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UNIVERSIDADE CÂNDIDIDO MENDES PROJETO A VEZ DO MESTRE PSICOPEDAGOGIA A IMPORTÂNCIA DA ESTIMULAÇÃO NO ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR (0-2 ANOS) ANA PAULA GONÇALVES CORRÊA Monografia apresentada como requisito para a conclusão do Curso de pós graduação em Psicopedagogia. ORIENTADOR(a): Prof.ª Fabiane Muniz RIO DE JANEIRO 2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PSICOPEDAGOGIA

A IMPORTÂNCIA DA ESTIMULAÇÃO NO ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR (0-2

ANOS)

ANA PAULA GONÇALVES CORRÊA

Monografia apresentada como requisito para a

conclusão do Curso de pós graduação em

Psicopedagogia.

ORIENTADOR(a): Prof.ª Fabiane Muniz

RIO DE JANEIRO

2004

1

UNIVERSIDADE CÂNDIDIDO MENDES

PROJETO A VEZ DO MESTRE

PSICOPEDAGOGIA

A IMPORTÂNCIA DA ESTIMULAÇÃO NO ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR (0-2

ANOS)

ANA PAULA GONÇALVES CORRÊA

RIO DE JANEIRO

2004

2

[Dedicatória]

3

[Agradecimentos]

4

RESUMO

Este trabalho se refere ao estágio sensório motor, porém, para falarmos, sobre este

tema se faz necessário um comentário, mesmo que breve sobre os pressupostos da teoria de

Piaget, uma vez que o desenvolvimento cognitivo mantém uma relação muito estreita com a

aprendizagem, ou seja, a apropriação do conhecimento produzido pela humanidade e as

relações que estabelece com o meio social. Essa apropriação do saber produzido ocorre pela

interação social com os adultos ou companheiros. Com base nestes pressupostos

aprofundaremos a discussão sobre o estágio de desenvolvimento Sensório-Motor. Este é

caracterizado por uma inteligência prática, que se determina em presença dos objetos, das

situações, das pessoas e cujo instrumento é a percepção, assim, através das intervenções

constantes dos adultos e dos outros mais experientes, os processos psicológicos mais

complexos começam a se formar. Nessa fase, é constatado um extraordinário

desenvolvimento mental, decisivo para todo o curso da evolução psíquica, pois representa a

conquista, através da percepção e dos movimentos, de todo o universo prático que cerca a

criança. Nessa visão, aprendizagem e desenvolvimento constituem uma unidade, onde a

aprendizagem, quando significativa, estimula e desencadeia o avanço do desenvolvimento

para um nível mais complexo que, por sua vez, serve de base para novas aprendizagens.

5

ABSTRACT

This work refers to the motor sensorial apprenticeship, however, for us to speak, on

this theme it is done necessary a comment, even if abbreviation on the presuppositions of the

theory of Piaget, once the cognitive development maintains a relationship very it narrows with

the learning, in other words, the appropriation of the knowledge produced by the humanity

and the relationships that it establishes with the social way. That appropriation of the

produced knowledge happens for the social interaction with the adults or companions. With

base in these presuppositions will deepen the discussion on the apprenticeship of Sensorial-

motor development. This is characterized by a practical intelligence, that is determined in

presence of the objects, of the situations, of the people and whose instrument is the

perception, like this, through the adults' constant interventions and of the other more experts,

the psychological processes more compounds begin being formed. In that phase, an

extraordinary mental development is verified, decisive for whole the course of the psychic

evolution, because it represents the conquest, through the perception and of the movements,

of the whole practical universe that it surrounds the child. In that vision, learning and

development they constitute an unit, where the learning, when significant, it stimulates and it

unchains the progress of the development for a more complex level than, for his time, it

serves as base for new learnings.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 07 2. O DESENVOLVIMENTO NA CONSTITUIÇÃO DA PESSOA ........................ 10 2.1 O estágio sensório-motor, segundo Wallon ......................................................... 16 3. O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO SEGUNDO JEAN PIAGET .............. 19 3.1 Os períodos da construção da inteligência .......................................................... 23 3.2 A inteligência sensório motora ........................................................................... 23 4. PRESSUPOSTOS DA TEORIA CONSTRUTIVISTA DE PIAGET E O DESENVOLVIMENTO SENSÓRIO MOTOR .......................................................

26

4.1 A construção do objeto permanente .................................................................... 31 5. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 35

7

1. INTRODUÇÃO

Jean Piaget, embora tenha se formado biólogo, enquanto estudante se interessou no

desenvolvimento de alguns dos primeiros testes mentais (testes de inteligência). Com a

aplicabilidade destes, observou o número de respostas corretas que as crianças de várias

idades respondiam a questões padronizadas, e veio a interessar-se pelas respostas erradas que

eram dadas pelas crianças de diferentes idades. Deste modo, ressaltou que para

compreendermos o pensamento da criança devemos centrar a nossa atenção para a qualidade

da solução dela para resolver determinado problema, pois o que interessa é a maneira de

pensar qualitativamente. Com estas observações rejeitou os testes padronizados de

inteligência.

Segundo Jean Piaget, a criança e o adulto vivem num processo ativo de contínua

interação. Através deste contato com o meio, fatores externos e internos se inter-relacionam e

desse modo à criança vai construindo o seu conhecimento.

Podemos enfatizar então, que o indivíduo herda uma série de estruturas biológicas

(sensoriais e neurológicas) que predispõem ao surgimento de certas estruturas mentais, estas

vai se ampliando e, bem formadas, possibilitam uma ótima adaptação do sujeito com o meio

social.

A criança busca muitas vezes uma adaptação, já que continuamente está diante de

questões que rompem o estado de equilíbrio do seu organismo. No aspecto físico, um

ambiente rico em estimulação irá proporcionar objeto que possam ser manipulados pela

criança, lugares que possam ser explorados etc. No plano social, o ambiente será rico de

estimulação quando reforçar e valorizar a aquisição da competência da criança em muitos

aspectos. O funcionamento intelectual do ser humano, como em seu funcionamento físico, há

dois processos fundamentais que ocorrem o tempo todo: a adaptação e a organização. O

primeiro pressupõe uma coerência subjacente; é um processo de ajustamento ao meio

ambiente, e o outro é a combinação das informações provenientes dos diferentes sentidos, são

criadas através de adaptações. A adaptação envolve um equilíbrio entre dois processos

complementares: assimilação e acomodação, que são de extrema importância para dar conta

da interação do sujeito com o meio. Chamamos de assimilação a tentativa feita pelo sujeito de

solucionar uma determinada situação utilizando uma estrutura mental já formada. A

8

acomodação é o processo de modificação de estruturas antigas mediante a um novo problema

de ajustamento e uma nova situação as estruturas internas se modificam através do contato de

novas estruturas do meio.

Piaget deu mais atenção ao estudo do desenvolvimento cognitivo, ou seja, ao

desenvolvimento da forma como os indivíduos conhecem o mundo exterior e com ele se

relacionam.

