modulo x sinase

80
Módulo X Parâmetros da Segurança Socioeducativa Página 1

Upload: glaucia-castro

Post on 16-Aug-2015

221 views

Category:

Documents


2 download

DESCRIPTION

modulo

TRANSCRIPT

Mdulo XParmetros da Segurana SocioeducativaPgina 1Mensagem de BOAS VINDASCaro(a) Cursista:Seja muito bem-vindo ao Mdulo X do nosso Curso. Nesse espao, queremos refletir e dialogar com voc sobre assunto defundamental importncia para o adequado atendimento do adolescente em cumprimento de medida socioeducativa,notadamente se a medida for de privao da liberdade. O tema dessa ltima etapa do nosso Curso trata da segurana, ou,mais especificamente, da segurana socioeducativa.Com os estudos e reflexes desse Mdulo X pretendemos alcanar os seguintes objetivos:Compreender os princpios efundamentos da segurana socioeducativa em ambientes de privao de liberdade.Perceber a segurana como elementointrnseco da proposta pedaggica e da organizao e funcionamento do Programa.Visualizar as possibilidades e limites dacoero fsica e do uso protetivo da fora como elementos de gesto do Programa.Identificar oportunidades para a aplicaoprtica das metodologias de resoluo no-violenta de conflitos e de uso protetivo da fora como mecanismos de preveno ede atendimento das situaes-limite.Estimular o investimento na formao continuada como estratgia para a qualificao doatendimento.Pgina 2SUMRIOVamos desenvolver a temtica em seis Unidades, com os seguintes ttulos:1. Princpios e fundamentos da segurana na comunidade educativa2. A segurana como elemento normativo da proposta pedaggica3. Coero fsica e uso da fora nas unidades de privao da liberdade4. Metodologias e procedimentos em segurana socioeducativa5. Recursos humanos e formao continuada6. Gesto da segurana em situaes-limite e anlise de cenrios e riscos.Pgina 3EncaminhamentoA nossa mensagem de estmulo ao estudo e concluso do Curso. Siga conosco. O nosso desejo de que possamostransformar os encontros em encontros de sentido.Grande abrao.Autor:Afonso Armando KonzenColaboradores:Leoberto BrancherBeatriz AguinskyPgina 4IntroduoCaro(a) Cursista:Seja bem-vindo(a) Primeira Unidade do nosso Mdulo. Vamos tratar nesse ponto especificamente dos princpios e fundamentos da segurana na comunidade educativa.Os primeiros passos sero de aproximao ao tema. Para iniciar a nossa caminhada, vamos dar uma olhada no que existeem matria normativa sobre esse assunto, alm de propor algumas noes mais precisas sobre os termos que vamos utilizar.Queremos abordar, por exemplo, o sentido da expresso segurana socioeducativa e o que dizem as normativasinternacional e nacional acerca da segurana para o atendimento do adolescente autor de ato infracional em cumprimento demedida de privao de liberdade.Como j referimos na apresentao, a temtica ser abordada no contexto das unidades de privao de liberdade. E vamoscuidar, logo adiante, de alguns aspectos, em geral, problemticos e desafiadores para a vida em comunidade educativa,como a disciplina, o uso da fora e a gesto das providncias nas situaes-limite.A nossa funo consiste em orientar a caminhada. Precisamos da sua dedicao e criatividade. Somente assim a nossajornada conjunta poder ser bem sucedida. Venha conosco.Pgina 1Consideraes Iniciais (I)No Brasil, os adolescentes no esto sujeitos priso, podendo, apenas, nas infraes mais graves, ser submetidos a umamedida socioeducativa de internao em estabelecimentos educacionais, cujo contedo, como o prprio nome indica, essencialmente pedaggico (COYLE, 2002).Voc concorda com a afirmativa transcrita? Se voc der uma olhada na doutrina sobre o sentido das medidassocioeducativas, provavelmente encontrar dizeres assemelhados. Ser que estamos diante de uma questo bem resolvida esucificientemente explicada? O fato de dizer que adolescentes no esto sujeitos priso modifica o sentido da privao daliberdade a que eles so submetidos? Existe mesmo alguma diferena substancial entre priso e o que denominamos de internao em estabelecimento educacional? O adulto, na priso, est privado da liberdade. Certo? E o adolescenteinternado, no est ele igualmente privado de liberdade?Qual , ento, a vantagem para o adolescente de se dizer que eleno est sujeito priso?Pgina 2Consideraes Iniciais (II)Se voc verificar a normativa internacional sobre o sentido da privao da liberdade na adolescncia vai encontrar subsdiosque podem ajudar a entender melhor essa questo. Precisamos compreender o sentido do que de fato acontece com oadolescente privado da liberdade como condio para estudar a temtica deste Mdulo X do nosso Curso, Mdulo dedicadoao tema da segurana. Por isso, d uma olhada nos documentos internacionais. Nas Regras Mnimas das Naes Unidas para a Proteo dosJovens Privados de Liberdade, por exemplo, est escrito o que se deve entender como privao de liberdade, ou seja, peloitem 11. "b", privao de liberdade corresponde a toda forma de deteno ou priso, assim como a internao em outroestabelecimento pblico ou privado, de onde no se permita a sada livre do jovem, ordenado por qualquer autoridade judicial,administrativa ou outra autoridade pblica.Por conseguinte, para a normativa internacional, colocar algum na priso ou intern-lo em estabelecimento educacional soprovidncias do mesmo gnero, ambas so providncias privativas de liberdade. possvel notar, ento, que a forma como chamamos ou denominamos determinada situao no modifica, em geral, aessncia dessa situao, pelo menos se tomarmos em conta os documentos internacionais sobre a privao de liberdade deadolescentes.O sentido da privao de liberdade exposta na normativa internacional no diferente no Estatuto da Criana e doAdolescente (vide artigo 121 e artigo 120). O que d para perceber que, para as normas internacionais e tambm para asnormas brasileiras, o nome da medida pouco importa, o que importa o efeito concreto da providncia, no caso, se elaproduz ou no uma situao de privao ou de restrio de liberdade.Reflita sobre essa questo. Somos do entendimento, nalinha das orientaes das Naes Unidas, que o nome da forma de privar algum da liberdade no altera o essencial daprovidncia. Ou, dito de outra forma. O nome do estabelecimento no altera o sentido daquilo que de fato acontece na vida doadolescente internado. Para o adolescente, assim como para o adulto, o que importa o fato de estar ou no privado daliberdade. Por isso, tenha a providncia o nome de medida, pena, sano, recluso ou deteno, seja a pessoa privada daliberdade adolescente ou adulto, o que importa se essa pessoa est sendo ou no privada da liberdade comodesdobramento concreto da determinao de um juiz, independente do nome do estabelecimento, independente de o local tero nome de cadeia, presdio, casa de deteno, priso, estabelecimento penal, reformatrio, internato, ou, segundo oEstatuto, estabelecimento educacional. Para ela, para a pessoa, o que importa o fato de se encontrar limitada em suapossibilidade de ir e vir por ordem de uma autoridade do Estado. Essa , em essncia, o sentido da providnciadeterminada pelo juiz, com repercusses especialmente aflitivas no tempo da adolescncia.A partir da concepo at aqui exposta que se pretende refletir com voc sobre o tema da segurana. Para privar umapessoa da liberdade necessrio, muitas vezes, utilizar de mecanismos, ou de instrumentos, de meios, para efetuar etambm para manter essa situao. E nesse contexto que o dilogo entre o tema da segurana e o tema da educao possvel e necessrio, pois so aspectos importantes e fundamentais para a organizao e funcionamento de umacomunidade educativa destinada ao cumprimento das medidas de privao da liberdade aplicadas aos adolescentes.Pgina 3Noes BsicasVamos agora repassar as noes bsicas que aqui nos interessam: 1. Segurana diz com o ato ou o efeito de segurar.Segundo o Novo Dicionrio Aurlio, segurana condio daquele ou daquilo em que se pode confiar. A palavra tem relaocom a qualidade de situaes vinculadas satisfao de determinadas necessidades de toda pessoa humana, como sercuidado, ser protegido, ser amparado, ser garantido, ser abrigado, ser confiado, ser acolhido, ser acautelado e estar livre ou fora de perigo.2. A noo de segurana na perspectiva jurdica est consolidada na Constituio Federal como um dos direitosfundamentais de toda pessoa humana. Em relao segurana, somos todos, portanto, sem distino de qualquernatureza, sujeitos de direitos.3. Por Segurana Pblica podemos entender "o estado de garantia e tranquilidade de quegozam a coletividade em geral e o indivduo em particular, quanto sua pessoa, sua liberdade e ao seu patrimnio,acobertado de perigos e danos pela ao preventiva da polcia, a servio da ordem poltica e social" (NUNES, 1999, p. 972).A Constituio Federal, em seu artigo 144, ao dispor sobre o direito segurana, limitou-se, especificamente, emregulamentar a Segurana Pblica, dizendo que Segurana Pblica dever do Estado e direito e responsabilidade de todos,que deve ser exercida para a preservao da ordem e da incolumidade das pessoas e do patrimnio de cada um.4.Segurana Socioeducativa pode ser entendido como um conceito mais estrito. Segundo o artigo 125 do Estatuto daCriana e do Adolescente, dever do Estado zelar pela integridade fsica e mental dos internos, cabendo-lhe adotar asmedidas adequadas de conteno e segurana.Por Segurana Socioeducativa podemos entender, assim, o conjunto decondies necessrias para garantir que a privao da liberdade possa ser exercida com a preservao do patrimnio e aintegridade fsica, moral e psicolgica do adolescente e de todas as pessoas que exercem a sua atividade profissional ou queconvivem internamente ou no entorno de uma comunidade educativa.Pgina 4Recomendaes da Normativa Internacional (I)No contexto da normativa internacional, a questo da segurana dos adolescentes e jovens privados de liberdade abordadaem diversos documentos. Como, por exemplo, pelas Regras Mnimas para o Tratamento dos Privados da Liberdade (ou doRecluso), regras que se aplicam, segundo o item 4.1, "a todas as categorias de reclusos, dos foros criminal ou civil, emregime de priso preventiva ou j condenados, incluindo os que estejam detidos por aplicao de medidas de segurana ouque sejam objeto de medidas de reeducao ordenadas por um juiz".O tema da segurana tambm objeto das Regras Mnimas das Naes Unidas para a Administrao da Justia da Infnciae da Juventude, documento tambm conhecido como Regras de Beijing (ver item 27.1 do referido documento). No entanto, asprincipais recomendaes relativas ao tema da segurana vm das Regras Mnimas das Naes Unidas para a Proteo dosJovens Privados de Liberdade, documento que j no primeiro item diz expressamente que o sistema de justia da infncia eda juventude dever respeitar os direitos e a segurana dos jovens e fomentar seu bem-estar fsico e mental. Referida normativa, no item IV, trata da administrao dos centros de deteno de jovens. Nos itens 63 a 65 h dispositivosmais especificamente sobre as limitaes da coero fsica e do uso da fora. E nos itens 66 a 71 cuida-se dosprocedimentos disciplinares, tema que tambm tem ntima relao com o assunto da segurana. Pgina 5Recomendaes da Normativa Internacional (II)A seguir, a sntese das disposies sobre o uso da fora ou de instrumentos de coero que voc pode encontrar nas Regras Mnimas:1. Somente poder admitir-se o uso da fora ou de instrumento de coero em