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UNIBAN CONSELHO DA PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI VANDER CHERRI MARCOLINO POLÍTICA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO ABERTO NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG São Paulo Dezembro de 2011 VANDER CHERRI MARCOLINO

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UNIBAN

CONSELHO DA PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A

LEI

VANDER CHERRI MARCOLINO

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO ABERTO

NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG

São Paulo Dezembro de 2011

VANDER CHERRI MARCOLINO

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PROGRAMA MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO ABERTO

NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG

Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial dos requisitos do Curso de Pós-Graduação stricto sensu Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei da Universidade Bandeirante para a obtenção do título de Mestre em Adolescente em Conflito com a Lei sob a orientação da Professora Dra. Irandi Pereira.

São Paulo Dezembro de 2011

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VANDER CHERRI MARCOLINO

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO ABERTO

NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG

BANCA EXAMINADORA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE

Titulares

Profa. Dra. Irandi Pereira (UNIBAN - Presidente e orientadora)

Profa. Dra. Maria Helena Zamora (PUC/RJ)

Profa. Dra. Maria do Rosario Corrêa de Salles Gomes (UNIBAN)

Suplentes

Profa. Dra. Eliana Silvestre (UEM/PR)

Profa. Ms. Adriana Palheta Cardoso (UNIBAN)

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DEDICATÓRIA

A todos os sujeitos que participaram direta e indiretamente da pesquisa.

À minha família.

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AGRADECIMENTOS

Aos professores do Programa Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei da UNIBAN, em especial, a minha orientadora Profa. Dra. Irandi Pereira.

Às professesoras que participaram do processo de qualificação da pesquisa, Profa. Dra. Maria Helena Zamaora e Ms. Adriana Palheta Cardoso.

Aos colegas de mestrado do Programa Adolescente em Conflito coma Lei da UNIBAN.

Às entidades sociais que realizam os programas socioeducativos em Alfenas.

Aos profissionais e gestores do sistema socioeducativo do Estado de Minas Gerais e do município de Alfenas/MG.

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SIGLÁRIO

Ação Social - Secretaria Municipal da Criança e Adolescente, Igualdade Racial e Desenvolvimento Social

CF – CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

ECA - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOELSCENTE

CMDCA – Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

CMDCA/Alfenas - Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Alfenas

CONANDA – CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOELSCENTE

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

CREAS - Centro de Referência da Assistência Social

CT¨- Conselho Tutelar

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística....

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

ILANUD - Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Adolescente

PSC – PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Á COMUNIDADE

LA – LIBERDADE ASSISTIDA

MP – Ministério Público

SINASE – SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO

ONG – Organização Ñão-Governamental

PEA – População Economicamente Ativa

PIA – Plano Individual de Atendimento

SEDS - Secretaria de Estado e Defesa Social de Minas Gerais

SGD – Sistema de Garantia de Direitos

STJ – Supremo Tribunal de Justiça

UNIFAL - Universidade Federal de Alfenas

UNIFENAS - Universidade José do Rosário Vellano

VIJ – Vara da Infância e Juventude

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MARCOLINO, Vander Cherri. Política socioeducativa em meio aberto no município de Alfenas/MG. Dissertação (Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei), UNIBAN, São Paulo, 2011. RESUMO

O projeto de pesquisa tem como objeto tratar da execução da política socioeducativa em meio aberto – prestação de serviços à comunidade e de liberdade assistida - no município de Alfenas, localizado na Região Sul do Estado de Minas Gerais. O objetivo central foi o de conhecer como o sistema municipal de atendimento socioeducativo vem sendo implantado no município tendo em vista o princípio da municipalização e a descentralização político-adminsitrativa da política socioeducativa ao adolescente em conflito coma lei e a consecução da forma democrática e participativa da gestão da política pública. A metodologia adotada para a realização da pesquisa foi a abordagem qualitativa complementada pela análise documental e legislativa sobre o tema da pesquisa. No aprofundamento da gestão pública da política socioeducativa em meio aberto ganhou relevo a análise da gestão a partir dos parâmetros pedagógicos e arquitetônicos aprovados no marco regulatório SINASE. O que está em questão nesta proposta de pesquisa é a diretriz da municipalização da política de direitos (socioeducativa) ao adolescente em conflito com a lei prevista no art. 88, ECA que não pode ser confundida com “prefeiturização” ou “prefeitorização” ou mesmo a simples “terceirização de serviços públicos”. Tendo em vista o problema da pesquisa – execução das medidas socieoducativas em meio aberto – as hipóteses que a pesquisa busca saber e/ou conhecer e/ou aprofundar passam por verificar como o Estado de Minas Gerais cumpre com a diretriz constitucional de municipalização da política socioeducativa, se os planos (estadual e municipal – Alfenas) se relacionam com a concepção, método e gestão da política socioeducativa preconizada pelo SINASE e com as demandas apresentadas pelos adolescentes no cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto e se os indicadores de resultados da implementação da política socioeducativa (PSC e LA) no município de Alfenas trazem impacto no desenvolvimento da cidadania dos adolescentes em cumprimento de medidas.

Palavras chave: Adolescente em Conflito com a Lei. Política Socioeducativa. Gestão Municipal. Medidas Socioeducativas.

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MARCOLINO, VANDER Cherri. Política socioeducativa em meio aberto no município de Alfenas/MG. Dissertation (Professional Master Adolescents in Conflict with the Law), UNIBAN, New York, 2011.

ABSTRACT

The research project aims to address the implementation of socio-political in an open environment - providing community service and probation - in Alfenas, located in southern Minas Gerais State. The main objective was to understand how the municipal childcare service has been deployed in the city in view of the principle of municipalization and decentralization of political and administratively socio-political conflict in the adolescent eat law and the pursuit of a democratic and participatory management of public policy. The methodology adopted for the research was complemented by the qualitative analysis of documents and legislation on the subject of research. Deepening socio-political governance in an open environment gained relief from the management review of the educational and architectural parameters approved in the regulatory framework SINAS. What is at issue in this research proposal is the policy of municipalization of political rights (socio-) adolescents in conflict with the law referred to in art. 88, ACE can not be confused with "municipalization" or "prefeitorização" or simply "outsourcing of public services." In view of the research problem - socieoducativas implementation of measures in an open environment - the chances that the research seeks to know and / or meet and / or undergo further see how the state of Minas Gerais complies with the constitutional policy of decentralization of socio-political if the plans (state and municipal - Alfenas) relate to the design, method and management of socio-political signals is recommended by the demands presented by adolescents in the fulfillment of educational measures in an open environment and outcome indicators of the implementation of socio-political (and LA PSC) in Alfenas bring impact on adolescents' development of citizenship in compliance measures.

keywords: Adolescents in conflict with the law. Socio-political. Municipal Management. Educational measures.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 12

INTRODUÇÃO 16

PARTE I

Política dos direitos da criança e do adolescente 23

1. Breve trajetória da política de direitos 23

PARTE II

Adolescente, adolescente autor de ato infracional e as medidas socioeducativas

38

1. Adolescente na realidade brasileira 38

2. Adolescente e ato infracional 40

3. Medidas socioeducativas em meio aberto 46

3.1. Prestação de serviços à comunidade 47

3.2. Liberdade assistida 48

PARTE III

Política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei

50

1. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE)

50

2. Gestão da política socioeducativa 52

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2.1. Gestão do Sistema Único de Assistência Social (SUAS)

53

PARTE IV

Política socieoducativa no Estado de Minas Gerais 59

1. Sistema Estadual de Atendimento Scoioeducativo

59

2. Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo de Alfenas/MG

69

REFERÊNCIAS 95

ANEXOS 99

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APRESENTAÇÃO

Ando devagar porque já tive pressa... (Almir Sater)

O interesse pelo tema das medidas socioeducativas surgiu com a minha

participação na Comunidade de Jovens do Bairro Santo Reis, vinculada às atividades

pastorais da igreja católica e depois na Associação de Moradores do mesmo bairro, no

município de Alfenas, Região Sul do Estado de Minas Gerais. A ação era de assistência

aos moradores do bairro tendo em vista a ausência de recursos e investimentos

financeiros e socioculturais para o bairro e, desde criança, pude conviver com a

trajetória de criminalidade de alguns deles.

Após a conclusão do ensino médio em escola pública e atendendo aos

imperativos de minha curiosidade, de então, fiz a opção por cursar ciências jurídicas por

acreditar na possibilidade de melhor interferir nas demandas locais por justiça social.

Durante a graduação (1996-2000), fui adquirindo conhecimento teórico e técnico e, cada

vez mais, fui-me envolvendo com as políticas públicas municipais até que passei a

promovê-las, seja no estágio supervisionado e na atenção às demandas populares.

Nos anos 2002-2003 fui docente na disciplina Poder de Polícia, no curso de

formação da Guarda Municipal, contratado pela Fundação Guimarães Rosa. E, em

2004, o tema das medidas socioeducativas passa a ocupar lugar central na militância

profissional e comunitária e, diante de índices cada vez maiores sobre a participação de

adolescentes alfenense na prática de delitos, participei da fundação da entidade não-

governamental (ONG) Associação Dias Melhores.

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O começo do trabalho social da Associação centrava-se no desenvolvimento de

atividades socioculturais no contra turno escolar de crianças e adolescentes e em 2010,

a ONG assume a execução da medida socioeducativa de Prestação de Serviços à

Comunidade (PSC) no município de Alfenas. Na Associação ocupo o cargo de diretor

executivo e consultoria jurídica.

Em 2008, fui eleito para o cargo de presidente do Conselho Municipal de

Segurança Pública de Alfenas, de natureza comunitária e reeleito em 2010 e, no período

de 2008 a 2010 estive a frente como vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos

da Criança e do Adolescente de Alfenas, representando o Governo Municipal. E, 2009,

fui indicado para o Conselho Municipal de Assistência Social de Alfenas (COMAS) como

representante governamental por ter cargo em confiança na área jurídica, nas

coordenações do órgão de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON) e no

Departamento Municipal de Assistência Judiciária, desde 2005.

Ainda no período de 2004 a 2011 mantive no Jornal dos Lagos, jornal de

destaque local com duas edições semanais, coluna relativa aos acontecimentos ligados

á violência e criminalidade e orientações para a comunidade na articulação da rede

social sobre os direitos de cidadania.

O que vem complementando minha formação nesse período além da formação

profissional e acadêmica, é a participação em diversos eventos que tratam da temática

direitos sociais e cidadania e, muitos deles, na qualidade de organizador e palestrante.

Por se tratar de uma cidade interiorana e com escassos recursos fui me tornando

referência para tais temas e, em especial, sobre direitos de crianças e adolescentes e,

assim, a rede de TV local, TV Alfenas, tem-me feito convites para participar de debates

ao vivo.

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No ano de 2010 frente a experiências realizadas em alguns municípios pelo

sistema de justiça no que se refere a ação institucional “toque de recolher” de

adolescentes e jovens, houve a necessidade de se realizar no município de Alfenas

audiência pública para debate desta ação, uma vez que, alguns órgãos tinham interesse

em adotar tal medida. Na ocasião, autoridades municipais, jurídicas e cidadãos civis,

debateram sobre a possível implantação ou não dessa medida e também sobre os

rumos das políticas públicas sobre o uso de tráfico de drogas. Na ocasião foi colocada a

impossibilidade de adotar tal medida e, em seu lugar, foi criado o Comissariado da

Infância e Juventude, através de Portaria do Poder Judiciário, cujos integrantes (três

pessoas), cujas ações são custeadas pelo Fundo da Infância e Adolescência.

Todo esse envolvimento com as causas do direito, da justiça e da comunidade

local me fez perceber que era tempo de retornar aos bancos escolares para a

necessária reflexão sobre as práticas até então desenvolvidas.

Foi então que participei do processo seletivo do Curso Mestrado Profissional

Adolescente em Conflito com a Lei da Universidade Bandeirante de São Paulo/UNIBAN

(MP ACL) por considerar que o referido curso vinculado à área Interdisciplinar em

Direitos Humanos alia rigor acadêmico na formação e pesquisa e atenção devida às

atuais exigências profissionais na qualificação dos educadores sociais para lidar com

situações sociais críticas e muito sensíveis como é o caso do adolescente em conflito

com a lei.

A pesquisa – política socioeducativa em meio aberto no município de Alfenas/MG

– que ora apresento vincula-se à Linha 3 de Pesquisa Gestão da Política de Direitos ao

Adolescente em Conflito com a Lei que congrega estudos e pesquisas sobre a gestão

da política de direitos.

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INTRODUÇÃO

Construir um objeto de estudo é um problema fundamentalmente teórico (...) Nossa valorização do trabalho teórico surge, sem dúvida, das necessidades das prática e corresponde a uma intencionalidade política (...) (Rockwell e Ezpeleta, 2001).

A pesquisa - política socioeducativa em meio aberto no município de Alfenas/MG

- tem como objeto compreender como poder público lida com a implementação do

Estatuto da Criança e do Adolescente1 no que se refere à execução das medidas

socioeducativas em meio aberto – Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) e

Liberdade Assistida (LA) – ao adolescente em conflito com a lei.

Cabe ressaltar que em 2006, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do

Adolescente (CONANDA) aprovou os parâmetros pedagógicos e arquitetônicos

constante do documento Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE)2

e, para tanto, interessa-nos perceber como a gestão pública municipal da política

socioeducativa em meio aberto (PSC e LA) se desenvolve no município de Alfenas, no

tocante: as formas de cumprimento; a existência ou não de plano municipal

socioeducativo; o processo de parcerias com os órgãos da administração pública nos

níveis nacional e estadual; a participação da sociedade civil na implementação da

política socioeducativa por meio dos programas de PSC e LA; a supervisão do público

sobre o privado no tocante à atuação das organizações da sociedade civil (organização

não-governamentais – ONG); as formas de financiamento e modo de repasse e

prestação de contas; os impactos da ação, ou seja, resultados positivos e mesmo

negativos dos programas em torno do cumprimento da medida socioeducativa, em 1 Lei Federal nº 8.069 de 13 de julho de 1990.

2 PL nº ..........

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especial, sobre a reincidência ou não; aumento da escolaridade; a formação profissional

e oportunidades de trabalho para os adolescentes; perfil dos socioeducadores,

incluindo, as equipes técnicas; as propostas de capacitação continuada dos

socioeducadores e gestores; a relação dos programas socioeducativos com os demais

programas públicos de inclusão e desenvolvimento da cidadania dos adolescentes; a

relação com o sistema de justiça e a interação com as famílias e rede sócio-comunitária.

A hipótese da pesquisa é perceber se a diretriz da municipalização da política de

direitos prevista no art. 88 do ECA3 vem-se materializando no que se refere à política

socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei. A diretriz municipalização não pode

ser confundida com “prefeiturização” ou “prefeitorização” ou mesmo a simples

“terceirização de serviços públicos” (BRANT, 1992???).

O conceito de municipalização para o Instituto Latino-Americano das Nações

Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Adolescente (ILANUD) tomado para

a análise e avaliação da política de proteção social é o seguinte:

A municipalização, enquanto princípio norteador da organização das políticas de

atenção ao adolescente exige que todas as ações, sem distinção, sejam elas de

cunho social básico, de proteção especial ou mesmo de natureza

socioeducativa, estejam articuladas no âmbito municipal. Esta articulação

pressupõe a existência de uma rede de serviços, em que a responsabilidade é

3 “Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:

I – municipalização do atendimento;

(...)

III – criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização político-adminitrativa;

(...)

VII – mobilização da opinião pública para a indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade” (ECA, 1990).

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compartilhada pelos diferentes entes políticos. Há uma definição inicial de

competências exclusivas, seguida de um rol de competências concorrentes

(ILANUD, 2004).

Nesse sentido, a pesquisa busca verificar como a diretriz constitucional da

municipalização da política pública, no caso da socioeducativa, vem sendo

implementada no município de Alfenas/MG e a relação ou não com os parâmetros

pedagógicos e arquitetônicos estabelecidos pelo SINASE, no que se refere aos

programas socioeducativos em meio aberto (PSC e LA). E se os resultados da

implementação dessa política tem contribuído para a afirmação dos direitos de

cidadania de adolescentes em cumprimento de medidas de PSC e PLA.

Cabe dizer que, inicialmente, a pesquisa tinha por objetivo realizar a cartografia

da execução da política socioeducativa em meio aberto (PSC e LA) na dimensão da

unidade federada Minas Gerais, Região Sudeste do Brasil no sentido de cumprimento

de diretriz constitucional municipalização da política de direitos ao adolescente em

conflito com a lei e a consecução da forma democrática e participativa da gestão da

política pública. E, para tanto, seria realizada leitura de cenário sobre a execução das

medidas socioeducativas e sua consolidação enquanto Sistema de Garantias dos

Direitos da Criança e do Adolescente de acordo com o que preconiza o ECA e, com

recorte, na cartografia dessa política na Comarca de Alfenas. Contudo, isso não foi

possível pelo incipiente processo de municipalização da política socioeducativa em meio

aberto no Estado, conforme pode ser percebido no documento em anexo (Anexo 1).

Como a pesquisa teve sua centralidade apenas na Comarca de Alfenas, os

objetivos tiveram que ser redefinidos para:

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<> conhecer as estratégias de implementação da política socioeducativa em meio

aberto (PSC e LA) no Município de Alfenas/MG tendo em vista a diretriz constitucional

da municipalização da política de direitos;

<> verificar se na gestão da política socioeducativa os princípios da democracia

participativa e mobilização social estão presentes bem como os parâmetros

pedagógicos e arquitetônicos elencados no SINASE;

<> observar a presença de indicadores de resultados dessa política na afirmação dos

direitos de cidadania de adolescentes em cumprimento das medidas de PSC e LA

(qualidade da execução dos programas socioeducativos).

A política de direitos ao adolescente em conflito com a lei, denominada na

pesquisa, como política socioeducativa, tem como referência o princípio da doutrina da

proteção integral e “consequentemente na sua dimensão socioeducativa, através do

Sistema de Garantia de Direitos, pressupõe a integralidade das ações para a

consecução dos direitos fundamentais [do universo] de crianças e adolescentes

enquanto prioridade absoluta” (SILVESTRE, 2010, p. 100).

Nesse sentido, a pesquisa teve caráter qualitativo e exploratório, pois buscou

conhecer, verificar, observar e compreender o processo de implementação da

municipalização dos programas socioeducativos em meio aberto (medidas de PSC e

LA) aplicadas a adolescentes que, após o devido processo legal, foram considerados

autores de atos infracionais (MINAYO, 2007). A opção por essa metodologia e seus

respectivos procedimentos, apesar da incipiente sistematização do processo de

implementação da política socioeducativa no município, permitiu perceber que a

execução dos referidos programas se encontra na responsabilidade da sociedade civil,

realizada por duas organizações não-governamentais, sendo que a ONG que realiza a

LA, mantém convênio com a Prefeitura Municipal e a outra que acolhe os adolescentes

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em PSC, encaminhados pelo Poder Judiciário, não possui convênio firmado para essa

finalidade.

Os dados e informações buscados para a realização da pesquisa tiveram

como fonte os documentos de diferentes órgãos públicos e âmbito (federal, estadual,

municipal) e das novas institucionalidades – Conselhos de Direitos da Criança e do

Adolescente – e de organismos multilaterais e das organizações não-governamentais.

Tendo em vista a incipiente sistematização das práticas foi necessário realizar visitas

técnicas em diversos órgãos públicos e privados, também nas três esferas da

administração. Cabe ainda ressaltar que o pesquisador por atuar também em diferentes

frentes das políticas públicas (em especial os Conselhos) a observação, a

experimentação e a memória, serviram como fontes de registro sobre o objeto de

estudo.

No desenvolvimento da pesquisa foram privilegiadas as contribuições (conceitos

e dados) sobre o tema da política socioeducativa relacionada à produção acadêmica

(teses e dissertação) Pereira (2006), Silvestre (2010), Nozabielli (2003), à literatura de

Sposati (1994), Carvalho (1999) Liberati (2003), Arantes (1999), Zamora (2005), Volpi

(1997) e produção técnica de Souza (2008), Pereira (2004), Pereira e Mestriner (1999),

Costa (1993). Tais referências se relacionam à questão dos direitos humanos de

crianças e adolescentes e advindas de diferentes áreas do conhecimento, tendo em

vista, o olhar interdisciplinar e intersetorial e interinstitucional sobre o objeto de estudo.

Na articulação entre saberes e práticas pontua Arantes (1999):

Uma articulação entre estes diversos agentes que efetivamente beneficiasse a criança e sua família nunca foi possível. No entanto, mesmo atualmente, com o reordenamento jurídico operado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei que regulamenta o artigo 227 da Constituição Federal -, não se conseguem mudanças efetivas

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em direção a um entendimento e a uma prática diferentes. (...) O que parece estar sendo esquecido nestes debates, e que foi a própria motivação da luta em torno do artigo 227 da Constituição de 1988, é que a questão da criança no Brasil não é uma questão médica ou policial. É neste sentido que as proposições do Estatuto trazem à cena, em primeiro lugar e antes de quaisquer outras considerações, a questão da cidadania para todas as crianças e jovens. Não se pode pensar em modelos de atendimento, em medidas de proteção e em medidas sócio-educativas que não tenham a guiá-las este imperativo (p. 257).

A presente dissertação está organizada a partir desta Introdução do seguinte

modo: Parte I – trata de, modo breve, da trajetória da política de direitos à criança e ao

adolescente no Brasil, destacando as três legislações especiais e, principalmente, no

que se refere à questão do ato infracional e medidas judiciais; Parte II – apresenta as

conceituações de adolescente, adolescente autor de ato infracional e as medidas

socioeducativas a serem aplicadas pelo sistema de justiça; Parte III – descreve sobre a

gestão da política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei a partir dos

marcos regulatórios como o sistema nacional de atendimento socioeducativo; Parte IV –

trata da pesquisa de campo objeto de estudo da pesquisa e, ainda as Referências e

Anexos.

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PARTE I

POLÍTICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1. Breve trajetória histórica

No campo da infância e adolescência brasileiras três foram as leis que trataram

em tese dos direitos infanto-juvenis e das obrigações do Estado, da sociedade e da

família com a questão.

Tais legislações, específicas ou não, tem como antecedentes eventos e tratados

internacionais como, por exemplo, na década de vinte, da União Internacional “Save the

Children” que redigiu e aprovou o documento conhecido como Declaração de

Genebra:Princípios básicos de proteção à criança (1923); a Declaração de Genebra - 5ª

Assembléia da Sociedade das Nações: conduta em relação às crianças pautado na

Convenção de Genebra (1924) e no Brasil a Lei 4.242 do Código Civil, determinando

que se considere abandonado o “menor” sem habitação certa ou meio de subsistência,

órfão ou com responsável julgado incapaz de sua guarda (1921); a inauguração do

primeiro estabelecimento público para “menores”, no Rio de Janeiro, Capítal da

República (1922); a Lei Orçamentária autoriza Serviços de Assistência à Infância (1923);

a criação do do Tribunal de Menores, estrutura jurídica que serviu de base para o

primeiro Código de Menores (1923) e a Promulgação do Código de Menores (1927),

primeiro documento legal para a população menor de 18 anos de idade, conhecido

como Código Mello Mattos.

Na década de trinta, com a vigência do Estado Novo, foi criado o Ministério da

Educação e Saúde Pública, um dos primeiros atos do governo provisório de Getúlio

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Vargas e a criação do Ministério da Justiça e dos Negócios Interiores.(1930); a

Constituição Federal instituiu normas para a assistência social e pública, cabendo aos

municípios o estímulo à educação, amparo à maternidade e à infância (1934) e há ainda

a restrição constitucional sobre as competências da carta magna anterior, concentrando

na União papel de legislar sobre as normas de defesa e proteção da saúde,

principalmente, crianças (1937).

Nos anos quarenta três foram os eventos marcantes da época, a Consolidação

das Leis Trabalhistas (1943) e na Lei de Diretrizes e bases da Educação que trata da

obrigatoriedade do Ensino Fundamental (1996). Em 1940, cria-se o Departamento

Nacional da Criança, Ministério da Educação e Saúde Pública em que se centra mais a

preocupação com a saúde e menos com a educação; funda-se a Legião Brasileira de

Assistência (LBA) com a inauguração da presença do primeiro damismo na política

estatal (Darcy Vargas) cujo enfoque principal está no trabalho e nas atividades de

geração de Renda, como por exemplo a isntituição do programa Casa do Pequeno

Jornaleiro (1941); a criação do Serviço de Assistência ao Menor (SAM), órgão do

Ministério da Justiça, um equivalente ao sistema penitenciário, para a população menor

de 18 anos de idade, cuja lógica de trabalho era a reclusão e a repressão das crianças e

adolescentes abandonados, órfãos, delinquentes (1942) e também surge várias

organizações da sociedade civil de cunho assistencialista e filantrópicos, como os

patronatos, internatos e programas de profissionalização para os menores carentes; a

criação do sistema “S” (SESI, SESC, SENAI, SENAC) ligado ao empresariado com o

objetivo prestar serviços sociais a seus empregados e familiares (1944?).

Ainda nos anos quarenta, em especial a partir de 1945 a 1964, o país passa por

momentos políticos que buscam pelo fim da ditatura e pela redemocratização. Na área

da infãncia e adoelscência, vários eventos marcram esse período como, por exemplo:

retorno da obrigatoriedade da assistência à maternidade e à infância e, pela primeira

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vez a educação passa a ser dever do estado e direito de todos e a instituição do ensino

gratuito obrigatório e a organização do sistema educacional (1946); e a Declaração

Universal dos Direitos Humanos, instrumento regulatório de abrangência internacional

que pretendia evitar o surgimento de outra guerra das dimensões da II Guerra Mundial

(1948). E, na déccada cinquenta, instala-se o Fundo das Nações Unidas para a Infãncia

(Unicef) no Brasi: instalado em João Pessoa (PB) (1950), trazendo para o país

programas de proteção à saúde da criança e da gestante nos estados do nordeste

brasileiro e, em 1959, a promulgação da Declaração Universal dos Direitos da Criança,

aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas que aumentou o elenco dos

direitos aplicáveis à população infantil.

Nos anos sessenta, houve a ampliação do número de organizações da sociedade

civil, especialmente no âmbito sindical de trabalhadores. Começa a haver a

reivindicação de políticas sociais redistributivas, embora ainda não haja registro histórico

de movimento organizado pela infância e pela adolescência. A Constituição em vigor,

extremamente conservadora, trata da política social subordinada e atrelada aos

objetivos estratégicos do regime militar, diante da proposta de crescimento econômico e

acirrado ao controle social. Na verdade, a política social é tida como meio e não como

fim e os programas são marcados por paralelismos, centralismo burocrático do governo

federal, controle social dos pobres (objetos passivos da assistência do Estado). Na

análise verifica-se a incoerência entre prioridades do Estado e as demandas sociais. No

período 1964 a 1985, instaura-se o regime ditatorial militar e, já no mesmo ano institui-

se a Lei nº 4.513/ 64 sobre a Política Nacional do Bem Estar do Menor e a criação da

Fundação Nacional do Bem Estar do Menor (FUNABEM) e as congêneres nos estados

da federação, Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (FEBEM) como substitutas do

SAM. Um dos objetivos da FUNABEM e FEBEM era formular e implantar a PNBEM sob

o marco da doutrina da situação irregular em que a criança e o adolescente tinha

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tratamento discricionário. A instituição desse sistema (nacional e estadual) marcava a

transição entre a concepção correlacional-repressiva para a assistencialista tendo como

concepção de atendimento integrar o menor à comunidade através da assistência à

família e da colocação em lares substitutos. Em 1967, houve nova carta constitucional

centralizadora; política social subordinada e atrelada aos objetivos estratégicos militares

como o crescimento econômico x controle social.

Na década de 70, em especial a partir da metade da década, os movimentos

sociais buscam por liberdades democráticas e o fim da ditadura militar acriou as bases

para profundas mudanças no país inspiradas na Declaração Universal dos Direitos da

Criança:

♦ surgem os projetos de atendimento a meninos e meninas de rua; a

crianças passam a ser vistas como um feixe de possibilidades abertas

para o futuro e começam a surgir experiências inovadoras em várias

áreas;

♦ em 1976 - É instaurada a CPI do menor:

♦ 1978 - Proposta de Convenção Internacional dos Direitos da Criança –

Declaração;

♦ 1978 – Surge o Movimento de Defesa do Menor - São Paulo;

♦ 1979 - Lei 6.697/79 - reformulação do Código de Menores, ou seja, o

Segundo Código de Menores incorpora uma nova concepção

assistencialista à população infanto-juvenil considerados dentro da

situação irregular. Lei policialesca de controle social.

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♦ Início do processo de abertura democrática e de reorganização dos

setores populares e a política convive com três tendências: a

repressiva, a assistencialista e a educativa. (meados anos 70);

♦ Modernização conservadora da vida brasileira; Menor marginalizado –

carente bio-psico-sócio-cultural onde o atendimento era realizado

dentro de um modelo institucionalizante assistencial sobre a doutrina

da segurança nacional.

Na década de 1980 há abertura Política e nova Redemocratização, surgindo um

movimento social composto por diferentes organizações da sociedade civil

independentes do Estado (Associações de bairro, movimentos contra a carestia, CEBs):

♦ 1982, Enfoque crítico estrutural volta-se para a superação do ciclo

perverso da institucionalização;

♦ 1985, Criação do Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua:

pela primeira vez, fala-se em protagonismo juvenil e se reconhece

crianças e adolescentes como sujeitos participativos;

♦ 1985 - Regras mínimas das Nações Unidas para administração da

Justiça da Infância e da Juventude - Regras de Beijing (Resolução

40/33 - ONU - 29 de novembro de 1985);

♦ 1986 - Criação da Frente Nacional Permanente de Entidades Não-

Governamentais de Defesa dos Direitos das Crianças e dos

Adolescentes (Fórum Nacional DCA): articulação entre várias

entidades de expressão na área da infância e adolescência. Nesse

mesmo ano, é criada a Comissão Nacional Criança Constituinte; 1988

- Apresentação de duas emendas de iniciativa popular ao processo

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nacional constituinte: “Criança e Constituinte” e “Criança: Prioridade

Nacional” - mais de 200 mil assinaturas; 1988 - Diretrizes das Nações

Unidas para prevenção da Delinqüência Juvenil - diretrizes de Riad

(ONU - 1º de março de 1988 - Riad);

♦ 1988 - Constituição Federal do Brasil: considerada a “Constituição

Cidadã”, inova ao introduzir um novo modelo de gestão das políticas

sociais, com a criação dos conselhos deliberativos e consultivos.

Durante sua elaboração, um grupo de trabalho se reuniu para

concretizar os direitos da criança e do adolescente. O resultado foi o

artigo 227, base para a elaboração do Estatuto da Criança e do

Adolescente;

♦ 1989 – Convenção Internacional dos Direitos da Criança: um dos mais

importantes tratados de direitos humanos, ratificado por todos os

países membros da ONU com exceção dos Estados Unidos e da

Somália. O Brasil torna-se signatário da Convenção sobre os Direitos

da Criança, da ONU; Aprovação dos artigos 204 (princípio da

descentralização político - administrativa e da participação) e 227 CF,

apresentado em 05/10/88 (criança e adolescente conquistam a

condição de sujeitos de direitos, com prioridade absoluta e dever dos

adultos), com 435 votos a favor e 8 contra. Foi o início para a

alteração do panorama legal da infância e adolescência no Brasil; 1989

- 30 anos Declaração, aprovação da Convenção - 20/11/89

Na década de noventa, busca-se a consolidando da Democracia e organização e

mobilização de três forças para elaboração da regulamentação do Artigo 227 da CF:

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Fórum DCA ( entidades não - governamentais); Mundo Jurídico; e o FONACRIAD

(Fórum de dirigentes e técnicos de órgãos públicos estaduais.

<> 1990 – Promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente - aprovado pelo

Congresso Nacional e sancionado pelo Presidente da República: é considerado um

documento exemplar de direitos humanos, concebido a partir do debate de idéias e da

participação de vários segmentos sociais envolvidos com a causa da infância no Brasil;

<> 1990 – Lei Orgânica da Saúde;

<> 1991 - Criação de Fóruns específicos da Criança e do Adolescente; de

Erradicação do Trabalho Infantil; de Enfrentamento da Violência Sexual contra crianças

e adolescentes (a partir de 1991) implantação e implementação dos Conselhos dos

Direitos da Criança e do Adolescente; Conselhos Tutelares; Conselhos da Assistência

Social;

<> 1993 – Sanção da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS): define que, no

Brasil, a assistência social é direito do cidadão e dever do Estado; 1996 – Sanção da Lei

de Diretrizes e Bases da Educação (LDB): define e regulariza o sistema de educação

brasileiro com base nos princípios presentes na Constituição.

<> 2000 – Aprovação do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual

contra Crianças e Adolescentes: marca a consolidação da luta contra a violência sexual

infanto-adolescente;

<> 2003 – Aprovação do Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do

Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente;

<> 2006 – Aprovação do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do

Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária e do Sistema

Nacional Socioeducativo (Sinase): os dois documentos buscam solução para direitos

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garantidos pelo Estatuto, mas que ainda encontram dificuldades para sua efetivação.

Para o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, pela primeira vez, dois

conselhos se reuniram para traçar as diretrizes e metas – o Conselho Nacional dos

Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho Nacional da Assistência Social;

Após 20 anos de vigência da Lei Federal 8.069/90, Estatuto da Criança e do

Adolescente, pode-se constatar que houve avanços na garantia dos direitos da

população infanto-juvenil, em especial, da concepção e trato à condição de sujeito de

direitos enquanto pessoas em desenvolvimento; No entanto, inicialmente não se tinha

em mente uma melhoria na qualidade de vida da criança ou adolescente, e sim, corrigir

aquilo que caracterizava uma anomalia social conforme destaca Arantes (1999):

(...) neste sentido, a pretendida racionalização da assistência, longe de concorrer para a mudança nas condições concretas de vida da criança, constituiu-se muito mais em uma estratégia de criminalização e medicalização da pobreza. Com o passar dos anos, esse grupo passou a ter tem espaço na agenda da política pública nacional e mesmo internacional, tendo em vista a obrigatoriedade dos Estados Partes da Organização das Nações Unidas (ONU) em cumprir com os tratados internacionais, adequando legislação e alterando políticas e práticas direcionadas a esse grupo.

Ainda de acordo com Arantes (1999)

(...) para que o menor irregular emergisse no Brasil como categoria distinta do exposto, do desvalido, da criança infeliz, foram necessárias a extinção da Roda dos expostos, a elaboração e a criação de um Código e de um Juizado de Menores, a aceitação de princípios da medicina higienista e eugenista por parte de outros profissionais que atuavam no setor, a criação de uma Delegacia de Menores e, finalmente, a criação de instâncias, a nível federal e estadual, responsáveis pela formulação e implementação de políticas para o setor, como a FUNABEM (p 257).

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Novas institucionalidades – Conselhos - vem sendo criadas por força do direito

constitucional brasileiro que, a partir de 1988, com a Constituição da República

Federativa do Brasil, primar pela idéia de um Estado Democrático de Direito que impõe

mudanças na relação Estado e Sociedade Civil ou mesmo em termos do que se

configura público e privado no debate e garantia dos direitos de crianças e adolescentes

e, em particular, à parcela denominada adolescente em conflito com a lei. A partir da

criação dos Conselhos, princípios, diretrizes, planos, orientações são definidas em suas

especificidades.

Em 2010 houve um avanço significativo, ainda mais com a elaboração do Plano

Nacional Decenal dos Direitos da Criança e do Adolescente (PNDCA), aprovado na

Sessão Ordinária do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

(CONANDA) em abril de 2011. O PNDCA aprovou diretrizes para os dez anos da

política de direitos e, com isso, na 9ª Conferência do CONANDA que se iniciam em

agosto deste ano, os entes federados – estados, distrito federal e municípios – possam

debater e priorizar ações, metas e indicadores para os próximos dez anos da política de

direitos.

No entanto mesmo decorridos quase 20 anos da aprovação do ECA, ainda são

incontáveis as dificuldades para fazer valer o funcionamento do sistema de garantia de

direitos da criança e do adolescente. Apesar dos avanços e perspectivas que se

avizinha, um aspecto continua sendo o “calcanhar de Aquiles” do Estatuto, como diz o

saudoso (citação) Professor Antônio Carlos Gomes da Costa, o atendimento de

qualidade ao adolescente autor de ato infracional, segundo os parâmetros do

documento aprovado pelo CONANDA em 2066, Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (SINASE): mesmo existindo sinais de avanço com a possibilidade

concreta de reordenamento jurídico-institucional, a política pública de atenção a esse

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grupo ainda está distante do que preconiza o arcabouço legal vigente, nacional e

internacional.

O Código de Menores vigorou por muitos anos no processo de atendimento a

criança e ao adolescente considerada como delinqüente, mediante aos patamares

sociais. Na época foram executadas algumas ações que tinham como objetivo “resolver”

esse problema.

Segundo Liberati (2003, p. 31) no ano de 1941 foi criado o SAM – Serviço de

Assistência a Menores, pelo Decreto-lei nº 3.799/41, que tinha o objetivo de “corrigir” os

menores desvalidos e infratores, executando uma política corretivo- repressivo-

assistencial (casas de correção e reformatórios) mas, por falta de autonomia, estrutura

administrativa, financeira e a aplicação de métodos inadequados e repressivos no

atendimento às crianças e adolescentes, o SAM fracassou.

Com o fracasso do SAM, foi desenvolvido outro programa de atendimento a

criança e ao adolescente sendo este a FUNABEM (Fundação Nacional do Bem – Estar

do Menor).

Segundo Liberati (2003, p. 32) a criação da FUNABEM, por meio da Lei. Nº.

4.513, de 1º de dezembro de 1964, veio substituir o SAM e foi à solução encontrada,

para responder aos apelos da sociedade frente ao problema da delinquência infanto-

juvenil da época. Neste período o governo militar de 1964, decidiu enfrentar essa

questão como um problema social. A FUNABEM tinha como objetivo a centralização dos

programas e iniciativas a favor da criança e do adolescente, enfatizando que o problema

era de responsabilidade do Estado. Logo depois foi criada a Fundação Estadual do Bem

Estar do Menor (FEBEM) com sistema de internação aos adolescentes considerados

desajustados aos padrões da sociedade.

A internação que seria para ajustar o indivíduo à sociedade acabava remetendo

em revoltas, maus tratos, abandono, a opressão era reflexo de adolescentes sem

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expectativa de vida, se inserindo cada vez mais no mundo da criminalidade, sem futuro

e sem esperança.

Após o Código de Menores de 1927 foi instaurado o Código de Menores de 1979,

que Segundo Lorenzi (2007, s. p.) não rompeu com a repressão junto à população

infanto-juvenil. Esta lei também introduziu o conceito de "menor em situação irregular",

que reunia o conjunto de crianças e adolescentes que estavam em situação vulnerável.

Mesmo com um novo código de menores as crianças e adolescentes desprovidos de

direitos básicos como proteção e cuidados ainda eram considerados desajustados aos

padrões da sociedade.

Com tal Código se dá o estabelecimento e um novo termo: “menor em situação

irregular”, que dizia respeito ao menor de 18 anos de idade que se encontrava

abandonado materialmente, vítima de maus-tratos, em perigo moral, desassistido

juridicamente, com desvio de conduta e ainda autor de infração penal (VERONESE,

1999, p.35).

Segundo Liberati (2003, p. 34) tanto o Código de Menores de 1927, quanto o

Código de 1979 trazem em seu texto formas punitivas para criança e adolescente. As

medidas de proteção estavam disfarçadas de penas e não havia nenhuma medida de

apoio para a família dessas crianças e adolescentes que se encontravam em situação

de vulnerabilidade. A trajetória da política de atendimento à criança e ao adolescente

em conflito com a lei, antes do ECA era uma política totalmente seletiva e estagnada. A

situação irregular citada nas legislações é de responsabilidade do Estado, pois o mesmo

nessa época, sempre executou uma política repressiva e não uma política de direitos e

de proteção à criança e ao adolescente.

Apesar das dificuldades no reconhecimento dos direitos de crianças e

adolescentes no Brasil, a Constituição Federal de 1988 traz em seu texto, que é dever

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da família, da sociedade e do Estado garantir os direitos da criança e do adolescente, é

o que dispõe o Artigo nº 227:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

A Constituição Federal, de 1988 em seu artigo nº 227 pretende garantir, além dos

direitos a educação, saúde, cultura, moradia, lazer e segurança, também enfatiza sobre

o direito a igualdade na relação processual e defesa técnica do adolescente em conflito

com a lei, obedecendo sempre aos princípios de pessoa em condição peculiar de

desenvolvimento.

Segundo Riggio e Castro (s.d. p. 116) em 13 de Julho, de 1990 foi decretada a

Lei Federal nº 8.069 (Estatuto da Criança e do Adolescente) sendo esta conquista fruto

da mobilização social, devido à repressão, abandono e falta de proteção social para com

as crianças e adolescentes no Brasil. O Código de Menores foi substituído pelo ECA,

alterando assim, a lei de situação irregular para uma política de proteção integral.

O advento do Estatuto da Criança e do Adolescente representa um marco divisório extraordinário no trato da questão da infância e da juventude no Brasil. Na esteira do texto Constitucional (art.227 da Constituição Federal de 1988, que se antecipou à Convenção das Nações Unidas, introduzindo no Brasil a Doutrina de Proteção Integral), o ECA trouxe uma completa transformação ao tratamento legal da matéria em todos os aspectos. Adotou-se a Doutrina de Proteção Integral em detrimento dos vetustos primatas da arcaica Doutrina da Situação Irregular, que presidia o antigo sistema. Operou-se uma mudança de referências e paradigmas na ação da Política Nacional, com reflexos diretos em todas as áreas, especialmente no plano do trato da questão infracional. (SARAIVA, 1999, p.15)

O ECA é uma conquista na garantia de direitos, deveres e igualdade, sendo uma

legislação que não é mais seletiva, enfatizando a responsabilidade da família, do Estado

e da sociedade na proteção integral à criança e ao adolescente.

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O Sistema de Proteção Social a Criança e ao Adolescente em Conflito com a Lei

Segundo Santos (2008, p.11) o ECA traz um sistema de proteção social ao adolescente

autor de ato infracional, sendo o mesmo sujeito de direitos. Segundo Liberati (2003, p.

35) o Estatuto da Criança e do Adolescente utiliza-se de todas as disposições do direito

material e processual para garantir, assim os direitos infato-juvenis. Está divido em dois

livros, o livro I trata a parte geral enfocando os direitos fundamentais e o livro II fala

sobre a política de atendimento a criança e ao adolescente. A política de atendimento do

ECA em seu artigo nº 103 dispõe sobre a prática de ato infracional:

Art. nº 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal. Art. nº 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. [...] Art. nº 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. [...] Art. nº 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal.

O ECA considera o adolescente autor de ato infracional como categoria jurídica,

rompendo com categoria sociológica contida no Código de Menores, de 1979, passa de

delinquente a sujeito dos direitos estabelecidos na Doutrina de Proteção Integral.

A garantia dos direitos da infância e da juventude, no Brasil, está solidamente fundamentada na Constituição Federal, que a define como prioridade absoluta em seu artigo 227, na Lei nº 8069/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente e nos documentos internacionais, ratificados pelo Congresso Nacional, com especial destaque para a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança. (VOLPI, p.13, 1997).

Seguindo a proposta do Estatuto da criança e adolescente, após a sua

promulgação foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e adolescente

(CONANDA), por meio da Lei Federal n. 8.242, de 12 de outubro de 1991, com o

objetivo de deliberar sobre a política de atenção à infância e à adolescência. Este

Conselho integra o conjunto de atribuições da Presidência da República, sendo pautado

no principio da democracia participativa e tendo como papel a normatização e a

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articulação no sentido de ampliar os debates para envolver efetiva e diretamente todos

os setores do Sistema de Garantia de Direitos (SGD).

O Estatuto da Criança e Adolescente traz medidas de proteção e medidas

socioeducativas para aqueles que cometerem ato infracional. Segundo Saraiva (1999, p.

29) a criança infratora fica sujeita a medida de proteção, junto à família ou comunidade,

sem que ocorra privação de liberdade. Já por sua vez, o adolescente infrator é

submetido ao cumprimento de medidas socioeducativas, que podem implicar em

privação de liberdade, nesse caso é assegurado ao adolescente às garantias do devido

processo legal.

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PARTE II

ADOLESCENTE, ATO INFRACIONAL E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

1. Adolescente na realidade brasileira

A população adolescente no Brasil representa possibilidades de mudanças muito

profundas no país, que poderão ser refletidas por toda sociedade. Todavia, é preciso

pensar no contexto, ou seja, refletir sobre o mundo – o cenário – em que o jovem está

inserido, pois nas sociedades atuais, as pessoas tornaram-se intolerantes perante

comportamentos fora do recomendado pelo social.

Os mais de 21 milhões de adolescentes brasileiros representam para o País uma

grande oportunidade de transformação nas relações, nas atitudes, na cultura, na

educação, na vida e nas dinâmicas sociais. Mesmo sendo a adolescência um período

curto, pois do ponto de vista jurídico dura apenas seis anos (12 a 18 anos incompletos),

é uma fase de mudanças profundas e rápidas no ciclo de vida. Isso se revela nas

mudanças biológicas, comportamentais, de aprendizagem, de socialização, de

descobertas, de interação e de inúmeros processos que nos permitem valorizar a

adolescência como um potencial imprescindível para a sociedade. (UNICEF, 2004, s.p.).

O Brasil é um país de contradições, de desigualdade social, concentração de

renda, exploração do trabalho. Segundo o SINASE (2006) essa desigualdade social

reflete em consequências diretas e indiretas na condição da vida dos adolescentes que

representam aproximadamente 21% da população nacional, ou seja, adolescentes na

faixa etária de doze a dezoito anos. Avaliando as condições por raça, essa desigualdade

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é ainda maior. Observa-se que a população negra representa porcentagem maior em

condições socioeconômicas e educacionais mais defasadas, ou seja, precárias em

relação à raça branca. Em relação à escolarização, pode-se dizer que à medida que

aumenta a idade do adolescente, diminui significativamente a sua faixa de escolaridade.

O jovem tem, nessa faixa etária, o maior número de mortes, e a proporção de morte por

homicídios é muito grande.

O Brasil tem 21 milhões de adolescentes com idade entre 12 e 17 anos. De cada

100 estudantes que entram no ensino fundamental, apenas 59 terminam a 8ª série e

apenas 40, o ensino médio. A evasão escolar e a falta às aulas ocorrem por diferentes

razões, incluindo violência e gravidez na adolescência. Em 2003, 340 mil adolescentes

(12-17 anos) tornaram-se mães. (UNICEF, 2004, sp.)

É um desafio para as Políticas Públicas, o trabalho que permita atender o

adolescente em todas as suas necessidades, seja educacional, social, econômica,

saúde, segurança, lazer entre outros, de modo que a realidade desses adolescentes

ultrapasse a miséria, o analfabetismo, a exploração do trabalho, enfim todas as

desigualdades existentes em nosso país.

E é nessa realidade tão difícil que segundo Oliveira (2007, s. p) se apresenta o

adolescente em conflito com a lei, refletindo as desigualdades sociais no nosso país,

aparentemente como fenômeno isolado da sociedade, mas que na verdade é fruto dela.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

referentes aos anos de 2005 e 2006, o Brasil tinha 24.461.666 de adolescentes entre 12

e 18 anos. Desse total, apenas 0,1425% representava a população de adolescentes em

conflito com a lei. Tal porcentagem, em números absolutos, significa 34.870

adolescentes autores de atos infracionais cumprindo algum tipo de medida

socioeducativa em todo o Brasil. (PRÓMENINO, 2008, sp.)

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Esses dados nos mostram um pouco da realidade a qual se encontram tantos

adolescentes e suas famílias residentes em solo brasileiro. Abordaremos a seguir as

características e as políticas de proteção a esses adolescentes que de alguma forma

estão em dívida com a sociedade.

2. Adolescente e ato infracional

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990: ato infracional

são ações cometidas por crianças ou adolescentes que são considerados inimputáveis,

por isso não podem ser condenados a penas, à criança é atribuída somente medidas de

proteção, ao adolescente que comete ato infracional, além das medidas de proteção lhe

são atribuídas às medidas socioeducativas.

Os adolescentes em conflito com a lei, [...], não encontram eco para a defesa de seus direitos, pois pela condição de ter praticado um ato infracional, são desqualificados enquanto adolescentes. A segurança é entendida como a fórmula mágica de “proteger a sociedade da violência produzida por desajustados sociais que precisam ser afastados do convívio social, recuperados e reincluídos”. É difícil para o senso comum, juntar a idéia de segurança e cidadania. Reconhecer no agressor um cidadão parece ser um exercício difícil e, para alguns, inapropriado (VOLPI, 2006, p. 9).

De acordo com Oliveira (2007, s. p) sendo difícil a compreensão dos direitos dos

adolescentes em conflito com a lei, se torna necessário que as políticas de proteção a

eles destinadas, como qualquer outro adolescente sejam esclarecedoras e efetivadas.

A efetivação dos direitos da criança e do adolescente no Brasil teve uma

trajetória histórica marcada por discriminação, violência, submissão e abandono. No

tempo do Brasil colônia as crianças e adolescentes eram desprovidas de qualquer tipo

de direito ou proteção social.

De acordo com Liberati (2003, p. 28) no ano de 1830 o Código Criminal do

Império trazia em seu texto que, os infratores menores de quatorze (14) anos que

apresentassem discernimento sobre o ato cometido, eram recolhidos às Casas de

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Correção até completarem dezessete (17) anos. A legislação nesse período não

reconhecia a situação de peculiaridade da criança e adolescente. Eram desprovidos dos

seus direitos e os julgamentos eram feitos segundo o critério de discernimento das

autoridades que detinham o poder de absorver ou punir os menores.

Como relata Veronese (1999, p. 19) o Código Penal da República, de 1890,

considerava não criminoso os menores de 9 anos, bem como os maiores de 9 anos e

maiores de 14 anos que agiram sem discernimento.

Entre as várias modificações sofridas pelo Código Penal da República, ressalta-se aquela produzida pela Lei n. 4.242 de 4 de Janeiro de 1921, que eliminou o critério do discernimento e passou a considerar o menor de 14 anos totalmente isento de responsabilidade penal e, consequentemente, de ser processado por atos considerados delituosos. (LIBERATI, 2003, p.29).

Em 1921 mesmo com algumas mudanças na legislação, ainda não havia uma

política que trazia efetiva proteção às crianças e adolescentes no Brasil. Segundo

Liberati (2003, p. 29-30) o Dr. José Candido Albuquerque Mello Matos organizou o

Código de Menores (Decreto nº 17.943 - A, de 12.10.1927) esse código trazia que os

adolescentes com mais de quatorze (14) anos não eram submetidos a processo penal,

mas a um processo especial de apuração da infração.

O Código de Menores, comparado as legislações anteriores trouxe uma mudança

significativa quanto a não submissão da criança e adolescente ao processo penal.

O Código de Menores visava estabelecer diretrizes claras para o trato da infância e juventude excluídas, regulamentando questões como trabalho infantil, tutela e pátrio poder, delinqüência e liberdade vigiada. O Código de Menores revestia a figura do juiz de grande poder, sendo que o destino de muitas crianças e adolescentes ficava a mercê do julgamento e da ética do juiz (LORENZI, 2007, s. p.).

Esta lei tinha caráter seletivo, sendo designado para crianças e adolescentes que

se encontravam em situação de abandono e delinqüência.

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De acordo com Liberati (2003, p 31) em 7 de dezembro, de 1940, entrou em vigor

o Código Penal que estabeleceu a responsabilidade penal aos 18 anos de idade,

alterando o Código de Menores de 1927, sendo esta lei imposta até os dias atuais.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Federal nº 8.069/90, define ato

infracional como a conduta descrita como crime ou contravenção penal (ECA 1990).

A lei diferenciou criança e adolescente, sendo criança, aquele (a) de 0 (zero) a

12 anos incompletos e adolescente aquele (a) entre 12 e 18 ( dezoito) anos incompletos,

garantida a inimputabilidade estabelecida na CF, no art. 228: “São penalmente

inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”.

(C.F., 1988).

Para os que praticam atos infracionais a lei prevê a imposição, pelo poder

judiciário, de medidas socioeducativas, listadas em seu art. 112, o qual também indica

critérios para escolha da mais adequada em cada caso concreto:

Verificada a prática do ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao

adolescente as seguintes medidas:

I.Advertência;

II.Obrigação de reparar o dano;

III.Prestação de serviços à comunidade;

IV.Liberdade assistida;

V.Inserção em regime de semiliberdade;

VI.Internação em estabelecimento educacional;

VII.Qualquer uma das previstas no artigo 101, I a V.

Parágrafo primeiro: A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. Parágrafo segundo: Em nenhuma hipótese e sob pretexto algum será admitida a prestação de trabalhos forçados. Parágrafo terceiro: Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições (ECA,1990).

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Diante da constatação da prática de ato infracional, a autoridade judiciária pode

aplicar ao autor da infração a medida de advertência, observando, no entanto, indícios

suficientes da autoria e prova da materialidade.

A advertência consiste em admoestação verbal e somente a autoridade judiciária

pode fazê-la, sendo de relevante importância a realização de audiência para tal fim, pois

essa audiência deve ser reduzida a termo e assinada. E, obrigação de reparar o dano

sendo o ato infracional praticado com reflexos patrimoniais, configura- se a medida de

reparação do dano a mais apropriada, contudo, a autoridade judiciária deve cercar-se de

provas suficientes da autoria e da materialidade. Apesar da responsabilização civil

cabível aos pais, a medida de reparação do dano aplicada ao adolescente deve ser bem

analisada, pois, em muitas situações, o fato de ultrapassar a pessoa do adolescente

infrator acaba por propiciar a sua não responsabilização, em afronta ao ECA. Assim,

sempre que possível, deve-se argumentar sobre a possibilidade do adolescente cumprir

a medida às suas expensas.

Na aplicação de qualquer uma das medidas, deverão ser garantidos os princípios

da excepcionalidade, brevidade e da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento,

enfatizados na doutrina da proteção integral que substituiu a doutrina da situação

irregular consagrada no Código de Menores de 1.979. O atual paradigma foi adotado na

própria Carta Magna de 1988 e ratificada no ECA de 1990.

Segundo entendimento de Machado (2003) há,harmonia axiológica com a

supremacia que o valor dignidade humana recebeu com o Pacto de 1988 é que foi

inserida, na generosa concepção da Carta Cidadã, um sistema de proteção especial

para crianças e jovens, reconhecidos na sua especificidade de seres humanos ainda em

desenvolvimento físico, psíquico e emocional. (p. 105)

Assim, aplicada a medida socioeducativa pelo Poder Judiciário, sua execução

fica a cargo de programas socioeducativos específicos de responsabilidade de outro

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Poder, o Executivo. Eles fazem parte da política de atendimento definida nos artigos

86, 87 e 88 do Estatuto e, entre elas, encontram-se os programas de restrição de

liberdade, a Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) e a Liberdade Assistida (LA),

foco da proposta de pesquisa.

As medidas socioeducativas em meio aberto estão dispostas no ECA do seguinte

modo:

Art. 117. A Prestação de Serviços Comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a 6 (seis) meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como, em programas comunitários ou governamentais. Parágrafo único – As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de 8 (oito) horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho. (ECA, 1990) Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. Parágrafo 1º - A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento. Parágrafo 2º - A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de 6 (seis) meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor (ECA, 1990).

O detalhamento da política socioeducativa e do funcionamento dos programas

encontram-se ancorados no ECA e, em especial, nos parâmetros do SINASE de 2006

que, por meio de Resolução do CONANDA, temos como definição:

Um conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico,

político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de

apuração do ato infracional até a execução de medida socioeducativa. (SINASE, 2006,

Apresentação)

A partir desses referenciais e, em especial do SINASE, ainda em fase de

implementação, que a pesquisa pretende promover a cartografia da política

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socioeducativa do Estado de Minas Gerais, com recorte, no Município de Alfenas,

tomando os mapas dos programas socioeducativos em meio aberto de PSC e LA.

Serão tomados como aprofundamento de determinados aspectos sobre o objeto

de estudo, o diagnóstico da situação nacional e, especialmente, os aspectos que

permeiam a gestão da política socioeducativa, como a articulação interinstitucional,

intersetorial e interdisciplinar do sistema de garantia de direitos; os princípios da doutrina

da proteção integral e da política de direitos humanos; as diretrizes da municipalização e

da descentralização política e da participação democrática e participativa; o papel dos

Conselhos de Direitos na elaboração da política de direitos, dos planos decenais nos

três âmbitos da administração pública (federal, estadual, municipal).

3. Medidas socioeducativas em meio aberto

A proposta da política nacional é de que o atendimento às medidas de meio

aberto ocorram no âmbito municipal, sendo da competência desse ente federado a

criação e a manutenção de programas de atendimento para execução dessas medidas.

Importante ressaltar que dentre as diretrizes da política de atendimento, previstas no

art.88 do ECA, além da municipalização do atendimento, também está prevista a

observância da descentralização político-administrativa dos programas a serem criados,

cabendo aqui a seguinte distinção:

Municipalização: visa determinar que as práticas de atendimento à criança e ao

adolescente ocorram no âmbito municipal, de modo a fortalecer o contato e o

protagonismo da comunidade e das respectivas famílias.

Descentralização político-administrativa: refere-se a toda política destinada à

criança e adolescente, possibilitando ao poder público estabelecer parcerias com ONGs

para cooperação na execução de políticas públicas.

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Urge a necessidade de se priorizar a implantação das medidas de meio aberto, já

que estas não estão sujeitas aos princípios de excepcionalidade e brevidade, e se

colocam numa escala de aplicação mais imediata e inicial. Busca-se assim reverter a

tendência crescente de internação dos adolescentes, bem como confrontar a sua

eficácia invertida, uma vez que se tem constatado que a elevação do rigor das medidas

não tem melhorado substancialmente a inclusão social dos egressos do sistema

socioeducativo.

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, no seu artigo nº 112, as

medidas socioeducativas são aplicadas e executadas, de acordo com a interpretação do

juiz da Vara da Infância e da Juventude, mediante o ato infracional que o adolescente

cometeu, tendo sempre aspectos educativos no sentido de proteção integral, garantindo

ao adolescente, oportunidades de superar a condição de exclusão e participação de

fato, na vida social.

As medidas socioeducativas se dividem em medidas em meio aberto que são:

advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade,

liberdade assistida e medidas sociais privativas de liberdade que são: semi liberdade e

internação.

