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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA: UMA NOVA PROPOSTA PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL Por Denize Costa de Barros Professor Orientador: Ms Mary Sue Pereira Co-orientador: Rav Mario Meir RIO DE JANEIRO 24 de Julho de 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM

EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO

EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA: UMA NOVA PROPOSTA

PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

Por

Denize Costa de Barros

Professor Orientador: Ms Mary Sue Pereira

Co-orientador: Rav Mario Meir

RIO DE JANEIRO

24 de Julho de 2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

INSTITUTO DE PESQUISAS SÓCIO-PEDAGÓGICAS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” EM

EDUCAÇÃO INFANTIL E DESENVOLVIMENTO

EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA: UMA NOVA PROPOSTA

PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

conclusão do curso de pós-graduação em

Educação Infantil e Desenvolvimento por Denize

Costa de Barros.

Professor Orientador: Ms Mary Sue Pereira

RIO DE JANEIRO

24 de Julho de 2007

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3

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a D’us pela minha vida e pela

oportunidade de estar junto com meu Mestre - Rav Mario Meir -

na realização desta monografia.

Aos meus pais espirituais Rav Mario Meir e Rebetzin Luciana

Meir, meus pais Lidia Costa Barros e Miguel Oliveira de Barros,

meus irmãos Danielle Costa de Barros e Eduardo Costa de

Barros, e minha avó Guilhermina de Souza Costa, pelo que

representam em minha vida.

À minha exemplar e maravilhosa orientadora Mary Sue pelo seu

profissionalismo, competência e sensibilidade para a

concretização desta semente plantada. Também aos

ensinamentos e experiências recebidas por todos os meus

professores – Mary Sue, Carol Kwee, Fátima Alves, Marceli

Lopes e Márcia Bettin -, que brilhantemente me doaram uma

parte de si em suas fabulosas aulas, me transformando em uma

pessoa melhor e mais consciente.

À Mirian da Silva Pires e à minha irmã Danielle Costa de Barros,

por todo comprometimento e ajuda na revisão e formatação desta

monografia.

Aos pequeninos do Clubinho Sevivon – sementes de Luz, que

iluminam e representam de forma especial à prática da Educação

Contemplativa.

Enfim... Agradeço de forma ampla a todos que estiveram

torcendo, colaborando e apoiando a realização deste trabalho.

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DEDICATÓRIA

Ao meu Mestre e Pai Rav Mario Meir que com seu

exemplo e devoção ao caminho de retidão traçado,

vivenciado e dedicado aos fundamentos da Cabalá

Contemplativa, se tornou em minha existência uma

fonte de inspiração e construção, para uma conduta

de vida permeada, fundamentada e preenchida de

valores e virtudes.

Que o Eterno o abençoe, o guarde, o guie e o

proteja em todos os momentos de sua vida. Amém.

Raban Gamliel disse: Escolha para si mesmo um

MESTRE e livre-se da dúvida;... (Pirkê Avót,

Capítulo 1, Mishnah 16 )

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RESUMO

A Cabalá é um convite para abandonar os modos comuns de

refletir e deixar-se levar por princípios com os quais não estejamos

acostumados, trilhando caminhos cheios de imaginação. É seguir os

passos daqueles antigos mestres que usavam ao mesmo tempo o

conhecimento e a meditação como instrumentos para alcançar os seus

objetivos.

A Cabalá ensina que a vida é a arte de receber e repassar afetos

e conhecimentos. Quando nos abrimos para receber, somos

influenciados por tudo que aceitamos. Nesta troca, o que transmitimos

vai marcado e transformado pela pessoa que recebeu, deixou-se

influenciar e passou adiante.

Rav Mario Meir

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METODOLOGIA

A base da metodologia desta monografia é centrada na relação

entre o Mestre - Rav Mario Meir (“Co-orientador” e “Co-autor”) e a

discípula – Denize Costa de Barros.

Foi desenvolvido a partir de:

• Aulas (Sitrei Torah, Tamei Torah, Yichud, Árvore da Vida),

orientações, encontros com o Mestre;

• observação do grupo de crianças do Projeto Sevivon;

• leitura, pesquisa e coleta de dados de livros, artigos,

manuscritos, revistas, publicações e Internet.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

CABALÁ CONTEMPLATIVA 11

CAPÍTULO II

EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA (CHINUCH YUNIT) 21

CAPÍTULO III

INTERSEÇÃO DA EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA 89

CAPÍTULO IV

INTELIGÊNCIA CONTEMPLATIVA 163

CONCLUSÃO 195

GLOSSÁRIO 197

ANEXOS 201

BIBLIOGRAFIA 203

ÍNDICE 205

ATIVIDADES CULTURAIS 207

FOLHA DE AVALIAÇÃO 208

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8

INTRODUÇÃO

Nosso trabalho objetiva a construção de uma metodologia nova,

voltada para a formação da criança com idade entre 0 e 06 anos. Por ser

uma proposta pioneira, a pesquisa propõe ferramentas que auxiliarão

todos aqueles envolvidos no processo educativo da criança, como os

professores e os pais.

Nosso método pretende manter o caráter científico-acadêmico, de

acordo com sua natureza de pesquisa universitária, embora busque

agregar ao mesmo um sentido espiritualizado, baseado em qualidades e

virtudes a serem desenvolvidas no educando. Vale ressaltar que essa

nova metodologia não fere nenhuma convicção religiosa, nem depende

de uma para ser colocada em prática. O único pressuposto é a crença

de que existe um Criador – D’us –, independentemente da forma como

Ele é concebido.

Nortearemos o trabalho com o rigor de uma pesquisa bibliográfica

especializada, à qual se juntará o método da observação empírica, e a

experiência pessoal da autora enquanto discípula vinculada ao seu

mestre (e também autor). Para a Educação Contemplativa, essa relação

mestre-discípulo, compreendida na relação professor-aluno, é

fundamental para o sucesso na árdua tarefa de educar e responsável

pelos valores e pelas virtudes que moldarão, na criança de hoje, o

caráter do homem de amanhã. Partiremos da lição de autores

consagrados, como Piaget, Vygotsky, Montessori e Pestalozzi, juntando

a tais lições os ensinamentos adquiridos nas aulas de Cabala

Contemplativa, ensinamentos estes embasados numa Tradição milenar

cuja fonte é a própria Torah.

A Educação Contemplativa pretende fornecer elementos para uma

educação sustentável, com vistas a um futuro melhor para cada um e

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9 para todos. Ainda que reconheçamos a contribuição de inúmeras

propostas pedagógicas e sua efetiva realização, não podemos negar o

estado crítico a que chegou a humanidade, ameaçada de desaparecer

pelos efeitos desastrosos de um desenvolvimento muitas vezes

inconseqüente ou imediatista. A Educação Contemplativa tem como fim

preparar o educando de modo a torná-lo um cidadão consciente, capaz

de promover melhor qualidade de vida no futuro próximo.

No mundo de hoje, os educadores (professores) são basicamente

os responsáveis pela formação da criança, já que geralmente os pais

têm pouco tempo para isto. Esta ausência se torna um grande problema

visto que o papel dos pais é fundamental e não substituída pelo

educador. Assim a responsabilidade deste educador aumenta e muito, já

que formar este pequeno ser em um adulto exemplar exige um

profissional equilibrado, muito bem preparado, experiente e competente

para não comprometer a formação desta criança.

Vivemos em um mundo onde valores e virtudes humanas são,

muitas vezes, alegorias ou mesmo abstrações de um tempo que já

passou. O mundo contemporâneo nos traz de forma distorcida os

paradigmas que nos mostram materialismo, arrogância e individualismo

exacerbado, como a solução para nos preencher de um vazio que possui

uma aparência perigosa, uma máscara distorcida da solidão egoísta que

estamos construindo para nós mesmos.

Temos que estar, em contrapartida a este rompante movimento –

assim como os Educadores (Professores) também responsáveis pelo

mundo em que vivemos - despertando nossa consciência para

acabarmos com sentimentos e atitudes como medo, dúvida, ganância,

violência, mágoas, raiva, alienações e, acima de tudo, a cumplicidade

com este sistema. Devemos estar extremamente preocupados e, acima

de tudo, não omissos a esta crueldade humana, que está consumindo a

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10 cada dia a nossa identidade. Não podemos mais fingir que estamos

distante disto tudo ou simplesmente que esse movimento não existe.

Temos que resgatar nossos valores humanos e construir esta

base em nossas crianças.

Com a conscientização de nosso papel nessa revolução prestes a

entrar em ebulição, é que estamos desenvolvendo os princípios e os

fundamentos de nosso papel enquanto educadores, dentro da sociedade

da qual fazemos parte – nós e nossas crianças.

“Não podemos ficar tranqüilos até que toda criança,

menino ou menina, receba uma educação moral

apropriada.” O Rebbe de Lubavitch (1902-1994).

Na primeira seção deste trabalho, esclareceremos a noção de

Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens

às manifestações atuais. No capítulo seguinte, apresentaremos o

conceito de Educação Contemplativa, apontando os elementos que

servem como base a esse conhecimento. No terceiro capítulo

mostraremos que, embora estejamos sistematizando agora o que vem a

ser este modus operandi, o mesmo já se faz presente em alguns grupos

que sempre estiveram na contramão de tendências e modismos. Por fim,

faremos um link entre a inteligência contemplativa e as inteligências

múltiplas, visando ao desenvolvimento completo do educando,

estimulando a manifestação e o fortalecimento de suas virtudes e

qualidades.

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11

CAPÍTULO I

CABALÁ CONTEMPLATIVA

Antes de tudo se faz necessário esclarecer que nosso trabalho

não se inclina para nenhum dogmatismo religioso. Para dirimir qualquer

dúvida, é importante que retiremos do vocábulo Cabalá todo o ranço

esotérico que, por falta de maior conhecimento, juntou-se ao termo. A

palavra Cabalá é derivada do hebraico lecabel e significa “receber” ou

“aquilo que é recebido”.

1.1 – Origens da Cabalá

A Cabalá Contemplativa é a antiga Sabedoria Espiritual baseada

nos ensinamentos de Rav Avraham Ben Samuel Abulafia - considerado

um dos maiores cabalistas de todos os tempos, e nos revela as

verdades ocultas existentes em todo universo físico e extra-físico.

Rav Abulafia nos revela que a Cabalá Contemplativa é um sistema

de conhecimento que quando o colocamos em prática, nos ajuda a

enriquecer nossa consciência e nossas escolhas.

Estudando o significado do vocábulo Cabalá como sendo

“recebimento” ou “aquele que recebe”, é forçoso que nos perguntemos

recebimento do quê? O que é recebido? De onde se recebe? A Cabalá é

um trabalho de exegese voltado para a Torah, fonte inesgotável de

conhecimento franqueado ao homem. A Torah contém cinco livros, cuja

autoria é atribuída a Moisés, conhecidos como Pentateuco. Pelo fato de

haver uma aproximação muito grande entre a orientação depreendida na

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12 Torah e as práticas do judaísmo, é comum que as pessoas menos

avisadas entendam o estudo da Torah exclusivamente como uma

religião. Embora voltada para esse estudo, a Cabalá é anterior à criação

do judaísmo, e atravessa todo o conhecimento humano, seja ele de

caráter científico, filosófico ou religioso.

A leitura da Torah poderá tornar-se tarefa inviável, caso seja feita

sem critério ou sem as ferramentas adequadas, fruto apenas de

iniciativa particular. A sua decodificação literal leva a equívocos que vão

do absurdo à incompreensão total dos fatos ali relatados. Ricamente

metafórica, a Torah é um grande código, cuja chave de abertura é o

maior propósito do estudo da Cabalá. Sua atualidade se sustenta no fato

de que todas as passagens descritas há cerca de três mil anos podem

ser perfeitamente traduzidas pelos acontecimentos de hoje, bem como

cada personagem ali representado também pode ser reconhecido no

homem comum, em mim, em você, em cada um de nós.

O cabalista, por conseguinte, é aquele cujo sistema de vida

compreende uma disposição permanente para o aprendizado. Isso

implica dizer que ele está sempre aperfeiçoando as faculdades de que o

homem é dotado, visando à melhor e mais efetiva interação com a

realidade. Sensível e conseqüente, o cabalista torna-se um sujeito pró-

ativo, com mais chances de responder, criativamente, aos desafios

inevitáveis da existência.

Com a Cabalá Contemplativa também encontramos as respostas

para os nossos problemas que acontecem a cada momento em nossa

existência, nos fornecendo a base de apoio necessária para tomarmos

o controle sobre nossas vidas e vencermos nossos obstáculos.

A base e o entendimento da Cabalá Contemplativa se estabelece

sobre três firmes pilares:

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13 • A LEI, que é inspirada pelos ensinamentos contidos na

Torah.

• A TRADIÇÃO ORAL (é a Alma da LEI) que é conhecida

principalmente pelos mestres de Cabalá. É onde reside a

Halakhah, o comportamento e o aperfeiçoamento do

caráter, necessários para se trilhar os mistérios da

Sabedoria Espiritual.

• Os ENSINAMENTOS DA CABALÁ e SUAS OBRAS, que os

sábios conhecem como sendo a Alma da Alma da Lei, e é

somente revelada a uma minoria interessada. É onde

residem os mistérios de grandes Obras de Sabedoria, tais

como o Sêfer Yetzirah e Sêfer HaBahir e Tratados de

Correção dos Atributos Emocionais (Ticun HaMidot), tais

como o Pirkê Avót (A Ética dos Pais), entre outros.

Sabemos que a Cabala Contemplativa originou-se há mais de

3700 anos, desde que o Patriarca Abraão, a partir das profundas

revelações do Sêfer Yetzirah, surge com a visão de um mundo com

mais desejo de compartilhar. Estes conhecimentos foram transmitidos a

um número muito seleto de discípulos, que mantiveram os ensinamentos

guardados para que as futuras gerações pudessem usufruir desta

Sabedoria Espiritual. Podemos acompanhar, ao longo dos tempos, os

momentos significativos em que tais ensinamentos vieram à luz, através

dos mestres que nos legaram exemplo e obra.

No século II Rav Akiva identificou que chegara o momento da

revelação desses importantes segredos e os revela a um grande número

de discípulos. O Império Romano o persegue e infelizmente só dois

discípulos sobrevivem: Rav Shimon Bar Yochai e Rav Meir Baal HaNess.

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14 Rav Shimon Bar Yochai foi quem recebeu a revelação do Sêfer

HaZohar, escondido em uma caverna por 13 anos. Rav Meir Baal

HaNess recebeu as revelações das Otiot. Ele se refugiou em uma ilha

do mediterrâneo, transmitindo estes ensinamentos a diversos discípulos

que por séculos também mantiveram este corpo de conhecimento em

segredo.

No século XIII um jovem cabalista de Toledo chamado Rav

Avraham Ben Samuel Abulafia conhece Rav Baruch de Torgami, de

idade bem avançada, e recebe dele a revelação dos profundos segredos

do Sêfer Yetzirah. É neste momento em Barcelona, que surge, a partir

da fundamentação do corpo de conhecimento de Rav Akiva por Rav

Avraham Abulafia, a Cabalá Profética que mais tarde passa a ser

conhecida por Cabalá Contemplativa. Durante toda sua vida Rav

Avraham Abulafia, além de escrever o maior número de obras sobre

Cabalá, formou por toda a Europa mais de vinte Círculos de estudos da

Cabalá, que permaneceram por muitos anos após a sua morte.

Na Espanha, no século XVI, Rav Yacov Shemach teria sido o

último representante dos Círculos formados por Rav Avraham Abulafia,

que com a pressão da Inquisição teve que ir para Sfat em Israel, onde já

existia o grande círculo de formação de cabalistas na época. Sem êxito

tentou formar uma Academia de Cabalá em Jerusalém e voltou para o

Marrocos. Antes de morrer, consegue retornar as atividades dos

Círculos de estudos na França e em Portugal.

No ano de 1930 em Belmonte, Portugal, o cabalista Rav Yosef

Mello Bastos recebe a revelação que deveria iniciar a construção de

uma obra espiritual de grandes proporções e profundo impacto social.

Neste momento começava a se formar a idéia da Academia de Cabalá e

o seu modelo de trabalho idealizado nos ensinamentos de Rav Avraham

Abulafia.

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15 Em seguida Rav Yosef Mello Bastos, passa seus ensinamentos

para Rav David Benari que finalmente os repassa para seu filho Rav

Daniel Benari.

Rav Daniel Benari define o Brasil como o local onde a Cabalá

Contemplativa formaria sua base para a tão sonhada Academia de

Cabalá. Ele se muda para o Brasil onde constrói um círculo de estudos

baseado na Cabalá Contemplativa chamado Chug Aron Habrit (Círculo

da Arca da Aliança). Dentre seus discípulos estaria o Rav Mario Meir,

que se torna o construtor da base e do fundamento da Cabalá

Contemplativa Abulafiana dentro da tão sonhada Academia de Cabalá.

1.2 – Rav Mario Meir e a Academia de Cabalá Rav Meir

A tão esperada Academia de Cabalá idealizada desde os tempos

de Rav Avraham Abulafia surge no Brasil nos anos finais do Século XX

(em 1995), fundada e construída por Rav Mario Meir e tem como base os

ensinamentos da Cabalá Contemplativa de Rav Avraham Abulafia.

Rav Mario Meir nasceu em 25 de fevereiro de 1971 e desde muito

cedo iniciou seus estudos, se dedicando à psicanálise, à filosofia e à

mitologia mediterrânea. Aos 17 anos encontra Rav Daniel Benari e

neste momento inicia sua trajetória de vida dedicada ao estudo, à

vivência, ao exemplo e à transmissão da Cabalá Contemplativa. Iniciou

sua jornada participando do Chug Aron Habrit onde começou a

mergulhar profundamente no estudo árduo dos ensinamentos de Rav

Avraham Abulafia.

Rav Mario Meir está com 22 anos quando Rav Daniel Benari

percebe nele a semente que procurava para a construção da tão

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16 sonhada Academia de Cabalá. Aos 25 anos seu mestre o ordena como

Rav e lhe transmite todo o corpo de conhecimento, ensinamentos e

segredos da Cabalá Contemplativa.

Rav Daniel Benari morre aos 76 anos no mesmo ano que Rav

Mario Meir se casa.

Finalmente surge na humanidade a pessoa certa na hora certa

para a construção do que hoje é considerada a base da Cabalá

Contemplativa, a Academia de Cabalá Rav Meir.

É uma instituição espiritual independente e sem fins lucrativos,

sendo a ponta final do trabalho da Cabalá Contemplativa no Mundo. É

expansionista, revolucionária e sem discriminação de etnia, sexo, cor,

religião, etc.

Hoje, a Academia de Cabalá Rav Meir é a maior instituição de

Cabalá Contemplativa no mundo. São mais de 600 membros

freqüentando a Academia e cerca de setenta mil pessoas que têm

acesso ao conhecimento em todo o mundo através dos trabalhos

realizados pela Instituição.

Sua missão é despertar a consciência do ser humano, estimulando

o poder de transformação do mundo através do desenvolvimento das

virtudes e valores da Cabalá Contemplativa.

Sua meta é o restabelecimento da conexão entre o ser humano e

a Luz do Mundo Infinito.

A Cabalá Contemplativa Abulafiana tem sua base centrada na

relação entre o Mestre e o Discípulo trabalhando no refinamento e no

aprimoramento do desenvolvimento de valores e virtudes inerentes ao

caráter do ser humano.

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17 Temos toda uma força criativa dentro de todos nós, herdada de

nosso Criador. Precisamos, através de nossas reflexões, encontrarmos

nossos talentos, e descobrirmos o que o Criador espera de nós - nossos

objetivos e nossa função aqui na humanidade.

Através de pequenos gestos, atos ou até situações, encontramos

o Sagrado. Ele realmente surge de onde menos esperamos e

precisamos estar atentos e receptivos.

Somos pessoas únicas, especiais e valiosas, mas não somos o

Todo, e isso é muito importante de termos consciência.

É nossa responsabilidade, saber o lugar que ocupamos no mundo.

Acreditar no nosso potencial, no melhor de nós mesmos. Para

encontrarmos nossa plenitude é preciso estar sempre: buscando,

construindo, compartilhando, agindo, desenvolvendo, experimentando,

amando, cooperando, aprendendo, ensinando, explorando, respeitando,

excluindo e dedicando.

É através dessa busca que nos encontraremos a nós mesmos e, o

mais importante, o universo dentro de nosso próprio ser.

1.3 – A Metodologia

O objetivo principal da Educação Contemplativa é propor a

construção de uma base sólida a partir da qual, através de valores e

virtudes, desenvolvemos o caráter das crianças, formando-as seres

humanos melhores, mais conscientes, completos, equilibrados, não só

em relação a elas próprias, mas principalmente em relação ao próximo,

a toda humanidade e a todo universo.

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18 Nosso outro objetivo é tornar todos do meio escolar da criança

cúmplices do mesmo sistema de educação, pois a Instituição de ensino

tem que ser o maior exemplo para a criança que tem como referência

quem a está educando.

O papel da Educação é o de tornar aquele ser humano uma

pessoa melhor, transformando suas características e inclinações

negativas em positivas, e se isso não for feito de forma muito

responsável e consciente, podemos ter um resultado final desastroso.

Temos que ensinar a parte curricular sim, mas também ter em conta qual

será a finalidade do uso deste conhecimento, qual será a sua forma

construtiva. A criança deve aprender a caminhar com seus próprios pés

e a agir por si só quando for necessário.

Segundo Rav Mario Meir: “o que liga a inspiração superior e a

prática à vida cotidiana é a educação”. Aprendemos com a Cabalá

Contemplativa as regras do jogo da vida, e a partir do desenvolvimento

e da mudança de nossa consciência, conseguimos focar e acertar nas

escolhas que são as condutoras dentro de nossa vida e existência.

Cada um de nós é importante e insubstituível. A cooperação e a

integração nos ajudarão a formar o todo e a conquistarmos o melhor de

nós mesmos.

A DISCIPLINA também deve ser um ponto a ser trabalhado de

forma atenta, pois o aluno não pode ser privado de seu espírito livre.

Em contrapartida, ele deve ter o discernimento necessário para respeitar

e obedecer a seus Superiores.

O segredo para atingirmos a quaisquer crianças é único: o AMOR!

E este é o ingrediente primordial que permeia toda a metodologia da

Educação Contemplativa. O amor e a disciplina andam juntos e se

complementam.

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19 Todo cuidado é pouco, ou a criança vai adquirir hábitos saudáveis

ou hábitos nocivos. E a responsabilidade é nossa.

É uma metodologia baseada na relação de Mestre e Discípulo,

onde o papel de Pais, Educadores – “Formadores” é o de Mestre. O

Professor simplesmente tem a responsabilidade de nos ensinar, nos

ajudando a ampliar o nosso conhecimento, aumentando o nosso campo

intelectual. Já o professor que se transforma em Mestre é aquele que

nos ensina através de seu exemplo e do relacionamento com seu

discípulo, que o orienta a como se conduzir em todas as áreas de sua

vida, não só ali na sala de aula, não só como estudar e “passar de ano”.

O Mestre é muito importante pois para a Educação Contemplativa

o adaptar a criança em todos os aspectos de sua vida e ao seu

relacionamento com o outro, seja: a escola, o colega, o governo, a

sociedade, entre outros exemplos, é fundamental. Não podemos nos

esquecer que, dentro de uma mesma sala de aula, podemos ter crianças

de diversas religiões, raças, etnias, sexo e classes sociais.

Como nos diz Rav Mario Meir:

A Cabalá explica que a diferença entre um professor

comum e um mestre é que o primeiro transmite idéias

e luz a seus estudantes. Já um mestre, emprega a

sua própria essência – todo seu coração e sua alma –

nas palavras sagradas de Torah que transmite. Essa

devoção ao ensinamento é tão intensa que penetra a

alma de seu discípulo impregnando-a com sua própria

essência. (aula de Tamei Torah - Bamidbar)

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20 No papel de Pais e Educadores, temos que ajudar nossas crianças

a estarem prontas intelectualmente, emocionalmente e espiritualmente.

Temos que estar atentos e sermos referências para o desenvolvimento e

o equilíbrio de suas emoções e ações, que moldam sua personalidade.

Não temos que dar as soluções prontas, mas lhes fornecer o necessário

para que possam por si próprios encontrar as respostas e soluções para

seus problemas, questões, dúvidas e dificuldades.

Com certeza quando o Educador se deparar com o propósito

maior do papel profissional o que escolheu e assumir a sua

responsabilidade, sua capacidade em ser excelente naquilo que faz o

ajudará a ter as respostas certas para atingir os objetivos.

A Cabalá Contemplativa nos define de forma bem clara e precisa,

os 3 degraus da “escada evolutiva” dentro da Educação Contemplativa,

que vai nos ajudar a compreender melhor a sua metodologia:

• Conhecimento – é o acúmulo de saber intelectual; quanto

mais tempo maior será o nosso conhecimento;

• Entendimento – quanto mais aplicarmos o nosso

conhecimento, maior será o nosso entendimento;

• Sabedoria – é quando conseguimos nos esvaziar das coisas

excessivas e dos entulhos que existem dentro de nós –

nossa consciência - para a aplicação prática e devocional

do exercício total de nosso conhecimento. Ela está

estritamente ligada à simplicidade.

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21

CAPÍTULO II

EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA

(CHINUCH YUNIT)

Há um tempo para todo o propósito e para a

realização de cada coisa nesse mundo. (Rav

Mario Meir)

A Educação Contemplativa tem como base os fundamentos e

ensinamentos da Cabalá Contemplativa Abulafiana e está sendo

estruturada e desenvolvida pela primeira vez através dos ensinamentos

de Rav Mario Meir.

Através dos valores e virtudes, da ética e da moral da Cabalá

Contemplativa, surge a sua base educacional e pedagógica - a

Educação Contemplativa.

Altas tecnologias se proliferam, a mídia cada vez mais ativa e

influente, mas afinal de contas, onde nós estamos? Quase sempre

dentro de uma sociedade castradora, onde nos tornamos robôs ocos, e

estátuas petrificadas e cristalizadas; dominados por um materialismo

enraizado.

Precisamos lutar contra essa força dominadora que nos

impulsiona para sairmos de nosso eixo central e nos remete a um

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22 processo repetitivo e duvidoso para não encontrarmos a nossa

verdadeira identidade.

Hoje em dia a falta de Educação é o grande problema da

Humanidade.

Há muitos anos a Torah nos alerta acerca da pergunta que D’us

fez a Adão, a Abraão e a todos nós através dos tempos: “Onde está

você?”. Esta pergunta nos instiga a descobrir nosso propósito na vida,

onde estamos nós diante do mundo e da nossa história. É com muita

pretensão que nos colocamos como um eco forte, ardente e profundo da

resposta dada por Abraão: “Eis-me aqui”.

2.1 – Chinuch Yunit – Inspiração e Integração

Conforme as palavras de Rav Mario Meir, devemos inicialmente

definir a educação em termos cabalísticos. A Cabalá considera o

hebraico como sendo a língua da Criação e lhe reserva um grande

significado. A formação de suas palavras, suas raízes e seu significado

oculto nos ajuda demasiadamente a compreender o universo que nos

cerca. Nada mais oportuno do que, então, analisarmos o próprio sentido

da palavra para "educação".

Em hebraico existe uma palavra para "educação": chinuch.

Na forma mais comum, a palavra chinuch poderia ser traduzida

como "treinamento".

Para captar o significado interior destas palavras e assim

descobrir o significado de "educação", devemos examinar primeiro as

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23 raízes ligadas à palavra. Isso permitirá desvendar as luzes contidas e

ocultas dentro da mesma.

A raiz básica de chinuch aparece mais freqüentemente no Tanach

com o significado de "inauguração" ou "iniciação". Descreve o ato de

dedicar algo a um propósito em particular. Por exemplo, o Salmo 30,

conhecido como Mizmor Shir Chanucat HaBait, é um canto de

inauguração composto pelo Rei David para o Templo Sagrado

construído pelo seu filho, o Rei Salomão. Uma vez construído o Templo,

seus utensílios não podiam ser usados sem serem santificados e

inaugurados em suas tarefas. Assim, a menorá (o candelabro) teria que

ser santificado e inaugurado em sua função de "iluminador". Assim

mesmo era para os cohanim, os sacerdotes que serviam no Templo,

tinham que ser iniciados no ofício antes de assumir sua

responsabilidade. Este ato de iniciação atraía para baixo a Luz

Espiritual. É um ritual que desperta os receptores e um nível superior de

potencialidade, habilitando-os para começar sua nova tarefa. Somente

após o recebimento desta Luz adicional é que as pessoas e os objetos

estariam aptos a prosseguir no caminho a que lhe foi destinado.

Quando aplicamos estas idéias contidas na raiz do propósito de

chinuch, vemos que o mestre é um "iniciador", em sua tarefa de

despertar as potências latentes de seus discípulos. Ele faz isso,

baixando a Luz do conhecimento ao nível dos estudantes, inspirando-os

assim a uma nova maneira de pensar e ver o mundo.

Dessa forma, podemos entender que a educação se faz análoga

ao crescimento espiritual. O modelo básico de educação se divide entre

INSPIRAÇÃO e INTEGRAÇÃO. Em todas as áreas do crescimento

criativo humano, temos a presença destas duas fases. Primeiro surge

uma idéia (inspiração) e logo em seguida esta idéia é aplicada,

experimentada e incorporada na prática (integração). Vemos isso

presente nos avanços médicos, na ciência, arte e na música.

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24 Todo o tipo de crescimento sempre se produz através destas duas

fases: inspiração e integração. Primeiro temos que despertar um novo

aspecto de possibilidades e logo deve-se estabelecer um esforço para

construir estas idéias dentro da realidade e experiência diária. No

trabalho espiritual, cada passo que damos para aprofundar nosso

entendimento do mundo e aperfeiçoar o nosso caráter, é como entrar em

uma nova terra, em um território desconhecido e inexplorado, que traz

com ele novas possibilidades e caminhos para o conhecimento. A

melhor metáfora para definir a educação e a entrada em uma nova forma

de viver e pensar se encontra na descrição da Torah sobre a travessia

do deserto e entrada na Terra Prometida. Esta travessia se define pela

migração da esterilidade do deserto até a abundância da Terra Sagrada.

Os textos sagrados dividem este processo em duas etapas, primeiro a

"entrada" e logo depois, o "assentamento". O poder de entrar na Terra

Prometida está relacionado à fase de iniciação (inspiração) da

educação, e o poder de assentar-se na Terra Prometida, arraigar-se e

permanecer é uma função da integração apropriada. Mas, mesmo a

inspiração não terá efeito caso o talmid não aplique e integre os novos

conhecimentos em sua vida diária.

2.2 – A importância da Cabalá Contemplativa na Educação Infantil

É nos primeiros anos de vida que a criança precisa de uma

atenção especial e redobrada. Neste período estamos desenvolvendo

toda a base daquele futuro adulto. Ela deve receber constantemente

atenção, proteção, ensinamento e exemplos para se tornar um adulto

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25 produtivo e com o caráter moldado a partir da retidão, da humildade e

da dignidade.

Piaget também corrobora que a educação que recebemos nestes

primeiros anos vai nos influenciar para o resto de nossas vidas com

amigos, familiares e a sociedade a qual pertencemos.

É nesta fase que estabelecemos os limites e conseguimos não

deixar que o egocentrismo inerente a uma parte de nossa existência se

desenvolva e se transforme em um egoísmo exacerbado que é oposto à

Educação Contemplativa.

A criança desde cedo deve moldar a sua própria Identidade

através de seu desenvolvimento intelectual, espiritual, emotivo e

psicológico. Sem esta Identidade ela não poderá pensar nem sentir por

si própria, pois não aprendeu a crescer e a viver desta forma.

Devemos estar abertos a aprender com as crianças, pois elas são

uma fonte de ensinamento para nossa vida. São seres inocentes,

autênticos, puros e receptivos com o que tivermos a lhes oferecer.