casos excepcionais, quandoesgotados ou fracassados todos os demais meios de controle e apenas pela forma expressamente autorizada e descrita poruma lei ou regulamento.2. Os instrumentos eventualmente utilizados no podem causar leso, dor ou humilhao e nemdegradao e devem ser empregados de forma restritiva e pelo menor perodo de tempo possvel.3. Os instrumentossomente podem ser utilizados por autorizao do diretor e para impedir que o jovem prejudique a outros ou a si mesmo oucause srios danos materiais, caso em que o diretor dever consultar imediatamente o pessoal mdico e outro pessoalcompetente e informar autoridade administrativa superior.4. Em todo centro de privao de liberdade de jovens deve serproibido o porte ou a utilizao de armas por funcionrio.Antes de prosseguir, leia com ateno os itens 63 a 71 das Regras Mnimas das Naes Unidas para a Proteo dos JovensPrivados de Liberdade. A leitura importante para prosseguir com os nossos estudos.Pgina 6Normas sobre Segurana no EstatutoSegundo o artigo 4 do Estatuto, a liberdade direito fundamental de toda criana e adolescente. Por isso, o sacrifcio do direito liberdade s possvel por deciso judicial. Ou seja, o efeito da aplicao de qualquer uma das medidassocioeducativas consiste em perda ou restrio da liberdade pessoal, pelo que passa o adolescente a ser titular denecessidades que o Estatuto apresenta em forma de obrigaes (artigo 94 do Estatuto) ou de direitos (artigo 124 do Estatuto).Portanto, o adolescente, como consequncia da perda de liberdade, passa a titular novos interesses ou necessidades aserem protegidos, dentre esses a integridade fsica e mental, encargo atribudo ao Estado, pois cabe a ele, por seus agentes,adotar as medidas adequadas de segurana, nos termos do artigo 125 do Estatuto.Pgina 7Recomendaes sobre Segurana no SinaseO dever de garantir a incolumidade, a integridade fsica e a segurana so princpios de orientao geral do Sinase. Vocpode verificar que o tema considerado de importncia fundamental, tanto assim que est contemplado como um dos eixosdos Parmetros da Gesto Pedaggica no Atendimento Socioeducativo. Ser que a recomendaes ali expostas esto emsintonia com os preceitos da normativa internacional e com as disposies do Estatuto? Iremos aprofundar o estudo dessasrecomendaes nas unidades seguintes. O que nos interessa nesse momento que voc leia e reflita sobre o sentido desses dispositivos. Faa isso. Busque o documento do Sinase e leia o ponto 6.3.8, ou seja, os itens 6.3.8.1 e 6.3.8.2 . importante que voc tenha lido e entendidoo sentido dessas recomendaes para prosseguir os nossos estudos. Se voc tiver alguma dvida, dialogue com o seu Tutor.Pgina 8Resumo dos Princpios GeraisSegundo o artigo 56 das Regras Mnimas para o Tratamento dos Privados da Liberdade, os princpios gerais tm porfinalidade a definio do esprito dentro do qual o sistema deve ser administrado e os objetivos a que devem atender. Osreferidos princpios tm aplicao em todos os lugares e em todas as circunstncias em que tenha alguma pessoa privada deliberdade, seja essa pessoa um adulto, jovem ou adolescente. Como tais recomendaes dialogam diretamente com o temada privao de liberdade dos adolescentes autores de atos infracionais, estamos propondo a voc um resumo inicial desse rolde princpios:1. proibido o uso de instrumentos de coero ou de fora, exceto em casos excepcionais.2. vedado o portee o uso de armas pelo funcionrio.3. As medidas disciplinares devem ser compatveis com a dignidade do jovem ou doadolescente e com o objetivo do atendimento.4. Ainda que privado da liberdade, deve vigorar o quanto possvel a normalidade.5. Os locais de privao da liberdade devem ser comunidades bem organizadas e que no coloquem em risco avida, a sade e a integridade fsica, moral e psicolgica dos internos.6. Quando um juiz aplica uma medida privativa daliberdade a um jovem ou adolescente, impe-lhe uma sano extremamente penosa. As condies para o cumprimentodessa medida no devem agravar o sofrimento que inerente a tal determinao.7. Todos tm direito igual de proteocontra qualquer discriminao e contra o incitamento a qualquer discriminao. A nica discriminao possvel adiscriminao positiva, decorrente da diferenciao entre indivduos e que d conta das crenas, necessidades, situaes econdies desfavorveis de uns em relao aos outros.8. O atendimento em regime de privao da liberdade deve zelar pelareduo de danos e preparao construtiva para a vida em liberdade (58 e 59 das Regras Mnimas), com o sentido de limitaro mais possvel os efeitos nocivos da privao de liberdade e ajudar o privado da liberdade para aproveitar a oportunidadecomo preparao para uma vida socialmente responsvel e aceitvel depois de libertado.Pgina 9EncaminhamentoA partir dos princpios e fundamentos que orientam o tema da segurana para o atendimento do adolescente autor de atoinfracional privado de liberdade, vamos prosseguir com a nossa reflexo, para verificar como esse tema dialoga com a proposta pedaggica do Programa. Antes, faa o exerccio indicado para a presente Unidade.E, se voc quiser, d umaolhada nas Sugestes de Leitura.Pgina 10Sugestes de LeituraSPOSATO, Karyna. Gato por Lebre: a ideologia correcional no Estatuto da Criana e do Adolescente.Revista IBCCRIM, 58, 2006, p. 135 e seguintes.KONZEN, Afonso Armando. Justia Restaurativa e Ato Infacional: desvelando sentidos no itinerrio da Alteridade.Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007, p. 24 e 46.Pgina 11IntroduoCaro(a) Cursista:Voc est na entrada da Unidade Trs do Mdulo X do nosso Curso. Seja bem-vindo(a). Alm de refletir sobre os limites da possibilidade do uso dos meios de coero e de fora como instrumentos de privaode liberdade e de manuteno da segurana nas unidades de internao, o nosso propsito consiste, nesta Unidade, emcontribuir para desmistificar as ambiguidades ainda existentes em relao ao tema da segurana e tambm em proporconcretamente alternativas de natureza conceitual. A vamos fazer isso com a introduo da noo de uso protetivo da fora.Com a reflexo queremos percorrer o caminho da superao do mito de que h, de um lado, limites insuperveis paralegitimar o uso da fora em caso de necessidade e, de outro, a legitimao do uso dos meios de fora quando o uso desnecessrio, quando o uso nada mais representa do que uso abusivo e ofensivo condio de dignidade da pessoa doadolescente privado de liberdade. O nosso convite consiste em exercitar a busca do ponto de encontro e de equilbrio entre a necessidade do uso e anecessidade de cuidado e de proteo da pessoa privada da liberdade.Prossiga conosco.Pgina 1Consideraes IniciaisSempre que o Estado priva algum de liberdade, assume o dever de cuidado com essa pessoa. E o dever primeiro de cuidado o de garantir a segurana. O dever de cuidado compreende tambm o dever de garantir a segurana dasdemais pessoas de uma comunidade, como os demais privados da liberdade, os dirigentes, os funcionrios, os visitantes etodos os demais. Todos devem estar protegidos contra todas as formas de violncia e contra todo tipo de ameaa vida, sade, integridade fsica, psicolgica e moral, venham tais ameaas de onde vierem. Segundo o Sinase (parmetro 6.3.8.2), so trs os nveis em que se devem adotar medidas de segurana para a garantia daintegridade fsica, psicolgica e moral dos adolescentes: 1) no relacionamento entre os adolescentes; 2) no relacionamentodos adolescentes com os profissionais;3) no relacionamento dos adolescentes com a realidade externa. Poderamos, ainda, acrescentar um quarto nvel: 4) no relacionamento do profissionais entre si e dos profissionais com arealidade externa do atendimento.O tema da necessidade do uso de coero fsica e de fora nasce nesse contexto. Diz respeito ao exerccio de meios para agarantia da segurana, exerccio de natureza excepcional, absolutamente restritiva, mas ainda assim eventualmentenecessrio. E, na hiptese da necessidade: que situaes podem legitimar o uso? quais so os princpios que orientam ouso? como proceder no caso concreto? se h limites, quais so? quais podem ser as consequncias pelo excesso? Pgina 2Princpios de Proteo da Pessoa e da ComunidadeVoc j deve ter percebido que o nosso dilogo em busca de respostas sempre inicia pelas recomendaes da normativainternacional. E aqui no poderia ser diferente. Na Unidade Um, voc leu os itens 63 a 71 das Regras Mnimas das NaesUnidades para a Proteo dos Jovens Privados da Liberdade. Na Unidade Dois, fez um exerccio em relao a essesdispositivos. Vamos agora retomar a leitura, mais especificamente dos itens 63 a 65. Ali esto as limitaes para a coerofsica e o uso da fora. E estamos propondo a voc uma sntese das disposies sobre o uso dos instrumentos de coero ede fora nos ambientes de privao de liberdade. A sntese tem os seguintes enunciados:1. Somente poder admitir-se o usoda fora ou de instrumento de coero em casos excepcionais, quando esgotados ou fracassados todos os demais meios decontrole e apenas pela forma expressamente autorizada e descrita por uma lei ou regulamento.2. Os instrumentoseventualmente utilizados no podem causar leso, dor ou humilhao e nem degradao e devem ser empregados de formarestritiva e pelo menor perodo de tempo possvel.3. Os instrumentos somente podem ser utilizados por autorizao do diretore para impedir que o jovem prejudique a outros ou a si mesmo ou cause srios danos materiais, caso em que o diretor deverconsultar imediatamente o pessoal mdico e outro pessoal competente e informar autoridade administrativa superior.4. Emtodo centro de privao de liberdade de jovens deve ser proibido o porte ou a utilizao de armas por funcionrio.Na leitura dos enunciados voc deve ter percebido que o principal objetivo das recomendaes da normativa internacionalest em proteger o jovem privado da liberdade dos excessos. Por isso, para evitar o risco do excesso, a propositura de um rolde deveres, todas eles de no-fazer.No entanto, ao limitar, a norma, implicitamente, autoriza. No assim? Por exemplo, se os instrumentos no podem causarleso, dor ou humilhao e nem degradao, veda-se o uso inadequado de eventual instrumento, mas no est dito que ouso est vedado. Concluso: a condio para o uso que o uso no seja abusivo.E nem poderia ser diferente. do Estado o dever de cuidado. E se h o dever, tambm deve haver a possibilidade de agircom a utilizao dos meios necessrios, com o que, at mais do que implicitamente, fica autorizado o uso, sempre quenecessrio, da fora e dos meios de coero.Alis, se assim no fosse, a tarefa de privar da liberdade, um ato de fora por natureza, correria o risco de ficarinviabilizada.Por isso, as orientaes devem ser interpretadas, de um lado, como de limitao das possibilidades de agir, em tutela dointeresse do jovem privado da liberdade, interesse consistente em no ser submetido a meios coercitivos desproporcionais,excessivos ou desnecessrios. De outro, as orientaes permitem a interpretao de que existe a possibilidade do uso, desdeque o uso no seja abusivo e desde que seja necessrio.Pgina 3Limites e PossibilidadesSegundo o Sinase (parmetro 12 do ponto 6.3.8.1), a utilizao da conteno do adolescente somente est autorizada, nasunidades de internao e de semiliberdade, como recurso para situaes extremas que envolvam riscos integridade dosadolescentes ou de outrem.Como j referido no tpico anterior, recomendaes