traumatologia esporte
DESCRIPTION
Traumatologia EsporteTRANSCRIPT
Dr. Alberto de Castro Pochini
Dr. José Luiz RuncoDr. Rodrigo Lasmar
Sociedade Brasileira de Ortopedia e TraumatologiaCOMISSÃO DE EDUCAÇÃO CONTINUADA (CEC)
MC
25
5/
04
EditoresProf. Dr. Moisés CohenDr. Rogério Teixeira da Silva
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:251
TRAUMATOLOGIA DO ESPORTE
Sociedade Brasileira de Ortopedia e TraumatologiaPresidente: Neylor Lasmar
Comissão de Educação Continuada (CEC)
Comitê de Traumatologia do EsportePresidente: Moisés Cohen
Lesões Musculares
Editores
Prof. Dr. Moisés CohenLivre-Docente e Chefe do Centro de Traumatologia doEsporte (CETE) – UNIFESP-EPM / Presidente do Comitê de
Traumatologia do Esporte (2003-2004)
Dr. Rogério Teixeira da SilvaMestre em Ortopedia e Traumatologia pela UNIFESP-EPM,
Médico Assistente do Centro de Traumatologia do Esporte (CETE)da UNIFESP-EPM / Coordenador do Comitê Médico da
Confederação Brasileira de Tênis
AutoresDr. Alberto de Castro PochiniDr. José Luiz RuncoDr. Rodrigo Lasmar
Conselho EditorialProf. Dr. Moisés CohenDr. Rogério Teixeira da SilvaDr. José Luiz RuncoDr. Edílson ThieleDr. André PedrinelliDr. João Alves GrangeiroDr. Lúcio ErlundDr. Michel Simoni
EPM - Editora de Projetos MédicosRua Leandro Dupret 204, cj. 91 - Vila ClementinoTel. (11) 5084-3576 • 5575-3450 - São Pauloe-mail: [email protected]
CORRESPONDÊNCIAComitê de Traumatologia Desportiva - SBOTAlameda Lorena, 427 - 14º AndarCep: 01424-000 - São Paulo - SP
Tel. 0800 55 72 68
Esta publicação é fornecida como um serviço de Merck Sharp & Dohmeaos médicos. Os pontos de vista aqui expressos refletem a experiência eas opiniões dos autores. Antes de prescrever qualquer medicamentoeventualmente citado nesta publicação, deve ser consultada a Circularaos Médicos (bula) emitida pelo fabricante.
EditorialÉ com muita satisfação que levamos a você mais esta
série de publicações na área de ortopedia e
traumatologia.
Sempre atualizados nos conceitos mais
recentemente estudados da nossa especialidade,
abrimos mais este projeto intitulado “Traumatologia
do Esporte”.
Especialidade ainda recente no meio ortopédico, a
traumatologia do esporte vem, cada vez mais,
ocupando o seu lugar no contexto nacional e
internacional, destacando-se pela excelência das
pesquisas realizadas no Brasil e no mundo, visando à
melhora no atendimento médico a atletas que
sofrem lesões em decorrência da atividade esportiva.
O grande objetivo deste trabalho é a atualização dos
colegas que lidam com esportistas em nosso país,
aproximando cada vez mais a ciência da prática
diária, visando sempre à melhora do rendimento
esportivo e à saúde dos nossos atletas.
Os assuntos serão abordados por membros do
Comitê de Traumatologia do Esporte da SBOT,
pessoas de renomado prestígio no cenário nacional
nas suas respectivas áreas, nas diferentes
modalidades esportivas.
Agradecemos a Merck Sharp & Dohme o patrocínio e
à EPM – Editora de Projetos Médicos – pela alta
qualidade gráfica deste inédito trabalho.
Prof. Dr. Moisés Cohen
Livre-Docente, Chefe do Centro de Traumatologia do Esporte (CETE) UNIFESP-EPM,
Presidente do Comitê de Traumatologia do Esporte (2003-2004)
Traumatologia do Esporte 3
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:253
4
IntroduçãoAs lesões das estruturas miotendíneas
representam, sem sombra de dúvidas, o dia-a-dia
de todo profissional da área médica que trabalha
com esportistas. Particularmente no contexto
das lesões musculares, a alta incidência e
prevalência fazem com que os conhecimentos
devam sempre estar atualizados no tocante ao
diagnóstico e ao tratamento, para que possamos
fazer com que os atletas se afastem o menor
tempo possível das suas atividades, quer sejam
elas recreativas ou profissionais.
