um olhar sobre são miguel

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Um olhar sobre São Miguel Caderno de São Miguel Paulista ( 1622 - 2006 ) Projeto São Miguel Paulista e Brasileiro 2006

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Projeto São Miguel Paulista eBrasileiro

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Projeto São MiguelPaulista e Brasileiro

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Fundação Tide Setubal: parceira de São Miguel

Criada em 2005, a Fundação Tide Setubal é uma instituição privada sem fins lucrativosque nasce com o objetivo de apoiar o desenvolvimento local e fortalecer o exercício dacidadania nas comunidades onde atua.

Levando em consideração a nova arquitetura social existente na cidade de São Paulo,o desafio da Fundação é dar continuidade e ressignificação ao trabalho pioneiro de promo-ção humana iniciado em meados dos anos 70 pela então primeira-dama na gestão do pre-feito Olavo Setubal, Tide Azevedo Setubal.

As atividades estão sendo implementadas inicialmente na região compreendida pelosdistritos de São Miguel Paulista, Jardim Helena e Vila Jacuí, onde estão localizados trêsequipamentos públicos – um hospital, uma escola e um Clube da Comunidade – que levamo nome de Tide Setubal.

Todos os projetos da Fundação são concebidos com etapas e metodologias de avalia-ção, sistematização e divulgação. Deverão ainda ser implementados, preferencialmente,em parceria com outras organizações – públicas ou privadas. Além disso, observadas asadequações técnicas e financeiras, os profissionais (monitores, educadores, artistas) aserem contratados para os projetos deverão ser, prioritariamente, da região onde a Funda-ção estiver desenvolvendo a atividade.

Para definir os projetos a serem implementados nas comunidades, a Fundação utilizauma metodologia participativa – ausculta junto a moradores e lideranças locais – aliada apesquisas, estatísticas e indicadores sociais da região. Para o biênio 2006/2007 foram de-finidas três linhas de atuação: mapeamento dos espaços públicos e autoridades locais;fortalecimento e articulação das organizações da sociedade civil e participação da Funda-ção na gestão colegiada do Clube da Comunidade – CDC Tide Setubal, em parceria comduas outras instituições da sociedade civil, o Grêmio Recreativo e Cultural Bloco de Samba“Vamo Q Vamo” e a Associação Recreativa Brasil do Jardim Miragaia.

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Quem foi Tide Setubal

Mathilde de Azevedo Setubal, Tide Setubal, nasceu em 19 de março de 1925, em SãoPaulo, e faleceu no dia 2 de outubro de 1977, também na Capital. Filha de Aldo Mário deAzevedo e de Alice de Lacerda Azevedo, era neta do senador Lacerda Franco. Fez seusestudos no Colégio Des Oiseaux e formou-se em Filosofia na Faculdade Sedes Sapientae. Em1946, casou-se com o engenheiro Olavo Setubal.

Mãe de sete filhos, desde jovem Tide Setubal se destacou na realização de atividadespúblicas, tais como oradora da turma e execução de trabalhos sociais nas regiões pobres dacidade. No entanto, pode-se dizer que foram nos dois anos em que esteve à frente do CorpoMunicipal de Voluntários - CMV, que sua atuação social se realizou de forma mais sistematiza-da e com maior abrangência.

Quando Olavo Setubal foi nomeado prefeito, em 1975, ela sentiu-se com a responsabili-dade de desenvolver um trabalho de maior alcance em favor das populações da periferia deSão Paulo e assim criou o CMV. Inicialmente composta por cinco voluntárias, a instituiçãopassou a reunir mais de 400 mulheres.

Com o olhar de hoje, impressiona a visão avançada de Tide Setubal acerca do que seriaum trabalho social voluntário. O CMV iniciou suas atividades sob uma ótica inovadora, quandoa maioria das entidades sociais brasileiras desenvolvia ações pautadas por uma visão estrita-mente assistencialista. Tide Setubal procurou desde o começo buscar apoios na comunidadeem que estava atuando e no poder público, ao mesmo tempo em que capacitou profissionaisenvolvidos no trabalho.

Para ela importava realizar um trabalho integrado num único esforço, num único ideal,numa única meta, que é o homem. Em suas palavras, “um trabalho sem preconceitos sociais,políticos, raciais, econômicos ou religiosos. Promover o Homem em seu próprio meio. O Ho-mem que possa florescer o seu potencial, o Homem que tenha oportunidades, o Homem quetrabalhe, o Homem que desempenhe um papel dentro do mundo em que vive. O Homem ajus-tado à sua Comunidade. É preciso despertar no indivíduo a consciência de que ele, comocidadão, é responsável pela sua Comunidade”.

Sua dedicação a esse objetivo foi total até os últimos dias de vida, quando mesmo nacama, realizou reuniões e acompanhou com detalhes todo o andamento das atividades doCMV.

Em reconhecimento por essa dedicação, em seu enterro, recebeu uma emocionada ho-menagem do Arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo, o Cardeal Arns, e de centenas demulheres que, de forma comovida, acompanharam a cerimônia vestindo aventais rosa, marcaidentificadora das voluntárias do CMV.

Com orgulho, norteados pelos princípios de vida de sua mãe e com o desafio de, aomesmo tempo, dar continuidade e ressignificação ao seu trabalho social, três décadas depois,os filhos de Tide Setubal decidiram criar a Fundação Tide Setubal.

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Sumário

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 11

I – São Miguel Paulista: ............................................................................................................. 13De Aldeia de Ururaí a São Miguel Paulista ............................................................................... 15Primeiro desenvolvimento ........................................................................................................... 16O Rio Tietê .................................................................................................................................. 18Movimento Popular Autonomista – M.P.A ................................................................................. 22O Movimento Popular de Arte .................................................................................................... 23Monumentos Arqueológicos ........................................................................................................ 25São Miguel, hoje .......................................................................................................................... 26 São Miguel e os Imigrantes ....................................................................................................... 28II – Nitro Química ........................................................................................................................ 31A chegada da fábrica e um novo ciclo de desenvolvimento ....................................................... 33Os acidentes e as greves ............................................................................................................. 35Nova fase – investimentos e demissões ..................................................................................... 36O esporte e lazer nos tempos da Nitro ...................................................................................... 37III –CDC Tide Setubal ................................................................................................................ 41O Jardim São Vicente .................................................................................................................. 43CDM Tide Setubal ...................................................................................................................... 45Uma nova parceira na comunidade ............................................................................................. 47As Entidades co-gestoras ............................................................................................................ 48Projetos e atividades do CDC em 2006 ...................................................................................... 50Bibliografia ................................................................................................................................... 53Apêndice ....................................................................................................................................... 54Anexo I - Moradores entrevistados ......................................................................................... 57Anexo II - Professores e monitores ........................................................................................... 59Equipe Técnica e agradecimentos .............................................................................................. 61

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Jovens do Projeto São MiguelPaulista e Brasileiro

Edição 2006

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Projeto São Miguel Paulista e Brasileiro

ApresentaçãoO Projeto São Miguel Paulista e Brasileiro foi elaborado e desenvolvido em consonân-

cia com a missão da Fundação Tide Setubal cujo foco é contribuir para o desenvolvimentolocal sustentável e o empoderamento da comunidade das regiões onde atua.

Para concepção do projeto foram utilizados como base os dados da pesquisa sobreuso e grau de satisfação dos equipamentos públicos, hábitos e costumes dos moradoresde São Miguel Paulista, encomendada pela fundação e realizada pelo Ibope. Além disso,seguindo metodologia que adotamos em todos os nossos projetos, o São Miguel Paulista eBrasileiro baseou-se também em diversos diagnósticos, estatísticas oficiais e indicadoressociais da região, especialmente sobre o público jovem.

Tanto a pesquisa Ibope quanto os dados e informações sobre educação, emprego evida comunitária dos jovens que residem em áreas de alta vulnerabilidade social apontampara um quadro não muito animador que leva a maioria da população dessa faixa etária asentir-se excluída do acesso e da produção da cultura e do mercado de trabalho.

O cenário torna-se ainda mais difícil para o jovem porque a territorialização nas perife-rias dos nossos grandes centros configura-se quase que como um confinamento, impostopelas condições sócio-econômicas que (de) limitam a mobilidade.

Em contrapartida o bairro é uma referência fundamental na vida das populações quevivem na periferia. Ali estão a escola, a família, os amigos e, muitas vezes, o trabalho e olazer. O lugar é o local onde as relações do social, do econômico, do político acontecemconcretamente. É no lugar que se cria a comunidade, o sentimento de pertencimento, o eloentre o global e o local.

Aliando essa concepção à temática da empregabilidade dos jovens, o projeto tevedois objetivos principais: conhecer e ressignificar o território de São Miguel Paulista comoespaço vivo, constituído por interações intersubjetivas e carregado de memórias e signifi-cações; e oferecer aos jovens uma formação básica como pesquisadores na área sócio-cultural.

Contando com o apoio da Prefeitura (Programa Capacita Sampa) e do Governo doEstado de São Paulo (Programa Ação Jovem), que concederam 30 bolsas, os jovens –com idades entre 16 e 20 anos – trabalharam por meio da realização de entrevistas commoradores antigos de São Miguel Paulista, valorização da memória local, criação de acer-vo fotográfico do patrimônio histórico local, desenvolvendo a compreensão sobre a históriamaterial e imaterial existente no território.

As atividades ocorreram de segunda à sexta-feira no CDC Tide Setubal, num períodode quatro horas diárias, durante seis meses, num total de 340 horas de formação. As ofici-

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nas e palestras abordaram diversos temas que foram da introdução à informática, comfoco na construção de blogs; trabalho em equipe; metodologia de pesquisa e memória;fotografia; escrita, artes visuais; música; teatro; meio ambiente e reciclagem; relações so-ciais e orientação profissional.

Para ampliar a mobilidade e o contato dos jovens com outros elementos da cultura dacidade de São Paulo, oferecendo elementos para que eles traçassem paralelos entre cons-tituição e formação da região central em contraposição à experiência vivenciada no bairro,foram realizadas expedições exploratórias, saídas fotográficas e visitas monitoradas a di-versos espaços, entre eles o Museu Paulista, Museu da Casa Brasileira, Museu de ArteModerna e Pinacoteca do Estado.

Entre os muitos aprendizados que adquirimos com o projeto São Miguel Paulista eBrasileiro ganham destaque, por sua essencialidade, o pressuposto de considerar o jovemcomo sujeito de potencial criativo e ativo e a necessidade de ofertar a ele espaço concretopara que participe tanto do desenvolvimento do projeto, quanto das práticas cotidianas doseu bairro. Essa construção de um espaço de reflexão e discussão do exercício da cidada-nia possibilita ao jovem a ampliação do seu universo cultural e a aquisição de ferramentasessenciais ao seu ingresso e progressão no mundo do trabalho.

Maria Alice Setubal

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IntroduçãoA elaboração da publicação do Projeto São Miguel Paulista e Brasileiro é resultado de

um trabalho coletivo, da interação entre os jovens pesquisadores e educadores do projeto,numa troca de saberes e aprendizagem constante.

Muitas demandas que foram surgindo no projeto indicaram a necessidade da criaçãode um centro de documentação, um CEDOC, com o objetivo de organizar todo processo depesquisa, cadastro dos moradores entrevistados, digitalizar e legendar fotos e documentoscedidos pelos moradores, catalogar todo material produzido durante as formações, criarprocedimentos e controles do trabalho, digitar todas as entrevistas na criação de arquivopadronizado, disponibilizando o acesso para a comunidade. O CEDOC, coordenado pelosjovens pesquisadores, teve orientação da coordenação do projeto, na divisão de tarefas,com equipes de trabalho: equipe de entrevistas, equipe de fotografia e equipe do CEDOC.

A equipe de entrevistas foi organizada com foco na realização de pré-entrevistas comos moradores antigos. Após agendamento, se deslocavam para a casa do morador, bus-cando identificar os personagens para a construção de nossa história e fotos antigas dobairro. Foram selecionadas pré-entrevistas, para o processo efetivo de entrevistas, resul-tando em belíssimos relatos, que deram uma construção de texto enriquecedor pela emo-ção das pessoas ao compartilhar sua história de vida e seu olhar sobre São Miguel.

A equipe de fotografia teve a função de registrar monumentos, casas, praças, equipa-mentos públicos, na construção de acervo digital, hoje com mais de 300 fotos, graças àcolaboração da comunidade no fornecimento de imagens antigas. Este acervo resultounuma exposição de fotos digitais: “Um olhar sobre São Miguel”.

Em nossa fase final, na elaboração desta publicação, os jovens se debruçaram naconstrução dos textos com foco em São Miguel, Nitro Química e CDC Tide Setubal. Esteprocesso foi realizado por meio de pesquisa dos acervos locais, como a hemeroteca daBiblioteca Raimundo de Menezes, análise de mais de 50 pré-entrevistas e oito entrevistascom enorme gama de informações dos moradores, além de livros, vídeos sobre os temas,pesquisas em sites, visitas à fábrica Nitro Química, contato com o projeto MemóriaVotorantim.

