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PARANÁ
GOVERNO DO ESTADO
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO – SEED SUPERINTENDENCIA DA EDUCAÇÃO – SUED
DIRETORIA DE POLÍTICAS E PROGRAMAS EDUCACIONAIS - DPPE PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA - UNIDADE DIDÁTICA/ ARTIGO
1- FICHA DE IDENTIFICAÇÃO
Título: Uma revisão sobre as propostas de intervenção com crianças autistas
em sala de aula.
Autora: Elza Maria Alves Ribeiro
Disciplina/Área:
Educação Especial
Escola de Implementação do Projeto e sua localização:
Escola Municipal Maria dos Anjos Gonçalves – Educação Infantil e Ensino Fundamental na Modalidade de Educação Especial
Município da escola:
Sertaneja – Pr
Núcleo Regional de Educação:
Cornélio Procópio
Professor-Orientador:
Prof. Dra. Marília Bazan Blanco
Instituição de Ensino Superior:
Universidade do Norte do Paraná- Campus de Cornélio Procópio
Relação Interdisciplinar:
Todas
Resumo: A presente Produção Didático
Pedagógica justifica-se pelo fato de
que, a partir da LDBEN 9394/96 as
crianças autistas estão frequentando
as escolas regulares e os
professores sentem-se
despreparados para atendê-las.
Elenca como objetivo realizar uma
revisão sobre os métodos de
intervenção com a criança autista no
ambiente escolar, destacando o
Tratamento e Educação de Crianças
Autistas e com Desvantagens na
Comunicação (Método TEACCH), o
Sistema de comunicação por troca de
figuras (PECS) e a Análise
Comportamental Aplicada (ABA).
Essa Unidade Didática terá o formato
de Artigo que será dividido em
tópicos da seguinte forma: breve
reflexão sobre o Transtorno do
Espectro do Autismo – TEA,
descrevendo suas principais
características; seguindo com a
discussão de Intervenções
Educacionais e Comportamentais
com os alunos autistas no ambiente
escolar, com ênfase no Método
TEACCH, PECS e ABA.
Palavras-chave: Autismo; Estratégias de intervenção; Educação especial.
Formato do Material Didático: Unidade Didática: Artigo
Público: Professores da instituição
2. APRESENTAÇÃO
A presente Produção Didático-Pedagógica, constitui-se de um material
didático no formato de artigo, que subsidiará teoricamente a implementação do
Projeto de Intervenção na Escola do Programa de Desenvolvimento
Educacional - PDE – 2016, que será realizado com os professores da Escola
Municipal Maria dos Anjos Gonçalves – Educação Infantil e Ensino
Fundamental na Modalidade de Educação Especial, localizada no município de
Sertaneja-PR.
O trabalho “Uma revisão sobre as propostas de intervenção com
crianças autistas em sala de aula” justifica-se pelo fato que, a partir da LDBEN
9394/96 as crianças autistas estão frequentando as escolas regulares e os
professores sentem-se despreparados para atendê-las. Diante dessa realidade,
em minha trajetória como profissional da área de Educação Especial tenho
observado nos relatos dos professores da escola em que o projeto será
aplicado, as suas angústias e dificuldades no trabalho com esses alunos.
Assim, o presente estudo se direcionou a investigar quais procedimentos
metodológicos podem ser utilizados pelos professores de modo a minimizar as
dificuldades no trabalho com crianças autistas, consistindo de uma revisão
teórica sobre as diferentes técnicas e estratégias a serem trabalhadas com
alunos autistas.
Para o embasamento teórico, foram utilizados vários autores pertinentes
ao tema, os quais serão abordados no presente artigo da seguinte forma: breve
reflexão sobre o Transtorno do Espectro do Autismo – TEA, descrevendo suas
principais características; seguindo com a discussão de Intervenções
Educacionais e Comportamentais com os alunos autistas no ambiente escolar,
com ênfase no Tratamento e Educação de Crianças Autistas e com
Desvantagens na Comunicação (Treatment and Education of Autistic and
Communication Handicapped Children – Método TEACCH), no Sistema de
comunicação por troca de figuras (The Picture Exchange Communication
System (PECS)) e na Análise Comportamental Aplicada (Applied Behavior
Analysis (ABA)); por fim, são apresentadas algumas considerações finais a
respeito do esperado para a aplicação da unidade didática na escola.
3. TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO - TEA
Segundo Mattos e Nuernberg (2011), os primeiros relatos sobre os
Transtornos do Espectro do Autismo (TEA) foram feitos com base no estudo de
caso de onze crianças acompanhadas pelo Doutor Leo Kanner, em 1943, que
constatou a inabilidade dessas crianças em estabelecer relações com outras
pessoas e dificuldades com a fala (MATTOS; NUERNBERG, 2011). O
psiquiatra austríaco publicou, em uma revista de Neuropediatria, um artigo
intitulado “Os distúrbios autísticos do contato afetivo”. A exemplo de seu
colega, em 1944, o psiquiatra e pesquisador Hans Asperger escreveu sobre o
tema em um artigo intitulado “A psicopatia autista na infância” (DIAS, 2015).
A denominação do transtorno foi se alterando e a nomenclatura atual,
que consta no recente Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos Mentais
DSM-5 (APA, 2014) é Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), sendo este
dividido em níveis de gravidade, conforme demonstra o quadro a seguir:
Quadro 1 - Níveis de gravidade para transtorno do espectro autista.
Nível de gravidade
Comunicação social Comportamentos restritos e repetitivos
Nível 3 "Exigindo apoio muito substancial'
Déficits graves nas habilidades de comunicação verbal e não verbal causam prejuízos graves de funcionamento, grande limitação em dar início a interações sociais e resposta mínima a aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa com fala inteligível de poucas palavras que raramente inicia as interações e, quando o faz, tem abordagens incomuns apenas para satisfazer a necessidades e reage somente a abordagens sociais muito diretas.
Inflexibilidade de comportamento, extrema dificuldade em lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos/repetitivos interferem acentuadamente no funcionamento em todas as esferas. Grande sofrimento/dificuldade para mudar o foco ou as ações.
Nível 2 "Exigindo apoio substancial'
Déficits graves nas habilidades de comunicação social verbal e não verbal; prejuízos sociais aparentes mesmo na presença de apoio; limitação em dar início a interações sociais e resposta reduzida ou anormal a aberturas sociais que partem de outros. Por exemplo, uma pessoa que fala frases simples, cuja interação se limita a interesses especiais reduzidos e que apresenta comunicação não verbal acentuadamente estranha.
Inflexibilidade do comportamento, dificuldade de lidar com a mudança ou outros comportamentos restritos / repetitivos aparecem com frequência suficiente para serem óbvios ao observador casual e interferem no funcionamento em uma variedade de contextos. Sofrimento e/ou dificuldade de mudar o foco ou as ações.
Nível 1 "Exigindo apoio
Na ausência de apoio, déficits na comunicação social causam prejuízos notáveis. Dificuldade para iniciar interações sociais e exemplos claros de respostas atípicas ou sem sucesso a aberturas sociais dos outros. Pode parecer apresentar interesse reduzido por interações sociais. Por exemplo, uma pessoa que consegue falar frases completas e envolver-se na comunicação, embora apresente falhas na conversação.
Inflexibilidade de comportamento causa interferência significativa no funcionamento em um ou mais contextos. Dificuldade em trocar de atividade. Problemas para organização e planejamento são obstáculos à indepenência.
Fonte: DSM-5 (APA, 2014, p. 52).
Mori (2016) afirma que, na versão deste último manual, o conceito de
Transtornos Globais do Desenvolvimento (TGD) foi modificado e deixou de
incluir a Síndrome de Rett e o Transtorno Desintegrativo da Infância. Sendo
assim, Autismo, Transtorno de Asperger e Transtorno sem Outra Especificação
fundiram-se em um único diagnóstico, chamado Transtornos do Espectro
Autista.
Para Mori (2014, apud MORI, 2016, p. 53) as mudanças na definição
dos transtornos indicam “os esforços de estudiosos em busca de uma unidade
quanto à definição de autismo e um afastamento do conceito inicial ligado à
esquizofrenia e psicose” objetivo que está sendo alcançado devido à ênfase
aos aspectos cognitivos e ao papel da educação.
