universidade anhanguera-uniderp · À deus o grande arquiteto do universo, pelo presente de existir...

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP Fábio Fernando Martins Oliveira Produção arquitetônica no contexto do ambiente rural e urbano do município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul 1830 a 1960 CAMPO GRANDE MS 2016

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP

Fábio Fernando Martins Oliveira

Produção arquitetônica no contexto do ambiente rural e urbano do

município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul – 1830 a 1960

CAMPO GRANDE – MS

2016

2

Fábio Fernando Martins Oliveira

Produção arquitetônica no contexto do ambiente rural e urbano do

município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul – 1830 a 1960

Tese apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional da

Universidade Anhanguera-Uniderp, como

parte dos requisitos para a obtenção do

título de Doutor em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional.

Orientação

Prof. Dr. Ademir Kleber Morbeck de

Oliveira

CAMPO GRANDE – MS

2016

3

4

Dedico

Aos meus pais; Adélio Lemes de Oliveira e Maria

Martins de Oliveira, gratidão pela vida.

5

AGRADECIMENTOS

À Deus o grande Arquiteto do Universo, pelo presente de existir e por

me acompanhar nos caminhos da vida, muitas vezes por mim incompreendido,

mas que sempre me conduz à luz, ao amor e a felicidade; A Universidade

UNIGRAN, pelo apoio e incentivo no inicio de minha caminhada no nome da

Prof. Rosa de Matos De Déa e Prof. Rubens Di Dio. Ao meu orientador, Prof.

Dr. Ademir Kleber Morbeck de Oliveira, um exemplo de competência e

comprometimento. Meus agradecimentos pela orientação, compreensão,

confiança e contribuição para o meu aprendizado; aos professores da banca

por aceitarem gentilmente o convite de integrar essa banca, pelas valiosas

sugestões, disponibilidade e gentileza; À Profa. Dra. Rosemary Matias; a Dr.

Maria Margareth Escobar Ribas; Dr. Jorge de Souza Pinto e Gilberto Luiz

Alves, todos foram fundamentais para a solidificação dessa pesquisa.

Aos meus amigos José Carlos Pina e Maricléia Simões pelas

contribuições no decorrer das correções e traduções. Aos Meus pais Adélio

Lemes de Oliveira e Maria Martins de Oliveira, eterna gratidão pela minha

criação. A minha irmã Sandra Regina Martins de Oliveira, minha sobrinha

Mayara Martins Ferreira, gratidão sempre pelo apoio, amor incondicional.

A minhas amigas Cynara Tessoni Bono, Rosângela Muniz, Elisângela

Dantas da Luz, Célia Olivi, Claudia Cariaga e Marli Ferreira pelo incentivo e por

torcerem pelos resultados, pessoas especiais para mim. Em especial aos

descendentes das famílias pioneiras que através dos seus relatos orais, muito

contribuíram para esse sonho se realizasse; Adélio Lemes de Oliveira, Anair

Nantes Muniz (in memoriam), Edalga Moreira, Eleta Pael Nogueira, Hiroka

Sasaki, Mara Freitas Barbosa, Sumika Sasaki, Valdomiro Barbosa (in

memoriam), Vitalina Corrêa Camargo, Zizi Nantes Muniz (in memoriam).

Enfim, aos Professores Doutores do curso, a toda equipe da secretária,

a todos que de uma forma ou de outra contribuíram direta ou indiretamente

para o meu crescimento interior até aqui. Momentos como esses são

edificantes na vida.

Amigos para sempre é o que nós iremos ser. Na primavera ou em

qualquer das estações. Nas horas tristes nos momentos de prazer amigos para

sempre...

6

“O passado não volta. Importantes são a continuidade e o perfeito

conhecimento de sua história”.

Lina Bo Bardi

7

Sumário

1. Resumo Geral .......................................................................................... 8

2. General Summary .................................................................................... 9

3. Introdução Geral ................................................................................... 10

4. Revisão de Literatura ............................................................................. 14

4.1 Mato Grosso do Sul - primórdios

.....................................

........................................................ 14

4.1.1. Guerra do Paraguai ......................................................................... 17

4.1.2. Companhia MatteLarangeira .......................................................... 20

4.1.3. Mato Grosso do Sul – história recente ............................................. 24

4.2. Processo histórico de Rio Brilhante .................................................... 26

4.3. Desenvolvimento Regional ................................................................. 31

4.3.1. Erva-mate ........................................................................................ 31

4.3.2. Pecuária – a formação das fazendas de gado ................................ 33

4.3.3. Extração da madeira e o ambiente na região ................................ 35

0 4.4. Estilos arquitetônicos da época .......................................................... 37

4.4.1. Estilo Normando ............................................................................. 40

4.4.2. Estilo

Neogótico

............................................................................... 41

4.4.3. Estilo Eclético ................................................................................. 42

4.4.4. Estilo Neocolonial ........................................................................... 42

4.4.5. Art Nouveau .................................................................................... 44

4.4.6. Art Déco .......................................................................................... 45

5. Referências Bibliográficas ....................................................................

.

47

6. Artigos ................................................................................................... 53

Artigo I - Produção arquitetônica na zona rural da cidade de Rio Brilhante,

........................................................................................................

Mato Grosso do Sul: 1830 a 1950 ............................................................. 53

Resumo ..................................................................................................... 53

Abstract ....................................................................................................... 54

Introdução ................................................................................................... 54

Material e Métodos .................................................................................... 56

Resultados e Discussão ............................................................................. 59

Conclusão ................................................................................................... 87

Referências Bibliográficas ......................................................................... 89

Artigo II - Produção arquitetônica na zona urbana do Município de Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul: 1900 a 1960 .............................................. 92

Resumo ..................................................................................................... 92

Abstract ....................................................................................................... 92

Introdução ................................................................................................... 93

Material e Métodos .................................................................................... 96

Resultados e Discussão ...........................................................................

.

98

Conclusão ................................................................................................. 159

Referências Bibliográficas .......................................................................

..

160

7. Conclusão Geral ................................................................................. 164

Anexo I - Glossário da linguagem

arquitetônica

.......................................................... 167

8

1. Resumo Geral

Entre os primeiros povoadores da fronteira sul do então Estado de Mato

Grosso, região denominada pelos desbravadores como Campos do Erê, depois

Campos de Vacaria e atualmente Rio Brilhante, estavam os mineiros. Por volta

de 1836, se fixaram em grandes propriedades rurais e nestes locais

inicialmente desenvolveram a atividade pecuária e agricultura de subsistência.

Posteriormente, a exploração da madeira e extração da erva-mate. O município

povoou-se lentamente e mesmo sem ser o centro da economia empresarial na

região, aos poucos se foi urbanizando, o que resultou na construção de

relevantes edificações, como residências e casas comerciais, cuja arquitetura

expressou o poder vigente desses proprietários rurais e urbanos. Como

objetivo deste trabalho, analisou-se o processo histórico de uso e ocupação do

município, levando-se em consideração a economia e seu reflexo na

arquitetura da região, com construções do final do século XIX e no início do

século XX (1830 a 1960). A obtenção dos dados deu-se através de visitas à

Prefeitura, Biblioteca Municipal e ao Instituto Brasileiro e Geográfico de Mato

Grosso do Sul, historiografia regional, literatura de memórias e de relatos orais.

Também foram realizadas visitas a campo, onde, por meio da geofotografia e

técnicas de geoprocessamento, fez-se o mapeamento e o registro fotográfico

das edificações analisadas, levando-se em consideração seus aspectos

históricos e arquitetônicos, dentro da linha que lança um olhar sobre a

sociedade, o ambiente e o desenvolvimento regional. A análise das imagens,

materiais construtivos, histórias e períodos indicaram a combinação de um ou

mais ornamentos bem definidos em sua volumetria, caracterizando estilos

arquitetônicos. Registrou-se um total de 59 construções, sendo treze fazendas

com suas residências em madeira e alvenaria, seus cemitérios, igrejas e

instalações rurais. Na zona urbana, 46 edificações, sendo que 21 ainda

resistem ao tempo; 25 já foram demolidas, como casas comerciais,

residências, coreto, convento, escola, dentre outras. A importância dessa

pesquisa histórica para o município e o Estado de Mato Grosso do Sul se faz

porque pode nortear futuras pesquisas e projetos que fornecerão novos

desdobramentos, ampliando o conhecimento sobre a região.

Palavras-Chave: Ambiente, Desenvolvimento Regional, Erva-Mate, Patrimônio

Arquitetônico, Pecuária.

9

2. General Summary

People from Minas Gerais were among the first inhabitants of the southern

frontier of the then state of Mato Grosso, in the region named Campos do Erê

by its explorers, then Campos de Vacaria and currently Rio Brilhante. Around

1836, they settled in big rural properties and in these places they initially

developed cattle raising and subsistence agriculture. Posteriorly, they

developed logging and Yerba mate extraction. The town was slowly populated

and even without being the center of business economy of the region it was

gradually urbanized, which resulted in the construction of relevant buildings,

such as residences and commercial houses, whose architecture expressed the

existing power of these urban owners and landowners. As an objective of this

work, the historical process of use and occupation of the town was analyzed,

considering the economy and its reflection in the architecture of the region

observed in the late 19th century and early 20th century constructions (1830 to

1960). The data collect was done through visits to the City Hall, the Municipal

Library, and the Historical and Geographical Institute of Mato Grosso do Sul,

and by reading regional historiography and literature on memories and oral

accounts. Work field was also done and the mapping was done through

geophotography and geoprocessing technics and the buildings photographical

registers were analyzed, considering their historical and architecture aspects,

within the current of thought that looks to society, environment and regional

development. The analysis of images, building materials, histories and

construction periods point toward the combination of one or more well defined

ornaments on their volumetry, characterizing architectonic styles. 59 buildings

were registered and among them there are thirteen farms with their wood and

masonry residences, cemeteries, churches and rural facilities. In the urban

zone, 46 buildings were registered and among them there are 21 that still

withstand time; and 25 that were already demolished, such as commercial

houses, residences, bandstand, convent, school, among others. This historical

research is important to the town and to the state of Mato Grosso do Sul

because it can guide future researches and projects that can provide new

discoveries, increasing the knoweldge of the region.

Key-words: Environment; regional development; Yerba mate; architectonic

heritage; cattle raising

10

3. Introdução Geral

De acordo com MAGALHÃES (2012), a rota percorrida pelas famílias

que vieram povoar inicialmente o nordeste do que hoje é o Estado de Mato

Grosso do Sul, tem suas raízes em vilas do interior mineiro (Piuhmi e Lavras) e

paulista (Franca). A década era 1830, quando as primeiras famílias oriundas de

Minas Gerais, como os Garcia Leal, Lopes, Souza e Barbosa, edificaram seus

primeiros barracos de pau-a-pique cobertos por folhas de pindó, e começam

então o primeiro povoado, chamado de Sant‟Anna do Paranahyba.

De acordo com FACHOLLI e DOERZBACHER (1991), a colonização

começou com a chegada do mineiro Antônio Gonçalves Barbosa, que ocorreu

em 1836, com uma comitiva de aproximadamente 58 pessoas, incluindo seus

familiares. Viajando em batelões, a comitiva alcançou o rio Igaray (Ivinhema),

encontrando os índios Caiuás, pacíficos e serviçais. Acampou em um prado

onde surgiram vacas de propriedade dos índios Guaicurus, uma tribo guerreira.

Ainda segundo as autoras acima citadas, dada à surpresa, Antônio

Gonçalves Barbosa exclamou: “Que Vacaria!”. E daí a origem do nome

“Campos de Vacaria”, hoje o município de Rio Brilhante. Ao encontrarem terra

roxa e matas de grande porte, sinal da fertilidade do solo, fixou morada e

batizou o lugar de “Boa Vista”, sendo esta uma das primeiras fazendas da

região.

Em 1842, Inácio Gonçalves Barbosa, viaja ao encontro do irmão Antônio

Gonçalves Barbosa, com uma comitiva de 60 pessoas, dentre elas dois irmãos,

cunhado e uma irmã. Combinado entre os dois irmãos de não se afastarem

muito uns dos outros, Inácio encontrou um local distante três quilômetros, com

a presença de barro preto, onde puderam fabricar telhas, adobe ou tijolo cru e

ali construíram sua casa (FACHOLLI e DOERZBACHER, 1991).

Os mesmos autores escrevem que o local era um ribeirão brejoso,

ladeado de matas de madeira de lei. Após inúmeras tentativas para atravessá-

lo, não conseguiram realizar seu intento, batizando o lugar de “Passatempo”.

Desta maneira surgiu uma das grandes fazendas dos “Barbosas”.

Porém, em algumas áreas da região, principalmente no sudoeste, em

áreas do sul do Pantanal, uma planície de inundação, de acordo com

CAMPESTRINI (2009), já existia fazendeiros estabelecidos, sendo estes de

origem portuguesa, fugindo em sua maioria da Revolta Nativista de 1834,

11

conhecida como Rusga – movimento de hostilidade aos portugueses –, que

ocorreu em Cuiabá. Este movimento levou diversos comerciantes a fugirem da

cidade e alguns se estabeleceram nesta região, que ainda continuava pouco

povoada.

De acordo com FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991), o ano de 1900,

na região dos Campos de Vacaria, é marcado pela chegada de Francisco

Cardoso Junior, oriundo de São Roque - MG, onde hoje é o município de Rio

Brilhante, erguendo um cruzeiro e marcando assim, o nascimento de um

povoado. Nessa época, os habitantes da região encontravam-se ainda fixados

nas fazendas e na localidade da Aroeira, hoje distrito de Prudêncio Thomaz,

pois a cidade de Rio Brilhante ainda não existia. Após sua instalação, se casou

com a sobrinha de José Francisco Lopes, mais conhecido por “Guia Lopes da

Laguna”, o qual era casado com Maria da Conceição Barbosa de Lopes, vulgo

Senhorinha, filha de Antônio Gonçalves Barbosa.

Este distrito, Aroeira, conforme afirmam FACHOLLI e DOERZBACHER

(1991), tornou-se uma área “aposseada” por ocupação primária por Antônio

Gonçalves Barbosa, em 1838. Esta região foi denominada em seus primórdios

de fazenda “Aroeira”, em virtude de seus campos e grandes matas de aroeiras,

uma árvore típica da região.

Ainda, segundo as autoras, alguns fazendeiros doaram posses de terras

para a concretização da sede. A partir daí, delineou-se, então, a primeira planta

da cidade que passou a denominar-se de “Entre Rios”, por estar situada entre

os rios Vacaria e Brilhante. Segundo relatos orais de descendentes de

pioneiros, com a chegada de Marechal Cândido Rondon, com seus

equipamentos topográficos, locou-se os quatro cantos da praça central,

surgindo assim, o traçado da malha urbana em tabuleiro xadrez. Segundo

ROSSI (2001), as cidades criadas pelos europeus possuem influência de

certas tipologias urbanas, trazidas ao Brasil pelos portugueses.

Corroborando com FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991), em 26 de

setembro de 1929, aconteceu a elevação de “Entre Rios” a Município,

tornando-se independente administrativamente a partir desta data, mas

pertencendo a Comarca de Campo Grande. Já em 1943, Entre Rios, foi

elevada a Comarca e recebe o nome de “Caiuás”, em consideração a tribo

indígena, habitante primitiva da região e, em 30 de setembro de 1948,

12

novamente, há a alteração para Rio Brilhante, em homenagem ao importante

rio da região. Nesta época, a região já se destacava pelas grandes fazendas e

seus rebanhos bovinos.

SODRÉ (1941) afirma que na segunda metade do século XIX, o regime

pastoril do Oeste devia apoiar-se em populações oriundas de três procedências

diversas – o mineiro, o gaúcho e o paraguaio, incluindo o indígena na

denominação paraguaio.

Como resultado das diferentes correntes migratórias e do acúmulo de

capital, ocorreu uma produção arquitetônica com diferentes inspirações

estilísticas, articuladas com as atividades econômicas ali desenvolvidas. De

acordo com GLANCEY (2001), a arquitetura é a ciência e a arte de construir,

passando pelas catedrais góticas, até os arranha-céus do século XX, uma arte

em contínua evolução, resultado de diferentes características.

No Estado de Mato Grosso do Sul já existem algumas publicações, tais

como ARRUDA (1999), MARQUES (2001), MAGALHÃES (2012) e LIMA

(2013), registrando as primeiras pesquisas que contribuem para o resgate do

patrimônio arquitetônico sul-mato-grossense, indicando os modelos

representativos da produção construtiva e seus períodos, que ainda podem ser

contemplados em alguns municípios da região.

Portanto a análise e a importância dessas edificações identificadas in

loco, na zona rural e urbana do município, resultado da ocupação pioneira,

através da exploração dos recursos naturais, como a extração da madeira, a

pecuária e a coleta dos ervais nativos na região, assim como a influência da

Guerra da Tríplice Aliança, propiciou uma arquitetura característica para a

região.

Desta maneira, objetivou-se analisar o processo histórico de uso e

ocupação do município, levando-se em consideração a economia e seu reflexo

na arquitetura da região, com construções do final do século XIX e no início do

século XX (1830 a 1960). As edificações de maior relevância na zona rural e

urbana foram identificadas e correlacionadas a história do município, através

de relatos orais dos descendentes de pioneiros, obtendo assim informações

sobre suas origens, identificando seus estilos arquitetônicos, de acordo com

suas datas de construção, registro fotográfico, ornamentos e materiais

construtivos.

13

Desta maneira, objetiva-se contribuir através desta pesquisa com o

conhecimento do patrimônio arquitetônico da região, indicando os modelos

representativos da produção construtiva e seus períodos, onde alguns ainda

podem ser contemplados na zona rural e urbana do município. Além disto,

espera-se nortear futuras pesquisas e projetos que poderão fornecer novos

desdobramentos que ampliarão o universo do conhecimento sobre o

desenvolvimento dessa região sul mato-grossense.

14

4. Revisão de Literatura

4.1. Mato Grosso do Sul – primórdios

De acordo com CAMPESTRINI e GUIMARÃES (1995), o território do

atual Estado de Mato Grosso do Sul, conforme o Tratado de Tordesilhas

pertencia à Espanha e sua exploração foi feita por expedições de aventureiros

e pela atuação dos jesuítas. Através do curso dos Rios Paraguai e Paraná

chegam os espanhóis, precedentes do estuário do Rio da Prata, à procura de

jazidas minerais; e os bandeirantes, descendo o Rio Tietê, subindo o Rio

Grande e rumando pelos Rios Sucuri, Pardo, Verde ou Ivinhema, em busca de

ouro.

Segundo BARBOSA (2011), dentre os muitos exploradores se destacam

Aleixo Garcia, bandeirante, grande navegador, que percorreu todo o Oeste da

América do Sul e também expedições de Ayalas, Cabeza de Vaca, Irala e Nuflo

Chaves, que por aqui passaram atrás de ouro, cobiçados pelos portugueses.

Os caminhos utilizados eram os rios, facilitando o deslocamento, nas

chamadas Monções, que começavam pelo Rio Tietê, partindo de Porto Feliz

em batelões, um tipo de embarcação, descendo até o Rio Paraná e depois, o

rio Guaíra, por onde encontraram índios já catequizados pelos Jesuítas

espanhóis.

Conforme CORRÊA (2012, p.18), em 1719, Pascoal Moreira Cabral,

encontrando ouro às margens do Rio Coxipó, fundou o arraial de Cuiabá, o que

atraiu grande número de paulistas e muitos outros colonos portugueses para

esses sertões remotos, o chamado ciclo do ouro de Cuiabá.

Desta maneira, provocam o deslocamento da população para novas

áreas, resultando na criação de novos núcleos de povoação, o que fez com

que o crescimento da região norte do antigo Mato Grosso fosse mais rápido

(CORRÊA, 2012), enquanto a parte sul continuava ainda pouco povoada. De

acordo com o mesmo autor, ergue-se uma pequena capela em Cuiabá,

construída em Forquilha, no segundo arraial dos primeiros bandeirantes, na

margem direita do Rio Coxipó, dedicada à Nossa Senhora da Penha de

França, onde foi celebrado, em 1721, pelo padre Jerônimo Botelho, a primeira

missa em Mato Grosso.

Em 1748, é criada a Capitania de Mato Grosso, desmembrada da

capitania de São Paulo, cujo capitão – general foi D. Antônio Rolim de Moura

15

Tavares. Em 1752, a Vila Bela da Santíssima Trindade foi fundada às margens

do rio Guaporé e tornou-se a sede da capitania, incorporada ao Brasil, pelo

Tratado de Madri, em 1750 (CORRÊA, 2012).

O Tratado de Madri contribuiu para que os portugueses construíssem

edificações em terras do sul da Capitania de Mato Grosso. Para isso, criaram,

em 1775, o Forte de Coimbra, localizado no atual município de Corumbá. Em

1778, construíram o Presídio Nossa Senhora do Carmo do rio Mondego, que

deu origem, em 1857, à cidade de Miranda. Além do Forte e do Presídio, houve

dois povoados chamados Albuquerque: um fundado em 1778, dando origem a

cidade de Corumbá, em 1850; o outro – Paranaíba – constituído por migrantes

mineiros que, a partir de 1829 foram para o extremo leste da Província,

fronteira de Minas Gerais, criar gado, originando à cidade de Paranaíba 1857

(SILVA, 2011).

Figura 1. Sul da Província de Mato Grosso (1593-1862). Fonte: SILVA (2011).

16

É importante destacar que a origem das primeiras fazendas de gado

remonta aos anos 30 do século 19, quando se registraram os primeiros

movimentos de fazendeiros do norte da Província de Mato Grosso para o sul

da Província. Segundo CAMPESTRINI (2009, p. 16), esses fazendeiros, de

origem portuguesa estavam fugindo da Revolta Nativista de 1834, conhecida

como Rusga (movimento de hostilidade aos portugueses) e se estabeleceram

na região sul do Pantanal, principalmente.

CAMPESTRINI e GUIMARÃES (1995) escrevem que a busca pelo ouro,

em 1719, antes mesmo do Tratado de Madri, levou monçoneiros (bandeirantes

que seguiam a rota das monções, descendo os rios em direção ao oeste na

estação mais seca e retornando quando o nível dos rios estava mais alto) a

criarem a Fazenda Camapuã – estratégico ponto de parada, próxima aos

afluentes dos rios Parado e Coxim, sul da antiga Província de Mato Grosso.

Apenas na década de 1830 começou de fato o povoamento das terras que hoje

constituem o Estado de Mato Grosso do Sul, com a criação de fazendas da

região, tais como a Vacaria, em 1839, no município de Rio Brilhante (Figura 2).

Figura 2. Localização dos primeiros núcleos de povoamento no Sul de Mato

Grosso do Sul. Fonte: CAMPESTRINI e GUIMARÃES (1995).

No mesmo período, de acordo com FACHOLLI e DOERZBACHER

(1991), chega à região o mineiro Antônio Gonçalves Barbosa em 1836, com

uma comitiva de aproximadamente 58 pessoas, incluindo seus familiares. Sua

17

viagem começou a partir de Franca (São Paulo), com destino ao Sul do Mato

Grosso; após construírem os batelões, lançaram-se pelo rio Grande e Tietê,

pois estas eram as vias mais fáceis para a navegação com destino ao interior

da região Centro-Oeste, chegando ao rio Paraná, posteriormente, ao porto de

Guaíra e deste ao Igaray, hoje rio Ivinhema. Então, entra no rio Vacaria, onde

num prado avistaram vacas de propriedades dos índios Guaicurus.

MAGALHÃES (2012) também destaca que parte das famílias que vieram

povoar o Estado de Mato Grosso do Sul, tendo suas raízes em vilas do interior

mineiro (Piuhmi e Lavras) e paulista (Franca), de onde sucederam suas

migrações; a princípio moravam em ranchos cobertos com capim, enquanto

cuidavam da criação e praticavam uma agricultura de subsistência.

De acordo com o AYALA e SIMON (2006), a economia da época era

ainda incipiente, principalmente, baseada na pecuária e agricultura de

subsistência e posteriormente, na extração da erva-mate e madeira. Após a

Guerra do Paraguai, a região começou a experimentar um novo período de

crescimento econômico, com a exploração intensiva da erva-mate.

4.1.1. Guerra do Paraguai

Os conflitos que deram origem à Guerra do Paraguai iniciaram-se bem

distantes das terras do atual Mato Grosso do Sul, por envolver questões como

da formação dos novos Estados independentes e da necessidade de saída

pelo mar por parte do Paraguai. Este motivo já havia levado o Brasil a defender

suas possessões diante da Argentina e que resultou na formação do Uruguai,

como um país independente (MOTA, 1995).

O mesmo autor escreve que é correto citar diversos fatores que levaram

a ocorrência deste evento, o mais sangrento das disputas entre países na

América Latina de todos os tempos. Destaca-se, primeiramente, a posição do

Paraguai desde o governo do presidente Doutor Francia (1814-1840), que

promoveu o isolamento do país, tanto para a imigração como para a

emigração, visando a sua auto-suficiência, a qual teria como base a agricultura

e indústria.

MOTA (1995), também cita que os governantes que o sucederam,

Carlos Antônio López (1840-1862) e seu filho, Francisco Solano López (1862-

1870), ao contrário, promoveram a abertura do país ao comércio exterior,

18

favorecendo a entrada de imigrantes europeus e, principalmente, de técnicos

estrangeiros. Porém, existia um propósito bem claro, que era conseguir um

caminho para o mar, que a nação não possuía.

No entanto, este propósito gerou disputas, quando o governante da

Argentina, Juan Manuel Rosas impôs um bloqueio econômico ao país vizinho,

limitando a abertura do Paraguai em sua integração ao comércio mundial. Esta

situação levou o presidente à organização de exército, bem estruturado e

preparado por oficiais alemães, equipado com armamentos europeus. Isto

ocorreu porque para os paraguaios, as nações vizinhas eram os responsáveis

por uma possível estagnação do país, devido ao fato de não terem uma saída

para o mar (MOTA, 1995).

O Brasil, segundo BETHELL (1995) e MOTA (1995), por ter um tratado

com a Inglaterra e relações comerciais muito ligadas ao império inglês, era

praticamente um autêntico protetorado desta nação, cliente fixo dos seus

produtos. Por isso, o Brasil muitas vezes atuava em defesa dos interesses da

Inglaterra, agindo para obter a abertura do comércio do Paraguai aos

interesses ingleses. Esta situação levou a uma série de desavenças,

propiciando o caminho para a guerra.

O Brasil, ainda por essa época, estava promovendo a ocupação de

terras além-fronteiras, o que continuamente levava as nações vizinhas a

expulsarem brasileiros de suas terras. Ao mesmo tempo, o Paraguai tentava

estabelecer uma coligação com o Uruguai e com as províncias de Corrientes e

Entre Rios, na Argentina. Para MOTA (1995), o governo uruguaio de Atanásio

Aguirre (1804-1875), do partido blanco, era hostil ao governo brasileiro, por não

defender os brasileiros residentes no Uruguai, causando a estes prejuízos e

perda de seus bens. Posteriormente, este governo foi derrubado.

Devido a este fato, Brasil e Argentina promovem um fortalecimento de

tropas na fronteira entre os três países, o que leva Francisco Solano López a

qualificar esta ação como "atentatória ao equilíbrio dos Estados do Prata, que

interessa à República do Paraguai como garantia de sua segurança, paz e

prosperidade". Como retaliação, Solano Lopes mandou aprisionar no porto de

Assunção o navio brasileiro Marquês de Olinda, dando início propriamente dito

à guerra. Esta situação levou ao Tratado da Tríplice Aliança, assinado por

19

Brasil, Argentina e Uruguai, em que os três países se comprometiam a

defenderem seus territórios contra o Paraguai (MOTA, 1995; CORRÊA, 2012).

Para o Brasil, a região que fazia fronteira com o Paraguai, atual Estado

de Mato Grosso do Sul, não tinha grande valor econômico, devido a sua

distância do centro urbano principal do país, que era a capital do país, Rio de

Janeiro (ESSELIN et al., 2012). Esta situação é verificada através da

concentração de tropas, que inicialmente estavam localizadas na região do Rio

Grande do Sul.

Com o desenvolvimento da guerra, o sul do então Estado de Mato

Grosso, invadido pelo Paraguai, apresentou o maior prejuízo econômico.

Conforme CORRÊA (2012) e ESSELIN et al. (2012), no decorrer da invasão

paraguaia de 1864-1870, foram afetadas cidades como Coimbra, Corumbá,

Miranda, Aquidauana, Nioaque, Dourados e Coxim, levando a desorganização

das vilas e fazendas de criação de gado, saqueadas pelos paraguaios que se

serviam dos rebanhos para o abastecimento de suas tropas.

Após, o final da guerra, grandes extensões de terra estavam

desabitadas, com vilas e sedes de fazendas destruídas e seus habitantes,

mortos ou deslocados para outras regiões. Somente aos poucos é que estes

locais foram se recuperando, por volta de 1870, mesmo com muitas

dificuldades materiais e humanas (CORRÊA, 2012).

Como destacado em OLIVEIRA (2005), após a guerra, a recuperação

das terras e de outros bens perdidos com o conflito caracterizou-se pela

dificuldade de comprovar as posses, o que já era problemático, mesmo antes

da invasão dos paraguaios. Esta situação piorou com a destruição das vilas na

fronteira e por consequência de suas precárias repartições jurídico-

administrativas (arquivos dos juizados, cartórios, agências fiscais, etc.).

É diante deste espaço de misérias e privações que como destacado em

CAMPESTRINI e GUIMARAES (1995), surge um novo processo de ocupação

das terras do sul de Mato Grosso, com a formação da Companhia Matte

Laranjeira, a qual teve início no período Pós-Guerra do Paraguai (1865-1870),

quando o governo imperial resolveu demarcar definitivamente as fronteiras com

a República Paraguaia. Desta maneira, no pós-guerra se destaca a exploração

comercial, em grande escala, da erva-mate nativa do sul do Estado.

20

Para ALVES (1984), o proprietário da nova companhia, Thomas

Laranjeira, por ter atuado como fornecedor durante a comissão demarcadora

de limites após a guerra obteve grande influência diante do governo imperial

brasileiro. Desta maneira, tendo percebido o potencial de exploração da erva-

mate existente na região, obteve do governo o direito de exploração dos ervais

nativos da região de fronteira, com a concessão de 5.000.000 de hectares de

terras.

