uma historia verde do mundo

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  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    1/42

    l

    r

    ClivePonting

    UM

    HISTORI VERDE

    O MUNDO

    Traduo de

    na

    Zelma

    Campos

    civilizao

    brasileira

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    2/42

    Noventa eNovepo r ento

    da

    Histria Humana

    Com

    exceo

    dos

    ltimos poucos milnios

    de

    seus

    doism i-

    lhes

    de anos de existncia os

    seres

    humanos obtiveram

    sua

    subsistncia

    atravs de uma combinao defatores

    tais

    como

    o acmulo de gneros alimentcios e a caa de ani-

    mais.

    Em

    quase todos

    o s

    casos

    as

    pessoas viviam

    em

    grupos

    pequenos

    e

    nmades.

    Sem a

    menor

    dvida

    esse

    foi o

    meio

    de vida mais

    flexvel

    e bem -sucedido j

    adotadopelos

    seres

    humanos

    o que menos

    males causou

    aos ecossistemas

    naturais.

    O

    nomadismo

    deu aoshumanosapossibilidade

    de se espalharem por todo s os ecossistemas terrestres e a de

    sobreviverem no somente em reas

    favorveis

    co m

    fcil

    obteno

    de

    alimentos

    m as

    tambm

    nas

    condies rigoro-

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    3/42

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    4/42

    sobrevivem de

    colheita

    e caa,

    forneceram

    u m a

    viso fas-

    cinante

    de

    como

    os

    seres

    humanos

    viveramdurante

    a

    maior

    parte de sua

    histria

    e

    como estavam integrados

    no

    meio

    ambiente.

    Esses estudos enfatizaram

    o

    meio relativamente

    fcil

    pelo

    qua l

    poder ia

    se r

    extrado

    o

    alimento suficiente

    do

    que teria

    sido

    u m

    ecossistema muito m ais produtivo

    do que

    os

    que so

    atuamente ocupados

    por

    esses mesmos

    grupos.

    Paralelamente

    a

    essas descobertas, houv e

    um a

    revoluo

    no

    pensamento arqueolgicoe nas tcnicasdeinvestigao do s

    vestgiosdos seres humanos primitivos. Em lugar de coletar

    grandes nmeros de instrum entos de pedra e tentarclassifi-

    c-los

    dentro de

    culturas tendo como

    base as

    diferenas

    marginais ,

    na forma pela qualforam feitosoupela compara-

    o

    dos diferentes tipos de instrumentos encontrados em

    locais diferentes, os arquelogos resolveram adotar urna

    abordagem mui to mais

    sofisticada.

    Nesse caso, a nfase

    dada

    tentativa

    de

    compreenso,

    usando

    frequentemente

    grupos contem porneos como exemplos, que instrumentos

    lhes

    seriam

    apropriados,

    qu e

    atividades eram realizadas

    nos

    diferentes locais,

    comoo s grupos humanos exploravams eu

    meio

    ambiente

    de

    formas

    diferentes

    para obter alimento

    e

    como

    seus deslocamentos

    sazonais estavam

    integrados nesse

    padroabsoluto.

    O q ue surge dessas novas abordagens uma viso mui-

    to mais positiva dos gru pos que vivem da colheita e da caa.

    No

    geral,

    os

    colhedores

    e

    caadores

    n o

    vivem

    sob a

    ameaa

    constante

    de

    morrer

    de

    fome. Pelo

    contrrio,

    eles seguem

    um a dieta

    adequada

    nutr icionalmente,

    selecionada

    de um

    grande crculo

    de

    recursos alimentares disponveis.

    Essa

    grande variedade alimentar

    ,

    normalmente, somente

    um a

    p e q u e na

    proporo

    da

    quantidade total

    d e

    alimento dispo-

    nvel

    no

    meio ambiente.

    Conseguir

    a

    comida

    e

    outras

    formas

    de

    trabalho ocupa somente

    um a

    pequena parte

    do

    dia, dei-

    xando

    uma grande quantidade de tem po livre para o lazer e

    para asatividades cerimoniais.Am aioriad os grupos sobre-

    48

    vive

    com

    muito poucos recursos,

    porque

    suas necessidades

    so poucas e urna

    quantidade

    extra desses mesm os bens seria

    um estorvo para a sua forma nmade de vida. I tens como

    ferramentas de

    caa

    e

    utenslios para cozinhar no

    tm o

    menorvalor,porque podem

    ser

    facilmentesubstituveis

    por

    materiais

    disponveis

    no

    local.

    O

    padro

    de

    vida variaduran-

    teo

    ano,

    dependendoda

    disponibilidade sazonal

    dos dife-

    rentes tipos

    de

    alimentos. Vivem,

    na

    maior parte

    do

    tempo,

    em

    pequenos grupos

    de

    mais

    ou

    menos

    25 ou 30

    pessoas,

    juntando-se em

    grupos

    maiores

    para

    a

    prtica

    de rituais,

    casamento

    e

    outras atividades sociais,

    no

    mo m e n to

    em que

    as

    fon tes alimentares permitem

    a

    reunio

    de umgrupo

    maior

    de

    pessoas

    em um

    mesmo lugar. Dentro

    do

    grupo

    no

    existe

    o

    conceito

    d e

    propriedade

    em

    relao

    ao s

    alimentos,

    qu e so

    encarados como

    disponveisatodos.N o

    existe

    a

    estocagem

    dos alimentos,

    porque isso interferiria

    na

    mobilidade

    do

    gru-

    po

    e

    porque

    sua

    experincia

    ensina quealguns alimentos

    estaro sempre disponveis, mesmo quando ocasionalmente

    certos itens estejam

    em

    falta.

    Os boximanesdo sudoeste da frica ilustrama facilida- J

    de que

    esses grupos

    de

    colheita

    e

    caa possuem

    na

    obteno

    de

    alimento suficiente.Opratofortede sua

    dieta

    a noz do

    mongongo, altamente nutritiva, obtida

    de uma

    rvore

    que

    resiste muito bem s secas. uma fonte alimentcia muito

    segura,

    que se

    mantm

    por

    mais

    de um

    ano. Contm

    5

    vezes

    as calorias

    e 10

    vezes

    a

    quantidade

    de

    protena

    de uma

    quan-

    tidade equivalente de

    cereais

    e

    250g

    (aproximadamente 300

    nozes

    tm a

    mesma quantidade

    de

    calorias

    de

    1.250g

    de

    arroz cozido e as protenas de quase 500g de carne de vaca,

    Alm

    disso,

    existem

    84

    espcies difere ntes

    de

    plantas

    alimen-

    tcias,

    enquanto que os boximanes normalmente usam so-

    mente 23delas.

    Existem

    54espciesde

    animais comestveis

    e

    somente

    17 so

    caados regularmente. Comparada

    com os

    nveis recomendados

    de

    nutrio m oderna,

    a

    dieta

    dos

    boxi-

    manes

    mais

    do que

    adequada:

    o

    consumo

    de

    calorias

    mais

    49

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    5/42

    elevado, o deprotenas de um teroamaise noexistem

    ne m sinaisdedoenas causadas po r deficincia alimentar.A

    quan tidade do esforo necessrio para a obteno desses ali-

    mentos no muitogrande em

    mdia,

    dois dias e meio

    por

    semana.

    O

    trabalho envolvido m antm-se estvel

    ao

    lon-

    go do ano (diferentementedaagricultura)eexceto pela poca

    do

    auge

    d a

    estao

    seca, a

    busca

    do

    alimento raramente exige

    viagens

    d e

    mais

    d e

    9km

    po r

    dia. M ulheres

    e

    homens devotam

    a

    mesma

    quant idade

    d e tempo para obterosalimentos, m as

    asmulheres,

    que so

    responsveis pela colheita, coletam duas

    vezes mais alimentos

    do que os

    homens conseguem caar.

    A s

    mulheres geralmente trabalham

    de uma a

    trs horas

    por dia

    epassam

    o

    resto

    do

    tempo

    em atividades de

    lazer.

    A

    caa,

    qu e

    realizada pelos

    homens,

    mais

    intermitente,

    envolvendo

    talvez

    um a

    semana

    de

    caadas, seguida

    por duas ou

    trs

    semanas

    de

    ausncia

    total de atividade.

    Aproximadamente

    40 por

    cento

    do

    grupo

    no

    representa qualquer papel

    na

    obteno

    de

    comida.

    Um a

    entre

    de z

    pessoas

    te m

    mais

    de

    sessenta anos

    e

    tratada como mem bro respeitado

    do

    grupo

    e no seesperaque osjovens cacem antes de secasar,o que

    acontece ao svinteanosparaasmulheres e vinte ecinco para

    oshomens.O s mesmos padres foram encontrados entre os

    Hadzad africaorientale o saborginesdaA ustrlia.

    Todos esses grupos foram empurrados para reas de

    subsistncia marginal e,portanto,podemos supor que, quan-

    do grupos semelhantes podiamviveremlugaresondeexis-

    tiam fo ntes mais abundantes, acolheita teria sido m uito mais

    fcil.Na verdade, muitos grupos contemporneos deixam de

    perceber as atraes da agricultura, com sua carga muito

    maior

    detrabalho.

    Como disse

    um boximano a um

    antrop-

    logo,

    Por que deveramos plantar quando existem tantas

    nozesd emongongo pelomundo? Otempod elazermuito

    valorizado, osboximanespreferem-no a aumentar suas fon-

    tes de

    suprimentos (que

    j so

    mais

    do que

    suficientes)

    ou em

    produz ir

    mais bens materiais (que

    podem ser um

    estorvo).

    50

    Noincio deste sculo,atribo SianedaNova G uin resolveu

    adotar machados modernos de ao em lugar de seus tradi-

    cionais instrum entos

    de

    pedra. Isso reduz iu

    a

    quant idade

    de

    tempo necessrio para

    a

    proviso

    de um

    nvel adequado

    de

    subsistncia em um tero.O novo tempo extrano foiutili-

    zado para aume ntar a produo, mas dedicado s cerim-

    nias, lazer e opera es militares. De forma semelhante , no

    Brasildo sculo dezesseis, os portugueses descobriram que

    as

    tribos indgenas, se no

    fossem

    escravizadas, rabalhariam

    somente at ganhar o

    suficiente

    p ara comprar ferram entas

    de metal e depois queriam

    usufruir

    do seu lazer.