como a referida permitem dupla interpretao. De um lado, limitam aspossibilidades de agir. De outro, autorizam. Ou, dito de outra forma, se a conteno somente pode ser utilizada em situaes extremas, as orientaes do Sinase autorizam o uso da conteno em situaes extremas.O que poderia ser entendido por situaes extremas? O Sinase utiliza um outro termo para definir o sentido do que chamade situaes extremas, ao fazer referncia ao termo situaes-limite (parmetro 1 do ponto 6.3.8.1). E por situaes-limite entende aquelas situaes ou acontecimentos que fogem rotina do cotidiano, reveladoras de um conflitoque no foi capaz de ser percebido antecipadamente como relevante e superado pelo dilogo. Situao-limite aquelasituao em que h desrespeito integridade fsica, moral ou psicolgica, como so acontecimentos como brigas,quebradeiras, motins, tentativas de fuga, invases, incndios, agresses fsicas e verbais ou outras ocorrncias desse tipo. Em tais oportunidades, o uso dos meios de coero e de fora pode ser necessrio para conter a situao. A necessidadedecorre do fracasso da estratgia da prevenir. E o uso autorizado objetiva unicamente a conteno da situao-limite emdesenvolvimento. Nada mais. Pgina 4Limites e Possibilidades (I)Se nas situaes-limite est autorizada a conteno e se para conter existe a possibilidade do o uso de meios de coero ede fora, ento de se perguntar quais so os instrumentos que podem ser utilizados? O que pode, concretamente, serentendido como instrumento suscetvel de ser empregado para conter uma situao-limite? Ter maior clareza sobre isso umdos nossos propsitos. Por isso, vamos aprofundar o dilogo sobre este ponto.Em resumo, queremos refletir com voc sobreos tipos ou espcies de instrumentos ou meios que podem ser utilizados. E tambm queremos pensar sobre asconsequncias pelo uso indevido, excessivo ou abusivo desses instrumentos.Um dos principais limites vem da normativa internacional, no sentido de recomendar, como j vimos, que em todo centro ondehaja jovens detidos dever ser proibido o porte e o uso de armas por parte dos funcionrios (item 65 das Regras Mnimas).Por arma pode-se entender todo o instrumento de ataque ou de defesa ou qualquer objeto a servio deste fim, como arma defogo, arma branca, basto, cassetete ou instrumentos equivalentes.No Brasil, tanto o Estatuto da Criana e do Adolescente como o Sinase aparentemente so omissos em relao questo douso de armas. No existe, portanto, norma de autorizao. Exceto no que diz respeito segurana externa unidade, a sergarantida pela atuao diuturna de policiais militares fardados, armados e treinados para esse trabalho (parmetro 2 do ponto 6.3.8.2 do Sinase). Portanto, a concluso, nessa circunstncia, s pode ser uma s: se no existe autorizao, o portee o uso de armas est vedado no interior das unidades de privao de liberdade, exatamente como est escrito na normativainternacional.Pgina 5Limites e Possibilidades (II)Se o porte e o uso de arma est vedado, quais outros instrumentos podem ser utilizados? A normativa brasileira remete esseassunto para ser tratado no Regimento Interno das unidades. no Regimento Interno que devem constar, segundo o Sinase,as medidas de conteno e segurana adotadas pela entidade de atendimento socioeducativo e, sobretudo, ser deconhecimento de todos, devendo todos os profissionais ser preparados para o seu cumprimento com eficcia (parmetro 6do ponto 6.3.8.2).Tambm deve ser do Regimento Interno a tarefa de precisar quando e como acionar a segurana externapara agir internamente (Polcia Militar) (parmetro 3 do ponto 6.3.8.2 do Sinase).Trata-se, portanto, de questo de naturezaregimental.Por isso, porque tema de natureza regimental, requisito para a inscrio do programa de atendimento no respectivoConselho de Direitos a indicao da estrutura material, dos recursos humanos e das estratgias de segurana compatveiscom as necessidades da respectiva Unidade (parmetro 4.1 do ponto 4.2.3 do Sinase). As disposies regimentais devemdizer no s o tipo de instrumento ou o meio que pode ser utilizado, como o ambiente e as situaes especficas em que ouso pode ser autorizado.Em resumo, no temos no Brasil, exceto quanto ao uso de armas, normas sobre os meios quepodem ser utilizados para a conteno de uma situao-limite.Impe-se realar aqui o papel dos Conselhos de Direitos, pois deles a competncia para verificar, no momento da inscriodo programa, como a proposta regimental trata esse assunto.Pgina 6Limites e Possibilidades (III)No h como finalizar a reflexo desse nosso tpico sobre o uso de meios de coero e de fora para a conteno dassituaes-limite sem abordar o tema do uso da algema como um dos meios fsicos para exercer a conteno pessoal doadolescente. No Estatuto da Criana e do Adolescente no h dispositivo sobre o assunto. O Sinase tambm no externouqualquer posicionamento sobre o tema. Trata-se de matria controvertida, no regulamentada sequer para o infrator adulto.Como tentativa de inibir o uso abusivo da algema para os adultos, o Supremo Tribunal Federal editou a Smula Vinculanten 11 (de 22.08.2008).E o adolescente, pode ele ser algemado como meio para conter uma situao-limite? Outrossim, se legtimo o uso da algema como mecanismo de conteno, quais seriam os limites desse uso?Na estrita inteno dos propsitos e das possibilidades do nosso estudo, cabe aqui apenas tecer algumas consideraesgenricas sobre o assunto. E vamos encaminhar o aprofundamento da reflexo para leituras complementares.Pgina 7Limites e Possibilidades (IV)Algemas, como todos sabemos, so pulseiras de ao que tem a funo de imobilizar as duas mos da pessoa contida, o querestringe os movimentos e reduz a possibilidade de agir. Trata-se de instrumento utilizado como mercanismo de conteno dafora, destinado a inibir os movimentos da pessoa contida e mant-la fisicamente nessa situao. Ocorre que a exposio pblica de pessoa algemada e o uso rotineiro e desnecessrio do instrumento fizeram da algema osmbolo visvel do constrangimento, de subjugao, de humilhao, de punio da pessoa autora de infrao lei penal. Ouseja, ser algemado e conduzido com as mos algemadas passou condio de ritual obrigatrio, a que toda pessoa privadada liberdade deveria ser submetida. Com o risco dessa pessoa, em momento posterior, ser considerada inocente e semqualquer responsabilidade pelo fato desencadeador da atitude tornada visvel. Foi por isso, pelo uso desnecessrio e abusivo da algema, que o Supremo Tribunal Federal editou a Smula Vinculante n 11,enunciado destinado a estabelecer limites ao uso e buscar o equilbrio entre dois valores igualmente fundamentais, o dadignidade da pessoa humana e o da segurana.A Smula do Supremo Tribunal Federal, como construo jurisprudencial que , no resolve a questo, apenas indicacaminhos:Um (1), no veda a utilizao. Dois (2), restringe o abuso do uso. Trs (3), o agente, para evitar o abuso, precisafundamentar o uso por escrito. Quatro (4), a fundamentao precisa levar em considerao a situao de fato, a resistncia eo fundado receio de fuga ou de perigo integridade fsica prpria ou alheia. Cinco (5), o descumprimento dos requisitosimporta em responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade. Seis (6), o descumprimento dos requisitosinstala a possibilidade da nulificao do ato da privao de liberdade e do ato processual a que se refere. Sete (7), odescumprimento dos requisitos significa responsabilidade civil do Estado.Os caminhos que se podem visualizar a partir da Smula do Supremo Tribunal Federal ainda deixam margem parasignificativo grau de discricionariedade. Assim como no esclarece a Smula, e tampouco a normativa brasileira, em nenhumoutro dispositivo, se aludido instrumento pode ser utilizado como instrumento para a conteno de uma situao-limite nasunidades de privao de liberdade de adolescentes.De qualquer forma, se o uso no est vedado, o cuidado com o uso, ou, ento, o cuidado para que o uso seja absolutamenterestritivo, precisa ser redobrado. At mesmo porque pesa contra o agente autor da utilizao indevida ou inadequada, almda responsabilidade disciplinar, a obrigao de responder segundo as normas regimentais da unidade e de repararpessoalmente os danos causados. Alm do risco do enquadramento da conduta no tipo penal do artigo 232 do Estatuto.Pgina 8Limites e Possibilidades (V)Como voc j deve ter percebido, o uso de instrumentos como meio de coero e de fora para a conteno dassituaes-limite encontra limitaes e obstculos de toda ordem. O uso de armas est vedada expressamente. O uso daalgema tem inmeras restries, alm de no estar devidamente regulamentada, o que institucionaliza o risco do uso abusivoou inadequado. Ento, se tudo est proibido, como proceder nas hipteses em que o adolescente privado de liberdade estem situao de agressividade ou na iminncia de proceder de forma violenta contra si prprio ou contra terceiro? Esse assunto pode ser visto, pensado, enfrentado, da forma como fizemos at aqui, na perspectiva do que no se pode ouno de deve fazer. Mas tambm pode ser pensado na perspectiva de como proceder. O que nos remete: Em primeiro lugar, para o cuidado com a preveno. Em segundo lugar, para o preparo, o que inclui aaquisio das habilidades necessrias para cuidar das situaes-limite sem o uso de instrumentos, mas para o uso detcnicas. E, em terceiro lugar, como j falamos, para a regulamentao.Para auxiliar na leitura e anlise dos eventuais regulamentos sobre a matria, estamos propondo, antes de encaminhar para oexerccio de verificar exemplos de regulamentos, revisar o conceito de uso de fora e para introduzir a noo de usoprotetivo da fora. Siga conosco.Pgina 9Noo de Uso Protetivo da Fora (I)Como vimos at aqui, o sistema jurdico brasileiro de tutela da pessoa privada da liberdade no exclui a possibilidade dautilizao dos meios de coero e de fora para o atendimento do adolescente privado da liberdade nas situaes-limite.Apesar dessa opo do sistema jurdico, o tema merece reflexo complementar, no intuito, de um lado, de auxiliar na buscada melhor interpretao das disposies sobre a matria e, de outro, para considerar a repercusso do uso dos meios decoero e de fora no mbito do desenvolvimento pessoal do adolescente privado de liberdade. Por isso, a questo central danossa reflexo diz respeito ao que se pode interpretar, em face dos valores subjacentes aos princpios gerais de orientaodas relaes com o adolescente, como sendo o mais adequado para suportar a eventualidade do uso de meios de coero oude fora. A proposta consiste em prosseguir um pouco mais com a reflexo, para o fim de melhor visualizar a profundidadedos efeitos da coero e do uso da fora na relao do educador com o adolescente privado de liberdade.Para contribuir com a nossa reflexo, propomos a utilizao das ideias de um Autor. Trata-se do psiclogo americano Marshall B. Rosenberg. Ele tem estudos e experincias marcantes na rea das tcnicas dos relacionamentos pessoais eprofissionais, notadamente no campo da comunicao, pois ele debita linguagem e boa comunicao uma das armasmais poderosas, econmicas e de mais fcil aplicao para resolver conflitos de forma simples e eficaz. Vamos passear umpouco pelas noes de Marshall no que diz respeito ao tema do uso da fora, a questo central da nossa ocupao.Pgina 10Noo de Uso Protetivo da Fora (II)Marshall B. Rosenberg no algum que desconsidera a realidade. Por