Ainda, de acordo com ALVES (1984), a Companhia Matte Laranjeira

favoreceu a abertura das navegações fluviais, para o comércio da erva, além

de contribuir para que o Estado de Mato Grosso obtivesse certa hegemonia

econômica, resultando no desenvolvimento de cidades como Cuiabá e

Corumbá. Posteriormente, também assumiu novas funções, como

monopolizadora da importação e exportação de mercadorias e a compra de

produtos locais, exercendo o papel dos bancos, inexistentes na região e

tornando-se representante do capital financeiro. Era a companhia considerada

um Estado dentro do Estado.

Ainda corroborando com ALVES (1984), Corumbá dinamizava as casas

comerciais que faziam a ligação com o comércio exterior. Esse novo comércio

passa a intervir em todos os setores da economia. No princípio da exploração

da erva-mate, era a casa comercial que fazia a intermediação entre os

mercados; porém, logo monopolizou também setores como o da exploração da

borracha e a criação extensiva de gado, obtendo, para tanto, a concessão de

vastas extensões de terra.

Enfim, a Guerra do Paraguai, segundo FLORESTAN (1981), favoreceu a

dominação imperialista da região, pois além da Companhia Matte Laranjeira,

como destacado por HOFF (1997), outras grandes empresas, como a Fazenda

Britânia da Companhia Maderas del Alto Paraná, a de Allica, no porto Arteza e

a Domingos Barthe, Nuñes y Gibaja se estabeleceram e se transformaram em

verdadeiros impérios estrangeiros em solo brasileiro.

4.1.2. Companhia Matte Laranjeira

Em 1872, forma-se uma comissão encarregada de demarcar os limites

entre Brasil e Paraguai. Destaca-se então o nome do gaúcho Thomaz

Laranjeira, estabelecido como comerciante e fornecedor de suprimentos ao

21

exército imperial durante a guerra da Tríplice Aliança e natural de Santa

Catarina, porém, oriundo de Santa Maria, Rio Grande do Sul (SEREJO, 1986).

Para ARRUDA (1986), a abertura à “livre navegação” do Rio Paraguai e

a demarcação da fronteira, com a participação direta de Thomaz Laranjeira na

comissão de demarcação, contribuíram para o surgimento do ciclo da erva-

mate em Mato Grosso.

Aproveitando-se de seus contatos políticos, Thomaz solicita a concessão

da exploração dos ervais nativos na província e recebe da corte permissão

para explorar a erva-mate nos terrenos devolutos situados nos limites da

província de Mato Grosso do Sul com o Paraguai.

GREGORY (2011) escreve que 1882 por meio do Decreto Imperial n.

8799/1872, Thomaz Laranjeira, obteve o privilégio de exploração de ervais

nativos nos terrenos devolutos da fronteira até a cabeceira do rio Iguatemi, por

um período de dez anos, “nos hervaes existentes nos limites da província de

Mato Grosso com a República do Paraguay, no perímetro compreendido pelos

morros do Rincão de Julho e as cabeceiras do Iguatemy, ou entre os rios

Amambahy e Verde, e pela linha que desses pontos for levada para o interior,

na extensão de 40 quilômetros”.

Em 1882, através do Decreto Imperial n. 81.799, foi fundada a

Companhia Matte Laranjeira, com sede na fazenda Campanário, município de

Caarapó – MS, motivo econômico pela qual se originaram ou se

desenvolveram várias cidades na região sul do Estado, tais como Caarapó,

Amambai, Porto Murtinho, Bela Vista e Ponta Porã, entre outras (SEREJO,

1986) (Figura 3).

Toda erva produzida era transportada por grandes caravanas de

carretas puxadas a boi, percorrendo 360 km de estradas ou trilhas no meio do

mato, até chegar aos portos de destino, onde era embarcada. Um grande

número de bois, carretas, carreteiros, auxiliares à margem dos caminhos e nos

pontos de descanso geravam emprego, um incentivo para quem vinha para

esses sertões.

De acordo com GREGORY (2011), o grande poder econômico da

companhia permitia que o processo de retirada da erva-mate fosse feito sem

grandes preocupações ambientais ou de sustentabilidade. De acordo com o

22

autor, um decreto de 1895 proibia “o decepamento do tronco, ou a derrubada

da árvore para colheita da herva”.

Figura 3. Sul do Estado de Mato Grosso – Região de domínio da erva-mate

(1870-1937). Fonte: SILVA (2011).

Porém, na década de 1920, por exemplo, ocorria a derrubada de árvores

inteiras ao invés do corte de galhos, para agilizar o serviço, levando a uma

rápida devastação de áreas de ervais

Segundo LIMA (2013), a fazenda Campanário, devido à proximidade

com o rio Paraná e a cidade de Porto Murtinho, pela facilidade de transporte

fluvial pelo rio Paraguai, eram centrais de armazenamento e transporte da

erva-mate levada para os países vizinhos, Paraguai, Argentina e Uruguai.

Ainda de acordo com SEREJO (1986), com o advento da República, o

contrato de concessão foi renovado pelo Estado, compreendendo a área

23

limitada pelos rios Sete Voltas, Onças, Brilhante, Ivinhema, Paraná e Serras de

Maracaju e Amambai (Figura 4).

Figura 4. Mapa das áreas de exploração da erva-mate. Fonte: SODRÉ (1941).

Para AQUINO (2000), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia

e Estatística, em 1940 a estimativa era de cerca de 10.000 gaúchos na região

de Entre Rios, crescimento populacional este devido à exploração da erva-

mate no sul do Estado, demonstrando a importância da chegada desta

população para a exploração deste recurso natural e a formação cultural desta

região.

Esta extração ervateira rendeu aos seus exploradores, um alto retorno

do capital empregado e teve uma posição privilegiada com relação aos outros

produtos, revelando seu impacto econômico para a região. ARRUDA (1986)

afirma que a exploração da erva-mate, surgiu no Estado no início da década de

1880, atingindo seu auge nos anos 1920 e declínio e estagnação por volta de

1937. Porém, deixou marcas indeléveis em todo o sul do Estado, seja na

composição da população, formação de cidades ou na arquitetura das

residências ou comércio.

24

4.1.3. Mato Grosso do Sul – história recente

De acordo com OLIVEIRA (2005), em 1895, com informações que os

campos e coxilhas do sul do Mato Grosso eram semelhantes aos da fronteira

do Rio Grande do Sul com a Argentina, os gaúchos fizeram rodar suas carretas

e cargueiros para o sul deste Estado e muitos destes vieram para as atuais

terras sul-mato-grossenses, trazendo seus costumes e tradições. A pecuária

passava a ser importante no desenvolvimento, pois, a boa qualidade dos

campos, o clima próprio e a abundância de águas traziam de toda parte o

criador de gado.

Ainda corroborando com essa ideia, o autor acima citado afirma que

nesse período, o governo brasileiro passa a investir mais no incremento do

povoamento, na geração de alternativas econômicas e na agilização da

comunicação com a região de fronteira. Para isso, deu início a pesados

investimentos voltados para a construção de vias de acesso, desenvolvimento

da navegação fluvial e implantação de comunicação telegráfica.

Porém, a região continuava isolada e por este motivo, foi criada a

Comissão Construtora de Linhas Telegráficas de Mato Grosso (1900-1930),

comandadas pelo marechal Cândido Mariano da Silva Rondon. Em 1901 já

tinham sido implantados trechos no território do atual Mato Grosso, do norte de

Rondonópolis; após, Rondon fez descer a linha telegráfica para o sul, no rumo

de Coxim, inaugurando a estação de Itiquira. Só mais tarde a linha telegráfica

atingiu Ponta Porã, Dourados e Campo Grande (CAMPESTRINI e

GUIMARÃES, 1995) (Figura 5).

Esta Comissão foi responsável por estender a linha ao longo da fronteira

com o Paraguai e a Bolívia e mais ao norte, além de construir estradas e

pontes ligando as estações. Idealizada e conduzida por oficiais do exército, a

Comissão representava uma estratégia militar, política, científica e tecnológica

para a conquista dos sertões. Em território sul-mato-grossense, a atuação da

Comissão se deu entre 1904-1927 (MACIEL, 1999).

Outro fator importante para a ocupação e desenvolvimento do Estado,

foi em 1904 a instalação da CIA. Estrada de Ferro Noroeste do Brasil

(atualmente em grande parte desativada), para implantar e explorar a ferrovia

Uberaba/Coxim; desta maneira, novas levas de migrantes vieram a se

estabelecer na região.

25

Figura 5. Mapa das linhas telegráficas no sul de Mato Grosso - 1901. Fonte:

GUIMARÃES (1999).

O sul de Mato Grosso, no início do ano de 1920, crescia pelo esforço e

com os recursos de seus habitantes, ainda abandonado pelo poder estadual.

Com isto, aumentava o movimento separatista, falando-se já em divisão

territorial. Em vista disso, o presidente do Estado de Mato Grosso resolveu

visitar o sul (CAMPESTRINI e GUIMARÃES, 1995).

Da viagem, fez minucioso relatório, apresentando, no ano seguinte, à

Assembleia Legislativa. Nas considerações finais, ponderava que:

“[...] nem só a indústria pecuária que se presta aquela zona

(o sul), pois quase toda ela, na parte por mim viajada,

compõe-se de terra roxa, dessa terra que tem feito a

opulência do Estado de São Paulo, e que poderá ser fácil e

vantajosamente cultivada pelos processos modernos”

(OLIVEIRA, 2005, p.30).

Em 1930, devido ao intenso movimento na estação ferroviária de Campo

Grande, decorrente principalmente da exportação do gado, madeira e outros

26

produtos, além da importação de bens industrializados, o que contribuiu para

que a arrecadação tributária superasse em 28% a de Mato Grosso, a cidade é

considerada, também, a capital econômica do Estado (OLIVEIRA, 2005).

Em 1943, foi criada a Colônia Agrícola Federal pelo Governo Vargas,

fundamental para o desenvolvimento do Estado, instalada na região das

grandes matas de Dourados. Da colônia faziam parte cidades projetadas para

serem ocupadas por colonos: Vila Brasil (hoje Fátima do Sul), Vila Vargas e

Vila Glória (hoje Glória de Dourados) (CAMPESTRINI e GUIMARÃES, 1995).

Ambas as colônias, bem como as cidades de Dourados e de Rio

Brilhante, na época, estavam como ilhadas porque não havia estradas de

rodagem que as ligasse à ferrovia, tornando-se, assim, difícil o escoamento da

produção dessa região. Nesse mesmo período, foi criado o Território Federal

de Ponta Porã, durante a segunda república (OLIVEIRA, 2005), com a

finalidade de facilitar a colonização da fronteira. Porém, o território não teve

vida longa, sendo posteriormente incorporado ao Estado de Mato Grosso em

1945.

Ainda citando o autor, após a deposição de Vargas, com a ascensão de

Eurico Gaspar Dutra, em 1946, os sul-mato-grossenses tentam a transferência

da capital (Cuiabá) para Campo Grande, haja vista a prosperidade da mesma

em relação à Cuiabá. Porém não atingem seus objetivos.

As tentativas de colonização da região produziram, finalmente, efeito em

relação ao crescimento de cidades na área. Entre 1945 a 1964, a região

apresentou um aumento no número de municípios, quando foram criados mais

35, originando uma configuração geográfica próxima da atual, resultado de um

desenvolvimento econômico lento e tardio, por conta do tipo de ocupação

anterior, baseada principalmente, na pecuária extensiva e extração de erva-

mate, tipo de atividade econômica que não demandava grandes municípios ou

cidades.

4.2. Processo histórico de Rio Brilhante

As cidades vão sendo formadas em torno das estradas e feiras, de

acordo com momento econômico de cada época, tendo quase sempre como

base o comércio. Com a cidade de Rio Brilhante, não foi diferente, pois a

27

exploração das terras do atual Estado de Mato Grosso do Sul resultou no

agrupamento de pessoas, que originaram a cidade atual.

Este processo de formação de núcleos urbanos na região é antigo, com

FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991) registrando em 1593 a passagem dos

espanhóis pela região dos Campos de Erê (posteriormente Vacaria). Nos anos

de 1628, a bandeira de Antônio Raposo Tavares, entrando pelo rio Igaray (hoje

Ivinhema), chega aos campos e rios locais, atingindo até o planalto da Serra

que recebeu posteriormente o nome de Maracaju (Figura 6).

Figura 6. Mapa da Região de Vacaria, dos campos denominados de Garahy

(Ivinhema) e rotas de acesso. Fonte: AYALA e SIMON (2006).

Por meio do relato de BARBOSA (2011), sabe-se que os irmãos Antônio

Gonçalves Barbosa (furriel e guarda do ouro da Coroa) e Inácio Gonçalves

Barbosa, nascidos em Sabará (MG), cujos pais eram Francisco Apolinário

Gonçalves Barbosa – português de origem, comerciante, que trocava tecidos

por ouro e levava em lombo de burros ao Rio de Janeiro e Margarida Teveja

Brunzwick – alemã de origem, se mudaram para os Campos de Vacaria na

década de 1830. Para CAMPESTRINI et al. (2014), ambos já tinham ouvido

falar dos campos e aguadas, onde existia muito gado selvagem e para lá

rumaram com seus familiares, escravos e o necessário para enfrentar os

ásperos sertões desconhecidos.

28

Acamparam num prado onde surgiram vacas de propriedades dos índios

Guaicurus. Dada à surpresa, Antônio Gonçalves Barbosa exclamou: “Que

Vacaria!”. É daí a origem do nome Campos de Vacaria, hoje o município de Rio

Brilhante. Por outro lado, o nome Campos de Vacaria também é correlacionado

aos jesuítas espanhóis no final do século XVI, que adentraram a região e

encontraram o gado, daí surgindo o nome (BARBOSA, 2011).

Após, este encontro com o gado solto na região, os pioneiros

visualizaram terra roxa e fértil, além de grandes áreas de mata, sendo que ali

fizeram morada, também, batizando o lugar de “Boa Vista”, sendo esta a

primeira fazenda a ser formada na região, por volta de 1839 (Figura 7).

Figura 7. Mapa com as Localizações da: (1) Fazenda Boa Vista; (2) Campos

de Santa Maria; (3) Água Fria; (4) Forquilha do Nioaque; (5) Vila Miranda; (6)

Cabeceira do Taquaruçu. Fonte: CAMPESTRINI e GUIMARÃES (1995).

Depois de vários conflitos pela posse da terra, Antônio e Inácio

conseguiram dominar os indígenas e consolidaram seu domínio sobre a região.

Segundo MAGALHÃES (2012), com a extinção da Fazenda Boa Vista, a

fazenda Passatempo, fundada logo a seguir por Ignácio, passou a ser a grande

irradiadora da família Barbosa.

29

Após o ano de 1850, amparado pelo registro de terra, conferido pela Lei

da Terra, Inácio foi à paróquia de Miranda e registrou as fazendas Passatempo,

Urumbeva e Prata. Na Fazenda Passatempo, Emilio Barbosa, descendente dos

pioneiros, relatou que em 1842, construiu-se o primeiro rancho, mangueiro, e

posteriormente, um cemitério, onde se encontram hoje sepultados os restos

mortais de sua esposa, Antônia Isabel, além de Luiza Garcia Leal, Joaquim

Barbosa Marques e Antônio Gonçalves Barbosa Marques, além de outros

descentes.

FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991) relatam que nos núcleos

urbanos as casas eram simples palhoças cobertas de palha, com iluminação

através de candeeiros, lamparinas e lampiões, alimentados com azeite ou óleo.

As ruas não tinham calçamentos e eram apenas trilhas cercadas por mato. A

água provinha de poços, fontes ou mananciais (aguadas) e parte das roupas e

alimentos, fabricados na região. Apenas determinados produtos, mais

especializados, chegavam por meio de mercadores.

BARBOSA (2011) afirma que as construções das moradias das

fazendas se localizavam onde se achava barro preto próprio para a fabricação

de adobe, um tipo de tijolo de terra crua, água e palha e algumas vezes, outras

fibras naturais, moldados em fôrmas, por processo artesanal ou semi-industrial,

para montar a definitiva morada. No local, também, se cultivavam diversas

espécies frutíferas trazidas de Minas Gerais, tais como mudas de

jabuticabeiras Sabará, coroadas e grumixamas, lima da Pérsia, laranjas de

vários tipos, marmelo e mangas, além de outras espécies.

Segundo ainda relata BARBOSA (2011) na Fazenda Passatempo, no

ano de 1844, às vésperas do padroeiro Santo Antônio, os irmãos e os demais

moradores das cinquenta léguas ao redor, se reuniram para uma festa com

banda de música do regimento sediado em Nioaque. Cerca de um milhar de

pessoas se concentrou na fazenda, se acomodando em barracões, carros de

boi e embaixo de árvores, com a realização de crismas e batizados, jogos de

prenda, touradas e cavalhadas, com duração de nove dias e realizada devido a

uma promessa feita ainda em Franca - SP.

De acordo com CAMPESTRINI e GUIMARÃES (1995), em 1878 a 1882

chegam alguns imigrantes paraguaios para trabalhar com a extração de erva-

mate, aumentando assim, a população rural já existente; posteriormente,

30

depois da revolução federalista ocorrida no sul do Brasil (1893 a 1895),

diversas famílias do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catariana, que se

dedicaram a pecuária e agricultura. O desenvolvimento econômico proporciona

o fortalecimento político de um grupo composto por grandes proprietários

rurais, que praticam a pecuária extensiva, cuja atividade econômica exige

grandes extensões de terra.

Destaca-se ainda que a sistematização da pecuária leva, também, o

fazendeiro a estabelecer laços comerciais com os moradores e proprietários

dos ervais, ou seja, ao mesmo tempo em que o fazendeiro vende seu gado, ele

é intermediário na distribuição e venda dos produtos na região.

Em relação aos meios de transportes dos pioneiros da região,

FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991) destacam que, antes da chegada das

rodovias e da estrada de ferro, o principal modo de transporte era por meio de

“batelões”, grandes barcos para transporte de carga pesada ou por canoas

curtas, de grande boca e pontal, adaptadas para os rios da região. A atividade

comercial de transporte era realizada através da “Companhia de Viação São

Paulo – Mato Grosso”, que chegava até Rio Brilhante trazendo mercadorias de

primeira necessidade.

Nessa época, a maior parte dos habitantes da região encontrava-se

fixados nas fazendas e na localidade da Aroeira, próximo ao rio Vacaria, hoje

distrito de Prudêncio Thomaz, onde criavam gado, plantavam milho e extraiam

erva-mate, sendo que o transporte eram os cavalos, carros de boi ou charretes,

além da via fluvial.

Uma das características das habitações rurais, de acordo com SODRÉ

(1941), era a pobreza em que encontravam, com casas de madeira, mesas

toscas, tamboretes de madeira com assentos de couros, com chão de terra

batida.

Segundo BARBOSA (2011), em 1896, entre o Porto Santa Rosa, atual

município de Maracaju e o Porto Barbosa, ambos localizados em afluentes do

Rio Brilhante, residia o capitão João Caetano Teixeira Muzzi, dezesseis

homens e suas famílias. Este grupo formou um núcleo populacional, com as

casas de adobe, cobertas de sapé e em torno de uma grande praça, início do

povoamento. O capitão trazia mercadorias de Concepción e as comercializava

aos fazendeiros, movimento que tornou essa região um importante ponto de

31

comércio da erva-mate. Por isso, tornou-se credor de muitos amigos, inclusive

do capitão Jango Mascarenhas e Domingos Barbosa, neto Inácio Gonçalves

Barbosa, proprietário de vastas áreas de terra e muito influente na região.

Ainda, segundo FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991), por volta de

1900, Francisco Cardoso Junior, ergueu um cruzeiro marcando, assim, o

nascimento da povoação, mais tarde chamado de Rio Brilhante. Alguns

fazendeiros doaram terras para a concretização da sede, delineando-se, assim,

a planta do povoado denominando-se de “Entre Rios”, por estar situado entre

os rios Vacaria e Brilhante.

Em 26 de setembro de 1929, torna-se independente

administrativamente, mas ainda pertencendo a comarca de Campo Grande; em

1943 foi elevada a Comarca e recebe o nome de “Caiuás”, em homenagem a

tribo indígena tupi-guarani, uma das habitantes primitivas do sul de Mato

Grosso. Em 1948, novamente altera-se a denominação de Caiuás para Rio

Brilhante, rio que separa o município de sua cidade vizinha, Douradina.

O município de Rio Brilhante ficou, então, com a posse de dois distritos,

o de Prudêncio Thomaz e o de Nova Alvorada do Sul, hoje já desmembrado e

emancipado. O distrito de Prudêncio Thomaz, situado às margens do Rio

Vacaria, ficou por muito tempo conhecido como “Aroeira”, devido às matas de

aroeiras existentes na localidade, uma árvore da família das Anacardiáceas, de

nome científico Myracrodruon urundeuva Fr. Allem., que produz madeira muito

valorizada para a construção civil e folhas, flores, frutos e casca, utilizados na

medicina popular.

4.3. Desenvolvimento Regional

4.3.1. Erva-mate

A erva-mate, uma espécie da família aquifoliácea, chamada

cientificamente de Ilex paraguariensis St. Hill, é uma planta da flora sul-

americana que possui diferentes denominações, tais como matin (linguajar

quíchua), erva-mate, chá de Paraguai, chá dos jesuítas, erva-do-diabo, yerba

santa (assim batizadas pelos uruguaios) e Ka’a (caá), em idioma guarani (IEL,

1986).

De acordo com SEREJO (1986, p. 90 a 92), Thomaz Laranjeira por volta

de 1870 residia em Concepción, Paraguai – estabelecido como comerciante.

32

Através de relatos de viajantes, foi informado que nas bacias dos rios Iguatemi

e Amambai existiam grandes ervais nativos e aproveitando seus contatos com

integrantes do governo brasileiro, requereu, então, do governo de Mato Grosso,

permissão para explorar esses ervais, fato conseguido através do decreto n°

81.799, de 09 de dezembro de 1882.

Porém, a companhia criada por Thomas Laranjeira rapidamente

monopolizou quase que integralmente a exploração da erva e, associando-se a

sociedade comercial Francisco Mendes & Companhia, para qual vendia sua

produção, com sede em Buenos Aires, pode dar início a exploração ervateira

na região, estabelecendo-se primeiramente em Concepción (IEL, 1986).

Uma das primeiras fazendas da região, a Passatempo, era rica em

ervais nativos e de acordo com MAGALHÃES (2004), ocorreu significativa

exploração desta, em grande quantidade nas matas nativas entre os rios

Vacaria e Brilhante.

Conforme CENTENO (2008), apesar da concessão de exclusividade da

Matte Laranjeira (IEL, 1986; BRASIL, 2016), que impedia que colonos ali se

estabelecessem, os gaúchos entraram na área e começaram a criar gado; a

historiografia tradicional afirma que esta migração foi consequência da

Revolução Federalista ocorrida no Sul do Brasil, levando ao “povoamento” da

região pelos “brancos”; porém, a erva-mate colhida só podia ser vendida à

Companhia.

Este modelo de ocupação levou a uma série de hostilidades entre

ambos os grupos, com os pecuaristas gaúchos que pretendiam acesso à

propriedade e, de outro, a manutenção da exclusiva da concessão, para a

Companhia. Visto que estavam sem o controle econômico da maior parte do

Estado, assumido pela Companhia, os comerciantes de Mato Grosso apoiaram

os sulinos, assim como também, o governador Generoso Ponce, a família dos

Barbosa e dos Muzzi, importantes representantes de fazendeiros do Estado

(BARBOSA, 2011).

Ainda de acordo com BARBOSA (2011), a Matte Laranjeira não queria

perder o monopólio dos ervais, mas também, os campos verdes de Dourados,

Santa Maria e Brilhante, áreas propícias a pecuária. Sendo assim, ocorrem

constantes disputas entre os dois lados, o que levava ao contrabando do mate

para Concepción, no Paraguai, onde atuavam os comerciantes da erva-mate,

33

evitando o mesmo ser entregue a Companhia. Para combater o contrabando, a

Companhia contrata então, Jango Mascarenhas, que contando com o apoio

dos jagunços da região inicia uma disputa muitas vezes sangrenta na área

(CENTENO, 2008).

Esse período demonstra a força econômica da Companhia e o embate

com os fazendeiros dos Campos da Vacaria, que eram amparados pelo

domínio da Casa Comercial Mato-Grossense, levando a disputas muitas vezes

sangrentas, durante quatro décadas (CORRÊA, 2009).

Em 1932, na Revolução Constitucionalista, foi nomeado Vespasiano

Barbosa Martins para governar Mato Grosso, então, uma área conflagrada por

disputas territoriais e muitas vezes fora do domínio da lei, com grande

quantidade de pessoas armadas fazendo valer suas próprias leis. De acordo

com CORRÊA (2009), o desarmamento dos coronéis, bandidos e da população

em geral, teve início em 1939, quando o general José Pessoa intensificou a lei

do desamamento. Nesse mesmo ano chegou ao fim a disputa pela hegemonia

econômica do Estado, entre a Casa Comercial Mato Grosso e o monopólio da

Companhia, associadas à entrada dos gaúchos.

A exploração da erva atingiu o auge nos anos 1920, com o declínio e

estagnação por volta de 1937. Esse período se tornou de fundamental

importância na formação histórica regional (IEL, 1986), com influência até os

dias atuais.

4.3.2. Pecuária – a formação das fazendas de gado

As origens das fazendas de gado no sul do antigo Mato Grosso

remontam aos anos 1780, principalmente na região de Porto Murtinho e

Cabeceira do Apa. Mas o principal movimento de colonização começou a partir

de 1800, século XIX. Segundo CAMPESTRINI (2009), parte dos fazendeiros

que se estabeleceram de origem portuguesa estava fugindo da Revolta

Nativista de 1834, conhecida como Rusga – movimento de hostilidade aos

portugueses. Também ocorreu uma migração de pecuaristas de Santana do

Paranaíba-MG, por volta de 1836. Por outro lado, mais no final desta década, a

Revolução Federalista (1893 a 1895) ocorrida no Rio Grande do Sul, levou

diversos gaúchos a aproveitaram a oportunidade para ocupar essa região,

engrossando assim a população mato-grossense de pecuaristas (Figura 8).

34

Figura 8. Rota da pecuária bovina (1780-1903) no Estado de Mato Grosso do

Sul. Fonte: SILVA (2011).

De acordo com ALVES (2004), o motivo que levou ao início da

colonização do sul do Estado por pecuaristas portugueses está relacionado ao

fato que, mesmo após a independência, o comércio brasileiro e da região de

Cuiabá era dominado pelos portugueses; sendo assim, foram perseguidos e

malvistos pela população. Por um lado, existiam “os comerciantes portugueses

que, historicamente, vinham dominando o movimento comercial da região de

Cuiabá, desde a época da mineração; de outro lado, a aglutinação dos

comerciantes nativistas”, os proprietários de terras, os artesãos e os pequenos

comerciantes. Com a independência, acirrou-se o caráter nativista, que com a

intensificação das desavenças e o fim do ciclo da mineração, levou os

comerciantes portugueses rumaram para o sul do Estado para abrir fazendas,

em áreas pouco povoadas por brancos.

CORRÊA (2006) escreve que com o fim da Guerra do Paraguai

ocorreram novas oportunidades de exploração dos recursos regionais, por ter

possibilitado a abertura da navegação do Rio Paraguai, abrindo a brecha

35

necessária aos investimentos de capital na região sul do Estado, no setor

agropecuário. Isto ocorreu devido à entrada de capital estrangeiro que adquiriu

centenas de milhões de hectares para o desenvolvimento da pecuária

extensiva.

Nesse contexto, a posse da terra na região tornou-se monopólio de um

reduzido grupo, caracterizando um processo de concentração de terra e

formação de uma elite de grandes proprietários, marginalizando, em

contrapartida, a grande maioria da população que, como alternativa de

sobrevivência, teve de vender sua própria força de trabalho (CORRÊA, 2006).

Com essa entrada de capital para a criação de gado, MAMIGONIAN

(1986) relata que a presença da pecuária bovina em todo o sul de Mato Grosso

foi caracterizada pela grande extensão territorial das fazendas, não

estimulando o desenvolvimento de uma malha de cidades. Devido à atuação

de coronéis criadores de gado, ocorrida no período de 1889 a 1943 e muitas

vezes utilizando-se de práticas criminosas, resultado de seu poder econômico,

estes tinham o domínio e influência sob os pequenos núcleos urbanos,

condicionando o desenvolvimento da região (CORRÊA, 2006).

4.3.3. Extração de madeira e o ambiente na região

FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991) afirmam que atualmente ao

longo das regiões ribeirinhas do município de Rio Brilhante, existe uma

vegetação com característica de floresta aluvial e própria de locais onde

ocorrem derrames basálticos, além da presença esparsa de erva-mate e coco

doce; em alguns locais, ainda permanecem ainda a peroba, aroeira, cedro,

jequitibá e ipês, dentre outras madeiras de lei.

Estas formações remanescentes indicam a riqueza madeireira anterior

da região. De acordo com BARBOSA (2011), a ocupação pioneira da região

dos Campos de Vacaria se deu com a prática que ocorreu em todas as regiões,

através da exploração dos recursos naturais, como a derrubada de matas para

a limpeza do terreno e queimadas para o plantio da agricultura de subsistência

e criação de gado. Essa retirada das matas no início se dava através de

utensílios tradicionais, como machados, foices e outros instrumentos,

aproveitando-se da madeira mais abundante em alguns locais, tais como a

aroeira, para a construção de residências, cercas, entre outras utilizações.

36

A derrubada das florestas e a limpeza do terreno ocorriam em um

processo rudimentar, como afirmam PÈBAYLE e KOECHLIN (1981), sendo

que inicialmente os “sem-terra” vindos do Nordeste foram os mais numerosos a

procurar refúgio nesta região isolada do sul do Estado. O isolamento inicial e as

técnicas agrícolas primitivas deste grupo jamais favoreceram a implantação

desses novos colonos, onde o fósforo e o machado abriram as “roças”

fornecedoras de víveres para a escassa população. Desta maneira, esta

população raramente se destacava, em termos de posses e riquezas.

No início da exploração, a maior parte do material lenhoso era,

simplesmente, queimada devido a sua grande quantidade e pouca demanda. O

processo de ocupação e retirada da vegetação para a agricultura foi,

posteriormente, acompanhado pela intensa exploração da madeira, utilizada

para os mais diversos fins. Este consumo aumentou com a migração dos

gaúchos no final do século XIX e a fixação dos paraguaios, após a guerra;

porém a maior parte das matas ainda continuava pouco explorada.