Em relação às etapas do desenvolvimento cognitivo, Piaget observou que existem

diferentes formas de interagir com o ambiente nas diversas faixas etárias, que foi por ele

determinado estágio ou período a essas maneiras típicas de agir e pensar. Ele esquematiza o

desenvolvimento em quatro estágios: estágio sensório-motor (0 a 2 anos); estágio

pré-operacional (2 a 6 anos); estágio de operações concretas (7 a 11 anos); estágio de

operações formais (12 anos em diante). Vou enfocar dois estágios em que acho de suma

importância para um progresso cognitivo mais tarde, que são o sensório-motor e o

pré-operacional.

O estágio sensório-motor ocorre através da percepção e do movimento de todo o

universo prático que cerca a criança. O estágio pré-operacional focaliza-se no que eles não

podem fazer ou nas deficiências de seu pensamento e raciocínio, pois a criança ainda não tem

esquemas conceituais verdadeiros e seu julgamento será altamente dependente da percepção

imediata.

Em relação ao desenvolvimento cognitivo, mais especificamente no processo de

construção do real, acredita-se que os conhecimentos são elaborados espontaneamente pela

criança, de acordo com o estágio de desenvolvimento em que esta se encontra; é um processo

que deve ser ativado pela ação e interação do organismo com o meio, independente do

contexto social e cultural em que o indivíduo está inserido. No entender do Piaget, acriança já

nasce num mundo social e desde o nascimento, vai formando uma visão desse mundo através

da interação com adultos mais experientes.

Gostaria de ressaltar a importância do desenvolvimento nessas duas fases, pois é um

período em que a criança brinca com o símbolo: imita personagens, sonha, inventa, como, por

exemplo, transforma a bicicleta ou velocípede em um potente carro de corrida. O adulto não

pode acabar com essa atividade espontânea da criança, pois pode vir a se tornar um

9

adolescente sem imaginação. Daí a estimulação ser essencial para o desenvolvimento de toda

a atividade intelectual superior futura.

10

2. O DESENVOLVIMENTO NA CONSTITUIÇÃO DA PESSOA

O desenvolvimento tem seu início na relação do organismo do bebê recém-nascido,

essencialmente reflexos e movimentos impulsivos, também chamados descargas motoras,

com o meio humano que as interpreta. Nesta fase distingue-se apenas estados de bem-estar ou

desconforto. São as reações do ambiente humano, representado pela mãe, motivadas pela

interpretação da mímica do bebê que permitem distinguir as emoções básicas. Essa mímica

não é casual, mas um recurso biológico da espécie, essencialmente social, que faz do bebê um

ser capaz de produzir, no ambiente humano, ainda representado pela mãe, um efeito

mobilizador para sobreviver.

Desta forma é a dimensão motora que dá a condição inicial ao organismo para o

desenvolvimento da dimensão afetiva.

A criança atua primeiro, não no mundo físico, mas no ambiente humano. A

mobilização do outro se faz pela emoção. É da protoconsciência, emocional, subjetiva que irá

se desenvolver a consciência reflexiva. A vida psíquica é resultante do encontro da vida

orgânica com o meio social.

Esse processo de desenvolvimento está ancorado no desenvolvimento neurológico,

como sua condição e limite. A maturação orgânica é considerada condição para o

desenvolvimento e permite descreve-lo em estágios sucessivos e integrados. “A maturação

orgânica é indispensável à evolução funcional”.

Os primeiros meses de vida caracterizam-se por uma fusão total com o meio e pelo

desenvolvimento rápido e completo dos automatismos emocionais responsáveis pela

mobilização do meio humano para a satisfação das necessidades dos bebê. Estes

automatismos dependem de centros nervosos especiais e aparecem na criança como fato de

maturação.

O desenvolvimento das funções depende tanto de condições de maturação como de

exercícios capazes de desenvolvê-las, portanto condições do meio. No estágio sensório-motor,

a criança realiza um extenso e diferenciado acordo entre as percepções e os movimentos. Esta

relação em sua forma mais simples é o ato reflexo, ou seja, a uma determinada excitação

corresponde um determinado movimento. Com a maturação neurológica, os reflexos são

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inibidos e a criança se torna capaz de realizar exercícios sensório-motores que conduzem a

um duplo resultado: ligar o efeito perceptível aos movimentos próprios para produzi-los, e

diversificar os movimentos e os efeitos possíveis. Coordenando mutuamente os campos

sensorial e motor, completa-se o arranjo funcional da atividade conforme as suas atividades

objetivas.

É a ação motriz que regula o aparecimento e o desenvolvimento das funções mentais.

O movimento espontâneo se transforma aos poucos em gesto, que, ao ser realizado a partir de

uma intenção, se reveste de significação ligada à ação, voltada para a realização da cena, fora

da qual nada significa.

O desenvolvimento das funções psicológicas superiores se dá, portanto, a partir do

desenvolvimento das dimensões motora e afetiva. É a comunicação emocional que dá acesso

ao mundo adulto, ao universo das representações coletivas. A inteligência surge depois da

afetividade, e a partir das condições de desenvolvimento motor, e se alterna e conflitua com

ela.

A cognição é vista como parte da pessoa completa que só pode ser compreendida

integrada a ela, cujo desenvolvimento se dá a partir das condições orgânicas da espécie, e é

resultante da integração entre seu organismo e o meio, predominantemente o social. Assim, o

desenvolvimento é condicionado tanto pela maturação orgânica, como pelo exercício

funcional, propiciado pelo meio. Segundo Wallon (1979):

O que permite à inteligência essa transferência do plano motor para o plano especulativo não é evidentemente explicável no desenvolvimento do indivíduo (...) mas nele pode ser identificada [a transferência] (...) são as aptidões da espécie que estão em jogo, em especial as que fazem do homem um ser essencialmente social. (p.131)

A evolução da espécie humana fez do homem um ser geneticamente social,

desenvolvendo nele aptidões específicas. A função simbólica é a aptidão específica da espécie

humana que se refere ao poder de encontrar, para um objeto, a sua representação e, para esta

representação, um signo. O desenvolvimento deste potencial pela espécie tem na sua base a

vida em sociedade que pressupõe objetivos comuns e necessidade de comunicação. Assim, o

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desenvolvimento da inteligência se processa em um organismo a priori capaz disso,

dependendo para tanto de seu encontro com o meio social

Partes da pessoa completa, as funções psicológicas superiores, que se desenvolvem a

partir de exercícios funcionais motores, serão mais tarde nutridas da sua inibição e não de sua

estimulação. O movimento que se encontra na gênese da representação e a acompanha

durante sua evolução inicial, termina por ser inibido por ela, condição necessária ao

desenvolvimento das funções mentais específicas da representação pura.

O desenvolvimento não se dá de maneira linear e contínua, mas por integração de

novas funções e aquisições às anteriores. A acumulação quantitativa de funções culmina na

evolução qualitativa das mesmas a partir de uma nova organização em que as dimensões

motora, afetiva e cognitiva se integram de maneira diversa da fase anterior, alternando-se no

exercício de predominância de uma sobre as demais. A preponderância de um dos aspectos

sobre os demais é decorrente da sua integração, que é plástica, dinâmica e resultante da

superação da oposição de um em relação aos outros.

Uma visão de conjunto, em que as dimensões da pessoa se integram de forma

dinâmica, alternando-se em relação à predominância de uma frente às demais é necessária

para a compreensão da concepção de desenvolvimento walloniana. A integração não é um

estado alcançado ao final de um processo, mas define a condição plástica, o equilíbrio

dinâmico da pessoa em desenvolvimento.