As medidas socioeducativas são de diversos níveis, sendo aplicadas conforme o

delito que o adolescente cometeu. Segundo Liberati (2003, p. 100) essas medidas

somente serão aplicadas, quando puderem respeitar a capacidade do infrator para

cumpri-las, como também, a gravidade da infração. Caso contrário, o adolescente não

poderá ficar sujeito ao cumprimento de medidas em circunstâncias vexatórias ou que

violem sua dignidade.

3.1. Prestação de serviços à comunidade

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A realização, pelo adolescente, de trefas gratuitas, de interesse geral, por período não excedente a seis meses, deve ser feita junto a entidades sociais, hospitais, escolas, programas sociais e comunitários, tanto no âmbito governamental quanto no não-governamental. Por interesse geral, compreende-se aquele que “satisfaz direta ou indiretamente o bem comum, porque é através da solidariedade social, do apoio mútuo e do vínculo de co-responsabilidade que interagem os homens entre si, que se restabelece e desenvolve personalidade sadia” (Cury, 1991:14).

A aplicação da medida socioeducativa de Prestação de Serviços à Comunidade

não deve ser confundida com “pena de trabalhos forçados”, muito menos imbuída de

caráter punitivo, com o estabelecimento de atividades que possam denegrir ou

constranger o adolescente. Os serviços a serem prestados devem, contudo, ser de

relevância comunitária, incutindo no adolescente sentimentos de responsabilidade e

valorização da vida social e comunitária.

Trata-se de uma medida socioeducativa em meio aberto e, apesar de não

configurar propriamente um regime de atendimento, sinaliza para a necessidade de

estruturação de um programa para sua execução. O SINASE propõe o atendimento com

a estruturação de um corpo técnico mínimo e similar ao que o ECA estabelece para a

medida de liberdade assistida:

• 01 técnico para vinte adolescentes;

• 01 pessoa que seja referência socioeducativa / com função de gerência ou

coordenação;

• orientadores Socioeducativos (um para dois adolescentes).

3.2. Liberdade assistida

A medida de liberdade assistida configura-se a mais adequada em situações em

que, sendo grave ou não o ato cometido, o adolescente seja capaz de compreender a

ilicitude do ato e se proponha a receber acompanhamento, auxílio ou orientação para a

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reformulação do seu processo de convivência social e comunitária. A intervenção e ação

socioeducativa da medida “deve estar estruturada com ênfase na vida social do

adolescente – família, escola, trabalho, profissionalização e comunidade, possibilitando,

assim, o estabelecimento de relações positivas que é a base de sustentação do

processo de inclusão social à qual se objetiva”. Por este motivo, essa medida deve ser

constantemente avaliada, podendo a autoridade judicial, em qualquer tempo, prorrogá-

la, revogá-la, ou substituí-la. O ECA estabelece na L.A. regime próprio de atendimento,

portanto, há a necessidade da criação de um programa de execução, em atenção aos

dispositivos legais previstos.

O SINASE chama atenção para a necessidade de garantir-se ao adolescente o

atendimento psicossocial e jurídico, pelo pessoal do próprio programa ou pela rede de

serviços locais. O programa pode valer-se do sistema de orientador comunitário –

pessoas da própria comunidade que devem ser acompanhadas e monitoradas pela

equipe técnica do programa, ou do sistema de orientador técnico – sendo o próprio

técnico a referência de acompanhamento e monitoramento do adolescente no

cumprimento da medida.

Ao ser aplicada pela autoridade competente, a liberdade assistida se caracteriza como “ instituição legal, colocando o adolescente, por decisão do juiz, em seu meio natural, sujeito à orientação e assistência do pessoal tutelar. Não é uma sanção penal, mas limita a liberdade e alguns direitos do menor, segundo as condições impostas com vista aos seus fins pedagógicos” (Albergaria, 1991:127-128).

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PARTE III

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVA AO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM

A LEI

1. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE)

De acordo com o Sistema de Atendimento Sócio-Educativo (2006, p. 18, 19)

devido ao aumento das medidas socioeducativas aplicadas ao adolescente, autor de ato

infracional em regime de privação de liberdade, ou em meio aberto, foi necessário

pensar em um sistema que regesse a aplicação das medidas em todos os aspectos, um

projeto que proporcionasse aos adolescentes em conflito com a lei um atendimento

socioeducativo e humanizado. Por isso foi aprovado no ano de 2006 pelo Conselho

Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente o projeto de lei denominado SINASE.

Segundo SINASE (2006) às medidas socioeducativas devem ter natureza sócio-

pedagógica, visto que sua execução esteja condicionada a garantia de direitos e ao

exercício da cidadania. Ela vem dar diretrizes para os profissionais e instituições que

aplicam as medidas socioeducativas, priorizando as medidas de prestação de serviço à

comunidade e liberdade assistida, pois essas medidas responsabilizam o adolescente

quanto aos seus atos, sem privá-los de sua liberdade, ficando próximos aos familiares e

em contato com a comunidade. Tem como objetivo reduzir o número de adolescentes

internados na Fundação Casa – Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente

– visto que a internação em muitos casos não reduz a criminalidade.

O SINASE é um conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro a administrativo, que envolve desde o processo de apuração de ato infracional até a execução da medida socioeducativa. Este sistema nacional inclui os sistemas estaduais, distritais e

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municipais, bem como, todas as políticas, planos e programas específicos de atenção a esse público (SINASE, 2006, p.23).

Ele propõe ações de ação e gestão de medidas socioeducativas que vão desde o

atendimento inicial do adolescente até as características da construção das unidades de

privação de liberdade.

O SINASE (2006) traz que, as entidades e programas de atendimento que

executam as medidas socioeducativas, devem conter parâmetros de ação

socioeducativa pelos seguintes eixos estratégicos: suporte institucional e pedagógico

adequando aos adolescentes. Diversidade étnica racial e de gênero que respeite as

diferenças, quebrando o preconceito e promovendo a igualdade. No âmbito da

educação são necessárias ações que garantam o sucesso e a permanência dos

adolescentes na rede regular de ensino. A cultura, esporte e lazer são fundamentais

para o adolescente, pois o mesmo necessita dessa interação. Na área de saúde é

preciso desenvolver ações que abordem temas como: autocuidado, auto-estima,

alcoolismo, drogas, prevenção e tratamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis -

DST e AIDS, saúde bucal, saúde mental, entre outros temas. O fortalecimento de

vínculos familiares e comunitários é extremamente importante para que o adolescente

esteja integrado com a família e com a comunidade. Quanto à inserção no mercado de

trabalho são necessárias ações que ofereçam capacitação profissional. O eixo sobre

segurança engloba investir nas medidas de prevenção contra brigas, motins, fugas,

invasões e incêndios.

Todos esses eixos que são trazidos pelo SINASE oferecem uma estrutura com

mais qualidade e segurança para o cumprimento das medidas socioeducativas.

Os aparatos legais como: Constituição Federal, de 1988, ECA, SINASE

fundamentam um novo reordenamento do Estado frente à gestão das medidas

socioeducativas em meio aberto, em um processo de descentralização e

municipalização e nesta perspectiva abordaremos a gestão social no próximo capítulo.

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2. Gestão social pública

A gestão social propicia aos cidadãos o acesso a bens e serviços por meio de

políticas públicas. Segundo Carvalho (1999, p. 19 e 28) a gestão social é a gestão das

ações sociais públicas, são demandas e necessidades dos cidadãos, construídas e

modificadas socialmente, a política social, os programas sociais, os projetos são

respostas a estas necessidades e demandas. A gestão social é uma nova forma de

conduzir as políticas públicas frente ao reordena mento do Estado com o processo de

descentralização e municipalização.

O modelo de gestão social propicia o atendimento a diversas expressões da

questão social.

A gestão social abrange uma variedade de atividades que intervêm em áreas da vida social em que a ação individual auto-interessada não basta para garantir a satisfação das necessidades essenciais da população. Estas áreas são bastante diferenciadas, indo desde o abandono de crianças e de idosos por parte dos familiares, a falta de abrigo para indigentes e enfermos físicos ou mentais, até a exclusão temporária ou definitiva da produção social de pessoas aptas ao trabalho e necessitadas de renda. (SINGER, 1999, p.55)

A gestão social proporciona a população fortalecimento e participação, Maia

(2005, p. 16) relata que é possível compreender a gestão social como um conjunto de

processos sociais que dá condições para o desenvolvimento, transformação, formação

da democracia e da cidadania, visando o enfrentamento às expressões da questão

social e a efetiva participação dos cidadãos historicamente excluídos dos processos de

distribuição das riquezas e do poder. O Serviço Social é um mediador importante para a

afirmação da gestão social, especialmente pelo conjunto de referenciais ético-político e

teórico-metodológico, que objetivam a afirmação dos valores da cidadania e justiça

social.

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Quando o assunto é gestão, as condições formais da execução podem mobilizar mais facilmente, pois surgem com mais concretude e objetividade, mas certamente, também revelam a necessidade de exploração de outras dimensões. Assim pode-se dizer que a gestão é extensão de propósitos. É atribuição de sentidos e compromisso com resultados (NOZABIELLI, 2003, p. 103).

As equipes técnica e operacional atuantes na gestão social com determinação

tem capacidade técnica e propositiva de alcançar resultados positivos, quanto às

necessidades dos cidadãos que necessitam de atendimento, nas diversas políticas

públicas.

2.1. Gestão do Sistema Único de Assistência Social (SUAS)

Segundo a Política Nacional de Assistência Social (2004, 27) – política pública

responsável pela execução das medidas socioeducativas – tem como objetivos:

Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou,

especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem; [...] assegurar que

as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que

garantam a convivência familiar e comunitária; Sua organização permeia a

descentralização político-administrativa, assim, em consonância com a referida politica o

SINASE (2006) estabelece que cabe ao Estado, coordenador das normas gerais e, aos

estados e municípios cabem a coordenação e execução dos programas sociais, dentre

eles, os que atendem as medidas socioeducativas.

O SUAS (Sistema Único de Assistência Social), faz parte da gestão da Política

Nacional de Assistência Social. Vanzetto (2005, p.11) relata que o SUAS é um sistema

público, descentralizado e participativo que tem como foco de sua ação o atendimento à

família, através dos serviços de proteção social básica e proteção social especial,

trazendo três níveis de gestão: gestão inicial, básica e plena.

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Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2008, p.

29) a gestão inicial comprova a criação de conselhos, fundo municipal e a elaboração do

plano de assistência social. Desta forma, a gestão parte do patamar das condições

mínimas para entrar no sistema descentralizado e participativo. As responsabilidades

nesse nível são: inserir famílias mais vulneráveis no cadastro único, preencher o plano

de ação e apresentar o relatório de gestão. Na gestão básica dentre as exigências

destacam-se a existência do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), a

realização de áreas de risco e vulnerabilidade social e a manutenção de secretaria

executiva no Conselho de Assistência Social.

Na gestão plena é extremamente importante a presença de um sistema municipal

de monitoramento e avaliação, a capacidade de atuar na proteção social de alta

complexidade, contar com gestor do fundo lotado no órgão responsável pela assistência

social e ter uma política de recursos humanos com carreira para servidores públicos.

Os níveis de gestão trazidos pelo SUAS são de extrema importância para

conduzir de forma efetiva a gestão nos Estados e municípios.

A política de proteção integral dos direitos da criança e do adolescente consiste

em um conjunto articulado de ações governamentais, da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios e das organizações da sociedade civil.

Esta concepção de política pressupõe que a organização e a gestão dos serviços

e programas são responsabilidade dos Governos dos três entes da Federação, em

ações que são complementares ou exclusivas de um ou outro nível de Governo. São

linhas de ação da política de atendimento a crianças e adolescentes:

• Políticas sociais básicas: aquelas que alcançam todas as crianças e adolescentes, independente de sua situação jurídica (direito à educação, à saúde, ao lazer, à cultura).

• Políticas de assistência social: voltadas para quem se encontra em estado de vulnerabilidade social ou necessidade temporária ou permanente.

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• Políticas de proteção especial: atingem aqueles com integridade física, psicológica e moral violada ou ameaçada de violação.

• Políticas de garantia de direitos: destinam-se àqueles que necessitam da atuação do poder público no sentido de defender seus já consagrados direitos.

A conjugação articulada dessas quatro políticas pelo Estado brasileiro conforma o

que se define como a política de proteção integral.

A política de atendimento socioeducativo implica, portanto, a conjugação de

ações que se situam nos quatro campos de políticas enumeradas anteriormente e

compreende o conjunto de diretrizes, princípios, estruturas, procedimentos e arranjos

institucionais voltados para o atendimento ao adolescente autor de ato infracional.

Desde junho de 2006 o Brasil conta com a existência de diretrizes para a

organização e o funcionamento do SINASE. Um dos mais importantes princípios do

SINASE orienta que o atendimento socioeducativo não pode estar isolado das demais

políticas públicas, devendo ser articulado com os demais serviços e programas que

visem atender os direitos dos adolescentes (saúde, defesa jurídica, trabalho,

profissionalização, escolarização etc.).

Para tanto, as demais políticas, principalmente as de caráter universal, devem ser

prestadas com eficiência e de forma integrada e indiscriminada às crianças e

adolescentes que tenham praticado ato infracional da mesma forma com que se atende

aquelas que não estão em conflito com a lei. Além disso, é importante realçar que,

atualmente, estamos implementando, também em regime de cooperação federativa, o

Sistema Único de Assistência Social – SUAS a Política Nacional de Assistência Social.

Tal movimento é também bastante importante para o atendimento ao adolescente autor

de ato infracional. Isto porque, no novo modelo socioassistencial brasileiro, o

adolescente em cumprimento de medida socioeducativa em regime de Liberdade

Assistida e Prestação de Serviços à Comunidade e a sua família são definidos como

usuários da política de assistência social.

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A PSC e a LA são de responsabilidade dos Governos Municipais, que, por certo,

deverão contar com o apoio dos demais níveis de Governo, da sociedade local, dos

agentes do Judiciário que atuam na localidade. Desde que o Estado começou a intervir

no campo social no Brasil, as questões relativas à criança e do adolescente, aos idosos,

às pessoas com deficiência, entre outros,tornaram-se campos específicos de atuação

da assistência social. Por esta razão é importante apresentar em linhas gerais algumas

especificidades da nova Política de Assistência Social consagrada na Carta Magna de

1988. Após a Constituição de 1988 a assistência social é legalmente concebida como

uma política pública de seguridade social que integra as funções de proteção social do

Estado.

Tal política passa a ser nomeada como um direito do cidadão e um dever do

Estado, contrapondo-se à noção da assistência como um conjunto de iniciativas de

caráter assistencialista, dependente da boa vontade e de favores. fora do campo do

direito à cidadania.

O reconhecimento da assistência social como direito a partir da Constituição

Federal, e, logo depois, a regulamentação da Lei Orgânica de Assistência Social em

1993 e atualmente com a publicação em 2004 do novo texto da Política Nacional de

Assistência Social (PNAS), constituem processos políticos que possibilitaram a

organização do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). O referido sistema

representa um novo modelo socioassistencial a ser desenvolvido pelo Estado brasileiro.

Depois da aprovação da Política Nacional de Assistência Social e da instituição

do SUAS algumas mudanças no que diz respeito à concepção da assistência social e à

forma de organização e gestão da política marcam o campo da assistência e projetam a

universalização do atendimento na perspectiva da cidadania e dos direitos.

A nova política de assistência social em muito se assemelha ao que dispõe a

política de atendimento à criança e ao adolescente prevista no Estatuto da Criança e do

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Adolescente, mas apresenta alguns pontos para debate. Tais pontos serão destacados

adiante na oportunidade de se abordar o SINASE e o SUAS. Desta forma serão

resgatados alguns aspectos que caracterizam também as políticas que lhes dão origem.

O primeiro aspecto a ser comparado diz respeito ao público ao qual se destinam

ambas as políticas.

A política de assistência social tem como usuários os cidadãos e grupos que se

encontram em situação de vulnerabilidade e submetidos a riscos que resultem em

fragilidade ou corte dos vínculos familiares, comunitários e/ou societários, estando entre

eles os adolescentes autores de ato infracional. Tal política prevê um atendimento

específico para aqueles adolescentes que se encontram em situação de vulnerabilidade

por uma dada circunstância, a do cometimento do ato infracional. O entendimento de

que o ambiente familiar é o primeiro a exercer a função de proteção social e que, por

isso, deve ser fortalecido faz com que o grupo familiar seja também usuário da política.

A política definida no ECA, é bom lembrar, está voltada para o atendimento de

todas as crianças e adolescentes independe da condição social.

O segundo elemento de comparação consiste no fato de ambas

operacionalizarem o mandamento do artigo 204 da Constituição Federal de 1988 que

preconiza a descentralização político-administrativa e a participação popular por meio de

organizações representativas quando definem a existência de conselhos e instâncias de

participação popular.

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PARTE IV

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVATIVA EM NO ESTADO DE MINAS GERAIS

1. Sistema estadual de atendimento socioeducativo

As prerrogativas previstas no Estatuto (ECA) para atendimento a estes

adolescentes são desafiadoras. Em Minas Gerais alguns são muitos os problemas que

vem sendo enfrentados pelo sistema estadual socioeducativo como a inadequação dos

Centros de Internação aos parâmetros preestabelecidos, a aplicação insuficiente e,

muitas vezes inadequada, das medidas de Liberdade Assistida (LA) e Prestação de

Serviços à Comunidade (PSC) como medidas socioeducativas mais adequadas em

resposta a atos infracionais cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,

entre outros.

O Estado de Minas Gerais possui 853 municípios e 296 comarcas e uma

população infanto-juvenil, entre 12 e 17 anos completos, corresponde a 2.062.612, com

total de 1.041 adolscentes privados de liberdade numa proporção (por 10 mil

adolescentes) de 5.2%. Em medida de internação 652, em internação provisória, 284 e

em semiliberdade, 105. Em meio aberto, os dados apontam para 4.060 adolescentes,

numa proporção aproximada de 1,4% entre o meio fechado e o meio aberto. (

SDH/SNPDCA/SINASE, 2010 – População Adolescente IBGE, 2010) E, município de

Alfenas a população de infanto juvenil é de xxxxxxxx

A Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais tem recebido um

número crescente de solicitações de vagas e implantação de novos centros de

internação no interior do Estado. No ano de 2005, foram 595 pedidos e 138 vagas

liberadas, ou seja, cerca de 23% da vagas solicitadas no interior foram atendidas. Em

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2006, foram 1096 pedidos, quase o dobro do ano anterior, com 419 vagas liberadas,

cerca de 38% das vagas solicitadas no interior, o triplo das vagas liberadas no ano de

2005.

Apesar do aumento considerável do índice de vagas liberadas para o interior por

parte da Secretaria de Defesa Social, verificamos que, entre os pedidos não atendidos,

constam, em grande parte, cidades em que não ocorrem ou excepcionalmente ocorrem

situações como as previstas no artigo 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que

normatiza a aplicabilidade da medida de internação. O que se verifica é que, nestas

cidades, as medidas socioeducativas em meio aberto ou não foram implantadas ou não

cumprem seu papel devido a uma desarticulação técnica do órgão municipal executor

com o Poder Judiciário e/ou o Ministério Público. Como resultado desta ausência de

atuação do poder público, constata-se que, nestas cidades e mesmo em outras que não

demandam ao Estado vagas para a medida de internação, há um contingente de

adolescentes que permanecem presos em cadeias públicas, o que torna urgente a

discussão sobre uma ação efetiva neste contexto.

Seguindo as diretrizes do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI)

2007-2023, que “objetiva, de um lado, consolidar os avanços alcançados e, de outro,

imprimir maior eficácia às ações previstas na estratégia de desenvolvimento. o Governo

de Minas Gerais repensou a política de atendimento às medidas socioeducativas.

Visando “romper com o ciclo vicioso da criminalidade juvenil” (PMDI 2007-2023), a

Secretaria de Defesa Social passou a pensar as medidas de forma mais ampliada e

articulada, fundamentada no que preconiza o ECA, levando em conta a capacidade do

adolescente de cumprir a medida, as circunstâncias e a gravidade da infração (ECA,

art.112§ 1º), além de considerar “as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas

que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.” (ECA, art.110)

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Considerando que, muitas vezes, a reiteração de atos infracionais ocorre devido

à desarticulação das ações, que as diretrizes da política de atendimento previstas pelo

ECA implicam uma “integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público,

Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social” (ECA, inciso V do art.88), e que o

Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH II) propõe “promover a integração

operacional de órgãos do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensorias Públicas e

Secretarias de Segurança Pública com as delegacias especializadas em investigação de

atos infracionais praticados por adolescentes e às entidades de atendimento, bem como

ações de sensibilização dos profissionais indicados para esses órgãos quanto à

aplicação do ECA” (PNDH II, item 159), não basta que o Estado pense o atendimento ao

adolescente autor de ato infracional somente a partir da execução das medidas

socioeducativas privativas de liberdade.

Torna-se preciso, conforme prevê o Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (SINASE), “estabelecer com os Municípios, as formas de colaboração

para o atendimento socioeducativo em meio aberto” e, a partir disso, “prestar assistência

técnica aos municípios na construção e na implementação do Sistema Socioeducativo,

nele compreendidas as políticas, planos, programas e demais ações voltadas ao

atendimento ao adolescente que se atribui ato infracional desde o processo de

apuração, aplicação e execução de medida socioeducativa”.

É seguindo esta orientação que a até então Superintendência de Atendimento às

Medidas Socioeducativas (SAME) deu origem à Subsecretaria de Atendimento

Socioeducativo (SUASE), a qual se subdivide em duas Superintendências: uma para

Gestão das Medidas de Privação de Liberdade, que substitui a antiga SAME, e outra

que inaugura uma nova orientação na estratégia de ação do Estado no atendimento ao

adolescente autor de ato infracional: a Superintendência de Gestão das Medidas de

Meio Aberto e Semiliberdade.

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Com a criação da Superintendência de Gestão das Medidas de Meio Aberto e

Semiliberdade, o Estado reafirma sua função no âmbito das medidas socioeducativas,

na articulação entre o Poder Judiciário, Ministério Público, os municípios, os órgãos de

segurança pública e, principalmente, entre as próprias medidas, produzindo um

redirecionamento nas prioridades do processo socioeducativo do adolescente autor de

ato infracional. Por outro lado, introduzir as medidas em meio aberto em uma política de

segurança pública no Estado é inaugurar um novo estatuto político para as mesmas. A

nova Superintendência redefine a função da medida privativa de liberdade a partir da

articulação com as outras medidas. Para que os programas de execução das medidas

em meio aberto e semiliberdade pensem a sua prática, não basta a pergunta: “Por que

tal medida foi aplicada a tal caso?”. Para focá-las em uma política socioeducativa mais

ampla, é preciso partir da seguinte pergunta: “Por que a medida privativa de liberdade

não é aplicável a tal caso?”.

Dentro desta perspectiva, a medida privativa de liberdade é o ponto inaugural

para pensar a função das outras medidas, que poderiam ser consideradas como

“medidas alternativas” à internação. Por outro lado, se a medida privativa de liberdade é

inaugural para se fundar o espaço de aplicação das medidas socioeducativas, a nova

política de atendimento ao adolescente autor de ato infracional indica que o princípio de

orientação da aplicação das medidas deve apontar para a priorização da articulação das

medidas em meio aberto como alternativas à privação de liberdade. Esta estratégia de

ação segue a direção prevista nos itens 155 e 156 do PNDH II: “Incentivar o

reordenamento das instituições privativas de liberdade para os adolescentes em conflito

com a lei, reduzindo o número de internos por unidade de atendimento e conferindo

prioridade à implantação das demais medidas socioeducativas previstas no ECA, em

consonância com as resoluções do CONANDA.” (PNDH II, item 156)

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Finalmente, nesta orientação política inaugural de uma estratégia inovadora de

atendimento às medidas socioeducativas, pode-se dizer que, na relação entre meio

aberto e meio fechado, é preciso abrir para, em algum momento, poder se decidir por

fechar ou não.

Diretrizes da Diretoria de Apoio e Incentivo às Medidas em Meio Aberto e

Semiliberdade

A Diretoria de Apoio e Incentivo às Medidas em Meio Aberto e Semiliberdade,

que compõe a Superintendência de Gestão das Medidas de Meio Aberto e Articulação

da Rede Socioeducativa, é responsável pela execução da política estadual de medidas

socioeducativas em meio aberto, partindo da definição das seguintes diretrizes:

• Fomentar a implantação e promover a efetividade das medidas socioeducativas em meio aberto e semiliberdade, mobilizando e articulando estas medidas com a rede de atendimento ao adolescente em conflito com a lei;

• Definir diretrizes para uma política de execução da medida de semiliberdade, considerando a sua função em relação às outras medidas;

• Qualificar o fluxo do sistema socioeducativo e criar alternativas efetivas para minimizar a necessidade de aplicação da medida privativa de liberdade, garantindo o seu caráter excepcional;

• Qualificar a entrada do adolescente autor de ato infracional no sistema, articulando o fluxo entre a apreensão, aplicação e execução das medidas em meio aberto e semiliberdade;

• Acompanhar a execução das medidas em meio aberto e semiliberdade através da articulação com o Ministério Público, Poder Judiciário e a parceria com o órgão executor da medida;

• Articular as medidas em meio aberto e semiliberdade aos órgãos de segurança pública envolvidos no processo de atendimento do adolescente em conflito com a lei, introduzindo um novo enfoque na prática das medidas.

A implantação da política estadual de medidas socioeducativas em meio aberto

se estrutura em etapas que criterizam a relevância e perspectiva de abrangência da

ação e, a partir desta definição, cria instrumentos de assessoramento e suplementação

para a efetividade da execução das medidas. Ou seja, não se trata somente de

incentivar a implantação e estruturação inicial para o funcionamento das medidas em

meio aberto, mas também de supervisionar a direção do atendimento socioeducativo,

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dando subsídios técnicos e conceituais para a qualificação da prática de atendimento ao

adolescente autor de ato infracional a partir dos princípios que orientam a execução da

medida.

Para a consolidação desta implantação, o processo se desdobra nas seguintes

etapas, em ordem de prioridade:

Definição dos municípios para implantação da política estadual de medidas

socioeducativas em meio aberto

Fundamentada no mapeamento prévio das medidas socioeducativas no Estado

de Minas Gerais, a definição dos municípios se conclui a partir de critérios de

priorização, conforme seguem abaixo:

• demanda qualificada encaminhada para a SUASE;

• a qualificação de uma demanda implica em contextualizar os impasses do processo socioeducativo que localizem qual a intervenção necessária. Para isso, partiremos de um relatório conjunto construído pelos órgãos envolvidos no atendimento ao adolescente autor de ato infracional no município.

• centro de internação implantado ou em implantação na região

• A partir de um redirecionamento da lógica do sistema socioeducativo para a priorização do meio aberto por meio de uma articulação com as medidas privativas de liberdade, o objetivo é qualificar o fluxo do sistema socioeducativo e criar alternativas efetivas para minimizar a necessidade de aplicação da medida socioeducativa de internação, priorizando os municípios onde o centro de internação já existe ou está em vias de ser implantado;

• localização do município na região

• Seguindo a forma de atuação da política estadual de medidas socioeducativas em meio fechado, a proposta é realizar ações regionalizadas, que alcancem o maior número de municípios possível. Para isso, focalizará ações em municípios pólos das regiões do estado, que estejam estrategicamente localizados, com uma ampla possibilidade de abrangência na região;

• articulação da rede para o atendimento ao adolescente em conflito com a lei

A relação que as medidas em meio aberto estabelecem com os mecanismos da

rede estrutura o campo de atuação das medidas, definindo muitas de suas

possibilidades de efetividade. A viabilidade de atuação das medidas socioeducativas em

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meio aberto se defini em dois âmbitos: em uma primeira instância de implementação e

aplicação das medidas socioeducativas, a partir da relação dos órgãos executores das

medidas com o Ministério Público, Poder Judiciário, Conselho Municipal dos Direitos da

Criança e do Adolescente e outras medidas socioeducativas existentes. Em uma

segunda instância de implementação e execução das medidas socioeducativas, se

defini a partir da relação dos órgãos executores das medidas com a rede de saúde

mental, educação, segurança pública, assistência social, sociedade civil, etc.;

Segundo o Levantamento realizado pelo CAOIJ/MG (2006/2007) – Centro de

Apoio Operacional às Promotorias de Infância e Juventude do Estado de Minas Gerais a

situação no período era a seguinte:

Situação/Existência Das Medidas Sócio-Educativas de

Prestação de Serviços à Comunidade e Liberdade Assistida.

Quadro 1 -

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE - PSC

Total de Comarcas MG

Total de Comarcas que Tem PSC

Total de Comarcas que Não tem PSC

Total de Comarcas tem PSC irregular

294 60 133 101

LIBERDADE ASSISTIDA – LA

Total de Comarcas MG

Total de Comarcas que Tem LA

Total de Comarcas que Não tem LA

Total de Comarcas tem LA irregular

294 42 192 60

Fonte: Apuração concluída maio/2008

Avaliação dos dados sobre a prestação de serviços à comunidade:

I. Considerando a forma de atendimento mais adequada, com um programa específico, à luz do SINASE, algumas Comarcas que responderam SIM (Tem/PSC), apresentaram uma opção que, talvez, se enquadraria melhor no atendimento irregular.

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II. Muitas das Comarcas que responderam NÃO ao atendimento de PSC, pode ser que o tenha de forma irregular.

III. Identificamos como IRREGULAR os atendimentos de forma improvisada, sem um programa específico, e/ou por órgão de caráter não executivo.

IV. Quadro informativo sobre as opções de execução de PSC, segundo as respostas afirmativas:

Quadro 2 -

Nº de Opções Entidade Responsável

1 Prefeitura

2 ONG

3 Prefeitura e ONG

4 Prefeitura e Asilo

5 Prefeitura e Creche

6 Prefeitura e Escola

7 Prefeitura/Apae/Polícia Militar

8 CEPAL - Central de Penas Alternativas

9 Entidades Assistenciais

10 Prefeitura e Judiciário

11 Prefeitura/Obras Assist.

12 Prefeitura/Judiciário/ONG

Fonte:

V. Quadro informativo sobre as opções de execução de PSC, segundo as respostas avaliadas como irregular:

Quadro 3 -

Nº de Opções Entidade Responsável

1 Judiciário

2 Prefeitura

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3 Conselho Tutelar

4 Prefeitura e Escola

5 Inst.Beneficentes / Inst. Públicas

6 Prefeitura e Hospital

7 Escolas Públicas

8 Quartel PM / Apae / Delegacia e outros

9 Escolas / Asilo / APAE/ Abrigo

10 Judiciário e Inst. Filantrópicas / ONG

11 Prefeitura e Conselho Tutelar

12 Prefeitura e Judiciário

13 Judiciário e Conselho Tutelar

14 Pet e Agente Jovem

15 Judiciário e MP

16 Asilo/Igrejas/Casa Espírita

17 Entidades Filantrópicas/Asilos/creches

18 Hospital/ Escola/ Asilo

19 Cemitério / Asilo/ Outros

20 Escolas e Polícia Militar

Fonte:

Avaliação dos dados sobre liberdade assistida:

I. Considerando a forma de atendimento mais adequada, com um programa específico, à luz do SINASE, algumas Comarcas que responderam SIM (Tem/LA), apresentaram uma opção que, talvez, se enquadraria melhor no atendimento irregular.

II. Muitas das Comarcas que responderam NÃO, ao atendimento de LA, pode ser que o tenha de forma irregular.

III. Foi identificado como IRREGULAR os atendimentos de forma improvisada, sem um programa específico, e/ou por órgão de caráter não executivo.

IV. Quadro informativo sobre as opções de execução de LA, segundo as respostas afirmativas:

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Quadro 4 -

Nº de Opções Entidade Responsável

1 Prefeitura

2 Prefeitura e Conselho de Direitos

3 ONG

4 Prefeitura/ Judiciário e outros

5 Universidade / Parceria MP

6 Prefeitura / Entid.Beneficentes

7 Prefeitura / Judiciário/ ONG

Fonte:

V. Quadro informativo sobre as opções de execução de PSC, segundo as respostas avaliadas como irregular:

Quadro 5 -

Nº de Opções

Entidade Responsável

1 Judiciário *

2 Judiciário e Conselho Tutelar

3 Conselho Tutelar

4 ONG

5 Conselho Tutelar e pais

6 Prefeitura e Juizado

7 Judiciário/C.Tutelar/ Conv.Mp e Faculdade

8 Conselho Tutelar e Comissariado

Fonte:

* Obs. Compreende o atendimento realizado diretamente pela autoridade judiciária, com ou sem os técnicos judiciários (assistente social ou psicólogo). Tem um caso também de atendimento pela equipe de comissariado.

2. Sistema municipal de atendimento socioeducativo de Alfenas

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O adolescente visto como sujeito de direitos é o ator principal no processo de

gestão das medidas socioeducativas, tendo como objetivo a busca por sua reintegração

na sociedade e o rompimento com a criminalidade.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) traz um modelo de gestão das

medidas socioeducativas descentralizado e municipalizado, também estabelece a

política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente, é o que dispõe o artigo

nº 86:

Art. nº 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (ECA, 1990).

Segundo Nozabielli (2003, p. 141) a gestão das medidas socioeducativas tem por

princípio construir competências compartilhadas, para que a incompletude seja

preenchida por flexibilidade e adaptação, exigidas no processo de gestão das medidas

socioeducativas em meio aberto, devendo ser eficiente e propositiva para que possa

propiciar condições ao adolescente em conflito com a lei romper com a criminalidade.

É necessário que toda a equipe técnica que faz o atendimento ao adolescente

em conflito com a lei, tenha total concordância na execução das ações e que, não haja

distanciamento dos atores envolvidos neste processo.

Arquitetar um modelo de gestão das medidas socioeducativas no espaço local implica em construir e desconstruir fazeres, saberes e poderes, tendo por princípio a totalidade e a historicidade. Trata-se de um arranjo sofisticado que requer a combinação de vários elementos: institucionalidade, compromisso, parcerias, criatividade, iniciativa e novas subjetividades (NOZABIELLI, 2003, p. 69).

A rede de atendimento da gestão das medidas socioeducativas envolve diversos

setores da sociedade, visto que o processo de gestão das medidas é bastante

complexo.

De acordo com Nozabielli, (2003, p. 26) a gestão das medidas socioeducativas é

realizada por diversas organizações: Vara da Infância e Juventude que é representada

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pela autoridade judiciária, sendo o juiz que julga o ato infracional cometido pelo

adolescente, tendo por base os princípios e as normas estabelecidas pelo Estatuto da

Criança e do Adolescente. Na forma do art. nº 148 do ECA, compete ao juiz: conhecer

as representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional

atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis a conceder a remissão, como

forma de extinção ou suspensão do processo. Ao Ministério Público compete à

representação pelo Promotor de Justiça.

Na forma do art. nº 201, do Estatuto da Criança e do Adolescente, é dever do

Ministério Público: conceder a remissão, como forma de exclusão ou extinção do

processo e promover e acompanhar os procedimentos relativos às infrações dos

adolescentes. No percurso de elaboração deste trabalho foi possível observar que a

municipalização das medidas socioeducativas em meio aberto não ocorre em Alfenas,

pela omissão do poder executivo municipal.

O município de Alfenas data de 1860 a sua criação e localiza-se na Região Sul

do Estado de Minas Gerais. Os dados do Censo de 2010 do IBGE (2010) mostram que

o município possui uma população de 73.722 habitantes. Com uma área de 848,3 km²,

representando 0,15% da área total do Estado de Minas Gerais, com densidade

demográfica de 79,01 habitantes por km² e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é

de 0,829.

Nos anos de 2005 e 2006, a mesma fonte demonstrava que o Brasil possuía

24.461.666 adolescentes entre 12 e 18 anos, desse total, 0,1425% representava a população de

adolescentes em conflito com a lei. Tal porcentagem, em números absolutos, significava 34.870

adolescentes autores de atos infracionais cumprindo algum tipo de medida socioeducativa em

todo o Brasil (Doc. Ação Social/PM Alfenas/MG, 2011).

Segundo levantamento da 18ª Companhia Independente da Policia Militar de Alfenas,

houve no ano de 2010 um total de 263 ocorrências envolvendo adolescentes no município e, em

2011 este número subiu para 281 ocorrências. As ocorrências no trânsito nos últimos sete

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meses (janeiro a julho de 2011) foram registradas 56 ocorrências, envolvendo adolescentes

(Doc. Ação Social/PM Alfenas/MG, 2011).

No Anexo I da referida instituição, denominado de “Menores infratores envolvidos

em ocorrências NE Janeiro de 2010 a Dezembro 2011, por natureza e variação, tem-se

os seguintes dados, por ordem de ocorrência, no município de ALfenas: ano de 2010 –

263 e ano de 2011 – 281, com variação percentual de 6,84%.

A título de ilustração, tem-se as seguintes ocorrências registradas nos dois anos,

excluídas as que tiveram indicador 0 (zero) no ano de 2011 e em que a maioria delas se

dá com o envolvimento de adolescentes no uso, consumo de drogas e tráfico de drogas

(134 casos), seguido de lesão corporal e agressão (72 casos), ameaça (28 casos),

receptação (18 casos), furto, no geral (59 casos), crimes contra o patrimônio (17 casos),

infração de trânsito (15), roubo no geral (9 casos), homicídio tentado (1 caso), infrações

entre pares (2) que foram agrupadas no geral tendo em vista levantamentos nacionais

na trajetória de atos infracionais cometidos por adolescentes.

Quadro 6 -

Tipo de ato Total geral 2010 Total geral 2011

Uso e consumo de drogas 35 40

Tráfico de drogas 25 32

Lesão corporal 15 22

Agressão 17 18

Ameaça 15 13

Receptação 06 12

Furto qualificado (arrombamento em veículo) 01 11

Contra o patrimônio 08 09

Furto de coisa comum 0 08

Infração no trânsito 02 07

Dano 17 07

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Atrito verbal 15 07

Furto qualificado (arrombamento em residência) 02 07

Furto consumado em estabelecimento comercial 0 06

Rixa 01 06

Furto consumado à transeunte 02 05

Outras ações de defesa social 0 05

Busca e apreensão de objetos pessoais 0 04

Direção perigosa de veículo na via pública 01 03

Furto consumado 06 03

Outras contra as pessoas 04 03

Outras contra os costumes 03 03

Furto de veículo consumado de bicicleta 05 02

Furto tentado a veículo 01 02

Infrações contra crianças e adolescentes 0 02

Injúria 0 02

Outras infrações referentes às substâncias entorpecentes 0 02

Apropriação indébita de coisa alheira móvel 0 02

Atropelamento de pessoa com vítima fatal 0 02

Roubo a mão armada consumado a prédio comercial 0 02

Roubo tentado à transeunte 0 02

Violação de domicílio 0 02

Furto de veículo tentado de automóvel 0 01

Furto qualificado arrombamento a estabelecimento bancário 0 01

Furto qualificado consumado arrombamento 02 01

Homicídio tentado 0 01

Mandado de prisão 0 01

Desacato 10 01

Difamação 01 01

Furto consumado a pessoa em estabelecimento comercial 01 01

Porte ilegal de arma de fogo 0 01

Roubo a mão armada consumado em supermercado 01 01

Roubo a mão armada consumado em transeunte 02 01

Fonte: 18ª Companhia Independente da Policia Militar de Alfenas / Ação Social-PM de Alfenas/MG, 2010-2011

Vide Anexo 2

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A população de Alfenas concentra-se no meio urbano (93,3%) contra 6,7% no

meio rural e isso reflete de modo diferenciado tomando a população economicamente

ativa (PEA), segundo dados do Censo do IBGE de 2000). O município se destaca como

o núcleo urbano mais desenvolvido da região, beneficiada por uma malha rodoviária

extensa que permite a concentração e distribuição de bens e serviços para os

municípios circunvizinhos.

A atividade industrial e comercial é a preponderante e, complementada pela

participação agro-pastoril e ainda como um centro produtor de café e de outras

monoculturas. O setor de gêneros alimentícios e laticínios aliado à pecuária e a

agroindústria sustentam a base da economia municipal. O setor de serviços vem

ganhando densidade econômica pela presença de Universidades e a implantação

diferenciados cursos superiores pelas UNIFAL (Universidade Federal de Alfenas) e

UNIFENAS (Universidade José do Rosário Vellano) e, isso, tem exigido novo perfil de

trabalhador, cada vez mais escolarizado e qualificado para o trabalho.

Os dados disponíveis da Secretaria de Governo de Alfenas indicam que a

expectativa média de vida saltou de 71,46 para 76,9 anos no último decênio. E, sobre os

indicadores de Pobreza (proporção de pessoas com renda domiciliar per capita de ¼ do

salário mínimo) eram de 13,5% em 2000, com uma taxa anual de crescimento de 2,80%

registrados entre 1991 e 2000.

A atual administração busca em consonância com a Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2004), por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, a construção de uma política pública de direção universal e de direito de cidadania, com capacidade de assegurar os direitos sociais às pessoas que dela necessitam independente de sua renda, a partir de sua condição inerente de direitos (Doc. Ação Social/PM Alfenas/MG, 2011).

O Plano Diretor de Alfenas objetiva ser o instrumento básico da política pública

de promoção do desenvolvimento municipal combinando a função social da

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propriedade, do desenvolvimento sustentável da cidade e, com isso, resultando na

melhoria dos níveis de qualidade de vida e bem estar da população, em geral, na

redução dos índices de desigualdades sociais.

Dentre uma série de problemas que permeiam a área social, segundo

informações coletadas pelo pesquisador junto às equipes técnicas da área social e da

justiça: uso de substâncias psicoativas (uso de substâncias químicas/drogas/álcool);

exclusão pela pobreza e/ou ao acesso às demais políticas públicas (violação dos

direitos sociais); exclusão pela pobreza e/ou ao acesso às demais políticas públicas

(bolsões de pobreza); estratégias alternativas e diferenciadas de sobrevivência que

podem representar risco pessoal e social (trafico de drogas); estratégias alternativas e

diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social (prática de

atos infracionais); famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de

afetividade, pertencimento e sociabilidade (convivência social precária).

Migração/população em situação de rua (migrante); diferentes formas de violência

advindas do núcleo familiar, grupos e indivíduos (violência doméstica).

Para fazer frente à demanda referida o município possui uma série de programas,

projetos e serviços sociais desenvolvidos pelo público quanto pelo setor privado

(organizações não-governamentais). E segundo, informações das equipes técnicas, a

Secretaria Municipal da Criança e Adolescente, Igualdade Racial e Desenvolvimento

Social, em 2010, atendeu 4.000 (quatro mil) pessoas por meio dos benefícios sociais

eventuais nos programas de transferência de renda, fato que ainda demonstra a

distância entre os direitos sociais proclamados constitucionalmente com a realidade

concreta vivida pelas camadas populares e, também pela pouca capacidade de

afirmação dos direitos de cidadania, tanto do cidadão quanto do próprio Estado.

Um destaque que interessa ao problema da pesquisa se refere ao consumo de

drogas, incluindo o álcool, pelos adolescentes e jovens do município e, mesmo da

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região, principalmente em eventos festivos e/ou comemorativos, tendo em vista que os

relatórios dos sistemas socioeducativos, sistematizados pela Secretaria de Direitos

Humanos do Ministério da Justiça (SDH/MJ) tem dado destaque à aplicação de medida

de internação aos adolescentes envolvidos com drogas (consumo e/ou tráfico).

As novas institucionalidades foram criadas no município como os Conselhos de

Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar, Conselho de Assistência

Social, Conselho da Educação, Conselho da Saúde, Conselho Antidrogas, Conselho

Comunitário de Segurança Pública, Conselho do Idoso, Conselho das Pessoas

Portadoras de Necessidades Especiais, Conselho da Comunidade, entre outros.

No que interessa ao tema, faz-se necessário distinguir as atribuições e/ou

competências dos referidos Conselhos e, nesse caso, do Conselho de Direitos da

Criança e do Adolescente e do Conselho Tutelar. O primeiro é criado por lei, nas três

esferas da administração pública e o segundo apenas na esfera do poder público

municipal, conforme o disposto no Livro II, Parte Especial, Título I Da Política de

Atendimento, Capítulo I Das disposições gerais e Título V Do Conselho Tutelar, Capítulo

I Das Disposições Gerais, respectivamente:

Art. 88. São diretrizes da política de atendimento: (...) II – Criação de Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária, por meio de organizações representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais; (...) Manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente Art. 89. A função de membro do Conselho Nacional e dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do adolescente é considerada de interesse público relevante e não será remunerado. Art.131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei. Art. 132. Em cada Município haverá, no mínimo, um Conselho Tutelar composto de cinco membros, escolhidos pela comunidade local para mandato de três anos, permitida uma recondução.

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Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro constituirá serviço público relevante, estabelecerá presunção de idoneidade moral e assegurará prisão especial em caso de crime comum, até o julgamento definitivo. Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: I – atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no9 art. 101, I a VII; II – atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, inciso I a VII; (...) IV – Encaminhar ao Ministério Público notifica de fato que constitutiva infração administrativa ou penal contra os direitos da criança e do adolescente aos pais e responsáveis (ECA, 1990).

Cabe ressaltar que no ano de 2009, a Portaria nº 01/2009 do Poder Judiciário do

Estado de Minas Gerais cria o “Comissariado da Infância e Juventude”, em que seus

membros, ao todo 3 (três), todos do sexo masculino, com idade entre 30 a 50 anos. São

designados pela referida Portaria como “Comissários Voluntários da Infância e

Juventude da Comarca de Alfenas”. A justificativa legal para a criação desse

Comissariado se fundamenta “no disposto do art. 194, caput, in fine, da Lei 8.069/90 –

Estatuto da Criança e do Adolescente4, e os arts. 334 e seguintes do Provimento nº

161/CGJ/2006, de 01.09.2006, da Corregedoria Geral de Justiça de Minas Gerais”

(PJEMG/Vara Cível da Infância e Juventude da Comarca de Alfenas, 09/12/2009). E

segundo a referida a Portaria, são atribuições do Comissariado instituído:

3º) Cumprimento de determinações judiciais como sindicâncias, mandado de busca e apreensão de crianças ou adolescentes em situação de risco, subsídios em eventuais operações policiais e especiais que envolvam crianças e adolescentes em situação de risco, atuação em logradouros públicos quando da verificação de crianças ou adolescentes em situação de risco, em especial PEDINTES e VENDEDORES, fiscalização INTERNA e EXTERNA de bares, restaurantes, clubes, teatros, estádios, bancas de jornais, danceterias, competições esportivas, festas, bailes, lan houses, boates, desfiles, eventos festivos, festas públicas de qualquer natureza, shows artísticos, casas noturnas, dentre outros, e EXTERNAS de hotéis e motéis, que também poderão ser fiscalizados internamente, desde que devidamente autorizados através de mandatos judiciais” (PJEMG/Vara Cível da Infância e Juventude da Comarca de Alfenas, 09/12/2009). (Transcrição citada literalmente e com os destaques)

4 “Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade administrativa por infração as normas de proteção à

criança e ao adolescente terá início por representação do Ministério Público ou Conselho Tutelar, ou auto de infração

elaborado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por duas testemunhas, se possível” (ECA,

1990),

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A Portaria assegura aos Comissariados, no exercício de suas funções, “o livre

ingresso nos locais onde se faça necessária a prestação de assistência à criança

e ao adolescente” e no parágrafo único dispõe que:

É vedado ao Comissário receber, para si ou para outrem, ingressos, convites, entradas ou assemelhados para festividades, espetáculos, bailes, exibições esportivas, cinematográficas, teatrais, circenses, dentre outros, seja em nome do Juízo ou em decorrência das funções que exerce PJEMG/Vara Cível da Infância e Juventude da Comarca de Alfenas, 09/12/2009).

Apesar da referida Portaria, destacar que o encargo do comissariado é de “natureza VOLUNTÀRIA e NÂO REMUNERADO, na forma regulada pela Corregedoria Geral de Justiça de Minas Gerais” (transcrição com destaque do próprio documento), os comissariados nomeados contam com uma “ajuda de custo” no valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) mês pagos com recursos do Fundo da Infância e da Adolescência (FIA), de responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA). Um dos motivos alegados para essa ajuda de custo é a de que muito dos procedimentos poderiam resultar em multas depositadas na conta bancária específica do FIA. Contudo, até o devido pagamento das multas a instituição, a empresa e/ou a pessoa que a receber, tem direito de recorrer às instâncias superiores sobre a aplicação do ato e mesmo questionar o procedimento feito pelos comissariados.

Tendo em vista ser essa questão de relevância para o desenho da política de direitos à criança e ao adolescente e, que, envolve diretamente o adolescente em conflito com a lei, cabe destaque à literatura e/ou doutrina jurídica sobre a questão, a saber:

A designação de voluntários para prestarem serviços junto à justiça da infância e da juventude pode dar margem a abusos, ou outra coisa não objetivando muitos que se apresentem como tais senão vantagens, principalmente a entrada gratuita em estabelecimentos de diversões públicas sem pagamento. Considerando que a Resolução 6/90 do Egrégio Conselho da Magistratura determinou, entre outras medidas, o imediato recolhimento de qualquer documento funcional de identidade de pessoal da primeira instância não expedido por aquele Conselho ou pelo Corregedor Geral de Justiça; Considerando que, dando cumprimento àquele dispositivo, se verificou que inúmeras irregularidades e abusos vinham sendo praticados, tais como a nomeação de Comissários de Menores e expedição de carteira de identidade funcional sem qualquer comunicação à Corregedoria Geral de Justiça, concedendo-se, em alguns casos, até mesmo ‘porte de arma’. (...) Considerando que os Comissários de Menores voluntários podem prestar valiosa colaboração à justiça, não somente na fiscalização de infrações administrativas (art. 194 da Lei 8.069/90) como também na composição de equipes interprofissional, especialmente para desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros (art. 151 do mesmo diploma legal); Considerando entretanto que, pela importância de suas funçõ9es, os Comissários de Menores Voluntários devem ser criteriosamente selecionados, impondo-se, outrossim, a manutenção de um cadastro central na Corregedoria

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Geral da Justiça (CHAVES, 1994 apud Desembargador Polinício Buarque de Amorim, Corregedor Geral da Justiça do Estado do Rio de Janeiro baixou o Provimento nº 250, de 08/03/1891, publicado em 11/02/91, informativo semanal COAD n. 11/91, p. 111-110).

Segundo, Cury, Garrido & Marçura (1991):

(...) 3. O projeto de lei que deu origem ao Estatuto (PL 193/89, do Senado Federal), tratava em seu art. 164 do chamado “comissariado de menores” sob a denominação de “agentes de proteção da infância e da juventude”, com a incumbência “exercer as atividades que lhes forem atribuídas pela autoridade judiciária, podendo compor quadro próprio da administração ou corpo de voluntários nomeados pela autoridade judiciária”. Embora suprimido esse dispositivo a menção, na norma sob exame a “servidor efetivo ou voluntário credenciado” induz a possibilidade do Judiciário manter quadro próprio ou corpo0 de voluntários para exercer, por delegação, funções administrativas como as concernentes a fiscalização (p. 103).

Essa reflexão ilustra em parte a cultura da sociedade e, portanto de seus

sistemas, sobre as novas formas de condução do Estado brasileiro em se tratando do

atual dispositivo constitucional que dispõe sobre a participação democrática nas

instâncias de decisão coletiva e no papel político e administrativo das novas

institucionalidades (Conselhos de Direitos e Conselhos Tutelares). A nosso ver, com a

existência dessas institucionalidades nos municípios nomear voluntários para a ação de

fiscalização concorre com as atribuições já definidas para o Conselho Tutelar, art. 136,

incisos, a saber: “IV – encaminhar ao Ministério Público notifica de fato que constitua

infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente; V –

encaminhar à autoridade judiciária, os casos de sua competência” (ECA, 1990) e, que o

mesmo deveria ser reforçado em sua atuação e competência como também

representados, caso não cumprisse com suas obrigações. Do mesmo modo, cabe ao

Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente buscar o aperfeiçoamento de sua

prática conselhista para aprimoramento do desenho da estão da política de direitos.

Na realização da pesquisa a busca por dados e informações sobre normativas

(leis, decretos, resoluções ou qualquer outro) em diversos setores do público

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(procuradoria municipal, câmara municipal, conselho de direitos da criança e do

adolescente) não foi possível detectar regulamentação sobre a questão do adolescente

em conflito com a lei sobre a política de direitos.

Até o ano de 2010, os adolescentes eram apreendidos na cadeia publica o que

contraria o disposto legal, ECA, no art. 185, a saber: "A internação, decretada ou

mantida pela autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabelecimento

prisional” até porque, no art. 183 da mesma lei “o prazo máximo e improrrogável para a

conclusão do procedimento, estando o adolescente internado provisoriamente, será de

45 (quarenta e cinco dias)dias”, figura conhecida como acautelamento judicial e/ou

internação provisória. E, a justificativa para ã internação em cadeias públicas por

integrantes do Poder Judiciário vem se amparando no argumento do Supremo Tribunal

de Justiça (STJ):

Em casos excepcionais, onde não há possibilidade material de se efetivar a medida sócio-educativa de internação de menor infrator em estabelecimento apropriado, admite-se a custódia daquele em cadeia pública local, desde que isolado dos demais detentos, atendendo-se, assim, ao escopo do art. 185 do ECA Com base neste entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus por não vislumbrar constrangimento ilegal na manutenção de paciente maior de 18 anos, que cometera crime de homicídio qualificado antes da maioridade penal, numa cela separada dos demais presos adultos, (em cadeia pública de localidade onde não existe estabelecimento para menores).HC 81.519-MG, rel. Min. Celso de Mello, 19.11.2002. (HC-81519)

Ainda, no mesmo ano, após visita de membros do Conselho Nacional de Justiça

(CNJ) na Comarca de Alfenas foi requerida a imediata liberação de adolescentes que se

encontravam internados no presídio do município, ocasião. Em que estavam internados

cerca de 6 (seis) adolescentes e, em outros períodos, o presídio chegou a comportar 16

(dezesseis) adolescentes, em duas celas, todas separadas dos adultos.

O processo de municipalização das medidas socioeducativas em meio aberto (LA

e PSC) em Alfenas pode ser datada a partir de 2006, tendo em vista, a adoção pelo

CONANDA, dos parâmetros pedagógicos e arquitetônicos definidos no SINASE,

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também no mesmo ano. A Resolução nº 119/206 do Conselho Nacional dos Direitos da

Criança e do Adolescente dispõe sobre a organização dos programas e dos recursos

humanos com base na interdisciplinaridade e no compartilhamento de responsabilidades

intersetoriais entre os entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) n

gestão e financiamento da política socioeducativa: “O SINASE é um dos instrumentos

normativos desenvolvidos para a implementação da proteção integral para o

adolescente em conflito com a lei, que envolve desde a apuração do ato infracional até a

execução das medidas socioeducativas” (SILVESTRE, 2010, p. 16).

Diante de tal quadro, o poder público municipal passou a celebrar convênios para

o repasse de subvenção e contribuição financeira para uma das instituições da

sociedade civil para a execução direta dos programas socioeducativos em meio aberto

de LA, a organização não-governamental conveniada é o Grupo Arco-Iris de

Misericórdia. O programa de LA desenvolvido por esta instituição tem capacidade para

15 (quinze) adolescentes, através do Projeto Casa Filho Pródigo “que visa o

atendimento integral do adolescente em conflito com a lei, encaminhado pelo Juizado da

Infância e Juventude, partindo das diretrizes propostas pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente, que trata da medida socioeducativa de liberdade assistida” 5 .

Também a partir de 2010, outra organização não-governamental passou também

a atender diretamente adolescentes para cumprimento de medida de PSC,

encaminhados pela Vara da Infância e da Juventude, a Associação Dias Melhores, com

demanda máxima de atendimento para 15 (quinze) adolescentes. Cabe ressaltar que a

referida entidade já teve convênio com o Poder Público Municipal desde 2006 para

atender a demanda de 80 (oitenta) adolescentes em risco social e usuários de

substancias entorpecentes, do sexo masculino, contudo, sem aplicação de medida

socioeducativa, através do Projeto Fênix. A média de adolescentes do sexo feminino em

5 Termo de Convênio nº 004/2011 entre o Município de Alfenas e Grupo Arco-Iris de Misericórdia de Alfenas.

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cumprimento de medidas socioeducativas/ano varia entre duas ou três, em PSC. No

convênio aditado até 31/12/2010 a demanda passou para 30 (trinta) adolescentes6 e,

para o ano de 2011, não foi renovado, o que levou ao fechamento do referido projeto.

O município, contudo, dispunha para a execução das medidas socioeducativas

em meio aberto para 2010 de R$ 16.000,00 (dezesseis mil reais) advindos do Governo

do Estado de Minas Gerais e, como não foi utilizado os recursos foram retornados para

os órgãos de origem. Nenhuma das duas entidades que realizavam os programas

socioeducativos não foi contemplada com esse recurso e, que a nosso ver, deve ter se

dado por dificuldades operacionais. O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do

Adolescente de Alfenas (CMDCA/Alfenas), no entanto, fez solicitação oficial à Secretaria

Municipal de Desenvolvimento Social sobre o ocorrido e, até a presente data, não

obteve resposta formal. Outros instrumentos que poderiam ser utilizados pelo Conselho

para resolver a situação não foram utilizados, como por exemplo, representação ao

Ministério Público, audiência pública, mobilização social.

Ainda sobre os recursos financeiros advindos Governo Federal para o Governo

Municipal de Alfenas, o montante recebido para o ano de 2010 foi de R$ 62.889.260,39

(sessenta e dois milhões, oitocentos e oitenta e nove mil , duzentos e sessenta reais e

trinta e nove centavos)7 num valor total por área social de atendimento, no ano, a saber:

Saúde, R$ 35.959,338,41; Assistência Social, R$ 2.885.082,66; Educação, R$

1.296.208,99; Trabalho, R$ 584.990,46; Desporto e Lazer, R$ 500.000,00; Habitação,

R$ 187.000,02; Cultura, R$ 127.196.03 para as despesas com projetos, prêmios,

apoios; elevação e qualificação profissional; condições de habitabilidade; alimentação,

6 Convênio nº 002/2010 celebrado entre o Município de Alfenas e a Associação Dias Melhores.

7 Documento da FNS CONSULT – Treinamento e Desenvolvimento em Empreendedorismo Ltda, empresa de consultoria ([email protected]).

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transporte, equipamentos escolares, apoio à alfabetização de jovens e adultos escolar

entre outros.