Corroborando com esta ideia, PÈBAYLE e KOECHLIN (1981, p. 1-2), afirmam

que:

“[...] a colonização abriu clareiras a partir de 1937. Com

efeito, o ecológico predominava, tanto que subsistiu à

colheita comercial do mate, pela companhia Matte

Laranjeira. Perfeitamente inserida no ecossistema floresta,

ao qual demandava somente uma ótima parte de sua

fitomassa, sem lhe amputar nenhuma das espécies. A

companhia Matte Laranjeira nada mais fez que roçasse o

ecossistema florestal”.

O modelo de exploração da erva-mate, em grande parte controlada pela

Cia. Matte Laranjeira e a criação de gado extensiva também contribuíram para

um pequeno impacto antrópico na região, que manteve grandes áreas de mata

relativamente preservadas.

CORRÊA FILHO (1969) considera que o ervateiro, a partir da extinção

da Companhia Matte Laranjeira, transfigurou-se de devastador, que cerceava

“criminosamente as árvores”, a um elemento que passou a cuidar

37

“carinhosamente do erval”. PÈBAYLE e KOECHLIN (1981) consideraram a

“mata”, onde se localizava os ervais, apenas “roçada” e o agricultor da “roça”

apenas um predador pontual, havendo, assim, o “predomínio do ecológico, no

ecossistema florestal”.

Porém, a partir do colapso da produção ervateiro na década de 1930 e o

predomínio das fazendas de criação de gado, o processo de desmatamento foi

muito intensificado, com a retirada das matas remanescentes para a

implantação de pastagens. Essa exploração madeireira, englobando 1838 a

1960, resultou na implantação de serrarias na zona rural e urbana do

município, propiciando material para a construção de pontes, residências,

capelas e outras estruturas de madeira (PÈBAYLE e KOECHLIN, 1981).

A construção civil, nesta fase de desenvolvimento da região, foi a

responsável por uma parte significativa dos impactos negativos causados ao

ambiente. O baixo custo da madeira, aliado ao crescimento urbano da região,

propiciou uma grande demanda de material, pressionando os recursos naturais

existentes. Porém esta é uma característica da maior parte das regiões

habitadas do planeta, pois a madeira é um dos materiais de utilização mais

antiga nas construções, devido sua facilidade de obtenção e preço.

Outro fator que acelerou o processo de desmatamento na região sul do

antigo Estado de Mato Grosso foi a implantação da Colônia Agrícola Nacional

de Dourados (CAND) na década de 1940, criada com a finalidade de povoar

determinadas regiões do país com uma população branca, pois grande parcela

do território nacional ainda eram ocupadas por povos indígenas. Além disto,

esta ocupação em áreas de fronteira permitia o melhor controle destas regiões,

através da distribuição gratuita de lotes de 30 hectares. Porém a implantação

desse projeto sofreu forte resistência da própria Companhia Matte Laranjeira,

que resistiu à perda de influência na região sul do Estado (MENEZES, 2011).

4.4. Estilos Arquitetônicos da época

De acordo com KOSH (2004, p. 89), as principais Escolas Arquitetônicas

nos quais se baseiam as construções rurais e urbanas são:

Deutscher Werkbund, 1907, edifícios para funções específicas em

sintonia com a época das máquinas, em particular fábricas e

teatros;

38

Expressionismo, 1910-1925. Composta por edifícios funcionais,

semelhantes a esculturas abstratas; aproveita o estilo Liberty;

Bauhaus, 1906-1933. A escola artística mais importante do século

XX. Instituição de base de caráter artesanal, com produtos

industriais e edifícios de formas cúbicas e cores primárias;

Futurismo, 1909. Movimento teórico italiano propõe uma cidade

mecanizada “como uma gigantesca máquina barulhenta”;

De Stijl, 1917, Holanda. Arquitetura cubista, cores iguais para

elementos arquitetônicos semelhantes, repartição interna

funcional com variadas disposições;

Construtivismo, 1920-1930, Rússia. Sintetiza as ideias de

Futurismo, de Stijl e Werkbund numa arquitetura criativa a serviço

da ordem social soviética;

Estilo Internacional, somas das aquisições técnicas e de

composição do moderno funcionalismo que se impôs em todo o

mundo. Eliminação de todos os elementos “passivos” (ou

decorativos); edifícios funcionais onde são utilizados apenas

elementos arquitetônicos que tenham um papel ativo na

construção.

Ainda, corroborando com KOSH (2004), cada estilo possui um

determinado número de elementos arquitetônicos bem definidos, assim, como

um subsídio útil para a classificação dos estilos, pode-se falar de uma atividade

arquitetônica típica, por exemplo, o Romântico, o Gótico ou o Renascimento.

Os arquitetos de cada época isolaram os elementos, combinando-os em obras

de arte sempre novas. O autor ainda afirma que o caráter e a origem

geográfica e cultural dos arquitetos e, evidentemente, as leis da estática

concorreram para ora eliminar alguns desses elementos, ora salientá-los,

transformá-los ou inventar outros. Só assim é possível entender as diferentes

impressões que obras artísticas de uma mesma época provocam.

Inicialmente os imigrantes oriundos de outras regiões, por volta de 1830,

foram se estabelecendo ao longo de importantes cursos d‟água e construindo

seus primeiros ranchos em fazendas. Porém, estas construções eram simples

39

palhoças, sem formas bem definidas, resultado do improviso e da falta de

materiais tradicionais para a construção na região, tais como telhas.

LEMOS (1999) descreve que as casas erguidas em novas áreas de

conquista inicialmente eram cabanas similares às ocas indígenas, resumindo-

se muitas vezes a um aposento de uso múltiplo e em alguns casos, com uma

área anexa para a cozinha. A cobertura geralmente era de palha, o piso de

chão batido ou as vezes coberto por tábuas rusticas e as paredes,

frequentemente na tradicional técnica da taipa (barro amassado sobre um

esqueleto de madeira). Com o decorrer do tempo, também passou a ser

utilizado o adobe (um tipo de tijolo maciço, não queimado) nas construções, por

ser mais resistente e durável. MAGALHÃES (2004) cita este tipo de material

em construções no Brasil eram muito utilizadas, principalmente em áreas onde

não existiam outras opções para as edificações.

LEMOS (1999) também cita outra característica herdada da influência

indígena, que seria responsável pela fragmentação das construções rurais no

entorno da casa sede, chamada de „partido aberto‟, com edificações sempre

próximas a um curso de água.

Com a melhora das condições de vida e a necessidade de trocas

comerciais, FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991) escrevem que esta nova

situação permitiu o nascimento das primeiras povoações, a partir de 1900.

Iniciam-se então as construções das primeiras residências e casas comerciais

de madeira, começando a substituir as antigas formas de edificar. No entanto,

em algumas fazendas, cujos proprietários já desfrutavam de maior poder

aquisitivo, já existiam moradias bem elaboradas, com materiais de maior custo.

Sendo assim, a cidade de Rio Brilhante foi tomando forma, através de

seu traçado urbano e suas construções do século XIX ao século XX, onde

estas edificações, juntamente com seus elementos construtivos e decorativos,

produziram formas arquitetônicas de interesse no decorrer do referido período.

Muitas destas se destacaram pela sua expressividade inspirada em um ou

vários estilos arquitetônicos.

Na segunda metade do século XIX, a arquitetura mundial era

manifestada pela volta ao modelo clássico (antiguidade clássica e

renascimento), o que inspira o retorno à outros movimentos caracterizados nos

modelos antigos como o gótico, renascimento ou colonial.

40

Nesse sentido, os estilos encontrados na região estudada seguem a

seguinte ordem cronológica: Normando, Neogótico, Ecletismo, Neocolonial, Art

Nouveau e Art Déco. A descrição desses estilos deve-se ao fato de que são os

que mais aproximam da identificação das edificações arquitetônicas urbanas e

rurais do município de Rio Brilhante.

4.4.1. Estilo Normando

Segundo LEFÈVRE e PINHEIRO (2000), sua arquitetura denotava a

influência da “estética do pitoresco” que é uma das manifestações mais típicas

da cultura oitocentista europeia e busca remeter diretamente à arquitetura

vernácula do norte da França, inspirada nas construções de enxaimel da

Normandia.

Ainda citando os autores, no Brasil pode-se destacar no ano de 1920 a

construção do conjunto residencial denominado “Vila Normanda”, em área

adjacente à atual Avenida São Luiz, cidade de São Paulo, com suas

características arquitetônicas de forte cunho “europeizante”, representando a

burguesia paulistana do período.

Para KOSH (2004), as escolas arquitetônicas do período Romântico na

França e na Região do Reno, indicam um esquema arquitetônico, cujas

características mais importantes ocorreram num grupo limitado de edifícios.

Tais construções podem pertencer a uma determinada região geográfica, como

igrejas com galerias superiores e derivar de uma ordem política, eclesiástica ou

litúrgica.

O seu gradual aparecimento numa região não exclui a permanência, ou

mesmo preponderância numérica de outros modelos arquitetônicos. Todo

cânone construtivo permite, portanto, numerosas variantes, produto do pouco

rigor na supervisão na construção de edifícios, ou do respeito às tradições

arquitetônicas locais.

Já, SILVA (2013), em o dicionário de arte internacional (Norman Style),

informa que o estilo é referente à Normandia, província do norte da França,

com afinidades com o estilo românico e o romanesco.

Em sentido particular, designa o estilo românico inglês. Os invasores

normandos levaram para a Inglaterra, a partir de 1066, o seu gosto de construir

catedrais e castelos, usando arcos arredondados e muita ornamentação.

41

No Brasil chama-se estilo normando aquelas edificações com telhados

recortados e muito inclinados, que utilizam madeira aparente nas paredes

externas, que podem ser vistos em locais de clima frio, como Petrópolis, Rio de

Janeiro, nas serras gaúchas, Campos do Jordão e São Paulo (SILVA, 2013).

4.4.2. Estilo Neogótico

Segundo KOSH (2004), o Neogótico produz, ao lado de edifícios

residenciais e públicos, alguns milhares de igrejas goticizantes. O acabamento

dos grandes fustes de coluna nas catedrais é a contribuição menos discutível

do Neogótico (Catedral de Colônia), estilo arquitetônico introduzido na

Inglaterra por volta de 1820, inspirado no Estilo Gótico, que ocorreu no final da

idade média.

De acordo com BENEVOLO (2006), o êxito do movimento Neogótico na

arquitetura se deu em 1830, no século XVIII, junto com o início das reformas

sociais e urbanísticas ocorridas na Inglaterra e na França. Nesta época em

Paris, o plano Haussmann, elaborado pelo Barão Georges Eugène Haussmann

(1809-1891), reestruturou toda a cidade e valorizando bastante este estilo

existente.

FABRIS (1987), afirma que a introdução do Neogótico no Brasil remonta

ao final do século XIX, nas ogivas das janelas das casas coloniais, sendo

encontrados na arquitetura religiosa e pública.

DIAS (2008) relata que arquitetura brasileira foi bastante influenciada

pela chegada da Família Real portuguesa em 1808, trazendo primeiro o

Neoclassicismo, junto com os outros “neos” que compõem o ecletismo. Se na

Europa o êxito do Neogótico na arquitetura veio junto com o início das reformas

sociais e urbanísticas, pode-se dizer que no Brasil ocorreu fato parecido em

relação aos movimentos sociais do final do século XIX. Surgiu timidamente nas

ogivas das janelas de algumas casas, sendo também aplicado em igrejas, tais

como os telhados íngremes, pináculos e torre axial única.

Ainda corroborando com DIAS (2008), dentre as reduções formais do

vocabulário da velha arquitetura gótica impostas à construção residencial,

apareciam às platibandas ritmadas por merlões e ameias, além de vergas com

tímpanos contornados por arcos ogivais ou lobulados, muito difundidos em todo

o Brasil. Os seus valores, como corrente artística, foram agregados a outras

42

linguagens surgidas neste século, ou seja, o Neogótico viveu lado a lado com o

Ecletismo. Portanto, para seguir o contexto, deve-se adicionar ao estudo do

Neogótico, um estudo do Ecletismo.

No Brasil o Neogótico surgiu aos poucos, em casas, prédios e igrejas.

Porém foi grande sua disseminação de norte a sul, onde até o momento são

encontrados caracteres neogóticos em diferentes construções. Em Belo

Horizonte, destaca-se a Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem (1911-1932) e a

Igreja Nossa Senhora de Lourdes (1916-1922) e em São Paulo, a Catedral da

Sé (1912-1954), localizada em frente à Praça da Sé (DIAS, 2008).

4.4.3. Estilo Eclético

O Ecletismo, de acordo com MARQUES (2001), é um estilo que

revivência o passado, empregando dois ou mais estilos arquitetônicos.

Na arquitetura, é caracterizado pela junção de vários estilos numa

mesma obra. O termo “ecletismo” foi introduzido pelo alemão Johann Joachim

Winckelmann (1717-1768), quando se referia ao sincretismo na produção dos

Carraci e seus seguidores no norte da Itália, no final do século XVI (DIAS,

2008).

A arquitetura eclética foi própria de uma classe burguesa que, de acordo

com PATETTA (1987, p. 13), “dava primazia ao conforto, amava o progresso

(especialmente quando melhorava suas condições de vida) e amava as

novidades, mas rebaixava a produção artística e arquitetônica ao nível da

moda e do gosto”. Existia para esta classe uma grande possibilidade de

mistura de estilos e foi na arquitetura doméstica que o ecletismo se tornou mais

abrangente (DIAS, 2008).

O principal teórico do ecletismo foi César Daly (1811 - 1893) que tinha a

preocupação de não fazer apenas um trabalho de copista ou de juntar os

diferentes estilos, mas de procurar sempre novas combinações na História da

Arte. Já Viollet-le-Duc sustentava opinião contrária aos ideais ecletistas, que

para ele, não baseava respeito e função aos materiais (DIAS, 2008).

Segundo LIMA (2014), as edificações com revestimento de ladrilho

hidráulico são bem comuns no período, com formação de desenhos

geométricos. Configuram um modelo muito comum na construção urbana

brasileira, de influência portuguesa, principalmente, na arquitetura destinada ao

43

comércio: de esquina, no alinhamento do terreno, com chanfros e entrada

marcada pela quina.

4.4.4. Estilo Neocolonial

De acordo com BRUAND (1997), marca esta fase os chalés, sobrados e

bangalôs que surgem nos Jardins paulistanos, em Botafogo, Copacabana e na

Urca, com painéis de azulejos, fartos beirais e varandas generosas, com

influências no período colonial. No Brasil, a arquitetura Neocolonial está

vinculada a alguns personagens que promoveram seu desenvolvimento,

incluídos entre outros, Ricardo Severo, José Mariano Filho e Lucio Costa.

Ainda corroborando com o autor, é nesse período, onde “o panorama

oferecido pela arquitetura brasileira, por volta de 1900 nada tinha de animador”,

que a arquitetura, embora sendo um ecletismo estrangeiro, “já contém o germe

de uma reação salutar que não demoraria a se manifestar”; esse germe salutar

pode ser visto como a arquitetura Neocolonial, que não demoraria a aparecer e

que traria em seu seio o desejo de renovação artística, resgatando referências

do passado, mas apontando um caminho para o futuro. Abria as portas para a

liberdade criadora dos arquitetos, desvinculando a arquitetura nacional do

Ecletismo importado.

Para KESSEL (1999), o movimento que passou à história da arquitetura

brasileira como “Estilo Neocolonial”, hoje quase esquecido, gozou de uma

preeminência considerável na cena cultural do país.

Nascido da reação contra o ecletismo dominante nos primeiros anos

deste século, o neocolonial encontrou sua justificativa na ânsia de buscar, nas

formas construtivas tradicionais do Brasil, uma arquitetura que pudesse ser

definida como genuinamente autóctone.

De acordo com LEMOS (1987), foi a partir dos anos seguintes à Primeira

Guerra Mundial (1914-1918) que o autor caracteriza como de estagnação total

e que serviram como divisor de águas no estudo do Ecletismo que surge

triunfante o Neocolonial. Neste momento, também, aparece um comportamento

popular de apropriação e interpretação da arquitetura erudita numa produção

homogeneizada.

No Brasil, em meio aos estilos “Neo” do Ecletismo e ao Art Nouveau, já é

possível perceber, a partir desses anos, alguns projetos com inspiração no

44

passado colonial: era o Neocolonial, que nascia como reação a uma fase de

estilos importados (reação contra o Academismo e o Ecletismo, visto somente

enquanto fachadismo), marcados por uma forte expressão europeia.

A ideia, propugnada em artigos e conferências pelo arquiteto português

Ricardo Severo a partir de 1914, principalmente em São Paulo, foi encampada

por vários intelectuais e encontrou seu maior defensor na figura do intelectual

José Marianno Filho, cuja atuação permaneceria fortemente identificada com o

movimento durante as décadas de 1920 e 1930 (KESSEL, 1999).

4.4.5. Art Nouveau

Praticado no país juntamente com o movimento Neocolonial, tem-se a

Art Nouveau, sendo esta mais uma tentativa de apresentar algo novo a

arquitetura nacional; foi um estilo internacional de arte e arquitetura

caracterizado pela fluida e requintada ornamentação inspirada em motivos

vegetais. Às vezes, se aproximava da abstração e da geometria, procurando a

integração entre fachadas, interiores e mobiliário (MORAES, 2003).

Seu design e arquitetura caracterizavam-se por enfatizar a linha

ondulante, figurativa, abstrata ou geométrica, tratada com ousadia e

simplicidade (DEMPSEY, 2003). Surgia como consequência da dissonância

entre a arte e a técnica observada no século XIX, como uma “tentativa de

conciliar as aspirações artísticas herdadas do passado e os novos fenômenos

da era da técnica” (SEMBACH, 2007).

Na Art Nouveau, assim, como os designers do Art Déco, os mesmos

também pretendiam eliminar a distinção entre as belas-artes e as artes

decorativas, promover a colaboração entre os artistas e artesãos e reafirmar a

importância do seu trabalho na produção (DEMPSEY, 2003). Embasavam-se

em motivos florais na ornamentação de edifícios e objetos e suas formas eram

mais complexas, intrincadas e densas. De acordo com MARQUES (2001),

surgiu por volta de 1890 a 1905, como reação ao Historicismo, com linhas

suaves e ondulantes e ornamento com flores.

De acordo com BENEVOLO (2006), o estilo é acrescido de ferros

decorativos, dobrados em curvas elegantes e sinuosas; na prática, a Art

Nouveau torna-se um estilo decorativo e em muitos países apresentam

apetrechos e objetos de arte. Ainda segundo o mesmo autor, Antonio Gaudí

45

(1852-1926), constrói uma de suas obras mais importantes, o Parque Güel,

com as duas Casas, Battló e Milá, em Barcelona, onde aceita várias sugestões

do repertório Art Nouveau.

4.4.6. Art Déco

Para CZAJKOWSKI (2000) e MARQUES (2001), a Art Déco destaca-se

na década de 1920 a 1940, pelas formas geométricas simples e linhas retas,

tida como um divisor de águas, um passo importante para o futuro

desenvolvimento da arquitetura modernista. Este estilo é uma síntese de várias

fontes e referências como a própria Art Nouveau, Cubismo, Bauhaus,

Expressionismo, arte africana e egípcia, Neoplasticismo, design de máquinas e

navios, também, podendo ser entendida como a derradeira manifestação do

Ecletismo.

SEGRE (1991) destaca que o Art Déco explicou seu repertório de forma

coerente na Exposição de Artes Decorativas de Paris, em 1925. Mais do que

um movimento integrado ou alternativo às vanguardas dos anos 1920, é uma

tendência que estabelece uma ponte entre o Ecletismo, já carente de vitalidade

própria, e o radicalismo explosivo do racionalismo europeu. A ornamentação

constituiu ainda a expressão essencial da criatividade humana contida na mão

do artesão. Entretanto, este não impõe seu princípio, mas a capacidade de se

adequar às novas estruturas arquitetônicas e do design.

Nas primeiras décadas do século XX, tudo o que não provinha da

Europa era reconhecido como de elevado valor artístico. De acordo com

LEMME (1997, p. 32), “Isto foi particularmente relevante para o Art Déco, já

que na época que este estilo se começou a se desenvolver a tendência pelo

primitivo não era uma alternativa, e sim uma obrigação”.

Era uma arquitetura simples, límpida e ordenada, proporcionando ao

observador um sentimento de alívio e bem-estar. LEMME (1997, p. 8 e 17)

escreve que “No Art Déco as linhas não se ondeiam como o vórtice de um

redemoinho; se curvam, o fazem de forma gradual e com amplitude, seguindo

um fino arco; se são retas, o são tanto quanto uma régua”.

Os seguidores do Art Déco admiravam e incorporaram na sua estética

as formas geométricas e retilíneas das produções dos representantes do Art

46

Nouveau tardio, como expressavam Charles Rennie Mackintosh e Josef

Hoffmann (DEMPSEY, 2003).

No Estado de Mato Grosso, este tipo de arquitetura teve início em 1930,

quando chegou a Campo Grande o arquiteto Frederico João Urlass; seus

projetos mudam a arquitetura local e se expandiram para as cidades do interior

(ARRUDA, 1999).

47

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53

6. Artigos

Artigo I

A produção arquitetônica na zona rural do município de Rio Brilhante,

Mato Grosso do Sul: 1830 a 1950

Fábio Fernando Martins Oliveira

Resumo

A colonização da região na qual se situa a cidade de Rio Brilhante, conhecida

inicialmente por Campos de Vacaria, foi iniciada pela família dos “Barbosas”.

Oriunda de Minas Gerais era constituída de proprietários de terras, criadores

de gado e comerciantes. No início do processo de ocupação, a base

econômica era a pecuária; posteriormente, a exploração de madeira e a coleta

da erva-mate. Estas atividades propiciaram o acúmulo de capital, resultando na

construção de edificações, que através do período dessas construções,

materiais construtivos e ornamentos, tornaram-se relevantes

arquitetonicamente. Este estudo avalia a produção arquitetônica na zona rural

do município, entre 1830 a 1950, com o objetivo de analisar o processo

histórico de uso e ocupação do município, levando-se em consideração a

economia e seu reflexo na arquitetura, com construções do final do século XIX

e no início do século XX. Foram mapeadas as edificações mais relevantes na

zona rural, com o levantamento de dados através de visitas realizadas in loco

nas diferentes propriedades rurais, com o registro fotográfico das mesmas,

tendo como suporte publicações de artigos, livros regionais, história e relatos

orais dos descentes das famílias pioneiras. Foram identificadas edificações em

13 fazendas, com suas residências em madeira e alvenaria, seus cemitérios,

instalações rurais e igrejas. Sua análise ocorreu através de sua volumetria,

imagem, materiais construtivos, história e períodos, evidenciando sua

arquitetura estilística. Algumas dessas instalações ainda resistem ao tempo,

demonstrando a influência cultural dos imigrantes com a mestiçagem dos

materiais locais e importados. Dentre os estilos identificados predominaram a

arquitetura espontânea vernácula, o Neocolonial e o Ecletismo, com o estudo

contribuindo para a história e a memória local da população.

Palavras-chave: Arquitetura rural, patrimônio cultural rural, arquitetura

vernacular.

54

The architectonic production in the rural area of Rio Brilhante, Mato

Grosso do Sul: 1830 to 1950

Abstract

The colonization of the region in which Rio Brilhante is localized, initially known

as Campos de Vacaria, was started by the Barbosa family. Coming from Minas

Gerais, the family was composed of landowners, cattle breeders and

merchants. In the beginning of the process of occupancy, the economic basis

was cattle raising; posteriorly, it became logging and Yerba mate collect. These

activities provided capital accumulation, resulting in the construction of buildings

that became architectonically relevant because of the period in which they were

constructed, and because of its building materials and ornaments. This study

examines the architectonic production in the rural area of the town, between

1830 and 1950, with the objective of analyzing the historical process of use and

occupation of the town, considering the economy and its reflection in the

architecture of late 19th century and early 20th century constructions. The more

relevant buildings in the rural area were maped, with data collection done

through visits in loco in the different rural properties, with photographical

register of them, and with the support of published articles, regional books,

stories and oral accounts of the descendants of pioneer families. Thirteen

buildings were identified in farms, with their wood and masonry residences,

cemeteries, rural facilities and churches. The analysis was done through its

volumetry, image, building materials, history and periods of construction,

highlighting their stylistic architecture. Some of these facilities still withstand

time, showing the migrants cultural influence through the mix of local and

imported materials. Among the identified styles there are a predominance of the

spontaneous, vernacular, the Neocolonial and the Eclectic architecture, and this

discoveries contribute to the local history and memory of the population.

Key-words: rural architecture; rural cultural heritage; vernacular architecture.

Introdução

A ocupação do município de Rio Brilhante ocorreu, inicialmente, com a

fixação dos fazendeiros em grandes propriedades rurais, tendo como atividade

econômica, inicialmente, a pecuária e a agricultura de subsistência e

posteriormente, exploração da madeira e da erva-mate. De acordo com

55

CAMPESTRINI (2009), parte desses fazendeiros, de origem portuguesa,

estava fugindo da Revolta Nativista de 1834, conhecida como Rusga

(movimento de hostilidade aos portugueses) ocorrida na região de Cuiabá, se

fixando mais próximo a região conhecida como Cabeceira do APA ou no sul do

Pantanal.

Já, em 1836, chega a região o mineiro Antônio Gonçalves Barbosa, com

uma comitiva de 58 pessoas, incluindo seus familiares, acampando em um

prado onde existiam vacas de propriedades dos índios Guaicurus. No local,

encontrando terra roxa e matas de grande porte, fixaram morada e batizaram o

lugar de “Boa Vista”, sendo esta a primeira fazenda a ser formada na região

(FACHOLLI e DOERZBACHER, 1991).

Os mesmos autores citam que, em 1842, seu irmão Inácio Gonçalves

Barbosa, chegou à região, com cerca de 60 pessoas, dentre elas irmãos e

agregados, fundando a fazenda “Passatempo”, próxima às propriedades já

existentes. De 1862 a 1864 imigrantes paraguaios também se estabelecem na

área, aumentando assim a população rural já existente; estes novos moradores

se concentravam na extração de erva-mate.

Conforme SODRÈ (1941, p.18), referindo-se à segunda metade do

século XIX, “O regime pastoril do Oeste devia apoiar-se, portanto, em

populações oriundas de três procedências diversas – o mineiro, o gaúcho e o

paraguaio”, incluindo, provavelmente, o indígena na denominação paraguaio.

Em consequência da invasão paraguaia no território brasileiro, em 1864,

ocorreu um esvaziamento da população na região, que fugia com medo das

tropas que arrasavam tudo por onde passavam. No período da guerra, os

habitantes que não foram mortos ou presos, esconderam-se nas matas ou

fugiram para Santana do Paranaíba e outros pontos do Estado, “ficando esta

região desabitada até o fim de 1872” (BARBOSA, 2011).

Após o conflito, os habitantes sobreviventes voltaram, reiniciando

novamente a povoação e dedicando-se à atividade da pecuária para a

produção de charque e couros. Também, cultivavam o milho, arroz, feijão e

mandioca, a chamada agricultura de subsistência. Além disto, coletava-se a

erva-mate, abundante na região; porém a economia estava assentada na

pecuária (SODRÉ, 1941).

56

“No final do século XIX e início do século XX, pecuaristas gaúchos

perseguidos, após a revolta federalista de 1893, estabeleceram-se nos campos

de Vacaria (Ponta Porã, Bela Vista e Rio Brilhante), onde encontraram os

criadores mineiros” (MAMIGONIAN, 1986, p. 47). Neste período, em 1882,

instala-se, também, na região a Empresa Matte Laranjeira, grande produtora e

exportadora de erva-mate, sendo que foi um dos fatores que proporcionou um

acelerado crescimento econômico a alguns proprietários existentes no local.

Desta maneira, no final do século XIX, existia uma base econômica que

permitiu que proprietários de terras e comerciantes tivessem grandes ganhos

de capital, o que propiciou a construção de edificações de relevância

arquitetônica, como residências em madeira e alvenaria. Estes ambientes

construídos estavam relacionados a determinadas famílias pioneiras na região,

que eram as mais poderosas, uma arquitetura espontânea sem autoria, onde

era o proprietário quem definia o conjunto da obra.

Como característica das edificações, existia uma combinação de um ou

mais elementos arquitetônicos bem definidos em suas volumetrias,

demonstrando suas inspirações estilísticas, o fino acabamento e o bom gosto

por parte dos seus proprietários.

Com esta análise, destaca-se a importância do estudo e registro dessa

arquitetura inserida na paisagem rural, onde algumas ainda resistem ao tempo,

retratando a história da ocupação do município e a memória local dessa

população, contribuindo com um acervo identificado na arquitetura de Mato

Grosso do Sul, especificamente na região rural do município de Rio Brilhante.

Material e Métodos

A área estudada compreende os limites territoriais do município de Rio

Brilhante, localizado no Estado do Mato Grosso do Sul, região Centro-Oeste,

com uma área de 3.987,397 Km2 e população de aproximadamente 30.663

habitantes (IBGE, 2015). O município faz limite ao Norte com Nova Alvorada do

Sul e Sidrolândia, ao Sul com Angélica, Douradina, Deodápolis, Itaporã e

Dourados, a Leste com Nova Andradina e a Oeste, Maracaju (Figura 1).

Sua topografia é plana, apresentando-se rampeada em alguns locais e

com ondulações leves em outros. Seu solo tem origem no basalto (Latossolos

roxos) e, conforme os dados da Carta Topográfica (CPRM, 2005), altitudes

57

variando entre 360 a 390 metros. Sua rede hidrografia é comandada pelos

principais rios, Vacaria e Brilhante, além de afluentes que drenam a zona rural

e urbana, como os Córregos Araras e o Areia.

Foram percorridos trechos das estradas vicinais municipais, e as

Rodovias Estaduais MS - 455 e 466. O percurso foi iniciando no trevo da BR-

163, sentido oeste, adjacente ao Distrito de Prudêncio Thomaz, popularmente

conhecido como Aroeira, situado próximo ao Rio Vacaria, passando pela

Fazenda Campo Alegre e concluindo o percurso na BR-267, nas Fazendas

Sucuri e Triângulo.

Figura 1. Localização do Município de Rio Brilhante e área de estudo. Fonte:

IBGE (2015), adaptado pelo autor.

58

O levantamento de dados se deu através da investigação exploratória de

campo in loco como uso do GPS Garmin, coordenadas UTM DATUM sirgas

2000, fuso 21 Sul para o mapeamento das edificações, bem como seu registro

fotográfico e análise histórica e arquitetônica das construções executadas no

final do século XIX e inicio do século XX, anos de 1830 a 1950. O mapa da

área (Figura 2) foi executado através de desenhos com softwares específicos,

como o Auto Cad 2010 (AUTODESK, 2010).

