tfg - a escola construtivista - daniel santos - 2015.1
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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZUNIVERSIDADE DE FORTALEZA
CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS – CCTCURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO
TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO
por
DANIEL SÁTIRO SANTOS
Or ientação
PROF. ANTÔNIO MARTINS DA ROCHA JUNIOR
a pré-escolaconstrutivista
DANIEL SÁTIRO SANTOS
Banca examinadora
___________________________________Prof. Antônio Martins da Rocha Júnior
ORIENTADORCCT - UNIFOR
___________________________________Prof. Marcus Venícius Pinto de Lima
PROFESSOR CONVIDADOCCT - UNIFOR
___________________________________CONVIDADO
Fortaleza, 15 de junho de 2015.
agradecimentos
_
Gostaria de agradecer de forma ampla e indireta, àqueles que de alguma forma,
contribuíram para meu crescimento.
Ao dom da vida dado pelos meus amados pais Silvana e Custódio, pelo amor de todos os dias.
À toda minha família, que me fazem acreditar que o amor é a base e a essência de tudo. E por
sempre apostaram no meu sucesso e acreditarem no meu potencial sem medir esforços para tal. Em
especial aos meus tios que sempre me abraçaram como um filho.
Aos meus irmãos, Marina e Custodio, pelo amor inexplicável e companheirismo.
Aos professores do Curso de Arquitetura e Urbanismo, onde que pude compartilhar conhecimento
durante a graduação.
Ao meu Orientador, Rocha Jr. Minha gratidão pela disponibilidade e confiança, e por mostrar, que a
arquitetura pode transformar.
Ao meu tutor de arquitetura e vida meu pai, Custódio. Por sempre me guiar a sempre tomar
decisões corretas.
Aos meus amigos, que me tornam uma pessoa melhor. Em especial aos amigos que pude fazer
durante o curso. Ao Waldemar Felipe, Iude Souza e Lucas Forte, por me fazerem acreditar que tudo
vai dar certo, pela ajuda e companheirismo.
Aos tios amados, Meno, Ana Maria e Lorna, por sempre me fazer as perguntas certas.
À minha mãe, Silvana, por sempre caminhar junto a mim.
“Saudosa Maloca, maloca querida” Em memória à Seu Custódio e Dona Terezinha.
apresentação
08
educaçãoensino e aprendizagem
11
arquitetura e oespaço escolar
27
obras dereferência
31
1
2
3
8
1 justificativa do tema
A infância é o período mais puro de todas as etapas
da vida, pelo fato de estar em constante busca por de-
scobertas, promovidas por sua ilimitada curiosidade e
experimentar através dos sentidos sensoriais para obter
vivência em busca do pleno desenvolvimento. Pelo fato
de praticamente tudo ser novidade, a criança vive um
mundo de infinitas possibilidades mediante brincadei-
ras, conversas e imaginações.
O crescimento de uma criança se dá naturalmente com
o passar dos anos. Contudo, os seres humanos neces-
sitam de um ambiente escolar acolhedor para que pos-
sam atravessar todas as fases infância com o mínimo de
dignidade. Os olhos são iguais, porém os olhares são in-
finitos a partir da particularidade e preferência que cada
pessoa desenvolve. O espaço arquitetônico pode con-
tribuir com esse desenvolvimento a partir da disposição
de seu programa, da sua composição formal, pela ge-
ometria das salas de aula (sala de aprendizagem), pos-
sibilitando a criança, misturar de modo espontânea o
brincar e o aprender.
Independente do espaço arquitetônico, as escolas
adotam alguma linha pedagógica, isto é, cada esco-
la pode oferecer um sistema educacional diferente
e, com isso, as crianças podem desenvolver novas e
diferentes percepções, conhecimentos, atitudes, inter-
esses sob diferentes resultados, com possíveis reflex-
os nas suas vidas adultas.
introdução_
9
2 objetivos gerais
Investigar as relações entre as linhas pedagógicas e
seus espaços com o fim de projetar uma pré-esco-
la infantil que ofereça através do ensino integral de
aprendizagem uma arquitetura que reflita as linhas
pedagógicos baseadas na raiz do Construtivismo, e
então criar ambientes mais humano para favorecer a
aprendizagem e estimular a criatividade da criança.
3 objetivos específicos
Elaborar um estudo cientifico tendo por base das linhas
pedagógicas raízes construtivistas, montessoriana e
escola nova em tempo integral, que resultem na con-
fecção de uma proposta de projeto arquitetônico de um
espaço de aprendizagem integral. Avaliar as premissas
da relação com do homem com o espaço arquitetônico
como forma de desenvolvimento educacional, e como
suas variáveis pode estimular a aprendizagem junta-
mente de uma estrutura curricular escolar a qual será
direcionada às crianças de 0 a 5 anos.
11
1.1 teorias da educação
Segundo Kowaltowski, A escola, como instituição de en-
sino atualmente conhecida, é o resultado de um longo
processo histórico. A educação seria responsável pela
transmissão de valores e o acúmulo de conhecimento
de uma sociedade. No Mundo Ocidental, veio a base
da educação formal. A educação correspondia com a
própria formação do indivíduo, abrangendo em sua de-
finição a literatura, religião, esporte, artes e filosofia.
“Na história da humanidade, o processo de trans-
mitir os conhecimentos e as atitudes necessários
para que o indivíduo tenha condições de integrar-
se à sociedade teve formas variadas e objetivos
específicos.” (Kowaltowski, 2011. p.13).
educação ensino e aprendizagem_
No período pré-helênico em Atenas, a educação era
vista como método de propiciar ao homem à cida-
dania, isto é, para viver plenamente na cidade, cha-
mada de Polis, era necessário se educar. Em sua fase
jovem, o homem era instruído no conhecimento das
artes, esportes, filosofia, conhecimentos naturais, e
principalmente na arte da oratória. De modo a estar
qualificado para as discussões na Ágora, local onde
eram tomadas as decisões da Polis, além de se tornar
capacitado à ocuparem algum cargo público, sortea-
dos periodicamente entre os cidadãos (Figura 1.1). A
busca pela perfeição através da educação, correspon-
dia ao termo grego Paidéia, que significa “criança’,
palavra que também dá origem ao termo pedagogo,
1
12
aquele que conduz as crianças ao local onde terão
suas lições. Na sociedade grega, os ambientes onde
a prática do ensinar e do aprender, eram locais ermos
dotados de fatores contribuintes para essa prática,
como, estádio, ginásios, salas de músicas e ao ar livre.
A história da educação mostra uma estreita relação
entre o ensino com o desenvolvimento das religiões.
Onde os templos e as igrejas também funcionam
como escola, onde o ensino formal acontecia.
Na Idade Média, havia apenas alguns poucos e res-
tritos grupos escolares, apenas em mosteiros e sedes
episcopais. As escolas visavam a preparação de sacer-
dotes para a Igreja ou para a pequena quantidade de
funcionários necessários à corte.
Durante a Reforma religiosa em 1517, já se podia
encontrar na Europa as primeiras universidades, com
profundos refl exos na educação em geral.
“A Reforma promoveu a alfabetização em seto-
res mais amplos da sociedade, com o incentivo à
leitura. A reação católica a essa Reforma provo-
cou uma guerra civil que esgotaria os recursos do
continente por um ano e meio, mas, com a con-
trarreforma, os países católicos ganharam novas
instituições de educação: os colégios. Os jesuí-
tas, seguidos de perto por outras congregações e
ordens religiosas, criaram um modelo de institui-
ção educacional destinado aos fi lhos das classes
privilegiadas.” (Kowaltowski, 2011. p.15).
Desenvolveram-se métodos educacionais de verniz
psicológico. Para atender necessidades crescentes
da sociedade, a educação precisou ser ampliada em
recursos técnicos, como a leitura de cartas náuticas,
saber ler para comandar uma cidade ou um exérci-
to, para construir precisava-se noções técnicas muito
embasadas da geometria e do cálculo e com isso, as
novas formas de vida foram surgindo e obrigando
mais pessoas a se educarem.
Por volta do século XVII, um monge tcheco conhecido
como Comenius (Jan Amos Komensky - 1592-1670)
criou o primeiro programa de escolarização universal
(Figura 1.2). Com o fi m das lutas religiosas na Euro-
pa, o empirismo1 e o racionalismo2 tiveram grande
1 Doutrina que admite que o conhecimento provenha unicamente da experiência.
2 Doutrina que privilegia a razão como única fonte de conhecimento.
1.1 1.2
13
expansão. O desenvolvimento das ciências e da edu-
cação, engendrou, por sua vez, a ideia de uma escola
elementar à qual todos tivessem acesso, independen-
te da classe social e sexo.
Comenius (Figura 1.3.) pregava ainda a necessidade
de um ambiente escolar arejado, bonito, com espa-
ço livre, capaz de favorecer a aprendizagem, que se
iniciava pelos sentidos, permitindo serem intervaliza-
das as impressões sensoriais obtidas pela experiên-
cia com objetos fossem internalizadas e, mais tarde,
interpretadas pela razão. (Kowaltowski, 2011. p.16).
