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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP
Fábio Fernando Martins Oliveira
Produção arquitetônica no contexto do ambiente rural e urbano do
município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul – 1830 a 1960
CAMPO GRANDE – MS
2016
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Fábio Fernando Martins Oliveira
Produção arquitetônica no contexto do ambiente rural e urbano do
município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul – 1830 a 1960
Tese apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional da
Universidade Anhanguera-Uniderp, como
parte dos requisitos para a obtenção do
título de Doutor em Meio Ambiente e
Desenvolvimento Regional.
Orientação
Prof. Dr. Ademir Kleber Morbeck de
Oliveira
CAMPO GRANDE – MS
2016
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AGRADECIMENTOS
À Deus o grande Arquiteto do Universo, pelo presente de existir e por
me acompanhar nos caminhos da vida, muitas vezes por mim incompreendido,
mas que sempre me conduz à luz, ao amor e a felicidade; A Universidade
UNIGRAN, pelo apoio e incentivo no inicio de minha caminhada no nome da
Prof. Rosa de Matos De Déa e Prof. Rubens Di Dio. Ao meu orientador, Prof.
Dr. Ademir Kleber Morbeck de Oliveira, um exemplo de competência e
comprometimento. Meus agradecimentos pela orientação, compreensão,
confiança e contribuição para o meu aprendizado; aos professores da banca
por aceitarem gentilmente o convite de integrar essa banca, pelas valiosas
sugestões, disponibilidade e gentileza; À Profa. Dra. Rosemary Matias; a Dr.
Maria Margareth Escobar Ribas; Dr. Jorge de Souza Pinto e Gilberto Luiz
Alves, todos foram fundamentais para a solidificação dessa pesquisa.
Aos meus amigos José Carlos Pina e Maricléia Simões pelas
contribuições no decorrer das correções e traduções. Aos Meus pais Adélio
Lemes de Oliveira e Maria Martins de Oliveira, eterna gratidão pela minha
criação. A minha irmã Sandra Regina Martins de Oliveira, minha sobrinha
Mayara Martins Ferreira, gratidão sempre pelo apoio, amor incondicional.
A minhas amigas Cynara Tessoni Bono, Rosângela Muniz, Elisângela
Dantas da Luz, Célia Olivi, Claudia Cariaga e Marli Ferreira pelo incentivo e por
torcerem pelos resultados, pessoas especiais para mim. Em especial aos
descendentes das famílias pioneiras que através dos seus relatos orais, muito
contribuíram para esse sonho se realizasse; Adélio Lemes de Oliveira, Anair
Nantes Muniz (in memoriam), Edalga Moreira, Eleta Pael Nogueira, Hiroka
Sasaki, Mara Freitas Barbosa, Sumika Sasaki, Valdomiro Barbosa (in
memoriam), Vitalina Corrêa Camargo, Zizi Nantes Muniz (in memoriam).
Enfim, aos Professores Doutores do curso, a toda equipe da secretária,
a todos que de uma forma ou de outra contribuíram direta ou indiretamente
para o meu crescimento interior até aqui. Momentos como esses são
edificantes na vida.
Amigos para sempre é o que nós iremos ser. Na primavera ou em
qualquer das estações. Nas horas tristes nos momentos de prazer amigos para
sempre...
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“O passado não volta. Importantes são a continuidade e o perfeito
conhecimento de sua história”.
Lina Bo Bardi
7
Sumário
1. Resumo Geral .......................................................................................... 8
2. General Summary .................................................................................... 9
3. Introdução Geral ................................................................................... 10
4. Revisão de Literatura ............................................................................. 14
4.1 Mato Grosso do Sul - primórdios
.....................................
........................................................ 14
4.1.1. Guerra do Paraguai ......................................................................... 17
4.1.2. Companhia MatteLarangeira .......................................................... 20
4.1.3. Mato Grosso do Sul – história recente ............................................. 24
4.2. Processo histórico de Rio Brilhante .................................................... 26
4.3. Desenvolvimento Regional ................................................................. 31
4.3.1. Erva-mate ........................................................................................ 31
4.3.2. Pecuária – a formação das fazendas de gado ................................ 33
4.3.3. Extração da madeira e o ambiente na região ................................ 35
0 4.4. Estilos arquitetônicos da época .......................................................... 37
4.4.1. Estilo Normando ............................................................................. 40
4.4.2. Estilo
Neogótico
............................................................................... 41
4.4.3. Estilo Eclético ................................................................................. 42
4.4.4. Estilo Neocolonial ........................................................................... 42
4.4.5. Art Nouveau .................................................................................... 44
4.4.6. Art Déco .......................................................................................... 45
5. Referências Bibliográficas ....................................................................
.
47
6. Artigos ................................................................................................... 53
Artigo I - Produção arquitetônica na zona rural da cidade de Rio Brilhante,
........................................................................................................
Mato Grosso do Sul: 1830 a 1950 ............................................................. 53
Resumo ..................................................................................................... 53
Abstract ....................................................................................................... 54
Introdução ................................................................................................... 54
Material e Métodos .................................................................................... 56
Resultados e Discussão ............................................................................. 59
Conclusão ................................................................................................... 87
Referências Bibliográficas ......................................................................... 89
Artigo II - Produção arquitetônica na zona urbana do Município de Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul: 1900 a 1960 .............................................. 92
Resumo ..................................................................................................... 92
Abstract ....................................................................................................... 92
Introdução ................................................................................................... 93
Material e Métodos .................................................................................... 96
Resultados e Discussão ...........................................................................
.
98
Conclusão ................................................................................................. 159
Referências Bibliográficas .......................................................................
..
160
7. Conclusão Geral ................................................................................. 164
Anexo I - Glossário da linguagem
arquitetônica
.......................................................... 167
8
1. Resumo Geral
Entre os primeiros povoadores da fronteira sul do então Estado de Mato
Grosso, região denominada pelos desbravadores como Campos do Erê, depois
Campos de Vacaria e atualmente Rio Brilhante, estavam os mineiros. Por volta
de 1836, se fixaram em grandes propriedades rurais e nestes locais
inicialmente desenvolveram a atividade pecuária e agricultura de subsistência.
Posteriormente, a exploração da madeira e extração da erva-mate. O município
povoou-se lentamente e mesmo sem ser o centro da economia empresarial na
região, aos poucos se foi urbanizando, o que resultou na construção de
relevantes edificações, como residências e casas comerciais, cuja arquitetura
expressou o poder vigente desses proprietários rurais e urbanos. Como
objetivo deste trabalho, analisou-se o processo histórico de uso e ocupação do
município, levando-se em consideração a economia e seu reflexo na
arquitetura da região, com construções do final do século XIX e no início do
século XX (1830 a 1960). A obtenção dos dados deu-se através de visitas à
Prefeitura, Biblioteca Municipal e ao Instituto Brasileiro e Geográfico de Mato
Grosso do Sul, historiografia regional, literatura de memórias e de relatos orais.
Também foram realizadas visitas a campo, onde, por meio da geofotografia e
técnicas de geoprocessamento, fez-se o mapeamento e o registro fotográfico
das edificações analisadas, levando-se em consideração seus aspectos
históricos e arquitetônicos, dentro da linha que lança um olhar sobre a
sociedade, o ambiente e o desenvolvimento regional. A análise das imagens,
materiais construtivos, histórias e períodos indicaram a combinação de um ou
mais ornamentos bem definidos em sua volumetria, caracterizando estilos
arquitetônicos. Registrou-se um total de 59 construções, sendo treze fazendas
com suas residências em madeira e alvenaria, seus cemitérios, igrejas e
instalações rurais. Na zona urbana, 46 edificações, sendo que 21 ainda
resistem ao tempo; 25 já foram demolidas, como casas comerciais,
residências, coreto, convento, escola, dentre outras. A importância dessa
pesquisa histórica para o município e o Estado de Mato Grosso do Sul se faz
porque pode nortear futuras pesquisas e projetos que fornecerão novos
desdobramentos, ampliando o conhecimento sobre a região.
Palavras-Chave: Ambiente, Desenvolvimento Regional, Erva-Mate, Patrimônio
Arquitetônico, Pecuária.
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2. General Summary
People from Minas Gerais were among the first inhabitants of the southern
frontier of the then state of Mato Grosso, in the region named Campos do Erê
by its explorers, then Campos de Vacaria and currently Rio Brilhante. Around
1836, they settled in big rural properties and in these places they initially
developed cattle raising and subsistence agriculture. Posteriorly, they
developed logging and Yerba mate extraction. The town was slowly populated
and even without being the center of business economy of the region it was
gradually urbanized, which resulted in the construction of relevant buildings,
such as residences and commercial houses, whose architecture expressed the
existing power of these urban owners and landowners. As an objective of this
work, the historical process of use and occupation of the town was analyzed,
considering the economy and its reflection in the architecture of the region
observed in the late 19th century and early 20th century constructions (1830 to
1960). The data collect was done through visits to the City Hall, the Municipal
Library, and the Historical and Geographical Institute of Mato Grosso do Sul,
and by reading regional historiography and literature on memories and oral
accounts. Work field was also done and the mapping was done through
geophotography and geoprocessing technics and the buildings photographical
registers were analyzed, considering their historical and architecture aspects,
within the current of thought that looks to society, environment and regional
development. The analysis of images, building materials, histories and
construction periods point toward the combination of one or more well defined
ornaments on their volumetry, characterizing architectonic styles. 59 buildings
were registered and among them there are thirteen farms with their wood and
masonry residences, cemeteries, churches and rural facilities. In the urban
zone, 46 buildings were registered and among them there are 21 that still
withstand time; and 25 that were already demolished, such as commercial
houses, residences, bandstand, convent, school, among others. This historical
research is important to the town and to the state of Mato Grosso do Sul
because it can guide future researches and projects that can provide new
discoveries, increasing the knoweldge of the region.
Key-words: Environment; regional development; Yerba mate; architectonic
heritage; cattle raising
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3. Introdução Geral
De acordo com MAGALHÃES (2012), a rota percorrida pelas famílias
que vieram povoar inicialmente o nordeste do que hoje é o Estado de Mato
Grosso do Sul, tem suas raízes em vilas do interior mineiro (Piuhmi e Lavras) e
paulista (Franca). A década era 1830, quando as primeiras famílias oriundas de
Minas Gerais, como os Garcia Leal, Lopes, Souza e Barbosa, edificaram seus
primeiros barracos de pau-a-pique cobertos por folhas de pindó, e começam
então o primeiro povoado, chamado de Sant‟Anna do Paranahyba.
De acordo com FACHOLLI e DOERZBACHER (1991), a colonização
começou com a chegada do mineiro Antônio Gonçalves Barbosa, que ocorreu
em 1836, com uma comitiva de aproximadamente 58 pessoas, incluindo seus
familiares. Viajando em batelões, a comitiva alcançou o rio Igaray (Ivinhema),
encontrando os índios Caiuás, pacíficos e serviçais. Acampou em um prado
onde surgiram vacas de propriedade dos índios Guaicurus, uma tribo guerreira.
Ainda segundo as autoras acima citadas, dada à surpresa, Antônio
Gonçalves Barbosa exclamou: “Que Vacaria!”. E daí a origem do nome
“Campos de Vacaria”, hoje o município de Rio Brilhante. Ao encontrarem terra
roxa e matas de grande porte, sinal da fertilidade do solo, fixou morada e
batizou o lugar de “Boa Vista”, sendo esta uma das primeiras fazendas da
região.
Em 1842, Inácio Gonçalves Barbosa, viaja ao encontro do irmão Antônio
Gonçalves Barbosa, com uma comitiva de 60 pessoas, dentre elas dois irmãos,
cunhado e uma irmã. Combinado entre os dois irmãos de não se afastarem
muito uns dos outros, Inácio encontrou um local distante três quilômetros, com
a presença de barro preto, onde puderam fabricar telhas, adobe ou tijolo cru e
ali construíram sua casa (FACHOLLI e DOERZBACHER, 1991).
Os mesmos autores escrevem que o local era um ribeirão brejoso,
ladeado de matas de madeira de lei. Após inúmeras tentativas para atravessá-
lo, não conseguiram realizar seu intento, batizando o lugar de “Passatempo”.
Desta maneira surgiu uma das grandes fazendas dos “Barbosas”.
Porém, em algumas áreas da região, principalmente no sudoeste, em
áreas do sul do Pantanal, uma planície de inundação, de acordo com
CAMPESTRINI (2009), já existia fazendeiros estabelecidos, sendo estes de
origem portuguesa, fugindo em sua maioria da Revolta Nativista de 1834,
11
conhecida como Rusga – movimento de hostilidade aos portugueses –, que
ocorreu em Cuiabá. Este movimento levou diversos comerciantes a fugirem da
cidade e alguns se estabeleceram nesta região, que ainda continuava pouco
povoada.
De acordo com FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991), o ano de 1900,
na região dos Campos de Vacaria, é marcado pela chegada de Francisco
Cardoso Junior, oriundo de São Roque - MG, onde hoje é o município de Rio
Brilhante, erguendo um cruzeiro e marcando assim, o nascimento de um
povoado. Nessa época, os habitantes da região encontravam-se ainda fixados
nas fazendas e na localidade da Aroeira, hoje distrito de Prudêncio Thomaz,
pois a cidade de Rio Brilhante ainda não existia. Após sua instalação, se casou
com a sobrinha de José Francisco Lopes, mais conhecido por “Guia Lopes da
Laguna”, o qual era casado com Maria da Conceição Barbosa de Lopes, vulgo
Senhorinha, filha de Antônio Gonçalves Barbosa.
Este distrito, Aroeira, conforme afirmam FACHOLLI e DOERZBACHER
(1991), tornou-se uma área “aposseada” por ocupação primária por Antônio
Gonçalves Barbosa, em 1838. Esta região foi denominada em seus primórdios
de fazenda “Aroeira”, em virtude de seus campos e grandes matas de aroeiras,
uma árvore típica da região.
Ainda, segundo as autoras, alguns fazendeiros doaram posses de terras
para a concretização da sede. A partir daí, delineou-se, então, a primeira planta
da cidade que passou a denominar-se de “Entre Rios”, por estar situada entre
os rios Vacaria e Brilhante. Segundo relatos orais de descendentes de
pioneiros, com a chegada de Marechal Cândido Rondon, com seus
equipamentos topográficos, locou-se os quatro cantos da praça central,
surgindo assim, o traçado da malha urbana em tabuleiro xadrez. Segundo
ROSSI (2001), as cidades criadas pelos europeus possuem influência de
certas tipologias urbanas, trazidas ao Brasil pelos portugueses.
Corroborando com FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991), em 26 de
setembro de 1929, aconteceu a elevação de “Entre Rios” a Município,
tornando-se independente administrativamente a partir desta data, mas
pertencendo a Comarca de Campo Grande. Já em 1943, Entre Rios, foi
elevada a Comarca e recebe o nome de “Caiuás”, em consideração a tribo
indígena, habitante primitiva da região e, em 30 de setembro de 1948,
12
novamente, há a alteração para Rio Brilhante, em homenagem ao importante
rio da região. Nesta época, a região já se destacava pelas grandes fazendas e
seus rebanhos bovinos.
SODRÉ (1941) afirma que na segunda metade do século XIX, o regime
pastoril do Oeste devia apoiar-se em populações oriundas de três procedências
diversas – o mineiro, o gaúcho e o paraguaio, incluindo o indígena na
denominação paraguaio.
Como resultado das diferentes correntes migratórias e do acúmulo de
capital, ocorreu uma produção arquitetônica com diferentes inspirações
estilísticas, articuladas com as atividades econômicas ali desenvolvidas. De
acordo com GLANCEY (2001), a arquitetura é a ciência e a arte de construir,
passando pelas catedrais góticas, até os arranha-céus do século XX, uma arte
em contínua evolução, resultado de diferentes características.
No Estado de Mato Grosso do Sul já existem algumas publicações, tais
como ARRUDA (1999), MARQUES (2001), MAGALHÃES (2012) e LIMA
(2013), registrando as primeiras pesquisas que contribuem para o resgate do
patrimônio arquitetônico sul-mato-grossense, indicando os modelos
representativos da produção construtiva e seus períodos, que ainda podem ser
contemplados em alguns municípios da região.
Portanto a análise e a importância dessas edificações identificadas in
loco, na zona rural e urbana do município, resultado da ocupação pioneira,
através da exploração dos recursos naturais, como a extração da madeira, a
pecuária e a coleta dos ervais nativos na região, assim como a influência da
Guerra da Tríplice Aliança, propiciou uma arquitetura característica para a
região.
Desta maneira, objetivou-se analisar o processo histórico de uso e
ocupação do município, levando-se em consideração a economia e seu reflexo
na arquitetura da região, com construções do final do século XIX e no início do
século XX (1830 a 1960). As edificações de maior relevância na zona rural e
urbana foram identificadas e correlacionadas a história do município, através
de relatos orais dos descendentes de pioneiros, obtendo assim informações
sobre suas origens, identificando seus estilos arquitetônicos, de acordo com
suas datas de construção, registro fotográfico, ornamentos e materiais
construtivos.
13
Desta maneira, objetiva-se contribuir através desta pesquisa com o
conhecimento do patrimônio arquitetônico da região, indicando os modelos
representativos da produção construtiva e seus períodos, onde alguns ainda
podem ser contemplados na zona rural e urbana do município. Além disto,
espera-se nortear futuras pesquisas e projetos que poderão fornecer novos
desdobramentos que ampliarão o universo do conhecimento sobre o
desenvolvimento dessa região sul mato-grossense.
14
4. Revisão de Literatura
4.1. Mato Grosso do Sul – primórdios
De acordo com CAMPESTRINI e GUIMARÃES (1995), o território do
atual Estado de Mato Grosso do Sul, conforme o Tratado de Tordesilhas
pertencia à Espanha e sua exploração foi feita por expedições de aventureiros
e pela atuação dos jesuítas. Através do curso dos Rios Paraguai e Paraná
chegam os espanhóis, precedentes do estuário do Rio da Prata, à procura de
jazidas minerais; e os bandeirantes, descendo o Rio Tietê, subindo o Rio
Grande e rumando pelos Rios Sucuri, Pardo, Verde ou Ivinhema, em busca de
ouro.
Segundo BARBOSA (2011), dentre os muitos exploradores se destacam
Aleixo Garcia, bandeirante, grande navegador, que percorreu todo o Oeste da
América do Sul e também expedições de Ayalas, Cabeza de Vaca, Irala e Nuflo
Chaves, que por aqui passaram atrás de ouro, cobiçados pelos portugueses.
Os caminhos utilizados eram os rios, facilitando o deslocamento, nas
chamadas Monções, que começavam pelo Rio Tietê, partindo de Porto Feliz
em batelões, um tipo de embarcação, descendo até o Rio Paraná e depois, o
rio Guaíra, por onde encontraram índios já catequizados pelos Jesuítas
espanhóis.
Conforme CORRÊA (2012, p.18), em 1719, Pascoal Moreira Cabral,
encontrando ouro às margens do Rio Coxipó, fundou o arraial de Cuiabá, o que
atraiu grande número de paulistas e muitos outros colonos portugueses para
esses sertões remotos, o chamado ciclo do ouro de Cuiabá.
Desta maneira, provocam o deslocamento da população para novas
áreas, resultando na criação de novos núcleos de povoação, o que fez com
que o crescimento da região norte do antigo Mato Grosso fosse mais rápido
(CORRÊA, 2012), enquanto a parte sul continuava ainda pouco povoada. De
acordo com o mesmo autor, ergue-se uma pequena capela em Cuiabá,
construída em Forquilha, no segundo arraial dos primeiros bandeirantes, na
margem direita do Rio Coxipó, dedicada à Nossa Senhora da Penha de
França, onde foi celebrado, em 1721, pelo padre Jerônimo Botelho, a primeira
missa em Mato Grosso.
Em 1748, é criada a Capitania de Mato Grosso, desmembrada da
capitania de São Paulo, cujo capitão – general foi D. Antônio Rolim de Moura
15
Tavares. Em 1752, a Vila Bela da Santíssima Trindade foi fundada às margens
do rio Guaporé e tornou-se a sede da capitania, incorporada ao Brasil, pelo
Tratado de Madri, em 1750 (CORRÊA, 2012).
O Tratado de Madri contribuiu para que os portugueses construíssem
edificações em terras do sul da Capitania de Mato Grosso. Para isso, criaram,
em 1775, o Forte de Coimbra, localizado no atual município de Corumbá. Em
1778, construíram o Presídio Nossa Senhora do Carmo do rio Mondego, que
deu origem, em 1857, à cidade de Miranda. Além do Forte e do Presídio, houve
dois povoados chamados Albuquerque: um fundado em 1778, dando origem a
cidade de Corumbá, em 1850; o outro – Paranaíba – constituído por migrantes
mineiros que, a partir de 1829 foram para o extremo leste da Província,
fronteira de Minas Gerais, criar gado, originando à cidade de Paranaíba 1857
(SILVA, 2011).
Figura 1. Sul da Província de Mato Grosso (1593-1862). Fonte: SILVA (2011).
16
É importante destacar que a origem das primeiras fazendas de gado
remonta aos anos 30 do século 19, quando se registraram os primeiros
movimentos de fazendeiros do norte da Província de Mato Grosso para o sul
da Província. Segundo CAMPESTRINI (2009, p. 16), esses fazendeiros, de
origem portuguesa estavam fugindo da Revolta Nativista de 1834, conhecida
como Rusga (movimento de hostilidade aos portugueses) e se estabeleceram
na região sul do Pantanal, principalmente.
CAMPESTRINI e GUIMARÃES (1995) escrevem que a busca pelo ouro,
em 1719, antes mesmo do Tratado de Madri, levou monçoneiros (bandeirantes
que seguiam a rota das monções, descendo os rios em direção ao oeste na
estação mais seca e retornando quando o nível dos rios estava mais alto) a
criarem a Fazenda Camapuã – estratégico ponto de parada, próxima aos
afluentes dos rios Parado e Coxim, sul da antiga Província de Mato Grosso.
Apenas na década de 1830 começou de fato o povoamento das terras que hoje
constituem o Estado de Mato Grosso do Sul, com a criação de fazendas da
região, tais como a Vacaria, em 1839, no município de Rio Brilhante (Figura 2).
Figura 2. Localização dos primeiros núcleos de povoamento no Sul de Mato
Grosso do Sul. Fonte: CAMPESTRINI e GUIMARÃES (1995).
No mesmo período, de acordo com FACHOLLI e DOERZBACHER
(1991), chega à região o mineiro Antônio Gonçalves Barbosa em 1836, com
uma comitiva de aproximadamente 58 pessoas, incluindo seus familiares. Sua
17
viagem começou a partir de Franca (São Paulo), com destino ao Sul do Mato
Grosso; após construírem os batelões, lançaram-se pelo rio Grande e Tietê,
pois estas eram as vias mais fáceis para a navegação com destino ao interior
da região Centro-Oeste, chegando ao rio Paraná, posteriormente, ao porto de
Guaíra e deste ao Igaray, hoje rio Ivinhema. Então, entra no rio Vacaria, onde
num prado avistaram vacas de propriedades dos índios Guaicurus.
MAGALHÃES (2012) também destaca que parte das famílias que vieram
povoar o Estado de Mato Grosso do Sul, tendo suas raízes em vilas do interior
mineiro (Piuhmi e Lavras) e paulista (Franca), de onde sucederam suas
migrações; a princípio moravam em ranchos cobertos com capim, enquanto
cuidavam da criação e praticavam uma agricultura de subsistência.
De acordo com o AYALA e SIMON (2006), a economia da época era
ainda incipiente, principalmente, baseada na pecuária e agricultura de
subsistência e posteriormente, na extração da erva-mate e madeira. Após a
Guerra do Paraguai, a região começou a experimentar um novo período de
crescimento econômico, com a exploração intensiva da erva-mate.
4.1.1. Guerra do Paraguai
Os conflitos que deram origem à Guerra do Paraguai iniciaram-se bem
distantes das terras do atual Mato Grosso do Sul, por envolver questões como
da formação dos novos Estados independentes e da necessidade de saída
pelo mar por parte do Paraguai. Este motivo já havia levado o Brasil a defender
suas possessões diante da Argentina e que resultou na formação do Uruguai,
como um país independente (MOTA, 1995).
O mesmo autor escreve que é correto citar diversos fatores que levaram
a ocorrência deste evento, o mais sangrento das disputas entre países na
América Latina de todos os tempos. Destaca-se, primeiramente, a posição do
Paraguai desde o governo do presidente Doutor Francia (1814-1840), que
promoveu o isolamento do país, tanto para a imigração como para a
emigração, visando a sua auto-suficiência, a qual teria como base a agricultura
e indústria.
MOTA (1995), também cita que os governantes que o sucederam,
Carlos Antônio López (1840-1862) e seu filho, Francisco Solano López (1862-
1870), ao contrário, promoveram a abertura do país ao comércio exterior,
18
favorecendo a entrada de imigrantes europeus e, principalmente, de técnicos
estrangeiros. Porém, existia um propósito bem claro, que era conseguir um
caminho para o mar, que a nação não possuía.
No entanto, este propósito gerou disputas, quando o governante da
Argentina, Juan Manuel Rosas impôs um bloqueio econômico ao país vizinho,
limitando a abertura do Paraguai em sua integração ao comércio mundial. Esta
situação levou o presidente à organização de exército, bem estruturado e
preparado por oficiais alemães, equipado com armamentos europeus. Isto
ocorreu porque para os paraguaios, as nações vizinhas eram os responsáveis
por uma possível estagnação do país, devido ao fato de não terem uma saída
para o mar (MOTA, 1995).
O Brasil, segundo BETHELL (1995) e MOTA (1995), por ter um tratado
com a Inglaterra e relações comerciais muito ligadas ao império inglês, era
praticamente um autêntico protetorado desta nação, cliente fixo dos seus
produtos. Por isso, o Brasil muitas vezes atuava em defesa dos interesses da
Inglaterra, agindo para obter a abertura do comércio do Paraguai aos
interesses ingleses. Esta situação levou a uma série de desavenças,
propiciando o caminho para a guerra.
O Brasil, ainda por essa época, estava promovendo a ocupação de
terras além-fronteiras, o que continuamente levava as nações vizinhas a
expulsarem brasileiros de suas terras. Ao mesmo tempo, o Paraguai tentava
estabelecer uma coligação com o Uruguai e com as províncias de Corrientes e
Entre Rios, na Argentina. Para MOTA (1995), o governo uruguaio de Atanásio
Aguirre (1804-1875), do partido blanco, era hostil ao governo brasileiro, por não
defender os brasileiros residentes no Uruguai, causando a estes prejuízos e
perda de seus bens. Posteriormente, este governo foi derrubado.
Devido a este fato, Brasil e Argentina promovem um fortalecimento de
tropas na fronteira entre os três países, o que leva Francisco Solano López a
qualificar esta ação como "atentatória ao equilíbrio dos Estados do Prata, que
interessa à República do Paraguai como garantia de sua segurança, paz e
prosperidade". Como retaliação, Solano Lopes mandou aprisionar no porto de
Assunção o navio brasileiro Marquês de Olinda, dando início propriamente dito
à guerra. Esta situação levou ao Tratado da Tríplice Aliança, assinado por
19
Brasil, Argentina e Uruguai, em que os três países se comprometiam a
defenderem seus territórios contra o Paraguai (MOTA, 1995; CORRÊA, 2012).
Para o Brasil, a região que fazia fronteira com o Paraguai, atual Estado
de Mato Grosso do Sul, não tinha grande valor econômico, devido a sua
distância do centro urbano principal do país, que era a capital do país, Rio de
Janeiro (ESSELIN et al., 2012). Esta situação é verificada através da
concentração de tropas, que inicialmente estavam localizadas na região do Rio
Grande do Sul.
Com o desenvolvimento da guerra, o sul do então Estado de Mato
Grosso, invadido pelo Paraguai, apresentou o maior prejuízo econômico.
Conforme CORRÊA (2012) e ESSELIN et al. (2012), no decorrer da invasão
paraguaia de 1864-1870, foram afetadas cidades como Coimbra, Corumbá,
Miranda, Aquidauana, Nioaque, Dourados e Coxim, levando a desorganização
das vilas e fazendas de criação de gado, saqueadas pelos paraguaios que se
serviam dos rebanhos para o abastecimento de suas tropas.
Após, o final da guerra, grandes extensões de terra estavam
desabitadas, com vilas e sedes de fazendas destruídas e seus habitantes,
mortos ou deslocados para outras regiões. Somente aos poucos é que estes
locais foram se recuperando, por volta de 1870, mesmo com muitas
dificuldades materiais e humanas (CORRÊA, 2012).
Como destacado em OLIVEIRA (2005), após a guerra, a recuperação
das terras e de outros bens perdidos com o conflito caracterizou-se pela
dificuldade de comprovar as posses, o que já era problemático, mesmo antes
da invasão dos paraguaios. Esta situação piorou com a destruição das vilas na
fronteira e por consequência de suas precárias repartições jurídico-
administrativas (arquivos dos juizados, cartórios, agências fiscais, etc.).
É diante deste espaço de misérias e privações que como destacado em
CAMPESTRINI e GUIMARAES (1995), surge um novo processo de ocupação
das terras do sul de Mato Grosso, com a formação da Companhia Matte
Laranjeira, a qual teve início no período Pós-Guerra do Paraguai (1865-1870),
quando o governo imperial resolveu demarcar definitivamente as fronteiras com
a República Paraguaia. Desta maneira, no pós-guerra se destaca a exploração
comercial, em grande escala, da erva-mate nativa do sul do Estado.
20
Para ALVES (1984), o proprietário da nova companhia, Thomas
Laranjeira, por ter atuado como fornecedor durante a comissão demarcadora
de limites após a guerra obteve grande influência diante do governo imperial
brasileiro. Desta maneira, tendo percebido o potencial de exploração da erva-
mate existente na região, obteve do governo o direito de exploração dos ervais
nativos da região de fronteira, com a concessão de 5.000.000 de hectares de
terras.
Ainda, de acordo com ALVES (1984), a Companhia Matte Laranjeira
favoreceu a abertura das navegações fluviais, para o comércio da erva, além
de contribuir para que o Estado de Mato Grosso obtivesse certa hegemonia
econômica, resultando no desenvolvimento de cidades como Cuiabá e
Corumbá. Posteriormente, também assumiu novas funções, como
monopolizadora da importação e exportação de mercadorias e a compra de
produtos locais, exercendo o papel dos bancos, inexistentes na região e
tornando-se representante do capital financeiro. Era a companhia considerada
um Estado dentro do Estado.
