traumatologia mÉdico legal

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TRAUMATOLOGIA MDICO LEGAL A traumatologia estuda as formas de Basicamente tudo aquilo que ofende a produzido por energia pode ser fsico ou classificada em: mecnica, fsica, qumica, Energia Mecnica a energia cintica, que atua sobre um corpo (E = M x V), isto , (Energia = Massa x Velocidade). O que varia a velocidade. Ex.: se colocar suavemente um tijolo sobre a cabea de algum, o mesmo no produzir nenhum trauma. Porm, se o tijolo for atirado com fora, pode provocar um corte ou at mesmo uma fratura de crnio. O tijolo (massa) o mesmo; o que variou foi a velocidade. Existem alguns objetos cuja massa, por si s, j produzem energia suficiente para provocar um trauma. Ex.: um cofre de 3.000 Kg sobre a cabea de algum. O que determina a intensidade do trauma o resultado M x V (massa x velocidade). A energia pode atuar de vrias maneiras: exploso, impacto, trao etc. Existem trs grupos de instrumentos: que atuam num nico ponto ex.: perfurantes; que atuam numa linha ex.: cortantes; que atuam num plano ou superfcie ex.: contundentes. Perfurantes So instrumentos punctrios, finos e pontiagudos. Atuam por presso, afastando as fibras do tecido e, raramente, secionando-as. As feridas produzidas por esse tipo de instrumento recebem o nome de punctria ou puntiforme. Exemplo de objetos perfurantes: agulha, prego, picador de gelo, compasso etc. b) Cortantes So instrumentos que agem por um gume mais ou menos afiado, por mecanismo de deslizamento sobre os tecidos. A ferida causada por esse tipo de instrumento chama-se incisa. errado falar ferida cortante: o instrumento cortante, a ferida incisa. Exemplo de objetos cortantes: faca, bisturi etc. Contundentes vulnerao do corpo humano. sade um trauma. O trauma psquico. A energia vulnerante biolgica e mista.

So instrumentos que agem por presso, deslizamento, toro etc. Os instrumentos so como uma superfcie plana que atua sobre o corpo humano. A leso tpica provocada por objeto contundente tem vrios estgios, dependendo da fora ou do objeto. Exemplo de instrumentos contundentes: martelo, soco, balaustre, veculo, escada etc.

Espcies de leses contundentes: Eritema ou rubefao a primeira leso provocada por objeto contundente e a mais simples. Alguns penalistas no aceitam o eritema como leso corporal. No h leso anatmica, somente uma mancha vermelha transitria que no deixa vestgios. provocada por impacto de baixa densidade, produzindo uma dilatao dos vasos sangneos. Enquanto existir, retrata com fidelidade o instrumento que a causou. Ex.: tapa. Equimose Se a leso foi provocada com tal intensidade que chegou a romper alguns vasos sangneos, recebe o nome de equimose. So as famosas manchas roxas provocadas por ruptura de vasos capilares, que so vasos pouco expressivos, perto da superfcie da pele. No h sangramento, mas pequena infiltrao de sangue entre as malhas do tecido. As manchas seguem uma evoluo padronizada: mudam de cor at o dcimo quinto dia, quando ento desaparecem. Hematoma Ocorre quando o instrumento contundente, atuando no tecido corporal, provoca ruptura de vasos importantes, produzindo o afastamento de tecidos; quando o instrumento bate mais pesado e chega a romper um vaso, provocando vazamento de sangue. Escoriao a leso superficial de atrito (ralada) que rompe a epiderme, deixando a derme a descoberto. No h sangramento e no deixa seqelas. A escoriao produzida quando o instrumento tangencia e produz um ralamento na epiderme. Ferida contusa Produzida quando o instrumento age com muita violncia que capaz de rasgar os tecidos, formando uma leso aberta. Feridas produzidas pelos instrumentos Com freqncia, os instrumentos misturam as seqncias da leso. Ex.: instrumento perfuro-cortante, produzido por uma faca de ponta.

Existem instrumentos que por sua velocidade, mais do que por sua forma, produzem leses. Ex.: instrumento perfuro-contundente (projtil de arma de fogo), que atua perfurando e contundindo. Existe tambm uma combinao de instrumento que corta e que contunde: instrumento corto-contundente. O instrumento tpico corto-contundente o machado. Temos, ento, 3 (trs) instrumentos bsicos (perfurantes, cortantes e contundentes) e 3 (trs) formas combinadas (perfuro-cortante, perfurocontundente e corto-contundente). A ferida produzida pelo instrumento perfuro-cortante denominada perfuroincisa. A leso produzida pelo instrumento perfuro-contundente denomina-se perfuro-concisa. A leso tpica produzida pelo instrumento corto-contundente, denomina-se corto-contusa. Instrumentos bsicos Instrumento Caracterstica Ferida Perfurante Perfura Punctria Cortante Corta Incisa Contundente Contunde Eritema, equimose, hematoma, escoriao, ferida contusa Instrumentos combinados Instrumento Caracterstica Leso

Perfuro-contundente Perfura e contunde Perfuro-concisa Perfuro-cortante Perfura e corta Perfuro-incisa Corto-contundente Corta e contunde Corto-contusa a) Feridas punctrias (produzidas por instrumentos perfurantes) Feridas punctrias so feridas produzidas por instrumentos perfurantes, porm apresentam caractersticas de corte, como a casa de um boto; em razo disso, surgem trs leis a respeito das feridas punctrias: 1. Lei: as feridas punctrias provocam, quando retirado o instrumento, a forma de casa de boto ou botoeira; 2. Lei: feridas punctrias numa mesma regio de linhas de tenso ou linhas de Languer, tm todas o mesmo sentido; 3. Lei: diz respeito s feridas que acontecem coincidentemente numa mesma regio de linhas de tenso, e diz respeito forma que a leso vai apresentar, ou seja, forma triangular. As feridas na zona de confluncia das linhas de fora tomam a forma de tringulo. A importncia desses instrumentos perfurantes na Medicina Legal localizase no fato de serem esses instrumentos inoculares de infeco, pois as feridas produzidas, embora aparentemente pequenas, so profundas. Esses instrumentos tambm tm uma propriedade do sinal do acordeo, ou sinal de Lacassagne, cuja ferida, em virtude de ser comprimida, apresenta uma extenso maior do que o instrumento que a produziu. b) Feridas incisas (produzidas por instrumentos cortantes) Caractersticas das feridas incisas: regularidade das bordas (pois no foi rasgada); regularidade do fundo da leso; ausncia de vestgios traumticos em torno da ferida;

