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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÔRDAO/DECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB N° Vistos, relatados e discutidos estes autos de APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n° 667.682-5/4-00, da Comarca de PARANAPANEMA/AVARE, em que é apelante RENATO VIRGÍLIO ROCHA FILHO sendo apelado MINISTÉRIO PÚBLICO: ACORDAM, em Câmara Especial do Meio Ambiente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "POR MAIORIA, NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDO O 3 o JUIZ QUE DECLARARÁ VOTO", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores REGINA CAPISTRANO (Presidente), AGUILAR CORTEZ. São Paulo, 28 de fevereiro de 2 008.

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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

ACÓRDÃO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÔRDAO/DECISÃO MONOCRATICA

REGISTRADO(A) SOB N°

Vistos, relatados e discutidos estes autos de

APELAÇÃO CÍVEL COM REVISÃO n° 667.682-5/4-00, da Comarca de

PARANAPANEMA/AVARE, em que é apelante RENATO VIRGÍLIO ROCHA

FILHO sendo apelado MINISTÉRIO PÚBLICO:

ACORDAM, em Câmara Especial do Meio Ambiente do

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a

seguinte decisão: "POR MAIORIA, NEGARAM PROVIMENTO AO

RECURSO, VENCIDO O 3o JUIZ QUE DECLARARÁ VOTO", de

conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos

Desembargadores REGINA CAPISTRANO (Presidente), AGUILAR

CORTEZ.

São Paulo, 28 de fevereiro de 2 008.

PODER JUDICIÁRIO Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo

Apelação Cível n° 667.682.5/4

Voto n° 14 982

Comarca de Paranapanema/Avaré

Processo n° 761/2004

Apelante: Renato Virgílio Rocha Filho

Apelado Ministério Público

AÇÃO CIVIL PÚBLICA AMBIENTAL - Construção de hotel em área de preservação permanente -Represa Jurumirim - Resolução CONAMA 302/02 -Faixa de preservação de lOOm às margens das represas - Sentença Procedente - Competência municipal que fica vinculada e limitada às disposições das normas federais, inclusive Resoluções do CONAMA - Constitucionalidade da deliberação que fixou a faixa de 100 metros -Resolução (302/02} que apenas reforçou o que já havia sido deliberado na 04/85 - Necessidade de regulamentação do art. 2o do Código Florestal no que concerne às áreas de preservação permanente no entorno dos reservatórios artificiais e responsabilidades assumidas pelo Brasil nas Convenções da Biodiversidade, Ramsar e Washington, e nos compromissos derivados da Declaração do Rio de Janeiro - Resolução que trata expressamente de proteção aos recursos hídricos, que não estão sujeitos ao principio da reserva legal - Cautelas estabelecidas que não podem ser vistas como uma violação ao direito de propriedade, que não se sobrepõe ao interesse público que emana do meio ambiente e nem restrição à competência legislativa municipal - Recurso desprovido

Trata-se de apelação interposta por Renato Virgílio Rocha Filho

contra sentença que julgou procedente a ação civil pública movida pelo

Ministério Público.

Sustenta o recorrente, em síntese, que o CONAMA não teria

poder para regulamentar lei de forma direta; que a atribuição de impor

Apelação Cível n° 667 682 5/4 - Comarca de Paranapanema/Avaré h

restrições teria sido expressamente revogada pelo artigo 25 da ADCT; que

os artigos Io, 2o e 3 o da Resolução 302/02 do mencionado Órgão seriam

inconstitucionais, violando o artigo 84, IV, da Constituição Federal; que

haveria restrição à propriedade e violação ao princípio da legalidade,

invasão de competência dos Estados e Municípios para legislar

concorrentemente sobre matéria ambientai e de interesse local, ausência

de critério do CONAMA para a criação da 'área urbana consolidada'.

Subsidianamente, requer a fixação da distância de 30 metros em relação

ao reservatório e, por fim, a redução da verba honorária pericial para R$

1.000,00.

Contra-razões às fls. 154/850.

A Procuradoria de Justiça manifestou-se pelo parcial

provimento do recurso

É o relatório.

Os problemas ecológicos, ou seja, as mudanças provocadas no

meio ambiente, em especial pelo homem, com resultados danosos à fauna

e à flora, não são fenômenos contemporâneos.

Ressalta Carlos Gomes de Carvalho (Introdução ao Direito

Ambiental. Ed. Letras & Letras. 2a ed São Paulo 1991 p 33), que os

aquedutos que abasteciam Roma de águas potável foram construídos cerca

de 400 ou 500 anos A C , porque a água do Rio Tibre teria se tornado

imprópria para o consumo humano. E é possível afirmar-se com segurança

que, antes mesmo dos romanos, outras civilizações operaram práticas

ecológicas desastrosas. As pesquisas arqueológicas vêm encontrando

evidências de que os problemas ecológicos contribuíram para a derrocada

de civilizações antigas.

Chega o mesmo autor a afirmar que é difícil mesmo indicar um

só período da História, da Antigüidade à Medieval, sem que sistemáticas

agressões ao meio ambiente não tenham sido perpetradas.

