cruzado (1986), o congelamento forçado da

mensalidade da escola particular é seguido por uma explosão de preços. Com esse

aumento, ocorre uma maior elitização, ainda mais porque a escola paga se torna

inacessível também à clientela habitual de determinados segmentos da classe média.

Até o momento, continua a tentativa do governo de regular o valor das

mensalidades – não vamos aqui discutir a pertinência deste procedimento. O que

ressaltamos é a continuada elitização da educação, com a escola de qualidade cada

vez mais restrita a grupos privilegiados, enquanto a pública se reduz a condições

lamentáveis.

No estado do Rio de Janeiro, na gestão do educador e pedagogo Darcy

Ribeiro como secretário da Educação no governo de Leonel Brizola, são criados os

Cieps (Centros Integrados de Educação Pública). Os prédios, concebidos por Oscar

Niemeyer e construídos com blocos pré-fabricados, podem acomodar mil crianças

em horário integral de dois turnos. Ao lado da intenção de ministrar o ensino de boa

qualidade, espalhadas por todo o estado as escolas oferecem infra-estrutura composta

de bibliotecas, quadras de esporte, refeitório, vestiário, gabinete médico e

odontológico.

Esse projeto é envolto em ampla propaganda, provocando reações

contraditórias de aplausos e rejeição. Pelo fato de existirem inegáveis intenções

eleitoreiras, nem sempre as críticas são desapaixonadas. No momento, distanciados

daqueles acontecimentos podemos fazer uma avaliação mais isenta, percebendo que

os frutos do empreendimento não condizem com a agitação de 1985, quando foi

inaugurado o primeiro Ciep. “As principais críticas que se seguem foram reunidas por

Luiz Antônio Cunha: os prédios, em que pese a notoriedade do arquiteto, as exigências de

adaptá-los aos terrenos encarecem demais a construção. A pressa em concretizar o projeto

antes das eleições de 1986 – nas quais Darcy Ribeiro era candidato a governador – trouxe

prejuízos posteriores de afundamentos, vazamentos, rachaduras e problemas de mau

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isolamento acústico. Embora devessem atender às necessidades das áreas carentes, muitas

vezes os prédios são construídos à margem de rodovias ou em cruzamentos que facilitem sua

visibilidade. Também não existe muita clareza de metodologia e de pressupostos teóricos,

mas há dificuldade de preparar os professores. Critica-se ainda o assistencialismo da

proposta, que atribui à escola o papel de lidar com problemas sociais, como a infância

abandonada e a falta de alimentação e saúde”. A principal objeção, porém, se refere ao

saldo alcançado. Em fins de 1987, apesar da intenção de oferecer aos pobres uma “escola

de ricos”, dos 500 Cieps prometidos apenas uns 117 entram em funcionamento, atendendo à

ínfima porcentagem de 3% do alunado estadual e municipal, e não ao mínimo de 20%

anunciado. Ora, o alto investimento requerido provoca a distorção de concentrar recursos

para poucos, desqualificando o ensino da maioria. De novo, a dualidade no ensino público

contraria a meta de democratizar as condições educacionais”. (ARANHA, 1996, p.222).

Os gastos excessivos do governo Sarney, comprometido com os

privilégios de uma elite política anacrônica, só pioravam a situação. Uma comissão

parlamentar de inquérito, instaurada em 1988 pelo Senado, fazia acusações ao

governo de favorecer grupos privados para a prestação de serviços junto ao governo

federal, além de administrar recursos públicos de forma a beneficiar interesses

particulares. Pressões do PFL e PMDB forçaram o arquivamento do processo. Foi

nessa época, junho de 1988, que um grupo formado pelos assim chamados

“históricos” do PMDB (Fernando Henrique Cardoso, Franco Montoro, Mário Covas,

José Serra e Pimenta Veiga, entre outros), romperam com o PMDB e fundaram um

novo partido, o PSDB (Partido Social Democrático Brasileiro).

A Constituição de 1988 chama a atenção pelo seu tamanho exagerado

e detalhismo excessivo, chegando a definir, por exemplo, a taxa de juros a ser

praticada no país, uma determinação nunca obedecida. Além disso, apresentava

grave contradição: por um lado, ampliava as conquistas sociais dos trabalhadores

(com a prática do assistencialismo) e, por outro, retirava do governo central os meios

para satisfazê-las (com a descentralização financeira). Ficava, ainda, na contramão

do que acontecia no plano internacional, ampliando a atuação do Estado nos âmbitos

econômico e social, quando a regra neoliberal impunha o contrário. Assim,

caminhava-se para uma situação na qual o Estado ou descumpriria suas funções

constitucionais ou viveria falido.

