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UM COMENTÁRIO DA CONFISSÃO DE FÉ

BATISTA DE 1689, POR GARY MARBLE

INTRODUÇÃO E CAPÍTULO 1, SOBRE

AS SAGRADAS ESCRITURAS

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Traduzido do original em Inglês

A Commentary of the 1689/1677 Second London Baptist Confession of Faith

By Gary Marble

Este volume é composto da Introdução e Capítulo 1,

Sobre As Sagradas Escrituras da obra supracitada

Tradução e Revisão por William Teixeira e Camila Almeida

Capa por William Teixeira

3ª Edição: Dezembro de 2015

O apêndice deste volume foi traduzido por Rafael Abreu, com permissão, a partir do original em

Inglês: Confessing the Faith in 1644 and 1689, By James M. Renihan • Via: ReformedReader.org

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, com a graciosa

permissão do autor, Gary Marble (1689Commentary.org), sob a licença Creative Commons

Attribution-NonCommercial-NoDerivatives 4.0 International Public License.

Você está autorizado e incentivado a reproduzir e/ou distribuir este material em qualquer formato,

desde que informe o autor, as fontes originais e o tradutor, e que também não altere o seu conteúdo

nem o utilize para quaisquer fins comerciais.

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Prefácio à Edição em Português

Estamos profundamente gratos ao nosso Deus por nos conceder a graça de, em parceria

com o amado irmão Gary Marble, podermos publicar em nossa Língua a introdução e o

primeiro capítulo deste excelente e esmerado comentário de nossa comum Confissão de

Fé Cristã Bíblica. Esperamos no Senhor que esta seja a primeira de uma série de publi-

cações com os comentários dos demais capítulos da Confissão.

Por volta de dezembro do ano de 2014, fomos conduzidos pela graciosa providência de

Deus aos comentários da Confissão de Fé Batista de 1689, pelo irmão Gary Marble. Na

ocasião, ficamos cheios de esperança e anelo em ter esses escritos disponíveis em Portu-

guês. Desde então, a comunhão com este amado irmão, e a sua gentil cooperação e em-

penho em favorecer a publicação destes escritos em Português têm sido motivos de ações

de graças a Deus e consolo por nossa fé mútua.

Os últimos dois ou três anos de nossas vidas têm sido marcados por trabalho árduo, lutas

constantes e por dúvidas dolorosíssimas. Deus trouxe a Confissão de Fé Batista de 1689

até nós quando estávamos presos no Castelo da “Dúvida Batismal” habitado pelo Gigante

“Desespero Doutrinário”, e oh! como o Senhor, nosso Deus, a usou, juntamente com muitos

outros meios de graça, para nos fazer superar o Monte do Erro e chegar às consoladoras

Montanhas Deleitáveis! Não cessamos de dar graças ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus

Cristo por nos haver guiado à preciosíssima Confissão Batista de 1689, a qual tem sido uma

fonte de grande instrução, alegria, consolo, esperança e encorajamento para nós. Uma dul-

císsima lembrança vem às nossas mentes quando lembramos dos dias em que resolvemos

nos dedicar ao estudo diligente, e com oração, dos artigos da Confissão, e como, à medida

em que avançávamos, íamos sendo alegremente surpreendidos pela maravilhosa graça e

grandeza de Deus, e pela conservação das preciosas verdades encerradas na Confissão.

Considerando que atualmente a Confissão de Fé Batista de 1689 é praticamente desconhe-

cida, mesmo entre os Batistas, exortamos ardentemente a todos que compartilham de nos-

sa santíssima fé, que se esforcem por conhecer a verdade de Deus mapeada nesta Confis-

são, e cuidadosamente delineada nestes comentários, pois cremos que este esforço será

ricamente recompensado, segundo a graça de nosso Deus.

Esperamos no Senhor, que esta série de comentários que agora começam a ser publicados

possa contribuir para a edificação, exortação e consolo de muitos amados de Deus, e para

o louvor e glória de Sua graça.

William Teixeira e Camila Almeida

EC, 31 de março de 2015.

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Este pequeno volume [CFB1689] não é emitido como uma regra autori-

tativa, ou código de fé, pelo que vocês devem ser constrangidos, mas

como uma ajuda para vocês em controvérsia, uma confirmação na fé,

e um meio de edificação na justiça. Aqui os membros mais jovens da

nossa igreja terão um Corpo de Teologia, que servirá como uma pe-

quena bússola, e por meio de provas bíblicas, estarão prontos para dar

a razão da esperança que está neles.

Não se envergonhem de sua fé; lembrem-se que este é o antigo

Evangelho dos mártires, confessores, reformadores e santos. Acima de

tudo, é a verdade de Deus, contra o qual todas as portas do inferno

não prevalecerão. Deixem suas vidas adornarem a sua fé, deixem o

seu exemplo enfeitar o seu credo. Acima de tudo, vivam em Cristo

Jesus, e andem nEle, não crendo em nenhum ensinamento, senão no

que é manifestamente aprovado por Ele, e de propriedade do Espírito

Santo. Apeguem-se fortemente à Palavra de Deus que está aqui mape-

ada para vocês.

— C. H. Spurgeon, escreveu estas palavras quando,

no início de seu ministério, prefaciou uma re-edição

da CFB1689 e a recomendou à sua congregação.

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Um Comentário Da Confissão De Fé Batista De 1689

Por Gary Marble

INTRODUÇÃO

A Confissão de Fé Batista de 1689 tem uma história que deve ser contada; é interessante

e necessário entender o seu conteúdo. Tal como acontece com todas as histórias, elas são

melhor contadas a partir de seu início, e por isso vamos começar por aí. Desde os primeiros

tempos, os crentes têm usado declarações sucintas e sumárias para explicar o que eles

creem que Deus falou, e quando tal afirmação é aceita por uma comunidade de crentes,

ela pode ser especialmente útil para promover e preservar as verdades da Palavra de Deus.

Tais declarações assumem várias formas, mas nos concentraremos nos credos e confis-

sões.

Credos E Confissões

A palavra “credo” vem da palavra latina “credo”, que significa, eu creio. Um credo é uma

declaração formal e sucinta sobre o que seu autor acredita que a Bíblia ensina. Credos são

usados para ajudar a lembrar e ensinar a verdade Bíblica, que serve como um padrão de

doutrina pelo qual devemos julgar os erros, e são úteis na igreja para fins litúrgicos.

A “confissão de fé” é simplesmente um credo expandido que aborda uma abrangência mai-

or da doutrina Bíblica. Os credos antigos tendem a lidar com doutrinas fundamentais da

Trindade e da natureza de Cristo, já uma confissão de fé aborda temas doutrinários adicio-

nais, tais como soteriologia (salvação), eclesiologia (a igreja) e escatologia (últimas coisas).

Há aqueles que rejeitam credos e confissões. Você pode ouvir uma pessoa dizer algo como:

“Não professo nenhum credo senão a Bíblia”. Entretanto, este é um equívoco, pois tal afir-

mação é, ironicamente, o seu próprio credo. Esta própria declaração é uma declaração de

fé (credo). É quase impossível explicar o significado da Bíblia apenas por citar suas palavras

literalmente. Para que se explique o significado de uma passagem da Bíblia deve-se usar

palavras adicionais. Isso é essencialmente o que um credo ou confissão é; é uma declara-

ção interpretativa e resumo sobre o significado da Bíblia de uma maneira formalizada que

é aceita como verdadeira por uma comunidade de crentes. Nós, obviamente, reconhece-

mos que credos e confissões são documentos meramente humanos passíveis de erro, e,

por isso, não devem ser considerados inerrantes.

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Há, no entanto, declarações de credo inspiradas na Bíblia. Por exemplo: “Ouve, Israel, o

Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu cora-

ção, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças” (Deuteronômio 6:4-5). Aqui nós temos

uma declaração formal e sucinta — as características de um credo. Na verdade, esse mes-

mo credo inspirado foi usado pelo próprio Cristo. Em Marcos, lemos: “E Jesus respondeu-

lhe: O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único

Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e

de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças” (Marcos 12:29-30). Jesus respondeu

à pergunta citando o credo inspirado literalmente.

O Novo Testamento também contém tais exemplos de declarações sucintas, formais e re-

sumidas. Paulo escreve em 1 Timóteo 3:16: “Grande, em verdade, nós confessamos, é o

mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, visto

pelos anjos, pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória” (tradução literal

– ESV). Acredita-se que esta pode ter sido uma estrofe de um hino ou alguma outra declaração

formal de crença usada desde cedo na igreja do primeiro século. Você notou as palavras,

“nós confessamos” na passagem? Estas são apenas uma pequena amostra dos credos

encontrados na Bíblia. Certamente, se a própria Bíblia tem credos, então a igreja é bem

justificada ao fazer o mesmo. É a concisão, formalização e precisão de um credo ou confis-

são que o torna especialmente útil como uma declaração duradoura de verdade. E a história

tem mostrado que tais declarações formais, cuidadosamente articuladas têm ajudado a

igreja a depor e retirar do meio dela os piores heréticos.

Um dos credos mais antigos da igreja é o Credo Apostólico1. Foi concluído em sua forma

atual em torno do ano 200 d. C. Conforme o tempo passava, este credo foi expandido para

lidar com várias controvérsias e heresias que surgiram. Como resultado, o Credo Apostólico

de 106 palavras (em Português) foi ampliado pelas igrejas ao longo de um período de

algumas centenas de anos em um credo de 212 palavras (em Português) chamado o Credo

Niceno. Havia um sentimento de reverência e respeito pelo Credo Apostólico, que fez com

que as Igrejas fossem edificadas sobre ele, em vez de começarem de novo, do zero. E

quando olhamos para A Confissão Batista de 1689, vemos que ela também foi formulada

sobre confissões anteriores de fé, como a Confissão Batista de Londres 1646, a Confissão

de Fé de Westminster de 1646, e na Declaração de Savoy de 1658.2

_________

[1] Ele não foi escrito pelos apóstolos, mas contém o ensino apostólico.

[2] Parece que a fonte primária da Confissão de 1689 foi a Declaração de Savoy, no entanto, posto que a

Declaração de Savoy foi uma adaptação da Confissão de Fé de Westminster, por causa disso a maior parte

do texto da Confissão de Westminster é encontrada na Confissão de 1689.

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A História Da Confissão De 1689

Depois de definir o cenário, nós rapidamente seguimos adiante, mais de 1000 anos depois,

e olhamos para as circunstâncias em torno da Confissão Batista de 16893. Uma tremenda

tensão havia se desenvolvido na Inglaterra entre o rei Charles I e o Parlamento, e de 1629

a 1640 Charles I governou essencialmente sem Parlamento. Mas em 1640, o rei foi forçado

a convocar um Parlamento à sessão para que ele pudesse solicitar fundos do Parlamento

para as guerras do rei. O Parlamento aproveitou esta convocação à sessão e fez-se inde-

pendente do rei Charles. O Parlamento prendeu e executou conselheiros do rei Charles,

aboliu todos os tribunais ilegais, se encarregou das finanças do país, e aboliu a política da

Igreja da Inglaterra4. Eventualmente o Parlamento decapitou Charles I em 1649. Este

Parlamento tornou-se conhecido como o Parlamento Longo porque eles ficaram de 1640 a

1660 sem rei.

A Confissão De Fé De Westminster

Como resultado de tudo isso, a Igreja da Inglaterra precisava ser reorganizada. O Parla-

mento determinou a convocação de uma assembleia de pastores Puritanos, chamados de

“teólogos” com a finalidade de reorganizar a constituição da igreja, litúrgica e doutrinaria-

mente. Essas reuniões são referidas como a Assembleia de Westminster. Em 12 junho de

1643, o Parlamento aprovou uma lei intitulada: “Uma Ordenação dos Lordes e dos Comuns

no Parlamento para a convocação de uma Assembleia de Teólogos e outros, para ser

consultada pelo Parlamento sobre a definição do Governo e Liturgia da Igreja da Inglaterra,

e purificação da Doutrina da referida Igreja da falsas calúnias e interpretações”.

A Assembleia, composta de Puritanos Ingleses e Escoceses, se reuniu pela primeira vez

em 1 de julho de 1643. Em 4 de dezembro de 1646, a Confissão de Fé de Westminster foi

concluída, embora, curiosamente, o Parlamento a tenha enviado de volta com a solicitação

de que referências Bíblicas a serem indicadas indicando que a “Assembleia deveria anexar

as suas notas marginais, para comprovar cada parte disso pela Escritura”. Isso foi comple-

tado em 29 de abril de 1647.

Em 5 de novembro de 1647, o Catecismo Menor foi concluído e apresentado ao Parlamen-

____________

[3] Pode ser útil mencionar de antemão que não há um título “oficial” da Confissão. O leitor notará que eu uso

muitos títulos diferentes nesta introdução porque ela é conhecida por muitos títulos. Nesta introdução eu

usualmente a chamei de Confissão Batista de 1689, mas quando eu uso outra nomenclatura ainda estou me

referindo à mesma confissão. No decorrer do comentário, eu uso apenas o título “Confissão de 1689”, ou às

vezes apenas a “Confissão”.

[4] “Política” refere-se ao governo da igreja.

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to, e em 14 de Abril de 1648 o Catecismo Maior também foi concluído e apresentado ao

Parlamento. Em 22 de março de 1648, o Parlamento se reuniu para considerar sua resposta

à Confissão de Fé de Westminster. Esta foi aceita com algumas mudanças em relação à

disciplina. Em última análise, no entanto, ela não foi permanentemente adotada pela Igreja

da Inglaterra.

Quando refletimos sobre o fato de que este foi um grande momento de turbulência política

e religiosa, é notável que não se pode ver uma prova disso na Confissão de Westminster.

Esta Assembleia se reuniu por 5 anos, 6 meses e 22 dias; foram realizadas 1.163 sessões5.

A Confissão de Fé de Westminster tem trinta e três capítulos detalhados de doutrina, e

juntamente com o seu Catecismo Menor e Maior, é uma maravilhosa obra de Teologia Re-

formada. Esta confissão é especificamente Presbiteriana na forma de governo da igreja, na

teologia do pacto e no batismo (ou seja, pedobatismo). Mas, apesar das diferenças, muito

do seu conteúdo é considerado pelas outras igrejas Reformadas.

Os Congregacionais E Batistas Na Inglaterra

Nos anos que vão de 1630 a 1640, Congregacionais e Batistas começaram a surgir a partir

da Reforma na Inglaterra. Como resultado, nos anos que vão de 1640 a 1650 vemos confis-

sões de fé por parte dos Congregacionais e dos Batistas.

A Primeira Confissão Batista De Londres De 1646

Em 1644, os Batistas Particulares produziram a Primeira Confissão Londres, que foi produ-

zida, em parte, para distinguir a doutrina dos Batistas Particulares da doutrina dos Batistas

Gerais e dos Anabatistas. Em 1646 ela foi publicada. Ela foi preparada por sete igrejas Ba-

tistas Particulares em Londres, e contém 52 artigos de Fé Calvinista. O título da Confissão

mostra que parte do seu objetivo era mostrar que os Batistas Particulares eram distintos

dos Anabatistas: “A confissão de fé das sete congregações ou igrejas de Cristo em Londres,

as quais muitas vezes, mas injustamente são chamadas de Anabatistas; publicado para a

reivindicação da verdade e para a informação dos ignorantes; e também para refutar as ca-

lúnias que são com frequência, tanto no púlpito quanto nas editoras, lançadas injustamente

sobre eles. Impresso em Londres, ano de 1646”. Esta confissão foi uma importante fonte

usada na Confissão Batista de 1689.

A Declaração Savoy De Fé De 1658

__________

[5] As atas das reuniões da Assembleia foram recentemente publicadas em dois grandes volumes. A presente

ata foi descoberta há alguns anos, escondida atrás de outros livros em uma biblioteca na Inglaterra.

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Em 1658, os Congregacionais adaptaram a Confissão de Westminster e a chamaram de

Declaração de Savoy. Philip Schaff afirma: “Eles [Congregacionais] concordam substanci-

almente com a Confissão de Westminster, ou com o sistema Calvinista de doutrina, mas

diferem do Presbiterianismo, rejeitando a autoridade legislativa e judicial dos presbitérios e

sínodos, e mantendo a independência das igrejas locais”6. Schaff afirma em outro lugar: “a

Declaração de Savoy é apenas uma modificação da Confissão de Westminster para se

adequar à política Congregacional”7. A Confissão de 1689 parece ter utilizado como fonte

principal a Declaração de Savoy, mais do que a Confissão de Westminster. No entanto, a

Confissão Batista de1689 ainda difere substancialmente da Declaração de Savoy em

algumas áreas.8

O Código Clarendon

Em 1665, a última de uma série de leis chamadas de Código de Clarendon foi aprovada na

Inglaterra, que pôs fim à tolerância religiosa para todos, exceto para os Anglicanos. Como

resultado, Presbiterianos, Batistas e Congregacionais juntamente sofreram perseguição

durante este tempo.

A Segunda Confissão De Fé Batista De Londres De 1677

Em 1677, William Collins e Nehemiah Coxe9 formularam a Segunda Confissão de Fé Batista

de Londres. William Collins foi o pastor da Igreja Petty France, na Inglaterra; ele faleceu em

1702. Nehemiah Coxe foi o co-pastor da Igreja Petty France, na Inglaterra. Ele possuía uma

reputação muito boa, e era hábil em Latim, Hebraico e Grego; ele também era um médico.

Ele faleceu em 168810.

Enquanto a Confissão Batista de 1677 foi edificada sobre o trabalho da Confissão Batista

__________

[6] Philip Schaff, The Creeds of Christendom [Os Credos da Cristandade] (Baker Book House), Vol. 1, pág.

829. Colchetes meus. Schaff escreve em 1931: “No decorrer do tempo o rigor do Antigo Calvinismo relaxou,

tanto na Inglaterra e na América. A ‘Teologia da Nova Inglaterra’, como é chamada, tenta encontrar uma via

média entre o Calvinismo e o Arminianismo na antropologia e na soteriologia. Mas os antigos padrões ainda

permanecem não revogados. A primeira e fundamental confissão Congregacional de Fé e governo

eclesiástico é a Declaração de Savoy, assim chamada a partir do local onde ela foi composta e adotada”.

Disponível em: <http://www.ccel.org/ccel/schaff/creeds1.x.iii.html>. Acesso em: 07 dez. 2014.

[7] Ibid, Vol. III, pg. 718.

[8] A Confissão de 1689 é distinta da Declaração de Savoy, especialmente no que diz respeito à Teologia do

Pacto e Batismo. A Declaração de Savoy é semelhante à Confissão Presbiteriana em relação à Teologia do

Pacto e, como tal, também é uma Confissão pedobatista.

[9] Nehemiah Coxe morreu alguns meses antes da adoção de 1689, da Confissão de 1677, e, assim, o seu

nome não está na lista dos que adotaram a Confissão. Minha fonte para esta informação é Aula de História

de James Renihan que eu participei em 2011 na Grace Covenant Church, em Gilbert, Arizona.

[10] James Renihan’s Baptist History class [Aula de História Batista, por James Renihan]: 2011, Grace

Covenant Church, em Gilbert, Arizona.

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de Londres de 1646, sobre a Confissão de Westminster e a Declaração de Savoy, há muitas

áreas em que difere destas Confissões. Ao longo destas linhas, Samuel Waldron afirma:

“Entretanto, enquanto a admiração dos Batistas pela Declaração de Savoy e Westminster

é patente, também há provas suficientes de que não houve dependência escrava desses

documentos”.11

Ato De Tolerância

Como mencionado acima, a Segunda Confissão de Fé Batista de Londres foi concluída em

1677, mas não foi amplamente divulgada e distribuída devido à perseguição das igrejas

não-Anglicanas — remanescentes por causa do Código de Clarendon. Felizmente, em 24 de

maio de 1689, o Ato de Tolerância foi aprovado. Este Ato autorizou aqueles cujas consciên-

cias demandavam sua independência dos Anglicanos, a Igreja da Inglaterra, sem enfrentar

um processo judicial. Como resultado disso, dentro de alguns meses, uma reunião de pas-

tores Batistas Particulares de Londres e do País de Gales foi convocada. A Assembleia Ge-

ral dos Batistas Particulares de Londres adotou a Confissão Batista de Londres de 167712.

Aqui está o Termo de Encerramento dos signatários, como foi datada no ano de 1689:

Nós, os Ministros e Mensageiros de, e preocupados com mais de cem IGREJAS

BATISTAS, na Inglaterra e no País de Gales (negando o Arminianismo), estando reu-

nidos em Londres, a partir do terceiro dia do sétimo mês ao décimo primeiro do mesmo

ano de 1689, para considerarmos algumas questões que podem ser para a glória de

Deus, e para o bem dessas congregações, já pensamos encontrar (para a satisfação

de todos os demais Cristãos que diferem de nós no ponto do Batismo) a recomen-

dação de sua leitura de Confissão de nossa Fé, Confissão esta feita por nós mesmos,

como contendo a doutrina de nossa fé e prática, e anelamos que os próprios membros

de nossas igrejas sejam supridos com ela.

Significado Da Confissão De Fé Batista De 1689

William Lumpkin declara a respeito da Confissão de Fé Batista de Londres de 1689: “Conce-

bida como um instrumento apologético e educativo, a Confissão tornou-se uma das mais

importantes de todas as Confissões Batistas”13. É a confissão mais popular para os Batistas

Calvinistas Ingleses. Estes artigos foram ligeiramente alterados por grupos que o adotaram.

__________

[11] Samuel Waldron, A Modern Exposition of the 1689 Baptist Confession of Faith [Uma Exposição Moderna

da Confissão de Fé Batista de 1689] (Evangelical Press: 1989), pg. 429.

[12] Por alguma razão, a data da adoção de 1689, permanece associada à Confissão, ao invés de sua data

real de autoria.

[13] William L. Lumpkin, Baptist Confessions of Faith [Confissões de Fé Batista] (Judson Press: Edição

Revisada 1969), página 239.