Figura 2. Mapa das fazendas com pontos das edificações georreferenciados

na zona rural do Município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: IBGE

(2015), adaptado pelo autor.

59

Foi realizada uma pesquisa histórica dos locais, com informações

obtidas através de relatos orais de familiares descendentes dos pioneiros. A

revisão bibliográfica foi baseada em algumas publicações já existentes no

Estado, tais como ARRUDA (1999), MARQUES (2007), MAGALHÃES (2012) e

LIMA (2013), que registram as primeiras pesquisas que contribuem para o

resgate do patrimônio arquitetônico sul-mato-grossense, indicando os modelos

representativos da produção construtiva e seus períodos.

No espaço percorrido destacaram-se treze antigas fazendas, sendo elas

Passatempo, Alegrete, Assentamento Estrela, Capão Bonito, Sossego, Sucuri,

Distrito de Prudêncio Thomaz, Bela Vista, Assentamento Mutum, Vira Mão,

Recreio, Triângulo, Campo Alegre e Suez.

Resultados e Discussão

FACHOLLI e DOERZACHER (1991) e BARBOSA (2011) relatam que os

pioneiros criaram a Fazenda Boa Vista e a Caçada Grande, sendo as primeiras

registradas na região e localizadas no atual município de Rio Brilhante, ficando

a 30 km ao norte da área urbana. Atualmente no local, não existem mais

vestígios das construções datadas da época do pioneirismo. Isto ocorre porque

as primeiras construções eram simples palhoças, utilizando-se de materiais de

pouca durabilidade, tais como a taipa.

Outro fator que levou a perda de inúmeras sedes de fazendas foi a

Guerra do Paraguai, pois quando as tropas guaranis chegavam às fazendas,

ocorria, normalmente, o saque e a queima das propriedades.

Posteriormente, com o retorno da população e o reinicio das atividades

econômicas, ocorreu a reconstrução das fazendas. Com o crescimento da

região e o acúmulo de capital por determinados fazendeiros, a edificação de

sedes começou a se destacar pela riqueza no uso de materiais e detalhes

construtivos.

Registrou-se nessas fazendas, residências em madeira e alvenaria, e

algumas peculiaridades construtivas como a presença de cemitérios, igrejas e

suas instalações rurais, como ponte e bicas d‟água.

. Edificações encontradas nas fazendas na ordem de seus respectivos

períodos de construção

60

Fazenda Passatempo – 1844

MARTINS (2010) relata que por volta do século XIX, a família dos

“Barbosas” saiu de Sabará – MG (perto de Belo Horizonte) e veio para Piumhi,

depois para Franca – SP e, em sequência, para Paranaíba – MS, passando por

Santa Rita do Pardo e, finalmente, radicando-se em Rio Brilhante (Figura 3).

Na região conhecida como Vacaria, começou a trabalhar com a criação de

gado, fundando várias fazendas e entre elas, Passatempo e Alegrete.

A propriedade pertenceu a Etalívio Pereira Martins, que a legou a seu

filho Aguiar. Os herdeiros deste, por sua vez, venderam as terras para a usina

que leva apropriadamente a nome da histórica Fazenda Passatempo

(MAGALHÃES, 2004).

Este fato ocorreu com a chegada do cultivo da cana-de-açúcar e a

implantação de usinas no município, em 1982. Neste ano, a fazenda passa a

pertencer ao Grupo Pernambucano Tavares de Melo (GTM); já em 2007, foi

repassada ao grupo francês Louis Dreyfus Commodities e, a partir de 2009, à

LDC Bioenergia.

Figura 3. Trajeto percorrido pela família Barbosa até chegar ao município de

Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul e suas fazendas de posse, Passatempo e

Alegrete. Fonte: MARTINS (2010).

61

A sede da fazenda, fundada em 1844, foi demolida há muitas décadas,

segundo relato de Emílio Barbosa. Restaram no local apenas o cemitério da

família, próximo ao Ribeirão Passatempo, ainda preservado, únicas

testemunhas de uma época já passada.

De acordo com MAGALHÃES (2004), os tijolos usados na edificação das

paredes eram maciços, não queimados (adobe) e confeccionados de acordo

com o conhecimento dos proprietários, sendo moldados com barro da área; as

telhas também eram fabricadas no local onde realizariam a construção. O

mesmo autor escreve que o fotógrafo e pintor francês Albert Braud retratou a

edificação, que se parece muito com um rancho, autêntico protótipo de todas

as moradias da época (Figura 4).

Figura 4. Residência da Fazenda Passatempo já demolida, município de Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: MAGALHÃES (2004).

A edificação tinha sido implantada em um amplo terreno, com sua

volumetria e aberturas em formato retangular, cobertura com o jogo de telhado

em duas águas, estrutura de madeira e telhas de barro. O conjunto da obra,

juntamente com seu período construtivo, corresponde ao estilo Neocolonial.

Como resquício dos fundadores, ainda se encontra um dos primeiros

cemitérios em alvenaria da região; apesar de encontrar-se em estado de

62

abandono, é possível visualizar as lápides onde se encontram sepultados

alguns dos descendentes da família (Figura 5).

Segundo MARTINS (2010), em uma visita ao cemitério da Fazenda

Passatempo, que se situa à margem esquerda do ribeirão, se encontra

sepultado Inácio Gonçalves Barbosa, falecido em 1863, sua esposa Antônia

Isabel de Jesus Marques, uma mestiça de português com índio, falecida em

1857, bem com seus filhos, Joaquim Barbosa Marques e sua esposa, Flauzina

Garcia Barboza e também Estevão Gonçalves Barbosa e Emiliano, seu neto.

Figura 5. Cemitério e presença de túmulos ornamentados na Fazenda

Passatempo, município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do

autor.

De acordo com MAGALHÃES (2012), ali também jazem Luiza Garcia

Leal e Antônio Gonçalves Barbosa Marques, além de outros restos mortais que

não mais possuem identificação devido ao mau estado de conservação das

sepulturas, resultado do descaso e do tempo.

O cemitério é cercado por pilares de madeira tipo aroeira com arame liso

e as formas das sepulturas são quadradas e retangulares, implantados em um

amplo terreno, em alvenaria de tijolos maciços.

São ornamentados com esculturas no ápice de seus sepulcros e com

frisos emoldurados no reboco e molduras com ornatos no ressalto do reboco,

onde os desenhos formam arcos ogivais, uma característica do Neogótico, e

também, figuras geométricas na vertical, que remetem ao Art Déco. O conjunto

como um todo corresponde ao estilo Eclético.

63

Fazenda Alegrete - 1899

A sede da fazenda Alegrete foi descrita por MAGALHÃES (2012). A

mesma foi edificada no século XIX, por volta de 1899, por Antônio Gonçalves

Barbosa Marques (o construtor foi seu próprio cunhado, Lúcio Cândido de

Oliveira). De acordo com o autor, os cômodos, como os quartos e salas, eram

bem iluminados, assoalhadas e envidraçadas (Figura 6). Verdes canaviais

cobriam as áreas próximas, utilizadas para a produção de açúcar, rapadura,

melado e aguardente, comercializados na região.

Figura 6. Planta térrea da sede da fazenda Alegrete, município de Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: MARTINS (2010).

A planta da residência é no formato retangular, implantada em um amplo

terreno, com os ambientes sendo sala, salão de festas, sala de jantar, quarto

de hóspedes, quarto do pintor e fotógrafo Alberto Braud, quarto das senhoras,

das meninas, do casal e segundo relatos orais, um quarto onde se realizava os

partos. As aberturas das janelas eram retangulares, com vedação em madeira

e vidro; já a abertura da porta de entrada era em forma de um arco.

Segundo MAGALHÃES (2012), existia ainda uma cozinha e a despensa,

que se localizavam em um prédio anexo, em madeira; o banheiro ficava do

lado de fora, no quintal, no final do rego d‟água.

Os materiais construtivos foram o embasamento em soco, com fundação

em paredes largas de pedras, o reboco externo era em saibro e areia, o interno

em taipa de pilão. A fachada possuía pé direito alto, antecorpo em ressalto com

64

bossagem de rusticação. A cobertura e estrutura eram em madeira coberta por

telhas cerâmicas, tipo colonial. À esquerda se encontrava a horta e o curral e a

direita, curral e galpão. O conjunto da obra em função da data de construção

corresponde ao estilo Neocolonial (Figura 7).

Figura 7. Residência da fazenda Alegrete e os detalhes de seus materiais

construtivos, município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo de

Mara Barbosa.

Segundo relatos do Sr. Valdomiro Barbosa, na sede da fazenda,

costumava ocorrer grandes eventos, tais como o ocorrido no dia 22 de março

de 1908, quando foram realizados nove casamentos de familiares, sendo

realizados seis em um dia e três, no outro, além de festividades relacionadas a

matrimônios já realizados; as comemorações duraram nove dias, com muita

festa.

Dentre os eventos, foram comemorados os 65 anos de casados de

Maria Coelho de Souza e o Major Joaquim Gonçalves Barbosa Marques e dos

pais de Valdomiro Barbosa, Vitalina Garcia de Souza e Antônio Lino Barbosa.

Todos os matrimônios foram registrados no cartório da comarca de

65

Aquidauana, cujas certidões estão hoje sob os cuidados de um dos

descendentes da família, Jarbas Barbosa.

Na fazenda Alegrete também existe um cemitério, onde estão

sepultadas Rita Maria, Emerenciana e Amasiles, avós do Sr. Barbosa. O local é

cercado com pilares de madeira e arame liso (Figura 8).

Figura 8. Cemitério e presença de túmulos ornamentados na fazenda Alegrete,

município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Rezende 2013.

As formas das sepulturas são retangulares, implantadas em um amplo

terreno, em alvenaria de tijolos maciços, ornamentados com friso emoldurado

em forma de capitel, figuras geométricas que remetem ao Art Déco e

elementos decorativos marcados pelo exagero. Anteriormente havia um anjo

esculpido em mármore Carrara, o qual hoje é mantido em segurança na

fazenda Sossego. O conjunto da obra corresponde ao Estilo Eclético.

Atualmente, a fazenda Alegrete pertence a Modesto Brock, sul-rio-

grandense do município de Getúlio Vargas, que a comprou de Alaor Barbosa

na década de 1980. Divide suas atividades em pecuária e criação de peixes.

Seus campos são arrendados para o plantio da cana-de-açúcar, atividade

agrícola predominante, atualmente, na região.

66

Estação Beltrão – 1905

De acordo com ROOS (1996), em 1905, na passagem do sertanista

brasileiro Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, conhecido como o

patrono das linhas telegráficas no Brasil, foi instalada uma linha no município,

integrando a cidade às outras regiões do Brasil. Um dos resultados deste

percurso foi a Estação Beltrão, atualmente localizada no assentamento Estrela,

nas proximidades do córrego Beltrão, construída por volta de 1905, para

abrigar a sede dos correios na zona rural.

Segundo relatos de Valdomiro Barbosa, a edificação leva o nome do

proprietário da época, o Sr. Beltrão, um boliviano. No local também se serviam

refeições, como almoço, pois era parada de ônibus para os viajantes, sendo

um dos pontos mais movimentados da região.

Apesar de sua edificação encontrar-se em ruínas (Figura 9), ainda

existem alguns vestígios de seus materiais construtivos, tais como volumetria

em forma retangular, fundação em pedra, embasamento de soco, alvenaria de

tijolos maciços, revestida com argamassa, aberturas retangulares e cobertura

com estrutura de madeira.

Figura 9. Estação Beltrão no Assentamento Estrela, município de Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

67

A edificação esta implantada em um amplo terreno, uma característica

do estilo Neocolonial, sendo o conjunto da obra correspondente ao estilo

Eclético.

Apresenta revestimento como lajotas cerâmicas, aplicadas no sentido

vertical nas laterais das paredes da porta de entrada como ornamento,

paginação de piso com ladrilhos hidráulicos. A questão da presença deste tipo

de revestimento indica o poder financeiro das famílias. Como seu transporte da

Europa normalmente era custoso e complexo, seu uso era inicialmente restrito,

indicando que apenas os proprietários mais abastados podiam usar este tipo

de revestimento, com uma coloração intensa, quando com função decorativa,

ou uma cor mais sóbria, no interior das residências.

De acordo com relatos orais, apenas em 1940 passaram a serem

fabricados no Estado, em cidades como Aquidauana e, posteriormente,

distribuídas para outras regiões, tais como Rio Brilhante. De acordo com

CARVALHO (2008), a cidade de Corumbá, importante entreposto comercial da

região, também foi um importante centro produtor de ladrilhos, no auge de seu

poder econômico.

Fazenda Capão Bonito – 1916

De acordo com MARTINS (2010) e MAGALHÃES (2012), a região onde

fica a Capão Bonito foi palmilhada pelos sertanistas Joaquim Francisco Lopes

e John Herry Elliot, pela primeira vez nos idos de 1843. A fazenda se situa a

uma pequena distância da fazenda Alegrete e pertenceu, no início do século

XX, a Domingos Barbosa Martins, nascido em Jataí – PR. Filho mais velho de

Henrique José Pires Martins e Marcelina Barbosa Martins, primeira geração

dos “Barbosas”. Era mais conhecido na época como “Gato Preto”, apelido que

recebeu por não se prender nas armadilhas do inimigo, frequentes em períodos

de revolução.

Ainda, corroborando com MAGALHÃES (2012), em 1912 Domingos

Martins venderia as terras para a empresa norte-americana Brazil Land, Cattle

and Packing Company, do bilionário Percival Farquhar. O capataz da fazenda

era o Escocês James R. Burr, mas o principal supervisor de todas as fazendas

da Brazil Land no Estado foi o texano Murdo Mackienze.

68

Após a desativação dos grandes investimentos de Percival Farquhar no

Brasil, a Capão Bonito foi nacionalizada no ano de 1940, através de um decreto

de Getúlio Vargas, sendo incorporada à S. A. Cafeeira da Noroeste, grupo que

chegou a possuir 145 mil ha no Estado. Em 1964, Nicolau Zarvos Filho, um

descendente de gregos que gostava de conhecer novos lugares, comprou a

fazenda; em 1990, Zarvos venderia a Capão Bonito para o Instituto Nacional de

Colonização e Reforma Agrária.

Em relação à sede da fazenda, a primeira edificação estava implantada

em um amplo terreno e possuía a volumetria retangular, com aberturas em

forma de arco, varandas com pilares em madeira, cobertura em quatro águas

com estrutura de madeira e telhas de barro. O conjunto da obra corresponde

ao estilo Neocolonial (Figura 10).

Figura 10. Primeira sede da fazenda Capão Bonita, hoje já demolida, município

de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: MAGALHÃES (2012).

Atualmente, na fazenda ainda existem três edificações em alvenaria com

os mesmos materiais construtivos, com características construtivas de

rusticação, como a mistura de pedra, madeira e a presença de lareiras em seus

interiores (Figura 11).

69

Figura 11. Segunda residência da fazenda Capão Bonito, município de Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Na edificação (Figura 11) funciona hoje a Escola EFASIDRO (Escola

Família Agrícola de Sidrolândia), que se encontra em estado de abandono, por

parte do atual proprietário.

O local possui ambientes como quartos, salas, cozinha, varandas, jardim

interno e uma lareira. Os materiais construtivos são embasamento de soco,

fundação e paredes largas de pedras, com vedação em taipa. Fachada e pé

direito alto, antecorpo em ressalto com bossagem de rusticação e cobertura

com estrutura de madeira e telhas de barro, duas águas e aberturas

retangulares com vedação em madeira. Na sala de entrada, a presença do

cogobó em ferro com formas geométricas, o qual traz a iluminação natural,

uma característica do Neocolonial; nas aberturas como as janelas, figuras

entalhadas nas madeiras reproduzindo a natureza, como flores e folhas, que

remetem ao Art Nouveau. O conjunto da obra corresponde ao Eclético.

Fazenda Sossego – 1923

De acordo com REZENDE (2013), na sede da fazenda Sossego (Figura

12), as paredes são de tábuas de aroeira, trazidas da Fazenda Capão Bonito e

70

o telhado, com telhas de barro, fabricadas em Barreirinho, localizado diante da

fazenda Passatempo, devido a grande presença de barro, utilizado para a

confecção e de onde derivada seu nome. O material era transportado por

carros de boi e atualmente no local funciona uma usina de açúcar.

Figura 12. Residência e bica d‟água na fazenda Sossego, município de Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: REZENDE (2013).

A edificação foi implantada em um amplo terreno e seu piso é em

mosaico branco e marrom escuro. A casa foi inaugurada em 1923, executada

por Carlos Taveira e conta com varandas, sala de visita, jantar e quartos, com

assoalho de madeira corrida, além de cozinha e despensa, com banheiro no

quintal. É característica da arquitetura espontânea vernácula, devido a madeira

ser um material construtivo abundante na região.

Fazenda Sucuri – 1930

De acordo com MAGALHÃES (2012), o fundador desta fazenda foi

Antônio Pereira Martins, parente de José Antônio Pereira, o mineiro que deu

origem à cidade de Campo Grande, que vislumbrava inúmeras possibilidades

para a área situada nos afamados Campos de Vacaria. Mais tarde, seu filho

Etalívio Pereira Martins, transformou o local num dos mais bem-sucedidos

empreendimentos da agropecuária sul-mato-grossense.

Ainda citando com MAGALHÃES (2012), Etalívio Pereira começou

comprando e vendendo bois para Henrique Vasquez, um dos proprietários da

célebre Casa Vasquez, de Corumbá, que possuía escritórios de compra e

venda de bovinos em Campo Grande e alguns curtumes no Estado. Ele e o

71

cunhado Laucídio Coelho transportaram grandes boiadas em direção ao Porto

XV, onde os animais eram embarcados para São Paulo.

Em relação à sede da fazenda, a edificação é térrea, implantada em um

amplo terreno, com cerca em madeira no entorno da edificação, embasamento

em soco, pedestais e degrau de acesso ao alpendre avarandado. O corpo é

com esteio, frechal e trama de pilastras verticais.

O frontão central do hall de entrada, com apliques e ornamentos em seu

tímpano, possui como epígrafe e monograma “FDAS EPM” e a data da

construção, “1930”, com elementos do estilo Art Déco, como formas

geométricas, além do estilo Art Nouveau, como a guirlanda em forma de folhas.

A alvenaria é de tijolos maciços, com bossagem revestida com argamassa. As

aberturas são retangulares com vedação em ferro, madeira e vidro. A cobertura

com jogos de telhados variados, entre três e quatro águas, com estrutura de

madeira e telhas de barro. O conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético

(Figura 13).

Figura 13. Residência da fazenda Sucuri, município de Rio Brilhante, Mato

Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Outra construção existente na fazenda é a Igreja Nossa Senhora de

Nazaré, que possui uma volumetria retangular, implantada em um amplo

terreno, embasamento em soco, frontão triangular na platibanda e hall de

entrada (Figura 14).

72

Figura 14. Igreja Nossa Senhora de Nazaré, fazenda Sucuri, município de Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Nas laterais, as janelas são em aberturas retangulares com quadros e

vedo em ferro e vidro, como vitrais coloridos, reproduzindo a imagem de anjos,

santos e motivos florais, que remetem ao Art Nouveau. No seu ápice da

platibanda superior, aparece a escultura de um anjo. Na lateral esquerda, uma

parede com elementos vazados em forma de arco com um sino e em seu

interior, móveis de madeira entalhada. O conjunto possui inspiração no

Eclético.

Para GLANCEY (2001), o meio mais visível de celebrar a riqueza e

saúde (grandes igrejas e templos erguidos para agradecer a Deus ou aos

deuses e santos o fim de alguma praga virulenta) é uma forma de escada para

o céu. A humanidade queria sintonizar-se com a mente que criou o universo e

assim, também, se verificaram nas primeiras fazendas vacarianas, além dos

cemitérios, construções de igrejas e capelas, próximo às residências. Porém,

apenas algumas sobreviveram ao tempo.

A herdeira de Etalívio Pereira Martins, sua filha Eda, comanda a fazenda

com quatorze mil hectares, com gado nelore criado a campo; porém,

atualmente, a maior parte de sua área está ocupada pelo cultivo de soja e

milho. As construções existentes na fazenda se encontram em ótimo estado de

73

conservação, desde o cuidado de manutenção da edificação, bem como os

mobiliários, ainda, da época, a paginação de piso e bica d‟água (Figura 15).

Figura 15. Detalhes como os mobiliários, paginação de piso e bica d‟água na

Fazenda Sucuri, município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo

do autor.

Ponte de madeira – 1934

A grande riqueza de madeira na região era baseada em espécies de

madeiras de lei, como perobas, angelins, aroeiras e ipês, além de outras,

propiciando sua utilização como vigamento de telhados, residências e pontes

de madeira, ainda visíveis em algumas áreas na zona rural e urbana.

Exemplo desta utilização, segundo SOUZA (2007), foi durante a ditadura

Vargas, onde o governador autorizou o Sr. Laucídio a fazer uma ponte (Figura

16); este, então, contratou o engenheiro Dr. Amélio Baís para fazer o projeto

sobre o rio Vacaria, Distrito de Prudêncio Thomaz, na qual foram exploradas as

madeiras retiradas de sua propriedade, com o empreendimento executado pelo

74

próprio empreiteiro que trabalhava em sua fazenda, o João Paulista. Foi

construída no período de 1934 a 1937; posteriormente, demolida e substituída

por uma ponte de concreto.

Figura 16. Primeira ponte de madeira sobre o rio Vacaria, município de Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991).

Fazenda Bela Vista - 1938

FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991), afirmam que as primeiras casas

da região eram simples palhoças cobertas de palha, sem iluminação elétrica,

conhecendo apenas os candeeiros, lamparinas e lampiões, alimentados com

azeite ou outro tipo de combustível.

De acordo com as mesmas autoras, Antônio Gonçalves Barbosa batizou

o lugar em que foi instalada a fazenda de Boa Vista; desta maneira, estava

fundada a partir de então uma das primeiras fazendas do local. Como as matas

ainda eram ocupadas por índios Caiuás, nem sempre amistosas com a invasão

de suas terras, os pioneiros erguiam suas moradas em semicírculo,

empregando a aroeira, madeira resistente e abundante.

Ainda citando SOUZA (2007), a casa de madeira da fazenda Bela Vista

foi construída por José Justiniano de Souza Coelho, pai de Laucídio Coelho,

entre os anos de 1892 e 1893, sendo uma das poucas com registro fotográfico

na região (Figura 17).

A residência possui uma volumetria retangular, implantada em um

terreno amplo, aberturas de portas e janelas simétricas, retangulares, cobertura

em quatro águas e telhas de barro tipo francesa. SOUZA (2007) escreve que a

75

casa foi feita de esteios de aroeira e paredes de tijolos. Característica da

arquitetura espontânea vernácula.

Figura 17. Primeira sede em madeira na fazenda Bela Vista, município de Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

A madeira era um material construtivo abundante e bastante explorado

na região e as primeiras construções este material abundante, como ainda se

pode visualizar em alguns locais.

Quando os proprietários rurais passaram a ter um maior poder

econômico, o padrão das casas se modificou; e começou a seguir o modelo de

plantas retangulares, coberturas em quatro águas com telhas de barro tipo

francesa ou colonial, aberturas simétricas em suas portas e janelas, com a

presença de varandas nos fundos e em sua lateral, sempre implantado em

terrenos amplos.

Para MAGALHÃES (2012), a Fazenda Bela Vista, cuja construção em

alvenaria foi edificada em 1938, foi um modelo de produtividade integrada,

quando teve fábricas de cerâmica e de farinha de mandioca, serraria, engenho

de cana e açougue com abate diário.

Implantada em um terreno amplo, uma característica do estilo

Neocolonial, mas cercada com pilares de concreto e madeira, com um portão

de acesso duas folhas em ferro ornamentado, que remetem ao estilo Art

76

Nouveau. Também, possui uma varanda destacada pela colunata com pilares e

detalhes no ressalto em formas geométricas, que caracteriza o Art Déco; em

sua calçada, foi revestida com uma paginação de piso em mosaico português

(Figura 18).

Figura 18. Primeira residência em alvenaria na fazenda Bela Vista, município

de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

A volumetria da residência é retangular, com embasamento em soco e

entre os materiais construtivos, a alvenaria de tijolos maciços, com bossagem

revestida com argamassa. As aberturas externas frontais são em forma de

arcos, já as laterais e internas em formas retangulares, com quadros e vedação

com madeira e vidros. A estrutura em madeira, coberta por telhas de barro,

com o desenho da cobertura variando entre três e quatro águas. O

revestimento interno nas paredes das varandas com madeira. O ornato é em

relevo, com letras iniciais do nome do proprietário, “LC”, “FDA Bella Vista”, e a

data da construção, 1938, sendo o conjunto correspondente ao estilo Eclético.

Observa-se, também, uma piscina no formato retangular em sua área de

lazer, e aos fundos, uma caixa d‟água de concreto com forma geométrica em

sua volumetria, uma característica do estilo Art Déco.

77

Na sede da fazenda encontra-se, também, um exemplar edificado com

função religiosa, construída por seus proprietários, em resposta a uma graça

recebida; esta edificação, também, funcionava como escola para as crianças

da fazenda.

A edificação está cercada por pilares de madeira de aroeira, com arame

liso. Sua entrada é marcada por um hall com cobertura em duas águas, duas

pseudo colunas nas laterais, com degraus e uma cruzeta no alto da parede

acima da primeira cobertura (Figura 19).

Figura 19. Capela na fazenda Bela Vista, município de Rio Brilhante, Mato

Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

A volumetria da capela é retangular, avarandada em suas laterais e por

estar em amplo terreno, uma característica do estilo Neocolonial. Seu

embasamento é em soco e com cobertura em duas águas com telha de barro.

Também, apresenta aberturas retangulares com quadros e vedação em

madeira e a alvenaria é em tijolos maciços. O conjunto da obra corresponde ao

estilo Eclético. Todas as edificações na fazenda se encontram em ótimo estado

de conservação, tanto a antiga residência em madeira, quanto à em alvenaria.

Atualmente pertencem aos irmãos de Adelaide Coelho.

Assentamento Mutum – 1940

No assentamento Mutum encontra-se a antiga residência de Ludovico

Nogueira, fazendeiro bem-sucedido na época, construída em 1940. No local

atualmente funciona o escritório do Instituto de Reforma Agrária e Colonização

78

– INCRA. Devido ao descaso atual, a obra encontra-se em má estado de

conservação.

A questão da destruição da memória arquitetônica, através do processo

de reforma agrária, deveria ser uma preocupação de arquitetos, urbanistas,

historiadores, entre outros, no Brasil. Como processo normal, o governo, após

adquirir as propriedades rurais, faz a divisão dos lotes e sua distribuição.

Porém a infraestrutura física existente, tais como as antigas sedes,

apesar de terem sido compradas por um alto valor, ficam abandonadas a

própria sorte, sofrendo lentamente processos de vandalização e depredação, o

que as torna, dentro de pouco tempo, apenas ruinas do que foi a história da

região e do Brasil. Porém este aspecto não é discutido ou questionado, quando

do processo de criação de assentamentos em áreas com construções

históricas, o que também foi observado na Estação Beltrão, um marco do

processo de integração das diferentes regiões do Brasil através do telegrafo e

atualmente em ruinas e fazenda Capão Bonito, com suas edificações em

processo de degradação.

A sede foi implantada em um amplo terreno e avarandada, uma

característica do estilo Neocolonial, com embasamento em soco, alvenaria de

tijolos maciços, com bossagem revestida com argamassa (Figura 20).

Figura 20. Antiga sede de fazenda localizada no Assentamento Mutum,

município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

79

A cobertura é aparente, com estrutura em madeira e telhas de barro. A

entrada principal é marcada por um frontão em alvenaria, platibanda com

formas geométricas intercaladas, característica do estilo Art Déco, moldura no

ressalto do reboco, ornato na forma circular no centro do frontão, com as letras

iniciais do nome do proprietário, “LN” e data da construção, “1940”. As

aberturas são retangulares com vedação em madeira e vidro. A paginação de

pisos nas salas é em ladrilho hidráulico colorido diferenciado; já nos quartos, o

assoalho é de madeira. O conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético

(Figura 21).

Figura 21. Detalhe paginação de piso e bica d‟água da residência situada no

Assentamento Mutum, município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:

Acervo do autor.

Fazenda Vira Mão – 1941

Em outra fazenda da região, conhecida como Vira Mão, encontra-se

uma edificação construída em 1941 (Figura 22), que era referência de conforto

na região. Pertenceu a Estevão Gonçalves Barbosa Marques, e depois a sua

filha, Donata Oliveira Barbosa e esposo, Olívio Oliveira. Hoje é propriedade do

herdeiro Emilio Curi, residente em Campo Grande – MS.

80

Figura 22. Sede da fazenda Vira Mão, município de Rio Brilhante, Mato Grosso

do Sul. Fonte: Acervo do autor.

A edificação (Figura 23) possui o térreo e o pavimento superior, cercada

por um muro de concreto e gradil em ferro, em um amplo terreno. Seu

embasamento é em soco, com pedestais e escada de acesso, alvenaria de

tijolos maciços, com bossagem revestida com argamassa.

Figura 23. Sede da fazenda Vira Mão, município de Rio Brilhante, Mato Grosso

do Sul. Fonte: Acervo do autor.

A cobertura é aparente, com estrutura de madeira e desenho em três e

quatro águas, coberta por telhas de barro. Também possui aberturas

81

retangulares com vedação em madeira e vidros. Corpo com esteio, frechal e

trama de pilastras verticais de fuste liso, base e capitel, além de coroamento

arquitrave, friso e cornija, frontão central, alpendre avarandado com guarda-

corpo balaustrado em inspiração jônica.

Também possui papel de parede aplicado nas paredes internas da

varanda. Implantada em um amplo terreno, em seu tímpano, apliques e

ornamentação como a presença de um medalhão, ornato oval em cercadura

com monograma, ornato com letras entrelaçadas e a data da construção. A

obra possui inspiração no neocolonial, mas o conjunto é caracterizado como

Eclético.

Fazenda Recreio – 1942

A sede da fazenda (Figura 24), construída em 1942, pertenceu a Marcos

Gonçalves Barbosa, irmão de Estevão Barbosa e depois a Generoso Barbosa.

Figura 24. Sede da fazenda Recreio, com detalhes da paginação de pisos e

móveis, município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do

autor.

82

Hoje pertence a uma proprietária residente no Estado de São Paulo,

sem vínculos familiares com os antigos herdeiros, que a mantém em bom

estado de conservação.