hemorragia abundante; predominncia do comprimento sobre a profundidade; afastamento das bordas da ferida, se o corpo vivo, em razo da retratilidade da pele; cauda de escoriao voltada para o lado em que terminou a ao do instrumento; a extenso da ferida quase sempre menor do que aquela que realmente foi produzida, em virtude da elasticidade dos tecidos; as vertentes (encostas) da leso so emparedadas (regulares) e sero verticais se o instrumento agiu perpendicularmente, e em forma de bizel se o instrumento agiu inclinadamente (oblquo); o centro da ferida mais profundo que as extremidades. Nas feridas incisas, quando existem duas leses cruzadas, possvel determinar qual a primeira e qual a segunda, pois a primeira foi feita sobre a pele ntegra e, na segunda, vai haver um degrau, porque foi feita sobre a leso anterior. A esse degrau d-se o nome de Sinal de Chavigny: angulao que se verifica na segunda ferida, na hiptese de duas feridas se entrecortarem. Algumas feridas incisas tm nome prprio: 1. esgorjamento: ferida incisa na regio anterior do pescoo; 2. degolamento: ferida incisa no plano posterior do pescoo (nuca); 3. decapitao: ferida incisa secionando todo o pescoo (guilhotina). c) Feridas produzidas por instrumento contundente Rubefao ou eritema: No perodo em que visvel, tem uma grande importncia, porque reproduz o instrumento que a produziu. Caracteriza-se por uma vermelhido no local atingido. H uma forte corrente dizendo que a rubefao no possui os requisitos de uma leso corporal, pois no tem uma base anatmica e dura pouco tempo (em mdia, 15 minutos). Escoriao: Abraso, lixamento da pele. S escoriao a abraso que se verifica na epiderme por atrito tangencial ou instrumento contundente. Quando a abraso se estende em profundidade, pegando a segunda camada da pele, no se trata de escoriao. No existe cicatriz de escoriao. Na escoriao h uma reconstruo integral da pele. Se houver cicatriz, trata-se de uma perda de substncia e no de escoriao. Equimose: Manchas roxas. A seqncia das cores da equimose permite estabelecer um diagnstico cronolgico da mesma. Outra caracterstica da

equimose que, nos impactos, costumam haver equimoses exatamente na forma do objeto que as produziu. Hematomas: So provocados por objetos contundentes. Consistem no extravasamento dos vasos sangneos. O sangue forma uma bolsa que caracteriza o hematoma. Independentemente dos hematomas superficiais, os instrumentos contundentes podem provocar hematomas de extrema gravidade. Podem provocar uma onda de choque que pode levar a uma leso dentro do fgado ou do bao. Essa ruptura intra-bao, nos primeiros momentos, no produzem graves sintomas e podem passar desapercebidos num exame clnico. O sangue fica dentro da cpsula que envolve o bao, quando a cpsula se rompe, ocorre a hemorragia e o indivduo entra em choque. Chama-se hematoma em dois tempos e mais comum no bao e no fgado. Outra situao extremamente grave so alguns traumatismos no crnio. Ainda que no haja uma fratura ou ferida externa, pode ocorrer a ruptura de um pequeno vaso na parte externa do crebro, que vai gotejando sangue e descolando a membrana que se expande at comprimir violentamente o crebro, levando o indivduo ao coma. um hematoma extradural em dois tempos que leva uma compresso do crebro. Quando o impacto maior e h um anteparo sseo, prensando partes moles entre o instrumento e o osso, pode ser que a leso se abra. A recebe o nome de ferida contusa. Ex.: soco no superclio. d) Feridas contusas: uma espcie de contuso. Suas caractersticas so: bordas irregulares; traumas nas proximidades das bordas; vertentes e fundo irregulares; entre uma lateral e outra pode haver ponte de tecido ntegro; sangram menos; so mais profundas do que compridas. Esses so os itens que permitem diferenciar uma ferida contusa de uma ferida incisa. As contuses podem provocar tambm ruptura de rgos internos. Existem rgos que, por suas caractersticas, so mais sujeitos ruptura, como o fgado e o bao. Se o rgo comprimido por aumento de presso interna, ele se rompe no pice da curvatura. Na medida em que se aumenta a presso interna do rgo, por compresso, ele se rompe.

As contuses podem provocar ainda algumas leses tpicas. Ex.: martelada na cabea provoca uma leso caracterstica que recebe o nome de ferida de Strassmann. Outra caracterstica da pancada com martelo o sinal de Carrara (pequenos crculos na regio afetada). e) Empalamento O indivduo amarrado e suspenso. Coloca-se uma haste e o indivduo descido pela haste, que penetra na regio perianal. Era uma prtica utilizada como pena de morte. Acidentalmente podem ocorrer empalaes. Ex: quedas a cavaleiro; quedas no campo da construo civil. f) Leses produzidas por cinto de segurana Quando a coliso ultrapassa em energia a capacidade do cinto, ele passa a funcionar como instrumento contundente. Hoje existem trs tipos de cinto: plvico: provoca leso na bacia, luxaes na coxa com relao ao quadril; transverso torxico: costumam provocar uma violenta projeo do pescoo e da cabea; cinto de trs pontos: torxico, diagonal e plvico. Provocam o chicote cervical que provoca luxao cervical ou fratura com morte imediata.

1. LESES COMBINADAS 1.1. Feridas Perfuroincisas Essas feridas so provocadas por instrumentos de ponta e gume, atuando por um mecanismo misto: penetram perfurando com a ponta e cortam com a borda afiada os planos superficiais e profundos do corpo da vtima. Agem, portanto, por presso e por seo. 1.1.1. Faca de ponta Na ponta da leso h a perfurao; no trajeto, o tecido se rasga e, no fundo, h a inciso. Regies de defesa: brao, antebrao, mo e dorso da mo. Para alguns doutrinadores, num ataque com faca, de acordo com as leses provocadas nas regies de defesa, j se convencionou no Tribunal do Jri que no existe o ataque de surpresa, pois as leses comprovam a defesa e, portanto, conclui-se que no houve surpresa, desqualificando o homicdio. 1.2. Feridas Perfurocontusas Essas leses so produzidas por um mecanismo de ao que perfura e contunde. Na maioria das vezes, esses instrumentos so mais perfurantes do que contundentes. Esses ferimentos so produzidos quase sempre por projteis de arma de fogo; no entanto, podem estar representados por meios semelhantes, como a ponta de um guarda-chuva.

