colheita e pós colheita da banana

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O correto manejo após a colheita é decisivo para favorecera longevidade dos frutos durante a comercialização. As perdasde frutos atingem níveis de até 40% do total produzido, índiceinfluenciado principalmente por danos mecânicos, decorrentesdo manuseio excessivo e inadequado durante e após a colheita,e por condições inadequadas de armazenamento. A adoção notodo ou em parte das práticas de manejo pós-colheita da bananadescritas a seguir, permitirão a oferta de frutos de boa qualidadee o aumento do período de comercialização e de consumo.

12.1. Beneficiamento

12.1.1. Seleção e limpeza dos cachosNo galpão de beneficiamento, os cachos com formação

defeituosa, muito gordos ou muito magros, com frutos madurosou danificados por pragas, doenças, atrito das folhas eferramentas são considerados fora do padrão e, portanto, devemser descartados. Os cachos selecionados são dispostos uns aolado dos outros e suspensos por ganchos móveis embutidos emtrilhos aéreos para facilitar o deslocamento e o beneficiamentodos mesmos. Em alguns casos, a seleção é feita ainda no campoe os cachos chegam ao galpão em carreadores aéreos (Fig. 12.1).

Capítulo XIIPós-colheita

Valdique Martins MedinaMárcio Eduardo Canto Pereira

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A primeira etapa do beneficiamento compreende a lavagemdos cachos com jato de água, para remover a sujeira de campo,e a despistilagem, que consiste na remoção manual dos restosflorais que permanecem na ponta dos frutos das pencas.

12.1.2. Despencamento, lavagem e confecção debuquês

Após a despistilagem, faz-se o despencamento doscachos, utilizando-se facas curvas que facilitam o corte bempróximo da ráquis (engaço), objetivando deixar o máximo dealmofada das pencas (Fig. 12.2). As pencas são colocadas noprimeiro tanque de lavagem (Fig. 12.3), etapa que, além demelhorar a aparência dos frutos, ajuda a reduzir o calor de campo,

Fig. 12.1. Transporte do cacho em cabosaéreos para o galpão de beneficiamento.

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resfriando o fruto e, conseqüentemente, reduzindo as taxasrespiratórias que aceleram a maturação. A água utilizada nalavagem deve ser limpa e sem substâncias tóxicas ao operário eao fruto. Tanques de água corrente são os mais adequados, porfacilitarem a limpeza e a renovação da água. Para melhorlavagem das bananas, adiciona-se à água 500 mL de detergenteneutro para cada 1.000 L de água. Além de limpar, o detergentetem efeito profilático e coagula o látex que exsuda da região decorte da almofada. Se não for removido, o látex causaqueimaduras na epiderme da casca, as quais só se manifestamna forma de manchas escuras após o amadurecimento. O tempode manuseio das pencas no tanque de lavagem e nas etapasseguintes é suficiente para a remoção do látex.

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Fig. 12.2. Despencamento do cacho (a) e toalete da almofada (b).

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Após a lavagem, a depender da forma de comercializaçãodo mercado destino, as pencas podem ser subdivididas embuquês compostos de dois a nove frutos unidos pela almofada.Esta forma de processamento do produto facilita oacondicionamento na embalagem e reduz a queda dos frutos apósa maturação. Nessa etapa faz-se nova seleção, descartando-sefrutos com danos causados por pragas e doenças e pelo manuseiodurante a colheita e transporte para o galpão. Dos buquêsselecionados, elimina-se o excesso de almofada, a fim de quesejam melhor acondicionados nas caixas, sem causar danos aosfrutos dos outros buquês. A seguir, passam para o segundotanque de lavagem, de onde são retirados e pesados, ao qualpode-se adicionar fungicida para prevenir a ocorrência de doençasdurante a comercialização. É importante salientar que o uso defungicidas após a colheita atualmente depara-se com barreirasalfandegárias e por parte do consumidor, em especial daquele

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Fig. 12.3. Buquês nos tanques para lavagem.