Foi necessário que a equipe de coordenação, junto com os jovens, reescrevesse ostextos muitas vezes, o que exigiu muita persistência de todos até a fase da edição do textofinal, realizada pela equipe de coordenação do projeto.

A construção coletiva foi pensada e problematizada, nos detalhes que são sempremais visíveis no momento que imaginamos a compreensão do outro, numa exposição dosdados com clareza, no processo de revisão ortográfica, na análise cronológica das épocascitadas, na inclusão de relatos dos moradores e nos ajustes. Consideramos que este traba-lho representou grande desafio para todos os jovens e educadores que contribuíram para oresultado final.

Mauro Bonfim e Simone CiraqueCoordenação Técnica do Projeto SMPB

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1 São Miguel Paulista

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I – Histórias de São Miguel:De Aldeia de Ururaí a São Miguel Paulista

Localizado no extremo sul da zona leste, o bairro foi fundado pelo padreJosé de Anchieta, mas que resiste a uma polêmica em relação ao verdadeiroano da sua fundação. Atualmente é considerada a data oficial de 21 de setem-bro de 1622, ano de conclusão das obras da antiga Igreja. Para alguns historia-dores seria mais precisamente em 1560, quando o jesuíta reencontrou nas ter-ras de Ururaí um grupo de índios Guaianases, chefiado por Piquerobi, irmão doíndio Tibiriçá. Estes indígenas haviam abandonado as imediações do colégiojesuíta de São Paulo, quando no mesmo ano os moradores da vila de SantoAndré da Borda do Campo foram transferidos para o planalto de Piratininga.

O padre Manoel da Nóbrega pediu a Anchieta que os procurasse para reto-mar o trabalho de evangelização com os nativos.

Durante muito tempo, o bairro foi conhecido como São Miguel de Ururaí,devido ao nome que os índios davam ao trecho do rio Tietê que passava próxi-mo à região, onde foi construída a Igreja velha. Em 1948 ocorreu a 3º nomeaçãode São Miguel, que foi São Miguel de Ururaí para Baquirivú, mas em 1948, emconseqüência de protesto dos moradores, passa a ser São Miguel Paulista.

A Igreja de São Miguel Arcanjo

A Igreja de São Miguel era uma pequena capela chamada Igreja dos Índios.Foi construída no ano de 1560, pelas mãos dos Índios Guaianazes, tendo orien-tações do carpinteiro e bandeirante Fernão Munhoz.

Capela São Miguel antesdo processo de restauro(2005). Neste período aUnicsul mantinha um

funcionário que forneciaorientações aos

visitantes.

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O principal intuito da construção da Igreja era a catequização dos índios,que foi exercida pelo Beato José de Anchieta. A igreja foi construída de taipa depilão (terra crua apiloada em formas), com um estilo artístico e arquitetônico tipi-camente brasileiro, e foi nomeada de São Miguel Arcanjo por causa da devoçãoque o Beato José de Anchieta tinha para com o anjo, mas somente no ano de1622 a igreja foi oficialmente reconhecida como a Igreja de São Miguel Arcanjo.

Ela é a única construção na cidade de São Paulo que se conserva totalmen-te original, como ficou depois da reforma que sofreu, com paredes em taipa depilão.

Primeiro desenvolvimentoO bairro teve a primeira fase de desenvolvimento econômico durante o sé-

culo XVIII, graças à atividade agrícola com o cultivo de cana-de-açúcar em pe-quenas roças e a adoção da mão-de-obra escrava, de origem africana nas la-

vouras de todo o Estado. Esse desenvol-vimento trouxe como conseqüência a de-cadência do aldeamento indígena, poiscom a resistência indígena na realizaçãode trabalhos forçados, os índios perdema importância e passam a sofrer alto índi-ce de mortalidade, fugas para outras re-giões, redução da população e principal-mente a miscigenação.

Após o crescimento durante o sécu-lo XVIII, São Miguel se depara, no início

do século XIX, com um período de estagnação que teve vários fatores que con-tribuíram dentre eles: o desgaste do solo, a transferência das grandes lavouraspara o interior da província de São Paulo, com isso, alterando o foco de interes-se para terras mais distantes e atrativas para a expansão agrícola. Dessa forma,o bairro tornou-se uma espécie de arraial, dependendo da freguesia da Penha.

No início do século XX, o bairro passa a desenvolver nova atividade produ-tiva, com o surgimento das olarias, que trouxe um grande número de migrantespara a região, multiplicando-se em função do crescimento urbano da cidade quecada vez mais buscava ir atrás de materiais de alvenaria. Além de tijolos, a cida-de também proporcionava pedregulho e areia tirada do rio Tietê.

No curso desse rio se escoavam os produtos demandados pelo centro con-sumidor. Mas, se por um lado a produção seguia seu caminho, o transporte hu-

O principal centro comercial e de moradia era oentorno da capela até a dácada de 40, com a

chegada da Nitro o comércio se deslocou para aregião próxima a estação de trem ( década 1930)

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mano continuava impraticável. O afluxo denovos trabalhadores para as olarias agra-varia o problema.

Neste período, São Miguel vivia comcaracterísticas de uma cidade do inte-rior: poucas casas, quantidade pequenade moradores, a falta de infra-estrutura,como estradas arruadas, energia elétri-ca, transporte público, que na época con-tava apenas com o trem cuja estação fi-cava na região de Itaquera, portanto dis-

tante do centro comercial do bairro. O trem chega em Itaquera em 1876, dessamaneira embarcava-se no trem em Itaquera ou Lajeado, ou pelo caminho daPenha, e completava-se o percurso em bondes elétricos até o centro da cidade.

Já em 1903, o bairro dá sinais de crescimento e conta com 108 casas e2.299 habitantes. A principal atividade era a indústria da cerâmica de barro tira-do das margens do Rio Tietê. A partir de 1913, o bairro evolui ainda mais comer-cialmente. Pode-se considerar um marco histórico da expansão urbana de SãoMiguel a construção da Rodovia São Paulo - Rio, em 1920, que cortava o bairroe o colocava no principal circuito comercial interestadual, pois passa a ligar SãoPaulo ao Rio de Janeiro.

“(...) Aqui não tinha nada! A única praça quetinha aqui era a da igreja mesmo, a antiga. Nessavila que nós estamos não tinha nada, era pasto de

vaca de leiteiro, tinha meia dúzia de português quecriava vaca (...) então aqui criavam vaca, e era umatoleiro que você não faz idéia, de vez em quando

morria vaca atolada (...) Aqui era tudo mato”.Sr. Jesuíno Braga – morador do bairro e artesão

Se com a rodovia São Paulo - Rio, oprogresso se tornou possível, com a che-gada da estrada de ferro (varianteCalmon Viana), em 1932, ele se tornou realidade. Muitos migrantes de váriaspartes do país, com predominância da região Nordeste, começam a vir para obairro, na busca de terreno mais barato e um custo de vida mais baixo, o quefavoreceu o incremento do comércio local e, principalmente a abertura de casasde materiais de construção.

Antiga olaria que produziu tijolos na década de1930 para o centro de São Paulo e estavalocalizada na área do Jardim Lapenna

São Miguel

Estrada São Paulo - Rio na altura dobairro do Itaim Paulista na década de 1920

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“Naquele tempo você podia contar quantas casas comerciais tinha em São Miguel,e só tinha naraça do largo da igreja, tinha fotógrafo, cartório, açougue, armazém,

que naquele tempo era armazém de secos e molhados, que vendia de tudo, tudo era no largo da igreja, era o centro do comércio”.

Sr. Jesuíno

“Tinha cinco lojas em São Miguel, o resto era só boteco. Era a casa São José, era a Econômica doPovo, a Casa para Todos, o depósito do turco Miguel, era conhecido como Miguelão, tinha uma

casa de móveis, eu não me lembro o nome da outra casa (...) Padaria só tinha uma. Padaria doSenhor Caldini, farmácia só tinha uma, do Armando Righetti, tudo era assim um só (...) Tinha que

comprar tudo na Penha, em São Miguel não tinha nada”.Osvaldo Pires de Holanda - morador de São Miguel, escritor e fundador do Clube de Esperanto.

Dessa forma, o interesse pelo bair-ro aumenta e novos loteamentos de áreacomeçam a ser colocados à venda, in-clusive gerando a criação de linhas de ôni-bus para atender os interessados na aqui-sição de lotes no bairro. E assim era co-mum encontrar nas praças placas com ainscrição de “vende-se lotes”.

Esse movimento em torno de SãoMiguel também trouxe aspectos negati-vos, como a especulação imobiliária, queprovocaram um crescimento desordenado em torno do centro do bairro, a ocu-pação de áreas de mata atlântica e as construções irregulares próximas às nas-centes de córregos e rios. Esse problema não é recente, pode ser verificado emtodas as regiões periféricas da cidade São Paulo.

“Não tinha asfalto nenhum, era tudo terra, a empresa de ônibus daqui, que era do Toninho, vocêsaía daqui e ia pra Penha, era tudo mato, da Penha pra lá já tinha várias moradias, mas pra cá era

tudo mato, então, a Nitro foi o elo de crescimento de São Miguel, que cresceu em torno da Nitro,tanto que cresceu desordenado, hoje você vê, nós temos o centro de São Miguel totalmente

embananado aqui. Por quê? Porque a estrada foi feita, aquela estradinha, do meio pra frente elatem as duas pistas, muito bem, dá pra se virar, mas esse pedacinho daqui do centro de São Miguel”.

Antonio dos Santos Xavier – morador e ex-funcionário da Nitro Química

O Rio TietêO Rio Tietê foi extremamente importante para o desenvolvimento de São

Miguel, desde a criação da Igreja até os anos 1940. Durante muito tempo, o riofoi a principal forma de escoamento da produção de tijolos e produtos agrícolas

Praça principal do distrito da Vila Curuçáque pertenceu a São Miguel até 2002

(década de 1940)

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das roças existentes na região, pois as estradas que ligavam o bairro ao centroda cidade eram muito ruins.“Todo mês de setembro a gente corria na margem do Tietê. Pra quê? Pra ver a Piracema. (...) Piracemaé a desova dos peixes, e quando ele vai desovar, ele vai na nascente do rio, sobem o rio e vão desovarna nascente. Era um espetáculo todo ano no mês de setembro. Quantos peixes não pulavam pra fora evocê pegava com a mão, de tanto peixe que subia pelo rio. E as aves que gostam de peixe: como tinhaaqui! A piracema trazia muita ave que se alimenta com peixe. São Miguel era isso daí!”Sr. Jesuíno

O Tietê contribuiu também com o desenvolvimento urbano do bairro, poisde suas encostas eram retiradas tonela-das de areia que serviram para a cons-trução das casas e edifícios públicos, an-terior a este período, as margens do rioeram utilizadas pelas olarias que do bar-ro fabricavam tijolos que eram enviadospara o centro da cidade.

Ao mesmo tempo em que serviacomo via de transporte, o Tietê foi a prin-cipal forma de lazer dos moradores, quepodiam brincar e realizar piqueniques em

suas margens. Isso foi intensificado com chegada da Nitro, que utilizou um tre-cho do rio para a sua estrutura social e esportiva, com a prática de esportesnáuticos, como o remo e a natação. Podia ser considerado como uma espéciede balneário, devido à existência de água límpida e própria para banhar-se.

“A piscina naquele tempo era um cocho de madeira, bem grande, tinha uns 20 metros por uns 10 delargura, dentro do Tietê, amarrado com um cabo de aço, em cima de tambores, era tudo tambores em

volta e o cocho se escorando neles, era um cocho mesmo, de madeira, com uma profundidade quedava até o ombro, mais ou menos. Essa era a piscina do clube, naquele tempo, dentro do Tietê. Quem

não gostava de nadar no cocho, que era muito raso, nadava no rio”.Sr. Jesuíno

A evolução do bairro se deu claramente após a chegada da fábrica Compa-nhia Nitro Química Brasileira, do Grupo Votorantim, no final da década de 1930.E com ela uma nova fase de crescimento populacional, pois diante da oferta deemprego, um número muito grande de migrantes nordestinos deixou as suasfamílias para trás e veio em busca de melhores condições de vida. Eles encon-travam facilidade de chegar na Nitro com a construção da estação de trem deSão Miguel em 1939, pois o migrante saía da estação e já estava do lado dafábrica, fazia a documentação e começava a trabalhar no dia seguinte, conformerelata o Sr. Xavier:

O Rio Tietê foi largamente utilizadopelos dragueiros para levar areia e tijolos

para o centro de São Paulo atédécada de 1940 (foto de 1936)

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“Naquela época o pessoal vinha do Nordeste, por exemplo, de Minas, Bahia, Pernambuco, vinhamde caminhão, o chamado pau-de-arara. Chegava aqui, a Nitro... só se não tivesse saúde, se tivesse

saúde tinha emprego, qualquer pessoa que chegasse com saúde ia lá, não precisava ter documento,nada, apenas a certidão de nascimento, já era o suficiente pra trabalhar.”

Sr. Xavier

Os migrantes recebiam o apoio dos moradores e comerciantes da região,que perceberam as criação de novas oportunidades, como relata dona Luzia.