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Benjamin Keach e outro ministro acrescentaram dois artigos curtos tratando da Imposição

de Mãos e do Canto dos Salmos. Eventualmente, a Edição de Keach foi adotada em 1744

pelas Igrejas Batistas Calvinistas da América do Norte, e chamada de Confissão de Fé da

Filadélfia — o nome da Confissão nos estados do Norte. Nos estados do Sul foi chamada

de Confissão de Charleston. Com pouquíssimas mudanças essenciais, a Confissão Batista

de 1689 foi usada durante todo o período colonial e início dos Estados Unidos, em lugares

como as associações na Virgínia em 1766; Rhode Island, em 1767; Carolina do Sul, em

1767; Kentucky em 1785 e Tennessee, em 1788. Ela tornou-se conhecida na América como

A Confissão Batista.

Em 1855, Charles Spurgeon publicou a Confissão Batista de Londres de 1689 durante seu

pastorado em New Park Street Chapel, em Londres. Ele fez isso para fortalecer as bases

doutrinais de New Park Street Chapel.

A familiaridade com a Confissão Batista de 1689 diminuiu no período que vai de 1850 a

1950. Mas o interesse, desde então, ressurgiu. Reimpressões da Confissão Batista de 1689

começaram a aumentar em 1950, uma tendência que continua até o presente; há Igrejas

Batistas Reformadas em muitos lugares do mundo que adotaram a Confissão Batista de

1689.

Aqueles que defendem a Confissão de Fé Batista de 1689 valorizam sua rica história — a

sua história —, mas a razão pela qual eles a confessam é que eles acreditam que elas su-

marizam com precisão a Palavra de Deus. Talvez a melhor maneira de celebrar a nossa in-

trodução à confissão seja com as palavras que Charles Spurgeon, que disse sobre a Con-

fissão Batista de 1689: “Apeguem-se fortemente à Palavra de Deus que está aqui mapeada

para vocês”.

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CAPÍTULO 1, SOBRE AS SAGRADAS ESCRITURAS

É de propósito que a Confissão começa com as Escrituras. Pois estas são o alicerce sobre

o qual a Confissão foi construída1. A Confissão não deseja promover a mera tradição ou

opinião, mas a Palavra de Deus. A Confissão começa com uma declaração que indica sua

elevada visão das Escrituras: As Sagradas Escrituras são a única suficiente, certa e

infalível regra de toda o conhecimento salvífico, fé e obediência.2

Quando analisamos a frase usando o diagrama acima, somos capazes de ver o significado

central: As Escrituras são a regra3. A partir disso, o restante da cláusula é formado. A

palavra regra aqui se refere a critérios específicos que este compêndio de escritos apre-

senta. Quais são estes critérios? Estes critérios são todo conhecimento, fé e obediência

salvíficos; analisaremos cada uma dessas palavras mais à frente.

__________

[1] Robert Letham afirma: “O primeiro capítulo da Confissão é classificado como a declaração mais completa

do clássico Reformado do Protestantismo sobre o tema das Escrituras e, possivelmente, a melhor de todas

as fontes até a data”. Robert Letham, The Westminster Assembly: Reading Its Theology in Historical Context

[A Assembleia de Westminster: Lendo sua Teologia no Contexto Histórico] (P&R Publishing: 2009), p. 120.

[2] A Confissão de Westminster não começa com essa cláusula. Ela começa com: “Embora a luz da natureza

e as obras da criação e da providência, manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, a ponto de

tornar os homens indesculpáveis; ainda assim, não são suficientes...”.

[3] A palavra “regra” está funcionando aqui como um predicado nominal. Um predicado nominal é um subs-

tantivo que segue um verbo de ligação e renomeia ou explica o assunto. Por exemplo, “John é um professor”.

“Professor” renomeia ou explica o assunto. Então, na Confissão, a palavra “regra”, explica o assunto (Es-

critura).

1. As Sagradas Escrituras são a única, suficiente, correta e infalível regra de todo

conhecimento, fé e obediência salvíficos1, embora a luz da natureza e as obras da

criação e da providência manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, a ponto

de tornar os homens indesculpáveis; ainda assim, não são suficientes para oferecer

aquele conhecimento de Deus e de Sua vontade, que é necessário para a salvação2;

portanto aprouve ao Senhor, em diversas ocasiões, e de muitas maneiras, revelar-Se, e

declarar a Sua vontade para a Sua Igreja3; e, posteriormente, para melhor preservação

e propagação da verdade, e para o mais seguro estabelecimento e consolo da Igreja

contra a corrupção da carne e a malícia de Satanás e do mundo, concedeu a mesma

completamente por escrito; o que faz da Sagrada Escritura indispensável. Aqueles

antigos modos de Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo agora cessaram4. (1 2

Timóteo 3:15-17; Isaías 8:20; Lucas 16:29, 31; Efésios 2:20 • 2 Romanos 1:19-21, 2:14-15;

Salmos 19:1-3 • 3 Hebreus 1:1 • 4 Provérbios 22:19-21; Romanos 15:4; 2 Pedro 1:19-20).

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Vemos que as Escrituras são sagradas. Existem vários significados e sentidos que corres-

pondem à palavra “santa”. O Oxford English Dictionary [Dicionário de Inglês Oxford] lista

quatro sentidos principais. O contexto indica qual é o sentido correto, e mesmo com alguma

sobreposição dos diferentes sentidos, podemos concluir que “santo” significa sagrado, con-

sagrado, ou separado. Assim, quando a Bíblia é chamada de Bíblia Sagrada ou Sagradas

Escrituras, este é, de fato, um título adequado. Ela é sagrada porque é separada, assim

entendemos a palavra sagrada. A palavra única é apenas uma palavra restritiva e

especifica que define (ou seja, descreve ou explica) os adjetivos: suficiente, correta e

infalível. As Sagradas Escrituras são a única regra ou norma suficiente, correta e infalível.

Assim, pelo uso da palavra “única” nós somos lembrados da doutrina do Sola Scriptura (em

latim, ou “Somente a Escritura”, em Português), esta doutrina que, na verdade, foi um

princípio da Reforma, é o foco de todo este capítulo. Não devemos perder de vista que a

Confissão aqui se submete às Sagradas Escrituras, pois a Escritura é a única regra

suficiente, correta e infalível. Obviamente, a cláusula continua a explicar que a Escritura é

a própria regra, mas uma vez que estamos buscando observar esta cláusula dando um

passo de cada vez, teremos de conter esse pensamento por um momento.

O uso do termo suficiente é muito importante. Suficiente neste contexto significa “de uma

qualidade, extensão ou escopo adequado para um determinado fim ou objetivo”4. A Bíblia

contém e é o padrão ou regra, e essa regra possui características particulares; posto que a

sua regra é suficiente, é, por consequência, plenamente capaz de realizar o seu objetivo.

Mas para que esta regra é suficiente? Esta regra ou padrão é suficiente para nos mostrar

efetivamente todo conhecimento, fé e obediência salvíficos. Suficiente aqui não significa

meramente adequado. Samuel Waldron, nos ajuda a entender isso, quando afirma:

Costuma-se dizer que as Escrituras são suficientes para nos mostrar o caminho da

salvação. Este é o risco de ser mal interpretado hoje por causa da mentalidade ampla-

mente minimizadora, que tem a intenção de reduzir o caminho da salvação a seus

elementos mais evidentes. Certamente deve ficar claro que tal compreensão da sufici-

ência das Escrituras é um desvio do entendimento histórica da Reforma articulado na

Confissão de Westminster. “Todas as coisas necessárias para a Sua própria glória, a

__________

[4] Dicionário de Inglês Oxford (Oxford University Press). Robert Martin afirma sobre este dicionário: “O DIO

é uma ferramenta indispensável para a determinação do significado das palavras inglesas do século XVII.

Este, e não o sentido moderno das palavras da Confissão, é o nosso primeiro interesse. O que está em

questão é aquele significado intencionado pelo autor, uma preocupação que desapareceu a um nível

alarmante em nosso mundo pós-moderno”. Robert Martin, “A Segunda Confissão de Londres, Sobre a

Doutrina das Escrituras. Uma Exposição do Capítulo 1: ‘Sobre as Escrituras Sagradas’ (Parte 1)”, Reformed

Baptist Theological Review, Vol. IV No. 1, p. 61. Nós faremos uso deste dicionário, ao longo deste comentário.

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salvação do homem, fé e vida” é muito mais do que as “Quatro Leis Espirituais”. Não

é nada menos do que a suficiência dela — para a redenção do homem, tanto individu-

almente como coletivamente em toda a esfera da vida tanto ética quanto religiosa —

sendo afirmada.5

Isso levanta a questão: “Se a Bíblia é a única regra suficiente... de conhecimento, fé e obe-

diência salvíficos, estão lá as coisas para as quais ela é insuficiente?”. Sim. Waldron afirma:

“A Bíblia não é ‘oni-suficiente’. Ela não é ‘toda-suficiente’ para todos os fins imagináveis. As

Escrituras, por exemplo, não são suficientes para servirem como um livro de referência para

a matemática, biologia ou espanhol. A suficiência das Escrituras não significa que elas são

tudo o que precisamos para o propósito de aprender geometria e álgebra”6. A Bíblia é a

única regra suficiente, mas também é a única regra correta. A palavra correta é definida

como “certa, infalível, não susceptível a falhas, confiável, totalmente fiel e fidedigna”7. De

fato, a Bíblia é a regra correta. É certa; é uma fundação firme. É a única regra correta. Pode-

mos e devemos construir nossas vidas sobre a sua segurança. Jesus disse: “Todo aquele,

pois, que escuta estas minhas palavras, e as pratica, assemelhá-lo-ei ao homem prudente,

que edificou a sua casa sobre a rocha; 25 E desceu a chuva, e correram rios, e assopraram

ventos, e combateram aquela casa, e não caiu, porque estava edificada sobre a rocha. 26

E aquele que ouve estas minhas palavras, e não as cumpre, compará-lo-ei ao homem in-

sensato, que edificou a sua casa sobre a areia; 27 E desceu a chuva, e correram rios, e

assopraram ventos, e combateram aquela casa, e caiu, e foi grande a sua queda” (Mateus

7:24-27). Lembro-me da primeira estrofe do hino, “Que Firme Fundação, ó Santos do Se-

nhor”:

Que firme fundação, vós santos do Senhor,

Edificam por sua fé em Sua Palavra excelente!

O que mais Ele pode dizer, além do que já disse,

Para vocês que, em busca de refúgio, para Jesus fugiram?8

A Bíblia também é a única regra infalível. A palavra infalível é definida como “incapaz de

erro”9. Ela é compatível com a nossa palavra moderna inerrância. A crença de que a Bíblia

é incapaz de erro tem sido atacada. Na era moderna, esses ataques tornaram-se bastante

__________

[5] Samuel E. Waldron, Uma Exposição Moderna da Confissão de Fé Batista de 1689 (Darlington, Inglaterra,

Evangelical Press), p. 43.

[6] Ibid., p. 43.

[7] Dicionário de Inglês Oxford (Oxford University Press).

[8] Trinity Hymnal [Hinário Trindade] (Great Commissions Publishing:1961), Hino 80. “Quão Firme Funda-

mento, Ó Santos Do Senhor”. O autor é desconhecido, e o tempo de origem é provável ser o século XVIII.

[9] Dicionário de Inglês Oxford (Oxford University Press).

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sofisticados, mas a autoridade da Bíblia não depende do testemunho do homem10; a Pala-

vra de Deus permanece para sempre (Isaías 40:8). Infalibilidade é o que seria esperado de

Deus, pois Deus é a verdade. Afinal, é o Espírito que nos convence de sua infalibilidade,

mas também a sua razoabilidade. Os ataques do liberalismo não demonstraram que a Bí-

blia é falível, mas somente têm mostrado a racionalidade da crença em sua infalibilidade

(ou seja, inerrância).

Tendo comentado sobre a natureza da regra das Escrituras (ou seja, é suficiente, correta e

infalível), agora nós voltamos para o que a regra ou padrão pertence. A Confissão afirma

que a regra compreende todo conhecimento salvífico, fé e obediência. Que tipo de co-

nhecimento, fé e obediência? A resposta é o tipo salvífico. Que tipo de conhecimento salví-

fico, fé e obediência? A resposta é todo. Eu creio que salvífico deve ser aplicado a cada pa-

lavra que ele modifica (ou seja, conhecimento salvífico, fé salvífica, e obediência salvífica)11.

Salvífico refere-se à salvação, é claro, mas, salvação de quê?

Muitas vezes usamos o termo “salvífico” em relação à redenção, mas podemos esquecer

do que somos salvos. Para que sejamos salvos, deve haver um perigo que nos ameaça. É

Deus quem nos ameaça, e é dEle que somos salvos. Muitas vezes nos referimos à salvação

“do pecado”, ou “do inferno”, mas estes todos são ameaças secundárias para nós. O próprio

Deus é a nossa maior ameaça. O que Jesus nos diz? “Mas eu vos mostrarei a quem deveis

temer; temei aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno; sim, vos digo,

a esse temei” (Lucas 12:5). O criminoso não deve temer a prisão, tanto quanto o juiz que

pode colocá-lo na cadeia. Deus lançará todos os pecadores que Ele não perdoou no infer-

no, e, portanto, Deus é que é a maior ameaça para o pecador; isso faz sentido desde que

é a Deus que nós provocamos — em Sua face — com o nosso pecado12. Ser salvo é ser

__________

[10] Veja a Confissão de 1689, 1:4.

[11] Parece provável que “salvífico” destina-se a modificar não apenas “conhecimento”, mas as duas palavras

depois de “conhecimento”, também (ou seja, fé e obediência). Isso poderia criar uma dificuldade em relação

a “obediência salvífica”. Eu não acredito que esta, de alguma maneira, seja uma dificuldade insuperável, como

eu explico abaixo. A outra alternativa é a de considerar que “salvífico” apenas se destina a alterar “conhe-

cimento”. Mas, isso também criaria outra dificuldade, pois o “conhecimento” por si só não é capaz de salvar.

Portanto, parece melhor tratar “salvífico” como um modificador para cada palavra (conhecimento salvífico, fé

[salvífica] e obediência [salvífica]). A Confissão de forma consistente utiliza elipses (ou seja, a omissão de

uma palavra usada anteriormente intencionada a estar implícita nas palavras que seguem). O leitor pode fazer

o seu próprio julgamento.

[12] Veja Isaías 65:3; Jeremias 25:6; 32:30, para citar apenas alguns exemplos desta escrita nas Escrituras.

Isso não quer dizer que Deus tenha “paixões”. A Confissão nega que Deus tenha “paixões” (2:1). Implicar que

Deus tem “paixões” seria sugerir que Deus está sujeito a alterações pelas ações externas das Suas criaturas.

A Bíblia usa linguagem metafórica quando descreve uma mera criatura a provocá-lO. Especificamente, isso

é chamado de antropomorfismo. É a linguagem de acomodação para que o homem possa entender como um

Deus imutável imutavelmente odeia o pecado. Veja a Confissão de 1689 2:1 “sem corpo, partes, ou paixões”.

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salvo de Deus, o Juiz de todos. Não nunca podemos esquecer desse fato. Quando pensa-

mos em ser salvos do próprio Deus, percebemos que a glória do Evangelho é esta: nós so-

mos salvos de Deus, por Deus, para Deus. Isso não é algo profundo a se considerar? Evi-

dentemente, a salvação não é apenas ser salvo de algo (a ira de Deus), mas é ser salvo

para algo, em última análise, para o próprio Deus.

Quando se trata de todo o conhecimento salvífico, significa que as Escrituras fornecem o

conhecimento necessário para a salvação. Considere esta passagem: “E que desde a tua

meninice sabes as Sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé

que há em Cristo Jesus” (2 Timóteo 3:15). O conhecimento é necessário, a fim de ser salvo,

mas que tipo de conhecimento? Bem, a resposta é o conhecimento salvífico. O que é isso?

O conhecimento que salva é o conhecimento do Evangelho. O conhecimento do Evangelho

salvou você? Não, mas quando o conhecimento salvífico é acompanhado de fé salvífica

isso ocorre. Somos justificados pela fé, e não pelo conhecimento por si só. O conhecimento

ou sabedoria referidas em 2 Timóteo não salvou Timóteo, mas fê-lo “sábio para a salvação

pela fé em Cristo Jesus”. Em vez de ampliar em detalhes sobre o que é a fé salvífica, tere-

mos que “salvar” isso (sem trocadilhos) para o capítulo 14, Sobre A Fé Salvífica. A Escritu-

ra é o padrão do que constitui a fé salvífica. Eu também poderia encaminhá-lo ao capítulo

11, Sobre a Justificação, onde a fé é explicada em relação especificamente à justificação.

Enquanto chegamos ao último termo, não há necessidade de cambalear sobre... obediên-

cia salvífica13, como se a Confissão esteja promovendo uma salvação por obras de obedi-

ência. Não é isso, mas a salvação não é apenas da ira de Deus pelo nosso pecado, mas

para a obediência. A Bíblia nos diz: “Como também nos elegeu nele antes da fundação do

mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor” (Efésios 1:4). Sa-

bemos que somos salvos pela fé, mas a fé salvadora não está sozinha (Tiago 2:17). Em

outras palavras, a verdadeira fé é seguida por uma obediência salvífica. A obediência não

nos salva; mas a obediência indica que algo salvífico existe em nós. O que as Escrituras

nos dizem? “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom

de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie; porque somos feitura sua, cria-

dos em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos

nelas” (Efésios 2:8-10). Assim, embora nós sejamos salvos pela graça por meio da fé so-

mente, nós também crescemos em santificação: “Porque esta é a vontade de Deus, a vossa

santificação” (1 Tessalonicenses 4:3a). O objetivo do Evangelho é a salvação do pecado e

uma conformidade com a imagem de Cristo; o fim do evangelho não é a graça, a graça é o

meio. O fim do Evangelho é que nós seremos feitos como Cristo, para a glória de Deus. Se

não estamos nos movendo nessa direção, então a Escritura nos diz que devemos examinar

a nós mesmos para ver se estamos na fé (2 Coríntios 13:5; 1 Pedro 1:3-11).

__________

[13] Veja nota 11.

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Para resumir esta seção e incluir as elipses14, a Confissão está dizendo: As Sagradas

Escrituras são a única suficiente, [única] correta, e [única] infalível regra de todo o

conhecimento, [de toda] fé e [de toda] obediência salvíficos. Esta porção estabeleceu o

ponto de partida: tudo o que nós precisamos e podemos saber sobre conhecimento, fé e

obediência salvíficos é encontrado nas Sagradas Escrituras. Não há nenhuma outra fonte

e regra a este respeito.

As Escrituras são muitas vezes referidas como revelação especial. O Dicionário de Baker

de Teologia define revelação especial ou revelação particular como “revelação redentora

transmitida por prodigiosos atos e palavras”15. Enquanto a revelação especial é suficiente

para operar redenção (ou seja, conhecimento salvífico, fé salvífica, obediência salvífica), a

revelação geral (ou seja, revelação natural ou universal) não é. A revelação geral é insufici-

ente para operar redenção. A Confissão agora introduz uma explicação sobre a insuficiên-

cia ou incapacidade da revelação geral para redimir os pecadores.

A Confissão afirma: embora a luz da natureza e as obras da criação e da providência,

manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, a ponto de tornar os homens

indesculpáveis. Existem três fontes de revelação geral mencionados aqui que manifestam

(revelam) a bondade, a sabedoria e o poder de Deus. Estas três coisas são tão simples

e evidentes que elas tornam todos os homens indesculpáveis.

A primeira fonte de revelação geral é a luz da natureza. Luz aqui deve ser entendida meta-

foricamente, e refere-se ao conhecimento, não à luz física16. Esta luz (conhecimento) de-

vem vir de algum lugar; a sentença diz-nos que a luz vem da natureza. Mas devemos enten-

der a natureza simplesmente como sinônimo de criação? Eu não penso assim. A luz da

natureza é citada em 5 outros lugares17 da Confissão18. Os outros contextos dizem respeito

__________

[14] Uma elipse é a omissão de uma palavra implícita afirmada anteriormente. Isso permite reduzir palavras

redundantes, mantendo o seu significado implícito. Por exemplo, “O menino foi até a loja e biblioteca”. Está

implícito que o mesmo “menino” que foi até a loja também foi até a biblioteca. Ao omitir “menino”, alguém é

capaz de conservar o uso da palavra ao deixar de fora a palavra implícita.

[15] Baker’s Dictionary of Theology [Dicionário de Teologia de Baker] (Baker Book House, 13th Printing:1983),

p. 456-57.

[16] A metáfora é um artifício literário que utiliza linguagem figurativa, não-literal comparada a algo literal. Às

vezes metáforas comuns tornam-se tão associadas com o referente literal que nós nivelamos o significado

figurativo e literal, assim, nós apenas associamos a metáfora com o seu significado literal. Isso é bom para

manter o discurso figurativo distinto em algum nível, a fim de evitar confusão.

[17] Nós encontramos a frase usada em 1:6, 10:4; 20:2; 22:1.

[18] Artigo trinta e sete do Credo Ortodoxo (não confunda com os antigos credos ortodoxos) afirma: “Nem ain-

da acreditamos que as obras de criação, nem a lei escrita no coração, a saber, religião natural, como alguns

chamam, ou a luz interior do homem, como tais, são suficientes para informar o homem sobre Cristo, o Media-

dor, ou sobre o caminho para a salvação, ou a vida eterna por meio dEle”; Isto foi escrito em 1679, apenas

dois anos após a estruturação da Confissão Batista de 1677. Esta declaração certamente parece corres-

ponder ao conceito de luz da natureza.

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a questões da revelação natural ou geral, mas parecem não fazer referência à evidência

externa da criação ou providência, tanto quanto à consciência e percepção. Robert Letham

afirma prestativamente: “A luz da natureza” é uma referência à consciência de Deus que

Ele imprimiu na mente humana”19. Deus colocou a Sua lei no coração do homem (Romanos

2:15) a qual a consciência testemunha. Deus colocou no homem uma consciência de Deus

(Romanos 1:19). O que torna a luz da natureza distinta das obras da criação e providência

é que ela é interna, enquanto a criação e a providência de Deus testemunham externa-

mente — ou objetivamente se você preferir.