No que interessa a pesquisa, pelo fato da execução das medidas socioeducativas

em meio aberto se encontrarem vinculadas à gestão da política de assistência social,

podem ser destacados valores correspondentes para as ações de transferência de

renda – Bolsa Família (R$ 2.337.454,00), Serviços de Proteção Especial – PAIF/CREAS

(R$ 115.862,40), Serviço de Proteção Básica às Famílias - PAIF-CRAS (R$ 99.000,00),

Serviço de apoio à Gestão Descentralizada do Programa Bolsa Família (IGD) (R$

67.032,71), Serviços de Proteção Social Básica a Indivíduos e Famílias – CREAS (R$

52.500,00), Serviços Específicos de Proteção Básica (R$ 48.464,80), Avaliação e

Operacionalização do Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social e

Manutenção da Renda Mensal Vitalícia – BPC (R$ 1.525,00)Concessão de Bolsa para

Crianças e Adolescentes em Situação de Trabalho (R$ 1.800,00), Serviço

Socioeducativo para Jovens de 15 a 17 anos – PROJovem (R$

79.143,75)Enfrentamento ao Crack e outras drogas (R$ 53.100,00), Ações

Socioeducaticas e de Convivência para Crianças e Adolescentes em Situação de

Trabalho – PETI )R$ 26.000,00) e, enfim, para Serviços de Proteção Social aos

Adolescentes em Cumprimento de Medidas Socioeducativas (R$ 2.200,00).

A Secretaria Municipal da Criança e Adolescente, Igualdade Racial e

Desenvolvimento Social (Ação Social) de Alfenas tem elaborado o projeto “Medida

Socioeducativa em Meio Aberto”, com período de execução de outubro de 2011 a

outubro de 2012 para a ”implantação do Programa Medida Socioeducativo em Meio

Aberto no Município de Alfenas” para atenção de 40 (quarenta) adolescentes, endo 15

(quinze) adolescentes em medida de LA e 25 (vinte e cinco) adolescentes para a PSC,

com o objetivo de:

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a) Inserir e acompanhar 40 (quarenta) adolescentes na sociedade, viabilizando alternativas comunitárias para o apoio a profissionalização e a geração de renda, avaliando periodicamente seu percurso no cumprimento da Medida Sócio Educativa; b) Auxiliar as famílias destes quarenta adolescentes na compreensão de sua dinâmica direta, dificuldades e a relação na conduta com o adolescente; c) Orientar essas quarenta famílias, para que ela participe efetivamente do processo do cumprimento da medida sócio educativa; d) Realizar um trabalho de capacitação junto aos técnicos, educadores, e com a rede socioassistencial que irá atender MSE; e) Fortalecer os laços familiares e relações comunitárias no espaço de vivência cotidiana; f) Garantir a matrícula escolar dos quarenta adolescentes juntamente com as suas famílias e supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar dos mesmos, delegando responsabilidades aos representantes legais pelos acompanhamentos escolares. g) Proporcionar aos quarenta adolescentes atividades educativas, através de entretenimento, cultura, esporte e lazer, visando o fortalecimento dos vínculos sociais (Doc. Ação Social/PM Alfenas, 2011).

O referido projeto de implementação dos programas socioeducativos foi enviado

para o Governo Estadual de Minas Gerais através da Subsecretaria de Atendimento às

Medidas Socioeducativas vinculada à Secretaria de Estado e Defesa Social (SEDS)

para apreciação. E, o valor total é de R$ 70.000,00 (setenta mil reais) para doze meses,

numa parceria entre o Governo Estadual e o Governo Municipal, sendo que a previsão

de recursos diretos do município é de R% 59.000,00 (cinqüenta e nove mil reais).

Nos comunicados havidos entre o pesquisador e a referida Secretaria (SEDS),

devidamente documentados (Anexo I) para a busca de dados e informações do

processo de municipalização das medidas em meio aberto, segundo, a Diretoria de

Gestão da Informação e Pesquisa “que o convênio do Estado com o Município de

Alfenas está em processo de tramitação, o que nos impede de responder a todas as

demandas explicitadas no projeto de pesquisa” (Doc. SEDS/MG - Diretoria de Gestão da

Informação e Pesquisa de 17/11/2011. Parecer Sobre Projeto de Pesquisa – Pedido

016.2011).

Na retomada das orientações do SINASE sobre os programas socioeducativos:

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A implementação do SINASE objetiva primordialmente o desenvolvimento de uma ação socioeducativa sustentada nos princípios dos direitos humanos. Persegue ainda, a idéia dos alinhamentos conceitual, estratégico e operacional, estruturado, principalmente, em bases éticas e pedagógicas (SINASE, 2006, p. 15).

Os parâmetros socioeducativos devem ser organizados por eixos estratégicos de

acordo com o referido documento, a saber: “suporte institucional e pedagógico;

diversidade étnico-racial, de gênero e de orientação sexual; cultura, esporte e lazer;

saúde; escola; profissionalização/trabalho/previdência; família e comunidade;

segurança” (p. 64).

No que se refere ao “suporte institucional e pedagógico” para os programas

socioeducativos a gestão da política socioeducativa deve se atentar aos parâmetros

acordados no SINASE (2006), como:

<>registrar a entidade e inscrever os respectivos das e inscritos os programas de

LA e PSC no CMDCA (art. 90, incisos II e V, parágrafo primeiro e art. 91)8;

<> ter projeto político pedagógico elaborado, incluindo referencial teórico-metodológico,

ações/atividades, recursos (humanos e materiais), avaliação e monitoramento;

<> dispor de espaço físico/arquitetônico adequado;

<> definir perfil de recursos humanos compatível com a função e cargo; instrumentais

para registro sistemático das diversas abordagens de trabalho; 8 “Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades, assim como pelo

planejamento e execução de programas de proteção e sócio-educativos destinados a crianças e adolescentes, em

regime de:

(...)

II – apoio sócio-educativo em meio aberto;

(...)

V - liberdade assistida;

Parágrafo 1º As entidades governamentais e não-governamentais deverão proceder à inscrição de seus programas,

especificando os regimes de atendimento, na forma definida neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da

Criança e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de suas alterações, do que fará comunicação ao

Conselho Tutelar e à autoridade judiciária” (ECA, 1990).

“Art. 91. As entidades não-governamentais somente poderão funcionar depois de registradas no Conselho Municipal

dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária”

(ECA, 1990).

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<> elaborar e formalizar o Plano Individual de atendimento (PIA);

<> Colher e sistematizar dados sobre o perfil dos adolescentes, famílias e da

comunidade e consolidar dados sobre o início e fim dos adolescentes em cumprimento de

medidas socioeducativas e, as possíveis reincidências;

<> cumprir prazos para envio de relatórios e encaminhamentos definidos no PIA e outras

necessidades;

<> articular-se com o sistema de justiça e outros órgãos e serviços públicos e com a rede

proteção social e, para isso, deve manter atualizado dados e informações sobre os programas,

projetos, serviços, benefícios sociais;

<> garantir a municipalização dos programas socioeducativos e os encontros

sistemáticos com a rede de proteção social;

<> normatizar sobre o papel/função/cargo de cada socioeducador, incluindo aqui, a

equipe técnica, educadores sociais e gestores e elaboração de regimento interno dos programas

socioeducativos;

<> garantir a sustentação e financiamento para que não haja solução de continuidade

dos programas socioeducativos, entre outras disposições.

E, sobre a especificidade de cada programa socioeducativo, a gestão da política

de direitos também de acordo com a regulação do SINASE (2006) estabelece para os

programas socioeducativos de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC), o que

segue:

1) identificar, nos locais de prestação de sérico, atividades compatíveis com as habilidades dos adolescentes, bem como respeitando aquela de seu interesse; 2) garantir que todos os adolescentes tenham profissionais – referência socioeducativo – e orientador socioeducativo9 – nos locais de prestação de serviço acompanhando-os qualitativamente; 3) acompanhar a frequência do cumprimento da medida no local de prestação de serviços; 4) realizar avaliações periódicas, no mínimo com frequência quinzenal com a referência socioeducativa10 e mensal com os orientadores socioeducativos dos locais de prestação de serviço. Estes são importantes, mas a interação, o diálogo, o contato pessoal contribuem significativamente para uma compreensão da abordagem pedagógica necessária ao acompanhamento dos adolescentes; e

9 Por referência socioeducativo compreende “o profissional de nível superior ou com função de gerência ou

coordenação nos locais de prestação de serviço comunitário, que será responsável geral pelos adolescentes

prestadores de serviço comunitário quanto pelo funcionário guia” (SINASE, 2006, p. 66).

10

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5) garantir que os locais de prestação de serviço comunitário sejam Unidades que compartilhem dos mesmos princípios e diretrizes pedagógicas do SINASE e consequentemente das entidades de atendimento socioeducativo (SINASE, 2006, p. 66).

E, no caso do programa socioeducativo de Liberdade Assistida, as

especificidades são as seguintes:

1) garantir uma equipe profissional- técnicos e orientadores sociais – responsável pelo acompanhamento sistemático do adolescente com freqüência mínima semanal; 2) garantir que os encontros (coletivos) entre orientador social comunitário/voluntário, técnicos e adolescentes, no mínimo, quinzenal; em se tratando de encontro grupal com a adolescentes, a freqüência deverá ser quinzenal; e 3) assegurar que os encontros entre orientadores sociais comunitários e adolescentes tenham frequência de, no mínimo, três vezes na semana, e entre técnico e orientador social comunitário/voluntário encontros com frequência, mínima, quinzenal (SINASE, 2006, p. 66).

Os programas socioeducativos em meio aberto (PSC e LA) de Alfenas tem

comunicação direta com o sistema de justiça (Vara da Infância e Juventude e Ministério

Público), com os diversos órgãos da administração direta municipal e também com as

ONGs. O Centro de Referência da Assistência Social (CREAS), enquanto representante

do Executivo, vinculado à Secretaria Municipal da Criança e Adolescente, Igualdade

Social e Desenvolvimento Social (Ação Social) recebe o comunicado, por meio de oficio

do MP e VIJ, que determinado/a adolescente recebeu medida socioeducativa e a

cumpre nas instituições Grupo Arco-Iris e Dias Melhores. Os relatórios de cumprimento

das referidas medidas pelos adolescentes são encaminhados ao sistema de justiça (VIJ)

pelas instituições responsáveis pela execução dos programas socioeducativos.

Na visita realizada na ONG Associação Dias Melhores e de acordo com

presidente sobre tais eixos estratégicos, a operacionalização deve se referenciar numa

ação educativa, fundamentada na concepção de que o adolescente é sujeito de direito e

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pessoa em situação peculiar de desenvolvimento que necessita de referência, apoio e

segurança.

As duas instituições Associação Dias Melhores e Grupo Arco-Iris de Misericórdia

comentaram nas visitas realizadas que acolhem os adolescentes assim que chegam aos

programas socioeducativos e depois dos processos de escuta, são elaborados com o

adolescente o PIA (Plano Individual de Atendimento), ouvidos também os familiares em

vários momentos do processo de cumprimento da medida socioeducativa, estendendo,

muitas vezes, para após o cumprimento da decisão judicial. No PIA são definidas metas

a serem trilhadas pelos adolescentes, familiares e equipes dos programas

socioeducativas no sentido de cumprimento com qualidade das medidas aplicadas pelo

sistema de justiça, evitando a reincidência.

As equipes das ONGs têm a função de auxiliar no acompanhamento e orientação

ao adolescente e sua família, de forma mais sistemática, mobilizando-os e contribuindo

para inseri-los, quando necessários, em programas socioassistenciais e de outras

Políticas Públicas; supervisionando a freqüência, aproveitamento escolar e fornecendo

informações acerca do cumprimento da medida e monitoramento dos encaminhamentos

realizados, identificando no município os locais de prestação de serviços, cujas

atividades sejam compatíveis com as habilidades dos adolescentes e com seus

interesses.

Na operacionalização das medidas socioeducativas a elaboração do plano de

trabalho é indispensável, garantindo a participação do adolescente e da família, e deve

conter os objetivos e metas a serem alcançados durante o cumprimento da medida e as

perspectivas de vida futura, dentre outros aspectos a serem acrescido, de acordo com

as necessidades do adolescente.

O acompanhamento social ao adolescente pela equipe técnica e orientador deve

ser sistemático, com freqüência mínima semanal para acompanhamento do

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desenvolvimento do plano de trabalho. As ações são acompanhadas pelos orientadores

que desenvolvem um papel de facilitadores do grupo. Ao final de cada atendimento a

equipe discute casos, para implementação e efetivação das atividades. Todas essas

ações são fundamentadas a partir dos pressupostos norteadores estabelecidos no ECA

(Estatuto da Criança e do Adolescente) e no SINASE (Sistema Nacional de Atendimento

SócioEducativo), assegurando-lhes ainda sua condição peculiar de pessoa em

desenvolvimento.

Em 2011 a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social não repassou os

valores devidos para as executoras das LA e PSC. Os valores voltaram para o

ESTADO. Diante de tal fato, o CMDCA – Conselho de Municipal Direitos da Criança e

Adolescente de Alfenas, fez um oficio solicitando explicação para a gestora da

Secretaria, ate o momento não houve resposta.

Pode se dizer que em Alfenas não existe monitoramento da execução das PSC e

LA. A JUSTIÇA quer apenas ter conhecimento se o adolescente infrator cumpriu ou não

a medida. O SINASE ainda não é difundido e praticado no município pelas autoridades

responsáveis.

Na gestão das medidas socioeducativas em meio aberto, o município de Alfenas

se faz omisso, obrigando as ONGS a realizar parcerias informais com empresas e

secretarias municipais, que recebem os adolescentes para cumprimento das medidas.

No entanto, não há nenhum documento que regulamenta tal situação.

Na gestão das medidas socioeducativas em meio aberto do Município de Alfenas a Segurança Pública, formada pela Polícia Militar e Polícia Civil. A Polícia Militar é responsável pelo policiamento ostensivo, como objetivo de prevenção, repressão da infração e apreensão do adolescente em flagrante. A Polícia Civil tem por responsabilidade a investigação, a comprovação da materialidade do ato infracional e apreensão do adolescente por mandato judicial. O Conselho municipal dos direitos da criança e do adolescente, órgão deliberativo e controlador da política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente. O Conselho Tutelar, órgão encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. (NOZABIELLI, 2003, p. 27)

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Todas essas organizações fazem parte da gestão das medidas socioeducativas

em meio aberto no município de Alfenas, sendo que, de acordo com Souza e Lira (2008,

p.66 - 6) os mesmos devem estar em constante articulação e cooperação para que se

possam alcançar resultados satisfatórios ao atendimento do adolescente em conflito

com a lei, sendo este adolescente, a razão de todo o processo de gestão das medidas

socioeducativas em meio aberto.

No ano de 2006 um adolescente de 16 anos apreendido em decorrência de furtos

foi assassinado com requintes de crueldade na cadeia publica de Alfenas. Tal fato,

gerou o processo n. 1199071-47.2006.8.13.0024 contra o Estado de Minas Gerais. O

homicídio do adolescente na cadeia publica mostrou ás autoridades a necessidade de

se cumprir a lei e exigir estabelecimento adequado para adolescentes infratores.

Entretanto, somente em 2011 é que a Justiça deixou de apreender os adolescentes no

presídio após a visita de um juiz do Conselho Nacional de Justiça.

Todos os Governos têm grandes responsabilidades na organização e

funcionamento do sistema socioeducativo. Por isso a integração entre os mesmos e

fundamental para o alcance da proteção integral dos adolescentes que cometeram ato

infracional.

O Munícipio, além de criar e manter os programas de atendimento para a

execução das medidas em meio aberto, cabe principalmente o desafio de promover a

integração das politicas setoriais no atendimento socioeducativo.O rol de competências

sugere, além das responsabilidades, a necessidade de criação de arranjos institucionais

para dar conta da política de atendimento como, por exemplo, sistemas de

monitoramento e avaliação e medidas de fortalecimento dos organismos de controle

social e de fiscalização no campo da proteção dos direitos (os Conselhos dos Direitos e

os Conselhos Tutelares). Conforme veremos no tópico seguinte o SINASE apresenta

ainda um novo modelo de gestão para a politica socioeducativa em cada esfera.

São competências específicas dos Municípios:

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1) Coordenar o Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo.

2) Instituir, regular e manter 0 seu sistema de atendimento socioeducativo, respeitadas as diretrizes gerais fixadas pela Uniao e pelo respectivo Estado,

3) Elaborar o Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo.

4) Editar normas complementares para a organização e funcionamento dos programas de seu sistema.

5) Fornecer, via Poder Executivo, os meios e os instrumentos necessários ao pleno exercício da função fiscalizadora do Conselho Tutelar.

6) Criar e manter os programas de atendimento para a execução das medidas de meio aberto.

7) Estabelecer consórcios intermunicipais, e, subsidiariamente, em cooperacao com o Estado, para o desenvolvimento das medidas socioeducativas de sua competência.

Na tentativa de se adequar ao ECA e ao SINASE o município de Alfenas

elaborou um projeto de atendimento para as medidas em meio aberto. O projeto

encontra-se na SEDS para apreciação e aprovação. Se aprovado Alfenas iniciará

formalmente a municipalização das medidas. O projeto visa atender 40 (quarenta)

adolescentes em cumprimento de medidas Sócioeducativas - MSE com idade de 12

anos completos aos 18 anos e em casos de exepcionalidade entre os 18 aos 21 anos,

em conformidade com o Art. 2º ECA. Segundo o projeto o quantitativo total de

adolescentes, será dividido: Quinze adolescentes para a Liberdade Assistida – LA e

Vinte e cinco adolescentes para a prestação de serviços a comunidade – PSC.

Com a implantação do Programa de Medida Sócio Educativa em meio aberto, no

município de Alfenas, buscará atender os adolescentes infratores em conflito com a lei,

por meio de ações desenvolvidas em articulação com a rede socioassistencial existente

no município, dessa forma o projeto atuará nesta interface para que tal realidade seja

diferente.

O direito à educação compreende o direito de receber limites e este, por sua vez,

traz ínsito do direito a ser corrigido, O ECA prevê no seu artigo 118 as providências a

serem tomadas em relação ao adolescente quando pratica um ato de violação de leis ou

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regras de conduta, o estatuto estabelece ainda condições necessárias para o reparo

através de medidas socioeducativas em espécie, intensidade e qualidade adequadas às

necessidades de cada jovem.

As ações de reparação do dano devem ser compreendidas dentro do contexto da

responsabilização do ato realizado por este adolescente. Todas as intervenções de

acompanhamento com os adolescentes deverão ser permeadas por atendimento

psicossocial sistemático pautado em uma abordagem individual e grupal, com o

envolvimento da família e a comunidade para o exercício da função protetiva, visando

assim o enfrentamento e a superação das situações em que se encontram os jovens e

adolescentes em cumprimentos das medidas socioeducativa.

O Plano de Atendimento deverá ser construído com a participação do

adolescente e sua família, pois será um compromisso estabelecido por ambos, com

objetivos, metas, deveres, e as perspectivas de vida futura entre outros aspectos que

forem convenientes de acordo com as necessidades e potencialidades dos

adolescentes.

O programa será permeado pelas diretrizes estabelecidos no ECA e SINASE,

que prevê a permanente articulação com as demais políticas públicas, assim como o

Sistema de Garantia de Direitos - SGD, Sistema de Justiça que atuará articulado para o

resgate da autonomia, reconstrução de vínculos violados, combate e redução dos

índices da prática de atos infracionais, no município de Alfenas. O Estatuto da

Criança e do Adolescente prevê em seu artigo119, parágrafo único que a Liberdade

Assistida será adotada sempre que afigurar a medida mais adequada para o fim de

acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente, portanto, o trabalho desenvolvido no

projeto será ostensivo junto a outros profissionais e da rede socioassistencial do

município para efetivar por meio das ações o processo de cumprimento de medidas

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socioeducativas a fim de serem integrados a comunidade e ao convívio familiar

conforme decisão da autoridade judiciária.

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REFERÊNCIAS

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CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. Gestão social: alguns apontamentos para o debate. In RICCO, Elisabeth e RAICHELIS, Raquel (Orgs.). Gestão social: uma questão em debate, São Paulo: EDUC, IEE-PUC/SP, 1999.

CHAVES, Antonio. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: LTr, 1994.

CURY, Munir, GARRIDO DE PAULA, Paulo Afonso e MARÇURA, Jurandir Norberto. Estatuto da Criança e do Adolescente Anotado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991.

FAZOLO, Eliane; CARVALHO, Maria Cristina; LEITE, Maria Isabel; KRAMER, Sonia. História e política da educação infantil. Sonimar C. de Faria; in: Educação infantil em curso. Rio de Janeiro: Editora Ravil, 1997. (p. 09 a 37).

ILANUD - Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Adolescente .............., 2004.

LIBERATI, Wilson D.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In ________(Org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis/RJ: Vozes, 2007, p. 9-29.

NOZABIELLI, Sonia Regina. Desafios e possibilidades das medidas socioeducativas no município de Presidente Prudente. 2003. Dissertação (Mestrado Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2003.

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PEREIRA, Irandi. O adolescente em conflito com a lei e o direito à educação. Tese. (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo:USP, 2006.

_______. Programas de socioeducação aos adolescentes em conflito com a lei. (Cadernos de Ação e Defesa dos Direitos nº 3). Mariangá:CMDCA ; UEM-PEC-PCA., Dez., 2004.

PEREIRA, Irandi e MESTRINER, Maria Luiza. Liberdade Assistida e Prestação de Serviços à Comunidade: medidas de inclusão social voltadas ao adolescentes autores de ato infracional. PUC/SP-IEE - FEBEM/SP, Isão Paulo: Vox, 1999.

PEREIRA, Irandi e VERAS, Gerlene. O Estatuto da Criança e do Adolescente e municipalização ...

SILVA, Maria Alice da; A Família Brasileira Contemporânea e a Concepção Moderna de Criança e Adolescente. Artigo publicado na Coleção Infância e Adolescência, organização: Instituto da Criança e do Adolescente – ICA/PUC MG; Criança e Adolescente: Prioridade Absoluta, Belo Horizonte, Ed. PUC Minas, 2007

SILVESTRE, Eliana. O adolescente em conflito com a lei: política socioeducativa de direitos. Araraquara/SP, 2010. Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Araraquara, 2010.

SOUZA, Rosimeire de. Caminhos para a municipalização do atendimento socioeducativo em meio aberto: liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade / Rosimeire de Souza [e] Vilnia Batista de Lira. Rio de Janeiro: IBAM/DES : Brasília: SPDCA/SEDH, 2008.

SPOSATI, Aldaiza. Os desafios da municipalização do atendimento da criança e do adoelscente: o convívio entre a LOAS e o ECA. In Revista Serviço Social & Sociedade, n. 46, São Paulo: Cortez, 1994.

ZAMORA, Maria Helena (Org.) Para além das grades: elementos para a transformação do sistema socioeducativo. Rio de Janeiro: PUC/RJ; São Paulo: Loyola, 2005.

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ZANONI, Daniela Matias; Um Olhar para a Pedagogia da Educação Infantil: As Contribuições Teóricas da Educação de Crianças. Atibaia, 2005.

NASCIMENTO, Cláudia Terra do, BRANCHER Vantoir Roberto, OLIVEIRA Valeska Fortes de. A Construção Social do Conceito de Infância: Interlocuções Históricas e Sociológicas.

COSTA, Antonio Carlos Gomes. De menor a cidadão: Notas para uma história do novo direito da infância e juventude no Brasil. Editora do Senado, 1993.

BARROS, Glaucia/FDDCA: De menor a cidadão: um caminho em construção (Texto do Informativo Prioridade Absoluta da FDDCA-set.2003) - Gláucia Barros.

ARANTES, Esther Maria. De "criança infeliz" a "menor irregular" – vicissitudes na arte de governar a infância In: Jacó Vilela, Ana Maria, Jabur, Fábio e Rodrigues, Hiliana de Barros Conde. Clio – Payché: Histórias da Psicologia no Brasil. Rio de Janeiro: UERJ, NAPE, 1999. Pág. 257.

VOLPI, Mário. Adolescentes privados de liberdade: a normativa nacional e internacional & reflexões acerca da resposnabilidade penal. São Paulo: Cortez, 1997.

Documentos:

SEDS/MG - Diretoria de Gestão da Informação e Pesquisa de 17/11/2011. Parecer

Sobre Projeto de Pesquisa – Pedido 016.2011 (on line via e-mail em 17/11/2011).

ALFENAS – Secretaria Municipal Criança e Adolescente, Igualdade Racial e

Desenvolvimento Social. Projeto: Medidas Socioeducativas em Meio Aberto. Período

de execução: outubro de 2011 a 2012, s.d. (cópia Xerox).

Linha do Tempo: http://www.redeandibrasil.org.br/

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ANEXOS

Anexo 1

DECLARAÇÃO DA COORDENAÇÃO

PROGRAMA MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

UNIBAN

Eu, IRANDI PEREIRA, CPF nº 744.952.598-49, docente e coordenadora do PROGRAMA MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI da Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN) e apresento também na condição de orientadora o mestrando VANDER CHERRI MARCOLINO, CPF nº 788.924.906-30 para o desenvolvimento da pesquisa CARTOGRAFIA DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO NO ESTADO DE MINAS GERAIS: O CASO DE ALFENAS.

Solicito deferência da instituição para que o mestrando possa ter acesso à documentação relativa ao processo de descentralização e municipalização da política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei de responsabilidade da gestão estadual.

A proposta de retorno dos resultados poderá ocorrer em três momentos distintos, a saber:

a) o primeiro, de caráter parcial em reunião com os gestores, técnicos e socioeducadores sobre os dados e informações recolhidos e sistematizados;

b) o segundo debate, após a entrega do relatório final da pesquisa (dissertação de mestrado) em 20/12/2011 data do depósito dos exemplares da pesquisa na Secretaria do Pós-Graduação da Universidade Bandeirante de São Paulo, para a banca de arguição;

c) o terceiro debate após a defesa pública prevista para o mês de fevereiro de 2012 e encaminhamento . de um exemplar impresso e outro em CD-ROM para a equipe gestora responsável pela execução das medidas socieoducativas.

São Paulo, 25 de setembro de 2011

Profa. Dra. Irandi Pereira

Coordenadora Programa Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei

(11) 2972.9021

(11) 2972.9047 – [email protected]

Anexo 2

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DECLARAÇÃO DE ORIENTAÇÂO

Eu, IRANDI PEREIRA, CPF nº 744.952.598-49, docente da Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN) sou orientadora do mestrando VANDER CHERRI MARCOLINO, CPF nº 788.924.906-30 no desenvolvimento da pesquisa CARTOGRAFIA DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO NO ESTADO DE MINAS GERAIS: O CASO DE ALFENAS.

Solicito deferência da instituição para que o mestrando possa ter acesso à documentação relativa ao processo de descentralização e municipalização da política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei de responsabilidade da gestão estadual.

A proposta de retorno dos resultados poderá ocorrer em três momentos distintos, a saber:

a) o primeiro, de caráter parcial em reunião com os gestores, técnicos e socioeducadores sobre os dados e informações recolhidos e sistematizados;

b) o segundo debate, após a entrega do relatório final da pesquisa (dissertação de mestrado) em 20/12/2011 data do depósito dos exemplares da pesquisa na Secretaria do Pós-Graduação da Universidade Bandeirante de São Paulo, para a banca de arguição;

c) o terceiro debate após a defesa pública prevista para o mês de fevereiro de 2012 e encaminhamento . de um exemplar impresso e outro em CD-ROM para a equipe gestora responsável pela execução das medidas Socioeducativas.

São Paulo, 25 de setembro de 2011

Profa. Dra. Irandi Pereira (Orientadora)

(11) 2972.9047 – [email protected]

Anexo 3

Termo de Compromisso de Retorno dos Resultados

Eu, VANDER CHERRI MARCOLINO, CPF nº 788.924.906-30, pesquisador da Instituição Universidade Bandeirante de

São Paulo (UNIBAN) comprometo-me a retornar os resultados obtidos por meio de pesquisa CARTOGRAFIA DA

EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO NO ESTADO DE MINAS GERAIS: O CASO DE

ALFENAS realizada no âmbito da Subsecretaria de Atendimento às Medidas Socioeducativas no período de setembro

a novembro de 2011.

A proposta de retorno dos resultados poderá ocorrer em três momentos distintos, a saber:

a) o primeiro, de caráter parcial em reunião com os gestores, técnicos e socioeducadores sobre os dados e

informações recolhidos e sistematizados;

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b) o segundo debate, após a entrega do relatório final da pesquisa (dissertação de mestrado) em 20/12/2011

data do depósito dos exemplares da pesquisa na Secretaria do Pós-Graduação da Universidade Bandeirante

de São Paulo, para a banca de arguição;

c) o terceiro debate após a defesa pública prevista para o mês de fevereiro de 2012 e encaminhamento . de um

exemplar impresso e outro em CD-ROM para a equipe gestora responsável pela execução das medidas

Socioeducativas.

São Paulo, 25 de setembro de 2011

VANDER CHERRI MARCOLINO

CPF nº 788.924.906-30,

De acordo:

Profa. Dra. Irandi Pereira (Orientadora)

e Coordenadora do Programa Mestrado Profissional (Stricto Sensu) Adolescente em Conflito com a Lei (UNIBAN) –

Reconhecido pela CAPES

(11) 2972.9047 – [email protected]

Anexo 4

FORMULÁRIO PARA SOLICITAÇÃO DE DADOS E/OU AUTORIZAÇÃO

DE PESQUISAS SOBRE O SISTEMA SOCIOEDUCATIVO

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Número da solicitação: Data:

I. Identificação

Nome do pesquisador: VANDER CHERRI MARCOLINO

Endereço:________________________________________________________________________________Bairro:_________________________________Cidade/UF:_________________________________________

Telefone:______________________E-mail:_________________________________________________

CPF:________________________________ Identidade:________________________________

Instituição:___________________________________________________________________________

Vínculo: ( ) Estudante de graduação ( X ) Estudante de pós-graduação

( ) Professor ( ) Pesquisador

Curso:MESTRADO PROFISSIONAL (STRICTO SENSU) ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

Orientador: Profa. Dra. Irandi Pereira

Tel. (11) 2972.9047 e (11) 9903.1991 – email: [email protected]

A instituição de ensino possui Comitê de Ética próprio ? ( ) Não ( X ) Sim

Se não, em qual Comitê de Ética e o projeto de pesquisa foi/será submetido?

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO

Dados de contato: Profa. Dra. Irandi Pereira – Coordenadora do Programa Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei

Av. Braz Leme, 3029 Santana – São Paulo – SP

(11) 2972.9047 – e-mail: [email protected]

II. Dados sobre a pesquisa

Título: CARTOGRAFIA DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO NO ESTADO DE MINAS GERAIS: O CASO DE ALFENAS

Objeto da pesquisa: O projeto de pesquisa tem como objeto mapear a execução das medidas socioeducacativas em meio aberto (Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) e Liberdade Assistida (LA) no Estado de Minas Gerais e, a partir daí, fazer um recorte de estudo mais detalhado sobre a execução no município de Alfenas, localizado na Região Sul do Estado.

Objetivos da pesquisa: O principal objetivo é realizar a cartografia da execução da política socioeducativa em meio aberto (PSC e LA) na dimensão da unidade federada Minas Gerais, Região Sudeste do Brasil no sentido de cumprimento de diretriz constitucional, a municipalização da política de direitos ao adolescente em conflito com a lei e a consecução da forma democrática e participativa da gestão da política pública. O mapeamento consiste em traçar mapas avaliar sobre o “estado da arte” da execução das medidas socioeducativas, em meio aberto, no Estado, na Comarca e no Município de Alfenas. Interessa-nos perceber o modo como a gestão pública sobre a política socioeducativa de PSC e LA vem se desenvolvendo a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e dos parâmetros pedagógicos aprovados no documento Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), em 2006.

Procedimentos de coleta de dados a serem realizados. Especificar. Os dados e informações sobre o processo de municipalização e participação democrática da execução da política socioeducativa em meio aberto serão coletados

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junto às equipes gestoras em nível estadual e municipal (Alfenas/MG), incluindo, as organizações não-governamentais que executam os programas socioeducativos, a partir de documentos, como:

♦ Relatórios Técnicos de acompanhamento, supervisão, monitoramento e avaliação sobre a Política socioeducativa e respectivos programas socioeducativos;

♦ Planos da Política de Direitos da Criança e do Adolescente, de Assistência Social, de Saúde e de Educação (Estadual e Municipal, Alfenas);

♦ Plano da Política Socioeducativa aos Adolescentes em Conflito com a Lei, Relatórios conjuntos das parcerias público-privado (entidades governamentais e não-governamentais);

♦ Resoluções dos Conselhos de Direitos e da Assistência Social sobre a política socioeducativa); ♦ Contribuições teóricas e técnicas sobre a gestão da política socioeducativa produzidas pelas gestões estadual

e municipal (Alfenas); ♦ Subsídios técnicos; ♦ Publicações impressas e on line; ♦ Estatísticas e dados sobre o fluxo diário/mensal/anual dos programas socioeducativos. ♦ Sites também serão visitados pelo pesquisador no sentido de complementar as informações.

Os dados e informações a serem coletados deverão priorizar aspectos, como:

<> processo de municipalização e descentralização e participação popular nos programas socioeducativos;

<> quantidade dos programas socioeducativos e distribuição territorial;

<> financiamento, orçamento, fundos;

<> existência de planos estadual e municipal (Alfenas) sobre os direitos da criança e do adolescente, em especial, no que se refere à política socioeducativa;

<> estabelecimento de parcerias público-privado (entidades governamentais e não-governamentais executoras ou co-executoras das medidas socioeducativas em meio aberto) e tipos ou modelos firmados entre o público e o privado;

<> relação educador social (equipe técnica e socioeducadores) e adolescente em cumprimento de medida;

<> relação dos programas de LA e PSC com as políticas de educação, saúde, assistência social, trabalho, cultura visando a garantia de direitos e inclusão social;

<> relação com o sistema de justiça (Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública) e Centros de Defesa dos Direitos;

<> presença de indicadores de qualidade dos programas;

<> ações de acompanhamento, monitoramento e controle dos programas socioeducativos; relação dos programas socioeducativos com os Conselhos de Direitos, de Assistência Social, Direitos Humanos, Educação, Saúde etc.;

<> plano individual de atendimento dos adolescentes;

<> programas de atenção à família;

<> ações de supervisão técnica e financeira aos programas socioeducativos;

<> perfil dos profissionais (técnicos e socioeducadores) dos programas socioeducativos (LA e PSC);

<> projeto de capacitação permanente dos socioeducadores;

<> “quebra” de medida socioeducativa pelos adolescentes;

<> tempo médio de permanência dos adolescentes nos programas socioeducativos (LA e PSC);

<> acompanhamento de egressos dos programas;

<> dificuldades de execução política socioeducativa em nível estadual e municipal;

<> avanços na execução da política socioeducativa;

<> relação da gestão municipal com a estadual e a nacional.

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Se seu interesse for a solicitação de dados secundários, por favor especifique seu interesse e suas justificativas. Vide os dois itens anteriores que tratam da especificidade dos dados e informações.

Uso de gravador? ( ) Sim ( X ) Não. Como não serão coletados dados e informação por meio de entrevistas não será usado tal recurso. Os dados e informações coletados são os que se encontram sistematizados pelas gestões (estadual e municipal, Alfenas), incluindo os das Organizações Não-Governamentais, parceiras dos programas socioeducativos.

Fundamentação da necessidade de utilizar os instrumentos de coleta de dados secundários especificados:

A pesquisa se fundamenta na política de direitos humanos de crianças e adolescentes com foco na diretriz na diretriz da municipalização da política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei prevista no art. 88 do ECA que não se confunde com propostas de “prefeiturização” ou mesmo a simples “terceirização de serviços públicos”. Tendo em vista o problema da pesquisa – execução das medidas socieoducativas em meio aberto – as hipóteses que a pesquisa busca saber e/ou conhecer e/ou aprofundar passam por verificar como o Estado de Minas Gerais implementa a diretriz constitucional de municipalização no que se refere à política socioeducativa em meio aberto (PSC e LA) e se os planos socioeducativos (estadual e municipal – Alfenas) se relacionam com a concepção, método e gestão preconizados pelo ECA e, em especial, o SINASE e, ainda, se os programas socioeducativos respondem, a partir da cartografia, sobre os direitos dos adolescentes no cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto. A pesquisa documental poderá trazer elementos de análise sobre a configuração da gestão pública democrática e participativa e de impacto para a cidadania dos adolescentes em conflito com a lei.

III. Documentação necessária

1. Declaração do orientador (entregar versão impressa e assinada) 2. Declaração do coordenador do curso (entregar versão impressa e assinada) 3. Projeto de pesquisa com metodologia detalhada (pode ser o mesmo apresentado no curso/programa de pós-

graduação) 4. Parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa (a ser entregue antes do início da pesquisa de campo –

Exceto para pesquisas com o uso de dados secundários) 5. Termo de Compromisso de Retorno dos resultados assinado (entregar versão impressa e assinada) 6. Proposta elaborada do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (proposta com linguagem apropriada e

direcionada aos participantes da pesquisa – Exceto para pesquisas com o uso de dados secundários) IV. Sobre o procedimento de avaliação e adequação

A SUASE estabelece o prazo de 20 (vinte) dias úteis para a devolutiva do projeto, mas o prazo só começa a ser contado a partir da chegada de toda documentação necessária, bem como do projeto completo (incluindo os instrumentos de coleta, quando for o caso). Caso o parecer da SUASE aponte para adequações ou correções necessárias, o(a) pesquisador(a) deve fazer as readequações propostas e reenviá-lo. Após o reenvio é contado um novo prazo de no máximo 15 (quinze) dias úteis. Se a segunda versão do projeto continuar com problemas técnicos e/ou metodológicos, o projeto de pesquisa não será aprovado.

Para a solicitação de dados secundários, a SUASE, após avaliação do pedido, terá o prazo de 15 dias úteis.

V. Garantias legais

Fica a Parte interessada ciente de que nos termos do art. 173 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é "vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional", sendo que qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, iniciais, filiação, parentesco e residência.

Deverá o Interessado, ainda, respeitar a integridade psíquica e moral dos adolescentes cujos relatórios foram disponibilizados, preservando sua imagem, identidade, sua autonomia, seus valores, suas idéias e crenças.

A violação de qualquer direito dos adolescentes ligados ao relatórios, ou mesmo a divulgação de informações referentes aos mesmos em desacordo com a legislação vigente, será comunicada de imediato às autoridades competentes para fins de apuração de infrações contra o Estatuto da Criança e do Adolescente (Art. 247, ECA), salvo divulgações expressamente autorizadas pela autoridade judiciária.

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UNIBAN

CONSELHO DA PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A

LEI

VANDER CHERRI MARCOLINO

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO ABERTO

NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG

São Paulo Dezembro de 2011

VANDER CHERRI MARCOLINO

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PROGRAMA MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO ABERTO

NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG

Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial dos requisitos do Curso de Pós-Graduação stricto sensu Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei da Universidade Bandeirante para a obtenção do título de Mestre em Adolescente em Conflito com a Lei sob a orientação da Professora Dra. Irandi Pereira.

São Paulo Dezembro de 2011

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VANDER CHERRI MARCOLINO

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO ABERTO

NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG

BANCA EXAMINADORA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE

Titulares

Profa. Dra. Irandi Pereira (UNIBAN - Presidente e orientadora)

Profa. Dra. Maria Helena Zamora (PUC/RJ)

Profa. Dra. Maria do Rosario Corrêa de Salles Gomes (UNIBAN)

Suplentes

Profa. Dra. Eliana Silvestre (UEM/PR)

Profa. Ms. Adriana Palheta Cardoso (UNIBAN)

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DEDICATÓRIA

A todos os sujeitos que participaram direta e indiretamente da pesquisa.

À minha família.

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AGRADECIMENTOS

Aos professores do Programa Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei da UNIBAN, em especial, a minha orientadora Profa. Dra. Irandi Pereira.

Às professesoras que participaram do processo de qualificação da pesquisa, Profa. Dra. Maria Helena Zamaora e Ms. Adriana Palheta Cardoso.

Aos colegas de mestrado do Programa Adolescente em Conflito coma Lei da UNIBAN.

Às entidades sociais que realizam os programas socioeducativos em Alfenas.

Aos profissionais e gestores do sistema socioeducativo do Estado de Minas Gerais e do município de Alfenas/MG.

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SIGLÁRIO

Ação Social - Secretaria Municipal da Criança e Adolescente, Igualdade Racial e Desenvolvimento Social

CF – CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

ECA - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOELSCENTE

CMDCA – Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

CMDCA/Alfenas - Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Alfenas

CONANDA – CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOELSCENTE

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

CREAS - Centro de Referência da Assistência Social

CT¨- Conselho Tutelar

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística....

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

ILANUD - Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Adolescente

PSC – PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Á COMUNIDADE

LA – LIBERDADE ASSISTIDA

MP – Ministério Público

SINASE – SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO

ONG – Organização Ñão-Governamental

PEA – População Economicamente Ativa

PIA – Plano Individual de Atendimento

SEDS - Secretaria de Estado e Defesa Social de Minas Gerais

SGD – Sistema de Garantia de Direitos

STJ – Supremo Tribunal de Justiça

UNIFAL - Universidade Federal de Alfenas

UNIFENAS - Universidade José do Rosário Vellano

VIJ – Vara da Infância e Juventude

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MARCOLINO, Vander Cherri. Política socioeducativa em meio aberto no município de Alfenas/MG. Dissertação (Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei), UNIBAN, São Paulo, 2011. RESUMO

O projeto de pesquisa tem como objeto tratar da execução da política socioeducativa em meio aberto – prestação de serviços à comunidade e de liberdade assistida - no município de Alfenas, localizado na Região Sul do Estado de Minas Gerais. O objetivo central foi o de conhecer como o sistema municipal de atendimento socioeducativo vem sendo implantado no município tendo em vista o princípio da municipalização e a descentralização político-adminsitrativa da política socioeducativa ao adolescente em conflito coma lei e a consecução da forma democrática e participativa da gestão da política pública. A metodologia adotada para a realização da pesquisa foi a abordagem qualitativa complementada pela análise documental e legislativa sobre o tema da pesquisa. No aprofundamento da gestão pública da política socioeducativa em meio aberto ganhou relevo a análise da gestão a partir dos parâmetros pedagógicos e arquitetônicos aprovados no marco regulatório SINASE. O que está em questão nesta proposta de pesquisa é a diretriz da municipalização da política de direitos (socioeducativa) ao adolescente em conflito com a lei prevista no art. 88, ECA que não pode ser confundida com “prefeiturização” ou “prefeitorização” ou mesmo a simples “terceirização de serviços públicos”. Tendo em vista o problema da pesquisa – execução das medidas socieoducativas em meio aberto – as hipóteses que a pesquisa busca saber e/ou conhecer e/ou aprofundar passam por verificar como o Estado de Minas Gerais cumpre com a diretriz constitucional de municipalização da política socioeducativa, se os planos (estadual e municipal – Alfenas) se relacionam com a concepção, método e gestão da política socioeducativa preconizada pelo SINASE e com as demandas apresentadas pelos adolescentes no cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto e se os indicadores de resultados da implementação da política socioeducativa (PSC e LA) no município de Alfenas trazem impacto no desenvolvimento da cidadania dos adolescentes em cumprimento de medidas.

Palavras chave: Adolescente em Conflito com a Lei. Política Socioeducativa. Gestão Municipal. Medidas Socioeducativas.

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MARCOLINO, VANDER Cherri. Política socioeducativa em meio aberto no município de Alfenas/MG. Dissertation (Professional Master Adolescents in Conflict with the Law), UNIBAN, New York, 2011.

ABSTRACT

The research project aims to address the implementation of socio-political in an open environment - providing community service and probation - in Alfenas, located in southern Minas Gerais State. The main objective was to understand how the municipal childcare service has been deployed in the city in view of the principle of municipalization and decentralization of political and administratively socio-political conflict in the adolescent eat law and the pursuit of a democratic and participatory management of public policy. The methodology adopted for the research was complemented by the qualitative analysis of documents and legislation on the subject of research. Deepening socio-political governance in an open environment gained relief from the management review of the educational and architectural parameters approved in the regulatory framework SINAS. What is at issue in this research proposal is the policy of municipalization of political rights (socio-) adolescents in conflict with the law referred to in art. 88, ACE can not be confused with "municipalization" or "prefeitorização" or simply "outsourcing of public services." In view of the research problem - socieoducativas implementation of measures in an open environment - the chances that the research seeks to know and / or meet and / or undergo further see how the state of Minas Gerais complies with the constitutional policy of decentralization of socio-political if the plans (state and municipal - Alfenas) relate to the design, method and management of socio-political signals is recommended by the demands presented by adolescents in the fulfillment of educational measures in an open environment and outcome indicators of the implementation of socio-political (and LA PSC) in Alfenas bring impact on adolescents' development of citizenship in compliance measures.

keywords: Adolescents in conflict with the law. Socio-political. Municipal Management. Educational measures.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 12

INTRODUÇÃO 16

PARTE I

Política dos direitos da criança e do adolescente 23

1. Breve trajetória da política de direitos 23

PARTE II

Adolescente, adolescente autor de ato infracional e as medidas socioeducativas

38

1. Adolescente na realidade brasileira 38

2. Adolescente e ato infracional 40

3. Medidas socioeducativas em meio aberto 46

3.1. Prestação de serviços à comunidade 47

3.2. Liberdade assistida 48

PARTE III

Política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei

50

1. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE)

50

2. Gestão da política socioeducativa 52

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2.1. Gestão do Sistema Único de Assistência Social (SUAS)

53

PARTE IV

Política socieoducativa no Estado de Minas Gerais 59

1. Sistema Estadual de Atendimento Scoioeducativo

59

2. Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo de Alfenas/MG

69

REFERÊNCIAS 95

ANEXOS 99

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APRESENTAÇÃO

Ando devagar porque já tive pressa... (Almir Sater)

O interesse pelo tema das medidas socioeducativas surgiu com a minha

participação na Comunidade de Jovens do Bairro Santo Reis, vinculada às atividades

pastorais da igreja católica e depois na Associação de Moradores do mesmo bairro, no

município de Alfenas, Região Sul do Estado de Minas Gerais. A ação era de assistência

aos moradores do bairro tendo em vista a ausência de recursos e investimentos

financeiros e socioculturais para o bairro e, desde criança, pude conviver com a

trajetória de criminalidade de alguns deles.

Após a conclusão do ensino médio em escola pública e atendendo aos

imperativos de minha curiosidade, de então, fiz a opção por cursar ciências jurídicas por

acreditar na possibilidade de melhor interferir nas demandas locais por justiça social.

Durante a graduação (1996-2000), fui adquirindo conhecimento teórico e técnico e, cada

vez mais, fui-me envolvendo com as políticas públicas municipais até que passei a

promovê-las, seja no estágio supervisionado e na atenção às demandas populares.

Nos anos 2002-2003 fui docente na disciplina Poder de Polícia, no curso de

formação da Guarda Municipal, contratado pela Fundação Guimarães Rosa. E, em

2004, o tema das medidas socioeducativas passa a ocupar lugar central na militância

profissional e comunitária e, diante de índices cada vez maiores sobre a participação de

adolescentes alfenense na prática de delitos, participei da fundação da entidade não-

governamental (ONG) Associação Dias Melhores.

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O começo do trabalho social da Associação centrava-se no desenvolvimento de

atividades socioculturais no contra turno escolar de crianças e adolescentes e em 2010,

a ONG assume a execução da medida socioeducativa de Prestação de Serviços à

Comunidade (PSC) no município de Alfenas. Na Associação ocupo o cargo de diretor

executivo e consultoria jurídica.

Em 2008, fui eleito para o cargo de presidente do Conselho Municipal de

Segurança Pública de Alfenas, de natureza comunitária e reeleito em 2010 e, no período

de 2008 a 2010 estive a frente como vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos

da Criança e do Adolescente de Alfenas, representando o Governo Municipal. E, 2009,

fui indicado para o Conselho Municipal de Assistência Social de Alfenas (COMAS) como

representante governamental por ter cargo em confiança na área jurídica, nas

coordenações do órgão de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON) e no

Departamento Municipal de Assistência Judiciária, desde 2005.

Ainda no período de 2004 a 2011 mantive no Jornal dos Lagos, jornal de

destaque local com duas edições semanais, coluna relativa aos acontecimentos ligados

á violência e criminalidade e orientações para a comunidade na articulação da rede

social sobre os direitos de cidadania.

O que vem complementando minha formação nesse período além da formação

profissional e acadêmica, é a participação em diversos eventos que tratam da temática

direitos sociais e cidadania e, muitos deles, na qualidade de organizador e palestrante.

Por se tratar de uma cidade interiorana e com escassos recursos fui me tornando

referência para tais temas e, em especial, sobre direitos de crianças e adolescentes e,

assim, a rede de TV local, TV Alfenas, tem-me feito convites para participar de debates

ao vivo.

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No ano de 2010 frente a experiências realizadas em alguns municípios pelo

sistema de justiça no que se refere a ação institucional “toque de recolher” de

adolescentes e jovens, houve a necessidade de se realizar no município de Alfenas

audiência pública para debate desta ação, uma vez que, alguns órgãos tinham interesse

em adotar tal medida. Na ocasião, autoridades municipais, jurídicas e cidadãos civis,

debateram sobre a possível implantação ou não dessa medida e também sobre os

rumos das políticas públicas sobre o uso de tráfico de drogas. Na ocasião foi colocada a

impossibilidade de adotar tal medida e, em seu lugar, foi criado o Comissariado da

Infância e Juventude, através de Portaria do Poder Judiciário, cujos integrantes (três

pessoas), cujas ações são custeadas pelo Fundo da Infância e Adolescência.

Todo esse envolvimento com as causas do direito, da justiça e da comunidade

local me fez perceber que era tempo de retornar aos bancos escolares para a

necessária reflexão sobre as práticas até então desenvolvidas.

Foi então que participei do processo seletivo do Curso Mestrado Profissional

Adolescente em Conflito com a Lei da Universidade Bandeirante de São Paulo/UNIBAN

(MP ACL) por considerar que o referido curso vinculado à área Interdisciplinar em

Direitos Humanos alia rigor acadêmico na formação e pesquisa e atenção devida às

atuais exigências profissionais na qualificação dos educadores sociais para lidar com

situações sociais críticas e muito sensíveis como é o caso do adolescente em conflito

com a lei.

A pesquisa – política socioeducativa em meio aberto no município de Alfenas/MG

– que ora apresento vincula-se à Linha 3 de Pesquisa Gestão da Política de Direitos ao

Adolescente em Conflito com a Lei que congrega estudos e pesquisas sobre a gestão

da política de direitos.

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INTRODUÇÃO

Construir um objeto de estudo é um problema fundamentalmente teórico (...) Nossa valorização do trabalho teórico surge, sem dúvida, das necessidades das prática e corresponde a uma intencionalidade política (...) (Rockwell e Ezpeleta, 2001).

A pesquisa - política socioeducativa em meio aberto no município de Alfenas/MG

- tem como objeto compreender como poder público lida com a implementação do

Estatuto da Criança e do Adolescente1 no que se refere à execução das medidas

socioeducativas em meio aberto – Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) e

Liberdade Assistida (LA) – ao adolescente em conflito com a lei.

Cabe ressaltar que em 2006, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do

Adolescente (CONANDA) aprovou os parâmetros pedagógicos e arquitetônicos

constante do documento Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE)2

e, para tanto, interessa-nos perceber como a gestão pública municipal da política

socioeducativa em meio aberto (PSC e LA) se desenvolve no município de Alfenas, no

tocante: as formas de cumprimento; a existência ou não de plano municipal

socioeducativo; o processo de parcerias com os órgãos da administração pública nos

níveis nacional e estadual; a participação da sociedade civil na implementação da

política socioeducativa por meio dos programas de PSC e LA; a supervisão do público

sobre o privado no tocante à atuação das organizações da sociedade civil (organização

não-governamentais – ONG); as formas de financiamento e modo de repasse e

prestação de contas; os impactos da ação, ou seja, resultados positivos e mesmo

negativos dos programas em torno do cumprimento da medida socioeducativa, em 1 Lei Federal nº 8.069 de 13 de julho de 1990.

2 PL nº ..........

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especial, sobre a reincidência ou não; aumento da escolaridade; a formação profissional

e oportunidades de trabalho para os adolescentes; perfil dos socioeducadores,

incluindo, as equipes técnicas; as propostas de capacitação continuada dos

socioeducadores e gestores; a relação dos programas socioeducativos com os demais

programas públicos de inclusão e desenvolvimento da cidadania dos adolescentes; a

relação com o sistema de justiça e a interação com as famílias e rede sócio-comunitária.

A hipótese da pesquisa é perceber se a diretriz da municipalização da política de

direitos prevista no art. 88 do ECA3 vem-se materializando no que se refere à política

socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei. A diretriz municipalização não pode

ser confundida com “prefeiturização” ou “prefeitorização” ou mesmo a simples

“terceirização de serviços públicos” (BRANT, 1992???).

O conceito de municipalização para o Instituto Latino-Americano das Nações

Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Adolescente (ILANUD) tomado para

a análise e avaliação da política de proteção social é o seguinte:

A municipalização, enquanto princípio norteador da organização das políticas de

atenção ao adolescente exige que todas as ações, sem distinção, sejam elas de

cunho social básico, de proteção especial ou mesmo de natureza

socioeducativa, estejam articuladas no âmbito municipal. Esta articulação

pressupõe a existência de uma rede de serviços, em que a responsabilidade é

3 “Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:

I – municipalização do atendimento;

(...)

III – criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização político-adminitrativa;

(...)

VII – mobilização da opinião pública para a indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade” (ECA, 1990).

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compartilhada pelos diferentes entes políticos. Há uma definição inicial de

competências exclusivas, seguida de um rol de competências concorrentes

(ILANUD, 2004).

Nesse sentido, a pesquisa busca verificar como a diretriz constitucional da

municipalização da política pública, no caso da socioeducativa, vem sendo

implementada no município de Alfenas/MG e a relação ou não com os parâmetros

pedagógicos e arquitetônicos estabelecidos pelo SINASE, no que se refere aos

programas socioeducativos em meio aberto (PSC e LA). E se os resultados da

implementação dessa política tem contribuído para a afirmação dos direitos de

cidadania de adolescentes em cumprimento de medidas de PSC e PLA.

Cabe dizer que, inicialmente, a pesquisa tinha por objetivo realizar a cartografia

da execução da política socioeducativa em meio aberto (PSC e LA) na dimensão da

unidade federada Minas Gerais, Região Sudeste do Brasil no sentido de cumprimento

de diretriz constitucional municipalização da política de direitos ao adolescente em

conflito com a lei e a consecução da forma democrática e participativa da gestão da

política pública. E, para tanto, seria realizada leitura de cenário sobre a execução das

medidas socioeducativas e sua consolidação enquanto Sistema de Garantias dos

Direitos da Criança e do Adolescente de acordo com o que preconiza o ECA e, com

recorte, na cartografia dessa política na Comarca de Alfenas. Contudo, isso não foi

possível pelo incipiente processo de municipalização da política socioeducativa em meio

aberto no Estado, conforme pode ser percebido no documento em anexo (Anexo 1).

Como a pesquisa teve sua centralidade apenas na Comarca de Alfenas, os

objetivos tiveram que ser redefinidos para:

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<> conhecer as estratégias de implementação da política socioeducativa em meio

aberto (PSC e LA) no Município de Alfenas/MG tendo em vista a diretriz constitucional

da municipalização da política de direitos;

<> verificar se na gestão da política socioeducativa os princípios da democracia

participativa e mobilização social estão presentes bem como os parâmetros

pedagógicos e arquitetônicos elencados no SINASE;

<> observar a presença de indicadores de resultados dessa política na afirmação dos

direitos de cidadania de adolescentes em cumprimento das medidas de PSC e LA

(qualidade da execução dos programas socioeducativos).

A política de direitos ao adolescente em conflito com a lei, denominada na

pesquisa, como política socioeducativa, tem como referência o princípio da doutrina da

proteção integral e “consequentemente na sua dimensão socioeducativa, através do

Sistema de Garantia de Direitos, pressupõe a integralidade das ações para a

consecução dos direitos fundamentais [do universo] de crianças e adolescentes

enquanto prioridade absoluta” (SILVESTRE, 2010, p. 100).

Nesse sentido, a pesquisa teve caráter qualitativo e exploratório, pois buscou

conhecer, verificar, observar e compreender o processo de implementação da

municipalização dos programas socioeducativos em meio aberto (medidas de PSC e

LA) aplicadas a adolescentes que, após o devido processo legal, foram considerados

autores de atos infracionais (MINAYO, 2007). A opção por essa metodologia e seus

respectivos procedimentos, apesar da incipiente sistematização do processo de

implementação da política socioeducativa no município, permitiu perceber que a

execução dos referidos programas se encontra na responsabilidade da sociedade civil,

realizada por duas organizações não-governamentais, sendo que a ONG que realiza a

LA, mantém convênio com a Prefeitura Municipal e a outra que acolhe os adolescentes

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em PSC, encaminhados pelo Poder Judiciário, não possui convênio firmado para essa

finalidade.

Os dados e informações buscados para a realização da pesquisa tiveram

como fonte os documentos de diferentes órgãos públicos e âmbito (federal, estadual,

municipal) e das novas institucionalidades – Conselhos de Direitos da Criança e do

Adolescente – e de organismos multilaterais e das organizações não-governamentais.

Tendo em vista a incipiente sistematização das práticas foi necessário realizar visitas

técnicas em diversos órgãos públicos e privados, também nas três esferas da

administração. Cabe ainda ressaltar que o pesquisador por atuar também em diferentes

frentes das políticas públicas (em especial os Conselhos) a observação, a

experimentação e a memória, serviram como fontes de registro sobre o objeto de

estudo.

No desenvolvimento da pesquisa foram privilegiadas as contribuições (conceitos

e dados) sobre o tema da política socioeducativa relacionada à produção acadêmica

(teses e dissertação) Pereira (2006), Silvestre (2010), Nozabielli (2003), à literatura de

Sposati (1994), Carvalho (1999) Liberati (2003), Arantes (1999), Zamora (2005), Volpi

(1997) e produção técnica de Souza (2008), Pereira (2004), Pereira e Mestriner (1999),

Costa (1993). Tais referências se relacionam à questão dos direitos humanos de

crianças e adolescentes e advindas de diferentes áreas do conhecimento, tendo em

vista, o olhar interdisciplinar e intersetorial e interinstitucional sobre o objeto de estudo.

Na articulação entre saberes e práticas pontua Arantes (1999):

Uma articulação entre estes diversos agentes que efetivamente beneficiasse a criança e sua família nunca foi possível. No entanto, mesmo atualmente, com o reordenamento jurídico operado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei que regulamenta o artigo 227 da Constituição Federal -, não se conseguem mudanças efetivas

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em direção a um entendimento e a uma prática diferentes. (...) O que parece estar sendo esquecido nestes debates, e que foi a própria motivação da luta em torno do artigo 227 da Constituição de 1988, é que a questão da criança no Brasil não é uma questão médica ou policial. É neste sentido que as proposições do Estatuto trazem à cena, em primeiro lugar e antes de quaisquer outras considerações, a questão da cidadania para todas as crianças e jovens. Não se pode pensar em modelos de atendimento, em medidas de proteção e em medidas sócio-educativas que não tenham a guiá-las este imperativo (p. 257).