1.2.1. Armas de fogo Acionam cartuchos com projtil, que um instrumento caracterstico da ferida perfurocontusa. Existem outros instrumentos que produzem esse tipo de ferida, mas no de uso to freqentes como as armas de fogo que, so caracterizadas como instrumentos perfurocontudente. As armas podem ser classificadas em: mecnica: revlver; semi-automtica: pistolas; automticas: metralhadoras; curtas: pistolas, revlveres; longas: rifles, fuzis e cartucheiras; projtil nico: revlver, metralhadora, rifle; projtil mltiplo: garrucha e cartucheira. Calibre o dimetro medido na sada do cano. Essa medida o que d o calibre em milmetros ou em centsimos de polegada. Nas armas de projtil mltiplo, o calibre dado pelo peso. Ex.: calibre 12 o cartucho dessa arma contm doze esferas de chumbo que, somadas, correspondem a uma libra. De uma maneira geral, o cartucho composto de um cilindro com uma extremidade fechada e outra aberta. Dentro desse cilindro h a espoleta, impregnada por mercrio, que, pelo atrito, produziz uma pequena chama. O cartucho composto, ainda, de plvora (enxofre+carvo+salitre). Esse combustvel tamponado por papel, papelo ou tecido, que recebe o nome de bucha. Finalmente, encravado no cartucho, h uma pea de metal, que o projtil. A arma de fogo o aparelho que coloca em ao o cartucho. Impactada pela espoleta, a plvora incendiada. A queima de uma carga padro (calibre 38) gera gases que, aquecidos, so capazes de saturar 800 cm, o que aumenta a presso do compartimento e desentuba o projtil, imprimindo-lhe uma velocidade em torno de 600 a 800 km/h. Isso nos projteis chamados de baixa energia. Quando o projtil desentuba, ocorre a exploso do cartucho. Uma parte da plvora no se queima, sendo lanada a uma distncia de at 15cm, sob a forma de gros. Junto com o projtil so lanados tambm restos da bucha, labareda, fumaa e eventuais sujeiras, como graxa. Atingem a ferida tudo o que estava no caminho do projtil (tecido da roupa, boto etc.). O projtil se enxuga e chega limpo ao destino. Essa rea chama-se rea de enxugo.

O projeto , ento, composto de: cartucho: estojo de lato, plstico ou papel prensado; espoleta: fulminato de mercrio ou fosfato de brio; plvora: carvo pulverizado, enxofre e salitre; bucha: disco de feltro, metal ou papelo; projtil: de chumbo, podendo ser revestido de nquel. O projtil instrumento perfurocontundente. 1.2.2. Tiros queima-roupa Se o alvo estiver colocado a 10 cm da arma, o projtil, alm de contundir e perfurar, queimar a pele, provocando uma zona de queimadura. O projtil, perfurando a pele, rompe pequenos vasos, formando a zona equimtica. O interior do cano das armas curtas, de projtil nico, no liso. A usinagem do cano possui cristas que recebem o nome de raia. A raia produz uma rotao do projetil a alta velocidade, o que propicia um alcance maior e uma direo mais precisa. As raias podem ser: Destrogiras: imprimem um movimento no sentido horrio. Sinistrogiras:imprimem uma rotao no sentido anti-horrio. Devido rotao, o projtil provoca na pele uma escoriao. Onde o projtil perfurar, haver uma zona de escoriao. Essa zona recebe o nome de zona de Fisch. Chegam tambm ferida os detritos da bucha, que so retidos pela pele, que se chama zona de enxugo. Nessa zona de enxugo sero encontrados tudo o que o projtil leva pelo caminho (tecido, sujeiras etc.; coisas que esto interpostas entre o cano e a pele do indivduo). A plvora que chega junto com o projtil e que se aloja na pele, produz a zona de tatuagem. Por fora dessa zona, a fumaa: zona de esfumaamento ( a mais perifrica de todas). A caracterstica da zona de esfumaamento que pode ser facilmente retirada com uma simples limpeza no local. Se traarmos uma linha da zona de esfumaamento, teremos a figura geomtrica de um cone. Quanto maior a base do cone, maior a distncia entre a arma e o alvo.

possvel, a partir do exame da ferida, determinar a qual distncia foi dado o tiro. A zona de Fisch alongada aponta na direo de onde veio o projtil. Nos orifcios ovais, a maior extenso da zona de Fisch indica a direo do projtil. So caractersticas do furo de entrada nos tiros queima-roupa: menor que o dimetro do projtil, devido elasticidade da pele; forma circular se o disparo for perpendicular pele, e forma ovalar se o disparo for tangencial; a borda est voltada para dentro; presena de orla de escoriaes (zona de Fisch); zona de enxugo; zona de tatuagem; zona de esfumaamento perifrico; aurola equimtica; zona de queimadura - a borda ligeiramente queimada pelo calor do projtil; zona de compresso de gases, vista apenas nos primeiros instantes. 1.2.3. Tiros encostados Quando o orifcio do cano est encostado pele, no h espao entre o cano e a pele. Acontece uma exploso interna: gases, plvora, fumaa, fica tudo sob a pele. Essa ferida recebe o nome de zona de Hoffman. Aps o disparo, a zona atingida fica estufada e crepita (sinal de crepitao). A rea fica meio abaulada. Esse sinal s vale para os primeiros momentos aps o disparo. O disparo encostado produz a impresso do cano quente na pele. Essa impresso recebe o nome de sinal de Werkgaertner. Existe uma outra hiptese, quando o revlver no est totalmente encostado pele. Isso gera uma figura diferente, o sinal de Werkgaertner aparece pela metade, em forma de meia lua. Nos trs tipos de disparos, as bordas da ferida esto voltadas para dentro. No ser humano vivo, os orifcios de entrada so menores que o dimetro do projtil, por causa da elasticidade da pele. So caractersticas das feridas produzidas por tiro encostado:

orifcio de dimetro menor que o projtil; marca quente, desenhando a boca do cano na pele (sinal de Werkgaertner); a forma do orifcio irregular, denteada e com entalhes, devido ao resultante dos gases que deslocam e dilaceram o tecido (sinal de Hoffmann); em geral, no h zona de tatuagem e esfumaamento, pois os elementos da carga penetram pelo orifcio da bala. 1.2.4. Tiros distncia So caractersticas do orifcio de entrada: forma arredondada ou ovalar, dependendo do disparo, se for perpendicular ou oblquo em relao vtima; quando o tiro dado em perpendicular, o dimetro da ferida menor que o projtil; a orla de escoriaes tem aspecto concntrico nos orifcios arredondados e em crescente ou meia lua nos orifcios ovalares; presena da aurola equimtica (ruptura de pequenos vasos localizados na vizinhana do ferimento); bordas para dentro. So caractersticas de sada do projtil das feridas produzidas por arma de fogo: o orifcio de sada maior que o de entrada; a forma de ferida estrelada (rasgada com as bordas voltadas para fora); nunca tem zona de Fisch, nem qualquer outra leso de pele, pela simples razo que em momento algum o projtil tocou a superfcie da pele na sada, ele a vulnerou de dentro para fora; pode haver zona de enxugo, pois o projtil pode levar tecidos, fragmentos de osso etc. De maneira geral, a linha reta que une o orifcio de entrada e o orifcio de sada representa o trajeto do projtil dentro do corpo. Em vrias ocasies, o projtil pode mudar de trajeto dentro do corpo, pode se fragmentar e pode, tambm, mudar de ngulo. Na cabea, conforme o grau de impacto, pode ocorrer um fenmeno: O couro cabeludo mvel, e sob o couro existe um tecido mole. Algumas vezes, o projtil passa pelo couro cabeludo e no penetra na cabea, dando-

