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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO REGIONAL TCHOYA GARDENAL FINA DO NASCIMENTO INDÚSTRIAS MINERADORAS DE CORUMBÁ, MATO GROSSO DO SUL: MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E O DESENVOLVIMENTO (IN) SUSTENTÁVEL CAMPO GRANDE MS 2018

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA-UNIDERP

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MEIO AMBIENTE

E DESENVOLVIMENTO REGIONAL

TCHOYA GARDENAL FINA DO NASCIMENTO

INDÚSTRIAS MINERADORAS DE CORUMBÁ, MATO GROSSO DO SUL:

MEIO AMBIENTE DO TRABALHO E O DESENVOLVIMENTO (IN)

SUSTENTÁVEL

CAMPO GRANDE – MS

2018

2

Tchoya Gardenal Fina do Nascimento

Indústrias Mineradoras de Corumbá, Mato Grosso do Sul: Meio Ambiente

do Trabalho e o desenvolvimento (in) sustentável

Tese apresentada ao Programa de Pós-

graduação em Meio Ambiente e

Desenvolvimento Regional da

Universidade Anhanguera-Uniderp,

como parte dos requisitos para a

obtenção do Título de Doutor em Meio

Ambiente e Desenvolvimento Regional.

Orientação:

Profa. Dra. Rosemary Matias

Prof. Dr. Sandino Hoff

CAMPO GRANDE – MS

2018

3

4

Dedico

Aos meus filhos Lucas, João e Laís, futura geração já

presente, na esperança de um mundo melhor

À minha mãe Lia, por acreditar e não me deixar desistir

Ao meu pai Ruy, fonte de inspiração e conhecimento

A Luiz Francisco, meu companheiro de vida

5

AGRADECIMENTOS

Este trabalho foi possível devido à colaboração de muitos amigos. Deixo

a todos eles meus agradecimentos e, em especial:

À minha orientadora, Profa. Dra. Rosemary Matias, pela amizade,

pela seriedade e competência imprescindíveis para a realização do

presente trabalho;

Aos professores do Doutorado da Anhanguera-Uniderp, pelos

ensinamentos;

Ao colega José Carlos Pina, pelas sugestões e revisão deste

trabalho;

Aos colegas de curso pelos momentos partilhados em sala de aula

e trocas de experiências;

Aos Professores Dra. Luciani Coimbra de Carvalho, Dra. Giselle

Marques de Araújo, Dr. José Paulo Gutierrez e Dra. Carla Letícia

Gediel, por aceitarem participar das bancas de qualificação e

defesa desta tese, sugerindo acréscimos valiosos para aprimorar o

trabalho científico;

A Luiz Francisco, companheiro e esteio para a realização dos meus

sonhos. Aos meus filhos Lucas, João e Lais, pela compreensão e

estímulo para a conclusão deste projeto de vida;

Aos meus pais, Ruy e Lia, trabalhadores incansáveis que me

ensinaram, com palavras e ações, o real sentido do trabalho, da

persistência e de lutar pelo que se quer;

A minha irmã Bruna, pela paciência e auxílio nas horas que mais

preciso;

Aos meus irmãos Mário e Gabriela, distantes fisicamente, mas

presentes em energias positivas e palavras de incentivo.

6

“Que se escute o grito de muitas pessoas, famílias e

comunidades que sofrem direta ou indiretamente as

consequências muitas vezes negativas das atividades de

mineração. Um grito pelas terras perdidas; um grito pela

extração das riquezas do solo que, paradoxalmente, não

produz nenhuma riqueza para a população local, que

permanece pobre; um grito de dor em reação às violências,

às ameaças e a corrupção; um grito de indignação e de

ajuda pelas violações dos direitos humanos, de forma

discreta ou descaradamente pisoteados no que diz respeito

à saúde das pessoas, às condições de trabalho, às vezes

pela escravidão e tráfico de seres humanos que alimenta o

fenômeno trágico da prostituição; um grito de tristeza e de

impotência pela poluição da água, do ar e do solo; um grito

de incompreensão pela falta de processos inclusivos e de

apoio por parte das autoridades civis, locais e nacionais,

que têm o dever fundamental de promover o bem comum”

Papa Francisco

7

LISTA DE FIGURAS – REVISÃO DE LITERATURA

Figura 1 Planície Pantaneira e Bacia do Alto Paraguai ..................... 27

Figura 2 Localização de Corumbá-MS .............................................. 28

Figura 3 Localização da borda oeste da Morraria - Maciço Urucum e

adjacências ........................................................................ 29

Figura 4 Mina de Urucum – Corumbá-MS ........................................ 33

Figura 5 Principais empreendimentos do polo minero-siderúrgico de

Corumbá ............................................................................ 35

Figura 6 Número de minas por porte e classe do mineral no Brasil -

metálicas e não metálicas .................................................. 36

Figura 7 Classificação de categoria de risco e dano potencial

associado às barragens ....................................................... 37

Figura 8 Barragem do Gregório, maior barragem de mineração de

Mato Grosso do Sul ............................................................. 39

Figura 9 Mosaico de imagens das mineradora de Corumbá-MS ...... 41

Figura 10 Volume de Receita das exportações do minério de ferro de

2012 a 2017 ........................................................................ 42

Figura 11 Mineradora e barragem – Corumbá-MS ............................. 44

Figura 12 Maciço de Urucum – Corumbá-MS ...................................... 45

Figura 13 Mineração Corumbá Reunida (MCR), responde por 10,29%

de tudo que deixa o Estado com destino ao exterior ............ 48

LISTA DE FIGURAS – ARTIGO I

Figura 1 Localização de Corumbá-MS ............................................. 101

Figura 2 Composição do PIB do município de Corumbá de 1980 a

2010, Mato Grosso do Sul .................................................. 106

Figura 3 Participação do PIB Industrial no PIB de Corumbá de 1980

A 2011, Mato Grosso do Sul .............................................. 107

Figura 4 Exportação do Minério de Ferro de Mato Grosso do Sul de

2012 a 2017 ....................................................................... 113

LISTA DE FIGURAS – ARTIGO II

Figura 1 Composição do PIB do município de Corumbá de 1980 a

2010, Mato Grosso do Sul .................................................. 137

Figura 2 Volume de Receita das exportações do minério de ferro de

2012 a 2017 ....................................................................... 139

Figura 3 Distribuição da arrecadação da Compensação Financeira

pela Exploração dos recursos minerais (CFEM) Brasil, Mato

Grosso do Sul ..................................................................... 143

8

Cont...

LISTA DE FIGURAS – ARTIGO III

Figura 1 Mina de Urucum – Corumbá-MS ........................................ 168

Figura 2 Distribuição de acidentes do trabalho motivo, no Estado de

Mato Grosso do Sul ............................................................. 185

Figura 3 Comunicação de acidentes de trabalho em Corumbá, 2015-

2016 .................................................................................... 185

Figura 4 Número de reclamações trabalhistas ajuizadas em desfavor

Das mineradoras de Corumbá, entre 2009 a 2018 .............. 190

LISTA DE FIGURAS – ARTIGO IV

Figura 1 Planície Pantaneira e Bacia do Alto Paraguai .................... 219

Figura 2 Mina de Urucum – Corumbá-MS ........................................ 222

Figura 3 Número de minas por porte e classe do mineral no Brasil

(metálicas e não metálicas) ................................................ 225

Figura 4 Classificação de Categoria de Risco e Dano Potencial

Associado ............................................................................ 226

Figura 5 Barragem do Gregório, maior barragem de. mineração de

Mato Grosso do Sul ............................................................. 228

9

LISTA DE TABELAS – REVISÃO DE LITERATURA

Tabela 1 Porte e modalidade de lavra das minas no Brasil- 2015 ..... 36

LISTA DE TABELAS – ARTIGO I

Tabela 1 PIB Municipal de Corumbá, Mato Grosso do Sul de 2002 a

2011 ................................................................................. 108

Tabela 2 Renda, pobreza e desigualdade - Município Corumbá, Mato

Grosso do Sul ..................................................................... 109

Tabela 3 PIB Municipal per capita de Corumbá, Mato Grosso do Sul

de 2002 a 2011 .................................................................. 109

Tabela 4 Admissão e demissão em Corumbá por setor (2007-2015) 110

Tabela 5 Número de empregos em diversos setores e atividades em

Corumbá-MS - 2016 .......................................................... 111

Tabela 6 Remuneração média de empregos formais de diversos

setores em Corumbá no ano de 2016, Mato Grosso do Sul 111

Tabela 7 Exportação de Produtos da Extração Mineral (2000-2014) 114

Tabela 8 Arrecadação da CFEM de 2010 até 2018, em milhões de

reais, entre os cinco maiores arrecadadores do Estado de

Mato Grosso do Sul .......................................................... 116

Tabela 9 Perfil dos empregrados formais no município de Corumbá,

Mato Grosso do Sul de 2010 a maio de 2018 .................... 116

9 Tabela 10 Perfil dos empregados na mineração em Corumbá, Mato

Grosso do Sul, de 2010 a maio 2018 .............................. 117

Tabela 11 IDH de Corumbá de 1991 a 2010 ..................................... 118

Tabela 12 IDH do município de Corumbá, Mato Grosso do Sul e seus

componentes ..................................................................... 119

Tabela 13 Longevidade, Mortalidade e Fecundidade - Município de

Corumbá, Mato Grosso do Sul ......................................... 119

Tabela 14 IFDM Corumbá no período de 2000 a 2011 ...................... 120

Tabela 15 Índice FIRJAN para Educação, Saúde, Emprego e Renda

para Corumbá, Mato Grosso do Sul, no período de 2010 a

2013 ................................................................................. 120

LISTA DE TABELAS – ARTIGO II

Tabela 1 Exportação de Produtos da Extração Mineral de Corumbá e

do Estado de Mato Grosso do Sul de 2000 a 2014 ............. 138

Tabela 2 Arrecadação da CFEM de 2010 até 2018, em milhões de

reais, entre os cinco maiores arrecadadores do Estado de

Mato Grosso do Sul .......................................................... 149

Tabela 3 Receita tributária e CFEM de Corumbá-MS, de 2013 a 2017 149

10

Cont...

LISTA DE TABELAS – ARTIGO II

Tabela 4 Índice de Desenvolvimento Humano de Corumbá – 1991,

2000 e 2010 ....................................................................... 151

Tabela 5 IFDM Corumbá no período de 2000 a 2011 ...................... 152

Tabela 6 Índice FIRJAN para Educação, Saúde, Emprego e Renda

para Corumbá, Mato Grosso do Sul, no período de 2010 a

2013 ................................................................................. 152

Tabela 7 Perfil dos empregados na mineração em Corumbá, Mato

Grosso do Sul, de 2010 a maio de 2018 ............................ 154

LISTA DE TABELAS – ARTIGO IV

Tabela 1 Porte e modalidade de lavra das minas no Brasil- 2015 ..... 225

11

LISTA DE QUADROS – REVISÃO DE LITERATURA

Quadro 1 Elementos do Programa da Comissão de Desenvolvimento

sustentável para os Indicadores de Sustentabilidade ......... 68

Quadro 2 Estrutura do Índice de Sustentabilidade Ambiental – ISA .... 69

Quadro 3 Alíquotas para fins de incidência da compensação financeira

pela exploração de recursos minerais (CFEM) .................. 75

LISTA DE QUADROS – ARTIGO II

Quadro 1 Alíquotas para a incidência da Compensação Financeira

pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) .................. 142

LISTA DE QUADROS – ARTIGO III

Quadro 1 Funções e Remunerações na Indústria de Extração Mineral

de Corumbá - 2017 ............................................................. 179

Quadro 2 Quantidade de acidentes do trabalho por situação de

registro e motivo, segundo Brasil e Região de Mato Grosso

do Sul - 2014-2016 ............................................................. 182

Quadro 3 Quantidade mensal de acidentes do trabalho, por situação

do registro e motivo, no estado do Mato Grosso do Sul - 2014

- 2016 .................................................................................. 184

Quadro 4 Ações Trabalhistas Brasil 2012-2016 ................................. 188

Quadro 5 Ações Trabalhistas Corumbá 2014-2018 ........................... 190

Quadro 6 Patologias na coluna vertebral ............................................ 199

Quadro 7 Processos Administrativos MPT de 2014 a 2018 ................ 204

LISTA DE QUADROS – ARTIGO IV

Quadro 1 Elementos do Programa da Comissão de Desenvolvimento

Sustentável para o Desenvolvimento de Indicadores de

Sustentabilidade ................................................................. 232

Quadro 2 Estrutura do Índice de Sustentabilidade Ambiental – ISA ... 233

12

Lista de Siglas e Abreviaturas

ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas

ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade

AIA Avaliação de Impactos Ambiental

ANA Agência Nacional de Águas

art. artigo

BAP Bacia do Alto Paraguai

BR Brasil Brasider - Sociedade Brasileira de Siderurgia

CAGED Cadastro Geral de Empregados e Desempregados

CAT Comunicação de Acidente de Trabalho

CBO Classificação Brasileira de Ocupações

CEREST Centro de Referência em Saúde do Trabalhador

CETEM Centro de Tecnologia Mineral

CF Constituição Federal

CID Código Internacional de Doenças

CDS Comissão de Desenvolvimento Sustentável

CLT Consolidação das Leis do Trabalho

CMN Confederação Nacional dos Municípios

CNAE Classificação Nacional de Atividades Econômicas

CNPS Conselho Nacional de Previdência Social

CNS Conselho Nacional de Saúde

COMIN Corumbá Mineração

COSIMAT Companhia Siderúrgica Mato-grossense

CONAMA Conselho Nacional de Meio Ambiente

CPRM Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

CVRD Companhia Vale do Rio Doce

DF Distrito Federal

DNPM Departamento Nacional de Produção Mineral

DORT Doenças Osteoarticulares Relacionadas ao Trabalho

DPA Dano Potencial Associado

EIA Estudo de Impacto Ambiental

EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

EPI Equipamento de Proteção Individual

FAP Fator Acidentário de Prevenção

Fe Ferro

FOB Free on Board

IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICP Injeção de Carvão Pulverizado

13

IMASUL Instituto de Meio Ambiente do Mato Grosso do Sul

inc. inciso

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INPE Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais

INSS Instituto Nacional do Seguro Social

JT Justiça do Trabalho

LER Lesões por Esforços Repetitivos

Lilacs Latin American and Caribbean Health Science

Literature LIMA Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente

MCR Mineração Corumbaense Reunida

MDIC Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviço

Metamat Companhia Mato-grossense de Mineração

MG Minas Gerais

MMA Ministério do Meio Ambiente

MME Ministério de Minas e Energia

MPS Ministério da Previdência Social

MP Ministério Público

MPE Ministério Público Estadual

MPF Ministério Público Federal

MPP Mineração Pirâmide Participações

MPT Ministério Público do Trabalho

MS Mato Grosso do Sul

MT Mato Grosso

MT Medicina do Trabalho

MTE Ministério do Trabalho e Emprego

NBR Norma Brasileira

NR Norma Regulamentadora

NTEP Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário

OIT Organização Internacional do Trabalho

ONG Organização não Governamental

ONU Organização das Nações Unidas

Org. Organizado

p. página

PA PARÁ

PAIR Perda Auditiva Induzida por Ruído

PDV Plano de Demissão Voluntária

PIB Produto interno bruto

PLC Programmable Logic Controller

PNS Pesquisa Nacional de Saúde

PNSB Política Nacional de Segurança de Barragens

PNSST Política Nacional de Segurança e Saúde no Trabalho

14

PRAD Plano de Recuperação de Áreas Degradadas

Qtde. Quantidade

RAIS Relação Anual de Informações Sociais

RAT Risco Ambiental do Trabalho

RDM Rio Doce Manganês

RE Recurso Extraordinário

RENAST Rede Nacional de Ação Integral à Saúde

RIMA Relatório de Impacto Ambiental

ROM Run of mine (produção bruta de minério)

RPPN Reserva Particular do Patrimônio Natural

S. A. Salário mínimo

Sal. min. Salário mínimo

SAT Seguro Acidente de Trabalho

Scielo Scientific Electronic Library Online

SEMA Secretaria Especial do Meio Ambiente (extinta)

SEMAC Secretaria de Estado do Meio Ambiente, das Cidades, do

Planejamento, da Ciência e Tecnologia

SENAI Serviço Nacional da Indústria

SEPROTU

R

Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agrário, da

Produção, da Indústria, do Comércio e do Turismo

SIDERUN

A

Usina Sideruna Indústria e Comércio (em recuperação judicial)

SIM Sistema de Informações sobre Mortalidade

SNISB Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de

Barragens

SNUC Sistema Nacional de Unidades de Conservação

SO Saúde Ocupacional

SOBRAMI

L

Sociedade Brasileira de Mineração

SST Saúde e Segurança do Trabalho

STF Supremo Tribunal Federal

SUS Sistema Único de Saúde

TRT Tribunal Regional do Trabalho

TST Tribunal Superior do Trabalho

UC Unidade de Conservação

UNESCO Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência

e a Cultura

UFMS Universidade Federal do Mato Grosso do Sul

UNIDERP Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região

do Pantanal

UNIGRAN Centro Universitário da Grande Dourados

ZEE Zoneamento Ecológico Econômico

WWF World Wildlife Fund

15

SUMÁRIO

1. Resumo Geral ................................................................................... 17

2. General Summary ............................................................................. 19

3. Introdução Geral ............................................................................... 21

4. Revisão de Literatura ......................................................................... 24

4.1. Abordagem da temática como referencial teórico ............................ 24

4.2. Localização da área de pesquisa e legislações aplicáveis ............. 26

4.3. Das Mineradoras e barragens .......................................................... 31

4.4. Dos impactos ao meio ambiente ...................................................... 43

4.4.1. Impactos ao meio ambiente natural ............................................... 43

4.4.2. Impactos sociais ...........................................................................

..

48

4.4.3. Saúde do Trabalhador .................................................................. 49

4.4.3.1. Subnotificações de acidentes e doenças ocupacionais ........... 54

4.5. Desenvolvimento Sustentável e Crescimento Econômico ............... 62

4.5.1. Índice de Sustentabilidade ............................................................ 63

4.6. Compensação Financeira pela exploração Mineral - CFEM ........... 69

5. Referências Bibliográficas .................................................................. 81

6. Artigos ................................................................................................ 98

Artigo I .................................................................................................... 98

Impactos socioeconômicos da atividade mineradora em Corumbá, Mato

Grosso do Sul ......................................................................................... 98

Resumo .................................................................................................. 98

Abstract .................................................................................................. 99

Introdução ............................................................................................ 100

Material e Métodos ............................................................................... 100

Resultados e Discussão ....................................................................... 102

Conclusão ............................................................................................ 122

Referências Bibliográficas .................................................................... 123

Artigo II ................................................................................................ 130

Compensação Financeira pela exploração de Recursos Minerais em

Corumbá-MS: necessidade de regulamentação e criação de Fundo da

Mineração para recuperação ambiental ............................................... 130

Resumo ................................................................................................ 130

Abstract ................................................................................................ 130

Introdução ............................................................................................ 131

Material e Métodos ............................................................................... 134

Resultados e Discussão ....................................................................... 134

Conclusão ............................................................................................ 157

Referências Bibliográficas .................................................................. 158

16

Artigo III ................................................................................................ 165

As subnotificações das comunicações de acidentes de trabalho no setor

de mineração: análise da situação dos mineiros de Corumbá-MS ..... 165

Resumo ................................................................................................ 165

Abstract ................................................................................................ 166

Introdução ............................................................................................ 166

Material e Métodos ............................................................................... 167

Resultados e Discussão ....................................................................... 168

Conclusão ............................................................................................ 205

Referências Bibliográficas .................................................................. 207

Artigo IV ................................................................................................ 215

Mineração no Pantanal Sul-Mato-Grossense: conformidade legal

garante a sustentabilidade ambiental? ................................................. 215

Resumo ................................................................................................ 215

Abstract ................................................................................................ 215

Introdução ............................................................................................ 216

Material e Métodos ............................................................................... 217

Resultado e Discussão ......................................................................... 217

Conclusão ............................................................................................ 236

Referências Bibliográficas .................................................................... 236

7. Conclusão Geral ............................................................................. 244

17

1. Resumo Geral

Corumbá localiza-se na porção noroeste de Mato Grosso do Sul,

concentrando, dentro de seu território, 60% do Pantanal sul-mato-grossense. A

região possui como atividade econômica a extração de minério de ferro, a

terceira maior reserva do Brasil, e de manganês, a maior reserva do país. A

atividade extrativa mineral é a maior fonte de receita para o município, porém os

problemas ambientais desta atividade têm atraído a atenção e a preocupação de

vários seguimentos da sociedade sobre a necessidade de ações preventivas. O

objetivo geral do presente trabalho é analisar o impacto econômico, social e de

desenvolvimento que a atividade mineradora traz para o município de Corumbá-

MS, confrontando-os com os aspectos do desenvolvimento sustentável o que

contempla a linha de pesquisa Sociedade, Ambiente e Desenvolvimento

Regional Sustentável. Esta pesquisa é de natureza quali-quantitativa, utilizando-

se, para a coleta de dados, revisão bibliográfica e análise documental, além de

processos trabalhistas, autuações e Termos de Ajustamento de Conduta em

desfavor das Mineradoras de Corumbá. Os dados coletados e a análise realizada

culminaram com quatro artigos. O artigo 1 tem como objetivo levantar e analisar

os índices econômicos e de desenvolvimento social do município de Corumbá e

relacionar com a atividade mineradora na região elegendo-se como parâmetros

o Produto Interno Bruto Municipal e Per capita, as informações constantes no

PNUD, informações sobre emprego, renda, número de admissões e demissões

no setor, o volume de exportação de produtos da extração mineral no período

de, os valores recebidos pelo município de CFEM, em contrapartida aos índices

de IDH (1991, 2000 e 2010) e IFDM (2000 a 2011). Apresenta-se como resultado

que atividade mineradora promove o crescimento econômico e não o

desenvolvimento humano traduzindo-se em concentração de riqueza, baixa

qualificação profissional, ausência de políticas de desenvolvimento e

degradação ambiental. O artigo 2 tem como objetivo identificar e avaliar os

valores arrecadados por Corumbá a título de CFEM entre 2010 a 2016 e analisar

se os valores arrecadados refletiram na melhoria na qualidade de vida da

população. Como resultado tem-se que a CFEM contribuiu para fortalecer as

finanças públicas, mas os valores não representaram a melhoria da qualidade

de vida da população. Como alternativa propõe-se a criação do “Fundo da

Mineração do município de Corumbá”. O artigo 3 tem como objetivo levantar e

18

analisar o número de acidentes de trabalho ocorridos no setor da mineração em

Corumbá durante o período de 2014 a 2018, traçando um comparativo entre os

acidentes/doenças do trabalho oficialmente notificados e as situações omitidas,

mas que diante das sequelas, acabam desembocando no Judiciário Trabalhista

e na Previdência Social, para diagnosticar as principais causas de acidentes e

adoecimentos do setor mineral de Corumbá-MS. Constatou-se que 20% dos

acidentes e doenças ocupacionais não são notificadas e que os acidentados são

trabalhadores jovens, com pouca qualificação e menores remunerações. As

principais causas dos infortúnios foram jornada excessiva de trabalho, falta de

treinamento adequado, falhas na estrutura do ambiente de trabalho e falta ou

insuficiência de EPI´S. O artigo 4 tem como propósito discutir a sustentabilidade

ambiental das empresas mineradoras no pantanal sul-mato-grossense,

propondo uma reflexão de que o cumprimento da legislação não garante a

sustentabilidade do empreendimento se isolada de melhorias na qualidade de

vida da população.

Palavras-Chave: Mineração, Meio Ambiente do Trabalho, Compensação

Ambiental, Sustentabilidade Ambiental.

19

2. General Summary

The Municipality of Corumba is located in the northwestern portion of Mato

Grosso do Sul, concentrating within its territory, 60% of Mato Grosso do Sul

Pantanal. The economic activity´s region is the extract of iron ore, the third largest

iron ore reserves in Brazil, and manganese, the country's largest manganese

reserves. The mining activity is the largest source of revenue for the municipality,

but environmental problems of this activity have attracted the attention and

concern of several segments of society about the need for preventive measures.

The goals of this research is to analyze economic, social and developmental

impact that mining activity brings to municipality of Corumbá-MS, confronting

them with the aspects of sustainable development which contemplates the line of

research in Society, Environment and Development Regional Sustainable. This

research is qualitative and quantitative nature, using data collection, bibliographic

review and documentary analysis, as well as labor lawsuits, notifications and

Terms of Conduct Adjustment in disadvantage Corumbá miners. The data

collected and analyzed culminated with four articles. The article 1 aimed to

analyze economic and social development indexes of the municipality of

Corumbá and relate it with mining activity in the region, using the Municipal Gross

Domestic Product and Per Capita, information on UNDP, information on

employment, income, numbers of admissions and dismissals in the sector, the

volume of exports of mineral extraction products in period from, the values

received by the municipality of CFEM, against the HDI indexes (1991, 2000,

2010) and IFDM (2000 a 2010). As a results the mining activity improve economic

growth but neither the human development, which is translates into concentration

of wealth, low professional qualification, ausence of policies of development and

environmental degradation. The 2 article aims to identify and evaluate the

amounts collected by Corumbá as CFEM between 2010 and 2016 and to analyze

if the values collected reflected in improvement in the quality of life of the

population. As a result, CFEM has contributed to strengthening public finances,

but the values did not represent an improvement in the population´s quality of life.

Alternatively, the creation of the “Mining Fund of the Municipality of Corumbá” is

proposed. The 3 articles aimed to verify and analyze the number of works

accidents in the mining sector in Corumbá in the period from 2014 to 2018,

drawing a comparison between the officially reported accidents/diseases of work

20

and the omitted situations, which in face of sequels, end up in the Labor Judiciary

and in Social Security, to diagnose the main causes of accidents and illnesses of

the sector in Corumbá. It was found that 20% of occupational accidents and

diseases are not reported and that the injured are young workers, with lower

qualification and remunerations. The main causes of the misfortunes were

excessive work hours, absence adequate training, failure of structure in work

environment and lack or insufficient PPE. The 4 article aimed to discuss the

environmental sustainability of mining companies in Pantanal sul-

matogrossense, proposing a reflection that compliance with the legislation does

not guarantee the sustainability of the enterprise if isolated from improvements in

the quality of life of population.

Keywords: Mining, Work Environment, Environmental Compensation,

Environmental Sustainability.

21

3. Introdução Geral

A presente pesquisa se insere na linha do programa, que objetiva a

Sustentabilidade Ambiental, vez que o conceito de sustentabilidade não se

restringe somente a um meio ambiente ecologicamente equilibrado como

também abrange a concreção de outros valores fundamentais que assegurem a

todos o bem-estar físico e psíquico, tais como a proteção da ordem econômica,

fundada na valorização do trabalho humano e livre iniciativa.

A indústria extrativista mineral é a principal fonte de riquezas para a cidade

de Corumbá, superando a arrecadação de impostos gerada pelos setores da

pecuária e agricultura considerada de fundamental importância sócio econômica

para Corumbá-MS, gerando aproximadamente 2000 empregos diretos e

representando a maior fonte de receita para o Município (MTE, 2015). Entretanto,

esta atividade acarreta severos efeitos ambientais, quer sobre o solo, ar, água,

biota, população do entorno e seus empregados, sendo considerada uma das

atividades mais perigosas à saúde humana (OLIVEIRA, 2001).

Os riscos ambientais de qualquer atividade minerária, tem elevada

magnitude e impactam diretamente a sustentabilidade ambiental da região. No

concernente ao meio ambiente do trabalho, há que se considerar o elevado

número de acidentes e doenças do trabalho (15.996 em 2015 em todo Brasil),

aposentadorias por invalidez e mortes, além da precarização de direitos

trabalhistas em decorrência da terceirização, trazendo repercussão de ordem

socioeconômica ambiental (MPS, 2015a).

Atualmente operam em Corumbá-MS cinco empresas mineradoras:

Companhia Vale do Rio Doce – Vale S/A., Mineradora Corumbaense Reunida –

MCR (subsidiária integral da Vale), Corumbá Mineração Ltda. – COMIN,

pertencente ao grupo Vetorial, Mineração Pirâmide Participações – MPP e

Granha Liga Ltda., terceira produtora de ferro-liga do Brasil.

Na região existem 20 barragens destinadas à disposição de rejeitos

resultantes da atividade, das quais 17 delas consideradas de pequeno porte e

apenas três de médio porte. Em razão de estarem localizadas no Pantanal, as

barragens do Estado receberam a classificação de Dano Potencial Associado (DPA),

que indica impactos sociais, ambientais e econômicos que um eventual vazamento

ou rompimento poderiam provocar, entre médio e alto.

22

Entretanto, as discussões acerca dos danos que essa atividade extrativa

causa aos trabalhadores nela inseridos, à sociedade e ao desenvolvimento

regional sustentável, são ainda incipientes.

Conhecer os efeitos que a atividade minerária representa para a realidade

socioeconômica e ambiental de Corumbá, analisando as formas de atuação das

Empresas minerárias no tocante a saúde do trabalhador do setor na região é

importante para estabelecer ações de promoção e prevenção mais focalizadas,

no sentido de erradicar ou ao menos controlar, de forma mais eficiente, os riscos

que resultam em doenças e acidentes de trabalho, bem como para melhorar as

condições do ambiente de trabalho das pessoas envolvidas nas atividades de

mineração, como uma necessidade ao desenvolvimento regional e à

sustentabilidade ambiental, diante do grave impacto que as doenças, os

afastamentos, aposentadorias e mortes acarretam para esses trabalhadores,

suas famílias, a Previdência Social, o meio ambiente e toda a sociedade.

O objetivo geral do presente trabalho é analisar o impacto econômico,

social e de desenvolvimento que a atividade mineradora traz para o município

de Corumbá-MS, confrontando-os com os aspectos do desenvolvimento

sustentável, sob a ótica do meio ambiente do trabalho.

Os objetivos específicos, que serão apresentados na forma de artigos científicos

são:

1) Levantar e analisar os índices econômicos (PIB, PIB per capita) do

município de Corumbá e relacionar com a atividade mineradora na região

e comparar com os índices de desenvolvimento índices de

desenvolvimento econômico (IDH, IFDM), apresentando os resultados

relativos a qualidade de vida da população, apurando-se as condições da

educação, saúde, emprego e renda, distribuição de renda, a média

remuneratória, bem como o volume de exportação e os royalties

recebidos pela exploração mineral, bem como a capacitação profissional

estimulada pelo setor minerador na região;

2) Identificar e avaliar os valores arrecadados pelo Município à título de

CFEM entre 2010 a 2016 e relacionar com a melhoria na qualidade de

vida da população, sustentando-se a criação de um Fundo da Mineração,

imprescindível para o desenvolvimento regional sustentável,

23

considerando que a Lei 7.990/89 instituiu a compensação financeira pelo

resultado da exploração da lavra - CFEM, como uma contraprestação pela

utilização econômica dos recursos minerais para a minimização dos

impactos causados pela atividade e Corumbá-MS possui a décima maior

arrecadação de CFEM entre os municípios do Brasil;

3) Levantar e analisar o número de acidentes de trabalho ocorridos no setor

da mineração em Corumbá, durante o período de 2014 a 2018, traçando

um comparativo entre os acidentes/doenças do trabalho oficialmente

notificados e as situações omitidas, mas que diante das sequelas, acabam

desembocando no Judiciário Trabalhista e na Previdência Social, para

diagnosticar as principais causas de acidentes e adoecimentos do setor

mineral de Corumbá-MS por meio da análise de processos judiciais

trabalhistas perante a Vara do Trabalho em Corumbá, bem como

emissões de CAT e autuações administrativas do Ministério Público do

Trabalho em desfavor das empresas mineradoras de Corumbá para

verificar as condições de saúde dos trabalhadores ativos, apurando-se o

número de acidentes e/ou doenças do trabalho, bem como afastamentos

para tratamento de saúde, apurando-se quais as doenças mais

recorrentes, o motivo da doença e/ou acidente; os riscos operacionais da

atividade mineradora de Corumbá, bem como o cumprimento das

obrigações trabalhistas e eventuais pedidos de indenizações por acidente

e doenças do trabalho;

4) Por fim o artigo 4 tem o propósito avaliar e discutir alguns parâmetros de

sustentabilidade ambiental das empresas mineradoras no pantanal sul-

mato-grossense, propondo uma reflexão de que nem sempre ser

legalmente sustentável é também ser ambientalmente sustentável. Assim,

questionar a concepção de sustentabilidade ambiental atrelada ao

conceito de sustentabilidade legal e propor uma reflexão de que a

sustentabilidade é mais que uma condicionante ambiental ou

conformidade legal e base de discussão desta tese o que contempla a

linha de pesquisa linha de pesquisa Sociedade, Ambiente e

Desenvolvimento Regional Sustentável.

24

4. Revisão de Literatura

4.1. Abordagem da temática como referencial teórico

As discussões acerca dos danos que a atividade extrativa causa à

sociedade, aos trabalhadores nela inseridos e ao desenvolvimento regional

sustentável são ainda incipientes.

As obras de suporte para a revisão da literatura, com investigação em

fontes secundárias, foram selecionadas por intermédio dos periódicos da

CAPES e das plataformas Scientific Electronic Library Online (Scielo), Latin

American and Caribbean Health Science Literature (Lilacs), Biblioteca Central da

UFMS e Biblioteca Uniderp, demonstrando a escassa abordagem regional do

assunto, pesquisadas por meio dos seguintes descritores:

a) CAPES: “mineração” (4.425 obras), “Corumbá” (1.444 obras), “mineração

Corumbá” (8 obras), “Desenvolvimento Corumbá” (363 obras),

“Desenvolvimento Corumbá mineração” (17 obras), “Acidente de

Trabalho” (1.467 obras), “acidente de trabalho mineração” (31 obras),

“acidente de trabalho Corumbá” (nenhuma obra); “CAT mineração” (16

obras), “Doenças Ocupacionais” (719 obras); “Doenças Ocupacionais

Corumbá” (3 obras), “Pantanal e Mineração” (64 obras); “mineradoras”

(300 obras), “Impactos ambientais e Mineração” (6 obras), “Impactos

ambientais e Pantanal” (17 obras);

b) Na plataforma Scielo: “mineração” (585 obras), “Corumbá” (285 obras),

“mineração Corumbá” (nenhuma obra), “Desenvolvimento Corumbá” (17

obras), “Desenvolvimento Corumbá mineração” (nenhuma obra),

“Acidente de Trabalho” (165 obras), “acidente de trabalho mineração”

(nenhuma obra), “acidente de trabalho Corumbá” (nenhuma obra); “CAT

mineração” (nenhuma obra), “Doenças Ocupacionais” (6 obras);

“Doenças Ocupacionais Corumbá” (nenhuma obra), “Pantanal e

Mineração” (1 obra); “mineradoras” (nenhuma obra), “Impactos

ambientais e Mineração” (6 obras), “Impactos ambientais e Pantanal”

(nenhuma obra);

c) Na plataforma Lilac´s: “mineração” (285 obras), “Corumbá” (40 obras),

“mineração Corumbá” (nenhuma obra), “Desenvolvimento Corumbá” (4

obras), “Desenvolvimento Corumbá mineração” (nenhuma obra),

25

“Acidente de Trabalho” (1.523 obras), “acidente de trabalho mineração” (9

obras), “acidente de trabalho Corumbá” (nenhuma obra); “CAT

mineração” (4 obras), “Doenças Ocupacionais” (2.533 obras); “Doenças

Ocupacionais Corumbá” (nenhuma obra), “Pantanal e Mineração” (4

obras); “mineradoras” (5 obras), “Impactos ambientais e Mineração” (15

obras), “Impactos ambientais e Pantanal” (1 obra);

d) Biblioteca UFMS (catálogo on line): “mineração” (4 obras), “Corumbá” (31

obras), “mineração Corumbá” (nenhuma obra), “Desenvolvimento

Corumbá” (4 obras), “Desenvolvimento Corumbá mineração” (nenhuma

obra), “Acidente de Trabalho” (1 obra), “acidente de trabalho mineração”

(nenhuma obra), “acidente de trabalho Corumbá” (nenhuma obra); “CAT

mineração” (nenhuma obra), “Doenças Ocupacionais” (1 obra); “Doenças

Ocupacionais Corumbá” (nenhuma obra), “Pantanal e Mineração”

(nenhuma obra); “mineradoras” (4 obras), “Impactos ambientais e

Mineração” (nenhuma obra), “ Impactos ambientais e Pantanal” (1 obra);

e) Biblioteca Uniderp (catálogo on line): “mineração” (39 obras), “Corumbá”

(104 obras), “mineração Corumbá” (nenhuma obra), “Desenvolvimento

Corumbá” (8 obras), “Desenvolvimento Corumbá mineração” (nenhuma

obra), “Acidente de Trabalho” (27 obra), “acidente de trabalho mineração”

(nenhuma obra), “acidente de trabalho Corumbá” (nenhuma obra); “CAT

mineração” (nenhuma obra), “Doenças Ocupacionais” (13 obras);

“Doenças Ocupacionais Corumbá” (nenhuma obra), “Pantanal e

Mineração” (nenhuma obra); “mineradoras” (39 obras), “Impactos

ambientais e Mineração” (nenhuma obra), “Impactos ambientais e

Pantanal” (2 obras).

Do ponto de vista da ética na pesquisa, e levando em consideração a

Resolução 196/96 (BRASIL, 1996), estabelecida pelo Conselho Nacional de

Saúde e o dever de confidencialidade imposto pela Resolução 466/2012,

(BRASIL, 2012) do Conselho Nacional de Saúde (CNS) os dados referentes aos

litigantes nos processos judiciais e administrativos não serão divulgados.

A presente pesquisa recebeu parecer favorável do Comitê de Ética em

Pesquisa da Universidade Anhanguera–Uniderp em 29 de junho de 2018,

Processo-CAAE n. 92662518.0.0000.5161.

26

4.2. Localização da área de pesquisa e legislações aplicáveis

O Estado de Mato Grosso do Sul localiza-se no sul da Região centro-

oeste e limita-se com cinco estados brasileiros: Mato Grosso (norte), Goiás e

Minas Gerais (nordeste), São Paulo (leste) e Paraná (sudeste); e dois países sul-

americanos: Paraguai (sul e sudoeste) e Bolívia (oeste). A área objeto do

presente trabalho corresponde à Planície Pantaneira, que está inteiramente

contida na Bacia do Alto Paraguai (BAP), na região do maciço do Urucum.

A planície pantaneira, imensa área periodicamente alagada pela

inundação do rio Paraguai, é a maior área úmida tropical do planeta, reconhecida

nacional e internacionalmente pela exuberância de sua biodiversidade como

uma das áreas úmidas de maior importância do globo (ALHO et al., 2005). O

Pantanal foi declarado Patrimônio Nacional pela Constituição de 1988 (BRASIL,

2016a) sítio designado pela Convenção de Áreas Úmidas RAMSAR, em 1993 e

Reserva da Biosfera pela UNESCO, em 2000 (ANA, 2004). O bioma é

reconhecido por ser portador de extraordinária biodiversidade e rico criadouro de

espécies que dependem do regime natural dos pulsos de inundação do rio.

(MOTA, 2009).

O Pantanal é a maior planície inundável continental do mundo, com cerca

de 175.000 km2. Aproximadamente 10 milhões de pessoas dependem dos

serviços ecossistêmicos do Bioma. Na região do Pantanal, existem hoje 10 sítios

Ramsar (áreas úmidas de importância internacional) reconhecidos pela

Convenção. Três deles estão no Brasil: Parque Nacional do Pantanal Mato-

grossense; RPPN Sesc Pantanal e RPPN Fazenda do Rio Negro. O Pantanal

abriga rica biodiversidade: mais de 4 mil espécies de animais e plantas já foram

registradas. Assim como a fauna e flora da região são admiráveis, há de se

destacar a rica presença das comunidades tradicionais como, indígenas,

quilombolas, coletores de iscas ao longo do Rio Paraguai, Amolar e Paraguai

Mirim, dentre outras. No decorrer dos anos essas comunidades influenciaram

diretamente na formação cultural da população pantaneira.

Apesar de sua beleza natural exuberante o bioma vem sendo muito

impactado pela ação humana não sustentável. Apenas 4,6% do Pantanal

encontram-se protegidos por unidades de conservação, dos quais 2,9%

correspondem a UC’s de proteção integral e 1,7% a UC’s de uso sustentável

(WWF-BRASIL, 2018).

27

A bacia do rio Paraguai abrange uma área de 1.095.000 Km2 com 34% no

Brasil e o restante no Paraguai, Bolívia e Argentina. O rio percorre 2.550 km

desde a nascente no Estado de Mato Grosso, até a foz, na Argentina. Já a área

de drenagem referida como bacia do Alto Paraguai – BAP corresponde à região

hidrográfica da montante do rio Paraguai, que vai desde sua nascente, até a foz

do rio Apa, na fronteira entre Brasil e Paraguai, até aonde o rio percorre uma

extensão de 1.683 km. A partir da confluência com o rio Apa, o rio Paraguai

atravessa a fronteira, desenvolve-se no Paraguai e chega à Argentina, onde

deságua no rio da Prata. A BAP drena uma área de 496.000 km2 compartilhada

por Brasil, Paraguai e Bolívia. Em território brasileiro, a área é de 363.442 km2

(73,27%), alcançando os Estados de MT (48,2%) e MS (51,8%), onde 215.813

km² em área de planalto e 147.629 km² na planície, ou Pantanal, propriamente

dito. Aproximadamente 70% da planície pantaneira, em terras brasileiras, está

no MS e o restante em MT (Figura 1) (MOTA, 2009).

Figura 1. Planície Pantaneira e Bacia do Alto Paraguai. Fonte: WWF (2008).

O município de Corumbá está completamente inserido no ecossistema

pantaneiro, na fronteira do Brasil com a Bolívia e o Paraguai. Seu território

corresponde a 18% da área do Estado, com cerca de 65.000 km² (Figura 3). Por

outro lado, Ladário, município de apenas 342 km², está totalmente inserido nos

28

limites corumbaenses e as sedes de ambos constituem uma conurbação1. Em

meio à planície pantaneira, próximo às áreas urbanas de Corumbá e Ladário,

destaca-se a formação montanhosa, não inundável, denominada Borda Oeste

do Pantanal, correspondente ao Maciço do Urucum e áreas de morro adjacentes,

que abrigam os depósitos minerais de ferro e manganês.

Figura 2. Localização de Corumbá-MS. Fonte: IBGE (2000) apud Souchaud e

Baeninger (2008, p. 272).

O Maciço do Urucum agrupa um conjunto de morrarias, dentre as quais

se destacam a do Rabichão, Tromba dos Macacos, Santa Cruz e Jacadigo,

assim como a do Urucum, que, elevando-se a uma altitude de 1.050 m, constitui

o ponto mais alto da área. Com superfície de 131.105,5 ha, o Maciço do Urucum

é delimitado ao norte pelo Rio Paraguai e pela Lagoa Negra e do Arroz, a oeste

pela fronteira com a Bolívia e ao sul e a leste pelas áreas de inundação do

1 Conurbação é a unificação da mancha urbana de duas ou mais cidades, em consequência de seu crescimento geográfico.

29

Pantanal, Lagoa do Jacadigo, rio Verde, Baía de Albuquerque e Morraria do

Rabichão (LIMA, 2008).

Essa sequência de formações minerais estende-se em território boliviano,

no Morro do Mutum. Devido às formações cársticas2 do Grupo Corumbá,

destaca-se, também, as reservas de calcário na região (LIMA, 2008).

Figura 3. Localização da Borda Oeste da Morraria - Maciço Urucum e

Adjacências. Fonte: Lima (2008), com base em Silva (2000).

No cenário da borda oeste do Pantanal a grande demanda do mercado

internacional por produtos derivados de minérios, principalmente o aço, cuja

principal matéria-prima é o ferro, trouxe recentemente preocupações com a

conservação do Pantanal. Nos últimos anos, foram pedidos mais de cinco mil

2 Cárstico, é um tipo de relevo geológico caracterizado pela dissolução química (corrosão) das rochas, o que leva ao aparecimento de uma série de formações físicas, tais como cavernas, rios subterrâneos, paredões rochosos, dolinas (VIDE), etc.

30

requerimentos para pesquisa de minério de ferro, 600 para manganês e 600 para

calcário na região, representando uma extensa área para lavra. Nesse cenário,

as reservas localizadas no Morro do Urucum têm uma posição de destaque.

(ZERLOTTI, 2010).

A Lei Federal nº 9.985/00 (BRASIL, 2000) regulamentada pelo Decreto nº

4.340/02 (BRASIL, 2002), institui o Sistema Nacional de Unidades de

Conservação da Natureza – SNUC e estabelece critérios e normas para a

criação, implantação e gestão das unidades de conservação. Há que

acrescentar as portarias do IPHAN, nº 7 (IPHAN, 1988) e 230 (IPHAN, 2002)

reservadas à proteção arqueológica.

O licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto

ambiental tem como um dos requisitos a ser atendido pelo empreendedor o apoio

à implantação e manutenção de Unidades de Conservação do grupo de Proteção

Integral (BRASIL, 2000, art. 36).

O licenciamento ambiental foi instituído pela Lei nº 6.938/81 (BRASIL,

1981) como um dos instrumentos necessários à proteção e melhoria do meio

ambiente estabelecendo medidas necessárias para prevenção, reparação e

mitigação de impactos ambientais. A Resolução CONAMA nº 237/97 (MMA,

1997) define licenciamento ambiental como procedimento administrativo pelo

qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação

e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos

ambientais.

De acordo com a Portaria Interministerial nº 419/11 (BRASIL, 2011), cabe

à Fundação Nacional do Índio - FUNAI, à Fundação Cultural Palmares - FCP, ao

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN e ao Ministério da

Saúde, a elaboração de parecer e manifestação conclusiva sobre o Estudo de

Impacto Ambiental – EIA e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA

em processos de licenciamento ambiental de competência federal.

Em termos estaduais, a Lei nº 3.709/09 (MATO GROSSO DO SUL, 2009)

fixa a obrigatoriedade de compensação ambiental para empreendimentos e

atividades geradoras de impacto ambiental negativo não mitigável, e dá outras

providências. Já a Lei nº 2.257/01 (MATO GROSSO DO SUL, 2001), dispõe

sobre as diretrizes do licenciamento ambiental estadual, estabelece os prazos

para a emissão de licenças e autorizações ambientais, e dá outras providências.

31

Por sua vez, o Decreto nº 12.528/08 (MATO GROSSO DO SUL, 2008) institui o

Sistema de Reserva Legal (SISREL) no Estado do Mato Grosso do Sul, e dá

outras providências.

A Resolução SEMA-MS nº 004/89 (MATO GROSSO DO SUL, 1989),

disciplina a realização de Audiências Públicas no processo de Licenciamento de

Atividades Poluidoras e a Resolução Conjunta SEMA/IMAP nº 004/04 (MATO

GROSSO DO SUL, 2004) dispõe sobre o Manual dos Procedimentos de

Licenciamento Ambiental no âmbito do Instituto de Meio Ambiente Pantanal.

Em julho de 2001, foi aprovada a Lei Municipal nº 1.665/01 (CORUMBÁ,

2001a) que instituiu o Sistema Municipal de Licenciamento e Controle

Ambiental/SILAM, contendo a relação das atividades passíveis de licenciamento

municipal. Posteriormente, foi publicado o Decreto Municipal nº 150/01

(CORUMBÁ, 2001b) que regulamentou os dispositivos da Lei SILAM.