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que opta pelo consumo de produtos orgânicos. Este consumidorfaz restrição ao uso de agrotóxicos, independentemente do seugrau toxicológico e do período de carência.

12.2. Classificação

Um aspecto importante do manejo pós-colheita da fruta éa sua classificação, que consiste em fixar a qualidade do produtocom base em normas e padrões pré-estabelecidos em funçãodas exigências do mercado. No Brasil, a normalização doscritérios de classificação está sendo implementada pelo ProgramaBrasileiro para a Modernização da Agricultura, em processoliderado pela Ceagesp. No caso da banana, os critériosrecomendados são descritos a seguir.

12.2.1. Cor da cascaÉ adotada uma escala de coloração da casca como

indicativo da maturação dos frutos: 1) totalmente verde; 2) verdecom traços amarelos; 3) mais verde do que amarelo; 4) maisamarelo do que verde; 5) amarelo com ponta verde; 6) totalmenteamarelo; 7) amarelo com manchas marrons;

12.2.2. GrupoA banana é classificada em quatro grandes grupos. O grupo

Cavendish que compreende as variedades Nanica, Nanicão eGrande Naine, o grupo Prata com as variedades Prata, Prata Anãe Pioneira, o grupo Maçã com as variedades Maçã, Enxerto,Caipira e Mysore, e o grupo Terra, com as variedades Terra eTerrinha.

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12.2.3. ClasseA classe diz respeito ao comprimento e ao diâmetro dos

frutos (Tabela 12.1).

Tabela 12.1. Classificação da banana do grupo Cavendish,conforme o comprimento e o diâmetro do fruto.

Fonte: Adaptado da Ceagesp, 1998.

Classe Intervalo

Comprimento (cm)

12 < 1313 > 13 a 1616 > 16 a 1818 > 18 a 2222 > 22 a 2626 > 26

Diâmetro ou calibre (mm)

27 < 2828 > 28 a 3232 > 32 a 3636 > 36 a 3939 > 39

12.2.4. SubclasseA subclasse refere-se à forma de apresentação do produto:

“dedo” (um fruto); buquê (2 a 9 frutos) e penca inteira.

12.2.5. DefeitosSão ainda considerados os defeitos encontrados nos frutos,

classificados em graves e leves. São defeitos graves aqueles queinviabilizam o consumo ou a comercialização do produto, e defeitosleves aqueles que depreciam a qualidade do produto, principalmentea aparência, sem contudo inviabilizar a comercialização e o consumo.

12.2.5.1. Defeitos graves

a) Amassado – Variação no formato característico do frutodecorrente de impacto ou pressão externa, sem rompimento doepicarpo.

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b) Dano profundo – Qualquer lesão de origem diversa que atinja apolpa, podendo ou não ser cicatrizada.

c) Lesão de tripes – Pequenas pontuações marrons, ásperas aotato, ocasionadas por picadas de tripes (Frankliniella spp).

d) Podridão – Dano patológico que implique em qualquer grau dedecomposição, desintegração ou fermentação dos tecidos,inclusive ponta de charuto.

e) Queimado de sol – Áreas manchadas no fruto devido a períodosde insolação que, dependendo da intensidade, levam à coloraçãopálida ou descoloração da cutícula, podendo, em caso extremo,chegar à cor negra.

f) - Lesão/mancha - Dano superficial cicatrizado ou não, comárea total superior 1,5 cm2.

g) Imaturo – Fruto colhido antes do completo desenvolvimentofisiológico.

12.2.5.2. Defeitos leves

a) Lesão/mancha - Dano superficial cicatrizado ou não, com áreatotal superior a 0,5 e inferior a 1,5 cm2.

b) Restos florais – Resquícios florais localizados no ápice dofruto.

c) Geminadas - Quando duas ou mais bananas apresentam-seunidas.

d) Alterações na coloração - Qualquer coloração da casca distintadas cores verde e amarela características da variedade.

