“saber sobre pÁssaros”: um entendimento …

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS CURSO DE BACHARELADO EM ZOOTECNIA ALAN FERREIRA BONFIM “SABER SOBRE PÁSSAROS”: UM ENTENDIMENTO ETNOORNITOLÓGICO DOS MORADORES DO POVOADO DE CATUNI DA ESTRADA, MUNICÍPIO DE JAGUARARI, NO SERTÃO BAIANO CRUZ DAS ALMAS- BAHIA 2020

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RECÔNCAVO DA BAHIA

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS AMBIENTAIS E BIOLÓGICAS

CURSO DE BACHARELADO EM ZOOTECNIA

ALAN FERREIRA BONFIM

“SABER SOBRE PÁSSAROS”: UM ENTENDIMENTO ETNOORNITOLÓGICO

DOS MORADORES DO POVOADO DE CATUNI DA ESTRADA, MUNICÍPIO DE

JAGUARARI, NO SERTÃO BAIANO

CRUZ DAS ALMAS- BAHIA

2020

ALAN FERREIRA BONFIM

“SABER SOBRE PÁSSAROS”: UM ENTENDIMENTO ETNOORNITOLÓGICO

DOS MORADORES DO POVOADO DE CATUNI DA ESTRADA, MUNICÍPIO DE

JAGUARARI, NO SERTÃO BAIANO

Monografia apresentada à Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, como exigência para obtenção

do grau de Bacharel em Zootecnia.

Orientadora: Prof.ª. Drª. Maria Vanderly Andrea Coorientador: Prof. Dr. Renato de Almeida

CRUZ DAS ALMAS- BAHIA

2020

ALAN FERREIRA BONFIM

“SABER SOBRE PÁSSAROS”: UM ENTENDIMENTO ETNOORNITOLÓGICO

DOS MORADORES DO POVOADO DE CATUNI DA ESTRADA, MUNICÍPIO DE

JAGUARARI, NO SERTÃO BAIANO

Monografia aprovada em 03/12/2020 para obtenção do Grau de Bacharel em Zootecnia.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________________________

Prof.ª Drª Maria Vanderly Andrea (UFRB) (orientadora)

_________________________________________________________

Prof. Dr. Renato de Almeida (UFRB)

__________________________________________________________

Marcel Silva Lemos (UFRB)

Por viver muitos anos dentro do mato

moda ave, o menino pegou um olhar de pássaro

– Contraiu visão fontana. Por forma que ele

enxergava as coisas. Por igual como os pássaros

enxergam, (Manoel de Barros).

DEDICATÓRIA

Dedico este entendimento etnoornitológico a todos os moradores da comunidade de Catuni da

Estrada. Esses são os principais detentores do conhecimento tradicional de avifauna local. Sem

vocês eu não teria compreendido muito acerca da ecologia comportamental das aves.

SAUDAÇÕES!

AGRADECIMENTOS

Bate as asas passarinho precisamos voar! Agradeço primordialmente a todos os Orixás que nos

guiam, cuidam de nossos pensamentos nos tocando pelas forças da natureza! Reza a lenda que

os pássaros por seus encantos têm a proteção de Logun Edé. Talvez por isso tenha adquirido

uma visão de pássaro, saber sobre pássaro é entender a ecologia do espírito. Neste sentido

agradeço ao universo a existência de Baga de Bagaceira (in memorian) por ter existido em

minha vida, elx foi responsável por me fazer entender a arte como forma de resistência e

existência de nossos corpos adornados, assim como pássaros que exibem suas lindas plumagens

em atos performáticos! A todos os seres do universo.

A toda a minha família de laços sanguíneos e afetivos, vocês são essenciais para o meu processo

de evolução. Agradeço a minha mãe Eva Maria e meu pai Antônio, minha irmã Andréa com

seus dois príncipes João Lucas e Raul Antônio. GRATIDÃO pela paciência, amo-os!

Tenho vários corações fora do peito! A toda a minha família afetiva Cruzalmense, Cachoeirana

e Sanfelista, o Recôncavo não esquece. Quero abraçar e agradecer a todxs, em especial minhas

amigas irmãs Júlia Fernandes, Kally Morais, Jaine, Naty Firmo, Luana Galvão, Poly

Hermógenes, Jil Santos, Flávia Beatriz, Ari Garcia, Cibele, Jéssica Cerqueira, Mari Pina, Jeu

Rosa, Tali Albuquerque, Poly Abreu, Francine, Lari Gonçalves, Sil Fonseca, Nanda Mercês,

Herivânia Nascimento, Thai Pena e Cássia da Garagem. PAZ!

Aos amigos irmãos do peito, agradeço a Jeferson Santos, SARAVÁ, pela compreensão e

carinho, você foi essencial para a minha trajetória na fissura do Recôncavo! Aos meus de

sempre, Guerra, Jadson Palma, Luan Carvalho, Cláudio Lisboa, Saullo, Faleiro, Serginho, Rafa

Grham, Jean Bury, Elon. Graça também aos amigxs Blues Bar, Seu Doguis e Acará, Dilma e

Lomba (in memorian), dos bares, que apesar dos pesares era onde eu sorria e também chorava!

AXÉ!

Aos professores orientadores Drª Maria Vanderly pelo apoio e confiança e Dr. Renato Almeida

por me instigar ao questionamento e criticidade, e Marcel Lemos por me ajudar identificar as

espécies de aves. Gratidão a todos os meus mestres da Universidade Pública do Recôncavo

Baiano, em nome da Prof.ª Priscila Furtado pelo carinho e cuidado, Prof.ª Meiby Leite pela

atenção e compreensão, Prof.ª Soraya Jaeger pela amizade e ao Prof. Carlos Ramos, pelos

ensinamentos e por me mostrar que existe o caminho do meio através da Yoga, NAMASTÊ!

Aos colegas da turma de Bacharelado em Zootecnia 2013.1, todxs vocês são importantes!

A todos os moradores de Catuni da Estrada que contribuíram para o sucesso da pesquisa! Catuni

é minha árvore, onde encontro-me com as essências mais profundas, fontes de inspiração!

Por fim, a Benção as todas as forças da natureza, as folhas, os animais, as águas, os ventos, a

terra, sou ARONI!

KOSI EWE, KOSI ORIXÁ EWE Ô, EWE ORIXÁ (SEM FOLHAS NÃO TEM VIDA)!

RESUMO

Esta pesquisa foi desenvolvida junto aos moradores da comunidade de Catuni da Estrada,

Jaguarari-BA e teve como proposta compreender e inventariar as aves utilizadas como recurso

trófico e suas técnicas de captura, zooterápicos, criadas em gaiolas e as lendas/mitos. A pesquisa

de campo foi realizada entre os meses de novembro a maio de 2020. Foram entrevistados 50

moradores que utilizam e interagem com a avifauna. A obtenção das informações ocorreu por

meio de entrevistas semiestruturadas aplicadas individualmente. A partir das informações

obtidas, calculou-se o Valor de Uso (VU) para cada etnoespécies citada. Assim, foram

registrados 172 etnoespécies local, para o uso trófico citaram-se 24 etnoespécies, destacando-

se Crypturellus parvirostris. As aves citadas são normalmente capturadas através de 13

técnicas, destacando-se o uso da espingarda e “visgo-de-jaca”. Registrou-se também algumas

espécies não consumidas por questões culturais como Coragypss atratus e Fluvicola nengeta.

Para o uso zooterápico registraram-se 11 espécies, com destaque a Columbina talpacoti.

Pássaros criados em gaiolas representaram 22 espécies, sendo os principais Paroaria

dominicana e Sporophila nigricollis. Nas relações simbólico-ritualísticas, os moradores citaram

algumas aves que de acordo com o conhecimento biocultural trazem má sorte e prenuncio de

eventos climatológicos. Os resultados apresentados poderão contribuir para informações do

conhecimento ecológico local no campo da ornitologia. Numa concepção mais ampla sobre o

conhecimento ornitológico “não formal” e formal talvez seja possível auxiliar na implantação

de formas mais adequadas de programas de manejo e conservação da avifauna, interligados aos

fatores socioeconômicos, culturais, históricos e artísticos, de tal forma a ser conduzido por

novos paradigmas socioculturais ecológicos.

Palavras-chave: Avifauna, Conhecimento tradicional, Ornitologia, Preservação, Zootecnia.

