universidade candido mendes avm – faculdade … · 8 introduÇÃo a relevância deste trabalho se...

40
1 7Wi UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU UM OLHAR SOBRE A DISLEXIA NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM Maria de Fatima Araújo Walcher ORIENTADORA: Profª Mary Sue Pereira Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Upload: others

Post on 12-Oct-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

1

7Wi

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

UM OLHAR SOBRE A DISLEXIA NO PROCESSO

DE APRENDIZAGEM

Maria de Fatima Araújo Walcher

ORIENTADORA: Profª Mary Sue Pereira

Rio de Janeiro 2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

Page 2: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Educação Especial e Inclusiva. Por: Maria de Fatima Araujo Walcher

Rio de Janeiro 2015

UM OLHAR SOBRE A DISLEXIA NO PROCESSO

DE APRENDIZAGEM

Page 3: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao poder divino, por me permitir chegar até aqui. A minha orientadora, Mary Sue Pereira, por me encorajar ao me responder: “Boa tentativa de postagem de Plano”. Ao meu marido, Claudio Silva da Luz, sempre ao meu lado, falando com o coração. As minhas gêmeas, Beatriz e Bianca Walcher Silva, pelo apoio e carinho.

Page 4: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

4

DEDICATÓRIA

Dedico às mudanças ocorridas em minha vida profissional, que me proporcionaram trilhar novos rumos, e aos meus professores, que me incentivaram para que uma área antes não trilhada, hoje seja fonte de pesquisa e conhecimento.

Page 5: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

5

RESUMO

Esta pesquisa objetiva o estudo da dislexia caracterizada como um

distúrbio de aprendizagem, que acarreta perceptíveis dificuldades de leitura,

escrita e soletração.

Comumente alunos disléxicos apresentam dificuldades no processo

de alfabetização, e na compreensão da estrutura sonora das palavras, dessa

maneira, tendem a ter dificuldades em desenvolver a habilidade para

identificação dos fonemas, o que impacta na qualidade, no rendimento e

contribui para uma defasagem inicial de aprendizado.

A família do aluno disléxico necessita e deve ser sinalizada das

dificuldades apresentadas, e da importância da avaliação psicopedagógica ,

diagnóstico prévio e acompanhamento especializado. No geral alunos

disléxicos, apresentam melhoras significativas no rendimento escolar quando

acompanhados desde cedo, por equipe multidisciplinar.

O professor deve buscar capacitação, ferramentas, estratégias,

metodologias eficientes e inovadoras, novas formas de ensinar que favoreçam

a educação de qualidade, que lhe torne apto a atuar com as dificuldades de

aprendizagem do aluno disléxico e lhe permita ser um agente no processo de

desenvolvimento e transfomação do aluno, independente de sua dificuldade .

É importante ter como foco a premissa que o sistema escolar deve se ajustar

ao aluno e não o aluno ao sistema, e de que deve haver respeito a

individualidade, aos limites e potencialidades de cada um .

Fundamenta essa pesquisa levar o corpo docente no trabalho

cotidiano a reflexão de que compreensão, parceria, educação diferenciada e

foco no desenvolvimento do ser, agregado a objetivos alinhados entre:

Instituição, corpo docente, equipe multidisciplinar e família, são fatores

determinantes, para a quebra de barreiras, para o favorecimento da

aprendizagem e para a verdadeira inclusão.

Page 6: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

6

METODOLOGIA

Para a realização deste presente trabalho busquei informações

através de pesquisa e análise bibliográfica em livros, sites , revistas , jornais,

teses, artigos científicos, pesquisa web gráfica, cds entre outros sobre a

temática dislexia envolvendo: descrição, causas, sintomas, diagnóstico,

incidências, potencialidades, sugestões de intervenções e metodologias

pedagógicas a serem aplicadas nos alunos disléxicos.

Page 7: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I – Conceituando a Dislexia 10

CAPÍTULO II – Aprendizado e Dislexia 20

CAPÍTULO III – A Inclusão do Aluno Disléxico 28

CONCLUSÃO 36

BIBLIOGRAFIA 38

WEBGRAFIA 39

ÍNDICE 40

Page 8: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

8

INTRODUÇÃO

A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como

uma das possíveis causas do não aprendizado da leitura e da escrita, conhecer

e compreender as causas, sintomas, prejuízo educacional, assim como, a

importância do diagnóstico e de metodologias pedagógicas que se apliquem ao

aluno disléxico.

A dislexia é um distúrbio linguístico, convém ressaltar que não se

trata de uma doença conforme publicado pela Associação Portuguesa

APPDAE, que define ser uma dificuldade de linguagem inesperada, pois não

está relacionada com problemas visuais, auditivos, lesões neurológicas,atraso,

problemas psicológicos ou sócio culturais.

É caracterizada pela dificuldade na decodificação das palavras,

sendo um entrave educacional que compromete a capacidade de ler e de

entender as palavras manuscritas, tendo significativa importância no cotidiano

das pessoas e trazendo relevantes complicações no processo de

aprendizagem escolar. É comum que seja identificada no processo de

alfabetização, e quanto mais cedo uma pessoa disléxica for identificada e

medidas de tratamento forem iniciadas, mais oportunidades ela terá de

amenizar suas dificuldades e de ser beneficiar.

Por sua vez, o diagnóstico tardio poderá favorecer o aparecimento

de baixa autoestima, sentimento de incapacidade, de fracasso, de inferioridade,

além de favorecer suposições equivocadas como preguiça, desatenção, falta

de empenho em aprender etc.

Aprender a ler e escrever envolve um processo complexo onde se

exigem habilidades distintas.

Família, Escola e Educadores possuem papel fundamental e devem

empenhar-se em facilitar o processo de aprendizagem. Ainda que o empenho

ocorra, não raro, alguns alunos não obtêm sucesso escolar. De modo geral, os

Page 9: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

9

professores conseguem perceber as dificuldades apresentadas por seus

alunos, porém faz-se necessário um olhar mais profundo, atento e humano,

sem a errônea pretensão de “apontar culpados”, para se identificar as causas

ou levantar hipóteses que respondam quais motivos podem levar alguns alunos

a não obtenção do rendimento desejado. Devem-se levantar com alto grau de

profundidade, as características da estimulação oferecida à criança, nos

aspectos quantidade, qualidade, acessibilidade e disponibilidade, exclusividade

e incondicionalidade (LÓPEZ, 1995).

Profissionais precisam de capacitação, treinamentos, ferramentas

que o auxiliem a diferenciar qual aluno apresenta dificuldade de aprendizagem

comum e qual necessita ser indicado para avaliação psicopedagógica , feita

preferencialmente por um profissional competente, que se permita conhecer o

aluno no seu todo, não para segmentá-lo e, sim avaliá-lo e acompanhá-lo a fim

de diagnosticar de forma confiável, um possível distúrbio de aprendizagem.

Precisam explorar o que leva ainda hoje professores e alunos a

sofrerem com as dificuldades de aprendizagem decorrentes da dislexia,

precisam se vigiar para que não habitem o conformismo e a acomodação, ou

para que não tomem como natural se conviver com tão relevante dificuldade

de aprendizagem. Faz-se necessário, habituar-se a um olhar minucioso a cada

um de seus alunos, respeitando-os na individualidade e na totalidade,

auxiliando-os em suas defasagens, evitando-se assim, a possibilidade de

evasão escolar.

A sociedade atual nos mostra que a inclusão do aluno disléxico na

escola, como pessoa portadora de necessidade educacional, está garantida e

orientada por diversos textos legais e normativos, como por exemplo, na Lei

9.394, de 20/12/96 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação) Artigo 4°, sendo

assim, o aluno disléxico pode e deve ser incluído desde que se entenda, que

mais que uma proposta escolar a inclusão é um dever do Estado, garantindo

assim, o direito de uma escola para todos independente das suas condições

físicas, intelectuais, sociais, étnicas, religiosas ou outras.

