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UFRJ INTERAÇÕES DO ENFERMEIRO DO TRABALHO COM A SAÚDE DO TRABALHADOR EM ÂMBITO DE PRÁTICA E ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM SERGIO LIMA DA SILVA Tese de Doutorado apresentada à Coordenação Geral de Ensino de Pós-Graduação e Pesquisa em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Orientadora: Profª. Drª. Vilma de Carvalho Rio de Janeiro Dezembro/2005

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UFRJ

IINNTTEERRAAÇÇÕÕEESS DDOO EENNFFEERRMMEEIIRROO DDOO TTRRAABBAALLHHOO CCOOMM AA SSAAÚÚDDEE

DDOO TTRRAABBAALLHHAADDOORR EEMM ÂÂMMBBIITTOO DDEE PPRRÁÁTTIICCAA EE AASSSSIISSTTÊÊNNCCIIAA

DDEE EENNFFEERRMMAAGGEEMM

SERGIO LIMA DA SILVA

Tese de Doutorado apresentada à Coordenação

Geral de Ensino de Pós-Graduação e Pesquisa em

Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna

Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Orientadora: Profª. Drª. Vilma de Carvalho

Rio de Janeiro

Dezembro/2005

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INTERAÇÕES DO ENFERMEIRO DO TRABALHO COM A SAÚDE

DO TRABALHADOR EM ÂMBITO DE PRÁTICA E ASSISTÊNCIA DE

ENFERMAGEM

Sergio Lima da Silva

Orientadora: Profª. Drª. Vilma de Carvalho

Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Enfermagem, Escola de

Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Enfermagem.

Aprovada por:

______________________________________

Presidente, Profª. Drª. Vilma de Carvalho

__________________________________________________

1º examinador Prof. Dr. Otávio Muniz da Costa Vargens

__________________________________________________

2º examinador, Profª. Drª. Maria Yvone Chaves Mauro

__________________________________________________

3º examinador Profª. Drª. Marcia Tereza Luz Lisboa

__________________________________________________

4º examinador, Profª. Drª. Regina Célia Gollner Zeitoune

__________________________________________________

Suplente, Profª. Drª. Marilurde Donato

__________________________________________________

Suplente, Prof. Dr. Antonio José Cupello

Rio de Janeiro

Dezembro /2005

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Silva, Sergio Lima da.

Interações do enfermeiro do trabalho com a saúde do trabalhador em

âmbito de prática e assistência de enfermagem / Sergio Lima da Silva. -

Rio de Janeiro: UFRJ/ EEAN, 2005.

130f. il.; 31 cm.

Orientador: Vilma de Carvalho

Tese (doutorado) – UFRJ/Escola de Enfermagem Anna Nery/

Programa de pós-graduação em enfermagem, 2005.

Referências Bibliográficas: f. 119-122.

1.Enfermagem do trabalho. 2. Saúde do trabalhador. 3.

Interacionismo simbólico. 4. Assistência de Enfermagem. I. Carvalho,

Vilma. II. Universidade Federal do Rio Janeiro, EEAN, Programa de

Pós-graduação em Enfermagem. III. Título. CDD 610.73

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DEDICATÓRIA

À minha esposa Verônica de Azevedo Vieira,

pela paciência, tolerância e apoio neste e em todos os momentos da

minha vida.

Aos meus filhos Leonardo e Beatriz Vieira da Silva,

pelos momentos de ausência em nosso maravilhoso convívio familiar.

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AGRADECIMENTO ESPECIAL

A Deus, que me garantiu a força, fé e coragem para o alcance desse objetivo.

À Enfermeira do Trabalho e Professora Ivone Bulhões por ter me ensinado os

primeiros passos no meu desenvolvimento profissional.

À minha orientadora Professora Emérita Dra. Vilma de Carvalho, por sua

postura firme e instigante na orientação desta pesquisa, e por ter contribuído com o

desenvolvimento de um pensamento crítico sobre enfermagem e pesquisa.

À empresa PETROBRAS S/A pela oportunidade, confiança e apoio dispensado

a mim, nesta conquista.

Ao Sr. Emidio de Brito Gaspar, gerente de Planejamento Gestão e Recursos

Humanos dos Serviços Compartilhados da PETROBRAS S/A, pelo incentivo e

estimulo à busca deste ideal.

Ao Sr. Carlos Köhler, Gerente de Segurança, Meio Ambiente e Saúde, da

Regional Sudeste dos Serviços Compartilhados da PETROBRAS S/A pela

compreensão e amizade, principalmente devido as minhas ausências durante o turno

normal de trabalho devido ao doutorado.

À Drª. Basildes Pereira Chaves, Gerente de Saúde Ocupacional, da Gerência

de SMS da Regional Sudeste dos Serviços Compartilhados da PETROBRAS S/A,

sobretudo pela amizade, respeito, paciência e ternura nos momentos mais críticos.

Aos colegas de trabalho, pela colaboração e incentivo, sempre constante e

oportuno.

À equipe de enfermagem da PETROBRAS, pela motivação dispensada a mim

na conquista deste ideal.

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AGRADECIMENTOS

Aos Doutores, mestres, professores e alunos do Curso de Doutorado em

Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de

Janeiro.

Às Doutoras Regina Célia Gollner Zeitoune e Marilurde Donato, pelo precioso

apoio e orientação incansáveis.

Aos Enfermeiros do Trabalho sujeitos desta pesquisa, sem os quais não teria

conseguido esta conquista.

À enfermeira Andréia Lopes de Araújo Santana, que me ajudou na coleta dos

dados.

À Celeste Couto pela sua dedicação e competência com as quais pude contar

nos trabalhos de digitação e formatação desta tese.

A todos os Enfermeiros do Trabalho do Brasil e do mundo que lutam pela

profissão de Enfermagem e pela especialização.

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“No mundo, não, não mais haverá paz... Pois

sem amor mundo não é mundo. Sigo feliz meu

horizonte. Vou com amor. E o mundo é tudo.”

(Wal Hei)

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RESUMO

INTERAÇÕES DO ENFERMEIRO DO TRABALHO COM A SAÚDE DO

TRABALHADOR EM ÂMBITO DE PRÁTICA E ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM

Sergio Lima da Silva

Orientadora: Profª. Drª. Vilma de Carvalho

Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em Enfermagem,

Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como

parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Enfermagem.

Trata-se do estudo das interações dos enfermeiros do trabalho com o ambiente social da

assistência de enfermagem aliada à saúde do trabalhador. O objetivo principal é descrever o

sentido da assistência de enfermagem na saúde do trabalhador, a partir das concepções

cotidianas da realidade do enfermeiro do trabalho, decorrente da sua interação subjetiva com

o ambiente social da pragmática assistencial, destacando os objetos sociais e os símbolos

significantes presentes nessas interações. A abordagem do interacionismo simbólico de

Blumer foi adotada como referencial teórico-metodológico para apresentação, discussão e

análise dos achados. Foram entrevistados dezoito enfermeiros do trabalho atuantes em

serviços de saúde do trabalhador, de empresas situados no Estado Rio de Janeiro, nos meses

de agosto e setembro de 2004. Utilizou-se para coleta dos dados um roteiro de entrevista

semi-estruturada. Pelos achados definimos as interações profissionais que culminaram em

quatro conceitos emergentes do cotidiano assistencial dos enfermeiros do trabalho. O

Primeiro Conceito Emergente - A interação do enfermeiro do trabalho com a profissão

sucede no próprio "modo de agir profissional" do enfermeiro do trabalho em seu campo de

prática social, local entendido onde suas ações específicas acontecem ou se manifestam. O

Segundo Conceito Emergente - O ambiente social reúne elementos de significância com os

quais o enfermeiro do trabalho interage e direciona as suas ações na atenção à saúde do

trabalhador. O Terceiro Conceito Emergente - A interação do enfermeiro do trabalho com a

equipe de saúde ocupacional integra o enfermeiro do trabalho como um elemento facilitador

dos processos de trabalho na saúde do trabalhador. O Quarto Conceito Emergente - A

interação do enfermeiro do trabalho com a enfermagem e seus atributos denota a existência de

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certos elementos essenciais ao entendimento da enfermagem como área de saber; são eles: o

trabalhador, a enfermagem do trabalho e, o cuidar como objeto de ação do enfermeiro do

trabalho. Concluímos que para os enfermeiros do trabalho, assistência de enfermagem na

saúde do trabalhador é aquela prestada ao indivíduo ou grupo de indivíduos, integrantes e

participantes dos processos de produção de bens e serviços das empresas ou organizações,

caracterizada por atos e operações de natureza predominantemente preventiva, no sentido de

se evitar danos à saúde e à vida dos trabalhadores, decorrentes de fatores ambientais, da

natureza da própria atividade e dos comportamentos, hábitos e estilo de vida do trabalhador.

Palavras-chave: Enfermagem do trabalho, saúde do trabalhador, interacionismo simbólico,

assistência de enfermagem.

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ABSTRACT

INTERACTIONS OF THE NURSE OF THE WORK WITH THE HEALTH OF THE

WORKER IN THE SCOPE OF PRACTICAL AND ASSISTANCE OF NURSING

Sergio Lima da Silva

Advisor: Vilma de Carvalho Phd

Abstract of the Doctorate Thesis submitted to the Program of Post-graduation in

Nursing, Anna Nery School of Nursing of the Federal University of Rio de Janeiro - UFRJ, as

part of the necessary requirements to the attainment of the heading of Doctor in Nursing.

Is about the study of the interactions of the nurses of the work with the social environment of

the assistance of nursing allied to the health of the worker. The main objective is to describe

the direction of the assistance of nursing in the health of the worker, from the daily

conceptions of the reality of the nurse of the work, docurrent of their subjective interaction

with the social environment of the assistencial pragmatic, detaching the social objects and the

significant symbols present in these interactions. The approach of the symbolic interacionism

of Blumer was adopted as theoretician-methodological reference for presentation, quarrel and

analysis of the findings. Eighteen operating nurses of the work in services of health of the

worker had been interviewed, of situated companies in the State of Rio de Janeiro, in the

months of August and September of 2004. A script of half-structuralized interview was used

for the collection of the data. From the findings, we define the professional interactions that

had culminated in four emergent concepts of the assistencial daily of the nurses of the work:

The First Emergent Concept - The interaction of the nurse of the work with the profession

occurs in the proper "professional act way” of the nurse of the work in their social, local

practical field understood where their specific action happens or reveal themselves. The

Second Emergent Concept - The social environment congregates significant elements with

which the nurse of the work interacts and directs their actions in the attention to the health of

the worker. The Third Emergent Concept - The interaction of the nurse of the work with the

staff of occupational health integrates the nurse of the work as a facilitator element of the

processes of work in the health of the worker. The Fourth Emergent Concept - The interaction

of the nurse of the work with the nursing and its attributes denotes the existence of certain

essential elements to the understanding of the nursing as area of known - the worker, the

nursing of the work and taking care of as object of action of the nurse of the work. We

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conclude, that for the nurses of the work, the assistance of nursing in the health of the worker

is that one given to the individual or group of individuals, integrants and participants of the

processes of production of benefits and services of the companies or organizations,

characterized for acts and operations of predominantly preventive nature, in the direction of

preventing damages to the health and the life of the workers, decurrent of environment

factors, the nature of the activity itself and of the behaviors, habits and style of life of the

worker.

Keywords: Nursing of the Work. Worker‟s Health. Symbolic Interacionism. Assistencial

Nursing.

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RESUMEN

INTERACCIONES DEL ENFERMERO DE TRABAJO CON LA SALUD DEL

TRABAJADOR EM EL ÁMBITO DE LA PRÁCTICA Y ASISTENCIA DE

ENFERMERÍA

Sergio Lima da Silva

Asesora: Profª. Drª. Vilma de Carvalho

Resumen de la Tesis de Doctorado sometida al Programa de Pos graduación en

Enfermería, Escuela de Enfermería Anna Nery de la Universidad Federal de Río de Janeiro -

UFRJ, como parte de los requisitos necesarios para obtener el título de Doctor en Enfermería.

Se trata de un estudio sobre las interacciones de los enfermeros del trabajo con el ambiente

social de la asistencia de enfermería unida a la salud del trabajador. El objetivo principal es

describir el sentido de la asistencia de enfermería para la salud del trabajador, a partir del

punto de vista cotidiano de la realidad del enfermero del trabajo, que transcurre de su

interacción subjetiva con el ambiente social de la pragmática asistencial, destacando los

objetos sociales y los símbolos significantes presentes en esas interacciones. El abordaje del

interaccionismo simbólico de Blumer fue adoptada como referencial teórico-metodológico

para la presentación, discusión y análisis de los datos. Fueron entrevistados dieciocho

enfermeros del trabajo que actúan en servicios de salud del trabajador, de empresas

localizadas en el Estado de Río de Janeiro, en los meses de agosto y septiembre de 2004.

Para colecta de los datos se utilizo una guía de entrevista semi estructurada. Por los datos

encontrados fueron definidas las interacciones profesionales, que culminaron en cuatro

conceptos que emergen del cotidiano asistencial de los enfermeros del trabajo, en la realidad

asistencial de los enfermeros del trabajo, en la realidad de la asistencia de enfermería: El

Primer Concepto que emergió - La interacción del enfermero del trabajo con la profesión

sucede en el propio "modo de actuar profesional" del enfermero del trabajo, en su campo de

práctica social, local entendido donde las acciones específicas suceden o se manifiestan. El

Segundo Concepto que emergió – El ambiente social reúne elementos significativos con los

cuales el enfermero del trabajo interactúa y da un rumbo a sus acciones en la atención de

salud del trabajador. El Tercer Concepto que emergió – La interacción del enfermero del

trabajo con el equipo de salud ocupacional integra al enfermero del trabajo como un elemento

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que facilita los procesos de trabajo en la salud del trabajador. El Cuarto Concepto que

emergió - La interacción del enfermero del trabajo con la enfermería y sus atributos denota la

existencia de ciertos elementos esenciales al entendimiento de la enfermería como área de

saber; son ellos: el trabajador, la enfermería del trabajo y, el cuidado como objeto de acción

del enfermero del trabajo. Concluimos que para los enfermeros del trabajo, asistencia de

enfermería en la salud del trabajador es aquella dada al individuo o grupo de individuos,

integrantes y participantes de los procesos de producción de bienes y servicios de las

empresas o organizaciones, caracterizada por actos y operaciones de naturaleza

predominantemente preventiva, en el sentido de evitar daños para la salud y la vida de los

trabajadores, que transcurren de factores ambientales, de la naturaleza de la propia actividad y

de los comportamientos, hábitos y estilo de vida del trabajador.

Palabras claves: Enfermería del trabajo, salud del trabajador, interaccionismo simbólico,

asistencia de enfermería.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 15

1.1. Uma Breve Explicação sobre o Estudo 15

1.2. Da tese 16

1.3. Sobre a Temática/Problemática 17

1.4. Objeto do Estudo 22

1.4. Questões Norteadoras 24

1.5. Objetivos 24

2 DESENVOLVIMENTO / SISTEMÁTICA E LÓGICA DA PESQUISA 25

2.1. Enquadramento Teórico e Ponto de Apoio Principal 25

2.2. Um Breve Histórico da Enfermagem do Trabalho 25

2.3. Enfermagem do Trabalho no Brasil 27

2.4. Da Especialidade Enfermagem do Trabalho 28

3 REFERENCIAL TEÓRICO E ABORDAGEM METODOLÓGICA 36

3.1. Sobre a Escolha Preferencial 36

3.2. Interacionismo Simbólico 38

3.3. Aspectos Metodológicos do Interacionismo Simbólico 41

3.4. Procedimentos Metodológicos 42

4 APRECIAÇÃO / INTERPRETAÇÃO ANALÍTICA DOS DADOS 64

5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 98

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 113

REFERÊNCIAS 119

OUTRAS OBRAS CONSULTADAS 122

APÊNDICES

Apêndice A - Roteiro de Entrevista 124

Apêndice B - Roteiro de Entrevista (Revisado) 125

Apêndice C - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido 126

Apêndice D - Carta ao Comitê de Ética 127

Apêndice E - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - Esclarecimento 128

Apêndice F - Termo de Compromisso. 129

ANEXO

Anexo A - Parecer do Comitê de Ética em Pesquisa da EEAN/UFRJ 130

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1 INTRODUÇÃO

1.1 Uma Breve Explicação sobre o Estudo

Durante nossa trajetória profissional, tivemos oportunidades de atuar em diversas

áreas da enfermagem (assistencial-hospitalar, saúde pública, ensino e pesquisa) e, então, por

último, optamos pela área de assistência à saúde do trabalhador, setor da enfermagem de

saúde pública, onde executamos atividades há mais de dez anos. Sempre tivemos a impressão

de que a assistência de enfermagem e a prática dos enfermeiros parecem deter certas

distinções, independentemente das diferentes formas de atuação dos próprios em diferentes

cenários da prática profissional. Contudo, mesmo de forma empírica, mantivemos a

impressão de que as distinções, manifestas ou não, poderiam estar assegurando um modo de

agir peculiar dos enfermeiros.

Com base em conjecturas e reflexões, e a partir do entendimento de que a enfermagem

se constitui em uma prática social, percebemos que as distinções estariam aliadas (talvez) ao

sentido legal e normativo da assistência de enfermagem, o que sustentava, para o enfermeiro,

condições para suas concepções sobre o saber e o modo de agir da enfermagem advindas da

própria prática e de suas interações com o ambiente social da saúde. Interessamo-nos, então,

pela temática das interações do enfermeiro com o mundo social das práticas da enfermagem,

como uma forma de alcançar melhor entendimento do sentido da assistência de enfermagem,

compreendendo que este estudo possa contribuir para clarear alguns pontos críticos da prática

profissional. Assim, o tema desta tese tem a ver com a necessidade de se encontrar respostas

consistentes e coerentes com a prática da assistência de enfermagem na saúde do trabalhador.

Com isso, pensamos que será possível contribuir para a construção de conhecimentos

pertinentes à enfermagem e à saúde do trabalhador.

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Todavia, cabe destacar que a situação real no cotidiano da assistência de enfermagem,

no âmbito da saúde do trabalhador, e em relação à assistência à saúde das pessoas que

trabalham, não se distancia muito da assistência de enfermagem num plano mais geral, pelo

fato de que o saber da enfermagem dá certa sustentabilidade ou apoio às concepções acerca

das situações de saúde das pessoas e dos grupos humanos; no caso de nosso interesse

particular, o grupo dos trabalhadores.

Pensamos que o saber da enfermagem no campo da saúde do trabalhador merece uma

investigação condizente com o agir dos enfermeiros. Entretanto, precisamos de uma

investigação acurada sobre a interpretação que os enfermeiros dão à assistência de

enfermagem na saúde do trabalhador levando em conta suas elaborações conceituais no

âmbito do cotidiano assistencial, o que possibilitará uma aproximação da realidade prática.

Ou seja, uma investigação das concepções cotidianas da realidade da assistência de

enfermagem à saúde do trabalhador, podendo esta se constituir em uma contribuição ao

referencial teórico a ser utilizado pelos enfermeiros do trabalho.

Neste sentido, pretendemos destacar o significado da assistência de enfermagem a

partir de uma investigação acerca das interações do enfermeiro do trabalho com a assistência

de enfermagem aliada à saúde do trabalhador, considerando suas elaborações conceituais

cotidianas, e como compatíveis com suas interpretações sobre essa realidade.

Com base nessas interpretações, a intenção principal é apresentar proposições

explicativas sobre assistência de enfermagem na saúde do trabalhador tendo os achados como

pedra angular na construção do conhecimento produzido.

1.2. Da tese

A tese tem como propósito demonstrar que os modos de agir profissional do

enfermeiro do trabalho constituem-se e são constituídos de objetos sociais e símbolos

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significantes presentes nas suas interações com o ambiente social da pragmática assistencial

desenvolvida na área da saúde do trabalhador. O caráter dos objetos sociais e dos símbolos

significantes destacados destas interações é que dão um sentido distinto à assistência de

enfermagem prestada na área da saúde do trabalhador em relação à assistência de enfermagem

prestada em outras áreas.

1.3 Sobre a Temática/Problemática

A saúde dos trabalhadores tem sido foco de preocupação, discussão e investigação de

toda a sociedade. As condições de trabalho na vida dos trabalhadores trazem significativos

impactos ou repercussões nos aspectos político, econômico e social da população. Essas

repercussões podem até mesmo traduzir o grau de desenvolvimento de uma nação (MENDES,

2003).

Embora as questões relativas aos impactos do trabalho sobre a saúde e desta sobre

aquele tenham sido levantadas desde Hipócrates (460-375 a.C.), foi apenas em 1700, na Itália,

que surge a clássica obra do médico Bernardino Ramazzini, o livro "De Morbis Artificum

Diatriba" (As doenças dos trabalhadores). Nessa obra, Ramazzini descreve uma série de

doenças diretamente relacionadas com cinqüenta profissões diversas (CARVALHO, 2001).

Desde esse marco histórico, a busca de conhecimentos sobre a relação saúde-trabalho tornou-

se um desafio, culminando com o surgimento de novos saberes aplicáveis a este contexto, e o

conhecimento produzido vem subsidiando a sociedade sobre as formas de compreender essa

realidade, gerando também ocasião para os desenvolvimentos tecnológico, científico e social.

Os conhecimentos sobre a saúde do trabalhador, riscos do ambiente de trabalho,

doenças ocupacionais, acidentes de trabalho, dentre outros temas de interesse para a área,

geraram o surgimento de novos atores sociais, no que diz respeito à assistência à saúde dos

trabalhadores.

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Diante de tantos fatores que contribuíram para o comprometimento da saúde do

trabalhador, destacam-se as condições de trabalho, as cargas horárias excessivas, o desgaste

físico e mental, a fadiga e uma diversidade de doenças relacionadas à natureza do próprio

trabalho, bem como se ressaltam as doenças de natureza endêmica e epidêmica que também

afetam os trabalhadores. Porém, a constatação apenas destes fatores não representava uma

solução efetiva para o problema (ZEITOUNE, 1990).

A sociedade clamava por medidas e soluções que minimizassem os riscos das

populações adoecerem e morrerem em decorrência das atividades laborativas. Essas medidas

e soluções implicariam no surgimento de outras ciências além das tradicionalmente

vinculadas à problemática em causa, na tentativa de dar respostas a esses anseios da sociedade

(MENDES, 2003). Dentre essas ciências estão a saúde ocupacional, a medicina do trabalho e

a saúde do trabalhador. Aliada a estas, outras áreas de conhecimento, surgem como a higiene

industrial, a segurança do trabalho e a enfermagem do trabalho (BULHÕES, 1986).

As novas áreas se viram impelidas a buscar respostas a uma série de demandas

advindas do mundo do trabalho, em especial as relativas à saúde do homem trabalhador e que

iriam compor o escopo de atenção e preocupação dos profissionais da saúde envolvidos na

aplicação de técnicas e tecnologias ao mundo do trabalho.

Por tratar-se de questão de elevada repercussão social, os órgãos internacionais (OIT,

OMS) dão início à elaboração de resoluções e recomendações para disciplinar a matéria.

Com isso, constata-se que o conhecimento desenvolvido, até então, estaria talvez um tanto

aquém da realidade de sua aplicação pelos profissionais, sobretudo no que concerne às

práticas assistenciais (OIT, 1998).

Entretanto, se o conhecimento sobre a saúde do trabalhador, por si só, vem

sustentando essa prática social de assistência à saúde, ou se as interações dos profissionais de

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saúde, em especial os profissionais de enfermagem, são geradoras de novos conhecimentos,

cabe refletir, pois no dizer de Zeitoune (1990, p. 26):

Subsiste ainda, na prática da enfermagem, grande distância entre o saber

teórico e prático. Quando tentamos avaliar os padrões vigentes de

assistência de enfermagem em termos de preparo de pessoal e produção de

saber científico, verificamos de um modo geral que muito mais precisa ser

acrescido.

Neste sentido, a enfermagem, como área de conhecimento aplicável a diversos

cenários da assistência à saúde, segue sua trajetória evolutiva na busca de consolidação da sua

cientificidade. É neste ponto que surgem questões de caráter epistemológico que nos

remetem a perguntar: Será que a investigação dos atributos da enfermagem, tomando

como base as suas diversas áreas de aplicação, não estaria demarcando o seu status de

cientificidade? Estariam os cenários práticos influenciando, ou contribuindo, para evidenciar

novos atributos favoráveis à enfermagem como ciência em si ?

O conhecimento de enfermagem advindo da prática na saúde do trabalhador, por certo

concorre com o desenvolvimento da saúde ocupacional. Entretanto, em nosso país, podemos

destacar alguns autores que vêm se dedicando a esse tema e que, de certa forma, demonstram

uma evolutiva, se não em termos epistemológicos, pelo menos em termos da ênfase ou

enfoque dado à produção científica.

Bulhões (1986), em sua obra intitulada "Enfermagem do Trabalho - vol.2", apresenta-

nos uma discussão sobre Enfermagem do Trabalho, descrevendo suas características

fundamentais, seu desenvolvimento histórico, suas perspectivas e possibilidades; e sua

inserção social no contexto da saúde do trabalhador. Embora a autora tenha tomado como

base algumas experiências com a assistência à saúde dos trabalhadores nas áreas fabris,

enfatizando a proteção dos riscos ambientais, a prevenção de acidentes e doenças, sua idéia

acerca da constituição da assistência de enfermagem conotava um caráter preditivo e

prescritivo. Contudo, as ações de enfermagem indicadas, na obra, ainda não se traduziam em

ações aplicáveis a todas as empresas que mantinham serviços de saúde ocupacional. E

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mesmo as grandes empresas que tinham, em sua estrutura, o enfermeiro do trabalho, pouco

referiam sobre as atribuições e funções que lhes eram pertinentes.

Um aspecto interessante sobre a enfermagem do trabalho, no Brasil, é o surgimento

dela como uma especialização formalizada no âmbito acadêmico, por força da legislação do

Ministério do Trabalho; portanto, por força de lei, conforme Portaria MT nº 3260/72

(BRASIL, 1972). Isto nos acarreta algumas dúvidas. Ou seja, ao longo dos anos que

antecederam a determinação legal da especialidade de enfermagem do trabalho, teriam os

enfermeiros realizado reflexões sobre sua prática nessa área de aplicação do trabalho de

enfermagem? Não estaria a enfermagem do trabalho, por força desses mecanismos legais,

reproduzindo o modelo biomédico de assistir ao trabalhador? Não estariam as atividades

propostas à enfermagem, nessa área, direcionadas apenas ao individual e não no coletivo?

Não estariam as ações de enfermagem priorizando as doenças e riscos de adoecer e não a

saúde ou promoção da saúde? Quais, dentre as atividades preconizadas para a área, estariam

efetivamente ligadas ao fazer legítimo e essencial da enfermagem?