Ainda corroborando com ALVES (1984), Corumbá dinamizava as casas
comerciais que faziam a ligação com o comércio exterior. Esse novo comércio
passa a intervir em todos os setores da economia. No princípio da exploração
da erva-mate, era a casa comercial que fazia a intermediação entre os
mercados; porém, logo monopolizou também setores como o da exploração da
borracha e a criação extensiva de gado, obtendo, para tanto, a concessão de
vastas extensões de terra.
Enfim, a Guerra do Paraguai, segundo FLORESTAN (1981), favoreceu a
dominação imperialista da região, pois além da Companhia Matte Laranjeira,
como destacado por HOFF (1997), outras grandes empresas, como a Fazenda
Britânia da Companhia Maderas del Alto Paraná, a de Allica, no porto Arteza e
a Domingos Barthe, Nuñes y Gibaja se estabeleceram e se transformaram em
verdadeiros impérios estrangeiros em solo brasileiro.
4.1.2. Companhia Matte Laranjeira
Em 1872, forma-se uma comissão encarregada de demarcar os limites
entre Brasil e Paraguai. Destaca-se então o nome do gaúcho Thomaz
Laranjeira, estabelecido como comerciante e fornecedor de suprimentos ao
21
exército imperial durante a guerra da Tríplice Aliança e natural de Santa
Catarina, porém, oriundo de Santa Maria, Rio Grande do Sul (SEREJO, 1986).
Para ARRUDA (1986), a abertura à “livre navegação” do Rio Paraguai e
a demarcação da fronteira, com a participação direta de Thomaz Laranjeira na
comissão de demarcação, contribuíram para o surgimento do ciclo da erva-
mate em Mato Grosso.
Aproveitando-se de seus contatos políticos, Thomaz solicita a concessão
da exploração dos ervais nativos na província e recebe da corte permissão
para explorar a erva-mate nos terrenos devolutos situados nos limites da
província de Mato Grosso do Sul com o Paraguai.
GREGORY (2011) escreve que 1882 por meio do Decreto Imperial n.
8799/1872, Thomaz Laranjeira, obteve o privilégio de exploração de ervais
nativos nos terrenos devolutos da fronteira até a cabeceira do rio Iguatemi, por
um período de dez anos, “nos hervaes existentes nos limites da província de
Mato Grosso com a República do Paraguay, no perímetro compreendido pelos
morros do Rincão de Julho e as cabeceiras do Iguatemy, ou entre os rios
Amambahy e Verde, e pela linha que desses pontos for levada para o interior,
na extensão de 40 quilômetros”.
Em 1882, através do Decreto Imperial n. 81.799, foi fundada a
Companhia Matte Laranjeira, com sede na fazenda Campanário, município de
Caarapó – MS, motivo econômico pela qual se originaram ou se
desenvolveram várias cidades na região sul do Estado, tais como Caarapó,
Amambai, Porto Murtinho, Bela Vista e Ponta Porã, entre outras (SEREJO,
1986) (Figura 3).
Toda erva produzida era transportada por grandes caravanas de
carretas puxadas a boi, percorrendo 360 km de estradas ou trilhas no meio do
mato, até chegar aos portos de destino, onde era embarcada. Um grande
número de bois, carretas, carreteiros, auxiliares à margem dos caminhos e nos
pontos de descanso geravam emprego, um incentivo para quem vinha para
esses sertões.
De acordo com GREGORY (2011), o grande poder econômico da
companhia permitia que o processo de retirada da erva-mate fosse feito sem
grandes preocupações ambientais ou de sustentabilidade. De acordo com o
22
autor, um decreto de 1895 proibia “o decepamento do tronco, ou a derrubada
da árvore para colheita da herva”.
Figura 3. Sul do Estado de Mato Grosso – Região de domínio da erva-mate
(1870-1937). Fonte: SILVA (2011).
Porém, na década de 1920, por exemplo, ocorria a derrubada de árvores
inteiras ao invés do corte de galhos, para agilizar o serviço, levando a uma
rápida devastação de áreas de ervais
Segundo LIMA (2013), a fazenda Campanário, devido à proximidade
com o rio Paraná e a cidade de Porto Murtinho, pela facilidade de transporte
fluvial pelo rio Paraguai, eram centrais de armazenamento e transporte da
erva-mate levada para os países vizinhos, Paraguai, Argentina e Uruguai.
Ainda de acordo com SEREJO (1986), com o advento da República, o
contrato de concessão foi renovado pelo Estado, compreendendo a área
23
limitada pelos rios Sete Voltas, Onças, Brilhante, Ivinhema, Paraná e Serras de
Maracaju e Amambai (Figura 4).
Figura 4. Mapa das áreas de exploração da erva-mate. Fonte: SODRÉ (1941).
Para AQUINO (2000), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia
e Estatística, em 1940 a estimativa era de cerca de 10.000 gaúchos na região
de Entre Rios, crescimento populacional este devido à exploração da erva-
mate no sul do Estado, demonstrando a importância da chegada desta
população para a exploração deste recurso natural e a formação cultural desta
região.
Esta extração ervateira rendeu aos seus exploradores, um alto retorno
do capital empregado e teve uma posição privilegiada com relação aos outros
produtos, revelando seu impacto econômico para a região. ARRUDA (1986)
afirma que a exploração da erva-mate, surgiu no Estado no início da década de
1880, atingindo seu auge nos anos 1920 e declínio e estagnação por volta de
1937. Porém, deixou marcas indeléveis em todo o sul do Estado, seja na
composição da população, formação de cidades ou na arquitetura das
residências ou comércio.
24
4.1.3. Mato Grosso do Sul – história recente
De acordo com OLIVEIRA (2005), em 1895, com informações que os
campos e coxilhas do sul do Mato Grosso eram semelhantes aos da fronteira
do Rio Grande do Sul com a Argentina, os gaúchos fizeram rodar suas carretas
e cargueiros para o sul deste Estado e muitos destes vieram para as atuais
terras sul-mato-grossenses, trazendo seus costumes e tradições. A pecuária
passava a ser importante no desenvolvimento, pois, a boa qualidade dos
campos, o clima próprio e a abundância de águas traziam de toda parte o
criador de gado.
Ainda corroborando com essa ideia, o autor acima citado afirma que
nesse período, o governo brasileiro passa a investir mais no incremento do
povoamento, na geração de alternativas econômicas e na agilização da
comunicação com a região de fronteira. Para isso, deu início a pesados
investimentos voltados para a construção de vias de acesso, desenvolvimento
da navegação fluvial e implantação de comunicação telegráfica.
Porém, a região continuava isolada e por este motivo, foi criada a
Comissão Construtora de Linhas Telegráficas de Mato Grosso (1900-1930),
comandadas pelo marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Em 1901 já
tinham sido implantados trechos no território do atual Mato Grosso, do norte de
Rondonópolis; após, Rondon fez descer a linha telegráfica para o sul, no rumo
de Coxim, inaugurando a estação de Itiquira. Só mais tarde a linha telegráfica
atingiu Ponta Porã, Dourados e Campo Grande (CAMPESTRINI e
GUIMARÃES, 1995) (Figura 5).
Esta Comissão foi responsável por estender a linha ao longo da fronteira
com o Paraguai e a Bolívia e mais ao norte, além de construir estradas e
pontes ligando as estações. Idealizada e conduzida por oficiais do exército, a
Comissão representava uma estratégia militar, política, científica e tecnológica
para a conquista dos sertões. Em território sul-mato-grossense, a atuação da
Comissão se deu entre 1904-1927 (MACIEL, 1999).
Outro fator importante para a ocupação e desenvolvimento do Estado,
foi em 1904 a instalação da CIA. Estrada de Ferro Noroeste do Brasil
(atualmente em grande parte desativada), para implantar e explorar a ferrovia
Uberaba/Coxim; desta maneira, novas levas de migrantes vieram a se
estabelecer na região.
25
Figura 5. Mapa das linhas telegráficas no sul de Mato Grosso - 1901. Fonte:
GUIMARÃES (1999).
O sul de Mato Grosso, no início do ano de 1920, crescia pelo esforço e
com os recursos de seus habitantes, ainda abandonado pelo poder estadual.
Com isto, aumentava o movimento separatista, falando-se já em divisão
territorial. Em vista disso, o presidente do Estado de Mato Grosso resolveu
visitar o sul (CAMPESTRINI e GUIMARÃES, 1995).
Da viagem, fez minucioso relatório, apresentando, no ano seguinte, à
Assembleia Legislativa. Nas considerações finais, ponderava que:
“[...] nem só a indústria pecuária que se presta aquela zona
(o sul), pois quase toda ela, na parte por mim viajada,
compõe-se de terra roxa, dessa terra que tem feito a
opulência do Estado de São Paulo, e que poderá ser fácil e
vantajosamente cultivada pelos processos modernos”
(OLIVEIRA, 2005, p.30).
Em 1930, devido ao intenso movimento na estação ferroviária de Campo
Grande, decorrente principalmente da exportação do gado, madeira e outros
26
produtos, além da importação de bens industrializados, o que contribuiu para
que a arrecadação tributária superasse em 28% a de Mato Grosso, a cidade é
considerada, também, a capital econômica do Estado (OLIVEIRA, 2005).
Em 1943, foi criada a Colônia Agrícola Federal pelo Governo Vargas,
fundamental para o desenvolvimento do Estado, instalada na região das
grandes matas de Dourados. Da colônia faziam parte cidades projetadas para
serem ocupadas por colonos: Vila Brasil (hoje Fátima do Sul), Vila Vargas e
Vila Glória (hoje Glória de Dourados) (CAMPESTRINI e GUIMARÃES, 1995).
Ambas as colônias, bem como as cidades de Dourados e de Rio
Brilhante, na época, estavam como ilhadas porque não havia estradas de
rodagem que as ligasse à ferrovia, tornando-se, assim, difícil o escoamento da
produção dessa região. Nesse mesmo período, foi criado o Território Federal
de Ponta Porã, durante a segunda república (OLIVEIRA, 2005), com a
finalidade de facilitar a colonização da fronteira. Porém, o território não teve
vida longa, sendo posteriormente incorporado ao Estado de Mato Grosso em
1945.
Ainda citando o autor, após a deposição de Vargas, com a ascensão de
Eurico Gaspar Dutra, em 1946, os sul-mato-grossenses tentam a transferência
da capital (Cuiabá) para Campo Grande, haja vista a prosperidade da mesma
em relação à Cuiabá. Porém não atingem seus objetivos.
As tentativas de colonização da região produziram, finalmente, efeito em
relação ao crescimento de cidades na área. Entre 1945 a 1964, a região
apresentou um aumento no número de municípios, quando foram criados mais
35, originando uma configuração geográfica próxima da atual, resultado de um
desenvolvimento econômico lento e tardio, por conta do tipo de ocupação
anterior, baseada principalmente, na pecuária extensiva e extração de erva-
mate, tipo de atividade econômica que não demandava grandes municípios ou
cidades.
4.2. Processo histórico de Rio Brilhante
As cidades vão sendo formadas em torno das estradas e feiras, de
acordo com momento econômico de cada época, tendo quase sempre como
base o comércio. Com a cidade de Rio Brilhante, não foi diferente, pois a
27
exploração das terras do atual Estado de Mato Grosso do Sul resultou no
agrupamento de pessoas, que originaram a cidade atual.
Este processo de formação de núcleos urbanos na região é antigo, com
FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991) registrando em 1593 a passagem dos
espanhóis pela região dos Campos de Erê (posteriormente Vacaria). Nos anos
de 1628, a bandeira de Antônio Raposo Tavares, entrando pelo rio Igaray (hoje
Ivinhema), chega aos campos e rios locais, atingindo até o planalto da Serra
que recebeu posteriormente o nome de Maracaju (Figura 6).
Figura 6. Mapa da Região de Vacaria, dos campos denominados de Garahy
(Ivinhema) e rotas de acesso. Fonte: AYALA e SIMON (2006).
Por meio do relato de BARBOSA (2011), sabe-se que os irmãos Antônio
Gonçalves Barbosa (furriel e guarda do ouro da Coroa) e Inácio Gonçalves
Barbosa, nascidos em Sabará (MG), cujos pais eram Francisco Apolinário
Gonçalves Barbosa – português de origem, comerciante, que trocava tecidos
por ouro e levava em lombo de burros ao Rio de Janeiro e Margarida Teveja
Brunzwick – alemã de origem, se mudaram para os Campos de Vacaria na
década de 1830. Para CAMPESTRINI et al. (2014), ambos já tinham ouvido
falar dos campos e aguadas, onde existia muito gado selvagem e para lá
rumaram com seus familiares, escravos e o necessário para enfrentar os
ásperos sertões desconhecidos.
28
Acamparam num prado onde surgiram vacas de propriedades dos índios
Guaicurus. Dada à surpresa, Antônio Gonçalves Barbosa exclamou: “Que
Vacaria!”. É daí a origem do nome Campos de Vacaria, hoje o município de Rio
Brilhante. Por outro lado, o nome Campos de Vacaria também é correlacionado
aos jesuítas espanhóis no final do século XVI, que adentraram a região e
encontraram o gado, daí surgindo o nome (BARBOSA, 2011).
Após, este encontro com o gado solto na região, os pioneiros
visualizaram terra roxa e fértil, além de grandes áreas de mata, sendo que ali
fizeram morada, também, batizando o lugar de “Boa Vista”, sendo esta a
primeira fazenda a ser formada na região, por volta de 1839 (Figura 7).
Figura 7. Mapa com as Localizações da: (1) Fazenda Boa Vista; (2) Campos
de Santa Maria; (3) Água Fria; (4) Forquilha do Nioaque; (5) Vila Miranda; (6)
Cabeceira do Taquaruçu. Fonte: CAMPESTRINI e GUIMARÃES (1995).
Depois de vários conflitos pela posse da terra, Antônio e Inácio
conseguiram dominar os indígenas e consolidaram seu domínio sobre a região.
Segundo MAGALHÃES (2012), com a extinção da Fazenda Boa Vista, a
fazenda Passatempo, fundada logo a seguir por Ignácio, passou a ser a grande
irradiadora da família Barbosa.
29
Após o ano de 1850, amparado pelo registro de terra, conferido pela Lei
da Terra, Inácio foi à paróquia de Miranda e registrou as fazendas Passatempo,
Urumbeva e Prata. Na Fazenda Passatempo, Emilio Barbosa, descendente dos
pioneiros, relatou que em 1842, construiu-se o primeiro rancho, mangueiro, e
posteriormente, um cemitério, onde se encontram hoje sepultados os restos
mortais de sua esposa, Antônia Isabel, além de Luiza Garcia Leal, Joaquim
Barbosa Marques e Antônio Gonçalves Barbosa Marques, além de outros
descentes.
FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991) relatam que nos núcleos
urbanos as casas eram simples palhoças cobertas de palha, com iluminação
através de candeeiros, lamparinas e lampiões, alimentados com azeite ou óleo.
As ruas não tinham calçamentos e eram apenas trilhas cercadas por mato. A
água provinha de poços, fontes ou mananciais (aguadas) e parte das roupas e
alimentos, fabricados na região. Apenas determinados produtos, mais
especializados, chegavam por meio de mercadores.
BARBOSA (2011) afirma que as construções das moradias das
fazendas se localizavam onde se achava barro preto próprio para a fabricação
de adobe, um tipo de tijolo de terra crua, água e palha e algumas vezes, outras
fibras naturais, moldados em fôrmas, por processo artesanal ou semi-industrial,
para montar a definitiva morada. No local, também, se cultivavam diversas
espécies frutíferas trazidas de Minas Gerais, tais como mudas de
jabuticabeiras Sabará, coroadas e grumixamas, lima da Pérsia, laranjas de
vários tipos, marmelo e mangas, além de outras espécies.
Segundo ainda relata BARBOSA (2011) na Fazenda Passatempo, no
ano de 1844, às vésperas do padroeiro Santo Antônio, os irmãos e os demais
moradores das cinquenta léguas ao redor, se reuniram para uma festa com
banda de música do regimento sediado em Nioaque. Cerca de um milhar de
pessoas se concentrou na fazenda, se acomodando em barracões, carros de
boi e embaixo de árvores, com a realização de crismas e batizados, jogos de
prenda, touradas e cavalhadas, com duração de nove dias e realizada devido a
uma promessa feita ainda em Franca - SP.
De acordo com CAMPESTRINI e GUIMARÃES (1995), em 1878 a 1882
chegam alguns imigrantes paraguaios para trabalhar com a extração de erva-
mate, aumentando assim, a população rural já existente; posteriormente,
30
depois da revolução federalista ocorrida no sul do Brasil (1893 a 1895),
diversas famílias do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catariana, que se
dedicaram a pecuária e agricultura. O desenvolvimento econômico proporciona
o fortalecimento político de um grupo composto por grandes proprietários
rurais, que praticam a pecuária extensiva, cuja atividade econômica exige
grandes extensões de terra.
Destaca-se ainda que a sistematização da pecuária leva, também, o
fazendeiro a estabelecer laços comerciais com os moradores e proprietários
dos ervais, ou seja, ao mesmo tempo em que o fazendeiro vende seu gado, ele
é intermediário na distribuição e venda dos produtos na região.
Em relação aos meios de transportes dos pioneiros da região,
FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991) destacam que, antes da chegada das
rodovias e da estrada de ferro, o principal modo de transporte era por meio de
“batelões”, grandes barcos para transporte de carga pesada ou por canoas
curtas, de grande boca e pontal, adaptadas para os rios da região. A atividade
comercial de transporte era realizada através da “Companhia de Viação São
Paulo – Mato Grosso”, que chegava até Rio Brilhante trazendo mercadorias de
primeira necessidade.
Nessa época, a maior parte dos habitantes da região encontrava-se
fixados nas fazendas e na localidade da Aroeira, próximo ao rio Vacaria, hoje
distrito de Prudêncio Thomaz, onde criavam gado, plantavam milho e extraiam
erva-mate, sendo que o transporte eram os cavalos, carros de boi ou charretes,
além da via fluvial.
Uma das características das habitações rurais, de acordo com SODRÉ
(1941), era a pobreza em que encontravam, com casas de madeira, mesas
toscas, tamboretes de madeira com assentos de couros, com chão de terra
batida.
Segundo BARBOSA (2011), em 1896, entre o Porto Santa Rosa, atual
município de Maracaju e o Porto Barbosa, ambos localizados em afluentes do
Rio Brilhante, residia o capitão João Caetano Teixeira Muzzi, dezesseis
homens e suas famílias. Este grupo formou um núcleo populacional, com as
casas de adobe, cobertas de sapé e em torno de uma grande praça, início do
povoamento. O capitão trazia mercadorias de Concepción e as comercializava
aos fazendeiros, movimento que tornou essa região um importante ponto de
31
comércio da erva-mate. Por isso, tornou-se credor de muitos amigos, inclusive
do capitão Jango Mascarenhas e Domingos Barbosa, neto Inácio Gonçalves
Barbosa, proprietário de vastas áreas de terra e muito influente na região.
Ainda, segundo FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991), por volta de
1900, Francisco Cardoso Junior, ergueu um cruzeiro marcando, assim, o
nascimento da povoação, mais tarde chamado de Rio Brilhante. Alguns
fazendeiros doaram terras para a concretização da sede, delineando-se, assim,
a planta do povoado denominando-se de “Entre Rios”, por estar situado entre
os rios Vacaria e Brilhante.
Em 26 de setembro de 1929, torna-se independente
administrativamente, mas ainda pertencendo a comarca de Campo Grande; em
1943 foi elevada a Comarca e recebe o nome de “Caiuás”, em homenagem a
tribo indígena tupi-guarani, uma das habitantes primitivas do sul de Mato
Grosso. Em 1948, novamente altera-se a denominação de Caiuás para Rio
Brilhante, rio que separa o município de sua cidade vizinha, Douradina.
O município de Rio Brilhante ficou, então, com a posse de dois distritos,
o de Prudêncio Thomaz e o de Nova Alvorada do Sul, hoje já desmembrado e
emancipado. O distrito de Prudêncio Thomaz, situado às margens do Rio
Vacaria, ficou por muito tempo conhecido como “Aroeira”, devido às matas de
aroeiras existentes na localidade, uma árvore da família das Anacardiáceas, de
nome científico Myracrodruon urundeuva Fr. Allem., que produz madeira muito
valorizada para a construção civil e folhas, flores, frutos e casca, utilizados na
medicina popular.
4.3. Desenvolvimento Regional
4.3.1. Erva-mate
A erva-mate, uma espécie da família aquifoliácea, chamada
cientificamente de Ilex paraguariensis St. Hill, é uma planta da flora sul-
americana que possui diferentes denominações, tais como matin (linguajar
quíchua), erva-mate, chá de Paraguai, chá dos jesuítas, erva-do-diabo, yerba
santa (assim batizadas pelos uruguaios) e Ka’a (caá), em idioma guarani (IEL,
1986).
De acordo com SEREJO (1986, p. 90 a 92), Thomaz Laranjeira por volta
de 1870 residia em Concepción, Paraguai – estabelecido como comerciante.
32
Através de relatos de viajantes, foi informado que nas bacias dos rios Iguatemi
e Amambai existiam grandes ervais nativos e aproveitando seus contatos com
integrantes do governo brasileiro, requereu, então, do governo de Mato Grosso,
permissão para explorar esses ervais, fato conseguido através do decreto n°
81.799, de 09 de dezembro de 1882.
Porém, a companhia criada por Thomas Laranjeira rapidamente
monopolizou quase que integralmente a exploração da erva e, associando-se a
sociedade comercial Francisco Mendes & Companhia, para qual vendia sua
produção, com sede em Buenos Aires, pode dar início a exploração ervateira
na região, estabelecendo-se primeiramente em Concepción (IEL, 1986).
Uma das primeiras fazendas da região, a Passatempo, era rica em
ervais nativos e de acordo com MAGALHÃES (2004), ocorreu significativa
exploração desta, em grande quantidade nas matas nativas entre os rios
Vacaria e Brilhante.
Conforme CENTENO (2008), apesar da concessão de exclusividade da
Matte Laranjeira (IEL, 1986; BRASIL, 2016), que impedia que colonos ali se
estabelecessem, os gaúchos entraram na área e começaram a criar gado; a
historiografia tradicional afirma que esta migração foi consequência da
Revolução Federalista ocorrida no Sul do Brasil, levando ao “povoamento” da
região pelos “brancos”; porém, a erva-mate colhida só podia ser vendida à
Companhia.
Este modelo de ocupação levou a uma série de hostilidades entre
ambos os grupos, com os pecuaristas gaúchos que pretendiam acesso à
propriedade e, de outro, a manutenção da exclusiva da concessão, para a
Companhia. Visto que estavam sem o controle econômico da maior parte do
Estado, assumido pela Companhia, os comerciantes de Mato Grosso apoiaram
os sulinos, assim como também, o governador Generoso Ponce, a família dos
Barbosa e dos Muzzi, importantes representantes de fazendeiros do Estado
(BARBOSA, 2011).
Ainda de acordo com BARBOSA (2011), a Matte Laranjeira não queria
perder o monopólio dos ervais, mas também, os campos verdes de Dourados,
Santa Maria e Brilhante, áreas propícias a pecuária. Sendo assim, ocorrem
constantes disputas entre os dois lados, o que levava ao contrabando do mate
para Concepción, no Paraguai, onde atuavam os comerciantes da erva-mate,
33
evitando o mesmo ser entregue a Companhia. Para combater o contrabando, a
Companhia contrata então, Jango Mascarenhas, que contando com o apoio
dos jagunços da região inicia uma disputa muitas vezes sangrenta na área
(CENTENO, 2008).
Esse período demonstra a força econômica da Companhia e o embate
com os fazendeiros dos Campos da Vacaria, que eram amparados pelo
domínio da Casa Comercial Mato-Grossense, levando a disputas muitas vezes
sangrentas, durante quatro décadas (CORRÊA, 2009).
Em 1932, na Revolução Constitucionalista, foi nomeado Vespasiano
Barbosa Martins para governar Mato Grosso, então, uma área conflagrada por
disputas territoriais e muitas vezes fora do domínio da lei, com grande
quantidade de pessoas armadas fazendo valer suas próprias leis. De acordo
com CORRÊA (2009), o desarmamento dos coronéis, bandidos e da população
em geral, teve início em 1939, quando o general José Pessoa intensificou a lei
do desamamento. Nesse mesmo ano chegou ao fim a disputa pela hegemonia
econômica do Estado, entre a Casa Comercial Mato Grosso e o monopólio da
Companhia, associadas à entrada dos gaúchos.
A exploração da erva atingiu o auge nos anos 1920, com o declínio e
estagnação por volta de 1937. Esse período se tornou de fundamental
importância na formação histórica regional (IEL, 1986), com influência até os
dias atuais.
4.3.2. Pecuária – a formação das fazendas de gado
As origens das fazendas de gado no sul do antigo Mato Grosso
remontam aos anos 1780, principalmente na região de Porto Murtinho e
Cabeceira do Apa. Mas o principal movimento de colonização começou a partir
de 1800, século XIX. Segundo CAMPESTRINI (2009), parte dos fazendeiros
que se estabeleceram de origem portuguesa estava fugindo da Revolta
Nativista de 1834, conhecida como Rusga – movimento de hostilidade aos
portugueses. Também ocorreu uma migração de pecuaristas de Santana do
Paranaíba-MG, por volta de 1836. Por outro lado, mais no final desta década, a
Revolução Federalista (1893 a 1895) ocorrida no Rio Grande do Sul, levou
diversos gaúchos a aproveitaram a oportunidade para ocupar essa região,
engrossando assim a população mato-grossense de pecuaristas (Figura 8).
34
Figura 8. Rota da pecuária bovina (1780-1903) no Estado de Mato Grosso do
Sul. Fonte: SILVA (2011).
De acordo com ALVES (2004), o motivo que levou ao início da
colonização do sul do Estado por pecuaristas portugueses está relacionado ao
fato que, mesmo após a independência, o comércio brasileiro e da região de
Cuiabá era dominado pelos portugueses; sendo assim, foram perseguidos e
malvistos pela população. Por um lado, existiam “os comerciantes portugueses
que, historicamente, vinham dominando o movimento comercial da região de
Cuiabá, desde a época da mineração; de outro lado, a aglutinação dos
comerciantes nativistas”, os proprietários de terras, os artesãos e os pequenos
comerciantes. Com a independência, acirrou-se o caráter nativista, que com a
intensificação das desavenças e o fim do ciclo da mineração, levou os
comerciantes portugueses rumaram para o sul do Estado para abrir fazendas,
em áreas pouco povoadas por brancos.
CORRÊA (2006) escreve que com o fim da Guerra do Paraguai
ocorreram novas oportunidades de exploração dos recursos regionais, por ter
possibilitado a abertura da navegação do Rio Paraguai, abrindo a brecha
35
necessária aos investimentos de capital na região sul do Estado, no setor
agropecuário. Isto ocorreu devido à entrada de capital estrangeiro que adquiriu
centenas de milhões de hectares para o desenvolvimento da pecuária
extensiva.
Nesse contexto, a posse da terra na região tornou-se monopólio de um
reduzido grupo, caracterizando um processo de concentração de terra e
formação de uma elite de grandes proprietários, marginalizando, em
contrapartida, a grande maioria da população que, como alternativa de
sobrevivência, teve de vender sua própria força de trabalho (CORRÊA, 2006).
Com essa entrada de capital para a criação de gado, MAMIGONIAN
(1986) relata que a presença da pecuária bovina em todo o sul de Mato Grosso
foi caracterizada pela grande extensão territorial das fazendas, não
estimulando o desenvolvimento de uma malha de cidades. Devido à atuação
de coronéis criadores de gado, ocorrida no período de 1889 a 1943 e muitas
vezes utilizando-se de práticas criminosas, resultado de seu poder econômico,
estes tinham o domínio e influência sob os pequenos núcleos urbanos,
condicionando o desenvolvimento da região (CORRÊA, 2006).
4.3.3. Extração de madeira e o ambiente na região
FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991) afirmam que atualmente ao
longo das regiões ribeirinhas do município de Rio Brilhante, existe uma
vegetação com característica de floresta aluvial e própria de locais onde
ocorrem derrames basálticos, além da presença esparsa de erva-mate e coco
doce; em alguns locais, ainda permanecem ainda a peroba, aroeira, cedro,
jequitibá e ipês, dentre outras madeiras de lei.
Estas formações remanescentes indicam a riqueza madeireira anterior
da região. De acordo com BARBOSA (2011), a ocupação pioneira da região
dos Campos de Vacaria se deu com a prática que ocorreu em todas as regiões,
através da exploração dos recursos naturais, como a derrubada de matas para
a limpeza do terreno e queimadas para o plantio da agricultura de subsistência
e criação de gado. Essa retirada das matas no início se dava através de
utensílios tradicionais, como machados, foices e outros instrumentos,
aproveitando-se da madeira mais abundante em alguns locais, tais como a
aroeira, para a construção de residências, cercas, entre outras utilizações.
36
A derrubada das florestas e a limpeza do terreno ocorriam em um
processo rudimentar, como afirmam PÈBAYLE e KOECHLIN (1981), sendo
que inicialmente os “sem-terra” vindos do Nordeste foram os mais numerosos a
procurar refúgio nesta região isolada do sul do Estado. O isolamento inicial e as
técnicas agrícolas primitivas deste grupo jamais favoreceram a implantação
desses novos colonos, onde o fósforo e o machado abriram as “roças”
fornecedoras de víveres para a escassa população. Desta maneira, esta
população raramente se destacava, em termos de posses e riquezas.
No início da exploração, a maior parte do material lenhoso era,
simplesmente, queimada devido a sua grande quantidade e pouca demanda. O
processo de ocupação e retirada da vegetação para a agricultura foi,
posteriormente, acompanhado pela intensa exploração da madeira, utilizada
para os mais diversos fins. Este consumo aumentou com a migração dos
gaúchos no final do século XIX e a fixação dos paraguaios, após a guerra;
porém a maior parte das matas ainda continuava pouco explorada.
Corroborando com esta ideia, PÈBAYLE e KOECHLIN (1981, p. 1-2), afirmam
que:
“[...] a colonização abriu clareiras a partir de 1937. Com
efeito, o ecológico predominava, tanto que subsistiu à
colheita comercial do mate, pela companhia Matte
Laranjeira. Perfeitamente inserida no ecossistema floresta,
ao qual demandava somente uma ótima parte de sua
fitomassa, sem lhe amputar nenhuma das espécies. A
companhia Matte Laranjeira nada mais fez que roçasse o
ecossistema florestal”.