Wallon admite, a existência de três leis que regulam o processo de desenvolvimento da

criança em direção ao adulto: a lei da alternância funcional, a da preponderância funcional e a

da integração funcional.

A primeira, chamada lei da alternância funcional, indica duas direções opostas que se

alternam ao longo do desenvolvimento: uma centrípeta, voltada para a construção do eu e a

outra centrífuga, voltada para a elaboração da realidade externa e do universo que a rodeia.

Essas duas direções se manifestam alternadamente, constituindo o ciclo da atividade

funcional.

A segunda é a lei da sucessão da preponderância funcional, na qual as três dimensões

ou subconjuntos preponderam, alternadamente, ao longo do desenvolvimento do homem:

motora, afetiva e cognitiva. A função motora predomina nos primeiros meses de vida da

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criança, enquanto as funções afetivas e cognitivas se alternam ao longo de todo o

desenvolvimento, ora visando a formação do eu (predominância afetiva), ora visando o

conhecimento do mundo exterior (predominância cognitiva).

A última lei, chamada de lei da diferenciação e integração funcional, diz respeito às

novas possibilidades que não se suprimem ou se sobrepõem às conquistas dos estágios

anteriores, mas, pelo contrário, integram-se a elas no estágio subseqüente.

A integração dos três subconjuntos funcionais – motor, afetivo e cognitivo – constitui

o último e quarto subconjunto funcional, denominado por Wallon pessoa. Para Wallon, em

qualquer momento, ou fase do desenvolvimento, a pessoa é sempre uma pessoa completa.

Segundo Wallon (1973), a criança dispõe, ao nascer, de expressividade que garante

que suas demandas, solicitações, sejam atendidas por outro membro da espécie. Mais ainda, o

meio humano serviria de intermediário até para as relações diretas indivíduo-meio físico. Isso

ocorre porque a emoção que a criança dispõe ao nascer garante o surgimento de reações

sensos-motrizes que irão constituir novas condições de desenvolvimento, capazes de

introduzir o indivíduo no ambiente físico e, posteriormente, no das representações,

garantindo-lhe o acesso ao meio simbólico, cultural. Graças a contágio da expressão

emocional, num processo caracterizado como de simbiose, de mimetismo afetivo, o recém-

nascido disporia do meio humano como seu primeiro meio de desenvolvimento, não apenas

para lhe dar condições de sobrevivência física, mas de desenvolvimento da capacidade mental

e da gradativa diferenciação Eu/Outro. (Wallon, 1972).

A idéia walloniana é o que o ambiente e a criança influenciam-se reciprocamente e

que cada criança estabelece um sistema próprio de relação com o meio, a cada momento. Isto

pode ser observado nas atividades em que ela se envolve, na forma como interage com os

demais, no tempo que dedica a cada atividade, no significado que atribui a aspectos da

situação, nos locais e objetos que seleciona para brincar. Cada meio ambiente estabelece

determinadas condições (meios) de desenvolvimento para a criança e esta vai selecionar,

dentre os elementos nele disponíveis, aqueles que seriam condições para a realização de seus

objetivos.

A criança no início do desenvolvimento não está empenhada na "construção do real"

mas sim em constituir-se a si mesma, em explorar o corpo, em verificar os próprios limites

físicos para só depois entregar-se a exploração sistemática do mundo externo. O

14

desenvolvimento da pessoa para Wallon não começa cognitivamente. Em quase todo o

primeiro ano de vida a atividade da criança está voltada para a sensibilidade interna, a

princípio visceral e depois afetiva. O período emocional corresponde ao predomínio da

motricidade expressiva que a manifesta. Ante de modificar o ambiente físico, o movimento

atua sobre o meio humano em forma de comunicação. O primeiro instrumento usado pela

criança é o adulto e, neste sentido, ela é um ser social.

Outra tendência apontada por Wallon, manifesta no desenvolvimento da pessoa

completa é a de caminhar do sincretismo em direção à diferenciação. Movimentos,

sentimentos e idéias são a princípio vividos de uma maneira global, até mesmo confusa,

quando a pessoa não tem clareza da situação. Aos poucos, tornam-se mais claros e adequados

às necessidades que a situação apresenta. Sobre esta questão, nos diz Mahoney (2000):

Desenvolver-se é ser capaz de responder com reações cada vez mais específicas a situações

cada vez mais variadas (p.14).

A Teoria das Emoções é de grande importância na obra de Wallon. Segundo o autor, a

emoção é a exteriorização da afetividade, um fato fisiológico nos seus componentes humorais

e motores e, ao mesmo tempo, um comportamento social na sua função de adaptação do ser

humano ao seu meio:

...As emoções, são a exteriorização da afetividade(....) Nelas que assentam os exercícios gregários, que são uma forma primitiva de comunhão e de comunidade. As relações que elas tornam possíveis afinam os seus meios de expressão, e fazem deles instrumentos de sociabilidade cada vez mais especializados. (Wallon, 1995, p. 143)

A emoção, antes da linguagem, é o meio utilizado pelo recém–nascido para

estabelecer uma relação com o mundo humano. Gradativamente, os movimentos de

expressão, primeiramente fisiológica, evoluem até se tornarem comportamentos afetivos mais

complexos, nos quais a emoção, aos poucos, cede terreno aos sentimentos e depois às

atividades intelectuais.

As emoções são instantâneas e diretas e podem expressar–se como verdadeiras

descargas de energia. Quando isto ocorre, elas têm o poder de se sobrepor ao raciocínio e ao

conhecimento.

15

A afetividade evolui conforme as condições maturacionais de cada pessoa e com

formas de expressões diferenciadas, que se configuram como um conjunto de significados que

o indivíduo adquire nas relações com o meio, com a cultura, ao longo da vida. Os significados

representam para cada pessoa as diferentes situações e experiências vivenciadas num

determinado momento e ambiente social. Por este motivo afetividade não permanece imutável

ao longo da trajetória da pessoa.

A afetividade, corresponde à energia que mobiliza o ser em direção ao ato, enquanto a

inteligência corresponde ao poder estruturante que o modela a partir dos esquemas

disponíveis naquele momento.

Para Wallon, a emoção precede nitidamente o aparecimento das condutas do tipo

cognitivo e é um processo corporal que, quando intenso, pode impulsionar a consciência a se

voltar para as alterações proprioceptivas, prejudicando a percepção do exterior. Em virtude de

seu poder de sobrepor-se à preponderância da razão, é necessário, segundo Wallon, manter-se

uma “baixa temperatura emocional” para que se possa trabalhar as funções cognitivas.

A emoção é capaz de preponderar sobre a razão sempre que à última faltem recursos

para controlar a primeira. O desenvolvimento deve conduzir à predominância da razão, pois,

para Wallon, “a razão é o destino final do homem”.