A presente dissertação está organizada a partir desta Introdução do seguinte

modo: Parte I – trata de, modo breve, da trajetória da política de direitos à criança e ao

adolescente no Brasil, destacando as três legislações especiais e, principalmente, no

que se refere à questão do ato infracional e medidas judiciais; Parte II – apresenta as

conceituações de adolescente, adolescente autor de ato infracional e as medidas

socioeducativas a serem aplicadas pelo sistema de justiça; Parte III – descreve sobre a

gestão da política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei a partir dos

marcos regulatórios como o sistema nacional de atendimento socioeducativo; Parte IV –

trata da pesquisa de campo objeto de estudo da pesquisa e, ainda as Referências e

Anexos.

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PARTE I

POLÍTICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1. Breve trajetória histórica

No campo da infância e adolescência brasileiras três foram as leis que trataram

em tese dos direitos infanto-juvenis e das obrigações do Estado, da sociedade e da

família com a questão.

Tais legislações, específicas ou não, tem como antecedentes eventos e tratados

internacionais como, por exemplo, na década de vinte, da União Internacional “Save the

Children” que redigiu e aprovou o documento conhecido como Declaração de

Genebra:Princípios básicos de proteção à criança (1923); a Declaração de Genebra - 5ª

Assembléia da Sociedade das Nações: conduta em relação às crianças pautado na

Convenção de Genebra (1924) e no Brasil a Lei 4.242 do Código Civil, determinando

que se considere abandonado o “menor” sem habitação certa ou meio de subsistência,

órfão ou com responsável julgado incapaz de sua guarda (1921); a inauguração do

primeiro estabelecimento público para “menores”, no Rio de Janeiro, Capítal da

República (1922); a Lei Orçamentária autoriza Serviços de Assistência à Infância (1923);

a criação do do Tribunal de Menores, estrutura jurídica que serviu de base para o

primeiro Código de Menores (1923) e a Promulgação do Código de Menores (1927),

primeiro documento legal para a população menor de 18 anos de idade, conhecido

como Código Mello Mattos.

Na década de trinta, com a vigência do Estado Novo, foi criado o Ministério da

Educação e Saúde Pública, um dos primeiros atos do governo provisório de Getúlio

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Vargas e a criação do Ministério da Justiça e dos Negócios Interiores.(1930); a

Constituição Federal instituiu normas para a assistência social e pública, cabendo aos

municípios o estímulo à educação, amparo à maternidade e à infância (1934) e há ainda

a restrição constitucional sobre as competências da carta magna anterior, concentrando

na União papel de legislar sobre as normas de defesa e proteção da saúde,

principalmente, crianças (1937).

Nos anos quarenta três foram os eventos marcantes da época, a Consolidação

das Leis Trabalhistas (1943) e na Lei de Diretrizes e bases da Educação que trata da

obrigatoriedade do Ensino Fundamental (1996). Em 1940, cria-se o Departamento

Nacional da Criança, Ministério da Educação e Saúde Pública em que se centra mais a

preocupação com a saúde e menos com a educação; funda-se a Legião Brasileira de

Assistência (LBA) com a inauguração da presença do primeiro damismo na política

estatal (Darcy Vargas) cujo enfoque principal está no trabalho e nas atividades de

geração de Renda, como por exemplo a isntituição do programa Casa do Pequeno

Jornaleiro (1941); a criação do Serviço de Assistência ao Menor (SAM), órgão do

Ministério da Justiça, um equivalente ao sistema penitenciário, para a população menor

de 18 anos de idade, cuja lógica de trabalho era a reclusão e a repressão das crianças e

adolescentes abandonados, órfãos, delinquentes (1942) e também surge várias

organizações da sociedade civil de cunho assistencialista e filantrópicos, como os

patronatos, internatos e programas de profissionalização para os menores carentes; a

criação do sistema “S” (SESI, SESC, SENAI, SENAC) ligado ao empresariado com o

objetivo prestar serviços sociais a seus empregados e familiares (1944?).

Ainda nos anos quarenta, em especial a partir de 1945 a 1964, o país passa por

momentos políticos que buscam pelo fim da ditatura e pela redemocratização. Na área

da infãncia e adoelscência, vários eventos marcram esse período como, por exemplo:

retorno da obrigatoriedade da assistência à maternidade e à infância e, pela primeira

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vez a educação passa a ser dever do estado e direito de todos e a instituição do ensino

gratuito obrigatório e a organização do sistema educacional (1946); e a Declaração

Universal dos Direitos Humanos, instrumento regulatório de abrangência internacional

que pretendia evitar o surgimento de outra guerra das dimensões da II Guerra Mundial

(1948). E, na déccada cinquenta, instala-se o Fundo das Nações Unidas para a Infãncia

(Unicef) no Brasi: instalado em João Pessoa (PB) (1950), trazendo para o país

programas de proteção à saúde da criança e da gestante nos estados do nordeste

brasileiro e, em 1959, a promulgação da Declaração Universal dos Direitos da Criança,

aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas que aumentou o elenco dos

direitos aplicáveis à população infantil.

Nos anos sessenta, houve a ampliação do número de organizações da sociedade

civil, especialmente no âmbito sindical de trabalhadores. Começa a haver a

reivindicação de políticas sociais redistributivas, embora ainda não haja registro histórico

de movimento organizado pela infância e pela adolescência. A Constituição em vigor,

extremamente conservadora, trata da política social subordinada e atrelada aos

objetivos estratégicos do regime militar, diante da proposta de crescimento econômico e

acirrado ao controle social. Na verdade, a política social é tida como meio e não como

fim e os programas são marcados por paralelismos, centralismo burocrático do governo

federal, controle social dos pobres (objetos passivos da assistência do Estado). Na

análise verifica-se a incoerência entre prioridades do Estado e as demandas sociais. No

período 1964 a 1985, instaura-se o regime ditatorial militar e, já no mesmo ano institui-

se a Lei nº 4.513/ 64 sobre a Política Nacional do Bem Estar do Menor e a criação da

Fundação Nacional do Bem Estar do Menor (FUNABEM) e as congêneres nos estados

da federação, Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (FEBEM) como substitutas do

SAM. Um dos objetivos da FUNABEM e FEBEM era formular e implantar a PNBEM sob

o marco da doutrina da situação irregular em que a criança e o adolescente tinha

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tratamento discricionário. A instituição desse sistema (nacional e estadual) marcava a

transição entre a concepção correlacional-repressiva para a assistencialista tendo como

concepção de atendimento integrar o menor à comunidade através da assistência à

família e da colocação em lares substitutos. Em 1967, houve nova carta constitucional

centralizadora; política social subordinada e atrelada aos objetivos estratégicos militares

como o crescimento econômico x controle social.

Na década de 70, em especial a partir da metade da década, os movimentos

sociais buscam por liberdades democráticas e o fim da ditadura militar acriou as bases

para profundas mudanças no país inspiradas na Declaração Universal dos Direitos da

Criança:

♦ surgem os projetos de atendimento a meninos e meninas de rua; a

crianças passam a ser vistas como um feixe de possibilidades abertas

para o futuro e começam a surgir experiências inovadoras em várias

áreas;

♦ em 1976 - É instaurada a CPI do menor:

♦ 1978 - Proposta de Convenção Internacional dos Direitos da Criança –

Declaração;

♦ 1978 – Surge o Movimento de Defesa do Menor - São Paulo;

♦ 1979 - Lei 6.697/79 - reformulação do Código de Menores, ou seja, o

Segundo Código de Menores incorpora uma nova concepção

assistencialista à população infanto-juvenil considerados dentro da

situação irregular. Lei policialesca de controle social.

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♦ Início do processo de abertura democrática e de reorganização dos

setores populares e a política convive com três tendências: a

repressiva, a assistencialista e a educativa. (meados anos 70);

♦ Modernização conservadora da vida brasileira; Menor marginalizado –

carente bio-psico-sócio-cultural onde o atendimento era realizado

dentro de um modelo institucionalizante assistencial sobre a doutrina

da segurança nacional.

Na década de 1980 há abertura Política e nova Redemocratização, surgindo um

movimento social composto por diferentes organizações da sociedade civil

independentes do Estado (Associações de bairro, movimentos contra a carestia, CEBs):

♦ 1982, Enfoque crítico estrutural volta-se para a superação do ciclo

perverso da institucionalização;

♦ 1985, Criação do Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua:

pela primeira vez, fala-se em protagonismo juvenil e se reconhece

crianças e adolescentes como sujeitos participativos;

♦ 1985 - Regras mínimas das Nações Unidas para administração da

Justiça da Infância e da Juventude - Regras de Beijing (Resolução

40/33 - ONU - 29 de novembro de 1985);

♦ 1986 - Criação da Frente Nacional Permanente de Entidades Não-

Governamentais de Defesa dos Direitos das Crianças e dos

Adolescentes (Fórum Nacional DCA): articulação entre várias

entidades de expressão na área da infância e adolescência. Nesse

mesmo ano, é criada a Comissão Nacional Criança Constituinte; 1988

- Apresentação de duas emendas de iniciativa popular ao processo

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nacional constituinte: “Criança e Constituinte” e “Criança: Prioridade

Nacional” - mais de 200 mil assinaturas; 1988 - Diretrizes das Nações

Unidas para prevenção da Delinqüência Juvenil - diretrizes de Riad

(ONU - 1º de março de 1988 - Riad);

♦ 1988 - Constituição Federal do Brasil: considerada a “Constituição

Cidadã”, inova ao introduzir um novo modelo de gestão das políticas

sociais, com a criação dos conselhos deliberativos e consultivos.

Durante sua elaboração, um grupo de trabalho se reuniu para

concretizar os direitos da criança e do adolescente. O resultado foi o

artigo 227, base para a elaboração do Estatuto da Criança e do

Adolescente;

♦ 1989 – Convenção Internacional dos Direitos da Criança: um dos mais

importantes tratados de direitos humanos, ratificado por todos os

países membros da ONU com exceção dos Estados Unidos e da

Somália. O Brasil torna-se signatário da Convenção sobre os Direitos

da Criança, da ONU; Aprovação dos artigos 204 (princípio da

descentralização político - administrativa e da participação) e 227 CF,

apresentado em 05/10/88 (criança e adolescente conquistam a

condição de sujeitos de direitos, com prioridade absoluta e dever dos

adultos), com 435 votos a favor e 8 contra. Foi o início para a

alteração do panorama legal da infância e adolescência no Brasil; 1989

- 30 anos Declaração, aprovação da Convenção - 20/11/89

Na década de noventa, busca-se a consolidando da Democracia e organização e

mobilização de três forças para elaboração da regulamentação do Artigo 227 da CF:

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Fórum DCA ( entidades não - governamentais); Mundo Jurídico; e o FONACRIAD

(Fórum de dirigentes e técnicos de órgãos públicos estaduais.

<> 1990 – Promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente - aprovado pelo

Congresso Nacional e sancionado pelo Presidente da República: é considerado um

documento exemplar de direitos humanos, concebido a partir do debate de idéias e da

participação de vários segmentos sociais envolvidos com a causa da infância no Brasil;

<> 1990 – Lei Orgânica da Saúde;

<> 1991 - Criação de Fóruns específicos da Criança e do Adolescente; de

Erradicação do Trabalho Infantil; de Enfrentamento da Violência Sexual contra crianças

e adolescentes (a partir de 1991) implantação e implementação dos Conselhos dos

Direitos da Criança e do Adolescente; Conselhos Tutelares; Conselhos da Assistência

Social;

<> 1993 – Sanção da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS): define que, no

Brasil, a assistência social é direito do cidadão e dever do Estado; 1996 – Sanção da Lei

de Diretrizes e Bases da Educação (LDB): define e regulariza o sistema de educação

brasileiro com base nos princípios presentes na Constituição.

<> 2000 – Aprovação do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual

contra Crianças e Adolescentes: marca a consolidação da luta contra a violência sexual

infanto-adolescente;

<> 2003 – Aprovação do Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do

Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente;

<> 2006 – Aprovação do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do

Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária e do Sistema

Nacional Socioeducativo (Sinase): os dois documentos buscam solução para direitos

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garantidos pelo Estatuto, mas que ainda encontram dificuldades para sua efetivação.

Para o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, pela primeira vez, dois

conselhos se reuniram para traçar as diretrizes e metas – o Conselho Nacional dos

Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho Nacional da Assistência Social;

Após 20 anos de vigência da Lei Federal 8.069/90, Estatuto da Criança e do

Adolescente, pode-se constatar que houve avanços na garantia dos direitos da

população infanto-juvenil, em especial, da concepção e trato à condição de sujeito de

direitos enquanto pessoas em desenvolvimento; No entanto, inicialmente não se tinha

em mente uma melhoria na qualidade de vida da criança ou adolescente, e sim, corrigir

aquilo que caracterizava uma anomalia social conforme destaca Arantes (1999):

(...) neste sentido, a pretendida racionalização da assistência, longe de concorrer para a mudança nas condições concretas de vida da criança, constituiu-se muito mais em uma estratégia de criminalização e medicalização da pobreza. Com o passar dos anos, esse grupo passou a ter tem espaço na agenda da política pública nacional e mesmo internacional, tendo em vista a obrigatoriedade dos Estados Partes da Organização das Nações Unidas (ONU) em cumprir com os tratados internacionais, adequando legislação e alterando políticas e práticas direcionadas a esse grupo.

Ainda de acordo com Arantes (1999)

(...) para que o menor irregular emergisse no Brasil como categoria distinta do exposto, do desvalido, da criança infeliz, foram necessárias a extinção da Roda dos expostos, a elaboração e a criação de um Código e de um Juizado de Menores, a aceitação de princípios da medicina higienista e eugenista por parte de outros profissionais que atuavam no setor, a criação de uma Delegacia de Menores e, finalmente, a criação de instâncias, a nível federal e estadual, responsáveis pela formulação e implementação de políticas para o setor, como a FUNABEM (p 257).

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Novas institucionalidades – Conselhos - vem sendo criadas por força do direito

constitucional brasileiro que, a partir de 1988, com a Constituição da República

Federativa do Brasil, primar pela idéia de um Estado Democrático de Direito que impõe

mudanças na relação Estado e Sociedade Civil ou mesmo em termos do que se

configura público e privado no debate e garantia dos direitos de crianças e adolescentes

e, em particular, à parcela denominada adolescente em conflito com a lei. A partir da

criação dos Conselhos, princípios, diretrizes, planos, orientações são definidas em suas

especificidades.

Em 2010 houve um avanço significativo, ainda mais com a elaboração do Plano

Nacional Decenal dos Direitos da Criança e do Adolescente (PNDCA), aprovado na

Sessão Ordinária do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

(CONANDA) em abril de 2011. O PNDCA aprovou diretrizes para os dez anos da

política de direitos e, com isso, na 9ª Conferência do CONANDA que se iniciam em

agosto deste ano, os entes federados – estados, distrito federal e municípios – possam

debater e priorizar ações, metas e indicadores para os próximos dez anos da política de

direitos.

No entanto mesmo decorridos quase 20 anos da aprovação do ECA, ainda são

incontáveis as dificuldades para fazer valer o funcionamento do sistema de garantia de

direitos da criança e do adolescente. Apesar dos avanços e perspectivas que se

avizinha, um aspecto continua sendo o “calcanhar de Aquiles” do Estatuto, como diz o

saudoso (citação) Professor Antônio Carlos Gomes da Costa, o atendimento de

qualidade ao adolescente autor de ato infracional, segundo os parâmetros do

documento aprovado pelo CONANDA em 2066, Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (SINASE): mesmo existindo sinais de avanço com a possibilidade

concreta de reordenamento jurídico-institucional, a política pública de atenção a esse

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grupo ainda está distante do que preconiza o arcabouço legal vigente, nacional e

internacional.

O Código de Menores vigorou por muitos anos no processo de atendimento a

criança e ao adolescente considerada como delinqüente, mediante aos patamares

sociais. Na época foram executadas algumas ações que tinham como objetivo “resolver”

esse problema.

Segundo Liberati (2003, p. 31) no ano de 1941 foi criado o SAM – Serviço de

Assistência a Menores, pelo Decreto-lei nº 3.799/41, que tinha o objetivo de “corrigir” os

menores desvalidos e infratores, executando uma política corretivo- repressivo-

assistencial (casas de correção e reformatórios) mas, por falta de autonomia, estrutura

administrativa, financeira e a aplicação de métodos inadequados e repressivos no

atendimento às crianças e adolescentes, o SAM fracassou.

Com o fracasso do SAM, foi desenvolvido outro programa de atendimento a

criança e ao adolescente sendo este a FUNABEM (Fundação Nacional do Bem – Estar

do Menor).

Segundo Liberati (2003, p. 32) a criação da FUNABEM, por meio da Lei. Nº.

4.513, de 1º de dezembro de 1964, veio substituir o SAM e foi à solução encontrada,

para responder aos apelos da sociedade frente ao problema da delinquência infanto-

juvenil da época. Neste período o governo militar de 1964, decidiu enfrentar essa

questão como um problema social. A FUNABEM tinha como objetivo a centralização dos

programas e iniciativas a favor da criança e do adolescente, enfatizando que o problema

era de responsabilidade do Estado. Logo depois foi criada a Fundação Estadual do Bem

Estar do Menor (FEBEM) com sistema de internação aos adolescentes considerados

desajustados aos padrões da sociedade.

A internação que seria para ajustar o indivíduo à sociedade acabava remetendo

em revoltas, maus tratos, abandono, a opressão era reflexo de adolescentes sem

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expectativa de vida, se inserindo cada vez mais no mundo da criminalidade, sem futuro

e sem esperança.

Após o Código de Menores de 1927 foi instaurado o Código de Menores de 1979,

que Segundo Lorenzi (2007, s. p.) não rompeu com a repressão junto à população

infanto-juvenil. Esta lei também introduziu o conceito de "menor em situação irregular",

que reunia o conjunto de crianças e adolescentes que estavam em situação vulnerável.

Mesmo com um novo código de menores as crianças e adolescentes desprovidos de

direitos básicos como proteção e cuidados ainda eram considerados desajustados aos

padrões da sociedade.

Com tal Código se dá o estabelecimento e um novo termo: “menor em situação

irregular”, que dizia respeito ao menor de 18 anos de idade que se encontrava

abandonado materialmente, vítima de maus-tratos, em perigo moral, desassistido

juridicamente, com desvio de conduta e ainda autor de infração penal (VERONESE,

1999, p.35).

Segundo Liberati (2003, p. 34) tanto o Código de Menores de 1927, quanto o

Código de 1979 trazem em seu texto formas punitivas para criança e adolescente. As

medidas de proteção estavam disfarçadas de penas e não havia nenhuma medida de

apoio para a família dessas crianças e adolescentes que se encontravam em situação

de vulnerabilidade. A trajetória da política de atendimento à criança e ao adolescente

em conflito com a lei, antes do ECA era uma política totalmente seletiva e estagnada. A

situação irregular citada nas legislações é de responsabilidade do Estado, pois o mesmo

nessa época, sempre executou uma política repressiva e não uma política de direitos e

de proteção à criança e ao adolescente.

Apesar das dificuldades no reconhecimento dos direitos de crianças e

adolescentes no Brasil, a Constituição Federal de 1988 traz em seu texto, que é dever

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da família, da sociedade e do Estado garantir os direitos da criança e do adolescente, é

o que dispõe o Artigo nº 227:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

A Constituição Federal, de 1988 em seu artigo nº 227 pretende garantir, além dos

direitos a educação, saúde, cultura, moradia, lazer e segurança, também enfatiza sobre

o direito a igualdade na relação processual e defesa técnica do adolescente em conflito

com a lei, obedecendo sempre aos princípios de pessoa em condição peculiar de

desenvolvimento.

Segundo Riggio e Castro (s.d. p. 116) em 13 de Julho, de 1990 foi decretada a

Lei Federal nº 8.069 (Estatuto da Criança e do Adolescente) sendo esta conquista fruto

da mobilização social, devido à repressão, abandono e falta de proteção social para com

as crianças e adolescentes no Brasil. O Código de Menores foi substituído pelo ECA,

alterando assim, a lei de situação irregular para uma política de proteção integral.

O advento do Estatuto da Criança e do Adolescente representa um marco divisório extraordinário no trato da questão da infância e da juventude no Brasil. Na esteira do texto Constitucional (art.227 da Constituição Federal de 1988, que se antecipou à Convenção das Nações Unidas, introduzindo no Brasil a Doutrina de Proteção Integral), o ECA trouxe uma completa transformação ao tratamento legal da matéria em todos os aspectos. Adotou-se a Doutrina de Proteção Integral em detrimento dos vetustos primatas da arcaica Doutrina da Situação Irregular, que presidia o antigo sistema. Operou-se uma mudança de referências e paradigmas na ação da Política Nacional, com reflexos diretos em todas as áreas, especialmente no plano do trato da questão infracional. (SARAIVA, 1999, p.15)

O ECA é uma conquista na garantia de direitos, deveres e igualdade, sendo uma

legislação que não é mais seletiva, enfatizando a responsabilidade da família, do Estado

e da sociedade na proteção integral à criança e ao adolescente.

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O Sistema de Proteção Social a Criança e ao Adolescente em Conflito com a Lei

Segundo Santos (2008, p.11) o ECA traz um sistema de proteção social ao adolescente

autor de ato infracional, sendo o mesmo sujeito de direitos. Segundo Liberati (2003, p.

35) o Estatuto da Criança e do Adolescente utiliza-se de todas as disposições do direito

material e processual para garantir, assim os direitos infato-juvenis. Está divido em dois

livros, o livro I trata a parte geral enfocando os direitos fundamentais e o livro II fala

sobre a política de atendimento a criança e ao adolescente. A política de atendimento do

ECA em seu artigo nº 103 dispõe sobre a prática de ato infracional:

Art. nº 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal. Art. nº 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. [...] Art. nº 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. [...] Art. nº 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal.

O ECA considera o adolescente autor de ato infracional como categoria jurídica,

rompendo com categoria sociológica contida no Código de Menores, de 1979, passa de

delinquente a sujeito dos direitos estabelecidos na Doutrina de Proteção Integral.

A garantia dos direitos da infância e da juventude, no Brasil, está solidamente fundamentada na Constituição Federal, que a define como prioridade absoluta em seu artigo 227, na Lei nº 8069/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente e nos documentos internacionais, ratificados pelo Congresso Nacional, com especial destaque para a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança. (VOLPI, p.13, 1997).

Seguindo a proposta do Estatuto da criança e adolescente, após a sua

promulgação foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e adolescente

(CONANDA), por meio da Lei Federal n. 8.242, de 12 de outubro de 1991, com o

objetivo de deliberar sobre a política de atenção à infância e à adolescência. Este

Conselho integra o conjunto de atribuições da Presidência da República, sendo pautado

no principio da democracia participativa e tendo como papel a normatização e a

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articulação no sentido de ampliar os debates para envolver efetiva e diretamente todos

os setores do Sistema de Garantia de Direitos (SGD).

O Estatuto da Criança e Adolescente traz medidas de proteção e medidas

socioeducativas para aqueles que cometerem ato infracional. Segundo Saraiva (1999, p.

29) a criança infratora fica sujeita a medida de proteção, junto à família ou comunidade,

sem que ocorra privação de liberdade. Já por sua vez, o adolescente infrator é

submetido ao cumprimento de medidas socioeducativas, que podem implicar em

privação de liberdade, nesse caso é assegurado ao adolescente às garantias do devido

processo legal.

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PARTE II

ADOLESCENTE, ATO INFRACIONAL E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

1. Adolescente na realidade brasileira

A população adolescente no Brasil representa possibilidades de mudanças muito

profundas no país, que poderão ser refletidas por toda sociedade. Todavia, é preciso

pensar no contexto, ou seja, refletir sobre o mundo – o cenário – em que o jovem está

inserido, pois nas sociedades atuais, as pessoas tornaram-se intolerantes perante

comportamentos fora do recomendado pelo social.

Os mais de 21 milhões de adolescentes brasileiros representam para o País uma

grande oportunidade de transformação nas relações, nas atitudes, na cultura, na

educação, na vida e nas dinâmicas sociais. Mesmo sendo a adolescência um período

curto, pois do ponto de vista jurídico dura apenas seis anos (12 a 18 anos incompletos),

é uma fase de mudanças profundas e rápidas no ciclo de vida. Isso se revela nas

mudanças biológicas, comportamentais, de aprendizagem, de socialização, de

descobertas, de interação e de inúmeros processos que nos permitem valorizar a

adolescência como um potencial imprescindível para a sociedade. (UNICEF, 2004, s.p.).

O Brasil é um país de contradições, de desigualdade social, concentração de

renda, exploração do trabalho. Segundo o SINASE (2006) essa desigualdade social

reflete em consequências diretas e indiretas na condição da vida dos adolescentes que

representam aproximadamente 21% da população nacional, ou seja, adolescentes na

faixa etária de doze a dezoito anos. Avaliando as condições por raça, essa desigualdade

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é ainda maior. Observa-se que a população negra representa porcentagem maior em

condições socioeconômicas e educacionais mais defasadas, ou seja, precárias em

relação à raça branca. Em relação à escolarização, pode-se dizer que à medida que

aumenta a idade do adolescente, diminui significativamente a sua faixa de escolaridade.

O jovem tem, nessa faixa etária, o maior número de mortes, e a proporção de morte por

homicídios é muito grande.

O Brasil tem 21 milhões de adolescentes com idade entre 12 e 17 anos. De cada

100 estudantes que entram no ensino fundamental, apenas 59 terminam a 8ª série e

apenas 40, o ensino médio. A evasão escolar e a falta às aulas ocorrem por diferentes

razões, incluindo violência e gravidez na adolescência. Em 2003, 340 mil adolescentes

(12-17 anos) tornaram-se mães. (UNICEF, 2004, sp.)

É um desafio para as Políticas Públicas, o trabalho que permita atender o

adolescente em todas as suas necessidades, seja educacional, social, econômica,

saúde, segurança, lazer entre outros, de modo que a realidade desses adolescentes

ultrapasse a miséria, o analfabetismo, a exploração do trabalho, enfim todas as

desigualdades existentes em nosso país.

E é nessa realidade tão difícil que segundo Oliveira (2007, s. p) se apresenta o

adolescente em conflito com a lei, refletindo as desigualdades sociais no nosso país,

aparentemente como fenômeno isolado da sociedade, mas que na verdade é fruto dela.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

referentes aos anos de 2005 e 2006, o Brasil tinha 24.461.666 de adolescentes entre 12

e 18 anos. Desse total, apenas 0,1425% representava a população de adolescentes em

conflito com a lei. Tal porcentagem, em números absolutos, significa 34.870

adolescentes autores de atos infracionais cumprindo algum tipo de medida

socioeducativa em todo o Brasil. (PRÓMENINO, 2008, sp.)

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Esses dados nos mostram um pouco da realidade a qual se encontram tantos

adolescentes e suas famílias residentes em solo brasileiro. Abordaremos a seguir as

características e as políticas de proteção a esses adolescentes que de alguma forma

estão em dívida com a sociedade.

2. Adolescente e ato infracional

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990: ato infracional

são ações cometidas por crianças ou adolescentes que são considerados inimputáveis,

por isso não podem ser condenados a penas, à criança é atribuída somente medidas de

proteção, ao adolescente que comete ato infracional, além das medidas de proteção lhe

são atribuídas às medidas socioeducativas.

Os adolescentes em conflito com a lei, [...], não encontram eco para a defesa de seus direitos, pois pela condição de ter praticado um ato infracional, são desqualificados enquanto adolescentes. A segurança é entendida como a fórmula mágica de “proteger a sociedade da violência produzida por desajustados sociais que precisam ser afastados do convívio social, recuperados e reincluídos”. É difícil para o senso comum, juntar a idéia de segurança e cidadania. Reconhecer no agressor um cidadão parece ser um exercício difícil e, para alguns, inapropriado (VOLPI, 2006, p. 9).

De acordo com Oliveira (2007, s. p) sendo difícil a compreensão dos direitos dos

adolescentes em conflito com a lei, se torna necessário que as políticas de proteção a

eles destinadas, como qualquer outro adolescente sejam esclarecedoras e efetivadas.

A efetivação dos direitos da criança e do adolescente no Brasil teve uma

trajetória histórica marcada por discriminação, violência, submissão e abandono. No

tempo do Brasil colônia as crianças e adolescentes eram desprovidas de qualquer tipo

de direito ou proteção social.

De acordo com Liberati (2003, p. 28) no ano de 1830 o Código Criminal do

Império trazia em seu texto que, os infratores menores de quatorze (14) anos que

apresentassem discernimento sobre o ato cometido, eram recolhidos às Casas de

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Correção até completarem dezessete (17) anos. A legislação nesse período não

reconhecia a situação de peculiaridade da criança e adolescente. Eram desprovidos dos

seus direitos e os julgamentos eram feitos segundo o critério de discernimento das

autoridades que detinham o poder de absorver ou punir os menores.

Como relata Veronese (1999, p. 19) o Código Penal da República, de 1890,

considerava não criminoso os menores de 9 anos, bem como os maiores de 9 anos e

maiores de 14 anos que agiram sem discernimento.

Entre as várias modificações sofridas pelo Código Penal da República, ressalta-se aquela produzida pela Lei n. 4.242 de 4 de Janeiro de 1921, que eliminou o critério do discernimento e passou a considerar o menor de 14 anos totalmente isento de responsabilidade penal e, consequentemente, de ser processado por atos considerados delituosos. (LIBERATI, 2003, p.29).

Em 1921 mesmo com algumas mudanças na legislação, ainda não havia uma

política que trazia efetiva proteção às crianças e adolescentes no Brasil. Segundo

Liberati (2003, p. 29-30) o Dr. José Candido Albuquerque Mello Matos organizou o

Código de Menores (Decreto nº 17.943 - A, de 12.10.1927) esse código trazia que os

adolescentes com mais de quatorze (14) anos não eram submetidos a processo penal,

mas a um processo especial de apuração da infração.

O Código de Menores, comparado as legislações anteriores trouxe uma mudança

significativa quanto a não submissão da criança e adolescente ao processo penal.

O Código de Menores visava estabelecer diretrizes claras para o trato da infância e juventude excluídas, regulamentando questões como trabalho infantil, tutela e pátrio poder, delinqüência e liberdade vigiada. O Código de Menores revestia a figura do juiz de grande poder, sendo que o destino de muitas crianças e adolescentes ficava a mercê do julgamento e da ética do juiz (LORENZI, 2007, s. p.).

Esta lei tinha caráter seletivo, sendo designado para crianças e adolescentes que

se encontravam em situação de abandono e delinqüência.

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De acordo com Liberati (2003, p 31) em 7 de dezembro, de 1940, entrou em vigor

o Código Penal que estabeleceu a responsabilidade penal aos 18 anos de idade,

alterando o Código de Menores de 1927, sendo esta lei imposta até os dias atuais.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Federal nº 8.069/90, define ato

infracional como a conduta descrita como crime ou contravenção penal (ECA 1990).

A lei diferenciou criança e adolescente, sendo criança, aquele (a) de 0 (zero) a

12 anos incompletos e adolescente aquele (a) entre 12 e 18 ( dezoito) anos incompletos,

garantida a inimputabilidade estabelecida na CF, no art. 228: “São penalmente

inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”.

(C.F., 1988).

Para os que praticam atos infracionais a lei prevê a imposição, pelo poder

judiciário, de medidas socioeducativas, listadas em seu art. 112, o qual também indica

critérios para escolha da mais adequada em cada caso concreto:

Verificada a prática do ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao

adolescente as seguintes medidas:

I.Advertência;

II.Obrigação de reparar o dano;

III.Prestação de serviços à comunidade;

IV.Liberdade assistida;

V.Inserção em regime de semiliberdade;

VI.Internação em estabelecimento educacional;

VII.Qualquer uma das previstas no artigo 101, I a V.

Parágrafo primeiro: A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. Parágrafo segundo: Em nenhuma hipótese e sob pretexto algum será admitida a prestação de trabalhos forçados. Parágrafo terceiro: Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições (ECA,1990).

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Diante da constatação da prática de ato infracional, a autoridade judiciária pode

aplicar ao autor da infração a medida de advertência, observando, no entanto, indícios

suficientes da autoria e prova da materialidade.

A advertência consiste em admoestação verbal e somente a autoridade judiciária

pode fazê-la, sendo de relevante importância a realização de audiência para tal fim, pois

essa audiência deve ser reduzida a termo e assinada. E, obrigação de reparar o dano

sendo o ato infracional praticado com reflexos patrimoniais, configura- se a medida de

reparação do dano a mais apropriada, contudo, a autoridade judiciária deve cercar-se de

provas suficientes da autoria e da materialidade. Apesar da responsabilização civil

cabível aos pais, a medida de reparação do dano aplicada ao adolescente deve ser bem

analisada, pois, em muitas situações, o fato de ultrapassar a pessoa do adolescente

infrator acaba por propiciar a sua não responsabilização, em afronta ao ECA. Assim,

sempre que possível, deve-se argumentar sobre a possibilidade do adolescente cumprir

a medida às suas expensas.

Na aplicação de qualquer uma das medidas, deverão ser garantidos os princípios

da excepcionalidade, brevidade e da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento,

enfatizados na doutrina da proteção integral que substituiu a doutrina da situação

irregular consagrada no Código de Menores de 1.979. O atual paradigma foi adotado na

própria Carta Magna de 1988 e ratificada no ECA de 1990.

Segundo entendimento de Machado (2003) há,harmonia axiológica com a

supremacia que o valor dignidade humana recebeu com o Pacto de 1988 é que foi

inserida, na generosa concepção da Carta Cidadã, um sistema de proteção especial

para crianças e jovens, reconhecidos na sua especificidade de seres humanos ainda em

desenvolvimento físico, psíquico e emocional. (p. 105)

Assim, aplicada a medida socioeducativa pelo Poder Judiciário, sua execução

fica a cargo de programas socioeducativos específicos de responsabilidade de outro

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Poder, o Executivo. Eles fazem parte da política de atendimento definida nos artigos

86, 87 e 88 do Estatuto e, entre elas, encontram-se os programas de restrição de

liberdade, a Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) e a Liberdade Assistida (LA),

foco da proposta de pesquisa.

As medidas socioeducativas em meio aberto estão dispostas no ECA do seguinte

modo:

Art. 117. A Prestação de Serviços Comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a 6 (seis) meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como, em programas comunitários ou governamentais. Parágrafo único – As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de 8 (oito) horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho. (ECA, 1990) Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. Parágrafo 1º - A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento. Parágrafo 2º - A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de 6 (seis) meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor (ECA, 1990).

O detalhamento da política socioeducativa e do funcionamento dos programas

encontram-se ancorados no ECA e, em especial, nos parâmetros do SINASE de 2006

que, por meio de Resolução do CONANDA, temos como definição:

Um conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico,

político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de

apuração do ato infracional até a execução de medida socioeducativa. (SINASE, 2006,

Apresentação)

A partir desses referenciais e, em especial do SINASE, ainda em fase de

implementação, que a pesquisa pretende promover a cartografia da política

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socioeducativa do Estado de Minas Gerais, com recorte, no Município de Alfenas,

tomando os mapas dos programas socioeducativos em meio aberto de PSC e LA.

Serão tomados como aprofundamento de determinados aspectos sobre o objeto

de estudo, o diagnóstico da situação nacional e, especialmente, os aspectos que

permeiam a gestão da política socioeducativa, como a articulação interinstitucional,

intersetorial e interdisciplinar do sistema de garantia de direitos; os princípios da doutrina

da proteção integral e da política de direitos humanos; as diretrizes da municipalização e

da descentralização política e da participação democrática e participativa; o papel dos

Conselhos de Direitos na elaboração da política de direitos, dos planos decenais nos

três âmbitos da administração pública (federal, estadual, municipal).

3. Medidas socioeducativas em meio aberto

A proposta da política nacional é de que o atendimento às medidas de meio

aberto ocorram no âmbito municipal, sendo da competência desse ente federado a

criação e a manutenção de programas de atendimento para execução dessas medidas.

Importante ressaltar que dentre as diretrizes da política de atendimento, previstas no

art.88 do ECA, além da municipalização do atendimento, também está prevista a

observância da descentralização político-administrativa dos programas a serem criados,

cabendo aqui a seguinte distinção:

Municipalização: visa determinar que as práticas de atendimento à criança e ao

adolescente ocorram no âmbito municipal, de modo a fortalecer o contato e o

protagonismo da comunidade e das respectivas famílias.

Descentralização político-administrativa: refere-se a toda política destinada à

criança e adolescente, possibilitando ao poder público estabelecer parcerias com ONGs

para cooperação na execução de políticas públicas.

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Urge a necessidade de se priorizar a implantação das medidas de meio aberto, já

que estas não estão sujeitas aos princípios de excepcionalidade e brevidade, e se

colocam numa escala de aplicação mais imediata e inicial. Busca-se assim reverter a

tendência crescente de internação dos adolescentes, bem como confrontar a sua

eficácia invertida, uma vez que se tem constatado que a elevação do rigor das medidas

não tem melhorado substancialmente a inclusão social dos egressos do sistema

socioeducativo.

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, no seu artigo nº 112, as

medidas socioeducativas são aplicadas e executadas, de acordo com a interpretação do

juiz da Vara da Infância e da Juventude, mediante o ato infracional que o adolescente

cometeu, tendo sempre aspectos educativos no sentido de proteção integral, garantindo

ao adolescente, oportunidades de superar a condição de exclusão e participação de

fato, na vida social.

As medidas socioeducativas se dividem em medidas em meio aberto que são:

advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade,

liberdade assistida e medidas sociais privativas de liberdade que são: semi liberdade e

internação.

As medidas socioeducativas são de diversos níveis, sendo aplicadas conforme o

delito que o adolescente cometeu. Segundo Liberati (2003, p. 100) essas medidas

somente serão aplicadas, quando puderem respeitar a capacidade do infrator para

cumpri-las, como também, a gravidade da infração. Caso contrário, o adolescente não

poderá ficar sujeito ao cumprimento de medidas em circunstâncias vexatórias ou que

violem sua dignidade.

3.1. Prestação de serviços à comunidade

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A realização, pelo adolescente, de trefas gratuitas, de interesse geral, por período não excedente a seis meses, deve ser feita junto a entidades sociais, hospitais, escolas, programas sociais e comunitários, tanto no âmbito governamental quanto no não-governamental. Por interesse geral, compreende-se aquele que “satisfaz direta ou indiretamente o bem comum, porque é através da solidariedade social, do apoio mútuo e do vínculo de co-responsabilidade que interagem os homens entre si, que se restabelece e desenvolve personalidade sadia” (Cury, 1991:14).

A aplicação da medida socioeducativa de Prestação de Serviços à Comunidade

não deve ser confundida com “pena de trabalhos forçados”, muito menos imbuída de

caráter punitivo, com o estabelecimento de atividades que possam denegrir ou

constranger o adolescente. Os serviços a serem prestados devem, contudo, ser de

relevância comunitária, incutindo no adolescente sentimentos de responsabilidade e

valorização da vida social e comunitária.

Trata-se de uma medida socioeducativa em meio aberto e, apesar de não

configurar propriamente um regime de atendimento, sinaliza para a necessidade de

estruturação de um programa para sua execução. O SINASE propõe o atendimento com

a estruturação de um corpo técnico mínimo e similar ao que o ECA estabelece para a

medida de liberdade assistida:

• 01 técnico para vinte adolescentes;

• 01 pessoa que seja referência socioeducativa / com função de gerência ou

coordenação;

• orientadores Socioeducativos (um para dois adolescentes).

3.2. Liberdade assistida

A medida de liberdade assistida configura-se a mais adequada em situações em

que, sendo grave ou não o ato cometido, o adolescente seja capaz de compreender a

ilicitude do ato e se proponha a receber acompanhamento, auxílio ou orientação para a

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reformulação do seu processo de convivência social e comunitária. A intervenção e ação

socioeducativa da medida “deve estar estruturada com ênfase na vida social do

adolescente – família, escola, trabalho, profissionalização e comunidade, possibilitando,

assim, o estabelecimento de relações positivas que é a base de sustentação do

processo de inclusão social à qual se objetiva”. Por este motivo, essa medida deve ser

constantemente avaliada, podendo a autoridade judicial, em qualquer tempo, prorrogá-

la, revogá-la, ou substituí-la. O ECA estabelece na L.A. regime próprio de atendimento,

portanto, há a necessidade da criação de um programa de execução, em atenção aos

dispositivos legais previstos.

O SINASE chama atenção para a necessidade de garantir-se ao adolescente o

atendimento psicossocial e jurídico, pelo pessoal do próprio programa ou pela rede de

serviços locais. O programa pode valer-se do sistema de orientador comunitário –

pessoas da própria comunidade que devem ser acompanhadas e monitoradas pela

equipe técnica do programa, ou do sistema de orientador técnico – sendo o próprio

técnico a referência de acompanhamento e monitoramento do adolescente no

cumprimento da medida.

Ao ser aplicada pela autoridade competente, a liberdade assistida se caracteriza como “ instituição legal, colocando o adolescente, por decisão do juiz, em seu meio natural, sujeito à orientação e assistência do pessoal tutelar. Não é uma sanção penal, mas limita a liberdade e alguns direitos do menor, segundo as condições impostas com vista aos seus fins pedagógicos” (Albergaria, 1991:127-128).

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PARTE III

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVA AO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM

A LEI

1. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE)

De acordo com o Sistema de Atendimento Sócio-Educativo (2006, p. 18, 19)

devido ao aumento das medidas socioeducativas aplicadas ao adolescente, autor de ato

infracional em regime de privação de liberdade, ou em meio aberto, foi necessário

pensar em um sistema que regesse a aplicação das medidas em todos os aspectos, um

projeto que proporcionasse aos adolescentes em conflito com a lei um atendimento

socioeducativo e humanizado. Por isso foi aprovado no ano de 2006 pelo Conselho

Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente o projeto de lei denominado SINASE.

Segundo SINASE (2006) às medidas socioeducativas devem ter natureza sócio-

pedagógica, visto que sua execução esteja condicionada a garantia de direitos e ao

exercício da cidadania. Ela vem dar diretrizes para os profissionais e instituições que

aplicam as medidas socioeducativas, priorizando as medidas de prestação de serviço à

comunidade e liberdade assistida, pois essas medidas responsabilizam o adolescente

quanto aos seus atos, sem privá-los de sua liberdade, ficando próximos aos familiares e

em contato com a comunidade. Tem como objetivo reduzir o número de adolescentes

internados na Fundação Casa – Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente

– visto que a internação em muitos casos não reduz a criminalidade.

O SINASE é um conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro a administrativo, que envolve desde o processo de apuração de ato infracional até a execução da medida socioeducativa. Este sistema nacional inclui os sistemas estaduais, distritais e

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municipais, bem como, todas as políticas, planos e programas específicos de atenção a esse público (SINASE, 2006, p.23).

Ele propõe ações de ação e gestão de medidas socioeducativas que vão desde o

atendimento inicial do adolescente até as características da construção das unidades de

privação de liberdade.

O SINASE (2006) traz que, as entidades e programas de atendimento que

executam as medidas socioeducativas, devem conter parâmetros de ação

socioeducativa pelos seguintes eixos estratégicos: suporte institucional e pedagógico

adequando aos adolescentes. Diversidade étnica racial e de gênero que respeite as

diferenças, quebrando o preconceito e promovendo a igualdade. No âmbito da

educação são necessárias ações que garantam o sucesso e a permanência dos

adolescentes na rede regular de ensino. A cultura, esporte e lazer são fundamentais

para o adolescente, pois o mesmo necessita dessa interação. Na área de saúde é

preciso desenvolver ações que abordem temas como: autocuidado, auto-estima,

alcoolismo, drogas, prevenção e tratamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis -

DST e AIDS, saúde bucal, saúde mental, entre outros temas. O fortalecimento de

vínculos familiares e comunitários é extremamente importante para que o adolescente

esteja integrado com a família e com a comunidade. Quanto à inserção no mercado de

trabalho são necessárias ações que ofereçam capacitação profissional. O eixo sobre

segurança engloba investir nas medidas de prevenção contra brigas, motins, fugas,

invasões e incêndios.

Todos esses eixos que são trazidos pelo SINASE oferecem uma estrutura com

mais qualidade e segurança para o cumprimento das medidas socioeducativas.

Os aparatos legais como: Constituição Federal, de 1988, ECA, SINASE

fundamentam um novo reordenamento do Estado frente à gestão das medidas

socioeducativas em meio aberto, em um processo de descentralização e

municipalização e nesta perspectiva abordaremos a gestão social no próximo capítulo.

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2. Gestão social pública

A gestão social propicia aos cidadãos o acesso a bens e serviços por meio de

políticas públicas. Segundo Carvalho (1999, p. 19 e 28) a gestão social é a gestão das

ações sociais públicas, são demandas e necessidades dos cidadãos, construídas e

modificadas socialmente, a política social, os programas sociais, os projetos são

respostas a estas necessidades e demandas. A gestão social é uma nova forma de

conduzir as políticas públicas frente ao reordena mento do Estado com o processo de

descentralização e municipalização.

O modelo de gestão social propicia o atendimento a diversas expressões da

questão social.

A gestão social abrange uma variedade de atividades que intervêm em áreas da vida social em que a ação individual auto-interessada não basta para garantir a satisfação das necessidades essenciais da população. Estas áreas são bastante diferenciadas, indo desde o abandono de crianças e de idosos por parte dos familiares, a falta de abrigo para indigentes e enfermos físicos ou mentais, até a exclusão temporária ou definitiva da produção social de pessoas aptas ao trabalho e necessitadas de renda. (SINGER, 1999, p.55)

A gestão social proporciona a população fortalecimento e participação, Maia

(2005, p. 16) relata que é possível compreender a gestão social como um conjunto de

processos sociais que dá condições para o desenvolvimento, transformação, formação

da democracia e da cidadania, visando o enfrentamento às expressões da questão

social e a efetiva participação dos cidadãos historicamente excluídos dos processos de

distribuição das riquezas e do poder. O Serviço Social é um mediador importante para a

afirmação da gestão social, especialmente pelo conjunto de referenciais ético-político e

teórico-metodológico, que objetivam a afirmação dos valores da cidadania e justiça

social.

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Quando o assunto é gestão, as condições formais da execução podem mobilizar mais facilmente, pois surgem com mais concretude e objetividade, mas certamente, também revelam a necessidade de exploração de outras dimensões. Assim pode-se dizer que a gestão é extensão de propósitos. É atribuição de sentidos e compromisso com resultados (NOZABIELLI, 2003, p. 103).

As equipes técnica e operacional atuantes na gestão social com determinação

tem capacidade técnica e propositiva de alcançar resultados positivos, quanto às

necessidades dos cidadãos que necessitam de atendimento, nas diversas políticas

públicas.

2.1. Gestão do Sistema Único de Assistência Social (SUAS)

Segundo a Política Nacional de Assistência Social (2004, 27) – política pública

responsável pela execução das medidas socioeducativas – tem como objetivos:

Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou,

especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem; [...] assegurar que

as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que

garantam a convivência familiar e comunitária; Sua organização permeia a

descentralização político-administrativa, assim, em consonância com a referida politica o

SINASE (2006) estabelece que cabe ao Estado, coordenador das normas gerais e, aos

estados e municípios cabem a coordenação e execução dos programas sociais, dentre

eles, os que atendem as medidas socioeducativas.

O SUAS (Sistema Único de Assistência Social), faz parte da gestão da Política

Nacional de Assistência Social. Vanzetto (2005, p.11) relata que o SUAS é um sistema

público, descentralizado e participativo que tem como foco de sua ação o atendimento à

família, através dos serviços de proteção social básica e proteção social especial,

trazendo três níveis de gestão: gestão inicial, básica e plena.

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Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2008, p.

29) a gestão inicial comprova a criação de conselhos, fundo municipal e a elaboração do

plano de assistência social. Desta forma, a gestão parte do patamar das condições

mínimas para entrar no sistema descentralizado e participativo. As responsabilidades

nesse nível são: inserir famílias mais vulneráveis no cadastro único, preencher o plano

de ação e apresentar o relatório de gestão. Na gestão básica dentre as exigências

destacam-se a existência do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), a

realização de áreas de risco e vulnerabilidade social e a manutenção de secretaria

executiva no Conselho de Assistência Social.

Na gestão plena é extremamente importante a presença de um sistema municipal

de monitoramento e avaliação, a capacidade de atuar na proteção social de alta

complexidade, contar com gestor do fundo lotado no órgão responsável pela assistência

social e ter uma política de recursos humanos com carreira para servidores públicos.

Os níveis de gestão trazidos pelo SUAS são de extrema importância para

conduzir de forma efetiva a gestão nos Estados e municípios.

A política de proteção integral dos direitos da criança e do adolescente consiste

em um conjunto articulado de ações governamentais, da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios e das organizações da sociedade civil.

Esta concepção de política pressupõe que a organização e a gestão dos serviços

e programas são responsabilidade dos Governos dos três entes da Federação, em

ações que são complementares ou exclusivas de um ou outro nível de Governo. São

linhas de ação da política de atendimento a crianças e adolescentes:

• Políticas sociais básicas: aquelas que alcançam todas as crianças e adolescentes, independente de sua situação jurídica (direito à educação, à saúde, ao lazer, à cultura).

• Políticas de assistência social: voltadas para quem se encontra em estado de vulnerabilidade social ou necessidade temporária ou permanente.

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• Políticas de proteção especial: atingem aqueles com integridade física, psicológica e moral violada ou ameaçada de violação.

• Políticas de garantia de direitos: destinam-se àqueles que necessitam da atuação do poder público no sentido de defender seus já consagrados direitos.

A conjugação articulada dessas quatro políticas pelo Estado brasileiro conforma o

que se define como a política de proteção integral.

A política de atendimento socioeducativo implica, portanto, a conjugação de

ações que se situam nos quatro campos de políticas enumeradas anteriormente e

compreende o conjunto de diretrizes, princípios, estruturas, procedimentos e arranjos

institucionais voltados para o atendimento ao adolescente autor de ato infracional.

Desde junho de 2006 o Brasil conta com a existência de diretrizes para a

organização e o funcionamento do SINASE. Um dos mais importantes princípios do

SINASE orienta que o atendimento socioeducativo não pode estar isolado das demais

políticas públicas, devendo ser articulado com os demais serviços e programas que

visem atender os direitos dos adolescentes (saúde, defesa jurídica, trabalho,

profissionalização, escolarização etc.).

Para tanto, as demais políticas, principalmente as de caráter universal, devem ser

prestadas com eficiência e de forma integrada e indiscriminada às crianças e

adolescentes que tenham praticado ato infracional da mesma forma com que se atende

aquelas que não estão em conflito com a lei. Além disso, é importante realçar que,

atualmente, estamos implementando, também em regime de cooperação federativa, o

Sistema Único de Assistência Social – SUAS a Política Nacional de Assistência Social.

Tal movimento é também bastante importante para o atendimento ao adolescente autor

de ato infracional. Isto porque, no novo modelo socioassistencial brasileiro, o

adolescente em cumprimento de medida socioeducativa em regime de Liberdade

Assistida e Prestação de Serviços à Comunidade e a sua família são definidos como

usuários da política de assistência social.

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A PSC e a LA são de responsabilidade dos Governos Municipais, que, por certo,

deverão contar com o apoio dos demais níveis de Governo, da sociedade local, dos

agentes do Judiciário que atuam na localidade. Desde que o Estado começou a intervir

no campo social no Brasil, as questões relativas à criança e do adolescente, aos idosos,

às pessoas com deficiência, entre outros,tornaram-se campos específicos de atuação

da assistência social. Por esta razão é importante apresentar em linhas gerais algumas

especificidades da nova Política de Assistência Social consagrada na Carta Magna de

1988. Após a Constituição de 1988 a assistência social é legalmente concebida como

uma política pública de seguridade social que integra as funções de proteção social do

Estado.

Tal política passa a ser nomeada como um direito do cidadão e um dever do

Estado, contrapondo-se à noção da assistência como um conjunto de iniciativas de

caráter assistencialista, dependente da boa vontade e de favores. fora do campo do

direito à cidadania.

O reconhecimento da assistência social como direito a partir da Constituição

Federal, e, logo depois, a regulamentação da Lei Orgânica de Assistência Social em

1993 e atualmente com a publicação em 2004 do novo texto da Política Nacional de

Assistência Social (PNAS), constituem processos políticos que possibilitaram a

organização do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). O referido sistema

representa um novo modelo socioassistencial a ser desenvolvido pelo Estado brasileiro.

Depois da aprovação da Política Nacional de Assistência Social e da instituição

do SUAS algumas mudanças no que diz respeito à concepção da assistência social e à

forma de organização e gestão da política marcam o campo da assistência e projetam a

universalização do atendimento na perspectiva da cidadania e dos direitos.

A nova política de assistência social em muito se assemelha ao que dispõe a

política de atendimento à criança e ao adolescente prevista no Estatuto da Criança e do

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Adolescente, mas apresenta alguns pontos para debate. Tais pontos serão destacados

adiante na oportunidade de se abordar o SINASE e o SUAS. Desta forma serão

resgatados alguns aspectos que caracterizam também as políticas que lhes dão origem.

O primeiro aspecto a ser comparado diz respeito ao público ao qual se destinam

ambas as políticas.

A política de assistência social tem como usuários os cidadãos e grupos que se

encontram em situação de vulnerabilidade e submetidos a riscos que resultem em

fragilidade ou corte dos vínculos familiares, comunitários e/ou societários, estando entre

eles os adolescentes autores de ato infracional. Tal política prevê um atendimento

específico para aqueles adolescentes que se encontram em situação de vulnerabilidade

por uma dada circunstância, a do cometimento do ato infracional. O entendimento de

que o ambiente familiar é o primeiro a exercer a função de proteção social e que, por

isso, deve ser fortalecido faz com que o grupo familiar seja também usuário da política.

A política definida no ECA, é bom lembrar, está voltada para o atendimento de

todas as crianças e adolescentes independe da condição social.

O segundo elemento de comparação consiste no fato de ambas

operacionalizarem o mandamento do artigo 204 da Constituição Federal de 1988 que

preconiza a descentralização político-administrativa e a participação popular por meio de

organizações representativas quando definem a existência de conselhos e instâncias de

participação popular.

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PARTE IV

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVATIVA EM NO ESTADO DE MINAS GERAIS

1. Sistema estadual de atendimento socioeducativo

As prerrogativas previstas no Estatuto (ECA) para atendimento a estes

adolescentes são desafiadoras. Em Minas Gerais alguns são muitos os problemas que

vem sendo enfrentados pelo sistema estadual socioeducativo como a inadequação dos

Centros de Internação aos parâmetros preestabelecidos, a aplicação insuficiente e,

muitas vezes inadequada, das medidas de Liberdade Assistida (LA) e Prestação de

Serviços à Comunidade (PSC) como medidas socioeducativas mais adequadas em

resposta a atos infracionais cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,

entre outros.

O Estado de Minas Gerais possui 853 municípios e 296 comarcas e uma

população infanto-juvenil, entre 12 e 17 anos completos, corresponde a 2.062.612, com

total de 1.041 adolscentes privados de liberdade numa proporção (por 10 mil

adolescentes) de 5.2%. Em medida de internação 652, em internação provisória, 284 e

em semiliberdade, 105. Em meio aberto, os dados apontam para 4.060 adolescentes,

numa proporção aproximada de 1,4% entre o meio fechado e o meio aberto. (

SDH/SNPDCA/SINASE, 2010 – População Adolescente IBGE, 2010) E, município de

Alfenas a população de infanto juvenil é de xxxxxxxx

A Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais tem recebido um

número crescente de solicitações de vagas e implantação de novos centros de

internação no interior do Estado. No ano de 2005, foram 595 pedidos e 138 vagas

liberadas, ou seja, cerca de 23% da vagas solicitadas no interior foram atendidas. Em

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2006, foram 1096 pedidos, quase o dobro do ano anterior, com 419 vagas liberadas,

cerca de 38% das vagas solicitadas no interior, o triplo das vagas liberadas no ano de

2005.

Apesar do aumento considerável do índice de vagas liberadas para o interior por

parte da Secretaria de Defesa Social, verificamos que, entre os pedidos não atendidos,

constam, em grande parte, cidades em que não ocorrem ou excepcionalmente ocorrem

situações como as previstas no artigo 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que

normatiza a aplicabilidade da medida de internação. O que se verifica é que, nestas

cidades, as medidas socioeducativas em meio aberto ou não foram implantadas ou não

cumprem seu papel devido a uma desarticulação técnica do órgão municipal executor

com o Poder Judiciário e/ou o Ministério Público. Como resultado desta ausência de

atuação do poder público, constata-se que, nestas cidades e mesmo em outras que não

demandam ao Estado vagas para a medida de internação, há um contingente de

adolescentes que permanecem presos em cadeias públicas, o que torna urgente a

discussão sobre uma ação efetiva neste contexto.

Seguindo as diretrizes do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI)

2007-2023, que “objetiva, de um lado, consolidar os avanços alcançados e, de outro,

imprimir maior eficácia às ações previstas na estratégia de desenvolvimento. o Governo

de Minas Gerais repensou a política de atendimento às medidas socioeducativas.

Visando “romper com o ciclo vicioso da criminalidade juvenil” (PMDI 2007-2023), a

Secretaria de Defesa Social passou a pensar as medidas de forma mais ampliada e

articulada, fundamentada no que preconiza o ECA, levando em conta a capacidade do

adolescente de cumprir a medida, as circunstâncias e a gravidade da infração (ECA,

art.112§ 1º), além de considerar “as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas

que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.” (ECA, art.110)

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Considerando que, muitas vezes, a reiteração de atos infracionais ocorre devido

à desarticulação das ações, que as diretrizes da política de atendimento previstas pelo

ECA implicam uma “integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público,

Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social” (ECA, inciso V do art.88), e que o

Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH II) propõe “promover a integração

operacional de órgãos do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensorias Públicas e

Secretarias de Segurança Pública com as delegacias especializadas em investigação de

atos infracionais praticados por adolescentes e às entidades de atendimento, bem como

ações de sensibilização dos profissionais indicados para esses órgãos quanto à

aplicação do ECA” (PNDH II, item 159), não basta que o Estado pense o atendimento ao

adolescente autor de ato infracional somente a partir da execução das medidas

socioeducativas privativas de liberdade.

Torna-se preciso, conforme prevê o Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (SINASE), “estabelecer com os Municípios, as formas de colaboração

para o atendimento socioeducativo em meio aberto” e, a partir disso, “prestar assistência

técnica aos municípios na construção e na implementação do Sistema Socioeducativo,

nele compreendidas as políticas, planos, programas e demais ações voltadas ao

atendimento ao adolescente que se atribui ato infracional desde o processo de

apuração, aplicação e execução de medida socioeducativa”.