Com a revolução industrial e progresso da civilização, as

agressões e desrespeito à natureza tornaram-se ainda maiores

Apelação Cível n° 667 682 5/4 - Comarca de Paranapanema/Avaré

Porém, só em época bem recente foi que a preocupação com a

Ecologia passou a ter a atenção necessária e a ser considerada com

seriedade e urgência.

A certeza de que a Terra pode ficar saturada é nova no

horizonte da história humana. Sabe-se, agora, que os ecossistemas não

são elementos que se reconstituem automaticamente e que não são

perenes, e por isso existe o risco de num futuro próximo, se medidas

drásticas não forem tomadas, e se continuarem as agressões ao meio

ambiente da forma como vêm ocorrendo, de enfrentarmos sérios e

irreversíveis problemas.

Não é possível considerarmos mais a relação do homem com o

meio ambiente apenas sob os enfoques de ordem sanitária, de estratégias

econômicas, de interesse turístico, de preservação do patrimônio público

ou histórico. Hoje, ahando-se a tais questões, mister se faz que haja uma

visão mais ampla, voltada para o futuro, objetivando acima de tudo um

desenvolvimento sustentável.

A água é um recurso natural, constituindo parte integrante do

ecossistema planetário, entre os demais componentes* o ar, o solo, a flora

e também a fauna.

E a idéia que predominava até não muito tempo, no sentido de

que ela era um recurso natural infinito e que não tinha qualquer valor

econômico, já está totalmente ultrapassada.

A sua escassez já assombra o mundo. A sua quantidade é

limitada e a sua qualidade, graças à ação predatória do homem, está cada

vez mais comprometida. A utilização de agrotóxicos causa, por exemplo,

danos sérios aos recursos hídricos disponíveis.

Mas não é a utilização de tais venenos a única forma de

poluição, pois como se sabe, nos rios, lagos, lagoas, assim como nos

mares, há um crescente despejo de efluentes.

Portanto, por ser um bem indispensável à sobrevivência do

homem, é, conseqüentemente, extremamente grave o problema, ímpondo-

se medidas de proteção.

h Apelação Cível n° 667 682 5/4 - Comarca de Paranapanema/Avaré 3

Por isso mesmo, o Código Florestal, instituído pela Lei

Ordinária n° 4.771, de 15 de setembro de 1965, estabeleceu como de

preservação permanente toda a forma de vegetação natural situadas ao

longo dos nos, lagos, ou qualquer curso d'água.

E isto porque a ausência de vegetação em tais locais causa

impacto que vai além do simples assoreamento ou do depósito de

agrotóxicos. Como ressaltam autores que tratam da matéria, o

desmatamento ciliar tem as seguintes conseqüências: a) priva os cursos

d'água de matéria orgânica, originária de quedas de folhas e frutos; b)

priva os peixes dos frutos das árvores ribeirinhas; c) provoca o

desaparecimento dos insetos, que servem de alimentos para algumas

espécies de peixes; e d) causa a erosão das margens aumentando turbidez

da água.

É certo que o art. 24 da CF diz competir à União, aos Estados

e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre diversas matérias,

entre elas: florestas, caça, pesca fauna, conservação da natureza, defesa

do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da

poluição

Mas não é menos verdade que, no referente aos Estados, o §

3o , do mesmo artigo dispõe que - "Inexistindo lei federal sobre normas

gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender

a suas peculiaridades. § 4o - A superveniência de lei federal sobre normas

gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário".

E os municípios aos quais compete apenas competência

suplementar evidente e obviamente também ficam jungidos às normas de

caráter geral

O Supremo Tribunal Federal ao enfrentar a questão dos

transgênicos, que o Estado do Paraná queria proibir, manifestou-se

exatamente (ADI 3035 e ADI 3054) no sentido de que a lei impugnada

estabelecia normas restritivas quanto ao cultivo, manipulação e

industrialização de transgênicos mostrando preocupação de caráter

sanitário e ambiental, questões sujeitas à disciplina concorrente da União

e dos Estados, acrescentando que em face da existência de outros atos

W^v Apelação Cível n° 667 682 5/4 - Comarca de Paranapanema/Avaré

normativos federais, disciplinando de forma geral sobre aquelas matérias,

não podia o Estado dispor de forma contrária

Outrossim, ao dispor o Congresso Nacional sobre a Política

Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e

aplicação, no art. 6o , inciso II, da Lei n° 6 . 9 3 8 / 8 1 , com a redação dada

pela Lei n° 8 .028 /90 , deferiu competência ao Conselho Nacional do Meio

Ambiente - CONAMA - para "deliberar, no âmbito de sua competência,

sobre no rmas e padrões compatíveis com o meio ambiente ecologicamente

equilibrada e essencial à sadia qualidade de vida"

E o parágrafo deste artigo dispõe que os Estados "elaborarão

normas supletivas e complementares e padrões relacionados com o meio

ambiente, observados os que foram estabelecidos pelo CONAMA".

A competência municipal, portanto, fica vinculada e limitada

às disposições das normas federais, inclusive Resoluções do CONAMA, que

são atos administrat ivos editados com base em lei.