Page 10: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

10

CAPÍTULO I

CONCEITUANDO A DISLEXIA

A palavra "dislexia" é oriundo do grego DIS, que significa

dificuldade\ distúrbio e LEXIA (latim) = LEITURA (grego) = linguagem.

Dificuldade essas que ocorrem no processo de leitura, escrita, soletração e

ortografia, ressaltando que nem todos os problemas relacionados a fala, leitura

e escrita podem ser caracterizados como dislexia.

Em 1987 o médico oftalmologista alemão, Rudolf Berlin, de Stuttgart,

definiu o termo dislexia, ao se referir a um paciente que apresentava

dificuldades em leitura e escrita e preservava habilidades intelectuais.

Dislexia é um transtorno do desenvolvimento da linguagem, uma

insuficiência no processo fonológico, que afeta a aprendizagem da leitura, da

escrita e da soletração, e caracteriza-se pela dificuldade

de decodificar palavras simples. É uma dificuldade de aprendizagem, na qual a

capacidade da pessoa para ler ou escrever está abaixo do seu nível de

inteligência, ainda que o seu cérebro seja considerado normal. Não raro,

errônea é interpretada com falta de interesse, desatenção ou preguiça e é

comum associa-se a dificuldades em outras áreas do desenvolvimento, como

a concentração, a memória de trabalho e a capacidade de organização.

Cabe enfatizar que a dislexia não é uma doença, nem o resultado de

má alfabetização, desatenção, desmotivação, condição socioeconômica ou

baixa inteligência, e sim, uma condição hereditária com alterações genéticas

que culminam em uma falha no processo de aquisição da linguagem.

“Dislexia, antes de qualquer definição, é um jeito de ser e de

aprender que reflete a expressão individual de uma mente, muitas vezes arguta

e até genial, mas que aprende de maneira diferente”. (Associação Brasileira de

Dislexia – ABD, 2014).

Page 11: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

11

De acordo com o Dr. Drauzio Varella (2014) a dislexia é um

transtorno genético e hereditário da linguagem, de origem neurobiológica, que

se caracteriza pela dificuldade de decodificar o estímulo escrito ou o símbolo

gráfico. A dislexia compromete a capacidade de aprender a ler e escrever com

correção e fluência e de compreender um texto. Em diferentes graus, os

portadores desse defeito congênito não conseguem estabelecer a memória

fonêmica, isto é, associar os fonemas às letras.

1.1. Compreendendo a Dislexia

Fundamentar a dislexia é complexo e contraditório, pois muitos

estudos provêm de distintos focos e ângulos, a exploração do conceito permeia

por profissionais de segmentos distintos, por olhares e caminhares diferentes,

porém vamos ter como base que são alterações genéticas, neurológicas e

neurolinguisticas, que acarretam falhas nas conexões cerebrais, levando os

disléxicos a fazerem confusão entre letras, sílabas ou palavras que apresentem

diferenças sutis de grafia.

Ainda que haja compatibilidade entre algumas opiniões, a

complexidade das teorias ocupa um território vasto, e nem todas as teorias

definem a etiologia da dislexia partindo do mesmo princípio. Pelo que pude

perceber, divergências permeiam a real origem da dislexia há alguns anos.

No entanto, é estimulante saber que já temos como pilar estudos

atuais, onde cientistas identificaram alguns cromossomas como estando

associados a dislexia, assim como, existem informações de que se estudam as

regiões do córtex cerebral esquerdo (lobo temporal, occipital e parietal). Cabe

ressaltar que estudiosos compartilham a opinião que há uma incidência maior

em meninos, atingindo de 10 % a 15% da população mundial.

Definida como patologia no código de doenças, assim como muitos

estudiosos, prefiro tratá-la aqui como um transtorno de aprendizagem

persistente e inesperado, que é isento de deficiências intelectuais ou

sensoriais, ou seja, um funcionamento peculiar do cérebro, uma dificuldade

de estabelecer associações entre sinais gráficos (grafemas) e os sinais

Page 12: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

12

auditivos (fonemas), ocasionando um processamento de informações peculiar

e diferente.

Os disléxicos podem ser conceituados, como pessoas únicas, cada

uma com suas características, habilidades e inabilidades próprias, que

precisam ter reconhecidas todas as suas potencialidades, o que me remete a

Teoria das Inteligências Múltiplas nobremente defendido por Howard Gardner.

Um olhar estimulado, apurado, amplo e humano, faz-se fundamental

e pode ser a base para se comprovar, que mesmo com dificuldades na

aquisição da leitura e escrita, os disléxicos podem ser bastante criativos, afinal

sua dificuldade está relacionada a ler, escrever e soletrar.

Cada vez mais pessoas diagnosticadas com dislexia, demonstram

que integram um universo de singularidades, de crença em sua capacidade

pessoal e de superação. Assim, reinam nas adaptações cotidianas, e nos

mostram que suas dificuldades não ofuscam sua capacidade de superação, a

exemplo do grande número de pessoas disléxicas que obtiveram sucesso,

entre elas, Thomas Edison (inventor), Tom Cruise (ator), Walt Disney (fundador

dos personagens e estúdios Disney) e Agatha Christie (autora) e mais algumas

dezenas divulgadas em vários canais de comunicação.

1.2. Classificando os Diferentes Tipos de Dislexia

Podemos descrever a dislexia como um déficit na dinâmica

cognitiva, uma desordem de desenvolvimento, uma interrupção na sintonia

entre os processos mentais associados a aprendizagem da leitura que resultam

em dificuldades na forma precisa e fluente de reconhecer as palavras.

Segundo cita Ellis (1995), os disléxicos possuem problemas nos

módulos cognitivos utilizados na conversão da palavra escrita para o som e,

dependendo do módulo afetado, têm-se diferentes padrões de disfunção na

leitura.

Sendo assim, fica evidente, que as dificuldades em leitura e

ortografia podem afetar o indivíduo de diferentes formas. Assim como os não

Page 13: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

13

disléxicos, os disléxicos não são todos iguais, e a medida que os conhecemos

é possível que tenhamos dados, para identificarmos diferentes tipos de

dislexia. Dessa maneira, temos a possibilidade de desmistificar a concepção

unitária da dislexia, podendo assim, associar e compreender na prática, com

maior exatidão a complexidade de cada ser disléxico.

Para falarmos sobre a classificação das dislexias, precisamos

entender que os especialistas as distinguem categoricamente e que há um

embasamento diferenciado entre a visão da Neuropsicologia e da

Psicopedagogia e Multiterapia.

Com o intuito de prosseguirmos com a classificação, iniciaremos

com a conceituação de dois tipos distintos de dislexias, porém devido a

temática desse trabalho, convém nos determos com atenção peculiar, na

dislexia de desenvolvimento, já que tem grande ênfase no contexto escolar.

Essa dislexia caracteriza-se como um distúrbio específico da aprendizagem, da

leitura e da escrita e normalmente é percebida com maior frequência em

crianças nas séries iniciais, tendo como consequência, a inabilidade na

aquisição da leitura, erros e esquecimentos ortográficos e por vezes,

dificuldade com palavras escritas.

Há quem defina que a dislexia de desenvolvimento é resultado de

uma perturbação na aprendizagem, uma dificuldade na capacidade de

decodificação do código escrito, o que segundo alguns autores pode ter

associação com disgrafia, que é caracterizada como um problema com a

linguagem escrita, que prejudica a formação de letras pela mão, ou seja, uma

deficiência em caligrafia e em alguns casos também em ortografia.