Nesta perspectiva, o Manual Diagnóstico Estatístico de Transtornos
Mentais DSM-5 (APA, 2014), afirma que as características diagnósticas -
manifestações de prejuízos sociais e de comunicação e comportamentos
restritos/repetitivos que definam o transtorno do espectro autista - são claras no
período do desenvolvimento. Mais tarde, intervenção e compensação, além
dos apoios atuais, podem mascarar essas dificuldades pelo menos em alguns
contextos (APA, 2014).
Segundo estudiosos, como Grillo e Silva (2004), o interesse pelo
diagnóstico precoce das manifestações autistas evidencia-se pelo fato de que
as intervenções precoces poderiam abrandar dificuldades futuras nessas
crianças e que normalmente essas manifestações são sutis e difíceis de serem
percebidas pelos pais e pediatras, no início do desenvolvimento da criança,
antes dos dois anos. No entanto, para Young et al (apud GRILLO e SILVA,
2004) algumas manifestações poderiam ser observadas nessa fase do
desenvolvimento, pelo fato dessas crianças apresentarem pouco interesse
por objetos e por pessoas, terem dificuldade em seguir objetos e olhar para o
rosto humano, falta de brincadeiras imitativas, posturas e medos inusitados,
problemas alimentares, terem necessidades de rotinas e rituais, apresentarem
pobre contato visual, apresentarem movimentos e comportamentos
estereotipados e dificuldade com contato físico, além de regressão ou atraso
na linguagem verbal ou a deficiência na gestão do apontar.
Neste contexto, Schwartzman (2015), aborda que “apesar de não haver
cura para os TEAs, pacientes que tenham bom potencial e que sejam expostos
precocemente ao tratamento podem ter seus prejuízos bastante reduzidos”
(p.142).
Assim, o diagnóstico precoce do autismo é imprescindível, sendo
necessária uma avaliação composta por uma equipe multiprofissional
(neuropediatra, psicólogos, psiquiatras, psicopedagogos, fonoaudiólogos), para
que se inicie uma intervenção educacional especializada. Dessa forma, poderá
ser elaborado um plano de intervenção com evidência científica de eficácia e
aplicabilidade, de acordo com as necessidades individuais de cada aluno
autista (SCHWARTZMAN, 2015).
Lemos, Salomão e Agripino-Ramos (2014) expõem que cabe aos
profissionais que trabalham com indivíduos com autismo “a utilização de
estratégias que contemplem a aquisição de habilidades que são pré-requisitos
para que outras se efetivem” (p.119). Os autores destacam que a escola é um
dos espaços que favorecem o desenvolvimento infantil por conta da
oportunidade de convivência com outras crianças e, também, pelas importantes
mediações realizadas pelo professor, as quais favorecem a aquisição de
diferentes habilidades nas crianças (LEMOS; SALOMÃO; AGRIPINO-RAMOS,
2014).
Camargo e Bosa (2009), baseados em Bosa (2002), apontam que a
ausência de respostas das crianças autistas, muitas vezes, está mais
relacionada à falta de compreensão do que está sendo exigido dela do que a
uma atitude de isolamento proposital. Ter essa consciência é importante, pois
julgar que a criança é alheia ao que acontece ao seu redor faz com que se
restrinja a motivação para investir na sua potencialidade para interagir. Lord e
Magil (1989, apud CAMARGO; BOSA, 2009) já questionavam sobre o fato de
que o retraimento social das crianças com autismo seria mais relacionado à
falta de oportunidades do que a algo inerente à própria síndrome.
Diversos são os estudos sobre o TEA, porém não existe consenso sobre
a técnica de trabalho mais eficaz com os alunos autistas. Nesta perspectiva, o
modelo dos atendimentos multidisciplinares - ou interdisciplinares – tem como
foco contribuir para a melhoria de uma das principais características do
transtorno: a dificuldade de generalização. Entretanto, isso requer a ampliação
do tempo de investimento na criação dos vínculos com cada profissional, já que
a criança com autismo possui graves problemas de interação (KWEE,
SAMPAIO, ATHERINO, 2009).