É seguindo esta orientação que a até então Superintendência de Atendimento às

Medidas Socioeducativas (SAME) deu origem à Subsecretaria de Atendimento

Socioeducativo (SUASE), a qual se subdivide em duas Superintendências: uma para

Gestão das Medidas de Privação de Liberdade, que substitui a antiga SAME, e outra

que inaugura uma nova orientação na estratégia de ação do Estado no atendimento ao

adolescente autor de ato infracional: a Superintendência de Gestão das Medidas de

Meio Aberto e Semiliberdade.

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Com a criação da Superintendência de Gestão das Medidas de Meio Aberto e

Semiliberdade, o Estado reafirma sua função no âmbito das medidas socioeducativas,

na articulação entre o Poder Judiciário, Ministério Público, os municípios, os órgãos de

segurança pública e, principalmente, entre as próprias medidas, produzindo um

redirecionamento nas prioridades do processo socioeducativo do adolescente autor de

ato infracional. Por outro lado, introduzir as medidas em meio aberto em uma política de

segurança pública no Estado é inaugurar um novo estatuto político para as mesmas. A

nova Superintendência redefine a função da medida privativa de liberdade a partir da

articulação com as outras medidas. Para que os programas de execução das medidas

em meio aberto e semiliberdade pensem a sua prática, não basta a pergunta: “Por que

tal medida foi aplicada a tal caso?”. Para focá-las em uma política socioeducativa mais

ampla, é preciso partir da seguinte pergunta: “Por que a medida privativa de liberdade

não é aplicável a tal caso?”.

Dentro desta perspectiva, a medida privativa de liberdade é o ponto inaugural

para pensar a função das outras medidas, que poderiam ser consideradas como

“medidas alternativas” à internação. Por outro lado, se a medida privativa de liberdade é

inaugural para se fundar o espaço de aplicação das medidas socioeducativas, a nova

política de atendimento ao adolescente autor de ato infracional indica que o princípio de

orientação da aplicação das medidas deve apontar para a priorização da articulação das

medidas em meio aberto como alternativas à privação de liberdade. Esta estratégia de

ação segue a direção prevista nos itens 155 e 156 do PNDH II: “Incentivar o

reordenamento das instituições privativas de liberdade para os adolescentes em conflito

com a lei, reduzindo o número de internos por unidade de atendimento e conferindo

prioridade à implantação das demais medidas socioeducativas previstas no ECA, em

consonância com as resoluções do CONANDA.” (PNDH II, item 156)

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Finalmente, nesta orientação política inaugural de uma estratégia inovadora de

atendimento às medidas socioeducativas, pode-se dizer que, na relação entre meio

aberto e meio fechado, é preciso abrir para, em algum momento, poder se decidir por

fechar ou não.

Diretrizes da Diretoria de Apoio e Incentivo às Medidas em Meio Aberto e

Semiliberdade

A Diretoria de Apoio e Incentivo às Medidas em Meio Aberto e Semiliberdade,

que compõe a Superintendência de Gestão das Medidas de Meio Aberto e Articulação

da Rede Socioeducativa, é responsável pela execução da política estadual de medidas

socioeducativas em meio aberto, partindo da definição das seguintes diretrizes:

• Fomentar a implantação e promover a efetividade das medidas socioeducativas em meio aberto e semiliberdade, mobilizando e articulando estas medidas com a rede de atendimento ao adolescente em conflito com a lei;

• Definir diretrizes para uma política de execução da medida de semiliberdade, considerando a sua função em relação às outras medidas;

• Qualificar o fluxo do sistema socioeducativo e criar alternativas efetivas para minimizar a necessidade de aplicação da medida privativa de liberdade, garantindo o seu caráter excepcional;

• Qualificar a entrada do adolescente autor de ato infracional no sistema, articulando o fluxo entre a apreensão, aplicação e execução das medidas em meio aberto e semiliberdade;

• Acompanhar a execução das medidas em meio aberto e semiliberdade através da articulação com o Ministério Público, Poder Judiciário e a parceria com o órgão executor da medida;

• Articular as medidas em meio aberto e semiliberdade aos órgãos de segurança pública envolvidos no processo de atendimento do adolescente em conflito com a lei, introduzindo um novo enfoque na prática das medidas.

A implantação da política estadual de medidas socioeducativas em meio aberto

se estrutura em etapas que criterizam a relevância e perspectiva de abrangência da

ação e, a partir desta definição, cria instrumentos de assessoramento e suplementação

para a efetividade da execução das medidas. Ou seja, não se trata somente de

incentivar a implantação e estruturação inicial para o funcionamento das medidas em

meio aberto, mas também de supervisionar a direção do atendimento socioeducativo,

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dando subsídios técnicos e conceituais para a qualificação da prática de atendimento ao

adolescente autor de ato infracional a partir dos princípios que orientam a execução da

medida.

Para a consolidação desta implantação, o processo se desdobra nas seguintes

etapas, em ordem de prioridade:

Definição dos municípios para implantação da política estadual de medidas

socioeducativas em meio aberto

Fundamentada no mapeamento prévio das medidas socioeducativas no Estado

de Minas Gerais, a definição dos municípios se conclui a partir de critérios de

priorização, conforme seguem abaixo:

• demanda qualificada encaminhada para a SUASE;

• a qualificação de uma demanda implica em contextualizar os impasses do processo socioeducativo que localizem qual a intervenção necessária. Para isso, partiremos de um relatório conjunto construído pelos órgãos envolvidos no atendimento ao adolescente autor de ato infracional no município.

• centro de internação implantado ou em implantação na região

• A partir de um redirecionamento da lógica do sistema socioeducativo para a priorização do meio aberto por meio de uma articulação com as medidas privativas de liberdade, o objetivo é qualificar o fluxo do sistema socioeducativo e criar alternativas efetivas para minimizar a necessidade de aplicação da medida socioeducativa de internação, priorizando os municípios onde o centro de internação já existe ou está em vias de ser implantado;

• localização do município na região

• Seguindo a forma de atuação da política estadual de medidas socioeducativas em meio fechado, a proposta é realizar ações regionalizadas, que alcancem o maior número de municípios possível. Para isso, focalizará ações em municípios pólos das regiões do estado, que estejam estrategicamente localizados, com uma ampla possibilidade de abrangência na região;

• articulação da rede para o atendimento ao adolescente em conflito com a lei

A relação que as medidas em meio aberto estabelecem com os mecanismos da

rede estrutura o campo de atuação das medidas, definindo muitas de suas

possibilidades de efetividade. A viabilidade de atuação das medidas socioeducativas em

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meio aberto se defini em dois âmbitos: em uma primeira instância de implementação e

aplicação das medidas socioeducativas, a partir da relação dos órgãos executores das

medidas com o Ministério Público, Poder Judiciário, Conselho Municipal dos Direitos da

Criança e do Adolescente e outras medidas socioeducativas existentes. Em uma

segunda instância de implementação e execução das medidas socioeducativas, se

defini a partir da relação dos órgãos executores das medidas com a rede de saúde

mental, educação, segurança pública, assistência social, sociedade civil, etc.;

Segundo o Levantamento realizado pelo CAOIJ/MG (2006/2007) – Centro de

Apoio Operacional às Promotorias de Infância e Juventude do Estado de Minas Gerais a

situação no período era a seguinte:

Situação/Existência Das Medidas Sócio-Educativas de

Prestação de Serviços à Comunidade e Liberdade Assistida.

Quadro 1 -

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE - PSC

Total de Comarcas MG

Total de Comarcas que Tem PSC

Total de Comarcas que Não tem PSC

Total de Comarcas tem PSC irregular

294 60 133 101

LIBERDADE ASSISTIDA – LA

Total de Comarcas MG

Total de Comarcas que Tem LA

Total de Comarcas que Não tem LA

Total de Comarcas tem LA irregular

294 42 192 60

Fonte: Apuração concluída maio/2008

Avaliação dos dados sobre a prestação de serviços à comunidade:

I. Considerando a forma de atendimento mais adequada, com um programa específico, à luz do SINASE, algumas Comarcas que responderam SIM (Tem/PSC), apresentaram uma opção que, talvez, se enquadraria melhor no atendimento irregular.

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II. Muitas das Comarcas que responderam NÃO ao atendimento de PSC, pode ser que o tenha de forma irregular.

III. Identificamos como IRREGULAR os atendimentos de forma improvisada, sem um programa específico, e/ou por órgão de caráter não executivo.

IV. Quadro informativo sobre as opções de execução de PSC, segundo as respostas afirmativas:

Quadro 2 -

Nº de Opções Entidade Responsável

1 Prefeitura

2 ONG

3 Prefeitura e ONG

4 Prefeitura e Asilo

5 Prefeitura e Creche

6 Prefeitura e Escola

7 Prefeitura/Apae/Polícia Militar

8 CEPAL - Central de Penas Alternativas

9 Entidades Assistenciais

10 Prefeitura e Judiciário

11 Prefeitura/Obras Assist.

12 Prefeitura/Judiciário/ONG

Fonte:

V. Quadro informativo sobre as opções de execução de PSC, segundo as respostas avaliadas como irregular:

Quadro 3 -

Nº de Opções Entidade Responsável

1 Judiciário

2 Prefeitura

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3 Conselho Tutelar

4 Prefeitura e Escola

5 Inst.Beneficentes / Inst. Públicas

6 Prefeitura e Hospital

7 Escolas Públicas

8 Quartel PM / Apae / Delegacia e outros

9 Escolas / Asilo / APAE/ Abrigo

10 Judiciário e Inst. Filantrópicas / ONG

11 Prefeitura e Conselho Tutelar

12 Prefeitura e Judiciário

13 Judiciário e Conselho Tutelar

14 Pet e Agente Jovem

15 Judiciário e MP

16 Asilo/Igrejas/Casa Espírita

17 Entidades Filantrópicas/Asilos/creches

18 Hospital/ Escola/ Asilo

19 Cemitério / Asilo/ Outros

20 Escolas e Polícia Militar

Fonte:

Avaliação dos dados sobre liberdade assistida:

I. Considerando a forma de atendimento mais adequada, com um programa específico, à luz do SINASE, algumas Comarcas que responderam SIM (Tem/LA), apresentaram uma opção que, talvez, se enquadraria melhor no atendimento irregular.

II. Muitas das Comarcas que responderam NÃO, ao atendimento de LA, pode ser que o tenha de forma irregular.

III. Foi identificado como IRREGULAR os atendimentos de forma improvisada, sem um programa específico, e/ou por órgão de caráter não executivo.

IV. Quadro informativo sobre as opções de execução de LA, segundo as respostas afirmativas:

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Quadro 4 -

Nº de Opções Entidade Responsável

1 Prefeitura

2 Prefeitura e Conselho de Direitos

3 ONG

4 Prefeitura/ Judiciário e outros

5 Universidade / Parceria MP

6 Prefeitura / Entid.Beneficentes

7 Prefeitura / Judiciário/ ONG

Fonte:

V. Quadro informativo sobre as opções de execução de PSC, segundo as respostas avaliadas como irregular:

Quadro 5 -

Nº de Opções

Entidade Responsável

1 Judiciário *

2 Judiciário e Conselho Tutelar

3 Conselho Tutelar

4 ONG

5 Conselho Tutelar e pais

6 Prefeitura e Juizado

7 Judiciário/C.Tutelar/ Conv.Mp e Faculdade

8 Conselho Tutelar e Comissariado

Fonte:

* Obs. Compreende o atendimento realizado diretamente pela autoridade judiciária, com ou sem os técnicos judiciários (assistente social ou psicólogo). Tem um caso também de atendimento pela equipe de comissariado.

2. Sistema municipal de atendimento socioeducativo de Alfenas

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O adolescente visto como sujeito de direitos é o ator principal no processo de

gestão das medidas socioeducativas, tendo como objetivo a busca por sua reintegração

na sociedade e o rompimento com a criminalidade.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) traz um modelo de gestão das

medidas socioeducativas descentralizado e municipalizado, também estabelece a

política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente, é o que dispõe o artigo

nº 86:

Art. nº 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (ECA, 1990).

Segundo Nozabielli (2003, p. 141) a gestão das medidas socioeducativas tem por

princípio construir competências compartilhadas, para que a incompletude seja

preenchida por flexibilidade e adaptação, exigidas no processo de gestão das medidas

socioeducativas em meio aberto, devendo ser eficiente e propositiva para que possa

propiciar condições ao adolescente em conflito com a lei romper com a criminalidade.

É necessário que toda a equipe técnica que faz o atendimento ao adolescente

em conflito com a lei, tenha total concordância na execução das ações e que, não haja

distanciamento dos atores envolvidos neste processo.

Arquitetar um modelo de gestão das medidas socioeducativas no espaço local implica em construir e desconstruir fazeres, saberes e poderes, tendo por princípio a totalidade e a historicidade. Trata-se de um arranjo sofisticado que requer a combinação de vários elementos: institucionalidade, compromisso, parcerias, criatividade, iniciativa e novas subjetividades (NOZABIELLI, 2003, p. 69).

A rede de atendimento da gestão das medidas socioeducativas envolve diversos

setores da sociedade, visto que o processo de gestão das medidas é bastante

complexo.

De acordo com Nozabielli, (2003, p. 26) a gestão das medidas socioeducativas é

realizada por diversas organizações: Vara da Infância e Juventude que é representada

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pela autoridade judiciária, sendo o juiz que julga o ato infracional cometido pelo

adolescente, tendo por base os princípios e as normas estabelecidas pelo Estatuto da

Criança e do Adolescente. Na forma do art. nº 148 do ECA, compete ao juiz: conhecer

as representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional

atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis a conceder a remissão, como

forma de extinção ou suspensão do processo. Ao Ministério Público compete à

representação pelo Promotor de Justiça.

Na forma do art. nº 201, do Estatuto da Criança e do Adolescente, é dever do

Ministério Público: conceder a remissão, como forma de exclusão ou extinção do

processo e promover e acompanhar os procedimentos relativos às infrações dos

adolescentes. No percurso de elaboração deste trabalho foi possível observar que a

municipalização das medidas socioeducativas em meio aberto não ocorre em Alfenas,

pela omissão do poder executivo municipal.

O município de Alfenas data de 1860 a sua criação e localiza-se na Região Sul

do Estado de Minas Gerais. Os dados do Censo de 2010 do IBGE (2010) mostram que

o município possui uma população de 73.722 habitantes. Com uma área de 848,3 km²,

representando 0,15% da área total do Estado de Minas Gerais, com densidade

demográfica de 79,01 habitantes por km² e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é

de 0,829.

Nos anos de 2005 e 2006, a mesma fonte demonstrava que o Brasil possuía

24.461.666 adolescentes entre 12 e 18 anos, desse total, 0,1425% representava a população de

adolescentes em conflito com a lei. Tal porcentagem, em números absolutos, significava 34.870

adolescentes autores de atos infracionais cumprindo algum tipo de medida socioeducativa em

todo o Brasil (Doc. Ação Social/PM Alfenas/MG, 2011).

Segundo levantamento da 18ª Companhia Independente da Policia Militar de Alfenas,

houve no ano de 2010 um total de 263 ocorrências envolvendo adolescentes no município e, em

2011 este número subiu para 281 ocorrências. As ocorrências no trânsito nos últimos sete

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meses (janeiro a julho de 2011) foram registradas 56 ocorrências, envolvendo adolescentes

(Doc. Ação Social/PM Alfenas/MG, 2011).

No Anexo I da referida instituição, denominado de “Menores infratores envolvidos

em ocorrências NE Janeiro de 2010 a Dezembro 2011, por natureza e variação, tem-se

os seguintes dados, por ordem de ocorrência, no município de ALfenas: ano de 2010 –

263 e ano de 2011 – 281, com variação percentual de 6,84%.

A título de ilustração, tem-se as seguintes ocorrências registradas nos dois anos,

excluídas as que tiveram indicador 0 (zero) no ano de 2011 e em que a maioria delas se

dá com o envolvimento de adolescentes no uso, consumo de drogas e tráfico de drogas

(134 casos), seguido de lesão corporal e agressão (72 casos), ameaça (28 casos),

receptação (18 casos), furto, no geral (59 casos), crimes contra o patrimônio (17 casos),

infração de trânsito (15), roubo no geral (9 casos), homicídio tentado (1 caso), infrações

entre pares (2) que foram agrupadas no geral tendo em vista levantamentos nacionais

na trajetória de atos infracionais cometidos por adolescentes.

Quadro 6 -

Tipo de ato Total geral 2010 Total geral 2011

Uso e consumo de drogas 35 40

Tráfico de drogas 25 32

Lesão corporal 15 22

Agressão 17 18

Ameaça 15 13

Receptação 06 12

Furto qualificado (arrombamento em veículo) 01 11

Contra o patrimônio 08 09

Furto de coisa comum 0 08

Infração no trânsito 02 07

Dano 17 07

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Atrito verbal 15 07

Furto qualificado (arrombamento em residência) 02 07

Furto consumado em estabelecimento comercial 0 06

Rixa 01 06

Furto consumado à transeunte 02 05

Outras ações de defesa social 0 05

Busca e apreensão de objetos pessoais 0 04

Direção perigosa de veículo na via pública 01 03

Furto consumado 06 03

Outras contra as pessoas 04 03

Outras contra os costumes 03 03

Furto de veículo consumado de bicicleta 05 02

Furto tentado a veículo 01 02

Infrações contra crianças e adolescentes 0 02

Injúria 0 02

Outras infrações referentes às substâncias entorpecentes 0 02

Apropriação indébita de coisa alheira móvel 0 02

Atropelamento de pessoa com vítima fatal 0 02

Roubo a mão armada consumado a prédio comercial 0 02

Roubo tentado à transeunte 0 02

Violação de domicílio 0 02

Furto de veículo tentado de automóvel 0 01

Furto qualificado arrombamento a estabelecimento bancário 0 01

Furto qualificado consumado arrombamento 02 01

Homicídio tentado 0 01

Mandado de prisão 0 01

Desacato 10 01

Difamação 01 01

Furto consumado a pessoa em estabelecimento comercial 01 01

Porte ilegal de arma de fogo 0 01

Roubo a mão armada consumado em supermercado 01 01

Roubo a mão armada consumado em transeunte 02 01

Fonte: 18ª Companhia Independente da Policia Militar de Alfenas / Ação Social-PM de Alfenas/MG, 2010-2011

Vide Anexo 2

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A população de Alfenas concentra-se no meio urbano (93,3%) contra 6,7% no

meio rural e isso reflete de modo diferenciado tomando a população economicamente

ativa (PEA), segundo dados do Censo do IBGE de 2000). O município se destaca como

o núcleo urbano mais desenvolvido da região, beneficiada por uma malha rodoviária

extensa que permite a concentração e distribuição de bens e serviços para os

municípios circunvizinhos.

A atividade industrial e comercial é a preponderante e, complementada pela

participação agro-pastoril e ainda como um centro produtor de café e de outras

monoculturas. O setor de gêneros alimentícios e laticínios aliado à pecuária e a

agroindústria sustentam a base da economia municipal. O setor de serviços vem

ganhando densidade econômica pela presença de Universidades e a implantação

diferenciados cursos superiores pelas UNIFAL (Universidade Federal de Alfenas) e

UNIFENAS (Universidade José do Rosário Vellano) e, isso, tem exigido novo perfil de

trabalhador, cada vez mais escolarizado e qualificado para o trabalho.

Os dados disponíveis da Secretaria de Governo de Alfenas indicam que a

expectativa média de vida saltou de 71,46 para 76,9 anos no último decênio. E, sobre os

indicadores de Pobreza (proporção de pessoas com renda domiciliar per capita de ¼ do

salário mínimo) eram de 13,5% em 2000, com uma taxa anual de crescimento de 2,80%

registrados entre 1991 e 2000.

A atual administração busca em consonância com a Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2004), por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, a construção de uma política pública de direção universal e de direito de cidadania, com capacidade de assegurar os direitos sociais às pessoas que dela necessitam independente de sua renda, a partir de sua condição inerente de direitos (Doc. Ação Social/PM Alfenas/MG, 2011).

O Plano Diretor de Alfenas objetiva ser o instrumento básico da política pública

de promoção do desenvolvimento municipal combinando a função social da

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propriedade, do desenvolvimento sustentável da cidade e, com isso, resultando na

melhoria dos níveis de qualidade de vida e bem estar da população, em geral, na

redução dos índices de desigualdades sociais.

Dentre uma série de problemas que permeiam a área social, segundo

informações coletadas pelo pesquisador junto às equipes técnicas da área social e da

justiça: uso de substâncias psicoativas (uso de substâncias químicas/drogas/álcool);

exclusão pela pobreza e/ou ao acesso às demais políticas públicas (violação dos

direitos sociais); exclusão pela pobreza e/ou ao acesso às demais políticas públicas

(bolsões de pobreza); estratégias alternativas e diferenciadas de sobrevivência que

podem representar risco pessoal e social (trafico de drogas); estratégias alternativas e

diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social (prática de

atos infracionais); famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de

afetividade, pertencimento e sociabilidade (convivência social precária).

Migração/população em situação de rua (migrante); diferentes formas de violência

advindas do núcleo familiar, grupos e indivíduos (violência doméstica).

Para fazer frente à demanda referida o município possui uma série de programas,

projetos e serviços sociais desenvolvidos pelo público quanto pelo setor privado

(organizações não-governamentais). E segundo, informações das equipes técnicas, a

Secretaria Municipal da Criança e Adolescente, Igualdade Racial e Desenvolvimento

Social, em 2010, atendeu 4.000 (quatro mil) pessoas por meio dos benefícios sociais

eventuais nos programas de transferência de renda, fato que ainda demonstra a

distância entre os direitos sociais proclamados constitucionalmente com a realidade

concreta vivida pelas camadas populares e, também pela pouca capacidade de

afirmação dos direitos de cidadania, tanto do cidadão quanto do próprio Estado.

Um destaque que interessa ao problema da pesquisa se refere ao consumo de

drogas, incluindo o álcool, pelos adolescentes e jovens do município e, mesmo da

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região, principalmente em eventos festivos e/ou comemorativos, tendo em vista que os

relatórios dos sistemas socioeducativos, sistematizados pela Secretaria de Direitos

Humanos do Ministério da Justiça (SDH/MJ) tem dado destaque à aplicação de medida

de internação aos adolescentes envolvidos com drogas (consumo e/ou tráfico).

As novas institucionalidades foram criadas no município como os Conselhos de

Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar, Conselho de Assistência

Social, Conselho da Educação, Conselho da Saúde, Conselho Antidrogas, Conselho

Comunitário de Segurança Pública, Conselho do Idoso, Conselho das Pessoas

Portadoras de Necessidades Especiais, Conselho da Comunidade, entre outros.

No que interessa ao tema, faz-se necessário distinguir as atribuições e/ou

competências dos referidos Conselhos e, nesse caso, do Conselho de Direitos da

Criança e do Adolescente e do Conselho Tutelar. O primeiro é criado por lei, nas três

esferas da administração pública e o segundo apenas na esfera do poder público

municipal, conforme o disposto no Livro II, Parte Especial, Título I Da Política de

Atendimento, Capítulo I Das disposições gerais e Título V Do Conselho Tutelar, Capítulo

I Das Disposições Gerais, respectivamente:

Art. 88. São diretrizes da política de atendimento: (...) II – Criação de Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária, por meio de organizações representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais; (...) Manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente Art. 89. A função de membro do Conselho Nacional e dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do adolescente é considerada de interesse público relevante e não será remunerado. Art.131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei. Art. 132. Em cada Município haverá, no mínimo, um Conselho Tutelar composto de cinco membros, escolhidos pela comunidade local para mandato de três anos, permitida uma recondução.

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Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro constituirá serviço público relevante, estabelecerá presunção de idoneidade moral e assegurará prisão especial em caso de crime comum, até o julgamento definitivo. Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: I – atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no9 art. 101, I a VII; II – atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, inciso I a VII; (...) IV – Encaminhar ao Ministério Público notifica de fato que constitutiva infração administrativa ou penal contra os direitos da criança e do adolescente aos pais e responsáveis (ECA, 1990).

Cabe ressaltar que no ano de 2009, a Portaria nº 01/2009 do Poder Judiciário do

Estado de Minas Gerais cria o “Comissariado da Infância e Juventude”, em que seus

membros, ao todo 3 (três), todos do sexo masculino, com idade entre 30 a 50 anos. São

designados pela referida Portaria como “Comissários Voluntários da Infância e

Juventude da Comarca de Alfenas”. A justificativa legal para a criação desse

Comissariado se fundamenta “no disposto do art. 194, caput, in fine, da Lei 8.069/90 –

Estatuto da Criança e do Adolescente4, e os arts. 334 e seguintes do Provimento nº

161/CGJ/2006, de 01.09.2006, da Corregedoria Geral de Justiça de Minas Gerais”

(PJEMG/Vara Cível da Infância e Juventude da Comarca de Alfenas, 09/12/2009). E

segundo a referida a Portaria, são atribuições do Comissariado instituído:

3º) Cumprimento de determinações judiciais como sindicâncias, mandado de busca e apreensão de crianças ou adolescentes em situação de risco, subsídios em eventuais operações policiais e especiais que envolvam crianças e adolescentes em situação de risco, atuação em logradouros públicos quando da verificação de crianças ou adolescentes em situação de risco, em especial PEDINTES e VENDEDORES, fiscalização INTERNA e EXTERNA de bares, restaurantes, clubes, teatros, estádios, bancas de jornais, danceterias, competições esportivas, festas, bailes, lan houses, boates, desfiles, eventos festivos, festas públicas de qualquer natureza, shows artísticos, casas noturnas, dentre outros, e EXTERNAS de hotéis e motéis, que também poderão ser fiscalizados internamente, desde que devidamente autorizados através de mandatos judiciais” (PJEMG/Vara Cível da Infância e Juventude da Comarca de Alfenas, 09/12/2009). (Transcrição citada literalmente e com os destaques)

4 “Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade administrativa por infração as normas de proteção à

criança e ao adolescente terá início por representação do Ministério Público ou Conselho Tutelar, ou auto de infração

elaborado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por duas testemunhas, se possível” (ECA,

1990),

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A Portaria assegura aos Comissariados, no exercício de suas funções, “o livre

ingresso nos locais onde se faça necessária a prestação de assistência à criança

e ao adolescente” e no parágrafo único dispõe que:

É vedado ao Comissário receber, para si ou para outrem, ingressos, convites, entradas ou assemelhados para festividades, espetáculos, bailes, exibições esportivas, cinematográficas, teatrais, circenses, dentre outros, seja em nome do Juízo ou em decorrência das funções que exerce PJEMG/Vara Cível da Infância e Juventude da Comarca de Alfenas, 09/12/2009).

Apesar da referida Portaria, destacar que o encargo do comissariado é de “natureza VOLUNTÀRIA e NÂO REMUNERADO, na forma regulada pela Corregedoria Geral de Justiça de Minas Gerais” (transcrição com destaque do próprio documento), os comissariados nomeados contam com uma “ajuda de custo” no valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) mês pagos com recursos do Fundo da Infância e da Adolescência (FIA), de responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA). Um dos motivos alegados para essa ajuda de custo é a de que muito dos procedimentos poderiam resultar em multas depositadas na conta bancária específica do FIA. Contudo, até o devido pagamento das multas a instituição, a empresa e/ou a pessoa que a receber, tem direito de recorrer às instâncias superiores sobre a aplicação do ato e mesmo questionar o procedimento feito pelos comissariados.

Tendo em vista ser essa questão de relevância para o desenho da política de direitos à criança e ao adolescente e, que, envolve diretamente o adolescente em conflito com a lei, cabe destaque à literatura e/ou doutrina jurídica sobre a questão, a saber:

A designação de voluntários para prestarem serviços junto à justiça da infância e da juventude pode dar margem a abusos, ou outra coisa não objetivando muitos que se apresentem como tais senão vantagens, principalmente a entrada gratuita em estabelecimentos de diversões públicas sem pagamento. Considerando que a Resolução 6/90 do Egrégio Conselho da Magistratura determinou, entre outras medidas, o imediato recolhimento de qualquer documento funcional de identidade de pessoal da primeira instância não expedido por aquele Conselho ou pelo Corregedor Geral de Justiça; Considerando que, dando cumprimento àquele dispositivo, se verificou que inúmeras irregularidades e abusos vinham sendo praticados, tais como a nomeação de Comissários de Menores e expedição de carteira de identidade funcional sem qualquer comunicação à Corregedoria Geral de Justiça, concedendo-se, em alguns casos, até mesmo ‘porte de arma’. (...) Considerando que os Comissários de Menores voluntários podem prestar valiosa colaboração à justiça, não somente na fiscalização de infrações administrativas (art. 194 da Lei 8.069/90) como também na composição de equipes interprofissional, especialmente para desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros (art. 151 do mesmo diploma legal); Considerando entretanto que, pela importância de suas funçõ9es, os Comissários de Menores Voluntários devem ser criteriosamente selecionados, impondo-se, outrossim, a manutenção de um cadastro central na Corregedoria

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Geral da Justiça (CHAVES, 1994 apud Desembargador Polinício Buarque de Amorim, Corregedor Geral da Justiça do Estado do Rio de Janeiro baixou o Provimento nº 250, de 08/03/1891, publicado em 11/02/91, informativo semanal COAD n. 11/91, p. 111-110).

Segundo, Cury, Garrido & Marçura (1991):

(...) 3. O projeto de lei que deu origem ao Estatuto (PL 193/89, do Senado Federal), tratava em seu art. 164 do chamado “comissariado de menores” sob a denominação de “agentes de proteção da infância e da juventude”, com a incumbência “exercer as atividades que lhes forem atribuídas pela autoridade judiciária, podendo compor quadro próprio da administração ou corpo de voluntários nomeados pela autoridade judiciária”. Embora suprimido esse dispositivo a menção, na norma sob exame a “servidor efetivo ou voluntário credenciado” induz a possibilidade do Judiciário manter quadro próprio ou corpo0 de voluntários para exercer, por delegação, funções administrativas como as concernentes a fiscalização (p. 103).

Essa reflexão ilustra em parte a cultura da sociedade e, portanto de seus

sistemas, sobre as novas formas de condução do Estado brasileiro em se tratando do

atual dispositivo constitucional que dispõe sobre a participação democrática nas

instâncias de decisão coletiva e no papel político e administrativo das novas

institucionalidades (Conselhos de Direitos e Conselhos Tutelares). A nosso ver, com a

existência dessas institucionalidades nos municípios nomear voluntários para a ação de

fiscalização concorre com as atribuições já definidas para o Conselho Tutelar, art. 136,

incisos, a saber: “IV – encaminhar ao Ministério Público notifica de fato que constitua

infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente; V –

encaminhar à autoridade judiciária, os casos de sua competência” (ECA, 1990) e, que o

mesmo deveria ser reforçado em sua atuação e competência como também

representados, caso não cumprisse com suas obrigações. Do mesmo modo, cabe ao

Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente buscar o aperfeiçoamento de sua

prática conselhista para aprimoramento do desenho da estão da política de direitos.

Na realização da pesquisa a busca por dados e informações sobre normativas

(leis, decretos, resoluções ou qualquer outro) em diversos setores do público

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(procuradoria municipal, câmara municipal, conselho de direitos da criança e do

adolescente) não foi possível detectar regulamentação sobre a questão do adolescente

em conflito com a lei sobre a política de direitos.

Até o ano de 2010, os adolescentes eram apreendidos na cadeia publica o que

contraria o disposto legal, ECA, no art. 185, a saber: "A internação, decretada ou

mantida pela autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabelecimento

prisional” até porque, no art. 183 da mesma lei “o prazo máximo e improrrogável para a

conclusão do procedimento, estando o adolescente internado provisoriamente, será de

45 (quarenta e cinco dias)dias”, figura conhecida como acautelamento judicial e/ou

internação provisória. E, a justificativa para ã internação em cadeias públicas por

integrantes do Poder Judiciário vem se amparando no argumento do Supremo Tribunal

de Justiça (STJ):

Em casos excepcionais, onde não há possibilidade material de se efetivar a medida sócio-educativa de internação de menor infrator em estabelecimento apropriado, admite-se a custódia daquele em cadeia pública local, desde que isolado dos demais detentos, atendendo-se, assim, ao escopo do art. 185 do ECA Com base neste entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus por não vislumbrar constrangimento ilegal na manutenção de paciente maior de 18 anos, que cometera crime de homicídio qualificado antes da maioridade penal, numa cela separada dos demais presos adultos, (em cadeia pública de localidade onde não existe estabelecimento para menores).HC 81.519-MG, rel. Min. Celso de Mello, 19.11.2002. (HC-81519)

Ainda, no mesmo ano, após visita de membros do Conselho Nacional de Justiça

(CNJ) na Comarca de Alfenas foi requerida a imediata liberação de adolescentes que se

encontravam internados no presídio do município, ocasião. Em que estavam internados

cerca de 6 (seis) adolescentes e, em outros períodos, o presídio chegou a comportar 16

(dezesseis) adolescentes, em duas celas, todas separadas dos adultos.

O processo de municipalização das medidas socioeducativas em meio aberto (LA

e PSC) em Alfenas pode ser datada a partir de 2006, tendo em vista, a adoção pelo

CONANDA, dos parâmetros pedagógicos e arquitetônicos definidos no SINASE,

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também no mesmo ano. A Resolução nº 119/206 do Conselho Nacional dos Direitos da

Criança e do Adolescente dispõe sobre a organização dos programas e dos recursos

humanos com base na interdisciplinaridade e no compartilhamento de responsabilidades

intersetoriais entre os entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) n

gestão e financiamento da política socioeducativa: “O SINASE é um dos instrumentos

normativos desenvolvidos para a implementação da proteção integral para o

adolescente em conflito com a lei, que envolve desde a apuração do ato infracional até a

execução das medidas socioeducativas” (SILVESTRE, 2010, p. 16).

Diante de tal quadro, o poder público municipal passou a celebrar convênios para

o repasse de subvenção e contribuição financeira para uma das instituições da

sociedade civil para a execução direta dos programas socioeducativos em meio aberto

de LA, a organização não-governamental conveniada é o Grupo Arco-Iris de

Misericórdia. O programa de LA desenvolvido por esta instituição tem capacidade para

15 (quinze) adolescentes, através do Projeto Casa Filho Pródigo “que visa o

atendimento integral do adolescente em conflito com a lei, encaminhado pelo Juizado da

Infância e Juventude, partindo das diretrizes propostas pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente, que trata da medida socioeducativa de liberdade assistida” 5 .

Também a partir de 2010, outra organização não-governamental passou também

a atender diretamente adolescentes para cumprimento de medida de PSC,

encaminhados pela Vara da Infância e da Juventude, a Associação Dias Melhores, com

demanda máxima de atendimento para 15 (quinze) adolescentes. Cabe ressaltar que a

referida entidade já teve convênio com o Poder Público Municipal desde 2006 para

atender a demanda de 80 (oitenta) adolescentes em risco social e usuários de

substancias entorpecentes, do sexo masculino, contudo, sem aplicação de medida

socioeducativa, através do Projeto Fênix. A média de adolescentes do sexo feminino em

5 Termo de Convênio nº 004/2011 entre o Município de Alfenas e Grupo Arco-Iris de Misericórdia de Alfenas.

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cumprimento de medidas socioeducativas/ano varia entre duas ou três, em PSC. No

convênio aditado até 31/12/2010 a demanda passou para 30 (trinta) adolescentes6 e,

para o ano de 2011, não foi renovado, o que levou ao fechamento do referido projeto.

O município, contudo, dispunha para a execução das medidas socioeducativas

em meio aberto para 2010 de R$ 16.000,00 (dezesseis mil reais) advindos do Governo

do Estado de Minas Gerais e, como não foi utilizado os recursos foram retornados para

os órgãos de origem. Nenhuma das duas entidades que realizavam os programas

socioeducativos não foi contemplada com esse recurso e, que a nosso ver, deve ter se

dado por dificuldades operacionais. O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do

Adolescente de Alfenas (CMDCA/Alfenas), no entanto, fez solicitação oficial à Secretaria

Municipal de Desenvolvimento Social sobre o ocorrido e, até a presente data, não

obteve resposta formal. Outros instrumentos que poderiam ser utilizados pelo Conselho

para resolver a situação não foram utilizados, como por exemplo, representação ao

Ministério Público, audiência pública, mobilização social.

Ainda sobre os recursos financeiros advindos Governo Federal para o Governo

Municipal de Alfenas, o montante recebido para o ano de 2010 foi de R$ 62.889.260,39

(sessenta e dois milhões, oitocentos e oitenta e nove mil , duzentos e sessenta reais e

trinta e nove centavos)7 num valor total por área social de atendimento, no ano, a saber:

Saúde, R$ 35.959,338,41; Assistência Social, R$ 2.885.082,66; Educação, R$

1.296.208,99; Trabalho, R$ 584.990,46; Desporto e Lazer, R$ 500.000,00; Habitação,

R$ 187.000,02; Cultura, R$ 127.196.03 para as despesas com projetos, prêmios,

apoios; elevação e qualificação profissional; condições de habitabilidade; alimentação,

6 Convênio nº 002/2010 celebrado entre o Município de Alfenas e a Associação Dias Melhores.

7 Documento da FNS CONSULT – Treinamento e Desenvolvimento em Empreendedorismo Ltda, empresa de consultoria ([email protected]).

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transporte, equipamentos escolares, apoio à alfabetização de jovens e adultos escolar

entre outros.

No que interessa a pesquisa, pelo fato da execução das medidas socioeducativas

em meio aberto se encontrarem vinculadas à gestão da política de assistência social,

podem ser destacados valores correspondentes para as ações de transferência de

renda – Bolsa Família (R$ 2.337.454,00), Serviços de Proteção Especial – PAIF/CREAS

(R$ 115.862,40), Serviço de Proteção Básica às Famílias - PAIF-CRAS (R$ 99.000,00),

Serviço de apoio à Gestão Descentralizada do Programa Bolsa Família (IGD) (R$

67.032,71), Serviços de Proteção Social Básica a Indivíduos e Famílias – CREAS (R$

52.500,00), Serviços Específicos de Proteção Básica (R$ 48.464,80), Avaliação e

Operacionalização do Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social e

Manutenção da Renda Mensal Vitalícia – BPC (R$ 1.525,00)Concessão de Bolsa para

Crianças e Adolescentes em Situação de Trabalho (R$ 1.800,00), Serviço

Socioeducativo para Jovens de 15 a 17 anos – PROJovem (R$

79.143,75)Enfrentamento ao Crack e outras drogas (R$ 53.100,00), Ações

Socioeducaticas e de Convivência para Crianças e Adolescentes em Situação de

Trabalho – PETI )R$ 26.000,00) e, enfim, para Serviços de Proteção Social aos

Adolescentes em Cumprimento de Medidas Socioeducativas (R$ 2.200,00).

A Secretaria Municipal da Criança e Adolescente, Igualdade Racial e

Desenvolvimento Social (Ação Social) de Alfenas tem elaborado o projeto “Medida

Socioeducativa em Meio Aberto”, com período de execução de outubro de 2011 a

outubro de 2012 para a ”implantação do Programa Medida Socioeducativo em Meio

Aberto no Município de Alfenas” para atenção de 40 (quarenta) adolescentes, endo 15

(quinze) adolescentes em medida de LA e 25 (vinte e cinco) adolescentes para a PSC,

com o objetivo de:

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a) Inserir e acompanhar 40 (quarenta) adolescentes na sociedade, viabilizando alternativas comunitárias para o apoio a profissionalização e a geração de renda, avaliando periodicamente seu percurso no cumprimento da Medida Sócio Educativa; b) Auxiliar as famílias destes quarenta adolescentes na compreensão de sua dinâmica direta, dificuldades e a relação na conduta com o adolescente; c) Orientar essas quarenta famílias, para que ela participe efetivamente do processo do cumprimento da medida sócio educativa; d) Realizar um trabalho de capacitação junto aos técnicos, educadores, e com a rede socioassistencial que irá atender MSE; e) Fortalecer os laços familiares e relações comunitárias no espaço de vivência cotidiana; f) Garantir a matrícula escolar dos quarenta adolescentes juntamente com as suas famílias e supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar dos mesmos, delegando responsabilidades aos representantes legais pelos acompanhamentos escolares. g) Proporcionar aos quarenta adolescentes atividades educativas, através de entretenimento, cultura, esporte e lazer, visando o fortalecimento dos vínculos sociais (Doc. Ação Social/PM Alfenas, 2011).

O referido projeto de implementação dos programas socioeducativos foi enviado

para o Governo Estadual de Minas Gerais através da Subsecretaria de Atendimento às

Medidas Socioeducativas vinculada à Secretaria de Estado e Defesa Social (SEDS)

para apreciação. E, o valor total é de R$ 70.000,00 (setenta mil reais) para doze meses,

numa parceria entre o Governo Estadual e o Governo Municipal, sendo que a previsão

de recursos diretos do município é de R% 59.000,00 (cinqüenta e nove mil reais).

Nos comunicados havidos entre o pesquisador e a referida Secretaria (SEDS),

devidamente documentados (Anexo I) para a busca de dados e informações do

processo de municipalização das medidas em meio aberto, segundo, a Diretoria de

Gestão da Informação e Pesquisa “que o convênio do Estado com o Município de

Alfenas está em processo de tramitação, o que nos impede de responder a todas as

demandas explicitadas no projeto de pesquisa” (Doc. SEDS/MG - Diretoria de Gestão da

Informação e Pesquisa de 17/11/2011. Parecer Sobre Projeto de Pesquisa – Pedido

016.2011).

Na retomada das orientações do SINASE sobre os programas socioeducativos:

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A implementação do SINASE objetiva primordialmente o desenvolvimento de uma ação socioeducativa sustentada nos princípios dos direitos humanos. Persegue ainda, a idéia dos alinhamentos conceitual, estratégico e operacional, estruturado, principalmente, em bases éticas e pedagógicas (SINASE, 2006, p. 15).

Os parâmetros socioeducativos devem ser organizados por eixos estratégicos de

acordo com o referido documento, a saber: “suporte institucional e pedagógico;

diversidade étnico-racial, de gênero e de orientação sexual; cultura, esporte e lazer;

saúde; escola; profissionalização/trabalho/previdência; família e comunidade;

segurança” (p. 64).

No que se refere ao “suporte institucional e pedagógico” para os programas

socioeducativos a gestão da política socioeducativa deve se atentar aos parâmetros

acordados no SINASE (2006), como:

<>registrar a entidade e inscrever os respectivos das e inscritos os programas de

LA e PSC no CMDCA (art. 90, incisos II e V, parágrafo primeiro e art. 91)8;

<> ter projeto político pedagógico elaborado, incluindo referencial teórico-metodológico,

ações/atividades, recursos (humanos e materiais), avaliação e monitoramento;

<> dispor de espaço físico/arquitetônico adequado;

<> definir perfil de recursos humanos compatível com a função e cargo; instrumentais

para registro sistemático das diversas abordagens de trabalho; 8 “Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades, assim como pelo

planejamento e execução de programas de proteção e sócio-educativos destinados a crianças e adolescentes, em

regime de:

(...)

II – apoio sócio-educativo em meio aberto;

(...)

V - liberdade assistida;

Parágrafo 1º As entidades governamentais e não-governamentais deverão proceder à inscrição de seus programas,

especificando os regimes de atendimento, na forma definida neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da

Criança e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de suas alterações, do que fará comunicação ao

Conselho Tutelar e à autoridade judiciária” (ECA, 1990).

“Art. 91. As entidades não-governamentais somente poderão funcionar depois de registradas no Conselho Municipal

dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária”

(ECA, 1990).

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<> elaborar e formalizar o Plano Individual de atendimento (PIA);

<> Colher e sistematizar dados sobre o perfil dos adolescentes, famílias e da

comunidade e consolidar dados sobre o início e fim dos adolescentes em cumprimento de

medidas socioeducativas e, as possíveis reincidências;

<> cumprir prazos para envio de relatórios e encaminhamentos definidos no PIA e outras

necessidades;

<> articular-se com o sistema de justiça e outros órgãos e serviços públicos e com a rede

proteção social e, para isso, deve manter atualizado dados e informações sobre os programas,

projetos, serviços, benefícios sociais;

<> garantir a municipalização dos programas socioeducativos e os encontros

sistemáticos com a rede de proteção social;

<> normatizar sobre o papel/função/cargo de cada socioeducador, incluindo aqui, a

equipe técnica, educadores sociais e gestores e elaboração de regimento interno dos programas

socioeducativos;

<> garantir a sustentação e financiamento para que não haja solução de continuidade

dos programas socioeducativos, entre outras disposições.

E, sobre a especificidade de cada programa socioeducativo, a gestão da política

de direitos também de acordo com a regulação do SINASE (2006) estabelece para os

programas socioeducativos de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC), o que

segue:

1) identificar, nos locais de prestação de sérico, atividades compatíveis com as habilidades dos adolescentes, bem como respeitando aquela de seu interesse; 2) garantir que todos os adolescentes tenham profissionais – referência socioeducativo – e orientador socioeducativo9 – nos locais de prestação de serviço acompanhando-os qualitativamente; 3) acompanhar a frequência do cumprimento da medida no local de prestação de serviços; 4) realizar avaliações periódicas, no mínimo com frequência quinzenal com a referência socioeducativa10 e mensal com os orientadores socioeducativos dos locais de prestação de serviço. Estes são importantes, mas a interação, o diálogo, o contato pessoal contribuem significativamente para uma compreensão da abordagem pedagógica necessária ao acompanhamento dos adolescentes; e

9 Por referência socioeducativo compreende “o profissional de nível superior ou com função de gerência ou

coordenação nos locais de prestação de serviço comunitário, que será responsável geral pelos adolescentes

prestadores de serviço comunitário quanto pelo funcionário guia” (SINASE, 2006, p. 66).

10

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5) garantir que os locais de prestação de serviço comunitário sejam Unidades que compartilhem dos mesmos princípios e diretrizes pedagógicas do SINASE e consequentemente das entidades de atendimento socioeducativo (SINASE, 2006, p. 66).

E, no caso do programa socioeducativo de Liberdade Assistida, as

especificidades são as seguintes:

1) garantir uma equipe profissional- técnicos e orientadores sociais – responsável pelo acompanhamento sistemático do adolescente com freqüência mínima semanal; 2) garantir que os encontros (coletivos) entre orientador social comunitário/voluntário, técnicos e adolescentes, no mínimo, quinzenal; em se tratando de encontro grupal com a adolescentes, a freqüência deverá ser quinzenal; e 3) assegurar que os encontros entre orientadores sociais comunitários e adolescentes tenham frequência de, no mínimo, três vezes na semana, e entre técnico e orientador social comunitário/voluntário encontros com frequência, mínima, quinzenal (SINASE, 2006, p. 66).

Os programas socioeducativos em meio aberto (PSC e LA) de Alfenas tem

comunicação direta com o sistema de justiça (Vara da Infância e Juventude e Ministério

Público), com os diversos órgãos da administração direta municipal e também com as

ONGs. O Centro de Referência da Assistência Social (CREAS), enquanto representante

do Executivo, vinculado à Secretaria Municipal da Criança e Adolescente, Igualdade

Social e Desenvolvimento Social (Ação Social) recebe o comunicado, por meio de oficio

do MP e VIJ, que determinado/a adolescente recebeu medida socioeducativa e a

cumpre nas instituições Grupo Arco-Iris e Dias Melhores. Os relatórios de cumprimento

das referidas medidas pelos adolescentes são encaminhados ao sistema de justiça (VIJ)

pelas instituições responsáveis pela execução dos programas socioeducativos.

Na visita realizada na ONG Associação Dias Melhores e de acordo com

presidente sobre tais eixos estratégicos, a operacionalização deve se referenciar numa

ação educativa, fundamentada na concepção de que o adolescente é sujeito de direito e

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pessoa em situação peculiar de desenvolvimento que necessita de referência, apoio e

segurança.

As duas instituições Associação Dias Melhores e Grupo Arco-Iris de Misericórdia

comentaram nas visitas realizadas que acolhem os adolescentes assim que chegam aos

programas socioeducativos e depois dos processos de escuta, são elaborados com o

adolescente o PIA (Plano Individual de Atendimento), ouvidos também os familiares em

vários momentos do processo de cumprimento da medida socioeducativa, estendendo,

muitas vezes, para após o cumprimento da decisão judicial. No PIA são definidas metas

a serem trilhadas pelos adolescentes, familiares e equipes dos programas

socioeducativas no sentido de cumprimento com qualidade das medidas aplicadas pelo

sistema de justiça, evitando a reincidência.

As equipes das ONGs têm a função de auxiliar no acompanhamento e orientação

ao adolescente e sua família, de forma mais sistemática, mobilizando-os e contribuindo

para inseri-los, quando necessários, em programas socioassistenciais e de outras

Políticas Públicas; supervisionando a freqüência, aproveitamento escolar e fornecendo

informações acerca do cumprimento da medida e monitoramento dos encaminhamentos

realizados, identificando no município os locais de prestação de serviços, cujas

atividades sejam compatíveis com as habilidades dos adolescentes e com seus

interesses.

Na operacionalização das medidas socioeducativas a elaboração do plano de

trabalho é indispensável, garantindo a participação do adolescente e da família, e deve

conter os objetivos e metas a serem alcançados durante o cumprimento da medida e as

perspectivas de vida futura, dentre outros aspectos a serem acrescido, de acordo com

as necessidades do adolescente.

O acompanhamento social ao adolescente pela equipe técnica e orientador deve

ser sistemático, com freqüência mínima semanal para acompanhamento do

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desenvolvimento do plano de trabalho. As ações são acompanhadas pelos orientadores

que desenvolvem um papel de facilitadores do grupo. Ao final de cada atendimento a

equipe discute casos, para implementação e efetivação das atividades. Todas essas

ações são fundamentadas a partir dos pressupostos norteadores estabelecidos no ECA

(Estatuto da Criança e do Adolescente) e no SINASE (Sistema Nacional de Atendimento

SócioEducativo), assegurando-lhes ainda sua condição peculiar de pessoa em

desenvolvimento.

Em 2011 a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social não repassou os

valores devidos para as executoras das LA e PSC. Os valores voltaram para o

ESTADO. Diante de tal fato, o CMDCA – Conselho de Municipal Direitos da Criança e

Adolescente de Alfenas, fez um oficio solicitando explicação para a gestora da

Secretaria, ate o momento não houve resposta.

Pode se dizer que em Alfenas não existe monitoramento da execução das PSC e

LA. A JUSTIÇA quer apenas ter conhecimento se o adolescente infrator cumpriu ou não

a medida. O SINASE ainda não é difundido e praticado no município pelas autoridades

responsáveis.

Na gestão das medidas socioeducativas em meio aberto, o município de Alfenas

se faz omisso, obrigando as ONGS a realizar parcerias informais com empresas e

secretarias municipais, que recebem os adolescentes para cumprimento das medidas.

No entanto, não há nenhum documento que regulamenta tal situação.

Na gestão das medidas socioeducativas em meio aberto do Município de Alfenas a Segurança Pública, formada pela Polícia Militar e Polícia Civil. A Polícia Militar é responsável pelo policiamento ostensivo, como objetivo de prevenção, repressão da infração e apreensão do adolescente em flagrante. A Polícia Civil tem por responsabilidade a investigação, a comprovação da materialidade do ato infracional e apreensão do adolescente por mandato judicial. O Conselho municipal dos direitos da criança e do adolescente, órgão deliberativo e controlador da política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente. O Conselho Tutelar, órgão encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. (NOZABIELLI, 2003, p. 27)

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Todas essas organizações fazem parte da gestão das medidas socioeducativas

em meio aberto no município de Alfenas, sendo que, de acordo com Souza e Lira (2008,

p.66 - 6) os mesmos devem estar em constante articulação e cooperação para que se

possam alcançar resultados satisfatórios ao atendimento do adolescente em conflito

com a lei, sendo este adolescente, a razão de todo o processo de gestão das medidas

socioeducativas em meio aberto.

No ano de 2006 um adolescente de 16 anos apreendido em decorrência de furtos

foi assassinado com requintes de crueldade na cadeia publica de Alfenas. Tal fato,

gerou o processo n. 1199071-47.2006.8.13.0024 contra o Estado de Minas Gerais. O

homicídio do adolescente na cadeia publica mostrou ás autoridades a necessidade de

se cumprir a lei e exigir estabelecimento adequado para adolescentes infratores.

Entretanto, somente em 2011 é que a Justiça deixou de apreender os adolescentes no

presídio após a visita de um juiz do Conselho Nacional de Justiça.

Todos os Governos têm grandes responsabilidades na organização e

funcionamento do sistema socioeducativo. Por isso a integração entre os mesmos e

fundamental para o alcance da proteção integral dos adolescentes que cometeram ato

infracional.

O Munícipio, além de criar e manter os programas de atendimento para a

execução das medidas em meio aberto, cabe principalmente o desafio de promover a

integração das politicas setoriais no atendimento socioeducativo.O rol de competências

sugere, além das responsabilidades, a necessidade de criação de arranjos institucionais

para dar conta da política de atendimento como, por exemplo, sistemas de

monitoramento e avaliação e medidas de fortalecimento dos organismos de controle

social e de fiscalização no campo da proteção dos direitos (os Conselhos dos Direitos e

os Conselhos Tutelares). Conforme veremos no tópico seguinte o SINASE apresenta

ainda um novo modelo de gestão para a politica socioeducativa em cada esfera.

São competências específicas dos Municípios:

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1) Coordenar o Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo.

2) Instituir, regular e manter 0 seu sistema de atendimento socioeducativo, respeitadas as diretrizes gerais fixadas pela Uniao e pelo respectivo Estado,

3) Elaborar o Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo.

4) Editar normas complementares para a organização e funcionamento dos programas de seu sistema.

5) Fornecer, via Poder Executivo, os meios e os instrumentos necessários ao pleno exercício da função fiscalizadora do Conselho Tutelar.

6) Criar e manter os programas de atendimento para a execução das medidas de meio aberto.

7) Estabelecer consórcios intermunicipais, e, subsidiariamente, em cooperacao com o Estado, para o desenvolvimento das medidas socioeducativas de sua competência.

Na tentativa de se adequar ao ECA e ao SINASE o município de Alfenas

elaborou um projeto de atendimento para as medidas em meio aberto. O projeto

encontra-se na SEDS para apreciação e aprovação. Se aprovado Alfenas iniciará

formalmente a municipalização das medidas. O projeto visa atender 40 (quarenta)

adolescentes em cumprimento de medidas Sócioeducativas - MSE com idade de 12

anos completos aos 18 anos e em casos de exepcionalidade entre os 18 aos 21 anos,

em conformidade com o Art. 2º ECA. Segundo o projeto o quantitativo total de

adolescentes, será dividido: Quinze adolescentes para a Liberdade Assistida – LA e

Vinte e cinco adolescentes para a prestação de serviços a comunidade – PSC.

Com a implantação do Programa de Medida Sócio Educativa em meio aberto, no

município de Alfenas, buscará atender os adolescentes infratores em conflito com a lei,

por meio de ações desenvolvidas em articulação com a rede socioassistencial existente

no município, dessa forma o projeto atuará nesta interface para que tal realidade seja

diferente.

O direito à educação compreende o direito de receber limites e este, por sua vez,

traz ínsito do direito a ser corrigido, O ECA prevê no seu artigo 118 as providências a

serem tomadas em relação ao adolescente quando pratica um ato de violação de leis ou

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regras de conduta, o estatuto estabelece ainda condições necessárias para o reparo

através de medidas socioeducativas em espécie, intensidade e qualidade adequadas às

necessidades de cada jovem.

As ações de reparação do dano devem ser compreendidas dentro do contexto da

responsabilização do ato realizado por este adolescente. Todas as intervenções de

acompanhamento com os adolescentes deverão ser permeadas por atendimento

psicossocial sistemático pautado em uma abordagem individual e grupal, com o

envolvimento da família e a comunidade para o exercício da função protetiva, visando

assim o enfrentamento e a superação das situações em que se encontram os jovens e

adolescentes em cumprimentos das medidas socioeducativa.

O Plano de Atendimento deverá ser construído com a participação do

adolescente e sua família, pois será um compromisso estabelecido por ambos, com

objetivos, metas, deveres, e as perspectivas de vida futura entre outros aspectos que

forem convenientes de acordo com as necessidades e potencialidades dos

adolescentes.

O programa será permeado pelas diretrizes estabelecidos no ECA e SINASE,

que prevê a permanente articulação com as demais políticas públicas, assim como o

Sistema de Garantia de Direitos - SGD, Sistema de Justiça que atuará articulado para o

resgate da autonomia, reconstrução de vínculos violados, combate e redução dos

índices da prática de atos infracionais, no município de Alfenas. O Estatuto da

Criança e do Adolescente prevê em seu artigo119, parágrafo único que a Liberdade

Assistida será adotada sempre que afigurar a medida mais adequada para o fim de

acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente, portanto, o trabalho desenvolvido no

projeto será ostensivo junto a outros profissionais e da rede socioassistencial do

município para efetivar por meio das ações o processo de cumprimento de medidas

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socioeducativas a fim de serem integrados a comunidade e ao convívio familiar

conforme decisão da autoridade judiciária.

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REFERÊNCIAS

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CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. Gestão social: alguns apontamentos para o debate. In RICCO, Elisabeth e RAICHELIS, Raquel (Orgs.). Gestão social: uma questão em debate, São Paulo: EDUC, IEE-PUC/SP, 1999.

CHAVES, Antonio. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: LTr, 1994.

CURY, Munir, GARRIDO DE PAULA, Paulo Afonso e MARÇURA, Jurandir Norberto. Estatuto da Criança e do Adolescente Anotado. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1991.

FAZOLO, Eliane; CARVALHO, Maria Cristina; LEITE, Maria Isabel; KRAMER, Sonia. História e política da educação infantil. Sonimar C. de Faria; in: Educação infantil em curso. Rio de Janeiro: Editora Ravil, 1997. (p. 09 a 37).

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LIBERATI, Wilson D.

MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In ________(Org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis/RJ: Vozes, 2007, p. 9-29.

NOZABIELLI, Sonia Regina. Desafios e possibilidades das medidas socioeducativas no município de Presidente Prudente. 2003. Dissertação (Mestrado Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2003.

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PEREIRA, Irandi. O adolescente em conflito com a lei e o direito à educação. Tese. (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo:USP, 2006.

_______. Programas de socioeducação aos adolescentes em conflito com a lei. (Cadernos de Ação e Defesa dos Direitos nº 3). Mariangá:CMDCA ; UEM-PEC-PCA., Dez., 2004.