Tratando dessas questões, Zeitoune (1990) resolve investigar as atividades

desenvolvidas pelos enfermeiros do trabalho em áreas de atuação desse profissional nas

empresas. A autora destaca que a enfermagem do trabalho tem atuação nas áreas

administrativa, assistencial, educação, de ensino e pesquisa. Mas, identifica distorções quanto

à assistência à saúde realizada nos níveis de prevenção primária, secundária e terciária. E

ressalta que "...a carência da formação [...] pode estar interferindo na concepção e na ação

profissional dos enfermeiros do trabalho" (ZEITOUNE, 1990, p. 93).

Encontramo-nos diante de uma etapa da enfermagem do trabalho, onde para saber as

funções, competências e atribuições do enfermeiro do trabalho, foi preciso buscar uma

Grifo dos autores.

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descrição mais concreta para o agir do enfermeiro na forma de atribuições bem delimitadas e

pertinentes à enfermagem.

Diversos estudos foram desenvolvidos ao longo dos trinta anos da enfermagem como

especialização. Na sua maioria, estudos sobre riscos ocupacionais aos quais os trabalhadores

estavam expostos físicos, químicos, biológicos, ergonômicos, etc (BULHÕES, 1986;

ZEITOUNE, 1990; SILVA, 2000; CARVALHO, 2001).

Até este ponto, deparamo-nos com certas aproximações entre o que se entende como

enfermagem do trabalho e o modo de agir profissional dos enfermeiros, incluídos os atributos

relativos à prática. Surgem, então, novas questões: Estaria o fazer/ profissional atrelado

apenas ao cumprimento de designações legais e normativas? As atividades da enfermagem

distinguem-se de outras das demais profissões por sua essência enquanto área de saber? As

interações sucedidas no ambiente social da assistência de enfermagem, na saúde do

trabalhador, estariam enriquecidas de novos significados para o agir da enfermagem,

agregando talvez outros sentidos a seus atributos?

Do ângulo dessas questões, o "modo de agir" no interesse da enfermagem remete à

reflexão do pensamento sobre si mesmo em que pese as interações entre seus atores (os

profissionais de enfermagem) e a realidade da assistência de enfermagem. Tal pensamento

surge como construído ou constituído dentro de uma evolutiva epistemológica, a partir das

teorias ou proposições teóricas e pelo próprio sentido da prática da enfermagem nos campos

da assistência, do ensino e da pesquisa de enfermagem.

Tomando-se como princípio que o conhecimento se processa na tentativa da

apreensão do objeto pelo sujeito que o analisa, o interpreta dando-lhe significado (HESSEN,

1987), entendemos que o grande desafio, para a enfermagem como área de conhecimento, é

buscar compreender a natureza ontológica e epistemológica do objeto do pensamento sobre

enfermagem, e tal como manifestado no agir dos seus sujeitos profissionais. Razão porque

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este estudo das interações da enfermagem em uma específica área de atuação profissional –

atuação em âmbito de prática setorizada -, caso particular da assistência de enfermagem à

saúde do trabalhador, torna-se urgente e necessário como contribuição à trajetória de

consolidação da enfermagem como ciência. E levamos em conta o dizer de George (1993, p.

19) ao enfatizar que "é no campo da prática que se encontram, possivelmente, os elementos

fundamentais que se constituem em concepções teóricas, mediante as experiências dos

sujeitos sobre uma dada realidade".

Assim, a motivação primordial para o estudo da temática e problemática da tese

radica-se nas interações dos sujeitos entre si, deles com o seu ambiente de trabalho, a partir de

suas concepções cotidianas da realidade das quais derivam significados, justificando a busca

do sentido dado à assistência de enfermagem, como forma de aproximação da sua natureza.

Desta forma,

a observação sistemática da enfermagem e de sua prática nos diversos

cenários, áreas do saber e setores específicos, que ela se configura como

algo a ser conhecido e explorado é passível de gerar novos conhecimentos e

tecnologia, a partir da sua relação e inter-relação com outras áreas do saber e

da ciência. É preciso submeter a uma profunda reflexão os desafios

inerentes à compreensão da enfermagem, a qual, ainda não dispõe de um

estatuto epistemológico, universalmente reconhecido (CARVALHO,

2001, p. 36).

Investigar o sentido da assistência de enfermagem na saúde do trabalhador, a partir das

concepções cotidianas dos enfermeiros do trabalho, um sentido que pode surgir não para dar

uma distinção exclusiva para essa área, mas principalmente para contribuir com o avanço da

enfermagem como ciência em construção.

1.4 Objeto do Estudo

Neste sentido, esta tese tem como objeto de estudo, as interações do enfermeiro do

trabalho com a assistência de enfermagem na saúde do trabalhador, esta entendida como

o campo de prática social.

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Cabem aqui algumas considerações sobre este objeto de estudo.

As interações sociais comportam muitos símbolos e significados que se expressam no

modo de agir do grupo social. Blumer (1986), ao destacar as premissas do interacionismo

simbólico, enfatiza que os seres humanos agem em relação às coisas1 com base nos

significados que as coisas têm para eles. O significado de tais coisas é derivado de ou

origina-se da interação social que alguém tem com o outro. Esses significados são manejados

e modificados através de um processo interpretativo usado pelas pessoas ao lidar com as

coisas que elas encontram.

Nesse caso, cumpre salientar que as interações sociais demarcam, dentro de uma

perspectiva ontológica que o caráter fundamental do mundo social está embutido em uma rede

de significados subjetivos que sustentam e norteiam as ações profissionais que lhes

emprestam forma duradoura (MENDONÇA, 1999).

O estudo das interações dos enfermeiros nas diversas áreas de atuação da assistência

de enfermagem enseja a possibilidade de identificar e compreender os símbolos e os

significados que norteiam os modos do agir profissional. Com isso, poderemos nos

aproximar, cada vez mais, da realidade da "Enfermagem", mediante aspectos de seu saber e

de sua prática, uma vez que, num plano de construção de conhecimento, a profissão vem

buscando consolidar novas abordagens a fim de se aproximar do sentido da assistência

enquanto prática social.

Então, nesta tese, o objeto - “interações do enfermeiro do trabalho com a assistência de

enfermagem na saúde do trabalhador”-, constitui-se em proveito de uma contribuição à

trajetória do crescimento da enfermagem como ciência.

1 Coisas: tudo que o ser humano possa notar em seu mundo de objetos físicos, categorias de seres humanos,

idéias, guias; atividades de outros (BLUMER, 1986, p. 2).

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1.4 Questões Norteadoras

Se, como pensamos, a assistência de enfermagem formalizada para a saúde do

trabalhador detém certa distinção em relação às demais áreas de atuação da enfermagem, vale

a pena levantar algumas questões:

O sentido da assistência de enfermagem na saúde do trabalhador difere,

distintamente, da assistência prestada formalmente em qualquer área da assistência

à saúde?

As elaborações conceituais dos enfermeiros do trabalho podem contribuir para

explicações substantivas para a prática assistencial?

1.5 Objetivos

Descrever o sentido da assistência de enfermagem na saúde do trabalhador como

percebido pelos enfermeiros do trabalho e no que concerne às próprias elaborações

conceituais e interações subjetivas no espaço da pragmática assistencial.

Analisar os objetos sociais e os símbolos significantes destacados pelos

enfermeiros do trabalho em relação às interações decorrentes de atos e operações

(agir/ação) de prestar cuidados na assistência de enfermagem na saúde do

trabalhador.

Discutir as respostas à saúde do trabalhador a partir dos objetos sociais destacados

pelos enfermeiros do trabalho, à luz de princípios do interacionismo simbólico.

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2 DESENVOLVIMENTO / SISTEMÁTICA E LÓGICA DA PESQUISA

2.1 Enquadramento Teórico e Ponto de Apoio Principal

O estudo das interações sociais pressupõe o estabelecimento de ambiente e de

características elementares do grupo social. Alguns conceitos são de fundamental

importância para a compreensão do assunto aqui abordado, como os conceitos sobre a

enfermagem do trabalho, o enfermeiro do trabalho, a saúde do trabalhador e a assistência de

enfermagem neste cenário, conceitos definidos mais adiante.

Para tanto, toma-se como referência de apoio, a obra "Enfermagem do Trabalho"

(BULHÕES, 1986), na qual identificamos alguns pilares de sustentação para a análise dos

dados e discussão dos resultados, ou seja, para a compreensão da assistência de enfermagem

na saúde do trabalhador e definição da situação da enfermagem do trabalho.

2.2 Um Breve Histórico da Enfermagem do Trabalho

Não há pretensão de estabelecer, aqui, uma cronologia histórica rigorosa para a

enfermagem do trabalho. A idéia é destacar alguns fatos com o propósito de favorecer a

compreensão sobre a assistência de enfermagem na saúde do trabalhador.

Estando a enfermagem do trabalho atrelada à atenção dada à saúde do trabalhador no

próprio ambiente laboral, o primeiro título de enfermeira do trabalho coube a Phillipa

Flowerday, da Coleman Mustard Company, no Reino Unido em 1878, uma vez que suas

ações dirigiam-se aos trabalhadores na fábrica, bem como nas suas residências (BABBITZ

apud ZEITOUNE, 1990).

Alguns autores referem que o enfermeiro do trabalho age como gerente do serviço de

saúde porque desenvolve uma prática autônoma, automotivada e autodirigida, e compete-lhe

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fazer levantamento das necessidades de saúde da companhia e dos trabalhadores,

desenvolvendo e implementando um programa de saúde que forneça "cuidados médicos

eficientes e baratos".

Esta proposição destaca dois focos de interação significativa do enfermeiro. O

primeiro com a empresa (companhia) e o segundo com os trabalhadores. Entretanto, a ação

do enfermeiro parece estar aliada ao modelo reducionista médico, devido ao termo "cuidados

médicos eficientes e baratos".

No Reino Unido da Grã-Bretanha, desde 1934, o Royal College of Nursing - RCN

realiza cursos para enfermeiros da indústria e, após a reunião do Comitê OIT/OMS sobre

saúde ocupacional, em 1952, o curso tornou-se mais abrangente destinando-se à enfermagem

para a saúde dos trabalhadores, onde quer que estes se encontrassem (BULHÕES, 1986).

Nestes cursos, além de conhecimentos relativos a diversas áreas, destacam-se os conteúdos de

conhecimentos da enfermagem visando os objetivos da saúde ocupacional, dentre outros.

Na França, o enfermeiro do trabalho passa a ter presença obrigatória nos serviços de

saúde ocupacional, desde 1946. A assistência à saúde ocupacional é toda voltada para

promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, exceto para os casos de urgência. A

legislação francesa assegura aos trabalhadores a presença de pelo menos um enfermeiro do

trabalho durante todos os horários de funcionamento da indústria. Ele desenvolve ações de

natureza essencialmente preventivas e sociais, sendo raras as ações terapêuticas, que só se

aplicam em casos de emergência e alguns poucos tratamentos realizados na empresa

(BULHÕES, 1986). Dois aspectos se destacam nos cursos de formação – pós-graduação –

para os enfermeiros do trabalho: a ênfase na educação em saúde e os aspectos legais.

Em 1942, é fundada, nos Estados Unidos da América (USA), a Associação Americana

de Enfermeiros de Saúde Ocupacional (American Association of Occupational Health Nurses

- AAOHN), inicialmente denominada de Associação Americana de Enfermeiros da Indústria

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(AAIN). Esse órgão é o principal realizador dos programas de educação continuada,

disponibilizados para a categoria, além de promover encontros profissionais.

A AAOHN assim definiu o enfermeiro do trabalho:

É o enfermeiro empregado por uma empresa, indústria ou organização, com

o objetivo de promover, conservar e recuperar a saúde dos trabalhadores.

Cabe a ele desenvolver programas de prevenção das doenças ocupacionais e

dos acidentes do trabalho... (BULHÕES, 1986, p. 103).

Na Holanda, em 1946, os enfermeiros que trabalhavam em postos de primeiros

socorros de grandes empresas criaram a Associação Holandesa de Enfermeiros do Trabalho, a

qual vem promovendo conclaves científicos, com grande participação dos associados. Os

primeiros cursos de saúde ocupacional para enfermeiros foram realizados em 1960,

apresentando como destaque, no conteúdo desses cursos, disciplinas ligadas à deontologia em

enfermagem do trabalho e detalhamento das atividades de enfermagem nos exames de saúde

dos trabalhadores, tornando-se obrigatória a necessidade da confecção de uma monografia

sobre enfermagem do trabalho.

Em 1980, na Suécia, os enfermeiros do trabalho integram a equipe de saúde

ocupacional, e seu trabalho desenvolve-se em estreita relação com o engenheiro de segurança.

As visitas aos locais de trabalho são regularmente realizadas pelos dois, em conjunto, para

observação das condições de trabalho. Isto evidenciou a interação do enfermeiro do trabalho

com os demais elementos da equipe de saúde e segurança do trabalho.

2.3 Enfermagem do Trabalho no Brasil

A enfermagem do trabalho, no Brasil, teve seu marco histórico anos depois do

ingresso dos enfermeiros em outros países do mundo. Com efeito, há mais de quarenta anos,

algumas empresas de capital misto já traziam consigo a filosofia de saúde ocupacional e

incluíam o enfermeiro na equipe de saúde nas indústrias (ZEITOUNE, 1990).

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No período que antecedeu a legislação que tornou a enfermagem do trabalho uma

especialidade, compreendido desde 1953 a 1972, contávamos com a presença da enfermagem

em empresas de diversos campos de atividade em alguns estados da federação, dentre eles:

Rio de Janeiro, Amapá, São Paulo e Minas Gerais. Empresas ligadas à fabricação de cimento,

indústrias de minério, produção agrícola e petrolífera. E atribui-se à enfermeira Delzuite de

Souza Cordeiro ser a precursora da enfermagem do trabalho no Brasil (BULHOES, 1986).

Nessa fase que antecedeu à especialização da enfermagem, foi ela a responsável pelo

planejamento, organização e implantação dos serviços de enfermagem do trabalho, sobretudo

nas empresas de mineração (BULHÕES, 1986; ZEITOUNE, 1990; MAURO, 1998). Além

das experiências vivenciadas, na prática, Cordeiro in Mauro apud Zeitoune (1990) relata a

presença de enfermeiras na Petrobrás desde 1953, na Esso Brasileira de Petróleo, na

Companhia Siderúrgica Nacional (RJ) e em outras empresas no Estado de São Paulo.

2.4. Da Especialidade Enfermagem do Trabalho

As práticas da enfermagem nas empresas, antes da consagração da enfermagem do

trabalho como especialidade, radicam-se nos conhecimentos das suas precursoras em saúde

pública. É desta área de conhecimento, saúde pública, que a enfermagem do trabalho buscou

intensificar as suas práticas, nesse grupo específico, o grupo dos trabalhadores (BULHÕES,

1986; CARVALHO, 2001).

Bulhões (1986) destaca que Delzuite de Souza Cordeiro era enfermeira sanitarista,

com experiência de mais de dez anos em serviços médicos de quatro diferentes empresas, na

década de 50 (século XX). Em 1957, foi designada enfermeira-chefe do Departamento de

Enfermagem da Divisão de Saúde de uma indústria extrativa de minérios, no Amapá, onde

realizou excelente trabalho de enfermeira da saúde pública e de administração hospitalar. No

tocante à saúde pública, os serviços de saúde desenvolvidos pelas enfermeiras nessas

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empresas, chefiadas por Delzuite, estavam mais voltados para prestar assistência às famílias

dos trabalhadores que propriamente a estes.

As enfermeiras possuíam especialização em saúde pública e obstétrica,

trabalhavam com amor, sem horário, fazendo partos, visitas domiciliares às

famílias dos empregados, vacinando as crianças e prestando cuidados de

enfermagem aos doentes internados no hospital da empresa (DELZUITE,

1980 apud BULHÕES, 1986, p. 117).

Na administração, sua contribuição foi a elaboração do "Manual de Enfermagem"

dedicado pela Indústria e Comércio de Minérios - ICOMI às enfermeiras do Brasil, em 1963.

Contudo, embora este manual tenha sido elaborado tendo como cenário uma indústria de

minérios (ICOMI), no entender de Bulhões (1986, p. 187):

através dos 143 itens tratados no manual e relativos às considerações,

atribuições dos integrantes da equipe de enfermagem hospitalar e de saúde

pública, normas de serviço, técnicas de enfermagem (no hospital, berçário,

isolamento e saúde pública), bem como educação em serviço, percebe-se a

ausência de ações específicas de saúde ocupacional.

De certa forma, Bulhões refere-se as discussões sobre as ações e as práticas (dessa e

de outras precursoras) da enfermagem do trabalho, como subsídios às exigências políticas,

econômicas e sociais relacionados às questões da saúde do trabalhador em nosso país.

Assim, a enfermagem do trabalho como especialidade surge no Brasil na década de

1970, tendo como eixo de sua trajetória muitas discussões sobre a prática assistencial que

concorria com o avanço da legislação relativa à proteção à saúde e segurança dos

trabalhadores, decorrentes da situação política da época, que visava minimizar os impactos

dos acidentes do trabalho e doenças ocupacionais na economia do país (MENDES, 2003).

Zeitoune (1990, p. 23) interpreta que, nesse processo de discussões,

(...) tivemos a participação efetiva do Departamento de Enfermagem de

Saúde Pública da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN), com destaque

para a pessoa da Professora Isabel da Cunha Dantas, na chefia e liderança

desse departamento, e da representante da Associação Brasileira de

Enfermagem (ABEn-RJ), sob a presidência da Professora Elvira De Felice

Souza. Em 1971, no III Encontro Nacional de Saúde do Trabalho e 30º

Aniversário da Associação de Prevenção de Acidentes, a EEAN/UFRJ foi

convidada a participar do encontro. Três professoras do departamento acima

referido apresentaram pesquisa realizada sobre a enfermagem nas indústrias

do Rio de Janeiro, levantando problemas relativos à prática da enfermagem

ocupacional.

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O primeiro curso de especialização em enfermagem do trabalho foi realizado pela

Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro, em 1974. A

legitimidade do curso é assegurada pela Portaria nº 3237/72, do Ministério do Trabalho, mas

que garantia apenas o acesso de técnicos e auxiliares de enfermagem para atuarem em

serviços médicos de empresas. Os enfermeiros, que já trabalhavam em serviços de saúde

ocupacional, e que inclusive contribuíam com a formação dos auxiliares de enfermagem,

colocam em discussão a não inclusão do enfermeiro do trabalho na equipe de saúde

ocupacional, levando à ABEn suas preocupações. Vale destacar, então, as providências

efetuadas por Maria da Consolação Cobra, enfermeira da Petrobrás, junto à Drª. Maria

Dolores Lins de Andrade, professora da Escola Anna Nery (BULHÕES, 1986).

Em decorrência desses esforços, é que surge, em 1975, a inclusão do enfermeiro do

trabalho como elemento legal obrigatório nas empresas a partir de três mil e quinhentos e um

empregados, através da Portaria do Ministério do Trabalho nº 3460 de 31 de dezembro de

1975. Com a homologação da lei que regulamenta o Exercício Profissional de Enfermagem -

Lei 7498/86 -, a obrigatoriedade do enfermeiro do trabalho prevista na referida portaria

passou a ser bastante questionada, visto que a lei do exercício profissional de enfermagem

define em seu artigo 15: a orientação e supervisão do técnico de enfermagem e do auxiliar de

enfermagem somente podem ser desempenhadas pelo enfermeiro (BRASIL, 1975, 1986)

Em 1978, o Ministério do Trabalho publica através da Portaria nº 3214, de 08 de junho

de 1978, as normas regulamentadoras relativas à medicina, higiene e segurança do trabalho,

como conseqüência das políticas voltadas para á área do trabalho. As normas

regulamentadoras – NR´s (Portaria Ministerial 3214/78), dentre uma série de recomendações

técnicas, estabelece a obrigatoriedade das empresas em constituírem o SESMT (Serviço

Especializado em Segurança e Medicina do Trabalho) e as categorias profissionais integrantes

desses serviços. São elas: médico do trabalho; engenheiro do trabalho; técnico de segurança

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do trabalho; enfermeiro do trabalho e o auxiliar de enfermagem do trabalho. Todos

necessitando de formação específica para atuarem nestes serviços.

As normas regulamentadoras (NR´s) dão um direcionamento para o desenvolvimento

das ações e obrigações das empresas. Em especial as ações relativas às medidas de prevenção,

controle e eliminação de riscos, inerentes ao trabalho e à proteção da saúde do trabalhador. As

NR‟s definem as atribuições e responsabilidades dos integrantes das equipes dos SESMT´s,

sem destacar as responsabilidades específicas de cada categoria profissional. Contudo, na

NR-4, que trata do dimensionamento da equipe de saúde ocupacional, manteve-se a limitação

da necessidade de enfermeiro do trabalho somente quando a empresa possuir mais de três mil

e quinhentos funcionários. Contrariando, inclusive, a lei do exercício profissional de

enfermagem (BRASIL, 1978).

É neste ponto que começam a surgir inquietações de importância para a área de

enfermagem. Diante das obrigações e responsabilidades da equipe dos SESMT´s, quais

seriam as atribuídas especificamente aos profissionais da enfermagem, em especial ao

enfermeiro do trabalho? Isto levou os pesquisadores de enfermagem a investigar e discutir

sobre esse tema produzindo conhecimentos que buscavam definir, de modo mais específico,

o fazer dos profissionais de enfermagem na área da saúde do trabalhador.

Os estudos realizados sobre o „fazer profissional‟ apontaram para um elenco de

atribuições e atividades específicas do enfermeiro do trabalho que possivelmente vêm

norteando, os currículos dos cursos de Especialização em Enfermagem do Trabalho ao longo

dos anos (BULHÕES, 1986; ZEITOUNE,1990; ANENT, 2000). Outro aspecto a considerar,

em relação à produção de conhecimento nesta área, foi a necessidade de investigar se as

atividades desenvolvidas pelos enfermeiros do trabalho nas empresas atendiam as

recomendações legais vigentes.

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A descrição do cargo, bem como das atribuições, foram descritas na Classificação

Brasileira de Ocupação – CBO, através do Ministério do Trabalho, desde 1982, sendo

revisada e atualizada em 2002. Nesta ultima versão (CBO /2002), podemos perceber uma

adequação das atribuições e atividades dos profissionais da área de enfermagem às

prerrogativas determinadas pela Lei do exercício da Enfermagem - Lei 7498/86. No que tange

às atividades privativas do enfermeiro, o destaque especial para o desenvolvimento de

programas específicos de promoção para saúde e a prevenção de acidentes ou agravos à saúde

de grupos específicos, onde se inclui o grupo dos trabalhadores.

Encontramos também, na Associação Nacional dos Enfermeiros do Trabalho –

ANENT2, a descrição das atribuições e responsabilidades profissionais do enfermeiro do

trabalho. Além de estabelecê-las, sugere-se um currículo mínimo para os cursos de formação

e especialização dos profissionais de enfermagem do trabalho.

Sendo assim, entendemos que “o fazer profissional” dos enfermeiros do trabalho,

dentro dessa ótica, poderia ser considerado como determinado e consagrado, levando-se em

conta o fato de estar prescrito através de dispositivos legais e normativos.

Portanto, a ênfase deste estudo não está no levantamento e destaque das atividades e

atribuições desenvolvidas pelos enfermeiros do trabalho, e sim nas atividades e nos

comportamentos que sustentam os modos do agir profissional na interação com o ambiente

social da assistência de enfermagem à saúde do trabalhador.

Independentemente das questões de caráter legal e normativo, pode-se verificar que a

assistência de enfermagem alia-se à saúde do trabalhador, não apenas com a visão do cuidado

do homem que trabalha, entendido como o homem que tem uma ocupação, mas no cuidado do

homem na sua relação com o seu trabalho em diversos aspectos.

2 Associação Nacional de Enfermeiros do Trabalho (ANENT). Criada em 1986, vem dando suporte científico e

cultural específicos para essa área de atuação, por meio de estudos no segmento da enfermagem do trabalho,

estimulando a criação de cursos de especialização, realizando intercâmbios com entidades congêneres, nacionais

e internacionais; promovendo e participando de atividades científicas inerentes e referentes à enfermagem do

trabalho, entre outros feitos.

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Nesse sentido, iremos apresentar alguns conceitos ou proposições de enfermeiros que

se ocuparam com o estudo da enfermagem do trabalho.

A Enfermagem do Trabalho

A enfermagem do trabalho é uma especialidade destinada ao cuidado

daquele que trabalha, portanto, preocupa-se com trabalhadores. Sua atenção

volta-se para os trabalhadores de todas as categorias e de todos os setores de

ocupação, onde quer que se encontrem (BULHÕES, 1986, p. 243).

Este conceito focaliza o trabalhador ativo [cliente], na sua interação com o processo de

trabalho e da assistência dos enfermeiros como elemento importante na produtividade da

empresa. O maior empreendimento do enfermeiro do trabalho está em contribuir para evitar

os acidentes e doenças, pela identificação e eliminação dos riscos existentes no ambiente de

trabalho.

O profissional de enfermagem identifica as necessidades e características

sócio-econômicas e culturais do núcleo comunitário ocupacional em que

está inserido. Esta inserção lhe permite tomar atitudes de mobilizar recursos

humanos, financeiros e materiais da comunidade para incrementar as

atividades preventivas e protecionistas [de proteção], elaborando

projetos/programas com potencialidades de êxito, no propósito de minimizar

os problemas de saúde vigente (TETI, 1997, p. 64-66).

Teti (1997) enfatiza as ações de saúde comunitária à saúde dos trabalhadores. Destaca

que as ações de saúde destinadas aos trabalhadores repercutem na sua família e na

comunidade em geral.

Mauro (1998, p. 32-34), partindo de uma visão de especialista, argumenta que

(...) O enfermeiro do trabalho assiste ao trabalhador de maneira integral. Ele

deve considerar o cenário em que a empresa se localiza, seu ambiente

interno, verificando questões como: ruído, processo de trabalho, matérias

primas utilizadas na produção e seus riscos para a saúde do trabalhador.

Deve considerar, também, o modo de vida dos trabalhadores, seus

problemas pessoais, bem como os que adquire da própria empresa. Com

base nessas informações, o enfermeiro do trabalho realiza o diagnóstico do

grupo de trabalhadores e desenvolve as suas ações, envolvendo programas

de saúde, educação para saúde, cuidados específicos de enfermagem,

melhoria da sua qualidade de vida e orientação à sua família.

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Silva (2000, p. 30) destaca que:

a identificação de fatores produtores de riscos à saúde do trabalhador, obtida

através de uma visão de totalidade, ou seja, de forma holística, favorece o

desenvolvimento do planejamento e implementação da assistência de

enfermagem, destinada à saúde dos trabalhadores, de forma mais

globalizada, integralizada e contextualizada com a realidade.

