explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO LILIAN RIBEIRO FURTADO EXPLICAÇÃO E RESTRIÇÃO: UMA PERSPECTIVA COGNITIVISTA 2015

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Page 1: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

LILIAN RIBEIRO FURTADO

EXPLICAÇÃO E RESTRIÇÃO: UMA PERSPECTIVA COGNITIVISTA

2015

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Universidade Federal do Rio de Janeiro Faculdade de Letras

Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

Lilian Ribeiro Furtado

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa).

Orientador: Profa. Doutora Maria Lúcia Leitão de Almeida

Rio de Janeiro Maio de 2015

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Explicação e restrição: uma perspectiva linguística

Lilian Ribeiro Furtado Orientador: Profa. Maria Lúcia Leitão de Almeida

Tese de Doutorado submetida ao Programa e Pós-graduação em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa) da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do Título de Doutor em Letras Vernáculas (Língua Portuguesa). Aprovada por: _________________________________________________________________ Presidente, Profª. Maria Lúcia Leitão de Almeida - UFRJ _________________________________________________________________ Prof. Doutor Carlos Alexandre Victorio Gonçalves - UFRJ _________________________________________________________________ Profª. Doutora Violeta Virginia Rodrigues - UFRJ _________________________________________________________________ Prof. Diogo Oliveira Ramires Pinheiro – UFRJ _________________________________________________________________ Profª. Doutora Rosângela Gomes Ferreira – UERJ _________________________________________________________________ Profª. Doutora Maria Aparecida Lino Pauliukonis - UFRJ _________________________________________________________________ Profª. Doutora Juliana Esposito Marins - UFRJ

Rio de Janeiro Maio de 2015

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SINOPSE Estudo sobre as orações relativas explicativas e restritivas. Análise dos padrões de seleção do falante por uma ou outra construção. Apresentação dos dados e análise baseada na Teoria Multissistêmica.

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AGRADECIMENTOS

A todos os professores que contribuíram para a minha formação;

À minha família, minha base, por todo apoio e por me proporcionar momentos de distração, quando eu não aguentava mais olhar a tese;

Ao meu grande amigo Vinícius Carvalho. Amigo, mesmo não sendo da área, você nem imagina como me ajudou com suas observações;

Ao meu terapeuta, Henrique Fernandes, pelas várias dicas e ideias sobre bibliografia, sites, experiências acadêmicas e, principalmente, por ter me ajudado a manter o equilíbrio;

À professora Maria Lúcia que, apesar das dificuldades que a vida lhe impôs, nunca desistiu de mim e de seguir com essa orientação. Obrigada por sempre ter sido tão generosa em compartilhar seus conhecimentos, carinho e amizade;

Ao Fabiano por toda paciência e parceria.

À minha filha, minha razão de viver. Tudo foi por ela e pra ela. Filha, te amo e espero que de alguma forma eu seja sempre um bom exemplo pra você.

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RESUMO

Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivist a

Lilian Ribeiro Furtado

Orientador: Profa. Maria Lúcia Leitão de Almeida

Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-Graduação em Letras Vernáculas, Faculdades de Letras, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Doutor em Letras Vernáculas – Língua Portuguesa.

O presente trabalho analisa as orações relativas explicativas e restritivas

presentes no corpus do grupo de estudos Discurso & Gramática sob a perspectiva

semântica e pragmática das construções relativas na interação comunicativa. Para

isso, consideramos que os interlocutores têm a necessidade de produzir um efeito real

da mensagem no momento de elaboração dos seus textos (escrito ou oral),

viabilizando o compartilhamento do mesmo nível de conhecimento no mesmo intervalo

de tempo. Assim, considerando que a informação é uma composição de informações

velhas com informações novas, podemos entender a codificação do falante em uma

oração relativa explicativa ou restritiva. Do ponto de vista semântico, as orações

relativas são diferentes e selecionadas a partir do nível de conhecimento compartilhado

entre os interlocutores sobre determinado assunto. Vamos verificar, no decorrer do

trabalho, que as orações relativas restritivas são introdutoras de informação dada e que

as orações relativas explicativas são introdutoras de informações novas. Com isso, a

necessidade ou não de detalhamento das informações vai surgindo à medida que o

falante percebe, no decorrer do discurso, a necessidade de ajustar as informações para

um mesmo nível informacional. Após esse entendimento, será possível entender como

o falante identifica e utiliza com maestria as construções relativas, levando em conta os

princípios da teoria multissistêmica relacionada ao dispositivo sociocognitivo.

Rio de Janeiro Maio de 2015

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ABSTRACT

Explanation and restriction : A cognitive perspective

Lilian Ribeiro Furtado

Advisor: Prof. . Maria Lúcia Leitão de Almeida

This paper analyzes the explanatory and restrictive relative clauses present in

the study group of the corpus Speech & Grammar in the semantic and pragmatic

perspective of the buildings on the communicative interaction. For this, we consider that

the interlocutors have the need to produce a real effect of the message at the time of

preparation of their texts (written or oral), enabling the sharing of the same level of

knowledge in the same time frame. So, considering that the information is a composition

of old information with new information, we can understand the speaker's encoding in

an explanatory or restrictive relative clause. From a semantic point of view, the relative

clauses are different and selected from the level of shared knowledge between the

parties on an issue. Let's check in the course of work, that restrictive relative clauses

are introducer of information given and the accompanying relative clauses are

introducer of new information. Thus, the necessity or not of detail of information is

emerging as the speaker sees in the course of the speech, the need to adjust the

information for the same informational level. After this understanding, you can

understand how the speaker identifies and uses masterfully constructs for, taking into

account the principles of the social cognitive theory related multisystem device.

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Rio de Janeiro Maio de 2015

RESUMEN

Este trabajo analiza las oraciones de relativo explicativas y restrictivos

presentes en el grupo de estudio del corpus del habla y gramática en la perspectiva

semántica y pragmática de los edificios en la interacción comunicativa. Para ello,

tenemos en cuenta que los interlocutores tienen la necesidad de producir un efecto real

del mensaje en el momento de elaboración de sus textos (escritos u orales), lo que

permite el intercambio de el mismo nivel de conocimiento en el mismo período de

tiempo. Por lo tanto, teniendo en cuenta que la información es una composición de la

información antigua con la nueva información, podemos entender la codificación del

orador en una oración de relativo explicativa o restrictiva. Desde un punto de vista

semántico, las oraciones de relativo son diferentes y se seleccionan entre el nivel de

conocimiento compartido entre las partes sobre un tema. Vamos a ver en el curso del

trabajo, que son las oraciones de relativo restrictivas introductor de la información dada

y las oraciones de relativo acompañan son introductor de nueva información. Por lo

tanto, la necesidad o no de detalle de la información se está convirtiendo en el hablante

ve en el transcurso de la intervención, la necesidad de ajustar la información para el

mismo nivel de información. Después de este entendimiento, se puede entender cómo

el hablante identifica y utiliza magistralmente construye para, teniendo en cuenta los

principios del dispositivo multisistémica teoría relacionada cognitiva social.

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“Descobrir consiste em olhar para o que todo mundo

está vendo e pensar uma coisa diferente”.

(Roger Von Oech)

“Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é

senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria

menor se lhe faltasse uma gota”.

(Madre Teresa de Calcuta)

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 11Erro!

Indicador não definido.

2. AS ORAÇÕES RELATIVAS NO PORTUGUÊS DO BRASIL E NO PORTUGUES DE PORTUGAL.. 16

2.1. As adjetivas nos compêndios gramaticais no Português do Brasil................................ 16

2.1.1. As adjetivas nos compêndios gramaticais............................................................... 17

2.1.2. As adjetivas em outras correntes teóricas.............................................................. 23

2.1.2.1. Correntes teóricas: gerativista, variacionista e funcionalista............................... 24

2.2. As adjetivas nos compêndios gerativistas no Português Europeu................................. 34

2.2.1. Mira Mateus.............................................................................................................. 34

2.2.2. Raposo.................................................................................................................. 44

3. FUNDAMENTOS TEÓRICOS................................................................................................ 70

3.1. O status informacional do referenteErro! Indicador não

definido............................................................................. 57

3.2. A gramática multissistêmica......................................................................................... 64

4. METODOLOGIA................................................................................................................... 82

5. A ANÁLISE DAS RELATIVAS NOS DADOS DO D&G............................................................. 83

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................... 117

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................................... 120

8. ANEXOS.............................................................................................................................. 130

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1- Introdução

No presente trabalho, chamaremos de orações relativas as orações

adjetivas descritas pela tradição gramatical no Brasil. Quando pensamos no

assunto, é natural que, num primeiro momento, nos lembremos

automaticamente das nossas experiências em sala de aula, quando

mencionamos a diferença sintática existente entre elas. Segundo a tradição

gramatical no Brasil essa diferença se dá da seguinte forma: orações

adjetivas restritivas não são marcadas por vírgulas - ou vírgula, a depender

da posição que ocupe no período, - ao contrário das orações adjetivas

explicativas. Muitas das vezes vivenciamos a dificuldade de explicar essas

orações em sala, de nos fazer entender e, principalmente, de fazer com que

o aluno perceba essa diferença sem muita dificuldade. Isso fica mais

evidente, quando trabalhamos com orações isoladas de seus contextos,

como em ‘A roupa que comprei está velha’ e ‘A roupa, que comprei, está

velha’. Considerar que essas orações carregam significados diferentes

devido à presença ou ausência da pontuação é difícil para todos, que,

basicamente, se limitam a uma identificação imediatista, quando não

possuem sequer referência sobre o contexto em que as orações foram

produzidas. Ao revisitarmos a literatura existente sobre o tema, verificamos

que há muita coisa já produzida à luz de diversas correntes teóricas e que,

mesmo com tantos trabalhos de qualidade, a pesquisa sobre as orações

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relativas ainda não se esgotou, já que sob à ótica da Linguística Cognitiva

quase nada ainda foi feito.

É importante que os pesquisadores da área e os docentes da disciplina

tenham muito cuidado ao correlacionarem os valores semânticos à presença

ou ausência de pontuação, já que essas orações surgem em contextos

conhecidos pelos interlocutores, em que o nível de conhecimento dos

participantes do discurso e a finalidade a que o discurso se propõe

interferirão de forma efetiva na construção do significado dessas orações e

dos SNs aos quais elas se referem.

A literatura revisitada mostra ainda que as orações explicativas trazem

uma informação adicional do referente, enquanto as restritivas, na verdade,

modificam-lhe o status. Isso quer dizer que uma oração relativa explicativa é

na verdade uma informação a mais, uma informação que pode ser

descartada pelos interlocutores. Diferentemente da oração relativa restritiva -

uma informação nova que orienta os interlocutores sobre que tipo de

informação é preciso ter sobre o referente. A literatura visitada também se

preocupa em mostrar quais os pronomes envolvidos nas orações relativas e

como ocorre a utilização ou não das preposições na elaboração dessas

orações.

O pouco que se tem de um olhar semântico sobre o assunto, na literatura

existente, não é suficiente para responder se o falante, ao ‘selecionar’ uma

estrutura restritiva ou explicativa, tem ou não consciência de que faz uma

explicação ou uma restrição. Outra pergunta, no mínimo, curiosa é saber

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como fazer para diferenciar as orações explicativas das restritivas em

construções como as de baixo, totalmente descontextualizadas:

(1) As flores, que reguei, morreram.

(2) As flores que reguei morreram.

(3) O cavalo que comprei é Mangalarga.

(4) O cavalo, que comprei, é Mangalarga.

Olhar para as orações acima e entendê-las, semanticamente, como restritivas

ou explicativas, a partir da sua organização sintática – presença ou ausência da

pontuação - é diferente de compreender as motivações comunicativas e cognitivas que

fazem que uma ou outra oração emirja no discurso, seja ele escrito ou falado. Por isso

tudo, nos enveredamos e nos arriscamos na análise dessas orações. Estamos

interessados nos processos que ocorrem e que se somam para que uma ou outra

oração ocorra. Fica claro que, para analisá-las, é preciso considerar o contexto em que

foram produzidas, sobretudo, a participação dos interlocutores no discurso. Por causa

disso, iremos prestigiar os níveis pragmáticos e semânticos envolvidos na construção

dessas orações, porque para a Linguística Cognitiva (LC), abordagem teórica adotada

para abordar esse assunto, não há separação rígida entre o componente semântico e o

componente pragmático (cf Langacker 1987, Introdução), assim como não há

independência entre a forma e o sentido (Goldberg , 1995). Na realidade, o que existe

é uma relação entre as propriedades do pensamento e as manifestações linguísticas.

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Segundo Fauconnier (1997 p.2) “o objetivo maior da linguística cognitiva é especificar a

construção de significado, suas operações, seus domínios, e como eles estão refletidos

na linguagem”.

A LC, assim, se preocupa com o estudo da linguagem relacionado à experiência

humana no mundo e, por isso, as propriedades da linguagem são estudadas como

resultados da capacidade cognitiva, que, por sua vez, é influenciada pela experiência

cultural e social do indivíduo. Essa relação constrói o que chamamos de domínios

culturais, que viabilizam a interpretação do mundo e das situações inusitadas que

exigem capacidade de inferência contínua sobre as coisas que constituem o mundo.

A proposta geral da tese, então, é que essas orações surgem para satisfazer às

necessidades discursivas dos interlocutores de modo que eles possam construir

conceptualizações similares. Por isso, é fundamental a análise e descrição de como se

estrutura o fluxo discursivo, a verificação de com quais status os referentes ingressam

nesse fluxo, além da situação de comunicação e do gênero discursivo em que são

embalados os referentes e que, seguramente, influenciam essa embalagem e sua

organização.

Busca-se, dessa forma, apresentar uma proposta de análise para essas

construções, considerando, além de sua dimensão sintática, a natureza semântica dos

termos e os processos de categorização realizados pelo falante. Assim, nos preocupa

levantar hipóteses sobre a natureza da cognição com o objetivo de explicar os

fenômenos da linguagem natural no que diz respeito às motivações cognitivas para a

realização da explicação e da restrição e, consequentemente, confirmar ou refutar, a

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partir dos questionamentos levantados, que a explicação e a restrição se dão na

pragmática.

Ao sair da unidade de análise da Gramática Normativa, refletida nos melhores

compêndios gramaticais, verificamos que os critérios adotados são insuficientes para

compreender o duplo papel das relativas.

Assim, examinaremos o objeto de estudo (apenas orações relativas introduzidas

pelo pronome relativo QUE) sob à luz da Linguística Cognitiva, que permite análises e

descrições que ultrapassam os valores semânticos de explicação e restrição e que,

consequentemente, nos permitiu, nas análises realizadas, classificar as orações em

orações relativas explicativas (e seus desdobramentos), orações relativas restritivas,

orações relativas argumentativas, orações relativas causais, orações relativas

concessivas e orações relativas de tempo e lugar.

Para tanto, a presente Tese organiza-se nos seguintes capítulos: em (2),

apresentamos a perspectiva tradicional acerca das orações relativas no Português do

Brasil e no Português de Portugal. Em (3), definimos a teoria do status informacional, a

gramática multissistêmica e a questão dos testes prosódicos realizados em dados com

oração relativa. Em (4), evidenciamos a metodologia adotada no trabalho. Em (6),

discutimos a análise dos dados. (7), tecemos algumas considerações finais sobre a

análise ora proposta.

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2- As orações relativas no Português do Brasil (PB) e no Português de

Portugal (PE).

Nessa seção, apresentaremos sucinta revisão da literatura, considerando o

Português do Brasil e o Português de Portugal. Organizaremos, portanto, da seguinte

maneira: descrições e análises das relativas no Português do Brasil (2.1) e no de

Portugal (2.2) . Primeiramente, em 2.1.1 faremos apresentação crítica de gramáticos

contemporâneos largamente adotados nas universidades brasileiras, pois o foco de

análise é o PB. Na seção seguinte (2.1.2) apresentaremos abordagens de outras

correntes teóricas. Em 2.1.3 Faremos um sumário, realçando aspectos relevantes tanto

da primeira quanto da segunda seção...

Em 2 apresentaremos a revisão do que tem sido publicado nos últimos tempos

no PE com o objetivo de cotejar com os resultados de análises do PB, se há avanços

descritivos- analíticos , se há diferenças de realização, de modo que os dados ora sob

esquadrinhamento possam ser iluminados.

2.1 As adjetivas sob a ótica dos compêndios gramati cais no PB

As adjetivas são tratadas na literatura produzida no Brasil com foco na sintaxe

do PB. Esses livros refletem a Tradição Gramatical da gramática Greco-Latina e

servem de base para livros escolares. Por serem trabalhos descritivos-taxonômicos,

não expressam uma abordagem teórica.

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2.1.1 As adjetivas sob a ótica dos compêndios grama ticais no PB

Se considerarmos o que indica Bechara (2004:343),

“a oração adjetiva explicativa alude a uma particularidade que não modifica a referência do antecedente e que, por ser mero apêndice, pode ser dispensada sem prejuízo total da mensagem. Na língua falada, aparece marcada por pausa em relação ao antecedente e, na escrita, é assinalada por adequado sinal de pontuação, em geral, entre vírgulas”.

Com o exemplo ‘O homem, que vinha a cavalo, parou defronte da Igreja’,

Bechara (2004) ratifica a explicação, argumentando que se trata de uma explicação,

porque, neste caso, há apenas um homem e que a oração entre vírgulas é uma

informação a mais que pode ser dispensada, uma informação acessória. Fazendo um

contraponto didático, o autor apresenta a mesma oração só que sem o sinal de

pontuação. Tomando a oração ‘O homem que vinha a cavalo parou defronte da Igreja’

é considerada restritiva, porque significa dizer que há mais de um homem e que

apenas o que vinha a cavalo foi o que parou defronte da Igreja e, por isso, a ausência

dos sinais de pontuação. Percebemos aqui que a estratégia para a diferenciação das

orações consiste na presença ou ausência dos sinais de pontuação (as vírgulas), os

quais possuem seu uso justificados pela pausa ou não proferida na fala.

Entendemos que essas sentenças precisam ser analisadas além das pausas e

vírgulas e precisam ser analisadas além da prosódia e sintaxe, por isso, é fundamental

considerar a interação comunicativa, levar em conta o compartilhamento informacional

dos interlocutores presentes no discurso e, quando ausentes, observar o nível de

conhecimento sobre o assunto. Quase sempre as descrições relacionam as orações

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relativas ao status do antecedente do pronome relativo, entretanto, esse status precisa

ser conhecido e compartilhado pelos interlocutores para que os significados sejam

construídos e compreendidos. Descartando-se os contextos em que essas orações são

enunciadas e a interação entre os interlocutores, vemos que as considerações feitas

nas duas orações acabam sendo meramente formais, tendo como objetivo apenas

descrever regras gramaticais do PB. Além disso, é bem verdade que apenas os sinais

de pontuação é que nos fazem “procurar” uma diferença semântica entre orações no

momento da escrita. Essa busca acontece quando o falante conhece as regras de

pontuação e sabe que a diferença é marcada pela diferença semântica e sintática.

Assim como trata Bechara (2004), Cunha & Cintra (1985:589) definem orações

adjetivas explicativas como sendo aquelas que:

acrescentam ao antecedente uma qualidade acessória, isto é, esclarecem melhor a sua significação, à semelhança de um aposto. Mas, por isso mesmo, não são indispensáveis ao sentido essencial da fras e. (grifo nosso)

Mais uma vez vemos a importância do referente para a identificação do tipo de

oração relativa que o sucede. Nesse momento, em relação aos aspectos semânticos,

enquanto o primeiro autor considera que a explicação é uma mera informação

acessória, podendo, inclusive, ser dispensada, o segundo considera o contrário.

Assim como os dois autores anteriores, Rocha Lima (2006) considera que as

orações relativas funcionam como adjetivos e, por isso, são adjuntos adnominais o que

faz com que elas se relacionem com qualquer termo cujo núcleo seja um substantivo

da oração anterior. Da mesma maneira, ele as classifica como orações subordinadas

adjetivas explicativas e orações subordinadas adjetivas restritivas e justifica

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semanticamente a diferença entre elas considerando que, nas explicativas, a

informação é um esclarecimento simples, que pode ser descartado sem prejudicar a

informação anterior. Ao contrário, as orações restritivas delimitam o antecedente.

Das descrições apresentadas acima, entendemos que a oração relativa

explicativa não pode ser dispensada ou retirada, se considerarmos a importância da

informação que ela carrega no contexto, mesmo que seja apenas para chamar atenção

do ouvinte com o objetivo de relembrá-lo sobre alguma informação ou acontecimento.

Considerar a oração explicativa mero apêndice é não considerar todos os fatores

pragmáticos e semânticos, envolvidos no momento de elaboração do discurso, e,

consequentemente, descartar do contexto uma informação que os interlocutores

resolveram compartilhar.

Resumindo:

Restritivas Explicativas

Cunha & Cintra (1985) Restrigem, limitam,

precisam a significação

do substantivo (ou

pronome) antecedente.

São, por conseguinte,

indispensáveis ao

sentido da frase; e,

como se ligam ao

Acrescentam ao

antecedente uma

qualidade acessória, isto

é, esclarecem melhor a

sua significação, à

semelhança de um

aposto. Mas, por isso

mesmo, não são

Page 20: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

20

antecedente sem pausa,

dele não se separam, na

escrita, por vírgula.

(1985,587)

indispensáveis ao

sentido essencial da

frase. Na fala, separam-

se do antecedente por

uma pausa, indicada na

escrita por vírgula.

(1985,587)

Bechara (2006) Oração proferida sem

pausa e não indicada na

escrita por sinal de

pontuação a separá-la

do antecedente. (2006,

343)

Alude a uma

particularidade que não

modifica a referência do

antecedente e que, por

ser mero apêndice, pode

ser dispensada sem

prejuízo total da

mensagem. Na língua

falada, aparece marcada

por pausa em relação ao

antecedente e, na

escrita, é assinalada por

adequado sinal de

pontuação, em geral,

entre vírgulas. (2006, p

Page 21: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

21

343)

Lima (2006) Tem por ofício delimitar

o antecedente, com o

qual forma um todo

significativo; em razão

disso, não pode ser

suprimida, sob pena de

a oração principal ficar

prejudicada em sua

compreensão.

É termo adicional, que

encerra simples

esclarecimento ou

pormenor do

antecedente – não

indispensável para a

compreensão do

conjunto. É de regra

separar por vírgulas (ou

travessões) a oração.

(Quadro nosso)

Com uma preocupação didática, a tradição gramatical do Brasil tentou orientar o

usuário da língua a diferenciar uma oração explicativa de uma oração restritiva. Os

autores consideram de imediato a existência dessa diferença entre as orações sem,

contudo, discutir ou apresentar as motivações que fazem/permitem ao falante

selecionar uma ou outra no discurso. Além disso, o que os autores propõem

semanticamente é muito raso, já que suas obras possuem uma orientação

epistemológica e foram elaboradas antes mesmo da chegada dos estudos cognitivistas

no Brasil.

Page 22: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

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Dessa forma, se pudéssemos descrever de forma ideal a diferença semântica

existente nos exemplos discutidos pelos autores, poderíamos considerar o seguinte:

Em outras palavras, segundo as explicações dos autores acima, poderíamos

considerar que a explicação é, na verdade, um todo, um conjunto único, em que o

objetivo é apenas dar uma informação adicional sem qualquer preocupação com o

status do antecedente. Em contrapartida, a oração restritiva seria um subconjunto, ou

seja, na oração restritiva, o falante desejaria, na verdade, fornecer uma informação que

diferencia um elemento entre tantos outros conhecidos no contexto. É assim que

conseguimos representar a explicação conceitual de Bechara (2004) sobre o exemplo

“O homem, que vinha a cavalo, parou defronte da Igreja.” A oração com vírgulas é uma

oração, segundo o autor, poderia ser descartada por ser mero apêndice. Por outro

lado, a restrição já teria outro significado. Na restrição, o falante desejaria falar de um

único homem que ‘vinha a cavalo’ dentre tantos outros, somente um homem vinha a

cavalo. A mesma consideração deve ser feita nas orações “As flores, que reguei,

morreram” e “As flores que reguei morreram. Segundo os autores, semanticamente,

elas são diferentes, porque na restritiva eu posso considerar que existe um conjunto de

EXPLICAÇÃO RESTRIÇÃO

Page 23: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

23

várias flores e que elas foram regadas por pessoas diferentes, mas, que, apenas, as

regadas por “eu”, morreram.

2.1.2 As adjetivas em outras correntes teóricas

Nessa seção apresentaremos trabalhos feitos no Brasil, levando em

consideração a diversidade de abordagens teóricas e a relevância de suas

contribuições na compreensão do uso das orações adjetivas. Entretanto, antes disso,

não podemos deixar de mencionar um trabalho basilar, no estudo das orações relativas

do português do Brasil, que foi realizado por Mollica (1977). Sua dissertação de

mestrado foi pioneira no trato das orações relativas, porque fez uma investigação da

ocorrência de orações relativas no português falado. Seu objetivo era investigar o uso

da relativa copiadora e, por isso, sua pesquisa pautou-se em analisar a alternância

entre a relativa copiadora e a relativa cortadora com a finalidade de criar um padrão de

comparação do uso de uma ou outra oração pelo falante. A pesquisadora verificou que

o apagamento é a estratégia mais utilizada e que isso só ocorre com dados de

preposição átona, destacou também que a distância entre o pronome relativo e o

antecedente e o traço semântico do antecedente interferem na ocorrência dessa

oração. Seu estudo foi inovador no Brasil e abriu portas para outros estudos, para

outras investigações, permitindo, dessa forma, que o meio acadêmico fosse

enriquecido de novas descobertas e constatações.

Page 24: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

24

2.1.2.1 Correntes teóricas: gerativista, variacion ista e funcional.

As orações relativas no PB são analisadas por Bispo e Rios (2014), de acordo

com as abordagens gerativista, variacionista e funcional, trazendo à tona inovações

nas análises desse assunto.

Bispo e Rios (2014) destacam a importância dos modelos teóricos que

descrevem a estrutura sintática das orações relativas e das relativas livres. O primeiro

modelo teórico é o wh-movement (Chomsky,1977,1955 e posteriores), que surgiu

depois de Lees (1960) defender que as orações relativas eram unidas por um “nome”

relativizado, apagado no interior da segunda oração de modo a ser recuperado pela

sua presença na primeira oração. Essa análise foi formalizada por Rosenbaum:

(a) oração não relativa 1 [o documento foi revisado];

(b) oração não relativa 2 [o gerente entregou o documento]

(c) adjunção ao N alvo [o documento [o gerente apresentou o documento] [foi

revisado];

(d) inserção do pronome relativo [o documento [[que] o gerente apresentou o

documento] foi revisado]

(e) apagamento da expressão N do interior da relativa [o documento [[que] o

gerente apresentou] foi revisado]

Page 25: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

25

Chomsky, por outro lado, acredita que a relativização envolvia na verdade

uma adjunção de oração (CP – complementizer phrase) a um sintagma nominal (NP-

noum phrase) ou sintagma determinante (DP – determiner phrase). Essa descrição foi

importante, porque demonstrou as orações relativas como adjuntos ao sintagma.

Vejamos:

Assim, esse propõe que o wh- é o pronome relativo, elemento esse correferente

ao N relativizado. O pronome relativo, nessas orações, é gerado numa posição IP

(inflectional phrase) e, nessa posição, sofre um movimento para o início da relativa

(posição spec-CP)

[DP/NP[DP/NP ALVO] i [CP whi[IP ... t i ... ] ] ]

O problema dessa análise ocorre pelo fato de não dar conta da correferência e

do compartilhamento de traços entre o alvo e o pronome relativo e não levar em conta

a possibilidade de que as relativas sejam derivadas sem pronome relativo (wh-). Para

DP/NP

DP/NP CP

Page 26: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

26

resolver esse problema, Chomsky adicionou uma regra de predicação ao modelo, que

consistia em mostrar que o alvo da relativa e o wh- seriam derivados da sintaxe de

forma independente e seriam indexados ao subcomponente LF (Logical form).

A derivação da complementizer phrase seria, dessa forma, idêntica a de

qualquer outra oração com a particularidade da adjunção. Entretanto, outra questão se

apresentava: como explicar a associação do wh- com o alvo, se este é um constituinte

independente sintaticamente? Para contornar o problema, utilizou-se a regra de

predicação - as orações relativas são sentenças abertas que precisam ser associadas

a um sujeito.

Outro modelo é o raising, que teve origem com os estudos de Brame (1968),

Schachter (1973), Vergnaud (1974) e Brame (1976). Para eles, as orações relativas

não derivavam de duas orações relativas independentes com dois N idênticos como na

análise de Lees (1960), porque acreditavam que havia apenas um N que era deslocado

CP

DP/NP

NPi

Whi ti

Page 27: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

27

para fora do domínio, quando adjungido a constituinte determinante (Art – artigo).

Vejamos:

(a) Oração relativa: [o documento foi revisado]

(b) (a) oração relativa: [o documento que o gerente entregou]

(c) Adjunção: [o [ documento que o gerente entregou] foi revisado]

(d) Raising do N-alvo: [o documentoi [ti que o gerente entregou] foi revisado]

Nesse caso, a expressão N é alçada para a posição spec-CP:

[D [CP ALVO i [IP ... t i ... ] ]

Mais tarde, a essa descrição Kayne (1994) acrescentou que as orações relativas

deveriam ser analisadas como complementos de um núcleo determinante D:

Esse modelo só abrange as orações relativas restritivas e, por esse motivo,

não é tão utilizado quanto o wh- movement. Entretanto, o raising se destaca por causa

do Axioma de correspondência linear. Em outras palavras, o raising considera a

Gramática Universal rígida em relação à ordem linear (ou lógica) dos constituintes da

DP

D CP

Page 28: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

28

sentença - complementos vêm sempre depois dos núcleos e, por isso, as orações

relativas não poderiam ser adjuntos, termos presentes à esquerda dos núcleos.

Ainda sob à luz da abordagem gerativista, os autores analisam as relativas livres

comparando-as com as relativas copiadoras e cortadoras, que também são conhecidas

como orações não canônicas. As orações copiadoras ou resumptivas possuem um

pronome pessoal que concorda em gênero, número e pessoa com o N da oração como

em “A prova que os alunos fizeram ela”. Já as orações cortadoras não têm a

preposição que antecede o pronome relativo, representada explicitamente - “Encontrei

a blusa que você iria à festa.” Estabelecendo uma comparação com as variantes da

oração relativa, a relativa livre se diferencia por não ter um núcleo nominal presente, já

que são introduzidas pelos pronomes quem, o que, quando, onde, como e quanto, que

ocupam o lugar do N. As relativas livres são orações nunca dependentes de um nome

ao contrário do que ocorre nas relativas padrão. Por esse motivo, todo RL será sempre

introduzida por pronomes relativos que trazem embutidos em si o que seriam os

antecedentes. Durante a pesquisa, os autores observaram que os pronomes relativos

quem, o que, quando, onde, como, quanto não tinham uma palavra explícita ou

implícita que os antecedesse. Verificaram também que cada pronome apresentava

uma característica de funcionamento como, por exemplo, o pronome quem que carrega

o núcleo nominal “pessoa” enquanto o pronome quanto faz referência à quantidade e,

por isso, quando o ocorre, aparece antecedido de artigo o, demonstraram que isso

ocorre, porque esses pronomes representam núcleos nominais nas sentenças, que

respeitam os requisitos categoriais de um núcleo numa sentença matriz. Concluíram,

portanto, que a relativa livre para ocorrer precisa que o pronome de uma sentença

Page 29: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

29

respeite os requisitos categoriais da sentença matriz e que isso reflete inclusive no uso

ou não da preposição, que se ocorrer, ocorrerá, porque pertence à sentença que lhe

deu origem.

Segundo à perspectiva variacionista, os pesquisadores, dando continuidade a

estudos já existentes, escolheram um corpus diacrônico - o gênero cartas de leitores,

impressas do projeto Para a História do Português Brasileiro (PHPB) da equipe do

Ceará. As cartas analisadas eram correspondentes à primeira e à segunda metades

dos séculos XIX e XX e delas foram analisadas as orações padrão e não padrão. De

início, os pesquisadores tentaram comprovar a hipótese de que a variante não padrão

estava se estendendo também aos dados escritos de informantes cultos, entretanto,

isso não foi possível já que a relativa padrão é dominante no uso das cartas. Para

minimizar essa sensação de que a variante não padrão ainda não é recorrente,

resolveram utilizar as tradições discursivas, considerando nesse caso o gênero carta

de leitor. Determinaram, assim, que a relativa padrão é uma oração que ocorre

propriamente nesse gênero diferentemente da relativa não padrão.

Ainda sob à ótica variacionista, os autores destacam em suas análises a

importância de levar em conta a questão do tempo aparente, em que o fenômeno é

estudado em diferentes gerações; e o tempo real, em que a variante é observada

ao longo do tempo. É de extrema importância destacar uma ideia que também

norteia um dos nossos questionamentos desde os estudos que antecederam essa

tese: o fato de as gramáticas prescreverem que as relativas explicativas são

sempre marcadas por pausa na fala, ao contrário das restritivas. Há destaque para

Page 30: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

30

o fato de Souza (1996) acreditar que fatores morfológicos, sintáticos e semânticos

não são suficientes para estabelecer a diferença entre as orações e, por isso, além

de analisar a curva melódica e a pausa, ela também fez análise acústica aplicada

aos dados de fala informal, semiformal e formal. Souza (1996) por meio do

programa computacional CECIL constatou a existência de orações não restritivas

sem pausas e restritivas com pausa, o que contraria toda literatura revisitada até o

momento e nos faz concluir que a pausa não é fator determinante para a

identificação dessas orações. Até essas análises, os estudos que demonstraram as

diferenças prosódicas eram feitos de forma perceptiva, em que muitas vezes a

pausa poderia ter sido, na verdade, confundida com o silêncio. Tal estudo vai ser

discutido e aprofundado na sua tese de doutoramento, que foi apresentada nos

pressupostos teóricos do presente trabalho. Os estudos abrangem regiões

diferentes, grupos sociais diferentes além das diferenças econômicas e culturais,

mostrando que independente das diferenças observadas todos os falantes fazem

uso das orações relativas padrão, copiadora e cortadora.

Sob à ótica funcional, podemos destacar três trabalhos, são eles:

“Estratégias de relativização no PB: motivações discursivo-interacionais e

cognitivas; “Orações relativas desgarradas no português em uso” e “Orações

relativas em sala de aula em perspectiva funcionalista.

No primeiro trabalho, Estratégias de relativização no PB: motivações

discursivo-interacionais e cognitivas, houve preocupação em mostrar os aspectos

cognitivos que pudessem induzir ao uso de um dos três tipos de relativa ou o que,

Page 31: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

31

em tese, faria uma oração emergir em relação à outra. Dizendo-se de outra forma,

houve preocupação em entender o que levava um falante optar por uma ou outra

oração. Na pesquisa, foi utilizado o corpus D&G Natal e do Rio de Janeiro,

considerando os dados de fala e de escrita de informantes dos três níveis, em que

se pode notar o uso quase que integral da relativa cortadora na fala e, na escrita, a

relativa não padrão quase se igualou à relativa padrão. Para chegar a uma

resposta, os autores analisam os dados à luz do funcionalismo e do cognitivismo.

Estruturalmente falando, a relativa padrão é mais complexa que a cortadora, porque

é mais extensa e, por outro lado, ambas são menos complexas que a copiadora. Do

ponto de vista cognitivo, o autor destaca que a relativa padrão também é mais

complexa que a cortadora, porque envolve, na interação entre os interlocutores, o

reconhecimento e identificação da preposição. Levando em conta, dessa forma, o

fato de os interlocutores terem mais uma demanda para analisar que é o uso da

regência e, por isso, maior esforço cognitivo para poder identificar que o termo

exige uma preposição e depois identificar qual preposição deverá ser usada. Para

ele, a relativa copiadora, é mais complexa em relação à estrutura, é menos

complexa cognitivamente. Para justificar essa conclusão, utiliza-se do princípio da

expressividade retórica ou da marcação expressiva (DUBOIS, VOTRE, 1994), que

se fundamenta no fato de considerar o equilíbrio das tarefas da codificação. Como

no caso da copiadora o nome já é repetido pelo pronome, o falante tem mais

facilidade para identificar, mesmo tendo uma estrutura mais complexa. Outro fator

que vale a pena destacar é que no caso da relativa padrão com preposição, o

falante precisa, além de identificar a regência e a preposição que será usada, voltar

Page 32: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

32

com a preposição para antes do verbo, quando, na verdade, sua posição natural, é

posterior. Isso demanda do falante um maior custo cognitivo do que à cortadora, em

que simplesmente a preposição é eliminada. Assim, o autor conclui que a

ocorrência de um maior número de cortadoras em relação à relativa padrão em

ambiente preposicionado se deve às motivações sociointeracionais, que abrangem

a necessidade de maior clareza, situação comunicativa e pragmática; e de natureza

cognitiva, considerando aqui redução de esforço.

No artigo “Orações relativas apositivas desgarradas no português me uso”,

os autores trabalham essencialmente com as orações relativas que se apresentam

desgarradas, ou seja, orações sintaticamente livres. O corpus é composto de dados

da escrita do Brasil e de Portugal. Há destaque importante no que tange à

nomenclatura adotada, já que pra ela “oração apositiva” é qualquer oração relativa

que apareça isolada da outra oração, independente da nomenclatura que a tradição

gramatical utiliza. Para proceder com a pesquisa, ela se utiliza do conceito de

Unidade de Informação (CHAFE, 1980) – unidade informacional. Segundo essa

teoria, o falante controla tudo por um único foco de consciousness - isso significa

dizer que há um limite de informação que o falante irá conseguir armazenar de uma

única vez. Assim, analisa as funções textual-discursivas e pragmáticas juntamente

com essas unidades de informação. Ela acredita que as orações têm ocorrido

desgarradas, por conta da força de aposto e não porque sejam explicativas ou

restritivas. O aposto, como um adendo, faz com que toda a informação contida nele

funcione como tal e, por ser um adendo, pode estar solto da estrutura à qual se

refere, como uma estrutura suplementar, um epíteto, sendo, portanto, uma unidade

Page 33: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

33

informacional por si mesma. Dessa forma, ela critica firmemente a visão sustentada

por Neves (2000) de que a oração restritiva que segue a um SN aposto é restritiva,

porque para a autora, toda a estrutura, na verdade, é um aposto, porque completa o

SN anterior também aposto, sendo assim uma oração apositiva. O fato é que sem

levar em conta a nomenclatura adotada e o seu compromisso em descrever o

funcionamento da oração, essas orações desgarradas ocorrem para corresponder

às motivações cognitivas e pragmáticas necessárias para satisfazer os objetivos

comunicativos dos interlocutores. Entre as funções observadas, estão relacionadas:

avaliação, retomada e adendo, além das estratégias de argumentação. Ela

comprova que o desgarramento vai funcionar como a clivagem e a topicalização,

servindo à focalização com objetivos comunicativos.

Os autores também discutem o ensino das orações relativas em sala de

aula, sugerindo que as orações sejam vistas de forma mais objetiva, detectando,

assim, o seu real funcionamento no uso da língua. Comprovam que a mera

classificação sintática dessas orações não da conta de suas funções discursivas

e, por isso mesmo, é importante considerar o contexto, a tipologia textual, o

gênero textual, língua falada e língua escrita. Dessa forma, as autoras defendem

um ensino direcionado à metalinguagem, semântica e pragmática, para que

seja, assim, possível desenvolver também habilidades de análise.

Conforme vimos acima, os trabalhos apresentados não têm como objetivo

adotar a Linguística Cognitiva na análise das orações relativas. O presente

trabalho, além de analisar as orações relativas à luz da Linguística Cognitiva,

Page 34: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

34

verifica a existência de outros valores semânticos, que essas orações atribuem

ao referente ou a alguma situação do contexto.

2.2 As adjetivas sob a ótica dos compêndios gerativ istas no PE

2.1.1 Mira Mateus

Mira Mateus (2003) mostra que:

“as relativas restritivas contribuem para a construção do valor referencial da expressão nominal” e que “as orações relativas explicativas exprimem um comentário do locutor acerca duma entidade denotada por um SN, o antecedente da relativa”.1

Nas orações “Os chapéus que estavam no armário desapareceram” e “Lisboa,

que é a capital de Portugal, é uma cidade com uma luz especial” a diferença entre elas

diz respeito ao fato de que as restritivas ou determinativas, como a autora chama, têm

como antecedente um SN quantificado ou determinado, que possui como núcleo um

nome comum. Já as explicativas são apenas um comentário sobre a oração anterior.

Percebemos que essas definições são parecidas com as praticadas pela

tradição gramatical do Brasil. O que ainda não nos auxilia na resolução dos nossos

questionamentos, porque, as propostas teóricas apresentadas até o momento não têm

preocupação em descrever a interação dos interlocutores e as variantes envolvidas na

1 Orações relativas restritivas ou determinativas (Mateus,2003,p.655) e Orações relativas apositivas ou explicativas

de SN (Mateus,2003,p.671)

Page 35: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

35

elaboração dessas orações. Isso, por si só, já demonstra a relevância do nosso estudo

e a importância de uma tentativa de o fazer. Identificar o valor semântico meramente

por pausas, que os autores defendem aparecer na fala, ou, meramente, por estas

“pistas” semânticas apresentadas acima, nos parece um tanto frágil. Arriscaria dizer

que, nessas descrições, parece que a sintaxe antecede à cognição, é como se primeiro

precisássemos das pontuações para que só depois pudéssemos identificar a

explicação e a restrição.

Uma informação importante e que deve ser destacada é a afirmação de que

“restritivas não podem modificar constantes, i.e.,

argumentos com unicidade referencial: nomes próprios,

pronomes pessoais.” (Mateus,2003,p.668)

Em relação a isso, na Gramática da Língua Portuguesa de Mira Mateus et ali

(2003) apresenta o seguinte:

Lisboa, que é capital do país, fica na Estremadura. (2003:668) – oração relativa

explicativa.

Lisboa que eu prefiro é Lapa. (2003:668) – oração relativa restritiva.

Page 36: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

36

A primeira oração é agramatical como oração restritiva e gramatical como

explicativa. Em outras palavras, a autora considera que a oração só pode ser relativa

explicativa. Isso acontece, porque em ambas o antecedente é um argumento de

unicidade referencial, entretanto, a autora considera possível o valor restritivo, já que,

nesse tipo de construção, o antecedente não está sendo utilizado com sua função

identificadora de costume. Dizendo-se de outra forma, na primeira oração, a oração

relativa traz uma informação que é de conhecimento geral, ou seja, é a definição real

do referente. Já no segundo exemplo, a oração relativa apresenta uma informação

nova e particular sobre o referente, mudando seu status. Dessa forma, concluímos que,

se a oração apresenta uma informação diferente sobre o que habitualmente é

conhecido sobre o referente, designando, por exemplo, uma fase ou um estado, a

oração poderá ser restritiva. Vejamos a representação das duas orações acima em

forma de conjunto:

EXPLICAÇÃO RESTRIÇÃO

Lisboa que

todos

conhecem

Lisboa que

todos

conhecem

Lisboa

da

autora

Page 37: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

37

Por isso, voltamos a dizer que o papel do falante nesses casos é de suma

importância, porque a explicação e a restrição até aqui nos parecem cognitivamente

motivadas e, se isso for assim de fato, o conhecimento de mundo do falante é mola

propulsora para considerações explicativas e/ou restritivas. O falante codifica a

restrição ou a explicação a depender da sua bagagem cognitiva sobre o referente. Com

um nome próprio, que faça parte do conhecimento geral, essa identificação como

restrição ou explicação pode ser mais simples do que quando o referente é um nome

comum, já que este depende de um conhecimento compartilhado pelos interlocutores

do discurso.

Consideraremos a partir daqui a necessidade da interação comunicativa para

trabalharmos com a explicação ou restrição. Assim, numa construção como em “os

livros que li ganharam um prêmio” é difícil identificar se há restrição ou explicação por

parte do falante quando não se tem conhecimento da interação comunicativa. Dizendo

de outra forma, fica difícil saber se apenas os livros que (eu) li ganharam o prêmio e

não os outros, e, aí nesse caso, consideramos que há livros lidos por “eu” e livros que

não foram lidos por “eu” ou então consideramos que não há o universo dos livros não

lidos por “eu” e aí o objetivo seria a explicação, ou seja, dizer todos os livros que li

ganharam o prêmio.

Page 38: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

38

Assim, nos modelos teóricos apresentados, podemos dizer que a explicação e a

restrição podem ser representadas pelo esquema do conjunto e subconjunto, de forma

que a restrição é uma parte da explicação.

Nas orações restritivas “O homem de que tu me falaste está a chorar”,

“Compraram várias toalhas com as quais cobriram as mesas”, “Gostei muito da revista

cujo editorial tu escreveste”, “Vê-se o mar da casa onde vivemos”, é possível observar

que, no interior dessas orações, há o argumento dos verbos ‘falaste, cobrir e escrever”,

o qual tem seus valores semânticos recuperados pela relação existentes entre as

orações. Dessa forma, essas orações relativas são um caso de ‘subordinação adjetiva’,

porque ocupam uma posição pós-nominal, possuem valor atributivo e são

modificadores nominais, além de conterem propriedades típicas de uma proposição

como tempo, modo, aspecto e predicação própria. Uma observação sintática

importante que deve ser destacada é o fato de essas orações relativas serem sempre

iniciadas por constituintes relativos ou morfemas-Q, tradicionalmente, designados de

EXPLICAÇÃO RESTRIÇÃO

Page 39: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

39

pronomes, advérbios ou adjetivos relativos como, por exemplo, (a) que – utilizado

como sujeito e como objeto direto, além disso, é o único, segundo a autora, que pode

ter essas funções como em orações do tipo “Encontrei o rapaz que te ligou na semana

passada” (exemplo nosso) e “Encontrei o rapaz que você conhece” (exemplo nosso).

Esse constituinte relativo é o mais polivalente, já que tem outros valores semânticos,

como, por exemplo, o valor consecutivo, na oração “Tenho um livro excelente que me

fez passar no concurso” (exemplo nosso). O “que” também pode ser objeto indireto,

quando regido de preposição como em “O autor a que você se referiu morreu ano

passado”, pode ter função de oblíquo em “Já li a matéria sobre que escreveste aquela

crítica”, pode marcar um locativo como em “Colocou-se um muro no quintal da casa em

que vivemos”; (b) o qual – quando precedido de preposição é oblíquo indireto como

em “Estão a nascer as flores da árvore à qual cortei alguns ramos”, também pode ser

oblíquo em “Já li o livro sobre o qual escreveste aquela crítica”; (c) quem – usa-se com

apenas quando o antecedente for humano e precedido de preposição, exercendo a

função de objeto indireto “Apareceu o homem a quem fizeram tanto mal”, como oblíquo

em “Eis a pessoa sobre quem tanto falaram” e genitivo em “Está ali o homem de quem

perguntaste o nome” ; (d) quanto – utilizado com antecedente constituído de expressão

quantificadora como tudo e todos, pode ser sujeito como em “Tudo quanto aconteceu

me abalou”, objeto direto em “Ela trouxe todos quantos encontrou” e oblíquo em

“Pensei muito acerca de tudo quanto disseste”; (e) onde – é apenas utilizado com o

valor locativo “Vê-se da janela da casa todos os barcos onde navegamos”; (e) cujo –

marca o genitivo e o SN ocorre em início de relativa como em “Está ali o homem cujo

nome perguntaste”. As orações relativas mantêm um nexo anafórico entre a expressão

Page 40: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

40

nominal e o constituinte relativo e um outro nexo que ocorre entre o constituinte relativo

e a categoria vazia, que corresponde ao interior da oração subordinada. Num primeiro

momento, os morfemas relativos ocupam a posição inicial da oração por uma regra de

movimento, devido à necessidade de manter o nexo anafórico com o termo

antecedente. Esquematizada, a oração relativa tem a seguinte representação: SNi

[constituinte relativoi ... [Vi] ...] ... Essa estratégia de movimento que faz com que os

morfemas relativos ocupem a posição posterior ao termo ao qual se referem é mais

produtiva, entretanto, não podemos deixar de mencionar duas outras estratégias

apresentadas pela autora. Trata-se das estratégias da formação de relativas que

deveriam conter SPs na sua posição inicial, mas que, em vez disso, apresentam

apenas o morfema ‘que’ como, por exemplo, na construção “O livro que te falei é o

mais bonito” no lugar de “O livro de que te falei é o mais bonito”, nesse caso, esse

fenômeno recebe o nome de “estratégia cortadora”. Outra estratégia é a resumptiva,

que ocorre com os pronomes pessoais, demonstrativos, advérbios locativos como

ocorre na construção “Temos lá, no meu ano, rapazes que eles parecem atrasados

mentais, quer dizer...”. A primeira estratégia é considerada “marginal” numa perspectiva

purista, segundo a autora, mesmo estando atualmente em uso mesmo entre as

pessoas escolarizadas.

No que diz respeito aos aspectos semânticos, ainda segundo a autora, as

relativas restritivas restringem o conceito expresso pelo nome que a oração vai

modificar, isso reflete diretamente na natureza do antecedente e na possibilidade de a

oração ter um caráter modal. Assim, o antecedente da relativa restritiva será um SN

determinado ou quantificado e o núcleo desse SN deverá ser um nome comum o que

Page 41: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

41

faz com que a oração relativa restritiva não possa modificar argumentos com unicidade

referencial: nomes próprios, pronomes pessoais.” Para entender melhor essa ideia,

devemos observar os exemplos fornecidos pela autora: “Lisboa que é capital do país

fica na Estremadura” e “Maria Betânia que é cantora brasileira tem um novo

espetáculo”, essas orações são agramaticais como orações relativas restritivas, mas

gramaticais como orações relativas explicativas. Entretanto, nas orações como “ A

Lisboa que eu prefiro é Lapa” e “A Maria Betânia que vimos em Lisboa foi maravilhosa”

cabe a restrição, já que, nesses casos, mesmo que os antecedentes sejam nomes

próprios, o que obrigaria a ocorrência de oração explicativa, os nomes “Lisboa” e

“Maria Betânia” não estão sendo utilizados na função identificadora habitual de cada N

próprio, o que demonstra apenas uma fase ou um estado da entidade referida e não

uma característica permanente. Essa observação enriquece substancialmente nossa

pesquisa no que diz respeito aos aspectos semânticos que os nomes podem carregar e

os aspectos semânticos que podem adquirir e, principalmente, nos faz levar em conta a

participação direta do falante no que diz respeito à identificação do referente e do seu

conhecimento de mundo. Se os interlocutores são os responsáveis pela organização

do discurso juntamente com os aspectos de tempo, modo e espaço, podemos concluir

que situações pragmáticas podem interferir nas interpretações semânticas que

daremos às orações relativas e seus contextos e chegando à conclusão que os

aspectos semânticos envolvidos podem ir além da explicação e da restrição.

Ainda considerando os aspectos semânticos, as orações restritivas têm um

caráter modal ou assertivo. A relativa terá um caráter assertivo

Page 42: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

42

“quando o V da relativa está no presente do indicativo

e quando o antecedente tem um caráter específico”

como em “O livro que li nas férias ganhou prêmio”.

(Mateus, 2002,p.669)

Já as relativas com conjuntivo têm um valor modal como em “Um leão que

tenha fome é perigoso” (Mateus,2003,p.670). Dessa oração inferimos um caráter

hipotético correspondente a “Se o leão tiver fome, é perigoso” (Mateus,2003,p.670), o

mesmo ocorre na oração “Por cada artigo que escrever, ganharei 50 euros”, em outras

palavras, “Se escrever um artigo, ganharei 50 euros” (Mateus,2003,p.670). Se

mudarmos o tempo do verbo e fizermos uma oração como “Por cada artigo que tivesse

escrito, teria ganho 50 euros” (Mateus,2003,p.670), nessa oração, por exemplo, o

caráter é contrafactual. Em outras palavras, “Por cada artigo que tivesse escrito, mas

não escrevi...”. Além disso, uma oração como “Procuro um sintaticista que venha fazer

um seminário ao Centro de Linguística” (Mateus,2003,p.670) tem o conjuntivo ligado ao

tipo de V da F superior, o V procurar na oração é “criador de um universo de referência”

(Mateus, 2002:670), nessa construção o SN designa um conjunto de propriedades que

definem um conceito individual. Dessas análises vem a conclusão de que apenas as

restritivas têm antecedentes com valor indefinido (não específico) e expressões

quantificadas, isso nos leva a concluir que as orações relativas terão sempre

antecedentes definidos, conhecidos ou determinados.

Page 43: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

43

As orações relativas apositivas ou explicativas de SN exprimem um

comentário do falante sobre o referente, no caso, o antecedente da relativa, não

corroboram na formação do valor referencial do nome antecedente ao pronome

relativo, além disso, são marcadas na oralidade por pausas e na escrita por vírgulas. O

termo antecedente nessas orações é semanticamente definido, podendo ser um nome

próprio, um pronome pessoal, demonstrativos ou possessivos. Curiosas são as

seguintes afirmações:

“O antecedente duma apositiva não pode ser

adjetivo nominalizado; quando isso acontece, a relativa

só pode ser interpretada como restritiva” e a segunda

afirmação “Também as apositivas não podem estar

associadas a certas expressões idiomáticas como tirar

partido de, tomar parte em, fazer caso de, que só

podem surgir em restritivas”. (Mateus, 2003, p.671)

Em relação à primeira observação, as orações: (a) *O meu amigo deixou de ser

o distraído, que era antigamente e (b) O meu amigo deixou de ser o distraído que era

antigamente., como se trata de uma adjetivo nominalizado, a autora afirma que a

relativa só poderá ser restritiva. Já as apositivas admitem a pronominalização do

antecedente, ao contrário das restritivas. Entretanto, notamos que se a oração fosse “O

meu amigo deixou de ser o distraído, que todos sabemos”, caberia como explicativa, já

que a informação é compartilhada pelos interlocutores. Isso demonstra que a

Page 44: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

44

classificação de agramaticalidade não está no fato de o adjetivo ser nominalizado e,

sim, na formação da sentença que a faz inaceitável ou não. Por fim, vale destacar que

a autora menciona que as orações relativas restritivas e explicativas são igualmente

introduzidas por diversos pronomes relativos - que, o qual, as quais, cujo e outros.

Tendo examinado a obra de Mateus (2003) no que concerne ao assunto, vamos

analisar o que comenta Raposo (2013).

2.2.2 Raposo

Seguindo a mesma linha de raciocínio de Mira Mateus (2003), Raposo (2013)

afirma que orações relativas restritivas modificam um nome ou um grupo nominal e

possuem a mesma função semântica de um adjetivo qualificativo. Assim, essas

orações atribuem uma propriedade ao grupo denotado e o restringem, são também

introduzidas por pronomes relativos, que têm a função de retomar o nome ou grupo

nominal modificado.

Em:

[SN OS [GN chocos Or rel que eu comi ontem]]] estavam estragados,2

a oração relativa está na mesma oração do grupo nominal, isso acontece,

porque tanto a oração relativa quanto o nome nuclear introduzem propriedades que se

relacionam com o referente do sintagma, do ponto de vista semântico.

2 Raposo,2013,p.2066

Page 45: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

45

As orações reativas podem ainda ter um antecedente explícito ou não como

em :

(a) “Eu elogiei [SN alguém que fez os trabalhos de casa]; e

(b) “Eu elogiei [quem fez os trabalhos de casa].

Na primeira oração o antecedente “alguém” está explícito e, na segunda oração,

o pronome relativo quem, por ter um traço semântico mais humano, faz com que

possamos subentender um antecedente. Um avanço nos estudos de Raposo (2013)

em relação aos anteriores, já descritos no presente trabalho, é o destaque para a

diferença prosódica e sintática que acarretam diferenças semânticas. Acreditamos que,

na verdade, o contrário ocorre. Em outras palavras, acreditamos que ocorrem

diferenças semânticas, pragmáticas, sintáticas e prosódicas, mas que elas ocorrem

simultaneamente. Entendemos que não há ruptura entre as orações relativas restritivas

e seu antecedente, constituindo assim um todo sintático e prosódico, ao contrário do

que ocorre com as orações relativas explicativas. Entretanto, não acreditamos que

esses sistemas funcionem de forma estanque e hierárquica, pelo contrário,

acreditamos na independência desses sistemas e no seu funcionamento simultâneo. O

autor acrescenta que as orações relativas de antecedente implícito são sempre

restritivas, porque constituem o único material que cria a referência do sintagma

nominal. No nosso ponto de vista, isso é possível, quando analisamos as orações

Page 46: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

46

desvinculadas dos contextos em que foram criadas. Acreditamos que, a depender do

contexto e do conhecimento que os interlocutores possuam sobre o referente, mesmo o

antecedente implícito será recuperado e assim poderá ocorrer a restrição ou a

explicação.

As orações relativas, segundo o autor, podem ser relativas de nome – em

que propriedades nominais são atribuídas ao referente; e relativas de frase – sempre

apositivas. A oração ‘a’ representada acima é uma relativa de nome e uma relativa de

frase é “As pessoas continuam a procurar grandes cidades, o que causa desertificação

rural”. Nessa última oração, vemos que o constituinte relativo se refere a toda oração

anterior “As pessoas continuam a procurar grandes cidades”. Essas orações relativas

de frase são sempre explicativas, porque não se referem a entidades do discurso e não

podem restringir o referente.

Podemos resumir as explicações do autor no seguinte quadro:

Orações relativas apositivas

Orações relativas restritivas

Antecedentes frásicos Sim Não Antecedente predicativo adjetivo

Sim Não

Adjetivo nominalizado, introduzido por um determinante

Sim Sim

Pronome pessoal de 3 pessoa

Sim Não

Pronome de segunda pessoa

Sim Só com vários interlocutores

Pronome de primeira pessoa

Sim Só se o falante quiser individualizar características da sua personalidade.

Primeira pessoa do plural

Sim Identifica um conjunto dentro de um subconjunto

Nomes próprios Sim Sim

Page 47: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

47

Algum, cada, nenhum, qualquer...

Não Sim

As orações relativas apositivas e restritivas se diferenciam, principalmente,

pela referência realizada pelo sintagma nominal. Enquanto nas apositivas a referência

é feita pelo sintagma nominal existente, nas orações restritivas a referência é realizada

pelo sintagma nominal que contém a oração relativa. Isso é verificado nos exemplos “A

minha irmã, que vive na Alemanha, gosta muito de cães” e “A minha irmã que vive na

Alemanha gosta muito de cães”. Na primeira oração, o grupo nominal é “a minha irmã”

e, na segunda, é “minha irmã que vive na Alemanha”. Nesses exemplos, o autor vai

levar em conta os valores discursivos em que as orações possam ter sido criadas, a

oração apositiva funciona semanticamente como um caracterizador do sintagma

antecedente, no caso, “A minha irmã”, fazendo inclusive referência a ele, mas não

interferindo no seu valor referencial, já que o artigo, nesse caso, não contribui para

identificação do referente, que é um sintagma nominal completo . Parte-se, assim, da

ideia de que “A minha irmã” é um sintagma nominal completo, porque o artigo definido

contribui para esse fim. Com a oração restritiva, o funcionamento é diferente, a oração

relativa restritiva é introdutora de uma nova propriedade e essa nova propriedade se

relaciona com as propriedades já apresentadas pelo grupo nominal antecedente e

restringe a extensão do conjunto de base. O autor então conclui que a identificação

feita do referente, na oração restritiva, ocorre devido à existência da interseção de dois

conjuntos (o das entidades irmãs do falante e o das entidades que vivem na

Alemanha). Conclui também que a presença do artigo definido contribui para essa

Page 48: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

48

identificação, já que sua presença na oração demonstra que o interlocutor tem

condições de identificar esse referente. Nesse ponto, vemos duas diferenças básicas

entre as duas orações: (a) na oração relativa apositiva, a referência se dá pelo

sintagma nominal antecedente; e (b) nas orações restritivas, a identificação se dá pelo

sintagma nominal que contém a oração relativa restritiva. No exemplo dado, as

representações apresentadas pelo autor são as seguintes3:

[SN [SN A minha irmã] [Or rel ,que vive na Alemanha,]] gosta muito de cães.

[SN A [SN minha irmã [Or rel que vive na Alemanha]]] gosta muito de cães.

A presença do artigo, segundo o autor, destaca uma diferença semântica

importante entre as orações relativas. Nas orações apositivas, é possível inferir que a

informação se refere ao fato de “minha irmã” significar apenas “ser irmã do falante”, ou

seja, o falante tem apenas uma irmã, e “vive na Alemanha” é apenas uma informação

adicional. Já nas orações restritivas, esse mesmo fato não ocorre, já que o autor

mostra a possibilidade de inferir que, na verdade, o falante deseja informar que tem

apenas uma irmã que vive na Alemanha e que ele tem uma ou mais irmãs que não

vivem no mesmo lugar. Dessa forma, na oração relativa restritiva, o artigo se aplica a

todo conjunto “minha irmã que vive na Alemanha” enquanto que nas orações apositivas

o artigo definido se aplica apenas ao sintagma “minha irmã”.

3 Raposo, 2013, p. 2110

Page 49: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

49

Tudo que foi defendido por Raposo (2013) até aqui pode ser representado

pelo esquema abaixo:

Situação idêntica é observada nas orações, “Os alunos, que tiveram nota

positiva, vão passear no fim de semana”4 e “Os alunos que tiveram nota positiva vão

passear no fim de semana”5, ambas são diferentes semanticamente. Na primeira

oração, segundo o autor, fica clara a aposição, já que é nítida a intenção de apenas

informar um dado adicional sobre o sintagma “alunos”, previamente identificado num

determinado discurso e, assim, informar que ‘todos’ os alunos vão passear. Isso, por

outro lado, já não ocorre com a oração restritiva, porque esta oração restringe, na

verdade, a denotação extensional do sintagma ‘alunos’ ao grupo daqueles que tiveram

4 Raposo, 2013, p. 2112

5 Raposo, 2013, p. 2112

EXPLICAÇÃO RESTRIÇÃO

Page 50: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

50

nota positiva, ou seja, nem todos os alunos vão passear, mas apenas aqueles que

tirarem notas positivas. Há ainda que se destacar a importância dada pelo autor à

presença do artigo definido ou indefinido:

“O antecedente definido de uma oração relativa

apositiva é suficiente para identificar o referente, sem o

apoio da oração relativa. Nesse caso, a oração relativa

veicula informação suplementar sobre o referente.

Numa construção deste tipo (a rapariga, que não

gostava de salmão, comeu sardinhas), o sintagma

nominal antecedente definido (a rapariga) tem o

estatuto de informação partilhada (entre falante e

ouvinte), próximo de um tópico-comentário. A frase

acima, de facto, só é (normalmente) produzida num

contexto em que não haja qualquer dúvida, para os

diferentes interlocutores, acerca da identidade da

rapariga de que se está a falar acerca desta fazem-se

dois comentários: não gosta de salmão e comeu

sardinhas.” (Raposo, 2010, p. 2113)

Dentro dessas sentenças com artigo definido, é possível concluir que as

orações relativas apositivas adicionam informação nova, mesmo que o sintagma

nominal antecedente seja compartilhado pelos interlocutores (evidenciado pela

Page 51: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

51

presença de artigo definido) e que a oração restritiva, dentro de uma construção

definida, é uma informação compartilhada e não nova porque está dentro do grupo

nominal antecedente. Assim, em ‘a rapariga, que não gostava de salmão, comeu

sardinhas.’ A oração adjetiva é informação nova e em ‘A rapariga que não gostava de

salmão, comeu sardinhas.” Apenas ‘comeu sardinhas’ é informação nova.

Os artigos indefinidos são naturalmente introdutores de sintagmas nominais

que apresentam informação nova no discurso. Nesse contexto, as orações relativas

restritivas constituem também informação nova, consequentemente, informação que

não pode ser identificada pelo ouvinte.

Contudo, essa observação de definitude do antecedente não procede, visto

que, como mostrado em Cunha Lima (2004), o referente novo pode ser introduzido por

artigo indefinido:

“Maria consultou uma vidente. Uma vidente famosa”.

A expressão “uma vidente” não introduz informação nova, já que recupera a

mesma expressão na oração anterior. A identificação como referente novo ou velho vai

depender de outros fatores presentes no discurso.

Outro fator interessante em Raposo (2013) é o funcionamento dos pronomes

pessoais como antecedentes das orações relativas. Os pronomes pessoais de terceira

pessoa, por exemplo, não podem ser antecedentes de uma oração relativa restritiva,

porque por si só são de referência autônoma e, consequentemente, não abrem brechas

para modificadores. Esse fato se aplica aos pronomes pessoais em geral, já que eles

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52

próprios são sintagmas nominais autônomos. Dessa forma, os pronomes pessoais

estão sempre condicionados ao discurso, em outras palavras, o uso de uma oração

relativa restritiva só ocorrerá, caso o falante precise dividir um determinado grupo em

subconjuntos. Para exemplificar isso melhor, Raposo (2013) exemplifica com as

seguintes orações: (a) “Ela que vive na Alemanha gosta muito de cães” e “Tu que estás

sentado, levanta-te imediatamente!”. Na primeira oração, o pronome “ela” é utilizado na

substituição do sintagma “minha irmã” e demonstra que o pronome pessoal é completo,

ou seja, ele tem referência autônoma o que não permite um modificador. Na segunda

oração, o autor demonstra que a única possibilidade de se realizar uma restrição com

pronome pessoal é com casos de vocativo, em que o falante tem diversos ouvintes e

precisa destacar algum deles e, nesse caso, extrair um de vários, em outras palavras,

destacar um subconjunto dos diversos “tu” presentes no discurso. A mesma situação

ocorre com o pronome pessoal de primeira pessoa, a restrição se torna inviável, já que

não há dificuldades para o ouvinte identificar o falante, entretanto, caso o falante queira

destacar algo da sua personalidade a restrição será possível como em “o meu eu que

odeia Dali não me deixa gostar de Pink Floyd”.

A inovação clara na obra de Raposo (2013) é o fato de ele assumir que com

nomes próprios as duas orações relativas são possíveis, destacando que o falante

utiliza uma ou outra oração a depender do grupo que queira destacar. Assim, orações

restritivas vão ocorrer se o falante quiser destacar alguma pessoa/local de um conjunto

maior de pessoas/locais que tenham o mesmo nome. Dessa forma, sentenças como

“As Anas que eu conheço são todas muito simpáticas” representam que o falante retira

o grupo “A Anas que eu conheço” de um grupo maior de pessoas que se chamam

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53

“Ana” e sentenças como “As Anas, que estão doentes, não vieram trabalhar”, nessa

última, o falante quer destacar na empresa há varias pessoas chamadas ‘Ana’ e que

todas elas estão doentes”.

Seguindo esse mesmo raciocínio, entendemos o motivo de em sintagmas

nominais de valor indefinido ocorrerem apenas relativas restritivas. Com sintagmas não

referenciais que podem ser introduzidos por quantificadores como ‘algum, cada,

nenhum ou qualquer’ como em “Nenhuma criança que goste/gosta de gelados, diz que

não a um perna de pau” só podem ocorrer orações restritivas exatamente porque esses

quantificadores precisam ter uma referência definida para serem compreendidos pelo

ouvinte no discurso. Além dessas, também exigem orações restritivas casos em que o

antecedente do pronome está implícito como em “Quem me deu aquele livro não me

conhece de todo”. Isso acontece por questões óbvias: quando o falante entende que a

informação sobre o antecedente é irrelevante ou quando este pode ser recuperado no

discurso, não há necessidade de se acrescentar uma informação nova sobre o

referente, deixando claro, assim, que sua referência já é definida pelo próprio discurso.

Outro aspecto importante a ser destacado sobre as orações relativas está

relacionado com a estratégia cortadora e com a estratégia de retoma. A primeira

estratégia consiste na retirada da preposição que deveria estar presente, segundo as

prescrições gramaticais tradicionais, nas orações relativas quer restritivas quer

apositivas. Exemplificando, teríamos as seguintes sentenças “Não havia dia nenhum

que não saísse cataplanas” e “Porque há coisas na cultura americana que eu

realmente não gosto. Observe que nessas sentenças é previsto que apareça as

Page 54: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

54

preposições “em” e “de” nas orações relativas, respectivamente. Já a segunda

estratégia – de retoma – ocorre, porque um pronome pessoal retoma na oração relativa

o pronome relativo “que” como em “Tenho uma prima que ela é que me deu esse livro,

nessa oração, o pronome “que” retoma o pronome “ela”.

Ainda em relação ao antecedente das orações, nota-se que as orações

relativas apositivas podem ter antecedentes frásicos e um adjetivo predicativo

enquanto as restritivas não. O autor destaca ainda que um adjetivo só pode ser

antecedente de uma oração relativa restritiva se for nominalizado e introduzido por um

determinante como no exemplo “Já não sou a ingênua que fui”. Vale ressaltar que,

nesse ponto, Raposo entra em discordância com Mira Mateus, como já observamos

anteriormente.

No presente trabalho, nos interessamos apenas pelas orações relativas

introduzidas pelo pronome relativo “que” com antecedente expresso, já que nosso

objetivo é mostrar as motivações semânticas e pragmáticas envolvidas na escolha do

falante por uma oração relativa restritiva ou explicativa.

Até aqui verificamos que em nenhuma das descrições analisadas acima há

preocupação em discutir, apresentar e ou analisar as motivações pragmáticas e

semânticas envolvidas na construção dessas orações, melhor dizendo, não vemos um

direcionamento dos autores para as motivações que fazem com que falante codifica

por uma oração relativa apositiva ou uma oração relativa restritiva no momento em que

profere essas sentenças no seu discurso. Dizer apenas que elas se diferenciam em

relação aos aspectos sintáticos e que a semântica é prestigiada com a presença ou

Page 55: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

55

ausência da pontuação é um tanto raso frente a toda complexidade que a Língua

Portuguesa apresenta, quando consideramos a língua como um sistema complexo

motivado cognitivamente e que sofre a pressão do uso, servindo às necessidades

comunicativas dos seus falantes. Dessa forma, percebemos que analisar as orações

relativas, sob a perspectiva semântica, considerando apenas a natureza do referente, é

frágil a partir do momento em que passamos a considerar o papel dos interlocutores

como instrumento fundamental para a realização e efetividade da comunicação. O que

move a nossa pesquisa linguística é o fato de que essas propriedades formais não

podem ser plenamente compreendidas sem olharmos para os contextos

extralinguísticos em que foram criadas (situações de fala). Portanto, para nós, as

orações relativas são o resultado dessas interações comunicativas e todos os fatores

que a envolvem e, por isso, não podem se limitar apenas à explicação e a restrição.

Em nossas análises, vamos identificar que as orações relativas no corpus analisado,

além de explicativas e restritivas, podem também ser relativas de ressalva, relativas

argumentativas e relativas consecutivas

Page 56: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

56

3. Pressupostos teóricos

Para tentar resolver esse problema, passaremos a analisar o elemento

informacional e seu papel na estrutura conversacional nas instanciações das relativas,

e, portanto, tomaremos por base especificamente (embora não exclusivamente)

Lambrecht (1994), baseado em Halliday (1967,1970,1976) e Prince

(1978,1979,1981,1983), Castilho (2010) e Souza (2009). Além disso, pensaremos (a)

emergência dos fatores intervenientes nas determinações das seleções dos falantes

por quais relativas serão realizadas e (b) veremos como a pausa é repensada e, de

certa forma, desfeita para a classificação das orações em explicativas e restritivas.

Para tal, lançaremos mão da arquitetura de gramática proposta por Castilho (2010). E

do trabalho de Souza (2009), respectivamente.

A justificativa para o não exclusivamente deve-se ao fato de que essa tese

perpassa a formação da autora em linguística cognitiva, pois, pressupõe-se, o tempo

todo, o conhecimento da autora com os princípios basilares da LC, como, por exemplo,

a predominância da semântica sobre os outros módulos de gramática, a não

segmentação entres os outros vários componentes da gramática, a existência de MCI

(que aparece no trabalho como existência de conhecimento dos sujeitos que podem

ser partilhados ou equalizados), principalmente.

Page 57: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

57

3.1 O status informacional do referente

Quando o assunto é oração relativa, fica mais do que evidente a necessidade de

se falar em status informacional do referente, já que a oração relativa se presta a

codificar seu significado a depender do contexto. Lambrecht (1994), preocupado com

as opções existentes no sistema linguístico as quais permitem que os falantes se

expressem de forma efetiva, propõe a teoria da relação entre a estrutura da sentença e

os contextos linguísticos e extra-linguísticos. Para isso, é importante considerar nas

análises das estruturas da língua as diferentes formas gramaticais que ocorrem em

diferentes circunstâncias do discurso. Assim, quando se fala em discurso, precisamos

considerar o papel do falante, do ouvinte, a bagagem cultural deles e as situações

pragmáticas envolvidas. Por isso, a estrutura de uma frase reflete de forma sistemática

e teórica interessantes hipóteses do efeito do ato de um falante sobre o estado do

ouvinte, devendo-se considerar, em níveis semânticos e pragmáticos, que a produção

do enunciado está relacionada ao conhecimento e à consciência dos interlocutores no

momento da interação comunicativa. Por acreditarmos também nessa relação, levamos

em conta o que Lambrecht apresenta como estrutura de informação, usando um termo

introduzido por Halliday (1967). Entendemos que no componente de estrutura de

informação da linguagem, as representações conceptuais dos estados de coisas

devem passar por estruturação pragmática, de acordo com os contextos em que os

interlocutores estão envolvidos. Depois de processadas as ocorrências pragmáticas,

somadas à compreensão e à consciência dos falantes, no momento em que as

sentenças são proferidas, as sentenças são, então, expressas como objetos formais

com estruturação morfossintática e prosódica.