De acordo com a incidência de defeitos, os frutos sãoclassificados em categorias de qualidade (Tabela 12.2) e tambémem tipos exportação, A, B e C (Tabela 12.3).

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Outro aspecto importante observado nas normas de padrãode qualidade é o nível de resíduo na polpa, dos produtos utilizadosno controle de pragas e doenças que atacam a bananeira. Nabanana para exportação, existe um controle rigoroso desses níveis,estabelecido pelos próprios países importadores. Essa precauçãodeve-se à elevada quantidade de produtos sistêmicos que éutilizada nos cultivos para exportação, em face do ataque dedoenças e pragas de difícil controle. Se o produtor não seguir àrisca a recomendação do fabricante quanto ao período de carênciadesses defensivos, o nível de seu resíduo no fruto pode atingir índicesindesejáveis e altamente prejudiciais aos consumidores.

Tabela 12.2. Categoria de qualidade da banana do grupoCavendish de acordo com o percentual de tolerância aos defeitos.

*Acima de 10% não poderá ser reclassificado; **Conforme “Limites de lesões/manchas”.Fonte: Ceagesp, 1998.

Tabela 12.3. Classificação da banana do grupo Cavendish portipo.

Fonte: Adaptado da Ceagesp, 1998.

CategoriaExtra I II III

DEFEITOS GRAVES -----------------------------------% ------------------------------------Amassados 0 1 5 20Dano profundo 0 1 5 20Queimado de sol 0 2 5 20Podridão (*) 0 1 2 10Lesões severas de tripes (**) 0 5 10 20Lesões/mancha (*) 0 5 10 20Imaturo 0 1 5 10Total de defeitos graves 0 5 10 20Total de defeitos leves 5 10 20 100Total geral 5 10 20 100

TipoCaracterística

Exportação A B C

Comprimento (em cm) 22 18 e 22 18 a 26 12 a 26

Diâmetro ou calibre (em mm) 32 32 e 36 28 a 39 27 a 39

Subclasse(forma de apresentação)

Buquê Buquê Buquê epenca

Buquê, pencae fruto

Qualidade Extra Categoria I Categoria II Categoria III

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Na produção integrada de banana, sistema de produção queminimiza o uso de defensivos no campo e após a colheita, mediantemanejo integrado de pragas e doenças, são adotados apenasprodutos registrados para a cultura e cadastrados na grade deprodutos de uso permitido, respeitando-se as dosagens e osperíodos de carência determinados pelo fabricante, garantindo-sea não contaminação dos consumidores pelo excesso de defensivospresente na fruta.

12.3. Embalagem

As pencas ou buquês são pesados, a fim de garantir o pesoindicado na embalagem, e cada penca ou buquê recebe um selocom a marca comercial da banana e informações sobre o produto.Posteriormente, as pencas ou buquês são acondicionados emcaixas de papelão ou de madeira, revestidas internamente complástico, para proteger a fruta de escoriações e de excessiva perdade água por transpiração.

A embalagem de papelão é utilizada principalmente para asbananas destinadas ao mercado externo, enquanto que as demadeira são utilizadas no mercado interno. Estas embalagens,apesar da alta resistência, facilidade de manuseio, possibilidadede reutilização e custo relativamente baixo, apresentam asdesvantagens de causar escoriações nos frutos quando não seutiliza plástico, possibilidade de esmagamento das bananas porfalta de tampa e dificuldade de higienização da superfície porosada madeira, que retém sujeira e umidade que facilita odesenvolvimento de fungos e bactérias.

Uma alternativa para a embalagem de papelão, a qual nãoé retornável, e para a de madeira, que apresenta as desvantagenscitadas, é o uso de caixas plásticas desmontáveis e retornáveis(Fig. 12.4). Estas caixas possuem superfície interna lisa, frestasnas laterais e na base que facilitam as trocas gasosas dos frutos,

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encaixes que evitam o deslizamento quando empilhadas e,quando estão vazias, ocupam pouco espaço nos galpões edurante o transporte.