ABSTRACT

This research was developed with the residents of the community of Catuni da Estrada, county

of Jaguarari-BA. This study aimed to understand and inventory the birds used as a trophic

resource and their capture techniques, zootherapeutic practices, raised in cages, and the

legends/myths. The research was carried out between the months of May and November of

2020. Fifty residents who use and interact with birdlife were interviewed. The information was

obtained through semi-structured interviews applied individually. From the information

obtained, the use-value (VU) was calculated for each ethno-species mentioned. As a result, 172

local ethno-species were recorded, and 24 were mentioned for trophic use, especially

Crypturellus parvirostris. The birds are captured using 13 techniques, with emphasis on the use

of shotgun and jackfruit sap. There were also some species not eaten for cultural reasons, such

as Coragypss atratus and Fluvicola nengeta. The zootherapeutic practices recorded 11 species

with the prominence of Columbina talpacoti. For birds raised in cages 22 species were recorded,

the main ones were Paroaria dominicana and Sporophila nigricollis. In the symbolic-ritualistic

relations, the residents mentioned some birds that, according to their bio-cultural knowledge,

bring bad luck and foreshadow climatological events. The results presented may contribute to

the information on local ecological knowledge in the ornithology field, allowing that a broader

conception of non-formal and formal ornithological knowledge can assist in the implementation

of more appropriate forms of programs for the management and conservation of birdlife, linked

to socioeconomic, cultural, historical, and artistic factors in such a way that new ecological

socio-cultural paradigms may be conducted.

Keywords: Birdlife, Traditional knowledge, Ornithology, Preservation, Animal husbandry.

Sumário

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1

2. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................................... 3

Da área de estudo .................................................................................................................. 3

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO .............................................................................................. 4

Identificação das Etnoespécies e Uso Local ........................................................................... 4

Relação Trófica ..................................................................................................................... 5

Métodos de caça.................................................................................................................... 6

Espécies não consumidas ...................................................................................................... 7

Relação Etnomedicinal .......................................................................................................... 9

Interação sócio afetiva ......................................................................................................... 10

Conexões mágico-religiosas ................................................................................................ 11

Implicações Conservacionistas ............................................................................................ 12

4. CONCLUSÃO .........................................................................................................................14

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................16

6. APÊNDICES ...........................................................................................................................19

1

1. INTRODUÇÃO

“Bate as asas, passarinho,

Que eu quero voar”, (Canta Gal Costa, Tuzé de Abreu, 1973).

O conjunto das complexas maneiras de interação entre humanos e fauna pode ser traçado

por meio de diferentes recortes científicos, a depender da linha teórica que será abordada

(BEGOSSI, 1993). Historicamente, supõe-se que a ciência etnozoológica é a área responsável pelo

entendimento das inter-relações que os variados povos mantêm com os animais, tendo originado

simultaneamente ao surgimento da espécie humana (ALVES e SOUTO, 2010).

A etnozoologia faz parte de um campo de estudo abrangente - Etnobiologia. Surgida do

campo da sociolinguística e da antropologia cognitiva, a etnobiologia é um campo de pesquisa

transdisciplinar que busca entender as diversas percepções culturais da relação do homem com a

natureza, assim como a maneira e propósito de como estas percepções são alinhadas e classificadas

pelas sociedades através da linguagem (POSEY, 1987; BEGOSSI, 1993).

Neste sentido, dentre as diferentes áreas etnozoológicas cabe aqui a etnoornitologia, uma

variante que busca analisar a performance existente entre seres humanos e aves silvestres. De

acordo com Farias e Alves (2007), a etnoornitologia busca entender as relações cognitivas,

comportamentais e simbólicas existentes entre a espécie humana e as aves, cruzando-se o

conhecimento a partir da compreensão destas relações sob diversos contextos culturais e

ecológicos.

Portanto, investiga fenômenos que vão além da simples interface entre a ciências

biológicas e antropologia; uma vez que as aves são tidas como símbolos arquetípicos presentes no

imaginário de várias culturas ao longo da história humana sobre a terra (SILVEIRA, 2010). Logo,

estudar a relação da comunidade de Catuni da Estrada com avifauna local se torna fator crucial

para entender a cultura, assim como o estado em que se encontra as aves silvestres.

Com isso, evidencia-se que, a persistência das atividades de caça na comunidade em

questão certamente está interligada ao contexto cultural e socioeconômico, sendo uma atividade

transmitida de geração para geração.

Quando a fauna se torna importante para uma determinada comunidade ela passa a fazer

parte de seu contexto e de seus pensamentos, estabelecendo-se então diversas relações dos seres

humanos com os animais, sejam elas utilitárias (alimentação, vestuário, medicinal, mágico-

2

religioso, etc.), simbólicas (lendas, mitos), ou sua comercialização ilegal (MASON, 1899;

BENNETT et al.,1999; ALVES et al., 2009; CORONA, 2011).

Também no Semiárido Brasileiro Alves et al (2010) apontam o uso de aves silvestres, que

apesar de ser uma prática ilegal, é bem comum, e em conjunto com outras ameaças, tem contribuído

para o declínio da avifauna local.

Nesse aspecto, é de extrema importância que o conhecimento ecológico tradicional sobre

aves silvestres seja registrado. Assim, se pretendeu investigar a relação dos moradores do povoado

de Catuni da Estrada com avifauna local, identificando como são percebidas, caracterizadas e

utilizadas. Foi elaborada uma lista de etnoespécies de aves do município de Catuni da Estrada a

partir dos relatos dos integrantes locais, destacando os maiores impactos as espécies de aves na

região e os principais fatores antropogênicos que contribuem à diminuição ou extinção de aves

silvestres locais.

Deflagrada toda essa contradição da postura e pensamento humano em relação à vida

animal livre, de modo erudito disse Freire (1991), “mudar é difícil, mas é possível e urgente”. No

livro “A Teia da Vida” Fritjof Capra diz ainda que, precisa-se tornar sistêmica a forma de ver o

mundo, de perceber a realidade (CAPRA, 1996). A presente monografia registra parte deste

esforço!

3

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Da área de estudo

O trabalho foi desenvolvido no povoado de Catuni da Estrada (10°20'39.9"S

40°11'01.4"W), município de Jaguarari, localizado na Mesorregião do centro norte Baiano, e micro

região de Senhor do Bonfim, no Território de Identidade do Piemonte Norte do Itapicuru (Anexo

I) e distante 398 km da Capital Salvador.

A pesquisa foi realizada entre os meses de novembro a maio de 2020. A pesquisa de campo

ocorreu após a aprovação pelo Comitê em Pesquisa da Universidade Federal do Recôncavo da

Bahia – CEP/UFRB (CAAE: 26262019.1.0000.0056/2019) (Anexo II).

Foram realizadas entrevistas com 50 moradores locais, que conhecem e fazem uso de aves

silvestres com diferentes finalidades. A escolha dos moradores se deu a partir da técnica bola-de-

neve (BIERNACKI e WALDORF, 1981), que consiste em localizar os demais entrevistados alvos

da pesquisa a partir da indicação dos primeiros. Os dados foram obtidos através das entrevistas,

com perguntas referentes ao uso dos animais pela população local (Anexo III) integrado a

entrevistas livres feitas de modo individual e conversas informais no dia-a-dia (MELLO, 1995;

HUNTINGTON, 2000. ALBUQUERQUE e LUCENA, 2004). Os participantes foram requisitados

a assinar um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido - TCLE, no qual constavam informações

referentes ao objetivo da pesquisa, e as formas de utilização dos dados coletados (Anexo IV).

Quando necessário, foi utilizado guia de campo (SIGRIST, 2015) para auxiliar na

identificação das espécies com nome científico de acordo com a Lista das Aves do Brasil (CBRO,

2015). Assim, para determinar a importância cinegética relativa das espécies calculou-se seu

respectivo Valor de Uso (VU), (método adaptado por PHILLIPS, et al., 1994), que possibilita

demonstrar a importância relativa da espécie conhecida e utilizada localmente. O Valor de Uso é

calculado através da fórmula VU = ΣU/n; onde VU = Valor de Uso da Espécie, U = número de

citações por espécie, n = número de informantes. Os dados foram processados no programa Excel

2013 para posterior elaboração da lista de aves de Catuni da Estrada.

Os resultados do presente estudo encontram-se a seguir, onde será discutido com detalhes

o tema proposto. Serão apresentados a aves citadas e identificadas pelos moradores de Catuni da

Estrada, assim como as relações etnoornitológicas e suas implicações conservacionistas.

4

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Identificação das Etnoespécies e Uso Local

No povoado de Catuni da Estrada as aves são utilizadas de diferentes maneiras: alimento

(interação trófica), remédio em atividades de medicina popular (interação zooterápicas), criação

em gaiolas (interação sócio afetiva) e para o comércio (interação econômica). Neste sentido, os

indivíduos entrevistados citaram 172 nomes de aves entre silvestres (n=170) e domésticas (n=02).