Page 58: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

58

Para que fique mais clara a forma como a relação falante/ouvinte se processa, é

importante destacar quatro conjuntos levantados por Lambrecht (1994). O primeiro

conjunto diz respeito à informação proposicional, que devemos considerar a

pressuposição pragmática e afirmação (declaração) pragmática, que, por sua vez,

estão relacionados aos pressupostos do falante sobre o estado de conhecimento e de

consciência do ouvinte no momento de um enunciado. O segundo conjunto é o de

identificabilidade e ativação, este está relacionado aos pressupostos que o falante

levanta em relação à natureza das representações dos referentes linguísticos, que o

ouvinte é capaz de reproduzir, além claro, de considerar as constantes alterações que

podem ocorrer no momento da conversação. O terceiro conjunto é o do tema

relacionado à pragmática de tematicidade entre os referentes do discurso e as

proposições em determinados contextos discursivos. O quarto conjunto é o do foco.

Essa teoria permite ir além da descrição de estruturas gramaticais, combinando

ideias de abordagens formais e de abordagens funcionais, demonstrando, assim, que o

componente de estrutura de informação pode estabelecer uma integração possível e

significativa com um ou com os quatro conjuntos citados anteriormente. E para que isso

fosse efetivo, Lambrecht recupera a teoria de Halliday (1985), que considera apenas

duas categorias para o status informacional “novo” e “dado”. A informação “dada” é

aquela conhecida/identificada e a informação “nova” é aquela que não é conhecida ou

não pode ser recuperada. Como se sabe há discordância na teoria linguística sobre a

natureza do componente da linguagem a que Lambrecht (1994) se refere como

estrutura de informação. Isso ocorre, porque algumas correntes teóricas estão

interessadas na relação entre a forma linguística e os estados mentais dos falantes e

Page 59: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

59

ouvintes e outras lidam simultaneamente com aspectos formais e comunicativos da

linguagem. Lambrecht (1994) adota a estrutura de informação, iniciada com Halliday,

porque direcionará sua pesquisa para as implicações estruturais da análise do

discurso-pragmático e associa à perspectiva teórica de Prince. De acordo com Prince,

a estrutura de informação tem a ver com a adaptação que um emissor faz de um

enunciado para atender às necessidades particulares assumidas pelo receptor

pretendido. Em outras palavras, a estrutura de informação reflete hipóteses do

remetente sobre hipóteses e crenças e estratégias do receptor (Prince, 1981). Sendo

assim, se a estrutura de informação reflete essas hipóteses, isso quer dizer que a

estrutura de informação está interessada na forma como os enunciados são

interpretados mentalmente pelos falantes e ouvintes.

O que para nós é fundamental na teoria apresentada é a observação que a

estrutura de informação não está apenas preocupada com o conteúdo lexical e

proposicional, mas com a forma como o conteúdo é transmitido, levando em conta

falante/ouvinte e as hipóteses a respeito dos estados mentais desses interlocutores.

Analisaremos as orações relativas, considerando o aspecto do status do referente, a

partir desse “estado de coisas” criado na mente do ouvinte e que o falante tem ou não

a necessidade de atualizar constantemente para que a comunicação seja efetiva,

viabilizando o compartilhamento do mesmo status informacional. Assim, precisaremos

considerar nas nossas análises a bagagem informativa dos interlocutores e as

ocorrências pragmáticas, que são determinantes para estrutura formal da sentença.

Para falar em ocorrência pragmática, é preciso também falar em Pragmática, teoria

intimamente associada ao estudo do significado, procurando entender como alguns

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60

dados são expressos na conversação a depender das circunstâncias do discurso,

entendendo, assim, como alguns dados são expressos de uma forma em detrimento de

uma outra forma (morfossintática ou prosódica).

Para apresentar a estrutura de informação, Lambrecht (1994; 13:14) propõe o

seguinte exemplo:

“Consider the following real-life situation. At a bus

stop, the departure of a crammed bus is delayed

because a woman loaded down with shopping bags is

boarding very slowly. Turning to the impatient

passengers in the bus, the woman utters the following

sentence with an apologetic smile: My car broke

down.”6

Reescrevendo a mesma oração em italiano e em francês, respectivamente: Mi

si è rotta La Macchina e Jái ma voiture qui est en panne.7 Segundo o autor, a situação

e a intenção comunicativa são idênticas nos 3 exemplos, ambos têm o mesmo

significado, funcionando, portanto, de forma idêntica semântica e pragmaticamente.

6 “Considere uma situação da vida real. Num ponto de ônibus, a saída de um ônibus abarrotado está atrasada, porque uma mulher carregada

de bolsas de compras está embarcando muito lentamente. Virando-se para os passageiros impacientes no ônibus, a mulher pronuncia a

seguinte frase com um sorriso de desculpas: – meu carro quebrou.”

7 Lambrecht (1994:14)

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61

São semanticamente iguais, porque expressam o mesmo estado de coisas,

estabelecendo, assim, a condição de verdade. A pressuposição pragmática ocorre pela

própria situação cultural, em que as pessoas do discurso estão envolvidas, ou seja, é

esperado pelos interlocutores que as pessoas tenham carro e, consequentemente, que

possam inferir que o carro da senhora em questão não está em condições de uso

naquele momento. Entendido isso, é possível concluir que a informação fornecida pela

mulher serve para explicar seu comportamento em relação ao atraso provocado para a

saída do ônibus, já que ela não pretende dizer efetivamente às pessoas que seu carro

está quebrado. O estado do carro é relevante, na verdade, enquanto explica a situação

compartilhada entre a mulher e as pessoas do ônibus. Dessa forma, podemos notar

que a ocorrência pragmática é crucial na estruturação gramatical da sentença nas três

línguas.

A identificabilidade e estado de ativação das representações dos referentes do

discurso na mente dos participantes e as relações pragmáticas de tópico e foco são

importantes para a análise da estrutura de informação, entretanto, nós não

trabalharemos com a estrutura tópico-foco, mas manteremos nossa atenção ao fluxo

informacional, já que estamos mais preocupados com as cadeias da informação que

intervêm na organização do discurso. Para isso, vamos priorizar o papel dos

interlocutores, o lugar, o tempo e as circunstâncias em que o discurso ocorre, além das

expressões linguísticas. Consideramos que as representações linguísticas, criadas nas

mentes dos interlocutores, no momento em que se dá a comunicação, viabilizam a

transmissão de informações interpretadas ou inferidas na interação comunicativa.

Page 62: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

62

Lambrecht (1994) considera que a proposição expressa pelas orações relativas

restritivas são “pressupostas”, ou seja, presume-se que as informações já sejam

conhecidas pelo ouvinte. Dessa forma, na oração:

“I finally met the woman Who moved in downstairs”8,

a intenção do falante é comunicar ao ouvinte que encontrou o novo vizinho,

sobre o qual ambos já haviam conversado - outro fator importante a destacar é que o

ouvinte já sabe que o vizinho é uma mulher. Ao usar a oração restritiva, o falante tem

certeza que o ouvinte já sabia que alguém teria se mudado para o andar de baixo. Por

outro lado, autor menciona que, se o falante não tivesse essa certeza, ele deveria

informar ao ouvinte algo como “Someone moved in downstairs” ou “It´s a woman”.

Observe-se, pois, que para Lambrecht as orações restritivas são ligadas à informação

velha e as orações explicativas são ligadas ao novo.

Importante notar que a verificação de tais hipóteses no português brasileiro

contribuem para a especificação de sua estrutura, já que, conforme Talmy (1983,1985,

2000:242), as línguas se diferenciam tipologicamente a partir das estruturações das

suas conceptualizações. Talmy cita que em inglês a oração “eu atravessei o rio

nadando” tem de ser proferida como “I swam across the river”, sendo que se

traduzirmos literalmente do inglês para o português e vice-versa teríamos o seguinte:

“eu nadei através do rio” e “I acrossed the river, swiming”, na primeira o significado é

completamente diferente do original e a segunda é agramatical na língua inglesa.

8 Lambrecht (1994: 51)

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63

Ainda analisando a oração restritiva ““I finally met the woman who moved in

downstairs”, o autor se questiona o motivo então de o falante utilizar a oração relativa

restritiva, se o ouvinte já é detentor da informação. Ele chega à conclusão de que a

construção ocorre para que o ouvinte determine o referente da frase “the woman”,

relacionando-o a algo que não deve estar atento, no momento em que o enunciado é

produzido. Nota-se, assim, que Lambrecht (1994) vai além da estrutura convencional

da conceptualização, porque considera a necessidade de organizar o discurso em

função dos julgamentos feitos sobre a atenção e as possibilidades de entendimento do

ouvinte na construção do significado.

Dessa forma, destacamos dois conceitos básicos e fundamentais para o

entendimento da seleção de orações relativas no momento do discurso. O primeiro é a

pressuposição pragmática, que consiste em sentenças que surgem, quando o falante

assume que o ouvinte já conhece a informação antes mesmo da elaboração da

sentença. O segundo é a declaração pragmática – em que o ouvinte espera saber ou

conhecer a informação dada pelo falante (entenda-se que a informação dada é aquela

que tem uma representação mental idêntica compartilhada entre os interlocutores).

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64

3.2 A Gramática Multissistêmica

A teoria Multissistêmica, apresentada na Gramática do Português Brasileiro por

Ataliba T. de Castilho (2010), considera que a gramática, o léxico, o discurso e a

semântica integram quatro sistemas linguísticos, levando em conta, é claro, que na

gramática temos fonologia, morfologia e sintaxe. E, exatamente, por isso, essa teoria é

importante para o presente estudo. Se fôssemos trabalhar apenas com a sintaxe,

semântica ou pragmática, na análise dos nossos dados, não teríamos resultados

satisfatórios para demonstrar outras possibilidades semânticas que as orações

relativas podem ter nos contextos. Se analisássemos apenas do ponto de vista

sintático, por exemplo, perderíamos a interação social em que se dão as estruturas

linguísticas, e nos concentraríamos apenas nas estruturas cristalizadas na língua, não

levando em conta, portanto, as interações discursivas que viabilizam as sentenças

linguísticas. Tais interações discursivas são fundamentais para a compreensão do

modo como a língua representa as categorias cognitivas, porque possuem o emissor e

o receptor como agentes fundamentais na realização das construções linguísticas.

Somando-se esses fatores, é importante considerar a pragmática nas nossas análises,

porque uniremos a interação comunicativa aos elementos envolvidos na comunicação.

Isso confirma, portanto, no nosso estudo, a inviabilidade da análise de sentenças

descontextualizadas dos ambientes em que foram criadas.

Castilho (2010) recupera Halliday (1974:98 e SS), quando propõe uma mudança

de enfoque, relacionada à interação comunicativa, valorizando as entidades

participantes do ato discursivo: emissor, receptor e a variante linguística. Assim,

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65

respaldado em análises, pesquisas e estudos, Castilho (2010) lança a teoria

multissistêmica funcionalista-cognitivista. Vejamos:

O DSC é o dispositivo sociocognitivo que afeta todos os sistemas linguístico. No

esquema acima, nota-se que os sistemas linguísticos podem trabalhar uns com os

outros e se combinarem entre si, já que não existe uma hierarquia entre eles. E para

sustentar essas ideias, o autor considera que a língua se fundamenta num aparato

cognitivo; a língua envolve uma competência comunicativa; as estruturas linguísticas

não são objetos autônomos; as estruturas linguísticas são multissistêmicas,

ultrapassando os limites da gramática; a explicação linguística deve ser buscada numa

percepção pancrônica da língua.

A língua se fundamenta num aparato cognitivo, porque as línguas naturais

apresentam aspectos de tempo, pessoa, coisa, espaço e, mesmo que alguma dessas

características mude, esses aspectos permanecerão, porque são atributos da própria

raça humana. Tais características são estudadas pela Linguística Cognitiva (LC), que

considera o conhecimento de mundo associado às variantes linguísticas e, assim, à

Semântica

Discurso

Léxico DSC

Gramática

Page 66: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

66

medida que analisamos construções linguísticas, considerando as variantes de tempo,

modo, lugar, espaço, pessoa e os participantes da interação comunicativa, chegamos

mais próximos dos aparatos cognitivos da língua, que permitem um desenvolvimento e

aprofundamento teórico e prático; e, consequentemente, chegamos mais próximos da

compreensão do funcionamento das estruturas linguísticas.

A preocupação com esse aparato cognitivo nos faz considerar a importância da

competência comunicativa (Halliday,1985), que nada mais é do que a habilidade de

exteriorizar informações pessoais, instruções que devem ser seguidas e conteúdos de

caráter apenas informativo. Dessa forma, levando em conta as categorias cognitivas e

semânticas, admitimos que a língua é a manifestação do processamento da

informação, fornecida pelos indivíduos, e que se manifesta na interação comunicativa,

criando inclusive novos significados. Dois pontos são básicos na reflexão de Halliday

(1985): o primeiro está relacionado à unidade de maior funcionamento da língua, que é,

no caso, o texto, em que ocorre a criação dos significados; o segundo está relacionado

ao fato de os itens serem multifuncionais e atuarem nos níveis do sintagma, da

sentença e do texto. Verificamos, dessa forma, que os interlocutores, por serem

participantes ativos das construções de sentidos, constroem e desconstroem

significados a depender do texto vivenciado no momento da interação discursiva. É

essa interação somada ao conhecimento de mundo dos interlocutores e ao

compartilhamento de informações sobre o mesmo assunto, que fazem com que

sentenças do tipo “Está chegando a filha do senhor que sofreu o acidente” sejam

ambíguas apenas para os falantes que não fazem parte da interação comunicativa. Os

interlocutores participantes da interação comunicativa, por estarem presentes

Page 67: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

67

pragmaticamente na realização do contexto e do texto e por compartilharem o mesmo

conhecimento sobre o assunto em questão, saberiam certamente identificar quem

sofreu o acidente.

Vale ressaltar que, para teoria multissistêmica, as estruturas linguísticas não são

autônomas, assim como já previsto em outras teorias. Essas estruturas linguísticas

podem ser descritas e interpretadas, segundo Castilho (2010:73), a partir de: “(a) as

estruturas são flexíveis e permeáveis às pressões do uso, combinando-se estruturas

existentes com novas emergentes; (b) as estruturas não são totalmente arbitrárias; (3)

as estruturas são dinâmicas e estão sujeitas a constantes reelaborações, por meio do

processo de gramaticalização.”

Essas propriedades confirmam a heterogeneidade das línguas e nos permitem

considerar que as estruturas são concebidas a partir do uso. Para confirmar isso, o

autor recupera algumas teorias que exploram a não autonomia das estruturas como,

por exemplo, a teoria da variação e mudança de Labov (1972 a); a interface

sintaxe/discurso; sintaxe interacional de Ono/Thompson (1994a; 1994b); a teoria da

iconicidade de Haiman (1980); a teoria da gramaticalização de Lehman (1982 a, 1982

b); Trougott (1993/2003), Bybee/Perkins e outros..

O autor ainda defende que as estruturas linguísticas são multissistêmicas, porque

trabalham simultaneamente, dinamicamente e multilinearmente, e, porque são

articuladas em quatro domínios: lexicalização (léxico), discursivização (discurso),

semanticização (semântica) e gramaticalização (gramática). Como dito anteriormente,

esses sistemas serão autônomos entre si, não ocorrendo uma escala hierárquica entre

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68

eles. Além disso, é importante destacar que os conceitos de diacronia e sincronia serão

substituídos pelo conceito de pancronia. O conceito de língua pancrônica surge a partir

da análise da língua, que sofre mudanças, considerando-se as práticas sociais

relacionadas a aspectos do passado e presente de um determinado grupo social, isso é

possível, quando consideramos que práticas sociais passadas podem interferir em

práticas sociais do presente. Isso nos faz concluir que a língua se constitui a partir das

interações comunicativas que se iniciam nas relações pragmáticas, semânticas e

discursivas e se realizam na sintaxe.

Castilho (2010) menciona ainda que “um dispositivo sociocognitivo ordena os

sistemas linguísticos”. O dispositivo sociocognitivo ocorre com a articulação entre os

processos e os produtos linguísticos tomados pelos sistemas do léxico, do discurso, da

semântica e da gramática e pode ser explicado por meio dos princípios de ativação,

desativação e reativação das propriedades. Esse dispositivo é cognitivo, porque está

relacionado a categorias cognitivas (pessoa, espaço, tempo, visão, movimento e

evento); e é social, porque está relacionado a situações que ocorrem numa conversa.

Assim, esse dispositivo, na interação comunicativa, é responsável pela ativação,

desativação e reativação das propriedades semânticas, lexicais, discursivas e

gramaticais - simultaneamente, garantindo, portanto, a efetividade dos atos de fala e,

principalmente, a eficácia da comunicação nos momento da criação dos enunciados.

O princípio da ativação está relacionado à projeção pragmática. Quando fazemos

parte de uma conversa, estamos, enquanto falamos, o tempo inteiro atentos às reações

do ouvinte. Faz parte do processo comunicativo prever os movimentos verbais e

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69

gestuais dos interlocutores é, portanto, o que assegura e mantém a conversação e,

principalmente, faz com que os interlocutores compartilhem as mesmas informações.

Castilho (2010) propõe, portanto, que esse princípio é responsável pela ativação das

propriedades lexicais, semânticas, discursivas e gramaticais.

Já o princípio da reativação está relacionado à correção, que muitas vezes

precisamos fazer para mudar o rumo da nossa conversa e viabilizar, no mesmo nível, o

compartilhamento da informação com o ouvinte. Essa correção, quando atingida e

compartilhada, torna possível a compreensão do status do referente, e,

consequentemente, possível o entendimento da mensagem. Essa correção por ser

tanto por parte do falante quanto por parte do ouvinte.

O último, mas não menos importante, é o principio da desativação que diz

respeito à elipse que fazemos muitas vezes nos discursos, quando abandonamos uma

estratégia argumentativa e acabamos por ativar outra. Segundo Ataliba (2010:80), esse

princípio se baseia na “despreferência”. Em outras palavras, o interlocutor abandona o

que vinha usando e ativa ou reativa outras preferências.

Na nossa pesquisa, ao estudarmos as orações relativas observamos que, às

vezes, fatos sintáticos requerem explicações semânticas e pragmáticas e que, em

outros momentos, fatos semânticos requerem explicações pragmáticas,

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70

3.3 Souza (2009)

Souza (2009) analisou as orações relativas, que ela mesma nomeia de cláusulas

relativas restritivas e não-restritivas, em sua tese de doutoramento, privilegiando a

análise dos dados no âmbito da oração e no âmbito do texto. No âmbito da oração, a

autora destacou os sistemas de Modo e de Transitividade; já no âmbito do texto,

relacionou as orações ao status informacional, à definitude do SN relativizado, aos

gêneros textuais e às sequências tipológicas. Dois pontos polêmicos que motivam a

pesquisa dela são: (a) a classificação em restritivas e explicativas e (b) a presença ou

ausência de sinais de pontuação e pausa. Esses fatores nos chamaram atenção

também, pois convergem com os nossos posicionamentos, ainda que por abordagens

teóricas distintas. Assim como Souza (2009), defendemos que a classificação das

orações em restritivas ou explicativas - levando-se em conta, principalmente, a

controvérsia da pausa, na fala e na escrita - não dá conta dos objetivos discursivos

envolvidos na interação comunicativa. Além disso, defendemos também que a

presença e a ausência de pausas, na fala, não seriam determinantes na identificação

dessas orações, porque esses fatores não explicariam de forma satisfatória os eventos

e as construções dos significados envolvidos nos discursos. Acreditando nisso, Souza

(2009) efetua testes prosódicos em situações reais de interação e identifica que a

classificação binária em restritivas e não-restritivas é reduzida e que, na verdade,

existe um contínuo dessas orações. Tal contínuo não foi observado e nem descrito em

análises anteriores, as quais não levaram em conta um escopo linguístico mais

abrangente em que se considerassem os textos e os contextos e, sim, apenas orações

soltas de seus ambientes de realização. Esse é outro ponto convergente com a nossa

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71

proposta de análise: acreditamos que as orações relativas estão a serviço das

necessidades discursivas dos falantes e que, no momento de interação, poderão essas

orações atribuir um ou outro significado ao termo antecedente (e às vezes a um

período ou parágrafo inteiro) a depender das informações construídas ao longo do

discurso. Além disso, é importante considerar o conhecimento que os interlocutores

possuem (suponham possuir) dos referentes em questão, além claro, do

compartilhamento simultâneo da informação, realizado pelos interlocutores. Dessa

forma, os significados serão construídos online, podendo o falante, por exemplo,

relembrar o ouvinte sobre uma informação já conhecida ou acrescentar-lhe uma nova

informação. Considerar que a explicação é uma informação adenda que pode ser

descartada por não alterar o status do referente é negar que o falante julgou-a

importante, estando a serviço do seu papel discursivo.

No âmbito sintático, a autora considerou que as restritivas são mais subordinadas

à matriz do que as não-restritivas e associou o fator prosódico ao sintático. Assim,

concluiu que não haveria segmentação entre a restritiva posposta e sua oração matriz,

ao contrário do que ocorreria com a não-restritiva. A autora destaca que a tradição

gramatical considera apenas a pausa como segmentação da oração enquanto estudos

como os de Le Goffic (1979) e Halliday (1985) relacionam a segmentação da oração à

curva entonacional. Souza (2009) defende que a segmentação é um tom ascendente

nas não-restritivas antes da fronteira sintática entre as orações e que a pausa, nesse

caso, seria um reforço dessa ruptura melódica. As restritivas, por outro lado, formariam

um todo melódico com sua matriz e só apresentariam uma ruptura quando pospostas à

oração matriz. Já nas orações relativas restritivas intercaladas ocorreria uma ruptura no

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72

final da oração relativa antes da continuação da oração matriz. A autora assim conclui

que a segmentação que acontece nas restritivas intercaladas é a mesma que ocorre na

relação sujeito e predicado, tema e rema, ou entre tópico e comentário; e demonstra

ainda que a crença de que relativas são caracterizadas pela ausência ou pela presença

das pausas está respaldada no fato de a maioria dos estudos sobre o assunto não

terem uma base instrumental, o que certamente leva a análises sustentadas na

percepção do pesquisador. Em outras palavras, uma análise sem recursos

instrumentais eficientes pode levar o pesquisador a achar que ocorre uma pausa,

quando o que ocorre, na verdade, é um silêncio ocasionado por uma mudança de tom

ou um alongamento de sílaba, que pode acontecer na fronteira prosódica ou sintática,

também podem existir hesitações ou preenchimentos com marcadores discursivos

como né e tá. Com um estudo de interface prosódia e sintaxe, Souza (2009) analisa de

forma cuidadosa a prosódia, já que é ela o fator determinante na classificação

semântica das relativas, e realiza também um teste prosódico intimamente relacionado

à nossa proposta , de modo tal que a sustenta, no presente trabalho. Sua pesquisa

consistiu na análise de textos escritos (crônica, editoriais, artigos e entrevistas

jornalísticas) e textos da fala (duas entrevistas radiofônicas, com utilização do

programa computacional Praat que garantiu à pesquisa precisão). Os critérios

prosódicos considerados foram: segmentação prosódica antes do pronome relativo;

segmentação prosódica depois da cláusula relativa intercalada à matriz e tipo de

segmentação prosódica.

Em relação à semântica, a autora recuperou Prince (1992) com o conceito de

informação nova e informação velha. As expressões “informação nova” e “informação

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73

velha” surgem, quando a autora se dedica ao estudou do status informacional dos

nomes, considerando a perspectiva do ouvinte e do discurso. No que tange a

perspectiva do ouvinte, devemos considerar o papel ativo do falante em relação à

avaliação que ele mesmo faz (pressupõe) sobre conhecimento do ouvinte a respeito da

informação compartilhada. Dessa forma, a informação será velha para o ouvinte,

quando o falante pressupor que este já a conhece. Quando o falante entender/souber

que o ouvinte não é detentor da informação veiculada, esta informação será nova. No

âmbito do discurso, as categorias “velha” e “nova” são analisadas a medida que o

discurso vai ocorrendo, além dessas duas, Prince (1992) insere a categoria “inferível”.

Uma categoria é inferível para o ouvinte, quando ele é capaz de recuperá-la por algum

“link” feito no discurso, trata-se de uma informação nova no discurso e não inédita para

o ouvinte.

Souza (2009) classificou as orações em orações relativas não-restritivas

prototípicas, orações relativas restritivas prototípicas, orações relativas não-restritivas

não-prototípicas, orações relativas restritivas não-prototípicas. As não-restritivas

prototípicas não delimitam o SN, já que este possui um grau máximo de definitude.

Entretanto, essas orações podem, dependendo das condições de produção do texto,

auxiliar o ouvinte a identificar o referente codificado por esse SN. As restritivas

prototípicas possuem SN antecedente com baixo grau de definitude e, por isso,

precisam ser especificados. Já as não-restritivas não-prototípicas são orações com

características formais que exigem uma restritiva, mas as condições do contexto e da

cultura tornaram necessária a oração relativa não-restritiva. Por último, as orações

relativas restritivas não-prototípicas, nesse caso, a autora considerou como sendo as

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orações esvaziadas de conteúdo semântico, mesmo estando encaixadas. Tais orações

são analisadas nos exemplos abaixo. Vejamos os exemplos analisados pela autora:

Relativa restritiva posposta prototípica: “ eu acho que a diretoria tá bastante assustada com a nossa chapa que a gente tem uma chapa forte de professores que estão há bastante tempo na categoria temos o apoio de pessoas importantes você vai ver no próximo jornal a nossa lista de apoios é bastante grande bastante ampla e isso tá assustando a diretoria porque sabe que são professores... muito experientes politicamente academicamente né e que são pessoas que têm um reconhecimento na categoria e isso assusta... e aí isso faz contribui pra que eles tenham essa prática né tão tão desigual tão tão desonesta né...

(RÁDIO BANDEIRANTES. Programa Faixa Livre. 21 de julho, 2008.)

Oscilograma, curva melódica, transcrição grafemátic a e notação

fonológica da seqüência de professores que estão “do ponto de vista prosódico, ele não apresenta segmentação entre a relativa e a matriz; e, do ponto de vista semântico, temos um SN antecedente com grau baixo de definitude, apesar de codificar uma informação Velha no texto e Velha para o ouvinte.” (Souza,2009:179) Relativa restritiva intercalada prototípica: “agora com relação a essa denúncia que você faz há: eu imagino essas eleições devem ter uma comissão eleitoral... ela não pode garantir um

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tratamento eh: isonômico aí na: na difusão das propagandas das chapas por exemplo se a diretoria fez esse envio dos jornais pra casa dos associados não pode garantir o mesmo procedimento para o jornal da chapa... Movimento Educação?

(RÁDIO BANDEIRANTES. Programa Faixa Livre. 21 de julho, 2008.)

“(...) apesar de apresentar um grau alto de definitude, em função do demonstrativo essa, além de codificar uma informação Velha no texto e Velha para os ouvintes presentes no estúdio, o falante optou por uma cláusula restritiva em virtude das condições de produção do texto. Este é construído por ele e pelo entrevistado, mas os ouvintes do programa também são interlocutores. Assim, a opção pela cláusula restritiva tem como propósito eliminar qualquer possível dificuldade na identificação do referente codificado pelo SN antecedente essa denúncia.” (Souza,2009:181)

Oscilograma, curva melódica, transcrição grafemátic a e notação fonológica da seqüência agora com relação a essa denúncia que você faz

Relativa não-restritiva posposta prototípica: “ e essas manifestações correspondem a anseios de classe média e classe média sempre foi uma classe... pela sua diversidade sua falta de consciência política uma classe alienada né e e manipulada pelos meios de comunicação... repara que essas manifestações ocorreram principalmente aonde? França... onde a população votou no Sarkosy ... que é um reacionário de marca maior... na Espanha ... onde a repressão a movimentos separatistas é extremamente violento né no Peru onde ganhou... o Alan Garcia também um governo de centro direita... (RÁDIO BANDEIRANTES. Programa Faixa Livre. 21 de julho, 2008.)

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“Os dois SN’s antecedentes (o Sakosy e a Espanha) codificam informações Novas no texto e Velhas para o ouvinte e possuem grau máximo de definitude � são nomes próprios, possuindo, pois, unicidade referencial. Tanto o primeiro dado analisado (França... onde a população votou no Sarkosy ... que é um reacionário de marca maior...) quanto o segundo (na Espanha ... onde a repressão a movimentos separatistas é extremamente violento né) constituem seqüências tipológicas descritivas, mas o trecho como um todo está a serviço da argumentação. Na realidade, embora as entrevistas jornalísitcas sejam consideradas gêneros informativos (cf. Melo, 2003a), as que fazem parte da nossa amostra oral foram classificadas como entrevistas políticas, de acordo com Charaudeau (2007), que considera essa espécie uma variante do gênero entrevista. Sendo um texto de teor político, as relativas não-restritivas auxiliam na codificação do ponto de vista do falante, corroborando nossa hipótese de que esse tipo de cláusula está diretamente relacionado à argumentação, embora nesse gênero o falante não tenha necessidade de apagar as marcas da subjetividade. Temos a seguir o gráfico correspondente ao dado.” (Souza, 2009:182)

Oscilograma, curva melódica, transcrição grafemátic a e notação fonológica da

seqüência Sarkosy que é um reacionário de marca maior na Espa nha onde a repressão

Relativa não-restritiva intercalada prototípica: é um prazer tê-la aqui no nosso programa... e eu queria que você falasse um pouco dessas eleições que vão ocorrer nos próximos dias doze treze catorze e quinze de agosto né e particularmente do programa da

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chapa que você encabeça o Movimento Educação... por que ser candidata Lúcia?

(RÁDIO BANDEIRANTES. Programa Faixa Livre. 21 de julho, 2008.)

“é um dos quatro dados do corpus oral que apresentam relativa não-restritiva intercalada. Podemos observar tons de juntura nas duas fronteira sintáticas, bem como pausas, sendo a da fronteira 2 parcialmente preenchida, ou seja, além do preenchedor discursivo (né), com duração de 0,15 segundos, há também um período de silêncio, de 0,24 segundos, totalizando uma pausa de 0,39 segundos. Embora tenhamos levantado a hipótese de que o tom de juntura para as não-restritivas intercaladas seria o mesmo (ascendente) nas duas fronteiras, nos quatro dados de que dispomos, os tons funcionam de maneira alternativa: quando é ascendente na fronteira 1, é descendente na fronteira 2 e vice-versa. Assim, mesmo que os dados contrariem parcialmente nossa hipótese sobre o tipo de tom na fronteira 2 das não-restritivas intercaladas, consideramos o exemplo 68 prototípico, pois, de qualquer forma, tanto ele como os outros três dados do mesmo tipo apresentam rupturas nas duas fronteiras, sendo a prosódia congruente com a sintaxe. Nesses quatro dados, essas rupturas se manifestam por meio dos tons de juntura e das pausas. Quanto à informatividade, o SN essas eleições codifica uma informação Nova no texto e Velha para o ouvinte, pelo menos para a entrevistada, que está participando do pleito eleitoral tematizado na entrevista.” (Souza, 2009: 185)

Oscilograma, curva melódica, transcrição grafemátic a e notação fonológica da

seqüência pouco dessas eleições que vão ocorrer nos próximos dias doze treze catorze e quinze de agosto né.

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Relativa restritiva intercalada não prototípica: “ eu já fui diretora do sindicato eh (a) primeira vez que existiu um departamento de educação e cultura eu fui a primeira diretora desse departamento... que tinha como preocupação... chamar mais o professor pra dentro do sindicato através de cursos seminários investimento na sua formação continuada”

(RÁDIO BANDEIRANTES. Programa Faixa Livre. 21 de julho, 2008.)

“apesar de a relativa restritiva estar intercalada à matriz, não há um tom de juntura na fronteira sintática 2, como supomos ser típico dessa espécie de cláusula. O sândi61 ocorrido entre os vocábulos cultura e eu comprova que não houve segmentação nesse ponto da cadeia, tendo o co-texto fônico favorecido sua ocorrência. No exemplo ... (agora com relação a essa denúncia que você faz há: eu imagino essas eleições devem ter uma comissão eleitoral), em que há segmentação na fronteira sintática 2, ocorre uma pausa preenchida com uma hesitação, impossibilitando o sândi. Este seria plausível naquele dado, se não houvesse a pausa entre os dois vocábulos, tendo em vista a presença do fone [ ᶴ ] travando a sílaba da forma verbal faz e a vogal inicial da forma pronominal eu [(fazew)]. Contudo a escassez de cláusulas relativas intercaladas nos impede de fazer mais conjecturas.O SN antecedente (a) primeira vez codifica uma informação Velha no texto e Velha para o ouvinte. Seu grau de definitude é médio, e o artigo definido a foi inferido a partir do uso comum da expressão da qual normalmente faz parte, embora não tenha sido detectado acusticamente. Esse dado constitui um daqueles casos polêmicos em que a seqüência SN + QUE pode ser entendida como morfema único introduzindo uma cláusula adverbial. (Souza, 2009:187)

Oscilograma, curva melódica, transcrição grafemátic a e notação fonológica da seqüência (a) primeira vez que existiu um departamento de edu cação e cultura eu fui a

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Relativa não-restritiva posposta sem pausa: “ então essa é a a razão pela qual a gente escolheu seu programa que tá sempre atento a essas questões pra que a gente possa eh:: denunciar isso a falta de democracia nesse processo eleitoral...

(RÁDIO BANDEIRANTES. Programa Faixa Livre. 21 de julho, 2008.)

“apresenta uma relativa não-restritiva posposta à matriz sem pausa na fronteira entre as duas cláusulas; em contrapartida, há um tom de juntura marcando o limite entre os dois constituintes em termos sintáticos e prosódicos. Esse dado corrobora nossa hipótese de que a pausa funciona, em geral, como um índice redundante na distinção entre as relativas, e não como um traço categórico. O SN antecedente (seu programa) apresenta grau alto de definitude devido ao emprego do possessivo e foi considerado Velho no texto e Velho para o ouvinte.” (Souza, 2009:189)

Oscilograma, curva melódica, transcrição grafemátic a e notação fonológica da seqüência a gente escolheu o seu programa que tá sempre atent o a essas questões Relativa não-restritiva posposta não-prototípica: “ e os/nós já chamamos a comissão eleitoral pra ver um carrinho ... que sistematicamente sai cheio de jornal da sala da presidência do sindicato já mostramos esse carrinho pra comissão eleitoral que não quer ver que vira o rosto que diz que não pode fazer nada que a chapa dois tem que fazer um uso político das coisas que acontecem mas que ela não pode interferir... numa briga entre a chapa um e a chapa dois e fica tudo por isso mesmo...”

(RÁDIO BANDEIRANTES. Programa Faixa Livre. 21 de julho, 2008.) “Apesar de o SN um carrinho codificar uma informação Nova no texto e Nova para o ouvinte e de ter um grau de definitude baixo,

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devido à sua constituição (Art Ind + N), a relativa que o caracteriza foi classificada como não-restritiva (não-prototípica). Há uma pausa não-preenchida com uma duração significativa (0,33 segundos) na fronteira sintática entre as cláusulas. Contudo o tom de fronteira empregado é o descendente, e não o ascendente, que acreditamos ser típico dessa construção. Nesse caso o emprego da pausa parecer ter sido decisivo para a interpretação da relativa como não-restritiva. Mas é preciso lembrar que nesse dado contamos com a interferência de outra variável: o SN antecedente (um carrinho) foi produzido enfaticamente, constituindo foco. O gráfico a seguir materializa a análise acústica desse exemplo.” (Souza, 2009:190)

Oscilograma, curva melódica, transcrição grafemátic a e notação fonológica da seqüência

Das conclusões que a autora teve e que são interessantes para o presente estudo

temos, portanto: (a) as não-restritivas são mais frequentes que as restritivas, porque

das sessenta e seis cláusulas relativas do corpus oral, trinta e três são não-restritivas,

em que vinte e duas são prototípicas, e onze não-prototípicas, o que representa

cinquenta por cento do corpus; (b) 66% das construções com relativas não-restritivas

apresentam tom ascendente (H%) na fronteira dessas cláusulas com a matriz. Isso

determina que há um tom de juntura típico da construção com relativa não-restritiva

posposta que marca o limite entre ela e sua respectiva matriz (tom ascendente),

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podendo ou não haver pausa nessa fronteira; (c) nas restritivas pospostas existe

ausência de um tom de juntura e de pausa entre elas e suas respectivas matrizes e,

nas relativas intercaladas, o número de dados não permitiu confirmar a existência de

índice prosódico característico; (d) em relação à pausa nas orações relativas não-

restritivas, apenas doze foram realizadas com pausa de um total de trinta e três

orações e as únicas quatro orações intercaladas foram realizadas com pausa; já com

as orações restritivas, das trinta e três orações, um apresentou pausa na fronteira 2 e

nenhuma outra oração restritiva teve pausa.

A pesquisa de Souza (2009), nas análises do corpus da fala, é de extrema

importância para as nossas análises, porque prova que o fato de a pausa não ser

determinante para a identificação das orações relativas em restritivas ou explicativas.

Acreditamos desde as primeiras observações que as orações relativas estão a serviço

de propriedades semânticas que vão além dos valores restritivos e explicativos e que

são criadas a partir dos fatores envolvidos na comunicação, em que devemos levar em

conta, principalmente, o compartilhamento das informações, seja ele por conhecimento

prévio cultural ou construído no momento da fala.

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4. Metodologia

Para essa analise utilizamos as seguintes etapas:

1) formação de corpus;

2) procedimentos analíticos;

1- O corpus foi selecionado a partir dos trechos recolhidos do D&G Rio de

Janeiro, nível superior tendo sido analisado os textos dos seguintes tipos

textuais: narrativa de experiência pessoal, narrativa recontada, descrição de

local, relato de procedimento (texto informativo) e relato de opinião (texto

argumentativo). A razão de escolha desse corpus, em vez de outros

disponíveis em língua portuguesa, como, por exemplo, NURC, deveu-se ao

fato de que se podia contar com diferentes tipos textuais em versão oral e

escrita, feita pelo mesmo informante sobre o mesmo assunto. Foram

encontradas 94 orações relativas iniciadas por “que”, no corpus oral, que

foram depois analisadas. Não analisamos as falas do entrevistador, por se

tratar de uma fala monitorada.

2- Identificadas as orações no corpus oral, essas foram analisadas sob os

critérios semântico e sintático considerando-se as condições de produção e a

interação efetivada entre entrevistador e informante.

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Classificadas as orações em restritivas e explicativas, cotejamos a realização

dessas mesmas orações feitas pelo falante do corpus escrito para a verificação da

utilização ou não de vírgulas. Tal procedimento permitiu que se verificasse mais do que

normativização de uso de pontuação, se o uso ou ausência de vírgula corresponderia à

classificação segundo os nossos critérios. Depois analisamos as orações a partir dos

diversos valores semânticos disponíveis nos variados contextos. Finalmente, após esse

cotejo chegamos às conclusões.

5. Análise dos dados

Em nossas análises, notamos que a oração relativa é sempre uma extensão do

SN que a antecede, porque ela é função das necessidades comunicativas e,

consequentemente, está a serviço das necessidades cognitivas de representação do

SN. Dessa forma, consideramos que tanto as orações relativas explicativas quanto as

restritivas são necessárias para a construção e manutenção do discurso não podendo

ser retiradas sem que isso interfira na motivação de representação qualitativa da

imagem para falante e ouvinte. Outra característica importante dessas orações é que

elas não estão disponíveis apenas para explicitar os valores semânticos de explicação

e restrição mas também valores de concessão e causa, observados nas análises dos

textos e seus contextos o que nos faz ter certeza de que uma análise de oração fora do

seu contexto empobrece o nosso entendimento da mensagem. Notamos também que

as orações explicativas podem funcionar como uma ressalva, uma informação a mais

ou até mesmo agregar ao referente um significado diferente do esperado pelo ouvinte.

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Apesar de não termos nos aprofundado na discussão dos tipos e gêneros textuais, já

que deixamos essa análise para estudos futuros, podemos perceber que as orações

relativas parecem estar também a serviço do tipo e do gênero textual. Notamos que,

nos textos intitulados como “descrição do local”, as orações relativas acrescentam

informações aos referentes com o objetivo de permitir ao ouvinte a criação da imagem

do ambiente, isso demonstra que nem mesmo as orações relativas explicativas

poderiam ser retiradas sob pena de não corresponder à tipologia descritiva

predominante nesse texto. Verificamos também que, nas narrativas pessoais,

narrativas recontadas e nos relatos de procedimento, muitas das vezes as orações

relativas funcionam como argumento, servindo, portanto, para fundamentar uma

opinião do falante com o objetivo final de convencer o ouvinte a respeito de um

determinado ponto de vista. Nossa análise demonstrou (a) que há orações relativas

explicativas e restritivas (como descrito em várias correntes teóricas tradicionais),

nessas não nos aprofundamos nas discussões semânticas, e (b) que também existe a

possibilidade de as orações relativas terem outros valores semânticos a depender do

fluxo discursivo, nas quais nos debruçamos com o objetivo de descrever melhor essas

ocorrências.

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INFORMANTES DO ENSINO SUPERIOR DO RIO DE JANEIRO Informante 1: André Sexo: masculino Idade: 24 anos Data da coleta: oral- 06/08/94; escrita- 06/08/93, 07/08/93, 08/08/93 e 09/08/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal I: bem... ah:: o fato engraçado foi a partir da data de hoje... né? seis de agosto de mil novecentos e noventa e três... é que eu cheguei em torno de::... nove horas no::... no meu antigo estágio... na Light... (1) que é na Presidente Vargas. .. meia quatro dois... décimo quarto andar... e:: chegando lá... como... entrou um novo estagiário por... eu ter saído... entrou esse novo estagiário... e ele era:: ele era crente... e eu não sabia o cara era crente... e o sobrenome do cara era Arruda... e:: quando vieram sacanagem lá... porque:: na sala... uma vírgula é um pala/ é porra... porra é uma vírgula lá... então... então começou aquela sacanagem toda “é::... não sei quê... formando... não sei quê... convites... ba ba bá...” e eu sacaneando o cara... (falaram) assim... “é::... ele entrou novo estagiário” eu falei “pô... qual o (nome)?” “ah:: o nome dele é Arruda... André...” eu falei “ih... arruda é pra tirar olho grande...” aí o cara... sério... “arruda nada... eu sou cristão... não acredito em nada disso...” não sei quê... aí o pessoal sacaneou... e tem uma Áurea...(2) que é uma baixinha... gordinha... que também é:: designer ((riso)) ela é baixinha e ela é muito sacana... então (nessa) sacanagem dela... o cara/ começou a sacanear o cara... aí o cara foi ficando mais puto... quer dizer... de um fato engraçado começou um fato/ saiu pra um constrangedor...

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COMENTÁRIOS

(1) A oração relativa em destaque adiciona uma informação a mais para fins

de localização, já que podemos pressupor que, para o falante, o ouvinte

saiba que existem outras filiais da empresa com localizações distintas.

Neste texto, observamos a necessidade que o falante tem de ambientar o

ouvinte sobre o fato que irá contar, iniciando sua narrativa com

informações sobre o tempo e local, permitindo assim que o ouvinte/leitor

crie o mesmo cenário que ele imagina no momento da fala.

(2) A oração relativa em destaque adiciona uma informação sobre as características

físicas do personagem para que o ouvinte seja capaz de imaginá-la da mesma

maneira que o falante a visualiza, permitindo, assim, que ocorra um

compartilhamento de informações de mesmo nível.

As orações em (1) e (2) são explicativas, mas funcionam semanticamente de

formas diferentes. No exemplo (1), a oração determina a localização da empresa onde

o falante trabalhou, permitindo que o ouvinte crie/visualize a localidade da história em

que a narrativa se desenvolverá, portanto, uma oração relativa explicativa locativa. Já

no exemplo (2), apesar de também ser uma oração explicativa, a oração relativa

desempenha papel semântico diferente. A oração “que também é designer”, seguida de

“risos” comprova que houve troca no significado estereotipado de que “baixinha e

gordinha” não poderia ser designer, temos, portanto, uma oração relativa explicativa

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recategorizadora. Essa desconstrução de estereótipo cria, portanto, um novo domínio

de instanciação que por sua vez cria um domínio de qualidade e que por sua vez

demonstra a necessidade de explicação. Ambas as orações instanciam o SN,

entretanto, as propriedades qualitativas instanciadas podem diferenciar, determinar ou

até mesmo explicar o referente.

Narrativa recontada I: bem... o fato mais chato não aconteceu comigo mas aconteceu com um grupo de amigos... (3) que eu faço academia... há:: o que? há um mês atrás... então o pessoal... numa sexta-feira... todo mundo “ah:: uma cervejinha... (vamos beber) uma cervejinha... vamos fazer um churrasquinho” e tal... tal... tal... todo mundo muito alegre... muito brincalhão... e eu fui pra::/ saí da academia... comi o churrasco... bebi a cerveja... e fui pra casa... e eles saíram dali e foram para um::... um bairro... chama Jesuítas... entendeu? e lá eles começaram a beber beber beber beber... eu encontrei com eles depois... ( ) assim... numa altura de quarenta minutos a uma hora... depois... nesse Jesuítas... eu continuei lá bebendo... conversando e tal... mas eu fui com o meu carro... e eu continuei... continuei no local... e eles quiseram ir embora... e isso era em torno de:: umas seis pessoas... numa caminhonete... não foi nem Pampa... aminhonete... foi numa caminhonete branca... e o cara... já estava meio doidão... foi dirigindo e tal... esse rapaz... pulando em cima da caminhonete... sentou... naquela parte do lado:: direito... a caminhonete de frente... né? tem o lado direito... ele sentou... segurou assim e sentado... quer dizer... as costas... virada pra rua... né? então de frente pro outro lado... dentro da caminhonete... pra você entender [o que eu estou falando... né?] I: [ahn... ahn... estou...] I: e aquilo... brincadeira... tal... eu sei que:: o cara fre/ o rapaz (4) que estava guiando a caminhonete... freou... e ele caiu... quando ele caiu... a caminhonete/ eles continuaram pensando que era brincadeira do cara... só que ( ) foram “ué... ele não veio atrás? não veio atrás? pensei que ele

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vinha andando” não sei quê... ta ta ta tá... frearam e voltaram... quando voltaram o cara estava desmaiado...

COMENTÁRIOS

(3) A oração relativa em destaque adiciona uma informação para que o

ouvinte saiba que, de todos os amigos que o falante tem, ele só vai falar

sobre os amigos da academia. Assim como nos textos de “Narrativa de

experiência pessoal”, nos textos de “narrativa recontada”, o falante tem a

necessidade de fornecer as características de espaço, tempo e

personagens para que o ouvinte seja capaz de criar a mesma imagem e

compartilhar as mesmas informações no mesmo nível.

(4) Essa oração especifica o referente em relação ao universo “seis pessoas”,

apresentado anteriormente no texto.

As orações relativas (1), (3) e (4), apesar de serem uma extensão do SN, não o

modificam ou explicam-no como referente. Diferentemente do que ocorre em (2), em

que a oração relativa é uma extensão qualitativa do próprio referente construindo e

refazendo um estereótipo.

Descrição de local I: bem... a minha sala eu falo porque::... como os meus dois irmãos casaram... todos os dois irmãos quiseram copiar... um pouco assim eh::... o desenho do móvel da s/ da onde fica/ a localização... da/ que nós fizemos na minha casa...

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em alvenaria... então tem um cantinho... (5) que tem uma luminária... (6) que já foi feita pra/ aquele cantinho pra inverno... pra frio... então ele é gostoso... então pra você ler um livro... você:: ouvir um walkman... passar uma revista...

COMENTÁRIOS

As orações relativas 5 e 6 estão a serviço da construção da imagem que será

compartilhada pelos interlocutores, são informações novas que permitem ao ouvinte

visualizar o ambiente e, por isso, importantes para esse tipo textual. São orações

relativas explicativas.

Relato de procedimento I: bem... o que eu mais gosto de fazer mesmo... que eu... como diz... eu sei fazer perfeito é o strogonof... mas o meu strogonof não é aquele que todo mundo/ aquele padrão... que eu não gosto de receita... eu gosto de seguir é... a prova... a prova é... primeiro... o que eu mais gosto é o do camarão... né? então... pra quem... sabe como é feito um bom strogonof... compra o camarão:: limpa o camarão... põe o camarão... boto cebola... pimentão... tomate... cozinho ele... deixo ele cozinhar um pouquinho assim... tipo assim deixo fritar um pouquinho... com cebola... tomate e pimentão... deixo ele cozinhar um pouco... assim fritar um pouquinho ele... com um pouquinho de ó::leo... um pouquinho de a::lho... entendeu? deixar... passou um tempinho... eu boto um pouquinho d’água... aí deixo cozinhando ele... ele está cozinhando... aí eu bot/... entro com... ervilha... (7) que é o petit pois... o milho... (8) que eu adoro... o palmito... e o cogumelo... eu ponho tudo isso... quando está colocando isso com um pouco d’água... o que que eu faço? Eu pego o creme de leite...(9) que já deixou ( ) na geladeira... tiro o soro... coloco na panela o creme de leite... cozinho... ponho em fogo brando... pra ele ficar mais gostosinho I: pega a cebola... pica bem... pega a salsinha... (10) que eu adoro... lava... pica bem a salsinha... pega um pouco daquele:: chamado alho com:: um pouco do sal... (11) que virou o chamado

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salho... não esses comprados feitos... eu falo salho porque eu estou dando uma referência... você pega... pica um pouquinho assim na sala/ em cima da batata e mistura toda ela... uhn:: fica uma delícia

COMENTÁRIOS

No relato de procedimento acima, as orações relativas acrescentam informações

diferentes aos seus referentes. O primeiro tipo de informação, nos exemplos (8) e (10),

está relacionado ao fato de o falante achar necessário destacar “que adora” um

ingrediente ou outro com o propósito de justificar o fato de o seu estrogonofe ser tão

diferente da receita tradicional. Aqui percebemos um valor causal para a oração

“porque ela adora o ingrediente, ele faz parte da receita dela”. O segundo tipo de

informação, nos exemplos (7), (9) e (11), está relacionado ao fato de o falante sentir

necessidade de especificar o seu referente para que o ouvinte consiga identificar de

forma objetiva o produto utilizado. A oração (7) poderia ter um valor explicativo ou

restritivo, isso dependerá do conhecimento que o ouvinte tem sobre “petit pois”. Caso o

ouvinte saiba que a ervilha pode ser encontrada de duas formas: (a) sua forma natural

de vegetal ou (b) enlatada – petit pois, a oração será relativa restritiva. Do contrário a

oração será relativa explicativa de ressalva.

Relato de opinião economia... dinheiro... financeiro... se você não atingir... como você pode dar educação a um povo? como você pode dar escola se você não tem dinheiro para construir uma escola? Como você pode... é::... dar alimento à criança...(12) que é a parte da

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educação... nessa chamado CIEPS...(13) que eu não gosto nem um pouco... porque eu acho que CIEP e CIAC foram projetos... é:: como diz... querem dar projetos revolucionários para educação num país que eu acho que você podia pegar um prédio velho... reformar e manter... o fator histórico... o fator... o fator... educacional... investir o tempo que ia gastar num novo projeto... investir em professores... em educação... se investisse mais nesta parte... então já é um grande bem... então eu acho que tudo é economia... eu acho que o maior presente que possam te dar é um emprego... mas pra te dar esse emprego... o governo tem que resolver o problema econômico do país... por exemplo... tra/ fiz estágio na Light... que é uma empresa do governo... onde a minha chefe da divisão... chefe do departamento... veio parabenizar... e dissseram-me “eu preciso de você... nós precisamos de desenhistas industriais... o famoso designer” porque a nível de terceiro grau...(14) que é uma profissão pouco::... como posso falar? pouco::... reconhecida... no mercado brasileiro... na Europa já é uma coisa muito antiga... mas aqui no Brasil... é a coisa ... ainda muito nova... as pessoas não têm noção ainda... pensam que desenhista industrial é um arquiteto... então o que aconteceu? “eu preciso de você... só... que” aí “o governo não está admitindo ninguém... as empresas estatais estão fechadas pra tudo...” aí você fica “pô... gostam tanto de mim... gostam... adoram... só que não podem fazer nada” ( ) o que? econômico... o governo está sem o dinheiro de investir... em empresa... no caso do governo... ne/ na... nas própria empresas... do qual... ele próprio... pelos roubos que estão tendo... ele está vendendo as empresas... pra cobrir certas dívidas... no caso da Light... ele deve ( ) o governo federal está devendo... só dos planos Bresser... Collor... e tudo mais... em torno de trezentos e cinqüen/ trezentos e oitenta e cinco... milhões de dólares... e a dívida da Light é quatrocentos e oitenta e cinco milhões de dólares... então... tem um projeto... muito bonito da Light... só que... por falta de investimento... falta de verba... (15) que é o dinheiro... o que pode fazer? não pode fazer nada... então o quadro da Light... como qualquer outra empresa... está precisando mudar... o país precisa mudar... o rico sempre diz que não precisa do pobre... ele precisa para sobreviver... se (não) fosse isso... como seria o país sem o/ sem o empregado... né? então o que eu falo... o que eu quero dizer... é até um alerta... se::/ para as pessoas... passarem isso pra frente... tentar:: ajudar a... a construir melhor esse país... porque acima de tudo... mesmo essa::... essa:: realidade que eu falo que é o país... eu tenho uma palavra (16) que é a esperança... e a esperança pra mim é a última (17) que morre... é um ditado antigo... mas eu acho que pra

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mim ele funciona... eu acho que nada como trezentos e sessenta e cinco dias que se acaba... e nasce um novo ano... um novo dia... então eu acho que é perante esse novo dia... esse novo ano que a gente tem que re/ reaver a esperança e torcer

COMENTÁRIOS Nos exemplos (12) e (13), percebemos que, mesmo se tratando de orações

relativas explicativas, as orações não são meros adendos, pelo contrário, são orações

importantes, porque mostram o posicionamento, a opinião do falante sobre a questão

da educação no país. Esse tipo de realce preenchido de opinião permite que o ouvinte

tome conhecimento do posicionamento crítico do falante, tal característica é pertinente

ao relato de opinião. São, portanto, orações relativas argumentativas. No exemplo

(14), a oração relativa quebra uma expectativa do ouvinte, portanto, uma valor

concessivo. A quebra da expectativa ocorre, porque se espera que uma profissão de

nível superior, no caso a de designer, seja uma profissão valorizada, temos nesse caso

uma oração relativa concessiva. No exemplo (15), a oração relativa serve para dar

ênfase à enumeração anterior “falta de investimento, falta de verba”, trata-se de uma

oração relativa explicativa de ressalva. No exemplo (16), apesar de não haver marca

de pausa, vemos que a informação é nova no discurso e, portanto, uma explicação,

que, nesse caso, podemos inferir que serve para introduzir o argumento “ter mais

esperança no país, apesar das dificuldades já mencionadas”. Já no exemplo (17),

vemos uma restrição de “esperança”, a oração “última que morre”, sugere uma

enumeração de outros sentimentos, uma escala.

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Narrativa recontada No dia 16/7/93 eu estava malhando na academia, que logo após o término haveria um churrasco e umas cervejas, só que essas cervejas eram várias caixas, e todo o pessoal encheu a cara, e foram parar num bairro próximo (18) que se chama Jesuítas, e lá beberam mais. Nesse trajeto entre a academia e o bairro Jesuítas, eu fui primeiro para minha casa tomar um banho e um amigo me seguiu, esperou para juntos irmos para Jesuítas. E lá ao chegar já haviam bebido 21 cervejas o pessoal da academia, pois eu e meu amigo iniciamos a beber, passou certas horas e uma parte do grupo quis voltar para o bairro onde mora, que é Santa Cruz, só que o carro (19) em que eles voltaram é uma caminhonete, e um amigo meu chamado Jardel, (20) que estava sentado na parte traseira deste carro caiu dele e bateu a cabeça no asfalto, tiveram que levar para um hospital próximo que não adiantou e teve que ser transferido para o hospital do Galeão, onde ficou e passa bem.(07/08/93

COMENTÁRIOS

No exemplo (18), há apenas acréscimo de informação com o objetivo localizar o

ouvinte a respeito do local em que ocorreu a ação narrada - oração relativa explicativa

locativa. No exemplo (19), a oração relativa confirma a ação de voltar apresentada na

expressão “uma parte do grupo quis voltar”, não alterando ou acrescentado nenhuma

propriedade ao referente, sendo, portanto, oração relativa explicativa. Já no exemplo

(20), observamos que a oração relativa tem valor de causa, porque o fato de Jardel

estar sentado na traseira da caminhonete, somado a freada, é que fazem com que

Jardel sofra a queda – temos, nesse caso, uma oração relativa causal.

Relato de procedimento Uma das coisas em que mais gosto de fazer é um bom strogonof, pois me distrai fazendo e é uma delícia, já que para mim é o prato predileto, e a receita é fácil basta colocar numa panela 500 gs de carne picada com bastante cebola, tomate e pimentão com pouquinho de água,

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alho e sal, logo após milho, palmito picado, cogumelos, ervilhas; tudo na medida do qual achar melhor, pega-se depois a lata do creme de leite (21) que já estará na geladeira retirando-se o soro, e colocando toda a quantidade do creme na panela, misturando tudo, pois se notar que ficou grosso o caldo, coloca-se mais água e prove, caso falte sal ou qualquer outro ingrediente, basta acrescentar ao seu gosto, não esquecendo de colocar azeite e massa de tomate, e é só abaixar o fogo e deixar cozinhar por um tempo, até em que a carne e os outros ingredientes estejam moles, pois aí está um delicioso prato (08/08/93).

COMENTÁRIOS

No exemplo (21), vemos que a oração relativa serve para explicar o

procedimento pelo qual deve passar o creme de leite e não explica o produto creme de

leite. Isso ocorre, porque no texto o falante precisa explicar a elaboração da comida e,

nessa oração, temos duas informações importantes: a de tempo e a de lugar – antes

de começar a fazer a comida o creme de leite precisa estar na geladeira, a oração

relativa destacada é locativa.

Descrição de local A parte da minha casa em que mais gosto é a sala-de-estar, pois é nela que se tem um cantinho e uma luminária que é ideal para se ler um livro, assistir um filme etc. É neste cantinho do qual faz parte a poltrona (22) que é toda em alvenaria, (23) que compõe também a sala; um bar em alvenaria, uma estante embutida feita de madeira, uma cristaleira clássica para contrastar o rústico, um ventilador de pá com luminária (24) que é a salvação no verão, uma televisão e um vídeo (25) que nos dístrai com notícias vindas do mundo inteiro, e também, na sala-de-estar é que se recebe as visitas, que confraterniza em épocas de festas etc. (07/08/93).

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COMENTÁRIOS No exemplo (22), temos a oração relativa explicativa, em que a oração relativa

acrescenta de fato uma informação nova ao referente. A oração do exemplo (23) é

relativa explicativa como a (22). As orações (24) e (25) justificam o uso do ventilador e

da televisão e do vídeo, permitindo também que o ouvinte visualize o ambiente da

forma como ele realmente é. Essas duas últimas são orações relativas explicativas de

finalidade. Em (24) há ventilador para salvar do verão e em (25) há televisão e vídeo

para distrair.

Informante 2: Daniel Sexo: masculino Idade: 22 anos Data da coleta: oral- 14/03/93; escrita- 15/03/93 e 23/03/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal I: tem que responder agora? ((riso)) engraçadão... pô... no dia (26) que teve a formatura do meu primo quando ele... terminou... o segundo grau... a gente foi pra festa e::... tinha uma porção de amigo nosso na festa... aí a gente bebeu pra caramba ((riso)) aí saiu da festa/ quando acabou a gente saiu da festa... foi pra um outro bar... ainda... lá em Botafogo... aí terminamos a noite... a gente pegou o carro pra voltar pra::... pra casa... aí eu alucinado... pô... vim alucinado com o carro... aí no meio do Rebouças... aí bati num Voyage ((riso)) perdi a direção do carro e fui raspando o carro pelo paredão do túnel assim... uns cem metros... aí eu parei o carro e pô... a garota (27) que estava comigo... desesperada... que a foligem tinha ( ) crioula... assim legal ((riso)) aí eu tentei sair com o carro não tinha jeito... o carro quebrou tudo... aí... pô... saltei do carro pra... pedir ajuda... né? aí eu comecei a andar... aí na minha frente ((riso)) tinha um...

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COMENTÁRIOS No exemplo 26, a informação na oração relativa é temporal. Já o exemplo 27

tem uma oração relativa restritiva que apresenta uma pessoa do sexo feminino, que

integrava “gente” que foi à formatura.

Narrativa recontada I: pô... um amigo meu... o Alexandre/ tem um mês... tem um mês isso... saiu... né? com a namorada dele... e mais uns amigos... aí... pô... eles foram pra uma festa... aí a festa acabou cedo... era duas horas... eles... eles saíram da festa... e ele deixou a namorada dele em casa... e foi com os amigos dele pra uma outra festa ainda... de um:: amigo dele do colégio... aí eles chegaram na festa quase três horas... tinha acabado já::... a cerveja... tinha acabado a bebida toda... né? e os caras na... na maior pilha ainda... querendo beber... não sei o quê... aí os/ o dono da festa falou pra eles irem comprar mais que ele dava até o dinheiro... aí eles pegaram os ((riso)) os cascos... né? o engradado de cerveja... e... desceram... pegou/ o Alexandre pegou o carro dele e foi... comprar cerveja... aí estava descendo pela Conde de Bonfim... né? e ia dobrar... numa rua à esquerda... (28) que era contramão ((riso)) pra ir no/ na... na padaria (29) que estava aberto lá pra comprar cerveja... no bar (30) que estava aberto pra comprar cerveja... aí ele... pô... ligou a seta... reduziu... quando ele virou pra esquerda pra cruzar a Conde de Bonfim... vinha um táxi... ((interrupção de colega de trabalho)) vinha um táxi correndo pra caramba... e bateu... na porta dele... do lado dele assim... acabou o carro...

COMENTÁRIOS No exemplo 28, a oração relativa, seguida de “risos”, cria um suspense de que

algo poderá sair errado, já que, mesmo sendo três horas da manhã, a rua é contramão.

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Além disso, o “riso” desfaz a sensação de perigo criada ao entrar na contramão e

atribui à oração um valor concessivo “a esquerda é contramão, mas não houve

problema sério”. As orações dos exemplos 29 e 30 são iguais, a 30 é uma correção da

29, já que eles procuravam bebida num bar e não numa padaria. A oração relativa em

30 é restritiva, porque podemos inferir, de acordo com a narrativa, que às 3h da manhã

não deveria haver muitos bares abertos.

Relato de procedimento E: como é que se joga? I: pô... sueca... pô... é um jogo de cartas... você joga com um baralho do::... do::... do::/ caramba... quais são as cartas? do:: do sete ao/ não... sem o oito... o nove e o dez... baralho completo... sem o oito... o nove e o dez... é... ah... e o ás é a carta que vale mais... seguida do sete... o:: rei... valete... dama... e os números não valem pontuação... só valem/ não fazem ponto... não valem nada... e::... joga sempre em duas duplas... uma contra a outra... né? e:: ((riso)) um naipe e o: cara (31) que distribui a... a carta... eles... puxam a... carta de cima do baralho ou a de baixo... é o naipe (32) que fica sendo o trunfo... o trunfo serve pra... quando você não tiver a carta do naipe (33) que está na mesa... você corta o::/ corta o jogo... e sueca ela é legal porque você rouba pra caramba... entendeu? só não pode deixar a dupla adversária perceber ((riso)) aí... pô... quando tem o maior jogão na mesa... um ás... um sete... pô... I: ninguém percebe... ele vai arrumando as cartas e deixa sempre uma carta alta... em cima do bolo (34) que está embaixo já... aí puxa/ mas isso só quando neguinho já está muito bêbado também... porque... pô... jogo com todo mundo sem estar bebendo... não dá pra roubar muito porque... uma hora alguém percebe ((riso)) ainda mais roubando assim... renunciando não... renunciando tu pode renunciar à vontade que... uma vez ou outra assim só... que eu::/ a outra dupla

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COMENTÁRIOS Como se trata de um relato de procedimento, nesse caso de como jogar sueca,

as relativas representam a função dos seus referentes e não uma propriedade deles.

As orações 31, 32, 33 e 34 são todas orações restritivas.

Relato de opinião I: as pessoas preferem investir até na África... pô... no/ na Ásia do que investir no Brasil... o que não era... na década de setenta o Brasil era apontado pelos Estados Unidos como o país mais promissor do mundo pra::/ pros americanos investirem no exterior... né? hoje em dia não... hoje em dia... o Brasil é apontado como um dos piores... só perde pra Iugoslávia (35) que está em guerra civil ((riso)) pra Etiópia... só perde pra coisa assim... até o::/ até Paraguai... Uruguai... assim... Bolívia... eu li uma reportagem que... pô... todos os países da América Latina tão melh/ são... apontados na frente do Brasil pra... pra... quando o americano vai fazer investimento... em outro país... e além do mais esse Itamar quer vo/ fazer voltar o Fusquinha (36) que é um/ ((riso)) é uma carroça... é uma coisa totalmente assim fora de época... E: já reservou o seu? ((riso))

COMENTÁRIOS No relato de opinião acima, as orações 35 e 36 carregam o juízo de valor do

falante. Na oração 35, a oração relativa não explica o referente, mas contribui para a

construção do significado de “O Brasil é apontado como um dos piores”, criando uma

escala argumentativa que demonstra como a situação do Brasil é ruim

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economicamente – temos aí uma oração relativa argumentativa, realizada a partir da

escala. Na oração 36, além da opinião do falante, observamos que se trata de uma

oração relativa restritiva.

Informante 3: Érica Sexo: feminino Idade: 24 anos Data da coleta: oral- 20/05/93; escrita- 03/04/93 e 06/04/93 PARTE ORAL Narrativa recontada I: eu vou contar uma história triste... eh::... o:: meu marido tem um amigo... que::... ele era:: esportista... acho que ele era nadador... profissional... e ele/ apareceu um::... um... negócio nas costas dele que ele não sabia o que que era... aí ele foi ao médico... aí o médico olhou e falou que era uma doença lá... alguma coisa que ele ia ter que o/ eh... fazer uma cirurgia... e era uma cirurgia simples... mas que não tinha ainda na época uma tecnologia... que pudesse::/ que ele pudesse fazer essa cirurgia no Brasil... então ele ia ter que ir à França... e o médico dele foi à França... justamente por causa dele... (37) que era um caso raro... e:: o/ quem ia operar ia ser o próprio médico dele... mas orientado por uma equipe francesa... então o médico dele foi primeiro... e:: eles estudaram o caso lá desse rapaz... eh::... só que o médico teve que voltar antes... e depois ia(m) retornar à França com o rapaz pra cirurgia... aí esse rapaz foi ao consultório do médico...

COMENTÁRIOS Na oração 37, o médico dele foi à França... justamente por causa dele... que era

um caso raro. Podemos entender a oração relativa de duas formas: (a) que a forma

verbal “era” corresponde a “tem” (ele tem uma doença rara), podendo inclusive a

substituição por cujo – dele cujo caso é raro; e, (b) a existência de uma metonímia em

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que “ele” substitui “doença”, porque a doença é rara. Verificamos que se a

interpretação for (a) ou (b) o fato é que a oração relativa explicativa funciona para

enfatizar e mostrar a causa de o médico ter ido à França tratar dessa pessoa.

Relato de opinião I: eh::... deixa eu falar da educação... a educação está indo de:: mal a pior ((riso)) eu acho que está todo mundo vendo... né? eh::... os estudantes estão sem dinheiro pra pagar a faculdade... a faculdade está sem dinheiro pra manter a instituição... os professores estão recebendo mal... estão ganhando mal... eh::... tem muitos centros acadêmicos que estão fechando... ou estão... so/ eh::... sofrendo uma ameaça... né? como é o:: Centro Tecnológico da PUC que::... sempre foi o maior do... do Rio de Janeiro... um dos maiores do Brasil... está completamente sem verba e ameaçado de fechar até o final do ano... quer dizer... se uma:: universidade do porte da PUC... está passando por isso... imagina as federais... em que estado não... estão.... né? não só::... a nível do... do... do sistema mesmo acadêmico.... como:: os prédios... a manutenção dos pré::dios... imagina como (não) estejam... se a PUC já não tem sabonete nos banheiros ((riso)) nem papel higiênico... imagina as federais... e::... é uma coisa que estou percebendo... que não está só a nível de... de::/ nível universitário... nos próprios colégios mesmo... eh::... a remuneração dos professores é muito baixa... e:: os pais estão cada vez com menos condições de pagar o curso pros filhos... muitas crianças estão... passando pro sistema público...(38) que não tem condições... eh::... de::... ter tantos alunos... já não tem condições de manter os alunos... (39) que não podem pagar... escola particular... quanto mais esses (40) que estão saindo das escolas particulares... né? eu acho que a tendência agora é só piorar... não sei a... a que ponto nós vamos chegar...

COMENTÁRIOS No exemplo 38, percebemos que a oração relativa possui valor concessivo. Os

alunos são transferidos para as escolas públicas, apesar de elas não terem condições

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de recebê-los. As oração relativa 39 está no mesmo nível argumentativo da oração

relativa 40, ambas servem para comprovar a tese dela de que “a tendência agora é só

piorar”.

Informante 4: Jorge Luís Sexo: maculino Idade: 26 anos Data da coleta: oral- 24/04/93 e 04/08/93; escrita- 24/04/93, 26/04/93 e 04/08/93 PARTE ORAL Relato de opinião I: é tudo uma... uma coisa ligada a outra... entende? então para você resolver uma coisa... é difícil... entendeu? e a... imagem do político/ do país também está muito desgastada... entendeu? com esse lance do Collor... com essa máfia toda... da esposa... dessa... baderna toda (41) que eles fizeram... pô... mas eu acho que o Brasil é::... é um país muito grande... entendeu? pode melhorar... entendeu? eu acho que::... a solução para todo o país... entendeu? é:: exportar mais e importar menos... entendeu? aí você sim... dá uma... contrabalanceada assim na balança e... tentar... daqui a uns tempos... os seus filhos... entendeu? de repente vão ter condições... de estudar numa mesma faculdade que você... ou eu... de repente vou ter a mesma condição de pagar uma faculdade pro meu filho... entendeu? então a tendência é essa... entendeu? quer dizer... uma minoria... de pesso/ uma minoria de pessoas... toma conta do Bras/ do país... entendeu? porque eles... eles têm acesso às coisas... entendeu? não desvalorizando a pessoa (42) que trabalha... entendeu? deixando isso bem claro... porque tem pessoas (43) que... fazem por onde pra poder dar uma vida... boa pro filho... entendeu? se o teu pai pode te pagar alguma coisa... se o teu pai pode te dar um apartamento... se o teu pai pode te pagar um curso... se o teu pai pode te pagar uma faculdade... tudo bem... ótimo... pô... mas se/ o meu ponto de vista é esse... entendeu? eu acho que:: isso... devia ser garantido pelo governo... entendeu? entendeu? porque o gover/ no meu modo de ver... o governo é que tinha que... batalhar a educação... ir embora... entendeu? por exemplo... eu

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faço Gama Filho... entendeu? mas se eu tivesse que estar pagando... eu não/ fatalmente eu não estaria... porque eu sou/ eu tenho crédito educativo... entendeu? Por isso que eu estou falando assim... até que a Caixa Econômica me ajuda... está pagan::do... mas agora... pô... três meses que não pagava... foi pagar agora... quer dizer... vai reduzindo... antes era integral... isso ela não está dando nada de graça não... tá? porque depois que a gente se forma... a gente paga tudo corrigido... E: um ano... I: é/ não... dois anos depois de:: de/ você se forma... você começa a pagar as coisas tudo corrigidas... entendeu? então quer dizer... eles não dão::... assistência nenhuma... deixam ( ) entregue às mos::cas... e assim vai... vai da educação... vai a alimentação... você vê aí... você lê em jornal... toneladas de comida estragam... pô... cheio de pessoas passando fome... entendeu? É a própria ((pigarro)) sistema assim... como é que eu posso falar? sistema de segurança... é tudo falho... as pessoas... não... não são de confiança... então... quer dizer... eu acho que p/ sabe? A mensagem (44) que os políticos passam... é propriamente essa... entendeu? porque... infelizmente... ou felizmente... eu não posso lhe dizer... pra nossa sorte... o futuro do país... pô... quem faz... entendeu? fala aí a miséria... três mil... né? três mil... três mil... isso dá pra... isso dá pra fazer alguma coisa? não dá pô... entendeu? enquanto tem pessoas aqui... já funcionários... (45) que ganham quatro... um mil a mais que a gente e trabalham aqui há dez... onze anos... então... quer dizer... bitolação mental... entendeu? não por/ não porque sejam burros... ou ignorantes... é porque já caíram no sistema... sabe? aí vai levando... vai levando... vai levando... aí quando você for ver... acordar... você está que nem o Brasil aí... completamente... no buraco... E: tá... obrigada... I: de na::da... pô...