Aliás, não discrepa de tal orientação o que dispõe o Código

Florestal no Parágrafo único, do artigo 2o . "no caso de áreas u rbanas ,

ass im entendidas as compreendidas nos perímetros u rbanos definidos por

lei municipal e n a s regiões metropoli tanas e aglomerações u rbanas , em

todo o território abrangido, observar-se-á o disposto nos respectivos planos

diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se

refere este artigo".

É certo que no artigo 25 do ADCT, da Constituição de 1988,

estabeleceu-se que ficariam revogados, a partir de 180 dias da sua

promulgação sujeito este prazo à prorrogação por lei, todos os dispositivos

legais que atr ibuíam ou delegavam a órgão do Poder Executivo

competência ass inalada pela Constituição ao Congresso Nacional,

especialmente no que tange a, nos termos do seu inciso I, ação normativa.

Tal regra revogava o passado, porque existiam dispositivos da

época do Governo Militar que não podiam prevalecer, mas não impedia que

o mesmo Congresso, no uso de seus poderes constitucionais, editasse

novas leis delegando, a inda que de forma mitigada, o poder de

Apelação Cível n° 667 682 5/4 - Comarca de Paranapanema/Avaré 5

regulamentar de terminadas si tuações ao Executivo, sob pena de tornar

ingovernável o País.

Por isso mesmo, com a referida Lei 8 .028 /90 , que é posterior à

Constituição, acabou sendo reafirmado que o CONAMA continuava com a

atribuição de deliberar sobre normas referentes ao meio-ambiente,

buscando u m equilíbrio ecológico para que o homem tenha u m a sadia

qualidade de vida.

Portanto, enfatize-se, o Legislador, dentro do princípio da

reserva legal exigida pelo artigo 225 da Constituição da República, dispôs

sobre a forma de regulamentação de questões afetas ao meio-ambiente,

delegando-a ao CONAMA, não havendo n e n h u m a inconstitucionalidade a

respeito. Foi u m a lei editada à luz do comando da Carta de 1988.

O CONAMA não pode evidentemente contrariar a lei e muito

menos a Consti tuição

Mas, repita-se, para que não paire qualquer dúvida a respeito,

o que o artigo 25 do ADCT quis revogar foram as normas que seriam

delegadoras, e não as medidas expedidas com base nas mesmas Por isso,

como já ressal tado, as no rmas edi tadas pelo CONAMA antes de 1988, no

que não contrariavam a s leis então vigentes, eram constitucionais.

Desta forma, a Resolução 4 / 8 5 foi recepcionada pela Carta de

1988.

Além disso, versa a referida Resolução sobre proteção a

recursos hídricos, matéria que pode ser regulamentada amplamente por

a tos administrat ivos pelo CONAMA, já que não foi submetida pela

Consti tuição ao principio da reserva legal.

Aliás, a respeito ressal ta o Professor Luiz Carlos Silva de

Moraes (MORAES, Luiz Carlos Silva de In: Curso de Direito Ambiental

Ed Atlas) "( ..) os a s sun tos recursos hídricos, ar, mar territorial

comportariam a regulamentação por forma de atos administrativos

(princípio da legalidade) como, por exemplo, as resoluções do CONAMA,

pois não foram submet idas pela Constituição ao principio da Reserva

Legal".

Apelação Cível n° 667 682 5/4 - Comarca de Paranapanema/Avaré 6

Ademais, ao regulamentar o artigo 225, § Io , incisos I, II, IIII e

VII da Consti tuição Federal, a Lei Ordinária 9 985 , de 18 de julho de 2000,

reafirmou em seu artigo 6o , que o CONAMA é u m órgão consultivo e

deliberativo.

E o Decreto 3 942, de 27 de setembro de 2001 , que alterou o

Decreto 99.274, de 06 de j u n h o de 1990, disse, em seu artigo 7o , inciso VI,

que compete ao CONAMA, "estabelecer normas , critérios e padrões

relativos ao controle e à manu tenção da qualidade do meio ambiente com

vistas ao uso racional dos recursos ambientais , principalmente os

hídricos". E nos incisos VIU e IX, respectivamente: "deliberar, no âmbito de

sua competência, sobre no rmas e padrões compatíveis com o meio

ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de vida"

e "estabelecer os critérios técnicos para declaração de áreas críticas,

s a tu r adas ou em vias de saturação".

O Decreto 4 .755, de 20 de j u n h o de 2003 , em seu artigo 14,

reforçou que "ao CONAMA cabe exercer as competências de que trata a Lei

n° 6 938, de 31 de agosto de 1981, e suas alterações".

Portanto, mesmo à luz das normas vigentes, o CONAMA

cont inua investido de competência para editar normas , tendo como limite

a lei e a Constituição e, ainda, o que dispõe o Decreto 99 .274 /90 , em seu

artigo 7o , § 3 o (redação dada pelo Decreto 1 205 , de 1/8/94)- "Na fixação

de normas , critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da

qualidade do meio ambiente, o CONAMA levará em consideração a

capacidade de auto-regeneração dos corpos receptores e a necessidade de

estabelecer parâmetros genéricos mensuráveis".