O modelo de exploração da erva-mate, em grande parte controlada pela
Cia. Matte Laranjeira e a criação de gado extensiva também contribuíram para
um pequeno impacto antrópico na região, que manteve grandes áreas de mata
relativamente preservadas.
CORRÊA FILHO (1969) considera que o ervateiro, a partir da extinção
da Companhia Matte Laranjeira, transfigurou-se de devastador, que cerceava
“criminosamente as árvores”, a um elemento que passou a cuidar
37
“carinhosamente do erval”. PÈBAYLE e KOECHLIN (1981) consideraram a
“mata”, onde se localizava os ervais, apenas “roçada” e o agricultor da “roça”
apenas um predador pontual, havendo, assim, o “predomínio do ecológico, no
ecossistema florestal”.
Porém, a partir do colapso da produção ervateiro na década de 1930 e o
predomínio das fazendas de criação de gado, o processo de desmatamento foi
muito intensificado, com a retirada das matas remanescentes para a
implantação de pastagens. Essa exploração madeireira, englobando 1838 a
1960, resultou na implantação de serrarias na zona rural e urbana do
município, propiciando material para a construção de pontes, residências,
capelas e outras estruturas de madeira (PÈBAYLE e KOECHLIN, 1981).
A construção civil, nesta fase de desenvolvimento da região, foi a
responsável por uma parte significativa dos impactos negativos causados ao
ambiente. O baixo custo da madeira, aliado ao crescimento urbano da região,
propiciou uma grande demanda de material, pressionando os recursos naturais
existentes. Porém esta é uma característica da maior parte das regiões
habitadas do planeta, pois a madeira é um dos materiais de utilização mais
antiga nas construções, devido sua facilidade de obtenção e preço.
Outro fator que acelerou o processo de desmatamento na região sul do
antigo Estado de Mato Grosso foi a implantação da Colônia Agrícola Nacional
de Dourados (CAND) na década de 1940, criada com a finalidade de povoar
determinadas regiões do país com uma população branca, pois grande parcela
do território nacional ainda eram ocupadas por povos indígenas. Além disto,
esta ocupação em áreas de fronteira permitia o melhor controle destas regiões,
através da distribuição gratuita de lotes de 30 hectares. Porém a implantação
desse projeto sofreu forte resistência da própria Companhia Matte Laranjeira,
que resistiu à perda de influência na região sul do Estado (MENEZES, 2011).
4.4. Estilos Arquitetônicos da época
De acordo com KOSH (2004, p. 89), as principais Escolas Arquitetônicas
nos quais se baseiam as construções rurais e urbanas são:
Deutscher Werkbund, 1907, edifícios para funções específicas em
sintonia com a época das máquinas, em particular fábricas e
teatros;
38
Expressionismo, 1910-1925. Composta por edifícios funcionais,
semelhantes a esculturas abstratas; aproveita o estilo Liberty;
Bauhaus, 1906-1933. A escola artística mais importante do século
XX. Instituição de base de caráter artesanal, com produtos
industriais e edifícios de formas cúbicas e cores primárias;
Futurismo, 1909. Movimento teórico italiano propõe uma cidade
mecanizada “como uma gigantesca máquina barulhenta”;
De Stijl, 1917, Holanda. Arquitetura cubista, cores iguais para
elementos arquitetônicos semelhantes, repartição interna
funcional com variadas disposições;
Construtivismo, 1920-1930, Rússia. Sintetiza as ideias de
Futurismo, de Stijl e Werkbund numa arquitetura criativa a serviço
da ordem social soviética;
Estilo Internacional, somas das aquisições técnicas e de
composição do moderno funcionalismo que se impôs em todo o
mundo. Eliminação de todos os elementos “passivos” (ou
decorativos); edifícios funcionais onde são utilizados apenas
elementos arquitetônicos que tenham um papel ativo na
construção.
Ainda, corroborando com KOSH (2004), cada estilo possui um
determinado número de elementos arquitetônicos bem definidos, assim, como
um subsídio útil para a classificação dos estilos, pode-se falar de uma atividade
arquitetônica típica, por exemplo, o Romântico, o Gótico ou o Renascimento.
Os arquitetos de cada época isolaram os elementos, combinando-os em obras
de arte sempre novas. O autor ainda afirma que o caráter e a origem
geográfica e cultural dos arquitetos e, evidentemente, as leis da estática
concorreram para ora eliminar alguns desses elementos, ora salientá-los,
transformá-los ou inventar outros. Só assim é possível entender as diferentes
impressões que obras artísticas de uma mesma época provocam.
Inicialmente os imigrantes oriundos de outras regiões, por volta de 1830,
foram se estabelecendo ao longo de importantes cursos d‟água e construindo
seus primeiros ranchos em fazendas. Porém, estas construções eram simples
39
palhoças, sem formas bem definidas, resultado do improviso e da falta de
materiais tradicionais para a construção na região, tais como telhas.
LEMOS (1999) descreve que as casas erguidas em novas áreas de
conquista inicialmente eram cabanas similares às ocas indígenas, resumindo-
se muitas vezes a um aposento de uso múltiplo e em alguns casos, com uma
área anexa para a cozinha. A cobertura geralmente era de palha, o piso de
chão batido ou as vezes coberto por tábuas rusticas e as paredes,
frequentemente na tradicional técnica da taipa (barro amassado sobre um
esqueleto de madeira). Com o decorrer do tempo, também passou a ser
utilizado o adobe (um tipo de tijolo maciço, não queimado) nas construções, por
ser mais resistente e durável. MAGALHÃES (2004) cita este tipo de material
em construções no Brasil eram muito utilizadas, principalmente em áreas onde
não existiam outras opções para as edificações.
LEMOS (1999) também cita outra característica herdada da influência
indígena, que seria responsável pela fragmentação das construções rurais no
entorno da casa sede, chamada de „partido aberto‟, com edificações sempre
próximas a um curso de água.
Com a melhora das condições de vida e a necessidade de trocas
comerciais, FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991) escrevem que esta nova
situação permitiu o nascimento das primeiras povoações, a partir de 1900.
Iniciam-se então as construções das primeiras residências e casas comerciais
de madeira, começando a substituir as antigas formas de edificar. No entanto,
em algumas fazendas, cujos proprietários já desfrutavam de maior poder
aquisitivo, já existiam moradias bem elaboradas, com materiais de maior custo.
Sendo assim, a cidade de Rio Brilhante foi tomando forma, através de
seu traçado urbano e suas construções do século XIX ao século XX, onde
estas edificações, juntamente com seus elementos construtivos e decorativos,
produziram formas arquitetônicas de interesse no decorrer do referido período.
Muitas destas se destacaram pela sua expressividade inspirada em um ou
vários estilos arquitetônicos.
Na segunda metade do século XIX, a arquitetura mundial era
manifestada pela volta ao modelo clássico (antiguidade clássica e
renascimento), o que inspira o retorno à outros movimentos caracterizados nos
modelos antigos como o gótico, renascimento ou colonial.
40
Nesse sentido, os estilos encontrados na região estudada seguem a
seguinte ordem cronológica: Normando, Neogótico, Ecletismo, Neocolonial, Art
Nouveau e Art Déco. A descrição desses estilos deve-se ao fato de que são os
que mais aproximam da identificação das edificações arquitetônicas urbanas e
rurais do município de Rio Brilhante.
4.4.1. Estilo Normando
Segundo LEFÈVRE e PINHEIRO (2000), sua arquitetura denotava a
influência da “estética do pitoresco” que é uma das manifestações mais típicas
da cultura oitocentista europeia e busca remeter diretamente à arquitetura
vernácula do norte da França, inspirada nas construções de enxaimel da
Normandia.
Ainda citando os autores, no Brasil pode-se destacar no ano de 1920 a
construção do conjunto residencial denominado “Vila Normanda”, em área
adjacente à atual Avenida São Luiz, cidade de São Paulo, com suas
características arquitetônicas de forte cunho “europeizante”, representando a
burguesia paulistana do período.
Para KOSH (2004), as escolas arquitetônicas do período Romântico na
França e na Região do Reno, indicam um esquema arquitetônico, cujas
características mais importantes ocorreram num grupo limitado de edifícios.
Tais construções podem pertencer a uma determinada região geográfica, como
igrejas com galerias superiores e derivar de uma ordem política, eclesiástica ou
litúrgica.
O seu gradual aparecimento numa região não exclui a permanência, ou
mesmo preponderância numérica de outros modelos arquitetônicos. Todo
cânone construtivo permite, portanto, numerosas variantes, produto do pouco
rigor na supervisão na construção de edifícios, ou do respeito às tradições
arquitetônicas locais.
Já, SILVA (2013), em o dicionário de arte internacional (Norman Style),
informa que o estilo é referente à Normandia, província do norte da França,
com afinidades com o estilo românico e o romanesco.
Em sentido particular, designa o estilo românico inglês. Os invasores
normandos levaram para a Inglaterra, a partir de 1066, o seu gosto de construir
catedrais e castelos, usando arcos arredondados e muita ornamentação.
41
No Brasil chama-se estilo normando aquelas edificações com telhados
recortados e muito inclinados, que utilizam madeira aparente nas paredes
externas, que podem ser vistos em locais de clima frio, como Petrópolis, Rio de
Janeiro, nas serras gaúchas, Campos do Jordão e São Paulo (SILVA, 2013).
4.4.2. Estilo Neogótico
Segundo KOSH (2004), o Neogótico produz, ao lado de edifícios
residenciais e públicos, alguns milhares de igrejas goticizantes. O acabamento
dos grandes fustes de coluna nas catedrais é a contribuição menos discutível
do Neogótico (Catedral de Colônia), estilo arquitetônico introduzido na
Inglaterra por volta de 1820, inspirado no Estilo Gótico, que ocorreu no final da
idade média.
De acordo com BENEVOLO (2006), o êxito do movimento Neogótico na
arquitetura se deu em 1830, no século XVIII, junto com o início das reformas
sociais e urbanísticas ocorridas na Inglaterra e na França. Nesta época em
Paris, o plano Haussmann, elaborado pelo Barão Georges Eugène Haussmann
(1809-1891), reestruturou toda a cidade e valorizando bastante este estilo
existente.
FABRIS (1987), afirma que a introdução do Neogótico no Brasil remonta
ao final do século XIX, nas ogivas das janelas das casas coloniais, sendo
encontrados na arquitetura religiosa e pública.
DIAS (2008) relata que arquitetura brasileira foi bastante influenciada
pela chegada da Família Real portuguesa em 1808, trazendo primeiro o
Neoclassicismo, junto com os outros “neos” que compõem o ecletismo. Se na
Europa o êxito do Neogótico na arquitetura veio junto com o início das reformas
sociais e urbanísticas, pode-se dizer que no Brasil ocorreu fato parecido em
relação aos movimentos sociais do final do século XIX. Surgiu timidamente nas
ogivas das janelas de algumas casas, sendo também aplicado em igrejas, tais
como os telhados íngremes, pináculos e torre axial única.
Ainda corroborando com DIAS (2008), dentre as reduções formais do
vocabulário da velha arquitetura gótica impostas à construção residencial,
apareciam às platibandas ritmadas por merlões e ameias, além de vergas com
tímpanos contornados por arcos ogivais ou lobulados, muito difundidos em todo
o Brasil. Os seus valores, como corrente artística, foram agregados a outras
42
linguagens surgidas neste século, ou seja, o Neogótico viveu lado a lado com o
Ecletismo. Portanto, para seguir o contexto, deve-se adicionar ao estudo do
Neogótico, um estudo do Ecletismo.
No Brasil o Neogótico surgiu aos poucos, em casas, prédios e igrejas.
Porém foi grande sua disseminação de norte a sul, onde até o momento são
encontrados caracteres neogóticos em diferentes construções. Em Belo
Horizonte, destaca-se a Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem (1911-1932) e a
Igreja Nossa Senhora de Lourdes (1916-1922) e em São Paulo, a Catedral da
Sé (1912-1954), localizada em frente à Praça da Sé (DIAS, 2008).
4.4.3. Estilo Eclético
O Ecletismo, de acordo com MARQUES (2001), é um estilo que
revivência o passado, empregando dois ou mais estilos arquitetônicos.
Na arquitetura, é caracterizado pela junção de vários estilos numa
mesma obra. O termo “ecletismo” foi introduzido pelo alemão Johann Joachim
Winckelmann (1717-1768), quando se referia ao sincretismo na produção dos
Carraci e seus seguidores no norte da Itália, no final do século XVI (DIAS,
2008).
A arquitetura eclética foi própria de uma classe burguesa que, de acordo
com PATETTA (1987, p. 13), “dava primazia ao conforto, amava o progresso
(especialmente quando melhorava suas condições de vida) e amava as
novidades, mas rebaixava a produção artística e arquitetônica ao nível da
moda e do gosto”. Existia para esta classe uma grande possibilidade de
mistura de estilos e foi na arquitetura doméstica que o ecletismo se tornou mais
abrangente (DIAS, 2008).
O principal teórico do ecletismo foi César Daly (1811 - 1893) que tinha a
preocupação de não fazer apenas um trabalho de copista ou de juntar os
diferentes estilos, mas de procurar sempre novas combinações na História da
Arte. Já Viollet-le-Duc sustentava opinião contrária aos ideais ecletistas, que
para ele, não baseava respeito e função aos materiais (DIAS, 2008).
Segundo LIMA (2014), as edificações com revestimento de ladrilho
hidráulico são bem comuns no período, com formação de desenhos
geométricos. Configuram um modelo muito comum na construção urbana
brasileira, de influência portuguesa, principalmente, na arquitetura destinada ao
43
comércio: de esquina, no alinhamento do terreno, com chanfros e entrada
marcada pela quina.
4.4.4. Estilo Neocolonial
De acordo com BRUAND (1997), marca esta fase os chalés, sobrados e
bangalôs que surgem nos Jardins paulistanos, em Botafogo, Copacabana e na
Urca, com painéis de azulejos, fartos beirais e varandas generosas, com
influências no período colonial. No Brasil, a arquitetura Neocolonial está
vinculada a alguns personagens que promoveram seu desenvolvimento,
incluídos entre outros, Ricardo Severo, José Mariano Filho e Lucio Costa.
Ainda corroborando com o autor, é nesse período, onde “o panorama
oferecido pela arquitetura brasileira, por volta de 1900 nada tinha de animador”,
que a arquitetura, embora sendo um ecletismo estrangeiro, “já contém o germe
de uma reação salutar que não demoraria a se manifestar”; esse germe salutar
pode ser visto como a arquitetura Neocolonial, que não demoraria a aparecer e
que traria em seu seio o desejo de renovação artística, resgatando referências
do passado, mas apontando um caminho para o futuro. Abria as portas para a
liberdade criadora dos arquitetos, desvinculando a arquitetura nacional do
Ecletismo importado.
Para KESSEL (1999), o movimento que passou à história da arquitetura
brasileira como “Estilo Neocolonial”, hoje quase esquecido, gozou de uma
preeminência considerável na cena cultural do país.
Nascido da reação contra o ecletismo dominante nos primeiros anos
deste século, o neocolonial encontrou sua justificativa na ânsia de buscar, nas
formas construtivas tradicionais do Brasil, uma arquitetura que pudesse ser
definida como genuinamente autóctone.
De acordo com LEMOS (1987), foi a partir dos anos seguintes à Primeira
Guerra Mundial (1914-1918) que o autor caracteriza como de estagnação total
e que serviram como divisor de águas no estudo do Ecletismo que surge
triunfante o Neocolonial. Neste momento, também, aparece um comportamento
popular de apropriação e interpretação da arquitetura erudita numa produção
homogeneizada.
No Brasil, em meio aos estilos “Neo” do Ecletismo e ao Art Nouveau, já é
possível perceber, a partir desses anos, alguns projetos com inspiração no
44
passado colonial: era o Neocolonial, que nascia como reação a uma fase de
estilos importados (reação contra o Academismo e o Ecletismo, visto somente
enquanto fachadismo), marcados por uma forte expressão europeia.
A ideia, propugnada em artigos e conferências pelo arquiteto português
Ricardo Severo a partir de 1914, principalmente em São Paulo, foi encampada
por vários intelectuais e encontrou seu maior defensor na figura do intelectual
José Marianno Filho, cuja atuação permaneceria fortemente identificada com o
movimento durante as décadas de 1920 e 1930 (KESSEL, 1999).
4.4.5. Art Nouveau
Praticado no país juntamente com o movimento Neocolonial, tem-se a
Art Nouveau, sendo esta mais uma tentativa de apresentar algo novo a
arquitetura nacional; foi um estilo internacional de arte e arquitetura
caracterizado pela fluida e requintada ornamentação inspirada em motivos
vegetais. Às vezes, se aproximava da abstração e da geometria, procurando a
integração entre fachadas, interiores e mobiliário (MORAES, 2003).
Seu design e arquitetura caracterizavam-se por enfatizar a linha
ondulante, figurativa, abstrata ou geométrica, tratada com ousadia e
simplicidade (DEMPSEY, 2003). Surgia como consequência da dissonância
entre a arte e a técnica observada no século XIX, como uma “tentativa de
conciliar as aspirações artísticas herdadas do passado e os novos fenômenos
da era da técnica” (SEMBACH, 2007).
Na Art Nouveau, assim, como os designers do Art Déco, os mesmos
também pretendiam eliminar a distinção entre as belas-artes e as artes
decorativas, promover a colaboração entre os artistas e artesãos e reafirmar a
importância do seu trabalho na produção (DEMPSEY, 2003). Embasavam-se
em motivos florais na ornamentação de edifícios e objetos e suas formas eram
mais complexas, intrincadas e densas. De acordo com MARQUES (2001),
surgiu por volta de 1890 a 1905, como reação ao Historicismo, com linhas
suaves e ondulantes e ornamento com flores.
De acordo com BENEVOLO (2006), o estilo é acrescido de ferros
decorativos, dobrados em curvas elegantes e sinuosas; na prática, a Art
Nouveau torna-se um estilo decorativo e em muitos países apresentam
apetrechos e objetos de arte. Ainda segundo o mesmo autor, Antonio Gaudí
45
(1852-1926), constrói uma de suas obras mais importantes, o Parque Güel,
com as duas Casas, Battló e Milá, em Barcelona, onde aceita várias sugestões
do repertório Art Nouveau.
4.4.6. Art Déco
Para CZAJKOWSKI (2000) e MARQUES (2001), a Art Déco destaca-se
na década de 1920 a 1940, pelas formas geométricas simples e linhas retas,
tida como um divisor de águas, um passo importante para o futuro
desenvolvimento da arquitetura modernista. Este estilo é uma síntese de várias
fontes e referências como a própria Art Nouveau, Cubismo, Bauhaus,
Expressionismo, arte africana e egípcia, Neoplasticismo, design de máquinas e
navios, também, podendo ser entendida como a derradeira manifestação do
Ecletismo.
SEGRE (1991) destaca que o Art Déco explicou seu repertório de forma
coerente na Exposição de Artes Decorativas de Paris, em 1925. Mais do que
um movimento integrado ou alternativo às vanguardas dos anos 1920, é uma
tendência que estabelece uma ponte entre o Ecletismo, já carente de vitalidade
própria, e o radicalismo explosivo do racionalismo europeu. A ornamentação
constituiu ainda a expressão essencial da criatividade humana contida na mão
do artesão. Entretanto, este não impõe seu princípio, mas a capacidade de se
adequar às novas estruturas arquitetônicas e do design.
Nas primeiras décadas do século XX, tudo o que não provinha da
Europa era reconhecido como de elevado valor artístico. De acordo com
LEMME (1997, p. 32), “Isto foi particularmente relevante para o Art Déco, já
que na época que este estilo se começou a se desenvolver a tendência pelo
primitivo não era uma alternativa, e sim uma obrigação”.
Era uma arquitetura simples, límpida e ordenada, proporcionando ao
observador um sentimento de alívio e bem-estar. LEMME (1997, p. 8 e 17)
escreve que “No Art Déco as linhas não se ondeiam como o vórtice de um
redemoinho; se curvam, o fazem de forma gradual e com amplitude, seguindo
um fino arco; se são retas, o são tanto quanto uma régua”.
Os seguidores do Art Déco admiravam e incorporaram na sua estética
as formas geométricas e retilíneas das produções dos representantes do Art
46
Nouveau tardio, como expressavam Charles Rennie Mackintosh e Josef
Hoffmann (DEMPSEY, 2003).
No Estado de Mato Grosso, este tipo de arquitetura teve início em 1930,
quando chegou a Campo Grande o arquiteto Frederico João Urlass; seus
projetos mudam a arquitetura local e se expandiram para as cidades do interior
(ARRUDA, 1999).
47
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53
6. Artigos
Artigo I
A produção arquitetônica na zona rural do município de Rio Brilhante,
Mato Grosso do Sul: 1830 a 1950
Fábio Fernando Martins Oliveira
Resumo
A colonização da região na qual se situa a cidade de Rio Brilhante, conhecida
inicialmente por Campos de Vacaria, foi iniciada pela família dos “Barbosas”.
Oriunda de Minas Gerais era constituída de proprietários de terras, criadores
de gado e comerciantes. No início do processo de ocupação, a base
econômica era a pecuária; posteriormente, a exploração de madeira e a coleta
da erva-mate. Estas atividades propiciaram o acúmulo de capital, resultando na
construção de edificações, que através do período dessas construções,
materiais construtivos e ornamentos, tornaram-se relevantes
arquitetonicamente. Este estudo avalia a produção arquitetônica na zona rural
do município, entre 1830 a 1950, com o objetivo de analisar o processo
histórico de uso e ocupação do município, levando-se em consideração a
economia e seu reflexo na arquitetura, com construções do final do século XIX
e no início do século XX. Foram mapeadas as edificações mais relevantes na
zona rural, com o levantamento de dados através de visitas realizadas in loco
nas diferentes propriedades rurais, com o registro fotográfico das mesmas,
tendo como suporte publicações de artigos, livros regionais, história e relatos
orais dos descentes das famílias pioneiras. Foram identificadas edificações em
13 fazendas, com suas residências em madeira e alvenaria, seus cemitérios,
instalações rurais e igrejas. Sua análise ocorreu através de sua volumetria,
imagem, materiais construtivos, história e períodos, evidenciando sua
arquitetura estilística. Algumas dessas instalações ainda resistem ao tempo,
demonstrando a influência cultural dos imigrantes com a mestiçagem dos
materiais locais e importados. Dentre os estilos identificados predominaram a
arquitetura espontânea vernácula, o Neocolonial e o Ecletismo, com o estudo
contribuindo para a história e a memória local da população.
Palavras-chave: Arquitetura rural, patrimônio cultural rural, arquitetura
vernacular.
54
The architectonic production in the rural area of Rio Brilhante, Mato
Grosso do Sul: 1830 to 1950
Abstract
The colonization of the region in which Rio Brilhante is localized, initially known
as Campos de Vacaria, was started by the Barbosa family. Coming from Minas
Gerais, the family was composed of landowners, cattle breeders and
merchants. In the beginning of the process of occupancy, the economic basis
was cattle raising; posteriorly, it became logging and Yerba mate collect. These
activities provided capital accumulation, resulting in the construction of buildings
that became architectonically relevant because of the period in which they were
constructed, and because of its building materials and ornaments. This study
examines the architectonic production in the rural area of the town, between
1830 and 1950, with the objective of analyzing the historical process of use and
occupation of the town, considering the economy and its reflection in the
architecture of late 19th century and early 20th century constructions. The more
relevant buildings in the rural area were maped, with data collection done
through visits in loco in the different rural properties, with photographical
register of them, and with the support of published articles, regional books,
stories and oral accounts of the descendants of pioneer families. Thirteen
buildings were identified in farms, with their wood and masonry residences,
cemeteries, rural facilities and churches. The analysis was done through its
volumetry, image, building materials, history and periods of construction,
highlighting their stylistic architecture. Some of these facilities still withstand
time, showing the migrants cultural influence through the mix of local and
imported materials. Among the identified styles there are a predominance of the
spontaneous, vernacular, the Neocolonial and the Eclectic architecture, and this
discoveries contribute to the local history and memory of the population.
Key-words: rural architecture; rural cultural heritage; vernacular architecture.
Introdução
A ocupação do município de Rio Brilhante ocorreu, inicialmente, com a
fixação dos fazendeiros em grandes propriedades rurais, tendo como atividade
econômica, inicialmente, a pecuária e a agricultura de subsistência e
posteriormente, exploração da madeira e da erva-mate. De acordo com
55
CAMPESTRINI (2009), parte desses fazendeiros, de origem portuguesa,
estava fugindo da Revolta Nativista de 1834, conhecida como Rusga
(movimento de hostilidade aos portugueses) ocorrida na região de Cuiabá, se
fixando mais próximo a região conhecida como Cabeceira do APA ou no sul do
Pantanal.
Já, em 1836, chega a região o mineiro Antônio Gonçalves Barbosa, com
uma comitiva de 58 pessoas, incluindo seus familiares, acampando em um
prado onde existiam vacas de propriedades dos índios Guaicurus. No local,
encontrando terra roxa e matas de grande porte, fixaram morada e batizaram o
lugar de “Boa Vista”, sendo esta a primeira fazenda a ser formada na região
(FACHOLLI e DOERZBACHER, 1991).
Os mesmos autores citam que, em 1842, seu irmão Inácio Gonçalves
Barbosa, chegou à região, com cerca de 60 pessoas, dentre elas irmãos e
agregados, fundando a fazenda “Passatempo”, próxima às propriedades já
existentes. De 1862 a 1864 imigrantes paraguaios também se estabelecem na
área, aumentando assim a população rural já existente; estes novos moradores
se concentravam na extração de erva-mate.
Conforme SODRÈ (1941, p.18), referindo-se à segunda metade do
século XIX, “O regime pastoril do Oeste devia apoiar-se, portanto, em
populações oriundas de três procedências diversas – o mineiro, o gaúcho e o
paraguaio”, incluindo, provavelmente, o indígena na denominação paraguaio.
Em consequência da invasão paraguaia no território brasileiro, em 1864,
ocorreu um esvaziamento da população na região, que fugia com medo das
tropas que arrasavam tudo por onde passavam. No período da guerra, os
habitantes que não foram mortos ou presos, esconderam-se nas matas ou
fugiram para Santana do Paranaíba e outros pontos do Estado, “ficando esta
região desabitada até o fim de 1872” (BARBOSA, 2011).
Após o conflito, os habitantes sobreviventes voltaram, reiniciando
novamente a povoação e dedicando-se à atividade da pecuária para a
produção de charque e couros. Também, cultivavam o milho, arroz, feijão e
mandioca, a chamada agricultura de subsistência. Além disto, coletava-se a
erva-mate, abundante na região; porém a economia estava assentada na
pecuária (SODRÉ, 1941).
56
“No final do século XIX e início do século XX, pecuaristas gaúchos
perseguidos, após a revolta federalista de 1893, estabeleceram-se nos campos
de Vacaria (Ponta Porã, Bela Vista e Rio Brilhante), onde encontraram os
criadores mineiros” (MAMIGONIAN, 1986, p. 47). Neste período, em 1882,
instala-se, também, na região a Empresa Matte Laranjeira, grande produtora e
exportadora de erva-mate, sendo que foi um dos fatores que proporcionou um
acelerado crescimento econômico a alguns proprietários existentes no local.
Desta maneira, no final do século XIX, existia uma base econômica que
permitiu que proprietários de terras e comerciantes tivessem grandes ganhos
de capital, o que propiciou a construção de edificações de relevância
arquitetônica, como residências em madeira e alvenaria. Estes ambientes
construídos estavam relacionados a determinadas famílias pioneiras na região,
que eram as mais poderosas, uma arquitetura espontânea sem autoria, onde
era o proprietário quem definia o conjunto da obra.
Como característica das edificações, existia uma combinação de um ou
mais elementos arquitetônicos bem definidos em suas volumetrias,
demonstrando suas inspirações estilísticas, o fino acabamento e o bom gosto
por parte dos seus proprietários.
Com esta análise, destaca-se a importância do estudo e registro dessa
arquitetura inserida na paisagem rural, onde algumas ainda resistem ao tempo,
retratando a história da ocupação do município e a memória local dessa
população, contribuindo com um acervo identificado na arquitetura de Mato
Grosso do Sul, especificamente na região rural do município de Rio Brilhante.
Material e Métodos
A área estudada compreende os limites territoriais do município de Rio
Brilhante, localizado no Estado do Mato Grosso do Sul, região Centro-Oeste,
com uma área de 3.987,397 Km2 e população de aproximadamente 30.663
habitantes (IBGE, 2015). O município faz limite ao Norte com Nova Alvorada do
Sul e Sidrolândia, ao Sul com Angélica, Douradina, Deodápolis, Itaporã e
Dourados, a Leste com Nova Andradina e a Oeste, Maracaju (Figura 1).
Sua topografia é plana, apresentando-se rampeada em alguns locais e
com ondulações leves em outros. Seu solo tem origem no basalto (Latossolos
roxos) e, conforme os dados da Carta Topográfica (CPRM, 2005), altitudes
57
variando entre 360 a 390 metros. Sua rede hidrografia é comandada pelos
principais rios, Vacaria e Brilhante, além de afluentes que drenam a zona rural
e urbana, como os Córregos Araras e o Areia.
Foram percorridos trechos das estradas vicinais municipais, e as
Rodovias Estaduais MS - 455 e 466. O percurso foi iniciando no trevo da BR-
163, sentido oeste, adjacente ao Distrito de Prudêncio Thomaz, popularmente
conhecido como Aroeira, situado próximo ao Rio Vacaria, passando pela
Fazenda Campo Alegre e concluindo o percurso na BR-267, nas Fazendas
Sucuri e Triângulo.
Figura 1. Localização do Município de Rio Brilhante e área de estudo. Fonte:
IBGE (2015), adaptado pelo autor.
58
O levantamento de dados se deu através da investigação exploratória de
campo in loco como uso do GPS Garmin, coordenadas UTM DATUM sirgas
2000, fuso 21 Sul para o mapeamento das edificações, bem como seu registro
fotográfico e análise histórica e arquitetônica das construções executadas no
final do século XIX e inicio do século XX, anos de 1830 a 1950. O mapa da
área (Figura 2) foi executado através de desenhos com softwares específicos,
como o Auto Cad 2010 (AUTODESK, 2010).
Figura 2. Mapa das fazendas com pontos das edificações georreferenciados
na zona rural do Município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: IBGE
(2015), adaptado pelo autor.