A integração entre as dimensões motora, afetiva e cognitiva, conceito central da teoria

de Wallon, é claramente descrito por Mahoney (2000):

O motor, o afetivo, o cognitivo, a pessoa, embora cada um desses aspectos tenha identidade estrutural e funcional diferenciada, estão tão integrados que cada um é parte constitutiva dos outros. Sua separação se faz necessária apenas para a descrição do processo. Uma das conseqüências dessa interpretação é de que qualquer atividade humana sempre interfere em todos eles. Qualquer atividade motora tem ressonâncias afetivas e cognitivas; toda disposição afetiva tem ressonâncias motoras e cognitivas; toda operação mental tem ressonâncias afetivas e motoras. E todas essas ressonâncias têm um impacto no quarto conjunto: a pessoa. (p. 15)

16

2.1 O estágio sensório-motor, segundo Wallon

De acordo com a teoria walloniana à influência de intercâmbios emocionais permitir à

criança estabelecer entre suas manifestações e as reações estabelecidas pelo meio humano.

Tais relações vão alargando os horizontes sociais da criança, no qual aos poucos suas

manifestações tornam-se intencionais, ou seja, a criança cada vez mais responde aos estímulos

do mundo exterior, tornando-o um instrumento de seu interesse.

Para Wallon, o estágio sensório-motor e projetivo tem seu início por volta de um ano

indo até os três anos de idade. Ele se caracteriza pela investigação e exploração da realidade

exterior, bem como pela aquisição da aptidão simbólica e pelo início da representação. Trata-

se de um período em que a inteligência dedica-se à construção da realidade.

De acordo com Wallon:

“Os objetos que a rodeiam começam a ser para ela uma oportunidade de movimentos que não têm muitos a ver com sua estrutura. Ela os atira ao chão, observando seu desaparecimento. Tendo aprendido a agarrá-los, desloca-os com força, como para exercitar os olhos a encontrá-los em cada nova posição. Se eles têm partes que se entrechocam, ela não para de reproduzir o som percebido, agitando-os de novo.”

A criança através de sua organização das ações, passa a discriminar diferentes

movimentos e os efeitos sensoriais, visuais, auditivos e sinestésicos, tornando sua atividade,

cada vez mais planejada e organizada voluntariamente.

A linguagem juntamente com o progresso obtido dentro do estágio sensório-motor e

projetivo, leva a criança a obter maior independência, possibilitando a investigação e

exploração do espaço e dos objetos que nele se encontram, ampliando sua liberdade para a

exploração do meio físico.

Em suma, é o movimento de reconhecimento espacial dos objetos, de si mesma e de

maior diversidade de relações com o meio.

A criança desenvolve uma inteligência prática, ou seja, ela já é capaz de perceber e

fazer combinações, o que pressupõe a intuição das relações voltadas para a ação imediata, em

um espaço concreto delimitado e em um tempo presente.

17

Em relação à linguagem, grande contribuinte ao referido desenvolvimento psíquico, no

qual permite à criança outra forma de exploração do mundo.

Com a linguagem aparece à possibilidade de objetivação dos desejos. A permanência e

a objetividade da palavra permitem à criança separar-se de suas motivações momentâneas,

prolongar na lembrança uma experiência, antecipar, combinar, calcular, imaginar, sonhar.

Para Wallon, a etapa projetiva: caracteriza a forma do funcionamento mental da

criança: o ato mental projeta-se em atos motores. Nessa fase por se tratar do início de seu

pensamento, é necessário ressaltar o auxílio dos gestos que a criança utiliza para exteriorizar

aquilo que quer dizer, ou seja, o gesto precede a palavra, a criança não é capaz de imaginar

sem representar.

Existem dois movimentos projetivos que contribuem para a expressão dessa atividade

mental:

- Imitação: indução do ato por um modelo exterior, é uma atividade que relaciona o

movimento e a representação.

A criança para construir a imagem, precisa primeiramente conhecer o objeto,

manipulá-lo, estabelecer relações com ele, e aos poucos vai amadurecendo suas impressões,

recriando-as para depois reconstituí-la. Mesmo quando a criança imita o outro, existe uma

impressão particular de sua forma de expressão motora, de ritmos pessoais e de gestos

espontâneos.

Desse modo, ela, consegue, pela imitação-cópia do modelo, opor-lhe seu próprio EU

e, conseqüentemente, distinguir-se desse modelo.

- Simulacro: também preludia a representação, tem seu surgimento durante a atividade

exploradora e projetiva e caracteriza-se através do pensamento apoiado em gestos.

Graças à função simbólica, isto é, à possibilidade de representar o real, a criança pode

elaborar mentalmente o espaço, distribuir os objetos no espaço e no tempo, representá-los e

estabelecer signos para as representações.

Nesse estágio, a criança progressivamente individualiza a representação de si mesma,

separando-se do todo em que estava confundida.

18

Juntamente com a exploração do mundo exterior, a criança entrega-se a atividades de

exploração do próprio corpo. Através desse processo de experimentação, de investigação, a

criança vai estabelecendo relações entre movimentos e sensações, permitindo à criança

individualizar e diferenciar as partes de seu corpo.

Para que se consolidem as etapas de identificação e apropriação do eu corporal, é

necessário ainda que a criança estabeleça a relação entre sua pessoa e sua imagem.

Segundo Wallon, a criança tem dupla necessidade: “Admitir imagens que só tem a

aparência da realidade e afirmar a realidade de imagens que se furtam à percepção”.

Somente a partir de dois anos a criança consegue atribuir a si mesma sua própria

imagem refletida no espelho.

No entanto mesmo com o aumento desses recursos, sua personalidade permanece

fechada em determinadas circunstâncias, isto é, ligada a determinado objeto ou, ao ponto de

vista de quem lhe fala, pois o eu psíquico da função simbólica, de desdobramento e

substituição da realidade, que a criança se torna capaz de se separar do conteúdo de sua

percepção imediata e de distinguir sua personalidade da do outro, destacando-a das situações

particulares em que se misturam. Alcança assim uma nova etapa de sua evolução, a

personalidade, que tem como tarefa principal à diferenciação do eu psíquico.

19

3. O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO SEGUNDO JEAN PIAGET

Piaget construiu a sua teoria cognitiva, denominada de epistemologia genética,

partindo do princípio que existe certa continuidade entre os processos puramente biológicos

de morfogênese e adaptação ao meio e a inteligência, não admitindo que a inteligência seja

inerente à própria vida, mas sim assumindo que a inteligência é uma das formas de adaptação

criadas pela vida em sua evolução.

Com efeito a vida é uma criação contínua de formas cada vez mais complexas e um equilíbrio progressivo entre essas formas e o meio. Dizer que a inteligência é um caso particular de adaptação biológica é, pois supor que ela é essencialmente uma organização e que sua função é estruturar o universo como o organismo estrutura o meio imediato. (Piaget, 1991:10) .

Esta continuidade, citada por Piaget, assume significado a partir da estrutura

anatômica e morfológica, passando pelos sistemas de reflexos que levam aos hábitos e

associações adquiridos que dão origem, por sua vez, à inteligência prática ou sensório motora

e, por fim, à inteligência refletida.

Quanto à relação entre o hereditário e o intelectual, Piaget destaca dois sentidos

completamente diferentes para esta relação: o estrutural, presente no sistema nervoso e órgãos

sensoriais e o funcional, que diz respeito ao funcionamento da inteligência. Estas invariantes

funcionais hereditárias da inteligência e sua relação com a organização biológica são descritas

a partir do conceito de adaptação. A adaptação é um processo de transformação desencadeado

pelo organismo visando a sua conservação no meio em que vive.

