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PORTUGUÊS Br Pt

CADERNO TEÓRICO E PRÁTICO

NÍVEL AVANÇADO C1 (Utilizador proficienteautonomia) NÍVEL 4/4+ (Proficiência profissional avançada)

Autores:

Rosane de Sá Amado, docente na Universidade de São Paulo

Fernanda Boldrini Nascimbem, docente na Universidade de

Carleton Carlos Gomes da Silva, docente na Universidade de

Ottawa

FICHA CADERNO TEÓRICO E PRÁTICORECAPITULANDO E APROFUNDANDO

FUNCIONAMENTO DA LÍNGUA

UNIDADE 1

EMPREGO E VALORES DO PRESENTE DO

INDICATIVO

O presente do indicativo empregase principalmente para referir ações ou situações que consideramos certas no momento presente. “É o único tempo que expressa situações e propriedades de validade ilimitada”.

Não sei até que ponto são verdadeiras as histórias do meu avô, até que ponto é verdadeiro o que vivo agora. Nem mesmo sei se é verdadeira a minha viagem. Parece que quanto mais me aproximo dos fatos mais me afasto da verdade. (Tatiana Salem Levy)

Empregase o presente com os seguintes valores de:

1. Presente momentâneo para enunciar um fatofacto atual, que ocorre no momento em que se fala; para se responder a perguntas como Que pensas? O queres? Aonde vais?, etc. e para se afirmar que um acontecimento está a acontecer no momento presente, tem de se empregar a forma progressiva estar + gerúndio/ preposição a +infinitivo:

São sete da manhã. Levantamonos, estamos prontos para enfrentar um novo dia.

O que queres? Quero ser diplomata.

Aonde vais? Vou ao cinema com uns amigos.

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O que estudas na faculdade? Estou estudando/a estudar Medicina e estou aprendendo/a aprender

português.

2. Presente durativo ou atemporal para indicar um fatofacto estabelecido, uma situação ou propriedade que se considera permanentes, como verdades científicas ou de caráctercaráter geral, crenças, dogmas, textos

legais, provérbios:

Toda a gente sabe quem será o próximo presidente. (fatofacto estabelecido)

Vivo em Ottawa perto da universidade, onde trabalho. (uma situação permanente)

Em Cabo Verde falase português e crioulo. (uma verdade de caráter geral)

A Terra gira à volta do Sol. (uma verdade científica)

A língua portuguesa é um elemento essencial do património cultural português. A proteção, a valorização e o ensino da língua portuguesa, (...) são tarefas fundamentais do Estado, consagradas na Constituição. (legislação)

Cão que ladra, não morde. (provérbio)

3. Presente habitual ou frequentativo para expressar um costume, uma ação habitual, que começa no

passado e pode continuar no presente:

Vamos ao cinema de vez em quando.

Gosto de ficar em casa a ler.

Vou de férias para Florianopolis desde pequena.

Quando tenho tempo livre, prefiro ler um bom livro.

Se só como peixe, fico com fome.

4. Presente com valor de imperativo para atenuar uma ordem que ocorre mais frequentemente no registroregisto informal ou coloquial entre conhecidos e amigos:

Você me revê o documento sobre as políticas ambientais? (=reveja no imperativo)

Vocês me ligam se tiverem alguma dúvida, ok? (=liguem no imperativo)

Querem ter a gentileza de chegar mais cedo amanhã? (=tenham no imperativo)

Queres ajudar me , por favor? (=ajudame no imperativo)

Obs.: Empregase com frequência o presente do verbo querer seguido do infinitivo do verbo principal para atenuar o valor imperativo de ordem, comando.

5. Presente histórico ou narrativo para indicar fatosfactos ocorridos no passado com mais vivacidade,

transportando o leitor/interlocutor ao momento passado em que tem lugar a ação ou estado. Empregase:

5.1. Em textos literários, para narrar fatosfactos históricos e passados, para referir dados biográficos:

O céu está cinzento e pérola para o lado do mar, mas, por cima dos cabeços que o defrontam, espalhase lentamente uma cor de sangue aguado, depois vivo e vivíssimo, e em pouco virá o dia, oiro e azul que a estação corre formosa. (José Saramago)

Os portugueses chegam à Índia em 1498.

José Saramago nasce em Azinhaga, em 1922, A maior parte da sua vida decorre na capital. A partir de 1976 vive exclusivamente do seu trabalho literário. Em 1998 élhe atribuído o Prémio Nobel de Literatura.

5.2. Para narrar um fatofacto passado como se estivesse acontecendo no momento em que se fala, sobretudo no registroregisto coloquial oral e escrito é usado frequentemente quando se conta uma anedota ou se quer fazer um resumo rápido de algo que se acaba de narrar ou que se está narrando/a narrar:

Cadê o relógio de parede? Querido, estávamos na sala o relógio cai de repente da parede e por pouco

não bate na cabeça da mamãe... Maldito relógio. Está sempre atrasado.