Tanto Mauro (1998) quanto Silva (2000) destacam, em suas proposições teóricas, a

interação da assistência de enfermagem à concepção do indivíduo trabalhador. Para ambos os

autores, o trabalhador deve ser visto de forma total, integral - holística.

Para Carvalho (2001, p. 25), a enfermagem do trabalho é

um ramo da enfermagem de saúde pública e, como tal, utiliza os mesmos

métodos e técnicas empregados na saúde pública visando a promoção da

saúde do trabalhador; proteção contra os riscos decorrentes de suas

atividades laborais; proteção contra agentes químicos, físicos, biológicos e

psicossociais; manutenção de sua saúde no mais alto grau de bem-estar

físico e mental e recuperação de lesões, doenças ocupacionais ou não

ocupacionais e sua reabilitação para o trabalho.

Este conceito demonstra que as ações de enfermagem se configuram em medidas de

alcance coletivo e de caráter motivacional, embora os trabalhadores, vistos no coletivo,

possuam certas características peculiares que também influenciam sua saúde.

Pensamos que tais conceitos e proposições, além de apoiar uma breve retrospectiva

sobre a enfermagem do trabalho, podem nos facultar a melhor compreensão sobre as

interações dos enfermeiros do trabalho com a sua prática assistencial.

Mas, tenha-se em consideração que a enfermagem do trabalho, como uma

especialidade legalmente instituída, no Brasil, tem somente trinta anos. Sendo que a inclusão

do enfermeiro na equipe de saúde ocupacional só se deu, em 1975, com a Portaria nº 3460/75

do Ministério do Trabalho (BRASIL, 1975). E no que tange às pesquisas e à produção

científica em área de conhecimento ainda há muito caminho a percorrer.

Particularmente, quanto à produção de conhecimento na área, reconhecemos em

Bulhões (1986) o ponto de partida para as discussões desta tese.

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Em sua obra, Bulhões (1986) apresenta proposições e explicações que demarcam o

início da trajetória evolutiva da enfermagem do trabalho. Essa autora demonstra, através da

descrição de suas experiências e de suas proposições, uma explicativa para a prática da

enfermagem do trabalho, sob os pontos de vista técnico, profissional, ético, pedagógico e

científico. Razão suficiente, a nosso ver, para adotar essa autora como referência de apoio

para a interpretação de nossos achados no que diz respeito aos aspectos específicos da

enfermagem do trabalho.

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3 REFERENCIAL TEÓRICO E ABORDAGEM METODOLÓGICA

3.1 Sobre a Escolha Preferencial

As interações do enfermeiro do trabalho com a saúde do trabalhador, entendidas no

campo da enfermagem como prática social, se constituiu no objeto desta tese. Busca-se,

através do estudo dessas interações, identificar os objetos sociais e símbolos significantes e os

significados atribuídos pelos sujeitos pesquisados (enfermeiros do trabalho) à estes elementos

que norteiam e dão sentido às ações/operações inerentes ao processo de trabalho. Nosso

interesse foi o de apreender dos sujeitos, suas concepções cotidianas sobre a realidade da

assistência de enfermagem como percebida na área da saúde do trabalhador.

Nossa intenção investigativa visava buscar uma aproximação da realidade da

enfermagem na área, o que, por suposto, levaria ao sentido da assistência de enfermagem à

área da saúde do trabalhador, obtido pela análise dos significados, atribuídos pelos

enfermeiros do trabalho, aos objetos sociais decorrentes das suas interações com o seu

ambiente de prática assistencial.

Para assegurar maior clareza ao objeto de estudo, - as interações do enfermeiro do

trabalho com a assistência de enfermagem na saúde do trabalhador -, efetuamos um exercício

de reflexão, preliminar à analise e interpretação dos achados. Assim, em primeiro lugar, foi

necessário delimitar qual o fenômeno a ser estudado de fato. Entendemos que se tratava da

assistência de enfermagem - fenômeno abrangente que se manifesta em diversos cenários de

aplicação de conhecimentos e de prática, onde a atenção à saúde e o cuidado às pessoas,

grupos específicos e comunidades são necessários.

Em segundo lugar, independentemente do cenário práticos, para que a assistência de

enfermagem ocorra conta-se com a presença de certos elementos para a sua configuração.

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Estes elementos compreendem o(s) ator(es) (enfermeiros e equipe); o ambiente social (campo

da prática); as ações e interações dos atores no mundo social.

Em terceiro lugar, o enfermeiro, como elemento indispensável à assistência de

enfermagem, expressa um "modo de agir" conseqüente à sua interação e interpretações,

consistentes e coerentes com o que faz em razão de sua posição profissional no mundo do

trabalho. E para o que admitimos que a percepção da assistência de enfermagem depende do

campo das interações dos atores sociais (sujeitos) com o ambiente social e de sua

aplicabilidade. Esta percepção da assistência de enfermagem compõe-se de símbolos e

significados decorrentes destas interações. Tratando-se, em suma, de interações simbólicas.

Neste sentido, entendemos como necessária a opção por uma abordagem teórico-

metodológica de natureza qualitativa. Segundo Leininger (1985, p. 361), as metodologias

qualitativas são indicadas para estudos que visam a natureza ou a essência de fenômenos, e

referem-se aos "métodos e técnicas de observação, documentação, análise e interpretação de

atributos, modelos, características e significados específicos, no próprio contexto em que os

fenômenos ocorrem". Essa autora ainda afirma que os pesquisadores que enveredam pelo

caminho das metodologias qualitativas certamente acreditam que há muito mais a conhecer

sobre as pessoas e os fenômenos do que as pessoas sabem, experimentam e atribuem

significados quer no campo da subjetividade, quer no campo da objetividade.

Nesta direção, tomamos como ponto de partida a busca das concepções cotidianas dos

enfermeiros do trabalho acerca da assistência de enfermagem à saúde do trabalhador,

procurando extrair os objetos sociais e os símbolos significantes presentes nessas concepções

que emergem eminentemente da interação dos sujeitos com a sua prática profissional. E que

são significados expressos na experiência dos sujeitos. Entendemos que tais significados

podem ensejar ocasião para explicar o sentido dado pelos enfermeiros do trabalho à

assistência de enfermagem nesta área de atuação profissional.

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Passamos a entender a assistência de enfermagem à saúde do trabalhador como

resultante da interação. Conseqüentemente, a assistência de enfermagem ganha sentido nas

interações dos sujeitos entre si e com aqueles que se encontram nas situações que compõem o

dia-a-dia do trabalho profissional na área da saúde do trabalhador.

Assim, para entender a assistência de enfermagem no contexto da saúde do

trabalhador, à luz das interações vivenciadas pelos enfermeiros do trabalho, recorremos a

algumas premissas do referencial teórico-metodológico do interacionismo simbólico.

3.2 Interacionismo Simbólico

O interacionismo simbólico é uma abordagem explicitamente da ciência social para o

estudo da vida social (BRYMAN, 1995), constituindo tanto uma perspectiva teórica quanto

uma orientação metodológica, dentro da psicologia social (MARIS e MELTZER, 1972).

Entre os seus fundadores, incluem-se John Dewel, George Herbert Mead, Charles Hoston

Cooley e William I. Thomas, sendo o mais influente dentre eles George Mead. A abordagem

teórica de Mead foi denominada, a princípio, de "behaviorismo social", entendendo-se, a

partir daí, a descrição do comportamento do nível humano, cujo dado principal é o ato social

concebido tanto como um comportamento externo, observável, , quanto como uma atividade

encoberta, não observável.

Sua obra foi a que mais contribuiu para a concepção simbólica da perspectiva

interacionista. Porém, deve-se a Herbert Blumer, a expressão terminológica "interacionismo

simbólico" para essa escola de pensamento sociológico.

Conforme Blumer (1986), a interação simbólica refere-se ao caráter peculiar e

distintivo da interação como sucede entre os seres humanos. Esta peculiaridade da interação

humana consiste no fato de que os seres humanos interpretam (definem) as ações uns dos

outros ao invés de apenas expressarem as reações entre si mesmos. Na ótica do autor (op. cit.,

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p. 2), "a resposta de um indivíduo a uma ação de outro é baseada no significado que o

primeiro atribui a esta ação".

A vida social é vista no interacionismo simbólico como um processo de

desdobramento no qual o indivíduo interpreta seu ambiente e atua com base nessa

interpretação (BRYMAN, 1995 apud MENDONÇA, 1999). Mas, o interacionismo

simbólico, segundo Godoy (1995), atribui importância fundamental ao sentido que as coisas

entendidas como objetos físicos, seres humanos, instituições, idéias que são valorizadas,

situações vivenciadas têm para os indivíduos, ressaltando que esse sentido surge do

processo de interação entre as pessoas. Tal sentido (significados) alia-se a manipulações e

modificações em plano de processo interpretativo que as pessoas usam ao se depararem com

as coisas do mundo, no seu dia-a-dia, na vida cotidiana. Assim, a realidade empírica condiz

com a experiência humana e aparece na forma como os seres humanos vêem ou percebem a

realidade.

Blumer (1986, p. 2), ao tratar da natureza do interacionismo simbólico, salienta que

esta abordagem repousa em três premissas:

A primeira [premissa] é que os seres humanos agem em relação às coisas

com base nos significados que as coisas têm para eles. Tais coisas incluem

tudo que o ser humano possa notar em seu mundo físico, tais como árvores

ou cadeiras, outros seres humanos, como uma mãe ou uma balconista de

loja, outras categorias de seres humanos, como amigos ou inimigos,

instituições, como escola ou um governo, idéias guias, como independência

individual ou honestidade, atividade de outros, são seus comandos ou

pedidos; e situações como um encontro individual em sua vida diária.

A segunda [premissa] é que o significado das coisas é derivado, ou origina-

se da interação social que alguém tem com um companheiro.

A terceira [premissa] é que esses significados são manejados e modificados

através de um processo interpretativo usado pelas pessoas ao lidar com as

coisas que elas encontram.

Blumer (1986) enfatiza que, para o interacionismo simbólico, os significados que as

coisas têm para os seres humanos são na totalidade, como um elemento central. Assim,

ignorar o significado das coisas em relação às quais as pessoas agem equivale a falsear o

comportamento que está sendo estudado.

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De acordo com essas premissas, o interacionismo simbólico considera de fundamental

importância o sentido que as coisas têm para o comportamento humano, ao mesmo tempo em

que concebe este "sentido" como emergente do processo de interação entre pessoas. Como tal,

a sociedade humana ou a vida humana em grupo é vista como consistindo de pessoas que

interagem e cujas atividades ocorrem, predominantemente, em resposta ao outro ou em

relação de um a outro. Nesta relação, é necessário, portanto, que as partes integrantes

"assumam o papel do outro, para que as indicações dirigidas ao outro sejam feitas a partir do

ponto de vista do outro, e de modo que sua interação seja percebida" (BLUMER, 1969, p. 3).

Charon (1985) descreve as idéias do interacionismo simbólico da seguinte forma: os

indivíduos interagem à interação e pressupõem que as pessoas agem em relação a outras,

percebem e interpretam as coisas para, então, agir novamente; tal interação não se refere

somente ao que se dá entre as pessoas, mas também ao que se passa no íntimo das pessoas.

Dessa maneira, para o interacionismo simbólico o ser humano é imprevisível e ativo no

mundo.

Na construção de sua relação de interação com as pessoas e objetos em seu meio, o

indivíduo percebe e interpreta os sentidos dos objetos, após o que define sua ação.

Haguette (1992) dá maior dimensão a este "sentido dos objetos", colocando-o como

resultante da interação. Afirma que o "sentido dos objetos", para uma pessoa, surge

fundamentalmente da maneira como eles lhe são definidos por outras pessoas que com ela

interagem.

Podemos, resumir as idéias centrais do interacionismo simbólico, portanto, dizendo

que este concebe a sociedade como uma entidade composta de indivíduos e grupos em

interação, tendo como base o compartilhar de sentidos sob a forma de compreensões e

expectativas comuns. Este processo interativo é dinâmico, variando de acordo com as

diferentes situações que são enfrentadas. E as situações são percebidas de forma seletiva, de

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acordo com as necessidades que, por sua vez, são definidas a partir dos sentidos que as coisas

têm para as pessoas e que são derivadas da interação (HAGUETTE, 1992).

Chenitz & Swanson (1986), citados por Vargens (1996, p. 8), afirmam ser o

interacionismo simbólico, uma teoria sobre o comportamento humano, que tem como ponto

central o "significado dos eventos para as pessoas no ambiente natural", é uma teoria

interessada no "estudo dos aspectos internos ou experiências do comportamento humano" e

para a qual o significado guia o comportamento "de modo que a realidade (ou significado) da

situação é criado pela pessoa e leva à ação e às conseqüências da ação".

Nesta perspectiva, entender como se processa a construção da imagem da assistência

de enfermagem à saúde do trabalhador, para o enfermeiro do trabalho, entender o significado

e suas concepções sobre a assistência de enfermagem, é entender "o que guia seu

comportamento", é entender a origem de suas ações e, por conseqüência destas, numa esfera

mais ampla, implica buscar a compreensão para a complexidade dos problemas da

enfermagem.

3.3 Aspectos Metodológicos do Interacionismo Simbólico

O "interacionismo" está interessado na criação e na mudança de ordens simbólicas via

interações sociais. Este interesse em relação à identidade e às categorias simbólicas tem uma

implicação importante em relação a como os autores interacionistas vêem a metodologia.

Enquanto os positivistas podem ver métodos como meras técnicas de maior ou menor

eficiência no levantamento de dados, o interacionista sente-se compelido a ver a pesquisa em

si como uma categoria simbólica baseada em interação (SILVERMAN, 1995).

Num aspecto particular, a metodologia adotada em uma pesquisa deve ser vista,

segundo Bryman (1995), como estrutura e orientação geral de uma investigação que provê um

modelo de trabalho dentro do qual os dados são coletados e analisados. Do ponto de vista

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metodológico do interacionista simbólico, a melhor maneira para se captar a realidade é

aquela que possibilita ao pesquisador "colocar-se no papel do outro", vendo o mundo pela

visão dos participantes. Blumer (1969) propõe a investigação naturalista do mundo, ou seja, a

investigação do mundo empírico, tal qual ele se apresenta (GODOY, 1995).

Silverman (1995, p. 97) condensa os princípios metodológicos e suas implicações,

como segue:

1. Relacionar símbolos e interação mostrar como significados surgem no

contexto do comportamento.

2. Tomar o ponto de vista do autor apreender as concepções cotidianas da

realidade, interpretá-las de uma perspectiva sociológica.

3. Estudar o caráter situacional da interação labutar [trabalhar] os dados

em situações de ocorrência natural.

4. Estudar o processo bem como a estabilidade examinar como símbolos

e comportamentos variam em relação ao tempo e ambiente.

5. Generalizar da descrição para a teoria tentar estabelecer proposições

interativas universais.

3.4 Procedimentos Metodológicos

Blumer (1969) posiciona a metodologia do interacionismo simbólico, dentro de uma

perspectiva, que se pretende empírica, ou seja, designada a prover um conhecimento

verificável sobre a vida humana em grupo e sobre a conduta humana. Conseqüentemente,

algumas exigências devem ser preenchidas. O primeiro pressuposto básico que, na verdade,

representa uma redundância é que uma ciência empírica pressupõe a existência de um mundo

empírico disponível para observação, estudo e análise. Este mundo empírico deve representar

sempre o ponto central de preocupação do pesquisador (HAGUETTE, 1992).

Neste sentido, consideramos como ponto central, nesta tese, a área percebida como

assistência de enfermagem aliada à "saúde do trabalhador", onde encontramos a prática dos

enfermeiros como realidade empírica e foco de investigação disponível e observável. Buscou-

se captar, então, símbolos e significados desta realidade empírica, como concebidas pelos

sujeitos ou agentes da ciência empírica. A ciência empírica permite captar imagens do mundo

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empírico sob estudo e testá-las através do escrutínio acurado do próprio mundo empírico. A

metodologia se refere aos princípios que estão subjacentes e que direcionam o processo global

de estudo do caráter persistente de determinado mundo empírico.

Esta concepção de metodologia implica em três importantes pontos:

1) a metodologia compreende a inteira busca científica e não apenas alguns

aspectos selecionados desta busca;

2) cada parte da busca científica, assim como o ato científico completo em

si, deve ajuntar-se ao caráter persistente do mundo empírico sob estudo. 3) o mundo empírico sob estudo, e não os modelos de investigação

científica, provê a última e decisiva resposta a este teste

(BLUMER, 1969, p. 24).

Assim concebida, a metodologia se distingue daquelas comumente utilizadas pelas

escolas quantitativistas para as quais a metodologia se resume na discussão de métodos e

técnicas.

Por tratar-se de uma investigação científica de natureza empírica, seguimos os pontos

identificados e propostos por Blumer (1969), a seguir:

a) A posse e o uso de uma visão prévia ou esquema mental do mundo empírico sob

estudo.

b) A elaboração de questões do mundo empírico e a conversão das questões em

problemas.

c) A determinação dos dados a serem coletados e os meios que serão utilizados para

fazê-los.

d) A determinação das relações entre os dados, através de reflexão acurada sobre as

conexões existentes entre os vários tipos de dados; ou seja através de

procedimentos estatísticos mecânicos como análise de fatos ou em esquema de

correlação.

e) A interpretação dos resultados. Fase em que o pesquisador extrapola o âmbito dos

resultados empíricos propriamente ditos e se debruça sobre o referencial teórico ou

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sobre concepções que transcendem o âmbito de um estudo, atentando para o fato

de que se o referencial teórico for falso ou não comprovado, suas interpretações

também o serão.

f) O uso de conceitos. Os conceitos são fundamentais para o ato de investigação e

devem ser definidos a partir da colocação dos problemas. São eles que guiarão a

busca de dados, a tentativa de relacioná-los, assim como a interpretação dos

resultados.

Desta forma, assim caracterizamos estes pontos na condução desta tese:

a) A posse e o uso de uma visão prévia ou esquema do mundo empírico sob estudo

Em nosso estudo correspondeu à fase de reflexões sobre a temática-problemática em

causa, e de uma investigação prévia sobre o conhecimento do assunto e a visão preliminar do

mundo empírico alvo desta investigação. A elaboração de esquemas do mundo empírico sob

estudo consiste na tentativa de se estabelecer correlações entre as idéias e concepções

apreendidas do mundo empírico através de representações pictóricas ou textuais.

b) A elaboração de questões do mundo empírico e a conversão das questões em

problemas

Com base nas reflexões anteriores, delimitamos algumas questões já registradas

anteriormente e que nortearam a busca dos achados.

c) A determinação dos dados a serem coletados e os meios utilizados para atingir as

respostas

Esta etapa diz respeito não somente à definição do objeto de estudo e aos objetivos da

pesquisa, mas aos procedimentos metodológicos para a coleta dos dados. Ela tem a ver com

a parte estrutural da pesquisa, onde o pesquisador explica com clareza, a natureza e

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a qualidade dos dados a serem coletados, e os instrumentos de coleta de dados mais

adequados para fazê-lo.

d) A determinação das relações entre os dados

Através de reflexão acurada sobre as conexões existentes entre os tipos de dados, seja

através de procedimentos estatísticos mecânicos como análise de fatos ou em esquema de

correlação, e esta fase correspondeu à etapa de apresentação dos dados mediante esquemas

preliminares com as devidas correlações entre eles, o que nos levou ao destaque de algumas

categorias de interação e interpretações prévias dos achados. Das categorias de interações

destacam-se os objetos sociais e os símbolos significantes extraídos das falas dos sujeitos

depoentes que, interpretados à luz de proposições conceituais da área específica (Enfermagem

do trabalho), bem como pelas reflexões dos pesquisadores, nesta tese, permitiram a

delimitação de conceitos emergentes sobre as interações como percebidas pelos sujeitos.

e) A interpretação dos resultados

Tendo levantado os objetos sociais e os símbolos significantes a partir da análise das

interações dos sujeitos com o ambiente social onde sucede a assistência de enfermagem à

saúde do trabalhador, valemo-nos de alguns conceitos do interacionismo simbólico para nos

aproximarmos do sentido da assistência de enfermagem à saúde dos trabalhadores. Por se

tratar de um estudo que se fundamenta nos modos de agir dos enfermeiros do trabalho nesta

área, o sentido atribuído à assistência de enfermagem poderá resultar das interações entre os

sujeitos e entre estes e o ambiente.

Para se chegar às bases da ação, os interacionistas estabelecem dois conceitos centrais

que são a definição da situação e o self social (WEXLER, 1983). Além destes conceitos

centrais, aludem para os conceitos de “sociedade” e “mente” para explicar o comportamento

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das associações humanas e os processos de comportamento através dos quais as pessoas se

portam em “transações” (interações) (HAGUETTE, 1987).

Nesta perspectiva chegamos, [aproximadamente], à imagem da assistência de

enfermagem à saúde do trabalhador, através da correlação dos achados e conceitos centrais do

interacionismo simbólico.

f) O uso de conceitos

Os conceitos que guiaram essa investigação (pesquisa) bem como a busca de dados, a

tentativa de relacioná-los e a interpretação dos resultados merecem destaque na construção

deste processo. Entretanto, cabe esclarecer que os conceitos em questão são aqueles

constitutivos do referencial teórico-metodológico.

Cabe destacar que esta definição de “conceito” distingue-o daquilo que os próprios

interacionistas simbólicos denominam de concepções cotidianas da realidade empírica dos

sujeitos, em nosso caso particular desta pesquisa, incluem também aqueles conceitos

resultantes da pragmática assistencial dos enfermeiros do trabalho.

Portanto, os conceitos que nortearam essa construção foram:

1) Interação social;

2) Interacionismo simbólico;

3) Interação simbólica;

4) Símbolos;

5) Símbolos significantes;

6) Objetos sociais;

7) Definição da situação;

8) Self social;

9) O ato (ação);

10) A mente;

11) O sentido;

12) A sociedade;

13) Enfermagem do trabalho e Enfermeiro

do trabalho.

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1) Interação social

Trata-se da resposta de um indivíduo a uma ação de outro, baseada no significado que

o primeiro atribui a esta ação. A vida social consiste em um processo de desdobramento no

qual o indivíduo interpreta seu ambiente e atua com base nessa interpretação (BRYMAN,

1995).

A titulo de ilustração, podemos citar o caso de um trabalhador que chega no

ambulatório com queixa de “dor de cabeça” [cefaléia]. A interpretação dada pelo enfermeiro a

esta situação é que irá definir a sua ação no que se refere ao atendimento a ser prestado.

Podendo o enfermeiro interpretar a situação “dor de cabeça” apenas como uma alteração

fisiológica do trabalhador, ele irá, certamente, administrar somente o analgésico prescrito,

dando por resolvida a questão. Porém, interpretando a situação “dor de cabeça” como um

sintoma decorrente de alguma situação inerente ao local e às condições de trabalho, desse

trabalhador tais como: iluminamento, odores, possibilidade de vazamento de gases ou

substâncias tóxicas, ruído excessivo, dentre outras, a ação do profissional enfermeiro terá

outra abrangência. Ele possivelmente irá prestar o atendimento individual a esse trabalhador,

estabelecendo ações relativas ao grupo–cliente dos trabalhadores, no intuito de implementar

medidas de prevenção para que outros trabalhadores não tenham suas atividades

interrompidas, pelos mesmos fatores existentes no ambiente que levaram aquele primeiro

trabalhador ao ambulatório da empresa.

2) Interacionismo simbólico

É uma abordagem explicitamente da ciência social para o estudo da vida social,

constituindo-se tanto como perspectiva teórica dentro da psicologia social quanto uma

orientação metodológica.

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A interação simbólica é levada necessariamente a desenvolver um esquema analítico

da sociedade humana e da conduta humana que envolve certas idéias básicas relacionadas

com a natureza das seguintes matérias:

- grupos humanos ou sociedades;

- interação social;

- objetos;

- o ser humano como ator;

- a ação humana; e

- as interconexões entre as linhas de ação.

Em uma visão de conjunto, estas idéias representam a forma como o interacionismo

simbólico vê a sociedade humana e a conduta.

3) Interação simbólica

O termo interação simbólica refere-se ao caráter peculiar e distintivo da interação

como ela acontece entre os seres humanos. Esta peculiaridade da interação humana consiste

no fato de que os seres humanos interpretam (definem) as ações uns dos outros ao invés de

apenas reagir a essas ações. A resposta de um indivíduo a uma ação de outro é baseada no

significado que o primeiro atribui a esta ação.

4) Símbolos

São os objetos destacados pela mente através da percepção possibilitando suas ações.

5) Símbolos significantes

São os objetos formados pelo próprio ser humano através de sua atividade, onde ele

estabelece seu ambiente e os objetos sociais que dele fazem parte, atribuindo sentido ou

significância a esses objetos e definindo-os.

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6) Objetos sociais

São os símbolos significantes destacados pela mente, na interação social, através da

percepção, possibilitando aos indivíduos planejar suas ações. O ser humano é capaz de

formar seus próprios objetos sociais; através de sua atividade ele estabelece seu ambiente e os

objetos sociais que dele fazem parte.

7) Definição da situação

É um instrumento para o entendimento das bases da ação. Antes de agir (atuar) o ser

humano passa por um estágio de exame e deliberação, o qual enseja a direção a ser seguida.

A ação é construída através da interpretação da situação, consistindo a vida grupal de

unidades de ação desenvolvendo ações para enfrentar situações nas quais elas estão inseridas.

As situações envolvem, encerram e capturam seus participantes; ainda, todas as situações têm

propriedades e dimensões emergentes e inesperadas. Todas as situações contêm halo

histórico, têm algo em comum com outras situações que ocorreram no passado.

8) Self social

O self social abrange a abordagem ao ser humano entendido como uma mistura de

instintos biológicos e de obrigações sociais internalizadas.

O self é formado através de “definições” feitas por outros, que servirão de referencial

para que ele veja a si mesmo (HAGUETTE, 1987). Reflete esse tratamento dialético do

caráter público e privado do símbolo e no qual esse tratamento é um processo composto do

“eu” e do “mim”.

“Eu” – Individualidade metafórica da pessoa. È aquele que impele, impulsiona o

individuo. É a tendência de impulsionamento do indivíduo. É o aspecto

inicial, espontâneo e desorganizado da experiência humana, representa as

tendências não direcionais do indivíduo. O “eu” abrange os desejos

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interiores do indivíduo, corresponde ao imprevisível, romântico e

quixotesco aspecto do self.

“Mim” – representa o „outro‟ incorporado ao indivíduo. Logo, ele compreende o

conjunto organizado de atitudes e definições, compreensões e expectativas

– ou simplesmente sentidos – comuns ao grupo. Em qualquer situação, o

“mim” compreende o outro generalizado e, raramente, um outro particular.

