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Gota D’Água Uma Tragédia Brasileira 1975 Chico Buarque Paulo Pontes &

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Gota D’Água

Uma Tragédia Brasileira1975

Chico Buarque Paulo Pontes&

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Motivações da peça

• Escrita em 1975 por Chico Buarque e Paulo Pontes

• Inspiração na série de TV da Rede Globo “Medeia”, deOduvaldo Vianna Filho, adaptada da obra original dodramaturgo grego Eurípedes

• Foi censurada pela Ditadura Militar – governo de Geisel,abertura política

No teatro, permaneceu a censura. Para liberar a peça,Paulo Pontes teve que negociar alguns cortes

Ainda assim, foi sucesso de público e de crítica

A peça foi premiada com o Prêmio Molière, que osautores recusaram em sinal de protesto contra aproibição

• Prefácio: um artigo altamente crítico sobre os problemassociais pelos quais o brasil passava e que fomentam aobra

O fundamental é que a vida brasileira possa, novamente, serdevolvida, nos palcos, ao público brasileiro. Esta é a segundapreocupação de Gota d'Água. Nossa tragédia é umatragédia da vida brasileira. (p.16)

• Tragédia contemporânea: social• Movimentos sociais da arte: Arena e Oficina

(teatro); Opinião (canção) e Cinema Novo• A peça foi concebida num momento em que o

popular (povo) não se via nas produçõesintelectuais artísticas

Criou-se um abismo entre a complexidade da vidabrasileira e a capacidade de sua elite política eintelectual de pensa-la. (p.17)

• Experiência capitalista brasileira: Predatório, opressor e segracionista A mão do pobre sustenta a elite Marginalização das classes subalternas Personagens da periferia sempre em

situação de extrema sobrevivência• Montagem da peça em 1977, pelo diretor

Gianni Ratto

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Mito de Medeia Medeia, apaixonada por Jasão, ajuda

seu amado a obter o Velo de Ouro. Apósser trocada por Gláucia (princesa e futuramulher dele), Medéia mata a princesa e seipai, o rei, Creonte, enviando-lhes umvestido e uma coroa envenenados.

Cega de dor e de ódio, Medéia decidematar seus filhos também, com o intuitode causar o máximo de dor a Jasão.

Ela foge para a cidade do rei Egeu paracasar com ele.

MITO GREGO (EUROPA) + VILA CARIOCA (BRASIL)

Medeia, 1838 - por Eugène Delacroix

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Análise da obra

BUARQUE, Chico; PONTES, Paulo. Gotad’Água. Rio de Janeiro: CivilizaçãoBrasileira, 2016.Paulo Pontes (1975)

Chico Buarque (1975)

Músico, dramaturgo eescritor brasileiroAutoexilou em 1970 na Itália

Dramaturgo, produtor derádio e teatro, locutor,jornalista e tradutorCriador do CPC – teatroengajado/resistência

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Características da Peça

• Dividida em 2 ATOS:

4 mil versos e 10 canções (rimas alternadas ou emparelhadas)

Palco com vários sets e troca constante de sets, alternância nosdiálogos

Linguagem: cancionada, versificada, rimada – popularizou a rima

Ob. A rima era uma constante do teatro grego

Linguagem simples conjugada num sistema estrutural complexo

Verso popular urbano: veículo do que é cantado ou falado

O verso dá dignidade e profundidade às personagens populares

Neologismos

• Teatro político popular:

1. recitativo: falas com canções

2. canto: coro – representa o espírito coletivo, a voz da comunidade

3. fala: linguagem fática – dá movimento, ações ao texto

Manifestação e interação de todos: senso de comunidade, decoletividade

Medéia, 1882 - de Paul Cézanne

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3 perspectivas de CORO: As personagens (as vizinhas) O coro clássico ao final de cada ato Corina: comadre de Joana, que a aconselha e prevê o pior

É uma peça de vingança, ódio INTERTEXTUALIDADE: O Cortiço

Cenário: conjuntos habitacionais populares Mulheres trabalhadoras, e homens ociosos Personagens populares Creonte e João Romão: donos dos conjuntos habitacionais; vivem

em conflito com os inquilinos Orfeu da Conceição, Vinicius deMoraes, 1956

Set das vizinhas Set do botequim Set de Joana Set de Creonte

SETS

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PERSONAGENS

JasãoAbandona a

família

Joana

Filho 1 Filho 2

CacetãoGigolô

paixão platônica

AlmaNoiva

de Jasão

Creonte ?

Amorimvizinho

Estelavizinha

reclama da prestação - XuléVizinha - Zaíra

Dono da bodega - GalegoVizinha - MariaVizinha - Nenê

Fofoqueiro - Boca Pequena

Outros personagens

EgeuPresidente da

associação

CorinaMelhor

amiga de Joana

CORO – CORINAMesma função: na peça

de Eurípedes, o coro ouvia e argumentava com

Medeia, escutava seus lamentos e suplicava para que não matasse os filhos

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Canções da peça Flor da idadeChico Buarque

A gente faz hora, faz fila na vila do meio diaPra ver MariaA gente almoça e só se coça e se roça e só se viciaA porta dela não tem tramelaA janela é sem gelosiaNem desconfiaAi, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor

Na hora certa, a casa aberta, o pijama aberto, a famíliaA armadilhaA mesa posta de peixe, deixe um cheirinho da sua filhaEla vive parada no sucesso do rádio de pilhaQue maravilhaAi, o primeiro copo, o primeiro corpo, o primeiro amor

Vê passar ela, como dança, balança, avança e recuaA gente suaA roupa suja da cuja se lava no meio da ruaDespudorada, dada, à danada agrada andar seminuaE continuaAi, a primeira dama, o primeiro drama, o primeiro amor

Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava PauloQue amava Juca que amava Dora que amava Carlos que amava DoraQue amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amavaCarlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amavaa filha que amava Carlos que amava Dora que amava toda a quadrilha

Basta um diaChico Buarque

Pra mimBasta um diaNão mais que um diaUm meio diaMe dáSó um diaE eu faço desatarA minha fantasiaSó umBelo diaPois se jura, se esconjuraSe ama e se torturaSe tritura, se atura e se curaA dorNa orgiaDa luz do diaÉ só

O que eu pediaUm dia pra aplacarMinha agoniaToda a sangriaTodo o venenoDe um pequeno dia

ob. Intertexto com o poemade Drummond, Quadrilha

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Gota D’ÁguaChico Buarque

Já lhe dei meu corpo, minha alegriaJá estanquei meu sangue quando ferviaOlha a voz que me restaOlha a veia que saltaOlha a gota que falta pro desfecho da festaPor favor

Deixe em paz meu coraçãoQue ele é um pote até aqui de mágoaE qualquer desatenção, faça nãoPode ser a gota d'água

"Jasão e Medeia", 1570 - de GirolamoMacchietti

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1º ato

• VILA DO MEIO – notícias sobre o noivado de Jasão• As vizinhas explicam o que está acontecendo: Corina chega atrasada, e as

vizinhas estendem as roupas• Comentam: Jasão passou a noite comemorando com a noiva, Alma

Vasconcelos, na escola de samba Abandonou a esposa, Joana, e os filhos

• Xulé e Egeu conversam sobre as dívidas (p.29-30)• Creonte Vasconcelos: credor de todos, monopólio; pai de Alma• Mestre Egeu: é o único que tem posses, a casa, a oficina, e não devia; casado

com Corina (p.33-34)• Todos devem as prestações das casas a Creonte• Egeu combina com Boca de não pagar nada a Creonte• Joana fica sabendo dos boatos sobre Jasão• “solidariedade feminina”: as vizinhas querem ajudá-la (não deixam o jornal

chegar às mãos dela), porém querem lê-lo (fofoca)• Jasão faz sucesso como sambista: compositor do samba Gota d’Água

a vila não sai de dentro dele, o que o deixa ressabiado em se mudar paraum apê quando casar com Alma (p. 46)

Jasão e Joana• Juntados fazia 10 anos 14 anos de diferença

Ele tinha 20, ela 34 Ele tem 30, ela 44

• Isso é digno dedesconfiança (p. 42 – falade Nenê)

Boca - Xulé• Sobrevivência e realidade

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• Xulé queixa-se para Egeu da falta de dinheiro: não conseguiu pagar a prestação da casa

XULÉ. Falhei de novo a prestação da casa...Mas, pela minha contabilidade,pagando ou não, a gente sempre atrasaVeja: o preço do cafofo era trêsTrês milhas já paguei, quer que comprove?Olha os recibos: cem contos por mêsE agora inda me faltam pagar noveCom nove fora, juros, dividendo,mais correção, taxa e ziriguidum,se eu pago os nove que inda estou devendo,vou acabar devendo oitenta e um...Que matemática filha-da-puta

(p.29)

EGEU. Todo mundo está igual a vocêXULÉ. Não dá. É todo mês a mesma lutaTem que falar pro homem resolverbaixar um pouco essa mensalidade,senão vou morar debaixo da ponteNão é fácil, mestre Egeu...EGEU. É verdadeXULÉ. Alguém tem que falar com seu CreonteA gente vive nessa divisãoSe subtrai, se multiplica, soma,no fim, ou come ou paga a prestaçãoO que posso fazer, mestre Egeu?...

(p.30)

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• Nenê: “solidariedade feminina” e a idade deJasão

NENÊ. Mulhernão tem amiga...

(p.39)

NENÊ. Não sei não... Não sei tirar uma conclusãoSó sei de uma coisa: homem novo, não sei não...

(p.42)

• Boca Pequena se vira pra sobreviver:

BOCA. Eu sou esparro de boate de turista,carregador de uísque de contrabandista,vice-camelô, testemunha de punguista,sou informante de polícia, chantagista,mas vigarista nenhum diz que eu não prestodesde que, como todo cidadão honesto,no fim do mês pago as minhas contas à vista

(p.37)

• Xulé sobre Jasão: a solidariedade masculina -A REALIDADE

XULÉ. Tiraros pés da lama, ele está certo, já tirouÉ moço, tem que aproveitar a ocasiãoSe não, fica afundando aqui o resto da vidaQuem nasce nesta vila não tem mais saída,tá condenado a só sair no rabecãoou no camburão...

(p.41)

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• Jasão aparece no jornal

CACETÃO. Ih, Galego, olha só o Jasão... (Lê)“Jasão de Oliveira, novo valorda emepebê, promissor autordo êxito Gota d’água, vai casarco’a jovem Alma Vasconcelos, filhado grande comerciante benfeitorCreonte Vasconcelos...”

(p.30)XULÉ. Se você quer que eu lhe respondao que é que eu penso, co’a maior honestidade,ele está certo, tem que aproveitar a ondaÉ bom menino, sabe o que é necessidade,faz bem em se casar co’a filha do CreonteE assim que estiver sentado bem à vontadeà direita de Deus Pai, talvez nos desconteum pouco de dívida e da mensalidade[...]XULÉ. — Também não é crime, Jasão mudar de classe

(p.34-35)

• Jasão se vê pressionado por Alma a se mudar quando casarem, porém ele não quer deixar a vila

JASÃO. Eu só não gostode deixar este fim de mundo sem levartudo o que sempre foi pra mim a vida inteiraUma alegria ou outra, um pouco de saudade,meus filhos, minha carteira de identidade,cada bagulho, meu calção, minha chuteira,a mesa do boteco, o time de botão,tanto amigo, tanto fumo, tanta biritaque dava pra botar na sala de visitamas ia atrapalhar toda a decoração...

(p.46)

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• A greve de pagamento (p.35)

EGEU — Pois eu vou te dizer: se só você não pagavocê é um marginal, definitivamenteMas imagine só se, um dia, de repenteninguém pagar a casa, o apartamento, a vagaComo é que fica a coisa? Fica diferenteFica provado que é demais a prestaçãoEntão o seu Creonte não tem soluçãoOu fica quieto ou manda embora toda a genteCachorro, papagaio, velho, viúva, filha...Creonte vai dizer que é tudo vagabundo?E vai escorraçar, sozinho, todo mundo?Pra isso precisava ter outra virilhaNão é?...AMORIM — Tem boa lógica...EGEU — Falei?...AMORIM — Sei não

EGEU — Mas vocêé um dos poucos que se arranja, não sei por quê...BOCA — Eu sou esparro de boate de turista,carregador de uísque de contrabandista,vice-camelô, testemunha de punguista,sou informante de polícia, chantagista,mas vigarista nenhum diz que eu não prestodesde que, como todo cidadão honesto,no fim do mês pago as minhas contas à vista

• Visão da comunidade sobre o sambista

EGEU. Sempre falei que você tem jeitopra samba, não falei? Olha aí...JASÃO. Pois é...EGEU. Vê se agora não descambapra auto-suficiência. Cuidadoco’a máscara...JASÃO. Que é isso...EGEU. Olha, sambaé só uma espécie de feriadoque a gente deixa pra alma da genteMas você não se iluda porquea vida se ganha é no batente

(p. 64)

Têmis e Egeu, 440 a. C. - Codro

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• Metáfora da CADEIRA: Creonte deseja que Jasão ocupe seu lugar nos negócios (p.50-51-52) Pede um trabalho para testá-lo: convencer Egeu a desistir do protesto Jasão se nega, e Creonte se revolta Dilema: Egeu é compadre de Jasão, batizou seus filhos Ameaça tirar a casa de Joana por 6 meses de atraso: Creonte tem medo dela porque ela é dada à macumba,

gênio de cobra Visão preconceituosa sobre um sambista

• Joana: feminismo e empoderamento ou apenas raiva? (p.59-60) Possessiva: desejo ardente de vingança contra Jasão e ódio pelo filhos (p.61)

• Conversa entre Jasão e Egeu: o mestre diz que que paga o leite dos filhos do compadre• Egeu: o que as pessoas da vila fazem para pagar as contas (p. 68-69-70)

Por isso, está furioso com Creonte e sua ganância, e, agora, com Jasão também

• Joana tem consciência de que as mulheres são “objetos” (p.75)• Paródia do poema de Quadrilha, de Carlos Drummond de Andrade (p.77)

• ENCONTRO ENTRE JASÃO E JOANA (p.83): a elogia fisicamente, diz que ela pode encontrar outra pessoa, ouaté voltar pra ele (amante)

• DISCUSSÃO (p.86): Joana não o permite que fale, até que ela a pega pelos braços• VIOLÊNCIA: Jasão bate em Joana após a discussão (p.80-90)

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• Metáfora da cadeira

CREONTE. Escute, rapaz,você já parou pra pensar direitoo que é uma cadeira? A cadeira fazo homem. A cadeira molda o sujeitopela bunda, desde o banco escolaraté a cátedra do magistérioExiste algum mistério no sentarque o homem, mesmo rindo, fica sérioVocê já viu um palhaço sentado?

(p.49)CREONTE. Muito bem, Noel RosaUm dia vai ser sua essa cadeiraQuero ver você nela bem sentado,como quem senta na cabeceirado mundo. Sendo sempre respeitado,criando progresso, extirpando as pragas,traçando o destino de quem não tem,fazendo até samba, nas horas vagasPorém... existe um pequeno porémNão vai ser assim, pega, senta e bastaPrimeiro você vai me convencerque tem condições de assumir a pasta (p.50)

• Visão da elite sobre o sambista (p.56-57)

CREONTE. Sou franco — pra minha meninacontava com coisa mais finaPensava assim... um diplomata,um gerente... um tecnocrata,tenente, major, capitão,político da situação...Quem me dera um capitalistaou quem sabe um psicanalistaPor que não ginecologista?Talvez até mesmo um dentista,qualquer coisa menos sambista,porque Alma não é masoquista e,ora porra, eu não sou leãoQue ela arranjasse um burocratade óculos, terno e gravataBancário, mesário, escrivão,político da oposição!

Um simples assalariado,

um mero psicanalisado,

Cadete, cabo, reservista,

guarda de trânsito paulista,

qualquer coisa menos sambista

Pois foi ao último da lista

que a minha filha deu a mão

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• Creonte pede a Jasão para falarcom Egeu

CREONTE. Isso eu nãodiscuto. Fale co’Egeu. O serviçoestá entregue em tuas mãos. Vocês têmtanta intimidade...

(p.54)

• Jasão se nega, e Creonte se revolta

CREONTE. Rapaz,eu gosto muito de Alma. Ouviu, Jasão?Minha filha não é eu de mãe JoanaNão vai fazer como fez co’a outra, nãoComeu, gozou, depois, feito banana,jogou fora a casca. Presta atenção:a minha filha é filha de bacanaEu dei-lhe de tudo. E co’esse violãovocê não vai dar conta do recado

(p.55)

• Joana e sua Raiva:

JOANA. Ninguém vai sambar na minha caveiraVocês tão de prova: eu não sou mulherpra macho chegar e usar como quer,depois dizer tchau, deixando poeirae meleira na cama desmanchadaMulher de malandro? Comigo, nãoNão sou das que gozam co’a submissãoEu sou de arrancar a força guardadacá dentro, toda a força do meu peito,pra fazer forte o homem que me amaAssim, quando ele me levar pra cama,eu sei que quem me leva é um homem feitoe foi assim que eu fiz Jasão um diaAgora, não sei... Quero a vaidadede volta, minha tesão, minha vontadede viver, meu sono, minha alegria,quero tudo contado bem direito...Ah, putinha, ah, lambisgóia, ah, Creonte

Vocês não levaram meu homem frontea fronte, coxa a coxa, peito a peitoVocês me roubaram Jasão co’o brilhoda estrela que cega e perturba a vidade quem vive na banda apodrecida do mundo...Mas tem volta, velho filho da mãe!Assim é que não vai ficarTá me ouvindo? Velho filho da puta!Você também, Jasão, vê se me escutaEu descubro um jeito de me vingar...

(p.59-60)

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• Desejo de vingança de Joana contraJasão pode atingir os filhos

ESTELA. Joana, precisa lembrar,você tem dois filhos...JOANA. Que filhos? Filhos...Eles também vão virar dois gatilhosapontando pra mim. Quer apostar?VIZINHAS. Comadre JoanaRecolhe essa dorJOANA. (Falando com ritmo no fundo)Ah, os falsos inocentes!Ajudaram a traiçãoSão dois brotos das sementestraiçoeiras de JasãoE me encheram, e me incharam,e me abriram, me mamaram,me torceram, me estragaram,me partiram, me secaram,me deixaram pele e ossoJasão não, a cada diaparecia estar mais moço,enquanto eu me consumia

(p.61)

• Joana tem consciência da banalização damulher: por causa da ira que sente

ZAÍRA. Eu também acho que ele não resisteQue é que ele viu na franga do Creonte?Pra mim ele vai lá, bica um tiquinho,molha o bico e vem de volta pro ninhoJOANA. Que venha e volte, entre e saia, que montee desmonte, que faça e que desfaça...Mulher é embrulho feito pra esperar,sempre esperar... Que ele venha jantarou não, que feche a cara ou faça graça,que te ache bonita ou te ache feia,mãe, criança, puta, santa madonaA mulher é uma espécie de poltronaque assume a forma da vontade alheia

(p.75)

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JASÃO. Você remoçou um bocado... emagreceu... ficou mais bonita...Só tem uma coisa que tá meio esquisita... (Vai a elae solta seus cabelos, jeitosamente)Pronto... assim... O que foi que lhe deu, hein,mulher?Parece uma menina...JOANA. O que é que você quer,Jasão?...JASÃO. Dizem por aí que você sofreutanto com a nossa separação... Mas eunão sei não... Deve ser mentira ou fingimentoOu então mulher se dá bem com sofrimento...JOANA. Você veio só debochar, Jasão, ou temcoisa séria pra dizer...JASÃO. Cê tá muito bem,não é deboche...

JOANA. Sei, que mais?...

JASÃO. Joana, me escuta

você assim bonita, ainda moça, enxuta,

pode encontrar uma pessoa... Quer dizer,

você pode tranqüilamente refazer

a vida... Quem sabe, talvez até voltar

pro seu marido, ele não cansa de esperar,

tá sempre ali... (p.83)

• ENCONTRO DE JASÃO E JOANA

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JASÃO. (Gritando) Mulher, para,deixa eu falar... (Tempo) Você sabe.., eu nãotenho carapra chutar vocês pra córner... É sacanagemque eu não vou fazer. Mas também veja o meu ladoCedo ou tarde a gente ia ter que separarQuando eu te conheci, tava pra completarvinte anos, não foi? Eu nem tinha completadoVocê tinha trinta e quatro mas era bemconservada, a carroceria, bom molejoe a bateria carregada de desejoEntão não queria saber de idade, e nemquero saber, por que pra mim quem gosta gostae o amor não vê documento nem certidãoSó que dez anos se passaram desde entãoe a diferença que mal nem se via, a bostado tempo só fez aumentar. Vou completartrinta e você tá com quarenta e quatro, agoraÉ claro que, daqui pra frente, cada horado dia só vai servir pra nos separar

E quando eu estiver apenas com quarentae cinco anos, na força do homem, segurode mim, vendendo saúde, moço e maduro.você vai ter seus cinquenta e nove, sessenta,exausta, do reumatismo, da menopausa,da vida. E vai controlar ciúme, rancor,vai aguentar a dor de corno, o mau humor?Ou quer que eu também fique velho, só por causada tua velhice?... Acho melhor procuraruma pessoa na mesma faixa de idade...Quer dizer...JOANA. Jasão, pega a tua mocidade e enfia...

(p.86)

• Jasão, enfim, consegue falar: tenta justificarporque abandonou a família

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JOANA. Assim que bateu o primeiro pé-de-vento,assim que despontou um segundo horizonte,lá se foi meu homem-orgulho, minha obracompleta, lá se foi pro acervo de Creonte...Certo, o que eu não tenho, Creonte tem de sobraPrestígio, posição... Teu samba vai tocarem tudo quanto é programa. Tenho certezaque a gota d’água não vai parar de pingarde boca em boca... Em troca pela gentilezavais engolir a filha, aquela mosca mortacomo engoliu meus dez anos. Esse é o teu preço,dez anos. Até que apareça uma outra portaque te leve direto pro inferno. Conheçoa vida, rapaz. Só de ambição, sem amor,tua alma vai ficar torta, desgrenhada,aleijada, pestilenta... Aproveitador!Aproveitador!...

JASÃO. Chega, né. Fica calada...JOANA. Digo e repito: aproveitador!...JASÃO. Mulher, para...JOANA. Digo porque é verdade...JASÃO. Não fala besteira...JOANA. Seu aproveitador!...JASÃO. Eu lhe quebro essa cara!JOANA. O quê? Quebra não!...JASÃO. Eu lhe quebro a cara inteira.porra...JOANA. Pra mim, Cacetão, que ao menos não nega.tem muito mais valor...JASÃO. Não diz isso de mim,mulher...JOANA. Não digo? Digo sim: gigolô!...JASÃO. Chega!JOANA. Gigolô!...(JASÃO DÁ UM MURRO EM JOANA QUE CAI)JASÃO. Você é merda... Você é fimde noite, é cu, é molambo, é coisa largada...Venho aqui, fico te ouvindo, porra, me humilho,pra que? Já disse que de ti não quero nadaMas todo pai tem direito de ver seu filho...

(p.89-90)

• Violência: depois de forte discussão, Jasãobate em Joana

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2º ato

• Notícias correm sobre o casamento de Jasão• Joana diz que os filhos são o motivo de sua dor (p.96)

Pede que Corina e Egeu cuidem de seus filhos Ela irá fazer uma obrigação para se vingar de Jasão (p.100-101) Sincretismo religioso: ritual de oferenda para Ogum (orixá vingador e violento)

• Corina intercede alertando, aconselhando Joana (função do coro)• Consciência trabalhista de Jasão: argumenta com Creonte (p.105)• Visão de Creonte sobre o brasileiro (p.106)• Descontentamento de Creonte: Joana faz perturbações nas ruas da vila, o chama de ladrão, faz comícios e

batuques contra o credor (p.107) Ele decreta o despejo de Joana (p.116)

• Jasão enfrenta Creonte (p.111-112) Oferece um plano para aplacar a revolta do povo: reformas no condomínio e perdão das dívidas Ele senta na cadeira Creonte não aceita a ideia inicialmente, porém concede tempo a Jasão para falar com Joana e preparar sua

saída do bairro – ele promete ajudar financeiramente os filhos de Jasão Creonte sabe que Jasão está certo (reflexão)

• Egeu tenta avisar e orientar Joana (p.119-120) Ela promete não criar mais tumultos, ficar silenciada (p.123)

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• Joana sobre os filhos, motivo desua dor

JOANA. Essa cambada está se divertindoàs minhas custas. Sei que eles estãoRiam de mim, mas não de filho meuNão deles, que são a única provade que algum dia por aqui viveuuma mulher que foi bonita, nova,gostosa e até feliz... Não, não é nadadisso, merda. Eles são a evidênciada dor de uma mulher desesperadaE dessa dor, são causa e consequência,isso sim...CORINA. Vai recomeçar, mulher?Tá pirada?...

(p.96)

JOANA. O pai e a filha vão colher a tempestadeA ira dos centauros e de pomba-giralevará seus corpos a crepitar na pirae suas almas a vagar na eternidadeOs dois vão pagar o resgate dos meus aisPara tanto invoco o testemunho de Deus,a justiça de Têmis e a bênção dos céus,os cavalos de São Jorge e seus marechais,Hécate, feiticeira das encruzilhadas,padroeira da magia, deusa-demônia,falange de Ogum, sintagmas da Macedônia,suas duzentas e cinquenta e seis espadas,mago negro das trevas, flecha incendiária,Lambrego, Canheta, Tinhoso, Nunca-visto,fazei desta fiel serva de Jesus Cristode todas as criaturas a mais sanguináriaVocê, Salamandra, vai chegar sua vez

Oxumaré de acordo com mãe Afroditevão preparar um filtro que lhe dá cistite,corrimento, sífilis, cancro e frigidezEu quero ver sua vida passada a limpo,Creonte. Conto co’a Virgem e o Padre Eterno,todos os santos, anjos do céu e do inferno,eu conto com todos os orixás do Olimpo!

(p.100-101)

Obrigação de Joana: sincretismoreligioso e vingança contra Jasão

• Deseja o mal de Creonte eAlma

• Ogum: orixá vingador eviolento

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• Consciência trabalhista de Jasão

CREONTE. [...] Fazem baderna, chiam, quebram trem,quebram estação, muito bem, bonitoE a gente inda tem que dizer amémO trem atrasa o que? Nem meia horaE o cara quebra tudo... Acha que é certo,Jasão?...JASÃO. Não discuto quebrar... Agora,quem às três da manhã tá de olho aberto,se espreme pra chegar no emprego às sete,lá passa o dia todo, volta às onzeda noite pra acordar a canivetede novo às três, tinha que ser de bronzepra fazer isso sempre, todo dia,levando na marmita arroz, feijãoe humilhação... CREONTE. Ora, sociologia...

JASÃO. O que que é?...CREONTE. Sociologia, Jasão...JASÃO. Não...CREONTE. Da pior, beira de cu, barata...JASÃO. O cara já lá por aqui. Tá pertode explodir, um trem que atrasa, ele mata,quebra mesmo, é a gota d’água.

(p.105)

• Visões de Creonte e de Jasão sobre obrasileiro

CREONTE. Eu chego, eu sei...Vou lhe dizer o que é que é o brasileiroalma de marginal, fora-da-lei,à beira-mar deitado, biscateiro,malandro incurável, folgado pacavê uma placa assim: “não cuspa no chão”,brasileiro pega e cospe na placaIsso é que é brasileiro, seu Jasão. .JASÃO. Não, ele não é isso, seu CreonteO que tem aí de pedra e cimento,estrada de asfalto, automóvel, ponte,viaduto, prédio de apartamento,foi ele quem fez, ficando co’a sobraE enquanto fazia, estava calado,paciente. Agora, quando ele cobraé porque já está mais do que esfoladode tanto esperar o trem. Que não vem...Brasileiro...

(p.106)

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CREONTE. É sim, seu JasãoNão é pra entrar no campo pessoalmas já vou lhe dar o exemplo final:essa mulher com quem você viveu...JASÃO. Isso eu não vou discutir...CREONTE. Vai sim...CREONTE. (Autoritário) Tu não vai sairJASÃO. Esse assunto eu não quero discutir,seu Creonte...CREONTE. Pois vai ter que quererporque eu já não posso mais conceberque essa mulher fique abrindo o berreirocontra mim, nas esquinas, no terreiro,me esculhambando. Em tudo quanto é beco,boteco, bilhar, eu escuto o ecoda voz dela me chamando ladrão,explorador, capitalista, cão,botando os santos dela contra mim...Eu vou deixar que ela me trate assim?É justo que o crente tenha o seu culto,mas que reze oração e não insultoNão, religião é religião,isso pra mim se chama agitação

(p.107)

JASÃO. Não, espere, por favor, vou falarcom Joana, me deixe conversar antesCREONTE. Pra quê? Ela não vai nem te escutarJASÃO. Deixe que eu garanto...CREONTE. Ah, sim? Tu garantes?E essa mulher vai deixar de atiçarcontra mim os seus cães e os meliantes?Rua, pra aprender a me respeitar...Rua...JASÃO. E meus filhos?...CREONTE. E minha filha?JASÃO. Desse jeito eu não posso me casar!CREONTE. Jogou tudo, rapaz?... Posso pagarpra ver esse blefe, hein? Vê se esmerilhaessas cartas, olha bem, embaralha...Tá certo... Tá bom, vou conciliarMas saiba que é só por considerarteus filhos e não por aquela gralha

Minha proposta é a seguinte: ela saido conjunto, na santa paz, e vaimorar bem longe, noutro fuso horário...Teus filhos, não se preocupe. É justoque se arranjem. Dou u’a ajuda de custoquando for realmente necessárioPra não cobrir a tua autoridadee pra evitar bate-boca e vexame,vá você mesmo convencê-la, chameprum canto e diga que a cidadeé grande, que este país é imensoAqui ela não tem mais ambienteProcure um outro bairro, algum parenteE tão fácil, é questão de bom sensoPois bem, minhas cartas estão na mesaEu joguei limpo, honesto, na franqueza,o que é que você acha? Faz besteirase não pegar. Minha proposta é boaNão quero teus filhos aí à toa...

(p.116)

Creonte está descontente e com medode Joana: decreta seu despejo

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JOANA. Não estou entendendo, mestre Egeu...EGEU. Joana, você tem que me prometer...JOANA. Mas, mestre, o que é que foi que aconteceu?EGEU. Vai me prometer, tem que me jurarque de hoje em diante vai ficarquietinha, bico calado...JOANA. Essa não...EGEU. Vai parar de fazer provocaçãoa Creonte, que isso não dá em nadaJOANA. Não tem quem me faça ficar caladaEGEU. Então não conte mais comigo, JoanaJOANA. Mas, mestre, Creonte rouba, me engana,me destrói, me carrega até meu machoe eu fico de bico calado? Baixoa cabeça? É o que o senhor vem pedir,mestre Egeu? Pra ficar quieta e engolira desfeita?...EGEU. Se quer brigar, perfeito,só vim lhe pedir pra brigar direitoO que Creonte quer...JOANA. O que ele queré me ver longe, num canto qualquerdo mundo, calada, pra mais ninguémaqui lembrar que ele esbulhou alguém,pra a filha casar feliz e contenteEGEU. É isso o que ele quer. Exatamente (p.119-120)

• Joana fingi seguir os conselhos do mestre Egeu

JOANA. Mestre Egeu...EGEU. Não me iluda...JOANA. Estou só, faço o que o senhor quiserEGEU. Você vai fazer porque é uma mulherque inda tem a responsabilidadede criar dois filhos. Diga a verdade,Joana, posso ir tranquilo?...JOANA. Pode simEGEU. Não minta. Posso mesmo? Olhe pra mimJOANA. Pode ir. Ingratidão, humilhação,desprezo, dor de corno, solidão,encho a boca disso e cuspo pra dentrofaço um bolo de rancor bem no centrodo estômago. Me contorço de dormas vou convivendo co’esse tumor,me estrago, me arrebento. me aniquilo,mas se disse que pode, pode ir tranquilo

(p.123)

Egeu tenta avisar e orientar Joanasobre sua postura contra Creonte

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• Jasão é enviado por Creonte para expulsar Joana: DISCUSSÃO Ele revela o motivo de sua separação (p.133) Joana é temperamental, impulsiva, intensa: exige demais, só briga

• Joana amaldiçoa Jasão e seu casamento em tom de ameaça a alma Todos ficam sabendo da situação (p.136-137) Anuncia a todos que irá sair do bairro, porém que causará estragos antes (p.138-139)

• Egeu aproveita a situação para inflamar todos contra Creonte (p.139) Exigem uma conversa com o credor para interceder por Joana e pelas prestações Creonte logo desconcerta todos politicamente: diplomacia – cumprimenta a todos e anuncia as reformas do condomínio,

bem como o perdão de todas as dívidas Egeu tenta considerar, porém o povo é imediatista e não pensa no futuro: ESQUECEM DE JOANA Creonte convida a todos para a festa de casamento: o povo se ilude e silencia fácil

Perdão – festa – comida grátis• Cacetão: declara-se a Joana e se oferece para casar com ela (p.153) – amor platônico faz dez anos• Creonte aparece com a polícia à porta de Joana:

a quer expulsar porque tem medo dele e do que ela pode fazer Ele atende a súplica de Joana e a permite que fique mais um dia

• Joana: manda chamar Jasão a fim de pedir-lhe (fingir) perdão (p.158) REFLEXÃO: quer atingir os meninos para ferir Jasão (p.162) Enviará os filhos à festa com um presente, “sinal de paz”: bolinhos de carne envenenados (p.165-166) Creonte os impede que entreguem o pacote ASSASSINATO E SUICÍDIO: Ela dá aos filhos a comida e depois ela como também (p.171-172)

• Jasão entra em casa, senta na cadeira de Creonte: Egeu aparece com o corpo de Joana em seus braços, e Corina carrgando oscorpos dos meninos

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JASÃO. Você é viagemsem volta, Joana. Agora eu vou contarpra você, sem rancor, sem sacanagem,porque é que eu tinha que te abandonarVocê tem uma ânsia, um apetiteque me esgota. Ninguém pode vivertendo que se empenhar até o limitede suas forças, sempre, pra fazerqualquer coisa. É no amor, é no trabalho,é na conversa, você me exigiainteiro, intenso, pra tudo, caralho...Tinha que olhar pro céu pra dar bom dia,tinha que incendiar a cada abraço,tinha que calcular cada pequenodetalhe, cada gesto, cada passo,que um cafezinho pode ser venenoe um copo d’água, copo de aguarrásSó que, Joana, a vida também é jogoé samba, é piada, é risada, é paz

Pra você não, Joana, você é fogoEstá sempre atiçando essa fogueira,está sempre debruçada pro fundodo poço, na quina da ribanceira,sempre na véspera do fim do mundoPra você não há pausa, nada é lento,pra você tudo é hoje, agora, já,tudo é tudo, não há esquecimento,não há descanso, nem morte não háPra você não existe dia santoe cada segundo parece eternoFoi por isso mesmo que eu te amei tanto,porque. Joana, você é um infernoMas agora eu quero refresco, calma,o que contigo nunca conseguinunca, nem um minuto. Já, com Almaé diferente, relaxei, perdia ansiedade, ela fica ao lado, quietae a vida passa sem moer a gente

(p.133-134)

• Jasão explica overdadeiro motivo deter se separado deJoana

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Jasão é ordenado por Creonte a expulsar Joana

JASÃO. Você ficaesculhambando Creonte... Futrica,xinga a mãe, zomba... Samba não faz mais...Tá bom, comigo você faz, desfaz.vinga, amaldiçoa. Mas fazer guerracontra um cara que é dono dessa terra,das casas, de tudo, ora, olha pra mim,Joana...JOANA. Pois eu amaldiçoo, simVocê, Creonte e aquela mosca morta,que se danem todos, o que me importa?Eu amaldiçoo teu lar, por Deus,e os filhos que em prejuízo dos meus,vão nascer, se é que vão...JASÃO. Já chega! É o fim!JOANA. Chega. não. Eu amaldiçoo simJASÃO. Quer dizer que você não quer acordo?JOANA. Acordo com Creonte? Ah, eu me mordo,me fodo, mas não faço o que ele querJASÃO. Então eu lavo as minhas mãos, mulher

(p.136)

Joana avisa que sairá da vila, porém que causará estrago

CORINA. Espera, pessoal. Muito engraçadoe tal, tudo muito bem, mas ocorreque Joana está precisando da gente...JOANA. Não. Eu não quero ajuda de ninguémEssa briga é minha e eu sei muito bemo que fazer. Creonte certamentevai vencer de novo, vai me expulsarMas aviso a quem quiser assistirsentado à minha sorte. Eu vou sair,mas vão ver que estrago eu vou aprontarno reino dele, antes de me mandarEu... eu fodo... eu... não pode ser assimComo foi que isso desabou em mim?... (Em crise de choro)EGEU. Comadre. vá pra casa descansar...Corina vai te fazer companhiaVocê não tá só. Corina, vai, vaicom ela...JOANA. (Recuperando a sua altivez)Dessa Creonte não saisorrindo... (Sai com Corina)

(p. 138-139)

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Declaração de amor de Cacetão para Joana

CACETÃO. (Cantando)(Chega em frente à casa de Joana)Ô, Joana... Joana... Princesa... Rainha...Todos eles têm vida pra cuidar...Têm lar, mulher, filhos, copa e cozinha...Por isso pensam que vão te deixarsó. Mas não vão. Você tem toda a minhasolidariedade. Eu não tenho lar,nem filho. nem cozinha. Mas sozinhaé que você não fica. Vou contar:pra ser gigolô é preciso tercaráter, ouviu? Você vai casarcomigo, Joana. Quero agradecera quem acaba de te encurralarpra, mim, os sacanas. Você vai serminha. Vai ser minha filha, meu lar,minha cozinha, ser minha mulherRainha, sai na janela. Desponta,estrela. Faz dez anos que eu te espero...Dez anos que eu bebo por tua conta...Você sabe... Cê sabe que eu te quero

(p.153)

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JOANA. Não! Pelo menosme dê um dia... Um dia só, que é para eu saberpra onde é que eu posso ir...CREONTE. Não dá...JOANA. Não vou podersair sem destino com dois filhos pequenosEu ia embora mesmo. Não quero ficarnesta desgraça de lugar. Só quero um diapra me orientar, se não não dá...CREONTE. Eu não devianem ouvir...JOANA. Um dia...CREONTE. Nem devia levarem consideração, porque tenho certezade estar fazendo besteira quando te atendo...Certeza que, sendo humano, saio perdendoAgora, eu vou lhe falar com toda a clareza:se amanhã à noite você inda estiveraqui, eu acabo de vez co’essa novelaNão vai sobrar cama, nem porta, nem janela,sabe? Eu quebro esta merda. Eu quebro tudo,ouviu?(Sai com a Polícia)

(p.156)

JOANA. Ouvi sim, Creonte, um dia. Um dia, precisomais do que isso? Por que? Pra que? Quem te pariu só precisou de um dia. O que se construiuem séculos se destrói num dia. O JuízoFinal vai caber inteirinho num só diaQuando me deu um dia, você se traiu,Creonte, você não passa de um imbecil,porque hoje me deu muito mais do que devia

(p. 157)

• Creonte aparece com a polícia para expulsar Joana,porém, comete o erro de atender a SÚPLICA damulher para ficar mais um dia na vila, a fim deorganizar sua saída.

• É o tempo que Joana precisa para orquestrar ecolocar em prática seu plano de vingança

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JASÃO. Pronto, mulher, que foi?...JOANA. Nada, Jasão,quer dizer... eu queria te pedirperdão...(...)JOANA. Sabe, eu pensei,não parei um minuto de pensar...Me diga, quanto vale a lealdade?JASÃO. Não sei... Mulher, onde você escondeua fúria? Onde e por que? Diz...

JOANA. É que meuressentimento ofuscava a verdadeSe homem é ação e mulher, posturaA mulher, o raso, o homem, o fundoSe a mulher é de casa e ele é do mundoSe ele é chave mestra e ela é fechadura,então o que a mulher tem que cobrardele não é lealdade, mas brilhoPode comer quem quiser, fazer filhonuma, casar com outra, descasar,o que importa é ganhar uma paradatoda semana. Um marido lealmas fracassado, quem quer? Se ela é maltrepada, a lealdade vale nadapra ela. Mulher, o útero arrebentade prazer com o brilho do seu machoEu já pensei muito e é isso que eu achoVai, Jasão, fazer tua vida, inventateu destino que eu já fico contenteem saber que um pouco de mim vai terno peito do homem que você vai serPor isso é que eu te chamei. Vai em frente.Jasão, aqui você tem uma amigaque quer ver você feliz...

• Joana pede a Corina que chameJasão para pedir-lhe perdão

• Tudo faz parte de seu plano• (p.158-159)

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• Joana entende que precisa atingir os própriosfilhos para ferir Jasão

JOANA. (Para si, aterrorizada diante da descoberta)Não fale mais nada,não, Jasão, não me deixe alucinadaVocê sabe que eu te odeio, JasãoMas contra você todas as vingançasseriam vãs, seu corpo está fechadoVocê só tem, pra ser apunhalado,duas metades de alma: essas criançasÉ só assim que eu posso te ferir,Jasão? É essa a dor que você nãosuportaria? Que é isso, Jasão?Me aponta outro caminho...

(p.162)

JOANA. Tudo está na naturezaencadeado e em movimento —cuspe, veneno, tristeza,carne, moinho, lamento.ódio, dor, cebola e coentro,gordura, sangue, frieza,isso tudo está no centrode uma mesma e estranha mesaMisture cada elemento —uma pitada de dor,uma colher de fomento,uma gota de terrorO suco dos sentimentos,raiva, medo ou desamor,produz novos condimentos,lágrima, pus e suor

(p.165)

Mas, inverta o segmento,intensifique a mistura,temperódio, lagrimento,sangalho com tristezura,carnento, venemoinho,remexa tudo por dentro,passe tudo no moinho,moa a carne, sangre o coentro,chore e envenene a gorduraVocê terá um unguento,uma baba, grossa e escura,essência do meu tormentoe molho de uma friturade paladar violentoque, engolindo, a criaturarepara o meu sofrimentoco’a morte, lenta e segura

(p.166)

Joana prepara bolinhos de carne envenenados paraenviar, pelos filhos, como presente para Alma em“sinal de paz”

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Creonte impede que o presente sejadado a sua filha, e os meninosretornam a Joana com os bolinhos(p.168-169)

CREONTE. O que é isso? Esperaum pouco. São seus meninos, Jasão?JASÃO. São...ALMA. Trouxeram um presente, olha aqui...CREONTE. Que é isso... Quem que mandou isso aí? (Apanha o pacote)FILHO 1. Mamãe...CREONTE. De jeito nenhum... Não, não, não...Me leva essa porcaria. Não queroconversa com aquela mulher. Vai...(Fazendo sinal pra Corina e pros garotos)Vamos embora, vamos indo...

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(...)(Dá um bolinho e põe guaraná na boca dos filhos)A Creonte, à filha, a Jasão e companhiavou deixar esse presente de casamentoEu transfiro pra vocês a nossa agoniaporque, meu Pai, eu compreendi que o sofrimentode conviver com a tragédia todo diaé pior que a morte por envenenamento(JOANA COME UM BOLO; AGARRA-SE AOS FILHOS; CAI COM ELES NO CHÃO; A LUZ DESCE EM SEU SET; SOBEM, BRILHANTES, LUZ E ORQUESTRA DA FESTA ONDE TODOS, COM A MAIOR ALEGRIA, CANTAM “GOTA D’ÁGUA”; VAI SUBINDO DE INTENSIDADE ATÉ O CLÍMAX, QUANDO SE OUVE UM GRITO LANCINANTE... É CORINA QUE GRITA; AO MESMO TEMPO CREONTE BATE PALMAS E A MÚSICA PÁRA)

(p.172)

JOANA. (...) meu Ganga, é pior... Pior, tem razãoEsse é o caminho que o Senhor me apontaAí em cima você toma contadas crianças?... (Grita) Não!...(Com o grito as crianças aparecem)Vêm, meusfilhos, vêm...(Os filhos chegam perto; ela abraça os dois)FILHO 1. Queria comer...FILHO 2. Tou com fome...JOANA. Temcomida, vem... Isso é o que o senhor quer?(Abraça os filhos profundamente um tempo)Meus filhos, mamãe queria dizeruma coisa a vocês. Chegou a horade descansar. Fiquem perto demim que nós três, juntinhos, vamos emboraprum lugar que parece que é assim:

(p.171)

ASSASSINATO E SUICÍDIOJoana dá os bolinhos envenenados aos filhos e depois ela própria come.

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JASÃO CASA E SE SENTA NA CADEIRAEntra Egeu carregando o corpo de Joana

Entra Corina atrás com os corpos dos dois meninos nos braços

CREONTE. (...) Quem vem de baixo, tem valor e quer vencertem condições de colaborar pra fazernossa sociedade melhor... Senta, Jasão

JASÃO senta; um tempo; ouve-se um burburinho de vozes;entra EGEU carregando o corpo de JOANA no colo e CORINA carregando os corpos dos filhos; põem

os corpos na frente de CREONTE e JASÃO; um tempo; imobilidade geral;

uma a uma, as vozes começam a cantar Gota d’água; reversão de luz; os atores que fazem

JOANA e filhos levantam-se e passam a cantartambém; ao fundo, projeção de

uma manchete sensacionalista noticiando uma tragédia.

(p.173)

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• Mulheres fortes: Corina, Joana, Estela...

• Preocupação com o que os outros pensam:

Joana abandonada

Jasão não se responsabiliza pela sua família

Observações

CORO em Medeia em Gota d’Água

FUNÇÃO

Ouvia as súplicas e argumentava com

Medeia sobre o plano de matar os filhos;

CORINA: ela escutava os lamentos e tentou

argumentar com Joana sobre seus planos ainda

obscuros

QUEM COMPÕEM Mulheres de Corinto Mulheres, vizinhas

REPRESENTAÇÃO A consciência de MedeiaMelhor amiga e comadre

de Joana

• Importância dos vizinhos da Vila do Meio

Senso de comunidade, coletividade

Preocupação apenas com seus interesses

• Capitalismo cruel de Creonte: juros abusivos

• Imagem do brasileiro

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Leia o segmento abaixo:

Joana. (...) Se eles acordam, minha vida assim do jeito que ela está estrambelhada,

sem pai, sem pão, a casa revirada,

se eles acordam, vão olhar pra mim

Vão olhar pro mundo sem entender

Vão perder a infância, o sonho e o sorriso

pro resto da vida... Ouçam, eu preciso

de vocês e vocês vão compreender:

duas crianças cresceram pra nada,

pra levar bofetada pelo mundo,

melhor é ficar num sono profundo

com a inocência assim cristalizada

Corina. Não pensa nisso nem por brincadeira,

comadre...

Estela. Que que é isso? Deu bobeira,

mulher?...

( ) O fragmento pertence às primeiras falas de Joana; éconstante na obra a aparição de longas falas, podendochegar a mais de uma página.( ) A estrutura da obra é composta por três atos, sendouma característica das tragédias gregas.( ) A obra de Chico Buarque e Paulo Pontes constitui-se deuma constante interação de falas entre os personagensprincipais (Joana e Jasão) com os moradores da Vila doMeio, exaltando a vida em comunidade.( ) Encontra-se na peça a mistura entre falas depersonagens e canções, tornando-a um musical.

A sequência correta de preenchimento dos parênteses, decima para baixo, é

a) V – V – F – V.b) V – F – V – F.c) F – F – V – F.d) V – F – V – V.e) V – F – V – F.

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Assinale a alternativa correta sobre a peça Gota D’Água, de Chico Buarque e PauloPontes.

a) O desfecho da obra é resultado do avassalador ressentimento amoroso deJoana que, ao matar Alma com o presente de casamento envenenado, retomasua vida com Jasão e seus filhos.

b) Joana, mulher forte e apaixonada por Jasão, abala-se com a notícia de seucasamento com a filha de Creonte, e vinga-se dela ao combinar um boicote depagamento de mensalidade com os moradores da Vila do Meio.

c) O abuso dos juros cobrados por Creonte e o anúncio de despejo fazem Joanavingar-se de sua filha, Alma, ao presenteá-la com um bolo envenenado decasamento, resultando na morte dos convidados da festa.

d) O final da peça consiste no descontentamento dos moradores da Vila do Meioao serem solicitados a trabalharem no casamento de Alma e Jasão, resultandoem um boicote ao casamento, como protesto contra os juros abusivos cobradospor Creonte.

e) O mito grego de Medeia é abordado na obra, pois o desfecho resulta no suicídiode Joana e no envenenamento de seus dois filhos.

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Instrução: As questões 40 e 41 referem-se à peça Gotad'água, de Chico Buarque e Paulo Pontes.

40. Assinale a alternativa correta sobre a peça.

a) O ponto de partida do enredo é o mito de Édipo damitologia grega.

b) Joana é uma personagem recriada na peça, tal comoaparece na tragédia grega homônima.

c) Creonte representa a figura do pai amoroso eprotetor, que estabelece seu poder pelo respeitomútuo.

d) A peça, na condição de tragédia moderna, adaptavários aspectos do mito grego, como a profissão dealgumas personagens.

e) Joana aceita a oferta de Creonte e de Jasão e retira-se da comunidade pacificamente.

41. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) asseguintes afirmações sobre a peça.

( ) Joana ajudou Jasão a tornar-se um compositor desucesso, e é a quem ele demonstra, a todo instante,sua gratidão.( ) Joana é quatorze anos mais velha do que Jasão.( ) A cantoria dos vizinhos tem o papel do coro datragédia grega.( ) Creonte escolhe Jasão para sua sucessão nopoder, visando ao bem-estar da comunidade.

A sequência correta de preenchimento dosparênteses, de cima para baixo, é

a) F - V - V - F.b) V- F - V - V.c) V - V - F - F.d) F - F - V - F.e) V - V - F - V.