59
Foi realizada uma pesquisa histórica dos locais, com informações
obtidas através de relatos orais de familiares descendentes dos pioneiros. A
revisão bibliográfica foi baseada em algumas publicações já existentes no
Estado, tais como ARRUDA (1999), MARQUES (2007), MAGALHÃES (2012) e
LIMA (2013), que registram as primeiras pesquisas que contribuem para o
resgate do patrimônio arquitetônico sul-mato-grossense, indicando os modelos
representativos da produção construtiva e seus períodos.
No espaço percorrido destacaram-se treze antigas fazendas, sendo elas
Passatempo, Alegrete, Assentamento Estrela, Capão Bonito, Sossego, Sucuri,
Distrito de Prudêncio Thomaz, Bela Vista, Assentamento Mutum, Vira Mão,
Recreio, Triângulo, Campo Alegre e Suez.
Resultados e Discussão
FACHOLLI e DOERZACHER (1991) e BARBOSA (2011) relatam que os
pioneiros criaram a Fazenda Boa Vista e a Caçada Grande, sendo as primeiras
registradas na região e localizadas no atual município de Rio Brilhante, ficando
a 30 km ao norte da área urbana. Atualmente no local, não existem mais
vestígios das construções datadas da época do pioneirismo. Isto ocorre porque
as primeiras construções eram simples palhoças, utilizando-se de materiais de
pouca durabilidade, tais como a taipa.
Outro fator que levou a perda de inúmeras sedes de fazendas foi a
Guerra do Paraguai, pois quando as tropas guaranis chegavam às fazendas,
ocorria, normalmente, o saque e a queima das propriedades.
Posteriormente, com o retorno da população e o reinicio das atividades
econômicas, ocorreu a reconstrução das fazendas. Com o crescimento da
região e o acúmulo de capital por determinados fazendeiros, a edificação de
sedes começou a se destacar pela riqueza no uso de materiais e detalhes
construtivos.
Registrou-se nessas fazendas, residências em madeira e alvenaria, e
algumas peculiaridades construtivas como a presença de cemitérios, igrejas e
suas instalações rurais, como ponte e bicas d‟água.
. Edificações encontradas nas fazendas na ordem de seus respectivos
períodos de construção
60
Fazenda Passatempo – 1844
MARTINS (2010) relata que por volta do século XIX, a família dos
“Barbosas” saiu de Sabará – MG (perto de Belo Horizonte) e veio para Piumhi,
depois para Franca – SP e, em sequência, para Paranaíba – MS, passando por
Santa Rita do Pardo e, finalmente, radicando-se em Rio Brilhante (Figura 3).
Na região conhecida como Vacaria, começou a trabalhar com a criação de
gado, fundando várias fazendas e entre elas, Passatempo e Alegrete.
A propriedade pertenceu a Etalívio Pereira Martins, que a legou a seu
filho Aguiar. Os herdeiros deste, por sua vez, venderam as terras para a usina
que leva apropriadamente a nome da histórica Fazenda Passatempo
(MAGALHÃES, 2004).
Este fato ocorreu com a chegada do cultivo da cana-de-açúcar e a
implantação de usinas no município, em 1982. Neste ano, a fazenda passa a
pertencer ao Grupo Pernambucano Tavares de Melo (GTM); já em 2007, foi
repassada ao grupo francês Louis Dreyfus Commodities e, a partir de 2009, à
LDC Bioenergia.
Figura 3. Trajeto percorrido pela família Barbosa até chegar ao município de
Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul e suas fazendas de posse, Passatempo e
Alegrete. Fonte: MARTINS (2010).
61
A sede da fazenda, fundada em 1844, foi demolida há muitas décadas,
segundo relato de Emílio Barbosa. Restaram no local apenas o cemitério da
família, próximo ao Ribeirão Passatempo, ainda preservado, únicas
testemunhas de uma época já passada.
De acordo com MAGALHÃES (2004), os tijolos usados na edificação das
paredes eram maciços, não queimados (adobe) e confeccionados de acordo
com o conhecimento dos proprietários, sendo moldados com barro da área; as
telhas também eram fabricadas no local onde realizariam a construção. O
mesmo autor escreve que o fotógrafo e pintor francês Albert Braud retratou a
edificação, que se parece muito com um rancho, autêntico protótipo de todas
as moradias da época (Figura 4).
Figura 4. Residência da Fazenda Passatempo já demolida, município de Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: MAGALHÃES (2004).
A edificação tinha sido implantada em um amplo terreno, com sua
volumetria e aberturas em formato retangular, cobertura com o jogo de telhado
em duas águas, estrutura de madeira e telhas de barro. O conjunto da obra,
juntamente com seu período construtivo, corresponde ao estilo Neocolonial.
Como resquício dos fundadores, ainda se encontra um dos primeiros
cemitérios em alvenaria da região; apesar de encontrar-se em estado de
62
abandono, é possível visualizar as lápides onde se encontram sepultados
alguns dos descendentes da família (Figura 5).
Segundo MARTINS (2010), em uma visita ao cemitério da Fazenda
Passatempo, que se situa à margem esquerda do ribeirão, se encontra
sepultado Inácio Gonçalves Barbosa, falecido em 1863, sua esposa Antônia
Isabel de Jesus Marques, uma mestiça de português com índio, falecida em
1857, bem com seus filhos, Joaquim Barbosa Marques e sua esposa, Flauzina
Garcia Barboza e também Estevão Gonçalves Barbosa e Emiliano, seu neto.
Figura 5. Cemitério e presença de túmulos ornamentados na Fazenda
Passatempo, município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do
autor.
De acordo com MAGALHÃES (2012), ali também jazem Luiza Garcia
Leal e Antônio Gonçalves Barbosa Marques, além de outros restos mortais que
não mais possuem identificação devido ao mau estado de conservação das
sepulturas, resultado do descaso e do tempo.
O cemitério é cercado por pilares de madeira tipo aroeira com arame liso
e as formas das sepulturas são quadradas e retangulares, implantados em um
amplo terreno, em alvenaria de tijolos maciços.
São ornamentados com esculturas no ápice de seus sepulcros e com
frisos emoldurados no reboco e molduras com ornatos no ressalto do reboco,
onde os desenhos formam arcos ogivais, uma característica do Neogótico, e
também, figuras geométricas na vertical, que remetem ao Art Déco. O conjunto
como um todo corresponde ao estilo Eclético.
63
Fazenda Alegrete - 1899
A sede da fazenda Alegrete foi descrita por MAGALHÃES (2012). A
mesma foi edificada no século XIX, por volta de 1899, por Antônio Gonçalves
Barbosa Marques (o construtor foi seu próprio cunhado, Lúcio Cândido de
Oliveira). De acordo com o autor, os cômodos, como os quartos e salas, eram
bem iluminados, assoalhadas e envidraçadas (Figura 6). Verdes canaviais
cobriam as áreas próximas, utilizadas para a produção de açúcar, rapadura,
melado e aguardente, comercializados na região.
Figura 6. Planta térrea da sede da fazenda Alegrete, município de Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: MARTINS (2010).
A planta da residência é no formato retangular, implantada em um amplo
terreno, com os ambientes sendo sala, salão de festas, sala de jantar, quarto
de hóspedes, quarto do pintor e fotógrafo Alberto Braud, quarto das senhoras,
das meninas, do casal e segundo relatos orais, um quarto onde se realizava os
partos. As aberturas das janelas eram retangulares, com vedação em madeira
e vidro; já a abertura da porta de entrada era em forma de um arco.
Segundo MAGALHÃES (2012), existia ainda uma cozinha e a despensa,
que se localizavam em um prédio anexo, em madeira; o banheiro ficava do
lado de fora, no quintal, no final do rego d‟água.
Os materiais construtivos foram o embasamento em soco, com fundação
em paredes largas de pedras, o reboco externo era em saibro e areia, o interno
em taipa de pilão. A fachada possuía pé direito alto, antecorpo em ressalto com
64
bossagem de rusticação. A cobertura e estrutura eram em madeira coberta por
telhas cerâmicas, tipo colonial. À esquerda se encontrava a horta e o curral e a
direita, curral e galpão. O conjunto da obra em função da data de construção
corresponde ao estilo Neocolonial (Figura 7).
Figura 7. Residência da fazenda Alegrete e os detalhes de seus materiais
construtivos, município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo de
Mara Barbosa.
Segundo relatos do Sr. Valdomiro Barbosa, na sede da fazenda,
costumava ocorrer grandes eventos, tais como o ocorrido no dia 22 de março
de 1908, quando foram realizados nove casamentos de familiares, sendo
realizados seis em um dia e três, no outro, além de festividades relacionadas a
matrimônios já realizados; as comemorações duraram nove dias, com muita
festa.
Dentre os eventos, foram comemorados os 65 anos de casados de
Maria Coelho de Souza e o Major Joaquim Gonçalves Barbosa Marques e dos
pais de Valdomiro Barbosa, Vitalina Garcia de Souza e Antônio Lino Barbosa.
Todos os matrimônios foram registrados no cartório da comarca de
65
Aquidauana, cujas certidões estão hoje sob os cuidados de um dos
descendentes da família, Jarbas Barbosa.
Na fazenda Alegrete também existe um cemitério, onde estão
sepultadas Rita Maria, Emerenciana e Amasiles, avós do Sr. Barbosa. O local é
cercado com pilares de madeira e arame liso (Figura 8).
Figura 8. Cemitério e presença de túmulos ornamentados na fazenda Alegrete,
município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Rezende 2013.
As formas das sepulturas são retangulares, implantadas em um amplo
terreno, em alvenaria de tijolos maciços, ornamentados com friso emoldurado
em forma de capitel, figuras geométricas que remetem ao Art Déco e
elementos decorativos marcados pelo exagero. Anteriormente havia um anjo
esculpido em mármore Carrara, o qual hoje é mantido em segurança na
fazenda Sossego. O conjunto da obra corresponde ao Estilo Eclético.
Atualmente, a fazenda Alegrete pertence a Modesto Brock, sul-rio-
grandense do município de Getúlio Vargas, que a comprou de Alaor Barbosa
na década de 1980. Divide suas atividades em pecuária e criação de peixes.
Seus campos são arrendados para o plantio da cana-de-açúcar, atividade
agrícola predominante, atualmente, na região.
66
Estação Beltrão – 1905
De acordo com ROOS (1996), em 1905, na passagem do sertanista
brasileiro Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, conhecido como o
patrono das linhas telegráficas no Brasil, foi instalada uma linha no município,
integrando a cidade às outras regiões do Brasil. Um dos resultados deste
percurso foi a Estação Beltrão, atualmente localizada no assentamento Estrela,
nas proximidades do córrego Beltrão, construída por volta de 1905, para
abrigar a sede dos correios na zona rural.
Segundo relatos de Valdomiro Barbosa, a edificação leva o nome do
proprietário da época, o Sr. Beltrão, um boliviano. No local também se serviam
refeições, como almoço, pois era parada de ônibus para os viajantes, sendo
um dos pontos mais movimentados da região.
Apesar de sua edificação encontrar-se em ruínas (Figura 9), ainda
existem alguns vestígios de seus materiais construtivos, tais como volumetria
em forma retangular, fundação em pedra, embasamento de soco, alvenaria de
tijolos maciços, revestida com argamassa, aberturas retangulares e cobertura
com estrutura de madeira.
Figura 9. Estação Beltrão no Assentamento Estrela, município de Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
67
A edificação esta implantada em um amplo terreno, uma característica
do estilo Neocolonial, sendo o conjunto da obra correspondente ao estilo
Eclético.
Apresenta revestimento como lajotas cerâmicas, aplicadas no sentido
vertical nas laterais das paredes da porta de entrada como ornamento,
paginação de piso com ladrilhos hidráulicos. A questão da presença deste tipo
de revestimento indica o poder financeiro das famílias. Como seu transporte da
Europa normalmente era custoso e complexo, seu uso era inicialmente restrito,
indicando que apenas os proprietários mais abastados podiam usar este tipo
de revestimento, com uma coloração intensa, quando com função decorativa,
ou uma cor mais sóbria, no interior das residências.
De acordo com relatos orais, apenas em 1940 passaram a serem
fabricados no Estado, em cidades como Aquidauana e, posteriormente,
distribuídas para outras regiões, tais como Rio Brilhante. De acordo com
CARVALHO (2008), a cidade de Corumbá, importante entreposto comercial da
região, também foi um importante centro produtor de ladrilhos, no auge de seu
poder econômico.
Fazenda Capão Bonito – 1916
De acordo com MARTINS (2010) e MAGALHÃES (2012), a região onde
fica a Capão Bonito foi palmilhada pelos sertanistas Joaquim Francisco Lopes
e John Herry Elliot, pela primeira vez nos idos de 1843. A fazenda se situa a
uma pequena distância da fazenda Alegrete e pertenceu, no início do século
XX, a Domingos Barbosa Martins, nascido em Jataí – PR. Filho mais velho de
Henrique José Pires Martins e Marcelina Barbosa Martins, primeira geração
dos “Barbosas”. Era mais conhecido na época como “Gato Preto”, apelido que
recebeu por não se prender nas armadilhas do inimigo, frequentes em períodos
de revolução.
Ainda, corroborando com MAGALHÃES (2012), em 1912 Domingos
Martins venderia as terras para a empresa norte-americana Brazil Land, Cattle
and Packing Company, do bilionário Percival Farquhar. O capataz da fazenda
era o Escocês James R. Burr, mas o principal supervisor de todas as fazendas
da Brazil Land no Estado foi o texano Murdo Mackienze.
68
Após a desativação dos grandes investimentos de Percival Farquhar no
Brasil, a Capão Bonito foi nacionalizada no ano de 1940, através de um decreto
de Getúlio Vargas, sendo incorporada à S. A. Cafeeira da Noroeste, grupo que
chegou a possuir 145 mil ha no Estado. Em 1964, Nicolau Zarvos Filho, um
descendente de gregos que gostava de conhecer novos lugares, comprou a
fazenda; em 1990, Zarvos venderia a Capão Bonito para o Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária.
Em relação à sede da fazenda, a primeira edificação estava implantada
em um amplo terreno e possuía a volumetria retangular, com aberturas em
forma de arco, varandas com pilares em madeira, cobertura em quatro águas
com estrutura de madeira e telhas de barro. O conjunto da obra corresponde
ao estilo Neocolonial (Figura 10).
Figura 10. Primeira sede da fazenda Capão Bonita, hoje já demolida, município
de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: MAGALHÃES (2012).
Atualmente, na fazenda ainda existem três edificações em alvenaria com
os mesmos materiais construtivos, com características construtivas de
rusticação, como a mistura de pedra, madeira e a presença de lareiras em seus
interiores (Figura 11).
69
Figura 11. Segunda residência da fazenda Capão Bonito, município de Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Na edificação (Figura 11) funciona hoje a Escola EFASIDRO (Escola
Família Agrícola de Sidrolândia), que se encontra em estado de abandono, por
parte do atual proprietário.
O local possui ambientes como quartos, salas, cozinha, varandas, jardim
interno e uma lareira. Os materiais construtivos são embasamento de soco,
fundação e paredes largas de pedras, com vedação em taipa. Fachada e pé
direito alto, antecorpo em ressalto com bossagem de rusticação e cobertura
com estrutura de madeira e telhas de barro, duas águas e aberturas
retangulares com vedação em madeira. Na sala de entrada, a presença do
cogobó em ferro com formas geométricas, o qual traz a iluminação natural,
uma característica do Neocolonial; nas aberturas como as janelas, figuras
entalhadas nas madeiras reproduzindo a natureza, como flores e folhas, que
remetem ao Art Nouveau. O conjunto da obra corresponde ao Eclético.
Fazenda Sossego – 1923
De acordo com REZENDE (2013), na sede da fazenda Sossego (Figura
12), as paredes são de tábuas de aroeira, trazidas da Fazenda Capão Bonito e
70
o telhado, com telhas de barro, fabricadas em Barreirinho, localizado diante da
fazenda Passatempo, devido a grande presença de barro, utilizado para a
confecção e de onde derivada seu nome. O material era transportado por
carros de boi e atualmente no local funciona uma usina de açúcar.
Figura 12. Residência e bica d‟água na fazenda Sossego, município de Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: REZENDE (2013).
A edificação foi implantada em um amplo terreno e seu piso é em
mosaico branco e marrom escuro. A casa foi inaugurada em 1923, executada
por Carlos Taveira e conta com varandas, sala de visita, jantar e quartos, com
assoalho de madeira corrida, além de cozinha e despensa, com banheiro no
quintal. É característica da arquitetura espontânea vernácula, devido a madeira
ser um material construtivo abundante na região.
Fazenda Sucuri – 1930
De acordo com MAGALHÃES (2012), o fundador desta fazenda foi
Antônio Pereira Martins, parente de José Antônio Pereira, o mineiro que deu
origem à cidade de Campo Grande, que vislumbrava inúmeras possibilidades
para a área situada nos afamados Campos de Vacaria. Mais tarde, seu filho
Etalívio Pereira Martins, transformou o local num dos mais bem-sucedidos
empreendimentos da agropecuária sul-mato-grossense.
Ainda citando com MAGALHÃES (2012), Etalívio Pereira começou
comprando e vendendo bois para Henrique Vasquez, um dos proprietários da
célebre Casa Vasquez, de Corumbá, que possuía escritórios de compra e
venda de bovinos em Campo Grande e alguns curtumes no Estado. Ele e o
71
cunhado Laucídio Coelho transportaram grandes boiadas em direção ao Porto
XV, onde os animais eram embarcados para São Paulo.
Em relação à sede da fazenda, a edificação é térrea, implantada em um
amplo terreno, com cerca em madeira no entorno da edificação, embasamento
em soco, pedestais e degrau de acesso ao alpendre avarandado. O corpo é
com esteio, frechal e trama de pilastras verticais.
O frontão central do hall de entrada, com apliques e ornamentos em seu
tímpano, possui como epígrafe e monograma “FDAS EPM” e a data da
construção, “1930”, com elementos do estilo Art Déco, como formas
geométricas, além do estilo Art Nouveau, como a guirlanda em forma de folhas.
A alvenaria é de tijolos maciços, com bossagem revestida com argamassa. As
aberturas são retangulares com vedação em ferro, madeira e vidro. A cobertura
com jogos de telhados variados, entre três e quatro águas, com estrutura de
madeira e telhas de barro. O conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético
(Figura 13).
Figura 13. Residência da fazenda Sucuri, município de Rio Brilhante, Mato
Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Outra construção existente na fazenda é a Igreja Nossa Senhora de
Nazaré, que possui uma volumetria retangular, implantada em um amplo
terreno, embasamento em soco, frontão triangular na platibanda e hall de
entrada (Figura 14).
72
Figura 14. Igreja Nossa Senhora de Nazaré, fazenda Sucuri, município de Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Nas laterais, as janelas são em aberturas retangulares com quadros e
vedo em ferro e vidro, como vitrais coloridos, reproduzindo a imagem de anjos,
santos e motivos florais, que remetem ao Art Nouveau. No seu ápice da
platibanda superior, aparece a escultura de um anjo. Na lateral esquerda, uma
parede com elementos vazados em forma de arco com um sino e em seu
interior, móveis de madeira entalhada. O conjunto possui inspiração no
Eclético.
Para GLANCEY (2001), o meio mais visível de celebrar a riqueza e
saúde (grandes igrejas e templos erguidos para agradecer a Deus ou aos
deuses e santos o fim de alguma praga virulenta) é uma forma de escada para
o céu. A humanidade queria sintonizar-se com a mente que criou o universo e
assim, também, se verificaram nas primeiras fazendas vacarianas, além dos
cemitérios, construções de igrejas e capelas, próximo às residências. Porém,
apenas algumas sobreviveram ao tempo.
A herdeira de Etalívio Pereira Martins, sua filha Eda, comanda a fazenda
com quatorze mil hectares, com gado nelore criado a campo; porém,
atualmente, a maior parte de sua área está ocupada pelo cultivo de soja e
milho. As construções existentes na fazenda se encontram em ótimo estado de
73
conservação, desde o cuidado de manutenção da edificação, bem como os
mobiliários, ainda, da época, a paginação de piso e bica d‟água (Figura 15).
Figura 15. Detalhes como os mobiliários, paginação de piso e bica d‟água na
Fazenda Sucuri, município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo
do autor.
Ponte de madeira – 1934
A grande riqueza de madeira na região era baseada em espécies de
madeiras de lei, como perobas, angelins, aroeiras e ipês, além de outras,
propiciando sua utilização como vigamento de telhados, residências e pontes
de madeira, ainda visíveis em algumas áreas na zona rural e urbana.
Exemplo desta utilização, segundo SOUZA (2007), foi durante a ditadura
Vargas, onde o governador autorizou o Sr. Laucídio a fazer uma ponte (Figura
16); este, então, contratou o engenheiro Dr. Amélio Baís para fazer o projeto
sobre o rio Vacaria, Distrito de Prudêncio Thomaz, na qual foram exploradas as
madeiras retiradas de sua propriedade, com o empreendimento executado pelo
74
próprio empreiteiro que trabalhava em sua fazenda, o João Paulista. Foi
construída no período de 1934 a 1937; posteriormente, demolida e substituída
por uma ponte de concreto.
Figura 16. Primeira ponte de madeira sobre o rio Vacaria, município de Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991).
Fazenda Bela Vista - 1938
FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991), afirmam que as primeiras casas
da região eram simples palhoças cobertas de palha, sem iluminação elétrica,
conhecendo apenas os candeeiros, lamparinas e lampiões, alimentados com
azeite ou outro tipo de combustível.
De acordo com as mesmas autoras, Antônio Gonçalves Barbosa batizou
o lugar em que foi instalada a fazenda de Boa Vista; desta maneira, estava
fundada a partir de então uma das primeiras fazendas do local. Como as matas
ainda eram ocupadas por índios Caiuás, nem sempre amistosas com a invasão
de suas terras, os pioneiros erguiam suas moradas em semicírculo,
empregando a aroeira, madeira resistente e abundante.
Ainda citando SOUZA (2007), a casa de madeira da fazenda Bela Vista
foi construída por José Justiniano de Souza Coelho, pai de Laucídio Coelho,
entre os anos de 1892 e 1893, sendo uma das poucas com registro fotográfico
na região (Figura 17).
A residência possui uma volumetria retangular, implantada em um
terreno amplo, aberturas de portas e janelas simétricas, retangulares, cobertura
em quatro águas e telhas de barro tipo francesa. SOUZA (2007) escreve que a
75
casa foi feita de esteios de aroeira e paredes de tijolos. Característica da
arquitetura espontânea vernácula.
Figura 17. Primeira sede em madeira na fazenda Bela Vista, município de Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
A madeira era um material construtivo abundante e bastante explorado
na região e as primeiras construções este material abundante, como ainda se
pode visualizar em alguns locais.
Quando os proprietários rurais passaram a ter um maior poder
econômico, o padrão das casas se modificou; e começou a seguir o modelo de
plantas retangulares, coberturas em quatro águas com telhas de barro tipo
francesa ou colonial, aberturas simétricas em suas portas e janelas, com a
presença de varandas nos fundos e em sua lateral, sempre implantado em
terrenos amplos.
Para MAGALHÃES (2012), a Fazenda Bela Vista, cuja construção em
alvenaria foi edificada em 1938, foi um modelo de produtividade integrada,
quando teve fábricas de cerâmica e de farinha de mandioca, serraria, engenho
de cana e açougue com abate diário.
Implantada em um terreno amplo, uma característica do estilo
Neocolonial, mas cercada com pilares de concreto e madeira, com um portão
de acesso duas folhas em ferro ornamentado, que remetem ao estilo Art
76
Nouveau. Também, possui uma varanda destacada pela colunata com pilares e
detalhes no ressalto em formas geométricas, que caracteriza o Art Déco; em
sua calçada, foi revestida com uma paginação de piso em mosaico português
(Figura 18).
Figura 18. Primeira residência em alvenaria na fazenda Bela Vista, município
de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
A volumetria da residência é retangular, com embasamento em soco e
entre os materiais construtivos, a alvenaria de tijolos maciços, com bossagem
revestida com argamassa. As aberturas externas frontais são em forma de
arcos, já as laterais e internas em formas retangulares, com quadros e vedação
com madeira e vidros. A estrutura em madeira, coberta por telhas de barro,
com o desenho da cobertura variando entre três e quatro águas. O
revestimento interno nas paredes das varandas com madeira. O ornato é em
relevo, com letras iniciais do nome do proprietário, “LC”, “FDA Bella Vista”, e a
data da construção, 1938, sendo o conjunto correspondente ao estilo Eclético.
Observa-se, também, uma piscina no formato retangular em sua área de
lazer, e aos fundos, uma caixa d‟água de concreto com forma geométrica em
sua volumetria, uma característica do estilo Art Déco.
77
Na sede da fazenda encontra-se, também, um exemplar edificado com
função religiosa, construída por seus proprietários, em resposta a uma graça
recebida; esta edificação, também, funcionava como escola para as crianças
da fazenda.
A edificação está cercada por pilares de madeira de aroeira, com arame
liso. Sua entrada é marcada por um hall com cobertura em duas águas, duas
pseudo colunas nas laterais, com degraus e uma cruzeta no alto da parede
acima da primeira cobertura (Figura 19).
Figura 19. Capela na fazenda Bela Vista, município de Rio Brilhante, Mato
Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
A volumetria da capela é retangular, avarandada em suas laterais e por
estar em amplo terreno, uma característica do estilo Neocolonial. Seu
embasamento é em soco e com cobertura em duas águas com telha de barro.
Também, apresenta aberturas retangulares com quadros e vedação em
madeira e a alvenaria é em tijolos maciços. O conjunto da obra corresponde ao
estilo Eclético. Todas as edificações na fazenda se encontram em ótimo estado
de conservação, tanto a antiga residência em madeira, quanto à em alvenaria.
Atualmente pertencem aos irmãos de Adelaide Coelho.
Assentamento Mutum – 1940
No assentamento Mutum encontra-se a antiga residência de Ludovico
Nogueira, fazendeiro bem-sucedido na época, construída em 1940. No local
atualmente funciona o escritório do Instituto de Reforma Agrária e Colonização
78
– INCRA. Devido ao descaso atual, a obra encontra-se em má estado de
conservação.
A questão da destruição da memória arquitetônica, através do processo
de reforma agrária, deveria ser uma preocupação de arquitetos, urbanistas,
historiadores, entre outros, no Brasil. Como processo normal, o governo, após
adquirir as propriedades rurais, faz a divisão dos lotes e sua distribuição.
Porém a infraestrutura física existente, tais como as antigas sedes,
apesar de terem sido compradas por um alto valor, ficam abandonadas a
própria sorte, sofrendo lentamente processos de vandalização e depredação, o
que as torna, dentro de pouco tempo, apenas ruinas do que foi a história da
região e do Brasil. Porém este aspecto não é discutido ou questionado, quando
do processo de criação de assentamentos em áreas com construções
históricas, o que também foi observado na Estação Beltrão, um marco do
processo de integração das diferentes regiões do Brasil através do telegrafo e
atualmente em ruinas e fazenda Capão Bonito, com suas edificações em
processo de degradação.
A sede foi implantada em um amplo terreno e avarandada, uma
característica do estilo Neocolonial, com embasamento em soco, alvenaria de
tijolos maciços, com bossagem revestida com argamassa (Figura 20).
Figura 20. Antiga sede de fazenda localizada no Assentamento Mutum,
município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
79
A cobertura é aparente, com estrutura em madeira e telhas de barro. A
entrada principal é marcada por um frontão em alvenaria, platibanda com
formas geométricas intercaladas, característica do estilo Art Déco, moldura no
ressalto do reboco, ornato na forma circular no centro do frontão, com as letras
iniciais do nome do proprietário, “LN” e data da construção, “1940”. As
aberturas são retangulares com vedação em madeira e vidro. A paginação de
pisos nas salas é em ladrilho hidráulico colorido diferenciado; já nos quartos, o
assoalho é de madeira. O conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético
(Figura 21).
Figura 21. Detalhe paginação de piso e bica d‟água da residência situada no
Assentamento Mutum, município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:
Acervo do autor.
Fazenda Vira Mão – 1941
Em outra fazenda da região, conhecida como Vira Mão, encontra-se
uma edificação construída em 1941 (Figura 22), que era referência de conforto
na região. Pertenceu a Estevão Gonçalves Barbosa Marques, e depois a sua
filha, Donata Oliveira Barbosa e esposo, Olívio Oliveira. Hoje é propriedade do
herdeiro Emilio Curi, residente em Campo Grande – MS.
80
Figura 22. Sede da fazenda Vira Mão, município de Rio Brilhante, Mato Grosso
do Sul. Fonte: Acervo do autor.
A edificação (Figura 23) possui o térreo e o pavimento superior, cercada
por um muro de concreto e gradil em ferro, em um amplo terreno. Seu
embasamento é em soco, com pedestais e escada de acesso, alvenaria de
tijolos maciços, com bossagem revestida com argamassa.
Figura 23. Sede da fazenda Vira Mão, município de Rio Brilhante, Mato Grosso
do Sul. Fonte: Acervo do autor.
A cobertura é aparente, com estrutura de madeira e desenho em três e
quatro águas, coberta por telhas de barro. Também possui aberturas
81
retangulares com vedação em madeira e vidros. Corpo com esteio, frechal e
trama de pilastras verticais de fuste liso, base e capitel, além de coroamento
arquitrave, friso e cornija, frontão central, alpendre avarandado com guarda-
corpo balaustrado em inspiração jônica.
Também possui papel de parede aplicado nas paredes internas da
varanda. Implantada em um amplo terreno, em seu tímpano, apliques e
ornamentação como a presença de um medalhão, ornato oval em cercadura
com monograma, ornato com letras entrelaçadas e a data da construção. A
obra possui inspiração no neocolonial, mas o conjunto é caracterizado como
Eclético.
Fazenda Recreio – 1942
A sede da fazenda (Figura 24), construída em 1942, pertenceu a Marcos
Gonçalves Barbosa, irmão de Estevão Barbosa e depois a Generoso Barbosa.
Figura 24. Sede da fazenda Recreio, com detalhes da paginação de pisos e
móveis, município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do
autor.
82
Hoje pertence a uma proprietária residente no Estado de São Paulo,
sem vínculos familiares com os antigos herdeiros, que a mantém em bom
estado de conservação.
A entrada de acesso principal é marcada por uma varanda. Sua
volumetria é em forma retangular, implantada em um amplo terreno,
avarandada, com pilares e um cercado em balaústra de madeira. O
embasamento é em soco, com alvenaria de tijolos maciços, com bossagem
revestida com argamassa.