COMENTÁRIOS No exemplo (41), a oração relativa explicativa define o referente “baderna”, que

resume a citação anterior. As orações (42) e (43) servem para corroborar a opinião do

falante que demonstra, todo tempo, que as classes sociais têm situações econômicas

diferentes. Nesse discurso, o falante separa sua argumentação em “pessoas que

trabalham muito para ter acesso a coisas mais caras” e “pessoas que herdam uma

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situação financeira privilegiada”. Em ambas, as orações relativas, além de contribuir

para a determinação do status do referente, servem também para firmar a linha

argumentativa do falante por meio da comparação de dois grupos sociais. A oração

(44) é uma relativa restritiva: de todas as mensagens possíveis sobre o país, a do

político é sempre da forma como o falante relatou. A oração relativa (45) tem uma valor

de causa “porque os funcionários ganham 4 mil, eles se acomodam no trabalho”.

PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Um dia resolvi sair com a minha namorada. Fomos dançar e depois resolvemos ir a um motel, só que chegando ao motel eu não poderia imaginar que eu iria me encontrar em uma situação constrangedora, não para mim mais sim para duas pessoas. Assim que parei o carro na fila de entrada dei conta de que conhecia o carro que estava à minha frente, e era sem dúvida o carro do rapaz (46) que namorava a minha irmã, hoje meu cunhado. Reconhecido o carro o que fazer; bem eu fiquei furioso e resolvi ir ver com quem que ele estava traindo minha irmã. Abri a porta do carro em que me encontrava e me puz à caminhar até o carro dele, só não podia imaginar que ao chegar até ao carro dele iria encontrar minha irmã ao lado dele agora imagine só a situação como não ficou. Ficou um clima horrível e acabou estragando a noite de todos.

COMENTÁRIOS

A oração relativa 46, além de acrescentar uma informação ao referente, também

contribui junto com o termo “motel” para o entendimento da expressão “situação

constrangedora”, oração relativa explicativa.

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Narrativa recontada Quando eu fiz o meu 2o grau eu conheci dois rapazes. Um se chamava Jucinei e o outro Paulo. Passado algum tempo depois de termos terminado o 2o grau, encontrei-me com Jucinei na antiga Robin Hood, uma discoteca que se encontrava no Alto da Boa Vista. Começamos a conversar e com as conversas vieram as lembranças, e com elas vieram também à notícia da morte do passivo Paulo. Então fiquei chocado, pois eu lutei muito para que ele abandonasse as drogas. Quando o Jucinei me falou da morte do Paulo por assassinato fiquei desconsolado pois vi que meus esforços tinham sido inúteis. Então guardei para mim essa lembrança triste, e procuro transmitir a todas as pessoas (47) que buscam as drogas essa história triste, de uma pessoa (48) que não havia nascido para morrer assim. E procuro lembrar sempre que a “DROGA É UMA DROGA”, e que a vida apesar de todos os problemas é ótima, quando se toma o caminho certo das coisas é claro.

COMENTÁRIOS As orações 47 e 48 são relativas restritivas, a classificação desse tipo de oração

não gera polêmica, porque o termo “pessoa” é abrangente e dele precisamos retirar um

pequeno grupo de características diferentes.

Relato de opinião Infelizmente não dá pra falar de uma situação sem tocar em outra ou seja; uma situação depende da outra. Mas no meu modo de ver o câncer do Brasil são esses políticos (49) que iludem e roubam. E são não maior parte homens de grandes bens e fortunas (50) que manipulam assim a situação econômica do país. Eu acho que o único meio de mudar a situação do país é incentivando a educação. Como isso não acontece, as coisas não mudam. Só se vê recessão e mais recessão.

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COMENTÁRIOS As orações 49 e 50 são relativas restritivas.

Informante 5: Mônica Sexo: feminino Idade: 23 anos Data da coleta: oral- 01/04/93; escrita- 03/04/93 e 06/04/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal I: deixei até a fita...” uma fita que eu tinha que/ que eu tinha que ter entregue pra ele “a fita com a minha mãe...” e tal... aí ele “sua mãe?” aí eu falei “é:: minha mãe...” ele “com quem eu estou falando?” aí eu falei assim “ué... com a Mônica... (51) que faz trabalho pra você...” tal... (52) “que está fazendo a marca da tua/ do... do negócio de vídeo...” aí ele falou “Mônica... ai desculpa... desculpa...

COMENTÁRIOS As orações (51) e (52) são muito interessantes, porque são orações relativas

explicativas como se percebe pelas pausas que a intercalam. Entretanto, no contexto,

elas não são mero adendo, porque são imprescindíveis para que o ouvinte possa

identificar quem é a “Mônica” ao telefone, ou seja, do universo de Mônicas conhecidas,

apenas uma é o assunto do texto. Nesse caso, no contexto, as orações são relativas

restritivas.

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Relato de procedimento I: ... aí coloco tudo do meu lado ali... no lugar... assim... que tem/ a prancheta tem... o lugar (53) que a régua corre... e do lado tem sempre um espaço... né? pelo menos na/ do trabalho... que ela é grande... eu deixo tudo ali... aí vou... prendo... alguma coisa que::... sempre... o pessoal fala “pega o papel branco” e tal... “prende ele na prancheta...” aí:: vou executar o trabalho... pinto e tal... depois eu/ tem um painel... na frente das pranchetas... no trabalho... que você p/ vai pregando... pra você poder olhar o que você está fazendo... olhar de longe... ter uma distância... (54) que não é a da prancheta... aí você olha... coloca ali... vai fazendo... prende as coisas... depois você chega pra/ mais pra longe... empurra a cadeira e olha... aí::... sabe? pra você quando apresentar pra pessoa... ela não pegar aquilo molengo na mão... você monta... aí põe um:: papel de proteção... (55) que a gente chama de papel manteiga... e guarda lá... direitinha... quando você for mostrar pro teu cliente... está lá direitinha... aí eu faço isso...

COMENTÁRIOS A oração (53) é uma oração relativa locativa, não altera o status do referente,

mas acrescenta-lhe uma informação de localidade. A oração (54) é uma relativa

explicativa assim como a oração (55), porque acrescentam mais informações ao

referente.

PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Um fato interessante que aconteceu comigo foi uma vez que ocorreu uma confusão com um cliente meu, para o qual eu

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realizava uma marca(identidade visual) para sua produtora de vídeo. Eu liguei para ele um dia para saber se ele havia recebido uma fita de vídeo (56) que me emprestara anteriormente e também para saber sobre meu pagamento. Do outro lado do telefone, ele me atendeu de uma maneira rude e indiferente, coisa (57) que nunca havia acontecido. Não entendi. A conversa foi mais ou menos assim: “- Carlos, sou eu Mônica.”

COMENTÁRIOS

Ambas orações (56) e (57) são relativas restritivas, porque especificam o

referente.

Narrativa recontada Uma amiga minha (58) que viajou comigo durante o carnaval, teve um caso com um de meus amigos. Não sei muito bem porque ela confundiu os pais dele com os de outro amigo meu que estava na casa e cismou que o pai de seu “caso”era deputado. Depois do carnaval, eles continuaram se falando e ele várias vezes mencionava festas em sua casa e fatos (59) que o pai fazia. Ela por sua vez, achando que o pai dele era deputado, ficava sempre com aquele pensamento: Pôxa, deputado é fogo! Sempre dá festas, sempre usando dinheiro dos outros. Um belo dia ela soube que o pai dele trabalhava na bolsa de valores e dava festas com o próprio dinheiro porque gostava! Imagina só a dor na consciência! Só faltou ela perguntar o nome para fazer campanha contra o deputado!

COMENTÁRIOS Ambas orações (58) e (59) são relativas restritivas, porque especificam o referente.

Descrição de local Meu quarto é um lugar que gosto de ficar. Todo ele foi montado aos poucos e por isso sinto-o como uma conquista.

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Ele tem armário embutido com quatro portas e fica logo em frente a porta. Aliás, ele fica de lado para a porta. De cor beige claro, imitando madeira, ele combina com o chão (60) que é de formipiso, imitando madeira porém um pouco mais escuro. A parede em frente à porta tem uma janela não muito grande. Talvez 1,50m x 1,50m. No espaço (61) que sobra tem um poster de amigos meus. Ah, na janela tem um montão de adesivos (62) que coleciono. Minha cama e minha prancheta ficam bem em frente do armário e à direita de quem entra no quarto. Minha colcha é de retalho puxando para o vinho e a mesinha de cabeceira também tem um pano vinho “combinando”. A prancheta vive cheia e é fogo quando quero realmente trabalhar. Na parede em cima de minha cama fica minha televisão com o vídeo, presos à parede com aquele suporte tradicional. Na mesma parede está minha estante (63) que adoro de paixão. Foi feita por mim e meu pai e guarda desde álbuns fotográficos a livros técnicos além de materiais de desenho. Ela foi feita toda de madeira. No chão tem um tapete todo desenhado (estampado) no qual adoro deitar para relaxar a coluna. Acho que é “só”!

COMENTÁRIOS

A Oração 60, 62 e 63 são relativas explicativas, a oração 61 é restritiva.

Relato de opinião Situação Política A situação política no Brasil já não era boa mas depois de nosso último presidente, Collor, ficou bem pior. O Brasil não acredita em si mesmo. Seus políticos espelham uma situação de decadência em relação ao respeito e honestidade além de tantos outros princípios difícies de serem encontrados nesta classe (64) que hoje representa os “direitos” do povo. Agora estamos na hora do plebiscito (65) que mais parece um pano de fundo, aliás, uma cortina de teatro (66) que fica cobrindo os bastidores, onde rolam as baixarias. Como votar em Monarquia, República ou Parlamentarismo, e Presidencialismo quando a maioria da população não sabe nem o que cada um significa e às vezes nem sabe quem é o próprio prefeito ou governador de sua cidade ou estado respectivamente, como aconteceu com a faxineira lá de casa. O resultado desta brincadeira só pode ser um tiro no escuro. Que ganhe o mais sortudo pois é só disto que cada um vai ganhar! Só espero que não piore pois parece que o fundo

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do poço ainda está longe. Haja visto Índia, África do Sul, Guatemala, etc...

COMENTÁRIOS

A oração relativa 64 contribui para a construção do significado de ‘classe’ no

contexto, oração relativa explicativa. A oração relativa 65 representa a opinião do

falante sobre o que seja “plebiscito” por meio de uma comparação, atribuindo, por

analogia, ao referente características implícitas. A oração 66 é uma oração relativa

explicativa.

Informante 6: Rafaela Sexo: feminino Idade: 24 anos Data da coleta: oral- 01/04/93; escrita- 03/04/93 e 06/04/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal I: ah... eu estou no... oitavo período mas vou fazer em nove... normalmente são oito mas vou fazer em nove... E: uhn... uhn... eh::.. e... eu queria que você... me contasse alguma história que tenha acontecido com você... que você tenha achado... ou engraçada... ou aleg/ ( ) triste... [constrangedora...] I: [ou alegre?] aconteceu uma coisa super boa comigo faz umas semanas... que eu estava num barzinho sentada... no Leblon... com vários amigos... aí:: eu... olhei pra frente assim::... e reconheci uma pessoa (67) que é um profissional super conhecido de design do Rio... e eu conhecia ele por causa de outros eventos (68) que eu inclusive trabalhei... aí eu fui falar com ele... ele foi mais caloroso que o normal e tal... aí:: ele falou “poxa... Rafaela... eu estava te procurando” e tal “ia te ligar hoje mas não

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consegui::... foi uma su/ coincidência super legal te encontrar... e eu queria te:: falar um negócio” e tal... aí eu falei “ah::... que legal” e tal “então fala...” aí ele “quer conversar depois ou agora?” “não... conversar agora... conversar agora...” aí ele falou que... eles estavam precisando de uma pessoa no Centro de Promoção Design Rio...(69) que é um órgão que ele e outros profissionais de design criaram no Rio pra promover o design... então::... ele estava precisando de uma pessoa... eles pensaram em mim... pô... eu fiquei super orgulhosa de eles terem pensado em mim... eles pensaram em mim por causa de outros trabalhos e tal... e::... acabou que::... eu liguei pro escritório dele... marquei a entrevista... aí a entrevista foi ótima e

COMENTÁRIOS

A oração relativa 67 atribui uma característica ao referente pessoa,

estabelecendo um grau de valor. A oração 68 tem valor de lugar. A oração relativa 69,

além de explicar o referente “Centro de Promoção Design Rio”, ratifica a importância do

profissional, da pessoa que ela encontrou.

Narrativa recontada I: oh... my ((riso)) uma história que tenham me contado? ai... dá pra desligar? ((o gravador)) meu irmão estava me contando outro dia que::... ele conheceu um... um cara lá em Friburgo... que roubaram o carro dele... há pouco tempo aqui em Fri/ aqui no Rio... na Glória... daí ele ficou louco porque tinham roubado o carro dele... o carro dele não era tão novo assim mas... pô... fazia a maior falta e tal... era um Gol... aí ele... deu queixa na polícia... e ao mesmo tempo que deu queixa... começou a falar com o amigo dele... que era o amigo do amigo do amigo de alguém (70) que era ligado ao tráfico de carros... aí acabou que chegou na/ alguém chegou e deu um toque nele... pra ele todo dia passar naquele lugar onde tinham roubado o carro dele... passar

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COMENTÁRIOS A oração relativa 70 é restritiva.

Descrição de local I: o local que eu mais gosto de ficar::... é um local... que não dá pra eu ter acesso... assim... toda hora... é lá em Friburgo... na cidade dos meus pais... e::... tem o pico do Caledônia... (71) que é um pico que tem... dois mil... dois mil e oitenta e três metros de altitude... e lá é muito lindo... porque tem a maior paz... assim... de lá de cima você vê... toda... assim... a Serra de Teresópolis... Petrópolis e Friburgo... então você vê todas as/ você vê as... as estra::das... vê os cami::nhos e tal... então é impressionante... que de lá de cima a gente vê... assim... a gente vê como a gente é pequenininho... entendeu? vê como... tudo é fluido... é lá que eu gosto de ficar... é no alto das montanhas...

COMENTÁRIOS Oração relativa 71 é explicativa

Relato de opinião I: então eles não/ nem sabem o que que é Brasil... e::... e é bom/ eu acho que... o caminho é as pessoas... se rebelarem um pouco... pararem só de reclamar... e tomarem mais atitudes... aqui... politicamente... tipo... a/ as pessoas... têm dificuldade de aceitar até a UNE... (72) que é a coisa mais certa... (73) que tem que acontecer... é uma instituição (74)que tem um poder enorme... já virou uma instituição... quer dizer... já deix/ era uma intituição fortíssima... deixou de ser por causa... da ditadura... voltou a ser... e:...ontem eu estava conversando com umas pessoas e aí falaram “ah!... mas aquele Lindenberg Farias viaja de graça pelo Braj/ Brasil inteiro...” gente... é óbvio... a começar que ele não tem condições de estudar... fazendo o que ele está fazendo... o

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trabalho (75) que ele está fazendo... depois... se alguém não pagar pra ele as passagens... quem é que vai pagar? se for o Governo... ótimo... o Governo a gente paga imposto pra isso... pra ter nossos direitos reivindicados... então as pessoas estão totalmente assim... perdidas... entendeu? a gente tem que reforçar a UNE...

COMENTÁRIOS Ambas as orações 72 e 73 servem para introduzir uma opinião do falante sobre

a UNE. Essas orações não só contribuem para a codificação do status do referente,

mais do que isso, essas orações permitem que o ouvinte conheça o ponto de vista do

falante sobre tudo o que vinha sendo apresentado no discurso. A oração 74, além de

contribuir para a construção do status do referente, também demonstra uma

preocupação em chamar atenção para o poder que a instituição tem em relação a

outras instituições, podemos dizer que a oração relativa é argumentativa. A oração 75 é

uma oração restritiva.

PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Essa história que me aconteceu não teve um final exatamente feliz. No entanto, foi muito alegre para mim e me trouxe um grande bem estar. Num desses fins de semana em (76) que fiquei no Rio, fui ao Sindicato do Leblon, num sábado, com o pessoal da faculdade. Já era bem tarde, talvez uma hora da manhã, quando chegou um conhecido meu. Ele é um designer conhecido e eu o conhecia através de eventos (77) que o seu escritório havia organizado e

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nos quais eu havia colaborado. Ele não é exatamente meu amigo, e eu fiquei surpresa quando ele disse que precisava conversar comigo. Foi aí então que ele me fez uma oferta de estágio, me dizendo que o seu escritório estava precisando de uma pessoa e que eles haviam pensado em mim. Eu fui lá, fiz a entrevista, mas meu horário foi incompatível por causa da faculdade. Eu não fiquei triste porque era um momento da minha vida em (78) que realmente eu não poderia estagiar. Depois também fiquei feliz por terem lembrado de mim pelo próprio mérito do meu trabalho.

COMENTÁRIOS

As orações relativas 76 e 78 acrescentam valores circunstanciais às orações

anteriores. A oração relativa 77 é restritiva.

Narrativa recontada Essa história a seguir é um pouco louca e faz parte desse dia a dia da vida das pessoas no Rio de Janeiro um pouco interessante. Meu irmão me contou essa história e fiquei impressionadíssima: Um amigo dele teve seu carro roubado, na época do Natal, e não se conformou. Além do carro ser o único (79) que ele tinha estava com muita mercadoria dentro (pois ele era comerciante). Ele tinha um amigo (80) que tinha um amigo, (81) que tinha outro amigo (82) que conhecia alguém da máfia de roubo de carros no Rio. Então, ele contactou esse amigo, e acabou chegando a ele a informação de que ele deveria rondar sempre o lugar onde o carro havia sido roubado. Além disso, ele deu queixa a polícia, o que, como era de se esperar não deu em nada. Um belo dia, não sei se por causa dos contatos, ele passou em frente a delegacia e viu lá seu carro estacionado, e o que é mais interessante: intacto. Por um acaso ele estava com as chaves do carro. Ele entrou na delegacia e perguntou se alguém havia descoberto o paradeiro do carro e ninguém se manifestou. Foi aí então que ele perguntou se poderia ir embora com o carro (83) que estava estacionado em frente a delegacia, o delegado disse que sim e que não haveria problema. Essa história é louquíssima e totalmente sem nexo: por isso fiquei impressionada.

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COMENTÁRIOS

As orações do trecho acima são todas relativas restritivas, porque especificam

uma única entidade entre tantas possíveis sugeridas pelo referente.

Relato de opinião Uma das coisas que está mais em voga no atual momento do Brasil é a política, e acho que eu não poderia falar de outra coisa senão isso. É incrível a alienacão de toda a nação e é um absurdo pensar que estamos às vésperas de um plebiscito (84) que não vai servir para nada. O que tem que mudar nesse país não é o sistema de governo, mas sim, a cabeça das pessoas, através da educação séria e não através de um falso moralismo e de um paternalismo falido. Esse plebiscito para a escolha da forma de governo é totalmente sem sentido. E o pior de tudo é que têm pessoas (85) que irão votar na monarquia assumidamente Conheço uma pessoa (86) que faz parte de um movimento anti-racista dos negros (87) que disse que se é para haver monarquia temos que ter na concorrência um rei Zumbi. Concordo plenamente: os negros tem tanto direito quanto os portugueses de exigir seu espaço, já que o sistema está indo por esse caminho. Fica aqui registrada a minha revolta e eu espero algum dia ter voz e espaço para mostrar às pessoas o que e que isso tenha algum valor. Não por mim, mas por toda essa miséria (88) que está a nossa volta e que nós fingimos o tempo todo que não vemos. Espero que tudo mude e que nós sejamos um povo realizado politicamente. A política do mundo inteira está falida. Mas isso não é motivo para nos acomodarmos. Temos mais é que crescer e não ficar usando recursos do gênero desse plebiscito.

COMENTÁRIOS No exemplo 84, a oração relativa justifica o argumento anterior introduzido por

“absurdo”, nesse caso a oração relativa acumula um valor de causa “porque não serve

para nada” é um absurdo pensar em ter o “plebiscito”. As orações seguintes são

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orações relativas restritivas, porque há a necessidade de especificar a generalização

sugerida pelos referentes.

Informante 7: Regina Sexo: feminino Idade: 23 anos Data da coleta: oral- 04/08/93; escrita- 10/08/93 e 12/08/93 PARTE ORAL I: comigo? bem... constrangedora... engraçada... tá... constrangedora ((riso)) na praia... saí com... com um pessoal... be/ ba/ foi/ foram há muitos anos... eu era... até pequena... aqui no Leblon... e::... foi... foi numa época (89) que as ondas... eram en/ estavam enor::mes... né? então o pessoal passou da arrebentação... foi lá pro fundo... e::/ ah... eu... eu fiquei lá ((estalo de dedos)) o máximo que eu pude depois eu comecei a me cansar... né? eu estava ficando cansada e tal

COMENTÁRIOS A oração relativa 89 é explicativa, mesmo não aparecendo as pausas na transcrição.

Narrativa recontada I: acabou que um... um surfista lá ajudou a Patrícia a sair da água... e vieram dois ((riso)) dois negões salva-vidas pra ajudar a Ainá... a Ainá... passou um tempo fora estava branqui::nha... bem branqui::nha... com aquele biquine europeu assim... veio os dois caras fortões... tirando ela da água... foi... foi o Bocão... o Bocão e o Gigio... que me... (90) que me contaram isso... sendo que o Gigio ficou na areia olhando a cena assim... aí chegou o Bocão “ah... são e/ são elas lá no fundo?” e tal... o Gigio “ah::... são...” “ah... ah... elas estão se afogando?” “ah... estão...” ((risos)) e ele está... olhando lá... a parada acontecendo... não fazia nada ((riso))

COMENTÁRIOS Oração relativa 90 é explicativa.

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Descrição de local E: e::... agora eu queria que você me dissesse... como é que é o... o lugar onde você mais gosta de ficar na sua casa... I: na minha casa... uhn::... bem... eu paro pouco em casa ((risos)) eu paro pouco em casa... tem o meu quarto... (91) que... eu passo bastante tempo... o que mais? ah... a área externa ((descrição da área externa)) e::... deixa eu ver dentro de casa... dentro de casa tem... meu quarto e a cozinha... eu acho que a cozinha é o lugar predileto ((risos)) de todo mundo... né? ainda mais que... somos só três pessoas... né? eu... minha mãe e minha irmã... então... quando todo mundo tem a oportunidade de... estar junto em casa... né? geralmente é na cozinha (92) que a gente está conversando... fazendo alguma coisa pra comer... né? enfim... é::... é mais ou menos na ... ah... é um armário... depois vem o freezer... a geladeira... mais um armário... (93) que tem um espaço pro microondas... a bancada com um pedaço da pia... armário em cima e embaixo... fogão... e... o resto da bancada com armário em cima e embaixo... de frente... né? acaba aquela bancada do lado... vem... uma bancada ac/ a/ junto na::/ da parede... da janela... né? então... tem duas pias... o escorredor no meio... armário na parte debaixo toda... e no canto direito... armário em cima e a máquina de lavar louça embaixo... tá? acabei o lado de lá... o lado de cá agora ((risos)) I: e em cima dessa pia tem... uma/ ah... é um tipo de uma prateleira só que não é uma prateleira... é uma parada bem alta... onde a gente pendura as panelas... tem várias panelas (94) que... minha mãe comprou e que a gente pendura... é prático à beça... super prático... aí em cima do fogão tem o exaustor... e o que mais? é isso... eu acho que ...

COMENTÁRIOS

As orações 91 e 92 são relativas locativas. As orações 93 e 94 são orações

relativas explicativas, porque contribuem para o entendimento do status do referente,

destacando-os, sem a necessidade de especificá-los.

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117

6. Considerações finais

Neste trabalho, pretendemos mostrar uma nova visão no tratamento das orações

relativas, atendo-nos, para isso, na abordagem do status informacional do referente, na

gramática multissistêmica e na prosódia. Nossa conclusão foi bastante positiva, pois

verificamos que, nas orações relativas, o conteúdo e a forma como este é transmitido

são importantes para a compreensão de sentido dessas orações. Pudemos também,

com o auxílio da pesquisa de Souza (2009), confirmar que a pausa não é determinante

na classificação de uma oração relativa como explicativa ou restritiva da mesma forma

que essas classificações não são categóricas e que nem sempre as pausas

introduzirão orações relativas explicativas. Isso nos permitiu avançar na análise de

outros aspectos semânticos codificados nessas construções como causa, concessão,

argumentação, ressalva, tempo e lugar, porque em todas as orações analisadas, o

valor semântico é construído a partir da avaliação que o falante faz do conhecimento

do ouvinte. Verificamos assim que o pronome relativo “que” não introduz apenas o

referente na oração em que se encontra mas também pode fazer sua oração assumir

outros valores semânticos entre as duas orações a depender da instanciação

semântica dessas orações no contexto. Algumas vezes, o falante pretende apenas

enfatizar, destacar ou relembrar alguma informação, em outras tenta apresentar uma

informação nova ou relembrar uma informação já conhecida o que comprova que a

análise descontextualizada dessas orações nos remete a mera classificação,

desconsiderando aspectos semânticos percebidos apenas no contexto. Essa avaliação

do falante, por sua vez, ocorre no momento do discurso, na interação comunicativa, em

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118

outras palavras, na prática mais comum dos interlocutores de uma língua. Assim,

nessa interação, o falante vai influenciando a representação mental que o ouvinte faz

sobre determinada informação, e essa representação vai sendo atualizada, à medida

que a mensagem vai sendo compartilhada no mesmo nível informacional. Nessa troca

de informações, a partir do que se pressupõe, o falante tenta perceber se as

informações veiculadas são “novas” ou “velhas” para o ouvinte e, assim, novos

significados do referente são construídos ou desconstruídos. No momento do discurso,

portanto, os interlocutores vão alterando as propriedades do referente e,

consequentemente, as imagens sobre essa informação. Vimos também que as

informações novas ou velhas não estarão sempre na oração relativa, podendo já terem

sido mencionadas anteriormente no discurso. Nesse caso, a oração relativa poderá,

por exemplo, realçar algo já mencionado no discurso. A informação, portanto, será uma

combinação de informações novas e velhas sobre o referente em questão, tendo como

objetivo sempre acrescentar novos dados ao conhecimento do ouvinte ou então

chamar-lhe atenção sobre um conhecimento de que já dispõe. Além disso, entendemos

que as orações explicativas não podem ser retiradas das orações sob pena de

empobrecer a valorização discursiva que o falante julgou necessária, fosse para

destacar, realçar ou apenas relembrar ao ouvinte algum aspecto informacional do qual

já é detentor. Isso nos faz considerar que nenhuma informação veiculada pelo falante é

irrelevante do ponto de vista discursivo.

Optamos por desenvolver no futuro uma análise aprofundada dessas orações

relacionadas aos diversos tipos e gêneros textuais, uma vez que assunto, apesar das

várias pesquisas existentes, não se encontra esgotado, porque percebemos que

Page 119: Explicação e restrição: uma perspectiva cognitivista

119

algumas orações parecem ocorrer de forma predominante num determinado tipo

textual. Como um estudo inicial em relação ao tipo de oração relativa que surge em

cada tipo textual, classificamos as orações como orações relativas explicativas,

orações relativas restritivas, orações relativas argumentativas, orações relativas

causais, orações relativas consecutivas e orações relativas de tempo e lugar,

acreditamos que essas orações são correspondentes aos tipos textuais em que estão

inseridas, dessa forma, orações relativas argumentativas estarão presentes em textos

argumentativos. Pretendemos em estudos futuros confirmar tal ideia e aprofundá-la

num contínuo. Com base nessas observações, consideramos que a proposta

apresentada é mais um passo para os estudos relativos a essas orações. Esperamos

ter contribuído, de forma positiva, para discussões acerca das orações relativas e seus

valores semânticos, considerando os interlocutores e os ambientes de elaboração do

discurso, contribuindo para o surgimento de novos estudos sobre o assunto.

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8. Anexos

GRUPO DE ESTUDOS DISCURSO & GRAMÁTICA DEPARTAMENTO DE LINGÜÍSTICA E FILOLOGIA A LÍNGUA FALADA E ESCRITA NA CIDADE DO RIO DE JANEIRO Sebastião Votre e Mariangela Rios de Oliveira (coordenadores) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - FACULDADE DE LETRAS RELATO DE INTERAÇÃO INFORMANTES DO ENSINO SUPERIOR Informante 1: André Entrevistadora: Fernanda Fui à PUC fazer uma entrevista e ainda faltava uma entrevista. Fui ao departamento e pedi a lista dos formandos de onde tirei o nome do único informante que se encaixava no que eu precisava. Liguei para ele e lhe expliquei tudo que sei sobre a pesquisa. Ele se mostrou disposto a colaborar. Como eu moro muito longe dele, combinamos (em um dia em que ele iria ao Centro da Cidade) de fazer a entrevista no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). Fui ao CCBB alguns dias antes para alugar uma sala de leitura. O uníco problema é que para alugá-la é necessário um mínimo de três pessoas. A atendente (do CCBB) me sugeriu que eu pedisse a qualquer pessoa que estivesse no CCBB no dia marcado para ficar dentro da sala conosco. No dia da entrevista, enquanto eu esperava pelo informante, encontrei um conhecido meu e pedi a ele que ficasse conosco na sala. A sala é silenciosa e a entrevista foi muito agradável. Conversamos um pouco antes de começar a gravação. Expliquei para ele cada uma das questões e quando ele disse que estava preparado começamos. Ele me pediu para interromper a gravação entre uma pergunta e outra, exceto entre a quarta e a quinta perguntas. Mais ou menos na terceira pergunta (descrição) a minha voz e a dele começaram a ficar um pouco distorcidas (mas não dificulta nem um pouco a compreensão). Somente na ultíma pergunta a distorção começa a piorar. Isso só foi percebido no momento da transcrição. A fita acabou no final da entrevista (na quinta pergunta), o que acabou beneficiando a entrevista, pois o outro lado da fita não teve problomema de distorção. O informante foi muito prestativo e queria fazer a parte escrita o mais rápido possível devido ao seu interesse. A parte escrita foi feita sem a minha presença e em três dias ele me ligou dizendo que já estava pronta. Devido à distância da casa dele para ter a parte escrita em minhas mãos. Liguei para um tio meu que mora no mesmo bairro que o informante e que foi buscá-la para mim. Um amigo do meu tio de trabalho mora perto da minha casa e a trouxe. Apesar desses pequenos incidentes a entrevista é boa. Informante 2: Daniel Entrevistadora: Fernanda O Daniel é o melhor amigo da minha irmã da faculdade. Eu já o conhecia há alguns anos e é também meu amigo. Quando eu precisei, liguei pra ele e pedi pra entrevistá-lo. No dia combinado fui até a sua casa. Expliquei para ele as perguntas e quando ele disse que estava preparado começamos a gravar.

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Entre a primeira e a segunda questões e entre a terceira e a quarta, ele me pediu que parasse por um instante a gravação. Durante a terceira questão ele me pediu que explicasse melhor a pergunta. As interrupções externas foram a de um amigo dele que foi entrando no quarto e começou a falar com o Dani sem perceber que ele não interrompesse e então ele saiu e o seu cachorro que latiu um pouco. A parte escrita foi feita sem a minha presença. A primeira e a segunda pergunta ele respondeu logo no dia seguinte e veio aqui em casa me entregar (ele deu para a minha irmã na PUC). É uma das melhores entrevistas que eu fiz. Informante 3: Érica Entrevistadora: Fernanda Um dia uma amiga da faculdade da minhã irmã veio à minha casa imprimir um trabalho e ao saber que ela estava no último ano da faculdade, expliquei que fazia parte de uma pesquisa e precisava entrevistar alguns formandos. Perguntei se ela poderia me dar a entrevista e ela concordou. Ela me deu seu telefone (eu não a conhecia antes) e liguei para ela pra saber um dia 5 5 em que ela estaria livre. Combinamos e fui até sua casa (pois ela mora a um quarteirão da minha casa). Expliquei para ela as cinco questões e logo em seguida comecei a gravar. Fiz a primeira chamada (narrativa de experiência pessoal) e ela pediu um tempo para pensar. Interrompi a gravação. Com a segunda pergunta (narrativa recontada) aconteceu o mesmo após a chamada ela pediu um tempo para pensar e eu interrompi a gravação. Ela respondeu e em seguida fiz a terceira pergunta (descrição) que ela não pediu tempo para pensar. Na quarta pergunta (relato de procedimento) ela também não pediu um tempo. Depois fiz a quinta pergunta (relato de opinião) que também não foi interrompida. Estávamos sozinhas na casa dela e não tocou nem o telefone nem a campainha. Como o apartamento dela é de frente para a rua, algumas vezes ouvia-se uma buzina de carro mas muito baixo porque o apartamento dela é no quinto andar. A parte escrita foi feita sem a minha presença e ela me telefonou quando a entrevista ficou pronta (uma semana depois da entrevista oral). Ela não seguiu a ordem das respostas. Três meses depois da entrevista tornei a me encontrar com a informante para realizar uma pergunta (fala letrada). Telefonei para a informante e lhe expliquei porque precisava me encontrar com ela mais uma vez. Ela me explicou que estava um pouco ocupada e na semana seguinte tornei a ligar para combinar o dia. Fui à sua casa e no mesmo dia gravamos a fala letrada e ela escreveu também. Informante 4: Jorge Luís Entrevistora: Fernanda Minha prima me deu o telefone da firma onde ela estagiou e o nome de alguns amigos que ainda estavam lá e que se encaixavam no módulo que eu entrevistei. Liguei pra lá e falei com algumas outras pessoas antes de chegar a falar com o Jorge. Quando falei com ele ao telefone, lhe expliquei o propósito da pesquisa e sua importância. Ele se mostrou disposto a me dar a entrevista e me disse qual seria o melhor dia para ele. No dia combinado fui até uma sala “silenciosa” (a mais silenciosa que pudemos achar). Havia uma senhora trabalhando com alguma máquina. Uma das luzes da sala fazia um barulho estranho e a moça não se incomodou de desligá-la. Ela não fez nenhum barulho que incomodasse. Um amigo dele veio junto conosco e se sentou próximo a moça sem conversar

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com ela. Expliquei para o Jorge as questões da pesquisa e lhe dei um tempo para se lembrar de algum fato para me contar. Quando ele se lembrou de algum fato pra me contar. Quando ele se lembrou começamos a gravação. Entre a primeira pergunta (narrativa de experiência pessoal) e a segunda eu pedi para parar a gravação por um instante. Voltei a gravar. Ele me contou um fato que eu fiquei na dúvida se era apropriado ou não mas não pedi que ele repetísse. Parei a gravacão e dei a terceira chamada. Depois da terceira chamada fiz a quarta sem interromper a gravação. Da quarta pergunta para a quinta também não houve interrupção. Em um dado momento da quinta pergunta o informante se dirigiu ao seu amigo para confirmar algo. A parte escrita foi feita sem a minha presença. Eu lhe expliquei o que deveria ser feito e fiquei de ligar para saber se ele já tinha terminado. Ele fez a parte escrita em três dias e me ligou. Fui até seu trabalho buscar a parte escrita. Durante a transcrição acidentalmente eu desgravei algumas palavras da entrevista mas felizmente eu já tinha escrito essas palavras. A narrativa recontada teve que ser refeita (tanto a parte oral como a escrita). Mais ou menos três meses e meio depois da entrevista eu liguei para ele e lhe expliquei o que aconteceu. Ele não se importou e concordou em vir à minha casa para refazer aquela questão. No mesmo dia foi feita a parte oral e a escrita e eu estava ao seu lado durante toda a entrevista. É uma boa entrevista. Informante 5: Mônica Entrevistadora: Fernanda Ao telefonar para uma amiga da faculdade da minha irmã, depois de saber que ela estava no último ano da faculdade, pedi o telefone de algumas outras pessoas que ela conhecesse que 6 6 também estivessem no último ano. Ela me deu o telefone da Mônica, que estuda com ela na PUC. Liguei pra Mônica, falei sobre a pesquisa e ela se mostrou disposta a dar a entrevista. No mesmo dia em que entrevistei a sua amiga (Rafaela) entrevistei a Mônica. Enquanto esperava para fazer a entrevista da Mônica, que estava no estágio encontrei um amigo meu e entrevistei-o. Esperei mais um tempo e, quanto ela saiu do estágio que é na PUC mesmo (no RDC - Rio Data Centro), entrevistei-a como havíamos combinado no telefone. Expliquei as perguntas pra ela e assim que se lembrou de algo pra me contar começamos a gravação. Fiz a primeira pergunta (narrativa de experiência pessoal) e sem parar para que ela pensasse fiz a segunda pergunta (narrativa recontada). Ela começou a me contar uma história que tinha acontecido com ela novamente (seria uma outra narrativa de experiência pessoal e não uma narrativa recontada) por isso a interrompi, voltei afita, lhe expliquei novamente o item e dessa vez a resposta estava adequada. Sem parar a gravação fiz a terceira pergunta (descrição) e em seguida a quarta (relato de procedimento) que eu achei que estava adequada mas achei melhor prosseguir com a entrevista e depois resolver sobre essa questão. Sem interromper a gravação fiz a quinta pergunta (relato de opinião). Ao acabar a entrevista falei pra ela que a resposta da quarta não estava muito adequada. Ela aceitou refazer e nós regravamos aquela questão.

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A entrevista foi boa apesar de depois que começamos a gravação um grupo de pessoas se aproximou e ficou conversando relativamente próximo de nós duas. Eles nem se tocaram pra falar baixo nem nada, mas eu achei melhor não parar a gravação já não estava incomando muito. De vez em quando (quando eles falavam gravação. A parte escrita foi feita dentro de uma semana sem a minha presença. A informante entregou-a para a minha irmã na PUC. Telefonei para ela para saber se já estava pronto e foi então que ela marcou o dia da entrega. A informante seguiu a ordem das perguntas na parte escrita. Informante 6: Rafaela Entrevistadora: Fernanda A informante estuda na mesma faculdade que a minha irmã e eu já a conhecia antes de entrevistá-la. Pedi que minha irmã me desse a telefone de alguns amigos que estivessem na último ano da faculdade e, entre outros, ela me deu o telefone da Rafaela. Telefonei pra ela e expliquei porque estava ligando. Falei sobre a pesquisa sua importância e finalidade. Combinamos um dia para a coleta da parte oral. Assim que cheguei na PUC (onde foi feita a entrevista) me dirigi para o lugar combinado e após alguns minutos a informante chegou junto com uma amiga (que eu conheço também). Expliquei todos os itens da entrevista e deixei passar um tempo para que ela se lembrasse de algum fato para me contar. A primeira pergunta (sobre uma narrativa de experiência pessoal) se passou sem nehuma interrupção e esta em bom nível técnico.Me recordo que assim que lhe expliquei a primeira pergunta ela se lembrou de algum fato triste ou constrangedor que tinha acontecido com ela, mas disse que queria me contar alguma coisa boa e assim que ela se lembrou começamos a gravar. Quando fiz a segunda pergunta (narrativa recontada) passaram algumas pessoas falando muito alto e, como eu estava dando a chamada ela me pediu que imterrompesse a gravação para que ela pudesse se lembrar. Fiz a terceira chamada (descrição) logo em seguida sem que ela me pedisse para parar e também fiz a quarta em seguida (relato de procedimento). Eu deixei que ela respondesse e terminasse e, por julgar a resposta inadequada, parei a gravação, lhe expliquei porque aquela resposta não era adequada e repeti a chamada. Finalmente fiz a quinta chamada (relato de opinião) também sem interromper a gravação. A entrevista foi feita em um clima bem informal e a infomante se mostrou disposta a fazer a parte escrita. Conforme combinado com a minha orientadora, a parte escrita foi feita sem a minha presença. Ela seguiu a ordem das perguntas. Dentro do prazo que eu lhe dei (de uma semana) ela entregou a parte escrita para a minha irmã na faculdade. Eu telefonei antes 7 7 perguntando se ela já tinha acabado. Ela me disse os dias em que tinha escrito a entrevista e me perguntou aonde deveria se encontrar comigo com a minha irmã para lhe dar a parte escrita. O texto escrito do relato de procedimento foi refeito mais tarde e me foi entregue três meses e meio depois do início da entrevista. Informante 7: Regina

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Entrevistadora: Fernanda A informante estuda na mesma faculdade que a minha irmã. Quando eu pedi para esta o telefone de alguns amigos dela do último ano da faculdade, ela me deu entre outros o dessa informante. Eu liguei para sua casa (eu já a conhecia), lhe falei sobre a pesquisa e ela se mostrou disposta a me dar a entrevista. Combinamos um dia para a entrevista. No dia combinado fui até a PUC e me dirigi para o CRAA (Centro dos representantes dos alunos de artes) - onde tínhamos combinado de nos encontrar, e me encontrei com a Regina que estava conversando com um amigo seu (que eu também conheço). Éramos as únicas três pessoas presente no CRRA. Expliquei para ela as questões e lhe dei um tempo para pensar. Começamos a gravação. Da primeira para a segunda pergunta e da segunda para a terçeira não houve pausa na gravação. Logo que ela começou a me contar uma narrativa recontada eu a interrompi pois teria que ser uma história que alguém tivesse contado para ela e que ela não tivesse vivenciado, porém sua história começava assim: “Eu fui encontrar com um pessoal na praia.” Eu errei ao interrompêla antes que ela contasse a história mas isso não acarretou maiores problemas. Durante a sua resposta para a segunda pergunta chegou mais um aluno e começou a conversar com outro menino que estava presente. Logo depois que eu a fiz a terceira pergunta parei a fita e pedi que eles falassem mais baixo. Eles acabaram indo para o cômodo ao lado (os Centros de Representantes da PUC são pequenas casas). Voltei a gravar. Da quarta para a quinta pergunta também não houve um barulho de motor de carro que não chega a atrapalhar o entendimento do que está sendo dito. A parte escrita foi um grande tormento. A Regina demorou quase dois meses para me entregar e em grande parte a culpa foi minha, pois, pelo fato dela morar longe da minha casa, não queria ir em sua casa buscar. Pedi que ela entregasse para a minha irmã na faculdade e ela nunca levava. Eu já tinha quase desistido da entrevista quando resolvi perder algumas horas do dia para ir buscá-la (apesar de já estar esperando uma parte escrita muito ruim e já estar muito desanimada), me surpreendi muito ao verificar que a parte escrita estava excelente e foi sem dúvida alguma a melhor parte escrita das informantes do sexo feminino das que eu entrevistei. Somente por isso continuei com essa informante. Informante 8: Valéria Entrevistadora: Fernanda Liguei para um amigo da minha irmã do segundo grau que estava no último ano da faculdade perguntando se ele poderia me dar uma entrevista. Ele disse que era muito tímido mas foi muito simpático comigo e disse que me daria o telefone de alguns amigos da faculdade. Entre muitos outros ele me deu o telefone da Valéria. Liguei para ela, expliquei o propósito da pesquisa e ela se mostrou disposta a dar a entrevista. Marcamos um dia e fui até sua casa. Expliquei as cinco questões e lhe dei um tempo para pensar. Quando ela se lembrou começamos a gravação. Além de nós duas sua irmã também estava presente. A parte oral toda foi feita sem que ela me pedisse para parar entre uma pergunta e outra. Não fomos interrompidas nem por telefone, nem campainha e sua irmã só entrou na sala quando

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já tínhamos terminado a gravação. Durante alguns segundos na primeira pergunta (narrativa de experiência pessoal) o relógio de parede tocou algumas vezes mas isso não comprometeu em nada a gravação. Esta é sem dúvida alguma uma das melhores gravações que fiz. 8 8 Valéria demorou um pouco mais de uma semana para me entregar a parte escrita. Dez dias depois da entrevista oral ela me telefonou me dizendo que a parte escrita estava pronta. Ela respondeu as questões em ordem. Como ela mora perto da minha tia, esta passou na portaria do prédio e trouxe para mim a parte escrita. 9 9 INFORMANTES DO ENSINO MÉDIO Informante 9: Carlos Entrevistador: Enrico A entrevista foi realizada em própria casa. Ele já tinha visto a entrevista de sua irmã, mas mesmo assim eu expliquei tudo de nova dando todas as informações necessárias. A gravação foi feita sem nenhum problema e ocorreu naturalmente. Ele foi uma das melhores entrevistas feitas por mim, pois ele estava bem a vontade e seguro no que ia falar sem dar nenhum trabalho. O material escrito foi coletado no mesmo dia, mas eu dei um tempo muito bom para que ele descansasse. No começo da coleta do material escrito ele teve um pouco de dificuldade, mas com a minha ajuda ele refez e se saiu muito bem. Informante 10: Claire Entrevistadora: Tatiana As informações sobre o que iríamos conversar já tinham sido explicadas por mim para a informante, (ela assistiu uma entrevista anterior de uma amiga, que também foi informante, chamada Flávia). Enquanto eu entrevistava a amiga, a informante pensava nos temas a serem abordados, e não teve dificuldade alguma em desenvolvê-los (tanto no material oral, quanto no escrito). As gravações foram realizadas na minha casa, sendo a escolha final do local da própria informante. Apesar da presença de terceiros (a amiga), não fomos interrompidas uma única vez. Os textos orais foram coletados num dia só. O material escrito foi produzido em duas sessões, com intervalo de três dias, na casa da informante. Na primeira, ela escreveu sobre as narrativas de experiência pessoal e recontada; e na segunda sessão, foram produzidos os textos sobre descrição, relatos de procedimento e de opinião. O material foi coletado no quarto dela e a informante seguiu o roteiro dos textos. De uma forma geral, esta foi a que melhor soube desenvolver os temas. Informante 11: Cristina Entrevistadora: Tatiana Antes de começar a gravar, eu explicava o que queria e a informante escolhia os temas a serem abordados. Ela sentiu-se à vontade e soube desenvolver todos os assuntos (Ela assistiu uma entrevista anterior). As gravações foram realizadas em minha casa (no quarto), sendo a escolha final do local, sugerida pela informante. Estávamos sozinhas e não houve interrupção alguma.

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Os textos orais foram produzidos num só dia, e marcamos a coleta do material escrito após quatro dias. Este foi feito em duas sessões, na casa da informante. Na primeira sessão, ela escreveu as narrativas e a descrição (ficou um pouco prejudicada pela presença do irmão, que falava o tempo todo). Na segunda, a escrita dos relatos de procedimento e de opinão (desta vez, estávamos sozinhas). A informante seguiu o roteiro dos textos. Informante 12: Dario Entrevistador: Enrico A gravação foi feita na escola do informante, em uma sala de aula. O que atrapalhou um pouco a gravação foi por ser o informante um pouco gago e o barulho que estava na escola. Mas não afetou a coleta. O informante me surpreendeu, pois foi muito bem nas entrevistas. A coleta do material escrito foram feitas em duas sessões, três dias depois na casa do informante que desenvolveu com facilidade todos os textos escritos. Que foram os seguinte: narrativas de experiência pessoal e procedimento na primeira sessão. E na segunda sessão descrição de local, relatos de opinião e procedimento. 1 1 Nessa coleta eu também estava presente para dar intruções, em caso de alguma dúvida por parte do informante. Informante 13: Fábio Entrevistadora: Tatiana Antes de iniciar a gravação, expliquei ao informante tudo o que seria feito. É importante lembrar que esta parte foi feita juntamente com o seu irmão, que também foi informante (Mário). As gravações foram feitas na casa do informante, mais exatamente, em seu quarto. Não havia ninguém ao nosso lado, mas existiam pessoas na sala. Apesar disto, a gravação foi perfeita. O informante mostrou-se disposto a responder sobre qualquer tema e sentiu-se muito à vontade, já que era meu primo. Todos os textos orais foram gravados no mesmo dia e os textos escritos foram feitos em duas sessões. Numa, foram escritas as narrativas de experiência pessoal e recontada, em outra, a descrição, o relato de procedimento e o relato de opinião. O roteiro dos textos foi seguido e muito bem desenvolvido pelo informante. Informante 14: Flavia Entrevistador: Enrico A informante, eu já conhecia, por isso foi fácil explicar o que iria ser feito e ela aceitar. Antes de começarmos a gravar, ela já tinha uma idéia dos temas abordados. As gravações foram feitas na casa dela na presença de seu namorado, que também seria entrevistado. A entrevista foi informal e desenibida sem interrupção. O material escrito foi produzido em duas sessões, com intervalo de dois dias, também na casa da informante. Na primeira, foram sobre as narrativas de experiência pessoal e recontada; e na segunda, foram sobre os textos de descrição, relatos de procedimento e de opinião. Ela seguiu corretamente o desenvolvimento dos textos e não teve nenhum problema. Informante 15: Flávia Regina Entrevistadora: Tatiana As informações sobre o que iríamos conversar foram passadas por mim para a entrevistada e

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para uma amiga (que foi também informante). Sendo assim, a informante sabia, previamente, os temas a serem abordados. Ela sentiu dificuldade apenas na escolha do relato de opinião. As gravações foram realizadas na minha casa, sendo a escolha final do local, da própia informante. A amiga presenciou, mas não houve interrupção alguma (só percebemos alguns ruídos, por conta dos risos no intervalo das perguntas). Os textos orais foram produzidos num único dia. Os textos escritos foram coletados em duas sessões, com intervalo de um e dois dias. Na primeira sessão, a informante escreveu as narrativas de experiência pessoal e recontada; na segunda, a descrição, e os relatos de procedimento e de opinião. Os textos escritos foram feitos na casa da informante, no quarto dela. Ela soube desenvolver muito bem todos os textos e seguiu o roteiro dos textos. Informante 16: Isabel Entrevistador: Enrico A gravação foi feita em sua própria casa na presença de sua irmã que não pertubou. Antes de começarmos a gravação eu expliquei tudo que ela iria abordar durante a entrevista. E eu falei que quando ela estivesse pronta para a entrevista que me avisasse. Ela pensou bastante no que ela iria falar e quando achou que já estava pronta ela me avisou. Devido a esses detalhes toda a entrevista ocorreu muito bem. Durante a gravação não houve interrupção por parte de ninguém com isso ela desenvolveu naturalmente os ítens. A coleta do material escrito foi feito no outro dia com a minha presença ,que também saiu muito bem. Ela conseguiu desenvolver cada texto que foram narrativa de experiência pessoal, recontada, descrição de local, relatos de procedimento e de opinião. 1 1 Informante 17: Jean Entrevistadora: Tatiana Os textos orais foram feitos em minha casa (na sala), com a presença de dois primos do informante. A escolha final do local foi do entrevistado. Apesar da presença de terceiros, só percebemos poucos ruídos (na realidade, foram risos dados nos intervalos da fala). O informante mostrou-se disposto e muito à vontade, tanto na coleta do material oral, como no escrito. O material oral foi coletado numa única sessão, juntamente com os textos escritos de narrativas de experiência pessoal e recontada. Após dois dias, o informante entregou os textos sobre descrição, relato de procedimento e relato de opinião. É importante dizer que o material escrito foi feito na casa do informante. O roteiro dos textos não foi seguido pelo informante, porém foram muito bem feitos. Pode ser que isto tenha acontecido porque as narrativas foram escritas no mesmo dia da entrevista e os outros textos tiveram um intervalo de dois dias, conforme escrito anteriormente. O informante esteve sozinho ao produzir os textos escritos. Tudo o que foi feito, tinha sido explicado previamente por mim, em todas as coletas. Informante 18: Márcio Entrevistadora: Tatiana Antes de começar a entrevista, eu comecei a explicar o porquê da gravação e a explicação do porquê, como e quais seriam os temas abordados foi dada ao informante e ao seu irmão (Fábio) que também serviu como informante. Expus ao informante os cinco ítens que ele iria abordar, tanto na fala como na escrita. É importante dizer que o informante sentiu-se muito à vontade, já que era meu primo. As gravações foram feitas na casa dele, mais especifícamente, em seu quarto. Ficamos sozinhos

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e só fomos interrompidos uma única vez, na qual sua mãe foi pegar um lençol no guarda-roupa, porém, isto não prejudicou em nada a gravação, já que ao observar a nossa entrevista, ela saiu imediatamente do quarto, em silêncio. Não foi necessário nem parar o gravador. Percebemos poucos ruídos pois, apesar de estarmos sozinhos no quarto, havia pessoas na sala. A gravação foi feita num único dia e o informante só teve dificuldade em escolher um tema para o relato de opinião. Os textos escritos foram recolhidos em duas sessões: uma para a narrativa de experiência pessoal e recontada, e outra para a descrição, relato de procedimento e relato de opinião. O informante seguiu o roteiro das perguntas e, apesar de desenvolver muito bem a descrição no texto oral, com o texto escrito foi diferente, ele se perdeu um pouco. Informante 19: Maria de Fátima Entrevistadora: Enrico Antes de começarmos a gravar, eu expliquei o que seria gravado. Eu a conheci no colégio dela, onde também foram realizadas as entrevistas. No início das gravações ela ficou um pouco atrapalhada, mas logo conseguiu se normalizar. No local não havia pessoas, era uma sala de aula. Porém as conversas dos alunos nos corredores atrapalhou um pouco a gravação. Mas não houve maiores problemas. O material escrito foi feito por ela em sua própria casa, seguindo as minhas instruções. Só houve problema com o texto de relato de opinião que precisou ser refeito. Informante 20: Roney Entrevistador: Enrico Este informante era o namorado da Flávia que já tinha sido entrevistada. Ele já estava inteirado de como seria a entrevista, pois ele já havia assistido a entrevista dela. As gravações foram realizadas na casa da Flávia. Roney ficou totalmente desenibido e as entrevistas foram bastantes descontraídas. O material escrito foi feito em duas sessões: primeiro as narrativas de experiência pessoal e recontada,na outra, a descrição, o relato de opinião e procedimento. 1 1 Informante 21: Suzana Entrevistador: Enrico A gravação foi feita na casa da informante, onde se encontravam mais três pessoas que iriam ser entrevistadas. E que assistiam para ver como se passava as gravações, pois eles seriam os próximos. Um deles era o irmão dela e dois somente amigos de turma, no qual fiz logo amizade com eles e conversamos bastante. Na gravação Susana ficou muito tímida e não queria falar muito. Porém com o passar da gravação e com o meu estímulo conseguia fazer ela se soltar. O material escrito foi coletado também em sua casa, que precisou ser refeito já que ela havia escrito muito pouco. Depois com minhas novas intruções ela conseguiu fazer sem maiores problemas. Informante 22 : Valéria Cristina Entrevistadora: Tatiana Antes de começarmos a entrevista, eu expliquei à informante o que seria feito e quais seriam os temas que ela deveria desenvolver.

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A gravação foi feita na minha casa, por escolha da própria informante. Estávamos sozinhas, no meu quarto. Não houve interrupção alguma e nem ruídos. Mas, nos textos orais, a entrevistada não soube desenvolver bem os textos. Creio que a culpa foi minha porque não sei se fui clara o bastante ao explicar como deveria ser feita a gravação. A informante poderia ter tido um desenvolvimento bem melhor, mas foi muito objetiva em suas respostas. Esses textos foram coletados numa única sessão. Os textos escritos foram produzidos em duas sessões, na casa da informante. Na primeira, ela escreveu as narrativas; e na segunda, a descrição e os relatos de procedimento e de opinião. A informante saiu-se muito bem nos materiais escritos, e estava muito à vontade (foram coletados na casa dela). Não fomos interrompidas. O roteiro dos textos foi seguido pela informante. Informante 23: Wagner Entrevistador: Enrico A coleta do material oral foi feito na casa da Susana que já foi mencionada anteriomente. Antes de começarmos a gravar ele já tinha visto uma entrevista, por isso foi fácil entrevistá-lo. Durante as gravações não houve interrupções e ele desenvolveu naturalmente os ítens e até falou demais e eu tinha que avisá-lo devido ao tempo da fita. A coleta do material escrito foi feito no mesmo dia pelo seu próprio pedido, dando desculpa que não daria para fazer em outro dia, pois estava em prova final. Mas mesmo assim ele conseguiu desenvolver os textos bem além do que eu esperava e também escreveu bastante sem nenhum problema. Informante 24: Yuri Entrevistadora: Tatiana Antes de iniciarmos a gravação, eu expliquei ao informante porque estava ali e quais seriam os temas que ele deveria abordar. Tanto os textos orais, como os escritos, foram produzidos na casa do informante. Não saíram melhores por causa das interrupções (a mãe estava trabalhando na cozinha e havia um telefone na sala: local da gravação). Embora o informante more num apartamento no décimo sétimo andar, é possível escutarmos barulhos de buzina e pessoas conversando. O pai estava presente, porém não perturbou em nada. O informante mostrou-se disposto nas gravações, mas nem tanto com os textos escritos. Os textos orais foram coletados numa única sessão. Após dois dias foram produzidos os materiais escritos, com duas sessões: numa, as narrativas de experiência pessoal e recontada e noutra, a descrição, o relato de procedimento e relato de opinião (com intervalo de um dia). 1 1 Houve dificuldade em produzir os relatos de procedimento e de opinião. Ele não seguiu o roteiro dos textos, mas produziu muito bem as narrativas e a descrição. 1 1 INFORMANTES DA OITAVA SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL Informante 25: Carla Entrevistadora: Dina Claudia Coletou-se o corpus de uma aluna da 8ª série do 1º grau de uma escola pública da região um do Rio de Janeiro. A informante Carla da Escola Estadual República da Argentina não encontrou

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dificuldades para desenvolver os temas. Eu fui à sala de aula da informante alguns dias antes da entrevista, apresentei-me, expliquei os requisitos para participar da coleta (idade e residência). No dia da entrevista, cheguei à escola na hora do recreio e fui ao encontro de um grupo de alunas e as convidei para participar da coleta. A informante se prontificou rapidamente, demonstrando bastante interesse em colaborar. A coleta foi feita numa sala reservada onde a informante estuda. Primeiramente eu pedi à informante que pensasse numa história pessoal. Quando a informante lembrou da história eu liguei o gravador. Logo após o relato eu desliguei o gravador e pedi à informante que pensasse numa história que alguém havia lhe contado. Quando a informante achou que estava preparada para falar, eu liguei o gravador. Repeti esse procedimento em todos os outros relatos. A parte oral foi feita num só dia e após à entrevista a informante escreveu a narrativa de experiência pessoal e a recontada, o restante dois dias depois. Informante 26: Cristiane Entrevistadora: Ana Maria Eu a convidei depois de ter invalidado a informante Gisele. O material oral foi colhido durante um tempo vago, entre a lateral da escola e a quadra de esportes. Sentamos uma ao lado da outra, o ruído dos alunos foi mínimo e dos carros também. A qualidade técnica da gravação ficou muito boa. Ela falou pouco em comparação aos outros informantes. Nessa entrevista eu participei pouco com medo de fazer uma entrevista pingue-pongue. Ela não estava nervosa, mas o gravador sempre inibe um pouco. Antes de gravar eu expliquei os cinco tipos de textos que ela teria de produzir, deixei ela pensar e escolher as melhores histórias, só quando ela estava pronta é que eu gravei. Os cinco textos foram feitos no mesmo dia. A parte escrita foi feita na casa dela e entregue três dias depois. Ela não atrasou na entrega do material. Eu pedi para ela contar um crime em uma das duas narrativas, ela contou um crime na narrativa recontada e fez a fala letrada logo a seguir. De um modo geral, ela participou muito bem, aceitou fazer a entrevista e não reclamou de fazer a parte escrita. Informante 27: José Augusto Entrevistadora: Ana Maria Esse informante é filho de uma professora de 1ª a 4ª série da escola, D. Georgina, então eu falei até com a mãe dele se ele poderia participar. A mãe deu toda liberdade para “usar” seu filho. O convite foi feito um dia antes para que eu pudesse avaliar o interesse da pessoa e porque eu sempre procurei não atrapalhar os horários das aulas. Esperava sempre um tempo vago ou um dia que não tivesse aula. O informante se mostrou muito prestativo, mas a escolha do lugar não foi muito feliz. Ele ficou do meu lado no jardim lateral e tem uma rua, onde passa até ônibus, logo atrás. As crianças do turno da tarde foram chegando e eu não percebi no início, quando eu percebi já era tarde demais, já estávamos mais ou menos no último texto e eu não quis interromper a gravação para mudar de lugar, porque demoraria mais e eu não queria prendê-lo mais tempo do que o combinado, principalmente perto da hora de ir embora, mais ou menos 11:30 hs.

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1 1 Ele fez os cinco textos orais no mesmo dia. A técnica que eu usei foi a seguinte: primeiro eu expliquei cada tipo de texto separadamente, esperei ele pensar, conversei um pouco para descontrair e quando ele disse que já tinha escolhido as histórias, então gravei. Dei pausa entre cada texto para poder checar se podia continuar ou não. Ele fez a parte escrita em três sessões até porque ele não gostava muito de parar de jogar dominó nos tempos vagos para escrever sobre o que ele tinha falado na entrevista. Primeiro ele fez as duas narrativas, no segundo dia ele fez os três textos restantes, sendo que a narrativa recontada foi invalidada e então ele teve um terceiro dia para refazer a narrativa recontada. Esta foi refeita na sala da casa dele. Tinha uns amigos da turma conversando na varanda, mas não comprometeu a inteligibilidade da fita. A parte escrita foi refeita na escola. Ele também refez a parte escrita do relato de opinião porque estava curto demais. De um modo geral, o informante teve boa vontade e se mostrou solícito durante o trabalho de coleta. Informante 28: Nilson Entrevistadora: Ana Maria O material oral foi colhido num tempo vago do informante. Ele aceitou prontamente participar da pesquisa. Antes de gravar eu expliquei os cinco tipos de textos que ele teria de fazer. Dei um tempo para ele escolher a melhor história, tirei alguma dúvida, mas sem deixar ele contar a história para eu gravar ou não, a história escolhida por ele eu só ouvi quando o gravador foi ligado, para não prejudicar a comparação com os outros que não quisessem contar as histórias antes de gravar. E também porque a história seria automaticamente reformulada e perderia as características da fala (semi) espontânea. A escolha do local foi minha, procurei um lugar o mais silencioso e isolado possível, ou seja, uma sala de aula vazia no 4º andar. O ruído dos ônibus não prejudicou a gravação nem a atenção do informante. Um servente entrou na sala mas saiu logo em seguida ao ver o gravador. O informante e eu estávamos calmos e me parece que em termos técnicos foi a melhor gravação. A parte escrita foi feita em duas sessões na escola. Ele ficou na sala dos professores junto com uma menina (Gisele, que foi anulada) e conversaram um pouco. Ele voltou no outro dia para terminar a parte escrita, mas ela desistiu. De um modo geral, o informante colaborou satisfatoriamente, teve boa vontade em falar e responsabilidade em escrever no prazo pedido e não reclamou das tarefas propostas. Informante 29: Olivaldo Entrevistadora: Ana Maria A entrevista foi feita num tempo vago do aluno. A escolha do lugar foi minha, ficamos numa sala da aula vazia no quarto andar. Ninguém entrou para nos encomodar. Fiquei na mesa do professor e ele numa carteira em frente. O ruído do ônibus não afeta em nada a gravação. O informante pediu para participar porque viu os colegas sendo convidados e quis também. Ele ficou um pouco inibido com o gravador, talvez pelo fato de não manipular com freqüência este tipo de aparelho. O que para mim é natural, não é para ele. Ele foi um dos últimos a ser entrevistado e por isso não houve nervosismo da minha parte. Os cinco tipos de textos orais foram coletados no mesmo dia, seguindo a mesma técnica: eu

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explicava cada um dos cinco tipos de textos, ele pensava e dizia quando podíamos começar. De um texto para o outro sempre parei um pouco para respirar e também porque indo direto podia gastar tempo da fita com qualquer indecisão tanto dele quanto minha, por isso optei por dar pausa entre cada texto. A parte escrita foi feita em casa e entregue três dias depois da gravação. Ele não atrasou a entrega, o que eu achei ótimo. De um modo geral a participação dele foi boa e o interesse melhor ainda. Informante 30: Patrícia 1 1 Entrevistadora: Dina Claudia Realizou-se a coleta do corpus de uma aluna da 8ª série do 1º grau de uma escola pública da região um do Rio de Janeiro. A informante RJFGPAA de 14 anos estudante da Escola Estadual República da Argentina. A informante não teve dificuldades em desenvolver os temas escolhidos por ela. Cheguie à informante indo à sala de aula dela alguns dias antes da entrevista. Apresentei-me, expliquei os requisitos para participar da coleta (idade e residência) e perguntei quem gostaria de participar. A informante se prontificou rapidamente, demonstrando bastante interesse em participar. A coleta foi feita na escola da informante numa sala reservada. A parte oral foi feita num só dia e após a entrevista a informante escreveu a narrativa de experiência pessoal e a recontada, e o restante dois dias depois. Primeiramente eu pedi à informante que pensasse em uma história pessoal. Quando a informante se lembrou da história eu liguei o gravador. Logo após o relato eu desliguei o gravador e pedi à informante que pensasse em uma história que alguém havia lhe contado. Quando a informante achou que estava preparada para falar, eu liguei o gravador. Repeti esse procedimento em todos os outros relatos. Informante 31: Paula Fernanda Entrevistadora: Dina Claudia Coletou-se o corpus de uma aluna da 8ª série da primeiro grau de uma escola pública. A informante RJFGFED da Escola Estadual República da Argentina. Esta foi a primeira informante a ser ouvida, demonstrou muito interesse em participar e eu pedi para que ela falasse o máximo possível. Ela foi muito desembaraçada e extrovertida, não houve nenhum problema. A coleta do material foi feita na escola onde a aluna estuda, numa sala reservada, não houve interrupção da entrevista. Coletou-se todo material oral no mesmo dia, e o material escrito em dias diferentes. Eu fui à sala de aula da informanta alguns dias antes da entrevista, apresentei-me, expliquei os requesitos para participar da coleta (idade e residência). No dia da entrevista, cheguei à escola no horário do recreio e fui ao encontro de um grupo de alunas e as convidei para participar da coleta. A informante se prontificou rapidamente, demonstrando bastante interesse em participar. Primeiramente eu pedi à informante que pensasse numa história pessoal. Quando a informante se lembrou da história eu liguei o gravador e pedi a informante que relatasse a história. Logo após a narrativa eu desliguei o gravador e pedi à informante que pensasse em uma história que alguém havia lhe contado. Quando a informante achou que estava preparada para falar, eu liguei o gravador. Repeti esse procedimento em todos os outros relatos.

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Informante 32: Queli Entrevistadora: Ana Maria Eu escolhi pessoas que morassem perto da escola para virem no dia em que não houvesse aula. Ela foi a primeira menina a ser gravada. Ela veio à escola só para participar da gravação. O melhor lugar que nós achamos foi entre a quadra de esportes e o vestiário, não tinha nenhuma turma em tempo vago e assim escapamos do barulho dos carros, só não consegui fugir do sinal da escola. Algumas crianças apareceram, mas por pouco tempo. O mecanismo foi o mesmo, conversei um pouco para ela relaxar, expliquei o trabalho, dei um exemplo porque ela estava sem idéias e depois gravei. Ficamos sentadas uma em frente à outra no chão, mas ela não se importou com isso porque o clima estava agradável e ela sem roupa de uniforme. A parte oral foi feita num dia só. A parte escrita ela fez na escola em duas sessões, no primeiro dia ela fez as duas narrativas e no segundo dia os outros três textos. Ela não reclamou para escrever, mas gostou mais de falar. Eu fiz perguntas quando achei necessário para o enriquecimento do texto ou então quando achei que ajudaria a descontraí-la e assim o texto fluir naturalmente. Nas primeiras entrevistas 1 1 eu participei mais, nas seguintes a minha participação foi menor. Ela participou muito bem não deixando nada a desejar. Informante 33: Roberto Entrevistadora: Ana Maria O material oral também foi colhido num tempo vago do informante. Ficamos num jardim lateral porque no pátio, que eles chamam de rodoviária, estava ocupado. O ruído que as crianças fazem no pátio e dos carros que passam na rua logo atrás (esporadicamente) não chega a comprometer a gravação. Ele não parecia nervoso, principalmente porque tinha sido avisado e convidado a participar no dia anterior. Eu precisei de mais um rapaz porque Rodrigo foi invalidado. Os cinco textos orais foram coletados de uma só vez, eu expliquei cada tipo de texto que ele teria de produzir e só gravei quando ele já tinha escolhido os respectivos assuntos. Dei pausa entre cada texto para que ele tivesse tempo de respirar e eu de perguntar. Ficamos sentados lado a lado na mureta do jardim. A parte escrita foi feita na casa dele e ele trouxe três dias depois. Ele contou a narrativa de experiência pessoal de um assalto e então foi escolhido para fazer a fala letrada. Dessa parte ele queria esquivar-se, mas acabou fazendo e foi numa das salas da secretaria para que ele não visse a sua turma jogando bola no tempo vago. De um modo geral, posso dizer que ele gostou de participar, porque falou sem muito constrangimento diante do gravador e trouxe a parte escrita na data marcada, sem os atrasos costumeiros. Informante 34: Sônia Entrevistadora: Dina Claudia Coletou-se o corpus de uma aluna da 8ª série do primeiro grau de uma escola pública da região um do Rio de Janeiro. A informante não apresentou dificuldades em desenvolver os temas. O

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único problema foi que eu esqueci de pedir para a informante RJFGPSO para relatar o seu procedimento. A entrevista foi feita numa sala reservada e muito cômoda. A parte oral foi feita no mesmo dia e após a entrevista a informante escreveu a narrativa de experiência pessoal e a recontada e o restante dois dias depois. Eu fui à sala de aula da informante alguns dias antes da entrevista, apresentei-me, expliquei os requisitos para participar da coleta (idade e residência). No dia da entrevista, cheguei à escola na hora do recreio e fui ao encontro de um grupo de alunas e a convidei para participar da coleta. A informante se prontificou rapidamente, demonstrando bastante interesse em participar. Primeiramente eu pedi à informante que pensasse numa história pessoal. Quando a informante se lembrou de história eu liguei o gravador. Logo após ao relato eu desliguei o gravador e pedi à informante que pensasse numa história que alguém havia lhe contado. Quando a informante achou que estava preparada para falar, eu liguei o gravador. Repeti esse procedimento em todos os outros relatos. Informante 35: Vanessa Entrevistadora: Ana Maria Apesar de eu não gostar de incomodar a aula, foi preciso que ela subisse, como a Viviane, um pouco depois da turma, para poder conversar comigo lá em baixo. Ela esperou Viviane terminar para então fazer a entrevista. É considerada pela professora de Português a melhor aluna da classe. Ela topou participar e o fez com muita seriedade. Parecia um pouco tensa, mas é o jeito dela mesmo. A parte oral foi coletada da mesma forma: expliquei os cinco tipos de texto que ela deveria produzir, dei um tempo para ela decidir as melhores histórias, conversei um pouco para diminuir a tensão e só gravei depois dela escolher exatamente o que queria falar. Parei a cada texto para confirmar se podia seguir adiante. Os cinco foram feitos no mesmo dia. 1 1 A parte escrita foi feita em duas sessões na escola mesmo, no primeiro dia ela escreveu as duas narrativas, no segundo dia ela escreveu o restante. Ela não reclamou em participar, fez a parte oral bem disposta e a parte escrita melhor ainda, aliás, foi a única que gostou mais de escrever do que falar. De um modo geral, ela foi muito bem com uma participação séria e produtiva. Informante 36: Viviane Entrevistadora: Ana Maria Apesar de eu preferir gravar entre os tempos vagos, aconteceu que essa informante acabou não subindo junto com a turma para a aula e ficou junto um pouco comigo para fazer a entrevista. Ela não estava nervosa e falou tranqüilamente, sem inibição por causa do gravador. Falei bem pouco porque não senti necessidade de interferir. O ruído das crianças no pátio não interfere na qualidade técnica da gravação. Ficamos sentadas lado a lado no jardim lateral da escola. A parte oral foi feita da mesma forma: expliquei os cinco tipos de texto que ela teria de produzir, conversei um pouco antes para relaxar, tirei dúvidas e depois quando ela estava pronta, eu gravei. Como sempre, dei pausa entre os textos por medo de invalidar a entrevista

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com gaguejos indevidos e também isso dá tranqüilidade ao informante, isto é, não é preciso ela falar tudo direto, eu paro um pouco e espero ela pensar. A parte escrita foi feita na escola em duas sessões. Na primeira ela fez as duas narrativas e na segunda ela fez os três textos restantes. Ela respeitou a ordem dos textos: 1º narrativa de experiência pessoal, 2º narrativa recontada, 3º descrição, 4º relato de procedimento e 5º relato de opinião. De um modo geral ela participou satisfatoriamente, falou com desenvoltura e escreveu no dia pedido sem reclamar. 1 1 INFORMANTES DA QUARTA SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL Informante 37: Alaine Entrevistadora: Rosa A coleta oral assim como de todos os outros informantes deste colégio, foi feito em uma pequena biblioteca; este lugar foi o que me pareceu mais adequado para que eu e os informantes, pudéssemos ficar livres de interferências de curiosos. Ao lado dessa biblioteca tem uma sala de aula, por isso durante as entrevistas pudemos ouvir vozes de crianças e da professora o que contudo não prejudica a qualidade da gravação. Alaine foi escolhida entre os voluntários, por morar na região solicitada pelo projeto D&G. O procedimento com esta informante foi o mesmo para com todos os outros. Sempre tenho uma conversa antes de gravar para descontrair um pouco o clima que geralmente fica tenso nessas ocasiões e o informante fica mais seguro sobre o que vai falar. Durante a conversa esclareço qualquer dúvida que o informante possa ter, nesse processo ele já vai tendo uma idéia do que irá ser contado em cada narrativa solicitada. Alaine, como todas as meninas, teve muita facilidade para desenvolver os assuntos pedidos, ela estava bastante descontraída. A coleta escrita também foi feita na biblioteca, com todos os informantes juntos. Como surgiu preocupação de um informante a respeito de correção na escrita, aproveitei a oportunidade para esclarecer que isso não seria importante para o trabalho que seria realizado com o material que estava sendo coletado. Achei que era importante esse esclarecimento pois eles poderiam ficar muito preocupados em escrever corretamente e isso talvez atrapalhasse o desempenho nas redações. Essa coleta foi dividida em duas etapas. Informante 38: Alexsandro Entrevistadora: Deise A coleta do material foi feita na escola do informante, na sala da supervisão (oral) e no refeitório e sala de aula vazia (2 sessões escritas). Outros informantes também estavam presentes, produzindo seus textos escritos, sem interferirem um no do outro. Cabe ainda dizer que o refeitório foi um local tranqüilo para fazer este trabalho já que os horários escolhidos eram de nenhum movimento; e na segunda sessão escrita (sala de aula) não houve aula na escola, apenas reunião de professores, o que possibilitou uma coleta tranqüila numa sala de aula. O informante foi orientado sobre os temas da entrevista antes da gravação. Iniciada a gravação, o informante estava tímido, e parecia não ter escolhido as situações ideais como pedido. Assim

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foi preciso direcioná-lo até que produziu os textos. O texto descritivo teve que ser regravado por erro de comando, o que fizemos sem maiores problemas. Apesar de o informante ter ficado um pouco nervoso em presença do gravador, ele mostrou-se sempre muito disposto a colaborar e demonstrou ter gostado do trabalho, e perceber, no final, a importância dessa experiência para ele. Informante 39: Ana Caroline Entrevistadora: Deise Nota: A informante é Maranhense, mas veio ainda pequena e nem sequer conserva o sotaque. A coleta do material foi feita na escola da informante, mais precisamente na sala da supervisão que fica ao lado da cozinha e do refeitório. Era um local bem reservado, porém havia ruído de cadeiras sendo arrastadas, já que no andar de cima se localizam as salas de aula. Antes de iniciar a gravação, eu expliquei à informante os temas da entrevista para que ela escolhesse o assunto e, em seguida, começamos a gravar. Apesar de não termos nos conhecido antes, a informante mostrou-se bastante desinibida e sentiu-se à vontade, produzindo seus textos longos e satisfatórios. O depoimento da descrição precisou ser regravado pois eu não havia dado o comando certo, mas a informante prontamente se dispôs a fazê-lo. O material escrito foi coletado em presença de outros informantes, mas não houve interferência de um no texto dos outros. 2 2 Não tivemos problemas em nos encontrar já que todas as sessões foram feitas na escola, e os horários cumpridos. Tivemos três sessões (uma oral e duas escritas), mais uma sessão extra para gravação da fala letrada,(oral); a informante foi escolhida por seu bom desempenho. A gravação da fala letrada foi feita um mês e meio depois da última sessão porque a informante estava em provas e ainda precisou de mais uma semana para ler o texto informativo que lhe foi dado. A informante teve muita dificuldade em produzir esta última gravação, por se tratar de uma situação formal em que ela teve que contar uma história para sua turma. Com a ajuda da turma, que tratou o trabalho com seriedade, e após várias tentativas, a informante conseguiu produzir seu texto. Informante 40: Ana Maria Entrevistadora: Rosa A coleta oral, assim como de todos os outros informantes deste colégio, foi feita em uma pequena biblioteca. Este lugar foi o que me pareceu mais adequado para que eu e os informantes pudéssemos ficar livres de interferência de curiosos. Ao lado dessa biblioteca tem uma sala de aula, por isso durante as entrevistas podemos ouvir vozes de crianças e da professora o que, contudo, não prejudica a qualidade da gravação. Ana Maria foi escolhida entre os voluntários por morar na região solicitada pelo Projeto D&G. O procedimento com esta informante foi o mesmo para com todos os outros. Sempre tenho uma conversa antes de gravar para descontrair um pouco o clima que geralmente fica tenso nessas ocasiões e o informante fica mais seguro sobre o que vai falar. Durante a conversa esclareço qualquer dúvida que o informante possa ter. Nesse processo ele já vai tendo uma idéia do que irá ser contado em cada narrativa solicitada. Ana Maria foi ótima na entrevista, não teve dificuldades e estava muito descontraída.

