tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

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Tecnologia Pós-colheita e Qualidade da Matéria-prima Curso de Tecnologia Pós-Colheita e Processamento Mínimo de Produtos Hortofrutícolas Instituto Superior de Agronomia Lisboa 3 a 5 de Dezembro de 2007 Domingos Almeida

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Page 1: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Tecnologia Pós-colheita e Qualidade da Matéria-prima

Curso de Tecnologia Pós-Colheita e Processamento Mínimo de Produtos Hortofrutícolas

Instituto Superior de AgronomiaLisboa • 3 a 5 de Dezembro de 2007

Domingos Almeida

Page 2: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Conteúdo programático

•Matéria-prima de qualidade: um requisito fundamental

•Generalizações sobre Pós-colheitaHortofrutícola

• Comportamento pós-colheita e causas de depreciação da qualidade da matéria-prima

• Tecnologias pós-colheita

Page 3: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Requisitos-chave no processamento mínimo de hortaliças e frutas

•Matéria-prima de elevada qualidade•Cultivar•Tecnologia de produção•Colheita•Tecnologia de armazenamento

• Procedimentos rigorosos de higiene e segurança alimentar (HACCP)

• Temperatura baixa durante o processamento

• Limpeza e lavagem antes (e depois) do corte

• Qualidade da água

• Aditivos ou auxiliares tecnológicos suaves

• Técnica de enxugo pouco agressiva

• Técnicas de corte pouco agressivas

• Embalagem bem concebida e boa técnica de embalamento

• Gestão da temperatura durante a distribuição

(Ahvenainen, 1996; Cantwell & Suslow, 2002; Laurilaet al., 2002)

Page 4: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Consagrados Princípios da Pós-colheita I

1. A qualidade elabora-se no campo

2. A qualidade é máxima no momento da colheita

3. A colheita é uma agressão aos órgãos vegetais

4. As frutas e hortaliças são órgãos vivos sujeitos a condições adversas

5. A qualidade fisiológica de um órgão vegetal degrada-se após a colheita

(Almeida, 2007)

Page 5: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Consagrados Princípios da Pós-colheita II

6. A longevidade pós-colheita estádirectamente relacionada com a taxa respiratória e com o estado de desenvolvimento no momento da colheita

7. A refrigeração é o método mais eficaz para minimizar a perda de qualidade

8. Os órgãos vegetais não esquecem aquilo por que passam

9. Os inimigos são poucos e são oportunistas

10.A identidade dos produtos e a segurança alimentar não são negociáveis

(Almeida, 2007)

Page 6: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Comportamento pós-colheita

Perecibilidade muito variávelSofrem alterações fisiológicas e de composição relacionadas com amadurecimentoProblemas patológicos

Frutos maturos

Altamente perecíveisTaxa de respiração elevadaAlterações de composição rápidasPerda de peso é causa importante de deterioraçãoCrescimento pós-colheita pode ser problema

Órgão imaturos em crescimento rápido

Características geraisGrupo

Page 7: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Comportamento pós-colheita

Muito pouco perecíveisTaxa de respiração muito baixaTeor de humidade importante na conservaçãoGerminação

Sementes maturas e frutos secos

Pouco perecíveisTaxa de respiração baixaCrescimento pós-colheita

Órgãos de armazenamento e propágulos carnudos

Características geraisGrupo

Page 8: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Causas de deterioração pós-colheita

•Alterações metabólicas

•Produção ou exposição ao etileno•Danos mecânicos

•Perda de água•Acidentes fisiológicos•Patologia• Crescimento pós-colheita (e.g. abrolhamento)

Page 9: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Perda de águaAmarelecimentoDanos mecânicosTaxa de respiração elevadaPodridões

Hortaliças de folhas

(alface, espinafre, couves)

Danos mecânicosCura incompletaAbrolhamentoPerda de águaPodridõesDanos pelo frio (batata, batata-doce)