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A questão da escola pública acirrou discussões no decorrer dos

trabalhos da Constituinte de 1987/88. Muitos foram os confrontos e pressões,

inclusive na escola particular, desejosa de manter o acesso às verbas públicas

garantidas pela Constituição anterior.

“Destacamos alguns pontos importantes da nova Constituição: gratuidade

do ensino público em estabelecimentos oficiais; ensino fundamental obrigatório e gratuito;

extensão do ensino obrigatório e gratuito, progressivamente, ao ensino médio; atendimento

em creches e pré-escolas às crianças de zero a seis anos; acesso ao ensino obrigatório e

gratuito como direito público subjetivo, ou seja, o seu não-oferecimento pelo poder público,

ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente (podendo ser

processada); valorização dos profissionais do ensino, com planos de carreira para o

magistério público; autonomia universitária; aplicação anual pela União de nunca menos

de 18%, e os estados, Distrito Federal e os municípios 25%, no mínimo, da receita

resultante de impostos; distribuição dos recursos públicos assegurando prioridade ao

atendimento das necessidades do ensino obrigatório nos termos do plano nacional de

educação; recursos públicos destinados às escolas públicas podem ser dirigidos a escolas

comunitárias confessionais ou filantrópicas, desde que comprovada a finalidade não-

lucrativa; plano nacional de educação visando à articulação e ao desenvolvimento do

ensino em seus diversos níveis e à integração das ações do poder público que conduzam à

erradicação do analfabetismo, universalização do atendimento escolar, melhoria da

qualidade do ensino, formação para o trabalho, promoção humanística, científica e

tecnológica do país”. (ARANHA, 1996, p.223-224).

Aprovada a Constituição de 1988, resta elaborar uma lei

complementar para tratar das diretrizes e bases da educação nacional. Se lembrarmos

que a LDB anterior levou 13 anos para ser aprovada (de 1948 a 1961), oferecendo no

final um texto já envelhecido, temos motivos de preocupação ao constatar que o

início de 1996 ainda não foi feita a regulamentação. Mais ainda, enfrentamos o

impasse de dois projetos tramitarem ao mesmo tempo.

O primeiro foi aprovado pela Câmara Federal em maio de 1993 e, ao

chegar ao Senado, teve como relator o senado Cid Sabóia (daí ser conhecido como

Substitutivo Cid Sabóia). Resultou de amplo debate, não só na Câmara, mas foi

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ouvida a sociedade civil, sobretudo no Fórum Nacional em Defesa da Escola Pública,

composto de várias entidades sindicais, científicas, estudantis e de segmentos

organizados da educação.

No Senado, Darcy Ribeiro propôs outro projeto, com o apoio do

governo e do ministro da Educação, por considerar que o substitutivo anteriormente

apresentado, entre outros defeitos, era muito detalhista e corporativista (isto é,

interessado em defender determinados setores). Em contraposição, o segundo projeto

é criticado por ser vago demais, omisso em pontos fundamentais e autoritário, não só

por não ter sido precedido por debates, mas por privilegiar o poder executivo,

dispensando as funções deliberativas de um Conselho Nacional composto por

representantes do governo e da sociedade.

O impasse criado retarda a aprovação da LDB. Há inclusive sugestões

de reabrir a discussão com a sociedade. A professora Ivany Pino defende o primeiro

projeto, alegando que a acusação de corporativismo decorre da tendência para

mascar as ações dos movimentos sociais, procurando reduzi-los em sua importância,

desqualificá-los e, se possível, torná-los invisíveis ao olhar da sociedade”. A seguir

se refere à importância que os países desenvolvidos têm dado à construção de

consensos entre os setores da vida nacional no reordenamento do sistema de

educação.

