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UNIVERSIDADE ANHANGUERA - UNIDERP
ALEIDA RESENDE ALVES GONÇALVES
DESENVOLVIMENTO URBANO
E A EVOLUÇÃO DA MORADIA POPULAR EM CAMPO GRANDE-MS
CAMPO GRANDE – MS
2010
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ALEIDA RESENDE ALVES GONÇALVES
DESENVOLVIMENTO URBANO
E A EVOLUÇÃO DA MORADIA POPULAR EM CAMPO GRANDE-MS
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em nível de Mestrado Acadêmico em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional da Universidade Anhanguera-Uniderp, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Mestre em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional. Orientação: Profa. Dra. Mercedes Abid Mercante
CAMPO GRANDE – MS
2010
Dedicatória
Dedico este trabalho, à memória da professora Iris de Almeida Rezende
Ebner que, com sua dedicação despertou-me o amor pela Cidade e pelo
Desenvolvimento Urbano.
Agradeço com saudades.
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AGRADECIMENTOS
A Deus, incomparável e inconfundível, que na Sua infinita bondade
compreende nossos anseios e nos dá a necessária coragem para atingirmos
nossos objetivos.
Ofereço-Lhe o futuro e peço forças para sempre agir com eficiência e
sabedoria nas minhas decisões.
Aos meus pais, minha conquista também é de vocês.
Obrigada pelo apoio, estímulo e dedicação.
Retribuo, grata e digna, o esforço de vocês.
Minha gratidão aos professores, que souberam compartilhar seus
conhecimentos e o magnífico exemplo de vida.
A minha orientadora, professora Mercedes Mercante, por seu auxílio, que
ministrando suas disciplinas me apontou novos horizontes, rumo à satisfação plena
dos meus ideais profissionais e humanos, mais que mestre, uma amiga.
Em nome do Prefeito Municipal de Campo Grande, Nelson Trad Filho,
agradeço aos funcionários da Prefeitura Municipal de Campo Grande-MS, e em
nome do Diretor presidente da Agência Municipal de Habitação de Campo Grande -
EMHA, o senhor Paulo César de Matos Oliveira, agradeço aos colegas funcionários
que dedicados e competentes, me assistiram, tiraram dúvidas e responderam meus
questionamentos, sempre de forma muito cordial.
E ainda, aos amigos e pessoas que contribuíram para elaboração e
realização deste trabalho, que Deus os abençoe.
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“Todo aquele que vem a mim, ouve as minhas palavras e a pratica, eu
mostrarei a quem é semelhante. É semelhante a um homem que, edificando sua
casa, cavou, abriu profunda vala e lançou os alicerces sobre a rocha e, vindo a
enchente, arrojou-se o rio contra ela e não a pôde abalar, por ter sido bem
construída. Mas o que ouve e não pratica é semelhante a um homem que edificou
sua casa sobre a areia, sem alicerces e, arrojando-se o rio contra ela, foi grande a
ruína daquela casa.”
(Evangelho de Lucas 6.47-49)
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SUMÁRIO
RESUMO.....................................................................................................................8
ABSTRACT........................................... ......................................................................9
1. INTRODUÇÃO .....................................................................................................10
2. REVISÃO DE LITERATURA .......................... .....................................................12
2.1 MORADIAS POPULARES, INVASÃO E FAVELAS............................................17
2.1.1 Políticas Públicas em Favelas..........................................................................19
2.2 O MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE................................................................24
2.2.1 Aspectos Históricos..........................................................................................24
2.2.2 Evolução Urbana de Campo Grande no Final do Século XX e Início do Século
XXI .............................................................................................................................27
2.2.3 A ‘Explosão’ do Crescimento do Território Urbano e das Áreas De Reservas
Públicas.....................................................................................................................30
2.3 A REFORMULAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE GESTÃO URBANA.............35
3. MATERIAL E MÉTODOS ............................. .......................................................38
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO ......................... ..................................................41
5. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS................ ......................................57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................ ................................................60
ANEXOS...................................................................................................................64
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RESUMO
O presente trabalho tem como objetivo fazer uma análise da política pública de
melhorias habitacionais na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, no
período de 2000 a 2010, a partir de estudos feitos sobre o desenvolvimento urbano e
a evolução da moradia popular, bem como seu histórico, a fim de que seja possível
verificar a importância do crescimento demográfico paralelo à execução de um
planejamento urbano. O trabalho enfoca a questão do déficit habitacional associada
a intervenções habitacionais em áreas de risco e fundo de vale. A falta de moradia
popular e de lotes a preços acessíveis levou a população a ocupar espaços, muitas
vezes, impróprios para assentamentos. Este processo de ocupação horizontal se
constituiu no chamado padrão periférico de crescimento urbano. Onde pessoas
vivem sem infra-estrutura adequada, em moradias ilegais, irregulares e insalubres. E
o trabalho realizado como arquiteta e urbanista do município de Campo Grande me
aproximou desta realidade. A preocupação constante de fiscalizar, cadastrar e
regularizar ou remover estas famílias se tornou uma constante em todas as
secretarias municipais envolvidas. Assim sendo, torna-se oportuno que Campo
Grande, conhecida como a Capital sem Favelas, mantenha uma política pública
eficaz voltada à classe de baixa renda, a fim de que evite o aparecimento de favelas
e mantenha seu título. Faz-se necessário políticas preventivas e não apenas
paliativas, para que o cidadão campo-grandense, assegurado pela Constituição
Federal, tenha direito à moradia que lhe permita uma proteção do meio natural,
protegendo do frio, do vento, da chuva, bem como local legal em relação ao meio
social, oferecendo privacidade e comodidade.
PALAVRAS-CHAVE : Favelas, assentamentos urbanos, melhorias habitacionais.
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ABSTRACT
This paper aims to analyze the public policy of housing improvements in Campo
Grande, Mato Grosso do Sul, from 2000 to 2010, from studies on urban
development and evolution of public housing and its history, so that you can verify
the importance of population growth parallel to the implementation of urban
planning. The work focuses on the issue of housing deficit associated with housing
assistance in risk areas and valley bottom. The lack of affordable housing and lots at
affordable prices led people to occupy spaces, often unsuitable for settlement. This
process of horizontal occupation has become the standard called peripheral urban
growth. Where people live without adequate infrastructure, housing illegal,
unregulated and unhealthy. And the work as an architect and urban planner in the
city of Campo Grande approached me from this reality. A constant concern to
inspect, register and regulate or remove these families has become a constant in all
municipal departments involved. Therefore, it is appropriate that Campo Grande,
known as the Capital without Slums, hold an effective public policy focused on low-
income class in order to prevent the emergence of slums and keep his title. It is
necessary preventive policies, not just palliative, for citizen Grande field, provided by
the Federal Constitution, has the right to housing that allows a protection of the
natural environment, protecting from cold, wind, rain, and local law relating to the
social environment, offering privacy and convenience.
KEYWORDS: Slums, urban settlements, housing improvements.
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1. INTRODUÇÃO
O fenômeno da produção informal do espaço urbano, especificamente a
favela, ainda representa uma das principais alternativas de habitação para a grande
maioria da população brasileira de baixa renda.
Mas essa moradia possui precariedade óbvia, surge ocupando espaços
vazios da cidade, em áreas privadas ou, na maioria das vezes, públicas. E com
agravantes, pois são áreas normalmente de conservação ambiental; morros,
nascentes de córregos, fundo de vales, áreas de risco.
Assim, os componentes de valorização do meio ambiente urbano deixam de
ser apenas fatores físico-territoriais, a exemplo do adequado parcelamento e
ocupação do solo, da racional organização viária ou de uma infra-estrutura básica e
eficiente. Passam a existir outros fatores capazes de interferir (talvez em grau
maior) no comportamento, bem-estar e sobrevivência (individual ou coletiva)
daqueles que utilizam o espaço urbano, nele habitando ou trabalhando.
Nestes locais, as famílias vivem expostas a todo tipo de perigo, são
ambientes insalubres, inadequados, construídos com materiais diversos, sem infra-
estrutura (rede de água, esgoto, luz,...) sem acessibilidade, sem titulação ou
regularização dos lotes, sem segurança.
Porém é necessário manter a salubridade do ar que se respira, dos córregos
e rios que cortam a cidade, do sistema de vazão de dejetos e, sobretudo, a
integridade de áreas verdes que equilibram o ciclo das águas e renovam o ar.
Outra preocupação é a respeito da relação entre habitante e paisagem, tanto
sob o aspecto da natureza, quanto dos vazios urbanizados para embelezamento e
lazer.
A noção de bem-estar urbano passa desta maneira, a compreender
condicionantes materiais, sociais e culturais, que juntas atuam direta ou
indiretamente na qualidade de vida.
Observa-se que não mais se pensa somente em organizar as várias funções
ou atividades humanas dentro de uma cidade e embelezá-la criando amplas
avenidas arborizadas e saneá-la proporcionando condições favoráveis à
implantação de sistemas de esgoto, drenagem, etc. Mas, atenta-se também para o
estudo e proposições de diretrizes de desenvolvimento econômico, social e de
organização do uso do solo.
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Essas diretrizes de crescimento não resultam apenas em análises das áreas
e funções existentes na cidade, mas estendem-se também ao conhecimento da
região na qual se insere a cidade, sua história e evolução, e ainda o estudo de suas
possibilidades de desenvolvimento.
E ainda que a moradia seja um direito social, assegurado no artigo 6° da
Constituição Federal (1988), o déficit habitacional de Campo Grande, faz com que
pessoas vivam nesses assentamentos precários.
Muito embora a cidade de Campo Grande seja conhecida como uma capital
que não tem favelas, esse modelo de ocupação informal existe. Não da forma típica
que se conhece, com inúmeros barracos em encostas situadas muitas vezes em
áreas centrais das grandes cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, mas são
moradias construídas ilegalmente e muitas vezes em áreas de risco (no caso de
Campo Grande, a maioria em fundo de vale ou áreas de domínio público municipal,
algumas vezes até vinculadas aos aterros sanitários (lixão), como o caso da favela
no loteamento Dom Antônio Barbosa.
Em 2005, existiam 14 regiões da cidade que exibiam as características
listadas pelo IBGE para qualificar áreas de favela (mínimo de 50 unidades
aglomeradas situação de risco à saúde, construída de papelão e compensados), e
outras 30 com número inferior de moradias, mas com as mesmas condições de vida.
Definindo como objetivos; o estudo da história e da evolução urbana de
Campo Grande/MS, a compilação de informações a respeito dessa cidade, somando
documentos a fim de contribuir futuramente com sua história, para que o principal
objetivo do trabalho seja alcançado, que é o levantamento de seus problemas e
dificuldades de gestão das moradias populares, a fim de verificar se o título de
“Capital sem favelas” condiz com a realidade da capital do estado de Mato Grosso
do Sul.
Em busca de respostas analisa-se a trajetória das alterações ocorridas no
espaço urbano para a transformação de áreas ocupadas irregularmente por favelas
para a transposição de moradores para assentamentos na área urbana de Campo
Grande no período temporal da pesquisa de 2000 a 2010. Em especial, procurou
observar esse fato numa área amostral de assentamentos precários da Região
Urbana do Segredo, dando-se ênfase no remanejamento de famílias para o
loteamento Recanto Pantaneiro.
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2. REVISÃO DE LITERATURA
“As cidades são como as estrelas; é preciso amá-las para entendê-las.”
(Flávio Villaça)
Conforme Ferrari (1988), cidade é um fato histórico, geográfico e acima de
tudo, social. Lewis Mumford (1998) acrescenta: é um complexo demográfico
formado por uma concentração populacional não agrícola dedicada a atividades de
caráter comercial, industrial e cultural.
E de acordo com Sitte (1992), não é possível ver a cidade como uma
máquina que funciona com precisão. Antes de tudo, é uma sociedade humana,
cujos membros criam relações de interdependência regidas por suas leis.
Porém, as cidades constituem uma invenção social relativamente recente,
pois surgiram há somente 7.000 anos (Palen, 1975). O homem habita a Terra há
pelo menos um milhão de anos, e durante quase todo este período viveu num
mundo sem cidades, logo, esses 7.000 mil anos embora representem apenas uma
fração da história, compreendem praticamente todo o período chamado civilização.
No Brasil, a indústria teve seu primeiro surto de crescimento no final do século
XIX e, mesmo antes disso, o país já apresentava alertas quanto às precárias
condições de moradia de um enorme contingente de imigrantes e escravos libertos,
que despertou no governo a necessidade de se solucionar o grave problema de
insalubridade urbana.