A abertura de portas e janelas possui formas retangulares e de arcos,
com quadros e vedação em madeiras e vidro. A cobertura da estrutura é de
madeira, com telhas de barro, quatro águas. A paginação de pisos é com
ladrilhos hidráulicos e móveis, entalhados em madeira. Sua inspiração é no
Neocolonial.
Fazenda Triângulo – 1945
Na fazenda encontra-se a antiga residência de Gumercindo Barbosa,
fazendeiro bem sucedido na época. Atualmente pertence à família Aléssio.
Na construção, o alpendre é avarandado e em sua entrada principal
existe uma abertura em forma de arco-pleno. No pavimento superior, a
presença de um guarda corpo balaustrado. O antecorpo é com ressalto,
bossagem e rusticação, além de trama de pilastras verticais com capitel.
O coroamento da edificação apresenta frisos ornamentados, arquitrave,
conija, sendo o muro de ático em frontão triangular, tímpano com o desenho
em forma geométrica de triângulo, moldura com ressalto em monograma com
as letras iniciais do nome do proprietário, “GB”, e data da construção, “1941”.
Os elementos decorativos são em ressalto no arremate do coroamento da
edificação.
Dentre os materiais utilizados na sua construção se destacam alvenaria
de tijolos maciços revestidos com argamassa, aberturas retangulares com
quadros e vedos de madeira e vidros martelados. A estrutura do telhado é de
madeira, coberta por telhas de barro, com o desenho da cobertura variando
entre duas a três águas. O conjunto de elementos decorativos da obra é
marcado pelo exagero de detalhes e ornamentos. A obra possui inspiração no
Neocolonial, mas o conjunto é caracterizado pelo estilo Eclético.
83
Segundo relatos orais dos descendentes da família dos Barbosas, na
frente de sua residência (Figuras 25 e 26), Gumercindo Barbosa, juntamente
com os músicos do Trio Serenata, famoso em sua época, compôs a letra da
música Chê Florência. Esta canção foi uma homenagem à sua esposa
“Florença”, nome pelo qual carinhosamente lhe chamava para tomar o
chimarrão.
Figura 25. Fachada frontal e lateral da sede da fazenda Triângulo, município
de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Figura 26. Capa do disco de vinil do grupo Trio Serenata. Foto cedida pelo
Grupo Trio Serenata.
Fazenda Campo Alegre – 1947
A sede da fazenda Campo Alegre (Figura 27) foi construída em 1947 e
pertenceu a Lourival Barbosa e sua esposa, Antônia de Souza Barbosa. O
84
proprietário, mais conhecido como “Sinhozinho”, o qual foi fazendeiro e Prefeito
do Município, no período de 1960 a 1963. Atualmente a propriedade pertence
ao neto herdeiro, André Barbosa.
Figura 27. Sede da fazenda Campo Alegre, com detalhes da residência, muro
e bica d‟água, município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo
do autor.
A construção é cercada por uma mureta de concreto com pilares,
implantada em um amplo terreno, que remete ao estilo Neocolonial. Sua
volumetria é em forma retangular, com embasamento em soco, entrada
principal com duas pilastras torcidas, um portão em ferro e acima no seu
tímpano, uma moldura em ressalto em forma geométrica com um azulejo e
gradil em ferro ornamentado, detalhe este que remete ao estilo Art Nouveau.
A alvenaria é de tijolos maciços, com bossagem revestida com
argamassa. As aberturas são retangulares com vedação em madeira, ferro e
vidro. A cobertura é duas águas, com madeiramento e telhas de barro. O
conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético.
Na propriedade ainda existem duas construções com função religiosa. A
capela (Figura 28) possui uma forma volumétrica retangular, implantada em um
amplo terreno, embasamento em soco, com duas pseudo-colunas e
85
ornamentos em formas geométricas no reboco em ressalto, reproduzindo o
desenho de degraus e uma cruz em sua platibanda que esconde a cobertura
em duas águas com telhas de barro. Também possui aberturas retangulares
com quadros e vedo em ferro e vidro. O conjunto da obra corresponde ao estilo
Eclético.
Figura 28. Igreja e cemitério existentes na fazenda Campo Alegre, município
de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Outra edificação é o cemitério, implantado em um amplo terreno e
cercado por um muro de cimento. No local encontram-se sepultados alguns
dos descendentes dos “Barbosas”, como Lino Barbosa, falecido em 1936,
Guilhermina Barbosa Moura, falecida em 1933 e Jehovah da Fonseca Barbosa,
dentre outros.
As formas das sepulturas são retangulares, em alvenaria de tijolos
maciços, ornamentados com esculturas em seus sepulcros e molduras no
ressalto do reboco em formas geométricas que remetem ao Art Déco, algumas
revestidas por diferentes tipos de mármores. Sua inspiração também é no estilo
Eclético.
86
Fazenda Suez – 1948
Outra propriedade que é referência histórica para a região é a fazenda
Suez (Figura 29), com sede edificada em 1948 e inspiração no estilo
Neocolonial. Um dos primeiros proprietários da área foi Etalívio Pereira Martins
e, atualmente, a propriedade pertence a Aguiar de Almeida Pereira.
A fazenda era considerada um colosso, em relação ao tamanho, pois
abrangia um trecho de mais de 30 km entre os rios Vacaria e Brilhante, a leste
da cidade de Rio Brilhante, possuindo cerca de 50 mil hectares, em um dos
pontos de terras mais férteis do Estado. Inicialmente, a região era coberta por
matas de grande porte, que Etalívio Pereira Martins passou a explorar em fins
dos anos de 1950. Estas áreas se transformaram em áreas de pastagens, hoje
cobertas com cana-de-açúcar (MAGALHÃES, 2012).
Figura 29. Sede da fazenda Suez, em alvenaria, serraria e casas em madeira,
município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: MAGALHÃES (2012).
Devido ao seu grande tamanho, a fazenda sofreu vários
desmembramentos, originando uma série de outras propriedades. Porém, as
novas atividades, associadas a grandes modificações ambientais decorrentes
87
da derrubada de florestas e queimadas, levou à diminuição da vazão dos rios e
córregos, resultando em uma série de problemas ambientais hoje verificados.
Nessa mesma fazenda existiu uma grande serraria. Para abrigar seus
funcionários, foram construídas trinta casas em madeira, uma verdadeira vila,
no auge da exploração madeireira (MAGALHÃES, 2012).
Como características construtivas da sede da fazenda, implantada em
um amplo terreno, são observadas a volumetria da edificação em forma
retangular, com o térreo e o primeiro pavimento. O embasamento é em soco,
com escada de acesso e varandas com aberturas em forma de arcos, alvenaria
de tijolos maciços e com bossagem revestida com argamassa. As aberturas
das janelas são em forma de arco, com vedação em ferro e vidro, modelo
veneziana. A inclinação do telhado é de duas águas, com estrutura em madeira
e telhas de barro.
Como resultado do processo de desmembramento e vendas de partes
da propriedade, surgiu uma empresa, denominada Energética Santa Helena;
em sequência, em parceria os proprietários da área remanescente da Fazenda
Suez, construiu-se a Usina Eldorado. Na ocasião de sua inauguração, um dos
únicos filhos do patriarca, Etalívio Pereira Martins, ainda vivo, José Pereira
Martins, mais conhecido como Zé Pereira, foi saudado efusivamente por
Benedito Coutinho, que iniciava um novo empreendimento de sucesso.
Posteriormente a empresa foi vendida para a Odebrecht Agroindustrial, porém
continua até hoje com o nome de Eldorado.
Conclusão
A ocupação pioneira no município de Rio Brilhante, em 1836, antes
denominada de Campos de Vacaria, por desbravadores mineiros, pertencentes
às famílias Barbosa, Garcia Leal e Lopes, permitiu a colonização branca ao
longo dos rios Brilhante e Vacaria, até a serra de Maracaju e atual município de
Jardim.
Um fator que impactou diretamente a região foi a Guerra do Paraguai,
que destruiu diversas residências na época, denominadas de ranchos. No pós-
guerra, em 1872, se estabeleceu um novo desenvolvimento regional, com a
comercialização de produtos da pecuária e erva-mate, com a mão de obra
exercida pela força do trabalho indígena e paraguaia. Aliado a outros fatores,
88
isto permitiu um grande crescimento econômico da região, cujo acúmulo de
capital resultou na construção de residências abastadas para o padrão da
região.
Uma característica construtiva bastante encontrada nas fazendas, em
função da utilização da madeira abundante na região, foi a arquitetura
espontânea vernacular, como as residências em madeira, implantadas sempre
em amplo terreno, além de edificações como pontes, bicas d‟água, e o cercado
das edificações com pilares de madeira e arame liso.
As famosas bicas d‟águas, construídas em madeiras diversas, não são
mais encontradas devido ao apodrecimento da estrutura. Porém, outras, de
alvenaria com cimento e pedras, de formato retangular, ainda aparecem com
frequência, passando por dentro da área de serviço da residência e pelas
varandas.
Com o surgimento das construções em alvenaria, aparecem os
cemitérios, igrejas, as residências com cômodos mais amplos, como a
paginação de pisos, revestidas por ladrilhos hidráulicos, nas janelas os vitrais
coloridos, muitos desses materiais importados da Europa e, comercializados
via casas comerciais de Corumbá.
As residências passam a ter mais ornamentos e detalhes em suas
fachadas e aberturas, mobiliários internos mais confortáveis, ficando visíveis
seus elementos arquitetônicos, bem definidos através de ornamentos e
materiais construtivos, demonstrando o poder do capital acumulado pelas
famílias pioneiras.
No Estado de Mato Grosso do Sul, como exemplo, a arquitetura da
cidade de Corumbá e, também, da cidade de Rio Brilhante, não foi totalmente
autêntica, aos moldes de outros Estados e países do mundo. Esta situação
pode ser comprovada em livros, dissertações e teses de outros autores, que
mencionam construções em madeira e alvenaria nas fazendas da região como
sendo uma arquitetura no estilo Colonial, uma característica do século XVI ao
XVIII.
Pode-se afirmar que na ocupação da região pós-guerra, no final do
século XIX, a forma arquitetônica começa a ser importada de outras
localidades do Brasil e do mundo.
89
Isto pode se observar nas residências de madeira e residências térreas
e assobradadas em alvenaria, com um determinado número de elementos
arquitetônicos, mas não autênticos e genuínos de um estilo homogêneo.
Dentre os estilos identificados predominaram a arquitetura espontânea
vernacular, o Neocolonial e o Ecletismo.
A importância dessa pesquisa histórica para o município de Rio Brilhante
e o Estado de Mato Grosso do Sul se faz por nortear futuras pesquisas e
projetos que fornecerão novos desdobramentos, ampliando o conhecimento
sobre o desenvolvimento rural desta região.
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92
Artigo II
A produção arquitetônica na zona urbana do Município de Rio Brilhante,
Mato Grosso do Sul: 1900 a 1960
Fábio Fernando Martins Oliveira
Resumo
A colonização desta região se deu sob a influência de migrantes mineiros,
paulistas e paraguaios. Além destes, ocorreu a chegada de japoneses, sírios,
libaneses, alemães e italianos. Estes migrantes exploraram a pecuária, a
extração da madeira e a coleta da erva-mate, o que propiciou o acúmulo de
capital e permitiu a construção de edificações, que através de seus materiais
construtivos e ornamentos, tornaram-se relevantes arquitetonicamente.
Levando-se em consideração a importância histórica do município de Rio
Brilhante e de seu distrito, Prudêncio Thomaz, objetivou-se analisar as
características estilísticas, materiais construtivos, seus respectivos períodos e
histórias dessas construções na zona urbana da cidade de Rio Brilhante, entre
1900 a 1960, a partir de relatos orais dos descentes desses pioneiros. Também
por meio de visitas realizadas in loco nas diferentes propriedades, realizou-se o
mapeamento e registro fotográfico, além de, uma pesquisa bibliográfica e
visitas ao órgão público, como a Secretaria de Obras e Biblioteca Municipal.
Foram identificadas 46 edificações e dentre elas, igrejas, residências e
comércios em madeira e alvenaria, sendo que somente 22 dessas construções
ainda existem e 24 já foram demolidas, restando apenas seu registro
fotográfico. Com esta análise, destaca-se a importância do estudo e registro
dessa arquitetura inserida na paisagem urbana, onde algumas ainda resistem
ao tempo, retratando a história da ocupação do município e a memória local
dessa população.
Palavras-chave: Patrimônio arquitetônico, Rio Brilhante, Prudêncio Thomaz.
The architectonic production in the urban area of Rio Brilhante, Mato
Grosso do Sul: 1900 to 1960
Abstract
The colonization of this region occured under the influence of migrants from
Minas Gerais, São Paulo and Paraguay. Aside of them, there was the arrival of
93
Japanese, Syrian, Lebanese, German and Italian people. This migrants
exploited cattle raising, logging and Yerba mate collect; this provided capital
accumulation and made possible the construction of buildings that became
architectonically relevant because of its building materials and ornaments.
Considering the historical importance of Rio Brilhante and its district, Prudêncio
Thomaz, the objective was to analyze the stylistic features, building materials,
their respective periods and the history of these constructions in the urban area
of Rio Brilhante, between 1900 and 1960, based on oral accounts of the
descendants of these pioneers. Also, through visits in loco to the different
properties, a mapping and a photographical register were done, in addition of a
bibliographic research and visits to public institutions, such as the Secretary of
Public Works and the Municipal Library. 46 buildings were identfied and among
them there are churches, houses and comercial buildings, of which only 22
constructions still exist, and 24 were demolished, remaining only their
photographical register. Through this analysis it is highlighted the importance of
the study and the register of this architecture localized in the townscape, where
some of them withstand time, showing the town occupation history and the local
memory of its population.
Key-words: architectonic heritage; Rio Brilhante, Prudêncio Thomaz.
Introdução
No ano de 1900, o município de Rio Brilhante, anteriormente chamado
de Campos de Vacaria, é marcado pela chegada de Francisco Cardoso Junior,
oriundo de São Roque – MG. Nesta época, de acordo com FACHOLLI e
DOERZEBACHER (1991), os habitantes da região encontravam-se ainda
fixados em sua maioria nas fazendas e na localidade da Aroeira, uma pequena
vila habitada por poucas pessoas. Nesta ocasião, Francisco Junior ergueu um
cruzeiro e marcou assim, o nascimento de um novo povoado no local.
Este personagem histórico se casou com a sobrinha de José Francisco
Lopes, mais conhecido por “Guia Lopes da Laguna”, que fez parte da história
do Brasil, pois foi o guia de uma tropa de 1500 homens do coronel Carlos de
Morais Camisão, que através de uma marcha de Bela Vista até Nioaque, por
35 dias, fugindo da perseguição dos soldados paraguaios, levou à morte
centenas de soldados brasileiros, por fome, doenças e lutas, recebendo o
94
episódio o nome de Retirada de Laguna, um triste evento da Guerra do
Paraguai (FLORES, 2010).
Ainda de acordo com o autor, a esposa de José Lopes, Maria Conceição
Barbosa, também conhecida como Senhorinha, foi uma importante
personagem da região, pois era filha de Antônio Gonçalves Barbosa, um dos
desbravadores dos Campos de Vacaria. Foi capturada e levada ao Paraguai
por duas vezes, ficando viúva por duas ocasiões, com sua história registrada
por diferentes historiadores.
Após a instalação do cruzeiro, alguns fazendeiros doaram posses de
terras para a concretização da sede do município. A partir daí, delineou-se
então a primeira planta da cidade que passou a denominar-se a “Entre Rios”,
por estar situada entre os rios Vacaria e Brilhante (FACHOLLI e
DOERZEBACHER, 1991).
Segundo relatos orais de descendentes de pioneiros, com a chegada de
Marechal Cândido Rondon, com seus equipamentos topográficos, locou-se os
quatro cantos da praça central, surgindo assim, o traçado da malha urbana em
tabuleiro xadrez. ROSSI (2001, p. 10) afirma que as cidades colonizadas pelos
europeus eram influenciadas por certas tipologias edificatórias e urbanas,
trazidas ao Brasil pelos portugueses.
FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991) escreveram que em 26 de
setembro de 1929, aconteceu a elevação de “Entre Rios” a município,
tornando-se independente administrativamente a partir desta data, mas ainda
pertencendo a Comarca de Campo Grande. Já em 1943, Entre Rios foi elevada
a Comarca e recebe o nome de “Caiuás”, em referência a tribo indígena que
era habitante primitiva da região. Em 30 de setembro de 1948, novamente
existe uma alteração de nome, passando de Cauiás para Rio Brilhante, em
homenagem ao importante rio da região.
O único distrito do município de Rio Brilhante, atualmente chamado de
Prudêncio Thomaz, segundo SOUZA (2007), era a vila denominada de Aroeira
devido à abundância da árvore nativa na região. Ainda de acordo com o autor,
Prudêncio Thomaz Leme era oriundo do Paraná e casou-se com Dona
Inocência Monteiro. Instalou-se em uma pequena casa de comercio, chamada
popularmente de bolicho, onde comercializava erva-mate. A então vila Aroeira,
95
por iniciativa do ex-deputado Ruben Figueiró, teve seu nome modificado para
Prudêncio Thomaz, em homenagem ao comerciante.
O nome da primeira fazenda no local, que pertenceu a Antônio
Gonçalves Barbosa e foi fundada aproximadamente em 1838, também, era
Aroeira (SOUZA, 2003). O mesmo autor informa que a fazenda, após ser
doada e outras vezes vendida para diversos proprietários, acabou sendo
dividida em 30 áreas distintas.
Posteriormente, foi adquirida em 1919 por Laucídio Coelho, que
comprou o direito de posse de 3.600 hectares; depois de muitas lutas judiciais
e enfrentamentos com o banditismo existente na região, o mesmo se tornou o
proprietário do local. De acordo com FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991),
este é um típico caso de rearranjo fundiário.
Esse processo de formação do núcleo urbano, bem como seus
processos arquitetônicos, ocorreu em conjunto com as principais atividades
econômicas ali desenvolvidas, como a pecuária, exploração da madeira e a
extração da erva-mate.
Esta situação garantiu aos proprietários de terras um alto poder
aquisitivo com o acúmulo de capital, sendo possível a construção de
edificações como residências, comércios e igrejas, com materiais importados
até mesmo da Europa, por meio das casas comerciais de Corumbá, um
importante entreposto comercial na época.
Edificações estas, construídas no final do século XIX e início do século
XX, resultaram da combinação de um ou mais elementos arquitetônicos bem
definidos em suas volumetrias, que demonstraram suas inspirações estilísticas.
Para PEVSNER (2002), quase tudo aquilo que encerra um espaço, cuja
escala seja suficiente para que o ser humano possa se deslocar é uma
construção; o termo arquitetura aplica-se apenas a construções projetadas,
tendo em visto o interesse estético. Uma construção pode provocar essas
sensações estéticas por três aspectos diferentes.
Em primeiro lugar, podem ser produzidas pelo tratamento das paredes,
pela proporção das janelas, pela relação entre as paredes e aberturas, entre
um andar e outro, pela ornamentação, como guirlandas de folhas e frutos. Em
segundo, o tratamento da parte exterior de um edifício, com um todo, é muito
96
significativo em termos estéticos: o contraste entre os volumes, o efeito de um
telhado em ponta ou plano, o ritmo das saliências e reentrâncias.
Em terceiro e último, há um efeito que exercem sobre os sentidos o
tratamento interior, a sequência dos aposentos, a amplitude de uma nave em
seu cruzamento e o movimento majestoso de uma escadaria barroca.
Com a análise das construções urbanas do município, destaca-se a
importância do registro dessa arquitetura inserida na paisagem, retratando a
história da ocupação do município e a memória local dessa população.
Levando-se em consideração estes fatores, objetivou-se identificar as obras
mais relevantes arquitetonicamente, analisadas através de suas características
estilísticas, materiais construtivos e seus respectivos períodos históricos.
Material e Métodos
A área estudada compreende o município de Rio Brilhante e o distrito de
Prudêncio Thomaz, localizados no Estado do Mato Grosso do Sul, região
Centro-Oeste (Figura 1), com uma área de 3.987,397 Km2 e população de
aproximadamente 30.663 habitantes (IBGE, 2015).
Os solos da região tem origem no basalto (latossolos roxos) e conforme
os dados da Carta Topográfica (CPRM, 2005), a área possui altitudes variando
entre 360 a 390 metros, com topografia plana (OLIVEIRA, 2009). Sua rede
hidrografia é comandada pelos rios Vacaria e Brilhante.
Os dados referentes ao trabalho foram obtidos através da análise
documental por meio de mapas existentes na Prefeitura Municipal, Secretaria
de Obras e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, assim como o
levantamento de algumas fotografias das edificações obtidas na Biblioteca
Municipal.
O restante do material fotográfico foi cedido por descendentes das
famílias pioneiras. A pesquisa de campo completou-se através da geofografia,
localizando as edificações, através de pontos amostrais, os quais foram obtidos
com o uso do GPS Garmin, coordenadas UTM DATUM sirgas 2000 fuso 21
Sul.
97
Figura 1. Localização do Município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul e
área de estudo. Fonte: IBGE (2015), adaptado pelo autor.
As fontes secundárias, relativas a algumas construções, se deram
através de publicações afins, tais como ARRUDA (1999), MARQUES (2001),
MAGALHÃES (2012) e LIMA (2013). Para demonstrar a aplicação do método
proposto, foi realizada uma seleção das edificações mais expressivas da zona
urbana, analisadas através de suas formas volumétricas, materiais
construtivos, ornamentos aplicados em suas construções, relacionados com
seus respectivos períodos e história ainda existente.
Os relatos orais das famílias descendentes dos pioneiros foram
utilizados, pois a tradição oral, de acordo com SODRÉ (1941, p. 88), é
98
valorizada, escrevendo o autor, não sem exaltação: “Não há marcos que
assinalem a grandeza dessa conquista. Só a tradição oral e a pura tradição oral
mantêm a eternidade desses feitos poderosos”. Esta afirmação é corroborada
por ALVES (2005, p. 29), que afirma que o historiador, mesmo em face de
dados exíguos, tem “o concurso da teoria, um recurso que pode clarificar os
nexos que se estabelecem entre esses dados”.
Resultados e Discussão
A zona urbana da cidade de Rio Brilhante teve origem na chegada das
primeiras residências e casas comerciais, que foram se instalando na Rua
Benjamin Constant (Figura 2).
Figura 2. Perímetro urbano da cidade de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul em
1954. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO BRILHANTE (2015).
99
Através do primeiro mapa do perímetro urbano do município, é possível
observar os pontos nos tons de preto, identificando as primeiras construções
nas quadras da rua central da cidade, a qual possui o seu traçado da malha
urbana em forma de tabuleiro xadrez.
Segundo SITTE (1992), o sistema retangular, para o traçado das
cidades, é o mais utilizado, já sendo aplicado há muito tempo. Sua forma
lembra um tabuleiro de xadrez e é muito frequente nas cidades antigas.
Segundo MARX (1980), nas antigas povoações, uma igreja e uma praça eram
regra geral, servindo como ponto central para o crescimento da comunidade.
Esta situação também foi observada no traçado do município de Rio Brilhante.
Dentre os bens catalogados, registrou-se um total de 46 edificações na
zona urbana do município, incluindo o distrito de Prudêncio Thomaz. Do total,
22 edificações são em alvenaria, ainda sendo utilizadas como residências,
casas comerciais, praça e Prefeitura Municipal. Outras 24 já foram demolidas,
restando apenas seu registro fotográfico e localização por meio dos pontos
amostrais (Figura 3 e Quadro 1).
Figura 3. Mapa com pontos georreferenciados das edificações na zona urbana
do Município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Elaborado pelo autor.
100
Quadro 1. Nomes relacionados aos pontos georreferenciados das edificações
(Figura 3) da zona urbana do Município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul
Edificações localizadas na cidade de Rio Brilhante
Ponto Nome
01 Cemitério São Cristóvão – 1900 02 Sobradinho – 1914
03 Residência do Coronel A. A. Corrêa – 1910
04 Residência Dr. Boaventura – 1927
05 Residência do Sr. Martin Campeiro – 1929
06 Residência Osvaldo Rodrigo Simões – 1931
07 Residência Tozo Sasaki – 1932
08 Residência Virgilino Gonçalves de Oliveira – 1934
09 Residência Aldonso Chaves – 1935
10 Residência Jair Barbosa – 1935
11 Residência Eng. Joaquim Moreira – 1939
12 Residência Zulmira Alves Corrêa -1940
13 Residência Oacir Vidal – 1946
14 Residência Laucídio Coelho – 1947
15 Capela de madeira – 1906
16 Residência Etalívio Pereira Martins – 1906
17 Casa Arinos – 1921
18 Hotel Central – 1923
19 Residência Dr. Júlio Siqueira Maia – 1925
20 Casa Nova – 1927
21 Escola Paroquial São Francisco – 1927
22 Casa Jardim – 1928
23 Praça Central Dr. Boaventura – 1929
24 Casa Missioneira – 1930
25 Pensão Pimentel – 1930
26 Casa Mohamed Alle – 1932
27 Residência Sírio Borges – 1935
28 Casa Nossa Senhora Medianeira – 1936
29 Casa Pecuária Coamal – 1938
30 Convento Franciscano – 1939
31 Pensão Rio Brilhante – 1940
32 Casa Nogueira – 1941
33 Igreja Católica Divino Espírito Santo – 1941
34 Casa Pedro Abismo – 1941
35 Casa Comercial Tácito Pael - 1943
36 Casa Augusto Alves Nogueira – 1943
37 Igreja Presbiteriana do Brasil – 1944
38 Prefeitura Municipal – 1947
39 Casa Omar Castro – 1948
40 Fábrica de móveis do Sr. Alcindo - 1948
41 Caixa d‟água – 1958
42 Coreto – 1960
101
Construções
As edificações situadas na zona urbana e no distrito de Thomas
Laranjeira, analisadas sobre seus aspectos históricos e arquitetônicos, seguem
a ordem de seus respectivos períodos construtivos.
Cemitério São Cristóvão – 1900
Localizado no bairro Morada do Sol, na Rua Aires Francisco de Lima,
quadra 205 A, surgiu com a doação da posse de terra da quadra para a
implantação do mesmo, através do então fundador da cidade, Francisco
Cardoso Junior, já no ano de 1900. Nele jaz seu fundador, dentre outras
famílias pioneiras, em seus respectivos túmulos com relevância arquitetônica.
De acordo com MUMFORD (1961, p. 15), “A cidade dos mortos
antecede a cidade dos vivos”, poucos lugares suscitam emoções tão diversas
como a arquitetura cemiterial. Muitos fingem não vê-la. Há quem faça o sinal da
cruz ao passar por um, em respeito aos mortos, e os que têm o local como um
espaço de devoção. Na verdade, esses sítios fúnebres instigam o imaginário
popular com sentimentos dispares que variam desde a tristeza ao excitante
fascínio.
Conforme VALLADARES (1972), foi no final do século XIX e início do XX
que a chamada Arte Cemiterial despontou no Brasil, uma vez que surgiram
famílias ricas dispostas a edificarem mausoléus suntuosos.
Desta maneira, artistas de grande talento, especialmente os italianos,
criaram este tipo de arte, às vezes com grande destaque no Brasil, como por
exemplo, no cemitério da Consolação, cidade de São Paulo. Neste local,
atualmente tem-se um segmento relativamente inovador no país, o Turismo
Cemiterial, que já é desenvolvido em outras cidades, tais como Buenos Aires,
Argentina.
Como em várias outras cidades, em Rio Brilhante, quando se
aproximava do núcleo urbano, o que se avistava primeiramente, em sua
entrada, era o cemitério, que possuía alguns túmulos suntuosos e
ornamentados, pertencente às famílias pioneiras, os quais chamam a atenção
pela riqueza de detalhes, demonstrando o poder da família.
No local destacam-se os jazigos (Figura 4 e 5) do fundador da cidade,
Francisco Cardoso Junior e do primeiro prefeito, o Sr. Henrique Pires Martins.
102
Figura 4. Imagens do jazigo de Francisco Júnior, fundador de Rio Brilhante, no
Cemitério São Cristóvão, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do
autor.
Observa-se no jazigo uma volumetria em forma retangular, com mosaico
no entrono como paginação de piso, revestimento em mármore de tonalidades
diferenciadas, como o marrom, o preto e o branco. Uma elevação em mármore
com cantos arredondados e um ressalto no formato de uma cruz em forma
geométrica dão um toque peculiar ao monumento. Sua inspiração é no estilo
Eclético. O jazigo de 1914 (Figura 5), onde se encontra sepultado Henrique
Pires Martins, um fazendeiro bem sucedido, proprietário de inúmeras posses
na época, segundo relatos orais, foi construído pelo Engenheiro Joaquim
Moreira da Silva, com a presença de uma estátua, cruz e anjos em suas
laterais, entalhados no mármore Carrara branco.
Figura 5. Imagens do jazigo de Henrique Pires Martins, no Cemitério São
Cristóvão, cidade de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do
autor.
103
O material, importado pelas casas comerciais da região, teria sido
transportado da Europa através de rotas de navegação e posteriormente,
através de carros de boi, até a cidade de Rio Brilhante, para ornamentar o
túmulo. Sua volumetria é retangular, cercado por grades em ferro com detalhes
em curvas. Possui letras entalhadas no mármore e acima destas, uma
guirlanda em flores, uma característica do Art Nouveau. Também, apresenta
colunas nos cantos em alturas diferenciadas e em seu ápice, a estátua de uma
figura feminina e uma cruz. O conjunto da obra corresponde ao estilo eclético.
É possível observar mais cinco jazigos antigos edificados (Figura 6), os
quais, devido ao mal estado de conservação, tornam difícil identificar o nome e
data dos sepultados (apenas um, em detalhe, ainda apresenta informações
legíveis); porém, ainda é visível a riqueza de detalhes e ornamentos aplicados
nos túmulos.
Figura 6. Imagens dos jazigos no Cemitério São Cristóvão, cidade de Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
104
Em relação ao local identificado, com data e nome, o mesmo pertence a
Manoel Conegundes Nogueira, um fazendeiro. O monumento foi construído
pelo Engenheiro Joaquim Moreira da Silva, em 1932. Este local está cercado
por uma balaustrada com pilares de textura no reboco e elementos decorativos;
acima do túmulo, vasos e peças decorativas, tendo como acesso principal um
portão ornamentado em formas curvas de duas folhas. Em seu ápice, uma
parede com formas curvilíneas em concreto com o coroamento de uma cruz
celta, cujo adereço é semelhante a outro encontrado no local (Figura 6).