A entrada de acesso principal é marcada por uma varanda. Sua

volumetria é em forma retangular, implantada em um amplo terreno,

avarandada, com pilares e um cercado em balaústra de madeira. O

embasamento é em soco, com alvenaria de tijolos maciços, com bossagem

revestida com argamassa.

A abertura de portas e janelas possui formas retangulares e de arcos,

com quadros e vedação em madeiras e vidro. A cobertura da estrutura é de

madeira, com telhas de barro, quatro águas. A paginação de pisos é com

ladrilhos hidráulicos e móveis, entalhados em madeira. Sua inspiração é no

Neocolonial.

Fazenda Triângulo – 1945

Na fazenda encontra-se a antiga residência de Gumercindo Barbosa,

fazendeiro bem sucedido na época. Atualmente pertence à família Aléssio.

Na construção, o alpendre é avarandado e em sua entrada principal

existe uma abertura em forma de arco-pleno. No pavimento superior, a

presença de um guarda corpo balaustrado. O antecorpo é com ressalto,

bossagem e rusticação, além de trama de pilastras verticais com capitel.

O coroamento da edificação apresenta frisos ornamentados, arquitrave,

conija, sendo o muro de ático em frontão triangular, tímpano com o desenho

em forma geométrica de triângulo, moldura com ressalto em monograma com

as letras iniciais do nome do proprietário, “GB”, e data da construção, “1941”.

Os elementos decorativos são em ressalto no arremate do coroamento da

edificação.

Dentre os materiais utilizados na sua construção se destacam alvenaria

de tijolos maciços revestidos com argamassa, aberturas retangulares com

quadros e vedos de madeira e vidros martelados. A estrutura do telhado é de

madeira, coberta por telhas de barro, com o desenho da cobertura variando

entre duas a três águas. O conjunto de elementos decorativos da obra é

marcado pelo exagero de detalhes e ornamentos. A obra possui inspiração no

Neocolonial, mas o conjunto é caracterizado pelo estilo Eclético.

83

Segundo relatos orais dos descendentes da família dos Barbosas, na

frente de sua residência (Figuras 25 e 26), Gumercindo Barbosa, juntamente

com os músicos do Trio Serenata, famoso em sua época, compôs a letra da

música Chê Florência. Esta canção foi uma homenagem à sua esposa

“Florença”, nome pelo qual carinhosamente lhe chamava para tomar o

chimarrão.

Figura 25. Fachada frontal e lateral da sede da fazenda Triângulo, município

de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Figura 26. Capa do disco de vinil do grupo Trio Serenata. Foto cedida pelo

Grupo Trio Serenata.

Fazenda Campo Alegre – 1947

A sede da fazenda Campo Alegre (Figura 27) foi construída em 1947 e

pertenceu a Lourival Barbosa e sua esposa, Antônia de Souza Barbosa. O

84

proprietário, mais conhecido como “Sinhozinho”, o qual foi fazendeiro e Prefeito

do Município, no período de 1960 a 1963. Atualmente a propriedade pertence

ao neto herdeiro, André Barbosa.

Figura 27. Sede da fazenda Campo Alegre, com detalhes da residência, muro

e bica d‟água, município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo

do autor.

A construção é cercada por uma mureta de concreto com pilares,

implantada em um amplo terreno, que remete ao estilo Neocolonial. Sua

volumetria é em forma retangular, com embasamento em soco, entrada

principal com duas pilastras torcidas, um portão em ferro e acima no seu

tímpano, uma moldura em ressalto em forma geométrica com um azulejo e

gradil em ferro ornamentado, detalhe este que remete ao estilo Art Nouveau.

A alvenaria é de tijolos maciços, com bossagem revestida com

argamassa. As aberturas são retangulares com vedação em madeira, ferro e

vidro. A cobertura é duas águas, com madeiramento e telhas de barro. O

conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético.

Na propriedade ainda existem duas construções com função religiosa. A

capela (Figura 28) possui uma forma volumétrica retangular, implantada em um

amplo terreno, embasamento em soco, com duas pseudo-colunas e

85

ornamentos em formas geométricas no reboco em ressalto, reproduzindo o

desenho de degraus e uma cruz em sua platibanda que esconde a cobertura

em duas águas com telhas de barro. Também possui aberturas retangulares

com quadros e vedo em ferro e vidro. O conjunto da obra corresponde ao estilo

Eclético.

Figura 28. Igreja e cemitério existentes na fazenda Campo Alegre, município

de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Outra edificação é o cemitério, implantado em um amplo terreno e

cercado por um muro de cimento. No local encontram-se sepultados alguns

dos descendentes dos “Barbosas”, como Lino Barbosa, falecido em 1936,

Guilhermina Barbosa Moura, falecida em 1933 e Jehovah da Fonseca Barbosa,

dentre outros.

As formas das sepulturas são retangulares, em alvenaria de tijolos

maciços, ornamentados com esculturas em seus sepulcros e molduras no

ressalto do reboco em formas geométricas que remetem ao Art Déco, algumas

revestidas por diferentes tipos de mármores. Sua inspiração também é no estilo

Eclético.

86

Fazenda Suez – 1948

Outra propriedade que é referência histórica para a região é a fazenda

Suez (Figura 29), com sede edificada em 1948 e inspiração no estilo

Neocolonial. Um dos primeiros proprietários da área foi Etalívio Pereira Martins

e, atualmente, a propriedade pertence a Aguiar de Almeida Pereira.

A fazenda era considerada um colosso, em relação ao tamanho, pois

abrangia um trecho de mais de 30 km entre os rios Vacaria e Brilhante, a leste

da cidade de Rio Brilhante, possuindo cerca de 50 mil hectares, em um dos

pontos de terras mais férteis do Estado. Inicialmente, a região era coberta por

matas de grande porte, que Etalívio Pereira Martins passou a explorar em fins

dos anos de 1950. Estas áreas se transformaram em áreas de pastagens, hoje

cobertas com cana-de-açúcar (MAGALHÃES, 2012).

Figura 29. Sede da fazenda Suez, em alvenaria, serraria e casas em madeira,

município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: MAGALHÃES (2012).

Devido ao seu grande tamanho, a fazenda sofreu vários

desmembramentos, originando uma série de outras propriedades. Porém, as

novas atividades, associadas a grandes modificações ambientais decorrentes

87

da derrubada de florestas e queimadas, levou à diminuição da vazão dos rios e

córregos, resultando em uma série de problemas ambientais hoje verificados.

Nessa mesma fazenda existiu uma grande serraria. Para abrigar seus

funcionários, foram construídas trinta casas em madeira, uma verdadeira vila,

no auge da exploração madeireira (MAGALHÃES, 2012).

Como características construtivas da sede da fazenda, implantada em

um amplo terreno, são observadas a volumetria da edificação em forma

retangular, com o térreo e o primeiro pavimento. O embasamento é em soco,

com escada de acesso e varandas com aberturas em forma de arcos, alvenaria

de tijolos maciços e com bossagem revestida com argamassa. As aberturas

das janelas são em forma de arco, com vedação em ferro e vidro, modelo

veneziana. A inclinação do telhado é de duas águas, com estrutura em madeira

e telhas de barro.

Como resultado do processo de desmembramento e vendas de partes

da propriedade, surgiu uma empresa, denominada Energética Santa Helena;

em sequência, em parceria os proprietários da área remanescente da Fazenda

Suez, construiu-se a Usina Eldorado. Na ocasião de sua inauguração, um dos

únicos filhos do patriarca, Etalívio Pereira Martins, ainda vivo, José Pereira

Martins, mais conhecido como Zé Pereira, foi saudado efusivamente por

Benedito Coutinho, que iniciava um novo empreendimento de sucesso.

Posteriormente a empresa foi vendida para a Odebrecht Agroindustrial, porém

continua até hoje com o nome de Eldorado.

Conclusão

A ocupação pioneira no município de Rio Brilhante, em 1836, antes

denominada de Campos de Vacaria, por desbravadores mineiros, pertencentes

às famílias Barbosa, Garcia Leal e Lopes, permitiu a colonização branca ao

longo dos rios Brilhante e Vacaria, até a serra de Maracaju e atual município de

Jardim.

Um fator que impactou diretamente a região foi a Guerra do Paraguai,

que destruiu diversas residências na época, denominadas de ranchos. No pós-

guerra, em 1872, se estabeleceu um novo desenvolvimento regional, com a

comercialização de produtos da pecuária e erva-mate, com a mão de obra

exercida pela força do trabalho indígena e paraguaia. Aliado a outros fatores,

88

isto permitiu um grande crescimento econômico da região, cujo acúmulo de

capital resultou na construção de residências abastadas para o padrão da

região.

Uma característica construtiva bastante encontrada nas fazendas, em

função da utilização da madeira abundante na região, foi a arquitetura

espontânea vernacular, como as residências em madeira, implantadas sempre

em amplo terreno, além de edificações como pontes, bicas d‟água, e o cercado

das edificações com pilares de madeira e arame liso.

As famosas bicas d‟águas, construídas em madeiras diversas, não são

mais encontradas devido ao apodrecimento da estrutura. Porém, outras, de

alvenaria com cimento e pedras, de formato retangular, ainda aparecem com

frequência, passando por dentro da área de serviço da residência e pelas

varandas.

Com o surgimento das construções em alvenaria, aparecem os

cemitérios, igrejas, as residências com cômodos mais amplos, como a

paginação de pisos, revestidas por ladrilhos hidráulicos, nas janelas os vitrais

coloridos, muitos desses materiais importados da Europa e, comercializados

via casas comerciais de Corumbá.

As residências passam a ter mais ornamentos e detalhes em suas

fachadas e aberturas, mobiliários internos mais confortáveis, ficando visíveis

seus elementos arquitetônicos, bem definidos através de ornamentos e

materiais construtivos, demonstrando o poder do capital acumulado pelas

famílias pioneiras.

No Estado de Mato Grosso do Sul, como exemplo, a arquitetura da

cidade de Corumbá e, também, da cidade de Rio Brilhante, não foi totalmente

autêntica, aos moldes de outros Estados e países do mundo. Esta situação

pode ser comprovada em livros, dissertações e teses de outros autores, que

mencionam construções em madeira e alvenaria nas fazendas da região como

sendo uma arquitetura no estilo Colonial, uma característica do século XVI ao

XVIII.

Pode-se afirmar que na ocupação da região pós-guerra, no final do

século XIX, a forma arquitetônica começa a ser importada de outras

localidades do Brasil e do mundo.

89

Isto pode se observar nas residências de madeira e residências térreas

e assobradadas em alvenaria, com um determinado número de elementos

arquitetônicos, mas não autênticos e genuínos de um estilo homogêneo.

Dentre os estilos identificados predominaram a arquitetura espontânea

vernacular, o Neocolonial e o Ecletismo.

A importância dessa pesquisa histórica para o município de Rio Brilhante

e o Estado de Mato Grosso do Sul se faz por nortear futuras pesquisas e

projetos que fornecerão novos desdobramentos, ampliando o conhecimento

sobre o desenvolvimento rural desta região.

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92

Artigo II

A produção arquitetônica na zona urbana do Município de Rio Brilhante,

Mato Grosso do Sul: 1900 a 1960

Fábio Fernando Martins Oliveira

Resumo

A colonização desta região se deu sob a influência de migrantes mineiros,

paulistas e paraguaios. Além destes, ocorreu a chegada de japoneses, sírios,

libaneses, alemães e italianos. Estes migrantes exploraram a pecuária, a

extração da madeira e a coleta da erva-mate, o que propiciou o acúmulo de

capital e permitiu a construção de edificações, que através de seus materiais

construtivos e ornamentos, tornaram-se relevantes arquitetonicamente.

Levando-se em consideração a importância histórica do município de Rio

Brilhante e de seu distrito, Prudêncio Thomaz, objetivou-se analisar as

características estilísticas, materiais construtivos, seus respectivos períodos e

histórias dessas construções na zona urbana da cidade de Rio Brilhante, entre

1900 a 1960, a partir de relatos orais dos descentes desses pioneiros. Também

por meio de visitas realizadas in loco nas diferentes propriedades, realizou-se o

mapeamento e registro fotográfico, além de, uma pesquisa bibliográfica e

visitas ao órgão público, como a Secretaria de Obras e Biblioteca Municipal.

Foram identificadas 46 edificações e dentre elas, igrejas, residências e

comércios em madeira e alvenaria, sendo que somente 22 dessas construções

ainda existem e 24 já foram demolidas, restando apenas seu registro

fotográfico. Com esta análise, destaca-se a importância do estudo e registro

dessa arquitetura inserida na paisagem urbana, onde algumas ainda resistem

ao tempo, retratando a história da ocupação do município e a memória local

dessa população.

Palavras-chave: Patrimônio arquitetônico, Rio Brilhante, Prudêncio Thomaz.

The architectonic production in the urban area of Rio Brilhante, Mato

Grosso do Sul: 1900 to 1960

Abstract

The colonization of this region occured under the influence of migrants from

Minas Gerais, São Paulo and Paraguay. Aside of them, there was the arrival of

93

Japanese, Syrian, Lebanese, German and Italian people. This migrants

exploited cattle raising, logging and Yerba mate collect; this provided capital

accumulation and made possible the construction of buildings that became

architectonically relevant because of its building materials and ornaments.

Considering the historical importance of Rio Brilhante and its district, Prudêncio

Thomaz, the objective was to analyze the stylistic features, building materials,

their respective periods and the history of these constructions in the urban area

of Rio Brilhante, between 1900 and 1960, based on oral accounts of the

descendants of these pioneers. Also, through visits in loco to the different

properties, a mapping and a photographical register were done, in addition of a

bibliographic research and visits to public institutions, such as the Secretary of

Public Works and the Municipal Library. 46 buildings were identfied and among

them there are churches, houses and comercial buildings, of which only 22

constructions still exist, and 24 were demolished, remaining only their

photographical register. Through this analysis it is highlighted the importance of

the study and the register of this architecture localized in the townscape, where

some of them withstand time, showing the town occupation history and the local

memory of its population.

Key-words: architectonic heritage; Rio Brilhante, Prudêncio Thomaz.

Introdução

No ano de 1900, o município de Rio Brilhante, anteriormente chamado

de Campos de Vacaria, é marcado pela chegada de Francisco Cardoso Junior,

oriundo de São Roque – MG. Nesta época, de acordo com FACHOLLI e

DOERZEBACHER (1991), os habitantes da região encontravam-se ainda

fixados em sua maioria nas fazendas e na localidade da Aroeira, uma pequena

vila habitada por poucas pessoas. Nesta ocasião, Francisco Junior ergueu um

cruzeiro e marcou assim, o nascimento de um novo povoado no local.

Este personagem histórico se casou com a sobrinha de José Francisco

Lopes, mais conhecido por “Guia Lopes da Laguna”, que fez parte da história

do Brasil, pois foi o guia de uma tropa de 1500 homens do coronel Carlos de

Morais Camisão, que através de uma marcha de Bela Vista até Nioaque, por

35 dias, fugindo da perseguição dos soldados paraguaios, levou à morte

centenas de soldados brasileiros, por fome, doenças e lutas, recebendo o

94

episódio o nome de Retirada de Laguna, um triste evento da Guerra do

Paraguai (FLORES, 2010).

Ainda de acordo com o autor, a esposa de José Lopes, Maria Conceição

Barbosa, também conhecida como Senhorinha, foi uma importante

personagem da região, pois era filha de Antônio Gonçalves Barbosa, um dos

desbravadores dos Campos de Vacaria. Foi capturada e levada ao Paraguai

por duas vezes, ficando viúva por duas ocasiões, com sua história registrada

por diferentes historiadores.

Após a instalação do cruzeiro, alguns fazendeiros doaram posses de

terras para a concretização da sede do município. A partir daí, delineou-se

então a primeira planta da cidade que passou a denominar-se a “Entre Rios”,

por estar situada entre os rios Vacaria e Brilhante (FACHOLLI e

DOERZEBACHER, 1991).

Segundo relatos orais de descendentes de pioneiros, com a chegada de

Marechal Cândido Rondon, com seus equipamentos topográficos, locou-se os

quatro cantos da praça central, surgindo assim, o traçado da malha urbana em

tabuleiro xadrez. ROSSI (2001, p. 10) afirma que as cidades colonizadas pelos

europeus eram influenciadas por certas tipologias edificatórias e urbanas,

trazidas ao Brasil pelos portugueses.

FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991) escreveram que em 26 de

setembro de 1929, aconteceu a elevação de “Entre Rios” a município,

tornando-se independente administrativamente a partir desta data, mas ainda

pertencendo a Comarca de Campo Grande. Já em 1943, Entre Rios foi elevada

a Comarca e recebe o nome de “Caiuás”, em referência a tribo indígena que

era habitante primitiva da região. Em 30 de setembro de 1948, novamente

existe uma alteração de nome, passando de Cauiás para Rio Brilhante, em

homenagem ao importante rio da região.

O único distrito do município de Rio Brilhante, atualmente chamado de

Prudêncio Thomaz, segundo SOUZA (2007), era a vila denominada de Aroeira

devido à abundância da árvore nativa na região. Ainda de acordo com o autor,

Prudêncio Thomaz Leme era oriundo do Paraná e casou-se com Dona

Inocência Monteiro. Instalou-se em uma pequena casa de comercio, chamada

popularmente de bolicho, onde comercializava erva-mate. A então vila Aroeira,

95

por iniciativa do ex-deputado Ruben Figueiró, teve seu nome modificado para

Prudêncio Thomaz, em homenagem ao comerciante.

O nome da primeira fazenda no local, que pertenceu a Antônio

Gonçalves Barbosa e foi fundada aproximadamente em 1838, também, era

Aroeira (SOUZA, 2003). O mesmo autor informa que a fazenda, após ser

doada e outras vezes vendida para diversos proprietários, acabou sendo

dividida em 30 áreas distintas.

Posteriormente, foi adquirida em 1919 por Laucídio Coelho, que

comprou o direito de posse de 3.600 hectares; depois de muitas lutas judiciais

e enfrentamentos com o banditismo existente na região, o mesmo se tornou o

proprietário do local. De acordo com FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991),

este é um típico caso de rearranjo fundiário.

Esse processo de formação do núcleo urbano, bem como seus

processos arquitetônicos, ocorreu em conjunto com as principais atividades

econômicas ali desenvolvidas, como a pecuária, exploração da madeira e a

extração da erva-mate.

Esta situação garantiu aos proprietários de terras um alto poder

aquisitivo com o acúmulo de capital, sendo possível a construção de

edificações como residências, comércios e igrejas, com materiais importados

até mesmo da Europa, por meio das casas comerciais de Corumbá, um

importante entreposto comercial na época.

Edificações estas, construídas no final do século XIX e início do século

XX, resultaram da combinação de um ou mais elementos arquitetônicos bem

definidos em suas volumetrias, que demonstraram suas inspirações estilísticas.

Para PEVSNER (2002), quase tudo aquilo que encerra um espaço, cuja

escala seja suficiente para que o ser humano possa se deslocar é uma

construção; o termo arquitetura aplica-se apenas a construções projetadas,

tendo em visto o interesse estético. Uma construção pode provocar essas

sensações estéticas por três aspectos diferentes.

Em primeiro lugar, podem ser produzidas pelo tratamento das paredes,

pela proporção das janelas, pela relação entre as paredes e aberturas, entre

um andar e outro, pela ornamentação, como guirlandas de folhas e frutos. Em

segundo, o tratamento da parte exterior de um edifício, com um todo, é muito

96

significativo em termos estéticos: o contraste entre os volumes, o efeito de um

telhado em ponta ou plano, o ritmo das saliências e reentrâncias.

Em terceiro e último, há um efeito que exercem sobre os sentidos o

tratamento interior, a sequência dos aposentos, a amplitude de uma nave em

seu cruzamento e o movimento majestoso de uma escadaria barroca.

Com a análise das construções urbanas do município, destaca-se a

importância do registro dessa arquitetura inserida na paisagem, retratando a

história da ocupação do município e a memória local dessa população.

Levando-se em consideração estes fatores, objetivou-se identificar as obras

mais relevantes arquitetonicamente, analisadas através de suas características

estilísticas, materiais construtivos e seus respectivos períodos históricos.

Material e Métodos

A área estudada compreende o município de Rio Brilhante e o distrito de

Prudêncio Thomaz, localizados no Estado do Mato Grosso do Sul, região

Centro-Oeste (Figura 1), com uma área de 3.987,397 Km2 e população de

aproximadamente 30.663 habitantes (IBGE, 2015).

Os solos da região tem origem no basalto (latossolos roxos) e conforme

os dados da Carta Topográfica (CPRM, 2005), a área possui altitudes variando

entre 360 a 390 metros, com topografia plana (OLIVEIRA, 2009). Sua rede

hidrografia é comandada pelos rios Vacaria e Brilhante.

Os dados referentes ao trabalho foram obtidos através da análise

documental por meio de mapas existentes na Prefeitura Municipal, Secretaria

de Obras e Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, assim como o

levantamento de algumas fotografias das edificações obtidas na Biblioteca

Municipal.

O restante do material fotográfico foi cedido por descendentes das

famílias pioneiras. A pesquisa de campo completou-se através da geofografia,

localizando as edificações, através de pontos amostrais, os quais foram obtidos

com o uso do GPS Garmin, coordenadas UTM DATUM sirgas 2000 fuso 21

Sul.

97

Figura 1. Localização do Município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul e

área de estudo. Fonte: IBGE (2015), adaptado pelo autor.

As fontes secundárias, relativas a algumas construções, se deram

através de publicações afins, tais como ARRUDA (1999), MARQUES (2001),

MAGALHÃES (2012) e LIMA (2013). Para demonstrar a aplicação do método

proposto, foi realizada uma seleção das edificações mais expressivas da zona

urbana, analisadas através de suas formas volumétricas, materiais

construtivos, ornamentos aplicados em suas construções, relacionados com

seus respectivos períodos e história ainda existente.

Os relatos orais das famílias descendentes dos pioneiros foram

utilizados, pois a tradição oral, de acordo com SODRÉ (1941, p. 88), é

98

valorizada, escrevendo o autor, não sem exaltação: “Não há marcos que

assinalem a grandeza dessa conquista. Só a tradição oral e a pura tradição oral

mantêm a eternidade desses feitos poderosos”. Esta afirmação é corroborada

por ALVES (2005, p. 29), que afirma que o historiador, mesmo em face de

dados exíguos, tem “o concurso da teoria, um recurso que pode clarificar os

nexos que se estabelecem entre esses dados”.

Resultados e Discussão

A zona urbana da cidade de Rio Brilhante teve origem na chegada das

primeiras residências e casas comerciais, que foram se instalando na Rua

Benjamin Constant (Figura 2).

Figura 2. Perímetro urbano da cidade de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul em

1954. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE RIO BRILHANTE (2015).

99

Através do primeiro mapa do perímetro urbano do município, é possível

observar os pontos nos tons de preto, identificando as primeiras construções

nas quadras da rua central da cidade, a qual possui o seu traçado da malha

urbana em forma de tabuleiro xadrez.

Segundo SITTE (1992), o sistema retangular, para o traçado das

cidades, é o mais utilizado, já sendo aplicado há muito tempo. Sua forma

lembra um tabuleiro de xadrez e é muito frequente nas cidades antigas.

Segundo MARX (1980), nas antigas povoações, uma igreja e uma praça eram

regra geral, servindo como ponto central para o crescimento da comunidade.

Esta situação também foi observada no traçado do município de Rio Brilhante.

Dentre os bens catalogados, registrou-se um total de 46 edificações na

zona urbana do município, incluindo o distrito de Prudêncio Thomaz. Do total,

22 edificações são em alvenaria, ainda sendo utilizadas como residências,

casas comerciais, praça e Prefeitura Municipal. Outras 24 já foram demolidas,

restando apenas seu registro fotográfico e localização por meio dos pontos

amostrais (Figura 3 e Quadro 1).

Figura 3. Mapa com pontos georreferenciados das edificações na zona urbana

do Município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Elaborado pelo autor.

100

Quadro 1. Nomes relacionados aos pontos georreferenciados das edificações

(Figura 3) da zona urbana do Município de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul

Edificações localizadas na cidade de Rio Brilhante

Ponto Nome

01 Cemitério São Cristóvão – 1900 02 Sobradinho – 1914

03 Residência do Coronel A. A. Corrêa – 1910

04 Residência Dr. Boaventura – 1927

05 Residência do Sr. Martin Campeiro – 1929

06 Residência Osvaldo Rodrigo Simões – 1931

07 Residência Tozo Sasaki – 1932

08 Residência Virgilino Gonçalves de Oliveira – 1934

09 Residência Aldonso Chaves – 1935

10 Residência Jair Barbosa – 1935

11 Residência Eng. Joaquim Moreira – 1939

12 Residência Zulmira Alves Corrêa -1940

13 Residência Oacir Vidal – 1946

14 Residência Laucídio Coelho – 1947

15 Capela de madeira – 1906

16 Residência Etalívio Pereira Martins – 1906

17 Casa Arinos – 1921

18 Hotel Central – 1923

19 Residência Dr. Júlio Siqueira Maia – 1925

20 Casa Nova – 1927

21 Escola Paroquial São Francisco – 1927

22 Casa Jardim – 1928

23 Praça Central Dr. Boaventura – 1929

24 Casa Missioneira – 1930

25 Pensão Pimentel – 1930

26 Casa Mohamed Alle – 1932

27 Residência Sírio Borges – 1935

28 Casa Nossa Senhora Medianeira – 1936

29 Casa Pecuária Coamal – 1938

30 Convento Franciscano – 1939

31 Pensão Rio Brilhante – 1940

32 Casa Nogueira – 1941

33 Igreja Católica Divino Espírito Santo – 1941

34 Casa Pedro Abismo – 1941

35 Casa Comercial Tácito Pael - 1943

36 Casa Augusto Alves Nogueira – 1943

37 Igreja Presbiteriana do Brasil – 1944

38 Prefeitura Municipal – 1947

39 Casa Omar Castro – 1948

40 Fábrica de móveis do Sr. Alcindo - 1948

41 Caixa d‟água – 1958

42 Coreto – 1960

101

Construções

As edificações situadas na zona urbana e no distrito de Thomas

Laranjeira, analisadas sobre seus aspectos históricos e arquitetônicos, seguem

a ordem de seus respectivos períodos construtivos.

Cemitério São Cristóvão – 1900

Localizado no bairro Morada do Sol, na Rua Aires Francisco de Lima,

quadra 205 A, surgiu com a doação da posse de terra da quadra para a

implantação do mesmo, através do então fundador da cidade, Francisco

Cardoso Junior, já no ano de 1900. Nele jaz seu fundador, dentre outras

famílias pioneiras, em seus respectivos túmulos com relevância arquitetônica.

De acordo com MUMFORD (1961, p. 15), “A cidade dos mortos

antecede a cidade dos vivos”, poucos lugares suscitam emoções tão diversas

como a arquitetura cemiterial. Muitos fingem não vê-la. Há quem faça o sinal da

cruz ao passar por um, em respeito aos mortos, e os que têm o local como um

espaço de devoção. Na verdade, esses sítios fúnebres instigam o imaginário

popular com sentimentos dispares que variam desde a tristeza ao excitante

fascínio.

Conforme VALLADARES (1972), foi no final do século XIX e início do XX

que a chamada Arte Cemiterial despontou no Brasil, uma vez que surgiram

famílias ricas dispostas a edificarem mausoléus suntuosos.

Desta maneira, artistas de grande talento, especialmente os italianos,

criaram este tipo de arte, às vezes com grande destaque no Brasil, como por

exemplo, no cemitério da Consolação, cidade de São Paulo. Neste local,

atualmente tem-se um segmento relativamente inovador no país, o Turismo

Cemiterial, que já é desenvolvido em outras cidades, tais como Buenos Aires,

Argentina.

Como em várias outras cidades, em Rio Brilhante, quando se

aproximava do núcleo urbano, o que se avistava primeiramente, em sua

entrada, era o cemitério, que possuía alguns túmulos suntuosos e

ornamentados, pertencente às famílias pioneiras, os quais chamam a atenção

pela riqueza de detalhes, demonstrando o poder da família.

No local destacam-se os jazigos (Figura 4 e 5) do fundador da cidade,

Francisco Cardoso Junior e do primeiro prefeito, o Sr. Henrique Pires Martins.

102

Figura 4. Imagens do jazigo de Francisco Júnior, fundador de Rio Brilhante, no

Cemitério São Cristóvão, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do

autor.

Observa-se no jazigo uma volumetria em forma retangular, com mosaico

no entrono como paginação de piso, revestimento em mármore de tonalidades

diferenciadas, como o marrom, o preto e o branco. Uma elevação em mármore

com cantos arredondados e um ressalto no formato de uma cruz em forma

geométrica dão um toque peculiar ao monumento. Sua inspiração é no estilo

Eclético. O jazigo de 1914 (Figura 5), onde se encontra sepultado Henrique

Pires Martins, um fazendeiro bem sucedido, proprietário de inúmeras posses

na época, segundo relatos orais, foi construído pelo Engenheiro Joaquim

Moreira da Silva, com a presença de uma estátua, cruz e anjos em suas

laterais, entalhados no mármore Carrara branco.

Figura 5. Imagens do jazigo de Henrique Pires Martins, no Cemitério São

Cristóvão, cidade de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do

autor.

103

O material, importado pelas casas comerciais da região, teria sido

transportado da Europa através de rotas de navegação e posteriormente,

através de carros de boi, até a cidade de Rio Brilhante, para ornamentar o

túmulo. Sua volumetria é retangular, cercado por grades em ferro com detalhes

em curvas. Possui letras entalhadas no mármore e acima destas, uma

guirlanda em flores, uma característica do Art Nouveau. Também, apresenta

colunas nos cantos em alturas diferenciadas e em seu ápice, a estátua de uma

figura feminina e uma cruz. O conjunto da obra corresponde ao estilo eclético.

É possível observar mais cinco jazigos antigos edificados (Figura 6), os

quais, devido ao mal estado de conservação, tornam difícil identificar o nome e

data dos sepultados (apenas um, em detalhe, ainda apresenta informações

legíveis); porém, ainda é visível a riqueza de detalhes e ornamentos aplicados

nos túmulos.

Figura 6. Imagens dos jazigos no Cemitério São Cristóvão, cidade de Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

104

Em relação ao local identificado, com data e nome, o mesmo pertence a

Manoel Conegundes Nogueira, um fazendeiro. O monumento foi construído

pelo Engenheiro Joaquim Moreira da Silva, em 1932. Este local está cercado

por uma balaustrada com pilares de textura no reboco e elementos decorativos;

acima do túmulo, vasos e peças decorativas, tendo como acesso principal um

portão ornamentado em formas curvas de duas folhas. Em seu ápice, uma

parede com formas curvilíneas em concreto com o coroamento de uma cruz

celta, cujo adereço é semelhante a outro encontrado no local (Figura 6).