Histologia e FisiopatologiaAs lesões musculares podem surgir de forma
direta, como contusões dentro da atividade
esportiva, ou indireta, freqüentemente por
contração excêntrica ou concêntrica. As lesões
musculares durante contração excêntrica são as
lesões indiretas mais freqüentes no esporte e
serão aqui discutidas.
A contração excêntrica está associada à maior
tensão desenvolvida na unidade músculo-
tendínea. Os músculos considerados sob risco
são os músculos biarticulares, como o
quadríceps, os isquiotibiais e o tríceps sural, onde
a tensão gerada durante atividade física pode ser
ainda maior por atravessarem mais de uma
articulação. Como exemplo, durante a aceleração
de um velocista, os músculos isquiotibiais
desaceleram a extensão do joelho, exercendo
assim um movimento excêntrico e sujeito à lesão
por estiramento descrita acima.
Lesões musculares ocorrem com maior
freqüência em atletas de velocidade durante
esportes como o atletismo e o futebol. O tipo de
fibra muscular também representa uma
predisposição a lesões por estiramento.
Músculos com predomínio de fibras tipo II
(fibras de contração rápida – anaeróbicas)
geram maior força que fibras tipo I (fibras lentas
– aeróbicas), estando assim mais associados a
lesões (figura 1).
A junção miotendínea é o local mais freqüente
onde a lesão muscular ocorre, por representar a
região do músculo menos resistente à tensão. É
descrito na literatura que, antes que uma lesão
muscular por estiramento ocorra, a fibra
muscular pode alongar de 75% a 225% do
comprimento inicial, e tal capacidade de
alongamento é maior no centro e menor nas
extremidades (junção miotendínea).
Figura 1 – Microscopia após biópsia muscular utilizando ATPase emmeio ácido, mostrando predomínio de fibras tipo II (células mais claras).
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:254
Traumatologia do Esporte 5
Sabemos que o aquecimento pode prevenir as
lesões musculares, e isto se deve a características
já estudadas da unidade muscular, onde se pode
notar que, quando se aquecem as fibras, o
potencial de resistência ao alongamento sem
ruptura é maior. Por outro lado, também é sabido
que a fadiga muscular diminui a resistência
muscular ao estiramento, sendo hoje um dos
mais importantes fatores relacionados à lesão.
Microscopicamente, a lesão muscular por
estiramento gera desarranjo da unidade de
contração muscular, que é representada pela
actina e pela miosina, ancoradas às linhas Z
dentro do sarcômero. Histologicamente, na
ocorrência de uma lesão, nota-se a perda do
arranjo desta linha Z descrito como o local mais
frágil desta microestrutura (figura 2).
O evento característico da perda da integridade
desta fibra muscular lesada é a perda do
equilíbrio da concentração do cálcio, que
aumenta progressivamente com a ruptura da
membrana celular. A análise sérica da
creatinoquinase experimentalmente pode gerar
aumento inicial após 12 horas do evento de
lesão, e o pico sérico pode ocorrer em quatro a
seis dias (2000 a 10000 u/l). Porém, em termos
práticos, a análise da creatinoquinase representa
um marcador qualitativo indireto, pois pode
variar muito dentro de uma amostra estudada de
atletas com lesões musculares.
As fases de reparo da lesão muscular são
similares nos vários tipos de lesões, mas a
recuperação funcional varia de acordo com a
gravidade da lesão. As fases são: necrose edegeneração, inflamação, reparo e fibrose, de
forma evolutiva.
No músculo lesado, há destruição da integridade
da membrana plasmática e da membrana basal,
levando ao acúmulo do cálcio extracelular para
dentro da célula. As miofibrilas sofrem necrose
por autólise, mediada por enzimas proteolíticas.
Formação de edema e de hematoma ocorre
rapidamente em associação à degeneração
muscular. Subseqüentemente, a área necrótica é
invadida por vasos sangüíneos e por células
Figura 2 - Microscopia eletrônica de fibra muscular. A) Arranjonormal com linha Z (z) entre bandas de actina e de miosina; B)Desarranjo estrutural da linha Z por lesão excêntrica da miofibrila.