O “mim” é a sociedade organizada refletida na capacidade de alguém de

julgar e interpretar símbolos. Além disso, o “mim” contém as visões que os

seres humanos têm de si mesmo como os outros os vêem, o “mim” é a fonte

de reflexão sobre como o indivíduo deveria atuar em uma situação

particular à luz de como seus comportamentos serão vistos pelos outros.

9) O ato (ação)

Todo ato começa na forma de um “eu” e geralmente termina na forma de um “mim”,

porque o “eu” representa a iniciação do ato antes dele cair sob o controle das definições e

expectativas dos outros (o “mim). O “eu”, pois, dá propulsão, enquanto o “mim” dá direção

ao ato. O comportamento humano, então, pode ser visto como uma série perpétua de

iniciações de atos pelo “eu” e de ações retroativas sobre o ato (isto é, direcionamento do ato)

pelo “mim” O ato é resultante desta interação.

10) A mente [ modos de ser , maneira de julgar e pensar, mentalidade]

Refere-se aos processos de comportamento através dos quais a pessoa se posiciona em

“transações” com o seu ambiente. Os processos que constituem designações de alguém,

mesmo por meio de símbolos, capacitam os indivíduos a construir suas atuações (ações) como

eles as executam e “esculpem” os objetos constituintes de seu ambiente. O conceito de mente

refere-se a um processo intelectual/psicológico, disposição espiritual ou atividade mental, não

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a uma entidade física como o cérebro. O aparato fisiológico é indispensável para a formação

da mente, mas é a sociedade e a interação social (processos sociais de experiências e

comportamentos) que com os cérebros das pessoas formam a mente. O comportamento

humano inteligente é “essencialmente e fundamentalmente social. A mente é um processo

que manifesta sempre que o indivíduo interage consigo próprio usando símbolos

significantes” (HAGUETTE, 1987). Esta significância ou sentido é também social em

origem, conforme referido anteriormente. Da mesma forma, a mente é social tanto em sua

origem como em sua função, pois ela surge do processo social de comunicação. Dentro deste

processo, o organismo seleciona aqueles estímulos que são relevantes para suas necessidades,

rejeitando outros que considera irrelevantes

A atividade mental necessariamente envolve sentidos que são atribuídos aos objetos,

definindo-os. “O sentido de um objeto ou evento é simplesmente uma imagem ao padrão de

ação que define o objeto ou o evento” (MELTZER, 1972, p. 18).

11) O sentido

O interacionismo simbólico concebe o sentido como emergindo do processo de

interação entre as pessoas ao invés de percebê-lo, seja como algo intrínseco ao ser seja como

uma expressão dos elementos constituintes da psiquê, da mente ou da organização

psicológica. A utilização de sentidos, entretanto, envolve um processo interpretativo que

acontece em duas etapas. Primeiramente, o ator indica a si mesmo as coisas que têm sentido.

Em seguida, em virtude deste processo, a interpretação passa a significar a forma de

manipulação de sentidos; ou seja, o ator seleciona, checa, suspende, reagrupa e transforma os

sentidos à luz da situação na qual ele está colocado e da direção de sua ação. A interpretação

é, pois, um processo formativo e não uma aplicação sistemática de sentidos já estabelecidos.

A atividade mental necessariamente envolve sentidos que são atribuídos aos objetos,

definindo-os.

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12) A sociedade

A sociedade humana, ou a vida humana em grupo, é vista como consistindo de pessoas

que interagem, pessoas em ação que desenvolvem atividades diferenciadas que as colocam em

diferentes situações. O princípio fundamental é que os grupos humanos, assim como a

sociedade “existem em ação” e devem ser vistos em termos de ação. É através deste

processo de constante atividade que estruturas e organizações são estabelecidas. Logo, a vida

do grupo necessariamente pressupõe a interação entre os membros do grupo ou em outros

termos, a sociedade consiste de indivíduos interagindo uns com os outros, cujas atividades

ocorrem predominantemente em resposta de um a outro ou em relação de um a outro.

Os interacionistas simbólicos vêem a sociedade como um processo de atividades em

andamento, de variadas interações, não como um sistema, estrutura ou organização

relativamente estática. A concepção de sociedade, no interacionismo simbólico, tende a focar

a sua atenção em relações interpessoais mais do que em sociedades como um todo ou em

grupos (MELTZER, 1972).

13) Enfermagem do trabalho e Enfermeiro do trabalho

Como já referido e, como ponto de partida, adotamos conceitos de “enfermagem do

trabalho” e “enfermeiro do trabalho” utilizados por Bulhões (1986, p. 243).

A enfermagem do trabalho é uma especialidade destinada ao cuidado daquele que

trabalhada, portanto, preocupa-se com trabalhadores. Sua atenção volta-se para os

trabalhadores de todas as categorias e de todos os setores de ocupação, onde quer

que se encontrem.

O enfermeiro do trabalho é o enfermeiro empregado por uma empresa, indústria ou

organização com o objetivo de promover, conservar e recuperar a saúde dos trabalhadores.

Cabe a ele desenvolver programas de prevenção das doenças ocupacionais e dos acidentes do

trabalho (AAOHN apud BULHÕES, 1986).

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Adequação Metodológica

Para a condução desta investigação, consideramos as orientações metodológicas de

Blumer (1969), e realizamos alguns ajustamentos sem, no entanto, nos distanciarmos das

etapas propostas nessa metodologia. E por tratar-se do estudo de interações em uma dada

realidade social, aqui entendida como a área de prática dos enfermeiros (assistência de

enfermagem) à saúde do trabalhador, entendemos que as interações passíveis de investigação

e análise envolveriam a participação dos seguintes elementos: 1) os sujeitos depoentes; 2) o

teórico/teorista de referência e área afim; e 3) o(s) pesquisador(es).

Cumpre esclarecer que ao(s) sujeito(s) pesquisador(es) caberia a interpretação dada

pelos sujeitos depoentes concepções empíricas confrontando as mesmas com os conceitos

do teorista de referência, acarretando com isso o surgimento de outros conceitos (emergentes)

sobre as categorias de interação estudada. Para facilitar a apreciação analítica das mesmas,

tenha-se em consideração o esquema a seguir.

Figura 1 - Esquema de análise das interações: proposição metodológica

(*)

CATEGORIA DE INTERAÇÃO

(*) Idealização pictórica do(s) pesquisador(es) desta tese.

SUJEITO DEPOENTE

PESQUISADOR

TEÓRICO DE

REFERÊNCIA

Ambiente Social

INTERPRETAÇÃO

CONCEITO

EMERGENTE

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E assim, mediante o esquema, conseguimos estabelecer quatro categorias de interação:

Interação 1 - Enfermeiro do trabalho com a enfermagem na saúde do trabalhador (aspecto

profissional).

Interação 2 - Enfermeiro do trabalho com o ambiente da sua prática assistencial (aspecto do

ambiente social).

Interação 3 - Enfermeiro do trabalho com a equipe de saúde ocupacional (aspecto da

organização do trabalho).

Interação 4 - Enfermeiro do trabalho com a enfermagem e seus atributos (aspecto do saber/

conhecimento).

Estas categorias de interação foram destacadas, preliminarmente, para dar consecução

à apreensão dos dados desta pesquisa, servindo como um fio condutor diretivo para o

agrupamento dos achados/dados, o que nos levou à determinação das correlações entre os

dados, pela reflexão sobre as conexões existentes entre eles.

Esta fase de apreciação analítica dos dados e interpretação dos achados foi realizada à

luz de algumas premissas do interacionismo simbólico assumidas principalmente por Blumer

(1969). Etapa que se fundamentou nos conceitos apreendidos de cada interação analisada,

configurando-se em proposição teórica sobre o que se concebe como a assistência de

enfermagem à saúde do trabalhador.

3.4.1 Dos elementos constitutivos das interações

3.4.1.1 Os sujeitos da pesquisa (depoentes)

Os sujeitos participantes desta investigação são enfermeiros do trabalho, profissionais

detentores de certificado de especialização em Enfermagem do Trabalho, regulamentada por

lei, e que justifica a capacitação específica para atuar na área de atenção à saúde do

trabalhador. Contudo, além desta qualificação, os sujeitos desta pesquisa foram selecionados

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com base na sua atuação efetiva na área da assistência à saúde do trabalhador, como condição

considerada preferencial para o estudo. Além disso, estabelecemos como critério de

inclusão/exclusão, um período mínimo de seis meses de experiência como enfermeiro do

trabalho, entendendo que na duração deste período já se estabelecem interações passíveis de

interpretações e que podem configurar “modos do agir profissional" no cenário da prática

assistencial.

Do grupo de enfermeiros do trabalho pesquisado, destacamos os seguintes dados

caracterizados, com base no instrumento de coleta de dados (roteiro de entrevista semi-

estruturado), como se pode observar a seguir. Antes da apresentação do quadro relativo a

formação e experiência profissional, resaltamos que a faixa etária do grupo pesquisado é de

24 a 68 anos e, quanto à distribuição por sexo temos: 5% masculino e 95% feminino.

Quadro 1 – Critérios de caracterização da amostra de enfermeiros do trabalho pesquisados

Dados

Tempo

(Quantidade de anos)

0 5 5 10 10 20 + 20 TOTAL

Formação em Enfermagem Ø 1 4 13 18

Ø% 5,5% 22,3% 72,2 % 100%

Formação em enfermagem do trabalho Ø 4 6 8 18

Ø% 22,2% 33,3% 44,5% 100%

Experiência na saúde do trabalhador 2 3 8 5 18

11,1% 16,6% 44,5% 27,8% 100%

Experiência no emprego atual 3 5 6 4 18

16,6% 27,8% 33,3% 22,3 100%

Neste quadro, observa-se que 72,2% dos sujeitos depoentes são formados em

enfermagem há mais de vinte anos e 44,5% do total da amostra possuem formação como

especialista em enfermagem do trabalho também há mais de 20 anos. Outro dado relevante é

o de experiência profissional na área da saúde do trabalhador. Onde 33,3% trabalham nesta

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área entre 10 e 20 anos e, 44,5% há mais de vinte anos. E 33,3% dos sujeitos da amostra têm

entre 10 e 20 anos no emprego atual como enfermeiro do trabalho.

Outros aspectos de importância, em relação aos dados e ao grupo de enfermeiros do

trabalho pesquisado, foi fato de que nesta amostra encontramos enfermeiros com atuação nas

esferas de atuação da enfermagem - administrativas, assistencial, de ensino e de pesquisa,

conforme apontado por Zeitoune (1990).

Esses aspectos correspondem a dados que se coadunam com as premissas

fundamentais do interacionismo simbólico, no que tange aos elementos da interação naquilo

que manifesta a consistência das concepções cotidianas da realidade, dos sujeitos

pesquisados/depoentes.

O caráter das empresas, onde os enfermeiros atuavam, trouxe-nos grande contribuição.

Entrevistamos enfermeiros do trabalho que exerciam suas atividades em serviços de saúde

ocupacional e em empresas nos seguintes ramos de atividade: indústrias, hospitais,

instituições prestadoras de serviços públicos, administrativos e outros.

3.4.1.2 Teorista3 de referência da enfermagem

Este segundo elemento, proposto para compor o quadro das interações, constitui-se no

autor escolhido (teórico/teorista) para subsidiar a interpretação dos dados empíricos da

realidade investigada.

Para tanto, elegemos preferencialmente Bulhões4 (1986), levando em consideração o

fato de ser a mesma a primeira contribuinte à produção de conhecimentos sobre a

Enfermagem do Trabalho, no Brasil, configurando-se, ela própria, por mais de três décadas "a

3 Teorista: Qualquer excplicador ou pensador que faça teorização sobre a prática ou idéias possíveis de explicar.

4 Os autores optaram por Bulhões – uma preferência arbitrária – pois, precisávamos dispor do apoio de um

teórista de referência para a enfermagem do trabalho. O que encontramos nesta autora devido a sua significativa

produção intelectual sobre enfermagem do trabalho dos últimos anos.

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mais" relevante e expressiva interação com a prática assistencial na área de enfermagem na

saúde do trabalhador.

3.4.1.3 O(s) pesquisador(es)

Como terceiro elemento das interações, consideramos que cabia ao(s) sujeito(s)

pesquisadore(s) nesta tese, a interpretação dos achados a partir das interações entre os sujeitos

depoentes e proposições teóricas. Tomando como base um dos pressupostos do

interacionismo simbólico de Blumer (1969), entende-se que a identificação de símbolos e

significados, na interação social, só é possível quando um dado grupo social compartilha o

conhecimento ou a experiência da mesma realidade – vivencial/investigativa – e donde

emerge, a partir da interpretação sobre esse mundo social, o sentido das coisas (HAGUETTE,

1992).

Logo, o(s) pesquisador(es), em nosso caso, precisam ter conhecimento, possuir uma

vivência expressiva sobre as questões do grupo pesquisado. Se possível, que participem ou

tenham participado do mundo empírico do grupo social estudado (MENDONÇA, 1999).

3.4.1.4 O ambiente social

O ambiente social consiste no local onde ocorrem as ações e interações dos atores

sociais. É o campo da prática dos enfermeiros do trabalho, entendido como área da

assistência de enfermagem à saúde do trabalhador. É no ambiente social dessa área que o

pesquisador poderá identificar as interações, obter os significados dados pelos sujeitos

depoentes aos atos e operações típicas da prática assistencial.

E como neste estudo tratamos apenas da assistência de enfermagem na área da saúde

do trabalhador, o ambiente social foi delimitado como sendo aquele próprio da prática, onde o

enfermeiro do trabalho executa suas ações nas empresas onde trabalha.

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Sabemos que o ambiente social não se restringe, exclusivamente, a uma delimitação

física espacial, circunscrevendo o ambiente de trabalho comum às ações e interações de um

dado grupo social, ligadas por aspectos de natureza cultural, ideológica, profissional, ética,

dentre outros. Porém, foi desta forma que resolvemos estruturar os dados, a fim de

alcançarmos os objetivos desta tese.

3.4.2 Cenário da pesquisa

Tomamos como cenário, as empresas situadas no Estado do Rio de Janeiro, que

contavam com enfermeiro do trabalho em seus quadros funcionais, não importando para este

estudo a natureza da atividade da empresa. E, portanto, foram entrevistados dezoito (18)

enfermeiros do trabalho com comprovada experiência em serviços de saúde ocupacional.

A escolha das empresas e depoentes ocorreu de maneira aleatória, o que nos facultou

uma melhor observação do fenômeno em causa. Dentre as empresas pesquisadas encontram-

se: indústria de petróleo, empresa de energia elétrica, empresa de energia nuclear, empresas

prestadoras de serviços públicos, universidades e hospitais. Porém, o ramo de atividade das

empresas não se constituiu em elemento fundamental para a análise dos achados, mas sim a

ação e interação dos enfermeiros do trabalho nesses ambientes.

Portanto, foram entrevistados somente enfermeiros do trabalho com atuação específica

na área da saúde do trabalhador. Os enfermeiros das demais áreas da enfermagem não fizeram

parte deste estudo, posto que implicaria no comprometimento das premissas teórico-

metodológicas adotadas. A experiência e a vivência na área específica da saúde do

trabalhador é que nos assegurou que as suas concepções emergiram verdadeiramente da sua

pragmática assistencial. Outrossim, o sentido e os significados obtidos refletem a realidade

expressa na interação empírica dos sujeitos. A vinculação significativa dos participantes com

o problema tornou-se de extrema importância para o estudo (VARGENS, 1996).

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3.4.2.1 Do instrumento de coleta de dados

A metodologia do interacionismo simbólico aponta como procedimento de coleta de

dados: a observação direta, o trabalho de campo, a observação participante, as entrevistas

individuais e grupais, o uso de história de vida, de cartas, diários, escuta de conversações e

documentos públicos (BLUMER apud BRYMAN, 1995; GODOY, 1995).

Optamos pela entrevista individual devido à facilidade operativa dessa técnica. O

grupo pesquisado, embora ligado por preceitos e princípios que o caracterizam como um

grupo social, seus sujeitos se encontram em ambientes físicos (locais de trabalho) distintos,

mesmo quando estejam circunscritos à mesma região geográfica.

Desta forma, desenvolvemos e utilizamos um roteiro de entrevista semi-estruturada

(Apêndice A) com dez perguntas abertas. Como nossa intenção foi obter dados subjetivos dos

participantes, esta técnica mostrou-se favorável. Ela nos facultou maior flexibilidade na

apreensão dos dados, principalmente pela possibilidade de algumas reformulações nas

perguntas, no intuito de dar ao sujeito participante melhor entendimento sobre as questões

formuladas.

O roteiro de entrevista era composto de duas partes. A primeira continha os dados

básicos de identificação e caracterização dos sujeitos. Constava de: nome, idade, sexo, ano

de graduação em enfermagem, ano do término da especialização em enfermagem do trabalho

e o tempo de experiência no emprego atual. Esses dados serviram para a caracterização dos

sujeitos, por reafirmarem a sua comprovada experiência na área da saúde do trabalhador, o

que nos deu base para a caracterização do escopo das interações e interpretações dos sujeitos

sobre a sua realidade.

A segunda parte do roteiro apresentava as dez perguntas formuladas com o propósito

de atender aos objetivos da pesquisa. São elas:

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1) Fale a respeito da sua atuação como enfermeiro do trabalho.

2) O que distingue a assistência de enfermagem à saúde do trabalhador das demais

áreas de aplicação [atuação] da assistência de enfermagem?

3) No seu entendimento, o que significa o trabalhador nessa assistência?

4) No seu entendimento, qual o significado da saúde na assistência do enfermeiro do

trabalho?

5) Você identifica algum destaque (diferenciação) na atuação do enfermeiro do

trabalho frente aos outros profissionais na assistência à saúde dos trabalhadores?

6) No seu entendimento, como o enfermeiro é visto no contexto da saúde do

trabalhador/ocupacional?

7) Qual o significado da ação cuidar/cuidados de enfermagem na assistência à saúde

do trabalhador?

8) No seu planejamento da assistência de enfermagem, você adota algum referencial

teórico de enfermagem?

9) Qual o significado da atuação do enfermeiro do trabalho na contribuição como

mundo do trabalho?

10) De que forma a sua prática pode contribuir com o desenvolvimento da

enfermagem?

3.4.3 Da validação do instrumento de coleta de dados

Para a validação do roteiro de entrevista semi-estruturado foi realizado um pré-teste

envolvendo três sujeitos. Nesse grupo, destacamos um sujeito com larga experiência na área

assistencial, de ensino e pesquisa em enfermagem. Outro, com trinta anos de formação na

área de especialização em enfermagem do trabalho tendo atuado inclusive em empresas de

grande porte. E o terceiro, com experiência no atendimento à saúde do trabalhador no âmbito

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hospitalar e mestrado em saúde do trabalhador. Embora o roteiro de entrevista semi-

estruturada faculte uma certa flexibilidade quanto à reformulação das perguntas, no ato da sua

aplicação, os sujeitos respondentes não manifestaram dificuldades na compreensão e

interpretação destas.

Contudo, a questão de número 3) “No seu entendimento, o que significa o trabalhador

nessa assistência?" mereceu um certo ajuste. Da maneira como foi formulada não deixou

clara a idéia de qual trabalhador estávamos nos referindo. O trabalhador de saúde? O

trabalhador da equipe de enfermagem? Ou o trabalhador em geral?

O mesmo sucedeu em relação à palavra "assistência" nesta questão De que

assistência se tratava? Assistência à saúde? Assistência de enfermagem? Assistência à saúde

do trabalhador?

Mediante essas observações, passamos a formular a referida questão como segue:

No seu entendimento, o que significa o trabalhador "cliente", no âmbito da

assistência de enfermagem?

Além dessa revisão crítica sobre as questões formuladas, solicitamos aos sujeitos

respondentes que fizessem seus comentários sobre o roteiro de entrevista aplicado. Este

retorno foi consistente à medida que se tratava de enfermeiros do trabalho de comprovada

qualificação. Como podemos ver no depoimento a seguir.

"Quanto à entrevista em si, acho que vai sair muito interessante. Você terá dados de acordo com algumas perguntas feitas como, por exemplo, essa relação da enfermagem do trabalho e as outras atividades [...]. O seu instrumento nos dará essa visão de como está essa assistência, como é que isto está 'rolando' agora no momento."

(Branca)

Esta fala do sujeito respondente evidenciou que as questões formuladas no roteiro de

entrevista se coadunam com os objetivos da pesquisa em causa. Alguns elementos que

expressam interações categóricas se destacam neste discurso. A interação do "enfermeiro do

trabalho com a profissão" e "o enfermeiro com o ambiente".

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A percepção dos sujeitos respondentes em relação ao caráter subjetivo das perguntas

formuladas ficou evidenciada. A intencionalidade do roteiro de entrevista em destacar os

significados das coisas ou objetos pela interpretação do próprio sujeito, a partir da sua

subjetividade foi alcançada.

"Não sei se eu consegui responder a todas as perguntas de forma satisfatória, porque, para mim, as perguntas eram muito subjetivas.. Mas é isso, eu não entendo muito, não visualizo muito quando as perguntas são muito subjetivas assim, mas eu acredito que vocês tenham um mecanismo para discutir isto posteriormente."

(Azul-marinho)

Nesta etapa da validação do roteiro de entrevista, podemos constatar sua

aplicabilidade, bem como refinar a idéia para o direcionamento e organização dos dados e

análise dos resultados.

Podemos identificar, de forma preliminar, as categorias passíveis de investigação e

análise que atenderiam, posteriormente aos objetivos desta tese.

Os tipos de interação, destacados no pré-teste, foram: a interação dos sujeitos com a

profissão, a interação com o ambiente social e a interação com a assistência de enfermagem

nesta área de atuação prática, estando estas categorias de interação condizentes com as

interações destacadas por diversos autores (BULHÕES, 1986; ZEITOUNE, 1996).

À guisa de uma orientação sistemática em relação às perguntas formuladas,

detectamos que as interações destacadas anteriormente compreendiam questões específicas

deste roteiro. Por exemplo, os conteúdos das falas dos sujeitos referentes às questões de

números 1 e 10, detêm subsídios para a interpretação e análise relativas à interação dos

sujeitos com a profissão de enfermeiro. As questões de números 2, 5 e 6 atendem à interação

dos sujeitos com o ambiente social, entendido como local de atuação pragmática da

assistência de enfermagem. Os aspectos relativos à interação dos sujeitos com a assistência

de enfermagem e seus atributos, constam das questões de números 3, 4, 8 e 9 e, em especial a

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de número 7, que trata especificamente da ação de cuidar própria da esfera prática dos

enfermeiros do trabalho.

Contudo, realizamos alguns ajustes no roteiro de entrevista (Apêndice B), facilitando

a condução das entrevistas.

3.4.4 Da técnica de coleta de dados

As entrevistas foram precedidas de uma explicação sobre a pesquisa e seus objetivos,

seguida da assinatura de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Apêndice C) por

parte do entrevistado em conformidade com a Resolução nº 196/96, assegurando o princípio

da confidencialidade, segurança e sigilo das informações fornecidas pelos sujeitos da pesquisa

(BRASIL, 1996).

A fim de preservar a identidade dos sujeitos depoentes, utilizamos os nomes de cores,

ao final de cada fala. E vale dizer que a pesquisa, no todo, foi submetida à aprovação do

Comitê de Ética (EEAN/UFRJ) (Anexo A).

Devido à dispersão física e espacial dos sujeitos pertencentes ao grupo social estudado

os enfermeiros do trabalho adotamos a técnica da entrevista oral livre. As entrevistas

foram realizadas no ambiente de trabalho dos entrevistados e registradas através de um

gravador. As entrevistas foram realizadas entre os meses de agosto e setembro de 2004.

Após a sua transcrição, as entrevistas foram reapresentadas aos sujeitos para uma

apreciação pessoal e obtenção do "de acordo", que foi dada pela aposição escrita, de próprio

punho, da expressão: "concordo e aprovo o conteúdo transcrito da entrevista realizada", e que

nos permitiu a utilização dos dados.

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4 APRECIAÇÃO / INTERPRETAÇÃO ANALÍTICA DOS DADOS

As categorias de “interações” estabelecidas foram descritas e apresentadas,

facultando o destaque de objetos sociais e símbolos significantes compartilhados pelos

sujeitos depoentes. A descrição destas interações deu origem às concepções sobre “modos do

agir profissional” com base nas interpretações dos sujeitos sobre a assistência de enfermagem

prestada em âmbito de ambiente social.

Os objetos sociais destacados emergiram da interpretação e análise dos aspectos ou

elementos provenientes da discussão face às respostas dos sujeitos depoentes, em

contraposição com o pensamento do teórico de referência e o(s) pesquisador (es), conforme o

esquema de análise das interações proposto neste estudo. Para tanto, entende-se que objetos

sociais, segundo os interacionistas, são os símbolos significantes destacados pela mente, na

interação social, através da percepção, possibilitando aos indivíduos atuarem no plano de suas

ações. O ser humano, com isso, é capaz de formar seus próprios objetos sociais. E, através de

suas atividades, ele estabelece seu ambiente e os objetos sociais que dele fazem parte.

Interação I - Enfermeiro do Trabalho com a Enfermagem na Saúde do Trabalhador

(Aspecto Profissional)

Para que possamos alcançar o sentido da interação “enfermeiro do trabalho com a

enfermagem profissão na assistência à saúde do trabalhador” necessitamos, antes de tudo,

saber o significado de uma profissão.

Encontramos em Ferreira-Santos (1973), que a enfermagem ganha sentido como

profissão, a partir de dois vocábulos da língua inglesa "occupation" e "profession", que

distinguem algumas atividades como "profissão", dentre outras atividades ocupacionais.

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"Uma profissão é um conjunto de papéis ocupacionais, papéis nos quais os executantes

desempenham certas funções valorizadas na sociedade em geral e através destas atividades

ganham seu sustento" (PARSONS, 1997).

Nesse sentido, Ferreira-Santos (1973, p. 62) afirma:

(...) as profissões são atividades centradas na coletividade, isto é, existem

para prestar serviços a outros, em oposição a certas ocupações vistas como

centradas no ego.

(...) essas características das profissões que desempenham papéis

valorizados e importantes para a sociedade geral e, se têm autoridade no seu

campo, a seleção para o papel e desempenho profissional social, segundo

critérios estabelecidos, não podem ficar incontroláveis. Por isso, o ensino

que prepara para uma profissão é geralmente feito de maneira formal,

através de leis e normas educacionais bem estabelecidas.