Hortaliças de raiz, bolbo e tubérculo

(cenoura, beterraba, cebola, alho, batata, batata-doce)

Principais causas de perdas qualitativas e quantitativas

Grupo de produtos

Page 10: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

PodridãoDanos mecânicosSobrematuração à colheitaPerda de águaDanos pelo frio (alguns casos)Alterações na composição

Frutos maduros

(tomates, melões, bananas, mangas, maçã, uva de mesa, ameixa, pêssego)

PodridãoSobrematuração à colheitaPerda de águaDanos mecânicosDanos pelo frio

Hortaliças de frutos imaturos

(pepino, courgette, berinjela, feijão-verde, quiabo)

Danos mecânicosDescoloraçãoPerda de águaQueda de flores

Hortaliças de inflorescência

(alcachofra, couve-flor, brócolo)

Principais causas de perdas qualitativas e quantitativas

Grupo de produtos

Page 11: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Operações

Colheita e operações no campo

Operações na central

Armazenamento

Distribuição

Transferência

Transferência

Transferência

Page 12: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Uma Classificação das Tecnologias Pós-colheita

III.2. Aplicadas ao ambiente

Atmosfera controlada e atmosfera modificadaEmbalagemCirculação e velocidade do arVentilação (renovação do ar)Eliminação do etilenoDesinfecção e sanidade

IV. Biotecnologias

I. Controlo da temperatura

II. Controlo da humidade relativa

III. Tecnologias suplementares

III.1 Aplicadas ao produtoOperações de limpezaOperações de selecçãoAntioxidantes (e.g. DPA)Aplicação de cálcioCuraTratamento com etilenoInibidores do etilenoRevestimentos comestíveisTratamentos pelo calorLuta contra as doenças pós-colheita

(Almeida, 2005; adaptado de Kader, 2002)

Page 13: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Baixa Temperatura

•Reduz a actividade metabólica

•Respiração, produção de calor

•Síntese de etileno

•Retarda o amadurecimento/senescência e alterações que lhe estão associadas

•Retarda ou impede crescimentos indesejados de órgãos de reserva vegetativa

•Reduz as perdas de água

•Turgescência, aspecto fresco e peso

• Impede ou retarda o desenvolvimento de patogénios

Page 14: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Arrefecimento

0

5

10

15

20

0 3 6 9 12 15 18

Tempo de arrefecimento (h)

Tem

pera

tura

(ºC

)

Temperatura inicial

½ arrefecimento

3/4 arrefecimento

7/8 arrefecimento

Page 15: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Métodos de arrefecimento rápido

• Em câmara (room cooling)

•Por ar forçado (forced-air cooling)

•Por água, hidro-arrefecimento (hydrocooling)

•Por gelo (contact icing, package icing, top icing)

•Por vácuo (vacuum cooling)

Page 16: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar
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Page 24: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar
Page 25: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Factores a considerar na escolha de uma método de arrefecimento

• Características do produto• Compatibilidade com outros produtos

•Disponibilidade de instalações e equipamento

• Custos•Custos de investimento•Custos de operação

• Tipo de embalagem

•Proximidade do mercado

Page 26: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Armazenamento da matéria-prima

•Produtos insensíveis a danos pelo frio•Temperatura óptima próxima do ponto de congelação dos tecidos (-1 a 0 ºC)

•Produtos sensíveis a danos pelo frio•Armazenamento da matéria-prima acima da temperatura crítica•Amazenamento do produto fresco cortado (IV gama) entre 0 e 5 ºC

Page 27: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Tecnologias complementares relevantes para frutas e hortaliças frescas cortadas (IV gama)

•Prevenção dos efeitos adversos do etileno•Atmosfera controlada / modificada

• Sanidade da água• Tratamentos por calor

Page 28: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Etileno

Page 29: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Respostas primáriasResp. secundárias

Page 30: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Estratégias para evitar os efeitos do etileno