Ressalta-se que 119 espécies possuem sinonímias, ou seja, são um ou mais nomes além do

comumente conhecido e utilizados pelos moradores para designar uma mesma etnoespécies

(Anexo V). Os dados deste estudo dialogam com os resultados encontrados por Galvagne-Loss et

al. (2014) em levantamento realizado na comunidade de Pedra Branca, município de Santa

Terezinha, Bahia, quando registraram 139 nomes comuns, correspondentes a 117 (84,17%)

espécies acadêmicas.

Das etnoespécies citadas, nove não puderam ser identificadas porque os entrevistados não

souberam prestar maiores informações sobre a morfologia e comportamento delas; nem mesmo o

auxílio do guia de aves permitiu determinar qual era a ave citada considerando apenas a informação

sobre o nome popular. Entre as 9 espécies citadas podem ser destacadas: “Gavião-azul”, “Couro-

de-boi”, “Para-bala”, “Tuntum” e “Zé-pintinho”. Talvez seja necessário aprofundar o estudo para

identificação destas criaturas insólitas.

Dentre as etnoespécies, as mais citadas pelos entrevistados foram Cardeal-do-nordeste -

Paroaria dominicana (50,0%); Sabiá-coca – Turdus rufiventris (48,0%); Galo-de-campina -

Coryphospingus pileatus (46,0%); Sofrê – Icterus jamacaii (40,0%); Coleira - Sporophila

caerulescens (38,0%); Beija-flor-azulzinho - Eupetomena macroura (36,0%) e Perequitinho-de-

São-José - Forpus xanthopterygius (32,0%) (Anexo VI). Estas etnoespécies são aquelas que

evidentemente provocam alguma influência cultural, pois também são importantes na economia

local (DINIZ et al., 2012). Cabe destacar que na comunidade de Catuni da Estrada as aves se

apresentam como um fator determinante no comércio clandestino e na dieta variante local.

Ainda de acordo com os entrevistados as aves vivem principalmente nos ambientes de

serras, matas e na beira do rio de Catuni, onde criam ali seus ninhos e procuram alimentos. Logo,

os ambientes montanhosos se constituem um grande refúgio para as espécies animais, sendo que

5

delas dependem a sobrevivência das diversas espécies habitantes da área. As montanhas são

percebidas como ilhas ecológicas compostas de diversas espécies endêmicas, graças ao seu

isolamento e verticalidade (NETTO, AMAZILE LOPÉZ; MARQUES, JURACY, 2020).

Relação Trófica

Com relação a utilização trófica das aves, os entrevistados do presente trabalho citaram 24

etnoespécies utilizadas como alimento. O Valor de Uso (VU) das aves variou entre 0,02 e 0,36. As

etnoespécies mais utilizadas para fins tróficos pelos entrevistados são: Nambu (Crypturellus

parvirostris) - VU=0,36; Juriti (Leptotila verreauxi) - VU= 0,26; Codorna (Nothura boraquira;

Nothura maculosa) - VU=0,18; Rolinha (Columbina picuí; Columbina talpacoti) – VU= 0,10-0,16;

Jacu (Penelope jacucaca) – VU= 0,12. (Figura 1).

Dentre as aves citadas foram registradas etnoespécies que estão na lista de aves do Livro

Vermelho de Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: volume 1 (BRASIL, 2018), marcadas como

espécies críticas. São elas, Jacu (Penelope jacucaca) da família CRACIDAE e Zabelê

(Crypturellus noctivagus) da família TINAMIDAE, ambas na categoria de vulnerabilidade (Anexo

VII).

Segundo Sick (1997), as famílias Columbidae e Cracidae representam um recurso trófico

importante para comunidades humanas em todo o país. Em Catuni, esses animais são bastantes

requisitados como uma variação na dieta proteica, sendo citadas como aves que possuem um bom

acúmulo de massa corporal e sabor agradável.

Figura 1: Etnoespécies utilizadas para consumo em Catuni da Estrada com seus respectivos Valor de Uso.

0,000,050,100,150,200,250,300,350,40

Espécies usadas como recurso trófico

V.U

6

Acho que em matéria de comer não tem pássaro nenhum venenoso. Agora tem diferença de sabor,

espessura de corpo, uns é gordinho tem muita carne, e outros é magrinho (Antônio, 75 anos).

Para adquirir esses animais e permitir os diferentes usos (interações), foram citados diversos

métodos de caça. O conhecimento dessas técnicas é passado de geração em geração e faz parte da

cultura no âmbito social em questão. As principais técnicas de caça e captura mencionadas pelos

entrevistados são descritas a seguir.

Métodos de caça

A caça é uma prática adotada pela humanidade desde a antiguidade, com isso várias técnicas

foram e são desenvolvidas para auxiliar na captura e/ou abate das espécies desejadas, sendo

adotadas conforme a espécie, o recurso e a finalidade a que se destina o animal capturado (ALVES

et al., 2010b). Em Catuni da Estrada foram citadas 13 (treze) maneiras de caça, consistindo em

técnicas (armadilhas, instrumentos) utilizadas na captura das aves da região no entorno da

comunidade (Figura 2).

O alçapão (N=8) (Anexo VIII) é um tipo de gaiola de captura para pássaros leves. O canto

de um pássaro é usado como “chamador”. É uma técnica utilizada para atrair outros pássaros, que

certamente competirão por território e recurso.

Figura 2: Frequência de citações dos métodos de caça em Catuni da Estrada, Bahia, Brasil.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Visgo-de-jaca

Som

Rede

outro-animal

Laço

Fojo

Flecha

Espingarda

Espera(Bebida)

Cachorro

Badogue

Arapuca

Alçapão

Métodos de caça

Citações

7

A arapuca (N=17) é uma técnica que utiliza pedaços de madeira que variam de acordo com

o tamanho da ave a ser capturada. Quando o pássaro movimenta a isca, o dispositivo é disparado,

aprisionando-o até que o caçador retorne.

O badogue (N = 7), também conhecido como estilingue, usado “normalmente” por crianças

e jovens da comunidade.

A espingarda (N=13) é uma arma de fogo de calibres diversos e munição de simples e baixo

custo. Geralmente, são partículas de chumbo que variam de tamanho de acordo com a caça. A caça

com armas resulta numa vasta captura de espécies, mas é uma técnica extremamente destrutiva

(ALVES et al., 2009; TRINCA e FERRARI, 2006).

Tudo tem um jeito de pegar, eu mesma sou contra! (Nilde, 43 anos).

O visgo de Jaca1 (N=6) é uma técnica totalmente artesanal. Na confecção usa-se apenas

uma madeira em formato cilíndrico, envolvido pelo suco vegetal da jaqueira, que é glutinoso e

pegajoso, comumente utilizado para a captura de exemplares vivos, sobretudo, Passeriformes.

Outras técnicas também foram citadas, como: o uso de flecha (N= 1), fojo (N=7) e rede (N=1), etc.

Tira o visgo da jaca e enrola no pau (Rosemar, 52 anos).

Assim, percebe-se que a cadeia social que propicia e estimula esse tipo de atividade tem

forte ligação com fatores biocultural e econômicos.

Espécies não consumida

Ainda de acordo com alguns entrevistados, existem restrições Tabus2 alimentares a certas

aves. Foram citados o Urubu-de-cabeça-preta (Coragypss atratus) com n=11 e a Lavandeira

(Fluvicola nengeta) n=6 (Figura 3). Também foram mencionados o Pardal (Passer domesticus) e

o Xeque (Agelaioides fringilarius) por viverem em ambientes humanos, além da Garça (Bulbucus

1 Visgo é uma substância retirada de uma árvore que levada ao fogo em altas temperaturas, tornando-se um material

pastoso e pegante onde os índios caçavam pássaros com esse material

(https://www.dicionarioinformal.com.br/visgo/#:~:text=Visgo%20%C3%A9%20uma%20subst%C3%A2ncia%20ret

irada,ca%C3%A7avam%20p%C3%A1ssaros%20com%20esse%20material.).

8

íbis) que se alimenta de carrapatos. Existem, ainda, aquelas aves que permanecem tabus por fatores

religiosas e espiritualistas, tendo como exemplo: Jesus-meu-deus (Zonotrichia capensis), Coruja

rasga-mortalha (Tyto furcata).

Não se come a lavandeira, pois quando Jesus andou no mundo ela quem

lavava a roupa dele (Maurina, 59 anos).

Vale citar, no município de Iguatu, Ceará, que um veterinário indicou para consumo

humano a carne de Urubu (C. atratus), expondo como funciona a ecologia alimentar do animal e

os seus benefícios (rica em proteína, aminoácidos, HDL, etc.). Mesmo com receio, as pessoas

começaram a comer e relatos revelaram que a carne era boa e de fácil digestão (ARAÚJO, 1997).