A enfermagem é, pois, considerada uma profissão legitimada e legalizada na

sociedade. Contudo, embora seu atributo essencial seja cuidar das pessoas, este cuidado não

se processa da mesma forma e sentido que o cuidado prestado por qualquer outro ser humano

nas diversas situações da realidade cotidiana. Trata-se de um conjunto de atos e operações

peculiares, às vezes, especializados e que, dentro de um formalismo técnico e científico,

caracteriza a profissão de enfermagem. O desenvolvimento científico no campo da saúde foi

exigindo dos exercentes da profissão de enfermagem um aprendizado mais refinado de

conhecimentos técnico-científicos, ampliando as dimensões do papel profissional. Tais

exigências impõem a necessidade de educação formal continuada, extensão e pesquisa

atingindo-se um nível de "profissionalização", para a enfermagem, quando a escolaridade

requerida alcançou o nível de escola superior (3º grau) à semelhança de profissões mais

antigas (FERREIRA-SANTOS, 1973). Então, pode-se dizer que a enfermagem caracteriza-se

como "profissão instituída", a partir das exigências sociais e do desenvolvimento científico no

campo da saúde.

E quanto à enfermagem do trabalho, vejamos. Conforme já referido, a caracterização

e surgimento de uma profissão dependem das exigências sociais e de progresso científico. As

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exigências sociais são conseqüentes às mudanças no processo histórico-evolutivo da

sociedade, influenciado por diversos fatores, dentre eles, o político, o econômico, o cultural e

o ético. Os impactos provocados pelas mudanças no cenário social suscitam a busca de

alternativas científico-tecnológicas próprias da evolução e desenvolvimento social. Sendo

assim, as profissões instituídas, como a profissão de enfermagem, por exemplo, vêem-se

compelidas a se adequarem também às mudanças de cenários e locais de trabalho do âmbito

social.

As influências sobre a saúde do homem, no seu ambiente de trabalho, exigiu das

profissões do campo da saúde a busca de conhecimentos científicos ainda mais específicos, o

que daria às profissões um caráter especializado e, portanto, com necessidade de educação

formal especializada.

Sobre essa questão, assim fala um sujeito da pesquisa:

"Em 1973, para se começar o curso de enfermagem do trabalho, não se tinha nenhum especialista, nenhuma de nós éramos especialistas."

(Marrom)

A pergunta que se coloca é: Se até aquele ano (1973) não existiam "enfermeiros do

trabalho", ditos especialistas, quem exercia a profissão de enfermagem nos ambientes de

trabalho?

Entretanto, a profissão de enfermagem nas empresas aparece desde a década de 50

(século XX). Bulhões (1986) destaca que a primeira enfermeira do trabalho em nosso país,

Delzuite de Souza Cordeiro, possuía curso de especialização em saúde pública e obstetrícia;

ela era, antes de tudo, enfermeira.

As mudanças no cenário político social, que envolviam a temática da saúde dos

trabalhadores, culminaram com a exigência formal, através de dispositivos legais, com a

imposição dos enfermeiros do trabalho com titulação formal de “especialista” em enfermagem

do trabalho (BULHÕES, 1986). Embora para a formação dos primeiros enfermeiros do

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trabalho, a apreensão da realidade empírica deste mundo laboral da atuação dos enfermeiros

nas empresas foi tomada como ponto de partida.

"Então, nossa estratégia foi chamar as pessoas que trabalhavam. Mas o que aconteceu foi que todas as pessoas que trabalhavam nas empresas correram para se inscreverem como alunos do curso. Estudou-se, na prática, o que é que os enfermeiros do trabalho faziam e, com muita literatura, buscou-se tirar um conceito do que é enfermagem do trabalho; o que é que eles estavam fazendo e criar uma metodologia de assistência de enfermagem do trabalho."

(Marrom)

O segundo elemento (teorista), Ivone Bulhões também estava lá. Fez parte da primeira

turma de formação de especialistas em enfermagem do trabalho, ocorrida em 1974 na Escola

de Enfermagem Anna Nery - UFRJ. Com efeito, este sujeito (Rosa) também fez parte deste

momento “lindo”. Ela foi aluna dessa primeira turma de especialistas em enfermagem do

trabalho.

"E assim foi o nosso início. E ainda muito mais difícil porque enfermagem do trabalho era - e ainda acredito que seja assim em muitos lugares - um profissional muito sozinho, então a pessoa não tem com quem trocar idéias."

(Rosa)

Nessa fala, além de ressaltar as dificuldades encontradas nesse primeiro momento,

percebe-se o destaque "ser muito sozinho" dado ao profissional, especializado, enfermeiro do

trabalho.

Pode-se dizer que Bulhões (1986) atribui a isso à conseqüência de um problema de

ordem legal. Haja vista que apesar da idéia da assistência de enfermagem ser uma realidade

na atenção à saúde do trabalhador, a inclusão do enfermeiro no programa das empresas e

instituições do trabalho só se daria em 1975 com a Portaria nº 3460/75 do Ministério do

Trabalho (BRASIL, 1975). Mas, essa portaria só tornava obrigatória a presença desse tipo de

profissional nas empresa a partir de 3501 empregados, o que limitava a atuação profissional

do enfermeiro do trabalho a empresas de grande porte e de elevado grau de risco.

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A condição de "estar sozinho", para o profissional, caracterizava ocasião de não poder

contar com outro profissional da mesma categoria para a troca de idéias e opiniões sobre a

prática profissional. Mesmo assim, a ação do profissional enfermeiro do trabalho se processa

em todos os ambientes programáticos onde sua prática especializada se tornasse necessária e

legítima.

"Depois do curso, nós passamos a observar que a visão já era outra, tanto que as experiências, na própria empresa, começaram a se diversificar. As nossas atuações começaram a aparecer em vários campos [...]. Em qualquer lugar que se coloque um enfermeiro do trabalho, ele vai atuar e, dali, a conseguir grandes feitos em relação à saúde e ao trabalhador em geral ."

(Rosa)

Esse sujeito participante assim se expressa: "Depois do curso ... a visão era outra". No que

concerne à profissão de enfermeiro, entendida pura e simplesmente, não há dúvida de que sua

prática determinava um modo de agir característico da atuação profissional do enfermeiro, de

um modo geral. Provavelmente, esta atuação se assemelhava àquela que ocorria na área

hospitalar-assistencial.

Porém, quando comenta: "... as experiências ... começaram a se diversificar" , pode significar

que os conteúdos inerentes à formação de especialista, na área da saúde do trabalhador, ou

seja, na formação do enfermeiro do trabalho, predispõem à reformulação dos sistemas de

crenças e valores sobre a realidade empírica e laboral à saúde do trabalhador da assistência de

enfermagem. O que, por certo, implicará em outras interações no âmbito do modo de agir

profissional.

Razão suficiente para que Bulhões (1986) iniciasse uma busca de caracterizar melhor

essa enfermagem do trabalho como área especializada de fato, e não apenas de direito.

Lança-se à necessidade de identificar ações e atos, funções e atribuições do enfermeiro do

trabalho com destaques para a interação do profissional com a nossa área de atuação. E, com

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isto, demonstra que a prática da enfermagem na saúde do trabalhador detém algumas

singularidades, inclusive auto-estima. Um dos sujeitos se expressa:

"Eu me considero uma profissional privilegiada porque eu pude atuar em todas essas áreas. Diferente de outros colegas que, às vezes, não têm essa oportunidade ."

(Branca)

Encontramo-nos, então, diante de um aspecto profissional que envolve oportunidade

de desenvolver e participar de ações possivelmente prescritas para uma dada profissão

especializada. Entendemos que o termo "profissional privilegiado" pode ter um significado

singular e distinto dos modos de agir em outras instâncias da atuação, no âmbito de uma

profissão, a despeito das regulares instâncias técnico-assistenciais, administrativas, de ensino

e pesquisa.

"Na minha atuação como enfermeira do trabalho, inclui tanto a parte preventiva como a assistencial ."

(Amarela)

Na fala anterior, destaca-se que a profissão de enfermeiro é composta por ações de

natureza preventiva e ações de natureza assistencial-curativa, dentre outras.

"Uma profissão, todavia, não é só uma palavra ou o significado originário desta, o que

resume o significado de uma profissão na sociedade é a sua prática, encarando ser esta que

determina a posição e o status do enfermeiro na sociedade, não importando o que ele sabe,

ensina ou delega, mas sim o que ele faz" (BULHÕES, 1986, p. 247).

"A valorização como profissional [de enfermagem] em relação aos outros profissionais não existia, ou era muito pequena. Principalmente em relação ao salário. Depois de vinte e três anos já tínhamos uma equiparação com outros profissionais universitários ."

(Rosa)

Não basta termos um elenco de funções ou atividades previamente definidas e

agrupadas dentro de uma formalização educacional. A plenitude legal de uma profissão

vincula-se, também, ao reconhecimento da sociedade, expresso na forma de uma remuneração

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adequada e mais justa à sua contribuição social. Entretanto, o sentido da valorização

profissional decorre, possivelmente, da interpretação do grupo social dos enfermeiros sobre as

interações com o seu ambiente social. Na relação do enfermeiro com a profissão de

enfermagem podemos observar que esta profissão já detém uma formalização própria.

A enfermagem no Brasil é regulamentada por lei (Lei 7498/86), possui estrutura

pedagógica própria, dispõe de um código de deontologia e de órgãos de associação de classe,

e assim, conta com o status de uma profissão legitimada socialmente (BRASIL, 1993). Em

outros termos, enquanto profissão do campo da saúde, seu valor social é inquestionável.

Porém, neste campo, outras profissões parecem deter maior visibilidade social, talvez por

fatores ligados à cultura em relação à assistência à saúde, e também aos fatores ligados à

hegemonia de profissões mais tradicionais.

Segundo o pensamento de Bulhões (1986, p. 99), a enfermagem do trabalho no Brasil

enfrenta, sem dúvida, enormes desafios profissionais, na luta pelo direito e dever de prestação

de uma assistência de enfermagem em prol da saúde dos trabalhadores. Podemos destacar,

entre outros, os seguintes problemas:

1) Esforço pela garantia de nossa presença em maior quantidade, junto aos

trabalhadores;

2) Melhor qualificação profissional, inclusive quanto à educação

continuada;

3) Correta e competente definição do nosso papel na equipe de saúde

ocupacional;

4) Fortalecimento de nossa organização profissional.

Além de que é premente o desafio quanto "à recuperação e a preservação da memória

da enfermagem como um todo e da enfermagem do trabalho, em particular" (BULHÕES,

1986, p. 99).

"Na verdade não há um reconhecimento de nossa autonomia. Às vezes, eles confundem muito a atuação do médico e há uma certa prepotência. Ainda existe isso. E a gente vai tentando contornar para mostrar que não é uma hierarquia. O profissional de enfermagem é um profissional autônomo [...] existe uma autonomia no nível de seu trabalho ."

(Verde-água)

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Cabe uma interpretação adequada à fala deste sujeito. Alguns autores (JAPIASSU e

MARCONDES, 1996, p. 21) assim definem autonomia: "liberdade política de uma sociedade

capaz de governar-se por si mesma e de forma independente, quer dizer, com

autodeterminação". O sujeito expressa, em sua fala, que atos e operações inerentes ao

enfermeiro e, por implicação, à enfermagem do trabalho são conseqüentes à liberdade e

independência próprias de seu modo de agir profissional. Não se trata, portanto, de uma

relação de hierarquia profissional, pois esta só se justificaria entre as possíveis categorias de

uma mesma profissão (enfermeiro, técnicos e auxiliares de enfermagem). Em sua maneira de

ver (sujeito/depoente), trata-se da presença, nestas interações, das relações de poder, marcadas

pela hierarquia funcional (administrativa), ainda conferida, via de regra, a certas profissões no

campo da saúde.

A interação do enfermeiro do trabalho com a sua profissão está sujeita a influências

dos modelos de administração adotados nos serviços de saúde ocupacional e nas empresas.

"Tenho 20 anos de experiência na enfermagem do trabalho. Tive a oportunidade de estar conhecendo diversos tipos de administração do serviço do trabalhador, então resumidamente, eu posso dizer: administração pública, privada, filantrópica e multinacional. Entendo que esses modelos levam um reflexo em cima da saúde do trabalhador ."

(Bege)

Este sujeito pretende nos dizer que sendo o enfermeiro do trabalho um profissional do

campo da saúde, ele assume um conjunto de competências e atividades adquiridas pela

educação formal, que apóiam os seus modos de agir profissional, compatíveis com uma

prática social na enfermagem do trabalho.

Em plano de prática social, os "modos de agir profissional" dos enfermeiros do

trabalho sofrem as variações das mudanças no mundo social em função dos interesses dos

grupos em um dado contexto sócio-político e cultural. No campo da saúde, essas variações se

manifestam nas formas da assistência à saúde dos indivíduos, grupos e coletividades.

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Bulhões (1986, p. 118) nos alerta quanto às distorções do modelo assistencial

predominante e seu impacto no agir dos enfermeiros do trabalho:

Na verdade, ainda hoje, mesmo nas empresas localizadas no perímetro

urbano das grandes capitais do país, as atividades de saúde dos serviços

médicos aí existentes são predominantemente curativas [...]. Os enfermeiros

do trabalho, na maioria desses serviços, não desenvolvem ainda uma

atividade consentânea com a sua formação profissional especializada

Trabalham sempre, funcional e tecnicamente, subordinados a um médico, na

maioria das vezes sem direito sequer ao registro da denominação do cargo

que ocupam - enfermeiro do trabalho - em suas carteiras profissionais,

embora a especialização nessa área e o competente registro sejam-lhe

exigidos como condições para serem admitidos nesses serviços.

Contudo, com a promulgação da Constituição Federal do Brasil de 1988, um novo

modelo de atenção à saúde da população começou a ser instaurado. Nesse modelo, a saúde do

trabalhador é referida com certo destaque para as questões relativas às condições de vida e ao

meio ambiente (BRASIL, 1988).

"Assim, eu adquiri, do ano 2000 para cá, uma outra experiência em olhar um grupo de trabalhadores não como foco na doença do trabalho e da sua prevenção e sim, com foco na qualidade de vida, nos atos de vida que estão trazendo problemas de saúde que não são inerentes ao trabalho ."

(Bege)

Alguns questionamentos prevalecem. Estariam estas mudanças no modelo assistencial

refletindo-se nos "modos de agir profissional" dos enfermeiros do trabalho? Caberia uma

mudança no foco das ações profissionais pré-estabelecidas? O enfermeiro do trabalho teria

que desenvolver outras habilidades para atender a novas exigências político-sociais? Ou seja,

de que forma os enfermeiros do trabalho expressam concepções sobre os "modos de agir

profissional"?

"Na minha atuação como enfermeira do trabalho, inclui tanto a parte preventiva como a parte curativa ."

(Amarela)

As ações dos enfermeiros do trabalho centralizam-se nas medidas de prevenção e

controle dos riscos ocupacionais existentes no ambiente de trabalho, bem como na correção

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de danos causados por riscos ou acidentes. De certa forma, a natureza destas ações pode ser

entendida como preventiva e assistencial.

"... realizava cursos de primeiros socorros, promoção da saúde, doenças sexualmente transmissíveis e AIDS, e essas coisas que todos nós fazemos para a população trabalhadora de acordo com sua necessidade ."

(Verde-abacate)

Ações que ressaltam o agir profissional do enfermeiro do trabalho quanto ao aspecto

educativo e de promoção da saúde e evidenciam o papel de educador do enfermeiro do

trabalho neste cenário.

"... trabalhava na reabilitação, na questão do atendimento pré-hospitalar com os acidentes do trabalho, as doenças relacionadas ao trabalho e [queixas] de mal estar do trabalhador ."

(Laranja)

Temos em destaque nesta ação as medidas de recuperação da saúde do trabalhador e

sua reintegração ao processo de trabalho. O enfermeiro participa e contribui com cuidados de

enfermagem adequados à reabilitação do trabalhador.

"Primeiramente, eu tenho que fazer a supervisão dos técnicos de enfermagem. Em seguida dos equipamentos e ambiente ."

(Magenta)

As funções gerenciais e administrativas integram o foco de atuação dos enfermeiros do

trabalho em sua interação com o ambiente social da assistência de enfermagem á saúde dos

trabalhadores.

"O que se oferece no dia-a-dia é o trivial: o Programa de Controle Médico da Saúde Ocupacional (PCMSO) e o Programa de Avaliação de Riscos Ambientais. Mas será que o enfermeiro do trabalho pode oferecer mais alguma coisa?"

(Bege)

A contribuição dos enfermeiros do trabalho em programas destinados ao controle da

saúde e dos riscos ambientais, aos quais os trabalhadores estão expostos, de caráter legal ou

normativo, faz-se pela aplicação da suas habilidades e competências conferidas pela sua

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formação e experiência profissional. A fala dos depoentes reflete, de certa forma, a

transcendência da atuação do enfermeiro do trabalho para uma esfera além do controle da

saúde dos trabalhadores. Isto pode significar que os modos de agir profissional dos

enfermeiros do trabalho apresenta um caráter predominantemente preventivo e de promoção

da saúde.

"O nosso trabalho fica voltado muito para o ambulatório. É muito preocupado com a área de prevenção, de exame médico periódico e com a parte de cuidados ambulatoriais."

(Roxa)

"Eu acho que aqui, nós somos muito restritos aos exames periódicos, aos exames admissionais e a parte emergencial. Querendo ou não é ainda assistencialista ."

(Cinza)

As duas falas denotam a grande ênfase dada às ações de caráter assistencial, no sentido

do desenvolvimento de atos e operações técnico-administrativas em atendimento às normas

vigentes, apesar de vinculadas, as ações destinadas à saúde do trabalhador.

"Eu tinha contato direto com o trabalhador. Você podia saber e se aprofundar sobre o que estava acontecendo com ele. Nós podíamos melhorar [as condições] das instalações e da qualidade de vida do trabalhador ."

(Azul-turquesa)

Destaca-se a oportunidade do enfermeiro em interagir, neste campo de prática, com o

trabalhador aprofundando-se em suas questões relativas à intimidade de sua vida e à saúde. O

que contribui para o melhor planejamento da assistência de enfermagem a ser dispensada ao

trabalhador, cliente dos cuidados de enfermagem.

"... então, na verdade, a distribuição do trabalho era feito dentro das equipes, considerando que a parte de enfermagem, é claro, era com o enfermeiro do trabalho..."

(Azul-turquesa)

O aspecto da distribuição do trabalho entre a equipe multiprofissional, como elemento

de caracterização do agir profissional do enfermeiro, sinaliza para o reconhecimento da

natureza do seu trabalho e respeito a sua formação profissional. Na interação entre os

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membros da equipe de saúde o trabalho da equipe de enfermagem é reconhecido como bem

específico.

"... como se fosse a sistematização de todos os processos que a enfermagem tinha. Era muito forte essa área de vigilância sanitária, toda aquela parte de inspeção de alimentação, de manipulação de alimentos, de higienização das áreas, da parte de banheiros, de água, do lixo, de roedores, de ar condicionado ."

(Vinho)

Esta ação destaca o crescimento da abrangência da atuação do enfermeiro do trabalho,

no âmbito da sua prática. As ações de saúde de caráter sanitário e ambiental vêm adquirindo

grande significado na atuação dos enfermeiros do trabalho.

"Eu participei diretamente na organização e desenvolvimento de programas ligados ao estilo de vida e hábitos de saúde."

(Vinho)

A participação do enfermeiro do trabalho, nas esferas de planejamento das ações de

saúde das organizações, tem sido crescente. Este profissional tem sido convidado a integrar

equipes de planejamento e gestão em saúde apresentando propostas e soluções

fundamentadas, sobretudo, na sua visão em relação à saúde individual e coletiva dos

trabalhadores e da população em geral.

"Fazia de tudo, mas o especial mesmo era a assistência de enfermagem. Nós não fazíamos prevenção - o real trabalho do enfermeiro do trabalho."

(Vermelha)

A atuação do enfermeiro do trabalho neste campo consistente com o mundo do

trabalho tem significação para a especificidade profissional. O que norteia sua ação

fundamenta-se efetivamente na sua condição própria de ser enfermeiro. Contudo, ele

reconhece que uma atitude condizente com a saúde pública é o fiel condutor de suas ações

neste campo de atuação.

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Estas considerações são reforçadas por Bulhões (1986, p. 248), que afirma:

Felizmente, diante das novas exigências sanitárias e do crescente nível de

consciência, por parte do trabalhador, de que a saúde é também um direito

seu, existe um desenvolvido grupo de Enfermeiros do trabalho capazes e

interessados em promover a expansão do papel da enfermagem do trabalho.

Após esta primeira rodada de apreciação analítica sobre os dados obtidos de interações

com os sujeitos depoentes, chegamos aos conceitos emergentes das interações do Enfermeiro

do trabalho com a profissão. Lembramos que tais conceitos surgem como conseqüentes à

interpretação do mundo empírico em questão.

O Primeiro Conceito Emergente

A interação do enfermeiro do trabalho com a profissão acontece no próprio "modo

de agir profissional" do enfermeiro do trabalho em seu campo de prática social, local,

assim entendido como aquele, onde suas ações específicas acontecem ou se manifestam.

Este primeiro conceito emergente dos "modos de agir profissional" se traduz em

termos de um conjunto de atos e operações formalizados a partir da sua formação profissional

e é instituído dentro de uma estrutura técnico-científica especializada que caracteriza a

profissão de enfermagem na área da atuação do enfermeiro do trabalho.

Os objetos sociais destacados desta interação - Enfermeiro do trabalho com a

enfermagem na saúde do trabalhador (aspecto profissional) compreendem:

a) as exigências sociais;

b) o desenvolvimento técnico-científico;

c) a singularidade da profissão de enfermagem;

d) as instâncias de atuação da enfermagem: técnica, científica, administrativa, de

ensino e pesquisa;

e) a natureza das ações de enfermagem: preventiva e curativa;

f) a valorização profissional;

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g) a remuneração e reconhecimento social;

h) a formação educacional;

i) a visibilidade social;

j) os direitos e deveres de prestar assistência;

l) a autonomia profissional;

m) os aspectos históricos;

n) as relações de poder e hierarquia;

o) os modelos de assistência à saúde;

p) a prática social;

r) as mudanças no mundo social.

Interação II – O Enfermeiro do Trabalho com o Ambiente da Sua Prática Assistencial

(Aspecto do Ambiente Social)

Esta interação – o enfermeiro do trabalho com o ambiente da sua prática assistencial

(aspecto do ambiente social) – carece de uma breve explicação. Quando nos referimos ao

ambiente social, estamos tratando do ambiente que circunscreve os modos de agir dos sujeitos

na vida social. A vida social é vista no interacionismo simbólico como um processo de

desdobramento no qual o indivíduo interpreta seu ambiente e atua com base nessa

interpretação (BRYMAN, 1995 apud MENDONÇA, 1999). Logo, esse ambiente social

corresponde ao local ou áreas onde a assistência de enfermagem à saúde do trabalhador

ocorre. Isto também pode ser entendido como a área das ações dos sujeitos de um dado

grupo social. Em nosso particular, o grupo dos enfermeiros do trabalho.

Ressaltamos que não se trata de um ambiente delimitado exclusivamente por uma

dimensão física e espacial. O ambiente social se constitui de símbolos significantes que os

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sujeitos interpretam a partir das suas interações, atribuindo um sentido para a sua ação

(BLUMER, 1969).

Desta forma, consideramos a área da assistência de enfermagem à saúde do

trabalhador como ambiente social das ações e interações do enfermeiro do trabalho. Este

ambiente social vincula-se à área de conhecimento da saúde ocupacional que envolve o estudo

dos riscos, das condições e natureza do trabalho, com vistas à prevenção de doenças e

acidentes, na recuperação e promoção da saúde no ambiente de trabalho (OIT, 1959).

Dessa forma, passaremos a analisar as interações dos enfermeiros (sujeitos

participantes da pesquisa) com este ambiente social.

"Depois de muita luta, o Ministério do Trabalho aceitou, em 1975, a integração do enfermeiro do trabalho na equipe, mas com uma diluição enorme. Então, nós passamos a compor a equipe somente a partir de 3001 empregados. Essa dita foi boa porque nos integrou na equipe, mas foi ruim, também, porque quais eram as empresa com mais de 3001 empregados?"

(Lilás)

Bulhões (1986) reitera que, embora a legislação de 1972 (Portaria MTb 3237) não

incluísse o enfermeiro na equipe de saúde ocupacional, desde o início, os profissionais dessa

categoria que trabalhavam em serviços de saúde ocupacional participavam, com suas

experiências, na formação de auxiliares de enfermagem do trabalho, atendendo convite das

faculdades de enfermagem que realizaram os cursos.

Algumas enfermeiras de indústrias do Rio de Janeiro, justamente as que

contavam, já, mais de cinco anos de experiência em serviços de saúde

ocupacional, foram as primeiras a se mobilizarem junto ao DNSHT-

Departamento Nacional Saúde e Higiene do Trabalho, para que a essa

categoria também fosse concedido o registro do Ministério do Trabalho só

facultado pela legislação de 1972 aos auxiliares de enfermagem, médicos,

engenheiros e inspetores (hoje técnicos) de segurança, que comprovassem

experiência mínima de cinco anos em serviço de medicina e segurança do

trabalho (BULHÕES, 1986, p. 119-120).

Para que o enfermeiro participasse de programas de saúde ocupacional, em nosso

país, necessitou-se de muitas lutas. E, assim, identificamos que a legislação que regula a

estrutura e o funcionamento de um ambiente social pode ser tomada como elemento

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significante na interpretação das interações sociais. Com base na fundamentação teórica desta

tese, depreendemos que houve um período que antecedeu à definição da legislação que

determinou a inclusão do enfermeiro do trabalho na equipe de saúde ocupacional a partir de

3001 empregados. Nesse período que, segundo Bulhões (1986), vai de 1953 a 1974, muitas

empresas possuíam em seus serviços de saúde ocupacional a presença das atividades de

enfermagem. Bulhões (1986) reitera esta afirmação apoiada em estudo realizado em 53

empresas, no antigo Estado da Guanabara, atual Estado do Rio de Janeiro, no período de

1953-54, que constatou a presença do enfermeiro em 28,3% dessas empresas desenvolvendo

suas atividades em tempo integral (8h) e 5,6% em tempo parcial (4h), demonstrando a

presença deste profissional nas empresas mesmo antes da criação de dispositivo legal.

Isto nos leva a pensar que o os enfermeiros já se faziam necessários nesse ambiente

social, antes mesmo da sua determinação legal.

As interações e interpretações sobre o ambiente social, de certa forma, podem ter dado

impulso para a institucionalização da participação legal da enfermagem do trabalho nesta

área. Sendo assim, a estrutura legal e normativa apresenta-se como elemento distinto a

nortear o ambiente social sofrendo interpretações pelos sujeitos participantes. Um elemento

de importância significativa no mundo empírico, condizente com a pragmática assistencial

dos enfermeiros do trabalho.