se o nome de bala giratria. A bala faz o trajeto entre o couro cabeludo e o tecido que envolve o crnio. A localizao do projtil de arma de fogo dentro do corpo humano extremamente difcil sem o auxlio do raio X, pelo fato de o projtil mudar o seu trajeto dentro do corpo. Quando o projtil entra, forma um cone que recebe o nome de sinal de Bonnet, onde o orifcio de entrada menor que o de sada. Tem o formato de um funil e, na entrada, o dimetro menor aponta a direo do projtil. 1. ENERGIA DE ORDEM FSICA Vrios so os agentes fsicos: som, luz, frio, calor, radioatividade etc. 1.1. Aes Fsicas da Temperatura 1.1.1. Frio Os seres humanos so homeotrmicos (temperatura constante) e resistem a uma variao de temperatura pequena (abaixo de 42 graus centgrados e acima de 32 graus centgrados de seu prprio corpo). Para tanto, h mecanismos termoreguladores que mantm a temperatura estvel em aproximadamente 36 graus centgrados. O frio sistmico faz diminuir as funes circulatrias e cerebrais. A ao do frio leva a alteraes do sistema nervoso, sonolncia, convulses, delrios, perturbaes dos movimentos, anestesias, congesto ou isquemia das vsceras, podendo advir a morte. Os cadveres tm pele clara, extravasamento de sangue pelas vias respiratrias, resfriam rapidamente e demoram mais para entrar em putrefao. O frio pode atuar diretamente sobre o corpo. Podem ocorrer geladuras localizadas de vrios tipos: a) Primeiro grau rea superficial plida (ou rubefao), inchada e de aspecto anserino na pele. Dura algumas horas e depois cessam os efeitos, porm a pele descasca. b) Segundo grau Ao mais intensa do frio, que provoca a destruio da epiderme, com formao de bolhas de sangue que estouram e cicatrizam. c) Terceiro grau Quando a ao do frio muito intensa, provocando o congelamento do local e levando necrose dos tecidos moles por falta de circulao. Formam-se

lceras e, s vezes, so necessrios enxertos. Causam deformidades permanentes. d) Quarto grau Quando o indivduo permanece com os membros em contato direto com o frio. Um grande segmento do corpo gangrena e vai necrose. Chama-se de trincheira. Hoje ocorre no alpinismo, nas indstrias com cmaras frias etc. 1.1.2. Calor O calor pode atuar de duas formas: a) Calor difuso Calor sistmico, tendo como conseqncia as temonoses: insolao: exposio natureza; intermao: exposio a outras fontes de calor, ambiente confinado, lugares mal arejados. Pode ocorrer a degenerao das protenas, desidratao, convulso e morte. b) Calor direto Calor local tem como conseqncia as queimaduras, que podem ser causadas por chamas, gases, lquidos ou metais aquecidos. Os materiais em combusto so instrumentos para essa ao. Mais do que a profundidade da queimadura, interessa a sua extenso. Assim, queimaduras de qualquer grau que atinjam mais de 40% da superfcie do corpo determinaro a morte do indivduo. Em Medicina Legal, adota-se a classificao das queimaduras feita por Hoffmann: a) Primeiro grau Vermelho, a pele apresenta-se inchada e quente, dolorida. Presena de eritema (sinal de Christinson). A epiderme descasca aps 3 ou 4 dias (ex.: queimadura por raios solares). b) Segundo grau A superfcie apresenta vesculas com lquido amarelado (sais e protenas). Dependendo da rea afetada, pode haver abalos no mecanismo, levando morte. As bolhas (sinal de Chambert) podem infeccionar, produzindo manchas (ex.: queimadura em decorrncia de gases, lquidos e metais aquecidos). c) Terceiro grau So as queimaduras produzidas, geralmente, por chama ou slido superaquecido e determinam a queima da pele. A queimadura de terceiro

grau incide at no plano muscular. Forma-se uma placa dura e preta que, retirada, resulta em lcera, sendo necessrio o enxerto. A pele fica retrtil, com cicatrizes chamadas sinquias. d) Quarto grau a carbonizao do plano sseo. Pode ser total ou generalizada. A carbonizao total rara e difcil de ser produzida. A carbonizao generalizada reduz o volume do corpo por condensao dos tecidos. Corpos de adultos carbonizados chegam estatura de 100 a 120 cm. O morto toma a posio de boxer, devido retrao dos msculos. A exploso de gases causa o rompimento da cavidade abdominal e do crnio. 1.1.3. Importncia mdico-legal das queimaduras A observao das queimaduras propicia saber se o indivduo j estava morto ou no no momento da carbonizao. Se morreu no fogo, o sangue dos pulmes e corao possui alta taxa de xido de carbono, h fuligem e fumaa nas vias respiratrias (sinal de Montalti); s fica na posio de boxer se foi carbonizado enquanto vivo ou logo aps a morte por qualquer outra causa. Identificao do morto: feita por meio da ausncia de rgos, disposio dos dentes, fratura ssea antiga e por meio de material gentico. 1.1.4. Temperaturas oscilantes Oscilaes bruscas de temperatura podem diminuir a resistncia, a imunidade do indivduo (pneumonia, tuberculose etc.). Ocorrem em indivduos que trabalham em cmara fria. 1.2. Aes Fsicas da Presso Atmosfrica Com a diminuio da presso atmosfrica, h a diminuio de oxignio e de gs carbnico e o indivduo passa mal. o chamado mal das montanhas. Sofrem aumento da presso atmosfrica os mergulhadores, escafandristas e outros profissionais que trabalham debaixo dgua ou em tneis subterrneos. No correm s o perigo do aumento da presso atmosfrica, mas especialmente o da descompresso brusca, que pode causar leses muito graves. Essa sndrome conhecida como mal dos caixes. A natureza jurdica desse evento quase sempre acidental e desperta interesse no estudo da infortunstica (acidente de trabalho). 1.3. Aes Fsicas da Eletricidade A eletricidade natural e a artificial podem atuar como energia danificadora.