Segundo Piaget, a adaptação é um processo de equilíbrio, mas a sua explicação do

desenvolvimento e mesmo da formação do conhecimento, dada através de um processo

central de equilibração, difere da fornecida pela teoria da forma. Esta diferenciação surge na

medida em que tal processo não se constitui da aplicação, em todos os níveis, de uma

estrutura geral de equilíbrio generalizada, como é o caso da gestalt. Na verdade este processo

conduz a certos estados de equilíbrio aproximando a outros, qualitativamente diferentes,

passando por múltiplos desequilíbrios e reequilibrações.

20

Dolle (1987:69) destaca que, para Piaget, pode-se reter quatro fatores gerais do

desenvolvimento mental, cuja responsabilidade porém, é variável:

O primeiro é o da maturação nervosa, neste caso é claro que tal condição é necessária

mas não suficiente para explicar o surgimento das estruturas operatórias do pensamento.

O segundo fator é o do exercício da experiência adquirida na ação efetuada sobre os

objetos. Este é um outro fator necessário, mas não suficiente para explicar a gênese do

desenvolvimento.

O terceiro fator é o das interações e das transmissões sociais, a linguagem sem dúvida

é um fator do desenvolvimento, mas não é a sua fonte. Existem instrumentos de assimilação

que são anteriores à linguagem. Mais ainda, e de uma maneira geral, o desenvolvimento

operatório precede a expressão verbal. No nível operatório são fartos os exemplos que

mostram que a operação está muito mais próxima da ação do que da verbalização.

O último e determinante fator na visão de Piaget é justamente o da equilibração, este

além de ser necessário para explicar cada um dos anteriores, comporta a sua própria

especificidade. Este é um fator interno do desenvolvimento, e é uma espécie de dinâmica, de

processo conduzido por reflexão e reconstrução a estados de estruturação superiores.

O equilíbrio cognitivo possui como componentes fundamentalmente dois processos:

I. processo de assimilação - neste dá-se a incorporação de um elemento exterior em um

esquema sensório-motor ou conceitual do sujeito. Pode-se também neste caso falar-se de

assimilações recíprocas: quando dois esquemas ou subsistemas se aplicam ao mesmo objeto

ou quando estes se coordenam sem necessidade de mais conteúdo. Outro tipo de assimilações

recíprocas ocorre entre um sistema total, caracterizado por suas leis próprias de composição, e

os subsistemas que ele engloba em sua diferenciação .

II. processo de acomodação - é a necessidade em que se acha a assimilação de levar em conta

as particularidades próprias dos elementos a assimilar. Nesse caso, também podem ser feitas

algumas distinções, a saber: no caso das relações entre os elementos internos ao sistema

cognitivo e os pertencentes ao meio externo, as diferenciações devidas a acomodação são

evidentes; no caso da assimilação recíproca entre os subsistemas, esta deve estar

acompanhada de acomodações igualmente recíprocas, pois ao contrário haveria fusão

deformante e não mais coordenação entre os sistemas a religar.

21

A adaptação intelectual comporta sempre um elemento de assimilação, "isto é de

estruturação por incorporação da realidade exterior a formas devidas à atividade do

sujeito..." (Piaget, 1991:12), mas é claro sempre estará também presente um processo de

acomodação, pois, "...ao incorporar elementos novos nos esquemas anteriores, a inteligência

modifica sem cessar estes últimos para ajustá-los a novos dados...".

Donde, "...a adaptação intelectual é um equilíbrio progressivo entre um mecanismo

assimilador e uma acomodação complementar", e a mesma só se realiza quando "resulta num

sistema estável , isto é, quando há equilíbrio entre a assimilação e a acomodação". (Piaget,

1991:13)

Tendo em vista a elaboração de uma teoria da equilibração, Piaget destaca dois

postulados:

"Primeiro Postulado: todo esquema de assimilação tende a alimentar-se, isto é, a

incorporar elementos que lhe são exteriores e compatíveis com a sua natureza" (Piaget,

1976:14 ).

Este é o postulado da "gula", ou seja o mesmo consigna um motor à pesquisa,

estabelecendo como necessária a atividade do sujeito. Ele enfoca a componente funcional do

processo de assimilação que se caracteriza por uma tendência para a repetição. A conduta

repetida apresenta uma significação funcional cujo valor vem do própio funcionamento do

organismo. Durante o processo de repetição há a incorporação não diferenciada de todo e

qualquer objeto suscetível de desempenhar o papel de excitante do esquema, generalizando o

domínio de objetos assimiláveis pelo mesmo.

"Segundo Postulado: "Todo esquema de assimilação é obrigado a se acomodar aos

elementos que assimila, isto é, a se modificar em função de suas particularidades, mas, sem

com isso, perder sua continuidade (portanto, seu fechamento enquanto ciclos de processos

interdependentes), nem seus poderes anteriores de assimilação."(Piaget, 1976:14 ).

"Aqui se afirma a necessidade do equilíbrio entre assimilação e acomodação,

equilíbrio este que implica: presença necessária de acomodações e conservação das

estruturas, no caso de acomodações bem sucedidas." (Piaget, 1976:19). Este postulado

permite a geração de um processo de assimilação recognitiva ou de diferenciação, no qual há

22

o reconhecimento de objetos específicos dentro do domínio de objetos assimiláveis pelo

esquema.

Resumindo, pode ser dito que o esquema assimilador é uma totalidade organizada cuja

característica própria é conservar-se em funcionamento. Da repetição cumulativa nasce um

processo de generalização que se transforma num processo de recognição. Esta é a tendência

fundamental que é encontrada em todas as fases do desenvolvimento intelectual, sendo,

portanto, a expressão dinâmica do fato estático da organização biológica que é indispensável à

acomodação que concretizará a adaptação.

Neste sentido a organização biológica e a adaptação constituem os aspectos interno e

externo de um mecanismo único.

A concordância do pensamento com as coisas e a concordância do pensamento consigo mesmo exprimem essa dupla invariante funcional da adaptação e da organização. Ora esses dois aspectos do pensamento são indissociáveis: é adaptando-se as coisas que o pensamento se organiza e é organizando-se que estrutura as coisas." (Piaget, 1991:16)

Piaget investiga também as diversas formas de equilíbrio, as razões dos desequilíbrios

e, sobretudo, o mecanismo causal das equilibrações e reequilibrações. As três formas de

equilibração e a correspondência das negações e das afirmações.

Podem ser distinguidos três tipos de equilibração:

- Equilibração entre o sujeito e os objetos: aqui trata-se da equilibração entre a assimilação

dos objetos aos esquemas de ações e a acomodação destes últimos aos objetos. Nesta

equilibração já há um começo de assimilação mútua na medida em que o objeto é necessário

para o desenrolar da ação e é o esquema de assimilação que confere significado ao objeto.

- Equilibração nas interações entre os subsistemas (parte-parte): neste caso Piaget ressalta que

esta equilibração não está dada desde a partida, mas sim ocorrerá progressivamente na medida

que aconteçam as assimilações recíprocas. O fato de que a velocidade de construção de dois

subsistemas não seja exatamente a mesma faz com que surjam os desequilíbrios e a posterior

equilibração. A diferença em relação ao primeiro tipo reside no fato de que naquele caso a

acomodação estava sujeita a múltiplos obstáculos impostos pelos objetos, e nesse caso a

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assimilaçao de dois subsistemas válidos, cedo ou tarde, acabará ocorrendo, levando pois a

uma conservação mútua.