Existem registros datados de 1877, onde o termo dislexia de

desenvolvimento já era utilizado, e desde que teorias cognitivas,

neurobiológicas, genéticas e hereditárias ampliaram a visão sobre o tema, a

relação exclusiva com fatores do processamento visual que fundamentou a

terminologia, vem se dissipando. Hoje, a ideia inicial que as dificuldades de

leitura e escrita estariam associadas a comprometimentos na esfera da

Page 14: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

14

discriminação visual, dos movimentos oculares e da memória visual, vem

sendo fortemente combatida.

A segunda classificação refere-se a dislexia adquirida, também

denominada distúrbio adquirido da leitura, alexia adquirida e cegueira verbal

adquirida.

É envaidecedor caminhar por sua origem datada de 1978, tendo sido

identificada e pesquisada pela psicoterapeuta e psicopedagoga brasileira Lou

de Olivier .

É interessante saber que a conceituação da dislexia adquirida, como

sendo resultado de lesões cerebrais (anóxia perinatal, anóxia por afogamento,

acidente vascular cerebral etc.) ocorridas por um acidente qualquer, que

ocasiona diferentes prejuízos no processo de leitura e ortografia, fundamenta-

se na própria história de Lou de Oliver. É nobre e honroso sabermos que a

percussora da dislexia adquirida, passou a pesquisar o tema após um acidente

onde perdeu a memória e teve alterada sua capacidade para a leitura, isso nos

remete ao mundo de possibilidades, de amplitude que permeiam o disléxico.

É sublime saber que pesquisas prosseguiram e hoje a dislexia

adquirida ganhou credibilidade, adeptos, espaço e está classificada

oficialmente em nível mundial.

Para melhor entendimento vejamos a definição proposta pela

Wikipedia (2015) “A classificação oficial consta da seguinte forma: Afasia visual

receptiva caracterizada pela perda da capacidade adquirida previamente em

compreender o significado ou significância de palavras escritas a mão, apesar

da visão estar intacta. Esta afecção pode estar associada com Infarto da

Artéria Cerebral Posterior e outras doenças cerebrais”.

A exploração do tema disléxica, permite ainda que os principais

padrões de disfunção na leitura sejam divididos como : dislexias periféricas e

dislexias centrais.

Page 15: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

15

Dislexias periféricas são transtornos com danos localizados no

sistema de análise visual, acarretando inúmeros prejuízos na percepção das

letras nas palavras e no nível da análise visual. Assim, os danos podem ocorrer

no nível da identificação de letras, nível do processamento global ou no

reconhecimento de palavras como um todo.

Conceituando um pouco mais podemos dispor uma subdivisão em

três tipos para as dislexias periféricas sendo: dislexia por negligência, dislexia

por atenção e leitura letra por letra.

A dislexia por negligência é a incapacidade em observar a

extremidade esquerda das palavras, e identificar suas letras iniciais, ainda que

se possua a consciência, de que as letras se encontram devidamente

posicionadas. Os distúrbios se apresentam no sistema de análise visual das

palavras e os erros de leitura mostram semelhanças entre a palavra escrita e a

falada. . Assim se lê “lanta” ao invés de “planta”.

Dislexia atencional ou dislexia da atenção, que tem como

característica principal a dificuldade em focar a atenção e codificar a posição

das letras, o que pode favorecer mudanças de letras dentro de uma mesma

palavra, ou ainda de uma palavra por outra de cunho semelhante ou não dentro

de um texto.

É comum que o indivíduo, ao identificar variadas letras de forma

sequencial ou diferentes palavras numa frase, apresente erros, fazendo com

que as letras se transfiram de uma palavra para outra. Por exemplo: "a lama é

suja”, por "a mala é suja"

Letra por letra, é a classificação onde a pessoa apresenta

dificuldade em perceber a forma global das palavras, e apresenta leitura lenta,

identificando as letras de forma isolada, através de seus nomes ao invés de

convertê-los em seus sons. È comum que ocorra soletração, leitura monótona

e sujeita a erros das palavras de maneira individual como, por exemplo:

“camarada” c/a ca, m/a ma, r/a ra, d/o do.

Page 16: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

16

O terceiro tipo é a dislexia central que pode ser definida como um

transtorno, onde danos no processo e no sistema de análise visual, ocasionam

dificuldades de compreensão do material gráfico e afetam diretamente a

capacidade de leitura ou de produção de palavras escritas.

A variedade de dislexias centrais agrupam-se em quatro tipos:

1) Dislexia não semântica onde existe a preservação do sistema

de análise visual e do nível do fonema, porém o sistema semântico é

prejudicado, o que afeta diretamente a capacidade de leitura , o entendimento

das palavras lidas e a compreensão do significado das palavras. Cabe

ressaltar que a pessoa tem preservada sua capacidade para converter as letras

em sons e para fazer leitura de não-palavras.

2) Dislexia de superfície que caracteriza-se como um distúrbio

de moderado a severo, que ocasiona a incapacidade de reconhecer as

palavras escritas no campo unicamente visual. Os portadores da dislexia de

superfície, apresentam pouca capacidade na leitura pela via lexical, o que os

leva a dificuldades para reconhecer palavras irregulares e a tratar como novas

palavras já conhecidas. Por basearem-se nos procedimentos fonológicos de

conversão de grafemas em fonemas, é comum apresentarem dificuldade

quando a leitura é feita em voz alta, assim como, maior problema com a

ortografia (erros de omissão, adição ou substituição), já que se baseiam pela

informação auditiva.

3) Dislexia Fonológica caracterizada pela disfunção encontrar-se

no processamento fonológico, sugerindo danos ou lesões na via de conversão

de grafema e fonema, ocasionando à impossibilidade de ler palavras que não

sejam familiares a pessoa. A característica principal é a dificuldade na

execução de palavras desconhecidas, a leitura visual das palavras e o

aparecimento de erros ortográficos foneticamente imprecisos .

Na leitura os disléxicos fonológicos, baseiam-se maciçamente

no reconhecimento da palavra inteira (leitura lexical), tendo em vista que

possuem dificuldades na conversão grafema-fonema, e mesmo as palavras

Page 17: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

17

conhecidas passam como despercebidas, pois não são lidas e sim suprimidas,

devido a incapacidade de analisar e sintetizar os sons da fala. É muito comum

que ocorram confusões, omissões, inversões, reiterações, substituições,

hesitações, e que no processo de leitura transformem as palavras inventadas

em reais (lexicalizações).

4) Dislexia profunda, mista ou por assemelhar-se chamada

também de fonológica, nesse quadro os erros nos processos da leitura são

cometidos por vias auditivas e visuais. Ocorre bloqueio para a leitura de não

palavras, existe a manifestação dos chamados erros visuais, semânticos e de

derivação, compreende-se então, o disléxico apresentar dificuldades para

decifrar o significado das palavras, a impossibilidade de ler pseudopalavras, a

dificuldade para ler as palavras abstratas e os verbos. Alguns escritores citam

evidências de que nessa classificação, existe uma maior facilidade em leitura

de palavras concretas e frequentes.

Corrrentes distintas divergem ao descreverem a origem da dislexia

profunda e, nos históricos observamos citações que a associam com a

existência de lesões múltiplas no hemisfério esquerdo, contrariando aos que

atribuem com a possibilidade de habilidades residuais do hemisfério direito

no contexto de extensa lesão no hemisfério dominante.

As classificações acima não são as únicas encontradas no universo

bibliográfico, e a vastidão do tema “classificação dos diferentes tipos de

dislexias”, nos remete a conceitos de autores distintos, descrevendo-as e

classificando-as de acordo com sua abordagem profissional, como sugere a

exposição abaixo:

Exemplo de outras classificações:

Dislexia visual (Ortográfica ou Diseitética), Dislexia auditiva

(Fonológica ou Disfonética) e Dislexia mista.

Dislexia primária ou genética, dislexia secundária ou de

desenvolvimento, dislexia tardia ou por trauma.