No período entre 1902 e 1906, as campanhas sanitaristas de Oswaldo Cruz e
a remodelação do espaço urbano de Pereira Passos, no Rio de Janeiro,
demonstraram o caráter essencialmente higienista das intervenções que visavam
erradicar as precárias moradias e as ruas estreitas para transformá-las em largas
avenidas, mais ventiladas e salubres. Assim, de acordo com Conde e Magalhães
(2004, p.42):
A cidade assistiu, pela primeira vez, à implantação de uma política urbanística, cujo caráter sistemático e abrangente gerou enormes repercussões sociais. A realização de obras, sobretudo a abertura de ruas, implicou, por exemplo, a demolição de milhares de casas, o conseqüente surgimento de uma multidão de desabrigados, a escassez de ofertas de moradias e o aumento expressivo do preço dos aluguéis. Tal quadro obrigou grande parte da população a dividir o mesmo teto com outras famílias ou a mudar-se para o subúrbio, ao norte da cidade.
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As primeiras favelas surgiram no Rio de Janeiro, por causa da rápida
ocupação dos morros – Previdência, São Carlos e Santo Antônio – e logo depois se
propagaram para os bairros mais ricos como solução para a população pobre, que
necessitava morar próximo ao local de trabalho (CONDE; MAGALHÃES, 2004).
Na década de 1940, a crise habitacional vigente, vinculada à desestruturação
do mercado rentista e à incapacidade do Estado em financiar ou promover a
produção de moradia em larga escala, originou a construção de casas à margem da
cidade formal. Este processo foi denominado por Bonduki (1998, p.281) de “auto-
empreendimento da moradia popular”, baseado no trinômio “loteamento periférico,
casa própria e autoconstrução”. Tal processo é caracterizado pela construção de
casas pelos próprios proprietários e moradores, que obtêm seus terrenos através da
compra ou da ocupação e, sem apoio técnico, foram responsáveis pela definição do
“projeto”, compra (ou aquisição, seja de qual for a maneira) do material e
agenciamento da mão de obra gratuita ou remunerada informalmente.
Diante das dificuldades sociais e econômicas, estas construções sem apoio
técnico, provocaram o aparecimento de tipos precários de habitação, com padrões
deficientes de higiene e construção e, na maioria dos casos, com organização
territorial aleatória, ditada ao acaso.
Estas seriam mais tarde as favelas. Independente da denominação popular
de cada região; malocas, invasões, mocambos, tinham como constante a evidência
da precariedade e da miséria (REIS FILHO, 2004).
A favela foi tratada como um problema a ser erradicado por muito tempo,
mas, a partir da década de 1960, de acordo com Bueno (2000), algumas políticas
públicas começam a aceitar as favelas como uma forma legítima de provisão de
habitação, cabendo neste caso a regularização fundiária, dando o direito de posse
ao morador. Medida tomada apenas quando não existem riscos nem ao meio
ambiente, nem à comunidade. Entretanto, esta não será a postura oficial, pois a
política habitacional do regime militar continuará limitando-se à sua erradicação.
Apesar da queda da contribuição da emigração do campo ao crescimento da
população urbana na década de 1960, a demanda por novas moradias continua em
alta. Esta demanda, associada ao fato de que a participação dos financiamentos na
produção habitacional caiu à metade da média dos últimos sessenta anos. Assim,
mesmo com a estabilidade demográfica, a cidade continuará crescendo, pois o fator
família – casal e filhos – permanecerá muito forte (MAGALHÃES, 2006).
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Segundo Bueno (2000), a partir dos anos 1970, o crescimento das favelas é
vertiginoso nas grandes cidades brasileiras, fato que mostrou a urgência de ações
de maior abrangência social, neste sentido, surgiram muitas soluções criativas e
apropriadas (em maior ou menor grau) para a consolidação das favelas como
espaço urbano habitável.
Apesar da redução no ritmo do processo de metropolização a partir dos anos
de 1980, uma linha de miséria estava instalada e a inversão deste quadro exige,
sobretudo, reconhecimento do problema e programas de políticas públicas. Segundo
a Fundação João Pinheiro, o déficit habitacional brasileiro é de mais de 6,5 milhões
de unidades, além disso menos da metade dos domicílios brasileiros (43,9%) são
considerados adequados (IBGE, 2003). Os dados revelam uma urbanização
descontrolada atrelada a sérios problemas de ordem ambiental. Se por um lado, a
cidade é uma grande controladora de recursos naturais, por outro, promove uma
ocupação altamente consumidora e predatória ao meio ambiente. Especialmente
pela população pobre que, à margem do mercado, ocupa áreas impróprias pela
natureza (como encostas e alagados) e pela precariedade de infra-estrutura.
Dentro deste contexto, várias iniciativas governamentais tentaram amenizar
esse quadro crítico. Sempre centralizadas pelo governo federal, as políticas de
financiamento e produção de moradias surgiram a partir de 1940, com os Institutos
de Aposentadoria e Pensão (IAPs), ganhando dimensão, na década de 1960, com a
criação do Banco Nacional de Habitação (BNH). Em 1986, o BNH é extinto e o único
representante governamental do setor passa a ser a Caixa Econômica Federal
(CEF). Apesar dos esforços empregados, a ação política não mudou muito,
continuou investindo na transferência da população para bairros da periferia e as
famílias de menor renda foram as menos favorecidas por estes financiamentos. As
áreas ocupadas por esta população atingiram um estado de crise iminente
evidenciada pelos desastres naturais como deslizamentos, enchentes e
assoreamentos.
O fim da ditadura militar, a maior autonomia destinada aos estados e
municípios e o crescimento da participação popular propiciaram um contexto político
favorável à revisão dos paradigmas de até então. Surgiu uma maior consciência, por
parte dos profissionais e gestores, da necessidade de intervenções específicas
nestas áreas e o reconhecimento delas como parte da cidade. Esta visão promoveu,
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nos anos de 1990, uma série de iniciativas públicas em áreas degradadas com
características mais regionalizadas e preocupadas com aspectos ambientais locais.
Embora os recursos para fins habitacionais continuem centralizados, pois a
Caixa Econômica Federal é responsável por 90% dos financiamentos habitacionais
do país, o reconhecimento do problema se faz presente em todas as instâncias
governamentais. Há iniciativas municipais positivas de políticas de combate a
desastres e ocupação de áreas ambientalmente frágeis, evidenciadas pelo
fortalecimento das instâncias municipais de defesa civil. Na instância federal, por sua
vez, o Ministério das Cidades coloca o “combate à exclusão territorial e degradação
ambiental das cidades brasileiras, como um dos objetivos centrais das políticas de
desenvolvimento urbano do Governo Federal" (BRASIL, 2004).
Esta preocupação, por parte dos gestores públicos e urbanistas, evidencia a
importância de estudos dedicados ao tema. A compreensão do processo de
produção do espaço urbano pela população de baixa renda relaciona-se diretamente
a alguns conceitos atrelados às questões legais e à intencionalidade da ocupação.
Faz-se necessária a conceituação dos seguintes opostos: legal/ilegal,
formal/informal, regular/irregular e espontânea/planejada. Tais termos, combinados
em diferentes arranjos, permitem a classificação das mais diversas formas de
assentamentos humanos.
A cidade legal ou formal é aquela produzida por agentes formais, ou seja, o
mercado imobiliário formal ou o poder público. O espaço ocupado é resultante de um
projeto de urbanização completa, que atende à ordem urbanística e a todos os itens
de consumo coletivo. Em contraposição, a cidade ilegal ou informal caracteriza-se
pela falta de titulação da propriedade, pelo responsável por lotear a área e/ou do
agente imobiliário, responsável pela comercialização dos lotes. Não havendo a
titulação, os compradores do lote não são seus proprietários legais, mesmo algumas
vezes tendo pagado por eles (FERNANDES, 2006).
Além disso, a cidade informal caracteriza-se como uma área composta de
edificações precárias, em construção permanente e desassistida, lotes mínimos,
ruas estreitas e pouco delineadas, ocupações com escassez de áreas públicas e de
espaços abertos, carentes de infra-estrutura e de equipamentos urbanos, sujeitas a
situações de risco e altíssimas densidades (SOUZA et al, 2005). A idéia de cidade
formal está baseada no oposto de tais características, que a diferencia
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qualitativamente na paisagem urbana através de áreas melhores dotadas de infra-
estrutura, equipamentos e serviços.
O conceito de regular relaciona-se diretamente ao cumprimento da legislação
urbanística vigente, que caracteriza os loteamentos irregulares pelo não
cumprimento da Lei nº. 6.766/1979 (Lei de Parcelamento do Solo), que determinam
os serviços de infra-estrutura necessários à implantação do loteamento.
Pode ocorrer uma situação onde a urbanização é legal, mas irregular, quando
a população adquire legalmente através da compra lotes que desrespeitam as leis
de parcelamento do solo e não atendem aos padrões de fornecimento de serviços.
No caso dos loteamentos irregulares, o baixo custo dos lotes está relacionado
às condições mínimas de urbanização. Já no processo de produção ilegal, a
ausência de custo, no caso de invasão, ou o baixo custo dos lotes, deve-se às
condições de difícil acesso e o total desprovimento de infra-estrutura.
A definição de espontâneo ou planejado refere-se à intencionalidade da ação,
ou seja, a existência de um projeto precedente que estabeleça todas as diretrizes de
ocupação e funcionamento da área a ser urbanizada.
Os problemas urbanos consequentes da ocupação sem planejamento
relacionam-se principalmente a: desarticulação do sistema viário, dificultando o
acesso dos principais serviços urbanos – transporte público, coleta de lixo,
bombeiros, dentre outros; degradação ambiental – problemas de erosão,
alagamentos, comprometimento de mananciais e do lençol freático; ausência de
espaços públicos para implantação de equipamentos coletivos – de saúde,
educação, lazer e segurança; riscos de acidentes e incêndios advindos das ligações
clandestinas de energia elétrica (conhecidas como gatos); aumento dos custos de
urbanização; entre outros. Estes problemas não dizem respeito apenas aos
moradores locais, mas se estendem à população de toda a cidade.
Em relação à Campo Grande, o processo de ocupação urbana caracteriza-se
em formal, porém ocorrem ocupações informais – não produzida por agentes
formais; ilegais – oriunda da invasão de uma propriedade privada; irregulares – por
não atender à legislação vigente e, espontâneas – por não advir de projeto e ser
construída sem orientação técnica.
Hoje, o fenômeno das favelas constitui o calcanhar-de-aquiles do urbanismo
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contemporâneo (REIS FILHO, 2004). As favelas continuam a expandir-se à margem
da cidade formal, em conseqüência da ausência de políticas públicas de
democratização do acesso à habitação. De acordo com Magalhães (2006, p.86):
(...) o brasileiro não se limitou a aguardar as iniciativas governamentais. Precisando de casa, sem financiamento, sem oferta adequada a suas necessidades e possibilidades, foi o produtor autônomo de sua moradia. Construiu segundo a condição possível. Na precariedade óbvia.
2.1 MORADIAS POPULARES, INVASÕES E FAVELAS
Segundo Souza (2003), a cidade é um espaço de concentração de
oportunidades de satisfação de necessidades básicas materiais – como saúde e
moradia –, e imateriais – como cultura e educação, onde as pessoas se organizam e
interagem baseadas em interesses diversos, formando grupos de afinidade, que se
definem territorialmente com base em identidades territoriais que os indivíduos
buscam manter e preservar. As famílias de baixo poder aquisitivo tentam se
aproximar do local de trabalho ou das principais concentrações de vagas de
emprego que, em geral, localizam-se no centro da cidade. Acabam residindo em
imóveis de dimensões mínimas e de má qualidade, onde a princípio podem pagar o
aluguel. Entretanto, o excessivo ônus do aluguel e a não garantia de posse posterior
instigam a população a procurar novas alternativas, já que “a casa alugada não é
vista como uma solução habitacional satisfatória” (VALLADARES, 1980).
Após a conquista da segurança do emprego, prepondera a necessidade de se
obter a casa própria. A partir dessa necessidade, Davis (2006) aponta duas
alternativas: a ocupação de terras públicas ou a compra de terreno em um
loteamento informal. Considerar o custo gratuito da ocupação de terras públicas não
passa de uma ilusão, já que a comunidade paga um altíssimo custo pelo transporte
e pela ausência de infra-estrutura urbana. Além do mais, a maioria está inserida em
áreas de preservação ambiental – áreas de mananciais ou de encostas – ou de risco
para a população. Assim, somando os custos, a obtenção de um terreno por
ocupação não é necessariamente mais barata que a compra. Mas o principal atrativo
é a possibilidade de melhorar as condições de moradia paulatinamente, o que leva à
diluição dos custos no tempo.
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A escassez de terras baratas na periferia da cidade e o aumento das
exigências legais para a aprovação dos projetos – principalmente obras de infra-
estrutura - acarretam a elevação do custo dos lotes em loteamentos informais e
dificultam a aquisição pelas camadas menos favorecidas (VALLADARES, 1980).
Mesmo com as condições precárias que estes loteamentos oferecem, os lotes
são considerados como áreas seguras, que costumam ser atendidos por serviços
públicos, depois de considerável mobilização das comunidades e negociações
políticas.
A favela caracteriza-se por áreas densamente povoadas, carentes de serviços
de saneamento básico e cuja propriedade do lote não é legalizada. Concentra
habitações precárias, distribuídas desordenadamente, em áreas públicas ou
privadas, e podem ser classificadas, ainda, de acordo com: a localização (núcleo
metropolitano ou periferia) e a forma de obtenção (compra, locação e ocupação).