Em fevereiro de 2008, foi aprovada a Lei Municipal nº 2.028/08

(CORUMBÁ, 2008) que institui o procedimento administrativo de fiscalização

ambiental e de aplicação das penalidades às condutas e atividades lesivas ao

meio ambiente no município de Corumbá, e dá outras providências.

Atualmente, a Secretaria Executiva de Meio Ambiente – SEMAC, que

substituiu a SEMATUR, é a responsável pela coordenação e aplicação das

normas do SILAM, que emite quatro modalidades de licenças: Licença Prévia/LP

(fase preliminar, aprovando o local da atividade); Licença de Instalação/LI (fase

de aprovação do Plano de Controle Ambiental - PCA); Licença de Operação/LO

(fase de autorização do funcionamento da atividade) e Licença Ambiental

Simplificada (LAS) (para atividades dispensadas do PCA). Cabe salientar que,

outro fator norteador das atividades realizadas no município de Corumbá é o

Plano Diretor (IBAMA, 2016).

4.3. Das mineradoras e barragens

Atualmente, encontram-se operando na região de Corumbá as seguintes

empresas do setor de mineração:

1) Companhia Vale do Rio Doce (VALE) - com controle da Urucum

Mineração (UMSA), produziu nos primeiros nove meses de 2017 um total

de 1.77 milhão t ano-1 de minério de ferro, com licença para até 2.350.000

32

t ano-1 (LO), resultado 13,9% maior que o mesmo período de 2016, além

da produção de minério de manganês que chegou a 495 mil t ano-1,

podendo atingir 750.000 t ano-1 (LO).

Na cidade de Corumbá, a empresa explora jazidas de minério de ferro a

céu aberto, na Mina de Corumbá, e também uma jazida subterrânea de

manganês, na Mina de Urucum. A mina de Urucum se destaca pelo alto teor de

manganês extraído de seu minério. Este produto traz grande valor para os

negócios da Vale, pois o manganês é o quarto metal mais utilizado no mundo

(VALE, 2018).

As atividades da Empresa podem ser divididas em três operações

principais, a saber: lavra e beneficiamento de minério de ferro; lavra e

beneficiamento de minério de manganês; e produção de ferro-ligas de

manganês.

Na jazida subterrânea de manganês o método de lavra é o de câmaras e

pilares, com desmonte por explosivos. A operação é levada a efeito conforme a

sequência: cavilhamento (ancoragem do teto) - perfuração-carregamento

(explosivo) - desmonte (detonação) – limpeza minério-saneamento/scaler

(recomposição parede) - limpeza estéril.

Os equipamentos empregados são escavadeiras (LHD), scalers (máquina

que faz o acabamento da parede da mina), plataformas móveis, jumbos,

carregadores, parafusadores e caminhões. O minério, uma vez lavrado é

transportado por caminhões próprios de 22,5 t-1 de carga até a instalação de

beneficiamento, localizada na superfície. O minério proveniente da mina (ROM)

sofre apenas um beneficiamento simples, britagem, lavagem, peneiramento e

classificação.

2) Mineração Corumbaense Reunida (MCR/VALE S. A.) - empresa da

multinacional Rio Tinto do Brasil (RTB), subsidiária integral da Vale do Rio

Doce, com produção de 3 milhões de t ano-1, mas com anuência do

IBAMA para explorar até 6 milhões t ano-1. Sua produção é, atualmente,

destinada exclusivamente para o mercado externo. Prevê-se um aumento

da extração desse minério para 22,4 milhões de t ano-1 (EIA) e a produção

de 4,0 MM t ano-1 de laminados (ZERLOTTI, 2010). A operação consiste

33

do decapeamento da área a ser minerada com tratores de esteira,

desmonte mecânico da rocha com retroescavadeiras hidráulicas, que

também faz o carregamento do minério nos caminhões basculantes,

transportando até a planta de beneficiamento. O processo de

beneficiamento consiste, basicamente, de operações de britagem,

classificação por tamanho do minério, lavagem para retirada de lamas e

sílica e empilhamento do produto final. O processo tem por objetivo

produzir:

Minério granulado (lump ore), com tamanho médio, compreendido

entre 45,0 mm e 6,0 mm;

Minério fino (sinter feed) com granulometria abaixo de 6,0 mm e

maior que 0,125 mm.

O material de granulometria inferior a 0,125 mm é um dos rejeitos do

processo e vai para a barragem de rejeitos depois de passar por uma etapa de

separação água-sólido. Atualmente, o escoamento dos produtos até o pátio da

Estação Maria Coelho emprega caminhões, de onde é feito o transbordo para

vagões ferroviários, que o transferem para o porto (LIMA, 2008).

Figura 4. Mina de Urucum – Corumbá-MS. Fonte: Vale (2009) apud Brito (2011).

3) Corumbá Mineração Ltda. (COMIN) - empresa de mineração de ferro gusa

ligada ao Grupo Siderúrgico Vetorial, com a produção de 670.000 t ano-1,

posicionando a empresa entre as três maiores do Brasil. A unidade de

Ribas do Rio Pardo possui dois altos fornos com capacidade total de

34

produção de 300 mil toneladas por ano. Em Corumbá, a unidade possui

capacidade de produção de 370 mil toneladas de ferro gusa por ano e

também possui unidade termoelétrica (VETORIAL, 2018). O minério, uma

vez lavrado, é transportado por caminhões basculantes de 28 t-1 de carga

até a instalação de beneficiamento, que está localizada a,

aproximadamente, 1.500 metros da frente de lavra. O minério proveniente

da mina (ROM) sofre apenas um beneficiamento simples (LIMA, 2008).

Todas as unidades são dotadas de boa infraestrutura, inclusive com

terminais rodoviários próprios e sistema de injeção de carvão pulverizado (ICP).

Atualmente a empresa é responsável pela geração de mais de 650 empregos

diretos (VETORIAL, 2018).

4) Mineração Pirâmide Participações Ltda. (MPP) - lavra experimental, de

produção anunciada de 180.000 tonelada ano-1, podendo chegar a

1.440.000 t ano-1. É fornecedora da SIDERUNA, em Campo Grande,

empresa do Grupo Vetorial (LINS, 2015). A produção destinada à

siderúrgica é transferida da mina para o pátio da estação Maria Coelho,

de onde é carregado em vagões. O percurso entre a mina e o pátio é de

21 km (VETORIAL, 2018);

5) Granhas Liga Ltda: Reativada em Corumbá em 2016 é a terceira maior

produtora de ferroliga do Brasil, situada em Minas Gerais e Mato Grosso

do Sul, possuindo suas unidades em Conselheiro Lafaiete, São João Del

Rei e Corumbá. Seus principais produtos são o Ferro Sílico Manganês

(FeSiMn 12/16%Si) e Ferro Manganês Alto Carbono (FeMnAC), sendo

fabricados a partir de minérios de manganês, fundentes e redutores. Os

minérios são quase que em sua totalidade de minas pertencentes ao

grupo, localizadas em Minas Gerais e na Bahia (GRANHA LIGAS, 2018).

A Figura 5 revela a localização atual ou planejada dos empreendimentos

minero siderúrgicos que compõem o polo de Corumbá, além da Termo -Pantanal

e as manchas urbanas de Corumbá e Ladário.

35

Figura 5. Principais empreendimentos do polo minero-siderúrgico de Corumbá.

Fonte: MCR (2007).

A produção mineral brasileira exige licença prévia mineral do DNPM e, por

ser de grande impacto, licença ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Em 2010 foram identificadas 3.354 minas (metálicas e não metálicas) das quais

apenas 5% do total (159 minas) são de grande porte, com mais de 1 milhão de t

ano-1 de Run of Mine-ROM (produção bruta de minério); 24% (837 minas) são

de médio porte, na escala entre 1 milhão de t ano-1 e 100.000 t ano-1 ROM, e a

grande maioria (2.358 minas correspondente a 71% do total), é de pequeno porte

com teor menor de 100.000 t ano-1 ROM (PINHEIRO, 2011)3.

3 João César de Freitas Pinheiro, diretor da DIPLAM-DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral.

36

Figura 6. Número de minas por porte e classe do mineral no Brasil - metálicas e

não metálicas. Fonte: AMB (2010) apud Pinheiro (2011).

Especificamente com relação a substâncias metálicas, o Brasil possui 189

lavras em atividade, sendo 66 de minério de ferro e somente 8 de manganês. O

porte e modalidade de lavras das minas de ferro e manganês estão

demonstrados na Tabela 1, abaixo:

Tabela 1. Porte e modalidade de lavra das minas no Brasil- 20154

Substância Grande Médio Pequeno Total BR

Ferro 41 24 53 66

Manganês 1 2 5 8

Fonte: Adaptado de Brasil (2016).

No tocante as barragens destinadas à disposição de rejeitos resultantes

da atividade, a Lei 12.334, de 20 de setembro de 2010 (BRASIL, 2010),

estabeleceu a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) e criou o

Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens - SNISB,

estabelecendo um Plano de Segurança da Barragem (PSB) a ser implantado nas

barragens que apresentem uma das seguintes características:

4 NOTA: Grande: produção bruta (ROM) anual maior que 1.000.000 t-1; Média: maior que 100.000 t-1 até 1.000.000 t-1; Pequena: maior que 10.000 t-1 até 100.000 t-1.

37

I. Altura do maciço, contada do ponto mais baixo da fundação à crista, maior

ou igual a 15m (quinze metros);

II. Capacidade total do reservatório maior ou igual a 3.000.000m³ (três

milhões de metros cúbicos);

III. Reservatório que contenha resíduos perigosos conforme normas técnicas

aplicáveis (MME, 2017, p. 3);

IV. Categoria de dano potencial associado, médio ou alto, conforme definido

no inciso XIV do artigo 2º e no Anexo V.

Cabe ao DNPM classificar as barragens de mineração quanto a Categoria

de Risco e ao Dano Potencial Associado, em consonância com o art. 7º da Lei

nº 12.334/10 (BRASIL, 2010) e em acatamento a Portaria n. 70.389/17 (MME,

2017), com o objetivo de diferenciar o universo das barragens, quanto à

abrangência e frequência das ações de segurança a ANA elaborou uma Matriz

de Risco e Dano Potencial Associado (DPA) de maneira que as barragens sejam

agrupadas em cinco classes (A, B, C, D e E). Dessa forma, as que apresentam

uma classe maior, na escala de categoria de risco e dano potencial associado,

devem elaborar um Plano mais abrangente, bem como realizar a Revisão

Periódica de Segurança de Barragem com maior frequência (Figura 7).

Figura 7. Classificação de categoria de risco e dano potencial associado às

barragens. Fonte: MME (2017).

Segundo a ANA (2018), a Categoria de Risco de uma barragem diz respeito

aos aspectos da própria barragem que possam influenciar na probabilidade de um

acidente: aspectos de projeto, integridade da estrutura, estado de conservação,

operação e manutenção, atendimento ao Plano de Segurança, entre outros

aspectos.

38

Já o Dano Potencial Associado é o dano que pode ocorrer devido a

rompimento, vazamento, infiltração no solo ou mau funcionamento de uma

barragem, independentemente da sua probabilidade de ocorrência, podendo ser

graduado de acordo com as perdas de vidas humanas e impactos sociais,

econômicos e ambientais.

Em Corumbá existem atualmente 20 barragens de Mineração (19 em

atividade e uma não operando), sendo a barragem do Gregório a maior do Estado,

utilizada para armazenar os rejeitos da extração de ferro da mina de Santa Cruz,

operada pela Vale. Pertencem a empresa Urucum Mineração S/A. 14 dessas

barragens (MME, 2017).

Das 20 barragens, 17 são consideradas de pequeno porte e apenas três de

médio porte, entre elas a do Gregório (Figura 8). Em razão de estarem localizadas

no Pantanal, as barragens do Estado receberam a classificação de Dano Potencial

Associado (DPA), que indica impactos sociais, ambientais e econômicos que um

eventual vazamento ou rompimento poderiam provocar, entre médio e alto.

Com relação a Categoria de Risco, indicador utilizado para avaliar a

segurança das estruturas que aponta o risco de um vazamento, rompimento ou outra

situação deste tipo ocorrer e que leva em conta características técnicas, como altura

da barragem, comprimento, tipo de estrutura, tipo de fundação e idade da barragem,

entre outras, além de estado de conservação e a existência de plano de segurança,

para a maior parte das barragens foi considerado baixo.

As exceções são duas barragens da empresa Urucum Mineração S/A.,

companhia controlada pela Vale, chamadas de Bacia Pé da Serra 2 e Bacia Pé da

Serra 3-4, que foram enquadradas no Cadastro Nacional de Barragens, no patamar

máximo, alto, de Categoria de Risco e de Dano Potencial Associado.

Esse tipo de CRI (Categoria de Risco), de alto risco e alto potencial

danoso, só é verificado em quatro cidades do país: Ipixuna do Pará e Barcarena,

no Pará, Presidente Figueiredo, no Amazonas, e Corumbá em Mato Grosso do

Sul. Ou seja, se as barragens se romperem poderão causar sérios danos ao

Pantanal sul-mato-grossense, assim como ocorreu em Minas Gerais e no

Espírito Santo. De acordo com o CETEM (Centro de Tecnologia Mineral), do

Ministério da Tecnologia, a mineração, principalmente, de manganês, costuma

produzir como rejeito o arsênio, substância altamente tóxica.

39

Entretanto, a principal mineradora da região - Vale sustenta em sua defesa

que o reaproveitamento de água chega a 72% o que reduz o deslocamento de

resíduos em caso de um eventual vazamento ou rompimento, já que existe menor

quantidade de líquido.

Figura 8. Barragem do Gregório5, maior barragem de mineração de Mato Grosso

do Sul. Fonte: DNPM (2015) apud Viegas (2015).

Com relação barragem Gregório, a Vale informou para a Prefeitura de

Corumbá que se ocorresse um incidente o material, por conta de suas características

e pela geografia do local, atingiria no máximo 1,8 quilômetros de extensão, enquanto

que o curso de água mais próximo, o córrego Piraputangas, teria nascentes

localizadas a quase quatro quilômetros de distância da barragem. (VIEGAS, 2015).

A Norma Regulamentadora 22 (NR 22), que trata de Segurança e Saúde

Ocupacional na Mineração, sofreu várias mudanças a partir de 2000, sendo

atualizada e composta de vários capítulos, distribuídos em temas relacionados

às diversas atividades da mineração, abrangendo não apenas as minas a céu

aberto e subterrâneas, mas também os garimpos (sabidamente negligentes

quanto às ações de segurança e saúde no trabalho) e as atividades correlatas

como beneficiamento e pesquisa mineral (MTE, 2016).

5 Foto: Clóvis Neto/Prefeitura de Corumbá

40

Ainda, de acordo com MTE (2016), o subitem 22.26 da NR 22 estabelece

que os depósitos de estéril, rejeitos, produtos, barragens e áreas de

armazenamento, assim como as bacias de decantação, devem ser construídos

em observância aos estudos hidro geológicos e, ainda, atender às normas

ambientais e às normas reguladoras de mineração. E conforme o subitem

22.26.2, os depósitos de estéril, rejeitos ou de produtos e as barragens devem

ser mantidos sob a supervisão de profissional habilitado e dispor de

monitoramento da percolação de água, da movimentação e estabilidade e do

comprometimento do lençol freático.

Prevê ainda, em face do disposto no subitem 22.26.2.1 da NR 22 (MTE,

2016), que nas situações de risco grave e iminente de ruptura de barragens e

taludes, as áreas de risco devem ser evacuadas e isoladas; a evolução do

processo deve ser monitorada; e todo o pessoal potencialmente afetado deve

ser informado.

A indústria extrativista mineral é a principal fonte de riquezas para a cidade

de Corumbá, superando a arrecadação de impostos gerada pelos setores da

pecuária e agricultura. Contudo, o entendimento da atividade industrial de

Corumbá passa pela compreensão de inserção de seus produtos no mercado

internacional. As oscilações econômicas sofridas na conjuntura internacional e

nacional tornam suscetível a produção, o valor e importância da atividade em

nível de geração de impostos, renda e emprego (SOUZA et al., 2017).

A quase totalidade da produção de Fe é comercializada com a Argentina

e China. Quanto aos minérios de Mn, a maior parte é exportada para os países

supracitados, como também para a Europa. O restante é consumido no país, nas

regiões Sudeste e Sul.

A lavra do minério de Fe em toda região mineira de Corumbá é feita a céu

aberto e a lavra de Mn é subterrânea, através de galerias escavadas, segundo

o método de salões e pilares. As mineradoras possuem instalações eficientes

para o beneficiamento primário do Fe e do Mn, compreendendo lavagem,

britagem e estocagem para posterior transporte por caminhões aos pontos de

embarque, nas estações de estrada de ferro (Urucum e Maria Coelho), ou nos

portos de Corumbá e Esperança (privativo da Mineração Corumbaense S/A)

(ZANINI et al., 2002).

41

O processo produtivo do setor mineral em Corumbá segue todos os

estágios da indústria extrativa mineral até o beneficiamento, fase em que os

minérios são lavados para a separação de impurezas e lama e depois

classificados. A partir daí emergem duas possibilidades: a primeira é a

comercialização dos minérios in natura para compradores de fora do município

e a segunda é a interface com a indústria de transformação, quando os minérios

são aplicados como insumos associados a outros produtos para a produção de

ferro-gusa e ferro-ligas nas siderurgias, com a finalidade de serem

comercializados (MICHELS e YANAGUITA, 2004; SILVA, 2016) (Figura 9).

Figura 9. Mosaico de imagens das Mineradoras em Corumbá. Fonte: Adaptado

de Silva (2016).

De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e

Serviços, em 2017, Mato Grosso do Sul exportou 3,742 milhões de toneladas de

minério de ferro, garantindo divisas de US$ 124,031 milhões. Alta ainda mais

expressiva foi registrada nas exportações de manganês. Embora com

participação inferior na balança comercial (1,89%), o minério gerou um

faturamento de US$ 90,615 milhões, 74,11% a mais em comparação a 2016.

No caso do manganês, Mato Grosso do Sul triplicou a lavra e atualmente

responde por 22% de toda produção brasileira. As maiores reservas estão em

42

Minas Gerais (87%), MS (6,5%) e Pará (4,3%). A principal aplicação do

manganês é na fabricação de ligas metálicas (ferro-liga) (MDIC, 2018).

Conforme se verifica na Figura 10, depois de um período de baixo

desempenho, em razão da queda da demanda mundial, em 2017 o minério de

ferro começou a recuperar os níveis de produção e exportação de Mato Grosso

do Sul, revertendo a queda de 2016 com considerável aumento e boas

expectativas para 2018. Em janeiro deste ano (2018) rendeu US$ 12 milhões,

com crescimento de 81% nas exportações em relação ao mesmo período do ano

passado.

Figura 10. Volume e Receita das exportações do Minério de Ferro de 2012 a

2017. Fonte: MDIC (2018).

No Brasil, em 2015, as substâncias da classe dos metálicos responderam

por aproximadamente 76% do valor total da produção mineral comercializada.

Dentre essas substâncias, oito destacam-se por corresponderem a 98,5% do

valor da produção comercializada da classe, quais sejam: alumínio, cobre,

estanho, ferro, manganês, nióbio, níquel e ouro. O valor da produção

comercializada dessas oito substâncias totalizou 67,5 bilhões de reais, com

destaque para a expressiva participação do ferro nesse montante (BRASIL,

2016b).

43

A estratégia neoextrativista6 adotada em alguns países da América e no

Brasil a partir dos anos 2000 se destaca pela exploração de grandes volumes de

recursos minerais, com a exportação de commodities, constituindo a “economia

do enclave”, monoindustrial7.

O neoextrativismo se caracteriza como uma faceta do modelo de

desenvolvimento cujo enfoque é o crescimento econômico baseado na

apropriação de recursos naturais, com cadeias produtivas curtas (extração,

transporte e eventual processamento) e pouco diversificadas. Nesse percurso,

sem o potencial agregador das indústrias de transformação, os níveis de

emprego direto tendem a reduzir. Ou seja, a economia mineral torna-se refém

das oscilações do mercado internacional de commodities mineral. Essa dinâmica

tem se mostrado concentradora de desigualdades e não geradora de alternativas

no território minerado (PEREIRA, 2016, p. 40).

4.4. Dos impactos ao meio ambiente

4.4.1. Impactos ao meio ambiente natural

A mineração é parte da história do Brasil e sempre simbolizou saque de

riquezas naturais, exploração de mão-de-obra e impactos ambientais.

Recentemente o discurso do desenvolvimento sustentável invadiu o campo dos

conflitos históricos da mineração no Brasil, insinuando-se como o novo conceito

regulador capaz de promover uma repartição mais justa dos benefícios da

mineração junto às comunidades mineiras (CHAGAS, 2013).

Complexos minero-siderúrgicos são extremamente delicados do ponto de

vista ambiental. A mineração do ferro ocasiona diversos impactos tais como

mudanças na paisagem, alteração do uso do solo e da drenagem natural,

aumento de particulados no ar, perda de biodiversidade e, em certos casos,

perdas arqueológicas. Dentre os impactos ambientais destacam-se emissões

6 O neoextrativismo é definido como um modelo de desenvolvimento focado no crescimento econômico e baseado na apropriação de recursos naturais, em redes produtivas pouco diversificadas e na inserção subordinada na nova divisão internacional do trabalho. 7 Casos exemplares de economia de enclave no Brasil são, entre outros, o de Itabira-MG, onde há mais de 70 anos a Vale extrai minério de ferro e c om registro de desenvolvimento socioeconômico pífio, com alto índice de suicídio de jovens nos anos 1990, coincidente com a notícia de fechamento da mina em alguns anos (ENRÍQUEZ, ALAMINO, 2011); o de Serra do Navio-PA, de extração de manganês, que o exaurimento da mina e a retirada da empresa, levou ao esvaziamento da cidade, deixando sério passivo socioambiental (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2016).

44

atmosféricas, descargas de efluentes contaminados e, sobretudo, a pressão

sobre recursos energéticos.

Zerlotti (2010) alerta que para cada tonelada de ferro produzido, são

consumidos mais de 600 quilos de carvão vegetal, ou, aproximadamente, uma

tonelada de árvores. Segundo o IBAMA, existem mais de 1.200 carvoarias

cadastradas e cerca de duas mil funcionam ilegalmente em Mato Grosso do Sul.

(ZERLOTTI, 2010).

A taxa de desmatamento na região do Pantanal de Mato Grosso do Sul

aumentou significativamente, passando de 0,46% nos anos 1990 para 2,3% em

2002 e aumentando para 3,1% de 2002 a 2008, de sua área de 89.826 km²

(IBGE, 2004) (Figura 11).

O Pantanal foi a segunda região mais atingida pelo desmatamento

quando comparado a outros três biomas. Proporcionalmente, o Cerrado teve

índice de desmate de 4,17%, seguido de Pantanal, Amazônia (2,54%) e

Caatinga (2,01%), segundo Dados do Sistema de Detecção de Desmatamento

em Tempo Real (Deter/Inpe) apresentados pelo Ministério do Meio Ambiente no

primeiro levantamento recente do bioma (MARFINATI, 2010).

Figura 11. Mineradora e barragem – Corumbá-MS. Fonte: Ecoa (2015).

As atividades mineradoras causam assoreamento e modificam a trajetória

dos corpos d’água, contaminando as bacias com dejetos de diferentes origens e

intensificando processos erosivos (ALMEIDA et al., 2000) e a inundação do

45

Pantanal depende das águas que são trazidas das cabeceiras dos rios do

planalto, são essas águas que garantem a inundação periódica do pantanal,

devido a característica morfológica da planície. O escoamento, ao deixar o

planalto, tem uma largura estreita, portanto, o rio tem uma baixa capacidade de

transporte de agua; com isso, o fluxo extravasa o leito inundando a planície e

preenchendo as depressões na qual formam as baias e lagoas (ALHO, 2005).

A quantidade de água de córregos da região, como o Piraputangas,

diminuiu nos últimos anos. O IBAMA investiga impactos no córrego Urucum, que

corre risco de secar e perdeu grande quantidade de água, afetando a vida de

moradores locais (ANA, 2018).

A região das cabeceiras, no planalto, onde nascem as águas que

abastecem o Pantanal, está em alto risco. Mais de 55% já foi desmatada e

enfrenta ainda outras graves ameaças como falta de saneamento básico, baixa

adoção de boas práticas agropecuárias e construção de hidrovias (WWF-

BRASIL, 2018) (Figura 12).

Figura 12. Maciço de Urucum – Corumbá-MS. Fonte: Ecoa (2015).

Em março de 2018, em uma decisão inédita e histórica, os ministros de

Meio Ambiente do Brasil e da Bolívia, e o ministro de Comércio Exterior do

Paraguai, assinaram durante o 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília, uma

declaração trinacional de compromisso com a conservação e com o

desenvolvimento social, econômico e sustentável do Pantanal, pelo qual os três

países devem trabalhar de forma integrada na implementação de ações

coordenadas e conjuntas com foco na segurança hídrica, incluindo a redução e

o controle da poluição, fortalecimento da governança da água com vistas a

conservação dos ecossistemas e sua conectividade, adoção de medidas que

46

fortaleçam sistemas produtivos resilientes para mitigar os efeitos das mudanças

climáticas e a ampliação do conhecimento científico para o Pantanal. O

documento também faz referência ao respeito dos direitos humanos, em especial

aos direitos dos povos indígenas e populações tradicionais (WWF-BRASIL,

2018).

A Constituição Federal de 1988 (BRASIL, 2016a), em seu artigo 2258, §

2o impôs ao explorador de recursos minerais a obrigação de recuperar o meio

ambiente degradado, por meio do Plano de Recuperação de Área Degradada –

PRAD, como parte do Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, podendo ser

empregado de forma preventiva ou corretiva, em áreas degradadas por ações

de mineradoras.

Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas - PRAD tem como objetivo

principal criar um roteiro sistemático, contendo as informações e especificações

técnicas organizadas em etapas lógicas, para orientar a tecnologia de

recuperação ambiental de áreas degradadas ou perturbadas para alcançar os

resultados esperados.

O Projeto de Recuperação de Áreas Degradadas - PRAD deverá ser

apresentado em conjunto com o EIA-RIMA, dada às características de

degradação e impactos oriundos das atividades minerárias. Esse projeto deverá

ser implementado ao fim da exploração, visando o retorno a uma forma de

utilização do solo e estabilidade do meio ambiente como prevê o Art. 2º, inciso

VII da Lei nº 6.938/81 (BRASIL, 1981), regulamentado pelo Decreto nº 97.632/89

(BRASIL, 1989).

A importância do cumprimento da legislação pertinente às atividades

efetiva ou potencialmente poluidoras ou que causam degradação ambiental é

estabelecida pela Lei nº 9.605/98 (Lei de Crimes Ambientais) (BRASIL, 1998)

que dispõe sobre as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e

atividades lesivas ao meio ambiente, e dá outras providências. Em seu Art. 55

diz que executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a

8 Art. 225, § 2º CF - Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da lei.

47

competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo

com a obtida acarretará em detenção, de seis meses a um ano bem como multa9.

Para Almeida (2016), o maior problema das áreas após a mineração é a

presença de taludes com grandes declives, o que inviabiliza o estabelecimento

de muitas espécies; e, na maioria dos casos, esta inclinação não permite a

introdução de um componente arbóreo (Figura 13).

“As empresas estão utilizando, em sua maioria, apenas o

plantio de gramíneas e outras espécies herbáceas e

espécies exóticas (Pinus e Eucaliptus), poucas estão se

preocupando em recompor a vegetação original da área,

antes da mineração. Uma técnica empregada com muito

sucesso, neste caso, é o plantio misto de mudas

leguminosas herbáceas e arbóreas, fixadoras de nitrogênio

atmosférico, de preferência mudas micorrizadas e

inoculadas. Na etapa de seleção de espécies, devemos nos

preocupar em escolher espécies que nodulem e possam

crescer em condições de solos presentes nestas áreas”

(ALMEIDA, 2016, p. 154).

Chagas (2013) chama a atenção para o equívoco de PRAD´s que são

elaborados seguindo “receita de bolo” e que visam apenas pintar a paisagem de

verde sem uma preocupação utilitária ou socialmente benéfica dessas áreas.

De suma importância para a sustentabilidade ambiental é o Plano de

Fechamento de Mina, pois o conceito de fechamento de mina vai muito além do

conceito de recuperação das áreas degradadas pela mineração e da

implantação de outras medidas de proteção ambiental.

Para Flores e Lima (2012) o fechamento de mina deve ser compreendido

como um processo que se inicia na fase de estudos de viabilidade do projeto,

desenvolve-se durante toda a sua vida útil e só termina por ocasião da devolução

9 Lei 9.605/98 - Art. 55. Executar pesquisa, lavra ou extração de recursos minerais sem a competente autorização, permissão, concessão ou licença, ou em desacordo com a obtida: Pena - detenção, de seis meses a um ano, e multa. Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem deixa de recuperar a área pesquisada ou explorada, nos termos da autorização, permissão, licença, concessão ou determinação do órgão competente.

48

do sítio à comunidade, com os processos de reutilização do solo, reorganização

política, econômica e social da região onde a mineração operou.

Segundo Flores e Lima (2012), no Brasil as empresas e a sociedade se

ressentem da ausência de um arcabouço constituído por normas técnicas e

legais que regulamentem o fechamento das minas e a reintegração das áreas

trabalhadas às atividades da comunidade estabelecendo direitos, deveres e

obrigações das partes envolvidas nos processos de autorização, fiscalização,

fomento e extração dos recursos minerais, bem como dos órgãos encarregados

da proteção ambiental.

Figura 13. Mineração Corumbaense Reunida (MCR), responde por 10,29% de

tudo que deixa o Estado com destino ao exterior. Fonte: Nascimento (2011).

4.4.2. Impactos sociais

No âmbito social, observa-se uma tendência de aumento no afluxo

populacional para as sedes municipais mais próximas aos empreendimentos

minerários, podendo provocar o aumento da periferia urbana e acirramento de

inequidade econômica, desorganização no modo de vida da população local,

possibilidade de aumento de casos de violência, ocorrência de pressão sobre o

mercado imobiliário, entre outros (RIBEIRO, 2016).

A atividade pode gerar acidentes de trabalho, redução da capacidade de

diversificação econômica das comunidades vizinhas às instalações industriais,

bem como aumento de demanda sobre os serviços públicos. Além de energia

49

elétrica, o processo siderúrgico brasileiro depende, em grande medida, de

carvão vegetal para a realização de termo- redução nos altos-fornos, cuja

demanda pode levar ao desmatamento ilegal de matas nativas (MOTA, 2009).

Para Zerlotti (2010, p. 12):

“... São legítimas preocupações com a conservação do

Pantanal, mas também é preciso refletir sobre um novo

modelo de atuação econômica nesta região. A recente

ampliação da atividade trouxe conflitos, como o aumento da

demanda por carvão vegetal, principal combustível das

siderúrgicas, e problemas relacionados com a água ...”.

A discussão sobre o desenvolvimento sustentável das regiões mineiras

deve ser o primeiro passo para se proceder qualquer ajuste nas contas e rendas

da atividade mineral, pois há uma tendência de se reduzir esse conceito apenas

à luta pela preservação do meio ambiente, como acontece no Brasil, onde a

população, em muitas regiões não tem acesso ao mínimo existencial, tal como

educação, saúde e saneamento em condições dignas (CHAGAS, 2013).

O Amapá, estado que experimentou o primeiro e mais duradouro ciclo de

um empreendimento mineral de grande porte na Amazônia, encerrado após

quase cinquenta anos de exploração, tornou-se uma referência negativa sempre

citada na literatura como caso ilustrativo de perda irreversível de capital natural

e insustentabilidade (CAVALCANTI, 2001).

4.4.3. Saúde do Trabalhador

A Constituição Federal de 1.988, em seu art. 225, coloca o meio ambiente

do trabalho no mesmo patamar de importância e no mesmo contexto de proteção

e prevenção àquele reservado para o meio ambiente natural, além de dedicar

especial atenção a atividade mineradora, obrigando aquele que explorar

recursos minerais a recuperar o meio ambiente degradado, reconhecendo o

impacto ambiente dessa atividade ao meio ambiente, dentre os quais, o meio

ambiente do trabalho.

Sobre a previsão Constitucional, Costa e Rezende (2012, p. 772):

“... Essa advertência pode ser estendida à proteção a seus

trabalhadores, pois é recorrente que eles laboram em locais

50

inadequados, afetando indelevelmente a saúde,

principalmente quando a mineração é explorada em mina

subterrânea ...”.

Entretanto, além dos fatores externos (riscos físicos, químicos e

biológicos) contribuírem para o elevado número de infortúnios, percebe-se

também que o aumento de doenças laborativas e de acidentes de trabalho

decorre de significativas alterações nos padrões de organização do trabalho e

da produção.

Conforme enfatizado por Baumann (2005), diante da crescente

terceirização, jornadas exaustivas, polivalência e enfraquecimento dos

sindicatos profissionais, os operários são compelidos a enfrentar o paradoxo de

permanecer no mercado de trabalho em tempos de cultura do não emprego,

sujeitando-se a processos produtivos que esperam contar com mão-de-obra que

aceita quaisquer condições para atender o novo ritmo às rápidas mudanças

exigidas pelo capital.

No Brasil, o movimento de participação dos trabalhadores em busca de

mais segurança e saúde nos locais de trabalho surgiu durante o período de

redemocratização da política do país, na década de 1.980, trazendo um “novo

pensar” sobre o processo saúde-doença e o papel exercido pelo trabalho na sua

determinação e que culminaram por influenciar a Constituição Federal de 1.988,

que estabeleceu em seu artigo 6, a saúde como um direito social e fundamental

do trabalhador (MENDES e DIAS, 1991).

A saúde passa a ser compreendida como um fenômeno complexo que

transcende a mera eliminação de agentes patológicos, abrangendo também

fatores psicológicos e sociais (SILVA, 2016a, p. 34).

Segundo o artigo 19 da Lei nº 8.213 (BRASIL, 1991, Seção I, p, 1), de 24

de julho de 1991:

“... Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do

trabalho a serviço da empresa, ou de empregador

doméstico, ou pelo exercício do trabalho do segurado

especial, provocando lesão corporal ou perturbação

funcional, de caráter temporário ou permanente ...”.

51

Pode causar desde um simples afastamento, a perda ou a redução da

capacidade para o trabalho, até mesmo a morte do segurado.

Também são considerados como acidentes do trabalho:

a) O acidente ocorrido no trajeto entre a residência e o local de trabalho do

segurado;

b) A doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada

pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade; e,

c) A doença do trabalho, adquirida ou desencadeada em função de

condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione

diretamente.

Nestes dois últimos casos, a doença deve constar da relação de que trata

o Anexo II do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo Decreto no

3.048, de 6/5/1999 (BRASIL, 1999). Em caso excepcional, constatando-se que

a doença não incluída na relação constante do Anexo II resultou de condições

especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, a

Previdência Social deve equipará-la a acidente do trabalho (AEAT, 2016).

Assim, a Lei Geral de Benefícios Previdenciários (BRASIL, 1991) além de

definir os acidentes de trabalho típicos, equiparou as doenças profissionais (art.

20) como acidente típico desencadeadas “em função de condições especiais em

que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente”, inclusive os

infortúnios ocorridos fora do local e horário de trabalho, desde que o empregado

esteja executando ordens ou a serviço do empregador (SILVA, 2016).

No mesmo diploma legal, o art. 21, I define que as concausas também se

equiparam a acidente de trabalho, sendo definidas como:

“O acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido

a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do

segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o

trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para

a sua recuperação” (BRASIL, 1991, RGPS)

No intuito de estabelecer o nexo de causalidade entre a doença/acidente

de trabalho e a atividade laboral foi instituído o Nexo Técnico Epidemiológico

52

Previdenciário (NTEP) pela Resolução 1.236 (MPS, 2004) do Conselho Nacional

de Previdência Social (CNPS), de 28/04/2004, associando o Código

Internacional de Doenças (CID) e a Classificação Nacional de Atividades

Econômicas (CNAE) de cada empresa para enquadrar os ramos de atividade

econômica por grau de risco, para fins de incidência de contribuição

previdenciária (AEPS, 2015).

Ao se adotar o CID e o segmento econômico (CNAE) como filtros para

identificar os benefícios previdenciários concedidos, tem-se, objetivamente,

como identificar o risco do trabalhador sofrer acidente ou apresentar uma

determinada doença, estabelecendo-se o nexo de causalidade. O cruzamento

de dados de CID com o CNAE permite associar diversas lesões, doenças,

transtornos de saúde e, inclusive morte com a atividade desenvolvida pelo

trabalhador, consistente do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário –

NTEP.

Para Verthein e Gomez (2011, p. 286) o cruzamento de dados entre CID

e CNAE é um indicador estatístico que “permite a visibilidade dos ramos de

atividade econômica que apresentam patologias acima da média da população

em geral, servindo, em plano paralelo, para o mapeamento de fatores de risco”,

independente da expedição de CAT pelo empregador.

A Norma Regulamentadora 22 (NR-22), que trata de segurança e saúde

ocupacional no setor da mineração estabelece claramente os deveres dos

empregadores e trabalhadores, e, pela primeira vez em uma norma de

segurança e saúde, fica claro o direito de recusa dos trabalhadores em exercer

atividades em condições de risco para sua segurança e saúde ou de terceiros,

cabendo aos empregadores garantir a interrupção das tarefas quando proposta

pelos trabalhadores. Tal direito inclusive está consagrado há muitos anos na

legislação de vários países e consta da Convenção 176 - Segurança e Saúde

nas Minas, da Organização Internacional do Trabalho (OIT)10, que foi ratificada

posteriormente pelo Brasil (SOUZA et al., 2017).

Segundo a OIT a precariedade das condições de trabalho no setor de

mineração, que emprega cerca de 1% da força de trabalho do mundo registra

8% dos acidentes fatais.

10 Convenção 176 OIT – disponível em: http://www.trtsp.jus.br/geral/tribunal2/LEGIS/CLT/OIT/OIT_176.html

53

Além do que, a NR 22, em seu subitem 22.36 trouxe importante inovação

ao criar Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho na Mineração

(CIPAMIN)11 que permite aos trabalhadores organizarem-se de maneira

autônoma, assumindo seu papel e responsabilidades no controle dos riscos

existentes nos ambientes de trabalho. Dentre as mais variadas atribuições da

CIPAMIN, destacam-se:

a) Elaborar o Mapa de Riscos, conforme prescrito na Norma

Regulamentadora nº.5 (CIPA), encaminhando-o ao empregador e ao

SESMT, quando houver;

b) Recomendar a implementação de ações para o controle dos riscos

identificados;

c) Analisar e discutir os acidentes do trabalho e doenças profissionais

ocorridos, propondo e solicitando medidas que previnam ocorrências

semelhantes e orientando os demais trabalhadores quanto à sua

prevenção.

Diversas atividades em mineração podem ocasionar a exposição dos

trabalhadores a riscos graves e iminentes para sua saúde e segurança,

determinando a suspensão imediata das atividades.

No caso da ocorrência de acidentes e doenças do trabalho o subitem da

NR 22.37.6.1 dispõe que:

“Os acidentes e doenças profissionais deverão ser

analisados segundo metodologia que permita identificar as

causas principais e contribuintes que levaram à ocorrência

do evento, indicando as medidas de controle para prevenção

de novas ocorrências” (MTE, 2016, NR 22).

E em caso de ocorrência de acidente fatal é obrigatória a adoção das

seguintes medidas:

11 22.36.1 A empresa de mineração ou Permissionário de Lavra Garimpeira que admita trabalhadores como empregados deve organizar e manter em regular funcionamento, na forma prevista nesta NR, em cada estabelecimento, uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA, doravante denominada CIPA na Mineração- CIPAMIN.

54

a) Comunicar de imediato, à autoridade policial competente e à DRT, a

ocorrência do acidente; (Alterado pela Portaria SIT nº 27, de1º de outubro

de 2002);

b) Isolar o local diretamente relacionado ao acidente, mantendo suas

características até sua liberação pela autoridade policial competente

(MTE, 2016).

O processo produtivo no setor mineral de Corumbá é altamente

mecanizado nas atividades de extração de minério e ferro-gusa e o uso intensivo

de equipamentos mecânicos e a manutenção das máquinas tem causado

acidentes de trabalho pela excessiva jornada exigida e falta de treinamento

(ALVES, 2013).

4.4.3.1. Subnotificações de acidentes e doenças ocupacionais

A comunicação de acidente de trabalho – CAT continua sendo uma

obrigação legal, mas não é mais imprescindível para a concessão de benefícios

previdenciários, considerando o grande número de acidentes e doenças que não

são informados. Tanto assim que nas tabelas que tratam de acidentes de

trabalho foi incluída uma coluna adicional sobre benefícios previdenciários

concedidos pelo INSS para os quais não foram registradas CAT, conforme

abaixo se demonstra.

O conjunto dos acidentes do trabalho passou a ser então a soma dos

acidentes e doenças do trabalho informados por meio da CAT com os acidentes

e doenças que deram origem a benefícios de natureza acidentária para os quais

não há CAT informada (AEAT, 2016, p. 11).

Segundo dados do último Anuário Estatístico da Previdência Social, no

ano de 2016 ocorreram 578.435 acidentes de trabalho no Brasil, sendo 31.131

acidentes somente no setor extrativista de mineração, o que significa mais de 43

acidentes por dia. Em Mato Grosso do Sul, no ano de 2016, foram registrados

9.546 acidentes de trabalho, sendo 1.531 sem a notificação - CAT, o que torna

o cenário alarmante (AEAT, 2016, p. 554).

Segundo Silva (2016), em Corumbá as subnotificações foram verificadas

em um dos casos analisados, sob a justificativa de a empresa não ter como

explicar para a matriz o alto índice de acidentes na filial de Corumbá e em outros

55

dois casos analisados, sob a justificativa de perda no plano de participação nos

lucros e resultados, vez que no caso de acidentes notificados o coletivo de

trabalhadores perderia o acréscimo remuneratório anual (SILVA, 2016).

A atividade no setor mineral de Corumbá é altamente mecanizada,

necessitando de trabalho vivo para operar as máquinas e dar manutenção,

transformando o homem em “vigia da máquina” e dependentes de treinamento,

o que, muitas vezes, não ocorre.

Em Corumbá as empresas de mineração e de siderurgia, mesmo sendo

formalmente distintas, desenvolvem atividades coordenadas e linearmente

sucessivas em suas operações técnicas e de produção, num regime de

conjugação de interesses produtivos, enquadrando-se, portanto, no conceito de

cadeia produtiva (SILVA, 2016).

O risco de acidente de trabalho (RAT) obriga o empregador a pagar um

seguro de acidente de trabalho (SAT) de 1%, 2% ou 3%, sobre a folha de

pagamento, dependendo se o risco é leve, médio ou alto, sendo que nas

atividades de extração de minério de ferro (CNAE 0710-3/01) (IBGE, 2018) e de

manganês (CNAE 0723-5/01) (IBGE, 2018) o percentual é de 2% (Anexo V, do

Decreto nº 3.048/99 (BRASIL, 1999) - Regulamento da Previdência Social,

vigente a partir de 01.06.2007.

Em 2010, como estímulo para que a empresas diminuam o potencial de

riscos de sua atividade foi instituído o FAP (Fator Acidentário de Prevenção), que

mede o histórico de uso dos benefícios previdenciários pelos empregados de um

determinado empregador e varia de 0,5 a 2% incidente sobre o SAT, podendo

reduzi-lo pela metade ou dobrá-lo, dependendo do número de

acidentes/doenças. O FAP varia anualmente e é calculado sobre os dois últimos

anos de todo o histórico de acidentalidade e de registros acidentários da

Previdência Social.

Assim, as empresas que registrarem maior número de acidentes ou

doenças ocupacionais, pagam mais e no caso de nenhum evento de acidente de

trabalho, a empresa é bonificada com a redução de 50% da alíquota.

O trabalho na mineração sempre foi considerado uma das atividades mais

perigosas à saúde humana e, justamente por isso, em tempos pretéritos, era

designado a escravos ou prisioneiros (SANTOS, 2012; RAMAZZINI, 2016) e

mesmo após a modernização industrial, situações inaceitáveis de riscos

56

operacionais são frequentes no ambiente de trabalho, colocando em perigo a

vida, o bem-estar e a saúde dos mineiros, afetando também sua família e toda a

sociedade, que paga os custos de uma “legião de aleijados” e mortos pela

atividade mineradora, afetando o meio ambiente e a sustentabilidade ambiental

(OLIVEIRA, 2001).

Considerando a dimensão do problema, a Legislação Previdenciária

(BRASIL, 1991), reconhece que vários transtornos mentais e de comportamento

tem nexo de causalidade presumida com a atividade extrativa mineral, dentre os

quais a demência (CID F02-8), transtorno cognitivo leve (CID F06.7), transtorno

de personalidade (CID F.07.0), transtorno mental orgânico ou sintomático não

especificado (CID F09), entre outros.

Conforme asseverado, esses acidentes de trabalho e o grande número

de adoecimentos no setor extrativo mineral produzem um enorme contingente

de mutilados, homens e mulheres extenuados, mirrados, precocemente

envelhecidos (OLIVEIRA, 2001), com a saúde consumida não só pela contínua

exposição a agentes insalutíferos, mas também agora, em razão do “novo

metabolismo social”, pelos métodos de administração by stress.

Esse “novo metabolismo social do trabalho” envolve novos métodos de

gestão e pessoas, sob novas condições salariais que incorporam a adoção de

remuneração flexível (atrelada a produtividade), jornada de trabalho flexível e

contrato de trabalho flexível, agravando ainda mais a situação dos trabalhadores

das minas, fazendo com que confunda o interesse da empresa com o seu próprio

interesse, permitindo que sua força de trabalho sofra maior exploração, gerando

adoecimentos.

Segundo Braga (2015) a taxa de mortalidade entre trabalhadores da

mineração por cada 100.000 habitantes foi de 28,1 trabalhadores em 2013,

quatro vezes mais do que a taxa de mortalidade de outras atividades industriais

no mesmo período. Entretanto, ressalta o autor, entraram nas estatísticas de

mortes apenas os casos de vítimas que tinham carteira de trabalho assinada

pelas mineradoras, ficando de fora os que trabalhavam nas empresas

terceirizadas, restando subestimado o número de mortes e a gravidade do

problema.

Assim, os acidentes ocorridos com trabalhadores terceirizados na

mineração e siderurgia são computados em outras atividades industriais.

57

Há que se ressaltar, ainda, a falta de emissão da CAT (Comunicação de

Acidentes de Trabalho) ou subnotificações, no claro intuito de maquiar a grave

realidade existente no setor mineral.

A informação sobre os acidentes de trabalho ocorridos em todo território

nacional é pouco confiável, seja no que concerne à quantidade ou no tocante

aos aspectos qualitativos das estatísticas desses eventos.

Para Maia et al. (2013), diversas causas concorrem para que a

subnotificação se perpetue. O sistema de informação da Previdência Social

abrange os trabalhadores com vínculo sob a Consolidação das Leis do Trabalho

(CLT), segurados do Seguro de Acidente do Trabalho (SAT). Neste sistema, há

a premissa de que a empresa de vínculo deve fazer a notificação, mesmo que

esta seja facultada a outros atores. Com efeito, a legislação permite que a

comunicação de acidente de trabalho (CAT) seja feita pelo médico que atendeu

o trabalhador ou pelo sindicato, mas o procedimento costumeiro observado no

INSS é que a CAT deve ser emitida em primeiro lugar pela empresa. Somando-

se a um sistema pericial falho com baixa sensibilidade para captar as centenas

de tipos de adoecimentos ocupacionais previstos em legislação, há enorme e

persistente subnotificação de acidente de trabalho.