PEREIRA, Irandi e MESTRINER, Maria Luiza. Liberdade Assistida e Prestação de Serviços à Comunidade: medidas de inclusão social voltadas ao adolescentes autores de ato infracional. PUC/SP-IEE - FEBEM/SP, Isão Paulo: Vox, 1999.

PEREIRA, Irandi e VERAS, Gerlene. O Estatuto da Criança e do Adolescente e municipalização ...

SILVA, Maria Alice da; A Família Brasileira Contemporânea e a Concepção Moderna de Criança e Adolescente. Artigo publicado na Coleção Infância e Adolescência, organização: Instituto da Criança e do Adolescente – ICA/PUC MG; Criança e Adolescente: Prioridade Absoluta, Belo Horizonte, Ed. PUC Minas, 2007

SILVESTRE, Eliana. O adolescente em conflito com a lei: política socioeducativa de direitos. Araraquara/SP, 2010. Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Araraquara, 2010.

SOUZA, Rosimeire de. Caminhos para a municipalização do atendimento socioeducativo em meio aberto: liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade / Rosimeire de Souza [e] Vilnia Batista de Lira. Rio de Janeiro: IBAM/DES : Brasília: SPDCA/SEDH, 2008.

SPOSATI, Aldaiza. Os desafios da municipalização do atendimento da criança e do adoelscente: o convívio entre a LOAS e o ECA. In Revista Serviço Social & Sociedade, n. 46, São Paulo: Cortez, 1994.

ZAMORA, Maria Helena (Org.) Para além das grades: elementos para a transformação do sistema socioeducativo. Rio de Janeiro: PUC/RJ; São Paulo: Loyola, 2005.

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ZANONI, Daniela Matias; Um Olhar para a Pedagogia da Educação Infantil: As Contribuições Teóricas da Educação de Crianças. Atibaia, 2005.

NASCIMENTO, Cláudia Terra do, BRANCHER Vantoir Roberto, OLIVEIRA Valeska Fortes de. A Construção Social do Conceito de Infância: Interlocuções Históricas e Sociológicas.

COSTA, Antonio Carlos Gomes. De menor a cidadão: Notas para uma história do novo direito da infância e juventude no Brasil. Editora do Senado, 1993.

BARROS, Glaucia/FDDCA: De menor a cidadão: um caminho em construção (Texto do Informativo Prioridade Absoluta da FDDCA-set.2003) - Gláucia Barros.

ARANTES, Esther Maria. De "criança infeliz" a "menor irregular" – vicissitudes na arte de governar a infância In: Jacó Vilela, Ana Maria, Jabur, Fábio e Rodrigues, Hiliana de Barros Conde. Clio – Payché: Histórias da Psicologia no Brasil. Rio de Janeiro: UERJ, NAPE, 1999. Pág. 257.

VOLPI, Mário. Adolescentes privados de liberdade: a normativa nacional e internacional & reflexões acerca da resposnabilidade penal. São Paulo: Cortez, 1997.

Documentos:

SEDS/MG - Diretoria de Gestão da Informação e Pesquisa de 17/11/2011. Parecer

Sobre Projeto de Pesquisa – Pedido 016.2011 (on line via e-mail em 17/11/2011).

ALFENAS – Secretaria Municipal Criança e Adolescente, Igualdade Racial e

Desenvolvimento Social. Projeto: Medidas Socioeducativas em Meio Aberto. Período

de execução: outubro de 2011 a 2012, s.d. (cópia Xerox).

Linha do Tempo: http://www.redeandibrasil.org.br/

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ANEXOS

Anexo 1

DECLARAÇÃO DA COORDENAÇÃO

PROGRAMA MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

UNIBAN

Eu, IRANDI PEREIRA, CPF nº 744.952.598-49, docente e coordenadora do PROGRAMA MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI da Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN) e apresento também na condição de orientadora o mestrando VANDER CHERRI MARCOLINO, CPF nº 788.924.906-30 para o desenvolvimento da pesquisa CARTOGRAFIA DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO NO ESTADO DE MINAS GERAIS: O CASO DE ALFENAS.

Solicito deferência da instituição para que o mestrando possa ter acesso à documentação relativa ao processo de descentralização e municipalização da política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei de responsabilidade da gestão estadual.

A proposta de retorno dos resultados poderá ocorrer em três momentos distintos, a saber:

a) o primeiro, de caráter parcial em reunião com os gestores, técnicos e socioeducadores sobre os dados e informações recolhidos e sistematizados;

b) o segundo debate, após a entrega do relatório final da pesquisa (dissertação de mestrado) em 20/12/2011 data do depósito dos exemplares da pesquisa na Secretaria do Pós-Graduação da Universidade Bandeirante de São Paulo, para a banca de arguição;

c) o terceiro debate após a defesa pública prevista para o mês de fevereiro de 2012 e encaminhamento . de um exemplar impresso e outro em CD-ROM para a equipe gestora responsável pela execução das medidas socieoducativas.

São Paulo, 25 de setembro de 2011

Profa. Dra. Irandi Pereira

Coordenadora Programa Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei

(11) 2972.9021

(11) 2972.9047 – [email protected]

Anexo 2

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DECLARAÇÃO DE ORIENTAÇÂO

Eu, IRANDI PEREIRA, CPF nº 744.952.598-49, docente da Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN) sou orientadora do mestrando VANDER CHERRI MARCOLINO, CPF nº 788.924.906-30 no desenvolvimento da pesquisa CARTOGRAFIA DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO NO ESTADO DE MINAS GERAIS: O CASO DE ALFENAS.

Solicito deferência da instituição para que o mestrando possa ter acesso à documentação relativa ao processo de descentralização e municipalização da política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei de responsabilidade da gestão estadual.

A proposta de retorno dos resultados poderá ocorrer em três momentos distintos, a saber:

a) o primeiro, de caráter parcial em reunião com os gestores, técnicos e socioeducadores sobre os dados e informações recolhidos e sistematizados;

b) o segundo debate, após a entrega do relatório final da pesquisa (dissertação de mestrado) em 20/12/2011 data do depósito dos exemplares da pesquisa na Secretaria do Pós-Graduação da Universidade Bandeirante de São Paulo, para a banca de arguição;

c) o terceiro debate após a defesa pública prevista para o mês de fevereiro de 2012 e encaminhamento . de um exemplar impresso e outro em CD-ROM para a equipe gestora responsável pela execução das medidas Socioeducativas.

São Paulo, 25 de setembro de 2011

Profa. Dra. Irandi Pereira (Orientadora)

(11) 2972.9047 – [email protected]

Anexo 3

Termo de Compromisso de Retorno dos Resultados

Eu, VANDER CHERRI MARCOLINO, CPF nº 788.924.906-30, pesquisador da Instituição Universidade Bandeirante de

São Paulo (UNIBAN) comprometo-me a retornar os resultados obtidos por meio de pesquisa CARTOGRAFIA DA

EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO NO ESTADO DE MINAS GERAIS: O CASO DE

ALFENAS realizada no âmbito da Subsecretaria de Atendimento às Medidas Socioeducativas no período de setembro

a novembro de 2011.

A proposta de retorno dos resultados poderá ocorrer em três momentos distintos, a saber:

a) o primeiro, de caráter parcial em reunião com os gestores, técnicos e socioeducadores sobre os dados e

informações recolhidos e sistematizados;

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b) o segundo debate, após a entrega do relatório final da pesquisa (dissertação de mestrado) em 20/12/2011

data do depósito dos exemplares da pesquisa na Secretaria do Pós-Graduação da Universidade Bandeirante

de São Paulo, para a banca de arguição;

c) o terceiro debate após a defesa pública prevista para o mês de fevereiro de 2012 e encaminhamento . de um

exemplar impresso e outro em CD-ROM para a equipe gestora responsável pela execução das medidas

Socioeducativas.

São Paulo, 25 de setembro de 2011

VANDER CHERRI MARCOLINO

CPF nº 788.924.906-30,

De acordo:

Profa. Dra. Irandi Pereira (Orientadora)

e Coordenadora do Programa Mestrado Profissional (Stricto Sensu) Adolescente em Conflito com a Lei (UNIBAN) –

Reconhecido pela CAPES

(11) 2972.9047 – [email protected]

Anexo 4

FORMULÁRIO PARA SOLICITAÇÃO DE DADOS E/OU AUTORIZAÇÃO

DE PESQUISAS SOBRE O SISTEMA SOCIOEDUCATIVO

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Número da solicitação: Data:

I. Identificação

Nome do pesquisador: VANDER CHERRI MARCOLINO

Endereço:________________________________________________________________________________Bairro:_________________________________Cidade/UF:_________________________________________

Telefone:______________________E-mail:_________________________________________________

CPF:________________________________ Identidade:________________________________

Instituição:___________________________________________________________________________

Vínculo: ( ) Estudante de graduação ( X ) Estudante de pós-graduação

( ) Professor ( ) Pesquisador

Curso:MESTRADO PROFISSIONAL (STRICTO SENSU) ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

Orientador: Profa. Dra. Irandi Pereira

Tel. (11) 2972.9047 e (11) 9903.1991 – email: [email protected]

A instituição de ensino possui Comitê de Ética próprio ? ( ) Não ( X ) Sim

Se não, em qual Comitê de Ética e o projeto de pesquisa foi/será submetido?

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO

Dados de contato: Profa. Dra. Irandi Pereira – Coordenadora do Programa Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei

Av. Braz Leme, 3029 Santana – São Paulo – SP

(11) 2972.9047 – e-mail: [email protected]

II. Dados sobre a pesquisa

Título: CARTOGRAFIA DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO NO ESTADO DE MINAS GERAIS: O CASO DE ALFENAS

Objeto da pesquisa: O projeto de pesquisa tem como objeto mapear a execução das medidas socioeducacativas em meio aberto (Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) e Liberdade Assistida (LA) no Estado de Minas Gerais e, a partir daí, fazer um recorte de estudo mais detalhado sobre a execução no município de Alfenas, localizado na Região Sul do Estado.

Objetivos da pesquisa: O principal objetivo é realizar a cartografia da execução da política socioeducativa em meio aberto (PSC e LA) na dimensão da unidade federada Minas Gerais, Região Sudeste do Brasil no sentido de cumprimento de diretriz constitucional, a municipalização da política de direitos ao adolescente em conflito com a lei e a consecução da forma democrática e participativa da gestão da política pública. O mapeamento consiste em traçar mapas avaliar sobre o “estado da arte” da execução das medidas socioeducativas, em meio aberto, no Estado, na Comarca e no Município de Alfenas. Interessa-nos perceber o modo como a gestão pública sobre a política socioeducativa de PSC e LA vem se desenvolvendo a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e dos parâmetros pedagógicos aprovados no documento Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), em 2006.

Procedimentos de coleta de dados a serem realizados. Especificar. Os dados e informações sobre o processo de municipalização e participação democrática da execução da política socioeducativa em meio aberto serão coletados

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junto às equipes gestoras em nível estadual e municipal (Alfenas/MG), incluindo, as organizações não-governamentais que executam os programas socioeducativos, a partir de documentos, como:

♦ Relatórios Técnicos de acompanhamento, supervisão, monitoramento e avaliação sobre a Política socioeducativa e respectivos programas socioeducativos;

♦ Planos da Política de Direitos da Criança e do Adolescente, de Assistência Social, de Saúde e de Educação (Estadual e Municipal, Alfenas);

♦ Plano da Política Socioeducativa aos Adolescentes em Conflito com a Lei, Relatórios conjuntos das parcerias público-privado (entidades governamentais e não-governamentais);

♦ Resoluções dos Conselhos de Direitos e da Assistência Social sobre a política socioeducativa); ♦ Contribuições teóricas e técnicas sobre a gestão da política socioeducativa produzidas pelas gestões estadual

e municipal (Alfenas); ♦ Subsídios técnicos; ♦ Publicações impressas e on line; ♦ Estatísticas e dados sobre o fluxo diário/mensal/anual dos programas socioeducativos. ♦ Sites também serão visitados pelo pesquisador no sentido de complementar as informações.

Os dados e informações a serem coletados deverão priorizar aspectos, como:

<> processo de municipalização e descentralização e participação popular nos programas socioeducativos;

<> quantidade dos programas socioeducativos e distribuição territorial;

<> financiamento, orçamento, fundos;

<> existência de planos estadual e municipal (Alfenas) sobre os direitos da criança e do adolescente, em especial, no que se refere à política socioeducativa;

<> estabelecimento de parcerias público-privado (entidades governamentais e não-governamentais executoras ou co-executoras das medidas socioeducativas em meio aberto) e tipos ou modelos firmados entre o público e o privado;

<> relação educador social (equipe técnica e socioeducadores) e adolescente em cumprimento de medida;

<> relação dos programas de LA e PSC com as políticas de educação, saúde, assistência social, trabalho, cultura visando a garantia de direitos e inclusão social;

<> relação com o sistema de justiça (Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública) e Centros de Defesa dos Direitos;

<> presença de indicadores de qualidade dos programas;

<> ações de acompanhamento, monitoramento e controle dos programas socioeducativos; relação dos programas socioeducativos com os Conselhos de Direitos, de Assistência Social, Direitos Humanos, Educação, Saúde etc.;

<> plano individual de atendimento dos adolescentes;

<> programas de atenção à família;

<> ações de supervisão técnica e financeira aos programas socioeducativos;

<> perfil dos profissionais (técnicos e socioeducadores) dos programas socioeducativos (LA e PSC);

<> projeto de capacitação permanente dos socioeducadores;

<> “quebra” de medida socioeducativa pelos adolescentes;

<> tempo médio de permanência dos adolescentes nos programas socioeducativos (LA e PSC);

<> acompanhamento de egressos dos programas;

<> dificuldades de execução política socioeducativa em nível estadual e municipal;

<> avanços na execução da política socioeducativa;

<> relação da gestão municipal com a estadual e a nacional.

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Se seu interesse for a solicitação de dados secundários, por favor especifique seu interesse e suas justificativas. Vide os dois itens anteriores que tratam da especificidade dos dados e informações.

Uso de gravador? ( ) Sim ( X ) Não. Como não serão coletados dados e informação por meio de entrevistas não será usado tal recurso. Os dados e informações coletados são os que se encontram sistematizados pelas gestões (estadual e municipal, Alfenas), incluindo os das Organizações Não-Governamentais, parceiras dos programas socioeducativos.

Fundamentação da necessidade de utilizar os instrumentos de coleta de dados secundários especificados:

A pesquisa se fundamenta na política de direitos humanos de crianças e adolescentes com foco na diretriz na diretriz da municipalização da política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei prevista no art. 88 do ECA que não se confunde com propostas de “prefeiturização” ou mesmo a simples “terceirização de serviços públicos”. Tendo em vista o problema da pesquisa – execução das medidas socieoducativas em meio aberto – as hipóteses que a pesquisa busca saber e/ou conhecer e/ou aprofundar passam por verificar como o Estado de Minas Gerais implementa a diretriz constitucional de municipalização no que se refere à política socioeducativa em meio aberto (PSC e LA) e se os planos socioeducativos (estadual e municipal – Alfenas) se relacionam com a concepção, método e gestão preconizados pelo ECA e, em especial, o SINASE e, ainda, se os programas socioeducativos respondem, a partir da cartografia, sobre os direitos dos adolescentes no cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto. A pesquisa documental poderá trazer elementos de análise sobre a configuração da gestão pública democrática e participativa e de impacto para a cidadania dos adolescentes em conflito com a lei.

III. Documentação necessária

1. Declaração do orientador (entregar versão impressa e assinada) 2. Declaração do coordenador do curso (entregar versão impressa e assinada) 3. Projeto de pesquisa com metodologia detalhada (pode ser o mesmo apresentado no curso/programa de pós-

graduação) 4. Parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa (a ser entregue antes do início da pesquisa de campo –

Exceto para pesquisas com o uso de dados secundários) 5. Termo de Compromisso de Retorno dos resultados assinado (entregar versão impressa e assinada) 6. Proposta elaborada do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (proposta com linguagem apropriada e

direcionada aos participantes da pesquisa – Exceto para pesquisas com o uso de dados secundários) IV. Sobre o procedimento de avaliação e adequação

A SUASE estabelece o prazo de 20 (vinte) dias úteis para a devolutiva do projeto, mas o prazo só começa a ser contado a partir da chegada de toda documentação necessária, bem como do projeto completo (incluindo os instrumentos de coleta, quando for o caso). Caso o parecer da SUASE aponte para adequações ou correções necessárias, o(a) pesquisador(a) deve fazer as readequações propostas e reenviá-lo. Após o reenvio é contado um novo prazo de no máximo 15 (quinze) dias úteis. Se a segunda versão do projeto continuar com problemas técnicos e/ou metodológicos, o projeto de pesquisa não será aprovado.

Para a solicitação de dados secundários, a SUASE, após avaliação do pedido, terá o prazo de 15 dias úteis.

V. Garantias legais

Fica a Parte interessada ciente de que nos termos do art. 173 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é "vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional", sendo que qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, iniciais, filiação, parentesco e residência.

Deverá o Interessado, ainda, respeitar a integridade psíquica e moral dos adolescentes cujos relatórios foram disponibilizados, preservando sua imagem, identidade, sua autonomia, seus valores, suas idéias e crenças.

A violação de qualquer direito dos adolescentes ligados ao relatórios, ou mesmo a divulgação de informações referentes aos mesmos em desacordo com a legislação vigente, será comunicada de imediato às autoridades competentes para fins de apuração de infrações contra o Estatuto da Criança e do Adolescente (Art. 247, ECA), salvo divulgações expressamente autorizadas pela autoridade judiciária.

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UNIBAN

CONSELHO DA PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A

LEI

VANDER CHERRI MARCOLINO

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO ABERTO

NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG

São Paulo Dezembro de 2011

VANDER CHERRI MARCOLINO

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PROGRAMA MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO ABERTO

NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG

Dissertação apresentada à Banca Examinadora como exigência parcial dos requisitos do Curso de Pós-Graduação stricto sensu Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei da Universidade Bandeirante para a obtenção do título de Mestre em Adolescente em Conflito com a Lei sob a orientação da Professora Dra. Irandi Pereira.

São Paulo Dezembro de 2011

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VANDER CHERRI MARCOLINO

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVA EM MEIO ABERTO

NO MUNICÍPIO DE ALFENAS/MG

BANCA EXAMINADORA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO PARA OBTENÇÃO DO TÍTULO DE MESTRE

Titulares

Profa. Dra. Irandi Pereira (UNIBAN - Presidente e orientadora)

Profa. Dra. Maria Helena Zamora (PUC/RJ)

Profa. Dra. Maria do Rosario Corrêa de Salles Gomes (UNIBAN)

Suplentes

Profa. Dra. Eliana Silvestre (UEM/PR)

Profa. Ms. Adriana Palheta Cardoso (UNIBAN)

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DEDICATÓRIA

A todos os sujeitos que participaram direta e indiretamente da pesquisa.

À minha família.

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AGRADECIMENTOS

Aos professores do Programa Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei da UNIBAN, em especial, a minha orientadora Profa. Dra. Irandi Pereira.

Às professesoras que participaram do processo de qualificação da pesquisa, Profa. Dra. Maria Helena Zamaora e Ms. Adriana Palheta Cardoso.

Aos colegas de mestrado do Programa Adolescente em Conflito coma Lei da UNIBAN.

Às entidades sociais que realizam os programas socioeducativos em Alfenas.

Aos profissionais e gestores do sistema socioeducativo do Estado de Minas Gerais e do município de Alfenas/MG.

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SIGLÁRIO

Ação Social - Secretaria Municipal da Criança e Adolescente, Igualdade Racial e Desenvolvimento Social

CF – CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL

ECA - ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOELSCENTE

CMDCA – Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente

CMDCA/Alfenas - Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Alfenas

CONANDA – CONSELHO NACIONAL DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOELSCENTE

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

CREAS - Centro de Referência da Assistência Social

CT¨- Conselho Tutelar

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística....

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

ILANUD - Instituto Latino-Americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Adolescente

PSC – PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS Á COMUNIDADE

LA – LIBERDADE ASSISTIDA

MP – Ministério Público

SINASE – SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO

ONG – Organização Ñão-Governamental

PEA – População Economicamente Ativa

PIA – Plano Individual de Atendimento

SEDS - Secretaria de Estado e Defesa Social de Minas Gerais

SGD – Sistema de Garantia de Direitos

STJ – Supremo Tribunal de Justiça

UNIFAL - Universidade Federal de Alfenas

UNIFENAS - Universidade José do Rosário Vellano

VIJ – Vara da Infância e Juventude

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MARCOLINO, Vander Cherri. Política socioeducativa em meio aberto no município de Alfenas/MG. Dissertação (Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei), UNIBAN, São Paulo, 2011. RESUMO

O projeto de pesquisa tem como objeto tratar da execução da política socioeducativa em meio aberto – prestação de serviços à comunidade e de liberdade assistida - no município de Alfenas, localizado na Região Sul do Estado de Minas Gerais. O objetivo central foi o de conhecer como o sistema municipal de atendimento socioeducativo vem sendo implantado no município tendo em vista o princípio da municipalização e a descentralização político-adminsitrativa da política socioeducativa ao adolescente em conflito coma lei e a consecução da forma democrática e participativa da gestão da política pública. A metodologia adotada para a realização da pesquisa foi a abordagem qualitativa complementada pela análise documental e legislativa sobre o tema da pesquisa. No aprofundamento da gestão pública da política socioeducativa em meio aberto ganhou relevo a análise da gestão a partir dos parâmetros pedagógicos e arquitetônicos aprovados no marco regulatório SINASE. O que está em questão nesta proposta de pesquisa é a diretriz da municipalização da política de direitos (socioeducativa) ao adolescente em conflito com a lei prevista no art. 88, ECA que não pode ser confundida com “prefeiturização” ou “prefeitorização” ou mesmo a simples “terceirização de serviços públicos”. Tendo em vista o problema da pesquisa – execução das medidas socieoducativas em meio aberto – as hipóteses que a pesquisa busca saber e/ou conhecer e/ou aprofundar passam por verificar como o Estado de Minas Gerais cumpre com a diretriz constitucional de municipalização da política socioeducativa, se os planos (estadual e municipal – Alfenas) se relacionam com a concepção, método e gestão da política socioeducativa preconizada pelo SINASE e com as demandas apresentadas pelos adolescentes no cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto e se os indicadores de resultados da implementação da política socioeducativa (PSC e LA) no município de Alfenas trazem impacto no desenvolvimento da cidadania dos adolescentes em cumprimento de medidas.

Palavras chave: Adolescente em Conflito com a Lei. Política Socioeducativa. Gestão Municipal. Medidas Socioeducativas.

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MARCOLINO, VANDER Cherri. Política socioeducativa em meio aberto no município de Alfenas/MG. Dissertation (Professional Master Adolescents in Conflict with the Law), UNIBAN, New York, 2011.

ABSTRACT

The research project aims to address the implementation of socio-political in an open environment - providing community service and probation - in Alfenas, located in southern Minas Gerais State. The main objective was to understand how the municipal childcare service has been deployed in the city in view of the principle of municipalization and decentralization of political and administratively socio-political conflict in the adolescent eat law and the pursuit of a democratic and participatory management of public policy. The methodology adopted for the research was complemented by the qualitative analysis of documents and legislation on the subject of research. Deepening socio-political governance in an open environment gained relief from the management review of the educational and architectural parameters approved in the regulatory framework SINAS. What is at issue in this research proposal is the policy of municipalization of political rights (socio-) adolescents in conflict with the law referred to in art. 88, ACE can not be confused with "municipalization" or "prefeitorização" or simply "outsourcing of public services." In view of the research problem - socieoducativas implementation of measures in an open environment - the chances that the research seeks to know and / or meet and / or undergo further see how the state of Minas Gerais complies with the constitutional policy of decentralization of socio-political if the plans (state and municipal - Alfenas) relate to the design, method and management of socio-political signals is recommended by the demands presented by adolescents in the fulfillment of educational measures in an open environment and outcome indicators of the implementation of socio-political (and LA PSC) in Alfenas bring impact on adolescents' development of citizenship in compliance measures.

keywords: Adolescents in conflict with the law. Socio-political. Municipal Management. Educational measures.

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO 12

INTRODUÇÃO 16

PARTE I

Política dos direitos da criança e do adolescente 23

1. Breve trajetória da política de direitos 23

PARTE II

Adolescente, adolescente autor de ato infracional e as medidas socioeducativas

38

1. Adolescente na realidade brasileira 38

2. Adolescente e ato infracional 40

3. Medidas socioeducativas em meio aberto 46

3.1. Prestação de serviços à comunidade 47

3.2. Liberdade assistida 48

PARTE III

Política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei

50

1. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE)

50

2. Gestão da política socioeducativa 52

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2.1. Gestão do Sistema Único de Assistência Social (SUAS)

53

PARTE IV

Política socieoducativa no Estado de Minas Gerais 59

1. Sistema Estadual de Atendimento Scoioeducativo

59

2. Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo de Alfenas/MG

69

REFERÊNCIAS 95

ANEXOS 99

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APRESENTAÇÃO

Ando devagar porque já tive pressa... (Almir Sater)

O interesse pelo tema das medidas socioeducativas surgiu com a minha

participação na Comunidade de Jovens do Bairro Santo Reis, vinculada às atividades

pastorais da igreja católica e depois na Associação de Moradores do mesmo bairro, no

município de Alfenas, Região Sul do Estado de Minas Gerais. A ação era de assistência

aos moradores do bairro tendo em vista a ausência de recursos e investimentos

financeiros e socioculturais para o bairro e, desde criança, pude conviver com a

trajetória de criminalidade de alguns deles.

Após a conclusão do ensino médio em escola pública e atendendo aos

imperativos de minha curiosidade, de então, fiz a opção por cursar ciências jurídicas por

acreditar na possibilidade de melhor interferir nas demandas locais por justiça social.

Durante a graduação (1996-2000), fui adquirindo conhecimento teórico e técnico e, cada

vez mais, fui-me envolvendo com as políticas públicas municipais até que passei a

promovê-las, seja no estágio supervisionado e na atenção às demandas populares.

Nos anos 2002-2003 fui docente na disciplina Poder de Polícia, no curso de

formação da Guarda Municipal, contratado pela Fundação Guimarães Rosa. E, em

2004, o tema das medidas socioeducativas passa a ocupar lugar central na militância

profissional e comunitária e, diante de índices cada vez maiores sobre a participação de

adolescentes alfenense na prática de delitos, participei da fundação da entidade não-

governamental (ONG) Associação Dias Melhores.

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O começo do trabalho social da Associação centrava-se no desenvolvimento de

atividades socioculturais no contra turno escolar de crianças e adolescentes e em 2010,

a ONG assume a execução da medida socioeducativa de Prestação de Serviços à

Comunidade (PSC) no município de Alfenas. Na Associação ocupo o cargo de diretor

executivo e consultoria jurídica.

Em 2008, fui eleito para o cargo de presidente do Conselho Municipal de

Segurança Pública de Alfenas, de natureza comunitária e reeleito em 2010 e, no período

de 2008 a 2010 estive a frente como vice-presidente do Conselho Municipal dos Direitos

da Criança e do Adolescente de Alfenas, representando o Governo Municipal. E, 2009,

fui indicado para o Conselho Municipal de Assistência Social de Alfenas (COMAS) como

representante governamental por ter cargo em confiança na área jurídica, nas

coordenações do órgão de Proteção e Defesa do Consumidor (PROCON) e no

Departamento Municipal de Assistência Judiciária, desde 2005.

Ainda no período de 2004 a 2011 mantive no Jornal dos Lagos, jornal de

destaque local com duas edições semanais, coluna relativa aos acontecimentos ligados

á violência e criminalidade e orientações para a comunidade na articulação da rede

social sobre os direitos de cidadania.

O que vem complementando minha formação nesse período além da formação

profissional e acadêmica, é a participação em diversos eventos que tratam da temática

direitos sociais e cidadania e, muitos deles, na qualidade de organizador e palestrante.

Por se tratar de uma cidade interiorana e com escassos recursos fui me tornando

referência para tais temas e, em especial, sobre direitos de crianças e adolescentes e,

assim, a rede de TV local, TV Alfenas, tem-me feito convites para participar de debates

ao vivo.

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No ano de 2010 frente a experiências realizadas em alguns municípios pelo

sistema de justiça no que se refere a ação institucional “toque de recolher” de

adolescentes e jovens, houve a necessidade de se realizar no município de Alfenas

audiência pública para debate desta ação, uma vez que, alguns órgãos tinham interesse

em adotar tal medida. Na ocasião, autoridades municipais, jurídicas e cidadãos civis,

debateram sobre a possível implantação ou não dessa medida e também sobre os

rumos das políticas públicas sobre o uso de tráfico de drogas. Na ocasião foi colocada a

impossibilidade de adotar tal medida e, em seu lugar, foi criado o Comissariado da

Infância e Juventude, através de Portaria do Poder Judiciário, cujos integrantes (três

pessoas), cujas ações são custeadas pelo Fundo da Infância e Adolescência.

Todo esse envolvimento com as causas do direito, da justiça e da comunidade

local me fez perceber que era tempo de retornar aos bancos escolares para a

necessária reflexão sobre as práticas até então desenvolvidas.

Foi então que participei do processo seletivo do Curso Mestrado Profissional

Adolescente em Conflito com a Lei da Universidade Bandeirante de São Paulo/UNIBAN

(MP ACL) por considerar que o referido curso vinculado à área Interdisciplinar em

Direitos Humanos alia rigor acadêmico na formação e pesquisa e atenção devida às

atuais exigências profissionais na qualificação dos educadores sociais para lidar com

situações sociais críticas e muito sensíveis como é o caso do adolescente em conflito

com a lei.

A pesquisa – política socioeducativa em meio aberto no município de Alfenas/MG

– que ora apresento vincula-se à Linha 3 de Pesquisa Gestão da Política de Direitos ao

Adolescente em Conflito com a Lei que congrega estudos e pesquisas sobre a gestão

da política de direitos.

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INTRODUÇÃO

Construir um objeto de estudo é um problema fundamentalmente teórico (...) Nossa valorização do trabalho teórico surge, sem dúvida, das necessidades das prática e corresponde a uma intencionalidade política (...) (Rockwell e Ezpeleta, 2001).

A pesquisa - política socioeducativa em meio aberto no município de Alfenas/MG

- tem como objeto compreender como poder público lida com a implementação do

Estatuto da Criança e do Adolescente1 no que se refere à execução das medidas

socioeducativas em meio aberto – Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) e

Liberdade Assistida (LA) – ao adolescente em conflito com a lei.

Cabe ressaltar que em 2006, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do

Adolescente (CONANDA) aprovou os parâmetros pedagógicos e arquitetônicos

constante do documento Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE)2

e, para tanto, interessa-nos perceber como a gestão pública municipal da política

socioeducativa em meio aberto (PSC e LA) se desenvolve no município de Alfenas, no

tocante: as formas de cumprimento; a existência ou não de plano municipal

socioeducativo; o processo de parcerias com os órgãos da administração pública nos

níveis nacional e estadual; a participação da sociedade civil na implementação da

política socioeducativa por meio dos programas de PSC e LA; a supervisão do público

sobre o privado no tocante à atuação das organizações da sociedade civil (organização

não-governamentais – ONG); as formas de financiamento e modo de repasse e

prestação de contas; os impactos da ação, ou seja, resultados positivos e mesmo

negativos dos programas em torno do cumprimento da medida socioeducativa, em 1 Lei Federal nº 8.069 de 13 de julho de 1990.

2 PL nº ..........

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especial, sobre a reincidência ou não; aumento da escolaridade; a formação profissional

e oportunidades de trabalho para os adolescentes; perfil dos socioeducadores,

incluindo, as equipes técnicas; as propostas de capacitação continuada dos

socioeducadores e gestores; a relação dos programas socioeducativos com os demais

programas públicos de inclusão e desenvolvimento da cidadania dos adolescentes; a

relação com o sistema de justiça e a interação com as famílias e rede sócio-comunitária.

A hipótese da pesquisa é perceber se a diretriz da municipalização da política de

direitos prevista no art. 88 do ECA3 vem-se materializando no que se refere à política

socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei. A diretriz municipalização não pode

ser confundida com “prefeiturização” ou “prefeitorização” ou mesmo a simples

“terceirização de serviços públicos” (BRANT, 1992???).

O conceito de municipalização para o Instituto Latino-Americano das Nações

Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do Adolescente (ILANUD) tomado para

a análise e avaliação da política de proteção social é o seguinte:

A municipalização, enquanto princípio norteador da organização das políticas de

atenção ao adolescente exige que todas as ações, sem distinção, sejam elas de

cunho social básico, de proteção especial ou mesmo de natureza

socioeducativa, estejam articuladas no âmbito municipal. Esta articulação

pressupõe a existência de uma rede de serviços, em que a responsabilidade é

3 “Art. 88. São diretrizes da política de atendimento:

I – municipalização do atendimento;

(...)

III – criação e manutenção de programas específicos, observada a descentralização político-adminitrativa;

(...)

VII – mobilização da opinião pública para a indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade” (ECA, 1990).

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compartilhada pelos diferentes entes políticos. Há uma definição inicial de

competências exclusivas, seguida de um rol de competências concorrentes

(ILANUD, 2004).

Nesse sentido, a pesquisa busca verificar como a diretriz constitucional da

municipalização da política pública, no caso da socioeducativa, vem sendo

implementada no município de Alfenas/MG e a relação ou não com os parâmetros

pedagógicos e arquitetônicos estabelecidos pelo SINASE, no que se refere aos

programas socioeducativos em meio aberto (PSC e LA). E se os resultados da

implementação dessa política tem contribuído para a afirmação dos direitos de

cidadania de adolescentes em cumprimento de medidas de PSC e PLA.

Cabe dizer que, inicialmente, a pesquisa tinha por objetivo realizar a cartografia

da execução da política socioeducativa em meio aberto (PSC e LA) na dimensão da

unidade federada Minas Gerais, Região Sudeste do Brasil no sentido de cumprimento

de diretriz constitucional municipalização da política de direitos ao adolescente em

conflito com a lei e a consecução da forma democrática e participativa da gestão da

política pública. E, para tanto, seria realizada leitura de cenário sobre a execução das

medidas socioeducativas e sua consolidação enquanto Sistema de Garantias dos

Direitos da Criança e do Adolescente de acordo com o que preconiza o ECA e, com

recorte, na cartografia dessa política na Comarca de Alfenas. Contudo, isso não foi

possível pelo incipiente processo de municipalização da política socioeducativa em meio

aberto no Estado, conforme pode ser percebido no documento em anexo (Anexo 1).

Como a pesquisa teve sua centralidade apenas na Comarca de Alfenas, os

objetivos tiveram que ser redefinidos para:

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<> conhecer as estratégias de implementação da política socioeducativa em meio

aberto (PSC e LA) no Município de Alfenas/MG tendo em vista a diretriz constitucional

da municipalização da política de direitos;

<> verificar se na gestão da política socioeducativa os princípios da democracia

participativa e mobilização social estão presentes bem como os parâmetros

pedagógicos e arquitetônicos elencados no SINASE;

<> observar a presença de indicadores de resultados dessa política na afirmação dos

direitos de cidadania de adolescentes em cumprimento das medidas de PSC e LA

(qualidade da execução dos programas socioeducativos).

A política de direitos ao adolescente em conflito com a lei, denominada na

pesquisa, como política socioeducativa, tem como referência o princípio da doutrina da

proteção integral e “consequentemente na sua dimensão socioeducativa, através do

Sistema de Garantia de Direitos, pressupõe a integralidade das ações para a

consecução dos direitos fundamentais [do universo] de crianças e adolescentes

enquanto prioridade absoluta” (SILVESTRE, 2010, p. 100).

Nesse sentido, a pesquisa teve caráter qualitativo e exploratório, pois buscou

conhecer, verificar, observar e compreender o processo de implementação da

municipalização dos programas socioeducativos em meio aberto (medidas de PSC e

LA) aplicadas a adolescentes que, após o devido processo legal, foram considerados

autores de atos infracionais (MINAYO, 2007). A opção por essa metodologia e seus

respectivos procedimentos, apesar da incipiente sistematização do processo de

implementação da política socioeducativa no município, permitiu perceber que a

execução dos referidos programas se encontra na responsabilidade da sociedade civil,

realizada por duas organizações não-governamentais, sendo que a ONG que realiza a

LA, mantém convênio com a Prefeitura Municipal e a outra que acolhe os adolescentes

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em PSC, encaminhados pelo Poder Judiciário, não possui convênio firmado para essa

finalidade.

Os dados e informações buscados para a realização da pesquisa tiveram

como fonte os documentos de diferentes órgãos públicos e âmbito (federal, estadual,

municipal) e das novas institucionalidades – Conselhos de Direitos da Criança e do

Adolescente – e de organismos multilaterais e das organizações não-governamentais.

Tendo em vista a incipiente sistematização das práticas foi necessário realizar visitas

técnicas em diversos órgãos públicos e privados, também nas três esferas da

administração. Cabe ainda ressaltar que o pesquisador por atuar também em diferentes

frentes das políticas públicas (em especial os Conselhos) a observação, a

experimentação e a memória, serviram como fontes de registro sobre o objeto de

estudo.

No desenvolvimento da pesquisa foram privilegiadas as contribuições (conceitos

e dados) sobre o tema da política socioeducativa relacionada à produção acadêmica

(teses e dissertação) Pereira (2006), Silvestre (2010), Nozabielli (2003), à literatura de

Sposati (1994), Carvalho (1999) Liberati (2003), Arantes (1999), Zamora (2005), Volpi

(1997) e produção técnica de Souza (2008), Pereira (2004), Pereira e Mestriner (1999),

Costa (1993). Tais referências se relacionam à questão dos direitos humanos de

crianças e adolescentes e advindas de diferentes áreas do conhecimento, tendo em

vista, o olhar interdisciplinar e intersetorial e interinstitucional sobre o objeto de estudo.

Na articulação entre saberes e práticas pontua Arantes (1999):

Uma articulação entre estes diversos agentes que efetivamente beneficiasse a criança e sua família nunca foi possível. No entanto, mesmo atualmente, com o reordenamento jurídico operado pelo Estatuto da Criança e do Adolescente - Lei que regulamenta o artigo 227 da Constituição Federal -, não se conseguem mudanças efetivas

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em direção a um entendimento e a uma prática diferentes. (...) O que parece estar sendo esquecido nestes debates, e que foi a própria motivação da luta em torno do artigo 227 da Constituição de 1988, é que a questão da criança no Brasil não é uma questão médica ou policial. É neste sentido que as proposições do Estatuto trazem à cena, em primeiro lugar e antes de quaisquer outras considerações, a questão da cidadania para todas as crianças e jovens. Não se pode pensar em modelos de atendimento, em medidas de proteção e em medidas sócio-educativas que não tenham a guiá-las este imperativo (p. 257).

A presente dissertação está organizada a partir desta Introdução do seguinte

modo: Parte I – trata de, modo breve, da trajetória da política de direitos à criança e ao

adolescente no Brasil, destacando as três legislações especiais e, principalmente, no

que se refere à questão do ato infracional e medidas judiciais; Parte II – apresenta as

conceituações de adolescente, adolescente autor de ato infracional e as medidas

socioeducativas a serem aplicadas pelo sistema de justiça; Parte III – descreve sobre a

gestão da política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei a partir dos

marcos regulatórios como o sistema nacional de atendimento socioeducativo; Parte IV –

trata da pesquisa de campo objeto de estudo da pesquisa e, ainda as Referências e

Anexos.

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PARTE I

POLÍTICA DOS DIREITOS DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

1. Breve trajetória histórica

No campo da infância e adolescência brasileiras três foram as leis que trataram

em tese dos direitos infanto-juvenis e das obrigações do Estado, da sociedade e da

família com a questão.

Tais legislações, específicas ou não, tem como antecedentes eventos e tratados

internacionais como, por exemplo, na década de vinte, da União Internacional “Save the

Children” que redigiu e aprovou o documento conhecido como Declaração de

Genebra:Princípios básicos de proteção à criança (1923); a Declaração de Genebra - 5ª

Assembléia da Sociedade das Nações: conduta em relação às crianças pautado na

Convenção de Genebra (1924) e no Brasil a Lei 4.242 do Código Civil, determinando

que se considere abandonado o “menor” sem habitação certa ou meio de subsistência,

órfão ou com responsável julgado incapaz de sua guarda (1921); a inauguração do

primeiro estabelecimento público para “menores”, no Rio de Janeiro, Capítal da

República (1922); a Lei Orçamentária autoriza Serviços de Assistência à Infância (1923);

a criação do do Tribunal de Menores, estrutura jurídica que serviu de base para o

primeiro Código de Menores (1923) e a Promulgação do Código de Menores (1927),

primeiro documento legal para a população menor de 18 anos de idade, conhecido

como Código Mello Mattos.

Na década de trinta, com a vigência do Estado Novo, foi criado o Ministério da

Educação e Saúde Pública, um dos primeiros atos do governo provisório de Getúlio

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Vargas e a criação do Ministério da Justiça e dos Negócios Interiores.(1930); a

Constituição Federal instituiu normas para a assistência social e pública, cabendo aos

municípios o estímulo à educação, amparo à maternidade e à infância (1934) e há ainda

a restrição constitucional sobre as competências da carta magna anterior, concentrando

na União papel de legislar sobre as normas de defesa e proteção da saúde,

principalmente, crianças (1937).

Nos anos quarenta três foram os eventos marcantes da época, a Consolidação

das Leis Trabalhistas (1943) e na Lei de Diretrizes e bases da Educação que trata da

obrigatoriedade do Ensino Fundamental (1996). Em 1940, cria-se o Departamento

Nacional da Criança, Ministério da Educação e Saúde Pública em que se centra mais a

preocupação com a saúde e menos com a educação; funda-se a Legião Brasileira de

Assistência (LBA) com a inauguração da presença do primeiro damismo na política

estatal (Darcy Vargas) cujo enfoque principal está no trabalho e nas atividades de

geração de Renda, como por exemplo a isntituição do programa Casa do Pequeno

Jornaleiro (1941); a criação do Serviço de Assistência ao Menor (SAM), órgão do

Ministério da Justiça, um equivalente ao sistema penitenciário, para a população menor

de 18 anos de idade, cuja lógica de trabalho era a reclusão e a repressão das crianças e

adolescentes abandonados, órfãos, delinquentes (1942) e também surge várias

organizações da sociedade civil de cunho assistencialista e filantrópicos, como os

patronatos, internatos e programas de profissionalização para os menores carentes; a

criação do sistema “S” (SESI, SESC, SENAI, SENAC) ligado ao empresariado com o

objetivo prestar serviços sociais a seus empregados e familiares (1944?).

Ainda nos anos quarenta, em especial a partir de 1945 a 1964, o país passa por

momentos políticos que buscam pelo fim da ditatura e pela redemocratização. Na área

da infãncia e adoelscência, vários eventos marcram esse período como, por exemplo:

retorno da obrigatoriedade da assistência à maternidade e à infância e, pela primeira

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vez a educação passa a ser dever do estado e direito de todos e a instituição do ensino

gratuito obrigatório e a organização do sistema educacional (1946); e a Declaração

Universal dos Direitos Humanos, instrumento regulatório de abrangência internacional

que pretendia evitar o surgimento de outra guerra das dimensões da II Guerra Mundial

(1948). E, na déccada cinquenta, instala-se o Fundo das Nações Unidas para a Infãncia

(Unicef) no Brasi: instalado em João Pessoa (PB) (1950), trazendo para o país

programas de proteção à saúde da criança e da gestante nos estados do nordeste

brasileiro e, em 1959, a promulgação da Declaração Universal dos Direitos da Criança,

aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas que aumentou o elenco dos

direitos aplicáveis à população infantil.

Nos anos sessenta, houve a ampliação do número de organizações da sociedade

civil, especialmente no âmbito sindical de trabalhadores. Começa a haver a

reivindicação de políticas sociais redistributivas, embora ainda não haja registro histórico

de movimento organizado pela infância e pela adolescência. A Constituição em vigor,

extremamente conservadora, trata da política social subordinada e atrelada aos

objetivos estratégicos do regime militar, diante da proposta de crescimento econômico e

acirrado ao controle social. Na verdade, a política social é tida como meio e não como

fim e os programas são marcados por paralelismos, centralismo burocrático do governo

federal, controle social dos pobres (objetos passivos da assistência do Estado). Na

análise verifica-se a incoerência entre prioridades do Estado e as demandas sociais. No

período 1964 a 1985, instaura-se o regime ditatorial militar e, já no mesmo ano institui-

se a Lei nº 4.513/ 64 sobre a Política Nacional do Bem Estar do Menor e a criação da

Fundação Nacional do Bem Estar do Menor (FUNABEM) e as congêneres nos estados

da federação, Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (FEBEM) como substitutas do

SAM. Um dos objetivos da FUNABEM e FEBEM era formular e implantar a PNBEM sob

o marco da doutrina da situação irregular em que a criança e o adolescente tinha

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tratamento discricionário. A instituição desse sistema (nacional e estadual) marcava a

transição entre a concepção correlacional-repressiva para a assistencialista tendo como

concepção de atendimento integrar o menor à comunidade através da assistência à

família e da colocação em lares substitutos. Em 1967, houve nova carta constitucional

centralizadora; política social subordinada e atrelada aos objetivos estratégicos militares

como o crescimento econômico x controle social.

Na década de 70, em especial a partir da metade da década, os movimentos

sociais buscam por liberdades democráticas e o fim da ditadura militar acriou as bases

para profundas mudanças no país inspiradas na Declaração Universal dos Direitos da

Criança:

♦ surgem os projetos de atendimento a meninos e meninas de rua; a

crianças passam a ser vistas como um feixe de possibilidades abertas

para o futuro e começam a surgir experiências inovadoras em várias

áreas;

♦ em 1976 - É instaurada a CPI do menor:

♦ 1978 - Proposta de Convenção Internacional dos Direitos da Criança –

Declaração;

♦ 1978 – Surge o Movimento de Defesa do Menor - São Paulo;

♦ 1979 - Lei 6.697/79 - reformulação do Código de Menores, ou seja, o

Segundo Código de Menores incorpora uma nova concepção

assistencialista à população infanto-juvenil considerados dentro da

situação irregular. Lei policialesca de controle social.

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♦ Início do processo de abertura democrática e de reorganização dos

setores populares e a política convive com três tendências: a

repressiva, a assistencialista e a educativa. (meados anos 70);

♦ Modernização conservadora da vida brasileira; Menor marginalizado –

carente bio-psico-sócio-cultural onde o atendimento era realizado

dentro de um modelo institucionalizante assistencial sobre a doutrina

da segurança nacional.

Na década de 1980 há abertura Política e nova Redemocratização, surgindo um

movimento social composto por diferentes organizações da sociedade civil

independentes do Estado (Associações de bairro, movimentos contra a carestia, CEBs):

♦ 1982, Enfoque crítico estrutural volta-se para a superação do ciclo

perverso da institucionalização;

♦ 1985, Criação do Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua:

pela primeira vez, fala-se em protagonismo juvenil e se reconhece

crianças e adolescentes como sujeitos participativos;

♦ 1985 - Regras mínimas das Nações Unidas para administração da

Justiça da Infância e da Juventude - Regras de Beijing (Resolução

40/33 - ONU - 29 de novembro de 1985);

♦ 1986 - Criação da Frente Nacional Permanente de Entidades Não-

Governamentais de Defesa dos Direitos das Crianças e dos

Adolescentes (Fórum Nacional DCA): articulação entre várias

entidades de expressão na área da infância e adolescência. Nesse

mesmo ano, é criada a Comissão Nacional Criança Constituinte; 1988

- Apresentação de duas emendas de iniciativa popular ao processo

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nacional constituinte: “Criança e Constituinte” e “Criança: Prioridade

Nacional” - mais de 200 mil assinaturas; 1988 - Diretrizes das Nações

Unidas para prevenção da Delinqüência Juvenil - diretrizes de Riad

(ONU - 1º de março de 1988 - Riad);

♦ 1988 - Constituição Federal do Brasil: considerada a “Constituição

Cidadã”, inova ao introduzir um novo modelo de gestão das políticas

sociais, com a criação dos conselhos deliberativos e consultivos.

Durante sua elaboração, um grupo de trabalho se reuniu para

concretizar os direitos da criança e do adolescente. O resultado foi o

artigo 227, base para a elaboração do Estatuto da Criança e do

Adolescente;

♦ 1989 – Convenção Internacional dos Direitos da Criança: um dos mais

importantes tratados de direitos humanos, ratificado por todos os

países membros da ONU com exceção dos Estados Unidos e da

Somália. O Brasil torna-se signatário da Convenção sobre os Direitos

da Criança, da ONU; Aprovação dos artigos 204 (princípio da

descentralização político - administrativa e da participação) e 227 CF,

apresentado em 05/10/88 (criança e adolescente conquistam a

condição de sujeitos de direitos, com prioridade absoluta e dever dos

adultos), com 435 votos a favor e 8 contra. Foi o início para a

alteração do panorama legal da infância e adolescência no Brasil; 1989

- 30 anos Declaração, aprovação da Convenção - 20/11/89

Na década de noventa, busca-se a consolidando da Democracia e organização e

mobilização de três forças para elaboração da regulamentação do Artigo 227 da CF:

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Fórum DCA ( entidades não - governamentais); Mundo Jurídico; e o FONACRIAD

(Fórum de dirigentes e técnicos de órgãos públicos estaduais.

<> 1990 – Promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente - aprovado pelo

Congresso Nacional e sancionado pelo Presidente da República: é considerado um

documento exemplar de direitos humanos, concebido a partir do debate de idéias e da

participação de vários segmentos sociais envolvidos com a causa da infância no Brasil;

<> 1990 – Lei Orgânica da Saúde;

<> 1991 - Criação de Fóruns específicos da Criança e do Adolescente; de

Erradicação do Trabalho Infantil; de Enfrentamento da Violência Sexual contra crianças

e adolescentes (a partir de 1991) implantação e implementação dos Conselhos dos

Direitos da Criança e do Adolescente; Conselhos Tutelares; Conselhos da Assistência

Social;

<> 1993 – Sanção da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS): define que, no

Brasil, a assistência social é direito do cidadão e dever do Estado; 1996 – Sanção da Lei

de Diretrizes e Bases da Educação (LDB): define e regulariza o sistema de educação

brasileiro com base nos princípios presentes na Constituição.

<> 2000 – Aprovação do Plano Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual

contra Crianças e Adolescentes: marca a consolidação da luta contra a violência sexual

infanto-adolescente;

<> 2003 – Aprovação do Plano Nacional de Prevenção e Erradicação do

Trabalho Infantil e Proteção ao Trabalhador Adolescente;

<> 2006 – Aprovação do Plano Nacional de Promoção, Proteção e Defesa do

Direito de Crianças e Adolescentes à Convivência Familiar e Comunitária e do Sistema

Nacional Socioeducativo (Sinase): os dois documentos buscam solução para direitos

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garantidos pelo Estatuto, mas que ainda encontram dificuldades para sua efetivação.

Para o Plano Nacional de Convivência Familiar e Comunitária, pela primeira vez, dois

conselhos se reuniram para traçar as diretrizes e metas – o Conselho Nacional dos

Direitos da Criança e do Adolescente e o Conselho Nacional da Assistência Social;

Após 20 anos de vigência da Lei Federal 8.069/90, Estatuto da Criança e do

Adolescente, pode-se constatar que houve avanços na garantia dos direitos da

população infanto-juvenil, em especial, da concepção e trato à condição de sujeito de

direitos enquanto pessoas em desenvolvimento; No entanto, inicialmente não se tinha

em mente uma melhoria na qualidade de vida da criança ou adolescente, e sim, corrigir

aquilo que caracterizava uma anomalia social conforme destaca Arantes (1999):

(...) neste sentido, a pretendida racionalização da assistência, longe de concorrer para a mudança nas condições concretas de vida da criança, constituiu-se muito mais em uma estratégia de criminalização e medicalização da pobreza. Com o passar dos anos, esse grupo passou a ter tem espaço na agenda da política pública nacional e mesmo internacional, tendo em vista a obrigatoriedade dos Estados Partes da Organização das Nações Unidas (ONU) em cumprir com os tratados internacionais, adequando legislação e alterando políticas e práticas direcionadas a esse grupo.

Ainda de acordo com Arantes (1999)

(...) para que o menor irregular emergisse no Brasil como categoria distinta do exposto, do desvalido, da criança infeliz, foram necessárias a extinção da Roda dos expostos, a elaboração e a criação de um Código e de um Juizado de Menores, a aceitação de princípios da medicina higienista e eugenista por parte de outros profissionais que atuavam no setor, a criação de uma Delegacia de Menores e, finalmente, a criação de instâncias, a nível federal e estadual, responsáveis pela formulação e implementação de políticas para o setor, como a FUNABEM (p 257).

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Novas institucionalidades – Conselhos - vem sendo criadas por força do direito

constitucional brasileiro que, a partir de 1988, com a Constituição da República

Federativa do Brasil, primar pela idéia de um Estado Democrático de Direito que impõe

mudanças na relação Estado e Sociedade Civil ou mesmo em termos do que se

configura público e privado no debate e garantia dos direitos de crianças e adolescentes

e, em particular, à parcela denominada adolescente em conflito com a lei. A partir da

criação dos Conselhos, princípios, diretrizes, planos, orientações são definidas em suas

especificidades.

Em 2010 houve um avanço significativo, ainda mais com a elaboração do Plano

Nacional Decenal dos Direitos da Criança e do Adolescente (PNDCA), aprovado na

Sessão Ordinária do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente

(CONANDA) em abril de 2011. O PNDCA aprovou diretrizes para os dez anos da

política de direitos e, com isso, na 9ª Conferência do CONANDA que se iniciam em

agosto deste ano, os entes federados – estados, distrito federal e municípios – possam

debater e priorizar ações, metas e indicadores para os próximos dez anos da política de

direitos.

No entanto mesmo decorridos quase 20 anos da aprovação do ECA, ainda são

incontáveis as dificuldades para fazer valer o funcionamento do sistema de garantia de

direitos da criança e do adolescente. Apesar dos avanços e perspectivas que se

avizinha, um aspecto continua sendo o “calcanhar de Aquiles” do Estatuto, como diz o

saudoso (citação) Professor Antônio Carlos Gomes da Costa, o atendimento de

qualidade ao adolescente autor de ato infracional, segundo os parâmetros do

documento aprovado pelo CONANDA em 2066, Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (SINASE): mesmo existindo sinais de avanço com a possibilidade

concreta de reordenamento jurídico-institucional, a política pública de atenção a esse

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grupo ainda está distante do que preconiza o arcabouço legal vigente, nacional e

internacional.

O Código de Menores vigorou por muitos anos no processo de atendimento a

criança e ao adolescente considerada como delinqüente, mediante aos patamares

sociais. Na época foram executadas algumas ações que tinham como objetivo “resolver”

esse problema.

Segundo Liberati (2003, p. 31) no ano de 1941 foi criado o SAM – Serviço de

Assistência a Menores, pelo Decreto-lei nº 3.799/41, que tinha o objetivo de “corrigir” os

menores desvalidos e infratores, executando uma política corretivo- repressivo-

assistencial (casas de correção e reformatórios) mas, por falta de autonomia, estrutura

administrativa, financeira e a aplicação de métodos inadequados e repressivos no

atendimento às crianças e adolescentes, o SAM fracassou.

Com o fracasso do SAM, foi desenvolvido outro programa de atendimento a

criança e ao adolescente sendo este a FUNABEM (Fundação Nacional do Bem – Estar

do Menor).

Segundo Liberati (2003, p. 32) a criação da FUNABEM, por meio da Lei. Nº.

4.513, de 1º de dezembro de 1964, veio substituir o SAM e foi à solução encontrada,

para responder aos apelos da sociedade frente ao problema da delinquência infanto-

juvenil da época. Neste período o governo militar de 1964, decidiu enfrentar essa

questão como um problema social. A FUNABEM tinha como objetivo a centralização dos

programas e iniciativas a favor da criança e do adolescente, enfatizando que o problema

era de responsabilidade do Estado. Logo depois foi criada a Fundação Estadual do Bem

Estar do Menor (FEBEM) com sistema de internação aos adolescentes considerados

desajustados aos padrões da sociedade.

A internação que seria para ajustar o indivíduo à sociedade acabava remetendo

em revoltas, maus tratos, abandono, a opressão era reflexo de adolescentes sem

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expectativa de vida, se inserindo cada vez mais no mundo da criminalidade, sem futuro

e sem esperança.

Após o Código de Menores de 1927 foi instaurado o Código de Menores de 1979,

que Segundo Lorenzi (2007, s. p.) não rompeu com a repressão junto à população

infanto-juvenil. Esta lei também introduziu o conceito de "menor em situação irregular",

que reunia o conjunto de crianças e adolescentes que estavam em situação vulnerável.

Mesmo com um novo código de menores as crianças e adolescentes desprovidos de

direitos básicos como proteção e cuidados ainda eram considerados desajustados aos

padrões da sociedade.

Com tal Código se dá o estabelecimento e um novo termo: “menor em situação

irregular”, que dizia respeito ao menor de 18 anos de idade que se encontrava

abandonado materialmente, vítima de maus-tratos, em perigo moral, desassistido

juridicamente, com desvio de conduta e ainda autor de infração penal (VERONESE,

1999, p.35).

Segundo Liberati (2003, p. 34) tanto o Código de Menores de 1927, quanto o

Código de 1979 trazem em seu texto formas punitivas para criança e adolescente. As

medidas de proteção estavam disfarçadas de penas e não havia nenhuma medida de

apoio para a família dessas crianças e adolescentes que se encontravam em situação

de vulnerabilidade. A trajetória da política de atendimento à criança e ao adolescente

em conflito com a lei, antes do ECA era uma política totalmente seletiva e estagnada. A

situação irregular citada nas legislações é de responsabilidade do Estado, pois o mesmo

nessa época, sempre executou uma política repressiva e não uma política de direitos e

de proteção à criança e ao adolescente.

Apesar das dificuldades no reconhecimento dos direitos de crianças e

adolescentes no Brasil, a Constituição Federal de 1988 traz em seu texto, que é dever

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da família, da sociedade e do Estado garantir os direitos da criança e do adolescente, é

o que dispõe o Artigo nº 227:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.

A Constituição Federal, de 1988 em seu artigo nº 227 pretende garantir, além dos

direitos a educação, saúde, cultura, moradia, lazer e segurança, também enfatiza sobre

o direito a igualdade na relação processual e defesa técnica do adolescente em conflito

com a lei, obedecendo sempre aos princípios de pessoa em condição peculiar de

desenvolvimento.

Segundo Riggio e Castro (s.d. p. 116) em 13 de Julho, de 1990 foi decretada a

Lei Federal nº 8.069 (Estatuto da Criança e do Adolescente) sendo esta conquista fruto

da mobilização social, devido à repressão, abandono e falta de proteção social para com

as crianças e adolescentes no Brasil. O Código de Menores foi substituído pelo ECA,

alterando assim, a lei de situação irregular para uma política de proteção integral.