“A família que vinha de pau-de-arara pra cá, era meu sogro, o velho Aurelino Araújo. Ele é queminseria todo mundo da Nitro Operária naqueles caminhões de pau-de-arara que chegavam. Ele

tinha uma mercearia, chamada Estrela do Norte, então os pau-de-araras chegavam, descia tudo lá,arrumava canto para um, acampamento para outro, era assim”.

Lúzia Trindade Araújo – moradora do Jardim São Vicente há mais de 50 anos

Além da oportunidade de emprego,a Nitro oferecia uma série de benefíciosaos funcionários, dentre eles a possibili-dade de morar em um casa construída naVila Operária. A partir desta iniciativa,outras começaram a surgir com a aber-tura de novos comércios, inclusive fora docentro de São Miguel, como explica o Sr.Jesuíno:“Com a vinda da Nitro começou outras ruas a seremconstruídas, porque ali começou a construção de

casas, era tudo vazio, tinha uma aqui, um sitiozinho aqui, outro lá. Aí começou a construção, a rua daestação ficou totalmente construída, por causa do trem e da Nitro, foi a primeira rua a ficar totalmentepronta, ali era o foco. Muita gente vinha trabalhar na Nitro de trem, então ali ficou uma rua decomércio, naquele tempo, aí comércio do largo da igreja começou... hoje não tem mais comércio ali.Começou a se espalhar por São Miguel. A segunda rua mais comercial é aquela que vai pra vilaindustrial, começa ali no centro, esqueci o nome da rua. Ali tinha um cinema, ficou mais comercialainda e com muitos bares. O nordestino que veio pra São Miguel adorava um bar, adorava, jogarsinuca. Construíram um cinema, já ficou uma diversão a mais, tinha um clube que não existia, e o largoda igreja foi morrendo, porque o comércio foi se espalhando. E as construções, e mais ruas que seabria.”

Sr. Jesuino

Na contramão do desenvolvimento, um episódio serviu para a mobilizaçãodos moradores do bairro, quando em 1944 foi feita uma mudança do nome dobairro sem consulta pública, passando de São Miguel de Ururaí para Baquirivú,que permaneceu durante quatro anos. Depois de protestos dos moradores, pas-sou a chamar São Miguel Paulista.

Centro de São Miguel foi evoluindocom o passar do tempo, principalmente

a partir da chegada na CompanhiaNitro Quimica na década de 1930

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“E São Miguel não era São Miguel, eles queriam, no começo, eles queriam que fosse Baquirivú onome, porque ele era um nome indígena, porque quem fundou São Miguel foram os índios, (... não

aceitaram esse nome, aí voltou a ser São Miguel. Mas a estação já estava, quando eu era menina, naestação já estava escrito Baquirivú”

Dona Lúzia

Mesmo com o expansão do comér-cio desencadeado pela Nitro Química, odesenvolvimento do bairro não seguiu namesma direção para a resolução dos pro-blemas de falta de infra-estrutura com oaumento populacional deflagrado pelaoportunidade de emprego oferecida pelaCompanhia. Em menos de 10 anos, a po-pulação de São Miguel salta de 8 mil para40 mil habitantes.

“[ Em relação ao aumento da população devido à chegada da Nitro ] Quantas pessoas ela trouxe praSão Miguel! Foi um ‘bum’, assim, que São Miguel não tinha rua, não tinha nada, e era desordenada,depois, com o tempo, que foram alinhando ruas, derrubando casas, porque era tudo desordenado. E

o indivíduo vinha pra cá com a intenção de quê? Comprar um terreninho, construir uma casinha.Sem a Nitro aqui não tem nada, vai ali na Vila Operária, vê as casinhas antigas que tem ali”

Sr. Jesuíno

O crescimento populacional passa a preocupar também a igreja católicaque no dia 13 de Janeiro de 1952 inicia,a partir do assentamento da pedra funda-mental, a construção da nova Igreja Ma-triz, para receber maiores quantidades depessoas, pois a antiga igreja se tornarapequena diante do aumento da popula-ção do bairro.

Neste mesmo período verifica-se ainstalação de entidades de cunhoassistencial, como Rotary Club, LionsClub e Loja Maçônica, que passam a con-tar em seus quadros com os mais proe-minentes comerciantes da região, que buscam nas associações as soluçõespara os problemas existentes na comunidade.

O desenvolvimento da população em relação às políticas pública leva, em

A Loja maçonica é uma associaçãoformada por pessoas da comunidade eestá presente em São Miguel desde a

década de 1950

Lions club é uma organização internacionalvoltada para prestação de serviços humanitárioe está em São Miguel desde a década 1950 e a

sede foi inaugurada em 1965

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1953, a um movimento de independência do bairro.Passaram-se os anos e, mesmo diante de tamanha demonstração de des-

contentamento dos moradores, as políticas públicas de infra-estrutura permane-ceram apenas nos discursos proferidos pelos políticos em época de eleição.

Movimento Popular Autonomista – M.P.A.Neste cenário surge o Movimento Popular Autonomista - M.P.A. em 16 junho

de 1962, que lutava pela autonomia do bairro, ou seja, separar-se de São Paulo.Fato que não seria fácil, já que o bairro contava com um grande número de elei-tores, que eram disputados pelos candidatos de ocasião.

“Nós fizemos um comício que foi o maior comício que São Miguel já teve, eu tenho foto e tudo daépoca, foi na Praça Um, que e hoje se chama Praça Getúlio Vargas Filho. E na nossa

campanha tinha o SIM, que era sim a autonomia, e o NÃO era para não separar.E nós mostrávamos ao povo, todas as necessidades de São Miguel e por isso nós queríamos nos

desmembrar, porque São Miguel tinha naquele tempo, a Nitro Química tinha mais de 6 milempregados. Só a Nitro Química dava para manter o bairro.”

Sr. Osvaldo

Durante dois anos, os organizadores do M.P.A. realizaram 27 comícios nasprincipais localidades do bairro, mobilizando a comunidade para o debate acer-ca das vantagens e desvantagens de se tornar um município. Essa iniciativacontou com apoio de prefeitos das cidades vizinhas de São Paulo e de políticossimpatizantes com a causa, mas perdeu a batalha jurídica para a AssembléiaLegislativa de São Paulo, que votou contra a autonomia de São Miguel Paulista. “Todos esses benefícios só chegaram aqui depois de 1964, porque nós fizemos um movimento, eu

fui presidente desse movimento em São Miguel, chamado MPA (Movimento Popular Autonomista),nós queríamos desmembrar São Miguel da Capital, transformar isso aqui em cidade, e nós tivemos o

apoio de prefeituras, como o prefeito de Itaquá na época e o de Osasco”Sr. Osvaldo

O M.P.A. teve papel importante para as conquistas do bairro nas questõesrelacionadas à presença do poder público, como na instalação de equipamen-tos como escola, delegacia de polícia, hospitais, entres outros, pois as autorida-des perceberam uma possibilidade de perder um importante colégio eleitoral.“Iam acabar perdendo esse colégio eleitoral, que naquele tempo o governador era o Jânio Quadros

e tinha aqui um eleitorado enorme, então a ele não interessava, para o governo delenão interessava que São Miguel se desmembrasse (...) e lutou para que São Miguel não passasse

e não passou mesmo”.Sr. Osvaldo

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Seguindo esta lógica, em 1966 foi instalada a Administração Regional deSão Miguel, que nesta época abrangia os bairros de São Miguel Paulista,Itaquera, Ermelino Matarazzo e Guaianazes, apesar destes bairros não perten-cerem mais ao controle de São Miguel. Em 1972, após desmembramento emnovos distritos, a área administrativa ficou abrangendo os bairros de São MiguelPaulista, Ermelino Matarazzo e Itaim Paulista. Perguntado se hoje retomaria adiscussão sobre um possível desmembramento de São Miguel, Sr. Osvaldo res-ponde:

“São Miguel perdeu mais da metade da sua área e quando nós fizemos aquele movimentoautonomista São Miguel era distrito e Itaquera, Ermelino Matarazzo, Guaianases e Itaim eram

sub-distritos de São Miguel, estavam subordinados a São Miguel. Se São Miguel tivessepassado a autonomia, além de São Miguel, também Itaquera, Guaianases, Ermelino Matarazzo eItaim pertenceriam à cidade, seria uma cidade só. Hoje está tudo dividido, São Miguel é distrito,mas eles também são. Então hoje eu não faria o movimento autonomista porque São Miguel tem

força muito pequena”.E finaliza:

“Eu tenho muita satisfação de ter contribuído para a melhoria de São Miguel, porquese não fosse o Movimento Popular Autonomista, acredito que teria demorado

muito mais para virem esses benefícios”.Sr. Osvaldo

O Movimento Popular de ArteOutro movimento marcante no bairro foi o M.P.A. Movimento Popular de Arte,

que surgiu no ano de 1978 e era formado por jovens artistas populares que bus-cavam espaço para apresentar as suas produções artísticas. Eram eles: músi-cos, atores, poetas, artistas plásticos, professores, que se reuniam para mostrara produção cultural existente na periferia do bairro com apresentações de showsmusicais, peças de teatro, brincadeiras infantis, “varais” de poesia, mostras depintura e fotografia e filmes ao ar livre, que eram exibidos nas praças públicas deSão Miguel.

O M.P.A. sustentava-se com os recursos arrecadados em festas, rifas e pe-quenas contribuições de seus integrantes e muitas vezes de comerciantes dobairro. O movimento tinha como principal objetivo a construção de uma casa decultura em São Miguel Paulista, mas este objetivo não foi alcançado.

As praças de São MiguelA Praça Getulio Vargas Filho (antiga praça Hum) encravada bem no centro

velho de São Miguel, durante muito tempo abrigou as mais importantes manifes-tações populares e comícios no período da década de 1960 e teve no seu entor-

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no o principal comércio varejista, escritó-rio de advocacia e contabilidade, consul-tório médico e armarinhos e no prolon-gamento da Rua da fábrica (atual ArlindoColaço), o Cine São Miguel.“Um era o Cine La Pena. [localizado na Praça Pe.

Aleixo]. E em São Miguel tinha um onde é hoje oPonto Frio. Esse era o Cine São Miguel [na Rua

da fábrica atual Arlindo Colaço]. Ele foi oprimeiro, depois que o La Pena foi construído” Heitor Theodoro do Nascimento - morador do

bairro e ex-funcionário da Nitro

Outra importante praça do bairro é a Campos Salles (atual Praça Pe. Aleixo),onde se encontra a igreja velha de São Miguel e um pequeno comércio formadodurante anos. Ganha impulso com a criação do Cine Lapenna que se transformaem uma opção de lazer para os moradores do bairro, da década de 60 até osanos 80, quando fecha as suas portas. Atualmente o espaço é sede de umaigreja neopentecostal.

“A gente gostava muito dos filmes, que passava filmes bons. Mas não lembro direito os nomes. Eramfilmes bons, comédia. Não era tanto filme como a gente vê hoje com mais ação. Era mais romântico

(...) Não eram de tanta ação e tanta violência como você vê nos filmes de hoje”.Dona Julia, moradora de São Miguel

“Era o sonho de consumo da época! As matinês do Lapenna!”Jose Luiz Suono (Zé da Balança), morador e comerciante de São Miguel

Palco da Praça do forróO palco construído na Praça Padre

Aleixo Monteiro Mafra (a praça do forró),em formato de “Chapéu de Couro”, foiuma homenagem do poder público àgrande população de origem nordestinaque veio para São Miguel, principalmen-te a partir dos anos 1940, para trabalharna Nitro Química.

Com a construção do palco, as gran-des manifestações populares passam a

acontecer na praça do forró, desde apresentações de shows populares, pas-sando por comícios, até celebrações de missas campais.

Praça Getulio Vargas Filho (antiga praça Hum),é uma homenagem ao filho de Presidente

Getulio Vargas (1930- 1947 e 1951-1954),que trabalhou na Nitro Química e faleceu

em São Miguel na década 1940.

O palco da Praça do Forró foi construídopara receber as grandes manifestações

populares de São Miguel

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NT: Em virtude do processo de restauração da capela velha de São Miguel e da revitalização da Praça

Pe. Aleixo Monteiro Mafra, o palco foi demolido no inicio do mês de novembro de 2006 e não existe

projeto para construção de um novo palco de eventos. A finalização do projeto de restauro da Capela

está prevista para junho de 2007.

Monumentos ArqueológicosA casa do Sítio Mirim é uma ruína remanescente da antiga sede do período

bandeirantista do século XVII ou início do século XVIII. Segundo historiadores, aconstrução era ponto de parada dos ban-deirantes, no caminho entre São Paulo eRio de Janeiro, numa das vazantes do RioTietê.

Apesar de não ter mais um valorarquitetônico, é considerado importantesítio arqueológico, após o período de1554 e sofre a ameaça de destruição emfunção do forte adensamento habitacionalno seu entorno.

Atualmente existem grupos ligadosao poder público que estão articulando medidas de intervenção para o local coma construção de museu que abrigaria, além do acervo da ruína, salas de convi-vência e auditório para atividades culturais.