Desta forma, as bases do tratamento envolvem técnicas de mudança de
comportamento, programas de trabalho e terapias de linguagem/comunicação
(GADIA, TCHMAN; ROTTA, 2004).
4. INTERVENÇÕES EDUCACIONAIS E COMPORTAMENTAIS
4.1 MÉTODO TEACCH
De acordo com Leon e Lewis (1997, apud MOREIRA, 2016) o TEACCH
é um programa de atendimento que envolve basicamente a Psicologia
Comportamental e a Psicolinguística, tendo como objetivo apoiar o autista a
chegar a idade adulta com o máximo de autonomia possível.
O método TEACCH - Treatment and Education of Autistic and
Communication Handicapped Children (Tratamento e Educação de Crianças
Autistas e com Desvantagens na Comunicação) – foi criado no fim da década
de 60 pelo Dr. Eric Schopler na Universidade da Carolina do Norte (EUA),
partindo de uma orientação cognitiva e comportamental (SANTOS, 2005).
Fernandes (2010) esclarece que a Teoria Behaviorista e a
Psicolinguística são as bases epistemológicas do Método TEACCH. Na terapia
comportamental a estruturação do ambiente é indispensável, utilizando-se de
reforçadores que aumentem a frequência de comportamentos desejáveis.
Enquanto que na psicolinguística o uso da imagem visual gera a comunicação.
Inicialmente, a linguagem não verbal vai incorporando significados por meio da
interiorização das experiências, desenvolvendo-se progressivamente a
comunicação, que poderá se manifestar de forma oral, gestual ou escrita. No
que diz respeito à terapêutica psicopedagógica, a linguagem receptiva e a
expressiva são trabalhadas simultaneamente. Ao fazer o uso de cartões com
fotos, desenhos, símbolos ou objetos concretos, preveem-se as ações a serem
desenvolvidas e a estrutura física em função da dificuldade da criança autista
compreender os espaços (o que vai fazer e onde). No decorrer do tempo, com
o desenvolvimento da habilidade em executar uma determinada atividade, esta
passará a fazer parte da rotina da criança de forma sistemática.
Nesta perspectiva, as estratégias do TEACCH foram construídas “a
partir de pesquisas a respeito do funcionamento característico da desordem,
principalmente nas áreas da linguagem, da cognição e do comportamento
social” (LEON; OSÓRIO, 2011, p. 264).
Moreira (2016) aponta que para Leon e Lewis (1997) os pontos de apoio
do TEACCH seriam: “uma estrutura física bem delimitada, com cada espaço
para uma função; atividades com sequência e que as crianças saibam o que se
exige delas, uso direto de apoio visual, como cartões, murais” (MOREIRA,
2016, p. 3). Além disso, a organização e sinalização do ambiente físico
promoverão o processamento das informações visuais pela criança autista de
forma mais facilitada (FONSECA; CIOLA, 2014).
Neste sentido, a estrutura do Método TEACCH envolve: 1) a
organização da área física, na qual a disposição dos móveis oferece pistas
visuais ao aluno de maneira que consiga se deslocar independentemente
dentro do espaço, evitando assim a distração e oportunizando-lhe o
reconhecimento da função de cada área disponibilizada; 2) a programação
diária e o uso de rotinas incorporadas em agendas, que indicam visualmente a
rotina programada do aluno, auxiliando na transição independente entre as
atividades que deverá realizar (portanto, a indicação visual da agenda
individual dependerá do nível de compreensão e comunicação do aluno) e 3)
método de ensino, sendo imprescindível, durante o aprendizado de uma rotina
pelo aluno autista, posicionar as atividades de forma sistemática e em
sequência, a fim de evitar o excesso de instruções verbais (FERREIRA, 2016).
Ainda de acordo com Fonseca e Ciola (2014):
O TEACCH é uma modelo de intervenção que por meio de uma “estrutura externa”, organização de espaço, materiais e atividades, permite criar mentalmente “estruturas internas” que devem ser transformadas pela própria criança em estratégias e, mais tarde, automatizadas de modo a funcionar fora da sala de aula em ambientes menos estruturados (p.18).
Gadia (2006) afirma que esse método combina estratégias cognitivas e
comportamentais, pois possui “ênfase em procedimentos com base em reforço
para modificação de comportamento e em proporcionar intervenções para
déficit de habilidades que possam estar subjacentes a comportamentos
inapropriados” (p. 431).