    Geralmente,os grupo s de colheita e de caa vivem prin-

    cipalmente da colheita. Acaa uma atividadedifcile arris-

    cada, com poucas recompensas peridicas, na melhor das

    hipteses. Estudos sobre os principais carnvoros em ecossis-

    temas

    (cujo papel o homem est tentando adotar quando

    caa)demonstram que eles s conseguem mata r uma vez em

    cada dez tentativas. Os seres humanos, m esmo quando tm

    alguma a juda da tecnologia, esto muito menos adap tados a

    essa funo do que os lees ou os tigres e tm possibilidades

    ainda menores de conseguir mesmo os nveis menores de

    sucesso. Nos grupos p rimitivos que sobreviviam da colheita

    e

    d a

    caa,

    q ue

    operavam

    co m

    lanas razoavelmente primiti-

    vas, alm

    do s

    arcos

    e das

    flechas,

    provve l

    que a

    m aior parte

    da carnede suadietatenhavindoderestosdeanimais caa-

    dos por outros predadores. Nas regies equatoriaise tropi-

    cais,

    a

    caa raram ente contribui

    co m

    mais

    de um

    tero

    da

    dieta

    d o

    grupo.

    Os

    ecossistemas

    qu e

    ficammaisafastados

    do

    equador so menos prod utivos e, conseqentemente, a plan-

    tao

    disponvel parasuaalimenta o precisasersuplemen-

    tada frequentemen te, a travs

    da

    tarefa

    q ue

    consome

    um

    tem-

    po muito maior, a pesca. Os grandes pastos apresen tam

    prob lemasmaiores para esses grupos conseguirem achar ali-

    mentos, por causa da ausncia de uma vegetao adequada

    para o consumo humano, acrescida da dificuldade emcaar

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

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    os grandes rebanhosde animais de pasto.A

    caa

    apresenta

    um fa torp reponderantena a limentao somente na s regies

    Articas com suaquase qu etotalfalta de vegetao adequada

    para o consumo humano. No nada

    fcil

    encontrar alimen-

    tos em quantidades

    suficientes

    nessas regiese a sobrevivn-

    cia

    exige muita habilidade e

    esforo

    para que os recursos

    limitados disponveis possam s er usados.

    Para

    obter

    a

    subsistncia necessria

    os

    grupos

    de co-

    lheita e de caa

    dependem

    de um

    conhecimento profundo

    de

    suas regies

    e em particular de um

    conhecimento

    dos

    tipos de alimentos qu e

    estaro

    disponveis em d i fe ren teslu -

    gares

    e

    pocas

    do

    ano.

    Seu

    modo

    de

    vida gira

    em torno das

    grandes

    mudanas sazonais

    n os

    mtodos

    d e

    subsistncia

    e

    os

    padres

    da

    organizao social

    s o

    integrados

    a

    essas

    mu-

    danas .

    Povos contem porneos qu e a in da vivemda colheita

    e

    d a caa

    i lus t r am mais

    um a vez

    como

    os

    grupos histricos

    teriam

    se

    adaptado

    s

    suas condies par ticulares.

    Os boxi-

    manes do

    sudoeste

    da frica

    vivem

    em um

    meio ambiente

    relat ivamente

    homogneo mudando-se umas c inco

    ou

    seis

    vezes p o r

    ano

    mas

    nunca

    viajando

    alm

    de

    quinze

    o u

    vinte

    quilmetros de

    cada vez

    fazendo

    viagens mais longas

    s o-

    mente

    e m

    ocasies

    sociais tais

    como

    os

    casamentos.

    Os

    abo-

    rginesG idjingali do

    nor te

    da

    Austrlia

    tm um

    ciclo sazon al

    de

    explorao

    ntido

    e

    variado.

    Na

    estao

    mida,quandoos

    pntanos

    esto cheios eles

    se

    alimentam

    de

    nenfa res

    o s

    caules

    so

    comidos

    crus as

    sementes

    s o t ransformadas em

    bolosn o f e rmentados e o s bulbos so cozidos.No incio da

    estao seca mudam-se para uma regio onde podem se r

    encontrados grandes inhames poiso s tubrculosso fceis

    de seacharnessa poca do ano

    quando

    asgavinhas ainda

    esto

    verdes Mais tarde mudam -se para

    os

    limites

    da s

    terras

    midas onde os homens

    caam

    gansos e as mulheres arran-

    ca m

    espigasde milho.No auge da esta o seca asubsistncia

    depende de nozes da cicadcie que apesar de

    difceis

    de

    serem p reparadas s o muito abundantes podendo sustentar

    52

    grandes grupos

    de

    pessoas

    que as

    colhem ju ntasduranteesse

    perodo para

    os

    cerimoniais

    e

    acontecimentos religiosos

    e

    sociais.

    S existe um pequeno perodo de escassez real de

    alimentos

    o que

    acontece antes

    da

    estao chuvosa

    e

    quando

    a subsistncia

    depende de

    razes

    e

    plantas menos favo-

    recidas. .

    Um exemplo de

    fo rma

    extrema de adapta o a um

    meio

    ambien te agreste que influencia todas as form as de

    vida

    eco-

    nmica

    e social forn ecido pelos

    Netsiliklnuit,

    que vivem ao

    norte

    e a

    oeste

    daBaado

    Hudson

    no

    Canad

    e que

    foram

    estudados durante

    os

    anos

    20,

    antes

    que

    tivessem qualquer

    contato real com a tecnologia

    moderna.

    Seumodode

    vida

    dependia

    de uma

    explorao cuidadosa

    de

    cada parte

    de seu

    meio ambiente. As casas e as instalaes para armaze namen -

    to

    eram

    feitas

    de neve e gelo. As roupas os caiaques os trens

    e

    stendas eram

    feitos

    com oplodosanimais caados cujos

    ossos forneciam

    os

    instrumentos

    e as

    armas.

    Osutensliosde

    cozinha

    eram feitos

    depedra.O

    ciclo

    sazonal deatividades

    relativas

    subsistnciaer amuito variado. Duranteo

    inverno,

    os

    Netsilik

    eram totalmente

    dependentesda

    caa

    da foca.U m

    grande nmero

    de

    caadores ficava

    a

    postos

    n os

    numerosos

    buracos feitos no

    gelo pelas

    focas

    para respirar

    Consequen-

    temente era a

    poca

    do ano em que

    imensos

    grupos

    sociais

    juntavam-se emgrandes comunidadesque viviam emiglus

    e que participavam das atividades religiosas e cerimoniais

    mais importantes

    do

    ano.

    Os

    grandes acampamentos

    de in-

    verno fragmentavam-se

    em

    pequenos grupos

    que

    viviam

    em

    tendas a partir de junho quan do era possvel caar as

    focas

    no

    gelo.

    Em

    julho

    os

    grupos mudavam-se para

    o

    interior

    pescavam

    e,

    ocasionalmente,caavam

    o

    caribu.

    Emagosto,

    construam barreiras

    de

    pedras

    nas

    correntezas para reco-

    lher

    um

    abundante suprimento

    de

    salmo

    que se

    movia

    nessa poca

    rio

    acima para desovar

    No

    f inal

    do

    ms junta-

    vam-se

    em

    grandes grupos para

    a atividade

    com unitr ia

    de

    caa em caiaques quando o caribu cruzava os rios para sua

    ./

    53

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    7/42

    migrao anual.

    Em

    outubro, grupos menores

    d e

    inuit pes-

    cavam novamente

    o

    salmo, a ntes

    de

    formarem grandes gru-

    pos

    para

    acaa foca doinverno.Emcadaumadessas fases

    de caa comunitria, existia ainda

    a

    prtica de costumes so -

    ciais para garantir

    qu e

    todos estivessem alimentados

    e que

    jjingum

    sofresse pela falta de sorte ou de habilidade.

    Esses exemplos modernos de grupos de colheita e caa

    no s

    revelam muito sobre

    o

    modo pelo qual

    os

    grupos his-

    tricos teriam

    agido

    no s diversos meios am bientais

    queJia-

    bitavam por todo omundo.Todos osgruposque vivem da

    colheita

    e da

    caa, tanto contemporneos quanto

    histricos,

    parecem

    t er tentadode

    a lguma forma controlar

    a

    quantidade

    dessas pessoas,

    de

    modo

    a no

    exigir demais

    da s fontes de

    seu

    ecossistema. Isto

    foi

    realizado

    atravs de uma

    srie

    de

    procedimentos sociais aceitos

    po r

    todos,

    O

    mais difundido

    deles

    era o

    infanticdio, envolvendo

    a

    matana selecionada

    de

    determinadas categorias, como

    o s

    gmeos,

    os

    incapazes

    e

    uma parte da prole feminina. (Estudos

    feitos

    duran te os anos

    30

    demonstraram que os grupos inuit matavam aproxima-

    damente 40 por cento d as crianas do sexo feminino.) Alm

    disso

    o

    desmame

    prolongado dos

    recm-nascidos possivel-

    mente representou

    um a forma de

    controle

    da

    natalidade,

    assim como

    o

    abandono

    de

    pessoas idosas,

    quando

    estavam

    doentes passandoa ser uma

    carga para

    o

    grupo. D essa

    m a-

    neira

    anecessidadede alimentoe

    conseqentemente

    a

    pres-

    s o feita pelos

    grupos

    de colh eita e

    caa sobre

    se u

    meio

    ambiente eram reduzidas.

    A s

    densidades populacio nais

    ge -

    ralmente eram baixas (embora o s nm eros variassem segun-

    do o tipo de meio ambiente e seu nvel natura l d e produtivi-

    dade).A melhor estimativa da populao total do mundopo r

    volta de 100.000 anos atrs, pouc o antes da adoo da agricul-

    tura

    em

    umas

    poucas regies no ia alm de

    quatro

    milhes

    e,,em perodos anteriores, teria sido consideravelmente me-

    no sdo que isso.

    O

    desenvolvimento gradativo

    da s

    sociedades hum a -

    nas e a expa nso da colonizao por todo o globo terrestre,

    nos diferentes m eios ambientais, podem ter traados a par-

    tir de

    quatro traos bsicos,

    q ue

    distinguem

    os

    seres hum a-

    nos dos

    out ros pr imatas .

    U m

    aumento

    do

    t a ma n h o

    do c-

    rebro

    fo i

    f u n da me n t a l

    a

    todo esse progresso.

    U m

    crebro

    maior parece ter sido importante para que se conseguisse

    conquistar

    o

    poder

    do

    pensamento abstrato,

    t o vi tal

    para

    o desenvolvimento

    da

    tecnologia.