A volumetria dos locais citados apresenta formas retangulares e
quadradas, em alvenaria de tijolos maciços, com bossagem revestida com
argamassa, algumas em mármore e cercado com grades de ferro. Os
ornamentos e detalhes como frisos, ressaltos nos rebocos em formas
geométricas, aplicação de elementos como cruz celta, latina e imagens em
seus ápices indicam um conjunto de túmulos suntuosos, correspondendo ao
estilo eclético.
A Capela, construída em 1959, na entrada principal (Figura 7) apresenta
volumetria em forma retangular, com cobertura principal em duas águas, com
uma platibanda em forma triangular e ressalto no reboco e em seu ápice, dois
elementos na vertical, um detalhe do Art Déco.
Figura 7. Capela do Cemitério São Cristóvão, cidade de Rio Brilhante, Mato
Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Em suas laterais, duas colunas com capitel de coroamento, uma
varanda coberta por meia água com pilares quadrados, aberturas em arco na
105
parte superior das janelas e porta, alvenaria de tijolos maciços e revestimento
com argamassa. O conjunto da construção corresponde ao estilo eclético.
Outro local que se destaca é o cruzeiro antigo, edificado em 1940 e,
posteriormente, reformado em 2015 (Figura 8). É uma construção típica de
antigos cemitérios, localizado no centro do local e feito em alvenaria de tijolos
maciços, revestido com argamassa, com forma da volumetria circular, escada e
degraus de acesso e em seu ápice, uma cruz, corresponde ao estilo Art Déco.
Figura 8. Cruzeiro do Cemitério de São Cristóvão, cidade de Rio Brilhante,
Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Edificações residenciais, comerciais e públicas.
Residência de Domingos Barbosa Martins “Sobradinho” -
1914
Umas das construções remanescentes do início do século XIX,
executada pelo engenheiro Joaquim Moreira da Silva em 1914 e ainda
existente no centro da cidade é a Residência de Domingos Barbosa Martins
(Figura 9), conhecido como “Gato Preto”. Está edificada na Avenida Lourival
Barbosa, esquina com Rua Benjamin Constant, quadra 27.
Segundo MAGALHÃES (2004), Domingos Martins, vulgo Gato Preto, foi
dono de grandes áreas de terras na região de Rio Brilhante e dentre elas, a
Fazenda do Baile, que naquele tempo englobava os municípios de Nova
Andradina e Ivinhema, além da Fazenda Capão Bonito, hoje pertencente à
Sidrolândia. Ele era Neto de Inácio Gonçalves Barbosa, também, um dos
106
primeiros desbravadores do Estado, ao lado de seus irmãos João Gonçalves e
Antônio Barbosa.
FACHOLLI e DOERZBACHER (1991) destacam que a primeira serraria
do Município de Rio Brilhante foi instalada na fazenda “Serraria”, de
propriedade de Sr. Domingos Barbosa Martins, devido a grande riqueza
madeireira da região.
Figura 9. Vista frontal da residência de Domingos Martins, na Avenida Lourival
Barbosa, conhecida como “O Sobradinho”, cidade de Rio Brilhante, Mato
Grosso do Sul. Fonte: Acervo de Antônia de Souza Barbosa.
A edificação é marcada por um portal de entrada em alvenaria em forma
de arco na esquina, onde fica o portão de acesso principal e os pilares, com
grades em madeira em formas geométricas (Figura 10).
De acordo com FACHOLLI e DOERZBACHER (1991), a edificação teria
recebido, também, o nome de “Vila Biíta”, em homenagem a uma de suas
filhas. A parte térrea fora construída em 1914, e o pavimento superior em 1928,
destacando-se o fino acabamento, caracterizando uma preocupação estilística.
Segundo relato de Vanice Faria de Souza, na página Rio Brilhante – Anos
Dourados, a planta teria sido projetada por um arquiteto francês.
As telhas da cobertura, vidros coloridos e até mesmo o próprio
paisagismo da época, foram importados da Europa. A mesma edificação serviu
107
também como sede da Prefeitura e Câmara Municipal, Seção Eleitoral e
internato das irmãs Franciscanas, demonstrando seu amplo uso e importância.
Atualmente pertence à família Pereira de Castro.
Figura 10. Vista lateral da Residência de Domingos Barbosa Martins,
conhecida como “O Sobradinho”, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Foto
Acervo de Vanice Faria de Souza.
A sacada lateral frontal e a sacada posterior possuem em sua face
superior aberturas em forma de arcos, além de uma platibanda escondendo o
telhado em duas águas aos fundos, com molduras ornamentadas acima das
janelas no pavimento superior e abaixo das mesmas, floreiras (Figura 10).
O térreo possui o alpendre avarandado, balaustrado com trama de
pilastras verticais e fuste liso, base e capitel de influência toscana; no
pavimento superior a sacada é balaustrada.
O coroamento é com arquitrave, friso e cornija. O frontão central possui
epígrafe com a data de 1914, com apliques da ornamentação no tímpano, além
dos ornamentos que sustentam os beirais denominados de “cachorro ou
mísula”.
A volumetria da edificação é em formato retangular e quadrado, com a
varanda em formato de U, embasamento em soco com pedestais e escada de
acesso. A alvenaria é de tijolos maciços com bossagem, revestido com
argamassa. As aberturas são retangulares em forma de arcos, com quadros e
vedos de madeira e vidros lisos e coloridos. A estrutura do telhado é em
108
madeira, com jogos de duas, três a quatro águas e telhas cerâmicas; piso de
ardósia ocorre na parte térrea e avarandada, com pilares em madeira na
varanda (Figura 11).
Figura 11. Residência de Domingos Barbosa Martins, conhecido como “O
Sobradinho”, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
A edificação está implantada em um terreno amplo e é avarandada, uma
característica do estilo neocolonial; possui forma geométrica e arredondada,
com aberturas internas e externas em pleno-arco, que remetem ao Art
Nouveau (Figura 12)
Figura 12. Escada, Janelas e paginação de piso da Residência de Domingos
Martins, conhecido como “O Sobradinho”, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.
Fonte: Acervo do autor.
109
Existe, também, a mistura de materiais importados e os locais, como a
madeira, além de ornamentos e detalhes como a sacada balaustrada, os
capitéis das colunas na influência Toscana, os vitrais coloridos e os ladrilhos
hidráulicos cerâmicos; o conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético.
Os detalhes do corrimão da escada em madeira de acesso ao pavimento
superior com formas geométricas, assim, como as janelas e portas com vitrais
coloridos em formas geométricas e arredondados, bem como na paginação de
piso a mistura de ladrilhos hidráulicos coloridos e assoalho em madeira,
indicam a qualidade da construção.
Residência do Coronel Antônio Alves Corrêa - 1910
Outra edificação relevante na cidade é a residência do Coronel Antônio
Alves Corrêa, construída pelo Engenheiro Joaquim Moreira da Silva, em 1910,
localizada na Rua Fernando Correia da Costa, quadra 120 e hoje pertencente à
família Silene dos Reis. Segundo relatos orais, o Coronel Correa foi um homem
revolucionário para a época e bastante influente, cuja palavra era a lei e ordem
final.
A construção traz um trabalho de paginação de piso com tijolos maciços
em formas circulares (Figura 13).
Figura 13. Residência Coronel Antônio Alves Corrêa, 1910, localizada na Rua
Fernando Corrêa da Costa, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo
do autor.
A volumetria da edificação é em formato retangular e quadrada, tendo
como entrada principal uma varanda em formato de L, com uma sequência de
pilares em forma arredondada. Esta implantada em um amplo terreno, com
110
alvenaria de tijolos maciços, bossagem revestida com argamassa, aberturas
retangulares com quadros e vedação em madeira e vidro liso. A cobertura é
aparente e com telhas cerâmicas tipo “francesas”, também, com jogos de
telhados em meia, três e quatro águas. Encontra-se em ótimo estado de
conservação e corresponde ao estilo Neocolonial.
Residência do Dr. Boaventura - 1927
Na Rua Dr. Boaventura, esquina com Rua Prefeito Athayde Nogueira,
quadra 79, se encontra a residência (Figura 14), construída em 1927, a qual
pertenceu a um dos antigos prefeitos da cidade, Dr. Boaventura e hoje
pertence à família dos Cerveira. O Sr. Antônio de Almeida Boaventura era
baiano, médico e também prefeito intendente do município, no período de 1929
a 1931.
Figura 14. Fachada frontal, portas e janelas da residência do Dr. Boaventura,
Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
A edificação está implantada em um amplo terreno com a presença de
varandas na frente e nos fundos, uma característica do Neocolonial. A entrada
é marcada por uma abertura em arco pleno, com portões em ferro e
ornamentos em forma de folhas, uma característica do estilo Art Nouveau, com
degraus de acesso e ornamentos nos cantos da parede da varanda em formas
111
geométricas, janelas salientes que se projetam para fora do corpo da
edificação, as bay windows, uma herança da arquitetura Vitoriana do século
XIX.
O coroamento em sua cobertura é um elemento da arquitetura árabe,
conhecido como muxarabis, que são as tramas em madeira e peças em
balanço, que sustentam os beirais, denominadas de “cachorro ou mísula”. O
conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético e encontra-se em ótimo estado
de conservação. A volumetria principal da edificação é em formato retangular e
as janelas, salientes, em formato de trapézio, tendo como entrada principal
uma varanda com floreiras suspensas.
A alvenaria é de tijolos maciços, com bossagem revestida com
argamassa, aberturas retangulares, com quadros e vedação em madeira e
ferro. A cobertura é aparente, com telhas de cerâmica e com jogos de telhado
entre duas e três águas, além dos vitrais coloridos.
Residência do Sr. Martin Campeiro - 1929
A edificação de 1929 está localizada na Rua Professora Etelvina
Vasconcellos, esquina com Rua Dr. Boaventura, quadra 94 (Figura 15).
Pertenceu inicialmente ao Sr. Martin Campeiro e posteriormente, ao Prefeito
Athayde Nogueira, ambos considerados grandes fazendeiros, na época. O
prefeito Nogueira, no período de 1970 a 1973, foi o responsável pela instalação
da rede de energia na cidade. Atualmente a construção pertence à família
Sereda.
A volumetria da construção é em formato retangular, com aberturas
retangulares, vedação em madeira e vidro, alvenaria de tijolos maciços, com
bossagem revestida de argamassa. Por estar implantada em um amplo terreno
e avarandada, possui esse detalhe característico do Neocolonial. Sua entrada
de acesso principal é por uma varanda com sacada balaustrada térreo, com
cobertura meia e quatro águas.
A paginação de piso é em ladrilhos hidráulicos, com abertura de uma
sala para outra, tendo uma mureta de divisória e arco em sua parte superior. O
conjunto corresponde ao estilo Eclético.
112
Figura 15. Varanda, janelas e portas da residência do Sr. Martin Campeiro, Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Residência de Oswaldo Rodrigues Simões - 1931
Localizada na Rua Dr. Júlio Siqueira Maia, esquina com Rua Santo
Antônio, quadra 57, foi construída pelo engenheiro Joaquim Moreira da Silva,
em 1931(Figura 16).
Figura 16. Residência do Sr. Osvaldo Rodrigues Simões, Rio Brilhante, Mato
Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
O Sr. Oswaldo Simões foi proprietário de cartório (tabelião), o qual
funcionava nas instalações de sua própria residência, onde se lavrava
escrituras e certidões de nascimento.
A edificação encontra-se implantada em um amplo terreno e sua
fundação e alvenaria em tijolos maciços, embasamento em soco, argamassa
de reboco e degraus de acesso.
113
A volumetria da edificação é retangular, com suas aberturas, também,
em forma retangular, com molduras em bossagem de arremate, vedação em
ferro e vidro. O coroamento da edificação se dá pela cobertura em quatro
águas, com telhas de barro. O conjunto corresponde ao estilo Neocolonial.
Residência Tozo Sasaki -1932
A residência registra a presença japonesa no início da colonização do
município e situa-se na Rua Prefeito Theofanes, quadra 100 e foi construída
em 1932. Segundo relatos orais das filhas Hiroka e Sumika Sasaki, a
residência pertenceu a seu pai, Tozo Sasaki, vindo do Estado de Fukuoka, no
Japão. Ele era comerciante e em sua residência também funcionava uma
fábrica de móveis. Anteriormente, a composição da paisagem na fachada
continha dois pinheiros em topiarias (Figura 17). Atualmente não mais existem.
Figura 17. Antiga e atual fachada frontal da residência Tozo Sasaki, Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Foto cedida por Aurora Sasaki.
A volumetria da edificação possui aberturas com portas e janelas em
formatos retangulares, com vedação em madeira e vidro. Sua fundação e
alvenaria estrutural é com tijolos maciços, bossagem e revestido de
argamassa. A fachada é simétrica, uma característica do Art Déco. Acima de
suas aberturas, na fachada frontal, existe a presença de molduras
interrompidas com ornatos.
O coroamento é com um frontão redondo no seu tímpano, com a parte
superior da construção composto por cimalha, frisos e arquitrave, ou seja,
colunas superiores, composta por friso, cornija e platibanda. O conjunto da
obra corresponde ao estilo Eclético.
114
Residência de Virgilino Gonçalves de Oliveira - 1934
A residência é um dos registros da presença dos gaúchos no município
e está localizada na Rua Benjamin Constant, quadra 140 A e foi construída em
1934; posteriormente sua posse foi transferida a Constâncio Moraes.
Segundo relatos de Adélio Lemes de Oliveira, Virgilino foi seu tio avô, de
família gaúcha, oriunda de Santo Ângelo – São Francisco de Assis (RS), por
volta de 1925. Fazendeiro bem-sucedido, que possuiu inúmeras posses,
totalizando mais de 32 mil (ha), sendo uma delas a antiga fazenda Cabeceira
Limpa.
A edificação foi implantada em amplo terreno, com entrada de acesso
por uma varanda em formato de L, característica do estilo Neocolonial. A
balaustrada do térreo possui detalhes e ornatos que remetem aos motivos
florais, um detalhe do estilo Art Nouveau; na parte superior dos pilares da
varanda, nos cantos de suas aberturas, detalhe em forma arredondada. O local
é cercado com uma mureta e pilares de concreto e gradil em ferro (Figura 18).
Figura 18. Fachada frontal da Residência de Virgilino Gonçalves de Oliveira,
Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
A volumetria da edificação tem formato retangular, com janelas e portas,
também, em formato retangular. A alvenaria é de tijolos maciços, com
bossagem revestida com argamassa, com quadros e vedação em madeira e
vidro liso.
Sua cobertura principal em quatro águas e sua parede frontal lateral
direita, em duas águas, coberto por telhas “francesas”; a estrutura da cobertura
é em madeira. O conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético.
115
Residência do Sr. Aldonso Chaves de Lima - 1935
Na Rua Dr. Boaventura, quadra 94, está situada a residência que
pertenceu ao Sr. Lima, construída em 1935 e hoje pertencente à família
Dalávia. O Sr. Aldonso Chaves de Lima foi fazendeiro e Prefeito do município
de Rio Brilhante, no período de 1973 a 1976.
Implantada em um amplo terreno, a volumetria da edificação e aberturas
são no formato retangular, cuja varanda com uma sequência de pilares
quadrados dá acesso à entrada principal da residência. A alvenaria é de tijolos
maciços, com bossagem, quadros e vedação em madeira. Os jogos de telhado
são quatro e três águas, com telhas cerâmicas tipo “francesa”. O conjunto da
obra é caracterizado pelo Neocolonial (Figura 19).
Figura 19. Fachada frontal e lateral da residência do Sr. Aldonso Chaves de
Lima, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Residência Jair Barbosa Martins - 1937
A residência foi construída em 1937 e se localizava em uma chácara.
Hoje, por conta da expansão urbana, se situa na Rua Manoel das Neves, no
bairro Manoel das Neves, quadra 228 e pertence à Família Basso.
O primeiro proprietário, Sr. Jair Barbosa Martins era fazendeiro e
comerciante, irmão de Henrique Pires Martins. O segundo proprietário, Sr. Nery
de Oliveira Lima, foi prefeito do município no período de 1958 a 1960 e
responsável pela construção da edificação da caixa d‟água central na praça Dr.
116
Boaventura. Hoje existe na cidade um bairro que leva seu nome, em sua
homenagem, bairro Nery Lima.
A edificação possui volumetria em formato retangular, com janelas e
portas também em formato retangular. A alvenaria é de tijolos maciços, com
bossagem, quadros e vedação em madeira, ferro e vidro liso, paginação de
piso em ladrilho cerâmico e mosaico.
Acesso principal por uma varanda em formato de L, com uma sequência
de pilares e mureta de concreto. Sua cobertura é meia e quatro águas, coberta
por telhas de barro tipo “francesas”, uma característica do estilo Neocolonial.
Após algumas reformas, foi descaracterizada de sua forma original (Figura 20).
Figura 20. Fachada frontal, lateral, janelas e paginação de piso da Residência
Jair Barbosa, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Residência do Engenheiro Joaquim Moreira da Silva - 1940
Segundo SCHEFFLER (2010), o engenheiro Joaquim Silva, nascido na
cidade do Porto, Portugal, atravessou o oceano com mais alguns portugueses,
escondidos em um depósito de navio, desembarcando no litoral de São Paulo.
Ainda citando a autora, mais tarde aventurou-se pelo então Mato
Grosso, instalando-se na Fazenda Serraria. Depois de mais algum tempo, já
casado com Maria dos Anjos, foram residir na Fazenda de Martin Campeiro.
Adquiriu posses, como uma chácara e mais tarde, a Fazenda denominada de
117
“Saci Pererê”. Foi um construtor de renome, edificando um sobradinho para
Domingos Martins, o prédio da Prefeitura Municipal, a residência do Senhor
Sírio Borges, a Igreja Católica Divino Espírito Santo e o sobrado na Fazenda
Vira Mão, dentre outras executadas por ele. Foi também responsável por
inúmeras obras em fazendas. Também possuía uma serraria, onde se fazia o
trabalho de carpintaria, marcenaria, dentre outras, além exportar madeira.
As plantas das edificações eram desenhadas pelo próprio construtor,
que trouxe consigo a cultura arquitetônica de Portugal. Não era apenas um
construtor, mas também um pedreiro que assentava tijolos e realizava todas as
outras funções braçais, quando necessário.
A edificação é localizada na Rua Santo Antônio, esquina com Rua Dr.
Boaventura, quadra 93, construída pelo próprio proprietário em 1940;
posteriormente pertenceu a Francisco Leal Paele e atualmente, a herdeiros de
Elza Pael Alle, estando em ótimo estado de conservação (Figura 21).
A edificação possui uma volumetria retangular, marcada por uma
varanda frontal e outra lateral, com degraus de acesso em forma circular, com
pilares em forma quadrada, com detalhes e ornatos. Esta implantada em um
amplo terreno, uma característica do Neocolonial, com alvenaria de tijolos
maciços, bossagem, aberturas retangulares com quadros e vedação em
madeira e vidro liso. Telhas cerâmicas, tipo “francesas”, em quatro águas.
As varandas são térreas e como elementos decorativos, balaustradas,
pilares com ornamentos em relevo, lambrequins em madeira com formas
geométricas como acabamento superior e beirais com peças em balanço que
os sustentam, denominadas de “cachorro ou mísula”. O entorno das aberturas
é emoldurado em baixo e em cima das janelas, ou seja, na verga e contra
verga, com ornamentos em ressalto no reboco. O conjunto da obra
corresponde ao estilo Eclético.
118
Figura 21. Residência do Engenheiro Joaquim Moreira da Silva, Rio Brilhante,
Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Residência da Sra. Zulmira Alves Corrêa - 1939
Situada na Rua Dr. Júlio Siqueira Maia, na quadra 56, foi construída em
1939 e, hoje, pertence aos descendentes da família (Figura 22). Filha do
Coronel Antônio Alves Corrêa, Zulmira Corrêa foi uma das proprietárias da
edificação, sendo que anteriormente residiram nela o Sr. Firmino Marques,
fazendeiro, e o Dr. Júlio Siqueira Maia, o qual era médico e foi prefeito do
município no período de 1947 a 1951.
A construção possui uma varanda como entrada principal coberta por
telhas “francesas” e estrutura de madeira, tendo a maioria dos jogos de
telhados em quatro águas. A volumetria da edificação é em formato retangular,
com janelas e portas no mesmo formato. A alvenaria é de tijolos maciços, com
bossagem, com quadros e vedação em madeira e vidro liso.
Está implantada em um amplo terreno e com varanda na frente e nos
fundos e corresponde ao estilo Neocolonial. Apresenta alguns detalhes ainda
119
razoavelmente preservados, com fogão a lenha em alvenaria, que ainda pode
ser visualizado na cozinha da casa.
Figura 22. Fachada frontal, lateral direita, esquerda e fogão a lenha da
residência de Zulmira Alves Corrêa, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:
Acervo do autor.
Residência do Prof. Oacir Vidal - 1946
Está localizada na Rua Dr. Júlio Siqueira Maia, esquina com Rua Manoel
Bento, quadra 60 e foi construída por volta de 1946; hoje pertencente a
descendentes da família Vidal.
Segundo relatos orais de Valdomiro Barbosa, Oacir Vidal foi seu
padrinho e professor, além de comerciante na cidade. Ele ministrava as aulas
na sua residência em uma grande sala, chamada de Escola 21 de Abril, na
qual ainda se adotava, naquela época, o regime da palmatória como castigo,
penalizando as desobediências dos alunos. Também cultivava em seu imenso
terreno a erva-mate, a qual colhia e posterior comercializava.
A volumetria da edificação é em formato retangular, com aberturas no
mesmo formato. A alvenaria é de tijolos maciços, com bossagem revestida com
argamassa, com quadros e vedação em madeira, ferro e vidro liso. Uma
característica do estilo Neocolonial (Figura 23).
120
Está implantada em um amplo terreno e com varanda nas laterais. A
cobertura em quatro águas e estrutura de madeira, coberto por telhas tipo
“francesas”. No interior da sala de aula ainda podem ser visualizadas as
aberturas, paginação de piso em tacos de madeira e ladrilho hidráulico.
Figura 23. Fachada frontal, lateral, posterior, sala de aula e paginação de pisos
da residência e escola, Sr. Oacir Vidal, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.
Fonte: Acervo do autor.
Residência do Sr. Laucídio Coelho -1947
Situada na Rua Dr. Júlio Siqueira Maia, esquina com Rua Professora
Etelvina Vasconcellos, quadra 80, encontra-se a antiga residência do Sr.
Coelho, construída em 1947 e hoje pertencente à Nara Ceolin.
Segundo SOUZA (2007), Laucídio Coelho nasceu no dia 29 de agosto
de 1886, na Fazenda Divisa, então de propriedade de seus pais, José
Justiniano Coelho e Maria de Souza Coelho, vulgo “Dona Coelhinha”. Foi um
homem rico, fazendeiro de inúmeras posses, empreendedor e latifundiário.
121
Além de residências em suas fazendas, na cidade, também, construiu
uma moradia, cuja fachada frontal é marcada por um frontão triangular que
segue a inclinação da cobertura em duas águas; em seu ápice existe um
ornato em relevo na forma geométrica, com a aplicação de um azulejo, detalhe
muito utilizado no Art Nouveau, com molduras em ressalto nos beirais e acima
da janela, como uma ornamentação no seu reboco em relevo (Figura 24).
Figura 24. Fachada frontal da residência do Sr. Laucídio Coelho, Rio Brilhante,
Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Está implantada em um amplo terreno, uma característica do
Neocolonial (Figura 25). A volumetria da edificação em formato retangular tem
como entrada principal uma varanda, com aberturas em formas circulares nos
cantos da parte superior. A alvenaria é de tijolos maciços, com bossagem de
rusticação, aberturas retangulares e quadradas com quadros e vedação em
madeira e vidro liso. Cobertura com telhas e jogos de telhado em duas, três e
quatro águas. Hoje possui sua fachada frontal já descaracterizada e o conjunto
da obra corresponde ao estilo Eclético.
122
Figura 25. Detalhes da residência do Sr. Laucídio Coelho, Rio Brilhante, Mato
Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Prefeitura Municipal - 1947
O prédio está localizado na Rua Prefeito Athayde Nogueira, esquina com
Rua Dr. Boaventura, quadra 55 e foi construída no ano de 1947, na gestão do
prefeito Dr. Júlio Siqueira Maia (1947 a 1951), pelo Engenheiro Joaquim
Moreira da Silva e o construtor Sr. Godofredo, mais conhecido pelo apelido de
“Xango”.
Segundo relatos orais de Valdomiro Barbosa, foram necessários vários
tambores de água do Córrego Arara, para a execução da obra, pois o sistema
de abastecimento de água via encanada ainda era muito precário e não
comportava a obra (Figura 26).
A edificação térrea encontra-se em ótimo estado de conservação e
possui embasamento em soco, com pedestais e escada de acesso. O corpo
possui trama de pilastras verticais de fuste liso, base e capitel de influência de
ordem toscana, para sustentar o alpendre de entrada.
Seu coroamento é com arquitrave, friso, cimalha, cornija, platibanda e
muro de ático (muro liso sobre cornija do edifício, escondendo o telhado), em
moldura contínua. Foi construída com tijolos maciços, revestidas com
argamassa e aberturas no formato retangular, com quadros e vedação em ferro
e vidro.
123
A cobertura é com estrutura em madeiramento e telhado cerâmico,
sendo, inicialmente, as primeiras telhas tipo “francesas”, hoje já substituídas
por telhas tipo “romanas”. Foi implantada em um amplo terreno com sua
cobertura em quatro águas, uma característica Neocolonial; no reboco do muro
de ático, ornamento em ressalto que reproduzem os arcos ogivais, que remete
ao estilo Neogótico. O conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético.
Figura 26. Detalhe do alpendre de entrada da Prefeitura Municipal Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Caixa d’água – Praça Dr. Boaventura 1958
Situada na Praça Central Dr. Boaventura, localizada na Rua Benjamin
Constant, quadra 54. Foi construída em 1958, na gestão do Prefeito Nery de
Oliveira Lima (1958 a 1960), para o armazenamento e abastecimento de água
(Figura 27).
Sua volumetria é na forma circular, embasamento de soco, alvenaria de
tijolos maciços, com bossagem e reboco em argamassa.
Sua base possui paredes com elementos vazados em formas
geométricas, ou seja, quadriculadas e esses elementos permitem iluminação e
ventilação; também existe uma laje em forma de hexágono acima, no mesmo
formato da base. O coroamento da construção é com a caixa d‟água apoiada
124
sobre uma trama de pilastras em formas quadradas. Corresponde ao estilo Art
Déco.
Figura 27. Caixa d‟água da Praça Dr. Boaventura, Rio Brilhante, Mato Grosso
do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Casas comerciais
Através dos relatos orais dos descendentes das famílias pioneiras, a
maioria dos materiais construtivos para a execução das edificações, como
telhas, pisos, vitrais coloridos e até mesmo o paisagismo de alguns jardins na
época, só tinham valor se fossem importados da Europa.
Para chegar ao município de Rio Brilhante, esses materiais chegavam
até o porto da cidade de Corumbá e de lá eram levados para a cidade através
dos rios Miranda e Vacaria; posteriormente, até o local da construção, via
terrestre, utilizando-se de charretes de boi (ALVES, 1984).
O mesmo autor escreve que as casas comerciais de Mato Grosso,
depois da Guerra da Tríplice Aliança, obtiveram a hegemonia econômica do
Estado, atuando com muito poder em Cuiabá e Corumbá. Com o tempo
assumiram novas funções, monopolizando a importação e exportação de
mercadorias e compra de produtos locais e, ao mesmo tempo, “exerceu o
papel de bancos (inexistentes na região). Tornaram-se (os comerciantes)
representantes do capital financeiro”.
No município de Rio Brilhante, na rua principal Benjamin Constant, foi
onde predominaram as construções na formação da zona urbana da cidade,
125
sendo que essas casas comerciais, em sua maioria, atuavam na venda de
“secos e molhados”, dentre outros produtos diversificados. Parte de tais
produtos chegava inicialmente ao Porto de Corumbá, de onde eram
transportados para a cidade de Rio Brilhante, entre outras, abastecendo as
casas comerciais da região.
Casa comercial Omar Castro - 1948
Foi construída em 1948 e localiza-se na esquina da quadra 110, Rua
Prefeito Theofanes, esquina com Rua Antônio Lino Barbosa; hoje pertence à
família Sasaki. Segundo relatos orais, o proprietário, Sr. Castro, era um homem
de grande conhecimento, foi fazendeiro e posteriormente se dedicou a
atividade de comércio (Figura 28).
Figura 28. Casa comercial Omar Castro, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.
Fonte: Acervo do autor.
A volumetria da edificação é em L e está implantada em um amplo
terreno, com degraus de acesso e aberturas retangulares com vedo em
madeira, ferro e vidro. A fundação e alvenaria estrutural são com tijolos
maciços, com bossagem. A fachada é simétrica e composta por friso e cimalha,
com a entrada principal marcada pelo chanfro de esquina, construção no
alinhamento do terreno, com platibanda com seções intercaladas, a qual
esconde a cobertura do telhamento em madeira, em quatro águas, com telhas
cerâmicas tipo “francesas”. O conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético.
Dentre as casas comerciais da cidade, esta é a única que ainda mantém
suas características quase originais, enquanto as demais foram
126
descaracterizadas ou demolidas, restando apenas algumas poucas fotos e a
memória oral dos antigos moradores.
Lugares de memória - Conjunto de obras por períodos
Algumas das edificações analisadas, por sua relevância arquitetônica,
atualmente encontram-se já bastante descaracterizadas através de reformas,
enquanto outras, em estado de abandono, se deteriorando ao longo do tempo.
Algumas perderam sua função inicial e foram substituídas por construções
mais planejadas, tais como o antigo prédio da Igreja Católica do Divino Espírito
Santo.
Porém, a maioria já foi vendida e/ou demolida, como resultado da
necessidade dos proprietários e/ou herdeiros em obter recursos para outras
atividades, tal como aconteceu recentemente com a residência do Sr. Sírio
Borges, no ano de 2015, ou substituídas por obras “modernas”. Tal situação
pode ser reportada para o Coreto da Praça Central Dr. Boaventura, demolido
por ação do prefeito para dar lugar à construção de uma fonte, ação típica que
não leva em consideração a história dos municípios brasileiros.