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A coleta escrita também foi feita na biblioteca com todos os informantes juntos. Como surgiu preocupação de um informante a respeito da correção na escrita, aproveitei a oportunidade para esclarecer que isso não seria importante para o trabalho que seria realizado com o material que estava sendo coletado. Achei que era importante esse esclarecimento pois eles poderiam ficar muito preocupados em escrever corretamente e isso talvez atrapalhasse o desempenho nas redações. Essa coleta foi dividida em duas etapas. Informante 41: Angela Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1992. Informante 42: Artur Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. 2 2 O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1992. Informante 43: Carlos Vinícius Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a

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coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários três encontros para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1993. Informante 44: Daniel Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários três encontros para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1993. Informante 45: Fábio Luiz Entrevistadora: Deise Os textos orais foram coletados na escola em duas sessões (uma só para fala letrada) e os textos escritos foram coletados parte na escola e parte na residência do informante, com uma certa demora entre elas, porque o informante não pôde comparecer ao 3º encontro, marcado várias vezes. Por essa razão, eu tive que ir à sua casa duas vezes até conseguir encontrá-lo e fazer a última sessão escrita. O informante soube antecipadamente dos temas, assim como os outros. Logo após, começamos a gravar. O informante mostrou-se ansioso até saber dos temas. Depois produziu seus textos orais sem problemas, e mais à vontade. O texto de descrição teve que ser regravado por eu não ter dado o comando adequadamente, mas o informante prontamente se dispôs. O informante foi escolhido para fazer o texto fala letrada (oral) pelo seu bom desempenho na entrevista. Assim, recebeu previamente um texto para ler em casa e, no dia marcado, gravamos seu texto na sua sala de aula em presença de sua turma e de sua professora. O informante parecia ansioso mas produziu seu texto de forma descontraída, apesar da formalidade da situação. Sobre os locais da coleta, podemos ainda acrescentar que a 1ª sessão oral foi feita na sala da supervisão e a 2ª na sala de aula, e, a 1ª sessão escrita no refeitório e a 2ª na cozinha da casa 2 2 dele (local tranqüilo), apenas com a presença da mãe lavando louça, mas não inibiu ou interferiu o informante. Informante 46: Fernando

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Entrevistadora: Rosa A coleta oral assim como de todos os outros informantes deste colégio, foi feita em uma pequena biblioteca; este lugar foi o que me pareceu mais adequado para que eu e os informantes, pudéssemos ficar livres de interferências de curiosos. Ao lado dessa biblioteca tem uma sala de aula, por isso durante as entrevistas pudemos ouvir vozes de crianças e da professora, o que contudo não prejudica a qualidade da gravação. O Fernando foi escolhido entre os voluntários, por morar na região solicitada pelo projeto D&G. O procedimento com este informante foi o mesmo para com todos os outros. Sempre tenho uma conversa antes de gravar, para descontrair um pouco a entrevista; pois acredito que o informante se sente mais seguro sobre o que vai falar. Durante a conversa esclareço qualquer dúvida que o informante possa ter, nesse processo o informante já vai tendo uma idéia do que irá ser contado em cada narrativa solicitada. Mas apesar de todos esses cuidados Fernando ainda ficou um pouco nervoso durante a gravação. Acho que o fato de saber que a conversa está sendo gravada provoca esse estado, porém durante a entrevista foi se acalmando, e foi uma das entrevistas mais longas. Na fase escrita não tive muitos problemas com ele a não ser algumas perguntas sobre o modo de escrever algumas palavras; sobre o que aproveitei a oportunidade e esclareci a todos que não se preocupassem com o modo de como iriam escrever algumas palavras. Achei que isso era importante pois eles poderiam ficar muito preocupados em escrever corretamente e isso bloquear as suas redações. A coleta escrita também foi feita na biblioteca com todos os informantes juntos, foi dividida em duas etapas. Informante 47: Flávia M. Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1992. Informante 48: Flávia V. Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado,

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agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários três encontros para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1993. 2 2 Informante 49: Ivan Entrevistadora: Rosa A coleta oral assim como de todos os outros informantes deste colégio, foi feita em uma pequena biblioteca; este lugar foi o que me pareceu mais adequado para que eu e os informantes pudéssemos ficar livres de interferência de curiosos. Ao lado dessa biblioteca tem uma sala de aula, por isso durante as entrevistas pudemos ouvir vozes de crianças e da professora, o que contudo não prejudica a qualidade da gravação. Ivan foi escolhido entre os voluntários, por morar na região solicitada pelo projeto D&G. O procedimento com este informante foi o mesmo para com todos os outros. Sempre tenho uma conversa antes de gravar para descontrair um pouco o clima que geralmente fica tenso nessas ocasiões e o informante fica mais seguro sobre o que vai falar. Durante a conversa esclareço qualquer dúvida que o informante possa ter, nesse processo ele já vai tendo uma idéia do que irá ser contado em cada narrativa solicitada. As narrativas de experiência pessoal e relato de opinião foram refeitas, porque como as suas respostas eram muito curtas tive que fazer muitas interferências durante a entrevista, o que prejudicou a coleta desses dados, porém como os demais textos estavam bons seria valido refazê-los. Na segunda vez o resultado foi positivo. A coleta escrita também foi feita na biblioteca com todos os informantes juntos. Como surgiu preocupação de um informante a respeito de correção na escrita, aproveitei a oportunidade para esclarecer que isso não seria importante para o trabalho que seria realizado com o material que estava sendo coletado. Achei que era importante esse esclarecimento pois eles poderiam ficar muito preocupados em escrever corretamente e isso talvez atrapalhar o desempenho nas redações. Essa coleta foi dividida em duas etapas. Informante 50: Jéssica Entrevistadora: Deise A coleta do material oral foi feita parte na escola e parte na casa da informante e a do material escrito parte no refeitório da escola e parte na casa da informante (quatro sessões distribuídas em três dias). A informante foi orientada sobre os temas antes de gravar. Durante a gravação, estava bem à vontade, já que além de ser bastante extrovertida, me conhece há bastante tempo pois é minha vizinha e ex-aluna. Foi preciso regravar o texto recontado porque a informante não tinha produzido um texto exatamente recontado, e regravamos o texto descritivo por causa de erro de comando.

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Na verdade, alguns textos descritivos foram regravados e pude constatar que, de um certo ponto de vista, não há variação dos textos diante de um ou de outro comando. Tivemos problemas em coletar o material escrito, já que a informante faltou às datas marcadas para a 2ª sessão. Por isso, tive que ir à sua casa duas vezes até conseguir coletar. Informante 51: Juliana Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1992. Informante 52: Letícia Pontini 2 2 Entrevistadora: Rosimeri Oliveira de Souza A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários três encontros para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1993. Informante 53: Luane Anacleto Entrevistadora: Deise Antes de começar a gravação eu expliquei todos os temas que seriam abordados para que a informante pudesse selecionar cada assunto, e só então começamos a gravar. Toda a coleta do material foi feita na casa da informante, pois é o único local em que tenho contato com ela, já que sou amiga da família. Tanto o material oral quanto o escrito foram coletados no quarto da informante onde, apesar de ter uma janela para a rua, conseguimos um total isolamento. Apesar de a informante sentir-se à vontade por já me conhecer, sentiu-se, a princípio, incomodada com a presença do gravador. Depois, porém, concentrou-se nos depoimentos e mostrou-se mais calma. Não tivemos problemas para nos encontrar. O material foi coletado em aproximadamente uma

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semana distribuída em três sessões: uma para o material oral e duas para o escrito. P.S.: Luane foi a minha 1ª informante e, por isso, devo acrescentar que eu estava mais nervosa que ela, e à medida que me conscientizei da situação constrangedora que se fazia e me tranqüilizei, também a informante foi mudando seu comportamento, acalmando-se. Informante 54: Luis Carlos Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários três encontros para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1993. Informante 55 Marcela Entrevistadora: Rosa A coleta oral, assim como de todos os outros informantes deste colégio, foi feita em uma pequena biblioteca. Este lugar foi o que me pareceu mais adequado para que eu e os informantes pudéssemos ficar livres de interferência de curiosos. Ao lado dessa biblioteca tem uma sala de aula, por isso, durante as entrevistas, pudemos ouvir vozes de crianças e da professora, o que, contudo, não prejudica a qualidade da gravação. 2 2 Marcela foi escolhida entre os voluntários por morar na região solicitada pelo Projeto D&G. O procedimento com esta informante foi o mesmo para com todos os outros. Sempre tenho uma conversa antes de gravar para descontrair um pouco o clima que geralmente fica tenso nessas ocasiões e o informante fica mais seguro sobre o que vai falar. Durante a conversa esclareço qualquer dúvida que o informante possa ter. Nesse processo ele já vai tendo uma idéia do que irá ser contado em cada narrativa solicitada. É engraçado na entrevista da Marcela, na narrativa de experiência pessoal, ela diz ter duas histórias: uma boa e outra ruim, mas escolhe falar da ruim. O interessante é que de uma maneira geral todos falam de experiências ruins. Eu achava que esse fato marcava mais a vida das pessoas e era mais fácil lembrar, mas essa informante tinha a opção de falar sobre um assunto diferente dos demais porém, optou por falar sobre uma experiência ruim. A coleta escrita também foi feita na biblioteca com todos os informantes juntos. Como surgiu preocupação de um informante a respeito de correção na escrita, aproveitei a oportunidade para esclarecer que isso não seria importante para o trabalho que seria realizado com o material que estava sendo coletado. Achei que era importante esse esclarecimento pois eles poderiam ficar muito preocupados em escrever corretamente e isso talvez atrapalhasse o desempenho nas redações. Essa coleta foi dividida em duas etapas. Informante 56: Maria Carolina

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Entrevistadora: Deise A coleta do material foi feita em três sessões: uma oral e duas escritas. O material oral foi coletado na escola numa sala de aula vazia e o material escrito no refeitório (1ª sessão) da escola e na sala de jantar da casa da informante (2ª sessão), local mais acessível, já que não pudemos compatibilizar outro local e horário. A informante recebeu orientações sobre os temas antes de gravar. Durante a gravação, ela pareceu um pouco tímida e incomodada com o gravador, mas isso foi sendo superado. Vale dizer que a informante pediu à outra colega que a indicasse para fazer a entrevista. Tivemos dificuldade em encontrar um horário para a coleta da 2ª parte escrita devido às muitas atividades da informante. Mas apesar disso, ela sempre se dispôs prontamente a colaborar. E, ainda, a casa da informante foi o melhor local encontrado, pois a mesma sentiu-se à vontade e não fomos interrompidos, já que a família é pequena e o local silencioso. Informante 57: Mariana Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários três encontros para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1993. Informante 58: Patrícia Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos 2 2 podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1992. Informante 59: Pedro Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O

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material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1992. Informante 60: Rachel Entrevistadora: Deise A coleta do material foi feita na escola da informante, na sala da supervisão, assim como a maioria dos outros informantes. É válido citar que esta sala mais parece a sala de uma biblioteca, por ser cheia de livros, ou um depósito, por isso, esse local não deixa os informantes constrangidos. Também quase não é utilizado de fato, permanecendo fechado quase o tempo todo. Antes de começar a gravar, a informante recebeu orientações sobre os temas. Porém teve dificuldade para produzir uma narrativa recontada. Por isso, este texto, mais o descritivo, tiveram que ser refeitos, o que se deu sem problemas. Durante a gravação, a princípio, a informante mostrou-se tímida e ansiosa, mas depois ficou à vontade produzindo seus textos. A coleta do material escrito foi feita em duas outras sessões, também na escola, onde a informante produziu seus textos em presença de outros informantes que também faziam o mesmo trabalho, sem haver interferência. Apesar de a informante não demonstrar resistência em fazer seus textos escritos, também não se mostrou receptiva e reclamou um pouco dizendo achar trabalho chato. Informante 61: Rafael N. Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de 2 2 pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários três encontros para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1993. Informante 62: Rafael N. S. Entrevistadora: Rosa

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A entrevista foi gravada no auditório da escola; este lugar foi o que me pareceu mais adequado para que eu e o informante, pudéssemos ficar livres de interferência de curiosos. Rafael foi escolhido entre os voluntários, por morar na região solicitada pelo projeto D&G. O procedimento com este informante foi o mesmo para com todos os outros, sempre tenho uma conversa antes de gravar para descontrair um pouco o clima que geralmente fica tenso nessas ocasiões, o informante fica mais seguro sobre o que vai falar. Durante a conversa esclareço qualquer dúvida que o informante possa ter, nesse processo ele já vai tendo uma idéia do que irá ser contado em cada narrativa solicitada. Rafael ficou muito descontraido durante a entrevista; teve muita facilidade para desenvolver os assuntos pedidos. A coleta escrita também foi feita no auditório e dividida em duas etapas, porém as narrativas de experiência pessoal e recontada foram feitas no mesmo dia da coleta oral e o restante no dia seguinte porque a professora da turma alegou que não poderia ceder mais tempo pois as crianças estavam em época de prova; contudo, acho que isso não prejudicou a redação pois o informante esteve sempre muito cooperativo. Informante 63: Rafael S. Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1992. Informante 64: Renato José Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1992. Informante 65: Rodrigo Bruno 2

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2 Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários três encontros para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1993. Informante 66: Roselane Entrevistadora: Rosa A coleta oral, assim como de todos os outros informantes deste colégio, foi feita em uma pequena biblioteca. Este lugar foi o que me pareceu mais adequado para que eu e os informantes pudéssemos ficar livres de interferência dos curiosos. Ao lado dessa biblioteca tem uma sala de aula, por isso durante as entrevistas pudemos ouvir vozes de crianças e da professora, o que, contudo, não prejudica a qualidade da gravação. Roselane foi escolhida entre os voluntários por morar na região solicitada pelo Projeto D&G. O procedimento com esta informante foi o mesmo para com todos os outros. Sempre tenho uma conversa antes de gravar para descontrair um pouco o clima que geralmente fica tenso nessas ocasiões e o informante fica mais seguro sobre o que vai falar. Durante a conversa esclareço qualquer dúvida que o informante possa ter. Nesse processo ele já vai tendo uma idéia do que irá ser contado em cada narrativa solicitada. Roselane foi a informante mais velha (ela tem 15 anos), por isso suas narrativas são diferentes das outras meninas. O seu desenvolvimento durante a entrevista foi ótimo, ela estava bastante descontraída. A coleta escrita também foi feita na biblioteca com todos os informantes juntos. Como surgiu preocupação de um informante a respeito de correção na escrita, aproveitei a oportunidade para esclarecer que isso não seria importante para o trabalho que seria realizado com o material que estava sendo coletado. Achei importante esse esclarecimento pois eles poderiam ficar muito preocupados em escrever corretamente, e isso talvez atrapalhasse o desempenho nas redações. Essa coleta foi dividida em duas etapas. Informante 67: Sidney Entrevistadora: Rosa A coleta oral assim como de todos os informantes deste colégio, foi feita em uma pequena biblioteca; este lugar foi o que me pareceu mais adequado para que eu e os informantes, pudéssemos ficar livres de interferência de curiosos. Ao lado dessa biblioteca tem uma sala de aula, por isso durante as entrevistas pudemos ouvir vozes de crianças e da professora o que contudo não prejudica a qualidade da gravação. Sidney foi escolhido entre os voluntários, por morar na região solicitada pelo projeto D&G. O

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procedimento para com este informante foi o mesmo para com todos os outros. Sempre tenho uma conversa antes de gravar para descontrair um pouco clima que geralmente fica tenso nessas ocasiões e o informante fica mais seguro sobre o que vai falar. Durante a conversa esclareço qualquer dúvida que o informante possa ter, nesse processo ele já vai tendo uma idéia do que irá ser contado em cada narrativa solicitada. Sidney se mostrou calmo e cooperativo durante toda a entrevista, sua dúvida foi a respeito da descrição; essa parte é sempre difícil, os informantes confundem um pouco, mas esclarecida essa parte o resultado foi positivo. A coleta escrita também foi feita na biblioteca com todos os informantes juntos. Como surgiu preocupação de um dos informantes a respeito de correção, aproveitei a oportunidade para 2 2 esclarecer que isso não seria importante para o trabalho que seria realizado com o material que estava sendo coletado. Achei que era importante esse esclarecimento pois eles poderiam ficar muito preocupados em escrever corretamente e isso talvez atrapalhasse o desempenho nas redações. Essa coleta foi dividida em duas etapas. Informante 68: Thiago Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos poddiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários três encontros para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1993. Informante 69: Viviane Entrevistadora: Rosimeri A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube à entrevistadora. O material oral foi coletado numa sala de aula do 7º andar do Liceu de Artes e Ofícios. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era bem iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos poddiam ser ouvidos do 7º andar. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a entrevista não foi interrompida. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do 7º andar do Liceu, sempre após a coleta do material oral. Também neste local a única coisa não satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença dos outros alunos que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários três encontros para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizada no ano de 1993. Informante 70: Wellington

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Entrevistadora: Deise A coleta do material foi feita na escola, os textos orais na sala da supervisão e os escritos (em duas sessões) no refeitório e numa sala de aula. O informante nasceu no Mato Grosso do Sul, porém veio para cá ainda pequeno e nem conserva sotaque daquela região. Veio participar deste trabalho voluntariamente, assim como todos os outros informantes. O informante recebeu orientações sobre os temas da entrevista antes da gravação. Iniciada a gravação, o informante mostrou-se tímido, mas pouco a pouco foi se sentindo à vontade e produzindo seus textos de acordo com os comandos. Apenas o texto descritivo precisou ser regravado por causa de um erro de comando. Não tivemos maiores problemas em marcar as sessões e as datas foram cumpridas. É válido acrescentar que o ruído de cadeiras arrastando na hora da gravação, prejudicou um pouco um pequeno trecho da entrevista (na fita), mas não atrapalhou de fato o desempenho do informante no momento. 3 3 3 3 INFORMANTES DO CA SUPLETIVO Informante 71: Adilson Entrevistadora: Margarete Na escola Vista Alegre não havia mais rapazes para serem visitados, então fiz as coletas restantes em uma escola na Ilha do Governador. Entrei em contato com a diretora e fui apresentada à professora que lecionava no CA Supletivo. Expliquei qual era o meu trabalho e ela me autorizou a trabalhar com a sua turma. Marcamos as gravações para o dia 4 de novembro e ela me indicou três alunos que gostariam de colaborar com o projeto. O mais novo dos três, o pintor de automóveis, foi então o meu sexto informante. Não havia local disponível para a gravação e tivemos que ficar no pátio em frente à uma avenida de tráfego intenso. O informante falava alto pois não queria que o ruído interferisse na gravação. Durante a narrativa de experiência pessoal seus olhos encheram-se de lágrimas, mas ele segurou o choro. Seguiu os comandos sem dificuldades aparentando muita calma. A gravação foi rápida e sem problemas. Ele foi o primeiro a me entregar a parte escrita (o primeiro dessa escola). A coleta foi feita na sala de aula. Ele começou a fazer antes de eu chegar pois queria que a professora o ajudasse. Cheguei a tempo de impedir a interferência da professora que, com a melhor das intenções, tentava ajudá-lo. Como os colegas da turma ainda não haviam chegado, não houve mais nenhuma interrupção. Ele demorou quase duas horas para escrever os textos e demonstrou boa vontade para realizar a tarefa. Não houve problemas. Informante 72: Adriana Entrevistadora: Margarete Minha segunda entrevista foi com a Adriana. Ela é muito risonha e estava entusiasmada para falar. Assim que a primeira informante saiu da sala de aula onde fazíamos as gravações, ela entrou. Conversamos um pouco antes de começarmos. Ela estava muito agitada. Perguntei se ela estava nervosa e ela disse que sim. O motivo do nervosismo era porque a nossa conversa

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seria gravada. Apesar de eu repetir a explicação dos comandos, ela hesitou em seguir alguns deles. Parecia preocupada porque estava chovendo e já era bem tarde, por volta das dez e meia da noite. Ela volta sozinha e a pé para casa e o trajeto é longo e perigoso. A gravação só foi interrompida uma vez pela professora que veio saber se estava tudo bem. Não demoramos e, ao terminarmos, a gravação, a menina que havia sido entrevistada anteriormente ainda nos aguardava para sairmos juntas da escola. A parte escrita foi coletada com maior dificuldade. A informante preparou os textos duas semanas depois, mas como havia faltado na data marcada para a entrega, rasgou os textos pensando que não serviriam mais. Quando nos reencontramos, pedi para que fizesse novamente os textos. Durante a época de provas a informante não teve tempo para prepará-los, depois só retornou à escola para saber o resultado das provas. Houve vários dias de paralisação de aulas, reduzindo nossas chances de contato. Fui diversas vezes à casa da informante e somente no dia quatro de novembro obtive o material escrito. Faltou o relato de procedimento que só foi entregue no dia vinte de janeiro deste ano. Após a visita que fiz, interpretei a demora para entregar a parte escrita como um reflexo da situação familiar. Os informante são, em geral, carentes e não moram com os pais. Informante 73: Antônio José Entrevistadora: Margarete Meu oitavo informante foi um ajudante de caminhão. Gravamos as narrativas no horário da aula. Ele foi o terceiro naquela noite. Ficamos no pátio em frente a uma movimentada avenida. Expliquei os comandos e ele teve pressa em contar as histórias pois sentia-se nervoso com o gravador. Ele sentiu dificuldades para recontar uma história e para descrever um local de sua preferência. O seu tempo de relato foi um dos mais curtos. Não houve interrupções. A coleta da parte escrita foi feita no dia 28 de novembro na casa do informante. Eu não estava presente. Ele faltou na data marcada para entrega dos textos e depois me pediu para fazer em 3 3 casa porque ele tinha vergonha de escrever. Concordei. Ele escreveu muito pouco e disse que não conseguia escrever mais do que aquilo. A professora falou que é assim mesmo porque, apesar de terem concluído o CA, eles ainda não dominavam a escrita livre. Informante 74: Francisco Entrevistadora: Margarete Minha terceira entrevista foi no dia 19 de outubro, quando entrevistei alunos de uma segunda turma. Foram três voluntários: duas moças e o único rapaz da turma. Nesse dia não havia sala vaga para fazermos as gravações, então descemos para o refeitório. O rapaz me acompanhou enquanto as moças continuaram assistindo a aula. Conversamos, expliquei os comandos e começamos a gravar as narrativas. Próximo à mesa onde estávamos, duas alunas fingiam estudar para prestar atenção em nosso trabalho. O informante sentiu-se incomodado e pediu para trocarmos de lugar. Sugeriu que fossemos para o pátio. Isso não foi necessário porque a inspetora retirou as meninas do refeitório pois em horário de aula os alunos não podem ficar fora das salas. Concluímos a gravação ali mesmo no refeitório sem maiores problemas, a não ser o barulho da conversa das serventes que prejudicou a qualidade do som.

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Devido à paralisação das aulas na escola e ao período de provas, o informante demorou a entregar a parte escrita. Precisei ir à padaria onde ele trabalha para poder coletar o material. O informante demorou mais de um mês para preparar textos curtos e pobres, demonstrando o grau de dificuldade que possui para escrever, apesar da boa vontade. Os textos foram preparados no dia 28 de novembro de 1993. Informante 75: José Entrevistadora: Margarete O sétimo entrevistado foi o cozinheiro de trinta e cinco anos que aparentava mais de quarenta. Ele foi o segundo a ser entrevistado naquela noite e estava muito nervoso. Expliquei os comandos novamente, ele se acalmou, mas foi só ligar o gravador e ele voltou a tremer. As gravações foram realizadas no pátio em frente a uma movimentada avenida. O informante teve dificuldades em seguir os comandos e fazia sinal para que eu desligasse o gravador pois ele não conseguia falar. Ele não quis desistir, mas seus relatos foram curtos. A gravação foi concluída rapidamente e sem interrupções. No dia marcado para coleta do material escrito o informante faltou. Depois a professora me disse que ele estava com vergonha porque não sabia escrever direito. Ele mudou até de visual, tirou a barba, para que eu não o reconhecesse. A professora conversou com ele e no dia seis de dezembro ele concordou em fazer o relato escrito. O informante estava impaciente porque não conseguia escrever. A coleta foi feita na sala de aula e os colegas mandavam ele fazer uma letra bonita. Ele então quis passar os textos a limpo. Fez textos curtíssimos mas demorou quase duas horas só fazendo o rascunho. Ele me disse que gostaria de fazer um trabalho melhor e estava envergonhado porque não teve a mesma desenvoltura do colega mais novo para escrever. Não houve mais interferências ou problemas. Informante 76: Juceneide Entrevistadora: Margarete Minha quarta entrevista foi feita na hora do recreio do turno da noite. Começamos a conversar no refeitório. A informante, uma voluntária, sugeriu que fossemos para um canto do pátio onde não haveria tanto barulho. Começamos a gravação assim que expliquei os comandos. Fomos interrompidas duas vezes por colegas da informante, mas o trabalho não foi prejudicado. A informante se emocionou durante a narrativa de experiência pessoal e o relato de opinião, nos quais falou sobre a situação de sua família. Ao final da gravação ela chorou e eu me senti muito constrangida. Conversamos até ela se acalmar. Ela foi a segunda entrevistada daquela noite e, como ainda havia outro informante aguardando a hora de gravação, não pudemos prolongar a conversa. A informante me entregou a parte escrita no dia cinco de novembro. Faltou o relato de opinião que foi entregue no dia quatro de janeiro. Além dos problemas causados pela paralisação das aulas e pelo período de provas, a informante foi expulsa da casa onde morava. Demorei a 3 3 encontrar seu novo endereço. Nosso contato era difícil porque ela não tem telefone e após as provas não retornou à escola. Informante 77: Maria Rosa

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Entrevistadora: Margarete Minha nona entrevista foi realizada no dia nove de fevereiro deste ano. Foi necessária porque anulei o material de uma informante que não me entregou a parte escrita. Tive dificuldade para encontrar fora do período letivo um informante que atendesse as minhas necessidades. Ao comentar meu problema com um amigo, ele me apresentou uma conhecida que se encaixava no meu “perfil de informante”: ela concluiu o curso de alfabetização no ano passado e estudava na rede pública da região dois. Ela aceitou fazer a gravação e a parte escrita. Marcamos a entrevista para a manhã do dia seguinte no local de trabalho dela, na universidade. Nos encontramos em uma sala de leitura da Faculdade de Letras. O ambiente estava silencioso devido ao período de férias e nós nos sentimos bem à vontade. Expliquei os comandos, ela entendeu, mas disse que estava com medo de não falar direito. Então ela me pediu para contar parte da narrativa antes de gravá-las. Começamos a fazer como ela queria e quando ela se sentiu segura não interrompemos mais as gravações. A informante gosta muito de falar e o resultado foi muito bom. A parte escrita foi feita na casa da informante nos dias dezoito, dezenove e vinte de fevereiro, ou seja, na semana seguinte. Ao me entregar o material por escrito, a informante pediu desculpas por achá-lo mal feito embora tivesse se esforçado para fazê-lo melhor. Na minha opinião, foi uma das melhores que eu consegui coletar. Informante 78: Rosilda Entrevistadora: Margarete A quinta entrevista foi a última do dia dezenove de outubro. A informante já me esperava no pátio. O barulho do ambiente havia se intensificado e, enquanto conversávamos, procurávamos um melhor local para a gravação. Por fim, a informante escolheu o mesmo lugar que a outra informante havia escolhido: um canto do pátio junto à escada. Sentamos no chão, tornei a explicar os comandos e iniciamos a gravação. A informante sempre pedia para conter o começo de cada narrativa antes de gravar pois estava nervosa e tinha medo de não conseguir falar. Aos poucos ela se acalmou e concluímos a gravação rapidamente e sem problemas. A parte escrita foi coletada no dia vinte e oito de outubro na casa da informante. Não houve problemas nem interrupções, apesar do grande movimento de pessoas na casa e do barulho das conversas. A casa está sempre com muitas mulheres porque a informante e a mãe trabalham como cabeleireiras e manicures. INFORMANTES DO CA INFANTIL Informante 79: Alex Entrevistadora: Thais Nesta entrevista, a coleta do material oral foi realizada na sala dos professores do colégio onde o informante estuda. Ela era pouco espaçosa porém cômoda, a escolha final do local foi do informante. Antes da gravação expliquei o porquê da entrevista e sobre o que ele falaria. Este estava bem motivado para a realização do trabalho. Havia mais duas pessoas na sala que ouviram atentamente o que nós falavamos, sem contudo tirar a atenção dele. Sendo assim, a entrevista foi muito boa. gostasse de escrever. Mas mesmo assim produziu bem os textos escritos.

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A coleta do material escrito também realizou-se na sala dos professores e a escolha final do local foi da entrevistadora. Na sala havia outros alunos que já 3 3 tinham sido entrevistados fazendo a parte escrita, mas sem interferirem no trabalho um dos outros. O informante estava bem disposto, embora não gostasse de escrever. Informante 80: Bruna Entrevistadora: Rosimeri Realizou-se a coleta do corpus de uma aluna da Classe de Alfabetização do Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira. A informante chama-se Bruna. A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube a supervisora do CAP. O material oral foi coletado numa sala da aula do CAP. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos da sala onde nos encontrávamos. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a aluna não foi interrompida. A informante estava bastante disposta a participar da atividade e sentia-se à vontade para poder narrar suas histórias. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do CAP, sempre após a coleta do material oral. Também, neste local a única coisa que não foi satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença das outras crianças que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários dois encontros com a informante para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizado no ano de 1991. Informante 81: Camila Entrevistadora: Rosimeri Realizou-se a coleta do corpus de uma aluna da Classe de Alfabetização do Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira. A informante chama-se Camila. A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube a supervisora do CAP. O material oral foi coletado numa sala da aula do CAP. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos da sala onde nos encontrávamos. E também, pelos sons de um rádio. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a aluna não foi interrompida. A informante estava bastante disposta a participar da atividade e sentia-se à vontade para poder narrar suas histórias. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do CAP, sempre após a coleta do material oral. Também, neste local a única coisa que não foi satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença das outras crianças que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários dois encontros com a informante para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizado no ano de 1991. Informante 82: Eloísa

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Entrevistadora: Thais Nesta entrevista, a coleta do material oral foi realizada na sala dos professores do colégio onde a informante estuda. Ela era pouco espaçosa porém cômoda, a escolha final do local foi da informante. Antes da gravação expliquei o porquê da entrevista e sobre o que ela falaria. Esta estava bem motivado para a realização do trabalho e foi a que mais falou. Havia uma professora na sala usando o mimiógrafo,o que atrapalhou um pouco, mas não comprometeu a validação da entrevista que foi muito boa. A coleta do material escrito realizou-se na sala de aula e a escolha final do local foi da entrevistadora. Na sala havia outros alunos que já tinham sido entrevistados fazendo a parte escrita, mas sem interferirem no trabalho um dos outros. A informante estava bem disposta, e produziu corretamente seus textos escritos. 3 3 Informante 83: Fábio Entrevistadora: Thais Nesta entrevista, a coleta do material oral foi realizada numa sala de aula do colégio onde o informante estuda. Ela era grande e confortável, a escolha final do local foi da entrevistadora. Antes da gravação expliquei o porquê da entrevista e sobre o que ele falaria. Este estava bem motivado para a realização do trabalho, no entanto, ficou um pouco perdido perante minhas explicações e dizia não se lembrar de nada, foi preciso explicá-lo várias vezes o que ele deveria falar. Durante as narrativas ele se comportou como se vivesse a cena que estava me contando. A coleta do material escrito realizou-se na sala de aula também. Neste parte, o informante mostrou-se pouco motivado. Foi necessário eu lhe dizer o que ele havia me dito, pois dizia que já não se lembrava o que havia falado durante as gravações. Informante 84: Felipe Entrevistadora: Thais Nesta entrevista, a coleta do material oral foi realizada na sala dos professores do colégio onde o informante estuda. Ela era pouco espaçosa porém cômoda, a escolha final do local foi do informante. Antes da gravação expliquei o porquê da entrevista e sobre o que ele falaria. Este estava bem motivado para a realização do trabalho, muito interessado em me ajudar a coletar os dados e era muito falante. Assim, comportou-se bem e sua entrevista e boa. A coleta do material escrito realizou-se na sala de aula e a escolha final do local foi da entrevistadora. Na sala havia outros alunos que já tinham sido entrevistados fazendo a parte escrita, mas sem interferirem no trabalho um dos outros. O informante não estava bem disposto, a escrever o que falou durante a entrevista, mas mesmo assim produziu seus textos. Informante 85: João Entrevistadora: Rosimeri Realizou-se a coleta do corpus de um aluno da Classe de Alfabetização do Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira. O informante chama-se João. A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube a supervisora do CAP. O material oral foi coletado numa sala da aula do CAP. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola

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algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos da sala onde nos encontrávamos. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), o aluno não foi interrompido. O informante estava bastante disposto a participar da atividade e sentia-se à vontade para poder narrar suas histórias. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do CAP, sempre após a coleta do material oral. Também, neste local a única coisa que não foi satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença das outras crianças que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários dois encontros com o informante para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizado no ano de 1991. Informante 86: Juliana Entrevistadora: Thais Nesta entrevista, a coleta do material oral foi realizada na sala dos professores do colégio onde a informante estuda. Ela era pouco espaçosa porém cômoda, a escolha final do local foi da informante. Antes da gravação expliquei o porquê da entrevista e sobre o que ela falaria. Esta estava bem motivado para a realização do trabalho. Havia duas colegas na sala que intervieram somente uma vez, no início da gravação quando eu lhe havia perguntado sua idade e então uma delas repetiu para a informante o que eu havia perguntado. No entanto, não comprometeu a validade da entrevista. 3 3 A coleta do material escrito realizou-se na sala de aula e a escolha final do local foi da entrevistadora. A informante se mostrou relativamente disposta para produzir os textos, já que não gostou muito de ter que escrever. Informante 87: Marta Entrevistadora: Thais Nesta entrevista, a coleta do material oral foi realizada numa sala de aula do colégio onde a informante estuda. Ela era grande e confortável, a escolha final do local foi da entrevistadora. Antes da gravação expliquei o porquê da entrevista e sobre o que ele falaria. Esta estava bem interessada para a realização do trabalho. Como possuía nove anos de idade não foi difícil fazer com que ela entendesse os cinco comandos da coleta. Assim, sua entrevista foi muito boa. A coleta do material escrito realizou-se na sala de aula também. A informante mostrou-se bastante disposta para realizar seus textos escritos. Ela foi bastante acessível e prestativa, assim como sua professora. Informante 88: Paulo Alexandre Entrevistadora: Rosimeri Realizou-se a coleta do corpus de um aluno da Classe de Alfabetização do Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira. O informante chama-se Paulo Alexandre. A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube a supervisora do CAP. O material oral foi coletado numa sala da aula do CAP. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era iluminado, agradável e oferecia um isolamento

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ideal. O informante, por sua vez, estava bastante disposto a participar da atividade e sentia-se à vontade para poder narrar suas histórias. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do CAP, sempre após a coleta do material oral. Também, neste local a única coisa que não foi satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença das outras crianças que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários dois encontros com o informante para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizado no ano de 1991. Informante 89: Rafael Entrevistadora: Rosimeri Realizou-se a coleta do corpus de um aluno da Classe de Alfabetização do Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira. O informante chama-se Rafael. A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube a supervisora do CAP. O material oral foi coletado numa sala da aula do CAP. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era iluminado, agradável e oferecia um isolamento ideal. O informante estava bastante disposto a participar da atividade e sentia-se à vontade para poder narrar suas histórias. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do CAP, sempre após a coleta do material oral. Também, neste local a única coisa que não foi satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença das outras crianças que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários dois encontros com o informante para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizado no ano de 1991. Informante 90: Sabrina Letícia Entrevistadora: Rosimeri Realizou-se a coleta do corpus de uma aluna da Classe de Alfabetização do Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira. A informante chama-se Sabrina Letícia . A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube a supervisora do CAP. O material oral foi coletado numa sala da aula do CAP. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola 3 3 algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos da sala onde nos encontrávamos. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), a aluna não foi interrompida. A informante estava bastante disposta a participar da atividade e sentia-se à vontade para poder narrar suas histórias. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do CAP, sempre após a coleta do material oral. Também, neste local a única coisa que não foi satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença das outras crianças que participavam deste projeto de pesquisa.

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Cabe ressaltar ainda que foram necessários dois encontros com a informante para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizado no ano de 1991. Informante 91: Sirlan Entrevistadora: Rosimeri Realizou-se a coleta do corpus de um aluno da Classe de Alfabetização do Colégio de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira. O informante chama-se Sirlan. A escolha do local para se fazer a coleta do material oral e escrito coube a supervisora do CAP. O material oral foi coletado numa sala da aula do CAP. O local proporcionou boas condições para se coletar o corpus, isto é, o ambiente era iluminado, agradável e oferecia um isolamento razoável. Esta questão do isolamento ser razoável explica-se pelo fato de que no pátio da escola algumas crianças brincavam e gritavam. Esses barulhos podiam ser ouvidos da sala onde nos encontrávamos. Por este motivo a sala não ofereceu um isolamento ideal. Apesar deste fator externo (barulhos), o aluno não foi interrompido. O informante estava bastante disposto a participar da atividade e sentia-se à vontade para poder narrar suas histórias. O material escrito foi coletado na mesma sala de aula do CAP, sempre após a coleta do material oral. Também, neste local a única coisa que não foi satisfatória diz respeito ao isolamento. Neste caso, devido à presença das outras crianças que participavam deste projeto de pesquisa. Cabe ressaltar ainda que foram necessários dois encontros com o informante para a coleta do material escrito. Tal coleta do material oral e escrito foi realizado no ano de 1991. Informante 92: Suellen Entrevistadora: Thais Nesta entrevista, a coleta do material oral foi realizada na sala dos professores do colégio onde a informante estuda. Ela era pouco espaçosa porém cômoda, a escolha final do local foi da informante. Antes da gravação expliquei o porquê da entrevista e sobre o que ela falaria. Esta estava bem motivado para a realização do trabalho. As duas narrativas (de experiência pessoal e recontada) tiveram que ser refeitas por falta de detalhes. Quando retornei à escola, a informante se prontificou a regravar, e assim sua entrevista se completou corretamente. A coleta do material escrito também realizou-se na sala dos professores e a escolha final do local foi da entrevistadora. Nesta parte, a informante mostrou-se disposta, no entanto, não gostou de ter que escrever. Informante 93: Thiago Entrevistadora: Thais Nesta entrevista, a coleta do material oral foi realizada numa sala de aula do colégio onde o informante estuda. Ela era grande e confortável, a escolha final do local foi da entrevistadora. Antes da gravação expliquei o porquê da entrevista e sobre o que ele falaria. Apesar de compreender tudo o que teria que fazer ficou inseguro durante a gravação. No entanto, este fato não comprometeu a validade da entrevista. A coleta do material escrito também realizou-se na sala dos professores e a escolha final do local foi da entrevistadora. Na sala havia outros alunos que já tinham sido entrevistados fazendo a parte escrita, mas sem interferirem no trabalho um dos outros. Nesta parte, o informante ficou mais à vontade, pois estava cercado por seus colegas. 3

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3 INFORMANTES DO ENSINO SUPERIOR Informante 1: André Sexo: masculino Idade: 24 anos Data da coleta: oral- 06/08/94; escrita- 06/08/93, 07/08/93, 08/08/93 e 09/08/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: é:: me diz o seu nome... I: André... E: e::... aonde você estuda? I: na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro... E: e:: qual curso você faz? I: desenho industrial... E: em que período você está ? I: formando... E: é::? I: no último... E: e são o quê? são oito? I: são oito períodos... E: e::... André... eu queria que ago/... agora que você me contasse uma história... que tenha acontecido com você... e que você tenha achado engraçada... ou triste... ou constrangedora... I: bem... ah:: o fato engraçado foi a partir da data de hoje... né? seis de agosto de mil novecentos e noventa e três... é que eu cheguei em torno de::... nove horas no::... no meu antigo estágio... na Light... que é na Presidente Vargas... meia quatro dois... décimo quarto andar... e:: chegando lá... como... entrou um novo estagiário por... eu ter saído... entrou esse novo estagiário... e ele era:: ele era crente... e eu não sabia o cara era crente... e o sobrenome do cara era Arruda... e:: quando vieram sacanagem lá... porque:: na sala... uma vírgula é um pala/ é porra... porra é uma vírgula lá... então... então começou aquela sacanagem toda “é::... não sei quê... formando... não sei quê... convites... ba ba bá...” e eu sacaneando o cara... (falaram) assim... “é::... ele entrou novo estagiário” eu falei “pô... qual o (nome)?” “ah:: o nome dele é Arruda... André...” eu falei “ih... arruda é pra tirar olho grande...” aí o cara... sério... “arruda nada... eu sou cristão... não acredito em nada disso...” não sei quê... aí o pessoal sacaneou... e tem uma Áurea... que é uma baixinha... gordinha... que também é:: designer ((riso)) ela é baixinha e ela é muito sacana... então (nessa) sacanagem dela... o cara/ começou a sacanear o cara... aí o cara foi ficando mais puto... quer dizer... de um fato engraçado começou um fato/ saiu pra um constrangedor... que ela foi ficando tão/ o cara ficou tão puto... que chegou uma certa hora que::... ela parou... aí o pessoal começou todo mundo a rir... nesse negócio de rir... tudo mais... o cara/ isso aconteceu mesmo ((riso)) o cara estava numa cadeira... no alto... né? roda... assim a cadeira... e:: o cara/ não sei se ele estava (com) raiva... eu sei que o cara escorregou... quase caiu da cadeira... quando caiu todo mundo... “qua:: qua qua qua quá... viu? está precisando de arruda mes::mo... está precisando de despa::cho...” aí o cara foi ficando puto... e o meu supervisor é uma pessoa super séria... e eu era um cara engraçado... e esse é um cara sério... e o supervisor é o Nelson...

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um cara super extrovertido... que sacaneia muito... então o cara entrou ali... estava tipo assim (há) uns dois meses... o cara está perdidinho ((riso)) então o outro cara está naquela sacanagem toda... “aí:: não sei quê...” e o meu clima de serviço sempre foi assim... foi muito sacanagem... muita brincadeira... a saudade que está de eu voltar a trabalhar como desenhista... na Light... é isso... porque:: foi um ambiente super agradável... não teve nada daquela ambiçã/ aquela coisa de... de você querer puxar o tapete do outro pra conseguir galgar... um certo cargo... não tinha isso... lá... por ser estatal... não tinha essas ambições... então... todo mundo era um ambiente super agradável... de bricadeira... a história engraçada foi essa... 3 3 Narrativa recontada E: e:: agora eu queria que você me contasse uma história... que você não tenha vivenciado... alguém te contou... e você achou engraçada... triste... ou constrangedora... I: bem... o fato mais chato que não aconteceu comigo mas aconteceu com um grupo de amigos... que eu faço academia... há:: o que? há um mês atrás... então o pessoal... numa sexta-feira... todo mundo “ah:: uma cervejinha... (vamos beber) uma cervejinha... vamos fazer um churrasquinho” e tal... tal... tal... todo mundo muito alegre... muito brincalhão... e eu fui pra::/ saí da academia... comi o churrasco... bebi a cerveja... e fui pra casa... e eles saíram dali e foram para um::... um bairro... chama Jesuítas... entendeu? e lá eles começaram a beber beber beber beber... eu encontrei com eles depois... ( ) assim... numa altura de quarenta minutos a uma hora... depois... nesse Jesuítas... eu continuei lá bebendo... conversando e tal... mas eu fui com o meu carro... e eu continuei... continuei no local... e eles quiseram ir embora... e isso era em torno de:: umas seis pessoas... numa caminhonete... não foi nem Pampa... caminhonete... foi numa caminhonete branca... e o cara... já estava meio doidão... foi dirigindo e tal... esse rapaz... pulando em cima da caminhonete... sentou... naquela parte do lado:: direito... a caminhonete de frente... né? tem o lado direito... ele sentou... segurou assim e sentado... quer dizer... as costas... virada pra rua... né? então de frente pro outro lado... dentro da caminhonete... pra você entender [o que eu estou falando... né?] I: [ahn... ahn... estou...] I: e aquilo... brincadeira... tal... eu sei que:: o cara fre/ o rapaz que estava guiando a caminhonete... freou... e ele caiu... quando ele caiu... a caminhonete/ eles continuaram pensando que era brincadeira do cara... só que ( ) foram “ué... ele não veio atrás? não veio atrás? pensei que ele vinha andando” não sei quê... ta ta ta tá... frearam e voltaram... quando voltaram o cara estava desmaiado... com uma poça de sangue em volta... uma coisa horrível... o que aconteceu? essa história foi tão:: assim... que eu continuando no Jesuítas não sabia o que estava acontecendo... simplesmente esse fato/ levaram pro hospital... o hospital não teve condições... teve que (transferir ele) pro Galeão... ele ficou internado... foi pro CTI... mas já está bem... que essa semana eu já encontrei ele na academia ((riso)) mas teve que/ uma cicatriz horrível... tirou::/ fez exa::mes... tudo... mas (tal)... deu tudo normal... mas é um fato que eu não quero que aconteça... graças a Deus eu não vi... nem quero... nem longe acontecendo comigo ((riso))

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E: nossa... pensei que ele tinha morrido [quando você/] I: [não::... não... também não foi tão drama assim... né? isso é drama pra novela das oito ((riso de E)) Descrição de local E: André... eu queria agora que você me descrevesse... o local onde você mais gosta de ficar na sua casa... I: minha sala ((riso)) E: como é que é a sua sala? I: bem... a minha sala eu falo porque::... como os meus dois irmãos casaram... todos os dois irmãos quiseram copiar... um pouco assim eh::... o desenho do móvel da s/ da onde fica/ a localização... da/ que nós fizemos na minha casa... em alvenaria... então tem um cantinho... que tem uma luminária... que já foi feita pra/ aquele cantinho pra inverno... pra frio... então ele é gostoso... então pra você ler um livro... você:: ouvir um walkman... passar uma revista... ou então até você ( ) assim... você está num cantinho tão gostoso... que todo mundo chega... vai e procura o cantinho... e meus dois irmãos quando casaram tentaram copiar esse cantinho ((riso)) mas não conseguiram... agora descrevendo os móveis... da::... da sala... eu/ contém um bar... na minha alvenaria... eh::... uma poltrona... em alvenaria... uma:: estante... embutida na parede... não se tem tapete por causa da minha alergia ((riso)) não tem... eh:: cortina... porque usa persiana por causa da minha alergia... porque meu irmão mais velho é/ tem sinusite... o outro tem bronquite... e eu tenho rinite alérgica... e meu pai e minha mãe não têm alergia nenhuma ((riso)) é até uma coisa estranha... e:: tem a televisão... que tem a televisão... o vídeo-cassete... entendeu? uns vasos só decoração... uma cristaleira antiga pra dar o rústico e o clássico... e mais nada... bem::... ah... um ventilador de pá... bem decorativo... bem espalhafatoso... com três 4 4 luminárias assim... mas o mais gostoso da sala é o meu canto... aquele canti::nho... aquela poltrona gostosa... aquele travesseiro... aquela luminária... onde eu estudo... onde eu me divirto... é onde a sa/... eu considero a sala também porque é onde você recebe as pessoas... é onde você tem o prazer de conviver com as pessoas... por uma:: visita... ou um... ou um::... não sei... até um aniversário... né? ( ) é:: como diz... é onde que você faz tu/ questão de estar sempre aquilo bem arrumado pra... aparentar pras pessoas que a casa está ((riso)) toda arrumadinha... o quarto é onde se esconde... fecha a porta... onde guarda as coisas... mal organizada... então:: onde eu gosto é a minha sala... E: uhn... uhn... e as cores? como é que são as cores? I: as cores são... padrão... é:: verde... tons terras... o padrão é tons terras... então é... castor... um tom de... caramelo... castor... bege... tudo assim... o piso... os estofados... entende? tudo nesse tipo assim... nada de:: preto... branco só a parede... mas agora pra um tom de gelo... tudo bem cores assim suaves... não são nada... fortes... sabe? nada muito gritante... em termos assim... preto... vermelho... nada disso... todo coisas bem suaves... o móvel também marrom... que é tudo nesse estilo... marrom... verde... musgo... tudo nos tons terra mesmo... Relato de procedimento E: e:: agora eu queria que você me... me dissesse... alguma coisa que você sabe fazer... ou que você... goste de fazer... e como é que se faz isso...

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I: bem... o que eu mais gosto de fazer mesmo... que eu... como diz... eu sei fazer perfeito é o strogonof... mas o meu strogonof não é aquele que todo mundo/ aquele padrão... que eu não gosto de receita... eu gosto de seguir é... a prova... a prova é... primeiro... o que eu mais gosto é o do camarão... né? então... pra quem... sabe como é feito um bom strogonof... compra o camarão:: limpa o camarão... põe o camarão... boto cebola... pimentão... tomate... cozinho ele... deixo ele cozinhar um pouquinho assim... tipo assim deixo fritar um pouquinho... com cebola... tomate e pimentão... deixo ele cozinhar um pouco... assim fritar um pouquinho ele... com um pouquinho de ó::leo... um pouquinho de a::lho... entendeu? deixar... passou um tempinho... eu boto um pouquinho d’água... aí deixo cozinhando ele... ele está cozinhando... aí eu bot/... entro com... ervilha... que é o petit pois... o milho... que eu adoro... o palmito... e o cogumelo... eu ponho tudo isso... quando está colocando isso com um pouco d’água... o que que eu faço? eu pego o creme de leite... que já deixou ( ) na geladeira... tiro o soro... coloco na panela o creme de leite... cozinho... ponho em fogo brando... pra ele ficar mais gostosinho... vejo se está bom de sal... porque eu não gosto de colocar sal antes de provar... mesmo que ele esteja sem sal nenhum... você prova... porque entra o alho... entra um pouquinho... sabe? entra ( ) pode ter um pouquinho de sal... eu gosto de provar... prova... se o sal estiver::/ aí sempre falta um pouco de sal... ponho o sal a gosto... aí pego... massa de tomate... coloco... e misturo... então ele fica... rosadinho... como se fosse uma::/ como é que o nome daquele negócio? ô meu Deus... eu estou esquecendo... E: molho rosé... I: ( ) molho rosé... mas só que não é com maionese... é no caso com creme de leite... ele fica bem rosadinho... e com tudo que eu adoro... né? que eu adoro palmito... adoro cogumelo... adoro pimentão... tomate... cebola... e eu gosto de botar bastante quantidade... eu gosto de ver aquilo encorpado... de você pegar não é aquele caldo ralo não... é pegar aquilo “pô... que milho...” que eu adoro milho... então... pô... tem milho... tem ervilha... tem cogumelo... tem palmito... eu gosto de comer assim... com arroz branco... e uma salada de batata... porque ultimamente eu estou preferindo por causa do meu regime ((riso)) uma salada... cozinhar... cortar... descascar batata... corta ela... num tamanho assim mais ou menos... de uns três centímetros... mais ou menos o tamanho dela... cozinha... com água e sal... escoa essa batata... pega a cebola... pica bem... pega a salsinha... que eu adoro... lava... pica bem a salsinha... pega um pouco daquele:: chamado alho com:: um pouco do sal... que virou o chamado salho... não esses comprados feitos... eu falo salho porque eu estou dando uma referência... você pega... pica um pouquinho assim na sala/ em cima da batata e mistura toda ela... uhn:: fica uma delícia... você pode até querer botar um pouquinho de vina::gre... um pouquinho de azeite... entendeu? fica uma delícia... é uma saladinha ( ) de batata com arroz branco... com esse strogonof... não há quem resista ((riso)) 4 4 E: da próxima vez que você fizer você me chama... tá? I: obrigado ((riso)) Relato de opinião E: e... agora eu queria que você me dissesse a sua opinião... ou sobre a situação política... econômica... ou da educação no Brasil...

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I: sobre a situação política... econômica ou situ/ ou? E: da educação... I: bem... eu acho que a gente pode/ então eu acho que o básico mesmo... eu acho que a educação ela vem... você pode ser até meio/ eu estou sendo até meio grosseiro... meio radical... mas eu acho que a educação... qualquer problema... social... que possa vir... tem que resolver primeiro o econômico... se você não resolver o problema da dívida interna... o problema de dívida externa... não resolver problemas ( ) como diz... é o primeiro ponto a atingir o governo... economia... dinheiro... financeiro... se você não atingir... como você pode dar educação a um povo? como você pode dar escola se você não tem dinheiro para construir uma escola? como você pode... é::... dar alimento à criança... que é a parte da educação... nessa chamado CIEPS... que eu não gosto nem um pouco... porque eu acho que CIEP e CIAC foram projetos... é:: como diz... querem dar projetos revolucionários para educação num país que eu acho que você podia pegar um prédio velho... reformar e manter... o fator histórico... o fator... o fator... educacional... investir o tempo que ia gastar num novo projeto... investir em professores... em educação... se investisse mais nesta parte... então já é um grande bem... então eu acho que tudo é economia... tudo é dinheiro... a gente não pode atingi/ falar sobre o problema social se a gente não/ “ah::... o país tem/ os velhos estão morrendo... assim... assim...” está morrendo por quê? muitos deles ficam em fila de aposentado... por que fila de aposentado? pra ganhar o dinheiro... e quanto ganha? é pouco... é uma miséria... então se a gente for pensar em todos os casos... a gente volta no econômico... então agora mesmo eu passo por um problema que você tipo assim... você entra na universidade... tremenda esperança... você... entra:: como todo o universitário... você tem uma esperança sobre a universidade que ela te dá... você entra... você gosta... que tem muita gente que desiste no meio do caminho... mas eu não... graças a Deus... adoro... amo de paixão o que faço... só que quando você chega na sua formatura... eu acho que o maior presente que possam te dar é um emprego... mas pra te dar esse emprego... o governo tem que resolver o problema econômico do país... por exemplo... tra/ fiz estágio na Light... que é uma empresa do governo... onde a minha chefe da divisão... chefe do departamento... veio parabenizar... e dissseram-me “eu preciso de você... nós precisamos de desenhistas industriais... o famoso designer” porque a nível de terceiro grau... que é uma profissão pouco::... como posso falar? pouco::... reconhecida... no mercado brasileiro... na Europa já é uma coisa muito antiga... mas aqui no Brasil... é a coisa ... ainda muito nova... as pessoas não têm noção ainda... pensam que desenhista industrial é um arquiteto... então o que aconteceu? “eu preciso de você... só... que” aí “o governo não está admitindo ninguém... as empresas estatais estão fechadas pra tudo...” aí você fica “pô... gostam tanto de mim... gostam... adoram... só que não podem fazer nada” ( ) o que? econômico... o governo está sem o dinheiro de investir... em empresa... no caso do governo... ne/ na... nas própria empresas... do qual... ele próprio... pelos roubos que estão tendo... ele está vendendo as empresas... pra cobrir certas dívidas... no caso da Light... ele deve ( ) o governo federal está devendo... só dos planos Bresser... Collor... e tudo mais... em torno de trezentos e cinqüen/ trezentos e oitenta e cinco... milhões de dólares... e a dívida da Light é

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quatrocentos e oitenta e cinco milhões de dólares... então... tem um projeto... muito bonito da Light... só que... por falta de investimento... falta de verba... que é o dinheiro... o que pode fazer? não pode fazer nada... então o quadro da Light... como qualquer outra empresa... está precisando mudar... o país precisa mudar... E: é::... então só pra terminar aqui... porque a fita acabou... I: pra concluir todo o meu pensamen::to ((riso)) econômico... é:: como eu posso dizer? então eu acho que... pra resumir tudo... é novamente... tem que resolver o problema econômico... pra resolver o econômico resolve todo o problema social... já dizia o plano do:: Sarney... quer dizer... “tudo pelo social...” que no final ele não resolveu o social po::rra nenhuma... né? mas... eu quero falar do econômico... o econômico é o fundamental... é a raiz... o::/ de tudo... de todos 4 4 os problema do país... esse negócio do::/ como diz ? você lança um plano econômico... e no final... no dia seguinte... lança tre::ze vírgula meio por cento o combustível aumenta... aumentando o combustível... aumenta... gás de cozinha... ba ba ba ba ba ba ba ba bá... eu falo gás de cozinha por quê? porque pra lá não se tem ainda gás encanado é tudo... botijão... treze quilos... e::... e eu falo de... eh:: coisa econômica porque eu vivo num bairro... da Zona Oeste... onde eu/ como diz? eu via dois mundos... totalmente diferentes... era morar em Santa Cruz... estudar na Gávea ... então eu enfrentava pa/... é:: via pobreza... pegava ( ) ônibus cheio... saltava na PUC... outro mundo totalmente di/ diferente... onde tinha gente que:: chegava com carro com motorista... (não é contra) isso ... se (foi) uma luta... dos pais da pessoa por ter carro com motorista... tem mais é que aplaudir... se ele lutou... se ele trabalhou... se ele é empresário... e mereceu aquilo... tudo bem... agora o caso é que eu acho que:: nós deveríamos... tirar um pouco da gente... um pouco que eu falo é uma crítica... quando eu cito crítica... não é crítica:: de zombar... é crítica construtiva... alertar as pessoas... as que não tenham cultura... e as próprias a que tenham... é:: tentar resolver a/ o/ eh:: a economia desse país... tentar desenvolver um plano entre patrão... e empregado... está ganhando pouco... eu não posso pagar... então vamos acertar de uma forma... onde que o governo entre com isso... e possa acertar... não é ser... da boca pra fora... e sim de um fator que seje verdadeiro... seje real... o fa/ u::ma coisa que aconteça... e nesse país existe muito papo... não existe nada de real... você se forma... você não tem esperança nenhuma... você enfia o canudo sabe Deus lá onde... que não precisa dizer o quê... que não precisa colocar isso... né? (( riso)) embaixo do braço... e:: não/ e não tem emprego... então você luta... luta... luta... você estuda tanto... você tem tanta cultura... você absorve tanta coisa... você fala línguas estrangeiras... você faz isso... faz aquilo... e no final das contas... você fica um desempregado... fica à mercê de uma sociedade... onde uma cu/ eh... uma cúpula/ onde o poder mantém nessa cúpula... tipo assim... se eu tenho dinheiro... eu sou um empresário... eu vou ajudar o cara? ele pode até ter valor... mas o problema é dele... eu vou ajudar meu irm/ meu filho... meu irmão... um tio... um parente... não interessa... entendeu? se o cara tem valor ou não... então seu valor perante/ que é dado... de tanto você estudar... é jogado de rio abaixo... então eu acho que a gente deve fazer/ as pessoas que tem classe média... média... que tem classe média baixa... ou se possível que/ lógico... o rico ele não está nem aí pro pobre...