A revelação geral também vem a nós através das obras da criação. Isso se refere a Deus

havendo realizado a criação em seis dias20. O Capítulo 4, Sobre A Criação, tratará em

detalhes das obras da criação. Paulo indica: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer

neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde

a criação do mundo, tanto o seu eterno poder, como a sua divindade, se entendem, e clara-

mente se veem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis” (Roma-

nos 1:19-20). A criação testemunha sobre Deus. Vemos isso no Salmo 19: “Os céus decla-

ram a glória de Deus e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração

a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde

não se ouça a sua voz. A sua linha se estende por toda a terra, e as suas palavras até ao

fim do mundo. Neles pôs uma tenda para o sol”. Esta passagem afirma que os céus revelam

o conhecimento da glória de Deus, sem dizer uma única palavra.

As obras da providência de Deus são a terceira fonte de revelação geral. Como a provi-

dência manifesta a bondade, sabedoria e poder de Deus? A resposta simples é que

visto que Deus provê (ou seja, providencia) para a Sua criação, e nós podemos observar

isso, isso é evidência de Sua bondade, sabedoria e poder, nesta ação. Discutiremos isso

com mais detalhes no capítulo 5, Sobre a Providência de Deus.

A Confissão continua, ainda assim, não são suficientes para oferecer aquele conheci-

mento de Deus e de Sua vontade, que é necessário para a salvação. R. C. Sproul afir-

ma: “A revelação geral, ao contrário da revelação especial, vem a nós basicamente através

da natureza e é chamada de ‘geral’ por duas razões. Primeiro, o público é geral, Deus dá o

__________

[19] Robert Letham, A Assembleia de Westminster: Lendo Sua Teologia no Contexto Histórico (P&R

Publishing:2009), p. 122-23. Letham acrescenta que Calvino escreveu sobre o que ele chamou de um sensus

divinitatis (um senso do Divino). Letham cita como apoio Paul Helm, John Calvin’s Ideas [Noções de João

Calvino] (Oxford University Press, 2004), 209-245.

[20] A pergunta 12 do Catecismo Batista define muito bem as obras da criação como: “A obra da criação

consiste em todas as coisas que Deus fez a partir do nada, pela palavra do Seu poder, em seis dias

consecutivos e normais, e tudo muito bom1 (1 Gênesis 1; Hebreus 11:3)”.

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conhecimento de Si mesmo universalmente, de modo que todo ser humano tem essa reve-

lação, que é edificada na natureza. Em segundo lugar, o conteúdo da revelação geral nos

dá um conhecimento geral de Deus. Ele revela que é eterno; revela o Seu poder, divindade

e santidade. A revelação geral, no entanto, não anuncia o caminho da salvação de Deus.

As estrelas não revelam o ministério de Cristo. Em verdade, a revelação geral revela apenas

o conhecimento suficiente de Deus para nos condenar, para nos tornar indesculpáveis”²¹.

Isso é preocupante. A revelação geral não apenas é insuficiente para levar ao conhecimen-

to da salvação do Evangelho, mas o que esta revelação traz “é apenas o conhecimento de

Deus suficiente para nos condenar”. O pecador perdido não pode deduzir o Evangelho a

partir da revelação geral. Este ponto é abordado com mais detalhes na Confissão, no capí-

tulo 20, Sobre o Evangelho E A Extensão Da Graça Do Mesmo. Posto que o Evangelho

não é revelado pela revelação geral, isso faz com que a pregação do Evangelho seja essen-

cial. E isso nos leva para a próxima seção do parágrafo um.

A Confissão afirma: Portanto aprouve ao Senhor, em diversas ocasiões, e de muitas

maneiras, revelar-Se, e declarar a Sua vontade para a Sua Igreja. A palavra “portanto”

aponta tanto de volta para o fato de que a revelação geral não é suficiente para dar aquele

conhecimento de Deus e de Sua vontade que é necessário para a salvação, quanto também

aponta para a frente, indicando isso como resultado daquela insuficiência: aprouve ao

Senhor... revelar-Se, e declarar a Sua vontade para a Sua Igreja. O Senhor graciosa-

mente, a partir de Seu próprio livre-arbítrio — Deus é sempre mui livre para fazer o que Lhe

agrada — revelou as duas coisas. Em primeiro lugar, Ele revelou-se... à Sua igreja. Isto

não deve ser pouco considerado. Deus, que é infinito, imutável, incompreensível, invisível,

que habita em luz inacessível revelou-Se! Isto é notável. E nós também não queremos igno-

rar isso: Ele Se revelou para a Igreja. Em segundo lugar, o Senhor declarou a Sua vontade

para a Igreja. Este é mais um ato surpreendente de Deus. Deus não apenas revelou-Se a

nós, mas deixou claro para nós a Sua vontade. Ainda esta declaração é direcionada para

a Igreja. A referência à Igreja aqui é a todos os eleitos de Deus, em todas as eras, incluindo

o período do Antigo Testamento. Abordaremos isso mais tarde na Confissão, mas não de-

vemos simplesmente pensar sobre a Igreja22 como sendo aqueles que viveram do Novo

Testamento para a frente; precisamos também pensar sobre os eleitos antes do Novo Tes-

tamento, os nossos primeiros pais.

A Confissão afirma que aprouve ao Senhor em diversas ocasiões, e de muitas maneiras,

revelar-Se, e declarar a Sua vontade para a Sua Igreja. Esta frase é uma citação literal de

__________

[21] R. C. Sproul, Truths We Confess: A Layman’s Guide to the Westminster Confession of Faith [Verdades

Que Nós Confessamos: Guia De Um Leigo Para a Confissão de Fé de Westminster] (New Jersey, P&R

Publishing), Volume 1, p. 6-7.

[22] A palavra “igreja” é usada 55 vezes na Confissão. Por exemplo, consulte os capítulos 26:1; 7:3; 11:6 para

ilustrar o uso da igreja que não se restringe aos santos do Novo Testamento.

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Hebreus 1:1; presumivelmente a partir da Bíblia King James. A Bíblia New American Stan-

dard o traduz como: “em muitas partes e de muitas formas”. [A versão ACF, traduz assim:

“muitas vezes, e de muitas maneiras” — N. R.]. O termo em diversas ocasiões (ou em

muitas partes) significa que Deus falou em vários momentos e épocas, e que a revelação

não foi dada de uma só vez; foi dada em porções, cada nova porção adicionada à revelação

anterior. Desta forma, a revelação progrediu até a sua plenitude em Cristo e da Nova Alian-

ça (veja Romanos 16:25-27)23. O termo de muitas maneiras (ou, em muitas formas) signi-

fica que Deus transmitiu a revelação de Si mesmo e de Sua vontade para a Igreja de várias

ou diferentes maneiras (ou seja, em vários métodos, ou modos). Quais são essas maneiras

ou modos? No livro de David Dickson, A Vitória da Verdade Sobre o Erro, ele pergunta:

“Quais eram as diversas ocasiões e muitas maneiras?”. Ele responde citando seis modos

de revelação. Não temos espaço aqui para analisar cada modalidade, mas esta lista é útil,

e as referências são fornecidas para um estudo mais aprofundado:

• Por inspiração (2 Crônicas 15:1; 2 Pedro 1:21)

• Por visões (Números 12:6-8)

• Por sonhos (Jó 33:14-16; Gênesis 40:8)

• Urim e Tumim (Números 27:21; 1 Samuel 30:7-8)

• Por sinais (Gênesis 32:24-32; Êxodo 13:21)

• Por voz audível (Êxodo 20:1; Gênesis 22:15)

Dickson, em seguida, acrescenta: “Todos os quais terminam por serem escritos (Êxodo

17:14), o que é uma maneira mui segura e infalível do Senhor revelar a Sua vontade ao

Seu povo”24. Esta última afirmação resume muito do presente parágrafo da Confissão.

A Confissão continua: e, posteriormente, para melhor preservação e propagação da

verdade, e para o mais seguro estabelecimento e consolo da Igreja contra a corrup-

ção da carne e a malícia de Satanás e do mundo, concedeu a mesma completamente

por escrito; o que faz da Sagrada Escritura indispensável. Aqueles antigos modos de

Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo agora cessaram.

__________

[23] A Confissão nos diz no Capítulo 7:3: “Esta Aliança [da graça] é revelada no Evangelho; primeiramente a

Adão na promessa de salvação pela semente da mulher, e depois por etapas sucessivas, até que a sua plena

revelação foi completada no Novo Testamento”.

[24] David Dickson, Truth’s Victory Over Error: A Commentary on the Westminster Confession of Faith [A

Vitória da Verdade Sobre o Erro: Um Comentário Sobre a Confissão de Fé de Westminster] (Edinburgh, The

Banner of Truth Trust), p. 4-5. Este livro é especialmente relevante para o nosso estudo da Confissão de

1689, pois este livro é um dos comentários mais antigos sobre a Confissão de Westminster, sendo publicado

pela primeira vez em 1684. Isso nos leva para bem próximos ao período de 1646, quando a Confissão de

Westminster foi concluída, portanto, nos dá uma lente contemporânea na qual se pode ver o texto da

Confissão de Westminster, e da Confissão de 1677, quando este se assemelha à CFW.

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Precisaremos decompor esta sentença para chegarmos a uma maior clareza. Vamos

remover algumas das chamadas declarações não-essenciais e ver se isso nos ajuda25. Fa-

rei isso por todo o parágrafo para que tenhamos um contexto:

1) As Sagradas Escrituras são a... regra.

2) O conhecimento natural... criação... providência... manifestam... a Deus; [assim] deixam

os homens indesculpáveis.

3) No entanto,... [a natureza... criação... providência] não são suficientes para dar...

conhecimento da... salvação.

4) Portanto aprouve ao Senhor... revelar-Se, e declarar a Sua vontade... para a Sua igreja;

5) e depois... concedeu a mesma completamente por escrito;

6) ...aqueles antigos modos de Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo agora cessaram.

Já consideramos os números de 1 a 4 citados acima. O número 5 afirma: e depois... conce-

deu a mesma completamente por escrito. O termo depois se refere ao tempo posterior

a Deus ter revelado a Si mesmo e Sua vontade para a igreja (nas várias épocas e de muitas

maneiras); até que isso fosse escrito. Então, por que Deus concedeu a Sua revelação por

escrito? A Confissão afirma: para o mais seguro estabelecimento e consolo da Igreja

contra a corrupção da carne e a malícia de Satanás e do mundo. Esta afirmação é

composta por sete razões pelas quais a revelação foi concedida por escrito: Vamos olhar

brevemente para estas, uma de cada vez.

Primeiro, o benefício de ter a revelação escrita é que ela preserva melhor a verdade. A es-

crita é geralmente mais confiável do que a palavra da boca. Escrever também faz com que

a verdade seja desvelada para que qualquer um veja, ao contrário de ser conhecida apenas

pelo profeta ou seus seguidores. O segundo benefício é a melhor propagação (promoção)

da verdade. Eu penso sobre os muitos manuscritos gregos do Novo Testamento, e as mui-

tas traduções desses manuscritos para outras Línguas. Tudo isso não teria acontecido se

a revelação não fosse concedida por escrito, inicialmente, e, assim, em sua pura quantidade

a verdade é grandemente preservada e promovida.

As razões de três a sete fornecem cinco benefícios da revelação ser concedida por escrito;

esses benefícios são direcionados à Igreja, enquanto as razões anteriores relacionam-se

__________

[25] Usarei reticências (...) para mostrar onde eu removi algum do termo, colchetes [ ] onde eu adicionei

palavras, e adicionei alguns sinais de pontuação, mas eu não alterarei qualquer uma das palavras da

Confissão.

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com a própria verdade. O mais seguro estabelecimento... da Igreja refere-se a um fortale-

cimento ou apoio26. A revelação concedida por escrito é também para o consolo da Igreja

(veja Romanos 15:4). Este estabelecimento (fortalecimento) e conforto auxiliam a Igreja

contra três inimigos: 1) a corrupção da carne, 2) a malícia de Satanás, e 3) [a malícia]27

do mundo. Spurgeon chama esses três inimigos “a horrível trindade do mundo”28. A maioria

dos crentes entenderá imediatamente como a Palavra de Deus ajuda a igreja contra estes

três inimigos.

A Confissão indica que a revelação de Deus e de Sua vontade — previamente transmitida

em diferentes modos não escritos — foi completamente concedida por escrito. Samuel

Waldron afirma: “Não é que tudo o que uma vez foi revelado está escrito, mas que tudo

agora revelado é escrito. A revelação redentora contida na Bíblia é um epítome preciso e

suficiente de toda a revelação redentora”29. Nós nos contentamos com o conhecimento de

que tudo o que precisamos para a salvação e para vivermos em Cristo Jesus está escrito

nas Escrituras, como a primeira cláusula do parágrafo deste capítulo afirmou. Quando al-

guém olha para a amplitude do Antigo Testamento somente, nós não temos a sensação de

que está faltando alguma coisa. Quando acrescentamos o Novo Testamento a ele, reconhe-

cemos que temos toda a revelação de Deus e de Sua vontade para a Igreja. Mesmo se não

temos por escrito cada coisa que alguma vez foi revelada, nós temos completamente todo

o conselho de Deus nas Sagradas Escrituras.

O primeiro parágrafo termina com estas palavras: o que faz da Sagrada Escritura indis-

pensável. Aqueles antigos modos de Deus revelar a Sua vontade ao Seu povo agora

cessaram. Porque a forma pela qual o Senhor Se revelou e declarou a Sua vontade para

a Igreja, antes de ser concedida por escrito, expirou ou cessou, faz a escrita disto muito

mais necessário. Caso contrário, aquela revelação não escrita que cessou poderia desapa-

recer, e a verdade não seria preservada e propagada; e, a igreja não estaria mui segura-

mente estabelecida e consolada, porque a revelação, tendo cessado, poderia desaparecer

e se perder completamente.

Vamos resumir este parágrafo: As Santas Escrituras são a regra para o conhecimento, fé

e obediência salvíficos. A revelação geral é insuficiente para revelar a fé, conhecimento e

obediência salvíficos. Como tal, Deus revelou a Si mesmo e a Sua vontade para a Igreja.

__________

[26] Dicionário de Inglês Oxford, “estabelecendo”: “Um meio de estabelecer; algo que fortalece, suporta, ou

corrobora”.

[27] A “malícia” anterior está retirada (reticências), mas está claramente implícita sobre “o mundo”.

[28] C. H. Spurgeon, Morning and Evening [Manhã e Noite], 25 de julho, Manhã.

[29] Samuel Waldron, Confissão de Fé Batista de 1689: Uma Exposição Moderna (Evangelical Press,

Darlington, Inglaterra:1989), p. 32-33.

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Mas desde que esta revelação, que a princípio não foi escrita, cessaria, era mui necessário

que fosse escrita por causa da verdade e da Igreja.

Pergunta de número seis do Catecismo Batista: O que as santas Escrituras principalmente

contêm? A resposta é: As santas Escrituras principalmente contêm o que o homem deve

crer acerca de Deus, e quais os deveres que Deus requer do homem1 (1 2 Timóteo 1:13;

3:15-16). O que se segue na Confissão, os capítulos 2 a 32 podem ser resumidos por estas

mesmas duas coisas. E, assim, a própria Confissão é um resumo de todo o conselho de

Deus (ou seja, aquelas coisas principalmente contidas na Palavra de Deus).

Este parágrafo é, antes de tudo, bastante simples; tendo definido a natureza da Palavra de

Deus, é importante afirmar especificamente quais são os livros que fazem parte dessa regra

(ou seja, o cânon). Esta lista de livros implica que todos os outros livros não mencionados

não são uma parte da regra. Desde o início, a Confissão está estabelecendo questões de

autoridade; isso é necessário antes que possa prosseguir.

A Confissão estabelece que todos esses livros são dados pela inspiração de Deus, para

serem a regra de fé e vida. Isso reflete o texto de 2 Timóteo 3:16-17: Toda a Escritura é di-

vinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir

em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a

2. Sob o nome de Escrituras Sagradas, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora

todos os Livros do Antigo e do Novo Testamento, que são estes:

DO ANTIGO TESTAMENTO: Gênesis; Êxodo; Levítico; Números; Deuteronômio; Josué;

Juízes; Rute; 1 Samuel, 2 Samuel; 1 Reis, 2 Reis; 1 Crônicas, 2 Crônicas; Esdras;

Neemias; Ester; Jó; Salmos; Provérbios; Eclesiastes; Cantares de Salomão; Isaías;

Jeremias, Lamentações; Ezequiel; Daniel; Oséias; Joel; Amós; Obadias; Jonas;

Miquéias; Naum; Habacuque; Sofonias; Ageu; Zacarias; Malaquias.

DO NOVO TESTAMENTO: Os Evangelhos segundo Mateus, Marcos, Lucas e João;

Atos dos Apóstolos; as Epístolas de Paulo aos Romanos, 1 Coríntios, 2 Coríntios,

Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, 1 Tessalonicenses, 2 Tessalonicenses, 1

Timóteo, 2 Timóteo, Tito, Filemom; a Epístola aos Hebreus; a Epístola de Tiago; a

Primeira e Segunda Epístolas de Pedro; a Primeira, Segunda e Terceira Epístolas de

João; a Epístola de Judas; Apocalipse.

Todos os quais são dados por inspiração de Deus, para ser a regra de fé e vida5 (5 2

Timóteo 3:16).

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boa obra. É importante notar nesta passagem as palavras: “divinamente inspirada”. A inspi-

ração de Deus na Confissão refere-se diretamente à palavra grega a partir da qual “divina-

mente inspirada”, em 2 Timóteo, provém. R. C. Sproul afirma: “Quando Paulo diz que toda

a Escritura é inspirada, ou divinamente inspirada, ele está tecnicamente dizendo que a

Escritura é soprada da boca de Deus, de onde ela se origina”30. Então, não é simplesmente

que esses livros são aceitos pela Igreja como autoridade, é que esses livros são soprados

da própria boca de Deus; eles são diretamente de Deus, sem erro, e, assim, pela sua pró-

pria característica de inspirados, eles são a regra de fé e vida. Estas palavras são o padrão

(ou seja, a regra) para o que nós devemos crer (ou seja, a fé), e como devemos viver (vida).

A regra de fé e de vida não é uma nova declaração ou ideia na Confissão, mas, sim, é uma

reiteração — abreviada — do primeiro parágrafo: “regra de todo conhecimento, fé e obedi-

ência salvíficos”.

A Igreja Romana mantém os livros Apócrifos como sendo inspirados juntamente com os

livros do Antigo e Novo Testamentos. Os Apócrifos foram escritos durante o período Inter-

testamentário (de cerca de 400 antes de Cristo até a Sua chegada). Os livros Apócrifos são:

I Esdras, II Esdras, Tobias, Judite, o restante de Ester, A Sabedoria de Salomão, Eclesi-

ástico, Baruque, com a Epístola de Jeremias, Cântico das Três Santas Crianças, A História

de Susana, Bel e o Dragão, a Oração de Manassés, I Macabeus e II Macabeus.

Os Protestantes não têm esses livros como sendo inspirados por uma boa razão; há impre-

cisões na história e outras áreas que mostram que eles são falíveis, e, portanto, não inspira-

dos. A Confissão de 1689 estabelece: “Portanto, não são de autoridade para a Igreja de

Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados, senão como escri-

tos humanos”. Não se trata de dizer que os livros Apócrifos não têm valor histórico, cultural

ou literal. A Confissão de 1689 não está dizendo que os livros Apócrifos ou quaisquer outros

livros humanos não devem ser lidos, ou que eles não têm nenhum valor, mas os livros hu-

manos não são suficientes, certos ou infalíveis como regra de conhecimento, fé e obediên-

cia salvíficos.

__________

[30] R. C. Sproul, Verdades Que Nós Confessamos: Guia De Um Leigo Para a Confissão de Fé de Westmins-

ter (New Jersey, P&R Publishing), Volume 1, p. 11.

3. Os livros comumente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração Divina, não fazem

parte do cânon ou regra da Escritura; e, portanto, não são de autoridade para a Igreja de

Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados, senão como escritos

humanos6 (6 Lucas 24:27, 44; Romanos 3:2).

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Escritura é a regra de todo conhecimento, fé e obediência salvíficos. A palavra cânon é

usada no mesmo sentido, como uma regra. James White prestativamente aborda o que se

entende por cânon: “Cânon refere-se a uma norma ou regra. Neste caso, a regra, norma

ou cânon refere-se a quais livros são inspirados ou Deus soprou. Quais escritos são inspira-

dos e quais não são”. White também afirma: “O cânon é uma função da própria Escritura.

O cânon não é apenas uma lista de livros; é uma declaração sobre o que é inspirado. O câ-

non resulta da obra do Autor da Escritura, o próprio Deus. Falar de cânon sem de falar do

quê foi “soprado por Deus” é falar tolices. O cânon não é feito pelo homem. O cânon é feito

por Deus. É o resultado da ação de Sua inspiração Divina. Aquilo que é inspirado por Deus

é cânon; o que não é inspirada por Deus não é cânon. É simples assim. O cânon é uma

função da inspiração, e isso diz respeito a um atributo da Escritura”.

White então aplica isto à Igreja Romana: “O erro Romano reside na criação de uma dicoto-

mia entre duas coisas que não podem ser separadas, e depois, usando essa falsa dicoto-

mia, negam o Sola Scriptura”. “Frequentemente duas questões separadas, mas relaciona-

das, ficam confusas quando este tópico é discutido: (1) a natureza do cânon, e (2) como as

pessoas vieram a conhecer o conteúdo do cânon. Uma ilustração pode ajudar. Eu escrevi

oito livros. A ação de eu ter escrito aqueles livros cria o cânon das minhas obras. Se um

amigo meu não tem um conhecimento exato ou completo de quantos livros escrevi, isso

significa que não há cânon dos meus livros? Não, claro que não. Na verdade, se eu fosse

o único que soubesse quantos livros eu escrevi, isso significaria que o cânon dos meus li-

vros não existe? O ponto é claro. O cânon é uma questão, e esta advém da ação de Deus

ter inspirado as Escrituras; nosso conhecimento do cânon é outra questão. Nosso conheci-

mento pode crescer e amadurecer, como ocorreu, por vezes, na história. Mas o cânon não

é definido por nós nem é afetado pelo nosso conhecimento ou ignorância”.31

Os Apócrifos são declarados pela Igreja Romana como sendo canônicos, juntamente com

o restante da Bíblia, mas ela não tem autoridade para fazer essa declaração. A única auto-

ridade do cânon é Deus, que inspirou os documentos particulares; um concílio de igreja ou

decreto humano não podem declarar algo como sendo de inspiração — de que seria isto?