A lavandeira (Fluvicola nengeta) (Anexo IX) foi considerada pelos entrevistados como uma ave

abençoada e protegida por Nossa Senhora ou Jesus Cristo, por isso não é caçada, não servindo

como recurso alimentar,

Lavandeira ninguém nem ouse matar para comer, é muito respeitada (Celso, 70 anos).

A lavandeira, o povo fala que ela lavou os panos, roupa de Jesus e Nossa Senhora

(Aparecida, 43 anos).

0 2 4 6 8 10 12

andorinha

bem-ti-vi

cauã

galo-de-campina

gavião-grande

jesus-meu-deus

lavandeira

pardal

rasga-mortalha

urubu-de-cabeça-preta

xeque

Etnoespécies não consumidas

Citação

Figura 3: Aves não consumidas pelos moradores do povoado de Catuni da Estrada, com seus respectivos números

de citação.

9

Forbes (1881), citou em um artigo um dos memes3 mais conhecidos, o da lavandeira

(Fluvicola nengeta), na qual a ave teoricamente teria feito um favor a Virgem Maria e seria um ato

de sacrilégio sacrificá-la. Foram retratadas algumas etnoespécies citadas e a sua abordagem social

referente a sua restrição alimentar (Anexo X). Também foram citadas espécies não consumidas,

estando profundamente ligadas a questões religiosas e do próprio comportamento da ave (Anexo

XI).

Relação Etnomedicinal

No âmbito do uso zooterápico foram citadas 11 (onze) etnoespécies de aves utilizadas em

Catuni da Estrada. Em relação ao Valor de Uso, a etnoespécies Urubu-de-cabeça-preta (Coragyps

atratus) foi a mais citada para o uso medicinal apresentando VU= 0,33; Rolinha-caldo-de-feijão

(Columbina talpacoti) VU= 0,13; Anum-preto (Crotophaga ani) VU= 0,10; A Cauã

(Herpetotheres cachinnans), Juriti (Leptotila verreauxi) e a Perdiz (Rhynchotus rufescens) o VU=

0,08. Essas aves fornecem 9 (nove) matérias-primas para tratamento de várias enfermidades

diagnosticadas localmente (Anexo XII). De acordo com os entrevistados as mais utilizadas, são:

as penas, fígado, ossos, ave inteira, sangue e piolho. O uso de partes animais na medicina

tradicional, em muitas comunidades, constitui-se de uma importante opção ao tratamento de

inúmeras mazelas (DIAS et al., 2012).

Do Anum-preto usa as penas da asa direita, faz o pó e bebe, é bom pros nervos, já o urubu, torra o

fígado e bota na cachaça, mas a pessoa não pode saber! É pro alcoolismo. Tem também o sangue da

Juriti, é bom pra tosse comprida, bebe o sangue (Maurina, 59 anos).

O Urubu é bom pra tuberculose! Captura o Urubu, bota ele no pilão, ele vivo! Aí machuca ele até

virar bagaço, aí cozinha e dá o doente para beber aquele caldo sem sal. Mas escondido do doente

(Antônio, 75 anos).

3 Memes são informações culturais armazenadas pelo indivíduo e transmitidas oralmente. Segundo Dawkins (1989,

p.277) o meme é definido como "uma entidade capaz de ser transmitida de um cérebro para outro". O conceito de

meme já foi usado em estudos etnoecológicos por Marques (1995).

10

De acordo com Galvagne-Loss (2013), as matérias-primas derivada das aves mais utilizadas

para fins terapêuticos pelos moradores do Povoado de Pedra Branca na Bahia são as penas, os ovos

e a banha. Em Catuni também são usadas essas matérias primas para elaboração de remédios.

A banha da Aracuã é bom para dor de ouvido, passa no ouvido! (Maurina, 59 anos).

A pena da Perdiz é bom para essa doença do vento, pega a pena e faz defumador, o ninho da Rolinha

também e as penas do urubu (Zezinho, 50 anos).

Neste estudo foi possível observar que, dentre as etnoespécies utilizadas para este fim, a

maior parte compreende aves silvestres, sendo identificadas apenas duas etnoespécies domesticas

(Gallus gallus domesticus e Pavo cristatus) utilizadas na etnomedicina local.

Pega a pena do Pavão e queima para defumador, serve pra doença do vento! Eu fiz pra minha tia e

ela se deu bem (Paulo, 68 anos).

As penas da Galinha arrupiada faz o defumador serve para doença do ar

(Josefa, 55 anos).

Assim, as práticas zooterápicas seguem um fluxo místico, sendo chamadas de “curas

mágicas” e “simpatias”, sendo intrínseco das aves a capacidade de promover a cura de doenças

através do rito simbólico de medicar o enfermo sem que ele saiba a maneira como se deu o

tratamento; uma tendência natural na medicina tradicional brasileira (ALVES et al., 2007; ALVES,

2009). Neste cenário é preciso compreender nitidamente quais as espécies são importantes na

relação etnomedicinal em cada território do país. Ela se mostra como uma ferramenta de crucial

importância para que se conheça a relação cultural existente entre avifauna e as práticas realizadas

pela medicina tradicional nas populações existentes (SOUTO et al., 2011).

Interação sócio afetiva

A cultura de criar pássaros em gaiolas é bastante acentuada no povoado de Catuni da

Estrada, sendo perceptível o quanto essa prática reverbera pelos espaços. Trata-se de questões

culturais transmitidas para as gerações do presente. De acordo com o levantamento, foram citadas

22 (vinte e duas) etnoespécies (Anexo XIII). Tiveram destaque: Cardeal-do-nordeste (Paroaria

11

dominicana, n=26), Papa-capim (Sporophila nigricollis, n=15), Coleira (Sporophila caerulescens

n=15) e Galo-de-campina (Coryphospingus pileatus, n=13) (Anexo XIV).

São aves que apresentam características marcantes, como o canto, a beleza de suas

plumagens, além de estarem altamente ameaçadas a extinção. O interesse da criação em cativeiro

(gaiolas) e o comércio ilegal, muitas vezes é mantido por vários tipos de consumidores, resultando

no declínio populacional de várias espécies.

Eu acho bonito o canto, e a beleza das penas (Antônio Carlos, 23 anos).

A partir da fiscalização do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

Renováveis (IBAMA) frente ao hábito de criar pássaros em gaiolas, alguns entrevistados dizem

haver um aumento de algumas populações, como no caso do Papa-capim e do Coleira.

Rapaz, as espécies estavam diminuindo, mas agora tá aumentando! Devido as reproduções em

cativeiro, não tá precisando mais pegar no mato (A C., 23 anos).

Citado por Pimentel e Santos (2009), a cultura de criar pássaros canoros e de pequeno porte

está concentrada no Estado da Bahia, sendo o Cardeal (Paroaria dominicana) a ave que possuiu o

maior número de indivíduos apreendidos pela fiscalização preventiva, seguidos de Azulão

(Cyanoloxia brissonii), Canário-da-terra (S. flaveola), Pássaro-preto (C. chopi), Estevão (S. similis)

e Papa-capim (Sporophila nigricollis). Na comunidade de Catuni da Estrada é comum tais espécies

serem criadas como animais de estimação.

Nesta percepção, populações de camponeses podem detectar e perceber sons de aves como

parte de uma "paisagem sonora". Assim, um estudo realizado por Marques (1998) na Várzea da

Marituba (AL), permitiu afirmar que é possível encontrar humanos com alto grau de inteligência

musical e que as vocalizações adquirem conotação cultural.

Conexões mágico-religiosas

As lendas que envolvem as aves são bastante contadas na comunidade de Catuni da Estrada,

de acordo com as entrevistas, as etnoespécies são descritas socialmente como sendo animais que

12

trazem aviso de morte ou mau agouro, os que trazem maus presságios, aquelas que prenunciam

eventos climatológicos além das aves que anunciam a chegada de visitas (Anexo XV).

Várias aves também possuem vocalização que “prenunciam” chuva; tal fato acontece,

geralmente, por que os fatores climáticos influenciam tanto na época reprodutiva quanto no canto

das aves (MAGALHÃES, 1952; SICK, 1997; KIZUNGU et al., 1998; ARAUJO et al., 2003).

De acordo com Marques (2002), o canto desses animais são sinais do mundo animal que os

seres humanos atribuem sentidos e valores, sendo chamado de transmutação zoosemiótica. Neste

conceito, destaca-se o ornitoáugures, constituído por “vocalizações que têm o poder de prenunciar

ocorrências naturais e/ou “sobrenaturais”, sendo abordado como um fenômeno transcultural.

Vem vindo, o fim-fim! Quando ele fica perto da casa cantando Vem-Vindo é visita, doença,

ou aviso de alguma coisa (Aparecida, 43 anos).

A Coruja voa e senta no chão, aí fica arrudiando a pessoa, não dá sorte não! (Evandro, 36

anos).