Desta maneira, poucas são as construções antigas que hoje se
encontram conservadas e/ou restauradas por alguns proprietários herdeiros ou
por parte de quem as adquiriu. Assim, boa parte da população atualmente
desconhece a existência dessa arquitetura, restando apenas fotografias desses
lugares de memória.
Essas edificações, mesmo as não existentes, por conta de sua
imponência arquitetônica e/ou história, acabam se tornando pontos de
referência e se consolidando na história por suas características construtivas e
ornamentos, hoje já não tão comuns, pois ocorreram em determinados
períodos.
Segundo NORA (1993), “lugares de memória” e “lugares de história”
poderia ser objeto da investigação dos historiadores, os primeiros que
necessariamente exigiriam uma “história de segundo grau”, responsável não só
por compreender os processos de produção social de memórias
(configuradores desses lugares), como por examinar o seu papel na construção
do conhecimento histórico e na consolidação das narrativas de caráter
histórico.
127
Capela, escola paroquial, convento e igrejas.
GLANCEY (2001) relata que as primeiras construções realmente
arquitetônicas que conhecemos são os templos. Desde a idade do Bronze,
quando as divindades do céu triunfaram sobre a terra pré-histórica na maior
parte do mundo, a humanidade tentou ligar-se ao eterno e construir em
harmonia com o cosmo. É o maior meio visível de celebrar a riqueza, saúde e
agradecer a Deus ou aos santos por alguma graça alcançada.
Capela de madeira - 1906
Ao chegarem a Rio Brilhante, os missionários da missão franciscana já
encontraram uma pequena capela em madeira, construída na cidade em 1906,
com capacidade para 100 pessoas e ainda em funcionamento. Localizava-se
na Rua Sidney Coelho Nogueira, quadra 45 (Figura 29).
Figura 29. Capela em madeira, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:
FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).
Com o passar do tempo, a capela ficou pequena, sem espaço suficiente
para comportar os fiéis; além disto, seu estado precário era uma ameaça aos
fiéis, pois poderia desabar a qualquer momento. Então, foi demolida para dar
lugar a uma nova construção de alvenaria, no dia três de dezembro de 1941.
Sua característica era uma arquitetura espontânea vernácula, em função da
abundância de madeira explorada na região.
128
Escola Paroquial São Francisco - 1927
Localizava-se na Rua Benjamin Constant, esquina com Rua Dr. Júlio
Siqueira Maia, quadra 78 e foi construído pelo Engenheiro Joaquim Moreira da
Silva, em 1927.
Segundo FACHOLLI e DOERZBACHER (1991), a presença da
Congregação Franciscana na educação da cidade de Rio Brilhante registra-se
também através da edificação da Escola Paroquial, onde se ministravam as
aulas de catequeses. Com o passar do tempo, foi sendo totalmente
descaracterizada através de reformas e hoje pertence à família Lima, com uma
sala comercial onde funciona o posto do INSS (Figura 30).
Figura 30. Antiga Escola Paroquial São Francisco, Rio Brilhante, Mato Grosso
do Sul. Fonte: FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).
Estava implantada em um amplo terreno, com volumetria retangular e a
fundação e alvenaria eram em tijolos maciços, com embasamento de soco,
bossagem de rusticação e argamassa de reboco. A entrada era marcada por
um frontão com o nome da edificação, janelas arredondadas nos cantos
superiores, porta de entrada retangular e ressaltos no reboco com ornatos
abaixo das janelas.
O coroamento arquitrave na parte superior era com muro de ático
balaustrado intercalado por platibanda emoldurada com friso, cornija e
129
ornamentos. A cobertura em quatro águas com telhas de barro e a construção
no alinhamento do terreno. O conjunto da obra correspondia ao Eclético.
Convento Franciscano - 1939
Localizava-se na Rua Professora Etelvina Vasconcellos, esquina com
Av. Lourival Barbosa, quadra 29, construído pelo Engenheiro Joaquim Moreira
da Silva (Figura 31). Atualmente, no local está implantado o edifício do
seminário e sua igreja.
Figura 31. Antigo Convento, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:
FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).
Segundo FACHOLLI e DOERZBACHER (1991), “O antigo prédio,
apelidado de “Casa de Recesso” e Aushaltsstübhcen”, foi construído de 1939 a
1941 em uma ampla área, pelos padres da Missão Franciscana. Foi o primeiro
convento da Missão Franciscana em Mato Grosso e o único do gênero em todo
comissariado.
A volumetria principal da edificação era em formato retangular, com
fundação e alvenaria em tijolos maciços, embasamento de soco, com
bossagem de rusticação. A fachada frontal era com alpendre avarandado e
guarda-corpo em alvenaria e existiam aberturas retangulares com vedação em
madeira e vidro.
130
O coroamento da fachada lateral era com um frontão triangular e
cobertura em duas águas, abertura em forma de arcos com a imagem de um
santo logo acima das janelas. O telhado possuía inclinações típicas de
coberturas de regiões que nevam, com as mansardas (janelas dispostas sobre
o telhado para iluminar e ventilar seu desvão). O conjunto da obra correspondia
ao estilo Normando.
Igreja Católica do Divino Espírito Santo - 1941
O prédio da antiga igreja localizava-se na Rua Sidney Coelho Nogueira,
quadra 45, no centro da cidade, em frente à praça Dr. Boaventura; estava
implantada em um amplo terreno, que abrangia uma quadra inteira.
De acordo com FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991), o ano de 1937,
foi um marco na história da Missão Franciscana em Mato Grosso e
especialmente para a região do antigo Entre Rios, pois a província de Santa
Isabel de Turíngia, Alemanha, nomeou três padres para fundarem esta missão.
Ainda segundo as autoras, os padres viajaram de Campo Grande com
destino a Entre Rios, passando por fazendas, riachos, charcos, dentre outras
áreas inóspitas e pouco povoadas, até chegarem a atual cidade de Rio
Brilhante, onde foram alojados na antiga Pensão Pimentel.
Ao chegar, Frei Antônio Schwenger foi solenemente nomeado o primeiro
pároco residente da Paróquia Divino Espírito Santo de Entre Rios, hoje Rio
Brilhante. No local já existia uma pequena capela de madeira. Porém era
urgente a construção de uma nova edificação, pois a antiga era precária.
Assim, em três de dezembro de 1941, deu-se início a execução das novas
instalações da igreja matriz, em alvenaria (Figura 32).
Segundo KNOB (1988), o então vigário, Frei Leandro Schnabel, depois
de conversar com diversos cidadãos proeminentes e com as autoridades da
cidade, resolveu erguer uma nova igreja, nas dimensões de 30 x 10 m; em
1945, ela ficou pronta, contando com a presença, no ato de sua inauguração,
do Monsenhor Rodolfo Wohlrab, administrador da Diocese de Corumbá.
A volumetria da edificação da nave principal era em formato retangular e
o embasamento, em soco, com degraus de acesso. A alvenaria estrutural era
em tijolos maciços, revestidos com argamassa. Sua entrada principal era
marcada por uma abertura em arco ogival, bem com as janelas e paredes
131
internas do altar também em arcos ogivais, uma característica do Neogótico. O
coroamento acima da entrada principal era por um frontão triangular e uma
cruz latina.
Figura 32. Antiga Igreja Matriz Divino Espírito Santo, Rio Brilhante, Mato
Grosso do Sul. Fonte: Acervo de Marlene Antunes.
Na lateral esquerda da fachada frontal, uma torre sineira – campanário,
encimada por uma cruz e de acordo com BRUAND (1997), “olhos de boi”
(abertura ou janela, geralmente de forma circular ou elíptica, destinada a
ventilação, iluminação ou função decorativa). As pinturas internas foram
realizadas pelo próprio Frei Schnabel. A cobertura do edifício foi em estrutura
de madeira com telhas de barro, com os jogos de telhados variando entre
quatro, três e duas águas, corresponde ao estilo Eclético.
KNOB (1988) afirma que, após 25 anos, quando a igreja tornou-se
pequena para atender as necessidades dos paroquianos, convidou-se o
Arquiteto Eugênio Szilagyi, húngaro, especialista em construções de igrejas,
em São Paulo, para fazer um novo projeto da nova igreja matriz. Foi então
construída a atual paróquia católica, Divino Espírito Santo com inauguração no
dia 19 de novembro de 1969, sendo um conjunto dos mais modernos já
projetados na época no Estado.
132
Igreja Presbiteriana do Brasil - 1944
Localizava-se na Rua Prefeito Athayde Nogueira, quadra 95 e foi
construída em 1944, ao lado da câmara de vereadores, sendo a primeira igreja
evangélica do município. O primeiro pastor foi Josué Sales e posteriormente,
Jacob Peiti Neto; junto à edificação funcionava a Escola Evangélica “Guilherme
Kerr”, fundada em 1946 (Figura 33).
Figura 33. Antiga Igreja Presbiteriana, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.
Fonte: FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).
A volumetria da edificação era em forma retangular e foi implantada em
um amplo terreno. Sua alvenaria estrutural era de tijolos maciços, revestida de
argamassa. O embasamento era em soco com degraus de acesso e a fachada
composta por quatro pseudocolunas, abertura e moldura no ressalto do reboco
acima da porta e janelas em forma de arco.
O coroamento era composto por frontão triangular seguindo a inclinação
da cobertura e friso com arremate em seu topo, moldura e ornamento acima da
porta que remete ao estilo Art Nouveau como o azulejo decorativo. As janelas
laterais eram em formatos retangulares e a cobertura, com estrutura de
madeira, em duas águas e telhas cerâmicas. O conjunto corresponde ao estilo
Eclético.
Atualmente, o prédio da igreja passou por uma reforma em sua fachada
frontal e interior, adulterando seu estilo original. (Figura 33).
Pensões
O surgimento da indústria hoteleira no mundo tem algumas teorias
diferenciadas. Para muitos autores, o marco inicial da hospedagem coincide
133
com os primeiros Jogos Olímpicos, da antiga Grécia. Neste momento,
visitantes de várias localidades iam à cidade de Olímpia assistir aos jogos, em
competições que duravam dias. Considerado um dos mais importantes eventos
da época, ele tinha força até mesmo para interromper as guerras em
andamento e atrair milhares de pessoas (CORNELL, 1996), levando a
necessidade de hospedagem dos visitantes.
Os grandes deslocamentos dos habitantes do Império Romano seria
outro marco de extrema importância para o desenvolvimento dos meios de
hospedagem. No início da expansão de seu Império, os romanos iniciaram a
construção de estradas entre as cidades conquistadas que eram utilizadas
especialmente como meio de comunicação. A princípio, as hospedagens das
estradas eram realizadas em lugares particulares ou abandonadas (CORNELL,
1982).
Desta maneira, os meios de hospedagem surgiram com uma
necessidade de abrigar os mais diferentes tipos de visitantes e na região de
Entre Rios, não foi diferente. Segundo relatos orais de Dona Eleta Nogueira,
antiga moradora da região, as pensões da cidade tinham a função de abrigar
os viajantes, normalmente vendedores, os chamados caixeiros viajantes e
também, compradores de gado em determinadas épocas.
Seus ambientes eram compostos de um grande salão, onde muitas das
vezes realizavam-se bailes; também havia normalmente a presença de um bar,
além dos quartos, cozinha e uma despensa para armazenar os mantimentos,
utilizados para servir aos hóspedes o café da manhã e o almoço, no grande
salão.
De acordo com FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991), o maior número
de pensionistas registrava-se por ocasião da festa do “Divino Espírito Santo”,
festividade esta que ocorria durante nove dias seguidos, em homenagem ao
santo padroeiro do município de Rio Brilhante. No resto do ano, o número de
pensionista era normalmente pequeno.
Hotel Central - 1923
Localizava-se na Rua Benjamin Constant, esquina com Rua Maria de
Jesus Cerveira, quadra 111. A edificação foi construída por volta de 1923,
segundo relato oral de Valdomiro Barbosa, e de propriedade na época de Maria
134
de Jesus Cerveira, portuguesa e comerciante, casada com Jaime Cerveira, que
possuía uma jardineira, antigo meio de transporte, no qual transportava
passageiros até a capital, Campo Grande. Em homenagem a primeira
proprietária do hotel, a rua lateral da edificação possui seu nome.
Mais tarde, a edificação passa a pertencer a Noêmia Correia Barbosa,
quando veio a ser chamada de “Hotel Central“, por localizar-se no centro da
cidade. Posteriormente, foi transferido para os herdeiros da família, sofrendo
várias reformas internas e externas, descaracterizando-se. Atualmente o local é
composto por várias salas comerciais, sem a forma original (Figura 34).
Figura 34. Antigo Hotel Central, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:
Acervo de Vitalina Camargo Corrêa.
A volumetria da edificação era em formato de L, implantada em um
amplo terreno. A fundação era em alvenaria com embasamento em soco,
tijolos maciços e aparentes, como bossagem de rusticação e degraus de
acesso. A cobertura era aparente, com estrutura de madeira e telhas de barro
tipo “capa canal”.
A construção era no alinhamento do terreno, marcada por um alpendre
avarandado com guarda-corpo em madeira; em sua parte superior, a presença
dos lambrequins em madeira com formas geométricas. As janelas e portas
eram retangulares, de madeira, com vedação em madeira e vidro. O conjunto
da obra corresponde ao estilo Eclético.
Pensão Pimentel - 1930
Construída por volta de 1930, era localizada na Rua Prefeito Theofanes,
esquina com Rua Prefeito Athayde Nogueira, quadra 112. O construtor da
135
edificação foi Domingues Gonçalves da Silva, vulgo “Dominguinhos”, que foi
secretário da prefeitura municipal na época.
Segundo FACHOLLI e DOERZBACHER (1991), com esta primeira
dominação, pertenceu ao Sr. Teoclécio Pimentel e posteriormente, ao Sr. Jair
Barbosa. Ao adquiri-la em 1938, o Sr. Getúlio Garcia Barbosa deu-lhe o nome
de “Pensão Santa Eliza”. Também neste local o maior número de pensionistas
registrava-se por ocasião da festa do “Divino Espírito Santo”.
Posteriormente, à edificação veio a receber o nome de “Pensão dos
Viajantes” e alguns anos depois, assumindo a função de um bar e ser
abandonada, vindo a ser demolida. Em seu local, até os dias de hoje
permanece um terreno baldio, lembrança da famosa pensão.
Estava implantada em um amplo terreno, com sua volumetria em
formato de L, no alinhamento do terreno, com entrada principal marcada pelo
chanfro de esquina. As aberturas eram em formato retangular, com vedação
em madeira e vidro. O embasamento era em soco, com alvenaria de tijolos
maciços, com bossagem de rusticação e argamassa no reboco (Figura 35).
Figura 35. Antiga Pensão Pimentel, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:
FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).
O coroamento da construção era composto por um muro de ático liso e
reto, com platibanda em seções interrompidas com friso como de arremate na
parte superior e, cimalhas como arremate emoldurado no ressalto do reboco
136
logo acima das portas e janelas. A cobertura em quatro águas, com telhas de
barro tipo “francesas”. O conjunto da edificação corresponde ao estilo Eclético.
FACHOLLI e DOERZBACHER (1991) relatam que na foto em frente à
pensão, estão no primeiro plano da direita para a esquerda, o Sr. Getulio
Barbosa, filho de Marcos Gonçalves Barbosa Marques e neto de Inácio
Gonçalves Barbosa, pioneiro destas terras. Os demais presentes são Teodolfa
Pires Barbosa, Larico Pires Barbosa, Elci Pires Barbosa, Adelaide da Cruz,
Elizia Pires Barbosa, Altivo Pires Barbosa e Eleta Pires Barbosa, antigos
moradores da região.
Pensão Rio Brilhante - 1940
A antiga pensão, construída em 1940, localizava-se na Rua Benjamin
Constant, esquina com Rua Juviano Medeiros, quadra 139 (Figura 36).
Pertenceu a dona Palmira e o Sr. Amorim, português, construtor e comerciante.
Segundo relatos orais de dona Eleta Nogueira, dançavam-se muito baile no
salão desta pensão. Posteriormente, passou a pertencer à família Joris, que
realizou várias reformas, descaracterizando a fachada frontal da edificação e
seu interior.
Figura 36. Antiga Pensão Rio Brilhante, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.
Fonte: FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).
137
Era implantada em um amplo terreno, com a volumetria da edificação
em formato de L, no alinhamento do terreno, com entrada principal marcada
pelo chanfro de esquina. As aberturas eram em formato retangular, com
vedação em madeira e vidro. O embasamento era em soco, com alvenaria de
tijolos maciços, com bossagem e argamassa no reboco.
O coroamento da construção era composto por uma platibanda em
seções interrompidas com friso como arremate na parte superior e cimalhas de
arremate emoldurado no ressalto do reboco logo acima das portas e janelas. O
conjunto da edificação corresponde ao estilo Eclético.
Residência Etalívio Pereira Martins - 1906
A antiga residência localizava-se na Rua Benjamin Constant, quadra 44.
Foi construída em 1906 por Joaquim Moreira da Silva. Mas tarde, a construção
vem a pertencer ao dono da edificação Sobradinho de 1914, o Sr. Domingos
Barbosa Martins. Posteriormente foi demolida em 1999 e no local hoje está
instalado o Banco HSBC.
Segundo MAGALHÃES (2004), o Sr. Etalívio Pereira Martins era filho de
Antônio Pereira Martins e cunhado de Laucídio Coelho, casado com Amanda
Pereira de Souza, vindo a falecer em 1989. Seu patrimônio envolveu
propriedades históricas, como a fazenda Sucuri e Fazenda Passatempo, além
das fazendas Divisa (hoje Celeiro), Esteio e Capão Alto. Foi o proprietário de
um dos maiores rebanhos de bovinos do Estado na época, além de manter
cavalos puro sangue inglês, muitas vezes premiados no Jockey Clube de São
Paulo. No município existe uma escola que leva seu nome como homenagem,
Escola Etalívio Pereira Martins.
Na varanda desta edificação registrou-se o discurso de Marechal
Cândido Mariano da Silva Rondon, conhecido na época como o patrono das
linhas telegráficas no Brasil. Através da instalação do primeiro correio nessa
edificação, a cidade de Rio Brilhante se interliga a outras regiões.
Estava implantada em um amplo terreno, com volumetria da edificação e
as aberturas eram em formato retangular e a fundação e alvenaria estrutural,
com tijolos maciços, bossagem e revestido de argamassa. O embasamento era
em soco com escada de acesso e a entrada principal, por um alpendre
avarandado com guarda-corpo balaustrado (Figura 37).
138
Figura 37. Antiga Residência do Sr. Etalívio Pereira Martins e Correio, Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Biblioteca Municipal de Rio Brilhante,
Mato Grosso do Sul; FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).
Os quadros e vedação das aberturas eram em madeira, com vidros
importados da via casas comercias de Corumbá. A cobertura era com estrutura
de madeira e telhamento cerâmico tipo “capa canal”, sendo que o conjunto da
obra se corresponde ao estilo Eclético.
Casa Comercial Arinos - 1921
A casa localizava-se na Rua Benjamin Constant, esquina com Rua
Prefeito Theofanes, quadra 126 (Figura 38).
Figura 38. Antiga Casa Comercial Arinos, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.
Fonte: Acervo de Vitalina Corrêa Camargo.
139
Foi construída em 1921, de propriedade do Sr. João Albertino Arinos,
que segundos relatos do Sr. Valdomiro Barbosa, foi um fazendeiro e
comerciante, cujo comércio vendia diferentes tipos de secos e molhados; no
local, a construção já demolida cedeu espaço a uma nova construção,
considerada mais moderna, também para fins comerciais.
A volumetria da edificação era em formato retangular, implantada em um
amplo terreno. Foi construída no alinhamento do terreno e marcada por um
chanfro de esquina, com aberturas com molduras interrompidas no ressalto do
reboco, formato retangular, com vedação em madeira e vidro.
O coroamento da construção era composto por um muro de ático liso e
reto, platibanda em seções interrompidas com friso como de arremate na parte
superior e cimalhas como arremate emoldurado no ressalto do reboco logo
acima das portas e janelas. A cobertura era em quatro águas, com telhas de
barro, com o conjunto da obra correspondendo ao estilo Eclético.
Residência Dr. Júlio Siqueira Maia - 1925
Localizava-se na Rua Professora Etelvina Vasconcellos, esquina com
Rua Dr. Júlio Siqueira Maia, quadra 56 (Figura 39).
Figura 39. Antiga residência do Prefeito Dr. Júlio Maia, Rio Brilhante, Mato
Grosso do Sul. Fonte: Acervo de Wanderli Xavier.
140
Foi construído pelo engenheiro Joaquim Moreira da Silva e Sr.
Godofredo Mendonça em 1925. A edificação foi demolida para a construção do
antigo supermercado Leonel, hoje com o nome de supermercado Pires.
Estava implantada em um amplo terreno, com volumetria da edificação
retangular com aberturas e vedação em madeira e vidro, sendo sua parte
superior em forma de arco. A fundação e alvenaria eram em tijolos maciços,
embasamento em soco, com argamassa de reboco. O coroamento da
edificação era por uma cobertura aparente em quatro águas com telha
cerâmica tipo “francesa”. Sua inspiração foi no estilo Neocolonial.
Casa Nova - 1927
O prédio localizava-se em um amplo terreno, na Rua Benjamin Constant,
esquina com Rua Juviano Medeiros, quadra 125, construída em 1927.
Segundo relatos orais de Valdomiro Barbosa, a edificação pertenceu a Juviano
Medeiros, vindo de Presidente Epitácio, São Paulo. Em sua homenagem, a rua
lateral a antiga construção, recebe seu nome.
Em seu estabelecimento comercial se vendia um pouco de tudo, de
ervas a ferramentas, incluindo os mais diferentes itens de secos e molhados.
Posteriormente vem a pertencer ao Sr. Nicácio Barbosa da Fonseca, também
comerciante. Atualmente, já descaracterizada, pertence a descendentes da
família Medeiros (Figura 40).
Figura 40. Antiga Casa Nova, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:
Acervo de Mercedes Medeiros.
141
A volumetria era retangular, com entrada principal marcada por
aberturas retangulares com vedação em madeira e vidro, com molduras
interrompidas e ornatos. O coroamento da edificação era por um muro ático
balaustrado, escondendo a cobertura em quatro águas, com telhas de barro, e
logo acima das aberturas, uma cimalha e frisos como arremate. A construção
era no alinhamento do terreno e na lateral direita, acima da construção, uma
platibanda com frontões triangulares interrompidas como arremate na parte
superior. O conjunto da obra possuía uma inspiração no Eclético.
Praça Central Dr. Boaventura – 1929
A praça central foi primeiramente delimitada por Antônio de Almeida
Boaventura, na época prefeito intendente (1929 a 1931); por este motivo leva o
nome do primeiro prefeito do município. Já, de 1958 a 1960, sob o mandato do
prefeito Nery de Oliveira Lima, é construída a caixa d‟água dentro da praça;
posteriormente, no mandato do prefeito Lourival Barbosa (1960 a 1963), é
edificado o coreto no centro da então praça central, demolido no mandato do
prefeito Donato Lopes da Silva no ano de 2012; no local se construiu uma fonte
(Figura 41).
Figura 41. Vista da antiga paisagem da Praça Dr. Boaventura, Rio Brilhante,
Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
142
A antiga paisagem de praça, localizada na quadra 54, na Rua Benjamin
Constant, era marcada por árvores de flamboyants, ipês, dentre outras
espécies, constituindo um local que lembrava um bosque, cujo paisagismo
iniciou-se com o plantio de árvores pelo prefeito Lourival Barbosa.
Era um ponto de encontro da população nos finais de semanas, local de
recreação de estudantes no playground e onde também ocorria a festa junina,
integrada com barracas típicas e danças relacionadas.
Implantada em um amplo terreno, seu traçado inicial era caracterizado
pela simetria, cercada por uma mureta e pilares em concreto de forma
quadrada. Sua paginação de piso era de paralelepípedos em forma de
hexágono, contendo em seu centro o antigo coreto. Atualmente conserva
somente a caixa d‟água em alvenaria de sua estrutura original (Figura 27).
No coreto (Figura 42) ocorriam discursos políticos, apresentações
escolares, principalmente no dia sete de setembro, quando os professores
levavam os alunos para hastear as bandeiras em frente ao coreto e cantar o
hino nacional e do município de Rio Brilhante.
Figura 42. Antigo coreto da Praça Dr. Boaventura, edificado em 1960, Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
Sua volumetria era circular, com degraus de acesso e entradas
marcadas por pilares em alvenaria com forma piramidal em sua face superior, e
corrimão de apoio em alvenaria nas entradas.
Seu piso era cerâmico tipo ladrilhos e possuía alvenaria de tijolos
maciços, com bossagem, revestido de argamassa, com pilares e viga de
concreto que sustentavam sua cobertura em forma de hexágono com estrutura
de madeira e telhas de barro. O conjunto da obra uma inspiração no Art Déco.
143
Construções em madeira
Uma característica construtiva muito comum no início do povoamento do
município foram as construções em madeira, material este em abundância na
região, utilizado para construções das primeiras residências, igrejas, escolas,
casas comerciais e pontes, dentre outras. Essas edificações são denominadas
de arquitetura regional e/ou espontânea vernácula.
De acordo com ZANI (2013), com a chegada dos imigrantes, na sua
maioria italianos, alemães e japoneses, além de migrantes paulistas, mineiros e
nordestinos, inicia-se o processo de colonização, com a derrubada de matas e
formação de núcleos urbanos, sítios e fazendas, com suas respectivas áreas
de pastagens e agricultura. Ainda corroborando com o autor, nesse contexto
surge, tanto na zona rural como na urbana, uma produção de construções em
madeira, perfeitamente adaptados às condições locais, que conseguiram
resolver, apesar das limitações, as necessidades de moradias e dos mais
diversos tipos uso, às vezes subordinadas a algumas regras construtivas que
cada migrante ou imigrante trazia do seu antigo território.
Casa Jardim - 1928
Localizava-se na Rua Benjamin Constant, quadra 79 (Figura 43).
Figura 43. Casa Jardim, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo de
Elza Pael Alle.
144
A edificação, construída em um amplo terreno, recebeu o nome de Casa
Jardim por estar implantada no quarteirão em frente à praça central, na época
chamada pelos antigos moradores de “Jardim”.
Pertenceu ao Senhor Sírio Borges e posteriormente, ao Senhor Amed
Alle, fazendeiro e comerciante, casado na época com Elza Pael Alle, de origem
síria e filho de Mohamed Alle.
A volumetria da edificação e aberturas era retangular e a cobertura, em
quatro águas com telhas de barro tipo capa canal.
Fábrica de móveis do Sr. Alcindo - 1948
A fábrica foi construída em 1948 e localizava-se na Rua Maria de Jesus
Cerveira, na esquina da quadra 101. O Sr. Alcindo foi construtor de casas de
madeira, na cidade e em fazendas, além de outras instalações rurais; também,
era marceneiro e possuía uma fábrica de móveis, fabricando os mais diferentes
tipos de mobiliário (Figura 44).
Figura 44. Fábrica de móveis Sr. Alcindo, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.
Fonte: Acervo do autor.
Segundo relatos orais do Sr. Alcindo, nascido em Corumbá e filho de
Simeão Garcia e Maria da Cruz, este trabalhou como marceneiro,
primeiramente na fazenda Suez em 1948 e depois por conta própria, em sua
145
fábrica. No local, produzia, entre outros artigos, rodas de carroça e para o
professor Oacir Vidal, carteiras, réguas, quadro negro e palmatórias. Também
atuava como construtor de casas, quando solicitado.
Nos relatos do Sr. Alcindo, a vida, na época de seu comércio, era muito
dura. “Na época a água era só de poço, o fogão à lenha, a geladeira a
querosene, o banheiro era um buraco no chão longe do rancho e não tinha
energia, e antes da geladeira tinha que fritar toda a carne e depois colocava
dentro da lata de banha pra conservar por vários dias. Os comércios eram
pequenos, tipo bolichos”.
A edificação está localizada em um amplo terreno; a volumetria da
edificação e aberturas retangulares, com cobertura em duas águas, telhas de
barro, tipo “francesa” e ao fundo da paisagem um centenário pé de ipê
amarelo, que ainda pode ser contemplado nos dias atuais (Figura 44).
Casa Comercial Missioneira - 1930
Localizava-se na Rua Santana, esquina com Rua Presidente Tancredo
de Almeida Neves, quadra 02, construída em 1930. Pertenceu a Elias Inácio da
Cruz, mais conhecido na época por “Elias Correntino”, casado com Leopoldina
Barbosa, cunhada do Professor Oacir Vidal (Figura 45).
Figura 45. Antiga Casa Missioneira, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:
FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).
146
Segundo relatos orais do Sr. Valdomiro Barbosa, o comerciante
construiu sua casa comercial naquela esquina devido à entrada principal da
cidade, na época, ser pela Rua Santana, no antigo bairro denominado de
“Estiva”. Mas com o decorrer do tempo, aconteceu que foi asfaltada a Rua
Benjamim Constant, mudando o fluxo de entrada e passando a ser a rua
principal do município.
Em seu estabelecimento comercial, vendia produtos diversificados,
desde roupas até mantimentos, sendo como a maioria dos comércios “secos e
molhados”. Hoje o local se encontra totalmente descaracterizado de sua
fachada original, após várias reformas internas e externas.
A volumetria da construção era em forma retangular, implantada em um
amplo terreno, construída no alinhamento, com a entrada marcada pelo chanfro
de esquina. A fundação e alvenaria eram em tijolos, com embasamento em
soco, bossagem e argamassa de reboco. O corpo era com trama de pilastras
verticais de fuste liso.
O coroamento da construção era com arquitrave, friso, cornija, com
ornatos no vértice, intercalados em formas curvas, com cimalhas e platibanda
escondendo a cobertura com estrutura de madeira e telhas de cerâmica. O
conjunto corresponde ao estilo Eclético.
Casa Comercial Mohamed Alle - 1932
A casa comercial localizava-se na Rua Benjamin Constant, esquina com
Rua Prefeito Theofanes, quadra 110 (Figura 46).
Figura 46. Antiga Casa Comercial Mohamed Alle, Rio Brilhante, Mato Grosso
do Sul. Fonte: Acervo de Edmacre Pael.
147
Pertenceu a Mohamed Alle, sírio, comerciante, que em seu
estabelecimento vendia tecidos e outras variedades de secos e molhados. Em
sua homenagem existe no município a Rua Mohamed Alle. No local da antiga
casa, hoje, se encontra construída uma edificação com salas comerciais no
térreo e no primeiro pavimento, denominado de “Cometa Shopping”.
