unesp - instituto de biociências - câmpus de rio claro - a energia … · 2015. 8. 14. · fluem...

7
47 A ENERGIA DETERNIMANDO A TRANSFORMAÇÃO DA NATUREZA NA LINGUAGEM DA EVOLUÇÃO SISTÊMICA Ivan Carlos Zampin 1 Magda Adelaide Lombardo 2 Fátima Bento de Oliveira 3 1 Doutorando Pós-Graduação em Geografia Unesp, Rio Claro-SP; Professor. 2 Professora Doutora do Departamento de Planejamento – DEPLAN – Unesp – RC. 3 Professora: Português/Rede Estadual de Educação

Upload: others

Post on 02-Oct-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Unesp - Instituto de Biociências - Câmpus de Rio Claro - A ENERGIA … · 2015. 8. 14. · fluem combinadas com o ciclo biológico, e que atua na transformação e recolocação

47

A ENERGIA DETERNIMANDO A TRANSFORMAÇÃO DA NATUREZA

NA LINGUAGEM DA EVOLUÇÃO SISTÊMICA

Ivan Carlos Zampin1

Magda Adelaide Lombardo2

Fátima Bento de Oliveira3

1 Doutorando Pós-Graduação em Geografia Unesp, Rio Claro-SP; Professor. 2 Professora Doutora do Departamento de Planejamento – DEPLAN – Unesp – RC.

3 Professora: Português/Rede Estadual de Educação

Page 2: Unesp - Instituto de Biociências - Câmpus de Rio Claro - A ENERGIA … · 2015. 8. 14. · fluem combinadas com o ciclo biológico, e que atua na transformação e recolocação

48

INTRODUÇÃO Neste trabalho é abordada a interpretação visual de várias questões

relacionadas com a ritimia, ou padrões existentes, que compreendem a

composição dos ecossistemas, considerando-se os fluxos de energias

dominantes e a interação vertical definida pela cadeia alimentar onde as energias

fluem combinadas com o ciclo biológico, e que atua na transformação e

recolocação de nutrientes nos ecossistemas. Os ecossistemas são produtores de

energias, considerando que comandam os seus próprios fluxos de energia e

matéria, com a finalidade de transformação exercida pela natureza.

Com base nessa idéia geral, a imagem revela essa transformação em

linguagem compreensível aos olhos de quem a vê. Este trabalho tem a proposta

de realçar alguns pontos primordiais sobre a teoria dos sistemas, dando subsídios

para a compreensão do processo envolvido com o propósito de conservar e

preservar o meio ambiente através da análise dos ecossistemas. Assim se faz

uma análise e um debate sobre a evolução sistêmica onde são estabelecidas ou

levantadas várias características de geossistemas e ecossistemas, considerando

o clima que é o real fornecedor de energia para as transformações, de forma que

sua atuação repercute na quantidade de calor e água disponíveis, devido à

sazonalidade das estações do ano.

O recorte especial considerado constitui-se na área correspondente às

margens do Ribeirão Claro no município de Rio Claro – SP, evidenciando a

evolução sistêmica que está ocorrendo na vegetação do local, com base nas

relações temporal e espacial.

A forma pela qual ficam estabelecidas as argumentações está baseada nos

modelos, ou modelagem, condicionada aos balanços de massa e energia, onde

em Cristofoletti, (1999), p. 28, fica definido:

[...] Os sistemas ambientais funcionam como sistemas abertos, recebendo, transformando e transferindo inputs de matéria e energia. Na maior parte dos sistemas a consideração sobre o balanço de massa e energia não se torna relevante. Todavia, surgem categorias onde a conservação de massa ou da energia são significativas para o sistema. (CHRISTOFOLETTI, 1999, p.28).

Page 3: Unesp - Instituto de Biociências - Câmpus de Rio Claro - A ENERGIA … · 2015. 8. 14. · fluem combinadas com o ciclo biológico, e que atua na transformação e recolocação

49

Para a aplicação dos conceitos na análise deste pequeno trecho de mata

ciliar às margens do Ribeirão Claro é preciso considerar as relações entre

Ecologia e Energética, que são definidas ou descritas da seguinte forma: Ecologia

“pode assim ser descrita como sendo o estudo das inter-relações dentro de

ecossistemas” ou como Odum, 1959 prefere, “o estudo da estrutura e função da

natureza” e Energética “se refere às transformações da energia que ocorrem

dentro de ecossistemas”.