    U m a

    segunda ruptura

    vital

    (acontecida h trs milhese meio d e anos) foi a capa-

    cidadeadquirida pelo homem de ficar

    totalmente

    ereto e

    apoiado sobre

    o s

    dois ps. Isso

    fo i

    importante

    no s

    para

    o

    aumento da mobilidade, como tambm para l iberar as

    mos ,q ue podiam realizar outras

    tarefas,

    tais c o mo

    fazer

    e

    usar instrumentos.A terceira aquisio foi o uso da fala. N o

    surpreendente qu e no

    ha ja

    evidncia algum a de qua ndo

    a fala

    teria

    s ido adotada, m as p resume-se qu e isso tenha

    acontecidoem uma

    poca bastanteprecoce

    e que a

    capaci-

    dade para s e com unicar teria aberto ocaminho para

    facilitar

    a cooperao do gru po e o fornec imen to de uma organi-

    zao

    social

    mais elaborada, bem como p ara aju dar a expan-

    so de

    diferentes

    progressos

    culturais.

    A

    quarta caracters-

    tica fo i fundamenta l para a colonizao do m u n d o a

    adoo de m eios tecnolgicos para su perar as

    di f iculdades

    impostas pelos meios am bientes hostis. Em bora outros ani-

    mais usem ferram entas, os seres huma nos so os nicos a

    faz-las.

    A

    fe itura

    de instrumentos de pedra comeou a-

    prox imad am ente h dois milhes de anos, com os primeiros

    cutelos de

    pedra

    em

    estado

    natural, embora outros ins-

    trumen tos m enos dur veis e que por isso no sobreviveram.

    possivelmente possam

    te r

    existido antes .

    Alm dos

    instrumentos

    de

    pedra,

    o s

    artefatos

    e

    tecnolo-

    gias

    usados pelos primeiros seres humanos foram as lanas

    de madeira (aproximadamente h

    400,000

    an os), boleadeiras

    de pedra para derrubar animais (por

    volta

    de

    80.000

    anos

    atrs),

    a

    m adeira,

    as

    peles

    e

    t ambm

    o fogo.

    Como

    o fogo

    55

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    8/42

    t ambm

    surge naturalmente

    a

    poca exata

    na

    qual comeou

    a se r

    de

    l ibe rada m enteproduzido um assunto qu e causa

    mui t a

    controvrsia Existem

    a l gumas

    indicaes ambgu as

    de

    um

    stio

    em Chesowanja na

    frica

    oriental onde

    teria sido

    produzido pela pr imeira

    vez em

    ap rox imadamen te

    um mi-

    lho

    e meio de anos mas a primeira evidncia definitiva e

    amplamen te

    aceita

    surge

    h

    500.000 anos.

    O s

    sinais

    do uso

    do

    fogo

    so pr imeiram ente encontrados em associao com

    os locais

    de

    matana

    de

    animais sugerindo

    que ele

    tenha sido

    levado a esses locais com a finalidade de cozinhar a carne

    assim como tam bm surgem em campos onde teria sido usa-

    do para aquecer e iluminar e possivelmente proteger. Nesse.

    estgio inicial bastante improvvel que ele tenha sido usa-

    do para encaminharo s animais ao s locaisde matana embo-

    ra

    essa tcnica tenha sido certamente usada em pocas pos-

    teriores. Mas pelo menos durante dois milhes de anos a

    tecnologia principal usada pelos seres humanos foi o ins-

    t r u m e n t o

    de pedra. Durante o pr imeiro milho e meio de

    anos de

    fei tura

    de ferramentas os t ipos dominantes eram

    uma machad inha feitade seixo e um m achado de mo com

    uma lmina

    qu e

    cercava quase todo

    o

    permetro. Esses ins-

    t rumentos eram relat ivamente fceis

    d e

    f aze r

    e so

    encontra-

    dos em grandes quant idades. Po r exemplo o esqueleto de -

    sart iculado

    de um hipoptamo que foi encontrado em

    Oluivai

    Gorge

    no

    leste

    da

    frica estava rodeado

    por 459

    mach ados grosseiros

    e

    machad inhas .

    Foi

    com esse con jun to de ferramentas pr imit ivas que os

    primeiros seres humanos puderam mudar-se

    da

    fr ica para

    as

    regies geladas do Oriente Mdio para a

    ndia

    o sul da

    China

    e

    par tes

    da

    Indonsia apesar

    de

    t am bm

    te r sido

    necessr io que usassem os vestur ios fe i tos com peles de

    an imais .

    difcil

    estabelecer

    a

    es t rutura cronolgica exata

    por causa da ausncia de uma pesquisa arqueolgica em

    m u i t a s

    regies mas est bem claro que o

    omo erectus

    tenha

    56

    5

    ~

    8

    57

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    9/42

    se espalhado

    a

    partir

    da fr ica h

    cerca

    de um

    milho

    e

    meio de anos logo

    depois

    de terem

    sido

    encontrados os

    primeiros esqueletos desse ancestral direto

    dos

    seres huma-

    nosmodernos.Mas as

    reas

    ocupadas ainda

    eram restritas.

    Com as

    habilidades

    que

    possuam nesse perodo

    os

    seres

    humanos

    s

    poderiam mesmo adaptar-se

    aos ecossistemas

    encontrados

    em

    regies semitropicais onde havia

    uma

    variedade considervel

    de

    material vegetal

    que

    podia

    ser

    facilmente

    colhidoe de uma

    srie ampla

    de

    pequenos ani-

    mais fceis de caar para complementar esse regime ali-

    mentar. A s florestas tropicais equatoriais n o

    fo r am

    pene-

    tradas e acolonizao daEuropa apresentava dificuldades

    enormes.Esses problemasno foram solucionados durante

    muito tempoe portanto acolonizao da Europafoi um

    fenmeno comparativamente tardio na histria humana

    apesar doacesso relativamente fcilqueapresentava para

    o Oriente Prximo e a

    frica .

    Os ecossistemas europeus

    tornaram muito difcil mesmo durante os perodos inter-

    glaciais a extrao desubsistncia suficiente com apenas

    umabase tecnolgica limitada:avida vegetaleramenos rica

    e o

    campo

    de

    ao para

    a

    colheita maislimitado.

    Por

    esse

    motivo

    a

    caa

    de

    animais

    de

    mdio

    e

    grandeporte

    era

    vital

    masmuito difcil. Mesmoseestivessem vivendoderestos

    deanimais mortoseeliminandoosmembros velhosedoen-

    tes do

    rebanho

    os

    grupos ter iam

    a

    necessidade

    de

    mudar-se

    para regies mais extensas quando seguiam

    os

    movimen-

    to ssazonais do s animais eteria sido muito difcil manter

    contato para

    a

    realizao

    das

    atividades sociais

    e

    culturais.

    A primeira evidncia

    da

    ocupao humana data

    de a-

    proximadamente

    uns

    730.000 anos passados

    e a

    maior parte

    das

    regies

    da

    Europa conheceram

    a

    colonizao humana

    por

    volta

    de uns

    350.000 anos atrs.

    Mas

    essa colonizao

    fo i intermitente e confinada a perodos interglaciais

    quando

    o

    clima europeu deveria estar suficientemente uni-

    fo rme

    para

    fornecer

    a

    colheita

    e a

    caa executadas

    com um

    58

    estojo de instrumentos t o limitados.A s condies exis-

    tentesdurante

    os

    perodos glaciaisdeterioraram -sequando

    as

    grandes geleiras

    do

    norte avanaram

    e at

    mesmo

    o

    clima

    ameno

    do sul da

    Frana mudou transformando

    em semi-

    rticasvastas regies produzindo um tipod e tundra onde

    a scondies de vida devem te rsido excepcionalmenteri-

    gorosas .

    Fo i

    somente durante

    o

    longo

    e

    duradouro perodo

    glacial

    qu e teveinciop or volta d e80.000 anos passadose quedurou

    at uns 12.000 anos atrsq ue ocorreu a primeira ocupao

    permanente

    da

    Europa.

    Ela

    marcou

    um

    grande progresso

    d a

    capacidade do sseres humanose m adaptar-sea um ecossis-

    tema agreste. Durante esse perodo toda a Escandinvia o

    norteda Alemanha a Polnia onoroesteda UnioSovitica e

    amaior parteda Inglaterra

    estavam

    cobertosde geloe no auge

    do

    perodo glacial

    h uns

    20.000anos

    as

    geleiras moveram-se

    ainda mais paraosul.Aregioqu e

    ficava

    ao suldessas geleiras

    era glaciale com vegetaodo tipotundra s queessas tundras

    eram

    mais

    ricas

    do que as que so

    encontradas

    atualmente

    a o

    norte da Europa po r causado sveres mais longos. Nelas

    existia

    um a grande variedadede

    vida

    animal dominada po r

    grandes manadasdegamos mamutes lanosos bisesecavalos

    selvagens queconviviamcom manadas menoresde rinoce-

    ronteslanosos

    alces

    giganteseantlopes. Devidoao baixonvel

    de

    vida vegetal

    e

    portanto

    do

    papel limitado representado

    pelo rebanhona sbasesdasubsistncia os seres humanosde-

    pendiam dessas grandes manadas para

    su a

    existncia.Esse

    ambientedesaf iador

    produziu

    u ma

    cultura al tamentedesen-

    volvidaesofisticada capazde controlar aquantidadeexistente

    de

    alimentos

    e

    estimulou

    uma

    integrao

    social

    maior

    do que

    qualquer outro grupo humanoj alcanara.

    O quadro convencionalqu etemosdoshabitantesda era

    glacialeuropeia

    o de

    caadores

    qu e

    devastavam

    aleatoria-

    mente

    os

    rebanhos

    d e

    gamos

    e de

    outros animais

    de

    grande

    porte.

    Mas a

    caada pura

    e

    simples

    uma

    estratgia

    de

    alto

    U-V

    59

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    10/42

    risco:

    os

    ndices de sucesso so muito pe quenos e a caada

    contnua somente assustaosrebanhos, fazend ocom que ca-

    da vez fique

    mais difcil segui-los

    e

    atac-los.

    Na

    verdade

    um a abordagem muito mais

    sofisticada

    para aobteno da

    subsistncia

    de umam biente hostilfoiempregada. B aseava-

    seem conduzir as manadas com um mnimo de agitao. Na

    Europa oriental

    e

    central,

    isto significava

    seguir manadas

    durante sua migrao de inverno, no plana lto hngaro e s

    margens do Mar

    Negro,

    at

    suaspastagens

    de

    vero

    no

    Jura,

    no s

    planaltos

    do sul da

    Alemanha

    e nos

    Crpatos.

    Locais de

    moradias

    humanas foram encontrados

    ao

    longo

    das

    rotas

    naturais

    de

    migrao

    em

    torno

    d os

    locais tambm naturais

    de

    pastagem

    dos

    gamos.