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mas ele necessita do pobre para sobreviver... que o que seria o empresário sem o empregado? que seria o empregado sem o empresário? então ( ) bom... que um desses precisa do outro... mas só que... sempre... como eu digo... é::... um quer dizer que não precisa do outro... quer dizer... o rico sempre diz que não precisa do pobre... ele precisa para sobreviver... se (não) fosse isso... como seria o país sem o/ sem o empregado... né? então o que eu falo... o que eu quero dizer... é até um alerta... se::/ para as pessoas... passarem isso pra frente... tentar:: ajudar a... a construir melhor esse país... porque acima de tudo... mesmo essa::... essa:: realidade que eu falo que é o país... eu tenho uma palavra que é a esperança... e a esperança pra mim é a última que morre... é um ditado antigo... mas eu acho que pra mim ele funciona... eu acho que nada como trezentos e sessenta e cinco dias que se acaba... e nasce um novo ano... um novo dia... então eu acho que é perante esse novo dia... esse novo ano que a gente tem que re/ reaver a esperança e torcer... que esse país possa ter... um governo digno... que:: atinja de primeira mão... ao lado econômico... e acho que partindo disso a gente vai ter o resto... tranqüilo... pra gente ter dias melhores... né? de comida... carro...diversão... porque tudo isso é secundário... é:: em termos de diversão... eu acho que isso é um/ é/ é educa/ educação... economia... atrás vem educação... porque a educação de um povo... ele vai interrogar o governo “quem é você?” “o que você está fazendo?” por isso que o político sobe favela ((riso)) na época de ( ) porque ele... não tem... não tem cultura... não tem informação... então ele ilude mais rápido... então... enrola mais rápido... então você tendo informação... tendo/ dando educação... a ba/ resolvendo partes da economia... quer dizer... acertando as escolas... investido na parte tecnológi/... tecnológica... na parte de saúde e tudo... então isso resolve... então o primeiro passo... economia... segundo... educação... terceiro... saúde... você ten/ ganhando bem... você pode dar uma boa educação ao seu filho... e tendo... bons:: hospitais para qualquer problema de saúde... ele poder ti/ consertar seu ( ) físico... até mental ... até mesmo espiritual... que você chega num lugar... que ele te rece/ receba bem... que você está bem... está gostando daquilo que você faz... então ele está... satisfeito espiritualmente... então você/ economia... a educação e saúde ( ) o governo 4 4 atingir... de imediato... o Brasil chega lá... mas pra::... haver isso... tem que ter uma conscientiz/ tem que se haver uma consciência... uma consciência... política... econômica... que tem que saber o que que é política... o que que é a política pra s/ pra gente entender melhor... é:: assim... perguntar... você foi eleito? você foi eleito? você foi / porque o elei/ ele foi eleito pelo povo? ele não está representado o povo? então se ele está representando o povo... então ele assuma o seu papel... de ser/ de ser represenante do povo fazer pelo povo... saneamento básico... educação... saúde... tentar resolver isso... isso é o principal... então eu acho... que nós temos que se:: mover de alguma forma... e a única forma que eu vejo... já que nós pelo menos... tipo assim... nós temos (uma certa)/ como diz? nós somos zero vírgula::... três por cento... eu acho que... da população... que nós chegamos à universidade... chegamos a se formar... então... tentar passar

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isso pras outras pessoas... por isso que eu... meu ponto básico... é esse... é... economia...resolver a economia que o resto a gente resolve... E: obrigada... André... I: (esse obrigado) PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal - “furo”com o Arruda No dia 06/08/93, eu, o André dos Santos Moreira, fui rever as pessoas do estagio, do qual trabalhei na empresa Light na função de programador visual por 1 ano e 2 meses, e lá ao chegar, já havia um novo estagiário, mas na parte de administração de empresa, e eu sem saber quem era o rapaz, meu antigo supervisor começou a sacaniar o estagiário falando assim: “olha o arruda aí André” e eu “arruda que eu saiba é só pra tirar olho grande”, pois na verdade o sobrenome dele mesmo era arruda, e era crente de uma dessas igrejas evangélicas que tem por aí. (06/08/93) Narrativa recontada No dia 16/7/93 eu estava malhando na academia, que logo após o término haveria um churrasco e umas cervejas, só que essas cervejas eram várias caixas, e todo o pessoal encheu a cara, e foram parar num bairro próximo que se chama Jesuítas, e lá beberam mais. Nesse trajeto entre a academia e o bairro Jesuítas, eu fui primeiro para minha casa tomar um banho e um amigo me seguiu, esperou para juntos irmos para Jesuítas. E lá ao chegar já haviam bebido 21 cervejas o pessoal da academia, pois eu e meu amigo iníciamos a beber, passou certas horas e uma parte do grupo quis voltar para o bairro onde mora, que é Santa Cruz, só que o carro em que eles voltaram é uma caminhonete, e um amigo meu chamado Jardel, que estava sentado na parte traseira deste carro caiu dele e bateu a cabeça no asfalto, tiveram que levar para um hospital próximo que não adiantou e teve que ser transferido para o hospital do Galeão, onde ficou e passa bem.(07/08/93). Descrição de local A parte da minha casa em que mais gosto é a sala-de-estar, pois é nela que se tem um cantinho e uma luminária que é ideal para se ler um livro, assistir um filme etc. É neste cantinho do qual faz parte a poltrona que é toda em alvenaria, que compõe também a sala; um bar em alvenaria, uma estante embutida feita de madeira, uma cristaleira clássica para contrastar o rústico, um ventilador de pá com luminária que é a salvação no verão, uma televisão e um vídeo que nos dístrai com notícias vindas do mundo inteiro, e também, na sala-de-estar é que se recebe as visitas, que confratermiza em épocas de festas etc. (07/08/93). Relato de procedimento Uma das coisas em que mais gosto de fazer é um bom strogonof, pois me distrai fazendo e é uma delícia, já que para mim é o prato predileto, e a receita é fácil basta colocar numa panela 500 gs de carne picada com bastante cebola, tomate e pimentão com pouquinho de água, alho e sal, logo após milho, palmito picado, cogumelos, ervilhas; tudo na medida do qual

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achar melhor, pega-se depois a lata do creme de leite que já estará na geladeira retirando-se o 4 4 soro, e colocando toda a quantidade do creme na panela, misturando tudo, pois se notar que ficou grosso o caldo, coloca-se mais água e prove, caso falte sal ou qualquer outro ingrediente, basta acrescentar ao seu gosto, não esquecendo de colocar azeite e massa de tomate, e é só abaixar o fogo e deixar cozinhar por um tempo, até em que a carne e os outros ingredientes estejam moles, pois aí está um delicioso prato (08/08/93). Relato de opinião A situação econômica do qual o país passa é desesperadoura, pois você vê de tudo nele: mortes, fome, miséria, desemprego etc; e o ponto para resolver tudo isso é arrumar a economia do país, pagando as dívidas externas e acertando a política. Pois só um país arrumado politicamente sem conchavos, crimes do colarinho branco etc; fará com que o Brasil se torne uma grande nação respeitada por todo o mundo, e partindo desta política econômica, atingir de imediato à saúde, a educação e à moradia é o objetivo ideal de um país que preten ser vitorioso. (09/08/93). Informante 2: Daniel Sexo: masculino Idade: 22 anos Data da coleta: oral- 14/03/93; escrita- 15/03/93 e 23/03/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: diz pra mim o seu nome... aonde você estuda... qual o curso que você faz e em que período você está... I: meu nome é Daniel... eu estudo na PUC... faço desenho industrial e estou no:: nono período... E: você se forma esse ano? I: me formo no final do ano... se tudo correr bem ((riso de E)) E: e::... Dani... conta pra mim uma história... que você tenha achado/ uma história que tenha acontecido com você... que você tenha achado ou engraçada... ou triste... ou constrangedora... I: tem que responder agora? ((riso)) engraçadão... pô... no dia que teve a formatura do meu primo quando ele... terminou... o segundo grau... a gente foi pra festa e::... tinha uma porção de amigo nosso na festa... aí a gente bebeu pra caramba ((riso)) aí saiu da festa/ quando acabou a gente saiu da festa... foi pra um outro bar... ainda... lá em Botafogo... aí terminamos a noite... a gente pegou o carro pra voltar pra::... pra casa... aí eu alucinado... pô... vim alucinado com o carro... aí no meio do Rebouças... aí bati num Voyage ((riso)) perdi a direção do carro e fui raspando o carro pelo paredão do túnel assim... uns cem metros... aí eu parei o carro e pô... a garota que estava comigo... desesperada... que a foligem tinha ( ) crioula... assim legal ((riso)) aí eu tentei sair com o carro não tinha jeito... o carro quebrou tudo... aí... pô... saltei do carro pra... pedir ajuda... né? aí eu comecei a andar... aí na minha frente ((riso)) tinha um... um Voyage parado... batido também... aí eu fui conversar com os caras do carro... né? pô... vem ((riso)) eu doidão... não me lembrava de nada da batida mais... aí eu cheguei pros caras e perguntei “pô... cara... tu bateu com o carro aqui também? que coincidência...” aí o cara veio pra cima de mim... querer me bater... aí ((riso)) aí era um coroa já... o cara estava saindo da mesma festa que a gente... aí... a esposa dele... pô... segurou o cara... pô ((riso)) aí/ mas... teve mais coisa ainda... que a gente sa/ aí eu voltei pro meu carro... né? aí chamei o meu primo pra gente

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telefonar pra:: pra casa... pra alguém chamar o reboque... né? aí a gente continuou andando... aí foi... por entre os túneis... né? e ali/ pô... a gente ligou... só que ali tem um baile funk... aí... pô... a gente arrumado... de blazer... gravata... e os crioulos do baile ((riso)) começaram a juntar a maior muvuca assim... né? na porta do baile e a gente em frente assim... né? ao negócio... aí... pô... daqui a pouco um negão lá gritou ...pô “pega os mauricinhos... pega os mau” ((riso)) aí a gente saiu correndo... cara... aí... pô... entrou na entrada errada... em vez de pegar pra dentro do túnel a gente pegou como se estivesse indo pro outro lado... aí teve que passar pelo matagal ainda ((riso)) o maior desastre... aí minha mãe chegou... com o reboque... aí eu fui pra casa ((riso)) 4 4 E: só isso? I: só... Narrativa recontada E: e::/ I: agora... espera aí... deixa eu pensar mais um pouco... o próximo... E: eu queria que você contasse pra mim agora... uma história que alguém tenha te contado... que você não tenha vivenciado... e:: que tenha achado... ou engraçada... ou triste... ou constrangedora... I: pô... um amigo meu... o Alexandre/ tem um mês... tem um mês isso... saiu... né? com a namorada dele... e mais uns amigos... aí... pô... eles foram pra uma festa... aí a festa acabou cedo... era duas horas... eles... eles saíram da festa... e ele deixou a namorada dele em casa... e foi com os amigos dele pra uma outra festa ainda... de um:: amigo dele do colégio... aí eles chegaram na festa quase três horas... tinha acabado já::... a cerveja... tinha acabado a bebida toda... né? e os caras na... na maior pilha ainda... querendo beber... não sei o quê... aí os/ o dono da festa falou pra eles irem comprar mais que ele dava até o dinheiro... aí eles pegaram os ((riso)) os cascos... né? o engradado de cerveja... e... desceram... pegou/ o Alexandre pegou o carro dele e foi... comprar cerveja... aí estava descendo pela Conde de Bonfim... né? e ia dobrar... numa rua à esquerda... que era contramão ((riso)) pra ir no/ na... na padaria que estava aberto lá pra comprar cerveja... no bar que estava aberto pra comprar cerveja... aí ele... pô... ligou a seta... reduziu... quando ele virou pra esquerda pra cruzar a Conde de Bonfim... vinha um táxi... ((interrupção de colega de trabalho)) vinha um táxi correndo pra caramba... e bateu... na porta dele... do lado dele assim... acabou o carro... pô... ele se machucou na cara... cortou a cara... entrou vidro dentro do olho dele... mas não chegou a se... a se ferir gravemente não... foi só assim leve... né? e pô:: o mais engraçado é que ele saltou do carro... pô... putão... e o motorista do táxi tranqüilíssimo... ligando já pra::/ pegou o rádio lá que tem no táxi e ligando lá pra Central... pediu reboque e não sei o quê... não deu nem atenção pra ele... aí pararam ((riso)) parou uma porção de tá::xi... aí os caras do táxi começaram a arrumar confusão... com ele... pô... ele falou que... os caras do táxi falando pra ele assim “pô... ninguém vai pagar teu prejuízo mesmo... sai fora” ((riso)) e::... e não pagaram mesmo não... o cara/ veio a polícia... registraram a ocorrência... o próprio policial falou que não adiantava nada que... entrar na justiça... demora anos... e dificilmente a empresa de táxi vai pagar... você só leva prejuízo... e... e o carro dele

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acabou... o seguro... deu perda total no carro dele ((riso)) se ferrou... E: mas ele também estava errado... né? entrar na contramão... I: não... ele estava errado... mas o táxi veio cortando pela contramão também... o cara do táxi que estava mais errado do que ele ainda... e tanto o policial falou que o cara/ ele tinha toda chance de ganhar no tribunal... só que... pô... ia demorar anos e::... no final a companhia ainda ia recorrer... se bobear ne... nem pagava... daí como o carro dele está no se/ estava no seguro... ele não/ acabou não entrando pra Justiça... deixou pra lá... aí a seguradora essa semana deu perda total no carro dele ((riso)) Descrição de local E: e::... Dani agora... conta pra mim/ ((riso)) descreve pra mim... o:: lugar onde você mais gosta de ficar... I: o lugar que eu mais gosto de ficar? é::/ pô... o lugar que eu mais gosto de ficar é no meu apartamento lá no Recreio... descrever o quê? como assim? E: como é que ele é? I: pô ((riso)) é um apartamento legal... meu pai comprou... pra mim e pro meu irmão... é pequeno... não é grande... tem dois quartos... está sendo decorado ainda... não terminou ((riso)) a decoração.... e::... pô... o que que tu quer saber? eu não sei... E: ah... como é a parede ((riso de I)) como é o chão... o que que tem de:: de móveis... e tal... I: a parede ((riso)) as paredes todas são... brancas... pô... o chão é de tábua corrida... tem uma passagem assim maneira da cozinha pra sala... com um balcãozinho... que a gente vai fazer um bar ali... e pô... a decoração estão comprando todos os móveis lá na Tok & Stok... estou gastando a maior grana ((riso)) mas tá ficando legal... minha mãe me ajuda também... dá uns 4 4 toques lá... que ela... gosta desses negócios de decoração... e é ( ) eu gosto de lá... tem um sonzinho... não tem televisão... nem computador ((riso)) não tem cama também... só tem uma cama de casal ((riso)) e o colchão... colchão tem... e aí? mais o quê? ((latido de cachorro)) E: o que mais? [você que me diz... ué...] I: [o que mais ( ) quer saber?] pô ((riso)) ah... sei lá... pô... o que que tu quer saber? E: ah... tá bom assim mesmo... I: não... fala aí... fala que eu digo... (que eu) não sei ((riso)) E: sei lá... o sofá:: ((risos)) I: só tem sofá... não tem mais nada na sala também... está meio precá/ ah... não... tem mesa... está meio precário ainda... mas está melhorando... tem ventilador nos quartos já... que não tinha... no teto... botou o lustre na sala também... você não viu ainda... né? E: não ((risos)) I: só isso... não tem mais nada... tem geladeira... fogão... apartamento normal ((risos)) não tem microondas... E: ah:: que pena ((riso)) Relato de procedimento E: e::... me diz o que que você mais gosta de fazer... e me explica como é que se faz isso... I: pô... o que eu mais gosto de fazer é jogar sueca... E: como é que se joga? I: pô... sueca... pô... é um jogo de cartas... você joga com um baralho do::... do::... do::/ caramba... quais são as cartas? do:: do sete ao/ não... sem o oito... o nove e o dez... baralho

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completo... sem o oito... o nove e o dez... é... ah... e o ás é a carta que vale mais... seguida do sete... o:: rei... valete... dama... e os números não valem pontuação... só valem/ não fazem ponto... não valem nada... e::... joga sempre em duas duplas... uma contra a outra... né? e:: ((riso)) um naipe e o: cara que distribui a... a carta... eles... puxam a... carta de cima do baralho ou a de baixo... é o naipe que fica sendo o trunfo... o trunfo serve pra... quando você não tiver a carta do naipe que está na mesa... você corta o::/ corta o jogo... e sueca ela é legal porque você rouba pra caramba... entendeu? só não pode deixar a dupla adversária perceber ((riso)) aí... pô... quando tem o maior jogão na mesa... um ás... um sete... pô... você só tem uma carta do naipe... você... pode blefar... pode renunciar... e corta o jogo... aí... pô... normalmente a dupla adversária não percebe... no final do jogo esqueceu já... e ((riso)) (não se dá) conta que tu está roubando pra caramba... tem outras maneiras de roubar também... tem um amigo meu que... pô... puxa a carta que já saiu e joga de novo ((riso)) E: ninguém percebe também? I: ninguém percebe... ele vai arrumando as cartas e deixa sempre uma carta alta... em cima do bolo que está embaixo já... aí puxa/ mas isso só quando neguinho já está muito bêbado também... porque... pô... jogo com todo mundo sem estar bebendo... não dá pra roubar muito porque... uma hora alguém percebe ((riso)) ainda mais roubando assim... renunciando não... renunciando tu pode renunciar à vontade que... uma vez ou outra assim só... que eu::/ a outra dupla percebe... e sueca é divertido por causa disso... né? uma dupla perde... aí entra outra... e... sempre fica::/ eu sempre fico na mesa... porque eu sempre ganho no jogo... E: sempre rouba... né? ((latido de cachorro)) I: jogo pra caramba ((riso)) E: rouba pra caramba... I: eu hoje faço dupla com meu primo... meu primo joga também todo dia na faculdade... aí a gente está imbatível... ninguém mais ganha da gente ((riso)) já temos toda a sinalização... quando ele sai com o ás do trunfo ele já sinaliza... quando ele/ ((riso)) quando eu posso j/ quando ele está com o ás... por exemplo... o cara que joga... antes dele... jogou uma carta de um naipe que não foi o ás... aí ele já sinaliza pra mim quando ele tem o ás... aí eu já sei que eu posso jogar uma carta alta... que a ( ) ((riso))... o jogo é nosso mesmo... E: bom saber disso... quando eu jogar com você ((risos)) I: mais o quê? acho que é isso sueca... né? E: uhn... uhn... 4 4 Relato de opinião E: e::... Dani agora::... me diz a sua opinião ((risos)) ou sobre a situação política... ou econômica... ou da educação no Brasil... I: qualquer uma? eu escolho uma [ou tenho que falar das três?] E: [não... escolhe uma...] I: pô... eu vou falar então ((riso)) da situação... econômica do Brasil... o Brasil... pô... primeiro mundo... uma super potência... está muito rico ((riso)) eu estou abrindo um escritório agora com três sócios... estou ganhando fortunas de dinheiro assim... vou ficar milionário em um ano ((riso)) não... a situação econômica no Brasil está pior do que::... do que nunca... nunca esteve

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tão ruim assim... a inflação está aumentando... pô... esse governo é uma porcaria... eu acho que devia ter sido eleito um outro governo... porque esse daí não/ esse Itamar é:: brincadeira... é muito ruim... não está:: conseguindo nada mesmo... o cara não tem a menor noção do que ele tinha que estar fazendo lá... é uma anta completa... e totalmente desespera/ despreparado pra ser presidente... depois... não tem o menor controle mais sobre a economia... a inflação voltou a aumentar... os... pô... empresários não:: tem nem/ não sabem nem o que fazer... porque o cara não define um plano... econômico pro país... depois... isso é muito ruim... porque se tivesse um plano já definido... até investimentos estrangeiros podiam vir pro::... pro Brasil... né? o Brasil é apontado hoje em dia no mundo inteiro como um dos piores lugares no mundo pra você investir... investir::/ fazer um investimento... né? as pessoas preferem investir até na África... pô... no/ na Ásia do que investir no Brasil... o que não era... na década de setenta o Brasil era apontado pelos Estados Unidos como o país mais promissor do mundo pra::/ pros americanos investirem no exterior... né? hoje em dia não... hoje em dia... o Brasil é apontado como um dos piores... só perde pra Iugoslávia que está em guerra civil ((riso)) pra Etiópia... só perde pra coisa assim... até o::/ até Paraguai... Uruguai... assim... Bolívia... eu li uma reportagem que... pô... todos os países da América Latina tão melh/ são... apontados na frente do Brasil pra... pra... quando o americano vai fazer investimento... em outro país... e além do mais esse Itamar quer vo/ fazer voltar o Fusquinha que é um/ ((riso)) é uma carroça... é uma coisa totalmente assim fora de época... E: já reservou o seu? ((riso)) I: não... e aí? mais o quê? E: só isso... I: mas ( ) continua falando? E: se você quiser ((riso)) I: sei lá... falar mais o quê? não sei... e pô... e está duro mesmo... porque a gente/ o que eu falei é verdade... a gente está abrindo um escritório... e pô... tudo é muito difícil no Brasil... pra você conseguir fazer qualquer coisa... tem a maior burocracia... as pessoas não estimulam você a fazer nada mesmo... né? parece que querem que você fique em casa assim dormindo e não produza nada... porque... qualquer coisa que você vai fazer você morre numa grana... tem que pagar::... extra por fora... cada vez pior essa porcaria... não vai melhorar nunca ((riso)) E: bom... então obrigada... tá? Dani.... I: de nada... quando precisar... E: disponha ((riso)) PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal No final de 1991 meu primo André se formou no 2o grau e a sua festa de formatura foi no Círculo Militar. Durante a festa eu ele e um amigo nosso, o Marcelo, bebemos todas e no final da festa nós estávamos bastante alcoolizados. Depois da festa nós fomos no meu carro para uma choperia em Botafogo para tomar a saideira junto com a Andréia que veio com a gente. Depois do bar, nós resolvemos ir para casa, no Grajaú. Eu peguei o carro e fui dirigindo alucinadamente até que no Rebouças, um Voyage surgiu na minha frente e eu não pude desviar. Depois da batida eu perdi a direção do carro e ele foi se arrastando uns cem metros pelo paredão do túnel. A Andréia que estava do meu lado e com o vidro aberto, ficou desesperada, porque

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4 4 além do nervosismo da batida, a fuligem e a sujeira do paredão voou toda na cara dela e ela estava toda preta. Ela começou a gritar para eu tirar o carro dali e ir embora, só que o carro não andava de jeito nenhum. Depois de várias tentativas eu saí do carro para pedir socorro e comecei a andar pelo túnel, mais na frente eu encontrei um carro parado e fui conversar com seu motorista: - E aí você bateu também? E o cara veio para cima de mim reclamando: - Pô meu camarada você que bateu no meu carro! Vendo que eu ia me dar mal eu comecei a andar de volta para o outro lado do túnel e fui com meu primo ligar para casa em um orelhão que tem entre os túneis. Assim que eu terminei de falar no telefone eu reparei num pessoal meio estranho que estava saindo de um baile Funk do outro lado da rua. Nós todos estávamos bem vestidos, de blazer, gravata, sapato e calça sociais e logo eu percebi que a gente ia se dar mal de novo. Foi só eu pensar isso que um negão gritou: - Vamos pegar os mauricinhos! A gente saiu correndo, pegamos a passagem errada e tivemos que descer por um matagal até conseguir voltar para o túnel. Ao chegar de novo ao carro, o reboque já tinha chegado e rapidamente o carro foi rebocado. Logo depois meus pais chegaram e levou a gente para casa. A Andréa quando chegou em casa, às oito horas da manhã, encontrou o pai dela já acordado, e ele não acreditou no que estava vendo: - Minha filha você está preta! - É eu bati de carro. - O que você bateu com o meu carro! - Não pai foi o Daniel que bateu com o carro dele. - Ah bom! Vai tomar banho e durmir. Narrativa recontada Meu amigo Alexandre tinha saído para uma festa junto com dois amigos e a namorada. A festa terminou às duas, ele deixou a namorada em casa e junto com os dois camaradas foi outra festa do pessoal que estudava com ele no 2o grau. Quando ele chegou na festa a cerveja já tinha acabado e o Alexandre teve que comprar mais cerveja. Ele pegou o carro e começou a descer a Conde de Bonfim na Tijuca ao chegar na rua que ele ia comprar a cerveja ele reduziu a velocidade ligou a seta e dobrou cruzando a pista da esquerda. Assim que o carro começou a cruzar a pista um táxi veio pela contra-mão correndo muito e bateu na porta do Alexandre. O vidro da porta estorou e voou na cara dele, ele não se machucou seriamente mas a sua cara ficou toda cheia de sangue. Logo após a batida começou a juntar um monte de motoristas de táxi querendo intimidar o Alexandre, até que chegou um carro da polícia. Os policiais falaram que o motorista de táxi estava errado mas que não valia a pena discutir porque dificilmente as companhias de táxi pagam alguma coisa. Como o carro do Alexandre estava no seguro ele resolveu mesmo não discutir e deixou o motorista do táxi rebocar o carro embora. Semana passada a oficina da seguradora enviou o laudo para o Alexandre, seu carro vai

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pro ferro velho, a seguradora deu perda total. Descrição de local O lugar que mais gosto é o meu apartamento no Recreio, ele não é grande, tem uma suíte, um quarto, mais uma sala, cozinha e banheiro de empregada, não tem quarto de empregada. O apartamento é bastante novo, tem pouco mais de um ano, suas paredes são todas pintadas de branco e o piso da sala e dos quartos é de tábua corrida. Toda a decoração sou eu quem está fazendo, e eu acho que está ficando legal apesar da grana que meu pai está gastando, os móveis são todos da Tok Stok, as luminárias são todas com lâmpadas dicroicas, etc. Lá não tem ainda televisão, mas já tem um som legalzinho. 4 4 Eu não tenho usado muito o apartamento agora, eu o uso mais para fazer pequenas reuniões com meus amigos da PUC. A última coisa que a gente colocou lá foram ventiladores de teto nos dois quartos. Relato de procedimento A sueca é um jogo de cartas para ser jogado por duas duplas. O baralho não é completo, são retirados o oito, o nove e o dez. A carta que mais vale pontos é o az seguida pelo sete, rei, valete e dama. O dois, o três, o quatro, o cinco e o seis não valem pontos. Os jogadores de uma das duplas embaralham e cortam o monte de cartas e um dos jogadores da outra dupla distribui as cartas. Este jogador virará a primeira ou a última carta do monte e o naipe desta carta será o trunfo. O trunfo serve para cortar o jogo que está na mesa, mas só pode ser usado quando o jogador não tiver nenhuma carta do naipe que está sendo jogado. Os jogadores podem roubar e cortar com um trunfo um jogo mesmo que ele tenha o naipe, mas se a outra dupla perceber o jogo acaba, isto se chama renúncia. Existem outras maneiras de se roubar na sueca, quando as duplas jogam sempre juntas, e os parceiros podem combinar diversos sinais para avisar quando o jogo está bom ou não, quando o az de trunfo está com ele, quando o parceiro pode jogar qualquer carta que o jogo já está ganho, etc. Relato de opinião Neste momento o Brasil atravessa a maior de todas as crises econômicas pelas quais já passou. Apesar da economia estar demonstrando uma pequena melhoria nos últimos meses, a inflação assim como o desemprego continuam muito altos mostrando que o país não se recuperou da devastação do governo Collor. O país perdeu dez anos em relação ao seu desenvolvimento, existem alguns setores da economia que na última década reduziu suas atividades. Isto num país cuja população não para de crescer tem efeitos catastróficos. Hoje em em dia eu vejo que uma pessoa entrando no mercado de trabalho tem muito menos chances de conseguir um resultado satisfatório do que meus pais tiveram a trinta anos atrás na década de sessenta. Não é nada agradável saber que a gente vai ter que trabalhar muito para ganhar um mínimo para poder viver razoavelmente. Informante 3: Érica Sexo: feminino Idade: 24 anos

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Data da coleta: oral- 20/05/93; escrita- 03/04/93 e 06/04/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal I: bom... meu nome é Érica... E: você estuda aonde e faz [que curso?] I: [eu...] eu estudo na PUC:: desenho industrial... E: qual período que você está? I: eu estou no sétimo período... E: eh:: Érica... eu queria que você me contasse uma história que tenha acontecido com você que você tenha achado engraça::da... tris::te... ou constrangedora... I: eh:: tem u... uma coisa que... não sei se foi exatamente engraçada... mas foi uma coisa que me surpreendeu... e:: uma coisa que me levou a rir... no dia seguinte... ou no mesmo dia... né? que 5 5 eu tinha um seminário pra apresentar na faculdade... tinha uma matéria chamada::... análise de texto acadêmico... e::... eu ia falar sobre::... mitos... alguma coisa ligada a mito... e eu não tinha/ estava sem tempo de preparar esse seminário... e:: tinha/ eu tinha uma:: parceira de grupo também... muito falante... mas também estava sem tempo pra preparar... o seminário... e eu sei que a gente tinha umas duas ou três semanas pra:: preparar e... nada... na véspera eu falo com ela no telefone e pergunto “Ana Paula... você preparou alguma coisa?” ela falou “não... mas pode deixar que eu estou lendo agora o texto...” ((riso)) eu falei “não... então eu também vou ler agora o texto e vamos ver... se a gente consegue adiar... pro dia seguinte...” aí... mal eu terminei de ler/ terminei de ler o texto no dia seguinte de manhã... ela também... aí a gente chegou lá... não houve jeito de adiar... o seminário... aí a gente começou a apresentar... e:: Ana Paula ela tem assim/ ela fala... muito... e ela tem um... poder de persuasão assim muito grande... então a gente começou a falar:: e começou a ter participação da... da sala... né? do pessoal... dos alu/ dos outros alunos... e da professora também... e eu sei que no final a professora virou pra gente e deu parabéns porque o trabalho foi muito bem feito ((riso)) que a gente devia... escrever sobre o assunto que a gente estava falando... que foi assim o:: melhor seminário... e a gente tirou dez ((risos)) foi uma coisa que::/ depois a gente riu muito porque a gente não tinha preparado nada... né? E: fez em cima da hora e... deu certo... I: em cima da hora... Narrativa recontada E: e::... agora eu queria que você contasse pra mim... uma história que alguém tenha te contado... você não estivesse presente... alguém te contou depois... que você achou engraçada... ou triste... ou constrangedora... I: eu vou contar uma história triste... eh::... o:: meu marido tem um amigo... que::... ele era:: esportista... acho que ele era nadador... profissional... e ele/ apareceu um::... um... negócio nas costas dele que ele não sabia o que que era... aí ele foi ao médico... aí o médico olhou e falou que era uma doença lá... alguma coisa que ele ia ter que o/ eh... fazer uma cirurgia... e era uma cirurgia simples... mas que não tinha ainda na época uma tecnologia... que pudesse::/ que ele pudesse fazer essa cirurgia no Brasil... então ele ia ter que ir à França... e o médico dele foi à

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França... justamente por causa dele... que era um caso raro... e:: o/ quem ia operar ia ser o próprio médico dele... mas orientado por uma equipe francesa... então o médico dele foi primeiro... e:: eles estudaram o caso lá desse rapaz... eh::... só que o médico teve que voltar antes... e depois ia(m) retornar à França com o rapaz pra cirurgia... aí esse rapaz foi ao consultório do médico... assim que:: o médico chegou no Brasil... e o médico falou que não... que ia tentar fazer a cirurgia aqui... e já não deixou ele sair... ir pra casa... mas ele falo/ e o rapaz falou “não... mas... não era pra gente fazer a cirurgia lá:: com a equipe?” ele falou “não... não... eu já aprendi tudo com eles... eu vou fazer a cirurgia” aí o rapaz... na ingenuidade dele... deixou... aí:: eu sei que o rapaz foi pra lá dirigindo... né? fez a cirurgia... e:: ficou paralítico... eh:: o médico/ a família nem processou o médico... mas era um caso de processo porque a/ quem/ a equipe/ tinha que ser feito em equipe... e a equipe era/ estava na França... e:: o rapaz ficou paralítico... quer dizer o lado... o lado bom é que hoje ele é campeão... de:: natação... né? de:: paraplégicos... já foi à olimpíada e tudo... tem um monte de medalha... quer dizer... isso não/ ele não parou de nadar por causa disso... levou adiante... mas hoje está numa cadeira de roda... né? E: quem te contou essa história? I: foi::... foi o meu marido ou foi um amigo do::/ um outro amigo dele... Descrição de local E: e::.. agora eu queria que você descrevesse pra mim... como... como é que é... o::... o lugar onde você mais gosta de ficar na sua casa... I: é aqui mesmo onde eu estou ((riso)) E: na sala? I: na sala... nessa cadeira... 5 5 E: então me descreve como é que é a sua sala... I: minha sala não tem muitos móveis... a gente... tem um te/tem um/ uma televisão... tem um aparelho de som... tem vídeo... ah... não... tem a rede também... (fico) entre a rede e essa cadeira aqui... eh::... a cadeira é o melhor lugar pra estudar... a rede é o melhor lugar pra ver televisão... não tem nada em volta... tem uma mesinha pequena... uma luminária de pé... uma televisão que fica no carrinho porque a gente pode levar... pra qualquer canto da casa... agora a melhor coisa é ficar sentada nessa cadeira escutando música com... com a luz da luminária na metade ((riso)) à meia luz... ou então na rede... escutando música... Relato de procedimento E: e::... agora eu queria que você::... me dissesse como é que se faz alguma coisa que você sabe fazer... alguma comida... que você sabe fa/ cozinhar... ou algum jogo que você sabe jogar... I: é::... descrever um processo? E: uhn... uhn... I: ah... cozinhar... eu gosto de cozinhar mas vou falar outra coisa mais... assim... que eu dou aula de arte... pra criança... né? posso ensinar a fazer uma florzinha? E: pode... se não for difícil... I: não... é mais fácil do que... falar de/ comida é mais difícil de... de explicar por etapa... bom...

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eh::... eu sei fazer uma florzinha de papel crepom... por exemplo... que a gente fez no dia das mães... você:: escolhe umas duas cores de papel... duas cores contrastantes... e corta um::/ uma tira de uns::... trinta centímetros por::... cinco ou seis... de cada cor... eh::... um palitinho de churrasco cortado ao meio ou então um palitinho mesmo de:: pirulito... durex... ah... e papel crepom verde também pra fazer as/a folhinha... bom... você vai franzir essa tira colorida... pra fazer a pétala... você pode cortar... em formatos diferentes... né? a tira... ou deixar inteirinha mesmo... só franzir... em volta do palito... aí você segura... pega outra cor... e vai franzindo por fora... em volta do... do que você já franziu antes... eh::... aí você prende com o durex... no palito... aí passa... papel crepom verde... a tirinha de papel crepom verde... em volta do palitinho... com cola... prende embaixo... corta uma folhinha verde... prende no palitinho... a folhi/ a florzinha está pronta... se quiser fazer um miolinho... você faz uma bolinha... de papel crepom de qualquer cor... cola no meio... aí pode botar purpuri::na... qualquer coisa dessa... aí está pronta a florzinha... Relato de opinião E: e::... agora eu queria que você me dissesse... qual é a sua opinião... ou sobre a situação política... ou da economia... ou da educação no Brasil... I: eh::... deixa eu falar da educação... a educação está indo de:: mal a pior ((riso)) eu acho que está todo mundo vendo... né? eh::... os estudantes estão sem dinheiro pra pagar a faculdade... a faculdade está sem dinheiro pra manter a instituição... os professores estão recebendo mal... estão ganhando mal... eh::... tem muitos centros acadêmicos que estão fechando... ou estão... so/ eh::... sofrendo uma ameaça... né? como é o:: Centro Tecnológico da PUC que::... sempre foi o maior do... do Rio de Janeiro... um dos maiores do Brasil... está completamente sem verba e ameaçado de fechar até o final do ano... quer dizer... se uma:: universidade do porte da PUC... está passando por isso... imagina as federais... em que estado não... estão.... né? não só::... a nível do... do... do sistema mesmo acadêmico.... como:: os prédios... a manutenção dos pré::dios... imagina como (não) estejam... se a PUC já não tem sabonete nos banheiros ((riso)) nem papel higiênico... imagina as federais... e::... é uma coisa que estou percebendo... que não está só a nível de... de::/ nível universitário... nos próprios colégios mesmo... eh::... a remuneração dos professores é muito baixa... e:: os pais estão cada vez com menos condições de pagar o curso pros filhos... muitas crianças estão... passando pro sistema público... que não tem condições... eh::... de::... ter tantos alunos... já não tem condições de manter os alunos... que não podem pagar... escola particular... quanto mais esses que estão saindo das escolas particulares... né? eu acho que a tendência agora é só piorar... não sei a... a que ponto nós vamos chegar... mas é uma coisa que me preocupa muito... que daqui a alguns anos vai ser praticamente impossível você entrar numa faculdade... a não ser que seja federal... mesmo assim... que tipo de ensino a federal vai poder... eh::... oferecer daqui a alguns anos... também? e é isso... eu acho que é no 5 5 momento... é::... é o que mais me preocupa... acho que política ((riso)) nunca esteve em ordem... né? acho que... política no Brasil sempre foi... eh::... cheia de altos e baixos... mais baixos... do que altos... e é uma situação que se mantém há tanto tempo que não tem nenhuma... novidade

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não ((riso)) E: então tá... obrigada Érica... I: de nada... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Aconteceu uma coisa comigo uma vez, que eu não sei bem se é engraçado, mas foi pelo menos inesperado: Eu tinha que apresentar um seminário, não me lembro bem de que, com uma amiga, numa aula de análise de texto acadêmico. Acontece que nem eu, nem ela, tínhamos tempo para preparar o tal seminário, e só fomos ler o texto do assunto na noite anterior. No dia seguinte eu estava nervosa e ela nem tanto. Tentamos adiar a apresentação mas não teve jeito, tivemos que apresentar. A minha amiga fala bastante e muito bem, e nós tínhamos certo conhecimento do assunto, então aconteceu que o seminário foi super polêmico e todos os outros alunos participaram interessados. No final a professora elogiou muito o nosso trabalho, dizendo que deveríamos escrever sobre o assunto, e nós acabamos tirando um dez! Narrativa recontada Não sei se eu me lembro bem dessa história. Meu marido tem um amigo que era campeão de natação, tinha várias medalhas, era um atleta. Um dia surgiu um caroço, ou qualquer coisa parecida, nas suas costas, ele foi ao médico. O caso era simples porque o caroço ainda estava pequeno, mas não existia ainda tecnologia para este tipo de cirurgia no Brasil. O médico estava sendo treinado por uma equipe francesa para realizar este tipo de cirurgia. Ele foi a França com o médico e o caso foi analisado pelos médicos de lá. Decidiram que toda a equipe iria participar da operação, que eu não lembro se ia ser lá ou aqui. Eles voltaram ao Brasil, e uma outra vez o rapaz foi ao hospital falar com o médico e este resolveu fazer a cirurgia sozinho, porque ele já tinha aprendido tudo com os franceses. Então ele fez a operação no rapaz e errou, ele ficou paralítico. A família, apesar de ter ficado chocada, não processou o médico. Hoje o rapaz ainda é um atleta e já participou das olimpíadas para deficientes físicos. Descrição de local O lugar que mais gosto de ficar é a sala, sentada nesta cadeira preta, escutando música, ou então na rede. A sala não tem muitos móveis, só uma rede, uma mesinha de metal preta, uma cadeira de couro e madeira, quatro de metal preto que geralmente ficam fechadas e esta cadeira que eu gosto. Tem também um aparelho de som, uma televisão e um carrinho de televisão. Tem vídeo e uma estante de madeira baixa, com dois porta retratos e um vasinho de louça. Tem também uma bicicleta ergométrica e um monte de caixas. O chão é de taco e não tem tapete. Relato de procedimento Pra fazer uma flor, precisamos de duas cores de papel crepom, para as pétalas, papel crepom verde, para as folhas, um palito de pirulito ou de churrasco cortado ao meio, durex, cola e tesoura. Primeiro a gente corta as pétalas, feitas de tiras de mais ou menos 5cm. Fica mais bonito se as pontinhas do pedaço de crepom for picotada ou cortada em forma de pétalas. Passase cola no palito e então enrola-se uma tirinha fina de papel verde para fazer o caule. Aí, então,

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é só sanfonar, franzir as tiras coloridas numa extremidade do palito para fazer as pétalas que vão ser presas ao palito com durex. Depois é só colar um pedaço de papel verde no formato de folha 5 5 no palito, e se quiser, pode amassar um pedacinho de papel colorido e colar entre as pétalas para fazer o miolo. Relato de opinião O problema da educação está piorando cada vez mais. Daqui a pouco ninguém mais vai poder cursar faculdade, porque as mensalidades estão altas demais. As universidades públicas não tem verba e estão caindo aos pedaços, além dos professores quase não darem aulas, e as particulares, cobram um absurdo de mensalidades e, nem por isso, oferecem melhores condições ao alunos e professores. Os professores reclamam o salário baixo de um lado e os alunos reclamam as altas mensalidades do outro. As crianças que estudavam em escolas particulares estão passando para as públicas, que já não tinham condições de atender às crianças carentes. Se as coisas continuarem assim ninguém mais vai estudar nesse país. Informante 4: Jorge Luís Sexo: maculino Idade: 26 anos Data da coleta: oral- 24/04/93 e 04/08/93; escrita- 24/04/93, 26/04/93 e 04/08/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: me diz o seu nome... [eh:: aonde/] I: [Jorge Luiz /] E: seu nome... I: Jorge Luiz... E: aonde você estuda? I: Universidade Gama Filho... E: qual o curso que você faz e em qual período você está... I: ciências econômicas... sétimo... E: é:: Jorge... eu queria então agora que você me contasse uma história que tenha acontecido com você... e que você tenha achado... engraçada ou triste ou constrangedora.... I: pô... foi engraçado... entendeu? o problema todo aconteceu o seguinte... num determinado dia... eu saí... com a minha namorada... fomos... saímos... dançamos... nos divertimos à noite... aí quando nós fomos... passar para a segunda etapa... do plano... eu reconheci um carro ((riso)) mais adiante entendeu? aí quando... olhei assim... fui encostando o carro atrás... do outro carro... aí que eu percebi... que o carro era conhecido... aí quando eu fui olhar... era a minha irmã ((riso de E)) dentro do carro... aí eu fiquei naquela situação assim constrangedora... não porque::/ não tinha nada a ver... já era noiva... já estava para casar... entendeu? só que... nessa etapa... ele ainda não era meu cunhado... ele tinha reparado... o meu carro... entendeu? aí eu estava na dúvida se ele estava com a minha irmã... ou se era outra... garota qualquer... aí eu... caí na asneira... de falar assim “pô... esse cara é o maior...” pensei mil coisas... né? aí na hora que eu

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desci do carro... para olhar... aí eu fui ver era a minha irmã... aí ela me olhou com aquela cara de assustada ((risos)) aí “boa noite...” fiquei muito sem graça... entrei no carro... fiquei parado... ( ) esperando... E: mas vocês se encontraram ainda na estrada? [no caminho? den/] I: [não::...] na entrada do motel... pô... na fila indiana... aquela filinha para entrar... aí então o que aconteceu? aí... eu desci do carro... né? para ver... se ele estava traindo a minha irmã... né? que é aquilo... né? todas as mulheres são safadinhas... né? me::nos as irmãs da gente... então isso aí serve para mostrar pra gente que isso não tem nada a ver... aí eu... podia imaginar que fosse qualquer mulher... menos a minha irmã ((riso de E)) pode não ser assim muito engraçado... mas na hora... E: não... imagina... que isso? espera aí... deixa eu só virar... ((a fita cassete)) Narrativa recontada 5 5 E: Jorge... me conta uma história que alguém tenha te contado... que você não estivesse presente... que você tenha achado ou engraçada... triste... ou então constrangedora... I: eu vou contar uma história triste... eu tinha um/ quando eu estudava no segundo grau... quando eu fiz meu segundo grau... ali na Escola Estadual Antonio Prado Júnior... na Praça da Bandeira... eu tinha dois amigos... um era o Jucinei... e o outro era o Paulo... passado muito tempo... nós acabamos o segundo grau... cada um entrou pra uma faculdade... aí nunca mais nós nos vimos... só que o Paulo era um cara meio doidão... entendeu? era envolvido com... negócio de tó::xico... esses negócios... eu e o Jucinei tentávamos muito... ver se tirava ele de::ssa... porque eu achava que::... ele era/ não tinha nada a ver com aquilo... entendeu? que ele tinha nascido pra outras coisas... aí depois/ o Jucinei mora... perto da minha rua... mora/ eu moro na Pereira Soares... ele mora na Gonzaga Bastos... aí nós sempre continuamos em contato... aí passado um tempo... muito tempo depois... eu encontrei com o Jucinei... foi até na::/ tinha/ quando tinha a... Robin Hood... a antiga Robin Hood... no Alto... aí nós começamos a conversar:: e ficamos lembrando das coisas que tinham acontecido... né? aí foi quando ele me falou que... que esse amigo nosso... o Paulo... tinham matado ele... entendeu? porque ele tinha envol/ ficado envolvido com negócio de tráfico de dro::gas... entendeu? aí não deu pra ele sair fo::ra... ficou muito enrola::do... inclusive ele/ o pai dele era até policial... entendeu? aí foi isso... eu achei que foi muito triste pra mim... entendeu? porque eu não achava que ele/ não tinha nada a ver com esses negócios... entendeu? apesar de... apesar dele ser assim meio malucão::... eu achava que era aquilo era mais do meio onde é que ele... estava vivendo... entendeu? porque ele estava convivendo com pessoas assim que não... que não prestavam... entendeu? porque ele... morava perto de morro assim::... aí foi isso... ele foi se envolvendo... se envolvendo... foi se envolvendo... aí quando ele quis sair... já era tarde de demais... aí o Nei... veio me falar isso... essa notícia aí... que era meio/ pode não ser... ser tão triste... entendeu? pra quem ouve assim... mas... pra mim foi muito doloroso porque... afinal de contas... foram três anos juntos... né? você conhecendo a pessoa bem... no fundo mesmo... e... vendo que vo/ tudo/ todos os seus esforços

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foram inúteis... pra ver se o cara... saía daquilo... que aquilo... entendeu? a gente orientava ele... nós orientávamos... conversávamos muito... mas ele/ parece que foi em vão... né? aí então/ isso aí ficou mais de... lembrança pra mim também... uma lembrança triste... entendeu? que eu procuro sempre passar pras pessoas... entendeu? que eu vejo assim... que não estão numa bo::a... que estão saindo da realida::de... buscando outras coisas que não tem nada a ver... então n/ isso aí ficou mais como uma experiência... que eu procuro sempre... entendeu? passar agora... pros outros... porque eu acho que... a droga é uma droga... né? então... a pessoa tem que viver de bem com a vida... entendeu? curtir bastante... aproveitar bastante... porque a gente só tem uma vida... depois que acaba pronto... aí foi isso aí... E: tá... obrigada... I: nada... Descrição de local E: Jorge... eu queria que você me... me descrevesse... e me dissesse como é que é o lu/ o:: local onde você mais gosta de ficar... na sua casa... I: pô... minha casa... é uma casa... mais ou menos grande... são... quatro quartos... mas sem dúvida nenhuma o local que eu mais gosto de ficar é no meu quarto... né?:: meu quarto é o paraíso... entendeu? se você entrar você vai até tomar um susto... não é aquele quarto... exuberante... todo arrumado... quarto de homem... sabe como é que é... né? roupa pra um lado... roupa pro outro... mas lá... lá eu estou no meu canto... entendeu? estou no meu sossego... ninguém me perturba... eu fecho a porta... botei uma placa “stop... não entre” cheio de... adesivos na parede... lá que eu busco minhas reflexões... entendeu? quando eu estou assim meio preocupado... às vezes eu estou assim de saco cheio mesmo... estressado aí eu não quero sair... não quero conversar com ninguém::... aí sen::to... fico lendo uns li::vros... assisto um filme... alguma coisa... meu quarto assim é::... o lugar onde é que eu mais gosto de ficar... é um quarto comum... vou descrever pra você... você pediu para eu descrever... né? é um quarto de pi::so ((riso)) antes era uma cama beliche... aí meu irmão mais velho casou... eu tirei a cama beliche... 5 5 ficou com a cama de baixo... deixa eu ver... meu lençol é azulzinho... minha mãe... vire e mexe está trocando... né? minha mãe é muito vaidosa... é uma pessoa muito vaidosa... muito... cuidadosa... e o meu quarto tem um sério problema... quando eu saio ele está uma zona... e quando eu chego ele se torna uma zona... porque minha mãe tem aquele trabalho todo de arrumar o quarto e quando eu chego volta aquela bagunça toda... deixa eu ver o que que tem mais no meu quarto... tem uma televisão... tem um vídeo... tem uma estante... tem uma escrivaninha... tem uma porção de tênis com chulé ((risos)) que eu ainda não tive a oportunidade de comprar o tênis Baruel... só isso... Relato de procedimento E: e::... então agora eu queria que você... me dissesse... alguma coisa que você::... sabe fazer e:: me explicasse como é que se faz isso... I: você queria que eu te explicasse alguma coisa que eu sei fazer? olha... eu sou um cara que

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eu... gosto muito de estudar... sou um cara estudioso... entendeu? mas a coisa que eu mais gosto de fazer mesmo eu acho que não vai dar pra você aprender não... vou até::/ posso até tentar te explicar... E: ah... mas o que que é? I: a coisa que eu mais gosto de fazer... é jogar bola... E: mas... assim uma... uma comida que você saiba fazer... I: pô.... comida eu sei fazer... pô... acho até que você sabe fazer... macarrão... E: então... então me diz... como é que você faz macarrão? I: macarrão... a gente bota três/ faz aquela medidinha de água... bota aquele as/ depende de como é que você faz... né? E: eu não faço... I: você não faz macarrão? você não sabe cozinhar? que é isso? pelo amor de Deus... então deixa eu te falar... meu macarrão é legal... aí... aquele que a gente compra pronto ((riso)) como é que é o nome? Miojo Lamen... então... é só você botar na agüinha pra ferver... medir aqueles copinho... tem a instrução... tá? no... no pacotinho... aí você bota os três copinhos de água... bota pra ferver... bota aquele pozinho... lá... e pronto... está feito o macarrão... não tem mistério... E: só? I: só assim que se faz... Relato de opinião E: e::... agora eu queria que você me dissesse a sua opinião... ou sobre a situação política... ou a situação econômica... ou da educação aqui no Brasil ... I: qualquer uma das três? E: qualquer uma ... I: qualquer uma das três? eu acho que uma depende da outra... entendeu? porque... o::... o Brasil... no meu ponto de vista... entendeu? o país só cresce através da educação... entendeu? eu penso assim... então quer dizer... você dando uma prioridade pra... pra educação... a tendência é melhorar mais... entendeu? e as pessoas... como eu posso explicar assim? as pessoas irem... tomando conhecimento mais das coisas... né? porque eu acho que a pior coisa que tem é a pessoa alienada... né? a pessoa que não tem noção de na::da... entendeu? pô... você tira aí por exemplo essa última eleição... nego... estava votando/ pô... as pessoa nem foram votar... muitas nem sabiam o que que era monarquia... o que que era parlamentarismo... o que que é presidencialismo... mas eu... também vejo... assim::... a política como um problema muito grande no Brasil... sabe? porque... você passa a não ap/ não confiar mais... pô... nos políticos... não é porque eles prometem mundos e fundos não... sabe? porque eles/ não é nem por eles... poderem dar nada pra você assim diretamente... é porque eles... são pessoas... assim... que não transmitem confiança nenhuma... ou seja... estão sempre envolvidas em roubo... falcatruas... botam alguém aqui pela janela... botam alguém por ali... bota pra lá... e você vê que... vai mudando... entendeu? isso é um ciclo... quer dizer... sai um... um cara mal preparado... aí entra o outro mal preparado... e o outro mal preparado... porque... eu acho que o Brasil... de repente...

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seja um dos países assim que::... a pessoa entra pra política só por visão de/ “ô... vou entrar para 5 5 a política... tá? está na hora de eu me estabelecer...” e... entra com esse/ com essa int/ intuição... sabe? não é pra vo/ não é pra um lance de melhorar o Brasil... pô... procurar... melhorar as coisas... ver a dificuldade do povo... ver onde é que está o erro... onde é que está aquilo... e a parte econômica... pô... como eu posso explicar? enquanto o Brasil se encontrar nessa situação de dependência... entendeu? de outros países... essa situação não muda... entendeu? pode até mudar como falam que mudou na Argentina... que mudou no Chile... com a Argentina agora com esse novo plano... entendeu? mas eu acho muito difícil... muito difícil porque aqui no Brasil... as pessoas/ os empresários... tá? os empresários assim... pô::... de mais importância... entendeu? até lance de contribuição... pra pagar o governo e fazer... são os próprios deputados... são os próprios políticos... então... isso é que eu estava te falando... só/ é tudo uma... uma coisa ligada a outra... entende? então para você resolver uma coisa... é difícil... entendeu? e a... imagem do político/ do país também está muito desgastada... entendeu? com esse lance do Collor... com essa máfia toda... da esposa... dessa... baderna toda que eles fizeram... pô... mas eu acho que o Brasil é::... é um país muito grande... entendeu? pode melhorar... entendeu? eu acho que::... a solução para todo o país... entendeu? é:: exportar mais e importar menos... entendeu? aí você sim... dá uma... contrabalanceada assim na balança e... tentar... tocar o barco pra frente... mas eu acho muito difícil do Brasil sair (assim)... dessa situação... primeiro que nós somos ministrados assim... da pior forma possível... não que às vezes as pessoas podem pensar assim “porra... um rapaz novo já está assim desiludido...” não é não... é porque::... a situação agora... é essa... entendeu? pode até ser que melhore mesmo... não que nunca vá melhorar... mas... eu acho difícil... e mesmo porque... pô... ministro aqui é uma coisa que você muda de semana em semana... quer dizer... o cara... não bota nem o plano em::/ nem elaborou o plano já está saindo... e agora o cara vem agora com essa mania/ com esse... com esse negócio agora de cortar os três zeros da moeda... entendeu? primeiro que o povo... brasileiro... não tem noção nenhuma de quanto vale o dinheiro... entendeu? você vê aí... pô... um litro de leite... dezessete mil... um ônibus... dez mil... de repente a gente nem tem/ nem você... nem eu tenhamos/ assim estejamos tão ligados assim a isso... porque nós não somos pai de família... pô... mas é praticamente impossível uma pessoa viver... pô... com salário mínimo... ganhar um... aí... um e setecentos... isso não existe... entendeu? então quer dizer... a pessoa perde... a noção do dinheiro... por isso que a gente fala... né? que... pô “compra dólar... compra dólar...” porque eu acho/ no meu modo de ver... a única maneira/ não é nem especulação... não... a única maneira de você ter noção do dinheiro que você tem é você comprando dólar mesmo... entendeu? porque nem você aplicando o teu dinheiro... você tem aquela correção... certa... entendeu? porque às vezes você vai lá na poupança... você bota o teu dinheiro... aí nego dá trinta por cento... ( ) trinta por cento... já dá o prazo fixado... trinta por cento vai dar a poupança esse

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mês... só que... pô... aqueles trinta por cento... pô não é a realidade... entendeu? de repente uma coisa que você está querendo comprar hoje... uma caneta aqui... que custa trinta cruzeiros... pô... vai botar a inflação trinta por cento... custa trinta e três cruzeiros... não vai estar custando trinta e três cruzeiros... então quer dizer... esse negócio de você botar o dinheiro... pra render... nunca é a mesma coisa... porque... a inflação nunca é a que realmente eles dão... está sempre acima disso... está acima/ está sempre um patamar à frente... entendeu? então você não tem como controlar as coisas... por isso que eu te falo... então a situação é difícil... então quer dizer... eles falavam em cem dólares... então quer dizer... eles planejam cem dólares... tá? hoje aqui... é abril... nós estamos em abril... vai ter agora... vamos receber o salário mínimo em maio... tudo bem... então quer dizer... em março eles falam “ó... o salário mínimo vai ser cem dólares...” em março? tudo bem... está valendo cem dólares... entendeu? agora quando chegar... em maio... pô... já tem uma defasagem... isso aí já está valendo sessenta dólares... isso permanece... vai permanecendo assim... quer dizer... as pessoas não têm controle de nada... as pessoas aumentam tudo mesmo... entendeu? tudo bem que a gente até vive num mundo capitalista... né? e as pessoas visam... o lucro mesmo... e:: não quer saber... se bem que... po::xa... no meu modo de vista... no meu modo de::... pensar assim... na minha maneira de ver as coisas... eu acho que isso tinha que te/ tinha que ser um/ tinha que ter um controle mais profundo... entendeu? as pessoas... pô... contribuir... com o que elas devem... tudo quanto é taxa... tudo quanto é imposto... as pesso/ eu acho que as pessoas deviam contribuir... né? mas como::... como a gente pode querer? por exemplo... um comerciário... o cara tem uma loja ... dono de uma Mesbla... por 5 5 exemplo... a Mesbla está lá... ela paga tudo quanto é imposto... paga imposto sobre... qualquer produto... tenho uma televisão... a Mesbla está vendendo uma televisão... ela paga o ICM... essa televisão está por cem mil... entendeu? aí vem a economia informal... quer dizer... economia informal é tudo aquilo que/ camelô... essas/ nego vendendo picolé... isso tudo é/ sabe? o cara pára em frente à loja... a mesma televisão que ele vende por cem... o cara está vendendo por sessenta... setenta... não tem... pô... então quer dizer... o consumidor não tem nenhum tipo de proteção... e aí é o que eu te falo... como é que o cara vai sobreviver? ele vai vender... três televisões... vai pagar o imposto... e o cara vendendo a televisão ali na frente... o camelô::... vai... vai deitar na sopa... vai rolar... pô... não paga nada... não paga nem imposto... não faz nada... por isso que agora muitos deles até estão bo/ tirando a própria mercadoria da loja... e estão botando no camelô vendendo na própria frente da loja... como se fosse camelô... porque vale mais a pena... entendeu? pro go/ porque o governo... não dá garantia pra ninguém... não é só aqui não::... não é capital... não é grande metrópole não... é no campo também... teve uma época/ porque eu não vou ficar lembrando a histó::ria “plante que o João garante...” aquilo também... acabou com muitas pessoas... depois veio esse Collor agora... o último... detonou... essa empresa aqui que é onde é que eu... faço o estágio... era... Portobrás... vou te dar um exemplo... era Portobrás... tá? o Collor extingüiu... entendeu? extingüiu... aí passou a se chamar Portos... quer dizer... foram vários funcionários embora... pessoas boas... entendeu? foram

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mandadas embora... e agora o que que acontece? aqui é... é uma empresa até::... muito política... então o que quer dizer? é uma cúpula... a pessoa que vem de fora... para entrar... entendeu? não tem como chegar... a não ser que conheça alguém... pô... que o cara vá lá “pô::...” que seja peixada... porque aqui... se você for fazer uma entrevista aqui na empresa... pô... se três não forem conhecidos de alguém... o pai trabalhou... a mãe trabalha no sindicato ou trabalha no portuário... entendeu? você... pode falar... “pô... que é isso? não é assim como ele falou...” mas é... então é o que eu te falo... o Brasil também... é um sistema muito de quem indica... às vezes você sabe... você é uma universitária... você sabe... às vezes a gente se mata... né? estuda... não é? quantas vezes você concorreu ou ainda vai concorrer com pessoas assim::... que sabem menos que você... entendeu? apesar de eu achar que todo bom profissional tem um... tem um lugar no mercado... entendeu? se ele for realmente um bom profissional... pô... vai ter o lugar dele... mas é... é difícil... é... mas se ele for realmente bom... ele vai conseguir... só:: acho que a pessoa não deve pensar pequeno... entendeu? porque o problema do Brasil é esse... a pessoa pensar pequeno... então eu acho que é isso... a pessoa deve estar sempre pensando pra frente... entendeu? deve estar sempre procurando melhorar... porque eu te/ posso te garantir uma coisa... a situação está preta... está caótica... entendeu? não sei se::... daqui a uns tempos... os seus filhos... entendeu? de repente vão ter condições... de estudar numa mesma faculdade que você... ou eu... de repente vou ter a mesma condição de pagar uma faculdade pro meu filho... entendeu? então a tendência é essa... entendeu? quer dizer... uma minoria... de pesso/ uma minoria de pessoas... toma conta do Bras/ do país... entendeu? porque eles... eles têm acesso às coisas... entendeu? não desvalorizando a pessoa que trabalha... entendeu? deixando isso bem claro... porque tem pessoas que... fazem por onde pra poder dar uma vida... boa pro filho... entendeu? se o teu pai pode te pagar alguma coisa... se o teu pai pode te dar um apartamento... se o teu pai pode te pagar um curso... se o teu pai pode te pagar uma faculdade... tudo bem... ótimo... pô... mas se/ o meu ponto de vista é esse... entendeu? eu acho que:: isso... devia ser garantido pelo governo... entendeu? entendeu? porque o gover/ no meu modo de ver... o governo é que tinha que... batalhar a educação... ir embora... entendeu? por exemplo... eu faço Gama Filho... entendeu? mas se eu tivesse que estar pagando... eu não/ fatalmente eu não estaria... porque eu sou/ eu tenho crédito educativo... entendeu? por isso que eu estou falando assim... até que a Caixa Econômica me ajuda... está pagan::do... mas agora... pô... três meses que não pagava... foi pagar agora... quer dizer... vai reduzindo... antes era integral... isso ela não está dando nada de graça não... tá? porque depois que a gente se forma... a gente paga tudo corrigido... E: um ano... I: é/ não... dois anos depois de:: de/ você se forma... você começa a pagar as coisas tudo corrigidas... entendeu? então quer dizer... eles não dão::... assistência nenhuma... deixam ( ) entregue às mos::cas... e assim vai... vai da educação... vai a alimentação... você vê aí... você lê em jornal... toneladas de comida estragam... pô... cheio de pessoas passando fome... entendeu? é 5

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5 a própria ((pigarro)) sistema assim... como é que eu posso falar? sistema de segurança... é tudo falho... as pessoas... não... não são de confiança... então... quer dizer... eu acho que p/ sabe? a mensagem que os políticos passam... é propriamente essa... entendeu? porque... infelizmente... ou felizmente... eu não posso lhe dizer... pra nossa sorte... o futuro do país... pô... quem faz... entendeu? somos nós... porque nós é que... botamos as pessoas... em quem nós confiamos lá... entendeu? só que::... não sei o que acontece... sabe? eles... prometem mundos e fundos... quando chega lá... minha filha... acho que a porca torce o rabo... os cara mudam de mentalidade... entendeu? tem coisas assim absurdas... outro dia eu estava lendo o jornal... na Assembléia... os deputados votaram uma verba de::... duzentos e sessenta milhões de cruzeiros pra tratamento dentário... então quer dizer... são quinhentos e lá vai fumaça... quer dizer... é um negócio assim... meio::... difícil de entender porque eles mesmos aprovam as leis... eles mesmos votam o salário deles... quer dizer... se a Câmara entra em recesso vai lá hora extra e tal... entendeu? está ganhando bem... aí você pode... por um acaso vir me perguntar “mas por que que você não entra pra política?...” porque::... sinceramente... eu sou... desses caras assim que eu penso o seguinte... pra cada pessoa tem um espaço na sociedade... entendeu? então a pessoa tem que objetivar... aquilo que ela quer... entendeu? pô... eu tenho um ir... tenho um ir... tenho um irmão que é advogado... tenho um irmão que é militar... tenho um outro irmão que é economista... tenho uma irmã que é secretária bilíngüe... fez letras também... então estão todos bem... por isso que eu posso falar isso... entendeu? se você... pô... for boa na sua área... se você batalhar as suas coisas... entendeu? correr atrás... pô... você vai longe... independente/ independe do... do Brasil... entendeu? independe se o Brasil vai crescer... ou vai diminuir... logicamente que se o Brasil não cresce... você fica limitada... tá? como é que eu posso falar? sua concorrência no mercado/ o mercado de trabalho começa a ficar... muito pequeno pra você... muito pequeno não... muito grande... né? porque você... começa a concorrer... concorrer com uma porção de pessoas... aí o que é que acontece? você vê... que igual a você... tem milhares... pô... milhares de pessoas... então... como eu posso explicar assim? quer dizer... no meu modo de ver... falando de novo... não fica assustada não... porque eu tenho mania muito de falar “no meu modo de ver... no meu modo de pensar...” sabe? minha mãe costuma até falar que eu sou... meio assim... meio político... que eu dava pra político... que eu sou meio revoltado... entendeu? ( ) eu te explicar... eu acho que a pessoa não pode é::... se abitolar... entendeu? por exemplo... você se forma... aí você arruma um empreguinho aqui... aí você começa a ganhar bem... aí você pára e fala assim “não... estou bem pra caramba...” aí... fica naquilo a vida inteira... entendeu? porque... por exemplo aqui... onde é que a gente trabalha... pô... eu estou ganhando::/ quanto é nosso salário... Nilo? fala aí a miséria... três mil... né? três mil... três mil... isso dá pra... isso dá pra fazer alguma coisa? não dá pô... entendeu? enquanto tem pessoas aqui... já funcionários... que

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ganham quatro... um mil a mais que a gente e trabalham aqui há dez... onze anos... então... quer dizer... bitolação mental... entendeu? não por/ não porque sejam burros... ou ignorantes... é porque já caíram no sistema... sabe? aí vai levando... vai levando... vai levando... aí quando você for ver... acordar... você está que nem o Brasil aí... completamente... no buraco... E: tá... obrigada... I: de na::da... pô... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Um dia resolvi sair com a minha namorada. Fomos dançar e depois resolvemos ir a um motel, só que chegando ao motel eu não poderia imaginar que eu iria me encontrar em uma situação constrangedora, não para mim mais sim para duas pessoas. Assim que parei o carro na fila de entrada dei conta de que conhecia o carro que estava à minha frente, e era sem dúvida o carro do rapaz que namorava a minha irmã, hoje meu cunhado. Reconhecido o carro o que fazer; bem eu fiquei furioso e resolvi ir ver com quem que ele estava traindo minha irmã. Abri a porta do carro em que me encontrava e me puz à caminhar até o carro dele, só não podia imaginar que ao chegar até ao carro dele iria encontrar minha irmã ao lado dele agora imagine só a situação como não ficou. Ficou um clima horrível e acabou estragando a noite de todos. 5 5 Narrativa recontada Quando eu fiz o meu 2o grau eu conheci dois rapazes. Um se chamava Jucinei e o outro Paulo. Passado algum tempo depois de termos terminado o 2o grau, encontrei-me com Jucinei na antiga Robin Hood, uma discoteca que se encontrava no Alto da Boa Vista. Começamos a conversar e com as conversas vieram as lembranças, e com elas vieram também à notícia da morte do passivo Paulo. Então fiquei chocado, pois eu lutei muito para que ele abandonasse as drogas. Quando o Jucinei me falou da morte do Paulo por assassinato fiquei desconsolado pois vi que meus esforços tinham sido inúteis. Então guardei para mim essa lembrança triste, e procuro transmitir a todas as pessoas que buscam as drogas essa história triste, de uma pessoa que não havia nascido para morrer assim. E procuro lembrar sempre que a “DROGA É UMA DROGA”, e que a vida apesar de todos os problemas é ótima, quando se toma o caminho certo das coisas é claro. Descrição de local Falar do meu quarto! logo do meu quarto! Bem o meu quarto é uma verdadeira bagunça. É roupa pra lá e roupa pra cá. Você sabe como é quarto de menino. Minha mãe fica desesperada! vou descrever o meu quarto para você: no meu quarto tem uma cama uma escrivania, um ar-condicionado, um aquário, um armário e alguns livros e é uma verdadeira zona. Relato de procedimento Bem eu faço macarrão da maneira mais simples. Eu faço miojo Lamem. Encho dois copos de água e boto na panela pra ferver depois coloco o macarrão espero dois minutos e está pronto! Relato de opinião Infelizmente não dá pra falar de uma situação sem tocar em outra ou seja; uma situação

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depende da outra. Mas no meu modo de ver o câncer do Brasil são esses políticos que iludem e roubam. E são não maior parte homens de grandes bens e fortunas que manipulam assim a situação econômica do país. Eu acho que o único meio de mudar a situação do país é incentivando a educação. Como isso não acontece, as coisas não mudam. Só se vê recessão e mais recessão. É por isso que eles adoram a recessão, pois para os pobres é ruim e para eles é otimo pois o país é capitalista claro que eu não tenho nada contra o capitalismo, e sei de seu funcionamento. A última foi agora; os deputados aprovaram uma verba de Cr$ 250.000.000,00 para tratamento dentário, como se o salário deles já não fosse suficiente! Eles deviam saber e contar nos dedos quem trata dos dentes no país. Chega dessas imagens de corrupção até mesmo com os nossos maiores governantes. O Brasil precisa crescer se não for agora quando será? Vamos nos permitir, vamos valorizar a educação e pensar que a economia de um país pra ficar bem na balança primeiramente tem de exportar mais e importar menos. Como um país não pode consumir mais do que exporta. Se dá esse problema. Lógico que existe outros problemas econômicos entre eles estão: Especulação, Empresário, Sonegações de impostos etc...Acorda Brasil!!! Informante 5: Mônica Sexo: feminino Idade: 23 anos Data da coleta: oral- 01/04/93; escrita- 03/04/93 e 06/04/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: bom... me diz o seu nome... aonde você estuda... qual período você está... e de/ qual curso... 6 6 I: eh:: meu nome é Mônica... eu faço comunicação visual na PUC... estou/ era pra estar no::/ ter saído já... mas estou no oitavo período e:: ( ) E: me conta uma história que tenha acontecido com você... que você tenha achado engraçada... ou triste... ou então constrangedora... I: tá... é uma... uma história engraçada... foi/ eu estava fazendo um trabalho free-lancer assim... pra um cara... aí eu liguei pra casa dele pra/ que ele tinha que me pagar por esse trabalho... então estou eu lá... liguei... aí eu “oi... Carlos... aqui é Mônica... tudo bem?” aí ele virou pra mim e falou assim “não... tudo mal...” aí o que é que eu pensei? eu falei “caramba... ele não gostou do trabalho... saiu uma droga” e tal... aí eu “mas tudo mal por quê?” aí ele falou assim “não... porque oh... primeiro de tudo... já vou te avisando... que eu/ não deu p/ tempo de ir no banco ((riso)) então eu não peguei o che::que...” e tal “não peguei cheque... não posso te passar cheque... agora só segunda-feira...” eu falei “não... tudo bem::... não... não... você pode me pagar quando você quiser...” tal... “não precisa pagar agora... eu... eu só queria saber o seguinte... é que:: eu estava esperando você passar aqui... deixei até a fita...” uma fita que eu tinha que/ que eu tinha que ter entregue pra ele “a fita com a minha mãe...” e tal... aí ele “sua mãe?” aí eu falei “é:: minha mãe...” ele “com quem eu estou falando?” aí eu falei assim “ué... com a Mônica... que faz trabalho pra você...” tal... “que está fazendo a marca da tua/ do... do negócio de vídeo...” aí ele falou “Mônica... ai desculpa... desculpa... eu achei que era a minha ex-mulher... assim... eu já ia te dar a maior bronca... que ela vive correndo atrás de mim atrás de

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dinheiro...” e tal ((risos)) “e eu... pra pagar umas coisas aí... cara... ainda bem que você me disse da... da sua mãe... porque a mãe dela nem mora aqui... mora no Norte... nem ia/ como é que eu ia passar pra pegar uma fita de vídeo ainda... né?” aí a situação é muito comédia porque eu fiquei imaginando... eu falei “bom... daqui a pouco... assim eu estou entrando na intimidade do cara... né? ((risos)) ainda bem que ele não falou mais coisa...” e o gozado foi que encaixou... né? eu: estava esperando realmente um dinheiro... mas eu fiquei super constrangida... eu falei “gente... não... não precisa de me pagar...” quase que eu falei “não... tudo bem... eu faço de graça...” E: de graça::... eu te pago [pra fazer...] I: [pois é...] é... porque... do jeito que eu contei até que não foi tão/ mas ele... na hora foi... foi meio... grosso mesmo... né? ele “não... o dinheiro não está aqui... olha... pra falar a verdade... nem o cheque está aqui” ((riso)) aí foi essa... essa eu achei super gozada... assim... quando:: passou... Narrativa recontada E: e::... agora... eu queria que você me contasse alguma... alguma coisa que alguém tenha te contado... que você não tenha vivenciado... que você tenha achado engraçada... ou triste... ou constrangedora... I: olha... a gente::/ eu... eu não estava não... mas uma amiga minha me contou... que foi uma viagem que a gente fez... e:: a gente viajou com... com/ eram/ tinham doze pessoas na casa... e um deles era filho de um deputado... tá? e/ só que ela... ela... ela::... tipo... estava nam/ começou a namo/ namorou não... ficou com o cara lá no carnaval ((riso)) que::... ela achou que... ele que era filho do deputado... entendeu? então toda vez que ela falava no telefone com ele... ela falava “mas... pô... mas... eh::... a tua casa vive cheia... mas também... né? teu pai::...” aí ele “mas::” aí ele... pensava... né? “meu pai... mas e daí... meu pai?” sabe? não tem nada a ver... então ficou aquela conversa sempre assim tipo... ela falando o tempo inteiro achando que o pai dele era deputado... até que um dia ela chegou pra ele e falou “ah:: mas vem cá... pô... teu pai que deve... deve ser cheio das influências...” não sei quê... eh::... como é que é? “qual::”/ pra votar no cara... né?” ah::... vo/ “qual o número dele?” não sei quê... “quero votar...” tal... aí ele falou “votar? meu pai? cara... meu pai trabalha na bolsa... que ( ) votar em quê?” entendeu? isso depois assim ((riso)) tipo.... ficou no carnaval... que era fevereiro... aí::... sei lá... abril... ela foi descobrir que/ falando do pai dele direto... foi descobrir que não era... aí que eu acho que... foi (aquilo) que eu lembrei assim... de... Descrição de local E: e::... agora eu queria que você me descrevesse o local onde você:: mais gosta de ficar... 6 6 I: ai... o lugar que eu/ em casa... em casa... eu adoro assim... especialmente quando... está tranqüilo... à tar/ à tardinha... que é raro eu estar em casa essa hora... essa hora que a gente está aqui... seis horas... chega em casa assim... ah::descansar... tomar um ba::nho... cuidar do meu quarto... ficar a/ ver televisão... ter uma hora de descanso mesmo... tipo/ que... é... é bom... mas você quer que descreva o quê? que fale mais [do... do lugar mesmo?]

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E: [descreva como é que é o::] espaço geográfico... I: ah... meu quarto... ó... ele nem... nem é::/ ele não é... grande... ele é pequeno... tem::/ mas ele é... é gostoso... que eu gosto de coisa entulhada... entendeu? ((riso)) eu acho... tipo assim... eu até disfarço... que ele é pequeno... né? o pessoal acha que é porque ele está muito cheio... então tem... tem uma cama... tem uma estante grande que eu coloco todo o material de desenho... livro... ela é toda de madeira assim que eu fiz com o meu pai... a gente... tirou um domingo assim “vamos fazer uma estante...” ((risos)) aí... resolvemos fazer a estante... aí ela é toda ajeitadinha assim... porque tem lugar pra... pra lapiseira... tem lu/ sabe? todo/ tudo certinho assim mesmo... meio... meio designer... aí... tem a prancheta que eu comprei há pouco tempo também... que ela até está sem forrar....que ela está ainda no::/ tem que colocar um plástico... alguma coisa em cima pra pro/ pra não estragar... o que mais? tem uma mesinha do lado da minha cama... que fica telefone... porta-retra/ milhões de porta-retratos... tem o re/ o último recado... telefone... tudo assim meio jogado... mas/ é bagunça mas eu entendo... né? em frente à cama tem a televisão... que fica também na frente da janela... assim::... e o que mais? que ela fica no alto... assim... até é um saco... que o meu controle... às vezes/ quebrou... e aí... à noite assim... eu durmo e aí eu ”a::i não... tenho que apagar a televisão...” aí levanto... vou lá... a... aí... desligo... é um saco... isso é um saco... até um dia eu estava falando ou con... ou conserta ou então abaixa essa televisão... né? aí o que mais? tem o armário também... de quatro... quatro portas... ele::/ a parede é toda branca... o armário é clarinho... assim... é begezinho claro... o chão também... que é aquele::/ ai... agora esqueci o nome daquele chão... é um/ é liso assim... é um piso liso... [faz/] E: [tábua corrida?] I: não... eh::... não é elcatex que fala... como é que é o nome daquilo? é de/ imitando tábua corrida... tá? é tipo... é tipo/ eu não sei o nome daquilo... eh::.. fala co::res... assim? tipo... a colcha é toda de... de... meio retalho... mas mais pro vinho... ela tem/ puxa mais pro vinho... a mesinha também tem uma::/ tipo um... um pano assim... e:: também é mais pro vinho... tem umas coisas verdes... assim... meio descombinando ((riso)) mas acaba que no contexto combina com a madeira... né? que é clarinho... cor de madeira... o armário e o chão... aí combina... aí:: é só assim... tem umas pastas num canto atrás da porta... tem um espelho atrás da porta... tem umas pastas destas de material de desenho... assim... grandes... aí aquilo ali é... uma bagunça... meu cantinho da bagunça... assim... onde eu vou jogando tudo... e só::... assim... tem um tapete na sa/ no meio do quarto... todo colorido também... mais pro vinho... tudo mais pro vinho... assim... mais/ meio rosa também... é... só ((riso)) Relato de procedimento E: e::... então... agora eu queria que você me dissesse o que que você mais gosta de fazer... e me explicasse como é que se faz isso... I: olha... eu vou falar::... u::ma coisa... do meu trabalho... tá? quando eu começo/ entro no meu trabalho... então eu chego... aí che/ eu olho minha prancheta... já começo arrumando tudo... assim... aí dou uma limpada sempre... porque é:: até pelo trabalho mesmo... pra não sujar::... nem nada... então... eu arrumo a prancheta... vejo a régua como é que está... vejo o que tem em

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volta... aí... sei lá... vou:: pro/ tipo que tem uma agenda sempre que tem... os trabalhos que a gente tem que fazer todos os dias... então... vou lá... vejo... “ah:: de repente hoje... sei lá... tenho que fazer um layout...” e:: primeiro um estudo... antes de fazer o... o layout... o trabalho... né? pra apresentar... então “o que é que eu vou fazer? ah::... tenho/ preciso de cor...” aí eu vou... pego os lápis de cor que eu quero... tudo que... tem colorido... lápis de cor... canetinha... hidrocor... marcador... papel colorido... o que for... aí coloco tudo do meu lado ali... no lugar... assim... que tem/ a prancheta tem... o lugar que a régua corre... e do lado tem sempre um espaço... né? pelo menos na/ do trabalho... que ela é grande... eu deixo tudo ali... aí vou... prendo... alguma coisa que::... sempre... o pessoal fala “pega o papel branco” e tal... “prende ele 6 6 na prancheta...” aí:: vou executar o trabalho... pinto e tal... depois eu/ tem um painel... na frente das pranchetas... no trabalho... que você p/ vai pregando... pra você poder olhar o que você está fazendo... olhar de longe... ter uma distância... que não é a da prancheta... aí você olha... coloca ali... vai fazendo... prende as coisas... depois você chega pra/ mais pra longe... empurra a cadeira e olha... aí::... sabe? dá uma (definidade) “esse aqui? não... esse aqui eu não gostei muito... aquele ali é melhor::... aquela cor é mais legal... eu vou misturar” e tal... aí depois o que você escolhe/ às vezes você não faz isso num dia... tá? mas... às vezes dá... então... você escolhe um que você goste mais... então você vai pegar aquele e vai aprofundar... então você vai ver como você vai apresentar aquilo melhor... aí às vezes é com recorte de papel... às vezes você vai pro computador... e::... imprime... se tem uma impressora à laser colorida você faz... se não você resolve que vai ser na ca/ vai fazer um handering... com a canetinha mesmo... ( ) o marcador... aí você faz... aí depois você monta de uma/ uma outra prancha... seria um papel mais durinho... pra você quando apresentar pra pessoa... ela não pegar aquilo molengo na mão... você monta... aí põe um:: papel de proteção... que a gente chama de papel manteiga... e guarda lá... direitinha... quando você for mostrar pro teu cliente... está lá direitinha... aí eu faço isso... aí... tipo no final do dia... depois que eu fiz... esse procedimento todo... guardo num lugar que tem que são umas estantes... com uns intervalos bem pequeninhos... só pra papel mesmo... que a gente tem lá o trabalho... que eles colocam uma etiqueta... o trabalho::... sei lá... eh:: esse que é Naturalíssimo... aí eu trabalho no restaurante Naturalíssimo... então você coloca ele na pastinha... dentro... aí pronto... aí quando você for entregar pro cliente está ali... se não você vai embora... e guarda tudo... fecha e apaga a luz... fecha... e sai... vai embora... do... do escritório... é isso... né? ((riso)) acho que é um procedimento... E: é::... Relato de opinião E: e::... agora eu queria que você me dissesse a sua opinião... ou sobre a situação política... ou econômica... ou da educação no Brasil...