isso, ele parte do pressuposto de que h situaesna vida do cotidiano em que desaparece a possibilidade de dilogo. Nessas oportunidades pode ser necessrio o uso dafora para proteger a vida ou os direitos individuais e coletivos. E, desde logo, o nosso Autor apresenta duas vises diferentesacerca do uso da fora, ao dizer que necessrio distinguir entre o uso protetor e o uso punitivo da fora. Antes de se referir s tcnicas de uso de fora propriamente ditas, Marshall coloca em questo a subjetividade daquele queusa a fora, daquele que pratica o ato, porque o pensamento daquele que age que empresta sentido ao. Das duasformas, em uma, a inteno por trs do uso pode consistir em evitar danos ou injustias. Na outra forma, a inteno podeestar em fazer que as pessoas sofram por seus atos, por serem atos inadequados. Aquele que usa a fora de forma protetivaest concentrado em proteger a vida ou os direitos sem julgamentos. No julga nem a pessoa e tampouco o comportamento,porque est voltado mais para educar do que para punir. Aquele que usa a fora de forma punitiva parte da premissa de queas pessoas fazem coisas ruins porque so ms e que, para corrigi-las, preciso fazer com que se arrependam, correo feitapor intermdio de aes punitivas, tudo para que o autor da ao possa arrepender-se e mudar. Marshall defende a concepo de que as aes punitivas, em vez de gerarem arrependimento e aprendizado, geramressentimento e hostilidade, fonte de resistncia para adotar o comportamento desejado e indutor de novos comportamentosno desejados.Como exemplos de uso punitivo da fora, Marshall arrola o castigo fsico, as adjetivaes negativas (como errado, egosta, imaturo) ou a retirada de alguns meios de gratificao ou de reconhecimento. Como forma de revelar as limitaes da puniocomo estratgia para mudar o comportamento, o nosso Autor recomenda a formulao de duas perguntas: 1) o que eu queroque essa pessoa faa que seja diferente do que ela est fazendo agora? (pergunta que parece eficaz, porque a ameaa ou oexerccio da fora punitiva pode muito bem influenciar o comportamento);2) quais so as razes para essa pessoa fazer o queestou pedindo? Essa segunda pergunta introduz um outro fator de motivao para fazer ou deixar de fazer algo, ou seja, no lugar da punio,a recompensa, o reconhecimento. A punio induz ao medo, ao fazer pelo cumprimento de uma obrigao. A recompensaestimula o desenvolvimento tico baseado na autonomia e na responsabilidade, porque traz em si, no lugar da negao, apossibilidade do reconhecimento dos danos das nossas aes e a instalao da conscincia de que o nosso prpriobem-estar e o dos outros so uma coisa s.Em resumo, o nosso Autor considera a existncia de situaes em que h a necessidade do uso da fora. O uso punitivo dafora tende a gerar hostilidades e reforar a resistncia ao prprio comportamento, alm de diminuir a boa vontade e aautoestima. Culpar e punir no contribui, de regra, para as motivaes inspiradoras. A inteno daquele que utiliza a fora deforma protetora consiste em evitar danos ou injustias no lugar de punir ou fazer que as pessoas sofram, se arrependam deseus atos e, com isso, mudem. Marshall, ao admitir o uso da fora, evidencia a possibilidade da utilizao vinculada a uma justificativa educadora, em que ouso est subjetivamente alimentado para a proteo e para o cuidado no lugar da culpa e do castigo. possvel o uso dafora na relao com o adolescente fundado em tal perspectiva? Muda o que? Pense sobre isso!Pgina 11Saiba MaisSe a questo dos meios e formas para a conteno das situaes-limite tema de natureza regimental, um bom exerccioseria verificar como o tema tratado nos diversos locais do Pas. D uma olhada:Em So Paulo, na Portaria Normativa n073, de 05 de maio de 2004, que aprova as normas tcnicas de segurana nas unidades da ento FEBEM-SP. No Paran,no Manual de Gerenciamento de Crise nos Centros de Socioeducao (ver Cadernos do IASP, 2006). No Rio Grande doSul, o Manual de Gerenciamento das Aes de Segurana da FASE-RS. Se voc pertencer a algum outro Estado da Federao, poder verificar como esse tema tratado pelos regulamentos dosprogramas de internao ou de semiliberdade. Se voc tiver acesso a esse documento, faa a verificao e converse com os seus colegas sobre o assunto.Pgina 12EncaminhamentoA seguir, vamos refletir um pouco mais sobre o conflito e a sua natureza. E sempre vamos retornar ao mesmo tema. Ouseja, no seria mais adequado, mas condizente com a prpria funo do programa de atendimento, no lugar de reprimir, deutilizar meios de coero e de fora, a qualificao das estratgias da preveno? Prevenir, aqui, passa a ser sinnimo deadoo de modelos de gesto fundados nos princpios e valores da no-violncia.Fica o convite para prosseguir conosco.Antes, faa a atividade prevista para esta Unidade Trs. Depois, prossiga.Pgina 13IntroduoCaro(a) Cursista:Voc est no incio da Unidade Quatro do Mdulo Dez do nosso Curso. Seja bem-vindo ao tema das metodologias e procedimentos em segurana socioeducativa. A partir de uma outra concepo do conflito, queremos refletir com voc sobre a importncia da preveno, o caminho nicopara que as situaes-limite no se instalem de forma grave e muitas vezes dramtica nas unidades de privao deliberdade dos nossos adolescentes. Vamos abordar com voc os seguintes itens:1. Consideraes iniciais, como forma de aproximao temtica proposta;2. O conflito como oportunidade;3. Procedimentos bsicos para a preveno;4. Prevenir, eis a questo;5. Respeito, ateno pedaggica e ambiente fisico;6. Preveno como fluxo da comunicao;7. Segurana nas tarefas do cotidiano.Como sempre, precisamos da sua colaborao para que a nossa apresentao faa sentido. Por isso, prossiga conosco.Pgina 1Consideraes IniciaisA vida em comunidade educativa um terreno frtil para a instalao e o desenvolvimento de conflitos. Conflitos de todanatureza, entre os adolescentes, entre os educadores, entre os adolescentes, educadores e a direo e entre os educadorese a direo interna ou externa da unidade. Conflitos acontecem por algum motivo. Em geral, a forma de tratar a questoenvolve palavras como enfrentamento, resoluo, gerenciamento ou mediao.A palavra enfrentamento sugere que osconflitos podem ser solucionados atravs do uso da fora, pela via do combate, da resistncia, da oposio, do embate, do confronto. A palavra resoluo deixa transparecer a existncia de espaos para a atuao unilateral ou para cooptar osenvolvidos e livrar o ambiente do conflito sem a real considerao dos motivos ou sem preencher o lugar que aquele motivodeve ocupar no momento ou no movimento seguinte. A palavra gerenciamento sugere a possibilidade de que o conflito podeser administrado, ou seja, os seus efeitos so possveis de serem minimizados ou contornados para que tudo permaneacomo estava, um jeito de pacificar a situao pelo simples retorno ao estado antecedente ao prprio conflito. Por fim, apalavra mediao sugere partes em oposio e que a diferena pode ser resolvida por acordo, no pressuposto de que tudo suscetvel de acerto, de negociao ou de transao, desde que cada um se disponha a ceder um pouco, aps o que tudoficar devidamente resolvido.Poderia existir alguma outra palavra para tratar a questo do conflito? A perseguio por outras palavras fez encontrar apalavra transformao,palavra que sugere a percepo do conflito como oportunidade. Pela importncia, vamos tratar do sentido dessa palavra com cuidado e em item especfico.Pgina 2O Conflito como Oportunidade (I)Encontramos sentido para a palavra transformao em texto do professor americano John Paul Lederach. Para dar incioao nosso dilogo sobre a temtica da metodologia e dos procedimentos em segurana socioeducativa, o encontro com osentido da palavra transformao permite visualizar o conflito em seu contexto, baseado na no-violncia e na concepodaqueles que o vem como fato normal nos relacionamentos humanos e como motor para a promoo de mudanasconstrutivas.Segundo o nosso Autor, a palavra transformao oferece uma imagem clara e importante, pois dirige o nossoolhar para o horizonte em direo ao qual estamos caminhando: a construo de relacionamentos e comunidades saudveis.Assim, no lugar de ser percebido como algo necessariamente negativo, que pode ser enfrentado, resolvido, gerenciado ou mediado, o conflito passa a ser visto como oportunidade. Como voc pode perceber, trata-se de uma viso diferente datradicional. Para dialogar sobre essa concepo, vamos continuar seguindo os passos de Lederach.Pgina 3O Conflito como Oportunidade (II)Como inicia o conflito? Como percebo a sua existncia? Como ele me afeta? Como ele afeta ou outros? Como o conflitoinfluencia a qualidade das relaes interpessoais? Refletir sobre tais questes sugere o contato com a realidade. Em geral, o conflito, segundo o nosso Autor, comea a servivenciado como uma perturbao no fluxo natural dos relacionamentos. Notamos ou sentimos que algo no est bem.Comeamos a dedicar tempo e energia na interpretao do significado daquilo que nos incomoda, com a qual noconcordamos ou com o que no estamos em sintonia. A tendncia geral reagir. E, quando reagimos, reagimos ao aparente,ao imediato da inconformidade, ao que est ao alcance do nosso olhar.Lederach inicia a reflexo sobre a passagem das perspectivas de resoluo ou de gerenciamento dos conflitos para umaabordagem transformativa explicando a diferena entre as palavras olhar e enxergar. Segundo ele, olhar requer lentes quechamam a ateno e nos ajudam a estar atentos a algo. Enxergar ver alm e mais fundo, buscar compreenso eentendimento. Tanto para olhar como para enxergar precisamos de lentes. A transformao de conflitos sugere umconjunto de lentes pelas quais conseguirmos enxergar o conflito de forma diferente do que quando olhamos o conflito.Para enxergar o conflito, sugere o nosso Autor o uso de lentes focais em trs dimenses, um tipo de culos em que estoreunidas lentes de trs tipos em uma s. A primeira, ajuda a focalizar as coisas que esto grande distncia e que de outromodo ficariam borradas. A segunda mostra as coisas que esto na mdia distncia, como a tela do computador. E, a terceira, auxilia a ler a letra pequena, como enfiar linha de pesca no anzol ou a linha na agulha. Cada aspecto da lente ganha um determinado foco e tem a funo de focalizar um determinado aspecto da realidade.Quando um aspecto ganha foco, os outros estaro desfocados. Segundo ele, no podemos esperar que uma nica lente faamais do que sua funo, nem podemos presumir que a imagem que ela focaliza do todo. Na lgica de que os conflitos so questes de natureza complexa que tm mais do que um aspecto faz com que Lederachrecomende o uso de mais do que uma lente para enxergar todas as dimenses e implicaes. E diz ele que precisamos reuniras lentes em uma nica armao, porque, para enxergarmos as diversas dimenses, devemos relacionar uma dimenso coma outra para que as vrias faces da realidade apaream juntas e possam ser compreendidas em seu todo.Pgina 4O Conflito como Oportunidade (III)Para enxergar o conflito, Lederach sugere a criao de um mapa do conflito como um todo. Uma lente para ver a situaoimediata. Outra, para ver os padres mais profundos do relacionamento, alm, portanto, dos problemas prementes e que leveem considerao o contexto. E, por fim, uma viso que leve em considerao a estrutura conceitual e que nos permita ligar osproblemas imediatos com