É a partir da educação infantil que se dá início ao ensinamento

maior de uma passagem que aprendemos – não só na Cabalá

Contemplativa mas em quase todas as religiões, seitas, grupos

humanitários, etc. - e encontramos primeiramente na Torah em Levítico

(Kedoshim, 19:18): “e amarás a teu próximo como a ti mesmo; ...”.

Desde pequenos temos que ter consciência da importância do outro em

nossa vida, afinal somos partes de um todo e responsáveis pelo futuro

da humanidade.

Já temos que inserir dentro da infância a busca de propósitos,

para futuramente aquelas crianças desenvolverem a base solidificada

para a escolha de seu propósito maior de vida.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

26 É muito importante ressaltarmos que cada ser humano é diferente

do outro e temos que o comparar somente a si mesmo. Muitas vezes

nos deparamos com crianças que eram excepcionais e permanecem

estagnadas enquanto outras que rotulávamos de problemáticas

conseguem um rompante crescimento. Temos que auxiliar a cada

criança a se desenvolver no melhor de seu potencial.

Eduque a criança conforme os modos dela – assim,

mesmo depois de crescida, não se apartará deles.

(Provérbios 22:6)

2.3 – O inegociável papel dos Pais

O papel dos pais para a Cabalá Contemplativa começa muito

antes de a criança nascer. No momento em que um casal decide ter um

filho, deve estar preparado para esta escolha, mesmo que seja

considerado um “acidente de percurso” (o que para a Cabalá não

existe).

Quando um casal vive conforme os preceitos espirituais de uma

união familiar santificada, isto já lhe assegura que seus filhos sejam

abençoados com pureza e com saúde. Segundo Rav Mario Meir:

Uma alma concedida na Santidade dos laços do

matrimônio entrará, no momento da concepção, na

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27 plenitude da vida dotada da pureza que será garantia

do seu caráter. A Cabalá ensina que os pensamentos

do homem e da mulher durante a relação sexual são o

que determina o tipo de alma que irá ocupar o corpo

da criança que deverá nascer desta união. (aula de

Sitrei Torah - O Exercício do Casamento)

Mas sabemos que muitas crianças não são concebidas desta

forma, e nem por isso serão crianças perdidas, ou sem perspectivas de

se tornarem adultos repletos de valores morais e de caráter; mas

devemos nos conscientizar da responsabilidade que é ter um filho, o que

para muitos pais não passa de uma banalidade, gerando a falta de

responsabilidade com seus filhos.

Vários estudos nos mostram a grande importância de a mãe ter

uma gestação: equilibrada, tranqüila, dedicada e receptiva; para a

chegada do tão esperado bebê. Pois já na 12 ª semana de gestação, o

feto já reage aos sons e em especial à voz materna. Os pais já

constroem uma imagem de como será seu bebê e esse é o primeiro

ponto para se formar o vínculo entre os pais e a criança.

Segundo o psiquiatra e professor Thomas R. Verny:

“O stress psicológico em recém-nascidos e a

ansiedade ou depressão da mãe no período pré-natal

constituem fatores de risco para os bebês; pode

danificar estruturas cerebrais em desenvolvimento, ou

mesmo favorecer a instalação de doenças,

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

28 dependências ou transtornos de personalidades

futuros.” (VERNY, p. 72)

O bebê quando nasce se torna real - dentro daquela imagem de

expectativa de como ele seria que seus pais construíram durante a

gestação. E esta fase é muito delicada e fundamental para esta ligação

entre os pais e o bebê. A mãe está se reestruturando para inclusive se

adaptar a sua nova identidade e às novas relações como: afeição,

toques, segurar, amamentar, ouvir, falar, acariciar, entre outras; vão

determinar o início daquela tão profunda e intensa relação de

conhecimento e responsabilidade de responder às necessidades de seu

bebê.

Dentro da Educação Contemplativa a mãe, por representar a base

espiritual de uma família, tem a maior influência, obrigação e

responsabilidade na educação dos filhos, através de uma total entrega a

este desenvolvimento. A mulher, além de ser mais preparada

espiritualmente, tem um poder maior de formar bases, enquanto no

homem é maior a sua capacidade de condutor. Não são papéis opostos

ou omissos na criação dos filhos, mas complementares e não devem

estar divergentes e distantes de um mesmo objetivo, que neste caso é a

educação dos filhos.

Confirmando a afirmação da Cabalá em relação ao papel materno,

a psicanalista e professora Maria Consuelo Passos nos diz:

“NO PRINCÍPIO É A MÃE

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29 A relação primordial mãe e filho é a matriz das

relações familiares

A mãe representa o ambiente familiar e, ao mesmo

tempo, é quem apresenta ao filho as personagens do

meio externo. Esse roteiro primário da vida infantil

torna-se matriz a partir da qual, simbolicamente, o

bebê estrutura seu mundo e confere a ele sentidos

múltiplos de fantasia e realidade. A mãe, avalista da

experiência infantil, deve estar sozinha embora

necessite da presença silenciosa de outra pessoa que

lhe dê o apoio para que ela possa se dedicar ao filho

de forma devotada. Na concepção do psicanalista

inglês Donald Winnicott, “devoção materna” significa

dedicação integral ao bebê, investimento de afeto,

reconhecimento do filho como de fato seu; ela se

expressa nos cuidados necessários para que a criança

sobreviva e amadureça. Nessa empreitada solitária, a

mãe recebe e aconchega o bebê, de modo que ele

possa, paulatinamente, reconhecer a si mesmo e à

figura materna como primeiro outro no âmbito social e

psíquico. A adoção mútua entre mãe e bebê é

necessária independentemente de o filho ser biológico

ou não. À medida que a mãe é aceita como elemento

que contorna e organiza as sombras dispersas do

mundo primitivo da criança, esta passa a criar seu

lugar – ponto fundamental para constituir um espaço

afetivo no grupo familiar e ampliá-lo.” (PASSOS, p.8)

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30 A criança é moldada através de nossos exemplos, atitudes e

parâmetros; seu maior e primeiro exemplo são seus pais.

A condução dos pais na Educação Contemplativa é de total

submissão aos ensinamentos contidos na tradição através dos valores e

virtudes. Na própria Torah que é a Lei da Cabalá Contemplativa, temos

o seguinte preceito (Deuteronômio 6:7): “e tu as ensinarás a teus filhos”.

É de fundamental importância para estes pais o constante refinamento

para se tornarem pessoas melhores, seguras, de caráter e respeito.

A criança deve ter total respeito a seus pais e os mesmos são os

responsáveis para que esta afirmação seja real. Quando o respeito não

aparece em seu devido lugar, quase sempre o ambiente em torno toma

conta da situação e, infelizmente, se a criança não estiver inserida em

um ambiente pleno, seu caráter pode ser moldado de forma inadequada

e aí fica difícil revertermos o resultado de forma simples.

Um exemplo muito claro e simples que define, de forma lúdica, um

pequeno ato que pode interferir na base da formação da criança e torná-

la um indivíduo medroso e inseguro é, segundo Rav Mario Meir:

Se uma criança não pode dormir por temer a

escuridão, a solução sintomática é não apagar a luz.

Isto poderia aliviar o problema temporariamente, mas

para eliminar de maneira permanente o sintoma, é

necessário descobrir a fonte do problema, a sua

causa metafísica. Desta forma os pais podem ensinar

a seus filhos que o problema não está na escuridão e

sim, o que eles temem é a própria imaginação. Esta é

praticamente a causa da grande maioria dos medos.

(aula de Sitrei Torah):

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31

Nos ensinamentos da Cabalá Contemplativa também encontramos

que até a criança completar 6 anos a responsabilidade de educar é dos

pais.

2.4 – Educação Inclusiva e Educação Especial

Para a Cabalá ninguém é melhor ou pior que o outro, somos

apenas diferentes e devemos respeitar, admirar e compartilhar uns com

os outros. A única deficiência grave é a falta de caráter e

personalidade, ou seja, a deficiência Espiritual.

É uma obrigação dentro da Educação Contemplativa tratar a todos

os alunos (discípulos) da mesma forma, respeitando a sua

individualidade, os seus limites e as barreiras que cada um possa ter,

independente de ser um obstáculo: físico, intelectual, psicológico ou

mental.

Algumas crianças podem nos parecer diferentes, mas possuem o

mesmo desejo de aprender que possuem outras crianças consideradas

“normais” (na verdade estas crianças também possuem algum grau de

deficiência em alguma área específica).

Temos milhares de exemplos de pequenos brilhantes que apesar

de suas deficiências são verdadeiros exemplos de adultos brilhantes.

Tudo depende de: dedicação, empenho, crédito, oportunidade, carinho e

respeito; que direcionamos e dedicamos ao seu desenvolvimento, que

pode vir a ser mais lento, mas com certeza existe um excelente

resultado deste nosso empenho.

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

32 Quando nos dedicamos verdadeiramente e nos comprometemos

com o processo de aprendizado de tais crianças, descobrimos que elas

possuem habilidades muito maiores do que acreditávamos e

imaginávamos, basta que nos empenhemos em ser um suporte para o

seu crescimento em todos os âmbitos.

O envolvimento dos pais e da Instituição é essencial e

determinante para a educação infantil.

As instituições têm a obrigação de ter a estrutura necessária para

o trabalho e a aceitação de todas as crianças em sua grade escolar.

Não existe para a Educação Contemplativa, uma dicotomia entre

“normal” e “anormal”.

No papel de Educadores temos que estar preparados para

trabalhar com seres humanos, e não com um sub-conjunto seletivo de

pessoas.

Como nos diz Rav Mario Meir: “O bom mestre é aquele que

acredita em você, mesmo quando nem mesmo você acredita. mas ele

está lá radiante, acreditando e apostando em você.” (Aula de Árvore da

Vida, letra Nun). Que possamos nos inspirar com estas sábias palavras!

2.5 – Disciplina, Restrição e Entusiasmo

Estes 3 elementos são fundamentais dentro da Educação

Contemplativa, pois estão diretamente ligados ao desenvolvimento da

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33 relação entre o Mestre e o discípulo. São complementares e

interligados de forma que se um falhar, o processo se torna falho. Por

isso os colocamos aqui de forma mais apurada para um melhor

entendimento dentro de nossa metodologia.

A disciplina é um conjunto de normas e regras, baseadas nos

conceitos de instrução, educação e treinamento, fundamentais para a

relação de subordinação que o discípulo (aluno) deve ter com seu

Mestre, criando um vínculo forte que interliga a confiança e a

dependência mútua.

Ela é a base para a estabilidade e a coesão entre grupos, e é

fundamentada através das boas condutas, valores e virtudes, que todo

ser humano deve almejar e desenvolver.

Todos devem estar sujeitos as mesmas regras de disciplina e a

honestidade é inegociável.

Somos constantemente bombardeados por imagens,

fatores e estímulos externos, sendo eles bons e maus,

sofridos ou prazerosos. É o ego que se liga a tudo,

sem separar o joio do trigo, a restrição trabalha com

este ego, impulsivo e desejoso. Egoísta acima de

tudo. Quando você se restringe aprende a contatar a

sua essência, a parar para pensar e perceber-se.

(Rav Mario Meir)

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

34 Em hebraico a restrição é conhecida por Tzimtzum e nos remete a

auto-restrição da Luz Espiritual, um processo de contração e posterior

expansão.

A restrição é fundamental para a obtenção de novas informações

e para gerarmos um espaço de novas criações dentro de nosso ser.

Através dela abrimos espaço para a resolução dos grandes

problemas que surgem em nossa existência, pois quando paramos de

receber externamente, criamos a possibilidade de olharmos para dentro

de nós mesmos, que chamamos na Cabalá de Pnimiyut (interioridade).

A Pnimiyut é o fato de nos acharmos "frente a nós" e

"frente ao Eterno". Acontece pela unificação, a via do

espírito, da meditação, da descoberta das faces

ocultas da criação. A Pnimiyut nos coloca fora do

tempo e do espaço, ligando-nos à Causa Primeira. Ela

nos permite reencontrar e identificar o fio permanente

do Eyn-Sof que vibra na luz de todas as coisas

criadas e que a Cabalá chama de "Kav", a linha. Kav é

o liame, o intermediário entre o Criador e sua criação.

(Rav Mario Meir)

Quando estamos preocupados apenas em receber coisas novas,

sejam ensinamentos, objetos, etc., e vamos acumulando, sem restrição,

nos tornamos semelhantes a um copo que transborda de tão cheio e não

permite mais que coisas novas penetrem ou mesmo que transformações

aconteçam dentro dele.

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35 A expansão após a contração é o que gera novos frutos e

soluções para nossas vidas e para o mundo.

O entusiasmo é um estado anunciado pela alma que

inunda o coração e a mente. Independente de

prazeres sensoriais, aquisições materiais ou

condicionamento exterior. É o estado natural do ser

humano e só desaparece quando eclipsado pela falta

de autoconhecimento e pela ausência de foco. (Rav

Mario Meir)

O entusiasmo é o arrebatamento que nos purifica de medos e

anseios e transforma os nossos aspectos negativos em positivos. Nos

faz arrepiar e seguir em frente em nosso caminho, rumo à sabedoria

através do conhecimento e do entendimento.

Rav Avraham Abulafia dizia que o entusiasmo é que lhe dava o

material para a imaginação e a substância para o intelecto.

2.6 – Pirkê Avót – A Ética dos Sábios

O Pirkê Avót é um tratado baseado em ensinamentos que nos

dizem respeito aos valores, às virtudes, aos comportamentos, às boas

maneiras e à ética. Ele nos mostra o caminho traçado e os exemplos a

serem seguidos pelos sábios de nossa Tradição.

Está sub-dividido em seis capítulos, os quais correspondem a seis

emoções que devemos desenvolver em nossas vidas: capítulo 1 -

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36 bondade (ato de compartilhar), capítulo 2 -disciplina (ato de restrição e

severidade), capítulo 3 - beleza (equilíbrio, foco e concentração),

capítulo 4 - permanência (constância), capítulo 5 - refinamento (tornar-

se melhor) e capítulo 6 - verdade (fundamentos e pactos).

A Educação Contemplativa tem sua base em um Ensinamento

(chamado Mishnah) do capítulo 6 e para isto temos que entender um

pouco o que significa a verdade para a Cabalá Contemplativa. Segundo

nossos ensinamentos, devemos nos preocupar com o que é verdadeiro

ou falso, e não com o que é certo ou errado. O verdadeiro é aquilo que

realmente nos liga à nossa essência e está estritamente relacionado à

nossa natureza essencial, sem passar pelas barreiras de interpretação

de nossa percepção deturpada do que está acontecendo. O certo é o

que julgamos muitas vezes pela aparência e quase sempre sob a

interpretação de que estamos sempre certos e os outros sempre estão e

são errados. O verdadeiro está ligado às Leis Espirituais do Universo.

Se perguntássemos a duas pessoas se algo é certo ou errado,

poderíamos ter duas respostas distintas; porém, quanto a verdadeiro e

falso, não temos respostas diferentes para a mesma questão.

O fundamento e o pacto estão totalmente ligados à verdade, pois

não existem diferentes respostas para estas questões: ou é, ou não é.

O Ensinamento do Capítulo 6 que é a base de nossa Metodologia,

divide-se em 11 Ensinamentos (Mishnah). O que devemos ter como

ideal de vida é o de número 6. Segundo ele, a Torah é superior ao

sacerdócio e à realeza, pois a realeza requer trinta qualidades, o

sacerdócio vinte e quatro, mas a Torah requer quarenta e oito coisas. E

elas são: estudo, ouvir atentamente, clareza, inteligência, reverência,

temor, humildade, alegria, pureza, servir aos Sábios, aproximação dos

companheiros, debate com os discípulos, sobriedade, conhecimento da

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

37 Escritura, conhecimento da Tradição, poucos negócios, poucas relações

mundanas, poucos prazeres, dormir pouco, poucas conversas, poucos

risos, paciência, bom coração, certeza nos Sábios, resignação no

sofrimento, conhecer o seu lugar, contentar-se com a sua porção, medir

suas palavras, não exigir créditos para si, ser amado, amar o Todo-

Presente, amar o seu próximo, amar a retidão, amar a justiça, prezar as

críticas, afastar-se das honrarias, não inflar o coração por causa do

conhecimento, não se deleitar em dar ordens, ajudar o próximo a

carregar o seu jugo, julgar com indulgência, pôr-se no caminho da

verdade, pôr-se no caminho da paz, ser meticuloso em seu estudo,

perguntando conforme o assunto e respondendo conforme a regra, ouvir

e aumentar o conhecimento, aprender para ensinar, aprender para

praticar, estimular a sabedoria do mestre, raciocinar sobre o que ouvir, e

dizer coisas em nome de que as disse. Sabe-se que todo aquele que diz

uma coisa citando o nome de quem as disse, traz a redenção ao mundo,

pois foi dito: “E disse Ester ao rei em nome de Mordechai” (Ester 2:22).

A Torah é a representação de todo conhecimento e ensinamentos

da Cabalá Contemplativa. Dentro da Torah temos qualidades que

representam o sacerdócio – ligadas à capacidade de reunir nossos

potenciais mais refinados -; outras que representam a realeza – ligadas

à capacidade de controlarmos nossos próprios atos. Por isso a

importância de seguirmos estas quarenta e oito qualidades, pois

estaremos buscando virtudes completas e interligadas dentro de nosso

Ser.

2.6.1 – As 48 Qualidades

Segundo a Educação Contemplativa desenvolver e trabalhar estas

48 qualidades com muito afinco, seriedade e comprometimento, é toda a

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38 base do desenvolvimento reto e ideal para atingirmos uma Humanidade

com a consciência voltada para: a transformação de um mundo justo,

equilibrado, questionador, cooperativo, completo e unificado.

• Qualidade nº 1 – Estudo

O estudo é muito importante dentro de nossas vidas, pois é uma

das ferramentas mais importantes para adquirirmos maior consciência e

conseqüentemente desenvolvermos a nossa inteligência e memória.

Quando preenchemos nossa vida com o estudo de coisas morais,

virtuosas, decentes, significativas e amplas, estamos cada vez mais

adquirindo a base necessária para enxergarmos a verdade dentro de

nosso mundo. Podemos com isso transformar nossos sentimentos e

nossos atos.

Os nossos sábios sempre estudaram muito através dos tempos,

não só para serem eruditos, mas principalmente para deixarem uma

base de conhecimento qualitativa para adquirirmos o impulso ao nosso

autoconhecimento, transmitindo-o para as pessoas às quais estamos

ligados, sejam por laços familiares, afetivos, sociais, etc.

É através do estudo que aprendemos o que devemos praticar em

nossas vidas. Ninguém nasce sabendo! O estudo é uma das nossas

maiores fontes de obtenção de conhecimento.

Temos que ter como meta o estudar para trabalharmos no

desenvolvimento de um mundo melhor para toda humanidade. Se

estivermos buscando conhecimento para nós mesmos, se não o

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39 colocarmos em prática, nem transmiti-lo, com certeza ele vai se diluir

muito em breve e deixará de existir.

A Cabalá Contemplativa nos ensina que o processo de

aprendizado, para ser completo, tem que trabalhar tanto o cognitivo –

ensinamento e conhecimento, quanto o subjetivo – entendimento. E é só

através do estudo que conseguimos desenvolver o entendimento e

conseqüentemente dominar o assunto em questão; caso contrário só o

conheceremos muito superficialmente.

É muito importante que exista uma rotina diária de estudo para

que o aluno (discípulo) crie uma permanência e se torne cada vez mais

refinado e lapidado.

Um aspecto muito importante do estudo na Educação

Contemplativa, é que devemos sempre ter um direcionamento de alguém

confiável – nosso Mestre, para não cairmos no caminho do falso

conhecimento e para compartilharmos idéias e experiências adquiridas.

• Qualidade nº 2 – Ouvir atentamente

Esta qualidade é uma das mais difíceis de se adquirir como

hábito, pois se só o ouvir já é complicado, imagina o ter atenção no que

se está ouvindo. Somos condicionados por nossos egos a ouvir e dar

importância apenas a nós mesmos, nossos pensamentos e idéias.

Quantas vezes nos deparamos com conversas em que nos parece

que estão discutindo coisas diferentes. Isto é a falta de ouvir o que o

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40 outro está falando. O ouvir é uma qualidade muito importante para

trabalharmos também o entendimento.

Não é por acaso que grande parte dos ensinamentos da Cabalá

Contemplativa nos são transmitidos pela Tradição Oral através de

nossos Sábios (Mestres). Quando nos subordinamos a um Mestre, esta

qualidade é muito mais fácil de ser trabalhada, pois o exemplo e os

ensinamentos daquela pessoa são as principais referências para nossa

vida.

A Cabalá Contemplativa nos ensina que devemos escutar com o

coração, o que significa escutar com a ótica do que é verdadeiro. Com

isso entendermos as entrelinhas do que nos está sendo dito. É o ouvir

as palavras e compreender os seus significados.

A atenção aqui colocada é o foco fundamental que temos que

desenvolver em nossas vidas. Só com este foco, é que conseguimos

distinguir o que devemos fazer para nos tornarmos uma pessoa melhor,

determinar qual o caminho a seguir, quais as escolhas devo tomar, etc.

Na Cabalá Contemplativa, este foco é trabalhado principalmente

com a meditação, que é uma grande ferramenta de transformação a ser

ensinada dentro da Educação Contemplativa. Conseqüentemente

quanto mais meditativos nos tornamos, ouvimos melhor e com o

coração. Mais adiante, estaremos falando mais sobre a Meditação

Contemplativa.

Sem este foco no ouvir, estamos sujeitos a cair no equívoco de

escutar o que não foi dito. Grandes problemas na humanidade

ocorreram a partir desta situação.

Temos que ter muito cuidado com o que falamos para nossas

crianças. A maledicência, na maioria das vezes, é desenvolvida a partir

do escutar coisas erradas e falsas, e como as crianças ainda não

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41 possuem o discernimento de escolherem o que querem ouvir, acabam

aprendendo e sendo contaminadas por este que é um grande mal da

humanidade.

• Qualidade nº 3 – Clareza

Quando colocamos determinado assunto de forma clara e

ordenada, fica muito mais fácil sermos compreendidos.

O total domínio de um determinado assunto só é fechado na linha

de raciocino quando é colocado em palavras. Nossos pensamentos,

quando são moldados em palavras, não se dissipam com o

esquecimento, ficam fáceis de ser lembrados.

O ato de falar é um dos mais importante para a transmissão de

informações para outra pessoa e uma forma de colocar as coisas de

modo transparente e de fácil entendimento. Não é à toa que os líderes

que mais nos transmitem informações, influências e sentimentos são os

que falam brilhantemente.

A criança pequena aprende muita coisa através da fala, é uma

forma de ela expressar o que está aprendendo e querendo transmitir ao

outro.

É muito importante para o desenvolvimento da criança que ela se

acostume desde pequena a ir falando de forma ordenada tudo o que

está aprendendo. Esta forma de aprendizagem a ajuda no processo de

socialização, no desenvolvimento de liderança, na criatividade e no

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42 hábito de conviver e criar rotinas importantes para o seu equilíbrio e

segurança, entre outros.0

Vale a pena lembrar do cuidado que temos que ter com nossas

palavras, principalmente quando elas vão influenciar o aprendizado de

alguém. Como diz o profeta Jeremias, nossa língua é um arco e nossas

palavras são flechas.

• Qualidade nº 4 – Inteligência

Inteligência, na Cabalá Contemplativa, é compreender com o

coração, compreender com a verdade, pensando nos valores e virtudes

que determinado conteúdo está trazendo, juntamente com as bênçãos

que está trazendo atraindo para a nossa vida e, conseqüentemente,

para o nosso aprendizado.

Se compreendemos com o coração, só palavras do coração

também ensinaremos, já diziam os nossos sábios.

Compreender com o coração é colocar o amor, a bondade, a

beleza e a verdade dentro de nossa vida. Ao mesmo tempo é perceber

e despertar essas características dentro do universo em que vivemos.

Precisamos compreender que tudo o que nos chega, ou de bom ou

de ruim, vai gerar uma reação de aceitação e transformação ou negação

de algo, mas nos traz sempre uma mudança. Quando o coração é o

receptor disto conseguimos ter o controle de nossa vida e seguimos na

direção correta. É esta compressão que vai fazer a diferença em nossas

atitudes.

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43

• Qualidade nº 5 – Reverência

Reverência é ter admiração, mas também é ter respeito, algo que

hoje em dia, infelizmente, está fora de moda. Sem respeito a nossos

pais, educadores, mestres, amigos, enfim ao nosso próximo; nunca nos

tornaremos pessoas melhores.

A base que fundamenta esta questão dentro do processo da

Educação Contemplativa é explicada por Rav Mario Meir:

A reverência se refere à manutenção de normas,

procedimentos, disciplinas e protocolos que servem

para distinguir os discípulos do Mestre. Essa

distinção entre discípulo e Mestre acarreta a formação

de uma “distância” que permite assim que a base

moral seja transmitida. Tal distanciamento é

estabelecido por uma estética (forma) na relação

entre Mestre e discípulo. Esta estética (forma)

promove o surgimento de uma ética (conteúdo). A

forma (estética) se constrói através de ritos, normas e

procedimentos, por assim, dizer um protocolo no

exercício desta relação.

No caso da escola, se a criança não tiver reverência pelo seu

Mestre, é melhor que seja transferida para outra turma, porque senão o

aprendizado será em vão, sem resultados positivos em sua vida, pois

não aprenderá nada de significativo com ele.

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44 A reverência também está ligada à flexibilidade segundo a Cabalá

Contemplativa. Quem é muito rígido para ensinar ou aprender, quem

tem excessos de coisas, concepções pré-formuladas, jamais será bom

aluno (Discípulo), pois seus conceitos são tão rígidos que nada será

absorvido neles.

A devoção ao ato de ensinar do Mestre faz com que o discípulo

tenha uma reverência absoluta por ele.

• Qualidade nº 6 – Temor

O temor é a capacidade que temos de nos afastar das coisas que

nos fazem mal, o que evita de nos tornarmos levianos, imprudentes e

corruptos. É a precaução que temos que ter todos os dias em relação,

principalmente, a nós mesmos, nossa má inclinação, nossos atos e

nossas atitudes.

O poder está intimamente ligado ao temor. Muitas pessoas acham

que o poder é a capacidade de dominar pessoas, coisas ou situações;

oprimir, destruir; porém o verdadeiro poder está em nossa capacidade

de ter a possibilidade de fazer algo negativo e escolhermos não fazê-lo.

Ficar congelado ou estagnado diante de alguma situação, pessoa,

coisa ou fato, não é temor, mas sim medo e dúvida que são nocivos ao

nosso crescimento.

A ansiedade é absurdamente algo que nos afasta do temor, temos

que ter muito cuidado. A melhor ação para controlarmos esta sociedade

é não agir precipitadamente, mas esperar e depois sim agir.

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45 O zelo que temos com tudo em nossas vidas é construído com o

temor ao qual estamos subordinados. Sem temor não existe a

possibilidade de nos tornarmos éticos e confiáveis. É está prevenção

que nos faz buscar valores e virtudes para dentro de nossas vidas.

• Qualidade nº 7 – Humildade

A Humildade (modéstia) é com certeza uma difícil e importante

qualidade a ser adquirida. Ela toca em um elemento muito delicado de

nossa vida que é o nosso ego. Para a Cabalá a humildade é a mãe de

todas as virtudes e o primeiro passo para adquiri-la é a obediência.

Quanto mais nos aproximamos da verdade, e mais integrados e

disponíveis queremos nos tornar para o outro, mais humildes devemos

nos tornar.

A humildade nos torna pessoas grandiosas, livres de egoísmo,

orgulho, ganâncias, mesquinhez e ignorâncias, nos elevando para

propósitos mais sublimes e globais. Deixamos de querer ficar olhando

apenas para o “nosso próprio umbigo”.

Até os quatro anos de idade, a criança ainda é muito egocêntrica -

mas não egoísta, e é a partir desta fase que devemos trabalhar com

bastante afinco a virtude da humildade para que o egoísmo não passe a

tomar conta de sua vida. Devemos deixá-la com a convicção de que

seus atos e seus pensamentos são importantes para o mundo,

trabalhando sua consciência em se tornar humilde e co-responsável por

transformar o mundo em um lugar melhor para todos.

Page 46: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

46 Quanto mais humildes nos tornamos, maior será a nossa

capacidade de receber coisas boas e também a nossa predisposição de

nos esvaziar de coisas ruins. Quanto mais poder adquirirmos em nossa

vida, mais humildes devemos nos tornar. Temos que agir sempre com

muita prudência, muita cautela. Temos que tomar cuidado com nosso

ego, que muitas vezes no faz fingir sermos humildes, e na verdade é

pura hipocrisia. Se tivermos consciência de que tudo o que fazemos

poderá ser feito melhor, não correremos este risco.

O grande segredo para nos tornarmos humildes é estarmos

totalmente submetidos a nossos Mestres (pais, professores, etc). Assim

não damos espaço para nosso ego tomar conta de nossa vida nos

levando para o caminho da destruição. Quando reconhecemos que

nossos superiores são nossos maiores exemplos de sabedoria, através

da submissão abrimos uma porta para nos tornarmos cada vez mais

humildes e aptos para recebermos mais conhecimentos e ensinamentos.

Segundo Rav Mario Meir:

A humildade não significa timidez ou covardia. Muito

menos está atrelada ao espírito de resignação, a

humildade em sua forma mais sublime é a maior fonte

de poder pessoal. Por intermédio da humildade, o

cabalista torna-se apto para dominar toda e qualquer

das suas inclinações destrutivas e todo aquele que

conquista a si mesmo, conquista tudo. Os meios para

se obter a humildade são: o hábito de conduzir-se

com mansidão e docilidade; o pensamento – pensar

antes de falar; ter um Mestre; ser prestativo e desejar

servir.

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47

• Qualidade nº 8 – Alegria

A alegria aqui nos remete ao contentamento, ao prazer e à

satisfação. É o principal ingrediente que nos motiva a ir em frente e que

nos faz superar os problemas e obstáculos que surgem em nossa vida.

Ela é contagiante e nos livra de dois grandes males do século: o

estresse e a depressão.

O prazer em ensinar, estudar, viver... vem da alegria. A vida se

torna mais feliz, doce, significativa de forma que assimilamos e retemos

os valores e as virtudes de forma mais fácil. O otimismo que nos faz

acreditar e continuar lutando pelas coisas boas da vida está de “braços

dados” com a alegria, são complementares.

Quando cultivamos a alegria dentro de nossas vidas nos tornamos

mais serenos, iluminados e confiantes. A alegria faz com que a

Sabedoria entre em nossas vidas e nos ajude a transformar os fardos da

existência em oportunidades de crescimento. A alegria, por si só, não

elimina os problemas, mas ajuda a enfrentá-los e resolvê-los.

• Qualidade nº 9 – Pureza

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48 A melhor forma de ter e ser exemplo de pureza, está em conduzir

nossas palavras e atitudes baseadas no amor, de forma clara e

transparente. A pureza está ligada à perfeição.

Quando somos puros, límpidos e conduzidos pela Luz Espiritual,

conseguimos contaminar a todos a nossa volta, pois conseguem ver

realmente quem somos e abrimos o caminho para que o bem predomine.

A falta de clareza nos torna ambíguo e isso nos tornar um perigo

perante nós mesmos e em relação ao mundo em que vivemos. Muitas

guerras e confrontos surgiram de uma questão ambígua.

Ter discernimento é extremamente necessário para chegarmos a

esta purificação, e conseguir nos resguardar de sermos egoístas.

O grande problema da atualidade não é que a força do mal é

dominante, mas é que o bem tem sido covarde. Se o bem for exposto de

forma pura e não omissa, com certeza vamos ter um mundo bem mais

belo e equilibrado.

A serenidade, o foco e o silêncio desenvolvem um estado de

vigilância necessário para tornar a pessoa cada vez mais pura.

As crianças são nossos melhores exemplos de pureza, tudo o que

temos de fazer é não deixar que esta essência se contamine e corrompa

com o passar do tempo. Que possamos ser os exemplos mais concretos

para elas! Temos que cultivar bons pensamentos, boas ações e muitos

atos de compartilhar para contagiá-las.

• Qualidade nº 10 – Servir aos Sábios

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49 Servir é estar à disposição, mas aqui também possui o sentido de

conviver.