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I: olha... a situação política... eh::... eu... tipo assim... eu não sou a pessoa mais informada assim nem me/ procuro... sabe? muito... eu acho que eu até devia procurar me informar mais... mas é que... sabe quando você sente que está::/ não tem jeito... eu... eu/ está... está tudo destruído... sabe? está tudo meio no chão... você tenta catar... as pessoas tentam... juntar assim... tipo “agora o Collor... caiu...” não sei quê... todo mundo se juntou... mas sabe quando você não... não sabe o que vai acontecer depois? você faz aquilo... mas você não tem uma... uma projeção pro futuro... a gente não tem projeção nenhuma... política... e agora com esse negócio do... do parlamentarismo... do presidencialismo... monarquia... e aí... as pessoas já/ você não tem confiança... as pessoas já divulgam isso... já de uma maneira que/ pra te confundir... entendeu? então você se sente o tempo inteiro enganado... sabe? você fala com um... você vê um político falando numa hora de um jeito... aí daqui a pouco ele... junta com outro de outro partido... tudo bem que possa até mudar de opinião... mas muda... e não ajuda... sabe? as coisas não andam... você está sempre/ tudo meio parado... meio/ e esse negócio agora... essa votação que vai ter agora... eu... pra mim eu acho que é uma grande enganação e num momento s/ inoportuno... sabe? tipo... espera aí... vamos consertar de um jeito... agora vamos mudar... vai... confunde... eu... tá? que::... acho que tenho um nível... de informação maior assim... você já... se confunde... você vê aqueles programas... você não sabe quem está dizendo o quê... imagina uma pessoa que não tem informação nenhuma... sabe? sei lá... a empregada da minha casa... pô... parlamentarismo... presidencialismo... eu/ ela nem sabe o que que é... entendeu? acho que ela não sabe nem que que o Itamar é... é presidente... ou... sei lá... é rei? não sei... acho que ela nem sabe... e o jeito que eles fazem a cédula... eu acho que tudo... tudo é pra complicar... entendeu? tudo é pra enganar mesmo... então eu/ negócio de política pra mim... assim... ( ) super desacreditada... eu acho que/ e não tem como... tipo... eles ficam “ah:: tomar como exemplo... um país que é presidencialista” e o outro fala “o país parlamentarista...” sabe? cada um tem uma experiência... a gente tem E: uma realidade.. 6 6 I: é::... e a gente tem/ nossa realidade é que não deu certo... não está dando certo assim mas... será que é a hora de mudar pra ver se dá... outro ( ) experimentar... fazer essa experiência agora? não sei... se fosse um negócio sério... pô... eu acho que até se/ poderia ser mas... já está parecendo que não é sério... sabe? desde agora... desde antes de acontecer a coisa... mudar pra parlamentarismo ou:: ( ) de república pra monarquia... já está parecendo uma coisa tão::... sabe? aleatória... esse negócio “ah... vamos fazer... pra ver o que que dá...” sabe? tipo “vamos fazer um carnaval pro pessoal esquecer... o que está acontecendo? vamos fazer isso aí pra não... não acorbertar o que/ outras coisas que eles estão pensando...” é isso... eu não gosto... não estou

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achando legal o jeito que está não de polí/ a política... E: tá... obrigada... I: acabou? ah::... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Um fato interessante que aconteceu comigo foi uma vez que ocorreu uma confusão com um cliente meu, para o qual eu realizava uma marca(identidade visual) para sua produtora de vídeo. Eu liguei para ele um dia para saber se ele havia recebido uma fita de vídeo que me emprestara anteriormente e também para saber sobre meu pagamento. Do outro lado do telefone, ele me atendeu de uma maneira rude e indiferente, coisa que nunca havia acontecido. Não entendi. A conversa foi mais ou menos assim: “- Carlos, sou eu Mônica.” “- Olha, já vou falando que não deu tempo de passar, pois ontem tive que sair e quando vi já eram 16:30 da tarde. Mas não precisa reclamar que na segunda o dinheiro fica depositado.” “- Eh, não...mas não liga pra isso - falei sem graça. “- Eu só estou ligando pra dizer que deixei a fita com a minha mãe e gostaria de saber se você recebeu direitinho.” “- Fita? Com a sua mãe? Peraí. Quem está falando? Sua mãe não está no Norte?” “- Acho que você deve estar me confundindo!” “- Que Mônica está falando?” “- A que está realizando a marca da sua video produtora.” “- Ah!!! Desculpe, achei que era minha ex-mulher pedindo dinheiro.” Bom, a partir daí nos entendemos. Imagina se o assunto dele com ela fosse mais sério! Eu corria risco de vida!!! Narrativa recontada Uma amiga minha que viajou comigo durante o carnaval, teve um caso com um de meus amigos. Não sei muito bem porque ela confundiu os pais dele com os de outro amigo meu que estava na casa e cismou que o pai de seu “caso”era deputado. Depois do carnaval, eles continuaram se falando e ele várias vezes mencionava festas em sua casa e fatos que o pai fazia. Ela por sua vez, achando que o pai dele era deputado, ficava sempre com aquele pensamento: Pôxa, deputado é fogo! Sempre dá festas, sempre usando dinheiro dos outros. Um belo dia ela soube que o pai dele trabalhava na bolsa de valores e dava festas com o próprio dinheiro porque gostava! Imagina só a dor na consciência! Só faltou ela perguntar o nome para fazer campanha contra o deputado! Descrição de local Meu quarto é um lugar que gosto de ficar. Todo ele foi montado aos poucos e por isso sinto-o como uma conquista. Ele tem armário embutido com quatro portas e fica logo em frente a porta. Aliás, ele fica de lado para a porta. De cor beige claro, imitando madeira, ele combina com o chão que é de formipiso, imitando madeira porém um pouco mais escuro. 6 6 A parede em frente à porta tem uma janela não muito grande. Talvez 1,50m x 1,50m. No espaço que sobra tem um poster de amigos meus. Ah, na janela tem um montão de adesivos que coleciono.

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Minha cama e minha prancheta ficam bem em frente do armário e à direita de quem entra no quarto. Minha colcha é de retalho puxando para o vinho e a mesinha de cabeceira também tem um pano vinho “combinando”. A prancheta vive cheia e é fogo quando quero realmente trabalhar. Na parede em cima de minha cama fica minha televisão com o vídeo, presos à parede com aquele suporte tradicional. Na mesma parede está minha estante que adoro de paixão. Foi feita por mim e meu pai e guarda desde álbuns fotográficos a livros técnicos além de materiais de desenho. Ela foi feita toda de madeira. No chão tem um tapete todo desenhado (estampado) no qual adoro deitar para relaxar a coluna. Acho que é “só”! Relato de procedimento Geralmente quando vou ao trabalho tenho o mesmo procedimento em relação à arrumação. Chego às nove horas da manhã. Abro a janela pois geralmente sou a primeira a chegar, ligo o rádio e vou até minha prancheta. Limpo-a com álcool ou benzina, passo uma vassourinha de mesa, vejo na agenda de afazeres o que há para fazer e pego todo o material para por a minha volta. Depois de conferir se tudo está bem, começo meu trabalho. Relato de opinião Situação Política A situação política no Brasil já não era boa mas depois de nosso último presidente, Collor, ficou bem pior. O Brasil não acredita em si mesmo. Seus políticos espelham uma situação de decadência em relação ao respeito e honestidade além de tantos outros princípios que são difícies de serem encontrados nesta classe que hoje representa os “direitos” do povo. Agora estamos na hora do plebiscito que mais parece um pano de fundo, aliás, uma cortina de teatro que fica cobrindo os bastidores, onde rolam as baixarias. Como votar em Monarquia, República ou Parlamentarismo, e Presidencialismo quando a maioria da população não sabe nem o que cada um significa e às vezes nem sabe quem é o próprio prefeito ou governador de sua cidade ou estado respectivamente, como aconteceu com a faxineira lá de casa. O resultado desta brincadeira só pode ser um tiro no escuro. Que ganhe o mais sortudo pois é só disto que cada um vai ganhar! Só espero que não piore pois parece que o fundo do poço ainda está longe. Haja visto Índia, África do Sul, Guatemala, etc... Informante 6: Rafaela Sexo: feminino Idade: 24 anos Data da coleta: oral- 01/04/93; escrita- 03/04/93 e 06/04/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: é::... me diz o seu nome... em que período que você está... aonde que você estuda e qual o seu curso... I: eu... meu nome é Rafaela... eu estudo na PUC... no Rio... faço desenho industrial com habilidade em projeto de produto... e... está faltando alguma coisa? E: o período... I: ah... eu estou no... oitavo período mas vou fazer em nove... normalmente são oito mas vou fazer em nove...

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6 6 E: uhn... uhn... eh::.. e... eu queria que você... me contasse alguma história que tenha acontecido com você... que você tenha achado... ou engraçada... ou aleg/ ( ) triste... [constrangedora...] I: [ou alegre?] aconteceu uma coisa super boa comigo faz umas semanas... que eu estava num barzinho sentada... no Leblon... com vários amigos... aí:: eu... olhei pra frente assim::... e reconheci uma pessoa que é um profissional super conhecido de design do Rio... e eu conhecia ele por causa de outros eventos que eu inclusive trabalhei... aí eu fui falar com ele... ele foi mais caloroso que o normal e tal... aí:: ele falou “poxa... Rafaela... eu estava te procurando” e tal “ia te ligar hoje mas não consegui::... foi uma su/ coincidência super legal te encontrar... e eu queria te:: falar um negócio” e tal... aí eu falei “ah::... que legal” e tal “então fala...” aí ele “quer conversar depois ou agora?” “não... conversar agora... conversar agora...” aí ele falou que... eles estavam precisando de uma pessoa no Centro de Promoção Design Rio... que é um órgão que ele e outros profissionais de design criaram no Rio pra promover o design... então::... ele estava precisando de uma pessoa... eles pensaram em mim... pô... eu fiquei super orgulhosa de eles terem pensado em mim... eles pensaram em mim por causa de outros trabalhos e tal... e::... acabou que::... eu liguei pro escritório dele... marquei a entrevista... aí a entrevista foi ótima e tal... eles eram a pessoa que eu queria/ a pessoa que eu queria/ que eles queriam era eu... mas:: acontece que o meu horário era incompatível com o deles... foi super bom pra mim porque... poxa... me ofereceram um trabalho... foi uma coisa que:... por incrível que pareça... eu nem procurei assim... né? mas foi ótimo... foi super bom... E: mas acabou que não deu... pra você? I: não... não deu pra eu estagiar... mas faz parte isso porque::... eu estou fazendo milhares de coisas aqui na PUC também... aí eu fiquei sem estagiar mesmo... esse semestre... apesar de eu já ter estagiado dois anos já... Narrativa recontada E: e::... agora eu queria então que você contasse pra mim... alguma coisa que você não tenha vivenciado... alguém te contou ((conversa de terceiros)) eh::... que alguém te contou... e que você tenha achado ou engraçada... ou triste... ou constrangedora... I: oh... my ((riso)) uma história que tenham me contado? ai... dá pra desligar? ((o gravador)) meu irmão estava me contando outro dia que::... ele conheceu um... um cara lá em Friburgo... que roubaram o carro dele... há pouco tempo aqui em Fri/ aqui no Rio... na Glória... daí ele ficou louco porque tinham roubado o carro dele... o carro dele não era tão novo assim mas... pô... fazia a maior falta e tal... era um Gol... aí ele... deu queixa na polícia... e ao mesmo tempo que deu queixa... começou a falar com o amigo dele... que era o amigo do amigo do amigo de alguém que era ligado ao tráfico de carros... aí acabou que chegou na/ alguém chegou e deu um toque nele... pra ele todo dia passar naquele lugar onde tinham roubado o carro dele... passar todo dia em frente à delegacia... perguntar como é que estava o carro e tal... ba ba bá... como é que andava o processo... e aí ele passa/ passeava todo dia naqueles lugares benditos... passava

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na delegacia “e aí... como é que está a história?” “pô::... a gente não está sabendo de nada...” não sei o quê... e o bendito do carro sumiu... entendeu? ninguém mais sabia fal/ ouvia falar do carro... aí um dia... por um acaso... assim... depois de... sei lá... de uns dois meses... ele passou em frente à delegacia... e viu o carro dele... aí entrou na delegacia e perguntou “ah... e aí? quer dizer que vocês acharam meu carro?” “não... a gente não achou o seu carro não” “ué... mas como?” e tal “mas... pô... vocês falaram que iam achar...” e tal... ele se fez de desentendido... né? “vocês... pô... não é possível... cara... vocês falaram que iam achar o meu carro...” e tal “não... mas a gente não achou nada::...” e tal... não sei o quê... aí ele “pô... então beleza... então quer dizer que eu posso pegar o meu carro que está aí em frente e levar embora?” “pode... pode... pode pegar o carro...” as pessoas/ tipo assim... ele não pôs palavra na boc/ palavras na boca das pessoas e as pessoas também deixaram tudo assim no ar... entendeu? foram levando... quer dizer... se ele achasse... bem... se ele não deixasse amém... né? ele ia ficar sem o carro dele... coitado... só que ele teve uma sorte enorme... o carro estava lá intacto... e tinha muita coisa dentro do carro... tinha muita/ ele era/ época de Natal... e ele estava assim... com todos os brindes... ele é o dono de uma boite... todos os brindes da boite estavam dentro... camise::ta... 6 6 essas coisas todas... né? estava tudo dentro do carro... então tinha milhões:: assim... além do carro... e estava tudo dentro... neguinho não tinha tirado... nada... incrível... né? E: mas eu não... não entendi... e aí? ele pegou o carro [e foi andando?] I: [aí ele pegou o carro] e levou embora... foi uma história louquíssima assim... foi uma história totalmente sem pé e nem cabeça mesmo... E: e como que o carro foi parar lá? I: ah::... e teve um lance... ele estava com a chave... por um acaso... naquele dia ele estava com a chave do carro... no bolso... porque ele andava assim... sempre olhando... e tal... então ele andava com a chave... naquele dia ele estava com a chave do carro na mão... então ele pegou... e levou o carro embora... e o mais incrível é que quando roubaram o carro também... roubaram com tudo... com os documentos dele... com os documentos do carro... estava tudo no carro... a única coisa que estava com ele era a chave... quando ele abriu o carro estava tudo lá... neguinho deve ter usado o carro pra alguma coisa... precisava do carro... e depois não precisou mais... e:: viram que ele de repente estava na caça e tal... super louco... né? E: uhn... uhn... estranha essa história ((riso)) I: pois é... sem pé nem cabeça... Descrição de local E: e::... agora... eu queria que você... me descrevesse o local onde você mais gosta de ficar... I: o local que eu mais gosto de ficar::... é um local... que não dá pra eu ter acesso... assim... toda hora... é lá em Friburgo... na cidade dos meus pais... e::... tem o pico do Caledônia... que é um pico que tem... dois mil... dois mil e oitenta e três metros de altitude... e lá é muito lindo... porque tem a maior paz... assim... de lá de cima você vê... toda... assim... a Serra de Teresópolis... Petrópolis e Friburgo... então você vê todas as/ você vê as... as estra::das... vê os

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cami::nhos e tal... então é impressionante... que de lá de cima a gente vê... assim... a gente vê como a gente é pequenininho... entendeu? vê como... tudo é fluido... é lá que eu gosto de ficar... é no alto das montanhas... E: e como é que é lá? I: como é que é lá? lá é o pico de uma montanha... onde tem até uma torre de televisão... e::... tem uma/ um...um lugar pra pouso de helicóptero também... e de lá::/ é:: uma base... tem... tem a tal base... e tal... mas é natureza... entendeu? são pedras... árvores e... muita natureza::... rasteira... não tem nada assim... de mais... entendeu? só que é mui::to bonito... você tem que fa/ tem que subir seiscen/ além de ter que fazer uma caminhada enor::me... tem que subir a maior rampa... depois tem que subir seiscentos degraus... aí chega-se lá em cima... ah:: tá bom... Relato de procedimento E: Rafaela... eu queria que você contasse para mim... o que que você mais gosta de fazer... e:: me explicasse como é que se faz isso... I: eu adoro plantar... plantar... plantar:: verdes... né? e eu... há pouco tempo... eu aproveitei/ quer dizer... eu morava em casa e agora eu estou morando em apartamento... e eu aproveitei que tem uma jardineira na minha casa... e plantei::... temperos... ceboli::nha... eh::... manjericão::... essas/ esses temperinhos pra fazer molho... pra botar em carne... daí:: eu... tive que arranjar... terra adubada... eu tive que tirar porque a terra estava... toda cheia de barro... tirei a terra com barro... coloquei a terra adubada... e aí plantei... as coisinhas todas que já estavam::/ já era/ já não eram mais sementes... elas já eram... esqueci a palavra... E: muda? I: já eram mudas... muito bem... é por aí ((riso)) aí eu plantei as mudas... elas estão crescendo... eu tenho que molhar todo di::a... tenho que ver como é que está a terra... tenho que afofar... essas coisas todas... e é super legal... eu adoro plantar... eu descobri isso há pouco tempo... Relato de opinião E: e::... agora eu queria que você... dissesse pra mim a sua opinião... ou sobre a situação política... ou econômica... ou da educação... no Brasil... I: ( ) bom... ah... eu vou dar sobre a política porque eu estou fervilhando sobre isso... porque a gente está num... a gente está num momento super decisivo... né? dia vinte e um/ hoje é dia... 6 6 dois/ dia primeiro de abril... dia da mentira... mas... não conta... dia vinte e um de abril é/ vai ter o plebiscito... né? pra eleger... ou a monarquia... ou a república... e hoje houve até um plebiscito na PUC... eu achei super interessante mas ao mesmo tempo... é dureza porque... não faz sentido essa eleição... não faz sentido porque a gente não... não tem nem... condições... não tem embasamento nenhum pra eleger nada... entendeu? tudo está uma bagunça... está tudo/ os conceitos estão totalmente invertidos... e eu acho assim... uma piada... a monarquia ser... alguma coisa hoje em dia... entendeu? então::... eu fui até lá::... votei... e tal... vou votar no dia vinte e

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um... vou resolver ainda se eu vou anular meu voto ou não... mas... a única premissa que eu acho que as pessoas assim... de bom senso têm... é que a monarquia não faz sentido... porque o resto... as pessoas não têm noção... ninguém/ está todo mundo totalmente perdido... ninguém sabe por que que está acontecendo isso... foi uma coisa totalmente louca mesmo... e::... o que mais que eu podia falar sobre isso? sobre essa... essa política? ah... inclusive houve uma coisa super interessante... que::... eu conheço uma pessoa que faz pa... parte da associação de negros... que são politizados e tal... e eles... estão reivindicando... eu acho que eles estão mais do que certos... que já vai ter eleição pra monarquia... a gente tem que ter um rei Zumbi... porque ele é tão rei... quanto o rei de Portugal... porque os nossos reis que são candidatos... são candidatos... porra... um não fala português direito... o outro... foi um playboy a vida inteira... entendeu? então eles não/ nem sabem o que que é Brasil... e::... e é bom/ eu acho que... o caminho é as pessoas... se rebelarem um pouco... pararem só de reclamar... e tomarem mais atitudes... aqui... politicamente... tipo... a/ as pessoas... têm dificuldade de aceitar até a UNE... que é a coisa mais certa... que tem que acontecer... é uma instituição que tem um poder enorme... já virou uma instituição... quer dizer... já deix/ era uma intituição fortíssima... deixou de ser por causa... da ditadura... voltou a ser... e:...ontem eu estava conversando com umas pessoas e aí falaram “ah!... mas aquele Lindenberg Farias viaja de graça pelo Braj/ Brasil inteiro...” gente... é óbvio... a começar que ele não tem condições de estudar... fazendo o que ele está fazendo... o trabalho que ele está fazendo... depois... se alguém não pagar pra ele as passagens... quem é que vai pagar? se for o Governo... ótimo... o Governo a gente paga imposto pra isso... pra ter nossos direitos reivindicados... então as pessoas estão totalmente assim... perdidas... entendeu? a gente tem que reforçar a UNE... tem que reforçar os CAs... tem que reforçar os DCEs... a universidade... tem que aproveitar o espaço que ela tem... pra tentar melhorar isso... né? parece ideologia demais assim... mas é a realidade... E: tá... obrigada... Rafaela... I: ah... de nada... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Essa história que me aconteceu não teve um final exatamente feliz. No entanto, foi muito alegre para mim e me trouxe um grande bem estar. Num desses fins de semana em que fiquei no Rio, fui ao Sindicato do Leblon, num sábado, com o pessoal da faculdade. Já era bem tarde, talvez uma hora da manhã, quando chegou um conhecido meu. Ele é um designer conhecido e eu o conhecia através de eventos que o seu escritório havia organizado e nos quais eu havia colaborado. Ele não é exatamente meu amigo, e eu fiquei surpresa quando ele disse que precisava conversar comigo. Foi aí então que ele me fez uma oferta de estágio, me dizendo que o seu escritório estava precisando de uma pessoa e que eles haviam pensado em mim. Eu fui lá, fiz a entrevista, mas meu horário foi incompatível por causa da faculdade. Eu não

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fiquei triste porque era um momento da minha vida em que realmente eu não poderia estagiar. Depois também fiquei feliz por terem lembrado de mim pelo próprio mérito do meu trabalho. Narrativa recontada Essa história a seguir é um pouco louca e faz parte desse dia a dia da vida das pessoas no Rio de Janeiro um pouco interessante. 6 6 Meu irmão me contou essa história e fiquei impressionadíssima: Um amigo dele teve seu carro roubado, na época do Natal, e não se conformou. Além do carro ser o único que ele tinha estava com muita mercadoria dentro (pois ele era comerciante). Ele tinha um amigo que tinha um amigo, que tinha outro amigo que conhecia alguém da mafia de roubo de carros no Rio. Então, ele contactou esse amigo, e acabou chegando a ele a informação de que ele deveria rondar sempre o lugar onde o carro havia sido roubado. Além disso, ele deu queixa a polícia, o que, como era de se esperar não deu em nada. Um belo dia, não sei se por causa dos contatos, ele passou em frente a delegacia e viu lá seu carro estacionado, e o que é mais interessante: intacto. Por um acaso ele estava com as chaves do carro. Ele entrou na delegacia e perguntou se alguém havia descoberto o paradeiro do carro e ninguém se manifestou. Foi aí então que ele perguntou se poderia ir embora com o carro que estava estacionado em frente a delegacia, o delegado disse que sim e que não haveria problema. Essa história é louquíssima e totalmente sem nexo: por isso fiquei impressionada. Descrição de local O Pico da Caledônia é um lugar onde me sinto bem e gostaria de estar sempre. No entanto ele fica distante e não de fácil acesso. Ele fica na minha cidade origem, Nova Friburgo, a 2083m de altitude. Para chegar lá tem que se passar por uma estrada, depois subir um morro íngreme que leva mais ou menos uma hora e por último mais 600 degraus. Em compensação, a chegada lá é indescritível: lindíssimo, paisagem perfeita, maior astral são palavras pequenas para aquele lugar tão sublime. Lá de cima se vê parte da serra do Mar e vê-se também como o mundo é fluído e como nós somos pequenos. Relato de procedimento Tenho como um dos meus hobbis cultivar plantas. Geralmente planto temperos. Quando eu cultivo plantas , o processo é o seguinte: .Primeiro eu afofo a terra onde vou colocar as mudas. .Logo em seguida coloco terra adubada e adubos, e misturo a terra cansada com a nova. .Depois cavo buraquinhos com o dedo (a profundidade é o tamanho do dedo) e coloco as mudas nos buracos. .Completo o que sobrou com a terra e logo em seguida rego as plantinhas. .Rego todos os dias de manhazinha, pois ao meio-dia o sol queima as folhas, e à noite elas soltam gás-carbônico. .Como resultado, posso comer temperos fresquinhos todos os dias. Relato de opinião Uma das coisas que está mais em voga no atual momento do Brasil é a política, e acho que eu não poderia falar de outra coisa senão isso. É incrível a alienacão de toda a nação e é um absurdo pensar que estamos às vésperas de um

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plebiscito que não vai servir para nada. O que tem que mudar nesse país não é o sistema de governo, mas sim, a cabeça das pessoas, através da educação séria e não através de um falso moralismo e de um paternalismo falido. Esse plebiscito para a escolha da forma de governo é totalmente sem sentido. E o pior de tudo é que têm pessoas que irão votar na monarquia assumidamente. Conheço uma pessoa que faz parte de um movimento anti-racista dos negros que disse que se é para haver monarquia temos que ter na concorrência um rei Zumbi. Concordo plenamente: os negros tem tanto direito quanto os portugueses de exigir seu espaço, já que o sistema está indo por esse caminho. Fica aqui registrada a minha revolta e eu espero algum dia ter voz e espaço para mostrar às pessoas o que e que isso tenha algum valor. Não por mim, mas por toda essa miséria que está a nossa volta e que nós fingimos o tempo todo que não vemos. 6 6 Espero que tudo mude e que nós sejamos um povo realizado politicamente. A política do mundo inteira está falida. Mas isso não é motivo para nos acomodarmos. Temos mais é que crescer e não ficar usando recursos do gênero desse plebiscito. Informante 7: Regina Sexo: feminino Idade: 23 anos Data da coleta: oral- 04/08/93; escrita- 10/08/93 e 12/08/93 PARTE ORAL E: me diz o seu nome... I: Regina... E: aonde você estuda? I: PUC... RJ... E: e::... qual período que você está? I: uhn... passei agora pro décimo primeiro ((riso)) E: e::... de que curso? I: artes... desenho industrial... E: Regina... eu queria que você::... me contasse uma história que tenha acontecido com você... e que você tenha achado... ou engraçada... ou triste... ou constrangedora... I: comigo? bem... constrangedora... engraçada... tá... constrangedora ((riso)) na praia... saí com... com um pessoal... be/ ba/ foi/ foram há muitos anos... eu era... até pequena... aqui no Leblon... e::... foi... foi numa época que as ondas... eram en/ estavam enor::mes... né? então o pessoal passou da arrebentação... foi lá pro fundo... e::/ ah... eu... eu fiquei lá ((estalo de dedos)) o máximo que eu pude depois eu comecei a me cansar... né? eu estava ficando cansada e tal “ah... gente... eu vou voltar...” o pessoal “ah::... não... tá...” e ficaram por lá... eu voltei... no que eu voltei... cara ((riso)) eu peguei um caixote... veio uma onda enor::me... cara... e me pegou... e tipo eu... eu morava no Leblon ainda... a praia cheia... a praia lota::da... aí eu fui... a... a onda me levou... lá na areia... e ficavam aquelas pessoas ainda... como a praia estava mui::to cheia...

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muito entupida... aquelas pessoas em pé assim na beira d’água... sabe? olhando o mar... eu fui parar no pé de dois caras ((riso)) ainda bem que eu era pequena... cara ((riso)) mas eu fui... eu fui rolando lá... no caixote... fui parar no pé dos caras... aí depois... eu entrei de novo... pra tirar a areia... né? que eu estava ensopa::da de areia... aí eu voltei pra água... pra tirar... veio outra onda... e a mesma coisa... eu fui parar no me/ no pé dos dois caras de novo... cara... aí eu levantei... olhei assim pro lado... ah... não... aí fui direto ( ) fui direto lá pro lugar onde eu estava sentada... cara... aí... foi horrível... foi terrível ((riso)) E: foi... foi com areia e tudo ((risos)) desistiu? I: desisti... eu fui pra beirinha assim... tentei mas... não dava... porque... quando a onda vinha e::... dava... né? tipo... a espumara::da toda... e eu lá no final/ mas não ficava muita/ muito lugar raso assim... pra você se molhar... ou você ia pra arrebentação mesmo... né? pra água mesmo... onde estava... quebrando... ou então... não ia... né? então... bem... essa... foi a constrangedora ((risos)) Narrativa recontada E: e::... agora eu queria que você me contasse uma história que alguém tenha te contado... que você não estivesse presente... e que você tenha achado engraçada... triste... ou constrangedora... I: bem... essa vai ser no mesmo... no mesmo esquema ((riso)) de praia... que eu fui encontrar com um pessoal na praia... E: não... não... você não podia estar... I: não... não... eu fui/ eu... eu/ ah... eu cheguei depois... depois que aconteceu... eu cheguei... eu cheguei eu já... eu já tinha... eu já tinha marcado com eles... aí ((pigarro)) aí me contaram... tipo... estava/ quem é que estava lá? foi... Carla... Ainá... Patrícia... e:: um outro pessoal lá... e foi/ aconteceu exatamente a mesma coisa... só que elas foram lá pro fundo... e depois não conseguiam voltar... e estavam quatro... estavam as quatro lá... e depois não conseguiam voltar... 7 7 e nadava... nadava... nadava... e não conseguiam... voltar... aí daqui a pouco/ e isso depois me contaram... cara... foi muito engraçado... aí... a::/ quem? a/ parece que a Patrícia ((cumprimento entre a informante e terceiro)) E: parece que a Patrícia... I: a Patrícia... ela... ela começou a se afobar... e falando “gente... eu vou me afogar... gente... eu não consigo... o que é que eu vou fazer? Ainá... me ajuda aqui...” aí a Ainá “não... não posso ajudar... porque eu também estou me afogando...” não sei quê... ( ) assustadas ((riso)) “não... não posso ajudar que eu também estou me afogando...” não sei quê... aí::... acabou que um... um surfista lá ajudou a Patrícia a sair da água... e vieram dois ((riso)) dois negões salva-vidas pra ajudar a Ainá... a Ainá... passou um tempo fora estava branqui::nha... bem branqui::nha... com aquele biquine europeu assim... veio os dois caras fortões... tirando ela da água... foi... foi o Bocão... o Bocão e o Gigio... que me... que me contaram isso... sendo que o Gigio ficou na areia olhando a cena assim... aí chegou o Bocão “ah... são e/ são elas lá no fundo?” e tal... o Gigio “ah::... são...” “ah... ah... elas estão se afogando?” “ah... estão...” ((risos)) e ele está... olhando lá... a parada acontecendo... não fazia nada ((riso)) Descrição de local E: e::... agora eu queria que você me dissesse... como é que é o... o lugar onde você mais gosta

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de ficar na sua casa... I: na minha casa... uhn::... bem... eu paro pouco em casa ((risos)) eu paro pouco em casa... tem o meu quarto... que... eu passo bastante tempo... o que mais? ah... a área externa ((descrição da área externa)) e::... deixa eu ver dentro de casa... dentro de casa tem... meu quarto e a cozinha... eu acho que a cozinha é o lugar predileto ((risos)) de todo mundo... né? ainda mais que... somos só três pessoas... né? eu... minha mãe e minha irmã... então... quando todo mundo tem a oportunidade de... estar junto em casa... né? geralmente é na cozinha que a gente está conversando... fazendo alguma coisa pra comer... né? enfim... é::... é mais ou menos na cozinha... eu acho... E: e como é que é a cozinha? I: a cozinha... a cozinha é grande... tem:: um chão de mármore... eh... granito cin... cinza... e os móveis são brancos... o azulejo é::... é:: é meio branco também de listrinha... tem no meio... são duas listras prateadas... eh::... os armários são modulados... assim... tem muito armário... é branco e cinza também... é tudo ((riso)) tipo... todo mundo diz que é aquela cozinha perfeita... né? ((risos)) bem... eu me amarro... a casa foi construída há pouco tempo... o quê? três/ vai fazer quatro anos agora no fim do ano... meu pai fez... de acordo com o gosto assim... né? da minha mãe... e tal... gosta de espaço... a gente morava num apartamento pequeno... então a cozinha é enorme... né? você chega assim... tem... tipo de frente pra janela... a porta é a minha esquerda... aí toda essa parte da parede esquerda tem armário... ah... é um armário... depois vem o freezer... a geladeira... mais um armário... que tem um espaço pro microondas... a bancada com um pedaço da pia... armário em cima e embaixo... fogão... e... o resto da bancada com armário em cima e embaixo... de frente... né? acaba aquela bancada do lado... vem... uma bancada ac/ a/ junto na::/ da parede... da janela... né? então... tem duas pias... o escorredor no meio... armário na parte debaixo toda... e no canto direito... armário em cima e a máquina de lavar louça embaixo... tá? acabei o lado de lá... o lado de cá agora ((risos)) E: nossa... I: agora o lado direito... eh::... tem armário também à beça... em cima e embaixo ((riso)) e uma mesa com quatro cadeiras... num canto... depois uma outra bancada de uma pia... com:: água potável... né? que aí tem o filtro embaixo e é uma torneira em que você pega da torneira mesmo pra beber... né? que é a água... legal... e:: embaixo outro armário ((riso)) E: nossa... I: e em cima dessa pia tem... uma/ ah... é um tipo de uma prateleira só que não é uma prateleira... é uma parada bem alta... onde a gente pendura as panelas... tem várias panelas que... minha mãe comprou e que a gente pendura... é prático à beça... super prático... aí em cima do fogão tem o exaustor... e o que mais? é isso... eu acho que ... E: foi a descrição mais... 7 7 Relato de procedimento E: eh::... Regina... agora eu queria que você... você me dissesse alguma coisa que você... sabe

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fazer e me dissesse como é que se faz isso... I: saiba fazer... uhn::... adoro fazer waffle... adoro comer waffle ((riso)) como é que faz? bem... vou te dar receita completa... né? vai sair um caderno de receitas ((riso)) ahn::... dois ovos... bem... não... primeiro... dois copos de leite... tipo copo de requeijão... liqüidificador... duas gemas... as claras são em último... em neve... né? duas colheres de sopa de açúcar... uma pitada de sal... uma colher de sopa de fermento... duas xícaras de farinha de trigo... e::... cem gramas de manteiga derretida... aí::/ ah::... e açúcar vanille... duas colherinhas de::... de chá... de açúcar vanille... o que mais? é isso... ah... o açúcar vanille é opcional... ou você coloca o açúcar vanille ou você coloca... queijo parmeson ralado... pro waffle ficar mais salgado... e tal... aí você bate as duas claras em neve... no fim... e coloca... por último... na massa... tudo no liqüidificador... depois é só botar na chapa e:: fazer TCHIII ((risos)) fica muito bom... E: mistura tudo? I: é... [no liqüidificador...] E: [no liqüidificador...] I: no liqüidificador... é... aí depois é só botar na chapa... E: pode botar::... uma cobertura e tal em cima... I: ah... e depois que ficar pronto você coloca... com manteiga... com Karo... com mel... eu uso Karo à beça... não sou tão fã de mel assim... eu:: como mais com Karo... aí dá pra fazer... a receita de panqueca é mais ou menos parecida... só não leva fermento e você vai na frigideira ali... aí você pode rechear também de mil maneiras... Relato de opinião E: e... agora... finalmente ((riso)) eu queria que você... me dissesse a sua opinião... ou sobre a situação política... ou econômica... ou da educação no Brasil... I: bem... todas as três são vergonhosas... né? aquela coisa assim... deplorável... cada vez estão colocando mais impostos... impostos absurdos... pra se pagar... né? tipo... esse imposto do cheque... e::... vária/ várias coisas... né? ah... é... é... é complicado... é complicado porque eu acho uma pouca vergonha... né? quando eu era pequena... minha mãe não gostava muito de assistir jornal porque::... achava tudo uma:: barbaridade... né? então no in/ eu... de pequena assim... eu não era muito... enfronhada em política... não entendia nada... assim... eu comecei a ter uma/ mais uma::/ um conhecimento mesmo da situação... do que que acontece... de política... quando eu entrei na faculdade... né? a gente começa a se politizar mais... né? e::... e não sei... eu/ a gente nunca vê muita saída... né? a gen/ o brasileiro... é engraçado que o brasileiro é muito otimista... acha que::... pior não pode ficar... e acaba sempre ficando... né? foi... foi o Sarney::... né? tipo... todo mundo votou no Tancredo... o Tancredo vai e morre ((riso)) aí fica o Sarney pra bagunçar toda a economia... aí depois... é o Collor... né? que não precisa nem falar... que o assunto está mais que discutido... a pouca vergonha que acontece... agora... pouca vergonha tem em todo lugar... né? não é só no Brasil... em todos esses países aí os políticos... são sempre corruptos... né? eu acho que::... são raros os que não são... e os que não são têm que provar que não são... pra gente poder acreditar... né? porque essa situação política... eu não sei... eu... eu... eu fico sempre revoltada... né? eu acho que... não... não tem muito o que dizer... o que falar... que poderia ser assim... que poderia ser assado... porque a gente também nunca está... ahn::... por dentro... de tudo o que acontece... né? de tudo... de tudo

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que... que::/ ah... como é que eu digo? como é que eu posso te dizer? de toda a base... né? que... que fez com que as coisas chegassem no ponto em que estão... né? tipo... o ministro... da:: Fazenda... agora... foi no Jô Soares... há umas semanas atrás... e:: eu achei ótimo ((riso)) é... engraçado... eu achei maneiro ((pigarro)) a maneira como ele colocou... a coisa... porque geralmente a gente não tem acesso a certas/ a... informações... de como a coisa acontece lá dentro... né? ele falou... de... de como ele tem agora que administrar... a Fazenda... que não tem dinheiro... e que... eh:: todo mundo quer dinheiro pra isso... quer dinheiro pra aquilo... e que ele tem que.... segurar... se não não dá... e nisso vai lançar imposto pra ver se entra mais dinheiro... agora... a gente é que sofre... né? porque eles estão lá... tentando... segurar... uma... uma situação econômica... e... não vê/ não vêem a... a população... né? eles até pensam na 7 7 população... só que... ao meu ver... não é uma coisa que chega pra gente muito correta... né? tipo... a classe média... cada vez está mais dizimada... né? não existe... uma vez eu vi no jornal... na época do Collor mesmo... uma... uma charge... que estava a Zélia... o Collor... e os ministros atrás de uma trincheira... com umas armas assim... e::... e... e eu acho que era a Zélia que estava falando “acho que acabamos de vez com a classe média... dessa vez...” né? ((risos)) tipo... aquela coisa assim de dizimar mesmo... que... as coisas vão acontecendo... a situação vai ficando cada vez pior... né? tipo... meu pai... estava numa crise enorme aí... tipo... com o plano.... que seguraram tudo... ele era da construção civil... e acabaram com a construção civil praticamente... né? e::... acabou o financiamento... acabou tudo... tipo... dinheiro... né? estava difícil... e ele passou uma... uma crise danada aí... muita gente falindo... muita gente fechando... e ele tendo que segurar... e/ eu não estou/ eu não... eu não trabalho ainda mesmo... eu estou estagiando... não estou sendo remunerada por enquanto... né? tipo... eu tenho uma renda que vem do meu pai... e a gente sente um pouco a situação como é mas... não tem... não tem muito como interferir... não tem muito como fazer nada a respeito... né? porque está ... está um pouco fora do alcance... a não ser ((riso)) a não ser quando... saem tipo... os movimentos que... que nem teve aqui dos cara-pintadas... né? pra botar... o Collor pra fora e tal... são movimentos assim que... requer muita gente... pra fazer uma coisa assim em conjunto pra poder ser ouvido pra pessoas cogitarem na possibilidade de fazer alguma coisa a respeito... né? é mais ou menos por aí... fora isso... são poucos os que se revoltam aqui e ali... e no final não faz nada e tem que esperar o próximo presidente entrar... pra... ver o que acontece... né? é... mais ou menos isso... eu não sou a pessoa mais inteirada de política... né? ((riso)) a gente tem muito pouca noção... mas... é isso... E: tá... obrigada... Regina... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Foi uma experiência completamente constrangedora, num daqueles dias de muito sol, calor e praia, num dos anos em que as praias de Ipanema e Leblon ficavam repletas, apinhadas de gente, sem nem lugar por onde passar. Eu era pequena (não lembro ao certo a idade, 11 ou 13 anos, não sei). Eu fui pra água com umas amigas, só que pra se ficar na água tínhamos que passar a faixa de arrebentação e fomos lá pro fundo. Depois de um tempo eu comecei a me

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cansar e resolvi voltar pra areia só que uma série de ondas começou a estourar, e na minha cabeça. Fui parar na areia, no pé de dois caras que estavam na beira d’água. Eu estava cheia de areia e um tanto constrangida, pedi desculpas aos dois sujeitos e voltei pra água pra tirar a areia, só que do jeito em que o mar estava, acabei levando outra onda forte na cabeça e fui parar no pé dos mesmos caras. Revoltada eu desisti de tirar a areia de novo e voltei pro meu lugar na areia. Narrativa recontada Fui à praia no local de sempre, encontrar o pessoal. Ao chegar lá o Gigio me contou o que tinha acabado de acontecer. Diná, Patrícia, Ferdi e Carla entraram no mar e depois de ficarem um tempo, parecia que não conseguiam voltar (nadavam e não saiam do lugar). A Patrícia conseguiu socorro com um surfista que passava, subiu na prancha e não conseguiu nem remar. Ferdi e Carla tomaram alguns caixotes até conseguirem sair, e Diná saiu com ajuda de dois salva-vidas enormes, ela muito branca, tipo europeu e eles, dois negões enormes, mas que se deram conta de tudo na hora e foram ajudar. A situação que o Gigio me descreveu foi hilária, e pra completar, o Bocão chega pro Gigio e pergunta preocupado onde estão as “mulheres”, “são aquelas ali se afogando?” e estupidamente o Gigio responde sentado tranquilamente “é, são sim!” Descrição de local Minha cozinha é bem espaçosa, armários por todos os lados, em cima e em baixo. Entrando nela pela sala eu tenho ao meu lado esquerdo um freezer e uma geladeira, o micro ondas e parte da bancada da pia, que comporta o fogão no meio. De frente temos o resto da bancada com duas 7 7 pias, o escorredor de louça no meio, um janelão e a máquina de lavar louça à direita. Com exceção da máquina todo o resto dos eletrodomésticos ficam suspensos/ acoplados ao mobiliário para se poder lavar a cozinha. Sob os armários de cima que acompanham a bancada há uma iluminação para a bancada. Do meu lado direito temos a porta para a área ao fundo, perto da máquina lava-louça, uma nova bancada independente da outra, com pia de água potável e um armário sob ela. Acima dela um conjunto de panelas penduradas. Depois temos um outro conjunto de armários (em cima e em baixo) com um vão onde se encontra a secretária eletrônica, um aparelho velho de rádio televisão, um bandeija (com açucareiro, saleiro, manteigueira, etc...) e a torradeira. Na direção de onde se encontra esta bandeija, sai uma mesa, tipo embotida, com quatro cadeiras, e por último um armário com vidro por onde se vê os copos finos de minha mãe. Atrás de mim uma parede lisa com apenas um relógio. Relato de procedimento Waffles é uma das coisas que eu mais gosto de fazer, apesar de engordativo. A receita eu já sei de cor, de tanto fazer. Coloca-se dois copos de leite (tipo requeijão) no liquidificador, duas gemas (as claras por último em neve), duas colheres de sopa de açúcar, uma pitada de sal, duas colheres de chá de açúcar vanile, um tablete de 100 gramas de claybon derretido, duas xícaras de farinha de trigo. Bate-se tudo no liquidificador colocando as claras em neve por último. Com a chapa aquecida é só colocar a massa e pronto! Waffle na mesa.

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Relato de opinião A situação em que o país se encontra é vergonhosa. Corrupção por todos lados, criação de impostos absurdos... enfim, é uma baderna geral. Temos que reconhecer que o mundo todo está sofrendo uma grande crise, mas o Brasil é sempre a mesma piada, o que nos salva por muitas vezes é o espírito esperançoso do povo, sempre com aquele “jeitinho brasileiro” pra contornar as situações. O Collor saiu, mas a corrupção sempre existiu e duvido que pare por aqui, os métodos é que serão aprimorados e melhor encobertos para o escândalo não se repetir. O que falta no povo para a situação poder mudar realmente é a tão abandonada educação. Só com educação e conscientização poderemos mudar alguma coisa. Mas falar é fácil. Vários fatores sociais impedem que isso aconteça. Dentre a população miserável, marginalizada e com fome, não encontraremos quem queira deixar de trabalhar para comer, para estudar ou filosofar sobre a situação econômico-social do país. Alguma coisa tem que ser feita, e sem dúvida tem que começar por nós, mesmo sabendo que o resultado não virá tão cedo. Daqui a 20, 50 anos, quem sabe... Informante 8: Valéria Sexo: feminino Idade: 23 anos Data da coleta: oral- 21/05/93; escrita- 29/05/93, 30/05/93 e 31/05/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: e... você estuda:: que curso? I: direito... na Cândido Mendes... E: qual... qual período... que você está? I: último ano... quinto ano... E: eh... Valéria... eu queria que você me contasse uma história que tivesse acontecido com você... e que você tenha achado ou engraçada... ou triste... ou constragedora... I: é... foi uma situação difícil... né? eu não sei... eu não sei onde que engloba isso... mas... eu fui a Petrópolis com uma amiga... que nunca tinha subido a serra... estava dirigindo há pouco tempo... ela “vamos? eu tenho que ir a Petrópolis... você vai comigo?” eu “tá bom... vamos...” aí fomos as duas e tal... chegamos lá... resolvemos o que tinha que resolver... na volta/ bom... foi tudo tranqüilo... almoçamos lá... quando a gente está voltando... começa a chover assim... 7 7 torrencialmente... e fura o pneu... fura o pneu do carro dela... e a gente nunca tinha trocado pneu... nenhuma das duas... e aquela serra totalmente deserta... né? aí a gente encostou o carro assim do lado... o carro já foi puxando... que estava chovendo... estava derrapando... pô... o maior medo... né? meu coração assim disparado... aí a gente desesperada... tirando macaco... tirando pneu e... desatarrachando tudo... e fazendo a maior força... e não conseguia encaixar o macaco... o carro descendo porque estava na serra... o maior desespero... né? e o coração da gente a mil... e::... o carro todo aberto... caindo a maior chuva... a gente nem viu... aí o que que aconteceu? a gente... demorou ali um tempo... pra trocar o pneu... quando a gente trocou... foi tudo bem... demorou um pouquinho... né? aí a gente entrou no carro... estava tudo molhado... os papéis ((riso)) tudo molhado... o carro... a gente ent/ encharcada... aí... passou... a gente riu pra caramba depois... né? um susto danado... paramos (num) posto... pra ver se estava tudo... bem

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atarraxado e tal... aí o::... o mecânico falou que... não sabia qual o homem que tinha apertado aquilo ((riso)) E: que estava de parabéns... I: é... que estava de parabéns... foi a Thelma... né? tem uma força danada... aí foi isso... aí a gente voltou... mas foi uma senhora experiência... E: foi a Thelma? aquela? I: foi... é... Narrativa recontada E: eh::... e::... agora eu queria que você me contasse uma história... que tenha acontecido com alguém... algum amigo seu... seu pai... seu irmão... que você não estivesse presente... alguém te contou... e que você achou a história engraçada... [ou triste ou/] I: [ahn... ahn]... ah::... essa eu... eu me lembro sim... achei tão engraçada... foi um ami/ um noi/ não... um amigo de um amigo meu... que foi jantar na casa da noiva... aquele jantar assim... primeira vez e tal... oficializar o noiva::do... aí ele::... estava jantando e tal... ele... ele já não gosta muito de bife... de carne... aí estava lá... não conseguia partir o bife de jeito nenhum e tal... aí ele chamou a atenção do pessoal... pra uma outra coisa... entendeu? apontou assim pro outro lado da mesa... e ele viu que tinha uma janela atrás ((riso de E)) ele pegou o bife e tacou ((riso)) mas ele não reparou muito... a janela estava fechada... ((riso)) sério... o bife saiu... bateu na janela... e começou a escorrer... grudou... escorreu... quando eu (ouvi) ele contando aquilo... cara... eu dei/ muito... foi muito engraçado ele contando... ele contando o que aconteceu com ele... cara... foi muito engraçado... E: e ninguém viu... que o bife/ I: não... aí depois... todo mundo olhou... ele viu que o bife/ o bife ali... a família toda sem graça ((risos)) aí (é) o fim da história... E: e ele casou com a menina ou naquele dia acabou? I: não... não casou... não chegou a casar com essa não... foi casar com uma outra ((riso)) Descrição de local E: e::... agora eu queria que você me descrevesse... o local onde você mais gosta de ficar... na sua casa... I: descrever... eu estava pensando nisso... não/ sabe que eu não tenho... o meu quarto não é aquele... lugar que eu gosto de ficar... deveria ser... né? todo mundo é... fala que o quarto é o melhor lugar... que se acha... teu... né? e tal... mas... não sei... eu não... eu não sinto muito assim::... E: ah... eu acho que não precisa ser... assim não... pode descrever então o seu quarto ( ) ou a sala... o que você quiser... ( ) I: eh... ah... eu gosto de ficar na sala... E: então como é que é a sua sala? I: como é que a minha sala? ((riso)) (ué)... tem dois... dois ambientes... né? uma tem a... mesa de jantar::... a outra tem a televisão... o sofá... a mesa... isso? mais? eh::... tem dois sofás grandes de três lugares... duas poltronas... uma mesinha de canto... uma mesa de centro... um aparelho de som já no outro lado... com a... com a mesa de jantar... uma varandinha... onde tem as minhas 7 7

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plantas que eu gosto... o que mais? tem um... um carrinho de chá que virou bar... duas caixas de som... só... Relato de procedimento E: e::... agora eu queria que você::... me dissesse como é que você faz alguma coisa que você sabe fazer... ou alguma comi::da ou um jogo... I: ah:: o frango que eu fiz aí ficou... maravilhoso... o mousse também... daqui a pouco você come ((riso)) E: como é... como é que faz... ou... ou o frango ou o mousse... como é que/ me diz como é que faz? I: ah::... o mousse é super fácil... coloca tudo no liqüidificador... eh::... são seis ovos... aí... bate bem... depois coloca::... um copo de açúcar... de requeijão... aí deixa batendo bem... depois um copo de... de chocolate em pó... de preferência Nestlé... que ele é mais forte... aí... deixa bater bem... depois um tablete de manteiga aí... des/ bate bem... depois é só colocar na forma e na geladeira... ou então no:: congelador... que eu prefiro... Relato de opinião E: e::... agora eu queria que você me dissesse a sua opinião... ou sobre a situação... política... ou econômica... ou da educação... no Brasil... I: das três? E: não... de uma... uma das três... I: eh... só se/ política... eu estou achando que agora está tendo uma abertura maior... né? a gente está... está vendo o que está acontecendo com o país... está/ tudo o que está acontecendo a gente está vendo... não é o que era antigamente... onde... a gente não... sabia de nada... ficava tudo escondido... achava que/ não tinha informação... né? a verdade é isso... a imprensa tem/ eu estou achando que (está num) papel fundamental... na divulgação das coisas... né? que... pô... fulano roubou... a gente está sabendo... eh:: não sei quem foi preso... a gente está sabendo... está tudo às claras... eu acho que o pessoal também está... com medo disso... aí eu acho que estão andando mais na linha... não é que antigamente não roubava... lógico que roubava... mas hoje em dia a gente está vendo que... quem rouba mesmo... e::... quando rouba a gente sabe... e antigamente não acontecia isso... não podia se falar::... não podia/ tudo... tudo proibi::do... não podia ter uma opinião de na::da... ficava todo mundo mais alienado... hoje em dia eu acho que está melhorando... um dia a gente chega lá... eu tenho esperança ((riso)) E: você... é a primeira otimista [que eu entrevisto] ((riso)) I: [eu tenho... ] eu tenho esperança... sei lá... pode ser uma ilusão mas::... uma utopia mas::... que se eu não acreditar... fica um pouco sem sentido... né? vamos tentar lutar para melhorar isso aí... E: então tá... obrigada Valéria... I: só isso? PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Certa vez fui à Petrópolis com uma amiga que precisava resolver alguns problemas.

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Fomos de carro e ela que dirigia há pouco tempo, nunca tinha dirigido na Serra de Petrópolis. A ida foi tranquila, enfrentamos um pequeno engarrafamento na Av. Brasil, mas chegamos bem. Resolvemos o que tínhamos de resolver, nos achando as próprias “mulheres de negócios”, almoçamos e voltamos; a volta nos reservou algumas surpresas; já na descida da Serra o pneu dianteiro furou, a direção começou a puxar para a esquerda e a Thelma tentando levar o carro para o acostamento, finalmente conseguimos parar, descemos do carro e com um certo desespero que as duas fingiam não ter, começamos a “operação” troca de pneus. A Serra estava totalmente deserta, e os pingos de chuva que começavam a cair, logo se transformaram em um verdadeiro temporal. Aflitas e enxarcadas não conseguíamos colocar o “macaco” no lugar certo, depois de alguns tombos conseguimos suspender o carro. Retiramos o pneu furado, mas na hora de colocar o step, foi outro desespero o pneu não encaixava de jeito 7 7 nenhum. A Thelma sentou no chão entregando os pontos, dizendo que o pneu não era aquele, mas com jeitinho ele encaixou e a Thelma usou toda a sua força (que não é pouca) para apertar os parafusos. Depois de todo o sufoco entramos no carro que estava inundado; nos esquecemos de fechar os vidros; e continuamos a viagem até parar em algum posto para ver se estava tudo certo. Chegando ao Rio olhamos uma para a cara da outra e rimos aliviadas. Narrativa recontada Um conhecido meu foi jantar na casa da noiva, era o primeiro jantar com a família toda reunida, foi servido bife, sendo que o Ricardo não gostava muito de carne e ainda por cima o bife estava duro, que mal dava para partir. Atrás do Ricardo havia uma janela, aproveitando a oportunidade em que todos olhavam em sentido oposto, não pensou duas vezes, fincou o garfo no bife e o arremessou para trás, ele só não contava com a janela fechada. Foi uma vergonha, quando todos viraram para frente e viram a janela suja de gordura e o bife no chão, o Ricardo só quis abrir um buraco no chão e se enfiar. Não sei se foi por isso , mas o Ricardo não se casou com a Roberta. Descrição de local O lugar da minha casa em que gosto de ficar é a sala. Há dois ambientes, num fica a mesa de jantar, o aparelho de som e um carrinho de chá, que serve de bar. No outro lado tem a televisão, dois sofás e duas poltronas, uma mesa de centro e uma de canto, um abajur e, para finalizar uma varanda com as minhas plantas. Relato de procedimento O que sei fazer e é muito fácil é mousse de chocolate. A receita é muito simples: Colocar no liqüidificador: 6 ovos inteiros, bater bem. 1 copo(requeijão) de chocolate Nestlé (porque é o mais forte) 1 copo(requeijão) de açúcar 1 tablete de manteiga sem sal Bater bem, depois é só colocar em uma forma de tamanho médio ou em forminhas e colocar na geladeira. Obs.: O pessoal aqui em casa prefere que vá ao congelador em vez de ir à geladeira. Relato de opinião

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A respeito da situação política do País, acho que as pessoas estão se conscientizando de que cada um, é, de algum modo, responsável pela “vida” do País. Os meios de comunicação perceberam a arma que tem nas mãos e com a dita democracia ficou mais fácil deles desempenharem a função de informantes, que informam o que as pessoas estão interessadas em ser informadas e não aquela “incheção de linguiça” que não nego ainda existi, mas que a cada dia que passa vem sendo mais criticada, acho que as pessoas estão mais acordadas, principalmente os jovens, que foram às ruas e tiveram a sensação de tirar um Presidente do governo. Hoje, a sujeira está mais as claras, todos ficam sabendo. Antes quando tudo era mais censurado, as coisas aconteciam mas ninguém ficava sabendo. Tenho esperança de que um dia as coisas entrem nos eixos, que esta tão falada moralização, definitivamente impere e tenho certeza de que se todos fizessem sua parte seria bem mais fácil, faço a minha, mas sei que posso fazer mais. Acho que é por aí. 7 7 INFORMANTES DO ENSINO MÉDIO Informante 9: Carlos Sexo: masculino Idade: 18 anos Data da coleta: oral- 11/93; escrita- sem registro PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: Carlos... conta pra mim uma história que tenha acontecido com você... que seja interessante... I: eu ia tocar no GREIP no IAPI... e:: fui pra lá cedo pra arrumar o... equipamento... mas/ eu ia tocar com:: um/ com as caixas de som de uma equipe... e eu:: fui pra lá cedo armei as coisas... e desde o começo a equipe de som ficou pro/ me provocando... querendo que eu tocasse Brasileirinho na guitarra e essas coisas assim... querendo mos/ que eu mostrasse que eu sabia tocar guitarra... aí:: eu passei o som... testei a aparelhagem toda... e um pouco antes de começar o show a gente passou o som mais uma vez... o som estava perfeito... aí:: um pouco antes de... de eu me apresentar... a Transamérica fez uma destribuição de brindes lá... aí::... eles rebentaram os fios... da/ do equipamento... e o som não ficou bom depois que nós fomos/ que eu fui tocar... porque::.. so/ os... cabos estavam todos rebentados... estava dando curto... e aí eu/ o som ficou total/ totalmente distorcido... e se:: a Transamérica não tivesse distribuído os brindes antes... subido no palco... pisado nos fios... as pessoas iam gostar do show que eu fiz... porque... foi legal...E: ahn... ahn... Narrativa recontada E: Carlos... agora conta pra mim uma história que tenha acontecido com alguém... que seja interessante... I: meu pai estava andando... ele morava no outro lado da Penha... e:: ele estava passando por... por baixo da pa... da passagem subterrânea do trem... aí dois caras... um escuro alto... forte e um branco também alto... forte... esbarraram nele... e ele anda com aquelas capangas... aí:: a

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capanga caiu no chão... abriu... os documentos... dinheiro ficou tudo espalhado no chão... e eu/ ele abaixou pra... catar os documentos... quando ele abaixou... os caras falaram que era um assalto... aí pegaram o dinheiro... a conta de luz... tudo que tinha... juntaram... colocaram na capanga e levaram a capanga embora... e aí meu pai foi pra casa... falou que tinha sido assaltado... aí eles resolveram ir na polícia... né? pra dar queixa... e depois teve todo trabalho de... pedir segunda via de documento... de conta de luz... de conta de água... e ficou sem o dinheiro... era o dia de pagamento... Descrição de local E: Carlos... agora conta/ eh... descreve pra mim o lugar... onde você mais gosta de ficar... I: o lugar onde eu mais gosto de ficar é num estúdio que eu tenho aqui em casa/ que eu tenho em casa... que:: lá tem uma bateria... assim... na frente da janela... uma caixa de som no canto... e tem umas estantes com os livros... porque antes... ali não era um... um es... um estúdio... era uma biblioteca... e o som fica abafado pelos livros também... porque tem muitos livros... tem duas estantes uma em cada canto da parede... e aí embaixo da janela fica a bateria... em frente a caixa de som... e aí a gen/ e:: eu armo os pedestais com microfone... pedal e a guitarra e ensaio lá... lá é o lugar que... eu mais gosto de ficar... E: valeu... Relato de procedimento E: Carlos... agora conta pra mim... o que você sabe fazer e como que se faz isso... I: eu.. eu sei fazer pizza... preparo desde a massa... né? bom... primeiro você pega um copo... de mais ou menos... duzentas e cinqüenta gramas de leite... e despeja numa panela... e bota pra fi/ pra esquentar... né? aquecer... aí você deixa aquecer até uma certa temperatura mais ou menos... e aí despeja o fermento biológico... né? aquele fermento quadrado... aí você dissolve o 7 7 fermento... e depois acrescenta mais ou menos duzentos e cinqüenta gramas... trezentas gramas de farinha de trigo... e aí você mistura até ficar consistente... depois você desliga o fogo... e despeja essa massa... essa mistura... numa... numa... bandeja... né? e aí essa bandeja tem que estar com óleo antes... untada... e você vai jogar... vai começar a misturar e acrescentar mais um pouco mais de farinha de trigo... até a massa ficar... bem consistente... aí você mistura... tira a massa de cima da... da... da tigela que você pôs... né? na forma... passa mais óleo na forma pra ela toda... pra pizza não grudar e depois estica com a mão mesmo... em cima da pizza... aí coloca molho e queijo... como prefirir... E: valeu... agora:: descre/ eh... o que você acha da crise educacional? I: eu acho que:: os professores são mal renumerados... e:: eles... perdem um pouco do interesse... pelo/ da forma de ensinar inclusi/ e também pela falta de material didático... mas eu acho que isso... as pessoas não podem levar tanto em consideração a questão do salário... eles tinham que levar em consideração que... poxa... eles escolheram aquela profissão... eles têm

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que/ tá certo... o salário está ruim... mas eles têm que trabalhar... pra melhoria daquela profissão... porque eles estão formando profissionais do futuro... então é importante que eles trabalhem... mesmo com condições precárias... que eles procurem... passar a matéria e trazer uma/ um ensino de boa qualidade pras pessoas... pra no futuro melhorar a situação... E: valeu... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Eu fui tocar no GREIP no IAPI cedo para acertar o som. Desde o princípio os técnicos da equipe de som queriam que eu provasse que eu sabia tocar. A passagem de som foi perfeita, mas a Transamérica subiu ao palco para distribuir brindes e camisetas e todos os cabos que estavam no palco foram rebentados pelas pessoas que dançavam no palco. Quando subimos no palco para tocar, o som estava completamente distorcido, por isso não agradou as pessoas. Eu esperava que a equipe colaborasse mas talvez pelo medo que o som das guitarras estourasse os alto-falantes. Narrativa recontada Meu pai vinha andando para casa e tinha que atravessar uma passagem subterrânea, quando estava atravessando dois homens sendo um branco e alto bem vestido e um mulato alto, que esbarraram e derrubaram a capanga no chão e expalharam o dinheiro e documentos do meu pai. Quando ele se abaixou para apanhar os homens disseram que era um assalto e levaram tudo. Depois o meu pai teve de pedir segunda via de todos os documentos. Descrição de local O lugar onde eu mais gosto de ficar é o estúdio em que eu ensaio com a minha banda. Tem duas estantes com livros que ajudam a abafar o som, uma de cada lado, em baixo da janela fica a bateria e em frente ao lado da porta duas caixas de som que amplificam o som da voz e das guitarras. Relato de procedimento Pizza. Pego um copo de 250ml com leite e sal, leva-se ao fogo e depois acrescenta-se um tablete de fermento biólogico e depois 250g de farinha de trigo, mistura-se até obter a consistência certa. Coloca-se a mistura em uma forma com óleo depois acrescenta-se mais farinha de trigo, até que a massa fique sem grudar. Retira-se a massa da forma, coloca-se óleo por toda a forma e estica-se a massa. Relato de opinião Devido à baixa renumeração os professores perdem um pouco do estímulo para dar aula mas é preciso que do material didático, os professores tem que perceber que eles constroem o futuro e é preciso que esse serviço seja bem feito. O problema do material didático é muito importante, porque a forma como a matéria é passada interfere na aprendizagem se você se utiliza de material que chama a atenção do aluno. É preciso que os professores e os alunos tenham interesse em ensina e aprender para que a aprendizagem fique completa. 7 7 Informante 10: Claire Sexo: feminino Idade: 17 anos

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Data da coleta: oral- 10/06/93 escrita- 14/06/93 e 17/06/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: eu estou aqui com a Claire... do... Colégio Estadual Gomes Freire de Andrade... Claire... eh... conta pra mim... uma história que tenha acontecido contigo... e que você tenha... achado engraçado... ou triste... ou constrangedor... I: eu vou contar uma história que eu achei triste... foi uma/ um caso que aconteceu... há uns três anos atrás... foi a minha primeira experiência com relação a namorado... eu conheci uma pessoa... o Alexandre... eh... ele mora na minha rua mesmo... aí/ só que nós nunca tivemos contato... de re... de repente ele começou a freqüentar... mais assim... a minha casa e as minhas amizades... ele... na época... ele tinha de/ eh... quase dez anos mais velho do que eu... eu tinha quatorze anos... aí nós come/ eh... nós passamos a conversar num... num dia qualquer... numa sexta-feira à noite... aí ele começou... a me reparar... e eu reparar ele... aí nós ficamos conversando... ele falou que... me admirou muito... ele falou que eu não parecia que eu tinha quatorze anos... que eu tinha mentalidade/ a mentalidade mais... eh... menta... mentalidade mais... avançada... e que... eu... eu... eu me destacava... eh... das minhas ami/ das minhas colegas... aí nós começamos a sair... a passear... ele me... me contava sobre as experiências dele... sabe? me colocava nas alturas... dizia que eu era... a garota dele... a garota da vida dele... e nisso tudo... eu só me iludindo porque eu não conhecia nada da vida... não conhecia a opinião dos rapazes... nem nada... então aquilo pra mim era uma experiência nova... a primeira na época... então aquilo tudo foi muito bonito pra mim... era fantástico... tinha um brilho... eu não tinha o quê? malícia da vida ainda... eu não tenho muito agora mas naquela época... aí aconteceu o quê? eu comecei a me envolver com ele... meu pai/ meus pais... meus pais descobriram... não gostavam dele... e tudo foi passando... tudo bem... foi correndo... ele dizia que me/ gostava muito de mim... que queria continuar... sabe? falava que não tinha importância o que meus pais achavam... que o nosso:: sentimento era maior do que tudo... foi quando:: um dia... assim à tarde... eu descobri que ele estava dando em cima de uma amiga minha... mas aí as pessoas me contavam que ele estava... eh... a fim de sair com ela... mas eu não acreditei nem nada... pra mim ele era... sabe? um deus... sabe? uma pessoa que eu só... idealizava... eu não pensava nos defeitos dele... só nas qualidades... foi quando... ele/ as pessoas tentaram abrir o meu olho... e eu nem liguei pra ninguém... (as opiniões dos outros) achava que ele era o certo e acabou... aí com o tempo... essa minha amiga também começou a gostar dele... e eu não sabia... aí ficou naquela rivalidade entre meu sentimento e o dela... ela também era uma pessoa legal... minha melhor amiga... ela era uma pessoa... carinhosa... amiga... entendeu? não tinha porquê ele... gostar assim de mim... e não ver as qualidades dela... mas aí... como é que está? o sentimento dele não era verdadeiro... entendeu? ele não gostava de mim... ele gostava mais... eh... de... sair com

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garota bonitinha... porque na época eu era uma garota bonita... entendeu? eu tinha/ estava assim (em contato) todo mundo queria sair... e tal... então isso/ e o interesse dele era esse... entendeu? de sair... de tirar onda comigo... pela minha beleza... e não pela o que a pessoa/ pela pessoa mesmo que era dentro de mim... o meu sentimento ele não ligava... foi quando num dia ele... falou assim “ah... vamos dar um tempo...” eu “tudo bem...” uma semana depois... ele começou a dar em cima dessa minha amiga... ela chegou pra mim... falou pra/ falou o que estava acontecendo... nisso nós demos um tempo... não chegamos nem a terminar... eu falei assim “não... tudo bem... você faz o que der na sua cabeça...” foi quando depois de um tempo... ele pegou e saiu com ela... ficou com ela... namorando ela... aquilo pra mim foi um choque... foi uma desilusão... e... até isso influenciou tanto... que até hoje eu não consigo gostar de ninguém... sabe? o meu sentimento sempre ficou... eh... com um pé atrás... quando eu gostar de uma pessoa... a pessoa tenta se aproximar de mim eu me fecho... por causa disso... ((pigarro)) foi uma das minhas desilusões... amorosas... ((tosse)) e isso não foi nada... porque... depois disso... 8 8 quando ele começou a sair com ela... as barbaridades que ele falava de mim... sabe? coisas que tinha acontecido nossas... ele começou a falar pra todo mundo... revelar... coisas que não tinha acontecido também... ele... ficou falando pra todo mundo... revelando... hoje em dia eu acho que ele é o meu maior inimigo... eu não falo com ele... entendeu? e eu acho que... isso foi uma coisa muito importante na minha vida... que eu não consigo esquecer nunca... E: tá ótimo... Narrativa recontada E: ô::... Claire... eh... conta pra mim agora... eh... alguma coisa que alguém tenha contado pra você... e que você tenha achado engraçado... ou triste... né? ou constrangedor... algo que você queira falar... I: bem... hoje eu vou tirar o dia para falar de coisas constra/ constrangedoras... né? o que aconteceu... foi com uma amiga minha... ela... namorava um rapaz... há/ namorou um rapaz há três anos... eh... um menino... (eu não sei) não posso revelar... aí... ela/ é aquilo... maior paixão... entendeu? mas... tinha uma coisa que... sempre... implicava com eles dois... não sei o que era... eu acredito muito em destino... sabe? eu acho que... as pessoas... eh... quando têm o destino traçado... é aquilo... aí ela namorou ele/ ela namorou esse rapaz há três anos... ela desmanchou com ele... ficou com outro menino... e esse menino... era um cara legal também... mas a paixão da vida dela... era o... menino/ primeiro namorado dela... o que aconteceu? ela... se envolveu de/ bastante com esse segundo namorado... esse namorado dela... dava valor a ela... gostava dela... e ela teve/ acabou tendo um filho... filho não... engravidou... aí com o tempo ela pensou... ficou pensando que/ no que seria na vida dela... como é que seria a vida dela a partir... dessa gravidez... quando e/ ela tivesse bebê... os pais dela... os pais dela são o quê? são uns cara/ eles

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dizem ser liberais... os pais dela... mas eu acho que não... quando a/ se ela colocasse o problema em questão... falasse que estava grávida... eu acho que ia mudar muito a situação... aí foi quando ela decidiu tirar... ela chegou pra mim/ e pior não é nada... pra ela chegava pra mim... ela passava uma imagem pra mim... assim... de uma menina... uma menina pura... sabe? que não pensava nessas coisas... então quando ela chegou pra mim e falou assim “Claire... eu estou grávida...” foi um impacto... sabe? foi um susto pra mim... eu não esperava isso dela... essa assim... essa... essa re/ a minha reação foi... totalmente... como vou dizer? foi... surpresa... fiquei surpresa... pasma... não sabia o que falar... e ao mesmo tempo eu não sabia o que dizer... se ela tirava a criança... que uma/ uma pessoa que não tem nada a ver... vai... vai vir ao mundo... né? e não tem culpa... do que... os pais fizeram... é uma conseqüência... né? mas ela/ a criança não... não tem culpa... então eu falei assim “olha... Nice tem que/ você tem que pensar bastante... no que vai acon/ no que vai acontecer no seu futuro... no que vai ser da sua vida depois que você tiver a criança...” porque ia mudar muito... os hábitos dela iam mudar totalmente... as/ totalmente... e... a vida dela... poxa... ela não ia mais poder sair... não ia poder fazer mais nada... foi quando ela pensou... ela achou a melhor solução tirar... e tal ... já co/ como ela... era minha amiga... é minha amiga hoje em dia ainda... eu dei apoio a ela... eu falei assim “olha... você faz o que você achar melhor...” ela tirou... aí... esse va/ esse menino que ela namorava... eh... eles decidiram/ mesmo depois que ela tirou a criança... eles decidiram se casar... aí depois de um tempo eles ficaram noivos... quando chegou na/ perto do casamento... estava tudo preparado... tudo pronto já... a casa dela todo... eh... pronta... formada... o vestido comprado... ela desistiu do casamento... não quis mais casar... aí ficou sozinha... e quem acabou/ e acabou voltando pro Leonardo... esse/ o primeiro namorado dela... aí... o que aconteceu? ele/ ela contou tudo o que tinha acontecido... e... aí ele falou pra ela que não tinha problema do que tinha acontecido... sobre gravidez... isso não ia influenciar em nada... então é por isso que eu acredito nessa coisa de destino... entendeu? porque ela tinha no final que casar com esse primeiro namorado e acabou... casando... porque eles ficaram noivos e tal... e acabaram casando... esse segundo namorado dela não ligou... tal... falou... essa história durou o quê? durou uns seis ano... uns seis anos... seis ou sete anos... hoje em dia ela está bem... ela está com... o primeiro namorado dela... o que foi o primeiro... casaram... estão super bem hoje em dia... estão morando... numa casa afastada... ela tem filho... filhos... hoje em dia ela pode dizer que ela... que ela fez uma escolha certa... entendeu? em te/ em ter abortado o primeiro... porque 8 8 ela não ia dar uma vida legal pra criança... então eu acho que ela fez legal... foi uma coisa... interessante... E: tá bom Claire... Descrição de local E: eh... agora... conta pra mim/ fala pra mim sobre o local... onde você mais gosta de ficar... descreve esse local pra mim... por favor... I: um lugar que eu gosto muito de ficar é no meu quarto... eu me sinto super à vontade nele... eh... ele é pequeno... ele é claro... ele é pintado de branco... tem cortinas fechadas... que eu

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adoro cortina no quarto escurinho... aí tem um abajur do lado... eu adoro abajur também... eh... então... eu pro... procuro fechar ele todinho... entendeu? aí eu ligo o ar condicionado... eu ligo televisão... eu ligo... às vezes... o... som... eu adoro ficar nele... porque é um lugar super restrito... super reservado... bem meu mesmo... e ele é pequenininho... ele tem carpete no chão... é super aconchegante... adoro ficar deitada... ele tem almofadas grandes assim no canto... às vezes eu cismo de mudar a cortina pra rosa... mudar tudo pra rosa... mas ele é super gostoso... eu adoro ficar no meu quarto... às vezes eu troco até ficar na rua... sair com as colegas... só pra ficar dentro dele... adoro ele mesmo... E: tá bom... Relato de procedimento E: eh... agora conta pra mim... o que você sabe fazer... explica pra mim... I: uma coisa que eu sei fazer super bem é fazer unha... sabe? a ver/ elas já nasceram feitas... mas... ((riso de E)) eu adoro é... pintar... sabe? às vezes eu fico no... meu quarto... que eu gosto de ficar também... e... procuro fazer a unha... a primeira coisa que... eu fa/ que eu pego... é tirar/ pegar na acetona e tirar o esmalte que está dentro dela... dentro de/ está na unha... esmalte velho fica sempre um... pedacinho... aí eu vou... pego o sabão... coloco... na água... no potezinho... a água está no pote... aí eu mexo... faz aquelas borbulhinhas assim... eu vou e coloco os dedos... aí fica um tempo... deixa de molho... aí quando a minha cutícula já está bem mole... eu vou... pego o alicate... que está amolado... tiro a cutícula... bem tirada... sabe? eu só não sei tirar muito da mão esquerda... mas eu quebro o galho... aí vou/ depois disso... eu enxugo a minha mão... bem enxugadinha... e lixo... pega uma lixa de unha... aquela assim comprida... sabe? lixo... lixo todos os dedos... não... quer dizer... a unha... passo::... esmalte... eh... incolor primeiro uma base... depois deixo secar... aí quando seca... eu vou... pego um outro esmalte... passo... um mais escuro... eu gosto muito é de vermelho... aí depois disso eu deixo secar de novo... quando já está seco... eu vou pego um... uma espátula... uma espátula não... um pau-de-laranjeira... tiro o que ficou na beiradinha... pra ficar a unha bem... bonitinha... perfeitinha... aí quando eu deixo... deixo secar... deixo um tempo... deixo assim uns... dez minutos... aí quando seca... eu coloco um óleo secante... pra não entrar nenhuma poeira na minha unha... é assim... simples... E: não tira nenhum bife nem nada não... né? I: não... E: tá bom... Relato de opinião E: e::... Claire... agora pra terminar... eu quero que você... dê a sua opinião pra mim... ou sobre... amizade... namoro... vocação... vestibular... I: eh... eu vou falar sobre a minha família... sobre os meus pais... o que eu acho deles... como eles me tratam... bem... eu tenho uma família... pequena... ela é composta pelo meu pai... pela minha mãe... pelo meu irmão... eu tenho um irmão pequeno de... dez anos... eh... o meu irmão

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não influencia em nada... a minha mãe é uma pessoa super legal... sabe? ela... é uma pessoa que conversa comigo... é minha amiga... ela... me amostra sempre a realidade da vida... ela nunca... ela nunca... esconde nada de mim... né? tenta ver o melhor pra mim... me amostra a vida como ela é... entendeu? o meu pai não... o meu pai já é uma pessoa... ah... ele... já... é uma pessoa muito fechada... e... triste... porque a juventude dele... a criação dele... foi uma coisa... foi uma coisa/ como é que eu vou dizer? eh... ele foi criado/ os pais dele por um clima de... autoritarismo... entendeu? meu avô era autoritário... ele não via a justiça... sabe? entendeu? ele 8 8 foi criado no Norte... no interior... então aque/ as pessoas do interior geralmente têm uma mente mais fechada... entendeu? são uma pessoa tipo... entre aspas... ignorantes... né? entendeu? então é isso que o meu pai ( ) uma visão assim da vida... então é isso que ele passa pra mim... eu não acho certo... ele acha que... ele acha que a pessoa tem que estudar... trabalhar... entendeu? ele não vê nada... ele não conversa comigo... ele não amostra os pontos de vista dele... a minha família... nesse ponto... eu acho que é... errada... entendeu? porque eu acho que o meu pai... ele tinha que conversar mais comigo... ele tinha que me amostrar mais os fatos... é isso que eu acho errado... às vezes eu fico revoltada com isso... ele sabe criticar... criticar... me criticar... me recriminar... dizer que eu estou errada... entendeu? é isso que eu acho da minha família... que eu não acho que é um exemplo... só isso... E: tá bom... Claire... obrigada pela sua entrevista... tá? I: de nada... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Esse fato ocorreu há três anos atrás,eu tinha apenas quatorze anos e era ainda inexperiente em relação à vida aqui fora. Conheci um rapaz dez anos mais velho, em consequência de sua idade ele obtia mais experiências do que eu. Ainda não tinha malícia e aos poucos eu fui me envolvendo numa relação e acreditando numa pessoa pela qual eu não tinha o menor conhecimento, ou seja, não sabia quais eram as suas intenções. O tempo foi passando e eu ficava cada vez mais apaixonada, ainda não sabia que no interior de muitos humanos havia o sentimento de falsidade, infidelidade, interesse... Sem saber, eu me iludia. Até que um dia ele resolveu se revelar dando em cima da minha melhor amiga, ela também estava envolvida na conversa dele e caiu na mesma cilada. Ela não teve culpa pois também estava subitamente apaixonada e eu tive que entender. Foi ruim,mas a nossa amizade superou e continuou, graças a Deus. Ele sumiu e eu nunca mais tive notícias dele. Esta experiência foi proveitosa pois atualmente eu reflito bastante antes de tomar qualquer decisão. Narrativa recontada Aconteceu com uma amiga, que aos doze anos conheceu um menino, no início ela pensava ser um namoro de criança e deixou o tempo correr.