os padres de relacionamento subjacentes. O mapa do todo do conflito oferece a compreenso geral do conflito e, ao mesmo tempo, permite criar uma plataforma paratratar das questes imediatas e tambm dos padres de relacionamento subjacentes. Em resumo, as lentes de transformao do conflito mostram: 1) a situao imediata; 2) os padres subjacentes e o contexto;3) uma estrutura conceitual.Fizemos at aqui uma tentativa de resumir a parte introdutria do escrito do nosso Autor. A inteno est em aproximar essaconcepo dos nossos estudos e provocar o desejo e a motivao necessria para a leitura integral do texto de Lederach.Trata-se de um autor que apresenta, em linguagem simples e acessvel, um referencial terico e prtico que pode auxiliar odesenvolvimento de uma cultura construtiva do conflito, perfeitamente aplicvel aos diversos momentos da vida de cadaum, aos conflitos relativos aos relacionamentos mais prximos at queles da vivncia profissional. Aplicvel, por evidente,tambm aos conflitos nascidos da convivncia com adolescentes em cumprimento de medida privativa de liberdade. Ali, noambiente de privao, mais do que em qualquer outro lugar ou ocasio, o conflito pode servir de excelente oportunidade paraabrir as portas para o incio a uma relao educativa. Se voc tiver oportunidade, leia o texto integral de Lederach. A leiturapoder ajud-lo a compreender melhor o sentido contrutivo do conflito.Pgina 5Procedimentos Bsicos para a PrevenoIniciamos a reflexo desta Unidade a partir das diversas concepes e vises que podemos ter do conflito. E tambm sobreas diversas formas de lidar com ele. Preparar-se para quando ele acontece uma das formas de lidar com ele. Preveni-lo, outra. Assim como entender o conflitocomo oportunidade pode servir de mecanismo para que ele no cresa e tampouco se desenvolva a ponto de exigir ainterveno com o uso de meios de fora ou de coero.Tais concepes esto relacionadas com a possibilidade da transformao do conflito como com a possibilidade de preveno. Como voc pode anotar, estamos mais centrados em refletir sobre os fundamentos das metodologias e dosprocedimentos de segurana socioeducativa do que propriamente sugerir a adoo dessa ou daquela forma de proceder. Evamos aprofundar, a seguir, alguns aspectos especficos relacionados preveno do conflito como modo de vida emcomunidade segura e protegida. Ou voc no concorda que evitar o conflito pode ser a melhor forma de lidar com a questoda segurana nas unidades de privao da liberdade?Pgina 6Prevenir, eis a QuestoPrevenir, um verbo chave na questo da segurana socioeducativa, a primeira e a mais elementar orientao para umaconvivncia em ambiente seguro e protegido. Porque prevenir, segundo mxima bem conhecida, melhor do que remediar.O conflito no acontece sem alerta prvio, sem a exteriorizao de que algo de equivocado est acontecendo e que a reaodecorrente de um desequilbrio pode estar em desenvolvimento. Ademais, compreensvel de que no mesmo espao em queh movimento e em que alguns esto privados de se movimentar livremente venha a instalar-se o desejo de usufruir daliberdade para alm do limitado, notadamente quando os submetidos a limitaes so exatamente adolescentes. Nunca demais lembrar que o tempo da adolescncia o tempo em que o exerccio da liberdade constitui-se em necessidade deprimeira grandeza, satisfao que se sobrepe e orienta todas as demais escolhas. nesse contexto que a questo dapreveno ingressa na vida do cotidiano de uma comunidade educativa habitada por adolescentes.Segundo Antnio Carlos Gomes da Costa, um primeiro passo imprescindvel: sem alardes e fantasias, preciso afirmaruma realidade que est presente no cotidiano de toda e qualquer unidade de internao: os riscos existem, so reais e podemse transformar em situaes crticas para todos que convivem nessas unidades (COSTA, 2006). Reconhecer, portanto, aexistncia do risco do conflito, seu potencial desagregador e os danos que podem trazer para cada um em particular e para acomunidade como um todo, constitui-se, segundo o Autor, em passo essencial e indispensvel para a elaborao de umaconcepo preventiva. Admitir o risco admitir a necessidade de conhec-lo. E conhecer o risco comear a se prepararpara super-lo na medida dos acontecimentos.Para o professor Antnio Carlos Gomes da Costa, a compreenso do alcance e da importncia da adoo de adequadasmedidas de conteno e segurana percorre diversos nveis, todos relacionados preveno (COSTA, 2006). O primeironvel diz com o relacionamento direto dos educandos com os dirigentes, tcnicos e demais educadores, pois a falta depreparo ou o preparo inadequado, impregnado dos vcios herdados do antigo sistema correcional-repressivo, significa risco dedano para os educandos. O segundo nvel refere-se ao relacionamento direto entre os educandos, pela convivncia entreadolescentes com beligerncia pr-existente ou com capacidade de exercer liderana negativa ou de acentuar o interesse naconvivncia pelo conflito com ameaas, agresses verbais e fsicas, ou, at mesmo, pelo abuso sexual. O que a falta darigorosa separao por critrios de idade, compleio fsica e gravidade da infrao tende a acentuar. O terceiro nvel dizcom o relacionamento direto com a realidade externa, notadamente em relao queles adolescentes que exercem algumaatividade fora da unidade propriamente dita, porque podem estar expostos a influncias, desvios e interesses, dentre outros,remanescentes ou vinculados prtica da infrao, ou a pessoas envolvidas com o trfico de drogas, ou, at mesmo, apoliciais despreparados e a cidados preconceituosos ou desinformados.Pgina 7Respeito, Ateno Pedaggica e Ambiente FsicoOs mecanismos de coibir e evitar todo e qualquer tipo de tratamento vexatrio, degradante ou aterrorizante, em respeito integridade fsica, psicolgica e moral do adolescente, instalam na comunidade educativa, ainda segundo Antnio CarlosGomes da Costa, um convvio de respeito aos direitos e impede o surgimento de tenses e crises (COSTA, 2006). Nessesentido, constitui-se o respeito integridade fsica, psicolgica e moral em fonte primria e elementar para a preveno desituaes de conflito.Existem, no entanto, outros fatores que podem contribuir decisivamente para a preveno do conflito e das situaes-limite. Oprincipal deles a proposta pedaggica, pois, segundo Antnio Carlos Gomes da Costa, o nosso Autor de referncia paratodos esses aspectos, s uma proposta educativa consistente e articulada, com nfase no desenvolvimento dascompetncias pessoais (aprender a ser) e competncias relacionais (aprender a conviver), os educadores e educandospodero conviver num ambiente tranqilo e produtivo, onde as situaes crticas tero chances reduzidas de ecloso eproliferao.Outro fator, segundo o mesmo Autor, o projeto arquitetnico, que deve necessariamente estar a servio da propostapedaggica e orientar-se pela regra segundo a qual quanto mais adequada a segurana externa e quanto melhor o trabalhoeducativo menor ser a necessidade de segurana interna (COSTA, 2006).Pgina 8Preveno como Fluxo da ComunicaoSe a principal estratgia de segurana a preveno, uma das mltiplas modalidades de prevenir consiste em estabelecerum fluxo de comunicao com os adolescentes, destinado a favorecer, o bom andamento do trabalho socioeducativo e amanuteno de um clima de entendimento e paz e, sobretudo, coibindo e evitando todo e qualquer tipo de tratamentovexatrio, degradante ou aterrorizante contra os adolescentes (parmetro 22 do ponto 6.3.8.1 do Sinase).Nesse contexto, o dilogo a melhor forma de preveno. Dilogo e, tambm, participao.Participao no sentido de envolvimento. O adolescente, na comunidade educativa, precisa sentir-se reconhecido evalorizado. Por isso, no existe razo para no atribuir a ele a possibilidade ou a oportunidade da execuo de tarefas docotidiano, para ele sentir-se ocupado e protagonista de tudo que lhe diz respeito.Educadores com toda uma vida dedicada ao estudo da melhor pedagogia para atender adolescentes em conflito com a lei,como Antnio Carlos Gomes da Costa, testemunham positivamente acerca do resultado das responsabilidades delegadas.Os adolescentes respondem, em geral, para alm das expectativas. Respondem para muito alm da mera colaborao, poispassam condio de assumir para si o compromisso com a resposta.O que no significa delegao de autoridade etampouco a entrega do ambiente ao jogo e interesse das lideranas naturais ou daqueles com mais habilidade ou vocaopara as atitudes negativas. Dilogo, nesse contexto, significa o exerccio por inteiro da finalidade do processo educativo, o que pressupe a presena daautoridade pedaggica sem a caracterstica autoritria, aquela que estabelece e impe arbitrariamente o seu ponto de vista. Aprincipal caracterstica da autoridade pedaggica de que estamos falando significa a autoridade prpria de educadores comvocao e com habilidade para exercer a responsabilidade de auxiliar nas escolhas. O processo educativo exige aparticipao do adolescente, fonte permanente de estmulo para o dilogo e para a superao das naturais e eventuaisdivergncias e incompreenses (diretriz 6.1.6 do Sinase).Pgina 9Relaes de Cooperao, Informao e AtividadesOutro ponto a ser considerado sob o aspecto da preveno consiste na compreenso de que uma comunidade educativa novive e no pode viver isolada. Por isso, o Autor que nos inspira (COSTA, 2006) refere que o estabelecimento de relaes decooperao e de ajuda mtua com os demais atores da rede de ateno aos adolescentes em conflito com a lei pode servital para o trabalho educativo e para a segurana. E sugere o estabelecimento de procedimentos padronizados nosrelacionamentos com a Polcia Militar e Civil, com o Ministrio Pblico e a Defensoria Pblica, com o Juizado da Infncia e daJuventude e imprensa, comunidade, famlias e rgos governamentais e no-governamentais.Ou seja, segundo AntnioCarlos Gomes da Costa, regulamentar os horrios, a documentao exigida e os procedimentos para a recepo, admissoe desligamento, as rotinas para a visita de familiares e amigos, dentre tantas outras questes e atividades do cotidiano davida em uma comunidade educativa, fazem parte das rotinas de preveno. Assim como pode ser motivo para diminuir os nveis de tenso o adequado acesso s informaes relativas situaoprocessual, o que pode tanto ser providenciado diretamente pela direo da unidade como atravs de reservadas conversascom o defensor (ver artigo 124, incisos III e IV, do Estatuto).Por ltimo, o regular envolvimento dos adolescentes em atividades esportivas e culturais, ou de lazer e de estudos, contribuipositivamente para diminuir o risco de conflitos, notadamente no perodo entre o entardecer e o horrio do recolhimento,momentos em que agua a solido, o isolamento, a saudade e a angstia. Ou seja, a unidade de internao, em tempoalgum, pode ficar relegada a um funcionamento mnimo, sem movimento e sem criatividade (COSTA, 2006).A preveno dos conflitos e de situaes-limite no tem uma nica forma de proceder. Tampouco uma determinadaprovidncia suficiente. No entanto, todas as providncias precisam caminhar na direo do envolvimento de todacomunidade educativa. O envolvimento parece ser o pressuposto necessrio para evitar situaes agudas e a porta abertapara a necessidade da utilizao dos meios de coero e de fora. Por isso, no deixa de fazer sentido a observao de que a ecloso de uma crise mais sria