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:255
6
mononucleares, macrófagos e linfócitos T. Tais
linfócitos ativados secretam muitos fatores de
crescimento celular com várias funções no
processo inflamatório. Interleucinas [IL-8, IL-6, IL-
1] e fatores tumorais de necrose aumentam a
permeabilidade local e aceleram a resposta
inflamatória. A liberação de fatores de
crescimento, tais como IGF – insulina like, regula
a proliferação mioblástica e a diferenciação desta
para a regeneração e reparo musculares. Esta
fase está associada à ativação de células satélites,
que também promoverão regeneração da
microestrutura. Nos experimentos mais recentes,
estas células satélites se mostram as mais
importantes para o adequado processo de
cicatrização da estrutura muscular.
Posteriormente, observamos as fases de
degeneração, de inflamação, de regeneração e
de fibrose. O processo inflamatório ocorre nos
primeiros dias após lesão, enquanto a
regeneração muscular se inicia freqüentemente
após 7 a 10 dias, com pico em duas semanas,
diminuindo, então, até a quarta semana. A
formação de fibrose começa entre duas e três
semanas pós-lesão, e a reação cicatricial
aumenta com o tempo (figura 3). A formação de
um tecido cicatricial parece ser o produto final
do processo de reparo muscular; mas, ainda hoje,
muitos estudos estão sendo realizados no intuito
de se pesquisar qual a histologia deste tecido
muscular refeito. O que se sabe é que quanto
maior e mais inelástico for o tecido cicatricial
formado, pior será o resultado funcional desta
unidade muscular.
Quadro Clínico
A. Anamnese
Toda história clínica de um atleta com lesão
muscular deve obrigatoriamente abordar o
movimento esportivo que a ocasionou. A maior
parte dos atletas refere uma dor súbita, que é
acompanhada de uma sensação de estiramento,
no membro inferior ou superior dependendo do
esporte.
Em determinadas modalidades esportivas, o
gesto pode ser muito bem relatado pelo atleta,
como uma fisgada na coxa após um arranque
súbito em uma partida de futebol. Em outros
esportes, porém, este dado pode ser mais difícil
de ser documentado (como uma dor no
antebraço de um tenista, que vai piorando no
decorrer do jogo e pode caracterizar uma lesão
do bíceps braquial).
Outros fatores que devem ser pesquisados são os
fatores de melhora ou piora da dor, como a piora
Figura 3 – Estágios de evolução da cura pós-lesão muscular emsemanas.
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:256
Traumatologia do Esporte 7
com a deambulação, ao levantar um peso, ao
descer e subir escadas, durante um alongamento
muscular, ao mudar o corpo de direção, entre
outros. Outro dado extremamente importante é
se a lesão está ocorrendo pela primeira vez ou se
já se trata de um episódio recidivante, o que nos
leva a crer que o tecido cicatricial formado
durante a primeira ocorrência da lesão não
suportou as exigências funcionais do músculo.
B. Exame Físico
O exame físico deve seguir os passos de
inspeção (onde observamos ou não a presença
de deformidades, de edemas e de equimoses),
palpação (para caracterizar bem a intensidade
da dor e se ter uma idéia inicial do local de
ocorrência da lesão na unidade muscular –
ventre, junção miotendínea ou tendão) e análise
funcional (onde se determinam os arcos de
movimento das articulações próximas ao
músculo examinado, para se ter uma idéia da
perda de função que a lesão está causando no
momento) (figura 4 à 8).
Figura 4 - Dor à palpação de adutores.
Figura 5 - Dor à palpação do reto anterior da coxa.
Figura 6 - Dor para alongamento de quadríceps.
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:257
8
ClassificaçãoAs lesões musculares podem ser classificadas em
traumáticas e atraumáticas. Entre as traumáticas,
estão o estiramento, a contusão e a laceração (ou
ruptura, sendo esta parcial ou total). Entre as
atraumáticas, estão a câimbra e a dor muscular
tardia.
Podemos encontrar ainda outras classificações,
com relação ao tempo de lesão (agudas ou
crônicas) e à ocorrência (lesão primária ou
recidivante, levando-se em conta se esta ocorreu
pela primeira vez naquele determinado músculo
ou não).