    As

    manadas

    no

    eram dizimadas

    ao

    acaso, mas selecionadas, de

    forma

    a

    eliminar

    os

    animais mais

    velhos e enfermos. U m

    nmero

    suficiente de

    animais para

    suprira

    necessidade

    de

    carne

    do s

    humanos durante

    a

    estao

    er a

    separado

    do

    grupo

    principal,

    conduzido para regies

    comobacias

    naturais

    e

    devidamente

    mortos.No

    entanto,

    o

    nm e r o

    de seres humanos que podiam ser alimentados dessa

    maneiraer a

    m uito pequeno.

    U ma

    manada

    co m

    cerca

    de

    1.500

    gamos

    talvezfosse

    suficiente

    para

    al imentar

    somente umas

    trsfamliasou uns

    quinze indivduos.

    Esses

    grupos tambm

    devem

    te r

    sido

    forados

    alocornover-se

    muitas vezes, juntan-

    do-se para

    formar

    grupos maiores, essenciais para

    asativida-

    de scerimoniaise

    sociais, somente dur ante

    un s

    perodos mui-

    to

    curtos do ano.

    U m

    modo de vida completamente diferente desenvol-

    veu-seno

    sudoeste

    da

    Frana

    e ao

    norte

    da

    Espanha,

    no

    auge

    da

    ltima era glacial, aproximadamente h 25-20.000 anos.

    Quando

    o

    clima

    se

    manifestou

    de

    forma

    mais severa,

    o

    norte

    da

    E uropa parece

    te r

    sido parcialmente abandonado

    e uma

    populao

    relativamente densa desenvolveu-se mais para

    o

    sul. Sua subsistncia parece ter sido retirada das grandes

    mana das de gamos comuns e vermelhos, que passavam pela

    regio

    de

    Dardanelos

    e no

    norte

    d a

    Espanha. Dentro dessa

    regio, era possvel para uma pop ulao moderadam ente

    densa conseguir

    um

    nvel razovel

    de

    suprimentos

    sem

    pre-

    cisar

    empreender longas migraes para seguir as manadas.

    Os povos poderiam utilizar as vrias partes da rea em dife-

    rentes pocas

    do ano e o

    alimento advindo

    das

    manadas

    podia

    ser

    suplementado pela grande quantidade

    de

    salmo

    e outros peixes

    dos

    rios. Nessas condies

    de uma

    semicolo-

    nizao emergiu

    uma

    sociedade altamente integrada,

    que

    produziu

    as

    numerosas pinturas

    na s

    cavernas,

    qu e

    foram

    encontradas

    em

    locais como Lascaux,

    no

    sudoeste

    da

    Frana

    e em Altamira,no

    norte

    da

    Espanha outras pinturas rudi-

    mentares contemporneas

    e

    resqucios

    de

    arte

    nas

    pedras

    tambm

    foram

    encontrados

    na

    caverna

    de

    Apoio,

    no sul da

    frica

    e na Austrlia).A

    funo exata

    e o

    significado dessas

    pinturas das cavernas euro peias ainda no so mu ito claras,

    mas no sepode discutirsua natureza religiosae cerimonial,

    assim como quase que podemos afirmar a existncia de al-

    gum elemento mgico, que buscaria o controle das ma nadas,

    das quais dependia

    a

    subsistncia

    da

    com unidade.

    Quando

    as geleiras

    foram

    desaparecendo

    gradativamente as

    mana-

    das comearam a mover-se em direo ao norte. Diminuram

    em

    tamanho, pois

    a

    faixa

    da floresta

    tambm crescia para

    o

    norte, eliminando atundra medida que o clima melhorava.

    Toda

    a base de subsistncia dos seres humanos da regio

    entrou em colapso e foi necessrio osurgimentode uma srie

    de

    adaptaes importantes, p ara

    a

    obteno

    de

    alimentos

    em

    um

    ambiente radicalmente diferente. Surgiu

    uma grande

    nfase

    na colheita

    feita

    em um ecossistema m ais rico, produ-

    zido

    por um

    clima mais ameno, assim como

    na

    utilizao

    de

    animais

    de

    menor porte

    que

    viviam

    em

    condies

    florestais,

    da pesca e dos recursos marinhos, tais como os mariscos.

    A

    Europa foi tambm uma das regies a assistir um

    desenvolvimento significativo

    da

    tecnologia hum ana, envol-

    vendo o surgimento

    de

    novas tcnicas para

    a

    produo

    de

    ferramentas,

    como tambma utilizao

    de

    novos materiais.

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    11/42

    Esse

    fa to

    representou uma das mudanas mais significativas

    realizadas pelos sereshumanose foi a maior exploso inova-

    dora antes

    da

    inveno

    da

    cermica

    e do uso do

    me tal. Isso

    comeou

    h

    aproximadamente 40-30.000 anos

    e

    parece estar

    ligado

    ao

    desenvolvimento

    dos

    seres humanos completa-

    mente

    modernos os

    Homo

    sapiens sap iens A quantidade dos

    diferentes tipos

    de

    utenslios feitos

    de

    pedra cresceu

    de

    seis

    para oi tenta

    e a

    natureza desses instrumentos tambm

    mu-

    do u significativamente. Antes de uns 40.000 anos atrs, os

    instrumentos tendiam a sergrandesprincipalmente ma-

    chadosde mo oulminas fe i tasde um ncleo preparado

    necessitando somente

    de um

    mnimo

    de

    investimento

    de

    tempo

    e

    esforo para

    sua

    execuo. Depois dessa poca,

    maior nfase passou

    a ser

    dada

    produo

    de

    lminas muito

    finas, de dupla

    face,

    fei tasdoncleoda srvoresemais tarde

    ainda

    aproximadamente

    h uns

    20.000 anos,

    a

    lminas

    pe-

    quenas

    e

    leves, usadas como pontas para projteis. Esses

    novos

    instrumentosexigiam tcnicas de

    fabricao

    diferentes

    e mais complicadas, envolvendo tratamento trmicoelapi-

    dao

    sob

    presso.

    Odomnio dessas

    tcnicas necessitava

    no

    s de habilidades motoras e coordenao mais desenvo lvi-

    das, como tambm uma maior

    capacidade

    mentalpara

    lidar

    com o

    grandenmero

    de

    diferentes estgios necessrios para

    a

    m anufa tura d esses a r te fa tos .

    Pela primeira vez os materiais j existentes anterior-

    mentecomo o osso ochifree omarfim foramtransformados

    em

    ferramentas, a lgumas delas

    de

    feitura extremamente

    complexa,

    como os arpes comfarpas .A s lanas foram ap er-

    feioadas atravs da utilizao da s pontas feitas de osso ou

    demarf imemlugardas de pedra e pelo uso do arremessador,

    para aumentar seu alcance. A caa

    ficou

    ainda mais

    fcil

    e

    exigindo um menor uso de fora, a partir da inveno, h

    cerca de 23.000 anos, do arco e da

    flecha

    e do possvel uso,

    nessa mesma poca,

    de

    armadilhas laos

    e

    redes

    que

    teriam

    ampliado

    a

    base

    dos

    recursos disponveis

    explorao

    huma-

    62

    na. Embora as roupas tenfem sido feitas de pele de animais

    durante centenas

    de

    milhares

    d e

    anos,

    a

    vida

    n a

    Europa ,

    no

    auge

    d a

    ltima

    er a

    glacial, exigiu

    um

    maior desenvolvimento

    da s

    tcnicas

    de

    sobrevivncia. Foram produzidos capuzes,

    luvas e meias e h uns 20.000anos agulhas per furad as e

    fios

    finos um produto das armadilhas de peles) j eram usados.

    A bo a

    proteo fornecida pelas roupas quentes significava

    que o nvel de inge sto de ca lorias necessrias para a sobre-

    vivncia

    em condies severas seria suficientemente

    baixo

    para poder

    ser

    retirado

    do

    meio ambiente .

    O

    desenvolvimen -

    to de novas tcnicas possivelmente veio acompanhado de

    um m aior grau de especializao entre os grupo s de colheita,

    caae pastoreio e o uso de m ateriais de qualidade cada vez

    mais elevada, que s poderiam ser encontrados em alguns

    poucos lugares, conduziu criao de redes regionais de

    trocas.

    A colonizao permanente da Europa, durante um pe-

    rodo de condies climticas extremamente severas, repre-

    sentouu m a importante conquista humana e umsinalde um

    crescimento do controle do meio ambiente p elo homem. Isso

    foi possvel graas combinao da adoo de novas tecno-

    logias com o domnio dos animais de maneira mais sofis-

    t icada.

    A colonizao da

    Austrlia

    no exigiu adaptaes to

    elaboradas,

    devido ao clima rela tivamente benigno da regio

    leste

    do continente e facilidade que os grup os de caadores

    ecolhedorestinham paraencontraralimento. Masisso ta m-

    b m

    s

    pdeaco ntecer aps

    um a

    inveno

    da

    maior impor-

    tncia

    o

    barco

    j que a

    Austrlia, emb ora ligada

    Nova

    Guin dura nte o auge da Era Glacial , nunca esteve l igada ao

    continente

    asitico.AA ustrlia foicolonizadah cerca de

    40.000

    anos, durante um perodo em que o nvel do mar

    estava

    em seu mnimo e, para alcan-la , uma viagem de

    aproximadam ente sessenta m ilhas seria necessria .A Tasm-

    niaestava ligadaAustrliaat uns15.000 anos passados fo i

    colonizada h uns 20.000 anos) e a Nova Guin tornou-se

    63

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    12/42

    um a

    ilha

    h uns

    8.000

    anos.A ocupao inicialfo i fei ta pro-

    vave lmente por um grupo peque no de ta lvez umas vinte e

    cinco

    pessoas

    mas a

    populao cresceu rapidamen te de ntro

    de um

    ambien t e imu tve l

    at

    alcanar

    un s300.000

    hab i t an t e s

    o

    mesmo nvel apresentado pela Austrl ia quando

    fo i

    alcanada

    pela primeira

    ve z

    pelos europeus

    A

    sociedade

    des envolvida na Austrlia no

    l evou

    ao

    desenvolv imen to

    d e

    organizaes

    sociais mais

    complexas como aconteceu

    e m

    quase

    todas

    a s

    outras regies

    d o

    mundo.

    O povoame nto da Amrica foi quase que o l t imo es-

    tgio do mov ime nto hum ano at ravs do mundo. Is to acon-

    t eceuporque esse deslocamento dependia da habi lidade que

    os g rupos humanos t ivessem prime iro para sobreviver no

    clima

    s eve rod a Sibriae depois avan ar para oor iente na

    direo

    do Es tre i to de

    Ber ing.