A antiga casa estava implantada em um amplo terreno, com volumetria
da edificação em formato de L. A construção era no alinhamento do terreno,
com entrada principal marcada pelo chanfro de esquina. As aberturas eram em
formato retangular, com vedos em madeira e vidro. O embasamento, em soco,
com alvenaria de tijolos maciços e bossagem e argamassa no reboco.
O coroamento da construção era composto por um muro de ático liso e
reto, platibanda em seções interrompidas com friso como de arremate na parte
superior e cimalhas como arremate emoldurado no ressalto do reboco, logo
acima das portas e janelas. O conjunto da edificação corresponde ao estilo
Eclético.
Residência de Sírio Borges - 1935
A residência foi edificada em 1935 pelo construtor Joaquim Moreira da
Silva e localizava-se na Rua Benjamin Constant, quadra 44. Sírio Borges foi
prefeito do município no período de 1963 a 1964, além de dentista e
fazendeiro. A área depois passou a ser propriedade de um herdeiro da família,
que no ano de 2015, vendeu o local e a obra, até então em perfeito estado de
conservação, foi demolida para dar espaço a uma nova construção, um grande
salão pré-moldado para fins comerciais.
A volumetria da edificação era em formato retangular e estava
implantada em um amplo terreno. A fundação e alvenaria eram de tijolos
maciços, embasamento em soco, com bossagem de rusticação e argamassa
de reboco.
O telhado era aparente, coberto por telha cerâmica tipo “francesa” e com
jogos de duas, três e quatro águas. O coroamento da edificação, com o ornato
em forma de circular emoldurado e em seu centro um monograma com as
letras iniciais do nome do proprietário “SB” e data da construção “1935”.
A entrada era avarandada em formato de L, com degraus de acesso,
sequência de pilares com ornatos em ressalto no reboco, sacada térreo
148
balaustrada, lambrequins em madeiras em formas verticais localizados logo
acima dos pilares, antes da viga de sustentação da cobertura. Havia ressalto
no reboco do frontão triangular, acompanhando a inclinação da cobertura, com
aberturas retangulares e molduras interrompidas em ressalto em torno das
janelas, com detalhes e ornatos. O conjunto da edificação corresponde ao
estilo Eclético (Figura 47).
Figura 47. Antiga residência Dr. Sírio Borges, Rio Brilhante, Mato Grosso do
Sul. Fonte: Acervo de Hellen Rose Vieira de Mello.
Casa Comercial Nossa Senhora Medianeira - 1936
A edificação, construída em 1931, localizava-se na Rua Benjamin
Constant, esquina com Rua Prefeito Theofanes, quadra 111. O construtor da
edificação foi Domingues Gonçalves da Silva, vulgo “Dominguinhos”, que foi
secretário da prefeitura municipal na época. Hoje no local da antiga obra, já
demolida, funciona uma moderna construção, onde está localizado o Banco
Bradesco.
149
Segundo relatos orais de Valdomiro Barbosa, pertenceu ao Sr.
Domingos Pascoal Tezza, o qual era catarinense. O nome do estabelecimento
era relacionado à origem de seu primeiro proprietário. Posteriormente foi
adquirida pelo Sr. Zacarias Corrêa Araújo. Neste local se vendia alimentos,
roupas, dentre outros itens relacionados aos secos e molhados.
Estava implantada em um amplo terreno e sua fundação e alvenaria de
tijolos maciços, bossagem e argamassa de reboco. Foi edificada no
alinhamento do terreno de esquina, encantoada. A volumetria da edificação e
aberturas formato retangular, com vedação em madeira.
O coroamento da edificação era composto por um muro ático com
frontões em semi-arcos, intercalados no coroamento da construção,
escondendo assim a cobertura em quatro águas e telha de barro. Existiam
cimalhas logo acima das aberturas, com frisos como arremate e apliques de
ornamentação em ressalto no reboco. A edificação correspondia ao estilo
Eclético (Figura 48).
Figura 48. Antiga Casa Comercial Nossa Senhora Medianeira, Rio Brilhante,
Mato Grosso do Sul. Fonte: Biblioteca Municipal de Rio Brilhante, Mato Grosso
do Sul.
Casa Pecuarista Coamal - 1938
A edificação construída no ano de 1938 era localizada no centro da
cidade, na Rua Benjamin Constant, em frente à praça central “Dr. Boaventura”,
quadra 63. Pertenceu ao Sr. Ângelo Sichinel, que segundo relatos de
Valdomiro Barbosa, veio de Santo Rosa do Sul, Rio Grande do Sul e foi
proprietário rural, posteriormente joalheiro e depois dono de casa comercial.
150
Atualmente, a construção foi descaracterizada de sua fachada original e
interior por uma série de reformas, dando lugar a Agropecuária Sertaneja.
A volumetria da edificação era no formato retangular, implantada em um
amplo terreno, com portas e janelas também retangulares. A fundação e
alvenaria eram em tijolos maciços, com bossagem e reboco em argamassa. O
coroamento da construção era com uma platibanda em formas circulares
intercaladas na parte superior da edificação, escondendo a cobertura em
quatro águas, telhas francesas, composto por cimalha e frisos. O conjunto da
obra correspondia ao estilo Eclético (Figura 49).
Figura 49. Antiga Casa Pecuarista Coamal, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.
Fonte: Acervo de Eleta Pael Nogueira.
Casa Comercial Nogueira - 1941
A antiga casa, já demolida, dando espaço a uma nova construção
comercial, localizava-se na Rua Benjamin Constant, esquina com Rua Maria de
Jesus Cerveira, quadra 97. Foi construída em 1941 e pertencia ao Sr. Augusto
Nogueira, fazendeiro e comerciante, pai do prefeito Athayde Nogueira.
A volumetria da edificação era em forma retangular e estava implantada
em um amplo terreno. A fundação e alvenaria eram de tijolos maciços,
embasamento em soco, com bossagem e argamassa de reboco. Construída no
alinhamento do terreno com entrada principal marcada pelo chanfro de
151
esquina, aberturas em formas retangulares com vedação em madeira e vidro.
O corpo era com trama de pilastras verticais de fuste liso.
O coroamento da construção era por uma platibanda reta e lisa,
escondendo a cobertura em quatro águas com telhas de barro. O friso era
arremate na parte superior da platibanda e cimalha como arremate emoldurado
em ressalto no reboco logo acima das portas e janelas. O conjunto da obra
correspondia ao estilo Eclético (Figura 50).
Figura 50. Casa Comercial Augusto Nogueira, Rio Brilhante, Mato Grosso do
Sul. Fonte: Acervo de Eleta Pael Nogueira.
Casa Comercial Pedro Abismo - 1941
A casa comercial localizava-se na Rua Benjamin Constant, quadra 79.
Pertenceu a Pedro Abismo, um comerciante que vendia secos e molhados. Foi
demolida, dando lugar a uma nova construção para fins comerciais.
A volumetria da edificação era retangular, com construção no
alinhamento do terreno. As aberturas eram em formato retangular, com
vedação em madeira e vidro. O embasamento, em soco, com alvenaria de
tijolos maciços, bossagem e argamassa no reboco.
O coroamento da construção era composto por uma platibanda em
seções interrompidas com friso como de arremate na parte superior e cimalhas
como arremate emoldurado no ressalto do reboco logo acima das portas e
janelas. A cobertura, em duas águas e telhas de barro tipo “francesa”. O
conjunto da edificação correspondia ao estilo Eclético (Figura 51).
152
Figura 51. Antiga Casa Comercial Pedro Abismo, Rio Brilhante, Mato Grosso
do Sul. Fonte: Biblioteca Municipal de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.
Casa Comercial Tácito Pael - 1943
A edificação era localizada na Rua Benjamin Constant, esquina com Rua
Prefeito Theofanes, quadra 125. Construída em 1940, pertenceu a Tácito Pael,
casado com dona Pompéia, ele fazendeiro e comerciante. Hoje sua fachada
encontra-se totalmente descaracterizada, funcionando em seu estabelecimento
uma farmácia.
A fundação e alvenaria eram em tijolos maciços, com bossagem e
argamassa de reboco. Foi edificada no alinhamento do terreno, com entrada
principal marcada por um chanfro, de esquina, ou seja, encantoada. A abertura
era em formatos retangulares, com vedação em ferro e vidro e a cobertura, em
quatro águas com telhas de barro.
O coroamento da edificação era feito por uma platibanda com friso e
ornatos no ressalto no reboco em linhas verticais e horizontais, uma
característica do Art Déco. O conjunto da edificação correspondia ao estilo
Eclético (Figura 52).
Figura 52. Antiga Casa Comercial Tácito Pael, Rio Brilhante, Mato Grosso do
Sul. Fonte: Biblioteca Municipal de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.
153
Casa Comercial Augusto Alves Nogueira - 1943
Localizava-se na Rua Benjamin Constant, construída em 1943, quadra
96. Hoje o local possui lojas comerciais de venda de roupas, calçados e
tecidos, como a Loja Marroni e Confecções Silva, que não tem relação com a
antiga construção.
Segundo relatos orais de Valdomiro Barbosa, a edificação pertenceu à
família Nogueira e seus descendentes, tais como Augusto Alves Nogueira,
Antônia Nogueira, irmã do Prefeito Athayde Nogueira e posteriormente, ao Sr.
Moacir Neto, um grande comerciante na época. As instalações da edificação já
funcionaram, também, como residência, farmácia, restaurante e a escola de
inglês Skill.
Estava implantada em um amplo terreno, com fundação e alvenaria de
tijolos maciços, bossagem e argamassa de reboco. O embasamento era em
soco, com aberturas em formas retangulares em madeira, ferro e vidro,
paginação de piso com ladrilhos hidráulicos, cobertura em quatro águas com
telhas de barro tipo “francesa”. Existia, também, o coroamento da edificação
por uma platibanda com linhas retas e a presença de friso e cimalha como
arremate (Figura 53).
Figura 53. Antiga residência familia Nogueira, Rio Brilhante, Mato Grosso do
Sul. Fonte: Biblioteca Municipal de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.
A construção estava no alinhamento do terreno, avarandada em sua
lateral esquerda com um guarda-corpo balaustrado, ornamentado por colunas
de inspiração Jônica e aberturas em arco. O conjunto da edificação
correspondia ao estilo Eclético.
154
Distrito de Prudêncio Thomaz
Situado às margens do rio Vacaria, era conhecido como “Aroeira”, nome
originário de uma árvore nativa (Myracrodruon urundeuva Fr. Allem.) da região,
encontrada em grande quantidade e muito utilizada para a construção de
moradias, currais e cercas, devido a sua grande durabilidade e resistência.
No local, estava inicialmente instalada a Fazenda Aroeira e segundo
FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991), foi apossada por ocupação primária
por Antônio Gonçalves Barbosa, em 1838; posteriormente sua área foi dividida
e vários proprietários se instalaram, gerando diferentes fazendas (Figura 54).
Figura 54. Mapa do perímetro urbano e edificações localizadas no Distrito
Prudêncio Thomaz, Rio Brilhante – MS. Edificações localizadas no Distrito
Prudêncio Thomaz, Rio Brilhante – MS. (43) Pensão Dona Guilhermina – 1935;
(44) Casa Prudêncio Thomaz Lemes – 1937; (45) Residência Manoel Thomaz
Lemes – 1940; (46) Igreja São Miguel Arcanjo – 1956. Fonte: PREFEITURA
MUNICIPAL DE RIO BRILHANTE (2015).
155
Ainda de acordo com os autores, no dia 30 de setembro de 1948 cria-se
o Distrito de Aroeira, registrando-se a escritura de doação de terras efetuadas
por fazendeiros da região. Em 16 de julho de 1977 é alterada a denominação
do Distrito, sendo a partir desta data conhecido como Distrito de Prudêncio
Thomaz, em homenagem ao antigo fazendeiro e comerciante.
Segundo SOUZA (2007), na Vila Aroeira veio residir um senhor do
Paraná, trabalhador, de poucas letras, que instalou um bolicho, onde
comercializava erva-mate. Chamava-se Prudêncio Thomaz Lemes e casou-se
com Dona Inocência Monteiro, sendo considerado econômico e honrado. Em
pouco tempo o Sr. Laucídio Coelho tornou-se seu grande amigo; devido a
grande amizade, Prudêncio Thomaz emprestava grandes quantias ao amigo e
também concedia empréstimo ao cunhado do Sr. Coelho, Etalívio Pereira
Martins.
Levando-se em consideração a importância do então comerciante
Prudêncio Thomaz, o ex. deputado Ruben Figueiró, apresentou um projeto de
lei nomeando a Vila Aroeira de Prudêncio Thomaz, que foi aprovado pela
Assembleia Legislativa. No local, dentre os bens catalogados in loco no distrito,
registraram-se quatro edificações mais relevantes por sua arquitetura, detalhes
construtivos e períodos.
Pensão da Dona Guilhermina - 1935
Localizava-se na Rua Laucídio Coelho, esquina com Rua Acácio
Barbosa, quadra 06 A, construída por volta de 1935. A edificação (já demolida),
posteriormente foi adquirida por Dalton Airton dos Santos.
Segundo FACHOLLI e DOERZBACHER (1991), a primeira pensão de
propriedade de dona Guilhermina, que além de comerciante, exercia a
profissão de “parteira”, era uma referência na região, hospedando ilustres
personagens. Em frente à pensão, destacam-se a presença de algumas
pessoas influentes na época, como o prefeito Lourival Barbosa (Figura 55).
Estava implantada em um amplo terreno de esquina, com volumetria
retangular e paredes compostas por tijolos maciços, aparentes, sem reboco,
com estrutura de madeira, corpo com trama de esteio e frechal, telhas de barro
e a presença dos lambrequins em madeira no beiral, em formatos geométricos.
156
Suas aberturas eram retangulares, com vedação em madeira. A construção
correspondia ao estilo Eclético (Figura 55).
Figura 55. Pensão da Dona Guilhermina, Distrito de Prudêncio Thomaz, Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).
Casa Comercial Prudêncio Thomaz Lemes - 1937
Fundada em 1937, pertenceu a Prudêncio Thomaz Lemes, fazendeiro e
comerciante forte na época, do qual o distrito recebeu seu nome em sua
homenagem. A edificação está localizada na Rua Laucídio Coelho, quadra
09A, em frente à praça do distrito, implantada em um amplo terreno; ainda
hoje, pertence aos descentes da família, encontrando-se em estado de
abandono.
A volumetria e aberturas são em quadros, com vedação de madeira da
construção retangulares; o local foi construído no alinhamento do terreno,
acantonada, com alvenaria de tijolos maciços, bossagem revestida de
argamassa, contendo em cima de suas janelas e portas uma moldura
interrompida no ressalto do reboco, ornatos com as iniciais da letra “CNP” e
data de 1937.
Possui muro ático e liso escondendo a cobertura de estrutura de
madeira, coberta por telhas de barro tipo “francesa” em quatro águas; sua
157
platibanda é composta por cimalhas e frisos. A obra corresponde ao estilo
eclético (Figura 56).
Figura 56. Casa Comercial Prudêncio Thomaz Lemes, fundada em 1937,
Distrito de Prudêncio Thomaz, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:
Acervo do autor.
Residência de Manoel Thomas Lemes - 1940
A residência localiza-se à Rua Laucidio Coelho (Figura 57), implantada
em um amplo terreno e construída em 1940. Manoel Lemes é filho de
Prudêncio Lemes e construiu sua casa em frente à casa de seu pai.
Figura 57. Residência Manoel Thomaz Lemes, Distrito de Prudêncio Thomaz,
Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.
158
A volumetria e aberturas são retangulares, com quadros e vedação em
madeira e vidro, alvenaria de tijolos maciços, com bossagem revestida de
argamassa e presença de uma varanda como entrada principal. A cobertura é
com jogos em três e quatro águas, coberto por telha de barro tipo “francesa” e
corresponde ao estilo Neocolonial.
Igreja de São Miguel Arcanjo - 1956
Na Rua Euzébio Thomas Lemes, esquina com João Maria, quadra 09B,
está localizada a Igreja São Miguel Arcanjo, outrora chamada Divino Espírito
Santo (Figura 58).
Figura 58. Igreja de São Miguel Arcanjo, Distrito de Prudêncio Thomaz, Rio
Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: O autor.
Esta implantada em um amplo terreno, com volumetria retangular da
edificação, embasamento em soco, com degraus de acesso, um frontão
ondulado a feição de uma cômoda barroca, molduradas e cobertas de telhas
que ocultam a linha de topo da cobertura. A característica é semelhante à de
algumas fachadas de igrejas barrocas, encimado por uma cruz trevo que
lembra a Santíssima Trindade.
Possui ornato no ápice do reboco de uma cruz largada, com alvenaria de
tijolos maciços, bossagem revestida de argamassa e coberta por telhas de
barro em duas águas; a obra corresponde ao estilo Eclético.
159
Conclusão
As primeiras famílias, no final do século XIX e início do século XX,
dedicavam-se a pecuária, extração da madeira e posterior a coleta da erva-
mate; a economia da região foi impulsionada com a abertura de estradas e
facilitou-se assim o transporte do gado e produtos a serem importados e
exportados. Esta nova fase permitiu o crescimento econômico da região e o
acúmulo de capital.
A implantação da estrada de ferro Noroeste Brasil e a instalação das
linhas telegráficas, já no inicio do século XX, também propiciaram o
crescimento econômico, com uma forte atuação das casas comerciais. Os
habitantes que antes eram moradores nas fazendas, começam a migrar para a
cidade, dando-se assim inicio ao município de Rio Brilhante.
A partir do progresso econômico, o desenvolvimento urbano tornou-se
mais visível, pois à medida que as famílias bem-sucedidas na época viajavam
para outras cidades e até mesmo países, conheciam uma nova arquitetura.
Devido ao seu capital acumulado, importavam esses modelos arquitetônicos
predominantes de outros centros urbanos para as suas construções,
preferencialmente, com materiais importados via casas comerciais de
Corumbá, que só tinham valor se oriundos da Europa.
Foram identificadas 46 edificações relevantes por seus caracteres
construtivos, ornamentações, períodos e histórias, construídas por volta de
1900 a 1960. A vinda do Engenheiro Joaquim Moreira, português, responsável
pela maioria das edificações executadas no município, trás com ele a cultura
arquitetônica de Portugal.
Constou-se nesse conjunto arquitetônico, que algumas dessas
edificações continham a data de sua construção, bem como as letras iniciais
dos nomes de seus proprietários, sendo poucas encontradas em bom estado
de conservação, pois a maioria está ao abandono, além das que já foram
descaracterizadas e demolidas.
Em nenhuma edificação foi identificada um autêntico estilo colonial, fator
relacionado à questão da ocupação da região, ocorrida no pós-guerra do
Paraguai (final do século XIX). O que se encontra é uma arquitetura
espontânea vernacular, como as residências de madeira. Além das residências
térreas e assobradadas em alvenaria, com um determinado número de
160
elementos arquitetônicos, não autênticos e genuínos de um estilo
predominante, tanto que em sua maioria predominou o Ecletismo.
O desaparecimento de muitas residências e estabelecimentos
comerciais, ao longo do tempo, dificulta uma análise rigorosa e confiável, que
por seus estilos e elementos decorativos, demonstraram a influência cultural
dos imigrantes com a mestiçagem dos materiais locais e importados.
Por meio do estudo realizado, pode-se afirmar que esse processo de
ocupação territorial deixou modelos representativos da produção construtiva na
época e que ainda podem ser contempladas em sua zona urbana.
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164
7. Conclusão Geral
A elaboração deste trabalho foi baseada em edificações encontradas na
zona rural e urbana do município de Rio Brilhante, sendo identificadas 59
edificações mais relevantes arquitetonicamente, por seus caracteres
construtivos e ornamentação, as quais foram edificadas nos períodos de 1830
a 1960, por famílias que vieram povoar o Estado de Mato Grosso do Sul, tendo
suas raízes em vilas do interior mineiro (Piuhmi e Lavras) e paulista (Franca).
As grandes propriedades rurais existentes na região foram resultado das
primeiras levas dos pioneiros, Garcia Leal, Lopes, Souza e Barbosa, que
encontraram aqui os índios Guaicurus e Caiuás. Os grandes proprietários,
inicialmente, dedicavam-se à criação de gado e a extração da erva-mate.
O início da ocupação se deu através da exploração dos recursos
naturais, como a derrubada de matas para a limpeza do terreno e queimadas
para o plantio da agricultura de subsistência. Posteriormente, com o surgimento
das serrarias primitivas, a extração da madeira aumentou, com o material
utilizado nas construções dos ranchos, nos seus vigamentos e estruturas, além
de mangueiros, pontes de madeira, bica d‟águas, dentre outras. Com o
desmatamento e implantação de pastos, destaca-se a criação de gado.
Porém, no período da Guerra do Paraguai, com início em 1864, algumas
fazendas foram destruídas e abandonadas por seus proprietários, que
retornam por volta de 1872.
No pós-guerra, novas sedes de fazendas foram construídas. Com o
início de novas atividades econômicas na área, tais como a coleta da erva-
mate, aliada ao crescimento da pecuária, a situação econômica da região foi
melhorada, propiciando um acúmulo de capital aos grandes fazendeiros,
graças à força e o trabalho dos indígenas e paraguaios.
Desta maneira, começam a surgir casas em madeira e outras em
alvenaria, de tijolos maciços e pedras, algumas térreos e outras sobrados, com
aberturas nos formatos retangulares e em forma de arcos, estruturas em
madeira, cobertura formas de águas variadas, mas sempre com telhas tipo
colônias ou francesas.
O percurso realizado para o trajeto desses materiais construtivos era
oriundo de navegações até o porto da cidade de Corumbá e de lá para o
município de Rio Brilhante, através dos rios Miranda e Vacaria até as fazendas,
165
e posteriormente até o local da construção, via terrestre, através de charretes
de boi.
Este grande crescimento ocorreu no final do século XIX e início do XX,
resultando uma arquitetura em função de uma expressão econômica forte.
Neste momento surgem então os bancos, que movimentam este capital
financeiro e suas casas comerciais, com as atividades econômicas
potencializando o comércio e acúmulo de capital.
À medida que esses fazendeiros, proprietários rurais viajavam, por conta
de suas boas condições financeiras, tinham o acesso a grandes centros
urbanos e até mesmo outros países, conhecendo assim a arquitetura que
acontecia naquele momento em outras localidades, bem como seus materiais
construtivos e ornamentos.
Esta influência pode ser observada através das obras levantadas in loco
nas antigas fazendas, onde suas formas, datas das construções e materiais
construtivos aplicados permitiam identificar suas particularidades, contendo
determinados números de elementos arquitetônicos bem definidos que compõe
sua volumetria, com uma característica comum, similar, como a presença dos
ladrilhos hidráulicos muito comuns nas construções visitadas.
Constou-se que parte desse conjunto arquitetônico edificado pelos
pioneiros da região vacariana, continha o ano da data da construção, bem
como as letras iniciais dos nomes de seus proprietários, as quais algumas se
encontram ao abandono e descaracterização, além de uma ou outra ainda
pertencerem a herdeiros, descentes dessas famílias desbravadoras.
Este estudo registra a importância e o valor desses modelos
representativos da produção construtiva nesse período analisado, na cidade de
Rio Brilhante, que mesmo não sendo o centro de uma economia empresarial,
através de seu apogeu econômico, resultou em uma produção arquitetônica
que ainda pode ser contemplada em sua paisagem na zona rural e urbana.
O resultado demonstra que o acervo encontrado é muito amplo e a cada
edificação pode ser destacada por sua originalidade e qualidade formal e
construtiva, com uma diversidade de modelos, estilos e elementos decorativos,
mas com uma peculiaridade, principalmente nas casas comerciais, por serem
todas sempre construídas no alinhamento dos terrenos e as de esquina, com a
presença do chanfro e platibandas.
166
A ocupação deste ambiente, inicialmente florestal, indicou um requinte
que para a época não era comum. O retrato encontrado demonstra um período
áureo de produção arquitetônica que atualmente vem sendo aos poucos
abandonado, fator relacionado à mudança das novas atividades econômicas na
região, como a indústria da cana-de-açúcar, onde a memória da ocupação e a
história de seu povo esta sendo esquecida. Desta maneira, este trabalho vem a
contribuir com a memória arquitetônica da cidade de Rio Brilhante e do Estado
de Mato Grosso do Sul.
167
Anexo I
Glossário da linguagem arquitetônica
Acantoado – implantação no canto ou esquina do terreno.
Alpendre – espaço coberto e aberto incorporado á construção. Antigas
construções rurais. Varanda.
Antecorpo – corpo em ressalto na fachada principal do edifício.
Arquitetura Vernacular - Denomina-se arquitetura vernacular a todo o tipo de
arquitetura em que se empregam materiais e recursos do próprio ambiente em
que a edificação é construída. Desse modo, ela apresenta caráter local ou
regional.
Arquitrave – parte inferior do entablamento. Sustentado por colunas.
Art Déco – Décadas de 20 a 40 do século XX. Formas geométricas, simples,
linhas retas. Adorno animal e humano estilizado. Edifícios e cinemas.
Art Nouveau – Surge de 1890 a 1905 em reação ao Historicismo. Linhas
suaves e ondulantes. Flores.
Ático – último pavimento de uma construção. Emento acima da cornija.
Balaústre – Pequena coluna ou pilar que, disposta em intervalos, forma uma
balaustrada. Corpo saliente na fachada; sacada.
Beiral – prolongamento do telhado além da prumada as paredes externas da
edificação.
Bica d´agua - Queda d'água natural ou artificial, onde a água doce sai do rio
ou poço em temperatura ambiente e é despejada geralmente por um tronco de
madeira ou alvenaria. Muito comum em antigas fazendas.
Bolicho - Bar de beira de estrada no sul do país
Cachorro – Peça em balanço para sustentar a bacia dos balcões e beirais.
Campanário – torre para sinos. Torre sineira. Independente ou junto ao corpo
do edifício.
Capitel – Parte superior das colunas. Para aumentar a superfície de apoio.
Cimalha – Arremate emoldurado sobre guarnições, beiral ou platibanda. Parte
superior da cornija.
Cobogó – É a denominação dada a elementos vazados, normalmente feitos de
cimento e ferro, que completam paredes e muros para possibilitar maior
ventilação e luminosidade no interior de um imóvel, seja residencial, comercial
ou industrial.
168
Colunas – Elemento de sustentação vertical. Composta por base, fuste e
capitel. Podem ser: anelada, cilíndrica, cóclida, compósita, coríntia, corolítica,
diminuída, dórica, duplicada, estriada, facetada, galbada, jônica, meniana,
nichada, torsa, toscana, crusciforme.
Cornija – Parte superior do entablamento. Composta por cimácio, lacrimal e
sófito.
Coroamento – Parte superior do edifício ou parte dele.
Corpo – Parte de edificação destacada verticalmente ou horizontalmente no
conjunto.
Cruzeta – Ornato em forma de cruz.
Ecletismo – Estilo que revivência o passado empregado dois ou mais estilos
arquitetônicos.
Embasamento - Parte inferior de construção ao nível do chão. Composto por
base, dado, cornija. Alicerce.
Epígrafe – Inscrição em elemento do edifício. Destacado e com boa
visibilidade.
Friso – Parte do entablamento entre arquitrave e cornija.
Frontão – Elemento de coroamento de fachada, em forma triangular ou circular
na parte superior de edifícios ou parte da edificação sobre portais, portadas ou
portas. Composto por cimalha, tímpano e empena. Pode ser: abatido, aberto,
de cartela, duplo, fracionado, ondulado, redondo, retilíneo.
Guirlanda – Ornato em flores, folhas e frutos com fitas pendentes.
Medalhão – Ornato oval ou circular em cercadura com monograma e data de
construção.
Mísula – Saliência vertical para apoiar a elemento construtivo ou decorativo.
Quando apoia balcão é o mesmo que cachorro.
Moldura – Superfície saliente ou reentrante. Molduras clássicas possuem
nomes específicos.
Monograma – Ornato com entrelaçamento de letras iniciais do nome da
pessoa ou entidade. Presente em residências ecléticas no século XIX e XX.
Motivos Florais – Ornato imitando flores, folhas, hastes compridas. Art
Nouveau.
Muro de Ático – Muro liso sobre a cornija do edifício, escondendo o telhado.
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Neocolonial– O movimento em prol da criação de um estilo arquitetônico
brasileiro surgiu na década de 1910, na Escola Nacional de Belas Artes, e
ganhou força no Rio de Janeiro, nos anos 20. O novo estilo foi batizado de
neocolonial. Configurou-se por meio da oposição ao ecletismo e propuseram o
pretérito local, apesar de ter perdido sua posição dominante para o movimento
moderno, a partir dos anos 30 o neocolonial manteve certa força cultural,
sobretudo nas construções residenciais.
Neogótico – Fim do século XVIII e XIX. Revivência do gótico. No Brasil, se
inicia no século XX na arquitetura religiosa.
Normando – O estilo românico é maciço, com arcos redondos e pesadas
colunas, também redondas. As igrejas eram construídas em formato redondo,
como, por exemplo, a Igreja do Templo, construída em Londres em 1185.
Ornato – Qualquer elemento ou enfeite de um elemento da construção.
Guirlanda; medalhões; grega; acantos. Adornos.
Platibanda – Elemento de ressalto na fachada principal. Portal alpendrado.
Arcadas.
Reentrância – Descontinuidade no alinhamento.
Relevo – Descontinuidade na superfície da peça ou elemento da construção
em decorrência de um ressalto ou saliência. Ornato escultórico em geral
figurativo, em alto, meio ou baixo relevo.
Sacada – Elemento saliente em balanço na parede.
Saibro – Areia grossa, encontrada em jazidas próprias, de cor avermelhada ou
amarelo-escura. Pode ser usada na composição de argamassas.
Taipa – Sistema construtivo com estrutura de madeira em baldrame, esteio e
frechal. Gradeamento preenchido com vedação em argila e outros materiais. A
taipa é uma técnica construtiva vernacular à base de argila (barro) e cascalho
empregue com o objetivo de erguer uma parede.
Torre – Construção isolada ou integrada no corpo da edificação de altura
superior. Torre-sineira, campanário.
Vedação - Lacramento; o ato de tampar uma fresta com algum material que
impeça a passagem de qualquer substância.
Vegetalismo – Estilo arquitetônico característico do Art Nouveau, onde
predominam os ornatos em forma de flor e folha.
Verga – Peça horizontal sobre vão de aberturas. Sobre arco.