O espanta-gado quero-quero, se comer não dorme de noite com ela zuando na cabeça (Adão,

43 anos).

Várias aves emitem sons melodiosos, que, culturalmente, são entendidos de diferentes

perspectivas, fazendo parte dos mitos, superstições e lendas populares, tornando-se componente

integrante do folclore (TESCHAUER, 1925; NOMURA, 1996; SICK, 1997). Logo, na

comunidade em questão são vários os mitos abordados pelos atores sociais, visto que algumas aves

são fortemente vistas como agorentas. Assim, são abatidas numa perspectiva de ser bloqueada a

energia que supostamente é emitida pelo canto e performance das aves ao redor das moradias.

Implicações Conservacionistas

A compreensão da cultura local destaca-se como um componente indispensável para o

entendimento das relações entre seres humanos e aves. Desse modo, a maior parte dos entrevistados

relataram que as aves da região estão diminuindo e este fator está fortemente ligado ao

desmatamento da vegetação local, assim como as queimadas resultantes de crimes ambientais

ocorridos na área de serra da comunidade de Catuni.

13

Outros fatores também foram citados, como a atividade de caça e a criação de aves de

maneira ilegal. A fragmentação e perda do habitat, ocasionado pela supressão da vegetação nativa,

induz vasta consequência para as populações de aves locais, sendo as espécies sensíveis ou

especialistas as mais afetadas (SANTOS; COSTA-NETO, 2007). A percepção dos entrevistados

relacionada à conservação da avifauna é perceptível ao narrar possíveis motivos pelos quais as aves

estão em processo de diminuição, como destaca o depoimento a seguir:

Aqui já existiu muitos pássaros, mas como o homem destruiu as matas os pássaros

se mudaram! São rara as vezes que a pessoa vê uma Rolinha-fogo-pagou, um

Cardeal, um Azulão nem si vê mais. O culpado disso tudo foi o homem que além

de destruir as matas, pegaram pra vender, traficando os animais! (A,75 anos).

Assim, torna-se urgente a produção de conhecimento da biodiversidade local. A

implantação de parques eólicos na região serrana também é responsável por provocar impactos

profundos na avifauna local, principalmente para as espécies que necessitam de grandes áreas para

levantar voo, bem como os hábitos migratórios (DREWITT e LANGSTON, 2006). Outro fator

direto ligado a este impacto é a colisão de aves nas torres eólicas. Estimativas médias de

mortalidade anual nos EUA em turbinas eólicas quantificam as colisões variando entre 20.000 e

573.000 pássaros por ano (ERICKSON et al., 2001, 2005; MANVILLE, 2009; SOVACOOL,

2012; SMALLWOOD, 2013).

Assim, seria importante perguntar para as comunidades tradicionais quais as áreas

prioritárias para conservar a biodiversidade e quais estratégias fariam mais sentido. Vale lembrar

que as aves constituem um dos grupos mais estudados, no sentido ecológico e taxonômico, sendo

animais essenciais como bioindicadores e na identificação de áreas de endemismo e daquelas

prioritárias para implantação de projetos conservacionistas (EKEN et al., 2004).

Nesta ótica, podemos citar o potencial das aves para a prática de observação de aves

(Anexo XVI). Comumente chamada de Passarinhar, essa atividade é responsável por promover

diversos fatores que auxiliam na promoção do bem estar das populações humanas e das aves. Sendo

responsável por movimentar o turismo local, contribui para a conservação e sensibilização das

pessoas, além de gerar dados quantitativos para a ciência cidadã. Tais dados, muitas vezes, são

usados para entender padrão de distribuição e riqueza de espécies.

14

4. CONCLUSÃO

O entendimento etnoornitológico da comunidade de Catuni da estrada aqui registrado

permite perceber que existe uma relação muito sensível dos moradores com a avifauna local. Tais

performances são observadas através de diversas interações que vão desde a relação trófica,

passando pelo uso na medicina tradicional, o contato sócio afetivo através do canto e beleza de

plumagens, bem como a variante socioeconômica, pois toda ave utilizada como animal de

estimação tem potencial econômico através da venda no comércio ilegal. De maneira democrática,

tanto os homens quanto as mulheres reconhecem as maneiras de perceber e sentir as aves em

Catuni. No que tange as espécies de aves apreciadas para alimentação tais são selecionadas tanto

pelo sabor e quantidade de carne, bem como pela disponibilidade da caça, como no caso das

espécies de columbídeos, que apesar de pequenas são tão apreciadas quanto os cracídeos. Também

é possível estabelecer relações entre as conexões tróficas e etnomedicinal, onde as espécies

capturadas para consumo também são utilizadas na medicina popular. As aves criadas como poética

do espaço se constituem numa vasta diversidade, sendo perceptível algumas destas espécies cativas

como o Saltator similis, Paroaria dominicana e Sporophila nigricollis. Este tipo de atitude ainda

reverbera de maneira comum na localidade. Tal atuação social pode agravar a diversidade e riqueza

de determinadas espécies que ainda estão em estado pouco preocupante de extinção. Tendo em

vista os aspectos observados e narrados é nítida a riqueza do conhecimento tradicional que os

moradores têm sobre avifauna, assim como o modo em que encontram esses animais em seus

espaços naturais. Logo, o conhecimento ecológico tradicional na perspectiva da etnoornitologia

torna-se uma ferramenta crucial para auxiliar no entendimento das variantes associadas na

perturbação e ameaça da diversidade de aves da região. Hoeffel et al. (2005) citam que nos últimos

tempos os estudos históricos voltados para compreender a relação entre os seres humanos e o

ambiente têm possibilitado melhor compreender a inter-relação existente entre as sociedades

humanas e os ecossistemas naturais onde estão inseridas. Assim, um dos maiores desafios para

conservar a vida livre no domínio fitogeográfico Caatinga está fortemente atrelado a conservação

dos recursos naturais como as necessidades humanas (ALVES et al., 2010b). A falta de políticas

públicas e de incentivo ao ecodesenvolvimento tem contribuído para a continuidade da pobreza e

desigualdade social, fatores que alimentam o ciclo de degradação do meio ambiente (MAJOR et

al., 2004). Dado o exposto, a pesquisa em questão revela-se como um marco teórico voltado para

15

a ecologia das aves de Catuni da Estrada, sendo ideal para propor estratégias de conservação e de

observação de aves na localidade, uma vez que a prática de passarinhar se apresenta como uma

ferramenta crucial para promover o desenvolvimento das comunidades através do turismo de base

comunitária, possibilitando movimentar o capital de maneira integrada com as questões ecológicas.

A Casaca-de-couro é o maestro do Sertão (Adão, 43 anos).

16

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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167.

19

6. APÊNDICES

Apêndice I: Área de Estudo

Vista superior da área de estudo evidenciando o município de Catuni da Estrada, (FONTE: GOOGLE EARTS).

Visão parcial da serra que tange a vila de Catuni da Estrada, (BONFIM, 2020).

20

Apêndice II: Autorização do Comitê de Ética e Pesquisa da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

– UFRB.

21

22

23

24

Apêndice III: Roteiro semiestruturado de entrevista

Número: _____ Data da aplicação: ___/___/____

Identificação

Nome: ___________________________________

Idade: _________________________ Data de nascimento: ___/___/_____

Sexo: F ( ) M ( ) Solteiro ( ) Casado ( ) Outro ( )

Naturalidade: _________________ Escolaridade: ______________

Corpus e práxis etnoornitológico

1. O (a) senhor (a) vê muitos pássaros? Quais que mais aparecem? 2. Como o (a) senhor (a) difere esses pássaros?

3. Eles vivem sozinhos ou com outros pássaros?

4. Eles costumam “cantar”, “piar”, “chorar” e/ou “gemer”? Se sim, perguntar se cantam durante o dia ou à noite.

5. Como é o canto?

6. O que quer dizer o canto desse pássaro para o (a) senhor (a)?

7. Você pode imitar o canto para mim? 8. O que você mais gosta dos pássaros?

9. Fale-me sobre este pássaro: Qual nome dele? Por que ele se chama assim?

10. Este pássaro serve de alimento? Como prepara? 11. Como esses pássaros são capturados?

12. Tem algum tipo de pássaro aqui que seja utilizado como remédio? O que se usa dele? Para quê?

Como se faz? 13. Este pássaro, em sua opinião, está diminuindo ou aumentando aqui na região?