    A

    t ravessia para

    o

    Alasca

    fo i

    realizada no auge da l t ima E ra

    Glacial

    quando os nveis

    reduzidos

    da

    gua

    do mar

    t ransformaram

    o

    Estre i to

    de Be-

    ring

    e m

    um a

    ponte

    de

    t erra .

    O clima da

    regio muito possi-

    velmente ser ia menos severo do que

    a t u a l m e n t e

    apresen-

    tando opor tu nidade s razoveis para

    a caae

    apr i s ionamen to

    dos grandes animais da regio. Mas o movimento em direo

    ao

    sul do Alasca s

    poder ia acontecer durante

    um

    estgio

    l ige i ramente mais quente quando as duas placas de gelo

    maisimpor t an t e s

    da Am ricado

    Norte centradas

    na s

    Monta-

    n h a s

    Rochosas

    e no

    Planal toL aurenciano afastaram-se

    e

    s epararam-s e

    o suficiente

    para abrir

    um a

    passagem para

    o

    s udes te .

    Isso pode

    te r

    acontecido durante dois perodos

    ou 30-23.000

    anos

    a t rs

    ou aprox imadamen t e h 13.000 anos.

    Embora

    es te seja um tpico bastan te controver t ido da ar-

    queologia

    ame ricana

    a

    l t ima data parece

    ser a

    mais prov-

    vel .

    A par t i rdo m o m e n t oem que os primeiros exploradores

    p u d e r a m

    a t r avessa r

    as

    passagens

    na

    direo

    do sul

    encon-

    traram

    u m

    m e io ambien t e mui to

    r ico que

    dava plenas opor-

    tunidades para um a

    subsistncia

    re la t ivame nte fcil.A popu-

    lao

    humana mul t ipl icou-se rapidamente e dentro de

    64

    alguns milhares

    de

    anos espalhava-se

    at o

    alto

    da

    Am rica

    do

    Sul.

    Foi

    nece ssria

    uma

    srie

    de

    adaptaes para

    que o ser

    hum ano pudesse extrair a l imento

    da

    enorme var iedade

    de

    ecoss is temas

    encontrados

    nas

    Amrcas.

    Nos

    vales

    da

    Am-

    rica

    do Norte

    devido

    ausncia

    devariedadesde

    vegetao

    para a colheita a subsistncia depen dia da explorao das

    grandes

    manadas

    de bises e de outros animais . De form a

    geral eram abat idosde um maneira mui to violenta e des-

    truidora

    sendo

    conduzidos sestreitas gargantasou por so-

    br e os penhascos. E m G aspar Wyoming h mais ou menos

    10.000

    anos

    uma simples matana envolvia pelo menos se-

    t en ta

    e qua t ro an imais e em uma ma tana con t empornea

    no sudeste

    do

    Colorado pare ce

    que os

    caadores provo caram

    um estouro

    dos

    animais

    na

    direo

    de um

    canyon t e rminan-

    do com

    aproximadamente

    200cadveres

    cuja maioria

    difi-

    ci lmente

    poderia ser

    aproveita da pois teria sido esmaga da

    so b uma

    pilha

    de

    corpos.

    Na

    regio leste

    da

    Amrica

    do

    iNorte

    o

    avano

    da

    floresta

    depois do

    recuo

    das

    placas

    de

    gelo houve uma

    mudana

    no ecossis tema

    el iminando

    a

    maior

    par te

    dos

    animais

    degrande

    por te apropriados para

    a caa.A s

    sociedades adaptaram -se

    a

    essas condies mu ito

    s erne lhantes

    s existentes na E uropa

    ps-glacial

    caando

    animais

    mui to menores como

    o gamo

    pescando

    e

    dedican-

    do-se mais colheita. Mais ao norte nas regies rticas os

    colonizadores

    sent i ram-se a t rados pela carne abunda nte

    dos

    caribus

    raposas r t icas e lebres e s bem m ais tarde come a-

    ram a

    explorar

    os

    recursos marinhos especialmente

    as focas.

    Os deser tos do sudoeste exigiam uma ad aptao difere nte

    co m

    a nfase

    sendo

    dada mobilidade capacitando um a

    explorao

    de uma

    grande

    var iedade

    de

    recursos vegetais

    e

    animais

    eiri um

    ambiente difcil .

    N as

    regies tropicais

    da s

    Amricas

    Central

    e do Sul foi

    possvel

    um

    modo

    de

    vida

    baseado

    nos

    variados recursos vegetais

    disponveis

    suple-

    men tado

    por uma

    p e q u e n a

    at ividade de

    caa.

    65

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    13/42

    Mas talvez o desenvolvimento mais extraordinrio te^

    nhacontecido

    na

    costa noroeste

    do

    Pacfico,

    c om

    seus abun-

    dantes recursos

    marinhos,

    constitudos

    po r

    focas, lees-ma-

    rinhos, lontra-do-mar

    e,

    em

    particular,

    o

    salmo

    qu e

    vinha

    desovar

    no s

    r ios. Esse suprimen to relativamente abundan te

    possivelmente exigia mais esforo para a estocagem do que

    para a p rocura . O s vrios tipos d e anim ais eram ento secos

    durante o

    vero

    o u

    d e fum ados

    n o

    outono

    e sua

    gordura

    e ra

    t ransformada em leo, o que fornecia alimento suficiente

    para o

    inverno. Apesar

    de

    existirem naturalmente

    f lutua-

    es, esse suprimento alimentar era suficientemente confi-

    ve lpara que no houvesse a necessidade de deslocamento

    da s pessoas e essa regio produziu, ento, um dos poucos

    exemplos

    de uma

    sociedade estabelecida,

    n o

    baseada

    na

    agricultura. Os povos, ento, desenvolveram aldeias, cada

    uma com uma populao de aproximadamente 1.000 pes-

    soas, q ue viviam em grandes casas comu nitrias, cad a aldeia

    tendo se u chefe, um a estratificao social e uma especia-

    lizao d o t rabalho, juntamen te c om mecanismos complexos

    de

    permuta

    e doao de alimentos como

    forma

    de obter

    prestgio e a subsistncia

    segura

    e adequada

    disponvel

    a

    todos.Essa sociedade complexa chegou a produzir um a casta

    hereditria

    de

    escravos.

    T er

    grande quantidade

    de

    alimento

    estocado significava

    que o

    inverno passou

    a ser uma

    poca

    durante

    a

    qual

    o

    esforo exigido

    em

    prol

    da

    subsistncia

    era

    mnimo

    e as atividades

    cerimoniais elaboradas passaram

    a

    ocupar

    a

    maior parte

    do

    tempo livre. Esse modo

    de

    vida

    provou ser altamenteestvel esobreviveu at achegada dos

    europ eus regio.

    Aproximadamente

    h

    10.000

    anos, com o

    deslocamento

    da fronteira humana atravs da s Amricas, quase todas as

    regies da Terra t inham sido povoadas. A

    fase final

    da colo-

    nizao mundial aconteceu relativamente tarde no s Ocea-

    no s

    Pacfico

    e

    ndico. Esse povoamento

    fo i

    realizado

    no

    s

    po r

    colhedores

    e caadores, mas por

    grupos

    qu e obtinham

    66

    seu sustento atravs de uma fo rma primitiva de agricultura,

    apesar d e ainda se utilizarem de ferramentas de pedras e de

    suplementarem

    se u

    regime alimentar

    co m

    caadas ocasio-

    nais.

    No P acfico, os habitantes da M icronsia pov oara m ilhas

    como as

    Marshall

    e as Carolinas, mas

    foram

    o s

    polinsios

    qu e

    empreenderam viagens mais longas.

    P or

    volta

    do ano

    1000

    a.C,

    partiram da Nova Guin e alcanaram Tonga e

    Samoa e

    aproximadam ente

    em 300

    d.C. avanaram mais para

    oleste, chegando s Marque sas. Dali, nav ega ram para a Ilha

    da Pscoa e para o Hava, cerca de um ou do is sculos mais

    tarde.As duas ltimas maiores i lhas do mu ndo nos Oceanos

    Pacfico

    e

    ndico foram colonizadas

    por

    volta

    de 800

    d.C.,

    n a

    mesma poca em que o imprio de Carlos Magno e stava em

    seu apogeu na Europa Oriental e os vikings iniciavam suas

    viagens

    picas, na poca e m que o Isl do minav a o Mediter-

    rneo e o Oriente Prximo, e a China era governada pela

    dinastia T ang. O s polinsios alcanaram a No va Zelndia e

    os povos

    qu e

    partiam

    da

    Indonsia, dirigindo -se para

    o

    oeste,

    povoaram os pequenos grupos de ilhas do Oceano ndico,

    juntam ente com Madagscar.

    Nesse momento, todas as regies mais importan tes do m un-

    do

    (exceto

    a An trtica) j

    estavam povoadas. Durante cen-

    tenas de milhares de anos, os grupos de colhedores e de

    caadoresadaptaram-se

    a

    todos

    os

    amb ientes possveis, des-

    de as reas semitropicais da frica at a Eu rop a qu e a inda se

    encontrava

    na era

    glacial,

    do

    rtico

    ao s

    desertos

    do

    sudoeste

    da

    frica.

    A s

    tcnicas

    de

    subsistncia emprega das nesses

    am -

    bientes, to diversas, variava m desde a dependncia caa

    de

    pequenos animais,

    criao

    de

    gamos,

    caa

    do

    biso,

    at

    um a mistura bastante complexa de todas essas estratgias,

    que era

    necessria

    no

    rtico. Acredita-se, geralmente,

    qu e

    esses grupos viviam

    em

    estreita harmo nia

    com o

    meio

    am-

    biente, provocando danos mnimos ao s ecossistemas

    naturais.

    A

    colheita

    de

    alimentos exigia

    u m

    conhecimento

    67

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    14/42

    mui todetalhado e uma compreenso considervel dos locais

    onde esses alimentos poderiam ser

    encontrados,

    nas diferen-

    tespocas do ano, para que o

    ciclo

    anual das atividades de

    subsistncia

    fosseorganizadodeacordo.Damesma

    forma,

    a

    criao

    e

    caa

    dos

    animais exigiam

    um

    estudoapurado

    de

    seus hbitos

    e

    m ovimentos. Encontramos tam bm evidncias

    de que alguns desses grupos chegaram a tentar conservar

    essas

    fontes

    d e

    subsistncia,

    com o

    interesse

    de

    m ante- las

    po r

    longosperodos. Restries

    tot micas sobre

    a

    caa

    de

    deter-

    minadas

    espcies du ran te certos perodos do

    ano,

    ou a regra

    de

    caar

    emdeterminada

    rea

    somente

    durante

    uns

    poucos

    anos, teria

    a judado

    a

    mante r

    o

    nvel existente

    d os

    animais

    caados.