•Remoção do etileno•Remoção de fontes•Ventilação•Permanganato de potássio (KMnO4)

•Ultravioletas e geradores de ozono

•Oxidação catalítica•Adsorção em carvão activado ou brominado

• Silenciamento químico•Inibidores da síntese•Ácido aminooxiacetico (AOA)•Aminoetoxivinilglicina (AVG)•Redução do O2

•Inibidores da acção•Prata (ornamentais)•1-Metilciclopropeno (1-MCP)•CO2

•Vapores de etanol

• Silenciamento genético•Diferenças entre cultivares•Mutantes naturais•Estratégias transgénicas(Almeida, 2005)

Page 31: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Efeito do 1-MCP e da temperatura na longevidade pós-colheita de brócolo

Longevidade (dia)

15

57

33

Variação

(%)

94821

221410

4320

Com MCPSem MCPTemperatura

(ºC)

(Vasconcelos & Almeida, 2002)

Page 32: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Inibição da acção do etileno em brócolos

4 DAC a 20 ºC 4 DAC a 20 ºC + 1-MCP

4 DAC a 10 ºC (Vasconcelos & Almeida, 2002)

Page 33: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Efeito do 1-MCP e da temperatura na longevidade pós-colheita de alface e pepino

20,6c27,3b4,8ª16,0bEtileno

28,9ª38,5ª4,9ª22,4ª1-MCP

24,3b26,7b5,1ª18,3bTestemunha

20 ºC10 ºC20 ºC5 ºC

PepinoAlfaceTratamento

Foto de Daniela Costa

(Costa, 2006; Costa & Almeida, 2006)

Page 34: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar
Page 35: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Efeito do 1-MCP no escaldão de pomóideas

a

ab abb

b

0

10

20

30

40

50

60

70

Control DPA 0.1 0.5 1.0

1-MCP (µl.l -1)

Índi

ce e

scal

dão

a

b b

c c

0

10

20

30

40

50

60

70

Control DPA 0.1 0.5 1.0

1-MCP (µl.l -1)

Índi

ce e

scal

dão

cc

bb

a

0

10

20

30

40

50

60

70

Control DPA 0.1 0.5 1.0

1-MCP (µl.l -1)Ín

dice

esc

aldã

o

a

bb

c c

0

10

20

30

40

50

60

70

Control DPA 0.1 0.5 1.0

1-MCP (µl.l -1)

Índi

ce e

scal

dão

(Isidoro & Almeida, 2006)

Precoce Óptima

Tardia 2,5% O2 + 0,7% CO2

Foto de Nelson Isidoro

Page 36: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Efeito do 1-MCP no amadurecimento de pêra ‘Rocha’Após 120 dias a 0 ºC

1

1,2

1,4

1,6

1,8

0 7 14 21 28Days at 20 ºC

Mal

ic a

cid

(g/l)

10,5

11,0

11,5

12,0

12,5

13,0

0 7 14 21 28Days at 20 ºC

Sol

uble

sol

ids

(%)

0

10

20

30

40

50

60

70

0 7 14 21 28Days at 20 ºC

Firm

ness

(N)

85

87

89

91

93

95

97

99

0 7 14 21 28

Days at 20 ºC

Hue

(Hº)

A B

C D

(Isidoro &Almeida, 2006)

Page 37: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Composição da atmosfera

Page 38: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Benefício Potencial da AC/AM em Hortaliças

EspinafreBeterraba de mesa, couve chinesa, alho-francês, alface (tipo Bola de manteiga), pimento, rutabaga, tomate

Melancia, brócolo, couve (repolho, galega), cenoura, alface (tipo iceberg, de folha, romana), cogumelos, cebola, batata, abóbora, aboborinha(courgette), morango, melões

Cortados

Aipo, alho-francês, cebola, couve-chinesa, couve-de-bruxelas, couve-flor, endívia(witloof), ervilha de quebrar, espinafre, feijão-verde (indústria), milho-doce, pepino, pimento, quiabo, rabanete, salsa, tomate (maturo-verde)