Já durante o século XVIII, deu-se início ao período
relacionado ao Iluminismo. As ideias iluministas estão
relacionadas as enormes transformações sociais, po-
líticas e econômicas vividas nesse período na Europa.
Nomes como Jean-Jacques Rousseau (1712-1778) e
Johann Heinrich Pestallozzi (1746-1827) exerceram
grande infl uência para a democratização da educa-
ção, gerando uma revolução nas teorias educacionais.
O homem é bom por natureza, mas uma educa-
ção equivocada o perverte.
(Jean Jacques Rousseau)
Para Rousseau, cada período da vida tem suas pecu-
liaridades, tanto o homem quanto a sociedade se alte-
ram, sendo a educação elemento fundamental para a
necessária adaptação a essas mudanças. Para ele, ape-
nas no modelo de educação cuja as diretrizes fossem
promover a autonomia da criança é onde poderiam
haver mudanças, para tanto o local onde pudessem
aprender, criar, perceber seus dons sendo desenvolvi-
dos naturalmente e com isso, minimizar os efeitos do
autoritarismo e da competição típicos da sociedade.
Já Pestallozzi, considerava o desenvolvimento como
orgânico, regido por leis defi nidas; a progressão deve
ser respeitada; o método deve seguir a natureza; a im-
pressão sensorial é fundamental e os sentidos devem
estar em contato direto com os objetos. Desta forma,
Pestallozzi elaborou materiais pedagógicos voltados à
linguagem, matemática, ciências, geografi a, história e
música. Todavia, exclusiva da razão para a educação,
acabou por trazer uma série de fatores insatisfatórios
pela ausência do sentido emocional e do envolvimento
pessoal entre crianças e professores, e com isso resultar
na falta de estímulos para a busca do conhecimento.
1.3
1. A Ágora Grega (greciaantigamitoereligiao.blogspot.com.br/)
2. Jan Amos Komensky Comenius (www.zskomenskehoba.edupage.org/)
3. Primeiro registro de Comenius como educador.(www.en.wikipedia.org/)comenuis
14
Sendo o ensino destinado às classes mais infl uentes,
os índices alfabetismo preocupavam os governantes,
já que existiam uma certa pressão da classe traba-
lhadora para com o futuro dos seus fi lhos, dado da
necessidade da qualifi cação da mão de obra para a
indústria. Daí se notabilizou o educador alemão Frie-
drich Froebel (1782-1852), por evidenciar a contri-
buição e a importância dos brinquedos (Figura 1.4).
Froebel, que já havia trabalhado com Pestallozzi,
abriu em 1837 o primeiro jardim de infância (Figura
1.5), chamado de Kindergarten. Ele se dedicou ex-
clusivamente à pré-escola, à formação de professores
especializados no assunto e à elaboração de métodos
educacionais voltados à criança.
De acordo com Froebel, o professor tem um papel
de facilitador ao desenvolvimento criativo da criança,
com o incentivo dos brinquedos para estimular a for-
ça e poder ao corpo, cabendo a histórias e fabulosas
fortalecer a mente.
Durante o intervalo entre o século XIX e o século XX,
outros educadores se destacaram pelas propostas
educacionais, como John Dewey (1859-1952) e Jean
Piaget (1896-1980).
O americano John Dewey defendia intensamente
os princípios da assim chamada “Escola Nova” ou
“Escola Progressista”. Dewey criticava duramente a
educação tradicional, pela ênfase dada ao intelectua-
lismo e à memorização, acreditando que o conheci-
mento não poderia ter um fi m em si, sendo mais im-
portante a experiência do processo da aprendizagem.
Segundo Dewey, a razão não é separada da natureza,
pois ele estabelece a razão individual como social, a
natureza como social e a sociedade como natural.
Assim, a educação é uma necessidade social, que se
cumpre para assegurar a continuidade da sociedade.
Por ser um processo natural e social, a educação seria
o meio de grupos humanos manterem e transmitirem
suas crenças, ideias e conhecimentos. A fi nalidade da
educação é propiciar à criança as condições para re-
solver por si os seus problemas. Tomando a experiên-
cia como fator central de seus pressupostos, Dewey
afi rma que a escola não seria preparação para a vida,
mas é a própria vida. (Kowaltowski, 2011. p.20)
Durante o início do século XX surgiu a teoria do cons-
trutivismo do suíço Jean Piaget (1896-1980) (Figura
1.6), ao estudar a origem e a evolução do pensamen-
to desde a vida neonatal até a adolescência, com o
1.4 1.5 1.6
15
objetivo de entender os mecanismos mentais que o
homem utiliza para perceber o mundo, teoria deno-
minada por Epistemologia Genética, que segundo
Piaget resulta no chamado processo da construção
– construtivismo. Na teoria Piagetiana, a educação
deve proporcionar à criança processo de amplo e
dinâmico incentivo a experiências signifi cativas, de
acordo com o desenvolvimento cognitivo.
Um fator importante para implementar o método
construtivista, é o papel da escola. Deve-se utilizar o
espaço físico agregador ao ensino através de esque-
mas de assimilação, atividades desafi adoras que pro-
movam descobertas, espaço que não sejam opresso-
res, contato com meios naturais através dos sentidos
do tato e olfato, espaços dinâmicos que façam que as
crianças consigam interagir com a realidade, seja com
objetos ou com pessoas. (Figura 1.7)
A princípio, os objetivos pedagógicos precisam cen-
trar no aluno e em suas atividades. O programa dos
conteúdos não é planejado como fi ns em si, mas
como instrumentos para o desenvolvimento evolutivo
natural, ou seja, um método que tenha como priori-
dade o conhecimento construído pela criança.
4. Froebel Blocks (Blocos de Froebel)(www.minikid.lv)
5. Jardim de Infância de Froebel com os Blocos.(www.thearchitectureo-fearlychildhood.com)
6. Jean Piaget(http://work-psychology.webnode.com.pt)
7. Escola CAMB-Caminho Aberto em São Paulo.(revistacrescer.globo.com)
8. Exemplos de Salas de Aula de Escolas que utilizam o método Waldorf.(http://wildgreenyounder.wordpress.com)
1.7 1.8
16
Ainda nos meados do século XX, o croata Rudolf
Steiner desenvolveu o método Waldorf. Sua peda-
gogia explora a integralidade dos alunos: no pensar,
no sentir e no querer. “A natureza faz do homem um
ser natural; a sociedade faz do homem um ser so-
cial; somente o homem é capaz de fazer de si um
ser livre.” Steiner queria propor uma autonomia à
criança de acordo com o seu desenvolvimento, atra-
vés da divisão dos ensinamentos em determinadas
faixas etárias conforme interesse e desenvolvimento
do aluno. Normalmente, as escolar Waldorf adotam
uma arquitetura orgânica, espaços livres e sem repe-
tições, fazendo um contraponto à arquitetura racio-
nalista (Figura 1.8). À semelhança da arquitetura, os
materiais escolares adotados pela escola Waldorf, são
todos artesanais e feitos manualmente (Figura 1.9).
1.9 1.10
Destaca-se também a pedagogia desenvolvida por
Maria Montessori (1870-1952), que tem desdobra-
mentos sobre outras correntes até hoje aplicada nas
escolas. A Pedagogia motessoriana tem como prin-
cípios a atividade, a individualidade e a liberdade,
com ênfase em aspectos biológicos, e considera que
a função da educação é favorecer o desenvolvimento
da criança. (Kowaltowski, 2011, p.24). A pedagogia
de Montessori ocupa um papel de destaque no mo-
vimento das “Escolas Novas”, por suas técnicas para
os jardins de infância e para as primeiras séries do
ensino fundamental. Técnicas que consiste na com-
preensão das coisas a partir delas mesmas, e do de-
senvolvimento do impulso interior que se manifesta
na criança a partir do trabalho espontâneo do inte-
lecto, relata Kowaltowski.