A lista Protestante de livros inspirados baseia-se no reconhecimento de que esses livros

são inspirados por Deus. No momento em que as igrejas fizeram uma lista formal dos livros

canônicos, seu uso já era estabelecido. Por que isso? Porque quando um livro era reconhe-

cido como inspirado, a Igreja o usava. E assim, a lista canônica de livros é uma lista de

reconhecimento, em vez de uma lista de pronunciamento.

___________

[31] James White, The Roman Catholic Controversy [A Controvérsia Católica Romana] (Bethany House

Publishers: 1996), p. 93-94.

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A Confissão de 1689 afirma que a autoridade da Bíblia não depende do “testemunho de

qualquer homem”. Isso, logicamente, segue a discussão do cânon e a inspiração. Se Deus

inspirou, soprou de Sua boca as Escrituras do Antigo e do Novo Testamento, e Ele o fez,

então, segue-se que a autoridade, a regra, das Escrituras não dependente de qualquer

pessoa quanto à sua autoridade. A autoridade provém somente de Deus. Lembro-me de

uma passagem em 1 Tessalonicenses: “Por isso também damos, sem cessar, graças a

Deus, pois, havendo recebido de nós a palavra da pregação de Deus, a recebestes, não

como palavra de homens, mas (segundo é, na verdade), como palavra de Deus, a qual

também opera em vós, os que crestes” (2:13).

É provável que a Confissão tinha em mente o Papado e sua reivindicação ao direito ex-

clusivo de interpretação. A Confissão de 1689 acrescenta que a autoridade da Bíblia não

depende do testemunho de qualquer igreja. É provável que a Igreja Romana estivesse

em mente aqui. Como David Dickson escreveu, próximo ao período das Confissões de

Westminster e de 1689: “Bem, então, a igreja papista não erra, ao manter a Escritura como

sendo uma regra imperfeita e, portanto, necessitam de um suprimento de tradições não es-

critas?”32. Se as Escrituras por si só não são a única autoridade, então não são autoridade

de modo algum.

A Confissão acrescenta que a autoridade da Bíblia depende somente de Deus. 1 João nos

diz: “Se recebemos o testemunho dos homens, o testemunho de Deus é maior; porque o

testemunho de Deus é este, que de seu Filho testificou” (5:9). Temos muitos mandamentos

na Escritura que exigem que não acrescentemos às suas palavras, e se acrescentarmos

livros não-inspirados à lista, estamos em um sentido real acrescentando às palavras da

Escritura. Se atribuímos a autoridade das Escrituras a outro além de Deus, estamos em um

sentido retirando, não palavras, mas a autoridade das Escrituras. Considere estas passa-

gens das Escrituras: “Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela,

para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando” (Deutero-

nômio 4:2). “Toda a Palavra de Deus é pura; escudo é para os que confiam nele. Nada a-

crescentes às suas palavras, para que não te repreenda e sejas achado mentiroso” (Provér-

bios 30:5-6). “Porque eu testifico a todo aquele que ouvir as palavras da profecia deste livro

__________

[32] David Dickson, A Vitória da Verdade Sobre o Erro: Um Comentário Sobre a Confissão de Fé de

Westminster (Edinburgh, The Banner of Truth Trust), p. 9.

4. A autoridade das Sagradas Escrituras, razão pela qual devem ser cridas, não depende

do testemunho de qualquer homem ou Igreja, mas depende somente de Deus (que é a

própria Verdade), o seu Autor; e, portanto, deve ser recebida, porque é a Palavra de

Deus7. (7 2 Pedro 1:19-21; 2 Timóteo 3:16; 2 Tessalonicenses 2:13; 1 João 5:9).

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que, se alguém lhes acrescentar alguma coisa, Deus fará vir sobre ele as pragas que estão

escritas neste livro; e, se alguém tirar quaisquer palavras do livro desta profecia, Deus tirará

a sua parte do livro da vida, e da cidade santa, e das coisas que estão escritas neste livro”

(Apocalipse 22:18-19). A Confissão de 1689 afirma que o autor da Escritura é a própria

verdade e, portanto, ela deve ser recebida como a Palavra de Deus. Se não fizermos

isto, estamos rejeitando a autoridade de Deus, a Sua palavra, e Sua verdade.

Esta seção aponta três caminhos ou meios pelos quais podemos saber que a Bíblia é de

Deus, o terceiro sendo o definitivo.

O primeiro declara: Nós podemos ser movidos e compelidos pelo testemunho da Igreja

de Deus a um alto e reverente apreço pelas Sagradas Escrituras. Se a Igreja está

cumprindo seu papel, nós podemos ser movidos e compelidos a um alto e reverente

apreço pelas Sagradas Escrituras pelo testemunho da Igreja. Isso é diferente da Igreja

ser o único testemunho da autoridade da Palavra de Deus, ou da Palavra de Deus ser

depende do testemunho de uma igreja (veja a seção Capítulo 1, seção 3).

Muitos não estão cumprindo o seu papel, como igreja, de sustentar uma percepção elevada

e reverente das Escrituras, seja por negar a inspiração da Bíblia, ou por negligenciar a ex-

posição da Escritura. Outra maneira pela qual a Igreja pode deixar de realizar uma de-

monstração elevada e reverente da Bíblia é negando a sua plena perspicácia (clareza e es-

copo). Negar a clareza das Escrituras é negar que determinadas questões são abordadas

de forma suficientemente clara, de modo a impedir alguém de crer e praticar alguma coisa.

Este argumento é muitas vezes simplesmente um modo racional para que uma igreja

conceda à pressão de uma questão social contemporânea. Por exemplo, uma denominação

particular determinou que mulheres poderiam ser pastoras, porque, como eles racionaliza-

ram, a clareza das Escrituras não o proíbe. Claro, se você fechar os olhos muitas coisas

tornam-se pouco claras. É dever da Igreja ser coluna e firmeza da verdade (1 Timóteo 3:15).

A Igreja deve ter uma visão elevada da Palavra de Deus.

5. Nós podemos ser movidos e compelidos pelo testemunho da Igreja de Deus a um alto

e reverente apreço pelas Sagradas Escrituras; e a sublimidade do assunto, a eficácia da

sua doutrina, a majestade do estilo, a concordância de todas as partes, o escopo do seu

todo (que é dar toda a glória a Deus), a plena revelação que faz do único caminho da

salvação do homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e sua completa

perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser a Palavra de

Deus; ainda assim, não obstante, a nossa plena persuasão e certeza de sua verdade

infalível e autoridade Divina provêm da operação interna do Espírito Santo, teste-

munhando por meio da e com a Palavra em nossos corações8 (8 João 16:13-14; 1

Coríntios 2:10-12; 1 João 2:20, 27).

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O segundo declara: e a sublimidade do assunto, a eficácia da sua doutrina, a majesta-

de do estilo, a concordância de todas as partes, o escopo do seu todo (que é dar toda

a glória a Deus), a plena revelação que faz do único caminho da salvação do homem,

as suas muitas outras excelências incomparáveis e sua completa perfeição, são ar-

gumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser a Palavra de Deus. Além do

testemunho da Igreja nos movendo a um alto e reverente apreço pela Bíblia, esta lista ofere-

ce argumentos e provas abundantes de que ela é a Palavra de Deus. Esta lista indica as

coisas que são intrínsecas à própria Palavra de Deus. É o próprio testemunho da Escritura

de si mesma, que dá provas abundantes de que ela é a Palavra de Deus. Michael Kruger

afirma: “De todos os atributos de canonicidade, as qualidades Divinas da Escritura são as

menos discutidas em estudos canônicos modernos. A maioria dos estudiosos preferem de-

dicar seus estudos e as suas energias para a recepção coletiva desses livros, ou talvez às

suas origens apostólicas, mas raramente atenção é dada às suas qualidades Divinas”33.

Kruger continua a apontar como os pais da Igreja Primitiva e outras confissões e escritores

reformados também viram evidências dos atributos internos a favor de que as Escrituras

sejam a Palavra de Deus. Temos aqui uma lista muito útil de atributos que refletem uma

perspectiva histórica da Igreja.

1) A sublimidade do assunto, ou seja, as glórias de que fala. Letham diz que isso significa

a Escritura está “falando de realidades que transcendem as nossas percepções munda-

nas”34. A eficácia da sua doutrina, refere-se ao poder e capacidade de sua doutrina para

produzir efeitos35. 2) A majestade do estilo, ou poderíamos dizer sobre a sua qualidade

grandiosa e esplêndida. 3) A concordância de todas as partes, fala sobre como as partes

concordam entre si. 4) O escopo do seu todo, fala de como o todo é unificado com as

partes. 5) (que é dar toda a glória a Deus), este ponto está conectado com o ponto quatro,

e significa que as partes individuais e do todo, ambos dão glória a Deus. 6) A plena reve-

lação que faz do único caminho da salvação do homem, se refere à forma plena e clara

do Evangelho ser compreendido. 7) As suas muitas outras excelências incomparáveis

e sua completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia

ser a Palavra de Deus.

O terceiro declara: Ainda assim, não obstante, a nossa plena persuasão e certeza de

sua verdade infalível e autoridade Divina provêm da operação interna do Espírito San-

to, testemunhando por meio da e com a Palavra em nossos corações. Mesmo com a

__________

[33] Michael J. Kruger, Canon Revisited: Establishing the Origins and Authority of the New Testament Books

[Cânon Revisitado: Estabelecendo as Origens e Autoridade dos Livros do Novo Testamento] (Crossway:

2012), p. 125.

[34] Robert Letham, A Assembleia de Westminster: Lendo Sua Teologia no Contexto Histórico (P&R: 2009),

p. 136.

[35] Dicionário de Inglês Oxford (Oxford University Press).

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consideração das declarações 1 e 2 feitas acima, em última análise, a nossa plena persua-

são e certeza de sua verdade infalível e autoridade Divina (da Palavra de Deus) provêm

da operação interna do Espírito Santo, testemunhando com a Palavra em nossos co-

rações. Precisamos reconhecer que a nossa convicção sobre a Palavra de Deus provém

da obra interior do Espírito na vida de um crente. Lembro-me de uma vez ouvir John Mac-

Arthur Jr. dizer que, em todos os seus anos de ministério no ensino da Palavra de Deus,

ele nunca teve que convencer um crente em Cristo que a Bíblia é a Palavra de Deus; ele

ou ela já estavam convencidos. A razão para isso é a obra interior do Espírito Santo dando

testemunho (confirmação) em nosso coração de que a Escritura é de fato proveniente da

boca de Deus.

Pode ser útil mencionar que alguns dos cultos (eu estou pensando no Mormonismo, em

particular), muitas vezes, citam que eles sabem que o Livro do Mórmon é um verdadeiro li-

vro de Deus, porque o Espírito Santo testifica ao seu coração que é assim. Eu, pessoalmen-

te, tenho ouvido isso em várias ocasiões, enquanto tentava mostrar a um mórmon a falibili-

dade, seja do Livro do Mórmon ou de Joseph Smith. Para eles, este testemunho interior é

uma tentativa de manobrar para sair da armadilha na qual eles encontraram-se. Certamente

esta não é uma apologética eficaz da sua parte. Mas o Cristão não está dizendo que o

Espírito Santo lhe deu plena persuasão apesar de todas as evidências em contrário; esta-

mos dizendo que, embora haja evidência externa para além das nossas convicções que

dão provas de que a Bíblia é a Palavra de Deus36, mas isso não é a nossa razão última (ou

seja, a razão da realidade observável); nossa persuasão final é o Espírito de Deus. Não es-

tou sugerindo que esta concessão de convicção pelo Espírito de Deus é uma apologética,

__________

[36] A Bíblia tem evidência externa tal como a evidência arqueológica e bibliográfica (por exemplo, outros

documentos históricos que confirmam as declarações na Bíblia, nomes, lugares, eventos), e provas internas

(por exemplo, os itens das listas de Confissão). O Livro de Mórmon, por exemplo, tem evidências em cada

uma dessas áreas que mostram que é apenas um livro humano.

6. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a Sua

própria glória, a salvação do homem, fé e vida, ou é expressamente declarado ou

necessariamente contido nas Sagradas Escrituras, ao que nada, em qualquer tempo,

deve ser acrescentado, seja por novas revelações do Espírito, ou por tradições

humanas9. No entanto, nós reconhecemos a iluminação interior do Espírito de Deus

como sendo necessária para a compreensão salvífica das coisas reveladas na Pala-

vra10; e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto a Deus e ao governo da Igreja,

comuns às ações e sociedades humanas, as quais devem ser ordenadas pela luz da

natureza e pela prudência Cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que devem

sempre ser observadas11 (9 2 Timóteo 3:15-17; Gálatas 1:8-9 • 10 João 6:45; 1 Coríntios

2:9-12 • 11 1 Coríntios 11:13-14; 1 Coríntios 14:26, 40).

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mas é algo que devemos entender para nossa própria fé e crescimento.

A Confissão afirma: Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessá-

rias para a Sua própria glória, a salvação do homem, fé e vida, ou é expressamente

declarado ou necessariamente contido nas Sagradas Escrituras. Esta declaração ecoa

o que já foi mostrado no primeiro parágrafo deste capítulo e o desenvolve. O que já foi

estabelecido é que a revelação de Si mesmo e de Sua vontade foi totalmente comprometido

à escrita. Então, essa revelação completa foi totalmente dada por escrito, e, portanto, é

todo o conselho de Deus, e não apenas uma parte do conselho de Deus. Vemos esta frase

nas Escrituras; nas palavras de despedida de Paulo aos anciãos em Mileto, antes dele

passar se despedir de Éfeso, ele disse: “Portanto, no dia de hoje, vos protesto que estou

limpo do sangue de todos. Porque nunca deixei de vos anunciar todo o conselho de Deus”

(Atos 20:26-27).

Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a sua pró-

pria glória, a salvação do homem, fé e vida. A Bíblia não é apenas um livro repleto de

literatura antiga. Anos atrás, quando eu era um jovem Cristão, estava participando de uma

faculdade comunitária, e me matriculei em uma classe intitulada, A Bíblia Como Literatura.

O professor não tinha reverência à Bíblia como contendo todo o conselho de Deus. Para

ele, a Bíblia era apenas literatura. Ele não tratava a Bíblia como um documento redentor. A

Bíblia é, certamente, literatura, e para interpretá-la corretamente é preciso considerar ques-

tões literárias, mas é literária de uma forma redentiva, e ignorar o que ela diz sobre a própria

glória de Deus, a salvação do homem, fé e vida é ignorar o objetivo da Bíblia. Certamente

um livro não pode ser compreendido corretamente se o seu objetivo for ignorado. As coisas

necessárias para a glória de Deus estão na Escritura. Todas as coisas necessárias para

a salvação do homem estão na Bíblia. Todas as coisas que são necessárias que nós as

creiamos estão na Palavra de Deus. Todas as coisas a respeito de como viver e obter a

vida estão na Bíblia.

Todo o conselho de Deus — a respeito destas coisas — ou é expressamente declarado

ou necessariamente contido na Sagrada Escritura. Expressamente significa explicita-

mente ou diretamente afirmado. Por meios, estabelecidos ou explicado. Algumas coisas

estão diretamente declaradas (expressamente declarado), como: Não matarás. Outras

coisas estão necessariamente contidas na Bíblia, e devem ser compreendidas por impli-

cação. Por exemplo, “Não matarás”, implica que faremos tudo o que estiver ao nosso alcan-

ce para salvar e preservar a vida37. Portanto, devemos não somente aceitar o que está dire-

__________

[37] O Catecismo Batista, pergunta 73: Pergunta: O que é requerido no Sexto Mandamento? Resposta: O

Sexto Mandamento requer todos os esforços lícitos para preservarmos a nossa própria vida e a vida de outros¹

(1 Efésios 5:28-29; 1 Reis 18:4).

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tamente declarado (expressamente declarado), mas aplicar nossos corações e mentes

para descobrir o que também está implícito. Se expressamente declarado, ou necessaria-

mente contido, isto é necessário para a glorificação de Deus, para a salvação, fé e vida

do homem, está contida nas Sagradas Escrituras. Está tudo lá, mas pode exigir diligên-

cia, o uso da razão e da lógica para apreender tudo o que está contido na Bíblia.

Nós deveríamos nos tornar instruídos na disciplina referida como “hermenêutica-sagrada”

(a ciência e a arte de interpretar as Escrituras), de modo que estaríamos devidamente pre-

parados para esquadrinhar toda a riqueza da Palavra de Deus. Pouco será adquirido para

a compreensão da Bíblia por uma abordagem preguiçosa. Em vez disso, é necessário um

esforço. Seja qual for a instrução que tenhamos alcançado, tudo isso e muito mais será exi-

gido, a fim de estudar as Escrituras. Posto que eu não quero subestimar a obra do Espírito

em iluminar as Escrituras para nós, devemos perceber que o Espírito não revelará material

de referência que possamos necessitar, a fim de esquadrinhar a Palavra de Deus. Por

exemplo, o Espírito Santo não vai “instruir-nos” em matéria de, digamos, cultura hitita; ao

contexto histórico que levou os judeus a odiarem aos samaritanos; ou a terminações verbais

gregas. Nós temos que fazer um esforço para aprender essas coisas, e o Espírito abenço-

ará esse esforço e nos ajudará a aplicar esse conhecimento a fim de melhor interpretar a

Bíblia. Às vezes, o Espírito somente concederá iluminação por meio do trabalho árduo.

A Confissão estabelece que desde que nós temos todo o conselho de Deus por escrito, na-

da a qualquer momento deve ser adicionado. É como a pessoa que diz: “Eu estou com-

prometido cento e dez por cento!”. Além de seu uso de hipérbole, uma pessoa só pode es-

tar comprometida a cem por cento, matematicamente falando. Temos cem por cento do

conselho de Deus; não há nada a acrescentar a esse percentual. Um todo é cem por cento.

Não podemos acrescentar nada à Palavra de Deus, e mesmo que tentássemos, isso seria

ou uma redundância ou um erro. Temos que aceitar que tudo o que é necessário está reve-

lado, pois não há mais nada. É matematicamente impossível em relação à nossa ilustração

adicionar mais à Escritura. A Escritura é completa e suficiente.

Nós não devemos acrescentar nada, a qualquer momento, a todo o conselho de Deus. O

conselho de Deus foi dado em diversas ocasiões e entregue por escrito. Esta escrita come-

çou por volta de 1440 a.C., com o próprio escrito de Deus (ou seja, o próprio dedo de Deus,

um antropomorfismo em Êxodo 31:18)38 escrevendo os Dez Mandamentos, seguido por

Moisés, ao escrever o Pentateuco (ou seja, os cinco primeiros livros da Bíblia, veja Deutero-

nômio 31:9), e assim por diante, até que a escrita terminou com a conclusão do livro de

__________

[38] Brian Lee escreve sobre as ramificações de que Deus foi o primeiro a colocar a Sua revelação por escrito

por Seu próprio dedo, como registrado em Êxodo 31:18. Brian Lee, Is Reformation Christianity Just for

Eggheads [“A Reforma da Cristandade é Apenas Para Intelectuais?”]. Modern Reformation, 21, Nº 5

(setembro-outubro de 2012): p. 17-20.

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Apocalipse em torno 95 d.C. Com estes escritos todo o conselho de Deus foi completamen-

te dado; que necessidade há de revelação adicional? Está tudo ali na íntegra, na totalidade.

Temo que muitos crentes deixam de apreciar a suficiência das Escrituras, particularmente

aqueles que buscam alguma revelação suplementar.

Nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens, não devemos

acrescentar qualquer coisa, a qualquer tempo, a todo o conselho de Deus. Durante o tempo

da escrita da Confissão, havia vários grupos que reivindicavam contínua revelação, exata-

mente como em nossos dias. Somente para citar alguns, havia os Quakers que promoviam

a crença de que a luz ou revelação interna continuou mesmo após o encerramento do câ-

non. Os papistas acreditam que as tradições da igreja e os seus próprios papas podem adi-

cionar revelação autoritativa e suplementar. Isso é praticamente acrescentar à Escritura al-

go além dela. David Dickson afirma sobre a Igreja Romana: “Bem, então, não erram os pa-

pistas que sustentam que as coisas necessárias para a salvação são obscuras e sombrias

na Escritura; e que, sem a ajuda de tradições não escritas e da exposição infalível da Igreja,

as Escrituras não podem ser entendidas? Sim. Porque a Escritura ilumina os olhos, e dá

sabedoria aos símplices (Salmos 19:7-8)”.39

No entanto, nós reconhecemos a iluminação interior do Espírito de Deus como sendo

necessária para a compreensão salvífica das coisas reveladas na Palavra. Enquanto

a Confissão afirma que a Escritura contém tudo que é necessário para a salvação, contudo

(no entanto), a obra interior do Espírito (ou seja, iluminação), ainda é necessária para que

um pecador entenda essas coisas de uma forma que conduz à salvação40. A Escritura nos

diz: “Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe pa-

recem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente” (1 Co-

ríntios 2:14). Então, o Espírito de Deus em conjunto com a Palavra de Deus deve iluminar

um pecador para um entendimento salvífico da Palavra de Deus, de forma que esse seja

um chamado eficaz41. Nós vamos falar sobre essa iluminação no Capítulo 10, Sobre O Cha-

mado Eficaz. Por agora, queremos ressaltar que a Palavra de Deus por si só não conduzirá

alguém ao entendimento salvífico; o Espírito opera esse quando o Pai chama um pecador

__________

[39] David Dickson, A Vitória da Verdade Sobre o Erro: Um Comentário Sobre a Confissão de Fé de

Westminster (Edinburgh, The Banner of Truth Trust), p. 11-12.