Fig. 12.4. Caixa plástica desmontável e retornável.

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É importante levar em consideração as normas que regu-lamentam a embalagem para comercialização, pois as mesmasfundamentam-se nas exigências e restrições impostas pelosmercados consumidores.

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12.4. Conservação Pós-colheita

12.4.1. Fisiologia do amadurecimentoPor ser uma fruta de padrão respiratório climatérico, a

banana pode ser colhida antes do completo amadurecimento.Esse padrão é caracterizado pelo aumento da taxa respiratória eda produção do etileno durante o climatério. É nesta fase que seiniciam as principais alterações organolépticas na fruta, tais comopigmentação amarela da casca, amaciamento da polpa emudanças no sabor e aroma, características da banana madura.A respiração é o processo fisiológico que fornece energia paraas reações metabólicas que originam as mudanças noamadurecimento. O etileno é o fitohormônio que desencadeia oprocesso climatérico e a conseqüente elevação das taxasrespiratórias. Assim, o prolongamento da vida útil pós-colheita dabanana depende, fundamentalmente, da redução da taxarespiratória e da produção de etileno endógeno ou da absorçãode etileno exógeno.

Após a colheita na maturidade fisiológica, a bananacaracteriza-se pelo baixo teor de açúcares, alto teor de amido epela adstringência devida aos compostos fenólicos da polpa. Como amadurecimento, ocorre a hidrólise do amido e o acúmulo deaçúcares solúveis, redução da adstringência e amaciamento dapolpa. Paralelamente, na casca observa-se o amarelecimentooriginado pela degradação da clorofila, pigmento que confere acor verde, e aparecimento e síntese dos pigmentos carotenóidesresponsáveis pela coloração amarela (Fig. 12.5). A cor da cascaé um bom indicativo do grau de amadurecimento da banana, sendoo principal critério para a colheita, aliado à idade do cacho.

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12.4.2. FrigoconservaçãoA banana é classificada como um fruto muito perecível,

cuja longevidade sob refrigeração não vai além de trêssemanas, tanto para frutos maduros como verde-maduros (devez). Essa perecibilidade está associada às altas taxasrespiratórias, em comparação com outros frutos, podendoatingir até 200 mL de CO2/kg/h, a 15oC. As bananas podem serconservadas sob refrigeração pelo período de uma a trêssemanas, findo o qual devem ser removidas para câmaras dematuração, onde são tratadas com etileno ou, previamente,com etefon. A temperatura mínima de armazenagem dependeda sensibilidade das bananas a danos pelo frio, sensibilidadeesta que é afetada pela variedade, pelas condições de cultivoe pelo tempo de exposição a uma dada temperatura. Os danospelo frio são causados pela exposição a temperaturasinferiores a 13,3oC, os quais só se manifestam 18 a 24 horasapós a transferência para temperaturas mais elevadas. Existeum tipo de dano na casca que não afeta a consistência e o

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Fig. 12.5. Redução do teor de amido e acúmulo de açúcares durante aevolução da coloração amarela da casca da banana.

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paladar da polpa. É causado pelo efeito cumulativo daexposição a baixas temperaturas, ao longo do tempo, ecaracteriza-se pela degradação do tecido vascularimediatamente abaixo da superfície externa da epiderme. Amelhor indicação de danos pelo frio em bananas verdes é apresença de pintas marrom-avermelhadas sob a epiderme. Àmedida em que a banana amadurece, os danos sãocaracterizados por uma aparência cinza opaca esfumaçada,em vez da cor amarela brilhante da casca. Outro indicador dedanos é a exsudação de látex ou translucidez do mesmo, emlugar da aparência turva característica de bananas sem danospelo frio.