Page 18: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

18

Convém a reflexão que independente de qualquer classificação, o

mais importante é apoiar, incentivar e se fundamentar na afirmativa de que o

disléxico tem preservado seu desenvolvimento intelectual e a sua capacidade

de comunicação, sendo assim, tem condições de desenvolver a leitura e a

escrita, desde que esteja sendo corretamente assistido na sua trajetória.

1.3. Os Sintomas da Dislexia

Os sintomas mais comuns da dislexia podem e devem ser

observados precocemente, desde que os envolvidos estejam atentos a alguns

sinais visíveis nos comportamentos das crianças, cabendo ressaltar, que a

avaliação de um distúrbio linguístico, deve sempre ser feita por um

profissional especializado ou na maioria das vezes por uma equipe

multidisciplinar.

Os sintomas da dislexia variam de acordo com os diferentes graus

do transtorno, indo do sutil ao severo, havendo casos que em percebe-se uma

presença maior de sintomas e sinais; e em outros, são observadas somente

algumas características.

É importante uma ressalva para a existência de casos em que os

fatores sequer têm associação com a dislexia, há crianças com ritmo

diferenciado para a conquista de sua maturação neurológica, o que

consequentemente implicara em uma evolução mais tardia de seu

aprendizado, o que necessariamente não se caracteriza como dislexia.

Pesquisadores defendem que ao contrário do que muitos pensam,

embora seja um distúrbio linguístico, nem sempre a manifestação inicial ocorre

nesse campo, compete aqui, uma olhar mais diversificado, que permeie os

campos físicos, emocionais e comportamentais (ansiedade, depressão,

relutância em ir à escola, dores de cabeça, problemas estomacais) podem ser

sinalizadores de quadro disléxico.

Embora a certeza de um distúrbio de aprendizagem dependa de

avaliação criteriosa e ocorra somente após o acesso a leitura, algumas pistas,

Page 19: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

19

sinais e sintomas como os descritos abaixo, podem ser observados desde

cedo, auxiliando assim na identificação precoce da dislexia.

.Atraso no desenvolvimento motor, atraso ou deficiência na

aquisição da fala, distúrbios do sono, enurese noturna, suscetibilidade à

alergias e à infecções, tendência à hiper ou a hipo-atividade motora, choro

compulsivo, inquietude, agitação, dificuldades de adaptação nos primeiros

anos escolares, forte imaginação e criatividade, dispersão, atraso na fala,

vocabulário restrito e simplificado, dificuldade de memorização, baixa

autoestima, mudanças bruscas de humor, impulsividade, impaciência para

aguardar sua vez de falar, timidez excessiva, dificuldades visuais não

reveladas em exames, excelente memória de longo prazo (lembrando

experiências, filmes, lugares e faces) mas baixa memória imediata, curta e de

médio prazo, baixa memória visual, mas excelente memória e acuidade

auditivas, pensamento elaborado através de imagem e sentimento, pré-

disposição à alergias e à doenças infecciosas, tolerância muito alta ou muito

baixa à dor, forte senso de justiça, sensibilidade e emoção aguçadas,

dificuldades para andar de bicicleta, para abotoar, para amarrar o cordão dos

sapatos, dificuldade em manter o equilíbrio e em praticar alguns exercícios

físicos, distração e estado confuso diante de muito barulho, , escassez de

conhecimento prévio, dificuldades em seguir indicações de caminhos,

dificuldade em executar sequencias de tarefas complexas, confusão com

mensagens telefônicas etc.

Page 20: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

20

CAPÍTULO II

APRENDIZADO E DISLEXIA

“Se uma criança não consegue aprender da maneira como

ensinamos, talvez devêssemos ensinar da maneira como ela aprende”.

(Ignacio Estrada).

Entende-se como aprendizagem o processo de mudança do

comportamento, obtido através da experiência construída em

estudo, experiência, formação, raciocínio e observação. Aprender é o resultado

da interação entre estruturas mentais e emocionais, neurológicas, relacionais e

ambientais.

A fundamentação da aprendizagem apropria-se de conhecimentos e

teorias da neuropsicologia, psicologia, educação e pedagogia.

Cada criança é um ser individual que terá necessidades específicas

de aprendizagem. Um professor verdadeiramente alinhado com seus alunos,

certamente será capaz de identificar tais necessidades, facilitando assim, a

inserção do aluno disléxico no mundo cultural e simbólico..

Se compreendermos que afetividade, toque, cheiro, olho, ouvidos e

gosto, são canais para a aprendizagem e que algumas crianças podem

depender enormemente de um desses canais, possivelmente conseguiremos

levar alunos a trilharem sucesso.

Muitos são os métodos encontrados para se trabalhar o processo de

aprendizagem dos alunos disléxicos, como por exemplo: os que se

fundamentam em explorar a assimilação de fonemas, desenvolver vocabulário,

melhorar a compreensão e fluência na leitura, tendo como intuito, estimular o

reconhecimento de sílabas, sons, palavras e, por fim, frases. Sabemos que

independente do método adotado, alguns disléxicos conseguirão obter êxito,

outros não e alguns poderão ter o quadro melhorado, ainda que a deficiência

permaneça.

Page 21: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

21

De modo geral, a certeza que impera, é que independente da

metodologia adotada, as questões que enfaticamente os pais trazem a respeito

da aprendizagem de seus filhos, só serão respondidas com a efetiva

participação do tripé escola, indivíduo e família, base que alicerçam qualquer

possibilidade de êxito no processo de aprendizagem.

2.1. Conceituando Dificuldades e Distúrbios de Aprendizagem

Quem não aprende, tem um motivo para não aprender. Podemos

está aqui falando de uma dificuldade de aprendizagem ou de um distúrbio de

aprendizagem.

Ainda que fundamental na formação do professor , observamos que

na prática diária , alguns profissionais não estão aptos para identificar o que

impede a aprendizagem de alguns alunos. Convém ressaltar que não se trata

de elaboração de diagnóstico, competência essa designada a psicopedagogos,

fonoaudiólogos, neuropsicólogos, neurologistas, psiquiatras, entre outros, mas

sim, de conhecimento do processo de aprendizagem e das etapas de

desenvolvimento do aluno.

Diante da vastidão de escritos sobre aprendizagem, há um consenso

entre escritores ainda que de correntes distintas, ao afirmarem a existência de

controvérsias entre os profissionais, tanto da área da educação quanto da área

de saúde, ao se referenciarem ao termos dificuldades e distúrbios de

aprendizagem. Possivelmente isso ocorra, em função da amplitude de

sintomas e pelos diferentes agentes causadores, quando se trata do

aprendizado da leitura e escrita.

Dificuldade de aprendizagem se relaciona especificamente a um

problema de ordem e origem pedagógica. Sabendo-se que cada ser aprende

de uma forma peculiar, e que esse saber passa pelo seu filtro perceptivo

preferencial, eis aqui um campo onde a individualidade deveria não só ser

respeitada como trilhada.

Page 22: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

22

È comum que paralelo a dificuldade de aprendizagem emirjam

problemas psicológicos, muitas vezes oriundos do ambientes familiar ou

escolar, principalmente quando a escola opta em fazer uso de abordagens

pedagógicas inadequadas para o educando. Embora possam ser problemas

transitórios, convém o reconhecimento do problema por um profissional

adequado, com o intuito de favorecer o educando.

Explorando ainda mais, podemos aqui problematizar o fator

motivacional, já que muitas vezes observamos o educando recebendo pouco

estímulo, por vezes demonstrando sofrimento e se intitulando como “incapaz”.

É comum, que tal sofrimento permeie também aos pais, que inseguros acabam

por pressionar a criança e a escola, optando em alguns casos , pela retirada

do educando, conduzindo-o a um rodízio de instituições escolares, o que pode

dificultar ainda mais o êxito escolar.