[40] Veja o Catecismo Batista, Pergunta 34: O que é o chamado eficaz? Resposta: O chamado eficaz é obra

do Espírito de Deus1 segundo a qual Ele nos convence de nosso pecado e miséria2, ilumina nossas mentes

para o conhecimento de Cristo3 e renova as nossas vontades4, e nos persuade e nos capacita a nos

apegarmos a Jesus Cristo que é oferecido gratuitamente a nós no Evangelho5 (1 2 Timóteo 1:9; 2

Tessalonicenses 2:13-14; 2 Atos 2:37; 3 Atos 26:18; 4 Ezequiel 36:26-27; 5 João 6:44, 45; Filipenses 2:13).

[41] Veja Catecismo Batista, Pergunta 27: Como Cristo executa o ofício de Profeta? Resposta: Cristo executa

o ofício de Profeta, revelando-nos, pela Sua Palavra e Espírito Santo, a vontade de Deus para a nossa

salvação1 (1 João 1:18; 1 Pedro 1:10-12; João 15:15; 20:31).

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para Si mesmo.

A Confissão é bem equilibrada e reconhece uma grande variedade de situações com as

quais um Cristão estará buscando aplicar a Palavra de Deus. Se todas as coisas necessá-

rias para a fé e a vida estão contidas na Bíblia, então poderíamos nos encontrar perguntan-

do: “E quanto a...”. A Confissão afirma: há algumas circunstâncias, quanto ao culto a

Deus e ao governo da Igreja, comuns às ações e sociedades humanas, as quais de-

vem ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência Cristã, segundo as regras

gerais da Palavra, que devem sempre ser observadas. Deparamo-nos com este termo

de novo, pela luz da natureza42. Como discutimos no capítulo 1, parágrafo primeiro, isso

refere-se à revelação geral. Portanto, a questão aqui é que existem algumas situações que

podem não ser expressamente declaradas na Bíblia que dizem respeito: ao culto a Deus,

e ao governo da Igreja. Estas dizem respeito às ações e sociedades humanas (ou seja,

às ações dos indivíduos e/ou um grupo de indivíduos) em adoração e ordem da igreja. Nes-

tas situações, a regra da revelação geral (ou seja, a luz da natureza) devem ser aplicadas

com prudência Cristã (sabedoria Divina). Ambas (adoração de Deus e ordem da igreja),

devem ser guiadas pelas regras gerais da Palavra de Deus. Essas regras gerais da Bíblia

devem sempre ser observadas em todas as situações. Quais são as regras gerais da

Escritura? Elas são os princípios das Escrituras, que podem ser reunidos a partir de toda a

Escritura. Quando eu era um crente mais jovem, frequentemente me perguntavam quando

eu estava testemunhando para outros: “Desde que a Bíblia não menciona a maconha, então

eu estou livre para fumá-la?”. Minha resposta era: “Não. Pois a Bíblia nos diz para que per-

maneçamos sóbrios e autocontrolados”. Eu usava as regras ou princípios gerais das Escri-

turas para responder a uma questão específica que a Bíblia não trata nominalmente.

Os próximos parágrafos deste capítulo nos levam em direção a algumas orientações

importantes quanto à hermenêutica (interpretação) que a igreja deve utilizar quando ele

procura interpretar e aplicar a Palavra de Deus para os seus próprios dias.

A Igreja Romana era contra a ideia de que o homem comum devesse ler e interpretar as

__________

[42] R. C. Sproul comenta que durante toda a era da Igreja a revelação geral tem sido pensada como tão

infalível quanto a revelação especial é infalível. R. C. Sproul, Verdades que Nós Confessamos: Guia de um

Leigo para a Confissão de Fé de Westminster (New Jersey, P&R Publishing) Volume 1, p. 22.

7. Nem todas as coisas em si mesmas são igualmente claras na Escritura, nem

igualmente claras a todos12; ainda assim, aquelas coisas que necessitam ser conhe-

cidas, cridas e observadas, para a salvação, são tão claramente propostas e desveladas

em algum ou outro lugar da Escritura, de forma que não apenas os doutos, mas os indou-

tos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão

delas13 (12 2 Pedro 3:16 • 13 Salmos 19:7; Salmos 119:130).

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Escrituras. A Igreja Romana acreditava que apenas a sua interpretação das Escrituras era

autoritária. Se leigos, pessoas sem treinamento da igreja Romana interpretassem a Bíblia,

haveria uma quantidade “aberrante” de interpretações que poderiam divergir da Igreja Ro-

mana. O sistema do papado visava, em parte, um sistema unificado de interpretação43, do

qual a Igreja Romana era a guardiã ou tutora. A Reforma tinha uma crença diferente — a

Bíblia deveria estar no idioma comum de doutos e incultos, de modo que a Palavra de Deus

fosse acessível a todos. Isso era diametralmente oposto ao pensamento Romano. Do ponto

de vista de Roma, você pode entender a oposição dela; se você aceitar que Cristo confiou

Seu cargo de Vigário ao papa e que há de fato um compêndio de doutrina ao qual o Espírito

confiou à Igreja Romana, então, de fato a interpretação privada faria estragos a um, assim

chamado, compêndio de doutrina.

Este parágrafo é, em certo sentido, uma defesa contra as reivindicações e interesses da

Igreja Romana. A Confissão afirma que as coisas que são necessárias para serem conhe-

cidas, cridas e observadas para a salvação (ou seja, todo o conhecimento, fé e obediência

salvíficos; cf. o primeiro parágrafo) são claras, e podem ser entendidas pelos doutos e in-

doutos. Mas, de modo a não simplificar sobremaneira a questão, a Confissão reconhece

que: Primeiro, Nem todas as coisas em si mesmas são igualmente claras na Escritura,

e segundo, nem igualmente claras a todos. Ponto um: Algumas coisas na Bíblia são mais

claras ou mais óbvias do que outras, ou poderíamos dizer que algumas coisas são mais

fáceis de entender do que outras. Qualquer um que tenha estudado a Bíblia admitirá imedia-

tamente esse ponto. Portanto, esta é uma variável de interpretação da Bíblia que a Confis-

são reconhece. Mas uma outra variável é ponto dois. Nem todas as pessoas são igualmente

capazes de compreender todas as coisas na Bíblia. As pessoas têm diferentes graus de

ensino, capacidade mental, e formas de pensar. Quando você adiciona essa variável ao

ponto um, a questão da clareza da Bíblia não é exatamente simples. Mas, apesar dessas

dificuldades a Confissão afirma: ainda assim, aquelas coisas que necessitam ser co-

nhecidas, cridas e observadas, para a salvação, são tão claramente propostas e des-

veladas em algum ou outro lugar da Escritura, de forma que não apenas os doutos,

mas os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma sufici-

ente compreensão delas.

Assim, todas as coisas não são igualmente (semelhantemente) simples, mas todas as

coisas que são necessárias para a salvação são simples. Este é o significado central na

segunda parte do parágrafo sétimo. As coisas necessárias para serem conhecidas, cridas,

__________

[43] Este foi e é o ideal na Igreja Romana, mas na realidade Roma tem muita diversidade de interpretação

dentro de suas próprias fileiras. O ideal de uma interpretação infalível é atraente para muitos dos partidários

de Roma, mas é perigoso confiar em qualquer ser humano falível como o guardião de uma suposta interpre-

tação infalível; pois daí, segue-se que, o homem tem a suprema autoridade, não a Palavra de Deus. Roma

nega o Sola Scriptura (Somente a Escritura); na prática ela exige Sola Ecclesia (Somente a igreja).

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e observadas para a salvação são evidentes. Todas essas coisas são tão claramente pro-

postas e desveladas em algum ou outro lugar da Escritura. Meios são propostos para

“progredir, confirmar”44. Mais uma vez, de modo a não simplificar sobremaneira a questão,

a Confissão admite que as coisas necessárias para a salvação não estão todas em um só

lugar, mas são encontradas em várias passagens da Escritura. É por isso que é importante

ler a Bíblia inteira, para que possamos saber tudo o que ela ensina (ou seja, todo o conselho

de Deus). A implicação é que a Escritura é um todo unificado, e, portanto, devemos inter-

pretar as partes, à luz do todo.45

A Confissão afirma que todas as coisas estão tão claramente propostas em um lugar ou

outro, que não somente os doutos, mas também os indoutos, no devido uso dos mei-

os ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas. Entendemos que

os doutos (ou seja, os instruídos) têm a capacidade mental de ler e entender. Mas a Confis-

são estabelece que mesmo os indoutos (iletrados) podem compreendê-la. Nos dias da Con-

fissão havia mais pessoas que não sabiam ler do que em nossos dias, embora haja certa-

mente uma abundância de analfabetos atualmente. Se alguém não pudesse ler as Escritu-

ras para ver o que elas continham, então alguém poderia usar outros meios para obter o

conhecimento necessário para a fé e obediência salvíficos. Isso requererá um devido uso,

ou uma aplicação dos meios ordinários. A que se refere esses meios ordinários? Parecem

referir-se à pregação da Palavra de Deus, em vez de ler como um meio de adquirir conhe-

cimento para a fé e obediência salvíficos. E por isso, se o indouto não pode examinar as

Escrituras, lendo, mesmo os indoutos podem conhecer essas coisas por mais meios típicos

como a audição. Alguém achará que é interessante o quão pouco a Bíblia fala de leitura

em comparação a audição. Devemos considerar a probabilidade de que não somente o

douto poderia ler, mas por haver recebido uma formal educação uma pessoa era mais pro-

pensa a ter acesso a uma Bíblia; isso coloca o indouto em outra desvantagem, pois mesmo

no final dos anos 1600, os livros ainda eram muito caros, e Bíblias não eram tão acessíveis

como o são agora. Assim, um meio mais comum de aquisição de conhecimento para a fé

e obediência vinha pela pregação e ensino por via oral.46

A Confissão afirma: podem alcançar uma suficiente compreensão delas. Assim, alcan-

çar a salvação não exige um conhecimento pleno e completo de tudo o que a Bíblia ensina,

__________

[44] Dicionário de Inglês Oxford.

[45] Este princípio hermenêutico se aplica se a pessoa está interpretando palavras individuais à luz de toda a

sentença, uma única frase à luz de todo o parágrafo, um parágrafo à luz do capítulo inteiro, ou um livro da

Bíblia à luz de todo o cânon das Escrituras. Isso tem a ver com o contexto, e o que é dito em uma parte da

Bíblia deve ser interpretada à luz do todo que a Bíblia diz sobre o assunto.

[46] Catecismo Batista, Pergunta 94: Como a Palavra é feita eficaz para a salvação? Resposta: O Espírito de

Deus faz da leitura, mas especialmente da pregação da Palavra, meios eficazes para convicção e conversão

de pecadores, e os edifica em santidade e consolação, por meio da fé para a salvação1 (1 Neemias 8:8; Atos

26:18; Salmos 19:8; Atos 20:32; Romanos 1:15-16; 10:13-17; 15:4; 1 Coríntios 14:24-25; 1 Timóteo 3:15-17).

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mas o que é proposto em um lugar ou outro, se alguém o descobre que através da leitura

e estudo, ou pelos meios mais comuns da pregação, é suficiente para obter o conhecimento

necessário para a fé e obediência salvíficos.

O Antigo Testamento em Hebraico (que era a Língua nativa do povo de Deus no pas-

sado), e o Novo Testamento em Grego (que, na época em que foi escrito, era mais

comumente conhecido entre as nações). O Antigo Testamento foi escrito em Hebraico.

Esta era a Língua comum que o povo de Deus falava naquele tempo — a sua Língua nativa.

O Novo Testamento foi escrito em Grego. O Grego era a Língua mais comum das nações

helenizadas da época, apesar de não ser a única Língua. Devemos notar que tanto o Antigo

Testamento quanto o Novo Testamento foram escritos em uma linguagem comum para

aqueles a quem foram endereçados.

Cada Testamento, escritos em hebraico e grego, são “imediatamente inspirados por

Deus”. Imediatamente significa: diretamente, sem quaisquer outros meios de intervenção

ou de mediação. Somos lembrados de que: “Toda a Escritura é inspirada por Deus” (2

Timóteo 3:16-17). As palavras de Deus vieram — metaforicamente falando — diretamente

de Sua boca, Seu próprio sopro. É claro que Deus não tem um corpo ou uma boca, mas

este termo é a maneira de Deus comunicar-nos quão direta ou imediatamente Ele esteve

envolvido em conservar a revelação Divina de forma escrita. Deus assim o fez usando a

linguagem humana comum. Não há nada particularmente Divino em relação ao Hebraico

ou o Grego como alguns pensavam47; mas Deus quis colocar por escrito a Sua revelação

__________

[47] Köstenberger e Patterson escrevem: “Ao invés de escrever em seu Hebraico nativo ou Aramaico, estes

judeus da Palestina (com a possível exceção de Lucas e o autor de Hebreus) compuseram seus escritos na

Língua franca de seus dias, o chamado koinē ou grego “comum”, ou seja, o grego falado por pessoas comuns

em todo o Império Romano. Assim, não há “Espírito Santo” Grego especial. Em vez disso, o Grego do Novo>>

8. O Antigo Testamento em Hebraico (que era a Língua nativa do povo de Deus no pas-

sado)14, e o Novo Testamento em Grego (que, na época em que foi escrito, era mais

comumente conhecido entre as nações), sendo imediatamente inspirados por Deus e

pelo Seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são

por isso autênticos; assim, em todas as controvérsias sobre a Religião, a Igreja deve

apelar para eles15. Mas, porque essas Línguas originais não são conhecidas por todo o

povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras, e é ordenado, no temor de

Deus, a lê-las16 e a examiná-las17, portanto, elas devem ser traduzidas para a Língua co-

mum de cada povo aonde chegar18, para que, a Palavra de Deus habitando abundante-

mente em todos, eles possam adorá-lO de uma maneira aceitável, e pela paciência e

consolação das Escrituras, possam ter esperança19. (14 Romanos 3:2 • 15 Isaías 8:20 •

16 Atos 15:15 • 17 João 5:39 • 18 1 Coríntios 14:6, 9, 11, 12, 24, 28 • 19 Colossenses

3:16).

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para a Igreja em Línguas comuns ao povo de Deus48. Entendemos que a Confissão usa o,

imediatamente inspirados, intencionando dizer que os manuscritos originais eram ins-

pirados.49

Deus não apenas imediatamente inspirou os manuscritos, mas Ele “pelo Seu singular

cuidado e providência os conservou puros em todos os séculos”, tanto os manuscritos

do Antigo como do Novo Testamentos. Deus o fez por Sua providência especial (ou seja,

pelo Seu singular cuidado). Deus providenciou tantos manuscritos especialmente do No-

vo Testamento que, embora não temos os manuscritos originais, críticos textuais são capa-

zes de verificar o que estava escrito no manuscrito original, com um elevado grau de certe-

za. Como resultado da providência pessoal e especial de Deus, as Sagradas Escrituras,

portanto, são por isso autênticas. Por autênticos entende-se que o que temos hoje repre-

sentam os manuscritos autênticos, ou originais. Lembramo-nos das palavras de Jesus:

“Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til

jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido” (Mateus 5:18).

Porque nós temos as autênticas Palavras de Deus, a Confissão afirma: “em todas as con-

trovérsias sobre a Religião, a Igreja deve apelar para eles”. A palavra eles é uma refe-

rência ao Antigo e Novo Testamentos, que são imediatamente inspirados. A declaração de

Dickson, é precisa: “Bem, então, os papistas não erram ao sustentar que a Igreja de Roma,

e o papa são os juízes supremos de todas as controvérsias de fé; e que seus decretos e

determinações devem ser cridos, sem exame, e, implicitamente, devem ser cridos por todos

os crentes? Sim50. Da mesma forma os Quakers não erram ao sustentar que a luz interior

que instrui os eleitos é o único juiz de todas as controvérsias? Sim. A Escritura nos diz: “À

lei e ao testemunho! Se eles não falarem segundo esta palavra, é porque não há luz neles”

(Isaías 8:20).

__________

<<Testamento é o mesmo que o falado na linguagem comum e encontrado em documentos cotidianos, tais

como papiros relatando registros de negócios, cartas pessoais, e semelhantes”. Andreas J. Köstenberger e

Richard D. Patterson, Invitation to Biblical Interpretation: Exploring the Hermeneutical Triad of History,

Literature, and Theology [Convite Para Interpretação Bíblica: Explorando a Hermenêutica Tríade da História,

Literatura e Teologia] (Kregel Publications Academic and Professional: 2011), p. 580. [48] Alguns argumentaram que Deus não pode comunicar perfeitamente a Sua Palavra a nós através da

linguagem humana imperfeita, mas Deus não Se restringe pela linguagem humana imperfeita; pois o mesmo

Deus que decretou falar ao homem também decretou as Línguas da humanidade. Deus não está ausente do

desenvolvimento natural da linguagem; Suas providências ordinárias regulam tais coisas. Deus ordenou os

fins, assim como os meios.

[49] Em relação à “imediatamente inspirados”, Robert Letham escreve: “Este é um apelo aos manuscritos

originais”. A Assembleia de Westminster: Lendo Sua Teologia no Contexto Histórico (P&R Publishing:2009),

p. 144. O “autógrafo” é um termo frequentemente usado para descrever o documento original escrito pelo

escritor da Escritura. Não temos qualquer um dos manuscritos originais. O termo “manuscrito” é usado para

se referir às cópias dos manuscritos originais (cópias de cópias, etc.).

[50] David Dickson, A Vitória da Verdade Sobre o Erro: Um Comentário Sobre a Confissão de Fé de Westmins-

ter (Edinburgh, The Banner of Truth Trust), p. 16.

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A Confissão de 1689 prossegue e afirma: “elas devem ser traduzidas para a Língua co-

mum de cada povo aonde chegar”. Como o Antigo Testamento foi escrito na Língua nativa

do povo de Deus, e o Novo Testamento escrito na linguagem comum daquela época, assim

a Palavra de Deus deve ser traduzida para a Língua comum de cada nação. A palavra

comum refere-se à linguagem comumente utilizada por cada nação. A visão de que a

Escritura deve ser traduzida para todos não era a posição da Igreja Romana. Aqueles que

traduziram a Bíblia para a Língua comum do povo, tais como Tyndale, foram perseguidos

ou executados pelas mãos da Igreja Romana. Como discutimos no parágrafo sete, a Igreja

Romana entendeu que não seria capaz de manter facilmente a doutrina Romana, se as

pessoas examinassem a Palavra de Deus por si mesmas. Muitos continuam hoje neste

labor de traduzir a Palavra de Deus para a Língua comum de todas as tribos e nações; o

princípio da Reforma, Sola Scriptura, continua a impulsionar a igreja Protestante a prosse-

guir neste trabalho.

Por que as nações deveriam ter a Palavra de Deus na sua própria Língua? Para que a

Palavra de Deus [esteja] habitando abundantemente em todos. A Escritura afirma: “A

palavra de Cristo habite em vós abundantemente” (Colossenses 3:16a). Por que a Palavra

de Deus deveria habitar abundantemente em todos? Para que eles possam adorá-lO de

uma maneira aceitável, e pela paciência e consolação das Escrituras, possam ter es-

perança. A Confissão reflete as palavras da Escritura aqui também: “Porque tudo o que

dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das

Escrituras tenhamos esperança” (Romanos 15:4).

Aqui está a primeira e mais importante regra de interpretação. A Confissão chama-lhe de

regra infalível de interpretação. Muitas vezes, esse princípio é referido como “a Escritura

interpreta a Escritura”51, ou a analogia da Escritura. Por que é a regra infalível de inter-

pretação? Porque quando a Escritura, que é infalível, interpreta outra passagem, sabemos

que ela interpreta a si mesma sem erro52. Porque este é o caso, a Confissão afirma: por-

__________

[51] Richard Muller define analogia scripturae como: “A interpretação de passagens obscuras, difíceis, ou

ambíguas da Escritura, por comparação com as passagens claras e inequívocas que se referem ao mesmo

ensino ou evento”. Richard A. Muller, Dicionário de Termos Teológicos em Latim e Grego (Baker Acade-

mic:1985), p. 33.

[52] Existem dois níveis.

9. A regra infalível de interpretação da Escritura é a própria Escritura; e, portanto, quando

houver uma questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer Escritura (que não

é múltiplo, mas único), esse pode ser investigado por meio de outros textos que o

expressem mais claramente20 (20 2 Pedro 1:20-21; Atos 15:15-16).

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tanto, quando houver uma questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer

Escritura (que não é múltiplo, mas único), esse pode ser investigado por meio de ou-

tros textos que o expressem mais claramente. Este princípio provê proteção à interpre-

tação. Ela exige que qualquer passagem que interpretamos seja vista à luz de toda a Escri-

tura, e, portanto, nós procuramos harmonizar qualquer texto com o restante das Escrituras

sobre o assunto. Uma vez que a Bíblia é um todo unificado, e suas partes formam esta uni-

dade, podemos harmonizar as partes com o todo.

Há momentos, por exemplo, quando Jesus, na verdade, fornece uma interpretação de um

texto do Antigo Testamento; em tais casos, é fácil de compreender que a interpretação de

Jesus é infalível. Porém muitas vezes não temos uma explicação tão direta de uma passa-

gem. Nessa situação, buscamos outros textos que falem mais claramente desse tópico

particular. A Palavra de Deus é a melhor intérprete de si mesma. Este é, reconhecidamente,

um princípio generalizado, e há muitas maneiras de aplicá-lo, algumas das quais estão

incorretas53. Há muitos outros princípios interpretativos importantes, mas este é o principal

de todos eles.

Ao chegarmos ao fim deste capítulo, parece adequado que a Confissão concluísse com o

que poderia ser visto como a aplicação da primeira cláusula da Confissão: A Escritura é...

a regra. Aqui está escrito: O juiz supremo... não pode ser outro, senão a Santa Escritura.

Mas o Juiz supremo de quê? Aqui a regra ou padrão é o juiz de controvérsias religiosas...

e todos os decretos de conselhos, opiniões de escritores antigos, doutrinas dos ho-

mens e espíritos particulares. Isso abrange toda a gama, desde o indivíduo, os escritores

antigos, ao padrão de concílios da Igreja, e todos os assuntos da Religião. As controvérsias

na Religião devem ser determinadas (julgadas, decididas) pela Santa Escritura. Todos e

outros assuntos listados devem ser examinados (avaliados) pela Sagrada Escritura. Não

devemos descansar na sentença (ou seja, nas palavras) de qualquer um, senão nas

__________

[53] Isso não remove a necessidade do trabalho exegético da passagem obscura, por simplesmente citar

outras potencialmente como passagens, não constituem exegese da passagem obscura; talvez a passagem

clara, não significa o que outras passagens significam. Portanto, se esse princípio é usado incorretamente,

pode levar à importação de sentido que não está realmente presente (eisegesis). Nós não queremos ensinar

a doutrina correta a partir do texto errado.