O advento do Estatuto da Criança e do Adolescente representa um marco divisório extraordinário no trato da questão da infância e da juventude no Brasil. Na esteira do texto Constitucional (art.227 da Constituição Federal de 1988, que se antecipou à Convenção das Nações Unidas, introduzindo no Brasil a Doutrina de Proteção Integral), o ECA trouxe uma completa transformação ao tratamento legal da matéria em todos os aspectos. Adotou-se a Doutrina de Proteção Integral em detrimento dos vetustos primatas da arcaica Doutrina da Situação Irregular, que presidia o antigo sistema. Operou-se uma mudança de referências e paradigmas na ação da Política Nacional, com reflexos diretos em todas as áreas, especialmente no plano do trato da questão infracional. (SARAIVA, 1999, p.15)

O ECA é uma conquista na garantia de direitos, deveres e igualdade, sendo uma

legislação que não é mais seletiva, enfatizando a responsabilidade da família, do Estado

e da sociedade na proteção integral à criança e ao adolescente.

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O Sistema de Proteção Social a Criança e ao Adolescente em Conflito com a Lei

Segundo Santos (2008, p.11) o ECA traz um sistema de proteção social ao adolescente

autor de ato infracional, sendo o mesmo sujeito de direitos. Segundo Liberati (2003, p.

35) o Estatuto da Criança e do Adolescente utiliza-se de todas as disposições do direito

material e processual para garantir, assim os direitos infato-juvenis. Está divido em dois

livros, o livro I trata a parte geral enfocando os direitos fundamentais e o livro II fala

sobre a política de atendimento a criança e ao adolescente. A política de atendimento do

ECA em seu artigo nº 103 dispõe sobre a prática de ato infracional:

Art. nº 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal. Art. nº 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. [...] Art. nº 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. [...] Art. nº 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal.

O ECA considera o adolescente autor de ato infracional como categoria jurídica,

rompendo com categoria sociológica contida no Código de Menores, de 1979, passa de

delinquente a sujeito dos direitos estabelecidos na Doutrina de Proteção Integral.

A garantia dos direitos da infância e da juventude, no Brasil, está solidamente fundamentada na Constituição Federal, que a define como prioridade absoluta em seu artigo 227, na Lei nº 8069/90 do Estatuto da Criança e do Adolescente e nos documentos internacionais, ratificados pelo Congresso Nacional, com especial destaque para a Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos da Criança. (VOLPI, p.13, 1997).

Seguindo a proposta do Estatuto da criança e adolescente, após a sua

promulgação foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e adolescente

(CONANDA), por meio da Lei Federal n. 8.242, de 12 de outubro de 1991, com o

objetivo de deliberar sobre a política de atenção à infância e à adolescência. Este

Conselho integra o conjunto de atribuições da Presidência da República, sendo pautado

no principio da democracia participativa e tendo como papel a normatização e a

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articulação no sentido de ampliar os debates para envolver efetiva e diretamente todos

os setores do Sistema de Garantia de Direitos (SGD).

O Estatuto da Criança e Adolescente traz medidas de proteção e medidas

socioeducativas para aqueles que cometerem ato infracional. Segundo Saraiva (1999, p.

29) a criança infratora fica sujeita a medida de proteção, junto à família ou comunidade,

sem que ocorra privação de liberdade. Já por sua vez, o adolescente infrator é

submetido ao cumprimento de medidas socioeducativas, que podem implicar em

privação de liberdade, nesse caso é assegurado ao adolescente às garantias do devido

processo legal.

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PARTE II

ADOLESCENTE, ATO INFRACIONAL E MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS

1. Adolescente na realidade brasileira

A população adolescente no Brasil representa possibilidades de mudanças muito

profundas no país, que poderão ser refletidas por toda sociedade. Todavia, é preciso

pensar no contexto, ou seja, refletir sobre o mundo – o cenário – em que o jovem está

inserido, pois nas sociedades atuais, as pessoas tornaram-se intolerantes perante

comportamentos fora do recomendado pelo social.

Os mais de 21 milhões de adolescentes brasileiros representam para o País uma

grande oportunidade de transformação nas relações, nas atitudes, na cultura, na

educação, na vida e nas dinâmicas sociais. Mesmo sendo a adolescência um período

curto, pois do ponto de vista jurídico dura apenas seis anos (12 a 18 anos incompletos),

é uma fase de mudanças profundas e rápidas no ciclo de vida. Isso se revela nas

mudanças biológicas, comportamentais, de aprendizagem, de socialização, de

descobertas, de interação e de inúmeros processos que nos permitem valorizar a

adolescência como um potencial imprescindível para a sociedade. (UNICEF, 2004, s.p.).

O Brasil é um país de contradições, de desigualdade social, concentração de

renda, exploração do trabalho. Segundo o SINASE (2006) essa desigualdade social

reflete em consequências diretas e indiretas na condição da vida dos adolescentes que

representam aproximadamente 21% da população nacional, ou seja, adolescentes na

faixa etária de doze a dezoito anos. Avaliando as condições por raça, essa desigualdade

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é ainda maior. Observa-se que a população negra representa porcentagem maior em

condições socioeconômicas e educacionais mais defasadas, ou seja, precárias em

relação à raça branca. Em relação à escolarização, pode-se dizer que à medida que

aumenta a idade do adolescente, diminui significativamente a sua faixa de escolaridade.

O jovem tem, nessa faixa etária, o maior número de mortes, e a proporção de morte por

homicídios é muito grande.

O Brasil tem 21 milhões de adolescentes com idade entre 12 e 17 anos. De cada

100 estudantes que entram no ensino fundamental, apenas 59 terminam a 8ª série e

apenas 40, o ensino médio. A evasão escolar e a falta às aulas ocorrem por diferentes

razões, incluindo violência e gravidez na adolescência. Em 2003, 340 mil adolescentes

(12-17 anos) tornaram-se mães. (UNICEF, 2004, sp.)

É um desafio para as Políticas Públicas, o trabalho que permita atender o

adolescente em todas as suas necessidades, seja educacional, social, econômica,

saúde, segurança, lazer entre outros, de modo que a realidade desses adolescentes

ultrapasse a miséria, o analfabetismo, a exploração do trabalho, enfim todas as

desigualdades existentes em nosso país.

E é nessa realidade tão difícil que segundo Oliveira (2007, s. p) se apresenta o

adolescente em conflito com a lei, refletindo as desigualdades sociais no nosso país,

aparentemente como fenômeno isolado da sociedade, mas que na verdade é fruto dela.

Conforme dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)

referentes aos anos de 2005 e 2006, o Brasil tinha 24.461.666 de adolescentes entre 12

e 18 anos. Desse total, apenas 0,1425% representava a população de adolescentes em

conflito com a lei. Tal porcentagem, em números absolutos, significa 34.870

adolescentes autores de atos infracionais cumprindo algum tipo de medida

socioeducativa em todo o Brasil. (PRÓMENINO, 2008, sp.)

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Esses dados nos mostram um pouco da realidade a qual se encontram tantos

adolescentes e suas famílias residentes em solo brasileiro. Abordaremos a seguir as

características e as políticas de proteção a esses adolescentes que de alguma forma

estão em dívida com a sociedade.

2. Adolescente e ato infracional

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990: ato infracional

são ações cometidas por crianças ou adolescentes que são considerados inimputáveis,

por isso não podem ser condenados a penas, à criança é atribuída somente medidas de

proteção, ao adolescente que comete ato infracional, além das medidas de proteção lhe

são atribuídas às medidas socioeducativas.

Os adolescentes em conflito com a lei, [...], não encontram eco para a defesa de seus direitos, pois pela condição de ter praticado um ato infracional, são desqualificados enquanto adolescentes. A segurança é entendida como a fórmula mágica de “proteger a sociedade da violência produzida por desajustados sociais que precisam ser afastados do convívio social, recuperados e reincluídos”. É difícil para o senso comum, juntar a idéia de segurança e cidadania. Reconhecer no agressor um cidadão parece ser um exercício difícil e, para alguns, inapropriado (VOLPI, 2006, p. 9).

De acordo com Oliveira (2007, s. p) sendo difícil a compreensão dos direitos dos

adolescentes em conflito com a lei, se torna necessário que as políticas de proteção a

eles destinadas, como qualquer outro adolescente sejam esclarecedoras e efetivadas.

A efetivação dos direitos da criança e do adolescente no Brasil teve uma

trajetória histórica marcada por discriminação, violência, submissão e abandono. No

tempo do Brasil colônia as crianças e adolescentes eram desprovidas de qualquer tipo

de direito ou proteção social.

De acordo com Liberati (2003, p. 28) no ano de 1830 o Código Criminal do

Império trazia em seu texto que, os infratores menores de quatorze (14) anos que

apresentassem discernimento sobre o ato cometido, eram recolhidos às Casas de

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Correção até completarem dezessete (17) anos. A legislação nesse período não

reconhecia a situação de peculiaridade da criança e adolescente. Eram desprovidos dos

seus direitos e os julgamentos eram feitos segundo o critério de discernimento das

autoridades que detinham o poder de absorver ou punir os menores.

Como relata Veronese (1999, p. 19) o Código Penal da República, de 1890,

considerava não criminoso os menores de 9 anos, bem como os maiores de 9 anos e

maiores de 14 anos que agiram sem discernimento.

Entre as várias modificações sofridas pelo Código Penal da República, ressalta-se aquela produzida pela Lei n. 4.242 de 4 de Janeiro de 1921, que eliminou o critério do discernimento e passou a considerar o menor de 14 anos totalmente isento de responsabilidade penal e, consequentemente, de ser processado por atos considerados delituosos. (LIBERATI, 2003, p.29).

Em 1921 mesmo com algumas mudanças na legislação, ainda não havia uma

política que trazia efetiva proteção às crianças e adolescentes no Brasil. Segundo

Liberati (2003, p. 29-30) o Dr. José Candido Albuquerque Mello Matos organizou o

Código de Menores (Decreto nº 17.943 - A, de 12.10.1927) esse código trazia que os

adolescentes com mais de quatorze (14) anos não eram submetidos a processo penal,

mas a um processo especial de apuração da infração.

O Código de Menores, comparado as legislações anteriores trouxe uma mudança

significativa quanto a não submissão da criança e adolescente ao processo penal.

O Código de Menores visava estabelecer diretrizes claras para o trato da infância e juventude excluídas, regulamentando questões como trabalho infantil, tutela e pátrio poder, delinqüência e liberdade vigiada. O Código de Menores revestia a figura do juiz de grande poder, sendo que o destino de muitas crianças e adolescentes ficava a mercê do julgamento e da ética do juiz (LORENZI, 2007, s. p.).

Esta lei tinha caráter seletivo, sendo designado para crianças e adolescentes que

se encontravam em situação de abandono e delinqüência.

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De acordo com Liberati (2003, p 31) em 7 de dezembro, de 1940, entrou em vigor

o Código Penal que estabeleceu a responsabilidade penal aos 18 anos de idade,

alterando o Código de Menores de 1927, sendo esta lei imposta até os dias atuais.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei Federal nº 8.069/90, define ato

infracional como a conduta descrita como crime ou contravenção penal (ECA 1990).

A lei diferenciou criança e adolescente, sendo criança, aquele (a) de 0 (zero) a

12 anos incompletos e adolescente aquele (a) entre 12 e 18 ( dezoito) anos incompletos,

garantida a inimputabilidade estabelecida na CF, no art. 228: “São penalmente

inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às normas da legislação especial”.

(C.F., 1988).

Para os que praticam atos infracionais a lei prevê a imposição, pelo poder

judiciário, de medidas socioeducativas, listadas em seu art. 112, o qual também indica

critérios para escolha da mais adequada em cada caso concreto:

Verificada a prática do ato infracional, a autoridade competente poderá aplicar ao

adolescente as seguintes medidas:

I.Advertência;

II.Obrigação de reparar o dano;

III.Prestação de serviços à comunidade;

IV.Liberdade assistida;

V.Inserção em regime de semiliberdade;

VI.Internação em estabelecimento educacional;

VII.Qualquer uma das previstas no artigo 101, I a V.

Parágrafo primeiro: A medida aplicada ao adolescente levará em conta a sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade da infração. Parágrafo segundo: Em nenhuma hipótese e sob pretexto algum será admitida a prestação de trabalhos forçados. Parágrafo terceiro: Os adolescentes portadores de doença ou deficiência mental receberão tratamento individual e especializado, em local adequado às suas condições (ECA,1990).

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Diante da constatação da prática de ato infracional, a autoridade judiciária pode

aplicar ao autor da infração a medida de advertência, observando, no entanto, indícios

suficientes da autoria e prova da materialidade.

A advertência consiste em admoestação verbal e somente a autoridade judiciária

pode fazê-la, sendo de relevante importância a realização de audiência para tal fim, pois

essa audiência deve ser reduzida a termo e assinada. E, obrigação de reparar o dano

sendo o ato infracional praticado com reflexos patrimoniais, configura- se a medida de

reparação do dano a mais apropriada, contudo, a autoridade judiciária deve cercar-se de

provas suficientes da autoria e da materialidade. Apesar da responsabilização civil

cabível aos pais, a medida de reparação do dano aplicada ao adolescente deve ser bem

analisada, pois, em muitas situações, o fato de ultrapassar a pessoa do adolescente

infrator acaba por propiciar a sua não responsabilização, em afronta ao ECA. Assim,

sempre que possível, deve-se argumentar sobre a possibilidade do adolescente cumprir

a medida às suas expensas.

Na aplicação de qualquer uma das medidas, deverão ser garantidos os princípios

da excepcionalidade, brevidade e da condição peculiar de pessoa em desenvolvimento,

enfatizados na doutrina da proteção integral que substituiu a doutrina da situação

irregular consagrada no Código de Menores de 1.979. O atual paradigma foi adotado na

própria Carta Magna de 1988 e ratificada no ECA de 1990.

Segundo entendimento de Machado (2003) há,harmonia axiológica com a

supremacia que o valor dignidade humana recebeu com o Pacto de 1988 é que foi

inserida, na generosa concepção da Carta Cidadã, um sistema de proteção especial

para crianças e jovens, reconhecidos na sua especificidade de seres humanos ainda em

desenvolvimento físico, psíquico e emocional. (p. 105)

Assim, aplicada a medida socioeducativa pelo Poder Judiciário, sua execução

fica a cargo de programas socioeducativos específicos de responsabilidade de outro

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Poder, o Executivo. Eles fazem parte da política de atendimento definida nos artigos

86, 87 e 88 do Estatuto e, entre elas, encontram-se os programas de restrição de

liberdade, a Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) e a Liberdade Assistida (LA),

foco da proposta de pesquisa.

As medidas socioeducativas em meio aberto estão dispostas no ECA do seguinte

modo:

Art. 117. A Prestação de Serviços Comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a 6 (seis) meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como, em programas comunitários ou governamentais. Parágrafo único – As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de 8 (oito) horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de trabalho. (ECA, 1990) Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente. Parágrafo 1º - A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento. Parágrafo 2º - A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de 6 (seis) meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor (ECA, 1990).

O detalhamento da política socioeducativa e do funcionamento dos programas

encontram-se ancorados no ECA e, em especial, nos parâmetros do SINASE de 2006

que, por meio de Resolução do CONANDA, temos como definição:

Um conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico,

político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de

apuração do ato infracional até a execução de medida socioeducativa. (SINASE, 2006,

Apresentação)

A partir desses referenciais e, em especial do SINASE, ainda em fase de

implementação, que a pesquisa pretende promover a cartografia da política

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socioeducativa do Estado de Minas Gerais, com recorte, no Município de Alfenas,

tomando os mapas dos programas socioeducativos em meio aberto de PSC e LA.

Serão tomados como aprofundamento de determinados aspectos sobre o objeto

de estudo, o diagnóstico da situação nacional e, especialmente, os aspectos que

permeiam a gestão da política socioeducativa, como a articulação interinstitucional,

intersetorial e interdisciplinar do sistema de garantia de direitos; os princípios da doutrina

da proteção integral e da política de direitos humanos; as diretrizes da municipalização e

da descentralização política e da participação democrática e participativa; o papel dos

Conselhos de Direitos na elaboração da política de direitos, dos planos decenais nos

três âmbitos da administração pública (federal, estadual, municipal).

3. Medidas socioeducativas em meio aberto

A proposta da política nacional é de que o atendimento às medidas de meio

aberto ocorram no âmbito municipal, sendo da competência desse ente federado a

criação e a manutenção de programas de atendimento para execução dessas medidas.

Importante ressaltar que dentre as diretrizes da política de atendimento, previstas no

art.88 do ECA, além da municipalização do atendimento, também está prevista a

observância da descentralização político-administrativa dos programas a serem criados,

cabendo aqui a seguinte distinção:

Municipalização: visa determinar que as práticas de atendimento à criança e ao

adolescente ocorram no âmbito municipal, de modo a fortalecer o contato e o

protagonismo da comunidade e das respectivas famílias.

Descentralização político-administrativa: refere-se a toda política destinada à

criança e adolescente, possibilitando ao poder público estabelecer parcerias com ONGs

para cooperação na execução de políticas públicas.

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Urge a necessidade de se priorizar a implantação das medidas de meio aberto, já

que estas não estão sujeitas aos princípios de excepcionalidade e brevidade, e se

colocam numa escala de aplicação mais imediata e inicial. Busca-se assim reverter a

tendência crescente de internação dos adolescentes, bem como confrontar a sua

eficácia invertida, uma vez que se tem constatado que a elevação do rigor das medidas

não tem melhorado substancialmente a inclusão social dos egressos do sistema

socioeducativo.

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, no seu artigo nº 112, as

medidas socioeducativas são aplicadas e executadas, de acordo com a interpretação do

juiz da Vara da Infância e da Juventude, mediante o ato infracional que o adolescente

cometeu, tendo sempre aspectos educativos no sentido de proteção integral, garantindo

ao adolescente, oportunidades de superar a condição de exclusão e participação de

fato, na vida social.

As medidas socioeducativas se dividem em medidas em meio aberto que são:

advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade,

liberdade assistida e medidas sociais privativas de liberdade que são: semi liberdade e

internação.

As medidas socioeducativas são de diversos níveis, sendo aplicadas conforme o

delito que o adolescente cometeu. Segundo Liberati (2003, p. 100) essas medidas

somente serão aplicadas, quando puderem respeitar a capacidade do infrator para

cumpri-las, como também, a gravidade da infração. Caso contrário, o adolescente não

poderá ficar sujeito ao cumprimento de medidas em circunstâncias vexatórias ou que

violem sua dignidade.

3.1. Prestação de serviços à comunidade

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A realização, pelo adolescente, de trefas gratuitas, de interesse geral, por período não excedente a seis meses, deve ser feita junto a entidades sociais, hospitais, escolas, programas sociais e comunitários, tanto no âmbito governamental quanto no não-governamental. Por interesse geral, compreende-se aquele que “satisfaz direta ou indiretamente o bem comum, porque é através da solidariedade social, do apoio mútuo e do vínculo de co-responsabilidade que interagem os homens entre si, que se restabelece e desenvolve personalidade sadia” (Cury, 1991:14).

A aplicação da medida socioeducativa de Prestação de Serviços à Comunidade

não deve ser confundida com “pena de trabalhos forçados”, muito menos imbuída de

caráter punitivo, com o estabelecimento de atividades que possam denegrir ou

constranger o adolescente. Os serviços a serem prestados devem, contudo, ser de

relevância comunitária, incutindo no adolescente sentimentos de responsabilidade e

valorização da vida social e comunitária.

Trata-se de uma medida socioeducativa em meio aberto e, apesar de não

configurar propriamente um regime de atendimento, sinaliza para a necessidade de

estruturação de um programa para sua execução. O SINASE propõe o atendimento com

a estruturação de um corpo técnico mínimo e similar ao que o ECA estabelece para a

medida de liberdade assistida:

• 01 técnico para vinte adolescentes;

• 01 pessoa que seja referência socioeducativa / com função de gerência ou

coordenação;

• orientadores Socioeducativos (um para dois adolescentes).

3.2. Liberdade assistida

A medida de liberdade assistida configura-se a mais adequada em situações em

que, sendo grave ou não o ato cometido, o adolescente seja capaz de compreender a

ilicitude do ato e se proponha a receber acompanhamento, auxílio ou orientação para a

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reformulação do seu processo de convivência social e comunitária. A intervenção e ação

socioeducativa da medida “deve estar estruturada com ênfase na vida social do

adolescente – família, escola, trabalho, profissionalização e comunidade, possibilitando,

assim, o estabelecimento de relações positivas que é a base de sustentação do

processo de inclusão social à qual se objetiva”. Por este motivo, essa medida deve ser

constantemente avaliada, podendo a autoridade judicial, em qualquer tempo, prorrogá-

la, revogá-la, ou substituí-la. O ECA estabelece na L.A. regime próprio de atendimento,

portanto, há a necessidade da criação de um programa de execução, em atenção aos

dispositivos legais previstos.

O SINASE chama atenção para a necessidade de garantir-se ao adolescente o

atendimento psicossocial e jurídico, pelo pessoal do próprio programa ou pela rede de

serviços locais. O programa pode valer-se do sistema de orientador comunitário –

pessoas da própria comunidade que devem ser acompanhadas e monitoradas pela

equipe técnica do programa, ou do sistema de orientador técnico – sendo o próprio

técnico a referência de acompanhamento e monitoramento do adolescente no

cumprimento da medida.

Ao ser aplicada pela autoridade competente, a liberdade assistida se caracteriza como “ instituição legal, colocando o adolescente, por decisão do juiz, em seu meio natural, sujeito à orientação e assistência do pessoal tutelar. Não é uma sanção penal, mas limita a liberdade e alguns direitos do menor, segundo as condições impostas com vista aos seus fins pedagógicos” (Albergaria, 1991:127-128).

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PARTE III

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVA AO ADOLESCENTE EM CONFLITO COM

A LEI

1. Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE)

De acordo com o Sistema de Atendimento Sócio-Educativo (2006, p. 18, 19)

devido ao aumento das medidas socioeducativas aplicadas ao adolescente, autor de ato

infracional em regime de privação de liberdade, ou em meio aberto, foi necessário

pensar em um sistema que regesse a aplicação das medidas em todos os aspectos, um

projeto que proporcionasse aos adolescentes em conflito com a lei um atendimento

socioeducativo e humanizado. Por isso foi aprovado no ano de 2006 pelo Conselho

Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente o projeto de lei denominado SINASE.

Segundo SINASE (2006) às medidas socioeducativas devem ter natureza sócio-

pedagógica, visto que sua execução esteja condicionada a garantia de direitos e ao

exercício da cidadania. Ela vem dar diretrizes para os profissionais e instituições que

aplicam as medidas socioeducativas, priorizando as medidas de prestação de serviço à

comunidade e liberdade assistida, pois essas medidas responsabilizam o adolescente

quanto aos seus atos, sem privá-los de sua liberdade, ficando próximos aos familiares e

em contato com a comunidade. Tem como objetivo reduzir o número de adolescentes

internados na Fundação Casa – Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente

– visto que a internação em muitos casos não reduz a criminalidade.

O SINASE é um conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter jurídico, político, pedagógico, financeiro a administrativo, que envolve desde o processo de apuração de ato infracional até a execução da medida socioeducativa. Este sistema nacional inclui os sistemas estaduais, distritais e

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municipais, bem como, todas as políticas, planos e programas específicos de atenção a esse público (SINASE, 2006, p.23).

Ele propõe ações de ação e gestão de medidas socioeducativas que vão desde o

atendimento inicial do adolescente até as características da construção das unidades de

privação de liberdade.

O SINASE (2006) traz que, as entidades e programas de atendimento que

executam as medidas socioeducativas, devem conter parâmetros de ação

socioeducativa pelos seguintes eixos estratégicos: suporte institucional e pedagógico

adequando aos adolescentes. Diversidade étnica racial e de gênero que respeite as

diferenças, quebrando o preconceito e promovendo a igualdade. No âmbito da

educação são necessárias ações que garantam o sucesso e a permanência dos

adolescentes na rede regular de ensino. A cultura, esporte e lazer são fundamentais

para o adolescente, pois o mesmo necessita dessa interação. Na área de saúde é

preciso desenvolver ações que abordem temas como: autocuidado, auto-estima,

alcoolismo, drogas, prevenção e tratamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis -

DST e AIDS, saúde bucal, saúde mental, entre outros temas. O fortalecimento de

vínculos familiares e comunitários é extremamente importante para que o adolescente

esteja integrado com a família e com a comunidade. Quanto à inserção no mercado de

trabalho são necessárias ações que ofereçam capacitação profissional. O eixo sobre

segurança engloba investir nas medidas de prevenção contra brigas, motins, fugas,

invasões e incêndios.

Todos esses eixos que são trazidos pelo SINASE oferecem uma estrutura com

mais qualidade e segurança para o cumprimento das medidas socioeducativas.

Os aparatos legais como: Constituição Federal, de 1988, ECA, SINASE

fundamentam um novo reordenamento do Estado frente à gestão das medidas

socioeducativas em meio aberto, em um processo de descentralização e

municipalização e nesta perspectiva abordaremos a gestão social no próximo capítulo.

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2. Gestão social pública

A gestão social propicia aos cidadãos o acesso a bens e serviços por meio de

políticas públicas. Segundo Carvalho (1999, p. 19 e 28) a gestão social é a gestão das

ações sociais públicas, são demandas e necessidades dos cidadãos, construídas e

modificadas socialmente, a política social, os programas sociais, os projetos são

respostas a estas necessidades e demandas. A gestão social é uma nova forma de

conduzir as políticas públicas frente ao reordena mento do Estado com o processo de

descentralização e municipalização.

O modelo de gestão social propicia o atendimento a diversas expressões da

questão social.

A gestão social abrange uma variedade de atividades que intervêm em áreas da vida social em que a ação individual auto-interessada não basta para garantir a satisfação das necessidades essenciais da população. Estas áreas são bastante diferenciadas, indo desde o abandono de crianças e de idosos por parte dos familiares, a falta de abrigo para indigentes e enfermos físicos ou mentais, até a exclusão temporária ou definitiva da produção social de pessoas aptas ao trabalho e necessitadas de renda. (SINGER, 1999, p.55)

A gestão social proporciona a população fortalecimento e participação, Maia

(2005, p. 16) relata que é possível compreender a gestão social como um conjunto de

processos sociais que dá condições para o desenvolvimento, transformação, formação

da democracia e da cidadania, visando o enfrentamento às expressões da questão

social e a efetiva participação dos cidadãos historicamente excluídos dos processos de

distribuição das riquezas e do poder. O Serviço Social é um mediador importante para a

afirmação da gestão social, especialmente pelo conjunto de referenciais ético-político e

teórico-metodológico, que objetivam a afirmação dos valores da cidadania e justiça

social.

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Quando o assunto é gestão, as condições formais da execução podem mobilizar mais facilmente, pois surgem com mais concretude e objetividade, mas certamente, também revelam a necessidade de exploração de outras dimensões. Assim pode-se dizer que a gestão é extensão de propósitos. É atribuição de sentidos e compromisso com resultados (NOZABIELLI, 2003, p. 103).

As equipes técnica e operacional atuantes na gestão social com determinação

tem capacidade técnica e propositiva de alcançar resultados positivos, quanto às

necessidades dos cidadãos que necessitam de atendimento, nas diversas políticas

públicas.

2.1. Gestão do Sistema Único de Assistência Social (SUAS)

Segundo a Política Nacional de Assistência Social (2004, 27) – política pública

responsável pela execução das medidas socioeducativas – tem como objetivos:

Prover serviços, programas, projetos e benefícios de proteção social básica e, ou,

especial para famílias, indivíduos e grupos que deles necessitarem; [...] assegurar que

as ações no âmbito da assistência social tenham centralidade na família, e que

garantam a convivência familiar e comunitária; Sua organização permeia a

descentralização político-administrativa, assim, em consonância com a referida politica o

SINASE (2006) estabelece que cabe ao Estado, coordenador das normas gerais e, aos

estados e municípios cabem a coordenação e execução dos programas sociais, dentre

eles, os que atendem as medidas socioeducativas.

O SUAS (Sistema Único de Assistência Social), faz parte da gestão da Política

Nacional de Assistência Social. Vanzetto (2005, p.11) relata que o SUAS é um sistema

público, descentralizado e participativo que tem como foco de sua ação o atendimento à

família, através dos serviços de proteção social básica e proteção social especial,

trazendo três níveis de gestão: gestão inicial, básica e plena.

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Segundo o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (2008, p.

29) a gestão inicial comprova a criação de conselhos, fundo municipal e a elaboração do

plano de assistência social. Desta forma, a gestão parte do patamar das condições

mínimas para entrar no sistema descentralizado e participativo. As responsabilidades

nesse nível são: inserir famílias mais vulneráveis no cadastro único, preencher o plano

de ação e apresentar o relatório de gestão. Na gestão básica dentre as exigências

destacam-se a existência do CRAS (Centro de Referência de Assistência Social), a

realização de áreas de risco e vulnerabilidade social e a manutenção de secretaria

executiva no Conselho de Assistência Social.

Na gestão plena é extremamente importante a presença de um sistema municipal

de monitoramento e avaliação, a capacidade de atuar na proteção social de alta

complexidade, contar com gestor do fundo lotado no órgão responsável pela assistência

social e ter uma política de recursos humanos com carreira para servidores públicos.

Os níveis de gestão trazidos pelo SUAS são de extrema importância para

conduzir de forma efetiva a gestão nos Estados e municípios.

A política de proteção integral dos direitos da criança e do adolescente consiste

em um conjunto articulado de ações governamentais, da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios e das organizações da sociedade civil.

Esta concepção de política pressupõe que a organização e a gestão dos serviços

e programas são responsabilidade dos Governos dos três entes da Federação, em

ações que são complementares ou exclusivas de um ou outro nível de Governo. São

linhas de ação da política de atendimento a crianças e adolescentes:

• Políticas sociais básicas: aquelas que alcançam todas as crianças e adolescentes, independente de sua situação jurídica (direito à educação, à saúde, ao lazer, à cultura).

• Políticas de assistência social: voltadas para quem se encontra em estado de vulnerabilidade social ou necessidade temporária ou permanente.

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• Políticas de proteção especial: atingem aqueles com integridade física, psicológica e moral violada ou ameaçada de violação.

• Políticas de garantia de direitos: destinam-se àqueles que necessitam da atuação do poder público no sentido de defender seus já consagrados direitos.

A conjugação articulada dessas quatro políticas pelo Estado brasileiro conforma o

que se define como a política de proteção integral.

A política de atendimento socioeducativo implica, portanto, a conjugação de

ações que se situam nos quatro campos de políticas enumeradas anteriormente e

compreende o conjunto de diretrizes, princípios, estruturas, procedimentos e arranjos

institucionais voltados para o atendimento ao adolescente autor de ato infracional.

Desde junho de 2006 o Brasil conta com a existência de diretrizes para a

organização e o funcionamento do SINASE. Um dos mais importantes princípios do

SINASE orienta que o atendimento socioeducativo não pode estar isolado das demais

políticas públicas, devendo ser articulado com os demais serviços e programas que

visem atender os direitos dos adolescentes (saúde, defesa jurídica, trabalho,

profissionalização, escolarização etc.).

Para tanto, as demais políticas, principalmente as de caráter universal, devem ser

prestadas com eficiência e de forma integrada e indiscriminada às crianças e

adolescentes que tenham praticado ato infracional da mesma forma com que se atende

aquelas que não estão em conflito com a lei. Além disso, é importante realçar que,

atualmente, estamos implementando, também em regime de cooperação federativa, o

Sistema Único de Assistência Social – SUAS a Política Nacional de Assistência Social.

Tal movimento é também bastante importante para o atendimento ao adolescente autor

de ato infracional. Isto porque, no novo modelo socioassistencial brasileiro, o

adolescente em cumprimento de medida socioeducativa em regime de Liberdade

Assistida e Prestação de Serviços à Comunidade e a sua família são definidos como

usuários da política de assistência social.

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A PSC e a LA são de responsabilidade dos Governos Municipais, que, por certo,

deverão contar com o apoio dos demais níveis de Governo, da sociedade local, dos

agentes do Judiciário que atuam na localidade. Desde que o Estado começou a intervir

no campo social no Brasil, as questões relativas à criança e do adolescente, aos idosos,

às pessoas com deficiência, entre outros,tornaram-se campos específicos de atuação

da assistência social. Por esta razão é importante apresentar em linhas gerais algumas

especificidades da nova Política de Assistência Social consagrada na Carta Magna de

1988. Após a Constituição de 1988 a assistência social é legalmente concebida como

uma política pública de seguridade social que integra as funções de proteção social do

Estado.

Tal política passa a ser nomeada como um direito do cidadão e um dever do

Estado, contrapondo-se à noção da assistência como um conjunto de iniciativas de

caráter assistencialista, dependente da boa vontade e de favores. fora do campo do

direito à cidadania.

O reconhecimento da assistência social como direito a partir da Constituição

Federal, e, logo depois, a regulamentação da Lei Orgânica de Assistência Social em

1993 e atualmente com a publicação em 2004 do novo texto da Política Nacional de

Assistência Social (PNAS), constituem processos políticos que possibilitaram a

organização do Sistema Único de Assistência Social (SUAS). O referido sistema

representa um novo modelo socioassistencial a ser desenvolvido pelo Estado brasileiro.

Depois da aprovação da Política Nacional de Assistência Social e da instituição

do SUAS algumas mudanças no que diz respeito à concepção da assistência social e à

forma de organização e gestão da política marcam o campo da assistência e projetam a

universalização do atendimento na perspectiva da cidadania e dos direitos.

A nova política de assistência social em muito se assemelha ao que dispõe a

política de atendimento à criança e ao adolescente prevista no Estatuto da Criança e do

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Adolescente, mas apresenta alguns pontos para debate. Tais pontos serão destacados

adiante na oportunidade de se abordar o SINASE e o SUAS. Desta forma serão

resgatados alguns aspectos que caracterizam também as políticas que lhes dão origem.

O primeiro aspecto a ser comparado diz respeito ao público ao qual se destinam

ambas as políticas.

A política de assistência social tem como usuários os cidadãos e grupos que se

encontram em situação de vulnerabilidade e submetidos a riscos que resultem em

fragilidade ou corte dos vínculos familiares, comunitários e/ou societários, estando entre

eles os adolescentes autores de ato infracional. Tal política prevê um atendimento

específico para aqueles adolescentes que se encontram em situação de vulnerabilidade

por uma dada circunstância, a do cometimento do ato infracional. O entendimento de

que o ambiente familiar é o primeiro a exercer a função de proteção social e que, por

isso, deve ser fortalecido faz com que o grupo familiar seja também usuário da política.

A política definida no ECA, é bom lembrar, está voltada para o atendimento de

todas as crianças e adolescentes independe da condição social.

O segundo elemento de comparação consiste no fato de ambas

operacionalizarem o mandamento do artigo 204 da Constituição Federal de 1988 que

preconiza a descentralização político-administrativa e a participação popular por meio de

organizações representativas quando definem a existência de conselhos e instâncias de

participação popular.

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PARTE IV

POLÍTICA SOCIOEDUCATIVATIVA EM NO ESTADO DE MINAS GERAIS

1. Sistema estadual de atendimento socioeducativo

As prerrogativas previstas no Estatuto (ECA) para atendimento a estes

adolescentes são desafiadoras. Em Minas Gerais alguns são muitos os problemas que

vem sendo enfrentados pelo sistema estadual socioeducativo como a inadequação dos

Centros de Internação aos parâmetros preestabelecidos, a aplicação insuficiente e,

muitas vezes inadequada, das medidas de Liberdade Assistida (LA) e Prestação de

Serviços à Comunidade (PSC) como medidas socioeducativas mais adequadas em

resposta a atos infracionais cometidos sem violência ou grave ameaça à pessoa,

entre outros.

O Estado de Minas Gerais possui 853 municípios e 296 comarcas e uma

população infanto-juvenil, entre 12 e 17 anos completos, corresponde a 2.062.612, com

total de 1.041 adolscentes privados de liberdade numa proporção (por 10 mil

adolescentes) de 5.2%. Em medida de internação 652, em internação provisória, 284 e

em semiliberdade, 105. Em meio aberto, os dados apontam para 4.060 adolescentes,

numa proporção aproximada de 1,4% entre o meio fechado e o meio aberto. (

SDH/SNPDCA/SINASE, 2010 – População Adolescente IBGE, 2010) E, município de

Alfenas a população de infanto juvenil é de xxxxxxxx

A Secretaria de Estado de Defesa Social de Minas Gerais tem recebido um

número crescente de solicitações de vagas e implantação de novos centros de

internação no interior do Estado. No ano de 2005, foram 595 pedidos e 138 vagas

liberadas, ou seja, cerca de 23% da vagas solicitadas no interior foram atendidas. Em

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2006, foram 1096 pedidos, quase o dobro do ano anterior, com 419 vagas liberadas,

cerca de 38% das vagas solicitadas no interior, o triplo das vagas liberadas no ano de

2005.

Apesar do aumento considerável do índice de vagas liberadas para o interior por

parte da Secretaria de Defesa Social, verificamos que, entre os pedidos não atendidos,

constam, em grande parte, cidades em que não ocorrem ou excepcionalmente ocorrem

situações como as previstas no artigo 122 do Estatuto da Criança e do Adolescente, que

normatiza a aplicabilidade da medida de internação. O que se verifica é que, nestas

cidades, as medidas socioeducativas em meio aberto ou não foram implantadas ou não

cumprem seu papel devido a uma desarticulação técnica do órgão municipal executor

com o Poder Judiciário e/ou o Ministério Público. Como resultado desta ausência de

atuação do poder público, constata-se que, nestas cidades e mesmo em outras que não

demandam ao Estado vagas para a medida de internação, há um contingente de

adolescentes que permanecem presos em cadeias públicas, o que torna urgente a

discussão sobre uma ação efetiva neste contexto.

Seguindo as diretrizes do Plano Mineiro de Desenvolvimento Integrado (PMDI)

2007-2023, que “objetiva, de um lado, consolidar os avanços alcançados e, de outro,

imprimir maior eficácia às ações previstas na estratégia de desenvolvimento. o Governo

de Minas Gerais repensou a política de atendimento às medidas socioeducativas.

Visando “romper com o ciclo vicioso da criminalidade juvenil” (PMDI 2007-2023), a

Secretaria de Defesa Social passou a pensar as medidas de forma mais ampliada e

articulada, fundamentada no que preconiza o ECA, levando em conta a capacidade do

adolescente de cumprir a medida, as circunstâncias e a gravidade da infração (ECA,

art.112§ 1º), além de considerar “as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas

que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.” (ECA, art.110)

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Considerando que, muitas vezes, a reiteração de atos infracionais ocorre devido

à desarticulação das ações, que as diretrizes da política de atendimento previstas pelo

ECA implicam uma “integração operacional de órgãos do Judiciário, Ministério Público,

Defensoria, Segurança Pública e Assistência Social” (ECA, inciso V do art.88), e que o

Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH II) propõe “promover a integração

operacional de órgãos do Poder Judiciário, Ministério Público, Defensorias Públicas e

Secretarias de Segurança Pública com as delegacias especializadas em investigação de

atos infracionais praticados por adolescentes e às entidades de atendimento, bem como

ações de sensibilização dos profissionais indicados para esses órgãos quanto à

aplicação do ECA” (PNDH II, item 159), não basta que o Estado pense o atendimento ao

adolescente autor de ato infracional somente a partir da execução das medidas

socioeducativas privativas de liberdade.

Torna-se preciso, conforme prevê o Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo (SINASE), “estabelecer com os Municípios, as formas de colaboração

para o atendimento socioeducativo em meio aberto” e, a partir disso, “prestar assistência

técnica aos municípios na construção e na implementação do Sistema Socioeducativo,

nele compreendidas as políticas, planos, programas e demais ações voltadas ao

atendimento ao adolescente que se atribui ato infracional desde o processo de

apuração, aplicação e execução de medida socioeducativa”.

É seguindo esta orientação que a até então Superintendência de Atendimento às

Medidas Socioeducativas (SAME) deu origem à Subsecretaria de Atendimento

Socioeducativo (SUASE), a qual se subdivide em duas Superintendências: uma para

Gestão das Medidas de Privação de Liberdade, que substitui a antiga SAME, e outra

que inaugura uma nova orientação na estratégia de ação do Estado no atendimento ao

adolescente autor de ato infracional: a Superintendência de Gestão das Medidas de

Meio Aberto e Semiliberdade.

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Com a criação da Superintendência de Gestão das Medidas de Meio Aberto e

Semiliberdade, o Estado reafirma sua função no âmbito das medidas socioeducativas,

na articulação entre o Poder Judiciário, Ministério Público, os municípios, os órgãos de

segurança pública e, principalmente, entre as próprias medidas, produzindo um

redirecionamento nas prioridades do processo socioeducativo do adolescente autor de

ato infracional. Por outro lado, introduzir as medidas em meio aberto em uma política de

segurança pública no Estado é inaugurar um novo estatuto político para as mesmas. A

nova Superintendência redefine a função da medida privativa de liberdade a partir da

articulação com as outras medidas. Para que os programas de execução das medidas

em meio aberto e semiliberdade pensem a sua prática, não basta a pergunta: “Por que

tal medida foi aplicada a tal caso?”. Para focá-las em uma política socioeducativa mais

ampla, é preciso partir da seguinte pergunta: “Por que a medida privativa de liberdade

não é aplicável a tal caso?”.

Dentro desta perspectiva, a medida privativa de liberdade é o ponto inaugural

para pensar a função das outras medidas, que poderiam ser consideradas como

“medidas alternativas” à internação. Por outro lado, se a medida privativa de liberdade é

inaugural para se fundar o espaço de aplicação das medidas socioeducativas, a nova

política de atendimento ao adolescente autor de ato infracional indica que o princípio de

orientação da aplicação das medidas deve apontar para a priorização da articulação das

medidas em meio aberto como alternativas à privação de liberdade. Esta estratégia de

ação segue a direção prevista nos itens 155 e 156 do PNDH II: “Incentivar o

reordenamento das instituições privativas de liberdade para os adolescentes em conflito

com a lei, reduzindo o número de internos por unidade de atendimento e conferindo

prioridade à implantação das demais medidas socioeducativas previstas no ECA, em

consonância com as resoluções do CONANDA.” (PNDH II, item 156)

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Finalmente, nesta orientação política inaugural de uma estratégia inovadora de

atendimento às medidas socioeducativas, pode-se dizer que, na relação entre meio

aberto e meio fechado, é preciso abrir para, em algum momento, poder se decidir por

fechar ou não.

Diretrizes da Diretoria de Apoio e Incentivo às Medidas em Meio Aberto e

Semiliberdade

A Diretoria de Apoio e Incentivo às Medidas em Meio Aberto e Semiliberdade,

que compõe a Superintendência de Gestão das Medidas de Meio Aberto e Articulação

da Rede Socioeducativa, é responsável pela execução da política estadual de medidas

socioeducativas em meio aberto, partindo da definição das seguintes diretrizes:

• Fomentar a implantação e promover a efetividade das medidas socioeducativas em meio aberto e semiliberdade, mobilizando e articulando estas medidas com a rede de atendimento ao adolescente em conflito com a lei;

• Definir diretrizes para uma política de execução da medida de semiliberdade, considerando a sua função em relação às outras medidas;

• Qualificar o fluxo do sistema socioeducativo e criar alternativas efetivas para minimizar a necessidade de aplicação da medida privativa de liberdade, garantindo o seu caráter excepcional;

• Qualificar a entrada do adolescente autor de ato infracional no sistema, articulando o fluxo entre a apreensão, aplicação e execução das medidas em meio aberto e semiliberdade;

• Acompanhar a execução das medidas em meio aberto e semiliberdade através da articulação com o Ministério Público, Poder Judiciário e a parceria com o órgão executor da medida;

• Articular as medidas em meio aberto e semiliberdade aos órgãos de segurança pública envolvidos no processo de atendimento do adolescente em conflito com a lei, introduzindo um novo enfoque na prática das medidas.

A implantação da política estadual de medidas socioeducativas em meio aberto

se estrutura em etapas que criterizam a relevância e perspectiva de abrangência da

ação e, a partir desta definição, cria instrumentos de assessoramento e suplementação

para a efetividade da execução das medidas. Ou seja, não se trata somente de

incentivar a implantação e estruturação inicial para o funcionamento das medidas em

meio aberto, mas também de supervisionar a direção do atendimento socioeducativo,

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dando subsídios técnicos e conceituais para a qualificação da prática de atendimento ao

adolescente autor de ato infracional a partir dos princípios que orientam a execução da

medida.

Para a consolidação desta implantação, o processo se desdobra nas seguintes

etapas, em ordem de prioridade:

Definição dos municípios para implantação da política estadual de medidas

socioeducativas em meio aberto

Fundamentada no mapeamento prévio das medidas socioeducativas no Estado

de Minas Gerais, a definição dos municípios se conclui a partir de critérios de

priorização, conforme seguem abaixo:

• demanda qualificada encaminhada para a SUASE;

• a qualificação de uma demanda implica em contextualizar os impasses do processo socioeducativo que localizem qual a intervenção necessária. Para isso, partiremos de um relatório conjunto construído pelos órgãos envolvidos no atendimento ao adolescente autor de ato infracional no município.

• centro de internação implantado ou em implantação na região

• A partir de um redirecionamento da lógica do sistema socioeducativo para a priorização do meio aberto por meio de uma articulação com as medidas privativas de liberdade, o objetivo é qualificar o fluxo do sistema socioeducativo e criar alternativas efetivas para minimizar a necessidade de aplicação da medida socioeducativa de internação, priorizando os municípios onde o centro de internação já existe ou está em vias de ser implantado;

• localização do município na região

• Seguindo a forma de atuação da política estadual de medidas socioeducativas em meio fechado, a proposta é realizar ações regionalizadas, que alcancem o maior número de municípios possível. Para isso, focalizará ações em municípios pólos das regiões do estado, que estejam estrategicamente localizados, com uma ampla possibilidade de abrangência na região;

• articulação da rede para o atendimento ao adolescente em conflito com a lei

A relação que as medidas em meio aberto estabelecem com os mecanismos da

rede estrutura o campo de atuação das medidas, definindo muitas de suas

possibilidades de efetividade. A viabilidade de atuação das medidas socioeducativas em

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meio aberto se defini em dois âmbitos: em uma primeira instância de implementação e

aplicação das medidas socioeducativas, a partir da relação dos órgãos executores das

medidas com o Ministério Público, Poder Judiciário, Conselho Municipal dos Direitos da

Criança e do Adolescente e outras medidas socioeducativas existentes. Em uma

segunda instância de implementação e execução das medidas socioeducativas, se

defini a partir da relação dos órgãos executores das medidas com a rede de saúde

mental, educação, segurança pública, assistência social, sociedade civil, etc.;

Segundo o Levantamento realizado pelo CAOIJ/MG (2006/2007) – Centro de

Apoio Operacional às Promotorias de Infância e Juventude do Estado de Minas Gerais a

situação no período era a seguinte:

Situação/Existência Das Medidas Sócio-Educativas de

Prestação de Serviços à Comunidade e Liberdade Assistida.

Quadro 1 -

PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS À COMUNIDADE - PSC

Total de Comarcas MG

Total de Comarcas que Tem PSC

Total de Comarcas que Não tem PSC

Total de Comarcas tem PSC irregular

294 60 133 101

LIBERDADE ASSISTIDA – LA

Total de Comarcas MG

Total de Comarcas que Tem LA

Total de Comarcas que Não tem LA

Total de Comarcas tem LA irregular

294 42 192 60

Fonte: Apuração concluída maio/2008

Avaliação dos dados sobre a prestação de serviços à comunidade:

I. Considerando a forma de atendimento mais adequada, com um programa específico, à luz do SINASE, algumas Comarcas que responderam SIM (Tem/PSC), apresentaram uma opção que, talvez, se enquadraria melhor no atendimento irregular.

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II. Muitas das Comarcas que responderam NÃO ao atendimento de PSC, pode ser que o tenha de forma irregular.

III. Identificamos como IRREGULAR os atendimentos de forma improvisada, sem um programa específico, e/ou por órgão de caráter não executivo.

IV. Quadro informativo sobre as opções de execução de PSC, segundo as respostas afirmativas:

Quadro 2 -

Nº de Opções Entidade Responsável

1 Prefeitura

2 ONG

3 Prefeitura e ONG

4 Prefeitura e Asilo

5 Prefeitura e Creche

6 Prefeitura e Escola

7 Prefeitura/Apae/Polícia Militar

8 CEPAL - Central de Penas Alternativas

9 Entidades Assistenciais

10 Prefeitura e Judiciário

11 Prefeitura/Obras Assist.

12 Prefeitura/Judiciário/ONG

Fonte:

V. Quadro informativo sobre as opções de execução de PSC, segundo as respostas avaliadas como irregular:

Quadro 3 -

Nº de Opções Entidade Responsável

1 Judiciário

2 Prefeitura

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3 Conselho Tutelar

4 Prefeitura e Escola

5 Inst.Beneficentes / Inst. Públicas

6 Prefeitura e Hospital

7 Escolas Públicas

8 Quartel PM / Apae / Delegacia e outros

9 Escolas / Asilo / APAE/ Abrigo

10 Judiciário e Inst. Filantrópicas / ONG

11 Prefeitura e Conselho Tutelar

12 Prefeitura e Judiciário

13 Judiciário e Conselho Tutelar

14 Pet e Agente Jovem

15 Judiciário e MP

16 Asilo/Igrejas/Casa Espírita

17 Entidades Filantrópicas/Asilos/creches

18 Hospital/ Escola/ Asilo

19 Cemitério / Asilo/ Outros

20 Escolas e Polícia Militar

Fonte:

Avaliação dos dados sobre liberdade assistida:

I. Considerando a forma de atendimento mais adequada, com um programa específico, à luz do SINASE, algumas Comarcas que responderam SIM (Tem/LA), apresentaram uma opção que, talvez, se enquadraria melhor no atendimento irregular.

II. Muitas das Comarcas que responderam NÃO, ao atendimento de LA, pode ser que o tenha de forma irregular.

III. Foi identificado como IRREGULAR os atendimentos de forma improvisada, sem um programa específico, e/ou por órgão de caráter não executivo.

IV. Quadro informativo sobre as opções de execução de LA, segundo as respostas afirmativas:

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Quadro 4 -

Nº de Opções Entidade Responsável

1 Prefeitura

2 Prefeitura e Conselho de Direitos

3 ONG

4 Prefeitura/ Judiciário e outros

5 Universidade / Parceria MP

6 Prefeitura / Entid.Beneficentes

7 Prefeitura / Judiciário/ ONG

Fonte:

V. Quadro informativo sobre as opções de execução de PSC, segundo as respostas avaliadas como irregular:

Quadro 5 -

Nº de Opções

Entidade Responsável

1 Judiciário *

2 Judiciário e Conselho Tutelar

3 Conselho Tutelar

4 ONG

5 Conselho Tutelar e pais

6 Prefeitura e Juizado

7 Judiciário/C.Tutelar/ Conv.Mp e Faculdade

8 Conselho Tutelar e Comissariado

Fonte:

* Obs. Compreende o atendimento realizado diretamente pela autoridade judiciária, com ou sem os técnicos judiciários (assistente social ou psicólogo). Tem um caso também de atendimento pela equipe de comissariado.

2. Sistema municipal de atendimento socioeducativo de Alfenas

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O adolescente visto como sujeito de direitos é o ator principal no processo de

gestão das medidas socioeducativas, tendo como objetivo a busca por sua reintegração

na sociedade e o rompimento com a criminalidade.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) traz um modelo de gestão das

medidas socioeducativas descentralizado e municipalizado, também estabelece a

política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente, é o que dispõe o artigo

nº 86:

Art. nº 86. A política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de ações governamentais e não-governamentais, da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios (ECA, 1990).

Segundo Nozabielli (2003, p. 141) a gestão das medidas socioeducativas tem por

princípio construir competências compartilhadas, para que a incompletude seja

preenchida por flexibilidade e adaptação, exigidas no processo de gestão das medidas

socioeducativas em meio aberto, devendo ser eficiente e propositiva para que possa

propiciar condições ao adolescente em conflito com a lei romper com a criminalidade.

É necessário que toda a equipe técnica que faz o atendimento ao adolescente

em conflito com a lei, tenha total concordância na execução das ações e que, não haja

distanciamento dos atores envolvidos neste processo.

Arquitetar um modelo de gestão das medidas socioeducativas no espaço local implica em construir e desconstruir fazeres, saberes e poderes, tendo por princípio a totalidade e a historicidade. Trata-se de um arranjo sofisticado que requer a combinação de vários elementos: institucionalidade, compromisso, parcerias, criatividade, iniciativa e novas subjetividades (NOZABIELLI, 2003, p. 69).

A rede de atendimento da gestão das medidas socioeducativas envolve diversos

setores da sociedade, visto que o processo de gestão das medidas é bastante

complexo.

De acordo com Nozabielli, (2003, p. 26) a gestão das medidas socioeducativas é

realizada por diversas organizações: Vara da Infância e Juventude que é representada

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pela autoridade judiciária, sendo o juiz que julga o ato infracional cometido pelo

adolescente, tendo por base os princípios e as normas estabelecidas pelo Estatuto da

Criança e do Adolescente. Na forma do art. nº 148 do ECA, compete ao juiz: conhecer

as representações promovidas pelo Ministério Público, para apuração de ato infracional

atribuído a adolescente, aplicando as medidas cabíveis a conceder a remissão, como

forma de extinção ou suspensão do processo. Ao Ministério Público compete à

representação pelo Promotor de Justiça.

Na forma do art. nº 201, do Estatuto da Criança e do Adolescente, é dever do

Ministério Público: conceder a remissão, como forma de exclusão ou extinção do

processo e promover e acompanhar os procedimentos relativos às infrações dos

adolescentes. No percurso de elaboração deste trabalho foi possível observar que a

municipalização das medidas socioeducativas em meio aberto não ocorre em Alfenas,

pela omissão do poder executivo municipal.

O município de Alfenas data de 1860 a sua criação e localiza-se na Região Sul

do Estado de Minas Gerais. Os dados do Censo de 2010 do IBGE (2010) mostram que

o município possui uma população de 73.722 habitantes. Com uma área de 848,3 km²,

representando 0,15% da área total do Estado de Minas Gerais, com densidade

demográfica de 79,01 habitantes por km² e Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é

de 0,829.

Nos anos de 2005 e 2006, a mesma fonte demonstrava que o Brasil possuía

24.461.666 adolescentes entre 12 e 18 anos, desse total, 0,1425% representava a população de

adolescentes em conflito com a lei. Tal porcentagem, em números absolutos, significava 34.870

adolescentes autores de atos infracionais cumprindo algum tipo de medida socioeducativa em

todo o Brasil (Doc. Ação Social/PM Alfenas/MG, 2011).

Segundo levantamento da 18ª Companhia Independente da Policia Militar de Alfenas,

houve no ano de 2010 um total de 263 ocorrências envolvendo adolescentes no município e, em

2011 este número subiu para 281 ocorrências. As ocorrências no trânsito nos últimos sete

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meses (janeiro a julho de 2011) foram registradas 56 ocorrências, envolvendo adolescentes

(Doc. Ação Social/PM Alfenas/MG, 2011).

No Anexo I da referida instituição, denominado de “Menores infratores envolvidos

em ocorrências NE Janeiro de 2010 a Dezembro 2011, por natureza e variação, tem-se

os seguintes dados, por ordem de ocorrência, no município de ALfenas: ano de 2010 –

263 e ano de 2011 – 281, com variação percentual de 6,84%.

A título de ilustração, tem-se as seguintes ocorrências registradas nos dois anos,

excluídas as que tiveram indicador 0 (zero) no ano de 2011 e em que a maioria delas se

dá com o envolvimento de adolescentes no uso, consumo de drogas e tráfico de drogas

(134 casos), seguido de lesão corporal e agressão (72 casos), ameaça (28 casos),

receptação (18 casos), furto, no geral (59 casos), crimes contra o patrimônio (17 casos),

infração de trânsito (15), roubo no geral (9 casos), homicídio tentado (1 caso), infrações

entre pares (2) que foram agrupadas no geral tendo em vista levantamentos nacionais

na trajetória de atos infracionais cometidos por adolescentes.

Quadro 6 -

Tipo de ato Total geral 2010 Total geral 2011

Uso e consumo de drogas 35 40

Tráfico de drogas 25 32

Lesão corporal 15 22

Agressão 17 18

Ameaça 15 13

Receptação 06 12

Furto qualificado (arrombamento em veículo) 01 11

Contra o patrimônio 08 09

Furto de coisa comum 0 08

Infração no trânsito 02 07

Dano 17 07

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Atrito verbal 15 07

Furto qualificado (arrombamento em residência) 02 07

Furto consumado em estabelecimento comercial 0 06

Rixa 01 06

Furto consumado à transeunte 02 05

Outras ações de defesa social 0 05

Busca e apreensão de objetos pessoais 0 04

Direção perigosa de veículo na via pública 01 03

Furto consumado 06 03

Outras contra as pessoas 04 03

Outras contra os costumes 03 03

Furto de veículo consumado de bicicleta 05 02

Furto tentado a veículo 01 02

Infrações contra crianças e adolescentes 0 02

Injúria 0 02

Outras infrações referentes às substâncias entorpecentes 0 02

Apropriação indébita de coisa alheira móvel 0 02

Atropelamento de pessoa com vítima fatal 0 02

Roubo a mão armada consumado a prédio comercial 0 02

Roubo tentado à transeunte 0 02

Violação de domicílio 0 02

Furto de veículo tentado de automóvel 0 01

Furto qualificado arrombamento a estabelecimento bancário 0 01

Furto qualificado consumado arrombamento 02 01

Homicídio tentado 0 01

Mandado de prisão 0 01

Desacato 10 01

Difamação 01 01

Furto consumado a pessoa em estabelecimento comercial 01 01

Porte ilegal de arma de fogo 0 01

Roubo a mão armada consumado em supermercado 01 01

Roubo a mão armada consumado em transeunte 02 01

Fonte: 18ª Companhia Independente da Policia Militar de Alfenas / Ação Social-PM de Alfenas/MG, 2010-2011

Vide Anexo 2

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A população de Alfenas concentra-se no meio urbano (93,3%) contra 6,7% no

meio rural e isso reflete de modo diferenciado tomando a população economicamente

ativa (PEA), segundo dados do Censo do IBGE de 2000). O município se destaca como

o núcleo urbano mais desenvolvido da região, beneficiada por uma malha rodoviária

extensa que permite a concentração e distribuição de bens e serviços para os

municípios circunvizinhos.