9. Exemplos de brinquedos feitos nas escolas Waldorf.(menarazzi.blogspot.com)
10. Diferença entre as linhas pedagógicas.(howwemontessori.com)
17
1.2.1 origem da educação no brasil
Os primeiros registros de ensino institucionalizado
em território brasileiro estão datados no início da co-
lonização, com a vinda das missões religiosas, com
destaque para os jesuítas. O foco das missões religio-
sas foi a catequização dos povos nativos. Segundo os
princípios jesuítas, era preciso primeiro ensinar aos
índios a ler e a escrever, para somente depois ensina
-los a doutrina e os rituais católicos. A ligação exis-
tente entre a educação jesuíta e a religião católica era
tão eminente que se refl etida no padrão do conjunto
arquitetônico criados por eles, sendo o colégio a ex-
tensão da igreja. Normalmente obedecia uma tipolo-
gia com um pátio interno, que ligava os demais seto-
res da escola, uma disposição muito parecida com os
conventos das Igrejas brasileiras. (Montes, 2012)
1.2 aspectos da arquitetura escolar no brasil
1.131.11
11. Fachada da Igreja São Tiago Vitória – ES.(www.wagnerveiga.com.br)
12. Planta baixa da Igreja São Tiago, Vitória – ES.(www.wagnerveiga.com.br)
13. Pátio do Colégio – São Paulo(wikipedia.com)
1.12
18
(...) essa proximidade da escola com a Igreja não
acontece apenas em virtude da utilização de um
espaço da construção religiosa, mas o próprio
formato da sala de aula se parece com a hierar-
quia dos templos, onde o mestre (assim como o
padre, pastor, rabino...) assume a posição central,
como divulgador da verdade única (conhecimen-
to ou fé). (FRANÇA, 1994, p.62)
De acordo com Maxwell, por conta da posição de
Portugal no sistema de Estado mercantilista do sécu-
lo XVIII, Pombal pretendia obter uma supressão aos
domínios religiosos sobre a fronteira, acordada no
Tratado de Madri3, onde se localizavam as setes mis-
sões jesuítas. E, por conta da intenção dos jesuítas de
manejar os índios, Marques de Pombal determinou a
expulsão dos mesmos do territórios sob domínio de
Portugal – Reforma Pombalina. Tal decisão implicou
num grande retrocesso da educação em Portugal e
no Brasil, pelo fato de serem basicamente controla-
das pelos jesuítas. Ainda assim, algumas ideias foram
sedimentadas, dentre elas o Ratio Estudiorum, que
era uma espécie de plano curricular que consiste na
essência básica da organização sistemática do ensi-
no, fundamentos que permanece até os dias atuais
com predominância na educação brasileira.
3 Tratado cuja finalidade era (re)definir limites entre as respectivas colônias sul-americana, fazendo então uma substituição ao Tratado de Tordesilhas, o qual já não era mais respeitado na prática
1.2.2 referências de educação pública no brasil
Surge daí os principais promotores da revolução de
30. Marcou o início da modernização do país. Com
isso, a educação passa a ser importante agente para
o progresso nacional. Durante os anos subsequentes,
se destacaram nomes, que não só, foram de grande
importância para o cenário da educação, mas tam-
bém, educadores que criaram uma vinculação com o
social através de suas propostas, que foram: Lourenço
Filho, Anísio Teixeira, Paulo Freire e Darcy Ribeiro.
Nos primeiros anos da década de 30, Anísio Teixeira
foi nomeado secretário geral de Educação e Cultura do
Distrito Federal, onde foram construídas 28 escolas Pla-
toon. Os projetos, em estilo Art Déco, eram de autoria
do arquiteto Enéas Silva. Com a intenção de implan-
tar no Brasil um sistema educacional onde tivesse um
melhor aproveitamento espacial e que atendesse uma
grande demanda de alunos, Anísio Teixeira considerou
a possibilidade de adotar o Sistema Platoon4. Sob a in-
fluência John Dewey em suas ideias educacionais, o Sis-
tema Platoon (Figura 1.14) propunha separar em dois
grupos, um que lecionava-se as aulas tradicionais, cha-
mada de Home Class, que correspondiam a ler, escrever
e contar e outro para as atividades complementares,
chamada de Special Class, que são: educação física,
atividade sociais, artística, organização e biblioteca.
Na década de 50, Anísio Teixeira foi convidado ao re-
gressar à sua cidade natal, Salvador, para assumir o
cargo de Secretaria da Educação, mas agora com uma
4 Criação de William Wirt, cujo finalidade seria de melhor aproveitar o tem-po e o espaço escolar, cria uma estrutura de reversamento entre as salas com base em horários pré-estabelecidos.
19
tarefa bem mais ambiciosa, de resolver a inserção da
população mais pobre na sociedade e a má qualida-
de do ensino público da cidade. Com essas vertentes,
Anísio propôs o sistema Escola Classe e Escola Parque.
Sob a infl uência das ideias de John Dewey e tendo
por modelo as escolas platoon, o Sistema Escola
Classe Escola Parque tinha como objetivo a formação
plena do aluno, incorporando em seu dia-a-dia, além
das matérias básicas do currículo, atividades ligadas
ao esporte, cultura e atividade profi ssional. Mas dife-
rentemente do modelo americano de Dewey, onde as
atividades estavam presentes em um único edifício,
no sistema proposto por Anísio Teixeira os processos
de aprendizado aconteciam em construções distintas.
De acordo com Duarte (Duarte, 2009, p.122), “a fi lo-
sofi a da escola visa oferecer à criança um retrato da
vida em sociedade, com as suas atividades diversifi ca-
das e o seu ritmo de ‘preparação’ e ‘execução’, dan-
do-lhe as experiências de estudo e de ação responsá-
veis”. As escolas classes seriam prédios com sala de
aula, cujos alunos iriam aprender a ler e escrever, na
mesma proporção que a escola parque era um con-
junto de edifícios formados por biblioteca, ginásio e
áreas abertas, para a prática esportiva, auditório, tea-
tros ao ar livre e um pavilhão de trabalho, onde eram
executadas atividades de cunho profi ssionalizante.
Com o intento de otimizar a estrutura da escola par-
que, cujo custo tinha um valor elevado, o plano de
Anísio era dela funcionar na proporção de uma a
cada quatro escolas classes de modo a formar um
conjunto que iria servir um mesmo grupo de alunos e
seria implantado um em cada área onde fosse cons-
tatada a necessidade desse equipamento.
“É custoso e caro, porque são custosos e caros os
objetivos que visa. Não se pode fazer educação
barata – como não se pode fazer guerra barata.
Se é a nossa defesa que estamos construindo, o
seu preço nunca será demasiado caro, pois não
há preço para a sobrevivência.” Anísio Teixeira
(Duarte, 2009, p.109)
1.14
14. Diagrama de translação e revezamento em uma Escola que utiliza o Sistema Platoon.(elaborado pelo autor com base em Takiya 2009, p.98)
20
Assim como as escolas platoon, o sistema era inte-
gral, com as atividades ocorrendo mediante da alter-
nância de turnos. A quantidade que cada conjunto
iria reunir girava em torno de 4.000 alunos, com cada
escola classe fi cando com 1.000 alunos, divididos em
dois turnos de 500, e a escola parque com o total
dos 4.000 alunos, divididos em dois turnos de 2.000
alunos. Esses edifícios deveriam ser posicionados na
área de modo que as escolas classe fi cassem nas vi-
zinhanças ao redor da escola parque, mantendo uma
distância acessível entre os equipamentos educacio-
nais. (Figura 1.15).
Foram previstos conjuntos de escolas classes e escola
parque para sete bairros de Salvador, no entanto, so-
mente uma foi construída. A autoria do conjunto foi
assinada pelo arquiteto Diógenes Rebouças e rece-
beu o nome de Centro Educacional Carneiro Ribeiro.
A primeira etapa foi entregue em 1947 e a segunda
etapa em 1956. (Figuras 1.16 e 1.17)
Diógenes Rebouças caracteriza o conjunto e proposta
de Anísio Teixeira referente ao sistema escola classe
escola parque, como três ideais míticos – a escola
-parque como proposta de uma educação completa,
princípios modernos de arquitetura e a escola como
1.15
15. Esquema da implantação do conjunto Escola Classe Escola Parque. Distância entre as Es-colas Classes e Escolas Parque, variando em 1 a 2 km.(elaborado pelo autor com base em Duarte 2009, p.111)
16. Pavilhão de trabalhos manuais. (seminarioculturamaterialesco-lar.blogspot.com)
17. Centro Educacional Carneiro Ribeiro. (au.pini.com.br)
21
1.16 1.17
ponto de convívio da comunidade – são conceitos
que segundo Diógenes, relevam o entusiasmo de Aní-
sio à arquitetura moderna.
“Todos nós que sonhamos com um estado de
entusiasmo para a grande aventura de construir
nacionalidade temos nesse movimento da ar-
quitetura brasileira uma pequena amostra do
que poderíamos ser se um estado de esclare-
cimento e de fé se criasse, como se criou entre
esses engenheiros, em nossa agricultura, nos-
sa indústria, nosso comércio, nossa educação
e nossos serviços públicos e sociais em geral”
(Anísio Teixeira em Um presságio de progresso,
Habitat no 4, 1951).
No Brasil, o caráter mais social da educação surgiu
com o pedagogo Paulo Freire (1921-1997), conhecido
mundialmente a partir de suas contribuições à educa-
ção popular. Paulo, desenvolveu métodos educacionais
revolucionários de alfabetização, que tinha como obje-
tivo reestabelecer ao cidadão mais dignidade, utilizan-
do da técnica pensamento-linguagem, que estabele-
ciam uma relação de uma codifi cação específi ca para
facilitar a leitura, escrita e compreensão.
Por conta deste viés socialista, e estabelecia como a
educação feita com e para o povo. Sua experiência de
alfabetização foi interrompida em 1964 com o golpe
militar, por ser classifi cada como de subversiva.