10. O Juiz supremo, pelo qual todas as controvérsias da Religião devem ser determina-

das, e todos os decretos de concílios, opiniões de escritores antigos, doutrinas de

homens e espíritos particulares devem ser examinados, e em cuja sentença devemos

nos firmar, não pode ser outro senão as Sagradas Escrituras anunciadas pelo Espírito;

no que a Escritura assim anuncia, nossa fé é finalmente decidida21 (21 Mateus 22:29,

31, 32; Efésios 2:20; Atos 28:23).

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Sagradas Escrituras. Mas por que isso acontece? É porque a Santa Escritura é anunciada

a nós pelo Espírito. Não há autoridade maior do que o próprio Deus; devemos receber a

Sagradas Escrituras como proveniente do próprio Deus, dessa forma Deus é em última

análise, o Juiz sobre assuntos da Religião.

A confissão é um padrão ou regra de tipos; não há como negar isso, mas a Escritura é o

juiz supremo. Enquanto uma confissão pode ter uma certa quantidade de autoridade para

uma igreja local (ou seja, talvez um padrão para a adesão, ou subscrição rigorosa para ofí-

cios da igreja), não é a regra única, suficiente, correta e infalível regra — apenas a Escritura

o é; credos e confissões são subservientes. É a Escritura que é verdade, e julga se os resu-

mos das Escrituras (como credos, confissões ou catecismos, etc.) são de fato represen-

tações precisas da verdade. No campo da teologia, credos e confissões se enquadram na

categoria denominada Simbólicos. Então, se você tiver uma classe sobre Simbólicos no

seminário, você estudará uma confissão particular, ou vários credos e confissões. A razão

pela qual credos e confissões são chamados de símbolos é porque eles são representações

da Escritura (ou seja, resumos das Escrituras), não as Sagradas Escrituras, de fato. Por

exemplo, um símbolo real ou a bandeira de um país é um símbolo do rei ou do país, não é

a realidade mesma que ele representa. E a própria natureza de um símbolo confessional é

que ele representa, ou busca representar o que as Escrituras ensinam. Aqueles que re-

jeitam “qualquer credo, senão a Bíblia”, muitas vezes não reconhecem esta distinção. É jus-

tamente esta distinção que permitem um lugar legítimo a credos e confissões em nossa fé.

Jesus manteve a Escritura como sendo o juiz supremo em matéria de controvérsia na Reli-

gião. Se Jesus, o próprio Deus, usou a Escritura como o juiz supremo nessas questões,

claramente devemos fazer o mesmo. Por exemplo, vemos no Evangelho de Mateus: “Jesus

porém respondendo-lhes [aos saduceus], disse: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem

o poder de Deus. Porque na ressurreição nem casam nem são dados em casamento; mas

serão como os anjos de Deus no céu. E, acerca da ressurreição dos mortos, não tendes

lido o que Deus vos declarou, dizendo: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o

Deus de Jacó? Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos. E, as turbas, ouvindo

isto, ficaram maravilhadas da sua doutrina” (Mateus 22:29-33). Jesus, aqui, julgou pela Es-

critura, e nesta passagem vemos o julgamento que Ele fez: “Errais”. Por que ou como eles

estavam errados? “Não conhecendo as Escrituras”.

A Confissão de 1689 abordou ao longo de todo este capítulo, o ensino da Reforma, Sola

Scriptura (somente a Escritura). A Confissão estabeleceu uma excelente doutrina das Escri-

turas. Com base neste fundamento, o restante da Confissão apresenta todo o conselho de

Deus.

Amém!

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Apêndice:

Confessando A Fé Em 1644 E 1689

Por James M. Renihan

Institute of Reformed Baptist Studies at Westminster Seminary in Califórnia.

Igreja Batista Reformada do Norte de São Diego, Escondido, CA.

Introdução

Tente imaginar uma situação como essa: você mora numa cidade grande, a capital de seu

país. Você é membro de uma dentre um punhado de igrejas, que estão apenas começando

a crescer e ser notadas na cidade. Mas reunir-se com seus irmãos e irmãs é ilegal. Todos

os que vivem ali só devem lembrar-se que há uma única religião legal, e toda tentativa de

discordar dela encontrava perseguição e oposição.

As igrejas estão crescendo e rumores começam a se espalhar. Centenas de anos atrás,

algumas pessoas cujas crenças eram pouquíssimo semelhantes à sua estiveram envolvi-

das em uma rebelião terrível em um país relativamente próximo, e há boatos de que suas

igrejas fariam o mesmo tipo de coisa. O que você faria?

Essa foi uma das situações que os membros de sete igrejas Batistas Calvinistas encararam

em Londres em 1644. Poucos anos depois, o número de seus membros cresceu, e as pes-

soas começaram a notar sua presença em Londres. Mas essa não era uma notícia muito

amigável. Em 1642, foi publicado um panfleto anônimo intitulado A Warning for England,

especially for London; in the famous History of the frantick Anabaptists, their wild Preachings

and Practices in Germany [Um Alerta para a Inglaterra, especialmente para Londres; a

famosa História dos Anabatistas desvairados, e suas Pregações e Práticas ferozes na

Alemanha]. Uma obra surpreendente. O autor, em nove páginas duas vezes maiores que

o normal, descreveu os tristes eventos de Münster, Alemanha. Rebelião, sedição, roubo e

assassinato foram atribuídos aos “anabatistas”. Do começo ao fim não há menção de nada

senão desses eventos de outro tempo e lugar — até a última sentença do panfleto que pro-

nunciou um julgamento sutil, mas de forma brilhante e poderosa: “Cuidado! O que foi feito

na Alemanha pelos Anabatistas pode muito bem se repetir em Londres, se essas pessoas

puderem espalhar as suas doutrinas”.

Então, o que os Batistas fizeram? A situação era potencialmente explosiva. Eles sabiam

que era essencial demonstrar que não eram radicais, e que não estavam minando subversi-

vamente a estrutura da sociedade. Pelo contrário, eles eram cidadãos obedientes à lei, que

estavam sendo mal compreendidos e representados por muitos. Eles queriam e precisavam

mostrar que eram bem ortodoxos em suas crenças teológicas, e que não tinham outra agen-

da senão o compromisso fiel e consciente para com Deus e Sua Palavra.

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Ao encarar tais circunstâncias, os Batistas decidiram que precisavam agir a fim de extinguir

o medo e as informações erradas que se espalhavam. Deus abençoara seus esforços até

aquele momento, e eles não queriam ver esses esforços frustrados por boatos e insinua-

ções de seus inimigos. Então adotaram uma prática frequentemente usada por outros nos

últimos 150 anos — eles elaboraram uma confissão de fé de maneira que qualquer um ne-

les interessado pudesse ser capaz de obter um entendimento preciso de suas doutrinas e

práticas.

Um dos principais objetivos ao publicar sua Confissão de Fé em 1644 era repudiar laços

com os Anabatistas. Isso fica evidente no título da página que diz, “The Confession of Faith,

of those Churches which are commonly (though falsly [sic]) called Anabaptists”. [A Confis-

são de Fé, das Igrejas que são comumente (embora falsamente) chamadas Anabatistas]1.

A epístola no começo da Confissão identifica o problema:

Não duvidamos de que isso parecerá estranho a muitos homens, que tal como somos

frequentemente denominados, sob calúnia e acusação de sermos hereges e semea-

dores de divisões, presumíssemos afigurar-nos publicamente como temos feito: [...]

nada mais triste para o observador, que amargas acusações sejam lançadas, não

apenas pelo mundo, que não conhece a Deus, mas também por aqueles que se jul-

gam muito injustiçados caso não sejam vistos como as principais Dignidades da Igreja

de Deus, e Guardiões da Cidade: [...] acusando-nos de defensores do livre-arbítrio;

da possibilidade de decair da graça; de negarmos o pecado original; de desacato à

magistratura, desobedecendo-lhes as leis pessoalmente ou no pagamento de tributos;

e de agirmos impropriamente na dispensação da Ordenança do Batismo. Recusam-

se considerar-nos Cristãos.2

É evidente que nessa lista de acusações muitas eram relevantes, ainda que realidade ou

fantasia, aos Anabatistas do continente. Tudo que um oponente dos Batistas precisava

fazer era mencionar o nome “Münster”, e todos os supostos horrores daquela cidade seriam

imputados às suas “contrapartes” da Inglaterra3. Evidentemente, os Batistas Particulares

foram pressionados por essas acusações, e desejaram se livrar de quantas fosse possível.

Portanto, afirmaram abertamente que o nome “Anabatista” foi dado falsamente, e não refle-

tia suas próprias convicções.

__________

[1] William L. Lumpkin, Baptist Confessions of Faith [Confissões de Fé Batista], rev. ed. (Valley Forge: Judson

Press, 1969), 153.

[2] Ibid., 154-55.

[3] Lumpkin menciona dois livros os quais podem ter sido especialmente desagradáveis em suas acusações

contra os Batistas: A Short History of the Anabaptists of High and Low Germany [Uma Breve História dos

Anabatistas da Alta e Baixa Alemanha] (1642), e A Warning for England especially for London [Um Alerta para

a Inglaterra, Especialmente para Londres] (1642), BCF, 145.

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A Primeira Confissão Londrina De 1644

Os Batistas estavam preocupados em demonstrar a todos que suas convicções doutrina-

rias, desde o começo, tinham sido ortodoxas e quase idênticas às convicções dos Puritanos

à volta deles. Para tanto, eles procuraram os melhores meios disponíveis pelos quais po-

deriam provar que seus pontos de vista estavam, de fato, alinhados com as doutrinas das

demais igrejas. Os Batistas fizeram isso ao elaborar uma Confissão de Fé. Essa Primeira

Confissão Londrina de 1644, publicada antes da Confissão de Fé de Westminster, baseava-

se fortemente em documentos mais antigos e bem conhecidos. O propósito era provar que

eles não mantinham ideias novas e selvagens, mas ao contrário, compartilhavam as mes-

mas perspectivas teológicas básicas das melhores igrejas e ministros à sua volta. Provavel-

mente, a melhor e mais detalhada Confissão disponível era a Verdadeira Confissão de 1596,

um documento que tinha sido elaborado por homens ilustres tais como o famoso comenta-

rista dos livros de Moisés, Henry Ainsworth. Cerca de 50% da confissão dos Batistas foi

tirada diretamente desse documento mais antigo. Além disso, eles utilizaram amplamente

um livro chamado The Marrow Theology [Teologia Essencial], escrito por um Puritano muito

famoso e importante, William Ames. Eles reuniram esse material de fontes disponíveis para

um propósito específico: provar que eles tinham muitas coisas em comum com as igrejas e

ministros de então. Sim, havia algumas diferenças, mas elas eram secundárias e não cen-

trais. Os Batistas não eram loucos fanáticos que intencionavam derrubar a sociedade como

era conhecida. Pelo contrário, eles eram Cristãos Reformados, que procuravam desenvolver

os princípios sobre os quais a Reforma tinha sido construída até suas conclusões lógicas.

É assim que devemos entender o aparecimento da Primeira Confissão Londrina em 1644.

Ela foi uma ferramenta apologética para dizer: “Ei, nós realmente somos como vocês em

quase tudo. Não somos como os Anabatistas de Münster. Somos como vocês. Deixem-nos

em paz. Aceitem-nos pelo que somos. Não nos rejeitem apenas porque alguém, em outro

tempo e em outro lugar, fez coisas realmente ruins. Nós os repudiamos. Não somos Ana-

batistas. Somos Cristãos Reformados”. Essa ação teve duas facetas importantes. Primeiro,

através da publicação eles desejavam tornar suas ideias, comum e unanimemente manti-

das, conhecidas a uma ampla audiência de leitores. Segundo, ao subscrever seus nomes

como representantes das igrejas, eles estavam afirmando publicamente que essas doutri-

nas eram uma verdadeira representação dos pontos de vista teológicos mantidos entre

eles. Muita coisa estava em jogo, especialmente a liberdade que desfrutavam face ao surgi-

mento do poder político intolerante Presbiteriano. Lembre-se das famosas palavras de

[John] Milton: “O novo Presbítero nada mais é do que o antigo Sacerdote”. Poucos Presbite-

rianos eram a favor da tolerância religiosa; a maioria desejava substituir a Igreja Episcopal

Estatal pela Igreja Presbiteriana Estatal. As assinaturas não eram um pormenor, foi uma

proclamação pública, sóbria e séria de que os Batistas eram Cristãos ortodoxos.

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Isso funcionou? Bem, aparentemente sim, pois vemos que seus oponentes tomaram conhe-

cimento deles. Muitos homens que parecem ter se autoproclamado “caçadores de heresia”

escreveram sobre a Confissão como tendo sido escrita pelos Batistas. O primeiro que deve-

mos mencionar foi um homem chamado Thomas Edwards. Em 1646, ele publicou em três

partes separadas uma obra intitulada Grangaena, or A Catalogue and Discovery of many

of the Errors, Heresies, Blasphemies and pernicious Practices of the Sectaries of this time,

vented and acted in England in these last four years [Gangrena: ou Um Catálogo e Reve-

lação de muitos dos Erros, Heresias, Blasfêmias e Práticas perniciosas dos Sectários dessa

época, ventiladas e realizadas na Inglaterra nesses últimos quatro anos]. Na página 106 da

primeira parte de Grangaena, Edwards menciona a Confissão de 1644, mas nela não

encontra nenhuma falha, admitindo que suas declarações são como aquelas das “Igrejas

Reformadas”, mas a chama de “fraude e falácia” que tinha a intenção de ocultar aquilo que

ele pensava ser a verdade das doutrinas Batistas. Ao menos a Confissão era ortodoxa.

Quando Stephen Marshall, um membro da Assembleia de Westminster, atacou os Batistas

em 1645, John Tombes respondeu apontando para essa Confissão como um meio de esta-

belecer a ortodoxia dos Batistas Particulares.4

Ainda mais interessantes são os comentários de Daniel Featley. O Dr. Featley foi um mem-

bro da Assembleia de Westminster por um curto período de tempo, e autoproclamado caça-

dor de heresia. Ele disse o seguinte sobre a Confissão de 1644:

Se dermos crédito a essa Confissão e a seu Prefácio, aqueles dentre nós que são

assim estigmatizados [i.e. Anabatistas], não são nem Hereges, nem Separatistas, mas

Cristãos aficionados: sobre quem, através de falsas sugestões, pesou a mão da autori-

dade, enquanto a Hierarquia permaneceu: pois, eles nem ensinam o livre-arbítrio; nem

o decair da graça como os Arminianos; nem negam o pecado original como os Pelagi-

anos, nem rejeitam os magistrados como os Jesuítas, nem mantêm a pluralidade de

esposas como os Polígamos, nem a comunhão de bens como os Apostólicos, nem o

andar nu como os Adamitas, muito menos afirmam a mortalidade da alma como os

Epicuristas e Psicofanaticistas: e com tal propósito eles publicaram essa confissão de

Fé, subscrita por dezesseis pessoas, em nome de sete Igrejas em Londres.5

As palavras de Featley são muito interessantes. Ele entendeu exatamente o que os Batistas

pretendiam com a publicação de sua Confissão: uma demonstração honesta daquilo em

__________

[4] John Tombes, Two Treatises and an Appendix to them Concerning Infant Baptisme [Dois Tratados e um

Apêndice Sobre o Batismo Infantil], (Londres: George Whittington, 1645), 31, 34. As declarações estão no

Segundo tratado, entitulado "An Examen of the Sermon of Mr. Stephen Marshall, about Infant Baptism” [Um

Exame do Sermão do Sr. Stephen Marshall, sobre o Batismo infantil], em uma carta enviada a ele.

[5] Featley, The Dippers Dip’t, 177-78. Ele não aceitou as alegações de ortodoxia dos Batistas.

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que eles acreditavam. É claro, Featley não acreditou neles, dizendo: “eles cobrem um pou-

co de veneno de rato sob uma grande quantidade de açúcar, para que não sejam discerni-

dos; pois, entre os cinquenta e três Artigos de sua Confissão, não há senão seis que se

passam por construções justas: e nesses seis, nenhuma das mais sujas e odiosas posi-

ções, com as quais tal Seita é difamada, são expressas”. Mas esse ponto é importante. À

primeira vista, um dos mais fervorosos caçadores de heresia reconheceu que suas palavras

eram ortodoxas. Featley fez seis críticas específicas à Confissão: 1. Que os Batistas no

artigo 31 pareciam implicar que o direito às possessões terrenas está fundamentado na

graça, e não na natureza; 2. O artigo 38 fala contra o apoio de ministros pelo estado; 3. 4.

e 5. Todos lidam com o Batismo de crentes; 6. Que os Batistas permitiam que homens não

ordenados pregassem. Essas foram todas as críticas de Featley à Confissão. Mas note o

que os Batistas fizeram em resposta a Featley: eles revisaram sua Confissão em 1646. No

artigo 31, eles adicionaram uma declaração para dizer que: “Aqueles que não possuem fé,

podem desfrutar licitamente das coisas terrenas por direito civil”. No artigo 38, eliminaram

as palavras contra o apoio de ministros pelo estado. Até a linguagem utilizada quanto ao

Batismo foi levemente alterada a fim de afastar algumas críticas. A segunda edição da Con-

fissão, de fato a única que está mais comumente disponível hoje, é uma versão revisada

em resposta às críticas de Daniel Featley. Os Batistas atenuaram ou alteraram a linguagem

em alguns trechos para que a Confissão fosse mais aceitável aos Pedobatistas. Penso que

eles não comprometeram a Confissão. Eles simplesmente cumpriram o propósito original.

Eles queriam que aqueles homens reconhecessem sua ortodoxia, e entendessem que a

única maneira de fazer isso com sucesso era reconsiderar suas atitudes. Devemos sempre

lembrar-nos disso. A Primeira Confissão Londrina de 1644 era uma tentativa de remover

as ameaças de perseguição e obter aceitação teológica dos Pedobatistas; e a segunda edi-

ção de 1646 foi ainda mais explícita quanto a isso. As Confissões serviram bem ao propó-

sito, ainda que alguns pensassem que elas fossem uma cortina de fumaça para encobrir

doutrinas mais nefastas.

Quem editou a Confissão de 1644? Realmente não sabemos ao certo. Alguns têm sugerido

John Spilsbury, um dos mais antigos pastores em Londres; ele provavelmente é tão bom

candidato quanto os demais. A. C. Underwood cita um escritor anônimo que chamou o autor

de “grande Patriarca da Confissão Anabatista”, e R. L. Greaves diz que “ele [Spilsbury] foi

um signatário e provavelmente o principal autor da confissão Batista Particular”6. W. L.

Lumpkin sugere que “ele [Spilsbury] deve ter tido um papel proeminente em sua prepara-

ção” e isso provavelmente está correto. Ele também sugere que “se a Confissão fosse o

produto de uma autoria conjunta, [Spilsbury] provavelmente foi assistido por William Kiffin

__________

[6] A. C. Underwood, A History of the English Baptists [A História dos Batistas Ingleses], (London: The Baptist

Union Publication Department, 1947), 60; BDBR 3:193-94.

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e Samuel Richardson”7. Dada a importância desses homens, o cenário proposto é altamen-

te possível.

Como observamos, a 1° CFL foi revisada em resposta a Daniel Featley em 1646, e nova-

mente em 1651. Por muitos anos ela serviu como base para ortodoxia e comunhão entre

os Batistas Calvinistas. Mas em meados da década de 1670, as igrejas acharam necessário

oferecer outra confissão ao mundo. Podemos mencionar várias razões para tal. Primeiro,

os próprios Batistas indicavam que as cópias da Confissão de 1644 estavam escassas,

eram difíceis de obter. Poderia ter sido factível reimprimir cópias da primeira confissão, mas

fazer isso não era o objetivo. Em meados da década de 1670, a Verdadeira Confissão de

1596 foi sobrepujada pela Confissão de Westminster e a Declaração de Savoy, e elaborar

um documento baseado nela teria parecido um anacronismo. Além disso, é claro que a

primeira Confissão não lidava com cada área que poderia ser mencionada em uma

declaração doutrinária. Na década de 1670, outras questões precisavam ser discutidas. Por

exemplo, era importante tratar do Sabath, pois havia um pequeno, mas crescente, grupo

advogando a observância do 7° dia como o Sabath. Mas talvez mais importante, uma triste

situação envolvendo um homem de proeminência que estava pressionando as igrejas.

Thomas Collier, um evangelista que havia sido enviado pela igreja de William Kiffin na

década de 1640, adotou e passou a promover uma estranha mistura de heresias, e os

homens de Londres sabiam que medidas decisivas deveriam ser tomadas para interromper

os falsos ensinamentos de Collier. Michael Haykin fala da deserção de Collier como “talvez

o motivo mais importante para uma nova confissão”8. Portanto, uma nova Confissão foi

editada e circulada entre as igrejas para aprovação.

A Segunda Confissão Londrina

A Segunda Confissão de Fé Batista de 1677/89, juntamente com suas antecessoras de

1644/46, são talvez as Confissões Batistas mais influentes desde sua existência. De muitas

formas, a Confissão mais recente sobrepuja a primeira em importância, pois em 1689 a

Primeira Confissão se tornou escassa, de maneira que um dos principais subscritores da

Segunda Confissão afirmou que ele nunca havia visto o documento mais antigo. Foi esse

documento mais recente que se tornou rapidamente o padrão da ortodoxia Batista Calvi-

nista na Inglaterra, América do Norte, e hoje, em muitos lugares do mundo.

Essa Confissão, com toda a sua influência, talvez seja mais bem entendida contra seu con-

texto histórico e teológico. Ela não apareceu repentinamente, o produto de uma súbita ex-

__________

[7] Lumpkin, Confissões Batistas, 145-146.