A intensidade dos danos pelo frio é fortementeinfluenciada pela umidade relativa do ar, de modo que, parauma dada temperatura, o aumento da umidade retarda oaparecimento de danos, os quais podem ser totalmentesuprimidos a 100% de umidade relativa do ar, mesmo àtemperatura de 12oC. A umidade também afeta a qualidade dabanana, sendo recomendado o seu armazenamento na faixade 85% a 95%. Embora esta faixa de umidade possa sermantida em câmara sem controle automático, regando-se opiso com água duas vezes por dia, a operação é tediosa econsome tempo. Por esta razão, é recomendável afrigoconservação em câmaras automatizadas, que controlamtanto a temperatura quanto a umidade relativa do ar. Essascâmaras podem ser construídas em alvenaria ou pré-fabricadas em placas desmontáveis, com a capacidadeadequada à quantidade de bananas a ser armazenada.

12.4.3. Conservação em atmosfera controla emodificada

A conservação de bananas pode ser aumentadasignificativamente com o uso de atmosfera controlada ou

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modificada. Em atmosfera controlada com 7% a 10% de CO2

e 1,5% a 2,5% de O2, as bananas podem ser conservadas poraté quatro meses a 20oC, amadurecendo normalmente apóstransferência para câmara de maturação.

A modificação da atmosfera, selando as bananas emsacos de polietileno, também aumenta significativamente otempo de conservação. A inclusão de pergamanato depotássio, um absorvente do etileno, estende ainda mais operíodo de armazenagem. Uma vantagem adicional dos sacosde polietileno é que o seu uso é efetivo em uma larga faixa detemperatura, desde 13oC a 37oC.

O uso de emulsão de cera e produtos à base de ésterde sacarose permitem estender o período pré-climatérico debananas por uma a duas semanas, reduzir a perda de água ea ocorrência de escurecimento da casca. O enceramento cau-sa modificações na atmosfera interna do fruto, aumentando aconcentração de CO2 e reduzindo a de O2, daí o prolongamen-to do período pré-climatérico, como ocorre em câmaras comatmosfera controlada e nas embalagens plásticas.

12.5. Maturação Controlada – Climatização

12.5.1. Temperatura e umidade relativa do ar nacâmara

As condições para a maturação controlada de bananassão selecionadas visando otimizar o desenvolvimento da coramarela da casca, bem como a uniformização da coloração deum lote. A faixa ótima de temperatura do ar para climatização éde 13,9oC a 23,9oC, na qual não ocorrem alterações na qualidadedos frutos. A temperatura afeta a velocidade de maturação,permitindo a obtenção de frutos em variados graus dematuração, dentro de um esquema pré-estabelecido. O aumento

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da temperatura reduz o tempo para atingir-se um determinadoestágio de cor da casca, bem como para a qualidade ótima decor e de consumo. Temperaturas acima da faixa ótima reduzema longevidade das bananas, no que se refere à qualidade de core de consumo. Isto pode ser explicado pelo fato de que aatividade enzimática de frutos diminui nas temperaturas acimade 30oC e, a partir de 40oC, muitas enzimas são inativadas. Umaprolongada exposição de bananas a 30oC impede o completoamarelecimento da casca, apesar do aparente amadurecimentoda polpa.

Vale salientar que, mais importante do que a temperaturado ar na câmara, é a temperatura da polpa, a qual não deve serinferior a 13,3oC nem superior a 18,3oC. Temperaturas da polpaacima de 18,3oC podem causar o amaciamento excessivo, au-mentar a suscetibilidade a danos durante o manuseio e abreviaro período de comercialização no varejo. Abaixo de 13,3oC ocor-rem danos pelo frio, resultando em bananas descoradas e semsabor.

A manutenção da umidade relativa entre 85% e 95% du-rante a maturação é vital para a obtenção de frutos de boa qua-lidade de cor e de sabor. Alta umidade relativa com adequadatemperatura contribui grandemente para melhorar a aparênciae a palatabilidade e aumentar o período de comercialização.Umidade abaixo de 80% aumenta a probabilidade de ocorrênciade frutos manchados e enrugados, além de causar excessivaperda de peso, de até 226 g por caixa de 18 kg.