Cada forma de provisão de moradia implica em diferentes formas de arranjo desses
elementos.
Conforme Valladares (2000), o termo favela origina-se do Morro da Favella,
até então denominado Morro da Providência, e passa emprestar o seu nome aos
aglomerados de casebres sem traçado, arruamento ou acesso aos serviços
públicos, construídos em terrenos públicos ou de terceiros, que começam a se
multiplicar no Rio de Janeiro. Na segunda metade do século XX, a palavra favela
passa a ser utilizada não mais em referência exclusiva ao Morro da Favella, mas
para designar aglomerações da população de baixa renda, de ocupação ilegal e
irregular, geralmente localizadas em encostas.
É importante ressaltar a existência de um mercado da habitação paralelo ao
mercado formal onde casas construídas pelos próprios moradores são vendidas e
alugadas sem a menor consideração das leis que regem a cidade formal. Esse
processo tem sido uma alternativa para a população de baixa renda de gerarem
renda com o seu patrimônio, seja ele formal ou informal.
De acordo com Bueno (2000), a criação de uma favela ocorre sempre de
maneira coletiva. Os moradores colocam-se como coletividade para se defender do
proprietário e assim, surgem os termos: comunidade, núcleo habitacional ou
assentamento. Apesar de não ser possível apoiar ou incentivar a ocupação como
forma de provisão de moradia digna, a ocupação de terra urbana é parte
preponderante do processo de urbanização brasileira atualmente.
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É necessário que se faça um esclarecimento em relação aos termos favela e
invasão. O termo favela faz referência às condições de precariedade das
construções e do saneamento do espaço urbano onde ela se insere. Já o termo
invasão refere-se à irregularidade fundiária de uma ocupação. Assim, um terreno
invadido pode se tornar uma favela mediante o desenvolvimento por auto-
empreendimento popular. A favela, que pode ter sido fruto de uma invasão, ao
ganhar regularidade fundiária, deixa de ser uma invasão e torna-se apenas favela
(FERNANDES, 2004).
2.1.1 Políticas Públicas em Favelas
No Brasil, já havia tentativas de solucionar os problemas da habitação,
ocorridas antes do século XX. Em 1893, conforme Conde e Magalhães (2004),
houve a destruição de um dos maiores cortiços cariocas, o Cabeça de Porco,
erguido no sopé do Morro da Previdência, que impressionou pela violência com que
se deu a expulsão dos moradores e pelo fato de que a maior parte deles usou restos
da própria demolição para erguer barracos no morro. E já no início do século XX, as
campanhas sanitaristas expulsaram os pobres do centro da cidade para a periferia e
morros vazios, através da demolição das moradias, que representavam locais
insalubres.
Existiram esforços no sentido de solucionar as carências habitacionais e de
qualificar as áreas já ocupadas, através de propostas que aliavam os núcleos
residenciais às áreas verdes, criando novas formas de ocupação voltadas à
população de baixa renda, baseadas no conceito de Cidade Jardim, um modelo
urbanístico concebido pelo inglês Ebenezer Howard no final do século XIX, cuja
concepção baseava-se no meio-termo entre a cidade e o campo. Mas, apesar da
incorporação dos aspectos positivos das cidades-jardim, quase sempre os
loteamentos urbanos tidos como populares constituíram uma reinterpretação dos
velhos esquemas tradicionais e transformaram os novos bairros em sucessões
infindáveis de quadriculados de lotes tão exíguos que pré-determinavam a
disposição geral dos edifícios. Além disso, as casas de tipo popular eram
construídas aos poucos, pelos proprietários, freqüentemente com o auxílio de
vizinhos e amigos sob a forma de mutirão (REIS FILHO, 2004).
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Segundo Freitas (2001), a aplicação do conceito de Cidade Jardim no Brasil
foi destinada basicamente às ocupações de elite social, apenas por meio de ações
da iniciativa privada, corrompendo a proposta original.
A princípio, as políticas de atuação nas favelas brasileiras tendiam à
erradicação, com base na tendência sanitarista, cuja ação baseava-se na destruição
das moradias consideradas insalubres e na realocação dos moradores para
conjuntos habitacionais construídos na periferia das cidades. Entretanto, ao longo
dos anos, essa política foi se mostrando ineficiente, já que muitos dos moradores
realocados abandonavam a nova moradia e constituíam novas favelas. Conforme
Bueno (2000), a partir de 1930, há uma evolução das tendências de erradicação,
remoção ou desfavelamento para a reurbanização e, mais recentemente, para a
urbanização.
No caso da erradicação, realizava-se a substituição da favela e a remoção da
população para as periferias das cidades, segundo a lógica de soluções projetuais
do BNH (Banco Nacional da Habitação). Já a reurbanização, consistia na
substituição integral da favela e a posterior reconstituição no mesmo lugar, segundo
um padrão urbanístico e arquitetônico dominante (BUENO, 2000).
O conceito de urbanização de favelas representa uma tendência
contemporânea onde são criadas propostas de qualificação do espaço,
considerando as características do ambiente construído, em respeito aos
investimentos já realizados pelos moradores e às relações sociais já estabelecidas,
e às necessidades da população residente. Tais propostas buscam a implantação de
infra-estrutura urbana adequada aliada ao mínimo de remoções ou realocações de
famílias moradoras, baseadas na análise das situações que apresentam algum risco
de vida para os moradores ou de acordo com condições específicas necessárias à
implementação do projeto.
A partir de 1960, tenta-se produzir uma política habitacional, representada
pelo SFH (Sistema Financeiro de Habitação). A idéia do SFH era de minimizar os
investimentos a fundo perdido, criando uma base sustentável para o financiamento e
impedindo a descapitalização do sistema. O modelo se baseava no financiamento
ao produtor e não ao usuário final (FREITAS, 2004). Nesta época, o BNH (Banco
Nacional de Habitação) produziu conjuntos habitacionais populares em larga escala
nas periferias das cidades brasileiras. Entretanto, o modelo não conseguiu
responder às necessidades crescentes das populações de baixa renda e só se
18
viabilizou economicamente para as camadas de renda média e alta da população.
Além disso, as principais críticas a esses empreendimentos estão relacionadas à
precária inserção urbana dos conjuntos, à monotonia relacionada à padronização
das casas de má qualidade construtiva e à segregação social dos moradores em
relação ao restante da cidade. Assim, de acordo com Bonduki (1998, p.320):
Quando o BNH buscou reduzir o custo da moradia para tentar atender a uma população que vinha se empobrecendo, ao invés de alterar o processo de gestão e produção que encarecia o produto final, apoiando iniciativas que a população já vinha promovendo, optou por rebaixar a qualidade da construção e tamanho da unidade, financiando moradias cada vez menores, mais precárias e distantes (...).
Em 1968, fracassa a política do BNH, que passa a atuar como financiador de
grandes obras de infra-estrutura, sendo finalmente extinto em 1986. (FREITAS,
2004). Em 1979, o PROMORAR (Programa de Erradicação de Sub-habitação),
criado pelo Governo Federal e que recebeu empréstimos do Banco Mundial, foi o
único programa até então voltado às favelas e possibilitava a permanência da
população em área anteriormente habitada com a regularização da posse de terra e
a substituição de barracos por casas de alvenaria na mesma área de moradia
(FERNANDES, 2004).
Entretanto, de acordo com Picarelli (1986), o PROMORAR, financiado pelo
BNH, era destinado à população com até três salários mínimos, e oferecia um
embrião de 23m² de construção em um terreno de 75m². O projeto não levava em
conta as necessidades de população. Além disso, a sua execução, realizada por
empreiteiras, era de péssima qualidade técnica, o que propiciou o surgimento de
problemas nos primeiros anos de uso e até mesmo antes de sua utilização.
A partir de 1980, o novo tratamento que é dado à questão da urbanização de
favelas aponta para a manutenção das características do parcelamento do solo e
das unidades habitacionais existentes, aliado à implantação de infra-estrutura.
Constata-se, também, que as soluções iam além da intervenção física –
saneamento, moradia e infra-estrutura –, e que o sucesso da urbanização dependia
da participação da população envolvida. De acordo com Bueno (2000, p.191):
Nos anos 80, muitas prefeituras passaram a atuar de forma sistemática na consolidação de favelas, seja através de obras, seja através da aprovação de legislação para regularização, ou
19
mesmo pela simples mudança de postura, de não mais tentar remover os barracos ou impedir a ligação de água e luz.
A grande mudança na política de atuação nas favelas nos anos de 1980 é
consolidada na década seguinte. Acredita-se na integração total das moradias da
favela à infra-estrutura urbana, mesmo que não haja legislação urbana favorável à
regularização fundiária ou urbanística das favelas e independente da condição legal
dos assentamentos (BUENO, 2000).
A partir da Constituição Federal de 1988, são revistos, criados e propostos
diversos instrumentos e instâncias de regulação, voltados para dar legitimidade e
segurança às formas de posse e ocupação do espaço urbano advindas da
necessidade de moradia. Tais mudanças têm por objetivo dar condições ao poder
público para investir nessas áreas visando a melhoria das condições de salubridade
e habitabilidade e, quando possível, aproximando-as jurídica e urbanisticamente das
porções de tecido urbano formal (COSTA, 2006).
De acordo com Fernandes (2004), ao longo da década de 1990, observa-se o
início de um novo consenso por parte de governos, ONGs (Organizações Não-
Governamentais) e organismos multilaterais de apoio acerca da resolução do
problema das populações pobres e faveladas, onde as soluções apontam para a
necessidade de aliar ao planejamento e às obras de urbanização, programas sociais
– como educação básica, capacitação profissional e conscientização ambiental –,
além do fortalecimento da organização comunitária, tendo em vista a utilização e a
potencialização do capital social.
Segundo Davis (2006), a conjuntura atual da sociedade brasileira apresenta
aspectos positivos relacionados ao movimento pela reforma urbana, pois reúne
entidades profissionais, acadêmicas, de pesquisa, ONGs, funcionários públicos,
além das entidades nacionais que lutam pela moradia. Esse movimento social
conquistou a aprovação de importantes leis como: o Estatuto da Cidade (Lei
n.10.257, em 10/7/2001), a Lei do Fundo Nacional de Moradia Social (Lei n.11.124,
em 16/6/2005) e conquistou ainda a criação do Ministério das Cidades, uma
reivindicação que vinha sendo feita havia mais de dez anos.
O Estatuto da Cidade (2001) instituiu vários instrumentos que visam combater
a especulação imobiliária, além de criar mecanismos para garantir a participação
popular no processo de planejamento e gestão do espaço, para que sejam
20
alcançados os objetivos da política urbana de garantir o pleno desenvolvimento da
função social da propriedade e de dar condições dignas de vida urbana a todos os
cidadãos.
Além disso, a possibilidade de criação das ZEIS (Zonas Especiais de
Interesse Social), através do plano diretor, representou o reconhecimento dos
assentamentos precários, com população de baixa renda, como parte da cidade
formal, bem como a necessidade de se estabelecer leis específicas condizentes com
a realidade dos menos favorecidos.
O crescimento acelerado das favelas consagra propostas baseadas no
interesse em manter a população no local de residência. Esse interesse social traz
consigo a necessidade de ações apoiadas em pesquisas sócio-econômicas e
levantamentos físicos, onde é indicada a diversidade de usos de solo – residencial,
comercial e misto -, que demonstram o nível de integração dos moradores com o
local onde residem e da área em relação à cidade.
O estudo das experiências em urbanização de favelas demonstra haver uma
busca por programas de urbanização e regularização fundiária, estruturados em
torno de dois objetivos principais: o reconhecimento da posse para os ocupantes das
favelas e a integração sócio-espacial de tais áreas com a cidade. Mesmo com todas
as limitações, as práticas contemporâneas tendem ao sucesso quando são
baseadas na compreensão de um contexto real e consolidado.
Em relação às questões legais de regularização fundiária das favelas, há três
opções: a transferência de títulos individuais de propriedade plena; a usucapião
urbana garantida constitucionalmente, quando o terreno é propriedade privada; ou, a
outorga de títulos de concessão de direito real de uso aos ocupantes, quando se
trata de terreno público.
Entretanto, sabe-se que o reconhecimento do direito de posse dos ocupantes
e a consequente atribuição de títulos de propriedade podem garantir a segurança
individual da posse, mas, não inibem o processo de expansão da cidade informal.
Em geral, após a aquisição do título de propriedade e a valorização da área
por conta da urbanização, os moradores são estimulados à venda de seus imóveis.
Acabam retornando às periferias precárias e reiniciando o processo de ocupação
ilegal. O fracasso das iniciativas também se deve à inexistência de articulação com
outras políticas de suporte. Embasado no que foi exposto, acredita-se que a política
contemporânea de urbanização de favelas pode ser considerada como a atuação de
21
maior eficiência em relação às políticas anteriores, pois busca considerar em suas
propostas às pré-existências – físicas, econômicas, sociais e culturais –, em respeito
aos investimentos já realizados pelos moradores, bem como às relações sociais
existentes.