    Alguns grupos mantinham reas

    sagradas,-onde

    a

    caa

    era

    proibida

    e outros,

    como

    os

    Cree

    do Canad, em -

    pregavam a

    tcnica

    da

    caa rotativa,

    s

    voltando

    a um

    deter-

    minado

    local depois

    de um

    perodo considervel

    d e

    tempo,

    o que permitia uma recuperao do nvel da vida animal

    depois da matana. Independentemente das restries cul-

    turais

    especficas,

    um dos

    m otivos principais pelos quais

    os

    grupos de colheitae

    caa

    evitavamaexplorao abusivado s

    recursos

    natur ais disponveisera o de queeles existiamem

    n m ero s muito pequenos e, consequentemente, a presso

    exercidapo r eles sobreu m de te rminadoambiente era limi-

    tada.

    No entanto, colhedores e caadores no so absoluta-

    mente

    passivos

    em sua

    aceitao

    do s

    ecossistemas

    e

    mui tas

    de suas atividades

    alteram

    consideravelmente o meio am-

    biente,causando m uitos danos. Tem-se conhecimento

    de que

    os

    modernos Hadza,

    do

    leste

    d a frica,

    destroem enxames

    de

    abelhas nativas para obter

    u m a

    pequena quantidade

    de

    mel e queou tros grupos destroemcomfrequnciaavegeta-

    onativa

    d a qual

    dependem,

    po r

    colher

    as

    plantas

    sem o

    m eno r

    cuidado e em grandes quantidades. Alm

    disso,

    os

    grupos de

    colheita

    ecaa

    alteram

    as

    condies

    de

    crescimento

    das plantaes selvagens, intervindo emfavorde algumas

    68

    espcies de plantas em detrimento de outras de que no

    necessitavam no mo mento. Um a das maneira s mais eficazes

    de

    conseguir esse pssimo resu ltado

    atravs

    das

    queimadas

    eessa prtica foi muito difun dida entre esses grupos. O fogo

    altera

    significativamente

    o habitat,

    favorecendo

    o

    crescimen-

    to

    de plantas anuais que se desenvolvem bem em terrenos

    novose

    aumentando

    a

    reciclagem

    dos

    nutrientes.

    Os

    abor-

    gines usavam regularmente o fogo para estimular o cres-

    cimento

    de uma samambaia comestvel na

    Tasmnia

    e os

    Maoris,da

    Nova Zelndia, usavam

    a

    mesmalecnlcTcom

    a

    mesma'finalidade de facilitaro crescimento da samambaia,

    cujosrizomas representam

    um a

    parte substancial

    de sua

    die-

    ta

    alimentar.

    Na Nova

    Guin,

    h

    aproximadamente

    uns

    30.000

    anos,

    no muito tempo depois de ter sido povoada

    pela

    primeira vez, temos m uitas evidncias

    de

    desmatamen-

    toatravsde derrubadas, retirada da cortia das rvores e

    queimadas. Essa abertura de clareiras nas florestas tinha a

    finalidadede estimular o crescimento de plantas alimentcias,

    como

    o

    inhame,

    a banana e a taioba, e para abrir espao para

    arvore do

    sagueiro.

    Na eraps-glacial da Inglaterra, gran-

    de s extenses

    d e

    florestasforam destrudas pelo

    fogo,

    para

    encorajar

    o cultivo de pasto para os cervos. A maioria dos

    grupos tambm conservou as plantas nativas atravs do

    t ransplante

    e da semeadu ra em seus hbitats naturais e pela

    remoo

    das plantas que no interessavam e

    poderiam

    atra-

    palhar

    o

    crescimento

    da s

    outras. Alguns chegavam

    a

    usar

    tcnicas

    comoairrigao

    ern

    pequena escala, para favorecer

    o

    crescimento das plantas eleitas. Embora essas intervenes

    em

    um ecossistema natural estejam muitolongeda agricul-

    tura,

    que imp lica na

    su stituio

    do sis tema natural por outro

    artificial,

    elas revelam o homem modificando o ambiente,

    mesmo

    que em p equen a escala e em locais limitados.

    No

    entanto,

    o

    impacto mais dramtico causado

    em seu

    meio

    ambiente pelos

    grupos

    de colheita e caa foi atravs da

    caa

    de animais. muito m aisfcild anificar essa

    parte

    de um

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    15/42

    ecossistema, porque

    os

    animais existem

    e m

    menor nmero

    e

    alguns deles

    principalmente

    os

    animais m aiores

    o u

    carnvo-

    ros, que se

    encontram

    no

    topo

    da

    cadeia alimentar, levam

    muito

    tem po para

    se

    recuperar

    de uma

    caada

    em

    grandes

    propores.Mesmo com as evidncias enco ntradas de tenta-

    tivas feitas p or alguns grupos para n o caar indiscrimina-

    damente ,existem muito mais sinais

    d e

    caa descontrolada

    e

    at mesmo extino de espcies. J vimos como as grandes

    caadas do biso nasplamcJSJaAniMca_do^Norte_podiam

    matar centenas de animais de uma s

    vez,

    apesar de somente

    alguns serem aproveitados como alimento. A quantidade de

    bises er a enorme (perto de 50-60 milhes) e, portanto, mes-

    m o

    havendovrias matanas

    por ano

    nessa mesma escala,

    no

    reduzia significativamente

    s eu

    nmero. Porm,

    as

    mana-

    da s

    meno res podiam

    se r

    t remendamente afetadas.

    Os

    efeitos

    da s caadas tornaram-se piores devido tendncia do s caa-

    dores

    de

    concentrar-se

    em um a

    espcie

    em

    detrimento

    de

    outras.

    N as

    Ilhas Aleutas^

    no

    norte

    do

    Pacfico,

    a

    populao

    concentrou-se

    na

    matana

    de

    lontra marinha durante

    m i-

    lhares

    d e

    anos,

    desde

    a colonizao das

    ilhas,

    feita

    por volta

    do an o 5 00 a.C., at que o

    animal

    f oi

    virtualm ente extinto

    e a

    base

    da

    subsistncia

    da

    comunidade, destruda. Como con-

    sequncia desse fato,

    os

    ilhotas tiveram

    que

    mudar subs-

    tancialmente

    se u

    modo

    de

    vida

    e

    aceitar

    um nvel

    mais baixo

    de

    subsistncia,

    a

    partir

    do s parcos

    recursos

    q ue

    sobraram.

    O

    impacto

    que o

    homem

    pode

    causar

    n a

    quantidade

    de

    animais existentes est

    bem

    ilustrado

    pelos

    exemplos dados

    por

    Madagscar, Hava

    e

    Nova Zelndia,

    que

    inicialmente

    eram ilhasisoladas, com uma fau na nica e que subitamente

    fo i submetida a u m stress Comonenhumdo s grandes mam-

    feros

    podia alcanar aqueles locais t o isolados, grandes ps-

    saros n o voadores puderam evoluir , devido ausncia de

    grandes predadores, tornando-se os animais dominantes

    M as eles eram indefesos contra a predao humana.

    Depoi:

    de

    algumas centenas de anos

    d a

    colonizao

    de

    M adagscar,

    muitos dos animais de m aior porte,

    inclusive

    uma gran de ave

    no voadora e um hipoptamo pigmeu,

    foram

    extintos. No

    Hava, depois

    de

    milhares

    de

    anos

    de sua

    colonizao, trinta

    e

    nove espcies de aves terrestres tambm estavam extintas.

    N a

    Nova Zelndia,

    o s

    Maoris encontraram

    um

    ambiente tem-

    perado, onde no podiam crescer muitas de suas cul turas

    tradicionais, como

    a

    banana ,

    a

    fruta-po

    e o

    coco, oriundos

    da s ilhas subtropicais da Po linsia, e at mesmo o i nhame e a

    taioba s podia m ser cultivados na Ilha do Norte . Isso levou-

    os

    a uma

    t ransformao radical

    de seu

    padro

    de

    subsistncia

    normal , fazendo

    com que

    passassem

    a

    al imentar-se

    de

    plan-

    ta s silvestres como a s amambaia e as folhas do palmito, acres-

    cido do s recursos marinhos. A caa tornou-se tam bm mais

    importante para eles. Os numeroso s pssaros no voadores

    como o kiwi, o weka e as m uitas espcies de moa (a maior ia

    deles com mais de

    ,8m

    de altura, sendo que algumas es-

    pcieschegavam a a lcanar 3,60m de altura) comearam a ser

    caados

    de mane ira selvagem, comendo inclusive seus ovos.

    Depois de 600 anos da colonizao inicial, vinte e quatro

    espcies de

    .gamos

    havia m sido aniquiladas extino, ju n-

    tamente com outras v inte espcies de aves.

    Os

    grupos

    de

    colhedores

    e

    caadores chegaram

    a

    pro-

    vocar impacto na populao animal , at mesmo em uma

    escala

    continentalVrias

    espcies

    foram

    extintas

    por

    volta

    d a

    ltima

    era glacial, em um perodo em que as mudanas cli-

    mticas

    e consequente variao dos tipos de vegetao, afe-

    taram

    de forma adversa os mamferos de grande porte, que

    habitavam

    as tundras do norte e do centro da Europa. Na

    Eursia, cinco grandes animais o mamute lanoso, o rino-

    ceronte peludo, o

    alce

    irland s gigante, o boi almiscarado e o

    biso das estepes

    j u n t a m e n t e

    com um grande nmero de

    carnvoros foram extintos

    em um

    perodo

    de

    poucos milhares

    de

    anos,

    medida

    que as

    camadas

    de

    gelo retraam-se

    e a

    tundra er a substituda pela

    floresta. Essa

    m u d a n a no am-

    biente ameaou grandem ente esses animais de grande porte,

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    16/42

    mas a caa

    p ra t i cada pe lo homem te ri a p rovocado

    u m

    impac-

    to

    devas tador sobre uma popula o j em decl nio e

    pode

    t er

    infludo no

    equilbrio entre

    a

    sobrevivncia

    e a

    ext ino.