Traumáticas
Estiramento Muscular
A maior parte das lesões é classificada como
estiramento muscular. Esta é classificada como
lesão muscular indireta, pois a energia do trauma
não ocorre diretamente na área muscular que se
encontra anatomicamente alterada. É causada
por um alongamento das fibras musculares, além
do seu estado fisiológico, ou pode ser resultante
de uma contração muscular excêntrica em
determinado movimento esportivo, como, por
exemplo, o movimento de contração dos
isquiotibiais que modulam a contração
concêntrica do quadríceps durante um chute no
futebol. O local mais acometido é a junção
miotendínea ou a região distal do ventre
muscular.
O grau e a gravidade das lesões são baseados no
número e na extensão das fibras lesionadas.
Podemos dividir estas lesões em três estágios:
Primeiro grau: é o estiramento de uma pequena
quantidade de fibras musculares. Ocorre dor
quando o músculo é solicitado pela contração,
especialmente contra a resistência. A dor se
localiza em um ponto específico, e o atleta pode
ter dores somente em manobras extremas da
articulação. O edema pode estar presente, mas,
geralmente, não é notado no exame físico.
Ocorrem danos estruturais mínimos, a
hemorragia é pequena, e a resolução é rápida
(geralmente, após uma semana, o atleta já está
de volta à sua atividade física regular).
Segundo grau: praticamente, você encontra os
mesmos achados da lesão de primeiro grau,
porém com maior intensidade. Acompanha-se
de: dor, moderada hemorragia, processo
inflamatório local mais exuberante e diminuição
maior da função. A resolução é mais lenta, e,
nestes casos, o atleta pode ficar afastado do
esporte de duas a três semanas. O número de
fibras lesionadas e a gravidade da lesão são
maiores.
Terceiro grau: esta lesão geralmente ocorre
desencadeando uma ruptura completa do
músculo ou de grande parte dele, resultando em
uma importante perda da função com a
presença de um defeito palpável. A dor pode
variar de moderada à muito intensa, provocada
pela contração muscular ativa ou por um
alongamento muscular passivo. O edema e a
hemorragia são grandes. Dependendo da
localização do músculo lesionado em relação à
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:258
Traumatologia do Esporte 9
pele adjacente, o edema, a equimose e o
hematoma podem ser visíveis, localizando-se
geralmente em uma posição distal à lesão
devido à força da gravidade que desloca o
volume de sangue produzido em decorrência da
lesão. O defeito muscular pode ser palpável já
nos casos de segundo grau, sendo palpável e
visível nos casos de terceiro grau (figuras 7 e 8).
Contusão Muscular
Esta lesão também é muito freqüente na prática
de alguns esportes de contato, como o futebol,
futebol americano, rúgbi, basquete, handebol e
os esportes de luta.
Diferente do que ocorre nos estiramentos
musculares, a contusão é causada por um trauma
direto na musculatura e acomete, com maior
freqüência, os membros inferiores. Dependendo
da energia gerada em decorrência do
movimento esportivo que gerou o trauma, os
danos musculares podem ser graves e
desencadear extensas áreas de sangramento
tanto dentro quanto fora do compartimento
muscular.
Figura 7 - Perda do relevo muscular em um atleta de futebol.Inspeção de uma lesão grau 3.
Figura 8 - Perda do relevo muscular em um atleta de futebol.Palpação da mesma lesão da figura 7.
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:259
10
Câimbra
Esta lesão é freqüentemente vista na prática
esportiva regular, principalmente entre atletas
amadores que não apresentam um
condicionamento adequado para a prática
esportiva. Atletas profissionais também podem
ser acometidos por esta lesão, principalmente
quando praticam o esporte em altas
temperaturas e por período prolongado
(tenistas, maratonistas e jogadores de futebol,
entre outros).
Este tipo de lesão muscular, que pode acometer
um músculo ou ser generalizada no organismo,
está diretamente relacionado a fatores
nutricionais que devem ser respeitados no
preparo do atleta antes de competições e
treinos. Muitos autores concordam que, quando
estamos tratando um atleta com câimbra,
alguma medida deixou de ser feita para que se
prevenisse esta ocorrência.