Considerando o seqüencial prático para essa análise do local,

primeiramente o espaço foi demarcado de forma perimetral em loco e definido, de

forma a estabelecer a obtenção de uma área para o estudo e verificação dos

fenômenos hidrogeomórficos e de ecologia vegetacional. Essa área tem

aproximadamente um hectare, ou seja, (10.000 m²), onde, a paisagem

estruturada realmente pode ser analisada e várias interpretações são possíveis,

dentro do contexto biogeográfico. A área, considerando seu tamanho tem sido

freqüentemente utilizada pela natureza como base para a modelagem dos

padrões de distribuição e riqueza de espécies, manipulando as funções internas

de um fragmento, como por exemplo, as variáveis microclimáticas e a forma de

seu solo. Interfere também nas taxas de ciclagem de nutrientes e também o

tamanho de agregados de propágulos para a colonização vegetal do local em

transformação natural. Esta constatação fica evidente para descrever a análise

sistêmica que está baseada na interpretação, segundo (AB SABER apud

RIBEIRO e LEITÃO FILHO, p. 19, 2000), que diz:

...Ocorrem, ainda, lagoas ou cicatrizes de meandros em locais de forte assoreamento biogênico. Por ocasião de grandes enchentes, além da floresta beiradeira pode-se perceber résteas descontínuas de matas correspondentes ao suporte ecológico de antigos diques marginais, interiorizados pelas divagações localizadas dos cinturões meandricos. Em setores laterais das várzeas, mais distanciados da faixa beira-rio e menos sujeitos a cheias e inundações, existem condições geoecológicas para o desenvolvimento de florestas de várzeas. Mesmo por observações fitofisionomicas rápidas pode-se inferir que tais matas diferem muito em termos de sua composição florística e de biomassa – das florestas que se estendem por colinas e morros. (AB SABER apud RIBEIRO e LEITÃO FILHO, p. 19, 2000).

Page 4: Unesp - Instituto de Biociências - Câmpus de Rio Claro - A ENERGIA … · 2015. 8. 14. · fluem combinadas com o ciclo biológico, e que atua na transformação e recolocação

50

É notório na área de estudo que a partir da década de 1970, havia uma

formação de solos hidromórficos que no decorrer do tempo veio se modificando,

pela movimentação dos regimes hídricos do Rio, ou seja, a carga aluvial trazida

pelas correntezas em época das cheias foi sedimentando o referido local de

estudo, ficando claro que essa movimentação natural, acontecida no decorrer

desse tempo, mudou e está mudando a paisagem, ou seja, o solo e a vegetação

predominante.

A interpretação da imagem arremete-nos para a linguagem que está

relacionada às teorias de evolução sistêmica e o fator ou análise mais importante

neste contexto, para esta pesquisa, além da descrição geográfica do local é a

presença ou surgimento de uma nova vegetação compondo esse extrato arbóreo,

que acontece pela mudança de solo. Assim, a vegetação pioneira cede lugar,

provando que a energia aplicada nesse “sistema aberto” determina a

transformação da Natureza.

OBJETIVOS

Este trabalho tem por objetivos mostrar a interpretação da imagem através

da linguagem da evolução sistêmica que se apresenta existente no interior de um

espaço geográfico com vegetação densa de mata ciliar com exemplares de

extrato arbóreo fixado em solo hidromórfico, com folhas caducifólias e

perenifólias, que para esse processo são comuns nesse tipo de arranjo florestal.

Observar as atuações das energias aplicadas ao ambiente, tendo como

conseqüência ilimitados fatores causados pelo clima local, onde o mesmo

determinou e está determinando com o passar do tempo, somado a atuação da

geomorfologia fluvial ou regime hídrico do Rio, considerando carregamentos de

sedimentos advindos de áreas à montante e com a deposição dos mesmos nesse

determinado local na estação das cheias, causaram a mudança de características

do solo fazendo com que essa área esteja em constante evolução sistêmica, ou

seja, na serrapilheira que existe no local se acondicionam os elementos

hidrocóricos que também ali chegam pela influência do Rio passando a existir

uma competição de espécies, sobre-saindo, ou vindo a germinar no local aquelas

que possuem características condicionadas ao solo de origem sedimentar

depositado pelo Rio nesse local. Toda essa análise se dá partindo da imagem que

Page 5: Unesp - Instituto de Biociências - Câmpus de Rio Claro - A ENERGIA … · 2015. 8. 14. · fluem combinadas com o ciclo biológico, e que atua na transformação e recolocação

51

mostra uma árvore mais antiga ambientada ao regime hidromórfico, ou seja, solo

extremamente saturado pela ação do lençol freático, cedendo espaço, ou lugar

para uma vegetação que está surgindo devido à mudança nas características de

solo, assim se observa que a troca de energia efetuada pelos fenômenos

naturais, que se aplicam nesse local com o passar do tempo fazem com que a

estrutura vegetacional se modifique.

METODOLOGIA

A análise efetuada a partir da imagem retratada para esse estudo é

definida como sendo um conteúdo de estudos teóricos estabelecidos por

investigação de literatura sobre o assunto, dessa forma são consultados diversos

autores envolvidos com essa linha de pesquisa. Para esse contexto a imagem

mostra uma linguagem que deve ser interpretada seguindo padrões estabelecidos

por diversas teorias relacionadas ao meio ambiente e especificamente à teoria

dos sistemas, evolução sistêmica, fenômenos geoecológicos e geossistêmicos,

envolvidos e diretamente ligados à existência de ecossistemas, onde esse

conceito foi proposto por Tansley (1935) como tendo o objetivo principal de:

... definir a unidade básica resultante da interação entre todos os seres vivos que habitam uma determinada área ou região, com as condições físicas ou ambientais que as caracterizam. Nessa proposição estabelecia-se que “o conceito fundamental de um sistema natural completo inclui, não unicamente o complexo orgânico, mas também os fatores físicos que conformam o que denominamos o hábitat ou meio ambiente. Não se pode separar as comunidades vivas do seu meio ambiente especial em que habitam”. (TANSLEY, 1935 apud CHRISTOFOLETTI, p. 35, 1999).