Os mesmos Autores observam que com a divulgação da Pesquisa

Nacional de Saúde (PNS) realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da

Saúde, relativo ao ano de 2013, pode-se verificar uma discrepância entre os

dados relacionados a acidentes de trabalho desta pesquisa e aqueles

registrados na base de dados do Ministério da Previdência Social.

“A comparação mostrou que a PNS aponta números de

quase 7 vezes os da Previdência, sendo que há maior

variação entre as Unidades da Federação da região Norte e

Nordeste. Sugere-se que essa diferença se deve à já

conhecida subnotificação do registro de acidentes, ao tipo

de dado resultante de cada pesquisa, e à baixa taxa de

formalização do emprego, sendo este último fator o

responsável pelas maiores razões entre as Unidades de

Federação da região Norte e Nordeste” (MAIA et al., 2013,

p. 1).

58

Os acidentes de trabalho devem ser notificados independentemente da

existência de vínculo empregatício formal. O SUS prevê a notificação

compulsória ao Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) de

diversos eventos ocupacionais independentemente da existência de vínculo

empregatício formal ou espécie de vínculo. Entretanto, a baixa capacidade

diagnóstica de eventos ocupacionais, mesmo com a existência dos centros de

referência em saúde do trabalhador, é um dos pilares da subnotificação no SUS.

O Decreto 3.048/99 (BRASIL, 1999), em seu anexo II, define as doenças e

respectivos agentes etiológicos ou fatores de risco de Acidentes do Trabalho

(Anexo II).

Parte destes infortúnios aporta na Justiça do Trabalho por meio de

Reclamações Trabalhistas nas quais os trabalhadores, muitas vezes inválidos e

praticamente descartados do mundo do trabalho, postulam reparações

financeiras em face dos (ex-) patrões, alegando que as enfermidades e os

acidentes têm nexo de causalidade com as condições laborativas desfavoráveis

(SILVA, 2016).

Para SILVA (2016), os trabalhadores procuraram a Justiça Especializada

como forma de resgatar a dignidade perdida ou aviltada, pretendendo uma

resposta do Estado para a violação de preceitos constitucionais básicos

relacionados à valorização do trabalho, ao direito à saúde e à vida.

Sob o aspecto individual, a Justiça do Trabalho tem a competência

atribuída pela CF/88 de julgar os litígios entre trabalhadores e empregadores

oriundos da relação de trabalho, aí inseridos os pedidos de indenização em

razão de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, nas hipóteses em que

for comprovada a culpa do empregador no infortúnio laboral.

A Justiça do Trabalho tem o poder de coercibilidade estatal, não atribuído

ao MPT, de compelir o empregador a cumprir as normas trabalhistas de saúde

e segurança do trabalho12. Nesse sentido, há um necessário e indissociável

entrelaçamento de atuação entre o MPT e Justiça Especializada, pois esta não

pode agir sem a provocação do MPT, ao passo que este não tem o poder de

12 De acordo com a Súmula 736 do Supremo Tribunal Federal, “compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores”

59

obrigar as empresas a cumprir a legislação sem que para isso exista uma

decisão judicial emanada da Justiça do Trabalho.

O Relatório Geral da Justiça do Trabalho de 2016 informa que a Justiça

do Trabalho recebeu 10.119.511 de ações trabalhistas entre os anos de 2012 a

2016, sendo que somente em 2016 foram ajuizadas 2.756.214 novas ações. Em

Mato Grosso do Sul, no ano de 2016, foram apresentadas 34.911 novas ações

trabalhistas.

No Brasil as Varas do Trabalho receberam 2.723.074 casos novos, 4,1%

a mais que em 2015. Os 3 estados com maior quantitativo de casos novos

ajuizados foram São Paulo, com 29,3%, Rio de Janeiro, com 10,1%, e Minas

Gerais, com 9,9%, todos estados da Região Sudeste, que, sozinha, ajuizou

50,7% dos casos novos no País (Quadro 6)

Quadro 6. Ações Trabalhistas no Brasil, no período de 2012 à 2016

Ano Ações trabalhistas

2012 2.254.355

2013 2.422.170

2014 2.530.691

2015 2.636.681

2016 2.723.074, sendo 34.911 (MS)

Fonte: Adaptado de TST (2017).

As atividades econômicas com maiores quantitativos de processos nas

Varas e Tribunais Regionais foram a Indústria, em segundo lugar os Serviços

Diversos e em terceiro lugar o Comércio. Ressalte-se que a Vale está incluída

como a 14a empresa com maior número de litígios trabalhistas (TST, 2017).

Segundo Silva (2016) em Corumbá, no período de 2009 a 2014, foi

verificada a existência de 36 (trinta e seis) ações trabalhistas ajuizadas com

pedidos de indenização por doença ou acidente do trabalho no setor mineral, já

sentenciadas ou ainda pendentes de julgamento (mas, quanto a estas últimas,

com fase concluída de coleta de provas testemunhais). Nesse universo, 69,44%

dos processos estão relacionados a acidentes de trabalho e 38,88% a doenças

ocupacionais, sendo que não houve constatação de nenhum acidente de trajeto.

Dos 36 processos trabalhistas analisados, 22 (61,12%) tinham no polo passivo

empresas relacionadas à indústria extrativa, dos quais 68,18% referiam-se a

60

acidentes de trabalho e 40,90% a doenças ocupacionais; os 14 processos

remanescentes (38,88%) englobaram empresas ligadas à indústria siderúrgica,

dos quais 71,42% diziam respeito a acidentes de trabalho e 35,71% a doenças

ocupacionais. Da totalidade das ações (36), 27 (75%) foram ajuizadas por

trabalhadores diretos, quer dizer, empregados das indústrias extrativas e/ ou

siderúrgica, ao passo que as outras 9 ações (25%) tiveram como autores

trabalhadores indiretos, isto é, terceirizados.

Em 2016 foram distribuídas 884 ações trabalhistas perante a Vara do

Trabalho em Corumbá, sendo 31 delas relativas a doenças e acidentes de

trabalho no setor da mineração de Corumbá-MS, das quais três ações em

desfavor da mineradora Vetorial e uma ação em desfavor da MCR Minerações

(TRT, 2017).

Chama atenção o comparativo entre os números oficiais de acidentes de

trabalho ocorridos em Corumbá em 2016 (9.546 acidentes) e o reduzido número

de ações trabalhistas por acidentes de trabalho relativas ao mesmo ano

impondo-nos a reflexão sobre os motivos dos trabalhadores não buscarem o

Judiciário. A primeira opção seria porque seus direitos foram integralmente

saldados e reparados pelas empresas. Outra opção seria a dificuldade do

trabalhador estabelecer o nexo de causalidade entre a sua doença e o trabalho

e a terceira (mais viável), se refere ao restrito mercado de trabalho a algumas

empresas e/ou setores específicos da economia, fazendo com que os

trabalhadores doentes e acidentados não busquem o Judiciário com receio de

não conseguirem outra colocação no mercado.

Ao longo dos anos o setor mineral foi responsável pelo bom desempenho

do produto interno bruto (PIB)13 per capita, pela elevação da média salarial14 e

13 Segundo o IBGE (2015), o PIB per capita de Corumbá (R$ 18.087,03) posiciona-se em quarto lugar no ranking do Estado, estando atrás do PIB de Três Lagoas (R$ 69.184,36), Campo Grande (R$ 28.417,05) e Dourados (R$ 34.219,12). Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/corumba/pesquisa/38/47001?tipo=ranking. Acesso em: 01 jun. 2018. 14 De acordo com o IBGE (2015), Corumbá é o quarto município em número de trabalhadores assalariados no Estado de Mato Grosso do Sul ficando atrás de Campo Grande (266.171), Dourados (56.130) e Três Lagoas (33.974). Entretanto, quanto à média de salários mínimos pagos aos trabalhadores, Corumbá (2,9 s. m.) se posiciona à frente de Dourados (2,5 s. m.) e de Três Lagoas (2,8 s. m.), ficando muito próxima do segundo lugar, que é de Campo Grande (3,6 s. m.) e bem distante do primeiro lugar que é Ladário (5,0 s. m.). Disponível em: <https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/corumba/pesquisa/19/29765?tipo=ranking&ano=2010&indicador=29765>. Acesso em: 01 jun. 2018.

61

pelo pagamento de royalties15 para Corumbá, criando uma perspectiva que

relaciona o progresso da cidade à existência e à permanência das mineradoras

e das siderúrgicas no município (COSTA, 2013), fator político-econômico-social

que converge para uma importância material e simbólica deste seguimento

industrial na localidade (SILVA, 2016).

As situações de acidentes e doenças do trabalho sempre estiveram

presentes na atividade minerária. Ganne (2000) estudou as demandas de

serviços de saúde e custos decorrentes de acidente de trabalho na cidade de

Corumbá, baseando-se nas CAT´S registradas no posto do INSS entre 1.996 e

1.997. Na época Corumbá contava com duas empresas de extração de minerais

metálicos e uma siderúrgica. Do total de 252 acidentes de trabalho, constatou-

se que a siderurgia era responsável por 12,31% (31) e a extração de minerais

metálicos por 8,34% (21) dos acidentes registrados oficialmente.

Diante de tal quadro, emerge nítida e indiscutível a necessidade de se

pesquisar a situação dos trabalhadores das minas de Corumbá/MS,

preenchendo-se lacuna de pesquisas sobre essa realidade local, além de ser

imprescindível para a adoção de medidas preventivas e protetivas pelas

empresas, para trazer higidez para o ambiente de trabalho, diminuindo doenças,

acidentes, incapacidades laborativas e mortes oriundas da atividade profissional.

Assim, conforme ensina Thomé (2009, p. 3):

“É inegável, portanto, a importância da mineração para a

interiorização do desenvolvimento econômico do Brasil.

Todavia, uma característica inerente aos recursos minerais

não pode ser, em momento algum, desprezada: a sua

esgotabilidade. São recursos não renováveis que,

inevitavelmente, um dia se esgotarão. E então as inúmeras

vilas e cidades originadas e dependentes da mineração

poderão se deparar com inimagináveis impactos

socioeconômicos advindos do encerramento das

atividades mineiras, caso não providenciem a

diversificação de sua economia”.

15 Em 2017 a CFEM para Corumbá foi de R$ 3.053.352,12 e para Ladário R$ 5.647.883,57. Disponível em: https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/distribuicao_cfem_muni.aspx?ano=2017&uf=MS. Acesso em: 01 jun. 2018.

62

A exploração mineral pode se traduzir em melhorias sociais, embora estas

dependam da capacidade dos governos, empresas e outras partes interessadas

gerenciarem os impactos negativos mencionados anteriormente.

4.5. Desenvolvimento Sustentável e Crescimento Econômico

O desenvolvimento sustentável sob a tutela da Organização das Nações

Unidas (ONU) tornou-se o tema principal dos novos discursos da intelectualidade

global, incluindo a Amazônia, apresentando-se como alternativa ao modelo de

crescimento baseado na exploração ilimitada de recursos naturais sem,

entretanto, deixar de ser uma incógnita pela incapacidade de superar a lógica

capitalista e suas injustiças, expondo-se dessa forma a fortes ataques no plano

teórico (CASTRO, 2010).

Nos últimos anos, com os desdobramentos das conferências sobre o meio

ambiente e desenvolvimento sustentável promovido pela ONU (Estocolmo 1972,

Rio 1992 e Johanesburgo 2002), o setor mineral privado insurgiu-se contra um

campo da ciência que lhe atribuiu condição de insustentável e passou a

intensificar ações regulatórias de conduta ambiental e de responsabilidade

social, argumentando ter o setor capacidade de contribuir positivamente com os

governos e comunidades das regiões mineiras onde opera.

Existem comunidades científicas e segmentos sociais que refutam

qualquer abordagem sobre sustentabilidade na mineração, a considerar que, por

definição, os minérios são recursos não renováveis e, portanto, essa discussão

não faz sentido e que o desenvolvimento sustentável não passa de uma

“propaganda de mercado”.

Para Chagas, a quebra do paradigma da “maldição dos recursos minerais”

não é tarefa fácil e experiências tem refutado tal possibilidade, sobretudo quando

se avaliam casos de exploração mineral em regiões pobres do planeta, onde os

efeitos desenvolvimentistas não se concretizaram, além da herança de graves

passivos socioambientais (CHAGAS, 2013).

Soma-se ainda o atraso e desinteresse do governo federal pela ciência e

tecnologia que possam fazer frente aos problemas da região, e a consequente

crise do conhecimento, que não tem sido capaz de alavancar e modernizar a

economia em prol do desenvolvimento sustentável.

63

A pluralidade de saberes, condição endêmica da complexidade da ciência

das questões ambientais coloca em contradição comunidades que concorrem

pela verdade de explicações científicas, incluindo os campos com visões

imperativas de controle sobre o meio ambiente físico e biológico dissociado de

interpretações socioculturais (CHAGAS, 2013).

A Conferência Internacional da Organização das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, adotou a

Agenda 21 para transformar o desenvolvimento sustentável em uma meta global

aceitável e criou a Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CSD – Comission

on Sustainable Development), cuja principal responsabilidade é a de monitorar

os progressos que foram feitos no caminho de um futuro sustentável. As

necessidades de desenvolver indicadores de desenvolvimento sustentável estão

expressas na própria Agenda 21 em seus capítulos 8 e 40. A CSD, a partir da

Conferência no Rio de Janeiro, adotou um programa de cinco anos para

desenvolvimento de instrumentos apropriados para os tomadores de decisão no

nível nacional no que se refere ao desenvolvimento sustentável (VAN BELLEN,

2002).

Os estudiosos e cientistas têm se aventurado a investigar a vinculação de

temas relacionados ao crescimento econômico com o meio ambiente na busca

de métodos capazes de qualificar e/ou quantificar o desenvolvimento

sustentável.

Embora haja conflito aparente, os sistemas econômico e ecológico não

são conflitantes. Na verdade, “os sistemas econômicos dependem, para a sua

sobrevivência, dos sistemas ecológicos” (SACHS, 1993, p. 36).

Para Sachs (2008, p. 13), “... o crescimento é uma condição necessária,

mas de forma alguma suficiente (muito menos é um objetivo em si mesmo), para

se alcançar a meta de uma vida melhor, mais feliz e mais completa para todos

...”.

4.5.1. Índices de Sustentabilidade

Os indicadores que tem sido usado para mensurar o desenvolvimento são

o Produto Interno Bruto (PIB), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), do

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), considerado

duvidoso enquanto média aritmética de apenas três índices (renda, escolaridade

64

e longevidade), o IDH Municipal e ainda outros indicadores como o DNA – Brasil,

o índice de Desenvolvimento Social (IDS), entre outros (VEIGA, 2005).

Para Veiga (2010, p. 46-47), “... uma coisa é medir desempenho

econômico, outra é medir qualidade de vida (ou bem-estar), e uma terceira é

medir a sustentabilidade do desenvolvimento ...”.

Segundo o autor, não é mais possível falar a sério de indicadores de

sustentabilidade sem ter como ponto de partida as mensagens e recomendações

que estão no Report by the Commission on the Measurement of Economic

Performance and Social Progress (STIGLITZ et al., 2009), nos seguintes termos:

1) O PIB (ou PNB) deve ser inteiramente substituído por uma medida bem

precisa de renda domiciliar disponível, e não de produto;

2) A qualidade de vida só pode ser medida por um índice composto bem

sofisticado, que incorpore até mesmo as recentes descobertas desse

novo ramo que é a economia da felicidade;

3) A sustentabilidade exige um pequeno grupo de indicadores físicos, e não

de malabarismos que artificialmente tentam precificar coisas que não são

mercadorias.

Assim, o Relatório defende que o desempenho econômico e a qualidade

de vida sejam medidos por novos indicadores, que nada têm a ver com os atuais

PIB e IDH. Na lição de Veiga (2010):

“A avaliação, a mensuração e o monitoramento da

sustentabilidade exigirão necessariamente uma trinca de

indicadores, pois é estatisticamente impensável fundir em

um mesmo índice apenas duas de suas três dimensões. A

resiliência dos ecossistemas certamente poderá ser

expressa por indicadores não monetários relativos, por

exemplo, às emissões de carbono, à biodiversidade e à

segurança hídrica. Mas o grau de tal resiliência

ecossistêmica não dirá muito sobre a sustentabilidade se

não puder ser cotejado a dois outros. Primeiro, o

desempenho econômico não poderá continuar a ser

avaliado com o velho viés produtivista, e sim por medida da

65

renda familiar disponível. Segundo, será necessária uma

medida de qualidade de vida (ou bem-estar) que incorpore

as evidências científicas desse novo ramo que é a economia

da felicidade” (VEIGA, 2010, p. 49).

Atualmente existem mais de seis índices que, com diferentes graus e

formas de agregação, buscam fazer uma avaliação sintética da sustentabilidade

(ambiental ou do desenvolvimento).

Na prática, os únicos índices de sustentabilidade que adquiriram grande

visibilidade internacional são os divulgados pelo WWF (World Wide Fund for

Nature, anteriormente World Wildlife Fund), e pelo WEF (World Economic

Forum), estes calculados por duas das mais importantes instituições acadêmicas

da área: o Yale Center for Environmental Law and Policy, e o Center for

International Earth Science Information Network, da Universidade de Columbia

(VEIGA, 2009).

Conforme explica Veiga (2009), como o Índice Planeta Vivo (Living Planet

Index), da WWF - não chega a ser um indicador de sustentabilidade, pode-se

dizer, então, que existem hoje quatro índices de sustentabilidade ambiental com

ampla visibilidade global: dois do WWF e dois do WEF, que são a Pegada

Ecológica, o Índice da Vulnerabilidade Ambiental, o Índice de Sustentabilidade

Ambiental, o índice de Desenvolvimento Ambiental, além do Índice Planeta Vivo.

O Índice Planeta Vivo (LPI, sigla em Inglês) mede mais de 10.000

populações representativas de mamíferos, aves, répteis e peixes. O Relatório

Planeta Vivo® 2014 revela os efeitos da pressão que exercemos no planeta,

investiga as implicações para a sociedade e enfatiza a importância das escolhas

que fazemos e os passos que damos para assegurar que este planeta vivo

continue a sustentar todos nós, hoje e pelas próximas gerações.

No último Relatório, de 2014, um dado alarmante é que o número de

vertebrados diminuiu 52% desde 1970. Em outras palavras, em menos de duas

gerações, a quantidade de espécies de vertebrados existentes do mundo caiu

pela metade. Estes são os seres vivos que constituem a estrutura dos

ecossistemas que sustentam a vida na Terra – e é um indicador do que estamos

fazendo com nosso próprio planeta, nossa única casa. Ignorar este declínio é

correr um grave risco (MCLELLAN et al., 2014).

66

A Pegada Ecológica (Ecological Footprint) mede a pressão que a

humanidade está exercendo sobre a biosfera, representada pela área

biologicamente produtiva (tanto terrestre quanto marítima) que seria necessária

para a provisão dos recursos naturais utilizados e para a assimilação dos

rejeitos. Uma vez obtida essa "pegada", para qualquer unidade territorial

(localidade, região, país, etc.), ela pode ser comparada à "capacidade biológica"

(tanto média do planeta quanto específica), também apresentada em hectares

globais. Também inclui a pegada de carbono, que é a quantidade de floresta

necessária para absorver as emissões adicionais de dióxido de carbono que os

oceanos não conseguem absorver. A Biocapacidade e a Pegada Ecológica são

representadas utilizando-se uma unidade de medida chamada hectare global

(GHA, em inglês). O mais recente resultado dessa comparação é que até 2014,

a pressão exercida pela humanidade foi 50% superior à capacidade da biosfera

de atendê-la com serviços ecossistêmicos e absorção de seu lixo (MCLELLAN

et al., 2014).

O Índice da Performance Ambiental (Environmental Performance Index -

EPI) é um índice proposto pelas Universidades de Yale e Columbia, ambas dos

Estados Unidos, o qual faz a medição, em nível mundial, de como está a questão

ambiental em diversos países, elaborando um ranking que aponta em quais

países o meio ambiente está mais adequado ao desenvolvimento sustentável. É

produzido com vistas a oferecer subsídios para as políticas públicas. O EPI vem

sendo publicado desde 2006, a cada biênio, sendo uma derivação do ESI, que

será visto a seguir. Esse índice faz a comparação se houve progresso/regresso

na questão ambiental em cada país analisado (PEREIRA et al, 2016).

O Índice de Sustentabilidade Ambiental (Environmental Sustainability

Index - ESI) envolve cinco dimensões: sistemas ambientais, estresses,

vulnerabilidade humana, capacidade social e institucional e responsabilidade

global. O primeiro considera quatro sistemas ambientais: ar, água, solo e

ecossistemas. O segundo considera estresse algum tipo muito crítico de

poluição, ou qualquer nível exorbitante de exploração de recurso natural. No

terceiro, a situação nutricional e as doenças relacionadas ao ambiente são

entendidas como vulnerabilidades humanas. A quarta dimensão se refere à

existência de capacidade sócio institucional para lidar com os problemas e

67

desafios ambientais. E na quinta entram os esforços e esquemas de cooperação

internacional representativos da responsabilidade global (VEIGA, 2009)

O Índice de Desenvolvimento Sustentável é uma iniciativa do Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) com vista a espelhar a realidade

brasileira nas dimensões ambiental, social, econômica e institucional. Percebe-

se que possui uma estrutura análoga à estrutura proposta pela Comissão de

Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas e do proposto nos Objetivos

de Desenvolvimento do Milênio, considerando que é a proposta nacional para

atender a uma demanda global. Assim como o EPI e o Living Planet Report,

também é um relatório bianual, tendo sua primeira edição publicada em 2002. O

IDS também é conhecido por seus indicadores possuírem quatro diretrizes:

equidade, eficiência, adaptabilidade e atenção a gerações futuras. Com essas

diretrizes, este índice possui indicadores que contemplam as características

essenciais de um bom indicador (PEREIRA et al, 2016).

A importância dos indicadores é representar, de forma objetiva, racional e

lógica, uma realidade específica em um determinado período de tempo, fazendo

com que conceitos abstratos se tornem objetivos.

“Em resumo, os indicadores objetivam: explicitar uma

realidade em análise, fornecendo subsídios para sua

explicação; auxiliar na função controle, permitindo o

monitoramento da realidade estudada; transformar leituras

qualitativas, abstratas e subjetivas em análises

quantitativas, concretas e objetivas, facilitando a

compreensão e permitindo a medição, mantendo sua linha

de orientação; e apresentar-se como medida padronizada”

(PEREIRA et al, 2016, p. 329).

O desenvolvimento sustentável abrange uma gama de questões e

dimensões e para que se possa organizar a relevância dos indicadores em

relação aos seus aspectos específicos alguns elementos devem ser

considerados. O desenvolvimento sustentável deve ser entendido como

desenvolvimento econômico progressivo e balanceado, aumentando a equidade

social e a sustentabilidade ambiental, e os tomadores de decisão, que atuem nos

68

diferentes níveis de gestão (local, regional, nacional e internacional), precisam

de informações neste processo (VAN BELLEN, 2002, p. 43).

Para o Autor, os principais obstáculos, segundo a Comissão de

Desenvolvimento Sustentável - CDS, é o de construir um consenso relativo ao

conceito de sustentabilidade para iniciar um projeto de indicadores de nível

nacional. Deve-se promover a comparabilidade, a acessibilidade e a qualidade

dos indicadores. O programa da CDS estabeleceu os elementos principais que

devem ser considerados para o desenvolvimento e a utilização de indicadores

de sustentabilidade em nível nacional. Estes elementos são mostrados no

Quadro 1, adaptado da CDS:

Quadro 1. Elementos do Programa da Comissão de Desenvolvimento

Sustentável para o Desenvolvimento de Indicadores de Sustentabilidade

Melhoria da troca de informações entre os principais atores interessados no

processo;

Desenvolvimento de metodologias para serem avaliadas pelos governos;

Treinamento e capacitação nos níveis regional e nacional;

Monitoramento das experiências em alguns países selecionados;

Avaliação dos indicadores e ajustes quando necessários;

Identificação e avaliação das ligações entre os aspectos econômicos,

sociais, institucionais e ambientais do desenvolvimento sustentável;

Desenvolvimento de indicadores altamente agregados;

Posterior desenvolvimento de um sistema conceitual de indicadores

envolvendo especialistas da área econômica, das ciências sociais, das

ciências físicas e da área política incorporando organizações não

governamentais e outros setores da sociedade civil.

Fonte: Adaptado da Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CDS) (VAN

BELLEN, 2002).

Em inovadora proposta, Pereira et al. (2016) construíram um Índice de

Sustentabilidade Ambiental para Mato Grosso do Sul, para que se possa medir

em que nível se encontra a sustentabilidade ambiental no Estado, da forma como

apresentado a seguir, com as dimensões analíticas e suas respectivas variáveis

69

para utilização no cálculo do Índice de Sustentabilidade Ambiental, adaptadas a

Mato Grosso do Sul (Quadro 2).

Quadro 2. Estrutura do Índice de Sustentabilidade Ambiental – ISA

Indicador Dimensões analíticas Variáveis

Índ

ice d

e S

uste

nta

bili

da

de

Am

bie

nta

l

ISA

Acesso à água tratada

Água Acesso à água potável

Índice de Qualidade das Águas

Áreas de proteção ambiental

Biodiversidade Presença de espécies invasoras

Espécies ameaçadas de

extinção Emissão de gases do efeito

estufa Ar Partículas inaláveis

Utilização de veículos

Condição da terra

Solo Fertilizantes

Pesticidas

Subsídios à agricultura

Mudanças climáticas e energia Energia renovável

Áreas desmatadas

Fonte: Adaptado de Pereira et al. (2016).

Embora sirvam de parâmetro para medir sustentabilidade, os indicadores

de sustentabilidade são instrumentos imperfeitos que não podem ser aplicados

universalmente. É impossível mensurar o desenvolvimento sustentável a partir

de indicadores que representem as relações que são estabelecidas entre as

dimensões social, econômica, ambiental e institucional (CHAGAS, 2013).

Entretanto, muito embora imprecisos, expressam um compromisso na

compreensão das relações entre o homem e o meio ambiente dentro do campo

do desenvolvimento.

4.6. Compensação Financeira pela Exploração Mineral - CFEM

A Constituição Federal de 1988 foi a responsável por trazer ares ousados

e inovadores à proteção ambiental em nível constitucional, com a inclusão de

capítulo específico dentro do título “Da Ordem Social” que versa sobre o meio

ambiente, em seu art. 225 e parágrafos. O texto constitucional abarcou, de forma

70

detalhada, a proteção do meio ambiente. O caput do art. 225, por exemplo,

conferiu status de garantia constitucional ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, outorgado a todos, independentemente de nacionalidade, sexo, cor

ou raça. Foi ainda alçado a “bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida”:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e

essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo

para as presentes e futuras gerações. § 1º – Para assegurar

a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I –

preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e

prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II

– preservar a diversidade e a integridade do patrimônio

genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à

pesquisa e manipulação de material genético; [...] V – à

difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à

divulgação de dados e informações ambientais e à formação

de uma consciência pública sobre a necessidade de

preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio

ecológico; VI – promover a educação ambiental em todos os

níveis de ensino e a conscientização pública para a

preservação do meio ambiente; [...].” (BRASIL, 2016a).

Importante o reconhecimento da distinção entre “bem público” e “bem

difuso” trazida pelo eminente Ministro Moreira Alves no julgamento do Recurso

Extraordinário - RE 300.244-9/SC pelo Supremo Tribunal Federal, ao interpretar

o sentido da proteção da Mata Atlântica enquanto “patrimônio nacional” e

redimensionando a competência legislativa de proteção ambiental, antes

privativa da União, tratando-a como matéria de “condomínio legislativo entre

União, Estados e Municípios”.

“A proteção e preservação do meio ambiente, para o

presente e para o futuro, são responsabilidade e obrigação

de todo ser humano, constituindo matéria de condomínio

71

legislativo entre União, Estados e Municípios (CF, art. 23),

não se justificando, desde aí, a exclusiva competência da

Justiça Federal na repressão aos delitos ambientais” (STF,

2001a).

No mesmo sentido Relatório do Ministro Celso de Mello na Ação Direta de

Inconstitucionalidade - ADI 3.540-MC, expondo que o direito à integralidade do

meio ambiente constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo,

dentro do processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão significativa

de um poder deferido, não ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas

num sentido verdadeiramente mais abrangente, atribuído à própria coletividade

social16.

Essa distinção é fundamental porquanto redimensiona a competência

legislativa de proteção ambiental, antes privativa da União, já que eram tais bens

entendidos como bens da União. E a compreensão de bem mineral como bem

ambiental de natureza difusa, extrapolando o conceito literal do art. 20 da CF/88

atribui o gerenciamento desses bens no interesse da coletividade17.

A Constituição de 1988 também promoveu a conciliação do

desenvolvimento econômico com o desenvolvimento ambiental com a inclusão

da proteção ambiental na ordem econômica constitucional, como corolário da

noção de desenvolvimento sustentável, que ganhou força na RIO-92, constando

expressamente na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

(VALADARES, 2015).

16 ADI 3.540-MC, Rel.: min. Celso de Mello, julgamento em 01/09/2005, Plenário, DJ, de 03/ 02/2006. A questão controvertida nesta ADI se referia à inconstitucionalidade do art. 4º, caput e §§ 1º a 7º do Código Florestal, na redação dada pela Medida Provisória 2.166-67 em face do disposto no art. 225, § 1º, III, da CF/88. De acordo com o Procurador-Geral da República, autor da ADI, os dispositivos atacados tornariam possível a supressão de APP’s mediante mera autorização administrativa do órgão ambiental, quando a Constituição exige que tal supressão somente pode ocorrer por meio de lei formal. Durante o período de férias forenses, o ministro presidente do STF suspendeu cautelarmente a eficácia e a aplicabilidade do art. 1º da MP, na parte que alterava o mencionado art. 4º e seus parágrafos do Código Florestal. A matéria foi levada ao Plenário para referendo e, nesta oportunidade, o relator discorreu sobre o direito à preservação da integridade do meio ambiente à luz das normas constitucionais. Ao final, encabeçou o voto vencedor que propôs que a decisão que deferiu a medida cautelar não fosse referendada, ao fundamento de que o dispositivo examinado, “longe de comprometer os valores constitucionais consagrados no art. 225 da Lei Fundamental, estabeleceu, ao contrário, mecanismos que permitem um real controle, pelo Estado, das atividades desenvolvidas no âmbito das áreas de preservação permanente [...]”. 17 Art. 20. São bens da União: IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; § 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração

72

Em julgamento da já citada ADI 3.540-MC pelo STF, o Ministro relator

Celso de Mello também se manifestou sobre o suposto choque entre a

preservação do meio ambiente e a realização de atividade econômica:

“A atividade econômica não pode ser exercida em

desarmonia com os princípios destinados a tornar efetiva a

proteção ao meio ambiente. A incolumidade do meio

ambiente não pode ser comprometida por interesses

empresariais nem ficar dependente de motivações de índole

meramente econômica, ainda mais se se tiver presente que

a atividade econômica, considerada a disciplina

constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros

princípios gerais, àquele que privilegia a “defesa do meio

ambiente” (CF, art. 170, VI), que traduz conceito amplo e

abrangente das noções de meio ambiente natural, de meio

ambiente cultural, de meio ambiente artificial (urbano) e de

meio ambiente laboral. Os instrumentos jurídicos de caráter

legal e de natureza constitucional objetivam viabilizar a

tutela efetiva do meio ambiente, para que não se alterem as

propriedades e os atributos que lhe são inerentes, o que

provocaria inaceitável comprometimento da saúde,

segurança, cultura, trabalho e bem-estar da população, além

de causar graves danos ecológicos ao patrimônio ambiental,

considerado este em seu aspecto físico ou natural” (STF,

2005).

Cumpre ao Estado fixar política ambiental tendente a proteger os recursos

naturais sem que se trave imotivadamente o desenvolvimento industrial, já que

este gera em grande medida a melhoria na qualidade de vida da população em

geral. O ideal a ser buscado é justamente o ponto de equilíbrio no qual os

recursos naturais sejam protegidos para que sua contaminação (muitas vezes

inevitável) se dê em nível aceitável, e que permita o desenvolvimento econômico.

Obviamente não é tarefa das mais simples, porém o Estado possui à sua

disposição série de ferramentas hábeis a proporcionar a devida intervenção na

esfera econômica para conseguir os objetivos desejados (LINS, 2016).

73

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 170, estabelece as bases da

ordem econômica e elenca entre os seus princípios a defesa do meio ambiente,

prevendo tratamento diferenciado de acordo com o impacto ambiental da

produção e do consumo de produtos e serviços, como técnica de defesa do meio

ambiente, a partir da promulgação da Emenda Constitucional 42/03 (BRASIL,

2003) que deu nova redação ao inciso VI do art. 170 da Carta Magna:

“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do

trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar

a todos existência digna, conforme os ditames da justiça

social, observados os seguintes princípios: VI - Defesa do

meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado

conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de

seus processos de elaboração e prestação” (BRASIL, 2003,

Seção I, p. 1).

A utilização de instrumentos jurídicos constitucionais e legais em prol da

tutela ambiental é permitido pela Suprema Corte e nesse sentido, o Estado passa

de mero expectador para agente transformador em busca dos ideais

consignados na Constituição da República.

Dentre esses instrumentos, a utilização de tributação com o fim de

preservação ambiental é tida como forma eficiente e viável de promover a

ingerência na liberdade individual do contribuinte, estimulando-o à tomada de

práticas preservacionistas e restringindo empreitas poluidoras. Essa função da

tributação, chamada de extrafiscal, quando voltada para o direito ambiental, e se

bem utilizada, alcança dupla finalidade: a de condicionar um comportamento

pretendido pelo legislador e a de incluir o valor das externalidades negativas

decorrentes da atividade produtiva no montante a ser recolhido ao erário

prestigiando o princípio ambiental do poluidor-pagador (LINS, 2016).

Na lição de Ribas e Silva (2011) a extrafiscalidade é um instrumento de

intervenção na sociedade, por intermédio de veículo tipicamente fiscal: a Lei

Tributária, para organizá-la de acordo com determinadas políticas e alcançar

determinadas finalidades. Para Ribas e Silva (2011) não é o tributo que é

extrafiscal. O tributo é um tributo. O que é extrafiscal, na verdade, são as

medidas, os modos como esta ferramenta é utilizada.

74

Consiste basicamente no emprego de fórmulas jurídico-tributárias para a

obtenção de metas que prevalecem sobre os fins simplesmente arrecadatórios

de recursos financeiros (CARVALHO, 2017).

Para Ribas (2005) os chamados tributos com fins ambientais vão além da

mera função arrecadatória e se prestam efetivamente a auxiliar na transição da

economia tradicional à sustentável. O sistema tributário, juntamente com o

arcabouço de licenças e autorizações presentes no sistema administrativo,

permite a consecução da vontade constitucional de promover o equilíbrio

ecológico, colaborando para a preservação ambiental.

A Constituição de 1988 reiterou o tratamento que as suas predecessoras

ofereciam aos recursos minerais taxando-os categoricamente como bens da

União. Como resultado – já que o produto da lavra passava à propriedade do

explorador – a Carta Magna instituiu a Compensação Financeira pela Exploração

dos Recursos Minerais, comumente chamada de CFEM, como alternativa de

receita originária diante da exploração por um terceiro através de concessão

(Constituição, art. 20, IX e § 1º).

O objetivo do Constituinte ao instituir a CFEM foi estabelecer uma

compensação pela degradação ambiental acarretada pela atividade mineradora,

bem como para que os seus valores fossem investidos no desenvolvimento de

potencialidades para a diversificação da economia do município, diminuindo a

dependência local em relação à atividade mineral, por se tratar de recurso não

renovável e que, ao longo do tempo, se esgotará (BRASIL, 1989b).

A Lei 7.990, de 28 de dezembro de 1989 (BRASIL, 1989b) que instituiu

a compensação financeira pelo resultado da exploração da lavra – CFEM prevê

uma contraprestação pecuniária pela utilização econômica dos recursos

minerais em seus respectivos territórios, definidas em princípio pela Lei 8.001

(BRASIL, 1990), de 13 de março de 1990 em até 4% sobre o valor do

faturamento líquido apurado com a venda do produto mineral.

Entretanto, em dezembro de 2017 a Lei 13.540/17 (BRASIL, 2017)

alterou as Leis nos 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e 8.001, de 13 de março

de 1990, no concernente a base de cálculo da CFEM (não mais sobre o

faturamento líquido)18, bem como no que se refere ao percentual de incidência

18 Nova Redação dada pela Lei 13.540/2017 para a Lei 8.001/90: Art. 2o As alíquotas da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) serão aquelas constantes do Anexo desta Lei, observado o limite de

75

da CFEM, de acordo com a substância mineral, constante do Anexo da Lei

(Quadro 3)

Quadro 3. Alíquotas para fins de incidência da compensação financeira pela

exploração de recursos minerais (CFEM)

Alíquota Substância mineral

(VETADO) (VETADO)

1% (um por cento)

Rochas, areias, cascalhos, saibros e demais

substâncias minerais quando destinadas ao

uso imediato na construção civil; rochas

ornamentais; águas minerais e termais

1,5% (um inteiro e cinco

décimos por cento) Ouro

2% (dois por cento) Diamante e demais substâncias minerais

3% (três por cento) Bauxita, manganês, nióbio e sal-gema

3,5% (três inteiros e cinco

décimos por cento) Ferro, observadas as letras b e c deste Anexo

Fonte: Brasil (2017, p. 7).

Enríquez (2007) explica que a taxa cobrada é baixa quando comparada

com os padrões internacionais e ao ser cobrada sobre o faturamento líquido isso

dificulta o recolhimento dos royalties, pois muitas empresas não têm dados

confiáveis. Além disso, os municípios que não têm exploração mineral, mas que

são afetados pelas externalidades negativas da mineração em um município

vizinho não recebem benefícios dos royalties. E mais importante, a União, os

Estados e municípios estão consumindo boa parte dos recursos ao invés de

reinvesti-los em setores produtivos, e uma vez que as prestações de contas do

4% (quatro por cento), e incidirão: : I - na venda, sobre a receita bruta da venda, deduzidos os tributos incidentes sobre sua comercialização; II - no consumo, sobre a receita bruta calculada, considerado o preço corrente do bem mineral, ou de seu similar, no mercado local, regional, nacional ou internacional, conforme o caso, ou o valor de referência, definido a partir do valor do produto final obtido após a conclusão do respectivo processo de beneficiamento; III - nas exportações, sobre a receita calculada, considerada como base de cálculo, no mínimo, o preço parâmetro definido pela Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério da Fazenda, com fundamento no art. 19-A da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, e na legislação complementar, ou, na hipótese de inexistência do preço parâmetro, será considerado o valor de referência, observado o disposto nos §§ 10 e 14 deste artigo; IV - na hipótese de bem mineral adquirido em hasta pública, sobre o valor de arrematação; ou V - na hipótese de extração sob o regime de permissão de lavra garimpeira, sobre o valor da primeira aquisição do bem mineral.

76

uso dos royalties em todos os níveis governamentais são falhas, isso dificulta

mais ainda a fiscalização.

A distribuição mensal da CFEM também mereceu recente alteração

trazida pela Lei 13.661, de 09 de maio de 2018 (BRASIL, 2018), devendo os

valores arrecadados serem divididos da seguinte forma:

I. 25% (vinte e cinco por cento) aos Estados;

II. 65% (sessenta e cinco por cento) aos Municípios;

III. 3% (três por cento) ao Ministério do Meio Ambiente;

IV. 3% (três por cento) ao Ministério de Minas e Energia;

V. 4% (quatro por cento) ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico

e Tecnológico – FNDCT.

A CFEM tem a vantagem de beneficiar majoritariamente o município

produtor (65%) e de não estar vinculada a gasto específico, possibilitando ao

gestor público usá-la em prol da sustentabilidade ambiental. O Brasil é um dos

poucos países que repassa os royalties para o município produtor. Caso a

extração abranja mais de um município, é observada a proporcionalidade da

produção efetivamente ocorrida em cada um deles. Assim, por ser o município o

ente que fica com a maior parcela da Compensação, ele é a parte mais

interessada na sua distribuição.

O município de Corumbá-MS possui a décima maior arrecadação de

CFEM entre os municípios brasileiros, compreendendo a maior arrecadação da

região Centro-Oeste (BRASIL, 2016b).

Convém esclarecer que a CFEM não é tributo e tampouco sanção por ato

ilícito, mas receita originária devida por ocasião da exploração de particulares

dos recursos minerais (de propriedade da União) nos termos do art. 20, IX e art.

176, ambos da CF19

A Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais

(CFEM), foi criada sob a ideia de uma compensação para toda a coletividade

afetada pelos efeitos maléficos produzidos pela atividade mineradora, mas foi

19 Art. 176 CF. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra.

77

compreendida pelo Supremo Tribunal Federal como “participação nos resultados

da exploração”, dando origem a uma série de discussões (BEZERRA, 2011).

No voto do Ministro Sepúlveda Pertence, relator do RE 228800, ficou

claramente consignado o entendimento da Corte Suprema a respeito:

“Na verdade – na alternativa que lhe confiara a Lei

Fundamental – o que a Lei n. 7.990/89 institui, ao

estabelecer no art. 6º que “a compensação financeira pela

exploração de recursos minerais, para fina de

aproveitamento econômico, será de até 3% sobre o valor do

faturamento líquido resultante da venda do produto mineral”,

não foi verdadeira compensação financeira; foi, sim, genuína

“participação no resultado da exploração”, entendido o

resultado não como o lucro do explorador, mas como aquilo

que resulta da exploração, interpretação que revela o

paralelo existente entre a norma do art. 20, § 1º, e a do art.

176, § 2º, da Constituição, verbis: ‘§ 2º É assegurada

participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra,

na forma e no valor que dispuser a Lei. Ora, tendo a

obrigação prevista no art. 6º da Lei n. 7.990/89 a natureza

de participação no resultado da exploração, nada mais

coerente do que consistir o seu montante numa fração do

faturamento” (STF, 2001b).

A arrecadação da CFEM também funciona como importante indicador de

desempenho econômico da mineração e tem sido apontada como um

instrumento de grande potencial para minimizar os problemas socioeconômicos

dos municípios de base mineira provocados pelo encerramento da mineração,

mas que ainda ressente de um aparato legal e institucional que discipline sua

aplicação para que os municípios não caiam na armadilha do “caixa único” e

equidade intergeracional (ENRÍQUEZ, 2007).

BORGES e BORGES (2011), em estudos que analisaram a utilização e

destino dos recursos provenientes dos royalties na promoção do

desenvolvimento social, constataram que a ausência de estratégias sólidas de

ação da gestão pública de Parauapebas (município paraense com maior receita

78

de royalties do estado), impediu que os recursos oriundos dos royalties minerais

se traduzissem organizadamente em desenvolvimento no campo social.

Enríquez (2000) constatou que o município de Oriximiná no Pará provavelmente

utilizou o dinheiro dos royalties da mineração para pagamento de funcionários,

pois a receita municipal sem royalties foi insuficiente para cobrir os gastos com

o funcionalismo. Já a pesquisa de Enríquez (2007) permitiu verificar que entre

os 15 municípios mineradores analisados (dentre os quais Corumbá-MS),

apenas dois deles, Itabira (MG) e Forquilhinha (SC) vinculara o recolhimento dos

royalties a uma estratégia de desenvolvimento sustentável mesmo após 14 anos

de efetivo recolhimento.

Quanto à aplicação da CFEM, o Art. 26 do Decreto 01/1991 determina

apenas que esses recursos não podem ser utilizados para pagamento de dívidas

ou no quadro permanente de pessoal. Segundo orienta o DNPM, as receitas da

CFEM devem ser aplicadas em projetos que, direta ou indiretamente, revertam

em prol da comunidade local, na forma de melhoria da infraestrutura, da

qualidade ambiental, da saúde e da educação. Nesse sentido, Enríquez (2007)

aponta que na maioria dos grandes municípios mineradores os recursos da

CFEM entram no caixa da prefeitura e são diluídos nas despesas correntes, não

desenvolvendo, com isso, oportunidades de geração de emprego e renda que

poderiam amenizar os efeitos da pobreza e da dependência excessiva da

mineração.

O trabalho de Enríquez (2007) realizou visitas aos 15 maiores municípios

de base mineradoras do Brasil (dentre eles Corumbá) e buscou verificar o uso

da renda mineral por estes. De acordo com o estudo, os grandes produtores (14)

têm uma grande dependência em relação à receita (40%) e empregos (47%)

proporcionados pela atividade minerária. Já a CFEM nesses municípios

corresponde, em média, a 16% das receitas municipais, com uma maior

dependência para os da região norte e nordeste. Esses números refletem as

situações de vulnerabilidade que passam vários municípios, e subestimam as

conjunturas graves de outros, que sofrem com os prestes esgotamentos de suas

jazidas.

É importante salientar que há uma demanda social (principalmente, de

ambientalistas) e das empresas produtoras, que percebem uma má aplicação da

CFEM, para uma regulamentação do uso. Enríquez (2007) sintetizou os

79

principais problemas da CFEM, de forma a apontar um diagnóstico e soluções

para uma futura reforma (regulamentação) da Compensação:

Alíquota – alguns produtos ligados ao potássio, sofrem dupla

interpretação quanto a aplicação de sua alíquota. Já que mais de 90%

deste minério é destinado à produção de fertilizantes, que possui uma

alíquota diferente;

Receita líquida – conceito a ser melhor definido, já que os custos

apontados pela lei não são exatamente descritos;

Uso – além da falta de fiscalização, não está claro na lei onde deve ser a

aplicação efetiva;

Fiscalização – compensação é cobrada das empresas legais, porém as

informais não repassam nenhum valor para os entes.

Dessa forma, há um descontentamento social a respeito do uso da CFEM,

que vem sendo aplicada à revelia em muitos municípios e estados, que incorrem

no problema do “caixa único”, empregando sua renda, inclusive, com despesas

pessoais (CNM, 2012).

Enríquez (2000, p. 12) conclui sua pesquisa sobre a CFEM sugerindo que:

“Os royalties sejam utilizados principalmente em

investimentos voltados ao desenvolvimento humano (saúde,

educação e saneamento) e sejam destinados à criação de

um fundo de empréstimos para a população mais carente e

para pequenas empresas. É preciso também, que haja uma

melhor participação da sociedade tanto no planejamento da

utilização dos royalties como na fiscalização deste recurso.

Para que essas mudanças ocorram, é necessária a

implementação de conselhos municipais formados pelos

representantes organizados da sociedade local. Com essas

modificações, os minérios poderão continuar sendo

explorados sem que haja preocupação com a finitude de

seus estoques e as futuras gerações não ficarão com suas

rendas comprometidas”.

80

É inegável que CFEM contribui para fortalecer as finanças públicas, mas

os municípios deveriam buscar outras fontes de receita, no intuito de diminuir a

dependência quanto a CFEM, considerando a instabilidade dessas rendas, seja

pela volatilidade dos preços das commodities minerais e pela esgotabilidade dos

recursos minerais.