2.2 O MUNICÍPIO DE CAMPO GRANDE
2.2.1 Aspectos Históricos
Campo Grande está localizada na região central do Estado, nas imediações
do divisor de águas das bacias dos rios Paraná e Paraguai. Os pioneiros
estabeleceram-se na confluência dos córregos Prosa e Segredo, onde hoje está
localizado o Parque Florestal Antonio de Albuquerque, conhecido como Horto
Florestal, (Figura 01) formando o Arraial de Santo Antônio de Campo Grande e, a
partir dali, sedimentaram ligações com as atividades agrícola e pecuária. O povoado
apresenta elementos típicos observados em cidades com indicadores de
crescimento incorporando-se, nesta época, ao comércio de gado regional.
Em 1899 passa a constituir a Vila de Campo Grande sendo enquadrada na
categoria de município, regida por administração pública. Definindo sua vocação de
entreposto comercial, insere-se na tendência de uma nova forma de urbanismo que
atinge as cidades por todo o país.
Figura 01: Horto Florestal, onde surgiu a cidade na junção dos córregos.
Fonte: Arquivo pessoal, 2006.
22
Na concepção desse modelo foi inicialmente assentada em uma única rua,
denominada Rua Velha, atual Rua 26 de Agosto e Rua Barão de Melgaço onde, nas
suas imediações, situavam-se as residências dos primeiros moradores, um pequeno
comércio, as primeiras pensões e a Igreja construída pelo fundador da cidade.
No final do século XIX, Campo Grande contava com cerca de 600 habitantes
(CAMPO GRANDE, 2005) e, já na condição de vila, teve prescritas as primeiras
normas para sua expansão, ocasionada pela vinda de novos moradores que se
intensifica com o passar dos anos.
O Primeiro Código de Posturas, em 1905, define entre outras medidas, o
aforamento, ou contrato de domínio, de terrenos municipais, a edificação de prédios
e reparos. Essas normas são reforçadas na primeira planta da cidade, aprovada em
1909 como Plano de Alinhamento de Ruas e Praças.
No traçado urbano estava prevista uma área institucional onde se localiza a
atual Praça Ary Coelho, destinando-se também áreas para a Praça da República,
hoje Praça do Rádio Clube, e Praça da Concórdia, atual Praça Aquidauana. Por ser
um plano de expansão, dimensionava as diretrizes de crescimento futuro da cidade
entre três córregos. A leste, o córrego Prosa, ao norte o córrego Maracaju
(atualmente canalizado) e, ao sul, o córrego Prosa.
A partir do plano a expansão citadina atende às determinações estipuladas e,
em torno de 1913, é construído um dos primeiros sobrados em alvenaria, para
residência da família de Bernardo Franco Baís e ocupado posteriormente para
outras finalidades, tornando-se conhecido por longo tempo como Pensão Pimentel.
A tendência de incorporar novas propostas urbanísticas prevalece em Campo
Grande com a elaboração da planta da cidade adotando idéias burguesas, como
destacam alguns pesquisadores. Tendo sua expansão inicial baseada em atividades
estritamente ligadas à pecuária, um novo e importante impulso motiva o
desenvolvimento local com a chegada dos trilhos e a conseqüente vinda de
migrantes. É estruturado o Conjunto dos Ferroviários, formado pela Estação
Ferroviária, vila residencial e área anexa com suas ruas revestidas em
paralelepípedos. Símbolos de uma época de prosperidade, sua importância tem
respaldo no tombamento do chamado Sítio Histórico que, localizado na Vila
Noroeste abrange além da Estação alguns trechos das ruas 14 de Julho, dos
Ferroviários, Travessa Dr. Temístocles e Rua Dr. Ferreira.
23
A chegada da ferrovia e a instalação do Comando Militar em Campo Grande
são fatores decisivos no processo de evolução urbana. No início dos anos de 1920 a
municipalidade cede ao Ministério da Guerra áreas para a instalação de unidades
militares, hospital e vila residencial. A região militar determina, posteriormente, uma
delimitação da área urbana.
Na década de 1930 algumas iniciativas de registro da história foram
concretizadas resultando em monumentos que passaram a ser símbolos. É o caso
do Obelisco, onde está inserido medalhão com a figura do fundador da cidade. A
obra foi implantada em agosto de 1933, na Avenida Afonso Pena, esquina com a
Rua José Antônio.
No final de década de 1930 o município tem proposta para expandir o serviço
de água e implementar a rede de esgotos, além da efetivação de uma política para o
uso do solo. Um escritório de engenharia é contratado para elaborar a planta da
cidade que se torna o primeiro mapeamento a conter traçado e locação das
construções.
Quando se aproxima a década de 1960 alguns bairros já desenvolvem os
primeiros focos de serviços e comércio locais, sobretudo nas principais avenidas e
ruas de acesso. Lei aprovada em 1960 amplia a área estabelecida para o comércio,
de modo que passam atingir outras vias que extrapolam o centro comercial original.
O censo da época revela que cerca de 25% da população campo-grandense
era composta por migrantes vindos principalmente do sul do país atraídos pelas
possibilidades de trabalho e em busca de terras agricultáveis. É desta época, em
1964, a instalação da Feira Central, ocupando ruas próximas à Avenida Mato
Grosso. Funcionando inicialmente como ponto de comercialização de produtos
hortifrutigranjeiros, atualmente apresenta uma diversidade de mercadorias tendo
como atração barracas com comidas típicas.
A década de 1970 é, sem sombra de dúvida, um momento particularmente
privilegiado para o desenvolvimento da cidade quando, cogitada pelo governo
central, a divisão do Estado de Mato Grosso passa a receber maciços investimentos
em infra-estrutura, de modo a dotá-la dos equipamentos e serviços indispensáveis
para torná-la Capital. A sua inclusão no Programa de Cidades de Porte Médio,
mantido pelo Ministério do Interior, por meio do qual se obtém financiamentos para a
abertura do anel viário e canalização dos córregos Maracaju e Segredo, permite a
rápida expansão urbana.
24
Numa época caracterizada pela grande expansão urbana e crescimento
populacional, a criação do Estado de Mato Grosso do Sul em 1977 torna-se marco
definitivo na vida da cidade. O antigo Arraial de Santo Antônio de Campo Grande
assume a condição de Capital, concretizando antiga aspiração de sua população. O
fluxo migratório é intensificado, impulsiona a modernidade e enfatiza a urbanização.
Um planejamento é elaborado em 1978 tendo como proposta a lei do uso do solo, a
reestrutura do sistema viário e de transporte coletivo, além da reformulação de áreas
públicas.
Na década de 1980 surgem loteamentos e conjuntos habitacionais. Com a
instalação do Governo do Estado são construídos edifícios para sediar órgãos da
administração pública no Parque dos Poderes, em meio à reserva de cerrado nas
cercanias da cidade. O Palácio Popular da Cultura e o Palácio das Comunicações,
sede da rádio e TV Educativa são pontos de atração por suas propostas
arquitetônicas contrastando com a preservada vegetação circundante. A
urbanização da área torna as avenidas Mato Grosso e Afonso Pena, vias de acesso
ao Shopping Campo Grande, instalado em 1989.
2.2.2 Evolução Urbana de Campo Grande no Final do Século XX e Início do Século
XXI
Em 1905, foi instituído o Código de Posturas da Vila de Campo Grande. O
documento, composto de 12 capítulos, reordenava as relações socioeconômicas
locais, adotava medidas de saúde pública e estabelecia regras para o aforamento
dos terrenos municipais e das edificações. Em 1910, a pedido da Intendência
Municipal, foi implantado o Plano de Alinhamento de Ruas e Praças da Cidade
(Figura 02).
Elaborado por engenheiros militares, o plano expressava em seu arcabouço
as preocupações com as questões de salubridade. A área parcelada pelo plano
estendia-se por aproximadamente 105 ha.
O traçado privilegiava a constituição de espaços amplos, visando facilitar a
ventilação e a insolação dos ambientes, expresso a partir da orientação da trama
viária tomando como referência os eixos cardeais e os ventos dominantes na região.
25
Figura 02: Plano de alinhamento das ruas e praças de Campo Grande, de 1909, implantado
em 1910. Fonte: Arquivo Histórico de Campo Grande (ARCA)
Além desses aspectos, outros fatores orientaram ainda a ocupação do sítio.
Construções, como o cemitério e o matadouro da cidade, foram alocadas em
terrenos distantes situados na direção oposta da área onde se localizavam as
habitações e o comércio.
Nesse contexto, foram delimitadas áreas de reserva para implantação de
praças (cerca de três). O parcelamento implantado delineou a seguinte estrutura:
78% da área foi destinada aos lotes, 17% eram de vias públicas e 5% de praças. O
tamanho médio das praças variava entre 1,5 ha a 2 ha. Apesar de o Plano não
descrever, em termos específicos, as áreas de reserva de praças foram
configuradas e implantadas seguindo uma visão sistêmica.
A estrutura proposta delineou, indiretamente, uma preocupação com o efeito
dessas áreas sobre o território urbano. Elas foram alocadas buscando-se manter
uma distância regular, para que pudessem atuar de uma forma mais homogênea
sobre o tecido, favorecendo o embelezamento da paisagem urbana, o arejamento e
a insolação das edificações e desses espaços em si.
Apesar da implantação desse plano e o papel das áreas de reserva ter sido
delimitado, a ocupação dessas áreas não ocorreu concomitantemente a esse
processo. Houve algumas discussões e outras obras pontuais, mas sem, contudo,
26
se traduzirem em obras de expressão significativa. Foi necessário ter passado uma
década para que essas áreas de reserva viessem a ser construídas.
No início da década de 1920, a cidade ganhou projeção regional e assumiu
uma importância estratégica nas questões político-administrativas e na defesa do
território nacional. Transferiu-se de Corumbá para Campo Grande, a circunscrição
militar. A cidade passou por um amplo crescimento populacional e de prosperidade
econômica (ambos proporcionados pela intensificação das viagens pela ferrovia).
Como o efeito desse desenvolvimento e a expectativa de um crescimento maior, a
administração municipal promoveu a ampliação da área urbana parcelada.
Nos planos implementados, expandiu-se a malha viária, parte dela (o Bairro
Segredo) seguindo o traçado do Plano de 1909 e a outra parte (o Bairro Amambaí),
dotando a área urbana de uma trama com uma intenção clara em definir eixos de
percepção da paisagem a partir das áreas de reserva de praças (conforme ilustrado
na Figura 03). Cerca de seis áreas de praças foram criadas com a implantação do
Bairro Amambaí, mas no Bairro Segredo nenhuma área foi reservada. Esses
espaços só foram urbanizados na década de 1930.
Figura 03: Planta de Campo Grande, início da década de 20.
Fonte: Arquivo Histórico de Campo Grande (ARCA)
O aspecto relevante desse período foi a ocupação dos espaços de reserva,
com a construção do Jardim Público, de estilo eclético e a implantação do viveiro
27
municipal, posteriormente complementados com a construção de outros
equipamentos de lazer, tais como, o estádio de futebol e o hipódromo.
É importante observar que havia uma idéia desenvolvida pela administração
municipal de complementaridade entre esses equipamentos e o anseio em
contemplar a demanda de lazer pela população, proporcionando-lhe uma
diversidade de atividades que tornasse o convívio urbano bastante aprazível. Ainda,
havia um controle em relação à alocação desses equipamentos, dispondo-os tal a
permear a maior parte do território urbano consolidado. Tal aspecto perdurou por
cerca de trinta anos. Aliás, entre as décadas de 1930 e 1950, as ações da
administração municipal se voltaram para consolidar a apropriação desses
equipamentos pela população, subsidiando inclusive o desenvolvimento das ligas
esportivas e o desenvolvimento de atividades recreativas nos logradouros públicos.
Ao mesmo tempo, o processo de expansão dos loteamentos sucedeu-se com
um ritmo que gerou um distanciamento temporal muito grande entre as áreas
parceladas e o processo de ocupação desses espaços.
Outro aspecto marcante desse período foi a legislação urbana sobre a
obrigatoriedade da criação de reserva de áreas públicas para a implantação de
praças. E, ainda, da atenção dedicada pela administração municipal à ocupação dos
fundos de vale e das margens dos córregos. Apesar de terem sido estabelecidos
índices urbanísticos, nesse período a expansão do contingente do estoque de áreas
de reserva foi pequeno (CAMPO GRANDE, 2001).