Kwee, Sampaio e Atherino (2009) ressaltam que as concepções
essenciais do método implicam em disponibilizar as melhores técnicas
educacionais, para que cada indivíduo tenha a oportunidade de melhorar suas
habilidades para o viver, por meio do planejamento de estruturas ambientais
que compensem déficits implicados. Para que o programa se efetive é
imprescindível o apoio recíproco entre pais e profissionais envolvidos, que
juntos devem fixar as prioridades de um programa individualizado, de acordo
com a avaliação que contemple habilidades atuais e prioritárias e possíveis
formas de desenvolvê-las.
Ainda conforme Fonseca e Ciola (2014):
Importante colocar que os componentes curriculares e seus conteúdos precisam ser mantidos por força de lei. As mudanças estarão na forma de apresentação das atividades, na visualização dos conceitos que serão ensinados e na proposta do ensino voltado para a diversidade (p.74).
Desta maneira, percebe-se que a estruturação do ambiente educacional
envolve um programa diferenciado que estabeleça uma sequência lógica de
conteúdos e de procedimentos educacionais, a fim de alcançar os objetivos
estabelecidos (COOL; PALACIOS; MARCHESI, 1995).
4.2. SISTEMA DE COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA POR FIGURAS – PECS
O PECS (The Picture Exchange Communication System) - ou Sistema
de comunicação por troca de figuras - é um dos métodos mais difundidos e
utilizados com alunos com TEA. Foi desenvolvido pelo psicólogo Andrew
Bondy e pela fonoaudióloga Lori Frost, em 1985 (MACEDO; ORSATI, 2011).
O método visa estimular a comunicação e diminuir problemas de
comportamento por meio de um contexto estruturado e concreto. É um sistema
de comunicação expressiva, no qual o indivíduo pode solicitar de forma
funcional e adequada suas necessidades e desejos, utilizando-se de
referências com fotos, materiais concretos ou figuras (CORTES, 2015). O
aprendizado por meio da troca de figuras demonstra avanços nas capacidades
de comunicação, diminuição de comportamentos inapropriados e oportuniza
melhoras nas relações interpessoais das pessoas que o utilizam (VIEIRA,
2013).
Para Ramos (2011):
Crianças utilizando PECS podem aprender a se comunicar primeiro com figuras isoladas, mais tarde, porém, aprendem a combinar imagens para assimilar diversas estruturas gramaticais, relações semânticas e funções comunicativas (p.37).
Na visão de Macedo (2011, apud FROST; BONDY, 2002) o PECS é
constituído por seis fases:
Fase I - Troca Física - Geralmente realizada na presença de dois
técnicos: o técnico facilitador (posicionado atrás do aluno) deverá ajudar
fisicamente o aluno a fazer a troca de figura pelo item desejado; já o técnico
comunicativo deverá estar de mãos abertas para receber a figura e com a outra
mão deverá imediatamente entregar o item desejado ao aluno, nomeando-o.
Fase II - Distância e Persistência - Nesta fase os técnicos irão provocar
o aluno a trocar de forma espontânea o item desejado, aumentando
progressivamente a distância entre o aluno e “dossier” comunicativo.
Fase III - Discriminação entre figuras - Nesta fase coloca-se duas figuras
no “dossier” comunicativo: uma desejada e outra não desejada, reforçando o
desejo de escolha do aluno. Quando o aluno faz a opção pela figura de desejo
naquele momento, o profissional deverá repetir a tarefa, aumentando
progressivamente o número de figuras semelhantes para que o aluno aprenda
a fazer escolhas entre objetos igualmente desejados.
Fase IV - Aumentar a estrutura da frase - Nessa fase o aluno vai
interagir colocando a sequência de figuras em uma tira para formar uma frase
simples. Primeiramente, fixa-se a referência “eu quero” à esquerda e ao lado
coloca-se seu objeto de desejo, fazendo a entrega ao técnico, que deverá
simultaneamente ler a frase.