As câimbras podem ser momentaneamente
interrompidas por uma contração ativa da
musculatura antagonista à afetada, ou por um
alongamento muscular passivo forçado desta
musculatura. Após a resolução do quadro álgico,
o músculo mostra alterações na excitabilidade e
na contratilidade, mostrando-se fasciculado por
alguns minutos. O músculo pode permanecer
dolorido por alguns dias, dependendo da
intensidade da câimbra.
Atraumáticas
Dor muscular tardia (DMT)
A dor muscular tardia é uma tradução para o
português de um termo consagrado na literatura
americana: DOMS (delayed onset muscle
soreness). Este termo se refere ao tipo de dor
muscular generalizada que costuma ocorrer de
36 a 72 horas após um evento esportivo
desgastante para o atleta, quer seja ele
profissional ou amador. Usualmente, esta dor é
mais encontrada em atletas recreativos com
preparo físico inadequado para o esporte, mas
podemos encontrar este quadro também em
atletas profissionais de alguns esportes de
resistência (como a maratona) e esportes de
longa duração que envolvem movimentos de
velocidade e explosão (como o tênis, por
exemplo).
Particularmente, com relação à dor muscular
tardia, vários estudos recentes procuram abordar
as causas desta patologia, que ainda é objeto de
estudo por vários pesquisadores. Miles e
colaboradores mostraram que o tempo de
reação motora diminui substancialmente após a
realização de uma série de exercícios excêntricos,
resultando em quadros típicos de DMT.
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:2510
Traumatologia do Esporte 11
Figura 9 – Ultra-som de uma lesão muscular isquitibial (estático,sem contração da musculatura, onde se observa a fibrose próximaao nervo ciático, o que causava a dor irradiada deste atleta defutebol).
Figura 10 – Ultra-som com contração da musculatura – note que acicatriz muscular não interpõe na fibra adjacente, mas ainda existeuma desorganização das fibras, o que demonstra uma faseintermediária de cicatrização (neste caso o atleta ainda não podejogar).
Sem dúvida, o que mais deve ser lembrado com
relação à câimbra muscular é a prevenção, que
deve ser feita por medidas de hidratação antes,
durante e após a atividade esportiva, e, neste
contexto, vários trabalhos estudam os efeitos da
reposição e hidratação com água ou com
substâncias que contenham pequenas
quantidades de íons (sódio, potássio, cloreto e
magnésio, entre outros).
Exames SubsidiáriosOs exames mais utilizados para se confirmar uma
lesão muscular são a ultra-sonografia e a
ressonância magnética. Muitos autores preferem
somente a ultra-sonografia, por ser um exame
mais barato e que pode ser realizado de forma
dinâmica – com o paciente contraindo o
músculo acometido, o que pode nos mostrar
dados importantes quanto à regeneração do
tecido cicatricial formado no local da lesão
(figuras 9 e 10).
A ressonância magnética, apesar de ser um
exame mais caro e que alguns pacientes não
conseguem realizar além de problemas de
claustrofobia, é o melhor exame para determinar
a extensão da lesão nos três planos, o que pode
direcionar o prognóstico (figura 11 à 15).
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:2511
12
Figura 13 – Exame de ressonância magnética de um halterofilistade 40 anos de idade com ruptura da transição miotendinosa dobíceps braquial.
Figura 12 – Lesão muscular grau 2 do gastrocnêmio em um tenistaamador de 33 anos de idade.
Figura 11 – Ruptura do tendão do músculo supraespinal em umtenista amador.
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:2512
Traumatologia do Esporte 13
Figura 14 – Exame de ressonância magnética mostrando lesão porarrancamento da tuberosidade isquiática direita – inserção doadutor longo - com edema nas partes moles adjacentes.
Figura 15 – Exame de ultra-sonografia de uma hérnia muscular dotibial anterior em um atleta de patinação artística (A - em repouso;B - com contração da musculatura).
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:2513
14
Diagnóstico DiferencialOs principais diagnósticos diferenciais da lesão
muscular no esporte são os seguintes:
1. Síndrome compartimental crônica
Geralmente, esta ocorre após uma seqüência de
exercícios ou treinamentos, e pode acometer
atletas amadores. Observamos este diagnóstico
com mais freqüência em atletas de prova de
resistência (como a maratona e o ciclismo, por
exemplo), que são submetidos a treinamentos
exaustivos e com grandes percursos. O
tratamento pode ser clínico (com a diminuição
das cargas de treinos seguida por uma
fisioterapia adequada) ou cirúrgico (por meio da
fasciotomia do compartimento envolvido).