Só através deste convívio é que conseguimos aprender a praticar

o que nos foi passado por nossos Mestres na teoria. Por isso, a

importância de vivermos em comunidade também, para pôr em prática

aquilo que estamos aprendendo.

Às vezes a melhor das intenções de fazer algo da forma que

julgamos correta faz com que um grande mal ou problema seja gerado.

Conhecer alguma coisa a partir de alguém, mas não aprender de fato

como deve ser feito, faz com que possamos fazer algo da forma errada.

Muitas vezes a teoria é uma e a prática é outra.

A ação, a imagem, o estar ali perto e observar, nos torna mais

experientes, e muitas vezes o que não aprenderíamos nunca com

palavras, aprendemos ali naquele instante.

Quando nos tornamos centrados e disponíveis nossa capacidade

de absorção de aprendizado aumenta completamente.

Nesta qualidade mora a virtude da auto-anulação que é um estado

de recolhimento, contração e subordinação em relação a nossos

Mestres, para que a solução, os valores e as virtudes penetrem em

nossa vida.

O nosso grande problema é que servir, estar disponível a alguém

ou a algo é muitas vezes visto de forma ruim. Tolos não conseguem

enxergar a grandeza de atos simples que nos trazem grandes

aprendizados. Muitas vezes nossa escolha é de sermos tolos.

Como nos diz Rav Mario Meir :

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50 Ser discípulo é mais difícil que ser mestre, estar apto

a aprender é mais difícil que estar apto a ensinar,

porque estar apto a aprender não necessariamente

envolve a competência de quem ensina; aquele que

está apto a aprender pode aprender de qualquer

pessoa, até mesmo com aquele que sabe menos do

que ele.

• Qualidade nº 11 – Aproximação dos companheiros

Quando aceitamos o outro como companheiro, amigo, estamos

abrindo nossa mente para a entrada de novas informações e conteúdos.

Claro que temos que ter cuidado com quem criaremos nossos

vínculos, a escolha em termos amigos honestos, sérios e de caráter

exemplar é fundamental.

A Cabalá Contemplativa nos diz que atraímos e escolhemos

sempre os que se assemelham a nós, mas os que são diferentes

também nos ensinam e muito, nem que seja o que não devemos seguir e

fazer.

A interação com as pessoas, a troca de experiências, as

informações, os vínculos de amizade, nos tornam pessoas melhores,

mais desenvolvidas, sociáveis e estimuladas.

Quanto a mais pessoas nos ligarmos, maior será o nosso

crescimento em todos os campos. A troca de informações entre pessoas

faz com que elas cresçam de forma ampla e aprofundada.

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51 O nosso progresso também surge da interação que temos com o

outro, pois o outro influencia muito aquilo que está a nossa volta.

Como nos ensina Rav Mario Meir:

Os Mestres recomendavam que os estudos fossem

realizados em grupos. Quando duas pessoas

estudam juntas, fica mais difícil cair na tentação de

possuir a verdade inacabada. O contato com o

companheiro serve para desarrumar as falsas

certezas. Não é à toa que a palavra hebraica Biná,

que significa discernimento ou inteligência, se origina

da palavra “bêin”, que quer dizer “entre”. Ou seja, o

discernimento só pode nascer quando é construído

entre as pessoas através do diálogo. (aula de Sitrei

Torah – O Primeiro Portal)

• Qualidade nº 12 – Debate com os discípulos

Quando o Mestre está aberto a debater de forma grandiosa com

seus discípulos, está apto a ser um grande Mestre.

Assim como os alunos entre si interagem e crescem, nesta relação

entre mestre e discípulos o mesmo acontece.

Todos nós estamos na constância de estarmos sempre em

processo de aprendizado e as inquietações, o desejo de conhecer e de

aprender de nossos discípulos nos dão os ingredientes necessários para

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52 desenvolvermos a habilidade de sermos cada vez mais um ser humano

de muita experiência, devoção e crescimento.

A busca de um Mestre por encontrar as respostas para seus

discípulos o transformará em um ser humano cada vez mais sábio e

refinado em suas respostas e atitudes. Ele se tornará um poço de

Sabedoria e um condutor para estas futuras gerações. Com certeza terá

uma vida expressiva e será sempre lembrado, mesmo após longos anos

como um ser humano de muitos valores.

• Qualidade nº 13 – Sobriedade

Sobriedade nada mais é que ter e saber utilizar e aplicar o bom

senso dentro de todos os momentos e de nossa vida, seja dentro de uma

discussão, no estudo, no ajudar um discípulo em alguma dificuldade,

etc.

Aqui reside uma palavra muito importante que é a ponderação.

Ponderar é refletir, pesar, pensar e avaliar moralmente, o ponto de vista

e a opinião do outro, principalmente, verificando a importância dele

como um complemento e um instigador para o nosso desenvolvimento

pessoal - autoconhecimento. As diferenças completam um todo.

É saber julgar o outro de forma moderada e verdadeira. Para isto

temos que ter muito cuidado e a melhor forma para ter este estado de

lucidez com o próximo é ter uma quietude em todos os nossos passos

com amor e desejo de ajudá-lo.

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53 O discernimento também é muito importante. Temos que estar

cientes do mundo a nossa volta, seja a comunidade, a escola, o nosso

país; conhecer para estar ciente e se conscientizar de seus problemas,

idéias e atitudes.

Pequenos atos e ações de comedimento nos ajudam muito a

chegar ao equilíbrio necessário para esta moderação essencial para o

bom senso reinar de forma virtuosa e prudente.

Lembre-se que o seu direito termina onde o direito do próximo se

inicia. A educação e a sensatez nos ajudam a saber encontrar essa

fronteira de respeito e coerente neste fio que une e ao mesmo tempo

nos separa do outro.

A assiduidade também está ligada à sobriedade. Quando nos

tornamos mais participativos das situações que acontecem, se estamos

lá assiduamente, nos faz entender de forma mais concreta, onde estão

os limites e o cerne daquela situação.

• Qualidade nº 14 – Conhecimento da Escritura,

conhecimento da Tradição

Aqui interpretamos a Escritura e a Tradição como as nossas

fontes de conhecimento.

Quando nos dedicamos a aprender e conhecer cada vez mais o

assunto a que estamos sendo apresentados, seja na escola, em casa,

com um colega; estamos nos tornando pessoas com um potencial de

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54 entendimento rumo ao trabalho qualitativo e quantitativo. Vamos nos

tornar o diferencial!

A base da ética e da moral também está pautada na nossa

capacidade de nos desenvolvermos e caminharmos em direção ao

estudo, através de uma constância e do aprimoramento que nos remete

a uma busca permanente de atingirmos níveis mais elevados.

É extremamente instigadora a busca de conhecermos

profundamente assuntos que nos levem a um desenvolvimento tal que

nos faça encontrar e deixar aflorarmos o melhor de nós mesmos.

Estudar de tudo apenas um pouco, nos torna uma pessoa oca por

dentro, sem aprofundamento, substância, embasamento e equilíbrio.

Seremos apenas uma casca de falso brilho que com o tempo vai cair e

desmoronar revelando a escuridão interior.

• Qualidade nº 15 – Poucos negócios

Temos que pensar sim em buscar um trabalho que nos dê

sustento, mas não podemos visar somente ao desejo de acumular

atribulações, responsabilidades ou dinheiro e esquecer de viver. Esta

idéia é muito importante, já precisa ser trabalhada em cada um de nós

desde crianças bem pequenas.

Tal busca deve ser minimizada e reduzida sua importância, pois

temos que pensar no bem estar de nossas vidas e das outras pessoas

pelas quais nos tornamos responsáveis, como por exemplo nossos

filhos.

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55 Toda esta questão surge porque hoje em dia grande parte dos

pais esquecem de suas obrigações como pais e mestres, e acabam

largando a educação de seus filhos e o prazer de vê-los crescer.

É muito importante que possamos participar de todos os

momentos do desenvolvimento daquele pequeno ser e nos tornamos

exemplos para que eles também possam no futuro se tornar adultos

exemplares também para as futuras gerações.

Não podemos nos tornar escravos desta rotina robótica de

trabalhar e acumular, acumular e não viver e aproveitar os simples

momentos que a vida nos oferece.

Devemos focar diariamente a busca do autoconhecimento através

do estudo e da prática de valores e virtudes que serão a base do nosso

caráter e conseqüentemente a estrutura de conduta de nossa rotina

dentro da atividade comercial que escolhemos para a nossa vida.

• Qualidade nº 16 – Poucas relações mundanas

Devemos nos dedicar a conhecer o mundo a nossa volta, saber as

regras da sociedade da qual fazemos parte, porém é muito importante

que essa vida social muitas vezes desigual e distorcida não nos

contamine e corrompa.

Temos que ter o nosso caráter bem definido, embasado e traçado,

e não deixar que questões duvidosas que estão fora de nós passem a

fazer parte de nossa vida.

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56 Quando nos ocupamos apenas com as questões mundanas,

perdemos parte de nossa identidade e passamos a colocar em risco a

parte de nós que estará fazendo as escolhas importantes na vida.

Quem vai nos governar serão nossos impulsos negativos que enxergam

somente aquela fatia estreita de uma face da realidade a qual

pertencemos.

• Qualidade nº 17 – Poucos prazeres

É preciso controlar essa nossa inclinação que busca apenas os

prazeres instantâneos e falsos. Quando estamos submersos apenas no

prazer que o mundo nos oferece, nos tornamos seres insatisfeitos,

ansiosos e infelizes; pois nada vai nos satisfazer. E quanto mais

buscamos, mais nos enganamos com essa falta saciedade.

É muito comum escutarmos que as pessoas não estão buscando o

seu desenvolvimento pessoal, seu autoconhecimento, por falta de

tempo. Mas na verdade a falta de tempo é a falta de prioridade de

buscar o conhecimento necessário para nos tornamos pessoas mais

virtuosas, valorosas, éticas e morais.

Estar inserido neste mundo, neste contexto, mas sem nos deixar

violar pelo que é falso, obscuro e degradante é uma tarefa difícil mas

necessária para nos tornarmos plenos e com isso contaminarmos o

outro com o bem.

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57 • Qualidade nº 18 – Dormir pouco

Há comprovação científica de que o sono é uma necessidade

física para dar força e vitalidade ao nosso corpo físico.

A quantidade de sono deve ser na medida certa para que não nos

tornemos pessoas preguiçosas e petrificadas. A dosagem certa nos

trará os benefícios para nos encontrarmos em equilíbrio interno e

externo.

Assim como o excesso de trabalho pode nos trazer muitos

problemas, o excesso de sono também nos é muito prejudicial. Na

verdade todos os excessos são prejudiciais.

Os sábios da Cabalá Contemplativa nos ensinam que, inclusive, é

muito construtivo estudarmos um pouco no período da noite, por ser um

período do surgimento de grandes idéias.

• Qualidade nº 19 – Poucas conversas

A pessoa que fala muito acaba se desconcentrando e levando o

outro a se desconcentrar também.

Muitas vezes a conversa paralela em vários ambientes ou

situações, como na escola por exemplo, é a grande causadora do baixo

rendimento e compressão de uma pessoa. A criança acaba perdendo

muita coisa que o professor está dizendo e fica muito prejudicada em

seu aprendizado.

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58 Devemos conversar somente o necessário com o outro, até para

não acabar nos tornando pessoas inconvenientes, sem conteúdo e

espaçosos. Quem fala muito e à toa certamente não será uma boa

companhia ou uma boa amizade para o outro.

Quando entramos em uma boa conversa ou discussão, certamente

preferimos as pessoas que falam de forma breve e concisa, aqueles que

falam de forma muito requintada e com muitos floreios quase sempre

nos cansam e logo jogamos o foco para outro lugar ou pessoa.

Para sermos precisos em algo, é muito importante termos não só o

pensamento exato para o que queremos dizer, como falar o necessário

para expor aquela idéia. O excesso de palavras é altamente descartável

e prejudicial.

Falar demais também acaba abrindo uma brecha para duas coisas

muito degradantes ao caráter de uma pessoa: as conversas frívolas,

levianas e ao que chamamos de Lashon HaRah que é a maledicência e

a descreveremos mais detalhada na qualidade 32.

Devemos preferir o silêncio muitas vezes, pois ele nos mostrará a

verdade em muitas situações que de tanto que falamos sem

necessidade, a deixamos passar.

É muito bom nos tornarmos pessoas cautelosas, misteriosas e

equilibradas, por serem características que nos ajudarão a nos

tornarmos pessoas melhores e a encontrarmos os nossos verdadeiros

propósitos aqui perante o mundo. Para isso, falar somente o necessário

é de grande contribuição.

Como diz um grande sábio, Salomão no livro de Eclesiastes (3:7)

“... tempo para manter silêncio e outro para se pronunciar”.

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59

• Qualidade nº 20 – Poucos risos

Esta qualidade é bem próxima à qualidade anterior. Sabemos que

o riso é um restaurador, um alimento para a alma, traz o bom humor

para nossa vida e nos ajuda a contaminar o outro com nossa alegria.

Porém deve ser medido e dosado de forma a não ser confundido com

falta de respeito e imprudência.

Às vezes um sorriso na hora certa ajuda o outro a iluminar sua

vida. Quantas vezes estamos preocupados com nosso mundo

mesquinho e problemas pessoais, e nos deparamos com uma criança

que abre um belo sorriso em nossa direção, transformamos o nosso dia

e até nossa vida.

O riso em excesso pode ser confundido ou transformado em

zombaria, desrespeito, escárnio, deboche ou sarcasmo. Além de nos

tornar desconcentrados. Certamente já escutamos a seguinte frase de

alguém: “ri na hora errada”. Temos que ter muita cautela e cuidado com

o riso. Existe a hora em que coisas sérias estão sendo pronunciadas ou

discutidas e um riso neste momento pode levar tudo a se perder.

Como diz o grande sábio Rabi Akiva: “Risos e leviandade

conduzem o homem à libertinagem”. (Pirkê Avót, Capítulo 3, Mishnah

17)

• Qualidade nº 21 – Paciência

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60 Aqui realmente mora um grande desafio para todos nós: a

paciência.

O grande sábio Salomão nos diz: “Quem tem paciência tem

grande entendimento, mas o impaciente de espírito louva a tolice.”

(Provérbios 14:24)

É muito difícil trabalharmos esta característica dentro de nossas

vidas, é quase que algo obsoleto dentro do mundo de hoje, onde o amor

e a compreensão ao próximo é algo esquecido no tempo.

Tanto para Mestres, quanto para discípulos, há a certeza de que

esta virtude é essencial para a relação entre ambos, senão o vínculo

não se fortifica nem tampouco se consolida. Verdadeiramente é uma

das bases para quaisquer relações.

A perseverança deve ser constante para nos fortalecer a buscar

este equilíbrio. Pois a paciência tira as cascas de nossos olhos, para

que possamos compreender tudo o que surge ao redor em nossa vida.

Quando deixamos a ira tomar conta de nossas vidas, somos

contaminados por ansiedades, grosserias e agressividades, que vêm a

nos deixar em um mundo caótico e confuso.

Quando o educador possui esta virtude, ele se torna uma grande

referência, pois mesmo que tenha “em mãos” uma pessoa com

dificuldades na aprendizagem, ele repete e ensina diversas vezes,

transmitindo àquele aluno que ele é importante, e despertando o melhor

que aquele ser humano possui para se tornar uma pessoa de sucesso

futuramente rompendo as barreiras que construiu ou mesmo possui em

sua vida.

Um grande ensinamento nos é transmitido por Rav Mario Meir:

“Nossos sábios ensinam que a melhor forma de lutar contra a ira é

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61 permanecer calado, e a melhor maneira de neutralizar a inveja é ignorá-

la.”

• Qualidade nº 22 – Bom coração

A melhor forma de desenvolvermos esta qualidade é buscar a

generosidade dentro de nós em qualquer aspecto de nossas vidas.

A pessoa generosa é aquela que acolhe a todo ser humano como

se fosse acolher a si mesmo. É um ser que tem aflorado em si a

amabilidade, a benevolência, a cordialidade e a beleza. Possui um

semblante agradável e contamina a todos a sua volta com seu amor por

tudo e por todos. Realmente é uma pessoa iluminada.

Quando possuímos estas características, também as

demonstramos em todos os aspectos de nossa vida, deixamos

transparecer nos pequenos gestos e atitudes, como por exemplo:

quando nos esforçamos para aprender com nossos superiores.

Certamente aquele que se torna mesquinho, sempre criticando o

outro, diminuindo a importância de seu próximo, tentando o destruir e

fazendo com que suas próprias atitudes pareçam mais elevadas e

importantes, não possui esta qualidade em sua vida.

• Qualidade nº 23 – Certeza nos Sábios

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62

Primeiramente explicaremos o que significa certeza para a Cabalá

Contemplativa. CERTEZA em hebraico se escreve EMUNÁ que tem seu

significado ligado à ação, a caminhar com nossas “próprias pernas”,

algo dentro de nós mesmos, e não FÉ que está mais ligada a uma

expectativa de que algo fora de nós vai nos modificar ou criar milagres

em nossa vida.

Então, essa certeza é exatamente a confiança que temos que ter

para transformarmos a nossa vida a partir da auto-anulação de

conceitos e formas equivocadas que temos dentro de nós e nos

impedem de irmos em frente.

Quando criamos esse vínculo forte e solidificado de certeza em

alguém que confiamos, abrimos a porta para o conhecimento, o

entendimento e a sabedoria. Senão, ficamos presos a nosso mundo e

não conseguimos enxergar e aprender o que está além de nosso próprio

umbigo. Deixaremos então de ser ignorantes.

A falta de certeza e confiança também nos fecha a possibilidade

de aprendizado, já que não conseguimos nos identificar com a

integridade, a sinceridade, e os outros valores e virtudes daquele que é

nosso Mestre. Não conseguimos compreender o que está além do

escrito e falado e é o que mais nos ensina e desenvolve - as

entrelinhas.

• Qualidade nº 24 – Resignação no sofrimento

Page 63: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

63 Aceitar as provas que passam em nossa existência é um grande

teste e aprendizado para que possamos nos tornar uma pessoa serena e

disposta a caminhar em frente.

O sofrimento é um grande auxiliador no nosso crescimento, pois

gera em nossa vida reflexões sobre atitudes, pensamentos, condutas e

perdas que nos permeiam quando ele surge. O seu propósito é para o

bem, para nos tornar pessoas melhores.

É muito comum só passar a dar valor a uma determinada coisa em

nossa vida, após um grande sofrimento que muitas vezes foi gerado por

uma grande perda.

Temos que ter em mente que o sofrimento quando surge em algum

momento e quase sempre de supetão, traz obstáculos que devemos

encarar como oportunidades para o nosso crescimento.

Muitas vezes nos colocamos como coitadinhos em determinadas

situações (como por exemplo a repetência escolar), mas quando vamos

investigar a fundo (temos que ter consciência e já desenvolver isso em

nossos discípulos), entendemos que nós mesmos plantamos aquela

semente em nossa vida.

Usar o sofrimento como uma forma de purificação de nossos atos

e atitudes nos torna uma pessoa com mais fortalecimento em todos os

seguimentos de nossa vida.

• Qualidade nº 25 – Conhecer o seu lugar

Page 64: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

64 Essa qualidade é muito ligada à questão de subordinação e

propósito.

Às vezes achamos que o outro tem um nível maior ou ocupa um

lugar mais importante que o nosso, mas se analisarmos de forma

verdadeira, podemos até descobrir que aquilo que parece melhor é um

fardo e um problema muito grande para o outro.

É mais fácil invejar o outro do que descobrirmos a importância de

nosso lugar e começar a cumprir nosso propósito de forma bela e

contagiante.

Quando compreendemos a nossa vida, nossa relação com o outro

e a função que estamos exercendo naquele determinado momento,

temos então consciência do lugar tão certo e importante que estamos

ocupando.

Como nos ensina o grande sábio Rebbe de Lubavitcher:

“Nunca subestime o poder de um ato simples e puro,

feito com o coração. O mundo não é transformado por

homens que movem montanhas, nem pelos que

lideram as revoluções, e nem por aqueles que o

dominam financeiramente. Ditadores são depostos, a

opressão é suprimida, nações inteiras são modificadas

por um pequeno número de atos de beleza

executados por um punhado de soldados

desconhecidos.” (Lubavitcher,

www.fundojovem.com.br)

Page 65: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

65 • Qualidade nº 26 – Contentar-se com a sua porção

A primeira coisa que devemos refletir aqui nos vem de um grande

ensinamento de Rav Mario Meir: “Ter TUDO não significa ter MUITO”.

Ter muito é um grande equívoco que o mundo moderno tem cada

vez mais incutido dentro de nossa vida: quanto mais eu tenho, mais vou

ser feliz, mais vou ser importante, mais vou ser reconhecido,... e assim

por diante. Como exemplo, vemos crianças que têm tudo do bom e do

melhor e são infelizes, pois constantemente convivem com a ausência

física, afetiva e emocional de seus pais.

Quando compreendemos que temos tudo o que precisamos para

nos tornamos pessoas corretas no caminho da conduta e da moral,

encontramos nossa paz de espírito.

Contentar-nos com a nossa porção nos afasta de sentimentos

mesquinhos e degradantes como o rancor, a inveja, angústia e a

vingança.

• Qualidade nº 27 – Medir suas palavras

Muitas pessoas acreditam que o único modo de agir de forma

errada é através de atitudes e ações, mas a palavra é um dos meios

mais corrosivos que podemos usar para causar uma destruição muitas

vezes irreversível em alguém ou em alguma situação. Um simples

comentário pode ser fatal para que a felicidade de alguém seja abalada.

As palavras expressam pensamentos e temos que ter muito autocontrole

com o que falamos.

Page 66: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

66 Devemos ser muito cautelosos com tudo o que falamos,

principalmente em relação às pessoas e às coisas externas. O limite é

fundamental.

Já nos deparamos, com certeza, com situações que uma simples

palavra mal colocada possa ter destruído uma amizade ou mesmo um

relacionamento. Também devemos nos conscientizar que este ato de

colocarmos uma palavra mal dita, nos traz muitas vezes conseqüências

irreversíveis, como: perder o nosso respeito ou a nossa credibilidade.

Os pais ou educadores, mesmo sem perceber, podem com um

simples comentário causar problemas na formação e na personalidade

de uma criança. Quando muitas vezes, em diversas situações, a

comparamos com outras crianças que tenham conseguido algo a mais

como uma nota mais alta, podemos, ao invés de ajudá-la, criar um

bloqueio em seu desenvolvimento, e ela vai crescer acreditando que é

“burra” ou incapaz de conseguir alcançar um patamar mais elevado

nesta área.

Uma palavra recheada de malícia, sarcasmo, ironia, desdém ou

mesmo uma palavra dita sem pensar, pode facilmente ferir alguém,

principalmente uma criança que está na fase da Educação Infantil onde

este tipo de linguagem a deixa confusa e em desequilíbrio, pois não tem

ainda o discernimento para assimilar este tipo de jogo com as palavras.

Todo cuidado é pouco, cada pessoa é uma pessoa e devemos ter

muita precisão no que estamos querendo falar para não prejudicar o

próximo. Como nos diz Rav Mario Meir: “Palavras são como anjos, você

as deixa livre quando fala e torna-se eternamente responsável pelos

caminhos que elas vão percorrer.”

Page 67: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

67

• Qualidade nº 28 – Não exigir créditos para si

A autopromoção é um dos piores desvios da humildade. Se não

somos modestos, não podemos nos considerar na direção do caminho

da retidão.

Merecemos respeito, consideração e honra por cumprir nossas

realizações, mas não podemos esquecer que elas são parte de nossa

obrigação e estamos apenas cumprindo o nosso propósito e o que já

esperam que façamos.

A felicidade que temos que buscar em nossa vida é a de ter a

possibilidade de aprender e realizar coisas significativas para nós e

para o mundo em que vivemos.

• Qualidade nº 29 – Ser amado

No papel de mestres ou discípulos, somos observados e copiados

a todo instante e temos que ter muita preocupação em ser um exemplo

vivo de valores e virtudes através de nossos modos e de nosso

comportamento. Ser esse exemplo é muito importante para nos

tornarmos seres amados.

Devemos sempre nos preocupar com o próximo, com suas

necessidades e dar-lhe atenção, carinho e apoio. Com isso estamos

criando uma admiração e um referencial pelo outro.

Page 68: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

68 É fundamental que esse amor venha primeiro de dentro de nós

para com o próximo, que seja genuíno e solidificado, senão serão

apenas aparências que se desmoronarão com o tempo.

O amor não é apenas uma qualidade específica da

alma, mas um poder geral, presente na escala

completa de propriedades intelectuais, emocionais e

intrínsecas da psique humana. (Rav Mario Meir)

• Qualidade nº 30 – Amar o Todo-Presente

Para a Cabalá Contemplativa D’us é a única Fonte de Energia -

Luz Espiritual, Criador - existente. Portanto não é “algo” ou “alguém”

que pode nos punir ou nos tratar como “queridinhos”. A Luz Espiritual é

Onipresente e Onipotente, sua essência é o desejo de compartilhar; e

cabe a nós trabalhar nossas qualidades e virtudes que nos colocam em

semelhança com esta Fonte para usufruirmos de uma vida plena e

equilibrada.

O Amor a D’us é a capacidade que temos de nos aproximar das

coisas que nos fazem bem.

Para nos tornarmos sua imagem e semelhança temos que

desenvolver a verdade, a devoção, a beleza, a bondade, e tantas outras

virtudes dentro de nossas vidas. Temos que contaminar o universo com

nossa essência. Vamos nos dedicar e nos esforçar para aflorar estas

características em nós mesmos e no outro também.

Page 69: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

69 Temos que amar as coisas simples da vida e ter muito zelo e amor

por tudo o que possuímos.

• Qualidade nº 31 – Amar o seu próximo

O amor ao próximo é a base da Cabalá como já citamos acima.

É nossa obrigação sermos afetuosos com todos, independente se

gostamos ou não daquela pessoa.

Como nos ensina o grande sábio de nossa Tradição, Hilel: “Não

faça aos outros o que não deseja que façam a Ti!”(Pirkei Avot). Se você

não gosta que alguém grite com você, então não grite com seu aluno ou

filho, por exemplo. O nosso direito termina onde começa o direito do

outro. Esse é um grande passo para progredirmos, uma grande virtude

a ser adquirida.

Cada um de nós possui algo que nos é peculiar e que nos faz ter

um valor inquestionável para a formação de um todo que é a

humanidade. Com isso, somos imprescindíveis para que o outro se

torne um ser completo.

Temos que pensar em nos tornarmos a cada dia pessoas mais

flexíveis, com ações, pensamentos, palavras e sentimentos sempre

direcionados a tornar o nosso mundo melhor.

Uma boa forma de trabalharmos este aspecto em nossas vidas é

oferecer nossa ajuda ao próximo. Quando nos oferecemos e nos

tornamos úteis a alguém, olhamos de forma mais positiva e favorável

Page 70: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

70 para as pessoas. Vamos desenvolver uma afeição pelo próximo e nos

tornaremos pessoas melhores.

Muito fácil seria falarmos sobre o dever espiritual de

“amar o próximo” como sendo um mandamento moral

e conceitual. Acontece que a Cabalá Contemplativa

afirma não ser esse o processo. Atingir o estado de

CHASSID(piedoso) é a tarefa de toda uma vida, um

exercício espiritual que envolve toda a Árvore da

Vida, principalmente o desenvolvimento do foco

(cavaná) e da beleza (tiferet). Isto ocorre pois existe

um grande mistério por trás da palavra AMOR (ahavá)

em hebraico. É preciso construir tal traço de caráter e

de personalidade, pois que o amor não é uma ação

local, mas antes disso deve ser um movimento

permanente, um eterno ato amoroso e não apenas

uma inspiração movida e instigada por desejos

momentâneos. Por isso “amar ao próximo” não deve

ser um conceito subjetivo e abstrato, e sim uma

expressão viva a ser comprovada no cotidiano

daquele que se dedica ao caminho da Luz Espiritual,

levando o homem para além de sua condição

superficial. Para Rav Avraham Abulafia, este conceito

transcende o ideal moral. Para o Mestre, era

necessário absorver a essência da Luz Infinita

(denominada de Shechiná), levando o homem para

além de sua condição superficial. (Rav Mario Meir)

Page 71: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

71 • Qualidade nº 32 – Amar a retidão, amar a justiça

Nesta qualidade nos deparamos com muitas questões pertinentes

ao seu desenvolvimento.

A primeira questão que vamos enfatizar é a precaução que está

totalmente ligada ao modo de agir com muita cautela, prudência e

ponderação em nosso caminho. É através da precaução que

conseguimos nos manter de forma atenta para os obstáculos e tropeços

que possam surgir no caminho. E também modificarmos hábitos e

costumes, a partir de uma auto-análise do nosso passo a passo diário.

A integridade é um ponto também muito ligado à retidão. Ser

íntegro é ter caráter, ser honesto, imparcial com tudo, seguir e se

dedicar ao que é verdadeiro, não ter dois pesos e duas medidas nem

favoritismos.

O Lashon HaRah (maledicência) dentro de nossa tradição, é a

principal causa da falta de integridade de uma pessoa. Maledicência

não é só falar algo de mentiroso ou ruim de alguém - conhecido

popularmente como fofoca, mas também se lamentar o tempo todo de

nossa vida, falar uma verdade de alguém que lhe possa depreciar ou

humilhar, ou mesmo escutar alguém falando algo de ruim ou

depreciativo de outra pessoa.

O furto (roubo) também é um ponto que nos coloca distante da

integridade. E roubo não significa apenas roubar algum objeto de

alguém, como ainda colocar algum empecilho para que o outro não

chegue a determinado lugar ou patamar; é roubar o tempo de alguém

com coisas inúteis e frívolas; entre outras coisas que nos parecem

inofensivas.

Page 72: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

72 A Cabalá Contemplativa também nos ensina que a intriga (quando

participamos de uma disputa egóica entre duas pessoas), a calúnia

(ressaltar o aspecto tortuoso de alguém) e a vingança (ficar fomentando

o desejo de “dar o troco”), também nos conduz à falta de integridade.

A justiça já está ligada a outras características não menos

degradantes como a mediocridade, a indiferença, a crueldade, a

violação principalmente de identidade e de caráter do outro, a maldade,

a distorção, a corrupção, a intolerância; a tragédia, e a frieza à dor e ao

sofrimento alheio.

Na Cabalá Contemplativa, uma grande ferramenta que utilizamos

desde quando somos criancinhas é a prática do tzedacá. Nada mais é

que ter um cofrinho onde depositamos algumas moedas ou notas para

serem direcionadas à caridade, ajudar ao outro e a nós mesmos que

estamos com isso desenvolvendo uma ação de injetar uma forma de atos

de bondade em nossa vida.

Como nos afirma Rav Mario Meir: “Temos que nos preocupar em

SER e não em TER.”

• Qualidade nº 33 – Prezar as críticas

A crítica deve ser sempre recebida de bom grado, pois nos faz

enxergar, pela advertência do outro, nossas falhas e nossos erros, e

passamos a ter a oportunidade de nos percebermos de uma ótica

externa.

Page 73: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

73 Na busca pelo autoconhecimento e auto-aperfeiçoamento, em que

almejamos nos tornar pessoas mais sábias, virtuosas e retas, as

contribuições são inumeráveis e incontestáveis em relação as críticas

que recebemos.

É muito benéfico e necessário ter alguém exigente que esteja a

nosso lado - como Mestres e companheiros, para acrescentar e purificar

o nosso caráter.

Sem críticas não se tem como melhorar. E se falhamos e não

enxergamos, nem temos quem nos ajudem, nos tornamos pessoas

estagnadas e presas em uma falsa aparência, gerando-nos uma falta de

caráter.

As críticas também nos ajudam de forma muito positiva, a

quebrarmos os nossos maus hábitos que muitas vezes não enxergamos

sem a ajuda do outro. Como nos diz o Rei Salomão: “hábitos são como

fios. Fios isolados podem ser facilmente quebrados, mas se você

agrupar diversos fios juntos, eles tornam-se tão resistentes como uma

corda forte.”

• Qualidade nº 34 – Afastar-se das honrarias

Esta qualidade é desenvolvida quando temos a qualidade da

humildade penetrada dentro de nosso íntimo.

Reconhecer que estamos fazendo um bom trabalho, que estamos

educando bem nossas crianças, etc. é importante, mas não podemos

esquecer que existe sempre pelo menos outra pessoa que também faz

Page 74: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

74 parte de tudo o que ocorre em nossa vida. Nós não somos os únicos

responsáveis pelos sucessos, as “boas idéias” e os resultados positivos

que ocorrem quando estamos representando ou desenvolvendo uma

determinada situação e nos responsabilizando por ela.

• Qualidade nº 35 – Não inflar o coração por causa do

conhecimento

Aqui já estamos falando de quando não conseguimos desenvolver

a qualidade acima e então nos cegamos com nosso orgulho.

A pessoa que realmente se coloca no caminho da aprendizagem

com verdade, sabe que quanto mais ela aprende sobre algo, menos

sabe. Podemos aprender a cada momento uma coisa nova, há

conhecimentos por todos os lados a nossa espera, bastar estarmos

abertos e receptivos para que eles cheguem até nós.

• Qualidade nº 36 – Não se deleitar em dar ordens

Sentir-se superior a todos e a tudo é um defeito muito grave.

Temos que enxergar que não somos melhores que ninguém, apenas

diferentes.

Page 75: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

75 Muitas pessoas se acham superiores e saem por aí emitindo

ordens e humilhando e pisoteando as pessoas ao seu redor. Não

podemos nos deixar levar por este impulso e temos que aprender a

ajudar as pessoas e a trabalhar junto com o outro. Tentar mandar nos

outros é algo muito negativo e depreciativo para quem está tendo esta

atitude.

Existem muitas pessoas que também se acham o máximo. Agem

como se soubessem tudo e como se fossem conhecedores de tudo; mas

na verdade estão enxergando e se baseando em uma auto-imagem falsa

e vivem nesse mundinho de ilusões sem conseguir evoluir e modificar o

seu caráter. “As nossas ações devem sempre conter as sementes de

humildade. A humildade é refletida pelas decisões de discrição,

compaixão, gentileza, cuidado e moderação”, diz Rav Mario Meir.

• Qualidade nº 37 – Ajudar o próximo a carregar o seu jugo

É com isto que deixamos de ser seres humanos centrados e

solitários em nosso próprio ser, e nos tornamos parte de um grupo.

Começamos assim na família, depois na escola, nos grupos sociais e

assim por diante.

Um exercício muito importante para desenvolvermos esta

sensibilidade, este olhar para o outro, é trabalharmos de forma até bem

simples a questão de assistência social com nossos filhos e alunos,

como por exemplo: seu filho vai ganhar brinquedos novos no

aniversário, então o ensine a separar outro brinquedo com o qual ele

não brinca mais, mas está em excelente conservação, e doe para que

Page 76: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

76 uma outra criança que não tem brinquedos possa ficar feliz. Devemos

abraçar a causa do outro como se fosse nossa. Como nos ensina Rav

Mario Meir, “a questão não é o MAL, mas sim a covardia do BEM.”.

Temos que desde cedo estimular que a criança participe, colabore

e crie ações dentro de trabalhos sociais. Faz parte da construção da

base de seu caráter.

• Qualidade nº 38 – Julgar com indulgência

Quanto mais nos tornamos nobres e no caminho da retidão,

tornamos nossa vida um exemplo e principalmente nosso caráter

inviolável. E neste ápice descobrimos uma máxima muito importante:

“Julgamento para si e Misericórdia para o outro”.

Temos a obrigação de não ficar julgando a ninguém. Cada um é

responsável pelos seus próprios atos e muitas vezes o que julgamos ser

uma culpa de alguém, é algo oposto em que a verdadeira faceta está

totalmente oculta pela nossa falsa percepção mundana.

Como já foi falado anteriormente, muitas vezes o que achamos

que é o certo, não é o que é verdadeiro, pois quase nunca sabemos

quais foram os fatores que levaram a pessoa a agir de determinada

maneira.

Quando uma pessoa comete um erro, a primeira coisa que

devemos perceber é que, se estamos ali, é para ajudarmos o outro e ao

mesmo tempo nos tornarmos alguém melhor com a oportunidade de não

Page 77: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

77 nos deixarmos corromper pela má inclinação de nos sentirmos

superiores.

As atitudes de: opressão, constrangimento, discriminação,

perseguição e humilhação são totalmente opostas e proibidas dentro da

Educação Contemplativa, pois acima de tudo causam a degradação do

caráter e da dignidade de ambas as partes. Estas atitudes podem

causar o impedimento de crescimento de muitas pessoas e é totalmente

nocivo. O mais importante de tudo é termos a consciência que nossa

má inclinação também possui aquele sentimento e impulso e se

julgamos o que o outro fez, estamos na verdade vendo o reflexo de nós

mesmos. Lembre-se que quando você aponta um dedo para o outro,

três dedos estão apontados para você.

Um problema muito comum na escola é que o professor não dá a

devida orientação e o devido direcionamento específicos a cada aluno,

pois cada aluno é um ser diferente e requer um olhar diferente. Quando

pensamos no grupo como um todo somente e esquecemos de trabalhar

as individualidades caímos no risco de causar indiferenças e os

supostos rejeitados podem usar de formas não cordiais para pedir que

cuidem deles também. Na Educação Infantil esta situação é muito

comum de acontecer.

Na Educação Contemplativa, temos que estimular mais os acertos

e o bom comportamento da criança do que ficar apontando somente os

erros e o mau comportamento (estes devem ser trabalhados de forma

construtiva a serem transformados em atitudes positivas).

• Qualidade nº 39 – Pôr-se no caminho da verdade

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78

A verdade é a principal ferramenta para trabalharmos a

construção de um bom comportamento e caráter. Quando pontuamos o

certo e o errado, baseados no que é verdadeiro e falso, estamos sendo

sinceros para com o outro e essa sinceridade é fundamental para que

seja estabelecido o vínculo de confiança e aprendizado. E antes de

fazer qualquer coisa, temos que buscar este ser dentro de nós mesmos.

Precisamos ser o exemplo para o outro.

Podemos ajudar uma pessoa no caso de ter cometido um erro de

várias formas, como por exemplo: chamando-a em um canto e tentando

oferecer-lhe ajuda sem que ninguém perceba, mostrando a esta pessoa

como aplicar alguma virtude que aprendemos através de nossos

mestres; podemos fazer algo oposto ao que foi feito sem a pessoa

perceber, para ver se ela aprende.

Quando uma pessoa vem nos pedir um conselho temos que ser

honestos e não deixar que nossos interesses também interfiram neste

momento. É necessário reforçar a dignidade que todos nós devemos ter

enquanto seres humanos conscientes, despertando o melhor que existe

dentro de si, ajudando-o a trilhar e a ensinar o caminho do bem.

As nossas ações para com o outro são mais importantes que o

conhecimento teórico que adquirimos, portanto ajudar o outro a

encontrar seu verdadeiro caminho é, na prática um ato de imensa

sabedoria.

A falta de verdade e clareza quando falamos com uma criança

compromete-lhe a ponto de se tornar um adulto sem base para tomar

decisões e ter suas próprias escolhas. A escolha é fundamental para a

Cabalá, pois é melhor escolhermos o errado e aprendermos com esta

Page 79: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

79 experiência, do que ser tomado pelo medo da indecisão e algo ou

alguém fazer a escolha por nós.

• Qualidade nº 40 – Pôr-se no caminho da paz

Para a Cabalá a palavra paz significa sem pendências, sejam elas

financeiras, espirituais, morais, ou outras. Portanto, colocar o outro

neste caminho consiste em primeiramente trilharmos essa qualidade

para nossas vidas, depois ensinar ao outro a também não deixar

pendências em sua vida.

Devemos trabalhar muito este aspecto em nossas crianças para

que cresçam com liberdade, segurança, organização e determinação.

Quando as ensinamos a guardarem suas coisas, a terminarem seus

trabalhos, a não ficar brigado com o outro e não deixar para estudar em

cima da hora, por exemplo; estamos trabalhando este aspecto dentro de

suas vidas.

A consciência que temos que ter enquanto responsáveis e

orientadores destes pequeninos, deve estar direcionada a torná-los

seres humanos que pensem onde todos os seus atos, atitudes e ações

se iniciam e onde vão terminar. Se isso for trabalhado desde cedo, se

transformarão em adultos mais conscientes e responsáveis não só por

suas vidas, mais por toda humanidade. O mundo está precisando de

pessoas assim e podemos ajudá-lo.

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80 • Qualidade nº 41 – Ser meticuloso em seu estudo

Ser cuidadoso significa pensar em três questões complementares:

o foco, a contemplação e a beleza.

O ser contemplativo é ser a “causa”, estar no controle e

compartilhar. A contemplação está relacionada à percepção que temos

de um determinado ponto, objetivo ou propósito; através do foco

(concentração), de forma a encontrar o equilíbrio, ou seja, atingir a

beleza que é a harmonia com a natureza, a simplicidade.

Permanecer em estado de contemplação nos faz antecipar-nos às

armadilhas que nosso próprio ego tenta nos colocar.

Quando somos ponderados em relação a tudo, não nos

precipitando em nossas atitudes, decisões e resoluções, usando aquele

velho ensinamento: “devagar e sempre”, nos beneficiando do tempo e o

esforço concentrado, correto e objetivo; estamos trabalhando este

estado contemplativo e meditativo dentro de nossa vida.

Na Educação Contemplativa a ferramenta utilizada para

desenvolvermos a contemplação é a meditação, que falaremos de forma

mais abrangente no capítulo 4.

A arte da meditação é o meio pelo qual a alma adquire

as asas da consciência necessárias para se elevar

acima e além dos confins do seu “eu” inferior, com seu

ambiente de pensamentos negativos que assolam a

consciência da pessoa. (Rav Mario Meir, Prece

Meditativa: Separação dentre a Separação)

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81

Uma forma que nos ajuda a ser meticuloso é criar e seguir um

método que nos ajude e nos torne cada vez mais eficazes. É importante

que não queimemos etapas.

A dispersão é totalmente avessa a esta qualidade. Pois é a falta

de foco, de concentração.

• Qualidade nº 42 – Perguntar conforme o assunto e

respondendo conforme a regra

Somente através da dinâmica do diálogo é que conseguimos

adquirir o conhecimento necessário a nossas argumentações, dúvidas e

soluções de muitos problemas.

Esta troca de conhecimentos é essencial e estar aberto tanto para

perguntar quanto para responder, nos torna uma pessoa mais evoluída,

equilibrada e humilde.

Uma pergunta importante sempre recebe uma resposta

apropriada, e como nos ensinam os sábios, “uma boa pergunta sempre

irá valer muito mais do que uma boa resposta”.

Se alguém nos faz uma pergunta, por mais simples que ela seja,

devemos responder sempre da melhor forma possível.

Estimulamos nossa mente através das perguntas que nos são

feitas e vive-versa nas respostas que temos que dar.

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82

O que nos difere de outros seres, outras criaturas, é o

nosso espírito argumentativo; é uma ânsia emocional

esse desejo da busca pelo conhecimento. (Rav Mario

Meir – aula de Árvore da Vida, Lamed)

• Qualidade nº 43 – Ouvir e aumentar o conhecimento

Primeiramente temos que ter consciência de que nossos

conhecimentos nunca terão um fim. Quanto mais aprendemos, mais

temos o que aprender. E isso é muito importante, para estarmos sempre

abertos para recebermos e assimilarmos mais conhecimentos em nossas

vidas.

A mente, quando preenchida, ocupada, segue em frente.

Precisamos também filtrar o que estamos assimilando em nossas

vidas, e só através do escutar e somar que conseguimos filtrar as coisas

que nos aproximam de ser uma pessoa em busca da verdade, do bom

caráter e da moral apropriada.

Quando vamos atrás do aprendizado, estamos cada vez mais nos

tornando pessoa com bases, discernimento e estruturas para a vida. E

conseguimos com isso fortalecer e ser consciente em nossas escolhas.

Como nos ensina Rav Mario Meir: “Toda pessoa que não quer conhecer,

fica à mercê de quem conhece.”

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83

• Qualidade nº 44 – Aprender para ensinar

É muito importante o ensinar a alguém, pois além de transmitirmos

o conhecimento que nos foi passado, estamos fazendo uma ação muito

importante e esquecida nos dias de hoje: o desejo de compartilhar e

cooperar com o próximo.

Os pais e os educadores são pontos referenciais nesta

transmissão de conhecimento para uma criança e devem fazer esta

passagem com muita consciência e responsabilidade. Estes devem

estar em constante aprendizado também para se aprimorarem a cada

dia.

A melhor forma de ensinarmos é quando ensinamos aquilo que

praticamos, ser o próprio exemplo daquilo que estamos ensinando a

alguém. Para as crianças, quando não estamos com esse aspecto

desenvolvido, comprometemos todo o processo. “Faça o que eu digo e

não o que eu faço”, não serve como modelo de educação. Nossas

palavras devem estar coerentes com nossas ações.

Os cabalistas ensinam que nós fomos criados como

receptores para recebermos a Luz do Mundo Infinito

que Emana do Criador. Mas para recebermos o

benefício, não podemos ser simplesmente receptores.

Precisamos ser canais. Um canal é como um cano,

que tem duas aberturas. Em nossa vida, a abertura

que fica em cima é a compreensão de que tudo o que

temos vem de uma fonte, que é a força da Luz do

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84 Mundo Infinito. Tanto nossos bens físicos e materiais

como também nossos dons, sabedoria, poder e

energia, derivam da Luz. A abertura que fica embaixo

é o saber de que tudo que temos na verdade não é

nosso, mas nos foi dado para que compartilhemos.

(Rav Mario Meir – Um canal para Compartilhar)

• Qualidade nº 45 – Aprender para praticar

Primeiramente, temos que nos inspirar pela sede do saber. E

para isto devemos desenvolver o amor ao aprendizado. O grande

segredo está em que precisamos saber que somos ignorantes e que

temos que ter o anseio pelo conhecimento para vencer a ignorância. A

submissão é o que nos une a esta qualidade.

O cabalista deve aprender a anular-se no

aprendizado, ou seja, anular as marcas e vícios de

sua personalidade dedicando-se integralmente ao

modelo de aprendizado proposto e devocional. (Aula

de Sitrei Torah, Rav Mario Meir)

Aqui está a ligação entre a teoria e a prática. É o aprender para

assimilar o que é verdadeiro, correto e virtuoso em nossa vida.

Page 85: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

85 Somente a vivência nos tornará uma pessoa cada vez mais

praticante e experiente de nossos aprendizados. Se tudo ficar só no

discurso, é como se o conhecimento estivesse escorrendo pelo ralo.

O importante é que este processo aconteça a cada minuto, a cada

dia, que vire uma rotina em nossas vidas. Precisamos ter uma vida

baseada na prática de nossos conhecimentos. É o que chamamos de

aprender para a nossa realidade.

• Qualidade nº 46 – Estimular a sabedoria do mestre

Para a Educação Contemplativa esta qualidade está diretamente

ligada a atribuirmos nosso saber a um saber (sabedoria) precedente.

Na Torah, no Livro de Gênesis, temos um exemplo bem claro em

relação a esta qualidade: a queda do Jardim do Éden, Adão e Eva.

Primeiramente, explicando o que é a queda, não é cair fisicamente, mas

sim a queda de uma consciência superior para um nível de consciência

mais baixo. A árvore também citada não é uma macieira, é uma

estrutura (a palavra em hebraico é Etz) e o comer a maçã é assimilar um

fruto, um conhecimento, uma idéia, uma consciência. Quando Adão e

Eva assimilaram essa nova estrutura, é a associação a assimilar uma

verdade subjetiva, valorizaram o seu eu em detrimento de um saber

superior, pois eles foram avisados que aquela árvore era do

conhecimento do bem e do mal. Quando assimilaram e foram

questionados colocaram a responsabilidade no outro por suas escolhas

erradas: “a culpa é da mulher que me deste”... “a culpa é da serpente

(representação de nosso ego que é ardiloso e envolvente) que me

Page 86: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

86 enganou”; e então houve a queda, pois não assumiram sequer suas

responsabilidades. Na Cabalá Contemplativa aprendemos que somos

os únicos responsáveis por nossas escolhas, nós que plantamos nossas

sementes mesmo que não conseguamos lembrar em que momento foi.

• Qualidade nº 47 – Raciocinar sobre o que ouvir

A ponderação e a precisão estão ligadas a conseguir compreender

o sentido verdadeiro do que estamos aprendendo.

Aqui está uma questão muito importante que é o não tirar

informações, nem acrescentar coisas não ensinadas e que são falsas.

Um não a mais, “sem querer”, pode nos levar a causar uma guerra,

podemos desestruturar toda a formação de crescimento

desenvolvimento e caráter de um ser humano.

Segundo Irving M. Bunim (p. 480) o processo correto de estudo é:

“aprender a escutar, compreender, rever e recordar”. Só assim

conseguimos filtrar e assimilar as coisas dentro de nossas vidas.

• Qualidade nº 48 – Dizer coisas em nome de quem as disse

Esta última qualidade nos remete a uma questão muito importante,

o ROUBAR.

Page 87: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

87 Quando não citamos o nome de quem escreveu ou falou algum

conceito ou idéia, estamos cometendo o furto e este é um grande desvio

de caráter. Muitas pessoas se apoderam do que pertence ao outro e por

não ser um objeto físico, acham que não estão errados.

É muito importante que desde pequenos aprendamos a nos referir

às fontes correspondente de qualquer citação que venhamos a usar em

nossa vida.

Esta é uma grande contribuição também para trabalharmos a

nossa humildade, dizer que aprendemos algo de algum sábio ou de uma

grande personalidade.

Existem inclusive leis que garantem que esta questão seja

cumprida de forma legal dentro de uma sociedade e se fizer isto,

também descumpriremos um dever nosso enquanto cidadãos.

2.7 – Informática

A informática é uma área de conhecimento muito importante no

mundo moderno e a Educação Contemplativa a utiliza como uma

ferramenta de apoio para o aprendizado.

Os computadores chegaram ao mundo contemporâneo é se

tornaram um grande auxiliar no processo de construção do

conhecimento, e quando usado da forma correta, se torna um grande

instrumento de apoio ao Mestre.

Segundo a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional

9.394/96, “a educação escolar deverá voltar-se ao mundo do trabalho e

Page 88: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

88 à prática social.”, e a informática está inserida em todos estes âmbitos

de nossa sociedade.

Seja através de softwares educativos, da Internet, ou da robótica

pedagógica / educacional, podemos trabalhar de forma aliada para

contribuirmos no desenvolvimento, na formação e nas transformações

de nossos educandos.

Só temos que tomar cuidado para que nossas crianças não se

tornem desvirtuadas do caminho não do aprendizado, seguindo pelo

caminho do desvio de conduta e caráter que também podem ser

desenvolvidos e de forma escancarada e acessível que a informática

nos proporciona.

Muitas das qualidades da Educação Contemplativa podem ser

desenvolvidas e compartilhadas de forma mais eficaz, com o uso da

informática.

2.8 – Aonde queremos chegar!

O trabalho é árduo, às vezes demorado, e aprendemos que a

certeza na nossa permanência e na busca de fazermos sempre da

melhor forma possível é que será o segredo de atingirmos nosso

objetivo.

Temos que construir um mundo significativo, justo e pleno. Só a

experiência, a humildade, e o aprendizado nos permitirá chegar onde

queremos.

Page 89: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

89 Precisa-se de pessoas que tenham os pés na terra e a

cabeça nas estrelas.

Capazes de sonhar, sem medo de seus sonhos.

Pessoas que não temam mudanças e saibam tirar

proveito delas.

Que tornem seu trabalho espiritual objeto de prazer e

uma porção substancial de realização pessoal.

Precisa-se de pessoas que questionem, não pela

simples contestação, mas pela necessidade íntima de

só aplicar as melhores idéias.

Pessoas que mostrem sua face serena de pessoas

boas, sem se mostrarem superiores ou inferiores,

mas... iguais.

Precisa-se de pessoas ávidas por aprender e que se

orgulhem de absorver uma nova forma de pensar.

Page 90: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

90 Pessoas com coragem para abrir caminhos, enfrentar

desafios, criar soluções, correr riscos calculados sem

medo de errar.

Precisa-se de pessoas que construam suas metas e

se integrem nelas.

Que não tornem para si o poder, mas saibam

compartilhá-lo.

Pessoas que não se empolguem com seu próprio

brilho, mas com o brilho do resultado alcançado em

conjunto.

Precisa-se de pessoas que criem em torno de si um

ambiente de entusiasmo, de liberdade, de

responsabilidade, de determinação, de respeito, de

amizade e de alegria.

Precisa-se de pessoas que venham a construir uma

história espiritual... (Rav Mario Meir)

Page 91: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

91

CAPÍTULO III

INTERSEÇÃO DA EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA

A Educação Contemplativa, por ser baseada em uma Sabedoria

Espiritual, está contida em tudo o que existe. É uma Educação

estruturada através de Mestres (Educadores) com a finalidade de

instruir e educar seus discípulos. Neste capítulo vamos situá-la dentro

de nosso tempo e dentro das ciências, pensamentos e linhas existentes.

3.1 – Cronologia dos Mestres-Educadores da Educação

Contemplativa

Existem dois níveis de estudo da Cabalá. O primeiro conhecido

por Ma’asse Bereshit (Obra da Criação), representa os princípios e

mistérios por trás da Criação e seu propósito e o segundo Ma’asse

Mercavá (Obra da Carruagem), representa os segredos mais ocultos, a

parte teórica, prática e operacional da Cabalá aplicada como ferramenta

efetiva de transformação de si mesmo e no mundo a sua volta, e onde

reside a base da Educação Contemplativa (Chinuch Yunit).

Para a Educação Contemplativa o primeiro Educador – Mestre foi

o Patriarca Abraão.

Abraão (Avraham - 1813 a.E.C - 1638 a.E.C.) escreveu o Sêfer

Yetzirah, foi um grande líder espiritual e conhecedor dos profundos

Page 92: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

92 mistérios da Cabalá. Implementou o que chamamos de Hospitalidade

Aperfeiçoada, quando abriu sua Tenda para toda Humanidade.

Qualquer pessoa que chegasse na sua Tenda era muito bem recebido,

oferecia estadia, comida, dava instruções morais e transmitia

ensinamentos a todos que por lá passavam.

Idealizou um mundo unificado e guiado pelo desejo de

compartilhar, onde a sabedoria e o sentimento de

unicidade passariam a nortear as atitudes dos seres

humanos, onde a hospitalidade aperfeiçoada fosse a

base das relações humanas. Abraão sabia que havia

uma longa estrada pela frente, um caminho de

dedicação e superação que pudesse trazer a

humanidade um estado de consciência mais elevado.

Este estado de consciência ficou conhecido pelos

cabalistas com sendo um ESTADO CONTEMPLATIVO.

Ao longo da história da Cabalá, muitos esforços foram

dedicados a construção desta mente contemplativa.

(Rav Mario Meir)

Avraham significa “pai de todos” – de muitas nações, se

preocupou e se dedicou a passar os ensinamentos sobre a Verdade

Espiritual, o conhecimento de da Tradição, para seu filho Isaac, que

transmitiu para Jacob e depois para seus filhos que formavam as 12

Tribos de Israel, e assim até os dias de hoje.

Foi um homem que sempre buscou e vivenciou: fidelidade,

bondade, força, integridade, lealdade, coragem, generosidade, certeza e

Page 93: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

93 a dedicação. Sempre possuiu clareza e eloqüência em suas idéias,

opiniões e ensinamentos.

Nosso segundo Patriarca foi Isaac - o Justo (Yitzchak - 1713 a.E.C

– 1533 a.E.C.), era filho de Sara e Abraão, tem sua vida marcada por:

júbilos, triunfos, justiça, auto-controle e muita disciplina. Nasceu de um

milagre, pois sua mãe por ter uma idade avançada, não teria condições

de ter filhos. Através de seus ensinamentos, aprendemos que com a

restrição e os obstáculos, nos tornamos pessoas melhores, mais

amorosas e que devemos ter o foco em compartilhar o que recebemos

com nossos semelhantes.

É considerado o homem mais justo dentre todos os homens.

Conseguiu ensinar de forma verdadeira os ensinamentos e as

virtudes recebidas de seus pais e que foram aprofundadas em seus

estudos em Jerusalém na mesma época que seu pai enviou Eliezer - seu

criado para procurar uma esposa para ele.

Yitzchak se casou com Rivca (Rebeca) e teve um casal de

gêmeos, Esav (Esaú) e Yaacov (Jacob), que apesar de não ser o

primogênito biológico, se tornou o primogênito espiritual se tornando o

terceiro e último Patriarca.

Jacob (Yaacov - 1653 a.E.C – 1506 a.E.C.) recebeu os

ensinamentos de seu pai, e passou a vida lutando para garantir a

sobrevivência de seus descendentes, através da verdade e da paz,

transmitindo a todos a Sabedoria Espiritual de seu pai e seu avô. Após

lutar com um anjo e vencê-lo, recebeu o nome de Israel. Teve 12 filhos

Page 94: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

94 e uma filha, e o seu preferido foi José (Yossef) o primogênito com

Rachel.

José (Yossef -1562 a.E.C. – 1452 a.E.C.), foi jogado em um poço

por seus irmãos, e vendido pelos mesmos como escravo para o Egito,

porém nunca perdeu sua certeza, não deixou de transmitir seu

conhecimento e a passar seus ensinamentos a diante. Foi governador

do Egito, mais tarde vice-rei e ajudou o Egito a não passar fome nos

anos de escassez. Foi um homem justo e atuante na defesa de seu

povo, nos ensinou que os sentimentos mesquinhos não servem para

nossa vida, e que a humildade é uma base sólida para a felicidade.

Entre seus irmãos, Beniamim (Benjamim), foi de grande importância e

referência para a Cabalá Contemplativa.

No ano de 1399 a.E.C., se inicia a escravidão do povo hebreu no

Egito.

Moisés (Moshé - 1393 a.E.C – 1273 a.E.C.) foi o mais humilde de

todos os homens e segundo Maimônides: “o mais perfeito ser humano”.

Foi considerado o mais elevado de todos os profetas. Aos 3 meses para

não ser morto pelo decreto do Faraó, foi escondido no Rio Nilo por sua

irmã Miriam. Aos 20 anos fugiu do Egito, retornando 60 anos mais tarde

após ver D’us em uma “sarça ardente que não se consumia”, para

libertar o povo hebreu da escravidão.

Moisés foi o líder do povo hebreu desde sua libertação do Egito,

os 40 anos da caminhada pelo deserto e a entrada do povo na Terra

Prometida. Também foi um exímio Educador, recebendo a Torah de

D’us e a ensinando-a ao povo, transmitindo seus Valores, suas

Verdades e suas Virtudes. Foi o responsável pelo desenvolvimento da

Page 95: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

95 permanência do povo no caminho da Sabedoria, durante os momentos

de dúvida, medo e insegurança.

Seu irmão Aarão (Aaron - 1396 a.E.C – 1273 a.E.C.) foi o Sumo

Sacerdote de Israel e era considerado um homem de paz, um Educador -

tinha o dom da pragmática e o oficial orador do povo, que passou sua

vida também transmitindo os ensinamentos de D’us.

Também junto com Moisés na caminhada do povo pelo deserto,

trabalhou o refinamento das pessoas através das verdades da

Sabedoria Espiritual.

Miriam (1400 a.E.C. – 1275 a.E.C. ), profetisa irmã de Moisés e

Aarão, segundo o profeta Miquéias ela foi a responsável pela Educação

e instrução da mulheres do povo. Instruiu as mulheres principalmente

através de seus exemplos. Foi uma mulher: bondosa, corajosa, sábia e

conselheira.

Ychoshua se torna o novo líder do povo após a morte de Moisés e

se torna o responsável pelos ensinamentos da sabedoria e a conduzir o

povo a entrar na Terra Prometida.

Samuel HaNavi (931 a.E.C. – 877 a.E.C), foi juiz e profeta. Em

seu tempo, o povo estava afastado da Torah, dos ensinamentos e das

verdades espirituais. Com grande entusiasmo que possuía, começou a

formar um grupo com novos profetas para aprenderem os ensinamentos

Page 96: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

96 da Torah, com o intuito de levar o povo novamente ao encontro com

D’us.

David HaMelech (Rei David - 907 a.E.C. – 837 a.E.C), era o

principal discípulo e sucessor do Profeta Samuel, dando continuidade a

transmissão de seus ensinamentos. Escreveu o Tehilim.

Shlomo HaMelech (Rei Salomão – 849 a.E.C. – 797 a.E.C), era

filho do Rei David e se tornou o mais Sábio de todos os homens. Nos

deixou três livros sagrados de nossas Escrituras: Mishlê, Shir HaShirim

e Cohelet.

Isaías HaNavi (Profeta Isaías), Jeremias HaNavi (Profeta

Jeremias), Ezekiel HaNavi (Profeta Ezequiel), Zechariah HaNavi

(Profeta Zacarias) e Daniel (Profeta Daniel), também foram grandes

Educadores e deixaram em seus Livros, grandes registros de

ensinamentos que fazem parte do Tanach e são transmitidos e

ensinados até os dias de hoje.

No Livro de Ester, temos dois grandes nomes de nossa história,

que nos trazem grandes ensinamentos de luta, vida, certeza e conduta

espiritual: Ester HaMalcá (Rainha Ester) e Mordechai.

Rav Yochanan Ben Uzriel foi autor de uma tradução aramaica

autorizada dos livros dos profetas. Teve uma tradição direta relacionada

aos ensinamentos místicos dos profetas. Teria uma grande influencia na

Page 97: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

97 formação dos princípios elementares da Cabalá Contemplativa, cuja

Inspiração Superior são os trabalhos dos profetas.

Rav Yochanan Ben Zacai foi um dos mais antigos nomes

associados à escola da Mercava e fundou a Academia de Avne depois

da destruição do Segundo Templo no ano 70 da Era Comum. Seus

discípulos foram: Rav Eliezer; Rav Nehuniá Ben HaCana (principal

discípulo); e Rav Elazar Ben Arach.

Rav Nehuniá Ben HaCana (Século I) por sua vez manteve os

princípios contemplativos de sua Academia. É o autor da oração Ana

Becoach, que é uma das principais fórmulas místicas da Cabalá

Contemplativa. Deixou como legado para as futuras gerações o Sêfer

HaBahir que, até o século XIII, foi o livro por excelência das Academias

de Cabalá e que, para a Cabalá Contemplativa, permanece até hoje

sendo uma das obras mais consistentes. Instruiu seu imponente

discípulo: Rav Akiva.

Rav Ishmael Ben Elisha foi o 1 º discípulo de Rav Nehuniá Ben

HaCana na área da meditação mística e foi graças a ele que a maioria

das fontes sobreviveram.

A história de Rav Akiva é o que se pode chamar de

uma verdadeira história de amor. Uma história de

coragem, heroísmo e sacrifício que, ao mesmo tempo,

aquece o coração e o arrebata; inspira-nos,

provocando júbilo e lágrimas. É a história do pastor

Page 98: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

98 humilde que se torna o maior dos rabinos da história

da Cabalá. (Rav Mario Meir)

Rav Akiva, pastor pobre e analfabeto que começou a estudar a

Torah aos quarenta anos na Academia de Yavne (que após a destruição

de Jerusalém, tornara-se a sede do Sanhedrin e o centro dos grandes

eruditos), tornou-se o maior sábio de sua era - um homem que seria

chamado de "pai do mundo".

O mestre ensinava que a Torah, por ter sido escrita

pelo Criador, é completa, nada lhe faltando e, por

outro lado, não contendo sequer uma letra supérflua.

Em sua inteireza, é toda conteúdo, sem filigranas

retóricas nem palavras vãs. Cada uma de suas letras

e de suas pontuações abriga um significado profundo

e, com freqüência, misterioso.

Até a época de Rav Akiva, a Torah Oral, cuja

transcrição era proibida, não era classificada nem

organizada segundo seu conteúdo.

Conseqüentemente, um erudito tinha que possuir

tremenda capacidade de memorização para conseguir

lembrar-se de todos os seus preceitos e

ensinamentos. Para evitar que o povo pudesse, algum

dia, esquecer-se da Torah Oral, Rav Akiva iniciou um

trabalho de classificação de cada uma de suas leis de

acordo com o teor. Assim, estabelecia as fundações

para as compilações da Mishnah - núcleo do Talmud -

que acabou sendo transcrito e editado, anos mais

Page 99: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

99 tarde, pelo Rav Yehudá HaNassi. Ao assim proceder,

o sábio Akiva preservou a Torah Oral, assegurando,

destarte, a sobrevivência da Tradição Oral.

Rav Akiva também era versado em diferentes

ciências, como medicina e astronomia. Falava vários

idiomas e, a miúde, acompanhava um de seus

mestres, Raban Gamliel, a Roma, levados pela causa

do povo.

Durante suas palestras, o estudioso mestre

moralizava os ouvintes de forma inspiradora. Suas

lições eram relatadas em todas as casas e todo

homem empenhava-se em regular sua vida segundo

os preceitos morais de Rav Akiva.

Seus professores, seus colegas e seus ensinamentos

atestavam ser ele a personificação do amor e da

generosidade. O mestre gostava de repetir que tudo o

que D'us fizesse, era para o bem, "Gamzu le-tová".

Dizia que o mundo deveria ser julgado segundo suas

virtudes e o bem que aqui se recebia era apenas uma

pequena parcela da recompensa que nos aguardava

no Olam HaBa. Acreditava que até o mais simplório

dos cabalistas se deveria considerar um nobre, por

ser filho de Avraham, Itzchack e Yacov. Rav Akiva

também costumava dizer que o povo atestava a

grandeza de D'us: o Criador libertara os filhos de

Israel do cativeiro para Se redimir juntamente com

eles. E Akiva oferecia um ensinamento profético e

assustador que acabou sendo aplicável a ele próprio:

era em benefício do próprio D'us que Ele escolhera os

hebreus, entre todas as nações, pois que os outros

Page 100: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

100 povos louvavam seus deuses na prosperidade e os

amaldiçoavam quando sua sorte lhes dava as costas.

Mas os hebreus, ensinava o Rav, sempre louvam a

D'us, quer na prosperidade quer na penúria. Não

surpreende, pois, que de todos os livros da Torah,

Rav Akiva mais apreciasse o Cântico dos Cânticos.

Foi dos primeiros a nele perceber a descrição do amor

entre D'us e o povo. E era, de fato, o amor o tema

central de sua vida e de seus ensinamentos. Em seu

entender, a essência de toda a Cabalá, o todo

abrangente mandamento da Torah, pode ser

encontrado em um de seus versos: "E amarás o teu

próximo como a ti mesmo” (Levítico, 19:18). (Rav

Mario Meir – Rav Akiva)

Rav Akiva foi discípulo de Rav Nehuniá Ben HaCana e é autor do

Sêfer HaOtiot. Também é de sua autoria, a oração Cadish.

Os principais discípulos de Rav Akiva foram: Rav Shimon Bar

Yochai (escreveu o Sêfer HaZohar); Rav Chanania Ben Chanichai

(faleceu na rebelião e representava o braço legalista da tradição

transmitida por Rabi Akiva) e Rav Meir Baal HaNess – Mestre dos

Milagres (recebeu o Sêfer HaOtiot e foi responsável pela dispersão na

Europa, do Legado de Rav Akiva)..

Rav Shimon, também conhecido como Rashbi (uma

sigla tirada das iniciais de seu nome - Rav Shimon Bar

Yochai), viveu durante o segundo século da Era

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101 Comum. De modo similar a seu mestre, em época de

grandes perseguições romanas. Conhecido como um

grandioso artífice de maravilhas, era convocado pelo

povo para realizar milagres em sua intenção.

As autoridades romanas decretaram que ele fosse

morto e ele e seu filho, Rav Eleazar, fugiram e se

esconderam em uma caverna. Lá permaneceram

durante treze anos, estudando, noite e dia, a Torah.

Sustentaram-se, dentro da caverna, do fruto de uma

alfarrobeira e da água de uma fonte, surgida do nada.

Durante os anos em que viveram na caverna, pai e

filho - tendo o estudo da Torah como única ocupação -

foram visitados pelas almas de Moshé e do profeta

Eliahu, que lhes transmitiram os segredos místicos

mais profundos do universo. E exatamente essa

riqueza de conhecimentos, adquiridos na caverna, foi

transcrita como sendo o Sêfer HaZohar - a obra na

qual se fundamenta a Cabalá.

De seu longo confinamento, emergiu Rav Shimon

espiritualmente mais sábio e mais poderoso do que

nunca. Reunindo seu filho, seu genro e os discípulos

mais próximos, começa a lhes revelar os segredos da

Cabalá que ele próprio recebera durante os treze

anos em que estivera recluso. Esses grandes

mistérios e revelações sobre o processo da Criação,

sobre o relacionamento da Luz Infinita com nossa

existência e sobre a estrutura da alma humana eram

transmitidos oralmente, de geração em geração, pelos

grandes líderes espirituais. Mas, com Rav Shimon, a

Cabalá começou a ser transcrita, de forma

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102 sistemática, e divulgada pelo mundo. Daí

considerarem-no o "pai" do misticismo cabalista. Um

de seus discípulos, Rav Abba, seu escriba mais

proeminente, foi quem redigiu o Sêfer HaZohar - "o

Livro do Esplendor" - espinha dorsal dos estudos

cabalísticos. (Rav Mario Meir)

No século XI, Rav David era o presidente do Tribunal Rabínico da

França.

Século XII no sul da França, Posquière foi o berço da família de

Rav Avraham ben David.

Rav Yitzchak o Cego era filho de Rav Avraham ben David e foi o

mestre direto e indireto dos membros da Academia de Gerona e de seus

descendentes. Apresenta pela primeira vez o conceito de Or Eyn Sof:

termo designativo da Divindade Infinita e desconhecida - fora de

qualquer capacidade cognitiva - que até os dias atuais é o principal

Nome usado pelos cabalistas para designar a natureza do Eterno.

O sobrinho de Rav Yitzchak o Cego, Rav Asher ben David, fixou-

se em Gerona para estabelecer uma Academia de Cabalá

Contemplativa.

Em Gerona destacamos: Rav Ezra, Rav Azriel e Rav Baruch

Torgami.

Rav Ezra (Rav Abraão ben Meir Ibn Ezra), nasceu por volta do ano

1090 (Espanha). Foi um conhecedor , estudioso e famoso comentarista

Page 103: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

103 da Torah, poeta, filósofo, médico, matemático, tradutor e astrólogo.

Deixou uma imensa obra.

No século XIII em Toledo, surge Rav Avraham Ben Samuel

Abulafia, discípulo de Rav Baruch de Torgami (final do século XII) e

quem fundamenta a Cabalá Contemplativa. Foi o cabalista que mais

escreveu obras de Cabalá e formou o sistema de pequenos grupos

chamados “chug”.

A partir de Rav Avraham Abulafia que podemos perceber de forma

clara, uma ruptura entre o judaísmo talmúdico e o sistema cabalístico

como um sistema independente da religião institucional.

Os discípulos diretos de Rav Avraham Abulafia foram:

• Em Medina Celi: Rav Yossef Gikatyilla – em 1273, (legado

escrito: Shaarê Orá ); e Rav Samuel HaNavi.

• Rav Albutini

• Em Burgos: Rav Shem Tov de Burgos (legado escrito: Shaarê

Tzédec: Portões da Retidão - uma importante exposição das

técnicas de Abulafia);e Rav Moshé Sifno.

• Em Roma: Rav Tzadakia; e Rav Yeshia .

• Em Barcelona: Rav Kalonymos; e Rav Yehudá Salomon.

• Em Messina: Rav Saadi Ben Itzchack Sanalmapi; Rav Avraham

Ben Shalom; e Rav Yacov Ben Avraham (filho de Rav Avraham

Ben Shalom)

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104 • Na Sicília: Rav Achitov – em 1282, era médico em Palmyra.

• Em Toledo: Rav Moshé Chaim de Toledo.

Rav Moshé Chaim de Toledo, após a morte de Rav Avraham

Abulafia, assumiu a liderança dos Círculos estabelecendo a última

resistência dos mesmos na Península Ibérica.

Ao longo mais de 30 anos, Rav Avraham Abulafia e seus

discípulos formaram mais de vinte "Círculos" de estudo por diversos

lugares ao longo do Mediterâneo: Toledo, Gerona, Barcelona, Malta,

Roma, Grécia, Acco, Ilha de Komino, Sul da França, Belmonte (Portugal)

e Marrocos.

Rav Avraham de Castro era judeu de descendência espanhola,

líder da comunidade do Egito. Foi influenciado pela escola de Rav

Avraham Abulafia, que através de seus escritos, influenciou

profundamente suas idéias e discussões.

Rav Yosef Saragossi: nasceu em Saragoça, na Espanha, como

Rav Avraham Abulafia, fugiu de lá com seus correligionários em 1492.

Seguindo o caminho de Rav Avraham Abulafia que se instalou durante

algum tempo na Sicília, de lá emigrou para Beirute e, em 1496, foi para

Sidon, de lá aceitou o papel de Rabino em Sfat onde começou a

construir uma Academia de Cabalá. Também havia comunicação com os

círculos abulafianos de Portugal.

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105 Rav David Abu Zimra (1470-1572): Menciona os trabalhos de Rav

Avraham Abulafia em sua escola. Também exilado da Espanha, se

instalou em Sfat e logo se tornou um importante discípulo do Rav Yosef

Saragossi.

Estava a par dos escritos de Rav Abulafia e menciona seu Sêfer

Chaiê Olam HaBá. Estudou, também, com os círculos de Portugal. Se

correspondia com Rav Yosef Tzayach.

Rav Yosef Caro (1488 - 1575) nasceu em Toledo na Espanha, e

quando tinha 4 anos quando foi expulso do país com toda sua família.

Estudou com o Rav Yacov Berab durante 14 anos quando ambos

estavam na Turquia.

Em 1522 se muda para Adrianópolis para estudar com Rav Yosef

Taitatzak (Mestre Turco).

Em 1537, instalou-se em Sfat onde ganhava a vida como mercador

de especiarias. Começa a fazer parte do Beit Din e constrói uma

Yeshivá onde dava aulas e tinha muitos discípulos, entre eles Rav

Moshé Cordovero. Foi Autor do Shulchan Aruch e do Beit Yossef.

Rav Moshé Cordovero, o RAMAC (1522 - 1570), nasceu em Safed,

Israel. Foi discípulo de Rav Yosef Caro, líder da Escola de Sfat, e

considera Rav Avraham Abulafia como uma autoridade na pronúncia dos

Nomes Divinos e cita uma seção extensa do seu livro Or Hassé Cheli -

esta obra foi uma tentativa de reestruturação do trabalho Abulafiano.

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106 RAMAC, também foi o autor de: Tomer Devorah - uma obra

essencialmente Contemplativa; Or Yakar – obra de 16 volumes, o mais

extenso sobre o Sêfer HaZohar; e Or Ne’erav.

Rav Itzchack Luria (1534-1572), também conhecido como o ARI,

nasceu em Jerusalém, e ainda pequeno quando perdeu o pai, foi levado

com sua mãe para morar com seu tio no Egito.

Há evidências que estudou como Rabino Chefe do Cairo, Rav

David Ben Zimrach – RADBAZ. O ARI estava associado à Escola de

RADBAZ e estudou com o seu maior discípulo: Rav Betzalel Askenazi,

com quem passou 15 anos em meditação. Foi declaradamente

influenciado pelos círculos abulafianos.

Rav Chayim Vital foi discípulo de Rav Itzchack Luria. Na quarta

parte não publicada do Shaarê Kedushah, ele cita os métodos de Rav

Avraham Abulafia como sendo técnicas para meditação. Também fala do

Sêfer Chaiê Olam HaBá como um livro famoso nos círculos cabalísticos

e cita uma grande parte do Sêfer HaChéshec .

Rav Yosef Tzayach escreveu em 1537, Évem HaShôham .

Rav Yacov Shemach, no século XVI teve que fugir da Espanha

para Sfat em função da pressão da inquisição, mas consegue retomar os

círculos abulafianos. Influencia profundamente as obras de Rav Chayim

Vital em função dos conhecimentos da Cabalá Contemplativa revelados

na ocasião.

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107 Antes de sua morte, deixa a liderança do movimento com Rav

David Geller Ben Kadosh que finalmente consegue retornar as

atividades dos “Círculos“ de estudos tanto na França quanto em

Portugal.

Rav Elias de Vida foi o autor de Reshit Chochmá.

Rav Matatias Delecreta, era nativa da Itália, em 1594 estava

morando na Cracóvia, e publica um comentário importante sobre o

Shaarê Orá de Rav Yossef Gikatyilla.

Seu principal discípulo de Cabalá foi Rav Mordechai Yaffe (1530-

1612), mais conhecido como o autor de Levush.

Rav Yosef Jospa escapou da Espanha durante a expulsão de

1492.

No início do século XVII é fundada a Sociedade dos Nistarim

(1621), logo após a morte de Rav Chayim Vital, seu fundador foi Rav

Eliahu de Chelm (1537-1653), conhecido como Rav Eliyahú Baal Shem.

A idéia era a criação de uma sociedade altamente secreta destinada a

manter em proteção os conhecimentos mais avançados da Cabalá

Contemplativa e a insistente tentativa da religião oficial de abafar suas

lideranças.

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108 Rav Eliahu Baal Shem nasceu na Cracóvia. Os métodos destes

Baalê Shem seriam igualmente secretos se não fosse por um pequeno e

notável livro o Toledot Adam, onde é feito o uso dos quadrados mágicos

do Rav Yosef Tzayach.

Em 1930, em Belmonte (Portugal), Rav Yosef Mello Bastos um

grande cabalista, judeu de origem anussim, dirigia um "Círculo" de

estudos abulafianos denominado Chug B'nei Tzeruf (O Círculo dos filhos

da Permutação).

Rav David Benari português de Belmonte continua o trabalho de

Rav Yosef de Melo Bastos e o passa para seu filho Rav Daniel Benari.

Rav Daniel Benari estabelece o Brasil como, o local onde a

Cabalá Contemplativa formaria sua base para a construção da tão

sonhada Academia de Cabalá, constrói um círculo de estudos de grande

profundidade chamado “Chug Aron Habrit” (Círculo da Arca da Aliança),

onde Rav Mario Meir vai estudar e se torna a ponta final dos

Educadores e Mestres da Educação Contemplativa.

Rav Mario Meir hoje através de aulas, textos, publicações, sites,

blogs, orkut, e-groups, discípulos, etc. transmite seus ensinamentos a

um número muito grande de pessoas (mais de 70.000 só pelos acessos

do site da Academia de Cabalá Rav Meir).

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109 3.2 – Psicologia

Conforme os ensinamentos de Rav Mario Meir, a principal

ferramenta do cabalista é o alfabeto hebraico e suas mais variadas

utilidades. Através da ressonância mórfica recebida pela contemplação

sobre as letras (pretas sobre o fundo branco), o cabalista tem acesso às

“chaves” dos mais profundos arquivos da consciência.

Mas por que o alfabeto hebraico?

O alfabeto hebraico é muito mais do que um simples alfabeto, ele

abre acesso direto ao conhecimento universal por via do símbolo. Isso

se explica pelas palavras hebraicas: “LETRA”, no singular, se chama

“OT” e no plural “OTIOT”. Esta palavra não significa precisamente

“letra”, pois o seu primeiro sentido é “signo”, “marca”, “símbolo” além de

“selo” e “código de acesso”. Por isso mesmo é que, para os cabalistas,

as letras do alfabeto hebraico são como uma chave direta com o

propósito de transportar o ser humano para além das palavras e da

análise cognitiva, permitindo ao homem obter a percepção sobre as

forças essenciais da existência.

As otiot levam (como canais de conexão) diretamente a Luz de

Eyn-Sof e a densificam, por etapas sucessivas através das Sefirot,

passando do desconhecido ao conhecido, em seguida do pensamento à

palavra, para chegar na tinta e na gravura. Elas seguem o processo de

desaceleração do Or Eyn Sof da sutileza à densidade.

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110

• Ressonância Mórfica

O estudo do alfabeto hebraico, por suas significações profundas,

leva-nos diretamente ao estudo do símbolo, cuja utilização ultrapassa a

compreensão pura e simples da língua hebraica.

Para o cabalista os símbolos (linguagem da forma) por trás das

letras hebraicas refletem a linguagem crepuscular que precedeu ao

despertar das consciências humanas, linguagem universal que está

além, e na origem de todos os dialetos físico e extra-físico. A linguagem

da alma é a primeira forma de comunicação estabelecida pelo ser

humano e, segundo a literatura mística, até mesmo usada pelos anjos.

Sendo assim, o hebraico não apenas representaria a raiz de todas as

línguas originais da humanidade como também a forma de comunicação

dos seres extra-físico. A forma das letras é uma via real de comunicação

entre o consciente e o inconsciente, entre a Luz e o Receptor. O

alfabeto hebraico possui em sua ressonância mórfica, preciosos elos de

comunicação para o homem místico em busca da transcendência.

Pelo conhecimento das letras-símbolos podemos:

• Comunicar-nos com o nosso consciente e suas “gavetas”

mais profundas;

• Interpretar as sutilezas das mensagens que o mundo

espiritual nos envia;

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111 • Armazenar informações nas “gavetas” da mente, para aí

encontrar o que é necessário no momento certo;

• Deixar ou revelar mensagens eternas, desvelar

ensinamentos gravados em imagens remontando ao mais

profundo de nossa humanidade.

Na vida prática, o símbolo ajuda-nos a melhor compreender seu

contexto e assim podemos melhor dominá-lo. Para cada indivíduo, ele

permite a análise dos atos e dos pensamentos, a interpretação dos

sonhos e de todas as abstrações que os rodeiam.

O sentido etimológico do símbolo é "simbalon", ou seja,

"encontro", no sentido de "eu reúno, eu junto", termo indicando um

símbolo de reunião possuindo dupla natureza. Esse símbolo permite que

as partes distintas se reproduzam ou se reconheçam. Atrás da palavra

esconde-se, a dupla vida de um símbolo que encerra uma mensagem

além de sua aparência concreta. É o encontro do visível e do invisível,

do concreto e do abstrato, do consciente e do inconsciente: para um

cabalista, é o encontro do Mundo Físico com o Mundo Espiritual. E é

exatamente essa a função da forma das letras hebraicas: conseguir

servir de canal de conexão entre a forma escrita (da letra) e o que ela

liga, no plano extra-físico.

Mais do que um signo, o símbolo é um substituto contendo uma

potencialidade de sentidos indefinidos. Ele formula a base do

pensamento e libera a consciência, ele é a concretização de uma

realidade abstrata.

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112 Quando colocamos a esfera do pensamento em relação com a

esfera dos símbolos, esta última aparece como a infra-estrutura de todo

o pensamento cognitivo, pois eles (os símbolos) tocam a matriz do

processo do conhecimento.

A finalidade do símbolo é a de transmitir a riqueza sensível que

ele fixou aos que a captam por meio da sensibilidade. Ele carrega uma

herança espiritual ou histórica e contém sempre um certo ensinamento

concernente ao homem e ao universo. Os símbolos são os meios pelos

quais se exprime a unidade do mundo. Eles dão imagens, energias,

sensações e impressões.

O símbolo é um signo que se situa fora do tempo, do espaço, das

raças ou das religiões, mesmo se ele se adapte permanentemente ao

seu contexto. Alguns vêem nos símbolos uma espécie de língua primitiva

arruinada e degradada, os vestígios de um outro saber do qual eles

seriam apenas o que sobrou.

Um símbolo não é obrigatoriamente uma forma compreensível, ele

pode ser um nome, um som, um gesto, nenhum é superior aos outros,

eles constituem um conjunto homogêneo, se substituem, se anulam ou

se reforçam. Com freqüência, mesmo um símbolo puramente abstrato,

como uma palavra, tem força para penetrar nas profundezas do espírito.

Por exemplo, pronunciar o Nome de D'us faz-nos imaginar levemente

uma idéia gloriosa, mas a consciência precisa de mais detalhes

dificilmente exprimíveis. Por isso o místico utiliza compensadores

aproximativos que são a forma das letras. Entretanto, não limitamos os

símbolos, e consequentemente as letras do alfabeto hebraico a

princípios religiosos ou filosóficos pré-determinados, já que ele é a

manifestação das qualidades vivas de algo muito mais antigo do que

uma religião. O conceito de espírito não implica em uma identidade

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113 étnica, cultural ou filosófica, mas ao contrário, é a parte nossa que se

encontra atrelada a UNICIDADE.

Para C.G.Jung, o símbolo é uma imagem própria para designar o

melhor possível a natureza secretamente imaginada do espírito. Os

símbolos são, assim, "mediadores" entre o consciente e o inconsciente,

produzem uma espécie de osmose contínua do microcosmo e do

macrocosmo, do interior e do exterior. Eles têm a estranha faculdade de

descrever tudo velando, jogando com as estruturas mentais. Isto porque

o símbolo é vivo, é carregado de dinamismo e de afetividade.

O símbolo é mediador, serve como intermediário entre o

transcendente e o imanente. Ele segue m código semântico específico,

que nos leva a dizer que os símbolos formam uma rede cósmica

indissolúvel, através da qual a realidade é tomada visível. Isso explica

porque algumas pessoas que meditam se servem de suportes

profundamente simbólicos, porque os que se serve de talismãs se

servem unicamente de símbolos e enfim porque numerosos místicos

utilizam as letras hebraicas como suporte ou como canal receptor, para

que a Luz do Mundo Infinito possa entrar.

O símbolo pode ser comparado a um cristal restaurando a luz de

forma diferenciada segundo a face que a recebe. Podemos dizer que ele

é um ser vivo, uma parcela de nossa vitalidade, uma parcela de nosso

ser em movimento e em transformação. Ao contemplá-lo, tomamos a

direção do movimento no qual o símbolo nos indica.

Sabemos agora que um símbolo físico, por sua forma, sua cor, seu

relevo, emite micro vibrações capazes de modificar progressivamente o

que está à volta. Isto é também verdadeiro para um som ou um gesto

que podem instantaneamente modificar uma ambiência e aqui temos

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114 ainda muitos exemplos a tirar das antigas tradições. A experiência

mostra a influência psíquica e energética que os símbolos exercem. Sua

força de evocação e de liberação varia com o efeito de ressonância que

resulta da ligação entre o coletivo e o individual.

Devemos então sempre lembrar que o símbolo é vivo.

• Analogias

Por correspondência analógica, o símbolo é aquilo que representa

outra coisa que não a sua natureza. Ele se classifica segundo três

funções principais:

• O símbolo é uma entidade abstrata que toma mais sensível

o que parece não ser. Esta entidade é a mesma para o

conjunto da memória humana, ou inconsciente coletivo (o

símbolo teve sempre a qualidade de união ou de ligação).

Ele age de forma consciente ou inconsciente.

• O símbolo designa a ligação de um grupo a uma idéia ou a

uma situação, ele define limites.

• O símbolo nunca é neutro nem estático, ele tem o papel de

indicar ou lembrar. A estrela de David não se contenta

apenas de evocar o judaísmo, ela lembra os seis dias da

criação e a união do espírito e da matéria e o desejo de

Page 115: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

115 receber unido ao desejo de compartilhar. O método

analógico é um grande recurso para o simbólico, sobretudo

se o apoiamos na lei da similaridade.

• Símbolos e Psicologia

Cada um de nós sabe, por tê-lo experimentado um dia, que os

sonhos são oceanos de símbolos que encerram parcelas de nosso

interior. O ser contemplativo experimenta regularmente a emersão de

imagens simbólicas, saídas do fundo de seu espírito. Os cabalistas

sabem como as forças ocultas reagem face aos símbolos.

A formação do símbolo não está sistematicamente codificada, o

ser humano cria símbolos instintivamente. Ademais, mesmo que um

símbolo tenha um valor convencional, é incontestável que esta

significação se matizará em função da experiência individual.

Devemos acrescentar que os sentidos humanos limitam a

percepção e modificam o acesso ao símbolo. Para a Cabalá, o ser

humano é escravo de seus sentidos, e somente quando estes sentidos

se curvam a percepção espiritual da realidade é que se pode romper

com os grilhões da alma e assim, será possível ver os símbolos internos

e externos.

A percepção que o ser humano possui do mundo a sua volta, é

inevitavelmente decodificada por nossas impressões inconscientes, pois

os sentidos invertem, incessantemente, o plano da realidade em plano

Page 116: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

116 simbólico e por sua vez, espiritual. Assim, o símbolo é um explorador

empírico do que está no plano de fundo da consciência individual e

coletiva. É um procedimento de concretização da espiritual idade supra-

sensível.

A forma é então indissociável do espírito, ela é a expressão a

desenvolver segundo a sensibilidade e a projeção daquele que a

observa, discerne suas múltiplas aparências e completa sua síntese.

Assim, o que vemos é então o resultado final da leitura de nosso próprio

inconsciente e seus inúmeros símbolos, bem como a maturidade como

nos relacionamos com esses mesmos símbolos. Se nos tornamos

reativos aos eventos externos, isso significa pura e simplesmente uma

falta de equilíbrio na nossa relação emocional com os símbolos que

esses eventos remetem ao nosso inconsciente.

Para o cabalista, transformar a realidade física a sua volta em

letras-símbolos, seria um meio inteligente de se deparar com a

experiência inevitável do simbólico em seu estado primário e ainda não

afetado pelas impressões passionais da mente. A letra seria, desta

forma a "síntese" dos eventos à nossa volta.

O termo "síntese" é bem importante, mas se quisermos ser ainda

mais precisos "símbolo-semente" é o mais correto. Nossa civilização já

pratica este poder de síntese através da utilização da linguagem, basta

olhar a nossa volta a incrível quantidade de abreviações utilizadas:

ONU, ADN, USA, WWW e outros.

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117

O uso sintetizado simboliza em algumas letras uma grande

atividade, uma ideologia, uma população, uma razão social. Seria, por

assim dizer, uma prática moderna da NOTARlA dos cabalistas.

Não é possível falar de psicologia do símbolo sem citar C.G.Jung

que não hesitou em estudar a simbologia para melhor compreender o

inconsciente. Assim ele definiu o símbolo em seu livro “O homem e seus

símbolos”:

"O que chamamos símbolo é um termo, um nome ou

uma imagem que, mesmo quando nos são familiares

na vida quotidiana, possui implicações que, entretanto,

se acrescentam a seu significado convencional e

evidente. O símbolo implica algo de vago, de

desconhecido ou de misterioso para nós. Então, uma

palavra ou uma imagem são simbólicos quando

implicam algo a mais que seu sentido evidente e

imediato. Tal palavra ou imagem tem um aspecto

inconsciente mais vasto que nunca é definido com

precisão, nem plenamente explicado. Quando o

espírito empreende a exploração de um símbolo, ele é

levado a idéias que se situam além do que nossa

razão pode captar. Pelo fato de inúmeras coisas se

situarem para além dos limites do entendimento

Page 118: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

118 humano nós utilizamos constantemente termos

simbólicos para representar conceitos que não

podemos definir, nem compreender totalmente. Essa é

uma das razões pelas quais as religiões usam uma

linguagem simbólica e se exprimem por imagens. Mas

o uso consciente que fazemos dos símbolos é

somente um aspecto de um fato psicológico de grande

importância: porque o homem cria símbolos de forma

inconsciente e espontânea." (JUNG)

De geração em geração aproveitamos a herança simbólica sem

nunca diminuir seu patrimônio. Os símbolos vivem em nossa mente e

formam sistemas conceituais e emocionais regidos por uma vitalidade

formadora. Na alma, eles são como modelos ordenados e ordenadores.

O simbolismo é o fio de Ariadne propondo sair do labirinto das

inquietações formadas pelo subconsciente. Ele sinaliza ao espírito uma

noção associada à forma, por meio de analogias naturais ou por

relações convencionais simples.

O símbolo possui um significado cuja decriptação se abre sobre

conteúdos psicológicos inconscientes. Pelo simbolismo o inconsciente

irrompe no consciente e produz fissuras no sistema de censura. Por isso

o simbolismo do sonho é um elemento capital da psicanálise moderna,

pois é o dialeto que dá a cada um a capacidade de descer as suas

próprias profundezas.

A interpretação simbólica é antiga, maquinal e premonitória, a

princípio a mesma para cada um. O indivíduo se nutre inconsciente e

continuamente, com a ajuda do símbolo, nas zonas de sombra de seu

Page 119: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

119 ser. É por isso que, na opinião de Rav Abulafia, essa linguagem

simbólica não pertence à lógica.

Assim Rav Abulafia afirmava que a experiência com as letras

hebraicas deveria ser uma pulsão vital, um reconhecimento instintivo, é

uma experiência do sujeito total, que nasce de seu próprio drama pelo

jogo imperceptível e complexo dos inúmeros elos que tecem seu

inconsciente, ao mesmo tempo em que o do universo a que pertence e

do qual ele retira a matéria de todos os seus (re)conhecimentos.

As figuras abstratas ou concretas resultantes do sonho ou da

contemplação mística são indiferentemente inconscientes e não

lineares, devemos encontrar entre elas os produtos de nosso próprio

espírito.

Desta forma a Cabalá explica uma das grandes questões sobre a

utilização das letras-símbolo. Se, é necessário a compreensão do

hebraico corrente (como linguagem cognitiva) para se utilizar as

ferramentas contemplativas da Tradição. A resposta de Rav Abulafia,

seria um veemente não, pois o que importa na relação entre o homem e

o símbolo não passa (de início) pelo território cognitivo, mais ao

contrário, pertence a uma dimensão onde apenas a alma é capaz de

entender.

3.3 – Ética

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120

O cabalista deve manter a guarda constante sobre as

ações de sua vida. (Rav Mario Meir)

Conforme os ensinamentos de Rav Mario Meir: O que é ética? É a

estrutura de valores que guia as pessoas no processo de tomada de

decisões quando encontram um dilema sobre como lidar com seus

desafios cotidianos.

Pode perecer bastante assustador. Mas, assim como outros

tzadickim, Rav Avraham Abulafia, tinha como base de sua postura

cotidiana, tornar o comportamento ético bastante natural.

Crie o ambiente para atitudes éticas.

Para os cabalistas, a ética é uma questão de equilíbrio. A

mensagem essencial dos sábios para seus chaverim era: equilibre os

desejos naturais dos indivíduos e os imperativos da ação

organizacional. O dever do líder é construir incentivos organizacionais,

controles disciplina, reconhecimento e hierarquia ao redor dos quatro

conceitos abulafianos fundamentais de organização: estabilidade e

coesão, obediência e humildade, igualdade fundamental e respeito, e

flexibilidade e inovação.

O modelo abulafiano para a construção de um comportamento

organizacional ético pode ser resumido em dez pontos de ação.

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121

Dez passos em direção a uma organização baseada na ética:

• Em primeiro lugar, os valores éticos da organização são

sempre deixados bem claros, basicamente dentro do corpo

de afirmações de missão e visão, assim como em todos os

documentos de apoio.

• Em segundo lugar, essas afirmações de valor ético devem

ser muito bem pensadas e limitadas em número. Esses

valores não são afirmações políticas, mas sim os

verdadeiros e inflexíveis princípios éticos da organização, e

um código ao qual todos na organização devem aderir. Os

sábios cabalistas afirmavam que organizações bem

estruturadas necessitam de valores básicos bem

estruturados, que não se alterem com o passar do tempo.

Mas Rav Abulafia também acreditava categoricamente na

brevidade da comunicação clara. Se uma organização não

for regular em suas afirmações de valores, ficará cada vez

mais confusa.

• Em terceiro lugar, é necessário haver uma explicação clara

e de fácil compreensão em relação ao porquê da

importância destes valores para o grupo. O estilo de

liderança abulafiano prega que os subordinados são

membros racionais e compreensivos da organização. A

decisão de um subordinado de obedecer um conjunto de

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122 regras deve ser uma escolha racional. O trabalho das

lideranças é fazer com que essas escolhas sejam fáceis de

serem compreendidas.

• Em quarto lugar, os membros de um grupo, tanto os mais

novos quanto os mais velhos, dos membros de menor poder

até o líder, devem ser lembrados, regularmente e

formalmente, dos valores éticos. Eles têm de ser valores

“explícitos”.

• Em quinto lugar, os valores éticos são uma parte integral da

seleção e do treinamento. Os membros da organização

naturalmente têm uma variedade de preferências pessoais e

prioridades, mas uma seleção e um processo de formação

feito de modo apropriado que incorporam cuidadosamente

os valores éticos da organização ajudarão a eliminar uma

possível confusão no futuro.

• Em sexto lugar, os líderes devem dar os maiores exemplos

de comportamento ético. Para os sábios, simplesmente não

há exceções para essas responsabilidades. O

comportamento moral e as expectativas éticas são melhores

comunicados pelo comportamento exemplar do que por

decretos da liderança.

• Em sétimo lugar, deve haver uma igualdade imutável na

ênfase às regras éticas e aos critérios morais. O tempo de

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123 permanência em um cargo não dá direito a diferenças de

expectativas ou de sanções. Os sábios são bastante claros

em relação a isso, na verdade, esse senso de igualdade é

um dos pontos principais da longevidade dos círculos e das

organizações.

• Em oitavo lugar, sempre deve existir um mecanismo de

reforço do comprimento das regras, claramente

compreendido por todos. As sanções devem ser distribuídas

em incrementos e devem ser apropriadas à infração.

Infrações severas devem ser punidas com severidade;

violações menos severas exigem medidas menos vigorosas.

Não se deve castigar ninguém para servir de exemplo: isto

implica em uma punição desigual, ao invés de uma medida

corretiva.

• Em nono lugar, o líder deve projetar a organização para que

o benefício da associação na comunidade e na organização

pese mais do que o custo da violação das regras. Para os

sábios, a estabilidade organizacional, um senso de coesão

e um objetivo em comum bem compreendido são sempre

mais eficazes no incentivo ao comportamento ético do que

as ameaças de punição.

• E em décimo lugar, ao mesmo tempo em que a compaixão e

a oferta de uma segunda chance dentro da organização são

importantes elementos do modelo de liderança abulafiano, a

prioridade é a sobrevivência da organização e o bem da

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124 comunidade. Um problema que atinge grandes proporções

deve ser cirurgicamente removido (sem grandes alardes),

uma vez que o processo de disciplina indicado tenha sido

esgotado.

3.4 – Os Grandes Pensadores Pedagógicos

Explicaremos a interseção (alguns exemplos) da base da

Educação Contemplativa – a Cabalá Contemplativa - com os grandes

pensadores pedagógicos.

• Sócrates (469 a.E.C – 399 a.E.C)

Filósofo, grego, fundador da filosofia oriental.

Acreditava que o processo de aprendizado era interno, na

existência da alma e que a educação deveria preparar o ser humano

para o caminho da virtude a busca da sabedoria.

"(...) Na verdade, não é outra coisa o que faço nestas

minhas andanças a não ser persuadir a vós, jovens e

velhos, de que não deveis cuidar só do corpo, nem

exclusivamente das riquezas, e nem de qualquer outra

coisa antes e mais fortemente que da alma, de modo que

ela se aperfeiçoe sempre, pois não é do acúmulo de

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125 riquezas que nasce a virtude, mas do aperfeiçoamento da

alma é que nascem as riquezas e tudo o que mais importa

ao homem (...)." (SÓCRATES, www.wikipedia.org)

A Cabalá acredita na existência da alma e acredita que a

transformação deve estar vinculada a nossa consciência, ao

desenvolvimento de valores e virtudes. A bagagem Espiritual é o que

carregamos e as coisas do mundo físico são temporárias.

• Platão (427 a.E.C. – 347 a.E.C)

Filósofo grego, discípulo de Sócrates.

Sua corrente filosófica é o Idealismo, que reduz toda a existência

a idéias ou considera que toda a existência se determina pela

consciência humana ou pelo “espírito”. Acredita que a subjetividade é

fundamental.

O indivíduo se voltava para si , seu interior e suas vontades, o

que para a Cabalá temos que ter um cuidado em relação ao que

chamamos de YESH (algo).

O YESH, é uma expressão que designa o ego controlado ou

controlador. É o algo que nos tornamos, perdido e limitado a nossa auto-

imagem ilusória, o qual acreditamos que realmente somos assim.

O estado de ANI, se contrapõe ao YESH. ANI (Ser) é o ser real,

com possibilidades reais e sem as limitações plantadas pelo “ego”.

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126

“ANI” é o ser real, cumprindo o propósito de D’us para

a vida dele. Ou como diria Rav Benari, “seguindo o

sonho de D’us para ele”. O “YESH” é por sua vez o

conceito que se contrapõe ao “ANI”, ele (o YESH) é o

“algo” alheio ao nosso propósito real, a que

dedicamos muita energia e sofrimento e por isso

torna-se o caminho mais acertado para o inferno, ou

seja, a ignorância. (Rav Mario Meir)

• Aristóteles (384 a.E.C. – 332 a.E.C.)

Filósofo grego, discípulo de Sócrates.

Sua corrente filosófica é o Realismo, que afirma a existência da

realidade independentemente do conhecimento que sobre ela se pode

ter, tem a atenção voltada para as coisas.

Aqui a Cabalá Contemplativa também nos aponta o perigo de

enxergarmos apenas o externo, o outro e esquecermos de nossa

autocrítica que é fundamental.

Para a Cabalá Contemplativa só conseguimos transformar o

mundo a nossa volta, quando transformamos a nós mesmos. Isto está

relacionado a causa e o efeito das coisas, pois para qualquer atitude,

palavra ou ação, recebemos uma resposta. E o que nos confunde

muitas vezes é que esta resposta é quase nunca imediata, nos

confundindo o tempo todo. Temos que ter em mente que um simples

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127 ato de reatividade - às vezes quando recebemos uma fechada no

trânsito por exemplo, pode ser o que faltava para desencadear uma

guerra em um país totalmente distante, meses depois.

• Santo Agostinho (354 - 430)

Teólogo, filósofo e bispo católico; nasceu e morreu na Argélia.

Está ligado ao idealismo, a filosofia escolástica, ao

neoplatonismo.

Acredita em uma subordinação maior da razão em relação à fé.

Para ele a fé restaura a condição decaída da razão humana.

Considerava que D’us existe fora do tempo, pois para ele o tempo só

existia no universo criado. A Bíblia era sua cartilha.

Na Cabalá Contemplativa as Verdades Espirituais estão acima de

tudo e a emuná (certeza espiritual) é a base que tudo. Não só tempo,

como também o espaço e o movimento, são “ilusões” que existem

somente nesta dimensão do mundo físico. Como já mencionamos no

capítulo 2, a Torah, é a representação de todos os conhecimentos e

ensinamentos para a humanidade.

• São Tomás de Aquino (1224 - 1274)

Page 128: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

128 Frade dominicano e teólogo.

Está ligado ao realismo e é criador do tomismo (sua escola de

pensamento).

Acredita que a fé pode ser respaldada pela razão. Para ele, por

meio da razão, atingimos o conhecimento, a felicidade e as virtudes. A

teologia e a filosofia, não se opõem, não existindo contradição entre a fé

e a razão, pois ambas tratam da verdade, mas se existir esta

contradição, a teologia é a que se mantém.

Assim como a Cabalá Contemplativa, afirma que o mal é a

privação ou ausência do bem. E como nos ensina Rav Mario Meir: “É

preciso ter tempo para articular o bem, ter um tempo para o bem. Só

fazer o bem não basta. O bem é covarde e se contenta em si mesmo.”

• Martinho Lutero (1483 - 1546)

Teólogo alemão.

Está ligado ao idealismo e da sua Reforma feita com o rompimento

com a Igreja Católica originou o protestantismo.

O protestantismo tem a Bíblia como base e aponta a importância

da alfabetização, defendendo a formação de uma humanidade mais

culta.

A Cabalá contemplativa, também nos mostra a base do estudo e

conhecimento direcionado pelos ensinamentos da Torah e a importância

e mitzvah de se estudar a Torah.

Page 129: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

129

• Francis Bacon (1561 - 1626)

Filósofo inglês.

Está ligado ao realismo e ao empirismo que é a doutrina que se

baseia apenas na experiência como fonte de conhecimento.

Para a Cabalá Contemplativa a prática é extremamente

importante, não podemos deixar de dar importância ao conhecimento

teórico como seu fundamento. Mas a prática é o que nos faz aplicar em

nossa vida, no dia a dia, tudo o que aprendemos.

• Comênio (1592 - 1670)

Filósofo tcheco.

Está ligado ao idealismo e foi o pai da didática moderna.

Assim como a Cabalá Contemplativa defende que os

ensinamentos devem ser de “tudo para todos”. E que devemos

considerar: os sentimentos, os interesses, a inteligência, e as

possibilidades da criança.

Acreditava na “salvação da alma” aqui no mundo físico, o que para

a Cabalá Contemplativa é o conceito de ticun, não como um processo

Page 130: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

130 punitivo, mas sim um aprimoramento necessário para a nossa evolução,

e que só conseguimos trabalhar quando nossa alma está “encarnada”.

Alguns de seus preceitos:

� O homem deve aprender para ensinar, o que na Cabalá

Contemplativa é fundamental para desenvolvermos o desejo de

receber para compartilhar e é uma das 48 qualidades da

Educação Contemplativa (a de número 44).

� O que aprendemos, devemos ensinar a sua aplicação prática, o

que na Cabalá Contemplativa é ligar a teoria à prática e é uma

das 48 qualidades da Educação Contemplativa (a de número

45).

� Devemos ensinar de forma direta e clara, o que na Cabalá

Contemplativa é fundamental para a compreensão e é uma das

48 qualidades da Educação Contemplativa (a de número 3).

� Ensinar a verdadeira natureza das coisas e partirmos de sua

causa, o que na Cabalá Contemplativa a sua base são as

verdades espirituais, onde a causa de tudo é a Luz Espiritual

e, quando as coisas não têm como causa a Luz Espiritual,

devemos investigar a causa daquilo e modificarmos sua

semente, para uma semente de Luz. E buscava uma harmonia

universal, de unificação da totalidade do conhecimento

humano, que é a compreensão de uma consciência coletiva

(chamada de consciência de Mashiach), de unicidade, que

encontramos dentro da Cabalá Contemplativa.

Ele também compartilha da mesma fonte da Cabalá

Contemplativa, quando acredita que devemos começar a formar o ser

Page 131: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

131 humano desde muito cedo, afirmando que “não se deve passar a vida a

aprender, mas a fazer”.

• René Descartes (1596 - 1650)

Filósofo tcheco.

Está ligado ao idealismo.

Os pontos de sua teoria que se interligam com a Cabalá

Contemplativa são:

� Acredita na existência de D’us que é: infinito, imutável,

independente, onisciente, criador.

� Existe uma luz interior dada por D’us, que dá confiança e

certeza, que são níveis de alma que possuímos.

� Supõe que não existe mundo. Mas a sua alma existe, e ela é

puro pensamento. Aqui podemos correlacionar com a auto-

imagem residual, que é a imagem que criamos do mundo

através de nossa consciência robótica.

� Na teoria mecanicista de Descartes, o corpo é uma máquina e

deve entregar o controle das ações para alma.

Page 132: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

132 • John Locke (1632 - 1704)

Filósofo inglês.

Está ligado ao realismo, idealizou o Liberalismo e era racionalista,

mas acreditava na revelação divina.

Assim como Descartes, a certeza que D’us existe é mais absoluta

que as impressões dos sentidos.

• J.J.Rousseau (1712 - 1778)

Filósofo suíço.

Está ligado ao idealismo.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

� Acredita que o ser humano por natureza é bom, mas que a

sociedade pode o influenciar negativamente. Na Cabalá,

aprendemos que temos a natureza de nosso Criador que é o

desejo de compartilhar, mas o que diferencia em certo ponto

este pensamento, é que não só as coisas externas, como

nossos desejos egoístas de receber para si mesmo, podem nos

corromper. Devemos ter o desejo de receber para

compartilhar, segundo a Cabalá Contemplativa.

Page 133: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

133 � Respeito ao desenvolvimento físico e também cognitivo da

criança, o sentimento e a afetividade. Pois cada um tem o seu

“tempo” e sabemos que cada criança tem um potencial

diferente e é um ser humano único, potencial e especial, temos

que ajudá-la a se tornar uma pessoa melhor para si, para o

outro, para o universo.

� Quando afirma que: “A instrução das crianças é um ofício em

que é necessário saber perder tempo, a fim de ganhá-lo”,

reforça a importância do início na Educação Infantil de acordo

com a metodologia da Educação Contemplativa.

• Immanuel Kant (1724 - 1804)

Filósofo prussiano.

Está ligado ao idealismo.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

� Sua filosofia moral, fala da seguinte obrigação que devemos

ter: "Age de tal modo que a máxima da tua ação se possa

tornar princípio de uma legislação universal" Que nos remete à

obrigação do desenvolvimento dos valores e virtudes, moral e

ética, da Cabalá Contemplativa, para sermos um

“representante oficial” de suas ações, palavras e conduta de

vida.

Page 134: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

134 � Afirma que o tempo e o espaço nos são necessários para

percebermos tudo a nossa volta como fragmentos. Para a

Cabalá Contemplativa tempo e espaço, também só existem

nesta dimensão física, para percebermos as coisas, que nada

mais são que os fragmentos do Receptor Inicial criado pela

Luz do Mundo Infinito.

• Condorcet (1743 - 1794)

Cientista político e matemático francês.

Está ligado ao realismo.

Associou a ignorância ao vício e o conhecimento à virtude, onde o

homem deve se aperfeiçoar infinitamente; que para a Cabalá

Contemplativa é amplamente enfatizada a importância do conhecimento

para se sair da ignorância e adquirirmos virtudes e valores, a fim de

buscarmos a sabedoria, de forma continuada, permanente e refinada.

• Johann Heinrich Pestalozzi (1746 - 1827)

Educador suíço.

Está ligado ao idealismo.

Page 135: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

135 Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são

muitos:

� Incorporar o afeto - os sentimentos, como poder de despertar a

aprendizagem da criança; o que corrobora a importância desta

afetividade, na Educação Contemplativa, dentro da vida de

uma criança, até mesmo em sua concepção.

� “A vida educa. Mas a vida que educa não é uma questão de

palavras, e sim de ação. É atividade." Nos mostra a

importância da prática diante da teoria e mais a fundo o “Faça

o que eu digo e não o que eu faço” também não era parte de

sua metodologia.

� A importância do amor materno, da mãe como base, ele chega

a dizer que ela é quem passa para a criança a sensação da

“Providência Divina”.

� O amor como base da educação como cita a escritora Dora

Incontri (Nova escola, Grandes Pensadores: pg. 19, Pestalozzi,

Educação e Ética, pág. 184): “Segundo ele, o amor deflagra o

processo de auto-educação”.

� A escola como extensão do lar da criança, assim como já é

uma Yeshivá. A Congregação deve ser a família espiritual de

um cabalista. Assim como o Rav é o Pai e a Rebtzin a mãe.

� Afirma que o desenvolvimento da criança ocorre de dentro para

fora (do ser humano em si), e que deve ser respeitado os

estágios de desenvolvimentos da criança.

� Enxergava o ser humano e a caridade como manifestação de

D’us. O que para a Cabalá contemplativa é totalmente

Page 136: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

136 explicado pelo desejo de compartilhar que possui um ato de

doação, caridade, ajuda e amor ao próximo. “Salvar ao outro e

salvar a si mesmo” segundo Rav Mario Meir.

� Resumiu que o método de estudo poderia ser reduzido a três

elementos: som, forma e número. Comparando com a Cabalá

Contemplativa que tem sua base na contemplação, que vem do

método da meditação, podemos resumir desta mesma forma:

som que chamamos de mivtá; forma que seria o desenho de

uma letra hebraica em si, exemplo aleph (`) ; e número que por

exemplo na letra aleph, é igual a 1.

� Dizia: “A natureza melhor da criança deve ser encorajada o

mais cedo possível a combater a força prepotente do instinto

animal”. Aqui reside o que a Educação Contemplativa cita

sobre a questão de domínio de nossa má inclinação.

� A criança deve aprender fazendo. O que seria incorporar a

teoria e a prática.

� Sempre dizia que a semente traz em si o “projeto” da árvore

toda. O que é um dos fundamentos da Cabalá Contemplativa

não só como afirmação, mas também com a possibilidade de

transformação está na semente. Onde para modificar o

resultado, o efeito, temos que alterar e modificar a origem, que

é a causa, a semente das coisas.

Este saber, em verdade, é simplesmente a dos

princípios absolutos, a cosmogonia. Daí advém uma

escrita figurativa que não busca reproduzir os

caracteres próprios de um objeto, mas, ao invés disso,

fazer aparecer uma atitude relacionada a certos tipos

Page 137: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

137 de ações ou de ligações. Essa escrita nos faz

descobrir a verdade sutil que se esconde nas

profundezas de nossa consciência e transporta esta

última a um outro nível. O que nos diz o simbolismo é

que o homem pode fazer para interferir além da

barreira física. E é cada vez mais fácil perceber o

quanto o campo sutil das energias interfere na

realidade material. A ciência reconhece, agora, que a

lua influi sobre as marés e sobre os movimentos

sensíveis internos. A ciência está percebendo que os

fenômenos astronômicos têm conseqüências sobre a

Terra. O simbolismo quer nos mostrar algo de mais

sutil, ou seja, que o homem pode interferir diretamente

no Mundo Espiritual, interferir no estado "semente"

(original) de todas as coisas, tanto em seu

microcosmo quanto em seu macrocosmo: e isto por

intermédio de tênues sinais da consciência que os

símbolos tentam revelar ao homem. As letras do

alfabeto hebraico são forças perfeitas para

concretizarmos tudo isto. (Rav Mario Meir, Apostila de

Cabalá Contemplativa III)

• Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 - 1831)

Filósofo alemão.

Está ligado ao idealismo.

Page 138: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

138 Quando afirma que: “que o verdadeiro seja efetivamente real

unicamente como sistema ou que a substância seja essencialmente

sujeito expressa-se na representação que enuncia o absoluto como

espírito, o conceito mais sublime de todos, que pertence aos tempos

modernos. Só o espiritual é real”, nos mostra que assim como a Cabalá

Contemplativa, o mundo real é o que chamamos de consciencial (livre

de nossa percepção robótica), e não o mundo residual que enxergamos

fechados dentro de nossa realidade criada por nossos sentidos

limitados.

• J.F.Herbart (1776 - 1841)

Filósofo alemão.

Está ligado ao idealismo.

A sua pedagogia, tem como objetivo maior a formação moral do

estudante, assim como a Cabalá Contemplativa.

Também observamos que os três procedimentos que constituem a

ação pedagógica de seu método de instrução, são parte da Educação

Contemplativa. O primeiro que os pais e os professores devem ter o

controle sobre as crianças a partir de um conjunto de regras, que seria à

relação Mestre-discípulo; o segundo a disciplina que são as regras e

preservação do caminho de valores e virtudes para a base da formação

do caráter; e o terceiro é a própria instrução educativa que seria o

conteúdo, o conhecimento em si.

Page 139: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

139 Quando falamos de suas 5 etapas para ensinar: preparação,

apresentação ou demonstração de conteúdo, associação, formulação e

aplicação; explicamos pela Cabalá Contemplativa da seguinte forma:

� Preparação – preparar o nosso “receptor”, a nós mesmos,

através do controle de nossa inclinação negativa, nossos atos

e atitudes, para estarmos aptos para o recebimento de algo;

� Apresentação ou demonstração de conteúdo – é quando

começamos a receber algum ensinamento;

� Associação – é quando começamos a acumular o saber, os

ensinamentos;

� Formulação – é o próprio entendimento, para saber o como a

aplicar estes ensinamentos;

� Aplicação – é aplicação prática de tudo o que se aprendeu, de

forma objetiva, clara e precisa. É o compartilhar.

• Auguste Comte (1798 - 1857)

Filósofo francês e pai da Sociologia.

Está ligado ao realismo e filosofia do positivismo.

O conhecimento positivo tem como fundamento "ver para prever, a

fim de prover" - ou seja: conhecer a realidade para saber o que

acontecerá a partir de nossas ações, para que o ser humano possa

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140 melhorar sua realidade. A Cabalá Contemplativa nos ensina que

devemos sempre buscar a verdade e a saber o que estamos plantando

com as sementes de nossas ações para termos somente bons frutos em

nossa existência.

• Émile Durkheim (1858 - 1917)

Sociólogo francês.

Está ligado ao realismo e foi o criador da Sociologia da Educação.

Assim como é fundamental a Halakhah dentro da Cabalá

contemplativa, que seria o “modo caminhante”, a organização de sua

comunidade, Durkheim também acreditava na importância da associação

de normas e princípios no processo de educação, para a formação da

sociedade.

Ele também acredita na relação entre o Mestre e discípulo quando

afirma que: “A criança deve exercitar-se a reconhecer [a autoridade] na

palavra do educador e a submeter-se ao seu ascendente; é por meio

dessa condição que saberá, mais tarde, encontrá-la na sua consciência

e aí se conformar a ela.”

• John Dewey (1859 - 1952)

Page 141: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

141 Filósofo e pedagogo norte-americano.

Está ligado ao idealismo.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são

muitos:

� A importância da prática.

� Objetivo de educar a criança como um todo, se importando com

o seu crescimento: físico, emocional e intelectual.

� A educação direcionada no desenvolvimento da capacidade de

raciocínio e espírito crítico do aluno. Dado o exemplo na

Torah, que quando D’us aparece em seu texto, é sempre na

forma de uma pergunta, um questionamento.

� Estimulava a cooperação, ou seja, o desejo de receber para

compartilhar.

� A importância do entusiasmo, como na Educação

Contemplativa. Afirmava: “o professor que desperta entusiasmo

em seus alunos conseguiu algo que nenhuma soma de métodos

sistematizados, por mais concretos que sejam, pode obter”;

� “A meta da vida não é a perfeição, mas o eterno processo de

aperfeiçoamento, amadurecimento, refinamento”; o que

aprendemos na Cabalá Contemplativa como os dois pilares do

crescimento Netzach e Hod: refinamento e permanência.

• Maria Montessori (1870 - 1952)

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142

Pedagoga, médica, psicóloga e antropóloga italiana.

Está ligada ao idealismo e é criadora do método Montessori.

Seus pontos de interligação de seu método com a Cabalá

Contemplativa são muitos:

� Trabalha com o equilíbrio e a integração entre: as forças

corporais e espirituais, corpo, inteligência e vontade (na cabalá

chamamos de desejo).

� Trabalha com materiais próprios para o desenvolvimento da

criança. O que também temos na Educação Contemplativa,

como letras hebraicas, símbolos, etc.

� A criança desenvolve a liberdade de escolhas, conduzindo seu

aprendizado e o Educador o acompanha “de fora”, nunca o

abandonando, mas verificando e estimulando seu potencial.

Na Cabalá Contemplativa, este foi o processo da criação do

Receptor (todos nós).

Esse ato de recusar a Luz disparou o Big Bang, origem do nosso

universo. Como um pai amoroso que se afasta para permitir que a

criança caia para que ela aprenda a caminhar sozinha, a Luz afastou

Seu brilho e criou um espaço vago, mas nesse instante o Receptor

desejou gerar um pouco de Luz por si mesmo.

Page 143: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

143 Da mesma forma que um pai amoroso se afasta para permitir ao

filho ter liberdade para aprender sobre os negócios da família para que

ele possa, eventualmente, assumir o comando com um senso de

realização, a Luz deu ao Receptor o espaço para que ele pudesse

aprender a desenvolver sua inata natureza divina de compartilhar.

Neste momento, o único Receptor Infinito então se

estilhaçou em infinitos pedaços de todos os tamanhos

e graus. Toda a matéria em nosso universo - de

átomos a animais, de micróbios a pessoas - é uma

parte do receptor original. Cada um representa um

diferente nível de desejo de receber. (Rav Mario Meir,

Apostila de Yichud, Aprendendo a remover a

programação negativa da alma)

� O espírito de cooperação, sem deixar de lado a individualidade.

Que é o desejo de receber para compartilhar e o amor ao próximo.

� Acredita que o potencial de aprendizado está latente dentro de

cada um de nós, basta desenvolvermos condições para

desenvolvê-lo e estimulá-lo.

� Acredita que estímulos externos formam também o espírito da

criança. Por isso a importância do desenvolvimento e

responsabilidade do Educador ser fundamental na Educação

Contemplativa.

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144 � Estimula a alegria, por ser de forma espontânea.

� A criança aprende na prática.

� Trabalha muito com: disciplina, quietude, concentração,

organização (inclusive de idéias) e atitude.

� A partir da escolha ou pratica errada, a criação tem consciência

de seu erro e estimulado a corrigi-lo fazendo e aprendendo da

forma correta.

� Atenção ao período da Educação Infantil.

� Valoriza o educando, o trabalhando individualmente de acordo

com suas necessidades e seu ritmo, o estimulando ao

crescimento; não se preocupando apenas com seu

desenvolvimento intelectual, mas também emocional, espiritual –

educa para a vida.

� Sua metodologia se preocupava com o desenvolvimento dos

aspectos: espiritual, menta e físico. E seu pilar é focado no

exercício da escolha.

� O “Jogo do Silêncio” em sua metodologia, exerce uma grande

importância por ser um exercício meditativo de autocontrole e

disciplina e concentração, assim como a Meditação Cabalista para

a metodologia da Educação Contemplativa.

� Acredita que o Mestre deve ser a referência e o exemplo para o

educando. Dizia: “devemos ser educados se quisermos educar”.

Page 145: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

145 Um ponto muito importante que Montessori colocava para o

caminho do intelecto, era o uso das mãos, que para a Cabalá

Contemplativa é uma parte extremamente importante, inclusive para a

cura. Em cada mão temos 14 falanges, nas duas mãos temos 28

falanges, e o número 28 corresponde a palavra COACH, que significa

força espiritual; uma força oculta, um potencial interno que é capaz de

modificar tudo a nossa volta, até coisas que não são aparentes.

Para os cabalistas, o estado de suprema liberdade se

constitui através da tomada de consciência da

NESHAMÁ (Alma Consciencial). O conceito de

liberdade está diretamente associado ao livre arbítrio

(ou arbítrio o livre) para melhor conduzir suas mão.

As mãos por sua vez representam o COACH (força)

espiritual que nos permite transformar tudo a nossa

volta. O pleno desenvolvimento e despertar desse

COACH é o que nos leva ao estado de Livre Arbítrio

(liberdade). (Rav Mario Meir, Behar, Aula de Tamei

Torah)

• Ovide Decroly (1871 - 1932)

Médico e educador belga.

Está ligado ao idealismo.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

Page 146: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

146

� A importância da prática.

� “Aprender a aprender”, ou seja, o desenvolvimento do foco no

conhecimento e ensinamento, para um aprendizado verdadeiro

e disciplinado. Tendo como base o que chamamos de

globalização de conhecimentos, que é tratar o saber como um

só. O que podemos dizer que é uma explicação para Cabalá -

Sabedoria Espiritual.

� Organizar o mundo com uma visão do todo indo do caos à

ordem. Para a Cabalá Contemplativa devemos sair do Mundo

de Tohu (mundo do caos, onde há a dor, as adversidades,

medos, perplexidades, fobias, doenças, sofrimentos e guerras),

passar pelo Mundo de Bohu (mundo do esvaziamento, onde

nos permitimos ser preenchido pela sabedoria espiritual, onde

procuramos por uma educação espiritual) e nos permitir ficar e

trabalhar no Mundo de Ticun (mundo da correção, onde existe

o padrão de correção, o refinamento, a permanência e a busca

do equilíbrio do desejo de receber para compartilhar).

� O foco final de seu método e a expressão no sentido de

externar e compartilhar o que aprendeu.

� Desenvolver o processo criativo de cada um. Dizia : “Convém

que o trabalho das crianças não seja uma simples cópia; é

necessário que seja realmente a expressão de seu

pensamento”.

� Trabalhava com os estímulos e citava a grande importância por

escolhas.

Page 147: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

147

• Édouard Claparède (1873 - 1940)

Médico, psicólogo e cientista suíço.

Está ligado ao realismo e foi o mestre de Jean Piaget.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

� Trabalhava no desenvolvimento de estimular na criança um

interesse pelo conhecimento. Incentivando a criança a sair da

estagnação ou do processo robótico.

� Defendia que a educação seria a base para a instrução.

� Acreditava que os educandos são diferentes, e devem ter uma

atenção diferenciada.

• Henri Wallon (1879 - 1962)

Médico, psicólogo e filósofo francês.

Está ligado ao realismo.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

Page 148: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

148 � Mostra que as crianças também têm corpo e emoções e que

não devemos separá-las destas emoções. Para a Cabalá

Contemplativa, esta separação é o grande problema existente

no mundo materialista de hoje, quando separamos o mundo

físico do mundo espiritual. Esta parte emocional na Cabalá

Contemplativa, é o nosso nível de alma chamado Ruach (alma

emocional), ocupa 60 % do que “conduz” nossa vida, está em

um nível abstrato. A parte corporal, é o nosso nível de alma

chamado Néfesh (alma animal), ocupa 10 % do que “conduz”

nossa vida, e é manifesta aqui no mundo físico. Quando

falamos na história da Torah sobre a árvore do conhecimento

do bem e do mal, estamos falando da separação entre o que é

físico e o que é espiritual e emocional.

� Sua base de construção do eu na criança é de ajudá-la a

descobrir o eu no outro. Aqui temos mais dois níveis de alma:

Chayá (Vivente) que é o vivenciar a si mesmo no outro e acima

de tudo unificada dentro da Luz do Mundo Infinito; e Yechidá

(Unidade) que é princípio da unicidade, de que nós somos uma

só consciência, é como se Or irradiasse de dentro de nós.

A Professora-Doutora Heloysa Dantas, cita no livro “Teorias

Psicogenéticas em Discussão” muitos pontos interligados com o

“conceito” da Cabalá Contemplativa.

Na Cabalá Contemplativa a partir dos 5 anos de idade - em média,

começamos a firmar os “pactos” de nosso futuro e o início da luta

interna entre nós e nosso ego - que não é algo externo, mas sim a luta

entre nossa inclinação positiva e nossa inclinação negativa. No texto de

Heloysa, isto é demonstrado de forma bem clara e precisa:

Page 149: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

149

“A construção do Eu é um processo condenado ao

inacabamento: persistirá sempre, dentro de cada um,

o que Wallon chama de “fantasma do outro”, de sub-

eu (sous-moi). Controlado, domesticado

normalmente, o “outro” pode irromper nas patologias,

oferecendo o quadro das personalidades divididas.

(...) É este drama que ocupa dominantemente o

quarto, o quinto e sexto ano, numa sucessão de

manifestações...” (DANTAS, p. 95)

No capítulo 4 na inteligência (virtude) em CHOCHMÁ, citamos as

importâncias de: prevalecer a inteligência, e da auto-anulação de

nossas subjetividades; que também é citada por Heloysa (p. 95): “Esta

realização poderá então ser transposta para o plano da inteligência e

permitir a gradual superação do sincretismo do pensamento.”

Heloysa também fala do princípio da unicidade citado acima, e

ainda complementa que é muito frágil como a virtude da certeza que

para a Cabalá Contemplativa o objetivo a ser alcançado na unicidade e

luminosa por estar mais “próxima” do Eyn-Sof (p. 97): “A idéia da

construção da unicidade é luminosa; ela tem uma dimensão trágica,

entretanto, no seu destino de obra muito frágil e sempre inacabada.”

• Alexander Neill (1883 - 1973)

Page 150: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

150 Educador, escritor e jornalista escocês.

Está ligado ao idealismo.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

� Acredita na liberdade de escolha, o que para a Cabalá

Contemplativa como vimos anteriormente é essencial.

� Afirma que a escola deve se preocupar com o trabalhar o

emocional do aluno, mas sempre com a implantação de limites.

Aponta que a super-proteção dos pais impede o

desenvolvimento de equilíbrio da criança. Aqui podemos fazer

um paralelo entre o amor e a disciplina.

� Estimula que a criança aprenda aquilo que o faz ser feliz e que

desenvolve o seu potencial de criação. Diz: “Gostaria antes de

ver a escola produzir um varredor de ruas feliz do que um

erudito neurótico”. Aqui reside a questão de nosso propósito

de vida, aquilo que D’us espera que façamos e que nos

realizaremos por completo. E ensina que para quebrarmos os

padrões robóticos dentro de nossa existência, é feito o uso de

um “sentimento” muito importante para a Cabalá

Contemplativa, que é a alegria (simchat em hebraico), e que

nos ajuda a rompermos a realidade residual plantada em nós

pelo nosso YESH.

• Anton Makarenzo (1888 - 1939)

Page 151: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

151 Educador ucraniano.

Está ligado ao realismo.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

� Organizava a escola como coletividade, vida em grupo, tal qual

a importância da congregação na Cabalá Contemplativa. Os

interesses da comunidade eram relevantes e essenciais.

� Seu método é permeado pelo trabalho e pela valorização da

disciplina como um meio para o êxito.

� Seu foco era o desenvolvimento de pessoas conscientes de

seu papel no mundo, na sociedade, na humanidade e solidários

com o próximo.

� Estimula o desenvolvimento individual, para atingir o coletivo.

� Apontava a importância dos pais na formação da criança e as

qualidades e condutas que estes pais deveriam ter.

• Antonio Gramsci (1891 - 1937)

Filósofo italiano.

Está ligado ao realismo.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

Page 152: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

152 � A importância da Instituição de Ensino ter como o objetivo

também, a conquista da cidadania. Para a Cabalá

Contemplativa temos que penetrar no mundo para o

modificarmos. Somos parte de uma sociedade a qual somos

co-responsáveis.

� Dizia: “Todos os homens são intelectuais, mas nem todos os

homens desempenham na sociedade a função de intelectuais.”

Ou seja, somos derivados da mesma fonte, porém cada um tem

o seu propósito e a sua função dentro da nossa existência.

• Lev Semenovitch Vygotsky (1896 - 1934)

Psicólogo bielo-russo.

Está ligado ao realismo e foi a base do socioconstrutivismo.

A relação Mestre-discípulo é muito fundamentada por Vygotsky,

pois essa relação é fundamental para o desenvolvimento do indivíduo.

Em seu livro “A Formação Social da Mente” encontramos muitos

pontos interligados com o “conceito” da Cabalá Contemplativa.

Para o psicólogo, as funções intelectuais do adulto são pré-

formadas na criança, aguardando a oportunidade de serem despertadas,

manifestadas. Por isso a importância na Educação Contemplativa do

desenvolvimento de valores e virtudes para serem plantados ou mesmo

despertados desde muito cedo, para nos tornarmos a cada dia pessoas

Page 153: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

153 melhores e mais conscientes de nossas missões. É a importância de

encontrarmos e de focar nossa vida em nosso propósito, o qual

encontramos quando conseguimos entender, encontrar e despertar

nossos talentos (vocação) que estão implantados no fundo de nossa

alma. E quando somos crianças e já temos uma educação já voltada

para o descobrir o melhor de nós mesmos, fica muito mais fácil o

encontrar essa vocação de forma natural em nossa vida.

Procure ser o que a Luz espera que você seja.

Procure ser o sonho da Luz para sua vida. O sonho

da Luz para sua vida se expressa a partir de uma

coisa que se chama VOCAÇÃO. Isso é uma coisa que

surge ao longo de uma história de uma vida. Perceba

ao longo da história de sua vida a sua vocação. O

próprio nome já diz, é uma voz que vem de dentro,

então essa voz que vem de dentro é a sua VOCAÇÃO.

Esse é o sonho da Luz para a sua vida. Isso é muito

mais importante do que o que você quer ser. E uma

vez que você siga o sonho da Luz para a sua vida,

você deve confiar e conceder a essa Luz a permissão

de entrar e aí as ferramentas espirituais servem para

isso, para que não haja obstáculo entre os projetos da

Luz para a sua vida e na sua vida em si. Em geral a

dor e conflito vem do que você quer ser, porque aí

entra o ego, a vontade, o desejo próprio, o si mesmo,

e todos os grandes conflitos que surgem na alma.

(Lag Ba Ômer 5767 – Papo Kadosh – Rav Mario Meir)

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154 O seu conceito de mediação, que é quando “o indivíduo modifica

ativamente a situação estimuladora como uma parte do processo de

resposta a ela.” (pág, 18), pode ser equiparado ao conceito de “alterar a

semente” dos fundamentos da Cabalá Contemplativa. Quando

identificamos e modificamos uma semente plantada em nossa vida,

alteramos o resultado final. Na Educação Contemplativa essa

integração entre o Mestre (professor) e o discípulo (aluno), através da

troca de conhecimento é fundamental para o aprendizado e, a

identificação, alteração e plantio de “sementes”

Assim como o símbolo é parte fundamental na Cabalá

Contemplativa (vide texto acima 3.2 Psicologia – Símbolos e Psicologia),

ele tem a importância “com o objetivo de servir como estímulo adicional

que poderia dirigir e organizar o processo de escolha” (pág. 46).

A utilização de signos para as mudanças de comportamentos e

também como meios de nos auxiliar a solucionar questões e problemas.

Por isso a Cabalá Contemplativa é toda fundamentada na Meditação

Contemplativa que tem parte de sua base ligada a muitos signos.

O processo de internalização que o psicólogo define: “a

reconstrução interna de uma operação externa” (pág. 74), podemos

ilustrar pela Cabalá Contemplativa na Educação Contemplativa da

seguinte forma: (pág. 75)

� “Uma operação que inicialmente representa uma atividade

externa é reconstruída e começa a ocorrer internamente”. O

Mestre (professor) insere uma virtude dentro de um processo

de transmissão de conhecimento para o discípulo (aluno).

� “Um processo interpessoal é transformado num processo

intrapessoal”. O Mestre que é o exemplo vivo daquela virtude

Page 155: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

155 e através da ligação com aquele discípulo, transfere como um

fio condutor aquela experiência para que o discípulo possa ser

“tocado” e transformado.

� “A transformação de um processo interpessoal num processo

intrapessoal é o resultado de uma longa série de eventos

ocorridos ao longo do desenvolvimento”. O discípulo a todo

momento vai sendo transformado e incorpora o que recebe de

seu Mestre, se modificando, se aperfeiçoando e refinando.

Toda sua teoria está formatada no indivíduo ter a dependência do

outro para a sua formação e construção enquanto ser humano. Na

Cabalá Contemplativa, o outro é uma extensão nossa, faz parte de

nosso ser e temos que ter em todo momento essa consciência desperta.

Aqui podemos até criar um paralelo com a Hospitalidade Aperfeiçoada.

Seu conceito de “zona de desenvolvimento proximal”, (Nova

Escola – Grandes Pensadores – pág. 60) como: “é o caminho entre o

que a criança consegue fazer sozinha e o que ela está perto de

conseguir fazer sozinha. Saber identificar essas duas capacidades e

trabalhar o percurso de cada aluno entre ambas são as duas principais

habilidades que um professor precisa ter” tem uma profunda relação

com duas bases importantíssimas da Cabalá Contemplativa. A primeira

é a conscientização da responsabilidade do que é ser um Mestre. A

segunda e principal é a real necessidade de se ser discípulo - para se

ter, aceitar e se submeter a um Mestre; e conseguir através dessa

relação mais pura e profunda encontrarmos o melhor de nós mesmos,

nosso ANI.

Page 156: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

156 • Célestin Freinet (1896 - 1966)

Educador francês.

Está ligado ao idealismo.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

� Acreditava no bom senso como um meio para a aprendizagem

da ligação entre a teoria e a prática. É uma das qualidades da

Educação Contemplativa, a nº 13.

� A cooperação e o trabalho são pontos fundamentais em sua

pedagogia.

� A transformação vem de dentro para fora e estimulava o

desenvolvimento da criança.

� Tinha um foco voltado para a formação de cidadãos livres,

criativos e emancipadores. Na Educação Contemplativa este é

um elemento importante quando despertamos nosso ANI.

� Também acreditava na importância do envolvimento afetivo

para o aprendizado, deste equilíbrio.

� A importância do trabalho entre a instituição de ensino

(Mestre), a criança e os pais.

� A importância da Comunicação entre instituições para a troca

de experiências e informações. É um dos grandes propósitos

da Educação Contemplativa.

Page 157: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

157 � Tinha uma pretensão revolucionária como a Educação

Contemplativa, da libertação de nossa alma escrava, que seria

o vencermos nossas inclinações negativas, nossa natureza

egóica – YESH. Dizia: “Se não encontrarmos respostas

adequadas a todas as questões sobre educação,

continuaremos a forjar almas de escravos em nossos filhos”.

• Jean Piaget (1896 - 1980)

Cientista, biólogo, psicólogo e epistemologista suíço.

Está ligado ao realismo e foi a base do Construtivismo.

A Estrutura de sua Teoria (Filosofia do Construtivismo) pode ser

equiparada a estrutura do milagre dentro da Cabalá Contemplativa, que

é a nossa capacidade de sair dos processos robóticos, da seguinte

forma.

� Esquema – ações básicas de conhecimento, ações físicas e

mentais (psico-motoras). Aqui é um padrão robótico nosso.

� Desequilíbrio – novas experiências a partir de um estímulo.

Para a Cabalá Contemplativa pode ser um estímulo interno ou

um externo, provocado até propositalmente.

� Assimilação – a absorção das novas experiências, ocorre o

milagre.

Page 158: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

158 � Acomodação – é o novo esquema. Modificar os esquemas

existentes, criação de novos esquemas.

� Equilíbrio – reestruturação dos novos esquemas em novas

estruturas;

Sua frase: “Conhecer não é contemplar passivamente, mas agir

sobre coisas e acontecimentos, construindo e reconstruindo-se em

pensamento”, é exatamente o nível do milagre, onde existe a ação em

cima de uma transformação de nossa essência, podemos dizer mais,

que é a descoberta também do ANI.

Ele também reforça a idéia de que ninguém já é algo rotulado no

que é hoje, mas que o Educador deve enxergar o além dessa pessoa e

ajudá-lo nesta busca ao que ela pode se tornar, que é uma das funções

de um Mestre dentro do caminho espiritual. O mestre para a Cabalá

Contemplativa é um “observador constante”.

Outro ponto muito próximo, é que para Piaget há a importância de

se estimular a atividade mental do aluno que é muito importante na a

Educação Contemplativa.

Em seu livro Psicologia e Pedagogia, ele cita a estrutura Mestre-

discípulo como concreta:

“Assim é que se desenvolveu uma sociologia da

educação que tem negligenciado um pouco os

grandes problemas discutidos pelos fundadores desta

disciplina – DURKHEIM E DEWEY – mas que se

especializou no estudo das estruturas concretas. Por

exemplo: o estudo da classe escolar como grupo

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159 tendo sua dinâmica própria (sociometria, comunicação

efetiva entre mestres e discípulos etc.).” (PIAGET, p.

27)

Na epistemologia genética criada por Piaget, podemos fazer um

paralelo com a Cabalá Contemplativa onde o conhecimento é adquirido

através do homem com seu meio a partir de estruturas existentes no

sujeito, apesar de para a Cabalá, este conhecimento também é

adquirido de outras variantes como o contato com a sua essência, por

exemplo.

Para a Cabalá o reconstruir no plano do pensamento aquilo que

se adquire no plano da ação, é unificar, tornar íntegra nossa estrutura,

porém para a Cabalá, devemos fazer da forma inversa, para que

possamos passar pela Emanação, Criação, Formação e por fim Ação,

senão caímos naquela velha questão: “faça o que eu digo, mas não

faça o que eu faço” que é oposta a Cabalá Contemplativa.

A teoria Construtivista é totalmente adaptável a Cabalá

Contemplativa, onde devemos além de “desconstruir” velhos padrões,

hábitos, conhecimentos, atitudes, etc; adquirir o conhecimento e

construir o próprio aprendizado. Temos que ter muito foco para

discernir de maneira correta o “o que?” e o “como?” construir.

De forma semelhante a Educação Contemplativa, Piaget afirma em

seu livro - Problemas de psicologia genética: “ O ideal da educação não

é aprender ao máximo, maximizar os resultados, mas é antes de tudo

aprender a aprender, é aprender a se desenvolver e aprender a

continuar a se desenvolver depois da escola.”

Page 160: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

160

• Carl Rogers (1902 - 1987)

Psicólogo norte-americano.

Está ligado ao idealismo.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

� Sua corrente que ficou conhecida como humanista, se baseia

em uma visão otimista do homem, como a Cabalá

Contemplativa que devemos ir ao encontro do nosso estado

ANI.

� Harmonia em si e em relação ao outro, o que abrange o

conceito de UNICIDADE e também o desejo de receber para

compartilhar.

� Compartilha da idéia que aquilo que é saudável e bom para a

pessoa, ela vai em busca. Aqui existe a noção do amor e o

temor.

� Coloca a importância da confiança como a liga na relação entre

o professor (Mestre) e o aluno (discípulo), e o Mestre dando o

apoio necessário para que o discípulo consiga caminhar

sozinho.

� Colocou a importância da Ética na qualidade do ensino.

Page 161: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

161 � Trabalhava a mudança de postura em relação ao outro não se

surpreendendo. Como dito na qualidade nº 38.

• B.F.Skinner (1904 - 1990)

Psicólogo e cientista norte-americano.

Está ligado ao realismo.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

� “A educação deve ser planejada passo a passo, de modo a

obter os resultados desejados na “modelagem” do aluno”.

(Nova Escola – Grandes Pensadores – pg. 64) Na Cabalá

Contemplativa temos que trabalhar desta forma até com nossas

conexões diárias, como: Shacharit, Ar’vit, Amidá, etc. O

refinamento e a permanência em tudo é muito importante para

adquirirmos uma “modelagem” em nossa alma, e

conseqüentemente em nosso receptor.

� Identificou como condicionamento operante, o que a Cabalá

Contemplativa define como processo robótico.

� Coloca na educação, uma importância a formação de

comportamentos para si e para o próximo.

Page 162: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

162 � Utilização de máquinas de aprendizado – como um computador

por exemplo para auxiliar o professor-Mestre.

� Coloca no Mestre a tarefa de ensinar o aluno a pensar.

• Hannah Arendt (1906 - 1975)

Cientista política alemã.

Está ligada ao realismo.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

� Coloca o papel do Mestre de forma centralizada dentro da

educação do aluno-discípulo, lhe dando a total autoridade de

forma até conservadora.

� Acredita que o aluno deve conhecer o mundo e ser estimulado

a transformá-lo.

� Sua atenção estava voltada para a preocupação com a perda

da “tradição”, pois acredita que ela é o fio condutor, a ligação.

Está é a base da Educação Contemplativa que tem o fio

condutor em toda a história, os valores, as virtudes, a ética e a

moral, na tradição da Cabalá Contemplativa.

Page 163: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

163 � Tinha uma preocupação com o mundo e a humanidade.

Segundo Ela: “A educação é o ponto em que decidimos se

amamos o mundo o bastante para assumirmos a

responsabilidade por ele”.

� Tinha o foco voltado para a coletividade.

� Colocava a família (pais) e a escola, como co-responsáveis na

educação, no bem-estar e na condução da criança.

• Paulo Freire (1921 – 1997)

Educador brasileiro.

Está ligado ao realismo.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

� Trabalhou uma educação voltada para a consciência, onde o

aluno deveria ter o entendimento do mundo para transformá-lo.

A conscientização do aluno.

� Coloca o professor como central no papel de direcionamento

de informações e aprendizados para o aluno.

� Acredita no aprendizado e na criação em conjunto, na

cooperação.

� A importância da afetividade.

Page 164: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

164 � Para ele tudo está em permanente transformação e interação,

“o mundo não é, mas está sendo”. Essa afirmação faz parte da

base, da verdade e da compreensão da Cabalá Contemplativa.

� Cita também a importância de trabalharmos os valores e as

virtudes, que a teoria e a prática estejam sempre de forma

coerente e consciente. O seu livro “Pedagogia da Autonomia”,

é subdivido de forma bem claro a estes itens como: alegria,

autoridade, respeito, bom senso, entre outros.

� Tem toda uma base voltada para a Ética, como uma

responsabilidade universal, voltada para a solidariedade e

fundamentada na educação. Cita inclusive a formação de uma

consciência coletiva, que é o foco da Cabalá Contemplativa.

• Lawrence Stenhouse (1926 - 1982)

Educador inglês.

Está ligado ao realismo.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

� Seu trabalho está centrado no refinamento e aperfeiçoamento

do professor e do aluno (Mestre e discípulo).

� A importância da teoria, mas a prática como fundamental no

processo de aprendizado. Acredita no processo de

investigação e na pesquisa cotidiana.

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165 � Suas propostas educativas são de médio e longo prazo. Como

nos ensina a Cabalá Contemplativa, permanência e

refinamento são processos que andam juntos e sempre. A

contemplação é oposta ao imediatismo, onde o que comanda a

decisão é nosso impulso egóico que sempre busca as soluções

instantâneas e quase que sempre errôneas.

� O respeito é fundamental nas relações.

� A importância da unificação de linguagem entre o aluno e o

professor.

� Autoridade, liderança e responsabilidade, são fundamentais

para o professor (Mestre) na relação com seus alunos

(discípulos) .

� Todo trabalho deve estar voltado para o coletivo.

• Emília Ferreiro (1936)

Psicolingüística argentina.

Está ligada ao realismo e discípula de Jean Piaget.

Seus pontos de interligação com a Cabalá Contemplativa são:

� O trabalho da escola deve estar focado no aluno (discípulo).

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166 � O ritmo de aprendizado do aluno (discípulo) deve ser

respeitado e isto não quer dizer que quem é mais vagaroso e

menos inteligente ou menos aplicado.

� A importância da disciplina e da autoridade do Mestre

(professor).

3.5 – Moral

Para a Cabalá Contemplativa, a questão da moral está ligada

principalmente ao exemplo e ao despertar de valores e virtudes na vida

de um ser humano.

Quando falamos em Hospitalidade Aperfeiçoada, falamos em

colocar a prática dentro de uma comunidade, e mais amplamente na

humanidade - nos situando do micro para o macro; o incorporar esta

convivência voltada para valores e virtudes morais.

A autora Helen Bee em seu livro “A Criança em Desenvolvimento”,

relata as pesquisas feitas por Nancy Eisenberg que nos exemplificam as

crianças que crescem dentro de um Kibutz (hoje em dia um exemplo de

protótipo de uma Hospitalidade Aperfeiçoada), onde estes valores

morais fazem parte de sua conduta e formação de caráter.

Segundo Helen Bee, na pesquisa de Eisenberg, na pré-escola a

criança se preocupa com conseqüências pessoais e não considerações

morais (raciocínio hedonista); gradualmente se transforma e a criança

começa a expressar preocupação direta pelas necessidades da outra

pessoa (raciocínio orientado para as necessidades); na fase da

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167 adolescência falam que agirão bem porque é isso que se espera delas;

e no final da adolescência, alguns jovens demonstram com clareza, a ter

internalizado valores que orientam seu comportamento pró-social. E

complementa relatando que:

“as crianças israelitas do ensino fundamental, criadas

em Kibutz, apresentavam pouco raciocínio orientado

para as necessidades. Em vez disso, elas tendiam a

raciocinar com base em valores e normas

internalizados e na humanidade dos receptores, um

padrão consistente com a forte ênfase no igualitarismo

e nos valores comunais do sistema de Kibutzim.

Essas descobertas sugerem que a cultura talvez

desempenhe um papel maior no raciocínio pró-social

das crianças do que no raciocínio sobre a justiça,

embora esta ainda seja uma conclusão altamente

experimental.” (BEE, p. 398)

Page 168: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

168

CAPÍTULO IV

INTELIGÊNCIA CONTEMPLATIVA

Conforme os ensinamentos de Rav Mario Meir: De onde derivam

as Grande Idéias?

Os cabalistas nos ensinam que toda e qualquer inspiração deriva

das dimensões superiores. As grandes idéias criativas, as criações

artísticas e as invenções e descobertas no campo da ciência, derivam

da Luz Infinita. Sem esta inspiração superior, elas jamais poderiam

acontecer. Mas, segundo os sábios de nossa Tradição, quando chega a

hora de alguma coisa ser revelada ao mundo, a inspiração necessária é

outorgada para alguma pessoa, à partir da Luz do Mundo Infinito.

Um pensamento entra na mente desta pessoa e, desta forma é

revelado. Muitos podem ter buscado a idéia anteriormente, mas ela

sempre escapa, quando tem a força da Luz do Mundo Infinito atuando

sobre a humanidade. Somente quando chega o momento para que uma

grande idéia seja revelada é que a inspiração pode ser encontrada.

Os cabalistas ensinam que a única fonte de tudo é a Luz do

Mundo Infinito. Inspirações, idéias, avanços e visões entram na mente

dos inspirados por intermédio desta Luz. Para que isso venha a ocorrer

é necessário que o mundo físico esteja com grande receptor para essa

inspiração superior. Para os cabalistas, este receptor é formado pela

força espiritual gerada pelo desejo de compartilhar. Quando formamos

uma massa crítica inspirada pela consciência de compartilhar, abrimos

para toda a humanidade o receptor para a descoberta das curas para as

grandes doenças e a resolução dos grandes problemas da existência.

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169 Nestes tempos em que percebemos a sombra de doenças e das

injustiças sociais se agravando, cada um de nós deveria refletir em

como anda a nossa porção de "desejo de compartilhar" no mundo.

Devemos aprender que o mérito é todo da Luz do Mundo Infinito.

Se não estivermos em conformidade com Ela, nada poderá ser

alcançado, nada poderá ser solucionado.

4.1 – Espiritualidade

A Educação Contemplativa é uma educação ESPIRITUAL, o que

não significa ser religiosa, fundamentalista ou pertencer a apenas uma

fatia da humanidade. Ela é voltada para toda a humanidade

independente de raça, cor, cultura, religião, etc.

Espiritualidade é meditação. Que podemos entender como a

busca, o desenvolvimento de virtudes e valores que o ser humano deve

trabalhar, pensar, refletir, direcionar e adquirir, para se tornar uma

pessoa melhor, equilibrada, íntegra, consciente e plena; ou seja, atingir

a consciência contemplativa.

Meditação é a palavra usada para designar uma

prática que funcione como um meio para se atingir um

estado de consciência que nos permita a “leitura” do

momento presente com base nos ensinamentos de

uma Tradição, refinando permanentemente o ser

humano e gerando ação / atitude criativa diante das

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170 vicissitudes da vida. (...) A Cabalá aborda uma

dimensão espiritual onde todos os seres são ligados

por um elemento comum. Esta percepção é

denominada de Consciência Contemplativa. (Rav

Mario Meir)

A meditação é a única forma de atingirmos o autoconhecimento na

Cabalá Contemplativa. É através dela que abrimos nossa consciência e

ampliamos nossa percepção e compreensão. E assim conseguimos

despertar e encontrar o nosso estado ANI.

Na Cabalá Contemplativa o vestirmos uma roupa, comer algo,

sorrir para alguém, observar uma criança pequena; são alguns

exercícios diários e importantes para trabalharmos nosso estado

meditativo.

4.2.1 – Or (D’us)

Conforme os ensinamentos de Rav Mario Meir, D’us é a

Inteligência Universal.

O coração é o recipiente, o receptáculo de D’us. A base do

mundo espiritual reside no coração, reside na base do entendimento.

Entendimento é sentir o saber. Entender não é reproduzir o saber.

Entender não é você falar sobre o saber. E para você senti-lo e aplicá-lo

na sua própria vida.

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171 Enquanto o conhecimento estiver no cérebro, na esfera cerebral,

na estrutura cerebral, na composição cerebral, você ainda não atingiu a

totalidade dele. Só quando ele chega realmente no coração - que é o

órgão que reage às impressões emocionais (nível de alma chamado

Ruach – Sopro, Espírito), é que você realmente entendeu o

conhecimento.

O que verdadeiramente significa D’us? E Ele não é apenas o D’us

dos dias ensolarados, Ele também é o D’us dos dias nublados.

Entenderemos D’us quando entendermos o que é o bom coração.

E o bom coração é conseguirmos fazer aquilo que é bom. E o que a

sabedoria nos diz do bom coração é que eu tenho que aprender a

beleza do ninho, mesmo nos dias nublados. Mesmo quando há

ausência de ser amado, mesmo quando a flor cai, mesmo quando a flor

murcha... mesmo aí, principalmente aí eu devo encontrar o D’us dos dias

nublados. É aí que está a medida do coração bom.

Então não interessa acreditar em D’us. Acreditar em D’us é uma

tolice absurda. Temos é que saber como se vive realmente a vida

estando esse D’us presente em absolutamente tudo. Não importa o

Nome que se dê a Ele. Como é possível viver a vida estando esse D’us

presente? Isso está muito além de acreditar em D’us e aí a beleza e a

alegria vêm a partir desse preenchimento, que acontece em todos os

momentos, porque se eu vivo a alegria de saber que D’us está presente

em todas as circunstâncias e por isso consigo identificar pelo bom

coração a beleza em todas essas circunstâncias, eu estou plenamente

preenchido, satisfeito.

Penso, logo eu existo. Amo, logo D’us existe. D’us jamais existirá

se eu pensar.

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172 É como querer descobrir as raízes de uma flor mas para isso eu

tenho que arrancá-la. Ganhamos o conhecimento, mas perdemos a flor

e com ela o seu perfume. Nós não podemos nunca, jamais, matar as

flores para entendermos as raízes, senão todo propósito se desfaz.

Vem-se o saber, perde-se o sabor. E as coisas se esvaem totalmente,

perde-se o sentido.

O bom coração. É o coração que sente, é o coração que se

sensibiliza, é o coração exorcizado dos demônios, porque não há

demônios, não há mal. O mal é quando a gente parcela a vida. É

quando a gente coloca de alguma forma um tapa-olho na existência e

diz: isso aqui eu vejo e aquilo ali eu prefiro não ver, isso aqui são os

dias bons, luminosos, onde o sol aparece e ali, os dias nublados eu não

quero ver. É negar a totalidade e essa metade negada se torna

verdadeiramente os nossos fantasmas. E ela será o ódio, a frustração e

gera o medo e o ressentimento. Retire as expectativas que você retira

os demônios e só resta o coração bom.

Quando vamos desesperadamente tentar procurar o outro para

jogar sobre o outro nosso fel, para jogar sobre o outro todas as nossas

expectativas frustradas matamos o bom coração.

É difícil suportar os dias nublados. Mas o bom coração necessita

disso. O bom coração ele precisa disso... ele precisa suportar os

sonhos falidos, ele precisa disso... e talvez esse seja o projeto disso que

nós chamamos de D’us. Quem disse que Ele quer que você esteja

absolutamente pleno, preenchido, satisfeito. Absolutamente empolgado.

Talvez Ele queira esta inquietação. E talvez resida aí nesta inquietação

a chave do encontro desse preenchimento para tirar esse tapa-olho que

fecha a outra metade não tão bonita da existência, ou não tão esperada

da existência, mas que é absolutamente necessária para se descobrir a

verdade que é isso a coisa mais importante.

Page 173: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

173 A vida não cabe na esfera do entendimento. Ela em si só pode ser

vivida na esfera do milagre, do sentir. A síntese de toda a sabedoria é

entender as coisas grandes a partir das coisas pequenas, dos gestos

pequenos, das atitudes pequenas, dos sentimentos pequenos que nós

temos que aprender a administrar dentro de nossa alma para construir a

totalidade. É quando aprendemos a nos entregar a esta totalidade, por

mais que ela não seja de toda bela conforme nossas expectativas e

idealizações.

O que acontece quando sofremos ou quando desejamos alguma

coisa: - gritamos: “Meu D’us!” E enquanto estivermos falando “Meu

D’us”, ele nunca será seu! Ele só será seu quando você disser que você

é D’Ele, e não Ele é seu. Quando você abandonar a idéia do meu D’us.

Isso é absurdo, é tolo. Não há a idéia do Meu D’us. É você que tem

que ser D’Ele. E ser D’ele compreende em ser da totalidade que é a

vida. O resto é sombra, prisão, imagem e fantasia. Quando nós nos

tornamos de D’us, ao invés de fazer D’us nosso, adquirimos o coração

bom e nos tornarmos submetidos ao mérito. É um longo trabalho, difícil,

mas não impossível.

4.3 – Árvore da Vida e as Inteligências Múltiplas

Árvore da vida, ou Etz Chayim, é o que seria a estrutura que liga o

homem e todo universo, à Or Eyn Sof.

Assim como existe uma usina elétrica para transformar e diminuir

a energia que é gerada para a eletricidade chegar na tomada de nossas

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174 casas, precisamos desta estrutura para nos aproximar e acessar a Luz

de forma plena e consciente.

É fundamental entendermos o que é, pois ela nos remete ao

desenvolvimento do que chamamos de inteligências - que a Cabalá

Contemplativa define como virtudes. As inteligências são

características que podemos e devemos despertar ao longo de toda

nossa vida, e não existe um limite de desenvolvimento destas

inteligências nem tampouco ela pode ser medida, equiparada e

comparada.

A Árvore da Vida é uma alegoria para o que chamamos das 10

Sefirot - manifestações de Or, representando uma estrutura imóvel São

10 potências - valores, virtudes, pesos, densidades, inteligências ou

características; objetivas que devemos alcançar, despertar e

desenvolver em nossa vida através do manuseio de estruturas

(composições) subjetivas, as quais são representadas pelas 22 letras

hebraicas, que vão nos equiparar a imagem e semelhança de Or.

As 22 letras hebraicas que representam essa estrutura móvel

dentro da estrutura imóvel da Árvore da Vida, são especulações

racionais. As letras seriam o veículo (a carruagem - merkavá em

hebraico), o qual chegamos às virtudes. É como se lançássemos letras

que formam palavras, que formam conceitos, idéias, ensinamentos,

meditações, etc.; que por sua vez formam sentimentos, impressões,

certezas ou incertezas. Elas possuem seu lado Luz ou sombra, e temos

que trabalhar e desenvolver suas características de Luz para atingirmos

a sua verdadeira essência.

Para atingirmos a cada uma das 10 inteligências (virtude,

potência), temos que cultivar e trabalhar a plenitude das 22 letras em

cada uma delas.

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175 Por isso podemos dizer que a Teoria das Múltiplas Inteligências

do Psicólogo americano Howard Gardner, tem um modo de perceber as

inteligências de uma pessoa de maneira semelhante a Cabalá

Contemplativa. Não necessariamente temos o mesmo conteúdo, mas

certamente encontramos diversos pontos e opiniões que podemos

utilizar como interseção e comparação.

A figura abaixo ilustra de forma alegórica a árvore da vida

Abulafiana.

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176

Figura 1 – Árvore da Vida Abulafiana. Fonte: Academia de Cabalá Rav

Meir

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177 4.4 – O desenvolvimento das Virtudes

Para alcançarmos o desenvolvimento das inteligências dentro da

estrutura da Árvore da Vida, temos que entender as 10 inteligências –

virtudes ou como chamamos na Cabalá Contemplativa Sefirót - e todo o

seu desenvolvimento e funcionamento. Assim como as 22 letras

hebraicas e o que são a luz e a sombra de cada uma delas.

É importante também ressaltarmos que as inteligências são

complementares, trabalham em conjunto e não existe nenhuma mais

importante que a outra. É como se fossem as cores de um arco-íris.

Além de que para cada pessoa, ela vai ser despertada e exposta de uma

forma e de uma maneira, porém sua essência será sempre a mesma que

é a essência da Luz.

Não podemos esquecer que as pessoas são diferentes e que cada

um tem a forma de aprendizagem e de estímulos diferentes. Por isso

devemos ter um processo de permanência e refinamento contínuo para

que cada um ache o seu potencial e sua forma de despertar aquela

inteligência dentro de seu processo de crescimento pessoal, integral e

verdadeiro.

4.4.1 – Inteligências (Sefirót)

• MALCHUT

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178

A virtude da HUMILDADE.

Esta sefirá (singular de Sefirót) representa o Mundo Físico, o

Reino, o Mundo da Ação. É em malchut que existe a concretização de

nosso propósito.

A humildade é a grande e poderosa arma contra o nosso ego.

Pois ela nos torna mais fortes e firmes de caráter, permitindo assim

superarmos os assaltos da vaidade, da auto-suficiência e da arrogância.

É muito importante não sentirmos orgulho de nada, nem mesmo do

que possuímos, pois só assim, nos descobrindo como pobres e

esvaziados, é que conseguimos nos abrir para receber algo.

Vencer o orgulho pessoal deve ser nossa meta. É uma conquista

interior e não uma atitude fora de nós. Só os humildes de coração e

mente conseguem transformar conhecimento em sabedoria.

Também temos que ter em mente que as nossas posses nos são

dadas por Or. E ter sempre este pensamento até quando estivermos em

momentos de estudo.

A nossa criatividade e inspiração, só se manifesta de forma

verdadeira, quando estamos exilados de nosso ego.

O temor ao Eterno, ou seja, nos afastarmos daquilo que nos causa

mal, também é fundamental para se tornar humilde.

Pode até não parecer, mas esta é a mais fácil das virtudes. Ela é

o primeiro passo. Ouvir, aprender, ler, estudar, todos são gestos e

ações de humildade.

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179 Na Cabalá Contemplativa temos o Néfesh Chayim que trabalha

muito a “psicomotricidade”, e ajuda ao desenvolvimento da virtude da

humildade - que está ligada também ao corpo físico.

• YESSOD

A virtude da VERDADE.

Esta sefirá representa o Fundamento. Está ligada diretamente ao

propósito, ao alicerce, à identidade, aos pactos e às escolhas.

Temos que buscar e nos ligar somente ao que é verdadeiro. E

para isso temos que ter uma eterna e constante vigília sobre o que

falamos e pensamos. Não ser dominados por nossos instintos que nos

desviam da verdade e de nosso propósito.

Aqui vivenciamos também a relação intra-pessoal, um respeito por

si mesmo, pelos pactos que firmamos, as escolhas que fazemos ou

quando deixamos que algo ou alguém as façam por nós. A importância e

a veracidade de nossos sonhos, desejos, necessidades, habilidades,

emoções, sentimentos e idéias. É também o nos precaver de

pensamentos que podem causar a nossa auto-destruição.

Estendemos o respeito por si próprio para: respeito pelo

semelhante, pela vida, pelo universo em si; e o chamamos de dignidade.

A dignidade engrandece e eleva o ser humano. A nobreza de

caráter, a integridade e a estabilidade emocional, assim como os valores

morais, geram uma energia firme e forte. O homem digno é merecedor

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180 da condição humana, pois espalha segurança, harmonia e admiração;

além de cumprir seu papel no mundo.

• HOD

A virtude do REFINAMENTO.

Esta sefirá representa a Glória, mas também o reconhecimento no

sentido de gratidão sincera à Or.

O refinamento consiste em nos tornamos a cada dia melhores

naquilo que somos e fazemos. E só quando buscamos esse crescimento

é que conquistamos o merecimento.

Pelo princípio da semelhança, quando identificamos o outro e o

aceitamos, também estamos nos refinando. Esta relação inter-pessoal é

uma das chaves mais importantes para o processo do refinamento. É o

reflexo de nossa evolução.

Para vencermos nossa tendência de repetição, banalização da

vida, superação de padrões robóticos - repetitivos, o refinamento é

fundamental. Evoluímos humana e espiritualmente com o refinamento

sustentado pela força da alma e pelo nosso desejo de progredir.

O refinamento é a renúncia de um padrão robótico de conduta

para dar um sentido mais nobre e amplo à vida.

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181

• NETZACH

A virtude da PERMANÊNCIA.

Esta sefirá representa a Vitória, mas também a confiança.

Confiança é o que nos conduz a estar permanentemente vinculado

a algo, a alguém, a um caminho, um propósito. É quando vencemos as

nossas próprias limitações e nos regeneramos. É a energia que nos

anima e assegura a vitória sobre as dificuldades individuais e a

fragilidade.

Está ligada a vencermos todos os processos de falências, sejam

físicas, morais, intelectuais. É o que nos sustenta.

A confiança nos estimula a seguir a vocação evolutiva do caminho

e desenvolver a fidelidade e eternidade contínua do caminho.

• TIFERET

A virtude da BELEZA.

Esta sefirá representa a Misericórdia (distância entre a causa e o

efeito), mas também o equilíbrio e a restrição.

Para cultivarmos o belo, temos que encontrar onde está o

equilíbrio daquilo, nem a falta e nem o excesso se tornam belo.

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182 A meditação também está ligada a este equilíbrio e a harmonia. E

sua base é o foco (kavaná em hebraico), que é a intenção direcionada, é

quando corpo, alma, coração, mente, emoção e ação, estão ligados no

mesmo objetivo. Com o equilíbrio, chegamos à verdade.

Também associamos a excelência que é a atitude inspirada pelo

amor puro, é o que fortalece o poder de realização.

Quem coloca beleza no que acredita, não conhece instabilidade e

indefinições, e parte rumo ao progresso moral, espiritual, material e

psicológico.

• G’VURÁ

A virtude da DISCIPLINA.

Esta sefirá representa a contração, a força e o temor que é nos

afastar do que nos faz mal.

Também a associamos ao livre-arbítrio que é ter o controle sobre

nossa vida e nossos impulsos - que é o contrário de fazer o que

queremos; é o restringir o que desejamos. E isto vem através desta

força.

É perceber o limite de nossa atuação, comportamento, atitudes,

expressão de uma coisa que é muito maior que a nossa parte que é o

todo.

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183 Temos que ter a consciência de que temos o bem (Boa Formação)

e o mal (Má Formação) dentro de nós, e que através do auto-controle e

da disciplina, dominamos o mal dentro de nós.

Quando falamos de responsabilidade, que é responder pelas

nossas próprias ações, palavras e aquilo que nos foi confiado, estamos

nesta virtude. E temos que pensar que só quem é responsável, é que

consegue assumir as rédeas de sua vida, de seu destino, construindo

seu caráter dignamente.

• CHESSED

A virtude do DESEJO DE COMPARTILHAR.

Esta sefirá representa o amor, o doar incondicionalmente. Está

ligada ao sim, a bondade, a benevolência e a generosidade.

O desejo de compartilhar é a natureza de Or.

É quando podemos não só ser o bem. Principalmente é enxergar

o bem e as boas qualidades em si e no nosso semelhante,

compartilhando com o lado positivo da vida. É ajudar ao próximo

espiritualmente, psicologicamente, fisicamente, moralmente... cuidar do

próximo... É “e amarás a teu próximo como a ti mesmo” (Torah,

Levítico 19:18).

É bom lembrarmos que só podemos enxergar o bem nos outros se

vivemos nele e para ele, além de lutarmos destemidamente para que o

bem estar sempre triunfe.

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184 Com bondade, participamos do drama do mundo sem quimeras ou

ilusões, contribuindo com certeza e amor para que ele se torne melhor.

Quando ajudamos o outro a se tornar alguém melhor ou mesmo

quando reconciliamos duas pessoas através do amor e da afeição,

também estamos praticando esta virtude em nossa vida.

É buscar para si e para o próximo caminhos de paz, ou sejam,

caminhos sem pendências.

• Da’at

Esta NÃO é uma sefirá, uma virtude, mas é o que chamamos de

um “poço”, uma fonte onde bebemos as águas do conhecimento, que é o

conhecimento necessário para se chegar ao entendimento e a

sabedoria. É o acumular o saber.

Representa a unicidade, a inter-inclusão que nos afirma que tudo

é derivado de um único ponto.

Os quatros conhecimentos existentes são: emocional (maturidade

emocional), inferior (moralidade), oculto (mistérios ocultos) e supremo

(leis espirituais).

• BINÁ

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185 A virtude da ALEGRIA.

Esta sefirá representa o entusiasmo e a compreensão.

É o entendimento que surge a partir do conhecimento, quando

compreendemos aquilo que é verdadeiro. Interiorizar o conteúdo de

maneira que ele se torne parte da pessoa.

A moralidade é estabelecida dentro deste entendimento. É o

processo de restauração, preparação e transformação do caráter, que é

a nossa retificação (Teshuvá em hebraico).

O segredo da alegria é não se tornar pesado e denso, é ser

suave. Ela que nos dá a capacidade de superação de problemas, nos

trazendo a vitalidade e o viver a vida em plenitude. É nosso estado

natural é só o perdemos pela falta de autoconhecimento e a ausência do

amor.

• CHOCHMÁ

A virtude da AUTO-ANULAÇÃO.

Esta sefirá representa a submissão, a auto-neutralização.

É esta auto-anulação que nos leva a sabedoria, por isso a

importância de estar submetido a um mestre, de ser discípulo. Também

é um processo de suicídio para o ego, o que nos torna abertos e aptos

para a absorção da Sabedoria Espiritual.

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186 Já que aqui anulamos o ego, refletimos e compreendemos

realmente a nossa existência e a criatividade é aflorada e despertada.

A Sabedoria também reside em nos colocarmos no lugar do outro

e percebermos e identificarmos de forma existencial o outro dentro de

nós.

O amor ao aprendizado é a inspiração pela sede de saber, está

aqui e é a melhor forma de nos adequarmos a vida, ao nosso caminho,

nosso propósito; assim como contribuir com nossos talentos para sus

melhora.

Essa submissão também nos detém de nos perdermos em nossos

pensamentos subjetivos, ilusórios, fazendo com que ultrapassemos os

limites dos nossos sentidos provocando o rompimento da inércia e do

comodismo; e ampliando a nossa percepção e vivência real com a

existência.

• KÉTER

A virtude da CERTEZA.

Como já citamos anteriormente, a certeza não é fé. Fé está fora de

nós, em uma expectativa no outro ou em algo. A certeza como o próprio

nome diz, não há dúvida é uma afirmação.

Quando analisamos o Diagrama Abulafiano da Árvore da Vida

(Fig. 1), percebemos que esta Sefirá é a mais próxima da Or Eyn Sof,

como se fosse um balão de gás cheio no seu ponto máximo - no seu

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187 limite, a ponto de estourar. Por isso ela é a mais frágil das virtudes, um

único e simples pensamento pode quebrá-la.

Aqui reside o Espírito Devocional. É o reconstruir fundamentos

morais e amorosos, estimular a certeza e a confiança, e

conseqüentemente destruir as dúvidas corrosivas que dificultam o

autoconhecimento. É nos entregarmos amorosamente ao caminho do

aprimoramento.

A devoção é o sentimento vivo do amor, por isso vibra no coração.

Ser devoto é fazer de cada ato uma celebração do amor de Or e por Or,

que é buscamos sempre a visão ampla, a compreensão e percepção da

totalidade das coisas.

Segundo Rav Moshé Cordovero no seu livro Tomer Devorah,

devemos aqui nos espelhar em qualidades que é como Or conduz o

mundo para se habituar a kéter: a humildade (principalmente ser

circunspeto); ter bons pensamentos; ter boa vontade, tranqüilidade e

aceitação; ouvir só o bem; observar, olhar apenas o que é bom; não se

tornar colérico; ter um rosto radiante e alegre; falar somente o bem e o

que está ligado à Sabedoria Espiritual.

4.4.2 – Estímulos (Letras Hebraicas)

As 22 letras hebraicas são os estímulos, em constante movimento,

para se chegar às virtudes. Como já mencionamos acima, as “letras”

são as “palavras”, e é por intermédio das palavras que chegamos ao

desenvolvimento espiritual.

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188 Segundo o Sêfer Yetzirah, são sub-divididas em 3 grupos, os

quais apresentaremos a seguir.

• As três Letras Mães

Na Cabalá são as letras responsáveis pelas estruturas básicas da

criação. Regem os 3 elementos no Universo (ar, água e fogo), as

estações no Ano, e na Alma a cabeça e o tronco.

Não possuem aspectos luz e sombra como as outras letras, pois são

elementos que envolvem apenas escolhas e níveis de consciência

limitada.

• ALEPH

É a primeira letra do alfabeto e representa o processo de

contração que temos que ter para adquirir tudo em nossa vida. É o

início, o principio, a introspecção.

É a linguagem que legisla a lei básica da Sabedoria Espiritual, a

unicidade, a inter-inclusão, a consciência coletiva. Também é o silêncio

e a quietude interior – a da alma.

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189 • MEM

É o patamar do mérito, por ser a representação e a manifestação

física da própria Sabedoria Espiritual.

É quando aplicamos o amor em tudo a nossa volta, principalmente

ao nosso semelhante.

• SHIN

É o patamar do dever, representando a transformação e a

purificação de nossa vida, nossos atos e nossas atitudes. É o buscar

uma constância como se fosse algo apaixonadamente eterno em nossa

evolução.

• As Sete Duplas

Na Cabalá as duplas são as letras responsáveis pelas estruturas

de contato do homem com o mundo. Regem os planetas no Universo, os

dias da semana no Ano e na Alma os orifícios localizados na cabeça

(chamados de “portais” no Sêfer Yetzirah).

Page 190: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

190 Também exprimem significados precisos que chamamos de

fundação ou de aspecto luz, mas possui também sua contra-parte ou

sombra.

• BEIT

Aspecto luz: SABEDORIA.

Força de vontade, evolução através de dificuldades e transformar

maldições em benções: toda maldição é uma bênção disfarçada, pois só

através das revezes e das dificuldades somos estimulados a evoluir.

Aspecto sombra: TOLICE.

Estupidez, estagnação e insensatez.

• GUIMEL

Aspecto luz: RIQUEZA.

Prosperidade em todas as áreas, abundância, desejo de

compartilhar, servir ao próximo.

Page 191: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

191 Aspecto sombra: POBREZA.

Falta, escassez e desejo de receber para si mesmo.

• DALET

Aspecto luz: SEMENTE.

Criar vida, dar vida, colheita, fecundação de um novo ciclo de

tempo.

Aspecto sombra: DESOLAÇÃO.

Ausência de vida, estado de solidão.

• CAPH

Aspecto luz: VIDA.

Vitalidade, criação, cura.

Aspecto sombra: MORTE.

Page 192: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

192 Destruição, mortificação.

• PHEI

Aspecto luz: PODER.

Livre-arbítrio, ser a causa das coisas e situações e não o efeito,

autoridade, liderança, ter controle sobre as coisas..

Aspecto sombra: SERVIDÃO.

Escravidão, dependência.

• RESH

Aspecto luz: PAZ.

Ausência de pendências, retificação, serenidades.

Aspecto sombra: GUERRA.

Conflitos, lutas, pendências.

Page 193: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

193

• TAV

Aspecto luz: GRAÇA.

É se tornar harmonioso, prestar atenção nos detalhes, retirar os

excessos.

Aspecto sombra: FEIÚRA.

Desarmonia, excessos.

• As Doze Elementares

Na Cabalá as elementares são as letras responsáveis pelas

estruturas mais sutis do homem. Regem as constelações no Universo,

os meses no Ano e os humores do homem e sentidos do homem na Alma

(chamados de “diretores” no Sêfer Yetzirah).

Também exprimem significados precisos que chamamos de

fundação ou de aspecto luz, mas possui também sua contra-parte ou

sombra.

Page 194: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

194

• HEI

Aspecto luz: PALAVRA.

É a comunicação, auto-expressão, vontade, vitalidade, conter a

palavra, restringir, como articulamos nossas palavras, falar coisas

verdadeiras e o silêncio.

Aspecto sombra: MUDEZ.

Mentira, fofoca, intriga, difamação, calúnia, não falar o que se

deveria, lamúria, falar algo que não se sente (a realidade é outra).

• VAV

Aspecto luz: PENSAMENTO.

Foco, junção, unificação, coesão, contemplação.

Aspecto sombra: AUSÊNCIA (FALTA) DE ATENÇÃO.

Falta de foco, desconexão, desunião, fragmentação.

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195

• ZAIN

Aspecto luz: LOCOMOÇÃO.

Seria uma atração na direção do saber e de necessidade de

relação.

O desenvolvimento da vida mental.

Capacidade de se deslocar e de se locomover.

Aspecto sombra: IMOBILIDADE.

Paralisia total ou andar em círculos.

• CHET

Aspecto luz: VISÃO.

A visão corresponde ao passado, aos “ancestrais”. É a juventude

que possui uma visão nova, no seio da casa familiar.

Distinguir o essencial do supérfluo e ir além das aparências.

Avaliação de projetos e análises críticas sobre nós mesmos.

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196 Limpeza, purificação, totalidade, capacidade de observação, bom-

olhado e busca da verdade.

Aspecto sombra: CEGUEIRA.

Mentira, fragmentação, inveja.

“Tapar o sol com a peneira”.

Olhar com cobiça para o outro, Ayin Hará - mau-olhado, olhar

disperso e arrogância.

• TETH

Aspecto luz: AUDIÇÃO.

A audição corresponde ao Futuro, aos “Descendentes”, na direção

do que aspira e a uma espécie de imortalidade.

Assimilação da palavra, ouvir coisas boas, buscar boas notícias e

pessoas positivas.

Aspecto sombra: SURDEZ.

Incapacidade de assimilar

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197

• YUD

Aspecto luz: AÇÃO.

São as ocupações, a capacidade de agir e de se alcançar ou

transformar as coisas.

Processo de criação.

Aspecto sombra: INÉRCIA.

Ficar paralisado e ineficiência de se alcançar coisas.

Agir de forma desenfreada.

Bloqueio no processo de criação.

• LAMED

Aspecto luz: COPULAÇÃO.

Fertilidade, capacidade de transmitir, ensinar e gerar frutos.

Relações de fecundação.

Articulação das idéias, organização dos pensamentos

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198 Aspecto sombra: IMPOTÊNCIA.

Incapacidade de transmitir, ensinar ou gerar frutos.

• NUN

Aspecto luz: OLFATO.

O olfato simboliza o caráter passageiro de todas as coisas,

lembrado regularmente pela “morte”.

A capacidade de desenvolver percepções sensíveis que nos

permitem penetrar em um estado de espírito mais aquietado. Nos

conduz a um estado contemplativo.

Sutileza, apaziguar o desejo de receber para si mesmo.

Aspecto sombra: INCAPACIDADE DE SENTIR ODORES.

Reatividade no ponto extremo.

• SAMECH

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199 Aspecto luz: SONO.

O sono é uma “viagem” em pensamento, mas assim mesmo, uma

viagem.

Certamente, é a maior revelação do sistema de pensamento de

cada um.

Ligado aos nossos sonhos. A capacidade de ter acesso à sua

essência, à sua missão, ao seu propósito existencial. Acesso ao

inconsciente a aquilo que você guarda no íntimo da sua alma.

Aspecto sombra: INSÔNIA.

Incapacidade de deixar os seus sonhos fluírem;

• AYIN

Aspecto luz: CÓLERA.

A “cólera” deve ser tomada aqui no sentido de forte

temperamento, dando o poder e a influência para o “trabalho”.

É a ira: ímpeto e força de se atingir algo, não reatividade. Força

de juiz, guerreiro, a ira Sagrada.

Capacidade de lutar por um ideal, vitalidade para lutar por uma

causa, sagacidade

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200 Aspecto sombra: AUSÊNCIA DO FÍGADO.

Perder a vontade, a vitalidade por lutar por algo que seja

relevante, despretensão.

• TZADE

Aspecto luz: PALADAR.

O paladar está relacionado com as esperanças e os desejos. Se

um gosto é desagradável é porque ele não corresponde à esperança

que se tinha.

Capacidade de assimilação, ao que se assimila, ao que se

absorve, consolidação.

Paladar também está ligado às amizades, vinculado a capacidade

de se estabelecer vínculos sociais, comer está associado ao ato de

estabelecer alianças.

Aspecto sombra: FOME.

Ausência de assimilação, ao não se ligar a absolutamente nada,

não permitir assimilar absolutamente nada.

Ausência de alianças e de vínculos sociais.

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201 • CUPH

Aspecto luz: RISO.

O riso permite, com freqüência, a dissimulação das fraquezas de

caráter e os complexos recalcados, são os nossos “inimigos” que

gostam de rir de nós.

Riso é a capacidade do senso de humor, da alegria, é uma

vitalidade.

Aspecto sombra: AUSÊNCIA DO BAÇO.

Ausência desse humor, ausência da capacidade de filtragem pelo

humor.

Page 202: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

202

CONCLUSÃO

A partir do recebimento e da prática da Educação Contemplativa,

deixaremos de ser um Golem, ou seja, um ser humano no seu estado de

matéria mais bruto, idiotizado diante da existência e totalmente limitado

a automatizar o aprendizado – desumanizando-se.

A Educação nunca termina na vida de um ser humano, por isso

temos que cada dia intensificá-la e com isso adquirirmos cada vez mais

consciência e responsabilidade para nossa transformação, e

consequentemente transformar o mundo em um mundo melhor de se

viver.

Somos iguais a diamantes em estado bruto, precisamos de

lapidação para nos transformar em belos diamantes.

Quando encontramos este ser vivente e consciente de sua

realidade, deixamos de ser um ignorante para nos tornarmos um sábio.

A passagem da ignorância à sabedoria, ao

conhecimento, é possível. Podemos dizer que

ignorante é alguém que não soube liberar sua luz

interior e sua natureza é uma massa opaca e

compacta, um mundo fechado. Passar do estado de

Golem à situação de sábio é o mesmo que passar da

matéria ao espírito. Ele não representa o mal, mas

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203 sim "chomer galmi", a "matéria primordial"

indispensável a toda criação. (Rav Mario Meir)

A Cabalá Contemplativa nos fala há séculos de um conceito muito

importante de consciência de Olam haBa (Mundo Futuro) ou consciência

futura. Sabemos que é uma “visão de longo alcance”, uma visão da

esperança e do além dos limites.

O Olam haBa é um mundo no qual se penetra

individualmente por esforço e vontade próprios. Uma

consciência de paz e de serenidade contemplativa

que interferirá de forma coletiva. (Rav Mario Meir)

Por isso temos que encontrar a resposta afirmativa para uma

pergunta muito importante dentro de nossa existência: - Estou fazendo o

que deve ser feito?

A EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA transforma nossa consciência,

em uma consciência contemplativa, e conseguimos através de sua

absorção e desenvolvimento, chegar a este estado de purificação,

plenitude e consciência de Olam haBa.

O verdadeiro caminho espiritual consiste em descer a

montanha e penetrar no mundo do caos, das

dificuldades, do tumulto e da aflição, com a finalidade

de confrontar os gatilhos que acionam reações. Cada

gatilho nos dá a oportunidade de transformar o nosso

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204 comportamento reativo e de remover as clipót

(cascas). (Rav Mario Meir – Apostila de Yichud –

Aprendendo a remover a programação negativa da

alma).

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205

GLOSSÁRIO

Amidá – ritual para compartilhar Luz espiritual para toda humanidade.

Anussim – marranos, cripto-judeus; - são os judeus que, durante a

Inquisição em Portugal, Espanha e no Brasil, foram convertidos à força

ao cristianismo, mas se mantiveram judeus secretamente e preservaram

seus costumes dentro de suas vidas (casa, família, amigos, etc.).

Ar’vit – ritual feito antes de dormir.

Beit Din – Tribunal de Justiça Rabínico.

Beit Yossef – A Casa de Yossef

Cadish – Oração recitada pelas almas dos que partiram deste mundo.

Chaver (plural. Chaverim) – Companheiro.

Chug – círculo

Cohelet – Eclesiastes. Escrito por Salomão.

Eyn-Sof – Mundo Infinito

Évem HaShôham – A Pedra de Ônix.

Halakhah – modo caminhante, vivente, condutor

Kibutzim – plural de Kibutz

Lashon HaRah – Má Língua, maledicência.

Levush – Vestimenta.

Page 206: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

206 Mishlê – Provérbios. Escrito por Salomão.

Mishnah – Ensinamento

Mitzvah – Mandamento, conexão espiritual

Néfesh Chayim – técnica de meditação corporal, onde são trabalhados:

posturas, respirações, percepções espaciais, corpo, equilíbrio,

autoconhecimento; desenvolvido por Rav Avraham Abulafia, no séc. XIII

e adaptado por Rav Mario Meir.

Or – D’us, Luz, Emanador

Or Eyn Sof – Luz do Mundo Infinito

Or Hassé Cheli – Luz do Intelecto

Or Ne’erav – Doce Luz

Or Yakar – a Luz Preciosa

Otiot – As letras do alfabeto hebraico.

Rav – Mestre, Rabino

Rebtzin – Esposa do Rav.

Sanhedrin – Suprema Corte Judaica

Sêfer Chaiê Olam Habá – Livro da Vida no Mundo Vindouro. Escrito por

Rav Avraham Abulafia.

Sêfer HaBahir – Livro da Iluminação, escrito por Rav Nehuniá ben

HaCana.

Sêfer HaChéshec – Livro da Paixão. Escrito por Rav Avraham Abulafia.

Page 207: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

207 Sêfer HaOtiot – Primeira obra explicativa sobre os mistérios do Sêfer

Yetzirah. Escrito por Rav Nehuniá ben HaCana.

Sêfer HaZohar – Livro do Esplendor. Escrito por Rav Shimon Bar

Yochai.

Sêfer Yetzirah – Livro da Formação. Escrito por Avraham (Patriarca

Abraão).

Sefirot – dimensões; manifestações; filtros através dos quais a Luz do

Eyn-Sof chega até nós.

Shaarê Kedushah – Portões da Santidade. Escrito por Rav Chayim

Vital.

Shaarê Orá – Portões da Luz. Escrito por Rav Yossef Gikatyilla.

Shacharit – ritual feito ao acordarmos.

Shechiná – Presença Divina; sensação de plenitude espiritual

acolhedora; vitalidade verdadeira

Shir HaShirim - Cântico dos Cânticos. Escrito por Salomão.

Shulchan Aruch – Mesa Posta

Sitrei Torah – O oculto (profundo) da Torah. Aqui se refere a um estudo

dirigido pelo Rav Mario Meir.

Talmid – discípulo, estudante.

Tamei Torah – O Estudo da Torah. Aqui se refere a um estudo dirigido

pelo Rav Mario Meir

Tanach – É a composição de 24 livros: Torah; Neviim (Profetas): Josué

(Ychoshua), Juízes (Shofetim), Samuel (Shemuel), Reis (Melachim),

Isaías (Yesha’yáhu), Jeremias (Yirmiyáhu), Ezequiel (Yechezekel) e

Page 208: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES DIRETORIA DE … COSTA DE BARROS.pdf · Cabala Contemplativa, traçando um histórico que abrangerá das origens às manifestações atuais. No capítulo

208 Doze Profetas (Tre-assar); Ktuvim (Escrituras Sagradas): Tehilim,

Mishlê, Jô (Iyov), Shir HaShirim, Echá (Lamentações), Cohelet, Ester,

Daniel, Esdras / Neemias (Ezra / Nechemyá) e Crônicas (Divrê-

Hayamim).

Tehilim – Livro de Salmos.

Ticun – acerto, correção.

Tomer Devorah – Tamareira de Débora. Escrita por Rav Moshé

Cordovero.

Torah – Pentateuco, A Lei de Moisés. Contém 5 livros: Gênesis

(Bereshit), Êxodo (Shemót), Levítico (Vayikrá), Números (Bamidbar) e

Deuteronômio (Devarim).

Tzadick (plural – Tzadickim) – Homem justo de nossa Tradição.

Tzedacá – fazer justiça.

Yeshivá – Casa de Estudos

Yichud – União. Conexão. Prática de meditação avançada, pratica na

Cabalá Contemplativa, que utiliza como ferramenta as permutações em

código de letras hebraicas. Estas práticas são realizadas na Academia

de Cabalá Rav Meir .

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209

ANEXOS

Anexo 1 – Texto Rav Mario Meir

Rav Mario Meir nos indica de forma breve e precisa, 12 passos

que devemos percorrer em direção a nossa humildade:

Passo 1: Respeite as regras simples.

Passo 2: Rejeite seus desejos pessoais.

Passo 3: Obedeça, de bom grado e sem nenhuma insatisfação interna

as pessoas que ocupam posições de autoridade.

Passo 4: Agüente a aflição e seja contemplativo mesmo quando se

sentir contrariado.

Passo 5: Admita suas fraquezas mesmo que seja para si mesmo.

Passo 6: Pratique a satisfação.

Passo 7: Aprenda a se repreender.

Passo 8: Obedeça a regra comum, não apenas no papel mais também

espiritualmente.

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210 Passo 9: Entenda que o silêncio é precioso, e por isso, tente escutar

mais do que falar.

Passo 10: Reflita sobre a humildade.

Passo 11: Aja com simplicidade.

Passo 12: Seja humilde na aparência assim como no coração.

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211

BIBLIOGRAFIA

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Editora e Livraria Sêfer Ltda, 2003.

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educativa. 34ª ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996 (Coleção Leitura)

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Professor. ed. São Paulo: Abril Cultural.

JUNG, Carl Gustav. O Homem e Seus Símbolos. 14ª ed. São Paulo: Nova

Fronteira, 1996.

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Especial A Mente do Bebê – Vol. 4. São Paulo: Duetto Editorial, 8 p.

MEIR, Rav Mario. Apostila Cabalá Contemplativa III. Academia de Cabalá Rav

Meir.

MEIR, Rav Mario. Apostila de Yichud, Aprendendo a Remover a Programação

Negativa da Alma. Academia de Cabalá Rav Meir.

MEIR, Rav Mario. Aulas de: Particular, Árvore da Vida, Sitrei Torah e Tamei

Torah. Academia de Cabalá Rav Meir.

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ROTENBERG, Mordechai. Existência à Luz da Cabalá – Teoria e Prática – do

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Sabedoria do Rebe. São Paulo: Maayanot, 2001.

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Humanitas/FFLCH/USP:Fapesp, 2002.

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Vygotsky, Wallon: teorias psicogenéticas em discussão. São Paulo: Summus,

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTOS 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I

CABALÁ CONTEMPLATIVA 11

1.1 – Origens da Cabalá 11

1.2 – Rav Mario Meir e a Academia de

Cabalá Rav Meir 15

1.3 – A Metodologia 17

CAPÍTULO II

EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA (CHINUCH YUNIT) 21

2.1 – Chinuch Yunit – Inspiração e Integração 22

2.2 – A importância da Cabalá Contemplativa

na Educação Infantil 24

2.3 – O inegociável papel dos Pais 26

2.4 – Educação Inclusiva e Educação Especial 30

2.5 – Disciplina, Restrição e Entusiasmo 32

2.6 – Pirkê Avót – A Ética dos Sábios 34

2.6.1 – As 48 Qualidades 37

2.7 – Informática 85

2.8 – Aonde queremos chegar! 86

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CAPÍTULO III

INTERSEÇÃO DA EDUCAÇÃO CONTEMPLATIVA 89

3.1 – Cronologia dos Mestres-Educadores da

Educação Contemplativa 89

3.2 – Psicologia 106

3.3 – Ética 116

3.4 – Os Grandes Pensadores Pedagógicos 120

3.5 – Moral 161

CAPÍTULO IV

INTELIGÊNCIA CONTEMPLATIVA 163

4.1 – Espiritualidade 164

4.2.1 – Or (D’us) 165

4.3 – Árvore da Vida e as Inteligências Múltiplas 168

4.4 – O desenvolvimento das Virtudes 171

4.4.1 – Inteligências (Sefirót) 171

4.4.2 – Estímulos (Letras Hebraicas) 181

CONCLUSÃO 195

GLOSSÁRIO 197

ANEXOS 201

BIBLIOGRAFIA 203

ÍNDICE 205

ATIVIDADES CULTURAIS 207

FOLHA DE AVALIAÇÃO 208

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ATIVIDADES CULTURAIS

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

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