Fase V - Respondendo - O que queres? Nessa fase a criança é
provocada a solicitar seus objetos de desejo respondendo a questão apontada
pelo técnico “O que queres?” colocada no seu “dossier” comunicativo. Inicia-se
a comunicação espontânea por meio da troca de figuras.
Fase VI – Respondendo espontaneamente – Nessa fase a criança
aprende a compor sentenças respondendo espontaneamente a questão “O que
você querer?” / “O que você ouve?”, colocando a figura “eu quero”/”eu ouço” na
tira do seu “dossier” comunicativo e a imagem do objeto aprendido.
Os benefícios da utilização do PECS para crianças com autismo são
discutidos na literatura e demonstram o bom aprendizado do método por
estudantes, baseado na melhoria do comportamento sociocomunicativo,
aumento da linguagem verbal e complexidade gramatical, até a generalização
de habilidades comunicativas aprendidas (MACEDO; ORSATI, 2011).
Mizael e Aiello (2013), em um estudo de revisão de literatura brasileira e
estrangeira, acrescentam:
PECS parece ser efetivo no ensino da comunicação a indivíduos com autismo ou com pouca fala funcional, apesar de o pequeno número de participantes de cada estudo indicar que o PECS é uma estratégia de ensino individual (p. 623).
Ainda nesta perspectiva, Mizael e Aiello (2013) em seu relato de
pesquisa, constataram:
A falta de pesquisas que tenham um controle experimental claro e que utilizem tentativas de controle randomizado (RCTs) ainda faz com que os resultados obtidos nos estudos analisados não tenham validade ou precisão adequadas para se afirmar que os resultados foram devidos ao uso do PECS e não de outras variáveis intervenientes (p. 624).
4.3 ANÁLISE COMPORTAMENTAL APLICADA - (ABA - APPLIED
BEHAVIOR ANALYSIS)
De acordo com o Manual Autism Speaks (2011), a Análise do
Comportamento é ciência do comportamento, que fornece conhecimentos
cientificamente comprovados sobre como e porque o comportamento ocorre.
Ainda segundo o Manual:
Quando esta pesquisa é utilizada para melhorar o comportamento socialmente significativo, considera-se que é aplicada (p. 34).
Camargo e Rispoli (2013) abordam que a Análise Comportamental
Aplicada – ABA – também pode ser “definida como uma tecnologia que é
aplicada em situações de vida reais, onde comportamentos apropriados e
inapropriados podem ser melhorados, aumentados ou diminuídos” (p.642).
Para Haydu (2009) o comportamento pode ser definido como um
“processo de interação entre organismo e o ambiente. O organismo e os
eventos ambientais afetam um ao outro (interagem) e dessa maneira produzem
alterações recíprocas” (p. 5).
. Ainda conforme Haydu (2009):
A compreensão dos processos de interação do homem com seu meio ambiente é fundamental para que possa se explicar e prever como os indivíduos aprendem, se desenvolvem e se adaptam para poder intervir em contextos clínicos, educacionais, esportivos e outros (p.4).
Ao fazer uma análise científica do comportamento humano, Skinner o
definiu como comportamento operante, que é um mecanismo de aprendizagem
de novo comportamento, no qual a resposta do indivíduo opera no ambiente e
produz consequências que agem de novo sobre ele, podendo influenciar a
probabilidade do fato ocorrer novamente. (BAGAIOLO, GUILHARDI; ROMANO,
2011). Desta forma, se essa consequência, após um comportamento, for
agradável (reforço), a frequência desse comportamento vai aumentar. Esse
reforço pode ser positivo (um elogio, prêmio ou recompensa) ou negativo (ação
que reprime uma consequência indesejada). Sendo assim, é possível a
alteração do comportamento humano por meio da concessão de reforços (na
manutenção de comportamentos) ou da extinção de reforços (ao eliminar
comportamentos inadequados) (SKINNER, 2003).
Partindo da premissa de que todo comportamento pode se explicado
pela identificação da sua causa e de suas consequências, compete ao analista
do comportamento de uma criança autista ensinar comportamentos alternativos
que possam provocar as mesmas consequências que o comportamento
inapropriado provocava, já que tais comportamentos interferem no
desenvolvimento e na interação dessa criança. Para isso, deve identificar as
habilidades apresentadas pela criança e as que ela precisa aprender, o que
envolve um ensino intensivo e individualizado para novas habilidades (BRAGA-
KENYON, KENYON; MIGUEL, 2005).
