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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NEUROCIÊNCIA: RELEVÂNCIA E CONTRIBUIÇÕES PARA A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA ESCOLA Kátia de Mendonça Couto e Silva ORIENTADOR: Profª. Marta Relvas Rio de Janeiro 2017 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

NEUROCIÊNCIA: RELEVÂNCIA E CONTRIBUIÇÕES PARA A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA ESCOLA

Kátia de Mendonça Couto e Silva

ORIENTADOR:

Profª. Marta Relvas

Rio de Janeiro 2017

DOCUMENTO

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES / AVM

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Neurociência Pedagógica. Por: Kátia de Mendonça Couto e Silva

NEUROCIÊNCIA: RELEVÂNCIA E CONTRIBUIÇÕES PARA A ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL NA ESCOLA

Rio de Janeiro 2017

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AGRADECIMENTOS

Aos queridos Professores pela inspiração e bons

exemplos.

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DEDICATÓRIA

Dedico ao meu Deus pelo dom da vida. Aos meus queridos e inesquecíveis pais, Haroldo e Nancy pela dedicação incondicional. Aos meus admiráveis sogros Bergite e Almerinda.

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RESUMO

O presente estudo tem o objetivo de destacar o papel relevante da

Neurociência bem como o avanço dos conhecimentos neurocientíficos e a

importância da compreensão do processo de aprendizagem pelo cérebro.

Destaca-se também o valor da Orientação Educacional dentro da instituição

escolar na busca de alcançar a plena formação do educando.

Através da aplicação dos conhecimentos adquiridos com a Capacitação

Continuada, o estudo da Neurociência, possibilita que educadores possam

trabalhar e ter mais firmeza em suas ações, dando aos educandos condições

melhores no processo de aprendizagem.

Todo esse conhecimento torna-se então uma ferramenta indispensável no

cotidiano escolar, dando à toda a comunidade um respaldo maior e

credibilidade em suas ações diárias.

Palavras chave: Orientação Educacional, Cérebro, Aprendizagem, Neurociência.

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METODOLOGIA

A pesquisa tem como objetivo o destaque da importância da

compreensão do processo de aprendizagem e as contribuições do Orientador

Educacional no auxílio da prática pedagógica visando torná-la mais eficiente. A

partir disso, foram traçados objetivos específicos que são: valorizar o avanço

dos conhecimentos neurocientíficos nos últimos tempos e seus benefícios para

a educação. Compreender o funcionamento do Sistema Nervoso Central e

como o cérebro aprende. Apresentar a história da Orientação Educacional e a

relevância da capacitação desse profissional diante dos desafios em seu

cotidiano.

Para tanto, o trabalho tem como base de produção o estudo

bibliográfico, de caráter qualitativo, utilizando-se conceituados autores do

campo da educação, dentre os estudiosos foram consultados referências

como, Ramon M. Cosenza, Leonor R. Guerra, Mary Rangel, Mirian Paura

Grynspun, Paulo Freire, Samuel Ramos Lago, Armando da Silva. A pesquisa

também baseou-se na leitura de artigos científicos publicados tais como: O

perfil do professor realizado profissionalmente, A neurociência e suas

contribuições às práticas pedagógicas contemporâneas, Orientação

Educacional e a formação do aluno cidadão em uma escola profissionalizante e

também a pesquisa em revistas científicas.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO 1

O AVANÇO DOS CONHECIMENTOS NEUROCIENTÍFICOS E SUAS

CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO 11

CAPÍTULO 2

O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E O PROCESSO

DE APRENDIZAGEM DO CÉREBRO 20

CAPÍTULO 3

HISTÓRIA DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A RELEVÂNCIA

DA CAPACITAÇÃO CONTINUADA PARA O ORIENTADOR

EDUCACIONAL 30

3.1 – Orientação educacional no Brasil, Breve Histórico 30 3.1.1 – O Papel do Orientador educacional e a Neurociência 33 3.1.2 – A Capacitação Continuada do Orientador Educacional 36 CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 41

ÍNDICE 43

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INTRODUÇÃO

Educadores vivem dias de muita exigência e esforços na tarefa para

atender às demandas que se propõem. Seja a preparação teórica, ou melhor, a

sua formação, até a incansável busca de atualização profissional e a dedicação

ao trabalho.

A aprendizagem é fundamental em todas as etapas na vida de uma

pessoa e se desenvolve desde o princípio de sua existência. A parceria entre a

neurociência e a educação é algo bastante promissor. O conjunto de saberes

sobre o Sistema Nervoso Central, onde tudo acontece, desde os

comportamentos, pensamentos, emoções e movimentos, são fundamentais,

sendo a partir dos conhecimentos desta área que a educação pode alcançar

grandes conquistas quando falamos de efetividade e eficácia. Ao considerar-se

que desde o surgimento e avanço da neurociência, houve a possibilidade da

melhoria da qualidade de vida em sociedade, além de oferecer a oportunidade

de tratamentos para distúrbios neurológicos e contribuições para o

desenvolvimento de soluções de diversos transtornos e doenças, inclusive

dificuldades educacionais.

Com os avanços da tecnologia e do crescimento das pesquisas

neurocientíficas, têm sido obtidas descobertas relevantes de como são feitas as

conexões neurais que possibilitam o processo de aprendizagem, trazendo

também conceitos de plasticidade cerebral que é inerente a este processo.

Segundo Relvas (2009):

“Testes em laboratórios e estudos epistemológicos trouxeram à tona uma das mais notáveis características do cérebro: a sua habilidade em amoldar-se à situação das perdas de neurônios comandadas pela Biologia (isto é, sua plasticidade), sem perder assim o seu vigor, mesmo nas mais avançadas idades”. (RELVAS,2009, p.37)

O cérebro não só aprende como se organiza, dependendo das

circunstâncias da vida de cada um. Por isso, a experiência individual é tão

importante para compreender os caminhos de aprendizagem dos alunos.

Segundo Cosenza e Guerra (2011):

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“As neurociências não propõem uma nova pedagogia e nem prometem solução para as dificuldades da aprendizagem, mas ajudam a fundamentar a prática pedagógica que já se realiza com sucesso e orientam a forma como o cérebro funciona tendem a ser mais eficiente”. (COSENZA E GUERRA,2011, p. 139)

Sendo assim, ao longo do estudo, ressalta-se as contribuições dos

avanços da neurociência no processo ensino-aprendizagem e também de que

forma oferece subsídios para a educação e melhor atuação no contexto escolar.

No primeiro capítulo, a partir de um breve histórico das realizações no

campo da neurociência, é que se tem uma ideia dos grandes avanços dos

conhecimentos neuro científicos e sua importante contribuição para a educação.

O segundo capítulo tratará de todo o processo de funcionamento do

sistema nervoso central bem como o modo do processamento do cérebro

humano. O terceiro e último capítulo possui o objetivo de destacar a relevância

da capacitação continuada para o Serviço de Orientação Educacional em uma

instituição escolar e os desafios da sala de aula para os educadores.

Tudo isso, a partir do olhar de educadores que diante das variadas

dificuldades de aprendizagem apresentadas por indivíduos em sala de aula e as

angústias trazidas pelas famílias que se deparam com os fracassos vividos por

seus filhos e/ou pupilos. A diversidade de situações no ambiente escolar cada

vez mais traz desafios e impulsiona a busca por trazer o auxílio necessário às

ações desenvolvidas.

O estudo da Neurociência, possibilita a esses profissionais entenderem

melhor o funcionamento do Sistema Nervoso Central e como o cérebro aprende,

sendo a capacitação continuada uma importante ferramenta para o auxílio de

conquista de bons resultados daqueles que dedicam-se a formação humana e

acreditam na educação como uma alavanca para a emancipação social com o

sucesso de toda a comunidade escolar.

Com um foco no papel do orientador educacional, profissional que diante

das diversas demandas da atualidade que são apresentadas e

consequentemente impulsionam a buscar novos conhecimentos, certamente

possibilitará na compreensão e nas possíveis soluções diante dos desafios no

cotidiano escolar. Sobre esse aspecto vale considerar Cosenza e Guerra (2011)

afirmam que:

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“Dessa forma, educadores, e aí se incluem professores, coordenadores, pais, todos os que orientem o desenvolvimento de outras pessoas, puderem se identificar como agentes das mudanças neurobiológicas que levam à aprendizagem. Surgem então algumas questões como: qual seria a real contribuição das neurociências para a educação? O conhecimento do funcionamento do cérebro pode contribuir para o processo ensino-aprendizagem mediado pelo educador? Estabeleceu-se, a partir daí, um diálogo, uma interface entre as neurociências e a educação, muito debatidos na última década”. (COSENZA E GUERRA, 2011 p. 142)

Sendo assim, dentro de uma perspectiva mais positiva e colaborativa,

menos excludente e menos preconceituosa, os conhecimentos da neurociência,

capacitarão e auxiliarão a comunidade escolar para um trabalho mais frutífero e

saudável. Sempre com o foco no educando que diante de uma sociedade cada

vez mais exigente e com tantos avanços que acontecem em uma velocidade

surpreendente, esse aluno será cidadão capaz e seguro para assumir o seu

lugar no mundo. Sobre o momento de mudanças constantes em nosso meio e a

provocação do tempo de que estamos vivendo, Relvas (2009) comenta:

“Nesse sentido, a Sociedade Contemporânea está passando por uma série de modificações estruturais que nos obrigam a reavaliar aquilo que estamos fazendo em Educação e tentar alinhar este esforço à realidade que existe fora da instituição acadêmica” (RELVAS, 2009, p. 112)

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CAPÍTULO I

O AVANÇO DOS CONHECIMENTOS

NEUROCIENTÍFICOS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA O

PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

Segundo Santos & Sousa (2016), pesquisas realizadas e investigações no

campo da neurociência, comprovam o grande valor que alia neurociência e

educação. A partir de um breve histórico da exploração do cérebro, nos ajudará

a entender melhor sobre o assunto que não é recente; pois esta busca já se faz

há muitos séculos.