A atividade industrial e comercial é a preponderante e, complementada pela

participação agro-pastoril e ainda como um centro produtor de café e de outras

monoculturas. O setor de gêneros alimentícios e laticínios aliado à pecuária e a

agroindústria sustentam a base da economia municipal. O setor de serviços vem

ganhando densidade econômica pela presença de Universidades e a implantação

diferenciados cursos superiores pelas UNIFAL (Universidade Federal de Alfenas) e

UNIFENAS (Universidade José do Rosário Vellano) e, isso, tem exigido novo perfil de

trabalhador, cada vez mais escolarizado e qualificado para o trabalho.

Os dados disponíveis da Secretaria de Governo de Alfenas indicam que a

expectativa média de vida saltou de 71,46 para 76,9 anos no último decênio. E, sobre os

indicadores de Pobreza (proporção de pessoas com renda domiciliar per capita de ¼ do

salário mínimo) eram de 13,5% em 2000, com uma taxa anual de crescimento de 2,80%

registrados entre 1991 e 2000.

A atual administração busca em consonância com a Política Nacional de Assistência Social (PNAS, 2004), por meio da Secretaria Municipal de Assistência Social, a construção de uma política pública de direção universal e de direito de cidadania, com capacidade de assegurar os direitos sociais às pessoas que dela necessitam independente de sua renda, a partir de sua condição inerente de direitos (Doc. Ação Social/PM Alfenas/MG, 2011).

O Plano Diretor de Alfenas objetiva ser o instrumento básico da política pública

de promoção do desenvolvimento municipal combinando a função social da

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propriedade, do desenvolvimento sustentável da cidade e, com isso, resultando na

melhoria dos níveis de qualidade de vida e bem estar da população, em geral, na

redução dos índices de desigualdades sociais.

Dentre uma série de problemas que permeiam a área social, segundo

informações coletadas pelo pesquisador junto às equipes técnicas da área social e da

justiça: uso de substâncias psicoativas (uso de substâncias químicas/drogas/álcool);

exclusão pela pobreza e/ou ao acesso às demais políticas públicas (violação dos

direitos sociais); exclusão pela pobreza e/ou ao acesso às demais políticas públicas

(bolsões de pobreza); estratégias alternativas e diferenciadas de sobrevivência que

podem representar risco pessoal e social (trafico de drogas); estratégias alternativas e

diferenciadas de sobrevivência que podem representar risco pessoal e social (prática de

atos infracionais); famílias e indivíduos com perda ou fragilidade de vínculos de

afetividade, pertencimento e sociabilidade (convivência social precária).

Migração/população em situação de rua (migrante); diferentes formas de violência

advindas do núcleo familiar, grupos e indivíduos (violência doméstica).

Para fazer frente à demanda referida o município possui uma série de programas,

projetos e serviços sociais desenvolvidos pelo público quanto pelo setor privado

(organizações não-governamentais). E segundo, informações das equipes técnicas, a

Secretaria Municipal da Criança e Adolescente, Igualdade Racial e Desenvolvimento

Social, em 2010, atendeu 4.000 (quatro mil) pessoas por meio dos benefícios sociais

eventuais nos programas de transferência de renda, fato que ainda demonstra a

distância entre os direitos sociais proclamados constitucionalmente com a realidade

concreta vivida pelas camadas populares e, também pela pouca capacidade de

afirmação dos direitos de cidadania, tanto do cidadão quanto do próprio Estado.

Um destaque que interessa ao problema da pesquisa se refere ao consumo de

drogas, incluindo o álcool, pelos adolescentes e jovens do município e, mesmo da

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região, principalmente em eventos festivos e/ou comemorativos, tendo em vista que os

relatórios dos sistemas socioeducativos, sistematizados pela Secretaria de Direitos

Humanos do Ministério da Justiça (SDH/MJ) tem dado destaque à aplicação de medida

de internação aos adolescentes envolvidos com drogas (consumo e/ou tráfico).

As novas institucionalidades foram criadas no município como os Conselhos de

Direitos da Criança e do Adolescente, Conselho Tutelar, Conselho de Assistência

Social, Conselho da Educação, Conselho da Saúde, Conselho Antidrogas, Conselho

Comunitário de Segurança Pública, Conselho do Idoso, Conselho das Pessoas

Portadoras de Necessidades Especiais, Conselho da Comunidade, entre outros.

No que interessa ao tema, faz-se necessário distinguir as atribuições e/ou

competências dos referidos Conselhos e, nesse caso, do Conselho de Direitos da

Criança e do Adolescente e do Conselho Tutelar. O primeiro é criado por lei, nas três

esferas da administração pública e o segundo apenas na esfera do poder público

municipal, conforme o disposto no Livro II, Parte Especial, Título I Da Política de

Atendimento, Capítulo I Das disposições gerais e Título V Do Conselho Tutelar, Capítulo

I Das Disposições Gerais, respectivamente:

Art. 88. São diretrizes da política de atendimento: (...) II – Criação de Conselhos Municipais, Estaduais e Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, órgãos deliberativos e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a participação popular paritária, por meio de organizações representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais; (...) Manutenção de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos da criança e do adolescente Art. 89. A função de membro do Conselho Nacional e dos conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do adolescente é considerada de interesse público relevante e não será remunerado. Art.131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente, definidos nesta Lei. Art. 132. Em cada Município haverá, no mínimo, um Conselho Tutelar composto de cinco membros, escolhidos pela comunidade local para mandato de três anos, permitida uma recondução.

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Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro constituirá serviço público relevante, estabelecerá presunção de idoneidade moral e assegurará prisão especial em caso de crime comum, até o julgamento definitivo. Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: I – atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no9 art. 101, I a VII; II – atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando as medidas previstas no art. 129, inciso I a VII; (...) IV – Encaminhar ao Ministério Público notifica de fato que constitutiva infração administrativa ou penal contra os direitos da criança e do adolescente aos pais e responsáveis (ECA, 1990).

Cabe ressaltar que no ano de 2009, a Portaria nº 01/2009 do Poder Judiciário do

Estado de Minas Gerais cria o “Comissariado da Infância e Juventude”, em que seus

membros, ao todo 3 (três), todos do sexo masculino, com idade entre 30 a 50 anos. São

designados pela referida Portaria como “Comissários Voluntários da Infância e

Juventude da Comarca de Alfenas”. A justificativa legal para a criação desse

Comissariado se fundamenta “no disposto do art. 194, caput, in fine, da Lei 8.069/90 –

Estatuto da Criança e do Adolescente4, e os arts. 334 e seguintes do Provimento nº

161/CGJ/2006, de 01.09.2006, da Corregedoria Geral de Justiça de Minas Gerais”

(PJEMG/Vara Cível da Infância e Juventude da Comarca de Alfenas, 09/12/2009). E

segundo a referida a Portaria, são atribuições do Comissariado instituído:

3º) Cumprimento de determinações judiciais como sindicâncias, mandado de busca e apreensão de crianças ou adolescentes em situação de risco, subsídios em eventuais operações policiais e especiais que envolvam crianças e adolescentes em situação de risco, atuação em logradouros públicos quando da verificação de crianças ou adolescentes em situação de risco, em especial PEDINTES e VENDEDORES, fiscalização INTERNA e EXTERNA de bares, restaurantes, clubes, teatros, estádios, bancas de jornais, danceterias, competições esportivas, festas, bailes, lan houses, boates, desfiles, eventos festivos, festas públicas de qualquer natureza, shows artísticos, casas noturnas, dentre outros, e EXTERNAS de hotéis e motéis, que também poderão ser fiscalizados internamente, desde que devidamente autorizados através de mandatos judiciais” (PJEMG/Vara Cível da Infância e Juventude da Comarca de Alfenas, 09/12/2009). (Transcrição citada literalmente e com os destaques)

4 “Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade administrativa por infração as normas de proteção à

criança e ao adolescente terá início por representação do Ministério Público ou Conselho Tutelar, ou auto de infração

elaborado por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por duas testemunhas, se possível” (ECA,

1990),

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A Portaria assegura aos Comissariados, no exercício de suas funções, “o livre

ingresso nos locais onde se faça necessária a prestação de assistência à criança

e ao adolescente” e no parágrafo único dispõe que:

É vedado ao Comissário receber, para si ou para outrem, ingressos, convites, entradas ou assemelhados para festividades, espetáculos, bailes, exibições esportivas, cinematográficas, teatrais, circenses, dentre outros, seja em nome do Juízo ou em decorrência das funções que exerce PJEMG/Vara Cível da Infância e Juventude da Comarca de Alfenas, 09/12/2009).

Apesar da referida Portaria, destacar que o encargo do comissariado é de “natureza VOLUNTÀRIA e NÂO REMUNERADO, na forma regulada pela Corregedoria Geral de Justiça de Minas Gerais” (transcrição com destaque do próprio documento), os comissariados nomeados contam com uma “ajuda de custo” no valor de R$ 600,00 (seiscentos reais) mês pagos com recursos do Fundo da Infância e da Adolescência (FIA), de responsabilidade do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMDCA). Um dos motivos alegados para essa ajuda de custo é a de que muito dos procedimentos poderiam resultar em multas depositadas na conta bancária específica do FIA. Contudo, até o devido pagamento das multas a instituição, a empresa e/ou a pessoa que a receber, tem direito de recorrer às instâncias superiores sobre a aplicação do ato e mesmo questionar o procedimento feito pelos comissariados.

Tendo em vista ser essa questão de relevância para o desenho da política de direitos à criança e ao adolescente e, que, envolve diretamente o adolescente em conflito com a lei, cabe destaque à literatura e/ou doutrina jurídica sobre a questão, a saber:

A designação de voluntários para prestarem serviços junto à justiça da infância e da juventude pode dar margem a abusos, ou outra coisa não objetivando muitos que se apresentem como tais senão vantagens, principalmente a entrada gratuita em estabelecimentos de diversões públicas sem pagamento. Considerando que a Resolução 6/90 do Egrégio Conselho da Magistratura determinou, entre outras medidas, o imediato recolhimento de qualquer documento funcional de identidade de pessoal da primeira instância não expedido por aquele Conselho ou pelo Corregedor Geral de Justiça; Considerando que, dando cumprimento àquele dispositivo, se verificou que inúmeras irregularidades e abusos vinham sendo praticados, tais como a nomeação de Comissários de Menores e expedição de carteira de identidade funcional sem qualquer comunicação à Corregedoria Geral de Justiça, concedendo-se, em alguns casos, até mesmo ‘porte de arma’. (...) Considerando que os Comissários de Menores voluntários podem prestar valiosa colaboração à justiça, não somente na fiscalização de infrações administrativas (art. 194 da Lei 8.069/90) como também na composição de equipes interprofissional, especialmente para desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros (art. 151 do mesmo diploma legal); Considerando entretanto que, pela importância de suas funçõ9es, os Comissários de Menores Voluntários devem ser criteriosamente selecionados, impondo-se, outrossim, a manutenção de um cadastro central na Corregedoria

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Geral da Justiça (CHAVES, 1994 apud Desembargador Polinício Buarque de Amorim, Corregedor Geral da Justiça do Estado do Rio de Janeiro baixou o Provimento nº 250, de 08/03/1891, publicado em 11/02/91, informativo semanal COAD n. 11/91, p. 111-110).

Segundo, Cury, Garrido & Marçura (1991):

(...) 3. O projeto de lei que deu origem ao Estatuto (PL 193/89, do Senado Federal), tratava em seu art. 164 do chamado “comissariado de menores” sob a denominação de “agentes de proteção da infância e da juventude”, com a incumbência “exercer as atividades que lhes forem atribuídas pela autoridade judiciária, podendo compor quadro próprio da administração ou corpo de voluntários nomeados pela autoridade judiciária”. Embora suprimido esse dispositivo a menção, na norma sob exame a “servidor efetivo ou voluntário credenciado” induz a possibilidade do Judiciário manter quadro próprio ou corpo0 de voluntários para exercer, por delegação, funções administrativas como as concernentes a fiscalização (p. 103).

Essa reflexão ilustra em parte a cultura da sociedade e, portanto de seus

sistemas, sobre as novas formas de condução do Estado brasileiro em se tratando do

atual dispositivo constitucional que dispõe sobre a participação democrática nas

instâncias de decisão coletiva e no papel político e administrativo das novas

institucionalidades (Conselhos de Direitos e Conselhos Tutelares). A nosso ver, com a

existência dessas institucionalidades nos municípios nomear voluntários para a ação de

fiscalização concorre com as atribuições já definidas para o Conselho Tutelar, art. 136,

incisos, a saber: “IV – encaminhar ao Ministério Público notifica de fato que constitua

infração administrativa ou penal contra os direitos da criança ou adolescente; V –

encaminhar à autoridade judiciária, os casos de sua competência” (ECA, 1990) e, que o

mesmo deveria ser reforçado em sua atuação e competência como também

representados, caso não cumprisse com suas obrigações. Do mesmo modo, cabe ao

Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente buscar o aperfeiçoamento de sua

prática conselhista para aprimoramento do desenho da estão da política de direitos.

Na realização da pesquisa a busca por dados e informações sobre normativas

(leis, decretos, resoluções ou qualquer outro) em diversos setores do público

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(procuradoria municipal, câmara municipal, conselho de direitos da criança e do

adolescente) não foi possível detectar regulamentação sobre a questão do adolescente

em conflito com a lei sobre a política de direitos.

Até o ano de 2010, os adolescentes eram apreendidos na cadeia publica o que

contraria o disposto legal, ECA, no art. 185, a saber: "A internação, decretada ou

mantida pela autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabelecimento

prisional” até porque, no art. 183 da mesma lei “o prazo máximo e improrrogável para a

conclusão do procedimento, estando o adolescente internado provisoriamente, será de

45 (quarenta e cinco dias)dias”, figura conhecida como acautelamento judicial e/ou

internação provisória. E, a justificativa para ã internação em cadeias públicas por

integrantes do Poder Judiciário vem se amparando no argumento do Supremo Tribunal

de Justiça (STJ):

Em casos excepcionais, onde não há possibilidade material de se efetivar a medida sócio-educativa de internação de menor infrator em estabelecimento apropriado, admite-se a custódia daquele em cadeia pública local, desde que isolado dos demais detentos, atendendo-se, assim, ao escopo do art. 185 do ECA Com base neste entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus por não vislumbrar constrangimento ilegal na manutenção de paciente maior de 18 anos, que cometera crime de homicídio qualificado antes da maioridade penal, numa cela separada dos demais presos adultos, (em cadeia pública de localidade onde não existe estabelecimento para menores).HC 81.519-MG, rel. Min. Celso de Mello, 19.11.2002. (HC-81519)

Ainda, no mesmo ano, após visita de membros do Conselho Nacional de Justiça

(CNJ) na Comarca de Alfenas foi requerida a imediata liberação de adolescentes que se

encontravam internados no presídio do município, ocasião. Em que estavam internados

cerca de 6 (seis) adolescentes e, em outros períodos, o presídio chegou a comportar 16

(dezesseis) adolescentes, em duas celas, todas separadas dos adultos.

O processo de municipalização das medidas socioeducativas em meio aberto (LA

e PSC) em Alfenas pode ser datada a partir de 2006, tendo em vista, a adoção pelo

CONANDA, dos parâmetros pedagógicos e arquitetônicos definidos no SINASE,

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também no mesmo ano. A Resolução nº 119/206 do Conselho Nacional dos Direitos da

Criança e do Adolescente dispõe sobre a organização dos programas e dos recursos

humanos com base na interdisciplinaridade e no compartilhamento de responsabilidades

intersetoriais entre os entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios) n

gestão e financiamento da política socioeducativa: “O SINASE é um dos instrumentos

normativos desenvolvidos para a implementação da proteção integral para o

adolescente em conflito com a lei, que envolve desde a apuração do ato infracional até a

execução das medidas socioeducativas” (SILVESTRE, 2010, p. 16).

Diante de tal quadro, o poder público municipal passou a celebrar convênios para

o repasse de subvenção e contribuição financeira para uma das instituições da

sociedade civil para a execução direta dos programas socioeducativos em meio aberto

de LA, a organização não-governamental conveniada é o Grupo Arco-Iris de

Misericórdia. O programa de LA desenvolvido por esta instituição tem capacidade para

15 (quinze) adolescentes, através do Projeto Casa Filho Pródigo “que visa o

atendimento integral do adolescente em conflito com a lei, encaminhado pelo Juizado da

Infância e Juventude, partindo das diretrizes propostas pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente, que trata da medida socioeducativa de liberdade assistida” 5 .

Também a partir de 2010, outra organização não-governamental passou também

a atender diretamente adolescentes para cumprimento de medida de PSC,

encaminhados pela Vara da Infância e da Juventude, a Associação Dias Melhores, com

demanda máxima de atendimento para 15 (quinze) adolescentes. Cabe ressaltar que a

referida entidade já teve convênio com o Poder Público Municipal desde 2006 para

atender a demanda de 80 (oitenta) adolescentes em risco social e usuários de

substancias entorpecentes, do sexo masculino, contudo, sem aplicação de medida

socioeducativa, através do Projeto Fênix. A média de adolescentes do sexo feminino em

5 Termo de Convênio nº 004/2011 entre o Município de Alfenas e Grupo Arco-Iris de Misericórdia de Alfenas.

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cumprimento de medidas socioeducativas/ano varia entre duas ou três, em PSC. No

convênio aditado até 31/12/2010 a demanda passou para 30 (trinta) adolescentes6 e,

para o ano de 2011, não foi renovado, o que levou ao fechamento do referido projeto.

O município, contudo, dispunha para a execução das medidas socioeducativas

em meio aberto para 2010 de R$ 16.000,00 (dezesseis mil reais) advindos do Governo

do Estado de Minas Gerais e, como não foi utilizado os recursos foram retornados para

os órgãos de origem. Nenhuma das duas entidades que realizavam os programas

socioeducativos não foi contemplada com esse recurso e, que a nosso ver, deve ter se

dado por dificuldades operacionais. O Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do

Adolescente de Alfenas (CMDCA/Alfenas), no entanto, fez solicitação oficial à Secretaria

Municipal de Desenvolvimento Social sobre o ocorrido e, até a presente data, não

obteve resposta formal. Outros instrumentos que poderiam ser utilizados pelo Conselho

para resolver a situação não foram utilizados, como por exemplo, representação ao

Ministério Público, audiência pública, mobilização social.

Ainda sobre os recursos financeiros advindos Governo Federal para o Governo

Municipal de Alfenas, o montante recebido para o ano de 2010 foi de R$ 62.889.260,39

(sessenta e dois milhões, oitocentos e oitenta e nove mil , duzentos e sessenta reais e

trinta e nove centavos)7 num valor total por área social de atendimento, no ano, a saber:

Saúde, R$ 35.959,338,41; Assistência Social, R$ 2.885.082,66; Educação, R$

1.296.208,99; Trabalho, R$ 584.990,46; Desporto e Lazer, R$ 500.000,00; Habitação,

R$ 187.000,02; Cultura, R$ 127.196.03 para as despesas com projetos, prêmios,

apoios; elevação e qualificação profissional; condições de habitabilidade; alimentação,

6 Convênio nº 002/2010 celebrado entre o Município de Alfenas e a Associação Dias Melhores.

7 Documento da FNS CONSULT – Treinamento e Desenvolvimento em Empreendedorismo Ltda, empresa de consultoria ([email protected]).

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transporte, equipamentos escolares, apoio à alfabetização de jovens e adultos escolar

entre outros.

No que interessa a pesquisa, pelo fato da execução das medidas socioeducativas

em meio aberto se encontrarem vinculadas à gestão da política de assistência social,

podem ser destacados valores correspondentes para as ações de transferência de

renda – Bolsa Família (R$ 2.337.454,00), Serviços de Proteção Especial – PAIF/CREAS

(R$ 115.862,40), Serviço de Proteção Básica às Famílias - PAIF-CRAS (R$ 99.000,00),

Serviço de apoio à Gestão Descentralizada do Programa Bolsa Família (IGD) (R$

67.032,71), Serviços de Proteção Social Básica a Indivíduos e Famílias – CREAS (R$

52.500,00), Serviços Específicos de Proteção Básica (R$ 48.464,80), Avaliação e

Operacionalização do Benefício de Prestação Continuada da Assistência Social e

Manutenção da Renda Mensal Vitalícia – BPC (R$ 1.525,00)Concessão de Bolsa para

Crianças e Adolescentes em Situação de Trabalho (R$ 1.800,00), Serviço

Socioeducativo para Jovens de 15 a 17 anos – PROJovem (R$

79.143,75)Enfrentamento ao Crack e outras drogas (R$ 53.100,00), Ações

Socioeducaticas e de Convivência para Crianças e Adolescentes em Situação de

Trabalho – PETI )R$ 26.000,00) e, enfim, para Serviços de Proteção Social aos

Adolescentes em Cumprimento de Medidas Socioeducativas (R$ 2.200,00).

A Secretaria Municipal da Criança e Adolescente, Igualdade Racial e

Desenvolvimento Social (Ação Social) de Alfenas tem elaborado o projeto “Medida

Socioeducativa em Meio Aberto”, com período de execução de outubro de 2011 a

outubro de 2012 para a ”implantação do Programa Medida Socioeducativo em Meio

Aberto no Município de Alfenas” para atenção de 40 (quarenta) adolescentes, endo 15

(quinze) adolescentes em medida de LA e 25 (vinte e cinco) adolescentes para a PSC,

com o objetivo de:

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a) Inserir e acompanhar 40 (quarenta) adolescentes na sociedade, viabilizando alternativas comunitárias para o apoio a profissionalização e a geração de renda, avaliando periodicamente seu percurso no cumprimento da Medida Sócio Educativa; b) Auxiliar as famílias destes quarenta adolescentes na compreensão de sua dinâmica direta, dificuldades e a relação na conduta com o adolescente; c) Orientar essas quarenta famílias, para que ela participe efetivamente do processo do cumprimento da medida sócio educativa; d) Realizar um trabalho de capacitação junto aos técnicos, educadores, e com a rede socioassistencial que irá atender MSE; e) Fortalecer os laços familiares e relações comunitárias no espaço de vivência cotidiana; f) Garantir a matrícula escolar dos quarenta adolescentes juntamente com as suas famílias e supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar dos mesmos, delegando responsabilidades aos representantes legais pelos acompanhamentos escolares. g) Proporcionar aos quarenta adolescentes atividades educativas, através de entretenimento, cultura, esporte e lazer, visando o fortalecimento dos vínculos sociais (Doc. Ação Social/PM Alfenas, 2011).

O referido projeto de implementação dos programas socioeducativos foi enviado

para o Governo Estadual de Minas Gerais através da Subsecretaria de Atendimento às

Medidas Socioeducativas vinculada à Secretaria de Estado e Defesa Social (SEDS)

para apreciação. E, o valor total é de R$ 70.000,00 (setenta mil reais) para doze meses,

numa parceria entre o Governo Estadual e o Governo Municipal, sendo que a previsão

de recursos diretos do município é de R% 59.000,00 (cinqüenta e nove mil reais).

Nos comunicados havidos entre o pesquisador e a referida Secretaria (SEDS),

devidamente documentados (Anexo I) para a busca de dados e informações do

processo de municipalização das medidas em meio aberto, segundo, a Diretoria de

Gestão da Informação e Pesquisa “que o convênio do Estado com o Município de

Alfenas está em processo de tramitação, o que nos impede de responder a todas as

demandas explicitadas no projeto de pesquisa” (Doc. SEDS/MG - Diretoria de Gestão da

Informação e Pesquisa de 17/11/2011. Parecer Sobre Projeto de Pesquisa – Pedido

016.2011).

Na retomada das orientações do SINASE sobre os programas socioeducativos:

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A implementação do SINASE objetiva primordialmente o desenvolvimento de uma ação socioeducativa sustentada nos princípios dos direitos humanos. Persegue ainda, a idéia dos alinhamentos conceitual, estratégico e operacional, estruturado, principalmente, em bases éticas e pedagógicas (SINASE, 2006, p. 15).

Os parâmetros socioeducativos devem ser organizados por eixos estratégicos de

acordo com o referido documento, a saber: “suporte institucional e pedagógico;

diversidade étnico-racial, de gênero e de orientação sexual; cultura, esporte e lazer;

saúde; escola; profissionalização/trabalho/previdência; família e comunidade;

segurança” (p. 64).

No que se refere ao “suporte institucional e pedagógico” para os programas

socioeducativos a gestão da política socioeducativa deve se atentar aos parâmetros

acordados no SINASE (2006), como:

<>registrar a entidade e inscrever os respectivos das e inscritos os programas de

LA e PSC no CMDCA (art. 90, incisos II e V, parágrafo primeiro e art. 91)8;

<> ter projeto político pedagógico elaborado, incluindo referencial teórico-metodológico,

ações/atividades, recursos (humanos e materiais), avaliação e monitoramento;

<> dispor de espaço físico/arquitetônico adequado;

<> definir perfil de recursos humanos compatível com a função e cargo; instrumentais

para registro sistemático das diversas abordagens de trabalho; 8 “Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela manutenção das próprias unidades, assim como pelo

planejamento e execução de programas de proteção e sócio-educativos destinados a crianças e adolescentes, em

regime de:

(...)

II – apoio sócio-educativo em meio aberto;

(...)

V - liberdade assistida;

Parágrafo 1º As entidades governamentais e não-governamentais deverão proceder à inscrição de seus programas,

especificando os regimes de atendimento, na forma definida neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da

Criança e do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de suas alterações, do que fará comunicação ao

Conselho Tutelar e à autoridade judiciária” (ECA, 1990).

“Art. 91. As entidades não-governamentais somente poderão funcionar depois de registradas no Conselho Municipal

dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autoridade judiciária”

(ECA, 1990).

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<> elaborar e formalizar o Plano Individual de atendimento (PIA);

<> Colher e sistematizar dados sobre o perfil dos adolescentes, famílias e da

comunidade e consolidar dados sobre o início e fim dos adolescentes em cumprimento de

medidas socioeducativas e, as possíveis reincidências;

<> cumprir prazos para envio de relatórios e encaminhamentos definidos no PIA e outras

necessidades;

<> articular-se com o sistema de justiça e outros órgãos e serviços públicos e com a rede

proteção social e, para isso, deve manter atualizado dados e informações sobre os programas,

projetos, serviços, benefícios sociais;

<> garantir a municipalização dos programas socioeducativos e os encontros

sistemáticos com a rede de proteção social;

<> normatizar sobre o papel/função/cargo de cada socioeducador, incluindo aqui, a

equipe técnica, educadores sociais e gestores e elaboração de regimento interno dos programas

socioeducativos;

<> garantir a sustentação e financiamento para que não haja solução de continuidade

dos programas socioeducativos, entre outras disposições.

E, sobre a especificidade de cada programa socioeducativo, a gestão da política

de direitos também de acordo com a regulação do SINASE (2006) estabelece para os

programas socioeducativos de Prestação de Serviços à Comunidade (PSC), o que

segue:

1) identificar, nos locais de prestação de sérico, atividades compatíveis com as habilidades dos adolescentes, bem como respeitando aquela de seu interesse; 2) garantir que todos os adolescentes tenham profissionais – referência socioeducativo – e orientador socioeducativo9 – nos locais de prestação de serviço acompanhando-os qualitativamente; 3) acompanhar a frequência do cumprimento da medida no local de prestação de serviços; 4) realizar avaliações periódicas, no mínimo com frequência quinzenal com a referência socioeducativa10 e mensal com os orientadores socioeducativos dos locais de prestação de serviço. Estes são importantes, mas a interação, o diálogo, o contato pessoal contribuem significativamente para uma compreensão da abordagem pedagógica necessária ao acompanhamento dos adolescentes; e

9 Por referência socioeducativo compreende “o profissional de nível superior ou com função de gerência ou

coordenação nos locais de prestação de serviço comunitário, que será responsável geral pelos adolescentes

prestadores de serviço comunitário quanto pelo funcionário guia” (SINASE, 2006, p. 66).

10

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5) garantir que os locais de prestação de serviço comunitário sejam Unidades que compartilhem dos mesmos princípios e diretrizes pedagógicas do SINASE e consequentemente das entidades de atendimento socioeducativo (SINASE, 2006, p. 66).

E, no caso do programa socioeducativo de Liberdade Assistida, as

especificidades são as seguintes:

1) garantir uma equipe profissional- técnicos e orientadores sociais – responsável pelo acompanhamento sistemático do adolescente com freqüência mínima semanal; 2) garantir que os encontros (coletivos) entre orientador social comunitário/voluntário, técnicos e adolescentes, no mínimo, quinzenal; em se tratando de encontro grupal com a adolescentes, a freqüência deverá ser quinzenal; e 3) assegurar que os encontros entre orientadores sociais comunitários e adolescentes tenham frequência de, no mínimo, três vezes na semana, e entre técnico e orientador social comunitário/voluntário encontros com frequência, mínima, quinzenal (SINASE, 2006, p. 66).

Os programas socioeducativos em meio aberto (PSC e LA) de Alfenas tem

comunicação direta com o sistema de justiça (Vara da Infância e Juventude e Ministério

Público), com os diversos órgãos da administração direta municipal e também com as

ONGs. O Centro de Referência da Assistência Social (CREAS), enquanto representante

do Executivo, vinculado à Secretaria Municipal da Criança e Adolescente, Igualdade

Social e Desenvolvimento Social (Ação Social) recebe o comunicado, por meio de oficio

do MP e VIJ, que determinado/a adolescente recebeu medida socioeducativa e a

cumpre nas instituições Grupo Arco-Iris e Dias Melhores. Os relatórios de cumprimento

das referidas medidas pelos adolescentes são encaminhados ao sistema de justiça (VIJ)

pelas instituições responsáveis pela execução dos programas socioeducativos.

Na visita realizada na ONG Associação Dias Melhores e de acordo com

presidente sobre tais eixos estratégicos, a operacionalização deve se referenciar numa

ação educativa, fundamentada na concepção de que o adolescente é sujeito de direito e

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pessoa em situação peculiar de desenvolvimento que necessita de referência, apoio e

segurança.

As duas instituições Associação Dias Melhores e Grupo Arco-Iris de Misericórdia

comentaram nas visitas realizadas que acolhem os adolescentes assim que chegam aos

programas socioeducativos e depois dos processos de escuta, são elaborados com o

adolescente o PIA (Plano Individual de Atendimento), ouvidos também os familiares em

vários momentos do processo de cumprimento da medida socioeducativa, estendendo,

muitas vezes, para após o cumprimento da decisão judicial. No PIA são definidas metas

a serem trilhadas pelos adolescentes, familiares e equipes dos programas

socioeducativas no sentido de cumprimento com qualidade das medidas aplicadas pelo

sistema de justiça, evitando a reincidência.

As equipes das ONGs têm a função de auxiliar no acompanhamento e orientação

ao adolescente e sua família, de forma mais sistemática, mobilizando-os e contribuindo

para inseri-los, quando necessários, em programas socioassistenciais e de outras

Políticas Públicas; supervisionando a freqüência, aproveitamento escolar e fornecendo

informações acerca do cumprimento da medida e monitoramento dos encaminhamentos

realizados, identificando no município os locais de prestação de serviços, cujas

atividades sejam compatíveis com as habilidades dos adolescentes e com seus

interesses.

Na operacionalização das medidas socioeducativas a elaboração do plano de

trabalho é indispensável, garantindo a participação do adolescente e da família, e deve

conter os objetivos e metas a serem alcançados durante o cumprimento da medida e as

perspectivas de vida futura, dentre outros aspectos a serem acrescido, de acordo com

as necessidades do adolescente.

O acompanhamento social ao adolescente pela equipe técnica e orientador deve

ser sistemático, com freqüência mínima semanal para acompanhamento do

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desenvolvimento do plano de trabalho. As ações são acompanhadas pelos orientadores

que desenvolvem um papel de facilitadores do grupo. Ao final de cada atendimento a

equipe discute casos, para implementação e efetivação das atividades. Todas essas

ações são fundamentadas a partir dos pressupostos norteadores estabelecidos no ECA

(Estatuto da Criança e do Adolescente) e no SINASE (Sistema Nacional de Atendimento

SócioEducativo), assegurando-lhes ainda sua condição peculiar de pessoa em

desenvolvimento.

Em 2011 a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social não repassou os

valores devidos para as executoras das LA e PSC. Os valores voltaram para o

ESTADO. Diante de tal fato, o CMDCA – Conselho de Municipal Direitos da Criança e

Adolescente de Alfenas, fez um oficio solicitando explicação para a gestora da

Secretaria, ate o momento não houve resposta.

Pode se dizer que em Alfenas não existe monitoramento da execução das PSC e

LA. A JUSTIÇA quer apenas ter conhecimento se o adolescente infrator cumpriu ou não

a medida. O SINASE ainda não é difundido e praticado no município pelas autoridades

responsáveis.

Na gestão das medidas socioeducativas em meio aberto, o município de Alfenas

se faz omisso, obrigando as ONGS a realizar parcerias informais com empresas e

secretarias municipais, que recebem os adolescentes para cumprimento das medidas.

No entanto, não há nenhum documento que regulamenta tal situação.

Na gestão das medidas socioeducativas em meio aberto do Município de Alfenas a Segurança Pública, formada pela Polícia Militar e Polícia Civil. A Polícia Militar é responsável pelo policiamento ostensivo, como objetivo de prevenção, repressão da infração e apreensão do adolescente em flagrante. A Polícia Civil tem por responsabilidade a investigação, a comprovação da materialidade do ato infracional e apreensão do adolescente por mandato judicial. O Conselho municipal dos direitos da criança e do adolescente, órgão deliberativo e controlador da política de atendimento dos direitos da criança e do adolescente. O Conselho Tutelar, órgão encarregado pela sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do adolescente. (NOZABIELLI, 2003, p. 27)

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Todas essas organizações fazem parte da gestão das medidas socioeducativas

em meio aberto no município de Alfenas, sendo que, de acordo com Souza e Lira (2008,

p.66 - 6) os mesmos devem estar em constante articulação e cooperação para que se

possam alcançar resultados satisfatórios ao atendimento do adolescente em conflito

com a lei, sendo este adolescente, a razão de todo o processo de gestão das medidas

socioeducativas em meio aberto.

No ano de 2006 um adolescente de 16 anos apreendido em decorrência de furtos

foi assassinado com requintes de crueldade na cadeia publica de Alfenas. Tal fato,

gerou o processo n. 1199071-47.2006.8.13.0024 contra o Estado de Minas Gerais. O

homicídio do adolescente na cadeia publica mostrou ás autoridades a necessidade de

se cumprir a lei e exigir estabelecimento adequado para adolescentes infratores.

Entretanto, somente em 2011 é que a Justiça deixou de apreender os adolescentes no

presídio após a visita de um juiz do Conselho Nacional de Justiça.

Todos os Governos têm grandes responsabilidades na organização e

funcionamento do sistema socioeducativo. Por isso a integração entre os mesmos e

fundamental para o alcance da proteção integral dos adolescentes que cometeram ato

infracional.

O Munícipio, além de criar e manter os programas de atendimento para a

execução das medidas em meio aberto, cabe principalmente o desafio de promover a

integração das politicas setoriais no atendimento socioeducativo.O rol de competências

sugere, além das responsabilidades, a necessidade de criação de arranjos institucionais

para dar conta da política de atendimento como, por exemplo, sistemas de

monitoramento e avaliação e medidas de fortalecimento dos organismos de controle

social e de fiscalização no campo da proteção dos direitos (os Conselhos dos Direitos e

os Conselhos Tutelares). Conforme veremos no tópico seguinte o SINASE apresenta

ainda um novo modelo de gestão para a politica socioeducativa em cada esfera.

São competências específicas dos Municípios:

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1) Coordenar o Sistema Municipal de Atendimento Socioeducativo.

2) Instituir, regular e manter 0 seu sistema de atendimento socioeducativo, respeitadas as diretrizes gerais fixadas pela Uniao e pelo respectivo Estado,

3) Elaborar o Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo.

4) Editar normas complementares para a organização e funcionamento dos programas de seu sistema.

5) Fornecer, via Poder Executivo, os meios e os instrumentos necessários ao pleno exercício da função fiscalizadora do Conselho Tutelar.

6) Criar e manter os programas de atendimento para a execução das medidas de meio aberto.

7) Estabelecer consórcios intermunicipais, e, subsidiariamente, em cooperacao com o Estado, para o desenvolvimento das medidas socioeducativas de sua competência.

Na tentativa de se adequar ao ECA e ao SINASE o município de Alfenas

elaborou um projeto de atendimento para as medidas em meio aberto. O projeto

encontra-se na SEDS para apreciação e aprovação. Se aprovado Alfenas iniciará

formalmente a municipalização das medidas. O projeto visa atender 40 (quarenta)

adolescentes em cumprimento de medidas Sócioeducativas - MSE com idade de 12

anos completos aos 18 anos e em casos de exepcionalidade entre os 18 aos 21 anos,

em conformidade com o Art. 2º ECA. Segundo o projeto o quantitativo total de

adolescentes, será dividido: Quinze adolescentes para a Liberdade Assistida – LA e

Vinte e cinco adolescentes para a prestação de serviços a comunidade – PSC.

Com a implantação do Programa de Medida Sócio Educativa em meio aberto, no

município de Alfenas, buscará atender os adolescentes infratores em conflito com a lei,

por meio de ações desenvolvidas em articulação com a rede socioassistencial existente

no município, dessa forma o projeto atuará nesta interface para que tal realidade seja

diferente.

O direito à educação compreende o direito de receber limites e este, por sua vez,

traz ínsito do direito a ser corrigido, O ECA prevê no seu artigo 118 as providências a

serem tomadas em relação ao adolescente quando pratica um ato de violação de leis ou

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regras de conduta, o estatuto estabelece ainda condições necessárias para o reparo

através de medidas socioeducativas em espécie, intensidade e qualidade adequadas às

necessidades de cada jovem.

As ações de reparação do dano devem ser compreendidas dentro do contexto da

responsabilização do ato realizado por este adolescente. Todas as intervenções de

acompanhamento com os adolescentes deverão ser permeadas por atendimento

psicossocial sistemático pautado em uma abordagem individual e grupal, com o

envolvimento da família e a comunidade para o exercício da função protetiva, visando

assim o enfrentamento e a superação das situações em que se encontram os jovens e

adolescentes em cumprimentos das medidas socioeducativa.

O Plano de Atendimento deverá ser construído com a participação do

adolescente e sua família, pois será um compromisso estabelecido por ambos, com

objetivos, metas, deveres, e as perspectivas de vida futura entre outros aspectos que

forem convenientes de acordo com as necessidades e potencialidades dos

adolescentes.

O programa será permeado pelas diretrizes estabelecidos no ECA e SINASE,

que prevê a permanente articulação com as demais políticas públicas, assim como o

Sistema de Garantia de Direitos - SGD, Sistema de Justiça que atuará articulado para o

resgate da autonomia, reconstrução de vínculos violados, combate e redução dos

índices da prática de atos infracionais, no município de Alfenas. O Estatuto da

Criança e do Adolescente prevê em seu artigo119, parágrafo único que a Liberdade

Assistida será adotada sempre que afigurar a medida mais adequada para o fim de

acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente, portanto, o trabalho desenvolvido no

projeto será ostensivo junto a outros profissionais e da rede socioassistencial do

município para efetivar por meio das ações o processo de cumprimento de medidas

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socioeducativas a fim de serem integrados a comunidade e ao convívio familiar

conforme decisão da autoridade judiciária.

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REFERÊNCIAS

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CARVALHO, Maria do Carmo Brant de. Gestão social: alguns apontamentos para o debate. In RICCO, Elisabeth e RAICHELIS, Raquel (Orgs.). Gestão social: uma questão em debate, São Paulo: EDUC, IEE-PUC/SP, 1999.

CHAVES, Antonio. Comentários ao Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: LTr, 1994.

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FAZOLO, Eliane; CARVALHO, Maria Cristina; LEITE, Maria Isabel; KRAMER, Sonia. História e política da educação infantil. Sonimar C. de Faria; in: Educação infantil em curso. Rio de Janeiro: Editora Ravil, 1997. (p. 09 a 37).

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MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In ________(Org.) Pesquisa social: teoria, método e criatividade. Petrópolis/RJ: Vozes, 2007, p. 9-29.

NOZABIELLI, Sonia Regina. Desafios e possibilidades das medidas socioeducativas no município de Presidente Prudente. 2003. Dissertação (Mestrado Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 2003.

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PEREIRA, Irandi. O adolescente em conflito com a lei e o direito à educação. Tese. (Doutorado em Educação) – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo:USP, 2006.

_______. Programas de socioeducação aos adolescentes em conflito com a lei. (Cadernos de Ação e Defesa dos Direitos nº 3). Mariangá:CMDCA ; UEM-PEC-PCA., Dez., 2004.

PEREIRA, Irandi e MESTRINER, Maria Luiza. Liberdade Assistida e Prestação de Serviços à Comunidade: medidas de inclusão social voltadas ao adolescentes autores de ato infracional. PUC/SP-IEE - FEBEM/SP, Isão Paulo: Vox, 1999.

PEREIRA, Irandi e VERAS, Gerlene. O Estatuto da Criança e do Adolescente e municipalização ...

SILVA, Maria Alice da; A Família Brasileira Contemporânea e a Concepção Moderna de Criança e Adolescente. Artigo publicado na Coleção Infância e Adolescência, organização: Instituto da Criança e do Adolescente – ICA/PUC MG; Criança e Adolescente: Prioridade Absoluta, Belo Horizonte, Ed. PUC Minas, 2007

SILVESTRE, Eliana. O adolescente em conflito com a lei: política socioeducativa de direitos. Araraquara/SP, 2010. Tese (Doutorado em Sociologia) – Faculdade de Ciências e Letras, Universidade Estadual Paulista (UNESP), Campus de Araraquara, 2010.

SOUZA, Rosimeire de. Caminhos para a municipalização do atendimento socioeducativo em meio aberto: liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade / Rosimeire de Souza [e] Vilnia Batista de Lira. Rio de Janeiro: IBAM/DES : Brasília: SPDCA/SEDH, 2008.

SPOSATI, Aldaiza. Os desafios da municipalização do atendimento da criança e do adoelscente: o convívio entre a LOAS e o ECA. In Revista Serviço Social & Sociedade, n. 46, São Paulo: Cortez, 1994.

ZAMORA, Maria Helena (Org.) Para além das grades: elementos para a transformação do sistema socioeducativo. Rio de Janeiro: PUC/RJ; São Paulo: Loyola, 2005.

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ZANONI, Daniela Matias; Um Olhar para a Pedagogia da Educação Infantil: As Contribuições Teóricas da Educação de Crianças. Atibaia, 2005.

NASCIMENTO, Cláudia Terra do, BRANCHER Vantoir Roberto, OLIVEIRA Valeska Fortes de. A Construção Social do Conceito de Infância: Interlocuções Históricas e Sociológicas.

COSTA, Antonio Carlos Gomes. De menor a cidadão: Notas para uma história do novo direito da infância e juventude no Brasil. Editora do Senado, 1993.

BARROS, Glaucia/FDDCA: De menor a cidadão: um caminho em construção (Texto do Informativo Prioridade Absoluta da FDDCA-set.2003) - Gláucia Barros.

ARANTES, Esther Maria. De "criança infeliz" a "menor irregular" – vicissitudes na arte de governar a infância In: Jacó Vilela, Ana Maria, Jabur, Fábio e Rodrigues, Hiliana de Barros Conde. Clio – Payché: Histórias da Psicologia no Brasil. Rio de Janeiro: UERJ, NAPE, 1999. Pág. 257.

VOLPI, Mário. Adolescentes privados de liberdade: a normativa nacional e internacional & reflexões acerca da resposnabilidade penal. São Paulo: Cortez, 1997.

Documentos:

SEDS/MG - Diretoria de Gestão da Informação e Pesquisa de 17/11/2011. Parecer

Sobre Projeto de Pesquisa – Pedido 016.2011 (on line via e-mail em 17/11/2011).

ALFENAS – Secretaria Municipal Criança e Adolescente, Igualdade Racial e

Desenvolvimento Social. Projeto: Medidas Socioeducativas em Meio Aberto. Período

de execução: outubro de 2011 a 2012, s.d. (cópia Xerox).

Linha do Tempo: http://www.redeandibrasil.org.br/

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ANEXOS

Anexo 1

DECLARAÇÃO DA COORDENAÇÃO

PROGRAMA MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

UNIBAN

Eu, IRANDI PEREIRA, CPF nº 744.952.598-49, docente e coordenadora do PROGRAMA MESTRADO PROFISSIONAL ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI da Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN) e apresento também na condição de orientadora o mestrando VANDER CHERRI MARCOLINO, CPF nº 788.924.906-30 para o desenvolvimento da pesquisa CARTOGRAFIA DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO NO ESTADO DE MINAS GERAIS: O CASO DE ALFENAS.

Solicito deferência da instituição para que o mestrando possa ter acesso à documentação relativa ao processo de descentralização e municipalização da política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei de responsabilidade da gestão estadual.

A proposta de retorno dos resultados poderá ocorrer em três momentos distintos, a saber:

a) o primeiro, de caráter parcial em reunião com os gestores, técnicos e socioeducadores sobre os dados e informações recolhidos e sistematizados;

b) o segundo debate, após a entrega do relatório final da pesquisa (dissertação de mestrado) em 20/12/2011 data do depósito dos exemplares da pesquisa na Secretaria do Pós-Graduação da Universidade Bandeirante de São Paulo, para a banca de arguição;

c) o terceiro debate após a defesa pública prevista para o mês de fevereiro de 2012 e encaminhamento . de um exemplar impresso e outro em CD-ROM para a equipe gestora responsável pela execução das medidas socieoducativas.

São Paulo, 25 de setembro de 2011

Profa. Dra. Irandi Pereira

Coordenadora Programa Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei

(11) 2972.9021

(11) 2972.9047 – [email protected]

Anexo 2

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DECLARAÇÃO DE ORIENTAÇÂO

Eu, IRANDI PEREIRA, CPF nº 744.952.598-49, docente da Universidade Bandeirante de São Paulo (UNIBAN) sou orientadora do mestrando VANDER CHERRI MARCOLINO, CPF nº 788.924.906-30 no desenvolvimento da pesquisa CARTOGRAFIA DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO NO ESTADO DE MINAS GERAIS: O CASO DE ALFENAS.

Solicito deferência da instituição para que o mestrando possa ter acesso à documentação relativa ao processo de descentralização e municipalização da política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei de responsabilidade da gestão estadual.

A proposta de retorno dos resultados poderá ocorrer em três momentos distintos, a saber:

a) o primeiro, de caráter parcial em reunião com os gestores, técnicos e socioeducadores sobre os dados e informações recolhidos e sistematizados;

b) o segundo debate, após a entrega do relatório final da pesquisa (dissertação de mestrado) em 20/12/2011 data do depósito dos exemplares da pesquisa na Secretaria do Pós-Graduação da Universidade Bandeirante de São Paulo, para a banca de arguição;

c) o terceiro debate após a defesa pública prevista para o mês de fevereiro de 2012 e encaminhamento . de um exemplar impresso e outro em CD-ROM para a equipe gestora responsável pela execução das medidas Socioeducativas.

São Paulo, 25 de setembro de 2011

Profa. Dra. Irandi Pereira (Orientadora)

(11) 2972.9047 – [email protected]

Anexo 3

Termo de Compromisso de Retorno dos Resultados

Eu, VANDER CHERRI MARCOLINO, CPF nº 788.924.906-30, pesquisador da Instituição Universidade Bandeirante de

São Paulo (UNIBAN) comprometo-me a retornar os resultados obtidos por meio de pesquisa CARTOGRAFIA DA

EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO NO ESTADO DE MINAS GERAIS: O CASO DE

ALFENAS realizada no âmbito da Subsecretaria de Atendimento às Medidas Socioeducativas no período de setembro

a novembro de 2011.

A proposta de retorno dos resultados poderá ocorrer em três momentos distintos, a saber:

a) o primeiro, de caráter parcial em reunião com os gestores, técnicos e socioeducadores sobre os dados e

informações recolhidos e sistematizados;

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b) o segundo debate, após a entrega do relatório final da pesquisa (dissertação de mestrado) em 20/12/2011

data do depósito dos exemplares da pesquisa na Secretaria do Pós-Graduação da Universidade Bandeirante

de São Paulo, para a banca de arguição;

c) o terceiro debate após a defesa pública prevista para o mês de fevereiro de 2012 e encaminhamento . de um

exemplar impresso e outro em CD-ROM para a equipe gestora responsável pela execução das medidas

Socioeducativas.

São Paulo, 25 de setembro de 2011

VANDER CHERRI MARCOLINO

CPF nº 788.924.906-30,

De acordo:

Profa. Dra. Irandi Pereira (Orientadora)

e Coordenadora do Programa Mestrado Profissional (Stricto Sensu) Adolescente em Conflito com a Lei (UNIBAN) –

Reconhecido pela CAPES

(11) 2972.9047 – [email protected]

Anexo 4

FORMULÁRIO PARA SOLICITAÇÃO DE DADOS E/OU AUTORIZAÇÃO

DE PESQUISAS SOBRE O SISTEMA SOCIOEDUCATIVO

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Número da solicitação: Data:

I. Identificação

Nome do pesquisador: VANDER CHERRI MARCOLINO

Endereço:________________________________________________________________________________Bairro:_________________________________Cidade/UF:_________________________________________

Telefone:______________________E-mail:_________________________________________________

CPF:________________________________ Identidade:________________________________

Instituição:___________________________________________________________________________

Vínculo: ( ) Estudante de graduação ( X ) Estudante de pós-graduação

( ) Professor ( ) Pesquisador

Curso:MESTRADO PROFISSIONAL (STRICTO SENSU) ADOLESCENTE EM CONFLITO COM A LEI

Orientador: Profa. Dra. Irandi Pereira

Tel. (11) 2972.9047 e (11) 9903.1991 – email: [email protected]

A instituição de ensino possui Comitê de Ética próprio ? ( ) Não ( X ) Sim

Se não, em qual Comitê de Ética e o projeto de pesquisa foi/será submetido?

Nome da Instituição: UNIVERSIDADE BANDEIRANTE DE SÃO PAULO

Dados de contato: Profa. Dra. Irandi Pereira – Coordenadora do Programa Mestrado Profissional Adolescente em Conflito com a Lei

Av. Braz Leme, 3029 Santana – São Paulo – SP

(11) 2972.9047 – e-mail: [email protected]

II. Dados sobre a pesquisa

Título: CARTOGRAFIA DA EXECUÇÃO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS EM MEIO ABERTO NO ESTADO DE MINAS GERAIS: O CASO DE ALFENAS

Objeto da pesquisa: O projeto de pesquisa tem como objeto mapear a execução das medidas socioeducacativas em meio aberto (Prestação de Serviços à Comunidade (PSC) e Liberdade Assistida (LA) no Estado de Minas Gerais e, a partir daí, fazer um recorte de estudo mais detalhado sobre a execução no município de Alfenas, localizado na Região Sul do Estado.

Objetivos da pesquisa: O principal objetivo é realizar a cartografia da execução da política socioeducativa em meio aberto (PSC e LA) na dimensão da unidade federada Minas Gerais, Região Sudeste do Brasil no sentido de cumprimento de diretriz constitucional, a municipalização da política de direitos ao adolescente em conflito com a lei e a consecução da forma democrática e participativa da gestão da política pública. O mapeamento consiste em traçar mapas avaliar sobre o “estado da arte” da execução das medidas socioeducativas, em meio aberto, no Estado, na Comarca e no Município de Alfenas. Interessa-nos perceber o modo como a gestão pública sobre a política socioeducativa de PSC e LA vem se desenvolvendo a partir do Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 e dos parâmetros pedagógicos aprovados no documento Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE), em 2006.

Procedimentos de coleta de dados a serem realizados. Especificar. Os dados e informações sobre o processo de municipalização e participação democrática da execução da política socioeducativa em meio aberto serão coletados

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junto às equipes gestoras em nível estadual e municipal (Alfenas/MG), incluindo, as organizações não-governamentais que executam os programas socioeducativos, a partir de documentos, como:

♦ Relatórios Técnicos de acompanhamento, supervisão, monitoramento e avaliação sobre a Política socioeducativa e respectivos programas socioeducativos;

♦ Planos da Política de Direitos da Criança e do Adolescente, de Assistência Social, de Saúde e de Educação (Estadual e Municipal, Alfenas);

♦ Plano da Política Socioeducativa aos Adolescentes em Conflito com a Lei, Relatórios conjuntos das parcerias público-privado (entidades governamentais e não-governamentais);

♦ Resoluções dos Conselhos de Direitos e da Assistência Social sobre a política socioeducativa); ♦ Contribuições teóricas e técnicas sobre a gestão da política socioeducativa produzidas pelas gestões estadual

e municipal (Alfenas); ♦ Subsídios técnicos; ♦ Publicações impressas e on line; ♦ Estatísticas e dados sobre o fluxo diário/mensal/anual dos programas socioeducativos. ♦ Sites também serão visitados pelo pesquisador no sentido de complementar as informações.

Os dados e informações a serem coletados deverão priorizar aspectos, como:

<> processo de municipalização e descentralização e participação popular nos programas socioeducativos;

<> quantidade dos programas socioeducativos e distribuição territorial;

<> financiamento, orçamento, fundos;

<> existência de planos estadual e municipal (Alfenas) sobre os direitos da criança e do adolescente, em especial, no que se refere à política socioeducativa;

<> estabelecimento de parcerias público-privado (entidades governamentais e não-governamentais executoras ou co-executoras das medidas socioeducativas em meio aberto) e tipos ou modelos firmados entre o público e o privado;

<> relação educador social (equipe técnica e socioeducadores) e adolescente em cumprimento de medida;

<> relação dos programas de LA e PSC com as políticas de educação, saúde, assistência social, trabalho, cultura visando a garantia de direitos e inclusão social;

<> relação com o sistema de justiça (Poder Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública) e Centros de Defesa dos Direitos;

<> presença de indicadores de qualidade dos programas;

<> ações de acompanhamento, monitoramento e controle dos programas socioeducativos; relação dos programas socioeducativos com os Conselhos de Direitos, de Assistência Social, Direitos Humanos, Educação, Saúde etc.;

<> plano individual de atendimento dos adolescentes;

<> programas de atenção à família;

<> ações de supervisão técnica e financeira aos programas socioeducativos;

<> perfil dos profissionais (técnicos e socioeducadores) dos programas socioeducativos (LA e PSC);

<> projeto de capacitação permanente dos socioeducadores;

<> “quebra” de medida socioeducativa pelos adolescentes;

<> tempo médio de permanência dos adolescentes nos programas socioeducativos (LA e PSC);

<> acompanhamento de egressos dos programas;

<> dificuldades de execução política socioeducativa em nível estadual e municipal;

<> avanços na execução da política socioeducativa;

<> relação da gestão municipal com a estadual e a nacional.

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Se seu interesse for a solicitação de dados secundários, por favor especifique seu interesse e suas justificativas. Vide os dois itens anteriores que tratam da especificidade dos dados e informações.

Uso de gravador? ( ) Sim ( X ) Não. Como não serão coletados dados e informação por meio de entrevistas não será usado tal recurso. Os dados e informações coletados são os que se encontram sistematizados pelas gestões (estadual e municipal, Alfenas), incluindo os das Organizações Não-Governamentais, parceiras dos programas socioeducativos.

Fundamentação da necessidade de utilizar os instrumentos de coleta de dados secundários especificados:

A pesquisa se fundamenta na política de direitos humanos de crianças e adolescentes com foco na diretriz na diretriz da municipalização da política socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei prevista no art. 88 do ECA que não se confunde com propostas de “prefeiturização” ou mesmo a simples “terceirização de serviços públicos”. Tendo em vista o problema da pesquisa – execução das medidas socieoducativas em meio aberto – as hipóteses que a pesquisa busca saber e/ou conhecer e/ou aprofundar passam por verificar como o Estado de Minas Gerais implementa a diretriz constitucional de municipalização no que se refere à política socioeducativa em meio aberto (PSC e LA) e se os planos socioeducativos (estadual e municipal – Alfenas) se relacionam com a concepção, método e gestão preconizados pelo ECA e, em especial, o SINASE e, ainda, se os programas socioeducativos respondem, a partir da cartografia, sobre os direitos dos adolescentes no cumprimento de medidas socioeducativas em meio aberto. A pesquisa documental poderá trazer elementos de análise sobre a configuração da gestão pública democrática e participativa e de impacto para a cidadania dos adolescentes em conflito com a lei.

III. Documentação necessária

1. Declaração do orientador (entregar versão impressa e assinada) 2. Declaração do coordenador do curso (entregar versão impressa e assinada) 3. Projeto de pesquisa com metodologia detalhada (pode ser o mesmo apresentado no curso/programa de pós-

graduação) 4. Parecer favorável do Comitê de Ética em Pesquisa (a ser entregue antes do início da pesquisa de campo –

Exceto para pesquisas com o uso de dados secundários) 5. Termo de Compromisso de Retorno dos resultados assinado (entregar versão impressa e assinada) 6. Proposta elaborada do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (proposta com linguagem apropriada e

direcionada aos participantes da pesquisa – Exceto para pesquisas com o uso de dados secundários) IV. Sobre o procedimento de avaliação e adequação

A SUASE estabelece o prazo de 20 (vinte) dias úteis para a devolutiva do projeto, mas o prazo só começa a ser contado a partir da chegada de toda documentação necessária, bem como do projeto completo (incluindo os instrumentos de coleta, quando for o caso). Caso o parecer da SUASE aponte para adequações ou correções necessárias, o(a) pesquisador(a) deve fazer as readequações propostas e reenviá-lo. Após o reenvio é contado um novo prazo de no máximo 15 (quinze) dias úteis. Se a segunda versão do projeto continuar com problemas técnicos e/ou metodológicos, o projeto de pesquisa não será aprovado.

Para a solicitação de dados secundários, a SUASE, após avaliação do pedido, terá o prazo de 15 dias úteis.

V. Garantias legais

Fica a Parte interessada ciente de que nos termos do art. 173 do Estatuto da Criança e do Adolescente, é "vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes a que se atribua autoria de ato infracional", sendo que qualquer notícia a respeito do fato não poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se fotografia, referência a nome, apelido, iniciais, filiação, parentesco e residência.

Deverá o Interessado, ainda, respeitar a integridade psíquica e moral dos adolescentes cujos relatórios foram disponibilizados, preservando sua imagem, identidade, sua autonomia, seus valores, suas idéias e crenças.

A violação de qualquer direito dos adolescentes ligados ao relatórios, ou mesmo a divulgação de informações referentes aos mesmos em desacordo com a legislação vigente, será comunicada de imediato às autoridades competentes para fins de apuração de infrações contra o Estatuto da Criança e do Adolescente (Art. 247, ECA), salvo divulgações expressamente autorizadas pela autoridade judiciária.