A volumetria dos locais citados apresenta formas retangulares e

quadradas, em alvenaria de tijolos maciços, com bossagem revestida com

argamassa, algumas em mármore e cercado com grades de ferro. Os

ornamentos e detalhes como frisos, ressaltos nos rebocos em formas

geométricas, aplicação de elementos como cruz celta, latina e imagens em

seus ápices indicam um conjunto de túmulos suntuosos, correspondendo ao

estilo eclético.

A Capela, construída em 1959, na entrada principal (Figura 7) apresenta

volumetria em forma retangular, com cobertura principal em duas águas, com

uma platibanda em forma triangular e ressalto no reboco e em seu ápice, dois

elementos na vertical, um detalhe do Art Déco.

Figura 7. Capela do Cemitério São Cristóvão, cidade de Rio Brilhante, Mato

Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Em suas laterais, duas colunas com capitel de coroamento, uma

varanda coberta por meia água com pilares quadrados, aberturas em arco na

105

parte superior das janelas e porta, alvenaria de tijolos maciços e revestimento

com argamassa. O conjunto da construção corresponde ao estilo eclético.

Outro local que se destaca é o cruzeiro antigo, edificado em 1940 e,

posteriormente, reformado em 2015 (Figura 8). É uma construção típica de

antigos cemitérios, localizado no centro do local e feito em alvenaria de tijolos

maciços, revestido com argamassa, com forma da volumetria circular, escada e

degraus de acesso e em seu ápice, uma cruz, corresponde ao estilo Art Déco.

Figura 8. Cruzeiro do Cemitério de São Cristóvão, cidade de Rio Brilhante,

Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Edificações residenciais, comerciais e públicas.

Residência de Domingos Barbosa Martins “Sobradinho” -

1914

Umas das construções remanescentes do início do século XIX,

executada pelo engenheiro Joaquim Moreira da Silva em 1914 e ainda

existente no centro da cidade é a Residência de Domingos Barbosa Martins

(Figura 9), conhecido como “Gato Preto”. Está edificada na Avenida Lourival

Barbosa, esquina com Rua Benjamin Constant, quadra 27.

Segundo MAGALHÃES (2004), Domingos Martins, vulgo Gato Preto, foi

dono de grandes áreas de terras na região de Rio Brilhante e dentre elas, a

Fazenda do Baile, que naquele tempo englobava os municípios de Nova

Andradina e Ivinhema, além da Fazenda Capão Bonito, hoje pertencente à

Sidrolândia. Ele era Neto de Inácio Gonçalves Barbosa, também, um dos

106

primeiros desbravadores do Estado, ao lado de seus irmãos João Gonçalves e

Antônio Barbosa.

FACHOLLI e DOERZBACHER (1991) destacam que a primeira serraria

do Município de Rio Brilhante foi instalada na fazenda “Serraria”, de

propriedade de Sr. Domingos Barbosa Martins, devido a grande riqueza

madeireira da região.

Figura 9. Vista frontal da residência de Domingos Martins, na Avenida Lourival

Barbosa, conhecida como “O Sobradinho”, cidade de Rio Brilhante, Mato

Grosso do Sul. Fonte: Acervo de Antônia de Souza Barbosa.

A edificação é marcada por um portal de entrada em alvenaria em forma

de arco na esquina, onde fica o portão de acesso principal e os pilares, com

grades em madeira em formas geométricas (Figura 10).

De acordo com FACHOLLI e DOERZBACHER (1991), a edificação teria

recebido, também, o nome de “Vila Biíta”, em homenagem a uma de suas

filhas. A parte térrea fora construída em 1914, e o pavimento superior em 1928,

destacando-se o fino acabamento, caracterizando uma preocupação estilística.

Segundo relato de Vanice Faria de Souza, na página Rio Brilhante – Anos

Dourados, a planta teria sido projetada por um arquiteto francês.

As telhas da cobertura, vidros coloridos e até mesmo o próprio

paisagismo da época, foram importados da Europa. A mesma edificação serviu

107

também como sede da Prefeitura e Câmara Municipal, Seção Eleitoral e

internato das irmãs Franciscanas, demonstrando seu amplo uso e importância.

Atualmente pertence à família Pereira de Castro.

Figura 10. Vista lateral da Residência de Domingos Barbosa Martins,

conhecida como “O Sobradinho”, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Foto

Acervo de Vanice Faria de Souza.

A sacada lateral frontal e a sacada posterior possuem em sua face

superior aberturas em forma de arcos, além de uma platibanda escondendo o

telhado em duas águas aos fundos, com molduras ornamentadas acima das

janelas no pavimento superior e abaixo das mesmas, floreiras (Figura 10).

O térreo possui o alpendre avarandado, balaustrado com trama de

pilastras verticais e fuste liso, base e capitel de influência toscana; no

pavimento superior a sacada é balaustrada.

O coroamento é com arquitrave, friso e cornija. O frontão central possui

epígrafe com a data de 1914, com apliques da ornamentação no tímpano, além

dos ornamentos que sustentam os beirais denominados de “cachorro ou

mísula”.

A volumetria da edificação é em formato retangular e quadrado, com a

varanda em formato de U, embasamento em soco com pedestais e escada de

acesso. A alvenaria é de tijolos maciços com bossagem, revestido com

argamassa. As aberturas são retangulares em forma de arcos, com quadros e

vedos de madeira e vidros lisos e coloridos. A estrutura do telhado é em

108

madeira, com jogos de duas, três a quatro águas e telhas cerâmicas; piso de

ardósia ocorre na parte térrea e avarandada, com pilares em madeira na

varanda (Figura 11).

Figura 11. Residência de Domingos Barbosa Martins, conhecido como “O

Sobradinho”, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

A edificação está implantada em um terreno amplo e é avarandada, uma

característica do estilo neocolonial; possui forma geométrica e arredondada,

com aberturas internas e externas em pleno-arco, que remetem ao Art

Nouveau (Figura 12)

Figura 12. Escada, Janelas e paginação de piso da Residência de Domingos

Martins, conhecido como “O Sobradinho”, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.

Fonte: Acervo do autor.

109

Existe, também, a mistura de materiais importados e os locais, como a

madeira, além de ornamentos e detalhes como a sacada balaustrada, os

capitéis das colunas na influência Toscana, os vitrais coloridos e os ladrilhos

hidráulicos cerâmicos; o conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético.

Os detalhes do corrimão da escada em madeira de acesso ao pavimento

superior com formas geométricas, assim, como as janelas e portas com vitrais

coloridos em formas geométricas e arredondados, bem como na paginação de

piso a mistura de ladrilhos hidráulicos coloridos e assoalho em madeira,

indicam a qualidade da construção.

Residência do Coronel Antônio Alves Corrêa - 1910

Outra edificação relevante na cidade é a residência do Coronel Antônio

Alves Corrêa, construída pelo Engenheiro Joaquim Moreira da Silva, em 1910,

localizada na Rua Fernando Correia da Costa, quadra 120 e hoje pertencente à

família Silene dos Reis. Segundo relatos orais, o Coronel Correa foi um homem

revolucionário para a época e bastante influente, cuja palavra era a lei e ordem

final.

A construção traz um trabalho de paginação de piso com tijolos maciços

em formas circulares (Figura 13).

Figura 13. Residência Coronel Antônio Alves Corrêa, 1910, localizada na Rua

Fernando Corrêa da Costa, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo

do autor.

A volumetria da edificação é em formato retangular e quadrada, tendo

como entrada principal uma varanda em formato de L, com uma sequência de

pilares em forma arredondada. Esta implantada em um amplo terreno, com

110

alvenaria de tijolos maciços, bossagem revestida com argamassa, aberturas

retangulares com quadros e vedação em madeira e vidro liso. A cobertura é

aparente e com telhas cerâmicas tipo “francesas”, também, com jogos de

telhados em meia, três e quatro águas. Encontra-se em ótimo estado de

conservação e corresponde ao estilo Neocolonial.

Residência do Dr. Boaventura - 1927

Na Rua Dr. Boaventura, esquina com Rua Prefeito Athayde Nogueira,

quadra 79, se encontra a residência (Figura 14), construída em 1927, a qual

pertenceu a um dos antigos prefeitos da cidade, Dr. Boaventura e hoje

pertence à família dos Cerveira. O Sr. Antônio de Almeida Boaventura era

baiano, médico e também prefeito intendente do município, no período de 1929

a 1931.

Figura 14. Fachada frontal, portas e janelas da residência do Dr. Boaventura,

Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

A edificação está implantada em um amplo terreno com a presença de

varandas na frente e nos fundos, uma característica do Neocolonial. A entrada

é marcada por uma abertura em arco pleno, com portões em ferro e

ornamentos em forma de folhas, uma característica do estilo Art Nouveau, com

degraus de acesso e ornamentos nos cantos da parede da varanda em formas

111

geométricas, janelas salientes que se projetam para fora do corpo da

edificação, as bay windows, uma herança da arquitetura Vitoriana do século

XIX.

O coroamento em sua cobertura é um elemento da arquitetura árabe,

conhecido como muxarabis, que são as tramas em madeira e peças em

balanço, que sustentam os beirais, denominadas de “cachorro ou mísula”. O

conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético e encontra-se em ótimo estado

de conservação. A volumetria principal da edificação é em formato retangular e

as janelas, salientes, em formato de trapézio, tendo como entrada principal

uma varanda com floreiras suspensas.

A alvenaria é de tijolos maciços, com bossagem revestida com

argamassa, aberturas retangulares, com quadros e vedação em madeira e

ferro. A cobertura é aparente, com telhas de cerâmica e com jogos de telhado

entre duas e três águas, além dos vitrais coloridos.

Residência do Sr. Martin Campeiro - 1929

A edificação de 1929 está localizada na Rua Professora Etelvina

Vasconcellos, esquina com Rua Dr. Boaventura, quadra 94 (Figura 15).

Pertenceu inicialmente ao Sr. Martin Campeiro e posteriormente, ao Prefeito

Athayde Nogueira, ambos considerados grandes fazendeiros, na época. O

prefeito Nogueira, no período de 1970 a 1973, foi o responsável pela instalação

da rede de energia na cidade. Atualmente a construção pertence à família

Sereda.

A volumetria da construção é em formato retangular, com aberturas

retangulares, vedação em madeira e vidro, alvenaria de tijolos maciços, com

bossagem revestida de argamassa. Por estar implantada em um amplo terreno

e avarandada, possui esse detalhe característico do Neocolonial. Sua entrada

de acesso principal é por uma varanda com sacada balaustrada térreo, com

cobertura meia e quatro águas.

A paginação de piso é em ladrilhos hidráulicos, com abertura de uma

sala para outra, tendo uma mureta de divisória e arco em sua parte superior. O

conjunto corresponde ao estilo Eclético.

112

Figura 15. Varanda, janelas e portas da residência do Sr. Martin Campeiro, Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Residência de Oswaldo Rodrigues Simões - 1931

Localizada na Rua Dr. Júlio Siqueira Maia, esquina com Rua Santo

Antônio, quadra 57, foi construída pelo engenheiro Joaquim Moreira da Silva,

em 1931(Figura 16).

Figura 16. Residência do Sr. Osvaldo Rodrigues Simões, Rio Brilhante, Mato

Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

O Sr. Oswaldo Simões foi proprietário de cartório (tabelião), o qual

funcionava nas instalações de sua própria residência, onde se lavrava

escrituras e certidões de nascimento.

A edificação encontra-se implantada em um amplo terreno e sua

fundação e alvenaria em tijolos maciços, embasamento em soco, argamassa

de reboco e degraus de acesso.

113

A volumetria da edificação é retangular, com suas aberturas, também,

em forma retangular, com molduras em bossagem de arremate, vedação em

ferro e vidro. O coroamento da edificação se dá pela cobertura em quatro

águas, com telhas de barro. O conjunto corresponde ao estilo Neocolonial.

Residência Tozo Sasaki -1932

A residência registra a presença japonesa no início da colonização do

município e situa-se na Rua Prefeito Theofanes, quadra 100 e foi construída

em 1932. Segundo relatos orais das filhas Hiroka e Sumika Sasaki, a

residência pertenceu a seu pai, Tozo Sasaki, vindo do Estado de Fukuoka, no

Japão. Ele era comerciante e em sua residência também funcionava uma

fábrica de móveis. Anteriormente, a composição da paisagem na fachada

continha dois pinheiros em topiarias (Figura 17). Atualmente não mais existem.

Figura 17. Antiga e atual fachada frontal da residência Tozo Sasaki, Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Foto cedida por Aurora Sasaki.

A volumetria da edificação possui aberturas com portas e janelas em

formatos retangulares, com vedação em madeira e vidro. Sua fundação e

alvenaria estrutural é com tijolos maciços, bossagem e revestido de

argamassa. A fachada é simétrica, uma característica do Art Déco. Acima de

suas aberturas, na fachada frontal, existe a presença de molduras

interrompidas com ornatos.

O coroamento é com um frontão redondo no seu tímpano, com a parte

superior da construção composto por cimalha, frisos e arquitrave, ou seja,

colunas superiores, composta por friso, cornija e platibanda. O conjunto da

obra corresponde ao estilo Eclético.

114

Residência de Virgilino Gonçalves de Oliveira - 1934

A residência é um dos registros da presença dos gaúchos no município

e está localizada na Rua Benjamin Constant, quadra 140 A e foi construída em

1934; posteriormente sua posse foi transferida a Constâncio Moraes.

Segundo relatos de Adélio Lemes de Oliveira, Virgilino foi seu tio avô, de

família gaúcha, oriunda de Santo Ângelo – São Francisco de Assis (RS), por

volta de 1925. Fazendeiro bem-sucedido, que possuiu inúmeras posses,

totalizando mais de 32 mil (ha), sendo uma delas a antiga fazenda Cabeceira

Limpa.

A edificação foi implantada em amplo terreno, com entrada de acesso

por uma varanda em formato de L, característica do estilo Neocolonial. A

balaustrada do térreo possui detalhes e ornatos que remetem aos motivos

florais, um detalhe do estilo Art Nouveau; na parte superior dos pilares da

varanda, nos cantos de suas aberturas, detalhe em forma arredondada. O local

é cercado com uma mureta e pilares de concreto e gradil em ferro (Figura 18).

Figura 18. Fachada frontal da Residência de Virgilino Gonçalves de Oliveira,

Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

A volumetria da edificação tem formato retangular, com janelas e portas,

também, em formato retangular. A alvenaria é de tijolos maciços, com

bossagem revestida com argamassa, com quadros e vedação em madeira e

vidro liso.

Sua cobertura principal em quatro águas e sua parede frontal lateral

direita, em duas águas, coberto por telhas “francesas”; a estrutura da cobertura

é em madeira. O conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético.

115

Residência do Sr. Aldonso Chaves de Lima - 1935

Na Rua Dr. Boaventura, quadra 94, está situada a residência que

pertenceu ao Sr. Lima, construída em 1935 e hoje pertencente à família

Dalávia. O Sr. Aldonso Chaves de Lima foi fazendeiro e Prefeito do município

de Rio Brilhante, no período de 1973 a 1976.

Implantada em um amplo terreno, a volumetria da edificação e aberturas

são no formato retangular, cuja varanda com uma sequência de pilares

quadrados dá acesso à entrada principal da residência. A alvenaria é de tijolos

maciços, com bossagem, quadros e vedação em madeira. Os jogos de telhado

são quatro e três águas, com telhas cerâmicas tipo “francesa”. O conjunto da

obra é caracterizado pelo Neocolonial (Figura 19).

Figura 19. Fachada frontal e lateral da residência do Sr. Aldonso Chaves de

Lima, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Residência Jair Barbosa Martins - 1937

A residência foi construída em 1937 e se localizava em uma chácara.

Hoje, por conta da expansão urbana, se situa na Rua Manoel das Neves, no

bairro Manoel das Neves, quadra 228 e pertence à Família Basso.

O primeiro proprietário, Sr. Jair Barbosa Martins era fazendeiro e

comerciante, irmão de Henrique Pires Martins. O segundo proprietário, Sr. Nery

de Oliveira Lima, foi prefeito do município no período de 1958 a 1960 e

responsável pela construção da edificação da caixa d‟água central na praça Dr.

116

Boaventura. Hoje existe na cidade um bairro que leva seu nome, em sua

homenagem, bairro Nery Lima.

A edificação possui volumetria em formato retangular, com janelas e

portas também em formato retangular. A alvenaria é de tijolos maciços, com

bossagem, quadros e vedação em madeira, ferro e vidro liso, paginação de

piso em ladrilho cerâmico e mosaico.

Acesso principal por uma varanda em formato de L, com uma sequência

de pilares e mureta de concreto. Sua cobertura é meia e quatro águas, coberta

por telhas de barro tipo “francesas”, uma característica do estilo Neocolonial.

Após algumas reformas, foi descaracterizada de sua forma original (Figura 20).

Figura 20. Fachada frontal, lateral, janelas e paginação de piso da Residência

Jair Barbosa, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Residência do Engenheiro Joaquim Moreira da Silva - 1940

Segundo SCHEFFLER (2010), o engenheiro Joaquim Silva, nascido na

cidade do Porto, Portugal, atravessou o oceano com mais alguns portugueses,

escondidos em um depósito de navio, desembarcando no litoral de São Paulo.

Ainda citando a autora, mais tarde aventurou-se pelo então Mato

Grosso, instalando-se na Fazenda Serraria. Depois de mais algum tempo, já

casado com Maria dos Anjos, foram residir na Fazenda de Martin Campeiro.

Adquiriu posses, como uma chácara e mais tarde, a Fazenda denominada de

117

“Saci Pererê”. Foi um construtor de renome, edificando um sobradinho para

Domingos Martins, o prédio da Prefeitura Municipal, a residência do Senhor

Sírio Borges, a Igreja Católica Divino Espírito Santo e o sobrado na Fazenda

Vira Mão, dentre outras executadas por ele. Foi também responsável por

inúmeras obras em fazendas. Também possuía uma serraria, onde se fazia o

trabalho de carpintaria, marcenaria, dentre outras, além exportar madeira.

As plantas das edificações eram desenhadas pelo próprio construtor,

que trouxe consigo a cultura arquitetônica de Portugal. Não era apenas um

construtor, mas também um pedreiro que assentava tijolos e realizava todas as

outras funções braçais, quando necessário.

A edificação é localizada na Rua Santo Antônio, esquina com Rua Dr.

Boaventura, quadra 93, construída pelo próprio proprietário em 1940;

posteriormente pertenceu a Francisco Leal Paele e atualmente, a herdeiros de

Elza Pael Alle, estando em ótimo estado de conservação (Figura 21).

A edificação possui uma volumetria retangular, marcada por uma

varanda frontal e outra lateral, com degraus de acesso em forma circular, com

pilares em forma quadrada, com detalhes e ornatos. Esta implantada em um

amplo terreno, uma característica do Neocolonial, com alvenaria de tijolos

maciços, bossagem, aberturas retangulares com quadros e vedação em

madeira e vidro liso. Telhas cerâmicas, tipo “francesas”, em quatro águas.

As varandas são térreas e como elementos decorativos, balaustradas,

pilares com ornamentos em relevo, lambrequins em madeira com formas

geométricas como acabamento superior e beirais com peças em balanço que

os sustentam, denominadas de “cachorro ou mísula”. O entorno das aberturas

é emoldurado em baixo e em cima das janelas, ou seja, na verga e contra

verga, com ornamentos em ressalto no reboco. O conjunto da obra

corresponde ao estilo Eclético.

118

Figura 21. Residência do Engenheiro Joaquim Moreira da Silva, Rio Brilhante,

Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Residência da Sra. Zulmira Alves Corrêa - 1939

Situada na Rua Dr. Júlio Siqueira Maia, na quadra 56, foi construída em

1939 e, hoje, pertence aos descendentes da família (Figura 22). Filha do

Coronel Antônio Alves Corrêa, Zulmira Corrêa foi uma das proprietárias da

edificação, sendo que anteriormente residiram nela o Sr. Firmino Marques,

fazendeiro, e o Dr. Júlio Siqueira Maia, o qual era médico e foi prefeito do

município no período de 1947 a 1951.

A construção possui uma varanda como entrada principal coberta por

telhas “francesas” e estrutura de madeira, tendo a maioria dos jogos de

telhados em quatro águas. A volumetria da edificação é em formato retangular,

com janelas e portas no mesmo formato. A alvenaria é de tijolos maciços, com

bossagem, com quadros e vedação em madeira e vidro liso.

Está implantada em um amplo terreno e com varanda na frente e nos

fundos e corresponde ao estilo Neocolonial. Apresenta alguns detalhes ainda

119

razoavelmente preservados, com fogão a lenha em alvenaria, que ainda pode

ser visualizado na cozinha da casa.

Figura 22. Fachada frontal, lateral direita, esquerda e fogão a lenha da

residência de Zulmira Alves Corrêa, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:

Acervo do autor.

Residência do Prof. Oacir Vidal - 1946

Está localizada na Rua Dr. Júlio Siqueira Maia, esquina com Rua Manoel

Bento, quadra 60 e foi construída por volta de 1946; hoje pertencente a

descendentes da família Vidal.

Segundo relatos orais de Valdomiro Barbosa, Oacir Vidal foi seu

padrinho e professor, além de comerciante na cidade. Ele ministrava as aulas

na sua residência em uma grande sala, chamada de Escola 21 de Abril, na

qual ainda se adotava, naquela época, o regime da palmatória como castigo,

penalizando as desobediências dos alunos. Também cultivava em seu imenso

terreno a erva-mate, a qual colhia e posterior comercializava.

A volumetria da edificação é em formato retangular, com aberturas no

mesmo formato. A alvenaria é de tijolos maciços, com bossagem revestida com

argamassa, com quadros e vedação em madeira, ferro e vidro liso. Uma

característica do estilo Neocolonial (Figura 23).

120

Está implantada em um amplo terreno e com varanda nas laterais. A

cobertura em quatro águas e estrutura de madeira, coberto por telhas tipo

“francesas”. No interior da sala de aula ainda podem ser visualizadas as

aberturas, paginação de piso em tacos de madeira e ladrilho hidráulico.

Figura 23. Fachada frontal, lateral, posterior, sala de aula e paginação de pisos

da residência e escola, Sr. Oacir Vidal, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.

Fonte: Acervo do autor.

Residência do Sr. Laucídio Coelho -1947

Situada na Rua Dr. Júlio Siqueira Maia, esquina com Rua Professora

Etelvina Vasconcellos, quadra 80, encontra-se a antiga residência do Sr.

Coelho, construída em 1947 e hoje pertencente à Nara Ceolin.

Segundo SOUZA (2007), Laucídio Coelho nasceu no dia 29 de agosto

de 1886, na Fazenda Divisa, então de propriedade de seus pais, José

Justiniano Coelho e Maria de Souza Coelho, vulgo “Dona Coelhinha”. Foi um

homem rico, fazendeiro de inúmeras posses, empreendedor e latifundiário.

121

Além de residências em suas fazendas, na cidade, também, construiu

uma moradia, cuja fachada frontal é marcada por um frontão triangular que

segue a inclinação da cobertura em duas águas; em seu ápice existe um

ornato em relevo na forma geométrica, com a aplicação de um azulejo, detalhe

muito utilizado no Art Nouveau, com molduras em ressalto nos beirais e acima

da janela, como uma ornamentação no seu reboco em relevo (Figura 24).

Figura 24. Fachada frontal da residência do Sr. Laucídio Coelho, Rio Brilhante,

Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Está implantada em um amplo terreno, uma característica do

Neocolonial (Figura 25). A volumetria da edificação em formato retangular tem

como entrada principal uma varanda, com aberturas em formas circulares nos

cantos da parte superior. A alvenaria é de tijolos maciços, com bossagem de

rusticação, aberturas retangulares e quadradas com quadros e vedação em

madeira e vidro liso. Cobertura com telhas e jogos de telhado em duas, três e

quatro águas. Hoje possui sua fachada frontal já descaracterizada e o conjunto

da obra corresponde ao estilo Eclético.

122

Figura 25. Detalhes da residência do Sr. Laucídio Coelho, Rio Brilhante, Mato

Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Prefeitura Municipal - 1947

O prédio está localizado na Rua Prefeito Athayde Nogueira, esquina com

Rua Dr. Boaventura, quadra 55 e foi construída no ano de 1947, na gestão do

prefeito Dr. Júlio Siqueira Maia (1947 a 1951), pelo Engenheiro Joaquim

Moreira da Silva e o construtor Sr. Godofredo, mais conhecido pelo apelido de

“Xango”.

Segundo relatos orais de Valdomiro Barbosa, foram necessários vários

tambores de água do Córrego Arara, para a execução da obra, pois o sistema

de abastecimento de água via encanada ainda era muito precário e não

comportava a obra (Figura 26).

A edificação térrea encontra-se em ótimo estado de conservação e

possui embasamento em soco, com pedestais e escada de acesso. O corpo

possui trama de pilastras verticais de fuste liso, base e capitel de influência de

ordem toscana, para sustentar o alpendre de entrada.

Seu coroamento é com arquitrave, friso, cimalha, cornija, platibanda e

muro de ático (muro liso sobre cornija do edifício, escondendo o telhado), em

moldura contínua. Foi construída com tijolos maciços, revestidas com

argamassa e aberturas no formato retangular, com quadros e vedação em ferro

e vidro.

123

A cobertura é com estrutura em madeiramento e telhado cerâmico,

sendo, inicialmente, as primeiras telhas tipo “francesas”, hoje já substituídas

por telhas tipo “romanas”. Foi implantada em um amplo terreno com sua

cobertura em quatro águas, uma característica Neocolonial; no reboco do muro

de ático, ornamento em ressalto que reproduzem os arcos ogivais, que remete

ao estilo Neogótico. O conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético.

Figura 26. Detalhe do alpendre de entrada da Prefeitura Municipal Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Caixa d’água – Praça Dr. Boaventura 1958

Situada na Praça Central Dr. Boaventura, localizada na Rua Benjamin

Constant, quadra 54. Foi construída em 1958, na gestão do Prefeito Nery de

Oliveira Lima (1958 a 1960), para o armazenamento e abastecimento de água

(Figura 27).

Sua volumetria é na forma circular, embasamento de soco, alvenaria de

tijolos maciços, com bossagem e reboco em argamassa.

Sua base possui paredes com elementos vazados em formas

geométricas, ou seja, quadriculadas e esses elementos permitem iluminação e

ventilação; também existe uma laje em forma de hexágono acima, no mesmo

formato da base. O coroamento da construção é com a caixa d‟água apoiada

124

sobre uma trama de pilastras em formas quadradas. Corresponde ao estilo Art

Déco.

Figura 27. Caixa d‟água da Praça Dr. Boaventura, Rio Brilhante, Mato Grosso

do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Casas comerciais

Através dos relatos orais dos descendentes das famílias pioneiras, a

maioria dos materiais construtivos para a execução das edificações, como

telhas, pisos, vitrais coloridos e até mesmo o paisagismo de alguns jardins na

época, só tinham valor se fossem importados da Europa.

Para chegar ao município de Rio Brilhante, esses materiais chegavam

até o porto da cidade de Corumbá e de lá eram levados para a cidade através

dos rios Miranda e Vacaria; posteriormente, até o local da construção, via

terrestre, utilizando-se de charretes de boi (ALVES, 1984).

O mesmo autor escreve que as casas comerciais de Mato Grosso,

depois da Guerra da Tríplice Aliança, obtiveram a hegemonia econômica do

Estado, atuando com muito poder em Cuiabá e Corumbá. Com o tempo

assumiram novas funções, monopolizando a importação e exportação de

mercadorias e compra de produtos locais e, ao mesmo tempo, “exerceu o

papel de bancos (inexistentes na região). Tornaram-se (os comerciantes)

representantes do capital financeiro”.

No município de Rio Brilhante, na rua principal Benjamin Constant, foi

onde predominaram as construções na formação da zona urbana da cidade,

125

sendo que essas casas comerciais, em sua maioria, atuavam na venda de

“secos e molhados”, dentre outros produtos diversificados. Parte de tais

produtos chegava inicialmente ao Porto de Corumbá, de onde eram

transportados para a cidade de Rio Brilhante, entre outras, abastecendo as

casas comerciais da região.

Casa comercial Omar Castro - 1948

Foi construída em 1948 e localiza-se na esquina da quadra 110, Rua

Prefeito Theofanes, esquina com Rua Antônio Lino Barbosa; hoje pertence à

família Sasaki. Segundo relatos orais, o proprietário, Sr. Castro, era um homem

de grande conhecimento, foi fazendeiro e posteriormente se dedicou a

atividade de comércio (Figura 28).

Figura 28. Casa comercial Omar Castro, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.

Fonte: Acervo do autor.

A volumetria da edificação é em L e está implantada em um amplo

terreno, com degraus de acesso e aberturas retangulares com vedo em

madeira, ferro e vidro. A fundação e alvenaria estrutural são com tijolos

maciços, com bossagem. A fachada é simétrica e composta por friso e cimalha,

com a entrada principal marcada pelo chanfro de esquina, construção no

alinhamento do terreno, com platibanda com seções intercaladas, a qual

esconde a cobertura do telhamento em madeira, em quatro águas, com telhas

cerâmicas tipo “francesas”. O conjunto da obra corresponde ao estilo Eclético.

Dentre as casas comerciais da cidade, esta é a única que ainda mantém

suas características quase originais, enquanto as demais foram

126

descaracterizadas ou demolidas, restando apenas algumas poucas fotos e a

memória oral dos antigos moradores.

Lugares de memória - Conjunto de obras por períodos

Algumas das edificações analisadas, por sua relevância arquitetônica,

atualmente encontram-se já bastante descaracterizadas através de reformas,

enquanto outras, em estado de abandono, se deteriorando ao longo do tempo.

Algumas perderam sua função inicial e foram substituídas por construções

mais planejadas, tais como o antigo prédio da Igreja Católica do Divino Espírito

Santo.

Porém, a maioria já foi vendida e/ou demolida, como resultado da

necessidade dos proprietários e/ou herdeiros em obter recursos para outras

atividades, tal como aconteceu recentemente com a residência do Sr. Sírio

Borges, no ano de 2015, ou substituídas por obras “modernas”. Tal situação

pode ser reportada para o Coreto da Praça Central Dr. Boaventura, demolido

por ação do prefeito para dar lugar à construção de uma fonte, ação típica que

não leva em consideração a história dos municípios brasileiros.