- Equilibração das interações que une os subsistemas a uma totalidade que os engloba (parte-

todo): esta é a equilibração progressiva da diferenciação e da integração, ou seja das relações

entre um subsistema e a totalidade que o engloba. Aqui se acrescenta uma hierarquia ao

processo de equilibração pois nesse caso está-se um nível acima das relações entre colaterais.

Neste caso, a integração no todo fica por conta da assimilação e a diferenciação provocará

acomodações.

3.1 Os períodos da construção da inteligência

A inteligência para Piaget se constrói na medida que novos patamares de equilíbrio

adaptativo são alcançados. Piaget concluiu sua obra explicitando qual o motor pelo qual este

equilíbrio se processa, mas além disto, Piaget estudou exaustivamente a gênese das estruturas

cognitivas nas crianças da sua comunidade. Este estudo lhe permitiu classificar grandes

períodos na construção da inteligência no homem. Estes, que contemplam desde o nascimento

até a fase adulta são os seguintes:

- estágio sensório motor (entre 0 e 2 anos aproximadamente)

- estágio pré-operatório (entre 2 e 6 anos aproximadamente )

- estágio operatório-concreto (entre 6 e 12 anos aproximadamente)

- estágio operatório-formal (a partir dos 12 anos)

3.2 A inteligência sensório motora

Piaget no seu livro 'O nascimento da inteligência', já a guisa de conclusão, destaca:

...damo-nos conta de que todo o sentido do desenvolvimento pode ser interpretado como uma descentração progressiva. No início a criança está num estado de confusão total, nada mais possuindo do que seus reflexos hereditários... seus reflexos se transformam em hábitos, depois, pouco a pouco, estruturações se operam por sua atividade própria.... Os processos de acomodação levam-no a estabelecer com o mundo relações de objetividade. Assim, ao estruturar o objeto a criança se

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estrutura a si mesmo como sujeito. Quanto mais o mundo se torna coerente, tanto mais ele próprio se torna coerente. (1991:108).

No início o universo consiste de quadros perceptivos móveis e plásticos centrados na

atividade do próprio sujeito. Estando a atividade totalmente não diferenciada das coisas que

são assimiladas, confunde-se o mundo exterior com as próprias sensações do sujeito, fazendo

com que o mesmo não distinga a si próprio, da mesma maneira que o mundo exterior não

apareça constituído de objetos permanentes, que o espaço e o tempo não estejam ainda

organizados em grupos e séries objetivos e que a causalidade não esteja ainda espacializada

nem situada nas coisas.

Do ponto de vista estrutural a lógica sensório motora repousa no esquema que

constitui sua unidade. O esquema, nesta fase, é um instrumento de compreensão, mas sem

pensamento, sem representação. O esquema é o equivalente funcional do conceito no plano

representativo. É, portanto, um conceito prático. Como tal pode ser tomado em compreensão e

em extensão: a extensão é o conjunto de situações às quais ele se aplica, a compreensão do

esquema é conjunto de propriedades comuns às situações semelhantes. Por exemplo o

esquema de pegar pode ser aplicado indiferentemente à mamadeira, ao mordedor, ao barbante,

ao lençol, etc.; por sua vez o que há de comum em todas estas situações é justamente o "poder

ser pegado".

À medida que os esquemas se diferenciam, multiplicando-se graças à assimilações

recíprocas e à progressiva acomodação às diversidades do real, estabelecendo dessa forma

uma variedade de relações entre as coisas a que esses esquemas se aplicam, progride a

organização da dedução que passa então a se aplicar a experiências agora concebidas como

extrínsecas. É justamente a diferenciação entre a assimilação e acomodação que as torna

complementares, pois quanto mais os esquemas se diferenciam, tanto mais diminui a

defasagem entre o novo e o conhecido, "de tal sorte que a novidade, ao invés de se constituir

em obstáculo evitado pelo sujeito, passa a ser um problema que solicita a exploração e a

pesquisa." (Piaget, 1963:329).

Daí, pode ser enunciada uma espécie de lei da evolução da seguinte forma: "a

assimilação e a acomodação evoluem de estado de indiferenciação caótica para um estado de

diferenciação, com coordenação correlativa."(Piaget, 1963:328).

Uma outra interpretação para essa evolução é dada por Piaget. Nesta, o sujeito a

princípio tem contato com o mundo exterior, apenas numa zona bem superficial da realidade

25

exterior e na periferia inteiramente corporal do eu. A diferenciação e a coordenação da

assimilação e da acomodação, à medida que se aprofunda faz com que

...a atividade experimental e acomodadora penetre no interior das coisas, enquanto a atividade assimiladora se enriquece e se organiza....A inteligência não principia, pois, pelo conhecimento do eu nem pelo das coisas como tais, mas pelo da sua interação; e é orientando-se simultaneamente para os dois pólos dessa interação que a inteligência organiza o mundo, organizando-se a si própria. (Piaget, 1963:330)

26

4. PRESSUPOSTOS DA TEORIA CONSTRUTIVISTA DE PIAGET E O

DESENVOLVIMENTO SENSÓRIO MOTOR

Segundo Piaget, o conhecimento não pode ser concebido como algo predeterminado

pelas estruturas internas do sujeito (porquanto estas resultam de uma construção contínua)

nem pelas características do objeto (já que estas só são conhecidas graças à mediação dessas

estruturas). Todo conhecimento é uma construção, uma interação, contendo um aspecto de

elaboração novo.

Em seus estudos sobre a psicogênese do conhecimento, fica claro que o conhecimento

não procede em suas origens nem de um sujeito consciente de si mesmo, nem de objetos já

constituídos do ponto de vista do sujeito e que se impropriam a ele. O conhecimento resultaria

de interações que se produzem entre o sujeito e objeto. A troca inicial entre sujeito/objeto se

daria a partir da ação do sujeito.

Logo, para Piaget não existe conhecimento resultante do simples registro de

observações e informações, sem uma estrutura devida às atividades do próprio sujeito.

Não existem, também, estruturas inatas no homem. As estruturas formam-se mediante

uma organização de ações sucessivas exercidas sobre os objetos.

Piaget condena veementemente as hipóteses inatistas que concebem o sujeito como

estando, desde o início, munido de estruturas inatas, contradizendo Chomsky (1976) para

quem o ser humano é dotado geneticamente com a capacidade específica de aprender uma

língua, sendo, portanto, a aquisição desta, um processo de base biológica.

Para Piaget, a linguagem é uma construção da inteligência sensório-motora, preparada

passo a passo, até se concretizar no período pré-operatório, mais ou menos aos dois anos de

idade.

Ao analisar o desenvolvimento desde a sua gênese, Piaget o define como uma

equilibração progressiva, uma passagem de um estágio de menor equilíbrio para outro. Sob

este ponto de vista, o desenvolvimento mental é uma construção contínua.