2.2.3 A ‘Explosão’ do Crescimento do Território Urbano e das Áreas de Reservas
Públicas
Na década de 1960, com a intensificação das ações federais que visavam
acelerar a ocupação e o crescimento dos núcleos urbanos situados no interior do
Brasil, Campo Grande experimentou um crescimento populacional e de suas
perspectivas de desenvolvimento econômico. Tais fatos levaram ao incremento da
infra-estrutura urbana e à expansão do território urbano (com uma intensidade sem
precedentes). Os cinco anos que sucederam à inauguração de Brasília, a população
de Campo Grande cresceu cerca de 500 ha/ano. A taxa média de parcelamento do
solo em Campo Grande, na década de 1960, foi de 330 ha/ano. Tal índice de
crescimento só foi superado pelo período de 1979-82 (após a implantação do Estado
28
de Mato Grosso do Sul). Em razão disso, o perímetro urbano da cidade foi ampliado
três vezes. O crescimento do território urbano da cidade deixou de ser contínuo ao
tecido preexistente, os novos loteamentos situaram-se descolados da malha urbana,
sendo implantados junto, ou próximos, às estradas de acesso a cidade (EBNER,
1997). Nessa época, a cidade passou a ser permeada por muitos vazios urbanos.
Em vista desse crescimento, foi implementado um novo código de obras.
A Lei n. 26, de 31 de maio de 1965, instituiu o segundo Código de Obras,
ampliando a especificidade dos termos abrangidos pelo código anterior. A lei teve
por princípios os preceitos do urbanismo modernista (habitação, trabalho, lazer e
circulação). Para efeito de parcelamento do solo, o Código de Obras subdividiu a
cidade em três áreas: urbana, suburbana e rural. Ainda como critério definidor do
espaço, a lei estabelecia dois outros tipos de áreas: a de recreação e a de uso
institucional. A primeira “é reservada às atividades culturais, cívicas, esportivas e
contemplativas da população tais como praças, bosques e parques”; a segunda é
“reservada a fins específicos de utilidade pública tais como educação, saúde,
cultura, administração e culto”.
As áreas de recreação têm ainda por função proteger as belezas naturais e os
recursos paisagísticos da região, tais como, mananciais, fundos de vale e reservas
florestais incorporados à área parcelada. Entretanto, a lei facultava que áreas
alagadiças, pequenos cursos d’água pudessem ser drenados e aterrados para que
se procedesse o parcelamento e a ocupação do solo, demonstrando que a proteção
dos recursos naturais não era plena.
Segundo o Código de Obras, as áreas de recreação são dimensionadas em
função do contingente populacional do loteamento (com área mínima de 16 m² /hab),
projetado a partir da família censitária do município e das unidades habitacionais
(que correspondem, em geral, a uma edificação por lote). Considerando o
dimensionamento recomendável para as quadras, lotes e logradouros públicos, que
a família média campo-grandense era composta por cinco pessoas, obtém-se que
em uma unidade residencial os espaços livres destinados à recreação e ao lazer
correspondem a 22% da área total do loteamento (em quadras parceladas com lotes
com 300m²) e 26% (em quadras com lotes 160m² ).
Apesar da falta de um padrão de alocação das áreas de reserva de praças,
de um controle mais rígido no cumprimento dos índices urbanísticos estabelecidos
pela Lei 26/65, a expansão do território urbano experimentado por Campo Grande
29
na década de 1960 serviu definitivamente para consolidar a formação de um
contingente de reserva de áreas públicas destinadas ao lazer. Nessa época foram
implantados anualmente cerca de 309 ha de novos loteamentos na cidade. E neste
processo de expansão da área parcelada foram criadas cerca de 19 ha/ano de áreas
públicas destinadas às praças (CAMPO GRANDE, 2005).
Todo empreendimento de parcelamento do solo era submetido à análise da
Administração Municipal. Os empreendimentos para serem regularizados e aceitos,
além de atender às exigências da legislação urbana, deveriam seguir as diretrizes
urbanísticas definidas pela Secretaria de Obras e Viação. As diretrizes eram
compostas da estruturação e alocação do sistema viário , da localização das áreas
de recreação e, quando fosse o caso, da criação de avenidas-parque ao longo das
margens dos córregos. Avaliando-se o conjunto de loteamentos que surgiram nessa
época, observa-se que a alocação das praças não teve um planejamento que
orientasse melhor sua localização, denotando que os critérios e as diretrizes
definidas pela administração municipal restringiam-se apenas a área do loteamento,
sem um planejamento da inserção desses espaços dentro do território urbano como
um todo, de modo a promover uma melhor articulação entre as diversas áreas de
reserva de praças e de uma coordenação mais estruturada do processo de
ocupação e de formação desses espaços. Na maioria dos casos, os loteamentos
eram compostos por malhas ortogonais, não se adotando um padrão de alocação
das áreas de reserva de praças. Algumas praças situavam-se dispostas em quadras
próximas entre si, concentrando-se em uma porção do loteamento, às vezes
situadas na área central do bairro , às vezes mais próximas a sua periferia.
Paralelamente a expansão do contingente de áreas de reserva de praças,
ampliaram-se também a quantidade de praças urbanizadas. Na segunda metade da
década de 1960, promoveu-se uma mudança de referencial de projeto, sendo
introduzido o estilo modernista, estilo que se consistia em superfícies não
decoradas, arestas vivas, componentes fabricados em série, formas angulares e
expressão genuína dos materiais. E com isso foram alterados os programas
funcionais das áreas.
No final da década de 1960, foi contratada a Companhia Hidroservice (SP),
para desenvolver plano de reformulação e de expansão urbana, com vários
aspectos referentes ao ideário modernista, entre os quais, a setorização funcional,
sistema de tráfego articulado e a implantação de áreas verdes situadas em fundos
30
de vale. Era prevista a criação do Parque Anhandui, localizado às margens do
córrego Segredo e da confluência com o córrego Prosa. O plano não previa a
integração desse parque com as praças existentes.
A área delimitada para o parque foi reduzida quando houve o processo de
negociações das desapropriações para a implantação do sistema de canalização e
da avenida situada às margens do córrego Segredo. Com a redução da área do
parque, parte da vegetação existente às margens dos córregos foi eliminada,
reduzindo um importante aspecto paisagístico da área. A área remanescente
corresponde hoje ao Horto Florestal. A paisagem configurada no plano apresentava
as edificações isoladas implantadas em extensas áreas verdes, pretendendo com
isto a produção de um espaço com habitabilidade mais satisfatória (MERCANTE,
2002).
No final da década de 1970, com a divisão do antigo Estado de Mato Grosso,
Campo Grande foi elevada à condição de capital do Estado de Mato Grosso do Sul.
Com o intuito de adequar o sítio urbano a essa realidade, o arquiteto Jaime Lerner
foi contratado para desenvolver um plano de reestruturação da infra-estrutura
urbana da cidade. O plano de Lerner foi baseado no trinômio trabalho, deslocamento
e lazer, e buscava, através da reestruturação do espaço físico e da expansão do
território urbano, fomentar o desenvolvimento socioeconômico da cidade. O plano
previa a implantação de sistema integrado de transporte público e individual, de
zoneamento urbano, da setorização funcional, da criação de um cenário urbano a
partir da implantação de um sistema de espaços livres públicos destinados ao lazer.
O plano de Lerner foi o primeiro a apresentar de modo intencional uma
estrutura composta por diferentes tipologias de espaços públicos, como por exemplo
praças, parques, eixos de animação, calçadões entre outros, para a cidade (Figura
04).
Além do estabelecimento de uma tipologia diferenciada para o conjunto de
equipamentos, o Plano demonstrou ter uma clara preocupação com a alocação dos
equipamentos, visando situá-los de modo a constituir um sistema que abrangesse de
modo homogêneo a cidade como um todo. Ele mesclou equipamentos voltados
exclusivamente para o lazer esportivo, com outros onde combinam-se a prática de
esportes, atividades culturais e a contemplação da paisagem. Propôs a reformulação
de espaços existentes e a inserção de novas áreas.
31
Figura 04: Sistemas de espaços livres públicos destinados ao lazer em Campo Grande
segundo o plano urbanístico proposto por Jaime Lerner. Fonte: LERNER, 1977.
No plano, áreas de fundo de vale foram novamente incorporadas, ampliando
a extensão das áreas em que havia uma preocupação com o planejamento de sua
ocupação. Incorporava também alguns elementos da paisagem da cidade que já
haviam se consolidado como marcos urbanos, entre esses: a área da pedreira do
bairro São Francisco (cujo valor paisagístico corresponde a sua configuração
espacial diferenciada e excepcional à área urbana; com valor ambiental por conter a
nascente de córrego). Ao mesmo tempo, propõe uma caracterização temática para
cada área, demonstrando uma preocupação com a caracterização da identidade
desses locais.
Entretanto, apesar de ter-se tido a intenção de se construir uma paisagem
lúdica e diferenciada, o projeto revelou-se como uma estrutura desconexa dos
referenciais locais, à medida que inseriu no espaço elementos configurados a partir
de uma paisagem exógena, de acordo com um padrão que reproduziu os elementos
paradigmáticos estruturados componentes da paisagem característicos do Estado do
Paraná, como por exemplo a relação entre o desenho das luminárias públicas e a
araucária (WEINGARTNER, 2001).
Contudo, a implantação de sua proposta foi segmentada, desenvolvida sob
administrações descontínuas e que se deixavam seduzir por interesses que nem
sempre corresponderam ao da coletividade, à adequada delimitação de uma
32
estrutura urbana e de um sistema público de equipamentos de lazer, assim como, a
configuração de um espaço urbano mais humano.
Em razão disso, de acordo com Gutemberg Weingartner (2001), a estrutura
implantada não se desenvolveu apropriadamente, em face da interdependência das
partes, ocasionando rapidamente a degradação de alguns espaços e a
descaracterização da proposta.
2.3 A REFORMULAÇÃO DOS INSTRUMENTOS DE GESTÃO URBANA
Paralelamente, o cenário político também foi objeto de mudanças,
consolidadas na Constituição Federal que inseriu no debate das questões urbanas,
novos valores. Efetivamente, destaca-se a questão físico-ambiental que passa a
fazer parte dos estudos relativos à organização dos espaços e das
responsabilidades das instituições governamentais. A Constituição do Estado de
Mato Grosso do Sul delimita melhor o tema, porém o focaliza sobre as questões
relativas ao meio ambiente natural, em particular, a região do Pantanal e ao
aproveitamento dos recursos hídricos do Estado. A questão ambiental em áreas
urbanas ficou delegada às administrações municipais.
Em 1988, com a implantação da Lei de Ordenamento do Uso e Ocupação do
Solo de Campo Grande, MS, os termos são mais aprofundados.
Essa Lei baseava-se no princípio de fomento do poder de fiscalização do
espaço urbano pela administração municipal, do estabelecimento de critérios
(regras) que proporcionem aos empreendimentos públicos e privados localização
adequada e definições precisas, assim como, um aproveitamento mais racional dos
recursos empreendidos. A preocupação com a preservação dos patrimônios naturais
e culturais era, diretamente, referenciada. Nesse sentido, foram estabelecidas
normas que regulamentavam a apropriação dos recursos naturais, foram criadas as
Áreas de Regime Urbanístico Específico (RESP) que fixaram índices e
procedimentos para sua preservação e uso adequado.
Paralelo à evolução da legislação, houve a expansão do território da cidade
com a implantação de novos loteamentos, ao mesmo tempo, foi ampliada a
quantidade de áreas verdes na cidade, as quais não foram urbanizadas e eram
vistas como ociosas e improdutivas. Nesse sentido, a administração pública
promoveu uma nova forma de ocupação dessa áreas: o comodato. O objetivo dessa
33
modalidade de ocupação visava estabelecer uma função social para essas áreas, ao
mesmo tempo torná-las mais produtivas, combatendo as invasões e a formação de
favelas nessas áreas e oferecendo à população de baixa renda uma produção de
alimentos básicos, e um meio de essa população possuir uma atividade produtiva
para sua subsistência (na forma de comodatário). Observa-se que, no final da
década de 1990, cerca de 830 ha de áreas de reserva públicas encontravam-se
cedidas em comodato.
Os problemas ocorridos com essa modalidade de ocupação, situaram-se,
principalmente, nas áreas localizadas em fundos de vale. Houve a descaracterização
do suporte físico para sua adequação à produção de alimentos, a redução da
vegetação nativa e da mata ciliar, o assoreamento dos córregos e em alguns casos
a poluição das águas.
Outro fator de conflito é o sentido de propriedade desenvolvido pelo
comodatário a partir da atribuição de uma responsabilidade sobre as áreas em
questão. Apesar da transitoriedade dessas concessões de uso das áreas públicas,
esse sentido de propriedade desenvolvido pelo comodatário caracterizou-se como
um impedimento para o poder público na retomada da área para reorientação de sua
destinação. Os problemas não se restringiram a esse aspecto. Houve também o
aumento da pressão para expansão das áreas em comodato fomentado pelo
agravamento da crise socioeconômica e o respectivo crescimento do contingente
populacional das classes de baixa renda.
As praças construídas nesse período situaram-se em bairros residenciais
(alguns consolidados e outros em amplo processo de ocupação). O período inicial de
apropriação desses espaços teve uma utilização intensa. Entretanto, após sua
inauguração, as praças entraram em processo de declínio. Passados dois anos de
sua construção, a maioria das áreas já estava totalmente abandonada.