81

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6. Artigos

Artigo I

Impactos socioeconômicos da atividade mineradora em Corumbá, Mato

Grosso do Sul

Tchoya Gardenal Fina do Nascimento

Resumo

O município de Corumbá localiza-se em Mato Grosso do Sul, na fronteira

com a Bolívia. Na região a atividade extrativa mineral de ferro e manganês é a

maior fonte de receita para o Município. Objetiva-se com o presente trabalho

levantar e analisar os índices econômicos do município de Corumbá e relacioná-

los com a atividade mineradora na região para comparar os índices de

desenvolvimento social do município, elegendo-se como parâmetros o Produto

Interno Bruto Municipal e Per capita de 2002 a 2011, as informações constantes

no PNUD com relação `a renda, pobreza e desigualdade no período de 1991,

2000 e 2010, as informações sobre emprego, renda, número de admissões e

demissões no setor durante o período de 2010 a 2018 (MTE, 2016), o volume de

exportação de produtos da extração mineral no período de 2010 a 2017, os

valores recebidos pelo município pela CFEM – Compensação financeira pela

exploração mineral de 2010 a 2018, em contrapartida aos índices de IDH (1991,

2000 e 2010) e IFDM do período de 2000 a 2011, que demonstram a situação

do município no tocante a educação, longevidade, mortalidade, saúde, emprego

e renda. A pesquisa é quali-quantitativa, realizando-se revisão bibliográfica e

análise documental. Apresenta-se como resultado das análises dos Índices

socioeconômicos IDHM e IFDM que os valores milionários de CFEM recebidos

pelo município não são revertidos em desenvolvimento humano. A atividade

mineradora promove o crescimento econômico e não o desenvolvimento

traduzindo-se em concentração de riqueza, baixa qualificação profissional,

ausência de políticas de desenvolvimento e degradação ambiental. Nos anos em

que os repasses da CFEM foram maiores, o índice de desemprego aumentou e

não houve investimento na saúde e educação proporcionais ao aumento de

arrecadação do município, demonstrando que a receita advinda da atividade

mineradora não promove o desenvolvimento local.

99

Palavras-chave: Mineração; Crescimento econômico; Desenvolvimento

econômico.

Abstract

Socioeconomic impacts of mining activities in Corumbá, Mato Grosso do

Sul. The municipality of Corumba is located in Mato Grosso do Sul, on the border

with Bolivia. In this region, the mineral extractive activity of iron and manganese

is the main source of revenue for the municipality. The goals of this work is to

identify and analyze the economic indexes of municipality of Corumbá and to

relate them to the mining activities in region to compare the social development

indices of municipality, being chosen as parameters the Municipal Gross

Domestic Product and per capita from 2002 to 2011, the UNDP information of

income, poverty and inequality in the period 1991, 2000 and 2010, information

on employment, income, number of admissions and dismissals in the sector

during the period from 2010 to 2018 (MTE, 2016), the volume of exports of

mineral extraction products in the period from 2010 to 2017, the values received

by municipality by CFEM – Financial compensation for mineral exploration from

2010 to 2018, as a counterpart to the HDI (1991, 2000 and 2010), and IFDM

indices from the period 2000 to 2011, which demonstrated the situation of the

municipality in terms of education, longevity, mortality, health, employment and

income. The research is quali-quantitative, being carried out bibliographical

review and documentary analysis. As a result of the analysis of the

socioeconomic HDI and IFDM indexes, that millionaire values of CFEM received

by municipality are not reverted in human development. The mining activity

promotes economic growths and not the development, translate into

concentration of wealth, low professional qualification, absence of policies of

development and environmental degradation. In the years in which CFSP

transfers were large, the unemployment rate increased and there was no

investment in health and education in proportion to the increase in municipal

revenue, demonstrating that revenue from mining activity does not promote local

development.

Keywords: mining, economic growth, economic development.

100

Introdução

O município de Corumbá, com uma população estimada em 109.899

habitantes (IBGE, 2018) desponta como um dos principais municípios

mineradores do país. Situado na região do Pantanal do Estado de Mato Grosso

do Sul, na fronteira com a Bolívia, abriga em seu território a terceira reserva de

minério de ferro do Brasil e a maior reserva de manganês do país. A maior jazida

de minério de ferro está localizada em Minas Gerais, no Quadrilátero do ferro, a

segunda maior localiza-se no Pará, na Serra dos Carajás e a terceira maior

jazida de ferro está no Mato Grosso do Sul, no Maciço do Urucum, em Corumbá-

MS. No maciço do Urucum encontra-se também a maior reserva de manganês

do país (BRITO, 2011a).

A indústria extrativista mineral é a principal fonte de riquezas para a cidade

de Corumbá/MS, superando a arrecadação de impostos gerada pelos setores da

pecuária e agricultura considerada de fundamental importância sócio econômica

para o município, gerando aproximadamente 2.000 empregos diretos e

representando a maior fonte de receita para o Município (MTE, 2016). Entretanto,

esta atividade acarreta severos efeitos ambientais, quer sobre o solo, ar, água,

biota, população do entorno e seus empregados, sendo considerada uma das

atividades mais perigosas à saúde humana (OLIVEIRA, 2001), além de impactos

sociais (LINS, 2015) e ao meio ambiente do trabalho (SILVA, 2016).

Objetiva-se com o presente trabalho levantar e analisar os índices

econômicos (PIB, PIB per capita) do município de Corumbá e relacionar com a

atividade mineradora na região e comparar com os índices de desenvolvimento

econômico (IDH, IFDM), apresentando os resultados relativos a qualidade de

vida da população, apurando-se as condições da educação, saúde, emprego e

renda, distribuição de renda, a média remuneratória, bem como o volume de

exportação e os royalties recebidos pela exploração mineral, bem como a

capacitação profissional estimulada pelo setor minerador na região.

Material e Métodos

O município de Corumbá localiza-se em Mato Grosso do Sul, na fronteira

com a Bolívia, distante 426 quilômetros de Campo Grande - MS, capital do

Estado. Em Corumbá está localizada a maior reserva de manganês e a terceira

maior reserva de minério de ferro do Brasil (Figura 1).

101

A pesquisa utilizou método quantitativo indireto, de natureza documental,

em fontes secundárias (livros, teses, dissertações, artigos e imprensa escrita).

As fontes bibliográficas de interesse foram analisadas e fichadas com o propósito

de verificar se a atividade mineradora traz desenvolvimento econômico para

Corumbá e região, elegendo-se como parâmetros o Produto Interno Bruto

Municipal e Per capita de 2002 a 2011, as informações constantes no PNUD com

relação a renda, pobreza e desigualdade no período de 1991, 2000 e 2010, as

informações sobre emprego, renda, número de admissões e demissões no setor

durante o período de 2010 a 2018 (MTE, 2016), o volume de exportação de

produtos da extração mineral no período de 2010 a 2017, os valores recebidos

pelo município pela CFEM – Compensação financeira pela exploração mineral

de 2010 a 2018, em contrapartida aos índices de IDH (1991, 2000 e 2010) e

IFDM do período de 2000 a 2011, que demonstram a situação do município no

tocante a educação, longevidade, mortalidade, saúde, emprego e renda.

Figura 1. Localização de Corumbá-MS. Fonte: IBGE (2000) apud Souchaud e

Baeninger (2008, p. 272).

102

Resultados e Discussão

A Atividade Minerária e o Desenvolvimento Local e Regional

O município de Corumbá possuía em 2010, ano do último censo, 103.703

habitantes, sendo a quarta cidade mais populosa do Estado e com uma variação

de 8,36% de crescimento populacional em relação ao censo de 2000. De acordo

com estimativas de 2017 do IBGE, atualmente Corumbá possui uma população

de 109.899 habitantes distribuídos por 32.259 domicílios, sendo o quarto

município mais populoso de Mato Grosso do Sul. É também o 18º mais populoso

do Centro-Oeste do Brasil, o 5º município fronteiriço mais populoso do Brasil

(IBGE, 2013).

A cidade possui aproximadamente 10 mil habitantes vivendo na zona rural

em decorrência do grande número de fazendas presentes na região. Em termos

econômicos, seu PIB, a preços correntes, em 2013, é o quarto maior do Estado

somando R$ 2.782.780.000 (dois bilhões e setecentos e oitenta e dois milhões

e setecentos e oitenta mil reais) (PNUD, 2013).

As explicações teóricas que procuram analisar o desenvolvimento de

regiões com base produtivas assentadas na extração de recursos naturais,

incluindo os minerais, representam formas de traduzir significados de ganhos e

perdas para essas regiões e sociedades que a vivenciam (CHAGAS, 2013).

Atualmente, encontram-se operando na região de Corumbá as seguintes

empresas do setor de mineração:

1) Companhia Vale do Rio Doce (VALE) - com controle da Urucum

Mineração (UMSA), produziu nos primeiros nove meses de 2017 um total

de 1.77 milhão t ano-1 de minério de ferro, com licença para até 2.350.000

t ano-1 (LO), resultado 13,9% maior que o mesmo período de 2016, além

da produção de minério de manganês que chegou a 495 mil t ano-1,

podendo atingir 750.000 t ano-1 (LO) (VALE, 2018);

2) Mineração Corumbaense Reunida (MCR/VALE S. A.) - empresa da

multinacional Rio Tinto do Brasil (RTB), subsidiária integral da Vale do Rio

Doce, com produção de 3 milhões de t ano-1, mas com anuência do

IBAMA para explorar até 6 milhões t ano-1 (ZERLOTTI, 2010);

3) Corumbá Mineração Ltda. (COMIN) - empresa de mineração de ferro gusa

ligada ao Grupo Siderúrgico Vetorial, com a produção de 670.000 t ano-1,

103

posicionando a empresa entre as três maiores do Brasil (VETORIAL,

2018);

4) Mineração Pirâmide Participações Ltda. (MPP) - lavra experimental, de

produção anunciada de 180.000 t ano-1, podendo chegar a 1.440.000 t

ano-1. É fornecedora da SIDERUNA, em Campo Grande, empresa do

Grupo Vetorial (LINS, 2015); e,

5) Granhas Liga Ltda: Reativada em Corumbá em 2016 é a terceira maior

produtora de ferroliga do Brasil, situada em Minas Gerais e Mato Grosso

do Sul, possuindo suas unidades em Conselheiro Lafaiete, São João Del

Rei e Corumbá (GRANHAS LIGAS, 2018).

Os principais problemas e preocupações da região de estudo foram

descritos por Azevedo e Delgado (2002), destacando como positivo o

desenvolvimento econômico, geração de emprego, geração de receita e

compromisso social das empresas mineradoras, mas com negativos impactos:

Ambientais: Desmatamento (vegetação nativa), Disponibilidade hídrica na

região da morraria, Dinâmica hidrológica, Degradação dos corpos d’água

associada à atividade de mineração, sensibilidade do ecossistema

Pantanal, especificidade da dinâmica hidrológica do pantanal, pesca

predatória (modalidade esportiva) e Poluição do ar e do solo associada à

atividade de mineração;

Sociais: Pobreza, baixa qualidade da educação, baixa taxa de

alfabetização, tráfico e consumo de drogas, prostituição (inclusive infantil)

e precariedade da infraestrutura de serviços;

Econômicos: Estagnação econômica, baixa qualificação profissional,

desemprego, poucas oportunidades de emprego e renda, ausência de

políticas de desenvolvimento regional e pouco investimento na vocação

turística da região;

Institucionais: Ausência de instrumentos e políticas de ordenamento

territorial, ausência de planejamento estratégico sistemático, baixa

capacitação dos órgãos de controle e fiscalização, legitimidade

insuficiente dos processos de licenciamento ambiental, pressão política

na tomada de decisões.

104

Para Hirschiman (1983), as economias extrativas não apresentam

capacidade de impulsionar processos dinâmicos de desenvolvimento, pois não

desencadeiam efeitos de “linkagem”, relações econômicas em cadeia “para

frente” e “para trás”, observadas em regiões industrializadas. O ideal seria a

implementação de indústrias que, ao mesmo tempo em que fossem produtoras

de bens finais, fossem fornecedoras de insumos.

Por crescimento econômico entende-se aquele que promove o

crescimento da população e da renda, enquanto o desenvolvimento promove a

elevação da vida da população (SANTOS e SANTOS, 2012).

A diferença entre crescimento e desenvolvimento é que o crescimento

não conduz automaticamente à igualdade nem à justiça social; o

desenvolvimento, por sua vez, preocupa-se com a geração de riquezas, mas tem

o objetivo de distribuí-las, de melhorar a qualidade de vida de toda a população,

levando em consideração, portanto, a qualidade ambiental do planeta (OLÍMPIO,

2012).

Para Veiga (2010, p. 46-47), “... uma coisa é medir desempenho

econômico, outra é medir qualidade de vida (ou bem-estar), e uma terceira é

medir a sustentabilidade do desenvolvimento ...”.

“Primeiro, o desempenho econômico não poderá continuar

a ser avaliado com o velho viés produtivista, e sim por

medida da renda familiar disponível. Segundo, será

necessária uma medida de qualidade de vida (ou bem-estar)

que incorpore as evidências científicas desse novo ramo que

é a economia da felicidade” (VEIGA, 2010, p. 49).

Nos municípios mineradores verifica-se a denominada “maldição da

mineração”, em que parcela do efeito positivo que decorre do incremento da

economia é absorvida pelos efeitos negativos da atividade que seriam os

impactos sobre o meio ambiente e sobre a saúde das pessoas, além de geração

de subempregos e má distribuição de renda.

Nas pesquisas realizadas em 18 municípios mineradores, Bernardo

(2018), constatou que nas regiões de base mineral, as taxas de crescimento são

inferiores às das regiões nas quais a atividade é inexpressiva. Os resultados

indicaram que, embora a atividade mineradora gere receitas para o município, a

105

presença dela tem um efeito negativo sobre o índice de desenvolvimento

municipal (BERNARDO, 2018).

Para Chagas, a quebra do paradigma da “maldição dos recursos minerais”

não é tarefa fácil e experiências tem refutado tal possibilidade, sobretudo quando

se avaliam casos de exploração mineral em regiões pobres do planeta, onde os

efeitos desenvolvimentistas não se concretizaram, além de herdar graves

passivos socioambientais (CHAGAS, 2013).

Embora haja conflito aparente, os sistemas econômico e ecológico não

são conflitantes. Na verdade, “os sistemas econômicos dependem, para a sua

sobrevivência, dos sistemas ecológicos” (SACHS, 1993, p. 36). Para Sachs

(2008, p. 13), “... o crescimento é uma condição necessária, mas de forma

alguma suficiente (muito menos é um objetivo em si mesmo), para se alcançar a

meta de uma vida melhor, mais feliz e mais completa para todos ...”.

É inegável que a indústria extrativa mineral gera um efeito multiplicador

na economia, tanto na produção como no emprego, pois os bens que extrai

fornecem insumos para a indústria de transformação e para o setor de

construção, e os seus empreendimentos geram, na sua esfera de influência,

amplo conjunto de atividades conexas de bens e serviços. Contudo, apesar de

gerar riqueza e crescimento econômico, sendo um dos importantes setores da

economia brasileira, a indústria extrativa mineral está entre as atividades

antrópicas que mais causam impactos socioeconômicos e ambientais negativos,

afetando o território onde se realiza a mineração (ENRÍQUEZ, et al, 2011).

Para avaliar o impacto da mineração sobre o desenvolvimento econômico,

na perspectiva de servirem como ponto de referência para demonstrar o

crescimento e/ou desenvolvimento da região, foram utilizados os seguintes

indicadores: PIB - produto interno bruto e os Índices IDHM – índice de

Desenvolvimento Humano Municipal, que congrega as dimensões longevidade,

educação e renda e o IFDM - Índice FIRJAN de Desenvolvimento Municipal, que

congrega educação, saúde e o emprego e renda.

A modernização e industrialização da China trouxeram um ciclo de

expansão da indústria extrativista mineral brasileira, pois mesmo sendo a maior

produtora mundial de minério de ferro e aço, também é a maior compradora do

minério de ferro do Brasil. A demanda chinesa criou um superciclo da mineração

nos últimos anos (BRITO, 2011a).

106

Produto Interno Bruto - PIB

O aspecto econômico talvez seja a dimensão na qual mais claramente

evidencia-se o retorno positivo da atividade mineira, pela arrecadação de

impostos, dinamização das trocas comerciais locais, aumento do número de

emprego, etc. No entanto, mesmo nesta dimensão há desafios consideráveis, no

território minerado e no seu entorno, pois a mineração, ao atrair grandes

contingentes de trabalhadores de outras localidades, costuma provocar aumento

nos preços de bens e serviços locais, além de representar uma ameaça à

independência econômica da comunidade, se não houver diversificação

produtiva (ENRÍQUEZ et al., 2011).

O crescimento econômico do município está representado pelo aumento

do Produto Interno Bruto – PIB, que considera a soma (em valores monetários)

de todos os bens e serviços finais produzidos em determinado município, durante

um período de tempo (LINS, 2015). Esse indicador se presta a mensurar a

atividade econômica de uma região, por isso é um dos mais utilizados na

macroeconomia (Figura 2).

Figura 2. Composição do PIB do município de Corumbá de 1980 a 2010, Mato

Grosso do Sul. Fonte: Adaptado de IBGE (2013).

107

Na figura 2, ficou demonstrado que, na década de 80, Corumbá passou

de uma economia agroindustrial para uma economia voltada para o setor de

serviços e indústria.

Analisando as alterações do PIB conforme a figura 2, verifica-se que nos

últimos trinta anos o setor de serviços passou de 34% para 55%, enquanto que

o setor da Agroindústria diminuiu de 45% para 9% sua composição no PIB do

município.

A extração mineral em Corumbá contribui significativamente para o

crescimento do PIB do município de Corumbá (Figura 3).

Figura 3. Participação do PIB Industrial no PIB de Corumbá de 1980 a 2011,

Mato Grosso do Sul. Fonte: IBGE (2013).

Complementando as informações da Figura 2, que trata da composição

do PIB de Corumbá, a Figura 3 demonstra que a participação do PIB da

agroindústria diminuiu de 45% para 6% enquanto que o PIB dos serviços passou

de 34% em 1.980 para 58% em 2011. O PIB da Indústria, com constantes

alterações nos últimos trinta anos, em 2011 representou 17% do PIB do

município.

A Tabela 1 abaixo indica que o PIB de Corumbá cresceu 8,70% no período

de aproximadamente 10 anos (2002 a 2011), percentual bem superior ao PIB

108

brasileiro que foi de 3,78% (IBGE, 2013) e de Mato Grosso do Sul (SEMAD,

2016), ratificando o crescimento econômico no período.

Tabela 1. PIB Municipal de Corumbá, Mato Grosso do Sul de 2002 a 2011

Ano PIB municipal a preços de 2011 Taxa de crescimento (%)

Milhares de reais

2002 1.807.229,93

2003 2.091.712,23 15,74

2004 2.067.397,64 -1,16

2005 2.437.786,80 17,92

2006 3.028.510,74 24,23

2007 2.924.091,60 -3,45

2008 3.652.564,02 24,91

2009 3.188.996,35 -12,69

2010 3.539.535,90 10,99

2011 3.602.829,51 1,79

Média de crescimento 8,70

Fonte: IBGE (2013).

Segundo dados PNUD (2013), a renda per capita média de Corumbá

cresceu 75,88% nas últimas duas décadas, passando de R$ 356,56, em 1991,

para R$ 451,78, em 2000, e para R$ 627,10, em 2010. Isso equivale a uma taxa

média anual de crescimento nesse período de 3,02%.

O crescimento econômico demonstrado na Tabela 1 também repercutiu

no PIB per capita do Município, sempre ascendente, conforme Tabela 2. O PIB

per capita é definido como a divisão do valor corrente do PIB pela população

residente no meio do ano (IBGE, 2013).

A proporção de pessoas pobres, ou seja, com renda domiciliar per capita

inferior a R$ 140,00 (a preços de agosto de 2010), passou de 40,44%, em 1991,

para 32,24%, em 2000, e para 16,11%, em 2010. A evolução da desigualdade

de renda nesses dois períodos pode ser descrita através do Índice de Gini20, que

20 Índice Gini é um instrumento usado para medir o grau de concentração de renda. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de 0 a 1, sendo que 0 representa a situação de total igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda, e o valor 1 significa completa desigualdadede renda, ou seja, se uma só pessoa detém toda a renda do lugar (PNUD, 2013).

109

passou de 0,60, em 1991, para 0,61, em 2000, e para 0,55, em 2010 (PNUD,

2013) (Tabela 2).

Tabela 2. Renda, pobreza e desigualdade - Município Corumbá, Mato Grosso

do Sul

1991 2000 2010

Renda per capita 356,56 451,78 627,10

% extremamente pobres 16,57 12,58 4,34

% pobres 40,44 32,24 16,11

Índice de GINI 0,60 0,61 0,55

Fonte: PNUD (2013).

O PIB per capita é utilizado para medir o quanto do total de riqueza

produzida cabe a cada indivíduo, se todos tivessem partes iguais. Entretanto,

conforme se verifica pelo comparativo com demais índices sociais (IDHM e

IFDM), a desigualdade social da região é alta, demonstrando a concentração de

riqueza e má distribuição de renda no Município. (Tabela 3)

Tabela 3. PIB Municipal per capita de Corumbá, Mato Grosso do Sul de 2002 a

2011

Ano População (em habitantes) (PIB per capita (em r$)

2002 96.599 18.709

2003 97.235 21.512

2004 97.947 21.107

2005 99.441 24.515

2006 101.089 29.959

2007 96.373 30.341

2008 99.106 36.855

2009 99.467 32.061

2010 103.703 34.131

2011 104.317 34.537

Fonte: IBGE (2013).

110

Nas últimas duas décadas diminuíram na cidade o número de pessoas

pobres e extremamente pobres. A desigualdade na distribuição de renda

também diminuiu de 0,60 em 1991 para 0,55 em 2010, entretanto continua alta

se considerarmos a grande elevação do PIB per capta e Municipal no período,

comprovando a concentração e má distribuição de renda.

Emprego e remuneração

Em 2016 as indústrias mineradoras empregavam 6,96% do total de

trabalhadores formais em Corumbá (MTE, 2016). Em 2013 o percentual de

empregabilidade das indústrias mineradoras era de 8,5% do total de

trabalhadores (MTE, 2013), o que demonstra a oscilação da empregabilidade da

região, refém do ciclo do mercado de exportação de minério de ferro e

manganês.

Nos anos de 2003 a 2012 o município obteve nove anos de saldo positivo

na geração de empregos (2003, 2004, 2005, 2006, 2007, 2008, 2010, 2011 e

2012), mas a partir da metade do ano de 2013, registrou-se uma queda tanto

nas admissões como nas demissões, sendo esta maior que as admissões, fator

este devido à crise que a economia brasileira entrou desde 2013 (Tabela 4).

Tabela 4. Admissão e demissão em Corumbá por setor (2007-2015)

Setor Admissão Demissão Saldo

Extrativo mineral 2282 2111 171

Indústria de transformação 3460 3487 -27

Serviços industrial de utilidade pública 296 316 -20

Construção civil 4743 4655 88

Comércio 10911 10442 469

Serviços 15498 14929 569

Agropecuária, ext. vegetal, caça e pesca 8706 8726 -20

Fonte: MTE (2016).

Importante destacar que para cada emprego direto gerado pela atividade

mineradora são estimadas a geração de três empregos indiretos (Tabela 5).

111

Tabela 5. Número de empregos em diversos setores e atividades em Corumbá-

MS - 2016

Total das Atividades

IBGE setor Masculino Feminino Total

Extração mineral 1.023 113 1.136

Indústria de transformação 896 235 1.131

Serviços industrial de utilidade pública 168 17 185

Construção civil 229 20 249

Comércio 2.079 1.430 3.509

Serviços 2.591 2.118 4.709

Administração pública 1.245 1.979 3.224

Agropecuária, ext. vegetal, caça e pesca 1.824 389 2.213

Total 10.055 6.301 16.356

Fonte: MTE (2016).

A atividade mineradora é a que oferece melhor média remuneratória,

valores superiores, inclusive, que a média salarial do serviço público, conforme

dados do Ministério do Trabalho e Emprego ISPER/RAIS21 (Tabela 6).

Tabela 6. Remuneração média de empregos formais de diversos setores em

Corumbá no ano de 2016, Mato Grosso do Sul

Setores IBGE

Setor Masculino Feminino Total

Extração mineral 4.376,81 4.006,76 4.337,83

Indústria de transformação 2.120,33 1.585,64 2.007,03

Serviços industrial de utilidade pública 1.790,84 1.446,41 1.754,92

Construção civil 1.301,79 1.187,50 1.292,01

Comércio 1.551,14 1.394,73 1.487,54

Serviços 2.524,48 2.141,95 2.351,70

Administração pública 4.216,78 3.251,89 3.625,72

Agropecuária, ext. vegetal, caça e pesca 1.603,04 1.325,15 1.554,53

Total 2.483,11 2.287,42 2.407,18

Fonte: MTE (2016).

21 RAIS: instrumento de coleta de dados instituída pelo Decreto nº 76.900, de 23/12/75 e tem por objetivos o suprimento às necessidades de controle da atividade trabalhista no País, o provimento de dados para a elaboração de estatísticas do trabalho e a disponibilização de informações do mercado de trabalho às entidades governamentais (MTE, 2016)

112

Em artigo apresentado para o 8º Encontro Científico de Administração,

Economia e Contabilidade - ECAECO, Castelão (2016), identificou as principais

características do mercado de trabalho do município de Corumbá no período de

2003 a 2015, apresentando as principais ocupações pelo critério de admissão,

devidamente registradas perante o Ministério do Trabalho e Emprego,

identificando que “o setor de serviços (46% do total) consolida-se como o

principal gerador de novos postos de trabalho entre 2007 a 2015 seguido pelo

comércio (38%) e a indústria extrativa (14%)” (CASTELÃO, 2016, p. 10). E

constata que “o Trabalhador de Pecuária Polivalente, Motorista de Caminhão

(Rotas Regionais e Internacionais) e Servente de Obras, são as principais

ocupações no município nos últimos nove anos” (CASTELÃO, 2016, p. 10).

Os dados apresentados demonstram a importância econômica da

atividade mineradora na região gerando 14% dos postos de trabalho nos últimos

9 anos e representando a melhor remuneração média entre os diversos

empregos formais de Corumbá (MTE, 2016). Entretanto, ao se adotar na região

o neoextrativismo, cujo enfoque é o crescimento econômico baseado na

apropriação de recursos naturais, com cadeias produtivas curtas (extração,

transporte e eventual processamento) e pouco diversificadas sem o potencial

agregador das indústrias de transformação, os níveis de emprego direto tendem

a reduzir. Ou seja, a economia mineral torna-se refém das oscilações do

mercado internacional de commodity mineral. Essa dinâmica tem se mostrado

concentradora de desigualdades e não geradora de alternativas no território

minerado (PEREIRA, 2016, p. 40).

A constatação de Pereira (2016, p. 40) se coaduna com a conclusão

apresentada por Castelão (2016) no sentido de que a taxa de rotatividade do

município anual e por setor, durante o período estudado (2003 a 2015) foi de

29% enquanto que a do Brasil é de 58%, consequência do baixo dinamismo da

economia corumbaense, não oferecendo muitas opções de trabalho, além de ser

dependente do movimento da indústria e comércio.

Exportação de produtos da extração mineral – 2000 a 2017

A indústria extrativista mineral é a principal fonte de riquezas para a cidade

de Corumbá, com arrecadação maior do que a de impostos originados pela

pecuária e agricultura.

113

Entretanto, o entendimento da atividade industrial de Corumbá passa pela

compreensão de inserção de seus produtos no mercado internacional. As

oscilações econômicas sofridas na conjuntura internacional e nacional tornam

suscetível a produção, o valor e importância da atividade em nível de geração

de impostos, renda e emprego (SOUZA et al., 2017).

De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e

Serviços, em 2017, Mato Grosso do Sul exportou 3,742 milhões de toneladas de

minério de ferro, garantindo divisas de US$ 124,031 milhões. Alta ainda mais

expressiva foi registrada nas exportações de manganês. Embora com

participação inferior na balança comercial (1,89%), o minério gerou um

faturamento de US$ 90,615 milhões, 74,11% a mais em comparação a 2016.

No caso do manganês, Mato Grosso do Sul triplicou a lavra e atualmente

responde por 22% de toda produção brasileira. As maiores reservas estão em

Minas Gerais (87%), Mato Grosso do Sul (6,5%) e Pará (4,3%). A principal

aplicação do manganês é na fabricação de ligas metálicas (ferro-liga) (MIDC,

2018) (Figura 4)

Figura 4. Exportações do Minério de Ferro de Mato Grosso do Sul de 2012 a

2017. Fonte: MDIC (2018).

114

O crescimento nas exportações é reflexo da abertura da economia chinesa ao mercado global e seu imenso mercado

interno (BRITO, 2011b). A Tabela 7 demonstra a exportação da indústria mineraria, de 2000 a 2014, em reais.

Tabela 7. Exportação de Produtos da Extração Mineral (2000-2014)

Corumbá Mato Grosso do Sul

Ano Exportação Importação Saldo Exportação Importação Saldo

2000 38.431.398 112.201.108 -73.769.710 253.238.706 159.999.362 -327.008.416

2001 30.634.867 225.479.457 -194.844.590 473.680.363 281.842.770 -668.524.953

2002 38.322.518 264.460.082 -226.137.564 384.238.042 423.908.242 -610.375.606

2003 51.388.269 348.134.747 -296.746.478 498.338.890 492.867.629 -795.085.368

2004 59.652.817 552.942.298 -493.289.481 644.754.039 771.953.910 -1.138.043.520

2005 82.341.115 764.301.423 -681.960.308 1.149.121.782 1.080.011.655 -1.831.082.090

2006 115.737.960 1.240.548.131 -1.124.810.171 1.004.338.508 1.725.836.632 -2.129.148.679

2007 96.749.503 1.447.963.930 -1.351.214.427 1.297.176.760 2.189.887.974 -2.648.391.187

2008 330.963.134 2.681.554.211 -2.350.591.077 2.095.551.415 3.682.565.087 -4.446.142.492

2009 173.931.519 1.593.523.540 -1.419.592.021 1.937.634.439 2.690.230.313 -3.357.226.460

2010 376.382.660 2.133.937.698 -1.757.555.038 2.960.507.709 3.382.661.700 -4.718.062.747

2011 687.375.080 2.739.952.650 -2.052.577.570 3.916.260.636 4.469.067.323 -5.968.838.206

2012 400.208.386 3.248.559.140 -2.848.350.754 4.212.756.213 5.113.970.906 -7.061.106.967

2013 501.574.203 3.671.699.578 -3.170.125.375 5.256.284.227 5.753.054.417 -8.426.409.602

2014 579.111.252 3.550.337.947 -2.971.226.695 5.245.499.753 5.237.139.718 -8.216.726.448

Fonte: MDIC (2018)

Em 2000 as exportações de produtos oriundos da extração mineral representavam 1,5% (um e meio por cento) de toda

a exportação do Estado do Mato Grosso do Sul e em 2014 já representava 11% (onze por cento) das exportações.

115

Compensação financeira pela exploração mineral (CFEN) – royalty mineral

A Lei 7.990/89 instituiu a Compensação financeira pela exploração dos

recursos minerais – CFEM, estabelecendo prestação pecuniária aos entes da

federação em que ocorrerem a exploração da atividade mineradora. Os cálculos

variam de acordo com os recursos minerais.

A distribuição mensal da CFEM mereceu recente alteração trazida pela

Lei 13.661, de 09 de maio de 2018 (BRASIL, 2018), devendo o valor arrecadado

ser dividido da seguinte forma:

VI. 25% (vinte e cinco por cento) aos Estados;

VII. 65% (sessenta e cinco por cento) aos Municípios;

VIII. 3% (três por cento) ao Ministério do Meio Ambiente;

IX. 3% (três por cento) ao Ministério de Minas e Energia;

X. 4% (quatro por cento) ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico

e Tecnológico – FNDCT.

A CFEM tem a vantagem de beneficiar majoritariamente o município

produtor (65%) e de não estar vinculada a gasto específico, possibilitando ao

gestor público usá-la em prol da sustentabilidade ambiental. Segundo orienta o

DNPM, as receitas da CFEM devem ser aplicadas em projetos que, direta ou

indiretamente, revertam em prol da comunidade local, na forma de melhoria da

infraestrutura, da qualidade ambiental, da saúde e da educação.

Os valores milionários arrecadados pelo município de Corumbá como

compensação pela exploração mineral – CFEM sofreram grandes oscilações

entre 2010 e 2018, não alcançando as cifras previstas por Brito (2011), mas

representando importante receita para o município. Enríquez (2007) aponta que

na maioria dos grandes municípios mineradores os recursos da CFEM entram

no caixa da prefeitura e são diluídos nas despesas correntes, não

desenvolvendo, com isso, oportunidades de geração de emprego e renda que

poderiam amenizar os efeitos da pobreza e da dependência excessiva da

mineração. Em 2010 o município recebeu R$ 10.629.267,15 e em 2011 o valor

praticamente dobrou para R$ 21.019.632,53 para no ano seguinte, em 2013, cair

pela metade, ficando em R$ 10. 595.992,01 (DNPM, 2018). Em 2017, à título de

exemplo, caiu de R$ 28.963.789,68 (valor em 2016) para R$ 5.118.922,16,

116

menor valor durante os últimos 8 anos. Em 2018, até o mês de maio, a

arrecadação já somava R$ 4.445,528,95, ou seja, quase o mesmo valor de 2017

(Tabela 8)

Tabela 8. Arrecadação da CFEM de 2010 até 2018, em milhões de reais, entre

os cinco maiores arrecadadores do Estado de Mato Grosso do Sul

Corumbá – Arrecadação no período de 2010 a 2018

Ano Operação Recolhimento %

2010 611.073.774,54 10.629.267,15 1,73%

2011 1.017.065.590,72 21.019.632,53 2,06%

2012 579.684.621,35 10.595.992,01 1,82%

2013 847.610.706,20 15.205.784,55 1,79%

2014 729.959.284,08 13.099.101,14 1,79%

2015 471.421.641,84 8.188.048,56 1,73%

2016 668.213.552,78 28.963.789,68 4,33%

2017 298.434.293,26 5.118.922,16 1,71%

2018 141.647.885,94 4.445.528,95 3,13%

Fonte: MME (2018).

Neste sentido, apresenta-se o perfil dos empregos formais na cidade de

Corumbá e, especificamente no setor de mineração (Tabela 9), no intuito de

traçar um comparativo com os valores arrecadados pelo município à título de

CFEM, na geração de emprego e renda.

Tabela 9. Perfil dos empregrados formais no município de Corumbá, Mato

Grosso do Sul de 2010 a maio de 2018

Movimentação agregada Admissões Desligamento Variação

2010 6.454 5.838 616

2011 6.697 5.751 946

2012 6.041 5.580 461

2013 5.899 5.814 85

2014 6.837 7.028 -191

2015 5.071 5.746 -675

2016 5.254 5.494 -240

2017 5.878 5.930 -52

Maio de 2018 2.540 2.455 85

Fonte: Adaptado de MTE (2013).

117

Os dados apresentados demonstram a arrecadação milionária anual que

o município de Corumbá recebe pela CFEM. Em simples análise tem-se que no

ano de 2013 o município recebeu R$ 15.205.784,55 de CFEM, valor 50% maior

que no ano de 2012 e esse acréscimo não repercutiu na geração de empregos,

restando, inclusive, saldo negativo em relação aos empregos na atividade

extrativa mineral (-150). Ratificando que a arrecadação de CFEM não gera mais

empregos e renda para o município tem-se o ano de 2016, quando foram

repassados para o município R$ 28.963.789,68, mas os empregos formais no

mesmo ano caíram no município (- 240) e no setor da mineração (-65).

Tabela 10. Perfil dos empregados na mineração em Corumbá, Mato Grosso do

Sul, de 2010 a maio 2018

Movimentação agregada Admissões Desligamento Variação

2010 378 199 179

2011 389 117 272

2012 295 212 83

2013 285 435 -150

2014 246 270 -24

2015 79 296 -217

2016 51 116 -65

2017 103 126 -23

Maio de 2018 36 33 3

Considerando que a CFEM é um excedente financeiro que somente

as cidades mineradoras fazem jus, o que se esperava é que elas, por terem uma

renda adicional e com isso uma vantagem econômica, tivessem um

desenvolvimento mais pujante do que as cidades não mineradoras. Mas o que

Bernardo (2018) observou ao analisar a CFEM dos 18 principais municípios

mineiros arrecadadores é que a CFEM funcionou mais como um contrapeso do

que um trampolim para o desenvolvimento e considera “razoável supor que, em

média, os benefícios econômicos gerados não são revertidos em

desenvolvimento humano” (BERNARDO, 2018, p. 2).

118

Índice de Desenvolvimento Humano – IDH e Índice Firjan de

Desenvolvimento Municipal

Dentre os indicadores propostos com o intuito de considerar, além dos

aspectos econômicos, os sociais e culturais tem-se Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

(PNUD e o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM). O IDH, segundo

Minayo et al. (2000), por basear-se nas capacidades, seria um indicador sintético

de qualidade de vida, afinal a saúde e a educação são estados ou habilidades

que permitem uma expansão das capacidades.

Já o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM), que acompanha

o desenvolvimento socioeconômico de todos os municípios brasileiros, se refere

a geração de Emprego e Renda, Educação e Saúde. Os dados são obtidos por

estatísticas públicas oficiais e considera de 0 (desenvolvimento nulo) a 1

(desenvolvimento perfeito).

O índice de desenvolvimento humano corumbaense é considerado alto de

acordo com o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento - IDHM.

Segundo o último relatório, divulgado no ano de 2010, o IDHM passou de 0,584

em 2000 para 0,700 em 2010 - uma taxa de crescimento de 19,86%. O hiato de

desenvolvimento humano, ou seja, a distância entre o IDHM do município e o

limite máximo do índice, que é 1 foi reduzido em 72,12% entre 2000 e 2010

(PNUD, 2013).

Tabela 11. IDHM de Corumbá de 1991 a 2010

Ano IDH médio Posição Nacional Posição Estadual

2010 0,700 1904 26

2000 0,584 1879 21

1991 0,509 659 5

Fonte: PNUD (2013).

Os componentes analisados (educação, longevidade e, renda)

apresentaram melhora. No período, a Educação foi o índice que mais cresceu

em termos absolutos (crescimento de 0,188), seguida por Longevidade e por

Renda. Na composição da análise de longevidade o IDHM apresenta “esperança

de vida ao nascer” (Tabela 12)

119

Tabela 12. IDH do município de Corumbá, Mato Grosso do Sul e seus

componentes

IDHM e componentes 1991 2000 2010

IDHM Educação 0,304 0,398 0,586

% de 18 anos ou mais com fundamental completo 31,89 40,87 54,55

% de 5 a 6 anos na escola 43,46 51,66 85,71

% de 11 a 13 anos - anos finais do fundamental

regular seriado ou com fundamental completo

45,68 52,14 83,34

% de 15 a 17 anos com fundamental completo 20,00 33,64 41,93

% de 18 a 20 anos com médio completo 9,54 19,23 31,65

IDHM Longevidade 0,712 0,773 0,834

Esperança de vida ao nascer 67,69 71,35 75,06

IDHM Renda 0,610 0,648 0,701

Renda per capita 356,56 451,78 627,10

Fonte: PNUD (2013).

Em Corumbá, a esperança de vida ao nascer cresceu 3,7 anos na última

década, passando de 71,4 anos, em 2000, para 75,1 anos, em 2010. Em 1991,

era de 67,7 anos. No Brasil, a esperança de vida ao nascer é de 73,9 anos, em

2010, de 68,6 anos, em 2000, e de 64,7 anos em 1991. A mortalidade infantil

reduziu praticamente pela metade, sendo de 31,4 em 1991 para 17,8 em 2010

(Tabela 13).

Tabela 13. Longevidade, Mortalidade e Fecundidade - Município de Corumbá,

Mato Grosso do Sul

Ano 1991 2000 2010

Esperança de vida ao nascer 67,7 71,4 75,1

Mortalidade infantil 31,4 21,9 17,8

Mortalidade até 5 anos de idade 36,9 25,7 21,2

Taxa de fecundidade total 4,1 3,3 2,6

Fonte: PNUD (2013).

No presente trabalho também foi objeto de análise o Índice Firjan de

Desenvolvimento Municipal – IFDM, 2015, estudo que mede o nível de

desenvolvimento de todas as cidades do Brasil com base nos indicadores Saúde,

Educação e Emprego e Renda para complementar os dados obtidos com o

IDHM.

120

Conforme anteriormente exposto, sob os parâmetros de avaliação do

IDHM, o índice de desenvolvimento humano de Corumbá foi considerado alto

(0,700) enquanto que sob os parâmetros do IFDM, Corumbá foi avaliada com

nível de desenvolvimento moderado22 (0,6740), ocupando o 42º lugar entre os

79 municípios do Estado de Mato Grosso do Sul. A evolução do IFDM de

Corumbá encontra-se demonstrado na Tabela 14.

Tabela 14. IFDM Corumbá no período de 2000 a 2011

Ano IFDM Posição Nacional Posição Estadual

2011 0,6750 2048º 31º

2010 0,6806 2110º 25º

2009 0,6360 2835º 49º

2008 0,6825 1572º 16º

2007 0,7060 1127º 9º

2006 0,6946 1151º 11º

2005 0,7144 890º 5º

2000 0,5522 2414º 44º

Fonte: FIRJAN (2015).

Segundo o FIRJAN (2015), as condições relativas a Educação, Saúde e

Emprego e Renda em Corumbá também foram consideradas de

desenvolvimento moderado durante o período avaliado, exceção para o ano de

2013, em que o índice de emprego e renda caiu e foi considerado regular,

conforme Tabela 15.

Tabela 15. Índice FIRJAN para Educação, Saúde, Emprego e Renda para

Corumbá, Mato Grosso do Sul, no período de 2010 a 2013

2010 2011 2012 2013

IFDM 0,6593 0,6750 0,7043 0,6740

Educação 0,6374 0,6474 0,6698 0,6803

Saúde 0,6701 0,6753 0,7281 0,7441

Emprego renda 0,6706 0,7021 0,7148 0,5974

22 IFDM: o índice varia de 0 (mínimo) a 1 ponto (máximo) para classificar o nível de cada localidade em quatro categorias: baixo (de 0 a 0,4), regular (0,4 a 0,6), moderado (de 0,6 a 0,8) e alto (0,8 a 1) desenvolvimento. Ou seja, quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento da localidade (FIRJAN, 2015).

121

LINS (2015) ao analisar os valores recebidos pela CFEM e o número de

salas de aula e leitos hospitalares em Corumbá, constatou que houve pouco ou

nenhum investimento que se traduza em acréscimo referente à estrutura escolar

no período considerado nesta pesquisa (2006/2013). O número de escolas

municipais de Educação Básica se manteve constante, com um ligeiro acréscimo

no número de salas de aula existentes no município, assim como no número de

matriculados no sistema educacional, concluindo que:

“Entre 2000 e 2010, embora a população tenha aumentado

a uma taxa anual de 0,81%, passando de 95.701 habitantes

em 2000, para 103.703 habitantes em 2010 (PNUD, 2013),

verifica-se que apenas 37 novas salas de Aula foram

disponibilizadas à população corumbaense, no período

compreendido entre 2006 e 2013” (LINS, 2015, p. 51).

Com relação à saúde pública de Corumbá no período de 2007 a 2013,

Lins (2015, p. 52) constata que “a questão dos investimentos na saúde pública

tampouco difere da educação (...) ao invés de novos leitos disponibilizados à

população no decorrer do tempo, alguns foram reduzidos”.

“O número de leitos existentes em 2007 era de 196.

Incrivelmente, a despeito do crescimento populacional e do

aumento da arrecadação do município, os leitos existentes

em 2013 experimentaram uma redução em seu número

para 168, ou seja, 28 leitos foram fechados. Se analisados

os Hospitais Gerais, em 2007 o município contava com 2.

Em 2013, apenas 1 deles estava disponível à população.

Os leitos do Sistema Único de Saúde também foram

reduzidos. Em 2007 a população contava com 143; em

2013, apenas com 133” (LINS, 2015, p. 52).

Os dados oficiais são alarmantes no sentido de que mesmo com o

aumento populacional e valores milionários recebidos pelo município de royalties

da mineração não houve aumento na geração de emprego e investimentos na

educação e saúde da população.

122

Conforme leciona Enríquez et al. (2011), para se reduzirem os impactos

negativos de um empreendimento minerário, a atuação do Estado se faz

fundamental uma vez que cabe a ele assegurar a legalidade, promover a

resolução de conflitos e garantir que as conquistas obtidas não sejam

comprometidas no processo de sucessão política. Da mesma forma, a dimensão

territorial é vital, tendo em vista que a existência de recursos minerais pode ser

ao mesmo tempo dádiva, ao impulsionar o desenvolvimento, e maldição, ao

destruir meios de sobrevivência ou comprometer a saúde do meio natural e dos

indivíduos (ENRÍQUEZ et al., 2011).

Conclusão

O aspecto econômico é a dimensão na qual se evidencia o retorno positivo

da atividade mineira, quer pela arrecadação milionária de CFEM, pela geração

de empregos e serviços e pelas trocas comerciais locais. A extração mineral em

Corumbá contribui significativamente para o crescimento do PIB do município de

Corumbá que também repercutiu no PIB per capita do Município, sempre

ascendente. O PIB de Corumbá cresceu 8,70% no período de aproximadamente

10 anos (2002 a 2011), percentual bem superior ao PIB brasileiro que foi de

3,78% (IBGE, 2013) e de Mato Grosso do Sul (SEMAD, 2016).

Sob os parâmetros de avaliação do IDHM, o índice de desenvolvimento

humano de Corumbá foi considerado alto (0,700) enquanto que sob os

parâmetros do IFDM Corumbá foi avaliada com nível de desenvolvimento

humano moderado (0,6740), ocupando o 42º lugar entre os 79 municípios do

Estado de Mato Grosso do Sul. A desigualdade na distribuição de renda diminuiu

de 0,60 em 1991 para 0,55 em 2010, entretanto continua alta se considerarmos

a grande elevação do PIB per capita e municipal no período, comprovando a

concentração e má distribuição de renda.

Em 2016 as indústrias mineradoras empregavam 6,96% do total de

trabalhadores formais em Corumbá (MTE, 2016) enquanto que em 2013 o

percentual de empregabilidade das indústrias mineradoras era de 8,5% do total

de trabalhadores (MTE, 2013), o que demonstra a oscilação da empregabilidade

da região, refém do ciclo do mercado de exportação de minério de ferro e

manganês.

123

O município recebe milhões de reais como compensação ambiental pelos

impactos negativos acarretados pela atividade mineradora, mas esses valores

não repercutiram na geração de empregos. Como exemplo cita-se o ano de

2016, quando foram repassados para o município R$ 28.963.789,68 pela CFEM,

mas os empregos formais no mesmo ano caíram no município (-240) e no setor

da mineração (-65).

As análises dos Índices socioeconômicos IDHM e IFDM demonstram

que os valores milionários de CFEM recebidos pelo município não são revertidos

em desenvolvimento humano. Nos anos em que os repasses financeiros foram

maiores o índice de desemprego aumentou e não houve investimento na saúde

e educação proporcionais ao aumento de arrecadação do município,

demonstrando que a receita advinda da atividade mineradora não é revertida em

benefício da comunidade local.

Corumbá demanda um modelo de desenvolvimento que não apenas

retome a pujança econômica do município, mas que promova a diversificação da

atividade produtiva e assegure a qualidade de vida de seus moradores, trazendo

benefícios à sociedade, estimulando as vocações regionais e conservando o

meio ambiente e a cultura pantaneira.