[8] Michael Haykin, Kiffin, Knollys and Keach: Rediscovering Our English Baptist Heritage [Kiffin, Knollys and

Keach: Redescobrindo Nossa Herança Batista Inglesa] (Leeds: Reformation Today Trust, 1996), 68.

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plosão de conhecimento teológico da parte de seu autor ou autores, mas seguindo o costu-

me de elaborar bem uma Confissão, ela está amplamente vinculada a documentos Refor-

mados mais antigos. Uma rápida olhada mostrará que ela baseia-se, em larga escala, no

mais Puritano dos documentos, a Confissão de Fé de Westminster de 1647. Uma inspe-

ção mais cuidadosa revelará que ela está ainda mais intimamente relacionada à revisão da

Confissão de Westminster feita em 1658 por John Owen e outros, popularmente conhecida

como Declaração de Savoy. Em quase todos os casos, os editores da Confissão Batista

seguiram as revisões dos editores de Savoy quando esses diferiam do documento de West-

minster. Além disso, os Batistas fizeram uso ocasional da fraseologia da Primeira Confissão

Londrina. Quando todo esse material é levado em consideração, poucas coisas são novas

e originais na Confissão de 1677/89.

Essa forte dependência de fontes precedentes era parte do propósito da composição da

Confissão. Na carta “Ao Leitor Sensato e Imparcial” anexada à primeira edição, os redatores

afirmaram:

Pelo fato de que nosso método, e maneira de expressar os sentimentos, variam com

relação à primeira [i.e. a Primeira Confissão Londrina] (embora a essência do assunto

seja a mesma) diremos honestamente qual a ocasião e o porquê disso. O consenso

que prevaleceu entre nós e nos levou a empreender essa obra, foi o de que ela seria

não apenas um relato completo acerca de nós mesmos aos Cristãos que diferem de

nós quanto ao Batismo, mas também proveitosa para instrução e estabelecimento nas

verdades do Evangelho daqueles que têm algum apreço por nosso labor. Entendemos

com clareza, e com firmeza de fé, que nossa caminhada com Deus, agradável e frutí-

fera, de todas as formas, é a maior preocupação; e, portanto, concluímos ser necessá-

rio expressar-nos mais completa e distintamente; e também ajustar nosso método pa-

ra que [a Confissão] seja mais compreensível naquilo que elaboramos para explicar a

razão de nossa fé; quanto a isso não encontramos nenhum defeito no que foi desen-

volvido pela assembleia [i.e. a Assembleia de Westminster], e depois deles pelos de

persuasão Congregacional [i.e. o Sínodo de Savoy], então concluímos prontamente

ser melhor manter a mesma ordem em nossa confissão atual. Além disso, verificamos

que esses grupos acima mencionados escolheram não só expressar seu pensamento

com palavras semelhantes às da primeira (por razões que pareceram importantes

tanto para si quanto para outros), no que diz respeito a todos aqueles artigos com os

quais eles estavam de acordo, como também não propuseram qualquer variação dos

termos em sua maior parte. De maneira semelhante, chegamos à conclusão que seria

melhor seguir o exemplo e fazer uso das mesmas palavras nesses artigos (que são

muitos) em que nossa fé e doutrina são as mesmas com as deles, e isso fizemos,

mais abundantemente, a fim de manifestar nosso consentimento com ambos, em to-

dos os pontos principais da Religião Cristã, assim como com outros tantos, cuja orto-

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doxia e confissões têm sido publicadas pelo mundo; em nome dos Protestantes em

diversas nações e cidades: e também para convencer a todos que não ansiamos de-

turpar a Religião com novos discursos, mas prontamente sujeitar-nos às sólidas pala-

vras, que têm sido usadas por muitos outros antes de nós em consentimento com as

Sagradas Escrituras, e assim declarar perante Deus, Anjos & Homens nossa sincera

concordância com eles, na Sã Doutrina Protestante, que com tão clara evidência das

Escrituras eles têm afirmado. Algumas coisas, de fato, foram adicionadas em alguns

lugares, alguns termos foram omitidos, e outros poucos modificados, mas essas alte-

rações são de natureza tal que não se fazem necessárias dúvidas, acusações ou

suspeitas de debilidade na fé, de qualquer de nossos irmãos ou da parte deles.

Essas palavras são de real importância, e precisam ser consideradas muito cuidadosamen-

te. Em ambas as suas Confissões, os Batistas usaram documentos existentes de propósito,

para demonstrar seu consentimento com muito do pensamento teológico corrente. Na

citação acima, eles argumentam que as doutrinas expressadas em ambas as Confissões

Batista são as mesmas, mas eles escolheram basear a Confissão mais nova nos documen-

tos mais recentes e amplamente disponíveis de Westminster e Savoy. Ao fazer isso, eles

estavam declarando com vigor seu próprio desejo de serem colocados entre a Cristandade

Inglesa Reformada e Confessional.

Devemos observar quando as Confissões [Batistas] se afastam de algum desses documen-

tos. São nesses pontos que os Batistas expressam suas contribuições distintivas à Teologia

Cristã. Onde essas coisas estão mais evidentes, em ambas as Confissões? Claramente,

no que diz respeito à doutrina da Igreja. Mesmo que pudessem concordar com muito do

que era crido pelos Pedobatistas, os aspectos característicos de sua fé são encontrados

nas declarações acerca da igreja. Aqui encontramos a diferença. Ambos esses documentos

são documentos Batistas. A Eclesiologia foi a força motriz por trás do movimento Batista, e

é a cabeça da teologia que dá a essas confissões suas ênfases distintas, diferentes da

Verdadeira Confissão e da Declaração de Savoy.

As Origens Da Segunda Confissão Londrina De Fé

Com as informações disponíveis, é impossível determinar precisamente as origens da Se-

gunda Confissão Londrina. No entanto, há algumas indicações que nos ajudam a estreitar

as possibilidades.

A primeira referência conhecida à Confissão pode ser encontrada no manuscrito da ata da

Igreja de Petty France, em Londres. Em 26 de agosto de 1677, foi registrado: “Concordou

se que uma Confissão de Fé, juntamente com seu apêndice, tendo sido lidos e considera-

dos pelos irmãos, deveriam ser publicados”. Joseph Ivimey, o historiador Batista inglês do

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início do século dezenove deduziu que a Confissão originou-se na Igreja de Petty France,

e essa é provavelmente uma suposição precisa.

Essa igreja foi uma das sete primeiras igrejas [Batistas] em Londres, tendo se beneficiado

do ministério de Edward Harrison por muitos anos. Em 1675, dois homens de imensa impor-

tância para a história dos Batistas Particulares, Nehemiah Coxe e William Collins, foram

ordenados como pastores auxiliares no mesmo dia.

Nehemiah Coxe foi o filho do líder Batista Particular Benjamin Coxe. Ele era um médico

qualificado e sábio teólogo, instruído em latim, grego e hebraico. Quando o Evangelista

Thomas Collier começou a se desviar da Ortodoxia Calvinista das Igrejas de Londres, os

anciãos dessas igrejas pediram a Coxe para responder em impresso aos pontos de vista

de Collier. Ele o fez em 1677 em sua obra Vindiciae Veritatis, or a Confutation of the

Heresies and Gross Errous Asserted by Thomas Collier [Vindicação da Verdade, ou uma

Refutação das Heresias e Erros Grosseiros Afirmados por Thomas Collier]. O livro é uma

poderosa expressão da Doutrina Reformada. Em 1681, durante um período de persegui-

ção, Coxe publicou A Sermon Preached at the Ordination of an Elder and Deacons in a

Baptized Congregation in London [Uma Palavra Pregada na Ordenação de um Ancião e

Diáconos em uma Congregação de Batizados em Londres]. Esse é um resumo útil das

funções e responsabilidades de anciãos e diáconos. Também em 1681, Coxe publicou A

Discourse of the Covenants that God made with Men before Law [Um Discurso das Alianças

que Deus fez com os Homens antes da Lei]. O contemporâneo de Coxe, C. M. du Veil, em

1685 no seu comentário de Atos, disse de Coxe: “grande teólogo, eminente em todas as

formas de conhecimento”. Está claro que Nehemiah Coxe era tido com grande apreço por

seus irmãos, e estava bem preparado para servir como um editor da Confissão de Fé.

William Collins, ancião auxiliar de Coxe, recebeu uma ótima educação, graduou-se e viajou

pela Europa antes de seu chamado para servir na Petty France. A estima pela qual era tido

por seus irmãos pode ser notada pelo fato de que ele foi requisitado pela Assembleia Geral

para elaborar um catecismo, e sobre isso, Joseph Ivimey afirma: “É provável que o Cate-

cismo Batista foi compilado pelo Sr. Collins, embora por algum motivo tenha sido chamado

de Catecismo de [Benjamin] Keach” [2:397].

De acordo com os comentários feitos em um sermão de funeral por John Piggott, Collins

era um ancião estudioso e um bom pastor, notável por seu espírito sereno. “Os assuntos

dos quais ele geralmente tratava ao longo de seu ministério eram as grandes e importantes

verdades do Evangelho, o qual ele manejava com grande discernimento e clareza. Como

ele explicava as misérias da Queda! E de que maneira comovente ele discursava sobre a

excelência de Cristo, e as virtudes de Seu sangue, e sua boa vontade para salvar pobres

pecadores, miseráveis e sobrecarregados! [...] Seus sermões eram úteis, sob a influência

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da graça Divina, para converter e edificar, para iluminar e confirmar; eram tirados da Fonte

da Verdade, as Sagradas Escrituras, que ele constantemente expunha a partir das línguas

originais, tendo lido os melhores críticos, antigos e modernos; assim, os homens mais capa-

zes devem aprender com suas pregações, bem como os incautos”. Tal testemunho de seu

caráter e habilidades é bastante adequado a alguém de quem se pensa ter sido coeditor da

Confissão de Fé.

Apesar de não podermos afirmar com certeza, muitas evidências circunstanciais apontam

para Coxe e Collins como autores da Confissão. Ambos eram homens qualificados e respei-

tados, e a primeira menção do documento é encontrada na ata de sua igreja, ao aprovar-

se a publicação. Cada um deles foi solicitado que liderassem nos escritos teológicos, um

fato que era de se esperar de tais homens. Até que outra evidência seja encontrada, esse

parece o cenário mais provável para a origem da Confissão.

A Confissão rapidamente tornou-se o padrão de ortodoxia nas igrejas. Quando a Segunda

Confissão Londrina foi inicialmente publicada em 1677, sua primeira página indicava que

ela continha a compreensão de “muitas congregações de Cristãos [...] em Londres e no

País”9. É quase impossível determinar o número, ou mesmo a identidade, dessas “muitas

congregações” que desejavam confessar sua fé por meio desse documento em 1677. Mas

existem algumas indicações de sua aceitação na década de 1680.

[A Confissão] se tornou uma leitura comum do dia a dia, e foi usada como teste de ortodo-

xia10. O uso da Confissão com padrão doutrinário é demonstrado por um incidente na Igreja

de Broadmead, Bristol. Em abril de 1682, eles requisitaram de Thomas Winnel, membro de

uma igreja Batista Arminiana que estava tentando se juntar à assembleia, que subscre-

vesse a Confissão, a fim de garantir que suas doutrinas eram consonantes com as da

igreja11. As sérias diferenças nas convicções desses grupos teologicamente diversos foram

__________

[9] Confissão de Fé, página do título.

[10] Em 1681, Hanserd Knollys fez uma referência direta à Confissão em seu livro The World that Now Is; and

the World that is to Come [O Mundo de Agora; e o Mundo Por Vir]. No meio de uma seção que explicava o

procedimento de disciplina da igreja, Knollys incorpora sentenças do Capítulo 26, parágrafos 3 e 13.

Nehemiah Coxe, em um sermão pregado e publicado em 1681, igualmente incorpora sentenças do capítulo

26, parágrafos 8 e 10 em suas explicações. Cf. Nehemiah Coxe, A Sermon Preached at the Ordination of na

Elder and Deacons in a Baptized Congregation in London [Um Sermão Pregado na Ordenação de um Ancião

e de Diáconos em uma Congregação de Crentes Batizados em Londres] (London: Tho. Fabian, 1681), 15,

36-38.

[11] Hayden, The Records of A Church of Christ [Os Registros de Uma Igreja de Cristo], 241. Os registros de

fato afirmam que ele “professou crer nos princípios contidos na Confissão de Fé Batista, 1667”. O editor

recente afirma: “Não se conhece nenhuma Confissão de Fé dessa data. É provável que Terril [o autor dos

Registros] se refere à Confissão de Fé Batista Particular de 1677, que era um teste padrão de ortodoxia entre

as Igrejas Batistas Particulares daquele tempo”.

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resolvidas por meio dessa afirmação pessoal. Winnel posteriormente tornou-se pastor da

Igreja Batista Particular de Taunton, Somersetshire.

Benjamin Keach usou a Confissão como uma ferramenta apologética em 1694. Ele esteve

envolvido em um debate sobre a validade do batismo infantil, e respondeu à questão sobre

o status dos infantes afirmando que “todos os infantes estão sob a culpa e mácula do peca-

do original [...] e que nenhum infante pode ser salvo senão pelo Sangue e Imputação da

justiça de Cristo”. Ele fez referência ao “Artigo de nossa Fé”, e disse abruptamente: “Veja a

nossa Confissão de Fé”.12

Na Assembleia Geral de 1689, a importância da Confissão foi manifesta. 108 igrejas esta-

vam representadas ou enviaram mensagens à Assembleia, e a Confissão foi endossada

nos famosos termos:

Nós, os Ministros e Mensageiros de, e preocupados com, mais de cem IGREJAS

BATISTAS, na Inglaterra e no País de Gales (negando o Arminianismo), estando

reunidos em Londres, a partir do terceiro dia do sétimo mês ao décimo primeiro dia do

mesmo mês, no ano de 1689, para considerarmos algumas questões que devem ser

para a glória de Deus, e para o bem dessas Congregações, já pensamos encontrar

(para a satisfação de todos os demais Cristãos que diferem de nós no ponto do Ba-

tismo) a recomendação de sua leitura de Confissão de nossa Fé, impressa e vendida

pelo Sr. John Harris em Harrow no Poultrey; Confissão esta feita por nós mesmos,

como contendo a Doutrina de nossa Fé e Prática, e anelamos que os próprios mem-

bros de nossas igrejas sejam supridos com ela.13

__________

[12] Benjamin Keach, A Counter Antidote to purge out the Malignant Effects of a Late Counterfiet, Prepared

by Mr. Gyles Shute, an Unskilful Person in Polemical Cures [Um Antídoto para Expurgar os Efeitos Malignos

de Uma Recente Falsificação Elaborada por Sr. Gyles Shute, Uma Pessoa Inexperiente em Curas Polêmicas]

(London: H. Bernard, 1694), 12.

[13] A Narrative of the Proceedings of the General Assembly Of divers Pastors, Messengers and Ministring

Brethren of the Baptized Churches, met together in London, from Septemb. 3. to 12. 1689, from divers parts

of England and Wales: Owning the Doctrine of Personal Election, and final Perseverance [Uma Narrativa dos

Procedimentos da Assembleia Geral de Vários Pastores, Mensageiros e Ministros Irmãos das Igrejas de

Batizados, reunidos em Londres, a partir de de 3 a 12 de Setembro de 1689, a partir de diversas partes da

Inglaterra e País de Gales: Confessando a Doutrina da Eleição Pessoal, e Perseverança Final] (London:

Printed in the Year, 1689) 18. É curioso que, embora o documento seja comumente conhecido como a

Confissão de 1689, não pude encontrar nenhuma evidência bibliográfica que ela tenha sido impressa naquele

ano. Ela foi publicada em 1677, 1688 e 1699. Veja Donald Wing, Short-Title Catalogue of Books Printed in

England, Scotland, Ireland, Wales, and British America and of English Books Printed in Other Countries 1641-

1700 [Breve Catálogo de Títulos de livros impressos na Inglaterra, Escócia, Irlanda, País de Gales e na

América Britânica e de Livros Ingleses impressos em Outros Países entre 1641-1700], 2d ed., (New York:

The Index Committee of the Modern Language Association of America, 1972) 1:369.

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Eles têm sua “própria” Confissão, e insistem que ela é uma clara declaração de sua fé e

prática. Para eles, a Confissão era uma ferramenta apologética. Os de fora seriam capazes

de ler suas declarações e reconhecer que essas igrejas eram doutrinariamente ortodoxas.14

A subscrição confessional era considerada uma séria questão entre muitas igrejas15. Era

“posse solene e ratificação”, um comprometimento com um sistema teológico definitivo.

Esses homens estavam tão fortemente comprometidos às palavras contidas em sua Confis-

são que eles consideravam qualquer um “o tipo mais grosseiro de hipócrita, ao professar o

contrário de sua Profissão de Fé, e ainda, ao crer e praticar o contrário ao que eles solene-

mente professaram como sua fé”16. Ao longo desse período considerado, a Segunda Con-

fissão Londrina foi aceita como o padrão definitivo de fé e prática teológica ortodoxa dentro

de um grande círculo de igrejas. Eles queriam que as igrejas fossem conhecidas quando

alguém lesse sua Confissão, que eles tivessem uma compreensão justa das convicções e

práticas dessas igrejas.

Implicações

Gostaria de mencionar três implicações desse material.

1. Não há diferenças teológicas substanciais entre a Primeira e a Segunda Confissão Lon-

drina. Fico muito entediado quando leio declarações afirmando ou inferindo que existe al-

gum tipo de diferença teológica entre essas duas grandes Confissões. Alguns parecem

pensar que a Confissão de 1644/46 é mais autenticamente Batista, ao passo que a segunda

__________

[14] Bagnio/Cripplegate Church Minute Book 1695-1723, Angus Library, Regent's Park College, Oxford,

página não numerada, próximo à página 27. A seriedade dessa declaração é exemplificada nas palavras do

anfitrião da Igreja de Broken Wharf, cujo pastor em 1691 foi Hanserd Knollys. Em 1706, quando foi feita uma

tentativa de ressuscitar a defunta Associação Londrina, eles se recusaram a fazer parte “Porque a solene

posse & ratificação de nossa tão bem atestada & e aprovada Confissão de Fé, como transmitida por nós em

vossa completa evidência, e por nossos pastores &c na assembleia geral, nos parece, assim como também

pareceu a eles, coisa absolutamente necessária para regular a constituição de todas as associações: mas

vós, admitindo as igrejas à Associação tornais isso completamente impraticável.” Eles publicaram essas

palavras em uma carta aberta explicando suas razões para permanecerem afastados, pois “Humildemente

ofereceram à consideração de todas as Igrejas Batistas, as quais subscreveram, ou podem subscrever, à

confissão de nossa Fé, impressa no ano de 1688 e recomendada às igrejas pela Assembleia Geral que se

reuniu em Broken Wharf, Londres, 1689.” Ibid., 26. Broken Wharf foi o local dessa mesma igreja quando

Knollys foi o pastor.

[15] Quando a igreja de Maze Pond foi constituída em Fev., 1694, a Confissão foi explicitamente adotada no

primeiro artigo do estatuto da igreja. Maze Pond Church Book 1691-1708, The Angus Library, Regent's Park

College, Oxford, 1.

[16] William Kiffin, Robert Steed, George Barrett and Edward Man, A Serious Answer to a Late Book, Stiled,

A Reply to Mr. Robert Steed's Epistle concerning Singing [Uma Resposta Firme a um Livro do Sr. Robert

Steed, Intitulado, Uma Resposta à Epístola Concernente ao Canto] (London: Printed in the Year, 1692), 18.

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é menos. Com frequência, isso é afirmado por aqueles que se opõe à Teologia do Pacto

que é mais explícita na Segunda Confissão do que na primeira. Isso se aplica principalmente

para os adeptos da chamada Teologia da Nova Aliança. Mas a pergunta que eu gostaria

de fazer àqueles que afirmam essa diferença é: Baseado em que se pode afirmar isso?

Frequentemente, essa alegada distinção é feita por aqueles que têm pouca ou nenhuma

familiaridade com os contextos histórico e teológico das duas Confissões. Como bons pós-

modernistas, eles leem as Confissões sob a perspectiva do tipo de teologia que eles espe-

ram encontrar lá, sem nenhuma investigação séria do pensamento teológico dos homens

que escreveram as Confissões. Assim como qualquer outro documento histórico, nossas

confissões precisam estar sujeitas à uma exegese histórico-gramatical. Não podemos sim-

plesmente lê-las sob a perspectiva daquilo que pensamos poder encontrar nelas. Ao invés

disso, precisamos perguntar e responder à questão “Como os homens que primeiro adota-

ram essa Confissão entenderam sua teologia? Seus escritos apoiam a ideia de que há dife-

renças significantes entre as duas?”. Um exame desse tipo pode ser um exercício muito

produtivo para esclarecer essa ideia.

Precisamos dizer algumas coisas. Primeiro, o método de edição dessas Confissões foi o

mesmo. Ambas foram baseadas em documentos Pedobatistas existentes, adaptadas, não

para destacar as diferenças, mas para enfatizar as semelhanças. Os editores de ambas as

Confissões usaram o método idêntico. Eles escolheram as melhores Confissões Pedobatis-

tas existentes e as “batizaram”. Além disso, é importante lembrar que a primeira Confissão

foi, de fato, revisada para torná-la mais palatável à oposição Pedobatista. Ao longo do sécu-

lo dezessete, os Batistas Calvinistas procuraram demonstrar sua ortodoxia às suas contra-

partes Pedobatistas.