22
1.2.2.1 centro integrado de educação pública | ciep (1983 - 1995)_
oscar niemeyer rio de janeiro, rj, brasil
Com o advento do governo carioca de Leonel Brizola,
Darcy Ribeiro revive as ideias de Anísio Teixeira e con-
vocando o arquiteto Oscar Niemeyer para projetar os
CIEPs com objetivo de reformar o ensino público do
Rio de Janeiro. No total foram construídos 500 CIEPs
em todo o estado. (BASTOS, 2009)
Apostando no ensino integral para conseguir resol-
ver além de problemas relacionados à educação, mas
também de caráter social, o CIEP oferecia além da
carga horária básica (sala de aula), acompanhando
extraclasse para o aluno, além de alimentação, tra-
tamento médico e odontológico bem como moradia
para crianças e adolescentes sem lar.
A capacidade do Centro girava em torno de 1.000 alu-
nos, os quais permaneciam na escola das 8h às 17h. Foi
proposto um local onde as atividades transcendessem
as obrigações do currículo base, com atividades espor-
tivas, mas também a participação de eventos culturais,
assistência médica, refeições e banho (RIBEIRO, 1986).
Durante os finais de semana as quadras esportivas, bi-
bliotecas e consultórios eram abertas à população com
objetivo de criar maior relação com a comunidade.
programaRefeitório para 200 pessoas dimensionada para pro-
duzir refeições para 1.000 crianças; centro médico;
área de recreio coberto; 24 salas de aulas; auditório;
salas especiais (estudo dirigido e outras atividades);
instalações administrativas; área reservada para ativi-
dades de lazer no terraço; ginásio coberto; vestiários;
depósito para guardar material; biblioteca; alojamen-
to para crianças (quarto, sala, banheiro e cozinha)
arquiteturaProjetado pelo Arquitetura Oscar Niemeyer (1907-
2012), os CIEPs são compostos por três construções:
O Prédio Principal (5.400m²), o Salão Polivalente
(1.080m²) e a biblioteca com alojamento (320m²),
todos construídos em concreto pré-moldado, totali-
zando uma área construída de 6.800m². (Figura 2.17)
“Esta é a escola piloto. Uma escola pré-fabrica-
da cujos elementos estruturais e detalhes de ar-
quitetura serão obrigatoriamente utilizados nas
diversas escolas a construir. Damos 2 exemplos.
Um em terreno mais amplo e outro de dimensões
reduzidas e forma diferente. O trabalho a elabo-
rar como exemplo evidencia, se reduz a uma
adaptação lógica e funcional da escola piloto,
levando em conta a forma do terreno, os acessos
existentes e sua conformação natural. As divisões
internas que obedecem ao programa fornecido
de 1000 alunos podem ser alteradas graças à fle-
xibilidade do projeto que prevê recreio coberto e
2 pavimentos. Os apoios estão afastados 06° das
esquadrias para lhes dar a continuidade modula-
da indispensável garantindo espaço para o brise-
soleil. “(NIEMEYER, Oscar. Centro Integrado de
Educação Pública – CIEP)
24
1.2.2.2 centro educacional unificado | ceu(2001 - 2004)_
andré takiya alexandre delijaicov wanderley arizasão paulo, sp, brasil
Conduzido pelas escolas de Anísio Teixeira, os CEUs
são grandes complexos educacionais que se inserem
nas regiões pobres da cidade visando favorecer me-
lhorias e diminuição das desigualdades sociais. O Cen-
tro Educacional busca atender até 2400 alunos, onde
possam propiciar a esses jovens um amplo processo
educativo, onde possa também englobar atividades
esportivas e artísticas. Nos finais de semana, o lugar se
abre para atender ao uso coletivo da população.
programaCreches; salas de aula para educação infantil e ensi-
no fundamental; sala de recepção; sala de reunião;
sala de leitura; brinquedoteca; sala de reunião do
conselho gestor; diretoria e secretaria; três pátios in-
ternos; biblioteca; refeitório; cozinha; padaria-escola;
banheiros; vestiários; salas de informática; áreas para
exposições; área de convivência; teatro; atelier de ar-
tes; ateliês; estúdios; estação de rádio; piscina; pista
de skate; ginásio esportivo e quadra coberta.
arquiteturaCom uma similaridade ao CIEPs e ao Centro Carneiro
Ribeiro, o CEU divide suas funções em blocos separa-
dos (Figura 1.19). A resultante é uma composição de
blocos de edifícios retangulares, geralmente com três
pavimentos para ensino infantil e fundamental; Um
volume cilíndrico, suspenso do chão por uma caixa
de circulação vertical no centro, que abriga a creche
(Figura 1.20); Um edifício de cinco pavimentos onde
funcionam o teatro, que pode ser convertido em cine-
ma, sala de dança e as áreas esportivas (Figura 1.21)
e um parque aquático com três piscinas.
Considerando que o projeto padrão que foi reprodu-
zido em vários locais da cidade, pode-se admitir uma
configuração espacial dos blocos o qual a distância
entre eles, poderá gerar um efeito interessante para
o complexo, o que faz com que o projeto se adapte
com maior flexibilidade aos variados tipos de terreno.
25
1.19
1.20 1.2119. Implantação do CEU Jambeiro.
(arcoweb.com)
20. CEU Jambeiro Creche. (arcoweb.com)
21. Bloco do Teatro e ginásio.(arcoweb.com)
27
2.1 a arquitetura escolar
O termo “Arquitetura Escolar” transmite a ideia de uso
de um determinado edifício, que irá conter um deter-
minado programa de necessidades para cada padrão
escolar. De modo a acrescentar a educação, a boa ar-
quitetura escolar deve buscar se enquadrar criando es-
tímulos e possibilidades através do espaço como forma
de contribuir para que o processo educativo caminhe
na direção desejada. (Figura 2.1)
“Nessa procura de rumos, em cada fase da luta
pela educação nacional, constroem escolar cuja
arquitetura reflete, talvez, melhor do que qual-
quer outra categoria de edifícios, as passagens
mais empolgantes de nossa cultura artística[...]”
(ARTIGAS, 1999, P. 87)
arquitetura e o espaço escolar_
De acordo com o educador José Pacheco, são tímidas
as iniciativas na arquitetura para acompanhar a evo-
lução das linhas pedagógica e dos sistemas de educa-
ção. E tal estagnação pode até prejudicar a proposta
pedagógica caso haja incompatibilidade arquitetônica
para caminhar junto com o método proposto. Para
criar um espaço de descobertas é necessário através
de estudos comportamentais que estimulem esse sen-
so nas crianças, assim como a relação desse prédio
com o meio que está inserido na cidade. (Figura 2.2)
2
28
De acordo com Kanitz, os prédios escolares atuais são
passíveis de crítica pois suas salas de aula de padrão
usual não passam “de um monte de cadeira voltadas
para um quadro-negro e uma mesa de professor bem
imponente em cima de um tablado” (Kanitz, 2000,
p.21). Tal confi guração desmotiva o aluno e e valoriza a
autoridade, e não o indivíduo, o que estaria indo contra
as novas metodologias educacionais. Ao invés do ensi-
no tradicional, que despreza a individualidade e inibe
o desenvolvimento sensorial e a consciência artística e
crítica do aluno, esse novo ambiente escolar também
precisa de uma arquitetura mais humana, que preveja
esses fatores, e que através do método educacional e/
ou linha pedagógica adotado, sua arquitetura seja re-
fl exo de sua educação.
“Teremos gerações com animo dedicado e com
sentimento para o belo somente quando nossos
fi lhos forem educados em escolas espaçosas,
abertas, simples, bem planejadas, que possam
formar a educação vivida e elevar os pensamen-
tos das crianças.” (HABITAT, 1951, p.29)
Sendo assim, os espaços poderiam ter modularidades
e tenham função polivalentes, com mais espaços, com
uma iluminação adequada para vários tipos confi gu-
rações espaciais, ou atividades, assim como a ligação
com a paisagem externa, com jardins ou algo que re-
meta à liberdade espacial.
Segundo Mazzilli (2003), existem certas determinan-
tes do espaço infantil – o contexto ambiental, o uso,
a faixa etária – que o qualifi cam e exigem respostas
diferenciadas na organização e na exploração das lin-
guagens. Por outro lado, o conjunto de estímulos sen-
soriais é fundamental no processo de desenvolvimento
e aprendizagem da criança, sendo os estímulos visuais
determinantes na formação da imagem lúdica, na
identidade do lugar e consequente sensação de aco-
lhimento à criança. Trata-se ainda de uma arquitetura
de caráter não convencional, com exisgencias próprias,
que vão além de adequações ergonômicas e técnicas,
mas também o conhecimento das linguagens com as
quais a criança se expressa.
2.2 o espaço escolar
2.1 2.2 2.3
29
2.2.1 o espaço público
A arquitetura deve um agregador social, um elemento
de inclusão e identifi cação de uma determinada re-
gião, ou cidade. Pode-se então projetar um edifício que
represente um local, ou um povo, ou que pelo fato de
estar inserido de forma coerente com entorno, crie uma
relação de cuidado, de zelo pela própria população.