    A ext ino da s espcies da Eurs ia acon teceu em escala

    re lat ivamente pequena . Em todas as ou t ras par te s do m undo

    foi maciaf N a Aus tr lia , d u r a n t e o s ltim os 10.000 anos, fo -

    ra m ex t intos 86 por cento dos animais de g rande porte, em

    um a

    rea onde

    o

    imp acto cl imtico

    f o i

    mnimo, conseqen-

    tementen o a f e t a n d o os hbitos animais d as eras glaciais. A

    explicao mais plausvel para esse aco ntecimento

    f o ram

    as

    c aadas feitas pelos grupos aborgines,

    no s

    ltimos 40.000

    anos. Mesmo que os anim ais ma iores no tenha m sido caa-

    dos em

    grandes

    escalas,

    o

    desequilbrio

    do

    ecossistema com o

    resul tado da in terveno human a dest ru indo habitais, o u

    matando os pequenos herbvoros, dos quais os carnvoros

    dependiam poderia

    fac i lmente

    te r levado ext ino.

    Igualm ente surpreen dente a perda de 80 por cento dos

    animai sde grand e porte da A mrica do Sul e de 73 por cento

    ofrida

    no norte do continente. Diferentem ente do que acon-

    teceu na Eursia, onde s omente os animais das estepes de

    t undra foram afetados ,

    a s extines nas Amricas a f e taram

    todos os t ipos de ecossistemas. A pesar de terem ocorrido no

    f inal

    d a

    l t ima

    e ra glacial, as m udan as c l im ti casn o p rovo-

    caram tal ext ino em massa no passado e restam poucas

    dvidas de que t enham surg ido em v i r tude da in te rveno

    do homem . Como os p r imei ros

    colonizadores

    da Amr ica

    pa r t i ra m para

    o sul, do Alasca e das

    M ontanhas Rochosas ,

    teriam encon t rado

    u m

    a m b i e n te

    r ico e

    intocado

    e seu

    nmero

    deve ter aumentado rapidamente, graas aos recursos to

    facilmente

    obt idos. Esses primeiros colonizadores

    d a

    Am r i-

    ca

    deixaram atrs de si um rastro de destruio atravs do

    continente. Dois teros dos mam feros de grande p orte exis-

    tentes

    por ocasio da chegada dos primeiros homens foram

    conden ados extino. A lguns deles eram de t ipo arcaico,

    como o cam elo das plancies (encontrados som ente na

    A m -

    72

    rica do Norte , devido ao seu isolamento), outros eram de

    espcies gigantes, particularmente sensveis

    s

    mud anas c l i-

    mticas e caa predatria. A s extines atingiram ao todo

    trs gneros

    de

    elefantes, seis

    de

    desdentados gigantes (ar-

    madi lhos , t am andus e preguias), quinze de ungulados e

    um granden m e r o

    de

    roedores

    e

    carnvoros gigantes.

    Po rvolta

    de

    10.000 anos atrs,

    os

    seres humanos haviam

    se

    espalhado

    por um

    perodo aproximado

    de

    dois milhes

    de

    anos part indo de sua regio original do sul e do leste da

    frica para todos os continentes. A lenta expanso da coloni-

    zao humana dependeu d e vrios desenvolvimentos inter-

    ligados.Oc rescimento dot amanho doc rebro possibilitou o

    aumento da capacidade para o pensamento abstrato a con-

    ceitualizao e uma habilitao crescente para encontrar,

    cada vez mais, solues cu lturais e tecnolgicas sofisticadas

    para o s desafios impostos por uma srie d e d i f iculdades e at

    me sm o pelos ambientes hostis. Essas solues incluam o uso

    do

    fogo

    e do

    vesturio

    o que

    pos sibilitava

    ao

    homem

    viver

    em climas mais severos e a adotar estratgias de subsistncia

    cadav ez mais elaboradas. N as regies subtropicais

    benignas

    os

    grupos de colheita e caa podiam contar c o m um a grande

    quan t idaded e plantas comestveis sua disposio, comple-

    mentada somente

    c o m u m a

    pequena

    quantidaded e

    caa .

    medida

    que o

    h o m e m

    foi se

    a f a s t a n d o

    do s

    trpicos, esse

    modo de vida teve que ser modif icado drast icamente,

    sendo

    adotadas tcnicas completamente diferentes. Isso englobou

    desde a caa mais intensa criao de animais de

    grande

    porte, at os ciclos de a tividades sazonais al tamente com-

    plexas,

    prat icadas pelos inuit

    do rtico.

    Mudanas tecno-

    lgicas seriam vitais para p erm itir a colonizao do globo

    terrestre pelos seres hum anos

    e

    e las aconteceram

    e m

    diversas

    frentes, iniciando

    c o m a

    produo

    de

    instrumentos

    de

    pedra

    cada

    ve z mais sofisticados e a introduo de novas armas,

    como o

    arco

    e a

    f lecha,

    mas que

    inclua tambm

    o

    emprego

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    17/42

    das pelese courosdos animais para a feituradevesturios a

    construo deabrigos a partirde uma grande variedade de

    materiais

    e a

    adoo

    de

    tcnicas

    de

    processamento

    d e

    alimen-

    tos mais apuradas cozimento em buracos feitosna terra ao

    invs de em

    fogueiras

    ao ar

    livre

    e a

    moagem

    de nozes e

    sementes.

    O

    ritmo

    d o

    desenvolvimento

    foi

    naturalmente lento

    e

    tambm muito fragmentado. Somente quando chegamos

    40.000 anos atrs

    o

    passo

    da

    mud ana tecnolgica comeou

    a

    crescer rapidamente pelo menos

    e m

    comparao

    com ou-

    tros perodos anteriores. Mas vistos como

    um

    todo esses

    desenvolvimentos

    foram

    de importncia fundamental para

    a

    continuao da histria da hu ma nidad e e o

    futuro

    da

    Terra.

    Os seres huma nos tornaram -se os nicos animais a dom inar

    e

    explorar todos

    os

    ecossistemas terrestres. Mas mesmo nes-

    se

    estgio o impacto sobre o ambiente provocad o pelos gru-

    pos de

    colhedores

    e caadores foi pequeno porque a disse-

    minao d a pop ulao foi lenta escassa e sua tecnologia

    ainda era limitada. Mesmo assim j faziam com que sua

    presena

    fosse

    sentida pelo nmero de animais caados at

    a

    extino e a modificao de

    forma

    sutil do meio ambiente.

    O modo de vida baseadonacaae n a colheitae ra altamente

    estvele d elonga durao. Durante centenas de m ilhares de

    anos essa foi a nica m aneira atravs da qual os seres hum a-

    no s

    podiam extrair

    a

    subsistncia necessria

    do

    m eio ambien-

    te. O nmero d epessoasqu epoderia sobreviver em qualquer

    regio er a

    restrito devido

    sua

    posio

    no

    alto

    da

    cadeia

    alimentar. Somente

    em

    casos excepcionais como

    na

    costa

    d o

    Pacfico

    d a

    Amrica

    do

    Norte

    os

    recursos e ram

    to abundan-

    tes que as colnias podiam se desenvolver em aldeias de

    tamanho

    razovel.

    Ento

    h

    cerca

    d e

    10.000

    anos

    depois

    de

    dois milhes

    de anos de uma

    vida estvel

    e bem

    ajustada

    os

    mtodos

    usados pelo homem para a obteno de alimentos comea-

    ram

    a

    mu d a r

    em

    diversas partes

    do

    mundo.

    O

    ritmo

    das

    mudanas ainda

    e ra lento m as

    m uito mais rpido

    do que no

    passado.

    E as

    consequncias

    foram

    muito mais radicais

    do

    que

    qualquer outro

    fato

    ocorrido

    no

    passado

    e

    provocou

    a

    alterao

    mais

    fundamenta l da

    histria humana

    aquela

    que tornou possvel todos os desenvolvimentos subsequen-

    te s

    da sociedade humana.

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    18/42

    Prime ira Grande Transio

    Durante

    aproxim adam ente dois milhes de anos, os seres

    h u ma n o sviveramda

    colheita,

    do

    pastoreio

    e dacaa.

    Depois,

    no espa o de tempo de alguns milhares de anos, emergiram

    para um modod evida radicalmentediferente, baseadoe m

    importante alteraode ecossistemasnaturais,objetivando a

    produo de grose depasto paraosanimais. Esse sistema

    de produode alimentos mais intensivaf oi desenvolvido

    separadamente

    em

    trs regies importan tes

    do

    mundo

    o

    sudoesteda sia,aChinae aAmricaCentra l emarcoua

    t ransio mais importanteda histria hum ana. Como esse

    sistema oferecia

    quantidades muito maiores

    de

    alimentos

    tornoupossvelaevoluodesociedades

    estabelecidas,

    com-

    plexas

    e

    hierarquizadas

    e um

    ri tmo

    de

    crescimento muito

    mais aceleradoda populao humana.H cerca de 10.000

    anos,antesdaevoluodaagricultura,apopulao mundial

    76

    er adeaproximad amente quatro milhesde

    habitantes,

    au-

    men tando m uito lentamente at chegar a cinco milhes por

    volta de 5.000 a.C, Depois/ no perodo crucial em que as

    sociedades estabelecidas desenvolve ram-se e m escalas acele-

    radas

    depois de5.000a.C., comeou a dobrar a cada milnio,

    at alcan ar 50 milhes em 1.000

    a.C,,

    passando a 100milhes

    nos 500 anos segu intes e a 200

    milhes

    no ano 200 d.C, Essa

    tendncia ascendente continuou

    a

    partir

    de

    ento, embora

    no acontecesse em um ritmo estvel, sendo frequ ente men te

    interrompida pelas

    consequncias da

    fome

    e de

    doenas,

    sendo que,

    atualmente, a

    agricultura sustenta

    uma popu-

    laomundial

    de

    mais

    de

    cinco bilhes

    de

    habitantes.

    A

    combinao de fenme nos como o da transio para

    aagricultura,

    o

    crescimento

    das

    sociedadesestveis,

    a

    emer-

    gnciade

    cidades

    e de

    trab alho especializado

    e do

    surgimen-

    to

    de

    elites religiosas

    e

    polticas poderosa s,

    frequentemente

    chamadade Revo luo Neoltica . No

    entanto,

    embora as

    consequncias de todas essas mudanasfossem claramente

    revolucionrias

    por seu

    impacto, tanto

    no

    modo

    de

    vida

    comono meio ambiente um erro descrever-se esse pro-

    cessocomoumarevoluo.Operodode tempo duranteo

    qual essas mudanas aconteceram foilongo, de pelo menos

    uns quatroacincomilanos,e acontribuiode cada gerao

    foi provavelmente muito pequena. Alm

    disso,

    a ideia de

    um a

    revoluo implica em uma ao execu tada com a finali-

    dadedepromoverumamudana e o quevemosem retros-

    pectocomoum processo no teria sido executadode ma-

    neira deliberada e autoconsciente. A s sociedades hum ana s

    nopartiram para inventar del iberadamente

    a

    agricultura

    e

    produzir colonizaes permanentes.