Segundo Moojen apud Bassols,(2003), os termos dificuldades e

distúrbios de aprendizagem têm gerado muitas controvérsias entre os

profissionais, tanto da área da educação quanto da saúde. Isto porque, há uma

sintomatologia muito ampla, com diversidade de fatores etiológicos, quando se

considera o aprendizado da leitura, escrita e matemática. Sigamos com as

definições abaixo:

Collares e Moysés (1992) fazem a seguinte definição:

Distúrbios de aprendizagem é um termo genérico que se refere a um grupo heterogêneo de alterações manifestas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio ou habilidades matemáticas. Estas alterações são intrínsecas ao indivíduo e presumivelmente devidas à disfunção do sistema nervoso central. Apesar de um distúrbio de aprendizagem poder ocorrer concomitantemente com outras condições desfavoráveis (por exemplo, alteração sensorial, retardo mental, distúrbio social ou emocional) ou influências ambientais (por exemplo, diferenças culturais, instrução insuficiente/inadequada, fatores psicogênicos), não é resultado direto dessas condições ou influências. (Collares e Moysés,1992, p. 56).

Um dado relevante na diferenciação entre uma dificuldade de

aprendizagem e um transtorno de aprendizagem é o fato dos transtornos terem

Page 23: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

23

classificação e códigos definidos na classificação de doenças – CID-10, o que

permite uma identificação pautada em sinais, sintomas, aspectos anormais,

queixas, circunstâncias sociais e causas externas.

Compete o conhecimento de tais transtornos, não para estigmatizar,

mas para que se encontre o caminho mais acessível e assertivo, para que

educando obtenha êxito no contexto escolar, dessa forma seguem as

classificações: transtorno específico de leitura (dislexia de desenvolvimento,

leitura especular e retardo específico da leitura), transtorno específico de

soletração (retardo específico da soletração, sem transtorno da leitura),

transtorno específico da habilidade e aritmética (acalculia de desenvolvimento,

discalculia, síndrome de Gerstmann de desenvolvimento e transtorno de

desenvolvimento do tipo acalculia), transtorno misto de habilidades escolares

(categoria residual mal definida de transtornos nos quais existe tanto uma

alteração significativa do cálculo quanto da leitura ou da ortografia), Outros

transtornos do desenvolvimento das habilidades escolares (transtorno de

desenvolvimento da expressão escrita), transtorno não especificado do

desenvolvimento das habilidades escolares (incapacidade de

aprendizagem, aquisição de conhecimentos e de transtorno de aprendizagem

sem origem específica).

Convém identificar que os transtornos específicos do

desenvolvimento das habilidades escolares estão diretamente associados aos

transtornos do desenvolvimento psicológico, e que embora com classificações

distintas , os transtornos específicos do desenvolvimento apresentam algumas

características em comum entre si, sendo elas: o início no decorrer da infância,

o desenvolvimento de funções que são relacionadas à maturação biológica do

sistema nervoso central apresentando comprometimento ou atraso, a presença

de situações orgânicas que impedem o educando de aprender, a condição

estável , digo, não envolve desaparecimentos e as recaídas comumente

encontradas em muitos transtornos.

Podemos ainda, classificar os distúrbios de aprendizagem como

verbais ou não verbais. Os verbais se relacionam com as dificuldades

Page 24: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

24

encontradas nas habilidades de leitura e escrita, que são as dislexias temas

desse trabalho.

Enfim, os educandos independente da categorização de suas

dificuldades, precisam continuamente de: suporte nas atividades escolares,

apoio familiar, de intervenção e apoio profissional e necessitam urgentemente

aprender a aprender, pois só assim, conseguirão desenvolver autonomia e

adquirir conhecimento próprio, tornando-se sujeito do seu conhecimento e

não de suas limitações.

Remeto-me aqui não só ao aspecto cognitivo, mas ao

desenvolvimento da autonomia, da aquisição do conhecimento próprio, do

tornar-se sujeito do seu conhecimento e não de suas limitações.

2.2. Descrevendo as Principais Dificuldades de Aprendizagem

do Aluno Disléxico

Segundo a definição de dificuldades de aprendizagem proposta por

Correia & Martins (1999) numa perspectiva orgânica, as dificuldades de

aprendizagem são desordens neurológicas que interferem com a recepção,

integração ou expressão de informação, caracterizando-se, em geral, por

discrepância acentuada entre o potencial estimado do aluno e a sua realização

escolar.

Sabemos que nem sempre é possível sucesso e aprovação na área

educacional, muitas vezes no percurso do ano letivo a dificuldade de

aprendizagem se evidencia. Escritores afirmam que uma dificuldade de

aprendizagem pode ter origem em fatores orgânicos ou até mesmo

emocionais, e que podem desencadear inadaptação, recusa em frequentar a

escola, desinteresse, agressividade, passividade e possíveis somatizações. A

submissão em executar algo que não se consegue ainda que haja empenho,

esforço e dedicação, é a realidade de muitos alunos disléxicos. A exposição

diária a tais condições afetam o modo como um disléxico percebe o mundo, e

exerce influência na sua conduta familiar e social. Evidentemente, faz-se

necessário uma atenção contínua e especial, por todos os envolvidos no

Page 25: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

25

processo de educação a essas dificuldades, sendo de suma relevância que se

observe se as mesmas são momentâneas ou se ao longo do tempo irão

persistir.

Dificuldade com atenção, organização e fracasso crônico para

concluir tarefas parecem traduzir a dislexia, no entanto, no contexto escolar

podemos observar outras dificuldades, que muitas vezes, começam nas

classes iniciais.

Soletração fraca, lentidão em leitura, fraco desenvolvimento da

atenção, dificuldade em identificar esquerda e direita, em cima - em baixo, na

frente-atrás, incapacidade de produzir rimas, presença de linguagem verbal

imatura, pobre compreensão do texto ou ausência de leitura daquilo que se

escreve, invenção, acréscimo ou omissão de palavras ao ler e ao escrever,

dificuldade para aprender o alfabeto ou para reproduzir os sons das letras que

o representam, dislalia (pronúncia inadequada das palavras com trocas de

fonemas e sons errados), disgrafia, escrita lenta, letra mal grafada ou

ininteligível; borrões ou palavras ligadas entre si, dificuldade para controlar um

lápis ao escrever ou desenhar, dificuldade em copiar de livros ou quadro,

dificuldade na coordenação motora fina (desenhos, pintura) e/ou grossa

(ginástica, dança etc.), constantes atrasos na entrega de trabalhos escolares ,

dificuldade em manusear mapas, dicionários, dificuldade na memória de curto

prazo, como instruções, recados etc., dificuldades em decorar sequencias,

como: meses do ano, alfabeto, tabuada etc., discalculia (dificuldade com a

matemática), dificuldade em nomear objetos e pessoas (disnomias),

dificuldade na aprendizagem de uma segunda língua, lentidão na execução dos

deveres ou agilidade com a presença de muitos erros ou omissões.

Visto a importância, convém o registro da perda constante de

materiais ou objetos pessoais, o que pode vir a torna-se um fator gerador de

conflitos, assim como, contribui de maneira significativa para o aumento da

dispersão tão peculiar na dislexia.

Page 26: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

26

2.3. Estratégias Educacionais para o uso com Alunos

Disléxicos

Ao se propor a trabalhar com o aluno disléxico, o professor deve

priorizar o respeito pela individualidade, tendo em mente a premissa que cada

ser aprende no seu próprio tempo. Deve ainda, diversificar, explorar atividades

claras e objetivas que trabalhem concomitantemente os aspectos

psicomotores: esquema corporal, lateralidade, estruturação espacial,

orientação temporal, pré-escrita e os aspectos cognitivos, percepção, memória

visual, auditiva, visomotora, atenção, raciocínio, linguagem e compreensão da

leitura. É possível que essa junção não seja assertiva na sua totalidade, mas

certamente é um caminho a ser trilhado, na esperança de abrir portas para

novos saberes.