Esses estudos nasceram desde uma simples observação sem intenção

ou a partir da curiosidade humana; indo até às escavações e estudos mais

aprofundados em busca de fósseis que iniciaram desde a antiguidade até a

nossa atualidade. Surgiram, e ainda surgem, vários tipos de questionamentos

ao longo dos tempos, a respeito da materialidade e da complexidade deste

órgão incrível e misterioso chamado cérebro. Desde a pré história e as primeiras

civilizações, dentre outros povos como a Grécia até os dias atuais, a busca por

respostas ainda não parou e não deve parar; pois deve se compreender que

somos seres humanos em constante mudança e transformação, vivendo em

uma sociedade que em cada momento faz novas descobertas.

No contexto da Neurociência da Aprendizagem onde se busca tantas

respostas que somente o cérebro e os estudos acerca do mesmo podem ser

capazes de conduzir; se faz necessário compreender, que nesta área de

descobertas constantes e variáveis, é necessário o entendimento de que a

História da Neurociência, apesar de recente, é essencial para a explicação de

sua atual situação. Cada registro se faz importante.

Castro & Landeira-Fernandez (2011) descrevem que da pré história aos

dias atuais, diferentes formas de reflexão a respeito das possíveis relações entre

o corpo e suas funções mentais foram produzidas. Esse tipo de evidência

arqueológica sugere que o cérebro ou pelo menos, a região da cabeça, era vista

como área crítica para as funções básicas da vida. A trepanação, é um

procedimento cirúrgico que consiste na retirada de uma porção do crânio. Nas

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Idades Antigas e Média, essa técnica, largamente utilizada durante os séculos

XVIII e XIX com fins terapêuticos era um caminho comum na busca por

respostas. Crânios trepanados foram encontrados também em culturas humanas

pré-históricas datadas do período Neolítico.

O relato dos autores afirma que, essas descobertas constituem a principal

evidência de que essas culturas possivelmente atribuíam ao cérebro um papel

importante na regulação das funções mentais, uma vez que esses orifícios

cranianos foram deliberadamente, realizados de forma cirúrgica para atingir

algum determinado propósito. Entretanto, os orifícios resultantes da trepanação,

até então, eram considerados frutos da ação de armas, lesões acidentais ou

alterações feitas após a morte.

Em uma viagem ao Peru o arqueólogo americano Ephraim George

Squier encontrou um crânio que apresentava um pequeno orifício retangular de

15 mm por 17 mm, datado por volta de 1500-1400 a.C. Devido às características

do orifício, Squier concluiu que havia sido deliberadamente feito por mãos

humanas.

Seguindo esse histórico, Castro & Landeira-Fernandez (2011) relatam

sobre o neurologista Paul Broca (1867), após minuciosa análise concluiu que de

fato o orifício desse crânio era resultado de alguma "avançada cirurgia" realizada

em uma pessoa ainda viva. Segundo ele, a trepanação era realizada

principalmente em jovens, para o tratamento de convulsões simples associadas

a possessões demoníacas. Dessa forma, Broca atribuiu uma função religiosa,

propondo que a trepanação teria a capacidade de liberar demônios que estariam

atormentando o doente.

Victor Horsley, neurocirurgião contemporâneo a Broca, excluiu o

componente místico ou sobrenatural associado à trepanação entre as culturas

primitivas. De acordo com Horsley, a cirurgia estaria relacionada exclusivamente

ao tratamento de convulsões originárias de algum tipo de traumatismo craniano.

Mesmo em nossos dias, em diversas tribos ainda praticam esse procedimento,

tribos de ilhas do Pacífico Sul ainda realizam a trepanação no tratamento de

fraturas, epilepsia, loucura e dores de cabeça. Sobre isso dizem Castro &

Landeira-Fernandez (2011): “Em consonância com essa perspectiva

complementar, evidências indiretas das possíveis causas da prática da

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trepanação podem ser encontradas em diversas tribos que ainda praticam esse

procedimento nos dias atuais”.

Conforme estudos, afirmam os autores, a filosofia nasce na Grécia Antiga,

na qual o objeto de reflexão é a própria natureza, numa busca por explicações

acerca do mundo natural e baseada essencialmente em causas naturais. É

desta forma que os primeiros filósofos se preocuparam em observar.

Aproximadamente 585 a.C., o primeiro a formular essa noção foi Thales de

Mileto, que afirmou ser a água o elemento primordial. Dessa forma, essa filosofia

da natureza influenciou diretamente a visão de organização e funcionamento do

corpo humano.

A estreita relação existente entre filosofia e a arte da medicina possibilitou

diversas especulações sobre a relação entre a mente e o corpo na Grécia

Antiga. Numa minuciosa avaliação da relação entre o conhecimento médico

estabelecido e o pensamento filosófico, Platão se utilizou dos modelos da

medicina hipocrática no desenvolvimento de certas ideias filosóficas como por

exemplo, sua explicação para os estados caracterizados por Platão como mania

e sua discussão sobre as doenças da alma.

Apesar de todas a discussões feitas pelos filósofos pré-socráticos, o

primeiro a apontar o cérebro como sede da razão e centro de todas as

sensações foi Alcmeon de Crotona, filósofo e médico, que viveu por volta de 500

- 450 a.C. A proposta feita por Alcmeon de que a mente humana seria criada

pelo cérebro é comparável e uma revolução ao conhecimento humano, tanto

quanto às propostas de Copérnico e Darwin. Alcmeon considerou o cérebro

como sede da sensação e da cognição. Além disso, foi o primeiro a definir as

diferenças entre os animais e os seres humanos, afirmando que estes seriam os

únicos capazes de compreender, enquanto os animais poderiam apenas

perceber.

Diferente de Empédocles, Alcmeon supôs compreensão e percepção

como processos distintos. Ainda, Alcmeon discutiu os sentidos, propondo a

existência de canais sensoriais os quais levariam as sensações até o cérebro.

"todos os sentidos estão, de alguma forma, ligados ao cérebro. Por esse motivo,

tornam-se incapacitados se o cérebro for movido ou tirado de posição; porque tal

obstrui passagens através das quais operam os sentidos."

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Entretanto, segundo os autores, Fuentes, Malloy-Diniz, Camargo,

Cosenza & cols (1996) é com o médico Hipócrates de Cós, aproximadamente

400 a.C., que a proposta de Alcmeon ganha força e divulgação. A medicina

grega se estabelece por volta do século V a.C, sendo possível graças à nova

perspectiva adotada pela escola liderada por Hipócrates. Visto como um dos

autores mais misteriosos. Apontado como o pai da medicina e

consequentemente um dos principais médicos da Antiguidade, atribui-se a

Hipócrates a autoria da chamada Corpus Hipocraticus ou "Coleção Hipocrática".

Esse conjunto de textos médicos, na verdade, reúne cerca de sessenta tratados

médicos, cuja maior parte foi aparentemente redigida os anos 450 e 300 a.C.

Acompanhando os registros dos autores, no Corpus hipocraticus, o

cérebro é apontado como sede do julgamento, das emoções e de todas

as atividades do intelecto, assim como a causa dos transtornos neurológicos,

tais como espasmos, convulsões e desordens da inteligência.

A doença seria resultado do isolamento de um dos humores em alguma

região do corpo, desequilibrando seu funcionamento. Este princípio é muito

próximo daquele proposto por Alcmeon sobre os estados de saúde e

enfermidade. Essa explicação também é utilizada por Platão, no Timeu.

Apesar da grande influência dos tratados reunidos sob o nome de

Hipócrates, a questão de qual órgão -cérebro ou coração - seria o centro do

intelecto permaneceu em aberto por toda a Grécia Antiga. Duas figuras

importantes da filosofia grega antiga são geralmente apresentadas como

emblemáticas nessa discussão: Platão (427 - 347 a.C.) e Aristóteles (384 - 322

a.C.). Platão considerou que a alma seria composta por três partes. A parte mais

divina e imortal, vinda da própria alma do universo, teria o cérebro como sede e

controlaria todo o resto do corpo. Esta parte imortal da alma seria o intelecto

(logo).

Em diversos momentos descritos na história, observamos a discussão

entre cérebro/coração; quem comandava a inteligência do ser humano? A

cabeça, tal como uma "cidadela", abrigaria a parte imortal da alma e se ligaria ao

restante do corpo por um "istmo", o pescoço, mantendo separadas, mas ainda

em contato, tanto à alma divina e imortal quanto a alma, localizada no tronco.