No final da década de 1980 e início da década de 1990, a administração
municipal não reservou verba para investir na recuperação e na implantação de
praças, acentuando-se a degradação das áreas existentes. Entretanto, a partir de
1993, os investimentos na construção e de revitalização praças foram retomados.
Paralelamente a esse processo, o governo estadual, usando das prerrogativas
instituídas pela Constituição de Mato Grosso do Sul, desapropriou quatro glebas
para implantação de parques urbanos. O processo de implantação desses parques
não foi concluído e sua integração às áreas de lazer da cidade não se fez possível
34
naquela oportunidade em face de problemas políticos na administração estadual e
aos altos custos de implantação dos projetos e principalmente, pelos conflitos
gerados com a desapropriação das glebas. Estes parques só foram postos ao uso
público ao final da década de 1990 (Figuras 05, 06 e 07).
Figuras 05, 06 e 07: Praça e Estádio Belmar Fidalgo, Parque das Nações Indígenas, e Parque dos Três Poderes (onde estão as secretarias e órgãos governamentais). Fonte: GONÇALVES, Aleida. R. A., Dissertação A Construção Civil em prol da Defesa Civil . Estudo de caso em Campo Grande– MS, UFLA, 2006.
Possui também parques urbanos e praças que contribuem para maior
qualidade de vida do campo-grandense. E assim, a capital de Mato Grosso do Sul,
ficou conhecida por ser arborizada, ter ruas largas e ser ideal para se viver.
Esse caráter de regionalização do território urbano, se, por um lado, denota
as diferenças socioeconômicas que regem as relações humanas, por outro, conduz
a formação de lugares (TUAN, 1983) com características físicas e comportamentais
diferenciadas, refletindo-se no convívio da população e nas formas de apropriação
dos espaços urbanos. Essa diversificação induz à construção de um território
heterogêneo em suas feições morfológicas, mas também se traduz por realidades
bastante adversas, ao ponto de se terem contrastes críticos e conflitantes.
35
3. MATERIAIS E MÉTODOS
O objeto deste trabalho é a cidade de Campo Grande, a capital do Estado de
Mato Grosso do Sul, na região Centro-Oeste do Brasil, no centro do Estado,
equidistante de seus extremos norte, sul, leste e oeste; está também localizada
sobre o divisor de águas das bacias dos rios Paraná e Paraguai, definida pelas
coordenadas geográficas 20°26’34” latitude Sul e 54 °38’47” longitude Oeste, e sua
altitude varia entre as cotas 500 e 675 metros (Figura 08).
Tem como municípios limítrofes: Jaraguari, Rochedo, Nova Alvorada do Sul,
Ribas do Rio Pardo, Sidrolândia, Terenos.
Dois distritos fazem parte do Município: Anhanduí e Rochedinho. Conforme a
Lei Complementar n° 5, de 22 de novembro de 1995, q ue institui o Plano Diretor de
Campo Grande, estes distritos passaram a ser considerados como Regiões Urbanas
para fins de planejamento.
Figura 08: Mapa do Estado de Mato Grosso do Sul, destaque para o município de Campo Grande. Fonte: Site simbolosnacionais.blogspot.com.
36
O tema foi desenvolvido sob dois enfoques. Numa primeira abordagem foram
usadas fontes bibliográficas como livros nacionais e internacionais, periódicos e
artigos publicados em congressos e sites, que serviram de base para o referencial
teórico compondo um breve levantamento bibliográfico sobre a temática. E por se
tratar do estudo de uma cidade, foi fundamental uma pesquisa específica e dividida
em dois momentos; sua origem e sua condição atual. Por isso, a primeira etapa do
trabalho foi dedicada ao resgate histórico através de documentos escritos e
iconográficos.
Realizou-se ainda, a coleta dos dados empíricos junto à Prefeitura Municipal
de Campo Grande, precisamente na Agência Municipal de Habitação de Campo
Grande - EMHA, em fevereiro de 2010, com os próprios funcionários, desde
diretores até técnicos. As entrevistas foram em forma de questionários semi-
estruturados, ou seja, com perguntas abertas que orientaram uma conversação
informal e foram voltadas às questões de déficit habitacional, moradias populares,
evolução urbana, legislações pertinentes ao tema.
Também foram utilizados jornais locais de diferentes períodos, do acervo do
ARCA (Arquivo Histórico de Campo Grande). Nessas fontes jornalísticas buscou-se
informações históricas sobre o crescimento da cidade, precisamente após a divisão
do Estado a partir de 1977. Outro recurso utilizado como fonte documental foram as
fotos pertencentes à EMHA assim como as do arquivo pessoal.
Como Milton Santos (1988) diz: “a paisagem é apenas a materialização de um
instante da sociedade”, a dinâmica da cidade é constante e a paisagem muda e se
transforma. Num dia se tem uma área vazia, no outro ela está tomada. O inverso
também ocorre, mas com menor frequência. Por isso constantemente a cidade é
fiscalizada e são cadastradas as áreas invadidas.
Com o objetivo de verificar a existência de moradias precárias, várias visitas
foram feitas à periferia da cidade, para que as visitas fossem mais precisas colegas
da equipe do Serviço Social da EMHA apontaram algumas áreas já cadastradas e
registradas em fotos. Verificou-se ainda in loco a precariedade das habitações.
A análise foi delimitada no período de uma década, entre o ano de 2000 e
2010, e como limite de espaço, elegeu-se uma região de favelas que suas famílias
foram removidas para um parcelamento urbano regularizado pela Prefeitura de
Campo Grande; o loteamento Recanto Pantaneiro, localizado na Região Urbana do
Segredo, bairro Coronel Antonino, norte da cidade. Esse loteamento é resultado da
37
implantação do Programa de Aceleração do Crescimento - PAC, um projeto do
governo federal, lançado no dia 28 de janeiro de 2007, em parceria com o
município. Muitas outras áreas foram e estão sendo beneficiadas, pois o programa
foi concebido em diversas etapas, algumas já estão concluídas, como o caso do
Loteamento Recanto Pantaneiro, onde este trabalho limita-se a análise das 15
famílias reassentadas naquela região.
As 15 famílias beneficiadas foram retiradas de favelas no Jardim Presidente e
Morada Verde. O local destinado a elas foi o loteamento Recanto Pantaneiro (Figura
09), onde a Agência Municipal de Habitação de Campo Grande - EMHA tinha sido
beneficiada pelo loteador com a doação de alguns lotes. É um local servido de infra-
estrutura básica (água, luz, esgotamento sanitário através de fossa séptica e
sumidouros, etc).
Figura 09: Foto aérea da região norte da cidade, onde a linha o tracejada vermelha demarca
a implantação do loteamento Recanto Pantaneiro. Fonte: Google Earth.
Acesso em 11 de março de 2010.
CENTRO
38
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
A consolidação de Campo Grande como capital do Estado de Mato Grosso do
Sul propiciou um afluxo migratório e, consequentemente um crescimento
populacional e uma expansão econômica e territorial da cidade. Tais fatores
fomentaram o aparecimento de conflitos, até então inexistentes, e contribuíram para
acentuar o aumento dos vazios urbanos, assim como a subutilização da infra-
estrutura urbana e o encarecimento da prestação desses serviços. Conforme
mostram as figuras 06 e 07, manchetes de jornais locais registram a explosão do
crescimento demográfico da cidade na década de 1970.
Figuras 06 e 07: Jornal Correio do Estado na década de 1970, manchetes sobre o
crescimento da cidade. Fonte: Arca.
Ocorreram, no mesmo período e pelas mesmas razões, o aumento dos
assentamentos informais, das sub-habitações (favelas) e da degradação dos
recursos naturais, reflexo das desigualdades existentes na estrutura socioeconômica
e na falta de valorização das questões do meio ambiente na ocupação do espaço
urbano. E durante as décadas seguintes o reflexo do déficit habitacional tornou a
permanência desses assentamentos um problema constante para a capital do
estado (Figuras 08, 09 e 10).
39
Figuras 08, 09 e 10: Favela no Taquarussu, 1999, formada em área de fundo de vale, originalmente destinada à implantação do Parque Anhanduí. Fonte: WEINGARTNER (2001)
A grande maioria desses assentamentos localiza-se às margens dos córregos
que cortam a cidade, tais como Segredo, Prosa, Bandeira, Anhanduizinho, Lagoa,
Imbirussu, entre outros (Figura 11).
Figura 11: Mapa da cidade de Campo Grande, mostrando a divisão das Regiões Urbanas,
cada região recebeu o nome de acordo com o córrego que representa aquela micro-bacia.
Com tracejado em vermelho da área do Recanto Pantaneiro.
Fonte: Prefeitura Municipal de Campo Grande, 2006.
40
No caso de Campo Grande, a demanda da habitação social extrapola as
demais políticas sociais, assim não se pode pensar em urbanização sem prever o
acesso à educação, saúde, assistência social, lazer, cultura, e moradia.
O acesso à habitação segura e saudável é essencial para o bem-estar físico,
psicológico, social e econômico das pessoas, devendo ser parte fundamental das
políticas públicas.
Trata-se de um processo que se foi estabilizando ao longo dos anos, na
cultura da dependência, do clientelismo, esta continuidade remete ao atraso da
sociedade, nas vertentes sociais, econômicas, cultural, ambiental. Repercutindo nos
interesses de uma população excluída, que apesar de conhecer seus direitos, ainda
não desenvolveu um instrumento capaz de fazer com que sejam efetivamente
garantidos.
A prática de atuar em melhorias habitacionais e urbanísticas de
assentamentos degradados vem sendo, nos últimos tempos, levada a cabo em
diversas cidades brasileiras. Seu objetivo, em geral, é proporcionar níveis de vida
mais decentes à população-alvo e diminuir impactos ambientais negativos gerados
por essas aglomerações urbanas que apresentam insegurança geológica e
precariedade nas condições de saneamento, conforto, acessos e serviços urbanos.
Há casos também em que urbanizações de favelas visam prioritariamente
“embelezar” certas áreas urbanas, eliminar situações de irregularidade fundiária e
promover a valorização imobiliária do entorno, circunstâncias essas já detectadas
por alguns estudos econômicos.
As alternativas de ação podem ser pontuais ou mais amplas, variando desde
a realização de pequenas obras para sanar problemas específicos e imediatos, até a
promoção de uma retirada total das pessoas para produção de novas moradias no
local ou em outra área. Considera-se muito importante que a urbanização de favelas
em determinado município ou região esteja vinculada a um processo mais amplo de
planejamento para que a ação dessa melhoria habitacional esteja integrada a uma
ação mais abrangente, de caráter urbano.
A escolha da modalidade e do nível de intervenção vai depender de diversos
fatores, como as condições físicas e legais da favela, os aspectos sociais e
econômicos da população e o volume de recursos disponíveis.
41
Em rigor, estima-se que um processo de urbanização deva ser mais caro e
difícil quanto maiores forem o adensamento, a consolidação, a declividade ou a
profundidade, no caso das palafitas, e o nível de intervenção objetivado.
No entanto, como na maioria das práticas de políticas públicas, é preciso
considerar que não existem receitas prontas para esse tipo de ação. Tanto os
formuladores do programa como seus implementadores devem levar em conta que,
embora existam critérios gerais, as ações serão mais bem-sucedidas quando
apropriadas a cada contexto regional e mesmo a cada localidade-alvo.
Para que um programa ou empreendimento de intervenção sócio-urbana
tenha o sucesso almejado, seu foco de ação deve não só se voltar aos
procedimentos, recursos e aparatos legais adequados, mas também garantir a
qualidade e o perfil dos profissionais envolvidos. Portanto, é fundamental que os
profissionais que participam de seu desenvolvimento e implementação sejam
polivalentes, tendo afinidade com esse tipo de trabalho e competência técnica para
interagir de maneira interdisciplinar.
Isso pressupõe principalmente uma sensibilidade social, mesmo que sejam
técnicos de outras áreas de especialização (engenheiros, arquitetos, advogados,
economistas, profissionais da saúde). Para uma boa atuação técnica, é necessário
um entendimento da população-alvo, respeitando suas aspirações, potencialidades
e limitações, sem preconceitos ou práticas de paternalismo.
Em virtude de serem etapas que podem ocorrer concomitantemente entre si,
a sequência em que são mostradas não corresponde necessariamente a uma ordem
cronológica de ocorrência.
A seguir são apresentadas, conforme detectado no desenvolvimento da
pesquisa, as etapas que compõem o processo de melhoria habitacional utilizado
pela Agência Municipal de Habitação de Campo Grande – EMHA, para intervenção
em áreas de ocupações degradadas, e aplicadas no reassentamento das famílias no
loteamento Recanto Pantaneiro.
1ª Etapa - Identificação do local de intervenção e seus indivíduos
Após a constatação da presença de habitações anormais, ou subnormais,
uma equipe interdisciplinar formada por funcionários municipais visita a área, já
levantando o número de habitações, entrevistando moradores, para que seja
cadastrada a família, as assistentes sociais também verificam se duas ou mais
42
famílias moram no mesmo local, caracterizando coabitações. As casas são então
seladas, para que, se por ventura algum novo morador surgir, não venha tornar o
planejamento insuficiente. A fiscalização contínua é necessária, já que barracos
surgem da noite para o dia e quando a notícia que eles “vão ganhar casas”
normalmente o número de pessoas aumenta muito, e no intuito de serem premiados,
indivíduos mudam-se para o local da intervenção rapidamente.