Além dos cuidados com as condições de temperatura ede umidade do ar para climatização, também se deve levar emconta o fato de que bananas fisiologicamente imaturas reagirãoà aplicação do etileno apenas na mudança de cor da casca, deverde para amarelo claro, sem contudo sofrerem alteraçõesorganolépticas típicas da maturação. Dentre os critérios paracolheita já referidos, recomenda-se cortar longitudinalmente umfruto da primeira penca. Se a polpa estiver com coloração rosa-

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da, o cacho poderá ser colhido e induzido ao amadurecimentonormal.

12.5.2. Empilhamento das caixas na câmaraUma adequada circulação de ar na câmara é essencial

para uniformização da maturação. O sistema de ventilação nacâmara e o tipo de empilhamento das caixas afetamsensivelmente a circulação do ar. Em uma câmara de maturaçãoconvencional, os melhores equipamentos não conseguem circularo ar através de ilhas muito compactadas.

Uma vez que a temperatura aumenta devido à respiraçãodas bananas, a área exposta do topo das caixas é muito impor-tante para prevenir aumento de temperatura na pilha e manter atemperatura da polpa estável durante a climatização. Para ope-ração paletizada, usando-se paletes de 1,00 x 1,20 m (40” x 48”),o melhor padrão de empilhamento é o 4-bloco alternado (Fig. 12.6).Este padrão, juntamente com adequadas refrigeração e circula-ção do ar, permite o máximo controle da elevação da temperatu-ra, assegurando consistência na climatização.

As pilhas devem ser distribuídas uniformemente na câ-mara, para propiciar um bom fluxo de ar, necessário ao controleda temperatura da polpa e do progresso da coloração. Os paletesnão devem ser colocados a menos de 0,45 m das paredes frontale traseira da câmara. Quando se usa o padrão 4-bloco alternado,as pilhas podem ser justapostas. No entanto, se for usado outropadrão de empilhamento, deve-se deixar 0,10 m entre as pilhas.A câmara de maturação não deve ser carregada além da suacapacidade, nem tampouco abaixo de 50% da mesma, uma vezque, nessas condições, ocorrem sérios problemas de maturação,tais como casca opaca e polpa excessivamente mole.

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12.5.3. Procedimentos para climatizaçãoBananas de diferentes variedades e origens não devem

ser climatizadas numa mesma câmara. Dentro de um mesmocacho existem pencas com distintos graus de maturidade, sen-do que as pencas do ápice (extremidade do engaço) são maisimaturas do que as da base. Por essa razão, os cachos devemser separados em dois lotes: um contendo as seis ou oito pencasmais velhas e o outro as demais. Cada lote deverá ser climatizadoem câmaras distintas. Quando não for possível, deve-se colocaro lote mais jovem no fundo e o mais velho na frente da câmara,pois este amadurecerá mais cedo.

Após completar-se a carga da câmara, registra-se a tem-peratura da polpa das bananas contidas nas caixas das cama-das superior e inferior das pilhas da frente, do centro e do fundoda câmara. A temperatura deve ser verificada e registrada duas

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Fig. 12.6. Padrão 4-bloco alternado para climatização de bananas.

VISTA DO TOPO

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vezes por dia, sempre nas mesmas caixas, exceto nas primei-ras 24 horas após injeção do etileno. As informações obtidassão usadas para estabelecer a temperatura da câmara paraobter-se a desejada temperatura da polpa.