decorre da acumulao dequestes no resolvidas, sintoma maior de que h algo de equivocado na gesto da comunidade educativa.Pgina 10Segurana nas Tarefas do CotidianoA preveno, como principal estratgia de segurana para uma comunidade educativa, repercute, como pudemos ver atagora, nas tarefas do cotidiano, desde as mais simples at as mais importantes. Os ritos estabelecidos, as rotinas nosdiversos setores, a apropriao da funcionalidade das atividades da casa, dentre outros fatores, podem contribuirpositivamente para o sucesso das estratgias de preveno. E, nesse contexto, em similitude com o tema da disciplina,aclareza e a justia da norma podem ajudar. Clareza sobre o modo de como as coisas so feitas.Clareza sobre os espaos departicipao e de responsabilidade.Entre todos os aspectos suscetveis de adequada organizao e funcionamento para a vida em comunidade educativa segurae protegida, os principais itens so:(1) a circulao de pessoas, veculos e materiais; (2) o contato com o mundo externo;(3) orecebimento de visitas, cartas e telefonemas;(4) o acesso aos meios de comunicao;(5) a realizao da revista;(6) oexerccio do direito visita.Pode ser motivo de maior tenso na unidade do que submeter, por exemplo, os familiares dos adolescentes revista ntimapor ocasio da visita? At que ponto a revista mesmo necessria? E se necessria , o dilogo com os adolescentes nopoderia sugerir, por exemplo, no lugar de submeter os familiares revista antes da visita, que os adolescentes sejamrevistados depois do trmino do horrio do comparecimento dos familiares? A gesto justa e humanizada dessas questespodem contribuir para diminuir a tenso e, em consequncia, tambm diminuir o desconforto do adolescente com a suasituao, de se encontrar privado de liberdade, desconforto no s perante si prprio, mas tambm perante as pessoas comas quais mantm vnculo de afeto e de solidariedade.Pgina 11EncaminhamentoVimos nesta Quarta Unidade do nosso Mdulo os aspectos relacionados gesto do conflito e os mecanismos de preveno.Na prxima, queremos pensar com voc o aspecto da preparao necessria para que isso acontea, especificamente noque diz respeito formao dos educadores.E anunciamos desde logo duas mximas: Segurana exige preparo. Segurana sinnimo de formao qualificada econtinuada.Pgina 12ENCERRAMENTOPgina 1Referncias BibliogrficasAssociao para Preveno da Tortura. Monitoramento de locais de deteno: guia prtico. Braslia: Secretaria Especial dosDireitos Humanos, 2006.CAPEZ, Fernando. A questo da legitimidade do uso de algemas. Revista da Associao Paulista do Ministrio Pblico, n 47,maio/agosto 2008, p. 44/47.COYLE, Andrew. Administrao Penitenciria: Uma Abordagem de Direitos Humanos. Braslia: Ministrio da Justia, 2002.COSTA, Antnio Carlos Gomes da. A Presena da Pedagogia: teoria e prtica da ao socioeducativa. So Paulo: Global,1999.DELORS, Jacques. Educao: um tesouro a descobrir. 10 edio. So Paulo: Cortez, 2006.FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. 29 Edio. Petrpolis, RJ: Vozes,2004.GOMES, Luiz Flvio. Algemas: STF disciplina seu uso. Revista de Direito Militar, n 72, julho/agosto 2008.KONZEN, Afonso Armando. Justia Restaurativa e Ato Infacional: desvelando sentidos no itinerrio da Alteridade. PortoAlegre: Livraria do Advogado, 2007.LEDERACH, John Paul. Pequeno Livro de Transformao de Conflitos. So Paulo: Palas Athena, 2010 (previsto).MORAIS, Nelson Missias de. Do uso e do abuso das algemas luz do Estado de Direito. Revista da AJURIS, n 114, junhode 2009, p. 279/281.ROSENBERG, Marshall B. Comunicao No-Violenta: tcnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais.So Paulo: Agora, 2006.SOARES, Luiz Eduardo. Violncia na Primeira Pessoa. In: ATHAYDE, Celso, et. Al. Cabea de Porco. Rio de Janeiro:Objetiva, 2005.SOUZA, Fbio Arajo de Holanda. Algemas: Regra ou Exceo? Disponvel em www.artigonal.com/print/909111.SPOSATO, Karyna. Gato por Lebre: a ideologia correcional no Estatuto da Criana e do Adolescente. In: Revista IBCCRIM,58, 2006, p. 135 e ss.Pgina 2IntroduoCaro(a) Cursista:Nesta Segunda Unidade desse nosso Mdulo X queremos estudar a interligao entre trs aspectos absolutamentefundamentais para a qualidade do atendimento em ambientes de privao de liberdade de adolescentes: a propostapedaggica, a segurana e a disciplina. So temas que fazem parte do cotidiano da vida em toda comunidade educativa. Epelo nosso entendimento, importante entender a interligao entre esses trs temas para perceber todas as facetas daqualidade do atendimento nessas unidades.Ento prossiga conosco.Pgina 1Consideraes Iniciais (I)Dizem as Regras Mnimas das Naes Unidas para a Administrao da Justia da Infncia e da Juventude: o tratamentodos jovens colocados em instituies tem por objetivo assegurar seu cuidado, proteo, educao e formao profissionalpara permitir-lhes que desempenhem um papel construtivo e produtivo na sociedade (item 26.1). Ou, dito de outra forma, o atendimento institucional de um adolescente privado da liberdade tem como objetivo fundamental ode infundir um sentimento de justia e de respeito por si mesmo e pelos direitos fundamentais de toda pessoa humana (item66, segunda parte, das Regras Mnimas das Naes Unidas para a Proteo dos Jovens Privados de Liberdade). Ou, ainda, nos termos do Sinase:as aes socioeducativas devem contribuir para a formao do adolescente, de modo quevenha a ser um cidado autnomo e solidrio, capaz de se relacionar melhor consigo mesmo, com os outros e com tudo queintegra a sua circunstncia e sem reincidir na prtica de atos infracionais (introduo ao Ponto 6 do documento).Assim, ainda que a privao liberdade traga mais problemas do que benefcios (ponto 6.2.1 do Sinase), verifica-se entre osdoutrinadores um certo consenso em torno do objetivo do atendimento do adolescente privado da liberdade. Ou seja, oatendimento deve ser visto e percebido necessariamente como de natureza educativa. E a metodologia capaz de fazer comque o atendimento possa ser educativo tem nome e endereo: proposta pedaggica.Pgina 2Consideraes Iniciais (II)Nos termos das recomendaes do Sinase, a segurana um dos requisitos estruturais da gesto pedaggica do programade atendimento. Educao e segurana, nesse contexto, caminham juntas. So como irms siamesas. Uma no vive, no anda e no bem sucedida sem a outra. Por isso, sem prtica educativa noh razes para falar em segurana. E sem segurana no h como falar em possibilidade de prtica educativa. A concepo,de intrnseca proximidade, interconexo e intimidade entre processo educativo e segurana institui a obrigao de pensar oatendimento nas unidades de privao de liberdade no contexto da proposta pedaggica. Portanto, da essncia daestruturao da proposta pedaggica a ateno ao tema da segurana.Se voc aprofundar a reflexo sobre a relao entre segurana e educao no dia-a-dia da organizao e funcionamento deum programa de atendimento em regime de privao da liberdade vai perceber que esses aspectos tm um ponto deencontro. O ponto denomina-se disciplina.O que nos remete automaticamente ao aspecto normativo do programa de atendimento. Situa-se ali, na regulamentao dadisciplina de uma comunidade educativa, o ncleo da relao entre o tema da segurana e a proposta pedaggica. Napresente Unidade, queremos aprofundar a reflexo em torno dessa questo.Pgina 3O sentido da palavra DisciplinaPensar a relao entre a proposta pedaggica e o tema da segurana exige, como item preliminar, a reflexo sobre o sentidodo que podemos entender por disciplina. O que significa disciplina? Qual a noo mais usual sobre o sentido dessapalavra? Quais so as concepes que nos podem orientar para perceber as medidas e os procedimentos necessrios parauma vida comunitria segura, protegida e compatvel com o respeito dignidade da pessoa humana e com o objetivo doprprio atendimento?Nos dicionrios, a palavra disciplina aparece, em geral, com mltiplos significados. Ou seja, disciplina o correspondente aoregime do imposto, a ordem natural para a convenincia nas organizaes militares, eclesisticas, empresariais e de ensino. Tambm aparece com o sentido de virtude nas relaes interpessoais. Como valor a ser cultivado entre o mestre e odiscpulo, entre instrutor e quele submetido instruo. No raras vezes ainda induz a presena das ideias de submisso ede subordinao. Na perspectiva de uma concepo mais tradicional, a noo de disciplina apresentada de forma negativa,relacionada a temas como controle, fiscalizao e normalizao ou de conteno e domnio dos comportamentosconsiderados inadequados do ponto de vista do interesse convivncia. O sentido da palavra disciplina pode serresignificado. Em seguida, vamos explicar um pouco melhor essa resignificao.Pgina 4Disciplina e Cultura PunitivaPela concepo mais tradicional, o mecanismo mais adequado e eficiente para impor a disciplina sempre foi e continua sendoa punio. O enunciado simples e direto, assentado que est na estrutura cultural das sociedades punitivas: regra existepara ser obedecida. Na desobedincia, culpa e punio.S que a punio como estratgia disciplinar poder ter uma srie de desvantagens. Vamos enumerar, de formaexemplificativa, cinco delas:1. A possibilidade da punio injusta, com a imediata instalao de cargas de hostilidade naqueleinjustamente punido. 2. O destaque excessivo a um aspecto indesejvel da conduta, quando poderia ser mais adequado econveniente valorizar os aspectos positivos de todo comportamento humano. 3. A falta de conexo entre a punio e aatividade que se pretende inibir.4. A normalizao, porque a punio obriga a um certo padro de conduta no lugar deestimular a resposta positiva, em respeito s possibilidades e condies de cada um. 5. Por fim, ainda como desvantagem da cultura punitiva, a punio instala o temor, o medo de agir, caractersticas que tm o potencial de inibir ou de reduzir acapacidade de aprender com a experincia.Pgina 5Disciplina como elemento do processo educativoO sentido contemporneo da palavra disciplina est passando por reformulaes. Como a de que uma das virtudes dohomem social que o leva a usar e a no abusar de seus direitos e da sua liberdade, dado, portanto, ao cumprimento dosdeveres e observncia das normas. Assim, na medida em que se dialoga com aspectos da psicologia aplicada educao,instala-se a perspectiva libertadora e o potencial construtivo de todo agir humano. E a disciplina passa a ser vista como oinstrumento destinado a auxiliar no desenvolvimento do indivduo e a proteger a individualidade e toda a coletividade contraeventuais processos da desorganizao. No lugar de instrumento de controle e enunciativo da punio, passa a disciplina aexercer a funo de cuidado e de proteo.Nessa passagem, da viso de culpa e castigo para a viso de cuidado e proteo, a preocupao est em realar osaspectos negativos dos excessos e as caractersticas inovadoras dos ambientes seguros e protegidos, o que empresta outrafuno disciplina, resignificao que a coloca como pressuposto indispensvel para todo o qualquer processo educativo.Pgina 6Disciplina e Normativa InternacionalA consulta s recomendaes da normativa internacional deixa aflorar a preocupao em limitar o uso da disciplina comomecanismo punitivo. As recomendaes caminham na direo de estabelecer limites. Com o que, entretanto, indiretamente ede forma velada, ainda se admite a punio como forma de resposta ao comportamento no desejado. Para a sua