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130

Artigo II

Compensação Financeira pela exploração de Recursos Minerais em

Corumbá-MS: necessidade de Regulação e criação de Fundo da Mineração

para recuperação ambiental

Tchoya Gardenal Fina do Nascimento

Resumo

O município de Corumbá localiza-se em Mato Grosso do Sul, na fronteira

com a Bolívia. Em Corumbá está localizada a maior reserva de manganês e a

terceira maior reserva de minério de ferro do Brasil. A Lei 7.990/89 instituiu a

compensação financeira pelo resultado da exploração da lavra – CFEM.

Corumbá-MS possui a décima maior arrecadação de CFEM entre os municípios

do Brasil. Objetiva identificar e avaliar os valores arrecadados pelo município a

título de CFEM entre 2010 a 2016 e relacionar com a melhoria na qualidade de

vida da população. A pesquisa é de natureza quantitativa, realizando-se revisão

bibliográfica e análise documental. Como resultado apresenta-se que a CFEM

contribui para fortalecer as finanças públicas, mas os valores não representaram

a melhoria da qualidade de vida da população corumbaense, medida pelo IDHM

e IFDM do período. O município deveria buscar outras fontes de receita, no

intuito de diminuir a dependência quanto à CFEM, considerando a instabilidade

dessas rendas, seja pela volatilidade dos preços das commodities minerais e

pela esgotabilidade dos recursos minerais, além dos graves impactos ao meio

ambiente natural e do trabalho. Como alternativa propõe-se a criação do “Fundo

da Mineração do município de Corumbá” para que a população e o poder público

gerenciem o destino e aplicação dos valores da CFEM, em beneficio do

desenvolvimento regional.

Palavras-chave: Extrativismo mineral, Compensação ambiental, Fundo da

mineração.

Abstract

Financial Compensation for the exploitation of Mineral Resources in

Corumbá-MS: need for Regulation and creation of Mining Fund for

environmental recovery.The city of Corumbá is located in Mato Grosso do Sul,

on the border with Bolivia. There has largest reserves of manganese and the third

131

largest iron ore reserves in Brazil. The Law 7.990/89 established the financial

compensation for the operate result of the mining - CFEM. Corumbá-MS has the

tenth largest collection CFEM among the Brazilian municipalities. The goal is to

identify and evaluate the values collected by the municipality to the title CFEM

between 2010-2016 are used to improve life quality of population. The research

is quantitative, carrying out a literature review and analysis of documents. As a

result, the CFEM contributes to strengthen public finances but the values didn´t

represent an improvement in the quality life of Corumbá population, as measured

by IDHM and IFDM at the period. The municipality should look for other sources

of income in order to reduce its dependence on CFEM, considering the instability

of these incomes, either due to the volatility of mineral commodity prices and the

depletion of mineral resources, in addition to the serious impacts on the natural

and work environment. As an alternative it is proposed to create the “Mining Fund

of Municipality of Corumbá”, so that the population and the public power manage

the destination and aplication of the CFEM values, for the benefit of regional

development.

Keywords: Mineral extractive, Environmental Compensation, Mining Fund.

Introdução

O município de Corumbá está na porção noroeste de Mato Grosso do Sul,

Brasil. Ali, se localiza a maior reserva de manganês e a terceira maior reserva

de minério de ferro do país. A atividade extrativa mineral é de fundamental

importância econômica para a região, sendo a maior fonte de receita para o

município, superando a arrecadação de impostos gerada pelos setores da

pecuária e agricultura (LAMOSO, 2001).

A Constituição Federal de 1988 foi a responsável por trazer ares ousados

e inovadores à proteção ambiental em nível constitucional, com a inclusão de

capítulo específico dentro do título “Da Ordem Social” que versasse sobre o meio

ambiente, em seu art. 225 e parágrafos. O texto constitucional abarcou, de forma

detalhada, a proteção do meio ambiente. O caput do art. 225, por exemplo,

conferiu status de garantia constitucional ao meio ambiente ecologicamente

equilibrado, outorgado a todos, independentemente de nacionalidade, sexo, cor

ou raça. Foi ainda alçado a “bem de uso comum do povo e essencial à sadia

qualidade de vida”:

132

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente

ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e

essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder

Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo

para as presentes e futuras gerações. § 1º – Para assegurar

a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I –

preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e

prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II

– preservar a diversidade e a integridade do patrimônio

genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à

pesquisa e manipulação de material genético; [...] V – à

difusão de tecnologias de manejo do meio ambiente, à

divulgação de dados e informações ambientais e à formação

de uma consciência pública sobre a necessidade de

preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio

ecológico; VI – promover a educação ambiental em todos os

níveis de ensino e a conscientização pública para a

preservação do meio ambiente; [...]” (BRASIL, 2016a).

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 170, estabelece as bases da

ordem econômica e elenca entre os seus princípios a defesa do meio ambiente,

prevendo tratamento diferenciado de acordo com o impacto ambiental da

produção e do consumo de produtos e serviços, como técnica de defesa do meio

ambiente, a partir da promulgação da Emenda Constitucional 42/03 (BRASIL,

2003) que deu nova redação ao inciso VI do art. 170 da Carta Magna:

“Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do

trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar

a todos existência digna, conforme os ditames da justiça

social, observados os seguintes princípios; VI - Defesa do

meio ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado

conforme o impacto ambiental dos produtos e serviços e de

seus processos de elaboração e prestação” (BRASIL, 2003,

Seção I, p. 1).

133

A utilização de instrumentos jurídicos constitucionais e legais em prol da

tutela ambiental é permitida pela Suprema Corte e nesse sentido, o Estado passa

de mero expectador para agente transformador em busca dos ideais

consignados na Constituição da República.

Dentre esses instrumentos, a utilização de tributação com o fim de

preservação ambiental é tida como forma eficiente e viável de promover a

ingerência na liberdade individual do contribuinte, estimulando-o à tomada de

práticas preservacionistas e restringindo empreitas poluidoras. Essa função da

tributação, chamada de extrafiscal, quando voltada para o direito ambiental, e se

bem utilizada, alcança dupla finalidade: a de condicionar um comportamento

pretendido pelo legislador; e a de incluir o valor das externalidades negativas

decorrentes da atividade produtiva no montante a ser recolhido ao erário,

prestigiando o princípio ambiental do poluidor-pagador (LINS, 2016).

Na lição de Ribas e Silva (2011) a extrafiscalidade é um instrumento de

intervenção na sociedade, por intermédio de veículo tipicamente fiscal: a Lei

Tributária, para organizá-la de acordo com determinadas políticas e alcançar

determinadas finalidades. Para Ribas e Silva (2011, p. 341), “... não é o tributo

que é extrafiscal. O tributo é um tributo. O que é extrafiscal, na verdade, são as

medidas, os modos como esta ferramenta é utilizada ...”.

Consiste basicamente no emprego de fórmulas jurídico-tributárias para a

obtenção de metas que prevalecem sobre os fins simplesmente arrecadatórios

de recursos financeiros (CARVALHO, 2017).

Para Ribas (2005) os chamados tributos com fins ambientais vão além da

mera função arrecadatória e se prestam efetivamente a auxiliar na transição da

economia tradicional à sustentável. O sistema tributário, juntamente com o

arcabouço de licenças e autorizações presentes no sistema administrativo,

permite a consecução da vontade constitucional de promover o equilíbrio

ecológico, colaborando para a preservação ambiental. Portanto, ao se instituir

um imposto com a finalidade de proteção ambiental, nada mais razoável que se

vincular a receita dele proveniente a ações ambientais. Sem tal vinculação, a

utilização desse instrumento perderia a razão.

A Constituição de 1988 reiterou o tratamento que as suas predecessoras

ofereciam aos recursos minerais taxando-os categoricamente como bens da

União. Como resultado – já que o produto da lavra passava à propriedade do

134

explorador – a Carta Magna instituiu a Compensação Financeira pela Exploração

dos Recursos Minerais, comumente chamada de CFEM, como alternativa de

receita originária diante da exploração por um terceiro através de concessão

(Constituição, art. 20, IX e § 1º) (BRASIL, 2016a).

O objetivo do Constituinte, ao instituir a CFEM foi estabelecer uma

compensação pela degradação ambiental acarretada pela atividade mineradora,

bem como para que os seus valores fossem investidos no desenvolvimento de

potencialidades para a diversificação da economia do município, diminuindo a

dependência local em relação à atividade mineral, por se tratar de recurso não-

renovável e que, ao longo do tempo, se esgotará (BRASIL, 1989).

Com isto o objetivo deste artigo é identificar e avaliar os valores

arrecadados pelo Município à título de CFEM entre 2010 a 2016 e relacionar com

a melhoria na qualidade de vida da população, sustentando-se a criação de um

Fundo da Mineração, imprescindível para o desenvolvimento regional

sustentável.

Material e Métodos

O município de Corumbá localiza-se em Mato Grosso do Sul, na fronteira

com a Bolívia, distante 426 quilômetros de Campo Grande - MS. Em Corumbá

está localizada a maior reserva de manganês e a terceira maior reserva de

minério de ferro do Brasil. Com isso, buscou-se através da utilização de método

quantitativo indireto, de natureza documental, em fontes secundárias (livros,

artigos, imprensa escrita e imprensa oficial - índices oficiais publicados),

demonstrar os valores arrecadados pelo município de Corumbá -Mato Grosso

do Sul, à título de Compensação Financeira pela Exploração Mineral – CFEM,

no período de 2010 a 2016 e verificar se repercutem em melhoria da qualidade

de vida da população e em investimentos em projetos ambientais, bem como se

os valores à título de CFEM são aplicados na recuperação e reparação

ambiental, favorecendo a sociedade local, ou somente representam pura

captação de receita para os cofres públicos.

Resultados e Discussão

A atividade mineradora em Corumbá - Mato Grosso do Sul

135

O município de Corumbá possuía em 2010, ano do último censo, 103.703

habitantes, sendo a quarta cidade mais populosa do Estado e com uma variação

de 8,36% de crescimento populacional em relação ao censo de 2000. De acordo

com estimativas de 2017 do IBGE, atualmente Corumbá possui uma população

de 109 899 habitantes distribuídos por 32.259 domicílios, sendo o quarto

município mais populoso de Mato Grosso do Sul. É também o 18º mais populoso

do Centro-Oeste do Brasil, o 5º município fronteiriço mais populoso do Brasil

(IBGE, 2013).

A cidade possui aproximadamente 10 mil habitantes vivendo na zona rural

em decorrência do grande número de fazendas presentes na região. Em termos

econômicos, seu PIB, a preços correntes, em 2013, é o quarto maior do Estado

somando R$ 2.782.780.000 (dois bilhões e setecentos e oitenta e dois milhões

e setecentos e oitenta mil reais) (PNUD, 2013).

Atualmente, encontram-se operando na região de Corumbá as seguintes

empresas do setor de mineração:

1) Companhia Vale do Rio Doce (VALE) - com controle da Urucum

Mineração (UMSA), produziu nos primeiros nove meses de 2017 um total

de 1.77 milhão tonelada ano-1 de minério de ferro, com licença para até

2.350.000 t ano-1 (LO), resultado 13,9% maior que o mesmo período de

2016, além da produção de minério de manganês que chegou a 495 mil t

ano-1, podendo atingir 750.000 t ano-1 (LO) (VALE, 2018);

2) Mineração Corumbaense Reunida (MCR/VALE S. A.) - empresa da

multinacional Rio Tinto do Brasil (RTB), subsidiária integral da Vale do Rio

Doce, com produção de 3 milhões de tonelada ano-1, mas com anuência

do IBAMA para explorar até 6 milhões t ano-1 (ZERLOTTI, 2010);

3) Corumbá Mineração Ltda. (COMIN) - empresa de mineração de ferro gusa

ligada ao Grupo Siderúrgico Vetorial, com a produção de 670.000

tonelada ano-1, posicionando a empresa entre as três maiores do Brasil

(VETORIAL, 2018);

4) Mineração Pirâmide Participações Ltda. (MPP) - lavra experimental, de

produção anunciada de 180.000 tonelada ano-1, podendo chegar a

1.440.000 t ano-1. É fornecedora da SIDERUNA, em Campo Grande,

empresa do Grupo Vetorial (LINS, 2015), e;

136

5) Granhas Liga Ltda: Reativada em Corumbá em 2016 é a terceira maior

produtora de ferroliga do Brasil, situada em Minas Gerais e Mato Grosso

do Sul, possuindo suas unidades em Conselheiro Lafaiete, São João Del

Rei e Corumbá (GRANHAS LIGAS, 2018).

O subsolo de Corumbá possui reservas expressivas de minerais como

ferro e manganês. As jazidas de minério de Corumbá foram descobertas no final

da Guerra do Paraguai, em 1870. A primeira concessão é outorgada ao Barão

de Vila Maria em 1876. Até a década de 1940, ocorreram sucessivas

transferências de concessão até que, em 1.970 é criada a Urucum Mineração,

em parceria com a Companhia Vale do Rio Doce, que permanece até os dias

atuais (LAMOSO, 2001).

O início da industrialização de Corumbá, na década de 1940, se deve à

implantação da siderurgia pelo grupo Chamma, que investindo em siderurgia de

beneficiamento de minério, criou a Sociedade Brasileira de Mineração –

SOBRAMIL.

Para beneficiar o minério, essas fábricas empregam energia elétrica e

carvão vegetal em seus fornos, emitindo grande quantidade de poluentes,

identificada visualmente sob a forma de nuvens de fumaça e pela camada de

poeira sílica lançada sobre a vegetação dos morros situados no entorno da

fábrica (MONTEIRO, 1997); além disso, a demanda por carvão vegetal causa o

desmatamento das áreas próximas: durante os anos 40, em Corumbá, a

atividade siderúrgica ligada à mineração levou ao desaparecimento das florestas

próximas ao Município (LAMOSO, 2001).

Entre 1980 e 2007 Corumbá registrou uma média de produção de 300 mil

toneladas, quase 13% da média brasileira do mesmo período, demonstrando a

sua importância na produção de minério, passando de uma economia

agroindustrial para uma economia voltada para o setor de serviços e indústria,

conforme se demonstra pelo gráfico abaixo (Figura 1):

137

Figura 1. Composição do PIB em Corumbá, Mato Grosso do Sul, de 1980 a

2010, Mato Grosso do Sul. Fonte: IBGE (2013).

Observa-se uma oscilação do índice do PIB, nos últimos trinta anos

(Figura 1). Pelo gráfico, fica evidente o crescimento do setor de serviços sobre o

setor industrial; ao mesmo tempo, constata-se que houve uma diminuição de

45% para 9% na relação da agroindústria para os serviços, enquanto o PIB da

Indústria (do qual participa o setor da mineração) sofreu constantes oscilações

desde 1.980, representando, em 2010, 18% do PIB de Corumbá.

Neste sentido, cabe destacar que o crescimento da indústria de

mineração trouxe um efeito multiplicador no setor de serviços, estimando-se que

para cada emprego direto, outros três empregos indiretos sejam gerados no

setor de serviço.

A exportação do minério de Corumbá, no século XXI, elevou-se de

38.431.398 para 579.111.252 dólares. A produção brasileira de minério de ferro

na última década manteve um acelerado ritmo de crescimento.

45%

35%

21%

18%14% 14% 13% 11% 12% 11%

8% 9% 9%10%

9%

21%

47%

20%

14%13%

10% 9% 8% 8% 8%10% 9% 14%

9%

18%

34%

18%

59%57%

59% 60% 61%63%

60% 59% 58%61%

55%

61%

55%

1980 1985 1996 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Composição do PIB - Corumbá

Agroindústria Indústria Serviço

Mudança na matriz

econômica

138

O processo de abertura da economia chinesa ao mercado global e seu imenso mercado interno e altas taxas de

crescimento aceleraram as importações de bens minerais (BRITO, 2011) (Tabela 1).

Tabela 1. Exportação de Produtos da Extração Mineral de Corumbá e do Estado de Mato Grosso do Sul de 2000 a 2014

Corumbá Mato Grosso do Sul

Ano Exportação Importação Saldo Exportação Importação Saldo

2000 38.431.398 112.201.108 -73.769.710 253.238.706 159.999.362 -327.008.416

2001 30.634.867 225.479.457 -194.844.590 473.680.363 281.842.770 -668.524.953

2002 38.322.518 264.460.082 -226.137.564 384.238.042 423.908.242 -610.375.606

2003 51.388.269 348.134.747 -296.746.478 498.338.890 492.867.629 -795.085.368

2004 59.652.817 552.942.298 -493.289.481 644.754.039 771.953.910 -1.138.043.520

2005 82.341.115 764.301.423 -681.960.308 1.149.121.782 1.080.011.655 -1.831.082.090

2006 115.737.960 1.240.548.131 -1.124.810.171 1.004.338.508 1.725.836.632 -2.129.148.679

2007 96.749.503 1.447.963.930 -1.351.214.427 1.297.176.760 2.189.887.974 -2.648.391.187

2008 330.963.134 2.681.554.211 -2.350.591.077 2.095.551.415 3.682.565.087 -4.446.142.492

2009 173.931.519 1.593.523.540 -1.419.592.021 1.937.634.439 2.690.230.313 -3.357.226.460

2010 376.382.660 2.133.937.698 -1.757.555.038 2.960.507.709 3.382.661.700 -4.718.062.747

2011 687.375.080 2.739.952.650 -2.052.577.570 3.916.260.636 4.469.067.323 -5.968.838.206

2012 400.208.386 3.248.559.140 -2.848.350.754 4.212.756.213 5.113.970.906 -7.061.106.967

2013 501.574.203 3.671.699.578 -3.170.125.375 5.256.284.227 5.753.054.417 -8.426.409.602

2014 579.111.252 3.550.337.947 -2.971.226.695 5.245.499.753 5.237.139.718 -8.216.726.448

Fonte: MDIC (2018).

139

Em dados mais atuais, de acordo com dados do Ministério da Indústria,

Comércio Exterior e Serviços, em 2017, Mato Grosso do Sul exportou 3,742

milhões de toneladas de minério de ferro, garantindo divisas de US$ 124,031

milhões. Alta ainda mais expressiva foi registrada nas exportações de

manganês. Embora com participação inferior na balança comercial (1,89%), o

minério gerou um faturamento de US$ 90,615 milhões, 74,11% a mais em

comparação a 2016 (MDIC, 2018) (Figura 2)

No caso do manganês, Mato Grosso do Sul triplicou a lavra e atualmente

responde por 22% de toda produção brasileira.

As maiores reservas estão em Minas Gerais (87%), MS (6,5%) e Pará

(4,3%). A principal aplicação do manganês é na fabricação de ligas metálicas

(ferro-liga) (MDIC, 2018).

Figura 2. Volume e Receita das exportações do Minério de Ferro de 2012 a

2017. Fonte: MDIC (2018).

Conforme se verifica na Figura 2, depois de um período de baixo

desempenho, em razão da queda da demanda mundial, o minério de ferro

começou a recuperar, em 2017, os níveis de produção e exportação de Mato

Grosso do Sul, revertendo a queda de 2016 com considerável aumento em 2017

e boas expectativas para 2018. Em janeiro deste ano (2018) rendeu US$ 12

milhões, com crescimento de 81% nas exportações em relação ao mesmo

período do ano passado.

140

A estratégia neoextrativista23 adotada em alguns países da América e no

Brasil a partir dos anos 2000 se destaca pela exploração de grandes volumes de

recursos minerais, com a exportação de commodities, constituindo a “economia

do enclave”, monoindustrial24.

O neoextrativismo se caracteriza como uma faceta do modelo de

desenvolvimento cujo enfoque é o crescimento econômico baseado na

apropriação de recursos naturais, com cadeias produtivas curtas (extração,

transporte e eventual processamento) e pouco diversificadas. Nesse percurso,

sem o potencial agregador das indústrias de transformação os níveis de emprego

direto tendem a reduzir. Ou seja, a economia mineral torna-se refém das

oscilações do mercado internacional de commodity mineral. Essa dinâmica tem

se mostrado concentradora de desigualdades e não geradora de alternativas no

território minerado (PEREIRA, 2016, p. 40).

De grande importância para a economia local e nacional, questiona-se o

desenvolvimento trazido pela mineração aos espaços territoriais onde ocorre a

atividade, pois dela decorrem sérios impactos negativos (externalidades), tanto

ao meio ambiente como sociais e econômicos. A mineração altera intensamente

a área minerada e as áreas vizinhas, onde são feitos os depósitos de estéril e de

rejeito (ENRÍQUEZ, 2007).

Não se pode desconsiderar também que uma das características

inerentes aos recursos minerais é a sua esgotabilidade. O impacto negativo

causado pelo fechamento da mina acarretará forte redução na capacidade

econômica e desemprego ao Município, diante da dependência existente em

relação à receita oriunda da atividade minerária (ENRÍQUEZ, 2007).

Corroborando, leciona Thomé (2009, p. 176):

“.... É inegável, portanto, a importância da mineração para

a interiorização do desenvolvimento econômico do Brasil e

seu relevante papel incentivador da criação de vilas e

23 O neoextrativismo é definido como um modelo de desenvolvimento focado no crescimento econômico e baseado na apropriação de recursos naturais, em redes produtivas pouco diversificadas e na inserção subordinada na nova divisão internacional do trabalho. 24 Casos exemplares de economia de enclave no Brasil são, entre outros, o de Itabira-MG, onde há mais de 70 anos a Vale extrai minério de ferro e c om registro de desenvolvimento socioeconômico pífio, com alto índice de suicídio de jovens nos anos 1990, coincidente com a notícia de fechamento da mina em alguns anos (FERNANDES, ENRIQUEZ, ALAMINO, 2011); o de Serra do Navio-PA, de extração de manganês, que o exaurimento da mina e a retirada da empresa, levou ao esvaziamento da cidade, deixando sério passivo socioambiental (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2016).

141

cidades no entorno das minas e jazidas. Todavia, uma

característica inerente aos recursos minerais não pode ser,

em momento algum desprezada: a sua esgotabilidade. São

recursos não renováveis que, inevitavelmente, um dia se

esgotarão. E então as inúmeras vilas e cidades originadas

e dependentes da mineração poderão se deparar com

inimagináveis impactos socioeconômicos advindos do

encerramento das atividades mineiras, caso não

providenciem a diversificação de sua economia ...”.

Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, a exploração do

manganês em Corumbá atingirá a exaustão em aproximadamente 30 anos e o

minério de ferro em 140 anos, se mantido o mesmo ritmo de exploração (MME,

2016).

Entretanto, a Vale pretende ampliar a lavra de minério na região em

138,6%, fazendo com que a produção atual, que é de 4,4 milhões de toneladas

de minério de ferro por ano, alcance 10,5 milhões. Já a mineradora Vetria

pretende atingir a capacidade máxima da usina de beneficiamento, com

produção de 28,5 milhões de toneladas/ano, fazendo com que a exaustão da

mina seja antecipada, caso não haja possibilidade de aumento da reserva (MPF,

2014).

As interferências causadas pela exploração mineral não impactam apenas

os recursos naturais, mas as comunidades locais onde são instalados os

empreendimentos e, longo prazo, toda coletividade. Neste sentido, foi criada a

CFEM – Compensação financeira pela exploração dos recursos minerais, no

intuito de minimizar os impactos negativos provocados pela atividade mineradora

e promover o “desenvolvimento econômico e ambiental da sociedade local”

(DNPM) e que abordaremos a seguir (MME, 2016).

A compensação financeira pela exploração dos recursos minerais –

royalties da mineração

A compensação financeira pela exploração de recursos naturais é o preço

pago pelo empreendedor ao proprietário do recurso natural pelo direito de

produzir e comercializar esse recurso (LIMA, 2010).

142

A Lei 7.990, de 28 de dezembro de 1989 (BRASIL, 1989) que instituiu a

compensação financeira pelo resultado da exploração da lavra – CFEM prevê

uma contraprestação pecuniária pela utilização econômica dos recursos

minerais em seus respectivos territórios, definidas em princípio pela Lei 8.001

(BRASIL, 1990), de 13 de março de 1990 em até 4% sobre o valor do

faturamento líquido apurado com a venda do produto mineral.

Entretanto, em dezembro de 2017 a Lei 13.540/17 (BRASIL, 2017)

alterou as Leis nos 7.990, de 28 de dezembro de 1989, e 8.001, de 13 de março

de 1990, no concernente a base de cálculo da CFEM (não mais sobre o

faturamento líquido)25, bem como no que se refere ao percentual de incidência

da CFEM, de acordo com a substância mineral, conforme Quadro constante do

Anexo da Lei e representado abaixo (Quadro1).

Quadro 1. Alíquotas para a incidência da Compensação Financeira pela

Exploração de Recursos Minerais (CFEM)

Alíquota Substância Mineral

(Vetado) (Vetado)

1% (um por cento)

Rochas, areias, cascalhos, saibros e demais

substâncias minerais quando destinadas ao

uso imediato na construção civil; rochas

ornamentais; águas minerais e termais

1,5% (um inteiro e cinco

décimos por cento)

Ouro

2% (dois por cento) Diamante e demais substâncias minerais

3% (três por cento) Bauxita, manganês, nióbio e sal-gema

3,5% (três inteiros e cinco

décimos por cento)

Ferro, observadas as letras b e c deste Anexo

Fonte: Brasil (2017, p. 7).

25 Nova Redação dada pela Lei 13.540/2017 para a Lei 8.001/90: Art. 2o As alíquotas da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) serão aquelas constantes do Anexo desta Lei, observado o limite de 4% (quatro por cento), e incidirão: : I - na venda, sobre a receita bruta da venda, deduzidos os tributos incidentes sobre sua comercialização; II - no consumo, sobre a receita bruta calculada, considerado o preço corrente do bem mineral, ou de seu similar, no mercado local, regional, nacional ou internacional, conforme o caso, ou o valor de referência, definido a partir do valor do produto final obtido após a conclusão do respectivo processo de beneficiamento; III - nas exportações, sobre a receita calculada, considerada como base de cálculo, no mínimo, o preço parâmetro definido pela Secretaria da Receita Federal do Brasil do Ministério da Fazenda, com fundamento no art. 19-A da Lei nº 9.430, de 27 de dezembro de 1996, e na legislação complementar, ou, na hipótese de inexistência do preço parâmetro, será considerado o valor de referência, observado o disposto nos §§ 10 e 14 deste artigo; IV - na hipótese de bem mineral adquirido em hasta pública, sobre o valor de arrematação; ou V - na hipótese de extração sob o regime de permissão de lavra garimpeira, sobre o valor da primeira aquisição do bem mineral.

143

Enríquez (2007) explica que a taxa cobrada é baixa quando comparada

com os padrões internacionais e ao ser cobrada sobre o faturamento líquido

dificulta o recolhimento dos royalties, pois muitas empresas não têm dados

confiáveis. Além disso, os municípios que não têm exploração mineral, mas que

são afetados pelas externalidades negativas da mineração em um município

vizinho não recebem benefícios dos royalties. E mais importante, a União, os

Estados e municípios estão consumindo boa parte dos recursos ao invés de

reinvesti-los em setores produtivos, e uma vez que as prestações de contas do

uso dos royalties em todos os níveis governamentais são falhas, isso dificulta

mais ainda a fiscalização.

A distribuição mensal da CFEM mereceu recente alteração trazida pela

Lei 13.661, de 09 de maio de 2018 (MME, 2018), devendo o valor arrecadado

ser dividido da seguinte forma

XI. 25% (vinte e cinco por cento) aos Estados;

XII. 65% (sessenta e cinco por cento) aos Municípios;

XIII. 3% (três por cento) ao Ministério do Meio Ambiente;

XIV. 3% (três por cento) ao Ministério de Minas e Energia;

XV. 4% (quatro por cento) ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico

e Tecnológico – FNDCT.

Figura 3. Distribuição da arrecadação da Compensação Financeira pela

Exploração dos recursos minerais (CFEM) Brasil, Mato Grosso do Sul. Fonte:

Brasil (2016b).

144

A CFEM tem a vantagem de beneficiar majoritariamente o município

produtor (65%) e de não estar vinculada a gasto específico, possibilitando ao

gestor público usá-la em prol da sustentabilidade ambiental. O Brasil é um dos

poucos países que repassa os royalties para o município produtor. Caso a

extração abranja mais de um município, é observada a proporcionalidade da

produção efetivamente ocorrida em cada um deles. Assim, por ser o município o

ente que fica com a maior parcela da Compensação, ele é a parte mais

interessada na sua distribuição.

O município de Corumbá-MS possui a décima maior arrecadação de

CFEM entre os municípios brasileiros, compreendendo a maior arrecadação da

região Centro-Oeste (BRASIL, 2016b).

Convém esclarecer que a CFEM não é tributo e tampouco sanção por ato

ilícito, mas receita originária devida por ocasião da exploração de particulares

dos recursos minerais (de propriedade da União) nos termos do art. 20, IX e art.

176, ambos da CF26

A Compensação Financeira pela Exploração dos Recursos Minerais

(CFEM) foi criada sob a ideia de uma compensação para toda a coletividade

afetada pelos efeitos maléficos produzidos pela atividade mineradora, mas foi

compreendida pelo Supremo Tribunal Federal como “participação nos resultados

da exploração”, dando origem a uma série de discussões (BEZERRA, 2011).

Segundo Franck (2015):

“A natureza jurídica da CFEM gera uma discussão bastante

divergente pela doutrina. Nesse sentido, alguns autores a

consideram um tributo, outros um preço público, enquanto

outros ainda a consideram uma taxa ambiental de natureza

indenizatória. Ocorre que, mesmo diante de tantos

argumentos sustentados em cada uma das correntes

citadas, nenhuma delas se sustenta, se perdendo diante de

uma análise mais profunda das principais características de

cada instituto (tributo, preço público ou taxa) quando

26 Art. 176 CF. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo, para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União, garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra.

145

comparadas com as características da CFEM” (FRANCK,

2015, p. 1).

No voto do Ministro Sepúlveda Pertence, relator do RE 228.800, ficou

claramente consignado o entendimento da Corte Suprema a respeito:

“Na verdade – na alternativa que lhe confiara a Lei

Fundamental – o que a Lei n. 7.990/89 institui, ao

estabelecer no art. 6º que “a compensação financeira pela

exploração de recursos minerais, para fina de

aproveitamento econômico, será de até 3% sobre o valor do

faturamento líquido resultante da venda do produto mineral”,

não foi verdadeira compensação financeira; foi, sim, genuína

“participação no resultado da exploração”, entendido o

resultado não como o lucro do explorador, mas como aquilo

que resulta da exploração, interpretação que revela o

paralelo existente entre a norma do art. 20, § 1º, e a do art.

176, § 2º, da Constituição, verbis: ‘§ 2º É assegurada

participação ao proprietário do solo nos resultados da lavra,

na forma e no valor que dispuser a Lei. Ora, tendo a

obrigação prevista no art. 6º da Lei n. 7.990/89 a natureza

de participação no resultado da exploração, nada mais

coerente do que consistir em seu montante numa fração do

faturamento” (STF, 2001).

A arrecadação da CFEM também funciona como importante indicador de

desempenho econômico da mineração e tem sido apontada como um

instrumento de grande potencial para minimizar os problemas socioeconômicos

dos municípios de base mineira provocados pelo encerramento da mineração,

mas que ainda ressente de um aparato legal e institucional que discipline sua

aplicação para que os municípios não caiam na armadilha do “caixa único” e

equidade intergeracional (ENRÍQUEZ, 2007).

BORGES e BORGES (2011), em estudos que analisaram a utilização e

destino dos recursos provenientes dos royalties na promoção do

desenvolvimento social, constataram que a ausência de estratégias sólidas de

146

ação da gestão pública de Parauapebas (município paraense com maior receita

de royalties do estado), impediu que os recursos oriundos dos royalties minerais

se traduzissem organizadamente em desenvolvimento no campo social.

Enríquez (2000) constatou que o município de Oriximiná no Pará

provavelmente utilizou o dinheiro dos royalties da mineração para pagamento de

funcionários, pois a receita municipal sem royalties foi insuficiente para cobrir os

gastos com o funcionalismo. Já a pesquisa de Enríquez (2007) permitiu verificar

que entre os 15 municípios mineradores analisados (dentre os quais Corumbá-

MS), apenas dois deles, Itabira (MG) e Forquilhinha (SC) vinculara o

recolhimento dos royalties a uma estratégia de desenvolvimento sustentável

mesmo após 14 anos de efetivo recolhimento.

Quanto à aplicação da CFEM, o Art. 26 do Decreto 01/91 (BRASIL, 1991)

determina apenas que esses recursos não podem ser utilizados para pagamento

de dívidas ou no quadro permanente de pessoal. As receitas devem ser

aplicadas em projetos que direta ou indiretamente revertam em prol da

comunidade local, na forma de melhoria da infraestrutura, da qualidade

ambiental, da saúde e educação.

Segundo orienta o DNPM, as receitas da CFEM devem ser aplicadas em

projetos que, direta ou indiretamente, revertam em prol da comunidade local, na

forma de melhoria da infraestrutura, da qualidade ambiental, da saúde e da

educação. Nesse sentido, Enríquez (2007) aponta que na maioria dos grandes

municípios mineradores os recursos da CFEM entram no caixa da prefeitura e

são diluídos nas despesas correntes, não desenvolvendo, com isso,

oportunidades de geração de emprego e renda que poderiam amenizar os

efeitos da pobreza e da dependência excessiva da mineração.

O trabalho de Enríquez (2007) realizou visitas aos 15 maiores municípios

de base mineradoras do Brasil (dentre eles Corumbá) e buscou verificar o uso

da renda mineral por estes. De acordo com o estudo, os grandes produtores têm

uma grande dependência em relação à receita (40%) e empregos (47%)

proporcionados pela atividade minerária. Já a CFEM nesses municípios

corresponde, em média, a 16% das receitas municipais, com uma maior

dependência para os da região norte e nordeste. Esses números refletem as

situações de vulnerabilidade que passam vários municípios, e subestimam as

147

conjunturas graves de outros, que sofrem com os prestes esgotamentos de suas

jazidas.

É importante salientar que há uma demanda social (principalmente, de

ambientalistas) e das empresas produtoras, que percebem uma má aplicação da

CFEM, para uma regulamentação do uso. Enríquez (2007) sintetizou os

principais problemas da CFEM, de forma a apontar um diagnóstico e soluções

para uma futura reforma (regulamentação) da Compensação:

Alíquota – alguns produtos ligados ao potássio, sofrem dupla

interpretação quanto a aplicação de sua alíquota. Já que mais de 90%

deste minério é destinado à produção de fertilizantes, que possui uma

alíquota diferente;

Receita líquida – conceito a ser melhor definido, já que os custos

apontados pela lei não são exatamente descritos;

Uso – além da falta de fiscalização, não está claro na lei onde deve ser a

aplicação efetiva;

Fiscalização – compensação é cobrada das empresas legais, porém as

informais não repassam nenhum valor para os entes.

Dessa forma, há um descontentamento social a respeito do uso da CFEM,

que vem sendo aplicada à revelia em muitos municípios e estados, que incorrem

no problema do “caixa único”, empregando sua renda, inclusive, com despesas

pessoais (CNM, 2012).

Enríquez (2000, p. 12) conclui sua pesquisa sobre a CFEM sugerindo que:

“Os royalties sejam utilizados principalmente em

investimentos voltados ao desenvolvimento humano (saúde,

educação e saneamento) e sejam destinados à criação de

um fundo de empréstimos para a população mais carente e

para pequenas empresas. É preciso também, que haja uma

melhor participação da sociedade tanto no planejamento da

utilização dos royalties como na fiscalização deste recurso.

Para que essas mudanças ocorram, é necessária a

implementação de conselhos municipais formados pelos

representantes organizados da sociedade local. Com essas

148

modificações, os minérios poderão continuar sendo

explorados sem que haja preocupação com a finitude de

seus estoques e as futuras gerações não ficarão com suas

rendas comprometidas”.

É inegável que CFEM contribui para fortalecer as finanças públicas, mas

os municípios deveriam buscar outras fontes de receita, no intuito de diminuir a

dependência quanto à CFEM, considerando a instabilidade dessas rendas, seja

pela volatilidade dos preços das commodities minerais e pela esgotabilidade dos

recursos minerais.

O município de Corumbá é o mais importante em termos de arrecadação

de CFEM no Estado de Mato Grosso do Sul. Em 2010 o município recebeu R$

10.629.267,15 e em 2011 o valor praticamente dobrou para R$ 21.019.632,53

para no ano seguinte, em 2013, cair pela metade, ficando em R$ 10. 595.992,01

(DNPM, 2018). Em 2017, a título de exemplo, caiu de R$ 28.963.789,68 (valor

em 2016) para R$ 5.118.922,16, menor valor durante os últimos 8 anos. Em

2018, até o mês de maio, a arrecadação já somava R$ 4.445,528,95, ou seja,

quase o mesmo valor de 2017.

As oscilações comprovam que os efeitos da participação da mineração

para economia de Corumbá são dependentes da conjuntura econômica nacional

e internacional. A mineração está atrelada aos movimentos cíclicos da economia

e a inserção de Corumbá no mercado internacional baseia-se somente na

exportação de matérias-primas.

Em 2015, Corumbá respondeu por 90% da produção mineral do Estado,

destacando-se entre os 10 Municípios do Brasil de maior arrecadação a título de

CFEM. Em 2016 houve um crescimento de 78,62% na arrecadação de CFEM no

Estado de Mato Grosso do Sul. Ao todo, somente com o setor de mineração,

Mato Grosso do Sul movimentou 1.151 bilhão com a extração, gerando R$

40.115.491,05 em CFEM, sendo que R$ 4.791 milhões foram destinados ao

Governo Federal, R$ 9.221 milhões para o Governo Estadual e R$ 26.061

milhões foram divididos entre os municípios mineradores do Estado.

A tabela 2 abaixo demonstra a arrecadação da CFEM de 2010 até 2018,

em milhões de reais, entre os cinco maiores arrecadadores do Estado de Mato

Grosso do Sul.

149

Tabela 2. Arrecadação da CFEM de 2010 até 2018, em milhões de reais, entre

os cinco maiores arrecadadores do Estado de Mato Grosso do Sul

Corumbá – arrecadação no período de 2010 a 2018

Ano Operação Recolhimento %

2010 611.073.774,54 10.629.267,15 1,73%

2011 1.017.065.590,72 21.019.632,53 2,06%

2012 579.684.621,35 10.595.992,01 1,82%

2013 847.610.706,20 15.205.784,55 1,79%

2014 729.959.284,08 13.099.101,14 1,79%

2015 471.421.641,84 8.188.048,56 1,73%

2016 668.213.552,78 28.963.789,68 4,33%

2017 298.434.293,26 5.118.922,16 1,71%

2018 141.647.885,94 4.445.528,95 3,13%

Fonte: MME (2018).

Com relação a participação das substâncias minerais, tem-se que o ferro

é responsável por quase 80% da arrecadação total de CFEM. As outras

substâncias são o manganês, areia, calcário e argila.

O orçamento público do Município de Corumbá tem alto grau de

dependência com a receita advinda da atividade mineradora a título de CFEM,

conforme demonstra a Tabela 3, em que são apresentados os valores referentes

a receita tributária e CFEM no período de 2013 a 2017.

Tabela 3. Receita tributária e CFEM de Corumbá-MS, de 2013 a 2017

Ano Receita Corumbá (r$) Valores CFEM (r$)

2017 54.868.875,71 5.118.922,16

2016 53.294.897,12 28.964.789,68

2015 55.940.327,98 8.186.610,37

2014 57.183.743,03 13.093.589,19

2013 53.221.510,67 15.205.784,55

Fonte: TCE (2016).

Em 2013, a receita tributada do município de Corumbá foi de R$

53.221.510,67 e a arrecadação de CFEM totalizou R$ 15.205.784,55, ou seja,

28,56% da receita a municipal. Em 2014 a receita tributada do município de

Corumbá foi de R$ 57.183.743,03 e a contribuição pela exploração mineral

150

alcançou R$ 13.099.101,14, ou seja, 22,89% da receita municipal. Em 2016 a

CFEM totalizou 54,34% da receita municipal que foi de R$ 53.294.897,12.

Ao se instituir a CFEM como contrapartida à exploração mineral o objetivo

do legislador foi diminuir o impacto socioeconômico do esgotamento da mina.

Assim, os Estados e Municípios devem aplicar os recursos advindos da CFEM

na recuperação do meio ambiente, no desenvolvimento da infraestrutura da

cidade e na atração de novos investimentos e atividades, buscando a

diversificação da economia do município (BRASIL, 1990).

Embora diante de valores tão expressivos (milhões de reais), os recursos

entram nos caixas das Prefeituras (e em Corumbá não é diferente) e se diluem

nas despesas correntes e necessidades imediatas. Não existe uma lei municipal

quanto ao uso específico desses valores em prol da recuperação ambiental.

Não existe vinculação legal definindo a aplicação da CFEM e nem

qualquer garantia de que os valores arrecadados serão transformados em

investimentos sociais, vez que a legislação correlata somente veda que aludido

recurso seja utilizado para pagamento de dívida e no quadro permanente de

pessoal. Assim, cada Município e Estado aplicam os valores de maneira variada

e, nem sempre, atendendo aos objetivos previstos.

É inegável que CFEM contribui para fortalecer as finanças públicas, mas

os Municípios deveriam buscar outras fontes de receita, no intuito de diminuir a

dependência quanto à CFEM, considerando a instabilidade dessas rendas, seja

pela volatilidade dos preços das commodities minerais e pela esgotabilidade dos

recursos minerais.

Com base nessas considerações, passaremos a analisar se os índices de

desenvolvimento humano do município e projetos ambientais desenvolvidos no

Município de Corumbá em contrapartida aos valores arrecadados à título de

CFEM.

Índice de Desenvolvimento Humano – IDH e Índice Firjan de

Desenvolvimento Municipal - IFDM

Dentre os indicadores propostos com o intuito de considerar, além dos

aspectos econômicos, os sociais e culturais tem-se Índice de Desenvolvimento

Humano (IDH), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

(PNUD). Tal índice, segundo Minayo et al. (2000), por basear-se nas

151

capacidades, seria um indicador sintético de qualidade de vida, afinal a saúde e

a educação são estados ou habilidades que permitem uma expansão das

capacidades.

Já o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM) é o resultado de

um estudo do Sistema FIRJAN que acompanha anualmente o desenvolvimento

socioeconômico de todos os mais de 5 mil municípios brasileiros nas áreas de

Emprego e Renda, Educação e Saúde, obtido, exclusivamente, com base em

estatísticas públicas oficiais, disponibilizadas pelos ministérios do Trabalho e

Previdência Social, da Educação e da Saúde. A leitura do IFDM varia entre 0

(desenvolvimento nulo) e 1 (desenvolvimento perfeito). Cada uma de suas três

dimensões é sintetizada em subíndices (IFDM Educação, IFDM Saúde e IFDM

Emprego e Renda) cujos valores também variam de 0 a 1.

O IDHM de Corumbá passou de 0,584 em 2000 para 0,700 em 2010 -

uma taxa de crescimento de 19,86%, sendo considerado alto de acordo com o

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD, 2013), segundo

o último relatório, divulgado no ano de 2010 (Tabela 4).

Tabela 4. Índice de Desenvolvimento Humano Corumbá – 1991, 2000 e 2010

Ano IDH médio Posição Nacional Posição Estadual

2010 0,700 1904 26

2000 0,584 1879 21

1991 0,509 659 5

Fonte: PNUD (2013).

Entretanto, ao se utilizar como parâmetro o IFDM, Corumbá foi avaliada

com nível de desenvolvimento moderado27 (0,6740), ocupando o 42º lugar entre

os 79 municípios do Estado de Mato Grosso do Sul.

A evolução do IFDM de Corumbá encontra-se demonstrado na Tabela 5,

abaixo:

27 IFDM: o índice varia de 0 (mínimo) a 1 ponto (máximo) para classificar o nível de cada localidade em quatro categorias: baixo (de 0 a 0,4), regular (0,4 a 0,6), moderado (de 0,6 a 0,8) e alto (0,8 a 1) desenvolvimento. Ou seja, quanto mais próximo de 1, maior o desenvolvimento da localidade (FIRJAN, 2015).

152

Tabela 5. IFDM Corumbá no período de 2000 a 2011

Ano IFDM Posição Nacional Posição Estadual

2011 0,6750 2048º 31º

2010 0,6806 2110º 25º

2009 0,6360 2835º 49º

2008 0,6825 1572º 16º

2007 0,7060 1127º 9º

2006 0,6946 1151º 11º

2005 0,7144 890º 5º

2000 0,5522 2414º 44º

Fonte: FIRJAN (2015).

Segundo o FIRJAN (2015), as condições relativas a Educação, Saúde e

Emprego e Renda em Corumbá também foram consideradas de

desenvolvimento moderado durante o período avaliado, exceção para o ano de

2013, em que o índice de emprego e renda caiu e foi considerado regular (Tabela

6).

Tabela 6. Índice FIRJAN para Educação, Saúde, Emprego e Renda para

Corumbá, Mato Grosso do Sul, no período de 2010 a 2013

2010 2011 2012 2013

IFDM 0,6593 0,6750 0,7043 0,6740

Educação 0,6374 0,6474 0,6698 0,6803

Saúde 0,6701 0,6753 0,7281 0,7441

Emprego renda 0,6706 0,7021 0,7148 0,5974

Lins (2015) ao analisar os valores recebidos pela CFEM e o número de

salas de aula e leitos hospitalares em Corumbá, constatou que houve pouco ou

nenhum investimento que se traduza em acréscimo referente à estrutura escolar

no período considerado nesta pesquisa (2006/2013). O número de escolas

municipais de Educação Básica se manteve constante, com um ligeiro acréscimo

no número de salas de aula existentes no município, assim como no número de

matriculados no sistema educacional, concluindo,

“Entre 2000 e 2010, embora a população tenha aumentado

a uma taxa anual de 0,81%, passando de 95.701 habitantes

153

em 2000, para 103.703 habitantes em 2010 (PNUD, 2013),

verifica-se que apenas 37 novas salas de Aula foram

disponibilizadas à população corumbaense, no período

compreendido entre 2006 e 2013” (LINS, 2015, p. 51).

Com relação à saúde pública de Corumbá no período de 2007 a 2013,

Lins (2015, p. 52) constata que “... a questão dos investimentos na saúde pública

tampouco difere da educação (...) ao invés de novos leitos disponibilizados à

população no decorrer do tempo, alguns foram reduzidos ...”.

“O número de leitos existentes em 2007 era de 196.

Incrivelmente, a despeito do crescimento populacional e do

aumento da arrecadação do município, os leitos existentes

em 2013 experimentaram uma redução em seu número

para 168, ou seja, 28 leitos foram fechados. Se analisados

os Hospitais Gerais, em 2007 o município contava com 2.

Em 2013, apenas 1 deles estava disponível à população.

Os leitos do Sistema Único de Saúde também foram

reduzidos. Em 2007 a população contava com 143; em

2013, apenas com 133” (LINS, 2015, p. 52).

Os valores milionários recebidos pelo município pela CFEM também não

refletiram em aumento considerável de emprego e renda. Em de 2013 o

município recebeu R$ 15.205.784,55 de CFEM, valor 50% maior que no ano de

2012 e esse acréscimo não repercutiu na geração de empregos, restando,

inclusive, saldo negativo em relação aos empregos na atividade extrativa mineral

(-150). No ano de 2016, quando foram repassados para o município R$

28.963.789,68, os empregos formais no mesmo ano caíram no município (-240)

e no setor da mineração (-65), conforme demonstrado pela tabela 7.

Os dados oficiais são alarmantes no sentido de que mesmo com o

aumento populacional e valores milionários recebidos pelo município de royalties

da mineração não houve aumento na geração de emprego e investimentos na

educação e saúde da população.