Antes da escolha de qualquer modalidade de trabalho a ser aplicado

no aluno disléxico, devemos ter a sabedoria para perceber como se encontra

sua auto estima e a sua valorização pessoal.

É fato que quando se conhece as habilidades, as competências e as

aspirações do aluno, fica mais fácil a escolha da estratégia educacional, do

limite da flexibilização e da aplicação do conteúdo. O acreditar, apostar e

confiar amplia os recursos do professor e lhe confere a possibilidade de

diversificar entre desenhos, pinturas, histórias, cálculos, oralidade, música,

memorização, ou o que considere mais favorável para desenvolver a auto

confiança e conduzir sem expor seu aluno. Nesse modelo, é bem possível que

o professor leve seu aluno a acreditar em si mesmo e a se destacar através do

desenvolvimento de suas potencialidades. Considerando-se o processo de

ensino como uma via de mão dupla, celebra-se aqui o crescimento de aluno

e professor.

Ainda nesse contexto, é importante enfatizar que outras medidas

podem ser adotadas para facilitar a aprendizagem do aluno disléxico, algumas

estão aqui relatas, mas certamente o desejo de acertar e a criatividade de cada

um é capaz de torná-las muito maior ou quem sabe infinita.

Page 27: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

27

No cotidiano ilustre para seus alunos o plano para as aulas da semana,

mostrando de maneira clara e objetiva o que será necessário para cada dia de

aula, sempre que preciso liste os objetos necessários: dinheiro para as refeições

quando de costume, caneta, régua, tesoura etc., auxilie os alunos a manterem a

organização do seu material, uma boa sugestão é o uso de cores distintas, a

numeração e datas nas folhas , a organização de pastas com datas e títulos,

quando possível permita que verifiquem os trabalhos de casa ainda em sala de

aula, assim o aluno terá a oportunidade de sanar possíveis dúvidas, reforce

demasiadamente sobre o planejamento da lição de casa, de trabalhos elaborados

ou de compromissos que tenham data definida de entrega, tenha em mente que

disléxicos apresentam dificuldades no cálculo do tempo, flexibilize um tempo maior

durante as avaliações , opte pelo uso de papel amarelo para a impressão das

provas, nesse caso, a cor facilita o processo de reter a atenção do aluno, considere

a possibilidade de prova oral, disléxicos costumam ter bom desempenho no plano

oral, mantenha-se disponível e de suporte contínuo na execução das atividades

escolares, ofereça apoio e certifique-se de que de fato ocorreu o entendimento por

parte do aluno, trabalhe com a percepção entre sons e letras, com palavras que

tenham sons semelhantes em determinadas posições, ao usar textos maiores opte

em colorir as sílabas ou enfatizar certos aspectos de uma palavra específica ,

sinalize e auxilie na correção dos espelhamentos e inversões, use rimas para

estimular a consciência fonológica, explore ao máximo a divisão silábica, use e

abuse de gravuras, fotos e imagens, leia e releia histórias, enfatize a interpretação

oral, explore fatos que aconteceram na história. Onde se passou? Quem são os

personagens?, Permita que o aluno acrescente personagens, que mude o final, que

faça e refaça a história, aproprie-se de ditados curtos, caça palavras, jogos de

memória, compreensão de piadas, provérbios e gírias, respeite quando profissionais

sugerirem posicionamento estratégico em sala de aula.

Terminando o capítulo, fica a reflexão de que sem dúvidas, o professor é

capaz de conduzir o aluno a desenvolver sua capacidade intelectual e

independência, favorecendo assim, sua vida pratica e social que vai muito além da

dislexia.

Page 28: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

28

CAPÍTULO III

A INCLUSÃO DO ALUNO DISLÉXICO

“Vivendo um dia de cada vez, apreciando um momento de cada vez,

recebendo as dificuldades como um caminho para a paz”. Oração da

Serenidade

Quando falamos de inclusão nos referimos à reflexão,

sensibilização, a integração não só enquanto constitucional, mas de fato, a

interação do sujeito com o seu meio, ao respeito a diversidade, a valorização

de competências pessoais, ao domínio de si e a possibilidade de se construir

uma identidade.

Refletindo sobre a essência e individualidade de cada aluno

disléxico, entenderemos facilmente que cada experiência traz novas

demandas. Considerando o contexto devemos refletir se a escola que temos

hoje tem a proposta de respeito à individualidade, se é uma instituição que

critica, repensa e se propõe a modificar sua prática pedagógica e regimento

interno em detrimento dos alunos disléxicos, observem que estamos iniciando

aqui a “receita” de um verdadeiro processo de inclusão. Flexibilização de

objetivos, conteúdos, metodologias, avaliação, garantia de direitos , de espaço,

de acesso, reflexão sobre o cotidiano da escola como um todo , são fatores

considerados fundamentais dento do contexto da inclusão , e que quando bem

aplicados tendem a gerar mudanças significativas a altamente vantajosas. Fica

o registro que não é simples, não é fácil, mas certamente é um excelente

exercício de cidadania que indiscutivelmente irá beneficiar a instituição e acima

de tudo, todos os alunos com ou sem dificuldades de qualquer natureza.

Fica praticamente impossível falarmos sobre inclusão, sem falarmos

em ação integrada entre família, instituição escolar, professores, orientação

pedagógica, direção, terapeutas ou equipe multidisciplinar, meio social, pois

esses, quando alinhados serão os verdadeiros agentes que irão delinear a

totalidade da inclusão, entendendo que existe um espaço para a construção do

Page 29: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

29

conhecimento que independe das diferenças, trazendo consideráveis

contribuições para ser e para prática pedagógica.

Segregação jamais, os alunos disléxicos não devem, não precisam

e certamente não querem ser retirados da sala de aula, pois é no convívio

diário que eles trocam saberes, afetos, humores, competências , praticam a

colaboração, doação e amizade. Quebrar protocolos, vencer nossas próprias

barreiras, eliminar a resistência, não ter medo de errar e oferecer espaço para

os disléxicos apresentarem seus dons peculiares, é fácil, simples, utiliza

poucos recursos e chama-se inclusão , “receita “ gratuita que resulta em

benefícios para todos.

Faz-se importante ressaltar as Leis que embasam a inclusão:

A criança com dislexia, está amparada na legislação brasileira sobre

a égide da Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 (ECA), da Lei 9.394/96 (LDB), da

Lei 10.172 de 9 de janeiro de 2001 - Plano Nacional de Educação - Capítulo 8 -

Da Educação Especial e do Parecer CNE/CEB nº 17/2001 / Resolução

CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001.

Na Lei 8.069, de 13 de julho de 1990 (ECA) - artigo 53, incisos I, II e

III: A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno

desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e

qualificação para o trabalho, assegurando-se-lhes: I – igualdade de condições

para o acesso e permanência na escola; II – direito de ser respeitado pelos

seus educadores; III – direito de contestar critérios avaliativos, podendo

recorrer às instâncias escolares superiores.

Na Lei 9.394/96 (LDB): Art. 12 - Os estabelecimentos de ensino,

respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a

incumbência de: I - elaborar e executar sua Proposta Pedagógica; V - prover

meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento. Art. 13 - Os

docentes incumbir-se-ão de:III, zelar pela aprendizagem dos alunos; IV,

estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento.

Page 30: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

30

3.1. A Importância do Diagnóstico e da Parceria Família e

Escola

Alguns escritores compartilham a opinião que sendo tratada mais

cedo, a dislexia apresenta maiores possibilidades de ser corrigida, outros

sugerem que o diagnóstico seja iniciado após dois anos de vivências leitoras.