"[...] A atividade-fim da empresa é produzir o carro, o petróleo, a cadeira, a mesa, etc. Mas, se o empresário valoriza o homem e a saúde do homem, ele vê o trabalho do enfermeiro muito bem. Agora se ele não vê o trabalhador com a necessidade de ser saudável para poder trabalhar, ele não valoriza. E, então, o trabalho do enfermeiro é uma mera ocupação de um cargo legal, está cumprindo a lei."

(Lilás)

Esta fala evidencia que nesse ambiente social emerge um elemento que deriva da

valorização ou não da saúde do homem que trabalha pelo organismo social denominado

empresa. A importância dada às questões de saúde dos trabalhadores irá depender da visão

dos empresários em função de seus interesses.

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Independentemente do caráter próprio dos "modos de agir profissional" dos

enfermeiros do trabalho, o comportamento do organismo social empresa demarcaria um foco

de interação. Quando a visão sobre a saúde do trabalhador se sobrepõe às questões legais,

podemos entender que o que se espera das ações dos profissionais é a busca de melhores

resultados para a empresa no que tange à saúde de seus empregados conferindo com a força

de trabalho. Em contrapartida, quando o foco de atenção às questões da saúde ocupacional

restringe-se ao cumprimento estrito da lei, o resultado das ações dos profissionais torna-se

precária.

Bulhões (1986), ao discutir sobre a formação do enfermeiro do trabalho, com base nas

recomendações do Comitê Misto da OIT/OMS (1981), destaca que foi considerado essencial

que se dê formação especializada aos enfermeiros que se destinam a trabalhos em serviços de

saúde ocupacional e recomenda, entre outros, como objetivos da especialização dessa

categoria, o seguinte: a) conhecer a estrutura organizacional da empresa; b) construir um

modelo teórico que demonstre as linhas de comunicação e cooperação no interesse da saúde

do empregado, quer na empresa, quer fora dela.

Não obstante, a interação do enfermeiro com o ambiente social deixa claro que a

estrutura organizacional da empresa é um dos componentes presentes nesta interação. Tenha-

se em conta que:

"Se o trabalhador for saudável, pode ter certeza também de que a empresa é saudável e vai gerar dinheiro."

(Rosa)

"Dentro da empresa, você está com pessoas sadias, pessoas que estão muito mais abertas naquele momento de vida até para estar recebendo os ensinamentos e participando de grupos que nós desenvolvemos... grupos de promoção da saúde."

(Vermelha)

Os sujeitos sinalizam que a empresa é um local apropriado para a prática da promoção

da saúde através de ações educativas, tratando-se de um ambiente propício para a educação

para saúde. Conta-se com um grupo que detém características semelhantes quanto aos riscos

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ambientais e à natureza do próprio trabalho que executam. Não obstante, este grupo

específico traz consigo as influências do seu estilo de vida e de aspectos epidemiológicos e

sanitários da sua vida social fora da empresa (SILVA, 2000).

O ambiente de trabalho possui, na sua maioria, as condições mínimas para as boas

práticas de saúde. Bulhões (1986), em seu discurso explicativo, enfatiza que as ações da

enfermagem do trabalho se ancoram nas ações da saúde pública de um modo mais amplo e

em particular na saúde de grupos menores. Quando atendemos a um grupo de trabalhadores

de uma empresa fica claro tratar-se de um grupo com características semelhantes quanto aos

riscos e possibilidades em relação à sua saúde. Entretanto, este grupo, de características

especiais, encontra-se circunscrito nas esferas espacial, temporal e contingente de específico

controle. Trata-se de um grupo de indivíduos interagindo socialmente de forma usual e

freqüente em grande parte de sua vida.

Este aspecto daria aos profissionais dedicados à saúde do trabalhador uma

possibilidade de ação mais efetiva sobre este grupo, sobretudo pelo acompanhamento mais

eficaz dos resultados das ações de saúde implementadas.

"Eu ensinei muitas pessoas, que 'não' aprenderam a trabalhar, mas aprenderam para que serve o trabalho, a se cuidar mais, o que estão fazendo aqui nesse mundo. E, eu creio que a família também pode absorver uma parte disso, porque o trabalhador bem centrado, em casa, tem uma figura diferente: um melhor marido, um melhor pai, cuida mais da família dele e tem mais responsabilidade."

(Preta)

O ambiente de trabalho, além de ser excelente para as ações educativas de saúde

relativas aos comportamentos dos trabalhadores, quando investidos deste papel, serve também

para torná-lo um elemento disseminador das orientações recebidas, em especial dos

enfermeiros do trabalho, para outros grupos sociais, como, por exemplo, a família.

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A função educativa do enfermeiro do trabalho, neste caso, transcende a esfera dos

aspectos físicos da saúde. Identifica-se sua contribuição no âmbito das relações pessoais do

trabalhador fora do ambiente de trabalho.

Neste sentido, Bulhões (1986, p. 243), afirma que:

A enfermagem do trabalho é uma especialidade destinada ao cuidado

daqueles que trabalham. Qualquer outro destinatário ou receptor desse

cuidado profissional, que por acaso aí se acrescente, tais como: família,

empresa, comunidade, etc. serão incluídos por força da assistência que se

destina e reserva, em primeiro lugar, ao trabalhador.

"[...] se ele realmente atua, ele colabora com a qualidade de vida dos trabalhadores porque ele levanta as questões que estão trazendo problemas ao trabalhador no ambiente, quer seja na máquina quer seja no posto de trabalho, problemas que estejam interferindo nesse trabalhador para que assim ele possa produzir mais e ter menos problemas de saúde ."

(Bege)

O Segundo Conceito Emergente

O ambiente social reúne elementos de significância com os quais o enfermeiro do

trabalho interage e direciona as suas ações na atenção à saúde do trabalhador.

Este conceito abrange os objetos sócias e símbolos significantes, dentre os quais

cumpre destacar:

a) a área de saber/conhecimento envolvida;

b) o grupo social e suas características;

c) a estrutura política e social;

d) as relações de poder;

e) modelo de gestão da empresa;

f) visão sobre a saúde por parte dos empresários;

g) natureza do trabalho;

h) o local de trabalho como espaço para as práticas de ações educativas.

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Interação III - Enfermeiro do Trabalho com a Equipe de Saúde Ocupacional (Aspecto

da Organização Ambiente do Trabalho)

Tratamos, nesta parte, das interações do enfermeiro do trabalho com a equipe de saúde

ocupacional. Interessou-nos apreender dos achados os objetos sociais e os símbolos

significantes manifestos nas falas dos sujeitos, como conseqüentes de sua interpretação sobre

as interações de si mesmos com os outros, dos outros com ele, e dele consigo mesmo.

"A primeira coisa é que, para o mundo do trabalho, o enfermeiro não pode estar sozinho, ele tem que estar atrelado a uma equipe. É fundamental, porque o enfermeiro pode desenvolver algumas ações isoladamente, mas muitas ações, principalmente nas complementares. Para complementarem as necessidades humanas básicas, a enfermeira depende de outros profissionais. No mundo do trabalho ela (e) precisa do médico, no que tange às doenças profissionais e os agravos à saúde. Do engenheiro de segurança, no que tange ao ambiente do trabalho."

(Lilás)

De fato, a atenção à saúde do trabalhador envolve a atuação de profissionais das mais

diversas áreas de conhecimento. Não sendo assim, nem a própria legislação vigente sobre a

matéria teria instituído uma equipe para atuar nesta área, posto que na prática, é necessário ter

em mente como se dão as interações do enfermeiro do trabalho com essa equipe.

Na fala do sujeito acima, detecta-se uma correlação da atuação do médico do trabalho

e do engenheiro de segurança do trabalho com os seus respectivos focos de atuação. O

primeiro com a doença ocupacional e o segundo com os fatores de risco ambientais.

Nesta perspectiva, o enfermeiro do trabalho identifica uma complementariedade na

interação dos "modos de agir dos profissionais", na equipe de saúde ocupacional, e pela

necessidade de ver o trabalhador de forma integral.

"Nós temos uma atitude sempre de integração, de estarmos atraindo sempre o trabalhador para próximo de nós e, às vezes, eu não vejo muito isso em um outro profissional que trata mais como se fosse uma atitude a que tem que ser tomada enquanto que nós trabalhadores de enfermagem, vemos mesmo a pessoa como um ser."

(Rosa)

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Considerando-se as proposições teorizantes de Bulhões (1986), verificamos que ela

nos descreve, de forma literal, na sua produção, as atribuições dos enfermeiros, técnicos e

auxiliares de enfermagem do trabalho, bem como refere competências de médicos e

engenheiros de segurança do trabalho, como descritos na CBO - Classificação Brasileira de

Ocupações (BRASIL, 1982). A uma simples leitura, podemos compreender que algumas

ações desses elementos da equipe de saúde ocupacional, independem de como essas ações se

manifestam no mundo empírico das interações.

"Às vezes, eu acho que o enfermeiro é um profissional que trabalha no escuro, ele não é aquele profissional que aparece, ele não é aquela estrela que fica brilhando [...] mas talvez seja um dos profissionais que mais sofrem exigências com relação ao trabalho, a posições e até mesmo quanto a resultados. Eles exigem muito."

(Rosa)

A expressão "trabalha no escuro", utilizada pelo sujeito depoente, não significa que o

enfermeiro age sem o devido conhecimento técnico-científico. O sentido dado à expressão é

o da pouca visibilidade percebida pelo outro, do volume de ações e atribuições desenvolvidas

por este profissional na equipe.

Pode-se colocar, aqui, por suposto, que o enfermeiro do trabalho é o profissional que

mais sofre exigências com relação às atribuições instituídas no trabalho e com um trabalho

que pouco aparece. Contudo, estaríamos falando de modo radical em favor das ações

específicas e exclusivas à atenção à saúde do trabalhador. Em geral o que sucede é que o

enfermeiro tem atraído para si outras funções e atividades que vão além da atenção exclusiva

à saúde.

"[...] nós profissionais enfermeiros do trabalho somos culpados, porque damos todo o nosso sangue para nosso trabalho, mas em relação à nossa profissão mesmo, em relação à enfermagem do trabalho, nós deixamos muito a desejar."

(Rosa)

Culpados de quê? Seria o excesso de trabalho conjugado à restrita presença do

enfermeiro do trabalho na equipe de saúde ocupacional? "Dar o sangue" pode significar a

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tentativa de cumprir as funções que lhe são próprias e as atribuições que este profissional

assume no ambiente social, atendendo ou aos ditames da lei ou às exigências empresariais.

Tentar desenvolver, em nível de excelência, as atribuições relativas às esferas técnica,

administrativa, de ensino e pesquisa, já é um desafio comum de toda a categoria profissional

dos enfermeiros.

Todavia, Bulhões (1986) ressalta que, na equipe de saúde ocupacional, recai sobre o

enfermeiro uma gama de atribuições de cunho administrativo em prol da assistência à saúde

do trabalhador.

"Deixa a desejar" parece ter conotação com a participação dos enfermeiros nos órgãos

associativos da categoria. Nesse sentido, Bulhões (1986) entende que o incremento da vida

associativa dos enfermeiros é que poderá trazer maiores possibilidades na mudança da

legislação para ampliar o número de enfermeiros nos serviços de saúde ocupacional das

empresas. Por vezes, o enfermeiro do trabalho tende a se prender mais em uma destas esferas

para justificar a sua participação na equipe de saúde ocupacional.

"O enfermeiro tem uma visão de gestão e de administração que dentro de um serviço de saúde para a empresa, faz uma diferença grande. Muitas vezes, os outros profissionais, até pela formação, são mais direcionados e ficam mais centralizados na sua atividade fim. O enfermeiro consegue, além de atuar na assistência e na educação, também, ser um bom gestor. Tanto é que eu tenho visto, hoje em dia, na empresa, muitos colegas ocupando cargos na área de gestão com grande destaque."

(Vermelha)

Com efeito, para que a assistência à saúde do trabalhador ocorra, faz-se necessário a

coordenação dos recursos existentes e disponíveis. Este papel normalmente recai sobre o

enfermeiro, a princípio em razão de duração de sua carga horária na empresa. Em seguida,

pelo fato dos outros profissionais estarem mais focalizados na assistência direta ao

trabalhador.

Tudo isso vem contribuindo com a ampliação da esfera de tomada de decisão dos

enfermeiros na empresa. Em contrapartida, a questão não é que o enfermeiro tenha que se

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afastar da assistência direta ao trabalhador, mas que se criem situações que propiciem

aumento do número de enfermeiros, nos serviços de saúde das empresas.

"O enfermeiro do trabalho tem uma metodologia que é específica. Ele consegue ver esse trabalhador como um todo, enquanto os outros profissionais conseguem vê-lo apenas pela sua área. O enfermeiro do trabalho consegue ter esse olhar."

(Branca)

Na equipe de saúde ocupacional, o enfermeiro percebe que o seu agir é distinto dos

demais profissionais. O que marca a distinção talvez seja a forma com que ele concebe o

trabalhador. De um modo geral, para o enfermeiro do trabalho assistir ao trabalhador, precisa

vê-lo como um todo, como um indivíduo integral. Neste sentido, ele intercambia informações

com os demais profissionais da equipe para melhor assistir o trabalhador.

Contudo, o caráter da especificidade de cada profissional na atenção à saúde do

trabalhador, predispõe à fragmentação e segmentarismo da assistência, pois ainda permeia,

neste cenário, os reflexos do paradigma do modelo médico-assistencialista e reducionista na

saúde do trabalhador.

Embora a formação do enfermeiro do trabalho aponte para uma atuação profissional

com esta visão de totalidade, a pergunta que se coloca é: será que ele estaria isento das

influências do ambiente da sua prática assistencial?

"A formação hoje em medicina do trabalho e enfermagem do trabalho é muito ruim, é muito submissa aos interesses empresariais, ela é pouco ousada, e ela é muito segmentada."

(Verde-escuro)

A fala do sujeito depoente nos aponta um dado resultante da realidade da pragmática

assistencial de extrema relevância. Evidencia que começa, na formação profissional, os

indícios da sua atuação.

A segmentação das ações dos profissionais da equipe é incompatível com os princípios

da saúde ocupacional (BULHÕES, 1986), sendo que as ações de prevenção, controle e

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promoção da saúde dão a tônica da atuação profissional nesta área. Como admitir, então, a

segmentação destas ações? Estariam elas atreladas ainda ao forte paradigma clínico-

assistencialista?

Na prática, o que sucede é que tanto o enfermeiro do trabalho como a equipe de saúde

ocupacional são influenciadas nos seus modos de agir pelos interesses e ideologias

dominantes.

"Você consegue somar com esses profissionais porque você tem uma ampla visão do funcionário. Você está inserido no contexto e vai lá para ver o campo de trabalho dele, tem um contato com ele bem maior. Ele tem a facilidade de expor as coisas para você, coisas que, às vezes, ele não consegue expor para outro profissional."

(Ferrugem)

Vemos aqui que a interação do enfermeiro do trabalho com a equipe de saúde

ocupacional é marcada pela ampla visão do contexto saúde do trabalhador, pelo papel de

articulador e facilitador da comunicação do trabalhador com os demais membros da equipe,

pela confiança adquirida na sua relação com o trabalhador. Isto nos faz pensar se a facilidade

de comunicação e mobilidade entre os trabalhadores se constitui em mera particularidade

exclusiva dos " modos de agir profissional" do enfermeiro do trabalho.

"Eu acho que cada um tem o seu valor, cada profissional tem o seu valor diferenciado e todos têm que se unir. Tudo é uma equipe, cada um dando um pouco da sua experiência para se tornar uma grande equipe, para que essa empresa, esse local ou qualquer local que você trabalhe, se torne um local de qualidade."

(Azul-turquesa)

Este sujeito expressa um sentido de equipe a partir da soma das experiências de cada

elemento do grupo. Neste caso, o enfermeiro do trabalho estaria compartilhando suas

experiências e saber/conhecimento com os outros profissionais da equipe e, ao mesmo tempo,

apreendendo deles conhecimentos e outros saberes, em prol da melhoria da qualidade da

assistência à saúde dos trabalhadores. Trabalhar em equipe seria uma troca contínua de

experiências e conhecimentos. Entretanto, esta troca contínua não significaria perda de

identidade profissional.

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"Na enfermagem em geral, independente se for o trabalhador ou for o doente, existe muito mais vínculo com o empregado do que os outros profissionais. Está mais na frente, mais ali no dia-a-dia, nós temos mais contato. Nós temos uma ligação forte."

(Vinho)

Esta fala vem reafirmar que essas características de comunicação, contato, vínculo

com o trabalhador é um atributo da profissão de enfermagem.

"Na equipe, o enfermeiro do trabalho é visto como uma peça importantíssima, fundamental. Hoje eu tenho uma visão ampla, de vários locais de trabalho que têm a atuação do enfermeiro, mas ele é geralmente bastante valorizado. Acaba sendo sobrecarregado por conta dessa visão ampla."

(Vinho)

Sendo um profissional que desenvolve ações de caráter técnico, administrativo, de

ensino e pesquisa (BULHÕES, 1986; ZEITOUNE, 1990), o enfermeiro do trabalho é tido

como um articulador dentro da equipe de saúde ocupacional. Isto, por sua habilidade em

aproximar os interesses dos trabalhadores em relação à sua saúde e pela disponibilidade da

empresa para atendê-los.

O Terceiro Conceito Emergente

A interação do enfermeiro do trabalho com a equipe de saúde ocupacional integra o

enfermeiro do trabalho como um elemento facilitador dos processos de trabalho na saúde

do trabalhador.

Devido a sua habilidade de comunicação/articulação, concepção ampliada do ambiente

de trabalho, do senso de humanização e visão integral da saúde do trabalhador, este conceito

compreende seguintes os objetos sociais e símbolos significantes que norteiam essa interação:

a) a dependência e interdependência dos profissionais nesta área;

b) a especificidade do "agir profissional" de cada membro da equipe;

c) a complementariedade das ações de cada profissional na equipe;

d) a visão sobre a forma de execução do trabalho;

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e) o senso de integração da equipe;

f) as sobrecargas de cada profissão na busca de seus objetivos;

g) a visibilidade social;

h) o nível de participação na vida associativa (órgão de classe);

i) a visão de gestão e de administração;

j) o intercâmbio de informações;

l) a influência dos paradigmas da saúde;

m) a formação profissional.

Interação IV - Enfermeiro do Trabalho com a Enfermagem e seus Atributos (Aspecto

do Saber/Conhecimento)

Antes de apresentarmos os achados a respeito desta interação, cabe um breve

esclarecimento. Encontramos na palavra "atributo" os seguintes significados: "aquilo que é

próprio ou peculiar de alguém ou de alguma coisa; sinal distintivo. Qualidade atribuída ao

sujeito". Com esse entendimento, buscamos nos achados, identificar as "coisas" que são

peculiares à enfermagem e ao enfermeiro do trabalho, admitindo (por suposto) atributos

envolvendo elementos que constituem o pensamento sobre a pragmática assistencial de

enfermagem de um modo geral e, em especial, a enfermagem do trabalho. Vale ressaltar que,

segundo Japiassu e Marcondes (1996, p. 20), atributo confere com algo que é afirmado ou

negado de um sujeito (sinônimo de predicado).

Então, para nos aproximarmos do sentido desta interação: Enfermeiro do trabalho

com a enfermagem e seus atributos, tomamos como ponto de partida a definição de Bulhões

(1986, p. 243) sobre enfermagem do trabalho: "a enfermagem do trabalho é uma

especialidade destinada ao cuidado daqueles que trabalham. Preocupa-se, portanto, com

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trabalhadores". Desta definição depreende-se como elementos constitutivos: a "enfermagem

do trabalho"; "a ação de cuidar ou prestar cuidados"; e o trabalhador "recebedor desta ação".

Vejamos como os sujeitos desta pesquisa interagem com esses elementos.

"A saúde do trabalhador deveria ver, primeiramente a pessoa que trabalha com todo o seu contexto. Contexto de vida, de alimentação, de tudo. Porque você sabe que o conceito de saúde de trabalhador não envolve somente o trabalho, envolve também a alimentação, a moradia, o emprego, o lazer, as condições de trabalho e o estilo de vida."

(Lilás)

A fala deste sujeito, confrontada com a teorista, causou-nos uma certa inquietação,

haja vista que o elemento destacado na definição de enfermagem do trabalho (BULHÕES,

1986), como o trabalhador, dá idéia de tratar-se de indivíduo submetido às influências diretas

e intrínsecas ao ambiente de trabalho, entendido como local das práticas de produção e

serviços, o que enseja focalizar a atenção do enfermeiro do trabalho exclusivamente na

relação do trabalhador com o ambiente de trabalho e vice-e-versa.

Por outro lado, o sujeito depoente, embora destaque o trabalhador como foco da sua

atenção profissional, confere pelo entendimento de um conceito, de caráter mais abrangente,

que é a "saúde do trabalhador", campo de atuação que se configura no conjunto de ações de

diversos profissionais na atenção à saúde do trabalhador. E essas ações, possivelmente

transcendem à esfera específica do ambiente de trabalho, trazendo para este cenário questões

de ordem social, dentre outras.

Neste entendimento, o que para a enfermagem do trabalho parece distanciar, ao

mesmo tempo aproxima, pois para a enfermagem, em geral, o trabalhador como cliente é,

antes de tudo, um ser humano que necessita de cuidados de enfermagem.

"O trabalhador é o papel [elemento] principal. O olhar tem que ser para ele, enfocando nele, para que nós possamos ver através do que ele necessita, porque ele é o nosso cliente, desta forma, vamos poder colocar programas, exames de saúde periódicos, fazer medidas preventivas, promover a saúde e reabilitá-lo adequadamente, porque se nós não tivermos esse olhar, não vamos conseguir."

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"[...] antes de pensar na produção, antes de pensar no modo produtivo, eu tenho que pensar no trabalhador e saber a fundo quais são as suas necessidades, daí me programar para qualquer outra coisa na área da enfermagem do trabalho."

(Branca)

Este sujeito deixa claro que das ações e atividades, planejadas ou não pelo enfermeiro

do trabalho, devem emanar as características e necessidades manifestadas, a priori, pelo

trabalhador, o que o torna ativo neste processo.

Neste sentido, Bulhões (1986, p. 271) nos alerta: "é conveniente que o trabalhador

aprenda, além de se cuidar, a cuidar de seus colegas, a prevenir doenças e acidentes que

poderão atingir a comunidade e contaminar o meio ambiente".

Assim, o trabalhador, enquanto cliente do enfermeiro do trabalho, é visto como um

elemento essencial na caracterização e planejamento da assistência de enfermagem a ser

prestada, e caso este enfermeiro conceba o trabalhador como um ser social, ou seja, envolvido

com interações dentro e fora do ambiente do trabalho, o que o torna elemento ativo nesse

processo. Olhando-se por este ângulo, o enfermeiro do trabalho, no desenvolvimento de suas

ações junto ao trabalhador, utiliza esta oportunidade para orientá-lo sobre outros aspectos da

sua vida e saúde.

Vejamos o que nos diz Bulhões (1986, p. 371):

[...] - o exame periódico de saúde, por exemplo - enseja ótimas

oportunidades para atividades de educação para a saúde em geral e

orientação sobre higiene e segurança do trabalho. Mesmo quando se busca a

recuperação da saúde, durante a execução de um curativo ou a aplicação de

medicamentos, torna-se importante a utilização desses contatos com o

trabalhador, para promover-lhe a saúde e ensinar-lhe o autocuidado.

O que quer dizer que, durante a prestação dos cuidados de enfermagem, o enfermeiro

também ensina ao trabalhador a cuidar de si mesmo, dentro e fora da empresa.

Uma outra fala nos diz:

"Eu acho que tenho que cuidar das pessoas. O cuidado para mim é fundamental. Tenho que cuidar em todos os sentidos: no sentido do cuidado físico, do cuidado psíquico, ou seja, cuidar o máximo que eu puder desse trabalhador. E cuidar. Nós, acolhendo o trabalhador, nós cuidamos para que ele tenha saúde física, mental e

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espiritual. Em um acidente do trabalho, por exemplo, o cuidar é fundamental para tirar o trabalhador do risco de vida, para salvar a vida daquele trabalhador. O cuidar é fundamental. Eu estou para isto."

(Branca)

Como podemos perceber, nesta fala, a ação de cuidar implica em estar junto do

trabalhador. Logo, não sendo ele um ser passivo nesta relação, podemos constatar neste

sentido que o cuidado de enfermagem abrange uma interação. Na intenção de ensinar o

trabalhador a autocuidar-se, faz-se necessário interagir com ele e identificar de que forma ele

interpreta esse cuidado, destacando o significado que este cuidado tem para ele nesta

interação.

Neste ponto, Waldow (2001, p. 129) é enfática, a fim de ajudar-nos a compreender

melhor esta ação do cuidar:

O processo de cuidar envolve crescimento e ocorre independentemente da

cura. É intencional e seus objetivos são vários, dependendo do momento, da

situação e da experiência. Por ser um processo, não há preocupação com um

fim. Os objetivos de cuidar envolvem, entre outros, aliviar, confortar,

ajudar, favorecer, promover, restabelecer, restaurar, dar, fazer etc. A cura

pode ocorrer ou não, assim como a morte. O cuidado é imprescindível em

todas as situações de enfermidade, incapacidades e durante o processo de

morrer. Na ausência de alguma enfermidade e no cotidiano dos seres

humanos, o cuidado humano também é imprescindível tanto como uma

forma de viver como de se relacionar.

No dizer dessa autora, o cuidado é entendido como elemento de um processo

envolvendo situações de recuperação, restauração, prevenção e promoção da saúde dos seres

humanos, sendo que "o cuidar humano é imprescindível, também, tanto como uma forma de

viver e de se relacionar", o cuidado prestado ao trabalhador constitui-se em uma interação, e

sua expressão dependente da existência do cuidador, do recebedor do cuidado e da intenção

objetiva sobre o ato de cuidar, entendido como passível de interpretação dada pelos sujeitos

envolvidos neste processo de interação.

Mesmo o cuidado prestado pelo enfermeiro do trabalho carece para a sua eficácia, da

interpretação e compreensão que o recebedor do cuidado faz sobre a assistência de

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enfermagem a que tem direito. A concepção sobre a ação do cuidar do profissional

(enfermeiro), nesta interação, manifesta-se na intenção objetiva de um ato concreto que

guarda certa limitação quanto à interpretação que o recebedor deste cuidado faz sobre o

processo da assistência de enfermagem.