154

Tabela 7. Perfil dos empregados na mineração em Corumbá, Mato Grosso do

Sul, de 2010 a maio de 2018

Movimentação agregada Admissões Desligamento Variação

2010 378 199 179

2011 389 117 272

2012 295 212 83

2013 285 435 -150

2014 246 270 -24

2015 79 296 -217

2016 51 116 -65

2017 103 126 -23

Maio de 2018 36 33 3

Fonte: MTE (2015) adaptado.

Projetos ambientais desenvolvidos no município de Corumbá-MS de 2010

a 2016

Considerando que o intuito da CFEM é promover o desenvolvimento

econômico e social da região, diante dos sérios e negativos impactos ambientais

causados pela atividade mineradora, uma das alternativas seria usar os recursos

no desenvolvimento de projetos ambientais que atendessem os anseios da

comunidade local.

Em visita a Fundação de Meio Ambiente de Corumbá, bem como por meio

de informações obtidas perante o site da Prefeitura Municipal de Corumbá,

verificou-se a existência de vários projetos ambientais que ocorrem de maneira

pontual, mas sem preocupação específica com a atividade mineradora e seus

impactos ambientais.

Tem-se como Projetos Ambientais relevantes, constantes do site da

Prefeitura, o Projeto Nosso Talento, que capacitou estudantes no combate à

dengue (03/01/2011); Projeto Vida Saudável, sobre alimentação saudável

(27/04/2011); Projeto de Coleta Seletiva (12/09/2011), Projeto Peixe Solidário e

Plano de Pesca, com a capacitação de pescadores e ribeirinhos (28/02/2013);

Projeto Agentes Ambientais, promovendo capacitação de 20 munícipes de cada

bairro escolhido (locais de difícil acesso) para atuarem na orientação da

população local sobre disposição inadequada dos resíduos sólidos, viabilizando

a coleta de lixo urbano (03/06/2013). (CORUMBÁ, 2013).

155

Assim, considerando os altos valores arrecadados pelo Município de

Corumbá pela CFEM tem-se que pouco ou quase nada desse valor é destinado

à melhoria da qualidade de vida da população, quer sob a forma de recuperação

ambiental, investimento na saúde e educação e geração de emprego e renda.

Conforme leciona Enríquez et al. (2011), para se reduzirem os impactos

negativos de um empreendimento minerário, a atuação do Estado se faz

fundamental uma vez que cabe a ele assegurar a legalidade, promover a

resolução de conflitos e garantir que as conquistas obtidas não sejam

comprometidas no processo de sucessão política. Da mesma forma, a dimensão

territorial é vital, tendo em vista que a existência de recursos minerais pode ser

ao mesmo tempo dádiva, ao impulsionar o desenvolvimento, e maldição, ao

destruir meios de sobrevivência ou comprometer a saúde do meio natural e dos

indivíduos (ENRÍQUEZ et al., 2011).

Os sócios ou acionistas de empresas de grande porte, nacionais ou de

capital estrangeiro, são os principais beneficiários da economia mineral e, de

fato, pouco fazem a favor das alternativas para redução dos impactos e para a

elaboração de estratégias de diversificação e prospectiva econômica nas

localidades e regiões em que atuam (PEREIRA, 2016b).

Fundo social de recursos minerais

A mineração é afetada pela existência de uma assimetria temporal entre

custos e renda obtida. Conforme enfatiza Chagas (2013, p. 183), “... o lucro está

no presente, e os custos localizam-se no futuro, principalmente pela não

disponibilidade dos recursos naturais ...”.

Conforme já asseverado, embora diante de expressiva arrecadação, não

existe vinculação específica para a utilização da CFEM na recuperação

ambiental ou em investimentos sociais, sendo arrecadada em regime de “caixa-

único”, ficando a critério do Administrador a destinação do recurso, havendo

apenas a vedação legal quanto a sua utilização para pagamento de pessoal e

dívidas, distanciando-a de seu real objetivo que é promover a sustentabilidade

local.

156

A compreensão de bem mineral como bem ambiental de natureza difusa,

extrapolando o conceito literal do art. 20 da CF/88 atribui o gerenciamento

desses bens no interesse da coletividade28.

Assim, o município é competente para legislar em matéria ambiental, no

interesse da coletividade, para criar um “Fundo da Mineração do município de

Corumbá”, em que a população e o poder público gerenciem o destino e

aplicação dos valores da CFEM, a exemplo do que ocorre no Alaska e na

Noruega.

O Fundo Mineral existente no Alaska e na Noruega são considerados

modelos de uso sustentáveis das rendas minerais. Neste sentido, leciona

Enríquez (2007, p. 115):

“.... As experiências dos fundos do Alaska, de Alberta e da

Noruega revelam a importância da participação efetiva da

sociedade na definição dos objetivos e critérios de partilha e

também da necessidade de uma gestão técnica dos

recursos. Todavia, os fins para os quais os atuais fundos

estão sendo usados são incompatíveis com as

necessidades das regiões pobres. Dessa forma, os

objetivos, os critérios de repartição dos benefícios e a forma

de administração devem ser adequadas ao contexto

socioeconômico a que o fundo está associado. Nas regiões

pobres, o exemplo de Gana revela a necessidade de regras

claras e transparentes, do controle social e da efetiva

participação dos stakeholders para a determinação do

melhor uso, do arranjo institucional e dos critérios que

possam potencializar os benefícios que proporcionam as

rendas mineiras gerenciadas por intermédio de um fundo ...”.

Segundo a Autora, os valores do fundo do Alaska (APFC) são aplicados

em títulos, ações e imóveis. Metade dos dividendos são distribuídos diretamente

28 Art. 20. São bens da União: IX - os recursos minerais, inclusive os do subsolo; § 1º É assegurada, nos termos da lei, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, bem como a órgãos da administração direta da União, participação no resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica e de outros recursos minerais no respectivo território, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva, ou compensação financeira por essa exploração.

157

aos cidadãos que vivem há pelo menos um ano no Alaska e a outra metade

continua aplicada com objetivo de capitalizar e ampliar os recursos. Já na

Noruega, os valores são utilizados para despesas nas áreas de saúde,

previdência, meio ambiente, entre outras (ENRÍQUEZ, 2007).

Recursos oriundos de receitas minerais, geridos por organizações

especificamente criadas para este fim, remontam pelo menos à década de 1950,

com a criação da The Alcoa Foundation e da Phelps Dodge Foundation e existem

em vários lugares do mundo (SANTOS, 2012) e o Corumbá poderia se tornar

pioneira na criação do Fundo mineral no município.

Conclusão

Corumbá é referência no setor de mineração, destacando-se entre os 10

Municípios do Brasil de maior arrecadação de Compensação pela exploração

Mineral - CFEM. Entretanto, os valores milionários de CFEM recebidos pelo

município não são revertidos em desenvolvimento humano. Nos anos em que os

repasses financeiros foram maiores o índice de desemprego aumentou e não

houve investimento na saúde e educação proporcionais ao aumento de

arrecadação do município, bem como projetos ambientais significativos,

demonstrando que a receita advinda da atividade mineradora não é revertida em

benefício da comunidade local.

Para agravar a situação, constatou-se a grande dependência econômica

do município com relação aos valores arrecadados de CFEM, que representa

mais de 20% da receita do município de Corumbá.

O fato dos valores da CFEM serem destinados a uma conta única da

Prefeitura dificulta a identificação dos valores destinados às questões ambientais

e melhoria da qualidade de vida da população, situação que ocorre na maioria

dos municípios brasileiros.

A criação de um Fundo Social da Mineração para o município de Corumbá

seria alternativa para que as populações locais, juntamente com o poder público,

pudessem decidir as prioridades na aplicação do dinheiro, tornando

transparentes os valores arrecadados e os investimentos realizados.

158

Referências Bibliográficas

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Artigo III

As subnotificações das comunicações de acidentes de trabalho no setor

da mineração: análise da situação dos mineiros de Corumbá-MS

Tchoya Gardenal Fina do Nascimento

Resumo

O município de Corumbá está situado na região do Pantanal do Estado

de Mato Grosso do Sul, localizada a 426 km da capital possuindo em seu

território a maior reserva de manganês e a terceira maior reserva de minério de

ferro do Brasil. O setor de mineração é um dos maiores causadores de danos à

saúde do trabalhador diante do elevado número de acidentes de trabalho,

doenças e mortes dos empregados. Objetiva-se levantar e analisar o número de

acidentes de trabalho ocorridos no setor da mineração em Corumbá, no período

de 2014 a 2018, traçando um comparativo entre os acidentes/doenças do

trabalho oficialmente notificados e as situações omitidas, mas que diante das

sequelas, acabam desembocando no Judiciário Trabalhista e na Previdência

Social, para diagnosticar as principais causas de acidentes e adoecimentos do

setor em Corumbá. A pesquisa e´ de natureza quali-quantitativa, além de revisão

bibliográfica e coleta de dados por meio da análise de ações trabalhistas,

Comunicações de Acidentes de Trabalho e autuações do Ministério Público do

Trabalho. Como resultado obteve-se que as situações de acidentes e

adoecimentos nas mineradoras de Corumbá são subnotificadas e a CAT não é

emitida em 20% dos casos, maquiando grave realidade existente, isentando as

empresas de suas responsabilidades trabalhistas e sociais. Os acidentes e

doenças do trabalho atingem trabalhadores jovens, com pouca qualificação e

com menores remunerações acarretados por em jornada excessiva de trabalho,

falta de treinamento adequado, falhas na estrutura do ambiente de trabalho e

falta ou insuficiência de EPI´S. A análise dos processos demonstrou problemas

recorrentes e pontuais, de fácil identificação. A atuação mais efetiva do Poder

Público na fiscalização e autuação das empresas por violação as normas de

segurança e saúde do trabalhador diminuiria a ocorrência de acidentes e

adoecimentos laborais.

Palavras-Chave: Meio Ambiente do Trabalho, Mineração, Acidente de Trabalho;

CAT, Corumbá.

166

Abstract

The underreporting of communications of work accidents in the mining

sector: analysis of the situation of the miners of Corumbá-MS. The

municipality of Corumbá is located in the Pantanal region of Mato Grosso do Sul,

at 426 km from the capital, possessing in its territory the largest manganese

reserve and the third largest iron ore reserve of Brazil. The mining sector is one

of the major causes of damage to the health of the worker in the face of the high

number of accidents at work, illnesses and even deaths of employees. The goals

of this study is to verify and analyze the number of works accidents in the mining

sector in Corumbá in the period from 2014 to 2018, drawing a comparison

between the officially reported accidents/diseases of work and the omitted

situations, which in face of sequels, end up in the Labor Judiciary and in Social

Security, to diagnose the main causes of accidents and illnesses of the sector in

Corumbá. The research is qualitative and quantitative, using for the data

collection, analysis of labor lawsuits, work accidents communications and

notifications Public Employment Prosecutor's Office as well as bibliographic

research. As a result, the accidents and illnesses in the miner of Corumbá were

underreporting and CAT is not issued in 20% of the cases, masking serious reality

existing, exempting the companies from their labor and social responsibilities.

The accidents and work-related illnesses affect younger workers with low

qualification and lower wages cause by excessive hours of work, absence

adequate training, lack of work structure environment and lack or insufficient

PPE. Processes analyses showed recurrent and punctual problems, of easy

identification. A more effective actuation of Public Power on the inspection and

notification of the companies for violation in safety rules and health of employee

would reduce the occurrence of accidents and occupacional diseases.

Keywords: Work Environment, Mining, Accident at Work; CAT, Corumbá.

Introdução

O município de Corumbá, com população estimada em 109.899

habitantes (IBGE, 2018) desponta como um dos principais municípios

mineradores do país. Situado na região do Pantanal do Estado de Mato Grosso

do Sul, na fronteira com a Bolívia, abriga em seu território a terceira reserva de

minério de ferro do Brasil e a maior reserva de manganês do país. A maior jazida

167

de minério de ferro está localizada em Minas Gerais, no Quadrilátero do ferro, a

segunda maior localiza-se no Pará, na Serra dos Carajás e a terceira maior

jazida de ferro está no Mato Grosso do Sul, no Maciço do Urucum, em Corumbá-

MS. De acordo com o Ministério das Minas e Energia, em 2013, o setor de

mineração de Corumbá empregou 1.475 trabalhadores com carteira assinada,

colocando-a, neste quesito, em 14º lugar no rol de cidades mais importantes para

a indústria extrativa mineral brasileira. Em contrapartida, concernente ao meio

ambiente do trabalho, há que se considerar o elevado número de acidentes e

doenças do trabalho (22.758, em 2013 no Brasil), aposentadorias por invalidez

e mortes.

Entretanto, os dados oficiais não refletem a realidade, vez que nem

sempre há emissão da CAT – Comunicação de Acidentes de Trabalho, fazendo

com que a realidade dos acidentes fique mascarada.

Com base neste cenário este artigo tem como objetivo levantar e analisar

o número de acidentes de trabalho ocorridos no setor da mineração em

Corumbá, durante o período de 2014 a 2018, traçando um comparativo entre os

acidentes/doenças do trabalho oficialmente notificados e as situações omitidas,

mas que diante das sequelas, acabam desembocando no Judiciário Trabalhista

e na Previdência Social, para diagnosticar as principais causas de acidentes e

adoecimentos do setor mineral de Corumbá-MS, preenchendo lacunas de

pesquisas sobre essa realidade local, além de ser imprescindível para a adoção

de medidas preventivas e protetivas pelas empresas, para trazer higidez para o

ambiente de trabalho em benefício da sociedade.

Material e Métodos

O município de Corumbá localiza-se em Mato Grosso do Sul, na fronteira

com a Bolívia, distante 426 quilômetros de Campo Grande - MS. Em Corumbá

está localizada a maior reserva de manganês e a terceira maior reserva de

minério de ferro do Brasil. Com isso, buscou-se através da utilização de método

quantitativo indireto, de natureza documental, em fontes secundárias (livros,

artigos, imprensa escrita e imprensa oficial - índices oficiais publicados) e fontes

primárias (análise de processos trabalhistas ajuizados em desfavor das

mineradoras por acidentes de trabalho e análise de autuações do MPT

demonstrar o número de acidentes de trabalho e doenças ocasionados pela

168

atividade mineradora e as subnotificações ocorridas no período de 2014 a 2018

e os impactos que essa “legião” de aleijados acarreta na comunidade local e na

sociedade em geral.

Resultados e Discussão

Empresas Mineradoras em Corumbá, MS

Atualmente, encontram-se operando na região de Corumbá as seguintes

empresas do setor de mineração:

1) Companhia Vale do Rio Doce (VALE) - com controle da Urucum

Mineração (UMSA), produziu nos primeiros nove meses de 2017 um total

de 1.77 milhão tonelada ano-1 de minério de ferro, com licença para até

2.350.000 t ano-1 (LO), resultado 13,9% maior que o mesmo período de

2016, além da produção de minério de manganês que chegou a 495 mil

tonelada ano-1, podendo atingir 750.000 tonelada ano-1 (LO);

2) Mineração Corumbaense Reunida (MCR/VALE S. A.) - empresa da

multinacional Rio Tinto do Brasil (RTB), subsidiária integral da Vale do Rio

Doce, com produção de 3 milhões de tonelada ano-1, mas com anuência

do IBAMA para explorar até 6 milhões tonelada ano-1. Sua produção é,

atualmente, destinada exclusivamente para o mercado externo. Prevê-se

um aumento da extração desse minério para 22,4 milhões de tonelada

ano-1 (EIA) e a produção de 4,0 MM tonelada ano-1 de laminados

(ZERLOTTI, 2010);

Figura 1. Mina de Urucum- Corumbá. Fonte: Vale (2009) apud Brito (2011).

169

3) Corumbá Mineração Ltda. (COMIN) - empresa de mineração de ferro gusa

ligada ao Grupo Siderúrgico Vetorial, com a produção de 670.000

tonelada ano-1, posicionando a empresa entre as três maiores do Brasil.

A unidade de Ribas do Rio Pardo possui dois altos fornos com capacidade

total de produção de 300 mil toneladas por ano. Em Corumbá, a unidade

possui capacidade de produção de 370 mil toneladas de ferro gusa por

ano e também possui unidade termoelétrica (VETORIAL, 2018);

4) Mineração Pirâmide Participações Ltda. (MPP) - lavra experimental, de

produção anunciada de 180.000 tonelada ano-1, podendo chegar a

1.440.000 tonelada ano-1. É fornecedora da SIDERUNA, em Campo

Grande, empresa do Grupo Vetorial (LINS, 2015). A produção destinada

à siderúrgica é transferida da mina para o pátio da estação Maria Coelho,

de onde é carregado em vagões. O percurso entre a mina e o pátio é de

21 km (VETORIAL, 2018);

5) Granhas Liga Ltda: Reativada em Corumbá em 2016 é a terceira maior

produtora de ferroliga do Brasil, situada em Minas Gerais e Mato Grosso

do Sul, possuindo suas unidades em Conselheiro Lafaiete, São João Del

Rei e Corumbá. Seus principais produtos são o Ferro Sílico Manganês

(FeSiMn 12/16%Si) e Ferro Manganês Alto Carbono (FeMnAC), sendo

fabricados a partir de minérios de manganês, fundentes e redutores. Os

minérios são quase que em sua totalidade de minas pertencentes ao

grupo, localizadas em Minas Gerais e na Bahia (GRANHA LIGAS, 2018).

A quase totalidade da produção de Fe é comercializada com a Argentina

e China. Quanto aos minérios de Minério, a maior parte é exportada para os

países supracitados, como também para a Europa. O restante é consumido no

país, nas regiões Sudeste e Sul.

A lavra do minério de Ferro em toda região mineira de Corumbá é feita a

céu aberto e a lavra de Mn é subterrânea, através de galerias escavadas,

segundo o método de salões e pilares. As mineradoras possuem instalações

eficientes para o beneficiamento primário do Fe e do Mn, compreendendo

lavagem, britagem e estocagem para posterior transporte por caminhões aos

pontos de embarque, nas estações de estrada de ferro (Urucum e Maria Coelho),

170

ou nos portos de Corumbá e Esperança (privativo da Mineração Corumbaense

S/A.) (ZANINI et al., 2002).

O processo produtivo do setor mineral em Corumbá segue todos os

estágios da indústria extrativa mineral até o beneficiamento, fase em que os

minérios são lavados para a separação de impurezas e lama e depois

classificados. A partir daí emergem duas possibilidades: a primeira é a

comercialização dos minérios in natura para compradores de fora do município,

havendo ainda a possibilidade da matéria-prima servir de insumo para a

transformação, já que os minérios por si só não possuem serventia para

utilização isolada; e a segunda é a interface com a indústria de transformação,

quando os minérios são aplicados como insumos associados a outros produtos

para a produção de ferro-gusa e ferro-ligas nas siderurgias, com a finalidade de

serem comercializados (MICHELS e YANAGUITA, 2004; SILVA, 2016).

De acordo com dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e

Serviços, em 2017, Mato Grosso do Sul exportou 3,742 milhões de toneladas de

minério de ferro, garantindo divisas de US$ 124,031 milhões. Alta ainda mais

expressiva foi registrada nas exportações de manganês. Embora com

participação inferior na balança comercial (1,89%), o minério gerou um

faturamento de US$ 90,615 milhões, 74,11% a mais em comparação a 2016.

No caso do manganês, Mato Grosso do Sul triplicou a lavra e atualmente

responde por 22% de toda produção brasileira. As maiores reservas estão em

Minas Gerais (87%), MS (6,5%) e Pará (4,3%). A principal aplicação do

manganês é na fabricação de ligas metálicas (ferro-liga) (MDIC, 2018)29.

A estratégia neoextrativista30 adotada em alguns países da América e no

Brasil a partir dos anos 2000 se destaca pela exploração de grandes volumes de

recursos minerais, com a exportação de commodities, constituindo a “economia

do enclave”, monoindustrial31.

29 Segundo a Business Week (1984), o projeto Carajás é o último grande investimento mundial na mineração, numa área que contém 20 bilhões de toneladas do minério de ferro mais rico do mundo (LAROUSSE, 1998). 30 O neoextrativismo é definido como um modelo de desenvolvimento focado no crescimento econômico e baseado na apropriação de recursos naturais, em redes produtivas pouco diversificadas e na inserção subordinada na nova divisão internacional do trabalho. 31 Casos exemplares de economia de enclave no Brasil são, entre outros, o de Itabira-MG, onde há mais de 70 anos a Vale extrai minério de ferro e com registro de desenvolvimento socioeconômico pífio, com alto índice de suicídio de jovens nos anos 1990, coincidente com a notícia de fechamento da mina em alguns anos (FERNANDES, ENRÍQUEZ, ALAMINO, 2011); o de Serra do Navio-PA, de extração de manganês, que o exaurimento da mina e a retirada da empresa, levou ao esvaziamento da cidade, deixando sério passivo socioambiental (FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, 2016).

171

O neoextrativismo se caracteriza como uma faceta do modelo de

desenvolvimento cujo enfoque é o crescimento econômico baseado na

apropriação de recursos naturais, com cadeias produtivas curtas (extração,

transporte e eventual processamento) e pouco diversificadas. Nesse percurso,

sem o potencial agregador das indústrias de transformação os níveis de emprego

direto tendem a reduzir. Ou seja, a economia mineral torna-se refém das

oscilações do mercado internacional de commodity mineral. Essa dinâmica tem

se mostrado concentradora de desigualdades e não geradora de alternativas no

território minerado (PEREIRA, 2016, p. 40).

Entretanto, o entendimento da atividade industrial de Corumbá passa pela

compreensão de inserção de seus produtos no mercado internacional. As

oscilações econômicas sofridas na conjuntura internacional e nacional tornam

suscetível a produção, o valor e importância da atividade em nível de geração

de impostos, renda e emprego (SOUZA et al., 2017).

Saúde do Trabalhador

O trabalho na mineração sempre foi considerado uma das atividades mais

perigosas à saúde humana e, justamente por isso, em tempos pretéritos, era

designado a escravos ou prisioneiros (SANTOS, 2012; RAMAZZINI, 2016) e

mesmo após a modernização industrial, situações inaceitáveis de riscos

operacionais são frequentes no ambiente de trabalho, colocando em perigo a

vida, o bem-estar e a saúde dos mineiros, afetando também sua família e toda a

sociedade, que paga os custos de uma “legião de aleijados” e mortos pela

atividade mineradora, afetando o meio ambiente e a sustentabilidade ambiental

(OLIVEIRA, 2001).

A Constituição Federal de 1.988, em seu art. 225, coloca o meio ambiente

do trabalho no mesmo patamar de importância e no mesmo contexto de proteção

e prevenção àquele reservado para o meio ambiente natural, além de dedicar

especial atenção a atividade mineradora, obrigando aquele que explorar

recursos minerais a recuperar o meio ambiente degradado, reconhecendo o

impacto ambiente dessa atividade ao meio ambiente, dentre os quais, o meio

ambiente do trabalho.

Sobre a previsão Constitucional, Costa e Rezende (2012, p. 772):

172

“... Essa advertência pode ser estendida à proteção a seus

trabalhadores, pois é recorrente que eles laboram em locais

inadequados, afetando indelevelmente a saúde,

principalmente quando a mineração é explorada em mina

subterrânea...”.

Entretanto, além dos fatores externos (riscos físicos, químicos e

biológicos) contribuírem para o elevado número de infortúnios, percebe-se

também que o aumento de doenças laborativas e de acidentes de trabalho

decorre de significativas alterações nos padrões de organização do trabalho e

da produção.

Conforme enfatizado por Baumann (2005), diante da crescente

terceirização, jornadas exaustivas, polivalência e enfraquecimento dos

sindicatos profissionais, os operários são compelidos a enfrentar o paradoxo de

permanecer no mercado de trabalho em tempos de cultura do não emprego,

sujeitando-se a processos produtivos que esperam contar com mão-de-obra que

aceita quaisquer condições para atender o novo ritmo às rápidas mudanças

exigidas pelo capital.

No Brasil, o movimento de participação dos trabalhadores em busca de

mais segurança e saúde nos locais de trabalho surgiu durante o período de

redemocratização da política do país, na década de 1.980, trazendo um novo

pensar sobre o processo saúde-doença e o papel exercido pelo trabalho na sua

determinação e que culminaram por influenciar a Constituição Federal de 1.988,

que estabeleceu em seu artigo 6º, a saúde como um direito social e fundamental

do trabalhador (MENDES e DIAS, 1991).

A saúde passa a ser compreendida como um fenômeno complexo que

transcende a mera eliminação de agentes patológicos, abrangendo também

fatores psicológicos e sociais (SILVA, 2016, p. 34).

Considerando a dimensão do problema, a Legislação Previdenciária

(BRASIL, 1991), reconhece que vários transtornos mentais e de comportamento

tem nexo de causalidade presumida com a atividade extrativa mineral, dentre os

quais a demência (CID F02-8), transtorno cognitivo leve (CID F06.7), transtorno

de personalidade (CID F.07.0), transtorno mental orgânico ou sintomático não

especificado (CID F09), entre outros.

173

Os acidentes de trabalho e o grande número de adoecimentos no setor

extrativo mineral produzem um enorme contingente de mutilados, homens e

mulheres extenuados, mirrados, precocemente envelhecidos (OLIVEIRA, 2001),

com a saúde consumida não só pela contínua exposição a agentes insalutíferos,

mas também agora, em razão do “novo metabolismo social”, pelos métodos de

administração by stress.

Acidente de Trabalho e/ou Doença Ocupacional

Segundo o artigo 19 da Lei nº 8.213 (BRASIL, 1991, Seção I, p. 1), de 24

de julho de 1991:

“Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do

trabalho a serviço da empresa, ou de empregador

doméstico, ou pelo exercício do trabalho do segurado

especial, provocando lesão corporal ou perturbação

funcional, de caráter temporário ou permanente”.

O acidente de trabalho pode causar desde um simples afastamento, a

perda ou a redução da capacidade para o trabalho, até mesmo a morte do

segurado. Também são considerados como acidentes do trabalho:

a) O acidente ocorrido no trajeto entre a residência e o local de trabalho do

segurado;

b) A doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada

pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade, e;

c) A doença do trabalho, adquirida ou desencadeada em função de

condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione

diretamente.

Nos casos de doença profissional, a doença deve constar da relação de

que trata o Anexo II do Regulamento da Previdência Social, aprovado pelo

Decreto no 3.048, de 6/5/1999 (BRASIL, 1999). Em caso excepcional,

constatando-se que a doença não incluída na relação constante do Anexo II

resultou de condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se

174

relaciona diretamente, a Previdência Social deve equipará-la a acidente do

trabalho (AEAT, 2016).

Assim, a Lei Geral de Benefícios Previdenciários (BRASIL, 1991) além de

definir os acidentes de trabalho típicos, equiparou as doenças profissionais (art.

20) como acidentes típicos desencadeados “em função de condições especiais

em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente”, inclusive os

infortúnios ocorridos fora do local e horário de trabalho, desde que o empregado

esteja executando ordens ou a serviço do empregador (SILVA, 2016).

O art. 21, I, do mesmo Diploma Legal define que as concausas também

se equiparam a acidente de trabalho, sendo definidas como:

“O acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido

a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do

segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o

trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para

a sua recuperação” (BRASIL, 1991, RGPS).

No intuito de estabelecer o nexo de causalidade entre a doença/acidente

de trabalho e a atividade laboral foi instituído o Nexo Técnico Epidemiológico

Previdenciário (NTEP) pela Resolução 1.236 (MPS, 2004) do Conselho Nacional

de Previdência Social (CNPS), de 28/04/2004, associando o Código

Internacional de Doenças (CID) e a Classificação Nacional de Atividades

Econômicas (CNAE) de cada empresa para enquadrar os ramos de atividade

econômica por grau de risco, para fins de incidência de contribuição

previdenciária (AEPS, 2015).

Ao se adotar o CID e o segmento econômico (CNAE) como filtros para

identificar os benefícios previdenciários concedidos, tem-se, objetivamente,

como identificar o risco de o trabalhador sofrer acidente ou apresentar uma

determinada doença, estabelecendo-se o nexo de causalidade. O cruzamento

de dados de CID com o CNAE permite associar diversas lesões, doenças,

transtornos de saúde e, inclusive morte com a atividade desenvolvida pelo

trabalhador, consistente do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário –

NTEP.

Para Verthein e Gomez (2011, p. 286) o cruzamento de dados entre CID

e CNAE é um indicador estatístico que “permite a visibilidade dos ramos de

175

atividade econômica que apresentam patologias acima da média da população

em geral, servindo, em plano paralelo, para o mapeamento de fatores de risco”,

independente da expedição de CAT pelo empregador.

A Norma Regulamentadora 22 (NR-22), que trata de segurança e saúde

ocupacional no setor da mineração estabelece claramente os deveres dos

empregadores e trabalhadores, e, pela primeira vez em uma norma de

segurança e saúde, fica claro o direito de recusa dos trabalhadores em exercer

atividades em condições de risco para sua segurança e saúde ou de terceiros,

cabendo aos empregadores garantir a interrupção das tarefas quando proposta

pelos trabalhadores. Tal direito inclusive está consagrado há muitos anos na

legislação de vários países e consta da Convenção 176 - Segurança e Saúde

nas Minas, da Organização Internacional do Trabalho (OIT)32, que foi ratificada

posteriormente pelo Brasil (SOUZA et al., 2017).

Segundo a OIT a precariedade das condições de trabalho no setor de

mineração, que emprega cerca de 1% da força de trabalho do mundo registra

8% dos acidentes fatais.

Além do que, a NR 22, em seu subitem 22.36 trouxe importante inovação

ao criar Comissão Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho na Mineração

(CIPAMIN)33 que permite aos trabalhadores organizar-se de maneira autônoma,

assumindo seu papel e responsabilidades no controle dos riscos existentes nos

ambientes de trabalho. Dentre as mais variadas atribuições da CIPAMIN,

destacam-se:

a) Elaborar o Mapa de Riscos, conforme prescrito na Norma

Regulamentadora nº.5 (CIPA), encaminhando-o ao empregador e ao

SESMT, quando houver;

b) Recomendar a implementação de ações para o controle dos riscos

identificados;

c) Analisar e discutir os acidentes do trabalho e doenças profissionais

ocorridos, propondo e solicitando medidas que previnam ocorrências

32 Convenção 176 OIT – disponível em: http://www.trtsp.jus.br/geral/tribunal2/LEGIS/CLT/OIT/OIT_176.html 33 22.36.1 A empresa de mineração ou Permissionário de Lavra Garimpeira que admita trabalhadores como empregados deve organizar e manter em regular funcionamento, na forma prevista nesta NR, em cada estabelecimento, uma Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA, doravante denominada CIPA na Mineração- CIPAMIN.

176

semelhantes e orientando os demais trabalhadores quanto à sua

prevenção.

Diversas atividades em mineração podem ocasionar a exposição dos

trabalhadores a riscos graves e iminentes para sua saúde e segurança,

determinando a suspensão imediata das atividades.

No caso da ocorrência de acidentes e doenças do trabalho o subitem

22.37.6.1 da Norma Regulamentadora 22 dispõe que:

“Os acidentes e doenças profissionais deverão ser

analisados segundo metodologia que permita identificar as

causas principais e contribuintes que levaram à ocorrência

do evento, indicando as medidas de controle para prevenção

de novas ocorrências” (MTE, 2016, NR 22).

E, em caso de acidente fatal, é obrigatória a adoção das seguintes

medidas:

a) Comunicar de imediato, à autoridade policial competente e à DRT, a

ocorrência do acidente (Alterado pela Portaria SIT nº 27, de1º de outubro

de 2002);

b) Isolar o local diretamente relacionado ao acidente, mantendo suas

características até sua liberação pela autoridade policial competente

(MTE, 2016).

O risco de acidente de trabalho (RAT) obriga o empregador a pagar um

seguro de acidente de trabalho (SAT) de 1%, 2% ou 3%, sobre a folha de

pagamento, dependendo se o risco é leve, médio ou alto, sendo que nas

atividades de extração de minério de ferro (CNAE 0710-3/01) (IBGE, 2018) e de

manganês (CNAE 0723-5/01) (IBGE, 2018) o percentual é de 2% (Anexo V

Decreto nº 3.048/99 (BRASIL, 1999) - Regulamento da Previdência Social,

vigente a partir de 01.06.2007.

Em 2010, como estímulo para que a empresas diminuíssem o potencial

de riscos de sua atividade foi instituído o FAP (Fator Acidentário de Prevenção),

que mede o histórico de uso dos benefícios previdenciários pelos empregados

177

de um determinado empregador e varia de 0,5 a 2% incidentes sobre o SAT,

podendo reduzi-lo pela metade ou dobrá-lo, dependendo do número de

acidentes/doenças. O FAP varia anualmente e é calculado sobre os dois últimos

anos de todo o histórico de acidentalidade e de registros acidentários da

Previdência Social.

Assim, as empresas que registrarem maior número de acidentes ou

doenças ocupacionais, pagam mais e no caso de nenhum evento de acidente de

trabalho, a empresa é bonificada com a redução de 50% da alíquota.

Processo Produtivo no setor mineral de Corumbá, MS

O processo produtivo no setor mineral de Corumbá é altamente

mecanizado nas atividades de extração de minério e ferro-gusa e o uso intensivo

de equipamentos mecânicos e a manutenção das máquinas têm causado

acidentes de trabalho, pela excessiva jornada exigida e falta de treinamento

(ALVES, 2013).

Na jazida subterrânea de manganês o método de lavra é o de câmaras e

pilares, com desmonte por explosivos. A operação é levada a efeito conforme a

sequência: cavilhamento (ancoragem do teto) - perfuração-carregamento

(explosivo) - desmonte (detonação) – limpeza minério-saneamento/scaler

(recomposição parede) - limpeza estéril e os equipamentos empregados são

escavadeiras (LHD), scalers (máquina que faz o acabamento da parede da

mina), plataformas móveis, jumbos, carregadores, parafusadores e caminhões.

(BRITO, 2011). O minério, uma vez lavrado é transportado por caminhões

próprios de 22,5 t-1 de carga até a instalação de beneficiamento, localizada na

superfície. O minério proveniente da mina (ROM) sofre apenas um

beneficiamento simples, britagem, lavagem, peneiramento e classificação (MCR,

2007).

A lavra do minério de ferro é feita exclusivamente a céu aberto, no sistema

de bancadas horizontais com formação de encostas, exploradas mediante

desmonte mecânico com máquinas escavadeiras, pás-carregadeiras ou tratores,

mas sem o uso de detonações (SILVA, 2016).

A atividade altamente mecanizada com uso intensivo de equipamentos

mecânicos e a manutenção de equipamentos transforma o homem em “vigia da

máquina” e dependentes de treinamento, o que, muitas vezes, não ocorre.

178

Esse “novo metabolismo social do trabalho”, envolve novos métodos de

gestão e pessoas, sob novas condições salariais que incorporam a adoção de

remuneração flexível (atrelada a produtividade), jornada de trabalho flexível e

contrato de trabalho flexível, agravando ainda mais a situação dos trabalhadores

das minas, fazendo com que confunda o interesse da empresa com o seu próprio

interesse, permitindo que sua força de trabalho sofra maior exploração, gerando

adoecimentos (VIZZACCARO-AMARAL, 2013).

O método de produção desenvolvido pelos empregados adota a divisão

de tarefas hierarquizadas e definidas conforme as fases do processo produtivo.

O controle do trabalho é realizado por profissionais de nível superior, na maioria

proveniente de outros Estados (principalmente Minas Gerais) e a execução do

serviço braçal e pesado é realizado pelos operários da região que possuem

menor qualificação e, consequentemente, recebem menores salários (MTE,

2013)

A remuneração de um empregado “qualificado”, ou seja, com nível

superior é mais de dez vezes a do empregado que exerce função “braçal” e que

representa a maioria das contratações das empresas. E são esses trabalhadores

de base que estão mais sujeitos aos acidentes e doenças ocupacionais.

Para demonstrar a diferença salarial existente entre os empregados de

nível superior e os trabalhadores braçais do setor extrativista mineral apresenta-

se o Quadro 1 abaixo, com informações obtidas perante o Ministério do Trabalho

e Emprego:

A rotatividade no setor mineral é ditada pelo valor comercial das matérias

primas no mercado mundial de commodities, sofrendo os impactos das

oscilações do mercado e, em momentos de crise ocorre a redução de postos de

trabalho e a cobrança por mais produtividade dos trabalhadores.

Neste sentido, considerando que a maioria dos empregados das

empresas de mineração é composta por trabalhadores com baixa qualificação,

em momentos de crise econômica, as demissões recaem sobre esses

empregados, mais numerosos e com verbas rescisórias de menor valor. Em

contrapartida, quando há recuperação no setor, a recontratação da mão-de-obra

é facilitada pela disponibilidade de trabalhadores reféns do afunilado mercado

de trabalho de Corumbá.

179

Quadro 1. Funções e Remunerações na Indústria de Extração Mineral de

Corumbá - 2017

Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) Salário Médio na

Admissão

711105 – Amostrador de Minério R$ 937,00

725010 – Ajustador mecânico R$ 937,00

911305 – Mecânico de manutenção de máquina R$ 1.576,40

910105 – Encarregado de manutenção mecânica de

sistema operacional R$ 2.271,33

213405 - Geólogo R$ 7.796,00

214405 – Engenheiro mecânico R$ 9.000,00

214705 – Engenheiro de minas R$ 10.214,20

710120 – Supervisor de produção na minerção R$ 10.000,00

Fonte: MTE (2013).

Castelão (2016) leciona no sentido de que a taxa de rotatividade do

município anual e por setor, durante o período estudado (2003 a 2015) foi de

29% enquanto que a do Brasil é de 58%, consequência do baixo dinamismo da

economia corumbaense, não oferecendo muitas opções de trabalho, além de ser

dependente do movimento da indústria e comércio.

Para Silva (2016, p. 79):

“O aumento da produtividade e da lucratividade não ocorre

apenas pela quantidade de minério extraído ou do ferro-gusa

produzido, mas também pela diminuição dos custos da força

de trabalho, na medida em que funções e tarefas mais

qualificadas no contexto do processo produtivo recebem

remunerações maiores em contraste com aquelas

consideradas mais braçais. A remuneração de um

profissional considerado “qualificado” pode ser de nove a 15

vezes maior do que aquela que é oferecida ou paga ao

trabalhador “desqualificado”, mesmo que a atividade deste

último esteja diretamente relacionada à produção, como é o

caso dos mineiros em relação aos engenheiros”.

180

Faria (2015, p. 1), médico auditor do MTE, constata que à medida que a

lucratividade diminui, as empresas “... precisam produzir mais para compensar

a queda de preço do minério. A pressão sobre o trabalhador aumenta o risco de

acidentes. Associado a isso, as empresas reduzem o investimento em

segurança ...”.

Subnotificações de acidentes e doenças ocupacionais

Segundo Braga (2015) a taxa de mortalidade entre trabalhadores da

mineração por cada 100.000 habitantes foi de 28,1 trabalhadores em 2013,

quatro vezes mais do que a taxa de mortalidade de outras atividades industriais

no mesmo período. Entretanto, ressalta o autor, que entraram nas estatísticas

de mortes apenas os casos de vítimas que tinham carteira de trabalho assinada

pelas mineradoras, ficando de fora os que trabalhavam nas empresas

terceirizadas, restando subestimado o número de mortes e a gravidade do

problema. Assim, os acidentes ocorridos com trabalhadores terceirizados na

mineração e siderurgia são computados em outras atividades industriais.

A comunicação de acidente de trabalho – CAT continua sendo uma

obrigação legal, mas não é mais imprescindível para a concessão de benefícios

previdenciários, considerando o grande número de acidentes e doenças que não

são informados. Tanto assim que nas tabelas que tratam de acidentes de

trabalho foi incluída uma coluna adicional sobre benefícios previdenciários

concedidos pelo INSS para os quais não foram registradas CAT.

O conjunto dos acidentes do trabalho passou a ser então a soma dos

acidentes e doenças do trabalho informados por meio da CAT com os acidentes

e doenças que deram origem a benefícios de natureza acidentária para os quais

não há CAT informada (AEAT, 2016, p. 11).

Os dados do último Anuário Estatístico da Previdência Social revelam que

no ano de 2016 ocorreram 578.435 acidentes de trabalho no Brasil, sendo

31.131 acidentes somente no setor extrativista de mineração, o que significa

mais de 43 acidentes por dia. Em Mato Grosso do Sul, no ano de 2016, foram

registrados 9.546 acidentes de trabalho, sendo 1.531 sem as notificações – CAT,

o que torna o cenário alarmante (AEAT, 2016, p. 554).

É incontroversa a falta de emissão da CAT (Comunicação de Acidentes

de Trabalho) ou subnotificações, no claro intuito de maquiar a grave realidade

181

existente no setor mineral. A informação sobre os acidentes de trabalho

ocorridos em todo território nacional é pouco confiável, seja no que concerne à

quantidade ou no tocante aos aspectos qualitativos das estatísticas desses

eventos.

Para Maia et al. (2013), diversas causas concorrem para que a

subnotificação se perpetue. O sistema de informação da Previdência Social

abrange os trabalhadores com vínculo sob a Consolidação das Leis do Trabalho

(CLT), segurados do Seguro de Acidente do Trabalho (SAT). Neste sistema, há

a premissa de que a empresa de vínculo deve fazer a notificação, mesmo que

esta seja facultada a outros atores. Com efeito, a legislação permite que a

comunicação de acidente de trabalho (CAT) seja feita pelo médico que atendeu

o trabalhador ou pelo sindicato, mas o procedimento costumeiro observado no

INSS é que a CAT deve ser emitida em primeiro lugar pela empresa. Somando-

se a um sistema pericial falho com baixa sensibilidade para captar as centenas

de tipos de adoecimentos ocupacionais previstos em legislação, repercute em

enorme e persistente subnotificação de acidente de trabalho.

Os mesmos Autores observam que com a divulgação da Pesquisa

Nacional de Saúde (PNS) realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da

Saúde, relativo ao ano de 2013, pode-se verificar uma discrepância entre os

dados relacionados a acidentes de trabalho desta pesquisa e aqueles

registrados na base de dados do Ministério da Previdência Social.

“A comparação mostrou que a PNS aponta números de

quase 7 vezes os da Previdência, sendo que há maior

variação entre as Unidades da Federação da região Norte e

Nordeste. Sugere-se que essa diferença se deve à já

conhecida subnotificação do registro de acidentes, ao tipo

de dado resultante de cada pesquisa, e à baixa taxa de

formalização do emprego, sendo este último fator o

responsável pelas maiores razões entre as Unidades de

Federação da região Norte e Nordeste” (MAIA, et al., 2013,

p.1).

Os acidentes de trabalho devem ser notificados independentemente da

existência de vínculo empregatício formal. O SUS prevê a notificação

182

compulsória ao Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN) de

diversos eventos ocupacionais independentemente da existência de vínculo

empregatício formal ou espécie de vínculo. Entretanto, a baixa capacidade

diagnóstica de eventos ocupacionais, mesmo com a existência dos centros de

referência em saúde do trabalhador, é um dos pilares da subnotificação no SUS.

O Decreto 3.048/99 (BRASIL, 1999), em seu anexo II, define as doenças e

respectivos agentes etiológicos ou fatores de risco de Acidentes do Trabalho

(Anexo II).

Subnotificações de acidentes e doenças ocupacionais em Mato Grosso do

Sul e em Corumbá, MS

As situações de acidentes e doenças do trabalho sempre estiveram

presentes na atividade minerária. Ganne (2000) estudou as demandas de

serviços de saúde e custos decorrentes de acidente de trabalho na cidade de

Corumbá, baseando-se nas CAT´S registradas no posto do INSS entre 1.996 e

1.997. Na época Corumbá contava com duas empresas de extração de minerais

metálicos e uma siderúrgica e do total de 252 acidentes de trabalho, constatou-

se que a siderurgia era responsável por 12,31% (31) e a extração de minerais

metálicos por 8,34% (21) dos acidentes registrados oficialmente (Quadro 2).

Quadro 2. Quantidade de acidentes do trabalho, por situação de registro e

motivo, segundo Brasil e Região de Mato Grosso do Sul - 2014 - 2016

Bra

sil

e M

ato

Gro

sso

do

Su

l

Anos

Quantidade de acidentes do trabalho

Total

Com CAT Registrada

Sem

CAT

Registrada Total

Motivo

Típico Trajeto

Doença

Do

Trabalho

Bra

sil 2014 71230

2

564238 430454 116230 17599 148019

2015 62237

9

507753 385646 106721 15386 114626

2016 57893

5

474736 354084 108150 12502 104199

MS

2014 10973 8524 6489 1829 206 2449

2015 9930 7933 6158 1571 204 1997

2016 9546 8015 6278 1585 152 1531

Fonte: AEPS (2016, p. 594-595).

183

Em Mato Grosso do Sul a situação de subnotificações de acidentes de

trabalho não é diferente das demais regiões do país, demonstrando dados

alarmantes de acidentes de trabalho e de subnotificações (Quadro 2).

O Quadro 2 demonstra o grande número de acidentes de trabalho e

doenças do trabalho que não foram notificadas, mas que desembocaram no

INSS diante da necessidade de auxílio-previdenciário (auxílio-doença,

aposentadoria por invalidez, pensão por morte acidentária), de acordo com a sua

gravidade e suas consequências.

No quadro 3 estão demonstrados o número de acidentes de trabalho

ocorridos mensalmente em Mato Grosso do Sul, nos anos de 2014 a 2016.

Em 2015, em Mato Grosso do Sul foram registrados 9.930 acidentes de

trabalho, dos quais 1.997 não foram notificados (Quadro 3), além da ocorrência

de 44 óbitos e em 2016 foram verificados 9.546, dos quais 1.531 sem a emissão

de CAT, e 32 óbitos, ou seja, uma média de 20% dos acidentes de trabalho não

foram formalizados e somente chegaram ao conhecimento do poder público

diante da necessidade de concessão de benefícios previdenciários decorrentes

dos infortúnios (AEAT, 2016).

184

Quadro 3. Quantidade mensal de acidentes do trabalho, por situação do registro e motivo, no estado do Mato Grosso do Sul – 2014

- 2016

Meses

Quantidade de acidentes do trabalho

Total

Com CAT Registrada Sem CAT

Registrada Total Motivo

Típico Trajeto Doença do

Trabalho 2014 2015 2016 2014 2015 2016 2014 2015 2016 2014 2015 2016 2014 2015 2016 2014 2015 2016

Total 10973 9930 9546 8524 7933 8015 6489 6158 6278 1829 1571 1585 206 204 152 2449 1997 1531

Janeiro 885 816 753 677 645 623 535 512 493 131 110 121 11 23 9 208 171 130

Fevereiro 900 763 734 673 581 586 514 467 462 145 100 111 14 14 13 227 182 148

Março 941 876 930 726 698 752 532 524 587 183 156 151 11 18 14 215 178 178

Abril 896 775 863 679 642 713 511 526 572 153 100 125 15 16 16 217 133 150

Maio 1019 815 776 773 657 630 592 520 461 167 126 162 14 11 7 246 158 146

Junho 839 822 835 653 684 684 511 497 536 129 173 133 13 14 15 186 138 151

Julho 976 891 870 755 699 747 656 521 575 168 157 160 22 21 12 221 192 123

Agosto 1032 908 900 799 705 781 611 550 604 167 134 157 21 21 20 233 203 119

Setembro 979 785 767 786 633 654 598 481 522 165 133 123 23 19 9 193 152 113

Outubro 1022 863 722 827 686 617 622 533 501 182 134 105 23 19 11 195 177 105

Novembro 827 834 753 655 663 658 505 529 534 132 123 109 18 11 15 172 171 95

Dezembro 657 782 643 521 640 570 393 498 431 107 125 128 21 17 11 136 142 73

Fonte: AEAT (2016, p. 262).