No final do governo Sarney, seriam realizadas as primeiras eleições

diretas para a presidência desde 1960, e a esquerda surgia com considerável potencial

de vitória. Para as forças conservadoras continuarem atuantes no governo, as chances

reais de uma vitória de Luís Inácio Lula da Silva, do PT, ou Leonel Brizola, do PDT,

em 1989, eram uma ameaça a se contida a qualquer preço. Nesse contexto, surgiu a

candidatura de Fernando Collor de Mello. Contava com o apoio de consideráveis

setores conservadores, assustados com a possibilidade de um governo de esquerda e

diante da ausência de um candidato que pudesse proteger seus interesses. Num

momento de profunda desconfiança em relação à política e quase hostilidade contra

os políticos em geral, Collor lançou-se como um candidato “apolítico”. Denunciava a

corrupção, apresentando-se como “caçador dos marajás”, que se fartavam do

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dinheiro público. Dizia representar o povo humilde e sofrido do Brasil, os

“descamisados”, e o fato de ser jovem, de estilo agressivo e virtualmente

desconhecido no país – portanto supostamente desvinculado dos tradicionais

esquemas de poder – contribuiu para engrossar sua candidatura.

Na verdade, seu discurso era uma falácia, na medida em que contava

com o apoio (ainda que disfarçado) de diversas figuras participantes do governo

Sarney, como Antonio Carlos Magalhães, e ligadas àquilo que de mais arcaico

existia na política brasileira. Enquanto isso, Collor ganhava um espaço cada vez

maior na imprensa, com alguns veículos aderindo abertamente à sua campanha,

como foi o caso das Organizações Globo. O partido de Collor, criado exclusivamente

para apoiar sua candidatura, o PRN (Partido da Reconstrução Nacional – observe-se

o apelo por trás do nome “reconstrução”, de resto, sem maior significado político-

histórico), passava a receber imensas doações de empresários interessados na vitória

do conservadorismo.

Uma das palavras mais utilizadas por Collor desde a campanha

eleitoral era “moderno”. Prometia modernizar o Brasil e sua própria figura jovem,

bem como a de alguns de seus ministros, forneciam um suporte a esse tipo de

discurso. Por modernização, Collor entendia a diminuição do papel do Estado, o que

incluía a defesa do livre mercado, a abertura para as importações, o fim dos subsídios

e as privatizações. Em suma, uma adequação do Brasil à nova realidade do

capitalismo globalizante.

No entanto, era inevitável um novo plano econômico para o combate à

desenfreada inflação. O plano Collor, divulgado no dia seguinte à posse e adotado

imediatamente, representava uma mistura de elementos monetaristas e heterodoxos,

tentando evitar os problemas do plano Cruzado. Reintroduzia o cruzeiro e instaurava

o congelamento imediato de preços, seguido de gradual liberalização e livre

negociação e livre negociação de salários. Entretanto, para evitar o deslocamento de

recursos da poupança para o consumo, como ocorrera em 1986, forçando um a

elevação dos preços (ou desabastecimento), promovia também o confisco puro e

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simples de todas as contas correntes, poupanças e demais investimentos que

excedessem os 50 mil cruzeiros. Tal confisco teria o prazo de 18 meses.

Além disso, preconizava o violento corte nos gastos públicos,

começando pela demissão de funcionários do governo, e o aumento generalizado de

impostos. Anunciaram-se as privatizações, bem como a diminuição dos impostos de

importação, estimulando, portanto, as compras no exterior. Com isso, o plano

pretendia tornar a economia brasileira mais eficiente, com um Estado mais “enxuto”

e um setor privado (industrial) buscando adequação à concorrência com os produtos

estrangeiros. Pretendia também a entrada de um grande volume de produtos

importados a preços baixos, uma vez que seus impostos sofreram cortes, forçando

uma queda na inflação.

No final do ano de 1990, a inflação voltou a subir. O plano, como

todos os outros, teve efeito temporário. Em janeiro de 1991, foi lançado o plano

Collor II, uma tentativa de reforçar o sempre frustrado combate à inflação. Tentou-se

novamente congelar preços e salários, elevaram-se brutalmente as taxas de juros com

o objetivo de estimular a poupança e desestimular novos negócios, mantendo baixo o

nível de atividade econômica, tudo isso visando forçar a queda dos preços.

Em meio à turbulência política e seu desfecho com o impeachment, o

governo Collor intensificou a implementação de medidas para a quebra das estruturas

protecionistas, sob o véu da busca da “modernidade” e de integração ao mercado

mundial. Era o início da abertura econômica e comercial, tomando o lugar do

tradicional modelo substitutivo das importações. Privatizações, demissões de

servidores públicos, enxugamento do aparelho de Estado, com venda de mansões,

residências e carros oficiais, bem como a redução do número de ministérios foram a

tônica nacional só acobertada pelas explosões dos acontecimentos políticos.