Desta maneira, poucas são as construções antigas que hoje se

encontram conservadas e/ou restauradas por alguns proprietários herdeiros ou

por parte de quem as adquiriu. Assim, boa parte da população atualmente

desconhece a existência dessa arquitetura, restando apenas fotografias desses

lugares de memória.

Essas edificações, mesmo as não existentes, por conta de sua

imponência arquitetônica e/ou história, acabam se tornando pontos de

referência e se consolidando na história por suas características construtivas e

ornamentos, hoje já não tão comuns, pois ocorreram em determinados

períodos.

Segundo NORA (1993), “lugares de memória” e “lugares de história”

poderia ser objeto da investigação dos historiadores, os primeiros que

necessariamente exigiriam uma “história de segundo grau”, responsável não só

por compreender os processos de produção social de memórias

(configuradores desses lugares), como por examinar o seu papel na construção

do conhecimento histórico e na consolidação das narrativas de caráter

histórico.

127

Capela, escola paroquial, convento e igrejas.

GLANCEY (2001) relata que as primeiras construções realmente

arquitetônicas que conhecemos são os templos. Desde a idade do Bronze,

quando as divindades do céu triunfaram sobre a terra pré-histórica na maior

parte do mundo, a humanidade tentou ligar-se ao eterno e construir em

harmonia com o cosmo. É o maior meio visível de celebrar a riqueza, saúde e

agradecer a Deus ou aos santos por alguma graça alcançada.

Capela de madeira - 1906

Ao chegarem a Rio Brilhante, os missionários da missão franciscana já

encontraram uma pequena capela em madeira, construída na cidade em 1906,

com capacidade para 100 pessoas e ainda em funcionamento. Localizava-se

na Rua Sidney Coelho Nogueira, quadra 45 (Figura 29).

Figura 29. Capela em madeira, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:

FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).

Com o passar do tempo, a capela ficou pequena, sem espaço suficiente

para comportar os fiéis; além disto, seu estado precário era uma ameaça aos

fiéis, pois poderia desabar a qualquer momento. Então, foi demolida para dar

lugar a uma nova construção de alvenaria, no dia três de dezembro de 1941.

Sua característica era uma arquitetura espontânea vernácula, em função da

abundância de madeira explorada na região.

128

Escola Paroquial São Francisco - 1927

Localizava-se na Rua Benjamin Constant, esquina com Rua Dr. Júlio

Siqueira Maia, quadra 78 e foi construído pelo Engenheiro Joaquim Moreira da

Silva, em 1927.

Segundo FACHOLLI e DOERZBACHER (1991), a presença da

Congregação Franciscana na educação da cidade de Rio Brilhante registra-se

também através da edificação da Escola Paroquial, onde se ministravam as

aulas de catequeses. Com o passar do tempo, foi sendo totalmente

descaracterizada através de reformas e hoje pertence à família Lima, com uma

sala comercial onde funciona o posto do INSS (Figura 30).

Figura 30. Antiga Escola Paroquial São Francisco, Rio Brilhante, Mato Grosso

do Sul. Fonte: FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).

Estava implantada em um amplo terreno, com volumetria retangular e a

fundação e alvenaria eram em tijolos maciços, com embasamento de soco,

bossagem de rusticação e argamassa de reboco. A entrada era marcada por

um frontão com o nome da edificação, janelas arredondadas nos cantos

superiores, porta de entrada retangular e ressaltos no reboco com ornatos

abaixo das janelas.

O coroamento arquitrave na parte superior era com muro de ático

balaustrado intercalado por platibanda emoldurada com friso, cornija e

129

ornamentos. A cobertura em quatro águas com telhas de barro e a construção

no alinhamento do terreno. O conjunto da obra correspondia ao Eclético.

Convento Franciscano - 1939

Localizava-se na Rua Professora Etelvina Vasconcellos, esquina com

Av. Lourival Barbosa, quadra 29, construído pelo Engenheiro Joaquim Moreira

da Silva (Figura 31). Atualmente, no local está implantado o edifício do

seminário e sua igreja.

Figura 31. Antigo Convento, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:

FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).

Segundo FACHOLLI e DOERZBACHER (1991), “O antigo prédio,

apelidado de “Casa de Recesso” e Aushaltsstübhcen”, foi construído de 1939 a

1941 em uma ampla área, pelos padres da Missão Franciscana. Foi o primeiro

convento da Missão Franciscana em Mato Grosso e o único do gênero em todo

comissariado.

A volumetria principal da edificação era em formato retangular, com

fundação e alvenaria em tijolos maciços, embasamento de soco, com

bossagem de rusticação. A fachada frontal era com alpendre avarandado e

guarda-corpo em alvenaria e existiam aberturas retangulares com vedação em

madeira e vidro.

130

O coroamento da fachada lateral era com um frontão triangular e

cobertura em duas águas, abertura em forma de arcos com a imagem de um

santo logo acima das janelas. O telhado possuía inclinações típicas de

coberturas de regiões que nevam, com as mansardas (janelas dispostas sobre

o telhado para iluminar e ventilar seu desvão). O conjunto da obra correspondia

ao estilo Normando.

Igreja Católica do Divino Espírito Santo - 1941

O prédio da antiga igreja localizava-se na Rua Sidney Coelho Nogueira,

quadra 45, no centro da cidade, em frente à praça Dr. Boaventura; estava

implantada em um amplo terreno, que abrangia uma quadra inteira.

De acordo com FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991), o ano de 1937,

foi um marco na história da Missão Franciscana em Mato Grosso e

especialmente para a região do antigo Entre Rios, pois a província de Santa

Isabel de Turíngia, Alemanha, nomeou três padres para fundarem esta missão.

Ainda segundo as autoras, os padres viajaram de Campo Grande com

destino a Entre Rios, passando por fazendas, riachos, charcos, dentre outras

áreas inóspitas e pouco povoadas, até chegarem a atual cidade de Rio

Brilhante, onde foram alojados na antiga Pensão Pimentel.

Ao chegar, Frei Antônio Schwenger foi solenemente nomeado o primeiro

pároco residente da Paróquia Divino Espírito Santo de Entre Rios, hoje Rio

Brilhante. No local já existia uma pequena capela de madeira. Porém era

urgente a construção de uma nova edificação, pois a antiga era precária.

Assim, em três de dezembro de 1941, deu-se início a execução das novas

instalações da igreja matriz, em alvenaria (Figura 32).

Segundo KNOB (1988), o então vigário, Frei Leandro Schnabel, depois

de conversar com diversos cidadãos proeminentes e com as autoridades da

cidade, resolveu erguer uma nova igreja, nas dimensões de 30 x 10 m; em

1945, ela ficou pronta, contando com a presença, no ato de sua inauguração,

do Monsenhor Rodolfo Wohlrab, administrador da Diocese de Corumbá.

A volumetria da edificação da nave principal era em formato retangular e

o embasamento, em soco, com degraus de acesso. A alvenaria estrutural era

em tijolos maciços, revestidos com argamassa. Sua entrada principal era

marcada por uma abertura em arco ogival, bem com as janelas e paredes

131

internas do altar também em arcos ogivais, uma característica do Neogótico. O

coroamento acima da entrada principal era por um frontão triangular e uma

cruz latina.

Figura 32. Antiga Igreja Matriz Divino Espírito Santo, Rio Brilhante, Mato

Grosso do Sul. Fonte: Acervo de Marlene Antunes.

Na lateral esquerda da fachada frontal, uma torre sineira – campanário,

encimada por uma cruz e de acordo com BRUAND (1997), “olhos de boi”

(abertura ou janela, geralmente de forma circular ou elíptica, destinada a

ventilação, iluminação ou função decorativa). As pinturas internas foram

realizadas pelo próprio Frei Schnabel. A cobertura do edifício foi em estrutura

de madeira com telhas de barro, com os jogos de telhados variando entre

quatro, três e duas águas, corresponde ao estilo Eclético.

KNOB (1988) afirma que, após 25 anos, quando a igreja tornou-se

pequena para atender as necessidades dos paroquianos, convidou-se o

Arquiteto Eugênio Szilagyi, húngaro, especialista em construções de igrejas,

em São Paulo, para fazer um novo projeto da nova igreja matriz. Foi então

construída a atual paróquia católica, Divino Espírito Santo com inauguração no

dia 19 de novembro de 1969, sendo um conjunto dos mais modernos já

projetados na época no Estado.

132

Igreja Presbiteriana do Brasil - 1944

Localizava-se na Rua Prefeito Athayde Nogueira, quadra 95 e foi

construída em 1944, ao lado da câmara de vereadores, sendo a primeira igreja

evangélica do município. O primeiro pastor foi Josué Sales e posteriormente,

Jacob Peiti Neto; junto à edificação funcionava a Escola Evangélica “Guilherme

Kerr”, fundada em 1946 (Figura 33).

Figura 33. Antiga Igreja Presbiteriana, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.

Fonte: FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).

A volumetria da edificação era em forma retangular e foi implantada em

um amplo terreno. Sua alvenaria estrutural era de tijolos maciços, revestida de

argamassa. O embasamento era em soco com degraus de acesso e a fachada

composta por quatro pseudocolunas, abertura e moldura no ressalto do reboco

acima da porta e janelas em forma de arco.

O coroamento era composto por frontão triangular seguindo a inclinação

da cobertura e friso com arremate em seu topo, moldura e ornamento acima da

porta que remete ao estilo Art Nouveau como o azulejo decorativo. As janelas

laterais eram em formatos retangulares e a cobertura, com estrutura de

madeira, em duas águas e telhas cerâmicas. O conjunto corresponde ao estilo

Eclético.

Atualmente, o prédio da igreja passou por uma reforma em sua fachada

frontal e interior, adulterando seu estilo original. (Figura 33).

Pensões

O surgimento da indústria hoteleira no mundo tem algumas teorias

diferenciadas. Para muitos autores, o marco inicial da hospedagem coincide

133

com os primeiros Jogos Olímpicos, da antiga Grécia. Neste momento,

visitantes de várias localidades iam à cidade de Olímpia assistir aos jogos, em

competições que duravam dias. Considerado um dos mais importantes eventos

da época, ele tinha força até mesmo para interromper as guerras em

andamento e atrair milhares de pessoas (CORNELL, 1996), levando a

necessidade de hospedagem dos visitantes.

Os grandes deslocamentos dos habitantes do Império Romano seria

outro marco de extrema importância para o desenvolvimento dos meios de

hospedagem. No início da expansão de seu Império, os romanos iniciaram a

construção de estradas entre as cidades conquistadas que eram utilizadas

especialmente como meio de comunicação. A princípio, as hospedagens das

estradas eram realizadas em lugares particulares ou abandonadas (CORNELL,

1982).

Desta maneira, os meios de hospedagem surgiram com uma

necessidade de abrigar os mais diferentes tipos de visitantes e na região de

Entre Rios, não foi diferente. Segundo relatos orais de Dona Eleta Nogueira,

antiga moradora da região, as pensões da cidade tinham a função de abrigar

os viajantes, normalmente vendedores, os chamados caixeiros viajantes e

também, compradores de gado em determinadas épocas.

Seus ambientes eram compostos de um grande salão, onde muitas das

vezes realizavam-se bailes; também havia normalmente a presença de um bar,

além dos quartos, cozinha e uma despensa para armazenar os mantimentos,

utilizados para servir aos hóspedes o café da manhã e o almoço, no grande

salão.

De acordo com FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991), o maior número

de pensionistas registrava-se por ocasião da festa do “Divino Espírito Santo”,

festividade esta que ocorria durante nove dias seguidos, em homenagem ao

santo padroeiro do município de Rio Brilhante. No resto do ano, o número de

pensionista era normalmente pequeno.

Hotel Central - 1923

Localizava-se na Rua Benjamin Constant, esquina com Rua Maria de

Jesus Cerveira, quadra 111. A edificação foi construída por volta de 1923,

segundo relato oral de Valdomiro Barbosa, e de propriedade na época de Maria

134

de Jesus Cerveira, portuguesa e comerciante, casada com Jaime Cerveira, que

possuía uma jardineira, antigo meio de transporte, no qual transportava

passageiros até a capital, Campo Grande. Em homenagem a primeira

proprietária do hotel, a rua lateral da edificação possui seu nome.

Mais tarde, a edificação passa a pertencer a Noêmia Correia Barbosa,

quando veio a ser chamada de “Hotel Central“, por localizar-se no centro da

cidade. Posteriormente, foi transferido para os herdeiros da família, sofrendo

várias reformas internas e externas, descaracterizando-se. Atualmente o local é

composto por várias salas comerciais, sem a forma original (Figura 34).

Figura 34. Antigo Hotel Central, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:

Acervo de Vitalina Camargo Corrêa.

A volumetria da edificação era em formato de L, implantada em um

amplo terreno. A fundação era em alvenaria com embasamento em soco,

tijolos maciços e aparentes, como bossagem de rusticação e degraus de

acesso. A cobertura era aparente, com estrutura de madeira e telhas de barro

tipo “capa canal”.

A construção era no alinhamento do terreno, marcada por um alpendre

avarandado com guarda-corpo em madeira; em sua parte superior, a presença

dos lambrequins em madeira com formas geométricas. As janelas e portas

eram retangulares, de madeira, com vedação em madeira e vidro. O conjunto

da obra corresponde ao estilo Eclético.

Pensão Pimentel - 1930

Construída por volta de 1930, era localizada na Rua Prefeito Theofanes,

esquina com Rua Prefeito Athayde Nogueira, quadra 112. O construtor da

135

edificação foi Domingues Gonçalves da Silva, vulgo “Dominguinhos”, que foi

secretário da prefeitura municipal na época.

Segundo FACHOLLI e DOERZBACHER (1991), com esta primeira

dominação, pertenceu ao Sr. Teoclécio Pimentel e posteriormente, ao Sr. Jair

Barbosa. Ao adquiri-la em 1938, o Sr. Getúlio Garcia Barbosa deu-lhe o nome

de “Pensão Santa Eliza”. Também neste local o maior número de pensionistas

registrava-se por ocasião da festa do “Divino Espírito Santo”.

Posteriormente, à edificação veio a receber o nome de “Pensão dos

Viajantes” e alguns anos depois, assumindo a função de um bar e ser

abandonada, vindo a ser demolida. Em seu local, até os dias de hoje

permanece um terreno baldio, lembrança da famosa pensão.

Estava implantada em um amplo terreno, com sua volumetria em

formato de L, no alinhamento do terreno, com entrada principal marcada pelo

chanfro de esquina. As aberturas eram em formato retangular, com vedação

em madeira e vidro. O embasamento era em soco, com alvenaria de tijolos

maciços, com bossagem de rusticação e argamassa no reboco (Figura 35).

Figura 35. Antiga Pensão Pimentel, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:

FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).

O coroamento da construção era composto por um muro de ático liso e

reto, com platibanda em seções interrompidas com friso como de arremate na

parte superior e, cimalhas como arremate emoldurado no ressalto do reboco

136

logo acima das portas e janelas. A cobertura em quatro águas, com telhas de

barro tipo “francesas”. O conjunto da edificação corresponde ao estilo Eclético.

FACHOLLI e DOERZBACHER (1991) relatam que na foto em frente à

pensão, estão no primeiro plano da direita para a esquerda, o Sr. Getulio

Barbosa, filho de Marcos Gonçalves Barbosa Marques e neto de Inácio

Gonçalves Barbosa, pioneiro destas terras. Os demais presentes são Teodolfa

Pires Barbosa, Larico Pires Barbosa, Elci Pires Barbosa, Adelaide da Cruz,

Elizia Pires Barbosa, Altivo Pires Barbosa e Eleta Pires Barbosa, antigos

moradores da região.

Pensão Rio Brilhante - 1940

A antiga pensão, construída em 1940, localizava-se na Rua Benjamin

Constant, esquina com Rua Juviano Medeiros, quadra 139 (Figura 36).

Pertenceu a dona Palmira e o Sr. Amorim, português, construtor e comerciante.

Segundo relatos orais de dona Eleta Nogueira, dançavam-se muito baile no

salão desta pensão. Posteriormente, passou a pertencer à família Joris, que

realizou várias reformas, descaracterizando a fachada frontal da edificação e

seu interior.

Figura 36. Antiga Pensão Rio Brilhante, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.

Fonte: FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).

137

Era implantada em um amplo terreno, com a volumetria da edificação

em formato de L, no alinhamento do terreno, com entrada principal marcada

pelo chanfro de esquina. As aberturas eram em formato retangular, com

vedação em madeira e vidro. O embasamento era em soco, com alvenaria de

tijolos maciços, com bossagem e argamassa no reboco.

O coroamento da construção era composto por uma platibanda em

seções interrompidas com friso como arremate na parte superior e cimalhas de

arremate emoldurado no ressalto do reboco logo acima das portas e janelas. O

conjunto da edificação corresponde ao estilo Eclético.

Residência Etalívio Pereira Martins - 1906

A antiga residência localizava-se na Rua Benjamin Constant, quadra 44.

Foi construída em 1906 por Joaquim Moreira da Silva. Mas tarde, a construção

vem a pertencer ao dono da edificação Sobradinho de 1914, o Sr. Domingos

Barbosa Martins. Posteriormente foi demolida em 1999 e no local hoje está

instalado o Banco HSBC.

Segundo MAGALHÃES (2004), o Sr. Etalívio Pereira Martins era filho de

Antônio Pereira Martins e cunhado de Laucídio Coelho, casado com Amanda

Pereira de Souza, vindo a falecer em 1989. Seu patrimônio envolveu

propriedades históricas, como a fazenda Sucuri e Fazenda Passatempo, além

das fazendas Divisa (hoje Celeiro), Esteio e Capão Alto. Foi o proprietário de

um dos maiores rebanhos de bovinos do Estado na época, além de manter

cavalos puro sangue inglês, muitas vezes premiados no Jockey Clube de São

Paulo. No município existe uma escola que leva seu nome como homenagem,

Escola Etalívio Pereira Martins.

Na varanda desta edificação registrou-se o discurso de Marechal

Cândido Mariano da Silva Rondon, conhecido na época como o patrono das

linhas telegráficas no Brasil. Através da instalação do primeiro correio nessa

edificação, a cidade de Rio Brilhante se interliga a outras regiões.

Estava implantada em um amplo terreno, com volumetria da edificação e

as aberturas eram em formato retangular e a fundação e alvenaria estrutural,

com tijolos maciços, bossagem e revestido de argamassa. O embasamento era

em soco com escada de acesso e a entrada principal, por um alpendre

avarandado com guarda-corpo balaustrado (Figura 37).

138

Figura 37. Antiga Residência do Sr. Etalívio Pereira Martins e Correio, Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Biblioteca Municipal de Rio Brilhante,

Mato Grosso do Sul; FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).

Os quadros e vedação das aberturas eram em madeira, com vidros

importados da via casas comercias de Corumbá. A cobertura era com estrutura

de madeira e telhamento cerâmico tipo “capa canal”, sendo que o conjunto da

obra se corresponde ao estilo Eclético.

Casa Comercial Arinos - 1921

A casa localizava-se na Rua Benjamin Constant, esquina com Rua

Prefeito Theofanes, quadra 126 (Figura 38).

Figura 38. Antiga Casa Comercial Arinos, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.

Fonte: Acervo de Vitalina Corrêa Camargo.

139

Foi construída em 1921, de propriedade do Sr. João Albertino Arinos,

que segundos relatos do Sr. Valdomiro Barbosa, foi um fazendeiro e

comerciante, cujo comércio vendia diferentes tipos de secos e molhados; no

local, a construção já demolida cedeu espaço a uma nova construção,

considerada mais moderna, também para fins comerciais.

A volumetria da edificação era em formato retangular, implantada em um

amplo terreno. Foi construída no alinhamento do terreno e marcada por um

chanfro de esquina, com aberturas com molduras interrompidas no ressalto do

reboco, formato retangular, com vedação em madeira e vidro.

O coroamento da construção era composto por um muro de ático liso e

reto, platibanda em seções interrompidas com friso como de arremate na parte

superior e cimalhas como arremate emoldurado no ressalto do reboco logo

acima das portas e janelas. A cobertura era em quatro águas, com telhas de

barro, com o conjunto da obra correspondendo ao estilo Eclético.

Residência Dr. Júlio Siqueira Maia - 1925

Localizava-se na Rua Professora Etelvina Vasconcellos, esquina com

Rua Dr. Júlio Siqueira Maia, quadra 56 (Figura 39).

Figura 39. Antiga residência do Prefeito Dr. Júlio Maia, Rio Brilhante, Mato

Grosso do Sul. Fonte: Acervo de Wanderli Xavier.

140

Foi construído pelo engenheiro Joaquim Moreira da Silva e Sr.

Godofredo Mendonça em 1925. A edificação foi demolida para a construção do

antigo supermercado Leonel, hoje com o nome de supermercado Pires.

Estava implantada em um amplo terreno, com volumetria da edificação

retangular com aberturas e vedação em madeira e vidro, sendo sua parte

superior em forma de arco. A fundação e alvenaria eram em tijolos maciços,

embasamento em soco, com argamassa de reboco. O coroamento da

edificação era por uma cobertura aparente em quatro águas com telha

cerâmica tipo “francesa”. Sua inspiração foi no estilo Neocolonial.

Casa Nova - 1927

O prédio localizava-se em um amplo terreno, na Rua Benjamin Constant,

esquina com Rua Juviano Medeiros, quadra 125, construída em 1927.

Segundo relatos orais de Valdomiro Barbosa, a edificação pertenceu a Juviano

Medeiros, vindo de Presidente Epitácio, São Paulo. Em sua homenagem, a rua

lateral a antiga construção, recebe seu nome.

Em seu estabelecimento comercial se vendia um pouco de tudo, de

ervas a ferramentas, incluindo os mais diferentes itens de secos e molhados.

Posteriormente vem a pertencer ao Sr. Nicácio Barbosa da Fonseca, também

comerciante. Atualmente, já descaracterizada, pertence a descendentes da

família Medeiros (Figura 40).

Figura 40. Antiga Casa Nova, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:

Acervo de Mercedes Medeiros.

141

A volumetria era retangular, com entrada principal marcada por

aberturas retangulares com vedação em madeira e vidro, com molduras

interrompidas e ornatos. O coroamento da edificação era por um muro ático

balaustrado, escondendo a cobertura em quatro águas, com telhas de barro, e

logo acima das aberturas, uma cimalha e frisos como arremate. A construção

era no alinhamento do terreno e na lateral direita, acima da construção, uma

platibanda com frontões triangulares interrompidas como arremate na parte

superior. O conjunto da obra possuía uma inspiração no Eclético.

Praça Central Dr. Boaventura – 1929

A praça central foi primeiramente delimitada por Antônio de Almeida

Boaventura, na época prefeito intendente (1929 a 1931); por este motivo leva o

nome do primeiro prefeito do município. Já, de 1958 a 1960, sob o mandato do

prefeito Nery de Oliveira Lima, é construída a caixa d‟água dentro da praça;

posteriormente, no mandato do prefeito Lourival Barbosa (1960 a 1963), é

edificado o coreto no centro da então praça central, demolido no mandato do

prefeito Donato Lopes da Silva no ano de 2012; no local se construiu uma fonte

(Figura 41).

Figura 41. Vista da antiga paisagem da Praça Dr. Boaventura, Rio Brilhante,

Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

142

A antiga paisagem de praça, localizada na quadra 54, na Rua Benjamin

Constant, era marcada por árvores de flamboyants, ipês, dentre outras

espécies, constituindo um local que lembrava um bosque, cujo paisagismo

iniciou-se com o plantio de árvores pelo prefeito Lourival Barbosa.

Era um ponto de encontro da população nos finais de semanas, local de

recreação de estudantes no playground e onde também ocorria a festa junina,

integrada com barracas típicas e danças relacionadas.

Implantada em um amplo terreno, seu traçado inicial era caracterizado

pela simetria, cercada por uma mureta e pilares em concreto de forma

quadrada. Sua paginação de piso era de paralelepípedos em forma de

hexágono, contendo em seu centro o antigo coreto. Atualmente conserva

somente a caixa d‟água em alvenaria de sua estrutura original (Figura 27).

No coreto (Figura 42) ocorriam discursos políticos, apresentações

escolares, principalmente no dia sete de setembro, quando os professores

levavam os alunos para hastear as bandeiras em frente ao coreto e cantar o

hino nacional e do município de Rio Brilhante.

Figura 42. Antigo coreto da Praça Dr. Boaventura, edificado em 1960, Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

Sua volumetria era circular, com degraus de acesso e entradas

marcadas por pilares em alvenaria com forma piramidal em sua face superior, e

corrimão de apoio em alvenaria nas entradas.

Seu piso era cerâmico tipo ladrilhos e possuía alvenaria de tijolos

maciços, com bossagem, revestido de argamassa, com pilares e viga de

concreto que sustentavam sua cobertura em forma de hexágono com estrutura

de madeira e telhas de barro. O conjunto da obra uma inspiração no Art Déco.

143

Construções em madeira

Uma característica construtiva muito comum no início do povoamento do

município foram as construções em madeira, material este em abundância na

região, utilizado para construções das primeiras residências, igrejas, escolas,

casas comerciais e pontes, dentre outras. Essas edificações são denominadas

de arquitetura regional e/ou espontânea vernácula.

De acordo com ZANI (2013), com a chegada dos imigrantes, na sua

maioria italianos, alemães e japoneses, além de migrantes paulistas, mineiros e

nordestinos, inicia-se o processo de colonização, com a derrubada de matas e

formação de núcleos urbanos, sítios e fazendas, com suas respectivas áreas

de pastagens e agricultura. Ainda corroborando com o autor, nesse contexto

surge, tanto na zona rural como na urbana, uma produção de construções em

madeira, perfeitamente adaptados às condições locais, que conseguiram

resolver, apesar das limitações, as necessidades de moradias e dos mais

diversos tipos uso, às vezes subordinadas a algumas regras construtivas que

cada migrante ou imigrante trazia do seu antigo território.

Casa Jardim - 1928

Localizava-se na Rua Benjamin Constant, quadra 79 (Figura 43).

Figura 43. Casa Jardim, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo de

Elza Pael Alle.

144

A edificação, construída em um amplo terreno, recebeu o nome de Casa

Jardim por estar implantada no quarteirão em frente à praça central, na época

chamada pelos antigos moradores de “Jardim”.

Pertenceu ao Senhor Sírio Borges e posteriormente, ao Senhor Amed

Alle, fazendeiro e comerciante, casado na época com Elza Pael Alle, de origem

síria e filho de Mohamed Alle.

A volumetria da edificação e aberturas era retangular e a cobertura, em

quatro águas com telhas de barro tipo capa canal.

Fábrica de móveis do Sr. Alcindo - 1948

A fábrica foi construída em 1948 e localizava-se na Rua Maria de Jesus

Cerveira, na esquina da quadra 101. O Sr. Alcindo foi construtor de casas de

madeira, na cidade e em fazendas, além de outras instalações rurais; também,

era marceneiro e possuía uma fábrica de móveis, fabricando os mais diferentes

tipos de mobiliário (Figura 44).

Figura 44. Fábrica de móveis Sr. Alcindo, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.

Fonte: Acervo do autor.

Segundo relatos orais do Sr. Alcindo, nascido em Corumbá e filho de

Simeão Garcia e Maria da Cruz, este trabalhou como marceneiro,

primeiramente na fazenda Suez em 1948 e depois por conta própria, em sua

145

fábrica. No local, produzia, entre outros artigos, rodas de carroça e para o

professor Oacir Vidal, carteiras, réguas, quadro negro e palmatórias. Também

atuava como construtor de casas, quando solicitado.

Nos relatos do Sr. Alcindo, a vida, na época de seu comércio, era muito

dura. “Na época a água era só de poço, o fogão à lenha, a geladeira a

querosene, o banheiro era um buraco no chão longe do rancho e não tinha

energia, e antes da geladeira tinha que fritar toda a carne e depois colocava

dentro da lata de banha pra conservar por vários dias. Os comércios eram

pequenos, tipo bolichos”.

A edificação está localizada em um amplo terreno; a volumetria da

edificação e aberturas retangulares, com cobertura em duas águas, telhas de

barro, tipo “francesa” e ao fundo da paisagem um centenário pé de ipê

amarelo, que ainda pode ser contemplado nos dias atuais (Figura 44).

Casa Comercial Missioneira - 1930

Localizava-se na Rua Santana, esquina com Rua Presidente Tancredo

de Almeida Neves, quadra 02, construída em 1930. Pertenceu a Elias Inácio da

Cruz, mais conhecido na época por “Elias Correntino”, casado com Leopoldina

Barbosa, cunhada do Professor Oacir Vidal (Figura 45).

Figura 45. Antiga Casa Missioneira, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:

FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).

146

Segundo relatos orais do Sr. Valdomiro Barbosa, o comerciante

construiu sua casa comercial naquela esquina devido à entrada principal da

cidade, na época, ser pela Rua Santana, no antigo bairro denominado de

“Estiva”. Mas com o decorrer do tempo, aconteceu que foi asfaltada a Rua

Benjamim Constant, mudando o fluxo de entrada e passando a ser a rua

principal do município.

Em seu estabelecimento comercial, vendia produtos diversificados,

desde roupas até mantimentos, sendo como a maioria dos comércios “secos e

molhados”. Hoje o local se encontra totalmente descaracterizado de sua

fachada original, após várias reformas internas e externas.

A volumetria da construção era em forma retangular, implantada em um

amplo terreno, construída no alinhamento, com a entrada marcada pelo chanfro

de esquina. A fundação e alvenaria eram em tijolos, com embasamento em

soco, bossagem e argamassa de reboco. O corpo era com trama de pilastras

verticais de fuste liso.

O coroamento da construção era com arquitrave, friso, cornija, com

ornatos no vértice, intercalados em formas curvas, com cimalhas e platibanda

escondendo a cobertura com estrutura de madeira e telhas de cerâmica. O

conjunto corresponde ao estilo Eclético.

Casa Comercial Mohamed Alle - 1932

A casa comercial localizava-se na Rua Benjamin Constant, esquina com

Rua Prefeito Theofanes, quadra 110 (Figura 46).

Figura 46. Antiga Casa Comercial Mohamed Alle, Rio Brilhante, Mato Grosso

do Sul. Fonte: Acervo de Edmacre Pael.

147

Pertenceu a Mohamed Alle, sírio, comerciante, que em seu

estabelecimento vendia tecidos e outras variedades de secos e molhados. Em

sua homenagem existe no município a Rua Mohamed Alle. No local da antiga

casa, hoje, se encontra construída uma edificação com salas comerciais no

térreo e no primeiro pavimento, denominado de “Cometa Shopping”.