27

Em todos os níveis, a inteligência procura compreender e explicar o que se passa a sua

volta, só que embora as funções do interesse sejam comuns a todos os estágios, os interesses

variam de um nível para outro e as explicações assumem formas diferentes de acordo com o

grau de desenvolvimento intelectual, justamente porque as estruturas progressivas ou formas

de equilíbrio marcaram as diferenças de um nível de conduta para outro.

Assim, em presença de um novo objeto, o bebê tende a incorporá-lo a seus esquemas

de ação (agitar, esfregar, balançar, sugar) tentando compreendê-lo pelo uso. Em cada estágio,

as tentativas de compreensão serão diferentes face ao grau de desenvolvimento progressivo.

O conhecimento, portanto, procede da ação e, desta forma, toda ação que se generaliza

por aplicação a novos objetos gera um esquema, uma espécie de conceito prático.

O que constitui conhecimento não é apenas uma simples associação entre objetos, mas

a assimilação dos objetos aos esquemas do indivíduo. A assimilação cognitiva também é

realidade desta forma. É necessário um esquema que permita a assimilação do objeto de

conhecimento.

A estrutura de assimilação irá variar desde as formas mais simples de incorporação de

sucessivas percepções e movimentos até as operações superiores.

A partir da assimilação dos objetos, a ação e o pensamento se acomodam a estes,

reajustando-se. Há, portanto, uma adaptação quando ocorre o equilíbrio entre assimilações e

acomodações.

O desenvolvimento mental será sempre uma adaptação progressiva e cada vez mais

precisa à realidade.

Os mecanismos de assimilação/acomodação são gerais e se encontram nos diferentes

níveis do pensamento científico.

Cada estágio é responsável por determinadas construções sendo estas contínuas: no

estágio sensório-motor, anterior à linguagem, constitui-se uma lógica de ações, fecunda em

descobertas.

Assim, no início da vida do bebê, em seu universo primitivo não há objetos

permanentes, nem há separação entre o sujeito e o objeto. Há uma indiferenciação completa

28

entre o subjetivo e o objetivo. O sujeito não se reconhece como origem das ações, porque as

ações primitivas são como um todo indissolúvel, ligando o corpo ao objeto (chupar, agarrar,

etc.)

Só aos 18 meses, mais ou menos, nos primórdios da função simbólica e da inteligência

representativa, começa a haver a descentração das ações em relação ao próprio corpo,

podendo-se, então, falar de um sujeito que começa a se conhecer como fonte/origem de seus

movimentos.

No caso das ações primitivas, não coordenadas entre si, indiferenciadas, podem

ocorrer dois tipos de assimilação:

- assimilação por estrutura hereditária: como por exemplo a sucção, em que o bebê tenta

incorporar novos objetos a este esquema, sugando o peito, a mão, tudo que estiver ao seu

alcance;

- assimilação reprodutora: diante de uma situação inesperada, como por exemplo da tentativa

de agarrar um objeto pendurado, fazendo-o balançar no intuito de reproduzir o gesto, formam-

se novos esquemas, conduzindo à assimilação recognitiva (balançar outro objeto) o que gera a

assimilação generalizadora (objetos que servem para balançar).

Gradativamente, o bebê realiza combinações novas, pela reunião de esquemas em

assimilações recíprocas (objetos que balançam e emitem sons e que, portanto, servem para

olhar e ouvir). Esta descoberta o levará a novas tentativas como a de agitar diferentes

brinquedos para descobrir se também fazem barulho.

Por mais modesto que seja este início, este é o modelo que se irá desenvolvendo cada

vez mais: a criança constrói combinações novas, combinando abstrações separadas dos

próprios objetos (como reconhecer num objeto suspenso algo para balançar) e coordena os

meios para atingir tal fim. O próprio reconhecimento de que o objeto serve para balançar já

implica uma abstração.

Desta forma, já no período sensório-motor, começam as coordenações e as relações de

ordens, os encadeamentos de ações necessários a essas coordenações, havendo, portanto, o

início de uma abstração reflexiva.

29

A partir destas observações, Piaget assevera que a estrutura do conhecimento forma-se

anteriormente ao domínio da linguagem, constituindo-se no plano da própria ação.

É, portanto, no nível da inteligência prática, no período sensório-motor, que surgem as

coordenações entre as ações, e os objetos começam a se diferenciar; só que haverá, ainda,

uma longa evolução até que as ações se interiorizem em operações mentais.

Ainda que estas construções sejam muito elementares, já se percebe, segundo Piaget, a

existência dos primeiros instrumentos de interação cognitiva. Tais construções, no entanto,

estão situadas no plano das ações efetivas e não refletem um sistema "conceitual".

Com o desenvolvimento da capacidade de representação, o jogo simbólico, a imagem

mental e a linguagem, enfim, com a constituição da função simbólica (capacidade de

representar um significado através de um significante) a situação mudará . Aos poucos outras

ações vão sendo internalizadas, graças à função simbólica.

Para Piaget, a inteligência é vista como um processo de sucessivas adaptações,

equilibrações entre assimilações e acomodações. Neste começo, ela é prática, apoia-se nas

percepções, movimentos, ações, anteriores ao pensamento e à linguagem, ou seja, ao

concreto.

Aproximadamente dos 18 meses, quando sua inteligência representativa amplia-se,

liberta-se da realidade concreta, torna-se possível a manipulação simbólica de algo que não

está visível e ocorre a transição do estágio sensório motor para o estágio Operacional, o qual

se divide em pré operacional, operacional concreto e operacional formal.

O período Sensório Motor pode ser dividido em subestágios:

- Subestágio I: O uso dos reflexos (até um mês).

Nas primeiras semanas, o recém nascido possui apenas seus reflexos hereditários

como forma de adaptação ao ambiente, o que o torna desprovido de recursos, tanto

fisiológicos, quanto psicológicos.

Do ponto de vista psicológico, a criança apresenta uma indissociação sujeito/objeto

(corpo/ambiente), ou seja, ela não faz distinção entre o que é de seu corpo e o que é do meio

exterior. Mas lentamente a criança vai tomando “consciência”de seu poder de ação sobre o

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mundo externo, por exemple, chorando quando está com fome. É a isso que se refere o

chamado egocentrismo inicial infantil.

Além disso, outro fator decisivo para o desenvolvimento mental, é o exercício dos

reflexos. A carga hereditária, por si só, não proporciona o desenvolvimento do individuo.

É necessária uma espécie de interação entre o que é herdado e o que é adquirido com a

experiência. Isso quer dizer, que através da atividade reflexa primitiva o bebê organiza as

ações para responder melhor às estimulações ambientais, mas aos poucos essa atividade

reflexa precisa ser modificada/aperfeiçoada de acordo com a necessidade, e então surgem os

esquemas, que resultam da ação sobre o objeto. É por isso que esse substágio é descrito por

Piaget como sendo a fase do exercício reflexo.

- Subestágio II: As primeiras adaptações adquiridas e a reação circular primaria (1 a 4 meses).

Nessa segunda etapa, a criança apresenta reações circulares primárias, ou seja, esforça-

se para reproduzir algo que inicialmente foi alcançado por acaso, através de alguma atividade

aleatória, mas que concerne ao seu próprio corpo, como por exemplo, sugar o polegar. Sabe-

se que o ato de sugar é inato e, quando acidentalmente a criança coloca o dedo na boca, ela

está exercitando este reflexo e à medida que isto ocorre, o individuo acaba fazendo adaptações

adquiridas: Esforço para colocar e manter o dedo na boca, o esforço para continuar sugando-

o, etc.