Além disso, a Medida Provisória 2.166-67, de 24 de agosto de

2001 , que alterou e acrescentou dispositivos à lei 4 7 7 1 , 1965, que

insti tuiu o Código Florestal, em diversos dispositivos reforçou a

competência a tr ibuída ao CONAMA. artigo Io , letras "c"; inciso V, letra "a"

e "c". E o que é mais importante, no seu § 6°, disse que "Na implantação

de reservatório artificial é obrigatória a desapropriação ou aquisição, pelo

empreendedor, das á reas de preservação permanente cr iadas no seu

/l

Apelação Cível n° 667 682 5/4 - Comarca de Paranapanema/Avare 7

entorno, cujos parâmetros e regime de uso serão definidos por resolução

do CONAMA"

Enfim, o CONAMA, em 1985, data da edição da Resolução n°

4, estava investido de poderes para editá-la, e hoje, amda, tem

competência para fazê-lo, nos limites já mais de uma vez mencionados

O Código Florestal, no seu artigo 2o , dispõe "Consideram-se

de preservação permanente , pelo só efeito desta Lei, a s florestas e demais

formas de vegetação natura l s i tuadas: a) ao longo dos nos ou de qualquer

curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura

mínima seja: 1 - de 30 m (trinta metros) para os cursos d 'água de menos

de 10 m (dez metros) de largura; 2 - de 50 m (cinqüenta metros) para os

cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 m (cinqüenta metros) de

largura; 3 - de 100 m (cem metros) para os cursos d á g u a que tenham de

50 (cinqüenta) a 200 m (duzentos metros) de largura; 4 - de 200 m

(duzentos metros) pa ra os cursos d'água que t enham de 200 (duzentos) a

600 m (seiscentos metros) de largura, 5 - de 500 m (quinhentos metros)

para os cursos d 'água que tenham largura superior a 600 m (seiscentos

metros); b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d á g u a na tura is ou

artificiais, c) n a s nascentes , amda que intermitentes e nos chamados

"olhos d'água", qualquer que seja a sua si tuação topográfica, n u m raio

mínimo de 50 m (cinqüenta metros) de largura, d) no topo de morros,

montes , m o n t a n h a s e serras; e) n a s encostas ou par tes destas , com

declividade superior a 45 , equivalente a 100% na linha de maior dechve; f]

nas restingas, como fixadoras de d u n a s ou estabihzadoras de mangues , g)

n a s bordas dos tabuleiros ou chapadas , a partir da linha de rup tura do

relevo, em faixa nunca inferior a 100 m (cem metros) em projeções

horizontais, h) em alti tude superior a 1.800 m (mil e oitocentos metros),

qualquer que seja a vegetação"

Na medida em que considerou, como não poderia deixar de

fazê-lo, de preservação permanente , ao redor de lagoas, lagos ou

reservatórios d 'água na tura i s ou artificiais, sem estabelecer a faixa

marginal, podia e devia o CONAMA fazê-lo como feito na Resolução 4, que

fi

Apelação Cível n° 667 682 5/4 - Comarca de Paranapanema/Avare ' 8

nesta parte não contrariou a lei, mas apenas regulou o que não estava nela

previsto

E mesmo que se queira de forma subsidiária tomar-se os

parâmetros estabelecidos para os cursos d'água, jamais se poderia cogitar

da medida de 30 metros, pois a largura do lago artificial é muito superior,

sabidamente, a 10 metros.

Além de tudo isso, a lei disse que as áreas ao entorno da

represa são de preservação permanente, e a Resolução CONAMA 04 tratou

de Reservas Ecológicas para os pousos de aves de arnbação.

Não havia, como não há, nenhuma ilegalidade ou

inconstitucionalidade na deliberação de que 100 metros no entorno das

represas hidrelétricas devem ser considerados áreas ecológicas, pois tal foi

editada à luz da Emenda Constitucional 1/69 e em consonância com a

competência que era outorgada por lei, não podendo os Municípios, ainda

que em área urbana, dispor de forma diferente.

A Resolução 302/02, outrossim, apenas reforçou o que já

havia sido deliberado na Resolução 4 /85 e o fez considerando a

necessidade de regulamentar o art. 2o da Lei n° 4 771, de 1965, no que

concerne às áreas de preservação permanente no entorno dos reservatórios

artificiais, bem como as responsabilidades assumidas pelo Brasil por força

da Convenção da Biodiversidade, de 1992, da Convenção de Ramsar, de

1971, e da Convenção de Washington, de 1940, bem como os

compromissos derivados da Declaração do Rio de Janeiro, de 1992.

Ressaltam, por isso mesmo, os seus "considerandos" que o

objetivo maior era o de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a

estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora,

proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas atuais e

futuras.

Na medida em que trata expressamente de proteção aos

recursos hídricos, que não estão sujeitos ao princípio da reserva legal,

como já anotado, não existe nenhuma inconstitucionalidade no referido

ato.