Fazenda BiacicaSituada na estrada da Biacica, no distrito do Jardim Helena, a Chácara dos

Fontouras ocupa uma área com cerca de 100 mil m2. De propriedade particular,está sem uso há algumas décadas, o quevem comprometendo sua conservação eintegridade. Originalmente, pertencia àantiga Fazenda da Biacica, mantida pelaOrdem de Nossa Senhora do Carmo des-de 1621.

Uma capela de taipa de característi-cas luso-brasileiras, com invocação deNossa Senhora da Estrela de Biacica, foiconstruída no local no fim do século XVII.A imagem da padroeira foi transferida

As ruínas do Sítio Mirim estálocalizada próxima a avenida Assis

Ribeiro na Vila Jacuí

A Fazenda Biacica é um patrimôniocultural, está localizada no Jardim

Pantanal do Jardim Helena e tem sofridoinvasões de populares nos últimos anos

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para a Capela de São Miguel nos primeiros anos do século XX.Em processo de decadência, a antiga capela recebeu atenção especial

por Levén Vampré, o novo proprietário, que a incorporou a uma casa de linhasneocoloniais, construída na década de 1930 para uso em fins de semana e féri-as. Aproveitando a capela como parte central da casa, a ela foram acrescenta-dos compartimentos laterais, além de uma grande varanda central.

Vampré introduziu elementos artísticos de modo a valorizar a natureza sa-cra da antiga edificação, idealizando um passado em que o catolicismo teriaexercido influência benéfica sobre os indígenas, primitivos habitantes da região.

Entre 1944 e 1978, a família Fontoura foi proprietária do imóvel e ali residiu,associando seu nome à chácara. O CONPRESP reconheceu o valor cultural eambiental da Chácara dos Fontouras através do tombamento em 1994, preocu-pação que Mário de Andrade já expressara em 1937, quando a visitou comotécnico do IPHAN.

São Miguel, hojeO bairro tem aproximadamente 378.438 habitantes, possui duas Bibliote-

cas e muitas escolas estaduais, municipais e particulares, uma universidade pri-vada e um Centro Educacional Unificado (CEU Parque São Carlos), escolas deidiomas e profissionalizantes que oferecem formação para o mercado trabalho.Na área cultural, o bairro conta com apenas uma oficina cultural do Estado (Ofici-na Luiz Gonzaga), uma Casa de Cultura do município e uma grande quantidadede auditórios nas escolas e associações classistas, mas que são pouco utiliza-dos pela comunidade.

A prática do esporte e lazer acontece em diversos pontos da região, comonas mais de 20 ruas de lazer, nos Clubes da comunidade e da cidade, além depossuir uma grande quantidade de quadras poliesportivas e campos de futebolsociety privados. Por outro lado, os equipamentos públicos carecem de maiorarticulação e preservação, como são os casos das ruas de lazer e os camposde futebol de várzea, que a cada ano cedem lugar para empreendimentos imobi-liários.

Em relação à saúde, São Miguel tem o Hospital e Pronto Socorro TideSetúbal, Unidades Básicas de Saúde, Centro de Referência ao Idoso (CRI) eHospitais e Clínicas particulares. Apesar da oferta de serviços médicos, ainda éinsuficiente o atendimento à demanda existente no bairro, seja pelo fato do altocusto dos convênios médicos, que afasta a população mais carente, seja pelafalta de equipamentos públicos de saúde nas regiões vizinhas, acarretando

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superlotação nas unidades existentes.O bairro conta com o recém-inaugurado terminal

de ônibus São Miguel, uma grande quantidade de li-nhas de ônibus que vão até estações do Metrô e aocentro da cidade, um ramal ferroviário e uma conside-rável frota de veículos, transformando a região centraldo bairro em um verdadeiro caos viário ( não medidopelo CET). Com poucas vias de escape, o bairro so-fre com o intenso tráfego de ônibus e caminhões quecirculam nas avenidas São Miguel, José Artur da Novae Marechal Tito, para fugir dos pedágios das rodoviasDutra e Ayrton Senna com destino ao Vale do Paraíba.Esse é um problema antigo e com soluções previstasno plano diretor do bairro, como a construção de ummini-anel vário que desafogaria o trânsito do centrode São Miguel, entre outras medidas.

O comércio local passou por grandes transforma-ções desde o começo no final do século XIX. O au-mento da população trouxe para o bairro uma grandequantidade de prestadores de serviços em vários se-tores. As pequenas lojas mantêm o seu charme, po-rém são acossadas pelas grandes redes que chegamao bairro com uma rapidez própria do negócio do va-rejo. Atualmente, o comércio de São Miguel é referên-cia em vários setores, principalmente entre as redesvarejistas de produtos populares, atraindo uma gran-

de quantidade de consumidores de outras bairros e municípios que vem à SãoMiguel adquirir os produtos e serviços.

Nesse mesmo dinamismo, convive com um grande número de ambulantesespalhados pelas ruas e calçadas, transformando o caótico movimento de veme vai dos consumidores em arriscadas tentativas de ultrapassagens pelas viasocupadas por ônibus e caminhões. No entanto, tudo isso não tira o desejo dosmoradores antigos em continuar morando em São Miguel.

“O que eu tenho a falar é sobre meu ponto de vista sobre São Miguel. Gosto daqui. Vim de Minas eessa é a cidade que eu adotei. Tem muita gente que acha que morar em São Miguel é pejorativo,

tem preconceito, mas eu não tenho não. Gosto daqui. Para mudar daqui vai ser difícil”Sr. Heitor

“Hoje há um progresso muito grande. Já não é aquela mesma estrutura. Aqui passou a serpraticamente um bairro dormitório. Todo mundo trabalha longe, sai cedo e volta pra casa

praticamente pra dormir. E também ficou um bairro bem comercial”Dona Julia

Terminal de ônibus de SãoMiguel fica no Parque

paulistano e foi inauguradoem 2006

O trânsito de São Miguel setorna cada vez mais caóticona região central do bairro

(rua Arlindo Colaço)

O comércio ambulanteganha novos adeptos todosdias e disputam a atenção

dos consumidores nocalçadão da Serra Dourada

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São Miguel e os ImigrantesComunidade Árabe

A comunidade árabe tem uma pre-sença marcante no bairro de São Miguel,desde a sua chegada por meio dos mer-cadores no início do século passado.Muitos se firmaram na região realizandopequenos negócios, abertura de lojas quepodem ser freqüentadas até os diasatuais. Os muçulmanos freqüentam nobairro a Associação Cultural Islâmica, co-nhecida como Mesquita, na vila Rosária.

A presença da cultura árabe na for-mação do povo brasileiro pode ser datada desde o período da colonização,com as influências adquiridas pelos portugueses e espanhóis nas sucessivasguerras entre essas civilizações. Elas aparecem na arquitetura com seus arcos,na culinária com a introdução do arroz e de condimentos como açafrão e o maisnacional de todos eles - o café. Essas influências podem também ser observa-das no desenvolvimento do alfabeto e nas palavras (e na forma de lermos daesquerda para direita) e no uso da álgebra para solucionar problemas matemá-ticos e outras influências.

No entanto, o que chama mais a atenção é a religião islâmica. Ao contráriodo que muitos pensam, é uma religião universal, inclusive aberta a não árabes eque não necessita falar a língua árabe para freqüentá-la. A restrição é que oalcorão (livro sagrado) deve ser rezado na língua árabe.

Algumas regras devem ser observadas ao entrar em uma mesquita: é exigi-do estar descalço e limpo, a limpeza exige que se lave o rosto, as mãos até aaltura dos cotovelos e que se passe a mão nos pés. A outra importante recomen-dação é o isolamento entre homens e mulheres para que não haja mudança noestado de espírito no ato de prostração.

A Associação Cultural Islâmica (Mesquita) foi fundada em 27 de Janeiro de1978. A obra foi iniciada e concluída na gestão de Mohamed Ibrahim Salim (pre-sidente), a inauguração oficial foi em 1º de Agosto de 1982 e o miranete foiconstruído no período de 01 de Novembro de 1999 a 30 de Junho de 2000.

Comunidade PortuguesaRepresentada pela Casa de Brunhosinho, é uma associação cultural e re-

creativa sem fins lucrativos, fundada em outubro de 1991 em um espaço doadopela família Pantaleão, que veio em 1961 para São Miguel e se encontra em sua

A mesquita islâmica de São Miguel éconsiderada a maior na cidade São

Paulo e fica localizada na Vila Rosaria eo principalmente ponto de encontro da

comunidade árabe da região

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quarta geração. A origem do nome Brunhosinho vem do nome de uma aldeia emPortugal, onde nasceram as duas primeiras gerações da Família Pantaleão.

Todo mês é realizado um evento que reúne aproximadamente 200 pessoaspara relembrar a terra, por meio das comidas e danças típicas, na qual ocorreapresentações especiais.

O dinheiro arrecadado com as festas é revertido para a própria associa-ção, auxiliando na compra de instrumentos musicais e a produção de figurinotípico para apresentação do “rancho folclórico”, uma dança tradicional do séculoXVII.

Além de manter um grupo adulto que ensaia aos domingos, existe um grupoformado por crianças. Segundo Natália, secretária da entidade, “é para que ascrianças não esqueçam a tradição e os costumes que seus pais trouxeram paracá”. Para participar da entidade só é preciso comparecer aos domingos à tar-de, que será recebido com muito alegria. “São Miguel é um lugar que arranja-mos muitas amizades”, diz Pantaleão.

Comunidade JaponesaA comunidade japonesa tem um espaço garantido na história recente de

São Miguel e ela começa com um dos seus vários imigrantes que apostaram naregião para viver logo após a Segunda Guerra Mundial.

Esse imigrante chama-se Katsuhiko Toda, que chegou ao bairro em 1947com a família e mora na rua que leva o nome de seu pai, Guchi Toda, em SãoMiguel.

Hoje com 77 anos, Sr. Toda é fundador e presidente da Associação Nikkeide São Miguel e estima que vivam hoje nos três distritos aproximadamente 5 milfamílias de origem nipônica.

No mês de aniversário do bairro ocorre a Festa Japonesa que é realizadana Praça da Paz, dentro da Associação Cultural e Desportiva Nikkei, reunindotoda a comunidade e a colônia, que tema oportunidade de demonstrar toda a suatradição por meio de fotos que retratama chegada e a instalação dos japonesesno bairro.

Ao lembrar das dificuldades quepassou, Sr. Toda usa a sabedoria trans-mitida dos antepassados para avaliar omomento atual bairro. “Hoje não temcomparação, São Miguel progrediu bas-tante, é uma cidade boa”, afirma.

Participação da comunidade japonesade São Miguel nos festejos doaniversário do bairro em 2000

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2Nitro Química

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II – Nitro Química

A chegada da fábrica e um novo ciclo de desenvolvimento

A Companhia Nitro Química Brasileira foi fundada em 1935, a partir da aqui-sição de equipamentos de uma empresa americana, a Tubize Corporation, dacidade de Hopwell, Estado de Virginia, que foi desativada devido à crise dabolsa de valores de Nova York em outubro de 1929. Outras fontes apontam ummotivo secundário para a falência da Tubize, que era o fato de ser a última fábri-ca do mundo a utilizar o processo chadornnet para a fábricação do fio rayon, queé um processo perigoso e foi ultrapassado por novos métodos mais seguros,como a viscose e o acetato.

O industrial Wolf Klabin, juntamente com o empresário José Antonio de Mo-rais se interessou em trazer os maquinários e reativar a fábrica no Brasil. Onegócio foi fechado em 11 de setembro de 1935 e eles começaram a tratar datransferência das 18 mil toneladas de maquinário que foram transportadas inici-almente de navio até o porto de Santos e depois de trem até a região de SãoMiguel Paulista.

Alguns fatores contribuíram para a construção da fábrica e suas vilas naregião, como a possibilidade de aquisição de lotes de terras baratos e a locali-zação da empresa próxima ao Rio Tietê, de onde poderia captar água para oprocesso industrial. Além disso, contou também a abundância de mão-de-obrados migrantes nordestinos que procuravam trabalho na Nitro, pois a preferênciada fábrica era por pessoas que tivessem força física e boa saúde para agüentaro alto nível de insalubridade do serviço.

A construção da fábrica foi marcada pelo grande volume de chuvas no ve-rão de 1936, que dificultava o andamentoda obra, e exigia mais esforço dos funcio-nários.

“[No período da construção da Nitro] Começou aconstruir duas vilas, Vila Nitro Química (...) que era

pros operários especializados, a [vila] Americana erapra chefia, pros norte-americanos que vieram pra

ensinar os brasileiros [e foram construídasaproximadamente] umas 200 casas pros operários”

Sr Jesuíno

A Companhia Nitro Química foi umsímbolo do desenvolvimento de SãoMiguel a partir da década de 1930

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Em setembro de 1937 a fábrica começou aprodução de ácido sulfúrico, depois começaram aser ativados outros setores de fabricação do fiorayon, de nitro celulose, entre outros produtos. Nofinal deste mesmo ano, cerca de 1500 funcionáriosjá produziam 200 toneladas por mês de rayon, áci-do nítrico, éter e outros.

Em 1939, a fábrica tornou-se exclusivamentebrasileira, pois a sociedade com os americanos nãoia bem e eles se retiraram por 250.000 dólares.