Para Odum (1971), sua definição de ecossistema diz que:

... é constituído por qualquer unidade que inclui a totalidade dos organismos em uma determinada área interagindo com o meio ambiente físico, de modo que um fluxo de energia promove a permuta de materiais entre os componentes vivos e abióticos. Nessa cadeia de interação com a relevância biológica, pode-se avaliar o fluxo de energia, o fluxo de nutrientes, a produtividade, a dinâmica da

Page 6: Unesp - Instituto de Biociências - Câmpus de Rio Claro - A ENERGIA … · 2015. 8. 14. · fluem combinadas com o ciclo biológico, e que atua na transformação e recolocação

52

população, a sucessão, a biodiversidade, a estabilidade e o grau de modificações. É o campo da ação da Ecologia, que pode ser trabalhada, por exemplo, como ecologia das plantas, ecologia dos animais e ecologia humana. (ODUM, 1971 apud CHRISTOFOLETTI, p. 36, 1999).

No tocante a esse assunto, “os ecossistemas”, para Rowe (1961),

considera a definição de ecossistemas como:

... unidade topográfica, um volume de terra e ar mais o conteúdo orgânico estendido arealmente sobre uma parte particular da superfície terrestre durante um certo tempo. (ROWE, 1961 apud CHRISTOFOLETTI, p. 36, 1999).

Em conceituação mais completa e complexa, Bertrand (1972) define a

atuação dos geossistemas sobre os ecossistemas, assim geossistema é aquele

... situado numa determinada porção do espaço, sendo o resultado da combinação dinâmica, portanto instável, de elementos físicos, biológicos e antrópicos, que fazem da paisagem um conjunto único e indissociável, em perpétua evolução. (BERTRAND, 1972 apud CHRISTOFOLETTI, p. 42, 1999).

Assim para Bertrand (1972) o geossistema

... resultaria da combinação de um potencial ecológico (geomorfologia, clima, hidrologia), uma exploração biológica (vegetação, solo e fauna) e uma ação antrópica, não apresentando, necessariamente, homogeneidade fisionômica e sim um complexo essencialmente dinâmico. Essa unidade abrange escala de alguns quilômetros quadrados a centenas de Km², podendo ser decomposta em unidades menores fisionomicamente homogêneas, representados pelos geofáceis e geótopos. O geofáceis, correspondendo a um setor fisionomicamente homogêneo que se sucede no tempo e no espaço no interior de um geossistema, possui também potencial ecológico, exploração biológica e ação antrópica, estando sujeito a biostasia e resistasia. (BERTRAND, 1972 apud CHRISTOFOLETTI, p. 42, 1999).

Nesse debate instituído pelos autores que estudaram o assunto fica muito

claro que os resultados de evolução sistêmica estão acontecendo devido à ação

Page 7: Unesp - Instituto de Biociências - Câmpus de Rio Claro - A ENERGIA … · 2015. 8. 14. · fluem combinadas com o ciclo biológico, e que atua na transformação e recolocação

53

constante dos geossistemas sobre os ecossistemas. Mostrando que essa forma

de identificar os fatos pela imagem faz com que se descreva os acontecimentos

com base numa linguagem conceitual e concreta.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Como resultado dessa análise destaca-se a linguagem da evolução

sistêmica. Os ecossistemas realmente estão em constante transformação pela

entrada de energia advindas da imposição dos geossistemas, considerando todas

as formas atuantes, ou seja, o clima, a geomorfologia, a hidrologia e contando

ainda em particular com a energia solar.

Um outro aspecto como resultado dessa discussão é que a temática de

evolução sistêmica tem papel fundamental para a elaboração de modelos

referentes aos sistemas ambientais, sendo legítimo o entendimento de que nos

estudos das mudanças ou transformações nos ecossistemas são de primordial

importância a relação entre a questão areal desse espaço geográfico e o

fenômeno temporal, essa variação é que determina o aspecto de velocidade

dessas transformações.

REFERÊNCIAS

CENTRO DE ESTUDOS E PLANEJAMENTO AMBIENTAL - CEAPLA, Mapas da Bacia Hidrográfica do Rio Corumbataí, SP, Rio Claro: UNESP. RODRIGUES, R. R.; LEITÃO FILHO, H. de F. (Ed.). Matas Ciliares: conservação e Recuperação. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo; FAPESP, 2000. BERTALANFFY, L von., Teoria Geral dos Sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973. 351p. BERTRAND, G., Paisagem e Geografia Física Global: esboço metodológico. Caderno de ciências da terra, São Paulo, n 13, 1972, 27p. CHRISTOFOLETTI, Antonio, Modelagem de Sistemas Ambientais. 1ª edição, São Paulo, Edgard Blücher, 1999. ODUM, E.P., Fundamentals of Ecology, 2ª edição. W.B. Saunders Co., Filadélfia. 1959.