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Eles se separaram depois de três anos de namoro, e então ela conheceu um outro rapaz, este namoro foi diferente, pois ambos tinham mais idade e obtiam outros desejos e pensamentos. Por consequência do destino ela engravidou, ficou em dúvida ao resolver o paradeiro da criança. Resolveu não tê-la, depois de um tempo ela e o namorado ainda pretendiam se casar (apesar do aborto). Só que dentro dela alguma coisa havia mudado, o sentimento dela não era mais o mesmo. Com quase tudo pronto, ela desistiu do casamento. Ficou um tempo sozinha, até que num dia qualquer, numa hora qualquer, ela deparou-se com o seu primeiro namorado. Alguma coisa ascendeu, disse ela. O sentimento tinha retornado e foi aí que eles resolveram se unir. Hoje em dia, eles estão muito bem casados e com dois filhos lindos. Só pode ser coisa do Destino. O que tem que ser, será. 8 8 Descrição de local Sou uma pessoa super individualista, então não gosto de dividir o que é meu, por isso escolhi o meu quarto. Ele é branquinho, tem cortinas escuras, tem televisão, ar condicionado, som, tem almofadas, carpetes, é pequeno mas é super aconchegante. Se eu estiver com vontade de arrumar eu arrumo, caso contrário eu deixo-o como está. Tem uma cama, um guarda-roupa e um abajour. O que eu mais gosto é do espelho, adoro ficar me olhando, experimentando roupas... As vezes cismo de colocar cortinas rosas, colcha rosa, tudo rosa. Eu me sinto super bem nele. Relato de procedimento O que eu sei fazer bem. É pintar as unhas. Primeiramente eu coloco-as de molho numa bacia com água e detergente. Deixo uns minutos, depois eu tiro a cutícula, limpo, tiro o restinho de esmalte, passo base, deixo secar, depois eu passo esmalte e deixo secar novamente. Por último, eu coloco óleo secante para a sujeira não fazer estragos. Relato de opinião Minha família é pequena e composta por quatro pessoas; eu, meu pai, minha mãe e meu irmão. O meu irmão tem dez anos, é um saco e só serve para me chatear. A minha mãe é super legal, é amiga, carinhosa, às vezes exigente... Ela é bem liberal e procura sempre me abrir os olhos em relação ao mundo. O meu pai que é radical, e muitas vezes antiquado. Tem idéias absurdas, acha que tudo está errado, o mundo está perdido. Apesar disso os meus pais só visualizam o meu bem e querem o melhor para mim, por isso que às vezes eles impõem tantas regras. Eu os amo e é isso que importa. Informante 11: Cristina Sexo: feminino Idade: 17 anos. Data da coleta: oral- 27/05/93; escrita- 01/06/93 e 02/06/93 PARTE ORAL

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Narrativa de experiência pessoal E: eu estou aqui com a Cristina... do Colégio Estadual Gomes Freire de Andrade... Cristina... conta pra mim... uma história que tenha acontecido contigo... e que você tenha achado triste... ou engraçado... alguma história que você... queira contar... I: bom... eu vou contar... um dia que fomos eu/ fomos eu e um grupo de amigos à uma festa dark... então o combinado era todo mundo ir de preto... vermelho... ou roxo... então como eu era... a chefe da turminha... eu combinei de ir toda de couro... totalmente dark com os olhos/ com a maquiagem bem sinistra... e nós íamos de ônibus... e a minha mãe foi até acompanhando a gente porque nós íamos voltar muito tarde... então nós pegamos/ a festa se não me engano era em... Madureira... e nós ficamos/ tínhamos que pegar o ônibus era umas oito da noite... então todo mundo estava na porta na hora exata da gente ir... só que caiu um temporal terrível... então nós fomos naquela... naquela... naquela zoeira já... eh... cantan::do na... na chuva... que todo mundo saiu molhado... então quando chegamos no ônibus... estava todo mundo molhado e todo mundo gritando muito... e com aquelas roupas super sinistras... quando entramos... todo mundo levou um susto... pensou que fosse algum assalto ou alguma coisa parecida... então quando eu entrei... co/ estava todo mundo... mais... mais calmo... eu tinha que agitar o negócio... então todo mundo ficou olhando pra mim... aí todo mundo começou a es/ a:: esconder o relógio... esconder o brinco... anel... dinheiro... e... na hora que eu sentei do lado de um senhor... ele 8 8 começou a olhar pra ver se eu estava segurando alguma arma... eu não agüentei... eu comecei a rir... aí eu comecei a conversar com o pessoal... sobre... outras coisas... sobre escola... pro pessoal entender que ali era só uma turminha... que estava todo mundo indo só a uma festa... foi interessante pra caramba... pra voltar a mesma coisa... já estava todo mundo meio bêbado... e... todo mundo escondendo... quando chegava perto de mim... pensavam que eu ia assaltar... que era algum sinal... que era alguma coisa... foi terrível... E: tá bom... Cris... Narrativa recontada E: agora... conta pra mim uma história... que alguém tenha contado pra você... e que:: tenha sido engraçado... triste... constrangedor... I: eu vou contar... sobre um assalto... de uma amiga que a/ da minha mãe que ela... sofreu... ela estava com a irmã dela... ela já é uma senhora... ela estava com a irmã dela e ela freqüenta muito a Universal... se eu não me engano ela estava indo pra igreja... quando ela chegou no ônibus... ela... sentou a/ no lado de trás... e... estava esperando... dar um certo um certo lu/ local... pra ela... pra ela atra/ atravessar a roleta... quando ela estava ali... chegou um... um senhor também e sentou do lado dela... e um outro rapaz... esse rapaz estava com uma arma... e começou a olhar... por ela... porque ela tem jeito de que tem dinheiro... começou a olhar as jóias... essas coisas...

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aí... ela estava separando o dinheiro... quando ela estava tentando se levantar ele amostrou a arma e falou “você senta aí eu quero/ eu vou te assaltar... vo... você vai passar o relógio... as jóias...” ela olhou pra ele... ela só fez assim “está amarrado em nome de Jesus...” aí ela puxou a irmã dela... a irmã dela morrendo de medo no meio do/ “ai... meu Deus... eu vou morrer agora...” aí ti/ ela passou... atravessou a roleta... ela nem pagou o ônibus... ela desceu... aí ela falou “desce que eu vou ser assaltada e está amarrado em nome de Jesus...” ( ) o cara falou “pode deixar que essa é maluca... deixa ela passar...” E: tá bom... Cris... Descrição de local E: agora... descreve pra mim um local... onde você mais gosta de ficar... I: eu gosto de ficar no meu quarto... ele é... ele é pequeno... ele tem carpete... tem um beliche... e o beliche é da cor escura... e nós/ o meu irmão também... é o quarto do meu irmão... então nós botamos no/ na parede... tem/ é cheia de quadros... de... de hevy metal... falando sobre hevy metal... grupos de rock... e as cortinas são bem escuras... e ele... quando/ é bom porque a gente fica ali... e... é a nossa cara... tem o som... que fica/ tem lugar pra gente... botar a guitarra... tem lugar pra gente botar o violão.. E: tá bom... Relato de procedimento E: eh:: agora eu quero que você diga pra mim... algo que você saiba fazer muito bem... eu quero que você me explique... o que você sabe fazer muito bem... I: a única coisa que eu sei fazer bem é gelatina... eu deixo/ eu boto um pouquinho de água pra ferver... e:: aí eu de/ quando a água ferve eu pego... o saquinho de gelatina... despejo no/ despejo num vasilhame... boto um pouquinho de água fervendo... boto um pouco de água gelada... aí eu... misturo tudo quando estiver/ está bem misturadinho... eu boto no congelador... deixo um tempo... depois eu tiro boto na geladeira... e quando está gelada... todo mundo come... E: tá bom... Relato de opinião E: e... pra terminar... Cris... eu quero que você me dê a sua opinião sobre família... sobre namoro... alguma coisa... I: eu vou falar sobre a minha família... que é bem diferente... é::... é uma coisa... como é que eu posso explicar? é:: diferente... porque eu não sinto mais família exatamente... não só na minha... mas como muito/ muitas pessoas eu já não sinto mais família... eh... parentesco não tem mais nada a ver... o meu avô... por exemplo... um mora comigo... o outro nem sabe que eu existo... a minha mãe... ela cuida de mim... mas também às vezes já até com excesso de obrigação... só... o 8 8 meu pai... muito raramente eu falo com ele... porque ele se casou novamente... e... eu não sei muito dos meus irmãos... eu não sei muito do meu pai... então eu acho que... esse/ coisa sobre família... é... é difícil a gente ter mais esse amor que a gente tinha de antes... não tem mais essa junção com as pessoas... nã... não é/ é só como um termo de obrigação... e isso é difícil... é ruim... uma coisa... chata... E: tá bom... Cris... obrigada... tá... pela sua entrevista...

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I: de nada... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Aconteceu comigo... Um dia eu e meus amigos fomos convidados à irmos a uma festa Dark de um amigo nosso que estava aniversariando. O traje da festa era acarater, isto é teria que ser totalmente preta e quanto mais funebre melhor. Então eu me vesti com uma roupa bonita mas estranha, fiz um penteado esquisito etc... resumindo fiquei bem sinistra, e igualmente todos os meus amigos. Quando estavamos indo para a festa começou a chover muito, tipo temporal mesmo, e como eramos um número de 15 pessoas resolvemos ir juntos, todos de ônibus. A chuva ajudou a piorar muito o meu aspecto, e fomos todos para o ponto do ônibus. Quando o onibus foi chegando, nós também íamos chegando no ponto e foi aquela correria para não perdermos o onibus. Eu gritava muito chamando os amigos e tentando segurar o motorista parado até o último amigo subir. Quando subimos todos a algazarra era total. Todos de preto, eufóricos e tentando pagar a passagem, pulando a roleta um horror. Eu passei e sentei ao lado de um homem que imediatamente começou a arregalar os olhos para mim e esconder a carteira e o relógio tão rápido que achei-me surpresa com o pavor que assola o nosso estado. Então sentí que todos os outros passageiros estavam apavorados e só se acalmaram quando perceberam que era uma turma de bons adolescentes de bem com a vida. Narrativa recontada Isto aconteceu com uma amiga minha. Certo dia uma amiga minha pegou sua irmã e foi fazer umas compras na Tijuca. Pegaram o onibus e sentaram-se no banco de tras. O onibus corria normalmente e a certa altura sentou um homem ao seu lado. A minha amiga viu 2 lugares na frente e abriu a bolsa para pegar o dinheiro da passagem, até que o homem em voz baixa chamou a sua atenção, mostrou-lhe uma pequena arma e disse para ela passar para ele, o dinheiro, relógio e pulseira. Ela não sabe como fez, mas olhou para ele e bem alto berrou: Esta amarrado, em nome de Jesus! Pegou a mão da irmã, passaram a roleta, não pagaram e pediram ao motorista que parasse, saltaram e deixaram todos sem entender nada, até o ladrão.Isto em questão de segundos. Descrição de local O lugar que gosto de ficar É o meu quarto. Ele é pequeno, foi pintado recentemente, tem o meu armário, minha cama e nas paredes ha varios posteres de bandas de Heve Metal, a cortina é escura e tampa toda a janela. Eu fico lendo no quarto, toco meu baixo e etc... É bem minha cara, mesmo. Relato de procedimento O que eu sei fazer bem. Primeiro coloco 1 copo de água para ferver, misturo nesta água a gelatina, coloco agora 1 copo de água gelada e açucar. Logo após levo a geladeira. 8 8 Relato de opinião Minha opinião sobre familia. A minha visão, sobre familia hoje em dia não é a das melhores, primeiro porque tomo como exemplo a minha própria familia.

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Meu avô paterno nem sabe que eu existo; meu pai, pouco o vejo, pois trabalho demais, e varios tantos exemplos de outras familias que tenho tirado. O amor e semsibilidade da familia morreu junto com a esperança. Informante 12: Dario Sexo: masculino Idade: 20 anos Data da Coleta: oral- 11/93; escrita- sem registro PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: eh:: Dario... conta pra mim uma história que tenha ocorrido com você... que tenha sido... interessante... triste ou alegre... I: bem... foi bem alegre... né? porque::... eu estava... no clube... dos:: Sargentos... aí estava eu... e ma/ meus colegas e mais... colegas da:: minha noiva... aí... eles... né? ficaram... pondo pi::lha... não sei o quê “ah... fica/ com ele... porque ele é bonitinho...” não sei o quê:: “ela é rica... tem dinheiro...” pô... eh:: “você... casando... com ela... vai dar o golpe... do baú...” que não sei o quê “porque o pai dela tem dinheiro...” aí... né? ficou... né? aquele troço... né? não sei o quê... vai e não vai... até que... a gente se... esbarrou... no clube... né? aí... ficamos... né? assim conversando... batendo papo... aí os meus/os colegas... né? falando... que “aí Dario...” que não sei o quê “ganhou pra hoje...” aí... começamos a conversar... perguntei pra ela se ela estava a fim de um... um relacionamento sério... de um namoro sério... ela disse... que sim... eu... né? também... aí começamos a namorar... né? lá dentro... lá dentro do... clube... nos beijamos... né? até que... estamos juntos até hoje... três anos... três anos e meio... que... ano que vem... dia dez de::... setembro... vamos casar... né? E: valeu... Narrativa recontada E: agora:: conta pra mim uma história... que tu/ que tenha ocorrido com alguém que você conheça... que tenha sido interex/ interessante... triste ou alegre... I: bem... foi:: bastante triste por/ com dois amigos meus... que:: faleceram em acidente de moto... foi assim... eles... sabe? tinham:: ido... sair... acho que... foi até pro Alto da Boa Vista... né? aí estavam... eles dois... e mais a:: na... namorada... né? de um... aí quando chegou... ali na:: decida/ porque é... Barra... Tijuca... né? quando estava quase chegando a... Tijuca... vinha... um ônibus na:: direção deles... e tinha um caminhão... parado aqui... então.. um pra... desviar do:: do ônibus foi em cima... em cima do caminhão... aí foi embaixo... aí ficou preso a mota/ a moto... ficou presa... embaixo da... coisa... aí:: matou na hora... né? e a moto entrou embaixo do:: caminhão... e o outro... o... ônibus entrou em cima ( ) voou longe... aí a moto caiu... ficou rodando ele foi... parar lá do outro lado da/ cabeça toda... arrebentada... que não sei o quê... até que... foram... né? lá em casa e:: me deram a:: notícia que o Marcelo e o Robson faleceram... né? aí eu fui até no enterro deles... no Caju... a mãe estava desesperada... super triste... chorando... E: ahn... ahn... valeu... Descrição de local E: agora... descreve pra mim o lugar onde você mais gosta de ficar...

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I: discoteca... Trigonometria... bem... lá:: era... antigamente... era um cinema... então eles... fizeram uma:: discoteca... a:: Trigonometria... ela... por fora tem:: bastante neon que fica... 8 8 piscando... acendendo... aí do lado de fora tem a... a bilheteria... tu compra o ingresso... aí quando... tu entra... tem duas entradas... que... que vai pra::... barzinho... em cima... que é só pra... casais ficarem... né? namorando... beber alguma coisa... né? embaixo... é a dis... é a discoteca... né? tem... um barzinho... do lado... tem várias pessoas bem civilizadas... tá? gente de alto nível... eh... tem um telão... onde é que passa os (vídeos) né? onde é que era a tela... de cinema... tem eh::... a pista... de dança... tem vários jogos... jogos de luz... caixas de som espalhadas em tudo quanto é lado... tá? E: ahn... ahn... valeu... I: e... só isso só... E: ahn.. ahn... Relato de procedimento E: agora:: você sabe fazer alguma coisa? o quê? e conta pra mim como se faz isso que você sabe fazer... I: bem... eu faço muito... o que eu gosto muito de... fazer porque... o pessoal fala que eu faço muito bem é salpicão de batata frita... bem... os ingredientes... tu pega... uma/ eh... a quantidade... de... de batatas... que ( ) e corta... né? corta... de preferência palito... aí bota pra fritar... depois delas prontas... tu bota... numa vasilha... aí ali tu bota presunto picado... queijo picado... ervilha... milho... salsa e cebolinha... eh:: salsicha picada... eh:: ovo... cozido... picado... que mais? pode pôr... ketchup também... eh::... que mais? azeitona picada... cenoura ralada... e por último bota a maionese... aí mexe aquilo tudo... né? aí bota numa travessa... né? fica uma delícia... Relato de opinião E: a outra eh::... eh o que você acha da escola... dos professores... da política atual? I: escola... está péssima... escola está péssima... paredes muito... pixadas... os banheiros tudo arrebentado... que não sei o quê... e... os próprios alunos mesmo... sabe? tanto do dia tanto da manhã... que fazem isso... sabe? como... tu pode ver aqui... porque os quadros horríveis eh::... mesas horríveis toda ra... rabiscada... rasgada... né? tudo... agora... quanto aos... professores... al... alguns são... muito... exigentes... outros um pouco melhores... sabe? e... eu achava que cada um... um deles tinha que dar um... um trabalho ou eh::... um teste pra... ajudar na prova... tá? pra ajudar na prova... ajudar no teste... né? e quanto à... à política... não tenho/ não tem como explicar eh... a vida está... tudo caro... né? pra mim... pro Brasil sair... dessa crise... acho que... sabe? só:: só milagre... agora... esse presidente Itamar Franco... sabe? está fazendo alguma coisa... né? agora... política... acho que... sabe? todos eles... sinceramente... são uma cambada de ladrões... que adoram... sabe? pegar dinheiro... dos outros sabe eh:: fazer... sacanagem... fazer troço assim... E: ahn... ahn... I: sabe? e... eu acho isso... E: ahn... ahn... I: entende? E: valeu... obrigado... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal

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Eu tinha ido para o Clube dos Sargentos da Marinha com meus colegas e colegas da minha noiva, mas eu a ainda não a conhecia. Então meus colegas começaram a colocar pilha para que eu namorasse com ela dizendo para ela que eu era bonitinho e dizendo para mim que ela era cheia da grana, mandando eu dar o golpe do baú nela. Depois de algum tempo nós dois começamos a conversar, então eu perguntei para ela se queria namorar comigo, mas que era com compromisso. Ela topou e até hoje estamos juntos, já com casamento marcado. 8 8 Narrativa recontada Dois colegas meus foram de moto para o Alto da Boa Vista junto com as namoradas deles. Na hora da volta vinha um ônibus na direção deles e tinha um caminhão parado, então eles desviaram do ônibus e caíram de baixo do caminhão. Eles morreram na hora. Isso foi na Barra da Tijuca. Descrição de local O lugar onde eu mais gosto de ficar é numa danceteria chamada Trigonometria. Antigamente lá era um cinema. Lá tem um barzinho que fica em frente a entrada, um telão que fica na parede em frente a pista de dança onde passa uns clips e muita discontração. Também tem um globo de luz que fica em frente no centro da pista de dança com várias cores. Relato de procedimento Eu sei fazer salpicão de batata frita. Os ingredientes são batatas cortadas em forma de palito, bota pra fritar. Depois bota numa vazilha e coloca presunto e queijo picado. Pode por ketchup, azeitona, cenoura e por último a maionese. Então mistura tudo e pronto. Relato de opinião Os políticos não fazem nada só querem ganhar dinheiro na custa dos outros sem se preocupar com a situação do povo, pois so pensão em si proprio. Eu acho que isso não vai melhorar nunca se continuar no jeito que está. Informante 13: Fábio Sexo: masculino Idade: 18 anos Data da coleta: oral- 28/04/93; escrita- 29/04/93 e 30/04/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: eu estou aqui com o Fábio... do Centro Tecnológico Estadual Ferreira Viana... Fábio... eh... me conta uma história... que tenha acontecido com você... e que você assim... tenha achado... uhn... eh... ou engraçado... constr/constrangedor... triste... I: eh... uma certa vez eu... estava saindo do... do banheiro... enrolado na toalha... estava até meio molhado ainda... né? aí... tranquei a porta do quarto da... da minha mãe... e... e com a sun/ e com a cueca na mão... né? eu... tirei a toalha... tirei a toalha... né? e joguei a toalha em cima da cama... e queria me sentar na cama pra poder... colocar a cueca... né? mas acontece que quando eu me sentei... eu não tinha percebido que ((riso)) que em cima da cama tinha um ferro... um ferro ((riso)) quente à beça... tinha/ que tinha sido usado... né? há poucos instantes... e quando eu sentei ouvi só aquele barulhinho assim oh... TCHI::... olha... eu dei um pulão pro ((riso))

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alto... e queimei a parte todinha de trás... fiquei com uma... uma bolha lá... durante uma semana mais ou menos... é... esse é um fato que eu achei... que eu achei engraçado... que eu possa me lembrar agora é um fato que eu achei engraçado... E: tá ótimo... Fábio... imagino a dor... né? ((riso)) Narrativa recontada E: agora... eh... me conta uma história... que alguém tenha contado pra você... eh... e que você tenha achado engraçado ou triste... ou alguma coisa que você lembre que alguém tenha falado pra você... uma história... I: ah... essa história... até ouvi há pouco tempo aqui no colégio mesmo... né? que um colega meu vindo... vindo pra cá... ele... ele pegou um ônibus cheio... né? aí... no momento que ele ia soltar do ônibus... tinha uma se/ uma senhora não... uma... uma mulher que devia... que devia ter uns trinta e poucos anos assim... ele disse... né? mas era uma... era uma se/ era uma pessoa... 8 8 eh... era uma pessoa do sexo feminino negra... né? e:: forte... não era... não era bonita não... sabe? por isso também que ele ((riso)) que ele não podia nem fazer o que ela falou... aí aconteceu o seguinte... ele... ele soltando do ônibus... o ônibus muito cheio... e todo... e todo mundo amassando assim... empurrando um ao outro... ele sem querer encostou... na ((riso)) na mulher... e a mulher virou-se pra ele e falou assim “ô rapazinho... pára de tirar sarro comigo...” não sei quê “você não tem o que fazer não... é?” e aí ele me disse “pô... Fábio... eu... eu não... eu não sabia... eu não sabia nem o que fazer... porque eu não estava fazendo nada disso... pô... quando a gente quer fazer a gente faz com uma garotinha bonitinha... agora com... com um canhão daquele... pô... pára com isso ...” ((riso)) E: tá otimo... Fábio... Descrição de local E: agora ... eh... me fala sobre o local onde você mais gosta de ficar ou de passear... eu quero que você me descreva esse lugar... I: ah... são vários os lugares... né? eu gosto de muitos lugares... mas... ultimamente eu tenho gostado muito de ir pra uma... pra uma casa... uma boite... né? lá na Ilha... chamada Magique... eh::... o lugar... tem... tem show de música ao vivo... né? e começa geralmente... lá pras dez e meia... onze horas... da noite... eh::... tem dois andares... né? eh::... tem uma escada que... que dá acesso pras pessoas que querem/ que queiram ficar na parte de cima... ou na parte de baixo... tem banheiro... tanto em cima... quanto embaixo... né? tem um... tem um palco... aonde fica o grupo... que... que canta... né? que por sinal a música... a música deles são... são muito boas... eh:: o ambiente é todo escuro... quer dizer... não é todo escuro porque se não... mas tem assim... um/ umas... umas luzes muito fraquinhas e tal... mas... no seu... no seu completo... praticamente... é todo... é todo escuro... e:: ar condicionado... muita gatinha... e... e pra quem gosta de... de namorar... é um bom lugar... E: [tá...] I: [( )] pra quem se divertir também... né? E: tá bom... Fábio... Relato de procedimento E: agora... eu quero que você me diga... eh... o que que você sabe fazer... como é que... como é

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que se faz isso... que você gosta de fazer? I: olha... eu sei... eu sei fazer um ((riso)) uma comida aqui... que... quando eu faço até que... minha barri/ meu estômago não reclama não... eu faço... Miojo... é um... é uma espécie de um... de um macarrão... tá? ele vem numa embalagem já que... que dá pra uma pessoa... só... né? quer dizer... se a pessoa comer muito pouco... dá... dá... dá até pra duas... né? eh... a gente pega esse macarrão... coloca ele na água fervendo... e deixa... fervendo durante... durante uns cinco minutos... depois disso... eh... joga água/ só a água... eh... fora... e mistura o tempero que também vem dentro de um saquinho... junto com esse Miojo... mistura o tempero... eh... mexe... né? e coloca uma salsicha/ um... um ovo... ou um... hambúrguer... o que você gostar... quer dizer... e eu faço isso muito bem... quer dizer... eu gosto muito... né? E: tá... só você que come... né? ((riso)) Relato de opinião E: agora... Fabinho... pra terminar... eh... eu quero que você me dê a sua opinião... sobre... ah... ou amizade... ou namoro... ou família... um... um desses... relacionamentos... eu gostaria que você me desse a sua opinião sobre isso... I: oh... eu vou falar sobre o namoro... tá? eu... eu tenho uma namorada que se chama Daniela... já namoro ela já... há um ano e oito meses vai fazer agora... e... por incrível que pareça eu... eu gosto muito dela... e não... sabe? e... e não tenho queixa nenhuma não... muitos colegas meus... sabe? assim... da minha idade... e tal... falam “ah... mas o que é isso? se prender a uma garota só...” e tal... eu não acho que isso é/ eu não acho que isso seja uma prisão não... eu acho até que::... que é o começo de tudo... eu acho que eh::... eu acho... eu acho que a pessoa se conhece mais... e acaba/ acho que acaba se entregando àquilo... e... acaba gostando... acho que isso/ papo de que... tem que ter várias... e tal ... eu acho que isso... eu acho que isso depende de cada um... 9 9 tá? eu gosto muito do/ de namorar... eu acho... eu acho que ter... eu acho que ter uma pessoa... pra... pra você conversar... pra você se abrir... sei lá... pra você... pra você se sentir bem... eu acho que isso é válido... eu acho que... eu acho que todos os jovens... eu acho que... deveriam... tentar... fazer isso... e parar com essa frescura de que... “ah... tem... tem que aproveitar muito a vida...” por que... por que não aproveitar do lado... dessa pessoa que você... que você gosta e que você... está namorando? por que não? E: ótimo... e sendo fiel... né? I: é claro... sendo fiel... E: tá bom... Fábio... muito obrigada... I: de nada... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Descrever uma estória que acontecida comigo! - Certa vez ao sair do banho, enrolado na toalha, fui até o quarto para que pudesse

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apanhar uma cueca e colocar uma roupa. Ao apanhar a cueca, retirei a toalha e sentei-me na cama afim de vestí-la, mas acontece que em cima da cama havia um ferro de passar roupa usado a poucos instantes e logo quente ainda, sentei-me sobre ele e foi um dor enorme. Fiquei um tempo com uma bolha d’agua nas nádegas que incomodava-me por demais. Narrativa recontada Descrever uma estória que alguém tenha contado para mim. - Um amigo meu, contou-me aqui mesmo no colégio, que ao descer do ônibus, muito cheio por sinal, foi empurrando por outras pessoas ao fim do qual encostou em uma mulher negra, que aparentava uns trinta e cinco anos, foi aí que essa mulher fez um escândalo enorme dentro do ônibus, por achar que esse meu amigo ( Alexandre) estava esfregando-se em sua nadegas, ou seja, como se diz na giria “tirando um sarro nela” o meu amigo achou interessante, por se tratar de uma mulher feia e que não despertava-lhe atenção, foi aí que ele falou: - “Pô, Fábio, se ainda fosse uma menininha bonitinha ! agora com um canhão daquele! Descrição de local Descrever e falar sobre um lugar que eu goste de ficar ou passear - São vários os lugares, mas ultimamente, tenho gostado de ir para uma boite na Ilha chamada Magic. Essa boate tem como atração um show de música ao vivo que começa por volta das 22:30 ou 23:00hs. A boate possui dois andares, possui uma escada que dá acesso as duas partes, há banheiros tanto em cima quanto em baixo, há um palco na parte de baixo onde o grupo musical se apresenta, por sinal sua músicas, são muito boas. O ambiente se apresenta com luzes apenas nas laterais e muito fracas, logo ficando quase que escuro por completo, arcondicionado e muitas gatinhas para quem gosta de namorar ou se divertir, a Magique é um bom lugar. Relato de procedimento Falar sobre o que sei fazer, descrevendo a maneira com que faço tal coisa. - Eu faço uma comida, que acho muito boa, pelo menos o meu estômago não reclama! É uma espécie de macarrão que vem em uma embalagem plástica geralmente para uma pessoa, podendo até ser para duas ou três, desde que satisfaça o apetite de cada uma. Dentro da embalagem vem em um saquinho um pó que ao misturá-lo. Ao macarrão (Miojo) o tempera. Para fazer o Miojo, é necessário que o coloque em uma panela com água e ferva por uns cinco minutos. Ao final desse tempo, retiro a panela do fogo, jogo a água fora e misturo o pó, que já falei, e mexo até que fique corado. Depois coloco uma salsicha, ou um hamburguer para acompanhar. Eu faço isso muito bem ! 9 9 Relato de opinião Dar a minha opinião a respeito da amizade, namoro, família, ou qualquer outro tipo de relacionamento. - Eu vou falar sobre o namoro. Tenho uma namorada que se chama Daniela ao qual namoro há um ano e oito meses. Não tenho do que queixar-me, gosto muito dela e muitos colegas meus falam que estou errado por que me prendo a uma garota só, acontece que não acho que isso seja uma prisão, muito pelo contrário, acho que é o começo de tudo, a pessoa passa a se

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conhecer mais, entrega-se ao amor e acaba gostando. Isso depende de cada um, eu gosto muito de namorar, de ter uma pessoa confidente e amiga ao meu lado, muitos dizem que primeiro deve-se aproveitar a vida, mas aí questiono o porque de não se aproveitar a vida à dois, por quê não? É uma coisa que é muito importante: a fidelidade. Informante 14: Flavia Sexo: feminino Idade: 19 anos Data da coleta: oral- 11/93; escrita- sem registro PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: Flavia... conta pra mim uma história que tenha acontecido com você que tenha sido interessante... I: bom... que tenha sido interesssante? foi assim... eu estava::/ era minha última prova né? era prova de química... e eu estava nervosa... né? porque geralmente prova de recuperação é muito difícil... né? e precisava tirar cinco nessa prova... mas não sabia se ia tirar... estava estudando... aí tudo bem... fui pro colégio fazer esssa prova pensando “poxa... já pensou se ela me desse a mesma prova do quarto bimestre? ah... eu ficar emocionada... ia passar na mesma hora...” eu ali e pensando naquilo “ah... mas isso não vai acontecer... isso é impossível de acontecer...” aí quando cheguei lá... sentei lá... lá na frente... ela foi passando a prova pra todo mundo... né? foi passando... passando... todo mundo reclamando da prova... que a prova estava difícil... que a prova estava difícil... que estava... que estava/ todo mundo xingando a professora “professora... a senhora quer reprovar a gente...” e tal... aí quando chegou no finalzinho... cadê? ela tinha se esquecido de mim... da... da minha/ aí não tinha mais prova pra me dar... ela “ih:: falta você::” “ué... professora... falta eu” aí ela pegou... falou assim “espera aí que vou te dar outra prova diferente” quando eu fui ver... era a mesma prova do quarto bimestre... aí... eu... sabe? poxa... fiquei super contente... né? fiquei super feliz porque eu fiz aquela mesma prova... e:: graças a Deus eu passei de ano por causa dessa prova... E: [ahn... ahn...] I: [que] talvez se eu fizesse a outra não passaria... Narrativa recontada E: agora... conta pra mim uma história que tenha... acontecido com alguém que você conheça... que seja interessante... I: bom... foi o seguinte... foi com uma amiga minha que/ uma história... né? foi com uma amiga minha... ela estava saindo pra ir trabalhar... de manhã cedo... e geralmente de manhã cedo os ônibus... né? são muito cheios e são/ eles saem muito apressados... né? e ela tinha aquele horário sempre de pegar o ônibus... então naquele dia ela se atrasou um pouco... acordou tarde... aí ela estava no outro lado da calçada quando ela viu o ônibus passar... mas o ônibus já estava indo... e ela começou a gritar e todo o ponto de ônibus assim lotado... né? ela começou a gritar pro motorista... mas ela estava um pouco longe... aí o motorista resolveu parar pra ela... né? e ela...

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com medo de correr foi correndo com vergonha... né? não estava correndo tanto... ela estava com sapato alto... que ela ia trabalhar... e todo mundo lá no ônibus xingando o motorista “seu motorista... vamos embora... vamos embora... vamos embora...” não queria esperar... e eu sei 9 9 que... quando ela correu... correu... correu... quando ela chegou lá... lá perto do ônibus... o motorista pegou e foi embora... deixou ela sozinha... e ela com a maior vergonha e todo mundo rindo da cara dela lá no meio da rua e ela sem graça ((riso)) aí foi isso... sabe? ela teve que/ ela depois teve que pegar o ônibus lá::/ teve que andar pra caramba pra pegar outro ônibus porque dali todo mundo já ia encarnar nela... e foi isso... Descrição de local E: Flavia... descreve pra mim o lugar onde você mais gosta de ficar... I: olha... o lugar onde eu mais gosto de ficar é no meu quarto... né? no meu quarto... eu:: vou descrever pra você... ele/ tem um cama que fica logo no meio do quarto... onde em cima dela/ onde eu durmo... né? em cima dela tem um ursinho... tem um cachorrinho... uns bichinnhos de pelúcia... do lado da minha cama tem uma caixa de som... né? e:: fica logo em frente à janela... tem uma cortina... né? uma cortina verde... e em frente a minha cama tem uma estante... onde eu guardo meus livros... né? que eu gosto muito de ler... tem um som em cima da estante... o meu som três em um... que eu gosto muito de escutar música... tem os meus discos... né? tem muitos livros aí que eu gosto muito de ler... tem um espelho... tem muitos batons... perfumes... coisas femininas... e:: em frente à estante tem meu guarda-roupa... né? meu guarda-roupa que tem só minhas roupas... logo do lado tem o meu enxoval... tem o fogão... as panelas... os copos... as facas... né? faqueiro... tem um::/ logo... eh:: atrás tem os quadros... né? nas/ na parede... eu gosto muito de ficar no meu quarto... é um lugar tranqüi::lo... Relato de procedimento E: tá bom... agora:: agora conta pra mim o que você sabe fazer... I: o que eu sei fazer? olha... eu sei fazer muita coisa... mas... uma das coisas que eu sei... gosto de fazer é lasanha... né? e:: como é que se faz? eh... compra a massa... a massa já::/ tem que primeiro colocar no fogo... né? numa água... tem que ferver... ou até ferver a água pra ela ficar mole... né? ou como massa de macarrão... aí... depois que ela já está pronta... aí coloca numa forma untada com manteiga... coloca a massa... depois coloca queijo... presunto... coloca o... o... ketchup... queijo ralado... o tempero da lasanha... aí depois vai colocando as camadas... a gosto... né? e:: depois de tudo... acho que são três camadas no máximo... aí leva o tempero... o ketchup... o queijo ralado... né? e depois põe no forno durante assim uns quinze minutos... depois aí tá pronto é:: uma coisa simples de fazer... eu gosto de fazer... Relato de opinião E: a::gora:: o que você acha da crise educacional? I: crise educacional... assim do Esta::do... é isso? E: é... I: qualquer coisa? olha só... eu:: eu acho assim:: eu acho que::... eles não estão dando prioridade... né? pros os alunos... pros estudantes... eu acho um absurdo esse negócio de você assim que terminar segun/ o... o... ginásio também... fazer/ ter que fazer pro::va... sabe? pra você ter um segundo grau... você vê por aí que quase não tem vagas... eles não estão dando prioridade... o ensino está horrível... pela greve que estão/ e... e... pela greve que eles fazem...

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né? e:: até mesmo pra você entrar numa faculdade hoje em dia tá? você tem que disputar com muita gente são... são pouquíssimas faculdades pra muita gente que quer fazer... e às vezes você... é obrigado a pagar uma/ trabalhar pra pagar uma faculdade que é muito difícil... né? e:: está sendo isso... eles tão dando mui/ pouquíssimas prioridades pras escolas caren/ quer dizer... deveria ter muito mais escola... muito mais professores... que dessem... né? essa... prioridade mais à escola... né? que é só gre::ve... são pouquíssimas/ eh:: hoje em dia pouquíssima gente se forma por causa disso não tem::/ sabe? às vezes a pessoa é até esforçada pra estudar... mas não tem aque::la prioridade pra estudar... né? ah... eu acho isso... a crise... E: uhn... uhn... obrigado... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal 9 9 Foi no dia em que fiz a minha última prova de recuperação de química. Eu precisava tirar 5 (cinco) nesta prova e estava um pouco nervosa, pois prova de recuperação, geralmente, é um pouco difícil. Chegando na escola, a professora começou a dar a prova para todos, e eu comecei a ficar assustada, pois todos estavam reclamando, e falando que a prova estava difícil. E de repente, eu fiquei por último, e a professora não tinha mais prova para me dar. Ela foi até a mesa e me deu outra prova, e quando eu vi, para surpresa minha, era a mesma prova do quarto bimestre. Eu fiz tudo. pois eu tinha estudado pela prova só de lembrar, e passei de ano. Narrativa recontada Uma amiga minha estava atrasada para ir trabalhar, e ainda estava do outro lado da calçada quando viu o ônibus que ela sempre pegava. O ônibus já estava quase andando, mas o motorista a tinha visto e resolveu parar o ônibus para esperá-la, só que ela demorou muito e os passageiros começaram a gritar pro motorista dar a partida. Eu sei que quando ela ía entrar no ônibus, o motorista andou e ela ficou com a cara no chão, pois o ponto estava muito cheio. Descrição de local O lugar onde eu mais gosto de ficar é no meu quarto. A minha cama fica é no meio, onde em cima dela fica os meus bichinhos de pelúcia. Logo em frente, a minha estante, onde ficam os meus livros, cadernos, o meu som, os meus discos, meus perfumes, batons. Na outra parede, em frente à estante, está o meu guarda-roupa, em cima dele, o circulador , logo ao lado, o meu enxoval. Relato de procedimento A massa da lasanha, primeiro tem que colocar no fogo até ferver a massa e ela ficar mole. Segundo untar o tabuleiro com manteiga e colocar a massa, depois o queijo, presunto, catchup, queijo ralado, e a carne moída, se quiser. Depois é só repetir a dose mais duas vazes, colocar no forno, e está pronto. Relato de opinião Eu acho que não estão dando prioridade à escola nenhuma para os alunos. É um absurdo o aluno disputar vagas nos colégios de segundo grau e faculdades! São pouquíssimos colégios para muitas pessoas, que acabam ficando sem estudar. Só os mais favorecidos estudam

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em universidades pagas, e às vezes, tem que trabalhar para pagar um colégio ou uma faculdade porque não passaram nas provas. Acho que todo ensino deveria ser gratuito, poi estudar é um direito de todos, mas hoje em dia, infelizmente, se tornou direito dos mais favorecidos, pois as vagas são pouquíssimas para o número de pessoas que querem estudar Informante 15: Flávia Regina Sexo: feminino Idade: 18 anos Data da coleta: oral- 10/06/93; escrita- 11/06/93 e 12/06/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: eu estou aqui com a Flávia Regina... do Colégio Estadual Professor Daltro Santos... Flávia... conta pra mim... uma história que tenha acontecido contigo... e que você tenha achado ou muito triste... ou muito interessante... ou engraçado... algo que você acha que vale a pena contar... I: vou começar a contar do fim de semana passada... eu... estava/ tinha acabado de chegar da discoteca com minhas colegas... estava ali embaixo... daí es/ minha colega estava... pensando em sair com uma pessoa que ela tinha saído no fim de semana passado... quando ela dá conta... ele estava com outra pessoa na frente dela... aí... ela ficou super... constrangida... né? super... sem graça e falou... que não ia sair com ele... a gente... foi procurou saber ( ) ia sair... ela falou assim “não... não vou sair com ele... não vou sair com ele...” tudo bem... aí a garota subiu... que ele estava saindo... subiu e ficou lá embaixo... aí pediu pros colegas dele vim falar 9 9 com ela... aí ficou dois colegas dele... falando um tempão... e passando um papo nela... né? e falando... aí... sabe? fo/ o papo foi que... foi tipo assim/ os/ o próprio colega dele passando um papo nela... que ela... depois ficou pensando “poxa... eu não estou namorando com ele... só saí uma vez com ele... por que que eu vou/ não vou sair com ele?” aí ela foi e resolveu sair... aí antes disso... eu tinha saído com um menino... aí... quando dou conta ele estava dando um maior show lá na frente... fazendo um montão de coisa... fiquei super/ morrendo de raiva... né? aí eu fui e falei pra minha colega... aí ela falou assim “você vai sair com ele? de novo... se ele chegar aqui perto de você?” eu falei assim “não... não vou sair com ele...” e antes disso eu tinha recriminado a minha colega que ela estava saindo com um menino que ela falou que não ia sair... está eu recriminando ela... aí eu falei assim “não... não vou sair com ele não... dando o maior show lá... dando o maior show... não vou sair com ele não...” aí ele foi chegou perto de mim... descumpri com a minha palavra... fui... e saí com ele... aí tá... depois eu comecei a pensar... né? a minha colega chegou e falou assim “poxa... Flávia... não tinha nada a ver... eu ( ) com ele...” aí antes disso eu estava recriminando... depois eu comecei a pensar... e falei assim “não... pô... eu fiz a mesma coisa... não cumpri com a minha palavra...” e por causa disso me/ outra colega já ia parar de falar com a outra... já ia começar com... aquela coisa... tinha feito uma ignorância pra ela... ela falou assim “não... não quero papo com você mais...” aí eu fui/ essa experiência que eu passei... que eu descobri que eu não devia recriminar a pessoa assim... eu tendo passado... aquela... própria experiência... que no próprio momento eu passei a experiência... naquele momento eu:: descobri que a gente não deve recriminar... aí nesse próprio momento eu fui expliquei pras pesso/ pras minhas amigas... né? que a gente não deve fazer isso... e elas próprias... cada uma tinha um caso na vida que tinha feito a mesma coisa...

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começaram a pensar... e se tocaram... “poxa... não é isso...” (aí uma...) uma pediu desculpa pra outra... uma outra me pediu também pra mim pra não recriminar... a gente também falou com ela... naquele... momento... juntou todos os problemas de muito tempo atrás... naquele momento se resolveu... todos aqueles problemas ali... ficou tudo resolvido... entre a gente eu/ foi uma experiência... né? pra gente... a gente ficou::... ca... cada uma aprendeu uma coisa... dali... a gente pode... passar pras outras pessoas... e pequena coisa... E: tá ótimo... Flávia... Narrativa recontada E: eh:: agora... por favor... conta uma história... que... alguém tenha lhe contado... né? e que você tenha achado engraçado ou triste... I: eh... minha colega... foi pro::... Tijuca Off Shopping... foi/ aí pegaram o meia vinte e dois... aí então... entraram... aí nisso ela está prestando atenção... entrou um rapaz correndo... atrás dela... sentou do lado dela dentro do ônibus... ela não sabia se aquele ônibus ainda ia pro Tijuca Off Shopping... ela foi... perguntou assim “vem cá... colega... esse ônibus passa no Tijuca Off Shopping?” ele falou assim “passa...” aí deu um tempo ela passou pra frente... estava sentada lá... aí daqui a pouco::... o rapaz foi... passou pra frente... aí está ele olhando muito pra cara dela... né? por trás... rapaz assim... com uma pinta estranha... olhando muito pra trás... está ele olhando... e ela está distraída na dela... né? daqui a pouco ele... chega pra ela e fala assim “você está com medo de mim...” ela “não estou com medo de você...” “você está com medo de mim...” aí começou aquela discussão... ela “não estou com medo de você... por que que eu estou com medo de você?” aí daqui a pouco ele “olha... só porque você está com medo de mim... você vai passar o relógio agora...” e ele fez como se ele tivesse uma arma... ela não sabia se... se ele estava com uma ar/ primeira vez que ela tinha sido assaltada... o relógio que ela ainda nem tinha acabado de pagar... tinha comprado há pouco tempo... aí ele falou assim “você vai passar o relógio...” aí ela falou assim.../ aí ela ficou quieta... ficou sem ação... foi e passou o relógio... ele falou assim “você não vai gritar... não vai fazer escândalo nenhum porque eu sei onde tu vai saltar... se você gritar você vai ver só o que vai acontecer com você...” e:: ainda falou assim “olha o que/” começou com um assunto que não tinha nada a ver... perguntou... que baile ela freqüentava... falou que freqüentava o Bonsucesso... querendo amendrontar... né? falando negócio de baile funk... fa/ com ele... ela falou que não... frequentava baile funk... aí falando com ela... aí ela chegou na minha casa apavorada... depois... ela ficou super assustada... 9 9 chegou até tremendo... poxa... como uma pessoa que ela tinha falado numa boa lá atrás chegou e assaltou ela na mesma hora? não teve nem... a::... E: tá bom... Flávia... Descrição de local E: eh::... agora por favor... fala sobre o local onde você mais gosta de ficar... quero que você me descreva este local... né? se ele é grande... se ele é pequeno... quero que você... [conte] pra mim... I: [eh::] eu gosto de ficar muito na/ quando eu vou pra casa da minha avó... na varanda dela... principalmente no verão... ali::... sei lá... é um lugar gostoso... tem plantas... dá um::/ uma

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(expressão) de paz... é... bem arejada... sabe? eu fi/ gosto sempre de ficar mais sozinha... aí tu... tu fica pensando... porque sei lá::... tem um clima... é claro... é uma varanda clara... o sol bate/ não bate na varanda onde você está... mas bate assim nas plantas... principalmente de manhã cedo eu fico assim ( ) aquele ar... assim ar (bem puro) como a gente mora aqui em apartamento... sabe? dificilmente tem isso... ah... é um lugar pequeno que não tem muito o que dizer dela... só... só... só por causa dessas coisas... só por isso mesmo... eu... gosto de ficar ali... uma coisa clara... plantas... é gostoso... um lugar gostoso de ficar... E: tá bom... Relato de procedimento E: e::... Flávia... eh... eu quero que você conte pra mim... alguma coisa que você saiba fazer bem... I: bolo de cenoura... E: tá... me explica então como é que faz... I: ((riso)) eh... pega... deixa eu ver... três cenouras... médias... descasca e corta... picadinha... pequenininha... bota no liqüidificador... pega um copo de óleo... três ovos... bate tudo... depois bota num... recipiente... numa vasilha... ali tu bota... açúcar... três copos de açúcar... depois quatro copos de farinha... de trigo... não precisa mais... leite... mexe... não é uma coisa difícil não... é fácil... aí vai... bota num tabuleiro... de/ antes se faz a calda... calda de chocolate... que... leva ... seis... colheres de... Nescau... manteiga e... manteiga... leite... só... e açúcar... um pouco de açúcar... depois do bolo pronto... você bota... a calda... só... mais nada... E: tá... todo mundo come... né? depois? I: com certeza ((riso)) [todo mundo come...] E: [tá bom...] então tá bom... I: com certeza ((riso)) Relato de opinião E: Flávia... e por último... eh... eu quero que você me dê... sua opinião sobre... ou namoro... amizade... religião... né? igreja... alguma coisa que você acha que... que você deva contar... I: eh... religião... uma coisa que eu ... estou/ no momento... está afetando muito a minha cabeça... E: então vai lá... vai... I: eh... re/ religião... eu... no momento eu estou procurando uma... uma religião certa pra mim... religião não... eu acredito em Deus... sei que existe um Deus vivo... mas assim/ mas uma igreja... né? daí/ minha religião é... Deus mesmo... eu... tenho... tenho participado de várias coisas... vejo várias pessoas falar sobre esssa/ as religiões... tem hora que você critica... tem hora que você... concorda... com coisas que as pessoas falam... por exemplo... eu... tenho freqüentado algumas igrejas... que... têm/ não... na/ têm coisas... que não me agrada ali... têm coisas que me agrada... por exemplo... eu como sou jovem... né? eu gostaria assim de... sei lá... até agora no momento não encontrei uma... uma religião que/ às vezes você quer uma coisa que você possa fazer... coisas... do mundo e que possa lá... mas acredito que ( ) voltado a Deus... sempre... mas tem que se/... mas é difícil disso acontecer porque... já/ o carnaval já não é... de Deus... já... já... já está dizendo aí que não é ( ) de Deus... aí fica difícil pra você escolher... você já um debate... com você... você fica se ba/ debatendo com você própria... o que que você vai fazer...

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com isso... eh::... minha mãe... por exemplo... ela... ela também/ ela está há vários anos 9 9 procurando uma religião certa... só que ela ainda não encontrou... sabe? ((tosse)) ela acredita... já teve várias... coisas assim... de::/ teve... várias bênçãos... com Deus... só/ ela ainda não teve uma certa... mas só em... acreditar em Deus... ter a fé dela... ela já teve várias coisas... várias bênçãos... só com isso... ainda não... não encontrou uma certa... por isso que eu falo... que não é uma coisa muito fácil... de você encontrar... é uma coisa mais... complicada... I: tá bom... Flávia... muito obrigada... tá... pela tua [entrevista...] E: [de nada...] PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Este acontecimento não faz muito tempo não, eu estava com amigas no momento recriminando uma delas, pelo seu ato de falar que ia fazer uma coisa e fazer outra diferente e não cumprir com sua palavra, mas eu não sabia que naquele próprio momento eu ia passar por uma coisa diferente pra mim, eu falei uma coisa e fiz outra, não consegui me controlar e nem ela, neste momento eu descobri que nunca se pode recriminar uma pessoa sem saber o que ela está passando e sem ter passado também aprendi a respeitar as decisões das pessoas, isto foi muito legal. Narrativa recontada Este fato aconteceu com uma amiga minha. Bem, ela estava indo para a Tijuca. Ela foi pegar o ônibus 622. Ao entrar no ônibus percebeu que um rapaz também entrou atrás dela e sentou perto dela, ela e sua colega perguntaram se aquele ônibus passava na Tijuca para esse rapaz responder, e ela passou para a frente. Não demorou muito e ele passou também. Ficou o tempo todo olhando para ela de repente ele pergunta para ela se ela está com medo dele ela respnde que não e ele continua insistindo na pergunta e ela respondendo que não. Ele, sem mais nem menos, fala para ela dar o relógio para ele e ficar quieta que ele sabia onde ela ia saltar e ficou indagando sobre o baile que ela frequentava. Ela respondeu que não frequentava baile. Ele desceu na maior cara-de-pau. Ela coitada, nem tinha acabado de pagar o seu relógio. Este fato foi muito triste. Para ela, Deus tem mais para dar do que pessoas para tirar. Descrição de local Eu escolhi um lugar que é tão simples mas eu gosto tanto. É na casa da minha avó, em sua varanda. Ela não tem nada de extraordinário, ela simplesmente é aconchegante e super arejada. Bem clarinha, tem bastante plantas, não na varanda só, e sim no quintal. Ela me transmite uma paz tão boa que é isso que me cativa. Relato de procedimento Uma coisa que eu faço muito bem é Bolo de Cenoura vou explicar: Eu pego 3 cenouras médias, descasco elas e corto-as em pedaços pequenas. Bato no liquidificador com 3 ovos, um copo de óleo só. Depois, eu pego uma vasilha e despejo os ingredientes lá acrescento 3 copos de açúcar 4 copos de farinha 1 colher de fermento em pó Bato e levo ao forno já quente. depois faço a calda de chocolate. 6 colheres de nescau 2 colheres de açúcar

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1 copo de leite 1 colher de sopa de manteiga. e depois todos comem Bem satisfeitos. Relato de opinião 9 9 Eu no momento estou passando por uma fase que eu nomiei de “crise religiosa”, pois eu estou aprocura de uma religião voltada para Deus e com alguns objetivos meus sobre religião mas eu tenho muito que aprender e compreender para eu definir o que é certo do que é errado. Eu acho que Religião é aquilo em que a gente bota fé e tem fé que tudo que você quer vai acontecer. Resumindo, sua própria religião e sua própria fé. É eu tenho fé que deus existe e ele está sempre dentro de mim. Está e minha Religião. Informante 16: Isabel Sexo: feminino Idade: 18anos Data da coleta: oral- 11/93; escrita- sem registro PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: Isabel... conta pra mim... uma história que tenha acontecido com você... que tenha sido interessante... I: bom... uma vez eu estava fazendo uma prova... aí:: a professora dividiu todo mundo na sala e tal... separou as mesas... tudo direitinho... e eu estava fazendo legal... eu sabia tudo... tinha estudado... aí e/ eu sentava encostada na parede... tinha mania de ficar de lado... aí eu estava sentada de lado... distraída... de repente a professora passou e começou a recolher as provas... a minha e da menina que estava atrás... eu achei que tivesse acabado o tempo... não sei... aí ela virou pra mim e falou assim “pode sair... vocês estavam colocando...” eu levei um susto que... eu não estava colocando... a menina de trás... acho que estava olhando pra minha prova porque eu estava de lado... estava dando pra ela ver... mas eu não estava com a intenção de colar... eu saí... né? fiquei aborrecida e tal... aí eu cheguei em casa chorando... triste... nunca tinha acontecido isso comigo... a minha mãe falou “ah... vai lá... fala com a professora que você não... não estava colando... não teve culpa...” aí no dia seguinte eu voltei lá... falei com a professora e... resolvi tudo... expliquei direitinho... aí ela deixou fazer a segunda chamada... aí eu fiz a segunda chamada e até que eu tirei uma boa nota na prova... ela viu que tinha nada a ver... que eu não estava colando... aí ela pediu desculpa e... ficamos amigas... Narrativa recontada E: ahn... ahn... agora... conta pra mim uma história... que tenha ocorrido com alguém que você conheça... que seja interessante... I: interessante? uma vez... minha irmã foi pra Paquetá com os amigos... aí eles alugaram bicicleta lá e resolveram... conhecer a ilha... aí ficaram andando na beira da praia... só que aí acabou a praia... eles resolveram entrar numa outra rua... pra ver se saía do outro lado... né? aí eles acabaram se perden::do... aí minha irmã caiu da bicicle::ta... aí começou a brigar com um colega meu também que estava lá::... eles fizeram uma confusão::... aí depois de muito andar lá pela ilha eles conseguiram... ver tudo da ilha porque estavam perdidos procurando... aí eles voltaram... aí eles ficaram contando... né? que foi super chato e tal... E: tua irmã? isso aconteceu com a tua irmã?

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I: isso aconteceu com a minha irmã... Descrição de local E: ahn... ahn... agora... descreve pra mim o lugar onde você mais gosta de ficar... I: eu gosto de ficar no quarto da minha mãe... que lá tem a televisão... eu fico deitada na cama vendo televisão... a televisão fica assim num canto em cima... aí tem o som também que fica embaixo da televisão... dá pra ouvir lá... lá é silêncio que é/ aí tem também telefone qualquer coisa que eu precise... falar com um amigo... qualquer coisa tem o telefone... tem a penteadeira dela que eu adoro as coisas dela... tudo/ perfume... maquiagem... essas coisas... o armário... o armário também é grande... aí às vezes eu coloco as minhas coisas no armário dela... fica no canto... E: só? 9 9 I: é:: Relato de procedimento E: ahn... ahn... agora... eu sei que você sabe fazer alguma coisa... me conta o que você sabe fazer... né? como que se faz... I: ah... eu gosto de fazer... sobremesa... gosto de fazer mousse de gelatina... você... faz a gelatina normal... aí coloca na geladeira... aí depois que tiver mais ou menos dura... você tira... bate no liquidificador... aí coloca uma lata de creme de leite... uma lata de leite condensado... aí bate... bate... aí quando tiver bem misturado você coloca nas forminhas e põe pra gelar... aí depois é só ficar pronto... E: é... tá bom... Relato de opinião E: agora:: o que você acha da crise educacional? I: crise educacional? difícil no país inteiro... né? mas também:: eu acho que precisa ter uma conscientização de todo mundo... da população... dos professores também... que tem muito professor que não quer nada... tipo finge que ensina pra alunos que fingem que aprendem... também é o problema dos salários dos professores... que eles ganham mal::... a escola... a estrutura física da escola também está muito abandona::da e tudo e também eh::... é o que o governo quer... né? que ninguém aprenda nada pra não... não poder reclamar... essas histórias... é comodismo pra eles... terem uma educação ruim no país... aí eu acho que a gente tem que tomar conscientização disso pra poder... lutar pelo nossos direitos e lutar contra o governo que está do jeito que está... roubando tudo... acabando com o país... né? inflação.... salários... de todo mundo de um modo geral... acho que é isso... E: tá bom... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Foi um incidente. Uma vez eu estava numa prova, sentada normalmente resolvendo as questões, ou achava que estava tudo normal, eu sabia tudo. Eu sabia tudo, mas minha colega que estava atrás de mim não. Eu sentada de lado, encostada na parede, não percebi a menina olhando desesperadamente para minha prova. Só percebi quando a professora passou recolhendo as duas provas. Primeiro pensei que o tempo tinha acabado e ela estava com pressa. Depois é que entendi, a professora tirou nossas provas porque achou que estavamos colando. Saí de sala muito triste. Depois de me acalmar voltei para falar com a professora. Ela resolveu

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me dar uma segunda chamada. Eu tirei uma boa nota e ficou provado que a culpa não era minha. Desde então, a professora e eu, ficamos amigas. Narrativa recontada Num desses verões minha irmã e um grupo de amigos resolveram ir à Paquetá, passar um dia lá. mas acabaram se perdendo. Minha irmã conta que eles alugaram umas bicicletas e foram conhecer a ilha. Só que acabando a praia eles entraram numa rua achando que voltariam a praia, se enganaram. Minha irmã caiu da bicicleta e começou a chorar, nervosa ela gritou com o Sandro, um amigo dela, dissendo que ele era o culpado por ter entrado em uma rua que não conhecia. Depois de muitas voltas eles acharam o caminho de volta, ainda a tempo de pegar a barca das 4:00 H. No dia seguinte eles me contaram essa história, e todos rimos muito. Descrição de local Um dos meus lugares favoritos é o quarto dos meus pais. Lá eu posso ficar sossegada, posso ler e estudar em silêncio. Tem a televisão que dá pra ver deitada, o som, o telefone. Tem o armário que eu às vezes uso para guardar minhas coisas. Os perfumes da minha mãe que eu 9 9 adoro. Enfim o quarto da minha mãe que eu adoro. Enfim o quarto da minha mãe é o meu lugar preferido. Relato de procedimento Gosto muito de fazer um mousse especial. É só preparar a gelatina normalmente e deixar gelar um pouco. Depois bato ela no liquidificador e acrescento uma lata de leite condensado e uma lata de creme de leite. Quando tudo estiver bem batido, é só colocar nas forminhas e levar a geladeira até ficar duro. Aí pronto, é só comer. Relato de opinião A crise educacional do Brasil é grave em todos os níveis. Enquanto não houver uma conscientização por parte da população e mesmo dos professores, as escolas continuarão sendo construções sem função. É dever de todos principalmente de nós futuros professores não esperarmos um futuro melhor e sim fazer este futuro melhor. Desenvolvendo um trabalho de humanização e conscientização dos deveres e direitos de nossos alunos. Para que estes sejam os primeiros da “sociedade” em construção. Informante 17: Jean Sexo: masculino Idade: 18 anos Data da coleta: oral- 30/06/93; escrita- 30/06/93 e 02/07/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: eu estou aqui com Jean... da escola Estadual Gomes Freire... Jean... conta pra mim uma história que tenha acontecido com você... e que tenha sido ou muito engraçada... ou triste... algo que tenha acontecido contigo e que você queira comentar... comigo... I: história engraçada? ((pigarro)) bem... eu estava fazendo o cerimonial do aniversário da minha prima... participava eu... minha irmã... mais duas primas minhas... aí... fomos organizando durante o dia... escrevi o ce/ escrevi o cerimonial todo... todas as partes do cerimonial... escolhi as pessoas que seriam... assim... apresentadas na festa... iam ganhar as rosas que a minha prima

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ia dar e tudo o mais... quando chegou na hora do cerimonial... aí o rapaz do som armou o som... tudo... escolhemos a música... tudo direitinho... na hora do cerimonial mesmo de falar... quem ia falar? eu... aí... comecei a falar... ninguém entendia nada do que eu falava... fiquei nervoso na hora... não sei... minha voz... ficou assim... acho que ficou grossa demais... maior chiadeira no microfone ((riso)) todo mundo olhando assim... ninguém entendia nada... gente pertinho de mim assim... todo mundo pertinho da caixa de som... ninguém entendia nada do que eu falava... aí... fui falando... falando... até a hora que eu não agüentei mais falar... aí passei pra outra pessoa... aí... quando eu passei pra minha prima... ela também foi falando... foi a única pessoa que entendeu... porque o restante do pessoal também ((riso)) nin/ E: ninguém entendeu? I: ninguém entendia nada do que ela falava... com a/ acho também que o som estava com problema... ficou maior bagunça... até mesmo na fita... também... de aniversário assim... nin/ não dá nem pra entender... filmou tudo... né? aí você ouve... só aquela chiadeira... mas não sabe do que a pessoa estava falando... E: tá bom... Jean... Narrativa recontada E: agora conta pra mim... uma história que alguém tenha contado pra você... que você tenha achado engraçado... né? ou triste... que tenha acontecido com alguma pessoa... que ela tivesse contado pra você... que você se lembre... I: bom... uma história que alguém contou pra mim... né? sei::... tem uma amiga minha... precisa falar o nome? é uma amiga minha chamada Luana... ela/ é só ela... o irmão dela... a mãe... e 1 1 tinha o pai dela... né? o pai dela/ eles moravam em Nova Iguaçu... e tal... assim... não se davam bem com a família deles que mora... até aqui na Penha mesmo... o pai dela morreu... estava/ ficou doente... aí o pai dela morreu... ela era muito agarrada com o pai dela também... né? e... assim... ela sofreu muito... né? ficou assim... mais de... mais de um mês assim... em depressão... naquela coisa toda... assim... é/ de certa parte normal... né? na pessoa... também... quando gosta assim... do pai e da mãe... aí ela ficou muito triste... né? e... depois ela foi obrigada a sair de lá de Nova Iguaçu... de onde ela morava... teve que vir pra Penha... morar aqui... junto com os parentes dela... hoje ela mora... na casa da tia dela... aí ela já... já está doida pra sair de lá... não agüenta mais com aquilo... assim... não vou dizer que a tia dela é chata... né? e tudo mais... assim... você sentir que você tinha sua/ sentir que você tinha a sua casa... e... depois ter que morar... na casa dos outros... aí é maior barra... né? E: é... tá bom... Descrição de local E: agora conta pra mim... Jean... eh... sobre o local que você mais gosta de ficar... fala... descreve o local pra mim... como que ele é... né? onde você gosta de ficar... I: ah... onde eu gosto de ficar? na sala da minha casa... por quê? tem um som... que agora eu adoro... ((riso)) agora não... eu sempre gostei... tem o som... tem a televisão também que eu adoro assistir... tem... um aquário... que eu mesmo cuido... lavo... ponho... ponho comida pros peixes... adoro mexer com aquário... e... tem o sofá lá... que eu fico deitado... chego de

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madrugada assim... ligo a televisão fico vendo... esqueço a televisão ligada também... às vezes... E: é grande? I: é... bem espaçosa... sim... a sala... o espaço... tem os quadros... com retrato do... dos meus primos... meu afilhado também... o retrato da minha prima... Ana Luisa... e... tem mais o que na sala? tem uma mesa bonita... com detalhes em/... é mesa feita de mármore... com detalhes assim... pedras cortadas de mármores... formaram uma flor... sabe? bonita pra caramba... E: tá bom... Relato de procedimento E: agora conta pra mim... Jean... eh... o que que você sabe fazer... né? e como é que se faz isso... eu quero que você descreva... o que você sabe fazer... pra mim... I: ih... oh... eu sei fazer macarrão... E: como é que faz ... então? I: ah... macarrão... do jeito que eu faço? é fácil... você põe o macarrão pra... cozinhar... na água... você espera/ bota a água no fogo... deixa a água ferver... aí tu vai... bota um pouquinho de óleo... aí depois tu põe o macarrão lá... aí deixa ficar dez minutos... cozinhando... você tira o macarrão... põe no escorredor... abre a torneira... tira um pouquinho daquela... daquela gosma mesmo do macarrão que fica... enquanto isso você põe uma panela no fogo... com um pouco de ó/ de óleo não... com um pouco de manteiga... e... alho... alho socado... aí deixa o alho ficar bem dourado... depois... joga o macarrão... depois que tu jogou o macarrão... aí tu vai mexendo... mexendo... mexendo... só assim que tu faz... depois tu põe num tabuleiro... aí põe::/ cobre o macarrão com... com... fatias de muzzarela... e leva ao forno... aí deixa a muzzarela derreter todinha... depois que já tiver pronto o macarrão... você pre/ põe numa vasilhinha pequena... maionese... ketchup... e... mis/ maionese... ketchup e mostarda... mistura tudo aquilo... e quando você for comer o macarrão... você põe um pouquinho daquele molho de maionese... ketchup... e mostarda... em cima do macarrão... fica uma delícia... E: mas... você coloca sal também? no macarrão? I: no macarrão também sal... esqueci desse detalhe... E: tá bom... deve ficar gostoso... né? I: deve não... fica ((risos)) E: então tá... Relato de opinião E: e... agora pra terminar... Jean... eu quero que você comente pra mim... né? o que você acha sobre a amizade... 1 1 I: ((tosse)) bem... amizade eh... assim... a gente precisa de amizade... né? porque a gente não pode... viver nesse mundo sem amigos... né? então... é muito importante... pra gente... assim... ter uma amizade sincera... né? fiel... assim... sincera que eu digo assim... você chegar... poder falar o pessoal... eh... “não gostei disso que você fez...” abertamente... entendeu? e a pessoa também poder chegar assim... fazer críticas... e você... aceitar aquelas críticas e... até analisar... né? E: é... I: num certo ponto que... pode ser... bom pra você... receber essas críticas... porque aí você pode

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ir modificando... né? tentando se adaptar ao meio onde você vive... e... porque também assim... vamos supor... poxa... eu quero sair... às vezes não tenho com quem sair... aí eu lembro o quê? tenho amigos... aí procuro eles... e só saio com eles... só saio com eles... e não saio pra outro lugar... não/ assim... sem meus amigos... gosto muito de fazer amizade... tenho facilidade também... onde chego assim... sou bastante comunicativo... então eu chego... faço amizade rapidinho... e não esqueço dos meus amigos não... estou sempre ligando pra eles... sempre procurando eles... E: é... isso é importante... né? I: e... procuro ser assim... fiel também às minhas amizades... né? procuro ser legal com todo mundo... ajudar... na hora que a gente mais precisa é que a gente conhece os nossos verdadeiros amigos... né? E: é... I: assim... quando a gente tá na pior... (numa fase) que a gente conhece... conhece os verdadeiros amigos... E: tá... muito obrigada... tá... Jean... pela sua entrevista.... I: de nada... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Uma história alegre que aconteceu comigo Era o aniversário de minha e eu estava encarregado de escrever o cerimonial, fiquei o dia inteiro escrevendo e escolhendo as pessoas que seriam agraciadas e as que iriam falar. O engraçado da historia é que, quando começou o cerimonial eu fiquei nervoso minha voz acho que engrossou demais, e acho que o som também sem sintonia perfeita ninguém entendia o que eu falava era uma barulhada só. Então resolvi passar p/ outras pessoas falarem que seriam minha irmã e duas primas, só uma porém consegui falar direito pois o restante ficaram igual a mim uma barulhada e pior eram os convidados que mesmo perto das caixas de som não entendiam nada do que falávamos Narrativa recontada História triste que alguém me contou. Uma amiga minha chamada Luana, que vivia c/ os meus pais e seu irmão lá em Nova Iguaçu. Seu pai adoeçeu e logo veio a falecer, eles viviam afastados do restante da família por causa dos atritos, mas logo tiveram que ir morar na casa de uma tia que não dizendo que é má sempre solta umas piadas. Além de tudo está a perda do pai nós aprendemos a conviver com isso mas realmente bem lá no fundo acho que ninguém aceita, a Luana ficou algum tempo em depressão mas ja superou esta fase. Relato de procedimento Uma coisa que sei fazer. Bem sei fazer um macarrão legal, primeiro põe a água pra ferver, quando estiver fervendo coloca-se um pouco de óleo e o macarrão deixe dez minutos, coloque-o no escorredor e lave com água fria; enquanto isso ponha uma panela no fogo com alho socado e 2 ou três colher de manteiga e um punhado de sal deixe o alho ficar dourado jogue o macarrão mexa bem depois coloque em um tabuleiro e cubra-o com mussarela, pincele a mussarela com azeite e jogue orégano e leve ao forno até a mussarela ficar bem derretida, enquanto isso pegue uma 1