Esta alma mortal seria subdividida em duas outras. Entretanto, Aristóteles via

outra função para o cérebro. Claramente cardiocentrista, considerava o coração

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como sede da "alma", das emoções e do intelecto. Filósofo e também estudioso

de biologia, Aristóteles é geralmente considerado pai da anatomia comparada.

Aristóteles realizaria muitos estudos e descobertas a respeito do cérebro em

várias vertentes e por isso suas descobertas foram de suma importância. Graças

à atenção dada a dissecação por Aristóteles associada com seu prestígio, que

incentivaria outros estudiosos a desenvolver estudos anatômicos.

Na Alexandria Ptolomaica, durante o século III a.C., surgiu uma renomada

escola de medicina, onde dois grandes médicos se destacaram: Herófilo (335-

280 a.C.) e Erasístrato (310 - 250 a.C.). Entretanto, seus trabalhos foram

conhecidos através das citações feitas por Galeno (130 -201 d.C.), bastante

influenciado por esses dois autores. (Crivellato&Ribatti, 2007; Finger, 2000;

Gross, 1998a; Vrettos, 2005).

Ao lado de Hipócrates, Cláudio Galeno é considerado um dos mais

famosos médicos do mundo antigo. Nascido em Pérgamo, província romana,

Galeno viveu no século II d.C. Seus ensinamentos perduraram por mais de treze

séculos e serviram como guia na prática científica e médica durante a Idade

Média. Galeno associou a imaginação, a inteligência e a memória com a

substância cerebral, atribuindo ao cérebro o papel de sede de todas as

faculdades cognitivas. Este importante personagem, também reorganizou o

conhecimento de sua época acerca da relação entre as funções mentais e o

cérebro. Sua contribuição ao estudo da relação entre mente e cérebro foi

profunda, sendo personagem fundamental na divulgação da ideia do cérebro

como sede da alma, além de uma inédita descrição do sistema nervoso (Finger,

2000; Gross,1998b). O valor atribuído por Galeno aos espíritos animais, como

responsáveis pela animação do corpo, perdurou por séculos na compreensão do

funcionamento nervoso e isto se refletiu nos estudos de René Descartes, por

exemplo (Castro & Landeira-Fernandez, 2011).

De certa forma, Descartes apresentou uma visão mecânica fluída do

cérebro, similar àquela apresentada por Galeno, utilizando muitos de seus

conceitos como partida em sua explicação sobre a interação da alma e do

cérebro. O trabalho de Galeno via influenciar por séculos e servir de base do

pensamento medieval científico nos estudos em fisiologia e anatomia , assim

como a visão acerca do cérebro e sua relação com a alma - ou mente (Gross,

1998b).

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Ventura (2010), descreve que, no Brasil, somente a partir das décadas de

40 e 50 do século passado, a área recebeu grande impulso com Aristides

Pacheco Leão e Hiss Martins Ferreira estudando o fenômeno de depressão

cortical na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); Carlos Ribeiro Diniz

isolando e caracterizando o veneno de escorpião na Universidade Federal de

Minas Gerais (UFMG); e Miguel Covian estabelecendo um grupo de pesquisa

em eletrofisiologia do sistema nervoso na Faculdade de Medicina da

Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (USP-RP).

Conforme descrito por Ventura (2010), na década de 1970, outros grupos

iniciaram novas direções de pesquisa em neurociência: Carlos Eduardo Rocha

Miranda e Eduardo Oswaldo Cruz fundaram seus laboratórios para o estudo do

sistema visual na UFRJ, Cesar Timo-Iaria iniciou trabalhos no controle neural do

metabolismo e em mecanismos de atenção e sono, Elisaldo Araújo Carlini criou

um grupo de psicofarmacologia na Escola Paulista de Medicina e psicólogos

experimentais, em torno de Carolina Bori e Walter H. A. Cunha, começaram a

trabalhar na USP e na Universidade de Brasília (UnB). Essas origens se refletem

nos grupos de neurociência que existem hoje. Ainda na década de 70 foram

iniciadas as primeiras técnicas por imagem e produção de imagem, produzindo

com clareza o encéfalo e a medula espinhal em vida, fornecendo informações

fisiológicas e patológicas nunca antes possíveis.

Dentre as técnicas, existem a tomografia computadorizada axial, a

tomografia por emissão de pósitrons e a ressonância magnética Um dos

grandes nomes da Neurociência nos dias de hoje é o professor titular,

Neurocientista e Diretor do Instituto do Cérebro da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, Dr. Sidarta Tollendal Gomes Ribeiro; que vem desenvolvendo

pesquisas sobre o importante papel que o sono exerce no aspecto cognitivo na

vida dos seres humanos. Este laboratório investiga os mecanismos moleculares,

celulares e psicológicos responsáveis pelo papel cognitivo do sono. O objetivo

atual deste laboratório é elucidar como as interações córtico-hipocampais e a

plasticidade sináptica dependente de experiência durante o sono contribuem

para a consolidação de memórias em roedores.

Outro médico e cientista brasileiro que tem grande destaque no cenário atual no

Brasil é Miguel Angelo Laporta Nicolelis, considerado um dos vinte maiores

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cientistas do mundo no começo da década passada pela revista "Scientific

American". Foi considerado um dos cem brasileiros mais influentes do ano de

2009.

Nicolelis foi o primeiro cientista a receber no mesmo ano dois prêmios

dos Institutos Nacionais de Saúde estadunidenses e o primeiro brasileiro a ter

um artigo publicado na capa da revista Science. Também lidera um grupo de

pesquisadores da área de Neurociência na Universidade Duke - EUA, no campo

de fisiologia de órgãos e sistemas. Seu objetivo é integrar o cérebro humano

com máquina. Suas pesquisas desenvolvem próteses neurais para a reabilitação

de pacientes que sofrem de paralisia corporal. Nicolelis e sua equipe foram

responsáveis pela descoberta de um sistema que possibilita a criação de braços

robóticos controlados por meio de sinais cerebrais.

O Neurocientista Roberto Lent, que investiga há quase 40 anos a

formação e a reorganização das conexões entre as áreas do cérebro, é um

representante de grande valor dentro do olhar educacional brasileiro, e muitas

contribuições tem feito para o estudo nessa área.

Roberto Lent, mais recentemente, se propôs a estimular outro tipo de

interação entre pesquisadores com empreendedores e educadores, a fim de

produzir conhecimentos que aprimorem as estratégias de aprendizagem e

cheguem rapidamente a professores e alunos nas salas de aula. Ele espera que

o desenvolvimento dessa área, a chamada ciência para a educação, contribua

para melhorar mais rapidamente o nível educacional das crianças e dos

adolescentes brasileiros. Filho do parasitologista Herman Lent, estudioso dos

insetos transmissores da doença de Chagas, e da química Maria Gregória

Rivarola, Roberto nasceu no Rio de Janeiro em 1948 e cresceu sabendo que

queria fazer ciência. Começou a cursar medicina na Universidade Federal do Rio

de Janeiro no ano de 1967 com a intenção de se dedicar à genética, então a

ciência da moda, mas um estágio no início do curso o fez mudar de ideia.

Ele iniciou o mestrado ainda na graduação investigando a capacidade de

as conexões cerebrais se alterarem – a chamada neuroplasticidade – no sistema

visual do gambá. Lent, tornou-se um especialista em agenesia do corpo caloso,

uma malformação congênita no cérebro que impede a troca de informações

entre os dois hemisférios e prejudica o desenvolvimento. Ele e a neurocientista

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Fernanda Tovar-Moll, pesquisadora da UFRJ e do Instituto D’Or de Pesquisa e

Ensino, descobriram que o cérebro das pessoas que têm o problema estabelece

rotas alternativas de comunicação entre os dois hemisférios. Seu trabalho

científico mais conhecido, no entanto, trata da contagem dos neurônios

cerebrais, um estudo que levou a uma revisão de algumas ideias da

neurociência.

Trata-se de um divulgador da ciência para o público geral, participou da

fundação da revista Ciência Hoje nos anos 1980 e escreveu a série de livros

para crianças, depois adaptada para o teatro. Lent possui o importante papel de

articulador de uma rede nacional de pesquisa em ciência para a educação e de

outros projetos. Sua pesquisa é inspirada pela educação.

Atualmente, os educadores cada dia mais buscam as respostas e quando

as encontram, fazem mais questionamentos. Pois os estudantes têm participado

ativamente na geração de conteúdo e com acesso cada vez mais às novas

tecnologias. Sendo assim, as pesquisas sobre memória, neuroplasticidade,

transmissão sináptica, alfabetização e transtornos de aprendizagem, fazem parte

do contexto diário da educação. Sobre isso, Grecchi (2012) afirma: “Os

professores precisam estar em constante atualização para acompanhar o fluxo

de informações que os alunos arrebanham diariamente com seus tocadores de

MP3, tablets, smartphones e netbooks”.