Fazzio (2012) acrescenta que o Analista do comportamento deve:
Atentar para as dificuldades e facilidades da criança em aprender. Tudo deve ser planejado de acordo com o estilo de aprendizagem de cada criança, demonstrado pelos dados. Os dados são registros de como a criança está respondendo a cada programa; por exemplo se ela acertou ou errou perguntas, se precisou de ajuda, de quanta ajuda precisou, quantos dias ou tentativas demorou para aprender certa habilidade. Esses números em geral se transformam em gráfi-cos que serão usados pelo Analista do Comportamento para
tomar decisões continuamente em relação ao sucesso de sua intervenção (p.15).
Windholz (1995, apud CARAMICOLO, 2013, p. 26), expõe que a
estrutura da intervenção na análise comportamental aplicada com crianças
autistas deve ser dividida em fases. A primeira fase é a avaliação
comportamental, buscando apontar as variantes que a controlam; a segunda
fase é a seleção de metas e objetivos, em médio prazo refere-se ao
desenvolvimento da comunicação, adequando os comportamentos sociais e
generalizando os comportamentos aprendidos; a terceira fase é a do
desenvolvimento dos programas de tratamento, no qual se determinam com
clareza quais comportamentos devem ser ensinados, sendo necessário que se
faça um diagnóstico prévio do que a criança já sabe para que, no decorrer do
programa, perceba sua evolução; a quarta fase refere-se à efetivação da
intervenção.
Braga-Kenyon, Kenyon e Miguel (2005) apontam que cada vez que uma
nova habilidade for ensinada é indispensável a apresentação de uma instrução,
na qual comportamentos desejáveis são reforçados de forma que o
aprendizado se torne prazeroso. Por outro lado, os comportamentos
indesejáveis não são reforçados, o que demanda habilidade e treino do
profissional. Para que a criança autista alcance o critério de aprendizagem
estabelecido, é essencial que se repita por diversas vezes as tentativas de
ensino, sendo que a cada comportamento manifestado pela criança sejam
registrados precisamente e modificados em forma de gráficos, que evidenciem
os avanços da criança em cada atividade, possibilitando a correção de
possíveis erros.
Segundo Antunes (2007) “Skinner acreditava que todo aprendiz tende a
repetir uma resposta reforçada e a suprimir e esquecer uma resposta que
tivesse sido punida” (p.19).
Diante do exposto, é fundamental que a criança com Transtornos do
Espectro do Autismo –TEA tenha a sua disposição intervenções com
fundamentação científica e a ABA vem se destacado nesse aspecto, tanto para
terapia individual quanto para orientação nas escolas. No entanto conforme
expõem Fernandes e Amato (2013) é evidente a necessidade de estudos
controlados com critérios claros de inclusão e de avaliação dos resultados para
que seja estabelecida a preponderância de uma proposta de intervenção sobre
outras alternativas.
5. Considerações finais
O intuito dessa pesquisa é ampliar os conhecimentos dos professores
sobre a temática do autismo e, diante dos estudos realizados, percebeu-se a
necessidade de reforçar a importância de intervenções precoces e intensivas,
por meio do treino sistematizado para o aluno autista. Visto a sua dificuldade
de imitação do outro, é preciso considerar o processo natural da imitação como
o primeiro aspecto para a criança que tem desenvolvimento atípico.
Fica evidente, também, que muitos autistas têm comportamentos
críticos, difíceis, repetitivos e, muitas vezes, impossíveis de serem conduzidos
se não forem colocados dentro de um processo sistemático, sendo primordial
que o professor busque intervenções que tenham evidências científicas com
ampla carga de publicações que apontem sua eficácia.
No entanto, apesar de existir inúmeras intervenções focadas na temática
do Transtorno do Espectro Autista - TEA, é preciso divulgar os resultados
satisfatórios, a fim de oportunizar a melhoria na qualidade de vida de nossos
alunos autistas, ajudando-os na aquisição de novas habilidades e na
manutenção de habilidades já existentes.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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