Joana, imagina esta cena quando eu estava em Luanda. Chego ao hotel, identificome, preencho a

ficha...Pedemme o passaporte, procuro nos bolsos do casaco, das calças, na pasta, nada!? Não o

encontro. Só pode ter ficado no táxi em que vim do aeroporto! Corro para a porta para ver se o taxista

ainda se encontra lá fora, quase choco com ele no desespero em que vou...

Obs.: Numa conversa ou relato normal empregase preferencialmente o pretérito imperfeito (para ações habituais, inacabadas, em curso...) ou o pretérito perfeito simples (para ações terminadas, pontuais...).

5.3. Para dar notícias recentes em títulos/cabeçalhos da imprensa escrita e falada, em legendas de fotos, para fazer reportagens e relatos:

O Presidente da República de Angola recebe os cumprimentos de ano novo do corpo diplomático acreditado em Angola.

Neymar passa bem após cirurgias na garganta e no nariz. O arquiteto e designer português André Chiote, 34, não se desliga da arquitetura nem em seu tempo

livre. Quando acha uma brecha entre seus projetos, se dedica a retratar de modo minimalista alguns ícones da arquitetura mundial em gravuras.

Toninho passa para Peixe, Peixe para Zézé, este centra e goooooooooooolo!

6. Presente com valor de futuro para indicar um fatofacto futuro, substituindo o futuro simples e composto

do indicativo e até o futuro do subjuntivo, num contexto mais informal/coloquial :

6.1. Açõesfuturasimediatas que podem ser, em alguns casos, decisões tomadas no momento da enunciação:

Não te vás embora. Termino já, é só guardar os ficheiros e vou contigo.

Não é nada urgente. Falamos depois da reunião.

6.2. Futuro próximo , caso em que para evitar qualquer ambiguidade teremos que incluir referências a data, horas, momentos do dias, advérbios e locuções adverbiais de tempo:

Amanhã encontramonos às oito no Centro Cultural de Belém.

Nos próximos dois anos faço investigação no Instituto Getúlio Vargas em São Paulo, onde pretendo tirar

um MBA Executivo em Administração de Empresas com ênfase em Recursos Humanos.

6.3. Parafazerprevisões,suposições , para indicar algo de que estamos certos que se vai acontecer :

Certamente me convidam para sócia da empresa.

Não adianta ires para o aeroporto, os aviões não descolam no meio da tempestade.

Tenho a certeza que vais passar nas provas.

6.4. Para enunciar com mais expressividade , emprestando a certeza da atualidade a um fatofacto que ainda está para acontecer:

Com esses olhares, fico logo apaixonado. (=ficarei)

Mais uma palavra e não falo mais contigo. (=falarei)

6..5: Podendo substituir o futuro do subjuntivo em orações condicionais com se num contexto mais informal/coloquial:

Se me olha assim, caso com você. (= Se me olhar assim, casarei com você.)

Se queres vir comigo, espero mais um pouco. (Se quiseres vir comigo, esperarei mais um pouco.

Durante a viagem, se vocês têm sede, bebam água. (se vocês tiverem sede, bebam água.)

Obs.: Notese a particular expressividade dos exemplos das frases condicionais começadas com se em que o futuro do subjuntivo foi substituido pelo presente do indicativo.

Em síntese:

O presente do indicativo empregase com os seguintes valores:

1. Presente momentâneo para enunciar um fatofacto atual, que ocorre no momento em que se fala;2. Presente durativo ou atemporal para indicar um fatofacto estabelecido, uma situação permanente

uma verdade científica ou de caráctercaráter geral:3. Presente habitual ou frequentativo para expressar um costume, uma ação habitual;4. Presente com valor de imperativo para atenuar uma ordem;5. Presente histórico ou narrativo para indicar fatosfactos ocorridos no passado com mais vivacidade6. Presente com valor de futuro para indicar um fatofacto futuro.

EXERCÍCIOS

A. Complete as frases com os verbos indicados no do quadro. Siga o exemplo .

abrir doer chegar perder-se inferir

cair atrasar-se facilitar pôr medir

ver seguir ir pedir prever

abranger permitir prosseguir conseguir esquecer-se

1. Há greve geral nos transportes públicos, hoje chegamos tarde.

2. Estão batendo/a bater à porta. Deixa, eu

3. Pedro está agora na GuinéBissau, amanhã ele para Cabo Verde.

4. A que horas eu a mesa?

5. Entendeu as instruções? Pode deixar, eu o trajeto indicado.

6. Estou a fazer dieta mas não peso.

7. Eu sempre neste labirinto de ideias.

8. Amanhã a reunião é às 8 da manhã. Vocês não ?

9. me as costas.

10. Não entender por que razão estou tão nervoso.

11. todos os dias a tensão/pressão arterial.

12. A lei portuguesa os casamentos entre pessoas do mesmo sexo desde 2010.

13. Certos setores privados não com bons olhos as medidas de austeridade do

governo.