A eletricidade natural, quando age letalmente (quando h bito), denominase fulminao. Quando provoca apenas leses corporais, chama-se fulgurao (ex.: raios). A eletricidade industrial a produzida pelo homem e tem como ao uma sndrome chamada eletroplesso. So assim chamadas todas as formas de leses causadas por eletricidade industrial, com ou sem morte. H, tambm, a eletrocusso, que a pena de morte em cadeira eltrica. H trs hipteses de morte causada por eletricidade: a carga eltrica leva contratura, podendo levar o indivduo asfixia (contratura dos msculos respiratrios); a carga eltrica leva desorganizao dos batimentos provocando a contrao fibrilar do ventrculo e a morte; cardacos,

a carga eltrica leva parada cerebral ocasionada por hemorragia das meninges, das paredes ventriculares, do bulbo e da medula espinhal. Na fulgurao, as leses podem ser por queimaduras ou por alteraes funcionais dos rgos citados acima. Mas pode ser que haja resistncia, levando ao calor, produzindo queimaduras (auto-fritura). o chamado efeito Jaule. s vezes, a morte devida a outras causas sobrevindas de quedas ocasionadas pela eletricidade. Ao receber o choque eltrico, a vtima precipitada ao solo, morrendo por ao de energia mecnica (contuso). 2. ENERGIA DE ORDEM QUMICA Existem substncias que, por ao qumica, fsica ou biolgica, so capazes de causar danos vida e sade. Quando a ao de ordem externa, as substncias recebem o nome de custicos. Quando a ao de ordem interna, as substncias recebem o nome de venenos. 2.1. Ao Externa (custicos) Entre as substncias qumicas de ao externa, dois grupos so mais importantes: alcles e cidos. Efeito coagulante: os custicos produzem leso grave, afetando a pele violentamente, formando escaras (reas enegrecidas). A evoluo mostra que essa rea deve ser retirada para que ocorra a cicatrizao. O efeito coagulante desidrata os tecidos (ex.: nitrato de prata). Efeito liquefaciente: a substncia qumica atua desfazendo os tecidos. Produzem escaras moles (ex.: soda custica).

Vitriolagem: um tipo de comportamento delinqente, em que algum joga sobre as pessoas uma substncia custica. No sculo XVIII, quando a qumica comeou a desenvolver-se, chamou a ateno dos qumicos o cido sulfrico, que, na poca, chamava-se leo de vitrolo, da o nome vitriolagem, dado atitude de algum que joga, dolosamente, uma substncia qumica sobre as pessoas. Venenos so substncias qumicas que, atuando no organismo, vo desempenhar um efeito sistmico. Veneno qualquer substncia que, introduzida no organismo, danifica a vida ou a sade. Entende-se por envenenamento, portanto, a morte violenta ou o dano grave sade, ocasionados por determinadas substncias de forma acidental, criminosa ou voluntria. 2.2. Ao Interna (venenos) Os venenos apresentam-se em dois grupos: organofosforados e clorados. Tanto um grupo como o outro, principalmente os organofosforados, podem ser causadores de envenenamento por contato com a pele, ingesto e inalao. A morte ocorre por parada respiratria e edema pulmonar. O indivduo fica ciantico (roxo), o que um sinal de que est havendo m respirao dos tecidos. Os clorados so menos perigosos, porm podem envenenar o sistema nervoso central (ex.: formicida, gs metano, combustveis, dependendo da quantidade). As noes do veneno, necessariamente, passam pela considerao de ordem quantitativa. No basta, apenas, a qualidade da substncia, preciso que haja uma certa quantidade. Essa noo de quantidade passa a envolver praticamente todas as substncias. Existem substncias que, em quantidade muito pequena, podem produzir a morte (ex.: estricnina 1mg pode causar convulso, contratura e morte); porm, 1 milsimo de miligrama pode servir como remdio. A mesma cocana que excita, numa quantidade maior, pode ocasionar a morte, num efeito inverso. A variao da quantidade pode inverter o efeito da substncia. 1. ASFIXIAS Todo e qualquer mecanismo que intervenha na correta oxigenao dos tecidos humanos constitui uma asfixia.

Asfixias so todas as formas de carncia ou ausncia de oxignio, vital para o ser humano, todas as anormalidades no processo respiratrio. Hipxia: situao em que est ocorrendo uma diminuio da oxigenao dos tecidos. Anxia: ausncia de oxigenao. Toda e qualquer situao que interfira nas vias respiratrias, na caixa torxica, nos pulmes, caracteriza asfixia. A caixa torxica um sistema fechado. Em seu lado inferior est localizado o msculo do diafragma. H um espao entre a parede interna da caixa torxica e o pulmo: o espao pleural. A presso nesse espao maior que a presso atmosfrica. A leso corporal que perfure expressivamente a caixa torxica vai provocar uma abrupta entrada de ar, que recebe o nome de pneumotrax, que cola o pulmo e o indivduo no consegue respirar. O ser humano oxigena em ambiente gasoso, com determinadas caractersticas. No respiramos quando o meio gasoso muito alterado, quando o ar composto por outros gases, nem em meio lquido e nem em meio slido. 1.1. Classificao das Asfixias 1.1.1. Por modificao do meio ambiente Confinamento Soterramento Afogamento 1.1.2. Por obstruo das vias areas Enforcamento Estrangulamento Esganadura 1.1.3. Por impedimento da expresso do trax Sufocao indireta Afundamento de trax 1.1.4. Por paralisao dos msculos respiratrios Paralisia espstica eletroplesso, estricnina Paralisia flcida curare 1.1.5. Por parada respiratria central ou cerebral