Em que pese a confusão político-ideológica do governo Collor, fica

patente o seu papel na implementação de um novo modelo econômico ao país,

desejado por várias das mais importantes vanguardas político-econômicas da

redemocratização brasileira. A ironia do processo é o seu caráter incestuoso: a

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“modernidade” brasileira começava a acontecer com o que havia de mais

conservador no país, com protagonistas que praticavam o que a “modernidade”

brasileira começava a acontecer com o que havia de mais conservador no país, com

protagonistas que praticavam o que a “modernidade” mais condenava e precisava

atingir.

O Governo Collor de Mello, em 1990, no plano da educação, lança o

projeto de construção de Centros Integrados de Apoio à Criança - CIACs, em todo o

Brasil, inspirados no modelo dos Centros Integrados de Educação Pública - Cieps, do

Rio de Janeiro, existentes desde 1982.

Algumas considerações iniciais devem ser feitas sobre o governo de

Itamar Franco antes mesmo da sua posse. Sua imagem pacata, tranqüila, quando não

representava um contraste bastante forte com os extremos de Collor. Assim, o

repúdio a Collor em pouco tempo transformou-se em simpatia a Itamar. Formou-se

quase uma coalizão de todos os partidos políticos em torno do novo presidente, com

destaque para o PSDB, cujos membros passaram a ter grande influência do governo.

Em 1994 o governo de Itamar Franco lançou o plano Real, em mais

uma tentativa de combater a inflação. O plano, colocado em prática por uma equipe

ligada ao PSDB, tendo à frente o ministro da fazendo Fernando Henrique Cardoso,

criava o real, uma nova moeda. Seria uma moeda forte e para isso contava com o fim

da indexação, ou seja, o fim do repasse automático da inflação de um mês para os

salários, prestações, aluguéis e contratos em geral do mês seguinte. Além disso, a

nova moeda estava vinculada ao dólar. De fato, o plano previa que a emissão de

novos reais seria possível somente se existisse um volume equivalente de dólares nos

cofres do Banco Central.

De qualquer maneira, o plano Real apresentou êxito imediato e a

vinculação da nova moeda ao dólar provou ser um sucesso. No entanto, o

prosseguimento do plano dependia da manutenção das reservas em dólar e isso

somente seria possível através da permanência de elevadas taxas de juros no país.

Dessa forma, o capital internacional, circulando cada vez mais rapidamente e livre de

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obstáculos no contexto da globalização econômica, seria atraído para o país, como de

fato ocorreu.

A especulação financeira cresceu enormemente e muitos passaram a

considerar esse elemento o elo mais frágil do plano. A crise mexicana de dezembro

de 1994, quando a desvalorização da moeda local provocou um súbito afastamento

do capital especulativo internacional, levando o país quase à ruína, provou os riscos

de tais políticas. O Brasil viveu efeitos da crise mexicana, expressos na lentidão e

limitação dos investimentos internacionais, além de servir de exemplo de risco aos

capitais especulativos.

Por outro lado, o plano Real promovia uma nova rodada de abertura

da economia às importações, ainda de acordo com os princípios da lógica do

capitalismo globalizante do final dos anos 80. O governo defendia a abertura

econômica como forma de baixar a inflação e aumentar a eficiência da indústria

local. Tais objetivos foram efetivamente implementados, mas a um preço bastante

elevado.

As falências começaram a se multiplicar e o desemprego aumentou.

Paralelamente, a manutenção de elevadas taxas de juros no país inviabilizava a

sobrevivência de empresas em dificuldades, acelerando ainda mais o processo de

falências e desemprego. A situação recessiva forçava uma queda ainda maior da

inflação, que o governo alardeava como prova do sucesso especular do plano. Da

mesma forma, muitos dos custos de falências de empresas ou instituições privadas

com forte impacto social acabaram assumidos por políticas federais, a exemplo da

criação do Proer (Programa de Reestruturação e Fortalecimento do Sistema

Financeiro), que cobriu a queda dos bancos Econômico e Nacional.