Apelação Cível n° 667 682 5/4 - Comarca de Paranapanema/Avaré 9

Ademais, mesmo considerando os outros enfoques

mencionados, a Resolução tem embasamento em lei editada à luz da

Constituição de 1988, de indiscutível constitucionalidade, e que lhe

outorgou o poder normativo

Não é demais ressaltar, ainda, que a Convenção de

Biodiversidade, em que se baseou a Resolução, foi incorporada ao sistema

jurídico interno pelo Decreto Legislativo 02 de 1994, sendo, portanto, "lei"

que deve ser observada

A Convenção de Ramsar, que dispôs sobre zonas úmidas de

importância internacional, especialmente como habitat de aves aquáticas,

elaborada em 02 de fevereiro de 1971, igualmente foi incorporada ao

sistema jurídico nacional através do Decreto Legislativo 33, de 16 de junho

de 1992, e regulamentada pelo Decreto Presidencial 1905, de 16 de março

de 1996.

E por esta última Convenção, o Brasil se obrigou a estabelecer,

selecionar e indicar zonas úmidas de importância internacional, bem como

a conservá-las e estabelecer formas de exploração racionai E foi o que se

procurou fazer tanto pela Resolução 4 /85 , como a mais recente, 302/02

Observe-se que o Tratado internacional é concebido por Hans

Kelsen como uma forma de regular a conduta recíproca dos Estados, quer

dizer, a conduta dos seus órgãos e súditos, com relação a um - ou uns -

determinado assunto. De forma simples, podemos dizer que a convenção é

um acordo de vontades entre dois ou mais Estados soberanos com relação

a um objeto determinado

Entre as diversas formas de tratados, temos os normativos,

que são aqueles que estabelecem regras de interesse geral, e podem se

constituir numa norma obrigatória e vigente num determinado Estado São

os que traçam regras sobre pontos de interesse geral entre dois ou mais

direitos, entre dois ou mais sistemas jurídicos, de modo a se encontrar

uma relação de harmonia.

No âmbito internacional, a subscrição obriga o Estado

subscritor, porém para incorporação ao sistema jurídico interno são

Apelação Cível n° 667 682 5/4 - Comarca de Paranapanema/Avaré i r\

necessários, para alguns, outros atos, de acordo com que dispuser sua

respectiva Constituição.

Em face do que dispõe a Constituição da República Federativa

do Brasil, no âmbito interno, a convenção somente passa a ter eficácia se

atendidos os requisitos nela previstos.

E é, como dispõe o artigo 49, inciso I, da nossa Carta Maior,

da Competência exclusiva do Congresso Nacional, resolver definitivamente

sobre t ra tados internacionais. É a ratificação legislativa requisito essencial

para a validade jurídica do tratado, e só após o seu pronunciamento

favorável é que passa a integrar o Direito Positivo Interno (cf. Manoel

Gonçalves Ferreira Filho, Antônio Roberto Sampaio Dória e Fernando

Sainz de Bujanda, entre outros). E a forma que o Congresso tem para

referendar é o Decreto Legislativo.

Decreto Legislativo é todo ato do Congresso Nacional adotado

segundo o procedimento estabelecido para a elaboração legislativa (cf.

Manoel Gonçalves Ferreira Filho). É u m processo legislativo, como dispõe o

artigo 59 da CF.

Portanto, com os Decretos Legislativos mencionados, as

Convenções incorporam-se ao sistema jurídico do Brasil e, assim, têm que

ser respei tadas e cumpridas .

Além de tudo isso, a Resolução 302 baseou-se nos artigos 5o ,

inciso XXIII, 170, inciso VI, 182, § 2 o , 186, inciso II, e 225 da Constituição

da República.

E ela estabeleceu, ademais , que mesmo com observância de

legislação municipal, a ocupação tem que ser licenciada pelo órgão

ambiental competente. O fato de ter procurado definir o que seja área

u r b a n a consolidada, teve por objetivo manifesto u m a preservação maior do

meio ambiente e dos próprios recursos hídricos. Por isso exigiu, entre

ou t r a s c i rcunstâncias : malha viária com canalização de águas pluviais,

rede de abastecimento de água; rede de esgoto; recolhimento de resíduos

sólidos u rbanos ; t ra tamento de resíduos sólidos urbanos .

h Apelação Cível n° 667 682 5/4 - Comarca de Paranapanema/Avaré 11

Não se pode ver em tais cautelas n e n h u m a violação ao direito

de propriedade, que não se sobrepõe ao interesse público que emana do

meio ambiente e nem restrição à competência legislativa municipal

E é por isso mesmo que não se está negando vigência ao art.

1228, Io , do Código Civil.

O direito de usa r e gozar da coisa não implica em dizer em

ausência de limitações.

A ordem econômica, diz o artigo 170 da Constituição da

República, "fundada n a valorização do trabalho h u m a n o e na livre

iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os

di tames da jus t iça social", observada, entre out ras circunstâncias , a

propriedade privada, a sua função social e a defesa do meio ambiente.

Não há, portanto, como e porque se reduzir a faixa de proteção

a 30 metros, como pretendido pelo recorrente

Os honorários do perito foram fixados em quant ia módica e

condizente com o trabalho realizado e devem ser mant idos.