2.2.2 a criança e a relação com o espaço
Durante a infância, a criança precisa de espaços que
alimentem a ânsia por descobertas, que estimulem no-
vos sentidos (Figura 2.3), e quando se consegue atingir
esse objetivo, naturalmente a criança cria uma relação
lúdica com aquele espaço. A escola deve ser esse espa-
ço lúdico onde ela possa se sentir capaz de resolver um
problema, que se sinta conveniente participar de uma
corrida, de brincar, de praticar um esporte, de conver-
sar, viver, enfi m. Para tanto, devemos expandir o espa-
ço de sua escola para além de sala de aula. (Figura 2.4)
“O grande desafi o do arquiteto ao criar espa-
ços, é aderir qualidade a eles. A relação com
os espaços físicos, pode partir da simplicidade
de uma recordação, assim como de um local
confortável, que traga aconchego ao usuário,
um local que remeta um ambiente familiar,
que traga uma sensação agradável, uma ar-
vore que faça sombra, assim como o cheiro
de uma fazenda. Proporcionar as crianças um
espaço, onde o lúdico não está nas coisas, nos
brinquedos, ou nas técnicas, mas nas crianças,
ou melhor dizendo, no homem que as imagina,
organiza e constrói.” (OLIVEIRA, 2000. p. 10)
2.4
1. Ambiente amplo, com luz e movimentado. (www.ahh.nl)
2. Escola 2°Grau – Hoorn, Holanda. (www.ahh.nl)
3. Relação da arquitetura com o usuário. (www.ahh.nl)
4. Escola Montessori - Delf, Holanda. (www.ahh.nl)
31
obras de referência_
3
fuji kindergarten2007 - Tezuka Arquitects - Tóquio, Japão
escola da ponte1976 - José Pacheco - Porto, Portugal
herman hertzberger - Projeto de escolas - Holanda
orquídeorama1997 - Plan B Architecture - Medellín, Colômbia
fauusp1961 - Vilanova Artigas - São Paulo, Brasil
escola maristinha 1997 - C. Santos, A. Costa, J. Roberto - Rio de Janeiro, Brasil
espaço lúdico2006 - Fabiano José A. Sobreira - Brasília, Brasil
32
fuji kindergarten2007 _
tezuka architects tóquio, japão
A arquitetura simples e uniforme apresentada no Jardim
de Infância Fuji, toma partido do significado pedagógico
da escola, usufruindo de um espaço rico em possibilida-
des, que transcendem a limitação de um uso específico
e com uma grande quantidade de simbolismos.
A forma arquitetônica do edifício resume-se a uma
estrutura com geometria oval, que delimita todo o
pátio central, incentivando o espírito de grupo. A se-
paração dos espaços de atividades (salas de aula), e
o ambiente externo (pátio), é feito mediante esqua-
drias corrediças de vidro e madeira, que podem ser
facilmente abertas ou fechadas, ligando o ambiente
de aula ao jardim. Outro fator notável no projeto, é a
utilização do teto para atividades de recreação, ou de
longa permanência para o usuário. Esse amplo espa-
ço do teto de madeira, existem escorregadores, que
ligam ao pátio central, além de aberturas que foram
incorporadas árvores, gerando sensação agradável às
crianças que usufruem esse local para andar e correr
com total liberdade.
O ambiente da escola é dividido em 4 salas de ativi-
dades, sala de professores e 4 banheiros.
34
escola da ponte1976 _
josé pacheco porto, portugal
Encarando o desafi o de trilhar caminhos que fujam
da escola tradicional, José Pacheco, concebeu seu
próprio projeto pedagógico ao implantar a chamada
Escola da Ponte, situada cerca de 30km da cidade do
Porto, em Portugal. O educador português coordena a
escola há mais de 30 anos, que faz parte da rede pú-
blica portuguesa de ensino básico, sem paralelo com
as demais escolas.
O sistema pedagógico da escola dispensa seriações,
ciclos ou notas, nem mesmo os professores são res-
ponsáveis por alguma disciplina ou turma específi ca.
Os próprios alunos defi nem quais são suas áreas de
interesse e desenvolvem projetos de pesquisa, tanto
em grupo como individual. De acordo com Pacheco,
para esse sistema funcionar, é necessário a confi ança
dos pais no método pedagógico, já que a grande pro-
posta é dar liberdade as crianças para defi nirem seus
próprios aprendizados.
“Lá não há séries, ciclos, turmas, anos, manuais,
testes e aulas. Os alunos se agrupam de acor-
do com os interesses comuns para desenvolver
projetos de pesquisa. Há também os estudos
individuais, depois compartilhados com os co-
legas. Os estudantes podem recorrer a qualquer
professor para solicitar suas respostas. Se eles
não conseguem responder, os encaminham a um
especialista. Não há salas de aula, e sim lugares
onde cada aluno procura pessoas, ferramentas
e soluções, testa seus conhecimentos e convive
com os outros. São os espaços educativos. Hoje,
eles estão designados por área. Na humanística,
por exemplo, estuda-se História e Geografi a; no
pavilhão das ciências fi ca o material sobre Ma-
temática; e o central abriga a Educação Artística
e a Tecnológica.” (PACHECO, 2004. Entrevista
concedida à editora Abril)
Há grande resistência na aceitação do modelo da Es-
cola da Ponte, mas já houve testes que compararam
alunos de escolas tradicionais portuguesas e a Escola
da Ponte, cujo o resultado foi bem favorável à proposta
de Pacheco. De acordo com Rubem Alves, o modelo tra-
dicional já não funciona mais e releva que é necessário
saber quais perguntas os alunos estão fazendo, já que o
ensino tem a ver com a capacidade de fazer perguntas.
36
herman hertzbergerprojeto de escolas
_ holanda
O arquiteto Herman Hertzberger defende a ideia de
espaços polivalentes em suas propostas, que sejam
uteis, e utilizáveis no cotidiano dos usuários. O sucesso
de sua arquitetura muitas vezes ultrapassa a utilização
dela para uma função específica e predeterminada no
projeto, mas na capacidade dela ter de proporcionar
variados usos para diferente pessoas ao longo do dia.
O espaço habitável entre as coisas desloca a da
atenção do âmbito oficial para o informal, onde
se conduz a vida cotidiana, isto é, entre os signifi-
cados estabelecidos da função explícita. (HERTZ-
BERGER, 1991, p.188)
Surge então a apropriação do espaço e das coisas, de
forma natural quando o indivíduo cria relações com
um espaço ou objeto de acordo com suas preferên-
cias, e da maneira como ele intervém. Essa relação
promove a sustentabilidade ao espaço, criando um
apego das pessoas pelo lugar, e com isso, a diminui-
ção das chances daquele local seja abandonado.
As escolas propostas por Hertzberger, refletem bem a
esse princípio. A utilização de espaço “esquecidos”,
promovendo o uso espontâneo aos lugares que su-
postamente só teriam uma função. Como exemplo,
alterar as dimensões da altura das escadas em lo-
cais específicos, criação guarda corpo ou batentes em
cantos sem uso, com intenção de propor espaço vol-
tados a interação do usuário com o ambiente.
38
orquídeorama1997 _
plan b architecture medellín, colômbia
Com uma área construída com cerca de 4200 m² no
jardim botânico de Medellín, o projeto Orquídeorama
consiste em um grande espaço de convívio coberto,
onde a proposta seria integrar a arquitetura e os
organismos vivos. Com uma disposição orgânica, o
projeto é definido de módulos que juntam 7 hexá-
gonos, de forma circular, onde os módulos se unem e
formam o conjunto.
O sistema construtivo foi proposto através de estrutu-
ra metálico, para facilitar e vencer grandes vãos com
pilares de aço dispostos no hexágono central, fazendo
a ligação, através de vigas metálicas, com os demais
hexágonos. Cada pétala é intercalada com cobertura
de telha translúcida de policarbonato e telhas opacas
metálicas, que conduzem a água para o hexágono
central, onde há um jardim, através de canaletas de
metal. Foi proposto o uso de madeira de pinheiros de
reflorestamento que compõem os tecidos translúcidos.
40
fauusp1961 _
vilanova artigas são paulo, brasil
Ainda que estejamos tratando de projeto escolar de
cunho infantil, é pertinente refletir a solução de espa-
ços trabalhada Vilanova Artigas no projeto da Facul-
dade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de
São Paulo (FAU-USP).
Sem um marco definindo a entrada do prédio, e com
um grande vazio interno, o prédio integra 6 pavimen-
tos intercalando os pisos em meio nível mediante
uma larga rampa, gerando uma sensação de fluidez
ao espaço, como se fossem uma grande praça em um
único plano. A distribuição dos ambientes são em
grande parte voltados para o vazio interno, reforçan-
do a ideia de um espaço compartilhado, e também
como propagador de uma relação dos usuários com
quem esteja nas circulações, assim com quem esteja
no pátio interno e com quem esteja nas salas de aula,
cuja divisórias são retráteis.