Há espaço para a ciência básica e para o desenvolvimento de produtos,

como videogames que auxiliem o aprendizado. O objetivo é ampliar o

conhecimento sobre as formas mais eficientes de ensinar e transferi-lo para as

salas de aula. Pesquisas mostram que a ciência pode contribuir muito com o

avanço na área da educação e a neurociência da aprendizagem é um caminho.

Sobre isso, Guerra (2011) centrada nos desafios e possibilidades de articulação

entre neurociências e a educação, e realçando os avanços na produção de

conhecimento ao nível do funcionamento do sistema nervoso, defende que uma

prática pedagógica que respeita a forma como o cérebro funciona, se evidencia

mais eficiente.

A partir dessa reflexão, há o respaldo para o trabalho com os alunos

sobre uma metodologia de estudos, onde deve-se tratar de diversos fatores que

contribuem e influenciam no processo da aprendizagem. Muitos assuntos

podem ser destacados, como a atenção, o tempo de estudos em casa, a boa

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alimentação e ainda sobre a importância de uma boa qualidade do sono são

alguns itens relevantes que obviamente merecem a atenção, inclusive da família.

Sobre o sono, sabe-se que é o momento em que a memória é

consolidada sendo essencial para a aprendizagem. A melhor compreensão de

como se dá o processo de construção do conhecimento, é uma grande aliada e

oferece a possibilidade de melhor atuação e quando necessário, intervenção

junto aos discentes. O estudo dos mecanismos envolvidos neste aspecto, é de

grande contribuição para o trabalho do educador que é bastante árduo; no

entanto, muito prazeroso. Rangel (2015) ao abordar o tema, afirma:

“ No tema “tempo de estudos” ressalta-se a importância para a compreensão, aplicação, fixação do conhecimento em aula e em casa. No estudo em casa, consideram-se o interesse de que seja diário e o princípio da proximidade entre o tempo de aulas e o tempo de estudos em casa, observando-se que essa proximidade se traduz em estudo diário e realização de tarefas indicadas diariamente nas aulas”. (RANGEL, 2015, p. 102)

A autora complementa dizendo algo que como educadores e

conhecedores da neurociência, faz toda a diferença na orientação de nossos

queridos alunos e que muitas vezes lutam e relutam diante das tarefas envidas

para a casa:

“O princípio da proximidade do tempo de aula com o tempo em casa favorece a consolidação e aplicação do conhecimento, que são propósitos de estudo, como também favorece o uso da memória da aula para esses mesmos propósitos. Esse uso tem sido endossado em princípios de aprendizagem à luz da neurociência”. (RANGEL, 2015, p. 102)

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CAPÍTULO II

O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL

E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO CÉREBRO

A partir dos avanços dos estudos da Neurociência, descobriu-se que os

seres humanos possuem vias motoras e sensoriais que seguem o mesmo

padrão. No entanto, não existem dois cérebros iguais, pois o detalhe de como os

neurônios seguirão fazendo conexões, dependerá da história de cada indivíduo.

Cosenza e Guerra, 2011, descrevem que é no processo de

desenvolvimento do nosso organismo onde as informações genéticas de nossas

células são construídas. Ao nascer, o ser humano já possui em seu cérebro,

pronto um conjunto de circuitos. No entanto, sem pleno funcionamento. É no

período embrionário e fetal que grande parte do Sistema Nervoso é construído e

também se desenvolve. Nas primeiras, semanas, na fase embrionária, com as

células tronco que originarão todos os neurônios e células glias, que um ser

humano adulto possui.

“O sistema nervoso humano inicia seu desenvolvimento nas primeiras semanas de vida embrionária, sob a forma de um minúsculo tubo cuja parede é formada por células-tronco que vão dar origem a todos os neurônios e também à maior parte das células-auxiliares, as células gliais, que iremos encontrar no adulto”. (COSENZA E GUERRA,2011, p.27)

Ainda no período embrionário, com a formação de novos neurônios, que

se se tornarão bilhões em pouco tempo, a partir da contínua divisão das células-

tronco. A região que dará origem ao cérebro, os novos neurônios se deslocarão

de forma ativa, para ocupar os lugares para os quais estão pré determinados

pela genética do indivíduo. Células gliais específicas auxiliarão esse

deslocamento nessa etapa do desenvolvimento e a posição correta de cada

grupo de células irão construir o Sistema Nervoso adulto. Nessa fase, um erro

pode comprometer o funcionamento do cérebro adulto, pois as conexões

corretas podem ser impedidas de acontecer em um outro momento. Ao

chegarem ao destino, as células começam a desenvolver seus prolongamentos,

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dendritos e axônios, que terão a tarefa de recepção e envio de estímulos a

outras células. Dependendo da região, os neurônios possuem diferentes

formatos, tamanhos e características.

A partir dessa fase de diferenciação, inicia-se a formação das conexões

com os outros neurônios para a criação dos circuitos necessários para executar

diferentes funções no corpo humano. É um processo complexo pois os axônios

atravessarão trajetos extensos e com obstáculos, uma vez que outras estruturas,

desse novo ser, também em fase de diferenciação passarão pelo caminho.

Tendo o auxílio de outras estruturas que, por sinalizações químicas ou

mecânicas, as orientam até alcançarem a sua finalidade.

No momento em que os neurônios ocupam suas posições, emitem

prolongamentos e têm seus axônios nos lugares estabelecidos, ocorre a

formação das sinapses que completarão os circuitos nervosos, ou seja, a

sinaptogênese. Importante fenômeno que irá se estender além do período

intrauterino. Sobre esse fascinante momento, Relvas, (2009), descreve:

“Não são apenas as estrelas no universo que fascinam o homem com o seu impressionante número. Em um outro universo biológico interno, uma gigantesca “galáxia” com centenas de milhões de pequenas células nervosas, que formam o cérebro e o sistema nervoso, comunicam-se umas com as outras pelos pulsos eletroquímicos para produzir atividades muito especiais: nossos pensamentos, sentimentos, dor, emoções, sonhos, movimentos...” (RELVAS, 2009, p.25)

O número de neurônios durante o processo de construção do cérebro é

muito superior ao necessário para o seu funcionamento, sendo feito um descarte

ao final por diferentes motivos; podem estar localizados em lugar errado, não

conectaram-se como deveriam ou mesmo em ligações incorretas ou até não se

tornaram funcionais.

Destaca-se o cuidado nas primeiras fases do desenvolvimento do Sistema

Nervoso pois algo errado que eventualmente possa acontecer, sejam problemas

genéticos ou ambientais, comprometerão ou incapacitarão por toda a existência.

Ou mesmo fatos que poderão levar ao comprometimento do Sistema Nervoso

que posteriormente necessitarão de estratégias pedagógicas especiais para a

criança. Sobre isso Cosenza e Guerra (2011) afirmam:

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“Daí a necessidade de cuidados especiais quanto à nutrição da gestante e para que o embrião, ou o feto, não sejam prejudicados pela exposição a drogas, medicamentos ou micro-organismos que possam alterar a marcha normal do desenvolvimento”. (COSENZA E GUERRA, 2011, p.33)

Ao longo do tempo, avançou-se bastante e hoje sabemos que algumas regiões

do cérebro mantém a capacidade da produção de novas células ao longo da

vida e ainda, o processo de perda de neurônios, no envelhecimento é menor.

Ao nascer o cérebro do bebê é imaturo e necessita de muitos cuidados ao

longo do tempo. Pois a maior parte das conexões em seu cérebro, será feita

com a ajuda das interações com o meio ambiente. A aprendizagem o

acompanhará por longos períodos seja na percepção sensorial ou na habilidade

motora. O seu desenvolvimento não tem comparação no mundo animal.

“Quanto às emoções, o equilíbrio psicológico depende de exercícios mentais e motores, realizados nos primeiros minutos de existência, que se estendem até a adolescência, além de estimular e fortalecer conexões do sistema límbico. O estímulo certo, na hora certa, pode proporcionar a capacidade de controlar emoções e realizar movimentos afetivos com o corpo, não se desapropriando da razão”. (RELVAS, 2005, p. 17)

A estimulação ambiental é extremante importante para o desenvolvimento

do sistema nervoso. Existem marcos do desenvolvimento das crianças que são

cumpridos regularmente com o amadurecimento progressivo das conexões que

se fazem entre os neurônios e também pela mielização das fibras nervosas na

sua execução.

No caso da fala, que é uma capacidade já programada em nosso sistema

nervoso, e em se tratando do cérebro dentro dos padrões da normalidade, a

compreensão da linguagem fluirá de maneira natural. No entanto, o domínio de

um idioma, dependerá da interação com o meio.