Enfim, a r. sentença deve ser mant ida por seus próprios e

jurídicos fundamentos.

Nega-se provimento ao recurso.

y SAM^JEL/ÍÚNIOR

Eyíur Relator

Apelação Cível n° 667 682 5/4 - Comarca de Paranapanema/Avaré 12

^ d b ^ PODER JUDICIÁRIO

fi^ys S ð P A U L° ^ - ^ TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

SEÇÃO DE DIREITO PÚBLICO

CÂMARA ESPECIAL DO MEIO AMBIENTE

RECURSO APELAÇÃO COM REVISÃO N 667 682 5/4-00

NATUREZA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

COMARCA PARANAPAN EMA/A VARE - 1a OF - N 761/2004 APTE(S) RENATO VIRGÍLIO ROCHA FILHO APDO(S) MINISTÉRIO PÚBLICO

VOTO N 5359/08

V I S T O S

Contra sentença que julgou procedente ação civil publica para

efeito de cumprimento de obrigações de fazer licenciamento da construção junto ao DAIA, de

remover construções e entulhos da área apontada como de preservação permanente e de

recompor ali a vegetação degradada e de não fazer ou permitir qualquer atividade danosa na faixa

de cem metros do nível máximo normal da represa, sob pena de multa, alem de indenizar danos

eventualmente irrecuperáveis (fls 629/647 e 711), apelou o requerido alegando que o CONAMA

não tem poder para regulamentar lei de forma direta, que os artigos indicados da Resolução

302/02 são inconstitucionais, que não foi observado o principio da legalidade, que houve indevida

invasão de competência e que não há critério para criação de área urbana consolidada, devendo

ao menos ser reduzida a faixa de preservação para trinta metros e ser reduzida a verba honorária

de perícia para mil reais Foram apresentadas contra-razões e o Ministério Público se manifestou

pelo parcial provimento, apenas para efeito de fixação da faixa de preservação em trinta metros

Trata-se do empreendimento hoteleiro Ilha do Sol, ou Hotel

Fazenda Reviver, aprovado pela Municipalidade de Paranapanema, as margens do Reservatório

Hidrelétrico de Jurumtrim, em área interna ao perímetro de expansão urbana, conforme Lei

Municipal n 635 de 04 10 02 c c Lei Municipal n 07/80 (v fls 35/40) Para construção da represa

foi desapropriada pela CESP área de terras ate a Cota 570 e os proprietários tindeiros foram

indenizados (v fls 33/34)

O relatório do DEPRN de 02 06 04 (fls 44/48) mostrou que o

complexo turístico em área 4,10 ha (41 000 m2) estava sendo instalado gradativamente a margem

do reservatório e com ocupação de uma ilha mediante a construção de aterro de passagem, por

volta de 1996/1997, sem planejamento e licença ambiental, e com supressão de vegetação

pioneira de gramineas que motivara autuação pela Policia Ambiental em 14 05 04 (fls 49) O

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mesmo órgão administrativo, em 19 09 05, no curso desta ação, apontou a necessidade de estudo

ambiental simplificado junto ao DAIA e informou, como fez depois, em 26 09 05, que a degradação

da vegetação natural era anterior a ocupação pelo empreendimento (fls 530 e 563/565)

O laudo pericial confirmou a intervenção em área de

preservação permanente, mesmo na faixa de trinta metros (v fls 426/443 e 554/558), os

assistentes técnicos do requerido ofereceram informações e comentários negando significativa

degradação ambiental pelo empreendimento {fls 449/464) e o assistente técnico do Ministério

Público apontou degradação de área de preservação permanente {fls 488/513)

O artigo 2°, II da resolução CONAMA n 302 de 20 03 02 fixou

como de preservação permanente "a área marginal ao redor do reservatório artificial e suas ilhas"

{não "e de" suas ilhas), de modo que estas jamais podem ser ocupadas As ilhas são inteiramente

preservadas, não apenas nas faixas marginais aos reservatórios de água

Quanto ao recuo em relação ao nível máximo normal da

represa, ficou demonstrado que o imóvel se encontra em zona de expansão urbana, nos termos da

Lei n 635/02 Todavia, a localização de um imóvel em área urbana ou de expansão urbana não e

incompatível com a exploração rural, ou não urbana, assim como não e tipicamente urbana a área

urbana não consolidada, ou situada em zona de expansão urbana E bem por isto a Resolução

CONAMA n 302 estabelece critérios e requisitos de equipamentos de infra-estrutura mínima

Na Ap n 453 722 5/2-00, esta Câmara, em 12 07 07 (rei Des

Regina Zaquia Capistrano da Silva), decidiu, a vista das Resoluções CONAMA n 302/2002 e

303/2002, que a faixa de preservação permanente ao redor de reservatórios artificiais de água

deve ser de cem metros, admitindo, pois, a constitucionalidade e a legalidade desses atos

administrativos

Na condição de revisor, naquela ocasião, declarei voto no

sentido de que "a faixa de preservação ao longo do entorno da represa tem a medida fixada pelo