Infelizmente, contrariando essas recomendações, a realidade nos mostra

muitos casos de diagnóstico tardio, havendo ocorrências de adultos sendo

diagnóstico, ao procurar ajuda profissional para os problemas de aprendizagem

dos filhos.

Geralmente a identificação de uma suspeita de dislexia, tem seu

inicio no primeiro grupo social frequentado pelo criança , que é a família. É

muito comum que os pais, agucem sua curiosidade ao perceberem certas

habilidades ou inabilidades em seus filhos, sendo frequente também que façam

comparações com outras crianças de idade igual, com os pais e até com outros

familiares; o que não é recomendado, pois pode implicar em um atraso na

busca por um diagnóstico mais preciso e pode contribuir para o agravamento

do transtorno.

Os indícios mais visíveis da dislexia revelam-se no contexto escolar,

no desempenho, no rendimento, nas atividades referentes ao processo de

aprendizagem, mas tais indicadores não são suficientes para a elaboração de

um diagnóstico, de modo geral, assim como outros distúrbios, não é tão

simples realizar o diagnóstico da dislexia. Comumente, ele é feito através de

uma investigação minuciosa, realizada por equipe multidisciplinar composta de

profissionais como: psicólogo, neuropsicólogo, fonoaudiólogo,

psicopedagogo, neurologista e em alguns casos psiquiatra, oftalmologista e

otorrinolaringologista. Deve-se considera o caráter excludente, sendo comum e

imprescindível, que se descarte a possibilidade de déficit de atenção,

deficiências visuais e auditivas, lesões cerebrais, hiperatividade, escolarização

incorreta, dificuldades emocionais, psicológicas ou socioeconômicas, que

venham a interferir na aprendizagem.

Page 31: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

31

No processo de diagnostico da dislexia, precisa-se considerar que

ela não é uma doença, que possui variações e classificações distintas , e que

independe de falta de atenção, desinteresse, desmotivação, preguiça, cansaço,

falta de vontade de aprender ou alfabetização mal feita.

Uma das importâncias do diagnóstico é prevenir que sejam

atribuídos aos portadores do transtorno rótulos depreciativos, o que

consequentemente gera reflexos negativos sobre sua autoestima o que pode

ser estendido até a fase de vida adulta.

Entenda-se que a importância do diagnóstico se faz evidente para

que o disléxico e seus familiares façam valer os seus direitos, como por

exemplo, no exame do Enem, onde se permite que uma vez

Diagnosticado e comprovando suas necessidades especiais, o portador de dislexia, faça valer seu direito de ter atendimento diferenciado em provas de seleção, conforme Decreto nº 5.296/2004, tendo direito a utilizar instrumentos, equipamentos ou tecnologias adaptados que favoreça sua autonomia , além desses recursos poderá também ter direito a tempo adicional e atendimento diferenciado . Vale lembrar que é preciso comprovar, com laudos médicos, as necessidades especiais INEP (2014).

Ser diagnosticada como disléxica, não é sinônimo de que a criança

seja menos inteligente; ou que deva se sentenciada, significa que porta um

distúrbio possível de ser corrigido ou atenuado, com tratamento adequado,

que em geral requer um processo longo , exigindo persistência e paciência.

É importante enfatizar que a dislexia não é superada com o tempo; e

que não pode e não deve passar despercebida, nem pela escola nem pela

família. Nesse contexto, a escola e a família são indissolúveis e devem trilham

o mesmo caminho, ou seja, o caminho das descobertas, ambas devem se

abdicar da posição de espectadores e criar alianças, fortalecendo os laços

com os demais envolvidos no processo, só assim, em concomitância

provavelmente encontrarão alternativas, respostas ou possíveis soluções,

para as questões cotidianas ou para as questões levantadas nos diagnósticos.

Page 32: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

32

3.2. Professores Qualificados Fazem a Diferença

Fonseca (1995), nos remete a concluir que professores e instituições

escolares devem trabalhar com competência e dedicação (revendo seus

métodos de ensino e adaptando-os quando necessário), para atraírem os

alunos para a escola, onde terão a oportunidade de aprender a ler e escrever.

Percebemos que muito professor não tem o devido conhecimento na área à qual ele é formado e devia ser especialista. E, para piorar, tem a questão da inclusão. Eles têm dentro de sua sala de aula os alunos de inclusão portadores de algum tipo de transtorno, que têm direito à educação. Mas o professor precisa de assistência para isso, e muitas vezes isto não acontece. (APARECIDA, 2011, p. 56).

Acima se encontram explanados dois cenários distintos, um teórico

e o outro prático, ainda que concordando de forma parcial com o cenário

prático, optei em pautar este capítulo sobre o teórico. Sendo assim, compete-

me retratar os profissionais que mais que uma escolha profissional, parecem

possuir certa vocação para o magistério e com esforços imensuráveis,

conteúdo e coração, alicerçam a base para fazer um ser humano melhor.

Professores assim, me remetem ao filme Somos todos diferentes,

que retrata um professor de artes que ao identificar um caso de dislexia em

sala de aula, sabiamente lança mão do lúdico, facilitando o processo de

socialização, comunicação e de desenvolvimento do aluno. É apoderando-se

das artes em sua amplitude, encenando, cantando, dançando, desenhando,

pintando e transformando, que o professor acessa o inacessível, e penetra no

terreno criativo de quem até então só demonstrava apatia. Corpo, ação e

emoção, possibilitam a esse aluno um reconhecimento de si, uma

personalização, e o despertar dos primeiros passos para o convívio social e

para um desabrochar, independente da sua condição de disléxico.

Profissionais de educação quando bem informados são capazes de

transformar filmes em realidade, são conscientes de que para se trabalhar

com alunos disléxicos, faz-se necessário muito mais do que técnicas

pedagógicas. Compreendem que por vezes, mais do que desenvolvimento

Page 33: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

33

cognitivo, o aluno clama pela valorização da sua identidade pessoal e pela

estimulação de sua autoestima, para que assim adquira a segurança

necessária para expressar-se com mais facilidade, o que certamente

contribuirá no seu processo de leitura e escrita.

Professores verdadeiramente qualificados, sabem que dislexia não é

doença, conseguem distinguir o que é dificuldade e o que é distúrbio de

aprendizagem, tem convicção que a capacidade de aprendizagem do disléxico

está preservada , e assim , incentiva, ativa a motivação, identifica estilos de

aprendizagem, lida com as necessidades dos seus aluno na individualidade,

descobre seus pontos fracos e fortes , insiste, persiste, acerta, erra, valoriza

e não desiste, até descobrir como lidar com as defasagens na aprendizagem

desses alunos.

Por vezes, mostram-se incansáveis e após uma dia exaustivo de

trabalho, saem da zona do conformismo e vão ao encontro de novos

conhecimentos, tornando-se quase que especialista em determinados

assuntos, afim de se aproximar de soluções, que possam favorecer o lidar

com as dificuldades de aprendizagem de alguns alunos. Tais profissionais são

verdadeiros guerreiros, são lutadores que sabem criar metodologias eficientes

que possam ir de encontro com as necessidades de seus alunos, também

sabem modificar suas práticas pedagógicas incorporando a elas novas

tecnologias, deixando-as mais dinâmicas, interessantes e instigantes,

tornando-as capazes de criar novas relações entre o aprender, o aluno e a

escola.

Imbatíveis, alimentam o desejo de que ocorram melhorias no

atendimento escolar e psicológico de seus alunos, em um futuro muito próximo.

É, de fato, professores qualificados assim como nos filmes, na vida real

também fazem toda a diferença.

3.3. Adaptações Curriculares

Falarmos em adaptações curriculares, possivelmente nos remeta as

complexidades e as infinitas barreiras que ainda existem, e que impedem que

Page 34: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

34

os direitos das pessoas com alguma necessidade especial sejam garantidos. É

fato que desde a Declaração de Salamanca , que defende o princípio da

inclusão como uma escola para todos, percebe-se um crescimento significativo

na qualidade dos sistemas educacionais, ainda que, a realidade ainda não

tenha contemplado os anseios de muitos pais, professores e alunos.