Os sujeitos concebem este "cuidar" na saúde do trabalhador, desta forma:

"Ele é, primeiramente, humano. Pela natureza do ser que é o homem. Em segundo lugar, econômico. Porque na saúde do trabalhador, se o mesmo tiver um bom atendimento de saúde, ele vai trabalhar melhor. Em terceiro lugar, ele é social, que o trabalhador, estando bem de saúde, sendo tratado como uma pessoa humana com suas possibilidades de adoecer e sendo atendido nas suas necessidades, ele vai ter satisfação no trabalho e, logicamente, a empresa vai ser socialmente bem resolvida. Porque o cuidar tem todos esses componentes: o componente humano, o do bem-

estar colocando aí a saúde como valor essencial, não doença, mas saúde um componente social no sentido de ajudar as pessoas a viverem socialmente bem econômico-financeira."

(Lilás)

Nesta fala, a ação de cuidar do enfermeiro do trabalho está calcada em três aspectos

fundamentais: o humano, o social e o econômico. A conjugação desses aspectos tem a ver

não só com a saúde do trabalhador, sob os pontos de vista físico e social, mas também na

imagem social e econômica da empresa onde ele exerce suas atividades laborais.

Na década de 80, as discussões sobre os cuidados de enfermagem mostravam-se

incipientes e Bulhões (1986) nos apresenta uma pista, no sentido de considerar os aspectos

influentes na constituição das atividades de enfermagem do trabalho no planejamento da

assistência e saúde do trabalhador.

[...] Além da quantidade total de empregados, os dados relacionados a seguir

assumem grande importância num programa de assistência à saúde dos

trabalhadores e devem ser levantados, pelo menos quanto ao total e quanto à

distribuição percentual, segundo cada um dos seguintes aspectos: 1) físico;

2) laborais; 3) econômicos: e 4) sócio-culturais. [...] Assim, não podemos

esquecer que os dados representativos das boas ou más condições de saúde e

segurança dos trabalhadores numa determinada empresa, por refletirem as

próprias condições de vida e trabalho, não podem ser analisados apenas sob

o enfoque restritivo daqueles, sem que estes sejam também considerados (BULHÕES, 1986, p. 208-209).

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Pode-se depreender que Bulhões (1986) estaria enfatizando que na assistência de

enfermagem à saúde do trabalhador, o cuidado de enfermagem se destaca por sua abrangência

de caráter coletivo. E pode-se perguntar: Seria o cuidado de enfermagem constituído a partir

das necessidades de um grupo específico - o grupo dos trabalhadores?

A esse respeito, os sujeitos participantes dizem:

"O cuidar, para mim, é colocar as pessoas sempre em uma situação de saúde ou de equilíbrio para que elas possam desenvolver as suas atividades profissionais."

(Rosa)

"O cuidar na saúde do trabalhador é você poder acompanhar, periodicamente, todos os exames periódicos e a evolução desses exames dos funcionários. É você poder atuar em qualquer intercorrência que surja em termos de saúde, é estar presente quando o trabalhador vir procurar, é estar envolvida com o bem-estar dele, é estar preocupada com o que está acontecendo de intercorrência para cuidar dele, podendo, às vezes, também intermediar frente à chefia do trabalhador. [...] Porém, o nosso enfoque maior é o cuidar dentro de uma estratégia de prevenção."

(Azul-celeste)

O enfoque nas concepções recai na saúde como equilíbrio ou como elemento de

capacitação para o trabalho. Também expressa o cuidar do enfermeiro como um processo

contínuo de interações, e demonstra que sua efetividade decorre da atenção assegurada na sua

presença freqüente nas discussões de questões que norteiam a vida do trabalhador na sua

relação com o ambiente laboral. Mesmo o destaque dado ao enfoque preventivo, na atuação

do enfermeiro, não traduz apenas a difusão de comportamentos e atitudes restritas à

prevenção de danos físicos ou doenças, mas sim uma atitude constante de atenção à sua

própria saúde e vida, sobre todos os aspectos.

"Quando eu vou atuar em cima de um trabalhador atendendo ele diretamente, eu vejo um lado preventivo. Eu não consigo me desvincular, atuar, fazer a assistência e atendê-lo sem que 80% do meu pensamento esteja voltado para o lado preventivo. Então, o significado para mim do sentido do cuidar está em cima da prevenção. [...] reforçando: é inerente ao exercício da minha função como enfermeira do trabalho estar praticando muito a questão das atitudes prevencionistas, assim como, também, está relacionando à questão social da saúde da população em si, em estar trazendo questões voltadas para que as pessoas e os profissionais atuem na prevenção."

(Bege)

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Poderíamos depreender que o cuidado de enfermagem na saúde do trabalhador

requer uma atitude preventiva inerente aos modos de agir dos enfermeiros do trabalho.

Esta atitude preventiva não se restringe apenas à observância dos riscos ambientais, por vezes

evidentes, próprios do local de trabalho, mas aos comportamentos manifestos dos

trabalhadores sobre o sentido desta prevenção em sua própria vida.

"Esse é o significado de cuidar: você olhando nos olhos, ouvindo-o, fazendo com que ele perceba que você está ali por inteiro, que não está preocupada em atender o telefone ou preocupada em terminar logo. Eu acho que isso tudo faz parte: você passar para o seu cliente que ele é único, que você está ali, que vai ajudá-lo no que ele precisa claramente ou, então, ajudá-lo de outra forma, fazendo uma colocação, fazendo ele pensar sobre a sua vida."

(Magenta)

Esta fala evidencia que a ação de cuidar e prestar cuidados do enfermeiro do trabalho é

resultante da interação do enfermeiro do trabalho com o trabalhador, em um momento

singular, onde os dois elementos identificam e compartilham suas possibilidades e

necessidades relativas à saúde.

Eu acho que cuidar é uma coisa muito própria da enfermagem, passa pela questão do acolhimento, pela questão da recepção, você não vai esgotar nunca nem em uma consulta e nem nesse espaço de contato às questões da vida de uma pessoa, isso é impossível e nem é nosso objetivo, mas ele tem que ser um espaço em que você possa estar recebendo essas pessoas e estar entendendo dentro das suas limitações, inclusive de formação, o que você pode ajudar. [...] Agora o cuidado eu acho que é essa coisa abrangente, é a recepção, é ouvir, compreender, eu acho que aprender, também, e é o acolhimento, e evidentemente um nível de resolutividade também..."

(Verde-escuro)

Nesta fala, o cuidado é integrante de um processo decorrente da interação do

enfermeiro do trabalho com o trabalhador. Neste processo, os dois elementos da interação

necessitam de interpretação sobre a ação de cuidar que tenha condição de um entendimento

comum sobre essa ação. Neste sentido, a ação de cuidar torna-se um campo de aprendizado

mútuo. O enfermeiro para aplicar os seus conhecimentos técnico-científicos, nessa interação,

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precisa aprender sobre os valores e crenças do trabalhador, para adequar à situação à sua ação

de cuidar.

O Quarto Conceito Emergente

A interação do enfermeiro do trabalho com a enfermagem e seus atributos denota a

existência de certos elementos essenciais ao entendimento da enfermagem como área de

saber.

Neste conceito, alguns elementos são ressaltados, embora não de forma restritiva. Em

um sentido mais amplo, pode-se dizer que esta interação consiste no resultado da

interpretação que o enfermeiro do trabalho faz dos seguintes elementos: o trabalhador, a

enfermagem do trabalho e o cuidar como objeto da ação do enfermeiro do trabalho.

O trabalhador é o elemento fundamental na constituição do processo da assistência

de enfermagem do trabalho. E precisa-se levar em conta, no planejamento e execução das

ações de enfermagem à saúde do trabalhador, o cliente com suas crenças e valores e suas

necessidades bio-psico-sociais, e, antes de tudo, é imprescindível tratá-lo como um ser

humano.

A enfermagem do trabalho é uma área de especialização da profissão de

enfermagem, destinada ao cuidado daquele que trabalha, levando em consideração todos os

aspectos e influências sobre a sua saúde, dentro e fora da empresa.

O cuidar como objeto de ação do enfermeiro do trabalho a ação de cuidar e dar

cuidados pelo enfermeiro do trabalho, consistente com um processo decorrente da interação

do enfermeiro do trabalho com o trabalhador. Nesse processo, o enfermeiro identifica e

compartilha com o trabalhador a intenção objetiva do cuidar, é a partir da interpretação que o

trabalhador dá a essa interação, que se efetiva a ação de cuidar. A resolutividade deste cuidar

depende da interpretação do trabalhador e da intenção objetiva de cuidar do enfermeiro do

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trabalho. A ação de cuidar do enfermeiro do trabalho constitui-se e se fundamenta no caráter

humano, social e econômico da vida do trabalhador, dentro e fora do ambiente laboral.

Para o enfermeiro do trabalho, na assistência de enfermagem à saúde do trabalhador, o

que norteia a ação de cuidar é uma atitude prevencionista, entendida como a difusão de uma

atitude de atenção por parte do trabalhador sobre a sua própria vida e saúde em todos os

aspectos.

Os objetos sociais e os significantes que norteiam essa interação compreendem:

a) a enfermagem do trabalho destina-se ao cuidado de quem trabalha;

b) o contexto de vida do trabalhador;

c) o trabalho como local das práticas para a produção de bens e serviços;

d) o foco de abrangência sobre o entendimento a respeito da saúde do trabalhador;

e) o aspecto social do trabalhador (modo e estilo de vida);

f) as necessidades individuais e coletivas dos trabalhadores em relação à saúde;

g) os sistemas de crenças e valores do trabalhador;

h) a ação de cuidar, o cuidador e o recebedor do cuidado;

i) o caráter humano, social, econômico, físico e laboral envolvidos na ação de cuidar;

j) a atitude prevencionista envolvida na ação de cuidar.

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5 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Os dados obtidos e já analisados são discutidos, neste capítulo, como resultados de

toda a pesquisa à luz de conceitos do interacionismo simbólico (BLUMMER, 1969) e tratados

então como resultados alcançados em toda a pesquisa. Porém, em vista das interpretações das

falas (sujeitos/depoentes), das proposições da teorista de referência e da apreciação do(s)

pesquisador(es) sobre a ação dos atores no ambiente social da assistência de enfermagem à

saúde do trabalhador, foram destacados os objetos sociais das interações do enfermeiro do

trabalho com a saúde do trabalhador em âmbito de prática e assistência de enfermagem.

Os objetos sociais são elementos constitutivos da vida social, consistentes com um processo

de desdobramento no qual o indivíduo interpreta seu ambiente e atua com base nessa

interpretação (BRYMAN, 1995).

Por conta dessa colocação, pode-se dizer que os objetos sociais e os símbolos

significantes, emergiram das falas dos sujeitos/depoentes e, por conseqüência, da análise das

categorias de interações estabelecidas em razão da delimitação de aspectos que nortearam a

ação dos sujeitos envolvidos.

Para chegar aos objetos sociais presentes nas interações foi necessário estabelecer

coerência com as premissas da interação simbólica, sendo assim caracterizadas:

Interação I - Enfermeiro do Trabalho com a Enfermagem na Saúde do Trabalhador

(Aspecto Profissional)

Esta interação permite situar os “modos de agir profissional” do enfermeiro do

trabalho no seu campo de prática social, entendidos como local onde suas ações específicas e

especializadas acontecem.

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Interação II - Enfermeiro do Trabalho com o Ambiente de sua Prática Assistencial

(Aspecto do Ambiente Social)

Esta interação permite identificar, no ambiente que circunscreve os “modos de agir

profissional” dos enfermeiros do trabalho, a interpretação que eles fazem deste ambiente.

Interação III - Enfermeiro do Trabalho com a Equipe de Saúde Ocupacional (Aspecto

da Organização do Trabalho)

Esta interação permite caracterizar os aspectos das relações interpessoais que se

manifestam nos “modos de agir profissional” dos enfermeiros do trabalho, refletindo suas

habilidades de comunicação e visão sobre o ambiente social.

Interação IV - Enfermeiro do Trabalho com a Enfermagem e seus Atributos (Aspecto do

Saber/Conhecimento)

Esta interação ressalta as interpretações dadas pelos enfermeiros do trabalho a certos

atributos da enfermagem que caracterizam o saber/conhecimento, as atitudes e os

comportamentos consistentes com a ação profissional na área da saúde do trabalhador.

Destacando os objetos sociais

Nas interações, os objetos sociais e símbolos significantes, inerentes às ações, são

destacados pela mente através da percepção e identificação dos enfermeiros do trabalho,

possibilitando-os planejar suas ações (BLUMER, 1969).

Dessa forma, cada interação identificada deu origem a um elenco de objetos sociais,

extraídos das falas dos sujeitos pesquisados e das deliberações estabelecidas com base no

esquema proposto neste estudo sujeitos-teórico-pesquisadores conforme a ilustração já

referida. Através da apreciação/analítica dos dados, pode-se constatar nas falas dos sujeitos

participantes que os objetos sociais e os símbolos significantes estão presentes nas interações

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e demarcam referências com as quais os atores nomeiam ou edificam suas ações. Os objetos

sociais podem variar em suas características no que diz respeito ao significado, e à medida

que forem analisados em outros grupos sociais ou áreas de atuação da enfermagem, pois a

interação simbólica é um processo dinâmico. Assim sendo, estaremos apresentando, a seguir,

os objetos sociais destacados de cada interação.

Interação I - Enfermeiro do Trabalho com a Enfermagem na Saúde do Trabalhador

(Aspecto Profissional)

Em relação a esta interação, os objetos sociais ressaltados são os seguintes:

- as exigências sociais;

- o desenvolvimento técnico-científico;

- a singularidade da profissão de enfermagem;

- as instâncias de atuação da enfermagem: técnico-científica, administrativa, de ensino

e de pesquisa;

- ações de enfermagem preventiva e curativa;

- a valorização profissional;

- a remuneração e reconhecimento social;

- a formação educacional;

- a visibilidade social;

- os direitos e deveres de prestar assistência;

- a autonomia profissional;

- os aspectos históricos;

- as relações de poder e hierarquia;

- os modelos de assistência à saúde;

- a prática social - as mudanças e transformações no mundo social.

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Os objetos sociais, destacados nessa interação dos enfermeiros com a enfermagem na

saúde do trabalhador (aspecto profissional), permitem uma aproximação do pensamento do

grupo pesquisado em relação aos modos do agir profissional. Ou seja, cada objeto social

submetido à interpretação de seus atores, estaria fundamentando, ou justificando, os modos do

agir profissional, numa perspectiva dinâmica, bem como proporcionando uma melhor

compreensão sobre os atos e comportamentos nesta área de atuação da enfermagem.

No que concerne ao enfermeiro do trabalho, cabe ressaltar que os modos de agir

profissional, como evidenciado pelo grupo estudado, reúnem certos simbolos significantes

que são inerentes aos modos de agir de natureza histórica, social, econômica, política e

cultural.

Estes aspectos, como percebidos ou identificados, irão compor o self social da

enfermagem do trabalho, pois cada objeto social destacado sofre a apreensão e a interpretação

dos indivíduos pertencentes ao grupo estudado – o grupo dos enfermeiros do trabalho. Dentre

os objetos sociais e símbolos significantes destacados, percebe-se que alguns se alinham ao

conceito de “mim”, numa perspectiva interacionista, e que se traduz pelo reconhecimento do

“outro” na interação que serviu de referência para cada indivíduo interpretar e reagir à

realidade. São eles: “as exigências sociais”, “a singularidade da própria profissão”, “o

desenvolvimento técnico-científico”, “a natureza das ações de enfermagem”, “a formação

educacional”, “os direitos e deveres de prestar assistência”, e que são entendidos como

elementos que sustentam e direcionam a ação dos enfermeiros do trabalho.

Um aspecto do self social que corresponde ao “eu” aparece dentre os objetos sociais,

nessa interação, e de forma a justificar os fatores de propulsão ao ato. Assim, questões

relativas à “valorização profissional”, “remuneração”, “reconhecimento e visibilidade social”,

“autonomia profissional”, “relações de poder e hierarquia” parecem emergir dos anseios e

expectativas dos sujeitos estudados (depoentes) como uma forma de propulsão inicial dos

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modos de agir a partir das bases da ação do enfermeiro do trabalho na área da saúde do

trabalhador.

Interação II - Enfermeiro do Trabalho com a Enfermagem na Saúde do Trabalhador

(Aspecto do Ambiente Social)

Nesta interação, os objetos sociais destacados pelos sujeitos pesquisados são os

seguintes:

- a área de saber/conhecimento (envolvida);

- o grupo social e suas características;

- a estrutura política e social;

- as relações de poder;

- o modelo de gestão da empresa;

- visão sobre a saúde por parte dos empresários;

- natureza do trabalho;

- o local de trabalho como espaço para as práticas de ações educativas.

Assim, os objetos sociais ressaltados nessa interação apelam à significância do

comportamento dos enfermeiros do trabalho, no âmbito da saúde do trabalhador, e em relação

à área de saber/conhecimento. Nesta interação, destacam-se os elementos que, de certa forma,

nos possibilitam compreender de que maneira os enfermeiros compreendem ou edificam

ações relativas a atenção à saúde de seus clientes (trabalhadores). A interpretação dada a

esses objetos sociais poderá repercutir, sobremaneira, na forma de desenvolvimento e

execução das ações de enfermagem dirigidas aos trabalhadores. Sendo assim, as

interpretações dadas aos objetos sociais: “área de saber/conhecimento”, “características do

grupo social (trabalhadores)”, “natureza do trabalho”, “modelo de gestão da empresa” e

“estrutura política e social” irão nortear o trânsito nas interações e consubstanciar as ações

dos enfermeiros no ambiente social do trabalho.

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O aspecto do self social mais evidenciado, neste grupo de objetos sociais, é o “mim”.

Os objetos guardam um grande potencial de conteúdo estrutural caracterizado por diretrizes,

normas e conceitos emergentes que vêm servindo de elementos de apreciação dos indivíduos

e grupos na conjuntura ou estrutura formal de suas ações.

Interação III - Enfermeiro do Trabalho com a Equipe de Saúde Ocupacional (Aspecto

da Organização do Trabalho)

Nesta interação, os objetos sociais destacados são:

- relação de dependência e interdependência entre os profissionais da área;

- a especificidade do agir de cada membro da equipe;

- a complementariedade das ações de cada profissional;

- a visão sobre a forma de execução do trabalho;

- o senso de integração da equipe;

- as sobrecargas profissionais;

- a visibilidade profissional;

- a participação na vida associativa (órgãos de classe);

- a visão de gestão e de administração;

- o intercâmbio de informações;

- a influência dos paradigmas da saúde;

- a formação profissional.

Pode-se perceber que os objetos sociais inerentes a esta interação afinam-se com as

premissas de Blummer (1986). A compreensão da constituição dos atos dos enfermeiros do

trabalho no âmbito da saúde do trabalhador, talvez extrapole a idéia de atuação específica na

enfermagem. Na área da atuação em enfermagem do trabalho, a interação com profissionais

de outras áreas de saber/conhecimento é premente e necessária. O sentido dado a estes

objetos traduz o caráter próprio das interações e inter-relações entre os integrantes deste grupo

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profissional de enfermagem que destina suas ações à saúde do trabalhador. Além disso, os

objetos sociais destacados são tomados como elementos de significância pelos atores sociais

(enfermeiros do trabalho) no seu ambiente de prática assistencial e que permite inferir que o

aprofundamento na busca dos significados de seus modos de agir se dá a partir das

interpretações dos enfermeiros e ensejam uma aproximação efetiva da ação dos enfermeiros

nos ambientes de prática social.

Podemos constatar que o self social manifestado, nesta interação, estaria norteado

pelos conceitos emergentes que os enfermeiros do trabalho constroem a partir destes objetos.

E interessa-nos, nesta construção, como ele vê a si próprio, como ele se vê na inter-relação

com os demais elementos do seu ambiente social e como ele se julga percebido pelos outros.

Ou seja, qual a visão que ele constrói de si mesmo a partir da interpretação que ele faz de

como é visto pelo outro. Isto fica evidente quando, dentre os objetos sociais destacados nesta

interação, ressaltam-se a busca de significados para “a relação de dependência e

interdependência entre os profissionais da área”, “a especificidade do agir de cada membro da

equipe”, “a complementariedade das ações de cada profissional”, “as formas de execução e

organização do trabalho”, “a integração da equipe”, “o intercâmbio de informações” e “a

visibilidade profissional”, dentre outros.

Interação IV - Enfermeiro do Trabalho com a Enfermagem e seus Atributos (Aspectos

do Saber/Conhecimento)

Nesta interação, os objetos sociais ressaltados pelos sujeitos pesquisados são:

- o trabalhador;

- a enfermagem do trabalho;

- o cuidado de enfermagem;

- a natureza do cuidado de enfermagem;

- o contexto de vida do trabalhador;

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- o trabalho como local das práticas para a produção de bens e serviços;

- o foco de abrangência de atenção à saúde do trabalhador;

- o aspecto social da vida do trabalhador;

- as necessidades dos trabalhadores em relação à saúde individual e coletiva;

- os sistemas de crenças e valores do trabalhador;

- a ação de cuidar, o cuidador e o recebedor do cuidado;

- o caráter humano, social, econômico, físico e laboral envolvido na ação de cuidar;

- atitude frente à ação do cuidar.

Nesta interação, encontramos os objetos sociais e os símbolos significantes, de maior

relevância (talvez) que conduzem ao sentido dado pelos enfermeiros do trabalho a seus modos

de agir e, portanto, às suas ações nesta área de atuação da enfermagem. A interpretação dada

à idéia de “enfermagem do trabalho”, “enfermeiro do trabalho”, “cuidado de enfermagem” e

“trabalhador” poderão repercutir, sobremodo, em suas ações e na assistência de enfermagem

prestada, ou como configurada na área de atuação profissional à saúde do trabalhador.

Como já referido, na visão dos interacionistas, a vida social é um processo dinâmico.

Os conceitos emergentes que, de certa forma, apóiam as interpretações dos atores sociais

(enfermeiros) estão relacionados com experiências de sua formação profissional ou com

normas e princípios fundamentais de sua atuação profissional e que são de caráter

estruturalista – status e saber da profissão. Contudo, esses conceitos compõem apenas um

aspecto do self social, aspecto em que o enfermeiro toma como referência para si , no

processo que é dinâmico e de interpretação do seu ambiente, a definição da situação e o

estabelecimento da sua ação. Trata-se também de definições feitas pelos outros que servirão

de referência para que ele se veja a si mesmo (HAGUETTE, 1992). E convém ter em mente

que, dentre os aspectos de caracterização do self social, encontramos o “mim” que é a

sociedade organizada refletida na capacidade de alguém de julgar e interpretar os símbolos.

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Graças a seus conceitos (ou definições), o enfermeiro do trabalho também compreende o

conjunto organizado de atitudes e comportamentos, as compreensões e expectativas – ou

simplesmente “os sentidos comuns ao grupo profissional” – dos enfermeiros do trabalho.

Sendo assim, os modos de agir do grupo de enfermeiros do trabalho estudado são

conseqüentes à forma como definem os objetos sociais e os símbolos significantes inerentes

aos atributos da enfermagem em sua área de atuação, e assim entendidos como: “enfermeiro

do trabalho”, “enfermagem do trabalho”, “cuidado de enfermagem” e “assistência de

enfermagem”.

Neste processo de definição dos objetos sociais, de caráter essencial ao

estabelecimento do comportamento deste grupo profissional de enfermeiros, e de sua

respectiva atuação, o próprio grupo lança mão da interpretação e definição de outros objetos

sociais que poderiam dar sustentação a seus modos de agir, dentro da perspectiva das

interações sociais.

Mas, para se chegar ao sentido dado pelo grupo dos enfermeiros do trabalho (como

estudado nesta pesquisa) aos conceitos ou atributos da enfermagem, torna-se necessário, nesse

processo de interações sociais, identificar o significado (para os sujeitos estudados) do que

seja “a natureza do cuidado de enfermagem”, “o contexto de vida do trabalhador”, “o

ambiente social do trabalho”, “o foco de abrangência da atenção à saúde do trabalhador”, “as

necessidades do trabalhador em relação à sua saúde individual e coletiva”, “os sistemas de

crenças e valores do trabalhador”, na formulação de planos de cuidados de enfermagem e na

compreensão da atitude dos enfermeiros frente à ação de cuidar.

As Bases da Ação do Enfermeiro do Trabalho

O sentido da assistência de enfermagem à saúde do trabalhador que norteia os modos

de agir profissional dos enfermeiros do trabalho é conseqüente ao entendimento das bases da

sua ação. Logo, o sentido da assistência de enfermagem, nesta área de atuação, corresponde à

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imagem (idéia) que os enfermeiros do trabalho têm deste fenômeno, e de como ele define a

situação da assistência de enfermagem prestada (por eles) no seu campo de prática

profissional (ação social).

Fundamentados nos princípios e premissas apresentados pelos interacionistas

simbólicos, idealizamos (os pesquisadores) um esquema básico para explicar as bases da ação

do enfermeiro do trabalho a fim de facilitar sua compreensão. Julgamos que este esquema

possa contribuir com outros estudos a serem, possivelmente, desenvolvidos em outras áreas

da assistência de enfermagem. Tenha-se em consideração o seguinte esquema:

Esquema básico para explicar as bases da ação do enfermeiro do trabalho*

_______________ * Idealização pictórica do(s) pesquisador(es).

O ponto de partida na idealização do esquema foi o reconhecimento do ambiente

social, campo das interações sociais e da apreensão dos objetos sociais (símbolos),

Saúde

do

Trabalhador

Assistência

de

Enfermagem

Agir do enfermeiro do

trabalho (modos de agir profissional)

Ambiente Social

Interações Sociais

Objetos Sociais

e

Símbolos significantes

Sentido

(Significado)

Definição da situação

(idéia conceito)

Ação, ato,

comportamento

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compartilhados por seus atores. Na perspectiva de que a sociedade é concebida pelo conjunto

das ações e interações dos indivíduos ou grupos como um processo dinâmico (HAGUETTE,

1992), no campo da enfermagem como pragmática assistencial e área de conhecimento, a

ação social do enfermeiro do trabalho constitui-se de seus modos de “agir profissional”,

objetivando também conhecimento.

Neste sentido, os “modos de agir profissional”, cômputo de atos, operações e atitudes

adquirem nuances distintas, devido à sua vinculação com o fenômeno ou evento de maior

significância. Fenômeno aqui entendido como “assistência de enfermagem na área de atuação

específica” que reúne, em si, um conjunto de atributos e propriedades que a definem também

como área de conhecimento e prática social. Logo, a relação entre o objeto “modos de agir

profissional” e o fenômeno “assistência de enfermagem” torna-se essencial na compreensão

das bases da ação do enfermeiro nas diversas áreas da assistência de enfermagem. Pode-se

dizer que a assistência de enfermagem é concebida, então, na área da saúde do trabalhador,

como o conjunto de atos e operações destinado ao cuidado prestado ao indivíduo ou ao grupo

de trabalhadores. Esses atos e operações passam a adquirir significados distintos em

decorrência das áreas de atuação profissional em que ocorrem. É nesta interação dos atos e

operações (modos de agir profissional) com a área da assistência de enfermagem que os

enfermeiros apreendem, compartilham e interpretam as ações uns dos outros dando

sentido às próprias ações a partir dos objetos sociais ou símbolos destacados nas interações.