Poder Executivo na regulamentação da lei ambiental que contém os critérios para isto, com vistas

a preservação de quanto seja necessário à conservação ou recuperação dos ecossistemas (v

artigo 2o, b, do Código Florestal, Lei n 4771/65) Valem, então, as normas administrativas do

CONAMA

Esta mesma Câmara, não obstante, também negou provimento

ao Agravo de Instrumento n 607 572 5/3-00 em 22 03 07 (rei Des Regina Z C Silva) entendendo

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razoável não estender em medida liminar a faixa de preservação permanente alem da

desapropriada para formação de represa

Reestudando a questão, observo, como ja o fizera, que a Lei n

4771 de 15 09 65, no artigo 2°, considera de preservação permanente as florestas e demais formas

de vegetação natural situadas ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'agua naturais ou

artificiais (alínea "b"), sem demarcar medidas, ou seja, indicando que será o necessário à

conservação ou recuperação do ecosssistema A Lei n 6938 de 31 08 8, no artigo 6o, II, dispõe

que o CONAMA e órgão consultivo e deliberativo que pode deliberar sobre normas e padrões

compatíveis com o meio ambiente ecologicamente equilibrado e essencial à sadia qualidade de

vida Assim, não se pode afirmar que o CONAMA exceda suas atribuições ao demarcar a faixa de

preservação no entorno de represas

A aferição de área urbana consolidada para os fins previstos na

Resolução CONAMA n 302 de 20 de março de 2002 é tarefa de competência dos órgãos

ambientais componentes do SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente, que avaliarão cada

situação específica quanto ao preenchimento dos requisitos previstos no artigo 2o, inciso V, alíneas

"b" e "C" de mencionada Resolução, destacando-se que tal tarefa somente pode ser exercida pelo

Poder Publico Municipal, desde que possua órgão de controle e fiscalização ambientai (Lei Federal

n 6938/81, art 6o, inciso VI), sem prejuízo do controle dos demais órgãos ambientais competentes

(CF, art 23, incisos VI e VII)

O artigo 25 do ADCT da Constituição Federal não se aplica ao

presente caso, dispôs que ficariam revogados após 180 dias, prorrogáveis, "todos os dispositivos

legais que atribuam ou deleguem a órgão do Poder Executivo competência assinalada pela

Constituição ao Congresso Nacional" E nenhuma disposição constitucional existe atribuindo ao

Congresso competência para regulamentar lei, cabe, sim, ao Poder Executivo a regulamentação

das leis, nos termos do artigo 84, IV da Constituição Federal O presidente da republica dispõe

sobre a organização e funcionamento da administração federal (CF, art 84, VI, "a") e conferiu ao

CONAMA pelo Decreto n 99274 de 06 06 90 legitimidade para as atribuições constantes da Lei n

6938 de 31 08 81

O Código Florestal, Lei n 4 771/65, não cuida apenas de

florestas e vegetações nativas, posto que declarou ser bem de interesse comum qualquer forma de

vegetação reconhecida de utilidade para a terra que reveste (art 1o) A propósito, cumpre deixar

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claro que floresta pode ser qualquer formação arbórea densa, natural ou não, mas não é a única

forma de vegetação protegida pelo aludido Código

Certo e que, no caso concreto, a exigência administrativa do

CONAMA se destina ao cumprimento das normas de hierarquia superior voltadas a proteção do

ecossistema no entorno da represa e em particular à proteção da qualidade da água nos

reservatonos, que não existem apenas para o lazer dos propnetanos lindeiros e freqüentadores do

local

Este foi o objetivo do Código Florestal ao dispor, no artigo 2o, b,

que são de preservação permanente não apenas as florestas, mas quaisquer formas de vegetação

natural ao redor dos reservatórios d'agua, naturais ou artificiais A demarcação da extensão dessa

faixa de preservação deve feita pelo interessado de acordo com as normas do CONAMA para

efeito de aprovação do empreendimento junto aos órgãos estaduais

Assim, a regra do artigo 4°, III, parte final, da Lei n 6 766/79

deve ser aplicada em consonância com o disposto no artigo 2° do Código Florestal c c artigos 23,

24 e 225 da Constituição Federal (v Diogenes Gaspanni, O Município e o Parcelamento do Solo,

2a Ed Saraiva, 1988, p 38/39) "Aos municípios cabe legislar supletivamente sobre proteção

ambientai na esfera do interesse estritamente local A legislação municipal não pode ineficacizar os

efeitos da lei que pretende suplementar" (REsp 29299/RS, STJ)

O artigo 2o, parágrafo único da Lei n 4 771/65 (incluído pela Lei

n 7803 de 18 07 89) também deixa evidente a obrigatória observância do Código Florestal, em

seus princípios e limites, pela legislação municipal

Não e demais observar, portanto, que, optando a Lei n 4771/65

pela não padronização da medida da faixa de proteção para reservatórios d'agua, a

complementação pode ser feita por norma da Administração Publica, como o CONAMA, posto que

não e esse órgão que cria a restrição de uso, mas o próprio Código Florestal, a Administração

apenas fixa a largura mínima, em conformidade com o artigo 3o da mesma Lei n 4 771/65 c c

artigos 1 o e 6o, II da Lei n 6 938/81, Decreto n 99 274 de 06 06 90 e artigo 2o da LICC No Estado

de São Paulo, aliás, a Lei n 9989 de 22 05 98 obrigou a recomposição florestal ao redor de

reservatórios d'agua e essa obrigação tem natureza propter rem, de modo que e irrelevante o fato

de ter a degradação ambientai ocorrido antes da aquisição pelo proprietário atual