Em 1940 houve a inauguração oficial da fábri-ca, com a presença do então presidente GetúlioVargas, que tinha estreitas relações com os donos da Nitro, pois até seu filhoGetulinho trabalhou lá como químico industrial, mas foi vítima de uma poliomielitee morreu de neurite infecciosa.

Na Segunda Guerra Mundial (1939 a 1945), a Nitro conseguiu faturar muitopelo fato de não haver concorrência, pois só ela importava e exportava, aumen-tou a produção e se tornou a empresa química brasileira de maior capital.

“Então a gente, estou falando igual eu, que vinha do Pernambuco, da Bahia, do Ceará, enfim,todo mundo lá da roça acostumado a pegar serviço bravo, pegava aqui. Mas os produtosquímicos eram um absurdo. Quem se dava bem não tinha problemas, mas aquele pessoal

que não agüentava, o organismo mais fraco, aquele negócio todo, ou saía ou morria.Estou falando o que eu cheguei a ver gente saindo em camisa de força,

gente estar trabalhando lá e daqui a pouco estar falando bobeira”José Cecilho – morador de São Miguel e ex-funcionário

Nesse mesmo período, a Nitro iniciou um programa de benefícios para osseus funcionários, visando melhorar as condições de trabalho e aumentar a

produtividade. Implantam um berçário,restaurante, assistência médicaambulatorial e funda o Clube de Rega-tas. Faz também um acordo com o Senaipara a instalação de uma escola para for-mação de mão-de-obra especializada,pois verificou-se a importância de umquadro funcional mais qualificado. Comisso vários operários passaram pelos cur-sos do Senai.

Funcionários da Nitroda década de 1930

A vila operária construída pelaCompanhia Nitro abrigou funcionários

especializados durante décadas noJardim Helena

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“Dava praticamente de tudo! Dava assistência médica, dentária, Senai, Clube e o berçário para asfuncionárias da Nitro que tinham filhos pequenos. De manhã elas saíam com os filhos e osdeixavam na creche de lá, e quando acabasse o horário de trabalho elas os buscavam no

berçário e voltavam para casa com os filhos. Aquele berçário ficava cheio de crianças!E tinha a parte social, o Clube. Dificilmente se encontra uma fábrica assim”.

Sr. Heitor

Os Acidentes e as grevesCom o crescimento da Companhia o bairro não ficou para trás. Ganha novo

impulso na vida comercial, sócio-cultural e esportiva. Com a chegada dosmigrantes nordestinos, a fábrica a essa altura emprega mais de 1500 operári-os. Mas nem tudo são flores na trajetória da empresa e no mês Junho de 1947ocorre um trágico acidente nas dependências da fábrica: um reator com umatonelada de TNT explodiu causando a morte reconhecida pela Nitro de noveoperários. Esse fato reforçou ainda mais a fama de “fábrica perigosa e produto-ra de mortes prematuras”.

[em relação a lembranças do período em que pai trabalhou na Nitro]“Algumas boas e outras ruins, porque ele sofreu um acidente muito feio na Nitro, mas

graças a Deus, conseguiu voltar a andar direitinho”Dona Julia

“O acidente mais grave foi quando morreu cinco pessoas (...) morreu carregador, engenheiro,encarregado do setor, mas aqui dentro sempre teve [acidentes], de 70 para trás quase não existia

segurança, mas isso foi mudando. (...) A área de segurança em épocas passadas era muito precária(...) não tinha fiscalização, não tinha CIPA, a coisa acontecia e ninguém sabia, não era como hoje,

que qualquer coisinha a imprensa pega em cima, aquele negócio todo”Sr. Cecilho

.A despeito de tudo isso, a fábrica continuou a produzir e aumentar a sua

capacidade industrial, com a inauguração de uma nova unidade de soda e deri-vados em 1956. E no ano seguinte aconteceria a maior greve da história dafábrica, que ficou conhecida como a greve dos 400 mil e levou à paralisaçãodos diversos setores, como conta o Sr. Antônio Xavier:Nós tivemos uma greve na Nitro que (...) parou por vários dias e o negócio é o que eu falei, quandoparasse, se parasse, o prejuízo era grande, e teria que jogar tudo aquilo fora; até voltar a funcionar

demorava, não é? E na greve de 1957, essa foi a maior greve que teve na Nitro Química”

E relembra daqueles dias difíceis por qual passou:“Onde era o clube aqui em cima, ali só tinha cavalo, eu lembro, ficava o dia todo, dia e noite a

cavalaria ali, porque não tinha hora pro pessoal entrar nem sair, o pessoal que tava lá dentro, àsvezes não podia sair, porque queria sair, mas não tinha por onde sair, queria sair pelo Tietê não

conseguia, porque tinha piquete lá, saía na Vila Nitro Química também não conseguia, então ficavaassim, era piquete para tudo que era lado”.

Sr. Xavier

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Com a saída do grupo Klabin, em 1965, a maior parte das ações do grupoVotorantim ficou com José Ermírio de Morais, que assumiu a presidência daempresa. A companhia foi sendo reorganizada, eliminando atividades inviáveise formando uma nova direção. Preservou a linha de tintas e vernizes e moderni-zou a fabricação de viscose, a fiação de visco-floco e também as unidades deácido sulfúrico, nitro celulose, disulfeto de carbono e celulose de linter, que exa-lam nas chaminés um cheiro muito desagradável no bairro.

“Então, na época que começaram trabalhar, produzir [nitro celulose], era muito ruim o cheiro doenxofre que espalhava aqui em São Miguel, muitas vezes a pessoa ia pegar o trem e era um cheiro

tão forte do enxofre queimado, sei lá como era aquilo lá que trazia o cheiro, queo pessoal precisava pôr um lenço molhado pra poder respirar”.

Sr. Xavier

Nova fase: investimentos e demissõesNo ano de 1973 acontecem dois episódios importantes: o primeiro o faleci-

mento do patriarca José Ermírio de Moraes, em 9 de agosto, na cidade de SãoPaulo; e os investimentos em tecnologia criando o setor de planejamento e de-senvolvimento da Companhia Nitro Química Brasileira, com o objetivo de pro-mover a modernização da empresa bem como das suas instalações.

Na década de 1980, a empresa intensifica a ampliação das áreas produti-vas, como plantas de ácido sulfúrico, ácido fluorídrico e fluoreto de alumínio. Em1982 é implantado o sistema de círculo de controle de qualidade - CCQ, quetinha como objetivo proporcionar uma maior integração das várias camadas fun-cionais com os objetivos comuns da empresa. Nos dois anos seguintes implantaa área da Nitro celulose e da segunda planta de ácido sulfúrico.

A partir de 1992, a Nitro inicia a fase de desativação do setor de fiação e,com eles, inúmeros postos de trabalho são fechados, trazendo um impacto con-siderável para a economia do bairro.

“Por conta da greve. E a última foi no final de 92 ou 93, que a área têxtil estava com problemasfinanceiros e decidiram fechá-la. Mas a Nitro Química sempre esteve bem. Nunca atrasou

pagamento. E pagava bem. Desde a diretoria até o operário braçal”.Sr. Heitor

“O [setor] que mais tinha funcionário era fiação, porque o setor era muito ruim, às vezes ofuncionário entrava sete horas e quando era onze horas saía com os olhos inchados,

porque pegava gás, aí ficava no seguro, ficava três, quatro dias afastado da empresa,e ali tinha um número muito alto de funcionários”.

Sr. Xavier

Em 1997 ocorrem dois acidentes fatais, que resultaram na morte de traba-lhadores, a explosão de um digestor no setor de nitro celulose matou um e feriu

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cinco operários. Em dezembro, um trabalhador morreu ao cair do telhado numaaltura de oito metros. No mesmo ano cresceram as demissões, após o fecha-mento da fábrica de fios têxteis, reduzindo de 1200 para 400 funcionários naCompanhia.

A Nitro chegou a ter 9 mil trabalhadores e foi diminuindo gradativamenteeste quadro nos últimos dez anos.

“Olha, eu acho que se a Nitro Química funcionasse ainda, seria um grande benefício para SãoMiguel, porque seriam 7 mil pessoas a mais empregados, sendo empregados tem dinheiro, tendo

dinheiro, movimenta o comércio, agora só que hoje, mesmo sem a Nitro Química, São Miguel tem umcomércio bom e hoje você pode conferir em São Miguel tudo o que você encontra no centro da

cidade.”Sr. Osvaldo

A partir de 1999, a Nitro Química inicia uma nova fase de modernização dosprocessos produtivos, com a implantação de novas plantas produtivas e aquisi-ção de novas unidades fabris. No ano seguinte cria a unidade Votorantim Quími-ca que engloba a Nitro Química, a Igaraçu e a Nordesclor e, em 2005 o GrupoVotorantim comemora 70 anos da Companhia Nitro Química Brasileira.

Para os moradores e ex-funcionários a Nitro foi importante no desenvolvi-mento do bairro e na geração de empregos, mas eles reconhecem os proble-mas de saúde ocasionados pelo serviço insalubre e o impacto das transforma-ções ocorridas nos últimos anos.

“Por conta dos produtos. Outras pessoas trabalharam toda vida e não tinham nada, estou falandoque trabalhei 27 anos e não tenho problema nenhum, mas tinha companheiros que em

pouco tempo tinham que sair, ou saíam ou morriam, então a rotatividade na minha seçãoera muito grande, tinha gente que entrava pra trabalhar de manhã, ia almoçar 10 horas, vestia

roupa e ia embora, o problema a gente nem sabia. Só gente do nordeste é que segurava ali!Paulista criado aqui não agüentava aquele serviço”.

Sr. Cecilho“Não dá para ficar pensando se São Miguel seria melhor ou pior sem a Nitro. É parte da história”.

Zé da balança

O esporte e lazer nos tempos da NitroA realização de atividades de cará-

ter social no bairro, por muito tempo ocor-reu nas dependências do clube social doNitro Química. Desde a década de 1950,as entidades como Lions, Rotary e outrasassociações comunitárias tinham na Com-panhia o maior parceiro para as realiza-ções dos eventos como reuniões e as-sembléias. Esse fato transformou a sedesocial no principal local de encontro da co-

O coral da Nitro era formado porfuncionários da companhia e participava

das atividades culturais no bairro

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munidade, seja em atividades sociais ou culturais.Nesta mesma época, a Nitro era notabilizada pela manutenção de grupos

artísticos, como a Jazz Nitro, o Coral e o Grupo de Teatro, que eram formadospor funcionários da empresa e se apresentavam para a comunidade.

Os principais bailes de época também aconteciam lá, pois se tratava domaior salão da região e com a melhor infra-estrutura para esses eventos, confor-

me nos relatam os moradores.“Tinha o Clube da Nitro de esporte e a sede social,

onde havia bailes, eventos, palestras,comemorações de fim de ano, formatura, baile da

primavera. Era bacana. Carnaval! Hoje não temosmais. Faz uma falta terrível!”

Sr. Heitor“Nosso lazer era o Clube da Nitroquímica, que

tinha a praça de esporte e o salão de baile, que erabem interessante. Sempre tinha matinê aos

domingos à tarde, sempre tinha uma bandatocando. E também tinha os bailes de domingo (...)

era freqüentado pela nata de São Miguel. Haviabailes das 10 ás 4 da manhã. Mas só entravam os

grã-finos, os bem-sucedidos. Esse era baile à rigor! Se estivesse de terno, mas sem gravata nãoentrava. Se você pegar as fotos da época, estão todos de terno”.

Zé da balança

Já na parte esportiva, a Nitro seguiu o modelo de outras fábricas próximasde rios que desenvolviam atividades náuticas e desportivas, mas foi com o fute-bol que o clube marcou época.

O fato de possuir um estádio de dimensões razoáveis para um bairro, mui-tos torcedores iam assistir as partidas do time da Nitro Química ou presenciaros jogos de exibição dos grandes times de São Paulo - inclusive com a presen-ça do rei do futebol, Pelé - e dessa forma atraía muitas crianças e jovens para asescolinhas de futebol que o clube manti-nha.“Era o melhor campo, aí vinha o São Paulo jogar aí,

vinha o Santos, vinha o Palmeiras, porque nóstínhamos um time de futebol veterano. Era um timeveterano, não era lá grande coisa, mas dava parajogar, então chamava esses clubes aí para jogar e

reunia aquele monte de gente, era uma beleza.”[E lembra ainda sobre a partida que o Pelé jogou] “Pelé fez, parece, cinco ou sete gols, parece. Mas eleseram profissionais, o nosso time era amador, não é?

Era veterano amador”Sr. Xavier

O time de futebol da companhia jogouna segunda divisão do campeonato

paulista na década de 1950

As crianças podiam participar deuma escolinha de futebol no clube

da Nitro

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“Desde criança disputava campeonato e disputava contra times de São Paulo todo. Havia muitosjogadores com qualidade de profissional, mas a maioria trabalhava e dava mais importância ao

seu trabalho. Depois a equipe da Nitro Química passou para a segunda divisão do futebolprofissional, e a maioria dos jogadores era daqui mesmo. Mas havia muito público no estádio,

havia bastante rivalidade, saia uma confusão ou outra, mas nada sério”.Sr. Heitor

Outro fato marcante para a população de São Miguel era o apito da Com-panhia, que soava nos horários das trocas de turnos e almoço dos operários epodia ser ouvido em toda a região. Além disso, servia como um relógio comuni-tário, que em certa medida controlava a rotina não só dos funcionários, mastambém da comunidade.