14. Existe alguma história ou lenda envolvendo esse pássaro? Se sim, pedir para contar?

25

Apêndice IV: Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Esta entrevista oral faz parte de uma ação do Projeto “SABER SOBRE PÁSSAROS”: UM

ENTENDIMENTO ETNOORNITOLÓGICO DOS MORADORES DO POVOADO DE CATUNI DA

ESTRADA, MUNICÍPIO DE JAGUARARI, NO SERTÃO BAIANO, que será realizado por membro da

equipe executora da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia e envolverão (100) cem moradores,

maiores de 18 anos, que residem no povoado de Catuni da Estrada município Jaguarari, Bahia. Dessa forma,

busca-se investigar a relação dos moradores com avifauna local, registrando como são percebidas,

caracterizadas e utilizadas, bem como a sua importância sociocultural. O conteúdo deste questionário

incluirá aspectos sobre a observação de pássaros, o canto, uso, formas de capturas, destino e lendas que

envolvem tais espécies. A entrevista terá o áudio gravado por equipamento digital, para maior segurança

das informações. Sendo assim, serão registradas imagens fotográficas e vídeos. As respostas do questionário

podem apresentar algum grau de risco ao entrevistado. Com isso peço que caso sinta-se desconfortável, com

medo, cansado ou constrangido em proceder à entrevista, diga o que não se sente à vontade. As informações

serão mantidas, respeitosamente, em sigilo e tabuladas em um relatório, para que o diagnóstico da situação

seja verificado, sem que ocorra a divulgação do nome do entrevistado em veículo de comunicação. Os dados

obtidos serão apenas utilizados para fins científicos, com garantia de anonimato, ausentes de manipulação

da imagem e do áudio nos depoimentos, mantendo assim a imparcialidade nas análises, caso contrário o

entrevistado poderá ser indenizado. Diante disso é de muita importância a vossa participação nessa

entrevista, visto que os dados finais poderão contribuir em projetos futuros voltados para a preservação de

avifauna local. Os resultados serão fornecidos aos entrevistados por meio de Cartilha Informativa. Este

estudo tem como responsável a Professora Maria Vanderly Andréa e da colaboração do Professor Renato

de Almeida, ambos da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. É relevante saber que seu

envolvimento implicará na execução de mais uma etapa no progresso do Projeto. O seu envolvimento é

voluntário, por isso o (a) senhor (a) poderá deixar de participar, sem prejuízo, a qualquer momento. Em caso

de dúvidas o (a) senhor (a) poderá entrar em contato com a coordenadora da pesquisa em questão. Este

termo apresenta duas vias que devem ser assinadas pelo entrevistador da pesquisa e pelo (a) entrevistado

(a). Uma cópia permanece conosco e a outra com o (a) senhor (a), para que seja oficializado nosso acordo.

Estamos à disposição para tirar qualquer dúvida e dar mais informações. Universidade Federal do

Recôncavo da Bahia, Centro de Ciências, Agrárias, Ambientais e Biológicas. Rua Rui Barbosa, nº 710,

Centro, Tel:(75) 9194-3985. Também poderá entrar em contato com o CEP-UFRB que fica no prédio da

reitoria, horário de atendimento: 9hs às 12hs e 13hs às 16hs, Tel:(75)3621-6850. CEP: 44 380-000, Cruz

das Almas, Bahia.

Catuni da Estrada, _____ de ________________ de ___________.

Coordenadora da pesquisa: _________________________________________

Maria Vanderly Andrea

Responsável pela entrevista: ________________________________________

Alan Ferreira Bonfim

26

Assinatura do entrevistado: _________________________________________

Impressão Digital do participante

27

Apêndice V: Lista das etnoespécies citadas pelos moradores (n=172) da comunidade de Catuni da Estrada,

município de Jaguarari, Bahia, Brasil.

Etnoespécies Sinonímias Nome científico

Alma-de-gato Tincoã Piaya cayana (Linnaeus, 1766)

Andorinha - Pygochelidon cyanoleuca cyanoleuca (Vieillot, 1817)

Anum-branco - Guira guira (Gmelin, 1788)

Anum-preto - Crotophaga ani (Linnaeus, 1758)

Aracuã-de-barringa-

branca

Aracuã Ortalis araucuan (Spix, 1825)

Arapaçu-do-cerrado - Lepidocolaptes angustirostris

(Vieillot, 1818).

Araponga - Procnias nudicollis (Vieillot, 1817)

Ariramba-de-cauda-

ruiva

Bico-de-sovela/bizungão Galbula ruficauda (Cuvier, 1816)

Asa-branca Pombo-do-mato/pombão Patagioenas picazuro (Temminck,

1813)

Asanhaçu-cinzento Sanhaçu-cinzento Tangara sayaca (Linnaeus, 1766)

Asanhaçu-de-

coqueiro

Sanhaçu-de-coqueiro Tangara palmarum (Wied, 1821)

Azulão - Cyanoloxia brissonii (Lichtenstein, 1823)

Azulão-de-chiqueiro Chupim/vira-bosta/maria-preta Molothrus bonariensis (Gmelin,

1789)

Bacurau - Nyctidromus albicollis (Gmelin, 1789)

Bacurau-tesoura Coruja-rabo-de-tesoura Hydropsalis torquata (Gmelin,

1789)

Bacurauzinho - Nannochordeiles pusillus (Gould,

1861)

Beija-flor-asa-de-

sabre-cinza

Asa-de-sabre Campylopterus largipennis (Boddaert, 1783)

Beija-flor-balança-

rabo-canela

Beija-flor-rajado Glaucis dohrnii (Bourcier &

Mulsant, 1852)

Beija-flor-bandeira Bandeirinha Discosura longicaudus (Gmelin, 1788)

Beija-flor-cinza - Aphantochroa cirrochloris

(Vieillot, 1818)

Beija-flor-de-

garganta-verde

Beija-flor-verde Amazilia fimbriata (Gmelin, 1788)

Beija-flor-de-rabo-

branco

Rabo-branco-acanelado Phaethornis pretrei (Lesson &

Delattre, 1839)

Beija-flor-do-peito-

azul

Beija-flor-azulzinho/bizunga Amazilia lactea (Lesson, 1832)

Beija-flor-

mirim/pequeno

Besourinho-do-bico-vermelho Chlorostilbon lucidus (Shaw, 1812)

28

Beija-flor-tesoura Beija-flor-rabo-de-tesoura Eupetomena macroura (Gmelin, 1788)

Beija-flor-vermelho Papo-de-fogo Chrysolampis mosquitus

(Linnaeus, 1758)

Bem-ti-vi - Pitangus sulphuratus (Linnaeus,

1766)

Bico-assovelado - Ramphocaenus melanurus (Vieillot, 1819)

Bico-de-lacre Bico-de-lata Estrilda astrild (Linnaeus, 1758)

Bico-de-pimenta Bico-de-ouro Saltatricula atricollis (Vieillot, 1817)

Bico-de-veludo - Schistochlamys ruficapillus

(Vieillot, 1817)

Bigodinho Bigode Sporophila lineola (Linnaeus,

1758)

Cablocinho - Sporophila bouvreuil (Statius

Muller, 1776)

Caboré Caburé Glaucidium brasilianum (Gmelin,

1788))

Cambacica Chupa-licuri/chupa-lima/chupincó/caga-sebo/sibiti

Coereba flaveola (Linnaeus, 1758)

Canário-da-terra-

verdadeiro

Cánario-de-briga Sicalis flaveola (Linnaeus, 1766)

Canário-de-lote Tipio Sicalis luteola (Sparrman, 1789)

Cancão Gralha-cancã Cyanocorax cyanopogon (Wied,

1821)

Carcará Caracará Caracara plancus (Miller, 1777)

Cardeal Cardeal-do-nordeste Paroaria dominicana (Linnaeus,

1758)

Casaca-de-couro Cabeleira/maria-cabeleira Pseudoseisura cristata (Spix, 1824)

Cauã Acauã Herpetotheres cachinnans

(Linnaeus, 1758)

Cava-chão Rapazinho-dos-velhos Nystalus maculatus (Gmelin, 1788)

Choca-barrada-do-

nordeste

Corró Thamnophilus capistratus (Lesson, 1840)

Choca-do-nordeste - Sakesphorus cristatus (Wied, 1831)

Chorão - Sporophila leucoptera (Vieillot, 1817)

Choró-boi - Taraba major (Vieillot, 1816)

Chorozinho-de-asa-

vermelha

- Herpsilochmus rufimarginatus (Temminck, 1822)

Codorna-amarela Codorna-comum/codorna-pimpão Nothura maculosa (Temminck,

1815)

Codorna-do-nordeste Codorniz/curduniz Nothura boraquira (Spix, 1825)

Coleirinha Coleira/cólera Sporophila caerulescens (Vieillot,

1823)

Coleiro-do-brejo Colera-do-brejo Sporophila collaris (Boddaert,

1783)

Coruja-buraqueira Coruja Athene cunicularia (Molina, 1782)

29

Coruja-de-orelha Coruja-orelhuda Asio clamator (Vieillot, 1808)