42
escola maristinha1997 _
c. santos, a. costa, j. robertorio de janeiro, brasil
A proposta dos Arquitetos frente ao projeto de uma
escola construtivista que abrigasse crianças de 0 a 5
anos, foi incorporar as teorias da linha pedagógica ao
espaço projetado. Essa conformação espacial teria que
proporcionar estímulos para as crianças, com espaços
que tivessem uma fácil manipulação dos ambientes,
que tivesse ligação com ambientes externos, e com
isso, um boa iluminação e ventilação (Figura 3.1).
A solicitação do cliente era a construção de uma es-
cola construtivista em que entre outras necessidades
exigisse que as atividades curriculares acontecessem
em círculos para facilitar a participação de todos. O
projeto arquitetônico incorpora a filosofia construti-
vista de ensino. Utilizamos a figura regulara do hexá-
gono como módulo e célula que permite a montagem
de blocos numa malha “colmeia” e variando progres-
sivamente, em módulos que formatam o espaço ocu-
pados e livre e usos diversos. (SANTOS, 2007, Anuário
Arquitetura Cearense – IAB – 50 anos, p.79)
A setorização dos ambientes foi resolvida a partir
da topográfica, que limitou as salas de aula no nível
da rua (Figura 3.4) e mais acima, e partir desse ní-
vel descem até dois níveis com acesso por escadas e
rampas no átrio central. No último nível (Figura 3.5),
foram locadas as salas dos professores e audiovisual,
biblioteca, informática e reunião. No nível interme-
diário (Figura 3.4), foram colocados o auditório, hall
de acesso e secretária.
As salas tiveram uma identificação a partir de escul-
turas geométricas (Figura 3.2) que compusessem um
brinquedo, como: lápis, peão, bola, trem, pipa, barco
e outros, na entrada de cada compartimento, fazen-
do com que as crianças as identificassem com maior
precisão (Figura 3.3).
44
espaço lúdico2006 _
fabiano josé a. sobreira brasília, brasil
O Espaço Lúdico provém de um projeto de arquite-
tura e desenho urbano em pequena escala para um
equipamento público localizada na Super Quadra
304 Norte em Brasília. Local que antes abrigava a
torre telefônica da Escola Classe 304 Norte (Figura
3.7). O arquiteto Fabiano Sobreira proporia então
uma iniciativa pública para converter o espaço an-
tes abandonado e degrado em um espaço de lazer e
aprendizagem para as crianças.
O espaço da intervenção conforma-se na projeção de
22 x 6m, com área de total de 132m². A proposta do
arquiteto era definir um conjunto espacial de brinquedo
que fugisse da “tradicionalidade”, e ,a partir da própria
arquitetura, apresentar um conjunto de objetos lúdicos
que pudessem estimular a criatividade das crianças com
suas formas e cores (Figura 3.8). Conforme aprovação
da comunidade, diante da limitação orçamentária do
poder público para espaço públicos, o projeto apresen-
tava baixo custo, pois a composição arquitetônica era
composta por materiais simples e baixa manutenção,
como: alvenaria, concreto, barras de aço e pintura acríli-
ca, e hoje se encontra em pleno uso (Figuras 3.9 e 3.10).
Os blocos lógicos foram o conceito pedagógico que
serviram de inspiração para o projeto. Formas, blocos
e cores que estimulavam o senso lógico das crianças.
As funções dos blocos lógicos são de proporcionar às
crianças a chance de realizar as primeiras operações
lógicas, como correspondência e classificação. O con-
ceito está diretamente ligado às pesquisas de Jean
Piaget, segundo o raciocínio abstrato, e é reforçado
através do contato físico (pegar, observar e identificar
cores e dimensões).
Ao transportar o conceito de blocos lógicos para a
arquitetura, a intenção é que as crianças criem seus
próprios jogos e brincadeiras. Ao invés de oferecer
gangorras e balanços, brinquedos que sugerem uma
rotina específica de uso e comportamento, o proje-
to propõe planos, blocos, vazios, passagens, barras,
rampas, cheios e vazios, que combinados às cores e
formas geométricas, oferecem uma infinidade de pos-
sibilidades criativas.
47
o projeto_
Após a análise de variados sistemas educacionais e li-
nha pedagógicas direcionadas à Pré-Escola, materializa-
se então, a presente proposta de projeto arquitetônica.
4.1 o terreno
Diante de problemas sociais atravessados por uma
sociedade desigual, visa-se implantar essa escola em
local carente de equipamentos públicos de qualidade.
A escolha da comunidade do Dendê como alvo do equi-
pamento, foi devido à carência de pré-escola nas proxi-
midades deste local. Cerca de 23mil moradores despro-
vidos deste tipo de equipamento, e entendendo-se que
a escola pode ser um transformador social através da
educação, faz-se então justificativa na implantação do
prédio no local. Ademais a comunidade tem seus limites
territorial com a Universidade de Fortaleza e está com-
preendida pelas margens do Rio Cocó. A sua origem
remonta à década de 1970 por conta da remoção das
favelas Verdes Mares, Dom Luiz, Cervejaria Brahma, Ci-
dade 2000, Hospital geral e Praia do Meireles.
A construção da Universidade de Fortaleza, ao anti-
go bairro “Água Fria” exerceu forte atração imobi-
liária, que foi acentuada por grandes equipamentos
urbanos como o Fórum Clóvis Beviláqua, o Centro de
Convenções e o Centro de Eventos de Fortaleza. Com
a chegada desses equipamentos, a comunidade foi
sendo espremida progressivamente marginalizando
a população no local devida a grande diferença so-
cial e falta de oportunidade de trabalho.
Com base na legislação brasileira, e adequação dos
parâmetros exigidos para inserção do projeto, optou-
se por um terreno situado no Bairro Edson Queiroz,
em Fortaleza, no Estado do Ceará, no Brasil.
4
48
O bairro Edson Queiroz é situado na zona leste de
Fortaleza, cujo está inserido na SER VI (Regional 6), e
também classificado como ZOM1 (Zona de Ocupação
Moderada 1).
Quantos aos aspectos legais relativos à construção
escolar, baseou-se o no Plano Diretor Participativo de
Fortaleza (PDPFor) de 13 de Março de 2009, e nas
Leis de Uso e Ocupação do Solo (LOUS). De acordo
com o PDPFor, quanto às macrozonas de ocupação
urbana, o terreno situa-se na Zona de Ocupação Mo-
derada 1, que possui os seguintes parâmetros:
SEÇÃO VII
DA ZONA DE OCUPAÇÃO MODERADA 1 (ZOM 1)
Art. 99º A Zona de Ocupação Moderada (ZOM 1)
caracteriza-se pela insuficiência ou inadequação de in-
fraestrutura, carência de equipamentos públicos, presen-
ça de equipamentos privados comerciais e de serviços
de grande porte, tendência à intensificação da ocupação
habitacional multifamiliar e áreas com fragilidade am-
biental; destinando-se ao ordenamento e controle do
uso e ocupação do solo, condicionados à ampliação dos
sistemas de mobilidade e de implantação do sistema de
coleta e tratamento de esgotamento sanitário.
Art.100º São objetivos da Zona de Ocupação Mode-
rada 1 (ZOM 1):
I controlar e ordenar os processos de transformações e
ocupações urbanas e a densidade populacional de modo
a evitar inadequações urbanísticas e ambientais;
II promover a requalificação urbanística e ambiental,
com investimentos para complementar a infraestrutura,
principalmente de saneamento ambiental;
III ampliar a disponibilidade e conservar espaços de uso co-
letivo, equipamentos públicos, áreas verdes, espaços livres
voltados à inclusão para o trabalho, esportes,cultura e lazer;
IV promover a integração e a regularização urbanística
e fundiária dos núcleos habitacionais de interesse social
existentes;
V tornar adequadas as condições de mobilidade urba-
na,em especial nos pontos de congestionamento, insufi-
ciência de consolidação da malha viária e concentração
de equipamentos geradores de inadequações relativas
ao tráfego e de saturação do sistema viário;
VI conter a ocupação urbana em áreas ambientalmen-
te sensíveis e de interesse ambiental, com ações de recu-
peração nos assentamentos de interesse social, a fim de
garantir a qualidade ambiental desta zona;
VII incentivar a valorização, a preservação, a recupera-
ção e a conservação dos imóveis e dos elementos carac-
terísticos da paisagem e do patrimônio.