O momento mais aguardado se dava com a chegada do final do ano, quan-do o apito soava juntamente com os fogos de artifícios por mais de 15 minutos,anunciando um novo ano, de trabalho e de luta para cada um dos moradores deSão Miguel e região.

“Era como um cabresto. Tocava o apito, todos tinham que pegar no batente! A indústria eramuito grande e o apito era para controlar. Coisa da época. Talvez até pela falta de um relógio,

porque na época não era comum. Então, para controlar o horário eles tocavam um apito queSão Miguel todo ouvia!“

“O grande barato do apito era na passagem do ano! Eles apitavam por quinze minutos e era umacoisa que emocionava a todos! Era contagiante! Eu passei toda a minha infância escutando isso (...)

Mas até seria interessante se eles tivessem preservado isso comouma forma de manter a identidade!”

Zé da Balança

Notas (1) O clube esportivo e a sede social foram desativados ao longo dos anos1990. Atualmente um grupo de empresários da região adquiriu o prédio pararetomar as atividades e se encontra em fase de reforma e sem data dereinauguração.(2) A Nitro estuda a possibilidade de retomar uso do apito em função da relaçãocriada com a comunidade, conforme informação obtida em visita pelos jovensdo projeto São Miguel Paulista e Brasileiro.(3) Está em estudo um projeto de reflorestamento com mata nativa das áreasda fábrica desativadas.

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3 CDC Tide Setubal

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III – Clube da Comunidade Tide Setubal

O Jardim São Vicente

A vila que pertence ao distrito de São Miguel Paulista por muito tempo foiconhecida como um lugar de difícil acesso, devido a extensa área alagadiça ecom problemas de falta de infra-estrutura. Conforme relatam os moradores.

“[O] Jardim São Vicente, isso aqui era um brejão onde você quando chovia não podia passar,atolava. Então, aqui a estrada precisava (...) pedras maiores pra fazer a base, pra depois fazer a

cobertura de terra firme, porque não existia asfalto, era tudo na terra mesmo”Sr. Jesuíno

“Nós aqui não tínhamos água, a água que nós tínhamos era uma bica, aqui no Jardim São Vicente,acho que na rua Mário Dallari, por ali, tinha uma bica, uma torneirinha, para o povo pegar água

para tomar, porque não tinha poço.”Dona Lúzia

Essa situação perdurou por muitotempo, até inicio do ano 1969, com aconstrução das Escolas Agrupadas doJardim São Vicente (atual EMEF Almiran-te Pedro de Frontim), seguida da criaçãodo Min-Balneário Almirante Pedro deFrontim e a inauguração do CDM TideSetubal em 1978.

Até a metade dos anos 80 a vila fi-cou esquecida pelo poder público, até ainauguração da EMEI Jardim São Vicente(atual Profª Helena de Paula Marin) em

1984, formando um complexo educacional com três equipamentos públicos pró-ximos, porém sem relação entre si.

O fato do Jardim São Vicente estar situado numa região cortada porcórregos, somado ao aumento populacional e à impermeabilização do solo, trans-formaram um antigo e inofensivo córrego em um sério problema nos anos se-guintes.

As enchentesO córrego Itaquera faz parte da história do jardim São Vicente por ter sido a

marca de vários anos de abandono do poder público com a vila. O que era ape-nas o fio d’água durante vários anos transformou-se no pesadelo dos moradorespor mais de 30 anos.

Crianças brincam em rua próxima aoCDM Tide Setubal

(ao fundo Emei Helena de Paula Marin)

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A nascente do córrego Itaquera está localizada no município de Ferraz deVasconcelos, atravessa dois bairros que fizeram parte da região de São Miguelaté a década 1920, Guaianases e Itaquera passando, pelos distritos de SãoMiguel: Vila Progresso, Cidade Nova São Miguel, Jardim São Vicente e VilaNitro Química, até desaguar no Rio Tietê.

Em função do adensamentopopulacional nas encostas do córrego ea falta de planejamento urbano, bemcomo de programas de educaçãoambiental, o córrego deixou de ser lem-brado como o ‘riozinho’ que as criançaspegavam peixinhos, cobras verdes, rãse pererecas, entre outras espécies, parainvadir as casas, os pequenos comérci-os e as escolas na época da chuva, le-vando sujeiras e doenças e um triste sal-

do de perdas inomináveis de objetos e utensílios e até vidas, em decorrênciadas doenças.

Os meses de novembro a maio sempre deixaram em alerta os moradores,por ser o período de maior intensidade das chuvas. No entanto, a partir de 1985,as enchentes passaram a fazer parte do cenário do Jardim São Vicente.

A cada período de chuva mais intensa o córrego ficava mais largo e profun-do e com maior poder de destruição. Durante as enchentes, não era possíveldistinguir o que era a rua do leito do rio. Em uma dessas enchentes, a ação docorpo de bombeiros foi necessária pararesgatar os moradores mais idosos, ascrianças e as gestantes, caso contrário,as perdas teriam sido maiores.

“O povo andava de barco, porque a enchente

quando vinha deixava aquilo lá alagado, então a

turma andava de barco, atravessava o Jardim São

Vicente (...) que virava um rio só.”

Dona Lúzia

Ao mesmo tempo, a população co-brava do poder público ações mais efe-tivas para conter as enchentes e as perdas materiais, mas todas elas esbarra-vam na falta de sensibilidade política, no oportunismo eleitoral e nas medidas de

Moradores convivem comconstantes enchentes no

Jardim São Vicente

Depois da enxurrada, moradoraguarda o nível da água baixar para

contar mais uma vez os prejuízos

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caráter paliativos, como por exemplo: o córrego era desassoriado no pós-chuva,mas o entulho ficava na encosta do rio e, como conseqüência disso, na chuvaseguinte voltava para o leito do córrego, provocando mais enchentes.“A gente, para dormir, a prefeitura trouxe aqueles colchãozinhos ruins, aqueles cobertorzinhos bemvagabundos, que era para dar para o povo, não esqueço até hoje do descaso da prefeitura, porque o

povo não tinha onde ficar e vinham com aquelas cobertinhas muito chulé, para dar para o povo.”Dona Lúzia

O descaso do poder público levou a população a se organizar localmente,com a adoção de um sistema de fuga. Um morador próximo do córrego instalouuma sirene que avisava os demais vizinhos que a água estava subindo, assimninguém era pego de surpresa. Além desta outras medidas foram adotadas,como a instalação de comportas de ferro nas portas e janelas para evitar a en-trada excessiva da água lamacenta e do entulho no interior das casas afetadase, a principal de todas, pressionar o po-der público para solucionar o problemacom cartas e abaixo-assinados.

“Bastava chover em Itaquera, a água vinha todapara nós aqui, então, quando começava a chover,

isso aí é muito importante eu citar, muitas vezes eramadrugada, o povo tava dormindo; a gente tinha

uma sirene [que era acionada pelo moradorconhecido como Ajuri]. Quando ele ligava aquelasirene, todo mundo podia levantar, que a água já

estava chegando.”Dona Lúzia

A partir de 1994 foi iniciada uma obra de canalização do córrego que levoumais de 12 anos para ficar parcialmente pronta. O trecho que compreende oJardim São Vicente está finalizado, no entanto, a seqüência da obra ainda nãofoi concluída. As marcas deste período podem ser vistas nas casas abandona-das que se encontram mais próximas do leito do rio.

Mesmo diante de tantos anos de sofrimento a vila se reconstrói com novosinvestimentos tanto por parte dos moradores, com a abertura de pequenos co-mércios, como nas parcerias entre poder público e organizações sociais.

O CDM Tide Setubal

A história do atual Clube da Comunidade no jardim São Vicente começa noano de 1954, com o início da construção de um núcleo esportivo, que demora 5anos para ser concluído. Durante esse período as atividades não tinham um

Após 12 anos as obras do córregoItaquera foram parcialmente

concluídas

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coordenador, porém ocorriam de forma organizada, e contavam apenas com apresença de um guarda que apitava ao término dos horários das atividades.

Os espaços oferecidos eram uma quadra esportiva e uma quadra de bocha,usadas pelos moradores de forma livre. Havia um galpão onde eram oferecidoscursos de alfabetização de adultos (Mobral) e profissionalizantes em convêniocom o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) .

Após um período sem projetos, o núcleo esportivo passa ser utilizado pelosmoradores, principalmente pelas crian-ças, como um parque público, pois exis-tiam alguns brinquedos de playground,mas que se encontravam em estado deabandono.

A partir da iniciativa dos moradores,juntamente com o Corpo Municipal deVoluntariado e em parceria com a enti-dade civil Sopral - Sociedade de Forma-ção Profissional e Assistencial, foi cria-do em 9 de fevereiro de 1978 o ClubeDesportivo Municipal Tide Setubal, em homenagem à idealizadora do CMV, fa-lecida no ano anterior.

Em função do convênio assinado com a prefeitura para realização do proje-to de Orientação Sócio-Educativa ao Menor (OSEM), criado em 1976, poucosmoradores conheciam o espaço como um Clube Desportivo, mas sim comoOSEM, que foi substituído em 1986 pelo programa Centro da Juventude (CJ),que visava atender a demanda por complementação escolar e socialização, atra-vés de atividades como: arte-educação, reforço escolar, recreação, esportes,artesanatos, refeição e atividades comunitárias.

Durante o período de 1978 a 2001, a Sopral coordenou as atividades doCDM Tide Setubal, celebrando convênios e parcerias para a realização das ati-vidades culturais e educacionais, além da formação profissional.

Entre os cursos profissionalizantes oferecidos para moradores destacaram-se: datilografia, empacotador, auxiliar de escritório, iniciação à computação, ma-nicure e pedicure, cabeleireiro e entalhe em madeira.

Com as constantes mudanças de projetos, a cada nova gestão do governo,os CDM passaram por períodos de total abandono, desde a falta de manuten-ção dos prédios até a segurança. Isso não foi diferente no CDM Tide Setubalque nos últimos anos sofreu com a escassez de projetos que orientasse o funci-

A Sopral foi a primeira entidadecoordenar atividades no CDM Tide

Setubal, em parceria com CMV

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onamento da unidade e, dessa forma passou a ser alvo das ações de delinqüen-tes. Isso afastou a comunidade, conforme relato:

“A molecada brincava de bola (...) e dava muita confusão, porque tinha muito marginal. A genteprecisava

ficar de olho. Mas era assim”.Dona Lúzia

Uma nova parceira na Comunidade

A Fundação Tide Setubal, em parceria com a Prefeitura do Município deSão Paulo, dá início à reforma do espaçoem maio de 2005, ocasião em que a pró-pria Fundação estava sendo criada como objetivo de desenvolver projetos soci-ais em São Miguel Paulista, tendo comobase de apoio para sua atuação os equi-pamentos públicos que levavam o nomeTide Setubal.

A presidente da Fundação TideSetubal, Maria Alice Setubal diz que aovisitar o CDM (Clube Desportivo Munici-

pal) constatou a necessidade de reforma, pois o prédio encontrava-se em situa-ção bastante precária.

“Com a reforma pretendíamos não apenas mudar os aspectos físicos doequipamento, mas ampliar e diversificar as atividades de modo que o espaçopudesse tornar-se um ponto de encontro para a comunidade”, afirma.

Agora o CDC possui novas instalações, sen-do elas: Campo de futebol society, vestiários, qua-dra poli-esportiva, cantina, sala de convivência,anfiteatro, pátio ao ar livre, sala de atendimento,salas multiusos 01 e 02, telecentro, área de lazere playground.

A iniciativa contou com o apoio daSubprefeitura de São Miguel, que construiu a quadra poli-esportiva e opaisagismo, além de apoio técnico para resolver os problemas burocráticos re-lacionados ao andamento da obra.

Um novo espaço para comunidadeNo dia 19 de março deste ano, o espaço é reinaugurado, agora como CDC

Com a reforma o CDCganha nova fachada

e ambientes mais atraentes

Nova planta do CDC

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(Clube da Comunidade) Tide Setubal.Durante o dia a comunidade pode assis-tir a apresentações artísticas de gruposde dança, pagode, forró e músicos popu-lares, além da bateria do bloco Vamo QVamo. Os moradores acompanharam umapartida de futebol no novo campo econheçaram as novas instalações do CDCTide Setubal

A reinauguração contou com a pre-sença do então Prefeito José Serra, dapresidente da Fundação Tide Setubal, Maria Alice Setubal e do então subprefeitode São Miguel Paulista, Samuel Moreira da Silva Júnior.

O CDC possui uma gestão compartilhada com a Fundação Tide Setubal, aAssociação Recreativa Brasil do Jardim Miragaia e o GRC Bloco de SambaVamo Q Vamo.