Corujão Jacurutu Bubo virginianus (Gmelin, 1788)

Corujinha-do-mato Corujinha Megascops choliba (Vieillot, 1817)

Curió - Sporophila angolensis (Linnaeus,

1766)

Farinha-aí Tem-farinha-aí Myrmorchilus strigilatus (Wied,

1831)

Feijão-verde Bico-de-veludo Schistochlamys ruficapillus

(Vieillot, 1817)

Frango-d-água-

comum

Galinha-d'água/jaçanã-galo Gallinula galeata (Lichtenstein,

1818)

Galinha Galinha-doméstica Gallus gallus domesticus (Linnnaeus, 1758)

Galo de campina Tico-tico-rei-cinza/abre-e-fecha/maria-

fita

Coryphospingus pileatus (Wied,

1821)

Garça Gauça Bulbucus ibis (Linnaus, 1758)

Garrincha Corruíra Troglodytes musculus (Naumann,

1823)

Garrincha-de-

barriga-vermelha

- Cantorchilus leucotis (Lafresnaye,

1845)

Garrinchão-do-bico-

grande

Rouxinol Cantorchilus longirostris (Vieillot,

1819)

Garrincha-pai-avô - Pheugopedius genibarbis

(Swainson, 1838)

Gaturamo-verdadeiro Curiatá/cíntia Euphonia violacea (Linnaeus, 1758)

Gavião-caboclo Gavião-marrom Heterospizias meridionalis

(Latham, 1790)

Gavião-caracoleiro - Chondrohierax uncinatus

(Temminck, 1822)

Gavião-carijó Pega-pinto Rupornis magnirostris (Gmelin,

1788)

Gavião-carrapateiro Carrapateiro Milvago chimachima (Vieillot,

1816)

Gavião-cauré - Falco rufigularis (Daudin, 1800)

Gavião-chimango - Milvago chimango (Vieillot, 1816)

Gavião-da-serra Águia-serrana/águia-chilena Geranoaetus melanoleucus (Vieillot, 1819)

Gavião-de-cabeça-

cinza

- Leptodon cayanensis (Latham,

1790)

Gavião-de-cauda-

curta

- Buteo brachyurus (Vieillot, 1816)

Gavião-do-pescoço-

branco

- Pseudastur polionotus(Kaup, 1847)

Gavião-miudinho Gavião-miúdo/gavião-piquinininho Accipiter striatus (Kaup, 1850)

Gavião-papa-

gafanhoto

- Buteo swainsoni (Bonaparte, 1838)

Gavião-pedrez Gavião-cinza Buteo nitidus (Latham, 1790)

Gavião-peneira Peneira Elanus leucurus (Vieillot, 1818)

30

Gavião-peregrino Falcão-peregrino Falco peregrinus (Tunstall, 1771)

Gavião-real Gavião-verdadeiro Harpia harpyja (Linnaeus, 1758)

Gavião-ripina Ripina Harpagus bidentatus (Latham, 1790)

Gaviãozinho-da-serra Gavião-pernilongo/gavião-cinza-

azulado

Geranospiza caerulescens (Vieillot,

1817)

Golinho - Sporophila albogularis (Spix,

1825)

Graveteiro Patativa Phacellodomus ruber (Vieillot, 1817)

Jacu Jacucaca Penelope jacucaca (Spix, 1825)

Jesus-meu-deus Tico-tico Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776)

João-corta-pau - Antrostomus rufus (Boddaert,

1783)

João-de-barro Janica-de-barro Furnarius rufus (Gmelin, 1788)

Juriti Juriti-pupu Leptotila verreauxi (Bonaparte,

1855)

Juriti-vermelha Juriti-roxa Geotrygon violacea (Temminck,

1809)

Lagarteiro Papa-lagarta-acanelado Coccyzus melacoryphus (Vieillot,

1817)

Lavandeira Lavadeira Fluvicola nengeta (Linnaeus, 1766)

Lavandeira-de-cara-

branca

Lavadeira-de-cara-branca Fluvicola albiventer (Spix, 1825)

Maracanã-pequena - Diopsittaca nobilis (Linnaeus,

1758)

Maria-tola Guaracava-de-barriga-amarela Elaenia flavogaster (Thunberg, 1822)

Martim-pescador-

grande

- Megaceryle torquata (Linnaeus,

1766)

Martim-pescador-

pequeno

Martim-pescador/ariramba Chloroceryle americana (Gmelin,

1788)

Martim-pescador-

verde

- Chloroceryle amazona (Clements checklist, 2014)

Mergulhão - Megaceryle torquata (Linnaeus,

1766)

Mocho-dos-banhado - Asio flammeus (Pontoppidan, 1763)

Nambu Lambu-pé-vermelho Crypturellus parvirostris (Wagler,

1827)

Nambu-chororó Lambu-pé-roxo Crypturellus tataupa (Termminck,

1815)

Noivinha Viuvinha Xolmis irupero (Vieillot, 1823)

Papa-capim Coleiro-baiano/baianinho/pacapim Sporophila nigricollis (Vieillot,

1823)

Paquinha Polícia-inglesa-do-sul/papo-d-fogo Sturnella superciliaris (Bonaparte, 1850)

Pardal - Passer domesticus (Linnaeus,

1758)

31

Passarinho-de-arroz Pássaro-de-arroz Chrysomus ruficapillus (Vieillot, 1819)

Pássaro-preto Passo-preto/assum-preto/graúna Gnorimopsar chopi(Vieillot, 1819)

Pato Pato-do-mato Cairina moschata (Linnaeus, 1758)

Pato-marreco Pato-real Dendrocygna autumnalis,

Amazonetta brasiliensis

Pavãozinho-do-mato Dromococcyx pavoninus

Pêga Pêga-da-meia-noite-preta/peguinha Icterus cayanensis (Linnaeus,

1766)

Perdiz - Rhynchotus rufescens (Temminck,

1815)

Periquitinho-de-são-

josé

Tuim/guizo/guirra Forpus xanthopterygius (Spix, 1824)

Periquito-da-

Caatinga

Priquitinho Eupsittula cactorum (Kuhl, 1820)

Pica-pau-anão-de-

pintas-amarelas

- Picumnus exilis (Lichtenstein,

1823)

Pica-pau-branco - Melanerpes candidus (Otto, 1796)

Pica-pau-chorão - Veniliornis mixtus (Boddaert,

1783)

Pica-pau-de-cabeça-

amarela

Pica-pau-louro/topete-louro Celeus flavescens (Gmelin, 1788)

Pica-pau-de-cabeça-

vermelha

Pica-pau-de-topete-vermelho/pinica-

pau

Campephilus melanoleucos

(Gmelin, 1788)

Pica-pau-dourado-

escuro

- Piculus chrysochloros (Vieillot, 1818)

Pica-pau-pedrez Orácio/pica-pau-verde-barrado/carijó Colaptes melanochloros (Gmelin,

1788)

Picapauzinho-

avermelhado

- Veniliornis affinis (Swainson,

1821)

Picapauzinho-do-

nordeste

Picapauzinho-anão Veniliornis passerinus (Linnaeus,

1766)

Pintado Pica-pau-chorão Veniliornis mixtus (Boddaert,

1783)

Piriquitinho-rico Periquito-rico Brotogeris tirica (Gmelin, 1788)

Pitiguari Bico-de-osso Cyclarhis gujanensis (Gmelin,

1789)

Pomba-de-seca Pomba-verdadeira/ribançã/pomba-do-sertão/pomba-de-bando

Zenaida auriculata (Des Murs, 1847)

Quem-quem Quero-quero Vanellus chilensis (Molina, 1782)

Rabão-de-tesoura Tesourinha Tyrannus savana (Daudin, 1802)

Rasga-mortalha Coruja Tyto furcata (Temminck, 1827)

Rolinha-azul Rola-azul Claravis pretiosa (Ferrari-Perez,

1886)

Rolinha-branca Rolinha-cinza Columbina picui (Temminck, 1813)

Rolinha-caldo-de-

feijão

Rolinha-vermelha/rolinha-roxa/paquinha

Columbina talpacoti (Temminck, 1810)

Rolinha-de-asa-

canelada

- Columbina minuta (Linnaeus,

1766)

32

Rolinha-fogo-pagou Rolinha-de-asa-canela/fogo-apagou Columbina squammata (Lesson, 1831)

Sabiá-barranqueira Sabiá-barranco Turdus leucomelas (Vieillot, 1818)

Sabiá-bico-de-osso Sabiá-branca/poca Turdus amaurochalinus (Cabanis,

1850)

Sabiá-coca Sabiá-laranjeira/coca Turdus rufiventris (Vieillot, 1818)

Sabiá-da-mata - Turdus fumigatus (Lichtenstein,

1823)