Eletroplesso Traumatismo crnio-ceflico 1.1.6. Por paralisia central Depresso do sistema nervoso central txicos 1.2. Sinais Gerais de Asfixia 1.2.1. Manchas de hipstase O indivduo morre e, em conseqncia da morte, o corao no bate. O sangue contido nos pequenos vasos prximos pele, com a morte, acumula-se, por fora gravitacional, nas regies de maior declive. Se o morto est em p (enforcado), o sangue vai para as extremidades (mos, ps, pernas). Se o morto est deitado, as manchas tendem a se formar nas costas, se ele estiver em decbito dorsal, ou no trax, se ele estiver em decbito ventral. Nas regies de apoio, o sangue no chega, portanto, no se formam as manchas nessas regies. Essas manchas comeam a se formar 1 ou 2 horas depois da morte. Nos casos de asfixia, as manchas hipostsicas so mais marcadas (pronunciadas) e mais precoces, porque o sangue est sem oxignio, com gs carbnico. O sangue venoso (com gs carbnico) mais escuro, por isso que as manchas hipostsicas so mais visveis nos asfixiados. So, tambm, mais precoces, porque, em decorrncia do aumento da presso, h um acmulo muito maior de sangue nas extremidades. 1.2.2. Cianose Face, rosto, parte alta do pescoo nos asfixiados so cianticos. Em todos os casos de asfixia, percebe-se, na face, o sinal de cianose (roxido). 1.2.3. Equimose Manchas na pele e em algumas vsceras; em conseqncia do aumento da presso, os vasos se rompem formando as manchas equimticas. No pulmo, recebem o nome de Manchas de Tardieu. Alguns casos so tambm visveis no corao (em crianas de pouca idade). 1.2.4. Sangue no coagulado O sangue tende a no coagular, a permanecer fluido. 1.2.5. Maior quantidade de sangue nos rgos rgos que normalmente contm sangue, como o fgado, ficam muito cheios. Esse mesmo aumento da presso, durante a asfixia, pode provocar um aumento de sangue nos alvolos dos pulmes e pode ocorrer ruptura de vasos dos alvolos; por isso comum a secreo sanguinolenta nos casos de asfixia.

1.3. Asfixias por Modificao do Meio Ambiente 1.3.1. Confinamento A modalidade mais comum de confinamento o das pessoas que, num ambiente compartimentado, tm o sangue enriquecido por monxido de carbono. Ex.: num comboio de trem a carvo, fechado sem oxignio, o indivduo morre asfixiado. A cor da hemoglobina mais avermelhada. O sangue no tem a colorao forte das outras asfixias, porque no foi asfixiado com gs carbnico, mas com monxido de carbono. Confinamentos podem ocorrer com grupos de pessoas num compartimento onde no h renovao do ar. As pessoas se asfixiam com o prprio gs carbnico: a asfixia clssica. O confinamento pode se dar em ambientes em que a mistura atmosfrica pobre em oxignio: confinamento por inadequao da mistura oxigenatria (ex.: cabine de avio). O confinamento em ambiente com gs tambm outra causa de asfixia. 1.3.2. Soterramento Soterramento a asfixia no meio terroso. uma asfixia clssica. Ocorre a sufocao direta, indireta, mais a imerso em meio no respirvel (slido). possvel , tambm, o soterramento em gros (soja, trigo etc.). 1.3.3. Afogamento Afogamento a asfixia no meio lquido: pode ser gua, tanque de coca-cola, lcool, gasolina etc. Num primeiro momento, o afogado tem a fase de segura ao mximo a respirao. Quando no profundamente inundando os pulmes de gua. morte aparente. Aps isso, o corao bate por mais a) Sinais externos do afogamento Baixa temperatura da pele: a temperatura da pele dos afogados precocemente mais baixa (mais fria). Pele anserina: a pele tem um aspecto chamado anserino - arrepiada pelo mecanismo pilo-eretor. Recebe o nome de Sinal de Bernt. Contrao de determinadas partes do corpo: os mamilos, a bolsa escrotal, pnis e clitris so contrados. surpresa: fica agitado e agenta mais, respira Entra em concusso e ou menos 9 minutos.

Macerao da pele palmar e plantar: a pele das mos e dos ps ficam maceradas (enrugadas). A pele chega a descolar e permanece to perfeita, destacada com tanta preciso (como uma luva), que at possvel colher as impresses digitais. Mscara equimtica: o rosto fica preto, devido quantidade de sangue acumulado. Cogumelo de espuma: espuma branca ou rosada que sai da boca e dos orifcios nasais. A presena de cogumelo de espuma no cadver, por si s, no confirma o diagnstico da morte por afogamento. Nos casos de pneumonia, tambm pode ocorrer o cogumelo de espuma. Leses por animais aquticos: so comuns nos afogamentos. Os animais tm predileo pelos lbios, plpebras e nariz. O cadver atacado pela fauna aqutica tem um aspecto mais ou menos uniforme. Esses sinais so bem caractersticos. b) Sinais internos de afogamento Inundao das vias areas com lquido: as pessoas se afogam em vrios tipos de lquido. A presena desses lquidos no deve ser, apenas, uma constatao pericial. Por meio do lquido pode-se analisar o meio aqutico em que o indivduo se afogou. Ex.: o indivduo pode ter sido morto em uma banheira e ter o seu corpo jogado no mar. A presena do lquido serve, tambm, para esclarecer, exatamente, o lugar onde ocorreu o afogamento. Mesmo se tratando de afogamento em gua doce com posterior remoo do cadver para um rio, tambm de gua doce, h diferenciao entre os lquidos. Leso dos pulmes: apresenta um pontilhado de manchas chamadas de manchas de Tardieu. Quando o processo de afogamento mais demorado, essas manchas podem ser grandes, recebendo o nome de manchas de Pautalf. Quando o indivduo aspira uma grande quantidade de gua, rompem-se os alvolos e o lquido passa pelo espao intra-alveolar. Os pulmes, ento, enchem-se de gua, inchando-se. Isso se chama enfisema aquoso ou sinal de Brouardel. Nas mortes agnicas, os pulmes tornam-se extremamente estendidos. O pulmo adquire um volume maior, s expensas do lquido que est nas vias. A distenso dos pulmes no se d s em virtude do lquido que est dentro dele, mas tambm porque o pulmo ainda estava cheio de ar. Forma-se, ento, uma mistura borbulhante de gua e ar. Isso explica o fato de que, ao retirar o cadver da gua, forma-se um cogumelo de espuma. A presso atmosfrica age na mistura de ar e gua, formando o cogumelo. Presena de lquidos no aparelho digestivo: o indivduo tambm engole gua, alm de inspir-la. A trompa de Eustquio liga a faringe ao ouvido mdio; nos afogamentos, h presena de lquido no ouvido mdio, que chegou at l pela trompa de Eustquio.