Aproximadamente 12 horas antes da injeção do etileno,o termostato da câmara deve ser ajustado de modo a obter-sea faixa de temperatura ideal da polpa para aplicação do gás,qual seja, 15,5oC a 16,7oC. A dosagem recomendada paraclimatização com etileno puro é 0,1% ou 28 litros para cada 28metros cúbicos da câmara. Se for usado produto comercial deetileno diluído com nitrogênio para 10%, a quantidade será de280 litros por 28 metros cúbicos. Para correta dosagem emanipulação do etileno, deve-se consultar o fornecedor do gás.Durante as primeiras 24 horas após a injeção do etileno, a câ-mara deve ser mantida hermeticamente fechada. Após essetempo, procede-se a ventilação por 15 a 20 minutos, para suprira câmara com oxigênio essencial para a respiração normal dasbananas, evitando-se ocorrência de fermentação.

O amadurecimento pode ser lento, normal ou rápido. Auma temperatura da polpa de 14oC, quando se deseja retiraras bananas com a cor 3 da casca (mais verde do que amarelo),aplica-se o gás 4, 3,5 e 3 dias antes, respectivamente, para oamadurecimento lento, normal e rápido. Para a retirada com acor 4 (mais amarelo do que verde), aplica-se o etileno 4,5, 4 e3,5 dias antes. Outra forma de controlar-se a velocidade dematuração, é por meio da manipulação da temperatura. Noamadurecimento rápido, a temperatura é mantida constante em18oC. No normal, no primeiro dia a temperatura é de 18oC, nosegundo dia 16oC, no terceiro e quarto 15oC e no quinto e sexto14oC. No amadurecimento lento, usa-se 17oC no primeiro, 15oCno segundo e 14oC do terceiro ao oitavo dia. A velocidade relati-va de maturação é verificada como segue: observar a mudançade cor no “ombro” da banana, tomar a temperatura da polpapara verificar se há aumento devido à respiração, cortar alguns

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frutos para verificar a ocorrência de amolecimento excessivoda polpa, e observar a ocorrência de exsudação de látex, umindicador de danos pelo frio.

12.5.4. Climatização com etefonO etefon é o princípio ativo do produto comercial Ethrel,

Arvest ou similar, com toxidez na faixa azul, isto é, baixa toxidez.É largamente usado na agricultura, com várias finalidades,dentre as quais a indução da maturação, uma vez que o produtolibera o etileno nos tecidos vegetais. Na maturação, é usadoem baixíssimas concentrações, inferiores a 1%, não oferecendoriscos durante o manuseio. O pequeno resíduo de etefon queeventualmente permanece no fruto não causa intoxicação apósa sua ingestão.

12.5.4.1. Concentração da solução de etefon

A concentração da solução de etefon dependerá da vari-edade a ser climatizada. Para as variedades Prata, Prata Anã,Thap Maeo, Pacovan, Pioneira, Terra e Terrinha recomenda-se500 mg/L (208 mL do produto comercial contendo 240 g/L, para100 litros de solução). Para as variedades Nanica, Nanicão,Grande Naine, Maçã, Mysore e Enxerto, utiliza-se 2.000 mg/L(833 mL para 100 litros de solução). Nos casos de tratamentoconjunto de bananas dos dois grupos de concentração de etefon,visando facilitar o procedimento de climatização, utiliza-se ape-nas a concentração mais alta, ou seja, 2.000 mg/L. Uma daslimitações da climatização de banana com etefon, principalmentepara pequenos produtores, é o seu alto custo. No entanto, ocusto pode ser sensivelmente reduzido com a reutilização dasolução, a qual permanece ativa por mais de 200 dias.

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12.5.4.2. Tratamento de indução da maturação

O tratamento consiste em submergir as pencas ou bu-quês de banana, contidos ou não em caixas de madeira ouplásticas, na solução de etefon por dez minutos. Quando seutilizam caixas de papelão, as bananas devem ser embaladasapós evaporação da solução. O mesmo cuidado aplica-se àetiquetagem, quando utilizada. Podem-se utilizar tanques dealvenaria, de plástico, de fibra de vidro ou mesmo tonéis eoutros recipientes disponíveis, cujas capacidade e quantidadedependerão do volume de bananas a ser tratado diariamente.Não devem ser utilizados tanques de cimento amianto, pois oamianto foi identificado como um produto carcinogênico, razãoporque já não é usado na fabricação de reservatórios para águadestinada à utilização pelo homem.