As figuras 12 e 13 mostram aspectos da ocupação no fundo de vale do
Córrego Segredo, onde se verificou a presença de vegetação arbustiva e arbórea, e
notou-se que o processo de ocupação não apresentava ordenamento, sobretudo
considerando a declividade do local. Os materiais utilizados nas casas são pedaços
de madeira ou placas de compensado, chapas metálicas, lonas plásticas, telhas em
fibrocimento. Entretanto, algumas vezes encontram-se casas de alvenaria e telhas
cerâmicas. Percebe-se que o tempo de ocupação interfere na qualidade, conforme a
favela vai se consolidando, a tendência é a melhoria dos materiais construtivos.
Figuras 12 e 13: Aspectos da ocupação informal detectada durante a visita “in loco”,
para identificação, cadastramento no bairro Jardim Presidente, região urbana do Segredo,
2007. Arquivo do autor.
O uso dessas áreas é de risco, pois com chuvas intensas pode ocorrer
erosão, principalmente se o solo for desprovido de vegetação. Além disso é
necessário preservar essas áreas próximas aos rios e córregos e evitar o
assoreamento.
Durantes as visitas realizadas, os elementos que compõem a área, são
catalogados e registrados por meio de fotos (Figuras 14 e 15).
Quando se trata de uma área muito grande, a EMHA recomenda a
terceirização do serviço de cadastramento. Mas todos os técnicos devem estar
43
devidamente identificados com crachás. Neste caso, os técnicos visitam o local junto
com a empresa contratada para que os moradores já comecem a participar do
processo. Muitas vezes as pessoas se assustam, pensando que podem ser retiradas
abruptamente do local e podem também ficar incrédulos com a proposta.
Figuras 14 e 15: Visita “in loco”, também são feitos selagem e registro. Essas moradias
estão em fundo de vale às margens do Córrego Segredo, região urbana do Segredo, 2007.
Arquivo do autor.
Nesse contexto se efetiva o Projeto de Participação Comunitária, para
assegurar a ampla participação, acesso às informações que precisam ser claras e
definidas, garantindo a democracia do processo, tornando as discussões mais ricas,
educativas e produtivas, com a população exercendo o controle e o monitoramento
do programa, buscando o desenvolvimento comunitário, que é apresentado como
um processo integral de transformação social, cultural e econômica, bem como
método capaz de conseguir a participação e integração de toda a comunidade com a
finalidade de melhorar suas condições de vida.
Mediante conjugações de esforços do Poder Público e do próprio indivíduo,
propõe-se um trabalho sócio-educativo junto com as famílias, preparando-as para
sua nova condição de habitação, informando quanto a questões sanitárias e
ambientais, através de atividades programadas em conjunto com a comunidade e
instituições parceiras, assegurando ampla participação, despertando e ampliando o
conhecimento dos seus problemas, sensibilizando para a mobilização e
coordenação de lideranças e predispô-las para a ação que vise o encaminhamento
de soluções ou a tentativa de realização de aspirações da comunidade como um
todo.
44
Os profissionais envolvidos explicam, ouvem os questionamentos, e
respondem à comunidade, buscando a melhoria social, onde a prática é em conjunto
com a população, garantindo sua efetiva participação, norteando as ações que
direcionam e validam o Empreendimento, através de instrumentos e técnicas que
possibilitam a construção de estratégias de intervenção, valorizando a participação
comunitária.
Desta maneira, desenvolvem-se atividades que mobilizam os moradores na
participação e busca da qualidade de vida, na expectativa de gerar uma consciência
crítica em relação às questões que envolvem o trabalho em comunidade.
Através de entrevistas quantitativas e qualitativas, palestras, reuniões,
oficinas, abordagens individuais, grupais e comunitárias, busca-se garantir que os
recursos e a qualificação das ações públicas contribuam para o desenvolvimento
comunitário.
O conhecimento da realidade a ser trabalhada serve como parâmetro de
atuação. Inicia-se esta etapa com a identificação das lideranças e a coleta de dados
para avaliação técnica em duas abordagens:
1. Levantamento de dados documentais (leitura de projetos, especificações
técnicas, entrevistas com técnicos para complementação de informações) e
levantamento de campo (observação livre, levantamento do espaço físico,
plantas, registros fotográficos). Visando um controle rigoroso da população
beneficiada, todas as casas serão seladas para evitar que novas famílias se
instalem no local, na tentativa de conseguir uma moradia.
2. Coleta de dados, tabulação e apresentação de resultados. O formulário
deverá conter perguntas abertas e fechadas e serão organizadas em blocos
para facilitar a apresentação de dados (exemplo: I - Controle, II - Dados
Pessoais, III - Situação Familiar e de Renda, IV - Participação Social, V –
Condições de Moradia, e VII - Referente ao Bairro).
Nessa abordagem é marcada uma reunião com a comunidade para
apresentação da equipe técnica da EMHA, distribuição do formulário de pesquisa
aos participantes, orientando seu preenchimento enfatizando sua importância no
levantamento de dados primordiais para o desenvolvimento de atividades
45
direcionadas a realidade local. Visando quebrar barreiras na comunicação e
estabelecer atitudes participativas fortalecendo a confiança entre as partes, a
reunião inicia-se com dinâmicas vivenciais de integração.
Essas reuniões acontecem nos finais de semana, assim como aconteceu com
as famílias que foram para o Recanto Pantaneiro, para oportunizar a participação de
um número maior de pessoas, pois a população está mais presente no bairro nesses
dias. Ou à noite, porque muitos já voltaram do trabalho para suas casas.
Esses encontros ocorrem em local próximo, de fácil acesso, conhecido pelos
moradores, normalmente escolas ou centros comunitários.
Para as pessoas que não compareceram na reunião, são realizadas
posteriormente visitas domiciliares, na tentativa de garantir o repasse de
informações para toda a comunidade.
A finalização desta etapa se dá com a tabulação dos dados, análise e
apresentação dos resultados. Os resultados são divulgados e discutidos com a
comunidade e lideranças em reuniões. A explanação dos temas deve ser
participativa e aberta para maior entrosamento e conhecimento do grupo.
2ª Etapa - Apresentação do programa a comunidade
Nessa etapa, após o levantamento de dados, os técnicos da EMHA
apresentam o Programa à população beneficiada (Figura 16). Esta apresentação
acontece de forma dinâmica e com muita motivação, visando despertar o interesse e
a adesão ao programa.
Figura 16: Apresentação do Projeto à comunidade. CEINF - Centro de educação Infantil Eva
Maria de Jesus, bairro São Benedito, 26/05/2008. Arquivo do autor.
46
A dinamização das ações in loco são contínuas, mediante reuniões, palestras,
apresentação de propostas, benefícios do programa, bem como explicar que as
unidades habitacionais serão edificadas preferencialmente no espaço que já estão
ocupando, enfatizando sempre sobre a importância do empreendimento como um
bem material e, sobretudo que não estarão mais sujeitos a despejos, além de todas
as vantagens de infra-estrutura das casas e os serviços oferecidos no conjunto
habitacional.
Visando despertar à auto-estima da população, é enfocada a importância do
envolvimento da mesma nas decisões a serem tomadas em todas as etapas do
projeto, bem como a necessidade da união da população nas ações futuras no
conjunto, onde as melhorias dependerão unicamente dessa união em torno dos
objetivos comuns, e que para tanto devem se organizar e fortalecer as entidades
representativas.
Posteriormente é realizada uma reunião para esclarecer o papel de cada
participante do programa (beneficiários, EMHA, Construtora, Caixa) seus direitos e
deveres, ressaltando a importância da participação dos adquirentes na execução do
empreendimento.
Cada parceiro apresenta detalhadamente as ações de sua competência,
exemplificando:
• Detalhamento do Projeto Urbanístico – Departamento de Arquitetura e
Engenharia da EMHA;
• normas operacionais do Contrato de Financiamento (valores, pagamento de
prestações, prazos de amortização enfim, todas as informações julgadas
necessárias) – Setor financeiro da EMHA;
• elaboração e entrega da “Cartilha do usuário”, contendo toda documentação
técnica operacional que possibilite amplo conhecimento que permita o
acompanhamento da execução da obra (planta do imóvel, projetos complementares,
memorial descritivo, atribuições dos envolvidos, EMHA, Caixa e adquirentes) -
Equipe Técnica Social;
• divulgação dos canais de comunicação entre as partes – Equipe Técnica
Social da EMHA;
• informação sobre a formação da comissão de acompanhamento da obra –
Equipe Técnica Social da EMHA;
47
• apresentação do cronograma de obras e do Trabalho Social, destacando-se
a presença de um Técnico do Departamento de Obras (Engenheiro ou Arquiteto)
para garantir o repasse de informações técnicas durante a execução das unidades
habitacionais visando amplo entendimento, esse procedimento se dá durante toda a
execução do Empreendimento.
Na reunião para a apresentação do Empreendimento e detalhamento do
projeto urbanístico, são utilizados: banner, recursos audiovisuais, demonstração de
imagens do local, mapas, projeto do canteiro de obras, planta de localização do
loteamento, planta da casa, projetos complementares (elétrica e hidráulico).
A finalização desta etapa se dá com uma reunião para definição da Comissão
de Acompanhamento da Obra – CAO, e a efetivação da assinatura do Termo de
adesão o qual formalizará a aprovação pelos beneficiários.
3ª Etapa – Produção do Empreendimento
Nessa etapa ocorre a execução da obra, a qual é monitorada e controlada
pela equipe técnica, comissão de acompanhamento da obra e todos os adquirentes.
É realizada uma reunião mensal com a Comissão de Acompanhamento da
Obra - CAO que apresenta relatório dos itens vistoriados de acordo com as etapas
de construção e os problemas apresentados são repassados imediatamente para o
responsável da obra para providenciar a solução. É realizada também uma reunião
mensal com todos os adquirentes que acontece em local montado e equipado no
próprio empreendimento para incentivar e garantir as vistorias individuais, efetivando
a participação de todos (Figuras 17, 18, 19 e 20).
Figuras 17 e 18: Visita com a Comissão de Obras para análise do cumprimento do
cronograma de execução. Recanto Pantaneiro, 29/05/2008. Arquivo pessoal.
48
Figuras 19 e 20: Visita com a Comissão de Obras para explicação sobre a execução.
Recanto Pantaneiro, 03/07/2008. Arquivo pessoal.
As reuniões são divididas em duas pautas:
1ª - Após vistoria individual a equipe técnica apresenta detalhamento da obra,
para que sejam avaliadas pelos adquirentes (anexo I), esclarece todas as dúvidas
em relação às unidades habitacionais, são tratados assuntos relacionados à
elaboração da cartilha do proprietário informando e orientando quanto à apropriação,
ao uso e à manutenção dos imóveis e equipamentos comunitários.
2ª - Realização de palestras e apresentação de temas como educação
sanitária e ambiental, bem como incentivo as várias formas de organização
comunitária e capacitação de liderança, para alcançar os objetivos propostos. As
palestras se efetivam em parcerias com as demais secretarias municipais que
cedem os profissionais especializados nos temas acima citados. São realizadas
duas ações de desenvolvimento de pessoas. Esse trabalho tem por objetivo criar
impacto significativo nos participantes ou grupo, resultando em mudanças de
comportamento, conceitos e valores. Resgatar a autoconfiança, auto-estima, o
potencial adormecido e vontade de superar limites. Melhorar também os
relacionamentos no ambiente de trabalho, no lar, objetivando um clima de harmonia
e espírito de equipe.
Esse trabalho é realizado por profissionais capacitados na Área de Gestão de
Recursos Humanos, mais conhecidos por Facilitador ou Focalizador.
Os trabalhos acontecem num clima de total interação com os participantes,
mesclando momentos de descontração e muita emoção, a metodologia aplicada é
49
literalmente vivencial, tirando os participantes da zona de conforto, ou seja, os
mesmos não ficam como meros expectadores (Figuras 21 e 22).
Figuras 21 e 22: Dinâmicas de grupo objetivando a integração da comunidade, melhora da
auto-estima, relacionamentos pessoais. Palestras e ações educativas na Área da Saúde,
Meio Ambiente. Fonte: Arquivo Serviço Social EMHA.
Paralelamente as ações com a comunidade, são realizadas reuniões com as
lideranças comunitárias para formulação de atividades mais adequadas a cultura
local. Os assuntos são variados desde saúde até a importância do uso racional da
água e defesa do meio ambiente (Figuras 23 e 24).
Figuras 23 e 24: Visita de equipes no canteiro da obra para palestras à comunidade. Cada
encontro tem uma abordagem. São assuntos relacionados à saúde, como por exemplo o
combate ao mosquito da dengue, como também temas relacionados ao meio ambiente.