185

Figura 2. Distribuição de acidentes do trabalho, por motivo, no estado do Mato

Grosso do Sul – 2016. Fonte: AEAT (2016, p. 262).

Em Corumbá, em 2015 foram registrados 217 acidentes de trabalho,

sendo que 49 deles não foram devidamente notificados com a emissão de CAT,

além da ocorrência de 1 óbito. Em 2016, o cenário não apresentou melhora,

sendo registrados 223 acidentes de trabalho, dos quais 40 sem a formalização

da CAT e 1 óbito, situações identificadas no último Anuário Estatístico de

Acidentes de Trabalho de 2016, que apresenta as Estatísticas municipais de

acidentes do trabalho (AEAT, 2016, p. 582) (Figura 3).

Figura 3. Comunicações de acidentes de trabalho em Corumbá, 2015-2016.

Segundo Silva (2016), em Corumbá as subnotificações de acidentes e

doenças ocupacionais do setor de mineração foram verificadas em um dos casos

analisados, sob a justificativa de a empresa não ter como explicar para a matriz

186

o alto índice de acidentes na filial de Corumbá e em outros dois casos

analisados, sob a justificativa de perda no plano de participação nos lucros e

resultados, vez que no caso de acidentes notificados o coletivo de trabalhadores

perderia o acréscimo remuneratório anual (SILVA, 2016).

Em outro caso subnotificado, o trabalhador acidentado e sem CAT emitida

foi dispensado quando ainda estava em gozo de licença médica, portanto em

período estabilitário, e mesmo ciente desse fato o sindicato profissional

homologou a despedida sem justa causa, com o compromisso verbal feito pelo

representante da empresa de reintegrar o empregado caso o problema de saúde

se acentuasse (SILVA, 2016).

Assim, conforme ensina Thomé (2009, p. 3):

“É inegável, portanto, a importância da mineração para a

interiorização do desenvolvimento econômico do Brasil.

Todavia, uma característica inerente aos recursos minerais

não pode ser, em momento algum, desprezada: a sua

esgotabilidade. São recursos não renováveis que,

inevitavelmente, um dia se esgotarão. E então as inúmeras

vilas e cidades originadas e dependentes da mineração

poderão se deparar com inimagináveis impactos

socioeconômicos advindos do encerramento das

atividades mineiras, caso não providenciem a

diversificação de sua economia”.

A exploração mineral pode se traduzir em melhorias sociais, embora estas

dependam da capacidade dos governos, empresas e outras partes interessadas

gerenciarem os impactos negativos mencionados anteriormente.

Ao longo dos anos o setor mineral foi responsável pelo bom desempenho

do produto interno bruto (PIB)34 per capita, pela elevação da média salarial35 e

34 Segundo o IBGE (2015), o PIB per capita de Corumbá (R$ 18.087,03) posiciona-se em quarto lugar no ranking do Estado, estando atrás do PIB de Três Lagoas (R$ 69.184,36), Campo Grande (R$ 28.417,05) e Dourados (R$ 34.219,12). Disponível em https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/corumba/pesquisa/38/47001?tipo=ranking. Acesso em: 01 jun. 2018. 35 De acordo com o IBGE (2015), Corumbá é o quarto município em número de trabalhadores assalariados no Estado de Mato Grosso do Sul ficando atrás de Campo Grande (266.171), Dourados (56.130) e Três Lagoas (33.974). Entretanto, quanto à média de salários mínimos pagos aos trabalhadores, Corumbá (2,9 s.m.) se posiciona à frente de Dourados (2,5 s.m.) e de Três Lagoas (2,8 s.m.), ficando muito próxima do segundo lugar, que é de Campo Grande (3,6 s.m.) e bem distante do primeiro lugar que é Ladário (5,0 s.m.). Disponível em:

187

pelo pagamento de royalties36 para Corumbá, criando uma perspectiva que

relaciona o progresso da cidade à existência e à permanência das mineradoras

e das siderúrgicas no município (COSTA, 2013), fator político-econômico-social

que converge para uma importância material e simbólica deste seguimento

industrial na localidade (SILVA, 2016).

Entretanto, os impactos negativos da atividade minerária sobre o meio

ambiente do trabalho merecem consideração vez que os empregados vítimas de

acidentes e doenças ocupacionais (aproximadamente 20% dos empregados do

setor) carregarão as sequelas do acidente/doença do trabalho prejudicando sua

vida pessoal, profissional, a comunidade local e a Previdência Social.

Processos Judiciais e Administrativos em desfavor das empresas

mineradoras em Corumbá, MS

Algumas situações de acidentes e doenças do trabalho são objeto de

Reclamações Trabalhistas perante a Justiça do Trabalho ou desencadeiam

autuações administrativas pelo Ministério Público do Trabalho.

Entretanto, as demandas judiciais e administrativas são muito inferiores

ao real número de ocorrências de acidentes e doenças ocupacionais trazendo a

reflexão sobre os motivos dos empregados não buscarem a reparação de seus

direitos na Justiça. A primeira opção seria porque seus direitos foram

integralmente saldados e reparados pelas empresas. Outra opção seria a

dificuldade de o trabalhador estabelecer o nexo de causalidade entre a sua

doença e o trabalho e a terceira (mais viável), se refere ao restrito mercado de

trabalho a algumas empresas e/ou setores específicos da economia, fazendo

com que os trabalhadores doentes e acidentados não busquem o Judiciário com

receio de não conseguirem outra colocação no mercado.

As subnotificações dos acidentes de trabalho e o reduzido número de

ações judiciais e autuações administrativas (se consideradas as ocorrências de

fato) demonstram o desconhecimento sobre a situação concreta de acidentes e

doenças do trabalho.

<https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ms/corumba/pesquisa/19/29765?tipo=ranking&ano=2010&indicador=29765>. Acesso em: 01 jun. 2018. 36 Em 2017 a CFEM para Corumbá foi de R$ 3.053.352,12 e para Ladário R$ 5.647.883,57. Disponível em: https://sistemas.dnpm.gov.br/arrecadacao/extra/Relatorios/distribuicao_cfem_muni.aspx?ano=2017&uf=MS. Acesso em: 01 jun. 2018.

188

Sob o aspecto individual, a Justiça do Trabalho tem a competência

atribuída pela CF/88 de julgar os litígios entre trabalhadores e empregadores

oriundos da relação de trabalho, aí inseridos os pedidos de indenização em

razão de acidentes de trabalho e doenças ocupacionais, nas hipóteses em que

for comprovada a culpa do empregador no infortúnio laboral.

A Justiça do Trabalho tem o poder de coercibilidade estatal, não atribuído

ao MPT, de compelir o empregador a cumprir as normas trabalhistas e saúde e

segurança do trabalho37. Nesse sentido, há um necessário e indissociável

entrelaçamento de atuação entre o MPT e Justiça Especializada, pois esta não

pode agir sem a provocação do MPT, ao passo que este não tem o poder de

obrigar as empresas a cumprir a legislação sem que para isso exista uma

decisão judicial emanada da Justiça do Trabalho.

O Relatório Geral da Justiça do Trabalho de 2016 informa que a Justiça

do Trabalho no Brasil recebeu 10.119.511 de ações trabalhistas entre os anos

de 2012 a 2016, sendo que somente em 2016 foram ajuizadas 2.723.074 novas

ações. Em Mato Grosso do Sul, no ano de 2016, foram apresentadas 34.911

novas ações trabalhistas. Os três Estados com maior quantitativo de casos

novos ajuizados foram São Paulo, com 29,3%, Rio de Janeiro, com 10,1%, e

Minas Gerais, com 9,9%, todos estados da Região Sudeste, que, sozinha,

ajuizou 50,7% dos casos novos no País (Quadro 4).

Quadro 4. Ações Trabalhistas Brasil 2012-2016

Ano Ações trabalhistas

2012 2.254.355

2013 2.422.170

2014 2.530.691

2015 2.636.681

2016 2.723.074, sendo 34.911 (MS)

Fonte: Adaptado de TST (2017).

As atividades econômicas com maiores quantitativos de processos nas

Varas e Tribunais Regionais foram a Indústria, em segundo lugar os Serviços

37 De acordo com a Súmula 736 do Supremo Tribunal Federal, “compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à segurança, higiene e saúde dos trabalhadores”

189

Diversos e em terceiro lugar o Comércio. Ressalte-se que a Vale está incluída

como a 14a empresa com maior número de litígios trabalhistas (TST, 2017).

Segundo Silva (2016) em Corumbá, no período de 2009 a 2014, foi

verificada a existência de 36 (trinta e seis) ações trabalhistas ajuizadas com

pedidos de indenização por doença ou acidente do trabalho no setor mineral, já

sentenciadas ou ainda pendentes de julgamento (mas, quanto a estas últimas,

com fase concluída de coleta de provas testemunhais). Nesse universo, 69,44%

dos processos estão relacionados a acidentes de trabalho e 38,88% a doenças

ocupacionais, sendo que não houve constatação de nenhum acidente de trajeto.

Para Silva (2016), os trabalhadores procuraram a Justiça Especializada

como forma de resgatar a dignidade perdida ou aviltada, pretendendo uma

resposta do Estado para a violação de preceitos constitucionais básicos

relacionados à valorização do trabalho, ao direito à saúde e à vida. Assim,

ingressam com Reclamações Trabalhistas nas quais os trabalhadores, muitas

vezes inválidos e praticamente descartados do mundo do trabalho, postulam

reparações financeiras em face dos (ex-) patrões, alegando que as enfermidades

e os acidentes têm nexo de causalidade com as condições laborativas

desfavoráveis.

Em consulta geral ao site da Justiça do Trabalho de Corumbá e do

Ministério Público do Trabalho foram localizados 278 processos trabalhistas e 21

procedimentos administrativos em desfavor das mineradoras de Corumbá, no

período de 2014 a 2018. Após uma análise preliminar para identificar quais

tratam de saúde e segurança do trabalhador, principalmente situações que

envolvam acidentes e doenças do trabalho, identificou-se 60 processos

trabalhistas e 8 autuações sob a motivação de descumprimento de normas de

saúde e segurança do trabalhador.

O número de Reclamações Trabalhistas por acidentes ou doença do

trabalho ajuizadas em desfavor das mineradoras aumentou significativamente

entre 2014 e 2018. Enquanto que Silva (2016) apurou a existência de 36 ações

no período de 2009 a 2014 (período de 5 anos), a presente pesquisa

diagnosticou o ajuizamento de 278 Reclamações Trabalhistas em desfavor de

três empresas mineradoras de Corumbá, sendo 60 ações referentes a acidentes

e doenças ocupacionais entre 2014 a meados de 2018 (3 anos e 6 meses) (TRT,

190

2016), além de 21 autuações administrativas (MPT-MS, 2018), o que representa

21% das ações propostas (Figura 4)

Figura 4. Número de reclamações trabalhistas ajuizadas em desfavor das

mineradoras de Corumbá, entre 2009 a 2018.

O significativo aumento de Reclamações Trabalhistas em desfavor das

empresas mineradoras de Corumbá no período de 2014 a 2016, refletindo o

descumprimento das obrigações trabalhistas pelas empresas, com base no

último Relatório Anual do TRT da 24ª Região, publicado em 2017 estão

representadas no quadro 5.

Quadro 5. Ações Trabalhistas Corumbá 2014-2018

Ano Novas RT - Vara

Corumbá

Ações desfavoráveis às

mineradoras

Ações de acidentes e

doenças do trabalho

2014 844 26 11 (42%)

2015 914 68 15 (22%)

2016 884 79 10 (12%)

2017 Sem dados TRT 73 19 (26%)

2018 Sem dados TRT 32 6 (18%)

Fonte: Adaptado de TRT (2017). *RT = Reclamações Trabalhistas

191

As informações do quadro 5 demonstram o crescente número de

Reclamações Trabalhistas em desfavor das empresas mineradoras de

Corumbá-MS além de diagnosticar que mais de 20% (em 2014 chegando a mais

de 40%) das ações foram ajuizadas sob a motivação de ocorrência de acidente

ou doença do trabalho.

E mesmo em percentuais representativos, temos que esses dados estão

subestimados considerando que muitos trabalhadores não buscam seus direitos

perante o Judiciário quer por desconhecimento, quer por receio de não conseguir

se inserir novamente no restrito mercado de trabalho da cidade.

Não foram consideradas para efeito estatístico 14 novas Reclamações

Trabalhistas em relação as empresas mineradoras, ajuizadas até junho de 2018,

que não foram sentenciadas.

A análise dos 60 processos trabalhistas relativos a acidentes de trabalho

e doenças ocupacionais ocorridos com os trabalhadores das empresas

mineradoras de Corumbá-MS trouxe informações relevantes sobre as causas

dos acidentes e o desencadeamento de doenças ocupacionais, permitindo

delinear o impacto negativo que a atividade mineradora acarreta ao meio

ambiente do trabalho, com as seguintes especificidades:

1. Das 278 ações analisadas, 60 se referem a acidentes e doenças do

trabalho (21%), das quais 3 foram ajuizadas pelo Sindicato dos

empregados da Construção Civil (1,4%), além de 4 Ações Civis Públicas

(1,4% das ações propostas) e as 218 restantes tratam de pedido de

condenação das empresas no pagamento de horas-extras, intervalo intra

e intrajornada, feriados trabalhados, DSR em dobro e pedidos de

insalubridade e periculosidade, representando 78% das demandas;

2. A quase totalidade das ações (59 das 60) foi ajuizada por homens e a

única Reclamação Trabalhista ajuizada por mulher foi na condição de

viúva de vítima de acidente de trabalho;

3. Nos 60 processos os empregados exerciam atividade de menor

qualificação e de menores salários (motoristas/operadores de

equipamentos móveis, amostrador, mecânico, preparador de frente de

mina, oficial de manutenção, operador de patrola, entre outras);

192

4. A idade média dos acidentados e/ou adoecidos é de empregados com até

40 anos e, em sua maioria, foi considerado temporariamente incapacitado

para o exercício de qualquer atividade através de perícia realizada nos

processos;

Como resultado tem-se “o descarte de jovens trabalhadores que são

definitiva e precocemente alijados do trabalho” (SILVA, 2016), o que demonstra

que as vítimas do setor mineral são os trabalhadores mais jovens e sem

qualificação.

5. O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas de Corumbá, MS,

não ajuizou ações coletivas como substituto processual ou mesmo ações

individuais que buscassem reparar direitos violados pelas empresas

mineradoras. Das 278 ações trabalhistas analisadas, 218 tratavam das

mesmas situações vivenciadas pelos empregados (não pagamento de

horas-extras, intervalo intra e inter-jornada, feriados trabalhados, DSR em

dobro e pedidos de insalubridade e periculosidade) e que poderiam ser

objeto de ação coletiva proposta pela entidade laboral, diminuindo o

volume de ações no Judiciário Trabalhista local. Somente em 2018 consta

distribuição de uma ação trabalhista cujo cadastro por assunto no

Processo Judicial Eletrônico - PJE é de contribuição sindical. Entretanto,

diante da recente distribuição, a pesquisadora não pode confirmar se a

ação busca tão somente o recebimento de contribuições sindicais.

Para Carvalho (2013), a relação passiva e pacífica com as empresas

decorre de múltiplos fatores, tais como o pedido dos próprios trabalhadores que,

temendo o risco do desemprego em cidades de pequeno porte, pedem para que

os sindicatos sejam menos agressivos, além do cooptação de alguns

sindicalistas por parte das empresas com o objetivo de “esfacelar o movimento

sindical”. Os sindicalistas afirmam que a empresa busca “comprar” dirigentes

sindicais para esfacelar o movimento sindical, e que por isso hoje não existe

organização a nível nacional (CARVALHO, 2013, p. 107)

193

Causas de Acidente de Trabalho e Doenças Ocupacionais objetos de RT na

VT de Corumbá no período de 2014 a 2018

Antes de apresentar casos específicos extraídos dos processos judiciais

e autuações administrativas, importante o registro da ocorrência de quatro óbitos

de empregados das mineradoras de Corumbá, ou seja, praticamente um

acidente fatal por ano, durante o período de 2014 a 2017.

Os acidentes de trabalho fatais que constam no Anuário Estatístico de

Acidentes de Trabalho estão atualizados somente até 2016. Assim, no intuito de

fornecer informações mais atualizadas sobre acidentes de trabalho fatais

ocorridos no setor da mineração em Corumbá, buscou-se nos órgãos de

imprensa notícias nesse sentido, identificando as seguintes ocorrências:

Em dezembro de 2017 um trabalhador de 30 anos morreu ao desmaiar

durante o conserto de uma pane no topo do forno, ocasionada por descarga

elétrica ou intoxicação (PORTAL G1-MS, 2017);

Em novembro 2016 um motorista de 52 anos pulou do veículo em movimento,

que estava carregado de minério, em decorrência de falha na direção ou nos

freios do caminhão, sofrendo fratura nas duas pernas e falecendo no hospital

(MIDIAMAX, 2016);

Em abril de 2015 um motorista de 46 anos morreu quando perdeu o controle do

veículo no declive e saiu da pista passando pela barreira de contenção vindo a

cair no despenhadeiro com o caminhão carregado com 45 toneladas de minério

de ferro (SIKVA, 2015);

Em 2014 um empregado faleceu vítima de choque elétrico motivado pelo

desuso de EPI’s como, luvas, calçados de segurança ou, o uso de EPI’s

desgastados oriundos de laboral pregresso, conforme constante de ACP

ajuizada pelo MPT (MPT, 2014, p. 41).

A análise dos Processos Judiciais e Administrativos permitiu as seguintes

constatações e considerações: condições inseguras, descumprimento da

legislação trabalhista e violação da dignidade da pessoa humana, que geraram

Ações Civis Públicas.

O Ministério Público do Trabalho- MPT 24ª Região ajuizou perante a

Justiça do Trabalho de Corumbá 4 (quatro) Ações Civis Públicas no período de

194

2013 a 2017 questionando as condições inseguras do ambiente de trabalho nas

empresas mineradoras e descumprimento de obrigações trabalhistas, com

pedido de condenação das Empresas em obrigação de fazer e danos morais,

buscando a melhoria no ambiente laboral, inclusive no concernente a dignidade

do trabalhador, em consonância com a NR 22, específica sobre Segurança e

Saúde Ocupacional na mineração, a NR 06, que aborda que aborda a

importância do uso de Equipamentos de Proteção Individual (EPI) pelos

trabalhadores para protegerem sua segurança e saúde de riscos suscetíveis,

durante o processo de trabalho e a NR 24, que trata das condições sanitárias e

de conforto nos locais de trabalho (MTE, 1978a; MTE, 1978b; MTE, 2016)

Para demonstrar a gravidade da situação e o descaso das empresas

mineradoras de Corumbá, transcreve-se parte da sentença proferida nos autos

de uma das Ações Civis Públicas:

“Ademais, há outras ações civis públicas em face da 1ª ré,

inclusive por acidentes de trabalho decorrentes de falha no

meio-ambiente laboral. A ausência de zelo por parte da

referida empresa está lesionando de forma reiterada a

dignidade e a incolumidade física dos trabalhadores. Por

essas razões, entendo que as rés excederam

manifestamente os limites do contrato de trabalho mantido

com a coletividade de seus empregados, fatos devidamente

comprovados pelas provas dos autos, cometendo ato ilícito,

nos termos do artigo 187 do Código Civil” (MPT, 2014, p.

41).

A Ação Civil Pública apresentada pelo MPT, Processo n. 8000008-

xx.2014.5.24.0041, ajuizada após acidente de trabalho com vítima fatal em

decorrência de choque elétrico, buscava a adequação da empresa com relação

aos itens de segurança do trabalho, como:

1) Exigir que o trabalhador use o EPI durante a execução das atividades

laborais, nos termos da NR 6 – item 6. 6. 1. b;

195

2) Elaborar procedimentos de trabalho e segurança específicos,

padronizados, com descrição detalhada de cada tarefa, passo a passo, a

partir da análise de risco, nos termos da NR 12 – item 12.130;

3) Proibir a operação com máquinas e equipamentos sem que tenham sido

tomadas precauções especiais quando da movimentação nas

proximidades a redes elétricas, nos termos da NR 22 – item 22.11.19, “d”;

4) Não permitir a existência de instalações e serviços de eletricidade sem

que tenham sido projetados, executados, operados, mantidos, reformados

e ampliados para uma adequada distribuição de energia e isolamento,

uma correta proteção contrafugas de corrente, curtos-circuitos, choques

elétricos e outros riscos decorrentes do uso de energia elétrica, nos

termos da NR 22 – item 22.20.2. O MPT alegou que a rede elétrica onde

ocorreu o acidente narrado na inicial não possuía proteção coletiva, a qual

foi instalada após o acidente;

5) Não permitir a existência de cabos, instalações e equipamentos elétricos

sem a devida proteção contra água, nos termos da NR 22 – item 22.20.5

(MPT, 2014, p. 41).

Na fundamentação, o MPT sustentou que o ambiente laboral da primeira

ré continuava ocasionando graves acidentes, inclusive fatais. Narrou que em

outras ações a reclamada já foi condenada em obrigações de fazer, sem,

contudo, ter garantido segurança no trabalho a seus empregados, vindo a

ocasionar novo acidente fatal, ficando evidenciada a responsabilidade das rés

no acidente de trabalho que causou a morte do empregado da 2ª reclamada e

que prestava serviços para a 1ª reclamada.

A perícia apontou as seguintes causas para a ocorrência do acidente

supracitado (MPT, 2014, p. 551):

“O desuso de EPI’s como luvas calçados de segurança ou,

o uso de EPI’s desgastados, oriundos de laboral pregresso

pode ter sido causa severidade do choque elétrico sofrido

pelo de cujus (MPT, 2014, p. 551). As rés não elaboraram,

implantaram e/ou estabeleceram junto ao de cujus e demais

trabalhadores, da época, competentes Ordens de Serviço,

em conformidade como os subitens 1.7 e 1.8, da NR-1 –

196

Disposições Gerais, cuja existência jurídica é assegurada,

termos de legislação ordinária, pelos artigos 157 e 158 da

CLT [...]. A ausência destas ações preventivas reforça a

crença de que, o acidente de trabalho não ocorreu por

acaso; que suas causas transitaram bem longe do que,

comumente se convenciona, atribuindo-se como sendo obra

do acaso, do destino ou resultado de ato ou conduta

insegura do trabalhador. Esta assertiva é reforçada pela

ausência, na época, de qualquer regramento disciplinando,

por exemplo, a movimentação máquinas, equipamentos de

trabalho e implementos, meios maneiras e práticas

permitidas ou proibidas, bem como, a vedação expressa “dar

carona” em máquinas operatrizes ou equipamentos móveis

diversos” (MPT, 2014, p. 551/552).

A conclusão do laudo pericial foi que “as rés foram relapsas no

cumprimento das normas de higiene, saúde e segurança no trabalho estão

contemplados pelo presente laudo técnico” (MPT, 2014, p. 41).

Em outra Ação Civil Pública, Processo n. 051.xx.2013.5.24.0041, houve

questionamento sobre itens básicos de segurança do trabalho, principalmente

com relação a iluminação e sinalização do ambiente, considerando que os

empregados atuam em turnos ininterruptos, em jornada exaustivas de trabalho

e a pouca iluminação ocasionou acidente fatal (MPT, 2013, p. 3-18):

1. Iluminação da área de descarregamento;

2. Transporte em minas de céu aberto obedecendo requisitos previstos na

NR-22, item 22.7.6;

3. Sinalização luminosa em condições de visibilidade adversa e à noite;

4. Placas de sinalização de velocidade máxima;

5. Treinamento introdutório para os Trabalhadores;

6. Treinamento específico na função;

7. Jornadas exaustivas.

197

Da mesma forma que o item anterior, ficou evidenciada a

responsabilidade das rés no acidente de trabalho que causou a morte de

empregado da 2ª reclamada e que prestava serviços para a 1ª reclamada.

O Relatório da ação indica como fatores determinantes para a ocorrência

do acidente foram a combinação de ausência de iluminação eficiente e falta de

sinalização, seja por meio de placas refletivas ou por funcionário com atribuição

de sinalizar ao condutor de veículo o limite do recuo.

“O acidente em questão seria totalmente evitável caso a

empresa tivesse estabelecido, primeiramente, competente

Procedimento Operacional Padrão para as operações de

remoção/carregamento, movimentação e descarregamento

(basculamento) de material” (MPT, 2013, p. 534-535).

Nesse sentido, a perícia concluiu que "não resta dúvidas de que a

inexistência de iluminação e de sinalização de segurança contribuíram

decisivamente para o acidente de trabalho que resultou no falecimento do

motorista”.

A Ação Civil Pública ajuizada em 2016 questionava as condições de

higiene dos banheiros da empresa e a dificuldade de acesso aos sanitários

quando o trabalhador estava dentro da mina, além do armazenamento de água

para consumo em local inapropriado, ou seja, condições básicas para a

dignidade dos trabalhadores (MPT, 2016).

A perícia técnica constatou que:

“Apesar da existência conjuntos sanitários em quantidade

compatível com os termos do 24.1.8, da R-24; em razão da

imensidão das áreas objeto das atividades de preparação de

frente e lavra, propriamente dita, bem como, da existência

do citados veículos de apoio, nem sempre era possível ou

factível a utilização destes, tornando-se imperativo os

deslocamentos a pé, conforme observado em relação aos

trabalhadores que realizavam a preparação de frente de

furação para carregamento de explosivo, na região das

Marias "24", cuja distância para o banheiro mais próximo, no

caso, o banheiro das Marias, era de 980 (novecentos e

198

oitenta) metros. Esta condição adversa evidencia

quantidade insuficiente de banheiros, afrontando, por

conseguinte, os parâmetros do item 22.37.2, da NR-22. As

áreas destinadas à instalação dos conjuntos sanitários eram

constituídas de iluminação geral. Contudo, o interior dos

gabinetes deste eram desprovidos de iluminação local,

denotando descumprimento dos parâmetros dos subitens

24.1.22 e 24.1.23, NR 24, fazendo com que os trabalhadores

suprissem tal deficiência com suas lanternas fixadas nos

capacetes” (MPT, 2016, p. 10-11).

Em sentença de primeira instância a MMª. Juíza do Trabalho do Processo

n. 24100-xx.2016.5.24.0041, p. 32, condenou a empresa no pagamento de

danos morais, sob a seguinte motivação:

Não é compreensível que uma empresa do porte da

reclamada não possa promover mudanças em sua estrutura

para oferecer a seus empregados o mínimo de dignidade no

seu labor. Considerar aceitável que um ser humano tenha

que se privar de condições de higiene utilizando um banheiro

em que não havia manutenção e limpeza ou tendo que se

socorrer no chão da mina, quando da necessidade de

descargas fisiológicas é um verdadeiro ultraje, vez que é

perfeitamente possível a instalação de sanitários próprios

para uso, até mesmo os químicos, perto da entrada da mina

e a disponibilização de mais veículos para transportar os

trabalhadores a este local, primando-se pela permanência

de local higiênico para necessidades fisiológicas ao

trabalhador, como é de norma elementar de saúde e higiene

do trabalho (TRT, 2018, p. 32).

Em 2017 o MPT ajuizou Ação Civil Pública, Processo n. 0024457-

xx.2017.05.24.0041 questionando o excesso de jornada de trabalho, intervalos

intra e inter jornada, descanso semanal remunerado e pagamento de horas-

199

extras. Referido processo encontra-se em fase de julgamento limitando a análise

para a presente pesquisa (MPT, 2017).

Problemas na coluna

A análise dos processos permitiu identificar que os problemas na coluna

cervical e lombar são a maior causa de adoecimentos e afastamentos no setor

de mineração de Corumbá. Dos 60 processos sobre acidentes e doenças

ocupacionais foram identificadas 29 (vinte e nove) situações que envolvem dores

e problemas na coluna (Quadro 6).

Quadro 6. Patologias na coluna vertebral

Patologia Número de casos

Hérnia de Disco 9

Hérnia Inguinal 2

Hérnia Cervical Lombar 1

Artrose Lombar 2

Transtorno de disco lombar e de outros discos com

radiculopatia, síndrome cervicobraquial, dor articular e

espondilose

1

Dor na coluna 7

Dor na coluna – postura forçada 3

Dor na coluna – excesso de peso 4

Para a real compreensão da gravidade do problema, apresentam-se

situações extraídas das Reclamações Trabalhistas38:

A) RTOrd39 0024xxx-06.2015.5.24.0041 - hérnia discal lateral esquerda em

L5/S1; Motorista de caminhão articulado/reboque, permanecia várias

horas sentado e realizava esforços repetitivos. A perícia médica constatou

que o reclamante é portador de lesão degenerativa de disco vertebral

L5/S1, hérnia discal lateral esquerda em L5/S1 e estenose parcial do

forâmen de conjugação esquerda L5/S1 alterações degenerativas

crônicas na coluna vertebral (ID. 895ca3e - p. 5);

38 As informações processuais foram consultadas no site do TRT24 mediante a introdução do número dos processos - Reclamações Trabalhistas-RT 39 RTOrd = Rito ou procedimento ordinário

200

B) RTOrd 0024xxx-45.2014.5.24.0041 - Discopatia Degenerativa em Coluna

Lombar - CID M51 - adquirida devido a exposição do obreiro ao ambiente

de trabalho que se apresentou propício ao surgimento da patologia

(manobrar equipamentos pesados durante toda sua jornada de trabalho);

C) RTOrd 0024xxx-38.2015.5.24.0041 - Discopatia degenerativa - protusão

discal cervical. Patologia de aspecto degenerativo e crônico. Golpear a

massa de minério com uma alavanca de sete quilos, para que esta se

destravasse e caísse em um silo e fosse levada para o pátio por meio de

esteiras. A realização deste serviço repetitivo e penoso causou danos ao

ombro e ao punho do reclamante. Afastamento por dois anos pelo INSS;

D) RTOrd 0024xxx-04.2016.5.24.0041 - portador de lesão de menisco medial

com CID S83.2, visto em ressonância nuclear magnética, dores

esporádicas com piora nas atividades " (ID n. 5516051 - p. 6) e que está

"física temporariamente e parcialmente incapacitado de exercer

atividades laborais" (ID n. 5516051 - p. 11);

E) RTOrd 0024xxx-92.2015.5.24.0041 - discopatia degenerativa em coluna

lombar (CID M51.1) e tendinite em ombro direito M75 o que lhe causa

limitações em determinados tipos de movimentos e que há incapacidade

temporária e parcial para atividades laborativas (ID 2753f89 pág 14).

Afastamento pelo INSS;

F) RTOrd 0024xxx-98.2017.5.24.0041 - patologias na coluna, estando

incapacitado para atividades que demandem esforço físico;

G) RTOrd 0024xxx-39.2015.5.24.0041 - Discopatia Degenerativa em Coluna

Lombar - CID M51.1 e que está "temporariamente e parcialmente

incapacitado de exercer " (ID n. 4b03fd7 - p. 9) atividades laborais;

H) RTOrd 0024xxx-93.2016.5.24.0041 – Dores na coluna - excesso de peso

– Manipulava pneus de máquina (em quatro trabalhadores) que pesam

aproximadamente 600 kg quando calibrados.

Silva (2016) apurou em sua pesquisa (2009 a 2014) que o

descarregamento manual do carvão era o trabalho braçal desempenhado pelos

empregados que mais acarretaram doenças ocupacionais/acidentes de trabalho

diante dos movimentos ante ergonômicos e da exposição à poeira do carvão em

suspensão no ar.

201

Atualmente, pela análise dos 60 processos ajuizados no período de 2014

a 2018 constatou-se que o maior número de acidentes e adoecimentos ocorreu

com os motoristas/manobradores de máquinas pesadas, pelos solavancos e

movimentos repetitivos durante toda a jornada de trabalho, sendo que dos 29

processos por problemas na coluna 14 foram ajuizados por

motoristas/manobradores.

As operações de equipamentos móveis, como caminhões e escavadeiras,

expõem o corpo do trabalhador a vibrações contínuas, assim, afetando as

condições da coluna dos mesmos, podendo causar distúrbios espinais como a

síndrome cervicobranquial e lesões no ombro.

Na frente de lavra, a possibilidade de o trabalhador desenvolver

problemas posturais ocorre quando a máquina carregadeira despeja o mineral

na caçamba dos caminhões. Esse processo pode causar solavancos no veículo

que recebe a carga, movimentando bruscamente o motorista dentro da cabine

(SILVA, 2016).

Quedas

Foram identificados 3 (três) acidentes de trabalho envolvendo queda dos

empregados. A falta de iluminação no ambiente de trabalho, considerando que

exercitam suas atividades em turnos ininterruptos de revezamento foi objeto de

Ação Civil Pública pelo MPT. Apresenta-se breve histórico das condições em

que as quedas ocorreram:

A) RTOrd 0024xxx-26.2016.5.24.0041 – queda do caminhão do terceiro

degrau que quebrou;

B) RTOrd 0024xxx-81.2015.5.24.0041 – queda no fosso sofrendo lesão na

perna esquerda. Afastamento pelo INSS por 11 meses;

C) RTOrd 0024xxx-30.2015.5.24.0041 – queda. “O acidente aconteceu

quando a chave se rompeu durante o afrouxamento de uma porca com

força do impacto o reclamante e o depoente foram lançados de uma altura

de 2 metros”.

202

Lesão corporal por falha mecânica ou falha humana

Foram identificados 9 (nove) acidentes de trabalho por falha humana ou

falha mecânica, especificados:

a) Esmagamento do dedo polegar;

b) Lesão no aparelho extensor do 5° dedo esquerdo;

c) Perda do dedo;

d) Lesão na mão 3;

e) Fratura do pé.

Para melhor demonstrar, apresentam-se duas situações extraídas dos

Processos Trabalhistas:

D) RTOrd 0024xxx-19.2015.5.24.0041 - Acidente causado por problema no

freio do caminhão conduzido pelo reclamante (ID Num. 04c7dfd - Pág. 3).

Lesão na mão direita do reclamante, com a "presença de corpo estranho

hiperecogenico de forma piramidal com 2,0 mm de base x 2,0 mm de

altura, na face palmar ao nível da prega de flexão e do Tendão flexor

superficial do 4º dedo". Cirurgia e afastamento pelo INSS;

E) RTOrd 0024xxx-68.2014.5.24.0041 – amputação da 2ª falange do dedo

médio da mão direita. Cirurgia e afastamento pelo INSS.

Excesso de Ruído – Perda da audição/ hipoacusia

O ambiente de trabalho na mineração é muito ruidoso e embora a

empresa forneça EPI´s, 8 (oito) trabalhadores apresentaram perda auditiva nos

últimos cinco anos, conforme análise dos processos ajuizados. A deficiência

auditiva está relacionada com a exposição a um alto nível de ruído durante as

atividades de mineração, tais como perfuração e o barulho causado pelo

maquinário usado.

Dentre as situações pesquisadas, transcreve-se trecho da ação

trabalhista: RTOrd 0024709-60.2015.5.24.0041 - deficiência auditiva

neurossensorial de grau moderado a profundo para à orelha direita e limiares

auditivos normais para a orelha esquerda com queda leve.

203

Condições Inseguras – EPI não fornecido ou fornecido parcialmente

Em 3 (três) processos ajuizados foram denunciados o não fornecimento

de EPI´s ou o fornecimento insuficiente para minimizar os riscos da atividade.

Para melhor ilustrar as situações vivenciadas pelos empregados, apresenta-se:

A) Na RTOrd 0024834.xx.2015.5.24.0041, o Reclamante informou operar

máquina empilhadeira desprovida de amortecimento e sem EPI;

B) A RTOrd 0024476.xx2017.5.24.0041, busca reparação por doença do

trabalho pela não utilização de cinto de proteção para a coluna.

Após a análise das 60 ações ajuizadas, apurou-se que 8 (13,3%) foram

consideradas procedentes, 36 (60%) foram consideradas parcialmente

procedentes, 15 (25%) foram julgadas totalmente improcedentes e um processo

foi objeto de acordo (1,6%).

As perícias médicas realizadas nos Reclamantes, em sua maioria,

consideraram que não existe nexo de causalidade entre as doenças

ocupacionais e a atividade desenvolvida pelo obreiro, mesmo constatando-se 29

casos de lesões e dores na coluna dos empregados que exercem as mais

variadas atribuições. Em alguns casos a perícia indica a existência de doença

degenerativa que foi agravada pela atividade, mas não o nexo de causalidade.

As empresas se defendem com relação aos acidentes e doenças do

trabalho alegando o cumprimento integral das normas de saúde e segurança do

trabalho ou a culpabilidade exclusiva da vítima na ocorrência dos acidentes.

Silva (2016, p. 70) sobre a estratégia adotada pelas empresas na

culpabilização do trabalhador nos ensina que:

“É disseminada no campo jurídico a ideia da culpabilização

do trabalhador, seja para não expor a fragilidade da gestão

de segurança da empresa, seja porque, vingada essa tese

em juízo, não caberá indenização alguma ao acidentado ou

aos seus familiares, contribuindo para esterilizar o alcance

das normas de proteção social que atribuem aos

empregadores o dever de zelar pela higidez dos ambientes

laborativos”.

204

A MMª. Juíza do Trabalho, em todos os casos analisados, acatou o

Parecer do Laudo Pericial, julgando as ações trabalhistas procedentes ou não

de acordo com o resultado da perícia.

Autuações, termos de ajustamento de conduta e multas aplicadas pelo

Ministério Público do Trabalho no período de 2014 a 2018

Na esfera administrativa a pesquisa identificou 21 (vinte e um) processos

em desfavor das empresas mineradoras de Corumbá nos últimos 5 (cinco) anos,

dos quais 15 (quinze) se encontram arquivados.

Para efeito da pesquisa, passaremos a identificar o objeto dos 21 (vinte e

um) processos administrativos, mesmo os arquivados, como informação

relevante para a compreensão do meio ambiente do trabalho no setor da

mineração em Corumbá.

Quadro 7. Processos Administrativos MPT de 2014 a 2018

Objeto/motivação Números/situação Ano

Jornada Extraordinária, férias e

irregularidades com

remuneração ou benefícios.

000438.2014.24.xxx/9

000063.2015.24.xxx/2

2014 - Arquivado

2015 - Arquivado

Atraso ou não pagamento de

verbas rescisórias

000011.2015.24.xxx/7

000671.2017.24.xxx/8

2015 - Arquivado

2017 - Arquivado

Extinção do contrato de trabalho,

atraso ou não pagamento das

verbas rescisórias, remuneração

e Benefícios

000521.2015.24.xxx/8 2015 - Ativo

Condições de Trabalho,

Atividades e Operações

perigosas, Meio Ambiente do

Trabalho.

000007.2014.24.xxx/4

000061.2015.24.xxx/8

2014 - Ativo

2015 - Arquivado

Abuso no exercício de

Prerrogativas Sindicais,

Irregularidades em Assembleias

sindicais, Conduta antissindical

000348.2014.24.xxx/8

000074.2015.24.xxx/8

000028.2016.24.xxx/3

000268.2018.24.xxx/5

2014 - Arquivado

2015 - Arquivado

2016 - Ativo

2018 - Ativo

205

Condições Sanitárias e de

conforto nos Locais de Trabalho

000366.2014.24.xxx/0

000023.2016.24.xxx/3

000600.2017.24.xxx/0

2014 - Arquivado

2016 - Ativo

2017 - Ativo

Acidente de trabalho típico ou por

equiparação

000028.2015.24.xxx/6

001161.2017.24.xxx/9

001172.2017.24.xxx/0

2015 - Arquivado

2017 - Ativo

2017 - Arquivado

Assédio Moral 000957.2017.24.xxx/6 2017 - Ativo

Alimentação do trabalhador,

atraso no pagamento, décimo

terceiro e vale-transporte

000088.2015.24.xxx/5

000003.2016.24.xxx/6

2015 - Arquivado

2016 - Ativo

Greve 000161.2018.24.xxx/02 2018 - Arquivado

Fonte. Adaptado de MPT-MS (2018).

A desativação da Procuradoria do Trabalho no Município de Corumbá

(PTM- MPT) em 2016 dificulta a fiscalização e autuações. Entretanto, embora a

distância da capital seja um entrave físico, sua atuação se mostra mais efetiva

do que a verificada pelo Sindicato da categoria na busca da melhoria das

condições de trabalho dos empregados da mineração.

Conclusão

O acidente e a doença do trabalho repercutem além do ambiente do

trabalho, impactando a vítima, os seus familiares, o orçamento financeiro da

família, a Previdência Social e a sociedade em geral. As situações de acidentes

e adoecimentos em decorrência do exercício da atividade profissional nas

mineradoras de Corumbá é ignorada, vez que somente chegam ao

conhecimento os dados oficiais relativos as CAT´s formalizadas e estas não

refletem a realidade do ambiente laboral de Corumbá.

O Anuário Estatístico da Previdência Social juntamente com o Anuário

Estatístico de Acidentes de Trabalho, demonstram oficialmente a quantidade de

acidentes e doenças ocupacionais que não foram comunicadas, mas que

necessitaram de amparo de benefícios previdenciários, traçando um panorama

com relação as subnotificações ocorridas na região. Os empregados sofrem

acidentes e desenvolvem doenças ocupacionais e a CAT não é emitida, quer por

206

ignorância do trabalhador, quer para não perder a participação nos lucros das

empresas ou até mesmo com receio de não conseguir se inserir no restrito

mercado de trabalho de Corumbá. A pouca rotatividade de empregos

relacionada ao baixo dinamismo da economia corumbaense é um agravante nas

denúncias de acidente e doenças do trabalho.

Os trabalhadores deixam para buscar seus direitos trabalhistas e

previdenciários após as demissões, quando percebem os impactos negativos

que a atividade na mineração causou para a sua saúde e as dificuldades em se

inserir em novo emprego diante da redução de sua capacidade laboral. O volume

de ações ajuizadas pelos empregados perante a Justiça do Trabalho não reflete

a realidade dos problemas vivenciados no meio ambiente laboral se comparados

aos índices oficiais dos Anuários Estatísticos, mas servem de parâmetro para

identificar quais as principais causas de acidentes e adoecimentos.

Por meio da análise dos processos judiciais e administrativos a pesquisa

diagnosticou que os acidentes de trabalho e doenças ocupacionais atingem

trabalhadores jovens, com pouca qualificação e que recebem menores

remunerações, criando na região, uma “legião de aleijados”, que a sociedade

local terá que assimilar. As causas dos acidentes e adoecimentos se resumem

em jornada excessiva de trabalho, falta de treinamento adequado, falhas na

estrutura do ambiente de trabalho (iluminação, barreiras de contenção, entre

outras) e falta ou insuficiência de EPI´S. Entretanto, mais da metade das perícias

médicas realizadas nos processos judiciais não reconheceram o nexo de

causalidade entre as doenças e a atividade profissional, dificultando acesso dos

trabalhadores aos benefícios previdenciários e estabilidade acidentária.

O Sindicato da categoria não apresente postura combativa em prol dos

direitos e segurança da categoria e o MPT não possui escritório na região,

dificultando denúncias e autuações.

A análise dos processos judiciais e administrativos demonstram que os

problemas são recorrentes e pontuais, de fácil identificação. A atuação mais

efetiva do Poder Público na fiscalização e autuação das empresas por violação

as normas de segurança e saúde do trabalhador obrigaria a adoção de posturas

mais cuidadosas em relação ao meio ambiente do trabalho e ao trabalhador,

diminuindo a ocorrência de acidentes e adoecimentos laborais.

207

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215

Artigo IV

Mineração no Pantanal Sul-Mato-Grossense: conformidade legal garante a

sustentabilidade ambiental?

Tchoya Gardenal Fina do Nascimento

Resumo

O presente artigo tem o propósito avaliar e discutir alguns parâmetros de

sustentabilidade ambiental das empresas mineradoras no pantanal sul-mato-

grossense, propondo uma reflexão de que nem sempre ser legalmente

sustentável é também ser ambientalmente sustentável. Para tanto, o presente

trabalho abordará a mineração desenvolvida no Pantanal Sul-Mato-Grossense e

suas peculiaridades em desencontro a sustentabilidade ambiental. O bioma

pantaneiro foi considerado patrimônio nacional pela Constituição Brasileira de

1988 e também tem reconhecimentos internacionais como Reserva da Biosfera

pela UNESCO e pela Convenção sobre Áreas Úmidas (Decreto 1905/96). A

atividade minerária é de grande importância econômica para o município de

Corumbá e região, mas causadora de grandes impactos ao meio ambiente e o

desenvolvimento sustentável pressupõe a utilização dos recursos minerais para

atender as necessidades do homem moderno sem que isso comprometa o

ambiente para as futuras gerações. A atividade mineradora é causadora de

impactos ambientais irreversíveis e, embora cumpridos os requisitos legais, não

pode ser considerada sustentável.

Palavras-Chave: Mineração; Pantanal Sul-Mato-Grossense; insustentabilidade

ambiental.

Abstract

Mining in Pantanal sul-mato-grossense: legal compliance guarantees

environmental sustainability? This article objective to avaliate and to

discussion some environmental sustainability parameters of miner´s companies

on Pantanal Sul-Mato-Grossense, proposing the reflection that what is legally

sustainable not always is also environmentally sustainable. So, this research will

address the mining developed in the Pantanal Sul-Mato-Grossense and its

peculiarities in disagreement with environmental sustainability. The pantanal

biome was considered national patrimony by the Brazilian Constitution of 1988

216

and also has international recognition as Biosphere Reserve by UNESCO and by

the Convention on Wetlands (Decree 1905/96). The mining is the most important

economic activity for municipality of Corumba and this region but causing great

impacts to the environment and sustainable development presupposes the use

of mineral resources to attend the needs of atualhuman without this compromise

the environmental for future generations. The mining activity causes irreversible

impacts in environment and althrought legal requirements are met, could not be

considered sustainable.

Keywords: Mining; Pantanal Sul-Mato-Grossense; environmental

unsustainability.

Introdução

O município de Corumbá está situado na região do Pantanal do Estado

de Mato Grosso do Sul, localizada a 426 km da capital possuindo em seu

território a maior reserva de manganês e a terceira maior reserva de minério de

ferro do Brasil. O minério é considerado de alta pureza, com teor comparado ao

de Carajás, no Estado do Pará.

O pantanal é um bem comum a todos os habitantes do País e refúgio de

muitas espécies de animais, plantas e aves migratórias transfronteiriças. Por sua

vez, a atividade mineradora é um tipo de empreendimento que gera grandes

impactos ambientais uma vez que muda por completo a paisagem local ao retirar

matéria prima não renovável e traz como consequência o esgotamento do

recurso mineral em curto prazo, caso não siga as observações exigidas.

Entretanto é considerada pela Constituição como atividade de interesse

nacional que gera desenvolvimento para o País e nesse sentido impera o conflito

de interesses, mormente quando a atividade minerária ocorre em área de

preservação, como é o caso das mineradoras no pantanal.

A suposta busca pelo equilíbrio, onde um interesse não deve prevalecer

diante de outro, na prática não acontece. O crescimento econômico

proporcionado pela atividade mineradora na região, com a geração de

empregos, renda e arrecadação para o município de Corumbá e Ladário faz com

que a questão ambiental não alcance a importância esperada, colocando em

risco a sustentabilidade ambiental da região. Geralmente, quando há confronto

entre desenvolvimento e preservação do meio ambiente, opta-se pela

217

degradação do meio em favor do desenvolvimento. O cumprimento da legislação

é somente um dos aspectos relevantes para se garantir da sustentabilidade do

empreendimento devendo ser assimilada juntamente com a adoção de

processos de produção organizados de maneira sustentável tais como gestão

energética, controle na emissão de gases, destino dos resíduos sólidos,

diminuição de acidentes e doenças do trabalho, entre outros.