Um cadver dentro da gua, pela sua densidade, tende a afundar. Durante as primeiras 24 horas, o cadver fica submerso, depois disso ele vem tona, porque o processo da putrefao humana, na sua segunda fase, produz uma enorme quantidade de gases (fase gasosa). Esses gases fazem com que o cadver venha para a superfcie. Em um cadver putrefato, a certeza de que ocorreu o afogamento dada pela anlise comparativa do sangue da aurcula direita e esquerda do corao. O sangue com oxignio vai para a periferia. Num afogamento, a gua passa para a pequena circulao e mistura-se com o sangue. Se for retirado sangue do lado direito do corao e sangue do lado esquerdo, que veio do pulmo, o sangue mais diludo ser o da aurcula esquerda, que aquele que veio da pequena circulao. O sangue que veio da aurcula direita ser mais concentrado. Isso dar a certeza se houve ou no afogamento. Resumindo: se o sangue da aurcula esquerda estiver mais diludo, com certeza ocorreu o afogamento. Pela anlise do sangue, pode-se, tambm, dizer em qual tipo de lquido ocorreu o afogamento. c) Mecanismos jurdicos da morte por afogamento Acidente, suicdio e homicdio. A hiptese de afogamento por acidente configura a maior parte dos casos. Tecnicamente, no existe suicdio por afogamento. comum encontrar nesses afogados sinais de luta pela sobrevivncia. Esses casos recebem o nome de suicdio acidental. Permanecido na gua o morto por afogamento, quando retirado, h uma violentssima acelerao do processo de putrefao. Nos cadveres cuja pele no est ntegra, no h compartimentao de gases e mais difcil de se encontrar o cadver. 1.4. Asfixia por Obstruo das Vias Areas 1.4.1. Enforcamento Enforcamento a constrio do pescoo por um instrumento chamado lao e a fora que constrange a do prprio indivduo. No enforcamento, a fora constritiva o prprio peso do indivduo. 15 kg so suficientes para que ocorra o enforcamento. No enforcamento e no estrangulamento, o lao que circunda o pescoo, levando o indivduo morte por asfixia, deixa uma marca caracterstica, que se chama sulco. uma marca, em baixo relevo, do material utilizado no lao

que provocou o enforcamento, que desenha o instrumento que constringiu o pescoo, caracterizando o sulco. Alm do sulco, embaixo da pele h leses: hemorragias e fraturas em cartilagens, ruptura de vasos, nervos achatados e seco da artria cartida, que recebe o nome de sinal de Amussat. H dois tipos de enforcamento: a) Suspenso completa Quando h uma distncia considervel entre o corpo e o cho. O corpo, verticalizado, fica solto no espao, sem contato com o plano de sustentao. b) Suspenso incompleta Quando o corpo no fica inteiramente pendurado. Ex.: amarrar o lao numa janela. Nas asfixias por enforcamento, o mecanismo misto, pois, alm da constrio das vias respiratrias, constringe-se, tambm, a circulao sangunea e o sistema nervoso que comanda a respirao e os batimentos cardacos. c) Fases da morte por enforcamento Fase da resistncia: agitao; o indivduo tem alucinaes, viso turva, torpor, perda da conscincia (quase coma). Essa fase dura de 40 a 80 segundos. Fase da agitao: ausncia de conscincia, convulses intensas, alteraes na cor da pele, lngua protusa, olhos esoftalmos. Essa fase dura de 3 a 5 minutos. Fase de prostrao ou morte aparente: o corao bate e essa fase pode durar at 10 minutos. No enforcamento, o sulco oblquo ascendente, tem profundidade varivel, interrompido no n, fica por cima da cartilagem tireidea. 1.4.2. Estrangulamento No estrangulamento, que tambm uma constrio por um lao, a fora constritiva externa. O que constringe o lao, acionado por uma fora externa, geralmente homicida. Para determinar se a causa da morte foi enforcamento ou estrangulamento, necessria a anlise das caractersticas do sulco deixado pelo lao. No estrangulamento, o sulco horizontal, tem profundidade uniforme, no interrompido e fica no meio do pescoo. 1.4.3. Esganadura

Esganadura a constrio do pescoo por um membro do corpo humano: mos, ps, cotovelos, joelhos. A esganadura sempre um homicdio, porque a fora constritiva ser sempre um segmento do corpo humano. Na esganadura, sempre h disparidade de foras entre os sujeitos. 1.5. Asfixias por Impedimento da Expanso do Trax 1.5.1. Sufocao indireta Diz respeito a todo e qualquer fenmeno que comprima o trax, impedindo a sua expanso (ex.: acidente de veculos, homicdio, estouro de pessoas contra a parede, morte por pisoteamento contnuo entre os seres humanos). H uma compresso do trax, que impede a respirao, provocando a asfixia. 1.5.2. Afundamento de trax Fraturas mltiplas nas costas que bloqueiam a respirao, provocando a morte por asfixia. 1.6. Asfixias por Paralisao dos Msculos Respiratrios 1.6.1. Paralisia espstica a contratura dos msculos. Ocorre nos casos de morte por eletroplesso. Alguns txicos tambm podem levar a esse estado. O ttano tambm outra causa da paralisia espstica. Um veneno que leva a essa paralisia a estricnina. 1.6.2. Paralisia flcida A paralisia flcida causada por substncia vegetal, utilizada pelos ndios da Amaznia, de nome curare. O curare utilizado, tambm, nas anestesias. Outra hiptese remota, mas que tambm pode ocasionar paralisia flcida, o traumatismo de medula (raquimedular). 1.7. Asfixias por Parada Respiratria Central ou Cerebral 1.7.1. Traumatismo crnio-enceflico O traumatismo crnio-enceflico pode ser ocasionado por uma pancada violenta na cabea, que afunda o crebro. Esse traumatismo lesa os centros de comando e o indivduo pra de respirar. 1.7.2. Eletroplesso

A carga eltrica leva parada cerebral ocasionada por hemorragia das meninges, das paredes ventriculares, do bulbo e da medula espinhal. 1.8. Asfixias por Paralisia Central 1.8.1. Depresso do sistema nervoso central ocasionada por drogas que levam o sistema nervoso a parar. O modelo clssico inclui as substncias barbitricas, lcool e overdose por cocana (asfixia por depresso do sistema nervoso central). Outras substncias que podem produzir esse mesmo efeito so alguns tranqilizantes. 1. LESO CORPORAL A lei penal distingue leses corporais em trs tipos: leves, graves e gravssimas. As leses classificam-se pelo resultado, no importando o seu lugar, o que as produziu ou qual sua extenso. Do ponto de vista mdico-legal, as leses so classificadas pelo resultado. A lei dispe se da leso corporal resulta (...) e relaciona quatro resultados que definem as leses graves e cinco resultados que definem as leses gravssimas. Por excluso, as leses no definidas pela lei so consideradas leves. 1.1. Leses Corporais Graves 1.1.1. Se da leso corporal resultar incapacidade para as habitualidades ocupacionais por mais de trinta dias Ocupao habitual tudo o que a pessoa faz, desde o nascimento at a morte. mais do que o trabalho, embora tambm o inclua. O exame que comprova a incapacidade deve ser realizado no 30. dia aps a leso. A incapacidade no precisa necessariamente ser absoluta. 1.1.2. Se da leso corporal resultar perigo de vida a leso que causa uma quase morte, que provoca uma periclitao vital. No existe, legalmente, a expresso risco de vida. Risco prognstico e no existe em medicina legal. Perigo de vida um momento, um instante, em que uma funo vital periclitou (ex.: parada cardaca, estado de coma, parada cerebral etc.). 1.1.3. Se da leso corporal resultar debilidade permanente de membro, sentido ou funo Membros: so os braos, antebraos, cotovelos, mos, dedos, coxas, pernas e ps.