Segundo, os escritos dos homens que publicaram a Primeira Confissão Londrina demons-

tram que eles estavam comprometidos com o mesmo tipo de Teologia do Pacto que está

mais explicitamente articulada na Segunda Confissão Londrina. John Spilsbury, algumas

vezes sugerido como autor da Primeira Confissão, escrevendo em seu livro de 1643 A

Treatise Concerning the Lawful Subject of Baptisme [Um Tratado Acerca do Sujeito

Legítimo do Batismo], disse logo na primeira página do texto: “Como a Escritura é a regra

perfeita para todas as coisas, tanto para a fé como para a prática; confesso que isso é

verdade. E para a justa e verdadeira implicação da Escritura, não nego; e ao Pacto de vida

que repousa entre Deus e Cristo para todos os Seus eleitos, não me oponho: e que a

profissão externa desse Pacto, foi diferente sob diversos períodos, não contradirei”. William

Kiffin, o homem cujo nome lidera a lista daqueles que publicaram a Confissão de 1644, es-

creveu em seu livro de 1642, intitulado Certain Observations upon Hosea the Second 7. &

8. Verses [Algumas Observações sobre Oséias 2:7-8]: “Na Escritura é dito que homens

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abandonam a Deus quando eles abandonam a Lei de Deus, os Mandamentos de Deus, ou

a adoração de Deus [...]” (p. 4.), “estar perto de Deus é estar perto da Lei de Deus, dos

Mandamentos de Deus [...] é melhor tanto para homens como para as igrejas, quando eles

assim o fazem” (p.16). Hanserd Knollys, um dos signatários da segunda edição do primeiro

documento, de 1646 escreveu em seu livro de 1646 Christ Exalted: A Lost Sinner Sought

and Saved by Christ [Cristo Exaltado: Um Perdido Pecador Alcançado e Salvo por Cristo]:

“A diferença entre a Lei e Cristo é essa: na Lei, Moisés ordena seus discípulos a fazerem

isso, e os proíbe de fazerem aquilo, mas não lhes dá nenhum poder, nem lhes comunica

nenhuma habilidade para cumprir alguma coisa: Cristo ordena seus discípulos a obedece-

rem aos mesmos deveres morais, e proíbe a prática dos mesmos males, mas juntamente

com seus mandamentos Ele dá poder, e sabedoria, pois Ele opera em nós tanto o querer

como o realizar, segundo sua boa vontade” (p. 24), e outra vez no mesmo livro, ao comentar

sobre os pecados daqueles a quem ele chama de professos carnais: “Eles estão tão afas-

tados da fé, que de vez em quando professam, e aparentam ter (1 Timóteo 4:1), que eles

questionam se as Escrituras são verdadeiramente a Palavra de Deus. Se Cristo é o Filho

de Deus. Se o primeiro dia da semana é o Sabath de Deus” (pg.34). Ele coloca a dúvida no

que diz respeito à validade do 1° dia como o Sabath juntamente com as dúvidas acerca da

inspiração da Escritura e da Deidade de Cristo! Não seria difícil apresentar mais evidências.

Quando se considera os escritos teológicos dos homens que subscreveram à Confissão

Londrina de 1644/46, descobre-se que eles acreditavam nas mesmas coisas articuladas

mais claramente na Confissão Londrina de 1689. A diferença não é doutrinária, e sim a for-

ma de expressar.

Em terceiro, também devemos lembrar que foram as mesmas igrejas, e muitos dos mesmos

homens, que elaboraram ambas as Confissões. Sete congregações de Londres publicaram

a Confissão de 1644/46. Por volta de 1689, representantes de quatro dessas igrejas tam-

bém assinaram publicamente a Confissão de 1689. O que aconteceu com as outras três?

Elas ou deixaram de existir, ou se juntaram a outras. Além disso, muitos personagens chave

assinaram as duas Confissões: William Kiffin, Hanserd Knollys, Henry Forty, bem como a

dupla formada por pai e filho, Benjamin Coxe e Nehemiah Coxe. Se a teologia das duas

Confissões é diferente, deve-se demonstrar que essas igrejas e esses homens passaram

por um processo de mudança teológica. Mas tal evidência não existe.

Quarto, devemos escutar as palavras dos autores da Segunda Confissão Londrina, escritas

no prefácio da edição de 1677:

Amável Leitor,

Já se passaram muitos anos desde que muitos de nós (juntamente com outros Cris-

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tãos sóbrios que viveram e andaram nos caminhos do Senhor que professamos) reco-

nhecemos a necessidade de publicar uma Confissão de nossa Fé, para a informação,

e satisfação daqueles que não entenderam completamente quais são nossos princí-

pios, ou que receberam nossa Profissão com preconceito, por causa da estranha des-

crição, feita por alguns homens notórios, que fizeram mal juízo, e igualmente levaram

outros a equívocos no que nos diz respeito: tal Confissão foi, primeiro, estabelecida

por volta do ano de 1643, em nome de sete Congregações então reunidas em Lon-

dres; desde aquela época, muitas tiragens foram amplamente divulgadas, e nosso

objetivo proposto, em grande medida respondido, enquanto que muitos (e alguns da-

queles homens notórios, tanto em piedade como em erudição) foram assim convenci-

dos de que de maneira alguma éramos culpados daqueles erros heterodoxos e funda-

mentais, dos quais fôramos frequentemente acusados sem fundamento, nem ocasião

de nossa parte. E, em vista desse fato, como aquela Confissão não mais é facilmente

encontrada; e também porque muitos outros desde então adotaram as mesmas verda-

des que ali se encontram; julgamos necessário reunir-nos para dar testemunho ao

mundo de nossa firme adesão àqueles sólidos princípios, através da publicação deste

que agora se encontra em sua mão.

Pelo fato de que nosso método, e maneira de expressar os sentimentos, variam com

relação à primeira (embora a essência do assunto seja a mesma) diremos honesta-

mente qual a ocasião e o porquê disso.17

Não devemos nos esquecer dessas palavras. Esses homens afirmaram que embora o

“método e a maneira de expressar” fossem diferentes nas duas Confissões, ainda essência

é a mesma. Se as duas Confissões tivessem uma perspectiva teológica diferente, esses

homens seriam culpados de falsidade. Mas veja como quão pouco provável é isso: 1. Al-

guns deles eram os mesmos homens que conheciam aquilo em que acreditavam durante

todos aqueles anos; 2. Algumas das igrejas eram as mesmas igrejas, e é provável que

alguns de seus membros, bem como oficiais, fossem os mesmos; 3. Havia um registro

público que poderia ser consultado a fim de determinar a veracidade dessa declaração.

Tudo aponta para sua veracidade. Não nos parece certo considerarmos esses homens por

suas palavras, reconhecendo que a doutrina de ambas as Confissões era a mesma? Ambas

as Confissões, de 1644/46 e de 1677/89, como entendidas por seus autores originais, ensi-

nam a Teologia do Pacto, a validade permanente da lei de Deus, e por implicação, a obriga-

toriedade do primeiro dia da semana como Sabath. Qualquer coisa a menos é na melhor

das hipóteses uma má compreensão, e na pior, uma deturpação, da Teologia Batista Cal-

vinista do século dezessete. A Confissão de 1644/46 não dá suporte àqueles que enfraque-

__________

[17] Para a parte que se segue, ver acima.

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ceriam a identidade essencialmente Reformada e Aliancista da Teologia Batista.

Quinto, precisamos lembrar que a Confissão de 1644/46 foi publicamente examinada e criti-

cada por alguns dos teólogos oposicionistas mais cautelosos daqueles dias. Gangraena

Edwards, Robert Baylie e Dr. Daniel Featley não deixaram pedra sobre pedra na tentativa

de provar que os Batistas Particulares eram hereges. E ainda assim, eles nunca consegui-

ram dar indicação de que os Batistas e sua Confissão não eram ortodoxos em termos da

Teologia do Pacto, da perpetuidade da lei moral, ou a validade permanente do Dia do

Senhor. Não há dúvida de que eles fariam muito caso dessas coisas se elas estivessem

presentes, mas elas não estavam. Se o melhor caçador de heresias da época não encon-

trou diferenças nessas questões, como poderíamos nós encontrá-las?

É um erro afirmar que há variações teológicas ente essas Confissões. Simplesmente porque

a Confissão de 1644 não destaca e enfatiza essas coisas, não significa que elas, e os ho-

mens e igrejas que a elaboraram, mantinham uma visão distinta da última Confissão. As

diferenças podem ser simplesmente explicadas em termos dos documentos usados para

construir as declarações Batistas [em cada uma das Confissões]. Se examinarmos a Verda-

deira Confissão, de 1596, veremos que ela não destaca a Teologia do Pacto, mas sim a

Doutrina da Igreja. Isso explica a direção e a ênfase da Confissão Batista. Nada mais é ne-

cessário. A teologia dessas duas Confissões é a mesma.

2. Segundo, essa discussão mostra a importância das Confissões de Fé, especialmente

como elas são encontradas na vida dos primeiros Batistas. Frequentemente nos é dito, es-

pecialmente por aqueles que são contra uma expressão teológica cuidadosa, que Confis-

sões são, na verdade, uma imposição à liberdade Batista. Um autor famoso [da convenção]

Batista do Sul escreveu um extenso livro sobre a História dos Batistas, no qual um dos te-

mas é uma tentativa de mostrar que o valor mais fundamental da história Batista tem sido

a liberdade religiosa. Para ele, as Confissões são uma intrusão não herança. Elas prendem

as pessoas a um modelo — um conjunto de doutrinas — algo que deve ser evitado a todo

custo. Mas devemos responder que nossos antepassados não as viam dessa maneira. Eles

acreditavam que o Cristianismo era uma Religião baseada na revelação, e que essa revela-

ção era coesa e consistente. Por essa razão, eles também acreditavam que as doutrinas

encontradas nessa revelação deveriam ser sistematizadas e expressas de tal forma que

muitos Cristãos pudessem concordar com elas.

O Dr. Robert Martin afirmou que uma igreja sem Confissão de Fé tem o equivalente teoló-

gico do vírus da AIDS, e ele está certo. Não há defesas, não há meios pelos quais repelir

ataques violentos de erros. Quando as Confissões são negligenciadas ou rejeitadas, a opor-

tunidade surge para que as igrejas escorreguem e caiam em erro e apostasia. Nosso século

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já não nos mostrou a essa verdade? Por que existem tantas igrejas, e até mesmo denomi-

nações perdidas na incredulidade? Porque as doutrinas que eram mantidas no começo

foram subestimadas pelas gerações seguintes. Os Luteranos perderam contato com Lutero,

os Metodistas perderam o contado com Wesley, e os Batistas perderam contato com suas

Confissões. O corajoso posicionamento do Dr. [Albert] Moler no Seminário do Sul demonstra

isso. Ele chamou sua faculdade de volta aos padrões doutrinários do passado — e Deus o

tem abençoado — e veio a oposição, como resultado.

Uma boa Confissão — e honestidade ao vivê-la — pode ser o meio pelo qual se pode fazer

muito bem à igreja. Ela não será um albatroz para impedir a obra de Deus; ao invés disso

será um meio de unir o povo de Deus em volta da verdade, e prevenir a propagação de

erros. Acreditamos que a Bíblia é um Livro coeso. As doutrinas nela encontradas integram-

se umas às outras, e produzem um sistema que deve ser recebido e crido. Uma boa Confis-

são, simplesmente expressa a verdade encontrada na Escritura de forma concisa. Dessa

forma, todos os interessados podem entender exatamente aquilo em que creem.

3. A terceira implicação que eu gostaria de mostrar está relacionada à nossa herança como

Batistas na América. A teologia dessas Confissões é a nossa própria teologia. Quando se

considera a história e o desenvolvimento do pensamento e prática Batista na América, deve-

se dar um lugar importante a essas duas Confissões de Fé Londrinas. Suas declarações

teológicas moldaram muito do pensamento e prática das igrejas desse lado do Atlântico.

A história deve começar com uma breve menção dos laços apertados que existiam entre

os Batistas na Inglaterra e na América durante os meados do século dezessete. A despeito

da distância entre eles, e das dificuldades de comunicação e comunhão, está claro que as

pequenas e batalhadoras igrejas Americanas se consideravam uma única com suas contra-

partes na Inglaterra. Quando John Clarke, fundador da Igreja de Newport, Rhode Island,

escreveu o famoso Ill Newes From New England [Más Notícias da Nova Inglaterra] em

1652, em que incluiu uma carta de seu companheiro de sofrimento Obadiah Holmes e a en-

dereçou para John Spilsbury e William Kiffin de Londres, afirmando a unidade entre eles no

Evangelho. No estabelecimento da Primeira Igreja Batista de Boston em 1655, três dos

primeiros nove membros “vieram da velha Inglaterra” (incluindo um membro da igreja de

William Kiffin, Richard Goodall). John Myles e muitos membros de sua igreja mudaram-se

de Gales para Swansea, Massachusetts em 1663, e William Screven, membro de uma das

igrejas do Sudoeste da Inglaterra, fundou em 1682 uma nova assembleia em Maine depois

de sua imigração. Quando a Primeira Igreja Batista de Boston publicou uma explicação so-

bre sua existência em 1680, o livro incluía um prefácio assinado por William Kiffin, Hanserd

Knollys, William Collins, Nehemiah Coxe, e dois outros. Eles disseram: “Os autores desse

documento declararam sua perfeita concordância conosco quanto às questões da Fé e

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Culto, como estabelecido em nossa última Confissão”18. Os Batistas Americanos mantinham

a mesma visão teológica de seus irmãos Ingleses.

Essa afinidade teológica nutriu um senso de unidade através do Oceano, e pavimentou o

caminho para a introdução na América das doutrinas das igrejas Inglesas. Os Americanos

buscavam na Inglaterra liderança, conselho e assistência durante a última metade do século.

Nesse contexto, chegou Elias Keach, filho do famoso pastor de Londres Benjamin Keach.

Ele trouxe consigo o comprometimento de seu pai com um sistema teológico bem definido,

e insistiu no uso da Confissão de Fé que era tão bem conhecida em sua terra natal. Elias

ministrou em Penepek, próximo a Filadélfia, mas sua influência se estendeu por uma longa

área em Nova Jérsei e Pensilvânia, e muitas igrejas foram fundadas por ele. Elas se torna-

ram o núcleo das igrejas da Associação de Filadélfia.

Foi através dessa Associação que a Segunda Confissão Londrina ganhou sua maior influ-

ência. Mesmo que os registros da Associação não listem a data na qual eles adotaram a

Confissão, eles fazem referência a ela desde cedo. Os registros afirmam: “No ano de 1724,

foi levantada uma questão acerca do quarto mandamento, se havia mudado, alterado ou

abolido. Remetemo-nos à Confissão de Fé, estabelecida pelos anciãos e irmãos reunidos

em Londres, 1689, agora adotada por nós, cap. 22, sec. 7 e 8”. Em 1727, eles responderam

à questão quanto o casamento da mesma maneira. Os registros afirmam claramente: “Res-

pondida, ao fazer referência à nossa Confissão de Fé, capítulo 26 em nossa última edição”.

Essas declarações tornam evidente o fato de que as igrejas associadas adotaram a Confis-

são como suas.

Por volta de 1742, foi decidido reimprimir a Confissão, algo que foi repetido em 1765. É ver-

dade que, sob a influência da teologia de Keach, dois artigos foram adicionados, a saber,

um a respeito do cantar hinos no culto, e o outro, um tratado sobre a “imposição de mãos”

como terceira ordenança da igreja. Mas o restante da Confissão ficou intacto, e era o padrão

doutrinário para as igrejas na Associação.

Como primeira e mais antiga Associação na América, a influência das igrejas de Filadélfia

era poderosa. A Associação de Ketockton, Virgínia, adotou a Confissão em 1766, assim

como as Associações de Charleston, da Carolina do Sul, e de Warren em Rhode Island,

ambas em 1767. Através dessas Associações, e de outras, e das igrejas constituintes, a

doutrina e prática da Segunda Confissão Londrina moldou muito do pensamento dos anti-

gos Batistas na América.

Escrevendo em 1881, William Cathcart, o editor da Enciclopédia Batista, disse: “Na Inglater-

____________

[18] Nathan Wood, The History of the First Baptist Church of Boston [A História da Primeira Igreja Batista de

Boston], 150.

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ra e na América, igrejas, indivíduos, e Associações, com certeza, e com os corações cheios

de amor pela verdade, [...] mantiveram com reverência os artigos de 1689”. Certamente,

isso foi verdade, mas infelizmente, Cathcart falhou em ver que mesmo em seus próprios

dias houve um sério afastamento desse importante e antigo documento. Muitas igrejas afas-

taram-se dos padrões de Londres/Filadélfia em favor da Confissão de Nova Hampshire,

produto da tentativa de J. Newton Brown de apaziguar as objeções dos Batistas Arminianos

em Nova Hampshire ao forte Calvinismo da antiga Confissão. Com uma teologia fraca, a

profundidade teológica das igrejas foi perdida, e elas foram arrasadas pelos movimentos

do liberalismo e fundamentalismo. Sem um sistema teológico claro, as igrejas não puderam

se defender contra os ataques do liberalismo ou do reducionismo do fundamentalismo. Na

primeira metade do século vinte, o conhecimento da Segunda Confissão Londrina foi o pior

de todos os tempos entre as igrejas Batistas.

Mas graças a Deus, através da influência de muitos homens e movimentos, as grandes

doutrinas da soberania de Deus estão sendo recuperadas entre os Batistas, de maneira

que, gradualmente, as igrejas estão adotando a antiga Confissão, ou novas igrejas estão

sendo formadas firmadas nessas convicções vitais e vigorosas. Onde uma vez havia deser-

to, há agora novos sinais de que no solo seco está brotando novas e bonitas flores. Ainda

há um longo caminho a percorrer, e a maioria das igrejas Batistas na América ainda vaga

em terrenos baldios da teologia. Mas Deus tem levantado muitas igrejas firmes no claro

testemunho da fé, e esperamos que muitas mais nascerão nos dias por vir. Pela graça de

Deus, o futuro parece brilhante para as igrejas que adotam a Confissão de Fé Batista de

1689. Que Deus abençoe nossos esforços para Sua glória.

Sola Scriptura!

Sola Gratia!

Sola Fide!

Solus Christus!

Soli Deo Gloria!

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10 Sermões — R. M. M’Cheyne

Adoração — A. W. Pink

Agonia de Cristo — J. Edwards

Batismo, O — John Gill

Batismo de Crentes por Imersão, Um Distintivo

Neotestamentário e Batista — William R. Downing

Bênçãos do Pacto — C. H. Spurgeon

Biografia de A. W. Pink, Uma — Erroll Hulse

Carta de George Whitefield a John Wesley Sobre a

Doutrina da Eleição

Cessacionismo, Provando que os Dons Carismáticos

Cessaram — Peter Masters

Como Saber se Sou um Eleito? ou A Percepção da

Eleição — A. W. Pink

Como Ser uma Mulher de Deus? — Paul Washer

Como Toda a Doutrina da Predestinação é corrompida

pelos Arminianos — J. Owen

Confissão de Fé Batista de 1689

Conversão — John Gill

Cristo É Tudo Em Todos — Jeremiah Burroughs

Cristo, Totalmente Desejável — John Flavel

Defesa do Calvinismo, Uma — C. H. Spurgeon

Deus Salva Quem Ele Quer! — J. Edwards

Discipulado no T empo dos Puritanos, O — W. Bevins

Doutrina da Eleição, A — A. W. Pink

Eleição & Vocação — R. M. M’Cheyne

Eleição Particular — C. H. Spurgeon

Especial Origem da Instituição da Igreja Evangélica, A —

J. Owen

Evangelismo Moderno — A. W. Pink

Excelência de Cristo, A — J. Edwards

Gloriosa Predestinação, A — C. H. Spurgeon

Guia Para a Oração Fervorosa, Um — A. W. Pink

Igrejas do Novo Testamento — A. W. Pink

In Memoriam, a Canção dos Suspiros — Susannah

Spurgeon

Incomparável Excelência e Santidade de Deus, A —

Jeremiah Burroughs

Infinita Sabedoria de Deus Demonstrada na Salvação

dos Pecadores, A — A. W. Pink

Jesus! – C. H. Spurgeon

Justificação, Propiciação e Declaração — C. H. Spurgeon

Livre Graça, A — C. H. Spurgeon

Marcas de Uma Verdadeira Conversão — G. Whitefield

Mito do Livre-Arbítrio, O — Walter J. Chantry

Natureza da Igreja Evangélica, A — John Gill

OUTRAS LEITURAS QUE RECOMENDAMOS Baixe estes e outros e-books gratuitamente no site oEstandarteDeCristo.com.

— Sola Scriptura • Sola Gratia • Sola Fide • Solus Christus • Soli Deo Gloria —

Natureza e a Necessidade da Nova Criatura, Sobre a —

John Flavel

Necessário Vos é Nascer de Novo — Thomas Boston

Necessidade de Decidir-se Pela Verdade, A — C. H.

Spurgeon

Objeções à Soberania de Deus Respondidas — A. W.

Pink

Oração — Thomas Watson

Pacto da Graça, O — Mike Renihan

Paixão de Cristo, A — Thomas Adams

Pecadores nas Mãos de Um Deus Irado — J. Edwards

Pecaminosidade do Homem em Seu Estado Natural —

Thomas Boston

Plenitude do Mediador, A — John Gill

Porção do Ímpios, A — J. Edwards

Pregação Chocante — Paul Washer

Prerrogativa Real, A — C. H. Spurgeon

Queda, a Depravação Total do Homem em seu Estado

Natural..., A, Edição Comemorativa de Nº 200

Quem Deve Ser Batizado? — C. H. Spurgeon

Quem São Os Eleitos? — C. H. Spurgeon

Reformação Pessoal & na Oração Secreta — R. M.

M'Cheyne

Regeneração ou Decisionismo? — Paul Washer

Salvação Pertence Ao Senhor, A — C. H. Spurgeon

Sangue, O — C. H. Spurgeon

Semper Idem — Thomas Adams

Sermões de Páscoa — Adams, Pink, Spurgeon, Gill,

Owen e Charnock

Sermões Graciosos (15 Sermões sobre a Graça de

Deus) — C. H. Spurgeon

Soberania da Deus na Salvação dos Homens, A — J.

Edwards

Sobre a Nossa Conversão a Deus e Como Essa Doutrina

é Totalmente Corrompida Pelos Arminianos — J. Owen

Somente as Igrejas Congregacionais se Adequam aos

Propósitos de Cristo na Instituição de Sua Igreja — J.

Owen

Supremacia e o Poder de Deus, A — A. W. Pink

Teologia Pactual e Dispensacionalismo — William R.

Downing

Tratado Sobre a Oração, Um — John Bunyan

Tratado Sobre o Amor de Deus, Um — Bernardo de

Claraval

Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

no Batismo de Crentes — Fred Malone

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2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.