2. Lesões ortopédicas tumorais
Este é um diagnóstico diferencial importante,
principalmente se tratamos de atletas durante a
fase de seu crescimento, época da vida onde as
lesões tumorais osteocartilaginosas têm uma
incidência maior.
3. Lesões vasculares (como varizes e dilatação
de vasos comunicantes)
Podem confundir o ortopedista, pois
eventualmente um atleta pode fazer com que se
pense inicialmente em um problema muscular
crônico.
Tratamento
A. Clínico
A.1. Médico
Analgésicos e antiinflamatórios não-hormonais,
como inibidores da COX-2, de um modo geral,
melhoram a dor e diminuem a exuberância da
fase inflamatória inicial pós-lesão. A preferência é
por inibidores da COX-2 em virtude destes
apresentarem menos efeitos colaterais no tubo
gastrintestinal sem perder a ação analgésica.
Podemos citar o Etoricoxib (na dose de 60 a 120
mg ao dia), o Rofecoxib (na dose de 25 e 50 mg
ao dia) e o Celecoxib (na dose de 200 a 400 mg
ao dia).
Imobilização – Dependendo do caso, uma
imobilização de três a sete dias geralmente é
recomendada para diminuir a dor e melhorar a
organização secundária das fibras musculares de
reparo. Não recomendamos prolongar por muito
tempo esta imobilização, já que isso pode fazer
com que o tecido cicatricial se torne muito
exuberante, o que propicia lesões futuras.
Gelo – utilizamos de rotina na lesão muscular
aguda, sempre associado a uma compressão do
músculo acometido. Recomendamos que se
utilize o gelo com compressão por um período
máximo de 20 a 25 minutos, em intervalos de
três a quatro horas, até que se inicie a
fisioterapia.
Muletas – podem ser recomendadas para ajudar
na deambulação em casos de lesões musculares
dos membros inferiores.
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:2514
Traumatologia do Esporte 15
Figura 16 – Tratamento incial de uma lesão muscular no local dafisioterapia.
Figura 17 – Utilização do laser para o tratamento de uma lesãomuscular em um praticante de atletismo profissional com lesão doreto anterior.
Exercícios – são realizados na fisioterapia e pelo
próprio paciente, em caso de orientação
supervisionada. Visam a fazer com que a
capacidade aeróbia seja mantida, além de
funcionarem de forma preventiva para diminuir
a atrofia muscular que pode ocorrer na
musculatura subjacente.
A.2. Fisioterápico
A fisioterapia pode utilizar o laser, ultra-som,
ondas curtas e técnicas de eletroestimulação.
Tão logo o atleta tenha um arco de movimento
indolor, a fisioterapia pode ser iniciada (em caso
de atletas profissionais, geralmente o tratamento
fisioterápico é iniciado de forma mais precoce,
logo após o diagnóstico médico) (figura 16 à 19).
Figura 18 - Eletroanalgesia.
Figura 19 – Ultra-som pulsátil.
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:2615
16
Figura 20 – Note a massa que se forma na região anterior da coxaquando a contração do reto anterior é solicitada.
Figura 21 – Ultra-som da coxa esquerda na região da massamuscular. Note o defeito com a extensa massa de tecido (fibrose).
B. Cirúrgico
São raras as indicações de cirurgia para
tratamento de lesões do ventre muscular. Por
outro lado, nos casos de desinserções e avulsões
ósseas, ou lesões na estrutura tendinosa, o
tratamento cirúrgico geralmente é
recomendado, quando as lesões são completas.
Caso ClínicoAtleta amador de futebol, com queixa de massa
na região anterior da coxa esquerda há cerca de
dois anos.
O atleta refere que há dois anos teve estiramento
na coxa esquerda, ao realizar um chute e apoiar
mal a perna no solo. Não tratou de maneira
adequada, e começou a observar que
gradativamente ia se criando uma massa
palpável na região anterior da coxa esquerda. A
massa é indolor, e se contrai à medida que o
atleta realiza a extensão e flexão do joelho.
Exame Físico – note a massa que sobressai na
coxa do atleta quando é solicitada a contração
da musculatura para estender o joelho (figuras
20, 21 e 22).