Ao nos referirmos à “área da assistência de enfermagem”, isto diz respeito não só a

uma determinada área de saber/conhecimento, mas também à área de prática onde a

enfermagem intercambia ações e informações através das interações objetivas.

Nesta tese, nos preocupamos em objetivar os “modos de agir profissional” dos

enfermeiros do trabalho; portanto, na área da saúde do trabalhador, e procuramos dar destaque

aos objetos sociais e aos símbolos significantes, visando apreender o sentido dado à

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assistência de enfermagem tal como endereçada aos trabalhadores. Conseqüentemente,

chegamos à idéia da assistência de enfermagem nesta área, com base nos elementos extraídos

da própria pragmática assistencial do grupo de enfermeiros estudados. Em outras palavras,

conforme demonstrado no esquema apresentado, pode-se verificar como os enfermeiros do

trabalho conseguem definir a situação da assistência de enfermagem à saúde do trabalhador.

Definição da situação da assistência de enfermagem pelos enfermeiros do trabalho

A análise dos objetos sociais, destacados das interações do enfermeiro do trabalho no

seu ambiente de prática social, levou-nos à idéia da assistência de enfermagem na saúde do

trabalhador. Idéia esta que se expressa nos modos de agir profissional destes atores sociais, a

partir de como eles definem a situação desta assistência.

O que podemos constatar é que a “assistência de enfermagem”, entendida como

fenômeno, detém a sua peculiaridade e singularidade enquanto prática social. Enquanto

fenômeno, deparamo-nos com certos elementos que podem defini-la e delimitá-la também

como área de saber/conhecimento. Estes elementos representam os atores sociais

(enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem); o ambiente social dos atos e operações da

enfermagem; o centro de destinação dos seus atos e operações – o indivíduo ou grupo de

indivíduos; e a ação dos atores sociais da enfermagem (modos de agir profissional) destinada

ao indivíduo ou grupo de indivíduos. Contudo, cada um desses elementos torna-se passível

de exame e deliberação, o que reforça a idéia de que eles adquirem certa distinção à medida

que são analisados, principalmente se estudados nas mais diversas áreas de atuação da

assistência de enfermagem.

Desta forma, entendemos que a distinção dada a esses elementos na área de atuação da

assistência de enfermagem à saúde do trabalhador, como podemos perceber, é conseqüente à

maneira como os enfermeiros do trabalho interpretam e definem esses elementos, a partir de

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suas interações com o ambiente social (área de atuação), sem, no entanto se distanciarem

daquilo que caracteriza a enfermagem em si.

Logo, os modos de agir profissional dos enfermeiros do trabalho são revestidos pelos

objetos sociais e símbolos significantes próprios da área da saúde do trabalhador, dando um

sentido distinto à assistência de enfermagem desenvolvida em outras áreas.

Os objetos sociais destacados das interações do grupo de enfermeiros do trabalho com

o seu ambiente social levam-nos a conceber a assistência de enfermagem à saúde do

trabalhador como aquela prestada ao indivíduo ou grupo de indivíduos, integrantes e

participantes dos processos de produção de bens e serviços das empresas ou organizações

sociais. Esta assistência de enfermagem é caracterizada por atos e operações de natureza,

predominantemente, preventiva no sentido de se evitar danos à saúde e à vida dos

trabalhadores, em decorrência da influência dos fatores ambientais, da natureza das atividades

laborativas, dos comportamentos, hábitos e estilo de vida relativos à sua saúde.

A natureza preventiva inerente aos atos e operações da assistência de enfermagem,

mais do que um elenco de medidas de prevenção de danos ou agravos à saúde dos

trabalhadores, inclui significados relativos a atitudes ou comportamentos do enfermeiro do

trabalho na expressão de seus modos de agir profissional.

Assim entendidos, os “modos de agir profissional” do enfermeiro do trabalho, sendo

resultante de suas interações com o seu ambiente social, dão sentido a suas ações, pela

interpretação dos objetos sociais e símbolos significantes apreendidos do seu ambiente social.

Sendo assim, a ação dos enfermeiros do trabalho fundamenta-se no processo de interpretação

destes objetos sociais, assegurando sua abrangência, escopo de sua atuação, além de que

apóiam a efetividade e a eficácia dos cuidados prestados.

No grupo de enfermeiros pesquisados, os “modos de agir profissional” dos

enfermeiros do trabalho, no âmbito da prática na realidade da assistência de enfermagem,

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refletem aspectos relativos às exigências sociais, ao desenvolvimento técnico-científico, à

valorização profissional, à visibilidade social, à formação profissional, aos modelos de

assistência à saúde e às relações de poder e hierarquia presentes no ambiente social.

O enfermeiro do trabalho, com isso, é visto como um elemento de propulsão das ações

assistenciais de saúde em geral e como entendidas quanto à saúde do trabalhador. A

formação profissional e a natureza das suas atividades lhe conferem habilidade e competência

no sentido de ser ele um facilitador e articulador no atendimento às necessidades do

trabalhador relativas à saúde, sem se distanciar do alcance dos objetivos da empresa, e

relativamente à garantia dos processos de trabalho e produtividade. Isto porque, como

podemos constatar, no grupo de enfermeiros pesquisados, a assistência de enfermagem, nesta

área de atuação, transcende a esfera de atenção voltada apenas para um indivíduo. Sua

abrangência, além de se destinar ao grupo específico dos trabalhadores, alcança ainda o

convívio social com outros, em especial com a família.

Enfim, pode-se acrescentar que o cuidado de enfermagem, nesta área de atuação da

assistência de enfermagem, culmina como resultado da interação objetiva entre o enfermeiro

do trabalho e o trabalhador, onde esse cuidado ganha expressão nas interpretações que tanto

um quanto o outro fazem da intenção do ato de cuidar. Pois, de nada adianta ao enfermeiro

do trabalho desenvolver uma ação de caráter educativo como uma orientação sobre um dado

aspecto da saúde do trabalhador se este não vê um sentido objetivo na informação ou

orientação a ser dispensada ao trabalhador, e se este não entende o sentido dessa orientação.

Embora tenhamos em conta uma definição da assistência de enfermagem à saúde do

trabalhador, cumpre-nos reafirmar que essa assistência se expressa no caráter processual das

interações dos atores sociais (enfermeiros do trabalho) com o ambiente social, com base no

sentido dado aos objetos sociais e aos símbolos significantes destacados do ambiente social da

sua prática profissional.

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Assumindo uma posição quanto ao caráter epistemológico do conhecimento

produzido, retomamos o conceito de enfermagem do trabalho de Bulhões (1986, p. 243), a

seguir, para tecermos então mais algumas considerações.

A enfermagem do trabalho é uma especialidade destinada ao cuidado daquele que

trabalha, portanto, preocupa-se com trabalhadores. Sua atenção volta-se para os

trabalhadores de todas as categorias e de todos os setores de ocupação, onde quer

que se encontrem.

Neste estudo, este conceito de Bulhões sintetiza o ponto de referência para a

caracterização da área de atuação da enfermagem à saúde do trabalhador. Constatamos

mediante conceitos emergentes das interações de um grupo de enfermeiros do trabalho, na

constituição do self social, a presença marcante do pensamento dessa autora. Contudo, dentro

da evolutiva natural do desenvolvimento de uma área de saber/conhecimento a de

enfermagem do trabalho as idéias de Bulhões presentes no processo de interação dos

atores sociais (enfermeiros do trabalho) com o ambiente social foram sendo submetidas a

alguns ajustes, expressos nos modos de agir profissional dos enfermeiros do trabalho. O que

nos leva a afirmar que a expressão de tais modos de agir profissional e, conseqüentemente, do

cuidado de enfermagem destinado ao trabalhador, invocam uma reflexão mais acurada de

todos os aspectos influentes no ambiente social das interações profissionais e ações de

enfermagem. Contudo, é imprescindível ampliar a visão do enfermeiro do trabalho quanto

aos elementos que lhe servem de âncora para a interpretação e definição de seus modos de

agir profissional. A assistência de enfermagem à saúde do trabalhador deixa de ser edificada

apenas na relação do trabalhador com o ambiente de trabalho e vista como mais um elemento

na garantia do processo produtivo, para ser entendida mais significativamente a partir de uma

compreensão mais abrangente deste trabalhador. Ele passa a ser um elemento ativo no

processo assistencial, onde o enfermeiro do trabalho precisa lançar mão do desenvolvimento

constante de seus processos cognitivos e do armamentário intelectual e pedagógico para dar

conta das contínuas mudanças e requerimentos do ambiente social do mundo do trabalho.

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6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

As considerações que apresentaremos não têm a pretensão de encerrar a discussão

sobre as interações do enfermeiro do trabalho com a saúde do trabalhador em âmbito de

prática e assistência de enfermagem. Contudo, para efeito de conclusão desta investigação,

destacaremos alguns aspectos de relevância que efetivamente constituem-se em referências

explicativas que pensamos serem de grande importância e efetiva contribuição para a

enfermagem em geral e, em especial, para a enfermagem do trabalho.

Nossa investigação foi norteada pela busca do sentido da assistência de enfermagem

dado pelos enfermeiros do trabalho no que concerne às sua próprias elaborações conceituais e

interações subjetivas no espaço da pragmática assistencial. Em vista do suposto, o sentido

dado à assistência de enfermagem, na atenção à saúde do trabalhador, apresenta distinções em

relação à assistência de enfermagem em outras áreas de atuação.

Evidenciamos, através desta investigação, que os elementos ou aspectos favoráveis ao

desenvolvimento de explicativas capazes de indicar o sentido da assistência de enfermagem

na saúde do trabalhador e suas possíveis distinções em relação às demais áreas de atuação da

enfermagem, encontra-se nos objetos sociais e símbolos significantes identificáveis nas

interações do enfermeiro do trabalhor com o ambiente da pragmática assistencial. Assim,

delimitar e caracterizar as esferas de interação em que os enfermeiros do trabalho estão

envolvidos foi o primeiro desafio vencido. As interações analisadas culminaram com a

formulação de conceitos emergentes sobre cada esfera de interação destacada:

Interação 1 - Enfermeiro do trabalho com a enfermagem na saúde do trabalhador (aspecto

profissional) – Primeiro Conceito Emergente:

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A interação do enfermeiro do trabalho com a profissão acontece no próprio

"modo de agir profissional" do enfermeiro do trabalho em seu campo de

prática social, local, assim entendido como aquele, onde suas ações

específicas acontecem ou se manifestam.

Interação 2 - Enfermeiro do trabalho com o ambiente da sua prática assistencial (aspecto do

ambiente social) – Segundo Conceito Emergente:

O ambiente social reúne elementos de significância com os quais o

enfermeiro do trabalho interage e direciona as suas ações na atenção à

saúde do trabalhador.

Interação 3 - Enfermeiro do trabalho com a equipe de saúde ocupacional (aspecto da

organização do trabalho) – Terceiro Conceito Emergente:

A interação do enfermeiro do trabalho com a equipe de saúde ocupacional

integra o enfermeiro do trabalho como um elemento facilitador dos processos

de trabalho na saúde do trabalhador.

Interação 4 - Enfermeiro do trabalho com a enfermagem e seus atributos (aspecto do saber/

conhecimento) – Quarto Conceito Emergente:

A interação do enfermeiro do trabalho com a enfermagem e seus atributos

denota a existência de certos elementos essenciais ao entendimento da

enfermagem como área de saber.

Os elementos essenciais compreendem: “O trabalhador”, “a enfermagem do trabalho”;” o

enfermeiro do trabalho” e “o cuidar como objeto de ação do enfermeiro do trabalho”.

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Na definição dos conceitos emergentes sobre as categorias de interação identificadas,

devido ao caráter dinâmico e interativo, próprio da abordagem teórica do interacionismo

simbólico, na apreensão da realidade da pragmática assistencial dos enfermeiros do trabalho

investigados, foram destacados, concomitantemente, os objetos sociais e símbolos

significantes que guiam seus comportamentos, atitudes e ações no seu ambiente social e que

se expressam nos seus “modos de agir profissional”. Nesse entendimento, identifica-se uma

vinculação objetiva dos “modos de agir profissional” dos enfermeiros do trabalho com a idéia

ou pensamento, do grupo de enfermeiros do trabalho investigado, sobre a assistência de

enfermagem nesta área de atuação. Onde os objetos sociais e símbolos significantes,

destacados das interações do enfermeiro do trabalho com a saúde do trabalhador em âmbito

de prática e assistência, sendo passíveis de exame e deliberação , através de um processo

dinâmico de interpretação e passam a se constituir em possíveis objetos de pesquisa a

merecerem investigação mais acurada.

Contudo, com base nos achados desta tese, chegamos às idéias ou proposições

conceituais sobre a assistência de enfermagem na saúde do trabalhador, pela apreensão do

sentido dado pelo grupo de enfermeiros do trabalho pesquisado, à luz de princípios do

Interacionismo Simbólico de Blumer. Assim, destacamos:

• Assistência de enfermagem à saúde do trabalhador é aquela prestada ao indivíduo

ou grupo de indivíduos, integrantes e participantes dos processos de produção de

bens e serviços das empresas ou organizações sociais. Esta assistência de

enfermagem é caracterizada por atos e operações de natureza, predominantemente,

preventiva no sentido de se evitar danos à saúde e à vida dos trabalhadores, em

decorrência da influência dos fatores ambientais, da natureza das atividades

laborativas, dos comportamentos, hábitos e estilo de vida relativos à sua saúde.

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• A natureza preventiva inerente aos atos e operações da assistência de enfermagem,

mais do que um elenco de medidas de prevenção de danos ou agravos à saúde dos

trabalhadores, inclui significados relativos a atitudes ou comportamentos do

enfermeiro do trabalho na expressão de seus modos de agir profissional. Logo, a

Assistência de enfermagem na saúde do trabalhador transcende a esfera de atenção

voltada apenas para um indivíduo. Sua abrangência, além de se destinar ao grupo

específico dos trabalhadores, alcança ainda o convívio social com outros, em

especial com a família.

• “Enfermeiro do trabalho” é visto como um elemento de propulsão das ações

assistenciais de saúde em geral e como entendidas quanto à saúde do trabalhador.

A formação profissional e a natureza das suas atividades lhe conferem habilidade e

competência no sentido de ser ele um facilitador e articulador no atendimento às

necessidades do trabalhador relativas à saúde, sem se distanciar do alcance dos

objetivos da empresa, e relativamente à garantia dos processos de trabalho e

produtividade.

• “Cuidado de enfermagem” é resultante da interação objetiva entre o enfermeiro do

trabalho e o trabalhador, onde esse cuidado ganha expressão nas interpretações que

tanto um quanto o outro fazem da intenção do ato de cuidar.

À conta de todo o exposto, na perspectiva da interação simbólica, vale dizer que toda a

trajetória na busca de se aproximar da natureza compreendida por um dado fenômeno é um

processo dinâmico. A busca do sentido dado ao fenômeno da assistência de enfermagem não

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se esgota com a definição da situação como dada pelos enfermeiros do trabalho. Temos,

assim, tanto um ponto de chegada quanto um ponto de partida.

Esta pesquisa, pela análise dos dados e discussão dos resultados, evidencia que a idéia

da assistência de enfermagem à saúde do trabalhador suscita-nos a buscar um aprofundamento

das questões levantadas, neste estudo, para obter outros subsídios capazes de justificar a

aplicação desta metodologia na área de enfermagem da saúde do trabalhador e, quiçá, em

outras áreas da enfermagem.

O estudo das interações do enfermeiro do trabalho com a assistência à saúde do

trabalhador permite-nos afirmar que a abordagem teórico-metodológica do interacionismo

simbólico poderá contribuir para enriquecer as aquisições do saber/conhecimento da

enfermagem.

Todavia, os objetos sociais, como destacados das interações sociais do enfermeiro do

trabalho com seu ambiente social, devem ser submetidos, ainda, a novos escrutínios para

aproximações mais efetivas ao fenômeno da assistência de enfermagem. Sabemos que os

objetos sociais podem ser interpretados de formas distintas a depender das peculiaridades e

condições circunstanciadas do grupo social estudado.

Pensamos que, para a enfermagem do trabalho, e mesmo tratando-se de uma primeira

experiência (BACHELARD, 1996), podemos considerar que este estudo guarda sua

relevância própria, uma relevância de caráter epistemológico, a despeito de não ser um estudo

conclusivo, para fins de generalização. Compreender a ação dos enfermeiros do trabalho

(modos de agir profissional) - a partir das interações do enfermeiro do trabalho com a saúde

do trabalhador em âmbito de prática e assistência de enfermagem - e não somente listar suas

atividades e atribuições desenvolvidas nesta área específica representa, possivelmente, o

surgimento de outras perspectivas que favoreçam o desenvolvimento da enfermagem como

área de saber/conhecimento. Entendendo que, ao longo destes trinta anos de existência, a

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enfermagem do trabalho como uma especialização profissional pode deter variações em que

pese atitudes, atos e operações dos enfermeiros, independentemente das funções e atividades

definidas na lei e das atribuições institucionalmente definidas ou normatizadas.

Coube-nos elucidar alguns aspectos das ações dos enfermeiros do trabalho na

assistência à saúde do trabalhador, e pensamos apreender novos símbolos e significados com

os quais a enfermagem do trabalho tem se ocupado no âmbito da pragmática assistencial.

Para a enfermagem em geral, pretendemos, com esta tese de doutorado, ampliar o uso

das abordagens metodológicas qualitativas relativamente ao estudo das ações e interações do

enfermeiro com o ambiente social especificado como locus de trabalho e de prática

assistencial à saúde do trabalhador.

No que concerne à área de ensino e da pesquisa, vislumbramos ampliar as

possibilidades de enriquecer uma linha de pesquisa apropriada ao cultivo do saber/

conhecimento consistente com a enfermagem na saúde do trabalhador. Uma linha de

pesquisa capaz de se ocupar da investigação de objetos sociais e símbolos significantes

expressos nas interações do enfermeiro do trabalho com a saúde do trabalhador em âmbito de

prática e assistência de enfermagem.

Com efeito, por último, mas não por fim, pretendemos contribuir, de fato, com esta

tese, para o saber/conhecimento na área profissional, tendo em vista a necessidade de

consolidação da enfermagem ciência e arte, sem perder de vista que as interações

profissionais ainda podem nortear estratégias de trabalho e desenvolvimento de novas

tecnologias da profissão de enfermagem. Pode ser uma audácia, mas sem audácia o espírito

científico capaz de construir teorias e hipóteses de trabalho não chega ao lugar que lhe é

devido.

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APÊNDICE A

ROTEIRO DE ENTREVISTA

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

NOME: _____________________________________ IDADE: _________ SEXO: _____

ANO DA GRADUAÇÃO: __________ ANO DA ESPECIALIZAÇÃO: _________

TEMPO DE EXPERIÊNCIA NA SAÚDE DO TRABALHADOR: ___________ ANOS

TEMPO DE EXPERIÊNCIA NO EMPREGO ATUAL: ___________ ANOS

1) Fale a respeito da sua atuação como enfermeiro do trabalho.

2) O que distingue a assistência de enfermagem à saúde do trabalhador das demais áreas de

aplicação da assistência de enfermagem?

3) No seu entendimento, o que significa o trabalhador nessa assistência?

4) No seu entendimento, qual o significado da saúde na assistência do enfermeiro do

trabalho?

5) Você identifica algum destaque (diferenciação) na atuação do enfermeiro do trabalho

frente aos outros profissionais na assistência à saúde dos trabalhadores?

6) No seu entendimento, como o enfermeiro é visto no contexto da saúde do

trabalhador/ocupacional?

7) Qual o significado da ação cuidar/cuidados de enfermagem na assistência à saúde do

trabalhador?

8) No seu planejamento da assistência de enfermagem, você adota algum referencial teórico

de enfermagem?

9) Qual o significado da atuação do enfermeiro do trabalho como contribuição ao mundo do

trabalho?

10) De que forma percebe que a sua prática pode contribuir para o desenvolvimento da

enfermagem?

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APÊNDICE B

ROTEIRO DE ENTREVISTA (REVISADO)

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO

NOME: _____________________________________ IDADE: _________ SEXO: _____

ANO DA GRADUAÇÃO: __________ ANO DA ESPECIALIZAÇÃO: _________

TEMPO DE EXPERIÊNCIA NA SAÚDE DO TRABALHADOR: ___________ ANOS

TEMPO DE EXPERIÊNCIA NO EMPREGO ATUAL: ___________ ANOS

1) Fale a respeito da sua atuação como enfermeiro do trabalho.

2) O que distingue a assistência de enfermagem à saúde do trabalhador das demais áreas de

aplicação da assistência de enfermagem?

3) No seu entendimento, o que significa o trabalhador cliente no âmbito da assistência

de enfermagem?

4) No seu entendimento, qual o significado da saúde na assistência do enfermeiro do

trabalho?

5) Você identifica algum destaque (diferenciação) na atuação do enfermeiro do trabalho

frente aos outros profissionais na assistência à saúde dos trabalhadores?

6) No seu entendimento, como o enfermeiro é visto no contexto da saúde do

trabalhador/ocupacional?

7) Qual o significado da ação cuidar/cuidados de enfermagem na assistência à saúde do

trabalhador?

8) No seu planejamento da assistência de enfermagem, você adota algum referencial teórico

de enfermagem?

9) Qual o significado da atuação do enfermeiro do trabalho como contribuição ao mundo do

trabalho?

10) De que forma percebe que a sua prática pode contribuir para o desenvolvimento da

enfermagem?

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APÊNDICE C

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

CURSO DE DOUTORADO EM ENFERMAGEM

Doutorando: Sergio Lima da Silva

Orientadora: Profª. Drª. Vilma de Carvalho

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Venho, por meio deste, autorizar a publicação total ou parcial dos dados fornecidos

durante a entrevista, destinada ao desenvolvimento da tese de doutorado, cujo título

preliminar é: "O sentido da assistência de Enfermagem do Trabalho na assistência à saúde do

trabalhador".

Ressalto a importância da garantia do anonimato que assegura a minha privacidade e o

respeito aos meus valores culturais, sociais, morais e religiosos, em observância às exigências

éticas e científicas relacionadas à pesquisa.

Rio de Janeiro, ____ de ______________ de _______

Assinado, __________________________________

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127

APÊNDICE D

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

CURSO DE DOUTORADO EM ENFERMAGEM

CARTA DE ENCAMINHAMENTO DO PROJETO AO COMITÊ DE ÉTICA EM

PESQUISA

Eu, Sérgio Lima da Silva, enfermeiro, junto com Vilma de Carvalho, orientadora,

apresentamos à CEP EEAN/HESFA, o projeto de tese de doutorado do curso de pós-

graduação da EEAN/UFRJ, intitulado "Interações do enfermeiro do trabalho com a saúde do

trabalhador em âmbito de prática e assistência de enfermagem".

Informamos que, devido a dificuldades de ordem pessoal e operacional, tornou-se

premente a necessidade de avançarmos no desenvolvimento estrutural da pesquisa.

Procuramos, contudo, não nos distanciar dos aspectos éticos recomendados pela Resolução nº

196/96. Dessa forma, o nosso requerimento constitui-se em obter uma validação à pesquisa

em andamento, ajustando-se assim às exigências normativas cabíveis.

Outrossim, contamos com a compreensão desse Comitê na avaliação da pesquisa em

andamento, a fim de cumprirmos com os prazos acadêmicos previstos para a sua defesa que

encerra neste 2º semestre.

Rio de Janeiro, 04 de julho de 2005.

_______________________________

Data de recebimento no CEP: ___/___/2005.

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APÊNDICE E

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

CURSO DE DOUTORADO EM ENFERMAGEM

Doutorando: Sergio Lima da Silva

Orientadora: Profª. Drª. Vilma de Carvalho

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

ESCLARECIMENTO

Considerando que a fase atual desta pesquisa é a análise preliminar dos dados;

Considerando que a abordagem teórico-metodológica adotada fundamentada na linha

filosófica do empirismo e pragmatismo;

Considerando que a coleta dos dados e sua interpretação prévia constitui o pilar

fundamental na apreensão do objeto de estudo;

A coleta de dados vem permeando todas as fases da pesquisa.

Contudo, tratamos de solicitar aos sujeitos depoentes um Termo de Consentimento Livre e

Esclarecido, garantindo a estes a confidencialidade, o sigilo e a proteção dos dados.

Outro aspecto de importância é o fato de que à pesquisa interessa obter dados oriundos do

pensamento dos depoentes sobre o seu agir no ambiente social, entendido como local de sua

prática. Interessava-nos saber como os sujeitos interpretam as interações sociais nos ambientes

onde desenvolviam a sua prática assistencial com foco exclusivo no reflexo sobre os seus atos e

atitudes.

Sendo assim, julgamos que apenas a assinatura do consentimento livre e esclarecido por

parte dos sujeitos depoentes foi suficiente, embora na descrição do cenário da pesquisa

apresentemos a natureza dos empregos onde exerciam suas atividades, ela não se constitui em

fator exclusivo para a análise dos dados. Interessava-nos estudar as interações dos enfermeiros do

trabalho com o ambiente social da prática assistencial da enfermagem. Logo, para esta pesquisa

não necessitamos de autorização prévia das instituições onde os sujeitos trabalhavam, e sim o

relato de suas experiências na interação com o ambiente social do trabalho.

Outro aspecto a considerar foi a dispersão geográfica/espacial dos sujeitos depoentes,

exigindo agendamento prévio e deslocamentos significativos do pesquisador para realizar as

entrevistas.

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129

APÊNDICE F

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

COORDENAÇÃO GERAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

CURSO DE DOUTORADO EM ENFERMAGEM

TERMO DE COMPROMISSO

Eu, Sérgio Lima da Silva, juntamente com Vilma de Carvalho, orientadora,

responsáveis pelo projeto de tese intitulado "Interações do enfermeiro do trabalho com a

saúde do trabalhador em âmbito de prática e assistência de enfermagem", em

desenvolvimento no curso de Doutorado da EEAN/UFRJ, nos comprometemos a tornar

público os resultados desta pesquisa, sejam eles favoráveis ou não.

Declaramos que todo o material referente à coleta de dados e informações oriundas

desta pesquisa será mantido sob a guarda dos pesquisadores por um período mínimo de 5

anos.

Rio de Janeiro, _____ de _______________ de 2005.

_______________________________________

Pesquisador: Sergio Lima da Silva

_______________________________________

Orientadora: Profª. Drª. Vilma de Carvalho

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130

ANEXO A

PARECER DO COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA DA EEAN/UFRJ

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