O direito a educação é fundamental a todos os cidadãos brasileiros

e está amparado pela nossa Carta Maior, e foi em busca de atender a esse

direito, e em atender a toda diversidade humana, que surgiram às estratégias

de adaptações curriculares.

Adaptações curriculares são respostas educativas que visam

favorecer o direito à igualdade de oportunidades sem caráter assistencialista ou

penoso, mas de forma legítima, democrática e eficaz. Tem como objetivo a

condição de proporcionar aos alunos o acesso ao conhecimento, favorecendo

seu caminhar próprio , seu progresso escolar , conduzindo-o a tornar-se quem

ele pode tornar-se.

Podemos classificar as adaptações curriculares em três grandes

grupos: Adaptações no nível do projeto pedagógico (currículo escolar,

organização escolar e os serviços de apoio), adaptações relativas ao currículo

da classe (programação das atividades elaboradas para sala de aula, e por

último, adaptações individualizadas do currículo (foco na avaliação e no

atendimento ao aluno)

Conhecer o aluno, contemplar sua individualidade, identificar seus

pontos fortes e fracos e suas reais necessidades, são fatores fundamentais

para a escolha das ações adaptativas, que são de caráter distintos e vão

muito além de atividades lúdicas e artísticas, transitando por territórios

auditivos, físicos, intelectuais, visuais etc. Convém como ilustração, citar que

sendo a dislexia temática desse trabalho, ao optar-se por um tipo de

adaptação, o foco não seria a dislexia, e sim a capacidade do aluno, sendo

relevante considerar as suas possibilidades de aprendizagem e não as suas

dificuldades.

Page 35: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

35

O processo de adaptação curricular se constrói de maneira flexível e

gradativa, devendo ter a participação efetiva de professores, alunos, família e

demais profissionais. Tal construção, além de muito empenho requer:

identificação, acolhimento do aluno e da família, envolvimento da direção,

coordenação, professores e demais colaboradores, fazendo-se necessária a

sensibilização do aluno, da turma e da instituição escolar.

No âmbito desse contexto, é assertivo dizer que um processo de

adaptação elaborado de maneira a respeitar as diferenças, apoiar a

aprendizagem e responder de maneira adequada às necessidades individuais,

pode ser uma das chaves, para minimizar ou até mesmo reverter o quadro

perceptível ainda na data de hoje, de alunos que migram de escolas ou

centros especiais para escolas regulares, e por inadaptação , despreparo de

professores e até mesmo do sistema , acabam por retornar as escolas de

origem.

O sucesso no processo de inclusão ocorre, quando o professor é

capaz de observar o aluno no todo, quando o incentiva: a inventar, pesquisar,

se expressar, desenvolver suas potencialidades, vencer dificuldades, quando

percebe que por trás de toda deficiência, tem uma eficiência chamada ser

humano pronta para desabrochar.

“Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer

o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a

caminhar.” (Paulo Freire).

Page 36: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

36

CONCLUSÃO

A elaboração desse trabalho me permitiu um olhar mais acentuado

sobre a dislexia e suas implicâncias no contexto escolar.

Como já esperado, a trajetória percorrida para chegar até aqui me

levou a muitos erros, acertos e conhecimentos, no entanto, o fator surpresa foi

a emoção, que por vezes me fez parar, respirar isso , para não chorar. Não

me remeto aqui a tristeza e sim, aos encontros e desencontros, as estradas

sinuosas, que muitas vezes, parecem infinitas, quando o assunto é dislexia.

Escolas, professores, pais, alunos todos tem como objetivo a

aquisição do conhecimento, é lógico que não desejam entraves, mas eles

inesperadamente surgem, e junto com eles emerge também a esperança do

desaparecimento, de se constatar que isso não é real.

E o tempo passa..., as dificuldades se solidificam e o desafio agora é

grande, mas em compensação é de muita gente, na verdade é de todos. Como

a vida é feita de desafios, podemos considerá-lo mais um.

Eis que estamos diante de uma luz apagada esperando para ser

acessa, ela precisa atingir o seu potencial pleno, desvendar seus talentos,

florescer ativamente, mas logo agora o interruptor falhou.

Culpa? Fracasso? Vergonha? Não sei, não me importa saber, o que

eu preciso é encontrar uma abordagem diferente, uma nova conexão, um olhar

diferenciado ou até uma forma revolucionária para acender a lâmpada.

Em suma, pude perceber que embora o disléxico talvez (será?) não

consiga compreender a metáfora acima, ele é capaz de conviver e até de

superar a dislexia, isso, quando os que o cercam se propõe a ajudá-lo a

funcionar da forma mais eficiente possível, aumentando o seu ritmo de

comportamentos adaptativos. Não só os mestres como os familiares

necessitam mergulhar no mundo do disléxico, atentando para o contato visual,

propondo-se a dividir com ele as suas brincadeiras, alegrias, tristezas,

Page 37: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

37

entenderem suas igualdades, suas diferenças e acima de tudo terem

envolvimento, compreensão e a sensível arte de conviver com as diferenças.

Possivelmente assim, os professores ainda que não estando mais

por perto, possam ser lembrados no futuro, e quem sabe seus alunos se

apropriem da canção Meus Tempos de Criança, e cantem com o coração “Que

saudade da professorinha Que me ensinou o beabá”.

Page 38: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

38

BIBLIOGRAFIA

COLLARES, C. A. L. e MOYSÉS, M. M. A. A. A História não Contada dos

Distúrbios de Aprendizagem. Campinas: Papirus, 1993.

CORREIA, L. M., & MARTINS, A. P. Dificuldades de Aprendizagem: que

são? Como entendê-las?. Biblioteca Digital. Porto: Porto Editora,1999.

FONSECA, Vitor. Introdução às dificuldades de aprendizagem. Porto

Alegre: Artmed: 1995.

MORAIS, Jose. A arte de ler. São Paulo: Editora Unesp, 1996.

ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (Org.). Classificação de Transtornos

Mentais e de Comportamento da CID-10: Descrições clínicas e diretrizes

diagnósticas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992.

WELLIS, Andrew. Leitura, escrita e dislexia: uma análise cognitiva. Porto

Alegre: Artes Médicas, 1995.

Page 39: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

39

WEBGRAFIA

http://drauziovarella.com.br/crianca-2/dislexia/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Dislexia_adquirida)

http://www.dislexia.org.br/

http://www.olhardireto.com.br/noticias/exibir.asp?id=178661 (Psicopedagoga

Nadia Aparecida Bossa).

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm

http://download.inep.gov.br/educacao_basica/enem/edital/2014/edital_enem_20

14.pdf

Page 40: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM – FACULDADE … · 8 INTRODUÇÃO A relevância deste trabalho se pauta em descrever a dislexia como uma das possíveis causas do não aprendizado

40

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I Conceituando a Dislexia 10 1.1. Compreendendo a Dislexia 11 1.2. Classificando os Diferentes Tipos de Dislexia 12 1.3. Os Sintomas da Dislexia 18 CAPÍTULO II Aprendizado e Dislexia 20 2.1. Conceituando Dificuldades e Distúrbios de Aprendizagem 21 2.2. Descrevendo as Principais Dificuldades de Aprendizagem do Aluno Disléxico 24 2.3. Estratégias Educacionais para o uso com Alunos Disléxicos 26 CAPÍTULO III A Inclusão do Aluno Disléxico 28 3.1. A Importância do Diagnóstico e da Parceria Família e Escola 30 3.2. Professores Qualificados Fazem a Diferença 32 3.3. Adaptações Curriculares 33 CONCLUSÃO 36 BIBLIOGRAFIA 38 WEBGRAFIA 39