Sendo assim, a criança passará a sugar todo tipo de objeto, interessando-se apenas em

“alimentar” o esquema de sugar (interesse na ação e não no resultado).

- Subestágio III: As adaptações sensório-motoras intencionais e as reações circulares

secundárias (4 a 8 meses).

Nesse subestágio surge a ação intencional (interesse pelo resultado da ação). A fixação

no próprio corpo passa a ceder espaço para o interesse nos objetos externos, ou seja, a criança

deixa de lado as atividades corporais simples e passa a agir sobre o mundo externo, utilizando

as relações das coisas entre si. Desse modo, ala passa a conservar não só os resultados

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interessantes descobertos acidentalmente sobre o seu próprio corpo, mas também os

resultados advindos de sua ação sobre o mundo externo.

- Subestágio IV: A coordenação de esquemas secundários e sua utilização em novas situações

(8 a 12 meses).

Este momento caracteriza-se pela utilização, por parte da criança, de respostas já

dominadas, conhecidas para a solução de novas situações. A criança não se limita mais a

reproduzir os resultados interessantes, isto é, ela começa a fazer combinações novas para

atingi-los.

- Subestágio V: Reação circular terciária e o descobrimento de novos meios através da

experimentação ativa (12 a 18 meses)

Nesse subestágio ainda não há representação mental do que ocorre externamente ao

redor da criança. Por outro lado, ela procura descobrir ativamente os aspectos novos (ou que

passaram desapercebidos) de objetos e eventos, buscando novos modelos de comportamento

para atingir determinado resultado (para isso se utiliza do método do ensaio/erro).

- Subestágio VI: Invenção de novos meios através de combinações mentais (18 a 24 meses)

No subestágio VI a capacidade representativa da criança se desenvolve, ou seja, ela se

torna capaz, até certo ponto, de imaginar e realizar ações, situações mentalmente (pensamento

propriamente dito). Dessa forma, o método de ensaio/erro é abandonado em detrimento da

experimentação/solução mental.

4.1 A construção do objeto permanente

No período sensório-motor se desenvolve primeiro o esquema de conservação que é o

esquema do objeto permanente. Se a criança não desenvolveu este esquema, quando um

objeto desaparece de seu campo perceptivo (visual, tátil, gustativo, olfativo, sonoro) é como

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se ele não mais existisse. Se, ao contrário, esse esquema está construído, a criança procura

ativamente o objeto desaparecido, mesmo quando fora de seu campo perceptivo. A conquista

do objeto permanente se dá de acordo com o desenvolvimento do estágio sensório motor:

- Subestágios I e II: Não há nenhuma conduta relativa aos objetos desaparecidos, ou seja, a

criança não procura objetos ausentes, devido a ausência de evocação e representação. Quando

um objeto está fora do campo perceptivo é como se ele não existisse.

- Subestágio III: Permanência parcial do objeto. A criança procura apenas o objeto

desaparecido quando este situa-se no prolongamento dos movimentos de acomodação, mas

ainda não exibe conduta eficiente de procura quando o objeto é retirado de seu campo

perceptivo. Ela procura o objeto cuja parte visualiza, mas não procura por um que esteja

completamente escondido.

- Subestágio IV: A criança busca ativamente o objeto desaparecido sem levar em

consideração a sucessão de deslocamentos visíveis. Por exemplo, se a criança vir um objeto

ser escondido atrás de um tapume, ela o procurará e o encontrará nesse respectivo lugar. Mas,

se o objeto for transferido de um lugar para o outro, mesmo sob o olhar da criança, esta o

procurará no esconderijo inicial.

- Subestágio V: A criança já consegue seguir uma seqüência de deslocamentos que o objeto

possa vir a sofrer, isto é, ela leva em conta os deslocamentos sucessivos do objeto. Porém, ela

ainda não consegue imaginar movimento que não visualize. Por exemplo, se pegássemos um

objeto e escondêssemos a mão atrás das costas, logo em seguida deixando o objeto dentro do

bolso traseiro da calça, a criança não conseguiria encontrá-lo. Não lhe ocorreria que o objeto

estivesse no bolso, porque ele não viu ser colocado neste local.

- Subestágio VI: O objeto se constrói definitivamente. A criança já entende os deslocamentos

invisíveis, parecendo ser capaz de direcionar sua busca através da representação.

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5. CONCLUSÃO

O período sensório-motor tem início com o nascimento do bebê e atinge seu ponto

máximo com a elaboração da noção de objeto, isto é, a criança consegue perceber que existem

coisas externas a ela que possuem continuidade espaço-temporal. O uso da noção de objeto

libera o sujeito das ações dependentes do contexto imediato e amplia enormemente sua

capacidade de planejamento, pois seria capaz de invocar objetos e situações que estejam fora

de seu campo sensor momentâneo.

O esquema piagetiano é uma estrutura cognitiva dinâmica que se modifica ao longo do

tempo, agregando conhecimento. A força motriz desta modificação é dada pela relação dos

processos coexistentes chamados por Piaget de assimilação e acomodação. Enquanto a

assimilação age no sentido de adaptar o externo ao esquema, a acomodação age no sentido de

adaptar o esquema ao externo. Cada esquema é composto por um contexto (que determina o

conjunto de situações na qual ele pode ser aplicado), por um conjunto de seqüências de ações

(que representam sua aplicação) e por uma previsão (que indica o conjunto de estados finais

no qual o esquema espera deixar o sistema após sua aplicação).

Para Piaget, os esquemas têm origem no exercício dos reflexos, ou seja, o recém

nascido, ao exercitar seus reflexos hereditários começa a relacionar o contexto no qual o

reflexo é aplicado com a situação alcançada por ele, dando origem aos esquemas. Como cada

sentido do recém nascido possui reflexos associados, teremos o surgimento de esquemas

especializados em determinados sentidos e ligados a determinados atuadores (ações). Em

seguida, os esquemas começam a se coordenar, gerando os esquemas secundários que

abrangem vários sentidos. Tudo isto se dá devido às reações automáticas de repetição

chamadas por Piaget de reações circulares primárias que tendem a repetir resultados

interessantes relacionados ao próprio corpo da criança.

A próxima etapa é a exteriorização do interesse. Com as reações circulares

secundárias, a criança passa a se interessar em repetir acontecimentos relacionados com o

meio externo (bate com um objeto no outro, etc) e começa a coordenar os esquemas

secundários, aplicando-os a situações novas. Com as reações circulares terciárias a criança

ainda repete acontecimentos externos, mas com a diferença de que agora ela se interessa não

mais pelo resultado, mas sim pelo que causa ele, ou seja, pelos próprios objetos. A criança

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deste estágio faz experiências ativas e invariavelmente acaba por descobrir novos meios.

Neste ponto os esquemas vão se tornando móveis e adquirindo a capacidade de se

recombinarem, até atingirem a capacidade de se desprender do real e gerarem recompilações

puramente mentais, possibilitam a invenção de novos meios por combinação mental.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Educação. São Paulo: Loyola, 2000.

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Paulo: Loyola, 2000.

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Atividades culturais: