uma intervenÇÃo psicopedagÓgica com Ênfase ... · ... de apropriação do sistema de escrita...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
UMA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA COM ÊNFASE
FONOVISUOARTICULATÓRIA NO PROCESSO DE
AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA
Eneida Alves Bittencourt Coelho
ORIENTADOR:
Prof. Fabiane Muniz
Rio de Janeiro 2016
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia Institucional. Por: Eneida Alves Bittencourt Coelho
UMA INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA COM ÊNFASE
FONOVISUOARTICULATÓRIA NO PROCESSO DE
AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA
Rio de Janeiro 2016
AGRADECIMENTOS
Agradeço a toda a equipe da E.M. Barra de Zacarias –Maricá - RJ, em especial as professoras alfabetizadoras Carina, Thamara, Patrícia e Kátia, pelo comprometimento e dedicação na construção de uma escola pública de qualidade.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho acadêmico aos alunos da E.M. Barra de Zacarias –Maricá - RJ, que através dos seus questionamentos, dificuldades e descobertas nos levam constantemente a refletir sobre nossa prática e a buscar formas inovadoras de ensino e aprendizagem.
EPÍGRAFE
“Ser ensinante significa abrir um espaço para aprender. Espaço objetivo e subjetivo em que se realizam dois trabalhos simultâneos: a construção de conhecimentos e a construção de si mesmo, como sujeito criativo e pensante” (ALICIA FERNÁNDEZ).
RESUMO
As escolas atualmente enfrentam um grande desafio, que é lidar com as dificuldades de aprendizagem e ao mesmo tempo traçar propostas de intervenção capazes de contribuir para a superação dos problemas detectados no processo ensino - aprendizagem. Uma das principais causas do fracasso escolar tem origem especificamente nas dificuldades de aprendizagem da leitura e da escrita. Para enfrentar esta problemática o psicopedagogo institucional deve implementar diversas ações, entre elas levar os professores e equipe pedagógica a refletirem sobre o trabalho desenvolvido e metodologias utilizadas. Para isso, é necessário que o profissional conheça como se dá este processo, as metodologias existentes e sua fundamentação teórica. O foco deste trabalho está justamente na função preventiva do psicopedagogo institucional na escola frente ao processo de alfabetização, destacando a orientação dos professores sobre como acontece o processo de apropriação do sistema de escrita alfabética pela criança e que estratégias devem ser utilizadas pelo professor na mediação desta aprendizagem. Como instrumento de intervenção psicopedagógica, vamos apresentar a metodologia fonovisuoarticulatória de aprendizagem da leitura e da escrita, denominada popularmente de “Método das Boquinhas”, de autoria da fonoaudióloga e psicopedagoga Renata Savastano Ribeiro Jardini, para que possamos conhecer o seu diferencial e avaliar sua eficácia no processo de aquisição da leitura e da escrita. Um olhar psicopedagógico na dinâmica do dia a dia na sala de aula pode contribuir para uma aprendizagem mais significativa e eficaz.
METODOLOGIA
Esta é uma pesquisa bibliográfica descritiva de análise qualitativa, onde
busquei subsídios teóricos sobre o processo de aprendizagem da leitura e
escrita que fundamentam a metodologia fonovisuoarticulatória de alfabetização.
A partir destes conhecimentos vamos poder compreender a prática e refletir
sobre esta tecnologia educacional, avaliando se esta intervenção pode ser
eficaz no processo de apropriação do sistema de escrita alfabética. de modo a
instrumentalizar o Psicopedagogo Institucional no exercício da sua função
dentro da unidade escolar. Para a coleta de dados e informações foram
utilizados livros e artigos científicos. Os principais autores que vão embasar
esta pesquisa são Magda Soares e Marco Antônio de Oliveira,do CEALE -
UFMG (Centro de Alfabetização, Leitura e escrita);Artur Gomes de Morais,do
CEEL – UFPE (Centro de Estudos em Educação e Linguagem),cujos trabalhos
fundamentam o PNAIC (Programa Nacional pela Alfabetização na Idade Certa)
do MEC;Emília Ferreiro, autora da Psicogênese da Língua Escrita; Fernando
César Capovilla, defensor do método fônico e a autora da “Metodologia das
Boquinhas”, Renata Savastano Ribeiro Jardini, fonoaudióloga clínica e
psicopedagoga. Especificamente com relação a atuação do psicopedagogo
Institucional na Instituição Escolar,tomamos como referência as autoras Nadia
Bossa e Alícia Fernándes,
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 09
CAPÍTULO I
O papel da Psicopedagogia Institucional na escola 12
CAPÍTULO II
Apropriação do Sistema de Escrita Alfabética 18
2.1 Alfabetização e Letramento 19
2.2 Escrita alfabética como um sistema notacional 21
2.3 Consciência fonológica,fonêmica e fonoarticulatória 26
CAPÍTULO III
A “Metodologia das Boquinhas”no processo de aquisição da
Leitura e da escrita
3.1 Pressupostos teóricos 28 3.2 Descrição dos articulemas e fonemas e seu uso em Boquinhas 32
3.3 Os passos da alfabetização com Boquinhas 37
CONCLUSÃO 40
BIBLIOGRAFIA 42
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INTRODUÇÃO
A história da alfabetização no Brasil é marcada por fracassos no processo do
ensino-aprendizagem da leitura e escrita e por sucessivas mudanças
conceituais e metodológicas. Este é um tema polêmico, que gera discussões
inflamadas entre diversos teóricos, o que acaba deixando confusos os
professores, não sabendo qual norteamento seguir. A progressiva perda de
especificidade do processo de alfabetização, que vem acontecendo na escola
brasileira nas três últimas décadas, criou uma nova modalidade de fracasso
escolar, que é o baixo domínio da língua escrita em anos escolares em que
esta competência já deveria ter sido alcançada, problema evidenciado hoje em
dia através das diversas avaliações externas existentes.
Frente a estas discussões, apresenta-se como desafio encontrarmos práticas
pedagógicas que resgatem a especificidade da alfabetização e que favoreçam
a apropriação do sistema de escrita alfabética. Esta é uma das questões
enfrentadas pelo psicopedagogo institucional no cotidiano do seu trabalho na
escola, cujo principal objetivo é justamente a prevenção das dificuldades de
aprendizagem através do aperfeiçoamento de práticas educativas que facilitem
o processo de construção do conhecimento. Consequentemente, é
fundamental conhecer as diferentes metodologias e o embasamento teórico
das mesmas e ao mesmo tempo, levar estas questões para serem discutidas
com a equipe de profissionais da escola em que está inserido, contribuindo
assim de forma significativa na superação de barreiras encontradas para o
avanço na aprendizagem. Ao investir na formação continuada e reflexão sobre
a prática adotada, estará facilitando o entendimento das dificuldades de
aprendizagem, neste trabalho em específico as relacionadas a leitura e a
escrita ocasionadas pela metodologia adotada, possibilitando a intervenção
durante o processo de alfabetização, favorecendo assim a solução dos
problemas identificados.
É nesta perspectiva que entra nossa pesquisa sobre a Tecnologia Educacional
aprovada pelo MEC em novembro de 2009, 2010 e 2011 denominada
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popularmente como “Método das Boquinhas”, que consiste em se utilizar
estratégias fônicas (fonema/som), visuais (grafema/letra) e articulatórias
(articulema/Boquinhas) para trabalhar a aquisição da leitura e escrita. Esta
tecnologia é resultado de um trabalho interdisciplinar envolvendo as áreas de
fonoaudiologia e pedagogia.
Nosso objetivo com este estudo é conhecer a fundamentação teórica e as
especificidades desta metodologia, identificando qual o diferencial dela com
relação a outras, para então avaliarmos se a sua utilização em classes regulares
de alfabetização pode ser uma estratégia eficaz de mediação para que a criança
se aproprie do sistema de escrita alfabética, contribuindo assim para
alcançarmos melhores resultados neste processo.
Para atingir os objetivos propostos e responder ao problema inicial da
pesquisa, cujo foco é o fracasso escolar gerado pelas dificuldades de
aprendizagem da leitura e da escrita devido a escolha de uma metodologia
ineficaz e o papel do psicopedagogo institucional nesta problemática, foram
construídos três capítulos teóricos: No primeiro capítulo vamos abordar o papel
do psicopedagogo institucional na escola e a relevância do tema da pesquisa
na sua prática profissional no cotidiano escolar.
O segundo capítulo foi organizado pensando em abranger pontos importantes
da fundamentação e suporte teórico da metodologia em estudo,para
compreendermos como a criança aprende a ler e a escrever. Iniciamos com a
colocação de Marco Antônio de Oliveira que nos apresenta três concepções de
como se dá esta aprendizagem, defendendo a teoria de que ela é intermediada
pela oralidade. Em seguida, tomando como base os autores Magda Soares e
Artur Gomes de Morais, vamos abordar primeiramente a diferença entre
alfabetização e letramento, demonstrando que para a alfabetização acontecer é
preciso um ensino intencional e sistemático que leve a criança a se apropriar
do sistema alfabético de escrita e leitura (codificação e decodificação) e ao
mesmo tempo que esta aprendizagem deve acontecer em um contexto de
letramento, com textos reais e em situações de uso da escrita nas práticas
sociais. Esta diferenciação é importante para identificarmos que quando
estamos falando sobre a metodologia das Boquinhas estamos falando em
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metodologia de alfabetização, ou seja, ensino sistemático e intencional.
Apresentaremos em seguida argumentos mostrando que o Sistema de Escrita
Alfabética é um sistema notacional e não somente um código. Fundamentado
nas pesquisas de Emília Ferreiro, vamos demonstrar que ele envolve
propriedades e convenções que vão exigir que o aluno compreenda os
aspectos conceituais da escrita alfabética. Esta compreensão funciona como
requisito para que ele possa memorizar as relações letra-som e utilizar este
conhecimento de forma produtiva, sendo capaz de gerar leitura ou a escrita de
novas palavras. Tomando como referência o autor Artur Gomes de Morais,
vamos apresentar as propriedades do Sistema de Escrita Alfabética que o
aprendiz precisa reconstruir para entender seu funcionamento, ou seja, as
etapa pelas quais passam as crianças em processo de alfabetização e as
apropriações pedagógicas da teoria da psicogênese da língua
escrita.Finalizando este capítulo, vamos abordar Consciência fonológica,
fonêmica e fonoarticulatória. As duas primeiras habilidades são fundamentais
para que o aprendiz tome consciência da fala como um sistema de sons e a
escrita como uma representação desses sons, ou seja, as relações fonema-
grafema.Com relação a consciência articulatória, ela é o diferencial desta
metodologia comparada a outras abordagens fônicas existentes. Os autores
que vão embasar a pesquisa para este tema são Fernando Capovilla, Artur
Gomes de Morais e Renata Jardini.
No terceiro capítulo - A “Metodologia das Boquinhas ” no processo de aquisição
da Leitura e da Escrita - vamos conhecer os pressupostos teóricos, os
articulemas e seu uso e como acontece a intervenção pedagógica e a
construção do conhecimento no processo de alfabetização utilizando a
“Metodologia das Boquinhas”, tendo como referência a autora Renata Jardini e
outros autores citados por ela.
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CAPÍTULO I
O PAPEL DA PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL NA
ESCOLA
A princípio, a Psicopedagogia constitui-se na composição de dois saberes -
psicologia e pedagogia - sendo uma ciência que estuda a aprendizagem
humana cujo objeto de estudo é a pessoa em processo de construção e
reconstrução do conhecimento. Seu papel é analisar e assinalar os fatores que
favorecem, intervém ou prejudicam uma boa aprendizagem na instituição
escolar. A escola é a instituição responsável pela educação e formação dos futuros
cidadãos. Sua principal missão é ensinar, e onde há ensino, supõem-se que
haja aprendizagem. No entanto, sabemos que nem sempre é assim que
acontece. O processo de aprendizagem é complexo e envolve, ao mesmo
tempo, um sujeito que ensina e um sujeito que aprende, sendo que vários
fatores tanto internos como externos podem interferir.
A área de conhecimento da Psicopedagogia surgiu justamente como resposta
a uma necessidade que demandou da própria práxis educacional, ou seja,
buscar soluções para os problemas de aprendizagem apresentados pelos
educandos no ambiente escolar, em interação com o objeto de conhecimento.
A psicopedagogia se ocupa da aprendizagem humana, que adveio de uma demanda - o problema de aprendizagem, colocado em um território pouco explorado, situado além dos limites da psicologia e da própria pedagogia – e evoluiu devido a existência de recursos, ainda que embrionários, para atender a essa demanda, constituindo- se assim, em uma prática. Como se preocupa com o problema de aprendizagem, deve ocupar-se inicialmente do processo de aprendizagem. Portanto, vemos que a psicopedagogia estuda as características da aprendizagem humana: como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e a preveni-las. (BOSSA, 2007, p. 24)
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As dificuldades de aprendizagem acabam por provocar o fracasso escolar e a
psicopedagogia atua para a superação dessas dificuldades sob um caráter
institucional ou clínico.
Segundo Bossa (2000), seu objeto de estudo é o próprio processo de
aprendizagem e seu desenvolvimento normal e patológico, relacionado com o
mundo interno ou externo, sem deixar de lado os aspectos cognitivos, afetivos
e sociais que estão envolvidos.
O psicopedagogo institucional trabalha com todo o corpo escolar, composto por
diretores, coordenadores, professores, famílias e comunidade, com o objetivo
de assegurar uma dinâmica integradora na escola como um todo, buscando a
reflexão crítica e a superação dos obstáculos enfrentados pela escola. Para
isso, trabalha as metodologias de ensino e práticas pedagógicas, a relação
família e escola, o planejamento e avaliação de estratégias visando superar as
dificuldades encontradas, de modo a assegurar o processo de ensino-
aprendizagem, tendo em vista a melhoria da qualidade do ensino.
A intervenção psicopedagógica portanto envolve a avaliação dos alunos
quanto ao processo de desenvolvimento e aquisição da aprendizagem, o
professor em suas estratégias e competências profissionais, a família e suas
atitudes perante a educação dos filhos e todo o contexto escolar. Sua atuação
na equipe é como um mediador e incentivador das atividades escolares,
propondo estratégias para as dificuldades encontradas, facilitando assim o
trabalho da gestão e dos professores:
O trabalho deste profissional está voltado para uma ação coletiva com toda a equipe pedagógica que abrange a direção, professores, pais, alunos e demais funcionários da escola, os processos didáticos, as interações e avaliação escolar, para buscar compreender como acontece a relação ensino-aprendizagem no espaço educativo. (BOSSA, 1994, p 23).
Segundo Bossa (2000), a intervenção de um psicopedagogo no contexto
escolar é essencial e inclui:
• Orientar os pais;
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• Auxiliar os educadores e consequentemente a toda comunidade aprendente;
• Buscar instituições parceiras (envolvimento com toda a sociedade);
• Colaborar no desenvolvimento de projetos (Oficinas psicopedagógicas);
• Acompanhar a implementação e implantação de novas propostas
metodológicas.
• Promover encontros socializadores entre corpo docente, discente,
coordenadores, corpo administrativo e de apoio ;
Portanto, para cumprir o seu papel, é necessário que o psicopedagogo não só
conheça como funcionam os processos de aprendizagem e quais são os
fatores que interferem, como também ser capaz de identificar, tratar e prevenir
as alterações que vierem a acontecer durante este processo. A dificuldade faz
parte do processo de aprendizagem e não pode ser vista desvinculada dele.
Weiss (1994) sinaliza que para o diagnóstico de casos de fracasso escolar,
devemos levar em consideração os aspectos orgânicos, cognitivos,
emocionais, sociais e pedagógicos que cercam o problema identificado.
Destacamos a importância da atuação do psicopedagogo institucional nas
escolas para prevenir as dificuldades que ocorrem neste último aspecto, que
tem como origem uma metodologia ineficaz, docentes com formação
inadequada, falta de planejamento, desconhecimento da realidade cognitiva
dos educandos, entre outros.Cada criança tem um processo de
desenvolvimento diferente, algumas aprendem com mais facilidade enquanto
outras aprendem num ritmo mais lento, precisando de mais tempo. Por isso, é
fundamental que o professor analise individualmente seus alunos para poder
adequar os conteúdos às necessidades de cada um. As mudanças de
estratégias de ensino podem contribuir para que todos aprendam, pois muitas
vezes elas não estão de acordo com a realidade do aluno, necessitando que o
professor reveja a metodologia utilizada.Deve-se também criar um ambiente
favorável à aprendizagem, onde sejam trabalhadas a autoestima, a
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autonomia,a confiança, o respeito mútuo e a valorização do aluno.A prática do
professor em sala de aula é decisiva no processo de desenvolvimento de seus
alunos.
A afetividade é uma questão que a psicopedagogia considera fundamental para
que ocorra a aprendizagem. PichonRevière (2005), criador da Teoria do
Vínculo, nos mostra que a aprendizagem ocorre através da interação entre o
aluno, o professor e o conteúdo. Nenhum método competente obterá sucesso
se não houver um vínculo afetivo entre estes três elementos da aprendizagem,
pois esta é uma relação que envolve afetividade e conflitos, onde acontecem
processos de transferência e contratransferência.
Segundo Fernández (2001) “entre o ensinante e o aprendente, abre-se um
campo de diferenças onde se situa o prazer de aprender”.
Segundo Serra (2004), “não se trata de buscar culpados para o fracasso
escolar, nem de responsabilizar os professores, mas buscar alternativas que
estão ao nosso alcance para solucionar os problemas”. Ensinar e aprender são
processos interligados e por isso não dá para pensar em um sem relacionar
com o outro.
O trabalho do psicopedagogo Institucional na escola possui portanto um caráter
essencialmente preventivo, sendo uma das suas funções auxiliar os
professores e equipe pedagógica com relação a aprendizagem dos alunos com
ou sem dificuldades. Este auxílio pode ser direcionado de forma individual ou
coletiva .
Além disso, este profissional deve estimular o desenvolvimento das relações
interpessoais, o estabelecimento de vínculos e a utilização de métodos de
ensino compatíveis com as mais recentes concepções de ensino e
aprendizagem.Bossa (2007) afirma que este trabalho tem níveis diferentes de
atuação:
No primeiro nível o psicopedagogo atua nos processos educativos com o objetivo de diminuir a “frequência dos problemas de aprendizagem”. Seu trabalho incide nas questões
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didático-metodológicas, bem como na formação e orientação de professores, além de fazer aconselhamento aos pais. No segundo nível o objetivo é diminuir e tratar dos problemas de aprendizagens já instalados. Para tanto cria-se plano diagnóstico da realidade institucional, e elaboram-se planos de intervenção baseados nesse diagnósticos a partir do qual se procura avaliar os currículos com os professores, para que não se repitam tais transtornos. No terceiro nível o objetivo é eliminar transtornos já instalados em um procedimento clínico com todas as suas implicações. O caráter preventivo permanece aí, uma vez que ao eliminarmos um transtorno, estamos prevenindo o aparecimento de outros. (BOSSA, 2007, p. 25)
É função do professor, do psicopedagogo e de toda a equipe pedagógica
contribuir para o êxito do processo de aprendizagem e auxiliar com relação as
dificuldades no rendimento escolar. Isso quer dizer que ter conhecimento de
como o aluno constrói seu conhecimento, compreender a dinâmica da escola e
relacionar todos estes fatores aos aspectos afetivos e cognitivos, possibilitará
uma atuação mais segura e eficaz de todos os profissionais responsáveis pela
aprendizagem.
As funções pertinentes ao psicopedagogo na escola são diversas, mas uma das
formas de abordagem preventiva é investir e incentivar a formação continuada
dos professores, para que eles possam construir uma relação amistosa e de
troca com os alunos e terem condições de refletir sobre sua prática pedagógica.
O aprender do professor lhe capacita para entender melhor o seu aluno e intervir
positivamente no processo de aprendizagem do mesmo. O professor é coautor
deste processo de construção e reconstrução de conhecimento:
A participação do professor, por inteiro, (corpo, organismo, inteligência e desejo) nessa relação, na sala de aula, no processo ensino-aprendizagem demanda a participação dos alunos também por inteiro. O organismo, transversalizado pela inteligência e o desejo, irá se mostrando em um corpo, e é deste modo que intervém na aprendizagem, já corporizado. (FERNÁNDEZ, 1990, p.62).
Segundo Sena, Conceição e Vieira (2004), “o processo de ressignificação da
prática pedagógica se constrói por meio de um processo que se efetiva pela
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reflexão critico- reflexiva do professor sobre seu próprio trabalho, isto é, a partir
da base do contexto educativo real, nas necessidades reais dos sujeitos, nos
problemas e dilemas relativos ao ensino e à aprendizagem”.
O foco desta pesquisa está na alfabetização, período cercado por muitas
expectativas tanto dos alunos, como das famílias, das professoras e de toda a
comunidade escolar. Ao mesmo tempo, é também uma etapa de muitas
frustações, pois é nesta fase que ficam mais evidenciadas as dificuldades de
aprendizagem. Muitas vezes porém os problemas identificados tem origem nas
metodologias utilizadas pelos professores, acarretando dificuldades e fracassos
que vão influenciar de forma significativa a aprendizagem nos anos seguintes,
gerando problemas como baixa autoestima, evasão, retenção na mesma série,
dentre outros. Para que o psicopedagogo possa planejar sua intervenção
pedagógica é preciso conhecer como acontece o processo de aprendizagem
da leitura e da escrita e as diferentes metodologias utilizadas, para melhor
poder orientar os professores, pois muitas vezes será necessário que o
professor necessite mudar sua forma de ensinar.O psicopedagogo, como um
profissional da aprendizagem, deve conhecer bem as metodologias de
alfabetização para orientar os professores e conscientizá-los sobre a
importância de se utilizar uma metodologia eficiente e eficaz.
Para Bossa (2000) “O Psicopedagogo Institucional trabalha para que a escola
não seja um problema, seja a solução”.
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CAPÍTULO II
APROPRIAÇÃO DO SISTEMA DE ESCRITA
Partindo do questionamento de como as crianças aprendem a ler e escrever,
cuja resposta é fundamental para propormos metodologias, pois se não
soubermos como elas interagem com seu objeto de conhecimento, corremos o
risco de tentar ensinar num caminho oposto ao do aprendiz, o autor Marco
Antônio de Oliveira (2005) nos apresenta três concepções de aprendizagem da
escrita. A primeira, transferência de um produto, supõe a escrita como um
produto pronto e acabado que o professor transmite ao seus alunos. A
aprendizagem entendida desta forma tem como pressuposto que o ensino se
dá de fora para dentro e que o aluno vai precisar de uma grande memória para
assimilar tudo. A segunda teoria, adotada pelo construtivismo, vê esta
aprendizagem como um processo de construção do conhecimento tendo como
base as características da própria escrita, em que o aprendiz,em interação com
o objeto, levanta uma hipótese inicial e vai reformulando, num processo
contínuo de reelaboração do seu conhecimento sobre a escrita. Nesta
concepção o conhecimento é construído pelo aluno, que é o centro da
aprendizagem e não transferido de fora para dentro, como na primeira teoria.
Além disso, o aluno pensa e faz generalizações, minimizando o uso da
memória e vai cometer erros, que são previsíveis e naturais ao processo:
Esses 'erros' são da natureza daquilo que Piaget chamou de "erros construtivos", ou seja, são passos importantes na construção do conhecimento, etapas que permitirão ao aprendiz a reformulação de suas hipóteses. Nesta perspectiva fica claro que o aluno que 'erra' não é, necessariamente, um aluno com problemas de aprendizagem. Ao contrário, só 'erra' quem está no controle da construção do conhecimento. Poderíamos até dizer que “o bom aluno é o que erra”(OLIVEIRA,2012,p.8).
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Porém, esta concepção não dá conta de alguns erros de ortografia e
concordância apresentados pelos crianças, o que nos leva a uma terceira
concepção de aprendizagem da escrita intermediado pela oralidade, ou seja,
pelo que ela já sabe da língua quando começa o processo de alfabetização,
pois já domina a língua falada:
Dito de outra forma: o conhecimento sobre a língua falada controla o processo de aprendizagem da língua escrita. É importante ter claro que à medida que se progride no tempo, menor se torna o efeito da oralidade. Assim, há um momento em que nenhum de nós escreve mais como fala. (OLIVEIRA, 2012, p.10)
2.1. Alfabetização e Letramento O acesso ao mundo da escrita envolve ao mesmo tempo a apropriação de um
sistema e o seu uso nas práticas sociais, dois processos distintos que se
complementam, sendo que um não é pré-requisito do outro, devendo acontecer
ao mesmo tempo. É urgente portanto a realização de reflexões sobre
alfabetização e letramento e suas especificidades, pois além de serem
simultâneos e diferentes, são interdependentes e indissociáveis, requerendo
portanto metodologias diferentes (SOARES 2003).Uma das hipóteses sobre o
que poderia ter levado a esta perda de especificidade, foi a forma equivocada
como o conceito de construtivismo chegou em nosso país nos anos 80
juntamente com o conceito de letramento, difundindo a ideia que não era mais
necessário ter um método para alfabetizar, já que a aprendizagem acontece na
interação com o objeto de conhecimento, no caso a leitura e a escrita (MORAIS
2012).Ao focar no processo de construção do sistema de escrita pela criança,
subestimou-se a natureza do objeto de conhecimento em construção, que é
fundamentalmente um objeto linguístico, de relações convencionais e
arbitrárias entre fonemas e grafemas (SOARES 2004):
Aí é que está o erro. Ninguém aprende a ler e a escrever se não aprender relações entre fonemas e grafemas – para codificar e para decodificar. Isso é uma parte específica do processo de aprender a ler e a escrever. Linguisticamente, ler e escrever é aprender a codificar e a decodificar (SOARES, 2003, p.1).
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Não se aprende a ler e escrever espontaneamente, somente participando de
práticas diárias de leitura e produção de textos (MORAIS 2012). É um equívoco
achar que há uma incompatibilidade entre a teoria construtivista e uso de
metodologia, que na realidade vem a ser um conjunto de ações e intervenções
sustentadas por uma concepção teórica, visando alcançar objetivos (SOARES
2004).
Arthur Gomes de Morais (2012) concorda com Soares (2003) sobre o fato de
que, com o conhecimento adquirido através da teoria da psicogênese da língua
escrita na psicologia e da teoria da enunciação e do discurso na linguística,
houve um processo “desinvenção da alfabetização”, levando os educadores a
acreditarem numa alfabetização sem metodologia,sem atividades intencionais
e planejadas para a apropriação do sistema de escrita:
W”desinventamos” o ensino da escrita alfabética, criamos certa ditadura do texto ( segundo a qual seria proibido trabalhar com unidades menores, como palavras ou sílabas), como se fosse verdade que a maioria das crianças “descobre”, por conta própria e sem instrução sistemática, como a escrita alfabética funciona e quais são as suas convenções (MORAIS, 2012,p.25).
Para a alfabetização acontecer é preciso um ensino intencional e sistemático,
de forma que a criança se aproprie do sistema alfabético de escrita e leitura e
ao mesmo tempo esta aprendizagem deve acontecer em um contexto de
letramento, com textos reais e em situações de uso da escrita nas práticas
sociais. Portanto, o processo de “reinvenção da alfabetização” deve ser um
movimento de resgate da especificidade da alfabetização (SOARES 2003).
Quem vivencia o dia a dia e a prática dos professores alfabetizadores nas
escolas públicas, percebe que falta clareza sobre a necessidade de se ensinar
de forma sistemática as relações fonema-grafema e as propriedades e
convenções do sistema alfabético. Se fizermos uma análise dos livros do
Programa Nacional do Livro Didático de alfabetização, que substituem as
antigas cartilhas, vamos perceber que eles apresentam muitos textos de
diversos gêneros textuais e poucas atividades que trabalhem as relações som-
grafia e que levem o aluno a compreender como funciona o sistema de notação
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alfabética (MORAIS 2006).
O que poderíamos chamar de acesso ao mundo da escrita – num sentido amplo – é o processo de um indivíduo entrar nesse mundo, e isso se faz basicamente por duas vias: uma, através do aprendizado de uma “técnica”. Chamo a escrita de técnica, pois aprender a ler e a escrever envolve relacionar sons com letras, fonemas com grafemas, para codificar ou para decodificar. Envolve, também, aprender a segurar um lápis, aprender que se escreve de cima para baixo e da esquerda para a direita; enfim, envolve uma série de aspectos que chamo de técnicos. Essa é, então, uma porta de entrada indispensável. A outra via, ou porta de entrada, consiste em desenvolver as práticas de uso dessa técnica. Não adianta aprender uma técnica e não saber usá-la (SOARES, 2003,p.15).
2.2. Escrita Alfabética como um Sistema Notacional Se considerarmos a aprendizagem da leitura e da escrita como somente a
aquisição de um código, o trabalho da alfabetização se reduziria em o aluno
aprender a relação entre o som e letra que o substitui, ou seja, codificar
edecodificar. Sendo assim, envolveria somente memorização e habilidades
motoras e perceptivas. Mas a partir da teoria da psicogênese da escrita, vimos
que a apropriação do sistema de escrita alfabética exige muito mais do que
somente as habilidades citadas acima. Passamos a compreender então que a
escrita alfabética é um sistema notacional que não se reduz a decorar um
conjunto de sinais substitutos, mas envolve regras e propriedades que se
relacionam entre si e consequentemente exigem do aluno um trabalho
cognitivo muito mais complexo. Na realidade, ele vai ter que compreender e
reconstruir em sua mente, as regras que regulam este sistema para poder usá-
lo de forma convencional e assim poder efetivamente ler e escrever. Um código
é mais estático e simples,se reduz a se utilizar um conjunto de sinais
substitutivos que podem ser decifrados. É automático, não requer reflexão e
compreensão, sendo o código Morse um exemplo bem assertivo.
O Sistema de Escrita é um sistema notacional dinâmico e complexo que
envolve vários aspectos lógico-conceituais e portanto para que a criança se
aproprie dele, não ba
palavras e memorizar a
necessária, mas não su
um processo cognitiv
fundamentais. É neces
criar hipóteses.Como
Sistema de Escrita Alfa
para duas questões bá
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22
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ar nossos alunos a
23
Parece-nos necessário criar um ensino sistemático que auxilie, dia após dia, nossos alunos a refletir conscientemente sobre as palavras, para que venham a compreender como esse objeto de conhecimento funciona e possam memorizar suas convenções.(MORAIS, 2005, p.45).
A mudança de paradigma a partir dos estudos de Emília Ferreiro (1985)
mostraram que a criança pensa sobre a escrita muito antes de chegar ao 1º
ano, pois a escrita é um objeto de função social, que já faz parte do cotidiano
das crianças antes delas entrarem na escola. Emília Ferreiro e seus
colaboradores utilizaram em suas pesquisas o método clínico de investigação,
com objetivo de dar aos entrevistados oportunidade de expressar seu modo de
pensar aos pesquisadores, o que contribuiu para uma melhor análise das
produções e construções identificadas:
A aprendizagem da leitura, entendida como o questionamento a respeito da natureza, função e valor desse objeto cultural que é a escrita, inicia-se muito antes do que a escola o imagina, transcorrendo por insuspeitados caminhos. Que além dos métodos, dos manuais, dos recursos didáticos, existe um sujeito que busca a aquisição de conhecimento, que se propõe problemas e trata de solucioná-los seguindo sua própria metodologia(FERREIRO,1999, p.27)
O objetivo maior do trabalho foi apresentar a interpretação do processo de
aquisição da escrita do ponto de vista de quem aprende, embasada nas
pesquisas realizadas por um período de dois anos, com crianças de diferentes
nacionalidades, com idade entre quatro e seis anos (FERREIRO;
TEBEROSKY, 1999).As pesquisadoras procuraram observar e explicar como
acontece a construção da linguagem escrita pela criança, para que os
educadoresa partir deste conhecimento, possam planejar sua
mediação,trabalhando com o foco nas produções dos alunos.Ferreiro e
Teberosky (1999) ressaltam que entre as propostas metodológicas e as
concepções infantis, existe uma distância que pode medir-se em termos do que
a escola ensina e do que a criança aprende. Muitas vezes o professor parte do
que ele considera mais simples, não levando em conta o processo de
construção da criança.Destacam também que para compreender esta
24
construção é preciso observar o processo e não apenas a produção final, pois
são os questionamentos levantados pela criança durante o processo que vão
possibilitar identificar o nível de conhecimento dela sobre o objeto. Para
Ferreiro e Teberosky (1999), o grande problema da aprendizagem da leitura e
da escrita está nos métodos de ensino, pois a preocupação dos educadores
está direcionada para o método mais eficaz, sem preocupar-se com aspectos
fundamentais da aprendizagem: a competência linguística e a capacidade de
buscar conhecimento da criança.
Ferreiro e Teberosky (1999) afirmam que as crianças constroem algumas
hipóteses para que um texto possa ser lido, sendo que as características mais
marcantes são a quantidade mínima de três letras e a variedade destes
caracteres. De todas as hipóteses de construção colocadas pelas criança, nas
diversas situações de intervenção propostas durante a pesquisa,surgiram
quatro hipóteses fundamentais para compreensão de como as crianças
adquirem a linguagem escrita. São elas:
Pré-silábica – A criança ainda não descobriu que a escrita registra os sons da
fala. Apresenta dificuldade em estabelecer diferença entre as atividades de
escrever e desenhar. Aparecem tentativas da criança de correspondência entre
a escrita e o objeto real (realismo nominal),colocando a quantidade de letras
proporcional ao tamanho do objeto. Quantidade mínima de caracteres exigidos
e a variedade desses caracteres.
Silábica – Pronunciam as palavras dividindo em sílabas e colocam uma letra
para cada sílaba. A criança percebe que a escrita representa as partes sonoras
da fala.As escritas silábicas podem ser sem valor sonoro, quando a criança
coloca uma única letra para cada sílaba oral, mas esta letra não tem nada a ver
com a sílaba oral que está notando ou com valor sonoro,quando uma das letras
é um dos fonemas da sílaba oral em questão.Quando a criança começa a
trabalhar com a hipótese silábica, duas características importantes da escrita
anterior podem desaparecer: a de quantidade mínima e a de variedade de
caracteres.
25
Silábico-alfabética – período de transição e conflito entre a hipótese silábica e a
hipótese alfabética. Descobre que precisa colocar mais letras e por isso precisa
refletir sobre as sílabas orais para buscar outros sons dentro da sílaba.Implica
em um nível maior de reflexão metafonológica, ou seja, consciência fonêmica.
Alfabética – etapa final do processo de apropriação da escrita alfabética. A
criança entendeu que cada uma das letras da palavra correspondem a valores
sonoros menores que a sílaba e realiza sistematicamente uma análise sonora
dos fonemas das palavras que deseja escrever. A partir desta hipótese as
dificuldades serão ortográficas e não mais conceituais.
Para desenvolver um trabalho baseado nos estudos da psicogênese, o
educador precisa valorizar o saber da criança quando chega na escola e
respeitar seu ritmo de aprendizagem, pois a alfabetização requer um tempo
para assimilação dos conhecimentos, e esse tempo é de importância
fundamental para as crianças, pois precisam mudar seus esquemas
assimiladores relativos a escrita, que é o objeto do conhecimento. (FERREIRO,
2001).Na verdade,para se apropriar do sistema de escrita alfabética a criança
vai precisar reinventar a escrita,pois a escrita é um processo de construção
pessoal e não uma cópia de um modelo externo.
O professor tem que estar consciente que ensinar não é transferir
conhecimentos como numa operação bancária, em que ele deposita
determinado conhecimento pronto no aluno e sim que é necessário criar
situações que possibilitem a construção deste conhecimento. Precisamos
recriar metodologias de alfabetização, garantindo um ensino sistemático que,
através de atividades reflexivas, desafiem o aprendiz a compreender como a
escrita alfabética funciona, para poder dominar suas convenções letra-som.
Nesta relação, educador e educando são indissociáveis e os dois são sujeitos
no processo de construção do conhecimento, aprendendo e ensinando ao
mesmo tempo.
26
2.3. Consciência fonológica, fonêmica e fonoarticulatória O processamento fonológico tem sido objeto de vários estudos, sendo
reconhecido como um componente que participa do processo de
desenvolvimento da leitura e da escrita. Para Capovilla (2007), existiriam três
tipos de processamento fonológico relacionados às habilidades de leitura e
escrita: acesso ao léxico mental, memória de trabalho fonológica e consciência
fonológica. Este último, é uma habilidade metalinguística complexa, que diz
respeito à capacidade de refletir sobre a estrutura fonológica da linguagem oral,
abrangendo a consciência de que a fala pode ser segmentada e podemos
manipular estes segmentos.
Desde a Educação Infantil é importante que a criança entre em contato com
materiais escritos e que seja desafiada a refletir sobre as relações entre a fala
e a escrita. Ao exercer atividade metalinguística a criança tem condições de
perceber várias propriedades do sistema alfabético. Ao pensar sobre os sons
dentro da palavra, enquanto ela é pronunciada, está desenvolvendo a
consciência fonológica, habilidade importante para a alfabetização e que é um
atributo do cérebro, não aparecendo somente com o desenvolvimento
biológico, dependendo assim das oportunidades oferecidas para que faça esta
reflexão. Atividades lúdicas com este objetivo podem e devem ser propostas
antes do 1º ano, pois o tempo de maturação do cérebro para lidar com sons,
segundo a ciência, inicia-se aos 4 anos.
Consciência fonêmica é a capacidade de fazer a análise mais aprimorada
desses sons dentro da palavra, que pode envolver a sua organização
sequencial, discriminação, intensidade, ritmo, localização, etc. É fundamental
para o sucesso da aprendizagem da leitura e escrita que as crianças tenham
esta capacidade, pois embora nossa fala seja silábica, nossa escrita é
alfabética. Portanto o princípio básico da alfabetização é ter consciência que as
letras representam os sons da fala, ou seja, ter capacidade de fazer a
conversão fonema/grafema. É necessário aprender e ter a consciência do som
27
que cada letra possui e usar este conhecimento para decodificar ou codificar as
palavras. Como já afirmamos anteriormente, não queremos dizer com isso que
alfabetização se restringe a decodificar e codificar, mas esta é uma etapa
fundamental do processo:
Por exemplo, é preciso ouvir e ter consciência de que na palavra /pastel/ o som da letra /S/ está no meio da palavra, enquanto na palavra /sopa/ o mesmo som encontra-se no início.Este conceito pode e deve ser treinado antes do indivíduo ser alfabetizado, uma vez que confere a chave do do princípio alfabético de nossa Língua Portuguesa e também a predição de sucesso de uma alfabetização (JARDINI,2012,p.22).
Consciência fonoarticulatória é ter conhecimento de qual gesto a boca está
articulando enquanto se fala,sendo esta habilidade responsável pela distinção
das articulações dos sons da fala. É a capacidade do indivíduo pensar sobre os
sons relacionando-os aos movimentos que os articuladores fazem para
produzi-los, sendo que além de auxiliar a percepção e produção da fala, facilita
a aprendizagem do sistema de escrita alfabético. Além disso, torna concreto
um processo que é abstrato.Essa consciência é possível de ser adquirida com
treino específico e auxilia muito a aquisição da leitura e escrita, pois se trata de
um método visível, palpável e facilmente reconhecido pelo aprendiz. Como já
citei anteriormente, é o que difere a Metodologia das Boquinhas da proposição
fônica pura de alfabetização e, como consequência, propicia resultados mais
rápidos e eficazes:
Ainda, além de conceder concretude ao processo puramente abstrato, que é o som, o trabalho direto com a articulação das letras propicia treino muscular orofacial, que contribui significativamente para uma fala melhor articulada, mais clara e menos esforço é conferido às pregas vocais, poupando o aparelho fonador de possíveis fadigas e excessos, tão comuns aos educadores. Falar bem e claro previne os distúrbios articulatório e contribui para a higiene vocal, desde os anos iniciais da Educação Infantil, trazendo mais qualidade de vida para educandos e educadores (JARDINI,2012,p 23).
28
CAPÍTULO III
A “METODOLOGIA DAS BOQUINHAS” NO PROCESSO
DE AQUISIÇÃO DA LEITURA E DA ESCRITA
3.1. Pressupostos teóricos
O Método Fonovisuoarticulatório, conhecido como Método das Boquinhas, usa
além das estratégias fônicas (fonema/som) e visuais (grafema/letra), as
articulatórias (articulema/Boquinhas). Seu desenvolvimento foi alicerçado na
Fonoaudiologia em parceria com a Pedagogia, que dá o suporte, sendo
indicado tanto para alfabetizar como para mediar/reabilitar os distúrbios da
leitura e escrita, tendo a fala como o foco da aprendizagem:
Parte das reflexões deste método foi proporcionada pelo contato com o “Programa de Mejoramiento de laCalidad y Equidad de laEducación” (MECE) – “Programa das 900 Escolas”, desenvolvido no Chile desde 1990, indicado pela UNESCO e estendido a outros países (Guttman, 1993). Sua fundamentação encontra-se também nos estudos de Dewey (1938), Vygotsky (1984, 1989), Ferreiro (1986), Watson (1994) (JARDINI, 2010, p.1).
O ponto de partida do ser humano na aquisição de conhecimento reside na
boca, que produz sons (fonemas), que são transformados em fala,nosso meio
de comunicação.Como a criança na idade de alfabetização já domina a fala, a
autora parte dela para nortear a aprendizagem da leitura e escrita.Utiliza a
boca como uma ferramenta concreta para o aluno ver e sentir de fato como se
dá a correspondência entre letra/som ou grafema/fonema, pois o método inclui
o diferencial do articulema. Ela acrescentou os pontos de articulação de cada
letra ao ser pronunciada isoladamente (boquinhas), favorecendo a
compreensão do processo de decodificação por mecanismos concretos e
sinestésicos, isto é, com bases sensoriais.A autora faz uma retrospectiva de
outras metodologias que também têm como base as pistas articulatórias e
fônicas, porém destaca que as mesmas são direcionadas para crianças com
29
alguma perda sensorial e o foco está no movimento da boca (cinestésico ) e
não no sentir (sinestésico), que envolve um conjunto de percepções e
sensações interligadas por processos sensoriais. No seu primeiro livro ela
também considerava como base da aprendizagem o movimento (cinestésico),
mas depois passou a utilizar o termo sinestésico porque percebeu que era
muito mais que apenas observar o movimento que a boca faz quando articula
os fonemas. Na realidade, é usar os sentidos e ter consciência que está
promovendo a conversão fonema –grafema utilizando a boca, através da qual a
criança é desafiada e estimulada a analisar e pensar sobre a língua.A
aquisição da leitura e da escrita passa a ser acessível a qualquer tipo de
aprendiz, de maneira simples e segura, pois basta uma única ferramenta de
trabalho, a boca:
Muitas pesquisas e metodologias para reeducação de surdos foram propostas com bases articulatórias e fônicas, como Fernald (1943); Fernald e Keller (1921) que descrevera um método de decodificação cinestésico, em que a chave da aprendizagem residia no movimento da boca, e usava o traçado das letras aliado aos sons, enfatizando a memória da sequência visual. Hegge, Kirk e Kirk (1936) apresentaram o fono-grafo-vocal; Pittman (1963) o ITA (InitialTeachingAlphabet), e Gilingham e Stillman (1973) o VAK (visual-auditivo-cinestésico), em que há a associação do som ao nome das letras, usado em programas de educação especial para surdos. Mas em todos eles, a conotação pautava-se nas pistas cinestésicas, isto é, o movimento da boca. Essas metodologias tiveram a intenção de complementar a aquisição da leitura e escrita de indivíduos com algum tipo de perda sensorial, geralmente a auditiva, por isso, pistas visuo-cinestésicas.(JARDINI, 2010,p.1).
A autora também destaca e reconhece o resultado e contribuições das
metodologias com bases essencialmente fônicas colocadas em prática tanto no
Brasil como em outros países, mas considera o processo de produção de
fonemas muito abstrato. Esta ideia foi reforçada pelas críticas feitas por
educadores, que consideram sua aplicabilidade difícil em turmas numerosas e
também apresentavam dificuldades para articular os fonemas:
30
Posto isso, e motivados por essas queixas, acrescentamos a este processo abstrato de produção de fonemas – o método fônico puro, os pontos de articulação de cada letra ao ser pronunciada isoladamente (articulemas, ou boquinhas). Desta forma, focalizamos a aprendizagem em uma boca concreta que produz o som, que está inserido dentro de palavras significativas, que por sua vez, estarão imersas em frases e textos. Essa abordagem foi baseada nos princípios da Fonologia Articulatória – FAR, que preconiza a unidade fonético-fonológica, por excelência, o gesto articulatório (Browman e Goldstein, 1986, 1990; Albano, 2001) como a unidade mínima de fala. Assim, o Método das Boquinhas é multissensorial, oralista, fônico e articulatório (JARDINI,2010,p.2).
Capovilla (2009) também realizou estudos com surdos e ouvintes sobre a
questão dos visemas, que seriam as formas visuais da face no momento da
produção dos articulemas, mas tomando como base o movimento. Um visema
mais um fonema formaria um lalema:
A alfabetização tende a estabelecer um código-matriz de
correspondências entre visemas e fonemas e lalemas e grafemas, que servirá de base para o exercício das habilidades de manipulação do código, para codificação e decodificação. Dando continuidade às pesquisas, referem que o mesmo processo acontece nos ouvintes, abrindo precedentes para que as escolas se conscientizem da importância do trabalho com a manipulação dos fonemas durante a alfabetização. (JARDINI apud CAPOVILLA, 2010,p.3)
Segundo a autora Renata Jardini (2010) a partir da tomada de consciência
deste código-matriz, “Boquinhas” torna-se um método oralista de alfabetização
que possibilita e facilita o processo, além de fortalecer a correta articulação
dos fonemas e desta forma prevenir problemas futuros.
Também as novas descobertas e conhecimentos advindos das Neurociências
vieram confirmar que a metodologia das Boquinhas, justamente por ser
multissensorial e fonovisuoarticulatória, atua no córtex cerebral e pré- frontal, já
que a área de Broca fica situada nesta região, sendo responsável pela
articulação das letras:
31
E atualmente já temos comprovações científicas, em neuroimagem, de que o que tem acesso pela via fonológica, (loop ou caminho fonológico – córtex cerebral) – e compõe a memória de curto prazo, se consolida e é resgatada para a memória de longa duração, pelo uso da rota articulatória ,pela boca (loop ou caminho articulatório – córtex pré-frontal) (JARDINI, 2010,p.12).
Dehaene (2012) no livro “Os Neurônios da Leitura” apresenta uma visão
atual de um cérebro e suas partes envolvidas no processo de leitura,
mostrando que temos ativadas as entradas visuais, auditivas e também
relativas à articulação ou pronúncia da palavra/letra lida. Cada parte de
nosso cérebro é dividido em regiões e cada uma tem seu papel na
plasticidade neural:
Fonte: “Os neurônios da Leitura” Dahaene, 2012
Por isso, é importante estimular várias áreas e utilizar diferentes canais
sensoriais,comprovando então a importância do uso de uma metodologia
32
multissensorial que estimule ao mesmo tempo várias áreas do cérebro. A partir
deste conhecimento o professor precisa rever sua prática pedagógica, planejando
sua intervenção de modo a desafiar o aluno a pensar e a utilizar rotas visuais,
auditivas, táteis, o que vai favorecer a aprendizagem. Ao adquirir novos
conhecimentos, os professores podem promover novos recursos de ensino e
aprendizagem. Neste sentido, o Método das Boquinhas é uma possibilidade de
mudança, pois trata-se de um método que atende aos preceitos das
neurociências, que confirmam que a articulação provoca a ativação da área
pré-frontal do cérebro, responsável por transformar a memória de curto prazo
em memória de longo prazo, promovendo o armazenamento do conteúdo
aprendido.
3.2 Descrição dos articulemas e fonemas e seu uso em
Boquinhas
Na metodologia fonovisuoarticulatória, o que dá suporte para a fixação da
correspondência entre fonemas/grafemas/articulemas são as fotos dos pontos
articulatórios (boquinhas) dos fonemas da Língua Portuguesa, que devem ser
trabalhados de forma sinestésica (sentir), visual (espelho) e auditiva, tanto
pelos professores como pelos alunos.Importante ressaltar que ela utiliza uma
tabela simplificada dos pontos articulatórios dos fonemas da Língua
Portuguesa, baseado em uma descrição facial que leva em consideração
somente os movimentos de língua e posições labiais, excluindo as percepção
sonoras (oclusão, tonicidade, fricação, constrição, e outras), que um
fonoaudiólogo e/ou linguista levariam em conta. Também não são utilizados os
caracteres representativos do alfabeto fonético internacional (IFA), sendo
usadas barras / / para exemplificar tanto fonemas, como grafemas e palavras.O
uso desta tabela simplificada tem o propósito de ser facilmente compreendida e
utilizada em sala de aula, tanto pelo professor como pelo aluno. Para se
alfabetizar é imprescindível que a criança compreenda a relação
fonema/grafema, que deve ser focalizado em algum momento de todo e
qualquer método de alfabetização. A autora Renata Jardini ressalta que é
33
fundamental que seja explicitado para as crianças que as letras têm nomes,
sons e bocas e para ler nós não usamos os nomes das letras e sim os sons e
bocas. A autora cita o seguinte exemplo: eu leio /lata/ e não /éle-a-te-a.
DESCRIÇÃO DOS ARTICULEMAS
FONEMAS(Som) ARTICULEMA ( Boquinhas) GRAFEMA(Letra)
/a/ Boca bem aberta, mostrando-se os dentes.Sonoro
A
/e/ Boca entreaberta.Sonoro. E
/i/ Dentes à mostra, lábios esticados.Sonoro.
I
/o/ Boca entreaberta, lábios arredondados. Sonoro.
O
/u/ Boca semifechada, lábios em bico. Sonoro.
U
/b/ Lábios fechados, som explosivo - vibração, sonoro.
B
/k/ Boca entreaberta, som brusco na garganta - sem vibração, surdo.
CA,CO,CU,QUE,QUA,K
/d/ Boca semifechada, a língua toca rapidamente os dentes superiores - Vibração. Sonoro.
D
/f/ Dentes superiores tocam o lábio inferior, soltando o ar - sem vibração, surdo.
F
/g/ Boca entreaberta, som brusco na garganta - com vibração, sonoro.
GA, GO, GU,
GUE,GUI,GUA
/j/ Lábios em bico, língua elevada ou retraída - com vibração, sonoro.
JA,JE,JI,JO,JU,GE,GI
/l/ Boca aberta, a língua toca atrás dos dentes superiores, sonoro.
L
34
Fonte: www.metododasboquinhas.com.br
Com isso não proibimos que o alfabeto seja ensinado ou treinado, apenas salientamos que o treino abusivo dos nomes das letras, em detrimento de seus sons, tem consequências graves no processo de aquisição da leitura e escrita, como vemos nos exemplos de escritas: /pacarinho/ no lugar de /passarinho/; /halinha/ no lugar de /galinha/; /gato/ no lugar de /jato/, em que se escreve usando como referência o nome da letra no lugar de seu som. Também o educador certamente conhece alunos que sabem todas as letras de cor, e que lêem /ésse, o, éfe, a/ sem efetivamente ler /sofá/, ou seja, falam o nome das letras sem conseguir efetivamente ler sofá... Infelizmente esse saber ler, como ainda muitos pais e educadores insistem em defender como processo de
/m/ Boca fechada, som nasal, sonoro. M
/n/ Boca aberta, língua atrás dos dentes superiores, som nasal, sonoro.
N
/p/ Boca fechada, som explosivo - sem vibração, surdo.
P
/rr/, /R/ Boca entreaberta, garganta raspada, sonoro.
R,ARRA
/r/ Boca entreaberta, língua toca uma vez o céu da boca, mais ao fundo.
AR,ARA
/s/ Dentes à mostra, lábios esticados, sopro contínuo, língua toca os dentes inferiores - sem vibração, surdo.
SA,SE,SI,SO,SU,ÇA,ÇO,
ÇU,SS,CE,CI
/t/ Boca semi-fechada, língua toca rapidamente atrás dos dentes superiores - sem vibração. surdo.
T
/v/ Dentes superiores tocam o lábio inferior, soltando o ar - com vibração, sonoro.
V,W
/x/ Lábios em bico, língua elevada ou retraída - sem vibração, surdo.
X,CH
/z/ Dentes à mostra, lábios esticados, sopro contínuo, língua toca os dentes inferiores - com vibração, sonoro.
Z,ASA
alfso
Como podemos observ
famílias silábicas devem
fonema (som) e o artic
mas necessariamente
sílabas /que/ e/qui/, pe
apresentadas ao mesm
mesma boca, embora
aprendizagem torna-
regularidade e constânc
mupa/cedepaed/cilugcri20
alfabetização, tem trazido bem mais prosoluções. (JARDINI, 2010,p.2).
bservar na tabela acima, na Metodologia da
devem ser apresentadas fazendo sempre a
articulema (boquinha), ou seja, mesmo som
ente não será a mesma letra. Vemos por e
ui/, pertencem à família silábica /ca, co, cu
mesmo tempo porque têm o mesmo ponto d
bora ortograficamente sejam diferentes. Segu
-se mais segura porque a criança tem
nstância de um som e uma boca:
Essa proposta metodológica vem causanmuito desconforto e resistência, pois esparadigmatizado nos educadores o famoso ja/ce-ci/; bem como /ga-go-gu/; /ge-gi/, em devem apenas memorizar suas irregularidpalpável para garantir a aprendizagem. educador experiente já se deparou com cria/cibe/ no lugar de /quibe/, ou a famosa /aulalugar de /português/, provas cabais descristalizadas pelo efeito da ensinagem ins2010,p.4).
35
s problemas do que
das Boquinhas as
pre a relação entre o
o som, mesma boca,
por exemplo que as
co, cu/ e devem ser
nto de articulação, a
. Segundo a autora,a
a tem o apoio da
ausando, a princípio, is está arraigado e oso jargão /ca-co- cu/; em que as crianças ularidades, sem algo em. Certamente um
m crianças registrando /aula de portugês/, no dessas dificuldades
m insegura( JARDINI,
36
Com relação ao fato da metodologia apresentar ao mesmo tempo todos os
grafemas que possuem o mesmo fonema e articulema, a autora afirma que a
primeira vista parece difícil para o professor que está acostumado com formas
tradicionais de alfabetização, mas na prática constatará que o apoio concreto
das semelhanças na sonoridade (fonema) e na articulação (articulemas)
ajudarão ao aprendiz na compreensão e memorização visual das diferenças
ortográficas.
Observando o quadro com as fotos das boquinhas apresentado acima, vamos
perceber que temos articulemas iguais sendo que a diferença entre um e outro
está na sonoridade, ou seja, na vibração provocada pelas cordas vocais
quando pronunciamos determinados sons sonoros (/b/,/d/, /g/, /j/, /v/, /z/ e suas
variantes ortográficas).Eles têm o mesmo ponto de articulação, ou seja, a
mesma boquinha de seus oponentes surdos, ou seja, os que não apresentam
vibração das cordas vocais (/p/, /t/, /k/, /x/, /f/, /s/, respectivamente e suas
variantes ortográficas). A percepção da presença ou ausência de sonoridade é
registrada concretamente nas fotos das boquinhas com a colocação da mão
abaixo do queixo nos articulemas dos sons sonoros, representando de forma
concreta como os alunos são levados a sentir a vibração das cordas vocais. Já
nos articulemas dos fonemas opostos surdos, não há a colocação da mão
justamente porque não ocorre vibração.Outra explicação interessante que a
autora apresenta é com relação ao uso de /m/ antes de /p/ e /b/:
Outro exemplo para que o leitor compreenda de início a funcionalidade da ferramenta Boquinhas é a explicação para a ocorrência exclusive de /m/ antes de /p/ e /b/, como nos exemplos /campo/, /tombo/, em contraparte da consoante /n/ antes de todas as outras letras (exceto /p/ e /b/), como nos exemplos /entra/, /ensino/, /canta/. O que antigamente se caracterizava como uma regra ortográfica, que deveria ser memorizada e aceita arbitrariamente, hoje se sabe tratar-se de uma ocorrência articulatória, posto que as consoantes /p/ e /b/ bilabiais, “pedem” a nasal antecedente /m/, também bilabial, uma vez que são as únicas três letras bilabiais de nosso alfabeto (Jardini, 2010, p.5).
Na simples observação dos padrões articulatórios nas fotos das boquinhas,
37
vamos entender que o uso desta ferramenta também vai ajudar ao aluno a
perceber e entender que deve usar o /m/ antes de /p/ e /b/ , já que os três são
os únicos bilabiais.O /m/ apresenta-se na foto com três dedos apoiados no
rosto, sendo que o dedo intermediário destaca o fechamento dos lábios, ou
seja, bilabial.
3.3. Os passos da alfabetização com Boquinhas
A autora destaca que seu objetivo ao apresentar os passos da alfabetização
com boquinhas não é dar uma receita pronta mas sim oferecer um
embasamento teórico, possibilitando ao alfabetizador compreender a proposta
e sua aplicabilidade e a partir deste entendimento, desenvolvê-la de acordo
com suas necessidades, recursos e possibilidades, enriquecendo o processo.A
metodologia inicia apresentando as vogais, trabalhadas sempre utilizando
simultaneamente as relações fonema, grafema e articulema (som,letra e
boquinha),levando o aprendiz a refletir sobre as vogais dentro das palavras, de
modo que possa reconhecê-las auditivamente e na sequência que aparecem
nas mesmas. ”Compreender o uso das vogais dentro das palavras é adquirir a
etapa silábica de leitura e escrita, segundo Ferreiro (1985), etapa essa, que
configura a compreensão da consciência fonêmica” (JARDINI 2010).
A autora apresenta como justificativa para a facilidade da aprendizagem das
vogais apresentadas desta forma,o fato delas aparecerem em todas as sílabas
e também porque seus nomes correspondem aos sons que elas fazem nas
palavras, o que não acontece com as consoantes.Ela sugere que o professor
utilize neste trabalho qualquer palavra dentro do interesse da turma ou
associado a um contexto e também os nomes das crianças,sempre partindo do
fonema e articulema das vogais, ouvindo-as e não apenas copiando do quadro.
Com as vogais assimiladas, a metodologia passa para a apresentação das
consoantes que formarão sílabas simples porém ressaltamos que a família
silábica deve ser compreendida através do apoio articulatório de que a boca /L/
se junta a boca /A/ formando /LA/, ou seja, duas bocas,dois sons e duas
letras.Já estamos portanto provocando conflito para a mudança da hipótese
38
silábica para a hipótese silábica-alfabética:
Mas que fique muito claro que Boquinhas não é uma metodologia silábica como muitas proposições que apenas dão cara nova para os antigos /bê mais A = BA/. E também não pense que fonematizando /f com A = FA/ muda alguma coisa!! Entenda-se que quando o processo é pautado na boca, no articulema, essa decoreba deixa de existir, pois se fala /LA/ dentro de uma palavra qualquer que a possua, como /LATA/, /BALA/. E esse /LA/ é contínuo, sem a junção de /L/ + /A/, ou /L/ com /A/. Apenas /LA/, unido, pronunciado pausadamente cada consoante, para que se perceba que são duas articulações. Caso você esteja resistente a compreender que estamos falando de duas bocas, duas articulações, recomendamos que experimente falar /LA/ sem erguer a língua. O que sairá? Pois é, sairá /A/, o que prova a evidente presença do gesto articulatório, que necessariamente, faz a língua subir(JARDINI,2010,p.2).
A ordem de apresentação das consoantes recomendada pela autora é baseada
na posição articulatória das letras, iniciando de um grau de dificuldade da
menor para a maior,evitando assim semelhanças entre letras que podem
suscitar trocas fonêmicas.“Boquinhas” pode ser utilizada também como uma
técnica ou ferramenta de trabalho e, neste caso, pode ser alterada a sequência
de apresentação das letras, porém se utilizarmos a ordem alfabética vamos, já
na segunda consoante nos deparar com a letra C, que pode representar dois
fonemas diferentes ( ⁄k ⁄ e ⁄ s ⁄ ) e também possui grafemas diferentes para o
mesmo fonema ( ⁄ c ⁄ e ⁄ q ⁄ ), o que vai trazer uma dificuldade logo no início
do processo de alfabetização. Além desta questão, a metodologia em estudo já
tem seus resultados comprovados e aprovados pelo MEC e se a sequência
sugerida não é utilizada, o tempo de alfabetização pode ser mais demorado.
Recomenda-se apresentar as consoantes na seguinte sequência, sempre uma de cada vez, só introduzindo a seguinte, após domínio da anterior: /L/, /P/, /V/, /T/, /M/, /B/, /N/, /F/, /D/. Depois /C/ (ca-que-qui-co-cu, qua), /R/ inicial, e /RR/ (entre vogais), /G/ (ga- gue-gui-go-gu, gua), /r/ fraco (entre vogais), /J/ (ja-je-ge-ji-gi-jo-ju), /S/ inicial; /SS/ (entre vogais); /CE-CI/ e /Ç/, /X/; /CH/, /Z/; /S/ (entre vogais). Posteriormente introduz-se os arquifonemas (consoantes intercaladas) /ar/, /as/, /an/, /am/, /al/ , depois os dígrafos /NH/, /LH/. Por último os grupos consonantais /R/ e /L/ (JARDINI,2010,p.2)
Na metodologia das Boquinhas o ensino da escrita acontece ao mesmo tempo
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que a aquisição da leitura, porém a ênfase maior é na leitura porque a autora
acredita que a aprendizagem da leitura na língua portuguesa é mais fácil que
da escrita:
Coadunando Santos e Navas (2002) ao referirem que a dissociação entre fonema/grafema em relação à transparência facilita com que a leitura seja mais facilmente aprendida do que a escrita. Assim, na proposta aqui apresentada, a escrita é vista como um meio de expressão do conteúdo adquirido e deve ser treinada para fixação do grafema e sua orientação espacial, e vai, paulatinamente, sendo internalizada. Muitas são as formas deste treino, como escrever-se com os dedos no ar, na mesa, na parede, com e sem o apoio visual, lousa, cadernos variados, areia, cola, fios, usar letras prontas para montarem palavras, escrever no computador, tinta invisível, etc. (Jardini, 2010, p.3)
Com o objetivo de focar o trabalho inicialmente na conversão grafema-fonema
e tomando como base a ontogênese da escrita,com relação ao tipo de letra a
autora recomenda o uso da letra de forma maiúscula caixa alta na Educação
Infantil. Já no ensino fundamental sugere iniciar com a de forma maiúscula
caixa alta e a minúscula manuscrita até a letra /t/, quarta consoante a ser
apresentada. Depois disso, são apresentados os quatro tipos de letras:
maiúscula e imprensa minúscula e manuscrita maiúscula e minúscula. Mas
ressalta que esta opção é flexível e vai depender da análise de cada turma.A
autora sugere também que para crianças que apresentam dificuldade em
memória espacial e por conta disso apresentam dificuldades em grafar as
letras, que seja usado o apoio oral enquanto faz a letra em questão, como por
exemplo com relação a Letra /A/ fala-se: sobe, desce, corta.
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CONCLUSÃO
A procura pelo curso de pós-graduação em Psicopedagogia Institucional e mais
especificamente a escolha do tema da monografia estão intimamente ligados a
minha prática profissional, primeiramente como professora e atualmente como
orientadora pedagógica. Os principais problemas enfrentados por nós
educadores nas escolas, nos dias atuais, são as dificuldades de aprendizagem
e a indisciplina, que muitas vezes tem sua origem no primeiro problema citado
e nas metodologias utilizadas. Por este motivo se torna cada vez mais
importante e vital a presença do psicopedagogo na escola, que tem a função
de prevenção frente as dificuldades de aprendizagem, procurando criar
competências e habilidades para superação dos problemas identificados.A
psicopedagogia surgiu justamente da necessidade de se compreender melhor
o processo de ensino-aprendizagem, refletir sobre a prática pedagógica e a
instituição escolar como um todo, procurando alcançar resultados cada vez
mais satisfatórios. Esta postura crítica com relação ao trabalho desenvolvido é
a força que nos faz estar aberta para o novo, disposta a correr riscos,
procurando sempre formas de melhorar nossa prática.
O foco central desta pesquisa foi especificamente as dificuldades de
aprendizagem na alfabetização e vimos a importância da atuação do
psicopedagogo com relação a esta questão, que envolve questões
metodológicas, onde no Brasil ainda não existe consenso entre os
teóricos.Toda prática pedagógica está fundamentada em uma teoria. Por isso,
a importância de estarmos constantemente refletindo sobre nossa atuação para
que desta forma possamos reformular nosso trabalho, conseguindo assim obter
resultados significativos.Por isso a pesquisa foi organizada apresentando
primeiramente os fundamentos de como a criança aprende a ler e escrever
para só depois abordarmos a metodologia propriamente dita. Infelizmente
muitos professores ainda resistem e mantém em sua prática ideias
ultrapassadas e métodos equivocados. Embora conheçam e concordem com
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teorias atuais comprovadas cientificamente e novas metodologias, não
conseguem mudar sua prática, que ainda é tradicional e superada,
Nós precisamos de educadores que conheçam perfeitamente como funciona o
sistema de escrita alfabética e quais as estratégias que devem ser utilizadas
para a apropriação do mesmo pela criança. Necessitamos de professores
capacitados aliados a bons materiais e boas metodologias de alfabetização.A
solução está na junção entre capacitações e boas metodologias para gerar
resultados eficazes.E a atuação do psicopedagogo é fundamental para
alcançarmos este objetivo.
Consideramos que a metodologia fonovisuoarticulatória favorece a
aprendizagem porque torna explícito para o aluno que ao escrevermos e
lermos nós usamos os sons das letras e não os seus nomes e faz isso apoiado
na forma como articulamos estes fonemas dentro das palavras que
falamos,tornando concreto estes sons. Desta forma a criança sente-se mais
segura, pois tem como acertar ou corrigir seus erros sozinha, usando para isso
sua própria boca, o que lhe dá mais segurança e consequentemente contribui
para sua autoestima.Com relação ao professor, o prazer vem do conhecimento de
saber o que fazer e porque fazer desta forma e principalmente por alcançar
resultados positivos, vendo seus alunos não só aprenderem como conquistarem
dia a dia mais autonomia, passando a serem autores do seu processo de
aprendizagem.Por sua vez, a criança encara a aprendizagem realizada desta
forma também como uma brincadeira, o que faz com que se envolva mais, pois o
prazer favorece a aprendizagem.Boquinhas apresenta-se como uma
metodologia capaz de consolidar a leitura e a escrita de maneira segura e
eficaz.
Na escola em que atuo estamos utilizando esta metodologia com bons resultados,
o que nos aponta para outra pesquisa, no caso agora para comprovarmos na
prática sua eficácia frente a outras metodologias.
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