O tratamento do paciente foi simplesmente o de
equilibrar a musculatura anterior e posterior da
coxa, além do fortalecimento da musculatura do
vasto medial oblíquo. O atleta melhorou da
sintomatologia de dor no local e voltou a
praticar o futebol em seis semanas. Além disso,
foi orientado com relação ao tipo de lesão e da
não necessidade de realização de cirurgia para
retirada da lesão.
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:2616
Traumatologia do Esporte 17
Figura 22 – Ressonância da coxa esquerda. A área lesada pode sernotada com sinal mais intenso na região superior da foto,identificando o reto femoral.
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:2617
18
Referências BibliográficasAskling C, Karlsson J, Thorstensswon A.Hamstring injury occurrence in elitesoccer players after preseason strengthtraining with eccentric load. Scand J MedSci Sports 2003;13(4):244-50.
Beaulieu JE. Developing a stretchingprogram. Physician Sports Med1981;9(11):59–65.
Best TM, Garrett WE Jr. In: DeLee and Drez.Orthopedic sports medicine. Basicscience of soft tissue (muscle andtendon). Philadelphia: W.B. Saunders;1994. p. 1–45.
Carlsson BM, Faunkner JA. Theregeneration of skeletal muscle fibersfollowing injury: a review. Med Sci SportsExerc 1983;15(3):187-196.
Chan YS, Li Y, Foster W, Horaguchi T,Somogyi G, Fu FH, Huard J. Antifibroticeffects of suranin in injured skeletalmuscle after laceration. J Appl Physiol2003;95:771-80.
Dubowitz V, Brooke MH. Muscle biopsy: Amodern approach 2nd ed. Philadelphia:W.B. Saunders; 1973.
Fiorini JR, Magri KA. Effect of growthfactors on myogenic differentiation. Am JPhysiol Cell Physiol 1989;256:C701-C711.
Glick JM. Muscle strain. Prevention andtreatment. Physician Sports Med1980;8:73–7.
Krejci V, Koch P. Muscle and tendoninjuries in athletes. Chicago: Year BookMedical Publishers; 1979.
Hubley-Kozey CL, Standish WD.Separating fact from fiction about acommon sports activity: Can stretchingprevent athletic injuries? J Musc Skel Med1984;25–32.
Miles M, Ives J, Vincent K. Neuromuscularcontrol following maximal eccentricactivity, Med Sci Sport Exerc1993;25:S176.
Peterson L, Renstron P. Preventivemeasures. In: Grana WA, editor. Sportsinjuries. Their prevention and treatment.Chicago: Year Book Medical Publishers;1986. p. 86–104.
Rachun A. Standard nomenclature ofathletic injuries. Monroe, WI: AmericanMedical Association; 1976.
Ryan AJ. Quadriceps strain, rupture, andcharlie horse. Med Sci Sports Exeic1969;1(2):106–11.
Sato K, Li Y, Foster W, Fukushima K, BadlaniN, Adachi N, Usas A, Fu FH, Huard J.Improvement of muscle healing throughenhancement of muscle regenerationand prevention of fibrosis. Muscle Nerve2003;28(3):365-72.
Silva RT, Takahashi R, Berra B, Cohen M,Matsumoto MH. Medical assistance atthe Brazilian juniors tennis circuit – a one-year prospective study. J Sci Med Sport6(1):14-18.
Steward WK, Fleming LW, Manuel M.Muscle cramps during maintenancehemodialysis. Lancet 1972;1:1049–1051.
Verrall GM, Slavotinek JP, Barnes PG, FonGT. Diagnostic and prognostic value ofclinical findings in 83 athletes withposterior thigh injury: comparison ofclinical findings with magnetic resonanceimaging documentation of hamstringsmuscle strain. Am J Sports Med2003;31(6):969-73.
Yeung EW, Yeung SS: Interventions forpreventing lower limb soft-tissue injuriesin runners (Cochrane Review). TheCochrane Library, vol. 4, 2003.
Wiktorsson-Moller M, Oberg B, Ekstrand J,Gillquist J. Effects of warming up,massage, and stretching on range ofmotion and muscle strength in the lowerextremity. Am J Sports Med1983;11(4):249–252.
Trauma Esporte.pmd 10/3/2004, 14:2618