N N
8550m²
98m
87m
49
Art. 101º São parâmetros da ZOM 1:
I índice de aproveitamento básico:2,0;
II índice de aproveitamento máximo: 2,5;
III índice de aproveitamento mínimo:0,1;
IV taxa de permeabilidade: 40%;
V taxa de ocupação:50%;
VI taxa de ocupação de subsolo:50%;
VII altura máxima da edificação:72m;
VIII área mínima de lote: 150m2 ;
IX testada mínima de lote: 6m;
X profundidade mínima do lote: 25m;
Art.102º Serão aplicados na Zona de Ocupação Mode-
rada 1 (ZOM 1), especialmente, os seguintes instrumentos:
I parcelamento, edificação e utilização compulsórios;
II IPTU progressivo no tempo;
III desapropriação mediante pagamento por títulos da
dívida pública;
IV direito de preempção;
V direito de superfície;
VI outorga onerosa do direito de construir;
VII transferência do direito de construir;
VIII operação urbana consorciada;
IX consórcio imobiliário;
X estudo de impacto de vizinhança (EIV);
XI estudo ambiental(EA);
XII Zona Especial de Interesse Social (ZEIS);
XIII instrumentos de regularização fundiária;
XIV outorga onerosa de alteração de uso.
Parágrafo Único A aplicação dos instrumentos indi-
cados nos incisos I, II e III está condicionada à disponibi-
lidade de infraestrutura na presente zona.
De acordo com a Lei de Uso e Ocupação do Solo
(LUOS), no anexo 6, a escola se classifica em Creche,
estando no subgrupo de serviços de educação – SE,
e seria classificada com PGT 1, com área construída
1001 e 2500m2 e, portanto, deverá possuir uma vaga
de estacionamento para cada 30m2 de área útil.
N N
8550m²
98m
87m
N
N
Wikipedia. Google Street View.
2
4
31
Elaborado pelo autor com base em Prefeitura Municipal de Fortaleza.
EDSON QUEIROZ
SER VI
CENTR0
1 Centro de Eventos
2 UNIFOR
3 Comunidade do Dendê
4 Fórum Clóvius Bevi laqua
USOS DO SOLO
ATIVIDADES IDENTIF ICADAS
INST ITUCIONAL
INDUSTRIAL
SERVIÇOS
VAZIOS URBANOS
ÁREAS VERDES
Comunidade do Dendê
1
2
3
4
Google Street View.
N
N
Wikipedia. Google Street View.
2
4
31
Elaborado pelo autor com base em Prefeitura Municipal de Fortaleza.
EDSON QUEIROZ
SER VI
CENTR0
1 Centro de Eventos
2 UNIFOR
3 Comunidade do Dendê
4 Fórum Clóvius Bevi laqua
USOS DO SOLO
ATIVIDADES IDENTIF ICADAS
INST ITUCIONAL
INDUSTRIAL
SERVIÇOS
VAZIOS URBANOS
ÁREAS VERDES
Comunidade do Dendê
1
2
3
4
Google Street View.
54
Segundo Carlos Lemos:
“Partido seria uma consequência formal de-
rivada de uma série de condicionamentos ou
determinantes; seria o resultado da intervenção
sugerida” (1979, p.9)
Diante da proposta de rebater no espaço físico as
teorias do construtivismo, inicialmente questionamos
a disposição formal das salas tradicionais das escolas,
onde o professor está em primeiro plano, sendo o gran-
de protagonista do aprendizado. Então, foi pensado a
forma de um hexágono, que favorecesse ao professor
atuar como um incentivador e participante do proces-
so educativo, pudessem aumentar as possibilidades de
interação com um espaço mais ricos, e de forma que as
crianças pudessem trabalhar em grupos.
A partir desta proposta de sala de aula criou-se as
colmeias com a junção de várias destas para a criação
dos diversos módulos educacionais. Levando em con-
sideração a ventilação e a convivência dentro de um
mesmo bloco de ensino, buscamos com a retirada de
alguns hexágonos criar um pátio de convivência e de
acesso comum, facilitando o controle dos discentes
dentro do bloco.
O partido geral foi definido por um arranjo de várias
colmeias que se juntam formando um espaço com
cheios e vazios, proporcionando um desenho orgâni-
co com intuito de gerar espaços dinâmicos e ricos em
possibilidades para o educador e a criança.
4.2 o partido
A implantação foi definida a partir da proximidade
do acesso com a favela, com pequena inclinação em
relação ao norte, favorecendo a maior incidência dos
ventos alísios nos blocos. Outro fatore importante é a
integração da escola com a praça existente defronte,
favorecida pelo alargamento dos passeios e o estudo
técnico de sua topografia, trabalhando de forma mais
eficaz o desnível do terreno. Levando em considera-
ção a inserção do equipamento na cidade, e o seu en-
torto, optou-se por assumir o prédio térreo, gerando
maior conforto de escala com a comunidade.
Tendo em vista que o público alvo da escola seriam
crianças da comunidade do Dendê, com baixo poder
aquisitivo, sendo a principal forma de condução dos
moradores seja a pé e em bicicletas, projetamos um
bicicletário na entrada da escola e para a maioria dos
alunos que vêm caminhando, foi proposto a criação
de generosa faixa de pedestre ligando a comunida-
de à escola, visto haver grande demanda de carros
que passam no local. Também foi projetado zona de
embarque e desembarque para aqueles que queiram
acessar a escola por meio de veículo individual, e um
estacionamento com 37 vagas, de uso prioritário pe-
los funcionários da escola.
A composição formal dos blocos forma um pátio cen-
tral, onde é proposto um espaço lúdico com objetos
geométricos, onde as crianças possam desenvolver a
criatividade e o senso lógico através da geometria e
cores através dos brinquedos lúdicos.
56
Ao acessar a escola, o usuário irá deparar-se com um
grande pátio coberto, que além de marcar o principal
acesso da escola pelo grande vazio, funciona como
uma espécie de pátio multiuso da escola, onde a
partir dele se distribuem os fluxos do programa de
necessidades. Esse espaço proporciona ao usuário
sensação de amplitude embora possa servir de pátio
de encontro, onde poderá ocorrer atividades como
teatro, danças, encontros com os pais, abrigo em dias
chuvosos e outros.
A separação dos blocos gera fluidez e acesso amplo
aos diversos setores, gerando um espaço para intera-
ção entres ambos, e também uma independência de
cada um deles. Cada colmeia tem função especifica
– bloco de atividade, de acordo com o uso e idades
das crianças, e para diferenciar e criar um senso de
particularidade e cognição, propomos identificá-las
com cores e formas especificas para criar uma relação
de acordo com as atividades a serem ali praticadas.
A distribuição dos blocos de atividades – colmeias, se
dá utilizando os seguintes critérios: partindo do pátio
coberto, o primeiro bloco a direita é o Ensino Infantil
I – Bloco 1 para as crianças de 0-1 ano, onde o aces-
so é facilitado aos pais por conta da proximidade da
entrada do prédio. Seguidos dos blocos 2 e 3, Ensino
Infantil II e III, que atenderão, respectivamente, crian-
ças de 2-3 anos e 4- 5 anos. Os blocos de ensino II e
III, onde as crianças já começam a ter um pouco mais
de autonomia e liberdade para andarem sozinhas sob
supervisão dos docentes. Os dois blocos contam com
um jardim íntimo de aprendizagem, local do qual irão
desenvolver técnicas sensoriais e estimular a cogni-
ção mediante atividades com o uso de areia, plantas,
sol e atividade ao ar livre. Do lado esquerdo de quem
acessa o prédio, inserimos logo na entrada o bloco
administrativo, Bloco 7, também para facilitar o aces-
so aos pais, já que haverá a necessidade cotidiana de
sua presença por motivos diversos. Na parte poste-
rior, distribuímos o bloco de atividades complemen-
tares – Bloco 4, próximos aos blocos educacionais; e
abaixo deste, fica o bloco serviço conjunto, Bloco 5 e
ao lado, o bloco dos funcionários, Bloco 6.
Outra proposta da escola foi a implantação de um
Mini-Mundo, local onde os brinquedos simulam uma
“mini-cidade”, aonde os edifícios são construídos na
escala da criança, fazendo com que despertem para
assuntos do cotidiano, aprendendo a utilizar e res-
peitar faixa de pedestre de acordo com a sinalização,
criar possibilidades e brincadeiras a partir de brinque-
dos lúdicos que podem simular um banco, hospital,
veterinária, escola e outros.
Foi pensado com intuito de aproximar as crianças com
da natureza, uma Horta, e que assim aprendam a fazer
o plantio e colheita dos alimentos, até que possam ser
levados à sala de cozinha experimental, onde irão pre-
parar o alimento até que possa ser ingerido.
57
1
23
4
B
C
D
E
H
A
G
5
6
7
praça
dendê
F
A pátio centralB mini-mundoC hortaD estacionamentoE passeioF acesso principalG bicicletárioH pátio coberto
masterplan. elaborado pelo autor.
58
A proposta de formulação do bloco prevê ainda a
criação de um espaço vazio no centro que funcione
como um pátio interno de convivência mais intimista
para os alunos da mesma serie. Este pátio também
serve para exaustão de ar quente mediante uma co-
berta mais elevada, translúcida por ser iluminada.