As Entidades co-gestoras

Associação Recreativa Brasil Jd. Miragaia A Associação teve sua inspiração na Copa do Mundo de 1970, pois como

diz o presidente, Sr. Nelso Moreira da Silva: “Na época tinha quatorze anos,estava com os amigos assistindo os jogos, era aquela festa, e então os cole-gas me disseram: se você formar uma entidade, participamos junto com você”.

Em 21 de abril de 1970 foi fundada a Associação Recreativa Brasil, com oobjetivo de realizar um trabalho com futebol dirigido para crianças. O presidente passou a ser conhecido como Nelso do Brasil.

Com o tempo, formaram dois times,um adulto e um infantil, em parceria como CDC Arlindo de Oliveira Miragaia, noItaim Paulista, na cessão de espaço paraas aulas de futebol. Hoje, a AssociaçãoRecreativa Brasil atende 180 crianças eadolescentes de 8 a 17 anos. Com o tem-po, Sr. Nelso nos relata ter percebido queo futebol poderia ajudar a tirar as crian-ças da rua.

A reinauguração CDC contou com apresença dos moradores e de

autoridades do governo municipal

O time de futebol do Brasilparticipação do jogo oficial de

inauguração do campo doCDC Tide Setubal

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A partir de 2000, Sr. Nelso passa a freqüentar o CDM Tide Setubal, buscan-do integrar-se ao espaço e torna-se membro da diretoria.

Com a reforma do CDM, em 2005, tornando-se um CDC, Sr. Nelso continuaintegrante da Diretoria e um dos seus projetos futuros é criar cursosprofissionalizantes para os jovens, como outra alternativa além do futebol, poisse preocupa com a dificuldade dos meninos em conseguir oportunidade em ti-mes grandes e garantir a sobrevivência.

Bloco de samba Vamo QVamo

Desde sua fundação, em 1981, oGrêmio Recreativo e Cultural Bloco deSamba Vamo Q Vamo utilizava o espaçodo CDM para realizar festas e ensaiosda bateria na preparação para o carna-val de rua. Durante esses anos, o blocoorganizou diversas atividades no jardimSão Vicente, mobilizando a comunidadepara o que era considerado o maior carnaval de rua da zona leste.

Os números dessa aventura impressionam pela forma como eram realiza-das as atividades. Num ensaio pré-desfile o bloco chegava a arregimentar maisde 5 mil pessoas na principal rua do bairro e isso ocorria sem a infra-estruturanecessária como policiamento, banheiros móveis, ambulâncias para emergên-cias. Mas com a ajuda dos “deuses do samba”, não foi registrado nenhum casomais grave durante muito tempo.

O Vamo Q Vamo contava com a participação entusiasmada dos foliões esambistas que não mediam esforços para colocar o carnaval na rua. Com opassar do tempo, essa magia foi perdendo espaço para a violência social quevem alterando o hábito da população dos grandes centros urbanos na hora de“pular” o carnaval.

Num período de transição, o Bloco passa por uma reestruturação e acres-centa, além da atividade do samba, o futebol, com a implantação da escola defutebol Infantil Vamo Q Vamo.

Em 2000, o Bloco assume a coordenação do CDM Tide Setubal e passa aoferecer, em parceria com empresários locais, entidades sociais e voluntáriosda comunidade, cursos gratuitos como: Espanhol, Inglês, Axé, Capoeira, Teatroinfantil e juvenil, Grafite, Tele-marketing, Artesanato, Futebol, Alfabetização para

A bateria do Vamo Q Vamoevolui na avenida Marechal Tito no

aniversário de São Miguel

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adultos .Já o bloco de carnaval começa a sofrer os desgastes ocasionados pela

falta de estrutura e apoio para colocar o “carro” na avenida, resultando, em 2005,uma punição por falta de número de componentes exigido em desfile competiti-vo. O bloco passa por um processo de reorganização, com a realização de ativi-dades voltadas para a formação de novos ritmistas e participantes por meio dosprojetos Bateria Mirim e Samba da Tenda, entre outras atividades.

Projetos e atividades do CDC em 2006

Projeto + EsporteÉ um programa da Secretaria Municipal de Esporte, Lazer e Recreação

que oferece diversas modalidades esportivas para crianças e adolescentes deambos os sexos, que conta com o acompanhamento de um comissão técnicaformada por ex-atletas consagrados em suas modalidades.

As atividades são dirigidas aos alunos de 1ª a 8ª série da rede pública deensino do município.

Futebol Vamo Q VamoO futebol Vamo Q Vamo acontece em dois períodos nas terças e quintas, e

com duas turmas distintas divididas por faixas etárias. Crianças entre 10 e 13anos treinam no horário das 15h30 às 17h. Adolescentes e jovens entre 14 e 17anos treinam das 14h às 15h30.

O time de futebol participa de campeonatos externos, inclusive em outrosmunicípios, e tem apresentado resultados promissores na categoria infanto-ju-venil. A coordenação das atividades fica a cargo de Irineu Augusto e RaimundoAntunes.

TelecentroO Telecentro Tide Setubal funciona desde o mês maio e foi oficialmente

inaugurado em 9 de junho. Seu objetivo é a inclusão digital para os moradoresdo bairro.

O atendimento é feito de segunda a sábado, das 9h às 18h, comagendamento antecipado. São cerca de 130 usuários por dia, com 16 computa-dores à disposição da comunidade. Oferece cursos de Introdução à informáticae Digitação.

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Projeto SMPB (São Miguel Paulista e Brasileiro)O projeto São Miguel Paulista e Brasileiro tem como objetivo conhecer e re-

significar a história do bairro por meio da realização de entrevistas com morado-res antigos, valorização da memória local, criação de acervo fotográfico doslocais históricos, desenvolvendo a compreensão sobre a história material eimaterial existente no território.

As atividades ocorrem de 2ª a 6ª feira, com quatro horas de duração, porseis meses, e estão sendo dirigidas aos jovens entre 16 e 20 anos em situaçãode vulnerabilidade social. Os jovens passam por oficinas e palestras de: introdu-ção à informática; metodologia de pesquisa e memória; fotografia; escrita; artesvisuais; linguagens artístcas; meio ambiente; trabalho em equipe e orientaçãoprofissional, e tem como resultado final uma publicação sobre a história do bair-ro.

Espaço Menina-Mulher Espaço Menina-Mulher acontece no CDC Tide Setubal, é dirigido a grupos

de até 25 meninas entre 13 e 17 anos que, em encontros de duas horas, reúnem-se semanalmente ao longo de um semestre letivo.

O objetivo geral é a promoção de saúde mental e física de adolescentes ejovens, ampliando conhecimentos sobre o corpo, sua subjetividade e seu reper-tório cultural ligado a questões contemporâneas, como moda e estética. Paraisso, são desenvolvidas atividades com abordagens alternativas em relação aocurrículo escolar regular.

Comissão de Cultura do CDCÉ formada por moradores do bairro, artistas, pessoas interessadas em re-

fletir sobre política cultural, na construção conjunta das programações do CDC.Esta comissão surgiu em junho de 2006, como comissão do evento da festajunina, e tornou-se uma comissão de cultura “com o objetivo de fazer junto”. Comoresultado da comissão foram realizadas: a Feira do Livro, Gincana no Dia dasCrianças, Encontro das Artes, Saraus e sessões de cinema.

Recreio nas FériasO Programa Recreio nas Férias é organizado pela Secretaria Municipal de

Educação. Durante o programa os alunos da Rede Municipal de Ensino e a co-munidade de um modo geral têm atividades recreativas, lúdicas, culturais, pas-seios e práticas esportivas gratuitas, todos os dias, das 9h às 17h. Os partici-

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pantes contam também com agentes recreativos para desenvolver as ativida-des esportivas, artísticas e culturais, acompanhar os passeios e recursos mate-riais específicos para o desenvolvimento das atividades, além de alimentaçãoescolar e transporte para os passeios. Acontece nos meses de janeiro e julho.

Oficina de ArtesanatoIniciativa que possibilitam mulheres e jovens da comunidade a realizar uma

atividade que valoriza suas habilidades em relação ao trabalho manual, ao mes-mo tempo em que promove integração entre elas. As aulas têm duas horas deduração e acontecem duas vezes por semana. Duas professoras ajudam asparticipantes a trabalhar com tecidos, lã e barbante, produzindo peças ornamen-tais e utilitárias. O curso é gratuito e os materiais são oferecidos pela FundaçãoTide Setubal. Atualmente as modalidades desenvolvidas são: tricô, crochê e fuxico.

Sala de convivênciaÉ um espaço de vivência e convivência, de leitura, jogos lúdicos, vídeo, exi-

bição de filmes, apropriado para realização de fóruns, palestras, debates, numatroca de saberes com a comunidade.

Projeto Bateria Mirim É uma iniciativa que faz parte do projeto Barracão do Governo do Estado

da Cultura, que visa desenvolver a musicalidade combinada à ação social nasperiferias da cidade e tem como público preferencial as crianças e jovens nafaixa etária de 7 a 16 anos. Este projeto é realizado em parceria com os blocose escolas de samba do estado da São Paulo. No CDC o projeto acontece aosdomingos das 11 às 14 horas, sob a coordenação do mestre Pelegrino

Comunidade Samba na TendaÉ um projeto de música dos moradores da região que reúnem ritmistas,

compositores e simpatizantes do samba, que deixaram de fazer suas apresen-tações na rua e criaram uma comunidade que utiliza espaços públicos para to-car e relembrar o samba de raiz.

Os encontros acontecem duas vezes por mês aos domingos e são abertosa todas as pessoas queiram participar da comunidade.

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Apêndice Cronologia do bairro de São Miguel

A Fundação do bairro passa por um processo de revisão, para alguns historiadores o ano de 1560 seria adata de fundação quando é batizada aldeia de Ururaí, pelo padre José de Anchieta, em referência aos índiosGuaianases que aqui viviam.

A Igreja velha foi uma reconstrução em taipa de pilão, de uma pequena capela que havia no local e, conformeconsta na inscrição no batente superior da porta principal tem como data o dia 18 julho de 1622 comotérmino da obra.

A Igreja recebeu o nome de São Miguel Arcanjo pela devoção que o padre Anchieta tinha ao arcanjo, essaIgreja está localizada na praça que hoje oficialmente tem o nome de um religioso, padre Aleixo MonteiroMafra, e popularmente conhecida como Praça do Forró. Enquanto não houver revisão histórica, a data oficialde fundação do bairro é 21 de setembro de 1622.

1691 - A igreja passa pelos primeiros reparos. Depois de alguns anos passou por uma reforma promovidapelos franciscanos.

1693 a 1803 – Neste período os franciscanos permanecem em São Miguel, instalados em um conventohospício atrás da igreja, que servia como residência dos frades.

1865 - Foram criadas duas classes do ensino das primeiras letras (curso primário).

1876 – Inaugurada a Estação de Trem pela E.F do Norte, em Itaquera, com o nome de São Miguel, emvirtude do local ser mais próximo à vila de São Miguel.

1891 – É criado o primeiro Cartório de Paz do bairro e, no ano seguinte, o primeiro Cartório Civil.

1901 – Nasce o Pe Aleixo Monteiro Mafra, na cidade de Guaratinguetá.

1903 – O bairro conta com 108 casas e 2299 habitantes e dá primeiros sinais de desenvolvimento.

1913 - A produção de cerâmica torna-se a principal atividade econômica e tem no Sr. Manuel FerreiraGuimarães o primeiro comerciante do bairro.

1920 – A construção da Estrada São Paulo – Rio, considerada um marco para o crescimento e expansãourbana do bairro, criando um circuito comercial interestadual;

No mesmo ano, o corretor de imóveis de nome Geni coloca uma linha de ônibus com itinerário (São Paulo -São Miguel ) para os interessados conhecerem os seus terrenos (hoje Parque Paulistano).

Nesta mesma época chega um grande número de migrantes nordestinos a São Paulo, estabelecendo-se em São Miguel.

1920 – O bairro de Itaquera se desmembra de São Miguel de Ururaí.

1926 – Inauguração oficial da Estação de Trem de São Miguel – porém sem operações regulares.

1929 – O bairro do Lajeado, atualmente Guaianases, torna-se um distrito autônomo.

1930 – É inaugurada a primeira linha de ônibus regular com o percurso que liga São Miguel ao bairro daPenha, amenizando os problemas de transporte.

1934 – Começam as operações da Estação de Trem de São Miguel, em 1ª de janeiro, com o início dotráfego no ramal. E. F. Central do Brasil (1926-1975).

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1935 – Início da construção da fábrica da Companhia Nitro Química Brasileira.

1938 - Com 316 anos, a igreja velha de São Miguel é tombada pelo Serviço de Patrimônio Histórico eArtístico Nacional (SPHAN);

No mesmo ano é inaugurado o Grupo Escolar Carlos Gomes.

1940 – Inauguração oficial da fábrica da Companhia Nitro Química Brasileira; com ela chega aenergia elétrica na Vila Americana e Vila Nitro Operária, construídas pela Nitro e no mesmo ano surgea primeira estrada de concreto do Brasil em São Miguel.

1941 - É instalada a Celosul (fábrica de papel), de propriedade do grupo Matarazzo, no bairro de ErmelinoMatarazzo, que pertence ao distrito de São Miguel.