No cômputo das diversas medidas do governo FHC, mesmo

considerando as de cunho social, acabou predominando o avanço na maior

integração capitalista internacional, o que serviu de munição aos oposicionistas, que

rotulavam o governo de comprometido ao “Consenso de Washington”. Uma das

ações governamentais mais transparentes da adequação do Brasil às transformações

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mundiais capitalistas foi sua integração a um mercado regional formado pelos países

do Cone Sul americano. A 1º de janeiro de 1995, data do início do FHC, removeram-

se, simbolicamente, as barreiras alfandegárias entre Brasil, Argentina, Uruguai e

Paraguai, nascendo daí o Mercosul. Essa medida acha-se atrelada às dinâmicas

globalizantes da economia.

Diante dessa nova realidade, FHC se vê na obrigação de reformular,

reestruturar o Ministério da Educação, que ficou sob a responsabilidade de Paulo

Renato de Souza. Logo no início de sua gestão, através de uma Medida Provisória

extinguiu o Conselho Federal de Educação e criou o Conselho Nacional de

Educação, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. Esta mudança tornou o

Conselho menos burocrático e mais político. Mesmo que possamos não concordar

com a forma como vem sendo executados alguns programas, temos que reconhecer

que, em toda a História da Educação no Brasil, contada a partir do descobrimento,

jamais houve execução de tantos projetos na área da educação numa só

administração. Entre esses programas destacamos: Fundo de Manutenção e

Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério -

FUNDEF; Programa de Avaliação Institucional – PAIUB; Sistema Nacional de

Avaliação da Educação Básica - SAEB; Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM;

Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs; Exame Nacional de Cursos - ENC. Entre

outros Programas que vêm sendo executados.

Desses Programas, o mais contestado, vem sendo o Exame Nacional

de Cursos e o seu "Provão", onde os alunos das universidades têm que realizar uma

prova ao fim do curso para receber seus diplomas. Esta prova, em que os alunos

podem simplesmente assinar a ata de presença e se retirar sem responder nenhuma

questão, é levada em consideração como avaliação das instituições. Além do mais,

entre outras questões, o exame não diferencia as regiões do país.

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CONCLUSÃO

A conclusão, ante de mais nada, precisa ser explicado. Uma história

geral de um país nunca pode ser tida como concluída. Isso não só pela razão óbvia de

que ninguém conhece os desdobramentos de fatos e processos que ainda estão em

curso e, muito menos, a natureza de outros que ainda estão por acontecer. É preciso

levar em conta também que análises do passado, por mais objetivas que procurem

ser, estão sempre sujeitas a revisões e a visões diversas de interpretar o passado.

Então vamos mergulhar no “túnel do tempo” pelo menos a 3ª década

do século XX, marcado pela mudança do modelo político-econômico agrário-

exportador e o surgimento da burguesia industrial urbana que trouxe no seu processo

a ampliação do ensino tornou-se simples aparelho de reprodução de mão de obra da

rígida divisão social de trabalho e da ideologia dominante, alicerçada à estrutura de

classes. Entre 1945 e 1980, o país urbaniza-se e abanca em vários aspectos sociais e

principalmente econômicos. O sonho de se tornar um país desenvolvido, no entanto,

contrasta com o terrível fenômeno de ser um triste e lamentável recordista em

injustiça social: grande parcela da sociedade se encontra sem emprego, sem casa,

sem terra e sofre violência urbana em níveis alarmantes.

Persiste na educação políticas educacionais a serviço de interesses

internacionais e não calcadas na realidade sócio-econômica brasileira, o que amplia

cada vez mais, a defasagem do nosso país em relações às nações desenvolvidas.

Não podemos esquecer que ao longo de 21 anos da ditadura militar,

vinculada ao capital norte-americano, levou o nosso país a mergulhar no abismo da

vida cultural, silenciando de forma melancólica os nossos intelectuais e artistas,

intimidando até por meio de tortura, professores e alunos. Para não sucumbirmos ao

conformismo generalizado, é importante destacar a importância de continuar

exigindo de forma veemente dos nossos governantes, a instauração de uma política

educacional decente, que destine as verbas públicas ao ensino público, com diretrizes

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educacionais coerentes, sendo elaborada com a participação efetiva da sociedade

civil e dos profissionais da área, nas discussões dos problemas. Isso seria o primeiro

passo em busca de uma escola universal, gratuita, democrática e de qualidade.

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ANEXOS