Assim, o presente artigo tem o propósito avaliar e discutir alguns

parâmetros de sustentabilidade ambiental das empresas mineradoras no

pantanal sul-mato-grossense, propondo uma reflexão de que nem sempre ser

legalmente sustentável é também ser ambientalmente sustentável.

Material e Métodos

O município de Corumbá localiza-se em Mato Grosso do Sul, na fronteira

com a Bolívia, distante 426 quilômetros de Campo Grande - MS. Em Corumbá

está localizada a maior reserva de manganês e a terceira maior reserva de

minério de ferro do Brasil. Com isso, buscou-se através da utilização de método

qualitativo, de natureza documental, em fontes secundárias (livros, artigos,

imprensa escrita) questionar a concepção de desenvolvimento sustentável

atrelado aos critérios de sustentabilidade estabelecidos pelas Leis.

Resultados e Discussão

Pantanal Sul-Mato-Grossense

O Estado de Mato Grosso do Sul localiza-se no sul da Região centro-

oeste e limita-se com cinco estados brasileiros: Mato Grosso (norte), Goiás e

Minas Gerais (nordeste), São Paulo (leste) e Paraná (sudeste); e dois países sul-

americanos: Paraguai (sul e sudoeste) e Bolívia (oeste). A área objeto do

presente trabalho corresponde à Planície Pantaneira, que está inteiramente

contida na Bacia do Alto Paraguai (BAP), na região do maciço do Urucum.

A planície pantaneira, imensa área periodicamente alagada pela

inundação do rio Paraguai, é a maior área úmida tropical do planeta, reconhecida

nacional e internacionalmente pela exuberância de sua biodiversidade como

uma das áreas úmidas de maior importância do globo (ALHO et al., 2005). O

Pantanal foi declarado Patrimônio Nacional pela Constituição de 1988 (BRASIL,

2016a) sítio designado pela Convenção de Áreas Úmidas RAMSAR, em 1993 e

218

Reserva da Biosfera pela UNESCO, em 2000 (ANA, 2004). O bioma é

reconhecido por ser portador de extraordinária biodiversidade e rico criadouro de

espécies que dependem do regime natural dos pulsos de inundação do rio.

(MOTA, 2009).

O Pantanal é a maior planície inundável continental do mundo, com cerca

de 175.000 km2. Aproximadamente 10 milhões de pessoas dependem dos

serviços ecossistêmicos do Bioma. Na região do Pantanal, existem hoje 10 sítios

Ramsar (áreas úmidas de importância internacional) reconhecidos pela

Convenção. Três deles estão no Brasil: Parque Nacional do Pantanal Mato-

grossense; RPPN Sesc Pantanal e RPPN Fazenda do Rio Negro. O Pantanal

abriga rica biodiversidade: mais de 4 mil espécies de animais e plantas já foram

registradas. Assim como a fauna e flora da região são admiráveis, há de se

destacar a rica presença das comunidades tradicionais como as indígenas,

quilombolas, os coletores de iscas ao longo do Rio Paraguai, comunidade

Amolar e Paraguai Mirim, dentre outras. No decorrer dos anos essas

comunidades influenciaram diretamente na formação cultural da população

pantaneira.

A bacia do rio Paraguai abrange uma área de 1.095.000 Km2 estando 34%

no Brasil e o restante no Paraguai, Bolívia e Argentina. O rio percorre 2.550 km

desde a nascente, no Brasil, no Estado de Mato Grosso, até a foz, na Argentina.

Já a área de drenagem referida como bacia do Alto Paraguai – BAP corresponde

à região hidrográfica da montante do rio Paraguai, que vai desde sua nascente,

até a foz do rio Apa, na fronteira entre Brasil e Paraguai, até aonde o rio percorre

uma extensão de 1.683 km. A partir da confluência com o rio Apa, o rio Paraguai

atravessa a fronteira, desenvolve-se no Paraguai e chega à Argentina, onde

deságua no rio da Prata. A BAP drena uma área de 496.000 km2 compartilhada

por Brasil, Paraguai e Bolívia. Em território brasileiro, a área é de 363.442 km2

(73,27%), alcançando os Estados de MT (48,2%) e MS (51,8%), onde 215.813

km² em área de planalto e 147.629 km² na planície, ou Pantanal, propriamente

dito. Aproximadamente 70% da planície pantaneira, em terras brasileiras, está

no MS e o restante em MT. Os limites da BAP, as áreas de planalto (cerrado) e

planície (o Pantanal) e os demais biomas contidos na região estão demonstrados

na Figura 1 (MOTA, 2009).

219

Figura 1. Planície Pantaneira e Bacia do Alto Paraguai. Fonte: WWF-BRASIL

(2008).

O município de Corumbá está completamente inserido no ecossistema

pantaneiro, na fronteira do Brasil com a Bolívia e o Paraguai. Seu território

corresponde a 18% da área do Estado, com cerca de 65.000 km². Por outro lado,

Ladário, município de apenas 342 km², está totalmente inserido nos limites

corumbaenses e as sedes de ambos constituem uma conurbação. Em meio à

planície pantaneira, próximo às áreas urbanas de Corumbá e Ladário, destaca-

se a formação montanhosa, não inundável, denominada Borda Oeste do

Pantanal, correspondente ao Maciço do Urucum e áreas de morro adjacentes,

que abrigam os depósitos minerais de ferro e manganês.

O Maciço do Urucum agrupa um conjunto de morrarias, dentre as quais

se destacam a do Rabichão, Tromba dos Macacos, Santa Cruz e Jacadigo,

assim como a do Urucum, que, elevando-se a uma altitude de 1.050 m, constitui

o ponto mais alto da área. Com superfície de 131.105,5 ha, o Maciço do Urucum

é delimitado ao norte pelo Rio Paraguai e pela Lagoa Negra e do Arroz, a oeste

pela fronteira com a Bolívia e ao sul e a leste pelas áreas de inundação do

Pantanal, lagoa do Jacadigo, rio Verde, baía de Albuquerque e morraria do

Rabichão (LIMA, 2008). Essa sequência de formações minerais estende-se em

220

território boliviano, no Morro do Mutum. Devido às formações cársticas do Grupo

Corumbá, destaca-se, também, as reservas de calcário na região (LIMA, 2008).

Apesar de sua beleza natural exuberante o bioma vem sendo muito

impactado pela ação humana não sustentável. Apenas 4,6% do Pantanal

encontram-se protegidos por unidades de conservação, dos quais 2,9%

correspondem a UC’s de proteção integral e 1,7% a UC’s de uso sustentável

(WWF-BRASIL, 2018).

A Lei Federal nº 9.985/00 (BRASIL, 2000) regulamentada pelo Decreto nº

4.340/02 (BRASIL, 2002), institui o Sistema Nacional de Unidades de

Conservação da Natureza – SNUC e estabelece critérios e normas para a

criação, implantação e gestão das unidades de conservação. Há que

acrescentar as portarias do IPHAN, nº 7 (IPHAN, 1988) e 230 (IPHAN, 2002)

reservadas à proteção arqueológica.

No cenário da borda oeste do Pantanal a grande demanda do mercado

internacional por produtos derivados de minérios, principalmente o aço, cuja

principal matéria-prima é o ferro, trouxe recentemente preocupações com a

conservação do Pantanal. Nos últimos anos, foram pedidos mais de cinco mil

requerimentos para pesquisa de minério de ferro, 600 para manganês e 600 para

calcário na região, representando uma extensa área para lavra. Nesse cenário,

as reservas localizadas no Morro do Urucum têm uma posição de destaque.

(ZERLOTTI, 2010).

Licenciamento Ambiental Federal, Estadual e Municipal de Corumbá, MS

O licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto

ambiental tem como um dos requisitos a ser atendido pelo empreendedor o apoio

à implantação e manutenção de Unidades de Conservação do grupo de Proteção

Integral (BRASIL, 2000, art. 36).

O licenciamento ambiental foi instituído pela Lei nº 6.938/81 (BRASIL,

1981) como um dos instrumentos necessários à proteção e melhoria do meio

ambiente estabelecendo medidas necessárias para prevenção, reparação e

mitigação de impactos ambientais. A Resolução CONAMA Nº 237/97 (MMA,

1997) define licenciamento ambiental como procedimento administrativo pelo

qual o órgão ambiental competente licencia a localização, instalação, ampliação

221

e a operação de empreendimentos e atividades utilizadoras de recursos

ambientais.

De acordo com a Portaria Interministerial nº 419/11 (BRASIL, 2011), cabe

à Fundação Nacional do Índio - FUNAI, à Fundação Cultural Palmares - FCP, ao

Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN e ao Ministério da

Saúde, a elaboração de parecer e manifestação conclusiva sobre o Estudo de

Impacto Ambiental – EIA e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental - RIMA

em processos de licenciamento ambiental de competência federal.

Em termos estaduais, a Lei nº 3.709/09 (MATO GROSSO DO SUL, 2009)

fixa a obrigatoriedade de compensação ambiental para empreendimentos e

atividades geradoras de impacto ambiental negativo não mitigável, e dá outras

providências. Já a Lei nº 2.257/01 (MATO GROSSO DO SUL, 2001), dispõe

sobre as diretrizes do licenciamento ambiental estadual, estabelece os prazos

para a emissão de licenças e autorizações ambientais, e dá outras providências.

Por sua vez, o Decreto nº 12.528/08 (MATO GROSSO DO SUL, 2008) institui o

Sistema de Reserva Legal (SISREL) no Estado do Mato Grosso do Sul, e dá

outras providências.

A Resolução SEMA-MS Nº 004/89 (MATO GROSSO DO SUL, 1989),

disciplina a realização de Audiências Públicas no processo de Licenciamento de

Atividades Poluidoras e a Resolução Conjunta SEMA/IMAP Nº 004/04 (MATO

GROSSO DO SUL, 2004) dispõe sobre o Manual dos Procedimentos de

Licenciamento Ambiental no âmbito do Instituto de Meio Ambiente Pantanal.

Em julho de 2001, foi aprovada a Lei Municipal nº 1.665/01 (CORUMBÁ,

2001a) que instituiu o Sistema Municipal de Licenciamento e Controle

Ambiental/SILAM, contendo a relação das atividades passíveis de licenciamento

municipal. Posteriormente, foi publicado o Decreto Municipal nº 150/01

(CORUMBÁ, 2001b) que regulamentou os dispositivos da Lei SILAM.

Em fevereiro de 2008, foi aprovada a Lei Municipal nº 2.028/08

(CORUMBÁ, 2008) que institui o procedimento administrativo de fiscalização

ambiental e de aplicação das penalidades às condutas e atividades lesivas ao

meio ambiente no município de Corumbá, e dá outras providências.

Atualmente, a Secretaria Executiva de Meio Ambiente – SEMAC, que

substituiu a SEMATUR, é a responsável pela coordenação e aplicação das

normas do SILAM, que emite quatro modalidades de licenças: Licença Prévia/LP

222

(fase preliminar, aprovando o local da atividade); Licença de Instalação/LI (fase

de aprovação do Plano de Controle Ambiental - PCA); Licença de Operação/LO

(fase de autorização do funcionamento da atividade) e Licença Ambiental

Simplificada (LAS) (para atividades dispensadas do PCA). Cabe salientar que,

outro fator norteador das atividades realizadas no município de Corumbá é o

Plano Diretor (IBAMA, 2016).

Atividade das Empresas Mineradoras em Corumbá, MS

Atualmente, encontram-se operando na região de Corumbá as seguintes

empresas do setor de mineração:

1) Companhia Vale do Rio Doce (VALE) - com controle da Urucum

Mineração (UMSA), produziu nos primeiros nove meses de 2017 um total

de 1.77 milhão t ano-1 de minério de ferro, com licença para até 2.350.000

t ano-1 (LO), resultado 13,9% maior que o mesmo período de 2016, além

da produção de minério de manganês que chegou a 495 mil t ano-1,

podendo atingir 750.000 t ano-1 (LO);

2) Mineração Corumbaense Reunida (MCR/VALE S. A.) - empresa da

multinacional Rio Tinto do Brasil (RTB), subsidiária integral da Vale do Rio

Doce, com produção de 3 milhões de t ano-1, mas com anuência do

IBAMA para explorar até 6 milhões t ano-1. Sua produção é, atualmente,

destinada exclusivamente para o mercado externo. Prevê-se um aumento

da extração desse minério para 22,4 milhões de t ano-1 (EIA) e a produção

de 4,0 MM t ano-1 de laminados (ZERLOTTI, 2010);

Figura 2. Mina de Urucum- Corumbá. Fonte: Vale (2009) apud Brito (2011).

223

3) Corumbá Mineração Ltda. (COMIN) - empresa de mineração de ferro gusa

ligada ao Grupo Siderúrgico Vetorial, com a produção de 670.000 t ano-1,

posicionando a empresa entre as três maiores do Brasil. A unidade de

Ribas do Rio Pardo possui dois altos fornos com capacidade total de

produção de 300 mil toneladas por ano. Em Corumbá, a unidade possui

capacidade de produção de 370 mil toneladas de ferro gusa por ano e

também possui unidade termoelétrica (VETORIAL, 2018);

4) Mineração Pirâmide Participações Ltda. (MPP) - lavra experimental, de

produção anunciada de 180.000 t ano-1, podendo chegar a 1.440.000 t

ano-1. É fornecedora da SIDERUNA, em Campo Grande, empresa do

Grupo Vetorial (LINS, 2015). A produção destinada à siderúrgica é

transferida da mina para o pátio da estação Maria Coelho, de onde é

carregado em vagões. O percurso entre a mina e o pátio é de 21 km

(VETORIAL, 2018);

5) Granhas Liga Ltda: Reativada em Corumbá em 2016 é a terceira maior

produtora de ferroliga do Brasil, situada em Minas Gerais e Mato Grosso

do Sul, possuindo suas unidades em Conselheiro Lafaiete, São João Del

Rei e Corumbá. Seus principais produtos são o Ferro Sílico Manganês

(FeSiMn 12/16%Si) e Ferro Manganês Alto Carbono (FeMnAC), sendo

fabricados a partir de minérios de manganês, fundentes e redutores. Os

minérios são quase que em sua totalidade de minas pertencentes ao

grupo, localizadas em Minas Gerais e na Bahia (GRANHA LIGAS, 2018).

A quase totalidade da produção de Fe é comercializada com a Argentina

e China. Quanto aos minérios de Mn, a maior parte é exportada para os países

supracitados, como também para a Europa. O restante é consumido no país, nas

regiões Sudeste e Sul.

A lavra do minério de Fe em toda região mineira de Corumbá é feita a céu

aberto e a lavra de Mn é subterrânea, através de galerias escavadas, segundo

o método de salões e pilares. As mineradoras possuem instalações eficientes

para o beneficiamento primário do Fe e do Mn, compreendendo lavagem,

britagem e estocagem para posterior transporte por caminhões aos pontos de

embarque, nas estações de estrada de ferro (Urucum e Maria Coelho), ou nos

224

portos de Corumbá e Esperança (privativo da Mineração Corumbaense S/A.)

(ZANINI et al., 2002).

Minas e Barragens em Corumbá, MS - Categoria de Risco e Dano Potencial

Associado

Apesar da mineração ser uma ocupação superficial temporária na área,

ela causa impacto ambiental importante associado à movimentação do solo

superficial, estradas de acesso, superfícies sem vegetação, rejeitos e pilhas de

estocagem (CURI, 2001). O Autor nos ensina que:

“A qualidade e a quantidade de água tanto superficial quanto

subterrânea é afetada se medidas mitigadoras não forem

praticadas. Os cursos de água podem ser afetados e a

vazão dos mesmos alterada. A erosão pode ser excessiva e

a água superficial e subterrânea pode atingir níveis de

mineralização indesejáveis. A topografia, drenagem,

vegetação e paisagem do local minerado podem ser

seriamente impactados. A inclinação das pilhas de

estocagem do material estéril pode tornar a topografia

inadequada para uma utilização futura do local (WILLIAMS,

et al., 1997). Os impactos da mineração incluem também a

degradação da paisagem, destruição de terras

agriculturáveis e de floresta e degradação de terrenos

utilizáveis para recreação. Provavelmente, os impactos mais

graves e mais duradouros originados pela mineração sejam:

(a) destruição do habitat natural das espécies em função da

implantação de toda a infraestrutura da mina (escritórios,

oficinas, barramentos de rejeito, estradas, etc.); (b) os

efeitos da drenagem ácida de mina na qualidade da água e

na vida silvestre, incluindo os peixes; (c) os grandes

acidentes como o rompimento de barramentos de rejeitos ou

pilhas de estéril que podem acontecer, inclusive, após o

abandono do empreendimento” (CURI, 2002, p. 51).

225

A produção mineral brasileira exige licença prévia mineral do DNPM e, por

ser de grande impacto, licença ambiental do Ministério do Meio Ambiente (MMA).

Em 2010 foram identificadas 3.354 minas (metálicas e não metálicas) das quais

apenas 5% do total (159 minas) são de grande porte, com mais de 1 milhão de t

ano-1 de Run of Mine-ROM (produção bruta de minério); 24% (837 minas) são

de médio porte, na escala entre 1 milhão de tano-1 e 100.000 t ano-1 ROM, e a

grande maioria (2.358 minas correspondente a 71% do total), é de pequeno porte

com teor menor de 100.000 t ano-1 ROM (PINHEIRO, 2011)40 (Figura 3).

Figura 3. Número de minas por porte e classe do mineral no Brasil (metálicas e

não metálicas). Fonte: AMB (2010) apud Pinheiro (2011).

Especificamente com relação a substâncias metálicas, o Brasil possui 189

lavras em atividade, sendo 66 de minério de ferro e somente 8 de manganês. O

porte e modalidade de lavras das minas de ferro e manganês estão

representadas na tabela 1:

Tabela 1. Porte e modalidade de lavra das minas no Brasil- 201541

Substância Grande Médio Pequeno Total BR

Ferro 41 15 10 66

Manganês 1 2 5 8

Fonte: Adaptado de Brasil (2016).

40 João César de Freitas Pinheiro, diretor da DIPLAM-DNPM – Departamento Nacional de Produção Mineral. 41 NOTA: Grande: produção bruta (ROM) anual maior que 1.000.000 t; Média: maior que 100.000 t até 1.000.000 t; Pequena: maior que 10.000 t até 100.000 t.

226

No tocante as barragens destinadas à disposição de rejeitos resultantes

da atividade, a Lei Nº 12.334, de 20 de setembro de 2010 (BRASIL, 2010),

estabeleceu a Política Nacional de Segurança de Barragens (PNSB) e criou o

Sistema Nacional de Informações sobre Segurança de Barragens - SNISB,

estabelecendo um Plano de Segurança da Barragem (PSB) a ser implementado

nas barragens que apresentem uma das seguintes características:

V. Altura do maciço, contada do ponto mais baixo da fundação à crista, maior

ou igual a 15m (quinze metros);

VI. Capacidade total do reservatório maior ou igual a 3.000.000m³ (três

milhões de metros cúbicos);

VII. Reservatório que contenha resíduos perigosos conforme normas técnicas

aplicáveis (MME, 2017, p. 3);

VIII. Categoria de dano potencial associado, médio ou alto, conforme definido

no inciso XIV do artigo 2º e no Anexo V.

Cabe ao DNPM classificar as barragens de mineração quanto a Categoria

de Risco e ao Dano Potencial Associado, em consonância com o art. 7º da Lei

Nº 12.334/10 (BRASIL, 2010) e em acatamento a Portaria n. 70.389/17 (MME,

2017), com o objetivo de diferenciar o universo das barragens, quanto à

abrangência e frequência das ações de segurança a ANA elaborou uma Matriz

de Risco e Dano Potencial Associado (DPA) de maneira que as barragens sejam

agrupadas em cinco classes (A, B, C, D e E). Dessa forma, as que apresentam

uma classe maior, na escala de categoria de risco e dano potencial associado,

devem elaborar um Plano mais abrangente, bem como realizar a Revisão

Periódica de Segurança de Barragem com maior frequência (Figura 4).

Figura 4. Classificação de Categoria de Risco e Dano Potencial Associado.

Fonte: MME (2017).

227

Segundo a ANA (2018), a Categoria de Risco de uma barragem diz respeito

aos aspectos da própria barragem que possam influenciar na probabilidade de um

acidente: aspectos de projeto, integridade da estrutura, estado de conservação,

operação e manutenção, atendimento ao Plano de Segurança, entre outros

aspectos.

Já o Dano Potencial Associado é o dano que pode ocorrer devido a

rompimento, vazamento, infiltração no solo ou mau funcionamento de uma

barragem, independentemente da sua probabilidade de ocorrência, podendo ser

graduado de acordo com as perdas de vidas humanas e impactos sociais,

econômicos e ambientais.

Em Corumbá existem atualmente 20 barragens de Mineração (19 em

atividade e uma não operando), sendo a barragem do Gregório a maior do Estado,

utilizada para armazenar os rejeitos da extração de ferro da mina de Santa Cruz,

operada pela Vale. Pertence a empresa Urucum Mineração S/A. 14 dessas

barragens (MME, 2017).

Das 20 barragens, 17 são consideradas de pequeno porte e apenas três de

médio porte, entre elas a do Gregório (Figura 5). Em razão de estarem localizadas

no Pantanal, as barragens do Estado receberam a classificação de Dano Potencial

Associado (DPA), que indica impactos sociais, ambientais e econômicos que um

eventual vazamento ou rompimento poderiam provocar, entre médio e alto.

Com relação a Categoria de Risco, indicador utilizado para avaliar a

segurança das estruturas que aponta o risco de um vazamento, rompimento ou outra

situação deste tipo ocorrer e que leva em conta características técnicas, como altura

da barragem, comprimento, tipo de estrutura, tipo de fundação e idade da barragem,

entre outras, além de estado de conservação e a existência de plano de segurança,

para a maior parte das barragens foi considerado baixo.

As exceções são duas barragens da empresa Urucum Mineração S/A.,

companhia controlada pela Vale, chamadas de Bacia Pé da Serra 2 e Bacia Pé da

Serra 3-4, que foram enquadradas no Cadastro Nacional de Barragens, no patamar

máximo, alto, de Categoria de Risco e de Dano Potencial Associado.

Esse tipo de CRI (Categoria de Risco), de alto risco e alto potencial

danoso, só é verificado em quatro cidades do país: Ipixuna do Pará e Barcarena,

no Pará, Presidente Figueiredo, no Amazonas, e Corumbá em Mato Grosso do

Sul. Ou seja, se as barragens se romperam poderão causar sérios danos ao

228

Pantanal sul-mato-grossense, assim, como ocorreu em Minas Gerais e no

Espírito Santo. De acordo com o CETEM (Centro de Tecnologia Mineral), do

Ministério da Tecnologia, a mineração, principalmente, de manganês, costuma

produzir como rejeito o arsênio, substância altamente tóxica.

Figura 5. Barragem do Gregório42, maior barragem de mineração de Mato

Grosso do Sul. Fonte: DNPM (2015) apud Viegas (2015).

Entretanto, a principal mineradora da região – Vale apresenta em sua defesa

que o reaproveitamento de água chega a 72% o que reduz o deslocamento de

resíduos em caso de um eventual vazamento ou rompimento, já que existe menor

quantidade de líquido. Com relação barragem Gregório, a Vale informou para a

Prefeitura de Corumbá que se ocorresse um incidente o material, por conta de suas

características e pela geografia do local, atingiria no máximo 1,8 quilômetros de

extensão, enquanto que o curso de água mais próximo, o córrego Piraputangas, teria

nascentes localizadas a quase quatro quilômetros de distância da barragem.

(VIEGAS, 2015).

42 Foto: Clóvis Neto/Prefeitura de Corumbá

229

Desenvolvimento Sustentável e Índices de sustentabilidade

O desenvolvimento sustentável sob a tutela da Organização das Nações

Unidas (ONU) tornou-se o tema principal dos novos discursos da intelectualidade

global, incluindo a Amazônia, apresentando-se como alternativa ao modelo de

crescimento baseado na exploração ilimitada de recursos naturais sem,

entretanto, deixar de ser uma incógnita pela incapacidade de superar a lógica

capitalista e suas injustiças, expondo-se dessa forma a fortes ataques no plano

teórico (CASTRO, 2010).

Nos últimos anos, com os desdobramentos das conferências sobre o meio

ambiente e desenvolvimento sustentável promovido pela ONU (Estocolmo 1972,

Rio 1992 e Johanesburgo 2002), o setor mineral privado insurgiu-se contra um

campo da ciência que lhe atribuiu condição de insustentável e passou a

intensificar ações regulatórias de conduta ambiental e de responsabilidade

social, argumentando ter o setor capacidade de contribuir positivamente com os

governos e comunidades das regiões mineiras onde opera.

A Conferência Internacional da Organização das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento, realizada no Rio de Janeiro, adotou a

Agenda 21 para transformar o desenvolvimento sustentável em uma meta global

aceitável e criou a Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CSD – Comission

on Sustainable Development), cuja principal responsabilidade é a de monitorar

os progressos que foram feitos no caminho de um futuro sustentável. As

necessidades de desenvolver indicadores de desenvolvimento sustentável estão

expressas na própria Agenda 21 em seus capítulos 8 e 40. A CSD, a partir da

Conferência no Rio de Janeiro, adotou um programa de cinco anos para

desenvolvimento de instrumentos apropriados para os tomadores de decisão no

nível nacional no que se refere ao desenvolvimento sustentável (VAN BELLEN,

2002).

Os estudiosos e cientistas têm se aventurado a investigar a vinculação de

temas relacionados ao crescimento econômico com o meio ambiente na busca

de métodos capazes de qualificar e/ou quantificar o desenvolvimento

sustentável.

Os indicadores que tem sido usado para mensurar o desenvolvimento são

o Produto Interno Bruto (PIB), o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), do

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), considerado

230

duvidoso enquanto média aritmética de apenas três índices (renda, escolaridade

e longevidade), o IDH Municipal e ainda outros indicadores como o DNA – Brasil,

o índice de Desenvolvimento Social (IDS), entre outros (VEIGA, 2005).

Para Veiga (2010, p. 46-47), “... uma coisa é medir desempenho

econômico, outra é medir qualidade de vida (ou bem-estar), e uma terceira é

medir a sustentabilidade do desenvolvimento ...”.

Segundo o autor, não é mais possível falar a sério de indicadores de

sustentabilidade sem ter como ponto de partida as mensagens e recomendações

que estão no Report by the Commission on the Measurement of Economic

Performance and Social Progress (STIGLITZ et al., 2009), nos seguintes termos:

1) O PIB (ou PNB) deve ser inteiramente substituído por uma medida bem

precisa de renda domiciliar disponível, e não de produto;

2) A qualidade de vida só pode ser medida por um índice composto bem

sofisticado, que incorpore até mesmo as recentes descobertas desse

novo ramo que é a economia da felicidade;

3) A sustentabilidade exige um pequeno grupo de indicadores físicos, e não

de malabarismos que artificialmente tentam precificar coisas que não são

mercadorias.

Assim, o Relatório defende que o desempenho econômico e a qualidade

de vida sejam medidos por novos indicadores, que nada têm a ver com os atuais

PIB e IDH. Na lição de Veiga (2010):

“A avaliação, a mensuração e o monitoramento da

sustentabilidade exigirão necessariamente uma trinca de

indicadores, pois é estatisticamente impensável fundir em

um mesmo índice apenas duas de suas três dimensões. A

resiliência dos ecossistemas certamente poderá ser

expressa por indicadores não monetários relativos, por

exemplo, às emissões de carbono, à biodiversidade e à

segurança hídrica. Mas o grau de tal resiliência

ecossistêmica não dirá muito sobre a sustentabilidade se

não puder ser cotejado a dois outros. Primeiro, o

desempenho econômico não poderá continuar a ser

231

avaliado com o velho viés produtivista, e sim por medida da

renda familiar disponível. Segundo, será necessária uma

medida de qualidade de vida (ou bem-estar) que incorpore

as evidências científicas desse novo ramo que é a economia

da felicidade” (VEIGA, 2010, p. 49).

Atualmente existem mais de seis índices que, com diferentes graus e

formas de agregação, buscam fazer uma avaliação sintética da sustentabilidade

(ambiental ou do desenvolvimento).

Na prática, os únicos índices de sustentabilidade que adquiriram grande

visibilidade internacional são os divulgados pelo WWF (World Wide Fund for

Nature, anteriormente World Wildlife Fund), e pelo WEF (World Economic

Forum), estes calculados por duas das mais importantes instituições acadêmicas

da área: o Yale Center for Environmental Law and Policy, e o Center for

International Earth Science Information Network, da Universidade de Columbia

(VEIGA, 2009).

O desenvolvimento sustentável deve ser entendido como

desenvolvimento econômico progressivo e balanceado, aumentando a equidade

social e a sustentabilidade ambiental, e os tomadores de decisão, que atuam nos

diferentes níveis de gestão (local, regional, nacional e internacional), precisam

de informações neste processo (VAN BELLEN, 2002, p. 43).

Para o Autor, os principais obstáculos, segundo a Comissão de

Desenvolvimento Sustentável - CDS, é o de construir um consenso relativo ao

conceito de sustentabilidade para iniciar um projeto de indicadores de nível

nacional. Deve-se promover a comparabilidade, a acessibilidade e a qualidade

dos indicadores. O programa da CDS estabeleceu os elementos principais que

devem ser considerados para o desenvolvimento e a utilização de indicadores

de sustentabilidade no nível nacional. Estes elementos são mostrados no quadro

1, adaptado da CDS.

Embora sirvam de parâmetro para medir sustentabilidade, os indicadores

de sustentabilidade são instrumentos imperfeitos que não podem ser aplicados

universalmente. É impossível mensurar o desenvolvimento sustentável a partir

de indicadores que representem as relações que são estabelecidas entre as

dimensões social, econômica, ambiental e institucional (CHAGAS, 2013).

232

Quadro 1. Elementos do Programa da Comissão de Desenvolvimento

Sustentável para o Desenvolvimento de Indicadores de Sustentabilidade

Melhoria da troca de informações entre os principais atores interessados no

processo;

Desenvolvimento de metodologias para serem avaliadas pelos governos.

Treinamento e capacitação nos níveis regional e nacional;

Monitoramento das experiências em alguns países selecionados;

Avaliação dos indicadores e ajustes quando necessários;

Identificação e avaliação das ligações entre os aspectos econômicos,

sociais, institucionais e ambientais do desenvolvimento sustentável;

Desenvolvimento de indicadores altamente agregados;

Posterior desenvolvimento de um sistema conceitual de indicadores

envolvendo especialistas da área econômica, das ciências sociais, das

ciências físicas e da área política incorporando organizações não

governamentais e outros setores da sociedade civil.

Fonte: Van Bellen (2002), adaptado da CDS.

Entretanto, muito embora imprecisos, expressam um compromisso na

compreensão das relações entre o homem e o meio ambiente dentro do campo

do desenvolvimento.

Em inovadora proposta, Pereira et al. (2016) construíram um Índice de

Sustentabilidade Ambiental para Mato Grosso do Sul, para que se possa medir

em que nível se encontra a sustentabilidade ambiental no Estado da forma como

apresentado a seguir, com as dimensões analíticas e suas respectivas variáveis

e que serão utilizadas no cálculo do Índice de Sustentabilidade Ambiental,

adaptadas a Mato Grosso do Sul (Quadro 2)

233

Quadro 2. Estrutura do Índice de Sustentabilidade Ambiental para MS

Indicador Dimensões analíticas Variáveis Ín

dic

e d

e S

uste

nta

bili

da

de

Am

bie

nta

l

ISA

Acesso à água tratada

Água Acesso à água potável

Índice de Qualidade das Águas

Áreas de proteção ambiental

Biodiversidade Presença de espécies invasoras

Espécies ameaçadas de

extinção Emissão de gases do efeito

estufa Ar Partículas inaláveis

Utilização de veículos

Condição da terra

Solo Fertilizantes

Pesticidas

Subsídios à agricultura

Mudanças climáticas e energia Energia renovável

Áreas desmatadas

Fonte: Adaptado de PEREIRA et al. (2016).

A conformidade legal garante a sustentabilidade ambiental?

Para Bello (1998), o conceito de desenvolvimento sustentável, deve-se

fundamentar em políticas públicas. É necessário que os governos e as empresas

tomem decisões que considerem o equilíbrio nos aspectos de desenvolvimento

e crescimento da economia, atendimento das necessidades humanas e

capacidade de recuperação do ambiente.

Para Chagas, a quebra do paradigma da “maldição dos recursos minerais”

não é tarefa fácil e experiências tem refutado tal possibilidade, sobretudo quando

se avaliam casos de exploração mineral em regiões pobres do planeta, onde os

efeitos desenvolvimentistas não se concretizaram, além de herdar graves

passivos socioambientais (CHAGAS, 2013).

Soma-se ainda o atraso e desinteresse do governo federal pela ciência e

tecnologia que possam fazer frente aos problemas da região, e a consequente

crise do conhecimento, que não tem sido capaz de alavancar e modernizar a

economia em prol do desenvolvimento sustentável.

234

Existem comunidades científicas e segmentos sociais que refutam

qualquer abordagem sobre sustentabilidade na mineração, a considerar que, por

definição, os minérios são recursos não renováveis e, portanto, essa discussão

não faz sentido e que o desenvolvimento sustentável não passa de uma

“propaganda de mercado”.

Ursaia (2013, p. 1) defende que erroneamente, investimentos são

chamados “sustentáveis”, indústrias de papéis recebem prêmios de

sustentabilidade por reciclar águas residuais, entre outras aberrações,

distorcendo o seu real significado.

Segundo o autor, para que se possa falar em sustentabilidade devemos

atender a dois requisitos básicos:

1. O primeiro diz respeito à retirada de energia e materiais da natureza;

2. O segundo diz respeito ao retorno a natureza dos produtos e dos resíduos

resultantes da utilização de energia e materiais.

Apenas para exemplificar, as reservas de carvão, petróleo, gás natural e

urânio são limitadas. Em nossa escala de tempo elas não regeneram, podemos

usá-las somente enquanto duram. Suas emissões de dióxido de carbono e dos

resíduos radioativos não podem ser absorvidas pela natureza, assim, nenhuma

destas fontes de energia pode satisfazer ambos os critérios de sustentabilidade.

Assim, somente processos podem ser organizados de maneira

sustentável, através de iniciativas transversais, como a gestão energética, de

resíduos, hídrica, de emissões de gases de efeito estufa, de stakeholders, de

governança corporativa e de tecnologia da informação verde ou Green IT.

Não há como se considerar a atividade mineradora sustentável, mas é

possível aperfeiçoar o processo de extração do minério, tornando-o menos

impactante ao meio ambiente.

A sustentabilidade é mais que uma condicionante ambiental ou

conformidade legal e sim um plano de ações adequadas que garantam eficiência

e melhoria no processo produtivo. Quando acontece a aproximação da empresa

com os princípios e fundamentos da sustentabilidade, motivado ou não pela

conformidade legal, começa um novo ciclo na organização.

235

A legislação brasileira para questões ambientais é considerada uma das

mais avançadas do mundo estando à frente de muitas nações desenvolvidas,

mas não estamos deixando de ameaçar o meio ambiente e desrespeitar as leis.

O problema, certamente, não é a falta de uma legislação que estabeleça regras

rígidas e penas pesadas para os criminosos ambientais. O grande entrave é a

falta de estrutura para fiscalizar e punir aqueles que não cumprem a lei (CURI,

2002, p. 59).

“Ter uma legislação avançada, no campo civil, administrativo

e penal, não garante o fim da agressão ao meio ambiente.

Entretanto, os mais otimistas veem solução a médio prazo.

Não que se acredite que, repentinamente, o Estado irá

construir uma estrutura de gestão dos seus recursos

naturais condizente com o alto nível de sua legislação

ambiental. Mas há aqueles que apostem em outras forças

capazes de fazer o empresário cumprir integralmente as leis

ambientais do país. Uma delas, vem do próprio mercado”

(CURI, 2002, p. 61).

Torres (2016) demonstra ser indispensável na atividade de mineração, a

adoção, pelas empresas que consomem os recursos minerais, de métodos

sustentáveis para tornar a extração do minério menos agressiva ao meio

ambiente, utilizando-se de todas as tecnologias e estudos disponíveis no

mercado para a minimização e compensação dos impactos gerados somado à

efetiva fiscalização por parte do Poder Público, além do repasse de verbas aos

órgãos responsáveis pela fiscalização da atividade, assim como uma rigorosa

dinâmica destinada à aquisição das licenças ambientais, necessárias para que

um determinado empreendimento possa ser iniciado (TORRES, p. 94)

As iniciativas legais são determinantes para o setor empresarial realizar

investimentos em gestão ambiental, melhorando o processo de produção,

trazendo benefícios sociais, ambientais e econômicos de forma integrada. Assim

sendo, o cumprimento da legislação não garante a sustentabilidade do

empreendimento se isolada de melhorias na qualidade de vida da população.

236

Conclusão

Primordialmente defende-se que a exploração mineral deveria ser

proibida em áreas protegidas como o Pantanal, ecossistema único e altamente

vulnerável a ação antrópica, onde os objetivos de conservação não sejam

compatíveis com a atividade de mineração. Entretanto, diante da realidade

apresentada, em que se encontram operando na cidade de Corumbá 5 (cinco)

empresas mineradoras, não há como defender a exclusão da atividade da

região.

O fato das empresas mineradoras estarem legalmente formalizadas e

cumprirem as exigências das legislações ambientais não transforma a atividade

em sustentável. As reservas minerais são limitadas, não se regeneram e os

resíduos da atividade mineradora não são absorvidos pela natureza.

A atuação mais efetiva do Poder Público para fiscalizar os processos de

produção e punir as empresas que descumprirem as normas e legislações

ambientais traria maior segurança e transparência na divulgação de dados.

Propõe-se reflexão sobre a necessidade da proibição de novas

autorizações para explorações minerais no Pantanal e a limitação das lavras já

existentes, como forma de minimizar os impactos negativos já acarretados.

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238

resíduos industriais, cria o Sistema Nacional de Informações sobre Segurança

de Barragens e altera a redação do art. 35 da Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de

1997, e do art. 4º da Lei nº 9.984, de 17 de julho de 2000. Diário Oficial (da)

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244

7. Conclusão Geral

O aspecto econômico é a dimensão na qual se evidencia o retorno positivo

da atividade mineira sustentado pela arrecadação milionária de CFEM, geração

de empregos e serviços e pelas trocas comerciais locais. A extração mineral em

Corumbá contribui significativamente para o crescimento do PIB do municipal e

também repercute no PIB per capita do município, sempre ascendente na última

década. O PIB de Corumbá cresceu 8,70% no período de aproximadamente 10

anos (2002 a 2011), percentual bem superior ao PIB brasileiro que foi de 3,78%

(IBGE, 2013) e de Mato Grosso do Sul (SEMAD, 2016).

Entretanto, considerando os índices de desenvolvimento humano em

comparação ao aumento do PIB na última década constata-se que, muito

embora a qualidade de vida da população tenha melhorado, a desigualdade na

distribuição de renda continua alta, comprovando a concentração e má

distribuição de renda na região.

As análises dos Índices socioeconômicos IDHM e IFDM demonstram que

os valores milionários de CFEM recebidos pelo município não são revertidos em

desenvolvimento humano. Nos anos em que os repasses financeiros foram

maiores o índice de desemprego aumentou e não houve investimento na saúde

e educação proporcionais ao aumento de arrecadação do município,

demonstrando que a receita advinda da atividade mineradora não é revertida em

benefício da comunidade local. O município recebeu milhões de reais como

compensação ambiental pelos impactos negativos acarretados pela atividade

mineradora, mas esses valores não repercutiram na geração de empregos.

Com relação a geração de emprego, constatou-se que a empregabilidade

no setor mineral é refém do ciclo do mercado de exportação do minério de ferro

e manganês, havendo oscilação da empregabilidade da região. Em 2016 as

indústrias mineradoras empregavam 6,96% do total de trabalhadores formais em

Corumbá (MTE, 2016) enquanto que em 2013 o percentual de empregabilidade

das indústrias mineradoras era de 8,5% do total de trabalhadores (MTE, 2013).

A maioria dos empregados das empresas de mineração é composta por

trabalhadores com baixa qualificação e em momentos de crise econômica as

demissões recaem sobre esses empregados, mais numerosos e com verbas

rescisórias de menor valor. Em contrapartida, quando há recuperação no setor,

245

a recontratação da mão-de-obra é facilitada pela disponibilidade de

trabalhadores reféns do afunilado mercado de trabalho de Corumbá.

E são esses empregados, trabalhadores jovens, com pouca qualificação

e com menores remunerações a maioria das vítimas de acidentes de trabalho e

doenças ocupacionais.

As situações de acidentes e adoecimentos em decorrência do exercício

da atividade profissional nas mineradoras de Corumbá é ignorada, vez que

somente chegam ao conhecimento os dados oficiais relativos às Comunicações

de acidentes de Trabalho - CAT formalizadas e estas não refletem a realidade

do ambiente laboral de Corumbá.

Em Corumbá, em 2015 foram registrados 217 acidentes de trabalho,

sendo que 49 deles não foram devidamente notificados com a emissão de CAT,

além da ocorrência de 1 óbito. Em 2016, o cenário não apresentou melhora,

sendo registrados 223 acidentes de trabalho, dos quais 40 sem a formalização

da CAT e 1 óbito, situações identificadas no último Anuário Estatístico de

Acidentes de Trabalho de 2016, que apresenta as Estatísticas municipais de

acidentes do trabalho.

As subnotificações dos acidentes de trabalho e o reduzido número de

ações judiciais e autuações administrativas (se consideradas as ocorrências de

fato) demonstram o desconhecimento sobre a situação concreta de acidentes e

doenças do trabalho. As demandas judiciais e administrativas são muito

inferiores ao real número de ocorrências de acidentes e doenças ocupacionais.

A pouca rotatividade de empregos relacionada ao baixo dinamismo da economia

corumbaense é um agravante nas denúncias de acidente e doenças do trabalho.

A presente pesquisa diagnosticou o ajuizamento de 278 Reclamações

Trabalhistas em desfavor de três empresas mineradoras de Corumbá, sendo 60

ações referentes a acidentes e doenças ocupacionais entre 2014 a meados de

2018 (3 anos e 6 meses) (TRT, 2016), além de 21 autuações administrativas

(MPT-MS, 2018), o que representa 21% das ações propostas perante a justiça

especializada de Corumbá-MS .

A análise dos 60 processos trabalhistas relativos a acidentes de trabalho

e doenças ocupacionais ocorridos com os trabalhadores das empresas

mineradoras de Corumbá-MS trouxe informações relevantes sobre as causas

dos acidentes e o desencadeamento de doenças ocupacionais, permitindo

246

delinear o impacto negativo que a atividade mineradora acarreta ao meio

ambiente do trabalho, com as seguintes especificidades:

1. Das 278 ações analisadas, 60 se referem a acidentes e doenças do

trabalho (21%), das quais 3 foram ajuizadas pelo Sindicato dos

empregados da Construção Civil (1,4%), além de 4 Ações Civis Públicas

(1,4% das ações propostas) e as 218 restantes tratam de pedido de

condenação das empresas no pagamento de horas-extras, intervalo intra

e intrajornada, feriados trabalhados, DSR em dobro e pedidos de

insalubridade e periculosidade, representando 78% das demandas;

2. A quase totalidade das ações (59 das 60) foi ajuizada por homens e a

única Reclamação Trabalhista ajuizada por mulher foi na condição de

viúva de vítima de acidente de trabalho;

3. Nos 60 processos os empregados exerciam atividade de menor

qualificação e de menores salários (motoristas/operadores de

equipamentos móveis, amostrador, mecânico, preparador de frente de

mina, oficial de manutenção, operador de patrola, entre outras);

4. A idade média dos acidentados e/ou adoecidos é de empregados com até

40 anos e, em sua maioria, foi considerado temporariamente incapacitado

para o exercício de qualquer atividade através de perícia realizada nos

processos;

5. O Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Extrativas de Corumbá, MS,

não ajuizou ações coletivas como substituto processual ou mesmo ações

individuais que buscassem reparar direitos violados pelas empresas

mineradoras. Das 278 ações trabalhistas analisadas, 218 tratavam das

mesmas situações vivenciadas pelos empregados (não pagamento de

horas-extras, intervalo intra e inter-jornada, feriados trabalhados, DSR em

dobro e pedidos de insalubridade e periculosidade) e que poderiam ser

objeto de ação coletiva proposta pela entidade laboral, diminuindo o

volume de ações no Judiciário Trabalhista local. Somente em 2018 consta

distribuição de uma ação trabalhista cujo cadastro por assunto no

Processo Judicial Eletrônico - PJE é de contribuição sindical. Entretanto,

diante da recente distribuição, a pesquisadora não pode confirmar se a

ação busca tão somente o recebimento de contribuições sindicais.

247

As causas dos acidentes e adoecimentos se resumem em jornada

excessiva de trabalho, falta de treinamento adequado, falhas na estrutura do

ambiente de trabalho (iluminação, barreiras de contenção, entre outras) e falta

ou insuficiência de EPI´S. Entretanto, mais da metade das perícias médicas

realizadas nos processos judiciais não reconheceram o nexo de causalidade

entre as doenças e a atividade profissional, dificultando acesso dos

trabalhadores aos benefícios previdenciários e estabilidade acidentária.

Corumbá demanda um modelo de desenvolvimento que não apenas

retome a pujança econômica do município, mas que promova a diversificação da

atividade produtiva e assegure a qualidade de vida de seus moradores, trazendo

benefícios à sociedade, estimulando as vocações regionais e conservando o

meio ambiente e a cultura pantaneira.

O desenvolvimento sustentável deve ser entendido como

desenvolvimento econômico progressivo e balanceado, aumentando a equidade

social e a sustentabilidade ambiental. A atuação mais efetiva do Poder Público

para fiscalizar os processos de produção e punir as empresas que descumprirem

as normas e legislações ambientais obrigaria a adoção de posturas mais

cuidadosas em relação ao meio ambiente.

A exploração mineral deveria ser proibida em áreas protegidas como o

Pantanal, ecossistema único e altamente vulnerável a ação antrópica. As

reservas minerais são limitadas, não se regeneram e os resíduos da atividade

mineradora não são absorvidos pela natureza. Entretanto, diante da realidade

apresentada, em que se encontram operando cinco empresas de mineração no

município de Corumbá, não há como defender a exclusão da atividade da região,

mas é possível cobrar ações no sentido das empresas aperfeiçoarem o processo

de extração do minério, tornando-o menos impactante ao meio ambiente. A

implantação de plano de ações adequadas que garantam eficiência e melhoria

no processo produtivo diminuiria os impactos negativos do empreendimento em

benefício da sustentabilidade ambiental.

Direciona-se subsídios à reflexão sobre a proposição da proibição de

novas autorizações para explorações minerais no Pantanal e a limitação das

lavras já existentes, como forma de minimizar os impactos negativos já

acarretados.

248

A ativação da Procuradoria do Trabalho (desativada desde 2016) com a

designação de um Procurador do Trabalho fixo para atuar no Ministério Público

do Trabalho em Corumbá, bem como a designação de Auditor Fiscal do Trabalho

é medida urgente, considerando as peculiaridades da região, que além dos

impactos da atividade mineradora ainda enfrenta a exploração da mão-de-obra

boliviana, trabalho escravo, tráfico de pessoas e atualmente a imigração de

refugiados, necessitando de atuação e fiscalização pelo Poder Público.