O recipiente utilizado não deve ser cheio até à borda,pois, ao colocar-se as bananas, ocorre deslocamento da so-lução, a qual transborda. Como regra geral, enche-se o tan-que em torno de 2/3 da sua capacidade; portanto, em um tan-que de 1.000 litros, colocam-se aproximadamente 700 litrosde solução, e, em um tonel de 200 litros, cerca de 140 litrosde solução. As pencas, buquês ou caixas da camada superiortendem a flutuar. Assim, visando assegurar a uniformidadedo tratamento, recomenda-se a instalação de uma tampa comdobradiças que, ao ser fechada, manterá as bananastotalmente cobertas pela solução. Para evitar escoriações nacasca das bananas tratadas em pencas ou buquês soltos,reveste-se a superfície inferior da tampa com espuma sintéti-ca (Fig. 12.7).

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Um tanque de 1.000 litros comporta cerca de 250 pencasde banana, e um tonel de 200 litros, 50 pencas. Assumindo-seque o tempo de tratamento de cada lote pode durar trinta minu-tos, incluindo-se o despencamento e a lavagem prévia, em umdia de trabalho é possível tratar 4.000 pencas no tanque e 800 notonel. A solução destinada à reutilização deve ser armazenada nopróprio recipiente de tratamento. Para evitar perda de soluçãopor evaporação, o recipiente deve ser hermeticamente tampado.Apesar de as bananas absorverem apenas pequena quantidadede solução, durante o tratamento sempre ocorre perda de solu-ção quando as bananas são removidas do tanque. Quando o ní-vel da solução não mais cobrir todas as bananas, pode-se com-pletar o volume com solução recém-preparada, na mesma con-centração da anterior, ou reduzir a quantidade de bananas. Nocaso de completar-se a solução, o descarte da mesma deve serefetuado 200 dias após o preparo da primeira solução.

Fig. 12.7. Tratamento de bananas com solução de etefon em tanquede alvenaria.

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12.5.4.3. Instalações para climatização com etefon

Para a obtenção de produto com qualidade ótima de cor ede consumo, as bananas tratadas com etefon devem ser arma-zenadas nas mesmas condições de temperatura e de umidadedo ar utilizadas na climatização com etileno, em câmarasfrigoríficas (Fig. 12.8a). No entanto, nem sempre o produtordispõe de câmaras com controle de temperatura e de umidade,mormente quando o preço pago em mercados de baixo poderaquisitivo não compensa o investimento em instalaçõessofisticadas. Nessa situação, pode-se usar galpões já existentesna propriedade ou construir um conforme ilustrado na Fig. 12.8b.As dimensões dependerão da quantidade de banana a serclimatizada. Idealmente, o galpão deve ser construído em localsombreado, sob árvores dispostas nas laterais, para evitartemperaturas elevadas no seu interior. A orientação deve ser talque as laterais fiquem no sentido Leste-Oeste. Na ausência deárvores, podem ser plantadas variedades de banana de porte alto,em espaçamento denso (1,50 m), nas laterais e no fundo dogalpão.

A banana climatizada deve apresentar-se, quando madu-ra, com casca amarela brilhante, sem manchas marrons, e compolpa macia e com odor agradável e sem adstringência(travamento). Por essa razão, a temperatura no interior do galpãonão deve superar os 26oC, nem tampouco ser inferior a 14oC.

Para as regiões e estações do ano com umidade do arinferior a 80%, é imprescindível construir valas impermeabilizadasno piso, ao longo das paredes, para colocação de água; bemcomo o uso de forro sob o telhado e de porta com boa vedação.Pode-se, também, para garantir elevada umidade, regar o pisocom água, diariamente.

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Fig. 12.8. Câmara frigorífica (a) e projeto de construção de galpãopara climatização de banana (b).

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