A antiga casa estava implantada em um amplo terreno, com volumetria

da edificação em formato de L. A construção era no alinhamento do terreno,

com entrada principal marcada pelo chanfro de esquina. As aberturas eram em

formato retangular, com vedos em madeira e vidro. O embasamento, em soco,

com alvenaria de tijolos maciços e bossagem e argamassa no reboco.

O coroamento da construção era composto por um muro de ático liso e

reto, platibanda em seções interrompidas com friso como de arremate na parte

superior e cimalhas como arremate emoldurado no ressalto do reboco, logo

acima das portas e janelas. O conjunto da edificação corresponde ao estilo

Eclético.

Residência de Sírio Borges - 1935

A residência foi edificada em 1935 pelo construtor Joaquim Moreira da

Silva e localizava-se na Rua Benjamin Constant, quadra 44. Sírio Borges foi

prefeito do município no período de 1963 a 1964, além de dentista e

fazendeiro. A área depois passou a ser propriedade de um herdeiro da família,

que no ano de 2015, vendeu o local e a obra, até então em perfeito estado de

conservação, foi demolida para dar espaço a uma nova construção, um grande

salão pré-moldado para fins comerciais.

A volumetria da edificação era em formato retangular e estava

implantada em um amplo terreno. A fundação e alvenaria eram de tijolos

maciços, embasamento em soco, com bossagem de rusticação e argamassa

de reboco.

O telhado era aparente, coberto por telha cerâmica tipo “francesa” e com

jogos de duas, três e quatro águas. O coroamento da edificação, com o ornato

em forma de circular emoldurado e em seu centro um monograma com as

letras iniciais do nome do proprietário “SB” e data da construção “1935”.

A entrada era avarandada em formato de L, com degraus de acesso,

sequência de pilares com ornatos em ressalto no reboco, sacada térreo

148

balaustrada, lambrequins em madeiras em formas verticais localizados logo

acima dos pilares, antes da viga de sustentação da cobertura. Havia ressalto

no reboco do frontão triangular, acompanhando a inclinação da cobertura, com

aberturas retangulares e molduras interrompidas em ressalto em torno das

janelas, com detalhes e ornatos. O conjunto da edificação corresponde ao

estilo Eclético (Figura 47).

Figura 47. Antiga residência Dr. Sírio Borges, Rio Brilhante, Mato Grosso do

Sul. Fonte: Acervo de Hellen Rose Vieira de Mello.

Casa Comercial Nossa Senhora Medianeira - 1936

A edificação, construída em 1931, localizava-se na Rua Benjamin

Constant, esquina com Rua Prefeito Theofanes, quadra 111. O construtor da

edificação foi Domingues Gonçalves da Silva, vulgo “Dominguinhos”, que foi

secretário da prefeitura municipal na época. Hoje no local da antiga obra, já

demolida, funciona uma moderna construção, onde está localizado o Banco

Bradesco.

149

Segundo relatos orais de Valdomiro Barbosa, pertenceu ao Sr.

Domingos Pascoal Tezza, o qual era catarinense. O nome do estabelecimento

era relacionado à origem de seu primeiro proprietário. Posteriormente foi

adquirida pelo Sr. Zacarias Corrêa Araújo. Neste local se vendia alimentos,

roupas, dentre outros itens relacionados aos secos e molhados.

Estava implantada em um amplo terreno e sua fundação e alvenaria de

tijolos maciços, bossagem e argamassa de reboco. Foi edificada no

alinhamento do terreno de esquina, encantoada. A volumetria da edificação e

aberturas formato retangular, com vedação em madeira.

O coroamento da edificação era composto por um muro ático com

frontões em semi-arcos, intercalados no coroamento da construção,

escondendo assim a cobertura em quatro águas e telha de barro. Existiam

cimalhas logo acima das aberturas, com frisos como arremate e apliques de

ornamentação em ressalto no reboco. A edificação correspondia ao estilo

Eclético (Figura 48).

Figura 48. Antiga Casa Comercial Nossa Senhora Medianeira, Rio Brilhante,

Mato Grosso do Sul. Fonte: Biblioteca Municipal de Rio Brilhante, Mato Grosso

do Sul.

Casa Pecuarista Coamal - 1938

A edificação construída no ano de 1938 era localizada no centro da

cidade, na Rua Benjamin Constant, em frente à praça central “Dr. Boaventura”,

quadra 63. Pertenceu ao Sr. Ângelo Sichinel, que segundo relatos de

Valdomiro Barbosa, veio de Santo Rosa do Sul, Rio Grande do Sul e foi

proprietário rural, posteriormente joalheiro e depois dono de casa comercial.

150

Atualmente, a construção foi descaracterizada de sua fachada original e

interior por uma série de reformas, dando lugar a Agropecuária Sertaneja.

A volumetria da edificação era no formato retangular, implantada em um

amplo terreno, com portas e janelas também retangulares. A fundação e

alvenaria eram em tijolos maciços, com bossagem e reboco em argamassa. O

coroamento da construção era com uma platibanda em formas circulares

intercaladas na parte superior da edificação, escondendo a cobertura em

quatro águas, telhas francesas, composto por cimalha e frisos. O conjunto da

obra correspondia ao estilo Eclético (Figura 49).

Figura 49. Antiga Casa Pecuarista Coamal, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.

Fonte: Acervo de Eleta Pael Nogueira.

Casa Comercial Nogueira - 1941

A antiga casa, já demolida, dando espaço a uma nova construção

comercial, localizava-se na Rua Benjamin Constant, esquina com Rua Maria de

Jesus Cerveira, quadra 97. Foi construída em 1941 e pertencia ao Sr. Augusto

Nogueira, fazendeiro e comerciante, pai do prefeito Athayde Nogueira.

A volumetria da edificação era em forma retangular e estava implantada

em um amplo terreno. A fundação e alvenaria eram de tijolos maciços,

embasamento em soco, com bossagem e argamassa de reboco. Construída no

alinhamento do terreno com entrada principal marcada pelo chanfro de

151

esquina, aberturas em formas retangulares com vedação em madeira e vidro.

O corpo era com trama de pilastras verticais de fuste liso.

O coroamento da construção era por uma platibanda reta e lisa,

escondendo a cobertura em quatro águas com telhas de barro. O friso era

arremate na parte superior da platibanda e cimalha como arremate emoldurado

em ressalto no reboco logo acima das portas e janelas. O conjunto da obra

correspondia ao estilo Eclético (Figura 50).

Figura 50. Casa Comercial Augusto Nogueira, Rio Brilhante, Mato Grosso do

Sul. Fonte: Acervo de Eleta Pael Nogueira.

Casa Comercial Pedro Abismo - 1941

A casa comercial localizava-se na Rua Benjamin Constant, quadra 79.

Pertenceu a Pedro Abismo, um comerciante que vendia secos e molhados. Foi

demolida, dando lugar a uma nova construção para fins comerciais.

A volumetria da edificação era retangular, com construção no

alinhamento do terreno. As aberturas eram em formato retangular, com

vedação em madeira e vidro. O embasamento, em soco, com alvenaria de

tijolos maciços, bossagem e argamassa no reboco.

O coroamento da construção era composto por uma platibanda em

seções interrompidas com friso como de arremate na parte superior e cimalhas

como arremate emoldurado no ressalto do reboco logo acima das portas e

janelas. A cobertura, em duas águas e telhas de barro tipo “francesa”. O

conjunto da edificação correspondia ao estilo Eclético (Figura 51).

152

Figura 51. Antiga Casa Comercial Pedro Abismo, Rio Brilhante, Mato Grosso

do Sul. Fonte: Biblioteca Municipal de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.

Casa Comercial Tácito Pael - 1943

A edificação era localizada na Rua Benjamin Constant, esquina com Rua

Prefeito Theofanes, quadra 125. Construída em 1940, pertenceu a Tácito Pael,

casado com dona Pompéia, ele fazendeiro e comerciante. Hoje sua fachada

encontra-se totalmente descaracterizada, funcionando em seu estabelecimento

uma farmácia.

A fundação e alvenaria eram em tijolos maciços, com bossagem e

argamassa de reboco. Foi edificada no alinhamento do terreno, com entrada

principal marcada por um chanfro, de esquina, ou seja, encantoada. A abertura

era em formatos retangulares, com vedação em ferro e vidro e a cobertura, em

quatro águas com telhas de barro.

O coroamento da edificação era feito por uma platibanda com friso e

ornatos no ressalto no reboco em linhas verticais e horizontais, uma

característica do Art Déco. O conjunto da edificação correspondia ao estilo

Eclético (Figura 52).

Figura 52. Antiga Casa Comercial Tácito Pael, Rio Brilhante, Mato Grosso do

Sul. Fonte: Biblioteca Municipal de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.

153

Casa Comercial Augusto Alves Nogueira - 1943

Localizava-se na Rua Benjamin Constant, construída em 1943, quadra

96. Hoje o local possui lojas comerciais de venda de roupas, calçados e

tecidos, como a Loja Marroni e Confecções Silva, que não tem relação com a

antiga construção.

Segundo relatos orais de Valdomiro Barbosa, a edificação pertenceu à

família Nogueira e seus descendentes, tais como Augusto Alves Nogueira,

Antônia Nogueira, irmã do Prefeito Athayde Nogueira e posteriormente, ao Sr.

Moacir Neto, um grande comerciante na época. As instalações da edificação já

funcionaram, também, como residência, farmácia, restaurante e a escola de

inglês Skill.

Estava implantada em um amplo terreno, com fundação e alvenaria de

tijolos maciços, bossagem e argamassa de reboco. O embasamento era em

soco, com aberturas em formas retangulares em madeira, ferro e vidro,

paginação de piso com ladrilhos hidráulicos, cobertura em quatro águas com

telhas de barro tipo “francesa”. Existia, também, o coroamento da edificação

por uma platibanda com linhas retas e a presença de friso e cimalha como

arremate (Figura 53).

Figura 53. Antiga residência familia Nogueira, Rio Brilhante, Mato Grosso do

Sul. Fonte: Biblioteca Municipal de Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul.

A construção estava no alinhamento do terreno, avarandada em sua

lateral esquerda com um guarda-corpo balaustrado, ornamentado por colunas

de inspiração Jônica e aberturas em arco. O conjunto da edificação

correspondia ao estilo Eclético.

154

Distrito de Prudêncio Thomaz

Situado às margens do rio Vacaria, era conhecido como “Aroeira”, nome

originário de uma árvore nativa (Myracrodruon urundeuva Fr. Allem.) da região,

encontrada em grande quantidade e muito utilizada para a construção de

moradias, currais e cercas, devido a sua grande durabilidade e resistência.

No local, estava inicialmente instalada a Fazenda Aroeira e segundo

FACHOLLI e DOERZEBACHER (1991), foi apossada por ocupação primária

por Antônio Gonçalves Barbosa, em 1838; posteriormente sua área foi dividida

e vários proprietários se instalaram, gerando diferentes fazendas (Figura 54).

Figura 54. Mapa do perímetro urbano e edificações localizadas no Distrito

Prudêncio Thomaz, Rio Brilhante – MS. Edificações localizadas no Distrito

Prudêncio Thomaz, Rio Brilhante – MS. (43) Pensão Dona Guilhermina – 1935;

(44) Casa Prudêncio Thomaz Lemes – 1937; (45) Residência Manoel Thomaz

Lemes – 1940; (46) Igreja São Miguel Arcanjo – 1956. Fonte: PREFEITURA

MUNICIPAL DE RIO BRILHANTE (2015).

155

Ainda de acordo com os autores, no dia 30 de setembro de 1948 cria-se

o Distrito de Aroeira, registrando-se a escritura de doação de terras efetuadas

por fazendeiros da região. Em 16 de julho de 1977 é alterada a denominação

do Distrito, sendo a partir desta data conhecido como Distrito de Prudêncio

Thomaz, em homenagem ao antigo fazendeiro e comerciante.

Segundo SOUZA (2007), na Vila Aroeira veio residir um senhor do

Paraná, trabalhador, de poucas letras, que instalou um bolicho, onde

comercializava erva-mate. Chamava-se Prudêncio Thomaz Lemes e casou-se

com Dona Inocência Monteiro, sendo considerado econômico e honrado. Em

pouco tempo o Sr. Laucídio Coelho tornou-se seu grande amigo; devido a

grande amizade, Prudêncio Thomaz emprestava grandes quantias ao amigo e

também concedia empréstimo ao cunhado do Sr. Coelho, Etalívio Pereira

Martins.

Levando-se em consideração a importância do então comerciante

Prudêncio Thomaz, o ex. deputado Ruben Figueiró, apresentou um projeto de

lei nomeando a Vila Aroeira de Prudêncio Thomaz, que foi aprovado pela

Assembleia Legislativa. No local, dentre os bens catalogados in loco no distrito,

registraram-se quatro edificações mais relevantes por sua arquitetura, detalhes

construtivos e períodos.

Pensão da Dona Guilhermina - 1935

Localizava-se na Rua Laucídio Coelho, esquina com Rua Acácio

Barbosa, quadra 06 A, construída por volta de 1935. A edificação (já demolida),

posteriormente foi adquirida por Dalton Airton dos Santos.

Segundo FACHOLLI e DOERZBACHER (1991), a primeira pensão de

propriedade de dona Guilhermina, que além de comerciante, exercia a

profissão de “parteira”, era uma referência na região, hospedando ilustres

personagens. Em frente à pensão, destacam-se a presença de algumas

pessoas influentes na época, como o prefeito Lourival Barbosa (Figura 55).

Estava implantada em um amplo terreno de esquina, com volumetria

retangular e paredes compostas por tijolos maciços, aparentes, sem reboco,

com estrutura de madeira, corpo com trama de esteio e frechal, telhas de barro

e a presença dos lambrequins em madeira no beiral, em formatos geométricos.

156

Suas aberturas eram retangulares, com vedação em madeira. A construção

correspondia ao estilo Eclético (Figura 55).

Figura 55. Pensão da Dona Guilhermina, Distrito de Prudêncio Thomaz, Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: FACHOLLI e DOERZBACHER (1991).

Casa Comercial Prudêncio Thomaz Lemes - 1937

Fundada em 1937, pertenceu a Prudêncio Thomaz Lemes, fazendeiro e

comerciante forte na época, do qual o distrito recebeu seu nome em sua

homenagem. A edificação está localizada na Rua Laucídio Coelho, quadra

09A, em frente à praça do distrito, implantada em um amplo terreno; ainda

hoje, pertence aos descentes da família, encontrando-se em estado de

abandono.

A volumetria e aberturas são em quadros, com vedação de madeira da

construção retangulares; o local foi construído no alinhamento do terreno,

acantonada, com alvenaria de tijolos maciços, bossagem revestida de

argamassa, contendo em cima de suas janelas e portas uma moldura

interrompida no ressalto do reboco, ornatos com as iniciais da letra “CNP” e

data de 1937.

Possui muro ático e liso escondendo a cobertura de estrutura de

madeira, coberta por telhas de barro tipo “francesa” em quatro águas; sua

157

platibanda é composta por cimalhas e frisos. A obra corresponde ao estilo

eclético (Figura 56).

Figura 56. Casa Comercial Prudêncio Thomaz Lemes, fundada em 1937,

Distrito de Prudêncio Thomaz, Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte:

Acervo do autor.

Residência de Manoel Thomas Lemes - 1940

A residência localiza-se à Rua Laucidio Coelho (Figura 57), implantada

em um amplo terreno e construída em 1940. Manoel Lemes é filho de

Prudêncio Lemes e construiu sua casa em frente à casa de seu pai.

Figura 57. Residência Manoel Thomaz Lemes, Distrito de Prudêncio Thomaz,

Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: Acervo do autor.

158

A volumetria e aberturas são retangulares, com quadros e vedação em

madeira e vidro, alvenaria de tijolos maciços, com bossagem revestida de

argamassa e presença de uma varanda como entrada principal. A cobertura é

com jogos em três e quatro águas, coberto por telha de barro tipo “francesa” e

corresponde ao estilo Neocolonial.

Igreja de São Miguel Arcanjo - 1956

Na Rua Euzébio Thomas Lemes, esquina com João Maria, quadra 09B,

está localizada a Igreja São Miguel Arcanjo, outrora chamada Divino Espírito

Santo (Figura 58).

Figura 58. Igreja de São Miguel Arcanjo, Distrito de Prudêncio Thomaz, Rio

Brilhante, Mato Grosso do Sul. Fonte: O autor.

Esta implantada em um amplo terreno, com volumetria retangular da

edificação, embasamento em soco, com degraus de acesso, um frontão

ondulado a feição de uma cômoda barroca, molduradas e cobertas de telhas

que ocultam a linha de topo da cobertura. A característica é semelhante à de

algumas fachadas de igrejas barrocas, encimado por uma cruz trevo que

lembra a Santíssima Trindade.

Possui ornato no ápice do reboco de uma cruz largada, com alvenaria de

tijolos maciços, bossagem revestida de argamassa e coberta por telhas de

barro em duas águas; a obra corresponde ao estilo Eclético.

159

Conclusão

As primeiras famílias, no final do século XIX e início do século XX,

dedicavam-se a pecuária, extração da madeira e posterior a coleta da erva-

mate; a economia da região foi impulsionada com a abertura de estradas e

facilitou-se assim o transporte do gado e produtos a serem importados e

exportados. Esta nova fase permitiu o crescimento econômico da região e o

acúmulo de capital.

A implantação da estrada de ferro Noroeste Brasil e a instalação das

linhas telegráficas, já no inicio do século XX, também propiciaram o

crescimento econômico, com uma forte atuação das casas comerciais. Os

habitantes que antes eram moradores nas fazendas, começam a migrar para a

cidade, dando-se assim inicio ao município de Rio Brilhante.

A partir do progresso econômico, o desenvolvimento urbano tornou-se

mais visível, pois à medida que as famílias bem-sucedidas na época viajavam

para outras cidades e até mesmo países, conheciam uma nova arquitetura.

Devido ao seu capital acumulado, importavam esses modelos arquitetônicos

predominantes de outros centros urbanos para as suas construções,

preferencialmente, com materiais importados via casas comerciais de

Corumbá, que só tinham valor se oriundos da Europa.

Foram identificadas 46 edificações relevantes por seus caracteres

construtivos, ornamentações, períodos e histórias, construídas por volta de

1900 a 1960. A vinda do Engenheiro Joaquim Moreira, português, responsável

pela maioria das edificações executadas no município, trás com ele a cultura

arquitetônica de Portugal.

Constou-se nesse conjunto arquitetônico, que algumas dessas

edificações continham a data de sua construção, bem como as letras iniciais

dos nomes de seus proprietários, sendo poucas encontradas em bom estado

de conservação, pois a maioria está ao abandono, além das que já foram

descaracterizadas e demolidas.

Em nenhuma edificação foi identificada um autêntico estilo colonial, fator

relacionado à questão da ocupação da região, ocorrida no pós-guerra do

Paraguai (final do século XIX). O que se encontra é uma arquitetura

espontânea vernacular, como as residências de madeira. Além das residências

térreas e assobradadas em alvenaria, com um determinado número de

160

elementos arquitetônicos, não autênticos e genuínos de um estilo

predominante, tanto que em sua maioria predominou o Ecletismo.

O desaparecimento de muitas residências e estabelecimentos

comerciais, ao longo do tempo, dificulta uma análise rigorosa e confiável, que

por seus estilos e elementos decorativos, demonstraram a influência cultural

dos imigrantes com a mestiçagem dos materiais locais e importados.

Por meio do estudo realizado, pode-se afirmar que esse processo de

ocupação territorial deixou modelos representativos da produção construtiva na

época e que ainda podem ser contempladas em sua zona urbana.

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164

7. Conclusão Geral

A elaboração deste trabalho foi baseada em edificações encontradas na

zona rural e urbana do município de Rio Brilhante, sendo identificadas 59

edificações mais relevantes arquitetonicamente, por seus caracteres

construtivos e ornamentação, as quais foram edificadas nos períodos de 1830

a 1960, por famílias que vieram povoar o Estado de Mato Grosso do Sul, tendo

suas raízes em vilas do interior mineiro (Piuhmi e Lavras) e paulista (Franca).

As grandes propriedades rurais existentes na região foram resultado das

primeiras levas dos pioneiros, Garcia Leal, Lopes, Souza e Barbosa, que

encontraram aqui os índios Guaicurus e Caiuás. Os grandes proprietários,

inicialmente, dedicavam-se à criação de gado e a extração da erva-mate.

O início da ocupação se deu através da exploração dos recursos

naturais, como a derrubada de matas para a limpeza do terreno e queimadas

para o plantio da agricultura de subsistência. Posteriormente, com o surgimento

das serrarias primitivas, a extração da madeira aumentou, com o material

utilizado nas construções dos ranchos, nos seus vigamentos e estruturas, além

de mangueiros, pontes de madeira, bica d‟águas, dentre outras. Com o

desmatamento e implantação de pastos, destaca-se a criação de gado.

Porém, no período da Guerra do Paraguai, com início em 1864, algumas

fazendas foram destruídas e abandonadas por seus proprietários, que

retornam por volta de 1872.

No pós-guerra, novas sedes de fazendas foram construídas. Com o

início de novas atividades econômicas na área, tais como a coleta da erva-

mate, aliada ao crescimento da pecuária, a situação econômica da região foi

melhorada, propiciando um acúmulo de capital aos grandes fazendeiros,

graças à força e o trabalho dos indígenas e paraguaios.

Desta maneira, começam a surgir casas em madeira e outras em

alvenaria, de tijolos maciços e pedras, algumas térreos e outras sobrados, com

aberturas nos formatos retangulares e em forma de arcos, estruturas em

madeira, cobertura formas de águas variadas, mas sempre com telhas tipo

colônias ou francesas.

O percurso realizado para o trajeto desses materiais construtivos era

oriundo de navegações até o porto da cidade de Corumbá e de lá para o

município de Rio Brilhante, através dos rios Miranda e Vacaria até as fazendas,

165

e posteriormente até o local da construção, via terrestre, através de charretes

de boi.

Este grande crescimento ocorreu no final do século XIX e início do XX,

resultando uma arquitetura em função de uma expressão econômica forte.

Neste momento surgem então os bancos, que movimentam este capital

financeiro e suas casas comerciais, com as atividades econômicas

potencializando o comércio e acúmulo de capital.

À medida que esses fazendeiros, proprietários rurais viajavam, por conta

de suas boas condições financeiras, tinham o acesso a grandes centros

urbanos e até mesmo outros países, conhecendo assim a arquitetura que

acontecia naquele momento em outras localidades, bem como seus materiais

construtivos e ornamentos.

Esta influência pode ser observada através das obras levantadas in loco

nas antigas fazendas, onde suas formas, datas das construções e materiais

construtivos aplicados permitiam identificar suas particularidades, contendo

determinados números de elementos arquitetônicos bem definidos que compõe

sua volumetria, com uma característica comum, similar, como a presença dos

ladrilhos hidráulicos muito comuns nas construções visitadas.

Constou-se que parte desse conjunto arquitetônico edificado pelos

pioneiros da região vacariana, continha o ano da data da construção, bem

como as letras iniciais dos nomes de seus proprietários, as quais algumas se

encontram ao abandono e descaracterização, além de uma ou outra ainda

pertencerem a herdeiros, descentes dessas famílias desbravadoras.

Este estudo registra a importância e o valor desses modelos

representativos da produção construtiva nesse período analisado, na cidade de

Rio Brilhante, que mesmo não sendo o centro de uma economia empresarial,

através de seu apogeu econômico, resultou em uma produção arquitetônica

que ainda pode ser contemplada em sua paisagem na zona rural e urbana.

O resultado demonstra que o acervo encontrado é muito amplo e a cada

edificação pode ser destacada por sua originalidade e qualidade formal e

construtiva, com uma diversidade de modelos, estilos e elementos decorativos,

mas com uma peculiaridade, principalmente nas casas comerciais, por serem

todas sempre construídas no alinhamento dos terrenos e as de esquina, com a

presença do chanfro e platibandas.

166

A ocupação deste ambiente, inicialmente florestal, indicou um requinte

que para a época não era comum. O retrato encontrado demonstra um período

áureo de produção arquitetônica que atualmente vem sendo aos poucos

abandonado, fator relacionado à mudança das novas atividades econômicas na

região, como a indústria da cana-de-açúcar, onde a memória da ocupação e a

história de seu povo esta sendo esquecida. Desta maneira, este trabalho vem a

contribuir com a memória arquitetônica da cidade de Rio Brilhante e do Estado

de Mato Grosso do Sul.

167

Anexo I

Glossário da linguagem arquitetônica

Acantoado – implantação no canto ou esquina do terreno.

Alpendre – espaço coberto e aberto incorporado á construção. Antigas

construções rurais. Varanda.

Antecorpo – corpo em ressalto na fachada principal do edifício.

Arquitetura Vernacular - Denomina-se arquitetura vernacular a todo o tipo de

arquitetura em que se empregam materiais e recursos do próprio ambiente em

que a edificação é construída. Desse modo, ela apresenta caráter local ou

regional.

Arquitrave – parte inferior do entablamento. Sustentado por colunas.

Art Déco – Décadas de 20 a 40 do século XX. Formas geométricas, simples,

linhas retas. Adorno animal e humano estilizado. Edifícios e cinemas.

Art Nouveau – Surge de 1890 a 1905 em reação ao Historicismo. Linhas

suaves e ondulantes. Flores.

Ático – último pavimento de uma construção. Emento acima da cornija.

Balaústre – Pequena coluna ou pilar que, disposta em intervalos, forma uma

balaustrada. Corpo saliente na fachada; sacada.

Beiral – prolongamento do telhado além da prumada as paredes externas da

edificação.

Bica d´agua - Queda d'água natural ou artificial, onde a água doce sai do rio

ou poço em temperatura ambiente e é despejada geralmente por um tronco de

madeira ou alvenaria. Muito comum em antigas fazendas.

Bolicho - Bar de beira de estrada no sul do país

Cachorro – Peça em balanço para sustentar a bacia dos balcões e beirais.

Campanário – torre para sinos. Torre sineira. Independente ou junto ao corpo

do edifício.

Capitel – Parte superior das colunas. Para aumentar a superfície de apoio.

Cimalha – Arremate emoldurado sobre guarnições, beiral ou platibanda. Parte

superior da cornija.

Cobogó – É a denominação dada a elementos vazados, normalmente feitos de

cimento e ferro, que completam paredes e muros para possibilitar maior

ventilação e luminosidade no interior de um imóvel, seja residencial, comercial

ou industrial.

168

Colunas – Elemento de sustentação vertical. Composta por base, fuste e

capitel. Podem ser: anelada, cilíndrica, cóclida, compósita, coríntia, corolítica,

diminuída, dórica, duplicada, estriada, facetada, galbada, jônica, meniana,

nichada, torsa, toscana, crusciforme.

Cornija – Parte superior do entablamento. Composta por cimácio, lacrimal e

sófito.

Coroamento – Parte superior do edifício ou parte dele.

Corpo – Parte de edificação destacada verticalmente ou horizontalmente no

conjunto.

Cruzeta – Ornato em forma de cruz.

Ecletismo – Estilo que revivência o passado empregado dois ou mais estilos

arquitetônicos.

Embasamento - Parte inferior de construção ao nível do chão. Composto por

base, dado, cornija. Alicerce.

Epígrafe – Inscrição em elemento do edifício. Destacado e com boa

visibilidade.

Friso – Parte do entablamento entre arquitrave e cornija.

Frontão – Elemento de coroamento de fachada, em forma triangular ou circular

na parte superior de edifícios ou parte da edificação sobre portais, portadas ou

portas. Composto por cimalha, tímpano e empena. Pode ser: abatido, aberto,

de cartela, duplo, fracionado, ondulado, redondo, retilíneo.

Guirlanda – Ornato em flores, folhas e frutos com fitas pendentes.

Medalhão – Ornato oval ou circular em cercadura com monograma e data de

construção.

Mísula – Saliência vertical para apoiar a elemento construtivo ou decorativo.

Quando apoia balcão é o mesmo que cachorro.

Moldura – Superfície saliente ou reentrante. Molduras clássicas possuem

nomes específicos.

Monograma – Ornato com entrelaçamento de letras iniciais do nome da

pessoa ou entidade. Presente em residências ecléticas no século XIX e XX.

Motivos Florais – Ornato imitando flores, folhas, hastes compridas. Art

Nouveau.

Muro de Ático – Muro liso sobre a cornija do edifício, escondendo o telhado.

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Neocolonial– O movimento em prol da criação de um estilo arquitetônico

brasileiro surgiu na década de 1910, na Escola Nacional de Belas Artes, e

ganhou força no Rio de Janeiro, nos anos 20. O novo estilo foi batizado de

neocolonial. Configurou-se por meio da oposição ao ecletismo e propuseram o

pretérito local, apesar de ter perdido sua posição dominante para o movimento

moderno, a partir dos anos 30 o neocolonial manteve certa força cultural,

sobretudo nas construções residenciais.

Neogótico – Fim do século XVIII e XIX. Revivência do gótico. No Brasil, se

inicia no século XX na arquitetura religiosa.

Normando – O estilo românico é maciço, com arcos redondos e pesadas

colunas, também redondas. As igrejas eram construídas em formato redondo,

como, por exemplo, a Igreja do Templo, construída em Londres em 1185.

Ornato – Qualquer elemento ou enfeite de um elemento da construção.

Guirlanda; medalhões; grega; acantos. Adornos.

Platibanda – Elemento de ressalto na fachada principal. Portal alpendrado.

Arcadas.

Reentrância – Descontinuidade no alinhamento.

Relevo – Descontinuidade na superfície da peça ou elemento da construção

em decorrência de um ressalto ou saliência. Ornato escultórico em geral

figurativo, em alto, meio ou baixo relevo.

Sacada – Elemento saliente em balanço na parede.

Saibro – Areia grossa, encontrada em jazidas próprias, de cor avermelhada ou

amarelo-escura. Pode ser usada na composição de argamassas.

Taipa – Sistema construtivo com estrutura de madeira em baldrame, esteio e

frechal. Gradeamento preenchido com vedação em argila e outros materiais. A

taipa é uma técnica construtiva vernacular à base de argila (barro) e cascalho

empregue com o objetivo de erguer uma parede.

Torre – Construção isolada ou integrada no corpo da edificação de altura

superior. Torre-sineira, campanário.

Vedação - Lacramento; o ato de tampar uma fresta com algum material que

impeça a passagem de qualquer substância.

Vegetalismo – Estilo arquitetônico característico do Art Nouveau, onde

predominam os ornatos em forma de flor e folha.

Verga – Peça horizontal sobre vão de aberturas. Sobre arco.