orientaoe reflexo, segue um resumo dos principais enunciados:1. A ordem e a disciplina devem ser mantidas com firmeza, massem impor mais restries do que as necessrias para a manuteno da segurana e da boa organizao da vidacomunitria.2. A vida em comunidade fundada pela norma, que levar em conta as caractersticas, as necessidades e osdireitos fundamentais dos jovens e o carter, a durao e a autoridade competente para impor a medida e para decidir emgrau de apelao.3. Nenhuma conduta ser considerada infrao disciplinar sem regra anterior que assim o defina.4. Soproibidas as medidas disciplinares cruis, desumanas ou degradantes ou as que coloquem em perigo a sade fsica oumental, tais como os castigos corporais, o recolhimento em cela escura, em isolamento ou em solitria, a reduo dealimentos, a restrio ou proibio de contato com familiares e os castigos coletivos.5. O trabalho sempre dever serconsiderado como instrumento de educao e meio de promover o respeito prprio e de preparao para a reintegrao,jamais como castigo.6. Ningum ser castigado mais de uma vez pela mesma infrao.7. Nenhum jovem ser castigado semque seja previamente informado da infrao e que possa entender e exercer a oportunidade de se defender.8. Nenhumamedida ser aplicada sem o devido procedimento devidamente autuado.9. Nenhum jovem dever ter, a seu encargo, funesde natureza disciplinar.Pgina 7Instrumentos e Forma em Matria Disciplinar (I)Alm de uma proposta pedaggica slida, uma proposta arquitetnica que permita assegurar o mximo de seguranaexterna para tornar possvel o mnimo de segurana interna, uma adequada escolha do pessoal, o exerccio permanente deatividades e a manuteno de sadias relaes externas, Antnio Carlos Gomes da Costa aponta a fora da regra comofator indispensvel para a preveno e o enfrentamento da violncia e das situaes-limite (COSTA, 1999, p. 195). Erecomenda a institucionalizao dos instrumentos de gesto das relaes internas baseadas fundamentalmente em normaspr-estabelecidas, de conhecimento e de seguimento obrigatrio para todos os conviventes, independente da condioocupada na relao educativa. Tais instrumentos so o Regimento Interno, a Guia do Educando e a Guia do Educador.Cada um desses instrumentos mereceria uma reflexo especfica. A importncia dessa questo de tal ordem que o Sinasecondiciona a inscrio do prprio programa de atendimento prvia indicao das estratgias de segurana e a previso dassanes disciplinares e o respectivo regime disciplinar (item 4.2.3). E sugere a adoo de regime disciplinar as seguintescondies restritivas:1. A previso de sano somente em razo da prtica de falta disciplinar anteriormente prevista edivulgada, no podendo ser o adolescente responsabilizado mais de uma vez pela mesma transgresso.2. A proibio desano que implique tratamento cruel, desumano e degradante, assim como qualquer tipo de sano coletiva.3. A garantiada observncia da proporcionalidade, sem prejuzo da aplicao da advertncia sempre que cabvel, em qualquer hiptese,vedadas sanes severas para faltas leves.4. A possibilidade de aplicao somente por colegiado, vedada a participao deadolescentes na aplicao ou execuo das sanes.5. A definio de um procedimento para a aplicao da sano, no qualse contemple a observncia do devido processo legal.6. A proibio da incomunicabilidade e da restrio de visita, assimcomo qualquer sano que importe prejuzo escolarizao, profissionalizao e s medidas especficas de ateno sade.7. Utilizar a conteno do adolescente somente em situaes extremas que envolvam risco sua integridade e de outrem.Pgina 8Instrumentos e Forma e Matria Disciplinar (II)Voc pode constatar que a orientao geral consiste em que os aspectos disciplinares devem ser considerados comonorteadores de sucesso pedaggico (ver parmetro 6.1.7 do Sinase). Por isso, a construo do Regimento Interno, do Guiado Educador e do Manual do Adolescente deve ser, sempre que possvel, coletiva, de modo que esses documentos sejampartes de um conjunto institucional e guardem, entre si, relaes de coerncia e de complementariedade. A lgica muitosimples. Se voc ajuda a construir a norma, voc no s passa a ter cincia dela, mas tambm passa a entend-la melhor e,principalmente, passa a sentir-se responsvel pelo cumprimento. Por isso, de muita sabedoria a recomendao de que asnormas devam ser construdas com a colaborao de todos os participantes de uma comunidade educativa.A questo singela e muito simples, ainda que muitas vezes possa no ser fcil. Trata-se de definir o que pode e o que nopode em termos comportamentais e quais as consequncias por eventual transgresso norma estabelecida. A sistemticada construo coletiva no s aprofunda com mais clareza a compreenso da norma, mas permite que a oportunidade daconstruo da norma passe a ser um momento pedaggico por excelncia, pela apropriao do sentido do porqu e do paraque das regras e da importncia de que o pactuado seja cumprido (COSTA, 2006). O adolescente, e vale o mesmo para oseducadores, no momento em que participa da deciso, sente-se naturalmente compromissado com o cumprimento. E tendeno s a cumprir o pactuado, mas tambm em colaborar para que todos os outros cumpram o pacto.Pgina 9EcaminhamentoO aprofundamento da nossa reflexo em matria disciplinar desafia a realidade. No estrito cumprimento do estabelecido, nopodero ocorrer situaes agudas, em que as normas pactuadas sero insuficientes? Nessa hiptese, como se deveproceder? Quais so os limites e as possibilidades para o agir? Estamos convidando voc a prosseguir com a reflexo. Naprxima Unidade, vamos dialogar sobre o tema da coero fsica e do uso da fora nas unidades de privao de liberdade.Sabemos que a construo de consensos nem sempre afasta a possibilidade do surgimento de situaes de crise. Paraesses momentos, a recomendao consiste em estar preparado. Estar preparado significa prevenir. Assim como pode ter osentido de saber agir. Continue conosco. Pgina 10IntroduoSegurana exige preparo. Segurana sinnimo de formao qualificada e continuada. Preparar prevenir, muitomelhor do que pagar o preo.As mximas podem valer tanto na perspectiva dos interesses do Programa de Atendimento que executa a medida como naperspectiva individual da pessoa envolvida, dos profissionais que se dedicam atividade de atender os adolescentes nocitado Programa.Essas palavras iniciais significam a mensagem de boas-vindas Quinta Unidade do Mdulo Dez do nossoCurso. Nessa Unidade, um dos nossos objetivos consiste em refletir sobre a formao continuada como estratgia para aqualificao do atendimento ao adolescente autor de ato infracional privado de liberdade. Perceber a importncia desse itemser o nosso propsito central.Siga a nossa apresentao e reflita conosco sobre o proposto. Boa leitura!Pgina 1Consideraes IniciaisOs contedos vistos at aqui demonstram que o sucesso do atendimento no transcurso do cumprimento das medidas deprivao da liberdade depende da ao educativa dos profissionais que atuam no Programa de Atendimento. A natureza da atividade consiste em preparar o adolescente para o retorno ao convvio familiar e social. Trata-se de atividadea ser desenvolvida por pessoas preparadas, com boa formao geral e com excelente formao especfica. E uma dasexigncias de que o educador tenha condio pessoal para cumprir as funes relativas segurana socioeducativa.Queremos refletir com voc:sobre o preparo necessrio para exercer atividades profissionais em uma comunidadeeducativa;sobre a importncia da formao como um todo;e sobre os itens especficos relativos ao preparo necessrio paralidar com o tema da segurana.Pgina 2Seleo e Formao do Educador (I)A preocupao com a condio das pessoas que trabalham em unidades de privao de liberdade de adolescentes vemreferida expressamente nas Regras Mnimas das Naes Unidades para o Tratamento dos Jovens Privados de Liberdade. Apreocupao referida diz respeito seleo, remunerao, estmulo profissional e formao, tanto dos funcionrios comodos dirigentes das unidades (itens 81 a 87). Recomendaes similares voc tambm pode encontrar no Sinase.Tais recomendaes refere-se aos diversos momentos da vida profissional, porm mais especificamente aos temas relativos seleo, formao e substituio das pessoas no preparadas.Vamos abordar tais itens a seguir.Pgina 3Seleo e Formao do Educador (II)Em termos de seleo, o Sinase recomenda que as atribuies dos educadores devero considerar o profissional quedesenvolva tanto tarefas relativas preservao da integridade fsica e psicolgica dos adolescentes e dos funcionriosquanto s atividades pedaggicas (item 5.2.1.4). Segundo o entendimento de Antnio Carlos Gomes da Costa, o projetopedaggico dever tambm orientar os processos de recrutamento e seleo do pessoal dirigente, tcnico e operacional daunidade de internao. O perfil desses profissionais deve ser construdo a partir das exigncias de trabalho scio-educativo.Sem uma equipe vocacionada e preparada, no ser possvel desenvolver o projeto pedaggico e as situaes de risco semultiplicaro (COSTA, 2006).Como voc pode observar, a preparao para lidar com adolescentes privados de liberdade deve comear antes do ingressono exerccio profissional, porque se constitui em elemento de orientao da prpria seleo. E no termina ali. Merece prosseguimento e continuidade.Pgina 4Seleo e Formao do Educador (III)Depois do processo de seleo, deve seguir a etapa da formao inicial. Ou seja, a pessoa j contratada vai preparar-semais especificamente para iniciar o exerccio profissional. O que exige tempo e dedicao. O professor Antnio CarlosGomes da Costa assinala, por exemplo, ao fazer referncia ao tempo de formao necessria para iniciar propriamente as atividades, que a Polcia Militar, em diversos estados brasileiros, gasta 09 (nove) meses para preparar um soldado para otrabalho junto comunidade. Nas unidades de internao, salvo poucas excees, a regra contratar e pr para trabalharimediatamente ou quase. preciso mudar radicalmente essa mentalidade imediatista e essa prtica descuidada. precisoinvestir mais tempo no treinamento introdutrio do pessoal dirigente, tcnico e operacional das unidades de internao, e, iralm: investir no treinamento em servio, nas reciclagens peridicas e no intercmbio de experincias, a partir do diagnsticodas potencialidades e dificuldades da equipe da unidade. S assim, com formao continuada, ser possvel ter educadoresaptos para o trabalho educativo e a preveno e enfrentamento de situaes-limite (COSTA, 2006). Ou seja, um bom comeo e uma boa jornada significa, alm da adequada seleo: investir na capacitao introdutria e contnua de todos os envolvidos no atendimento socioeducativo a partir do diagnstico das potencialidades e dificuldades daequipe institucional considerando as competncias especficas e complementares (item 8 do ponto 6.3.8.1 do Sinase).Pgina 5Formao sinnimo de Formao ContinuadaA preocupao com a formao no se esgota com a ateno s condies para o ingresso e com o treinamento inicial. Eladeve ser continuada, no sentido de que a vivncia prtica merea ser orientada permanentemente para o aprendizado, nos pelo exerccio crtico das tarefas do cotidiano, mas principalmente pela retomada dos contedos j desenvolvidos e apermanente eleio de novos contedos. E um desses contedos diz respeito formao necessria para lidar com aquesto da segurana. Nesse sentido orientam os parmetros gerais e especficos do Sinase (itens 6 e 7 do ponto 6.3.8.1 e itens 7 e 10 do ponto6.3.8.2):1. Oferecer periodicamente, no mximo a cada trs meses, treinamentos prticos de segurana, combate a incndioe a prestao de atendimento de primeiros socorros para todos os profissionais de atendimento socioeducativo...2. Treinarsistematicamente os profissionais de atendimento socioeducativo para que saibam agir com discernimento e objetividade nosmomentos de situaes-limite do atendimento e, sobretudo, em tcnicas de negociao.3. Oferecer treinamento prtico emsegurana para toda equipe dos programas de atendimento socioeducativo no mximo a cada trs meses.4. Analisarcuidadosamente com toda a equipe do atendimento socioeducativo os casos de ocorrncia e o enfrentamento desituaes-limite, visando a sua compreenso e identificao de falhas ou na atuao da equipe profissional buscando, assim,ajustes necessrios para a superao.Pgina 6A Substituio do DespreparadoTambm faz parte da estratgia da manuteno da qualidade do atendimento a criao de regras e mecanismos geis, nodizer do Sinase, para a substituio de profissionais quando esses adotarem condutas desleais, retaliadoras, rancorosas,vingativas, provocativas ou outras atitudes antipedaggicas, assim como a orientao de apurar e punir com justia eequilbrio todas as responsabilidades administrativas e criminais pelo surgimento da situao-limite.Para evitar esse tipo deconstrangimento ou impossibilidade, de se perguntar se a estratgia mais qualificada no seria a de aprofundar osprocessos formativos?No seria esse o meio mais adequado, seno o nico, para a profissionalizao do atendimento?Ou voc teria alguma outra sugesto? Assim, ainda que a substituio como mecanismo natural para a manuteno da qualidade do atendimento no possa serdesconsiderada, encontrar a melhor esratgia para evitar esse tipo de situao tarefa fundamental na organizao e nagesto dos Programas de Atendimento.Pgina 7Profissionalizao do Atendimento (I)Se a melhor estratgia para evitar a necessidade da substituio dos profissionais despretarados est no investimento naformao continuada, no seria importante perguntar sobre as reais oportunidades oferecidas, no Pas, para o exerccio dopreparo profissional para o atendimento dos adolescentes privados de liberdade? Por exemplo, o contedo programticocompe a grade curricular dos programas de graduao e de ps-graduao das instituies de ensino?Como raras excees, a tarefa est confiada s prprias mantenedoras dos programas de atendimento, que, no entanto,como estratgia de formao dos seus profissionais, correm o risco de reproduzir, nas suas propostas de formao, o que jse encontra instalado. Ou seja, produzem mais do mesmo. O que revela o quanto ainda precisamos avanar, no Pas, emtermos de qualificao das estruturas de atendimento ao adolescente em cumprimento de medida privativa de liberdade. Alis, para perceber a dimenso do desafio, sequer as competncias profissionais indispensveis para atuar nesse tipo deatividade esto claramente definidas.Pgina 8Profissionalizao do Atendimento (II)Por competncia pode-se entender como a capacidade de mobilizar saberes para agir nas diferentes situaes da prticaprofissional, em que as reflexes antes, durante e aps a ao estimulem a autonomia intelectual. O conceito transcrito estna Matriz Curricular Nacional para aes formativas dos profissionais da rea da Segurana Pblica, organizada pelaSecretaria Nacional de Segurana Pblica do Ministrio da Justia. O documento do SENASP tambm refere competncias mnimas para atuar na rea da segurana pblica, competnciasclassificadas como cognitivas, operativas e de atitude. Podemos utilizar esse referencial, pela sua qualidade e pertinncia,inclusive para estudar o aspecto da formao necessria para atuar profissionalemnte na rea socioeducativa.Pgina 9Profissionalizao do Atendimento (III)Segundo a Matriz Curricular referida, o profissional deveria, em termos cognitivos e em matria de segurana, saber, nomnimo: (1) analisar dados estatsticos que possibilitem compreender os cenrios da realidade brasileira em relao criminalidade, violncia e necessidade da preveno; (2) descrever os sistemas de segurana pblica; (3) compreender anecessidade de uma gesto integrada e comunitria do sistema de segurana pblica; (4) descrever o papel da instituio aque pertence dentro do sistema de segurana pblica; (5) estabelecer um panorama geral sobre o sistema jurdico vigente noPas, essencialmente no que pertinente aos ramos do direito aplicveis atuao dos profissionais de segurana pblica;(6)relacionar a utilizao da fora e da arma de fogo aos princpios da legalidade, necessidade e proporcionalidade.No seria o caso de se perguntar se tais competncias efetivamente j integram o contedo programtico dos programas deformao dos profissionais que atuam nas unidades de privao de liberdade de adolescentes? E no deveriam integrar,mesmo eventualmente com adaptaes, j que os recursos humanos adequados para atuar nos Programas de Atendimentopara a execuo de medidas socioeducativas no fazem propriamente o mesmo perfil dos demais profissionais que atuam nosistema de segurana pblica? A resposta parece singela. Muito do exigido em matria de preparo para atuar em segurana pblica perfeitamentecompatvel com o exigido em matria de preparo para atuar em segurana socioeducativa. A seguir, alguns exemplos. Pgina 10Profissionalizao do Atendimento (IV)Para atuar na rea da segurana pblica, a Matriz Curricular referida prev aquilo que exigido no campo das competnciasoperativas. Veja se tais competncias seriam compatveis com o profissional com atuao em Programa de Atendimentopara a execuo de medida socioeducativa privativa de liberdade. As competncias operativas exigem preparo:em relao s habilidades de proteger pessoas; para demonstrar segurana; para escolher e manusear instrumentos de defesa; para dominar tcnicas de abordagem, de autodefesa, de primeirossocorros, de negociao e de resoluo de conflitos; para utilizar equipamentos de proteo individual; para relacionar-secom pessoas e com a comunidade; para trabalhar em equipe; para ouvir e entrevistar pessoas; para elaborar relatrios edocumentos relativos a ocorrncias; para saber cumprir determinaes administrativas e judiciais.Alm das operativas, a Matriz Curricular do SENASP prev outras competncias. Veja.Pgina 11Profissionalizao do Atendimento (V)Em matria das competncias, ainda seriam indispensveis os saberes situados no mbito das atitudes. E so consideradas competncias atitudinais:demonstrar controle emocional;manter-se atualizado;manter tica profissional;cumprir normas e regulamentos internos;agir com civilidade e respeito;demonstrar desenvoltura, criatividade, pacincia,perspiccia, capacidade para lidar com a complexidade das situaes e com o risco e a incerteza;demonstrar disciplina,resistncia fadiga fsica e firmeza de carter;manter boa apresentao e condicionamento fsico;agir com bom senso,discretamente, com iniciativa e com imparcialidade.Trata-se de um conjunto de predicados pessoais ou de virtudes indispensveis ao profissional com atuao na rea dasegurana pblica. Tais virtudes comportamentais tambm so necessrios para que a relao a ser estabelecida com oadolescente em cumprimento de medida privativa de liberdade possa inspirar modelos de conduta. A ideia consiste empreparar o profissional para educar pelo exemplo. Pois o exemplo, no dizer de Antnio Carlos Gomes da Costa, emrepetio de ensinamento de Makarenko, no s a melhor maneira de um ser humano exercer influncia construtiva eduradoura sobre outro ser humano. a nica (COSTA, 2006).Pgina 12EncaminhamentoO desenvolvimento das competncias necessrias para atender adequadamente adolescentes privados de liberdade dependente de iniciativas voltadas formao de todo o conjunto de educadores. Iniciativas isoladas e descontnuas noresolvem. Por isso, a necessidade da apropriao da cultura da formao continuada, estratgia no s para responderpela questo da segurana, mas para responder s exigncias de qualidade de todo Programa de Atendimento.Na prximaUnidade, a ltima do nosso Mdulo, vamos perceber que a formao indispensvel para o profissional da comunidadeeducativa. No s para as tarefas do cotidiano, mas tambm para a gesto da segurana nas crisese nas situaes-limite.Prossiga conosco.Pgina 13IntroduoCaro (a) Cursista:Voc est chegando ao final do nosso Mdulo e tambm ao final do nosso Curso. No deixe de vencer este ltimo passo. Vamos aprofundar nessa Unidade alguns aspectos relativos segurana socioeducativa que dizem respeito maisespecificamente ao que possvel ou recomendvel fazer nos momentos de crise, quando a situao sai do normalidade e ouso de mecanismo de fora passa a ser necessrio. Voltamos, assim, ao assunto do uso dos meios de coero e de fora,como vimos na Unidade Trs, agora para refletir com voc sobre os aspectos relacionados mais especificamente gestodas situaes-limite, das crises propriamente ditas, assunto que envolve:preparao;gesto do conflito na condio deacontecimento em curso;anlise dos efeitos na perspectiva do restabelecimento da normalidade e da avaliao. Por ltimo, queremos abordar o tema do monitoramento externo, fator decisivo para que as unidades de privao de liberdadedos adolescente pautem as suas aes com respeito dignidade de toda pessoa humana.Siga!Pgina 1Consideraes IniciaisA instalao de um ambiente de segurana, em termos de estruturao e organizao das aes do cotidiano socioeducativo,significa, segundo o Sinase, investir em medidas de preveno das situaes-limite. Como vimos na Unidade Quatro destenosso Mdulo, prevenir, este o verbo. No saber a sua conjugao ou exercer as tarefas vinculadas ao sentido desseverbo com insuficincia significa terreno frtil para a desagregao do ambiente. Por isso, a preveno a orientaoprimeira e principal.No entanto, apesar de uma proposta pedaggica slida;apesar de uma proposta arquitetnica que permita assegurar omximo de segurana externa para tornar possvel o mnimo de segurana interna; apesar da adequada escolha e formaodo pessoal;apesar da eleio de efetivos instrumentos para a regulao das relaes internas e externas; anda assim pode haver situaes em que a conjugao do verbo prevenir pode ter sido insuficiente. Apesar de todos osesforos, ainda assim possvel o surgimento de situaes de desagregao das relaes internas, situaes em que oconflito no conseguiu ser evitado. E se isso ocorrer, no dizer de Antnio Carlos Gomes da Costa, o pessoal dirigente,tcnico, operativo e auxiliar deve estar preparado para detectar a ocorrncia em seu incio ou mesmo antes, trabalhar pelareverso e det-la, de forma mais drstica, quando isso se revelar necessrio (COSTA, 2006). Nasce assim a necessidade de outro padro de atuao, voltado gesto da situao-limite.Pgina 2Informao e Anlise de Cenrios e Riscos (I)Nos termos do Sinase, a segurana deve ser objeto de diagnstico situacional dinmico e permanente (ver parmetro 5.1.2). A temtica volta a rimar com preveno.Mas vai alm dela, porque a preveno consiste em visualizar as situaes que eventualmente possam acontecer epreparar-se para enfrent-las. A estratgia admite, portanto, a hiptese de que nem sempre todas as situaes sosuscetveis de serem prevenidas e de que necessrio estar preparado para a eventualidade subsequente. Brigas,quebradeiras, motins, fugas, invases, incndios, agresses e outras ocorrncias desse tipo podem oco