14. As conversações para o processo de paz no Médio Oriente .

15. Os corpos no vácuo com igual velocidade.

16. Ao fazermos uso deste tempo verbal, se tratar de uma enunciação relacionada

ao momento presente.

17. O direito de propriedade todos os direitos que formam o nosso patrimônio.

18. Eu a compreensão de todos para a alteração do programa.

19. Não grandes alterações na atual conjuntura econômicofinanceira da europa.

20. O conhecimento de língua portuguesa os negócios.

B. Preencha a coluna B: (i) com o valor do presente do indicativo expresso em cada uma das frases,

(ii) a forma verbal que substitui se for diferente do presente. Siga o exemplo .

momentâneo durativo habitual ou frequentativo

imperativo histórico ou narrativo futuro

COLUNA A COLUNA B

1. Tenho a certeza que passas nas provas. futuro, passas = passarás

2. Aprecio boas leituras.

3. Entra um homem num bar e pede: uma caipirinha, por favor.

4. Vê se vocês voltam logo, sim?

5. Deixame ver a minha agenda. Hoje é dia 12 de janeiro, jantamos no dia de fevereiro, às 20 horas.

6. O universo é infinito.

7. O avião de Maputo chega às 6 da manhã.

8. Se continuas a ofender, apresento queixa à polícia.

9. Não gosto de trabalhar, não fumo, não durmo com muitos sonos... (R. L. do

Rego)

10. Estantes coloridas e com formas geométricas dão estilo à decoração.

11. Jogas ténis amanhã?

12. Jogamos râguebi desde crianças.

13. Se não te calas, voume embora.

14. Quando tenho calor dou um mergulho na piscina.

15. Vivo em Luanda desde maio.

16. O direito de livre circulação é concedido a todos os cidadãos da U.E. (União Europeia).

17. Benfica entra em campo, o público aplaude.

18. Em 58 a.C César invade a Gália e inicia uma das mais famosas campanhas da história militar.

19. Se pode, me ajuda.

20. Daqui a alguns instantes eles voltam.

C. Complete o quadro com exemplos dos diversos valores do presente do indicativo, indicados na

coluna A:

COLUNA A valores COLUNA B frases

1. um provérbio

2. algo atual

3. um dogma

4. uma crença

5. um costume

6. dados biográficos

7. verdade científica

8. um hábito

9. relato breve (coloquial)

10. uma anedota/piada

11. uma previsão

12. uma suposição

13. uma sugestão

14. uma ordem

15. em vez do futuro do subjuntivo

16. em vez do imperfeito do subjuntivo

17. uma legenda de foto na imprensa.

18. um título de notícia

19. futuro próximo

20. futuro imediato

D. Complete o texto com os verbos indicados entre parêntesis no modo e tempo adequados,

utilizando o presente do indicativo sempre que for possível:

Os lugares de Mia Couto

No dia em que (ser) anunciado como vencedor do Prémio Camões, a VISÃO

(republicar) a última entrevista que Mia Couto (dar) à nossa

revista, em Agosto do ano passado.

O escritor galardoado com o prémio Eduardo Lourenço 2011 (carregar) Moçambique

na certidão de nascimento, entranhado nos romances, estranhado nas opiniões. O seu último livro, A

Confissão da Leoa, (ganhar) os favores de público e crítica, (teimar)

em não abandonar os tops de vendas. À VISÃO, em Agosto de 2012, (falar)

de infâncias: a sua e a do seu país

Certa vez, (escrever) assim: "(Nascer) e (crescer)

numa pequena cidade colonial num mundo que já (morrer) .

Desde cedo, (aprender) que (dever) viver contra o meu próprio

tempo." Hoje, Antonio Emílio Leite Couto, 57 anos, rebaptizado Mia pelo afeto que, em criança, (ter)

aos gatos, nascido na Beira, Moçambique, é um refazedor de mundos: territórios

perdidos, universos paralelos, metáforas geográficas carregadas de política, magia e humanidade,

Jesusaléns. Poeta acima de tudo, presente em perto de duas dezenas de romances e livros de contos

abensonhados: pela linguagem original que (inventar) (imagem de marca de que se

quer libertar) e pela doçura desprendida mesmo nos mais terríveis cenários (consolo dos que (sobreviver)

a guerras sem (rachar) ao meio). Militante político, jornalista por

uma década, biólogo (trabalhar) ( numa empresa de estudos de impacto ambiental por

si fundada), autor e cronista traduzido, respeitado, premiado, (falar) sobre a infância e

sobre Moçambique (ser) uma e a mesma coisa? Filho de portugueses, (fazer)

recentemente uma volta a Portugal, alimentada pelo sucesso do mais recente romance

A Confissão da Leoa, relato baseado numa história verdadeira que (demorar) anos a

digerir, sobre ataques de leões a aldeões numa perdida região moçambicana. O país (revelarse)

uma outra aldeia, de leitores dedicados à ficção e às opiniões de Mia Couto: momentos

de "uma costura a dois", define.

Sílvia Souto Cunho, (texto publicado na VISÃO 1017, de 30 de Agosto de 2012)