A Resolução n 04 de 18 09 85 do CONAMA, no artigo 3o, "b",

II, fixava a largura mínima de cem metros para a faixa de terra ao redor de reservatório de água de

hidroelétrica, desde seu nível mais alto Esta Resolução foi revogada pela Resolução n 303 de

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20 03 02 {artigo 5o), segundo a qual "O CONAMA estabelecera, em Resolução especifica,

parâmetros das áreas de Preservação Permanente de reservatórios artificiais e o regime de uso de

seu entorno" {artigo 4o) Ocorre que a anterior Resolução CONAMA n 302, da mesma data de

20 03 02, ja estabelecera "parâmetros, definições e limites para as áreas de Preservação

Permanente de reservatório artificial", instituindo a "elaboração obrigatória de plano ambientai de

conservação e uso do seu entorno" (artigo 1o) e constituiu "Área de Preservação Permanente a

área com largura mínima, em projeção horizontal, no entorno dos reservatórios artificiais, medida a

partir do nível máximo normal de cem metros para áreas rurais" (artigo 3°, I), admitida a

ampliação desse limite ou a sua redução ao patamar mínimo de trinta metros, "conforme

estabelecido no licenciamento ambiental e no plano de recursos hídricos da bacia onde o

reservatório se insere, se houver" (artigo 3o, § 1o), com exceção das "áreas de ocorrência original

da floresta ombrofila densa - porção amazônica, inclusive os cerradões e aos reservatórios

artificiais utilizados para fins de abastecimento publico" (artigo 3o, § 3o), acrescentou que "Aos

empreendimentos objeto de processo de processo de privatização, ate a data de publicação desta

Resolução, aplicam-se as exigências ambientais vigentes à época da privatização, inclusive os

cem metros mínimos de Área de Preservação Permanente" (artigo 5o) e que "Aos

empreendimentos que dispõem de licença de operação aplicam-se as exigências nela

contidas"(artigo 5°, § único)

No caso concreto, a intervenção na área de expansão urbana

desprovida da infra-estrutura mínima exigida pelo CONAMA, próxima ao reservatório, se deu com

aprovação apenas da Prefeitura de Paranapanema e sem licença do órgão da Secretaria Estadual

do Meio Ambiente O requerido pretende, sem amparo legal, que baste a aprovação municipal ao

recuo de trinta metros, por se tratar de área de expansão urbana, dispensado o EIA/RIMA por não

haver significativa degradação ambiental Mas requereu a aprovação do Departamento de

Avaliação de Impacto Ambiental - DAIA, com Relatório Ambientai Prévio - RAP

E, depois da sentença, em 31 08 06, a Secretaria do Meio

Ambiente, pela Coordenadona de Licenciamento Ambiental e Proteção de Recursos Naturais

informou ao ora apelante que o empreendimento objeto desta ação e considerado de baixo

impacto ambiental, porem sujeito ao licenciamento ambiental nos termos da Resolução CONAMA

n 237/97 c c Resolução SMA n 54/04 (v fls 707/710)

Assim, não se pode desde logo afirmar que o caso presente

não se enquadra na previsão do artigo 5°, § único da Resolução n 302/02 do CONAMA, se tida

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como mantida pela subsequente Resolução n 303/02, ate porque também se mostra razoável

observar que essas normas são dirigidas aos empreendedores das usinas hidrelétricas, uma vez

que a criação de nova área de preservação permanente onde não havia deve ser precedida de

desapropriação porque não se confunde com mera limitação inerente a função social da

propriedade

Por isto, sem prejuízo da preservação e/ou recomposição das

vegetações nativas de preservação permanente existentes no imóvel do apelante, mostra-se

razoável admitir a legalidade do procedimento administrativo enunciado a fls 707/714 e a

possibilidade de aprovação do empreendimento pelos órgãos ambientais estaduais

Como se vê, o apelante não tem razão ao negar a necessidade

de aprovação do empreendimento pelo órgão ambiental da Administração Pública Estadual, não

obstante, a analise do projeto, com observância das Resoluções pertinentes do CONAMA, não

implica imposição absoluta da preservação da faixa de cem metros de preservação permanente,

cabendo ao Poder Publico estadual a analise de impacto ambiental e a fixação do recuo adequado

Por fim, a remuneração da perícia foi arbitrada razoavelmente,

a vista do trabalho desenvolvido

Ante o exposto, por meu voto da-se parcial provimento a

apelação, nos termos acima Acolhido o pedido principal de submissão do requerido às normas

ambientais federats e estaduais, arcara ele com os ônus da sucumbência, no tocante a custas e

despesas processuais

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