Sentidos: so a viso, audio, olfato, paladar e tato. Funo: o conjunto de atividades de um ou mais rgos, sistema ou aparelho que conduz a uma atividade padro (ex.: funo digestiva, funo respiratria). Debilidade: no anulao da atividade, mas sim uma expressiva reduo da mesma. Permanente: quando cessam os meios habituais de tratamento ou recuperao. Meios habituais de tratamento so os meios rotineiros. Exemplos: debilidade permanente de membro: traumatismo no nervo do brao, devido ao qual o indivduo fica com uma expressiva diminuio da fora; debilidade permanente de sentido: reduo da audio por poluio sonora violenta; traumatismo ocular que produza descolamento da retina e o indivduo tenha reduzida sua viso; debilidade permanente de funo: espancamento no rim, que ocasiona diminuio da funo renal. 1.1.4. Se da leso corporal resultar antecipao do parto A lei protege o direito da me de gestar durante 40 semanas, ou do feto permanecer em gestao por 40 semanas. Se provocar antecipao e, conseqentemente, a perda desse direito, a leso corporal considerada grave. 1.2. Leses corporais gravssimas 1.2.1. Se da leso corporal resultar incapacidade permanente para o trabalho Permanente a incapacidade que sobrevm no instante em que cessam os meios habituais de tratamento. A lei diz claramente que a incapacidade diz respeito a qualquer tipo de trabalho, e no somente para o trabalho especificamente exercido pela vtima. 1.2.2. Se da leso corporal resultar enfermidade incurvel Incurvel aquilo que definitivo, em face de processos normalmente utilizados para a cura. Enfermidade uma anomalia, patologia permanente, resultante de um trauma externo (ex.: ferida penetrante no trax que ocasiona leso grave da pleura, produzindo uma aderncia do pulmo caixa torcica e diminuindo, assim, a capacidade respiratria do indivduo). Quando resulta de fator interno, chamada de doena.

1.2.3. Se da leso corporal resultar perda ou inutilizao de membro, sentido ou funo Nesse caso a graduao maior do que na debilidade permanente (leso grave). Perda o zeramento das funes de um rgo, sua retirada, amputao, extrao. Exemplos: perda de membro: amputao de quaisquer dos quatro membros; perda de sentido: enucleao (extrao) do globo ocular; perda de funo: pancada no rosto que arranca todos os dentes, perdendo a funo mastigadora; inutilizao de membro: traumatismo sob o plexo braquial (embaixo do brao), com seco de nervo, inutilizando o brao; inutilizao de sentido: cegueira dos dois olhos; inutilizao de funo: traumatismo em bolsa escrotal que inutilize a funo reprodutora. A questo da viso tem uma outra conotao. Quando o indivduo enxerga com os dois olhos, no apenas enxerga o que tem que enxergar, como tambm possui uma especializao na funo da viso, chamada de funo estereosttica (viso em profundidade). Alguns peritos admitem que a cegueira total de um s olho no somente uma debilidade do sentido da viso, mas constituiria uma inutilizao da funo estereosttica. A surdez total unilateral retira do indivduo a audio estereofnica: ele no consegue direcionar exatamente de onde vem o som. Alguns peritos admitem que a surdez total unilateral constitui uma inutilizao da audio espacial, do sentido direcional da audio. No caso de rgos duplos mas independentes dos sentidos (como os rins) ,se somente um deles atingido, mesmo que resulte em extrao, entende-se como leso grave que causa debilidade, e no como leso gravssima. 1.2.4. Se da leso corporal resultar deformidade permanente Duas coisas esto envolvidas: o carter permanente e a aparncia. O conceito enfocado o de gerar repugnncia pela perda de harmonia e no pelo feio ou bonito. Esse conceito varia de pessoa para pessoa, de acordo com o sexo, idade, profisso, cultura. A questo da aparncia h que ser vista no contexto cultural em que o indivduo vive. Cicatrizes, alteraes de formas, desvios, claudicaes expressivas, tudo isso poder constituir uma deformidade permanente, desde que seja aparente e afete o modo de vida da pessoa. A deformidade permanente pode ter um resultado devastador na

vida do indivduo, pois estigmatiza, deforma a personalidade, a conduta e o comportamento de seu portador. 1.2.5. Se da leso corporal resultar aborto Aborto a morte fetal. Se da leso corporal resultar aborto, independentemente da inteno (dolo ou culpa), leso corporal de natureza gravssima. Tudo aquilo que provoca a destruio, a partir do instante da fecundao at o minuto que antecede o parto, constitui aborto. 1.3. Concausas Para todas as hipteses de leso exige-se uma clara e inequvoca relao de causalidade entre o agente determinante e o resultado. Nem sempre isso ocorre, podendo acontecer as concausas, que modificam o resultado ao arrepio da vontade do autor. Concausa o conjunto de fatores, preexistentes ou supervenientes, suscetveis de modificar o curso natural do resultado de uma leso. 1.3.1. Concausas preexistentes So aquelas que j existiam antes da leso e so capazes de modificar o resultado. As concausas preexistentes so classificadas em anatmicas, fisiolgicas e patolgicas. a) Concausas preexistentes anatmicas So anomalias congnitas (m formao), como a patologia cistus inversus (rgos do lado contrrio). b) Concausas preexistentes fisiolgicas Referem-se ao estado de funcionamento, no momento da leso, de determinado rgo (ex.: o sujeito est com a bexiga cheia; se houver trauma pode estourar a bexiga, ao passo que se ela estivesse vazia, esse mesmo trauma no a afetaria; mudana de resultado em razo de uma concausa preexistente de origem fisiolgica. Gravidez: no incio impossvel saber). c) Concausas preexistentes patolgicas So os casos de hemofilia, diabetes, aneurisma etc. 1.3.2. Concausas supervenientes Ocorrem depois, com o agravamento. negligncia, imprudncia, infeces etc Podem envolver impercia,