Agrião, alcachofra, alface, coentro, cogumelos, melões, tomate (maduro)

Brócolo, couves de repolho, espargo, morango

Inteiros

ReduzidoModeradoElevado

(Postharvest Technology Research and Information Centre, 2001)

Page 39: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Benefício Potencial da AC/AM em Frutas

Pêssego, pêra, diospiro

Maçã, toranja, laranja

Melão, kiwi, manga, romã, melancia, morango

Cortados

Laranja, papaia, nashi, uva, toranja, lima,

Damasco, limão, manga, nectarina, azeitona, pêssego (caroço livre), ananás

Abacate, banana, mirtilo, cereja, figo, kiwi, maçã, pêra, pavia, diospiro, ameixa, romã, framboesa, morango

Inteiros

ReduzidoModeradoElevado

(Postharvest Technology Research and Information Centre, 2001)

Page 40: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Respiração de pêra ‘Rocha’ minimamente processada

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Headspace O2 (kPa)

O2

upta

ke (m

mol k

g-1 h

-1)

0ºC5ºC

10ºC

15ºC

0

5

10

15

20

Eth

anol

(are

a)

0

1

2

3

4

5

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18

Headspace O 2 (kPa)

Res

pira

tory

quo

cien

t

(Gomes et al., 2007)

Produção de etanol e QR a 5 ºCTaxa de respiração a 0, 5, 10 e 15 ºC

Page 41: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Parâmetros respiratórios de pêra ‘Rocha’ cortada (IV gama) a diferentes temperaturas

1.43

1.02

0.73

0.52

K1/2

(kPa)

0.730.71.30.96115

0.320.71.20.46410

0.330.41.30.2245

Não existe2.91.40.1080

AtmosferaPrática

Segurança(kPa)

Limiar de fermentação

(kPa)

QRRO2max

(mmol kg-1 h-1)

Temp

(ºC)

(Gomes et al., 2007)

Page 42: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Efeito da concentração do oxigénio emdiferentes tipos de oxidases e oxigenases

•Oxidases de elevado Km•Citocromo c oxidase•K1/2 = 0,25 – 5 % O2

•Oxidases e oxigenases de baixo Km•Polifenol oxidase (PPO)•Lipoxigenase (LOX)•ACC oxidase (ACO)•Oxidase alternativa

Page 43: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar
Page 44: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Metabolismo dos tecidos feridos

•Respiração• Síntese de etileno

•Isoformas de ACC sintase e de ACC oxidase induzidas por ferimentos•ACC sintase e ACC oxidase são inactivadas em células danificadas•Ferimento não provoca aumento da síntese de etilenodurante o climactérico

• Síntese de compostos fenólicos•Expressão da PAL

•Oxidação de compostos fenólicos

•Alterações histológicas•Acumulação de calose, suberina, taninos e pectinas•Divisão celular

Page 45: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Mecanismo proposto para a transdução de sinal de ferimentos mecânicos

(simplificado)

Ferida

Sistemina

JAEtileno

Expressão de genesPI e SWRP

oligossacarinas

Page 46: Tratamentos pós-colheita e qualidade do produto a processar

Informação complementar

Kader A. A. (ed.). 2002. Postharvest technology ofhorticultural crops. Third edition University of California, Agriculture and Natural Resources, Publication 3311, Oakland, CA.

Gross, K. C., Wang, C. Y. & Saltveit, M. 2004. The CommercialStorage of Fruits, Vegetables, and Florist and NurseryStocks. U.S. Department of Agriculture, AgriculturalHandbook Number 66. Disponível online em http://usna.usda.gov/hb66/

Almeida, D. 2005. Manuseamento de produtos hortofrutícolas. Sociedade Portuguesa de Inovação, Porto.

Almeida, D.P.F. 2007. Os consagrados princípios da Pós-colheita. Vida Rural 1729: 32-35.