Arquivo Serviço Social EMHA.
50
4ª Etapa – Entrega do Empreendimento
Após o acompanhamento da obra e com o término da execução das unidades
habitacionais, são entregue as chaves. Essa etapa se efetiva em uma reunião onde
também são repassados os termos de vistorias que devem ser preenchidos
conforme orientações recebidas na etapa anterior, e se o imóvel apresenta algum
problema, os termos são encaminhados à construtora para que sejam efetuados
todos os reparos necessários garantindo as especificações do projeto.
Muitas vezes a própria EMHA faz a mudança, cada dia é agendado com as
famílias, sem ônus nenhum para a comunidade (Figuras 25 e 26).
Figuras 25 e 26: Remoção de família para nova casa. Arquivo Serviço Social - EMHA.
Cada morador recebe um questionário no ato da entrega das chaves da casa.
Este questionário diz respeito à qualidade da casa, são abordados itens como
funcionamento das torneiras, se existem vidros quebrados, funcionamento das
portas, janelas e fechaduras, etc. (Anexo II).
O relatório final é elaborado pela Comissão de Acompanhamento da Obra.
Entrega-se para cada beneficiário a Cartilha do Proprietário que contém todas as
informações necessárias sobre o recebimento, a conservação e manutenção do
imóvel recebido. São realizadas vistorias e visitas domiciliares para auxiliar os
adquirentes nos problemas de adaptação as novas condições de moradia, já houve
casos da pessoa desconhecer por exemplo um vaso sanitário.
Imediatamente após a retirada das famílias, o local (a favela) passa por um
processo de urbanização, são destruídos os barracos para que não venham ser
51
reocupados, e passam a ser ruas, parques, equipamentos comunitários ou
simplesmente áreas verdes, porém com tratamento adequado.
5ª Etapa: Desenvolvimento Comunitário
Essa etapa prevê ações a serem realizadas no loteamento durante a
execução da obra, visando o desenvolvimento comunitário aliado à educação
ambiental e sanitária.
Nessa etapa, considerando o nível de conscientização da comunidade em
relação as suas necessidades, a mesma é estimulada a mobilização para fortalecer
grupos representativos da organização comunitária, visando desenvolver ações de
melhoria da comunidade utilizando os recursos existentes.
Esta estimulação para mobilização se dá através de reuniões, palestras,
depoimentos e parcerias.
As crianças e os adolescentes são estimulados a participarem das atividades
culturais e desportivas, promovendo o respeito, interação e convivência social de
forma divertida (Figuras 27 e 28).
Figuras 27 e 28 : Cursos de geração de renda. Arquivo Serviço Social - EMHA.
Também são oferecidos gratuitamente cursos de capacitação e
aperfeiçoamento profissional, como fazer quitutes para festas, bolos, pães-de-mel,
bombons, desossa de frango. Também se ensina confeccionar artigos de decoração
de festas infantis, bijouterias, artesanatos, entre outros (Figuras 29 e 30).
É desenvolvido um programa de arborização e de conscientização da
importância das árvores e massas vegetais com uma cartilha sobre plantio e
manutenção da árvore e dicas para um bom convívio com a natureza.
52
Figuras 29 e 30: Cursos de geração de renda para a comunidade.
Arquivo Serviço Social - EMHA.
6ª Etapa: Avaliação Pós-ocupação
É realizada pesquisa de opinião, com o uso de formulários, para avaliar o
grau de satisfação dos adquirentes em relação ao imóvel, às atividades
desenvolvidas pela equipe multidisciplinar da EMHA, aos serviços e equipamentos
comunitários, ao financiamento, etc.
E todos os profissionais envolvidos, dos mais diversos setores e áreas,
participam das reuniões após a ocupação, ouvindo quais os pontos positivos e
negativos. Para que os prós sejam maximizados e os revezes sejam revistos
(Figuras 31 e 32).
Figuras 31 e 32 : Reuniões com a comunidade, para saber se existe algum problema
estrutural, se a moradia atende às necessidades e às expectativas do morador.
Em 21/01/2009. Fonte: Serviço Social EMHA.
53
Algumas vezes são necessários reparos na casa, como uma telha quebrada,
alguma torneira com mau funcionamento, etc. Quando não se trata de problema
causado pelo morador, a EMHA contata imediatamente a construtora responsável
pela execução da obra e todos os reparos são feitos sem nenhuma despesa para o
morador.
54
5. CONCLUSÃO E CONSIDERAÇÕES FINAIS
Em Campo Grande, muitas medidas têm sido tomadas para melhoria da
qualidade de vida da população. A Prefeitura Municipal, representada pela Agência
Municipal de Habitação de Campo Grande – EMHA, têm desenvolvido ações
constantes para a melhoria da qualidade da moradia popular e qualidade de vida
dos campo-grandenses.
E apesar de ser conhecida como uma capital que não tem favelas, elas
sempre existiram. Não da forma típica que se conhece, com inúmeros barracos em
encostas situadas muitas vezes em áreas centrais das grandes cidades como Rio de
Janeiro e São Paulo, mas são moradias construídas ilegalmente e muitas vezes em
áreas de risco (no caso de Campo Grande, a maioria em fundo de vale por conta
dos muitos córregos que cortam a cidade).
As conseqüências são o comprometimento ambiental e a deterioração da
qualidade de vida, principalmente das populações mais pobres, que correm sérios
riscos, como enchentes, erosões, deslizamentos, poluição da água e a diminuição
da cobertura vegetal. Os assentamentos urbanos precários são assentamentos
habitacionais irregulares - favelas, mocambos, palafitas e assemelhados -
localizados em terrenos de propriedade alheia, pública ou particular, ocupados de
forma desordenada e densa, carente de serviços públicos essenciais, inclusive em
áreas de risco ou legalmente protegidas.
O estudo sintetizado neste trabalho representou um primeiro passo para a
criação de um conjunto de informações com abrangência regional que propicie um
diagnóstico da precariedade urbana e habitacional no país – suas dimensões e
características. Simultaneamente, constitui um instrumento para a construção de
critérios e prioridades que embasem as decisões relativas ao desenho e ao
planejamento de políticas habitacionais e urbanas nacionais, assim como ao
planejamento e à implementação de políticas locais. Com esse objetivo, como foi
apresentado anteriormente, foi desenvolvido um método de produção de
informações organizadas em nível municipal.
A metodologia desenvolvida consistiu em análises documentais, abrangendo
a história e o histórico da moradia popular. Foi possível estabelecer uma linha de
atuação no que diz respeito à gestão habitacional local e concluir que o bom
resultado dessa política pública só é possível quando tratada com seriedade,
55
quando há fiscalização constante e programas preventivos, não apenas paliativos
(embora às vezes necessário).
No planejamento, a dimensão valorativa não se refere unicamente ao valor
monetário, mas leva em consideração também valores sociais, éticos, religiosos e
culturais. Dentre as alternativas tecnológicas propostas deve-se priorizar aquelas
capazes de gerar emprego e renda e que possibilitam o resgate de cidadania das
populações mais carentes. É necessário verificar se o planejamento propõe
diretrizes e ações com sustentabilidade econômica, ou seja, que possibilitem a
produção de riquezas, considerando e reduzindo os custos sociais e ambientais.
Contudo, esse processo necessita de que seus agentes estabeleçam uma
ética em suas ações, que busquem alternativas que tornem o meio urbano mais
humano.
Nesse sentido, é necessário estabelecer uma hierarquia das competências na
qual o corpo técnico deve aprofundar-se na análise dos anseios da sociedade e no
estudo do meio ambiente; as instituições, em coordenar e promover a participação
da população e a sociedade, em não se omitir a definir o destino do seu meio
ambiente.
Deve-se ressaltar que não se trata de uma receita pronta, que garante o bom
resultado em qualquer local, aqui foi utilizado o loteamento Recanto Pantaneiro
como área amostral. Contudo existem comunidades com peculiaridades que devem
ser levadas em conta. Na própria EMHA já se trabalhou com comunidades
indígenas, que mereceram atenção aos seus costumes particulares.
Também é preciso que a comunidade esteja interada do programa, para que
ao invés de receber negativamente a proposta, ela participe. O apoio dos moradores
é fundamental. Esta participação deve se estender aos representantes das
instituições governamentais, econômicas, educacionais, religiosas, clubes de
serviço, organizações populares do município, ou seja, toda representação legítima
da comunidade.
É fundamental a conscientização do morador quando adquire esta nova
residência, pois anteriormente muitos deles viviam de ligações clandestinas de água,
luz, entre outros, e a partir do momento que ele tem que arcar com as despesas,
este pode querer fazer novamente “gatos” ou até mesmo vender a casa para voltar a
viver sem a obrigação destes custos.
56
Concluí-se então que o bom êxito dos programas de desfavelamento em
Campo Grande se deve ao fato que constantemente são fiscalizadas as áreas
públicas, cadastradas as famílias que surgem ocupando estas áreas, para que as
secretarias municipais pertinentes tenham o controle da quantidade e do perfil dos
invasores.
É pertinente que a política pública de habitação envolva as demais secretarias
municipais, já que existe toda uma infra-estrutura necessária a dar suporte às
regularizações, bem como toda uma gama de equipamentos comunitários (escolas,
creches, postos de saúde).
Assim, considerando a importância das políticas públicas e dos programas
que vêm sendo desenvolvidos, cujo papel é de grande relevância para que se possa
avançar na luta pela redução da pobreza, das desigualdades nas cidades, e na
segurança das famílias, da sociedade e do meio ambiente, deve ser ponderado o
fato de que todo e qualquer projeto deve ter participação interdisciplinar, ser
frequentemente revisto e atualizado, porque o mundo sempre passa por
transformações e assim não se corre o risco do programa ficar desatualizado.
57
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61
ANEXOS
62
Anexo I
PROGRAMA DE ACELERAÇÃO DO CRESCIMENTO - PAC
CONSTRUÇÃO DE 15 UNIDADES HABITACIONAIS NO RECANTO PANTANEIRO
_º RELATÓRIO - VISTORIA DA COMISSÃO DE ACOMPANHAMENTO DA OBRA
DISCRIMINAÇÃO DOS SERVIÇOS REALIZADO SERVIÇOS PRELIMINARES _________UNIDADES (limpeza do terreno) INSTALAÇÕES PROVISÓRIAS _________UNIDADES (abrigo provisório, locação da obra, placa) INFRA-ESTRUTURA _________UNIDADES (fundação) SUPERESTRUTURA _________UNIDADES (cintas) VEDAÇÃO _________UNIDADES (alvenaria) COBERTURA _________UNIDADES (estrutra de madeira e telha) INSTALAÇÃO HIDRÁULICA _________UNIDADES (tubulação, torneiras, registros) REDE DE ESGOTO _________UNIDADES (tubulação, caixas, fossa, sumidouro) IMPERMEABILIZAÇÃO _________UNIDADES (impermeabilização da fundação) PISOS INTERNOS _________UNIDADES (contrapiso)
OBSERVAÇÕES:
63
OBSERVAÇÕES: COMISSÃO: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 DATA DA VISTORIA: RESPONSÁVEL PELA FISCALIZAÇÃO - EMHA:
64
Anexo II
TERMO DE VISTORIA DA UNIDADE PELO PROPRIETÁRIO APÓS OCUPAÇÃO
EMPREENDIMENTO: RECANTO PANTANEIRO -PAC
PROPRIETÁRIO:
ENDEREÇO:
TELEFONE PARA CONTATO:
ASSINALE COM "X" OS ITENS QUE APRESENTAM PROBLEMA.
ITEM DESCRIÇÃO SALA/ COZINHA BANHEIRO QUARTO ÁREA DE
SERV ÁREA
EXTERNA
1
PINTURA MANCHADA OU DANIFICADA
2
TRINCAS E FISSURAS NAS PAREDES (PEQUENAS RACHADURAS)
3 VASO SANITÁRIO QUEBRADO, TRINCADO
4
PIA QUEBRADA, TRINCADA OU MANCHADA
5
TANQUE QUEBRADO, TRINCADO OU MANCHADO
6 VIDROS QUEBRADOS OU TRINCADOS
7 FUNCIONAMENTO DAS PORTAS
8 FUNCIONAMENTO DAS MAÇANETAS
9 FUNCIONAMENTO DAS FECHADURAS
10 FUNCIONAMENTO DAS JANELAS
11 FUNCIONAMENTO DO RALO
12 FUNCIONAMENTO DAS TORNEIRAS
13 FUNCIONAMENTO DOS SIFÕES
14 FUNCIONAMENTO DA DESCARGA
15
FUNCIONAMENTO DE INTERRUPTORES DE LUZ
65
16 FUNCIONAMENTO DAS TOMADAS
17 FUNCIONAMENTO FOSSAS, SUMIDOUROS E CAIXA DE GORDURA
OBSERVAÇÕES E COMENTÁRIOS:
Nada mais tendo a declarar assino o presente termo.
Campo Grande/MS, ____ de __________ de 2009
_____________________________________________ Assinatura do proprietário
66