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1 xícara e coloque 2 colheres de sopa de maionese, um pouco de catchup e mostarda misture bem. Quando for servir o macarrão coloque um pouco deste molho por cima fica delicioso. Descrição de local Descrever um lugar que gosto. A sala de minha casa, porque tem um som maravilhoso particularmente adoro música, um aquário que eu mesmo cuido, com muita presteza a sala é bem espaçosa tem dois sofás um três lugares e outro de dois uma mesa de centro e uma para refeição, que por sua é linda é feita de marmore da própria em formato de ramo de flor é muito linda Relato de opinião Falar sobre amizade. É uma das coisas mas importante da nossa vida e é importante a ela ter fidelidade, sinceridade, e aceitar através dos amigos as criticas que lhe são feitas pois com base nestas nós podemos nos moldar e melhorar p/ nós mesmos e p/ a sociedade. Informante 18: Márcio Sexo: masculino Idade: 16 anos Data da coleta: oral- 28/04/93; escrita- 29/04/93 e 30/04/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: eu estou aqui com Márcio... do Centro Tecnológico Estadual Ferreira Viana... Márcio... me conta uma história... que tenha acontecido com você... e que você assim tenha achado engraçado... ou triste... ou constrangedor... alguma coisa que tenha acontecido contigo... I: olha... uma coisa que aconteceu... engraçado comigo... foi quando eu estava em Poços de Caldas passeando... né? aí eu estava num hotel... aí tinha subido pra... pra tomar banho porque a gente ia embora naquele dia... aí... bati na... na porta do hotel pra... pra fazer... meu irmão... o pessoal abrir a porta... né? aí pra/ fui correndo me esconder deles... nisso que eu fui correndo... o vidro da... da varanda que tinha no corredor estava limpinho... a mulher tinha acabado de limpar... passei direto pelo vidro... quebrou tudo ((riso)) foi um desespero... chamaram a... a moça e tudo da excursão... aí veio... fez curativo... tive que... tomar um ponto e tudo... o cara lá da... da supervisão do hotel... veio também... perguntar o que que tinha acontecido... foi o maior... o maior auê... E: tá bom... Narrativa recontada E: e... Márcio... você... eh... lembra de alguma história que alguém tenha contado pra você... e que você tenha achado muito engraçado ou triste? I: lembro... meu pai num... num dia/ meu pai é motorista de táxi estava... passando pelo Aterro... aí um... moço fez um sinal pra ele... aí falou que estava dentro do ônibus... e os assaltantes levaram o salário dele... tinha acabado de receber... levaram o dinheiro dele todo... né? aí... mandaram ele soltar ali porque ali no Aterro não tem nenhum sinal... nenhum ponto de ônibus... aí::... ele... ele fez sinal pro meu pai... meu pai parou... aí fo/ contou a história ao meu pai... pediu pro meu pai parar na frente do ônibus... né? e pra ajudar ele... meu pai conseguiu

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ultrapassar o ônibus... parou na frente do ônibus e pediu pra ele soltar... pra ele... chamar algum polícia... alguma coisa... né? aí... o cara “não... não... o senhor vai comigo...” que não sei o quê... aí o meu pai “não e... e... os policiais/ os ladrões estão tudo armado aí dentro do ônibus... eu vou me arriscar? nada...” que não sei o quê... aí ele “não... não o senhor tem que ir comigo...” começou a receber santo “você vai comigo...” ((riso)) aí começou a falar lá pra caramba... meu pai deu-lhe um tapa nele... ele fo... ele foi pra fora do... do carro... caiu do chão... E: e... e... seu pai... eh... bateu nele? 1 1 I: bateu... deu um tapa nele... abriu a porta e... ele caiu lá no chão... ficou lá... E: e aí depois? seu pai foi embora? I: foi embora... arrancou com o carro... e aí ele ficou lá no chão... E: tá bom... Márcio... Descrição de local E: agora... eh... eu quero que você me fale... sobre... eh... o local... eh... que você mais gosta de ficar... ou de passear... qual o lugar assim que você mais gosta? I: é no quarto da minha mãe... que lá tem:: ar condicionado... é uma beleza... né? ficar no fresquinho... tem vídeo-cassete... televisão... que dá pra ficar vendo filmes... né? que eu gosto muito de ficar... sozinho num... lugar... ficar quieto... e até mesmo pra estudar... como... como o lugar... quase não... não fica muita gente... eu fecho a porta... fico sozinho... estudando... eu gosto muito de lá... E: é peque::no? é gran::de? I: não... é grande... dá::/ tem bastante espaço... E: tá bom... Relato de procedimento E: agora... Márcio... eh... o que que você sabe fazer bem? eu quero que você me explique o que que você sabe fazer bem... I: primeiro de tudo... eu gosto muito de estudar... e de fazer... instalação... eu trabalho na Light... né? faço instalação lá... a... a que eu gosta/ até hoje a que eu aprendi... sei fazer melhor... é a instalação de... de três pontos de luz com um interruptor de duas seções... faz várias emendas... né? porque... cada vez aperfeiçoa mais o... o desempenho do... do técnico em eletricidade... e é muito bom... é... bastante desenvolvido o trabalho... e precisa de bastante coisa... né? tudo que você aprendeu... praticamente... e é legal... depois quando você faz a instalação toda... aí é aprovar... você... liga... vê aquela parada funcionando... né? e vê que a luz acende mesmo... aperta um botão... acende uma luz... aperta outra... acende as outras duas... né? eu gosto... eu gosto bastante de fazer... E: mas como é que se faz isso? como é que você en... encaixa os fi::os? I: olha... o/ primeiramente você tem que... marcar... fazer... a localização toda do... do ponto de luz... do... do interruptor... né? e::... você pega um fi... um fio próprio pra isso... que é o fio termoplástico rígido de... de um... um vírgula cinco milímetros quadrados... e liga... né? no... no interruptor tem uma ponte que li/que você vai ligar o fase... né? no caso teria que ter uma ponte pra ligar... de... de um lado o interruptor e pra... pra outro... e liga dois neutros... fica dois

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neutros que vai direto pro ponto de luz... saindo com volta... ligando com ( ) e vem até... o... receptáculo... que você emenda... e faz a::/ coloca a lâmpada... e dá pra... acender... sai tudo normal... E: ah... aí tá bom... tá ótimo... Márcio... Relato de opinião E: agora... pra terminar... eh... eu quero que você me dê a sua opinião... né? o que que você acha sobre... sobre... a família... sobre a amizade... eu quero que você me dê uma opinião sobre... algum desses relacionamentos... I: olha... a amizade pra mim é boa quando... favorece aos dois... né? não adianta só... uma pessoa fazer por você e... e a outra não... né? eu acho que tem que haver uma compreensão... a família a mesma coisa... né? fora de negócio de fofoca... esses negócios todo que a maioria das famílias têm... né? eu acho que... esse negócio não leva a nada... eu acho que a família tem que ser bastante unida... lance de freqüentar... almoço dia de domingo tudo pra... pra cada vez unir mais a família... né? em termos assim de relacionamento com... com alguma garota... deve ter muita cautela... você nunca pode se entregar demais... porque... acaba se estrepando... né? ou a mulher gosta sempre que... que a/ que tenha alguma::/ algum ar assim... de... de... de traição... alguma coisa assim... a maioria gosta... né? ((riso de E)) não pode se sentir... muito... muito dona... do... do cara... elas gostam isso... dá pra... dá pra notar... e... é só você não se entregar demais que... que sai tudo certo... até como numa amizade ou um namoro... 1 1 I: tá ótimo... Márcio... muito obrigada... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Descrever uma estória acontecida comigo. -Uma coisa que aconteceu comigo que me marcou muito foi quando estive em Poços de Caldas, e o grupo da excursão todo ficou no hotel, aí no último dia, antes de irmmos embora eu fui lá no nosso quarto, onde estava meu irmão e meus colegas, e bati na porta e sai correndo pra me esconder deles, só que não vi a porta de vidro da varanda e passei direto quebrando o vidro todo, aí todo mundo ficou desesperado, correram chamaram a moça que organizou a excursão ela fez curativo, tive que tomar uns pontos no braço, mas terminou tudo bem. Narrativa recontada Descrever uma história que alguém tenha contado para mim. -Meu pai num dia pegou um passageiro no aterro e o moço contou a ele que tinha sido assaltado no ônibus e que os assaltantes levaram o salário dele todo, pois ele tinha acabado de receber e obrigaram a ele a saltar do ônibus, ele então pediu meu pai que ultrapassa-se o ônibus, quando o meu pai conseguiu ultrapassar o ônibus ele queria que meu pai solta-se do carro e o ajuda-se a pegar os ladrões, meu pai disse que não ia e ele começou a receber santo dentro do carro, com isso meu pai deu-lhe um tapa e ele caiu para fora do carro, então meu pai pegou e foi

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embora com o carro. Descrição de local Descrever e falar sobre um lugar que eu goste de ficar ou passear. - É o quarto da minha mãe tem tudo que eu gosto e eu fico na maioria das vezes do jeito que eu adoro que é ficar sozinho, ainda mais quando eu preciso estudar não tem lugar melhor. Relato de procedimento Falar sobre o que sei fazer, descrevendo a maneira com que faço tal coisa. Eu gosto de fazer instalação, uma das que eu mais gosto é a de três pontos de luz com interruptor de duas seções, é a que engloba muita coisa que aprendo e quando eu termino e ligo o interruptor e a lâmpada acende é que eu vejo que o que eu aprendi foi legal e que valeu a pena e eu gosto muito. Relato de opinião Dar a minha opinião a respeito da amizade, namoro, Família, ou qualquer outro tipo de relacionamento. A família para mim tem que ser bastante unida, a amizade só é legal quando ninguém está sendo prejudicado e no namoro a pessoa nunca pode se entregar demais é como se fosse um jogo, nunca mostra o que tem por baixo da manga, se não acaba perdendo. Informante 19: Maria de Fátima Sexo: feminino Idade: 22 anos Data da coleta: oral- 11/93; escrita- sem registro PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: Fátima... conta pra mim uma história que tenha acorrido com você... que tenha sido interessante... triste ou alegre... I: bom... foi interessante o que aconteceu comigo num tempo atrás... mas também foi triste... numa parte foi triste... interessante porque... eu:: eu tenho dois filhos... a minha mais velha está 1 1 com seis anos... e eu não pretendia ter mais filhos... entendeu? era só ela e ia ficar só nela... mas como os anticoncepcionais que eu tomava estavam me fazendo mal... eu:: tive que interromper... a doutora pediu que eu interrompesse o anticoncepcional... aí nessa que eu interrompi... eu engravidei... da minha segunda filha... conclusão... eu engravidei:: aí continuei estudando... eu estava estudando... continuei estudando... e tal... mesmo grávida... eu fui até o final da gravidez... eh:: estudando... aí quando a minha filha mais nova nasceu... eu procurei uma pessoa pra tomar conta dela... e não encontrei... primeiro porque ela/ eu amamentava... não tinha como deixar... com ninguém porque ela mamava e tudo... no peito... como é que eu ia fazer? deixar ela com a pessoa... aí dava a hora dela mamar... eu não estava perto... como ia ser? e também não encontrei ninguém que pudesse... me ajudar... né? nesse ponto... aí o que que eu fiz? tive que interromper... os meus estudos... isso ano passado... eu ia terminar os estudos ano passado... eu tive que interromper... fiquei super triste... porque:: era turma/ uma turma que/ super querida... todo mundo se dava bem:: e tudo... eram super amigos... e:: já vinha desde o

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primeiro ano todo mundo juntinho e tal... íamos terminar todos juntos... eu tive que interromper... com isso arrasou... eu fiquei super arrasada... mas consegui levantar porque o pessoal que terminou ano passado me deu maior força pra eu voltar esse ano e terminar... porque era o último ano:: eles me deram uma força incrível... e:: eu estou aqui... já terminando... graças a Deus... com as forças dos meus amigos... e com a minha boa vontade também... Narrativa recontada E: tá... agora... Fátima... conta pra mim uma história que tenha acorrido com alguém que você conheça... que tenha sido interessante... triste ou alegre... I: ah:: uma coisa triste que aconteceu... foi::... não/ foi com meu marido... e com meu compadre... eles estavam saindo da minha casa... meu marido estava saindo da minha casa... da nossa casa... pra levar meu compadre... em casa... aí no caminho eles viram um assalto... os dois são policias... aí no caminho eles viram um assalto... viram dois rapazes assaltando uma senhora... roubando o carro de uma senhora... aí:: eles interferiram no assalto... houve troca de tiros... isso... a minha comadre... mais tarde também me contou... houve trocas de tiros... eles perseguiram os assaltantes... os assaltantes saíram do carro... trocaram tiros com eles... meu compadre foi atingido... nessa troca de tiros meu compadre foi atingido... então eu achei uma coisa super triste porque::... o meu compadre é como se fosse meu irmão... ele é muito ligado na nossa famí::lia... e tudo::... depois eles contando... eu fiquei... super triste... preocupada também... né? porque... o que poderia ter acontecido... né? ele poderia ter morri::do... o meu mari::do também... eu acho que ele ((tosse)) não deveriam nem ter interfirido... primeiro porque eles não estavam... de serviço... estavam... em:: hora de lazer... então não deveriam ter interfirido mas... sabe como é que é... policial... ( ) mesmo não estando em serviço... se ver alguma coisa errada... vai... interfere... interrompe... eu achei super errado mas... (tudo bem)... graças a Deus não aconteceu nada... Descrição de local E: Fátima... descreve pra mim o lugar onde você mais gosta de ficar... I: o lugar que eu mais gosto de ficar? é no meu quarto... que é a parte... da minha casa... mais tranqüila... mais sossega::da... e:: onde tenho minhas coisas íntimas... a minha ca::ma... que eu ado::ro... o poster da minha filha... que eu fico admirando quando eu estou deitada na minha cama... eu fico admirando o poster dela... que fica ao lado direito da minha ca::ma... meu reló::gio... que fica ao lado esquerdo... em cima da mesinha de cabecei::ra... a minha cômoda que eu guardo meus perfu:: mes... que fica do lado esquerdo também... guardo os meus perfumes... guardo as minhas escovas de cabe::lo... o meu guarda-roupa que fica em frente a minha ca::ma... os tape::tes que ficam um de um lado outro do outro... a minha corti::na... de ren::da... eu acho bonita... linda... eh::... o cesto de roupa também... que eu guardo as roupas... não passadas... tem vez que eu lavo... depois eu deixo pra passar... eu guardo dentro desse cesto... e:: o cesto fica do lado do meu guarda-roupa... só isso... Relato de procedimento 1 1 E: tá bom... obrigado... ago::ra eh... você sabe fazer alguma coisa? o quê? você vai contar pra mim como é que que se faz isso... né? o que você sabe fazer... I: ah:: eu sei fazer uma torta gelada... é uma delícia... aprendi com a minha sogra... ela que me ensinou essa torta... ( ) e quando eu faço geralmente eu faço nos finais de semana... está todo mundo em casa... e tudo... né? aí eu faço geralmente nos finais de semana que todo mundo em

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casa... e eles gostam... a minha família gosta... aí eu faço... como eu faço... eu pego:: leite condensado... bato no liqüidificador com duas gemas... depois levo ao fogo... um bocadinho de:: Cremogema... aí mexo... vou mexendo até virar um mingau... depois que forma aquele mingau... deixo esfriar um pouquinho... e na massa pra forrar a forma... eu faço uma massa de empada... aquela/ é feito uma massa de/ é feito uma massa de empada... aí forro a forma com massa de empada... jogo aquele creme por cima... depois jogo coco ralado ou então boto umas maçãs... boto em volta... boto na geladeira... e espera gelar... é muito gostosa... Relato de opinião E: agora:: o que você acha da escola... dos professores... da política atual e da crise educacional? I: na escola/ na minha escola... tá:: caidinha... né? tá precisando de uma reforma... mas o estado... não colabora em nada... os professores se queixam e tudo... tem professores muito bons aqui... mas que estão saindo do colégio por falta de material... por falta de apoio do próprio estado que não ajuda... não colabora... entendeu? e quem sofre com isso tudo somos nós... os alunos... crise educacional... o país está:: ruim... e vai daqui pra pior... eu acho que não vai melhorar enquanto tiver essa política de... corrupção... safadeza... que eu acho isso uma safadeza... entendeu? porque os políticos só pensam neles... e mais ninguém... e os que precisam realmente que se lixem... se tiver estudo pra eles... ótimo... se não tiver melhor ainda... então eu acho que essa crise educacional vai daqui pra pior... não vai ter apoio mesmo dos políticos... de ninguém... se a gente não lutar... nós.... alunos... né? nós... pais... se nós não lutarmos pra melhorar... ( ) E: ahn... ahn... tá bom... obrigado... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Tenho duas filhas a mais velha está com seis anos. Não pretendia ter mais filhos, quando voltei a estudar, mas como os anticoncepcionais estavam me fazendo mal tive que interromper, nessa interrupcão é que eu engravidei da minha segunda filha, mas mesmo assim continuei a estudar, terminando assim o meu segundo ano. Quando a minha caçula nasceu fiquei em casa um mês voltando a escola em maio de 92, mas infelizmente não pude continuar, pois estava amamentando e não tinha encontrado ninguém para tomar conta das minhas filhas. Fiquei super triste, pois adorava a minha turma de sala, eram pessoas que tinham começado junto comigo desde o primeiro ano, fora isto estava anciosa para terminar os estudos, pois este ano estaria trabalhando, era o que eu tinha em mente. Por isso que eu acho que foi triste. Mas com tudo isso os amigos me deram maior força para eu voltar este ano e terminar o segundo grau. E estou aqui novamente já prestes a terminar Graças a Deus. Narrativa recontada Vou contar o que houve com meu marido e compadre que são policiais. Num domingo a noite meu marido foi levar meu compadre de carro em casa, durante o caminho viram dois rapazes assaltando uma senhora e levando o carro dela. Eles então foram e interfiriram no assalto houve perseguição e troca de tiros entre meu marido, meu compadre, e os bandidos. Meu marido contou que quando chegou em uma praça bastante movimentada os bandidos largaram o carro e fugiram a pé, pois o combustível do carro deles tinha acabado, foi então que continuou a perseguição a pé e na troca de tiros meu compadre foi atingido. Nessa hora houve um corre corre tremendo de pessoas que estavam com seus filhos nos brinquedos da praça.

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Nessa altura alguém chamou a patrulha que chegou rapidamente e conseguiu pegar os dois bandidos. Meu marido me contando eu acho uma coisa triste pois já se ele e meu compadre morrem no tiroteio? 1 1 Descrição de local O lugar que mais gosto de ficar é o meu quarto, porque é sossegado, tem a minha cama que gosto de deitar, tem o poster das minhas filhas que ficam a direita da minha cama, o meu relógio despertador que fica a esquerda da minha cama em cima da mesinha de cabeceira. Oduplex que fica em frente a minha cama, os tapetes que ficam de um e de outro da cama, a minha cortina branca de renda. Por isso é o lugar que mais gosto de ficar. Relato de procedimento O que eu sei fazer é uma torta gelada é a minha especialidade. Quem me ensinou foi a minha sogra. A massa é de empadão, depois da massa pronta, faz-se um mingau de leite moça e cremogema, derrama este mingua na massa cozida, enfeite a torta com a fruta que quizer, geralmenta, faço de côco ou maçãs. Relato de opinião Adoro minha escola mais infelizmente anda super caída, precisando de uma reforma geral inclusive na reposição de material escolar, pois também o governo não se preocupa em ajeitar a escola, não investindo nenhum pouco no ensino de forma geral. Mas eu gosto muito dela. Porque também tem meus amigos na sala que me ajudaram muito. Eu acho que o ensino não vai melhorar assim de uma hora para outra, mas vai daqui pra pior. E se nós alunos não fizermos alguma coisa contra isso vai ficar tudo acabado mesmo. Informante 20: Roney Sexo: masculino Idade: 19 anos Data da coleta: oral- 11/93; escrita- sem registro PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: Roney... conta pra mim uma história que tenha acontecido com você... que tenha sido interessante... I: é... aconteceu foi... onde é que eu trabalhava... eu trabalhava no centro da cidade... né? então eu pegava trem... e eu peguei esse trem::... era o Deodoro... e na altura assim eu acho que foi de Riachuelo... por ali ele tem que parar num... num desvio... né? na qual vem um outro trem e corta na frente dele nesse desvio... então nesse dia eu não sei nem o que foi que aconteceu que... ele parou no desvio mas parou com/ deixou um bico pra frente... né? e... e... eu nisso estava no primeiro vagão... né? isso eu estava no primeiro vagão... e o vagão cheio... de gente... e aí eu/ ficou esse bico... quando o outro trem cortou na frente dele... bateu no... no bico do trem que eu estava no primeiro vagão... e começou a balançar o vagão para um lado e para o outro... e eu estava segurando/ eu estava ali em pé segurando naquela chupeta... aí eu... sem entender... eu estou vendo aquele tumulto vindo na minha direção... e quando eu dei por conta... pô... só estava eu e uns... dois no/ naquele vagão... a gente ficou preocupado... ficava olhando para um lado e para o outro todo assustados pra ver/ não sabia o que fazer... se corria para um lado e para o outro... que o vagão era pequeno... aí o trem saiu... saiu... saiu... quando chegou na outra

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estação... todo mundo soltou e... nós olhamos assim na frente do trem... tinha um buraco... né? o bico dele tinha ficado na frente... mas graças a Deus não aconteceu nada... né? mas foi uma história assim interessante comigo que... eu me lembro até hoje... E: ahn... ahn... I: essa foi a história... Narrativa recontada E: agora... conta pra mim uma história que tenha aco... acontecido com alguém que você conheça... que seja interessante... 1 1 I: eh... foi com um colega meu... que aconteceu... ele teve me contando... que... era um cara que ele gostava pouco de cortar cabelo... né? ele ia poucas vezes no barbeiro... né? então teve um dia que ele foi no barbeiro... ele estava sentado... aí pagou o cara logo antes de cortar... aí o cara começou a cortar... inclusive até um senhor de idade... né? estava cortando... cortando o cabelo dele... e ele está lá... sentado... né? daqui a pouco... o barbeiro foi e se levantou... e entrou numa salinha... né? e ele pensou que o barbeiro já tinha acabado de cortar o cabelo dele... né? na verdade o barbeiro tinha ido lá dentro ido amolar ((riso de E)) a tesoura... né? aí ele foi embora... ele disse que foi embora... chegou em casa... na rua todo mundo rindo dele... quando ele foi ver... o cabelo dele só estava cortado pela metade... ele me contava essa história/ foi engraçada porque eu ria muito... né? que aconteceu com um colega meu... essa foi a história... E: ahn... ahn... Descrição de local E: agora... descreve pra mim o lugar onde você mais gosta de ficar... I: eh... o lugar onde eu mais gosto de ficar é no meu quarto... né? na verdade não é meu quarto... é meu e do meu irmão... né? tem uma beliche assim... logo na entrada na porta... do lado... perto da janela tem uma beliche... né? eu durmo em cima... ele dorme embaixo... e nós temos um armário... sabe? assim... mais pra trás da beliche encostada na parede... onde nós guardamos nossa roupa... fica até um pouco bagunçado... que é armário de homem a gente pega joga ali dentro... e o quarto não tem muito espaço não... porque também em frente a essa beliche... do lado desse armário... tem uma outra estantezinha... né? onde a gente bota livro... a gente toca ali... eh... deixa o nosso instrumento... violão... um radiozinho onde a gente... às vezes costuma ficar escutando... temos apenas um circulador... e às vezes até diminui... porque quando está calor... chega a diminuir o quarto mais ainda... por ser ele pequeno... ainda fica mais espaço do circulador... que a gente bota uma cadeirazinha... bota ele em cima de uma cadeira pra dividir por dois... né? quando um dorme em cima e o outro dorme embaixo... tem um... um quadrozinho assim em frente... né? que às vezes eu crio... eu gosto de criar assim algum quadro com papel... e ele gosta de espalhar... às vezes assim em cima da minha beliche... inclusive ele até botou um quadro do Van Damme... até tirei ele da beliche e botei ele mais pra frente... e tem pouco espaço... esse quarto não é muito grande não... mas dá pra dividir pra duas pessoas... E: ahn... ahn... Relato de procedimento

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E: agora:: eu sei que você sabe fazer alguma coisa... né? conta pra mim como você faz isso... I: o que eu sei fazer é programar... sou programador... gosto de mexer principalmente em linguagem D-Base... você vai... você liga o computador... você pega um disquete... se o computador não tiver um winchester nele... se a linguagem não tiver permanente nele... você tem que carregar pelo um disquete... então está gravado no disquete... você pega o disquete... você coloca no drive... você carrega esse disquete... né? através de um comando... no caso se for o D-Base... você coloca D-Base... aperta enter... a linguagem entra... se você quiser gravar... num disquete os dados... dessa linguagem... você pode no caso formatar esse disquete... ou então se o disquete já for formatado não é necessário essa formatação... e na montagem do programa é simples... tá... quem já mexe há muito tempo... você entra... você pega os comandos... na linguagem existem vários tipos de comandos... pra vários tipos de funções... é como se fosse o alfabeto... você pega uma letra com uma outra letra... você ajunta... vai dar um significado... no computador é a mesma coisa... como por exemplo... eu pego o comando Arroba mais o comando... Say... abro aspa... escrevo algumas coisas dentro da aspa e aperto o enter... se eu carregar esse programa... no caso ele vai imprimir tudo o que tiver dentro das aspas... no caso desse comando Say tem essa função de imprimir tudo que tem dentro das aspas... então são vários tipos de... funções e vários tipos de comando... eu posso montar um comando de contabilidade... um programa de contabilidade... eu posso montar um programa de cálculos juro de arquivo... vai da preferência da pessoa... e é isso que eu gosto de fazer... programação... isso que eu [gosto] de mexer... I: [ahn... ahn...] 1 1 Relato de opinião E: agora:: o que você acha da crise educacional? I: eh...a crise educacional no Brasil... realmente está... muito atrasada... né? principalmente num país subdesenvolvido... realmente não há apoio... né? você estuda num colégio... não há uma preparação... como vou falar? uma pessoa até mesmo em nível de faculdade... de você sair num colégio/ se você tiver estudando num colégio do estado... num colégio do governo... se não for um colégio particular... muitas vezes você está despreparado... às vezes até pela/ pelos níveis de... de professores que tem... às vezes alguns professores trabalham até desinteressado... devido a salários super baixo... e que isso influi muito na... na crise educacional do... do país... né? não há:: um interesse do governo em investir na educação dos países... em pegar/ e montar mais colégio... pegar crianças pobres e dar realmente... aquela assistência educacional pra pessoa... e o... o pobre em si... eh... no... no... no Brasil... ele tem que lutar... e ele... ele tem que passar por várias barreiras... pra chegar a uma/ um nível bom... né? educacional... né? e essa crise... realmente... eu tenho por mim que vem pelos governo... que vem passando... pelos líderes que estão lá no Congresso... sa... sabe? através dessas pessoas que têm autoridade... delas que teriam que vir a::/ o problema... né? a resolução do problema... né? através deles que deveriam vir isso aí... não... das pessoas... né? em... em busca de colégio... de melhoria e... e achava que deveria

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ter... uma... uma melhoria no salário dos professores... como eu falei antes... eu acho que isso tudo influi... né? na crise desse país... E: valeu obrigado... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Eu estava indo para o trabalho, na qual ia de trem para o centro da cidade quando na altura da estação do Riachuelo o trem parou em um desvio quando outro trem cortou e bateu de raspão e o vagão na qual eu estava houve uma correria e quando dei por mim, só estava eu e mais umas duas pessoas e fiquei sem entender o ocorrido. Na próxima estação soltamos e vimos um buraco enorme do lado do trem. Narrativa recontada Aconteceu com um colega meu, na qual ele era uma pessoa que cortava muita poucas vezes o cabelo e estava ele cortando o cabelo no barbeiro e estava a alguns minutos na cadeira quando o barbeiro entrou numa salinha para afiar a tesoura e ele se levantou e foi embora com o cabelo cortado pela metade pensando que o barbeiro já o tinha terminado de corta. Descrição de local Eu gosto muito de ficar no meu quarto, que não é só meu, mas divido com meu irmão na qual também dividimos uma beliche em que eu durmo em cima e ele em baixo, no quarto também tem um armário a onde guardamos nossas roupas e em frente a beliche têm uma pequena estante que colocamos muitas revistas e nossos instrumentos de músicas e na parede do lado da beliche possui vários quadros que costumo criar no computador. Relato de procedimento O que eu sei e gosto de fazer é programas de computador, na qual conheço várias linguagens, para entrar no programa basta colocar o disquete que contém o programa no computador e carrega-lo com o nome do mesmo. No caso do D-BASE basta colocar o seu nome e pressionar ENTER. Um programa de computador é semelhante ao alfabeto na qual pegamos várias letras e formamos uma palavra, assim também e um programa na qual usamos vários comandos como por exemplo: @ 10, 10 SAY “TESTE”, que imprimi na tela tudo que está entre as aspas. Assim vou montando vários programas, de contablidade e outros. 1 1 Relato de opinião Eu acho que o ensino brasileiro está muito atrasado, principalmente por vivermos em um país subdesenvolvido sem nenhum apoio da autoridades brasileira em relação de bons salários para os professores e construção de boas escolas que faz com que acontecer todas essas crizes no ensino. Essa crise influi muito na classe das pessoas pobres na qual enfrentam muitas barreiras para chegarem a um nível bom, principalmente as escolas estaduais que nem se quer faz um preparo bom a nível de faculdade para seus alunos. Eu apenas culpo as autoridades e governos que não apoiam a esse trabalhadores. Informante 21: Suzana Sexo: feminino Idade: 18 anos Data da coleta: oral- 11/93; escrita- sem registro

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PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal E: eh:: Suzana... conta pra mim uma história que tenha acontecido com você... que seja interessante... I: bem... vai/ eh:: a gente ano passado fez uma comissão pra grêmio lá na escola... sabe? e:: essa comissão pro grêmio acarretou sérios problemas a nível/ junto com os professores... e:: até mesmo com o diretor da escola... né? e:: eu tive um problema ano passado com uma professora... de OSPB que era coordenadora... e esse ano ela foi a minha professora... né? então desde o início do ano que começou... um pouco de implicância já... devido ao que ocorreu ano passado... né? então teve uma vez que eu estava na sala... estava a turma toda na maior bagunça e... ela achou que eu estava ocasionando aquela bagunça toda... então:: eu tive que/ ela me tirou do meu lugar e me colocou pra sentar na frente... do lado da mesa dela... só que... passou uns cinco minutos... e a menina que sentava naquele lugar chegou... então eu tive que sair do lugar e fiquei em pé... porque a sala estava toda/ estava cheia... né? e não tinha lugar pra eu sentar... então fiquei assistindo à aula em pé... aí passou um tempo... a professora está explicando... aí eu virei... pra trás e pedi uma caneta pra uma menina que a minha caneta tinha falhado... aí ela veio de grosseria... gritando que eu estava atrapalhando a aula dela desde o iní::cio... que desde o início do ano que eu queria prejudicar... aí ela pegou e falou que da próxima vez ela ia me tirar de sala de aula... e nisso começou me agredir:: e tal... aí... eu simplesmente peguei minha mochila e fui embora da sala... Narrativa recontada E: tá bom... agora conta pra mim uma história que tenha acontecido com alguém... que você conheça... que seja interessante... I: bem... eh... pe/ é uma garota também que... era da comissão pró grêmio... né? que agora é do grêmio... e por esse mesmo motivo que eu já falei que a gente... tinha... assim muita dificuldade com a direção e até mesmo com os professores... né? então o... o... Heitor Lima ele é uma escola assim... ele é... é muito rígida... né? você tem que entrar... totalmente uniformizado... se faltar alguma peça do seu uniforme... você não pode entrar... né? e essa garota foi sem o emblema da escola no bolso e sem a estrelinha... que é um brochinho que a gente usa pra indicar de qual ano que... que... é... né? então ela foi sem isso e o diretor barrou... não deixou ela subir... pra ir assistir à aula... e ela ia fazer prova... então o diretor foi até a coordenação... pra pegar um papel e dar advertência... quando ele foi na... coordena... na... coordenação pegar esse papel... a garota subiu:: e entrou dentro de sala de aula... ele ficou procurando ela pela escola sem saber o que tinha acontecido... aí depois o pessoal falou que ela tinha subido... né? aí ele foi atrás da menina... entrou na sala de aula... puxou a garota pelo braço na maior violência... e aí ela terminou arranhan::do ele... deu a maior confusão na esco::la... chegaram até... a levantar hipótese de... suspender... né? mas aí terminou que já era na última semana de aula e... deixou

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tudo assim por isso mesmo... ela só tomou uma advertência... a mãe dela assinou e... acabou... 1 1 Descrição de local E: agora:: descreve pra mim... o lugar onde você mais gosta de ficar... I: eh... eu gosto de ficar no meu quarto... né? lá tem... a cama que fica encostada na parede... do lado da cama tem uma mesinha desse tipo de mesinha de cabeceira... né? mais pro outro canto... tem um armário... e... no fi/ o armário tem uma penteadeira que tem um banquinho também... né? e mais pro fundo tem uma prateleira/ uma não... são três prateleiras... que eu coloco os bichinhos de pelúcia... e também tem um almofadão que fica no meio do quar::to... e... tem um tapete também... que é de croché... e:: tem também uma prateleira que fica já... na parede... onde eu coloco alguns livros... né::? e... só... Relato de procedimento E: tá bom... eh:: eu sei que você sabe fazer alguma coisa... conta pra mim como que se faz isso... I: eh:: sei fazer um molho branco... né? você põe dentro do liqüidificador... duas/ dois copos com leite... e:: um copo com farinha de trigo... e a mesma proporção do leite põe a metade de farinha de trigo... né? pica os queijos... geralmente você tem quatro... quatro tipos de queijo... né? queijo parmesão... aquele tipo muzzarela... o queijo minas e... o queijo ralado assim... quatro tipos de queijos variados... você mistura tudo... bate no liqüidificador... depois se você quiser acrescentar algum tempero você pode... acrescentar... depois que você bateu tudo... você põe numa panela e vai mexendo no fogo até ficar com aquela consistência assim... não muito dura... mas também molinho assim... aí já está pronto o molho... Relato de opinião E: só? agora... o que você acha da crise educacional? I: eh:: eu acho que a crise educacional... é... é uma é uma jogada mais política... entendeu? porque não vem a ser interesse pra nenhum político e nem pra... pra classe dominante... que... haja um povo com consciência crítica... né? a partir do momento que o povo ti... tiver uma consciência crítica... ele vai passar a julgar os atos... dos políticos e tudo e não vai ser mais aquele povo... dominado... então por isso eles deixam as escolas do jeito que estão... né? eles deixam as escolas caindo aos pedaços... como... tem escolas por aqui que um/ eh:: a escola República de Angola já caiu o::/ um pedaço da parede na cabeça de um meni::no... né? deixam as escolas nes... nessa situação... e ainda renumeram mal os professores... mas também é claro que tem aqueles professores que... eh:: que dão a desculpa que não dão a aula direito porque são mal renumerados... né? isso é história... porque eu... por exemplo... agora eu sou professora... né? estou terminando o terceiro ano do normal... e... eu sei que o meu salário vai ser ruim... mas não é por isso que eu vou... dar uma desculpa e não vou... dar uma aula decente... né? e... tudo isso gera essa crise educacional (é justamente uma coisa proposital... né?) E: tá bom... obrigado... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal Ano passado eu e alguns colegas montamos um grêmio na escola e por isso, vários

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professores e até mesmo o diretor criaram uma certa implicância com os diretores do grêmio. Um dos professores lecionou na minha turma esse ano. Houve uma aula em que a turma toda estava conversando e a professora mandou eu sentar ao lado da sua mesa. Um tempo depois a garota que sentava ali chegou, e eu tive que levantar, a sala estava cheia e não havia mais lugar, então fiquei de pé assistindo a aula, minha caneta falhou e fui pedir uma emprestada, a professora alegou que eu estava atrapalhando a aula e que da próxima vez iria me expulsar da sala, peguei meu material e saí. Narrativa recontada O Heitor Lira é uma escola rígida, os alunos só entram se estiverem com o uniforme completo. 1 1 Uma das diretoras do Grêmio, estava sem o bolso com o emblema na blusa, e sem a estrelinha, que é uma espécie de broche que os alunos usam para indicar em qual séris estudam. Então, ela foi impedida de entrar na escola pelo diretor, que ia lhe dar uma advertência; quando ele foi para a coordenação, a aluna subiu as escadas e foi para sala de aula, depois o diretor foi até ela e a agarrou com força, ela o arranhou. Houve uma ameaça de expulsão, mas ela só levou uma advertência. Descrição de local Eu gosto de ficar no meu quarto, lá tem uma cama que é encostada na parede, ao lado uma mesinha de cabeceira, do outro lado tem um armário onde há uma pentiadeira e também um banquinho, no fundo existem 3 prateleiras com bichinhos de pelúcia, e também uma em cima da cama com alguns livros, há ainda um almofadão e um tapete. Relato de procedimento Eu sei fazer molho branco, bate no liquidificador 2 copos de leite, 1 copo de farinha, e 4 tipos de queijo, picado. Depois coloca a mistura numa panela e leva ao fogo até a mistura ir engrossando, quando ficar um pouco grossa está pronta. Relato de opinião A crise educacional é uma jogada política, não é interesse para a classe dominante ter uma população com consciência, por isso o governo deixa a educação do nosso país se afundar, deixa as escolas caírem, mal conservadas, sem material didático e ainda renumera de forma injusta os profissionais da educação. Mas também existe o mal profissional, que joga culpa do fracasso no salário. Enfim, a crise educacional é proposital. Informante 22: Valéria Cristina Sexo: feminino Idade: 17 anos Data da coleta: oral- 15/05/93; escrita- 16/05/93 e 17/05/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: eu estou aqui com a Valéria... do Colégio Estadual Prefeito Ângelo Mendes de Moraes... Cristina... eh... fala pra mim... eh::... alguma história que aconteceu contigo... que você tenha achado muito triste... ou muito engraçado... ou interessante... I: eh... eu tenho uma história... que foi... engraçada e ao mesmo tempo foi triste... foi no meu aniversário eu acho que de sete anos... que eu levei uma surra no meio da festa... e o pessoal tudo ficou rindo... mas pra mim foi triste... pra eles foi... engraçado...

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E: e por que que você levou essa surra? I: ah... foi porque/ eu nem me lembro direito... acho que eu fiz alguma coisa errada lá na hora e... minha mãe ficou com raiva... E: tá bom... Narrativa recontada E: agora conta pra mim... algo que alguém tenha falado pra você... alguma história que alguém tenha contado pra você... que você tenha achado engraçada ou triste... I: ah... foi minha colega me contou de um assalto num trem... né? que tentaram levar o relógio dela... aí... ela não deixou... aí o cara que estava do lado dela... deu um soco... né? no assaltante... ele tentou sair do trem... e ficou preso na... na:: porta... E: tá bom... 1 1 Descrição de local E: eh:: agora... Valéria... diz pra mim o... local onde você... gosta de ficar... descreve esse local pra mim... I: gosto de ficar no meu quarto... ele... ele é assim... tem cortina rosa... tem a minha cama... que é branca... meu guarda-roupa também que é branco... tem meus ursos... e o som e a televisão... E: ele é grande... ele é pequeno? I: eh... não é muito grande não... é pequeninho... E: tá bom... Relato de procedimento E: agora fala pra mim... eh::... alguma coisa que você saiba fazer muito bem... I: sei fazer batata frita... né? a gente... descasca a batata... corta... depois lava... aí põe o óleo na frigideira... deixa ficar lá... um tempo... e depois põe a batata frita lá dentro... e espera... até ela ficar boa... E: coloca sal não? I: não... só depois de pronta... E: ah... tá bom... Relato de opinião E: e pra terminar... eh... eu quero que você me dê a sua opinião... ou sobre namoro... amizade... família... I: a amizade... é uma coisa muito difícil hoje em dia... né? muito difícil ter um amigo mesmo porque... sei lá... as pessoas hoje em dia não... não pensam nos amigos... pensam mais em si mesmo... então é difícil ter uma amizade... sincera... fiel... assim hoje... E: você tem uma amiga? I: não... tenho só colegas... E: tá bom...Valéria... obrigada pela sua entrevista... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal história triste e engraçada que aconteceu comigo. Foi no dia do meu aniversário eu levei uma surra no meio da festa. Foi muito engraçado para as pessoas que viram, mas foi triste para mim. Narrativa recontada história que me contaram (assalto)

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Minha colega estava no trem. Veio um homem e tentou levar o seu relógio e ela não queria deixar. Tinha um homem do lado da minha colega que deu um soco no assaltante e ele saiu correndo e ficou preso na porta do trem. Descrição de local Lugar que eu gosto de ficar: Eu gosto de ficar no meu quarto. O meu quarto é assim: É pequeno com cortina rosa, cama e guarda-roupa brancos. Tem uma televisão, um som, meus ursos de pelúcia e também as minhas coisas (roupas, sapatos...) Relato de procedimento Uma coisa que eu sei fazer: Batata-frita Descasca e corta a batata depois lava. Coloca a frigideira no fogo com o óleo espera um pouco e põe a batata. Quando a batata estiver boa, tira e põe sal. 1 1 Relato de opinião Amizade É uma coisa difícil hoje, pois as pessoas nunca têm amigos sinceros. As pessoas pensam muito em si mesmas. Eu não tenho amigas, só colegas. Informante 23: Wagner Sexo: masculino Idade: 18 anos Data da coleta: oral- 11/93; escrita- sem registro PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: Wagner... conta pra mim uma história que tenha acontecido com você... que seja interessante... I: bom... foi num:: sábado à noite... estava saindo da casa da minha namorada... aí entrei num/ numa rua... que é o caminho pra cá... encontrei uma garota... que estava... correndo com do... dois tênis na mão e dizia/ nas mãos... aí... fomos subindo a rua juntos que estava de noite... muito tarde... aí chegou na/ no final da rua praticamente ela virou pra mim e perguntou que horas eram... aí eu informei as horas a ela... acabei perguntando a ela se não tinha nada pra fazer... perguntei “pô... onde é que tem um lugar legal... pra se divertir aqui?” ela virou pra mim disse que:: não sabia... por ali não sabia onde tinha não... mas que ela estava indo pra Cidade Alta encontrar os colegas dela... e que nã/ estava com medo de ir sozinha... aí me ofereci pra ir com ela... que não tinha nada pra fazer... naquela hora e tal... aí fomos... né? no caminho... a gente começamos a conversar uma porção de lance... mesmo sem conhecer... a gente... foi contando um pro outro as coisas que tinha acontecido... entre a gente... ela estava brigada com o namorado dela... estava brigada com o namorado dela/ a gente... foi conversando... conversando... ( ) ela queria terminar com o namora::do... a gente passou... num bar... que... o meu professor de violão está to/ tocando lá e:: conversando com ele acabamos chegando a Cidade Alta... não tinha ninguém na rua... eh:: o maior perigo de ser assaltado... entendeu? de roubar... a gente... começamos a subir a Cidade Alta... né? e lá é... totalmente escuro... tá entendendo? e::... tem uma subida muito estranha lá que parece... cheio de favela... tá

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entendendo? as casas tudo mal acabada... não tem nada... nada... concreto legal... tá entendendo? muito... favela legal... tá entendendo? e eu não sabia onde eu estava... a garota também não tinha certeza.. maior perigo... aí começamos a subir... subimos... coisa de meia hora... subindo a Cidade Alta... chegamos lá em cima... tinha um baile de funk lá da... Cash Box... e:: uma outra equipe lá estava maior barulheira... pessoal pulando e:: eu acho que era o único... branco daquela história toda ((riso)) e:: rolou isso mesmo... eu estava cheio de fome...[a garota] ficou lá só por causa do namorado... e foi isso mesmo... E: [valeu...] tá bom... Narrativa recontada E: agora... conta pra mim... uma história que tenha acontecido com alguém... que você conheça... que seja... que seja... interessante... I: olha... foi coisa de... uns dois ou três anos atrás... que morreu aqui na Lobo Junior... uma... colega de uma amiga minha/ da minha irmã... colega da minha irmã... a menina morreu atropelada... entendeu? ela estava vindo parece que de Madureira e:: quando ela soltou do ônibus ela... nã/ foi atravessar na frente do ônibus e não viu o... caminhão que estava vindo do lado... e::... ela atravessou... o caminhão pegou ela... só que o motorista estava distraído na hora... e ela não/ bateu e ficou na frente do caminhão... tá entendendo? ela... foi por baixo do caminhão e ficou presa... agarrou... tá entendendo? os cabelos delas e::/ dela... e... começou a/ o caminhão foi andando uns duzentos metros... e ela está ali embaixo naquele desespero todo e sem poder... tá entendendo? fazer nada... porque... o motorista não estava vendo... só quando o pessoal começou a gritar mesmo... que:: ele só/ foi escutar e parou o caminhão... quando ele parou o caminhão... estava a rua toda cheia de sangue... e ela estava toda... sabe? já estava... sem 1 1 a/ o rosto... sem a face todinha... está entendendo? e:: aqui... os... peito/ os peitos dela... arrancou tudo... tá entendendo? aparecia/ e ( ) praticamente irreconhecível... a garota... e:: foi... isso aí mesmo... né? Descrição de local E: ahn... ahn... agora:: descreve pra mim um lugar onde você mais gosta de ficar... I: bom... o lugar que eu mais gosto de ficar... é no Ola/ no baile do Olaria... porque lá eles usam/ é um baile que eles usam o clube todo... tá entendendo? pra... pra dar o baile... e:: você tem várias opções de diversão lá... tá entendendo? você não pode/ você não fica num único lugar... você tem lá/ em cima você pode/ em cima tem um (quarto) que você usa/ lá tem o:: toca ( ) negócio de funk mesmo... embaixo tem o/ eles usam pro regae... pro rock... tá entendendo? em frente ao regae e rock tem um::/ a... parte das piscinas lá tem... piscina pro pessoal... perto... da piscina tem um:: um cineminha... tá entendendo? pra quem quiser assistir um cinema... aí:: perto... em frente ao cinema... tem um... um ambiente de pagode... tá entendendo? pessoal que gosta de pagode... agora está na moda... aí... em volta do pagode tem ali... um campo de futebol society... tem um/ o ginásio do Olaria... tem ali:: arquibancada... do campo de futebol oficial... tem o campo de futebol social... você tem também:: em cima você tem um terraço... eh:: ao lado desse terraço você tem a plataforma onde você fica... ali pra tomar um/ uma cerveja... namorar

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um pouco... você tem:: um lugar pra brincar com as crianças ali... um parquinho... e:: acho que lá é um bom lugar pra gente se divertir... Relato de procedimento E: você sabe fazer alguma coisa... me conta pra mim como que se faz isso... I: bom... o que eu sei fazer? ahn... acho que montar uma equipe de som é um negócio legal... porque::... tem uma certa ciência ligar os equipamentos e::... tem... lance que tem que ter três amplificadores... mais ou menos e... e esses amplificadores são ligados às caixas... tá entendendo? o amplificador manda a potência pras caixas... o som... propriamente dito... você tem que ter... um ou dois equalizadores pra o som ficar... bem nítido... tem que ter o crossover pra separar o som... tá entendendo? quando você... liga... aí em cima você tem que ter dois tocadiscos... tá entendendo? uma equipe de som... tem que ter o mixer... que o mixer você aumenta e abaixa o volume... de tudo... tá entendendo? você tem o controle na tua mão... de tudo... tem que ter... os discos que você usa pra tocar... tá entendendo? um fone/ E: como é que monta isso? I: como é que monta? olha... você liga os toca-discos... no mixer... que é onde você controla... o volume dos dois... do mixer você liga pra... pro crosso... crossover... que separa o som de tudo... tá entendendo? aí do crossover você tira... pra/ pros amplificadores... tá entendendo? um de cada vez... pra amplificar tudo... você tira pro equalizador... pra equalizar tudo... tá entendendo? e... do equalizador vai pro amplificador... pros outros amplificadores... do amplificador vai pras caixas... entendeu? aí vo/ depois do amplificador você tem o som pra mandar pras caixas que... sai o som alto que você escuta nos bailes... e em festas tudo [( )] E:[tá bom...] I: todo lugar que você vai... Relato de opinião E: agora:: me fala o que você acha da:: crise educacional... I: eu acho que:: o problema da crise educacional/ tudo começa pelo estado... tá entendendo? pelo governo... aliás... porque a partir do momento que não se paga bem os professores... públicos... os que... trabalham nos colégios públicos... você::/ os bons.. os bons professores... não ficam... não recebendo bem... eles vão pro colégio particular onde pagam melhor... e:: sendo assim... você não tem um... um bom ensino público... tá entendendo? e os pais das crianças... tem que... tem que ter uma boa educação... passam pro colégio... particular... e cada vez que se procura o colégio particular vai aumentando a mensalidade... e aumentando a mensalidade... os pais começam a reclamar e começa... o lance de greve... os professores que não querem/ que não estão recebendo bem...tá entendendo? e::... e por isso que a educação está assim... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal 1 1 Sábado à noite vinha eu da casa de minha namorada e encontrei uma menina na rua que corria com os sapatos nas mãos. Subíamos a rua lado a lado, pois já era tarde e não havia ninguém na rua. Coisa de cinco minutos de caminhada ela me perguntou que horas eram, eu respondi e aproveitei a deixa para perguntar-lhe onde havia um lugar para diversão aquela hora.

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Por sua vez ela me disse que tinha vontade de ir à cidade alta para encontrar alguns amigos seus, pois havia um baile Funk de rua e o caminho era perigoso para uma menina sozinha. Fui com ela até a cidade alta à pé e conversamos sobre várias coisas inclusive sobre que ela iria lá para encontrar seu namorado e desmanchar com ele. Depois de duas horas escutando Funk no meio daquelas que só sabiam pular e dar o seu grito de guerra, fomos embora, eu a levei em casa e fui durmir. Narrativa recontada Foi com uma amiga de minha irmã que vinha de Madureira, saltou do ônibus e atravessou na frente do caminhão. O motorista do caminhão não viu nada e só parou quando ouviu os gritos das pessoas que ali estavam. O caminhão percorreu 200 metros aproxidamente arrastando a menina que morreu presa no eixo do veículo. Descrição de local Gosto do baile do Olaria por causa das várias opções que se dispõe lá. Lá tem o ambiente de Dance Music, abaixo fica o Reggae Rock enfrente tem o parque das piscinas que tem em volta o cinema, o ginásio, e os campos de futebol. Relato de procedimento Uma coisa que eu sei fazer é montar uma equipe de som, primeiro temos que ter 3 amplificadores, equalizador, crossower, mixer, e toca-discos.Os toca-discos onde se colocam os discos de vinil são ligados no mixer onde se tem o controle de volume de tudo. Do mixer ligamos o crossower e o equalizador que servem para controlar, limpar e equalizar o som, deles mandamos o sinal para os amplificadores que amplificam as caixas, onde se escuta o som que dançamos em festas e bailes. Relato de opinião A crise educacional começa pelo governo que paga mal aos professores. Esses por sua vez optam pela escola particular onde se paga melhor ficando sem bons professores, os alunos de escola pública vão para a particular onde se cobra muito alto. Todos esses distúrbios geram conflitos e greves deixando as crianças sem aula e os professores sem escolas para lessionar. Informante 24: Yuri Sexo: masculino Idade: 18 anos Data da coleta: oral- 01/05/93; escrita- 03/05/93 e 04/05/93 PARTE ORAL Narrativa de experiência pessoal E: eu estou aqui com Yuri... da Escola Técnica Federal de Química... Yuri... conta pra mim... uma história... que tenha acontecido contigo... e... que... tenha sido muito engraçada... ou muito triste... I: bem... essa história é triste e engraçada ao mesmo tempo ((riso)) é demais... a minha tia... ela tem/ eu tenho uma tia que tem um sítio e... e... ela... uma vez comprou uma jumenta ( ) pra botar nesse sítio pro filho dela... né? pra ficar brincando com ela... pra cima e pra baixo... só que o que aconteceu foi o seguinte... ela quando... quando foi comprada... ela era domada... era mansa... mas aí com o tempo o que que aconteceu? a gente passava muito tempo sem ir lá e ela

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ficava solta pelo pasto... né? não tinha ninguém pra ficar domando... a... a... burrinha... aí... teve um dia que a gente foi pra lá... foi fazer um churrasco... e... o pessoal já tinha tentado montar nela... ela não tinha deixado... montar... né? aí acabou levando o nome de Melindrosa... agora “ah... vamos montar na Melindrosa... vamos montar na Melindrosa...” todo mundo já chumbado... cheio de cerveja na cara... depois do almoço... “vamos lá... vamos montar na 1 1 Melindrosa...” aí vinha um por um... e toda vez ela... ela levava esse... esse cara que sentava em cima dela... PUM... tinha uma roseira... ela levava o cara lá pra roseira... tá? e ficava lá... enquanto o cara não descesse de... dela... ela ficava mexendo na roseira... e o cara se espetando no... nos espinhos da rosa... né? até sair... quando saía... ela vinha... ficava... no meio do pasto... a gente montava na... na Melindrosa... aí teve uma hora que eu falei “ah... não... agora quem vai montar sou eu...” sempre montei na Melindrosa... e tinha um cara... que ele trabalhava/ trabalha... né? o Eduardo trabalha ainda na aula/ na loja da minha tia... cara... pô... do tamanho de uma porta... ele deu uma porrada na... na bunda dela... PLAFF... ela saiu danada... né? aí/ e ela... não... não tinha como domar... a gente não tinha como domar... ela não era... mais mansa... como... quando foi comprada... né? eu estou vendo ( ) na direção da árvore... eu estou puxando... e ela está indo pra direção da árvore... e eu estou puxando... e ela nada de sair da direção... eu falei “essa porra vai bater na árvore... essa bicha vai bater na árvore...” ((risos)) que nada... quando chegou mais ou menos um metro... meio metro... eu falei “ela vai bater...” eu me jogei pro lado... no que eu me jogei pro lado... ela foi pro outro... eu PUFF... bati na árvore... fiquei lá mesmo... eu perdi até a respiração na hora... fiquei... TUM... estatelado... e ela lá no meio das rosas... pra ninguém pegar... aquela desgraçada... miserável... ninguém ((riso)) mais montou naquela porcaria daquela jumenta [( )] E: [e você...] e você se machucou? I: não... eu machuquei por conta da queda... né? que caí de cima... de... um jumento... caí de cima de um cavalo... foi uma queda/ é uma queda grande... mas não foi nada sério não... E: meu Deus... I: mas... do jeito que ela estava... ninguém nunca mais/ “não... deixa ela aí do jeito que ela está mes::mo...” ((riso)) ninguém mexe mais com ela de jeito nenhum... E: bom... ainda bem que você não se machucou... né? Narrativa recontada E: agora... Yuri.... eh... conta pra mim uma história que alguém tenha contado pra você... e que você tenha achado muito triste... interessante... engraçado... I: tem... uma vez um... um... um amigo meu... a gente saiu... a gente saiu com... com um grupo... foi num barzinho... aí ele estava lá dançando... bebendo... nesse barzinho... né? em Vila Valqueire... e... quando foi cedo... que ele conta que chegou um garotinho... né? e esse garotinho ficava rodando... pelas mesas... vendendo rosas... né? e sempre chegava perto de um camarada e ficava lá... pentelhando... perguntando se ele queria comprar rosas... e esse cara/ umas três vezes

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fazendo isso... quando chegou lá... pela quarta vez o cara fez assim “faz o seguinte... você... eu te dou o dinheiro... você não me perturba mais... tá bom?” ele “ah... tá bom...” aí quando ele ia saindo... esse cara/ eh:: um outro cara que estava na mesa... né? falou “não... a gente vai jogar...” “vamos fazer o seguinte...” o garotinho falou... eh “a gente vai jogar velha... se você me ganhar na velha... eu te dou uma rosa... se eu te ganhar você... você me compra uma rosa...” “não... não... se você me ganhar... você vai me dar três rosas... tá? se eu te/ se vo/ se... quer dizer... se eu te ganhar... você vai me dar três rosas...” ele falando... né? pro garotinho... o garotinho... se ganhasse... né? ele ia comprar as rosas dele “tá... tá bom... tá bom...” aí ficaram jogando o joguinho da velha... né? em cima da mesa do bar... né? e estão jogando o joguinho da velha... nada de ninguém ganhar... né? aí partiram pra outro jogo... encheram o saco... partiram pra outro jogo... o Pedro... pegou... né? esse amigo meu... pegou um palito... botou na... na/ no dedo... e... disse pro garoto que ele tinha que mexer o palito sem mexer os dedos... aí o garoto ficou assim meio cabreiro... né? não sabia o que fazer... pegou... tentava... tentava... e nada “ah... você não mexe isso... com... com a memória não...” ele falando com a memória... né? “você não mexe com a memória não... você... dá algum jeito... tem algum macete aí...” ele “é... tem algum macete... qual é o macete?” aí ele pegou... ensinou pro garotinho... né? qual era o macete pra... pra... mexer o palito... que a gente coloca o palito aqui nessa unha... aí ele/ na unha do/ desses dois dedos... e... e vai vibrando... aí... pula... aí o garotinho “ah... assim não vale... assim não vale... ah... vamos fazer outro jogo...” aí o garotinho pegou uma... uma pá de lixo... com... com... com uns palitos quebrados do lado de dentro... e disse pra ele “se você conseguir... e se eu conseguir... tirar esse lixo de dentro da pá... mexendo três palitos... você vai comprar três rosas minhas...” aí ele “não... mas assim é muito fácil... você sabe como é que mexe...” ele dizendo 1 1 pra ele... né? aí ele... PU... PU... PU... mexendo rapidinho... colocou... ele “eu não... não vou comprar não... você mexeu... pô... não vale... não vale...” aí ficou conversando... conversando... daqui a pouco conven/ se convenceu... né? “vamos fazer o seguinte... eu compro... as três rosas com você... quanto é que está?” “vinte mil...” aí ele... chegou pro garotinho “eu compro por quarenta...” “ah não... ah não... assim eu não quero não...” aí... boné vai... boné vem... ele está... está oferecendo... está oferecendo... nada... aí ele falou assim “então eu vou comprar por trinta... compro por trinta...” “não... trinta já muito barato... também... eu vendo por trinta e nove novecentos e noventa...” eu falei “isso é quase quarenta... você não queria vender a quarenta...” aí o Pedro “trinta e cinco...” ele falou assim “vou quebrar o teu galho... ((riso de E)) vou quebrar o teu galho...” o garotinho era malandro à beça... ele... sabia negociar... aí a gente ficou conversando com ele “vem cá colega... quantos anos você tem?” ele “dez anos...” pessoal ficou conversando... falando... né? com ele... “qual o teu nome... amigo?” pergun/ perguntando... né? Pedro perguntando pra ele “qual teu nome?” “é Luiz Carlos...” “você estuda Luiz Carlos?” “estudo... estudo...” “então... estuda bastante que você vai ficar rico um dia... estuda que é pra poder... trabalhar e ficar rico...” ele “não... não vou ficar rico não... ficar rico não...” eh... “quem vai ficar rico aí são vocês... vocês que são ricos aí...” “que rico nada... rapaz... ninguém tem

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dinheiro aqui... ninguém está montado na grana... não...” “ah... e o carrão parado lá no/ lá fora...” ((riso)) aí... “ah não... a gente está andando de Mercedes... quer ver? tem até um ônibus passando ali fora... tem um ônibus passando lá fora... [Mercedes...] E:[ônibus] ((riso)) I: aí o garotinho se acabando de rir... nesse meio de... de conversa... né? aí... ele pegou... agradeceu... né? ficou lá com um tempo com o pessoal ainda... foi rodar... né? daqui a pouco... eles estavam dançando... e... quando pensa que ( ) é o garotinho no meio da roda... né? dançando junto com eles... né? aí ele... pensando assim “a gente comprou... a... as rosas dele e acabou comprando o garoto também... né?” ((riso de E)) comprou a simpatia dele... aí ele ficou lá no meio do salão... e vira e mexe estava perto do... do grupinho... né? naquela mesa... aí... depois o pessoal fica pensando assim... quer dizer... pra gente que estava/ pra aquela gente que estava lá na... na... na rodinha... né? na mesa... isso era até uma história engraçada... né? foi divertida porque... estava conversando... brincando com o garoto... e tal... ((buzina)) mas ao mesmo tempo foi uma história triste... porque uma criança de dez anos de idade era pra estar em casa dormindo... onze horas... onze e pouco da noite... vendendo... rosa na rua... num bar de mesa em mesa... já era tarde demais aquilo... quer dizer... é uma coisa/ ao mesmo tempo é triste... ficar... [a criança] passar por isso... E:[verdade...] é verdade... Descrição de local E: agora... Yuri... me fala sobre o local onde você mais gosta de ficar... I: assim... os detalhes do local... né? E: sim... eu quero que você me descreva... o local... me fala... tudinho... eu não conheço esse lugar e eu quero que você me descreva... esse local... I: eu gosto de tantos lugares... que fica difícil até de... de se fa/ de tirar um deles... né? tem um monte de lugares que eu gosto... de... de ficar... eh... vamos ver se não consegui me despertar... um... um local que eu gosto de/ quer dizer... generaliza/ generalizando... né? os locais que eu gosto de ficar geralmente são aconche/ são aconchegantes... tá? tem... muita... muita gente... ele... é um local que/ pouca luz... um local pra dançar... você tem uma pista de dança... [( )] E: [então..] e você não... não tem assim... um local específico... que você possa descrever... pra mim? I: ah... eu gosto muito/ tem... tem esse barzinho... né? o... Segóvia... a gente agora/ inclusive agora a gente vai/ tem um programa lá no sábado... a gente... a gente... direto... né? o pessoal gostou... achou legal... e... é bastante interessante mesmo... lá... é conforme eu te falei... tem/ é um barzinho fechado... tem... algumas mesas... e::... tem um espaço... né? reservado pra um grupo... que... toca... é... música ao vivo... tem uma pista de dança... o lugar é relativamente grande... não... é tão grande assim... eh... quanto... vamos dizer... quanto... quanto... uma discoteca... mas... ele... ele acomoda bem um restaurante... uma pista de dança... tem um... bar... né? pra/ desses de balcão... pra... quem gosta de tomar uma cerveja... um whisky... alguma 1 1 coisa... e mais ao fundo tem mais mesas... né? ele não é tão grande assim... e... ele tem um jeito... ele/ pelo nome dele/ é um nome diferente... Segóvia... né? mas quando você chega... chega lá... nota que... eh... ele tem um estilo... espanhol... tem uns quadros da Espanha dentro do... do bar... e uns dos quadros tem o nome Segóvia... parece que/ deve ser um lugar na

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Espanha... tá? o estilo interno dele... né? ele é todo... cheio de madeira... tá? todo::/ eh... o telhado... o telhado... tem estilo europeu... lugar bastante aconchegante... interessante... E: tá bom... Relato de procedimento E: Yuri... conta pra mim... alguma coisa que você saiba fazer muito bem... I: bom... eu sei::... pintar... pra gente... pin/ fa/ eh... realizar uma pintura... né? início de tudo você tem sempre que ( ) você tem sempre que está com todo o material à mão... você está com seus pincéis... todos limpos... de preferência... as tintas... a tua aquarela... a tela... já pronta... armada... direitinho... e::... o instrumento que você vai usar pra... pra riscar... você pode usar carvão... preferencialmente a gente usa o carvão... e::... começa a riscar a tela... sempre de cima pra baixo que é pra poder... delinear todas a/ todas as sombras... que você vai precisar... evitar... ter que apagar a tela... porque vai sujar... e sempre que você começa de cima pra baixo... todo o cui/ você tiver... de sombra... ou de... cobertura... você vai sempre prever quando você está... riscando de cima pra baixo... e ao final disso tudo... algumas pessoas usam verniz... que é pra proteger... a... tinta... do... do... carvão... que sempre ele... desmancha um pouquinho... né? o grafite sai... e... outras não... dá pra você pintar... não é tão ruim... a partir do momento então você começa a... pintar... realmente... você vai usar aquelas misturas... que precisam... de acordo com o gosto da pessoa... e::... de acordo também com a pintura... sempre também pintando de cima pra baixo... que é pra se... cair alguma coisa na tua tela... embaixo... você não mancha... você não perde o teu desenho... e você basta passar óleo de linhaça... ou então até dar uma raspadinha que a tinta sai... e depois você vê qual é a outra... cor diferente que já vai entrar naquele lugar... e cobre... então... você não tem muito problema quando você pinta de cima pra baixo... você evita esses problemas... ao final disso tudo... você está com a pintura completa... não deixa ela secar ao sol... porque você vai estragar a pintura... e... está pronto... basta botar tua moldura... e... enfeitar a casa... E: tá bom... obrigada... Yuri... Relato de opinião E: Yuri... pra terminar... eh... me dá a sua opinião... sobre::/ ou sobre amizade... ou namoro... ou família... alguma/ algum desses relacionamentos... I: é um assunto que tem/ você tem que uma opinião sobre um assunto que geralmente gera... polêmica... né? E: sim... é... I: ((buzina)) deixa eu ver... lembrei... lembrei... se lembra quando a gente estava lá embaixo conversando... com o Sérgio? tinha/ a... a Paula estava lá também? E: sim... I: Marcelo... que ele estava falando sobre negócio de homem... mulher... [e tal]? E: [ah... sim... sim...] I: sabe? uma vez... ele chegou... é o seguinte... a gente estava falando/ (estava sempre com outros assuntos... né?) aí estava falando lá... sobre a importância do homem e da mulher “não... a mulher é mais importante que o homem...” que não sei o quê... que pe re ré... que pe re ré

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“que ela/” eh... como é que estava falando? “é o elo... dizem que é o elo... né? da vida... que sem ela ninguém vive...” eu falei “então... meu chapa... você nasceu aonde? você acha/ quem você acha que... que te gerou?” aí ele “não... mas se não fosse a mulher eu... eu não estava aqui...” eu falei assim “se não fosse o teu pai tu também não estava aqui...” aí ficava discutindo... ficava discutindo... discutindo... discutindo... eh... e falando que a mulher era mais importante... etc... aí foi quando... você estava... você estava lá embaixo... né? “não... o Yuri é machista demais...” não... eu não sou machista... eu acho que os dois são/ um é tão igual quanto o outro... entendeu? um não é mais importante do que o outro... tem muitas coisas que a mulher sabe fazer muito 1 1 bem... e... e outras que ela não sabe fazer... assim como o homem... tem muitas coisas que não sabe fazer... e isso troca... entendeu? tem... tem homens que sabem fazer coisas que as mulheres fazem... tem as mulheres que sabem fazer coisas que homens fazem... entendeu? e... e... esse papel... em sociedade... esse papel... vida... namoro... etc... quer dizer... não depende só de uma pessoa... né? conforme diz o ditado ((buzina)) “quando um não quer... dois não brigam...” então... você não... não pode chegar e... e dizer “não... fulano é mais importante... ciclano é mais importante... do que... do que/” entendeu? aí ele fala assim “se não fosse a mulher você não tinha nascido...” eh... “foi a mulher que te carregou nove meses na barriga...” não sei o quê... pa ra rá... porra... se não fosse meu pai eu também não tinha nascido... entendeu? E: é... I: aí ele dizendo que eu era machista por isso... mas... tem que levar em consideração que você não... não consegue ( ) aí... entrou falando... né? de... de criação... eh... eh... “que Deus tinha criado a mulher... que é pra... procriar...” eu falei “pô... se ele não tivesse criado o homem também não tinha ((riso)) não tinha adiantado nada...” entendeu? e inclusive tinha uma garota na roda falando aqui assim... eh... “você não vê aí... já pensou se o mundo fosse” eh... “se... ficasse só as mulheres no mundo? ia ficar” não sei o quê... pa ra rá... eh... dando a entender que ia ser melhor... dando a entender que... que ia ser mais fácil... etc... entendeu? aí eu falei pra ela que um dia a humanidade ia chegar ao fim... porque ninguém/ ia morrendo uma por uma... e não ia acontecer nada... E: é... I: entendeu? eh... por isso ele... ele ficou dizendo que eu era machista... a gente se dá muito bem... não... não aconteceu briga nenhuma por isso... entendeu? mas ele... ele sempre batendo na tecla dele e eu batendo na minha... nenhum dos dois chegam a um acordo... aí foi quando ele comentou isso lá embaixo... estava eu... você... a Ana Paula... E: tá legal... PARTE ESCRITA Narrativa de experiência pessoal

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Há algum tempo, havia na minha família o costume de fazer churrasco em um sítio de uma das minhas tias. Certo dia, em uma dessas comemorações nós inventamos de montar numa jumenta que ela havia comprado para meu primo e por ficar muito tempo solta ficou indócil e levou o nome de melindrosa. Pois é, havia um monte de gente querendo montar na melindrosa. Só que ele sempre levava o sujeito para uma roseira onde ficava até a pessoa sair, se espetando nos espinhos da roseira foi então que quis montar também. Um amigo nosso deu um belo tapa no rabo da jumenta e ela saiu disparada e incontrolável em direção de uma árvore e eu cada vez mais achando que ela ia bater já que não conseguia guiá-la. Quando chegamos à aproximadamente um metro da árvore eu pulei e ela foi para o outro lado; foi uma batida e tanto e eu fiquei estatelado no chão. Depois daquele dia ninguém queria nada com a melindrosa. Narrativa recontada Certa vez um grupo de amigos saia para uma noitada em um bar em Valqueire e lá havia um garoto que vendia rosas de mesa em mesa. Na mesa em que estava este grupo, o garoto chegava sempre no mesmo rapaz para perguntar se ele queria comprar rosas e o rapaz sempre dizendo que não até que ele chegou para o garoto e disse “olha vou te dar uma grana e você não me perturba mais”. O garoto aceitou o dinheiro e um outro amigo meu da mesa me disse que queria brincar. O garoto então disse que se fosse vencido no jogo da velha ele daria uma rosa. Pedro então disse que uma não bastava, teriam que ser três já que haviam três mulheres na mesa. Depois de pechinchar muito o garoto aceitou e após jogarem houve impate. Partiram então para outro jogo onde o garoto fez uma armação com palitos de dentes e propôs ele mesmo desfazer.O ra se ele conhece é lógico que é capaz de desfazer a armação. Pedro não aceitou e propôs ao garoto um outro jogo de palitos onde ele tinha que movimentar um palito nas mãos, 1 1 sem mexer nele. É lógico que havia armação mas o garoto ainda desconfiado aceitou; tudo sempre (com) ar alegre e descontraido sem sujeira com o pobrezinho. Ele não conseguiu mexer o palito e Pedro o ensinou. Finalmente foram negociar as rosas cada uma custava Cr$ 20.000,00. Pedro ofereceu Cr$ 40.000,00 nas três. O garoto não aceitou. Continuaram a negociar e Pedro ofereceu então trinta mil. Luiz Carlos, cujo nome aprendemos no meio da brincadeira, disse que faria por Cr$ 39.990,00; ora Cr$ 40.000,00 oferecidos por Pedro. Após negociarem muito Pedro comprou por Cr$ 40.000,00 mesmo as três rosas e junto veio a amizade do garoto. Surpreendentemente enquanto dançavamos Luiz Carlos veio para nosso grupo e ficou dançando conosco todo alegre e à vontade. Embora a noite tenha tido isso de engraçado, é triste saber que um garoto de dez anos estava às onze da noite vendendo rosas de mesa em mesa em um bar enquanto deveria estar dormindo, e pior, sem esperança nenhuma de alcançar sucesso na vida. Descrição de local Há um bar que gosto de visitar e é bastante aconchegante. O bar tem estilo espanhol, um salão na entrada com algumas mesas e logo depois um pequeno espaço para dança e mais algumas mesas. Há ainda no mesmo salão um pequeno bar para quem gosta de tomar um drinque. O lugar não é tão grande, mas não é apertado também.

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Nome do bar é Segóvia e me parece que tem origem espanhola porque há dentro dele quadros da Espanha e um dos quadros tem o nome Segóvia, mostrando um lugar. Por isso acho que o nome foi inspirado neste lugar, que deve ficar na Espanha. Ele é todo detalhado em madeira e possui uma fachada em estilo europeu. Relato de procedimento Pintar não é difícil. Para começarmos a pintar é necessário que todo o material esteja à mão, pincéis limpos, tintas, aquarela, tela e lápis ou carvão. Sempre iniciamos o risco de cima para baixo para delinear todas as sombras e não termos que apagar o traçado quando desejamos dar perspectiva ao desenho. No final podemos passar verniz para evitar que o grafite se desmanche na tinta, mas isto não é primordial. Para iniciar a pintura em si, prepare uma mistura sempre de uma vez ainda que vá sobrar para evitar diferenças de tom caso determinada cor acabe. Ao final da pintura, seque-a na sombra e mande colocar moldura para colocar na parede. Relato de opinião Há algum tempo estava conversando em um grupo com um amigo sobre a importância da mulher não só na sociedade mas como ser humano e sua imagem, o símbolo que ela gera como mãe em potencial e etc. Fui até taxado de machista, mas não acredito que seja assim. Ocorre que ele afirmou que a mulher é mais importante que o homem e que sem ela ele não seria nada e a sociedade também dando um ar de extrema independência da mulher. Não penso desta forma pois na minha opinião ambos os sexos têm a mesma responsabilidade e importância como seres humanos e pais, sem nenhum dos lados ser melhor que outro.