1941 – O Pe. Aleixo Monteiro Mafra toma posse da paróquia (velha igreja de São Miguel Arcanjo). Nesteano a população do bairro é estimada em 8.000 habitantes.

1948 – A Nitro Química emprega 4.000 operários. O bairro ganha arruamento em todas as direções, aschácaras e o matagal cedem lugar às novas vilas e às vilas operárias.

1948 - Ocorre a 3º nomeação de São Miguel, que foi São Miguel de Ururaí para Baquirivú. Em 1948, emconseqüência de protesto dos moradores, passa a ser São Miguel Paulista.

1949 – É fundado Esperanta Klubo Zamenhof, em São Miguel, dedicado ao estudo da língua internacionalEsperanto.

1950 – São fundados as associações Rotary Club e Lions Club, cujas primeiras reuniões ocorrem na sedesocial da Nitro Química; e no mesmo ano é fundada a Loja Maçônica “Os vigilantes”.

1951 – A população do bairro é estimada em 40.000 habitantes aproximadamente* (estimativa daarquidiocese de São Paulo);

No mesmo ano é inaugurada a Rodovia Presidente Dutra, nova ligação entre São Paulo e Rio de Janeiro,diminuindo a importância da Rodovia São Paulo – Rio.

1952 – É assentada a pedra fundamental da nova igreja Matriz, com a presença de personalidades dasociedade civil e eclesiástica.

1956 - Inicia-se a operação de 200 telefones manuais, da Companhia Telefônica Brasileira - CTB.

1958 – Inauguração da Escola e Ginásio Município Arquiteto Luis Saia.

1959 – O bairro de Ermelino Matarazzo é desmembrado de São Miguel, tornando-se distrito autônomo.

1960 – É inaugurada a Escola de Segundo Grau Dom Pedro I.

1964 – O padre Aleixo Monteiro Mafra é afastado da Paróquia de São Miguel, pela Cúria Diocesana,após 23 anos de serviços prestados.

1965 – Acontecem nesse mesmo ano as inaugurações da nova Matriz de São Miguel, do Colégio Cruzeirodo Sul e da sede do Lions Club.

1966 – É inaugurada da sede do Rotary Club em São Miguel Paulista.

1967 – É inaugurado o Mercado Municipal de São Miguel Paulista e, no mesmo ano, falece aos 66 anosde idade o Pe. Aleixo Monteiro Mafra.

1968 – É inaugurado o Hospital Tide Setubal que teve início das atividades no ano 1959 em uma casa naRua Beraldo Marcondes, depois foi transferido em 1967 para Praça Campos Salles (atual Pe. Aleixo) noprédio do Centro de Saúde Estadual em 1967.

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1969 – É Instalada a Delegacia de Polícia; e a 2ª Companhia do 2º BPM/M em São Miguel. No mesmoano são inauguradas as Escolas agrupadas do Jardim São Vicente.

1970 – A Companhia Telefônica Brasileira - CTB amplia o sistema para 600 terminais automáticos, além de20 telefones públicos.

1975 – O Hospital Tide Setubal passa por ampliação estrutural e aumenta a capacidade de atendimento.

1976 – A Escola Agrupada do Jardim São Vicente passa a se chamar EMEF Alm. Pedro de Frontim.

1978 – São inaugurados: Escola de 1ª Grau Tide Setubal, na Vila Jacuí e o CDM Tide Setubal. Nomesmo ano é instalado no bairro o Distrito Regional da Companhia de Saneamento Básico de SãoPaulo.

1980 – A Estrada São Paulo – Rio passa a se chamar Avenida Marechal Tito, em homenagem aopresidente da Iugoslávia, morto naquele ano. A alteração compreende o trecho da Praça Pe Aleixo até adivisa com o município de Itaquaquecetuba. No mesmo ano é inaugurada a Administração Regional deSão Miguel Paulista, sob vários protestos dos moradores da região que, acusavam os políticos da épocade construírem um “elefante branco”.

1980 – É inaugurada a Biblioteca Municipal Raimundo de Menezes.

1981 – É inaugurado o destacamento do Corpo de Bombeiros.

1982 – O prédio da Estação de Trem é reformado e entregue à população do bairro. É inaugurado oAmbulatório Municipal Tito Lopes.

1984 – É inaugurada a EMEI Jardim São Vicente, que após 2 anos virou EMEI Profª. Helena de PaulaMarin.

1986 – Inaugurado oficialmente o Mini-Balneário Almirante Pedro de Frontim, com a criação da SecretariaMunicipal de Esporte e Lazer.

1989 – É criado o Parque Chico Mendes na antiga Chácara Figueira Grande, na Vila Curuçá. No mesmoano é criada a Oficina Cultural Luís Gonzaga – projeto do Governo do Estado da Cultura.

1991 - Fundada a Casa do Brunhosinho, uma associação que congrega a comunidade portuguesa quemora em São Miguel e região.

1993 - A Faculdade Cruzeiro do Sul passa a ser Universidade Cruzeiro do Sul, atingindo a populaçãoestudantil de 11 mil alunos.

1994 – É criada a Agência da Companhia de Energia Elétrica.

2000 – É inaugurada a maior Mesquita Islâmica da cidade de São Paulo, na Vila Rosária.

2001 – É criado o CRI - Centro de Referência ao Idoso, no prédio reformado do antigo Centro de SaúdeEstadual na praça Pe. Aleixo Monteiro Mafra.

2003 – Inauguração do Centro Educacional Unificado Parque São Carlos, em São Miguel e, no mesmoano, do CEU Vila Curuçá.

2004 – Criação da USP - Leste que fica no bairro de Ermelino Matarazzo, próxima ao bairro de São Miguel.A central telefônica de São Miguel opera aproximadamente 100.000 terminais.

2005 – Conclusão parcial da obras de canalização do córrego Itaquera (trecho entre a Avenida Nordestinae Avenida Jose Artur da Nova). Essa obra levou mais de 10 anos para ficar pronta.

2006 – Reinauguração, em 19 de março, do CDC Tide Setubal (antigo CDM Tide Setubal). Dá-se iníicioà reforma e ampliação de atendimento do Hospital Municipal Tide Setubal; do projeto de restauro daCapela São Migue Arcanjo; e é inaugurado o Terminal de Ônibus de São Miguel Paulista.

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Anexo 1

Moradores Entrevistados do projeto SMPB - 2006

Dona Luzia Osvaldo Pires de Holanda

José Cecilho Dona Ana Rachid Sr. Jesuíno

Antonio Xavier

Dona JuliaZé da Balança

(Jose Luis Suono) Dona Dora

Antonio Nonato José Caldini Sr. Heitor

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Anexo IIProfessores e Monitores do projeto SMPB - 2006

Jorge - Telecentro

Beatriz - Leitura e Escrita

Juarez - Meio AmbienteGerson - História Oral

Sônia - Artes Visuais

Claudio - Teatro

MauroCoord. Técnica e Fotografia

Simone - Coord. Técnicae Trabalho em Equipe

Zulú - Música

Andre - Telecentro

Maria Alice - Coord. Gerale Presidente Fundação

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Equipe Técnica do Projeto SMPB

Coordenação Geral: Maria Alice SetubalCoordenação Técnica: Mauro BonfimAssistente de Coordenação: Simone Ciraque

Jovens participantes do projetoAlan José de OliveiraBruna Aparecida Pereira da Silva dos ReisCamila Tavares BrazãoCristilene Alves da SilvaDaniel da Silva GomesDiego Albino FigueiredoDouglas de Almeida CarvalhoDriyelly Tuanny Cirelli de SouzaEderson Santos XavierElenita Ribeiro da SilvaEmerson Bezerra Alves MoreiraFelipe da Silva NotesHamitis Nunes MeloJanaína Jane da SilvaJaqueline Pereira de GodoyJoão Sousa FreireKarolina Lima BuenoMirella Malagutti SantosNatasha Trudes CarvalhoRafaela Ferreira da SilvaRerisson Oliveira da Silva CarvalhoRodolfo Marques dos AnjosRosemeiry da Silva FlorêncioSergio da Silva FigueiredoTalita Santos CalkaviciusVanderson Souza Atalaia da SilvaWallace Nunes Soares NetoWesley Di Giuseppe SilvaWindsor Fernandes de Aquino Martins

Monitores e professores do Projeto

Beatriz LomônacoClaúdio Aparecido OliveiraGerson Sergio Brandão JuniorGilberto Gonçalves da Silva (Zulu de Arrebatá)Juarez Martins dos AnjosMauro Alves BonfimSimone CiraqueSonia Aparecida Martins Santana

Moradores do Bairro Entrevistados

Antonio dos Santos XavierHeitor Teodoro do NascimentoJesuíno BragaJosé Cecilho IrmãoJose Luis Suono (Zé Da Balança)

Julia Apparecida CicchiniLúzia Trindade AraujoOsvaldo Pires de Holanda

Colaboradores na Pesquisa (pré-entrevistados)Alcyir Perez Sanchez (Paco)Alexandre Gonçalves dos SantosAna Maria Silverio RachidAngela Maria NascimentoAnna Loconiela PizzitolaAntonio Nonato DamataAntonio Severino de SouzaAurelino Soares de AndradeCândida Fernandes MachadoCarlos Alberto Alves Farias dos SantosCarlos Alberto Prata FerreiraCícera Maria BrandãoCreusa Duarte Sant’annaDomingos PantaleãoDora MartinsEliete Carrara dos SantosElnice Cecchini MantovaneElvira Lucia TripanomEurico dos SantosGeorge WashingtonGilberto Gonçalves da Silva (Zulu de Arrebatá)Ildefonso Faria dos SantosInês Gualberto GonçalvesIrineu Augusto de Souza CandidoAntonio Severino de SouzaJosé CaldiniJulia Costa PereiraJulia Terezinha Arjol dos SantosKatia Valeria Martins SantanaKatsuhiko TodaLeonor Lima LunaLidia Castelan Antonio GomesLúcia InchegluLúzia Maria Gonçalves AssunçãoMarcelo Ribeiro SilvaMaria Amélia Paiva dos SantosMaria de Fátima SantosMaria Firmino TerosiviciusMaria Gomes AlcântaraMaria Reginalva dos SantosNatalicia Ribeiro SilvaNelso Moreira da SilvaNilza de Melo FerreiraRoberto Carlos Batista de Oliveira (Taty)Romeu Reinaldo RoccoRomilto Nunes MaiaSinezio Messias de Souza ( in memoriam)Sonia Aparecida de HolandaTânia Mara dos Santos GrilloValdecir Câmera

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Biblioteca Raimundo de MenezesG. Recr. e Cult.Bloco de Samba Vamos Q VamoClube da Comunidade Tide SetubalCompanhia Nitro Química BrasileiraConseg de São Miguel PaulistaContmaster Organização ContábilDiretoria de Ensino Região Leste IIEscola Estadual Ataulpho AlvesEscola Estadual Carlos GomesEscola Estadual Colégio D. Pdero IEscola Estadual Francisco Pereira de SousaEscola Estadual Prof.r Dario de QueirozEscola Estadual Rev. Tércio Moraes PereiraEscola Estadual Tide SetubalEscola Municipal Pedro de FrontimEscola Estadual Prof. Paulo Novaes CarvalhoMoraes PereiraInstituto VotorantimMesquita Islâmica de São MiguelMovimento Popular AutonomistaOficina Cultural Luiz GonzagaParque Chico MendesSindicato dos Químicos de São Miguel PaulistaSubprefeitura de São Miguel PaulistaTelecentro Sitio da Casa PintadaTelecentro Tide Setubal AGRADECIMENTO AOS COLABORADORESAlexandre de Araujo GalvãoAndre Thiago RebecchiDelmânia Pinto GuimarãesElvis Aparecido de FariasInês SadallapJorge Augusto Rocha MoraisJudi CavalcanteLuciano Alves OnçaMarcelo Ribeiro da SilvaMarcia Ramos Araujo FernandesMaria Helena CariagaMaria Vilela Pinto NakasuMarlene CorteseMiguel RachidMirene Rodrigues São JoséMonica HerculanoPaulo Cézar Garcez MarinsRaimundo Oliveira AntunesRoseli Santaella StellaSebastião Soares (Tião)Simone Canuto dos SantosTide Setúbal Sousa e SilvaTuany César de LimaVera Scognamiglio

PARCEIROSGoverno do Estado de São Paulo– Projeto Ação JovemPrefeitura do Munícipio de São Paulo– Projeto Capacita SampaCDC – Clube da Comunidade Tide Setubal

FICHA TÉCNICAConsolidação do texto:- Mauro Bonfim- Simone CiraqueCapa:- Jovens do Projeto São Miguel Paulista e BrasileiroProjeto gráfico e tratamento:- Mauro Bonfim e Jovens do Projeto SMPBImpressão e acabamento:Marili Norte Gráfica LtdaFotos:- Centro de documentação do Projeto SMPB e moradores de São Miguel Paulista

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Governo do Estado de São PauloClaudio Lembo

PrefeitoGiberto Kassab

Secretário do TrabalhoGilmar Viana Conceição

Fundação Tide SetubalMaria Alice Setubal