    Na

    verdade,

    o que

    aconteceu foi uma srie de mudanas marginais, que foram

    surgindo gradualmente, nos meios empregados para obter

    alimentos/

    como resu ltado das circunstncias locais particu-

    lares,

    O efeito cumulativo das vrias alteraes foi muito

    importante,

    porque agiu como um freio. Os ajustes

    feitos

    no s

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    19/42

    mtodos deobtenoda subsistncia, tornando-os maism-

    tensivos, permitiram

    que

    populaes maiores pudessem

    ser

    atendidas masesses ajustamentos levaramimpossibilidade

    de

    retornar

    ao

    modo

    de

    vida anterior, baseado

    na

    caa

    e na

    coleta porque, como

    a

    populaotinha aumentado tornava-

    se impossvel aliment-la. Durante esse longo perodo no

    houve

    um a

    linha definida

    d e

    desenvolvimento

    q uepassasse

    4a

    "caa

    e

    coleta" para

    a

    "agricultura". Devem

    ter

    sido tenta-

    dos muitos meios diferentes paraaobtenodealimentosa

    partir

    de

    plantas

    e

    animais

    atravs

    de

    vrias permutas

    e com

    alteraesdeequilbrio entreosalimentos vegetaiseanimais.

    Algumasdessas estratgias

    no

    teriam dado certo

    e

    outras

    podem te rsido parcialmente

    bem-sucedidas.

    Mas umasolu-

    oradicalmente nova emergiu

    de uma forma

    lenta

    e

    cons-

    ciente, para

    o

    problema humano

    de

    extrair alimento

    dos di-

    ferentes

    ecossistemas.

    Essa longa transio poder

    ser

    melhor entendida

    se

    abandonarmos qualquer ideia

    de uma

    distino ntida

    entre

    a

    colheita

    e a

    caa

    de um

    lado

    e a

    agricultura

    de

    outro.

    Elas

    devem

    se r

    consideradas como parte

    de um spe trum das

    ati-

    vidades

    humanas

    com

    diferentes

    graus

    de

    intensidade

    des-

    tinadasexploraodosecossistemas.Osgruposdecaado-

    res

    e

    colhedores

    no

    eram passivos

    em sua

    aceitao

    do

    meio

    ambiente: eles executavamuma grande variedadede

    ativi-

    dades que

    implicavam

    na

    interferncia

    nos

    ecossistemas

    na-

    turais em benefciodo homem;Emtermosda explorao

    animal h uma clara gradao entre acaa aleatria das

    manadas

    a

    predao

    controlada o

    seguir

    a

    manada

    por

    onde

    ela for,as manadas livres, asmanadas controladas e,

    final-

    mente,

    a

    criao intensiva moderna

    do

    gado como indstria.

    Os

    grupos

    de

    caa

    e

    coleta desenvolveram

    os

    primeiros trs

    ou

    quatro processos

    mas no os

    dois

    ltimos. Aoutilizaras

    plantas existe

    uma

    ordem

    de

    intensidade

    a

    partir

    do pasto

    em estado silvestre,

    das

    plantas silvestres cultivadas,

    dado-

    mesticao de

    gros geneticamente distintos, alguns

    78

    quais

    s

    podem propagar-se atravs

    dainterveno

    humana

    e,

    finalmente,

    d a

    engenharia gentica para

    criar

    novas

    es-

    pciesdesconhecidas pela natureza.

    Os

    grupos

    d e

    colheita

    e

    caa

    chegaram

    a

    praticar certas

    formas de

    cultivo

    e

    alguns

    ainda o

    fazem):

    alteramoshbitats, queimando para limpar

    o terreno e estimulara reciclagemd osnutrientes, empe-

    nhando-se

    em

    replantar

    e

    semear plantas

    em

    regies deser-

    tas, arrancando

    a servas

    daninhas

    e at

    praticando

    um a irri-

    gao

    em

    pequena

    escala.

    Preparar

    hbitats

    artificiais

    especificamente

    para

    ocultivoe a

    manuteno

    das

    plantas

    e

    paragradualmente selecionaredomesticar certasespcies,

    somente

    u m a

    intensificaodesse processo

    de

    interveno.

    Osgruposdecoletae d ecaajhaviamdemonstrado,

    na

    Europa glacial,u m a aptido para utilizar rebanhos de

    renas ecervosd e

    formas

    bastantesofisticadas,com a finali-

    dadedaextraodasubsistnciade umambiente hostil.Ta l

    exploraorelativamente intensad osanimaisn oexigeco-

    munidadesagrcolasestabelecidas como demonstrado pe-

    los grupos atuais

    d e

    pastores nmades,

    tais

    como

    os

    sami

    gamos), os

    masai

    (gado),ou vrios povosda siacentral

    cavalos). Existemoutrosexemplosde variedad es das tcni-

    cas

    de explorao, que adotam alguns, mas no todos os

    processos q uepodemserencontradosnaagricultura moder-

    na. No Levante, j em 18.000a.C os

    seres

    humanos pas-

    toreavam

    gazelas

    em um

    meio ambientesemidomesticado:

    em

    locais como

    Ab u

    Hureyra,

    na

    Sria

    e em

    NahalOren,

    e m

    Israel,maisde 80 porcentodosossosdosanimais recupera-

    dos eramdegazelas, embora muitas

    outras

    espcies

    fossem

    disponveis tanto para

    o

    pastoreio quanto para

    a caa.A o

    mesmo tempo, esses grupos tambm colheram

    formasselva-

    gens deplantas, tais comootrigo mais primitivode um s

    ncleo,otrigo vermelho durocomdois ncleose acevada,

    que

    viriam

    a ser

    domesticados 10.000 anos mais tarde.

    O uso

    degros silvestresnoera, necessariamente,um a

    forma

    in-

    ferior deobter alimentos. Experincias recentes, usando

    f o i

    79

  • 7/21/2019 Uma Historia Verde Do Mundo

    20/42

    cs

    de pedra para colher grandes plantaes de ancestrais

    silvestres

    dos gros que existem na

    atualidade

    e que ainda

    crescem

    no Oriente Prximo, demon straram que tais tcnicas

    poderiam ser altamente produtivas e que os gros silvestres

    so, frequentem ente, muito m ais nutritivosdo que asvarie-

    dades domesticadas,

    O

    trigo vermelho selvagem,

    em

    Israel,

    produziu camposde l .lOOkga l.SOOkgporacre,um a mdia

    to

    bo aquantoa dotrigonaInglaterra medieval.No Mxico,

    o

    teosinto,um a

    forma

    primitivade milho, mostrou-se alta-

    mente

    produtivo,

    pois,

    co m

    trs horas

    e

    meia

    de

    colheita,

    fornecia alimentosuficiente para um a pessoa durante de z

    dias, O esforo necessrio para a obteno de alimento a

    partir desses "gros" selvagens , tambm, m uito menor do

    que

    com osgros domesticados,

    pois

    no so

    necessrios

    a

    semeadura, acapinagememaiores cuidados.

    A identificao de plantas e animais domesticados a

    partird evestgios arqueolgicosmuito

    difcil.

    E , porexem-

    plo, impossvel dizer quais

    as

    diferenas existentes entre

    os

    vestgios

    de

    plantas

    e

    gros colhidos

    em sua

    forma

    selvagem

    e

    as mesmas

    plantas

    e gros de campos onde teriam sido

    plantados e

    cultivados pelo homem. Geralmente,

    possvel

    distinguir as

    caracterstic as

    das plantas durante o processo de

    domesticao,

    na

    medida

    em que

    elas

    se

    diferenciam,

    grada-

    tivamente,

    de

    seus precursores selvagens

    at

    atingir, plena-

    mente,

    variedades completamente

    domesticadas,

    mas as mu-

    danas

    acontecem ao longo de um considervel perodo de

    tempo . Asdificuldades

    encontradas pelos arquelogos

    so

    constitudas

    p elos problem as associados a locais tropicais e

    semitropicais,

    onde

    raramente

    os

    vestgios

    das plantas so

    be m

    conservados,

    po r

    causa

    doclima

    quente

    e

    mido. Muitas

    plantas , particularmente

    as

    razes

    e

    tubrculos, como

    o

    inha-

    me e abatata,e

    tambm rvores como

    o

    coqueiro

    e a

    palmei-

    ra ,quase

    no

    apresentam mudanas quando domesticadas;

    assim,

    apresentam

    problemas

    enormes

    quando se tenta de-

    terminar adatad asmudanasn as tcnicasd e subsistncia.

    Problemas similares surgem nas pesquisas feitas com ossos

    de animais. quase impossvel identificar diretamente do

    registro arqueolgico

    se os

    animais selvagens estavam sendo

    pastoreados,

    O

    melhor mtodo indireto

    procurar vestgios,

    comouma

    grande porcentagem

    de

    ossos

    de

    animais jovens,

    qu e

    sugere quais

    as

    tcnicas

    de

    predao altamente

    seletivas

    estavam sendo usadas. A s alteraes morfolgicas que acon-

    teceram

    durante a domesticao esto sujeitas a discusses,

    embora

    seja

    geralmente aceito

    que os

    animais

    se

    tornaram

    menorese quec onservaram mais suas c aractersticas juvenis.

    Mas esse processo, maisum a vez, s ocorre durantelongos

    perodosde tempo,o quetorna muitodifcilautilizaodas

    mudanas ocasionadasnascaractersticas

    fsicas

    paraidenti-

    ficarasmodificaes nas tcnicas de domesticao

    animal

    a

    curtoprazo.

    Tambm

    no

    existe

    uma

    distino ntida

    e uma

    grande

    quantidade

    de

    continuidade entre

    os

    conjuntos

    de

    ferramen-

    tas e artefatos dos grupos de coleta e caa e as primeiras

    comunidades

    agriculturais,

    particularmente

    no sudoeste da

    sia

    (regio onde tiveram lug ar os movim entos relacionados

    coma agricultura mais antigos). As primeiras placas e pedras

    de

    moer foram encontradas

    no

    Oriente Prximo, possivel-

    mente

    de

    15.000

    a.C,e

    seriam provavelmente usadas para

    moer nozes (principalmente

    os

    frutos

    do

    carvalho)

    emoran-

    gos,

    mas

    possivelmente tambm serviam