A coberta solta da laje do forro das salas minimiza
a transmissão de calor para a sala e o balanço da
coberta previne a insolação direta nas paredes das
salas, assim, atingiríamos o objetivo de não usar apa-
relhos de ar condicionado. O painel de esquadrias de
ferro do tipo basculante também contribuirá para re-
ceber a ventilação e retirar o ar quente.
Para fazer a vedação da escola, foram projetados
painéis metálicos, podendo servir para exposição de
obras de arte, divulgar os artistas da comunidade e
expor suas obras para toda a cidade. Assim haveria
uma integração com a comunidade do Dendê e a
promoção do zelo para com este patrimônio público.
59
4.3 solução estrutural
Propomos estrutura mista de concreto para pilares e
vigas, e metálica para vigas em balanço, objetivando
vencer os grandes vãos com sua leveza. Os pilares
circulares centrais e as vigas de travamento dão sus-
tentação à estrutura metálica da coberta. Contamos
também com uma estrutura de concreto formada de
pilares e vigas para sustentação das salas, já que os
mesmos são autoportante.
A estrutura geral é formada pela junção das várias
estruturas dos blocos, que são independentes.
A
B
A telhado tipo shedB telhado principal
peça de junçãoentre os blocos(em fibra)
viga metálicaviga de bordo metálica
viga de concreto
pilar de concreto
limites do edifício
telha trapeizodal de alumínio
o programa
bloco infantil Ibloco I
_
No bloco de atividades Infantil I, ocorrerá ativida-
de voltadas para crianças de 0-1 ano, onde terão
3 salas de aprendizagem, 1 berçário, 1 lactário, 1
fraldário e o Solário.
bloco IAMBIENTE QUANTIDADE ÁREA SOMATÓRIO
Sala de Aprendizagem 3 30m2 90m2
Berçário 1 30m2 30m2
Lactário 1 14,60m2 14,60m2
Fraldário 1 14,60m2 14,60m2
TOTAL 149,20m2
o programa
bloco infantil IIbloco II
_
No bloco de atividades Infantil II, ocorrerão atividades
voltadas para crianças de 2 a 3 anos, onde terão 4 salas
de aprendizagem, 2 banheiros e 1 sala de repouso.
bloco IIAMBIENTE QUANTIDADE ÁREA SOMATÓRIO
Sala de Aprendizagem 4 25,50m2 102m2
Banheiro 2 8,30m2 16,60m2
Sala de Repouso 1 30m2 30m2
TOTAL 148,60m2
o programa
bloco infantil IIIbloco III
_
No bloco de atividades Infantil III, ocorrerá atividades
voltadas para crianças de 4-5 anos, onde terão 4 salas
de aprendizagem e 1 conjunto de banheiros.
bloco IIIAMBIENTE QUANTIDADE ÁREA SOMATÓRIO
Sala de Aprendizagem 4 30m2 120m2
Banheiro 2 14,60m2 29,20m2
TOTAL 149,20m2
o programa
bloco de atividades complementaresbloco IV
_
No bloco de atividades complementares, ocorrerá ativi-
dade voltadas para crianças de 2-5 anos, onde terão 1
sala multiuso modulada ( 2 salas multiuso ), 1 biblioteca
e 1 sala de artes e informática.
bloco IVAMBIENTE QUANTIDADE ÁREA SOMATÓRIO
Sala Multiuso 2 30m2 60m2
Biblioteca 1 30m2 30m2
Sala de Artes / Inform. 1 30m2 30m2
TOTAL 120,00m2
o programa
bloco de serviços em conjuntobloco V
_
No bloco de serviços em conjunto, ocorrerá atividades
voltadas alunos de 2-5 anos e funcionários, onde terão 1
cozinha, 1 refeitório, 1 sala de cozinha experimental, 1 sala
da nutrição, 1 sala de controle e recebimento de alimentos,
1 uma sala de armazenamento de alimentos com refrige-
ração e 1 sala de armazenamento de alimentos secos.
bloco VAMBIENTE QUANTIDADE ÁREA SOMATÓRIO
Refeitório 1 60m2 60m2
Nutrição 1 9,70m2 9,70m2
Cozinha experimental 1 19,40m2 19,40m2
Cozinha 1 30m2 30m2
Recebimento / Controle 1 9,70m2 9,70m2
Armaz. Alimentos Secos 1 9,70m2 9,70m2
Armaz. Alim. Refrigerados 1 9,70m2 9,70m2
TOTAL 148,20m2
o programa
bloco dos funcionáriosbloco VI
_
bloco VIAMBIENTE QUANTIDADE ÁREA SOMATÓRIO
Vestiário dos Funcionários 2 30m2 60m2
Banheiro 4 9,70m2 38,80m2
Depósito 1 9,70m2 9,70m2
D.M.L. 1 9,70m2 9,70m2
Descanso 1 30m2 30m2
TOTAL 148,20m2
No bloco dos funcionários, terão 1 Vestiário masculino
com banheiro, 1 vestiário feminino com banheiro, 1
sala de descanso, 1 depósito, 1 depósito de material de
limpeza e um conjunto de banheiros para atender ao
público visitante.
o programa
bloco administrativobloco VII
_
bloco VIIAMBIENTE QUANTIDADE ÁREA SOMATÓRIO
Diretor 1 9,70m2 9,70m2
Fonoaudiólogo 1 9,70m2 9,70m2
Psicólogo 1 9,70m2 9,70m2
Secretaria 1 9,70m2 9,70m2
Almoxarifado 1 9,70m2 9,70m2
Administração 1 9,70m2 9,70m2
Sala de Reunião 2 9,70m2 9,70m2
Enfermaria 1 9,70m2 9,70m2
Sala dos Professores 1 30m2 30m2
Banheiros 2 6,75m2 13,50m2
S.A.P. 2 6,75m2 13,50m2
TOTAL 144,30m2
No bloco Administrativo, ocorrerá atividades da logística e
gestão da escola, onde terão 1 sala de diretor, 1 sala de
administração, 1 secretaria escolar, 1 almoxarifado, 1 sala
dos professores com um conjunto de banheiros, 1 sala de
psicólogo, 1 sala de fonoaudiólogo, 1 enfermaria, 2 salas
de reuniões e 2 salas de atendimentos aos pais (S.A.P.)
81
consideraçõesfinais_
Ao fim de um processo tão rico, e cheios de possibi-
lidades como é o caso de uma pré-escola, aprendi a
valorizar a importância de vencer cada etapa de um
projeto. Desde sua pesquisa, concepção, ideia, pro-
posta, até chegar ao projeto.
Ao tratar de um assunto tão delicado quanto uma pré
-escola, ao longo desse estudo, percebemos como ela
pode ser transformadora. Com isso, o papel de um ar-
quiteto, ao trabalhar com um tema como este, transfor-
mar o espaço, é um meio de estimular o conhecimento.
Imaginar que podemos contribuir com a evolução
de uma criança, desde 6 meses de vida - através da
pureza de suas percepções - é algo fascinante. Após
o importante processo de aprendizagem que obtive
durante este trabalho, me veio à tona, uma belíssima
pergunta de um arquiteto:
“Será que a arquitetura pode ser o primeiro professor de uma criança?”
(Diego Ricca)
83
referênciasbibliográficas
_
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MAXWELL, Kenneth. Marquês de Pombal - Paradoxo do Iluminismo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1996.
MUNFORD, Lewis. A Cidade na História: suas origens, transofmações e perspectivas.
Lewis Munford; [tradução Neil R. da Silva] – 4ª ed. – São Paulo: Martins Fontes, 1998.
LEMOS, Carlos A.C. Arquitetura Brasileira. – São Paulo: melhoramentos, 1979.
RIBEIRO, Darcy. O Livro dos Cieps. Rio de Janeiro: BLOCH, 1986.
BUFFA, Ester, e Gelson de Almeida PINTO. Arquitetura e Educação: Organização do espaço e Propostas Pedagó-
gicas dos grupos escolares paulista, 1893/1971. São Carlos: Universidade Federal de São Carlos, 2002.
DUARTE, Hélio de Queiroz. Escolas-classes, Escola-parque. São Paulo:FAUUSP, 2009
KOWALTOWSKI, Doris C.C.K. Arquitetura Escolar: o projeto do ambiente de ensino.
São Paulo. Oficina de textos, 2011.
ZEVI, Bruno. Saber ver a Arquitetura. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
RICCA, Diego Enéas Peres. Espaço Ludere. Pesquisa de graduação em Arquitetura e Urbanismo. Fortaleza: UNIFOR 2013.
GUIMARÃES, Leonardo Ferreira. Escola Municipal de ensino infantil e fundamental no Titanzinho – A escola
como comunidade. Pesquisa de graduação em Arquitetura e Urbanismo. Fortaleza: UFC 2013.
PACHECO, José. Escola dos sonhos existe há 25 anos em Portugal. A escola com que sempre sonhei sem ima-
ginar que pudesse existir, por Rubem ALVES, 99-117. São Paulo: Papirus, 2011
TEIXEIRA, Anísio S. A escola parque da Bahia. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos.
vol. 47, n° 106 (abr jun 1967): p.246-253.