Logo nos primeiros anos de vida, o sistema nervoso é extremamente

plástico. Até o período da adolescência, a capacidade de novas sinapses é

grande, o que é explicável pelo longo período de maturação do cérebro. Apesar

de o cérebro de um adulto não possuir a mesma plasticidade nervosa, ou seja,

uma capacidade de fazer e desfazer ligações entre as células nervosas como

consequência das interações permanentes com o ambiente externo e interno do

organismo, essa capacidade permanecerá pela vida inteira, o que possibilita a

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aprendizagem. Sobre o assunto, Relvas (2009) esclarece: “Plasticidade é a

capacidade de o sistema nervoso alterar o funcionamento do sistema motor e

perceptivo baseado em mudanças no ambiente”. (RELVAS, 2009, p.16)

Em entrevista à revista do PAD – Programa de Aperfeiçoamento Docente,

a Profª Evelise Portilho, afirmou que a influência da neurociência e as novas

descobertas sobre o aprendizado, têm exercido sobre o processo pedagógico é

extremamente relevante. Pois até pouco tempo, acreditava-se que, o cérebro

era imutável após o seu desenvolvimento completo . O teste de quociente de

inteligência (Q.I.), difundido no início do século XX, servia para afirmar a chance

de sucesso na vida de uma pessoa. Isso perdurou até que novas pesquisas

comprovaram o contrário e que o aprendizado sempre acontece.

Os diversos estudos realizados, e aí deve-se lembrar do psicólogo

americano Howard Gardner, da Universidade de Harvard (EUA), pois a sua

conclusão de que o cérebro possui potencialidades, que todo ser humano tem a

capacidade de aprender e ainda da importância de acreditar e também

incentivar para desenvolvê-lo. A elaboração de sua teoria, inicialmente começou

com sete tipos de inteligências que Lago (2004) fez uma descrição de cada uma

delas:

1 – Lógico matemática - Possibilita calcular, quantificar considerar proposições

e hipóteses e realizar operações matemáticas complexas;

2 - Linguística – Consiste na capacidade de pensar com palavras e de usar a

linguagem para expressar e avaliar significados complexos;

3 - Espacial – Instiga a capacidade para pensar de maneiras tridimensionais,

como fazem navegadores, pilotos, escultores, pintores e arquitetos. Permite que

a pessoa perceba as imagens externas e internas, recrie, transforme ou

modifique as imagens, movimente a si mesma e aos objetos através do espaço

e produza ou decodifique informações gráficas;

4 - Físico- cinestésica – Permite que a pessoa manipule objetos e sintoniza

habilidades físicas. Nas sociedades ocidentais, as habilidades físicas não são

tão altamente valorizadas quanto às cognitivas, embora em outros lugares a

capacidade de usar o corpo seja uma necessidade para a sobrevivência e

também uma característica importante de muitos papéis de prestígio;

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5 - Intrapessoal – Refere-se à capacidade para construir uma percepção

acurada de si mesmo e para usar esse conhecimento no planejamento e no

direcionamento de sua vida;

6 - Interpessoal – É a capacidade de compreender as outras pessoas e interagir

efetivamente com elas. Como a cultura ocidental recentemente começou a

reconhecer a conexão entre a mente e o corpo, também passará a valorizar a

importância da competência no comportamento interpessoal ;

7 - Musical – É evidente em indivíduos que possuem uma sensibilidade para a

entonação, a melodia e o ritmo.

Mais tarde, Gardner acrescentou à lista mais um tipo de inteligência, a de

número

8 - Inteligência naturalista – Consiste em observar padrões na natureza,

identificando e classificando objetos e compreendendo os sistemas naturais e

aqueles criados pelo homem. Também sugeriu o agrupamento de interpessoal e

da intrapessoal numa só.

Sobre o assunto, Lago, afirmou que Gardner teve o cuidado de explicar

que a inteligência não deve estar limitada aquelas que ele identificou. No

entanto, afirmou que as oito proporcionam um quadro bem mais precioso das

capacidades humanas do as teorias unitárias anteriores. Gardner também

declarou que cada inteligência contém várias subinteligências e cada uma delas

parece ter sua própria sequência de desenvolvimento, emergindo e florescendo

em diferentes momentos da vida. Sobre isso Lago (2004) afirmou que:

“...quando os indivíduos têm oportunidades de aprender através de seus

potenciais, mudanças cognitivas inesperadas e positivas, emocionais sociais e

até físicas poderão ocorrer”. (LAGO, 2004, p. 74)

Sendo assim, a afirmação corrobora com tudo o que vem sendo explicado

e comprovado pelos estudos neurocientíficos. Fato que tantos educadores têm

comemorado, pois a partir desses avanços é que maiores possibilidades de

sucesso surgem e particularmente o trabalho do Orientador Educacional se

apoia.

“Assim como a psicologia, os estudos de biologia são requeridos às ações dos orientadores, no mesmo interesse do acompanhamento dos alunos, do seu crescimento orgânico e cognitivo, assim como das orientações sobre aspectos referentes à saúde do corpo e do movimento..” (RANGEL, 2015, p.114)

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Segundo Portilho, é nesse momento que família, escola, educadores e

demais envolvidos no processo da educação, possuem um papel de grande

relevância. Sabe-se então que é a partir dessa parceria, o alcance do sucesso

do aluno. A professora continua dizendo que, é necessário um envolvimento

multidisciplinar pois além da Pedagogia ou da Psicologia, a área da Biologia,

possui um papel auxiliador com suas pesquisas que trazem novidade e são

abarcadoras.

Infelizmente a falta desse entendimento traz prejuízos para todos os

envolvidos no processo educacional e não deixa que se perceba que poderia

haver um favorecimento dos alunos que não entendem a aula, talvez com uma

mudança de estratégia de ensino e bom resultado da aprendizagem. A

capacidade de empatia do educador nem sempre existe e em muitos casos

poderia tornar o processo bem mais prazeroso.

O que se pretende é chegar ao conhecimento crítico, inovador, reflexivo. Por isso, o educador torna-se responsável em apontar pistas, estimular e estabelecer pontes alicerçadas para a construção efetiva do educando. (RELVAS 2009, p.113)

Obviamente as exigências dentro de uma instituição escolar são inúmeras e

muitos professores e os demais educadores que fazem parte da equipe

pedagógica sentem-se pressionados por todos os lados. Sendo assim, tem sido

motivo de preocupação o êxito da ação discente para os pesquisadores que

diante desse problema destacam alguns adjetivos necessários para esse

profissional. Podemos citar Martins (2001) a partir de um decálogo sobre o bom

professor declarou que ele deve:

“aproximar o educando como pessoa; preparar o educando para o exercício da cidadania; construir uma escola democrática; qualificar o educando para progredir no mundo do trabalho; fortalecer a solidariedade humana; fortalecer a tolerância recíproca; zelar a aprendizagem dos alunos; colaborar na articulação da escola com a família; participar ativamente da proposta pedagógica da escola; respeitar as diferenças”. (MARTINS,2001 p. 54)

Conforme Cosenza e Guerra (2011) afirmam, podemos destacar dois

momentos do sistema nervoso que se modifica ao longo da vida. O primeiro no

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nascimento, quando ocorre, como inicialmente descrito, uma adequação do

número de neurônios que serão realmente utilizados nos circuitos necessários à

execução das diversas funções neurais. O segundo momento, na adolescência,

quando um significativo rearranjo tem lugar, havendo um acelerado processo de

eliminação de sinapses, que ocorre em diferentes regiões do córtex cerebral.

Destaca-se também o aumento da mielinização das fibras nervosas em

circuitos cerebrais tornando-os mais eficientes.

O declínio da conectividade entre as células corticais na adolescência,

que durante a infância era progressivo, vai ocorrer até atingir o padrão adulto, o

que reflete provavelmente uma otimização do potencial de aprendizagem. É e a

taxa de aprendizagem de novas informações diminui. No entanto, aumenta a

capacidade de usar e elaborar o que já foi aprendido.

Sabe-se também que o treino e a aprendizagem podem levar à criação de

novas sinapses e à facilitação do fluxo da informação dentro de um circuito

nervoso. Como podemos observar por exemplo em atletas, com treinamentos

constantes alcançam alterações em seus circuito motores permitindo um

aprimoramento em suas performances e muitas vezes, levando-os a obterem

resultados cada vez melhores. Assim como o inverso também pode acontecer. O

desuso, ou mesmo uma enfermidade, podem fazer com que ligações sejam

desfeitas, empobrecendo a comunicação nos circuitos atingidos.

A grande plasticidade no fazer e desfazer as associações existentes entre as células nervosas é a base da aprendizagem e permanece, felizmente, ao longo de toda a vida. Ela apenas diminui com o passar dos anos, exigindo mais tempo para ocorrer e demandando um esforço maior para que o aprendizado ocorra de fato (COSENZA E GUERRA, 2011, p. 138).

A aprendizagem pode levar não só ao aumento de complexidade das

ligações em um circuito neuronal, como também à associação de circuitos até

então independentes. Um exemplo clássico quando aprendemos novos

conceitos a partir de conhecimentos que já possuímos. O inverso também é

verdadeiro, ou seja, com a inatividade, levará ao empobrecimento das ligações

entre os mesmos circuitos.

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Ao longo da vida, a plasticidade de fazer e desfazer as associações

existentes entre as células nervosas é a base da aprendizagem e permanece.

Diminuindo com o passar dos anos. No entanto, não desaparece.

Ainda Cosenza e Guerra (2011), afirmam que podemos dizer que a

condução da informação ao longo das sinapses, possibilita a aprendizagem. A

ação de mecanismos bioquímicos, faz com que neurotransmissores liberados

em maior quantidade ou mesmo tenham uma ação mais eficiente na membrana

pós sináptica. A aprendizagem ocorre mesmo que não aconteçam novas

ligações, pois pode acontecer de as já existentes tornarem-se mais eficientes.

Para que esse fato aconteça é necessário que modificações químicas e

estruturais no sistema nervosos ocorram, o que necessita de energia e tempo

para se manifestar.

Sabe-se que a aprendizagem é um fenômeno individual e dependerá do

histórico de cada aluno. O professor poderá então facilitar o processo. Entende-

se também que o papel do professor é auxiliar o aluno a aprender, ajudando-o a

adquirir e desenvolver conhecimentos, habilidades, hábitos, atitudes e valores.

Sendo esta uma tarefa árdua. Portanto, o educador é a figura essencial no

processo educativo é ele quem motiva o aluno, sendo os seus conhecimentos,

suas habilidades e suas atitudes, fatores valorosos para tornar o processo do

ensino-aprendizagem possível e de uma forma eficaz a sua atuação.

“A responsabilidade do professor, de que às vezes não nos damos conta, é sempre grande. A natureza mesma de sua prática eminentemente formadora, sublinha a maneira como a realiza. Sua presença na sala é de tal maneira exemplar que nenhum professor escapa ao juízo que dele ou dela fazem os alunos”. (FREIRE,2004, p.65)

Outro exemplo também é de Perrenoud (2000) que estabeleceu outro

decálogo, dez novas competências para ensinar, que resumidamente

consiste em, organizar e dirigir situações de aprendizagem; administrar a

progressão das aprendizagens; conceber e fazer evoluir os dispositivos e

diferenciação; envolver os alunos em sua aprendizagem e em seu trabalho;

trabalhar em equipe; participar da administração da escola; informar e envolver

os pais; utilizar novas tecnologias; enfrentar os deveres e os dilemas éticos da

profissão e finalmente, administrar a sua própria formação contínua.

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Pode-se dizer, então, como afirma Libâneo (2001), que a educação

transforma o homem em todos os aspectos, físicos, mentais, espirituais,

culturais, o que dá forma à nossa existência humana individual e grupal.

Afirmação ratificada pelo pedagogo alemão Schmied-Kowarzik (1983):

“A educação é uma função parcial integrante da produção e reprodução da vida social, que é determinada por meio da tarefa natural e, ao mesmo tempo, cunhada socialmente da regeneração de sujeitos humanos, sem os quais não existia nenhuma práxis social. A história do progresso social é simultaneamente também um desenvolvimento dos indivíduos em suas capacidades espirituais e corporais e em suas relações mútuas. A sociedade depende tanto da formação e da evolução dos indivíduos que a constituem, quanto estes não podem se desenvolver fora das relações sociais”. (SCHMIED-KOWARZIK, apud SILVA, p. 68)

Para tanto, é necessário que o educador seja orientado e assistido e é de

vital importância a promoção do seu desenvolvimento tendo como objetivo

principal um significativo processo educativo para o aluno. Como afirma

Rockfeller,1958: “Nenhum sistema educacional será melhor que a qualidade e

habilidade de seus professores”. (ROCKFELLER, 1958, p.49).

Sendo assim, observa-se a extrema responsabilidade que recai sobre o

professor, já que o seu desempenho é fator determinante para o sucesso do

processo educativo.

Deve-se então refletir sobre o relevante papel da Orientação Educacional

e as suas diversas ações no contexto escolar, diante dos desafios e

adversidades e aos recorrentes pedidos de ajuda por sua contribuição. Os

conhecimentos adquiridos com o estudo da neurociência, traz subsídios para a

sua atuação. O Orientador Educacional, dedica seu tempo e sua energia em um

momento marcante da vida de pessoas que se formarão e emanciparão

socialmente. Segundo Grinspun (2001)

“A orientação, hoje está mobilizada com outros fatores que não apenas e unicamente cuidar e ajudar os ‘alunos com problemas’. Há portanto necessidade de nos inserirmos em uma nova abordagem de Orientação voltada para a construção de um cidadão que esteja mais comprometido com seu tempo e sua gente” (GRINSPUN, 2001, p. 13)

A sala de aula é um importante espaço. As instituições de ensino entre

vários outros educadores de suma importância, contam com a presença de um

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Orientador Educacional e ao refletirmos sobre as atribuições desse profissional,

uma delas, dentre várias outras, é que deve ser um incentivador do hábito de

estudos do aluno.

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CAPÍTULO III

A RELEVÂNCIA DA CAPACITAÇÃO CONTINUADA PARA

O SERVIÇO DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL DIANTE

DOS DESAFIOS EM SALA DE AULA

3.1 – Orientação Educacional no Brasil, breve histórico.

Pimenta (1988) afirma que, no Brasil, a Orientação Educacional surgiu na

década de vinte no Estado de São Paulo, no Liceu de Artes e Ofícios.

Contratado pelo governo brasileiro, o engenheiro suíço Roberto Mange, criou o

serviço que era de orientação profissional e seleção para o curso de mecânica.

Entretanto, somente na década de trinta, mais precisamente em 1931,

que a Orientação Educacional tornou-se oficial. O professor Lourenço Filho

organizou o primeiro serviço Público de Orientação Educacional e Profissional,

que extinguiu em 1935.

Em Grinspun (2001), esse período é denominado implementador, ao

relatar que a “orientação começa a aparecer no cenário educacional brasileiro

timidamente associado à Orientação Profissional, com ênfase nos trabalhos de

seleção e escolha profissional.”

A autora relata que, alguns anos depois a Orientação Educacional foi

introduzida em lei. A partir da Reforma do Ensino em 1942, com o surgimento da

Lei Orgânica do Ensino Industrial que o Serviço de Orientação Educacional foi

instituída com a finalidade de correção e encaminhamento dos alunos com

algum tipo de problema e de elevação das qualidades morais buscando a

adaptação deles em sociedade. Foi então nesse período que as funções e as

regulamentações referentes ao cargo do Orientador Educacional foram feitas.

Segundo Casteleins e Costa (2012) foi a partir do afastamento dos pais

de casa para o trabalho, que o Orientador Educacional surgiu com a era

industrial. Os filhos ficaram sozinhos em casa e o orientador passou a ser visto

como o conhecedor da realidade do aluno, portador de dificuldades que

necessitavam ser atendidas e a dedicação a adequação do educando na escola,

na casa e no mundo do trabalho.

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Com a lei nº 4024/61, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, foi

instituído nas escolas do Ensino Médio e Primário, a Orientação tendo uma ação

educativa voltada para a Orientação Educacional e também Vocacional em

cooperação com a família.

Com a promulgação da Lei 5564/68, Lei do Ensino Superior, foi onde

previa o exercício da profissão do Orientador e o preparo do especialista fosse

feito em nível Superior. Segundo Grinspun,(1983):

“O conceito de Orientação Educacional nessa lei, é coerente com a filosofia da Lei de Diretrizes e Bases em que se apresenta como uma série de esforços realizados, com a finalidade de se obter melhor ajustamento pessoal e social do educando”. (GRINSPUN, 1983, p.75)

No ano de 1971, com a promulgação da Lei 5692/71 na qual cabia a

tarefa de formação de um novo homem que respondesse a necessidade

brasileira. Sendo assim, nessa Lei foi instituído a habilitação profissional no

segundo grau, a iniciação para o trabalho e a sondagem de aptidões no primeiro

grau. Além disso a Lei obrigou a Orientação Educacional em todas as escolas

realizando o trabalho de Orientação Vocacional em ação com a família e com a

comunidade. Em Grinspun (2001) “ o orientador deveria realizar o

aconselhamento vocacional em cooperação com a família, escola e sociedade,

na realidade o que realizou foi uma informação profissional”.

O Plano Setorial de Educação e Cultura 72/74 afirmava que o,

“ideal que cada um chegue ao grau mais elevado compatível com as suas ‘aptidões’, valorizando cada novo homem como indivíduo e ser social desenvolvendo ao máximo seus talentos e habilidades orientando-lhe a conduta em benefício de cada um e do grupo social.” (BRASIL, 1972)

Pimenta (1981) declara que para atender as exigências básicas da

legislação, o Decreto 72.846 de 1973, veio a regulamentar a Lei 5564 de 1968

que por meio de onze artigos, mantendo porém o artigo 1º da Lei 5564, apenas

substituindo as expressões “no âmbito das escolas e sistemas escolares de nível

médio e primário” por no “âmbito do primeiro e segundo graus”.

Pascoal, Honorato &Albuquerque, afirmam que na década de 70, falou-se

muito sobre a falta de compromisso da escola e da sua equipe pedagógica.

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Grinspun (2003) sobre isso afirma que a “Orientação Educacional estava dentro

da Escola e não se deu conta do seu papel”.

Sobre isso Balestro (2005) complementa dizendo que:

“os orientadores educacionais deixaram a banda passar, sem dar a sua contribuição, isto é, sem fazer parte dela. Eles ficaram em cima do muro e calados. Perderam um espaço para demarcar o seu território na educação e na sua função social de Orientador Educacional”.

As autoras esclarecem que, a partir de 1980 a Orientação Educacional

começou a ser questionada. O Orientador Educacional passou então a ter mais

participação e ocupar o seu espaço, discutindo questões educacionais como

currículo, metodologias de ensino, avaliações, objetivos e procedimentos.

Demonstrando assim mais preocupação com os alunos e o processo de

aprendizagem. Cursos de formação oferecidos aos orientadores permitiam que a

discussão acontecesse de forma ampla, envolvendo a prática e os valores que a

norteavam, assim como a realidade do aluno e o mundo do trabalho.

Começou então, nesse importante momento, um novo período para a

Orientação Educacional.

Esse período Grinspun (1994) chama de questionador, sendo ele

marcado por estudos, congresso, lutas sindicais, que, articuladamente,

transformaram-se em grandes conquistas para os Orientadores Educacionais.

A Lei de Diretrizes e Bases 9394/96 em seu artigo 64 diz:

“A formação de profissionais da educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional, para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nessa formação, a base comum nacional”.

A partir de 2000, as Leis de Diretrizes e Bases, mais precisamente em

13/12/2005, um Parecer aprovado, no artigo 5º menciona que o egresso do

curso de Pedagogia deve estar apto para uma série de tarefas possíveis a partir

do trabalho integrado com outros profissionais de educação. Um trabalho

articulado em que se pode citar três itens que merecem destaque:

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II – compreender, cuidar e educar crianças de zero a cinco anos, de forma a

contribuir para o seu desenvolvimento na dimensões entre outras, física,

psicológica, intelectual, social;

VII – promover e facilitar relação de cooperação entre a instituição educativa, a

família e a comunidade;

XIV – realizar pesquisas que proporcionem conhecimento, entre outros: entre

alunos e alunas a realidade sociocultural em que estes desenvolvem suas

experiências não escolares; sobre processos de ensinar e de aprender, em

diferentes meios ambiental-ecológicos e sobre o trabalho educativo e práticas

pedagógicas.

Sendo assim, percebemos que o trabalho de toda a equipe pedagógica

necessita de uma integração e muita dedicação para que o educando tenha um

ambiente escolar agradável e propício para a sua aprendizagem.

3.1.1 – O papel do Orientador Educacional e a

Neurociência

Assis (1994) apresenta o papel do Orientador Educacional como co-

responsável pela aprendizagem dos alunos. Apresenta a função do Orientador

Educacional numa dimensão ampla e fala também da escola como locus

privilegiado de participação. Questiona a formação profissional, mostrando que

há necessidade do domínio de conteúdos necessários a uma nova atuação.

O desenvolvimento integral do aluno é a responsabilidade da escola. Em

uma sociedade que passa por grandes transformações em diversas

modalidades como socioeconômicas e culturais. Os aspectos físico, social,

intelectual, emocional e escolar, são acompanhados pela instituição de ensino.

O Orientador Educacional trabalha com a realidade de vida de seus

alunos em seu contexto social e com as informações obtidas com a família,

conjuntamente com a proposta pedagógica, procura a realização de forma mais

adequada do seu trabalho e consequentemente atingir o sucesso do objetivo de

todos. Em Grinspun (2003) encontramos:

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“A orientação deve buscar uma visão mais completa da realidade do sujeito, a s especificidades do campo de ação ajudam o entendimento da totalidade, sem perder de vista a singularidade. Nessa abordagem, novos aliados terão o trabalho próprio na escola, nos quais três indicativos se impõem: a comunicação, a argumentação e a reflexão. Eles são dados significativos à formação do sujeito. A multiplicidade dos enfoques e análise que caracteriza o fenômeno educativo não torna inócua a Orientação Educacional, ao contrário precisamos dela como campo de ação e investigação para dinamizar o processo educativo e a formação do cidadão”. (GRINSPUN, 2003, p.92)

Esse profissional participa de momentos importantes e que fazem a

diferença no processo de ensino aprendizagem do educando. Podemos citar

como um deles a orientação de como aprender a organizar uma rotina de

estudos e de que forma pode-se contribuir para a otimização da melhoria da

atividade cerebral.

Relvas (2009) afirma que: “a contínua atividade intelectual, como leitura,

exercícios de memória, palavras cruzadas e jogo de xadrez, auxilia a

manutenção da memória”. Algumas recomendações importantes que podemos

passar para os alunos, no exercício da função de Orientador Educacional e que

muito pode lhes ajudar, são obtidos a partir dos estudos da Neurociência.

Relvas (2009) também orienta:

“Muitas coisas podem ser feitas para melhorar a memória. Várias técnicas e cuidados podem ser utilizados. Dentre eles, estão: dormir bem; beber bastante água; uma boa alimentação; relaxar; associar fatos a imagens (técnicas mnemônicas); estimular a memória utilizando o máximo da capacidade mental; visualizar imagens; praticar jogos de xadrez, palavras cruzadas, etc.; exercícios físicos”. (RELVAS, 2009, p. 65)

No planejamento das atividades acadêmicas ao longo do ano letivo, o

Orientador Educacional, em conjunto com a Equipe Pedagógica, deve incluir em

seu calendário, sessões de classe que possibilitem que o trabalho de orientação

de estudos seja realizado. Para tanto é essencial a compreensão da relevância

desse momento por todos os participantes da Equipe. Rangel (2015) afirma:

“ ‘Sessões de estudos com os alunos’ significa, para o orientador, oportunidades de contribuir ao seu aproveitamento escolar. As “sessões” podem ocorrer com pequenos grupos, em sala própria do Serviço de Orientação Educacional, ou então na sala de aula”. (RANGEL, 2015, p. 101)

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Ao fazer uma reflexão sobre essa atividade deve-se questionar então com

os alunos um outro ponto que está subentendido sobre como se estuda e alguns

procedimentos que podem ajudá-los e permitir um melhor aproveitamento.

Tendo como consequência a superação de obstáculos e um despertamento para

os estudos. Sobre isso a Neurociência também ensina e permite um trabalho

mais interessante com os educadores e educandos. Relvas (2009) orienta no

aspecto pedagógico:

• A criação de um clima favorável em sala de aula, favorecendo a

segurança do aluno ao perguntar e responder;

• Aulas com atividades diversificadas e com espaços curtos. Com proposta

de arguições, sínteses ou mesmo jogo pedagógico operatório, sendo

melhor que uma longa exposição;

• Estimular o aluno a fazer anotações e utilizar-se de uma agenda;

• Estimular o hábito da estimulação da memória lenta e progressivamente,

como se faz com os exercícios físicos;

• Compreender as particularidades do aluno e a forma como sua memória

trabalha;

• Aproveitar os minutos finais da aula para conversar sobre o conteúdo

estudado, possibilitando que a nova informação percorra novamente o

caminho no cérebro do aluno;

• Relacionar novos conteúdos com conhecimentos anteriormente vistos,

permite que o caminho seja percorrido novamente (evocação), facilitando

o seu reconhecimento.

Cabe ainda ao Orientador Educacional, destacar a importância da formação

de atitudes e hábitos de estudos em seus educandos bem como a compreensão

através do diálogo a relevância do planejamento, a organização do material

escolar e o ambiente tranquilo para o momento de dedicação dos estudos.

Todos esses itens fazem parte de estudos realizados pela Neurociência e que

certamente são eficazes nas orientações dadas não só aos alunos mas também

às famílias e aos professores envolvidos no processo.

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Para tanto, faz-se necessário o entendimento da relevância da capacitação para

que os educadores, em particular o professor entenda melhor o processo e que

a sua atuação mais satisfatória.

Além disso, Relvas (2009) destaca que:

“Sempre que o professor oferecer informações de naturezas diferentes sobre um mesmo conteúdo, estará ajudando ao educando a formar um aprendizado e um conhecimento que poderá durar por toda vida. Fornecendo imagens, sons, a possibilidade de usar o corpo em movimentos e reproduzindo emoções, diversas partes do cérebro serão ativadas quando esse conteúdo precisar ser resgatado, tornando a sua lembrança mais fácil. E, ao unir esse conteúdo a um conhecimento prévio, serão traçados vários caminhos que tornarão o aprendizado mais eficaz”. (RELVAS, 2009, p. 69)

3.1.2 - Capacitação Continuada do Orientador

Educacional

Tradicionalmente na história da formação de professores no Brasil, o

pedagogo é aquele que ensina.

Ghiraldelli Jr. 2006, afirma que no sentido estrito a palavra pedagogia tem

a sua origem na Grécia antiga.

“Paidagogia designava na Grécia antiga, o acompanhamento e a vigilância do jovem. O paidagogo (o condutor da criança) era o escravo cuja atividade específica consistia em guiar crianças à escola, ou seja, didascaléia, onde recebiam as primeiras letras, seja o gymnásion, local de cultivo do corpo”. (GHIRALDELLI Jr., 2006, Apud: LAGO, p. 8)

No sentido lato, a palavra pedagogia é tratada como o campo de

conhecimentos que abriga o que chamamos de “saberes da área de educação”.

“A Pedagogia se ocupa, de fato, com a formação escolar de crianças, com processos educativos, métodos, maneiras de ensinar, mas, antes disso, ela tem um significado bem mais amplo, bem mais globalizante. Ela é um campo de conhecimentos sobre a problemática educativa na sua totalidade e historicidade e, ao mesmo tempo, uma diretriz orientadora da ação educativa”. (LIBÂNEO, 2001, Apud: LAGO, p.76)

O ser humano é inacabado, está continuamente em processo de

mudança, sempre em construção. Sobre isso, Freire (2005) declara: “Onde há

vida, há inacabamento. Mas só entre mulheres e homens o inacabamento se

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tornou consciente”. A sociedade atual, está em busca de novos conhecimentos

e descobertas que possibilitem novos caminhos. O educador, não poderia ser

diferente, como ser integrante desta sociedade é um dos principais sujeitos

deste processo de transformação.

Quando se fala em transformação, depara-se com a Formação

Continuada do educador que constitui não somente uma oportunidade de

aperfeiçoamento profissional, mas também um processo de transformação da

cultura escolar, possibilitando assim, práticas participativas e uma gestão

democrática no espaço das escolas, transformando-as em lugares críticos na

busca de uma educação de qualidade.

Um dos desafios das Instituições de Ensino da Educação Básica é

despertar o desejo e a motivação de seus professores para a relevância de

ampliar-se no processo educacional, pois na sociedade atual, em constante

mudança, exige-se um aprendizado contínuo visando o desenvolvimento como o

objetivo de obter-se qualificações mais amplas e consequentemente a eficácia

da ação do professor no processo de aprendizagem dos alunos.

“Evidencia-se, desde logo, porque a formação do professor demanda o nível de graduação: em face da complexificação da ação docente, ele precisará ser um profundo conhecedor da sociedade de seu tempo, das relações entre educação, economia e sociedade, dos conteúdos específicos, da forma de ensinar e daquele que é a razão de seu trabalho: o aluno”. (KUENZER,1999, p.167)

Por isso, a partir da vivência e das observações feitas, dentro em

instituições de ensino, é possível perceber o interesse e a relevância das

ações implementadas e os investimentos que visem a atualização e que

possibilitem o desenvolvimento do educador, já que é a única porta de

esperança segura para garantir a sobrevivência nesse século.

Fatores como, criação de oportunidades de crescimento pessoal e

profissional, desenvolvimento e qualidade de vida, reflexão crítica e melhoria do

desempenho desse profissional, são algumas questões que merecem atenção.

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Assim sendo, o estudo da Neurociência, acrescenta e auxilia de maneira

fantástica a área da educação, no caso da atuação do Orientador Educacional,

representa uma oportunidade de transformação na atuação desse profissional

quanto a questão de melhoria de resultados da aprendizagem dos alunos,

através do trabalho conjunto, consistente e coerente com as demandas

acadêmicas.

Freire, 2004, afirma: “Ensinar inexiste sem aprender e vice-versa e foi

aprendendo socialmente que, historicamente, mulheres e homens descobriram

que era possível ensinar”. (FREIRE, 2004, p.24).

O aprimoramento qualitativo de um educador é o caminho. O estudo de

assuntos relacionados à Neurociência são como um divisor de águas na vida de

um profissional que está em busca não só de seu crescimento como profissional,

mas também que persegue os seus propósitos de melhor atendimento aos seus

alunos e em consequência para o mundo em que vive.

Tudo isso somado ao grande prazer e satisfação que somente com o

passar dos anos poderá responder e trazer à tona como um divisor de águas na

vida de um profissional que está em busca não só de seu crescimento como

profissional, mas também que persegue os seus propósitos de melhor

atendimento aos seus alunos e em consequência para o mundo em que vive.

(...)indispensável mudança que deve ocorrer não se trata mais de estudar simplesmente para garantir o seu lugarzinho no bonde da história; trata-se, isto sim, de estudar a fim de ganhar competência e ajudar a mudar o rumo deste bonde, ou seja, ajudar a construir uma sociedade onde haja lugar para todos! (VASCONCELLOS, 1995,p.49).

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CONCLUSÃO

Ao longo de toda pesquisa, muitas descoberta e novos ensinamentos

foram possíveis a partir do estudo e contribuições da Neurociência.

O estudo da relação entre aprendizagem e o desenvolvimento cerebral,

representa na vida de um educador algo muito significativo e exige lucidez e

firmeza para um posicionamento diante da realidade educacional.

Com o entendimento de que cada indivíduo é singular e que a magia de

cada história, sua natureza biológica e cultural, determina a sua trajetória e sua

educação escolar. Esse fato torna os educadores mais sensíveis e conscientes

do importante papel que desempenham, tornando-os mais valorosos e menos

engessados.

Todas as escolas de ensino básico, contam com a presença de um

Orientador Educacional. Esse profissional representa um elo entre a instituição

de ensino e o aluno e a sua família, o que o possibilita de exercer a sua função,

intervindo de forma dinâmica e rica, sempre centrado e em busca do bom

desenvolvimento dos seus alunos.

Muitas vezes se depara com a exigência da qualidade, que infelizmente é

associada ao fator do alto custo bem como de uma robusta grade curricular. No

entanto, percebe-se que ao reconhecer melhor como o aluno aprende; e mais

ainda, todos os fatores necessários para que a qualidade do seu

desenvolvimento seja alcançada, qual deve ser a real e significativa abordagem

para alcançar o objetivo: o sucesso da aprendizagem.

No século XXI, não será mais possível viver sem a reflexão dos aspectos

pedagógicos e a prática cotidiana nas escolas.

Os conhecimentos obtidos com os estudos, ampliou de forma

surpreendente o entendimento da complexidade da ação do educador e todos os

fatores que fazem parte da ação de ensinar e aprender.

Além disso, abre-se uma nova dimensão nas observações e o estudo do

cérebro humano que guarda a memória e estabelece a base do comportamento

do indivíduo.

Com as novas descobertas na área tecnológica, impulsionam a buscar

mais e mais e auxiliam a compreender a formação do cérebro desde a vida

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intrauterina e ao longo da infância, adolescência, juventude e a vida adulta e

todo o seu processo de desenvolvimento. Essas descobertas revelam também

as transformações sucessivas desse órgão e o seu funcionamento em tempo

real.

Esses fatos são muito esclarecedores e colaboram com a pedagogia que,

segundo Aurélio define como: “teoria e ciência da educação e do ensino”.

Definição essa que respalda toda a pesquisa.

Com a propriedade de todos os novos conhecimentos adquiridos ao longo

dos estudos da Neurociência, se obtêm entendimento que a busca por mais e

mais informações não cessa e que o maior tesouro é o conhecimento.

A motivação, fator tão relevante para a aprendizagem, para o Educador

Neurocientista, é exatamente a incansável busca para a descoberta de novas

possibilidades bem como a multiplicação de tudo aquilo que é valiosamente

ensinado e cujo objetivo maior é o sucesso dos educandos.

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BIBLIOGRAFIA

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de 20 de dezembro de 1996.

3 - COSENZA, Ramon M.; GUERRA, Leonor B. Neurociência e educação:

como o cérebro aprende – Porto Alegre, Artmed,2011.

4 - FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática

educativa. São Paulo, Editora Paz e Terra, 2001.

5 - GRINSPUN, Mírian Paura Sabrosa Zippin. A prática dos orientadores

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6 - GRINSPUN, Mírian Paura Sabrosa Zippin. Supervisão e Orientação

Educacional: perspectiva e integração na escola. São Paulo, Editora Cortez,

2003.

7 - KUENZER, Acácia. As políticas de formação: A Constituição da

identidade do professor sobrante. Educação e Sociedade, ano XX,nº 68,

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9 - RANGEL, Mary. Orientação educacional e suas ações no contexto atual

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10 - RELVAS, Marta Pires. Fundamentos biológicos da educação:

despertando inteligências e afetividade no processo de aprendizagem – Rio

de Janeiro, Wak Editora, 2009.

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11 - VASCONCELLOS, Celso dos Santos. Para onde vai o professor?

Resgate do professor como sujeito de transformação – São Paulo – Editora

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12 - _____________________ Diálogos Pertinentes – revista científica de

letras. v. 1, nº 1, jan.-dez.,2005, Franca, SP: Ed. Unifran,2005.

13 - ______________________ A Revista do Programa de Aperfeiçoamento

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 01 AGRADECIMENTOS 02 DEDICATÓRIA 03 RESUMO 04 METODOLOGIA 05 SUMÁRIO 06 INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO 1 O AVANÇO DOS CONHECIMENTOS NEUROCIENTÍFICOS E SUAS CONTRIBUIÇÕES PARA A EDUCAÇÃO 11

CAPÍTULO 2

O FUNCIONAMENTO DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL E O PROCESSO DE APRENDIZAGEM DO CÉREBRO 20

CAPÍTULO 3

HISTÓRIA DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL E A RELEVÂNCIA DA CAPACITAÇÃO CONTINUADA PARA O ORIENTADOR EDUCACIONAL 30 3.1 – Orientação educacional no Brasil, Breve Histórico 30 3.1.1 – O Papel do Orientador educacional e a Neurociência 33 3.1.2 – A Capacitação Continuada do Orientador Educacional 36 CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 41

ÍNDICE 43