Sabiá-de-sebo Sabiá-do-campo Mimus saturninus (Lichtenstein, 1823)

Sabiá-gongá - Saltator coerulescens (Vieillot,

1817)

Saíra-amarela Assanhaçinho-de-pimenta-de-galinha Tangara cayana (Linnaeus, 1766)

Saíra-azul Saí-azul Dacnis cayana (Linnaeus, 1766)

Saíra-sete-cor Saíra-sete-cor Tangara seledon (Statius Muller, 1776)

Saitica Saci Tapera naevia (Linnaeus, 1766)

Sangue-de-boi Tiê-sangue Ramphocelus bresilius (Linnaeus,

1766)

Sanhaçu-cinzento - Tangara sayaca (Linnaeus, 1766)

Sanhaçu-de-coqueiro Sanhaçu-verde Tangara palmarum (Wied, 1821)

Saracura Três-pote Aramides cajaneus (Statius Muller,

1776)

Sariema Siriema/seriema Cariama cristata (Linnaeus, 1766)

Sibinho Balança-rabo-de-chapéu-preto Polioptila plumbea (Gmelin, 1788)

Siriri Suiriri Tyrannus melancholicus (Vieillot,

1819)

Siriri-cavaleiro Bem-ti-vi-carrapateiro Machetornis rixosa (Vieillot, 1819)

Socó Socó-boi Tigrisoma lineatum (Boddaert,

1783)

Sofrês Sofrê/corrupião Icterus jamacaii (Gmelin, 1788)

Tempera-viola Pimenteira Saltator maximus (Statius Muller,

1776)

Tiziu Maria-pretinha Volatinia jacarina ((Linnaeus, 1766))

Trinca-ferro Estevo/estevão Saltator similis (d'Orbigny &

Lafresnaye, 1837)

Urubu-de-cabeça-

amarela

- Cathartes burrovianus (Cassin,

1845)

Urubu-de-cabeça-

preta

- Coragypss atratus (Bechstein, 1793)

Urubu-de-cabeça-

vermelha

Urubu-merdeiro Cathartes aura (Linnaeus, 1758)

Urubu-rei - Sarcoramphus papa (Linnaeus, 1758)

Vim-vim Fim-fim Euphonia chlorotica (Linnaeus,

1766)

Vim-vim-grande - Euphonia xanthogaster

xanthogaster (Sundevall, 1834)

33

Vô-da-lua Mãe-da-lua Nyctibius griseus (Gmelin, 1789)

Xeque - Agelaioides fringilarius (Spix,

1824)

Zabelê - Crypturellus noctivagus (Wied,

1820)

34

Anexo VI: Etnoespécies mais citadas no âmbito social de Catuni da Estrada, Bahia, Brasil. (A) Beija-flor-

azulzinho; (B) Cardeal; (C) Coleirinha; (D) Sofrê. (BONFIM, 2020)

35

Anexo VII: Aves usadas para alimentação na comunidade de Catuni da Estrada, Bahia, Brasil. Visto que a

espécie Penelope Jacucaca está na lista de aves ameaçadas. (A) Alma-de-gato; (B) Rolinha-branca; (C)

Três-pote; (D) Jacu (BONFIM, 2020).

36

Anexo VIII: Captura de aves com alçapão.

(BONFIM, 2020).

37

Anexo IX: Espécie Lavandeira e Fluvicola nengeta, ave mais citada pelos moradores como não consumida

por questões religiosas e espiritualistas.

(BONFIM, 2020).

38

Anexo X: Espécies não consumidas devido o comportamento alimentar. (A) Anum-preto e Crotophaga ani

(BONFIM, 2020); (B) Carcará e Caracara plancus (MARQUES, 2020); (C) Urubu-rei e Sarcoramphus

papa (BONFIM, 2020); (D) Urubu-de-cabeça-vermelha e C. atratus (BONFIM, 2020).

39

Anexo XI: Exemplo de etnoespécies que não são consumidas pelos moradores de Catuni da Estrada, Bahia,

Brasil.

Etnoespécies Citação pelos entrevistados

Lavandeira

A lavandeira não se pode comer, pois lavou os panos de

Jesus, disse que foi tudo verdade! Sempre minha mãe falava pra mim. (N., 43 anos).

Pardal

O Pardal fica no meio da rua aí! (A C., 23 anos).

Urubu O Urubu porque ele come carniça, ele é um agente de limpeza

da natureza! (Jean, 28 anos).

40

Apêndice XII: Etnoespécies utilizadas como recurso terapêutico e suas indicações etnomedicinais, pelos

moradores de Catuni da Estrada, Bahia, Brasil.

Etnoespécies Nome científico Partes Utilizadas Indicações

Anum-preto Crotophaga ani Penas Fígado

Bico

Nervos

Doença do vento

(derrame)

Aracuã Crotophaga ani Gordura (banha) Dor de ouvido

Cauã Herpetotheres

cachinnans

Ave inteira

Ossos

Penas

Doença do vento

(derrame)

Coruja Athene cunicularia Ave inteira Alcoolismo

Galinha Gallus gallus domesticus Penas Doença do ar

Juriti Leptotila verreauxi Sangue Moela

Ave inteira

Tosse comprida Catarata

Pavão Pavo cristatus Penas Doença do vento

Perdiz Rhynchotus rufescens Penas Pé

Moela

Doença do vento Coluna

Rolinha-caldo-

de-feijão

Columbina talpacoti Penas

Ninho

Doença do vento

(derrame)

Rolinha-branca Columbina picui Penas

Ninho

Doença do tempo

Urubu-de-cabeça-preta

Coragypss atratus Penas Ave inteira

Piolho

Fígado

Tuberculose Cura de umbigo

Despacho

Asma, etc.

41

Anexo XIII: Etnoespécies citadas através do uso afetivo no município de Catuni da Estrada.

Etnoespécies Nome científico Número de Citação Valor de uso

Azulão Cyanoloxia brissonii 19 0,38

Bigodinho Sporophila lineola 6 0,12

Canário-da-terra Sicalis flaveola 1 0,02

Canário-da-serra Sicalis luteola 1 0,02

Caerdeal Paroaria dominicana 26 0,52

Coleira Sporophila caerulescens 15 0,30

Curiatá Euphonia violácea 1 0,02

Curió Sporophila angolensis 1 0,02

Trinca-ferro Saltator similis 9 0,18

Galo-de-campina Coryphospingus pileatus 13 0,26

Jesus-meu-deus Zonotrichia capensis 14 0,28

Papa-capim Sporophila nigricollis 15 0,30

Papagaio Amazona aestiva 1 0,02

Passo-preto Gnorimopsar chopi 9 0,18

Pêga Icterus pyrrhopterus 1 0,02

Priquitinho Eupsittula cactorum 1 0,02

Pintassilgo Spinus yarrellii 1 0,02

Rolinha-caldo-de-

feijão

Columbina talpacoti 2 0,04

Sabiá-coca Turdus rufiventris 7 0,14

42

Sabiá-de-sebo Mimus saturninus 6 0,12

Sofrês Icterus jamacaii 8 0,16

Tiziu Volatinia jacarina 2 0,04

43

Anexo XIV: Espécies criadas em gaiola na comunidade de Catuni da Estrada, Bahia, Brasil. (A) Cardeal e

Paroaria dominicana (BONFIM, 2020); (B) Trinca-ferro e Saltator similis (BONFIM, 2020).

44

Anexo XV: Etnoespécies místico-religiosas no município de Catuni da Estrada.

Etnoespécies Citação pelos entrevistados

Lavandeira

Lavou as roupas de Jesus, se matar tem anos de atraso (Dona Maria das Graças, 49 anos).

Rasga-mortalha Diz que se passar pela cumeeira da casa uma pessoa da

família vai morrer! Mas, não são todos que acreditam, mais é a pura realidade (Nilde, 43 anos).

Pomba Tem a pomba como o divino espírito santo e também é

usada em seitas de Candomblé (A., 75 anos).

Rolinha O povo lá do outro lado usa rolinha no ritual do

Candomblé (Justino, 72 anos).

Urubu Urubu é um bicho que ficou pra limpeza do mundo, se

você atirar está atraindo o que é ruim pra você, tá se condenando! Deus já deixou pra limpeza do mundo

(Zezinho, 62 anos).

Vô-da-lua Diz que quando canta em cima da casa é agorando o povo

para morrer, quando canta diferente é pra chover

(Aparecida, 43 anos).

45

Anexo XVII: Observação de aves em Catuni da Estrada, Bahia, Brasil. (A) Beija-flor-de-orelha-violeta -

Colibri serirostris; (B) Saí-azul - Dacnis cayana; (C) Galo-de-campina - Coryphospingus pileatus; (D)

Bico-de-sovela – Galbula ruficauda (BONFIM, 2020).